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AGRADECIMENTOS

Querido leitor, obrigada por sua presença,


espero profundamente que goste dessa obra e
que sempre que puder me acompanhe.
Agradeço a todos que me deram força para
que esse livro acontecesse, principalmente minha
mãe que faz tudo dentro de casa sozinha
enquanto sua filha dedica todo tempo ao pc e
ao outro serviço.

Espero que meu trabalho seja gratificado por


vocês. Foram quase um ano de escrita e muita
luta para que sempre pudesse escrever e
enfim... Hoje ele está aqui. Para vocês e com
muito amor.
BEM VINDO AO:

SEU, MEU, NOSSO...


SEGURANÇA
PRÓLOGO

RAFAEL MELLO

Acho que não seria novidade, dizer a ninguém que eu mudei. Acho que as mudanças são
necessárias na vida, mas nem sempre nos fazem felizes. Eu fiz o meu máximo para esquecer tudo
que já me aconteceu, mas não é tão fácil. Eu não sou um robô, ou um celular que pode ser
restaurado a qualquer momento e "esquecer" de vez o que passou, e cá estou eu, um homem
diferente, um homem distante, na verdade, um homem pouco se importando para tudo.

Desde que decidi me afastar, as coisas não mudaram muito. No começo eu sofri bastante, não
era de se esperar outra coisa, afinal, eu era um segurança pessoal, não tinha outra vida a não ser
proteger as pessoas para quem um dia trabalhei. Eu nunca tive vida própria, nunca tive minha
casa, ou me virei sozinho sem ter que dar satisfações a ninguém.

E aqui eu estou. Sozinho.

Moro em um tipo de pensão, aqui não tem muito luxo, mas em compensação esse é o lugar mais
bonito do Brasil, em minha opinião, é claro.

Sempre gostei muito de frio, gosto do jeito que as pessoas se vestem ou se abraçam, é bonito o
jeito que ficam e que se comportam, é bom para dormir, para sair à noite e comer algo. Eu amo o
frio.

Hoje eu trabalho como segurança de banco, meu emprego é bom e eu tenho amigos, vejo muitas
pessoas diferentes todos os dias e até cheguei a sair com algumas, mas nenhuma virou caso sério.
Eu não consigo sentir aquilo por ninguém.

Ainda estou deitado na cama, meu corpo é coberto por um edredom fofinho e preto, em volta
posso ver meu armário que ainda está com roupas bagunçadas empatando que a porta se feche.

Eu vivo uma constante rotina, sempre faço as mesmas coisas. E quando sofro alterações é porque
a louca da Débora resolveu sair e me levar junto.

Não somos namorados e nem nunca tivemos nada. Ela é a minha melhor amiga. Ai me diz: quem
foi o idiota que inventou que não existe amizade entre homem e mulher?

Eu amo aquela mulher. É mais foda que muito homem por ai.

Quando eu passei para o concurso do banco, eu estava frágil, não tinha muita perspectiva, na
verdade a única coisa que eu queria, era continuar protegendo as pessoas, mas não como
segurança pessoal; não queria estar preso a mais ninguém, pelo menos não constantemente.

Débora se aproximou de mim e me fez enxergar que minha vida ainda não tinha acabado.

Passamos a sair juntos, lutar juntos e eu a levo todos os dias para o serviço. Infelizmente ela
sempre bate o carro e para quem sobra? Para mim.

Pelo menos um ditado verdadeiro: mulheres ao volante, perigo constante.

Pego meu celular e resolvo discar seu número, sei bem que ela ainda dorme e daqui a meia hora
estarei em frente seu portão para irmos trabalhar. Aquela desgraçada tem um mau humor horrível,
mas eu sei contornar isso.

Ela atende o celular na ultima chamada.

- Porra, você não se cansa de dormir? _ digo fingindo estar bravo e afasto o celular do ouvido. Já
sei que vem chumbo.

- Vai tomar... Deixa para lá. Estou indo me arrumar. _ dito isso ela desliga na minha cara. Sorrio
para o aparelho em minha frente e então o jogo de lado e tiro meu edredom de cima de mim, vou
até meu armário e pego uma cueca limpa, o resto do uniforme já está no banheiro.

[...]

- Que demora, Débora. Eu não aguento mais isso. _reclamo, já estamos atrasados quase dez
minutos.

- Vai atrás de uma mulher, vai. _ ela diz revirando os olhos. - hoje eu vou pilotando, chega para
trás. _ ela diz e então me afasto.

Já sei que isso vai dar merda, da outra vez quase caímos debaixo de um caminhão. Eu não posso
com essa mulher.

- Se quer tentar me matar de novo, me avise, preciso me preparar. _ digo e ouço sua gargalhada.

- Não se preocupe; tudo está no controle.

- Espero que sim. _digo e respiro fundo.

Fomos bem de vagar por sinal. Passamos por muitos carros e é claro que ela xingou várias
vezes. Acho que tem um próprio dicionário contendo somente palavras de baixo escalão. Nunca
ouvi tantas coisas pejorativas em toda minha vida.

Apesar do atraso, chegamos na hora certa no trabalho, não entendi porque, já que viemos
quase parando.
Ela saiu da moto primeiro e eu a coloquei na vaga, Débora ainda estava me esperando.

- O que você quer? _ pergunto sabendo que ela quer pedir algo.

- Não é bem querer, é pedir que você vá comigo hoje à noite, em um restaurante. Eu janto lá todas
as noites.

Tem algo errado ai.

- É só isso? _ pergunto franzindo o cenho.

- Sim. _ ela diz com um sorriso largo.

Se eu não a conhecesse poderia jurar que estava me cantando, mas sabendo de quem se trata,
ela quer pegar alguém, que está, ou trabalha lá.

Resolvo esquecer, eu vou nesse restaurante, preciso comer algo de verdade que não seja a
comida daquela velha lá da pensão.

Tem gosto de chulé. Balanço a cabeça tentando afastar esses pensamentos.

- Está enojado por quê? _ ela pergunta atravessando seu braço por minha costela.

- Lembrei-me da comida da pensão. _ digo revirando os olhos e ela sorri.

ALICIA DALGLIESH

Aqui estou eu, sozinha e finalmente tendo uma vida mais ou menos tranquila. Eu ainda não posso
ter cartões de credito e nem nada que me identifique, mas eu vivo bem. Bem melhor que antes.

Graças a Raquel hoje eu tenho uma vida, ela me deu a oportunidade de ter minhas próprias
decisões e começar a viver para mim mesma.

Posso comprar as roupas que eu quero; pentear ou não meu cabelo ou decidir coisas simples do
dia-a-dia, não vivo mais naquela ditadura, com tantas regras.

Desde que fugi, decidi que não poderia mais me envolver com ninguém até que eu me sentisse
bem o suficiente. E isso até agora não aconteceu.

Acho que para tudo tem um momento certo, mas para mim esse nunca irá chegar. Eu não consigo
me sentir bem perto de homens. (E nem por isso virei lésbica)

O senador acabou com minha vida e mesmo assim ele continua por cima, sempre tendo a razão.
O mundo é um lugar engraçado. Aqui só os ricos e os influentes "possuem" a verdade. Pobre não
tem vez, nem que esteja certo.

Eu não sou de família rica, eu nunca quis nada disso para mim. Sempre pensei que dois mundos
muitos diferentes não dariam certo.

Mas não era o que minha mãe queria. Vendeu - me enquanto eu era uma adolescente.

Eu nunca me abri com ninguém, nunca contei sobre meu passado, nem mesmo para Raquel que
me apoiou durante todo esse tempo. A única coisa que eu disse para ela foi que eu não queria
continuar sendo a mesma pessoa, eu precisava me encontrar e foi isso que ela fez.

Encontrou- me.

Raquel é rica, não uma rica de família, mas rica pelo próprio esforço e isso para mim é digno.

Ela é humilde e uma ótima pessoa.

Há mais ou menos dois anos, nós resolvemos abrir um restaurante, eu sei cozinhar e ela tinha o
capital, no começo pensamos em algo pequeno, sem muito luxo e assim fizemos, hoje temos algo
mais sofisticado, eu continuo na cozinha, mas agora como chefe.

O ambiente é rustico e geralmente recebemos casais apaixonados e em busca de uma


renovação no casamento e nos ares.

Eu me comprometi a esquecer tudo que eu passei, mas mesmo que eu tente não lembrar eu ainda
não consigo me sentir segura sozinha.

Sempre penso que se ele me achar, às coisas ficariam ainda piores do que eram.

Eu espero que um dia me cure dessa dor, mas é difícil olhar para trás sem ter medo de que um
dia volte.

Acho que durante toda minha vida, eu tive poucos momentos felizes, mas há uns anos atrás eu
conheci um homem.

Eu não sei o nome dele, não sei o que ele viu em mim, mas naquele dia eu me senti importante
por breves minutos. Ele me olhava diferente, como se estivesse realmente interessado em como eu
comia ou falava.

Foi bom e mesmo depois de tantos anos eu ainda lembro, é como se eu fechasse os olhos e visse
sua moto, seu rosto e seu cheiro.

Já estava tarde, eu já tinha que estar me arrumando para ir para o restaurante, mas pelo
incrível que pareça não estou com vontade. Eu amo aquele lugar, porém, hoje eu queria ficar em
casa.

Talvez seja um aviso para ficar em casa, eu não sei o que pode acontecer. E se ele ainda me
procura? Se ele ainda pensa em me achar e me "possuir" como uma vagabunda. Eu não quero que
seja assim.

Ao mesmo tempo, que eu penso que gostaria de encontrar o cara da moto, eu penso também
que ele poderia ser como ele.

Respiro fundo e então Raquel entra no quarto.

- O que você está fazendo ainda nessa cama? _ ela coloca as mãos na cintura e faz cara de
raiva.

- Eu não quero ir. _ digo revirando os olhos. Respiro novamente e a olho tampando a minha
cabeça.

- Você tem que ir. Onde se funciona um restaurante que não tem chefe? _ela se senta ao meu lado
e tira a coberta de cima de mim. Olhando-me ternamente.

- Eu não sei, mas estou sentindo algo estranho, uma sensação ruim. _digo engolindo seco e então
ela revira os olhos.

- Você sempre sente isso. Vamos logo. Levanta. _ela diz e então decido levantar.

Ela tem razão.

- Tudo bem, eu vou me arrumar. _ digo por fim e então ela sai do meu quarto.

Vou em direção ao armário e pego uma troca de roupas, blusa branca e calça preta com alguns
rasgadinhos na coxa, eu gosto dessa calça. É uma das coisas que eu nunca pude usar, a não ser
que, eu estivesse na lanchonete, onde eu era obrigada a trabalhar como escrava, não ganhava
nada.

Eu também não podia escolher minhas maquiagens, sempre usava rosinha, bem sem graça.

Eu hoje me vejo independente de homem, mas dependente do medo. Não fui louca de acabar
com minha vida, me cortando ou entrando em depressão que nem muitas pessoas fazem.

Eu tinha uma conhecida que se largou no sadomasoquismo depois que seu marido violento a
deixou.

Pelo amor! Ela deixou de apanhar de um para apanhar de outro.

Eu sinceramente não sei o que se passa na cabeça de uma pessoa que faz isso. Odeio qualquer
tipo de violência, seja contra mulher, homossexual ou qualquer outro tipo de pessoa "diferente" dos
padrões da sociedade.

Mal percebo e já estava arrumada. Caminhei para fora do quarto e encontrei Raquel sentada
no sofá da sala. Ela estava do mesmo jeito que em todos os dias. Blusa verde com o brasão do
nosso restaurante, saia nos pés com uma grande fenda do lado.

Sexy.

Saímos de casa e então voltei a pensar.

Eu era tão destratada, minha pele não é branca, meus cabelos são lisos por conta de meu pai
que era branco, os meus olhos são escuros. Já sofri grande preconceito onde eu moro, mas a
beleza desse lugar e a gentileza de algumas pessoas me fez ficar, aceitar e mudar.

Eu aprendi a não me abalar mais com pouca coisa, eu não posso ir à polícia então tudo que eu
passei guardei para mim.

Á policia é minha grande inimiga, infelizmente eu só posso usar esses termos, eu tentei procura-
los, mas a primeira coisa que fizeram foi me entregar para meu "marido".

Aparentemente meu grande senador provou para as autoridades que eu tenho problemas de
cabeça.

- Está pensando em que?_ Raquel olha para mim de rabo de olho.

- Sempre no passado, não sei até quando isso vai me perseguir. _digo e respiro fundo.

- Vai parar quando você parar de pensar, parar de achar que ainda irá te acontecer algo,
somente porque está tentando ser feliz. Acorde Alicia. Você é linda, é uma mulher cheia de ideias.
Pare de esperar pelo pior. Eu sei que você nunca vai me contar nada sobre essa merda do seu
passado, mas eu tenho que dizer, já se faz quatro anos.

Não respondo o que ela diz, apenas volto a olhar para a janela e espero o tempo passar até
que eu chegue ao restaurante.

Eu sei que ela tem total razão.

[...]

Olho em volta e tudo já estava cheio.

- Olha esse movimento! _ Raquel dava pulinhos. Eu via sua animação crescer e a minha angustia
também.
- Ainda bem. _digo com um sorriso fraco.

- Mas nada se compara aquele homão que está entrando agora.

Ela diz e então eu olho em direção a porta. Meu coração para.

É o da moto.

E infelizmente está acompanhado de uma mulher linda. Uma negra linda. O que me faz sorrir.

Ele gosta de negras.

Sua pele era de um chocolate lindo e seus cabelos grandes, ela estava aparentemente feliz.

O que será que ele está fazendo aqui? Estamos muito longe do Rio de Janeiro.

- Ainda está parada ai, por quê? _ Raquel me pergunta sorrindo.

- Ele faz parte de uma noite feliz de meu passado. _ digo ainda com um sorriso bobo.

- Então está esperando o que? Vá atendê-lo. _ ela me empurra e eu sinto uma sensação estranha.
Pavor.

- Não, não vou. Isso é o seu trabalho. - digo e viro-me de costas indo em direção à cozinha.

Sei que ela ficou parada no meio do restaurante, mas eu que não vou ficar falando nada. Eu
não quero saber do meu passado, mesmo ele não tendo feito nem parte.

A noite ia passando, por várias vezes fui chamada para ser cumprimentada pelos clientes que
se satisfaziam com meus pratos. A equipe estava bem hoje e o trabalho ainda mais.

Eu não o vi mais, mas também não fiquei procurando, não sei em que mesa se sentou, o pior
desde que eu o vi, meu coração continua acelerado.

É como se estivesse alguma coisa me causando um tipo de felicidade e nervosismo ao mesmo


tempo, mesmo que eu não queira é nos seus passos entrando no restaurante que eu lembro.

Pego algumas folhinhas e jogo finalizando os pratos que estão em minha frente.

- Vem, ele quer te ver. _ Raquel diz com um sorriso enorme no rosto.

- Ele quem? _ pergunto ainda olhando para os pratos em minha frente.

- Vem logo. _ ela diz me puxando. Solto meus cabelos rapidamente e seco as mãos em um pano e
então vou em direção a Raquel.
- Eu não quero mais falar com clientes, eu estou ocupada. _digo próximo ao seu ouvido assim que
a acompanho.

- Com esse gostará de falar. _ ela diz e então olho para frente.

Vejo-o sentado junto a sua companheira com um olhar quente e alegre ao mesmo tempo.

Ele não deve me conhecer mais, mesmo que eu veja que seu olhar me diz outra coisa. Continua
lindo. Olho para suas roupas e vejo que está de jaqueta, o que me deixa contente em saber que
ainda anda de moto.

- Tudo bem? _ a moça que estava com ele pergunta e só então percebo que ainda estou olhando-
o.

Que vexame, Alicia!

- Tudo bem. _ele adianta em dizer. - Eu queria te parabenizar. Sua comida é uma delicia. _ ele
está flertando.

Meu coração começa a bater feito um louco e então olho para a moça ao seu lado. Ela ainda
está desconfiada, mas dessa vez nada diz.

- Eu também queria agradecer, sempre venho comer aqui, mas sozinha, é claro. Porém, hoje eu
trouxe meu amigo e vejo que fiz bem.

Amigo...

- Muito obrigada. Espero que continuem gostando, mas agora eu preciso continuar no trabalho.
Aproveitem a noite. _digo e me afasto um pouco, mas ainda os olhando.

- Obrigado você por ter vindo até mim. _ ele diz ainda me fitando.

Assinto e sorrio fraco. Mas quando ia dar mais um passo para trás, sinto mãos em meu pescoço.
Quando ia gritar ouço a voz.

- Isso aqui é um assalto. Todos no chão ou a pretinha está morta. _ respiro fundo, e olho para o
homem a minha frente que coloca a mão na cintura disfarçadamente. Sua amiga também se mexe
estranho e então o homem começa a andar em direção ao caixa.

Porra! Faturamos muito hoje!

O outro homem está com a arma virada para os clientes, eu não consigo me mexer mesmo
querendo. Eu aprendi a me defender sozinha, mas não tinha posto em pratica e pelo visto nem vou.
Olho para minha amiga, que está chorando jogada ao chão. Eu não sei o que fazer. O homem
atrás de mim ainda está com a arma em minha cabeça, posso ouvir o barulho de minhas moedas e
também do fecho de sua mochila.

- Agora saci, você vai comigo, sabe, eu não posso correr riscos. _ e então olho para sua face. O
que me causa uma extrema e repentina tremedeira.

- Eu não vou a lugar nenhum com você. _ digo fechando os punhos.

- Eu disse para ir agora! _ ele fecha os olhos e estala o pescoço.

Sua aparência era de um clássico assassino.

Pele branca, careca, olhos negros e tatuagens até mesmo no rosto.

Respiro fundo e resolvo não contestar. Eu não sofri tanto para morrer em um assalto.

Viro de costas e caminho e quando passo por Raquel olho em sua face, estou me despedindo e
agora ela chora ainda mais alto.

- Cala a boca, neguinha. Eu não sei da onde inventaram de colocar preto como alguém na
sociedade. São todos merdas. Cor de bosta, merdas são.

Ele diz e gargalha. Olho para trás para bater em seu rosto, quando vejo o motoqueiro de pé
com a arma em punho e só tenho tempo de me afastar e o tiro é disparado.

O outro assaltante estava na mira de sua amiga. Vi que ele pegou o celular, mas antes de
discar qualquer numero a policia chegou.

Não. Eu não posso ficar aqui.

Respiro fundo e tento pensar rápido. Faço minhas pernas se moverem em direção à cozinha,
passo por todos com as mãos em meus cabelos, estou sem foco. Abro a porta dos fundos; pego a
chave do carro em meu bolso. Raquel costumava deixar a chave comigo e agradeço muito a ela
por isso.

Entrei no carro e acelerei sem olhar para trás, até que vi pelo retrovisor uma moto se
aproximando.
CAPÍTULO 1

ALICIA DALGLIESH

Eu tentava fugir da invasão de sentimentos ruins que passavam por meus sentimentos
empurrando o pé até o fim no acelerador, eu não queria que aquela moto se aproximasse de mim,
queria esquecer que eu corro o risco de ser descoberta novamente e não...

Eu tentava fugir da invasão de sentimentos ruins que passavam por meus sentimentos
empurrando o pé até o fim no acelerador, eu não queria que aquela moto se aproximasse de mim,
queria esquecer que eu corro o risco de ser descoberta novamente e não poder continuar minha
vida. Eu não sei até a onde eu consigo ser forte, mas acho que não por muito tempo.

Vejo que a quilometragem do carro já marca mais de cento e sessenta quilômetros por hora,
acho que a qualquer hora posso perder o controle e bater em qualquer poste acabando com o
meu sofrimento.

Finalmente o senador teria o que queria; minha alma.

A moto estava ao meu lado e eu sentia quem estava ali, sei que ele está me olhando, mesmo que
tivesse dividindo sua atenção com a pista à frente.

- Pare esse carro, você vai se matar! _ouço a voz dele e um arrepio passa por minha espinha. Eu
não posso parar, vão me pegar. Aperto as mãos no volante e sinto minha vista se embaçar pelo
choro.

- Eu não posso, não posso! _ grito na mesma intensidade que sinto a dor e a pressão corroendo
meu cérebro. As ruas estavam vazias, e eu agradecia isso com todo meu coração.

- Você vai matar alguém! Pare! Agora! _ ele gritava, mas eu insistia em balançar a cabeça. Eu não
posso.

Já não sabia a velocidade em que eu estava, mas vi que ele me ultrapassou, entrando em minha
frente poucos metros depois, o suficiente para que eu conseguisse diminuir antes de bater nele.
Buzinei avisando que não pararia e em resposta ele diminuiu ainda mais a velocidade de sua moto.

Tentei ultrapassar, mas foi inútil, ele novamente entrou em minha frente, cansada de tentar lutar
coloquei o carro no acostamento e o parei. Chega!

Abaixei minha cabeça e coloquei-a recostada ao volante. Estou farta, eu não posso mais viver
com tanto medo. Eu não posso também me encontrar com a polícia, ele rapidamente saberia onde
estou e isso me causaria ainda mais pavor, sei que já se passaram mais de quatro anos, mas eu
não posso. Eu não posso me arriscar sabendo do perigo daquele homem.
Eu sou fraca para ele.

Ouço a porta do carro se abrindo, mas mantenho a cabeça no volante e os olhos fechados, eu
não preciso me preocupar, ele não me faria mal algum e eu posso sentir isso.

- O que está acontecendo? Por que fugiu? _ suas mãos acariciavam minha cabeça de maneira
calma, fazendo com que meu coração se desacelerasse aos poucos.

Depois de vários minutos de silêncio e já com o choro sessado, eu abro os meus olhos e fixo aos
dele.

- Por que veio atrás de mim? Não sabe quem eu sou!

Eu acho que ele não se lembra de mim, não expressou nenhuma emoção ao ver-me, mas também,
nós não tivemos nada. Foi apenas algumas horas e nunca mais. Nunca mais o vi. Aquele
desgraçado havia me tirado da lanchonete. Seria louca se quisesse que ele se lembrasse de mim,
ninguém seria tão carente quanto eu.

- Não? Não se lembra da noite em seu trabalho? Por favor, não finja, eu vi o jeito que me olhou, sei
que também me conheceu. _eu ainda tinha meus olhos grudados aos dele. Era como se tivesse um
tipo de imã ou ligação.

E ele se lembra de mim! Eu não poderia estar feliz, queria sorrir nesse momento, mas acho que ele
perceberia minha feição boba.

- Eu pensei que não fosse tão importante ao ponto de lembrar-se de mim depois de tantos anos, foi
apenas algumas horas... nunca tivemos nada, não é normal que se lembre.

- Nunca nos esquecemos de certas coisas, acho que você sabe disso. _ ele diz olhando tão
profundamente para mim que acho que lê minha mente.

- Sei. _tento esconder o sorriso, porém, é em vão.

- Que bom te ver sorrindo._ ele estende as mãos para que eu saia do carro e eu as seguro, e
nesse momento acontece algo muito estranho. Sinto uma corrente elétrica percorrer todo meu corpo
desde minhas mãos até a ponta de meus pés. - O que foi?_ ele sorri e frange a testa.

- Não é nada. _digo envergonhada.

- Tudo bem. Olhe a onde nos trouxe? _ ele diz e então olho em volta, vejo que estou no meio do
nada, mas mesmo assim consigo ouvir o barulho de uma cachoeira bem próximo.

Onde vivemos têm muitas cachoeiras, somos cercados por elas na verdade.
- Aqui é bonito. _ digo, caminhando alguns metros a frente dele e parando, daqui posso ver o
brilho da lua reluzindo sobre a água.

- Aqui é maravilhoso, mas eu não quero falar disso agora. _ sua voz está bem próxima ao meu
pescoço, e suas mãos agora passam por meus ombros fazendo um tipo de carinho.

Viro-me para ele e o encaro, eu não tinha me envolvido com ninguém desde que fugi, mas sinto
uma grande necessidade de beijá-lo. Ainda não sei o que está acontecendo comigo.

- Do que quer saber? _acabo olhando para a boca dele e me sinto envergonhada por isso. Talvez
ele tenha algo com aquela mulher, mesmo que se considerem amigos.

Como Raquel diz, foi para uma amizade que ela perdeu seu marido.

- Por que fugiu? Mas primeiro, me diz seu nome. Eu ainda não sei. _ ele diz olhando para mim e me
sinto envergonhada. Abaixo a cabeça.

- Eu não posso encontrar a polícia. E o meu nome é Alicia Dalgliesh. _ volto a olhá-lo. Eu também
não sabia o nome dele. Ou pelo menos não me lembro dele ter dito.

- Isso eu já sei, Ali. Prazer. _ele estende a mão. – Meu nome é Rafael Mello. _ um sorriso lindo sai
de seu rosto. As minhas pernas já não me obedeciam mais.

Ali...

- Prazer. _digo.

Um silêncio permaneceu, mas não estava ruim. Eu apenas achei que não devia mais falar, estou
com medo que pergunte algo.

O seu nome era lindo. Rafael... Era como se se repetisse em minha mente com a sua voz o tempo
inteiro.

- Você é mesmo amigo daquela moça? _ acabo perguntando sem querer.

- Pelo visto ficou com ciúmes. _ o encaro, eu não tenho motivos para ter ciúmes dele. Na verdade
não vejo nenhum motivo.

É só curiosidade. Eu acho.

- Não tenho motivos para ter ciúmes. _ digo sem olhá-lo. Eu não posso dizer que não, realmente eu
fiquei interessada em ver se ele tem alguém. Não que eu quisesse ter algo com ele, longe de mim.

Nem tão longe assim, Alicia.


- Eu também não, mas eu gostaria de saber se ainda é casada com aquele babaca? _nesse
momento meu corpo se tencionou, eu não sabia o que fazer, mas o clima havia acabado.

- Acho melhor irmos embora, Raquel deve estar preocupada. _ digo, mas no momento seguinte
lembro-me de que eu não posso voltar hoje e se a polícia ainda estiver investigando?

- Creio que ela entenderá que você precisa de um tempo. _ ele diz se aproximando, e à medida
que ele dava um passo para frente, eu dava um passo para trás.

- Tem razão, mas eu não tenho para onde ir. _ digo parando, não vou andar mais, isso é ridículo.
Eu já sou uma mulher bem crescidinha para isso.

- Pode ficar onde eu moro, lá é pequeno e simples, mas deixo que fique em meu quarto. _ ele diz
e eu ergo uma de minhas sobrancelhas, o que ele está pensando que eu sou?

- Calma! Eu não quero que durma comigo. É porque tem apenas um quarto, então você fica no meu
e eu durmo na salinha. _ ele diz e então respiro fundo.

- Eu não devo. Vou te incomodar e com certeza você tem trabalho.

- Tenho sim, mas não se preocupe. Não me atrapalhará em nada. Não tenho frescura para dormir.
_ ele diz e eu fico em silêncio.

Eu poderia negar e dizer que tenho outro lugar para dormir, mas não tenho. Estou sozinha nesse
lugar, tenho apenas a Raquel.

- Tudo bem. Eu vou.

Caminho de volta para o carro, mas quando passo por ele. Vejo que sua intenção não é ir embora
agora.

- Onde pensa que vai? _ ele diz e então paro de frente a ele.

- Para a sua casa, dormir... estamos no meio do nada! _ digo abrindo os braços e sorrindo.

Ele exerce o poder da felicidade em mim.

- Não. Agora não! Quando estamos tristes ou nervosos precisamos espairecer! A noite está linda,
temos uma cachoeira enorme em nossa frente e você quer ir embora? _ ele pergunta como se
duvidasse mesmo que eu quisesse ir embora.

Mas na verdade eu quero, estou com frio.

- Eu estou congelando, Rafael. Assim além de preocupada eu ficarei doente. _digo e ele na mesma
hora tira sua jaqueta.
Que cena!

- Coloque os braços. _ ele diz e eu o obedeço. – Melhor? _ sorrio assentindo. E então ele pega a
minha mão novamente e passa por seu braço.

- Não quero que fuja. _ ele explica porque me segurou.

- Não vou. _ digo e então caminhamos em direção à cachoeira. A noite estava realmente um
espetáculo, mas aqui não se faz frio para tomar banho de cachoeira.

Pouco tempo depois chegamos à cachoeira. O clima estava extremamente pesado. Mas não por
raiva ou constrangimento, mas porque eu queria que eu estivesse em outro momento da minha vida,
queria poder beijá-lo sem sentir vontade de vomitar, sem sentir nojo de mim ou em algum momento
desmaiar.

Eu sentia nojo do meu corpo, nojo de uma mão masculina me tocando de maneira abusiva e
indecente. Não sei quando me curarei disso.

Mas não está nem perto.

- Está tão tensa que está me deixando nervoso. _ ele diz e se senta em um dos bancos de frente
para a cachoeira.

Temos o costume de trazer livros para cá e ler, é gostoso. Durante a semana é ainda melhor. Tem
poucas pessoas.

- Desculpa, faz muito tempo que eu não fico sozinha assim, com... _ ele me interrompe.

- Um homem? Isso quer dizer que está solteira. Que alívio! Pensei que teria que matar um babaca.
_ ele diz e eu o olho.

- Sério? _ pergunto sorrindo e ainda me encolhendo por conta do frio.

- Sim, quem faria mal a alguém como você? Só um babaca mesmo. Ainda está com frio? Vem aqui.
_ ele me puxa para próximo de seus braços e eu me aconchego neles, sinto seu perfume um pouco
forte invadir minhas narinas, fecho meus olhos e respiro fundo, gravando aquela fragrância tão
gostosa.

Ele mudou de assunto, sei que não quer me deixar constrangida e realmente conseguiu que eu
não ficasse.

- O que você fazia quando eu te conheci? Naquela noite você estava triste. _ pergunto depois de
algum tempo e o vejo respirar fundo.
- Eu era segurança particular. Eu passei por péssimos momentos, Alicia, mas eu acho que a ferida
hoje é bem menor do que já foi.

Posso ver a angustia em sua voz. Ele sofreu por amor, e isso está bem claro desde o primeiro dia
em que o encontrei.

- Faz quanto tempo? _ eu queria saber e entender se algum dia o que eu sinto irá diminuir
também. Ele respira pesadamente mais uma vez.

- Quatro anos. No começo eu me senti muito estranho, eu nunca tinha vivido sozinho.

- Morava com seus pais? _ pergunto me afastando de seus braços e virando de frente para ele.
Estava gostando do meu interrogatório.

- Não, eu não tenho pais. _ ele diz aparentemente triste. – Mas só você me interrogará?

Fico envergonhada.

- Pode perguntar o que quiser, mas eu escolho responder ou não. _ ele assente.

- Por que veio morar aqui? _ ele vira de frente para mim, trazendo os pés para cima do banco.

- Eu queria ficar longe de tudo. _ dessa vez eu respiro fundo.

- Você tem família? _ ele pergunta interessado.

- Não. Não me dou bem com minha mãe e meu pai morreu quando eu tinha doze anos. _ respondo.
Eu ainda sinto saudades do meu pai, ele era um homem bom.

- No meu caso, eu amava a minha mãe, mas odiava o meu pai. Os dois morreram há muito tempo.
_ ele diz e posso ver seus olhos se enchendo de lágrimas o que também me deixa emocionada.

- Tem irmãos? _ pergunto.

- Tenho, ele é bom, mas não vive próximo a mim. É um agente. Não tem residência fixa e não pode
ter família muito próxima.

- Entendo, eu não sei se tenho irmãos, pelo menos até "sair" de casa eu não tinha. _ faço aspas na
minha cabeça, mas não com as mãos.

Eu não preciso contar que fui vendida.

- Hm... acho temos coisas em comuns. Na verdade tristezas e solidão. Aquela moça que você viu
comigo foi à pessoa que me salvou de toda solidão. É uma ótima mulher e amiga de trabalho.
- Você trabalha com o que agora? Estava armado. Eu também tenho a Raquel, ela também me
salvou, me encontrou e me deu aquele restaurante. Aquilo ali me faz muito bem.

- Eu continuo sendo segurança. E eu tenho porte de armas desde que moro em Londres.

- Londres? _ pergunto. Eu amaria conhecer esse lugar, mas nunca tive oportunidade.

- Sim, morei lá durante boa parte da minha vida. _ele responde sério. – Já está na hora de irmos.
Já se passa de meia noite, estamos longe de casa e infelizmente amanhã terei que trabalhar.

- Tem razão.

[...]

RAFAEL MELLO

Eu já estava arrumado para dormir na sala e Alicia já estava em meu quarto, eu a vi quando
saiu do restaurante e não podia deixar que fizesse uma besteira, talvez se eu não tivesse ido atrás
dela, teria se matado.

Temos que saber usar a velocidade, não podemos nos arriscar e arriscar alguém.

Quando eu a vi, sinceramente, não tinha como não conhecê-la, eu nunca me esqueceria de seu
rosto e muito menos da sensação feliz que eu senti ao vê-la pela primeira vez.

Foi muito difícil de encostar-me a sua pele e não sentir vontade de beijá-la. Por mais que eu
saiba que não deveria e que ela tem aquele desgraçado em sua cola. Eu queria que ela estivesse
na minha cama, quer dizer, ela está, mas não comigo ao seu lado.

Eu não consigo não querê-la. E essa noite será um inferno para eu dormir.

Ela está aqui...


CAPÍTULO 2

ALICIA DALGLIESH

O perfume do Rafael estava impregnado na cama, fazendo com que meus sentidos ficassem
aflorados, mesmo que eu tenha certeza que não consigo chegar perto dele e me mostrar afim de
algo mais intimo
O perfume do Rafael estava impregnado na cama, fazendo com que meus sentidos ficassem
aflorados, mesmo que eu tenha certeza que não consigo chegar perto dele e me mostrar afim de
algo mais intimo.

Conviver todos esses anos com um homem como o senador foi algo difícil, e acho que ainda é.

Eu sofri muito, apanhei muito, sofri queimaduras de graus elevados, o que me faz ter algumas
marcas horríveis pelo corpo.

Ele nem sempre foi um senador, quando o conheci era um mimado, filho de papai que gostava de
aventuras. Um traficante rico. Idolatrado por sua família como se o que ele fizesse fosse lindo e
maravilhoso.

Eu ainda não sei por que ele quis se casar comigo, eu era a filha de uma empregada, uma mãe
que nunca se importou comigo e que ainda me vendeu, como se eu fosse um grande investimento. E
para ela, eu fui.

Respirei fundo e senti novamente o cheiro dele. É tão maravilhoso que afundo meu nariz no
travesseiro e deixo um sorriso bobo escapar de meus lábios.

Resolvo tirar a roupa que eu estava, odeio dormir vestida, me incomoda, deixa-me apertada e
afogada, nem de camisola eu durmo.

Tiro tudo e olho em volta, a noite estava fria, mas em cima da cama só havia uma colcha fina.
Procuro por uma camisa dele. É claro que ficaria bem maior do que eu. E isso deixaria- me mais
confortável. Olho em volta e vejo uma blusa branca, jogada em cima de uma cadeira, pego-a e a
coloco, volto-me a deitar e começo a sentir cede. Já se passam das três da manhã, será que ele
ainda está acordado? Eu não quero ter que colocar um sutiã.

Levanto-me novamente, pelo jeito não dormirei essa noite. Vou até a porta e abro-a com cautela.
A sala estava logo a minha frente; e ele estava deitado virado de costas para mim. Respiro fundo
e saio do quarto, passo por ele e percebo que está dormindo e isso me deixa mais tranquila, vou
diretamente até a cozinha e abro a geladeira.

Nossa! Até que é arrumadinha para um homem que mora sozinho.


Pego a garrafa e vou até a pia onde têm alguns copos no escorredor, tudo aqui é muito simples,
bem diferente do que imaginava para esse homem. Eu poderia jurar que ele era bem de vida, não
só por sua moto, mas também pelo seu comportamento, é bem educado e muito discreto, não que
pessoas com classe baixa não possam ser assim, mas é mais difícil, sei por que fui criada na
favela.

Quando o meu pai morreu, minha mãe gastou todo o dinheiro com homens e cachaça. Ficamos
pobres rapidamente e ainda passei por muita dificuldade, mas nada disso me fez ser alguém que
desprezasse o valor da minha vida e do meu corpo. Nunca me dei por dinheiro, nem me envolvi
com trafico.

Sempre fui bem educada, não por minha mãe, mas por mim mesma. Meu jeito é parecido com o
do meu pai.

Graças a Deus.

Depois de tomar todo o copo d'agua viro-me para por o copo na pia e tomo um baita susto.
Rapidamente cruzo meus braços em cima dos seios para que os bicos não marquem.

- Desculpa... eu tive cede. _ digo envergonhada, havia um olhar diferente em seu rosto, mas eu não
conseguia decifrar.

- Não se preocupe. Você fez barulho quando abriu a porta do quarto e como meu sono já estava
leve acabei acordando.

Então ele estava acordado quando eu passei por ele? Fingido.

- Eu pensei que você estava dormindo. _ afirmo envergonhada.

- Percebi, acho que você achou a blusa que eu trabalhei ontem. _ ele sorri olhando-me de cima a
baixo.

- Achei. Eu estava cansada daquela roupa. Odeio dormir de roupa... apertada._ olhava-me
envergonhada por estar com sua roupa.

Achei melhor completar a frase. Mas vi que ele percebeu o que eu tinha dito, já que
rapidamente seus dentes passaram por seus lábios.

Que droga!

- Pode ficar, ficou melhor em você do que em mim. _ ele afirma. – ainda está com sono? _ ele olha
para mim parecendo acordado demais.

- Eu perdi, não consegui dormir na verdade. Seu cheiro é bom.


Vejo um sorriso em seu rosto e logo percebo o que eu falei.

- É bom saber que meu cheiro te tira o sono. _ ele sorri de canto de boca.

Balanço minha cabeça e sorrio.

- É bom, mas acho que a adrenalina que me tirou o sono. _ o desmereço e vejo o sorriso sumir.

- Eu queria muito saber mais de sua vida, mas não seria justo que eu não contasse a minha
também. O que acha de conversarmos?

- Eu nem te conheço, Rafael. _ vejo seu olhar se fixar ao meu. Eu posso ver sensações e sentimentos
diferentes em seus olhos, é estranho. Parece que posso lê-lo.

- Não conhece porque depois daquele dia você sumiu. Procurei-te algumas vezes, mas você não
trabalhava mais lá, não me disseram seu nome, não queriam que eu te encontrasse.

Meu coração gela, mas isso não muda nada, eu continuo não o conhecendo.

- Mesmo assim, acho que vou dormir. _ eu sei que não pegarei no sono.

- Você que sabe. _ ele diz um pouco desapontado.

Viro-me de costas para ele e vou para o quarto em que estou dormindo, não olho para trás, mas
sei que continua parado me olhando.

Deito-me na cama e respiro fundo novamente o travesseiro, fazendo força para que eu dormisse
e então consegui.

RAFAEL MELLO

Quanto eu quero descobrir essa mulher? Eu quero tê-la para mim, pela primeira vez em anos eu
me sinto facilmente atraído por alguém, e não só pela aparência, pelo jeito também

Quanto eu quero descobrir essa mulher? Eu quero tê-la para mim, pela primeira vez em anos eu
me sinto facilmente atraído por alguém, e não só pela aparência, pelo jeito também.

Ela tem um mistério diferente, um jeito só dela.

Um código.

Eu passei a noite toda me revirando depois de ver aquele corpo se conduzindo ao meu quarto,
dormir sobre a minha cama. Eu não tenho palavras para descrever o tamanho da ereção que eu
tive.
Levanto-me tentando me concentrar no que eu tinha que fazer, eu ainda preciso trabalhar hoje,
não posso me dispersar por causa de uma mulher... Linda... Gostosa... Misteriosa.

Vou até a cozinha e preparo o café, pego um pão e uma torrada e paço uma geleia de
morango. É a minha favorita, mas não sei se é a dela.

Faço um lanche e vou em direção ao quarto, ela ainda está dormindo, aposto. Onde ela
trabalha tudo é feito durante a tarde e a noite, creio que ela costume acordar mais tarde.

Abro a porta equilibrando a bandeja em um braço só e quando acabo de abri-la quase tenho
um infarto.

Respiro fundo e tento não gemer com a imagem que eu vejo.

Seu corpo está descoberto, pelo menos até o meio da coxa, uma de suas pernas está elevada
enquanto a outra está normal. Alicia está de bruços; o que deixa sua bunda empinada, o tecido de
minha camisa também não cobre todo o sua poupa, deixando boa parte dela a vista.

Eu não merecia isso! Que maldade.

Vou até o criado mudo ao seu lado e coloco a bandeja, com calma subo a colcha pelo seu corpo
e solto minha respiração logo depois.

Caminho até meu armário e pego uma cueca limpa e também uma muda de roupas, saio do
quarto fechando a porta atrás de mim com muito cuidado, não quero que ela acorde.

Paro e passo as mãos pelos cabelos. O que está acontecendo comigo? Eu nunca senti isso em
toda minha vida, eu já tenho vinte e oito anos!

Não que eu seja velho, mas as pessoas costumam a se apaixonar mais cedo, a casar mais cedo.

Casar...

Eu queria me casar com a Amber, demorou muito para que eu percebesse que ela não era para
mim, eu de maneira nenhuma seria feliz ao lado dela. No amor, os dois devem se igualar nos
sentimentos, se um amar menos que o outro, fará seu parceiro sofrer, e naquela relação eu
sofreria.

Hoje eu percebi que tudo que eu sentia por ela não era o certo. Eu não a amava, se não nunca,
mesmo que afastado, sentiria o que eu senti agora.

A Ali, é alguém que mexeu comigo desde a primeira vez que eu há vi.

Aquela noite foi inesquecível para mim.


Balanço minha cabeça e resolvo ir tomar banho, entro e tiro minha roupa, vou para debaixo do
chuveiro e olho para baixo.

- Difícil te controlar em parceiro...

Ignoro meu amigo duro e tomo um banho rápido, coloco minha roupa e corro, já estou atrasado.

Coloco meu coldre e o capacete, minha carteira e meu celular, que já estava desligado desde
ontem há noite. Procuro meu carregador e coloco na mochila.

Pego a chave da moto e saio de minha casa, mas logo lembro que não deixei nenhum aviso
para Alicia.

Entro novamente e pego papel e caneta escrevo rápido e vou em direção à porta novamente,
tranco-a e escorrego a chave para dentro de casa.

Passo por dona Eugenia e dou-lhe bom dia.

Subo em cima da moto e dou-lhe partida, saio acelerando, preciso chegar rápido. Vou acabar
levando advertência.

[...]

Chego e meu chefe me olha estranho.

- Vou te perdoar, porque nunca o vi chegando atrasado, mas da próxima vez terá que assinar
advertência.

- Sim, senhor, me desculpe eu... _ sou cortado.

- Não quero saber os motivos, só cumpra o seu horário. Isso aqui é um banco e não um psicólogo.
Não quero saber de seus motivos, eu quero somente o seu trabalho.

Vira-se e sai, sem dizer mais nada. Eu odeio esse cara. Ele nem é o gerente do banco e já se
acha o maioral.

Nunca desejei mal a ninguém, mas espero que esse cara se ferre.

Posiciono-me na porta giratória, nunca sofremos um assalto, mas não custa nada ficar de olho em
quem vem até o caixa eletrônico.

- E ai, cara? Como você está? _ Leandro também era carioca, gosto de conviver com pessoas que
não são daqui, esses sotaques são muito esquisitos. Prefiro falar "carioquês" mesmo.

- Melhor impossível e você? _ pergunto voltando minha atenção para dois homens um pouco
suspeitos que acabaram de entrar.

- Estou bem, minha filha que está um pouco doente. _ Leandro tem uma família linda, sua mulher é
um pouco/muito ciumenta, e sua filha herdou isso dela. Até que tem um tempo que ela não vem dar
show aqui na agência, ele quase já foi despedido duas vezes.

- Melhoras para ela. Sei que Deus fará o melhor.

Eu não tinha costume de frequentar igreja, mas sempre acreditei muito em Deus, ele age em
nossas vidas da melhor forma e disso eu nunca posso duvidar.

Nunca eu coloquei a culpa de tudo que aconteceu nele.

Nós temos nossas próprias escolhas, mesmo que ele possa, Deus não nos manipula a sua vontade.
Pelo menos eu creio que não.

- Sim, hoje é folga da Débora? Onde ela está?

Nesse momento um frio enorme atinge meu estômago, coloco as mãos na cabeça e sinto uma
imensa culpa.

- Eu esqueci! Eu não acredito que eu esqueci.

- Esqueceu-se do que Rafael? _ ele pergunta colocando a mão sobre meu ombro.

- Eu esqueci-me de ligar para ela, de explicar porque sumi, eu esqueci-me de buscar ela hoje.
Débora vai me matar!

Ele gargalha.

- Comeu quem essa noite? _ ele pergunta já vermelho de tanto sorrir.

- Não comi ninguém, mas eu me distraí com uma pessoa. _respondo pensando na Alicia dormindo

Inferno!

- É cara, acho que você já pode começar a rezar. Ela chegou. _ ele diz e se afasta indo para
outro ponto da agencia.

- O que você pensa que é para fazer isso comigo? Você está louco, Rafael? Deixou- me sozinha na
porra daquele lugar ontem, ai, hoje você não me acorda, não me dá um sinal de vida e ainda
deixa que eu venha de ÔNIBUS para o serviço? Claro, sem contar que eu posso ser demitida. Seu
otário! _ ela da um soco no meu peito. Fico sério, quase chorando de dor, mas sério.

- Me desculpe! Você quer que eu faça o que? Viva em sua função? Eu sei que errei, mas não
precisa gritar.

- Não precisa gritar? Você tem ideia de quantas vezes tive que te aturar com dor de cotovelo?
Gritando e sonhando, chamando por uma mulher que nem quis saber de você? Eu não te esqueci
Rafael! _ vejo seus olhos cheios de lágrimas.

- Vá para a minha sala, Débora e pare de escândalo, quer ser despedida de uma vez, sua
incompetente?_ nosso chefe cospe as palavras e ela me lança um olhar mortal deixando-me
sozinho.

Ouço Leandro me chamando pelo rádio.

- Que cena em... puta que pariu, Débora está pior do que minha esposa. _ ele gargalha.

- Ela está puta, o pior que eu não sei viver sem essa mulher, vou ter que me desculpar de alguma
maneira.

- Vai mesmo, agora olhe esse homem a sua frente, ele está muito suspeito.

- Eu também estou achando, é a segunda vez que ele vem aqui desde que eu cheguei.

- Fique de olho, Rafa. _assinto para ele do outro lado da agencia e então saio em direção aos
caixas eletrônicos.

Aproximo-me do homem que se assusta ao ver-me tão próximo.

- Tudo bem, senhor? _ o observo com cautela, prestando a atenção em todos os detalhes.

- Sim, eu estou esperando a minha esposa. Desculpa se quiser eu posso esperar lá fora. _ ele diz
um pouco nervoso.

- Tudo bem, senhor.

Quando olho para trás vejo a mulher de Leandro se aproximando, vejo que ela está
extremamente nervosa.

Há essa hora o banco já abriu, são dez da manhã e então ela pode livremente entrar. Anda
rapidamente até o seu esposo e para enfrente dele com a cara fechada, logo vejo que ela se
exalta e começa a balançar os braços, não aguento e passo o rádio para ele.

- Lugar de se discutir com mulher é no banheiro, cara. Aqui não, lá você acaba com essa marra.

Digo gargalhando e ele logo olha para mim.

- Tem razão. _ ele respira fundo e coloca a mulher de contra a parede, revistando-a e colocando
seus braços para trás.

Ainda posso ouvir toda a conversa.

- Você está sendo detida por desrespeitar a autoridade._ ele diz sério.

Os dois se afastam indo em direção ao subsolo da agência.

Longos minutos depois eles voltam. Sua mulher está com maior cara de safada e ele ajeitando a
calça.
CAPÍTULO 3

RAFAEL MELLO

O dia passou mais devagar do que o normal, minha consciência ainda estava pesada por ter
deixado a Débora de lado, pisei feio na bola e acho que somente um jantar ou um filme para
deixa-la feliz novamente.

Débora não é qualquer mulher, franzina, delicada, nunca soube se ela já passou por muitos
problemas, acho que todos esses anos eu me preocupei comigo mesmo e esqueci-me de quem
estava ao meu lado.

Eu tenho sido um péssimo amigo.

Encosto-me à parede de vidro e começo pensar em minha vida, será que é tão difícil viver
sozinho? Será que eu não consigo lidar comigo mesmo?

Antes eu não tinha vida, agora eu deixo pessoas de lado, penso somente em mim, a única pessoa
que eu consigo me importar mesmo sem conhecer, é outra que tem problemas piores que o meu.

Que droga eu continuo fazendo da minha vida?

Eu faltei com Débora, faltei com Amber, deixei que em um momento tão difícil da vida dela, eu
estivesse longe, fingi que não a conhecia mais. Sendo que até hoje ela ainda é a primeira pessoa
que eu penso antes de levantar. A não ser de hoje, eu pensei na Alicia.

Às vezes penso que estou vivendo um filme de terror desde que tomei consciência de quem eu
era.

Mas a única coisa que eu preciso fazer agora é pensar no que eu terei que fazer para me
desculpar com a Deca.

Olho para frente e vejo uma mulher frustrada olhando para mim, ainda não sabia como ela
havia chegado ali.

- Pôs não, senhora. O que deseja? _ pergunto me recompondo e me afastando do vidro.

- Eu queria uma informação, mas acho que não te pagam para isso. _ ela cospe as palavras com
raiva e me dá as costas.

Mais uma para aquele puxa saco me chatear.

- Desculpa, senhora, todos nós temos dias difíceis. _ tento me explicar, mas ela não ouve e então
tento prestar mais a atenção no serviço.

Já estava quase em meu horário de ir embora, o outro segurança que cobriria o turno seguinte
já havia chegado, espero que ele suba e então eu desço para mudar minha roupa e conversar
com Débora, decidi em passar a noite em sua casa.

Quero evitar ficar sozinho, ainda mais que a Alicia, provavelmente não está mais lá.

Troco minha roupa, até que ouço meu celular tocar e resolvo ver quem seja.

Ligação internacional...

- Oi. _ digo sorrindo. Eu não posso acreditar.

- Tio, que saudade! _ ouço a voz que faz meu coração palpitar de tanta alegria, meus olhos estão
repletos de lágrimas.

- Eu não posso acreditar que tenha me ligado, não sabe o quanto estou feliz! _ digo e me sento no
banco a minha frente.

Letícia foi minha filha durante a gravidez de Amber, eu sinto como se ela fosse um pedacinho de
mim, que eu perdi.

- Eu liguei tio, achei a carta ontem, minha mãe tinha guardado, esperando que os anos passassem
para que eu entendesse melhor o que estava escrito.

- E como vocês estão? E seus irmãos? _ pergunto sentindo meu coração se apertar, eu não queria
saber sobre a Amber, mas seus irmãos fizeram parte da minha vida.

- Eu tenho sete irmãos, tio, e todos estão bem. _ eu sabia de todos os irmãos, a minha vontade de
saber da vida de Amber, demorou um pouco para diminuir.

- Eu sei minha bonequinha, e como estão os estudos? _ pergunto.

- Estão bem e a nossa casa ai? Ainda dorme no mesmo lugar? _ Letícia não tinha perguntas de
crianças, definitivamente.

- Não meu amor, eu me mudei no mesmo ano em que vocês se foram._ digo sentindo meu coração
se entristecer.

Droga, eu não posso me sentir assim novamente.

- A mamãe ainda sente sua falta, mesmo que ela não toque em seu nome, ela ainda tem fotos suas
em nossa casa. Na parede.
Fotos...

Eu também tenho...

- Eu também tenho fotos. _ não está na parede, não poderia me martirizar assim.

Antes que ela pudesse responder ouço a voz do Miller atrás dela perguntando com quem estava
falando.

- Estou falando com o tio Rafael. _ ouço a resposta dele "tudo bem". – Tio você já tem namorada?
_ ela pergunta.

- Ainda não, mas eu tenho uma melhor amiga, um dia te mando uma foto.

- Eu vou ganhar meu primeiro celular esse ano._ ela diz toda animada.

- Então quando você ganhar, me mande seu numero. Quero ser o primeiro a receber sua ligação.

Olho para frente e dou de cara com aquele babaca, merda!

- Princesa, eu vou ter que desligar. Depois você me liga. _ digo e ouço seu suspiro triste do outro
lado.

- Tudo bem, tio, um beijo.

- Beijos, princesa.

Tiro o celular do ouvido e bloqueio à tela.

- O que foi? _ pergunto irritado. Ele me fez desligar uma ligação importante.

- O que foi? Isso é jeito? Esqueceu-se de que você me deve respeito?

- Eu devo respeito a minha mãe, e ela está morta. Então... o que foi?

- Segundo aviso! Você está distraído, estou pouco me fodendo para quem esteja comendo, desde
que preste atenção no serviço! Não quero saber de vê-lo ao celular aqui mais.

- Que eu saiba meu turno já acabou.

- Foda-se. _ ele diz e se vira, saindo de minha frente. Levanto e soco a parede a minha frente.

Minha respiração começa a acelerar, Letícia ter me ligado me trouxe lembranças demais.

Sem perceber começo a chorar, o soluço alto escapava da minha garganta sem que eu
conseguisse segurar.

Eu disse para o Miller que nunca mais voltaria, eu precisava me encontrar, mas a única coisa que
consegui achar foi um cara desgraçado, sem soluções.

As mãos de Débora se fecharam em um abraço na minha cintura. Eu já podia sentir a paz que
ela me transmitia, mas o choro ainda não tinha se sessado. O que está acontecendo? Tem dois anos
que eu não derramo mais lágrimas de saudade.

Por que isso?

- Calma, Rafael, o que aconteceu? _ a ternura em sua voz expressava o quanto ela se importava
comigo.

- Eu faço tudo errado! Tudo errado! Eu sou uma merda mesmo. _ debruço meu corpo sobre meus
braços em cima da bancada da pia.

- Você é ótimo! Calma, por favor. _ ela vem até minha frente e alisa meu cabelo olhando em meus
olhos.

- Ótimo? Tem certeza? _sorrio sarcástico_ - Estou estragando sua vida, estou te ocupando com
MEUS problemas, nunca me importei em saber nada de você, não sei onde está sua família, ou por
que mora sozinha. Ainda me acha ótimo? Você não sabe o que está falando!

- Cala a boca! Realmente você tem suas falhas, mas não adianta um amigo saber tudo da minha
vida, se ele não me fizer sorrir, não me fazer feliz! Para de se menosprezar, para de viver a
sombra do seu passado! Estou cansada, durante esses quatro anos sempre repeti a mesma
ladainha.

Olho para ela e vejo que seus olhos estão cheios de lágrimas. Que droga.

Viro-me de frente para ela e a abraço. Beijo sua testa e respiro fundo.

- Obrigado._ finalizo o assunto, eu não preciso falar mais nada. Ela tem razão.

- Quer dormir lá em casa hoje? _ Deca pergunta depois de algum tempo.

- Quero, preciso me desculpar por mais cedo. Acho que eu posso cozinhar algo, se quiser.

- Tem certeza que não prefere jantar no restaurante da sua amiguinha nova? _ ela diz com
desdém e então me afasto dela.

- Cala a boca! Ela não é minha "amiguinha". _ digo sorrindo.

- Minha que não é. Não fui eu que enlouqueci quando ela correu do restaurante, não fui eu que
larguei meu melhor amigo, por causa dela. _ ela diz batendo em meu peito.

- É... tem razão._ digo batendo em seu braço.

- Eu sou mulher, não devia bater em mim. _ faz bico.

- Às vezes esqueço isso, deve ser por causa da sua cara de traveco! _ gargalho, pegando minha
bolça e saindo correndo.

- Você é escroto demais. _ ela sai correndo atrás de mim e quando entramos na agência o sorriso
sumiu dos nossos rostos, precisamos ser marrentos por aqui.

- Eu vou pilotando. _ ela corre na frente.

- Não vai mesmo! Vou te mostrar o que é pilotar hoje! _ digo e ela me mostra a chave, como quem
diz "se ferrou".

- Volta aqui com minha chave!_ grito, mas já era tarde demais, ela já estava em cima da moto.

- A vingança vem a galope! _ ela acelera a moto, fazendo o motor roncar alto e chamar a
atenção de algumas pessoas pela rua, assim que eu me aproximei, ela saiu e logo já havia sumido
de minha vista.

Safada!

ALICIA DALGLIESH

Eu ainda estava jogada na cama, infelizmente eu não resisti em catar à blusa do Rafael para
mim, não creio que o deixe zangado. É mais confortável do que alguns pijamas que tenho e que
sou obrigada a usar quando alguém está em minha casa.

Eu fui obrigada a contar parte do meu passado para a Raquel, mesmo ainda não me achando
segura.

Ela precisava saber do motivo que eu fujo tanto, eu não posso perder a amizade dela, não teria
mais nada.

Fora que também preciso de sua ajuda, ela cuidou de mim durante todos esses anos.

Eu vejo minha vida como um parque dos horrores, nada dá certo e quando dá, eu tenho que
fugir, tenho que viver como uma refugiada.

Eu lembro-me de quando minha mãe começou a me negociar, a querer me vender como se eu


fosse um produto qualquer.
Eu me sentia um lixo, uma menina jogada a sorte, às vezes eu pensava que poderia ser como nos
livros, tudo dá certo, a mocinha vendida se apaixona por seu comprador e dois passam a viver o
amor juntos.

Eu odiei o senador desde o dia que eu entrei naquela casa, nunca tive horror a uma pessoa
como eu tenho dele e de minha mãe. Aquela desgraçada!

Conto de fadas não existe! Aqui no mundo real, ganha quem tem poder aquisitivo.

Isso é bem claro.

- Vai tomar banho, hoje é dia de movimento. _ Raquel diz tentando me animar.

- Eu não quero ir, desculpa. Ontem eu achei que algo ia acontecer e aconteceu, hoje não irei contra
minhas sensações. _ digo lhe dando um sorriso fraco.

- Tudo bem, melhor tirar o resto dos dias de folga, não queremos que a polícia te ache.

Ela diz e eu assinto.

Não posso me expor por uns dias, não é certo.

Viro-me para o lado da cama e vejo a camisa do Rafael, pego-a e respiro fundo seu cheiro.

Eu podia querer distancia de qualquer homem, mas desse, com certeza eu quero aproximação,
mesmo não sabendo o que tanto me atrai, parece algo quimicamente valente.

Como se ele fosse algo que eu quisesse muito, mas nunca tivesse encontrado durante meus vinte e
quatro anos.

Eu acho que ele não me procurara mais. Ele não deve sentir nada por mim, às vezes há essa
hora já está com outra mulher, se divertindo, fazendo sexo...

Mas por que eu me importo mesmo? Não sou eu que sinto vontade de vomitar quando algum
homem me toca?

Por que eu não vomitei quando seus braços me envolveram?

É como se meu gelo se quebrasse quando ele estivesse perto. Meu campo de proteção se
enfraquece, mas o meu coração se fortifica e acelera bombeando sangue rapidamente por todas
as partes de meu corpo.

Eu me senti viva ontem, eu senti como essa cama que eu estou agora, nunca tivesse sido minha.

Eu quis levantar e passar por ele sem uma roupa adequada e eu não me senti envergonhada,
eu escolhi daquele jeito.

Posso estar muito errada, mas eu sinto como se ele nunca pudesse me fazer nenhum mal.

Levanto-me e pego meu notebook, volto para a cama, ligo-o e resolvo ver se há algo sobre ele
na internet.

Eu sei que ele morava em Londres, talvez fosse algo mais "famoso" por lá.

Digito Rafael Mello e rapidamente aparecem fotos dele, muitas, aliás. Na maioria esta ao lado
de Amber Queiroz, eu a conheço de nome, vi quando passou por perrengues na mídia, acho que
um vídeo dela transando vazou, mas não lembro- me ao certo.

Então ele era o segurança dele, é por ela que ele sempre foi apaixonado. Tem uma menininha
no colo dele também, aparentemente tinha câncer, espero que esteja bem. Rafael é carinhoso com
ela, mas acho que isso é o jeito dele. Sempre disposto, não o vi sério, também muito atencioso e...

Só saíram elogios dele.

- Vim... _ olho para porta e Raquel está parada me olhando estranho.

- Por que está cheirando essa blusa? _ não tinha percebido que ainda estava com a blusa em uma
de minhas mãos.

Merda!

- Porque é cheirosa. _digo me sentindo uma idiota.

- Sei, pelo visto terei que aturar uma apaixonada dentro dessa casa. _ ela revira os olhos.

- Depois de tudo que eu te contei hoje, você ainda acha que isso é possível? _ pergunto e dessa
vez eu que reviro os olhos.

- Sim, você não deixou de ser mulher, e nem muito menos de sentir atração por alguém!

Não respondo nada, apenas balanço a cabeça.

- Estou indo trabalhar, vai tomar um banho e comer algo, estou enjoada de te ver nessa cama o
tempo inteiro. _ ela se aproxima de mim, beijando minha testa e em seguida olha o que estava no
computador.

- Depois eu que sou louca. "Não, Quel, eu nunca irei me apaixonar". Conta outra.

Ela vira as costas e vai caminhando até sumir de minha vista.


Eu em! Mulher louca!

Resolvo levantar e fazer algo para eu comer, desde hoje de manhã não como nada, acho que
foi o melhor café da manhã que eu já comi. Que nunca foi preparado por mim, é claro.

Desço e vou para a parte de baixo, onde fica a cozinha, procuro alguns ingredientes na cozinha
para fazer um sanduiche, não estou afim, de comer comida de sal.

Meu celular começa a tocar e então vou ao encontro dele, nem lembrava que ainda tinha isso.

- Acho bom ter pelo menos cem mil para me dar até amanhã, ou sua amiguinha morre! _ são os
caras que assaltaram o restaurante.

Uma vontade de chorar enorme me toma. Minha amiga!

- Quem me garante que estão realmente com ela? _ pergunto fingindo calma.

- Fala vadia! Mostra pra sua amiguinha que não estamos de brincadeira. _ouço a voz dele.

- Ali, não vem, Ali. Não importa o que façam comigo! _ começo a tremer sem parar. Todos os
momentos que passamos juntas começam a surgir na minha cabeça.

- Eu farei tudo que puder minha amiga.

- chega de mi, mi, mi, parecem sapatonas! _o homem diz debochado e então desliga o celular.

Não consigo pensar em mais nada. A única coisa que eu sei é que amanhã estarei no banco no
primeiro horário.

[...]

Meu corpo inteiro tremia, eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser na minha amiga, eu
tenho sempre que estragar a vida das pessoas? E se eles quiserem a mim e não a ela? E se o
senador me achou?

Como eu queria ter alguém comigo, mesmo que eu saiba me defender, nunca teria força para
mais de dois homens grandes.

Respiro fundo e entro na fila do banco, já são dez para as dez da manhã. O banco logo abrirá.

Estou aqui, olhando as pessoas, mas não consigo enxergar ninguém. Eu ainda não sei por que
estou viva, é tão mais fácil morrer. Às vezes sinto inveja de quem sofre um acidente grave de carro
ou é assassinado de maneira rápida.

Se acontecer qualquer coisa com a Raquel eu não vou me perdoar, sempre estrago tudo!
- Ali? _ ouço uma voz que faz meu coração parar.

Viro-me para a pessoa e sorrio.

- Oi. _ meus olhos começam a sair lágrimas teimando com o sorriso que estava em meu rosto.

- O que está acontecendo? Não creio que isso seja emoção ao ver- me.

- E não é...
CAPÍTULO 4

Eu sei que Rafael tentou brincar, mas eu não queria nada que não fosse a minha amiga bem. Eu vi
o quanto ele ficou preocupado e agora, ele está tentando convencer o seu chefe a deixa-lo
conversar comigo.

Eu não quero atrapalhar, eu só quero o dinheiro. Nada mais!

- Rafael, não precisa se preocupar, eu só quero o dinheiro!_ digo quase gritando. Então o vejo
olhar com raiva para mim, um olhar que eu nunca pensei que ele seria capaz de me dar.

- Fica quieta, se você acha que te deixarei agir sozinha está enganada! _ o tom sério e ríspido, me
fez calar-me.

- Se você deixar seu turno, nem precisa voltar mais! Estou farto de sua rebeldia. _ seu chefe grita
virando as costas.

Rafael não diz nada, mas levanta seu queixo como se fosse superior a tudo que ele tinha ouvido.
Decidido, forte!

Abro a boca para reprovar sua atitude, mas seu olhar me faz calar. Meu corpo inteiro se arrepia,
como se não tivesse mais nada acontecendo que ele não pudesse me ajudar a resolver. Esse
homem meche com toda minha estrutura e mesmo que eu me faça de forte, é impossível negar.

- Me conta tudo, o que aconteceu? _ ele passa a mão no meu rosto, fazendo com que seu polegar
acariciasse minha face. Fecho os olhos e respiro fundo, sentindo uma imensa vontade de me
esfregar nela.

Alicia? Onde está sua repulsa?

- Eles me ligaram ontem dizendo que tinham sequestrado a Raquel, estão pedindo cem mil, eu sei
que não podemos tirar mais do que dez mil por dia, mas eu preciso tentar, eu não posso ficar sem
ela. _ minha voz embargada denunciava meu desespero.

- E você queria pegar esse dinheiro e fazer o que? Entregar na mão deles e sair ilesa? Pelo amor
de Deus! _ ele esbraveja, apertando os punhos com força.

- E você quer que eu faça o que? Chame a policia?! Você realmente não tem ideia pelo que eu
passei!

- Não importa o que você tenha passado! Estou pouco me importando para o seu passado! O que
eu não quero é que você se machuque ou se mate por nada!
Ele grita mais uma vez, deixando-me ainda mais nervosa.

- Como assim nada? Como você ousa? _ levanto-me e viro-me na tentativa de ir embora. Como ele
pode chamar a Raquel de nada? Ela foi e é a minha única família.

Sinto sua mão tocar na minha e relutante tento soltá-la, mas seus dedos agora envolviam minha
mão e me virava de frente para ele, fazendo com que nosso corpo ficasse próximo e também
grudasse os nossos olhares.

Suas mãos sobem até meus ombros e deslizam pelos meus braços, deixando minha respiração
ofegante.

- Entende, eu não disse que a Raquel não é nada! O que eu quis dizer é que eles não querem a
Raquel, querem você. Eles vão te matar e matar a ela. Sozinha você não teria nem chance!_ seu
tom calmo, amenizou minha perplexidade e por mais que eu quisesse me afastar, meus pés estavam
fincados ao chão.

- Entende você, Rafael! Não importa o que eles queiram fazer comigo! Eu não tenho ninguém por
mim, mas a Raquel tem uma família! Tem pais que a amam. Eu não posso deixar que ela morra por
uma oriunda como eu. Ninguém se importa comigo, além dela! _ deixo que as lágrimas desçam dos
meus olhos livremente.

- Eu me importo com você, eu estou aqui e não vou sair do seu lado! Mas se você fizer burrada,
não causara só a sua morte, mas a dela também! Seja esperta por ela, pelo menos!

Ele diz e então eu caio na real, eu realmente não poderia me virar sozinha, o que eu sei em artes
marciais e em tiro não dá nem para o começo.

- O que eu faço então? Diz-me, porque eu me sinto perdida. Eu sinto como se eu fosse incapaz de
fazer qualquer coisa por alguém.

Respiro fundo e então me sinto envolvida por seus braços, o cheiro de sua pele se entranha em
meu nariz, fecho os olhos e me deixo descansar ali.

- Me ajuda, por favor! _ peço ainda em seus braços.

- Estou aqui para tudo! E espero que para sempre. _ sua voz baixa faz com que meus pelos se
arrepiem.

Para sempre...

- Eu já volto, vou chamar a Débora, preciso que ela vá com a gente. Sei que mesmo que nós
ficássemos desempregados, ela toparia. A vida de alguém é mais valiosa do que meros
empreguinhos, fora que somos concursados, não podemos ser mandados embora. Teremos um bom
motivo como explicação.
Ele diz me passando tranquilidade e então se afasta indo em direção à porta.

Sento-me novamente no banquinho, eu só consigo pensar no que eles fizeram com ela. Eles podem
ter a machucado. Mas de certo modo o Rafael tem razão. Eu vi no olhar daqueles rapazes que
seriam capazes de qualquer atrocidade em nome do dinheiro ou de suas raças.

Quando olho para o meu passado, eu lembro-me do que passei, eu sei o quanto uma paulada ou
uma queimadura nos magoa, não estou falando do físico, aos poucos essa dor não é mais tão
importante. O que dói é o que aquilo causa na alma, é como se tivéssemos um buraco negro dentro
de nós, onde qualquer esperança ou felicidade são engolidos, simplesmente somem.

Eu não quero que a Raquel sinta isso. Eu não quero que ela mais uma vez tenha dores para se
relembrar e chorar durante a noite.

O seu marido pode ter sido um canalha, mas nunca levantou a mão para ela. Apanhar de quem
dormimos ao lado, nos causa uma coisa que creio que nenhuma mulher que já passou por isso
saberia explicar.

Não existe mais amor, talvez dependência, mas não amor.

Tentamos nos esforçar para não sermos tão reprimidas, mas nada, nunca, está bom! Sempre somos
inferiores, peças inadequadas, sem valor.

A única coisa que eu agradeço aos céus foi de não ter engravidado. Eu seria incapaz de matar
uma criança. Não importa pelo que eu passei, ou pelo que eu passo. Uma criança não tem nada a
ver com isso.

- Ali? Tudo bem? Não precisa chorar, amiga! Estamos aqui para te ajudar. _ Débora se aproxima
se senta a minha frente segurando minhas mãos.

- Eu não vou me perdoar se ela se machucar! _ digo e volto a sentir a minha garganta queimar e
minha vista se embaçar por completa.

- A culpa não é sua! Mas não se preocupe. Eles já estão mortos. _ ela diz tranquilamente.

E é nessa hora que eu vejo o quanto meu coração endureceu.

Eu lembro claramente do que eu era, das coisas que eu gostava e das que abominava.

E o assassinato era algo repugnante para mim, eu não podia ouvir, chorava por todos que
morriam, não importa se os conhecesse ou não.

Mas hoje, tudo que eu mais quero é que o André morra, que ele pague por tudo que fez com a
própria vida, que esses homens morram por ter feito a minha amiga sofrer.
- Espero mesmo que eles paguem com a vida! _ digo apertando com força minhas mãos na dela e
me levantando em seguida.

- Precisamos agir logo. _ Rafael diz e eu assinto, sinto meu celular vibrar no bolço e o pego
rapidamente.

- Não atenda ainda. _ ele diz e então se aproxima de meu celular, acessa um programa e coloca
um digito.

- Dá próxima vez que ele ligar atenda. Saberemos onde eles estão.

Não demorou muito e o celular voltou a chamar.

Atendo no primeiro toque.

- Pelo visto alguém quer que sua amiguinha seja morta! _ a voz de deboche do outro lado da linha
me fez tencionar.

- Não, eu só estava no banco. Consegui toda quantia. _ digo vendo o Rafael mandar que eu me
acalmasse.

- Então a mocinha tem conhecimento no banco? _ ele diz. – sua amiga voltará para casa um
pouquinho machucada, mas estará viva, esteja as dez da noite no endereço que eu te mandarei.
Não quero saber de atrasos, ou ela está morta!

Antes que eu pudesse responder alguma coisa ele desliga, deixo meu corpo cair sobre o banco
e fecho os olhos.

Que vontade enorme de desistir da vida.

- Qual é o plano? _Débora perguntou para Rafael, ele ia vir até mim, mas recuou ao ouvir a
pergunta de sua amiga.

- Vamos pegá-los na hora em que ele ficar desprevenido, e essa hora será o momento em que ele
supostamente devolverá a Raquel. Alicia vai entregar o dinheiro, eu e você chegaremos por trás.

Ela assente e eu também.

- Agora precisamos ir. _ ele diz e eu assinto, os dois pegam as mochilas e saímos de dentro do
banco, só então percebo que não pegamos o dinheiro. Eu simplesmente me esqueci, sendo que esse
foi o objetivo de ter vindo até aqui.

- O dinheiro... _ digo assim que sento dentro do carro ao lado de Débora.


- Não se preocupe. Rafael tem o suficiente. _ ela diz e dá partida no carro. – Eu não quero te
assustar não, mas eu não sou muito boa no volante, então se eu der uma arrancada meio louca,
respire fundo.

- Quer que eu dirija? _ pergunto sorrindo de lado. Sinto que seremos grandes amigas.

- Você ainda pergunta? _ ela tira o cinto de segurança na mesma hora e abre a porta do carro,
dou de ombros e passo para o do motorista. Nesse momento Rafael chega ao meu lado com sua
moto barulhenta.

- Eu não acredito nisso! _ ele sacaneia a Débora, que lhe manda um dedo feio.

- Acredite. _ digo e abaixo o freio de mão. Passo a primeira e acelero.

Ele passa em nossa frente como um tiro. Sei que está indo para a sua casa, o que me deixa
mais tranquila por eu saber o caminho.

- Obrigada por me ajudar. _ digo olhando por um momento para a mulher ao meu lado.

- Não me agradeça! Eu posso ver nos seus olhos o que você passou e se te serve de consolo, eu sei
o que é perder a única pessoa que temos. Rafael nunca se importou com o que eu passei na minha
vida, mas isso não interessa. A única coisa que importa, foi que ele me tirou de uma foça enorme
mesmo não sabendo.

Eu posso ver o amor que ela sente por Rafael e mesmo que eu tentasse me iludir, eu sei que
Débora não sente amor de amigo, a paixão está nos seus olhos.

- A Raquel me ajudou muito. Eu não posso deixa-la sofrer.

- E não vai.

RAFAEL MELLO

Meu coração bateu mais forte quando a vi no meu banco, mas bateu mais forte ainda quando
percebi o estado que estava, eu não posso mais negar que mesmo os anos passando meu
sentimento de carinho e cuidado não passou. Sei que não nos conhecíamos, mas algo naquele dia
na lanchonete me fez acender algo diferente por ela.

Quando me aproximo de seu corpo é como se eu ficasse limpo novamente, sem nenhuma dor ou
magoa do passado, tudo some.

Eu quase enlouqueci quando soube de seu plano louco de ir sozinha ao encontro daqueles
desgraçados.

Não importa o que aconteça hoje, mas eu vou matar aqueles homens. Não porque eles
machucaram a Raquel, mas pelo fato de serem ruins.

Prisão para esse tipo de gente, não adianta nada! A não ser que seja perpétua e sem condições
para recorrer a condicional.

Estou cansado de ver assassinos e estupradores serem soltos nesse país, como se a vida de
alguém fosse sem importância.

Ricos e pobres deveriam ter o mesmo valor, não importa o quanto de dinheiro alguém possua, a
vida é igual para todos; valorosa igualmente para todos também.

- Alicia, podemos ir conversar em outro lugar? _ percebi que Débora não gostou do que eu falei,
mas eu não posso dizer isso na frente dela e depois ser caçoado o resto da minha existência.

- Sim. _ ela vem até mim e então entro em meu quarto e fecho a porta.

Passa por mim e se senta na cama, olhando para ela e sorrindo levemente.

- O que foi? _ pergunto sem entender.

- Seu cheiro. Somente seu cheiro. _ ela diz e volta a me olhar.

- Eu queria te pedir uma coisa. _ digo sentindo-me nervoso.

- O que? _ ela franze o cenho.

- Deixa-me cuidar de você? Isso não é um pedido de namoro e nem quero um beijo seu.

Quero sim!

- Então? _ ela parece assustada.

Merda.

- Eu sinto que eu preciso cuidar de você, te proteger. Não importa o motivo, eu só sinto que devia
ficar próximo a você.

Ela pondera...

- Rafael, eu não preciso que você seja minha sombra, se um dia eu te quiser não será como um
segurança, será como homem, namorado! Eu não quero lembrar o seu passado.

Eu não tinha o que responder, ela tinha razão. Sem perceber eu queria fazer o mesmo erro do
passado, eu não quero a Ali como minha protegida; quero como minha mulher.
[...]

- Você entendeu não é? _ olho em seus olhos para ter certeza que tudo acontecerá como o
planejado.

Eram seis da noite, mas decidimos ir primeiro, queríamos ver com quem estávamos lidando e isso
me deixaria mais tranquilo.

Débora já me esperava no carro, não tinha certeza do que eu estava fazendo ao coloca-la em
risco, mas sei que sabe se defender e sem ela eu não teria como ajudar a Ali.

- Entendi, farei tudo como pediu. _ ela diz e me dá um sorriso nervoso.

Eu não quero ir de moto para lá, mas pegar o único carro que temos e trazer também é algo
arriscado.

Pedi a dona da pensão que ela me emprestasse seu carro e jurei que colocaria gasolina, espero
não ter que dar um carro novo para ela.

Respiro fundo e entro no carro, tudo já estava certo, eu poderia avisar ao meu irmão, mas não
quero que a polícia de certo modo, se envolva.

Pelo que vi o homem que procura a Alicia é muito poderoso para brincarmos de pique se
esconde.

Fomos vagarosamente, eu estranhei o silencio de Débora e então resolvi perguntar.

- O que aconteceu? Por que não quer falar? _ ela manteve o olhar para fora da janela.

- Não aconteceu nada, eu só nunca te vi assim. Fissurado. _ ela diz ainda sem me olhar.

- Não estou, eu só não quero deixar que duas vidas se percam, assim, por nada!

- Não! Você gosta dela. Se não gostasse não ficaria assim... está enlouquecendo.

- Quem disse isso? _ pergunto desviando meu olhar para ela.

- Quem me disse? Convivo com você há anos, já te vi com outras mulheres, mas nunca se importou
tanto assim, nem comigo!

- Está com ciúmes? Não acredito!_ caçou dela.

- Não..._ ela fica nervosa e nessa hora eu me sinto o pior homem do mundo.

Como eu ainda não tinha percebido? Ela gosta de mim. Paro o carro no acostamento e passo a
olhá-la.

- Por que não me contou antes? _ pergunto puxando seu olhar para o meu.

- Contou o que, Rafael? Precisamos adiantar._ ela diz com raiva.

- Nada, mas nós vamos conversar depois.


CAPÍTULO 5

RAFAEL MELLO

Eu já estava parado havia alguns minutos, a espera e a ansiedade estavam me deixando


desanimado e frustrado, eu sei que esses caras não valem nada, mas precisavam ser enrolados?
Deviam estar aqui, somente para garantir que a Alicia não trouxesse n...

Eu já estava parado havia alguns minutos, a espera e a ansiedade estavam me deixando


desanimado e frustrado, eu sei que esses caras não valem nada, mas precisavam ser enrolados?
Deviam estar aqui, somente para garantir que a Alicia não trouxesse ninguém e isso me faz pensar
que eles são um pouco burros.

- Já estou enjoada de esperar por esses idiotas, estou começando a achar que poderíamos ter
ficado em casa com a Ali. _ Débora diz respirando fundo por impaciência.

- Eu posso estar enganado, mas algo está errado. Esses homens apareceram do nada, por que
eles viriam atrás delas novamente? E eu inocente pensando que era somente um assalto. _ digo
balançando a cabeça.

- Eu também achei estranho. É um saco não conseguir ver o que os outros pensam. _ Débora revira
os olhos.

Minha amiga tinha uma mania de dizer que se pudéssemos ler os pensamentos alheios viveríamos
melhor, saberíamos quem nos ama e quem é falso, mas como não somos merecedores desse dom,
sofremos por amor, por falsidade e por tudo que não podemos ver antes de acontecer.

- Tem razão, nós vamos conseguir, mas acho que poderíamos dar uma olhada por ai, vai que isso é
uma emboscada. _ digo ponderando.

- Eu vou sozinha, você fica aqui esperando a Ali chegar, já está quase na hora.

Débora diz e eu assinto, não queria deixar que ela andasse sozinha, mas eu não posso sair
daqui, não agora.

Acho que eu sou meio contraditório, acabei de dizer que devia sair para olhar em volta e agora
digo que preciso permanecer aqui. Essa mulher está começando a me enlouquecer.

- Tem certeza que quer ir? Não sabemos o que tem aqui. Esse lugar é um buraco!

Coloco minha mão sobre a dela e nessa hora seu olhar se volta para o meu, mas de uma maneira
diferente. Droga!
- Tenho sim, eu vou. _ ela desvia o olhar meio sem graça e abre a porta do carro. Abaixa-se e
passa pela lateral do carro.

Onde estamos é vazio, estrada de chão e um capinzal gigante, o mato é tão alto que mal posso
ver o final da estrada e é isso que me preocupa.

Aqui é fácil para se esconder e muito difícil para escapar, esses homens com certeza conhecem
muito bem esse lugar e isso é uma desvantagem.

Meu celular vibra e eu o tiro do bolso, olho a mensagem de Ali, dizendo que já está a caminho.
Ótimo.

Quando olho para frente, vejo faróis se aproximando. Respiro fundo e pego minha arma
debaixo do banco, olho para ela e percebo o quanto me traz lembranças do passado. De
repente senti uma saudade enorme do Christian, gostava do jeito que ele me tratava e de como me
treinou, me fez um homem de verdade e um assassino também.

Eu vejo algo de mim na Ali, é como se ela tivesse tido a mesma vida que eu e vivesse em algo
superficial.

É horrível lembrar-me de minha infância e pior ainda saber que a de alguém pode ser igual e
até pior, eu espero, de verdade, que isso nunca aconteça com ninguém e espero também ser um
pai diferente para o meu filho.

Volto a levantar meu olhar e percebo que os homens estão próximos de meu carro, mas acho
que ainda não o viram. Estão sozinhos, o carro não era bem um carro, e sim um caminhão.

Nervosos aparentemente também, o que me diz que são inexperientes nesse ramo.

Olho para o lado da estrada de onde vim e percebo a Ali se aproximando com as sacolas de
dinheiro nas mãos.

Respiro fundo e abro a porta com cautela, abaixo-me e caminho por dentro do mato, aproximo-
me da estrada novamente e vejo a Débora se aproximando por trás do caminhão.

Olho mais para frente e vejo que os dois homens estão próximos a Ali. Meu coração está na
boca, mas piora quando eu volto a olhar para a Débora e vejo um cara a seguindo, sua arma está
apontada na direção da cabeça da Ali e eu aqui, sem poder avisar.

Pego rapidamente o silenciador dentro do bolso e o encaixo na arma, aponto e ajeito a mira,
atiro certeiro em sua cabeça.

Na mesma hora Débora olha para trás e para mim. Respira fundo e me agradece, assinto e
então ela continua a andar, os homens estão próximos demais da Ali, resolvo ir até ela, atravesso
rapidamente e vou por trás do caminhão.
- Você acha que isso aqui é só pela sua amiga neguinha? Está enganada, aquilo ali não vale nada
pra gente, mas você. É preciosa. _ o sorriso demonstrado no rosto do homem me diz que ele não
estava nervoso e sim ansioso.

Vejo a Alicia encher os olhos d'água.

- Só deixem a Raquel sair, por favor, ela não tem nada a ver com isso.

- Tem razão, era para sequestrar somente você, mas pelo visto a dondoca ficou com medo de sair
de casa novamente.

- só deixem a ir. Só peço isso.

Estava conformada, não tentou fugir, nem se mexer.

Droga, Ali, reage.

Sinto alguém atrás de mim e viro-me rapidamente. Respiro aliviado quando percebo que são as
meninas, a Raquel está muito machucada, olhos roxos e punhos marcados de cordas, mas consegue
ficar em pé e até me dá um sorriso.

- Que bom que vocês vieram, eles não querem o dinheiro, eles querem a Ali.

A voz de desespero dela fez com que meu coração batesse mais forte, eu não podia deixar
nada acontecer, mesmo não a conhecendo, eu sinto como se ela, de algum jeito fosse parte de mim.

- Não vai acontecer nada com a Ali. Eu prometo. _ digo sentindo meu peito queimar. Volto-me para
frente e vejo que os homens já estão a segurando pelo braço. Ajeito a arma e a engatilho, eu vou
mata-los, não posso deixar que levassem informações dela. Mesmo não sabendo ao certo o que Ali
passou, eu tenho certeza que esses homens estão atrás dela por causa de seu ex-marido.

Dou mais um passo para frente e coloco a arma em punho, miro e fecho um de meus olhos para
que não haja nenhum erro, eu posso acertá-la se eu errar, e isso não haveria perdão.

Quando eu ia apertar o gatilho, um barulho enorme atingiu o meu ouvido, perco os sentidos por
alguns segundos, mas quando olho para cima percebo que acertaram um tiro a queima roupa em
mim, um menino novo, estava ainda com a arma apontada para mim de dentro do caminhão.

Sem pensar em nada, atiro duas vezes contra ele. Meu coração acelera tanto que pareço estar
ao ponto de morrer.

Eu matei um menino.

Sem ouvir mais nada me aproximo de Ali e dou um tiro em um dos homens que estavam ao seu
lado, o mesmo cai no chão aparentemente morto, meu ouvido ainda era incapaz de ouvir estava
tonto demais.

Sinto que vou perder meus sentidos, quando mais uma vez sinto um tiro acertar-me; não consigo
identificar de onde vem, mas quando olho para frente já deitado no chão, vejo a Alicia com a
arma apontada na cabeça do homem, vários tiros são disparados, até que não houvesse mais bala
e então não consigo ver mais nada.

ALICIA DALGLIESH

- Pare Alicia, pare! _ sinto as mãos de Débora sobre a minha, mas meu corpo estava estático
demais para se mover, meu dedo apertava o gatilho no automático, a minha frente estava o corpo
totalmente desfigurado pelos tiros.

Olho para frente por um segundo e vejo o Rafael caído, a Raquel está próxima dele, mas
quando volto para o corpo a minha frente já não ouço mais a voz de Débora; olho para o lado
em procura dela e percebo que também havia tomado um tiro, sua mão estava em sua barriga e
seus olhos marejados pareciam se despedir de mim, eu não sabia o que fazer, eu não conseguia
me mover.

- Ali, ele vai te matar! _ a voz falha de Raquel invade meus ouvidos, e então consigo me mover,
corro até o Rafael e pego sua arma, aproximo-me do homem que tentou atirar, mas sua arma
estava sem balas.

- Avise para o satanás que seu mandante será o próximo a visita-lo! _ digo entre dentes e atiro em
sua cabeça.

Ainda estava sentindo meu corpo trêmulo, a sensação estranha de que eu nunca mais seria a
mesma depois disso, sei que quando fugi eu cometi erros, matei quem não devia, foi como uma
faca em meu coração, mas agora a faca se foi e a espada veio e com muita força.

Sinto os braços de Raquel em volta dos meus, a arma é tirada de minha mão e eu sou virada de
frente para ela.

Ainda não conseguia me mover, mas podia sentir seu abraço e ouvir o soluço de seu choro.
Minhas mãos não conseguiam abraça-la também, suas mãos agora estavam em meus cabelos,
tirando-os de meu rosto.

- Alicia, me responde, por favor, nós precisamos leva-los para o hospital. _ sua mão terna em meu
rosto fez-me despertar.

- Vamos, precisamos leva-los, mas primeiro terei que achar o carro. _ digo tentando ser forte, ao
olhar para o rosto da minha amiga, vejo que está completamente machucada.

- O que fizeram com você? _ pergunto erguendo minhas mãos até seu rosto.
- Nada, eu estou bem, suas feridas são maiores que as minhas, agora vá procurar o carro, eu vou
ver se ainda estão vivos.

A Raquel chorava horrores, podia ver seu rosto inchado, mas eu não tinha vontade de fazer o
mesmo, minha dor estava quieta, mas um nó estranho estava em minha garganta. Saio correndo e
vou à procura do carro, eu sei que ele está por aqui.

Ando mais alguns metros e o vejo, vou correndo até ele e entro, dou a partida e saio
rapidamente do meio do matagal, paro o carro ao lado do Rafael, eu não sei que horas são, mas
sinto que já se passa da meia noite.

Saio do carro rapidamente e percebo que o olhar da Raquel está frio, sem esperanças.

- O que foi? _ digo sentindo meu peito queimar, eu não posso perdê-lo.

- Se não sairmos daqui agora, o Rafael vai entrar em falência, seu batimento está muito fraco.

Ela diz e então meu corpo se agita.

- Vamos então, logo, por favor. _ digo e abro a porta de trás do carro, vou em direção a eles e
então o pego pelo braço.

Como iremos erguer esse homem, meu Deus?

- Vai por de baixo do outro braço dele, no três a gente levanta.

- Tudo bem. _ ela diz e eu assinto.

- 1... 2... 3 _faço toda força do mundo e então conseguimos o levantar, colocamo-lo deitado sobre
o banco, olho para minha roupa e vejo que ficou cheia de sangue.

Fomos até a Débora e a colocamos também no carro, não sei como tivemos força para isso.
Acho que alguém lá em cima está do nosso lado.

Entro no carro e logo vem Raquel que se senta ao lado de Rafael o trazendo para seu colo.

- Ele arriscou a vida por você. _ ela diz com a voz chorosa.

- E ela por ele. _ digo olhando para Debora, mesmo que ela negue, está claro o amor que sente
pelo Rafael, não preciso criar intimidade com ela para perceber isso.

Antes que eu pudesse me lamentar mais um pouco, ligo o carro e saio rapidamente, não posso
perder tempo, mas também não vou ficar no hospital.
- Para onde você vai? _ Raquel pergunta já sabendo que eu não ficaria com eles.

- Para a sua casa da serra, se você não se importar, é claro.

Digo olhando-a pelo retrovisor.

- Nunca me importaria. Eu só quero que tome cuidado, vai ficar sozinha, não faça uma besteira,
por favor.

- Eu não vou me matar; não se preocupe.

Eu não tinha certeza disso.

Ficamos em silencio durante quase todo o caminho, trocamos poucas palavras, mas era difícil se
concentrar em algo que não fosse o que eu tinha feito.

Eu posso ter matado duas pessoas e ainda ter ferido a minha amiga, a culpa disso tudo é minha
e eu não estou me fazendo de coitada.

Queria poder chorar e colocar tudo para fora do que estou sentindo, é tão louco que não consigo
me firmar, ainda estou longe de mim.

- Ali, não foi culpa sua, você não podia imaginar que eles tinham algo a ver com seu ex-marido.

- Fique quieta, Raquel, você quase morreu por única e exclusivamente minha culpa. Esses dois
podem estar quase mortos e você ainda diz que a culpa não é minha?

Acabo sendo ríspida, eu não consigo aceitar que ela seja tão boa, era para não estar olhando
para mim. Eu sou alguém que viveu durante todos esses anos dependendo dela, mas nunca me
importei com o que ela havia passado.

Eu fui uma péssima amiga e mesmo assim, ela continua aqui, dizendo que eu não tenho culpa!

Paro o carro em frente ao hospital, percebo que ela ia falar algo, mas antes que ela começasse
a dizer; a corto.

- Vá, chame os médicos rapidamente.

Digo e ela assente, me dando um olhar que eu sabia muito bem o que significava. Mas não vai ser
isso que vai mudar meu pensamento.

Logo os médicos a acompanham. Abro a porta do carro e vejo os se aproximar.

- Meu Deus, precisamos ir rápido. Não podemos deixar que ela morra! _ a médica grita ao
perceber o estado da Débora, quando volto a mim, percebo que os dois já estão fora do carro.
Olho para a Raquel e assinto, saio rapidamente e vou em direção à minha casa. Preciso sair
daqui rapidamente, eu não sei quando aquele desgraçado mandará mais homens atrás de mim.

Meu coração está doendo, mas eu me sinto estranha, é como se mesmo que eu quisesse sofrer eu
não conseguisse.

A dor é grande, mas somente por dentro. Está me machucando tanto que sinto vontade de
vomitar.

Poucas coças que eu levei, doeram mais do que a dor que sinto agora.

RAQUEL MENEZES

Eu nunca pensei que poderia ver a Alicia naquele estado, foi tão horrível que eu tive vontade de
chorar por vê-la. Eu sei. Agora eu posso dizer que senti um pouco do que ela sente. Seus olhos
estavam tão distantes que eu poderia dizer que não estavam aqui na terra. É como se ela tivesse
fazendo tudo de acordo com uma programação.

Os movimentos presos e forçados demonstravam que ela sentia uma dor exorbitante. É difícil
imaginar o que ela passou, mas quando aqueles homens me espancaram eu senti uma dor tão
grande, eu pensei por varias vezes que era melhor morrer logo de uma vez, do que agonizar
daquele jeito.

Eu agradeço muito por ser preta, eles tinham nojo de mim, não quiseram se encostar-se a meu
corpo. Eu poderia ter sido estuprada.

Estava na enfermaria recebendo os cuidados necessários, fizeram uns raios-X em mim e


descobriram que minha costela está fraturada e por milímetros não atingiu meu pulmão.

Eu não sei o que a Alicia faria caso todos nós estivéssemos desacordados ou mortos. Ela com
certeza não sairia viva dali.

- Boa noite, querida. _ assusto-me e então volto minha atenção para frente e vejo uma policial.

- Boa noite. _ droga. Odeio questionários, ainda bem que a Ali, não era disso.

- Os médicos me disseram que alguém trouxe vocês até aqui, você poderia dizer quem era?

- Eu não sei, estava tão confusa, somente vi o carro e fiz sinal. _ digo chorando, não estou
forçando, realmente estou preocupada com o que a Ali pode fazer com a vida dela.

- Tem certeza? Você sabe que se estiver mentindo pode ser presa.

Eu sou rica, isso não me assusta, queridinha!


- Sim, eu tenho plena certeza do que eu estou falando, era só isso? Eu preciso que chame o
médico. Preciso saber dos meus amigos.

- Era somente isso, sim. Estamos investigando o caso, já encontramos os corpos. Um grupo de
homens os trouxeram para cá.

- Tudo bem. _ ela diz e me lança um olhar.

A Ali me disse que nunca poderia falar sobre ela com a polícia, todos tem conchavo com o
senador André, seu ex-marido.

Sujos.

Olho para a porta e vejo o doutor entrando, sorrio fraquinho e ela continua se aproximando.

- Como você está? _ ele pergunta passando a mão pelo meu cabelo. Muito carinhoso por sinal.

- Estou melhor, mas estou preocupada com meus amigos, eles se arriscaram por mim e... agora
estão na pior.

Abaixo a cabeça e respiro fundo mexendo nos dedos.

- O Rafael está bem, ele só precisara tomar algumas bolsas de sangue. O tiro não pegou em
nenhum lugar vital, mas a Débora está bem mal, seu estado é grave.

- Onde o tiro pegou? _ a Débora estava de costas para o homem que o Rafael pensou ter
matado, o homem levantou do nada e atirou contra a Débora.

- Nas costas, por pouco não pegou na coluna, mas o estômago foi perfurado, ela teve uma
hemorragia interna, e duas paradas respiratórias. Não sei como aguentou.

- Nem eu, desde que eu a conheci, sabia que era forte. Parece um homem.

- Realmente ela é bem grande para uma mulher comum. _ o doutor diz com um sorriso torto nos
lábios.

Eu posso estar ficando louca, mas não consigo parar de olhar para esse homem, queria muito
que ele fosse ginecologista, mas com certeza perceberia quando me tocasse o quanto eu estava
molhada por ele.

- Sim. _ digo respirando fundo e parando de encara-lo.

- Onde sua amiga está? Por que não ficou aqui? _ ele pergunta se sentando à beira da cama.
- Quem disse que minha amiga veio aqui? _ finjo-me de desentendida.

- Eu frequento o restaurante junto de minha irmã. Sei que nunca prestou atenção em mim, mas não
pense que sou ingênuo.

Meu coração gela na mesmo hora.

- Por favor, não conte nada a polícia! _ suplico.

- O que é que tenha acontecido, eu sei bem que não foi culpa dela. Conheço vocês há muito tempo,
não se preocupe.

Ele diz e eu fico mais aliviada.


CAPÍTULO 6

Abri os olhos sentindo uma imensa claridade adentrando minha vista, parecia que eu tinha
tomado um porre daqueles, mas não conseguia lembrar-me do que aconteceu. Faço um grande
esforço para colocar-me sentado e então percebo que tem agulhas nos meus braços e alguns
aparelhos grudados ao meu tronco.

Sigo com os olhos o caminho dos aparelhos e percebo que estou tomando sangue, no mesmo
momento tudo que consigo me lembrar, é do tiro que eu tomei, da Alicia nas mãos daquele homem
e mais nada, tudo se apaga.

Eu espero do fundo do meu coração que elas estejam bem. O quarto em que eu estou não é
conhecido para mim, porém, está claro que estou em um hospital, dos caros na realidade.

Ignorando a dor que sinto no ombro e em grande parte de meu peito, arranco as agulhas e me
levanto, acabo me encolhendo pela dor que sinto. Abro a porta do quarto e saio à procura de
alguém, a minha frente está algumas enfermeiras que quando me veem arregalam os olhos e
correm até mim.

- O que houve? Como conseguiu levantar? _ uma delas corre os olhos pelo meu corpo e nessa hora
percebo que tem vento demais passando por baixo.

Olho para mim mesmo e percebo que estou com aquelas camisolas de hospital, marcando tudo
que tenho.

Horrível.

- Eu acordei, quero saber dos meus amigos. Onde eles estão? _ pergunto sentindo um nó na
garganta ao ver a cara de uma das enfermeiras.

- Seus amigos? A única que está aqui é a Débora. _ uma delas diz respirando fundo e depois
soltando o ar vagarosamente.

Isso não é bom!

- E como ela está?_ pergunto ainda fitando seus olhos.

- O estado dela permanece grave, já faz uma semana que não tem alteração no estado clínico.
Nós ainda temos esperança que ela acorde, mas o médico disse que a cada dia que passa se
torna mais difícil.

A enfermeira que estava ao lado dela olhou-a perplexa.


- Eu quero vê-la agora, por favor! _ digo sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

- Não, o senhor não pode! _ a mais novinha diz se aproximando.

- E quem irá me impedir? Você? Pelo amor! _ digo revirando os olhos.

- Não senhor, mas serei obrigada a chamar a segurança se ousar me desobedecer. _ ela diz
colocando as mãos na cintura.

Marrenta!

- Não tenho medo deles, eu só preciso ver a minha amiga.

Não costumo perder a paciência, mas não mexam com a minha família, por favor!

- Vá para o seu quarto, se acalme e depois a gente conversa, o senhor não pode se esforçar,
ainda está em recuperação, nem devia estar fora da cama.

- Eu estou a onde eu quiser. Me leve até minha amiga._ fecho os punhos, já estava a ponto de
empurrar aquelas mulheres.

- Vá para o seu quarto. _ sinto uma mão em minhas costas e quando olho para trás é uma mulher
que eu conheci assim que vim para cá. Saímos algumas vezes, mas não aconteceu nada sério.

Uma semana e acabou.

Assinto e viro-me em direção ao quarto. Ela vai me levar até lá. Eu sei.

- Você não ia conseguir nada com aquelas senhoras. _ ela diz sorrindo suavemente.

- Eu passava por cima delas, mas preciso ver a Débora. _ digo olhando em seus olhos.

- O seu amor por ela é lindo, mas creio que não seja maior que o dela por você. _ ela diz e então
abre a porta do quarto para que eu possa entrar.

- Por que diz isso? _ pergunto indo até a cama e me sentando, sinto como se tivesse corrido uma
maratona sem parar.

- Porque ela arriscou a vida por você, porque ela sempre te defendeu e além do mais, mesmo
você não dando a mínima para ela, Débora não sai do seu lado.

- Ela é como uma irmã para mim. _ digo sentindo uma imensa dor no peito.

- Mas você não é como um irmão para ela, Rafael! Será que é incapaz de enxergar isso? _ ela diz
indo até um armário que eu não havia prestado atenção e o abrindo, pega uma troca de roupas
que aparentemente é minha e se aproxima.

- Eu sou incapaz de querer estragar nossa amizade, sou incapaz de misturar as coisas, devia
pensar assim também, Aline.

Reviro os olhos e ela se coloca ao meu lado, pegando pelos meus lados e levantando aquele
tipo de pano que revestia meu corpo.

- O que está fazendo? _ pergunto. Ela não vai querer transar né?

- Vou colocar a roupa em você, o médico mandou que evitasse grandes movimentos como o de se
abaixar ou comprimir os músculos da barriga e dos braços.

- Eu me sinto bem. _ minto.

- São meus deveres como enfermeira, além do mais, eu já vi tudo que tem aqui.

- Faz tempo. _ digo relutante.

- Não importa. É o meu dever. Agora se cale.

Resolvo deixa-la arrancar meu camisolão.

- Nossa! _ ela sorri safada. Balanço a cabeça e sorrio também.

- Não sabia que mesmo depois de adulto algumas coisas ainda cresciam. _ ela diz e é impossível
não gargalhar.

- Ai. _ digo sentindo dor.

- Riu porque quis idiota. _ ela diz e se abaixa para colocar uma bermuda em mim. Odeio
bermudas!

- Você continua ridícula, pensei ate que já havia casado. _ digo lembrando-me de um rapaz que vi
com ela uns meses atrás.

- Eu casei, mas não deixei de apreciar coisas belas como essa. _ ela diz olhando para o meu pau.

- Eu acho, sinceramente, que você está ficando louca! Esqueceu-se da cueca, ou ficou desnorteada
com tanto tamanho?

- Não esqueci. Mas sem cueca é mais fácil para por para fora. _ ela pisca e se levanta indo até o
armário e abrindo uma das gavetas, voltando de lá com uma cueca.

- Você não tem jeito. Só espero que me leve até a Débora.


Ela pondera um pouco me olhando e então respira para falar.

- Eu vou levar. Não se preocupe, acho que quando ela ouvir sua voz ficará mais feliz.

- Ela não pode me ouvir. _ digo sentindo um nó se formar em minha garganta.

- Pode sim, eu acredito que quando os pacientes ficam em coma, eles podem nos ouvir. Apenas o
cérebro que não os corresponde quando desejam abrir os olhos, se mexer, falar.

Ela diz dando de ombros e terminando de subir a cueca e também a bermuda.

- Se você diz, eu acredito. _ sorrio. Aline é uma pessoa legal, mas muito para frente. Uma semana
que eu fiquei com ela percebi que o homem que casasse com ela, deveria ser livre, assim como ela
é. Sem muitas regras, sem cobranças.

Eu gosto da liberdade, mas acho que quando um casal se ama, não há traição.

- Vamos ver sua amiga, tomara que ela acorde logo, a Débora é uma ótima pessoa.

Ela diz e então eu me levanto, é inevitável a expressão de dor que se forma em meu rosto.

- Tudo bem? _ Aline coloca a mão em meu ombro.

- Sim, é somente uma dorzinha.

Dorzinha nada! Porra!

Eu não costumo xingar, mas...

- Então vamos...

Saímos do quarto e ela deu uma olhada fria para as outras enfermeiras, como se não fosse para
elas dizerem nada.

- Você é chefe? _ pergunto.

- Sim, eu não gosto dessas bananas, estou cansada de ter que ser a maioral sempre. Acho que
mulheres deviam agir com garra e força e não achar que meras ordens devem ser obedecidas
sem exceções.

- Eu também acho. Toda regra tem sua exceção.

Vivemos em um mundo que quer nos oprimir, não nos deixa ter opinião e muito menos caráter.
Somos induzidos por costumes e regras colocadas por pessoas que se acham mais especiais que
outras por serem mais ricas ou inteligentes.

Caminhamos alguns metros até chegarmos até uma parede de vidro, posso ouvir os barulhos de
vários aparelhos e sentir o frio que se passa no meu estômago ao pensar que posso perdê-la.

- Ela vai viver, não é? _ pergunto deixando que uma lágrima escorra.

- Vai sim, tenhamos fé. _ ela diz com um sorriso falso nos lábios.

Vou até a porta e giro a maçaneta. Tento não deixar que as lágrimas caíssem, mas eu não
consigo. É minha amiga, minha família, a única pessoa que durante anos se importou comigo e com
o meu bem estar.

- Vou sair, daqui a pouco, eu volto para ver como vocês estão, por favor, não mexa em nada.

Ela diz e eu assinto.

A culpa dela está assim é minha. Eu poderia ter tomado mais cuidado, mas como ela foi
baleada? Eu tenho certeza que matei os dois homens, só sobraria um. Não creio que esse tenha
sido o problema. Algo deu errado e agora eu fico aqui... Sem saber o que fazer.

Na verdade, a única coisa que eu fiz, foi cair desmaiado. Nunca aconteceu aquilo, acho que foi
mais um de meus momentos de fraqueza. Estou cansado disso. Por que retrocedi tanto?

Sento-me ao lado dela e percebo os aparelhos agarrados em seu corpo. Pego sua mão e coloco
sobre a minha.

- Estou tão preocupado, queria tanto ver o seu sorriso agora. Te pedir desculpas por todas as
vezes que deixei de me importar com você pensando que somente eu tinha problemas, me perdoe.

Olho para sua mão e vejo que ainda permanece parada. A Aline deve estar errada. Não creio
que ela esteja me ouvindo.

- Me perdoa. _ digo e colo minha testa em sua mão. Deixo que as lágrimas escorram e que mais
uma vez eu sinta o quanto sou culpado por tudo.

Mais uma vez abandonei uma pessoa que amava.

ALICIA DALGLIESH

Estava sentada de frente para a janela olhando a chuva cair lá fora, é estranho em como essas
duas semanas passaram-se rapidamente

Estava sentada de frente para a janela olhando a chuva cair lá fora, é estranho em como essas
duas semanas passaram-se rapidamente. Eu ainda me culpo pelo que aconteceu com minha amiga
e duvido muito que eu volte para casa.

Não que eu esteja sendo egoísta, mas se eu voltar estarei colocando a vida de pessoas em risco.

Eu ainda não tinha percebido como eu acabava com a vida de quem se aproximava de mim.
Acho que tenho algo de muito ruim para sempre perder quem eu amo.

Meu medo maior agora é de ser encontrada por André. Eu não sei o que ele seria capaz de
fazer comigo e com quem esteve ao meu lado durante todos esses anos.

A única coisa que agora eu tenho certeza é de que como imaginei, ele ainda não me esqueceu.
Ainda me trata como uma propriedade dele.

O que eu nunca fui, não por boa vontade.

Meu maior medo é me envolver com um homem que faça de mim uma escrava do mesmo jeito,
alguém que serviria somente para prestar serviços de casa e sexuais. Nada de amor e/ou carinho.

Quando eu fecho os olhos toda a minha vida se passa como um filme, tem quatro anos que eu
não sei o que é dormir sem sonhar com suas perseguições e coças.

Na verdade, eu passei uma única noite bem dormida. Que foi no dia do assalto, dormi sentindo o
cheiro do Rafael e isso me fez muito bem.

É como se ele quebrasse o bloqueio dos meus sentimentos e ao mesmo tempo bloqueasse os
sentimentos que me trazem o passado.

Eu nunca conheci ninguém que causasse sensações tão especiais em mim.

Mas quando eu penso que ele me tocaria, que ele com certeza iria querer algo a mais, meu
corpo paralisa, é difícil não me lembrar dos toques grosseiros e doloridos que o André me dava.

Agora alguém vem e me fala "Ali, você deveria parar de pensar nele, quem olha assim pensa
que ainda o ama!".

Eu não o amo, o quero morto!

Mas é impossível esquecer-se de grandes dores, e se vierem me dizer "é possível, sim." Então
você cala a sua boca, porque não sabe o que é sofrer.

Quando se abre um buraco dentro de nós, não há nada que cure. Outros amores podem vim, o
amor da sua vida pode chegar, mas a ferida que um filho da puta abriu em você sempre ficará
ali... marcada.

Não há nada que a apague, a não ser que você sofra um acidente e esqueça de tudo que
aconteceu durante a sua vida inteira.

É impossível também esquecer-se de uma humilhação.

Nós sempre nos lembramos de quem nos magoou, na mesma medida que lembramo-nos de quem
amamos muito.

Às vezes quem olha para mim pensa que sou ingênua, muito serena, muito boba. Mas não.

Eu não sou ingênua. Eu passei por muita coisa, eu sei me defender, mesmo que somente um pouco,
eu sou boa com armas.

Eu fui criada na favela.

A minha mãe era o tipo de mulher que não merecia receber esse nome, muito vulgar, depravada,
sem valores, sem conduta.

A mulher que conseguiu destruir meus sonhos; que me vendeu e que agora curti uma fortuna que
ganhou com a venda da própria filha.

Quando eu era pequena, meu pai sempre me dizia que a única coisa que temos de verdade é a
nossa conduta e educação, que o resto o dinheiro compra e leva.

Eu lembro-me dos valores do meu pai, mas hoje eles são inúteis para mim. Eu já matei pessoas,
eu já consumi com corpos e eu me arrependo disso.

Eram eles ou eu.

Eu fui incapaz de ser honesta com minha amiga, de contar para ela o tudo que eu passei e que
ainda ei de passar.

É difícil quando não confiamos em ninguém. Quem cansa de passar por tristezas sabe o quanto
podemos nos tornar frio.

É como se quando eu precisava matar tudo ficasse mais que claro para mim.

As pessoas não amam, elas só querem o que você tem de bom para oferecer e que quando os
benefícios acabam, a amizade também se vai.

Eu sei que sou injusta ao falar disso tendo uma amiga como a Raquel, mas como posso confiar
nela? Eu não sei o que ela é capaz, eu passei esses anos todos sem prestar se quer a atenção no
que ela gostava de comer.

A única coisa que eu pensei foi que de algum jeito, eu precisava me curar.
Inútil, não?

Quando ela foi sequestrada que eu realmente percebi seu valor, eu tenho uma ótima amiga, mas
a errada agora sou eu.

Eu não sei se tem alguém que se sinta assim como eu, mas eu me sinto errada, como nada
pudesse me concertar mais.

Ou não fosse certa para estar perto de ninguém.

É difícil quando nos sentimos fortes demais para algumas coisas e, no entanto, fracas demais
para outras.

Vejo faróis se aproximando e sinto meu coração bater rápido. Abaixo até que não possa ser
mais vista, mas me acalmo ao ver que é a Raquel.

Ela sai correndo do carro, por conta da chuva e então bate na porta apressadamente, com
sacolas nas mãos.

Corro até a porta e sinto meu coração acelerar.

Quando meus olhos se encontram com os dela, é inevitável que as lágrimas escorram.

- Meu amor. Estive tão preocupada. _ joga as bolsas no chão e me abraça com força.

- Eu disse que não me mataria. _ abraço-a com a mesma intensidade.

- E se eu a encontrasse morta ficaria com muita raiva, pisaria até no corpo. _ ela diz sorrindo e se
afasta.

- Cruzes. Por quê? _ pergunto sorrindo também.

- Quero que cozinhe para mim, trouxe tudo que quero comer durante a semana, estou morrendo
de saudades do seu tempero. _ ela mostra os dentes já sabendo da minha expressão.

- Não acredito que veio aqui por interesse! _ digo colocando as mãos na cintura.

- Eu vim para saber como você estava, mas não custa nada explorar um pouco. _ dá de ombros.

Olho em seu rosto e percebo que ainda está bem machucado. Droga!

- Por que ficou séria? _ela pergunta ficando estática.

- Porque odeio me sentir culpada. Eu queria tanto não me sentir assim.


Digo sentindo meus olhos arderem. Não vou chorar!

- Ei, eu estou bem. A Débora está se recuperando e o Rafael pode acordar a qualquer momento,
nós estamos vivos! Não há motivos para ficar assim.

Ela diz passando as mãos pelos meus cabelos.

- Você ainda não percebeu que enquanto eu estiver próxima de você, haverá consequências?
Ninguém é feliz do meu lado! _ digo exaltando um pouco minha voz.

- Cala a boca, Alicia! Estou de saco cheio de suas lamentações. Você por acaso sabia que meu pai
verdadeiro morreu por minha causa? Não né? Cala a boca. Você vive se menosprezando, dizendo
que não presta, mas não é assim! Todos nós temos defeitos e pessoas que nos perseguem, por
favor, pare de relembrar seu maldito passado como se ainda fosse isso que você vive! _ sua
expressão de raiva deixou-me mais uma vez estática, ela sai de minha vista e vai em direção dos
quartos, logo ouço a porta bater com força.

Respiro fundo e pego as sacolas do chão.

Isso mesmo, Ali, estrague tudo.

Ela tem razão, não sou só eu que sofro nesse mundo.

Vou em direção à cozinha e abro as sacolas em cima da mesa, durante essas duas semanas
deixei meu celular desligado, tive tanto medo de receber ligações indesejáveis que nem me
preocupei com o mundo externo.

É a primeira vez que eu vejo a Raquel depois de tudo e mesmo assim, eu ainda consigo estragar
as coisas.

A minha cara mesmo.

RAFAEL MELLO

- Por favor, pai. Não faz isso. Não faça isso com minha mãe. _ grito.

- Cale a boca moleque. _ recebo um soco com força no abdômen.

- Por favor, a minha mãe não! _ grito mais alto.

- Rafael... Rafael... _ sinto um carinho leve sobre minhas mãos.

Abro meus olhos e sinto meu rosto molhado. Olho para minha mão e vejo a de Débora alisando-
a calmamente.
Quando olho para cima, vejo seus olhos abertos e um sorriso torto em seus lábios.

- Pretinha!
CAPÍTULO 7

RAFAEL MELLO

- Oi. Acho que eu apaguei, não é? _ ela diz com um sorriso leve, mesmo com aqueles tubos
enfiados pelo nariz e na boca, sua voz sai estranha.

- Sim, quase morri de preocupação. _ digo respirando fundo e me aproximando, passo a mão por
seu cabelo e olho bem para seu rosto.

Que medo que eu tive de não vê-lo mais.

- Como estão as meninas? _ ela pergunta aparentemente incomodada.

- Bem, a Alicia sumiu, ou pelo menos não tive noticia dela. Acho que nem aqui no hospital ela veio,
em dia nenhum, também não a culpo. Sabemos de seu problema. _ digo respirando fundo.

- Acho que essa mulher meche com sua cabeça não é? _ ela pergunta e vejo algo diferente em seu
olhar.

- Meche mais do que qualquer pessoa. É como se eu a conhecesse há muito tempo.

Ela me olha e respira fundo, porém nada diz. Ainda deve se sentir cansada.

- Eu vou chamar o médico, quero que ele tire seus aparelhos, estou ansioso para reencontrar a
Raquel. _ digo dando-lhe um beijo na testa e me afastando.

Quando eu comecei a ser amigo da Débora, não imaginei que ela um dia poderia se apaixonar
por mim, ela é decidida, bem ao contrario de mim que pareço um pateta às vezes.

Sempre quis o que não me pertencia e agora estou fazendo com que ela sofra também, o
problema é que se eu me afastar, também sofrerei. Ela é minha família, como uma irmã que Deus
não me concedeu ter.

Caminho despreocupado pelo corredor até a ala médica. Não foi difícil de achar já que por
todos os lados tem plaquinhas indicando o caminho.

- Doutor, eu tenho uma boa noticia, a paciente Débora acordou. _ digo sorrindo, mas já esperando
seu olhar reprovador por eu estar andando mesmo sentindo dor.

- Rafael, você não deveria estar de pé. Quem que te deixou levantar? Como parou aqui? _ ele me
enche de perguntas e isso me deixa nervoso. Odeio perguntas.
- Isso não importa, e não se preocupe. Eu me sinto muito bem. _ minto.

- Então deixe que eu encoste onde foi o tiro, acho que irá se arrepender por ter dito isso. _ ele
sorri com ironia.

- Talvez, mas eu quero que vá ver a minha amiga, por favor.

- Tudo bem, vamos. Eu já ia visitar seu quarto mesmo, só estava acabando o meu café. _ ele diz
calmamente e então começa a andar em minha direção.

- Vamos, quando eu acordei fiquei louco, não sei como não quebrei aquilo tudo, precisava ver a
minha amiga e se algo tivesse acontecido a ela, eu jamais me perdoaria.

- A Raquel conversou brevemente comigo, acho que o que vem acontecendo com vocês deveria ser
comunicado a polícia, mas tenho em minha mente também que a Alicia não está fugindo atoa. Eu
nem sei quem a persegue, mas não duvido que seja alguém poderoso.

- Você a conhece? _ pergunto pelo jeito que ele fala, pelo visto muitas pessoas sabem do que
acontece em sua vida.

- Sim, há alguns anos eu frequento o restaurante, na verdade estive na inauguração. Alicia é uma
ótima mulher e muito conservadora, mas qualquer bobo consegue enxergar que ela tem algo
escondido.

Eu assinto, ele tem razão, quando a conheci, via em seu olhar que sofria. Uma pessoa consegue
esconder tudo, menos um olhar.

Acho que a coisa mais verdadeira em nós é o olhar. Podemos estar mentindo por fora, mas se
olharem em nossos olhos, bem lá no fundo, verão toda a verdade.

Não é diferente do que acontece entre eu e Alicia, eu me sinto exposto diante dela.

Do mesmo jeito que eu sinto um tesão louco por ela, mesmo não podendo tocá-la.

Quando eu sair daqui irei procurá-la e se Raquel não quiser me dizer onde ela está eu
investigo, o que eu não posso é deixar que ela saia da minha vida, mesmo que talvez ainda não
faça parte dela.

Acho que estou apaixonado.

- Em que mundo você está? Acho que não é no nosso. _ o médico diz sorrindo.

- Desculpa. Estava longe mesmo. _ digo respirando fundo.

- Aposto que junto da Alicia.


- Tem razão._ digo.

- Você devia ir atrás dela, mesmo que te queira longe, não custa tentar.

- Tem razão. _ digo e então entramos no quarto de Débora.

Ela olha para mim estranho e já entendo o que ela quer dizer.

- Eu sei que demoramos, desculpa. _ digo e o doutor olha para mim.

- Entendo o que ela diz somente com um olhar. _ sorrio e ele também.

- Eu também fazia isso com minha irmã, ainda não sei como vivo sem ela. _ vejo que seus olhos
transbordam de lágrimas.

- Porque mesmo que tenhamos vontade de morrer, a vida continua. Talvez um pouco menos
colorida, mas continua.

- Tem razão. _ ele diz e então olho para Debora, seus olhos estão cheios de lágrimas. Eu não
entendo.

- O que foi meu amor? _ aproximo-me dela e a mesma balança a cabeça rapidamente negando
que não é nada.

O que eu nunca enxerguei?

Muita coisa na verdade, como eu pude ter sido falho assim?

- Quando você ficar boa, teremos uma boa conversa. _ digo e sorrio, mas foi falso. Não tem como
sorrir sabendo que ela está emocionada e eu nem ao menos sei o motivo.

Ela assente.

- Você pode se retirar? Terei que fazer alguns exames e é melhor que estejamos sozinhos.

- Tudo bem, só não game, por favor. _ ela sorri e ele também, mas de um jeito diferente.

Esse cara é maior safado.

ALICIA DALGLIESH

Ainda estava de frente para a janela, acho que meu pé está colado nesse chão e daqui não
sairá mais. Gosto da vista dessa janela e sempre que venho a essa casa, é aqui que eu passo a
maior parte do tempo.
Não consigo tirar meus pensamentos do Rafael, sinceramente eu não sei o que acontece comigo
quando eu vejo aqueles olhos azuis. Ele é lindo, cheiroso, bom, carinhoso e muito provocante.

Quando olho seu pescoço sinto vontade de deixar um chupão bem grande em seu pescoço. É
branquinho e tem alguns pelinhos fininhos e loiros.

Imagina aquele homem pelado, na minha frente, só para mim?

Acho que meu coração para de bater.

- Que sorriso safado é esse? _ ouço a voz de Raquel atrás de mim.

- Nada não. _ digo sorrindo, mas não falo nada sobre sua bronca de mais cedo. Não quero que
ela me deixe de novo.

- Deveria me dizer, já esconde tanta coisa ruim, coloca a boa para fora, pelo menos. _ ela brinca
e me abraça por trás.

Amo esse jeito carinhoso dela.

- Eu acho que estou pensando demais no Rafael.

Ela gargalha imediatamente o que também me faz sorrir.

- Que novidade, não é mesmo? _ ela pergunta com certo sarcasmo.

- Eu sinto atração por ele. No dia que eu dormi em seu quarto, foi a melhor noite da minha vida.

O sorriso em meus lábios ainda permanece.

- Desculpa amiga, mas se eu tivesse dormido na cama daquele homem maravilhoso, com certeza
teria dado para ele, faria questão de ter aquele corpo colado ao meu durante toda a noite. Ótimo
jeito de se acalmar. _viro-me de frente para ela sem acreditar no que ouvi. Raquel nunca havia
falado algo desse tipo.

- Você está bem? Que fogo é esse?_ pergunto cruzando os braços.

- Tem muito tempo que eu não dou, e acho que já está na hora.

- Mas quer dar para quem? Pro meu segurança?

Meu...

- Seu? _ ela gargalha. – Pro meu médico. _ diz e sorri safada.


- Que médico? O que aconteceu nesse tempo? Acho que anda me escondendo alguma coisa.

- Eu fiquei sem vir aqui porque não conseguia sair de perto daquele homem. Fiquei molhada! _
seus olhos se arregalam de maneira engraçada.

Começo a rir ainda sem acreditar.

- Você é muito escrota. _ digo balançando a cabeça.

- E você se finge de santa. Vai dizer que não ficou louca quando deitou sobre os lençóis daquele
gato?

- Acho que bateram muito na sua cabeça. _ digo me aproximando e segurando sua cabeça.

- Eu acho que abriram meus olhos, isso sim! Você tem noção o que é achar que vai morrer?

Ela pergunta sorrindo, mas eu acabo ficando séria.

- Eu sei sim. _ digo dando-lhe um sorriso fraco.

- A... Desculpa amiga, eu não quis te lembrar disso. _ ela diz sem graça.

- Não se preocupe. Vou fazer sua comida. Sei que está me paparicando só pra conseguir que eu
cozinhe. _ digo brincando e me afasto em direção à cozinha.

Eu não gosto que toque no que eu passei, e falar de morte me lembra muito disso, mas
sinceramente decidi não me importar mais com isso, seguirei minha vida em diante e não importa o
que aconteça me manterei firme em minha decisão. Mas de agora para frente, sem levar ninguém
comigo, será somente eu sozinha.

Não deixarei o restaurante, até porque eu sou a chefe, mas pedirei que os dias que eu esteja lá
a Raquel fique em casa, ou pelo menos até eu ver que tudo voltou ao normal. Cansei de me
esconder, de deixar a minha alegria para trás e pensar somente naquilo que poderia acontecer
comigo, caso ele me encontrasse.

Mesmo que eu fuja, se tiver que acontecer não tem jeito. Hoje ou amanhã, não fará a mínima
diferença.

Acho que o que será mais difícil é afastar-me do Rafael, não porque eu o amo, mas porque a
sua companhia faz com que meu corpo se relaxe, sinto-me protegida.

Quando eu pensei que tudo estava perdido, encontrei a Raquel, novamente quando pensei que
tudo acabaria o Rafael e a Débora me acolheram e isso fez com que eu percebesse que não
adianta ter medo.
Eu posso ser assassinada, mas eu também posso morrer porque tomei um tombo, fui atropelada,
sofri um infarto, bati de carro.

Cansei disso.

Começo a cozinhar para minha amiga, o tempo passa rápido e quando termino e volto para a
sala, encontro-a dormindo.

A cara dela.

- Raquel, acorde, eu já fiz sua comida. _ pela bolsa que ela trouxe não dormiria aqui e eu não
gosto de saber que ela descerá a serra durante a noite. Costuma ter nevoeiros e acaba sendo
perigoso.

Seus olhos se abrem lentamente e seus braços se erguem para que se espreguice.

Eu passo por um grande problema com Raquel, ela costuma ter mal humor quando acorda. Há
algo mais estressante?

Com certeza não.

- Acho que eu dormi. _ um sorriso aparece em seu rosto e agradeço a Deus por isso.

- Nossa! Você só acha? _ sorrio em resposta.

- É. E já estou com fome, mas pela hora, acho que terei que comer em casa. Tenho que ir para o
hospital. Preciso saber se eles estão bem ou tiveram alguma mudança durante o dia. Tenho que me
preocupar com eles, me salvaram. _ ela diz e eu assinto.

- Eu também quero vê-los, o que acha de eu ir com você? _ pergunto sentindo uma imensa
saudade do Rafa.

- Nem pensar, os policiais vão procurar os dois assim que souberem que eles estão se recuperando,
é melhor que continue por aqui.

Ela diz e eu reviro os olhos, mas não posso deixar de dá-la razão.

Se acontecer algo comigo eu também estarei machucando a ela.

De certa forma, eu não posso morrer de medo, mas tenho que temer para também não
machucar ninguém.

Meio complicado.
- Tem razão, mas não deixe de vir me ver, eu sinto sua falta. _ ela sorri e me abraça novamente.

- Vou ajeitar a comida para você levar. _ ela assente e eu me afasto.

Coloco tudo nas vasilhas e vou até o armário em busca de uma bolsa térmica. Quando volto
ajeito tudo dentro da bolsa e vou em direção à sala, sento-me esperando a Raquel que não
demora muito em aparecer.

- Foi rápida. _ ela constata.

- Sabe que na cozinha sempre fui boa. _ digo e ela sorri.

- Tem razão, eu vou indo, desculpa não demorar mais, eu preciso ficar com eles. Pelo que eu vi os
dois não tem família.

- Nem todos tem uma família como a sua Raquel. _ digo e ela sorri.

- Meus pais são maravilhosos.

Ela diz e caminha até a porta, sigo-a e logo ela me dá tchau entrando no carro.

- Vá com Deus minha amiga. _ digo mais para mim do que para ela.

Entro e fecho a porta, vou em direção à cozinha e pego a esponja, já que não posso fazer mais
nada, arrumarei a cozinha.

Alguns minutos depois ouço uma buzina e logo a voz dos gritos de Raquel ao me chamar.

- O que foi? _ digo já ofegante.

- Esqueci-me de entregar uma coisa para você. _ ela diz gargalhando ao ver minha cara de susto.

- O que, maluca? _ sorrio ao ver sua expressão de "to atrasada e fodida."

- O celular, eu preciso entrar em contato com você. Eu preciso ficar um pouco perto da minha
amiga, como vou mandar a fotos dos boys? _ ela diz e sorri.

- Você não vale nada, adianta porque vai ficar tarde para voltar, está anoitecendo cedo.

Ela tira o celular de dentro da bolsa e me entrega.

- Um Iphone? _ pergunto sem entender.

- Está reclamando do que? Não acha que está muito bom? _ ela desdenha.
- E o meu? _ pergunto.

- Sei lá para onde foi aquilo! _ ela sorri e volta correndo para o carro, mas antes me dá um
tchauzinho que retribuo imediatamente.

Entro e fecho a porta, volto para a cozinha e começo a pensar como seria bom se meu pai
ainda tivesse aqui. Ele era um excelente homem, muito cuidadoso e além de tudo o melhor pai do
mundo.

Eu podia contar com ele para qualquer coisa e sabia que ele me defendia de tudo que minha
mãe tentava fazer comigo. Tenho convicção que se ele ainda estivesse vivo não teria deixado que
minha vida virasse isso.

Também tenho certeza de que ele amaria o Rafael. A primeira coisa que ele falaria era: "
Rapaz, você tem certeza que quer namorar a minha filha? Ela tem um grande problema e esse se
chama pai protetor."

Sorrio com os pensamentos mesmo tendo lágrimas nos olhos. Eu poderia ter estudado mais, não
que eu ainda não queira isso. Eu queria fazer uma faculdade diferente, algo na área da justiça,
da proteção às mulheres.

Meu pai sempre dizia que eu seria uma grande mulher, cheia de virtudes como ele era. Um
homem forte, guerreiro, bonito.

O meu pai.

E de uma certeza eu tenho, mesmo que ele tenha me deixado cedo, eu irei lembrar-me dele para
o resto da minha vida, vou falar dele pros meus filhos e para quem quer que seja importante na
minha vida.

Quando amamos muito uma pessoa, mesmo que ela se vá, o amor não morre.

É estranho como o sentimento passa desacordado dentro de nós, mas basta um acontecimento ou
um lugar, frase ou momento, que a memoria da pessoa se torna tão viva que podemos sentir como
se ela estivesse viva.

Eu sinto como se meu pai tivesse comigo me dando forças. Eu ainda lembro-me das frases que
ele dizia quando eu ficava triste.

"filha, pessoas incríveis tendem serem machucadas nesse mundo, nós nascemos para sofrer,
porque o mundo não aguenta a felicidade e muito menos o prestigio, então seja forte."

" Quando você abaixa a cabeça para o errado, você está contribuindo para que o mau se
instale ainda mais nesse mundo."
Eu ainda ouço sua voz me dizer essas coisas.

Meus olhos estão tomados de lágrimas, eu abaixei a cabeça para o mau, fiz o que ele tanto
rejeitava.

Eu não fui o que ele queria que eu fosse.

ANDRÉ MEIRELES – BÔNUS

- Quando que a porra desses homens vão me dar informações corretas? É tão difícil achar uma
mulher assim? _ a raiva que eu sentia estava cada vez maior, a hora que eu colocar minhas mãos
sobre a querida Alicia, ela vai se arrepender por ter fugido.

- Senhor, os homens deram informações falsas, eu não tenho culpa. _ o homem a minha frente era
a face do medo. Se eu pudesse mata-lo faria agora.

- Eu quero aquela piranha em minhas mãos, isso se tornou questão de honra. Você entendeu?

- Sim, senhor._ ele diz e já ia virar as costas.

- Você tem três meses e se não achar, desculpa, mas quem vai sofrer a minha ira é você! Agora
saia.

Seus olhos se arregalaram e logo saiu de minha frente.

Eu não posso sujar minha reputação com isso, mas aquela mulherzinha me deixou mal quando foi
embora.

Eu dava roupas caras, tudo. E só porque eu me descontrolava às vezes ela some? Pelo amor.

Se meu pai ainda estivesse vivo diria que eu sou um fraco por não ter a matado antes de
aprontar comigo. Mas eu não consegui fazer isso antes. Eu a amava. Porém agora, quero que ela
se foda. Vou acabar com a raça dela. Aquele rostinho bonito vai embora.

Dane-se se alguém descobrir e me denunciar, a mulher é minha eu faço com ela o que eu quiser.

Só de pensar que outro piru já pode ter entrado naquela mulher meu sangue ferve. Se eu só
desconfiar de alguém, acabarei com a vida da pessoa em dois tempos. Se bem que uma morte
lenta tem mais graça.
CAPÍTULO 8

2 semanas mais tarde...

RAFAEL MELLO

- Eu não acredito que estamos saindo desse lugar! _ digo pegando minha mochila sobre a cama e
a encaixando nas costas.

- Pô! Já estava me sentindo impregnada desse lugar, mas o que me tira do sério é pensar que
estamos no olho da rua. _ Débora diz com certa preocupação.

- Eles não podem nos demitir, estávamos hospitalizados, meu amor. _ digo revirando os olhos e
também pegando a bolsa dela.

- Eles não ligam para pobres, Rafael, se liga! _ ela diz.

Acho que eu preciso contar essa parte da minha vida para Débora, eu sei que somos amigos e
que ela seria incapaz de usar isso contra mim um dia.

O problema é que como contar que eu não sou rico? Eu sou milionário, a quantia da casa que
vendi no Rio de Janeiro me deixou cheio de dinheiro, mas isso não mudou o que eu sou ou deixei
de ser.

Acho que a humildade não depende do dinheiro e sim da conduta, naquele banco todos são
mais pobres do que eu e nem por isso deixam de se sentir algo superior, apenas porque ganha uns
quinhentos reais a mais que eu.

Lixos.

- Eu não sou pobre, Débora, acho que temos que conversar. _ digo respirando fundo e me
afastando em direção ao corredor.

- Realmente temos que conversar. Temos coisas a resolver, mas acho que primeiro você irá à
procura de uma pessoa. _ ela diz chegando próxima a mim no corredor.

- Não, tenho muita coisa para resolver aqui ainda, a Alicia pode esperar. _ não, ela não pode,
porém, eu realmente preciso cuidar de certas coisas.

- Certeza? _ ela me olha com algo que não consigo decifrar no olhar.

- Sim. Vamos logo para casa, ficarei com você pelos próximos dias. Não quero deixa-la sozinha.
Digo e olho para frente, meu coração está aflito, essas duas semanas acordado tem sido uma
merda. Eu acordo e durmo pensando em como seria se a Alicia estivesse ao meu lado, ainda não
consigo entender como pude me apaixonar tão rápido.

Até esses dias eu ainda sentia um sentimento de perda horrível por conta da Amber, e hoje estou
aqui, quase morrendo de saudades de uma mulher que eu nem conheço.

A minha cara mesmo.

Aline está a nossa espera na porta do hospital, nessas duas semanas ela foi uma grande amiga,
apesar de sempre querer algo a mais.

"Rafael, estar do seu lado, e não transar com você, é um tremendo martírio."

Passei a semana toda ouvindo a mesma ladainha.

E mais uma vez conclui que não é bem assim, no dia que Alicia dormiu em minha casa, ela
praticamente fugiu de mim, mas pela manhã parecia um anjo em minha cama. Delicada, em
harmonia consigo mesma.

Aquela mulher não sai da minha cabeça.

Sinto como se o velho Rafael estivesse voltando, ressurgindo das cinzas.

- Estou muito triste. _ Aline diz se aproximando de mim e se aconchegando em meus braços.

- Por quê? Sei bem que a minha presença é ilustre, mas viram outras peças para você.

- A carne é fraca, para uma peça de primeira como você. _ ela diz sorrindo ao falar "peça".

- Se tornará forte, quando a pecinha certa se encaixar em você. _ deixo um beijo na sua testa.
Olho para Débora e vejo seus braços cruzados.

Está com ciúmes?

Solto a Aline e me aproximo de Débora novamente, passando meu braço por cima de seu ombro.

- Não te troco por ninguém, irmã. _ falo próximo ao seu ouvido, mas vejo seu corpo se tencionar.

- Você está acabando comigo. _ ela se afasta de mim e vai em direção ao médico que cuidou de
nós durante todo esse tempo.

Beijo-o e agradeceu; logo eu fiz o mesmo, tirando a parte do beijo, é claro.

Nos despedimos e entramos no carro, coloquei o cinto de segurança e liguei o carro, precisava
ser rápido, ainda queria ir ao banco e pela hora, faltavam poucos minutos para o fim do
expediente.

Aquele filho da puta deveria estar ainda mais chato.

- Você está diferente, Rafa. _ Débora diz olhando para mim.

- Como? _ pergunto ainda dando atenção à pista.

- Tem alguma coisa no seu olhar que eu nunca tinha visto. Está mais decidido, mais sei lá. Não sei
explicar, mas quando olho em seus olhos vejo amor. _ ela diz um pouco triste e baixo.

- Quando eu reencontrei a Alicia, eu senti que algo dentro de mim estava diferente. É como se algo
que tivesse morrido, renascesse.

- Está apaixonado mais uma vez, por uma pessoa que só pode te dar magoas e feridas.

- Eu não tenho culpa. _ digo sabendo que ela tem razão.

- Realmente acho que precisamos conversar.

Ela diz e volta a olhar para janela.

- Você está diferente comigo. Me diga o que houve? _ pergunto olhando-a por um momento.

- O que eu não queria, só isso. _ ela diz e volta novamente a olhar pela janela.

Decidi permanecer em silêncio e em poucos minutos já estávamos em frente a agencia.

- Vai querer ir comigo? Se sente bem? _ pergunto com cuidado, sei que ela está se recuperando e
que a dor em seu corpo ainda é forte.

- Eu vou, afinal, esse emprego também é o meu. _ diz e eu assinto.

Saio do carro e dou a volta para abrir a sua porta, dou minha mão para que ela se apoie e
passo meu braço por sua cintura.

O que eu gosto em Débora é seu cheiro, é gostoso. Sei que o perfume não é caro, mas é algo
bom de se sentir.

- Está me cheirando? _ ela sorri assim que começamos a subir os degraus da entrada.

- Me pegou. _ digo sorrindo.

- Eu sei que sou cheirosa, mas não precisa fazer isso na frente de todos, parecemos um casal.
- Nem venha com isso. _ digo sorrindo e ela retribui o sorriso em uma intensidade mais fraca.

Passamos pela porta giratória e logo demos de cara com nossos colegas de trabalho, logo
sorriram e vieram até nós.

- Olha quem voltou; nossos heróis._ um deles brinca e nos abraça.

- Ficamos preocupados, como vocês fazem isso com a gente? _ ele pergunta sorrindo e colocando
a mão sobre meu ombro.

- Problemas não escolhem hora para aparecer, irmão. Mas eu quero saber mesmo é daquele filho
da puta que a gente chama de chefe. _ digo e os dois gargalham.

- Está lá embaixo, acho melhor vocês se prepararem para a palhaçadinha. _ ele revira os olhos e
se afasta, provavelmente indo o chamar.

- Já nascemos preparados. _ digo mais para mim e Débora do que para ele, olho para minha
amiga e deixo um beijo em sua testa, vejo que ela fecha os olhos e respira pesadamente.

- Merecemos um descanso, acho que vou procurar a Raquel mais tarde.

- Acho que "A Alicia pode esperar." Foi um grande k.o. _ ela diz e eu gargalho.

- Acho que preciso daquela mulher perto de mim, mas não tenho certeza do que sinto. Acho que
nunca senti nada como isso.

- Com os acontecimentos as ideias se clareiam, Rafael. _ ela diz e permanece em silêncio ao


observar que aquele babaca se aproxima.

- Ora, se não é os dois heróis da cidade. Rafael o guerreiro e Débora, sua fiel escudeira.

Até a voz desse cara me irrita.

- Olha se não é o "melhor" chefe do mundo. _ digo com raiva.

- O que fazem aqui? Já estão recuperados? _ ele desdenha.

- Mais do que você imagina, espero que esteja preparado para nos aturar novamente.

Os seus olhos se cravam em mim com certo ódio, mas eu firmo ainda mais o meu olhar sobre o
dele.

Não tenho medo de você, acho que nem de você e nem de ninguém.
- Acho que vocês passaram muito tempo faltando. Não creio que poderão voltar com tanta
facilidade. _ ele me dá um sorriso torto e debochado.

- Desculpa, mas estávamos hospitalizados e acho que esse documento aqui, resolve bastante coisa.
_ digo abrindo a bolsa de Débora e tirando uma pasta com documentos que comprovavam nossa
permanência por todos esses dias no hospital.

Rapidamente ele se aproxima e toma os papeis de minhas mãos com certa raiva.

Que morra!

- Pelo visto, não morreram por pouco, estejam aqui as sete, ou se não estão na rua.

- Se nos colocar na rua, te coloco na justiça. Conheço meus direitos. _ cuspo as palavras.

- Não sabia que seguranças conheciam direitos.

Ele diz com sarcasmo.

- Você não sabe muita coisa de mim. _ o ameaço e ele logo se afasta.

Eu estou cansado desse homem, vou ferrá-lo.

- É o ultimo dia que você vê esse homem aqui. _ digo com raiva.

- O que fará? _ Débora pergunta sorrindo.

- Despedi-lo.

- Usará seu irmão? _ dessa vez ela gargalha.

- Sim. _ a pego pelo braço e me afasto voltando para o carro.

- Eu não acho que seja uma boa ideia, ele pode querer se vingar. _ ela diz levantando uma de
suas sobrancelhas e talvez pensando em uma futura vingança.

- Ele não saberá de onde veio o nocaute. _ digo com desdém e coloco o carro em movimento
novamente.

- Só você mesmo, o senhor que não gostava de tirar proveito do irmão agente. _ ela revira os
olhos.

- Cala a boca, Débora. _ digo sorrindo e volto a prestar atenção na pista.

- Eu te amo. _ ela diz e então sorrio.


- Sabe que eu também. _ digo sem desviar o olhar da pista.

[...]

Débora já estava caminhando com certa dificuldade em direção à sua casa, acho que se
esforçou muito hoje.

Eu já estava completamente bem, não custava nada fazer uma gentileza para ela, mesmo que
isso causa em mim e nela também um certo desconforto, eu não posso negar que eu conheço os
sentimentos dela por mim, se eu a tratar como antes estarei alimentando esse sentimento e não é
isso que desejo.

Sei bem o que é sofrer por amor, e tenho um grande apresso por ela para deixar que ela
sofra.

Caminho rapidamente até ela e a pego no colo, desprevenida ela solta um grito agudo que
ecoa de sua garganta, fazendo-me jogar a cabeça para trás e sorrir.

- Você não devia fazer essas coisas. _ diz envergonhada e afunda a cabeça no meu peito.

- Devia sim. _ digo girando encostando-me a porta e girando a chave, logo coloco meu pé para
frente para que a porta se abra.

Ando por mais uns metros até aproximar-me do sofá e então faço menção de descê-la.

- Poderia passar o resto do tempo assim. _ ela suspira, sei que não queria dizer aquilo, porque
logo depois queria descer, o que a fez se desiquilibrar.

- Calma. _ digo a colocando no chão com cuidado, deixando nossos rostos próximos o bastante
para me deixar um pouco desconfortável.

- Eu queria tanto que você sentisse o mesmo que eu. _ ela diz erguendo uma de suas mãos e
acariciando meu rosto.

- Eu seria feliz se isso acontecesse, você é maravilhosa, mas eu não posso. _ digo respirando fundo
e colocando minha mão sobre a dela.

Seus olhos se marejam e eu posso ver a tristeza em sua face.

Me perdoa, mas eu não posso te iludir. Não sou sujo.

- Você sempre escolhe sofrer, Rafael, eu já devia saber disso. _ ela diz deixando uma lágrima
escorrer e tirando sua mão de sobre meu rosto.
Respiro fundo e deixo que ela se afaste, o que eu posso responder? Que eu me apaixonei por
outra pessoa ainda mais problemática? Acho que eu nasci para sofrer.

Sento-me no sofá e fico esperando o que meu coração mandar. Os minutos se passam e minha
vontade de pedir desculpas para a Débora aumenta ainda mais.

Resolvo ligar para a Raquel, pego meu celular dentro de minha mochila e procuro seu nome na
agenda.

Não demorou muito para que ela atendesse.

- Oi, Rafael. Estava procurando o celular para te ligar. _ ela diz animada.

- Está tudo bem? _ pergunto.

- Sim, eu ia te visitar hoje, mas tive muito trabalho aqui no restaurante. Amanhã eu irei para i bem
cedo, creio que queira ver a Alicia.

- Sim, eu quero muito, eu ia pedir que ficasse aqui hoje com a Débora, mas já que tem muito
trabalho, amanha mesmo vou procura-la.

- Tudo bem, agora eu preciso ir cuidar do restaurante, amanhã de manhã estou ai. Se cuidem. _
ela diz sorrindo.

Essa mulher deu.

- Tudo bem, boa noite.

Meus planos foram alterados, eu queria dar um tempo para a Débora, mas acho que hoje isso
não será possível. Pelo menos passarei a noite inteira cuidando dela. Não posso deixar a minha
pretinha favorita de lado.

Decido subir e tomar um banho, passo tanto tempo nessa casa que tenho até um quarto. Tiro
toda minha roupa e entro no chuveiro.

- Meu Deus, que banho bom, que saudade. _ digo sozinho enquanto sinto a agua descer sobre
minha cabeça e costas, percorrendo meu abdômen e o restante do meu corpo. Passo shampoo no
cabelo e esfrego, faço o mesmo com o sabonete pelo restante do corpo e logo me enxaguo.

Banho de hospital é horrível, aquelas enfermeiras cismavam de abrir a porta toda hora com a
desculpa de que estavam preocupadas por minha demora.

Poupe-me né? Nasci ontem!

Saio do banheiro e coloco somente uma cueca e um short. Não preciso de formalidades na casa
de Débora, além do mais, ninguém vem aqui, a família dela não a procura e de verdade, nem eu
sei quem são.

Ela também não fala deles e somente agora eu prestei atenção nisso.

Quantas coisas eu deixei de não notar?

Deixo meus pensamentos de lado e começo a pensar no que farei para o jantar. Sei que ainda
está cedo, mas sei que ela dormirá cedo, então não custa nada adiantar as coisas.

Onde Débora mora é uma casa de dois andares com um terraço descoberto, as luzes por aqui
são poucas, o que faz com que as estrelas do céu se tornem mais visíveis.

Nós dois sempre subíamos lá para conversamos banalidades, acho que foi por isso que ela se
apaixonou, passamos por muitos momentos bons e ruins e somente tínhamos a nós dois.

São quatro anos que só temos um ao outro.

É um relacionamento bem longo e muito duradouro, com muitas brigas e com muito amor também.

Acho que ela ainda não pode comer de tudo, então farei uma sopinha de batata, tenho certeza
que ela me odiara pelo resto da noite, mas não custa nada tentar deixa-la um pouco mais
saudável pelo menos por enquanto.

Desço as escadas rapidamente e corro para a cozinha, procuro tudo que eu preciso na
geladeira e coloco sobre a pia, pico a batata em pequenos pedaços e ponho para cozinhar, lavo
a couve e a corto bem fininho. Estou imaginando a cara que ela vai fazer quando encontrar a
mesa do terraço arrumada e como comida uma sopinha aguada.

Já sei que vou ouvir vários "porras". Balanço minha cabeça e continuo meu serviço. Quando tudo
já estava encaminhado, subo novamente a escada e passo direto pelo corredor, onde no final fica
a outra escada que dá para o terraço, subo-as e vou em direção ao armário, pego uma toalha e
duas colheres, pratos e também um candelabro.

Que romântico.

Arrumo tudo sobre a mesa e volto novamente para o armário, abaixo até as gavetas mais
baixas e procuro um forro, dois travesseiros e também um cobertor, vou até o colchão que fica ao
fundo do terraço e arrumo a cama.

Faz tempo que isso não acontece, uma noite só dos amigos.

Pena que não poderemos beber mais do que uma taça de vinho.

Era legal quando bebíamos muito e acabávamos falando mais do que devia. Nunca ficamos e
nem tivemos relações sexuais.

Só espero que eu não tenha feito isso tudo e aquela pecinha esteja dormindo.

Desço as escadas novamente e vejo que as batatas já estão cozidas; pego o liquidificador e
ponho sobre a pia, escorro as batatas e as ponho no liquidificador com um pouco de agua, bato
tudo e depois derramo na panela novamente, coloco temperos e também a couve, boto novamente
no fogo para ferver.

Depois que abriu fervura, pego a panela e subo a escada, arrumo sobre a mesa, e rezo para
que não esfrie rápido, vou até a cozinha de novo e pego o vinho.

Subo as escadas correndo, dessa vez já me sentindo cansado de tanto sobe e desce e o deixo
em cima da mesa junto da sopinha.

Desço novamente e vou até meu quarto, abro o armário e pego um palitò e ponho, não vou
colocar blusa, o que deixa um pouco sexy, pelo menos eu acho, também continuarei com o shortinho
de dormir.

Creio que ela não se importaria com isso.

Vou até a porta do seu quarto e bato.

Continuo batendo e batendo e batendo. Quando estava quase arrombando a porta ela grita.

- Me deixa em paz, Rafael, eu quero ficar sozinha.

Querida! Eu não trabalhei durante duas horas inteiras para ouvir um "não" como resposta.

Vou até meu quarto e pego a chave de minha porta. Acho que ela esqueceu-se que nossas
chaves abrem ambos os quartos.

Respiro fundo e rezo para que ela esteja decentemente vestida.

Quando giro a maçaneta vejo seu corpo deitado de qualquer jeito sobre a cama, seus cabelos
espalhados pelo colchão e sua bunda para cima.

Muito atraente, devo dizer.

- Sabia que você não sabe ouvir "não"? _ ela diz afundando o rosto no travesseiro.

- Sim, eu sei disso. É por isso que eu quebro a cara, sempre insisto com quem eu amo. _ digo e ela
me olha por um instante.

- Sei, Rafael, o que faz aqui? Já não basta a conversa desagradável que tivemos? _ ela diz e eu
sorrio.

- Não basta eu querer ficar perto de você? Não basta isso, Débora? Você é minha amiga, minha
melhor pecinha.

Vejo que ela sorri por minhas palavras, mas se mantém de cabeça baixa.

Acho que ela não percebeu como estou vestido ainda.

- Melhor me deixar sozinha hoje. _ ela diz e eu respiro fundo tentando não soar grosseiro.

- Débora, ou você vem, ou serei obrigado a subir nessa cama e te trazer a força para jantar
comigo.

Faço postura de machão e fecho a expressão do rosto, quer ser teimosa, também sei ser.

- Para que você me quer com você? Eu não quero mais ser sua amiga. Eu não posso...

Sinto dor em suas palavras e por um momento amoleço meu coração, talvez eu realmente precise
deixa-la.

Pondero alguns instantes e resolvo responder.

- Como você sempre diz, Débora, eu não me importo com você, então eu quero que se levante e
venha me fazer companhia. _ o que eu acabo de dizer causou uma sensação imensamente
estranha em mim.

- Sempre foi assim, Rafael. _ ela diz e resolve se sentar.

Faço minhas pernas se moverem até ela e então paro a sua frente.

- Janta comigo? _ estendo minha mão para ela, mas seu olhar ainda permanece ao chão.

- Adorei o shortinho. _ ela diz sorrindo, mas logo vejo que seus lábios voltam a ficar sombrios
novamente.

- Olha para mim. _ digo em um tom baixo e coloco meu indicador em seu queixo, forçando-a a me
olhar, quando percebi seu rosto se erguendo, tiro meu dedo.

Seu olhar percorre meu corpo lentamente até pausar em minha boca e subir até meus olhos.

Respiro fundo.

Logo sua mão toca a minha e ela se levanta.


- Por que você está fazendo isso? _ ela pergunta com o corpo quase colado ao meu, dou um passo
para trás.

- Porque eu já disse que não me importo com você. _ digo olhando firme em seus olhos.

- Eu sei que é mentira. _ ela sorri fraco, sorrio de volta.

- Coloque um casaco, não está muito frio, mas não podemos abusar. _ digo olhando em volta a
procura de seu sobretudo.

Quando o acho, vou até ele e pego, volto e entrego-o para ela.

- Tudo bem, mandão.

Ela revira os olhos e coloca-o.

- Está bem para caminhar? _ pergunto preocupado.

- Estou sim, consegui descansar, além do mais amanhã terei que voltar ao trabalho mesmo. _ ela de
ombros.

[...]

- Eu não acredito que vou ter que comer essa porra de sopinha! _ ela grita e eu gargalho.

- O que queria que eu fizesse? Feijoada? Você acabou de voltar do hospital! _ digo sorrindo
enquanto ela se senta cheia de raiva.

- Seria ótimo que fosse isso mesmo. _ ela resmunga.

- Eu vou fazer o melhor para você comer, sabe disso. _ digo e ela me mostra um dedo feio.

- Me faz levantar para comer agua misturada com batata, puta que pariu!

Mais uma vez ela xinga.

- Se continuar assim quando morrer, vai passar anos só ouvindo Deus te cobrar pelas vezes que
xingou. _ brinco.

- Tem razão, me desculpa. _ ela diz e então olha para trás de mim, vejo que seus olhos ficam
estatelados, mas nada diz.

- O que foi? _ finjo-me de idiota.

- Por que arrumou a cama? _ pergunta colocando uma colher da sopinha na boca e fazendo
careta.

- Tenho que te contar muitas coisas. _ digo.

Acabamos de almoçar e lavamos as coisas rapidamente, fomos em direção ao colchão no chão e


a ajudei a deitar.

Deitei-me ao seu lado e nos cobri com o cobertor, parei por alguns segundos ao olhar para o
céu e perceber que ele está ainda mais lindo hoje.

- Está lindo, não é? _ ela diz me olhando.

- Sim, mas eu preciso te contar uma coisa. _ digo respirando fundo.

Eu não queria contar sobre ser rico para ela, já passamos por grandes dificuldades e eu nem
nunca ousei em mexer no dinheiro que estava em minha conta, isso foi uma sujeira.

Mas eu ainda sentia como se aquele dinheiro fosse de alguém e não meu. Não dado por mérito,
como hoje eu enxergo que seja.

Eu passei por muita coisa ao lado daquela família, eu mereci ser recompensado de algum jeito,
mesmo sendo diferente do que eu queria.

- Fala logo, já estou cansado de te ver pensar.

Ela diz e eu acabo sorrindo.

- Acho que eu penso demais no certo e esqueço de pensar no errado. _ digo com um sorriso falho.

- Tenho que concordar. _ ela sorri e se aproxima, afastando meu braço e se deitando sobre ele.

Mais uma vez tenho a sensação de perder o ar de meus pulmões.

- Já disse que amo seu cheiro? _ pergunto e a ouço gargalhar.

- Pelo menos um milhão de vezes. _ ela diz. – mas não é isso que eu quero ouvir agora. _ ela diz e
se vira para olhar em meu rosto.

Vou mandar na lata logo.

- Eu sou rico, Débora, milionário, na verdade. _ seu olhar se enfraquece.

- Então para que essa cena toda? Por que sempre menosprezou pessoas com condições melhores?
Você faz parte deles.
- Eu não sou como essas pessoas ai, Débora, você deveria saber disso. _ digo surpreso, por que
ela não duvidou? Nem expressão de surpresa fez.

- Eu não sou otária! Você acha que eu acreditaria que você é pobre sendo ex funcionário de
Amber Queiroz? Pensa que eu nasci ontem?

Desvio nossos olhares ao ouvir o nome dela.

- Não sei porquê você foge tanto desse passado, eu já vi suas fotos com ela, pesquisei tudo sobre
você, Rafael. Eu só esperava que fosse mais franco comigo, mas nem assim consegui me afastar.
Nunca fui cega.

- Eu não tenho nem o que dizer. Eu sempre quis ser alguém diferente do que eu era, mas acabei
sendo alguém pior. _ digo respirando fundo e passando a fazer carinho com a ponta de meus
dedos em suas costas.

- Eu tenho também muitas coisas para contar. Eu também não fui cem por cento verdadeira. _ ela
respira fundo.

Franjo o cenho e a olho.

- Como assim? _ pergunto sem entender, ela sempre me pareceu tão verdadeira.

- Eu me aproximei de você não porque senti afinidade, mas sim porque se parecia com meu irmão.
_ ela respira fundo.

- Que irmão, Déca? _ pergunto ainda mais confuso.

- Meu irmão foi morto por skinheads há seis anos, seus olhos azuis lembravam muito ele, pele
branca, cabelo loiro.

- Eu não sabia... Desculpa. _ respiro fundo sentindo um aperto no coração.

- Mas ainda não entendi como ele pode ter sido atacado por eles, se não entra nos "requisitos"
para ser morto.

- Eles me pegaram, queriam que ele me matasse, mas ele não fez. Me escondeu e se deixou na
linha de frente, os homens não o perdoaram pela traição e o mataram no mesmo instante. O que
me dói é que eu vi tudo, eu estava quase ali...

Ouço sua voz falhar e então me ergo em cima dela. Nem sei por que fiz isso.

- Você não tinha culpa, ainda era uma criança. _ digo passando meu dedo em seu rosto.

- Eu era para ter morrido, meus pais o amavam, mas a mim não. _ vejo uma lágrima se derramar e
fico desesperado.

Eu sempre chorava, mas nunca a vi chorar. Não sei o que fazer.

- Se você tivesse ido, eu não estaria vivo hoje, se seus pais não te amavam, eles não sabem o que
perderam. Você é ótima.

- Ninguém me ama, Rafael. _ as lágrimas teimavam ainda mais em descer do seu rosto.

- Quando eu perdi minha mãe também me senti assim; sozinho, perdido, ainda mais que meu irmão
me deixou sem me dar esperanças se voltaria ou não. Você surgiu na minha vida para trazer
minha alegria de volta. _ digo. Sua mão correu para meu cabelo e fez carinho. Fechei meus olhos
ao sentir seus dedos.

- Você é única razão por eu estar aqui ainda. _ ela diz e então acabo descendo meu olhar até
sua boca, seus olhos permanecem nos meus, mas seu dedo desliza sobre meus lábios.

Sinto meu coração disparar, mas ignoro a sensação, voltando meu olhar ao dela, deixo meu peso
cair sobre o braço esquerdo e deslizo minha mão pelo seu pescoço, indo até a nuca e pegando em
seu cabelo.

Seu olhar ainda estava grudado ao meu, mas sinto a sua respiração falhar.

Fecho meus olhos e desço minha cabeça até seus lábios quase os encostando aos seus, posso
sentir seu hálito quente e gostoso próximo a mim.

Sua mão corre para meu pescoço e o pressiona para baixo, fazendo minha boca encostar a
sua; logo ela abre passagem para minha língua, fazendo com que nosso beijo comece lento e
gostoso, desço minhas mãos para sua cintura e a aperto com um pouco de força.

Ouço-a gemer, o que me deixa um pouco excitado.

Coloco uma de minhas pernas entre as suas, e subo minhas mãos por cima de sua roupa até
quase seus seios.

Merda.

Sinto sua língua deslizar na minha e logo seus lábios a sugam, aperto-a com mais força e então
volto a beijá-la deixando uma mordidinha em seu lábio superior.

Suas mãos deslizam por minhas costas. E novamente eu sinto meu coração disparar.

O beijo se intensifica deixando-me ofegante, desço meus lábios para seu pescoço beijando-o de
maneira intensa, mordo seu ombro levemente e vejo que lhe causo arrepios.
Eu estava duro.
CAPÍTULO 9

ALICIA DALGLIESH

Sabe aquela sensação de perda? É isso que eu estou sentindo, não consegui pregar os olhos a
noite inteira.

É um sentimento tão ruim que tenho vontade de passar o resto do dia deitada e provavelmente
chorando.

Isso é o que eu tenho feito há três semanas já.

Mas hoje as coisas estão diferentes, mesmo que eu queira me enganar meu único medo é que o
Rafael, não sinta a mesma coisa que eu. Talvez eu esteja me enganando, achando que tudo são
flores por estar sozinha há tanto tempo, mas quem se importa? A única coisa que eu quero é que
ele esteja comigo, como eu quero estar com ele, e se não for assim... Minhas esperanças de uma
vida nova acabarão, quando ele apareceu tudo que estava morto dentro de mim, ressuscitou.

Amor;

Carinho;

Desejo...

Droga! Tudo tem que ser tão inserto na minha vida? E também quem garante que essa paixão
pode ser duradoura?

O amor é para sempre, a paixão não. Assim como ele era apaixonado por alguém, eu sou
apaixonada por ele, eu o quero como nunca pensei em querer alguém, porém, eu posso esquecê-lo
e arrumar outro. Isso é claro, se não for amor e se eu estiver curada.

Nunca me senti tão atraída por alguém, nunca quis tanto que desse certo. Mesmo quando
pensava que o André poderia ser o melhor para mim, imaginando que talvez como nos livros, ele
fosse um príncipe encantado em meio aquele contrato de venda.

Eu ainda me pergunto todos os dias, como pude ser tão ingênua. Eu acabei comigo mesma. Se eu
tivesse levado ao pé da letra, talvez eu não tivesse sofrido tanto.

Eu implorei pelo amor de uma pessoa que não tem coração.

Pelo menos é isso que eu penso de alguém que aparentemente só pensa em si mesmo, que não
corre atrás de sua vida. E que teve a coragem de bater em uma mulher até ela desmaiar, de
cortar a própria mãe, de atentar contra vida de sua própria irmã.
Ou ele vai ter o que merece, com uma morte muito horrível, ou alguém, alguma alma, chegara
perto dele apenas para curá-lo.

O que eu sinto pelo André é tão horrível que meu estomago se embrulha.

Levanto-me e vou até o banheiro, já se passam das dez horas da manhã. Meu prazo para
banho já está mais que vencido.

Pego um roupão na gaveta e o coloco pendurado, tiro minha roupa e a deixo no chão mesmo,
entro no box e ligo o chuveiro, espero a primeira agua cair, para me certificar que está no morno,
odeio banho muito quente, na verdade, eu só tomo banho de agua gelada, mas isso aqui na Serra
é bem impossível. A agua não é gelada, é congelada.

Entro debaixo do chuveiro e deixo a agua escorrer pelo meu corpo, deixando-me arrepiada.

Que gostoso.

Fecho meus olhos e apoio minhas mãos na parede, o percurso da agua fazia meu corpo relaxar.

Tento esquecer-me de todos os problemas e me perco no tempo, a única coisa que consigo
pensar é em como seria se o Rafael estivesse aqui, comigo.

Imagino como seria se seu corpo estivesse colado ao meu, deixando minha bunda roçar em seu
pau, minha cabeça cair sobre seu ombro e sua pele se encostar por completo a minha.

Suas mãos correndo pelo meu corpo, ora em minha cintura, ora, em meus seios, bunda,
intimidade.

Começo a sentir algo diferente entre minhas pernas e uma vontade enorme de levar minha mão
até lá.

Minha respiração começa a ficar frenética, como se eu estivesse prestes a transar, a conseguir o
que eu mais queria.

Rafael.

Deixo minhas mãos deslizarem pelo meu corpo até minha intimidade, um sorrisinho escapa de
meus lábios ao pensar no que estou fazendo.

Pareço uma menina no auge da adolescência.

Começo a fazer movimentos circulares e ritmados, a agua morna ainda escorria sobre meu
corpo, deixando o clima ainda mais favorável. Os minutos iam se passando e a excitação
aumentando, uma imensa ânsia começa a se formar, minha respiração se torna ofegante e minha
pele extremamente sensível.

Estou queimando por dentro.

Rafael_ acabo deixando um gemido alto escapar de minha garganta, tranco meus olhos sentindo
minhas pernas bambearem e toda minha pele se eriçar.

Perco minhas forças, mas insisto nos movimentos. Eu preciso...

De repente ouço barulhos de buzina e olho pela janela, reconheço o carro da Raquel.

Merda, agora?

Eu preciso continuar...

- Estou no banheiro. _ grito pela janela e volto a me tocar, viro-me e me encosto à parede, continuo
os movimentos e começo a sentir algo escorrer por dentro de mim, os gemidos eram inevitáveis e a
sensação de prazer deixava um sorriso bobo em meu rosto.

Aos poucos começo a sentir espasmos e então, finalmente, meu prazer se derrama, escorrendo
pelas minhas pernas. Apoio-me à parede e fecho os olhos.

- Desculpa. _ porra!

Aquela voz grossa invade meu ouvido, trazendo-me a maior vergonha do mundo, não era a
Raquel, era o Rafael!

A vergonha até rima!

Meu Deus, o que eu fiz?

Rachei minha cara!

Tomo um banho rápido e coloco o roupão, nem acredito que eu fiz isso.

Encaixo meu chinelo no pé e vou à procura do homem que acabou de me fazer quase desmaiar
de tanto prazer.

Mesmo sem me tocar.

Caminho pelos corredores, sala, cozinha, todos os ambientes da casa, mas ao passar pelo meu
local favorito, o vejo no quintal.

O sol batendo em seu rosto, seus olhos fechados, seus braços cruzados, aquela calça apertada.
Acho que eu nem precisava fazer aquilo tudo para gozar, só essa imagem já é o bastante.

Caminho até o meu quarto e resolvo colocar uma roupa antes de encontra-lo. Penteio meus
cabelos e escolho um vestidinho jeans de mangas cumpridas e bainha arredondada.

Respiro fundo e volto para o meio da sala, fico-o observando por alguns minutos, a sua imagem
estava perfeita daquele ângulo e eu poderia tirar uma foto dele assim se meu celular não
estivesse tão longe.

Saio de dentro de casa e vou até ele, seus olhos ainda permaneciam fechados, o que o deixava
com um ar angelical maravilhoso.

Ele é maravilhoso.

Meu Segurança.

- Oi. _ digo prendendo os lábios.

Vejo que ele respira fundo e sorri.

- Oi. _ seu sorriso comportado e seu ar sensual faz com que minhas pernas bambeassem.

Eu ainda vou descobrir o que esse homem faz comigo.

Quando eu passo meus olhos pelo seu rosto é inevitável que eles parem em sua boca, que filho
da puta de homem gostoso.

- Vai ficar me olhando assim? Estou quase me arrependendo de não ter entrado naquele box. _
ele morde os lábios inferiores e sorri.

Acho que fiquei vermelha.

- Eu pensei que fosse a Raquel. _ digo sentindo minhas bochechas queimarem e um leve sorriso sair
de meus lábios mesmo não querendo.

- Eu sei, a culpa foi minha, deveria ter ligado. Além do mais estou com o carro dela. _ ele diz
olhando em direção ao carro.

- Pensei que a Débora fosse vir junto com você. _ sua feição despreocupada some imediatamente
sendo tomada pelo mal estar em ouvir o nome de sua amiga. Ele mexe os ombros e cruza os
braços.

- Não. _ ele diz seco e acho melhor não perguntar o motivo. Não tenho intimidade para isso.

- Hm... quer entrar? Eu não fiz nada para comer ainda, confesso que acabei de levantar, mas
posso preparar um almoço legal para gente.

Digo um pouco rápido. Droga.

- Está nervosa? Não fique. Eu não mordo. _ ele diz e sorri levemente.

Olho para ele e percebo algo diferente no seu olhar, como não estivesse inteiro, de alguma
forma ele está diferente e não só no olhar, mas na atitude também, ele nunca flertou assim comigo.

- Não estou nervosa, mas estou te achando diferente. _ digo dando um passo para trás.

Vejo que ele tranca os olhos e respira fundo.

- Desculpa, acho que eu tenho sido um babaca mesmo. _ ele balança a cabeça.

- Não se preocupe. Vamos entrar, conversaremos melhor. _ digo virando-me e indo em direção a
casa.

DÉBORA MORAES

Sempre tudo deu errado na minha vida, mas nem por isso eu fiquei me lamentando, ou achando
que tudo tinha acabado por ali, até meu irmão morrer e eu quase partir junto dele, tudo foi culpa
minha, eu devia ter morrido em seu lugar.

Mas acho melhor começar de quando eu era pequena... Meus pais sempre me desprezaram
muito, não me sentia amada por eles, pelo contrario, nada que eu tentava fazer era bom o
suficiente.

Quando eu tinha meus treze anos, um homem sempre ia me ver na escola, tinha a pele bem
morena e um porte musculoso, vestia roupas elegantes e bonitas, um dia eu cheguei a comentar
esse assunto com minha mãe e seu olhar foi de ódio. Até hoje eu não sei quem era aquele homem,
mas pelo desespero de minha mãe e pelas coisas que eu passei eu o julgo meu pai.

No começo, eu só me achava diferente, mas nunca pensei que poderia ser filha de outra pessoa.
"minha família" é branca, meu irmão era loiro de olhos azuis, mesmo que eu quisesse me enganar
com o passar dos anos eu perceberia. Sua aparência lembrava muito a do Rafael.

Eu me sinto como uma idiota por ter me importado tanto quando eles me mandaram embora,
quando eu ouvi da boca de minha mãe que a culpa era toda minha, que eu sim, deveria ter
morrido e não o filho que ela tanto amava.

Porém, hoje eu enxergo que eu nunca tive culpa de nada, eles não deixaram de me amar por
conta de meu irmão, eles nunca me amaram.
Ninguém imagina o estado que eu fiquei; como eu me senti. Era triste demais.

E quem acha que uma dor assim pode passar está muito enganado, eu não sei como estou de
pé.

Mas de uma coisa eu tenho certeza, eu nunca me esquecerei do meu irmão, eu o amo demais.

A voz e o sorriso dele nunca saíram e minha cabeça, o carinho que ele tinha por mim mesmo
estranhando também o fato de sermos tão diferentes.

Eu tenho muito a agradecer, tenho muito a lembrar dele como um ícone de família, como a única
pessoa que me amou antes do Rafael e que agora eu também fiz questão de estragar tudo.

Raquel ainda estava em minha casa, fez questão de me fazer companhia para que o Rafael
pudesse ir ver a sua amiga, mas quem disse que era isso que eu queria?

Depois de ontem eu preciso conversar com alguém que me entenda, que me queira por perto.

Fácil arrumar alguém assim? Claro que não. Eu só tenho o Rafael, mas ninguém.

Sento-me na cama e começo a remoer a minha noite, aquele homem faz com que meu mundo
ganhe forma.

Mas a otária aqui, só percebe isso quando está a ponto de perdê-lo para outra. Muito
inteligente da minha parte.

No começo eu achava que isso era coisa da minha cabeça, que querendo ou não, eu o venerava
por estar como o papel do meu irmão.

Mas não é bem assim, eu não o amo como irmão. Eu o quero como homem, eu o conheço de
todas as maneiras, sei de seus defeitos, das coisas que gosta e principalmente de suas dores.

O que ele não sabe é que eu sempre escondi tanta coisa dele, sempre escondi o quanto amava
olhá-lo tomar banho e quantas fotografias eu tirava dele enquanto estava distraído ou mordendo
os lábios inferiores. A caixa que eu tenho dos bilhetes que trocávamos no serviço e dos perfumes
que ele usou durante esses anos.

Gosto de ouvir o barulho da moto dele chegando à minha casa e do sorriso dele quando eu
pago algum mico.

Porra.

Por que eu não disse isso antes?

Ontem eu deixei que um beijo rolasse entre a gente, mas que ele se levantasse e fosse embora
sem eu dizer tudo que sentia.

Sento-me na cama e respiro fundo.

Acho que eu preciso sair. A moto do Rafael ainda está aqui, não o ouvi sair e isso me deixa feliz,
já que meu carro não sai do concerto.

Levanto-me com um pouco de dificuldade e olho pela janela, deixo que o sol da manhã bata em
meu rosto e fecho meus olhos. Vou até meu armário e pego a caixa de nossas fotos, volto e sento-
me na cama, abro-a e olho.

Sorrio com algumas, vejo o quanto ele mudou e quão mais forte e viril está.

Ele é o verdadeiro homem vinho, quanto mais velho, mais gostoso.

Piadinha sem graça, essa.

Só então me lembro de que devia ter ido trabalhar hoje, realmente estou ferrada e
desempregada.

Olho pelo quarto a procura de meu celular e então o vejo na escrivaninha. Vou até ele e disco o
número de um de nossos colegas.

- Carlos? Você poderia me informar se eu já fui demitida? _ pergunto sorrindo, mas o nervoso
estava maior que tudo.

- Não, o Rafael esteve aqui mais cedo, trouxe dois atestados de mais uma semana. _ ele diz e
então respiro aliviada.

- Como está o serviço? Não vejo a hora de voltar, mas ainda sinto muitas dores. _ digo com um
pouco de raiva. Um tiro de um cara já quase morto, pelo amor!

- Está bem, não se preocupe, Déca. Alguns homens estiveram aqui hoje, procuraram pelo
insuportável do nosso chefe, mas acho que não eram homens comuns, pareciam ser da policia, ou
algo desse tipo.

Sorrio ao lembrar-me da promessa do Rafa.

- Tudo bem então, semana que vem estarei de volta, um beijo. _digo e então o ouço responder um:
"melhoras e até logo."

Desligo o celular e volto a olhar para a caixinha sobre a cama, acho que ele nunca viu essas
fotos e acharia bem legal se eu pudesse expor. Algumas são lindas.

Gosto de principalmente as que ele ainda tinha o cabelo grande e vivia com uma jaqueta preta
de couro.

Aquele homem é o melhor cara que eu já conheci, mesmo tendo namorado alguns caras legais
que eu fiz questão de afastar de mim por ser burra.

Quando eu soube da Alicia, eu não liguei muito, Rafael já teve algumas namoradinhas, como a
Aline nos hospital, mas nada foi sério, nada me causou essa dor.

Eu sinto que ela capaz de consumir com ele, de transformá-lo novamente em alguém cheio de
magoas.

Estou sendo egoísta, eu sei. Mas eu não tenho culpa se aquele segurança meche tanto comigo.

Pego a caixinha e a fecho, ponho-a em meu armário e procuro um par de roupas.

Escolho um short jeans e uma regata e vou para o banheiro; tomo um banho rápido e volto.
Coloco meu cabelo amarrado em um coque e logo prendo com grampos, passo um batom e
mascaras de cílios. Saio do quarto olhando para os lados para que a Raquel não me veja, vou até
o quarto do Rafael e pego a chave de sua moto, volto ao meu quarto e abro a janela. Pego
impulso e subo-a, viro meu corpo de costas para a rua e estico meu pé até a escada de
"emergência".

Quando eu comprei esse lugar, eu já era segurança. Sempre sonhei em ser uma agente federal,
e com isso a escada de emergência seria bem usada. Mas acabou que mais um sonho foi de agua
abaixo, decidi deixar a escada só para quando eu quisesse fugir sem ninguém que morasse
comigo saber, mas ai tudo deu errado de novo e eu não moro com ninguém.

O legal é que posso fugir quando alguém está de olho em mim.

Como agora.

A Raquel é bem legalzinha, mas acho-a uma mulher fraca, talvez mimada pela boa condição de
vida. Se bem que isso não muda muita coisa, o Rafael é bem de vida e nem por isso virou um
almofadinha nojento.

Acabo de descer as escadas e pulo no chão, puta que pariu de tiro filho da puta!

Que dor.

Coloco a mão sobre o peito e respiro fundo, insisto em trancar meus olhos para que não chore
por uma dorzinha atoa.

Mentira! Dorzinha nada! Está doendo demais...

Subo na moto e clico no controle para o portão se abrir. Giro a chave e a ligo, passo a primeira
e coloco o capacete, fecho as mãos no guidão e aperto as pernas no tanque.

Saio acelerando e sentindo meu coração bater forte.

Eu amo essa moto.

Olho no retrovisor e vejo a Raquel no meio da rua, com as mãos na cintura e cara de
desesperada.

O Rafael vai me matar.

Fecho meus olhos por um segundo e sinto o ar gelado bater contra meu rosto, a sensação de
liberdade me invadir e meu corpo relaxar por completo.

Vou em direção ao cemitério, preciso conversar com meu irmão, mesmo que ele não possa me
responder me sentirei aliviada.

Em poucos minutos eu estava lá.

Saio de cima da moto sentindo uma imensa vontade de chorar, é sempre assim que me sinto
quando me lembro de tudo.

Caminho pelos corredores do cemitério e começo a olhar quantas pessoas importantes passam a
viver nesse lugar e que mesmo depois de tanto tempo ainda são lembradas.

Paro de frente o grande tumulo de meu irmão e me sento em sua beira, abaixo minha cabeça e
fecho meus olhos deixando minhas lágrimas escorrerem mais uma vez.

Eu ainda pararei de sentir essa dor, ainda me sentirei menos culpada.


CAPÍTULO 10

RAFAEL MELLO

Até agora não consigo entender por que fiz aquilo ontem, eu fui um babaca, a Débora não
merecia aquilo de mim. Fiz com ela o que a Amber fez comigo. Foi sujeira demais e o pior de tudo
que não consigo me arrepender.

Foi algo sincero e mesmo que eu negue senti um tesão desgraçadamente bom.

Acho que mereço o inferno por isso, e o pior de tudo que mesmo assim vim ver a Alicia hoje,
ainda permaneci olhando-a se tocar e para piorar quase coloquei meu pau para fora e quis fazer
o mesmo que ela fazia.

Minha vontade foi abrir aquele box e agarrá-la como nunca fiz com nenhuma mulher.

Queria ser bruto, um cavalo com ela.

Nem eu me reconheço, agora ainda estou aqui, sentado e olhando-a cozinhar. Está tão linda e
com um ar renovado. Talvez se sinta melhor do que passamos. Sei que mesmo estando longe ela
também sofreu. Especialmente por estar longe de seu trabalho e de sua amiga.

Ergo-me do sofá e caminho em passos despreocupados até a cozinha. Seus olhos permanecem
presos aos meus, suas mãos na faca e na batata que estava cortando.

Vai acabar se machucando.

- Ai. _ ela solta rapidamente a faca e coloca o dedo debaixo da agua corrente.

Balanço a cabeça e sorrio, indo até ela.

- Eu sabia. Deixe-me ver? _ pergunto segurando em sua mão e vendo um pouquinho de sangue
saindo, levo-o até minha boca e o sugo. A boca de Alicia se entre abriu e seus olhos se
arregalaram.

Acho que isso ficou um pouco sexy, mas juro que não foi minha intensão. Ou foi?

Ela tira o dedo rapidamente de minha boca e olha para baixo.

- Está tudo bem, obrigada. _ ela abaixa a cabeça e volta a pegar a faca.

Droga de instinto masculino.


Passo por trás dela e encosto meu corpo todo ao seu, vejo que sua respiração se altera, mas
nenhuma palavra é dita para que eu pare.

Vamos ao ataque, então.

Levanto minhas mãos até a altura de seu ombro e deslizo-as lentamente até suas mãos, vendo
sua pele se arrepiar com certa rapidez. Abaixo minha cabeça até sua orelha.

- Já disse que eu não mordo, não precisa ter medo de mim. _ deixo minha voz em um tom mais
baixo o que faz com que fique um pouco rouca.

- Eu não tenho medo de você, Rafael. _ ela diz e então prendo a respiração.

Não fale meu nome, por favor.

- Não tem? Mas deveria. _ mordo de levinho sua orelha e desço minhas mãos até sua cintura,
trazendo-a mais para mim, beijo toda extensão de seu pescoço até chegar ao seu ombro, onde
deixo uma mordida um pouco forte.

Um gemido fraco escapa de sua garganta, fazendo com que meu pau vire roxa dentro da
cueca.

Subo minhas mãos até seus seios, enchendo-as dele, aperto-o com certa força e forço meu corpo
para frente fazendo com que sua barriga se cole a pia e meu pau já totalmente ereto roce em sua
bunda.

O cheiro de sua pele invadia meu nariz, fazendo com que eu ficasse cego de desejo.

Encosto minha boca em seu pescoço de novo e passo a ponta da língua, vou até sua nuca e
começo a beijar enquanto minhas mãos não paravam de percorrer a frente de seu corpo.

Sua respiração estava ainda mais descontrolada. Tenho certeza que está molhada.

- Eu nunca senti algo tão bom. _ sua voz falha me faz acordar de que provavelmente ela só teve
aquele babaca em sua vida.

Eu não posso ser tão bruto.

Viro-a com cautela de frente para mim e passo minha mão em sua nuca, fazendo com que ela
me olhe.

- Está tudo bem? _ olho no fundo de seus olhos. Eu precisava saber se poderia continuar, não posso
passar dos seus limites, mesmo estando bem longe de chegar aos meus. É difícil sentir tanto desejo
e não poder ultrapassar certas barreiras.
E a de Alicia é enorme. Seus problemas fizeram dela uma mulher blindada, eu não posso entrar
se ela não quiser. Se não se sentir segura.

- Sim. _ suas mãos vão até meu pescoço e acariciam minha nuca, puxando-me para baixo com
certa vagareza, seguro em sua cintura e a puxo para mim, passando minha língua por seus lábios
e logo ela abre passagem para mim.

Fecho meus olhos sentindo meu coração se acelerar de uma maneira quase impossível.

O beijo estava tão bom que me fez esquecer-me de qualquer coisa que pudesse nos impedir,
ergo-a e coloco-a sentada sobre a pia não me preocupando se estava molhada ou não.

Pego em sua nuca e puxo-a ainda mais para mim. Deixo que nosso beijo se intensifique, até que
ela chupa minha língua, abro meus olhos para vê-la e vejo que o prazer está presente em sua
face.

Seu rosto está rosado e suas mãos agora me puxam para ela com mais vontade, suas pernas se
entrelaçam em minha cintura fazendo com que nossos corpos fiquem ainda mais unidos. Respiro
fundo tentando não me descontrolar e acabar comendo-a de qualquer maneira. Afasto nossas
bocas e colo nossas testas, minha mão ainda estava em sua nuca, enquanto a outra ainda apertava
com certa possessão sua cintura.

- Quero fazer tanta coisa com você. _ digo lhe dando um selinho demorado.

Que desejo filha da puta!

- Eu quero tanto você... _ sua voz sai um pouco falha e sem esperar por mais nada tomo sua boca
novamente.

Deslizo minha língua para dentro de sua boca e ela para dentro da minha, travando uma luta
gostosa e cheia de paixão, com um hálito doce e extremamente refrescante. Minhas mãos não
saem de sua cintura, sempre a apertando de maneira obsessiva e evasiva. Deixo mordidas em seus
lábios puxando-os mais para mim, mas logo voltando aos mesmos movimentos de antes, abro meus
olhos enquanto enfio minha língua novamente em sua boca apenas para constatar o quanto ela
gostava, mas logo vejo que seus olhos também se abrem.

Permanecemos nos fitando mesmo sem pausar o beijo, quem disse que beijar de olho aberto é
ruim? Para homens como eu, apenas mostra quanto desejo um sente pelo outro.

Puxo-a mais para mim e volto a fechar meus olhos, puxo seu cabelo para trás fazendo nossas
bocas se afastarem, começo um beijo lento sobre seu queixo e vou em direção ao pescoço, passo
meus lábios fazendo certa pressão que provavelmente ficarão marcados sobre sua pele um pouco
clara.

Minha mão agora descia para suas coxas, deixei-me apertá-las com certa força arrancando
gemidos um pouco altos de minha deliciosa Alicia.

Fechei os olhos ao respirar seu perfume. Constatando o quanto todo seu corpo, seu jeito e seu
cheiro mexiam comigo.

- Mulher você vai acabar com meu equilíbrio. _ digo mordendo seu pescoço e subindo minhas mãos
até seu seio.

- Você já acabou com o meu. _ ela diz e puxa meu pescoço para cima, mas não beija minha boca,
quer me instigar.

Coloca a mão no meu rosto e cola os olhos aos meus, com o polegar alisa meus lábios e com os
outros dedos acaricia minha barba.

Sua outra mão desce até a barra de minha blusa e logo a levanta, fazendo com que sua mão
entrasse em contato com minha pele, fecho os olhos e deixo que as sensações me invadam.

Sua mão escorrega lentamente até minhas costas e logo a ponta de suas unhas fazia um ótimo
trabalho arranhando-a.

Respiro fundo algumas vezes e logo abro os olhos surpreendendo-me ao encontra-la colada ao
meu peito quase o beijando.

Sem parar com sua iniciativa ela desce a mão que estava em meu pescoço para a barra de
minha camisa e traz sua outra mão para o mesmo lugar, levanta minha blusa até meu peitoral,
levanto minhas mãos para que ela a tire de vez jogando-a em algum lugar.

Seus olhos voltam a se encontrar com os meus e sua boca se cola ao meu peito, suas mãos voltam
para minhas costas e começam a arranhá-las novamente.

Sem querer solto um gemido fraco, eu não posso com essa mulher.

Seus beijos molhados queimam em minha pele como brasa, fazendo um caminho delicioso pelo
meu abdômen e peitoral, até o pescoço onde faz o mesmo que fiz com ela, usando mais pressão
do que deveria.

- Vou acabar sendo bruto com você, Alicia!_ digo segurando firme em seus cabelos fazendo com
que ela parasse.

- Não me faça parar, por favor. Eu não quero deixar de sentir isso. _ ela diz mais para ela do que
para mim e então deixo que continue.

Seus lábios atingem minha orelha, deixando uma mordidinha lenta e fraca, eriçando meu corpo
inteiro.
- Eu quero que você seja meu, Rafael. Meu Segurança.

- Eu já sou... _ digo respirando pesadamente.

RAQUEL MENEZES

Eu estava cozinhando quando ouvi a moto do Rafael acelerando, meu coração disparou só de
imaginar que mais uma vez poderia ser um ladrão, mas quando sai para o lado de fora avistei a
Débora.

O que essa mulher tem na cabeça?

Sai correndo atrás dela tentando fazer com que ela parasse, inutilmente é claro!

Eu não sei por que, porém, eu sinto que essa mulher é muito forte e muito destemida. Ama muito
aquele amigo dela, mesmo que em seus olhos esteja visível que não é um amor tão normal.

Quem se arriscaria por alguém sem ao menos conhecê-la? Eu também não posso duvidar da
bondade dos outros.

A polícia e principalmente os bombeiros se sacrificam por pessoas que eles não conhecem.
Alguém que não faria o mesmo por eles, mas eles fazem por amor.

Um amor pelo mundo que deve ser muito respeitado por todos. Um amor que é pouco
valorizado, especialmente no país onde vivemos.

É claro que não temos os mais íntegros policiais e agentes da justiça, mas deveríamos respeitá-los
cuidar de suas vidas como eles arriscam a deles por nós.

Mas o que vimos são sempre bandidos saindo como heróis da sociedade, assim como os políticos
saem atropelando os direitos humanos, a sociedade e o respeito com seus eleitores.

Mas a Débora é alguém diferente, eu vejo nos olhos dela o quanto é forte e o quanto luta por
um lugar melhor, mesmo que sua vida não tenha sido das melhores.

Também enxergo isso quando olho em seus olhos, mesmo não a conhecendo. Eu nunca passei por
nada muito complicado, minha vida foi perfeita até meu ex-marido aparecer, mas mesmo assim eu
não consigo ter a força que ela tem.

Aquele homem me derrubou de tal maneira que só agora consigo ver o quanto ele sempre me
tratou mal e eu sempre fiz vista grossa.

Não foi ele que me iludiu, eu me iludi, a culpa toda foi minha por insistir com alguém que sem
duvida não saberia retribuir meu amor.
Tenho raiva até de pensar.

Ainda permanecia parada na rua, respiro fundo e fico alegre por nenhum carro ter passado
por cima de mim. Volto para dentro de casa rezando que aquela maluca apareça antes do
anoitecer. Se alguma coisa acontecer com ela o Rafael não me perdoara.

Se bem que hoje eu senti um clima muito estranho nessa casa, o Rafael estava nervoso, pensativo
e eu nunca tinha o visto assim.

Pensando por outro lado, eu não o conheço bem. Talvez ele esteja em um dia ruim.

Volto a preparar o almoço, arrependo-me por não ter trago a minha comida para cá. Me faria
feliz comer a comida da Alicia. Fora que eu não precisaria comer minha própria gororoba.

Uma dona de restaurante que não sabe cozinhar. Só eu mesma.

Começo a cortar os legumes para a salada e minha mente viaja diretamente para o médico.

Que homem.

Sua pele morena clara, um pouco dourada pelo sol, uma barba cerradinha e os olhos mais
intensos e negros que eu já vi.

Novamente, que homem!

Olha que eu nunca mais tinha ficado com ninguém, mas foi impossível não me desfrutar com
aquele homem em seu consultório.

O que foi?

Eu já sou bem velhinha. Mas se bem que... Deixa para lá. Eu não estava no período.

Ou estava?

Merda!

Começo a me desesperar. Passo a mão por minha testa e abaixo a cabeça.

Eu não tomo mais remédio!

Como eu pude me esquecer disso? Estava tão louca com aquele homem todo em cima de mim
que me esqueci do principal.

Um bebê...
Nem com meu ex-marido não quis ter filho, imagina com um homem que mal conheço.

C A R A L H O Raquel.

Largo tudo e saio de dentro de casa, lembro-me apenas de pegar minha bolsa e ir direto para
rua, o pior de tudo que nem conheço a merda desse lugar direito.

Começo a andar sem rumo até que vejo um carro se aproximar, meu corpo se tenciona mesmo
sem entender, mas logo um homem loiro começa a me olhar de maneira estranha.

Mais um não, por favor.

- Você é Raquel Menezes? _ meu corpo para e mal consigo dizer uma palavra, olho para o interior
do carro e percebo uma mulher também. Alivio-me.

- Sim..._ digo meio trêmula, mas falo com firmeza.

- Eu sou Ricardo Mello, sou irmão do Rafael. Eu vim visita-lo. Sei que você não deve me conhecer,
nunca fomos apresentados, mas soube que está de babá da Débora. _ ele sorri ao dizer babá e
minhas pernas quase amolecem.

Que homem!

- Sim, eu estou, mas ela saiu de casa ainda agora e eu não tenho a mínima ideia de onde tenha
ido. Estou começando a ficar preocupada.

Minto, não estou preocupada com ela, sabe se cuidar melhor que eu que estou gravida de um
médico que nem conheço.

- Ela vai aparecer, é uma boa menina. Sabe se cuidar. _ ele me apoia e dessa vez sua mulher
também.

Pelo menos eu acho que é mulher dele né.

- Vamos para casa? Quer uma carona? Ou você está indo em outro lugar? _ ele pergunta
erguendo uma de suas sobrancelhas.

- Na verdade eu preciso ir à farmácia, mas não tenho ideia de onde tem uma por aqui. _ sinto
minha pele queimar e agradeço por ser negra.

Negros não ficam vermelhos, certo? Certo!

- Acabamos de passar por uma, entra ai, te levamos lá.

Aceito sem dizer nenhuma palavra. Apenas entro no carro e olho pela janela.
- Já se recuperou do susto? _ ela me pergunta olhando para trás.

- Agora estou melhor, mas no começo foi muito difícil, ainda fico meio cismada.

Digo olhando-a e ela assente.

- Eu também fico assim por causa do meu serviço. É meio complicado ser quem somos. Agentes nem
sempre tem uma vida muito confortável.

Ela diz e eu sorrio. Eles são agentes. Acho que eu não conheço nada do Rafael.

- Agentes. Que legal! _ deixo expressar minha admiração.

- Sim. Chegamos. _ ela diz olhando para a farmácia. Respiro fundo e saio do carro.

- Eu já volto, obrigada. _ digo com um sorriso amarelo.

DÉBORA MORAES

Ainda deixava algumas lágrimas caírem livremente pelo meu rosto, mas sentia que o tempo que
passei ali aliviou um pouco do que sentia.

Meu coração estava pesado e minha alma repleta de escuridão, mas mesmo assim me sentia forte
para erguer-me e seguir a vida em frente como sempre fiz.

A fraqueza não me leva a lugar nenhum, já ser forte, faz de mim alguém mais competente e
bem comigo mesma. Não adianta lamentar pelo leite derramado durante todo o tempo.

- O que essa negra está fazendo sentada ao tumulo de nosso filho? Pensei que essa oportunista já
havia morrido. _ as palavras frias são ditas pela boca da mulher que um dia chamei de mãe e
estranhamente ela ainda tinha o poder de me deixar ainda mais para baixo.

- Deve estar se lamentado por não ter ido em seu lugar, Rebeca. Não se importe. Lixos nós
ignoramos. _ meu "pai" diz com um ar tenebroso em sua voz.

- Não sei como um dia amei vocês, espero do fundo de minha alma, que o dois vão para o inferno.

Obrigo-me a levantar e olhar no fundo dos olhos dos dois, limpando meu rosto em seguida e
passando por eles.

Porra!

Eu odeio essa merda que eu chamo de vida.


Subo em cima da moto e saio sem destino, começo a pensar a onde eu poderia ir e uma ideia
invade a minha mente. Perto de onde eu moro tem uma trilha, a moto vai até lá e acho que é o
lugar que preciso agora.

Posso facilmente sentir o cheiro das flores da trilha, o cheiro da água e terra húmida por conta
das arvores. Ao chegar ao topo, há um banco de frente para um despenhadeiro, de lá posso ver
a cidade inteira e apesar de gelado, vale apena esperar anoitecer e ver as luzes da cidade se
acendendo.

Faço o retorno e volto para a pista que vai até minha casa, a tarde já estava findando então
passaria pouco tempo esperando para que as luzes se acendessem.

Acelero a moto até a onde eu posso, rapidamente já estava de frente à entrada da trilha. Subo
e respiro fundo tentando manter atenção. Essa trilha é pouco usada e por isso nem sempre está em
melhores condições, fora que o Rafael odiaria ver a sua moto destruída e cheia de lama. Quero
nem imaginar o ataque de histeria.

Homem mais complicado.

Sorrio.

Mas até que eu o amo.

Eu gosto dos meus tempos sozinha, é bom quando podemos refletir e achar uma resposta para
nossos problemas sem a intervenção de ninguém, sem ninguém opinar ou se meter.

Só espero que a Raquel não coloque ninguém atrás de mim, aquela mulher é meio maluca.
CAPÍTULO 11

RAFAEL MELLO

Meu corpo estava incendiando de uma maneira explicável, meu pau estava tão duro que
facilmente poderia furar a calça que eu estava.

Coloquei a Alicia contra a parede da cozinha e por mais que eu tentasse ser delicado meu
corpo me pedia brutalidade, deixei meus braços trancá-la entre mim e a parede, mas ela não
contestou, ali continuou, me olhando.

Nossas respirações estavam aceleradas e mesmo que o tempo estivesse agradável, insistia em
queimar.

Eu a queria de todas as maneiras, mas especialmente de costas para mim nessa parede, com
minhas mãos em seus seios, fazendo-a se chocar fortemente com meu pau entrando em sua
intimidade de maneira bem áspera e bruta.

- Eu vou acabar com sua vida. _ roço meu nariz em seu pescoço.

- Tem certeza? Posso facilmente fazer o mesmo com você. _ o tom de desejo na sua voz deixa-me
ainda mais duro.

Suas mãos subiam pelo meu corpo à medida que o meu nariz respirava ainda mais próximos aos
seus seios.

Eu terei tudo dessa mulher nem que eu tenha que voltar a ser o mesmo Rafael de antes da
Amber, eu quero a Alicia de todas as maneiras. Eu quero possui-la de todos os jeitos, em todos os
lugares, realizando todos os meus desejos.

Porra! Estou parecendo um moleque.

Sem que eu percebesse minhas mãos já estavam presas em seu cabelo, enquanto a outra alisava
a lateral de seu corpo com toques leves e lentos.

Sei que estou lhe causando arrepios, mas eu preciso provocar essa mulher, preciso que ela esqueça
os infernos que passou antes de me conhecer. Eu preciso que ela se entregue.

- Por que me deixa tanto na ânsia? _ ela pergunta agarrando meus cabelos e trazendo-me ainda
mais para próximo de seus seios.

- Porque eu quero que você tenha certeza do que está fazendo. _ digo deixando uma mordida
próximo ao seu ombro e logo recebendo um gemido de prazer como resposta. Sem esperar por
mais nada a pego no colo e caminho calmamente até a sala, deito-a no chão e me coloco em cima
dela, apoiando todo meu peso em cima do braço esquerdo. Deslizo meus dedos desde seus lábios
até seu ventre e vejo que isso faz seus olhos se incendiarem sobre mim, resolvo aproximar meus
lábios de seu colo e logo desço até bem próximo de seus seios.

Passo minha mão por ele deixando um apertão forte, arrancando-lhe um gemido alto e intenso,
respiro fundo tentando me controlar, mas intensifico meus beijos na região, seu corpo se contorcia
debaixo do meu, fazendo com que sua intimidade lentamente se esfregasse a minha perna que
estava entre suas coxas.

Minha pele se arrepiava somente com suas unhas que faziam um certo desenho em minhas
costas, deixando-me nervoso de tão excitado.

Olho novamente para seus olhos abandonando por somente um segundo seu colo, vejo que
permite que eu continue e é exatamente isso que faço, levando sua blusa até a cabeça, retirando-
a. Acabo gemendo ao constatar seios duros e arredondados, uma pele extremamente dourada e
marcada de biquíni, passo minha mão por ela e mais uma vez deixo um apertão em seu seio,
desprezo seu rosto e começo a pensar em tudo que poderia fazer com esses seios.

Volto a olhá-la, ignorando a tentativa de calmaria dentro de mim, encaixo-me entre suas pernas
e tomo sua boca novamente, dessa vez com mais paixão e intensidade, deixo que chupe minha
língua e logo faço o mesmo com a dela, mordo seus lábios e puxo-os para mim.

Quero essa boca para o resto da minha vida.

Sem esperar por mais nada, ergo um pouco meu corpo e arrebento o sutiã da Alicia, um grito
ecoa de sua garganta, mas resolvo prender seus braços acima da cabeça, quero chupar esses
seios sem interrupções e puxões em meus cabelos; quero que ela fique louca, que vire uma puta.

Ataco seu pescoço de maneira bruta, deixando-lhes marcas fortes, foda-se.

Desço mais um pouco depositando beijos molhados e gostosos até encontrar a aréola de seu seio
esquerdo, olho bem para ele e desço minha cabeça bem devagar até tê-lo totalmente em minha
boca. Passo vagarosamente a língua e em seguida olho para seu rosto, vejo que seus olhos estão
grudados em mim e suas bochechas extremamente coradas.

Novamente intensifico o ato e recebo uma gemida bem alta, seu corpo se remexeu debaixo do
meu, Alicia ergueu o quadril para mais contato, o que me deixa ainda mais ansioso para sentir sua
intimidade, seu sexo molhado. Delicia.

Sugo seus seios com avidez, deslizo minha língua por ele, deixando com o bico durinho, passo as
pontas do dente e mais uma vez dou-lhe uma sugada generosa, os gemidos eram constantes, mas
mal ela sabia que eu não havia nem começado.

Troco o seio e faço o mesmo movimento, suas mãos ainda estavam presas acima da cabeça, mas
seu corpo o tempo todo se roçava ao meu. A fricção estava extremamente gostosa fazendo com
que minha respiração falhasse por alguns breves momentos.

Abandono seus seios e também solto seus braços, imediatamente suas mãos correm para meus
cabelos e minhas mãos para sua cintura apertando-lhe com força, olho em seus olhos e volto a
subir meu corpo, suas pernas se cruzam em minha cintura.

- Você quer me sentir, Alicia? _ ao dizer seu nome intensifico o apertão em sua cintura, mas
resposta nenhuma sai de sua boca. Sua mão pressiona meu pescoço para baixo e mais uma vez
nossos lábios são unidos. Seguro em sua nuca, prendendo seus cabelos em minhas mãos, afasto um
pouco meu corpo do dela e pela primeira vez, roço meu membro com toda força na sua entrada,
acabo gemendo e ela me acompanha. Mais uma vez desço pelo seu corpo depositando beijos
molhados, deixando meus lábios mostrarem o quanto a deseja.

Paro diante do cos de sua bermuda e contorno-o com minha língua, fazendo com que seu corpo
inteiro se estremeça, respiro fundo novamente tentando não arrancar esses botões todos.

- Para que isso tudo? _ pergunto impaciente.

- Também sei provocar. _ sua voz sai falha.

- É assim? Então você nunca mais vai usá-lo. _ digo sério e puxo o começo dos botões de uma só
vez, vejo todos pularem pela sala e revido seu olhar de espanto com um sorriso safado.

- Meu short favorito! _ ela faz manha.

- Esqueça-o, outra coisa passará a ser seu favorito.

Mordo o lábio inferior demonstrando o que ela iria gamar.

Essa mulher não perde por esperar.

Termino de retirar seu short e mais uma vez respiro fundo ao constatar a boceta mais linda que
já tinha visto em toda minha vida. É tão inchada que tenho vontade de apertá-la e não me privo
disso. Encaixo minha mão em sua intimidade, de maneira que meu polegar fique sobre seu ponto
de prazer. Aperto-a com toda vontade e olho para a Alicia que tem uma expressão sexy de
prazer no rosto.

Sorrio e deito-me entre suas pernas. Retiro minha mão de sua intimidade e coloco sobre suas
coxas, aperto- as com força e encosto minha boca sobre sua intimidade. A calcinha fina estava um
pouco molhada o que fez um sorriso safado escapar de meu rosto, forço meus lábios sobre seu
clitóris mesmo estando por cima de sua calcinha, como imaginava seu quadril se move, dando-me
mais contato, mas seguro com força as suas pernas, colando-as ao chão.

Mordisco sua coxa e volto minha atenção para sua intimidade, solto uma de suas pernas e trago
minha mão para sua intimidade. Deslizo meu dedo até sua entrada ultrapassando o pano e logo
constatando o quão molhada essa mulher está.

Acabo soltando um gemido longo e perdendo mais uma vez o controle, vou até a lateral de sua
calcinha e com somente dois dedos o arrebento, fazendo o mesmo com a outra lateral.

Sem conseguir controlar o gemido e a excitação espalmo minha mão em sua intimidade, logo
fazendo meu polegar contornar sua entrada, o cheiro dela é tão maravilhoso que poderia
facilmente gozar somente o sentindo.

Fecho meus olhos e me aproximo ainda mais sentindo o cheiro da parte mais cheirosa e gostosa
de um corpo feminino.

Encaixo meus lábios em sua intimidade, e começo a beijá-la, mais uma vez o quadril de Alicia
começa a se mexer, porém, somente dessa vez é preferível que se esfregue em mim.

Seus movimentos ficam ritmados e os meus também, faço um 0 bem desenhado em volta de seu
ponto de prazer, deixando que ao passar dos segundos meus lábios se fechassem em torto e
sugassem com avidez seu clitóris.

Passo a língua por diversas vezes, às vezes com pouca intensidade, às vezes forçando minha
língua com certa força.

Seus gemidos eram constantes e maravilhosamente excitantes. Fecho meus olhos e passo a curtir
sua boceta.

Esfrego meu rosto contra ela, deixando que partes da minha barba roçassem junto aos meus
lábios; a resposta ao prazer foi dada imediatamente, suas mãos estavam quase arrancando meus
cabelos e seus gemidos se tornaram ainda mais altos.

Desço minha língua até sua entrada e subo meu polegar até seu clitóris, começo a fazer
movimentos ritmados e circulares com a língua em sua entrada e com o polegar em seu clitóris, suas
mãos agora abandonam meu cabelo e passam a puxar os seus próprios.

Nossa respiração estava acelerada e mais do que nunca, eu precisava sentir a sua entrada, seu
corpo por dentro, o meu corpo.

Troco minha língua de lugar com meu polegar e sem precisar umedecer enfio meu dedo médio
dentro de Alicia.

O gemido deu lugar ao grito e suas pernas ficaram bambas.

Começo a fazer movimentos fortes e lentos e repetindo-os com a língua até que suas pernas se
prendessem aos meus ouvidos, eu estava preso aquela deliciosa intimidade, suculenta e louca para
me possuir.
Olho para cima e vejo que seu rosto está ainda mais corado, seus lábios estão entre abertos e
seus seios com os bicos durinhos e pontudos.

Está próximo.

Enfio ainda mais fundo meu dedo e deslizo minha língua por várias, seguidas e rápidas vezes
em seu clitóris, suas pernas bambeavam ainda mais e seu jeito de puxar meu cabelo se tornou mais
intenso, seu sexo estava pulsando e suas paredes apertando até mesmo meu dedo.

Sua respiração cada vez mais descontrolada e inconstante, sua pele estava fervendo.

Atinjo repetidas vezes seu ponto G, pude vê-la revirar os olhos e soltar um gemido
excepcionalmente gostoso, nos segundos seguintes senti seu prazer escorrendo por minha boca,
mesmo sem sessar os movimentos, lambi e engoli todo seu prazer, dando-lhe uma boa lambida
desde sua entrada até chegar seu clitóris e então me levantei, sem esperar por nada levantei-me e
fiquei de frente para ela.

Passei as mãos para tirar minha blusa e logo a joguei para longe, desabotoei minha calça com
certa lentidão, mas quando a desci por minhas pernas levei a box junto.

Apenas para ver-lhe arregalar os olhos e abrir a boca sem achar o que dizer.

Retiro a calça inteira e a jogo de lado, rapidamente Alicia se levanta, mas percebo que o
equilibro lhe falta, talvez por ainda está com as pernas trêmulas pelo recente gozo.

ALICIA DALGLIESH

Não acredito que me desiquilibrei, mas me nego a parar de me sentir tão atraída por esse
homem. Rafael é o maior inferno que já passei.

Respiro fundo ao vê-lo nu na minha frente, seu pau é extremamente gostoso, e acho que o maior
que já vi, se o sentindo dentro da calça já me fez perder o folego imagina sem.

Senhor!

Ainda estava parada de frente para ele, alisando seu abdômen definido e bem talhado, nada
muito exagerado de academia, mas algo que se dá gosto de olhar e com certeza de sentir
também.

Minhas mãos teimavam em querer descer, mas não era só ela, meus lábios também.

Assim que olhei esse homem nu a minha primeira vontade foi coloca-lo em minha boca e fazê-lo
estocar forte em minha garganta.
Se bem que... Duvido que caiba tudo.

Seu pau tem a cabeça enorme, bem grande, rosada e inchada pelo tesão, suas veias estão
sobressaltadas e sua extensão, nem preciso dizer que tem mais de 20 centímetros.

Não sei como isso cabe dentro de uma calça. Não o deixarei usar roupas por muito tempo,
apenas para constatar o quanto ele é gostoso e o quanto eu vou me perder nele.

Suas mãos alisavam meu rosto e seu polegar parou em meus lábios, não perdi tempo e logo o
abocanhei, um gemido áspero e grave saiu de sua garganta fazendo com que meu corpo voltasse
a se incendiar.

Meus pelos inteiros se eriçaram e sem pensar coloquei a mão em seu mastro, deixei que meu
corpo se colasse ao dele e a quentura de sua pele invadisse meu cérebro e consumisse o resto de
raciocínio que me restava.

Sem deixar os movimentos em seu mastro, volto a beijá-lo com paixão. Meu coração estava
acelerado e minha mão mantinha um movimento ritmado e gostoso, sua respiração estava alterada
e então decidi abandonar seus lábios. Na ponta dos pés beijei seu pescoço com certa
sensualidade, deslizava minha língua junto aos meus lábios até seu peitoral, minha mão livre estava
em suas costas lhe dando arranhões fracos e provocadores.

- O que você pretende, Alicia? _ sua voz grave atinge meus ouvidos deixando-me ainda com mais
vontade.

Mas espero que dê certo, eu nunca fiz isso com o intuito de realmente agradar.

Continuei com caminhos de beijo até ficar de frente com algo que de frente me fez perder ainda
mais o folego.

Esquece aquela história de estocar em minha garganta. Não cabe!

Fecho meus olhos e respiro fundo. Eu preciso fazer direto.

Seguro seu pau pela base e olho bem para ele, sua cabeça brilha de húmida o que me deixa
ainda mais ansiosa por sentir seu gosto. Aproximo minha boca e passo minha língua pela sua
cabeça, contornando-a.

Vejo sua respiração prender-se por alguns segundos e isso significa que eu indo pelo lugar
certo; com um pouco de timidez coloco-o até o meio em minha boca e foi somente o que coube, o
que resta seguro com minha mão e começo a fazer um movimento lento e forte. Aos poucos os
movimentos da minha língua e de minha mão ficam sincronizados, perco um pouco da vergonha e
sugo-o com força arrancando-lhe um gemido alto o suficiente para que alguém que passe pela rua
ouça.
Fico feliz.

Aos poucos aumento o ritmo dos movimentos, sugo e passo a minha língua em volta de toda sua
extensão.

Suas mãos correm para meu cabelo segurando-o com força, passando a ditar os movimentos,
fecho meus olhos e me permito sentir seu tamanho e grossura.

Finco minhas unhas em suas coxas e posso ouvir seus gemidos se intensificarem.

Melhor sensação...

- Não... Vou... Gozar... _ ele diz pausadamente me fazendo levantar e ficar de frente para ele.

Meu rosto estava erguido para ele e seus dedos passavam por meus braços, logo sinto sua mão
parar em minha cintura e puxar-me mais para ele, suas mãos mudam de lugar novamente e agora
seguravam minha bunda dando-me impulso para pular em seu corpo.

Cruzei minhas pernas em seu quadril e alisei seus lábios, aproximei minha boca da sua e com os
dentes puxei seu lábio inferior.

Passei meus braços pelo seu pescoço e me ajeitei sentindo seu pau roçando em minha intimidade.

Fechei os olhos e comecei um beijo lento e gostoso, suas mãos estavam em minha bunda
forçando-me a sentir seu pau entrando em mim lentamente, os movimentos estavam tão gostosos
que mesmo lento minha respiração estava descontrolada.

Encosto minha testa na dele e começo a rebolar, remexia meu quadril de maneira sexy para
frente e para trás, retirando e colocando seu mastro dentro de mim, sua pele estava se
friccionando a minha, fazendo com que meu clitóris esfregasse nele.

Respiro fundo e deixo que um gemido me escape quando ele mete com mais força, jogo minha
cabeça para trás e deixo que a sensação gostosa me invada, os movimentos lentos deram espaço
para estocadas fortes e ritmadas.

Delicioso.

Sinto que ele fica de joelho e logo eu estava deitada de costas e ele por cima de mim,
queimando-me com os olhos.

Seu pau hora nenhuma deixou de me invadir de maneira bruta, sua boca desceu para meu
pescoço e logo para meus seios.

A fricção de sua língua contra meus seios foi tão deliciosa que mal conseguia gemer, que mal
conseguia gemer, minha pele estava suada e a dele também. Nossos corpos escorregavam um pelo
outro, mas não parávamos por nem um segundo. Seus beijos estavam cada vez mais deliciosos e
minhas unhas não conseguiam abandonar suas costas.

Mordidas eram depositadas com força pelo meu colo e ombros, o que me deixava ainda mais
excitada, minha pele se arrepiava a cada segundo. Minhas mãos voltaram a ser presas acima de
minha cabeça e sua boca a me beijar com luxuria, o mundo parecia ter sumido no instante em que
senti seu pau me invadir, tocar o meu ponto mais sensível.

Eu não sei como resistir a esse homem.

- Eu vou acabar com você!_ de repente meu corpo é puxado para cima e em segundos estava
sentada em seu colo, era meu momento de ditar os movimentos, de fazê-lo sentir o quanto eu posso
ser gostosa.

Afasto meu corpo do dele e começo a sentar sem parar, me erguia e sentava por várias vezes
até que minhas pernas bambearam, suas mãos passaram a me apoiar e meus seios pulavam e se
esfregavam em seu rosto.

Os gemidos e o som do nosso atrito eram os únicos barulhos que conseguimos ouvir, mas nada,
nada, conseguia me deixar mais louca do que olhar para o Rafael e ver sua cara de prazer.
CAPÍTULO 12

RAFAEL MELLO

Ainda estava na cama, meu corpo descansava em cima do colchão, enquanto o da Alicia
descansava sobre o meu. Meu coração está feliz e minha alma transbordando de alegria como se
eu tivesse feito à coisa mais maravilhosa desse mundo.

Sinto-me leve e o sorriso não me deixa de nenhuma forma, apenas a quentura do corpo de Alicia
deixa que meu pau não se comporte como deveria.

Enquanto estiver ao lado dessa mulher estarei duro. Não tem jeito.

Deslizo minhas mãos de sua cabeça seguindo para suas costas até quase sua bunda.

- Acho que eu aguento mais uma. _ sua voz cansada me deixa ainda com mais vontade.

- Eu acho que você deveria descansar, afinal, amanhã tudo volta ao normal.

Mesmo não tendo decidido nada com ela, eu não queria voltar e saber que teria que viajar
muitos quilômetros para poder encontra-la.

Não importa o quanto eu tenha que protegê-la, ela não sairá de perto de mim.

Nunca mais.

- Como assim volta ao normal? _ sua cabeça se levanta de meu peito e seus olhos se encontram
aos meus.

- Você vai voltar para nossa cidade, quero que fique comigo e nem venha discutir. _ digo sorrindo
e passando a mão em suas costas novamente.

- Você acha que só porque nós transamos, eu sou sua? Fala sério. _ vejo seu olhar se revirar e o
sorriso de seu rosto dar lugar ao medo e angustia.

Não consigo ver raiva, ela está falando isso da boca para fora e qualquer idiota sem treino
também saberia.

- Não, você não é minha, Alicia. Mas será e escreva o que eu estou te dizendo. Mesmo que você
tente fugir, seu coração e seu corpo ainda serão somente meus. Ainda estarão presos e bem
seguros comigo.

Imediatamente ela se levanta, ignorando estar sem roupa e cruza os braços diante de mim, sua
expressão assustada me diz que eu tenho razão e que mesmo que tente fugir, eu ainda estarei
preso a ela. E claro, isso não vale somente para a Alicia, mas para mim também.

Depois desse dia eu nunca mais quero outra mulher, eu nunca mais quero outro gosto que não
seja o dela.

- Rafael, eu acho que você não entendeu ainda, sinto que terei que te explicar uma coisa... você
nunca terá nada comigo, nunca passaremos dessa única transa. Isso aqui não foi nada para mim.
Nada!

Levanto-me vagarosamente da cama, tentando ignorar a merda da dor que sentia em meu
peito.

Por que ela tem que ser assim?

Aproximo-me dela com passos lentos e precisos. Quer me atingir? Eu também sei brincar de
machucar os outros. Mas com ela não será assim.

À medida que eu caminhava ela se afastava até encostar-se a parede.

- Você acha que isso para mim foi algo demais, Alicia?_ meu corpo estava colado ao dela e
inevitavelmente meu pau já estava de prontidão.

Uso um tom mais baixo que o normal, se quer brincar com maldade... Eu vou acabar com ela.

Ela abriu a boca algumas vezes e abaixou a cabeça.

- Não. Somos adultos, sabemos separar as coisas.

- Errou Alicia. _ coloco meu dedo em seu queixo fazendo com que seus olhos voltem aos meus.

- Errei?_ sua língua passa por seus lábios fazendo com que minha atenção corra diretamente para
sua boca. Imediatamente meu corpo a pressiona ainda com mais força na parede.

- Errou Alicia, muitas mulheres que peguei foram milhões de vezes melhor que você. Fala sério, eu
nunca me senti tão broxado em toda minha vida, por favor. _ seus olhos se arregalam, mas não
tenta se afastar de mim.

- É mesmo? Será porque seus olhos e seu pau não diz isso? _ sua mão alcança meu pau deslizando
por seu comprimento.

- Do mesmo jeito que sua boca diz que não me quer, mas seus olhos dizem outra coisa, os bicos dos
seus seios dizem outra coisa, está se iludindo da mesma forma que eu.

Ergo uma de minhas sobrancelhas e encosto minha testa a dela, vejo que ela percebe o que disse
e mais uma vez seu olhar se desvia do meu.

Não tente mentir para mim. Eu não sou tão burro.

Ela respira profundamente e volta a me olhar.

- Por mais que eu queira estar junto de você, eu nunca poderia fazer isso com você, eu estaria
acabando com sua vida.

Sua voz embargada faz com que meu coração se aperte. Droga!

- Será que você não pode esquecer esse passado? Será que eu não sou o suficiente? O que você
quer Alicia? Eu faço tudo para você ser minha. _ abraço-a e beijo seu pescoço.

- Eu esqueci meu passado, Rafael! Mas ele sempre volta. André nunca me esquecerá, por mais que
eu tente negar que ele ainda está atrás de mim apenas para me acalmar e fingir que tudo está
bem, é mentira. Tudo está na merda. Eu estou na merda e se você tiver comigo será fodido como
eu.

- Não vou estar na merda, Alicia, estarei cuidando de quem eu amo e darei minha vida se for
preciso. Eu nunca me neguei a cuidar de ninguém e nunca farei isso.

- Você será um homem morto caso continue comigo, Rafael. Só eu conheço a maldade que aquele
homem possui no coração. Eu não quero que você e a Raquel sofram as consequências por minha
causa. Quero vocês longe. Não importa o quanto eu sofra, será o melhor.

- Eu faço o que você quiser Alicia. Farei o que te fazer ficar bem, mas primeiro eu quero que me
conte essa história, me conta quem é esse homem, o que de tão ruim ele fez com você. E se achar
que é o suficiente para me afastar... Caso contrário, me desculpe, mas terá que me aguentar. _
passo minhas mãos por sua cintura e a trago ainda mais para mim.

- Você não tem jeito não é? _ ela sorri balançando a cabeça, mas seu sorriso é tão fraco que logo
dá lugar ao semblante sombrio de antes.

- Não, eu não tenho, não com alguém que eu queira tanto._ digo a fitando.

Pego em sua mão e a levo até a cama, sento-me primeiro e logo ela se senta ao meu lado, meu
maior medo é que depois de hoje ela simplesmente me deixe. Sei que estou parecendo um virgem
em seu primeiro sexo, mas para mim foi algo diferente.

Os olhos dela estavam fixos nas mãos e por mais que eu quisesse dizer algo para encorajá-la,
lembro-me que também não conseguiria falar tão facilmente por tudo que passei.

- Eu quero tanto contar... Mas só de lembrar já sinto uma imensa vontade de chorar. _ ela diz e me
olha, sua feição triste me dizia que não era o momento.
- Então não precisa me dizer nada. Está tudo bem... _ digo respirando fundo e a abraçando.

- Eu preciso contar... Eu preciso. _ ela diz respirando fundo e se afastando de mim, novamente seus
olhos voltam-se para suas mãos.

- Eu não quero te forçar, eu não disse aquilo querendo obriga-la. _ digo e ela respira fundo.

- Você entende o que eu sinto Rafael. Eu vejo algo nos seus olhos que eu nunca vi em ninguém.
Você sabe disso do mesmo jeito que eu, você sente, como eu senti na primeira vez em que nos
falamos.

- A mesma dor... _ respiro fundo.

Olho para ela e suas lágrimas já escorrem pelo rosto, sinto uma imensa vontade de esquecer
esse assunto com um beijo, mas eu não posso. Se ela quer desabafar que faça. Não posso impedi-
la.

- Meu pai morreu quando eu ainda era criança, eu não sei bem o que aconteceu, mas eu lembro-
me de vê-lo deitado já sem vida, ele era a única pessoa que me amava, me apoiava, sentia algo
por mim.

Respiro fundo e a vontade de chorar me toma, eu odiava meu pai, mas a minha mãe era a única
pessoa que sempre estava ao meu lado, mesmo que ela tenha morrido enquanto eu era apenas
uma criança, lembro-me perfeitamente de tudo. Eu sei o quanto ela me amava e que se estivesse
aqui até hoje nunca deixaria que eu me transformasse em quem sou hoje.

Ao voltar a olhá-la vejo a emoção ainda mais clara, sua respiração funda e por mais que não
pudesse ouvir; seus pedidos de força para Deus.

- Logo assim que ele morreu, minha mãe passou a me tratar mal, como sempre me tratava na
ausência do meu pai. Eu não sei o que a levava a me tratar de tal maneira, mas sempre me
perguntava o que eu tinha feito de errado. E por fim descobri que nunca fiz nada. Ela só é
ambiciosa, mesquinha, egoísta. Tudo de ruim que um ser humano pode ser. Ela trabalhava de
domestica na casa de uma família rica, o homem era um político famoso do Rio de Janeiro. Um dos
filhos dele se envolvia com tráfico, sempre o via na favela, seu olhar para mim me matava de
medo, mas sempre pensei que nunca se aproximaria. Alguns anos passaram e minha mãe começou
a melhorar de vida, reformamos nossa casa e ela até passou a me tratar bem, burra eu, pensando
que ela tinha passado a me amar. Um tempo depois ela disse que eu precisava arrumar um
namorado, passou a persistir sempre no mesmo assunto, fazendo com que eu pensasse da mesma
maneira. Nesse tempo o filho de seu patrão já não vinha mais a favela, pelo menos eu não o via
mais. E então ela começou a falar do tal fulaninho filho de seu patrão, enchendo minha cabeça de
coisas mentirosas e ilusórias. Com pensamentos de menina onde tudo é conto de fadas, comecei a
me sentir atraída pelo que ela dizia, pela forma que conduzia a fama de "príncipe encantado" na
minha mente. Até que um dia ela pediu para que eu me arrumasse, íamos encontra-lo. Minha mãe
disse que tinha feito um grande negócio para mim e que como boa filha eu saberia aproveitar.
Toda feliz e apaixonada me arrumei do jeito que ela pediu. Coloquei o vestido que me trouxe;
todo branco e cheio de bordados, na altura dos joelhos, um pouco rodado. Amei o vestido, me senti
uma princesa nele. Eu estava prestes á fazer quinze anos e aquilo ali, era como um sonho para
mim. Sai toda contente de casa, mas quando cheguei lá, o homem me deu arrepios dos pés á
cabeça fazendo com que eu ficasse estatelada sem conseguir me mover, seu olhar furioso estava
em cima de mim. Minha mãe me empurrou para que eu voltasse a andar e me colocasse ao seu
lado. Tremendo de medo ouvi palavras de um homem que somente no final entendi o que tinha
acontecido. A aliança foi colocada em meu dedo e por mais que eu estivesse com vontade de
chorar e fugir, não conseguia ter nenhuma reação. _ Alicia para e respira; seus olhos já não tinham
mais lágrimas, mas posso ver o ódio em sua face, às mãos trancadas com força deixando as
pontas de seus dedos completamente brancos.

Mesmo que eu quisesse dizer algo, nada saia de minha garganta, acho que a dor dela pode ser
maior que a minha; mesmo eu tendo feito o que fiz...

Olho para ela e meus olhos deixam transparecer a tristeza que sinto. Assinto para que ela volte
a falar e mais uma vez respira fundo.

- Ali começou o meu..._ ouço um soluço de choro e volto a olhá-la.

Aproximo-me rapidamente e abraço-a.

- Chega; eu não preciso ouvir mais nada, não fique assim. _ aperto-a ainda mais em meus braços
e sua pele cola-se em mim, posso sentir o molhado de seu rosto em meu peitoral, mas não me
importo. Ainda bem que ela consegue chorar, assim a dor de seu passado sumirá aos poucos.

Ao contrário de mim, que guardo todas aquelas mortes como se ainda tivessem acontecido hoje.

Fecho meus olhos e deixo que a quentura de nossos corpos nos renove. Ficaria aqui para
sempre...

- Quando eu vi aquele homem no carro, eu sabia que ele não valia nada, mas eu jamais pensei
que havia toda essa história por trás. É horrível sentir a dor da perda de alguém querido, mas
ainda é pior sofrer decepção por alguém que era para te proteger, te amar.

- Eu nunca tive momentos felizes em minha vida inteira, Rafael. Eu tento fugir de todos que me
rodeiam, eu não posso deixar que minha sina destruísse outras pessoas. Eu não posso deixar que
você sofra por minha culpa. _ ela diz soluçando mais uma vez.

- Você deveria pensar de outra maneira, Alicia. Quem está com você não se importa com o que
terá que enfrentar. O amor não tem barreiras, Alicia.

Tento conter minha emoção, eu não posso simplesmente deixar transparecer minhas dores. Não
posso contar tudo que passei em um momento que ela já está abalada. Não estamos aqui para
disputar quem sofreu mais. Eu a quero comigo não me importando com o que ela tenha passado.
Do mesmo jeito que eu sei que ela também não se importa com meu passado.

- Mas eu me importo Rafael. _ ela diz e respira fundo, ergue sua cabeça e me olha com carinho,
deixando um beijo casto em meus lábios.

- Só isso? _ brinco pelo beijinho sem graça. Tenho que acabar com esse clima horrível.

- Você não acha que já exigiu de mim demais não? _ ela sorri, novamente aproximando seus lábios
dos meus.

- Aprenda, vou falar só uma vez: sou insaciável, querida!

Digo e vejo um sorriso em seu rosto, não importa o que aconteça comigo, eu vou transformar a
vida dessa mulher num posso de alegria, não quero pensar nas consequências desse maníaco atrás
dela e se algo acontecer, não será eu que vou morrer.

Acabo com a vida dele, vontade já não me falta mesmo.

RAQUEL MENEZES

PUTA QUE PARIU. Eu não conseguia pensar em mais nada dentro daquele carro. Meu coração
estava acelerado e um embrulho no meu estomago surgiu.

- Você está bem? _ Ricardo pergunta olhando-me pelo retrovisor.

- Sim, só estou com receio, mas vai passar

- Sim, só estou com receio, mas vai passar. _ afirmo mais para eu acreditar do que para o
gostosão ai.

- Pelo que está nessa sacolinha, vai passar daqui a nove meses. _ sua esposa dá uma risadinha
contida.

- Pelo amor de Deus! Não posso nem comprar um teste de gravidez. _ Ricardo olha para trás e
começa a gargalhar.

- Do que está rindo? _ pergunto com raiva.

Acho que realmente estou gravida, que humor é esse?

- A Raquel apostou comigo que você estava desesperada, e que pelo jeito era sinal de gravidez. _
ele diz rindo sem parar.

- Raquel? Seu nome é Raquel? _ pergunto olhando fixamente para a mulher branca de cabelos
castanhos escuros e olhos azuis a minha frente.

A aparência sombria escondia um amor muito grande pelo homem ao seu lado, todas as vezes
que ela dirigia o olhar para ele havia paixão, mas pelo incrível que pareça não via o mesmo nele.

Talvez eu esteja louca. Formam um belo casal.

- Meu nome é Raquel. _ ela sorri um pouco sem graça. Não me venha dizer que é tímida porque
não tem cara.

- Você é americana? Seus olhos são muito bonitos. _ baixou o questionário em pessoa.

- Sim, nasci lá, mas deixei os Estados Unidos há muito tempo. Hoje moramos na Rússia. _ ela sorri
olhando-o novamente.

- Vocês têm filho?_ ultima pergunta, prometo.

- Não, resolvemos não ter. A nossa profissão não é a mais adequada para procriar. _ ela sorri,
mas vejo uma ponta de tristeza em sua voz.

Quero perguntar qual é a profissão deles, mas acho que já perguntei demais.

- Hm... _digo inquieta e passo a olhar pela janela do carro.

- Já chegamos. Vamos Raqueis? _ Ricardo brinca.

- Vamos. _ reviramos os olhos e logo saímos do carro.

- Gente fique a vontade, se eu puder ajudar em algo, mas daqui a pouco tá? Preciso conferir uma
gravidez e já volto. _ digo sorrindo e corro para o banheiro.

Eu tenho uma mania horrível e isso me causa muito mal estar. Não sei como consigo ter crise de
risos em momentos errados.

Minha família é bem de vida, mas como toda família boa de vida, temos compromissos que são
sempre chatos, uma vez um dos sócios do meu pai faleceu, de infarto, eu acho. Não lembro muito
bem.

Mas sei que tinha muita gente, imprensa, jornalistas. Muita comoção.

Meu pai estava arrasado, minha mãe fingindo, mas eu... Putz, eu estava louca para rir. Quando
olhei o corpo quase dei um treco, meus olhos começaram a descer agua sem parar. Eu estava
apavorada, era meu primeiro sepultamento e ai, veio o mais inesperado. Uma boa crise de risos.

Maravilhoso, não? Com certeza.


Já estava com o pote de xixi na mão, resolvi comprar o teste mais barato, gastar dinheiro a toa
não é legal.

Não consigo colocar os dois palitinhos lá dentro, droga. Que nervoso.

Quais serão os nomes? Meu Deus, os nomes... Gosto de tantos. Raiam; Bryan; Melissa; Eliza.

Mas eu nem sei se estou gravida. Melhor ver mesmo. Jogo os palitinhos dentro do pote e deixo
em cima da pia.

Fico olhando para o potinho até seus pontinhos surgir.

Um potinho... dois pontinhos.

Fodeu!

DÉBORA MORAES

O silêncio da mata fazia-me relaxar, o frio estava quase me matando, mas resolvi ignorá-lo. A
noite já estava começando a cair fazendo com que as luzes das ruas se acendessem. Fecho meus
olhos até que sinto um mal estar. Abro meus olhos e me deparo com um homem a minha frente.
Aparência bonita, apesar de olhos pesados e mal encarados. Aperto minhas mãos com força
ignorando o medo e a raiva por estar desarmada.

- Boa tarde. _ ouço a voz grossa sair de sua garganta e mais uma vez a sensação de medo me
invade.

- Boa tarde. _ digo afastando-me e me sentando na ponta do banco.

- Não se preocupe. Não vou fazer nada. _ ele diz aparentemente impressionado por meu
comportamento. Talvez eu ande muito desconfiada.

- Tudo bem, eu já estava de saída, só vim espairecer um pouco. _ digo me levantando.

- Fique. Acho que vim fazer o mesmo que você. Poderíamos ter uma conversa amigável.

Odiei esse homem.

- O que temos para conversar? Somos dois estranhos, pelo menos eu nunca havia lhe visto.

- Tem razão, mas creio que assim tenhamos mais chances de nos abrir. Pelo menos eu, não confio
em quem conheço. _ um sorriso torto toma seus lábios, deixando-o ainda mais sexy.

- Eu não confio em ninguém, senhor. _ sorrio de deboche.


- Nossa, encontrei alguém mais desconfiada do que eu. Sente-se. _ meu coração estava na boca.
Quem é esse homem?

- Talvez não seja uma boa ideia. _ a dor do meu lado estava começando a piorar devido ao frio.

- Sente-se. E por favor, não me chame de senhor. Não sou tão velho.

- Me desculpa, quis somente ser educada. _ resolvo me sentar.

Ao olhá-lo percebo o casaco caro, roupas finas demais para fazer uma simples trilha. Tem algo
de errado.

- Veio trilhar com roupas de grife? Carros não sobem aqui. _ digo observando-o.

- Vim caminhando, estou hospedado no centro da cidade, disseram que aqui é um ótimo lugar para
descansar. E pelo visto para encontrar belas mulheres também. _ respiro fundo ignorando o
sentimento estranho em meu peito.

- Sempre vim aqui, é um bom lugar. _ não é conhecido para ser indicado.
CAPÍTULO 13

RAQUEL MENEZES

Diz-me como eu fui ficar grávida de um cara que nem conheço? Porra, eu passei anos casada.
Anos. E eu nunca engravidei. Sempre fui a mais infértil da família, ou talvez meu marido que não
era bom o suficiente para me engravidar.

E agora que eu transo com um cara que nem conheço, que não tenho nenhum envolvimento
sentimental e nem um vinculo de amizade, eu engravido? Mais uma dentro. Parabéns, Raquel.

Meu coração fica acelerado, mas não penso em abortar, meus Deus, eu não podia imaginar que
ficaria grávida, mas se isso aconteceu, vou cuidar e amar a cada dia mais. Zelar por sua vida e
pela minha também.

Respiro fundo e decido sair do banheiro. Olho para Raquel que estava com os olhos estatelados
ao olhar o resultado em minhas mãos.

- Você vai ser mãe? _ seus olhos se enchem de lágrimas, me pergunto se ela tem algum problema.
Não há motivos para ficar emocionada se ela nem me conhece.

- Vou. _ sorrio por mais que o medo ainda estivesse comigo. Como contarei essa historia para meus
pais? Tudo bem, eu sei que tenho mais de trinta anos, mas não custa lembrar que meus pais ainda
cuidam de mim.

Sinto suas mãos contornarem meu corpo e ouço um "parabéns" entre soluços sair de sua boca.

- Tudo bem?_ pergunto, por mais que eu quisesse não me importar, eu não consigo. Meu lado
mãezona sempre fica mais emotivo.

O problema é que ela é mais velha do que eu. Talvez eu, nesse momento, devesse ganhar mais
conselhos do que ela.

Mas isso não vem ao caso.

- Tudo, o problema é que eu escolhi uma profissão que não condiz com constituir família. _ ela
tranca os olhos e deixa que as lágrimas escorram.

- E por que você não pode mudar mais? Está morta? Tudo tem solução, Raquel. A única coisa que
não podemos fugir é da morte.

- Eu não posso porque meus erros e escolhas sempre terão uma consequência e só agora eu
percebo o que as essas escolhas acarretaram para minha vida.
- Tudo o que você falar não vai ser suficiente para fazer-me acreditar que não há outra solução. _
digo afastando-me e respirando fundo.

- Pode haver para mim, mas não para ele. _ ela abaixa a cabeça e deixa que as lágrimas voltem
a escorrer.

- Então você me diz que não tem um filho, só por que o Ricardo não quer ter um? _ engulo minha
raiva.

- Sim, eu o amo desde o começo, desde o primeiro dia. _ ela mais uma vez se entrega ao choro.

- Raquel, eu não sei quem é você ou o que aconteceu e acontece na sua vida; o amor que você
sente por esse homem, mas eu sei que você não deve apagar seus sonhos por uma pessoa que não
vale a pena. O seu sonho é importante, tanto quanto o dele. Eu sempre pensei que em um
relacionamento um tinha que aderir o sonho do outro e vice versa.

- Eu entreguei minha alma para ele, segui todos os seus sonhos, mas ele não fez isso comigo. _ de
repente vejo a frieza invadir seu semblante.

- Como você conheceu esse homem? _ pergunto sentindo uma imensa raiva desse Ricardo. Pode ser
irmão do Rafael, mas ele é diferente.

- Ele tentou matar minha cunhada, passou anos preso e mesmo assim eu ainda fiquei ao lado dele.

- Você quer dizer que aquele homem sentado lá na sala é um assassino? _ sinto um arrepio
percorrer a minha espinha e então entendo o pavor que Alicia sente do tal senador.

- Não só na sala, mas você também está falando com uma. _ mais um olhar frio é lançado sobre
mim, à mulher frágil de segundos atrás já não existia.

Começo a me arrepiar inteira e dou um passo para trás instintivamente.

- Eu sou uma agente do FBI, Raquel. Eu sou contratada para matar pessoas que não importam mais
aos Estados Unidos. _ mais uma vez dou um passo para trás e então tomo coragem para dizer o
que realmente queria. Eu nunca tive contato com pessoas nesses níveis e não sei se é uma
convivência assim que estou buscando.

- Desculpa pelo meu mau jeito, mas eu não estou acostumada com pessoas assim.

Respiro fundo e ela me retorna com um sorriso caloroso.

- Eu gosto de pessoas como você. Vivem como se o mundo fosse um lugar perfeito, com coisas
bobas como traições e brigas por bobagens na rua.
Traições é bobeira? Desculpa, mas para mim é o fim...

- Eu não acho que o mundo é um lugar perfeito, Raquel. O Brasil tem seus problemas, o governo é
sujo.

- Isso não é nada. Você não sabe o que é sofrer, Raquel. O que é saber que seus pais foram
mortos brutalmente por um erro de seu irmão e mesmo assim você não poder estar ao lado dele, o
aconselhar. Você não sabe o que é ver pessoas matando outras por nenhum motivo aparente que
não fosse brigas por poder e dinheiro.

- Desculpa, mas se o mundo é um lugar tão ruim, prefiro acreditar que traições são as piores coisas
do mundo. _ dou um sorrisinho sem graça.

Não sei quem é mais louca, se sou eu dando ouvidos a essa mulher, ou ela por escolher um
homem e uma profissão como essa.

- Pense assim. Estou com fome, será que temos algo para comer? _ ela sorri mudando de assunto e
eu agradeço por isso. Ainda não sei por que ela confiou esse segredo a mim, eu pensei que como
nos filmes, um agente secreto, deveria permanecer secreto até sua morte.

- Ter, temos, mas não nessa casa. O que acha de ir ao meu restaurante? _ pergunto com um sorriso.

- Ótima ideia. Vou me arrumar e já volto. Creio que o Ricardo ficará feliz em comer fora. _ assinto
e lhes dou licença.

Vou até o quarto de Débora e olho para sua cama, começo a me preocupar por ela ainda não
ter chegado à minha casa. Espero que quando voltarmos ela esteja aqui.

Abro seu armário e escolho um vestidinho, tudo bem que ela é maior que eu, mas um tubinho
deve me servir. Vou até seu banheiro e tomo um banho rápido, logo depois, faço um coque
bagunçado e visto o vestido. Aposto meu cu, que esse vestido fica extremamente sexy naquela
mulher.

Meu Deus.

Bege totalmente colado ao meu corpo me deixou uma bonequinha sexy.

Espero que ela não se importe por eu ter "roubado" seu vestido.

Vou até minhas coisas e pego uma sandália vermelha , salto médio, ficou perfeito.

- Está linda

- Está linda. _ olho para trás e tomo um susto ao ver Ricardo parado, olhando-me como um
cachorro.
Um arrepio horrível percorre minha espinha.

- Obrigada. _ viro-me de costas para ele, ignorando a imensa vontade de correr.

- Só isso? Pensei que era mais destemida. _ volto a olhá-lo de maneira séria.

- Olha Ricardo, você pode ser irmão do meu amigo, mas eu não sou obrigada a ouvir coisas que
eu não esteja afim. Deveria cuidar de sua mulher, ela precisa de você. _ viro-me novamente
pegando o batom e abrindo-o. Vou até o espelho e respiro fundo tentando esquecer o momento
constrangedor.

Começo a delinear minha boca com o batom até que sinto suas mãos em minha cintura, tento me
mover, mas minhas pernas estão paralisadas, merda!

- A hora que eu quiser a minha mulher eu vou até ela e a como, mas nesse momento meu pau está
duro por você. _ seu pau roça em minha bunda e seus dentes roçam em minha orelha, causando-
me um arrepio ainda maior.

ALICIA DALGLIESH

No dia seguinte...

- Você vai embora comigo hoje não vai? _ sinto um beijo gostoso em meu pescoço, fazendo aos
poucos meu corpo despertar.

Sei que mesmo que eu tente, é impossível negar esse homem, a vontade de amá-lo é maior que o
medo de perder a minha própria vida. Sou capaz de tudo para estar com ele. Ainda mais depois
desse dia e noite que passamos. Parece que não temos problemas, que eles ficam somente para
fora dessa casa.

E acho que é isso que acontece realmente.

- Eu vou com você. _ digo dando um sorriso, mesmo sabendo que ele não pode ver.

- Acho que alguém está feliz. _ ele diz me dando mais um beijo e puxando-me para mais próximo
dele.

- Eu fico feliz quando estou com você. Desde a primeira vez. _ fecho meus olhos lembrando-me de
alguns trechos de nossa conversa.

Mesmo com o choro insistindo em se entalar em minha garganta, eu negava com um sorriso. Estou
cavando a cova para a pessoa que eu amo.

Será que estou sendo egoísta? Eu acho que sim, estou pensando somente no meu prazer e no
dele. A vida não é só isso.

Eu sei disso.

Ainda mais para mim, não sei o que aconteceria se caso o André descobrisse onde estou, se caso
ele descobrisse que estou com alguém. Sei o quanto ele é psicopata. Sei o quanto ele quer a minha
morte, meu sofrimento.

- Vai chorar por ele de novo Alicia? _ Rafael parecia impaciente, apesar de acariciar meu rosto
molhado. Nem havia percebido que tinha escorrido lágrimas.

- Não choro por ele, Rafael. Eu choro por você. _digo respirando fundo.

- Não preciso e nem quero que chore por mim, Alicia. Se você tem tanto medo desse cara eu vou
te contar uma coisa. _ ele diz com raiva e sobe encima de mim, olhando em meus olhos.

- Eu não quero te contar por tudo que eu passei, mas eu te garanto que já conheci piores pessoas
do que esse senador idiota. Estou pouco me lixando para o que ele faria comigo se nos
encontrasse, ele não encostaria se quer um dedo em você e muito menos em mim.

O tom grave de sua voz faz meu corpo inteiro arrepiar. Seus olhos me passavam verdades e
algo a mais que não consigo identificar. Só sinto que dói, muito mais para ele do que para mim.

Posso sentir o bloqueio de sentimentos e de personalidade que ele tem, apenas em olhá-lo, em
perceber o que se passa em seu coração pelo tom de suas palavras.

- O que aconteceu com você? _ pergunto erguendo uma de minhas mãos e passando levemente
por sua barba.

- Eu ainda não estou pronto. Desculpa. _ ele desvia o olhar do meu e nesse momento sinto um
pouco de medo. Eu me entreguei por inteiro, contei meu passado, meus problemas, mas vejo que
com ele não é tão fácil assim.

- No seu tempo. _ digo respirando fundo e logo ele se afasta de mim. Sua falta de roupas me
deixa com vontades que só sinto ao vê-lo, porém, prefiro balançar a cabeça e esquecer-me desses
devaneios pecaminosos.

É nesse momento que vejo seu celular tocar e não me privo de alimentar minha curiosidade,
estico-me até o criado mudo e pego.

É a Raquel. Atendo.

- Rafael? _ ouço sua voz um pouco desesperada e isso me faz sentar-me na cama.

- Sou eu. _ digo apressando-me.


- Oi, por favor, faça o Rafael voltar para casa. A Débora está sumida desde ontem à tarde. Eu e
Ricardo não sabemos a onde procurar mais. _ meu coração começa a bater mais rápido. Onde ela
se meteu?

- Como assim, desde ontem? Por que não nos avisaram? _ nesse momento olho para frente e vejo o
Rafael com um semblante preocupado e uma das sobrancelhas erguidas.

Lindo.

- Eu não consegui ligar, e além do mais, não queria atrapalhar. Não demorem a voltar, por favor. _
ela suplica.

- Já estamos indo. Vai dar tudo certo.

Digo respirando fundo.

- O que houve?_ Rafael pergunta sentando-se na ponta da cama, com uma calça moletom e uma
xicara de café que não consigo entender onde achou tão rápido.

- Eu não sei direito, mas a Débora sumiu desde ontem. Ela e um tal de Ricardo estão a procura,
mas pelo que entendi não a acharam.

- Porra. _ ele passa as mãos pelos cabelos e se levanta andando de um lado para outro.

Vejo algo no seu rosto que não gosto. Tem algo que ele não quer me contar.

- Diz logo. _ somente pelo seu olhar, eu consigo imaginar o que seja. Não tem como uma mulher
enganar a outra.

Débora gosta de Rafael, eu acho que algo aconteceu e sinceramente espero que isso não tenha
influenciado na vinda repentina dele para minha casa.

- Antes de ontem eu fiquei com Débora. Eu nunca maldei nossa amizade, mas algo naquela noite
me fez querer mais do que uma simples conversa com ela.

Ele diz abaixando a cabeça e prendendo seus dedos em seus cabelos.

Respiro fundo tentando não ficar com raiva. Se eu estou com ciúmes? Que isso. Não sinto essas
coisas de um cara que eu me entreguei. Claro que não. Coisa de adolescente!

- O que você sentiu Rafael? Vocês transaram? _ pergunto trancando os punhos e fingindo um
sorrisinho.

- Não, quando eu comecei a passar dos limites me levantei e fui para meu quarto. Mal preguei os
olhos durante a noite, morria de arrependimento, eu não quero nada com ela. Não desse jeito. Mas
acho que devemos conversar. E eu sei onde ela pode estar.

- Então vai atrás dela, garanhão. Sabe vai ser melhor mesmo. Vocês fazem um casal lindo. _ sorrio
com raiva e ele retribui me mostrando os dentes de maneira única.

Que sorriso!

- Acho que alguém está com ciúmes! Não se preocupe. Eu não quero nada em relação a
relacionamento sexual e nem amoroso com ela. Somos amigos, ela esteve comigo durante todos
esses anos. Não posso negar que a amo, mas não do jeito que ela pensa me amar.

- Vá atrás dela. _ digo irritada pondo um fim na conversa. Viro meu rosto de lado fingindo o
ignorar.

Mas não adianta muito, minutos depois seu corpo já estava encima do meu, segurando meus
braços acima da cabeça.

- Você quer que eu vá atrás dela? Está me dispensando tão rápido assim? Pelo que vejo uma foda,
é realmente e somente uma foda para você. Mas queria dizer-te que para mim não é assim. Você
é minha agora, então, aonde eu ir, você irá também, ainda mais agora que meu irmão está em
minha casa.

- Seu irmão? _ ergo uma sobrancelha. Sei que ele queria que eu prestasse atenção em qualquer
coisa, menos nessa parte. Mas provocar é legal.

- Ricardo. _ ele olha com raiva para mim, mas vejo um pingo de humor em seus olhos o que me
deixa um pouco menos aflita.

- Só prestou atenção nisso? Depois de eu dizer que você é minha, você só comenta sobre meu
irmão? _ ele aperta meus punhos ainda com mais força, abaixa um pouco a cabeça até seu nariz
tocar ao meu, dando-me uma grande vontade de toma-la em um beijo gostoso.

- Se você disse eu posso fazer o que? Nada, apenas concordar. _ dou-lhe um sorriso gostoso e
então sinto sua mão deixar as minhas e apertar minha cintura com certa força, deixando que por
um breve momento seu peso caísse por cima de mim, mas logo o incomodo é diminuído e o beijo é
alimentado com desejo e luxuria.

Afasto-o antes que começássemos a transar novamente. O volume de seu pau já me deixava
ofegante e isso, nesse momento, não é bom.

- Vamos? Sua amiga precisa de você. _ digo respirando fundo, tentando diminuir a vontade que
sinto de tê-lo se afundando dentro de mim.

- Tem razão. _ ele respira fundo e se abaixa pela ultima vez, dando-me um selinho com língua.
Levanta-se e estica a mão para que possa me levantar. Seguro sua mão e logo estava cara a
cara com ele novamente.

- Vá se arrumar. Estarei te esperando lá fora. _ ele diz e então eu assinto. Vou em direção ao
banheiro e tomo um banho rápido, escovo meus dentes e coloco uma muda de roupas que já
estava sobre o armário do banheiro.

Passo uma maquiagem leve e me pergunto como será o irmão do Rafael. Será que parece com
ele? Espero que não seja mais bonito, mas pelo que entendi, é mais velho.

De fato, nem sei a idade certa do Rafael. Nunca me importei com isso e não acho que faria
alguma diferença para mim se soubesse, mas não custa perguntar.

Saio de dentro do banheiro e tomo um susto com ele sentado em minha cama, ajeitando o sapato
despreocupadamente. Já vestia um casaco de moletom e uma calça jeans.

Tenho que confessar que sinto uma tara por homens de casaco moletom. É algo que me deixa
excitada. É estranho, eu sei. Mas posso fazer o que? Nada.

- Gostou? _ ele diz sem desviar seu olhar dos sapatos. Sorrio.

- Posso dizer que está pronto para ser despido novamente. _ digo sorrindo e me aproximo dele,
deixando meus seios na altura certa de sua boca.

Ele olha para cima e me dá um sorriso safado. Logo morde meus seios, esquecendo-se do bojo e
seu olhar de decepção faz-me gargalhar.

- Babaca! Bem feito. _ sorrio sem parar.

- Babaca? Você me chamou de babaca? Sorte sua que estamos atrasados. Se não eu te mostrava
como posso ser babaca com você pelada nessa cama. _ ele diz me dando uma piscadela e indo
para a minha frente, olho para cima e recebo um beijo casto nos lábios e uma apertada na cintura
de me deixar louca.
CAPÍTULO 14

O clima de paz estava em toda parte por onde nós dois passávamos, a natureza da descida da
serra e olhar sereno de Alicia para a vista fazia-me sorrir e respirar tranquilo, mas algo me
deixava extremamente preocupado. Eu sei o quanto a Deca está sofrendo e isso é o que me
preocupa. Não suportaria que ela fizesse algo de errado com a vida dela.

O que me deixa ainda mais inquieto é saber que ela só tem a mim. Não posso deixa-la por
causa da Alicia, mesmo que minha vontade seja deixar tudo por ela, eu tenho um emprego e uma
irmã para cuidar.

- Está preocupado com ela, não está? _Alicia pergunta colocando a mão sobre a minha coxa.

- Estou; ela não costuma fugir e passar a noite fora, se ela não esteve na serra, eu não sei onde se
meteu. Tenho medo.

Por mais que eu fingisse que estava tudo bem, essa não era a realidade, demorei muito para
voltar para casa e talvez o que aconteceu entre a gente tenha a machucado ainda mais.

Mais um ponto para sua burrice.

- Não se preocupe, ela está bem. Eu sei disso._ um sorriso calmo é me dado. Tudo vai ficar bem,
não temos inimigos.

Débora realmente não tem inimigos; tirando os pais dela, mas duvido que queiram a fazer mal.

- Acho que você não vai gostar do meu irmão. _ mudo de assunto, penso no quanto ele é diferente
de mim e talvez inconveniente ao ponto de irritar todos com muita facilidade.

Meu irmão era uma pessoa boa, mas principalmente depois que a Elena se foi, ele perdeu um
pouco de sua essência, pelo menos foi isso que a Raquel (sua esposa) disse.

O homem parece não se contentar que ela tenha sumido. Como encontrar uma mulher tão e
esperta e que minimamente não quer nunca mais ser encontrada? Acho que Raquel e Christian são
dois irmãos muito parecidos, inclusive na escolha errada de seus parceiros. Não escolhemos a quem
vamos amar, mas de fato, não podemos deixar que pisem na gente como se fossemos seus tapetes.
Temos amor próprio ou não temos nada.

Christian é meu ex-patrão, um homem muito bom, muito honesto e muito amoroso com a família,
mas extremamente possessivo, minucioso, arrogante. Passamos muito tempo juntos, sei de seus
defeitos e ainda mais de suas qualidades, poucas vezes o vi errar, mas sei que nunca foi
completamente feliz com sua esposa.
Tiveram momentos alegres, porém, a maioria deles foi de problemas e mais problemas. O que
me deixava extremamente atônito era saber o quanto a esposa dele o tratava mal e mesmo assim,
ele estava ali, segurando a, cuidando a, zelando por seu amor a ela.

Isso para mim é a maior prova de amor que existe no mundo. Quando um não está bem, o outro
está ali para qualquer coisa, mesmo que por mais que esteja fingindo ser forte, esteja corrompido
por magoa.

- Por que acha isso? Se ele for à metade do que você é, já gostarei bastante. _ ela diz chamando-
me atenção.

- Não. Somos muito diferentes. Meu irmão tem um caráter um pouco doente.

Digo. Quando soube de tudo que ele participou tive a imensa vontade de mata-lo.

Como pode querer destruir a vida de uma família? Tudo bem que ele a amava, mas eu também
amo...amava a Amber e nem por isso a quis mal. Sou adulto e maduro o suficiente para preferi-la
feliz com outro do que triste comigo.

- Como assim? _ ela pergunta fazendo com que por um segundo eu a olhasse.

- Eu já disse que ainda não me sinto bem para falar de meu passado, mas um dia você vai saber.
_ digo sendo um pouco ríspido e me arrependo em seguida. Ela se abriu comigo, me contou sobre
a vida dela, mas não vai ser por isso que contarei coisas sobre mim sem me sentir preparado para
isso.

- Desculpa. _ ela replica quase no mesmo instante e tira sua mão de cima de minha coxa, se vira
para a janela e ali permanece. Recuso-me em chamar sua atenção para reiniciar uma nova
conversa. Creio que eu tenha sido ignorante. Mas acho que isso todos somos. Não é tudo que
queremos ou aceitamos falar.

Sei que uma hora tenho que me acostumar a abrir meu coração com as pessoas, mas não é tão
fácil colocar um segredo para fora.

Não para mim.

A angústia do silêncio começava a me perturbar mesmo que estivéssemos há pouco tempo sem
trocarmos palavras. Então resolvo ignorar meu orgulho.

- Estamos quase chegando. Desculpa por ter sido um pouco ignorante. Sei que não sou a melhor
pessoa, mas estou tentando.

- Pensei que aquele jeito doce permanecesse em todos os momentos. _ ela diz respirando fundo e
se esticando no banco.
- Eu não sou fofo em todos os momentos, tenho minhas falhas. _ digo tentando mais uma vez não
ser ignorante. Não sei por que estou sendo tão babaca.

- Não estou dizendo que você tem que ser perfeito, Rafael. Mas você está diferente. Espero que
seja coisa de minha cabeça.

Ela diz e eu respiro fundo, permaneço em silêncio para não ter que mais uma vez ser ignorante.

Eu sempre vivi em um sistema, sempre tive que estar sorrindo para meus patrões e sério para
quem quer que for que aparecesse naquela casa, não podia sair a hora que eu quisesse e nem
comer o que queria. Tinha uma alimentação regrada, um dia regrado, uma vida inteira regrada e
servindo a quem estivesse em minha volta.

A única coisa que eu conseguia esconder deles era os meus pensamentos, minha tristeza.
Ninguém se importa com o que eu penso, ninguém se importa com o que eu passei e mesmo que a
Débora tenha me dado o maior amor, eu não mudei isso.

As pessoas gostam de ser ouvidas, mas nunca de ouvir. Fato.

- Chegamos. _ ela diz tirando o cinto e respirando pesadamente.

Paro o carro com certa distância do portão, eu não vou entrar agora, preciso ir atrás da
Débora. Preciso saber como minha amiga está.

Vejo que Alicia tem pressa em sair de minha presença, antes mesmo de eu desligar o carro ela
já havia destravado a porta e a aberto. Quando percebi seu movimento para se levantar segurei
com certa força em seu braço. Fazendo com que seu olhar se voltasse para mim.

- É melhor eu sair daqui, antes que me quebre de tanto coice.

Seu semblante frio me deixa nervoso, mas me finjo forte.

- Me perdoa, eu desacostumei a ter pessoas querendo saber quem eu sou de verdade. Não fique
chateada. _ digo olhando em seus olhos e tentando expressar a verdade dita em minhas palavras.

- Não estou Rafael. _ sua mão corre para meu rosto e respiro fundo ao sentir seus dedos tocarem
meu maxilar.

- Você é tudo que eu mais quero descobrir. Você é a única segurança que eu tenho sobre
felicidade, não me decepcione. _ ela me pede com carinho.

- Nunca. _ coloco minha mão em sua coxa apertando-a com força, logo subo minha mão até seus
seios e sinto seu olhar me queimar, subo ainda mais minha mão e vou até seu pescoço, puxando-a
para mim e deixando meus lábios trabalharem junto aos seus.
Essa mulher é maravilhosa!

Íamos aos poucos distanciando-nos até que terminássemos o beijo.

- Veja como me deixa. _ pego sua mão e coloco sobre meu membro.

Ouço um gemido fraco escapar de sua garganta e por mais que eu quisesse me controlar,
minhas mãos correram direto para seu cabelo. Queria me aliviar, mas não iria pedir nada.

- Sua boca seria maravilhosamente bem vinda em meu pau. _ digo em um tom baixo, deixando
minha voz um pouco rouca.

- Seria muito bem vinda mesmo, se não tivesse uma mulher bem atrás de você, aparentemente
apavorada. _ ela diz se afastando e ajeitando o cabelo onde minha mão estava.

- É minha cunhada. _ digo respirando fundo e tentando conter rapidamente o tesão que estou.
Merda. Tinha que ficar duro na hora errada?

Respiro fundo e abro a porta do carro, passando as mãos por meus cabelos e ajeitando meu
jeans para que não marque muito.

- O que houve? _ digo olhando-a e a cumprimentando com um beijo casto na testa.

- Meu marido e sua amiga sumiram. Ontem pela noite íamos jantar, mas os dois sumiram, os
procurei, mas não conheço muito dessa cidade.

Franjo o cenho ignorando a porra da raiva que me toma. Será que Raquel é tão sem cabeça
assim? O que ela pensa que está fazendo com meu irmão? Vai quebrar a cara.

Olho para trás e vejo a Alicia sem reação, seus olhos estão arregalados. Imediatamente ela se
aproxima me lançando um olhar nervoso. Sei bem o que ela está pensando.

- Vamos acha-los, não se preocupe.

Digo respirando fundo e voltando para dentro do carro, Alicia faz o mesmo aparentemente sem
entender minha reação.

- O que houve? _ ela pergunta aflita.

- O que houve? A sua amiga não se contentou em fazer merda no hospital e teve que fazer aqui
também! Acho que ela quer se matar. Porra! _ fico nervoso.

- Se matar por quê? Do que você está falando? _ ela arregala os olhos.

- Do que? Meu irmão é um assassino e minha cunhada também! Como a Raquel cisma de fazer
isso? Ela acha que a minha cunhada é burra? _ exalto minha voz e piso no acelerador. Estou pouco
me fodendo para eles, mas espero de coração, achar minha pretinha.

Não ouço mais a voz da Alicia, mas sua atitude me deixa com uma vontade de gargalhar, ao
olhar a velocidade que me encontro, ela passa o cinto pelo peitoral e fica meio dura no banco,
como se estivesse extremamente preocupada com sua própria segurança.

- Não se preocupe, não é você que eu irei matar. _ digo com um tom ríspido. Alicia me olha como
quem está vendo um bandido em sua frente.

- Não estou preocupada, só está correndo muito.

- Não estou. Vou achar minha amiga e depois vou matar meu irmão e se eu fosse você mataria sua
amiga. É melhor para todo mundo. _ sorrio de lado.

ALICIA DALGLIESH

O olhar frio que Rafael estava fazia com que meu corpo inteiro se arrepiasse, estava
amedrontada. Mas ao mesmo tempo via uma fortaleza em seu espirito, algo que combinava
comigo, que me deixava energizada.

Por mais que eu soubesse que minha amiga era louca, duvido que ela tenha feito algo com o
Ricardo. Ela foi traída, o que a levaria a fazer a mesma coisa com outra mulher? Talvez eu não a
conheça tão bem mais, afinal, ela transou com aquele médico sem ao menos saber se ele tinha
esposa ou não.

Do que duvidar?

Rafael entra em um beco estranho, o lugar é repleto de árvores e mesmo morando por aqui
nunca tinha ouvido falar desse lugar e sinceramente preferia não o conhecer. Seguro-me no banco
sentindo os solavancos pela estrada em má conservação.

Não entendo o que faz o Rafael ter tanto receio de seu passado, antes insistia para mim
desabafar, que seria bom para mim, mas ele mesmo pouco se importa com isso.

É o tipo de pessoa que sabe aconselhar, mas que não segue seus próprios conselhos. Seja o que
for que ele esconde, vai me surpreender quando eu souber. Posso ver o quanto ele fica mexido
quando digo algo sobre passado. Não tenho grandes históricos com personalidades, afinal, só
convivi com pessoas ruins e que tudo estavam bem descritos em seus olhos, mas não sou ingênua.
Vejo que ele também não é completamente bom.

Algo me diz que o que ele cometeu é muito grave, fora o jeito que fala de seu irmão.

Com certeza algum motivo para essa falta de amor, ele tem.
- Onde está nos levando? _ pergunto já sentindo meu coração se apertar. Que lugar horrível.

- No lugar favorito da Débora, se ela não estiver aqui, as coisas vão ficar mais complicadas. _ ele
diz e vejo o medo em seu semblante.

Porra, mas ela também é meio louca, como vai achar um lugar favorito no meio desse matagal
todo? A não ser que goste de conviver com cobras, aranhas, mosquitos.

- Esse lugar é muito estranho! _ acabo deixando escapar.

- Estamos indo pelo outro lado, por onde é limpo o carro não passa, essa é a única estrada de
acesso.

Ele diz respondendo no automático, está muito nervoso. Acho que ele não teme somente por sua
amiga, mas também por sua cunhada. Eu vi o respeito que ele tem por ela no instante que beijou
sua testa.

Não porque ele fez esse gesto, mas pelo jeito que ele a olhou. Havia carinho, respeito.

Lembro-me de meu celular e me solto do cinto. Preciso falar com minha amiga. Espero que ela
tenha levado o dela.

- Pensou no mesmo que eu. _ ele diz jogando o carro para um canto com certa "violência".

- Ai, eu estou sem cinto, sabia? Deveria ter mais cuidado com sua futura namorada! _ brinco
alcançando meu celular no bolsinho de minha mochila de viagem.

- Futura? Se manca, Alicia, você já é minha. _ ele me dá um tapa na bunda e acabo soltando uma
gargalhada.

Volto para meu lugar e coloco o cinto novamente.

- Sou sua, mas você vai ter que arcar com essa loucura que está fazendo no carro da Raquel. _
sorrio.

- Se eu bater esse carro estou ferrado. É muito caro. _ ele diz com um sorriso sínico e um deboche
aparente.

- Fingido. Você trabalhou para Amber. Não é pobre. _ exponho umas pesquisas que eu fiz sobre
sua vida.

- Pelo jeito o Google tem sido bem usado. _ é a minha vez de sorrir.

- Realmente! _ de repente seu pé pisa com força no freio, fazendo o carro deslizar de um lado
para outro.
- O que foi? _ pergunto assustada.

- Eu vi alguém na mata. Posso estar louco, mas estava muito bem vestido para um lugar como esse.
_ ele coloca a mão debaixo do banco e tira uma trinta e oito.

Puta que pariu.

Olho para o lado a procura de alguém também, mas não vejo ninguém, apenas mato e mais
mato.

- Acho que está paranoico e ainda quase me mata do coração! Guarda essa arma. _ coloco a
mão em meu peito e em seguida passo os dedos em meus cabelos os colocando para trás.

Ele respirou fundo e sentou-se, tentando se acalmar. Olho para ele e vejo uma pessoa fraca
como não via ninguém há muito tempo a não ser eu mesma.

Logo ele apoia sua cabeça no volante e respira fundo socando a própria perna.

- Se algo aconteceu a ela, eu nunca irei me perdoar! _ ele diz com a voz embargada e nesse
momento percebo o quanto ela é importante para ele.

- Eu já disse que ela está bem. Talvez só precise ficar sozinha. _ respiro fundo tentando manter a
calma.

Ele balança a cabeça por diversas vezes sem parar.

- Eu sou o culpado, eu a abandonei, eu fiz ela se sentir sozinha. É tudo culpa minha. Se ela não
estiver bem... Eu... Eu não saberei o que fazer.

Ele diz fazendo com que eu revire meus olhos.

- Vou ser sincera, Rafael. A culpa não é sua! Nada que acontece com uma pessoa é culpa da
outra, a não ser que ela tenha causado algum mal irreparável. Assim como matar alguém de sua
família, lhe bater, lhe estuprar. Mesmo assim, cada um é responsável por si próprio. Hora nenhuma
você a deixou e se acha que ficar comigo durante esse tempo, foi abandoná-la. Então você
deveria ter transado com ela e não comigo. _ sei que posso soar ciumenta e infantil, mas ele se
culpa demais. Viveu guardando seus próprios sentimentos, acho sinceramente que ele precisa se
abrir, não por mim, mas por ele mesmo. Precisa viver algo intensamente, sem achar que não é
merecedor daquilo.

Eu sei bem o que ele está sentindo, sei que sou assim também, porém, o carinho que sinto por ele
tem me mudado. Quero que isso aconteça com ele.

- Você não entende. _ ele olha para mim com os olhos cheios de lágrimas. – Ela sempre esteve ao
meu lado desde que eu apareci. Sempre se preocupou comigo. Sempre!

- Você está menosprezando a minha existência então? A Raquel também sempre esteve comigo, ela
também está precisando de mim, mesmo sem falar com ela, eu sinto! Mas estou aqui com você. Se o
seu sentimento por mim lhe faz sentir culpado, é melhor que acabasse por aqui. _ digo respirando
fundo e abrindo a porta do carro.

Dou a volta no mesmo e paro diante de sua janela, mas não a toco.

- Vá para o carona agora! _ digo perdendo a paciência, mas mantendo a calma. Eu estou
preocupada com a Débora. Ela se arriscou para me salvar e eu sei bem que não estava cem por
cento. Devia ter ficado em casa.

Mulher teimosa é foda.

- Eu dirijo. Sou mais forte que você, conheço a estrada. _ ele diz cabisbaixo, deixando-me ainda
mais irritada.

- Estou passando a odiar fraqueza, saia, agora! _ digo e então abro a porta. Logo ele escorrega
para outro lado, dando-me passagem.

- Se me matar te responsabilizo por deixar a Débora sozinha! _ olho para o lado e vejo um sorriso
sonso em seus lábios. Acabo sorrindo também.

- Eu odeio você. _ligo o carro e engato a marcha.

- Sei que me ama._ ele diz apertando com força minha perna.

- Sei que acabarei com seu sossego neste instante. Olha quem é a mulher fraca, Rafael! _ acelero
o carro, dando uma rabiada entre duas arvores.
CAPÍTULO 15

RAFAEL MELLO

- Porra mulher, o que você acha que está fazendo? Vai nos matar desse jeito! _ esbravejo
segurando-me no banco do carro.

Dirige mais que eu!

- Vamos encontrar a Débora logo, não está tão aflito? Não me provoque Rafael, você não sabe do
que sou capaz! _ vejo raiva em suas mãos, pela forma que ela segura o volante, pelo jeito que
olha para estrada. Posso estar enganado, mas algo mudou dentro dessa mulher. Não enxergo a
fraqueza de umas semanas atrás. É outra.

- Estou cansada de ouvir o quanto se sente culpado, o quanto você é invalido, estou cansada de me
sentir mais baixa que os outros, mais suja, mais ignorada, menos valorizada. Chega!

Já posso ver o ponto mais alto da serra, onde provavelmente Debora está ou passou a noite.
Olho para a Alicia e vejo algo transparecer em seus olhos que me deixa confiante. Está tudo bem
e se não tiver, ficará.

- Me perdoa por ter sido ignorante, você tem razão. Tenho sido um babaca com você. Vamos nos
erguer juntos.

Digo e sinto meu peito queimar. Eu nunca senti algo tão forte em toda minha vida. Cada vez que
olho para ela, tenho mais certeza de que é a mulher que eu sempre procurei.

- Eu nunca estive tão certa de uma decisão e não importa, sinceramente, o que aconteça. Estarei ao
seu lado, lutarei com você!

Meu coração se acelera e fico imensamente feliz, minha vontade é beijar essa mulher como se
fosse a ultima coisa que eu faria em toda minha vida.

- Estarei com você.

Digo sentindo meu coração se apertar. Paramos de frente ao banco onde Débora costuma se
sentar, mas ali não vi nada.

- Eu estou com um mau pressentimento. _ digo sentindo meu coração se apertar.

- Eu também. _ a voz dela sai baixa, deixando-me ainda mais nervoso.

Eu não quero que nada tenha acontecido. Imediatamente meus olhos se enchem de lágrima e
então resolvo sair de meu carro.

Abro a porta com certo receio e a fecho em seguida respirando fundo e trancando os olhos para
não chorar.

Pareço um adolescente amedrontado e não um homem de 28 anos.

Vejo Alicia colocar as mãos sobre a cabeça e respirar fundo, olho para onde seus olhos se
direcionam e perco o folego.

Tranco minhas mãos ao olhá-la caída em um canto, seu corpo sujo e suas mãos aparentemente
avermelhadas dizia-me uma coisa que não queria acreditar.

Balanço minha cabeça por diversas vezes e sinto um ódio de mim mesmo que mal consigo
explicar. Olho para Alicia e percebo que minha vista se embaça.

Preciso ser forte, só mais uma vez...

Agacho-me de frente para ela e cautelosamente estico meus dedos até seu pescoço, percebendo
que seu coração ainda bate, mesmo que fraco. Olho para o céu e respiro fundo.

Preciso que ela acorde.

Preciso ver seus olhos.

Preciso que me olhe.

- Deca, por favor. Acorde! _ passo meus dedos em seu rosto com carinho e então Alicia se abaixa
e estica suas mãos colocando sobre a minha. Olho para ela e vejo um sentimento confortante ser
transmitido por seus olhos.

Mais uma vez, repito.

- Por favor, acorde. Preciso saber se está bem!_ passo as mãos pelo seu cabelo e sento-me no
chão, não me importando com o barro molhado, que provavelmente me sujara. Ergo sua cabeça e
a coloco em meu colo.

Vejo seus olhos se mexerem e então respiro aliviado. Espero que esteja errado. Ela não foi
violentada, apenas se sujou de algum modo.

A quem estou querendo enganar?

- Débora, acorda! _toco seu rosto mais uma vez e então seus olhos se abrem, respiro aliviado. Aos
poucos vejo que se acostuma com a claridade e me olha de maneira estranha.
- O que faz aqui? _ o tom frio que escapa de sua garganta faz com que meu corpo inteiro se
tencione.

- Eu vim te procurar! Você está desaparecida desde ontem. _ digo baixinho, assim evitando que o
choro escorresse.

- Não estou desaparecida, Rafael! Eu só quis sair!_ ela se levanta do meu colo e se senta olhando
para a Alicia.

- Como você está? _ ela pergunta a Alicia que sem saber como reagir assente que sim.

- Não entendo porque ficaram tão preocupados, tive a melhor noite da minha vida. _ ela sorri
para mim e então percebo que há algo errado. Sinto uma sensação estranha me invadir e então a
encaro com certa raiva.

- Melhor noite, Debora? O que você está dizendo? Está imunda! _ digo com raiva e então passo a
prestar atenção em sua roupa e corpo.

Encontro algo que me incomoda. Chupões. Fortes, grandes, com marcas de dente.

- Melhor sim! Nunca estive melhor! _ a frieza em suas palavras faz com que Alicia se levante e se
afaste passando as mãos pelos cabelos.

- Com quem passou a noite? Você acha que pode se envolver com qualquer um que encontra em
uma serra? O que você fez? _ pergunto tentando me aproximar e ela se esquiva.

- Já disse que estou bem e acho que isso não te interessa. Somos amigos e não namorados, Rafael.
além de tudo sua namoradinha está quase roxa de ciúmes. _ ela diz revirando os olhos e nesse
momento a Alicia se vira para nós e se aproxima dela.

- Débora, espero que sua transa tenha sido maravilhosa, mas creio que tenha mexido com seus
neurônios! Acha que é assim? Que pode deixar quem você ama preocupado? Sumir pra qualquer
canto, com qualquer um e nos deixar aflitos? Maldita foi à hora que sai de minha cama, com o
homem que amo, para te procurar! Ele não merece ouvir essa baboseira toda! Acorda garota!

Ela aponta o dedo na cara de Débora e concordando levanto-me e abraço-a pela cintura.

- Eu quase morri preocupado ao te ver nesse chão. E é assim que me retribui? Sinceramente pode
ficar ai. Faça o que quiser de sua vida, não me importo mais! Que se dane!

Sinto um aperto enorme ao dizer isso. Sinceramente não sei como reagir.

- Vamos embora, Alicia. Vá primeiro porque eu vou pegar minha moto.

Sinto meu peito queimar, mas resolvo não olhar para trás. Se ela quer assim, não posso fazer
nada. Eu pensei que ela tinha sido violentada, sofrido algo, sido forçada. Mas estava de putaria e
que fique se quiser.

Eu não me importo.

Ligo minha moto e coloco o capacete, ignorando o cheiro dela, desço o morro por ali mesmo,
ignorando também que a Alicia foi pelo outro lado, preciso descer e deitar na minha cama, antes
que eu me irrite o bastante para quebrar algo.

Eu não posso acreditar que estava tão preocupado a toa.

O que será que deu na cabeça dessa mulher? Aposto que foi com o cara que vi descendo
aquela serra. O problema todo é que estou com tanta raiva que sinto meu corpo trêmulo.

Como ela pode? Depois de dizer que me ama, que faz tudo por mim, sair com um cara que nem
conhece? Ou pode ser que conheça mesmo, sinceramente não me importo.

Ou me importo até demais...

Passo por toda aquela lama sem me importar com nada, que se dane essa moto. Eu fui feito de
babaca pela pessoa que eu menos esperava nesse mundo.

Aperto com ainda mais força o guidão, causando a aceleração instantânea da moto, levantei
meu corpo, deixando meu traseiro longe do banco, assim pegando ainda mais jeito para não
machucar-me com o impacto sobre os buracos.

Desgraçada!

Já consigo ver a saída da mata e então diminuo a velocidade para que não cause um acidente,
olho para um lado e para outro verificando se não há ninguém na rua, volto a acelerar a moto em
direção a minha casa. E então vejo um corpo conhecido, ainda mais forte, mas ainda sim
reconhecível.

Paro minha moto de frente a ele e o observo com ódio, desço da moto e sem dizer nada o
empurro com vontade, ignorando o sorriso sínico de Raquel ao seu lado.

- Porra o que você pensa que está fazendo? Deixa de ser babaca!_ empurro meu irmão mais uma
vez, fazendo com que ele caia no chão.

Não vai reagir.

- Babaca é você, cara! Está louco?! _ ele pergunta ao sentir meu corpo sobre o dele e logo deixo
um soco forte em seu rosto.

A resposta dele faz minha ira aumentar ainda mais. Estou cansado de ver tanta babaquice. Minha
cunhada é maravilhosa, não merece isso. Vê-la sofrer também me magoa.

- Louco? Como você teve coragem de deixar sua mulher assim? Acha isso bonito? Você merece o
inferno! _ soco sua lateral com força, enquanto a outra mão é apontada sobre seu rosto.

- Se continuar a dizer essas coisas para mim, serei obrigado a te bater, Rafael! E eu não quero
brigar com você! _ ele me joga para longe, tirando-me de cima dele.

Sinto meu sangue ferver e então volto a olhá-lo. Ignorando as presenças em volta que aumentam
sem parar.

- Deveria se envergonhar! Espero que um dia a Raquel, sua esposa, enxergue o monstro que ela se
casou e te deixe na merda! _ digo levantando-me do chão e voltando meu olhar para a tão
querida amiga de Alicia.

- E você deveria ter vergonha nessa sua cara! Deveria ter vergonha de andar com um homem que
é casado. Se seu marido te traiu, foi bem feito! _ cuspo as palavras e vou até minha moto, subo-a
e a ligo, acelerando com vontade e dando, por fim, a última olhada sobre meu irmão.

Quero que se foda!

Ainda o olhando cuspo no chão e saio. Vou em direção a minha casa e não diminuo a velocidade
até que chegue ao meu destino.

ALICIA DALGLIESH

Observei o Rafael descer como um louco, aquela serra e sem ter mais o que fazer, sentei-me no
banco, onde Débora, talvez tenha transado. A mesma já havia descido por um lugar que não tinha
ideia onde daria e também não me importei.

Acabei de presenciar um lado do Rafael que eu não conhecia, se comportou como um animal, um
homem que não se importa com ninguém, a não ser com ela.

Me pareceu apaixonado. Não tenho como o descrever de outra maneira e não entendo de outra
forma seu comportamento.

Respiro fundo olhando para frente e vendo a beleza de minha cidade, começo a lembrar-me do
jeito que me tocou, da maneira que passamos a noite e das coisas legais que ele me disse.

E simplesmente o choro se torna inevitável. Droga! Por que tudo tem que ser tão difícil?

Eu poderia muito bem parar de ser otária, deixar essa merda de me apaixonar pra lá e viver
meu sonho.

Por que eu não consigo deixar que a cozinha me tome?


Talvez por que o que eu mais quero nessa vida, é ter o Rafael comigo.

Olho para frente novamente e resolvo me levantar, lamentar não me levará a lugar nenhum.

Vou até o carro e sento-me, quando ia girar a chave, sinto uma presença ao meu lado e
imediatamente olho.

- Me dá uma carona? Terei que andar muito se eu for a pé.

Débora se escora na janela, já estava limpa e aparentemente tinha mudado a roupa, mas como
ela conseguiu isso descendo por aquele caminho? Deve dar em alguma cachoeira, com certeza.

Respiro fundo e por mais que a minha vontade seja de manda-la pastar, faço um sinal com a
cabeça para que ela entre no carro.

- Desculpa pelo que eu disse mais cedo. _ ela diz fechando a porta e então eu ligo o carro,
ignorando por algum tempo seu pedido.

- Você não me deve desculpas, Débora. Conhecemos-nos há pouquíssimo tempo. Não nos devemos
explicações.

Acabo sendo ríspida. Eu não queria que fosse desse jeito, poderíamos ser amigas, mas mesmo
assim, do que adianta eu ser amiga por falsidade? Não posso gostar de uma pessoa que gosta do
meu namorado e que eu desconfio que ele também gosta dela.

- Tem razão. Acho que magoei o Rafael. Eu não costumo ser rude. Mas as pessoas não entendem
que eu também preciso de um tempo somente meu.

Ela diz mexendo nas unhas e não a reconheço. Há umas semanas atrás conheci uma mulher que
praticamente daria a vida por seu amigo, como que agora diz uma coisa assim? Totalmente
despreocupada com que ele pensa ou como o magoa.

- Acho que está sendo precipitada, Débora. Raquel ligou para mim hoje, pela manhã, dizendo que
você tinha sumido que nem em casa havia dormido. Está se recuperando de um tiro, debilitada,
como acha que o Rafael – que se importa com você. – reagiria? Acho que você não pensou nele.

Digo sentindo meu peito queimar. Ele se importa com ela, se importa como ela está; nunca tive
ninguém assim na minha vida, e ela ainda reclama? Raquel foi à única pessoa que se importou
comigo e mesmo assim de vez em quando ela ainda me esquece. Como que pode se irritar por
alguém a amar?

- Sinto em dizer que o Rafael nunca se importou comigo, Alicia! Ele sempre se importou somente com
ele, nunca quis saber por que eu era sozinha, por que eu não tinha ninguém por mim e vivia aos
pés dele em todos os momentos. Ele está assim agora, que viu o quanto eu sofri por ele! Isso se
chama consciência pesada! Você acha que o Rafael é um príncipe. Um homem perfeito! Para de
ser burra. Ele só consegue pensar naquela Amber. Todos esses anos foi com ela que ele sonhou. A
mulher já tem uma penca de filho e mesmo assim ele não a esquece. Deixe de pensar que ele só
queria meu bem. Ele nunca se importou comigo. _ ela traz seus pés até encaixá-los entre seus
braços. Seus olhos se enchem de lágrimas e evitando que eu a veja chorando, vira seu rosto para
a janela e permanece a olhando.

- Eu sei da Amber. _ digo baixo. – não porque ele me contou a história por completa, mas porque
pesquisei, vi fotos deles juntos. Pareciam um casal e não uma patroa e seu humilde segurança.

Digo respirando fundo.

- Se você continuar com ele vai perceber o quanto ele é maravilhoso, mas que também ele não
está disposto a esquecer esse passado maldito. A Amber para ele é a única mulher perfeita nesse
mundo. Talvez ele tenha se apaixonado por você, mas talvez também, ele só venha a te fazer mais
uma vitima. _ ela diz com a voz embargada e então por um momento desvio meu olhar da estrada
e a olho fixamente.

Ela não está mentindo, vejo a tristeza em seus olhos.

- Uma vez eu perguntei para ele porque ele não prestava atenção em mulher nenhuma, por que só
transava e metia o pé, como um animal apenas alimentando sua natureza. Ele me disse que não
havia amor, que aquilo que ele sentia por Amber era impossível de se sentir por outra. Isso tem
quatro anos, Alicia! Ele nunca ficou com essa mulher e se ficou não foi nada que passasse de um
beijo. Ele é doente por ela.

Ao ouvir suas palavras compreendo a frieza com que ele me trata às vezes, parece não se
importar ou sei lá. Se ele ama tanto essa mulher por que não lutou por ela?

- Você sabe o motivo dele não ter ficado com ela? _ pergunto tentando não me magoar com o que
acabo de ouvir. Posso me arrepender, mas não o procurarei mais.

- Ela é louca pelo marido, tiveram uma paixão tão forte que nada foi capaz de separá-los. Aposto
que você sente por ele algo tão forte que te fez estar aqui agora. Eu via o medo em seus olhos.

- Eu me apaixonei por ele. _ digo aquietando-me e colocando ainda mais atenção na estrada,
resolvo descer mais rápido, eu preciso cozinhar. É isso.

- Assim vai nos matar. Essa estrada é escorregadia. _ ela diz com os olhos arregalados.

- Garanto que chegaremos sãs e salvas. Não se preocupe.

Digo permanecendo séria. Eu aprendi a dirigir quando precisei fugir dele. Não podia deixar
que me alcançasse tão facilmente, não sou fraca.
Empurro o pé no acelerador e me concentro ainda mais, saio de meu corpo e apenas posso ouvir
os gritos ao longe da Débora a cada vez que passamos por algum buraco. Acho que a
segurança de banco tem medo da direção.

Respiro fundo ao frear o carro na chegada da pista, olho para um lado e para outro, prestando
atenção na fisionomia assustada da Débora. Sorrio por ver sua face esbranquiçada, mesmo sua
pele sendo escura, seus lábios estão tão claros que se aproximam facilmente do branco.

Prendo meus lábios entre os dentes e sorrio.

- Está assustada? _ pergunto prendendo a gargalhada.

- Eu posso dizer que não gosto muito de carro. Sou péssima na direção, meu carro passa mais
tempo no conserto do que comigo. _ gargalho.

- Eu sou boa, a vida me ensinou a não ter medo da direção. Mas se meu pai estivesse aqui diria
que eu tenho a direção agressiva.

Por um momento lembro-me da feição do meu pai, não detalhadamente, mas lembro. É estranho
como podemos nos esquecer de pessoas tão importantes. Não me esqueço do meu amor por ele,
mas facilmente esqueci-me de sua voz, de sua feição, o jeito e entonação que ele falava. Apenas
lembro-me de seu rosto, de poucos detalhes dele na verdade.

Tenho certeza que ele não teria deixado que nada acontecesse na minha vida.

- O que houve com seu pai? _ ela pergunta percebendo, talvez, o meu estado.

- Ele morreu quando eu era nova. _ digo limpando uma lágrima solitária que escorre de meus
olhos.

- Bem, eu fui abandonada pelos meus, me tratam como um lixo por causa da morte do meu irmão.

- Então somos duas abandonadas. Mas não quero falar disso, me dói muito... quer que eu te deixe
em casa? Vou para minha casa e depois para o restaurante.

Ela me olha estranho e franze a testa.

- Não vai ver o Rafael? _ ela me pergunta e respira fundo.

- Não. Se ele sentir minha falta que venha atrás de mim, preciso de um tempo.

- Tudo bem então. Mas eu tenho que falar uma coisa. _ ela faz uma cara de safada, dando-me a
ideia do assunto que trataria.

- Diz. _ sorrio de canto de boca.


- Eu nunca conheci um homem que transasse tão bem! Puta que pariu! _ ela diz gemendo e então
sorrio.

- Não game na primeira transa, por favor! _ digo sorrindo e então ela gargalha mais alto.

- Como não gamar em um corpo daqueles? _ ela diz sorrindo.

Como não gamar no Rafael?


CAPÍTULO 16

RAQUEL MENEZES

Estava parada sem conseguir entender o que eu tinha acabado de ouvir

Estava parada sem conseguir entender o que eu tinha acabado de ouvir. Bem, eu não estava
com cabeça para discutir, apenas sorri quando o vi parando em nossa frente, mas logo me calei ao
vê-lo atacar o irmão.

Ontem quando o Ricardo me assediou, senti-me mal e então resolvi sair sem dar explicações a
ninguém. Esperei que ele me deixasse sozinha no quarto e então sai pela janela. Era o único jeito,
fazer o que?

Peguei um taxi, já que o Rafael estava com meu carro, resolvi ir para o restaurante já que havia
muito tempo que eu não passava por lá.

Era meu estabelecimento, mas eu fazia questão de ser a mais ausente possível.

Não gosto de cozinhar, na verdade, a única coisa que me faz manter aquele lugar é o meu amor
por Alicia; sei bem o quanto ela ama cozinhar. Fora que ganhamos bem.

Mas retomando... Quando cheguei ao restaurante, ele já estava lá. Meu ímpeto foi tanto que mal
consegui me segurar sobre as pernas, mas mantive meu carão e passei por ele sem o dar à
mínima.

Eu não gostei desse cara. Insistente. Casado. Traidor.

Me dirigi a cozinha e passei algum tempo a conversar com as meninas, descobri que faltava
alguns ingredientes primordiais na cozinha e então peguei o carro de uma delas e sai para
providenciar. A noite foi uma corrida contra o tempo, mas no final tudo deu certo. Fechamos as
mesas mais uma vez com excelência.

O que ainda permanecia a me incomodar era à perseguição continua do Ricardo. Ele não havia
pedido nada, mas não ousou a mexer se quer um musculo para sair do meu restaurante. Nós já
tínhamos fechado o caixa, arrumado as mesas, passado pano no salão e mesmo assim, ali ele
ficava. Sempre a espreita. Eu já estava exausta, precisava descansar e sentia minha pressão cada
vez mais baixa.

Resolvi ir manda-lo embora e talvez perguntar do motivo de sua mulher não acompanha-lo
aquela noite. Provavelmente não sabia onde ele tinha ido.

Se bem conheço homens desse tipo, eles são capazes de mentir deliberadamente e mesmo assim
se sair como pobre coitado na presença de sua amável esposa.

Patético se não fosse cruel.

Aproximei-me dele piscando diversas vezes para que a tontura não me atingisse e fizesse com
que eu tropeçasse em minhas próprias pernas.

Perguntei o motivo de não ter trago sua mulher e um sorriso sínico me foi dado.

Babaca.

Revirei meus olhos e me apoiei sobre a cadeira evitando cambalear. Eu realmente precisava
descansar.

Pedi que ele se retirasse e o disse que não havia nenhum interesse de minha parte. Mas antes
que eu pudesse terminar a frase meu corpo deu sinal de que iria apagar.

E então acordei hoje no hospital com ele me olhando de maneira estranha quase com o rosto
colado ao meu.

Fiz de tudo para que ele me deixasse em paz e então ele se retirou quando o médico entrou.
Logo disse que eu tive desidratação e uma queda alta na pressão, disse que se o atendimento
demorasse mais eu poderia ter tido algo mais grave, mas o grande e poderoso rapaz me trouxe
as pressas e tudo deu certo!

Um conto de fadas, não?

Ele me disse também que eu teria alta mais tarde e que o certo seria que eu não andasse
sozinha, nem dirigisse pelos próximos três meses de gestação.

Ideal para quem é casada e não para mim, mãe solteira e ainda assim de primeira viagem.

Espero que a Alicia me ame muito.

E adivinhem quem permaneceu ao meu lado? Isso mesmo. Ricardo.

Sai do hospital com muita raiva dele, não quis entrar no seu carro e vim caminhando, é longe de
minha casa, mas é melhor do que ser obrigada a estar ao lado dele sem ninguém por perto.

Vinte minutos e eu chego a minha casa, espero!

Ricardo não satisfeito, disse que viria então a pé comigo, não me deixando sozinha nem por um
momento. Alguns minutos depois o Rafael nos aparece e quando eu fico feliz ao vê-lo ele me trata
como uma prostituta.
Natural para mim.

- Acorda Raquel! _ Ricardo está a minha frente passando as mãos de um lado para outro.

- Tudo bem? _ novamente ele pergunta aparentemente preocupado.

- Se você não estivesse aqui com certeza tinha me evitado um constrangimento como esse. Olha
como as pessoas estão nos olhando? Não sou uma vagabunda para ser tratada como uma.

- Não sei o que deu no meu irmão. Ele nunca me tratou assim. Há uns dias atrás me ligou pedindo
um favor, tratando-me muito bem por sinal e hoje está assim, na pura ignorância.

- Aposto que teve uma nova discursão com Alicia ou até mesmo com Débora. Ele veio mais cedo
por causa dela. Não vou julgá-lo, mas me manterei afastada. _ digo com certa raiva.

- Ainda posso te acompanhar? _ pergunta depois que já estávamos caminhando.

- Faça como quiser. Estamos ferrados mesmo, imagina o que sua mulher está pensando de mim.

Nesse momento vejo seu semblante se fechar, suas mãos se trancam e seus olhos se apertam,
incomodado aparentemente.

- Eu não vou repetir isso novamente, Raquel. Eu não devo satisfações a minha mulher! Ela está
comigo porque quer! Eu não a forcei a nada. Se estou com ela há todos esses anos é porque ela
quis, ela forçou!

Ele eleva o tom de sua voz, fazendo com que eu o olhe e perceba algo diferente. Tristeza.

- Como assim? _ pergunto lhe dando atenção pela primeira vez.

- Ela disse que acabaria com minha pena se eu me casasse com ela. Poderia voltar a ser um
agente, desde que ficássemos juntos.

Ele olha para baixo sentido.

- E você? Aceitou pelo visto.

Digo um poupo perplexa com o que acabo de ouvir. Creio que as coisas não são assim. Se
erramos devemos arcar com as consequências e não arrumar um jeito de fugir dela. Ele escolheu o
lado mais rápido, mas não o mais simples. Continua vivendo preso mesmo depois de anos.

- Aceitei, eu queria sair daquele lugar. Mas eu não a amei, jamais. Gostei dela nos primeiros anos,
mas depois percebi o erro que tinha cometido. Raquel não é uma mulher livre como você é.

- E o que te leva a pensar que sou livre?_ olho para ele por um momento e percebo um semblante
relaxado.

Também me sinto assim, à vontade para falar, mesmo que já tenha sentido muita raiva dele.

- Você brilha, é intensa, sorri com os olhos. Eu posso ver isso, uma felicidade que eu mesmo nunca
experimentei. _ ele diz com uma estranha feição.

- Eu fui abandonada por meu marido, eu fui traída e humilhada na frente de todos! Não tenho
motivos para ser feliz amando um homem que me traiu, sei que já estou separada há anos dele,
mas toda vez que ouço falar seu nome meus pelos se arrepiam. Eu ainda o amo.

- Mas eu não vejo isso nos seus olhos, não vejo culpa, remorso, tristeza! _ ele diz me olhando com
um sentimento sincero expresso no olhar.

- Não tenho motivos para me sentir culpada! Fui uma boa esposa. _ digo sem querer prolongar o
assunto, mas seu comportamento dizia-me que queria falar mais alguma coisa.

- Quando eu aceitei no altar do presídio a Raquel como minha esposa, eu aceitei a prisão também,
o remorso, o afastamento do Rafael. Ela me prendeu em um circulo vicioso que até hoje acho difícil
de sair. Já tentei muitas vezes e agora meu único jeito é a tratar como uma qualquer. Me perdoa
por ter ido atrás de você e por permanecer no restaurante por tanto tempo, eu não queria ficar
com ela em casa. _ ele diz respirando fundo e abaixa a cabeça se afastando um pouco.

- Eu me incomodei com o jeito que me tratou, fui obrigada a fugir pela janela! E eu estou grávida!
Tenha dó, mas até que agora sua companhia não está ruim. Sua esposa falou algo ao contrário do
que está me dizendo agora, então não sei em quem acreditar.

Digo a verdade, ouvir duas versões de pessoas, que sinceramente, não merecem minha confiança
traz uma sensação estranha de impotência. Não sei discernir a verdade.

- Com o tempo você verá, creio que convivamos mais. Já que pretendo me mudar para cá. Percebo
que meu irmão irá construir família e eu não posso deixar de estar ao lado dele. Pelo menos não
quero mais deixar de participar desses momentos. Apesar de ter meus interesses na Suíça também.

- Suíça... _ sorrio com os pensamentos que me levam a grandes rios frios, gramas verdes e
paisagens geladas de grande beleza.

- Lá é o país mais bonito que já conheci.

Ele constata.

- Tem fotos? _ pergunto animada com a possibilidade de me sentir naquele lugar. Se eu ganhar
bem com o restaurante esse ano eu poderia ir visitar esse lugar.

- Sim. Tenho de meus amigos e seus filhos. A casa onde eles vivem é perfeita.
Ele diz com um sorriso feliz, pega o celular no bolso e começa a mexer, logo volta a sorrir e me
mostra a imagem.

Uma bela família em frente uma piscina, com um lago e montanhas ao fundo. Meu Deus!

- Não sei quem são mais bonito, se é a paisagem ou a família.

- Com certeza é a família! Eles se amam muito. Esse aqui. – ele me aponta um homem loiro,
aparência muito bonita e grande porte. – É o Juiz Alexander Miller, pai dessas crianças todas e
também marido dessa mulher ao lado. Amber Queiroz, filha da mulher que mais amei na vida e
que fiz questão de estragar tudo. _ ele diz respirando fundo e então presto atenção na bela
aparência da moça, cabelos escuros, olhos grandes e bem azuis, assim como o do homem ao seu
lado, aparentemente seu pai.

- Parecem ser felizes. _ digo com um sorriso e me recordo dos momentos que passei com meus pais,
penso na saudade que estou deles e de como a reunião com meus irmãos faz falta. Acabo
deixando meus olhos se encherem de lágrimas, ergo uma de minhas mãos e passo sobre meus
olhos, quando volto a ter visão nítida, vejo o Ricardo me olhando de forma engraçada.

- Isso é por que está gravida? _ ele pergunta me dando um sorriso.

- Não, isso é porque sinto saudades de minha família reunida. Principalmente dos meus irmãos. _
digo sorrindo pela parte da gravidez. Faz sentido.

- Onde seus irmãos estão? _ ele pergunta interessado e isso me faz alegre. Alguém se importa com
minha vida! Uhul.

- Moram em outros países. Todos saíram daqui assim que casaram e só eu permaneci com meu
marido. _ digo. Eu poderia ter ido para outro país arrumar um gato bem gostoso para mim e de
preferencia de pau grande, como o do médico.

Sorrio com meus pensamentos e então quando olho para frente vejo a porta da entrada da
casa de Débora, irei entrar, deixar esse vestido e ir para minha casa, chega de bancar a babá.

- Obrigada pela companhia. _ ele agradece com um sorriso majestoso e então deixa que eu passe
em sua frente. Entro já sabendo que irei ser fuzilada por sua mulher, mas ignoro o medo de ser
baleada.

DÉBORA MORAES

O frio que senti em minha barriga ao transar com aquele homem deu-me um novo rumo à vida.
Talvez eu já devesse ter feito algo assim e não me guardar para um homem que não está nem ai
para mim. Melhor perder com alguém desconhecido, do que com alguém que irá te olhar cada dia
e pensar: “Fui o primeiro a te comer”.
Sei que isso parece loucura, perdi minha virgindade em um banco de uma serra no meio do
nada, mas foi a melhor noite. Estava segura do que fazia, mesmo sendo impulsionada pela tristeza
e pelo que senti ao saber que o Rafael tinha ido à busca de sua princesa gelada.

Princesa gelada, porque posso ver a frieza estampada no rosto daquela mulher. Nem vem me
dizer que aquele jeitinho fraco é verdadeiro, pois eu sei bem que não.

Diz ser uma coisa que não é.

Tenho certeza que é capaz de qualquer coisa. Mas não quero pensar nisso. A minha noite foi
perfeita, com um estranho, mas mesmo assim, perfeita!

Passamos a noite toda transando, fomos para o chão e por isso me sujei completamente de
barro. O mais cômico foi que não senti dor, não senti nada! Apenas prazer. Somente prazer.

O homem era um cavalo de tão grande e mesmo assim me fez sentir confortável o bastante
para rebolar de contra ele. Sei que fiz errado ao sumir sem dar explicações e que provavelmente
seja por esse motivo que o Rafael tenha ficado tão chateado. O tratei como um ninguém, mas não
me arrependo, é bom quando as pessoas provam de seus próprios venenos.

Ideal para uma pessoa que não se importa com nada como ele.

Combinei de encontrar meu admirador novamente, aquele homem me faz molhar só de pensar
em seus movimentos. O que será que ele esconde? Não quis me dizer seu nome, disse que isso seria
em outra data, um lugar mais aconchegante e provavelmente romântico.

Gostei desse jeito dele, misterioso!

Acho que estou me apaixonando por ele, paixão a primeira vista? Com certeza não, porque
quando o ouvi falar quase me joguei da pirambeira a ter que falar com ele sozinha, sem ninguém
por perto.

Mas posso dizer que se tornou paixão a primeira foda! Que homem gostoso. Minha primeira vez
valeu muito apena. E espero que dê certo entre a gente.

Sei que está cedo e tudo mais, mas eu não posso deixar de ter esperanças quando se trata de
um homem tão bonito, gostoso e aparentemente poderoso. Algo simplesmente único.

Como um livro de romance erótico clichê. "Uma moça virgem e um cara sem limites, ignorante,
machucado."

Se bem que romances aparentemente perfeitos não existem. Terei minhas dificuldades, mas esse
homem se tornará um dos meus motivos para lutar.
Eu o quero!

Independentemente do que isso talvez me cause. Ele vale a pena. Pelo menos eu acho.

Cheguei a minha casa e me desespero ao ver um carro diferente, entro cautelosamente e me


arrependo de estar desarmada. Abro a porta devagar e vejo uma mulher com pouca vida
sentada no sofá.

- Quem é você? _ o ímpeto que ela toma me assusta, fazendo com que eu dê um passo para trás.

- Desculpa, eu sou a mulher do Ricardo. Acho que você é a Débora, amiga do Rafael. Certo?

- Certo. _ digo desconfiava, mas mesmo assim me aproximo e estico minha mão.

- Prazer. _ digo e então vejo um sorriso triste.

- Prazer, desculpa por estar assim, mas quando chegamos você estava desaparecida. _ ela diz
sorrindo.

Falsidade!!!

- Não estava desaparecida, eu só sai. Espero que tenha passado uma boa estadia enquanto eu
estive fora.

Uso um tom debochado.

Eu não ficaria na casa de ninguém se a própria dona não está.

- Nossa, obrigada! _ ela pisca cordialmente.

- Tem mais alguém aqui? _ pergunto sendo rude. Eu em.

- Sim, a Raquel e o Ricardo estão lá em cima. _ respiro fundo e saio de sua presença, subo as
escadas rapidamente e encontro os dois sentados em minha cama.

- Oi. _ digo olhando-os de cima abaixo ainda sem entender o que esse homem faz aqui.

- Oi, Débora, que prazer conhece-la. _ o homem se levanta vindo até mim e sorri me dando um
abraço.

Mas meu mau humor desaparece quando lembro que ele é o responsável por meu chefe ser
demitido e preso.

- E você é o cara que salvou minha vida naquele banco? _ o abraço com vontade.
- Sim. _ ele gargalha e quando olho para frente vejo Raquel alisar sua barriga e fico sem
entender.

- Está gravida? _ pergunto franzindo o cenho e me afastando do irmão gostoso do Rafa.

Ela sorri alegremente e uma lágrima escorre de seu olho me confirmando.

- Você está gravida do médico? _ pergunto gargalhando.

E ela assente que sim um pouco desconfortável.

- Eu não acredito! Já contou? _ pergunto me sentando ao seu lado e encostando minha cabeça em
sua barriga. – Já da para ouvir? _ pergunto mais uma vez e essa é a vez dela de sorrir.

- Nem vou, pelo menos não agora! Dá não. Ele é muito pequeno. _ ela alisa meus cabelos e respira
fundo.

- Eu posso ser a madrinha? Eu quero! _ digo sorrindo.

Eu sempre amei crianças, são um sonho para mim.

Mas percebendo os comportamentos, vejo que algo está errado.

- Onde esta o Rafael, Ricardo? Não o vi desde que descemos a serra.

- Então você já o encontrou? _ Raquel pergunta.

- Já. Ele ficou transtornado porque passei a noite com um cara. _ reviro os olhos.

- E a Alicia? Você a viu? _ Raquel me direciona outra pergunta ignorando o que eu havia acabado
de dizer.

- Ela foi para o restaurante. Vai ficar bem. _ digo sorrindo.


CAPÍTULO 17

ALICIA DALGLIESH

Havia uma semana que eu não tinha contato com o Rafael. Meu coração estava ardendo pelo
medo de perdê-lo, mas mesmo assim me fiz forte e não o procurei.

O ataque de ciúme que ele teve com Débora me fez entender que talvez ele não fosse tão certo
assim. Ele tinha que se decidir ou me perderia.

Venho sentindo coisas estranhas também, mal-estar, enjoou. Tudo que eu não queria sentir, mas
creio que seja a convivência com Raquel que está uma grávida chata e extremamente sentimental.

Afinal, descobrimos o que aconteceu. Tudo não passou de um mal entendido e graças a Deus ela
não transou com o Ricardo. Como o Rafael disse, eu não fui muito com a cara dele, não gosto do
jeito que ele me olha ou joga piadas em relação ao seu irmão. Sua mulher é um pouco paranoica,
mas creio que seja falsa. Um lobo em pele de cordeiro como costumam dizer por ai.

Está o tempo todo dizendo coisas contra o Ricardo, quando na verdade já sabemos sobre sua
má fama.

Quando ouvi falar de seu irmão jurava que ela seria uma pessoa melhor, seu irmão tem uma
reputação e tanta e além de muito educado, discreto e bonito, ele também é sensato. Nunca ouvi
falar nada dele, mesmo todos sabendo de seu envolvimento com a certa babá de seus filhos.

Quando um homem é poderoso e famoso nada escapa de sua vida, ainda mais de mim que
gosto tanto de noticias internacionais, mas voltando ao assunto. Eu estou enjoada de tanto
perguntarem se estou bem, do motivo de estar tão pálida e das vezes que vou ao banheiro fazer
xixi por diversas vezes. Eu não estou doente, é só o convívio com uma gravida que está me
deixando louca.

- Lici? Onde você está? _ ouço a voz da Raquel ao longe, mas já sei que está eufórica por algum
motivo.

- Estou aqui no quarto. _ digo dando um grito um pouco alto.

Em poucos segundos ela estava a minha frente com um sorriso gigante nos lábios, mas que de
repente sumiram.

- Que foi? _ pergunto franzindo o cenho.

- O que foi? Eu que pergunto, por que está deitada?


- Só tive uma tontura, essa sua gravidez está acabando comigo!_ digo revirando os olhos.

- Tem certeza que é a minha gravidez? _ ela pergunta sugestiva.

Respiro fundo por diversas vezes, tentando esquecer o fato de que transei sem camisinha e tinha
me esquecido de tomar a pílula.

- Certeza! Agora diga, o que foi? _ sorrio.

- Eu descobri que posso saber o sexo do meu bebe! Estava procurando na internet sobre exames
que mostram o sexo e sem querer li que tem um de sangue que também diz o sexo! _ ela dava
pulinhos na minha frente, mas eu não sabia o que dizer. Eu já sabia disso.

- Por que fez essa cara de pouca surpresa? _ ela pergunta se sentando ao lado na cama.

- Seria porque só você não sabia disso? _ respondo não contendo um sorriso sarcástico e logo
ganho um tapinha.

- Por que não me disse antes então? Estou quase morrendo de ansiedade! _ela diz cruzando os
braços e aparentemente revoltada.

- Você está gravida de um mês, por favor! Ainda faltam oito meses, qual a diferença de saber
agora ou no terceiro mês? _ reviro os olhos e sento-me a cama.

- Muita! E você vai comigo! _ ela diz puxando minha mão. Faço cara de preguiça.

- Tem certeza que vai fazer isso? Sabe que esse exame só faz no hospital do pai desse bebê num
sabe? _ digo e isso faz seu rosto se fechar.

- Uma hora ou outra eu terei que contar. Assumirei os riscos, ele é um médico, duvido que não goste
de ser pai.

Ela dá de ombros, mas algo me diz que isso não vai ser como ela espera. Eu não sei, mas no
momento que ele veio no carro pegar o Rafael e a Débora no dia do sequestro, eu senti que já
tinha o visto com alguma mulher, o conheço de algum jeito. Mas não consegui identificar de onde.

- Tem razão. Está na hora de contar. _ dou forças a ela ignorando a aflição que surgiu em meu
peito.

- Vá se arrumar, já estou pronta. _ ela diz me dando um sorriso fraco e entendo o quanto ela
também está com medo dessa situação.

Não confio em pessoas que transam com outras sem conhecer, que denigrem seu espaço de
trabalho. Acho que isso já é algum tipo de irresponsabilidade. Algo que não me agrada nem um
pouco.
Mas fazer o que? Se ela quis fazer isso, o cara deve ser muito bom mesmo.

Só espero que ele não a humilhe, o melhor a fazer é acompanha-la mesmo.

Levanto-me da cama, mas sinto uma vertigem me tomar e então me sento novamente. Que droga
isso! Acho que eu preciso ir ao médico.

E se for o que estou pensando, fodeu!

Ergo-me novamente e dessa vez nada acontece, ainda bem que a Raquel não viu, se não falaria
ainda mais na minha cabeça e com o enjoou que estou vomitaria nela para que calasse a merda
da boca.

Fora que estou ficando nervosa atoa. Ninguém merece isso.

Fui ao banheiro e tomei um banho rápido, logo sai e parei de frente ao espelho, olhei minha
barriga e instintivamente passei a mão sobre ela.

Se eu estiver grávida? Será que esse enjoou todo é normal? Eu amarei tanto essa criança. Fora
que ela terá um coleguinha e isso me deixa tão feliz.

Sorrio feito uma boba, mas logo volto a me arrumar, escolho qualquer vestido mesmo e penteio o
cabelo, não o secarei, o deixarei molhado para que seque naturalmente.

Saio do banheiro e encaixo sapatilhas no meu pé. Raquel estava na varanda do quarto olhando
para a rua distraidamente.

- Vamos? _ pergunto abraçando-a por trás e alisando sua barriga. Ela colocou a mão por cima da
minha e virou-se dando-me um beijo na cabeça.

- Quem olhar vai dizer que somos sapatas. _ ela diz sorrindo.

- Pensem o que quiser. Eu sei o quanto gosto de rola. Não preciso provar para ninguém isso.

- Não precisamos. _ ela diz e então me afasto, dando-a caminho.

- Está preparada? Quando irá contar para seus pais? _ pergunto entusiasmada.

- Eu acho que no almoço de domingo. _ ela sorri nervosa.

Seus pais sempre quiseram um neto, sempre insistiram que sua única filha não lhes daria um, mas
agora a situação mudou, ela está solteira. Não que isso vá diminuir o amor de seus pais por ela,
Raquel é mulher independente, não precisa deles para nada, mas é "feio". E tenho certa certeza
de que eles iram falar algo, até hoje sua mãe defende o ex-marido de Raquel; alegando que algo
faltou para que ele fugisse dessa maneira, como todos nós sabemos que não há motivos para
traição, basta à pessoa não ter caráter.

- Por isso quer contar ao médico, não é? _pergunto mordendo meus lábios inferiores ao descer a
escada de nossa casa.

- Sim. Não que eu acho que precise, mas ele deve estar ciente que terá um filho, não acho justo
com a criança. _ ela diz nervosa e então a paro no pé da escada.

- Calma, eu estarei com você. _ digo sorrindo ao tentar acalmá-la. Mas sei que não será bem
assim.

Esse homem não é o certo para ela.

Abraço minha amiga e logo saímos juntas de dentro de casa, percebo que durante o caminho
ela respira fundo por diversas vezes. É estranho quando conhecemos muito as pessoas, nós
sabemos exatamente o que se passa na cabeça dela mesmo sem dizer nada.

- Chegamos. _ chamo sua atenção já que ela estava viajando.

- É... Coragem. Vamos. _ ela abre a porta do carro determinada e isso me deixa confiante
também. O hospital parecia calmo o que com toda certeza nos facilitaria a conversa com o tal
doutor.

Sei que não podia estar vindo aqui, exposta a câmeras de seguranças, perigosas demais para
mim, se ele ainda estiver tentando me encontrar, esses vídeos será meu fim. E eu espero que não.
Espero que ele tenha encontrado outro alguém para perturbar.

Passamos por todas as portas até chegar à ala de seu atendimento, logo uma enfermeira se
aproximou me deixando um pouco desconfortável. Odeio hospital. Odeio lembrar-me de tudo que
eu passei. Odeio enfermeiras.

- Em que posso ajuda-las? _ ela sorri com carinho. Aliviando um pouco a minha tensão.

- Eu vim ver o doutor responsável por essa ala. _ ela diz nervosa e a vejo pensar em algo que
não consigo decifrar, mas com um estalo de minha mente percebo o que é.

- Você não sabe o nome dele? _ falo em seu ouvido.

Ela somente balança a cabeça que não e sorri. Acho que está mais para não se lembrar, ótimo.

- Você é louca? _ pergunto mais uma vez e novamente recebo um aceno, confirmando o que eu
havia acabado de dizer.

Eu não sei o que esse cara tem, não vi nada demais nele.
- Vou chama-lo, podem esperar aqui, por favor. _ ela sugere um banco que havia um pouco mais a
frente e se afasta.

- Sim. _ digo puxando pelo braço de Raquel e me sentando.

- Como você não sabe o nome dele? Me diz? _ pergunto virando-me para ela ainda sem acreditar.

- Sei lá. Eu só não sei. Bem eu acho que lembro, é alguma coisa com "O". Talvez, Otávio. _ ela diz
com cara de safada me fazendo sorrir, mas eu podia ver o quanto estava nervosa, apreensiva e
talvez quase saindo correndo antes que ele voltasse.

- Tem certeza que não quer ir apenas fazer seu exame? Podíamos evitar isso. O que importa é que
eu e você e com certeza a nossa família inteira amara essa criança.

Digo respirando pesadamente, acho que estava mais nervosa do que ela.

- Eu já disse que ele precisa saber Alicia. Eu não posso deixar que meu filho me cobre por não ter
um pai e ainda assim descubra que ele não sabe de sua existência. Prefiro ser verdadeira logo e
evitar problemas mais a frente.

- Tem razão, me desculpa.

Me calo e espero pensando no quanto eu sou fraca, eu prefiro fugir dos problemas do que
enfrentá-los. Talvez se eu tivesse lutado por minha liberdade, naquele momento, eu não viveria com
tanto medo; talvez se eu tivesse seguido os conselhos do meu pai, hoje eu não estaria aqui, vivendo
fugindo de tudo e todos.

Fora que mais uma vez me deixei fugir, até hoje não procurei o Rafael, mesmo sabendo que ele
me deixou eu poderia ter o procurado, ao menos para conversar e resolver. Dizer logo tudo que
eu sentia e tudo que eu não sentia.

A verdade é que enquanto a Débora for um impedimento para nós, não dará certo. Ou ele
entende que é dela que ele gosta ou ele prova para si mesmo que não pode deixar que a vida
dele se mova junto a dela apenas por culpa de algo que deu errado.

Olho para frente e me deparo com o tal doutor.

- Ora, ora, o que traz as belas cozinheiras ao meu encontro? Estranhei quando ouvi dizer que duas
mulheres me procuravam, não é todo dia que se tira uma sorte tão grande. _ ele nos olha como
cachorro de frente a frangueira em dia de domingo.

Ridículo.

- Creio que o assunto que falarei deva ser dito em um lugar mais reservado. _ Raquel diz e então
olho para ela estranhando sua maneira "educada" de pronunciar sua frase.

- É algo com a saúde de seus amigos? E não se preocupe eu não falei da Alicia para a policia. _
ergo uma de minhas sobrancelhas e fixo meu olhar ao dele.

- Falar o que exatamente para a polícia? _ pergunto olhando-o de maneira irritada.

- Falar que você veio trazer seus amigos, baleados e de maneira estranha, não teve explicação
para nada, mas mesmo assim não disse que estava envolvida a pedido da Raquel. _ ele pisca e
passa as mãos pelas costas dela, que se esquivou no mesmo instante, aparentemente
desconfortável.

- Creio que você não tenha nada a dizer, meu querido. E por fim, não é desse assunto que viemos
tratar, se quiser falo aqui mesmo, mas creio que pelo seu jeitinho preferiria que fosse em um lugar
mais reservado. _ reviro meus olhos para ele, sentindo raiva.

- Então vamos, não precisa ficar nervosa! Eu em. _ ele caminha na frente e nos abre caminho ao
chegar em um consultório um pouco pequeno demais, percebo que no canto há uma cama. Não de
paciente, mas sim de dormitório. Isso é o quarto dele no hospital.

Ergo minhas sobrancelhas pra ele novamente. E ele me abre um sorrisinho indecente. Não sei por
que quero tanto matar esse homem!

- Podemos conversar ou aproveitar melhor o tempo o que acham?_ ele pisca colocando o braço
sobre o ombro de Raquel.

- Eu acho bom você parar de piadinha antes que eu resolva usar todos os utensílios desse hospital
para te matar!

Aperto minhas mãos com força e respiro fundo. Como a Raquel se deitou com um cara desse?
Por favor!

- Acho que o assunto é realmente sério! Sua amiguinha está histérica. _ ele brinca com Raquel e
nessa hora olho em seu crachá, seu nome é composto, mas apenas uma letra é posta como
abreviação e logo o "Otávio" em seguida.

- É sério sim... _ ela respira fundo. – Não acha melhor se sentar? _ mais uma vez diz
desconfortável.

- Desse jeito, acho que aceitarei a sugestão. _ seu jeito brincalhão abre espaço para uma feição
seria e aparentemente condizente com seu profissional.

Ele se senta de maneira elegante, posso dizer até instigante e começo a enxergar o que Raquel
viu nele. Sério é sexy, abriu a boca, um babaca.
Vejo-a respirar fundo por diversas vezes e então ela abre os olhos e o fita.

- Eu estou gravida._ sem o preparar mais um pouco joga a noticia na cara dele.

Imediatamente um sorriso torto e irônico surge em seu rosto e logo ouvimos uma gargalhada
debochada.

Eu vou bater nesse cara!

- E como você quer que eu acredite que esse filho é meu? Só te comi uma vez, mulher! É cada
louca! Além do mais, eu não poderia ter um filho seu. Eu sou casado. Já fiz demais por tirar sua
seca.

O ódio faz com que meu sangue ferva e a vontade de mata-lo aumente.

Mas ao olhar para Raquel percebo que sua face branca, manda que eu espere e que não
reaja, mesmo tendo dado alguns passos no automático.

- Olha, Otávio. Eu realmente estava na seca. Eu realmente achei que não faria mal uma aventura
com um babaca em um hospital apenas pela emoção, eu achei que isso não me traria
consequências nenhuma, afinal, fui casada por anos e nunca engravidei. Eu só resolvi te dar essa
noticia porque o meu filho merece saber que o pai dele sabe de sua existência e mesmo assim, não
o quis, mas que isso nunca mudou meu amor por ele e nem o da minha família. E só mais uma
coisinha, não tem como ser outro! Eu não sou as vadias que você come nessa salinha, mesmo que no
dia que eu resolvi transar com você eu tenha parecido com elas. Tenha um bom dia.

Que tapa na cara em, puta que pariu.

Ela me estende sua mão e sem deixar que nenhuma lágrima caísse, nos afastamos até a porta.

Então as mãos dele vão até um de seus braços e um semblante sério e emocionado é
transparecido.

Ele se arrependeu...

- Quem disse que eu quero esse filho? Eu pago para você tirar, faço o que quiser para que tire
essa criança. Eu não quero ser pai de um filho de negra!

O choque foi ainda maior do que o primeiro. O que ele ousou em dizer... Eu quero que esse
homem morra!

Solto meu braço do dela e vejo que em choque ela não se afasta dele. Respiro fundo tentando
conter o ódio que estava percorrendo meu sangue, mas foi inútil. Abri minha mão e dei um tapa
forte em seu rosto, deixando meus dedos completamente marcados em sua face.
- Vagabunda! _ ele me difere um palavrão e mais uma vez cega de ódio dou uma joelhada em
seu saco com toda força.

- Eu espero que você vá para o inferno! Que sua mulher te deixe e que fique broxa e sozinho! _
grito um pouco mais alto do que deveria. Puxo pelo braço de Raquel e sem querer realizar exame
algum , caminho em direção ao carro.

Sinto minha cabeça começar a rodar, mas evito dar atenção a algo tão banal. É somente uma
tontura.

Abro a porta do carro para a Raquel e vou para o outro lado, entro rapidamente e giro a
chave, saio com o carro já em grande velocidade, tiro uma de minhas mãos do volante e coloco
entre meus cabelos.

- Eu sabia... _ digo não contendo a emoção ao olhá-la e ver o quanto está sem vida.

- Você sabia, mas eu pensava que um homem com tanta instrução, tanto estudo, poderia ser alguém
diferente!

Ela diz deixando de vez que as lágrimas descessem por seu rosto.

- Isso não muda nada! Estudo não muda caráter. Se fosse assim meu ex-marido seria o homem mais
maravilhoso do mundo! Eu estou com tanto ódio que tudo que está em meu estomago está querendo
voltar.

Ela me olha estranho e então resolvo parar o carro e sair dele. A ânsia começava a tomar conta
de mim novamente, fazendo com que meus olhos se revirassem, começo a ter ânsias até que o
vomito vem, fazendo com que minha garganta arda e minhas pernas se amoleçam. Raquel
preocupada saiu de seu lugar e veio até mim. Mas já esperando o que aconteceria ela começou a
ter ânsias e mais ânsias e lá estávamos, as duas vomitando freneticamente.

Alguns minutos se passaram e fraca, recosto-me no carro.

- Você está grávida! _ ela gargalha do outro lado.

- Não estou. O momento que me estressou demais. _ digo e sorrio ao pensar estar grávida. Coloco
minhas mãos sobre a barriga.

- Se iluda então!
CAPÍTULO 18

AlICIA DALGLIESH

Mais alguns dias se passaram e eu estava ainda estava enjoada, com menos frequência, o que
me levava a pensar que foi somente um mal estar e que estar gravida era fora de cogitação, por
tanto estava menos preocupada com o sumiço repentino do Rafael. Eu não sabia o que dizer para
ele, então não tinha como o procurar. Ele deu uma de maluco e não eu.

Já estava quase na hora do expediente, finalmente eu tinha voltado a cozinhar e isso me


deixava completa. Nesse tempo criei mais pratos para o cardápio atraindo ainda mais clientes. O
que estava rendendo um bom dinheiro. Raquel tinha decidido contar sobre a gravidez no domingo
em um almoço de família que teria, mas quem disse que ela foi capaz? Está perdendo muito peso e
passa o tempo todo chorando. A levei ao médico e ele disse que por enquanto os remédios ante
depressivos fariam mal ao bebê. O que significa que preciso fazê-la sorrir de algum modo até os
três meses de gravidez.

O que ainda falta bastante. Um mês e meio.

O tempo passava que nem bala em morro do Rio de Janeiro, muito rápido e cruel também. Não
tinha pena de mim e muito menos de meu coração que a cada dia perdia um pouco mais de
esperança. Ele não vai me procurar mais... Com certeza descobriu que amava a sua amiga e não
eu.

Mas... Fazer o que? Eu posso aceitar mesmo achando uma baita sacanagem ele não vir me
procurar. Sei lá, ao menos dar-me uma explicação, dizer que acabou. Alguma coisa que não seja
esse silêncio horrível de quase um mês.

Ouço a campainha e desço as escadas amarrando meu cabelo em um coque para que logo
depois possa ir tomar banho. Eu já imagino quem seja, afinal, suas visitas são constantes, mas o
assunto tratado se estreita somente entre Raquel e o restaurante. Nada mais.

- Oi. _ digo abrindo a porta e olhando em seus olhos que hoje pareciam mais felizes que o normal.

- Oi. Como está? _ Ricardo beija minha bochecha e me dá um sorriso de bambear as pernas.

- Estou bem, mas ela continua a mesma coisa. Está deitada naquela cama desde que se deitou
ontem. Ela me disse que não se abateria, não entendo porque ficou assim! Nem quando se separou
ficou tão triste. Eu não sei o que fazer mais.

Eu já tinha tentado realmente de tudo. Tínhamos tudo para ficarmos bem, assim como ela
permaneceu firme nos primeiros dias, mas foi somente passarmos a sair e vermos famílias que ela
começou a se deixar levar por essa maldita depressão.

O cheque mate foi quando estávamos no restaurante e um homem chegou com sua esposa. O
mesmo radiante quis contar a todos que estava "grávido". Algo que mexeu tanto com ela que não
conseguiu parar de chorar mais.

Ricardo e eu já tínhamos dito de tudo, nunca a abandonaríamos. Acho que ele também se
importa com ela, mesmo não tentando mais passar de amizade.

- Não temos muito o que fazer, meu medo é leva-la para sair e ver famílias unidas e isso piorar
ainda mais sua situação.

Ele diz entrando e fechando o portão atrás de si. Viro-me para caminhar até a porta e me
surpreendo ao vê-la de pé e arrumada. Eu não sei o que pretendia fazer, mas sei que não a
deixaria sair por essa porta nem pagando.

- Onde está pensando que vai? _ Ricardo pergunta ao colocar-se ao meu lado.

Ela nos olhou com um sorriso aparentemente verdadeiro nos lábios e se aproximou.

- Meu bebe se mexeu. _ ela sorriu mais uma vez dando mais um passo a frente, quase colada a
gente. E meu sorriso surgiu dando-me uma repentina felicidade.

- Meu Deus! Meu afilhado se mexeu! _ coloco as mãos em sua barriga e a abraço. Ricardo
continuou parado sem mover um musculo, sua habitual cara de carranca estava presente, mas creio
que seja ócios do ofício.

- Ele ou ela me trouxe a luz de volta, Alicia! Eu não posso de maneira alguma, deixar que meu filho
ou filha nasça com uma mãe sem alegria! Eu preciso ser forte. Eu quero ser.

O choro estava novamente em seu rosto, mas dessa vez se misturava com o sorriso também.

- Eu não aguentava mais te ver daquela maneira._ Ricardo pela primeira vez se pronunciou
olhando profundamente nos olhos de Raquel, mas mesmo assim não mudou sua postura dura e
imponente de antes.

- Eu pensei que nada mudaria minha vontade de morrer. Mas o amor sentido por essa criança é
maior que qualquer problema e preconceito que eu tenha que passar. _ novamente ela sorriu e me
abraçou.

- Estaremos com você, mas agora eu te deixarei com Ricardo. Preciso me arrumar, creio que esteja
linda assim para irmos ao restaurante, certo?

- Certo. Eu quero ver o que tem feito naquele lugar. Tem muito tempo que eu não vou lá.
- Ótimo. Vou te preparar algo especial para você. _ digo me afastando.

- Mas o que será mais especial será feito para você, Alicia. _ ouço Ricardo dizer quase em um
sussurro, mas recuso-me perguntar o que ele havia dito e por que havia dito. Sei que por nada ele
repetiria.

[...]

Já estava quase pronta quando olhei pela janela e vi os dois sentados no banquinho do quintal
conversando distraidamente, minha primeira reação foi um sorriso, mas a segunda foi pensar o que
aquela mulher é capaz de fazer, caso perceba o quanto Ricardo gosta de Raquel.

Sei que eu posso estar enganada com ele e como a própria Raquel havia me falado, ele talvez
seja fingido como sua mulher disse. Mas isso é algo que não consigo enxergar nele.

Com esses dias que se passaram eu vi o quanto seu comportamento mudou e o quanto talvez ele
se importe com Raquel. Afinal o que o faria sair todos os dias de sua casa, apenas para saber
noticias sobre seu estado? Acho que um carinho e talvez até um amor está nascendo entre eles.

Percebi também que sua mulher é um pouco neurótica. Talvez ela tenha destruído o sentimento
que havia dele para ela. Já que também já sabemos que ela o manteve preso. Não deu a chance
dele gostar dela sem ter nenhum interesse envolvido.

Agora depois de tantos anos vivendo sobre um "Regime rígido de casamento" ele tenha cansado.
O que é o mais provável.

Eu só espero que nada de mal aconteça a nenhum dos dois, aliás, quatro.

Temos duas Raqueis, Ricardo e meu afilhado.

Eu não sei por que, mas tenho a intuição que seu neném é um menino.

Volto-me para meus afazeres e resolvo colocar um batom bem vermelho, algo que remeta
sensualidade e poder.

Quero me sentir assim hoje.

Nem me perguntem por que.

Afastei-me um pouco do espelho olhando minha imagem e me agrado com o que vejo. Gosto de
maquiagem, apesar de nem sempre passar.

Dou um sorriso para mim e mesma e logo depois desço as escadas rapidamente. Vou até a
sapateira e escolho uma rasteira. Já que o vestido é longo, não preciso colocar uma sandália
elegante. Ela não será vista.
Vou em direção à porta, tirando a chave da mesma e logo assim trancando-a.

- Vamos? _ ouço um "uau" dos dois e logo sorrio.

- Parem de besteira. Ricardo vai com a gente hoje? _ pergunto direcionando-me a ele e então ele
acena que sim. Só então percebo que ele está arrumado. Uma calça jeans e uma camisa branca
de botão, deixando-o despojado.

- Devia buscar sua esposa, Rick. Ela ainda vai se zangar com você. Uma boa ação, por favor. _
Raquel insistiu com ele fazendo com que seu olhar se revirasse.

- Ela vai. Combinamos de nos encontrar lá. Temos um jantar importante hoje. Não poderíamos faltar
mesmo não me importando se ela não estivesse presente.

Ele dá de ombros deixando-me um pouco curiosa. Eu não posso me envolver nesses assuntos
ainda mais pensando, que talvez, fosse confidencial.

É muito estranho conviver com esse tipo de gente. Não que eu não goste, mas parece que vivo
em um filme de ação o tempo inteiro. Onde o roteiro é destinado a fazer a mocinha sofrer. (no
caso eu.)

- Vai ser divertido. _ Raquel exibia uma alegria que eu não via há muito tempo e mesmo que seus
olhos ainda estivessem inchados pelos choros longos e duradouros, ainda havia um brilho diferente
ali.

Que bom. Pelo menos ela está bem.

- O que aconteceu? Ainda está chateada por Rafael não ter lhe procurado? _ Ricardo coloca a
mão sobre meu ombro em um gesto de carinho e então coloco minha mão encima da sua.

- Eu pensei que eu poderia ser feliz com seu irmão. Mas eu me esqueci que nada na minha vida
acontece do jeito que eu quero.

- Tudo que acontece de ruim, é para melhorar. Um motivo teve para ele se afastar. Então, creio que
também haverá um para voltar. Sei que posso estar distante tanto dele quanto de você. Não somos
próximos, mas eu sei que ele sente algo por você, não que isso seja da minha conta, mas quando
olho para o meu irmão, eu vejo medo. Sei que isso é estranho já que ele não era para ter trauma
algum, além do nosso pai. Eu sinto que ele passou por algo que nunca foi revelado a ninguém.

Ele parecia tão preocupado quanto eu, mas não foi só ele que percebeu isso, eu também
sempre enxerguei algo diferente nos olhos dele. Algo que eu queria desvendar, mas que seu
bloqueio impedia.

- Eu espero que tudo dê certo, Ricardo, mas se não der..._ viro-me em direção ao nosso carro e
então chamo Raquel com um gesto com a cabeça.

Ela veio até nós rapidamente. Sua barriguinha começava a marcar por cima da roupa, mas
somente perceberia quem a conhece por muito tempo e sabe que sua barriga é negativa. Para
pessoas de fora, aquilo não era nada. Não tinha nada ali.

[...]

Saímos do carro e a nossa espera já estava a Raquel ( esposa do Ricardo) e outro homem com
uma guitarra nas mãos. Eles pareciam não se conhecer, o que era mais estranho. De quem se trata?

Olhei para Raquel que também não sabia quem era, mas seu sorriso denunciava que havia
alguma coisa "errada" naquele lugar.

Ela se aproximou da esposa do Ricardo e a cumprimentou. O homem que tinha a guitarra em mãos
se direcionou a mim, fazendo com que eu parasse de andar, esperando por sua próxima ação.

- Boa noite, senhorita. Meu nome é Diogo e eu vim pedir permissão para me apresentar essa noite
em seu restaurante. _ ele diz um pouco nervoso o que me faz sorrir. Sua postura um pouco
incorreta e seus cabelos bagunçados diziam-me que talvez essa não fosse a melhor ideia da noite.

- Boa noite, Diogo. Você me pegou desprevenida, eu e minha sócia não costumamos a ceder
espaço para cantores, mas eu poderia pensar em seu caso, se sua voz fosse tremendamente
espetacular.

Digo com um sorriso terno no rosto, odeio pessoas que desfazem de outras seja por qualquer
motivo e não seria justo que eu já o dispensasse sem ao menos ouvi-lo.

Talvez fosse bom para os negócios.

- Tenho certeza que você não se arrependerá. Posso ser estranho, mas tenho a voz bonita. _ Ops,
acho que ele percebeu que eu o olhei avaliando-o.

Boa Alicia.

Comecei a abrir o restaurante e logo algumas de nossas cozinheiras começaram rapidamente a


chegar, na verdade todos já estávamos quase prontos para abrir o local. A única coisa que
faltava era ouvir o nosso musico da noite, que já se aprontava em uma das partes do restaurante
para realizar seu primeiro show particular para mim, as cozinheiras, Ricardo e sua esposa,
juntamente com Raquel. Todos nós estávamos ansiosos para ouvir sua voz. Tirando Ricardo que
parecia indiferente a tudo que acontecia.

Sentei-me ao perceber que ele já estava pronto.

- Boa noite meus grandes amigos, nessa grande noite eu vim trazer para vocês uma música que eu
tenho certeza que tocara seu coração, mas primeiramente, quero agradecer as donas. Alicia e
Raquel por me proporcionarem essa imensa alegria. Vamos lá então.

Olhei para Raquel que parecia se divertir com a situação. Olhou-me e mexeu as sobrancelhas
rapidamente. eu amava quando ela fazia isso.

Quando as notas começaram a sair de sua guitarra, percebi que se tratava de Sam Smith,
deixando meu coração completamente descompassado. Aos poucos uma voz suave e grossa tomou
conta do ambiente, ainda assim o som de sua guitarra chamava mais atenção, dando destaque a
sua bela maneira de tocar e seus toques suaves e com maestria. Deixei meus olhos se fecharem e
curtir o som, trazendo-me a emoção que certamente havia dito antes de começar a tocar.

Minimamente o quero para sempre.

Eu amei!

Ao fim da música eu não tinha mais incertezas sobre a competência de seu trabalho. Tínhamos
um repertorio e comidas para cuidar, mas, além disso, eu tinha um coração para acalmar, porque
depois de ouvir o que a música tinha a dizer. Eu simplesmente deixei que as lágrimas caíssem por
algumas vezes.

Ele sorri para mim e então percebo o quanto ele queria estar aqui e estava feliz em conseguir
minha emoção.

Levantei-me para ir ao seu encontro e quando ele desceu do pequeno palco com um pulo, eu
simplesmente o abracei.

- Muito obrigada! _ deixei que algumas lágrimas ainda caíssem, mas mesmo assim, fiz questão de
respirar e me recompor.

- Não é nada. Obrigada pela emoção. Eu fiz tudo que eu podia para ser o melhor, mas as
emoções de hoje ainda não acabaram. Você ainda vai querer me abraçar muito por uma música
que tocarei durante essa apresentação. Talvez você já tenha ouvido, mas não com o significado
que ela virá hoje.

Seus olhos queriam me transmitir algo que eu ainda não conseguia decifrar, mas mesmo assim.
Eu sorri e acenei, esperando ansiosamente por uma apresentação que fosse me impressionar ainda
mais que essa.

[...]

O tempo já estava passando o clima agradável da noite não deixava que eu as meninas
suássemos na cozinha. Eu tinha desistido de assistir de camarote elas trabalhando, afinal, eu nasci
para cozinhar, nasci para querer a satisfação das pessoas pelo paladar. Mas estava na vez de
alegrar a minha amiga. Fiz um prato que eu sei que ela ama.
Camarão com cuscuz de milho... Sempre amei camarão, mas não tanto quanto ela. Decorei seu
prato e o coloquei em minhas mãos, pedindo a ajuda de mais alguns garçons para que me
ajudassem a servir os outros que estavam com ela na mesa.

Coloquei o prato sobre a mesa novamente e dessa vez tirei o doma.

- Meninas, eu finalizei minha ajuda na cozinha essa noite. _ todas sorriram para mim e assentiram.
Respirei fundo e peguei o prato de Raquel.

Todos já estavam a minha espera, mas algo nas mãos de todos os clientes me chamava atenção,
mas não somente isso, a luz baixa do local, que usávamos somente no dia dos namorados e
também a decoração perfeita com flores de cerejeira.

Meu coração começou a acelerar instantaneamente, mas não parei meus passos, fui até a mesa
onde todos estavam conversando animadamente sobre algo que eu não poderia saber já que
quando me aproximei o silencio tomou conta do ambiente. Todos me olhavam com certa admiração.
O que deixava- me ainda mais nervosa e ansiosa.

Respirei fundo tentando conter minha ansiedade e quando olhei para Ricardo, vi que no bolso de
sua camisa também tinha pequenas flores de cerejeira, deixando um sorriso bobo escapar do meu
rosto.

Essa é a minha flor favorita e todos no restaurante tinham ela, todas as meses estavam rodeadas
dela, toda decoração rustica de meu restaurante havia se suavizado com o tom rosado das flores.

Prendi meus lábios entre os dentes e deixei mais uma vez a vontade de sorrir me tomar.

- Vim servir a mesa de vocês. _ digo e então todos me olham com um olhar suspeito, dizendo-me
que ainda estava acontecendo algo errado.

Olhei para todos na mesa, mas meu coração acelerou quando olhei e vi Débora. Franzi minha
testa surpresa com sua presença e por mais uma vez eu sorri ao pensar que também o Rafael
tenha vindo.

Eu não sei o que aconteceu na vida dele nesses últimos dias, mas pelo visto não pensou em mim.

Ele não está aqui.

Penso ao olhar tudo em volta e conferir cada mesa, cada cantinho e até mesmo o lado de fora.

Voltando a mim percebi que Débora me olhava com uma expressão contente sobre os lábios, o
que me fazia acreditar que estava feliz ao ver- me e não duvido disso. Ela não me parece ser
alguém que minta seus sentimentos.
- Desculpa meu mau jeito, mas não esperava vê-la essa noite. _ digo indo até ela e dando-lhe um
beijo em uma de suas bochechas.

- Fico feliz que esteja bem. Foi tudo planejado rapidamente, mas eu sempre fui cliente de seu
restaurante. Não se espante se me vê aqui por todos os dias da semana. _ ela sorri.

Sinto que esse fim de semana promete.

- Então tudo bem. O que deseja comer? Posso pedir para trazer agora mesmo. _ chamo com os
olhos um dos garçons que me ajudou a servir a mesa.

- Eu quero uma coisa que não serve muito aqui, especialmente final de semana, mas gostaria de
saber se ainda tem. _ ela morde os lábios inferiores, como se o que ela fosse dizer era um
absurdo.

- Vamos, diga? _ encorajo-a a dizer e então ela sorri cordialmente.

- Quero bife com batatas. _ ela sorri novamente debilmente dessa vez, arrancando-me também um
sorriso.

Olho para meu garçom e ele assente, se afastando.

Meu coração não cabia mais na boca, mas eu não sabia o que dizer e como conseguiram
arrumar esse lugar tão rápido e com uma ornamentação tão cara e difícil de achar, especialmente
nessa data. Estamos no inverno.

- Sente-se, Alicia. O seu cantor aparentemente favorito, fez uma pausa, mas já está voltando.
Espero-o com a gente. _ Ricardo diz puxando a cadeira ao seu lado esquerdo para mim, já que
por algum motivo Raquel não se encontrava a mesa.

- Onde Raquel está? _ pergunto-o e ele simplesmente levanta os braços para mim. Dizendo-me que
também não sabia.

As luzes se apagaram sobre a gente e somente um holofote foi lançado em direção a alguém
que entrava na porta, ao direcionar meu olhar para lá uma música calma começou a tocar e quem
entrava de maneira sorridente era a Raquel. Em suas mãos estavam um buque. Dessa vez de rosas,
não muito exagerado, o que me deixa feliz. Gosto de coisas simples.

Ela vem até mim e pede com um olhar que eu me levante e é isso que eu faço. Com lágrimas nos
olhos recebo as flores em minhas mãos e com mais alegria ainda a abraço, mesmo não entendendo
o que está acontecendo.

As palmas ecoam em nossa volta, não dando muita importância sussurro ao ouvido de minha
amiga. Agradecendo-a demais pelo gesto carinhoso e por sempre está ao meu lado. Em resposta
ela disse: " não fui eu, foi ele..."
Meu coração erra uma batida quando o holofote ilumina o palco onde antes estava o tal cantor
que contratamos. Um corpo diferente está sentado, com as mãos na guitarra e a cabeça baixa.

Parece respirar fundo e tentar se concentrar ao apertar as mãos por diversas vezes.

Ele...

Parada no meio do restaurante e sem conseguir me mover, meus olhos começam a sair lágrimas
sem que eu tenha controle. A verdade é que eu não sabia como reagir diante de algo tão especial
e que eu tinha absoluta certeza que me faria chorar.

Aos poucos sua cabeça se levanta, passando os olhos por um caminho que daria exatamente
onde estou. E quando finalmente nos encontramos. Tudo estava mais que claro.

Eu amo esse homem, mas ele também me ama!

A sua boca se encostou ao microfone e quando seus dedos começaram a se movimentar na


guitarra eu já sabia de que música se tratava e tinha certeza de que nunca mais teria o mesmo
significado para mim.

Fire Meet Gasoline – Sia

Sua voz rouca e extremamente sexy deixou-me arrepiada e sem conseguir me mexer, seus olhos
não se desgrudavam dos meus, fazendo com que meu coração parasse em cada vez que ele
respirava e voltava a cantar.

Em seus olhos eu conseguia ver a emoção. As lágrimas escorriam, mas a sua voz se tornava cada
vez mais linda. Um tom que eu nunca tinha ouvido e que nunca esperava que saísse de sua boca.

Respiro fundo e logo que a música termina minhas pernas se movem sozinhas ao seu encontro,
enquanto as deles também, pulando do palco e largando a guitarra na mão do cantor que
somente agora percebi que estava lá.

Seus passos firmes e decididos fizeram-me vacilar por um instante, mas me mantive forte. Respirei
fundo e continuei meu caminho até ele e quando chegamos perto um do outro ao ponto de nos
encostar, suas mãos foram ao meu cabelo e seu sorriso se aproximou de minha boca.

- Desculpa. _ ele disse antes de me atingir com seu beijo, fazendo minhas pernas se amolecerem e
meu corpo se entregar totalmente ao prazer de seu beijo, ignorando a plateia a nossa volta.
CAPÍTULO 19

RAFAEL MELLO

Eu estava decidido. Eu não podia viver sem Alicia e isso estava ficando cada vez mais claro
todas as vezes que eu acordava e começava a pensar na minha vida.

No dia que cheguei a minha casa, estava enraivado, seria capaz de matar qualquer um, mas
principalmente encontrar o desgraçado que fez a Débora passar sua primeira noite com ele.

Eu não sabia discernir o que estava sentindo, mas na minha cabeça estava com um ciúme sem
tamanho e ali, havia descoberto o amor da minha vida.

Errado fui eu pensar assim, mas acho que eu precisava desse tempo para conseguir me
instabilizar e me ver limpo o suficiente para não colocar a Débora entre mim e ela.

No dia seguinte eu saí e fui para o trabalho passando na casa de Débora como de costume, a
esperei no portão e então ela saiu, mas não veio para minha moto e sim entrou no carro preto a
sua frente que eu nem havia prestado atenção que estava ali.

O vidro era tão preto que fui incapaz de enxergar quem estava dentro, mas não me importei, já
sabendo que se tratava do tal homem misterioso.

Eu senti um arrepio passar por minha espinha e uma sensação de medo horrível tomar meu
corpo, eu precisava conversar com ela e dizer tudo que eu sentia.

Não podia a perder assim. Na minha cabeça ela era o amor da minha vida.

Acelerei a moto e fiz a ultrapassagem pelo carro de seu amiguinho, mas evitei olhar para trás,
deixando apenas o grande ronco de minha moto invadir a cabeça deles e principalmente a dela.
Mostrando que mesmo brigados eu havia ido busca-la.

Por mais uma vez me senti atingido pelo acontecimento, mas não me deixaria abater.

Teríamos uma conversa, nem que eu tivesse que a prender no vestiário do banco.

Cheguei ao meu trabalho e desci para me arrumar, bati minha cabeça por mais algumas vezes
na porta do meu armário e enfim, respirei. Ainda sentindo a raiva escapar por meus poros. Sem
que eu tivesse a visto chegar, ela se aproximou e colocou a mão sobre meu ombro. Olhei para ela
e me virei de frente, puxando seu corpo de grandes curvas para mim e quase colocando nossas
bocas.

Mas a sua expressão quase congelante, fez com que eu a soltasse, mas não completamente.
Perguntei o que ela tinha feito comigo, mas como resposta ela balançou a cabeça negativamente
dizendo o quanto eu estava sendo precipitado.

Respirei fundo tentando não agarra-la ao tentar provar o quanto eu a queria, mas logo ela
abriu sua boca e disse palavras que me fizeram de algum jeito solta-la. Ouvi tudo que ela queria
me dizer, porém, eu ainda não estava convencido. Nunca tinha sentido aquilo por ninguém e mesmo
que ela dissesse que não, eu via em seus olhos o quanto ela me queria também. Então sem esperar
por mais nada a beijei, arrancando um gemido alto de sua garganta e pelos eriçados de seu
corpo.

Então eu entendi tudo que ela tinha dito. Meu ciúme era fraterno, meu ciúme foi por medo e não
por amor. Meu ciúme era porque eu não suportaria a ideia de vê-la sofrer.

Isso era insuportável. Eu nunca a deixaria. Somos amigos... Somos irmãos.

Soltei sua nuca e afastei nossos corpos mantendo somente nossas testas coladas. Sua respiração
irregular e seus dedos apertando meus braços; denunciava o quanto talvez ela tenha gostado.
Mas ao abrir a boca me provou que nada era como esperávamos. Virei de costas para ela e senti
suas mãos em volta de meu abdômen, respirei fundo e a pedi desculpas, ela me fez sorrir dizendo
que não tinha sido sacrifício nenhum e então me virei abraçando-a e dando-lhe um beijo na testa.
Eu não posso ficar com ela sabendo que nunca esqueceria a Alicia. Nunca senti nada parecido com
outra mulher e mesmo que eu tenha dito que o ciúme sentido por Débora era grande ao imaginar
isso com a Alicia eu seria capaz de matar o cara e chorar o resto da minha vida. Por ter sido ruim
o suficiente para ser trocado por qualquer um.

E aqui estou eu, depois de quase um mês tentando arquitetar algo suficientemente bom para
surpreendê-la. Tudo bem que isso é uma grande estratégia. Se eu fizer direitinho ela esquecera
tudo que eu fiz e me perdoara. Resolvido!

Mentira, não é somente isso. Eu não suportaria ficar longe dela. Eu a amo. E agora estou inteiro
para viver isso. Eu preciso viver esse amor e espero do fundo da minha alma que dure para
sempre e que nada venha a tira-la de mim.

Contei sobre minha ideia para Débora e ela amou, disse que seria maravilhoso e que nada
estragaria, ainda mais agora que ela estava ainda mais presente no restaurante. Dificilmente daria
errado.

Então aqui estou, esperando que ela volte para o salão. Tudo estava perfeito, os homens que
paguei fizeram uma arrumação rápida e de grande beleza com flores de cerejeira.

Quase morri para encontrar essa porra. Mas eu sabia que essa era a flor que ela mais gostava.
Raquel também havia me ajudado bastante, sem ela não saberia que flor escolher e muito menos
que ela não era chegada a rosas vermelhas e buques chamativos.
Raquel também tinha me contado o quanto ela estava frustrada, que passava a maioria do
tempo trancada no quarto sem ao menos sair para comer algo.

Tenho que compreender também que Raquel não está bem e que isso é um grande fator para
que parte de meu plano dê errado. Quero leva-la para algum lugar distante daqui, mas isso será
um segredo que eu só posso dizer quando ela aceitar e se aceitar ser minha namorada. Sei que
estou velho para pedir alguém em namoro desse jeito, mas foi o único plano que saiu de minha
mente e que serviria também como um pedido de perdão.

Sentei-me na cadeira onde um músico que arranjei estava antes, peguei sua guitarra e abaixei
minha cabeça tentando não me envergonhar e nem pagar vexame pelo excesso de nervosismo.

Respirei fundo e comecei a tocar, erguendo minha cabeça e fazendo um caminho com meus olhos
que dariam em Alicia, logo minha voz tomou conta do ambiente. Podia sentir a velocidade do meu
sangue percorrendo em minhas veias de tanto nervoso e um amor tão grande tomar conta de meu
coração que eu podia muito bem largar tudo isso e correr para ela.

Mas me mantive firme no palco, cantei sua musica favorita de um jeito diferente, apenas para
marca-la como nossa. Hoje é o inicio de uma nova vida para mim, deixarei tudo para trás. Inclusive
meu passado. Quero esquecer minhas dores para viver para ela. Fazê-la feliz é o que eu preciso
para viver.

Ao fim da música desço do palco e entrego a guitarra ao musico. Pronto para agarra-la e fazer
tudo que estou querendo há quase um mês. Eu vou acabar com essa mulher hoje! Quero que ela
sinta a mesma explosão de sentimentos que sinto nesse momento.

A decisão de meus passos fez com que ela parasse por um momento, mas logo voltou a andar
em minha direção, colei meu corpo ao dela, pedi desculpas e sem esperar por mais nada a beijei.

Passei minha língua por sua boca explorando cada cantinho, sugando sua língua e não me
importando com a plateia em volta, que alvoroçada já batia palmas.

Podia ouvir de todos os lados mulheres suspirando e por outros alguns homens dizendo a quão
maravilhosa sorte eu tive.

Confesso que eles estão certos. Estou com a mulher mais linda da cidade em meus braços e tudo
que consigo pensar é em quanto eu quero comê-la.

Antes que meu pau me fizesse passar um vexame, respiro fundo e colo nossas testas.

- Eu só queria dizer que te amo! _ ajoelho a sua frente e nesse momento todos em nossa volta
parecem ainda mais animados.

Seu olhar tinha um brilho diferente para mim, lágrimas escorriam em seu rosto sem parar e
quase escorriam do meu também. Eu estava emocionado demais.
Um sorriso bobo começou a surgir em seus lábios quando deixei minha expressão de nervosismo
transparecer.

Respirei fundo e voltei ao foco.

Abaixei minha cabeça e olhei para meu bolso tentando lembrar-me onde tinha posto nosso
símbolo de compromisso e então coloquei minha mão no bolso esquerdo e peguei a correntinha.

- Alicia, eu não sei bem como me expressar nesse momento e se eu fizer algo errado, peço que me
perdoe, é minha primeira vez. Eu queria fazer algo que não fosse tão clichê, mas acho que não
deu certo. _ sorri e todos em minha volta também, uma expressão compenetrada tomou conta de
seu semblante e isso me deixou ainda mais tenso, será que ela não gostou? – Eu queria saber, se
você aceitaria ser minha namorada?!

Comprimo meus lábios entre meus dentes e espero por sua resposta.

- Está esperando o que para colocar em mim essa correntinha e depois me dar um beijo?

Sua resposta me fez sorrir e a ela também. Eu não podia estar mais feliz.

Levanto-me e pego a correntinha, seu pingente era de chave.

Só ela tem a chave do meu coração, só ela é capaz de mudar quem eu sou e fui. Só ela é
capaz de fazer-me ser alguém melhor. Por ela eu sou capaz de mudar o mundo, de matar pessoas,
de passar por cima de meus princípios.

- Esse colar significa o quanto eu te amo e que somente você terá a chave para mim, para meu
coração, para os meus sentimentos, meus segredos. Tudo será somente você Alicia Dalgliesh.

As lágrimas voltaram a cair livremente sobre seu rosto e então deixei a corrente que ela deveria
por em mim em sua mão e aproximei-me dela, afastando seu cabelo e coloquei-a em seu pescoço,
deixando um beijo ali.

Sua pele eriçada denunciou o quanto ela sente a minha presença e então era a vez dela.

Com um sorriso no rosto, ela se colocou na ponta dos pés e colou seus seios ao meu corpo.
Deixando-me novamente duro e tenho certeza que ela sentiu, pois um sorriso safado surgiu em seus
lábios, antes de fechar a correntinha em volta de meu pescoço ela fez um caminho de beijos por
ele, fazendo com que minhas mãos fossem diretamente para sua cintura apertando-a com força.

- Esse colar é somente um pedaço de prata em volta do meu pescoço, Rafael. Nada que nos
fossem dados traria a mesma importância que você tem para mim, mas posso afirmar que somente
você teve a minha chave, soube desvendar meus segredos e admiti-los sem me julgar. Não importa
o que aconteça, meu amor. Eu serei somente sua. Eu escolherei somente você.
Dessa vez fui incapaz de segurar minhas lágrimas, deixei que algumas escorressem e quando
nos abraçamos duas vozes tomaram o palco. Uma do musico e outra do meu irmão.

Olhei em torno do restaurante e percebi que a grande maioria das pessoas estava de pé, nos
aplaudindo e algumas chorando junto de nós.

Aos poucos comecei a traçar passos calmos junto dela, sem trocar palavras, apenas desfrutando
do momento maravilhoso que vivíamos naquele momento.

Depois de alguns minutos resolvi cortar o silêncio.

- Eu tenho uma proposta. _ usei meu tom mais baixo que o normal, apenas para que ela ouvisse o
que eu estava dizendo. Alguns casais já estavam com a gente no meio do restaurante desfrutando
da musica calma.

- Diz. _ ela sorriu ao se afastar para olhar em meus olhos.

- Que tal viajar comigo? Eu sei que namoro não tem lua de mel, mas digamos que o nosso seja um
pouco diferente. _ mordo meus lábios e então um sorriso lindo surge em seus lábios.

- Eu quero muito fazer uma lua de namoro, mas eu tenho a Raquel, prometi a mim mesma não
deixa-la nesse momento. Ela está passando por coisas muito difíceis, Rafael. _ suas mãos delicadas
correm para meu rosto, alisando-o. Respiro fundo ao sentir seu toque gostoso.

- Eu sei que ela está gravida, sei também que está passando por momentos difíceis, mas é apenas
uma semana. Não me negue isso. _ aperto-a de contra mim, para que sinta o quanto estou duro
por ela. Uma gemida escapa de sua garganta fazendo com que um sorriso torto escape de meus
olhos.

- Eu não farei isso mesmo querendo muito. _Ela roça seus seios contra mim. Filha de uma mãe
provocadora!

Sem perceber Raquel se coloca ao nosso lado e com um olhar me pede permissão para falar
com Alicia, abro espaço e aos poucos a vejo sumir em meio aos clientes. Vou em direção a mesa e
sento-me ao lado de Débora que parecia entediada ao girar um canudo dentro de uma taça de
vinho.

Nada convencional!

- Onde está seu namorado? Eu pensei que seria hoje o dia de conhecer o filho de uma puta que te
comeu. _ uso um tom irônico e enraivado. Não estou com ciúmes, mas a atitude desse cara me
deixa com um pé atrás. Alias, um não, os dois.

- Ele teve um compromisso e não pode vir. _ ela desvia o olhar do meu e continua a girar o
canudinho irritantemente.

- Olha só, Deca! Eu já te disse que esse homem não presta! Se afasta dele antes que seja tarde
demais. _ tomo o canudinho de sua mão e o jogo fora.

- Ei. Não fala assim dele. Você não o conhece! E o que te deu para jogar meu canudinho fora? _
ela parecia irritada, mas sua feição estava mais para triste.

- O que me deu? Um cara bom o suficiente para você, lhe deixaria feliz! E não girando a porra de
um canudinho dentro de uma TAÇA! Eu sou seu amigo, Débora. Por favor, me ouça. _ coloco minha
mão sobre a dela e a outra, passo por meus cabelos.

- Não me diga o que fazer! Você não está feliz? Então vá para sua mulher e deixe minha vida em
paz! _ um sorriso falso surge em seus lábios e ela puxa a mão se levantando e saindo de perto de
mim.

Respiro fundo e chuto por debaixo da mesa.

Eu espero que eu realmente esteja errado!

- Está tudo bem? _ Alicia se aproxima sentando-se ao meu lado e então eu respiro fundo e
balanço minha cabeça.

- Está sim, mas a Débora não toma jeito! Eu não sei por que, eu sinto que esse homem não vale
nada. _ abaixo minha cabeça colocando a atenção em minhas mãos.

- Se ele não está aqui, é porque ela não é tão importante para ele, mas não quero falar disso
agora. Eu conversei com Raquel e ela disse que eu posso ir despreocupada nessa viagem. Bem,
pelo visto, ela sabe aonde você vai me levar, está mais eufórica que eu. _ ela coloca as mãos
sobre a minha e então olho para ela, sorrio cordialmente e então me levanto levando-a junto
comigo.

- Vamos nos despedir temos uma longa viagem pela frente. _ sorrio para ela e então, olho o
restaurante a procura do meu irmão e minha cunhada. Sei que onde eles estiverem a Raquel
também estará e não demorou muito.

[...]

Tenho uma semana para reconquistar Alicia, creio que não seja muito difícil. Mas terei problemas
para leva-la até onde pretendo. Duvido Alicia aceitar ir até o aeroporto. Mas onde vamos não
temos outro meio.

Quero que ela conheça novos lugares, assim como eu conheço muitos países.

Viajar faz bem para a alma.


Íamos chegar ainda de madrugada no nosso destino e por alegria minha passaríamos uma
grande noite juntos em um dos maiores pontos turísticos do mundo.

Pelo menos eu agradeço a Deus por ter conseguido umas férias no trabalho. Eu fiquei quatro
anos trabalhando sem parar. Eles não fazem mais que a obrigação deles.

As roupas de Alicia já estavam arrumadas e as minhas já estavam arrumadas há muito tempo.


Na verdade, eu estava tão ansioso que já tinha tudo pronto desde à primeira semana longe dela.

Aposto que Alicia pensou que eu tinha esquecido. Mas nem por se quer segundos, eu deixei de
pensar no tamanho da vontade de vê-la.

Da mesma maneira que eu precisava de um tempo para arrumar tudo perfeitamente, ela
precisa para me perdoar pela maneira que eu a tratei depois de termos passado dias tão bons
juntos.

- Você confia em mim, Alicia? _ coloquei minhas mãos sobre seus ombros e olhei firmemente em seus
olhos.

- Confio. _ ela sorriu, mas não tirou seus olhos dos meus da maneira que pensei que faria.

Excelente.

- Então terei que colocar isso em você. _tiro uma venda do bolso e a olho.

- Por quê? _ ela ergue uma sobrancelha, mas mesmo assim se aproxima para que eu coloque.

Foi mais fácil do que pensei.

- Porque aonde eu vou te levar é muito especial. Não quero que você adivinhe de primeira.

Minto, não é por isso. É porque eu sei muito bem que ela não aceitaria vir comigo de avião. Sei o
quanto ela foge daquele desgraçado de seu ex-marido.

Ainda mato esse homem!

- Desde que você não me coloque em risco, por mim, tudo bem.

Ela da de ombros e então respiro fundo.

- Seria incapaz disso. _ beijo sua testa e a encaminho para fora de sua casa.

[...]
- Chegamos. _ disse ao parar o carro em frente ao chalé mais bonito que encontrei.

Sorrio ao ver o quanto ela está ansiosa e meche nos dedos, mesmo depois de termos discutido
por sua repentina crise de raiva ao entrar no avião.

Eu nunca a colocaria em risco e ela deveria saber disso.

Sem deixa-la tirar a venda, sai do carro e passei por sua frente, indo até a sua porta e abrindo.

Peguei em sua mão e um sorriso surgiu em meus lábios quando olhei para os lados e para frente
e estava tudo escuro. Nada faria com que ela soubesse onde estávamos, a não ser o sol. Na
manhã seguinte.

- Posso tirar a venda? Não aguento mais esse treco apertando meu rosto. _ ela parecia
incomodada, mas não o suficiente para descumprir o que eu havia pedido antes de sairmos de
casa.

- Ainda não, querida. Espere que o melhor ainda estar por vim. Por enquanto não quero que tire
isso.

Ela sorri, mas logo fica séria novamente.

- Eu não vejo graça em estar assim, Rafael! Já estou cansada. Quero dormir.

Ela protestou mais uma vez e ainda assim não saiu do carro, cruzou seus braços e fez bico como
uma criança de cinco anos.

O que me fez jogar a cabeça para trás e gargalhar em alto e bom som.

- Não adianta fazer charme, meu amor. Vamos, saia desse carro. _ pego em sua mão e a puxo
para o lado de fora.

- Eu não estou vendo! Como vou andar? E se eu cair?

- Acha que eu te deixaria cair, Alicia? Mas se você se sente mais tranquila posso guia-la.

Puxo seu corpo contra o meu e sua bunda fica na altura perfeita para meu pau. Que tentação.

Começamos a caminhar em direção à porta, eu já estava com a chave, afinal, tive que vir aqui
para me certificar se o lugar realmente era bom. E era.

- Desse jeito seu pau vai furar meu vestido, ultrapassar minha calcinha e atingir em cheio
meu...minha bunda. _ ela balançou a cabeça como se repreendesse.

E mais uma vez eu gargalhei.


- Você que disse que estava com medo. Eu e meu amigo estamos de prontidão para te ajudar e
você ainda reclama. Deveria ser mais agradecida. _ aperto sua cintura com força.

- Eu vou agradecer, mas não de roupa.

- Ah... Alicia! Você não tem noção... do quanto você me provoca. _ mordo o lóbulo de sua orelha e
em resposta ela roça a bunda em meu pau.

Pego-a no colo de frente para mim e a beijo com vontade, encosto-a na porta e roço minha
ereção com toda força em sua intimidade. Não quero nada lento, não quero nada calmo.

Estou com saudades!

Nossas respirações já estavam irregulares, eu podia sentir a cabeça do meu pau húmida de
tanta vontade, meu corpo inteiro se arrepiava a cada toque que ela me dava, principalmente
quando passava a ponta das unhas com certa força em minhas costas.

Enfiei a chave de qualquer jeito na porta, quase caímos quando a porta se abriu, mas mantive o
equilíbrio ao coloca-la sentada na parte de cima do sofá.

Afastei-me dela por um segundo fechando a porta e então voltei, dando-lhe um tapa forte na
coxa e puxando-a ainda mais para mim, beijei-a com toda vontade, deixando minha língua
deslizar por sua boca, apertando seus seios e deslizando minha mão até quase sua intimidade.

- Tire logo essa coisa de mim. _ ela suplicou ao sentir minha mão desabotoar sua calça.

Subi minhas mãos lentamente por seu corpo, quase como um castigo; passei pelo meio de seus
seios provocando-a e então apertei seu pescoço em minha mão. Sem força, é claro.

- Eu faço o que eu quiser, hoje, eu mando! _ passei minha língua contornando seus lábios e em
resposta, recebi um gemido.

- Então está esperando o que para acabar comigo chefinho? _ ela brincou passando a língua
pelos lábios e se jogando para cima de mim como uma vagabunda excitada.

Porra de mulher!

Rasgo sua blusa com um movimento rápido, ouço um gemido alto sair de sua garganta e então
tomo seus seios em minha boca, distribuindo igualmente beijos quentes e húmidos entre os dois,
coloquei minhas mãos atrás de suas costas e fui até o feixe de seu sutiã soltando-o.

Quando olhei a minha frente aqueles dois seios redondos e do tamanho certo, meu pau ficou
duro de um jeito que achei impossível que um dia pudesse ficar.
Coloco seu seio direito em minha boca, e chupo-o, passando a minha língua diversas e
sincronizadas vezes em sua aureola.

Aperto o outro com força em minha mão, mas não me contento em ficar somente em um seio,
passo para o outro e faço o mesmo movimento, os dedos de Alicia estavam em meus cabelos e os
grunhidos vindos de sua garganta tornavam-se cada vez mais altos.

Puta que pariu, estou fodido com essa mulher.

Não saberei superar esse chá de boceta!

Desço meus lábios por sua barriga até chegar de frente a sua intimidade e então apenas com
um puxão sua calça estava em seus tornozelos, dessa vez eu que gemi, ao perceber que usava
apenas uma renda fina como calcinha.

- Você quer me matar, Alicia? _ deixo um tom carregado de desejo escapar quase como um
gemido de minha garganta e então volto a ataca-la. Beijando as laterais de seu corpo e o inicio
de suas coxas, até quase chegar a sua intimidade. Coloco meus dedos nas laterais de sua calcinha
e as puxo, arrebentando-as no mesmo instante, tiro o resto de pano de seu corpo e puxo sua calça
para baixo. Tirando-as de seus pés. Seguro em sua bunda subindo seu corpo e então passo suas
pernas por meu ombro, deixando-me de cara com sua bocetinha aberta e pronta para mim, podia
ver o brilho dela e o seu aroma. Tudo indicava o quanto ela estava excitada e latejante por mim.

O grito ecoou de sua garganta pelo medo da altura em que estava, mas logo isso desapareceu
quando minha língua atingiu sua intimidade. Comecei a andar com ela em minha cara e mesmo não
enxergando nada, sabia bem onde queria parar. Continuei caminhando até passar pela cozinha, a
tirei de meu ombro e a coloquei no chão, mesmo ouvindo protestos de que queria mais.

Coloquei-a minha frente e abri a porta novamente, a minha frente estava uma das mais belas
vistas que já tinha visto. Uma varanda com um tipo de tapete macio, com dois travesseiros ao chão.
A proteção da varanda era de vidro deixando a lua exposta, junto às montanhas a nossa frente.
O barulho ficou por conta de um riacho próximo e dos gemidos de Alicia ocupando o ambiente ao
sentir meu pau roçar por diversas vezes em sua bunda.

Subi minha mão por suas costas, afastando seu cabelo de seu pescoço e deixando meus lábios
trabalhar por ali, subi minha mão direita até seus seios e os apertei novamente, seu bico estava
durinho, deixando-me ainda com mais vontade.

Tornei a subir minha mão até parar em seus lábios onde ganhei uma chupada generosa em meu
polegar, fazendo com que eu ficasse ainda mais animado pelo momento.

Desse jeito eu ia acabar gozando, sem ao menos empurrar meu pau nela.

Subi novamente minha mão até sua venda, sem tirar meus lábios de seu pescoço e minha outra
mão de sua intimidade.
Sua respiração se alterou ao ver a beleza do lugar e tudo que ouvi foi um "meu Deus".

Que logo foi esquecido ao vê-la virar e me mandar deitar sobre o tapete atrás de mim.

Fiz imediatamente o que mandou e ali eu tive certeza que estava fodido.

Ela passou as pernas em volta de meu corpo, mas não se sentou, levou uma de suas mãos até
sua intimidade e depois a outra até seus seios e ali começou a se tocar, deixando-me louco.

Tentei me levantar, mas ela fez menção de parar e eu não podia perder aquilo, coloquei meu
pau para fora da calça jeans e comecei a me tocar junto dela. Ela rebolava com mais maestria e
seus gemidos se tornavam mais constantes à medida que sua excitação também aumentava, até
que em um movimento rápido e certeiro ela se sentou sobre meu pau, fazendo com que ele
entrasse todo de uma só vez. Seu interior húmido, sua pele macia.

Inferno!

E eu urrei, segurei na base de sua coxa e fiz com que ela rebolasse e sentasse mais vezes, joguei
minha cabeça para trás ao deixar a excitação corromper meu raciocínio, mas ela se afastou.
Olhei-a sem entender, mas ela mordeu os lábios e virou a bunda para mim, peguei-a de costas e
puxei com força, fazendo minha língua se aprofundar em sua intimidade molhada o bastante para
pensar que ela já tinha gozado.

Comecei a chupá-la, porém, meu raciocínio parou de funcionar quando minha calça foi
desabotoada de vez e suas mãos leves e macias, a abaixava sem se afastar de mim.

Seus lábios passaram a beijar minha coxa e parte de minha região pubiana, sua mão passou a
fazer uma massagem maravilhosa pela extensão do meu pau. Até sem conseguir respirar, senti sua
língua deslizar da base até a cabeça de meu pau.

Afastei-me de sua boceta e soltei o maior rugido da minha vida, sua boca engolia e sugava meu
pau rapidamente, não me dando tempo para recobrar a consciência e conseguir fazer algo com
ela também. instintivamente subi minha mão e dei-lhe um tapa forte em sua bunda, logo enfiei meu
dedo em sua intimidade e não deixei que ele parasse.

Comecei a ouvir gemidos afogados, já que sua boca estava em um ótimo lugar.

Puxei novamente sua bunda para mim e dessa vez a atingi por trás, enfiando minha língua por
completo, em resposta, suas mãos correram para as bandas de sua bunda, abrindo-as e me dando
mais espaço.

Fechei meus olhos e continuei ali, trazendo toda sensação de prazer que ela me dava de volta
para ela.
E então ao senti-la começar dar espasmos, Alicia se levantou e seu olhar tomado de desejo me
fez puxá-la para mim e dar-lhe o beijo mais quente de minha vida, senti meu gosto em sua boca,
mas ignorei. Passei minha língua por sua boca e no final de cada beijo dava-lhe uma mordida
puxando seus lábios para mim.

Com minhas mãos em sua bunda, fiz questão de levanta-la e encaixá-la perfeitamente em mim.

Fiz com que ela sentasse com força, ajudei-a a quicar encima de mim, minha boca estava em
seus seios e eu parecia ter usado algum tipo de droga. todos os barulhos sumiram de minha mente
e a única coisa que eu conseguia sentir e ouvir era a Alicia e sua pele se chocando contra minha.

- Ra-fa-el... _ seu gemido me fez segurar em seu cabelo e vira-la mudando nossas posições. Beijei
sua boca e comecei a meter forte de novo, suas pernas em volta de meu quadril, dando-me ainda
mais espaço.

Abaixei minha cabeça tomando conta de seu colo e pescoço enquanto suas unhas acabavam de
maneira deliciosa com minhas costas.

Quando percebi que não aguentaria por muito tempo, tirei-me de dentro dela e pedi para que
virasse de costas apenas com um sinal de minhas mãos.

Sua bunda redonda deixou-me em ponto de bala, mas mesmo assim, abaixei minha cabeça e a
enfiei entre aquelas bandas maravilhosas, subi minhas mãos até seus cabelos e puxei com força e
mais um gemido alto escapa de sua garganta, soltei seu cabelo e coloquei meu dedo em sua boca
ao me afastar de sua intimidade e deitar-me quase por completo encima dela.

Enfiei meu pau nela com toda força e joguei minha cabeça para trás.

- Assim fica tão apertada. _ comecei a gemer sem parar e ela não ficou para trás, deitei por cima
dela e apoiei meu braço ao seu lado para não deixar meu peso cair por completo encima dela.
Comecei a beijar suas costas, enquanto minha outra mão estava apoiada em seu pescoço
puxando-a mais para mim. A medida que meus movimentos aumentavam os gemidos dela se
tornavam mais fortes.

Aos poucos meu prazer ia se aproximando e nossa velocidade aumentando sem que houvesse
nenhum tipo de diminuição na velocidade.

- Eu vou gozar amor! _ sua boceta se apertava contra meu pau, deixando-me ainda mais
insaciável.

- Isso... Goza para mim. _ aumentei os movimentos sabendo onde tocar e então senti seu liquido
babar o meu pau inteiro, dando-me a vez de melá-la toda por dentro.
CAPÍTULO 20

ALICIA DALGLIESH

Eu tenho passado as melhores semanas da minha vida, aos poucos tudo se resolveu, inclusive
minha moradia.

Eu e Rafael tínhamos combinado de comprar uma casa, descobri que sua façanha de ser
segurança era apenas por gostar e não porque precisava do emprego. Tinha uma boa condição
de vida e não precisava morar naquele lugar apertadinho e sem muito conforto.

Então compramos uma casa em próximo de onde morávamos, até mais do que gostaria, mas não
posso abandonar meu restaurante e nem minha amiga que resolveu vender sua casa e comprar
uma ao lado da nossa.

Saudades daqueles momentos onde eu e Rafael ficamos sozinhos. Machu Picchu foi o lugar mais
lindo que conheci. É extremamente maravilhoso. Aquela semana ele me fez conhecer a felicidade e
esquecer-me de tudo que eu passei, já não vivo com medo e nem acho que devo.

Mas hoje ele terá a noite mais especial da vida de homem. Eu posso estar enganada, mas sinto
que algo cresce dentro de mim. Minha menstruação está atrasada há dois meses e o que me
surpreende é que diferente da Raquel eu ainda não tenho barriga. Está tudo lisinho como sempre
foi. Já ela com quase três meses tem uma bolinha bem durinha abaixo do umbigo.

Ricardo tem estado mais próximo também, a leva no médico e sem querer dizer nada, tem sido
como um pai para esse bebê sem ao menos ter nascido.

Nunca mais também tocamos no assunto do tal médico sem caráter. Não creio que ele mereça o
titulo de pai e muito menos que tenha algum tipo de espaço nas nossas vidas. Raquel pode ter
errado ao se deitar com ele, mas ele também errou em não se prevenir.

Se ele é um médico tão renomado como quis matar seu próprio filho? Eu sempre fui totalmente
contra o aborto! Não faz sentido uma pessoa matar um bebê tão lindo, uma alma tão pura, apenas
porque fodeu sem compromisso e não se preveniu. O neném não tem culpa!

Contamos para a sua família também, no primeiro impacto sua mãe não aceitou muito bem, mas
logo o pai de Raquel amenizou a situação e disse que independente de tudo ele era o neto, o
amado e que em qualquer circunstancia o amaria e assim estão fazendo.

Todos os dias ligam para ela, procurando saber como tem passado. Gosto de pessoas que se
preocupam com quem amam.

Rafael havia saído cedo, o trabalho tem exigido um pouco mais dele, passou muito tempo sem
trabalhar e como tinha férias para tirar não afetou em nada, além de sua carga horaria que
agora voltou com tudo me matando de tanta saudade.

Olho para nossa foto juntos e resolvo ir tomar meu banho, hoje como combinado não irei ao
restaurante. Ficarei em casa o esperando com uma bela surpresa. O nosso neném a caminho.

Eu espero que seja uma menina, seria ótimo que o filho de Raquel e minha filha namorassem.
Imagina que família unida e feliz teríamos?

Mas eu nunca irei interferir em nada. Nunca agiria de má fé com minha filha. O coração é dela.

- Que sorriso bobo é esse no rosto? _ Raquel me assusta ao chegar ao quarto.

- Estava pensando se nossos filhos namorassem. _ sorrio novamente e dessa vez ela coloca a mão
sobre o ventre.

- Ia ser maravilhoso. Mas e se for um menino que você carrega? _ ela pergunta erguendo uma de
suas sobrancelhas fazendo com que eu sorria.

- Olha... Ai fica por conta do coração deles. Não tenho nada a ver com isso. _ gargalho e vou até
meu armário, escolhendo um vestido florido e rodado, um pouco acima dos joelhos.

- Tem razão. Mas eu creio que meu filho nasça um garanhão safado, que vai comer geral e sumir
sem compromisso, assim como o pai. _ dessa vez um sorriso fraco saiu de seus lábios.

- Ele vai ser maravilhoso como a mãe que nem a minha menina irá puxar a mim. Já que eu a
carregarei por tantos meses.

- Sabe que isso não muda nada, não é? Vai nascer loirinha e de você terá somente os olhos.

- Cala a boca, Raquel! _ reviro os olhos antes de entrar no banheiro e fechar a porta.

Eu idealizo minha filha de um jeito, eu quero tanto que ela nasça logo. Eu sinto que é uma
menina, sinto também que estou grávida. É algo que eu pensei desde o momento que comecei a
enjoar, mas como eu e o Rafa não estávamos bem, eu não queria acreditar naquela noticia.

Mas hoje... Sei lá. Eu quero esse neném mais do que tudo. Tenho plena consciência que serei uma
ótima mãe e ele não ficará atrás como pai.

Há uns dias atrás ele me disse o quanto tinha vontade de se casar e que mesmo que não se
sentisse preparado o suficiente para me contar seus segredos ele me ama.

Isso me magoa um pouco, afinal, eu me abri por completa com ele. Contei todos os meus
segredos, mas mesmo assim ele se manteve calado. Algo o matou por dentro de algum jeito
irreparável. O suficiente para acabar com suas forças e manter esse segredo somente com ele
durante tantos anos.

O suficiente para não deixa-lo superar.

Outro dia nos estávamos deitados assistindo filme e tinha um casal com dois filhos homens, o pai
da família sofria transtornos com a bebida, mas a família se manteve unida e de pé.

Rafael chorou e não foi pouco. Levantou-se e foi sentar no lado de fora, sem se concentrar em
nada, apenas passou horas passando e repassando as mãos pelos sedosos e loiros cabelos.

Sei que isso mexe com ele.

Mesmo que ele não me diga seus motivos o pai dele foi alguém que ele não perdoa.

Assim como eu jamais perdoaria minha mãe.

Eu a odeio.

Acabo de tomar meu banho e me seco lentamente, coloco minha roupa e saio do banheiro, faço
um coque frouxo no cabelo observando Raquel conversar com seu neném. Nosso meninão ainda
não tem nome, mas garanto que será tão lindo quanto ele.

- Estou ansiosa para ver a marca de suas mãos e pezinhos em minha barriga. _ ela diz com um
sorriso bobo nos lábios mostrando-me o quanto se orgulha em ser mãe.

- Se eu fosse você não ficaria tão animada. Eu tenho certeza que dói. _ digo passando um batom
cor de boca em meus lábios.

- Com certeza dói. Mas nada comparado ao parto. Se é para sentir dor de amor, vamos sentir. _
ela sorri com carinho e então vou até ela e a abraço.

- Eu te amo muito minha amiga. Eu não poderia ter alguém melhor ao meu lado.

Digo sentindo as emoções da gravidez invadindo meu coração e meus olhos também.

Deixo algumas lágrimas caírem, mas logo me recomponho.

- Rafael não está desconfiado? _ ela limpa algumas lágrimas que escorram e sorri.

- Eu acho que não, ele tem passado muito tempo fora, só nos vemos a noite, então ele não percebe,
a única coisa que tem reclamado é que está na seca.

Ela sorri e faz cara de quem não entendeu muito bem.

- Eu tenho dormido demais. Quando eu chego do restaurante tomo um banho e caio na cama.
Quero nem saber de nada, muito menos de sexo. _ faço cara de cansada e ela balança a cabeça.

- Fala sério. Eu quase caio na tentação de dar para o Ricardo de tanta vontade que eu sinto e
você ai, com um homem do lado e cheia de frescura.

Vejo-a respirar fundo e fico a fitando por sua declaração. Me pergunto sempre o que existe entre
ela e o Ricardo. Tentei acreditar que não existia nada, mas eu não consigo ver isso agora. Parecem
um casal apaixonado.

- Você já ficou com ele, Raquel? _ seus olhos se desviam dos meus.

- Não. _ ela diz sem muita vida. Sei que está mentindo.

- Por que não quer me contar a verdade? _ mordo meus lábios inferiores por nervosismo.

- Porque não tem verdade e eu não consigo mentir para você. Ficamos sim, mas faz pouco tempo.
Ele me segurou enquanto estávamos sozinhos, beijou meu pescoço, segurou em minha bunda e
quando eu percebi já estávamos transando. _ seu nervosismo é claro.

- Você está fazendo com ele exatamente o que outra mulher fez com seu marido. Fora que você
sabe muito bem quem é a mulher dele e se ela cismar de te fazer algum mal? Como eu e sua
família iremos ficar?

- Isso era para ser um segredo, Alicia. Mas eu vou contar. _ ela diz respirando fundo.

- Diz Raquel. _ falo sem muito animo. Posso ser amiga dela, mas não estou aqui para acobertar
seus erros, ela está errada, está sendo amante de um relacionamento sério e de muitos anos. Não
importa o quanto ela seja mais velha do que ele e se pelo sim ou não, ele não goste mais dela. O
que importa que ele ainda é casado.

- Eles estão se separando. Vieram para cá para passar seus últimos três meses juntos. Depois ele
irá continuar aqui, mas ela não. Irá morar com o irmão.

Ela respira fundo e se levanta.

- Eu sei que estou errada, mas eu nunca senti algo assim por alguém. Eu não tive nenhuma culpa,
apenas aconteceu! Não quisemos forçar nada.

- Não se esqueça que ele traiu a mulher dele com você. Poderá muito bem fazer o mesmo
novamente.

Digo e então pego minha bolsa.

Preciso fazer meu exame e armar a surpresa toda para meu namorido.
- Vamos. _ pelo silencio que manteve aposto que está pensando no que eu havia dito.

Ela coloca a mão sobre minha barriga e sorri.

- Será uma menina linda. _ sorrimos e fomos para fora de minha casa.

Onde estamos morando é um bairro tranquilo, assim como a maioria dos lugares aqui do Vale
Europeu, mas mesmo assim, escolhemos um lugar que tivessem muros altos. Não quero correr o risco
de alguém está próximo o suficiente de minha casa para deixar-me com medo.

[...]

Raquel não pode entrar no consultório comigo. Tive que fazer o exame sozinha e a sensação de
borboletas no estômago me deixa aflita. Sem conseguir conter a ansiedade pedi um exame de
sangue mais elaborado onde também diria o sexo do bebê. Critiquei tanto a Raquel por esse
exame e no final fiz a mesma coisa.

Voltei para o lado de fora e fiquei a espera do resultado, longas três horas. Enquanto isso
continuei uma conversa agradável com Raquel, ignorando totalmente o que havia ocorrido mais
cedo.

Meu aviso foi dato, basta ela atender e ver se isso é o melhor para a vida dela.

- Você não tem medo? _ ela me pergunta quebrando o silencio que havia se instalado durante
alguns minutos.

- Tenho. _ eu sabia do que ela estava falando. E eu não podia negar que mesmo esquecendo,
mesmo superando, eu ainda tinha a sensação de fracasso. A sensação de que eu poderia tentar,
mas nunca seria feliz ao lado de ninguém, ele sempre estaria lá para deixar-me sem chão. Já não
basta os homens dele que tive que matar. Eu não quero que isso torne a acontecer nunca.

Que ele tenha me esquecido e que nunca mais se lembre de mim. Por esse motivo também resolvi
fazer o exame em uma clinica particular. Eu não quero que ele tenha informações de mim de
maneira alguma.

- Eu também temo por você. Se esse homem voltar o que você fará? Agora tem um filho em seu
ventre. _ ela diz e a vejo se arrepiar de medo.

- Eu, sinceramente, não sei. Mas eu não quero pensar nisso. A única coisa que eu tenho certeza é
de que não suportaria que ele fizesse algum mal ao Rafael. Eu morro por ele, mas não vivo sem
ele.

- Entendo. Ele não vai fazer. Temos confiança em Deus. _ ela sorri e então mais minutos passamos
em silêncio até que eu me lembro de Deca.
Nós estávamos bem uma com a outra, passamos a frequentar as nossas casas, mas algo ainda me
cheirava mal sobre esse tal namorado misterioso a quem ela amava.

- Eu não consigo entender esse namorado da Débora. _ digo olhando para Raquel e retirando
minha atenção do relógio que demorava a mexer seus ponteiros.

- Eu também não. No dia em que Rafael te pediu em namoro, ele disse que estaria lá e no entanto
não apareceu. Do mesmo jeito que em todas as nossas outras reuniões. Eu acho que tem algo muito
errado com ele. Já pensei em pedir para o Ricardo investigar sobre ele, mas ao mesmo tempo
pensei que talvez a Deca se chateasse com essa situação. Cada dia as coisas estão mais estranhas.

- Eu não entendo esse homem, já vimos o carro dele várias vezes na casa dela. Mas toda vez que
ela pede para ele nos cumprimentar ele acelera e some com o carro. Parece fugir.

Uma sensação ruim me consome.

- Eu espero que ela não tenha se envolvido com um fora da lei.

Concluo.

- Eu também espero que não, mas não duvido, sinceramente. Ele não é alguém confiável e disso
podemos ter certeza.

- Alicia? _ o médico de meia idade com um sorriso no rosto me chama.

Olho para Raquel com um sorriso e ela se levanta junto comigo.

- Eu posso ir também não é? _ ela pergunta e ele assente.

- Tenho uma notícia para você. _ ele me diz e então fico receosa por sua cara de poucos amigos.

- Diz doutor, estou ansiosa.

Andamos por alguns metros até chegar ao seu consultório e então nos sentamos e logo eu vi um
sorriso largo surgir em seus lábios.

- Você não está somente gravida de um, e sim de dois. Dois meninões.

Fico extasiada pela noticia, ainda não consigo acreditar. Raquel ao meu lado parecia um pouco
fora de orbita também.

- Está brincando, não é? _ arregalo meus olhos e coloco minha mão sobre a barriga instintivamente.

- Não! Os exames estão bem claros. Será mãe de dois meninos. Está com oito semanas.
Dois meses...

- Doutor? É normal eu não ter barriga? _ pergunto sem entender o motivo de Raquel ter e eu não.

O dela é somente um.

- Cada um tem uma anatomia, Alicia. Ela vai ficar barriguda mais rápido que você. Mas não por
muito tempo. Daqui a um mês sua barriga já começa a aparecer. _ ele diz anotando alguma coisa
e me entrega.

- Tome esses suplementos, se alimenta direito e se cuide. Gêmeos costumam sugar a vida da mãe. _
ele sorri novamente e então eu me preocupo.

Eu não posso deixar nada acontecer com meus filhos.

Raquel coloca a mão sobre a minha percebendo que eu fiquei abalada e então me levanto
rapidamente recobrando minha confiança.

- Muito obrigada, doutor. Voltarei aqui para o inicio do pré-natal.

Estendo minha mão para ele e então me despeço. Raquel faz o mesmo e quando saímos do
consultório sua alegria era contagiante.

- Olhe, nossos filhos não vão namorar, mas garanto que serão bons amigos. _ ela me abraça e põe
a mão sobre minha barriga.

- Tenho absoluta certeza disso. _sorrio sem muita vida.

- Está com medo não está? _ Raquel pergunta e eu afirmo que sim com a cabeça.

- Por que você não passa a andar armada que nem fazia antigamente? Pega uma pistola do
Rafael. _ ela dá de ombros como se fosse a coisa mais comum do mundo.

Mas talvez ela tenha razão. Agora meus filhos são mais importantes do que meu medo. Não
importa o que aconteça os defenderei com unhas e dentes.

- Vou pegar uma assim que chegar a minha casa casa, mas agora vamos embora.

Vou até meu carro e o ligo, Raquel entra e então pensativa começo a andar, olho pelo retrovisor
e vejo um carro preto quase encostando, mas não me importo, se está com pressa ultrapasse.

Mas ele não faz isso.

- Olhe esse carro atrás de nós? Já está há alguns minutos quase encostando.
Falo com um tom de preocupação mais expressivo do que gostaria.

- Parece com o carro do namorado de Débora.

E então mais uma sensação ruim me toma.

- Nós nem sabemos o nome dele, carro preto, rico! _ me desespero e acabo pisando com vontade
no acelerador.

- Você está pensando que é o seu ex? _ ela arregala os olhos enquanto rapidamente coloco o
cinto.

- Não quero nem imaginar que seja.

Olho para trás e não vejo mais ninguém, tiro um pouco o pé do acelerador evitando um futuro
acidente.

- Acho que estou ficando louca. _ balanço minha cabeça e respiro fundo, vou até sua casa e a
deixo no portão.

- Se cuida, Alicia. _ ela diz antes de sair do carro e me mandar um beijo.

Respiro fundo e volto a dirigir, penso nos meus dois bebês e sorrio. Posso pedir opinião ao
Rafael, mas eu já sei qual será os nomes.

Quando olhá-los quero que o mais parecido com Rafael se chame Maximiliano e em homenagem
ao meu pai quero que o outro se chame Henry.

Mas não como chamavam ele "Enry" mas sim a versão americanizada "Renry"

Chego rapidamente a minha casa e tudo estava em perfeita ordem, como combinei com Raquel,
coloquei o carro em minha garagem e rapidamente subi para os armários, a procura da pistola do
Rafael, antes passei na cozinha e peguei um copo de agua.

Meu coração estava extremamente acelerado, parecia que eu tinha corrido uma maratona ou
que algo muito ruim ia acontecer, mas me mantive firme a procura de sua arma. Eu sei que ele
deixa uma bem guardada aqui, mas por que não estou achando? Levanto sua ultima peça de
roupa na esperança de encontra-la, mas nada.

- É isso que está procurando, querida Ali? _ deixo o copo de agua cair no chão e minhas pernas
amolecem por alguns segundos, respiro fundo e viro-me de frente para o desgraçado, vendo a
pistola em sua mão

- É isso que está procurando, querida Ali? _ deixo o copo de agua cair no chão e minhas pernas
amolecem por alguns segundos, respiro fundo e viro-me de frente para o desgraçado, vendo a
pistola em sua mão.

- O que faz aqui? _ prendo meus punhos e evito chorar, meus bebês.

- Ué, amor? É assim que me trata depois de tanto tempo? Estava com saudades seria uma boa
resposta. _ ele se aproxima e então eu ando para trás até bater meu corpo no armário.

- Está com medo? _ ele alisa meu rosto com a arma e eu fecho os olhos tentando não me
desesperar. Eu não tenho nada para me defender. Estou morta!

Tento me afastar, mas é inútil. Ele me segura pelo cabelo com força, fazendo com que nossos
olhos se encontrem.

- Sua vadia! Como eu te cassei! Não acredito que você deu para um segurança de merda! Isso vai
te trazer tantas consequências e a primeira vai ser matar essas duas crianças que estão em seu
ventre. Farei questão de manda-las para a sua fodinha. Ele já está morto.

O tom frio com que ele dizia as palavras arrepiava por completo meu corpo, mas me mantive
firme, sem chorar.

Meus filhos, meu Rafael. Meus amores.

- Era você com a Débora. Está me seguindo há meses. _ cuspi as palavras com raiva e sua mão
rodeou meu pescoço deixando-me sem ar.

- Comi aquela vagabunda de qualquer jeito, pensando em você, na sua pele macia. _ ele desce
sua mão pelo meu braço e então me afasto.

- Pode se afastar! Lembra do quarto? Está mais equipado.

Ele diz me pegando pelo cabelo e me empurrando contra a cama.

- Você devia levar uma pirocada agora, mas não quero me sujar desse maldito e também teremos
o resto da nossa vida não é, minha querida? Para que pressa não é verdade? Mas agora eu
preciso te mostrar uma coisa.

Ele desbloqueia o celular e me mostra o Rafael parado no banco, com os olhos focados em seu
trabalho e sem perceber o que estava acontecendo.

- Se você ousar em fazer algo quando estivermos na rua, ele morre! Está me entendendo? Eu não
vou dar chances para esse babaca! Apesar de querer uma morte mais lenta para ele.
CAPÍTULO 21

RAFAEL MELLO

Saí apressadamente do serviço por conta da saudade que estava da minha "namorida". Bem, eu
não sei se é assim que se chama duas pessoas que moram juntas sem se casar, mas creio que
"esposa" não é o nome a ser usado.

Decidi isso com todo amor que eu sentia em meu peito e acho que quando percebi que o tinha
me mantive incrivelmente irredutível contra isso. Eu a amo, eu vou lutar por ela e mesmo que algo
aconteça para nos separar sei que nos manteremos firmes um ao lado do outro e é com isso que
eu sonho!

Um relacionamento não vive somente de bons momentos, mas são nos maus que descobrimos
exatamente se é amor ou não.

Nunca deixaria a Alicia em momento nenhum, somente se ela, por vontade própria, quisesse.

Algo em meu coração me despertou quando lembrei que na noite passada acordei com ela
vomitando. Talvez eu esteja idealizando algo que não exista, mas se não fosse o que eu penso; por
que hoje pela manhã ela não me contou que passou mal?

Seria uma atitude sensata já que estamos morando juntos.

Passo pelos lugares próximos a minha casa nova com um sorriso no rosto. Fico muito feliz em
estar quase em casa e poder olhar e beijar minha mulher como em todos os dias estressantes
daquele banco.

Aproximo-me do portão, mas algo gela meu coração. O portão está escancarado e o carro na
garagem, completamente aberto, como se tivesse sido revistado.

Pensar no ex dela é impossível, eu não duvido que aquele homem ainda a persiga e mesmo
tentando não me culpar, não consigo. Se algo a aconteceu, a culpa foi minha por ter a feito se
expor tanto.

Meu coração estava na boca, minhas mãos não tinham mais tanta firmeza e muito menos meus
olhos deixavam de se encher de lágrima, mesmo sem saber o que estava acontecendo meu
coração se apertava cada vez mais. Respiro fundo ao olhar para a porta e perceber que está
escancarada também. Tiro minha arma da cintura, respiro fundo tentando conter minha emoção e
então entro, olhando para todos os lados e principalmente para o chão, vejo a bolsa de Alicia
jogada de qualquer maneira encima do sofá, coisa que sei que ela não faz. É organizada.

Aproximo-me dela e sem tirar a atenção das portas verifico o que tem dentro, olho para o
interior da bolsa e percebo que tem um papel, um exame para ser mais exato.

Meu coração parecia não se aguentar dentro do peito e um embrulho no estômago, deixava-me
atônito as várias sensações de medo que passavam pelo meu sistema nervoso.

E então rapidamente e somente com uma mão abri o plástico transparente, em minhas mãos
estava um "beta" um exame positivo de gravidez, dois meninos... Gêmeos. Meus gêmeos.

Sem conseguir conter as lágrimas deixo um soluço me escapar, mas rapidamente dou um jeito de
me recompor e respiro fundo. Se aconteceu algo a minha mulher, ou aos meus filhos, eu juro, por
essa luza que me ilumina que irei caçar e matar o culpado sem pena e nem piedade.

Deixo o exame de lado e logo me coloco a em direção à cozinha, verificando que aquele
cômodo não havia ninguém.

Cada passo que eu dava parecia que uma faca se fincava ao meu coração, fecho os olhos e
respiro fundo por um minuto, antes que eu continuasse meu percurso.

Se eu fechar os olhos eu posso ouvir a voz e ver o sorriso dela, eu não posso me imaginar sem
Alicia e nem quero.

Volto a subir as escadas e paraliso ao ver o quarto vazio, suas roupas não estão nos cabides e
nem há sinal dela por aqui, olho debaixo da cama, no banheiro e no outro quarto e não encontro
nada.

Volto para meu quarto e tento encontrar algum sinal, mas percebo que somente uma gaveta está
aberta e essa é a onde ficava minha arma extra, olho dentro dela e não a acho, procuro em
outras gavetas e percebo que ali ela não está mais.

Passo as mãos pelos cabelos tentando conter o nervosismo, mas a ideia de que ela foi
sequestrada não sai de minha cabeça.

Eu devia ter posto câmeras e seguranças nessa casa! Como eu pude ter sido tão burro?

A raiva de mim mesmo me faz sentar na cama e tentar pensar em alguma maneira de acha-la.
Não posso denunciar a policia, seria uma completa burrice, já que não tenho como provar que o ex
dela é o culpado e muito menos explicar do motivo de permanecer com uma fugitiva.

Droga!

Olho em direção ao criado mudo e vejo o notebook aberto, Alicia não tinha o costume de mexer
nas minhas coisas, o que me deixa receoso de olhar aquele aparelho e me deparar com algo que
não gostaria.

Aproximo-me e o coloco encima de meu colo, de alguma maneira a tela se acende sozinha e um
homem de aparência rica aparece, muito bem vestido, cabelos loiros e perfeitamente alinhados
aparece.

E então não tenho mais duvidas.

Ele levou minha mulher!

Aperto minhas mãos e respiro fundo sem conseguir tirar os olhos da imagem a minha frente e
então sua voz toma lugar no ambiente.

- Oi, acho que não fomos apresentados ainda, sou André, senador do Rio de Janeiro. Queria
agradecer por encontrar a minha mulher por mim! Fico ligeiramente agradecido pelo gesto de
caridade, mas creio que não posso deixar de devolver a gentileza. _ ele olha para trás do vídeo
com ódio, como se pudesse facilmente fuzilar quem estava ali e então ele a chama. _ Alicia
querida, venha cá. Vamos falar com seu peso morto. _ o jeito que ele diz transparece com uma
ameaça, mas mantenho-me atento a cada parte do vídeo. Logo minha mulher aparece e
novamente minha vista se embaça. _ conta para ele quem é seu dono, meu amor. _ ele induz ela a
dizer e seu semblante apavorado, responde-me o suficiente para entender que esse cara está
morto. _ você é meu dono!_ ela diz após ser coagida de alguma forma, eu não consigo ver como
já que o vídeo só aparece da cintura para cima.

Ela está gravida...

São meus filhos...

- Isso cachorrinha, isso ai. Mostra pra ele. Podíamos mostrar como eu te como também não é? Que
ótima ideia. _o rosto dele é a face do demônio, o deboche, os gestos sujos.

Minha respiração começa a se descompensar de novo e então levanto-me enfurecido. Enquanto


estou perdendo meu tempo, eu poderia esta a procurando. Eles não devem estar longe.

Pego meu celular no bolso e procuro o nome de Raquel, mas antes que eu pudesse encontrar um
numero desconhecido me liga.

Atendo rapidamente sem pensar nas consequências ou em respostas que eu poderia dar.

- Alô. _ digo tentando conter a vontade de chorar e o medo de perder quem eu mais amo
novamente

- Ora, ora. Se não é o mais novo defunto do Sul. _ o sotaque carioca denunciava de onde ele
vinha.

- Onde está a Alicia? _ pergunto sentindo a raiva correr por minhas veias.

- Não conheço essa! Eu conheço a cadela que me abandonou, a vagabunda que matou meu melhor
segurança, a desgraçada que me deixou sem sexo durante 4 anos, a piranha que teve a coragem
de se envolver com um merdinha como você. Essa sim, eu conheço.

A raiva que ele demonstrava na voz fazia com que um calafrio percorresse minha espinha.

Mais do que nunca, agora eu entendo o medo que ela tem dele.

-Eu vou te encontrar e te matar da forma mais dolorosa que você consiga imaginar! Você não sabe
com quem está se metendo! Você não sabe do que eu sou capaz! _ cuspo as palavras com ódio.

- Realmente você vai me encontrar. Mas não agora. _ a ligação é desligada e sem esperar por
mais desço as escadas correndo. Eu preciso de ajuda.

Vou até minha moto e subo nela sem me importar com a velocidade, cruzo as ruas em alta
velocidade até encontrar a casa de Raquel.

Esmurro seu portão com força até que ela surge ao lado do meu irmão, me pergunto seriamente o
que ele faz ali, sozinho, mas resolvo deixar para outro momento.

- O que houve? _ ela coloca a mão no coração assustada. – Não me diz que... _ sua feição ficou
pálida ao perceber meu olhar sem vida.

- Ele a levou... Ele a levou... _ aproximo-me dela e deixo que minha cabeça caísse sobre seu
ombro.

- Eu sabia... Eu sabia que algo estava errado. Eu não era para ter deixado ela sozinha! _ o choro
constante já fazia parte do ambiente.

- Vamos mata-lo irmão. Não se preocupe. _ Ricardo coloca a mão sobre meu ombro e sinto gosto
de sangue na boca no mesmo instante.

- Nós vamos acabar com a vida dele! Eu não quero saber se sairei morto ou não, mas quero minha
mulher e meus filhos a salvo.

- filhos? _ Ricardo franze a testa para mim.

- Alicia está gravida de gêmeos. _ Raquel diz. – fomos fazer o exame hoje mais cedo, ela estava
alegre e louca para fazer uma surpresa pra você. Ela escondeu isso durante meses, apenas para
que fosse uma surpresa certa sem decepções mais tarde e vocês também não estavam tão bem.

As lágrimas eram constantes e uma tristeza aparente em seus olhos, podia ver que a fraqueza
do momento poderia afetá-la em seu estado então me aproximei.

- Raquel, é melhor se sentar. Eu vou fazer de tudo para encontrar a Alicia, não se preocupe! Sei
que é uma corrida contra o tempo, mas eu não vou perder a mulher da minha vida!_ digo tudo isso
olhando em seus olhos e então lanço um olhar para meu irmão.

Quero que ele fique com ela, se eu não conseguir somente com a Débora, pelo menos eu tentei
não deixa-la sozinha, não sei se esse homem pode querer se vingar de quem ficou com a Alicia.

Pego meu celular no bolso e vou caminhando rapidamente até minha moto, até que sinto uma
presença ao meu lado e me viro.

- Rafael, eu tenho que ir com você. Sou mais treinado! _ ele coloca a mão no meu ombro, fazendo-
me parar e pensar.

- Eu não sei se ele vai voltar! Preciso que fique com a Raquel, nós não podemos perder as duas! _
tentar conter a emoção estava difícil demais. – E você ainda tem a minha cunhada.

- Não tenho mais! _ ele me lança um olhar frio e sem muita esperança.

- Ela foi embora? _ pergunto sem entender. Eu não sabia de nada, se bem que quando meu irmão
decidiu se afastar de mim, eu também não o procurei.

- Sim, mas isso não importa agora! Nós vamos encontrar sua mulher.

- Sim, muito obrigada, quando tudo isso acontecer, eu prometo mudar!

Digo sentindo meu peito queimar. Se eu perder a Alicia, tudo vai ser em vão. Eu não posso
deixar que ela pense que não me entreguei totalmente, eu fui mais dela do que de qualquer outra
mulher!

Droga!

- Você tem muito, o que explicar Rafael, mas não será eu que vou te cobrar isso. Procure a Débora
e me mantenha atualizado. _ ele se aproxima e me da um abraço apertado e um beijo rosto. Coisa
que ele nunca fez.

Talvez esse fosse o momento de sermos mais próximos.

Respiro fundo e subo encima da moto, lhe dou um olhar companheiro e logo coloco o capacete.

Por que eu não me abri?

Por que eu fui tão frio?

Porra!

Deixo que mais algumas lágrimas escorram e quando chego à frente do portão de Débora;
desço da moto sentindo meu peito se apertar, confiro o celular e não há nada, nem se quer uma
mensagem e então volto a olhar para meu caminho, aproximo-me do portão e tiro a chave de meu
bolso. Dando-me acesso ao interior de sua casa.

- Débora. _ chamo por seu nome.

Espero que ela esteja em casa, por favor, não esteja com aquele babaca!

Alguns segundos se passaram até que eu pude ver seu rosto pela janela, ela sorriu para mim,
mas quando viu minha expressão, seu rosto escureceu, como se sentisse o que eu sinto exatamente.

Vejo-a se afastar da janela e antes que eu alcançasse a porta ela a abre e me olha.

- Meu Deus, o que houve? _ ela se aproxima e passa as mãos pelo meu rosto.

- Levaram a Alicia. _ digo tentando não deixar as lágrimas escorrerem novamente, mas um abraço
é inevitável. Respiro fundo algumas vezes.

- Me ajuda, por favor! Eu preciso dela... Dos meus filhos... _ ela solta o abraço e se afasta de mim
sem entender muito bem.

- Filhos? _ ela franze o cenho sem entender.

- Alicia estava gravida de dois meninos. Eu só soube hoje, mas era tarde demais..._ e o choro se
torna inevitável. Minha voz falha no final da frase, eu nunca pensei que passaria por isso.

- Eu não posso acreditar! Quem foi o filho da puta? Diz para mim que não foi o...

- Sim, foi ele. Mas eu te prometo uma coisa, Déca. Eu vou matar esse homem. Eu quero a cabeça
dele numa bandeja de prata carregada por mim mesmo! _ as palavras saem exatamente como eu
me sinto por dentro. Eu quero esse homem morto!

- E você vai ter. _ ela me diz antes de pegar o celular que vibrava algumas vezes no bolso,
percebo que ao abrir a mensagem seu rosto se empalidece.

Ela cambaleia alguns passos, até que eu a segure em meu colo. Sua face já estava molhada,
quase que instantaneamente e seus lábios brancos como papel.

Sem me dizer nada ela estende o celular para mim.

E na mensagem está.

"amor"

"sei que nessa hora está com seu amiguinho. Muito obrigada por me fornecer tudo sobre a vida
deles, obrigada por me dar um sexo meia boca, queria te dizer que a carne preta, pode ser feia,
mas é saborosa. Obrigada por me dar essa boceta enquanto eu comia você pensando em como a
Alicia era melhor que você, mesmo quando se negava para mim. Você é uma piranha, espero que
não tenha acreditado que eu gostava de você e que muito menos seria esposo, boa morte para
você e seu amiguinho merda."

Meu coração gelou na hora que li a mensagem e mesmo com a Débora em meu colo, fiz questão
de tacar aquele celular longe.

- Eu sabia que tinha algo errado com aquele babaca! Eu sabia.

Grito de raiva e então prumo minha amiga.

- Diz para mim, que só era um caso?

Olho para ela já sabendo da resposta. Não era somente um caso, ela tinha se apaixonado.
Estava apaixonada por um babaca.

Eu não posso acreditar!

- Ele não é mais um cara. Eu... _ a interrompo com meu dedo em seus lábios e encosto minha testa a
dela.

- Você não vai dizer isso. Não vai! _ passo minhas mãos por seus cabelos e fecho meus olhos
tentando acalmar o ódio que sinto.

Ele a usou... Ele sequestrou minha mulher... Esse cara tá morto!

Ela colocou suas mãos sobre as minhas e segurou com força e então abri meus olhos e ela
também.

- Vamos acabar com a vida desse cara. _ eu podia dizer que ela está falando de coração, mas
além de frieza tem algo há mais em seu olhar.

Separo-me dela enquanto ela corre para dentro de casa por algum motivo, decido não ir atrás
dela, pego meu celular e ligo para Ricardo.

- Fala. _ ele atende no primeiro toque.

- Ache o senador André Meireles. _ digo e ele respira fundo.

- Me dê uns minutos. _ ele diz e então desligo o celular e logo recebo uma ligação novamente de
um numero privado.

- Você nunca vai me achar! Somente que eu queira e é isso que eu quero. Você tem dois dias para
me encontrar no lugar favorito de Alicia. Caso isso não aconteça..._ a ligação é desligada
rapidamente e então minha cabeça começa a girar.

Alicia nunca me contou sobre nenhum lugar favorito. Ela não teve nada de bom com esse homem.

Por favor, meu Deus, me ajuda!

Resolvo ligar para meu irmão novamente.

- Calma porra, não sou the flash!

- Sai porra, não é com você passa para a Raquel. _ digo sem paciência.

- Oi. _ sua voz suave e triste toma lugar.

- Você sabe do lugar favorito da Alicia? Me diz que sim! _ suplico.

Mas a resposta não vem e o silencio se torna quase que insuportável, até que ela respira fundo,
dando-me a noção que iria responder.

- O local favorito da Alicia era o restaurante. Nunca citou nenhum outro lugar. Aja rápido, por
favor!

Ela me pede e então desligo, percebo que a Débora não voltou e então decido ir atrás dela,
entro na casa, chamando pelo seu nome, mas não obtenho resposta.

Porra!

Adianto meus passos até seu quarto. Encontro a arma no chão, olho em volta e não a encontro,
meu coração começa a acelerar, até que olho para o banheiro e noto seu pé na porta.

Corro até lá e a vejo desmaiada no chão, rosto pálido e está vomitada.

Droga!

Mais uma não, por favor!


CAPÍTULO 22

ALICIA DALGLIESH

Acordei sentindo minha cabeça latejar com força, mal conseguia abrir os olhos, mas já podia
sentir que aos poucos meus sentidos e as dores pelo corpo, apareciam.

Tranquei os olhos com força e passei as mãos pelos meus pulsos tentando de alguma maneira
diminuir a dor.

Abro os olhos e não consigo enxergar nada que não seja paredes brancas e sem vida a minha
volta, uma porta maltratada pelo tempo a minha frente, mas forte o suficiente para manter-me
presa por tempo indeterminado.

Não consigo expressar emoção nenhuma, meu corpo está mole e não me obedece com toda a
rapidez que eu desejo, tento erguer meu corpo inutilmente, volto a encostar-me no chão e dessa
vez minha cabeça parece girar. É como se eu tivesse ganhado uma pancada muito forte na nuca,
mas sinto que isso é por conta de algum remédio que recebi e isso me deixa extremamente
preocupada.

Meus bebês.

Passo lentamente as mãos pela minha barriga exigindo mais do que deveria de meu corpo.
Procuro uma janela em volta, mas tudo que vejo são paredes e mais paredes.

Porém, algo naquele lugar me relembrava o passado.

O cheiro presente nos forros e também pelo quarto era conhecido para mim e agradável, posso
até dizer durante grande parte da minha infância.

Mas com a morte do meu pai se tornou difícil. É como se cada vez que eu sentisse esse cheiro
meu coração reabrisse a ferida de tristeza e rancor pela falta do meu querido pai.

Sentindo-me um pouco mais forte, me sento e recosto minha cabeça a parede.

Difícil ter que ignorar a angustia que estou sentindo, mas aos poucos agradeço por estar
dopada, e não precisar me desesperar cada vez que penso nos bebes; no Rafa; na Raquel e de
todos que me rodearam durante esse tempo.

Ouço a porta se destrancar e então um arrepio percorre meu corpo inteiro, sinto um embrulho no
estomago provocando-me uma sensação de repulsa visível.

Aquele cheiro horrível.


- Quanto tempo. _ sinto meus ouvidos doerem.

Olho para cima evitando transparecer o real ódio presente em meu ser.

- Pelo visto minha querida filha não quer falar com a própria mãe. Que desgosto. _ ela debocha
se aproximando e nesse momento temo por minha barriga, mas prefiro não me mover.

Ainda tenho esperanças que isso seja um fato desconhecido por eles.

Fixo meu olhar ao dela e a cada minuto me pergunto quem é essa mulher, como eu pude sair de
sua barriga.

- Não adianta me olhar não, seu sofrimento nem começou. _ ela começa a girar pelo quarto,
andando lentamente em círculos e passando as mãos pelo cabelo.

- Como pode continuar tão sonsa? Garota, você já matou um homem, deveria ter feito algo mais
emocionante em sua vida.

Ela debocha de mim e mesmo sem conseguir me expressar a única coisa que deixo transparecer
são as malditas lágrimas.

- Eu não queria abrir a boca e dar o gosto de ouvir a minha voz, mas queria dizer que eu posso
pagar por todos os meus pecados, carregar qualquer cruz, menos à de ser chamada de "filha"
por você.

Arrasto as palavras como se estivesse embriagada.

Ela se aproxima de mim com raiva, mas quando ia levantar a mão para me bater a porta é
aberta e rapidamente ela se afasta.

André entra no ambiente, expondo mais um de seus ternos caros e sua carranca rotineira,
consigo ter mais raiva da minha mãe do que dele.

Ela é a culpada desse crápula ter me possuído.

Dele, eu tenho medo. Medo de como ele pode se vingar do meu amor, medo de como ele pode
tratar as vidas que estão dentro de mim.

Tento não fixar meus olhos ao dele, mas pelo que vejo não sou a única a temê-lo.

Não sei como um homem pode ser tão ruim... Eu não entendo. Nunca entendi. Nunca faltou nada
na vida dele, nem se quer um brinquedo. Um mísero brinquedo, que na infância, meu pai custava
comprar e quando comprava, minha mãe fazia questão de rapidamente estraga-lo.
- Eu espero que o que eu vi, seja apenas uma expressão e se caso não for, me desculpe. Mas terei
que castiga-la. Ninguém, absolutamente, ninguém, encosta na Alicia.

Ele diz com raiva, olhando fixamente para minha mãe.

- Sim senhor. _ sim senhor? Devo gargalhar? Será que ela ainda trabalha para ele? Mas não era a
tão sonhada "liberdade" que ela queria me vendendo? Não era o bom dinheiro, o que ela ainda
faz aqui?

Na verdade, quando eu me casei com André, ela não estava trabalhando aqui. Tinha ido
embora e me deixado com esse monstro e agora estávamos sozinhos.

Olho para ele ignorando o medo percorrendo cada pedacinho do meu corpo.

- Como você pode ter me deixado? Eu te amava, sabia? _ ele se aproxima de mim e segura meu
queixo.

- Mas não tem problema meu amor, nós vamos ser felizes juntos. Teremos uma família e tudo será
como nos meus sonhos. Você ainda vai me amar. _ usando uma força mais do que a necessária e
também um estilo quase maníaco ele diz olhando em meus olhos como se eu estivesse feliz e
compactuando com tudo aquilo.

- Sabe que isso..._ ele cala minha boca com um dedo.

- Não se preocupe, eu vou deixar seu coração livre primeiro, apenas deixarei seus filhos. Sei que
isso lhe faria um mal eterno. Não quero vê-la sofrer.

A maneira que ele dizia fazia meu corpo inteiro se arrepiar, um desespero começou a bater em
meu coração quando ele diz saber sobre meus filhos e então sem esperar por nada, cola seus
lábios aos meus rapidamente e logo se afasta.

Tento levantar meu pulso para limpar onde ele beijou, mas ele segura minhas mãos ao lado de
meu corpo. Um sorriso despojado está em seu rosto.

Eu tinha duvida sobre seus problemas mentais, agora tenho certeza.

- Não se afaste de mim, estaremos juntos para sempre. _ ele se deita ao meu lado, prendendo-me
sem que possa me mexer e começa a me olhar de maneira estranha.

O efeito da droga está começando a passar, fazendo meu coração se acelerar ao sentir sua pele
encostar a minha.

- Eu não posso ficar junto com alguém como você. Eu te odeio! _ digo bem baixinho. Eu não tenho
escapatória, mas ninguém poderia segurar a força do choro que me tomava naquele momento.
Eu estava apavorada.

- Devia se acostumar a ideia de somente me ter! _ ele diz ficando sério e tirando a "mascara" de
felicidade que cobria seu rosto.

- E você devia ter me esquecido! Eu matei seu melhor homem, por que ainda me quer?

- Doce Alicia, eu te quero porque te amo, eu te quero, porque nada sai de minhas posses e
permanece como antes. Ou você morre ou fica comigo para sempre. Lei egípcia, não conhece?

- Eu conheço algo bem diferente disso, não sei de onde você tirou que isso que você tem se chama
"amor". _ reviro os olhos sabendo que ele odeia e como resposta, eu recebo um tapa com grande
força em uma das coxas, arrancando-me um gemido agudo e dolorido.

- Viu, se me amasse não me bateria! Eu te odeio! _ sinto meu rosto queimar e uma ainda maior
vontade de chorar, tranco meus lábios e meus olhos tentando controlar a vontade de chorar.

- Você ainda vai me amar, me desculpa. Eu sei que já errei muito, mas prometo me consertar, claro,
que somente depois que aquele babaca sumir da terra.

Ele diz apertando a mão com raiva. Sei muito bem que ele quer matar o meu Rafa. Eu não posso
permitir isso.

Resolvo me calar pensando em algo para que eu possa livrá-lo. Mas nada que não seja me
entregar a esse homem passa por minha cabeça.

Eu não sei o que eu farei. Eu não consigo imaginar como salvarei o único homem que já amei.

Mas de uma coisa tenho certeza, eu morro por ele. Mas não deixo que nada aconteça.

- Dá ultima vez que pensou tanto; perdi você e meu melhor segurança. _ ele diz me dando um
beijo na bochecha no qual não esquivo. É isso, vou ter que mentir.

- Não vou fugir mais de você. Devo aceitar meu destino. _ digo olhando para frente e desfocando
a vista.

- Se você tivesse feito isso antes, evitaria que aquele seu amigo morresse. Ainda mais do jeito que
o matarei. Será triste.

Lute contra seu coração, Alicia.

- Faça o que quiser. Eu não me importo. _ dou de ombros tentando não chorar.

Ele gargalha alto e me abraça novamente encaixando o nariz dentro dos meus seios.
- Não tente me enganar, querida! Passei dias observando vocês. Sei o quanto o amava. Mas deixe
isso pra lá. O importante é que estamos juntos agora!

Ele diz e então entendo a intenção dele entre meus seios, queria ouvir como eu estava por
dentro, como reagiria quando ele respondesse e falhei. Meu coração está minimamente saindo pela
boca.

- Está sentindo meu coração? É isso que eu sinto quando estou perto de você. Eu fico louca.

- Então transa comigo agora e goza. Me prova que realmente está louca por mim e não com
medo. _ a amargura era transparecida em sua voz.

Meu corpo se tenciona e então ele se afasta, se levanta e vai em direção a porta.

- Feito, se antes eu queria matar aquele homem, agora ele terá a pior morte que ele já ouviu falar.
E a proposito, você está aqui há uma semana. Resolvi te manter desacordada apenas para que
meus planos pudessem serem executados da maneira certa, sei que você sabe onde estamos.
Afinal, é o lugar de onde você foi criada.

E então fecha a porta.

Desgraçado!

Ele não vai matar o meu Rafael! Eu vou acabar com ele, antes que ele pense em fazer algo!
Odeio esse homem! Odeiooo!

Seguro meus cabelos com força e então percebo que o efeito da droga tinha se passado, olho
para meus pulsos e estão roxos, não consigo lembrar-me do que aconteceu, de como chegar aqui,
na verdade, a única coisa que consigo me lembrar é do momento em que procurei a arma do Rafa
e não achei.

Até quando ele vai me manter aqui? Faz uma semana e ele nem deu sinal de vida, não
conseguiu me encontrar, mas também, aqui? Nessa favela? No Rio? Como ele vai me encontrar?

Na verdade duvido que ele consiga chegar aqui. Não quer ele não seja mais forte do que os
bandidinhos de merda desse lugar, mas aposto minha vida que essa favela está cercada por
homens desse senador.

[...]

Algum tempo se passou, não sei bem quanto, mas meu corpo tinha ficado sonolento o bastante
para que eu dormisse.

- Acorda vagabunda! _ sinto as mãos de André sobre minha perna e demoro assimilar o que eu
estava vendo.
Fecho minhas pernas instantaneamente assim que percebo seus dedos quase alcançarem minha
parte intima.

- Se me negar, vai sofrer as consequências. Se deu para aquele cara, vai ter que dar para mim
também! desgraçada. Desculpa, mas eu não consigo ser bonzinho. Eu quero foder a sua vida, por
ter me deixado! Sua puta.

Uma de suas mãos segurava com força meus braços enquanto a outra desabotoava sua calça.

O desespero começou a me tomar, fazendo com que sem pensar duas vezes eu chutasse seus
ovos com força.

Imediatamente sua mão vai em direção ao meu rosto com toda força e a sua feição demoníaca
está de volta. Assim como eu me lembrava.

Ele saca uma arma e coloca de frente a minha cabeça, mas logo um sorrisinho debochado surge
em seu rosto e a direção da arma muda para minha barriga.

- Por favor, não, eu te imploro! _ as lágrimas desciam sem que conseguisse controlar.

- É fácil, geme para mim, goze. E então seus filhos estão salvos. _ a ruindade no olhar dele, a
frieza, o sorriso debochado, fizeram com que meu coração gelasse e sem que ele pedisse em amor
aos meus filhos e na certeza que se eu não fizesse ele mataria a única coisa que de fato importa
nesse momento, eu me levanto e fico de joelhos de frente para ele, toco em seu órgão, colocando-o
para fora e em um movimento rápido de suas mãos, minhas lágrimas passaram a não parar de
cair.

RAFAEL MELLO (destruído)

Sete dias, eu não sei mais o que fazer, como procurar, não há rastros, não há se quer um rastro,
um sinal, um vestígio.

Meu coração está despedaçado, eu não consigo pensar em nada que não seja a saúde de
minha mulher, as ligações que parei de receber a três dias e nos meus meninos.

Minha família.

Novamente.

Não posso perdê-los.

Levanto-me da cama e começo a andar de um lado para outro. Onde pode ser o local favorito?
Onde? Alicia não pode ter se esquecido de comentar um lugar que ela gostava.
E eu também duvido que aquele filho da puta, tenha a levado para algum canto.

Não há sinal dela em nenhum lugar por nosso estado, nem por São Paulo, Minas, Espirito Santo.
Eu e meu irmão já contratamos gente o suficiente para cobrir três estados por vez.

- Rafa? _ ouço a voz de Débora que parece mais calma do que nos últimos dias.

Depois de me ajudar a procurar Alicia naquele dia, ela não saiu mais do quarto, podia ouvir as
coisas se quebrando, ou ela tacando-as em algum lugar e hoje ela está aqui, na minha frente, com
olheiras enormes e aparentemente mais magra.

- Oi. _ aproximo-me dela e a abraço com carinho, mas o que acontece é inevitável. Começo a
sentir seus soluços, a ouvir o jeito em como sua alma estava desesperada. Assim como eu.

- Por favor, não faz isso comigo. Eu já estou machucado o suficiente. Te ver chorar só me faz ficar
pior.

- Eu estou acabada. Olha o que eu fiz! Eu mereço o inferno por isso! Ainda mais por amar aquele
desgraçado.

Uma raiva enorme me toma e então seguro firmemente em seus braços, fazendo com que ela
olhasse para mim.

- Nunca mais! Nunca mais, repita uma porra dessa! _ viro as costas para ela e então vou em
direção a janela e pego meu celular no bolso, confirmando pela centésima vez que não há ligações
ou se quer uma mensagem.

- Não basta o que eu estou passando e você ainda me trata assim? Você também já se apaixonou
por alguém que não dava a mínima pra você.

- Mas a porra dessa pessoa não sequestrou a mulher de meu amigo! Não comeu você pensando
em outra! Não era um assassino, como o bosta desse cara é! Eu disse que ele não valia nada! Eu
avisei! Eu senti, porra! Saia daqui.

Gritei apontando meu dedo para fora de meu quarto e então ela saiu, fui atrás dela e bati a
porta com toda força, me encostei à porta e deslizei meu corpo até a o chão.

Parecia mentira que a mesma historia estava se repetindo, mas dessa vez eu não era o culpado
pela morte de ninguém, pelo menos não diretamente.

Eu não me arrependo do que fiz, de como agi com meu pai, ele mereceu! Ele matou a minha
mãe, ele era um filho da puta!

Ainda lembro-me do jeito que ele me olhou quando o matei, eu era um menino, mas entendia
muito bem o que eu estava fazendo.
Eu ouvi seus pedidos de desculpas, mas nada mudou em meu coração, nada o traria de volta e
nem muito menos minha mãe.

E o mesmo vai ser se eu encontrar esse filho da puta. Ele já está morto! Morto!

Ouço batidas na porta e logo atrás a voz desesperada de Raquel, que me faz dar um pulo e
logo abrir a porta.

Seus olhos denunciavam o que ela dizia e ali meu coração se partiu.

- É mentira não é? Diz para mim que é mentira? _ começo a chorar imediatamente ao ver sua
expressão. Jogo-me aos pés dela e me curvo sem conseguir ao menos respirar.

- Acharam Rafael. Acharam mais cedo! Queimada! _ sua voz embargada me fez soluçar e deixar
que um grito em altos pulmões escapasse de minha garganta.

Logo seu corpo estava sobre o meu, eu não sabia como reagir, eu queria morrer naquele
momento.

- Por favor, Raquel. Por favor, olhe para mim e diz que isso é um pesadelo! Diz que eu não perdi a
mulher da minha vida? Diz que meus filhos não se foram junto. Por favor, é mentira? Eu sei que é! _
eu não conseguia mais respirar, mas de repente um filme tomou conta de meu cérebro.

O sorriso dela, o jeito que corria atrás de mim quando eu deixava minhas roupas largadas, a
semana que passamos em Macchu Picho, nosso primeiro encontro destruído por aquele filho da
puta.

Eu não posso viver sem ela.

- Eu sei que é difícil, mas nós vamos ser fortes, eu vou estar aqui. _ ela diz beijando minhas costas.

- Não tem fortaleza que me segure de pé, Raquel! Eu amo a sua amiga, eu não posso ter perdido
ela assim! Eu não acredito que ela tenha feito isso comigo. Ela não pode ter me deixado. Eu não
posso ter deixado ela morrer tão fácil assim!

Soco o chão, mas me sinto fraco demais para levantar.

- Você não teve culpa, Rafael! Ninguém teve! Por favor. _ o choro desesperado de Débora também
tomou conta do ambiente.

Estávamos jogados ao chão, os três, conseguir ao menos parar por se quer um momento de
soluçar.

Se for para viver sem ela, eu não quero!


Se for para viver com esse homem na terra, eu prefiro morrer!

Se for para nunca mais beijar a minha pretinha, eu sinceramente prefiro me matar!

- Escutem o que eu estou dizendo! Ou sou eu, ou ele! Não importa o quanto esse desgraçado fuja,
ele vai morrer, queimado, torturado. Foda-se o jeito. Mas será a pior morte que uma pessoa
poderia ter!
CAPÍTULO 23

RAFAEL MELLO

Mais dias se passaram e hoje por mais uma vez permaneci a olhar o celular, esperando que nem
por uma se quer vez a minha Alicia me desse sinal de vida, mas a quem eu quero enganar? Ele
não teria pena dela, por que pouparia a sua vida? Basta olhar para mim e enxergar o homem
mais destruído da face da terra, cabelos bagunçados, barba por fazer e se é que farei.

Não consigo enxergar mais nada a minha frente a não ser que não há o que ver. Tudo que
planejei tinha ela, tinha aquele sorriso, aqueles gestos engraçados que ela insistia em fazer quando
eu falava alguma asneira.

Todos estavam dormindo na mesma casa. Até mesmo meu irmão que não saia por nada do lado
da Raquel.

Posso ver o quanto ele a ama e mesmo não vendo o mesmo sentimento nos olhos dela, posso
apostar que os dois serão felizes juntos e é isso que eu almejo.

Pelo menos eles serão felizes.

Sento-me no sofá da sala sentindo minha cabeça latejar, talvez a falta de alimento esteja
ajudando, mas nada desse por minha garganta, nos últimos dias nem agua.

- Você devia comer algo. _ Débora se senta ao meu lado e mesmo não querendo tenho me
distanciado dela. Eu tentei avisar, eu senti.

Só não sabia que ia causar a morte da mulher da minha vida.

- Eu não consigo. _ digo não querendo prolongar o assunto.

- Por favor, eu estou me sentindo a pior das pessoas, não me faça sentir-me mais suja. _ as
lágrimas já rolavam por seu rosto.

- Débora, comer não vai mudar a dor que eu estou sentindo e muito menos a que você está.

Olho-a friamente.

- Você está me tratando como uma estranha. Não faça isso comigo. _ seu choro se tornou ainda
mais constante e vê-la assim é quase insuportável para mim, então me aproximo dela e coloco sua
cabeça em meu ombro, passo minhas mãos pelos seus cabelos e respiro fundo, sentindo uma imensa
vontade de morrer.
- Eu tenho noticias. _ a voz de Raquel me fez voltar a chorar apenas por vê-la.

Eu tinha esperanças, eu tinha...

Aperto Débora ainda mais contra meu corpo e deixo meu choro escapar, mas logo a solto.

Por favor, diz que é mentira Deus.

- É mentira não é? O exame é falso! Não pode ser verdade! Não pode.

Jogo-me no chão e tranco os olhos com força, isso só pode ser um pesadelo, eu não consigo
acreditar. Não dá.

- Nós temos que ser fortes. Por favor! _ Raquel se sentou ao meu lado e se debruçou pela segunda
vez por cima de mim.

O corpo que acharam estava irreconhecível e por acharmos ser a Alicia, resolvemos colocar
para autopsia e eu sinto em meu coração que ela ainda está viva. Eu posso sentir em meu intimo
que isso é uma mentira, mas como contestar com a prova de um laboratório tão responsável? Tão
conhecido?

Meu intimo está errado!

Meu choro passou a ser silencioso, mas tão doloroso que eu podia sentir como se tudo que
estivesse dentro de mim esteja sendo arrancado com força, de mau jeito, apenas para acabar
comigo, me destruir, me matar.

- Rafael, levante, nós precisamos cuidar das coisas do velório. Temos poucos amigos, mas tenho
certeza que todos compareceram.

- Não temos amigos nenhum! Ninguém perguntou por ela, ninguém quis saber onde vocês estão e
por que o restaurante está fechado então quem ia querer vê-la? Ninguém! Ninguém precisa ir.

Digo com raiva, cuspo as palavras com ignorância e tento conter meu ódio para não magoa-la
ainda mais.

- Temos nossos amigos, nossos parceiros do restaurante. Não é só você que está mal Rafael! todos
nós estamos. Mas precisamos ser fortes, por ela, precisamos.

Eu não podia está sendo tão fraco, eu simplesmente não tive força para ir atrás daquele maldito,
não estou tendo força para aceitar que perdi a mulher da minha vida e muito menos para admitir
que Raquel tem razão.

- Eu não consigo ser forte o suficiente para isso, eu já perdi tudo. _ digo sem completar da maneira
que queria.
A minha vida foi um caos. Eu não podia perder a única pessoa que deu sentido a essa merda
toda. Eu já passei por coisa de mais.

- Rafael, eu sou seu irmão, eu vivi tudo com você. Mesmo longe, sempre estive ao seu lado. Vi o
quanto sofreu com a morte da nossa mãe e até a morte do nosso pai também, mesmo com tudo
você ainda foi forte para cuidar da Amber, você ainda foi forte para está aqui hoje, para viver
isso. Tenho certeza que também será forte para superar! Mas por favor, não desista.

Sento-me no chão e dessa vez me encosto ao sofá. Eu preciso dar meu adeus a Alicia. Levo
minhas mãos até meu cabelo e puxo com força ignorando a dor.

Fecho os olhos e respiro fundo.

- Vamos, precisamos cuidar disso. _ desfoco minha atenção da minha dor e começo a pensar que
meu irmão tem razão e que a Raquel também. Eu preciso ser forte, é assim que a Alicia gostaria de
me ver. Eu tenho certeza.

- Vamos cuidar de tudo. _ percebo que a Débora não está mais conosco, mas não me importo em
procura-la.

É melhor que ela repense nas consequências de sua vida, antes que faça algo pior com alguém
que ela ame mais.

Levanto sem dar explicações e vou até meu quarto, sento de frente a uma das gavetas que
tinham peças de roupas dela e que agora estão vazias, já que nem essa lembrança aquele
desgraçado quis deixar para mim.

Olho para a última gaveta e percebo que há um livro, na verdade uma agenda.

Percebo que está um pouco velha e que por nada me lembrava dela, na verdade não me
lembro de tê-la visto alguma vez.

Pego-a em minhas mãos e olho sem muito foco, quando abro a primeira pagina percebo ser um
diário.

Sorrio com a ideia de que ela escrevesse sobre seus dias, mas sem conseguir ler, fecho-a e
começo a chorar. Eu não posso... Eu não consigo ser forte.

- Vou ligar para os amigos e informar, vou pedir que não comentem com mais ninguém, tudo bem
para você?

Raquel tinha a mão sobre meu ombro, mas sem coragem de olhá-la apenas balancei minha
cabeça assentindo.
Assim que ela saiu, fechei a porta e me sentei na cama, olhei para o armário, para a cama,
para o banheiro. Lugares onde ela tinha encostado, passado, roçado.

Mas nada é tão forte como o cheiro dela no forro de cama que até agora não consegui deitar.
Eu não quero apagar seu cheiro de meu cérebro, não quero apagar sua voz, eu não quero
apaga-la.

Olho para minha aliança e fecho meus olhos de novo.

Aquele homem irá pagar. Ele vai morrer! Ele vai.

Levanto e vou até minha parte do armário, abro a porta e escolho duas peças de roupa. Uma
blusa social preta juntamente com uma calça do mesmo tecido e cor. Jogo tudo no chão e piso
encima.

Para que eu quero isso? Por que estou escolhendo essas roupas? Se nem banho eu consigo tomar.
Para que estou mentindo para mim mesmo?

Eu não vou ser forte sem ela.

Eu não vou ser eu mesmo. Eu não consigo mais viver sem ela. Não depois de ter descoberto que
ela é o amor da minha vida.

A pessoa que eu quero para mim.

Será que me lamentar também tantas vezes me levará a algum lugar? Mas é claro que não. Ela
já se foi. Não há o que me faça lutar mais.

Abaixo e pego minha roupa do chão, sem importar em tomar banho a coloco em meu corpo, nem
me dou o trabalho de ir até o espelho ou de escovar os dentes. Apenas saio de dentro do quarto
e me dirijo até a saída. Agradeço por não encontrar ninguém e então subo em minha moto e saio
sem dar nem se quer uma acelerada forte.

Pela primeira vez não tenho motivos para isso.

Vou até a onde foi feita a autopsia, chego e respiro fundo tentando não entrar sem condições
para falar e então vou até a recepção.

- Eu vim saber do corpo de minha esposa, Alicia Dalgliesh. _ seu olhar se arregalou ao olhar de
quem se tratava, mas rapidamente escondeu sua expressão em um olhar gelado e sem muito a
dizer.

- Vou leva-lo até o corpo, sua amiga disse que você o levaria. A funerária está com o senhor? _
ela me olha já sabendo minha resposta.
- Como imaginei. Tomei a liberdade e me perdoe se fui inconveniente, mas chamei uma para sua
família. Espero que não se incomode, mas eu vi o quanto vocês estavam mexidos com a morte dela.
Só não entendo como não querem levar o caso a frente na justiça.

Agora sua expressão havia passado para preocupada, talvez, triste.

- Decidimos que a justiça deve ser feita por mãos mais habilidosas do que a de um país que mal se
importa com os pobres. _ olho friamente para ela que pigarreia e se põe novamente em seu lugar.

- Te levarei até o corpo e então, quando achar melhor, me procure para assinar todos os papeis.

Assinto sem responder nada e então ela caminha em direção a um corredor sombrio e frio, algo
que pensei só ter visto em filmes de terror.

O que minha vida não deixa de ser...

- O corpo deve permanecer tampado e dentro da embalagem. O que sobraram para constatar
sua identidade foram apenas alguns fios de cabelo.

Ela diz e uma angustia percorre meu corpo.

Ela morreu do pior jeito, sofreu antes da morte, aposto que foi torturada.

Aperto minhas mãos com força e respiro fundo. Entro na sala e sento-me em uma cadeira
disposta em frente ao saco onde ela estava.

ALICIA DALGLIESH

A noite inteira sendo abusada... A noite inteira sentindo minha vulva ser cortada, arranhada,
machucada, a noite inteira sentindo que mais uma vez eu não valia nada, apenas um pedaço de
carne pronta para ser devorada e dilacerada pelo monstro.

Meu corpo inteiro doía, não conseguia me mexer e desde que ele se foi do quarto permaneci da
mesma maneira, encolhida, nua, sem chão.

Por que o Rafael não veio? Porque todos esses dias se passaram e ele não deu sinal de vida? Eu
estava tão enganada ao pensar que ele me amava? Eu rezo por ele está me procurando, eu rezo
por ele querer me achar e matar esse desgraçado. Eu rezo por ele saber que terá dois filhos ou
que pelo menos teria. Não sei quanto tempo vou aguentar nesse lugar sem agua e comida.

Muito menos como me livrarei de um homem que tem uma fortaleza nessa favela.

Tentei me sentar e me cobrir com o pano que tinha sobre o colchão fino no chão, mas meu corpo
doía tanto que achei melhor me manter como estava.
Parece um pesadelo, eu não posso ter dormido feliz, acordado feliz e simplesmente de uma hora
para outra minha vida revirar novamente.

Parece mentira.

O que será que está acontecendo? Por que ninguém me procura? Mas também o que eu quero
cobrar? Como saberiam que estou aqui? No Rio?

Impossível.

Mais uma vez as lágrimas se faziam constante. Eu sinto que ele pensa em mim, eu sinto que está
sofrendo.

Coloco minhas mãos sobre meu ventre.

- Rafael, nossos filhos se pareceram com você. Eu sinto sua falta. Por favor, não me esqueça. Eu
vejo você mesmo longe, eu te sinto.

Repeti a mesma frase várias vezes em voz alta até que ouvi a porta ser destrancada. Não quis
me mover e nem experimentei observar que havia chegado.

- Quanto tempo não a vejo moça. Senti saudades. _ uma voz calma e terna atingiu meus ouvidos,
mas mesmo assim me mantive quieta. Sei quem estava ali.

- Não devia sentir saudades de mim, afinal, não é por vontade minha que estou aqui. _ digo ainda
encolhida e então ela se aproxima e se senta ao meu lado colocando uma de suas mãos encima do
meu corpo.

- Você foi à única pessoa que me deu valor nessa casa, sabe muito bem que muitos de nós não
estamos aqui porque queremos.

Ela diz respirando fundo e eu sei que era verdade. Dona Rita tinha um jeitinho só dela, uma
calmaria enorme e um coração doce mesmo vivendo naquela casa onde ninguém parecia ter
sentimentos.

- Eu preciso sair daqui, dona Rita. Eu estou grávida. _ disse baixinho para que mais ninguém
pudesse me ouvir caso estivessem atrás da porta.

Ela arregala os olhos e coloca a mão na boca.

- Filha, como você pode? Devia saber que seu André não pararia até te achar. _ ela respirou
fundo e me tampou com o lençol.

- Eu pensei que eu poderia ser feliz, mas eu não posso. Eu nunca pude. _ deixo que uma lágrima
solitária escorra e então tranco meus olhos.
- Como passou a noite? Tem se sentido bem? Não deve se estressar. _ ela volta a passar a mão em
mim, mas dessa vez em meus cabelos.

- Ele me estuprou... Ele me humilhou... _ engulo seco tentando não relembrar a noite de horrores
que passei.

Ela derramou uma lágrima junto comigo, mas se manteve firme ao olhar em meus olhos.

- Você conseguiu sair uma vez, talvez o homem que está com você venha busca-la. _ sua voz sai
um tanto carregada.

Vi algo que não soube decifrar, mas sei que ela me esconde algo.

- O que não quer me contar?_ olho para ela tentando arrancar algo de seus olhos.

- Eu não devo, mas de qualquer maneira... ele acha que você está morta. _ eu já imaginava que o
André faria algo para que o Rafa me esquecesse, mas ouvir isso...me doeu tanto.

- Desde quando eu morri? _ pergunto sentindo uma angustia enorme e por instinto coloco minha
mão em minha barriga.

- O enterro será hoje. _ ela diz e então se levanta rapidamente ao ver a porta se abrindo.

- Hora, hora, pelo visto a amizade continua. _ a voz daquele desgraçado invadiu o ambiente.

- Desculpa senhor, só queria saber se ela precisava de algo. _ ela diz de cabeça baixa.

- Cale-se. Iremos assistir a um filme agora, quero que saiam. _ ele diz e o segurança e dona Rita
se afastam fechando a porta atrás de si.

Ele diz se aproximando e tocando em meu rosto passando o polegar por minha bochecha, não
me esquivo.

- Está pronta amor? O filme será muito divertido, pensei que com ele poderíamos começar nossa
nova vida. O que acha?

Levantei uma de minhas sobrancelhas, mas não lhe dei nenhuma resposta alta.

- Ah... Já ia me esquecendo, trouxe roupas para você e também a nossa aliança. Queria que você
colocasse, ainda não entendo porque tirou. _ ele diz com um sorriso sínico no rosto.

Eu não consigo entender o que ele é. Meu medo é tão grande que meu corpo não consegue se
mover, olhar para ele e pensar em tudo que ele está fazendo. Ainda mais em agir dessa maneira.
Um verdadeiro psicopata.
Ele me estendeu as roupas e então olho para o lado procurando algum lugar um pouco coberto,
mas não encontro. Sem mais opções forço me levantar e coloco a roupa, respiro fundo, engulo a
vontade de chorar e coloco a aliança que André me trouxe, onde antes ficava a do Rafael.

Volto a olhar para André e então vejo seu sorriso feliz ao me esperar sentado naquele colchão
sem conforto.

- Sente-se aqui comigo. _ ele sorri e então bate sobre o colchão.

- Posso pedir uma coisa? _ pergunto usando um tom mais baixo e pouco típico para mim.

- Que meiga! O que quiser amor. _ ele debocha.

- Queria uma cama, dormir no chão é muito ruim. _ penso nos meus filhos e novamente uso um tom
atípico.

- Não se preocupe querida. Essa noite irá dormir comigo. Nossa cama. _ ele ergue as sobrancelhas
e sorri maliciosamente.

- Estou ansiosa! _ reviro os olhos e então me sento ao seu lado, inconfortável o bastante para
querer morrer ao preferir está ali.

- Onde iremos assistir esse filme? _ pergunto sem entender, não havia nada ali.

- Calma. _ ele tira um controle do bolso e então as luzes se apagam. Em algum lugar há um
projetor já que uma imagem aparece na parede.

Uma tela azul na verdade.

- Creio que se emocione ao ver esse filme! É de drama, mas estarei aqui para consola-la.

Ele diz e novamente sorri.

Como eu queria matar esse homem, como eu queria ter oportunidade para isso. _ respiro fundo
e espero que a imagem carregue e então meu coração para.

- Rafael... _ o som escapa da minha garganta sem que eu tivesse pensado.

A imagem de um homem desconhecido para mim aparece, barbudo, cheio de dores e


aparentemente derrotado. Esse era o homem a quem eu chamara de meu marido há alguns dias
atrás.

Dias suficientes para fazer com que meu coração quase parasse.
Respiro fundo novamente e então o vídeo continua, ao seu lado estão Raquel, Débora e Ricardo,
estranho não ver a esposa do irmão de Rafael, mas não dou importância a isso, quando percebo a
onde eles estão entrando.

- Por que você quer que eu olhe isso? Por quê?! _ sem conseguir guardar para mim, as palavras
escapam de minha garganta com dor.

- Porque eu quero que você guarde o fim bem em sua memoria. Quero que veja o quanto você
está fazendo esse desgraçado sofrer, apenas porque não me obedeceu. Ele poderia estar vivo
ainda. _ ele diz com ódio e sem um pingo de emoção o que me faz acreditar em suas palavras,
mas me mantenho firme. Eu não posso me descontrolar.

- Continue vendo o vídeo querida, fará bem ao bebê. _ ele sorri. Então essa a sua intenção? Fazer
com que eu perca meus filhos? Desgraçado.

Olho novamente para frente e vejo Rafael cambalear por algumas vezes antes de se deparar
com "meu" caixão, seu rosto está molhado e sua expressão quase que indescritível.

Começo a chorar sem parar, mas mantenho o silencio, guardando somente para mim a vontade
incrível de gritar.

- Olhe como ele sofre, pense que esses filhos que você carrega serão criados por mim como
cachorros, não terão nada de você e muito menos de mim. Assim que nascerem serão mortos.

Novamente as palavras são ditas com frieza e mesmo assim tento manter a calma.

Mas ai eu vejo o Rafael se pendurar no caixão e começar a chorar desesperadamente, posso


ouvir seus gritos e o jeito que Raquel se desespera junto com ele. Débora tenta se aproximar e
coloca a mão sobre seu ombro, mas para ela, ele difere a frase mais fria e sem emoção que
poderia dizer.

- A culpa é sua, saia daqui! _ ele a empurra e nesse momento ouço uma gargalhada escrachada e
estrondosa vinda de André.

- A vadia achava que eu ia me casar com ela. _ olho para ele e sinto minha respiração falhar, por
um momento perdi o meu sentido, mas logo voltei. Não posso fazer nada, preciso me manter calma.

- Por que você se foi? Por quê? Eu tinha tantos planos, você me mostrou tanta coisa. Você não
podia ter me deixado. _ Rafael soca o caixão desesperadamente e em voz baixa o balbucio.

- Eu estou aqui meu amor, viva. Não me apague de seu coração, sinta, eu estou aqui! _ faço a
maior força com meu intimo. Eu preciso tentar.

E então Rafael olha para a câmera e sem esperar por nada aponta o dedo para ela.
- Desgraçado, onde quer que esteja, eu vou te caçar! Eu vou acabar com a sua vida. Espero que
seja esperto o bastante para não deixar rastros!

E então ele volta desolado para meu caixão, como se não tivesse dito uma frase com tanto
efeito. Volta a chorar, alisa a aliança em seu dedo e no mesmo momento olho para o meu
procurando a minha. Então percebo que não há mais nada dele em mim, a não ser os nossos filhos.

- Alicia, você foi à única mulher que me fez sentir o céu, a única mulher que me fez completo em
todos os momentos, a única mulher capaz de mudar meu eu. A única que eu amarei para o resto
da minha vida.

Percebo que ele se afasta indo em direção a alguns bancos que estavam dispostos em frente
ao caixão. Muitos colegas também emocionados começam a se aproximar, mas antes mesmo que
eles o alcançassem vejo que Rafael cambaleia e que por segundos, Débora não o deixa cair no
chão.

Meu soluço já era constante o choro já estava bastante continuo, mas me mantive presa a sua
imagem, precisava saber se ele iria acordar e ficar bem.

Minutos se passaram; talvez algumas horas, ele já estava acordado, mas para nada levantava
seu rosto, podia apenas vê-lo balançar os ombros, constatando sua emoção. Até que um homem
apareceu aproximando-se deles, disse algo baixo e se afastou.

Rafael respirou fundo e se levantou, indo até o caixão que estava lacrado e aproximando-se
dele disse algo que não podia ouvir.

Suas mãos se fecharam ao se afastar e com um gesto com a cabeça, ele chamou seu irmão para
que o ajudasse com o caixão.

Começo a pensar em como conseguiram que meu DNA estivesse presente naquele corpo,
procurei algo faltando em mim e por ultima opção passei as mãos pelos meus cabelos e então
percebi de onde ele tinha forjado minha morte.

Os dois levaram meu caixão sem medir esforços até o cemitério.

- Coloquei uns pesinhos, esse homem está muito fraco. _ ele diz com deboche e então a câmera se
volta para outro lugar, logo atrás deles na verdade.

Desde que comecei a ver esse vídeo já foram três câmeras e a segunda pertencia ao próprio
local do velório e foi para qual o Rafael falou.

- Ele é inteligente. Sabia que eu estaria vendo. Poderia ser um ótimo aliado. _ ele diz e não faço
menção de olhá-lo.

A câmera se voltou para um homem comum entre as pessoas, mas que para mim não era
conhecido, mas logo o motivo de estar focando nele aparece e então ele retira um revolver calibre
trinta e oito de dentro da calça, mira e atira.

- NÃO... POR QUÊ? POR QUE VOCÊ FEZ ISSO? POR QUER TANTO MEU MAL? POR QUE O ÚNICO
HOMEM QUE EU AMEI? _ as lágrimas desciam do meu rosto e minhas mãos socavam com força o
peitoral de André, que por nada se mexeu, apenas sorriu para mim.

- Desgraçado! Eu vou te matar! Eu te odeio! _ cuspo em seu rosto e logo sinto um soco forte em meu
ventre.

Minha cabeça começa a rodar e então me afasto dele, levanto e ando de um lado a outro,
sentindo que a qualquer momento poderia apagar, seu sorriso sínico ainda estava ali, gritei até
que não tivesse mais forças, até sentir minhas pernas amolecerem, até apagar...
CAPÍTULO 24

DÉBORA MORAES

Se alguém tivesse mais arrasada, por favor, me sirva uma cerveja.

Nem isso eu posso tomar...

Quando eu conheci o André, tive vontade de morrer de medo e foi quase isso que aconteceu, se
ele simplesmente não tivesse me beijado da maneira mais incrível que um homem pudesse me tocar.
Ali eu percebi que nada que eu sentia pelo Rafael se comparava ao primeiro beijo do André.

Foram alguns meses de puro prazer, eu me sentia completa, planejávamos namorar logo e
casar.

Quantas vezes alisou meu rosto e disse que me amava, eu não poderia adivinhar que aquele
homem, tão romântico, tão lindo, pudesse ser tão desgraçadamente filho da puta.

No dia em que Rafael e Alicia voltaram ele estava lá, mas não fez questão de entrar, preferiu
apenas me mandar uma mensagem comportada dizendo que seria indelicado chegar a uma mesa
onde ninguém o conhecia e se sentir como da família.

E ali era isso, uma reunião de família.

Durante esses dias percebi o quão discreto ele era, e não só isso, mas também misterioso. Algo
que causava algum tipo de excitação louca, cada vez que ele me negava algo, que me escondia,
que mentia; fazia com que meu corpo entrasse em uma ebulição louca.

E agora estou aqui... Abandonada por todos. Poderia dizer que não é justo, mas estaria
mentindo. eu fui avisada e não uma vez só, pensei que umas fodas não me causariam nada. No
máximo um coração partido, mas que com certeza valeria a pena.

Tudo com aquele homem valia a pena. Menos descobrir que ele é um psicopata louco pela
mulher do meu melhor amigo.

Sentar aqui e perceber o mal que fiz ao Rafael me faz sentir raiva de mim. Respiro fundo
tentando esconder a vontade de chorar, mas é inevitável ao ouvir seus gritos desesperados pelo
seu amor.

Aperto minhas mãos uma nas outras e me levanto determinada a ir embora, fecho meus olhos
com força tentando não odiar o fruto que carrego em meu ventre.

Ele não tem culpa. Não tem.


O que eu fiz?

Caminho com passos decididos em direção a rua, logo pude ouvir o choro continuo de Rafael.
nunca o vi assim, nem mesmo na sua pior frase de depressão pós Amber.

Costumava o zoar assim, mas acho que nem isso eu farei mais. Se nossa amizade não tinha um
ponto final, esse foi mais que um ponto, foi uma bomba.

Respiro fundo e começo a pensar nos tempos que passamos juntos e no tamanho da ferida que
estava em meu peito, mas não podia parar de pensar que o André pode muito bem querer mata-
lo. Eu percebia a raiva que ele falava seu nome, percebi a raiva que ficou quando o viu beijar
Alicia no dia do restaurante.

Eu fui tão cega.

Olho para trás observando as costas de meu amigo, o choro continuo, a barba grande, a
magreza pela excessiva falta de fome.

Observo todos o seguindo, mas algo entre as pessoas me chama atenção, um homem fica para
trás e saca uma arma. Meu Deus.

Tiro o revolver da cintura e miro, atiro nele mais de uma vez, mesmo com a distância tinha
certeza do meu tiro certeiro.

Meu coração quase na boca me faz correr até o corpo e olhar para o homem suplicando por
piedade, mas não serei eu a ter.

Atiro mais uma vez e dessa vez na cabeça.

Não o Rafael!

Sem que eu tenha percebido todos já estavam longe de mim, não havia mais ninguém na rua,
olho para frente e procuro por Rafael. Percebo que ele volta a caminhar assim que me olha, sem
nenhuma expressão no rosto, apenas uma frieza enorme o faz carregar o caixão novamente e
seguir para dentro do cemitério.

Aquilo parecia cena de filme.

Percebo a policia chegar e fico atônita as perguntas dos policias, eles então me fazem sentar
na ambulância e medem minha pressão.

- Está tudo bem, senhora? Por favor, me conte o que aconteceu.

Uma policial bonita com belos cabelos loiros se aproxima e todos os policiais se afastam.
- Ele tentou matar meu amigo. _ desfoco minha vista para algum ponto não me importando em
olhá-la.

- Você tem porte de armas? _ balanço a cabeça que sim, mas não mudo o foco da minha visão.

- Quem ele tentou matar? Onde está? _ ela pergunta segurando em meu ombro, percebendo que
eu não estava muito bem.

- Enterrando a mulher dele lá dentro, acho que o tiro só pegou de raspão.

Digo e então silenciosamente as lágrimas começam a descer sem que eu tenha controle.

- Levem-na para o hospital e vocês procurem a vitima. _ela comanda os outros policiais.

- Precisamos conversar, vou até o hospital hoje à tarde. Quero que converse comigo, posso ver que
não está bem.

Ela me dá um sorriso curto e logo se vira, um socorrista entra comigo na ambulância e logo
estávamos indo em direção ao hospital.

- A senhora está bem? _ ele se senta ao meu lado.

- Estou um pouco nervosa, só isso. _ digo ignorando o fato de estar grávida. Não que eu vá matar
meu filho, mas se for para ele ir, que vá.

Talvez fosse melhor.

- Certeza? Você acabou de matar um homem, não estou aqui para te julgar, mas não sei se ficaria
somente nervoso. _ ele me dá um sorriso singelo.

- Eu sou segurança do banco do Brasil. Fui treinada para ser calma em qualquer situação, mas
confesso que não estou sentindo nada. Nenhum remorso.

Deixo de olhá-lo e foco no teto da ambulância, estava sentindo uma grande vontade de
vomitar, mas me recusei a dar atenção a esse fato.

- Entendo, percebo que está nervosa. Talvez fosse melhor conversar com alguém. Um parente,
amigo, sei lá, posso chamar se quiser.

- Meu único amigo não quer me olhar mais, minha família não existe. _ ele me olha sem entender,
mas algo me deixa confortável com ele.

- Meus pais foram mortos quando eu tinha doze anos, eu não lembro muito bem o que aconteceu,
tenho problemas com a memoria, geralmente quando sofro um estresse muito grande minha mente
apaga o que foi vivido.

- Que doença generosa. _ brinco dessa vez olhando em seus olhos.

Um cinza incomum.

- Não quando te apaga a lembrança de pessoas tão importantes. _ seus olhos se enchem de
lágrimas. – também não tenho ninguém. A não ser meu cachorro, Rexi. _ ele dá de ombros e aos
poucos sinto minha pressão se normalizar.

- Pelo menos a ele você não decepciona, se colocar comida e levar para passear, pronto, ele
ficará extremamente feliz.

Ele sorri.

- Você não é casada? Está gravida não é? _ ele pergunta e sem eu entender afirmo que sim.

- Como sabe? Não, eu não sou casada. _ o pai do meu filho é um assassino.

- Vi quando passou a mão na sua barriga como se a protegesse. Então imaginei que estivesse
grávida.

- Descobri há pouco tempo, o pai me abandonou e ainda matou a esposa do meu amigo. _ dou de
ombros e volto a desviar o olhar.

- Então você é amiga do Rafael? Nunca vi ninguém tão arrasado, todos soubemos do caso.

- Cidade pequena e suas fofocas.

- Não podemos fazer nada. Mas se você sabe quem a matou por que não o denuncia?

- Não sou uma pessoa poderosa, talvez eu acabaria presa e não ele. _ constato.

- Se for assim. Eu achei aquela morte muito estranha. Por que só o cabelo ficaria intacto? Nem a
arcada dentaria sobrou. Não havia mais nada que pudesse identifica-la.

- Como assim? _ franjo o cenho.

- Só acharam um pouco de cabelo. Por isso acham ser ela.

Permaneço em silencio sem entender.

[...]

- Ora, Ora, pelo visto uma pessoa gosta muito de mim. Só vive nesse hospital. _ Doutor Augusto
brinca.

- Não gosto de homens que engravidam e não assumem suas responsabilidades.

Piso no seu calo e vejo uma enfermeira sorrir e dar dois tapinhas em seu braço.

- Que estranho! Você também está grávida, que estranho novamente, não há nenhum pai aqui. _
ele me olha com deboche e sai do quarto batendo a porta com força.

Sorrio, mas logo fico séria. O que eu fiz? Eu não deveria ter matado aquele homem, poderia ter
provas.

Mas a quem eu quero enganar? Como ter provas? Tenho certeza que esse serviço partiu dele e
dele para outro e de outro para o homem que matei.

A maçaneta é girada e meu coração dispara com a possibilidade de ser o Rafael a vir me ver,
mas logo a expectativa morre.

- Oi. _ a policial entra e sorri.

- Oi. _ digo limpando uma lágrima solitária.

- Pelo visto não era eu quem você tanto esperava.

Ela deixa me olha com certa pena.

- Eu acho que isso não vem ao caso. O que queria conversar? _ vejo sua expressão mudar e seu
semblante se tornar mais firme.

- Eu não queria nada. Somente saber um pouco mais da historia de vocês. _ ela diz e eu não
consigo confiar.

- Não tenho nada a dizer. _ afirmo virando meu rosto.

- Desculpa, mas acho que tem algo a me contar sim, isso se quiser a minha ajuda. Caso contrário,
serei obrigada a lhe indiciar por dois homicídios.

Volto a olhá-la imediatamente sem entender o que ela queria dizer.

- Você acha que ninguém iria perceber a morte de três homens em uma estrada? Acha que seria
encoberto para sempre Débora? _ ela mantem o olhar preso ao meu.

Essa mulher é muito foda.

- Não sei do que está falando._ mas eu também sou.


- Não mesmo? Me desculpa, mas usar uma arma com numero de inscrição não é muito inteligente se
você não quer ser encontrada.

Seu tom de voz se torna mais firme.

- Deixei esse assunto para lá quando comecei a investigar e descobri que os caras eram bandidos
desprezíveis, mas não posso deixar de ficar curiosa quando recebo uma chamada e ao chegar ao
local encontro a mesma responsável por um caso anterior.

Alguns segundos se passaram e eu não consegui pronunciar se quer uma palavra.

- Qual vai ser? Vai me contar ou vai ser presa? _ ela tira uma cartela de cigarro de dentro do
bolso e acende um cigarro, ali mesmo, na minha frente e dentro de um hospital.

Respiro fundo e começo a travar uma guerra interna. Eu não posso contar, mas e se ela me
ajudar? Penso por mais alguns momentos até que resolvo contar.

- Eu quero saber se você tem alguma escuta, gravador, sei lá. _ pergunto e ela sorri satisfeita.

- Estou limpa. _ revira os olhos.

Levanto da cama e vou para trás dela, apalpo seu corpo todo em busca de algo, estendo minha
mão para sua bolsa e ela me entrega.

- Se eu fosse sapata teria gozado. _ ela debocha e então deixo que um sorriso de lado escape.

- O que você é?

Pergunto olhando-a de maneira mal encarada. Se é para fazer merda, que faça direito, pelo
menos uma vez na vida.

- Renata Moreira, delegada. _ ela estende a mão para mim e a aperto.

Por isso os policiais se afastaram quando ela se aproximou.

- Débora Moraes, segurança.

- Devidamente apresentadas, podemos começar? _ ela pergunta sorrindo.

Muito simpática para meu gosto!

- Naquele dia eu tinha ido ajudar meu amigo a resgatar Raquel, melhor amiga da mulher que foi
enterrada hoje, naquela época tínhamos pouca noção de com quem estávamos lidando. O resgate
não deu muito certo, descobrimos que eles queriam levar a Alicia e então tudo virou uma bagunça.
Mortes aconteceram por causa desse mesmo homem que a matou.

- Quem é esse homem? _ ela pergunta aparentemente interessada.

- André. Ex-marido de Alicia. Eu e Alicia nos conhecemos há algum tempo, na verdade, eu


frequentava o restaurante delas, resolvi levar o Rafael para jantar comigo um dia e ele a
reconheceu. Se conheciam do Rio de Janeiro. O interesse dos dois foi notório e logo eles
começaram a sair juntos. Quando fomos hospitalizados, ela foi para serra, temendo ser encontrada
pela policia, por palavras dela, ela é procurada. Então depois disso, quando saímos do hospital,
Rafael saiu ao seu encontro, nós tínhamos nos beijado no dia anterior, e eu achei que sentia algo
por ele, por isso fugi da amiga de Alicia, Raquel. Passei a noite no mato e lá André apareceu,
passamos a noite juntos e quando o Rafael voltou simplesmente deu um ataque de histeria. Pensei
que fosse apenas ciúmes bestas, mas não passou muito tempo e ele voltou para Alicia, eu e André
continuamos juntos, planejando nossa vida, mas de repente... ele sequestrou Alicia, a matou e me
disse quem era. Fim.

Engulo a vontade de chorar e percebo o quão os olhos da doutora estão arregalados.

- Então... você está gravida dele? _ ela ficou pálida.

- Sim. É dele! _ abaixo minha cabeça.

- Eu não acredito que isso seja verdade, tem algo errado nessa historia. Esse André é conhecido?

- André Meireles, senador do Rio de Janeiro, homem influente, bem articulado.

Ela arregala os olhos.

- Perfeito para um psicopata. _ ela se levanta da cama e começa a caminhar de um lado para
outro dentro do quarto.

- Será impossível prender esse cara! _ digo e ela sorri.

- Impossível não. Você sabe que podemos. _ ela sorri maliciosa e então sorrio também.

- Podemos fazer o que quisermos, mas precisamos acha-lo primeiro. _ digo e ela balança a
cabeça que sim.

- O fato é que eu consigo convencê-lo.

Ela diz vitoriosa.

- Preciso contar isso ao Rafael. _ digo e então ela fica séria.

- Ele não pode saber, Débora. Ele está nervoso. Fará besteira.
Pondero por um tempo e percebo que ela tem razão.

- Então o que faremos e se ele perguntar?

- Aposto que ele não quer falar com você, pelo menos eu não falaria, aproveita esse momento
para se redimir.

- Se bem que você tem razão. Eu vou entregar esse homem na mão dele.

Sorrio satisfeita.

- Como assim na mão dele?

Olho para ela e então faço com que ela se sente a minha frente.

- Eu te ajudo se você deixar que o Rafael o mate.

Olho para ela não deixando brecha para que pense que estou brincando.

- Eu não posso fazer isso, eu sou responsável por cumprir a lei e não escrachar!

- Desculpa Renata, mas é isso ou nada! Faça que ele fique aços com o Rafael depois do
julgamento, e eu te ajudo a alavancar sua carreira.

Ela pondera um pouco e começa passar as mãos pelos cabelos longos e soltos.

- Feito, Débora. Pelo visto você é boa negociante.

- Não, eu sou justa! Uma vida pela outra. _ estendo minha mão para ela e ela aperta.

- Só peço uma coisa, não comente nada com ninguém. Eu não sei em quem confiar.

- Não sabemos.

Ela assente se levanta e sai.

Alguns minutos depois Augusto volta para o consultório, dessa vez, sem muitas gracinhas.

- Está de alta, recomendo que não faça esforços drásticos até completar três meses, mas não se
preocupe, seu bebê está em ótimo estado. Sua pressão também está controlada. Creio que isso não
seja um problema.

Ele diz e sai do quarto.


Mesmo que o Rafael não queira me ver, eu preciso ir até ele, eu preciso ver como ele está.

Não importa o que aconteça, eu sempre estarei com ele. Somos irmãos.

Saio de dentro do hospital e encontro com o socorrista saindo também, ele nem espera eu me
pronunciar de alguma maneira e já sorri.

- Como está a assassina mais fria desse lugar? _ ele brinca me arrancando um sorriso.

- Está bem, mas louca para matar mais alguém. _ faço cara de mau e é a vez dele de gargalhar
e jogar a cabeça para trás, deixando-o extremamente sexy.

HUM...

- Está a pé? Ou alguém vem te buscar? _ ele pergunta sem graça.

- Ora, ora, já está me cantando? Desculpa senhor, mas estou grávida. _ ele abre um grande
sorriso, abaixa a cabeça e quando volta a me olhar passa a língua pelos lábios.

- Como você disse, está grávida, não morta e muito menos casada! Mas respondendo sua pergunta,
estou apenas sendo legal. _ ele sorri novamente fazendo cara de safado.

- Então vamos. Vou abusar já que está sendo tão legal. Poderia me levar em casa e depois na
casa do meu amigo?

Ele assente e então o sigo.

Me surpreendo ao ver o carro dos meus sonhos. Um volvo. O carro do melhor livro que já li e
então sorrio.

- Mais uma. Eu não sou nenhum Bruno! Pelo menos não esse! _ ele sorri e eu gargalho.

- Como sabia? _ bato em seu ombro.

- Não é a primeira que olha para o meu volvo desse jeito. _ ele revira os olhos.

- Então isso me fez perceber que ainda não sei seu nome. _ digo com um sorriso torto.

Não estou entendendo porque estou mostrando minhas canjicas, não tenho motivos para isso.

- Meu nome é Bruno. _ ele sorri.

- Para! É serio.

- Mas quem disse que estou brincando? _ dessa vez ele fala sério e então boquiaberta fiquei.
- Prazer Bruno, eu não a Ane. _ brinco.

- Prazer Débora Moraes. _ ele diz me fazendo sorrir. Entro no carro e ele me leva até em casa,
tomo um banho rápido. O deixo sentado na sala e logo volto ouvindo seus elogios de que estava
cheirosa.

Queria que tudo fossem flores como esse momento está sendo.

[...]

Chego à casa do Rafael e tudo está escancarado, meu coração se acelera ao pensar na
possibilidade de algo ter ocorrido e então dispenso o Bruno.

- Vai ficar tudo bem? _ ele pergunta aparentemente preocupado.

- Vai sim, não se preocupe.

Eu me preocupo.

Espero passar do portão e o tranco, saco minha arma e coloco-me em posição. Entro na casa e
não consigo ouvir nada, nem se quer um sinal de vida, mas a moto dele está lá na frente.

De repente ouço coisas se quebrando e gritos que reconheço ser dele.

Corro em direção as vozes e antes de entrar na lavanderia coloco a arma em posição.

Encontro ele debruçado sobre as roupas sujas de Alicia, chorando desesperado e quando me
aproximo deixo a arma de descansada, mas não a guardo. Preciso ficar em postos, ele está em
perigo.

Quando me aproximo dele, Rafael apenas me olha lançando-me um olhar desesperado, olha
para mim e segura a minha mão juntamente com a arma.

Meu coração se quebra em pedacinhos nessa hora.

- Por favor, acabe com esse sofrimento. Me mata! Por favor! Eu não posso viver sem ela! _ele força
a minha mão a colocar a arma na cabeça dele e começa a chorar desesperadamente.

Meu Deus, por favor, me ajuda!

Começo a chorar sem parar.

- Atira, Débora, por favor! Me faça esse favor. _ ele segurava a arma com mais força em sua
testa.
- Eu nunca seria capaz disso, meu irmão! Não faça isso comigo! Eu preciso de você. _ me ajoelho a
sua frente e ele me abraça.

- Eu não suporto mais perder as pessoas que eu amo! Não suporto! _ ele me abraça com força e
começa a respirar compulsivamente.

- Eu não saberia viver sem você! Eu só tenho você! Não me deixe! _ digo beijando seu ombro.

- Eu senti inveja do homem que você matou hoje! Ele deveria ter acertado o tiro! Ele deveria ter me
matado! _ ele grita e soluça ao mesmo tempo.

- Não! _ o abraço mais forte tentando acalmá-lo. Percebo que sua blusa ainda está cheia de
sangue e que provavelmente nem um curativo ele fez. Mas mesmo assim o mantenho em um abraço
forte.

Até perceber que ele adormeceu em meus braços.


CAPÍTULO 25

DÉBORA MORAES

Depois de cuidar durante a noite toda do Rafael, estava sentada na cadeira o olhando dormir. É
incrível vê-lo tão abalado com alguém que conhece há tão pouco tempo; o amor que ele sente por
ela é mais forte do que tudo e por esse motivo eu preciso saber o que aconteceu. Preciso que ele
se recupere ou pelo menos se conforte.

Olho para tela do meu celular e penso em ligar para Renata, mas antes que meus dedos
fizessem o caminho até a agenda, seu numero aparece em minha tela inicial.

- Oi. _ digo respirando fundo e tentando não acordar meu amigo.

- Oi, eu tenho novidades. _ ela diz um pouco animada do outro lado da linha.

- Eu vou sair daqui, espere um minuto. _ levanto com cautela e antes de sair do quarto dou a ultima
olhada para ele.

- Pode falar.

- Descobri que o André estará de volta à cidade amanhã.

- Mas já? Eu pensei que ele fosse demorar mais um pouco.

- Eu acho que ele quer algo para ter que voltar aqui. Desconfio que esteja atrás de seu amigo.

Ela diz preocupada, deixando-me em alerta também.

- Ele não vai conseguir nada! Seu irmão e eu não deixaríamos. _ digo sentindo um embrulho em
meu estomago.

- Você sabe que pra ele não tem isso, mas não queremos problemas. Eu e você teremos que ficar
de guarda, eu ainda não consigo confiar em nenhum dos meus parceiros. _ ela diz e posso sentir
por sua voz que fala com desgosto.

- Temos pessoas sujas em qualquer grau da sociedade, mas isso não vem ao caso. O que muda se
ele voltar aqui? Não teríamos como saber de nada do mesmo jeito.

- Depende! Se uma mulher bonita aparecer na frente dele, talvez fique mais fácil. _ ela sorri.

- Sim, o problema é que nem eu nem você poderíamos ser essa mulher. _ reviro os olhos mesmo
sabendo que ela não pode ver.
- Eu tenho uma irmã. Ela não vive comigo, mas podemos confiar nela, aposto que amaria um perigo
assim.

- Se vocês tem o nome igual facilmente ele te acharia. Cuidado.

- Está tratando com uma delegada, Débora. E não com uma qualquer, não me subestime, por favor!
_ ela diz com raiva e então permaneço em silencio por alguns segundos.

- Faça como quiser, eu só quero que esse crime seja desvendado.

Já sem muito saco finalizo o assunto.

- Me encontre. Preciso que conheça minha irmã.

- Sim, mas agora preciso ir; alguém está no portão.

- Até mais.

Finalizo a chamada e vou até as escadas, desço e então olho pela câmera reconhecendo Raquel
e Ricardo no portão.

Abro o portão e logo eles estão na porta.

- Como foi à noite? _ Raquel me abraça e vejo quanto está sofrendo. Seus olhos estão vermelhos.

- Foi horrível. Ele pediu para que eu tirasse a vida dele. Aquilo acabou comigo!_ respiro fundo
tentando não deixar que as lágrimas caíssem.

O silêncio pairou por alguns segundos, pude ver que ela não conseguia dizer nada e muito
menos o Ricardo.

- Vou vê-lo.

Ela diz se afastando, mas o Ricardo permanece ali, como estatua em minha frente.

- Ele precisa de vingança. Não podemos deixar isso assim, nem muito menos que ele tente contra a
própria vida.

Olho para o Ricardo tentando entender o que ele estava pensando, na minha cabeça aquilo
parecia minimamente loucura, mas para ele, era algo sensato a se fazer.

Não que não fosse, mas não estamos no momento certo.

- Acho que você não tem noção de como seu irmão está! O que você acha que vai acontecer se
ele nesse estado tentar lutar contra alguém? Ele não tem forças!

- Eu posso estar enganado, Débora, mas acho que você não conhece seu amigo! Meu irmão já fez
coisa pior e garanto que ele estava desse jeito ou até mais fraco.

- O que ele fez no passado dele não me importa. Não me importo com o que ele era antes de me
conhecer, mas eu tenho certeza de que ele não é a mesma pessoa. Ele já passou por muita coisa na
vida. A gente cansa sabia? Acabamos mais fracos no final.

- Não! Nós terminamos mais fortes. Mais frios. Mais sensatos! Eu posso te respeitar e aconselhá-lo a
seguir por outro caminho, pelo menos, por enquanto. Mas eu não concordo com o que acabou de
dizer e acho que nem você mesma.

Ele diz apoiando-se no batente da porta e deixando-me sem jeito ao me olhar.

- Não pense que a raiva te consome, ela te constrói. Faz você criar objetivos, foco!

Ele diz com destreza e então me calo por alguns segundos.

- Respeite o luto dele, depois o ajude da maneira que achar melhor.

Digo e ele assente.

Antes que ele sumisse da minha vista, chamo seu nome e ele para na escada.

- Tome conta dele, eu vou precisar sair. _ digo e me viro, mas antes que eu pudesse atravessar a
porta sua mão segura meu braço com força, fazendo-me olhar para ele.

- Cuidado com o que você faz Débora! E não tente me enganar, eu não sou nenhuma criança. _ seu
tom sério me assusta.

- Me solta!_ puxo meu braço.

- Eu faço o que eu quiser. E não, eu não vou me matar! _ reviro os olhos e viro as costas, pego a
chave da moto e giro-a fazendo com que a moto ligue, logo saio acelerando
despreocupadamente.

Parei algumas quadras a frente esperando o endereço que Renata me mandou. Duvido que ela
não tenha mandado já que queria que eu fosse lá.

Confiro o endereço e sorrio, vou passar por um dos lugares que mais gosto de minha cidade,
nunca imaginei que uma delegada moraria em um chalé.

[...]
Desço de frente a um chalé muito bem arrumado e cheio de câmeras. Muito discreto! Nossa!

A cara daquela mulher.

Vejo que alguém olha pela cortina e a fecha rapidamente. Eu em.

Aproximo-me da porta e pondero um pouco antes de bater, confiro o endereço e percebo que
está correto e então bato na porta.

Em poucos segundos a porta se abre e então vejo uma mulher de cabelos negros, grandes olhos
azuis e batom vermelho com pose sensual se encostar ao batente da porta e então tenho certeza
que a Renata me sacaneou.

É muito idiota se eu perguntar se Renata mora aqui? Pondero mais um pouco e então decido que
não custa nada. A mulher parada minha frente estranhamente possuía um sorriso no rosto.

- Olha, sei que devo estar com cara de idiota, mas... a Renata, delegada, mora aqui? _ pergunto e
tenho a certeza que estou com cara de idiota.

- A única Renata que tem aqui sou eu. E me desculpa, mas a única coisa que eu sei fazer é sexo.
Ela estoura uma bolha de chiclete.

- Obrigada. Deve ter sido engano. _ tento não demonstrar minha expressão surpresa e então me
afasto.

Mas antes que eu pudesse subir na moto, ouço uma gargalhada alta e então olho para trás.

- Sou eu, Renata! Pelo visto conheceu minha irmã. _ aquela mulher de cabelo preto foi abrindo
espaço para a mulher que eu conhecia, ainda não visualmente, mas sim em seu comportamento.

Sorrio sem acreditar e então vou em direção a ela novamente.

- Eu nunca te reconheceria nesse papel. _ digo olhando-a mais de perto.

- Não mesmo? Eu tenho esse disfarce desde que eu era da policia federal. Trabalhei infiltrada
durante alguns anos. _ ela diz e dá de ombros.

Por que uma pessoa sairia da policia federal para a civil?

- Vamos entre. _ ela me dá espaço e então olho o chalé por dentro e fico meio surpresa com a
decoração. Não aguento e começo a sorrir.

- Rosa. _ gargalho mais alto dessa vez.

- Vá à merda. Vamos resolver nossos problemas, ainda não somos amigas para deixar que você
me zoe, sou autoridade.

Ela diz séria e resolvo balançar as mãos e braços em rendição.

- Como preferir. _ sento-me em seu sofá.

- Eu acho que consigo ludibria-lo. _ ela diz e se olha.

- Eu acho que não. Ele não gosta de vagabundas, a Alicia não era assim, pelo contrário, gostava
de esconder o jogo, era menininha.

- Você acha mesmo? E você? Desculpa tocar nesse assunto.

- Eu era virgem. Me encantei rapidamente. _ desfoco minha vista.

- Virgem? Quantos anos você tem? Catorze? _ ela revira os olhos.

- Não. Vinte e seis. _ falo séria. Não gosto quando ninguém faz chacota com isso. Eu sou negra,
onde eu moro as pessoas são racistas, nunca fui muito sociável. Então não é legal brincar com o
que não sabe.

- Isso não importa. Obrigada por dizer, mas acho que eu não tenho cara de inocente e muito
menos buraco de menininha. Não tenho nada virgem nem o signo! _ ela fala de maneira
engraçada.

- Eu posso te ajudar e se vestir como uma, mas na hora dele te levar para a cama, será mais difícil
de enganar.

- E como você sabe que eu vou pra cama com ele?

- Ele pode ser o que for, mas fode tão bem quanto mata! _ digo e dou de ombros.

Ela se senta a minha frente aparentemente interessada.

- Então terei que foder muito bem antes.

- Garanto que nem sua melhor foda será igual à dele. Pena que não presta. _ respiro fundo
lembrando-me das vezes que me levou ao céu e ao inferno ao mesmo tempo.

- Deveríamos estar conversando sobre algo mais produtivo. Precisamos pegar esse canalha. _ ela
diz e então volto à realidade.

- Eu só quero saber se o trato está de pé. Eu não vou te ajudar se meu Rafael não matar ele na
cadeia. Não importa como você pensa em fazer, eu só quero que ele morra pelas mãos do Rafa.
- Eu já disse que está tudo certo, Débora. Mas eu não creio que seu amigo seja tão burro. Ele te
conhece. Vai querer saber o que tanto você faz fora de casa.

- Eu não dou satisfação da minha vida. Não será agora que ele terá que se meter.

Digo e então ela concorda.

ALICIA DALGLIESH

No dia seguinte...

Acordei me sentindo enjoada e sem muita disposição, ainda estava jogada naquele chão frio,
mas tinha a sensação de que seria por pouco tempo.

- Olá, minha querida. Como passou a noite? Mais uma vez peço desculpas por te deixar aqui, mas
isso já vai acabar. _ a voz do André invade minha mente, deixando-me um pouco atordoada.

- Duvido, pare de ser falso, não se importa comigo! _ falo com minhas ultimas forças, não lembro a
ultima vez que comi ou bebi algo.

- Não fale isso minha querida, eu passei quatro anos lhe procurando, é até mesmo ingratidão dizer
algo assim! _ ele se abaixa e segura meu queixo com força, dando-me um selinho.

Reviro os olhos e deixo que meu corpo caísse por cima do colchão fino.

- Eu preciso de comida. Estou faminta.

- Por isso estou aqui, vim te convidar a ir a um local comigo. Vai se divertir, ver gente, mas preciso
que se comporte.

- Me comportar? Eu não quero ir a lugar nenhum, preciso só de comida!

- Acho que você não entendeu. Não estou pedindo minha querida, estou mandando.

- E como acha que o Rafael ficará se me ver? Acha que será fácil assim? Sair comigo livremente?

Ouço uma gargalhada demoníaca dele e então meu coração sangra.

- Qual importância tem? Só se ele te ver do inferno! Você acha mesmo que eu o deixaria vivo?
Acorda!

Respiro fundo e tento manter-me sem chorar, sei que isso parece sujo, mas eu preciso me manter
acordada. Eu não quero que ele faça nada enquanto eu esteja desacordada. Não saberia lidar se
perdesse meus filhos... Se bem que... Lembrar-me das noites anteriores me deixa desconfiada se
ainda tenho os frutos do meu amor com Rafael em meu ventre.
- Não vai falar nada? Chorar, se descabelar, vamos lá, estou esperando o show, putinha!

Apenas lanço um olhar mortal em sua direção, ele recua um pouco, mas logo volta e se senta ao
meu lado.

- Me desculpa meu amor, eu não queria te magoar. É que esses anos longe de você acabou
comigo! _ ele passa as mãos pelos meus cabelos e bochecha, mas eu não recuo.

- Vou chamar alguém para te levar pro meu quarto. Vou dar algo para que você se mantenha de
pé e ajeitar essa sua cara. Nem parece aquela menina doce que eu observei durante anos.

- Eu não sou mais a menina que você observou! Eu me perdi quando senti o pau do Rafael
entrando em mim e fazendo com que eu gozasse nele! _ digo e me arrependo em seguida.

- Eu já disse que você não deve mais falar isso! A única coisa que segura esses filhos em sua
barriga é pensar que eu posso cria-los e fazer dele pessoas como eu. Sei que não posso ser pai,
mas essas crianças me serviram bastante.

Ele pressiona a faca contra meu ventre e dessa vez deixo que uma única lágrima escorra de
meu rosto.

- Desculpa. _ peço ao ver que ele cada vez pressiona a faca com mais força.

Eu estou vivendo um pesadelo, eu não posso acreditar que toda aquela felicidade tenha se
tornado algo tão infernal como isso que estou vivendo.

- Nada, tenho que te contar uma coisa. _ um sorriso doce toma conta de sua face.

Esse homem me dá arrepios.

- Diga algo. Quero ver sua empolgação também! _ ele diz com raiva.

- Diga.

Falo sem muito animo. Eu realmente preciso comer.

- Sua mãe não irá mais lhe importunar. Eu dei um jeito para que ela nem venha mais aqui.

- Você matou a minha mãe? _ pergunto sentindo uma coisa estranha no peito.

Ele gargalha.

- Você acha que eu teria capacidade de fazer algo assim com minha sogrinha?
- Pelo menos teria feito algo justo! _ digo sem olhá-lo.

- O mundo não é justo, querida! _ mais uma vez seus olhos me mostravam algo que eu não
conseguia decifrar, mas que mesmo assim preferi não me aprofundar.

- Tem razão. Mas agora, por favor, eu preciso tomar um banho, comer.

Digo começando a ficar tonta, acho sinceramente que irei desmaiar.

- Vamos, você tem razão é injusto deixar minha esposa nesse lugar horrível, mas por enquanto, eu
não posso te oferecer mais. Não quero que fuja de mim.

Ele diz com certo receio e ódio ao mesmo tempo.

Não digo nada, apenas o observo, olho cada parte de seu corpo, tentando não achar algo que
eu tenha tanta raiva, mas eu olho para algo que faz meu coração gelar.

- Meu pai! _ digo mais para mim do que pra ele.

- Nossa, pensei que você nunca perceberia, estou com ela desde o primeiro dia.

- Você não devia. _ mais lágrimas escorrem dos meus olhos sem que eu tenha controle.

- Eu guardei pra você. Achei quando invadi essa cara para te trazer pra cá. Estava tudo
igualzinho a quando sua mãe te vendeu.

Meu coração acelera, a saudade do meu pai me faz sentir tanta dor.

Não só dele, mas da Raquel, do Rafael.

Tirando-me dos devaneios de tristeza, ele coloca a pulseira em meu braço onde o nome do meu
pai e o meu estavam escritos.

- Obrigada. _ agradeço ao passar a mão sobre as letras.

- Nada, tenho mais uma novidade, eu pensei que ter alguém conhecido com você lhe faria bem. Sei
lá. Às vezes você se solta mais, então lhe trouxe alguém. _ ele sorri. E grita algo como "pode
entrar"

Quando meus olhos batem na mulher de grandes olhos azuis, cabelos pretos em corte Chanel e
roupas de grife, eu paraliso, fico ali a olhando por minutos.

- Raquel! _ balbucio sem acreditar.

- Ué, não entendi a surpresa. Bom dia minha querida!


- Não é surpresa. É que pensei que poderia estar enganada sobre você. Somente isso.

Analiso seu corte novo e dou um belo sorriso. Ficou ridículo! Cabeça de abobora!

- Deveria saber que estou onde o dinheiro está. Estou do lado de quem pode ser útil para mim!

Ela diz com frieza e então coloca a mão sobre o ombro do André.

Espero do fundo da minha alma que Débora não esteja se culpando. Não foi ela.

- Seu irmão vai morrer quando te ver assim! _ digo com raiva.

- Meu irmão já é um peso morto! _ ela diz com nojo na voz.

Eu sempre ouvi falar muito bem do Christian, um empresário muito famoso que esteve presente
na mídia durante muitos anos, até alguns dias ainda via o sucesso de sua empresa expostas em
jornais, é muito difícil ver que sua irmã não é tão limpa quanto ele.

- Seu irmão pelo que eu vejo é um ótimo pai, um ótimo avô e mais ainda um ótimo empresário. _
digo com um pouco de raiva.

- Ele matou nossos pais, ele fugiu e trocou seu nome! Para de falar de quem você não sabe!

- Eu não sei de nada! _ digo por fim, dando-me por vencida. Eu realmente não posso falar de
quem não conheço.

- Vamos que vou te dar um banho e te arrumar, temos que estar no aeroporto em duas horas.

Ela diz e então tento me levantar inutilmente.

- Estou sem forças. _ digo sentindo-me ainda mais tonta.

- Fraca mesmo! Não sei como ainda queria ser mulher do Rafael! Sangue Mello é muito forte pra
você.

- Eu vou deixar vocês a sós. Se divirtam. _ André diz olhando para o celular aparentemente
preocupado.

Assim que ele fecha a porta eu começo a chorar sem parar.

- Por favor, diz para mim que o Rafa está vivo!? Só me responda isso. Não preciso saber de mais
nada.

Suplico.
- Vamos tomar banho, Alicia! Esqueça quem não está mais entre nós. _ ela diz com frieza e então
faço força para ficar de pé.

ANDRÉ MEIRELES

Eu tinha certeza que teria que tomar medidas de seguranças surpreendentes para não deixar
que a Alicia fugisse como da outra vez, aquela mulher parece fraca, delicada. Mas é
surpreendente quando quer algo. Eu odeio ficar longe dela, longe de seu perfume e da alma
pura que ela tem, mas odeio a mania dela de querer mais do que eu.

Ela devia se contentar em me ter! Não importa se eu a trate mal, nós nos casamos. É para
sempre.

Meu pai me ensinou que quando uma mulher transa com a gente, ela passa a ser nossa. E é isso!
Ela é minha. PARA SEMPRE.

A deixei sem comida por uns dias apenas para me certificar que ela não teria força o suficiente
para tentar algo, contratei Raquel bem antes de sequestra-la. Queria uma pessoa experiente com
fuga, com armas e com luta.

Mas o que me deixou mais louco foi receber imagens de uma morena fabulosa que estará
presente na festa.

Sei que amo a Alicia, mas não posso perder a oportunidade de comer uma carne diferente e
não contaminada.

Meu tesão é em santas, quanto mais sérias, serenas, limpas, mais meu instinto animal furioso e
comedor vem a tona.
CAPÍTULO 26

DÉBORA MORAES

Tudo já estava preparado, mas algo me dizia que tudo poderia ir por agua abaixo, caso não
saísse do jeito que queríamos.

Renata cismou de se conduzir como uma pobre coitada, indefesa e virgem. A cara da falsidade
para ser mais exata.

Não há como aquela mulher se fazer de santa, a imponência de sua idade e de suas
experiências exalam até mesmo por seus poros.

Mas se ela acha que se fingindo de ingênua conseguirá algo dele, não há problema. Estarei ao
seu lado.

Passamos a noite e parte dessa manhã discutindo como faríamos para manter tudo em segredo,
não poderiam ao menos desconfiar que ela se trata da delegada de nosso município. Muito menos
que com ela estaria a sua ex-idiota.

Eu.

Compramos algumas roupas diferentes e como o comitê ou sei lá o que, que eles faram é sobre
etnias, preconceitos e sabe se lá mais o que. Resolvi ir de muçulmana. Espero não ser confundida
com terrorista e morta.

Fora os problemas de identificação que teremos, eu não sei em que estado se encontra o Rafael.
Eu posso sentir que Ricardo não é a melhor companhia para ele nesse momento, mas eu não posso
desviar meu foco. Preciso saber quem esse homem é e por que ele cometeu tantas atrocidades.

Quero saber que tudo aquilo foi uma armação e que a Alicia está viva e bem. Seria muito se eu
pedisse que os bebês estivessem bem?

Talvez, sim ou claro?

O que me deixou indignada foi como eu pude ser enganada tão rapidamente. Eu sou treinada,
eu deveria ter visto que ele não valia o chão que pisa.

- Se pensar mais vai ferver!

Ouço Renata atrás de mim e então a observo.

- Você deveria ganhar um premio em como chegar mais silenciosa que um fantasma. Seus pés não
fazem barulho?

Ela sorri de lado e se senta a minha frente.

- Você não sabe o que é passar a vida toda tentando ser alguém protetor para sua família e no
final não resolver nada. _ ela fala algo que remete ao seu passado, pude ver uma lágrima
solitária escorrendo por sua face.

- Você também não sabe o que é ver famílias unidas todos os dias e não poder dizer o mesmo da
sua. _ digo virando meu rosto.

- É melhor deixarmos esse assunto para uma hora menos conturbada. Comprei o resto do que
precisava para mais tarde.

- Vai se vestir de santa mesmo? _ deixo um sorriso sem dentes aparecer.

- Puritana e maravilhosa. _ ela joga a cabeça para trás deixando uma gargalhada estrondosa
sair.

- Você acha que é assim? Para de rir! Não vai ser fácil.

- Todo louco tem um ponto fraco! Deveria saber disso! _ ela revira os olhos para mim.

- Por esse lado você tem razão. Não posso pensar negativo. Nós vamos conseguir. _ me levanto
indo em direção a uma bolsa de roupas que eu já havia trago para cá.

Daqui para frente e por alguns dias minha casa será está e outra por onde Renata for.

- Assim que se fala garota! Agora vá se arrumar, já está quase na hora de começarmos.

- Me arrumar? Eu vou de burca! _ reviro os olhos.

- Uma boa muçulmana exibe belas maquiagens nos olhos. _ Renata me dá um tapinha nas costas.

- Pode ser. _ dou de ombros e busco dentro de minha bolsa uma calcinha e sutiã limpos.

- Eu vou ter que usar cabelo preto! Como eu acho isso ridículo! _ Ela bufa indo em direção ao
banheiro com uma caixinha de tinta para cabelo.

Decidimos que ela pintaria o cabelo, não queremos que ele descubra que ela estava apenas de
peruca. Eu sei bem o quanto ele gosta de puxar cabelos. Não seria uma surpresa muito agradável,
principalmente porque ele poderia muito bem suspeitar.

- Faça bom uso... Adeus cabelos loiros. _ digo sorrindo.


Fui em direção ao outro banheiro com toalha e maquiagens em mãos. Nunca gostei muito de
marcar meus olhos. Não gosto da pele mulata com excesso de maquiagem.

[...]

Eu já estava arrumada e pronta, com perfumes fortes e belas joias pouco aparentes, meus olhos
estavam definitivamente diferentes, lentes mais claras, deixando meu olhar em pelo menos quatro
ou cinco tons mais claros, delineador forte e sombra dourada o suficiente para chamar a atenção
de longe, mas enquanto isso, Renata ainda estava naquele quarto. Pressentia que nem eu mesma a
reconheceria e foi quando meu celular chamou e um número diferente apareceu em minha tela.

- Alô_ digo um pouco desconfiada.

- Oi, não precisa falar assim, é o Bruno. Eu vim te buscar.

- Me buscar? Acho que tem um engano!

- Débora, por favor, saia já dessa casa. Estamos atrasados.

- Renata?! _ grito tentando entender o que estava acontecendo.

- Vá. Está na hora. _ bufo.

- Mas por que ele? Não estou entendendo.

- É confiável e forma um belo casal com você. _ ela grita em resposta.

- Mas eu nem te vi! _ resmungo já pegando minha carteira.

- Nem precisa. Boa festa.

Quando estava quase chegando à porta ela me chama.

- Não se esqueça de avisar ao irmão do seu amigo para que ele tenha cuidado.

- Deixe comigo. _ respiro fundo e fecho a porta.

Pego meu celular e disco o numero do Ricardo. Não é de livre e espontânea vontade, eu ainda
não vou com a cara dele, mas não custa nada.

- Não pensei que fosse me ligar, independente. _ ele soa irônico. Tento não me chatear.

- Não é de livre e espontânea vontade, mas só queria conversar sobre algo.

- Diga rápido, não quero deixar o Rafael sozinho. Ele passou esse tempo todo chorando. Achei um
estilete com ele, não sei o que ele iria fazer, mas prefiro não pensar.

- Cuide dele. Estou com um sentimento esquisito. _ digo sendo verdadeira e também escondendo o
jogo.

- Deixe comigo. _ ele diz e quando eu ia desligar ele torna a falar.

- Me desculpa por ontem! Eu não sabia que ele estava tão mal assim.

- Como nós dois sabemos, esse não é o primeiro trauma dele. É normal que a queda fosse pior. _
tento usar o tom mais frio possível.

- Tudo bem, boa noite. _ ele usa o mesmo tom que eu.

Meu coração acelerava á medida que eu me aproximava do portão. E então antes de


atravessa-lo respiro fundo.

- Boa noite. _ Bruno diz encostado ao seu volvo.

Sinto minhas pernas tremerem, mas mantenho-me firme.

- Boa noite. _ olho dos seus pés até sua cabeça e então percebo que está usando um adereço de
sheik. O que me dá uma grande vontade de sorrir.

Minha vida passou de monótona para um filme de ação em um piscar de olhos.

- Amei seus olhos, na cor mel falsa. Devia usar mais vezes, ficou muito bom. _ ele abre a porta do
carro para mim e quando eu ia entrar ele segura em mim por trás, colocando sua mão sobre meu
ventre e me puxando para ele.

- Está muito cheirosa também. _ ele diz em um tom rouco que me faz fechar os olhos.

- Obrigada. _ entro no carro rapidamente e respiro fundo prestando atenção no monumento


atravessando a frente do carro.

Esse Bruno está me saindo melhor do que o do livro.

Assim que ele entra no carro o seu cheiro invade o ambiente, deixando-me ludibriada o
suficiente para esquecer-me do real motivo de estar ali.

- Devia conter a respiração. _ ele diz e eu não tenho coragem de encará-lo.

- Essa situação está me matando. Estou com medo. _ não disse que situação, mas com certeza a de
entre minhas pernas não estava favorável ao momento.
- Se eu pudesse ver suas bochechas com certeza saberia a situação que está. Mas vindo de seus
olhos posso ver que não há o que se preocupar. Essa situação de calamidade já tem data certa
para o fim.

Esse é mesmo o cara que eu conversei naquele dia?

- Você é a mesma pessoa que cuidou de mim naquele dia? Certeza?

- Com nome e sobrenome adequados e se quiser com carteirinha de socorrista também.

Ele me dá um sorriso de canto de boca.

- Acredito em você. _ digo.

Mantemos silencio até a chegada ao local, mas um movimento estranho deixou-me alerta assim
que comecei a prestar atenção no movimento do local.

- Não estacione. Espere aqui. _ digo observando ainda mais a movimentação e não entendo o
sentido de tantos seguranças em apenas um local.

Em questão de segundos eles se aglomeram na porta do carona de um carro baixo.

- Está vendo isso? _ pergunto atenta e tiro minha burca.

- Estou e não sei por que, mas acho que devemos sair daqui.

- Esse é o local do evento, não temos motivos para sair, apenas esperar. _ digo tentando ver algo
pela parede formada de homens fortes e de roupas pretas.

- O que você acha que é? _ ele me pergunta desligando o farol.

- Se eu estiver certa... _ e então uma pessoa sai do carro, os homens tomam seu redor e a única
coisa que consigo ver são cabelos loiros e uma pele clara do braço.

Mas antes que eu pudesse raciocinar, as mãos de Bruno me empurram para o banco. Outro
carro passa por nós, dessa vez os seguranças olham para o nosso carro de maneira estranha, os
seguranças que ali estavam já haviam desaparecido com a convidada misteriosa.

- Desculpa, mas a luz da rua poderia mostrar seu rosto.

- Esse carro tem vidro escurecido! Seria impossível.

- Melhor prevenir, Débora.

Quando o carro estacionou dois seguranças com o mesmo uniforme dos outros que haviam subido
pararam de frente ao carro e quem desceu incrivelmente não me surpreendeu.

- Bem vindo ao jogo. _ digo ao Bruno e então coloco a burca novamente.

- Antes, eu preciso te entregar uma coisa. _ ele diz e então paro de frente a ele.

Seu corpo se aproxima do meu e suas mãos vão lentamente subindo por meu pescoço e logo
param em minha orelha deixando ali um ponto.

Sorrio tentando não demonstrar o que eu havia sentido.

- Estamos devidamente equipados agora. _ ele diz com um sorriso torto nos lábios.

- Sim. Vamos. _ ele estaciona o carro, a rua estava cheia e aparentemente havia jornalistas.

- Como sabe que não será reconhecido? _ pergunto notando que ele não veste nada para
disfarçar sua aparência.

- Ninguém presta atenção em um socorrista. _ ele diz e da de ombros.

- Depende...

Acabo deixando que escape.

- Depende de que? _ ele me olha.

- Deixa. Posso descer?

- Seria ótimo, se não fosse ridículo! Claro que não, eu devo descer primeiro.

- Sim senhor. _ ele sorri safado e abre a porta do carro, em seguida vai até o meu lado e abre a
porta dando-me espaço.

- Não fale nada! Não quero ouvir sua voz! Apenas escute. _ ele diz em um tom rígido.

- Sim senhor. _ provoco-o e então ele se aproxima quase colando seu corpo.

- Não me chame assim. _ ele aponta o dedo diante de meu rosto e então sorrio sabendo que ele
identificará meu olhar.

Ele sai na frente e eu o acompanho com um pouco de distancia, ao passar pela porta percebo
que a uma subida para o segundo ou outros andares. Quero muito saber quem estava naquele
carro.

Bruno entregou convites ao ultimo segurança, que logo sorrio e abriu espaço para um lindo
salão. Nunca tinha frequentado essa parte da cidade, sempre achei muito culta para mim e para
meus costumes masculinos. Mas confesso que há sua beleza e um bom gosto incrível.

- Que arquitetura maravilhosa! _ ele diz ao olhar em volta e eu sou obrigada a concordar com um
aceno com a cabeça.

- Vamos nos sentar ali. _ ele aponta para uma mesa separada que tem uma visão privilegiada de
todo espaço.

Assinto de novo, minha língua já está coçando de tanta vontade de falar.

Ao nos aproximarmos percebi que não havia ninguém perto. Excelente.

- Ainda não entendi como a Renata entrará aqui. _ reviro os olhos.

- Ela é uma ótima atriz, Débora.

Ele diz sorrindo.

- Eu não duvido. Mas não custa questionar. A segurança está de ponta.

- Não posso questionar isso também. _ ele diz mordendo os lábios inferiores.

- você não devia fazer isso.

- Sou um homem cheio de poderes. _ ele sorri.

Ouço o ponto de meu ouvido ligar de alguma maneira e evitando demonstrar incomodo apenas
me mexo na cadeira.

- Ligou? _ ele sorriu.

- Sim.

Sorrio.

- Eu já estou aqui, tente me achar! _ ouço a voz da Renata de felicidade.

- Tudo bem.

Sem expressar que eu procurava alguém passei meus olhos pela festa que ainda nem havia
começado.

Procurei por todos os cantos, mas não consegui, de maneira nenhuma, encontra-la.
- Ainda não achou? _ Bruno pergunta sorrindo novamente.

Alguém avisa para ele parar de sorrir? Meu Deus!

- Não.

- Olhe para frente, vire em um ângulo de trinta graus a sua esquerda, ache a professora, com
cabelos negros soltos e escovados e também óculos quadrados.

Não aguento e gargalho.

- Aquelazinha ali? _ sorrio novamente.

- Ele só vai descobrir que não sou virgem quando me comer. _ ela diz e sorri de lado.

- Ué já está entregue assim? _ Bruno pergunta em um tom esquisito.

- Já sim, algum problema maninho?

- Maninho? _ pergunto.

- Mais tarde conversamos. Minha isca está chegando.

Ela se posiciona de uma maneira minimamente diferente, abaixa os ombros, deixando sua boa
postura de lado, passa a língua pelos lábios como uma ninfetinha safada, mas troca as pernas
como uma menina indecisa.

Que puta!

- Ela é foda! _ Bruno diz com um sorriso no rosto.

- Não duvido! _ balanço minha cabeça e começo a observar em torno.

Novamente uma formação estranha se forma no palco acima da gente, como se fosse uma
varanda saindo do segundo andar. Vejo os mesmos seguranças se aproximando da beira da
varanda, olhando para baixo conferindo algo.

Mas ai percebo que mais homens se aproximam fechando um tipo de muro tampando qualquer
visão que eu poderia ter sobre a pessoa ali no meio.

Mas algo em meu interior dizia que eu precisava descobrir de quem se tratava.

Meu coração estava acelerado.

Olhei mais vezes para cima, mas logo tomei um beliscão de Bruno.
- Está louca? Não olhe assim! Disfarce.

Ele diz com raiva.

- Desculpa, mas eu preciso saber quem está ali. _ tento me levantar, porém, ele segura meu braço.

- Senta a porra da bunda! Vai começar.

Olhei para frente e percebi que os políticos já estavam sentados e todos em seus devidos
lugares. André estava no meio e sozinho, olhando para cima de segundo em segundo, mas trocava
olhares em todo momento com Renata.

Ela estava surpreendentemente bonita e simples.

- Boa noite a todos. Estamos aqui para união de nossos estados contra o preconceito, contra o
racismo ou qualquer tipo de violência. Recebemos como anfitrião o senador André Meireles com
aplausos.

Ele se levanta e lança um sorriso de bondade, quando ele se senta um segurança se aproxima e
diz algo em seu ouvido.

E ele assente.

Meu coração se aperta no momento que ele direciona o olhar para a varanda acima da gente.
Um olhar frio e calculista toma sua expressão, mas logo seu sorriso falso e seus acenos ridículos
tornam a aparecer.

O que eu estou fazendo gravida desse homem?

ALICIA DALGLIESH

Eu me sentia melhor, mas ainda estranhava os bons tratos, senti que estava diferente, mas não me
deixaram ver o que fizeram com meus cabelos. Mas poderia jurar que algo está muito estranho.

Por que de um dia para outro? O que ele quer?

Raquel estava a minha frente, mas evitava olhá-la. Que ódio sinto dessa mulher, se eu não
tivesse nesse estado com certeza teria lhe dado uma razão para sumir da minha frente, mas não
posso correr o risco de matar meus filhos.

Isso se eles ainda estão vivos.

- Oi meu amor, como está se sentindo? _ André pergunta ao entrar no quarto. Cubro meu corpo
com o roupão.
- Não há necessidade disso! Somos casados. _ ele diz vindo até mim e puxando com força e mau
jeito o laço do roupão, deixando meus seios expostos.

- Nossa como estão lindos! _ ele se aproxima e deixa uma lambida em meu seio esquerdo.

Tento não chorar, mas mesmo assim uma lágrima escorre.

- Não sei como pode chorar! Todas queriam estar sendo fodidas por mim. _ ele diz dando de
ombros e se afastando.

- Amei a cor de seu cabelo, pena que hoje não poderei mostra-la para ninguém. _ ele respira
fundo e então ouso em dizer.

- Onde vocês vão? _ pergunto de cabeça baixa.

- Onde vocês não! Onde nós dois. _ ele levanta meu queixo com seu indicador.

- Você vai presenciar uma festa e logo depois o melhor espetáculo de sua vida.

- Será perfeito! Maravilhosamente lindo.

Raquel diz com um sorriso largo no rosto, mas é recebida com uma expressão fechada do
André.

Meu coração se aperta com a possibilidade do que está para acontecer.

[...]

À noite reconheci minha cidade, reconheci o cheiro da minha felicidade, mas lembrei-me que ali
eu já não pertencia mais. Senti-me como se faltasse ar, mas me mantive forte e sem deixar que
nenhuma lagrima escorresse.

- Gostou de está aqui de volta? Aproveite, é a ultima vez!

Um segurança que eu ainda não conhecia diz passando seu dedo sobre a maçã de meu rosto.

- Cara, cuidado! Sabe que o chefia não gosta dessas paradas.

Carioca.

- Você deveria meter-se na sua vida!

O lugar de nosso destino era aparentemente bonito, um lado da cidade que eu não conhecia,
tentei buscar com a visão um celular, mas não achei.
- Não adianta tentar nada, princesa. Se liga nessa segurança! _ olho para frente e percebo um
grupo grande de seguranças que percebendo a presença do carro se colocaram em posição.
CAPÍTULO 27

DÉBORA MORAES

Todos estavam se divertindo e curtindo a festa de alguma maneira. Aquela roupa de muçulmana
já estava me irritando, apertada. Desconfortável.

Mas ao contrário da minha preocupação Bruno se mantinha feliz e alegre ao olhar-me me irritar
com o pano.

- Não adianta, sabe que não pode arrancar. _ ela diz com um sorriso debochado.

- Ele está se aproximando. _ Renata diz e meu coração dispara, imediatamente olho em direção a
ela, percebendo a presença dele poucos metros à frente.

- Cuidado. _ digo focando ainda a minha atenção nos seguranças na varanda acima de minha
cabeça.

Por mais que eu quisesse esquecer aquilo e me manter focada na Renata eu não conseguiria.

Começo a olhar em volta e percebo que há uma subida por escadas próxima a uma porta,
tento imaginar onde ela dá, mas o logico vem a minha mente e me faz levantar rapidamente.

Por debaixo da roupa ajeito minha arma sem que aja suspeitas.

Bruno não me impede, mas me dá um olhar de como quem diz "cuidado".

Olho em volta disfarçadamente e então caminho em direção as escadas. Percebo que ali não há
seguranças e muito menos algo que me impeça de chegar até o andar de cima.

Seguro a barra da roupa para que eu não tropece e subo as escadas rapidamente. começo a
ouvir vozes masculinas, mas mantenho meu foco. Se eu for descoberta, estou completamente
ferrada!

Assim que chego ao topo da escada, olho para o lado direito e percebo alguns seguranças.
Volto para a escada e encosto minha cabeça na parede. Se eu não conseguir pensar em algo
nunca saberei quem está ali.

Penso em algo para distrai-lo e então ouço a voz de Bruno em meu ouvido.

- Espero que esteja bem.

- Estou, mas preciso de ajuda. São muitos homens, não sei como chegar até lá.
- Aborde a mulher que está subindo as escadas. Copeira, deve estar levando algo para ela comer.

- Eu não posso ser vista! Não seja asno.

Reviro os olhos.

- Então terá que ser de outro modo! Eu vi uma mulher de costas para cá. Cabelo preto, mas não
pude ver o rosto.

- Mulher? _ tento pensar em alguém, mas coloco em vista que eu provavelmente não conheça.

Bruno deixou de me responder por alguns minutos, e então por mais uma vez eu tentei olhar
para os seguranças.

Quem sabe eu não consiga ver algo?

Aproximo-me e olho conferindo se não há ninguém a minha espreita.

E em como um clarão consigo enxergar a Alicia, fraca, debilitada, com os cabelos descoloridos e
as pernas impacientes balançando.

Volto para a escada e encosto a cabeça na parede. Deixo que as lágrimas escorram sem
parar.

- Ela está viva meu Deus! Viva!

Escorrego até o chão e respiro fundo, eu preciso tirá-la de lá.

- Débora? Ainda está ai? _ Bruno pergunta aflito.

- Sim. _ tento conter o choro.

- Preciso de você aqui embaixo.

- O que houve? _ pergunto colocando a mão no meu peito.

- Rápido! Saia daí! _ ele fala mais alto e antes de pensar em qualquer coisa, corro em direção ao
salão.

- Ele está indo, adiante!

Corro ainda mais rápido, mas no ultimo lance de escada eu tropeço e caio.

Desci o lance inteirinho rolando, mas antes que eu pudesse me levantar, a voz que eu ouço faz
cada centímetro de meu corpo estremecer.

- Cuidado. _ não levanto meu rosto.

- Tudo bem? _ ele segura em meu braço erguendo meu corpo rapidamente.

Assinto que sim com a cabeça, mas mantenho meu rosto baixo.

- Tome mais cuidado da próxima vez. Mas esses lances de escada são perigosos realmente.

Mais uma vez eu assinto, mas quando eu me afastava, ele segura meu braço.

- Seu perfume me lembra de uma mulher que eu já estive. Mas peço perdão, sei que não deveria
estar aqui e muito menos falando comigo. Aquele sheik é o seu acompanhante?

Assinto sem olhá-lo. Pare de me prender! Desgraçado.

- Pode ir, mas antes olhe em meus olhos. _ ele disse por ultimo e agradeci aos céus por estar de
lente e com olhos muito bem marcados.

- Linda. pode ir.

Rapidamente me desfaço de sua presença e respiro fundo tentando me acalmar. Percebo a


tensão em Bruno, mas me recuso a realizar algum gesto antes de chegar próximo o bastante dele.

- Você quase me matou! _ ele diz encostando a cabeça a minha.

- Eu quase te matei? Eu quase morri! Mas consegui o que eu queria. _ digo satisfeita.

- Quem era?

- Alicia! _ sorrio.

- Graças a Deus! Eu sabia que algo estava errado.

Bruno diz com um sorriso lindo e enorme nos lábios e apesar do momento difícil minha boca se
encheu de vontade.

- Deixe que ainda vai acontecer. _ ele sorri e eu me envergonho.

- Parem, temos problemas maiores. Ele me deixou dizendo que tinha um compromisso e que estaria
de volta durante a madrugada. Mandou que eu o esperasse nua em sua cama.

- Rafael! _ digo e o desespero me atinge em cheio.


Olho para cima e percebo que os seguranças já haviam sumido e que provavelmente nem a
Alicia também não estava mais ali.

- Temos que ser rápidos!

Digo e levanto, Renata faz o mesmo ao se afastar em direção à porta.

- Vamos, vamos.

Todos saímos e fomos em direção ao carro, dessa vez Renata nos acompanhou, tirei toda aquela
roupa e tirei minha arma de dentro da calça.

- Calma com isso ai! Eu salvo vidas, mas não a minha! _ ele se assusta quando eu quase esfrego a
arma na cara dele ao me livrar do restante da roupa.

- Não ia fazer nada com você! A Tauros mata, mas não assim! _ refiro-me a marca vagabunda da
arma.

- Não seja tão confiante! _ ignorando sua resposta, pego meu celular dentro da bolsa e ligo para
o Ricardo que prontamente atende.

- Saia daí agora! Tire o Rafael antes que o pior aconteça! Por favor, seja rápido!

- Do que você está falando? O que está acontecendo?!

- Isso agora não muda nada, apenas saia já daí.

- Boa noite. _ ouço uma voz familiar.

- Raquel? _ ele pergunta se referindo a sua ex-mulher.

Um arrepio percorre minha espinha e desligo o celular imediatamente.

- Tarde demais! Adianta essa porra! _ grito colocando as mãos na cabeça.

- Puta que pariu! Por que essas porra acontece na minha vida? _ pergunto deixando as lágrimas
escorrerem.

Eu não posso deixar que ele morra, por favor.

Ele não.

Já basta meu irmão! Eu não posso deixar isso assim.

- Saia do volante! _ digo tomando a direção e o carro rabia para pista contrária.
- Está louca? Quer nos matar?

- Não, eu vou matar eles! Saia já dai. _ mesmo o carro em movimento trocamos de lugar.

Eu não sou muito boa no volante, mas a raiva que estou hoje me faz ter a certeza que posso
dirigir e vencer qualquer um que seja. Ou que entre no meu caminho! Não há quem me impeça de
acabar com esses caras e salvar meu Rafael!

- Calma! Se você sofrer um acidente, não adiantará em nada! _ Renata diz, mas continuo cortando
os carros do mesmo jeito.

- Eu não posso perder ele! _ ranjo os dentes.

- Você também não pode se perder. Não faça isso.

- Cale a boca ou saia do carro! _ freio de repente.

- Não vamos te deixar. _ olho para Bruno e então ele me dá a mão.

- Não mesmo! Se é para acabar com bandidos, eu não fujo dos esquemas.

Renata diz e então volto a dirigir, dessa vez com a velocidade ainda maior.

Por que esse treco tinha que ser do outro lado da cidade?

- vocês não sabem o que é perder alguém que amam muito! Eu perdi meu irmão há alguns anos.
Se ele não está vivo hoje a culpa é minha. Do mesmo jeito que a culpa é minha dos meus pais não
olharem mais para mim, de me culparem o tempo todo por tudo de ruim que aconteceu na vida
deles.

- Você não teve nenhuma culpa! Pare com isso!

- Eu tive sim! _ acelero o carro no máximo.

Mantive a concentração, mas quando ia me aproximando da entrada de sua rua percebi um


movimento diferente, desliguei os faróis e diminui a velocidade.

- Saiam do carro, contornem a casa, acho que eles ainda estão aqui.

- Tome. _ ela me da o silenciador e sai do carro.

O estaciono alguns metros a frente, coloco o silenciador na arma e me arrependo de não ter
vindo mais equipada. Um tiro e já era.
Respiro fundo e escondo a arma nas costas. Saio do carro e percebo um homem de
aproximadamente quarenta anos se aproximar. Todo de preto.

Mantendo a calma eu continuei andando em sua direção.

- Boa noite, senhorita. _ ele sorri e eu faço o mesmo.

- Gostaria de saber se mora por aqui? _ ele pergunta com um ar misterioso.

- Sim, minha casa é logo ali na frente, algum problema?

- Desculpa, mas peço que durma na casa de algum parente hoje. Ocorreu um assassinato, pedimos
que todos fiquem fora de casa pelo menos por essa noite. _ meu coração dispara e uma imensa
vontade de chorar me atinge, mas engulo na esperança de que ele não seria tão rápido.

- Oh meu Deus! Isso nunca aconteceu aqui! Eu poderia pelo menos pegar uma troca de roupas? Eu
não tenho parentes por aqui. Todos são de São Paulo.

Ele olha bem para mim e me observando de cima a baixo pondera sua decisão.

- Acho que não terá problema em pegar uma muda de roupas, você é só uma moça. _ ele diz um
pouco nervoso.

- Mas terei que te acompanhar. _ ele diz antes que eu respire para responder.

- Sem problemas, acho até melhor. Eu ficaria com medo. Não sei o que anda acontecendo nesse
lugar. Um dia é tudo tão sereno, no outro já tem pessoas morrendo!

- Tem razão moça. Vamos caminhando. Mostre-me onde moras. _ ele diz colocando uma de suas
mãos em minhas costas.

- Logo ali na frente. _ o levo em direção da casa abandonada e que com certeza essa hora da
noite ele nem notará que ali não tem nada.

- Quem foi o homem que morreu? Sabe seu nome? _ olho para ele ajeitando o decote de minha
blusa e sua atenção corre diretamente para meus seios.

Babaca.

- Não sei direito, mas são dois irmãos. Rafael e Ricardo, eu acho.

- Meus vizinhos! _ coloco a mão na boca.

- Sim! Pelo jeito estavam envolvidos com narcotráfico.


E você está envolvido com os sete palmos abaixo do chão.

Abro o portão da casa abandonada e passando a língua pelos lábios o chamo para me
acompanhar.

- Eu não posso, estou em serviço. _ ele diz nervoso. Mas posso ver seu desejo eminente.

- Poxa venha, só um pouquinho. Eu prometo terminar rapidamente.

- Por favor, eu não posso. _ ele diz segurando o pau, quando abaixo minha blusa e lhe mostro
meus seios.

Aproximo-me lentamente e passo a mão por seu pau disfarçadamente.

Como resposta ganho uma gemida alta e um pau duro o suficiente para furar a calça.

Fácil demais!

- Vem. _ seguro sua mão e o puxo para dentro do terreno.

Assim que ele entra não lhe dou espaço e começo a beijá-lo. Luto contra minha vontade de
continuar e então passo as mãos pelo seu corpo até achar sua arma.

A puxo e sorrio para ele e seu incomodo é quase imperceptível. Abaixo e a coloco no chão,
percebendo ser uma nove milímetros, subo meu corpo novamente e começo a beijá-lo sem dar
pausa para que ele respirasse.

Passo meus lábios para seu pescoço, retirando a parte de cima de seu terno, logo vou cobrindo
seu peitoral de beijos até desabotoar sua calça. Coloco seu grande mastro para fora e o enfio
em minha boca.

O homem quase morre e então fecha os olhos e segura minha cabeça com força até engolir
completamente seu pau.

Caço a arma pelo chão com a mão mantendo meus olhos no homem a minha frente que possui o
pau mais grosso que já vi.

Que pena.

Começo a gemer para que ele não possa me ouvir engatilhar a arma.

Pego a arma em minha mão e lhe dou um tiro na coxa, bem ao lado da minha cabeça.

Afasto-me rapidamente trazendo a arma junto de mim.


- Vagabunda!

- Você que é! Pelo menos livrei sua mulher de um traste como você! _ cuspo encima dele e me
afasto, tendo a certeza que ele não se levantará.

Saio pelo portão e olho em volta na rua. Está tudo muito quieto! Que merda.

Dou a volta pela rua e pulo o muro que dá na casa do Rafael. Ainda bem que não havia
cachorro no outro quintal.

Tudo ainda é muito silencioso, mas as luzes estão acesas.

Aproximo-me da casa com toda cautela do mundo, tenho certeza que esses caras identificam
passos com quilômetros de distancia.

Olho pela janela e vejo Ricardo amordaçado juntamente com Raquel que parecia estar
desesperada. A sua frente sua ex-mulher com uma submetralhadora apontando para a barriga de
Raquel.

- Eu vou tirar vocês daí. Prometo.

- Débora? Ainda está ai? _ ouço a voz de Renata pelo comunicador ou sei lá o que se chama isso.

- Sim. _ cochicho.

- Eles levaram o Rafael para outro lugar. Estamos o seguindo. A localização está indo para seu
celular.

- Tudo bem.

Dou a volta pela casa me certificando que não há ninguém em volta e como de fato não havia.
Todos estavam com a atenção máxima sobre Rafael e Alicia.

RAFAEL MELLO - alguns minutos antes...

Eu mal conseguia me levantar desde que a Alicia me deixou. São dias após dias que eu
mantenho-me deitado nessa cama sem ao menos me alimentar de maneira regular.

Ouvi um barulho estranho na parte de baixo da casa, coisas se quebrando e barulhos de gritos,
mas eu simplesmente não consegui me levantar. Meu corpo estava pesado o suficiente para
permanecer da mesma maneira durante muitos meses.

- Por favor, meu irmão não! _ ouço o ultimo grito desesperado que me faz despertar e me levantar
rapidamente.
Eu posso estar muito mal, mas não aceitaria perder mais ninguém.

Antes que eu pudesse abrir a porta do quarto e sentir a tontura me invadir de maneira abrupta
e forte, ouço uma voz que faz cada parte de meu corpo se encher de ódio.

- Hora, hora... Que honra! Estou de frente do grande Rafael! Libertador de almas corrompidas. _
ele diz com um sorriso debochado no rosto e uma arma empunho em direção a minha cabeça.

Devolvo o mesmo sorriso.

- Veio me salvar? _ pergunto aproximando-me. E então ele percebe que estou desarmado.

- Se você diz que sua salvação é te mandar para o inferno...Sim eu vim.

Ele sorri de maneira demoníaca.

Assinto sem direcionar mais nenhuma palavra a ele. Eu sabia bem que esse homem não deixaria
essa situação impune.

Sei bem também que eu não tenho a mínima chance de me defender e pra falar a verdade não
tenho vontade.

- Anda... Vamos lá para baixo.

Ele diz e eu passo por ele sem ao menos tentar me defender, mesmo tendo a certeza que
mataria esse cara apenas com um chute.

Desço as escadas sentindo meu corpo pedir por alimentação, mas ignoro.

Cambaleio de um lado para outro até resolver me segurar no corrimão.

- Raquel, olhe. Ele não está nem conseguindo ficar de pé! _ André gargalha batendo palmas.

- Eu disse para você! Ele não tem forças para lutar. Já está abatido o suficiente. Desse jeito ele
nem vai durar.

Tenho certeza que eles estão falando de tortura.

Fecho meus olhos e tento me preparar psicologicamente.

- Não. Não! Que isso. É claro que ele vai aguentar. Eu vou dar motivos suficientes para ele se
aguentar de pé. Um deles é a Débora. Aquela vadia.

Tranco meus punhos com força, mas não digo nada.


A Débora é forte, vai saber se livrar.

- Sabe Rafael. Você pode ter sido como herói nessa terra por muito tempo, mas te garanto uma
coisa, você morrerá como o pior dos bandidos. Acho que nem o Fernandinho Beira Mar vai morrer
tão sordidamente.

Ele sorri e se senta no braço do meu sofá.

- Engraçado... Eu ainda não consegui entender. Por que mesmo depois de você matar a Alicia
ainda está aqui? Já num cumpriu sua promessa? Num desgraçou a vida dela? Deixe o meu irmão
em paz.

- Cale a boca do seu ex-marido, ou eu calo! _ ele aponta a arma para Raquel que rapidamente se
aproxima do Ricardo.

- Deixe meu irmão. Vamos logo. Não quero saber de nada, mas se for para acabar hoje que
acabe. _ me faço de conformado.

Mas garanto uma coisa. Eu posso morrer, mas antes eu vou deixar a minha família salva.

Ninguém mais morre por minha causa.

- Seu irmão vai ficar com quem ele merece. Agora saia, vamos...

Ele me empurra e coloca a arma posicionada na minha cabeça.

Raquel estava desesperada, mas meu coração estava ainda mais destruído por ver minha ex-
cunhada tão querida me apunhalando pelas costas. Algo que eu nunca pensava presenciar.

- Antes de eu ir, queria me pronunciar. Eu posso? _ pergunto olhando profundamente nos olhos do
André.

Naquele momento eu estava dizendo que se não tivesse tão fraco ele estaria morto.

- Vá em frente.

- Espero que você se arrependa Raquel! Por que sinceramente, eu nunca me decepcionei tanto com
alguém. Para mim você virou o lixo da sociedade!

Ela me olhou e abaixou a cabeça.

No instante seguinte eu saí no portão, o céu de alguma maneira estava fechado, escondendo a
beleza da lua e demonstrando o mesmo sentimento obscuro presente em meu peito.

- Ajoelha! _ ele diz dando-me uma coronhada com toda força.


Ajoelho de costas para ele, vejo alguns homens se aproximando e me seguram com toda força,
deixando-me completamente imobilizado.

- Rafael, como eu disse lá dentro. Você vai morrer de uma maneira bem horrível. Nada que eu não
tenha imaginado diversas vezes, mas acho que até eu irei vomitar. Para começar...
CAPÍTULO 28

RAFAEL MELLO

Quando ele disse "para começar" meu coração quase parou, mas logo percebi que ele se
referia ao meu cabelo.

Aos poucos sinto uma navalha afiada percorrer minha cabeça de maneira bruta possivelmente
cortante. Minha sensibilidade não estava das melhores. A dor já havia virado algum tipo de
remédio.

Logo consegui sentir o gosto de sangue invadir minha boca, mas me permitir ficar calado sem
nenhuma reação.

- Reage, mariquinha! Queremos saber do que é capaz. _ senti dois socos na boca do meu
estomago, se eu tivesse comido algo provavelmente colocaria tudo para fora.

Não me permito contorcer.

- Olha como ele é forte! _ ouço André gargalhar.

Abro meus olhos e fixo aos dele, dizendo tudo que eu queria fazer, mas que não me permito.

Vejo seu semblante pesado se desfazer por um momento, mas logo seu jeito rude volta a
transparecer.

Você pode enganar muita gente, mas a mim não! Viadão do cacete.

- Levem-no para o lugar combinado. Espero que não errem o caminho e nem deixem esse otário
fugir, já tivemos um erro, não quero dois.

Ele disse com raiva e foi em direção ao final da rua. Olhei para trás na esperança de enxergar
meu irmão, mas de nada adiantou. Logo me encapuzaram e colocaram-me de pé.

- Não devíamos ter perdido a Débora. Ela é um risco para nós.

Um dos homens diz e com gosto solto um sorriso.

Minha irmãzinha é um máximo.

- Um risco será se esse babaca cismar de reagir. Prendam-no direito.

Um homem que eu ainda não tinha ouvido a voz, dirige a ordem e em segundos eu estava
novamente imobilizado.

Por mais que eu quisesse morrer, eu tinha que ter certeza que nada aconteceria com minha
família. Eu quero muito matar esse desgraçado.

E é isso que eu vou fazer.

Estabilizo minha respiração e me posiciono de maneira rude no banco.

- Vocês poderiam me dar algo de comer. Eu vou morrer mesmo. _ falo e dou de ombros. Vocês que
vão morrer!

- Então não faz sentido algum você comer. _ o homem de voz grossa torna a dizer.

- Por favor. Quero somente um Mac Donald. _ digo tentando não sorrir.

O que eu estava pensando quando quis morrer? Eu não posso! Não posso deixar meus sobrinhos
e muito menos meu irmão sozinho.

Egoísta eu estava sendo.

Na verdade eu sempre fui.

Droga!

- O que você quer, cara? Não vamos te alimentar! _ o homem ao meu lado disse.

- Vamos sim. Parem na próxima.

Sorrio novamente e agradeço por estar com encapuzado.

Não vejo nada, mas também não veem em mim.

Não sabem o ódio que está nos meus olhos e muito menos a vontade de vingança.

A velocidade do carro diminuía com o tempo até que parasse por completo.

- Um de vocês vai comprar o lanche. Não vou deixar esse babaca aqui sozinho com dois trouxas. _
ele diz em um tom irônico. E logo uma das portas é aberta, nenhuma resposta é dada.

Esse vai ser o primeiro que eu vou matar.

Permaneci em silencio tentando prestar atenção em seus movimentos, mas ele não se mexia.

- Como é perder a mulher que ama? _ ele usa um tom irônico.


- Não sei, talvez sua mulher saiba mais tarde. _ digo sorrindo.

- É? Você acha que eu sou tão otário como você? Homens como a gente não devem ter família,
amigos, nenhuma porra. Somos feitos para matar, Rafael. Pensei que você fosse mais inteligente.

- São almas como as suas que vão para o inferno. _ digo com raiva.

- Está errado! Eu posso ir para o inferno, mas eu nunca levarei ninguém comigo! Amor é lixo, é uma
mentira!

Ele diz com raiva, deixando-me em duvida. Não é só frieza que aparece em sua voz. Tristeza
também.

- Meus olhos estão vendados, mas meus sentidos continuam bom. Pelo visto alguém que você amou
não quis mais saber de você. Espero que não tenha sido minha mulher.

- Sua mulher está no inferno! _ ele bate com força no banco.

Mas o assunto termina assim que o outro homem volta. O cara que estava ao meu lado parece
invisível, nem sua respiração não ouvi.

- Se você dizer algo, corto sua garganta! _ ele diz ao homem que estava sentado ao meu lado.

Deduzo que ele tenha assentido.

[...]

O carro estava quase parando quando minha porta foi aberta e eu fui varejado para fora.
Acho que bati minha cabeça em algum lugar, minha cabeça começou a girar e uma grande
vontade de vomitar me atingiu em cheio.

Não demorou muito para que eu ouvisse a voz do homem que eu ainda não conhecia.

- Doeu mariquinha? _ senti um chute com força na altura de meus rins.

Gemi em resposta.

Logo seus braços me levantaram de uma vez só.

- A diversão só está começando. Você e Alicia hoje se encontraram no inferno!

- Você também estará lá. _ digo com um tom irônico.

Em seguida suas mãos vão com força para o pano em minha cabeça.
Fodeu.

Olho para ele tentando imaginar a merda que eu estou. Sair dessa porra será mais difícil do
que eu pensava.

A minha frente está um homem moreno, forte e alto. A bronca e a maldade estão em seus olhos e
provavelmente meu cu em suas mãos.

Respiro fundo e em seguida tomo um soco bem no estomago.

- Eu posso comer agora? _ pergunto.

Por mais que eu quisesse não comer, eu preciso ganhar energia. Estou há mais de uma semana só
bebendo agua e comendo tomate, nada estava descendo a minha garganta.

A raiva que ele falou da Alicia, me fez pensar na maneira horrível que ela morreu.

Mas não se preocupe meu amor, eu vou vingar a sua morte.

- Coma lá dentro. _ ele me trata com frieza me arrastando para dentro da casa, meus braços
ainda estavam amarrados para trás.

Quando cheguei lá dentro minhas pernas bambearam ao ver objetos de tortura, mas o que me
deixou curioso foi ver um sofá no canto com sacolas encima. De frente para o lugar onde
provavelmente eu ficaria.

Respirei fundo antes de ser arremessado com força e duramente contra o chão.

- Quando o André chegar, vou te apresentar cada instrumento desse aqui. Você vai morrer
irreconhecível. _ ele sorri com gosto.

O que me deixava encafifado era o motivo da raiva dele por Alicia, ela nunca me disse nada
dele. Nunca comentou nada de homem algum ainda mais sendo como ele.

Provavelmente se eu fosse mulher esse homem seria inesquecível.

Não que ele seja bonito, mas o tamanho dele me deu medo, imagina a ela?

Ele vai para trás de mim e tira a algema que me imobilizava.

- Coma! _ ele joga o pacote encima de mim e sem pensar duas vezes abro e como com
voracidade.

Ele me olha estranho, mas não diz nada.


Eu vou repor minhas forças.

Obrigado babaca por ter comprado do maior.

Não se preocupe te matarei mais rápido como agradecimento.

Sorrio levemente e olho para o lado.

Sinto que meu sorriso não será tão longo assim.

Vejo que seu celular chama e ele se afasta, mas seus olhos continuam sobre mim.

Lendo seus lábios vejo que alguém está chegando, algo como "a hora do show irá começar".

Fecho meus olhos e adianto meu lanche. Enfio tudo na boca inclusive a batata frita.

- Preparado para morrer? _ ele tira o pacote de cima de mim e chuta a cadeira onde eu estava
sentado.

- Não como você.

Antes que ele pudesse responder as luzes do local se apagam deixando o sofá totalmente oculto
na escuridão.

Minha garganta se fecha e então as mãos do homem se enfiam em minha cabeça, apertando
com força meus machucados recém-feitos pela navalha.

As lágrimas começam a descer de meus olhos, mas meu coração se acelera de uma maneira
estranha.

Como se a Alicia estivesse perto de mim. Fecho os olhos com força e penso na minha mulher,
retorno ao dia que dormimos juntos e inacreditavelmente consigo sorrir.

Respiro fundo sentindo ser amarrado de novo, mas me permito não abrir os olhos. Meu coração
estava incrivelmente apertado à medida que meu corpo era amarrado na cadeira.

Eu não perdi somente minha mulher, eu perdi meus filhos também. Perdi tudo que deveria ser o
maior motivo de minha alegria, mas agora, eu estou aqui; próximo ao cara que me arrancou tudo
e por mais que eu queira deixar que essa dor acabe; por mais que eu queira que ele me mate ou
por mais que eu tenha me rendido muito facilmente.

Eu não posso deixar que ele me tire mais uma coisa. Eu ainda tenho uma família. Ainda tenho
pessoas que necessitam de mim de alguma maneira.
E é nisso que eu vou me agarrar hoje. Eu vou lutar pelo amor aos meus amigos e principalmente
pelo amor a Alicia. Eu sei que ela não ia querer que eu agisse como um fraco, como um derrotado.
Ela não era assim! Eu tenho absoluta certeza que lutou até seu ultimo suspiro e eu farei o mesmo.

- Abra o olho! _a voz de André me fez abrir os olhos imediatamente. Respiro fundo tentando
normalizar meu coração, mas ao sentir um perfume feminino meu coração se acelera ainda mais.

Quem está aqui?

Olho em direção ao sofá, mas nada consigo ver.

ALICIA DALGLIESH

Eu não conseguia parar de chorar desde o momento em que eu soube o real motivo de voltar a
essa cidade.

- Por favor, André. Eu te imploro! Faço o que eu quiser para deixar o Rafael vivo. Por favor.

- Eu já disse o que você teria que fazer, Alicia. A vida dele está em suas mãos. Não entendo o
grande motivo de seu desespero. É você quem escolheu a morte dele. _ ele dá de ombros.

Antes de chegar aqui, ele me propôs que eu matasse meus filhos, com minhas próprias mãos, em
troca, ele pensaria se pouparia ou não a vida do Rafael.

Eu não poderia jamais escolher entre meus filhos e ele. Eu sei o que ele escolheria e é nisso que eu
me apego.

- Eu nunca abriria mão de meus filhos.

Ele sorri debochado.

- Então o espetáculo de hoje a noite será por minha conta.

Estávamos em uma estrada de chão, o caminho levemente esburacado me dizia algo que eu não
queria escutar.

- Eu espero que me poupe dessa sessão.

- Eu nunca te deixaria de fora, amor. Verás a minha atuação como homem mau.

- Atuação? _ reviro os olhos.

Eu tinha a impressão que algo a mais estava reservado para a noite.

Olho em volta novamente em busca de algo que eu pudesse pegar para me defender, mas não
acho nada.

- Nem tente querida, não serei burro como da primeira vez. _ ele me puxa para ele e um
embrulho no meu estomago se forma.

- Pare o carro! _ grito e o motorista freia bruscamente. Abro a porta do carro e coloco tudo para
fora.

Isto vem acontecendo desde que ele tocou daquela maneira em mim novamente. É como se meu
corpo dissesse o quanto o odeia.

- Estou cansado desses enjoos. Ainda bem que você não engravidou comigo. O que acontecia
naquela época? Eu não consigo entender.

Não ouso em olhar para ele.

Eu nunca contei sobre Freire para ninguém. Ele foi bom demais comigo, cuidou de mim o quanto
pode, mas era ruim demais, eu estaria abrindo mão de um louco para cair diretinho nos braços de
outro.

Freire era fiel a mim ao ponto de me ajudar a fugir, ao ponto de me dar remédios para que eu
não engravidasse.

Certamente hoje em dia ele tem raiva de mim.

E eu não tiro a razão dele. Eu o humilhei da pior maneira, afim de que ele me deixasse em paz.
Não poderia mudar de vida com alguém que por vezes me bateu a mando de André. Não importa
se depois ele vinha me pedir desculpas, não importa se por muitas vezes ele me ajudou.

- Pelo visto tem algo que eu não sei, não é? _ ele puxa meu cabelo com força para que eu o
olhasse.

- Algo foge de você, André? Me solte!

Ordeno.

Não importa as vezes que ele levantou as mãos para mim, hoje eu não vou deixar que ele me
trate mal.

Hoje ele vai levar de mim a coisa mais importante da minha vida.

Paramos em frente a um galpão iluminado, meus pés vacilaram ao tentar descer do carro e por
mais uma vez as lágrimas desciam em meu rosto. Olho para o chão e percebo marcas de sangue.
Tentei descer para passar a mão, mas quando estava quase totalmente agachada as mãos de
André me alcançaram segurando com força em minha cintura.
- Entenda uma coisa! Você é minha. Se eu ver se quer uma lágrima escorrendo, seus filhos estão
mortos! Se eu ouvir um grito seu, será mais um objeto a ser usado nele! Aprenda que comigo, será
do meu jeito, vadia! _ ele aperta minha barriga com certa força, fazendo uma dor absurda me
atingir.

Em seguida solta meu corpo e enfia um tipo de gaze dentro de minha boca e logo amarra um
pano para que eu não pudesse cuspir.

Olho para ele desejando que um raio caísse sobre sua cabeça.

Suas mãos seguram com força meu braço e me empurram em direção à porta, quando se
faltavam cinco metros, algumas luzes se apagam e então entramos no galpão.

A imagem que me aparece faz meu corpo inteiro vacilar, deixando minhas pernas bambas. Coloco
minhas mãos na boca e por mais que eu quisesse evitar o choro, as lágrimas escorrem sem parar.

O cheiro de seu perfume misturado ao cheiro de sangue invadiu minhas narinas, fazendo com
que meu coração se apertasse.

Seu rosto tomado de sangue e seu corpo amarrado como um bicho encima de uma cadeira.

Por mais que eu tenha certeza que eu não pudesse me machucar mais, ao olhar para o homem
ao lado de Rafael reconheço Freire. Respiro fundo sentindo cada pedacinho de meu corpo pedir
por amparo.

André me joga de mau jeito sobre o sofá. E logo se afasta indo em direção ao local onde a
tortura começaria.

Quando ele fala com Rafael, seus olhos se abrem imediatamente, de forma que eu pudesse ver
a intensidade de seu olhar ao respirar fundo e olhar certamente em minha direção. Fiz menção de
levantar-me, mas alguém me colocou sentada novamente.

Me debati sentindo o terror atingir meu corpo.

Eu preciso salvá-lo. Por favor, eu preciso!

Tento dizer, mas a gaze em minha boca não deixa que nenhum som escape. Quanto mais eu
fazia força, mais força o homem atrás de mim me segurava.

- Antes de começarmos, quero apresentar nossos modos de tortura. Claro que alguns, você já
conhece, mas não custa nada relembrar, não é mesmo? _ ele diz indo em direção a mesa e parede
com objetos cortantes, facas, machado, alicates.

Aperto minhas mãos uma nas outras.


- O primeiro é o alicate. Ah confesse que este você já conhece?!

Rafael respira fundo e começa a chorar. Nesse momento meu coração se desespera.

Ele se aproxima do Rafael e assente para o Freire. Isso só pode ser um pesadelo.

Freire se aproxima das mãos de Rafael e a seguram com força, posso ver o desespero em seu
olhar, mas seu corpo permanece imóvel.

- Vamos começar pelo dedo da aliança. _ ele sorri.

- Isso aqui foi por você se envolver com a mulher dos outros! _ ele chuta os ovos do Rafael e em
seguida pressiona seu dedo com o alicate.

As pernas do meu amor começam a se apertar, mas por nada ele grita.

Cuida dele meu Deus, salve o meu amor.

Ele ainda não parou de apertar, eu podia ver o sangue começar a escorrer de seu dedo, mas a
fúria do André o mantinha ali. Até que ouço o primeiro osso se partir.

Meus filhos se mexem em minha barriga como se pudessem sentir a mesma dor que eu e seu pai.

- Grite Rafael! Ou eu não vou parar! _ André diz apertando com mais força seu dedo e enfim
ouço a voz do Rafael.

- AAAAHHHH, Desgraçado! Eu vou acabar com sua vida. _ ele tenta se mexer, mas Freire o segura
com um sorriso falso nos lábios.

Percebo que seus olhos correm em minha direção e antes que eu pudesse pensar em algo, ele
retira uma navalha do bolso.

Os cabelos de Rafael estavam raspados de maneira desordenada. Eles vão acabar com o
sentido da minha vida.

Ainda olhando em minha direção Freire passa a navalha na cabeça do Rafael, abrindo um
corte grande e fundo, o sangue jorra de sua cabeça e a impressão que eu tenho é que o Rafael
começa a perder o sentido. Sua cabeça amolece, mas Freire a mantem ali, presa em seus dedos.

Desvio os olhos do Rafael, sentindo uma ânsia forte de desmaio, mas algo me chama atenção.
Há uma lareira com alguns ferros dentro. Como uma churrasqueira.

- Em nossa segunda sessão. _ André vira a cadeira do Rafael em direção da churrasqueira.


Meu coração acelera sem parar e o ar me falta.

- Olhe que interessante. Teremos uma pessoa com o meu brasão. _ André gargalha.

O choro constante me fazia soluçar, e por mais que eu tentasse estava difícil de respirar com
essa coisa na boca. Meu nariz estava entupido.

Comecei a sufocar e então o homem atrás de mim me perguntou o que estava acontecendo,
apontei tentando dizer que não conseguia respirar e então ele tirou o tampão de minha boca.

- Fique calada ou serei obrigado a te calar! _ ele diz segurando meus ombros com força.

André já estava com o ferro à frente do peito de Rafael. Ele nem retirou a blusa dele. O tecido
da blusa ficará preso a sua queimadura.

- Não, por favor! _ sinto o ar me faltar.

- AAAAAAAAAAAAAHHHHH _ o grito de Rafael é a ultima coisa que consigo ver e ouvir.


CAPÍTULO 29

RAFAEL MELLO

Meu desespero aumentava à medida que aquela brasa chegava próxima a mim.

Eu, por mais que eu tivesse fé em sair vivo, por mais que eu quisesse lutar para saber quem era a
mulher a assistir aquilo tudo eu ainda não sabia como fugir.

Eu estava imobilizado. Sem chances de no mínimo me mexer e conseguir acabar com esse
babaca.

Mas o meu estimulo vem quando ouço uma voz desesperada clamando por minha vida.

ALICIA.

Meu coração sorriu quando ouvi sua voz, mas se fechou quando eu olhei para frente e vi ainda
assim aquele ferro vindo minha direção. Meus braços amarrados para trás e aquele brutamonte
segurando com firmeza a cadeira em que eu estava.

É inevitável não gritar quando minha pele é queimada feito a de um animal.

Urro tentando amenizar a dor. Tentando me fortalecer.

Esse cara me fez pagar de idiota, me fez perder o folego da minha vida.

No mínimo ele merece uma morte bem dolorosa.

Olho novamente em direção a onde ouvi a voz de Alicia, mas mesmo tentando e me esforçando
eu não entendia mais nada, meus sentidos ficaram tremidos e fracos pela dor.

- Ouviu a voz daquela desgraçada não é? Sabe por que te trouxe aqui?

A voz de André invadia meus ouvidos fazendo minha cabeça latejar.

- Te trouxe aqui para ver seus filhos morrendo. Ela não aguentaria te ver morrer. Ela ia acabar
perdendo os bebês, porque eu nunca deixaria que ela morresse.

Olhei para o homem ao meu lado e ele tinha uma expressão incoerente a do André. Ele queria
que algo fosse diferente.

- Ela nunca será sua. _ digo cuspindo sangue que estava preso em minha boca.
- Nem sua! _ ele chuta entre minhas pernas fazendo-me revirar os olhos.

- Eu não vou morrer essa noite. Mas você sim! Eu vou acabar com sua raça. _ digo sentindo minha
cabeça pulsar.

- Você não vai não. Estou mais forte que você, seu merdinha! _ mais uma vez recebo um soco entre
as pernas, dessa vez me fazendo jogar a cabeça para trás e permitir que uma lágrima de dor
escorresse de meus olhos.

- Senhor, não quero opinar, mas eu acho que seria melhor tirar a Alicia daqui. Estamos longe da
cidade. Não teremos tempo caso algo aconteça.

- Acho que quem tem que saber de minha mulher sou eu! _ ele joga a barra de ferro com força
contra o chão.

- Ela está fraca, senhor. Acho que perdê-la não é o seu foco.

- Meu foco é fazer com que ela se arrependa de ter se envolvido com esse babaca! _ele aperta
as mãos uma contra a outra.

- Sim, senhor. _ ele diz se calando.

Eu não entendo por que mudou de postura. Antes o tratava como um dos seus, agora é "Senhor".

- Vá pegar a Alicia. Meu plano era que ela apenas assistisse, mas já que está dando seus gritos,
vamos traze-la.

O homem a minha frente parece hesitar por um instante.

- TRAGA! _ André grita com ele, fazendo-o tomar um susto e então ele vai em direção ao sofá que
tinha visto.

Poucos segundos se passam quando ele traz minha esposa nos braços, com cabelos descoloridos
e pele pálida.

Meu coração começa a bater forte ao ver que ela está desmaiada, tento ver sinal de vida, mas
tudo que consigo enxergar é o seu corpo desajeitado e mole no colo do brutamonte.

- Por que ela está desmaiada? _ André solta um sorrisinho.

Olho para ele com toda raiva existente em meu corpo em minha alma no meu ser.

- Porque eu vou te matar. _ sem que ele perceba solto minhas mãos da algema e pego
rapidamente a barra de ferro no chão. Quando estava indo em direção a sua barriga.
Um "ham ham" me chama a atenção.

Olho para o homem a minha esquerda e percebo que ele aponta uma arma em direção à barriga
de Alicia.

- Não! _tento me aproximar dele, mas logo a arma é engatilhada fazendo-me recuar.

- Não nada. Deixe a barra no chão. _ abaixo meu corpo vagarosamente apoiando a arma no
chão.

- Nem a dor te faz parar? Pelo visto foi mesmo bem treinado. Pena que não o suficiente para não
amar. _ ele pega a barra no chão e vem em minha direção. Olho para o lado e o homem ainda
segura a arma na barriga de Alicia.

A pior coisa que existe é sentir-me impotente. É saber que eu não posso fazer nada para
acabar com cada um.

- Eu nasci para amar! Não sou um demônio como você. Sem sentimentos. _ concluo me rendendo.

Viro de costas e ajoelho percebendo os movimentos do homem com minha mulher.

Logo sinto um golpe forte em minhas costas, logo sinto o sangue escorrer por ela e mais uma vez
me sinto desnorteado. Não sei com o que fui atacado.

Pisco vagarosamente por algumas vezes, até que desmaio sem conseguir manter-me lucido.

- Deixe que ele descanse. Nos somente estamos começando. Logo ele não terá mais nada além do
troco.

[...]

DÉBORA MORAES

Fui obrigada a esperar a guarda de Raquel baixar para que eu pudesse entrar e acabar com
aquela merda toda. Já tinha verificado a casa e concluído que ninguém mais havia ficado para
manter a segurança.

Aparentemente achavam a Raquel suficientemente boa para cuidar de um agente e de uma


pobre dona de restaurante.

Mulher fraca e que com certeza somente um tapa a derrubaria ainda mais em seu estagio de
gravidez.

Respiro fundo percebendo que o sono começa a vencê-la.


Claro que o Ricardo está devidamente amarrado, mas percebo que uma ação sua já está sendo
realizada contra isso.

Seu corpo se remexe de um lado para outro contraindo e retraindo seus músculos.

Algo espetacular se não tivéssemos nesse caos todo.

Olho no relógio pela milésima vez e me culpo por ainda não ter ido atrás do Rafael.

Eu não teria forças para ir sozinha. Não sei o que me esperava lá. Fora que eu não ajudaria
em nada se fosse mais uma das reféns.

Olho pela janela e dou sinal tentando ser vista e não demora muito para que isso aconteça. O
desespero de Raquel reflete em seus olhos já tomados por lágrimas.

Alguém toca em meu ombro, mas não me assusto, sei de quem se trata. Bruno e Renata estavam
ao meu lado.

- Pensei que tinham ido embora. _ cochicho.

- Tivemos problemas. Encontramos muitos homens.

Eis o motivo de eu não ter encontrado ninguém.

- Eu bem que estranhei tudo vazio. _ reviro os olhos ainda os mantendo em direção ao Ricardo.

- Nós teremos que tirá-los de lá.

- Sim, mas isso será fácil. O que não me deixa tranquila é pensar que eu nem tenho ideia de onde
o Rafa pode estar. Ele não pode estar morto. _ deixo que meus olhos se encham de agua.

- Eu não entenderia se estivesse. No mínimo ele ainda está sendo torturado. _ Renata se aflige.

- Cale-se. Vamos tirá-los de lá. Precisamos de ajuda.

- Sim.

Renata se afasta de mim indo para na frente da casa. Bruno permanece imóvel sabendo que nada
além de dar cobertura ele poderia fazer.

- Não nos deixe morrer caso algo aconteça, por favor. _ dou um beijo casto em sua boca e ele
fica paralisado me olhando.

- Não deixarei. _ ele puxa meu cabelo e enfia sua língua de maneira tentadora em minha boca.
Afasto-me rapidamente e vou em direção a porta de trás.

Aos poucos meu coração se tornava uma bateria de samba enredo.

Mesmo armada e convicta do cansaço de Raquel eu não poderia correr o risco de que ela
ficaria viva e bem para voltar a cometer atrocidades por ai.

Esse era seu fim.

Engatilho a arma e me encontro com Renata no portal da sala.

Ela se aproxima de Raquel e posiciona a arma em sua cabeça, em seguida eu começo a soltar o
Ricardo que por um milagre ainda não tinha se soltado.

Já com as mãos soltas ele arrebenta a algema de Raquel e juntos nos levantamos.

Assim que Renata nos percebe bem e armados, ela manda que Raquel se afaste para que seu
bebê não corra risco.

Assim que Raquel sobe as escadas Renata engatilha a arma na cabeça de Raquel.

E ela abre os olhos imediatamente; assustada coloca a mão encima de sua arma.

- Nem tente! _ digo sentindo meu ódio ferver.

- Não vou vocês já estão mortos. _ ela sorri maliciosa.

- Preciso de reforços. _ diz isso para o ponto que tinha em algum lugar de seu corpo.

- Desculpa querida, mas não há ninguém para lhe salvar. Infelizmente já era.

Ela vira o corpo para trás de uma maneira inacreditavelmente incrível e agarra o pescoço de
Renata. Meu coração dispara ao ver a arma apontada e engatilhada na direção de seu ouvido.

- Cheguem para trás. Ou a putinha metida à salva vidas está morta. _ ela dá uma coronhada com
força na cabeça de Renata.

Eu não consigo pensar em nada.

- Soltem as armas! Agora! _ deixo minha arma no chão e Ricardo faz o mesmo.

- Achariam mesmo que eu morreria pela mão de uma segurança, de um agente que eu mesmo
treinei e de uma delegada? Pelo amor.

Ela revira os olhos com insatisfação e pressiona o gatilho contra a cabeça de Renata. Seus olhos
diziam tudo, mas sua expressão neutra apenas concordava que talvez fosse o fim.

- Vejam sua amiga morrer!_ ela dá um sorriso largo e então ouço um tiro. Tranco os olhos
automaticamente e por mais que eu quisesse os abrir não consigo.

O silêncio enorme pairou no ambiente.

Quando abro os olhos. Raquel está de joelhos com um tiro na testa, mas sem delongas ela cai.

- Você não morreria por eles, mas morreria por alguém que os ama! Desgraçada que queime no
inferno! _ Bruno diz ainda olhando pela janela.

Percebo que o tiro pega de raspão em Renata marcando seu braço com sangue.

- 1° parte concluída com sucesso. _ ela diz apertando o local do tiro.

- Desculpa, maninha. _ ele respira fundo desapontado ainda do lado de fora.

- Tudo bem. _ ela respira fundo.

- Precisamos ir. _ respiro fundo.

- Espere, eu vou ver onde eles estão. _ meu coração bate forte.

- Como assim? _ sorrio.

- Acharia mesmo que eu seria burra o bastante para não colocar nada nele? _ ela debocha.

- Vamos. _ sorrio.

ALICIA DALGLIESH

- Ergo minha cabeça sentindo uma pressão muito forte em minha nuca. A escuridão do ambiente me
deixa desnorteada, mas quando me acostumo com o escuro começo a detalhar o corpo do Rafael
estirado encima da cadeira.

Ele estava aparentemente desacordado e sangrava muito. Em algum ponto daquele galpão a
luz de relâmpagos me fazia enxerga-lo.

- Rafael. _ digo baixinho. Eu não sei quem poderia estar perto.

Não vejo movimento em seu corpo e começo a ficar desesperada.

- Amor, por favor! _ respiro fundo e as lágrimas começam a cair sem que eu tenha controle.
Eu também estava amarrada, minhas pernas estavam presas à cadeira, juntamente com meus
braços amarrados de maneira desconfortável para trás.

- Amor, pelos nossos filhos... _ digo respirando fundo. Nossas cadeiras não estavam tão distantes
uma da outra, eu podia sentir seu cheiro misturado ao sangue.

Minha pele ficou arrepiada ao passar os olhos por seus músculos e perceber que ainda e
mesmo machucado ele ainda mexia com meus sentidos mais profundos.

- Cale a boca! Ele está desacordado. _ Freire diz em alguma parte do ambiente, não posso vê-lo.

- Obrigada. _ respondo e ele não diz mais nada.

Pelo menos morto não está.

Meu medo é que ele morra por perder muito sangue ou que se esqueça de quem somos. Os
golpes foram fortes demais em seu crânio. Não duvido que lhe tenha causado algum distúrbio.

Eu acredito muito na força do pensamento. Eu não posso negar que quando penso em alguém
essa pessoa pensa em mim também.

Isso acontece quando a conexão entre duas pessoas é forte o suficiente para que seus sentimos
se conectem.

Sentido? É claro que tem.

Quem não acredita nisso nunca amou. Nunca pensou em alguém e essa mesma te procurou.

Isso são coisas da vida.

Coisas de Deus.

Do destino.

Começo a chama-lo em meu interior, quero que ele me sinta. Que sinta o quanto eu ainda o
amo.

Aos poucos percebo movimentos tímidos em seu corpo. Nada muito expressivo, mas logo seus
olhos se abrem.

- Amor. _ tranco os lábios entre os dentes tentando não gritar.

Ele olha para mim, sua cabeça não consegue se manter de pé. Ele está muito fraco.

Começo a chorar e pensar que cada dia que se passa minha vida faz menos sentido sem ele.
Quando seus olhos se encontram aos meus a emoção é clara. Ele começa a chorar e inclina a
cabeça para cima como se clamasse por algo, falando palavras que eu não conseguia entender.

Quando seu olhar retorna para mim, eu vejo o quanto ele está sofrendo, o quanto lhe doeu esses
dias, mas apesar de seu corpo ainda se manter musculoso ele estava aparentemente mais magro.

- Eu te amo tanto! _ digo sentindo meu peito queimar.

Ele tenta falar, mas algo o impede.

E por mais algumas vez ele tenta até que...

- Eu preciso de contar tanta coisa, eu ainda preciso tanto de você... _ sua voz sai arrastada e mal
consegue terminar a frase.

- Vai dar tudo certo amor. _ a quem eu quero enganar? Não temos chances.

- Olha se o casalzinho já não está bem. Isso significa que podemos continuar não é? _ Ouço uma
gargalhada estrondosa vinda de André.

- Deixe-o descansar, por favor. Está muito fraco.

- Ele terá muito tempo para descansar, minha querida. _ ele segura nos cabelos de minha nuca
puxando com força e fazendo-me olhá-lo.

Em seguida se abaixa e me dá um beijo enfiando a língua dentro de minha boca, não me movo.

Percebo que ele olha para o Rafael e percebe que o mesmo não viu.

A escuridão prevalece quando os relâmpagos não acendem todo o galpão.

- Acenda a luz! _ ele diz em um tom médio. E imediatamente as luzes são acesas, meu coração
dispara ao olhar o estado do Rafael, não há se quer uma parte de seu rosto que não esteja com
sangue, o chão em sua volta está manchado, respingado.

Seu dedo está mole e arroxeado. Seus olhos inchados.

As lágrimas voltam a descer com força de meus olhos, sinto meu corpo fraquejar, mas mantenho-
me atenta.

Nunca em toda minha vida senti algo tão ruim.

Meu Deus.
Ele volta a puxar minha nuca e enfia a língua dentro de minha boca, sem pensar duas vezes a
mordo com força, deixando-a preza.

Mas o mais esperado acontece, ganho um tapa forte em meu rosto, capaz de deixar-me fora
do ar por alguns segundos.

Olho para frente e Rafael aperta as mãos contendo a raiva, percebo fazer força, mas de nada
adianta.

Meu coração começa a bater mais forte quando percebo que os dois andam em direção a ele.

Me pergunto onde Débora e Ricardo estavam ao deixar Rafael sozinho.

Algo me dizia que ele sofreu o suficiente para permanecer deitado.

- O que usaremos agora? Podemos usar algo mais forte, o nível dele já está bem alto não acha? _
Freire pergunta com um sorriso no rosto.

- Temos muitas coisas aqui. Poderíamos fazer mais alguma coisa no corpo, a cara já está
irreconhecível. _ André gargalha.

O ar começava a faltar no meu peito, a crueldade era tanta que me deixava suficientemente
derrubada emocionalmente.

Eu não consigo acreditar que as pessoas fiquem assim depois de velhas, pelo amor! ESSE homem
era um filha da puta desde novo.

Olho em direção à mesa e parede repletas de armas. Meu coração falha ao perceber que ele
anda em direção à espada com dentes nas pontas.

E assim que a pega em sua mão testa em um pedaço de pano que estava encima da mesa.

- Queria que estivesse menos amolada. Entrará muito fácil! _ ele revira os olhos.

- Seria bom mesmo. Mas é o que temos.

Ele diz desapontado.

Então se aproxima do Rafael. Coloca a espada em direção de sua coxa. A levanta e firma sobe
seus olhos.

Começo a clamar pedindo que Deus coloque alguém nesse lugar. Por favor!

Quando ele começa a descer a espada um barulho o faz parar.


- Largue já essa porra! _ Ricardo grita e eu começo a chorar.

Tento virar a cadeira para trás, mas quase caio. Freire a firma, virando-me para Ricardo que
joga o corpo de um dos seus seguranças no chão com toda força.

Vejo que ele olha incrédulo para Rafael, mas sua posição firme não deu lugar ao medo.

Não vejo ninguém ao seu lado, ele não estaria sozinho. Não seria louco.

- Como esse cara entrou aqui? Termine logo o serviço! _ Freire diz desesperado. Eu não podia mais
virar, não conseguia ver o que ele faria.

- Você vai morrer antes de chegar perto dele! Não se mova! _ Ricardo tira um fuzil das costas que
eu ainda não havia enxergado.

- E você acha que sairá daqui vivo? Não seja ridículo. _ Freire também saca a sua arma.

- Vá! Acabe com isso! _ Freire ordena e então ouço um tiro vindo de trás de mim.

- Desgraçada! _ André grita e um sorriso escapa de meu rosto.

- Vá para trás antes que esteja morto! Eu vou acabar com você! _ ouço a voz de Débora invadir o
ambiente.

- Vocês estão fodidos.

André grita enraivado chegando para trás, posso ouvir o barulho da espada batendo ao chão.

- Fodidos por quê? Você está morto! _ Rafael arrasta a língua.

- Não Rafael, você está! _ ele cospe as palavras com raiva.

Ricardo se aproxima de mim mantendo o fuzil apontado para Freire.

Ele se abaixa e sorri.

- Eu luto por você.

Entendo o que ele diz assim que as palavras saem de sua boca.

- Eu luto por você. _ repito sentindo meus braços serem desamarrados.

Quando me soltei quis ir em direção ao Rafael, mas as mãos de Ricardo foram diretamente
para minha cintura.
- Deixe-me beijá-lo! _ olho furiosa para ele.

- Não! Saia daqui, preciso proteger meus sobrinhos. _ ele diz com convicção.

Tenho certeza que não posso lutar contra isso.

Caminho em direção à saída, mas antes olho para cara de todos eles e com ternura digo o
quanto o amo somente pelo olhar. Ele assente para mim.

Mas quando estava próxima a grande porta do galpão vejo um homem se aproximar
apontando o lazer da arma em direção à minha barriga.

Respiro fundo e começo a andar para trás sem conseguir nem ao menos respirar.

- Caralho! _ Ricardo grita.

- Saia já da mira! _ ele grita, mas a minha frente o homem sorri e balança a cabeça dizendo que
não seria uma boa ideia.

Eu não sei em que momento Ricardo perde o foco, fazendo com que Freire o derrube, olho para
trás e percebo que os dois travam uma luta forte, o fuzil já estava próximo suficiente de André.
Movi-me rapidamente em direção ao fuzil e sem pensar duas vezes o apontei diretamente para a
cabeça de André.

- Eu vou acabar com você! _ digo sentindo o ódio percorrer cada centímetro de minhas veias.

- Acabe! Não era isso que tanto queria?

Afasto-me um pouco percebendo que o Ricardo precisa de ajuda e que o homem se aproxima
dele, antes que eu pudesse tomar uma atitude tiros são disparados contra o homem e quem entra
no galpão é uma morena fardada e armada.

O homem cai de joelhos cuspindo sangue e logo seu corpo estava estirado no chão.

Despertando-me empunho o fuzil na cabeça do Freire, seus olhos se viram para mim, olhando
fixamente em meus olhos.

Começo a lembrar do quanto ele me ajudou.

- Você pode ter me ajudado muito, principalmente a não engravidar desse cara, mas você se
meteu com a única pessoa que eu amei depois de meu pai e isso não há perdão.

Atiro em sua cabeça deixando que meu ódio flua pelo meu corpo.

Perco por alguns instantes o foco e quando dei por mim já havia atirado vezes suficientes para
destruir completamente seu rosto.

Volto minha atenção para todos e percebo que André está com os olhos estatelados diante
minha ação.

Aproximo-me dele e coloco o fuzil em seu piruzinho.

- Um senador agia com cautela, veio matar o segurança, mas acabou encontrando a ruela.

Faço a versão da musica infantil rapidamente para ele e com um sorriso firme nos lábios com
dentes aparentes, atiro em seu pau.

Seus olhos se reviraram e sem conseguir ficar de pé, se ajoelha.

Olho para trás e vejo que Débora está em estado de choque, seu corpo não se move ou muito
menos consegue tirar a arma em punho.

Rafael estava jogado a cadeira apenas olhando e Ricardo havia se afastado indo em direção a
mulher que entrou.

De repente o mundo também para, para mim.

Minha visão começa a ficar turva e tudo que consigo ver são borrões em minha frente, quando
toco minha barriga vejo sangue em minhas mãos, acabo caindo no chão, ainda consciente. Rafael
arregala os olhos e começa a respirar fundo, sua boca entreaberta define seu pavor ao olhar-me.

- Te amo. _ sussurro para ele, sabendo que perderia os sentidos.

Antes que eu apagasse de vez o vejo levantar e ir em direção a minhas costas.

Um urro alto e estridente é ecoado de sua garganta e dali nada mais vejo.
CAPÍTULO 30

RAFAEL MELLO

- Não!!! _ grito sentindo meu peito queimar. Faço força contra a cadeira e consigo me soltar de
alguma maneira.

Saio cambaleante até onde Alicia está jogada.

Passo as mãos por seus cabelos e começo a sentir meu mundo desaparecer em minha volta.

- Eu não posso te perder! _ grito virando-a de frente para mim.

Seus lábios já estavam pálidos e em sua volta havia muito sangue. Tudo que eu não precisava
ver.

Olho para o André e percebo um sorriso satisfeito em seus lábios. Levanto-me com dificuldade e
caminho alguns passos até ficar de frente com ele. A faca que havia passado na barriga de Alicia
ainda estava empunho.

- Você não sabe o que arrumou para sua vida! _ grito dando um chute com toda força em seu
pau, onde agora é somente uma mancha de sangue.

Ele geme e revira os olhos, mas se mantem firme. Olho a barra de ferro que ele havia usado em
mim e sorrio.

- O que acha de uma inicial em seu ombro? Podemos ter a mesma marca! _ tento falar, eu estava a
ponto de cair nesse chão. Mas precisava ser forte.

Ando vagarosamente até que sinto as mãos de meu irmão em meus ombros.

- Terás sua oportunidade, mas se continuar assim morrerá.

Ele me segura, tento reagir e me soltar, mas não tinha forças suficientes para isso e então acabo
cedendo a sua vontade.

Assinto e ele me arrasta, sentando-me na cadeira em que antes estava sendo torturado.

- André Meireles. Você está preso! _ uma mulher morena diz, se eu não estiver errado é a
delegada, mas até onde lembrava, ela tinha os cabelos claros.

As sirenes se aproximavam rapidamente, deixando meus sentidos atordoados, senti uma imensa
vontade de vomitar e então abaixei a cabeça deixando que líquido escorresse de minha boca,
não conseguia mais manter os olhos abertos, mas percebi Ricardo gritar.

- Meu Deus, por favor. Ajudem meu irmão! _ ele diz e então limpo minha boca, olho para meu
braço e o vejo completamente sujo de sangue.

Alguns homens entraram correndo no local, colocando Alicia encima de uma maca e logo
fizeram o mesmo comigo. Olho ao redor procurando por Débora e percebo que ela é amparada
por um homem que havia chegado há alguns minutos no local.

Então não enxergo mais nada, apenas ouço sons em minha volta embaralhados o bastante para
fazer-me vomitar novamente.

- Rafael. Acorde, fique comigo! _ ouço vozes ao meu lado, mas estava fraco demais.

Eu sentia que era o meu fim.

DÉBORA MORAES

- Eu não vou conseguir entrar. _ sinto minhas pernas paralisarem.

- O que está acontecendo? _ Ricardo pergunta vendo o meu estado.

- Meu irmão foi morto aqui, eu não posso! _ ele olha para mim com um sentimento estranho no
olhar.

- Pode sim, eu preciso de você. _ ele diz e passa as mãos por meus cabelos.

- Não. Temos outras pessoas, eu não posso. _ as lágrimas desciam de meu rosto sem que eu tivesse
controle.

- Você pode! Seu irmão morreu aqui e você não pode fazer nada, mas hoje você pode. Não deixe
que morram mais pessoas por sua fraqueza.

Olho para ele tentando entender como pode ser tão frio, mas sem deixar que me abata por
sua frase a levo pelo lado construtivo.

- Tem razão. _ digo pegando minha arma e a engatilhando.

Saio de dentro do carro determinada a acabar com aquele desgraçado. Eu poderia muito bem
mata-lo e não teria pena alguma. Mesmo sendo o pai do meu filho, eu posso arrumar coisa melhor.

- Calma. _ ele segura meus braços. Tentando me fazer criar foco.

Os seguranças que estavam em volta da gente já tinham sido abatidos rapidamente por
Ricardo. Seu treinamento é de dar inveja.
- Vá por trás. _ assinto e me posiciono, respiro fundo tentando não lembrar-me das horas de pavor
que passei nesse lugar.

A vida poderia ser mais fácil.

Rodeei o galpão até chegar à outra entrada, eu sabia cada passagem daquele lugar e
exatamente onde eu deveria tomar cuidado.

Quando passei pela porta senti meu peito queimar ao olhar o Rafael.

Balanço minha cabeça por diversas vezes desacreditada na imagem que estava a minha frente.

Rafael tinha o rosto inchado e irreconhecível, sua pele estava amarelada e arroxeada em alguns
pontos.

Vejo André erguer uma espada com pontas acima dele, aquilo o mataria na hora.

Grito e atiro sem pensar, acerto a espada e ele me xinga de algo que naquele momento parei
de escutar, tentei movimentar-me, mas meu corpo estava paralisado, eu não sabia mais como reagir
e pedia aos céus para que eu me movesse.

Tudo foi muito rápido, mas quando dei por mim em alguma parte daquilo tudo Alicia tinha
atirado no pau do André.

Por mais que eu quisesse odiá-lo, o amor que eu sentia por ele ainda estava vivo de alguma
maneira.

E então tudo que eu temia aconteceu, voltei a ver o dia da morte de meu irmão, o momento que
ele morreu, o jeito que me olhou, exatamente como o Rafael me olhou assim que ouviu minha voz.

Posso garantir que nem mesmo falar ele está conseguindo.

Não sei como existem pessoas tão cruéis ao ponto de fazer algo desse tipo.

Tudo aconteceu muito rápido, as sirenes já estavam próximas e Bruno juntamente com Renata
estava no local.

- Abaixa a arma amor. _ ouço a voz de Bruno bem próxima a mim, mas eu não conseguia reagir.

Nesse momento Alicia e Rafael já estavam fora do galpão; deixando-me mais aliviada.

- O que está acontecendo, por favor, me ouve! _ suas mãos passam em meu cabelo, mas de
repente aperto a arma com mais força, André estava de pé sendo arrastado por Renata.
Miro a arma em suas costas, mas resolvo fazer pior. Olho em direção à fornalha que estava
pouco mais a minha frente.

Tiro a barra de ferro que estava vermelha de tão quente e caminho vagarosamente até ele.

- Não faz isso. _ Bruno segura minha mão com força.

- Eu vou fazer sim! Eu vou acabar com ele. _ tranco meu maxilar com força e respiro fundo indo
até ele. Percebo que Renata me vê, mas ela também não se move.

- André? _ chamo-o e quando ele me olha, encosto o ferro quente em sua bochecha. Posso ouvir
sua pele fritar, mas mantenho o ferro em seu rosto.

Renata o segurou com força, mantendo-o preso.

- Ah... _ ele grita quando eu forço ainda mais o ferro em seu rosto.

- Você acabou com minha vida! Eu poderia te matar agora, mas acho que isso é um prazer do
Rafael.

- Eu vou te matar, vadia! _ ele tenta se aproximar, mas dessa vez coloco a arma na cabeça dele.

- Só experimente chegar mais uma vez perto da minha família! Eu te mato, estouro seus miolos e
você vai ver como o inferno é de verdade.

Ele gargalha e então Renata me lança um olhar para que eu me afaste.

Porém, engatilho a arma em sua cabeça, aproximo-me lentamente de seu ouvido e termino o
que eu tinha pra dizer.

- Seu filho não saberá quem você é! Ele nunca terá seu nome ou qualquer coisa que possa te
lembrar!

Olho em seus olhos fixamente e percebo que ele fica sem reação.

- Você vai se arrepender por tudo! _ ele diz arrastado pela queimadura em sua bochecha.

Seu rosto ficou deformado, a queimadura ultrapassou sua carne, deixando alguns dentes
amostras.

Renata o leva para longe e então jogo a barra de ferro no chão.

Bruno me abraça e se afasta comigo, levando-me para trás do galpão.

O dia já estava nascendo, eu não sei que horas são, mas provavelmente passa das cinco.
- Quer caminhar? _ ele pergunta com um olhar vazio.

Assinto, mas não pronuncio nem se quer uma palavra.

Eu conhecia tudo por aqui, eu vinha com meu irmão para esses lados, costumávamos tomar banho
em uma cachoeira bem próxima daqui, mas depois que tudo aconteceu. Nunca mais eu voltei.

- Conhece isso aqui? _ ignoro sua pergunta por alguns segundos, tentando diminuir a dor em meu
peito.

Bruno e Renata não vieram no mesmo carro que eu e Ricardo, eles preferiram vir em seus
próprios carros alegando que seus equipamentos estavam lá.

- Conheço. Eu e meu irmão costumávamos a vir aqui antes dele morrer. _ digo olhando para o chão
e já ouvindo o barulho da água.

- Seu irmão foi assassinado? _ ele pergunta angustiado.

- Sim, por minha causa. _ digo sentindo minha garganta queimar.

Sento-me em um tronco e ele me acompanha.

- Não foi sua culpa. _ ele diz tentando me consolar.

- Foi sim, eu sou filha adotiva. Eu e meu irmão tínhamos uma amizade muito grande, mas ele era
branco. Branco o suficiente para alguns homens quererem que ele me matasse por eu ser negra.

Digo e então deixo que uma lágrima escorra, mas a limpo rapidamente.

- A gente passa por coisas na vida que não conseguimos entender. _ Bruno conclui respirando
fundo e se aproximando, logo, colocando sua mão por cima da minha e nesse momento sinto meu
coração se apertar.

- Devíamos ir ao hospital. _ tento não focar na sensação estranha que sinto.

- Melhor você descansar um pouco. Aquele hospital não fará bem para seu bebê. _ ele diz
segurando forte novamente em minha mão e então sou obrigada a olhá-lo.

- O que você faz comigo? _ volto a olhar para frente.

Na realidade eu nunca senti o que esse homem causa em mim, posso está muito enganada, mas
acho que achei o homem da minha vida.

- Não sei, mas estou tentando entender essa vontade louca de ficar perto de você, de te contar
tudo de minha vida e saber tudo da sua também. _ ele traz a minha mão até sua boca e deixa um
beijo em resposta deito minha cabeça em seu ombro.

- Não entendo também. Você é a segunda pessoa que eu contei sobre meu irmão. Demorei quatro
anos para dizer ao Rafael, enquanto pra você, saiu como se eu tivesse falando algo muito natural
para mim.

- Seria natural se eu dissesse que sinto que nós já nos conhecêssemos? _ afasto-me dele e olho em
seus olhos.

- Sim, sinto o mesmo, mas eu tenho um filho agora.

Sei que isso pode ser besteira, mas é muito difícil algum homem ser como o Ricardo. Querer e
assumir uma mulher gravida.

- Nunca valeu tão apena criar o filho de um bandido! _ ele sorri arrancando um sorriso de mim
também.

- Você não existe...

Uma semana depois...

ALICIA DALGLIESH

Sinto a claridade invadir, deixando-me cega por breves segundos, aos poucos me localizo, onde
estou é branco com azul claro, cores de hospital.

Olho para o lado e vejo meu soro quase no fim, com certeza não demoraria muito para que
alguém estivesse nesse quarto.

Começo a lembrar de tudo que aconteceu e de repente o momento que senti meu corte na
barriga começa a florescer em minha alma, deixando-me nervosa, passo a mão por minha barriga
e sinto marcas de ponto. Meu coração começa a bater forte ao imaginar que meus bebês
poderiam não estar mais vivos.

Tento me sentar, mas minha cabeça roda, obrigando-me a deitar novamente. Olho em volta
procurando algo para que eu pudesse me comunicar, mas me surpreendo ao encontrar Raquel
deitada ao fundo quarto em uma poltrona pouco confortável.

Meu coração!

- Raquel. _ digo, mas minha voz falha.

Mas mesmo assim ela ouve, abre os olhos e sorri com força, sinto meu coração acelerar e começo
a chorar sem parar.
- Alicia, meu Deus! _ ela me abraça com força, fazendo com que meu coração disparasse.

- Por favor, diz que meus bebês estão bem. _ as lágrimas desciam sem que eu pudesse ter controle.

Mas o olhar dela para mim, faz com que meu coração se quebre.

- Não, não! Por favor!

Seguro seus braços com força e ela também chorava.

- Seus bebês são de bolsas diferentes, Alicia. Quando André rasgou sua barriga ele perfurou uma
das bolsas, um de seus bebês ainda está em sua barriga, mas a qualquer momento ele pode vir a
nascer.

- E o outro? Me diz!

- Está na incubadora. O médico disse que as chances dele viver são mínimas, são apenas quatro
meses de gestação. _ ela diz com uma expressão arrasada.

Passo as mãos por meus cabelos sentindo o mundo cair por completo encima de minhas costas.

- E o Rafael?

Mais uma vez sua expressão me deixou apreensiva.

- Ele está muito mal, Alicia. Os médicos não sabem nem se ele acordará do coma.

As notícias estavam me deixando ainda mais nervosa, mas tentava conter meus ânimos, sabendo
bem que fariam mal ao meu bebê.

- É mentira. Ele está bem, meus filhos estão bem, tudo ficará na perfeita paz.

Digo tentando me enganar.

- Esses dias foram muito difíceis para mim, fiquei em seu quarto desde que veio para cá. Quase
perdi meu bebê no dia que tudo aconteceu. Eu pensava que você estava morta, Alicia. Eu estava
sem chão. _ ela diz soluçando e então me abraça novamente.

- Eu sofri muito! Pensei que o Rafael estava morto. Pensei que o André havia conseguido mata-lo,
mas quando eu o vi, meu coração parou de bater. Ninguém imagina como eu o amo.

- Ele não levantava mais, Alicia, tentou se matar um milhão de vezes. A Débora largou tudo por
causa dele, fizemos o mesmo, mas não tínhamos mais forças para dar a ele.
Imaginei o que ele tinha sentido, imaginei que eu passei pelo mesmo, talvez pior, fui estuprada,
obrigada a tocar no homem que eu mais tinha nojo na vida.

- Eu fui estuprada. _ as lágrimas caiam sem que eu tivesse controle.

Ela se aproxima de mim sem ter o que falar e olha fundo em meus olhos.

- Eu pensei que você não estava mais viva, Alicia. Aposto que o Rafa não irá se importar com isso.

- Não é por ele que eu temo. Sei bem que ele me amará do mesmo jeito, mas eu desrespeitei meus
filhos, eu deixei que um homem horrível me tocasse de maneira evasiva. E eu mesma fiz com que
ele sentisse prazer tentando evitar a morte deles, a morte do Rafael. Ele ia matar a todos.

- Não duvido, não pense nisso! _ ela alisa meu cabelo.

- Vou chamar o médico para conversar com você. _ ela diz e beija minha cabeça.

Quando Raquel se afasta, começo a lembrar-me dos momentos horríveis que passei, meu corpo
começa a doer e me forço manter-me calma.

Eu nunca ouvi dizer que depois de um parto o outro bebê permanece no parto, não sei como
isso é possível ou se é um milagre de Deus.

Passam-se poucos minutos até que Raquel aparece com o médico ao seu lado, um homem branco
de meia idade, pele escura e olhos castanhos.

- Bom dia minha querida, como se sente? Foi uma semana bem difícil.

Uma semana? Eu não havia perguntado quantos dias estava desacordada e para dizer a
verdade não me importei com isso no primeiro momento.

- Estou me sentindo vazia, doutor. _ limpo uma lágrima solitária que escorre de meus olhos.

- Não se sinta assim, tenho boas noticias. _ ele sorri, dando-me um pouco mais de esperança.

- Diz doutor. _ respiro fundo.

- O menino que nasceu ficará bem, conseguimos um tratamento especializado para ele, ficará
muitos meses internado, mas logo, logo sairá da UTI.

- E o que está em minha barriga doutor?

- Pelo exame que fizemos mais cedo ele está em perfeito estado, recomendamos que não faça
esforço e nem sofra estresse durante a gravidez, mas tudo dará certo.
- Eu nunca pensei que um filho meu sendo gêmeo poderia permanecer em meu útero se o outro
viesse a nascer.

- Eu também não pensei, Alicia, até hoje isso está sendo tratado como um milagre. Era impossível
que ele não sofresse nenhuma sequela, mas está ai, vivo e muito bem.

Sorrio, eu não poderia receber noticia melhor, respiro fundo e faço força para sentar-me na
cama, já não me sentia tão fraca.

- Eu posso ver o meu bebê? _ ele parece ponderar um pouco, mas assenti sorrindo, vai até o final
do quarto e pega uma cadeira de rodas.

Ajude-me a coloca-la aqui Raquel. E então alguns minutos depois eu já estava no corredor, ao
mesmo tempo eu queria muito saber do Rafael, poder vê-lo beijá-lo, eu sentia a necessidade de
ver o nosso fruto.

Fomos até a ala dos prematuros e eu me emocionei a olhar a minha vida naquela incubadora,
seu pé era tão pequeno que seria o tamanho da cabeça de meu dedão.

Uma enfermeira aproxima-se de mim e passa álcool em gel em minhas mãos, esfregando cada
um de meus dedos e então me ensina como colocar a mão em meu filho e do que eu posso e não
fazer, depois de ouvir todas as recomendações sorrio para ela e estico minhas mãos pela pequena
passagem.

Fecho meus olhos quando sinto sua pele fininha e quente se encostar aos meus dedos, todos
estavam emocionados inclusive o médico e a enfermeira.

- Meu Deus, meu bebê. _ choro sem sessar.

- Qual será o nome dele? _ sorrio ao lembrar-me de meu pai. Mas esse aqui, merece ter o nome
de outro homem e esse é o do médico.

Só espero que não seja muito feio.

- Qual seu nome? _ pergunto sorrindo.

- Pedro. _ ele diz emocionado.

- Então meu garoto, você se chamará Pedro. Nosso guerreiro. _ digo olhando para o meu bebê.

- Muito obrigada! _ ele diz passando a mão em meu cabelo.

Assinto, mas o olho dizendo o quanto eu queria ver o Rafael.

- Me desculpa querida, mas ainda não podemos leva-la lá. Temos que ir para o quarto agora,
você estava com infecção não é muito bom que fique na ala pediátrica. _ ele diz calmamente.

- Sim doutor. _ despeço-me com o olhar de meu pequeno, prometendo voltar todos os dias.

[...]

- Só me conta como o Rafael está. _ respiro fundo de frente para ele em seu consultório.

- Ele sofreu traumatismo craneano e hemorragia interna, queimadura de terceiro grau e partes do
corpo com fratura. Não sei como ele ainda está vivo. _ ele diz e posso ver a angustia em sua voz.

- Ele vai sair com sequelas?_ pergunto com receio da resposta.

- Provavelmente que sim, Alicia. Eu não quero te iludir, mas talvez ele não volte como seu marido.
CAPÍTULO 31

ALICIA DALGLIESH

Os dias têm passando, eu não tenho mais vida e nem me preocupo com ela mais. Não tenho
ideia do que tem acontecido no restaurante e nem de como Raquel está.

O médico a proibiu de sair de casa desde que sua placenta descolou, mas eu também não posso
vê-la. Se eu me mexer com muita frequência o meu outro menino corre o risco de nascer e não é
isso que eu quero.

Vários médicos andam me visitando, todos interessados em saber a nova descoberta com meu
bebê que até agora ainda não nasceu.

Eu fico contente que ele esteja aqui, mas eu sinto que a qualquer momento ele possa sair.

O meu outro bebê ainda na incubadora, não está muito bem. Eu me sinto como se o mundo
estivesse caído sobre mim. Como se eu não fosse mais quem eu era. Acho que o que esses dias
causaram em mim faram uma marca permanente, eterna.

Eu poderia muito bem reagir de outra maneira, glorificar por estar viva. Sim, eu agradeço por
meus filhos estarem bem. Eles nunca tiveram nada a ver comigo, não foram culpado por nada
que aconteceu e não mereciam morrer por coisas de meu passado.

Hoje é dia de ver o Rafael, mesmo que eu esteja um pouco perdida no tempo, sei que está há
mais de um mês no CTI sem ao menos respirar de maneira diferente.

Todos os dias em minha mente se repetem as palavras que o médico me disse "talvez, o Rafael
não volte como seu marido.".

E eu sei... Por mais que eu queira negar para mim mesma, eu sei que ele tem grande chances de
não voltar.

O estado em que o André deixou ele, seria impossível que não tivesse lesões graves.

- Olá, como acordou nosso menino hoje? _ pelo menos o Ricardo vinha me ver todos os dias.

Me arrependi das coisas que pensei dele, de fato, a ruim era sua a Raquel e que o diabo
carregue-a para o inferno.

- Está bem, estou quase com seis meses. O tempo passa rápido. _ sorrio.

- Eu tenho que te contar uma coisa. _ seu semblante se fecha.


- O que? _ ajeito-me na cama esperando suas palavras.

- O irmão da Raquel vem nos ver e ver também o Rafael. _ ele diz, mas ainda não achei o
problema que ele tanto vê.

- E o que tem isso? Eu já esperava. _ digo sem me importar muito.

- Eu também já. Mas ele quer me culpar por isso ter acontecido, se ele quiser me levar para lá? Eu
não posso ser preso novamente.

- Se alguém tiver que ser preso será o Bruno. _ digo colocando uma de minhas mãos em seu
ombro.

- Ele... Um pobre coitado, sem passagem, sem nada. Você é muito inocente, não sabe o que eu
passei.

- Eu sei muito bem o que você passou. Eu também já matei pessoas, eu também cometi erros que eu
me arrependo, mas não é por isso que eu serei condenada novamente. Não é.

- Você não entende... _ antes que ele voltasse a falar a porta é aberta e meu coração pela
primeira vez dispara.

Meu Deus que homem imponente é esse?

- Bom dia senhorita. _ um homem que suponho ser o irmão da Raquel se aproxima me estendendo
a mão.

Sua língua um pouco enrolada sugere que ele passou muitos anos fora do Brasil.

- Bom dia doutor Christian. _ estendo a mão e a aperto olhando em seus olhos.

Eu poderia muito bem estar tremendo de medo, mas vejo que ele e o Ricardo também arregalam
os olhos ao perceber que eu sei o seu nome.

Eu sempre gostei muito de ler jornais internacionais, às vezes a falta de esperanças, me trazia a
ânsia de conhecer coisas novas.

- Acho que já deve saber pelo que vim. _ um semblante carregado dispensou apresentações.

- Sim, eu peço que me desculpe pelas coisas que aconteceu, eu sei bem que quando perdemos
alguém da família é como se perdêssemos tudo.

- Eu perdi a ultima pessoa que sobrava de minha família, Alicia. Mas assim como eu já havia dito...
cada um escolhe seu caminho, eu escolhi sair da vida que eu estava, me dediquei a mim e a minha
família. Mas a Raquel...

Abaixo minha cabeça e percebo que o Ricardo está carregado de um sentimento indecifrável.

Sua expressão não diz tristeza como a do Christian, mas algo além disso. Eu posso ver e sentir a
ferida que ele está em seu coração.

E espero do fundo de minha alma que a Raquel consiga consertar isso dentro dele.

- Como está o Rafael? _ ele pergunta após um grande período de silencio. Eu não sei dizer o que
eu senti quando vi esse homem, mas tenho uma certeza desde que o vi no jornal, teríamos um
encontro, mas agora eu tenho outra certeza ainda mais forte. Esse não é o ultimo. Eu ainda verei
esse homem por mais de uma vez em minha vida.

- Ele está na mesma, não acordou e nem deu indicio de que faria isso. _ respiro fundo para não
chorar.

- Tudo dará certo, não fique assim. _ ele se aproxima de mim e passa a mão por meu cabelo. Me
surpreendo com seu ato, mas apenas sorrio.

- Eu não sei se você aceita, mas se importaria que a minha filha visitasse seu marido?

Nesse momento um frio enorme passa por meu estômago. Olho para o Ricardo e ele também se
assusta com seu pedido.

- Não me importaria, mas prefiro que vá junto comigo. Se importa? _ ele sorri e nega dizendo que
por ele tudo estava bem.

- Não. Vamos juntos, o esposo dela também veio.

Eu ia conhecer a família toda.

Olho para Ricardo e ele se afasta, atendendo ao meu pedido.

- Eu não me importo que visite meu marido, mas eu não quero que isso aconteça por muitas vezes.
Eu posso estar errada, mas sua filha tem grande parcela na tristeza dele. Não que eu odeie sua
filha, longe de mim, detestar alguém sem ao menos conhecer. Eu só não acho que isso será
saudável.

- Eu espero que seu marido acorde e te conte sobre a vida dele. Mas enquanto isso, gostaria de
nos acompanhar? Não ficaremos muito no país.

Eu assinto e então Ricardo entra com a cadeira de rodas, tiraram ela do meu quarto porque eu
fiquei ansiosa, queria sair o tempo inteiro para ver meu bebê e o Rafael.
O Silêncio ficou estranho enquanto Ricardo me tirava de cima da cama e me colocava
cautelosamente sobre a cadeira, mas quando saímos do quarto digamos que fiquei apaixonada.

Amber não era somente uma mulher comum, era maravilhosa, cabelos negros, pele branca, olhos
azuis.

Não que eu me achasse inferior por ser mais morena do que ela, apenas me sentia estranha
sabendo por quem o Rafael foi apaixonado.

- Olá. _ a língua dela era ainda mais enrolada.

Forço um sorriso por mais que eu queira que ela suma.

Ricardo me aproxima dela e então ela me abraça com vontade.

- Vai dá tudo certo. _ e sorri afastando-se de mim, eu podia ver o quanto o marido dela a amava,
poderia dizer que ali seria eterno.

No chão seu filho estava ao seu lado com uma moça loirinha, os dois pareciam entretidos o
bastante para ficar atônitos ao que acontecia entre os adultos.

- Henrique, Letícia. _ seu marido chama a atenção das crianças.

- Bom dia. _ a menina se aproxima e coloca o Henrique para falar comigo também.

Sorri com a educação das crianças que logo voltaram a se entreter.

- Eu não posso ficar muito tempo sentada. Poderíamos ir? _ olho para eles e todos assentem.

Miller fala algo em inglês com Amber. Eles sabem que eu não sei falar.

- Ele disse que ficaria aqui para cuidar das crianças e disse que a amava. _ Ricardo cochicha em
meu ouvido e eu agradeço.

- Jogaram na minha cara! _ contesto com um sorriso no rosto.

- Sim. _ ele gargalha jogando a cabeça para trás e então a menina que estava com o Henrique
veio correndo pelo corredor.

- Eu quero ver o tio Rafael! _ ela diz em um português fluente, o que me assusta.

- Você nem se deu o trabalho de me olhar, pensei que queria ficar com seu irmão. _ Amber
estende sua mão para ela.

- Eu nunca ficaria sem ver o tio Rafael. Ele cuidou de mim quando você não pôde mãe. _ nesse
momento sinto algo estranho. Como assim cuidou dela?

Eu sempre senti que o Rafael tinha muita coisa a me contar, sentia que ele sempre era superficial
comigo. Eu me abri para ele, mas ele nunca se abriu comigo.

- Conta essa história para namorada do seu tio. Ela gostaria de saber. _ ela me olha e então a
Letícia lentamente diminui suas passadas, afim de que eu a alcance.

- Acho que você não me conhece. _ ela diz piscando rapidamente, cílios cumpridos e olhos claros.

- Eu a conheço sim, já vi uma foto nas coisas do seu tio. _ sorrio, ignorando a dor. Desde hoje cedo
estou sentindo um desconforto em meu ventre. Por favor, meu Deus. Não deixa que meu bebê
nasça.

- Quando minha mãe engravidou da Barbara e do Henrique, ela ficou muito estressada. Me deixou
de lado. Precisava ver. Ai o tio Rafael cuidou de mim, dormia comigo durante a noite, cuidava até
da minha comidinha. Eu não quero que ele sofra. _ seus olhos encheram de lágrimas.

- Quantos anos você tem? _ pergunto sentindo meu coração se apertar.

- Eu tenho onze. _ ela diz com carinha de sem vergonha. Parecia ser uma boa menina.

- O tio é um bom homem, sei que ele será bom pai também, assim como meu tio Miller. _ ela sorri
novamente e então ouso sua mãe resmungar algo.

- Letícia, você sabe...

- Meu pai. Tudo bem assim? _ diz revirando os olhos.

- Sim. Ótimo.

- Seu tio já passou por muita coisa meu amor, eu não acho muito bom que você o veja assim. Não
quero que se assuste. _ nesse momento vejo que seus olhos perdem o foco, algo que poucas vezes
vi em uma criança.

- Eu não tenho medo, eu não ligo! Eu quero e vou vê-lo. _ ela adianta seu passo e me deixa sem
entender sua reação.

Amber olha para trás um pouco insatisfeita com seu comportamento e pede perdão com o olhar.
Aceito sem contestar.

Todos estávamos em frente ao quarto, podia ouvir os barulhos, mas pouco entendia a sensação
estranha que me tomou.

- Vamos? _ pergunto assim que percebo o choro se formar na feição de Amber.


- Sim. _ ela diz um pouco engasgada, diferente dela, Letícia já estava na porta girando a
maçaneta envolvida com a imagem que estava a sua frente.

Pela primeira vez nesses últimos dias, percebo que a mão do Rafael está em uma posição
diferente. Sua respiração um pouco mais acelerada. Algo que me deixou intrigada, mas fiz
questão de guardar para mim.

- Quantos anos... _ Amber respira fundo ao se aproximar dele, eu mal sabia como reagir.

Olhei para o Ricardo que assentiu dizendo que tudo ficaria bem.

Tudo ficaria bem...

Ele ficaria bem...

Ele se lembraria de mim...

Ele ainda me amaria...

Ele se lembraria de nossa noite...

Eu não sabia o que aconteceria aqui, mas eu tenho certeza que eu não gostaria.

Aos poucos Christian e todos nós nos afastamos, dando um pouco mais de privacidade a tristeza
de Letícia e Amber, as duas o alisavam de uma maneira intima, como se convivessem por todos os
dias.

- Tio, fala comigo, eu queria tanto ver seus olhos... _ Letícia diz em auto e bom som. Fazendo-me
sorrir.

Eu também gosto dos olhos dele, da maneira que eles falam mais que a sua boca.

Relaxo apenas curtindo olhar para seu corpo, percebendo que por mais que seu rosto ainda
esteja diferente sua feição começa a surgir da maneira que sempre foi.

Lindo...

Respiro fundo e fecho os olhos, deixo que meus pensamentos se conectem a ele. Passo a mão por
minha barriga, sentindo meu coração bater com mais força, sentindo minha alma sorrir por algum
motivo.

Quando abro os olhos lentamente em direção ao Rafael vejo que ele faz o mesmo.

Meu coração bate mais rápido do que eu poderia imaginar, Ricardo se afasta de mim
imediatamente indo em direção a ele e Amber sem perceber se afasta um pouco. Todos ainda sem
conseguir falar.

- Tio... Que alegria, acordou para me ver... _ ele não expressa nada, vejo que o silêncio se torna
inevitável.

Letícia fica um pouco desnorteada, mas não se afasta, fica ao seu lado apenas o olhando e
segurando sua mão. Até que ele a segura com força.

Movo-me vagarosamente até ele, eu tinha em minha consciência que não devia realizar nenhum
tipo de esforço, mas percebi que o Ricardo havia se esquecido por completo de mim.

Amber abre espaço, percebo que o Rafael não havia ao menos direcionado seu olhar para ela,
o que me dava um pouco mais de alegria.

- Eu vou chamar o médico. _ Amber diz se afastando e então o Rafael a enxerga, observei algo
que nunca havia visto em seu olhar. Um sentimento forte.

Fecho meus olhos e seguro em sua outra mão. Ele olha para mim, sem dizer nada, sem nenhuma
expressão. E então deixo que as lágrimas escorram livremente por meu rosto.

- Diz que você se lembra de mim, aperta minha mão, por favor. _ sinto o ar me faltar, mas mesmo
assim fiz questão de transparecer calma.

Ele não apertava minha mão, até que voltou seu olhar para Letícia. Sorrindo para ela, alisando
sua mão.

Ele não se lembra de mim...

Ele não se lembra de nada...

Letícia o beija, aproximando-se de seu rosto mesmo com a aparelhagem, sorri para ele.

- Eu tive saudades. Você não me ligou. _ ele balançou a cabeça e então percebi lágrimas em seus
olhos.

Amber entra no quarto com o médico que fica impressionado com o contato de Letícia com ele e
me olha de maneira apreensiva.

Quando balanço minha cabeça ele olha para o Ricardo e então peço para que eles não me
tirem daqui, mas sem contestar Ricardo obedece ao médico me afastando deles.

- Eu não quero ir. Por favor.

- Você não tem querer. Me desculpa. _ Ricardo diz me levando para o quarto, coloca-me encima
da cama sem me dizer ao menos uma palavra e então quando eu já estava devidamente
acomodada, ele olha para mim com certo carinho, aproxima-se de minha cabeça e me dá um beijo
na testa.

- Eu me senti preso durante vinte anos. Eu tenho quarenta e quatro anos. Eu vivi um amor de
mentira, por ter errado em minha vida inteira. O amor de mentira do Rafael é a Amber. Não pense
que ele a ama. Quando ele se lembrar de tudo, porque ele vai se lembrar, ele vai estar ao seu
lado. Não se preocupe. Além do mais, Amber tem muitos filhos e um marido que ela ama até o fim
de seus dias. Tudo dará certo. _ ele me beija na testa novamente e se afasta não dando-me
chance de resposta.

Ele tem razão...

Mas eu não tenho medo da Amber. Eu tenho medo dele me esquecer, dele se esquecer de como
foi me amar.

RAFAEL MELLO

Eu não sei quanto tempo travava uma guerra comigo mesmo, tentando acordar, tentando ter
sentindo, brigando com meu corpo.

Eu conseguia ouvir as vozes a minha volta, mas não conseguia identificar de quem eram.

Até que hoje ouvi uma voz conhecida o bastante para fazer meu coração parar.

Letícia...

Abri os olhos sem saber onde estava e por que estava.

Olhei em minha volta e tentei reconhecer a Letícia, mas não a encontrei como esperava. Estava
grande, mais alta com o corpo mais formado, cabelos loiros e grandes. diferente do que eu
lembrava.

Sua mão apertava a minha, mas demorei a fazer o mesmo com ela e sem perceber deixei que
lágrimas escorressem de meus olhos.

Eu me sentia diferente, algo em meu corpo fez-me querer me olhar, mas desisti quando ouvi
outra voz e essa sim, fez meu coração disparar.

Amber.

Por que eu sinto que ela não estava por tanto tempo em minha vida?

E como a olhei também a achei diferente. Sua feição um pouco mais adulta e seu corpo mais
cheio de curvas do que eu lembrava.
Meu corpo não conseguia obedecer meus comandos e por mais que eu tentasse falar, minha
boca simplesmente nem se mexia.

Até que olhando em volta percebi uma mulher de cadeira de rodas.

Ela não me era estranha, me serviu lanche em alguma lanchonete. Lembro que seu marido era
um pouco louco, mas não entendo de estar aqui.

Ela não é nada minha.

E por que eu estou em um hospital?

Procuro indícios de um local conhecido, mas a única coisa que encontro é o nome de um hospital.

Não lembro-me de ter sofrido nenhum acidente.

A mulher ainda segurava minha mão, eu via em seus olhos a sua angustia.

Será que eu dormi com ela e não me lembro?

Mas eu nunca dormi com ninguém depois que vim para o Brasil com Amber.

Não entendo.

Então viro-me para o outro lado, afim de observar a Letícia. Percebo a emoção que a certa e
me pergunto o que aconteceu pela milésima vez.

Será que eu bati a cabeça?

Mas a única coisa que eu lembro foi dos filhos dela nascendo. Então isso explica por que ela
está mais cheinha.

Um médico juntamente com Amber entra no quarto e depois de dispensar a louquinha da


cadeira ele se aproxima de mim.

Eu posso estar louco, mas acho que era meu irmão que estava com ela.

- E ai papai? Como está?

PAPAI?
CAPÍTULO 32

RAFAEL MELLO

Acordo mais uma vez sendo perturbado por aquela mulher em meus sonhos, respiro fundo e olho
para meu pau percebendo o quão está duro.

Balanço minha cabeça de um lado para outro e então me levanto indo para o banheiro, olho
minha feição no espelho e constato que a cada dia a cicatriz é menor. Gostaria muito de me
lembrar quem fez essa porra na minha cabeça e principalmente em eu ombro.

Pareço ter sido marcado como um animal.

Olho para meu pau e lembro-me do sonho quente que tive essa noite. A pele daquela mulher, os
olhos dela, a maneira com que ela se movimentava.

É como se eu realmente conhecesse aquele corpo.

Fecho meus olhos lembrando-me do jeito com que ela montava em mim no sonho, do jeito que
suas unhas percorriam meu peito e sem pensar coloco minha mão em meu pau, deixando que um
movimento preguiçoso começasse.

Fecho os olhos imaginando aquela mulher a minha frente, mas como ela é de verdade, com seus
cabelos loiros e pele um pouco esbranquiçada.

Deslizo minha mão sentindo meu pau ficar húmido e minhas pernas um pouco fracas, pressiono
minha outra mão na pia tentando controlar a vontade de gemer.

Respiro fundo aumentando o ritmo e dessa vez sinto meu pau endurecer ainda mais.

Achei que isso poderia ser impossível para uma simples punheta.

Faço estocadas fortes e ritmadas, deixando que o barulho tome conta do ambiente, minha
cabeça estava viajando na intimidade daquela mulher, no jeito que ela me olhava.

Deixei que gemidos abafados escapassem de minha garganta.

Pareço um adolescente com os hormônios a flor da pele.

Depois de gozar volto para o quarto inconformado com meus sonhos. Eu preciso conversar com
aquela mulher, mas desde que eu a tratei mal nunca mais ela apareceu.

Será que eu seria muito idiota se eu me vestisse e fosse procura-la?


- Oi, bom dia. _ ouço a voz do médico atrás de mim e então olho-o.

- Pelo jeito andou assustando outros pacientes. _ finjo-me de desentendido.

- Como doutor? _ ele olha para mim e sorri, mas muda de assunto.

- Temos que conversar sobre sua saúde. Está na hora. _ ele diz e então se aproxima sentando-se
em uma cadeira ao lado de minha cama.

- O que quer me contar? Eu sinto que eu perdi algo. _ abaixo minha cabeça ainda lembrando da
mulher de meus sonhos.

- Você perdeu parte de sua memória por conta da quantidade de pancadas que recebeu na
cabeça, eu acredito que aos poucos sua memória retorne, mas se esse caso for permanente o
senhor terá que se redescobrir.

- Quem fez isso comigo? _ sinto meu sangue ferver.

- Eu não acho que isso seja uma noticia consideravelmente importante. Mas devo dizer que devia
conversar com a moça da cadeira de rodas e hoje temos mais uma visita pra você.

- Quem? _ pensei que poderia ser alguém de meu passado um pouco distante. Estranhei muito o
tamanho de Letícia, os anos passaram que eu nem percebi.

- Débora. _ ele diz e para mim o nome não é estranho, mas nenhuma fisionomia me vem.

- Não sabe quem é não é? _ sinto uma vontade de chorar tão grande, mas prefiro engolir.

- Sim. Não sei. _ abaixo minha cabeça e então ele respira fundo e se retira do quarto deixando a
porta entre aberta.

Logo uma mulher morena entra, cabelos alisados e olhos jabuticabas.

Corpo muito bonito, mas com uma barriga saliente indicando gravidez.

Ela sorri para mim e se aproxima.

- Oi Rafa. _ o jeito que ela fala me faz sentir saudades.

- Oi. Acho que seu nome é Débora. _ tento ser educado, não quero que ninguém mais se afaste de
mim.

- Pensei que me trataria de outra maneira. _ ela sorri um pouco triste.


- Mal? _ pergunto respirando fundo.

- Não. Claro que não. Pensei que me chamaria de Deca e beijaria minha testa. _ ela se senta ao
meu lado.

- Deca... _ repito e sorrio.

- Prazer, sou Débora Moraes, sua melhor amiga há quatro anos... _ ela estende sua mão.

E então estendo a minha também.

- Prazer, Rafael Mello. Sou morador do Rio de Janeiro. _ coço minha cabeça.

- Corrigindo... Você é morador do Vale Europeu na altura de Santa Catarina.

- Verdade, tinha me esquecido. _ sorrio para ela.

- Se esqueceu de muita coisa bobão. Vou ir ver seu filho hoje. _ ela diz e uma sensação estranha
me invade.

- Filho?

- Desculpa. Você ainda não sabe não é? Acho que você realmente deve encontrar a Alicia.

Eu não sabia o que pensar não tinha certeza de como reagir e muito menos queria que essa
mulher permanecesse aqui, por que ela quis me deixar confuso? Estava tão boa a nossa conversa.

- Você se incomodaria se eu quisesse ficar sozinho?

Ela me olha um pouco desapontada, mas não demonstra em sua atitude.

- Claro que não. Creio que eu tenha falado algo muito pesado, mas eu voltarei para te apresentar
o Rafael desses quatro anos. _ ela se aproxima beijando minha testa e logo se afasta fechando a
porta atrás de si.

Depois de passar o dia remoendo por diversas vezes o que eu deveria ou não fazer, me levanto
decidido a procura-la. Chega de fechar os olhos e vê-la sem poder ao menos conversar com ela e
descobrir por que meu coração fica dessa maneira quando ela se aproxima ou alguém fala dela.

Se eu perdi a minha memória quero que ela retorne.

De um jeito ou de outro. Com filhos ou não. Se eu não estiver preparado, me preparo!

Tomo um banho e escolho uma roupa que estava no canto de minha cama, de fato não
lembrava-me dessas roupas estarem antes aqui, mas agradeço por serem do meu tamanho.
A blusa era azul e social, um estilo que eu não costumava a usar com uma calça jeans escura
quase no mesmo tom que a camisa. O sapa-tênis era escuro também, olhei-me no espelho e sorri
com o reflexo. Havia tempos que eu não sabia o que era usar uma roupa de verdade.

Coloco um perfume que achei nessas coisas também, dessa vez o cheiro era conhecido por mim.
O que me leva a pensar que essas roupas realmente são minhas.

Saio de dentro do quarto sob o olhar vigilante das enfermeiras e então paro de frente a que
estava com um sorriso no rosto.

- Você poderia me levar até a moça de cadeira de rodas? _ pergunto sentindo as palmas de
minhas mãos soarem.

- Claro que sim. Há essa hora ela deve estar no quarto. Me acompanhe.

- Sim.

Respiro fundo e quase me arrependo de minha decisão. Às vezes aquela mulher é uma biscate.

Mas o que eu estou dizendo? Eu sei que não é... eu vi em seus olhos que seus sentimentos são
verdadeiros por mim.

- Chegamos. _ a enfermeira diz com um sorriso no rosto, mas ele some assim que ela abre a porta
do quarto e não a encontra lá.

- Desculpa. Eu não sei o que aconteceu. Ela deve estar em uma consulta. Quer esperar? _ olho
para ela e somente balanço minha cabeça dizendo que não. mas sua expressão triste me deixa
intrigado.

- Depois eu volto. _ então ela sorri.

- Gravou o caminho para seu quarto? _ faço que sim e me afasto indo em direção a ele, mas no
caminho algo me manda olhar para o lado e então vejo uma varanda, uma cadeira de rodas e um
cabelo loiro.

Meu coração dispara, mas respiro fundo antes de resolver me aproximar, observo pela janela o
momento que ela fechara os olhos e então resolvo me aproximar lentamente. Passo por ela e vou
até a grade e fico lá, olhando a vista, já sabendo que ela havia me notado. Permaneço alguns
minutos assim até que resolvo me virar. Eu preciso falar com ela.

ALICIA DALGLIESH

Já tinham se passado dois meses desde que Rafael acordou e eu estava aqui... Perdida no
tempo, sem querer acreditar no que estava acontecendo.
Amber já tinha ido embora, junto com ela seus filhos, seu esposo e pai. É difícil você olhar para a
pessoa que ama e perceber que ali não há mais nada seu. Como se sua vida ao lado dela tivesse
sido apagada. Algo de quebrar o coração em pedaços.

Olho para Pedro, meu filho estava saudável e mais um pouco poderia ir para casa. Claro que
não sairia daqui sem que meu outro bebê estivesse em meus braços.

Mas meus dias tem sido de maus a piores.

Coloco minha mão dentro da incubadora, posso sentir sua pele fininha, a sensação de tê-lo aqui
comigo, faz meu coração por breves segundos parar de doer.

- Alicia? _ ouço uma voz atrás de mim e sorrio por reconhece-la.

- Pensei que não viria nos ver. _ olho para trás tentando conter a vontade de chorar.

- Não deixaria vocês. _ Débora me olha com compaixão.

Acabo por deixar que as lágrimas caíssem. Por mais que eu quisesse ser forte. Minhas forças já
haviam se esgotado.

Então ela se aproxima de mim e se senta ao meu lado, procurando um jeito de me consolar.

- Ele não se lembra de mim também. Eu fui apagada de sua memória. _ ela deixa que uma
lágrima escorra, mas se controla.

- Ele não se esqueceu de mim e dos filhos dele. Dá ultima vez que fui lá, ele mandou que eu saísse
e pediu para que eu não voltasse nunca mais. Foi à coisa mais difícil que já ouvi.

Eu passei por tudo, superei tudo, esperei por ele, concentrei meus pensamentos e minha vida nele
e tudo agora... Estava acabado.

- Ele vai se lembrar ele não pode esquecer de algo tão importante. Eu não acredito nisso. Deus
não deixaria isso assim, eu tenho certeza.

- Eu espero que ele não deixe. Eu quero te chamar para ser a madrinha de Pedro. Eu não sei se
você vai querer, mas não custa nada pedir. _ ela dá de ombros e sorri para mim.

- Serei uma ótima madrinha. Eu prometo.

Ela sorri me dando um gelo no coração.

- Agora deixe-me conhecer meu afilhado. _ ela diz isso e então afasto-me com a cadeira de
rodas, deixando que ela se aproxime e coloque suas mãos em meu filho.
Sinto meu coração bater tão forte ao imaginar amamenta-lo.

Eu quero tanto que esse dia chegue logo...

- Você está bem? Desculpa não ter vindo te ver.

Quando ela diz isso, eu a observo, prestando atenção em todo seu corpo. Posso ver que sua
barriguinha começa a aparecer, o que me deixa em duvida se o que eu estava pensando era
realmente verdade.

Será que eu poderia perguntar?

Se ela ficasse chateada...

Mas ela vai ser a madrinha do meu filho...

Melhor amiga do homem que eu amo...

E se o que André falou fosse mentira?

- Sim. Ele é filho do André. _ ela responde antes que eu pudesse abrir minha boca.

Será que estava tão explicito assim?

Acho que eu realmente não sei negar sensações.

- Desculpa. _ digo sentindo meu rosto queimar de vergonha.

- Eu sabia que você ia perguntar, quando eu descobri você não estava mais aqui. _ ela diz
respirando fundo.

- Sim. Por que engravidou? Ele não se mostrava para você? _ pergunto sentindo meu peito queimar
ao lembrar-me daquele homem.

- Não. Eu não sabia que estava grávida, era inexperiente demais, mas eu também não poderia
cometer um abordo só porque engravidei de um canalha.

- Na minha família por parte de pai não cometemos aborto. Somos a favor da vida. Não importa
em que circunstancia ela venha.

Ela assente e então penso em Raquel.

Por mais que eu quisesse que ela estivesse aqui, fico imaginando que não seria a melhor situação
do mundo.
Ela mudou.

Raquel se mostrou indiferente, veio me ver uma única vez e depois não. Acabou.

Sinto como se o que aconteceu tivesse abalado à estrutura de nossa amizade.

Mas não a culpo. Minha vida foi muito difícil, meu pai era o meu porto seguro e morreu tão
precocemente. Já Raquel teve a vida tranquila, com boas condições, uma família que a apoia.

É normal que ela não suportasse essa barra toda.

- Se meu irmão não tivesse morrido, eu teria os melhores pais do mundo, mas não os culpo. Talvez
eu teria feito a mesma coisa. Só que não. _ ela sorri, mas percebo que no fundo a tristeza fala
mais alto.

- Você será uma ótima mãe. E com certeza seu filho ou filha parecerá somente com você.

Digo respirando fundo e olhando para meu filho que faz bolinhas com a boca.

Eu já tinha decidido o nome de meu outro filho. Terá o nome de meu pai.

Augusto.

- Eu vou indo, tenho que trabalhar ainda, mas foi ótimo te ver. Tentarei vir ainda essa semana.
Tenho que te apresentar alguém.

Ela sorri e então aproximo-me querendo um abraço seu.

- Muito obrigada. _ sinto conforto em seus braços.

- Conte comigo. _ ela olha em meus olhos e se levanta, dando-me um tchauzinho.

Volto em direção ao meu filho e permaneço ali por alguns minutos.

O que será que aconteceu com minha mãe? Eu não sei se devo me preocupar, ou temer que ela
volte. Posso está muito errada, mas eu sinto que ela não morreu. Eu sinto que ela conseguiu
escapar. E se isso aconteceu, pode demorar, mas um dia ela voltará para infernizar minha vida
fazendo com que eu deseje que ela morra um milhão de vezes da pior forma.

Os dedinhos de meu filho estavam cada dia mais gordinhos. Passar a mão em seus bracinhos
fazia com que uma sensação engraçada me invadisse.

Eu queria tanto que o Rafael curtisse isso comigo. Queria tanto que ele soubesse aproveitar a
criança que fizemos.
Se ele não voltar a sua memória eu vou me vingar por ele. Vou matar o André como eu sempre
quis fazer. Não importa o quão violenta eu seja, não importa o que isso irá acarretar em minha
alma, mas eu prometo a mim mesma acabar com a raça dele.

Se o Rafael esqueceu-se de mim, eu vou fazer com que o André se lembre de tudo que eu fui
capaz quando fugi. Vou fazer com que ele se lembre de quem eu matei e como matei.

Vou dizer tudo que eu sempre quis dizer aquele homem.

Se isso tudo aconteceu foi porque eu estava gravida, se eu não tivesse nunca que eu deixaria
aquele crápula acabar comigo daquela maneira.

Eu passei anos me preparando para isso, mas fraquejei. Da próxima vez não será assim.

Passarei minha vida ensinando o ódio aos meus filhos. Ensinando que o mundo não é um mar de
rosas como alguns pais teimam em pregar para seus filhos.

Se eu estou fodida agora é porque um desgraçado disse se apaixonar por mim.

Eu não quero que isso aconteça mais. Eu não vou permitir que meus filhos sofram por acreditar
no ser humano errado, por achar que o conto de fadas pode acontecer.

Quero que meus filhos sejam vistos como exemplos de justiça.

A noite já estava caindo e pela primeira vez eu ainda não estava deitada em minha cama.

Nos meses que estou aqui não quis fazer amizade com ninguém, apenas me senti confortável a
varanda que há no lado de fora.

Certa de que eu não posso ficar aqui por muito tempo, fecho meus olhos e sinto o ventinho da
noite tocar em minhas bochechas de maneira que me alivie de todo estresse.

Acabo deixando minha mente levar-me para o dia que conheci Rafael.

Naqueles minutos eu não me importei em esconder quem eu era, apenas desfrutei dos
sentimentos trocados por nós dois. E é estranho que a mesma ligação não tenha ocorrido assim que
nos vimos novamente.

Era natural de nós dois ficarmos juntos. Nada foi forçado. Apenas aconteceu.

Eu fico me perguntando o que seria de mim hoje se eu não tivesse o conhecido. Talvez eu não
teria tomado a coragem de largar tudo, de constituir uma nova vida para mim.

Rafael me ensinou tantas coisas, mas a principal dela é que devemos cuidar ao máximo de quem
amamos e lutar por ela até o ultimo segundo.

Abro meus olhos percebendo que eu não posso desistir desse sentimento, então antes que eu
pudesse me mover sinto uma presença ao meu lado. Sentindo o mesmo vento que eu, mas seu
perfume me faz despertar a sensação da presença que eu mais amo nesse mundo.

O porte mais magro do Rafael fazia-me sentir triste. Eu não queria que ele tivesse sofrido tanto
por mim.

Permaneço olhando para ele, sentindo sua presença, mas assim que ele se vira, prefiro fingir
dormir apenas curtindo a sensação de tê-lo próximo a mim.

Eu não sabia que ele podia passear pelo hospital.

Sinto que ele se aproxima de mim e então tento controlar meu impulso de abrir os olhos. Eu
quero que ele pense que eu esteja dormindo, quero senti-lo sem ser rejeitada.

E o inesperado acontece.

Sinto seus dedos em meu rosto, contornando-o, passando por meus cabelos, lábios...

- Eu queria tanto te reconhecer. Eu queria tanto saber a importância que você tem em minha vida.
Eu simplesmente não sei como controlar os sonhos que tenho com você. Mas vejo sua feição
diferente, cabelos escuros, um ar saudável.

Seus dedos ainda percorriam meu rosto de maneira tão carinhosa que lágrimas começavam a
cair por meu rosto e mesmo assim ele não parou. Continuou ali, mesmo que em silencio.

- Me perdoe pelo modo que lhe tratei da ultima vez. Meus sonhos ainda não estavam tão claros
como estão agora. Eu te vejo todos os dias e sinto vontade de te tocar, de te beijar... _ seus dedos
percorrem meus lábios.

Sinto uma imensa vontade de abrir os olhos, mas permaneço quieta. Quero ouvir, quero somente
sentir.

- Se eu pudesse...

E então sem esperar nem mais um segundo, seguro sua mão em meu rosto, beijo-a e enfim abro
meus olhos.

Percebo que há um brilho diferente em seu olhar, dando-me a enorme esperança de ter o meu
homem novamente.

Sem dizer nada, continuo olhando-o, acariciando sua mão à medida que ela acaricia meu rosto.
Queria que ele colocasse a mão em meu ventre e sentisse o nosso filho.

Olho fixamente em seus olhos e sua outra mão vem até mim, se colocando sobre a minha. Sem
hesitar levo-a até minha barriga e falo em pensamento com meu bebê.

- O pai está aqui, fale com ele, por favor!

Seus olhos estavam fixos em minha barriga, mas sua outra mão não deixava de segurar meu rosto.
De senti-lo.

Levo sua mão até minha boca e beijo-a em seguida ele se senta a minha frente, deixando que
sua outra mão continuasse em minha barriga.

- Ele está se mexendo. _ Rafael deixa que um sorriso em seu rosto escape, deixando-me
completamente emocionada.

Como eu queria beija-lo.

Ouso em me aproximar e tocar seu rosto com delicadeza, vejo que seus olhos se fecham para
que eu continue o carinho sem interrupções.

- Desculpa... Eu queria tanto me lembrar. _ ele respira fundo, mas graças a Deus permanece imóvel.

- Você vai lembrar.

- Me faça... _ ele diz e abre os olhos, olhando-me numa intensidade absurda. Deixando-me sem ar.

Encosto minha testa a dele, sentindo minha respiração falhar, meu corpo inteiro se arrepiar e
meu coração disparar como há muito tempo não sentia.

Passo a mão por sua cabeça e laterais de seu rosto, gravando a sensação da sua pele em meus
dedos.

- Se eu pudesse... _ passo meu nariz no dele e suas mãos deixam minha barriga e rosto, correndo
diretamente para meu cabelo.

- Você pode. _ ele me puxa mais para ele colando sua boca a minha, abro espaço para sua
língua, sentindo-a deslizar pela minha com intensidade.
CAPÍTULO 33

RAFAEL MELLO

Deito na cama do hospital sentindo meus lábios queimarem após sentir o beijo magnifico de
Alicia, descobri que tenho um filho e que o outro está na barriga. Não entendi muito bem essa
história, mas não consigo deixar de pensar que aquele foi um dos melhores beijos que já
experimentei, se não foi o melhor.

Sinto que meu coração a conhece. Sei que ela está falando a verdade por mais que eu tente
dizer que não me lembro.

O errado sou eu. Meu irmão a ama e isso eu vi poucas vezes, se bem que o senti com o ar
diferente, mais liberto.

A Raquel deve ter feito um bom trabalho durante esses anos que passaram distantes. Gosto
muito de minha cunhada, mesmo não entendendo o que ela faz com meu irmão.

Fecho meus olhos e tiro a camisa, penso em como seria agradável se ela estivesse aqui e sem
pensar em mais nada recorro ao meu pau pela segunda vez no dia com o pensamento na mesma
mulher.

Só espero que ninguém entre nesse quarto e me atrapalhe.

Enfermeiras, prometo não gemer.

Meu pau estava húmido, minhas pernas começavam a ficar bambas, mas não diminui de maneira
nenhuma a intensidade de minha mão.

Respiro fundo ao sentir minhas pernas bambearem pela segunda vez de maneira avassaladora.

- Aliiciiaa. _ gemo ao sentir o gozo pingar em minha barriga.

Queria é está enchendo aquela mulher.

Depois de terminar resolvo ir ao banheiro tomar um banho rápido, paro de frente ao espelho e
olho para mim tentando lembrar de alguma coisa, passo a mão por cima de uma cicatriz quase
sarada no alto de minha cabeça e ao sentir uma forte dor, abaixo minha cabeça, fechando meus
olhos.

- Ahh... _ uma imagem surge em minha cabeça, um homem com um tipo de barra de ferro e então
toco em meu peito automaticamente.
Olho no espelho e vejo a marca, eu não fui queimado, fui marcado como um animal.

Um fodido animal!

Soco com força na pia, quando mais uma vez flashs invadem minha memória trazendo-me uma
vontade de chorar intensa ao estar deitado em minha cama olhando para a foto exposta na tela
de meu celular.

Mas eu não conseguia definir de quem era.

Resolvo respirar fundo e entrar no chuveiro, tomo um banho deixando a agua levar meu estresse
e minha imensa vontade de chorar sem motivo.

Será quem fez isso comigo? Será que ainda está vivo? Porque se estiver...

Ele já era...

Saio de dentro do banheiro e coloco aquela camisolinha ridícula de hospital.

Estou um completo gay e para piorar ainda é curto.

E então quando estava deitando, a enfermeira bate na porta e após alguns segundos a abre.

- Se continuar chamando o nome da Alicia daquele jeito, terá filas na porta de seu quarto para ser
a sua próxima.

Sorrio com sua piadinha e logo me posiciono para que ela coloque a bandeja da janta em meu
colo.

- Espero que não seja sopa novamente. _ reviro os olhos. Já estou comendo sopa a tanto tempo
que me esqueci como é comida de verdade.

- Não. Eu trouxe algo diferente para você.

Ela me olha maliciosa e me mostra o que trouxe e no momento sorrio feito uma criança.

- Doce de leite, carne assada, batata frita? Eu já morri?

Ela joga a cabeça para trás gargalhando.

- Eu tinha que agradecer a gentileza né.

- Que gentileza? _ não lembro-me de ter feito nada.

- A gentileza de deixar minhas extremidades molhadas.


É minha vez de gargalhar.

- As minhas estavam cheias de veias pertencentes a Alicia. _ sorrio.

- Mulher sortuda da merda! _ ela passa as mãos pelos cabelos e se abana me fazendo sorrir
novamente.

Olhei para a comida e enchi minha boca d'agua. Não demorou muito para que eu acabasse com
o prato inteirinho.

Posso está enganado, mas eu nunca comi comida tão boa quanto essa aqui.

De quantas coisas eu me esqueci?

Olho para frente e sinto vontade de procurar aquele homem agora mesmo e entender porque
ele me feriu tanto.

Como eu conheci esse cara?

Me explique Deus.

Coloco a bandeja encima do criado mudo e não demora muito para que eu pegue no sono.

Acordo com disposição, a noite foi bem aproveitada, passo as mãos pelos cabelos, mas percebo
que minha cabeça acordou mais dolorida que o normal. Nada que o médico já não dissesse que
aconteceria.

As cicatrizes que foram feitas em mim ficaram aqui, para sempre me lembrar que um dia um
filha da puta conseguiu me machucar. Que um dia eu por algum motivo estava fraco.

Sento-me na cama ainda com as imagens da barra de ferro queimando meu ombro, tudo muito
vivo em minha memória. Não foi uma ilusão, eu sei que isso aconteceu.

Respiro fundo e apoio minha cabeça entre minhas mãos.

- Rafael? _ Ricardo entra e se pronuncia com um tom preocupado.

- Oi. _ digo sem direcionar meu olhar a ele.

- Tudo bem? _ ele pergunta e se senta ao meu lado passando uma de suas mãos por minhas
costas.

- Eu lembrei-me de um homem me queimando. _ tiro a mão de meu rosto e aperto minha mão
sentindo vontade de socar alguma coisa.
Eu não deixei meu pai me ferir, como posso ter deixado esse homem? Como ele me deixou tão
vulnerável?

Olho para meu irmão e percebo lágrimas em seus olhos. Eu nunca o vi assim, nem mesmo quando
cometeu um de seus maiores erros que foi sequestrar a mãe da Amber.

- O que houve Ricardo? _ mesmo não tendo muita intimidade com meu irmão, sinto-me obrigado a
perguntar. Eu sei que ele sabe, pode omitir para qualquer pessoa, mas não consegue me esconder
nada por muito tempo.

- Eu não tenho que contar isso sozinho para você, Rafael. Envolve muita coisa. _ ele respira fundo e
balança a cabeça em negação.

- Não? Envolve quem? Me conta o que aconteceu? Eu não aguento mais, eu preciso saber. _ eu
quero saber.

- Pelo menos sua mulher tem que está aqui. Eu cheguei depois... _ ele respira fundo e eu estranho a
maneira que ele pronuncia "sua mulher".

- Como assim você chegou depois? _ pergunto virando-me para ele. Sinto-me acuado e isso não é
de mim, começo ficar atordoado e me levanto olhando para ele.

- Diz o que aconteceu comigo, porra! Estou impaciente.

- Já disse que não posso! Se quiser saber dessa merda chama a Alicia. _ ele grita comigo com
raiva, fazendo com que meu sangue ferva.

- Acho bom vocês me explicarem essa história toda.

Saio de dentro do quarto sentindo meu sangue ferver. Vou até a enfermeira no corredor e
pergunto se Alicia ainda está no quarto e a resposta é dada assim que ela olha para outra
enfermeira balançando a cabeça em negação.

- Está na ala dos prematuros. _ ela me olha de cima a baixo, ignoro seu olhar e caminho
rapidamente até lá.

Olho pela parede de vidro e foco somente na Alicia.

Estou cego.

Olho para Alicia sentindo meu sangue ferver, mas de repente ouço um chorinho que faz meu
coração parar.

Foco na imagem à frente, um bebê muito pequenininho com a boquinha aberta e um chorinho
insistente que faz meu coração se derreter de amor e mais uma vez fecho meus olhos sentindo um
baque de memória me invadir.

Um exame a minha frente. Seguro-o sentindo uma grande emoção, mas ela acaba rapidamente
quando vejo um vídeo a minha frente.

E então volto a olhar a Alicia a minha frente que não tirava os olhos de mim de maneira alguma.

- Meu filho. _ deixo que uma lágrima escorra. Eu sei que é mesmo estando com a memória
embaraçada. Eu sinto que é.

Olho para Alicia que chora sem parar.

- Me perdoa por ter te tratado mal. Mas, por favor, deixe-me passar o dedinho nele, deixe-me
pegá-lo.

- Nós não podemos pegá-lo ainda. Mas você pode passar a mão nele. Não sei por que chora
tanto hoje, estou ficando preocupada. _ ela parecia incomodada. Coloca as mãos nos cabelos
ainda loiros e se afasta dando-me espaço.

Sento-me na cadeira e limpo uma lágrima solitária que ainda escorria.

Pondero em colocar minha mão, ele se parece tão frágil. Extremamente delicado.

- Qual o nome dele? _ pergunto sentindo uma angustia enorme por não saber o nome de meu
próprio filho.

- Pedro. _ ela sorri, mas aquele nome não me recorda nada. Absolutamente nada. Balanço minha
cabeça e a abaixo em seguida, estico minhas mãos lentamente até ele e então sinto sua pele macia
se encostar aos meus dedos, aliso seu corpinho frágil sabendo o estado deplorável que eu estava.

Eu sinto que esse menino ainda me dará muito orgulho.

- Você não conheceu nenhum Pedro, esse é o nome do médico que o salvou. Não sabemos como ele
sobreviveu, cientificamente era impossível, ainda mais sendo gêmeo.

Sinto um alivio na alma por não conhecer realmente nenhum Pedro.

Aos poucos seu choro foi se sessando, mas minha emoção não.

Ainda o olhando com ternura percebo que seus olhinhos se abrem por um segundo e olhando-me
segura meu dedo indicador.

Sem querer perder nenhum momento olho para ele também e tento expressar todo meu amor,
não acreditando no que aconteceu.
- Meu Deus. _ ouço Alicia falar e sinto uma coisa estranha em meu corpo.

Meu filho sabe quem sou eu.

- Meu amor, muito obrigada! _ ela se aproxima de mim selando nossos lábios de maneira que sinto
vontade de leva-la para meu quarto e tirar toda sua roupa.

- Está lindo mesmo com essa camisolinha. _ ela diz e beija minha cabeça.

Só então me dou conta que estou ridicularizado nesse hospital. Por que eu sai com esse
negocinho curto de dentro do quarto?

RICARDO MELLO

Foram meses difíceis para mim. Eu quase perdi a única pessoa que sobrou de minha família e
posso dizer que de todas as sensações que passei em minha vida, essa foi a pior.

Sentir que meu irmão estava partindo e eu não poderia fazer nada, me deixou trancado por
dentro até que ele acordasse, mas quando acordou, meu mundo inteiro se abriu, deixando um
rastro de alegria por onde quer que eu passasse.

- Raquel? Vamos ao hospital. Sua amiga deve está precisando de você. _ deito ao lado de minha
futura esposa sentindo a quentura de seu corpo deixar-me ansioso para tê-la.

- Não amor, eu não quero que meu bebê passe por mais coisa por causa dela. _ ela diz com certa
frieza na voz, incomodando-me um pouco.

- Não deveria falar assim. Ela não sabia. _ digo afastando-me um pouco.

- Não sabia? Então por que ela vivia fugindo? Ela me botou em risco durante todos esses anos. E
quem me garante que eu ainda não esteja.

Ela me dá as costas, virando-se para o outro lado da cama.

- Você conhece a Alicia melhor que ninguém. Não deveria ser tão dura.

- Eu conhecia minha amiga, mas não a mulher que atirou no pau do próprio ex-marido. Eu não
devia nem estar com você! Sei que já matou pessoas, que não vale o chão que pisa!

- Se for para te julgar posso dizer que você também não é uma mulher que preste! Que está
gravida de um cara que mal conhece e que era péssima esposa para seu marido. _ esbravejo
sentindo meu sangue ferver.

- Eu não ouvi você dizer isso. _ ela olha para mim com olhos cheios d'água.
- Ouviu sim, ouviu eu dizendo a verdade. Desde que tudo aconteceu você só fala mal, só julga! A
Alicia foi mulher suficiente para entender que você estava assim por causa de seu filho. Mas eu sei
bem que não é! Ou você para de ser mesquinha e infantil ou eu vou embora dessa casa e deixo
de ser o homem babaca que irá assumir e dar meu nome a criança que está em seu ventre. Não é
você que gosta de dizer verdades? Estou dizendo a minha!

Saio do quarto irado e bato a porta com força, sentindo meu corpo tremer de tanta raiva.

Vou até a garagem e giro a chave do carro com força, saindo acelerando de dentro dela.

A merda! Eu faço tudo para ficar calmo. Mas tem coisa que eu ouço que não dá.

Sei que sou mais velho que já tenho meus quarenta anos, mas não dá para tampar o sol com a
peneira sempre.

Chega...

Tudo eu sou o ruim, eu tenho um passado ruim. Ela nunca me deu oportunidade para dizer o que
aconteceu em meu passado, me julga por conta de minha ex-mulher.

Injusto isso!

Paro em frente a um bar e respiro fundo. Quanto tempo eu não bebo...

Mas são oito horas da manhã.

Largo o foda-se e desço assim mesmo, vou até a moça que estava parada esperando que um
babaca sofrido aparecesse para enterrar a cara na cachaça.

- Bom dia. Quero um whisky, dose dupla, por favor.

- Senhor sei que estou sendo inconveniente, mas o senhor está ao volante? Não deveria beber.

- Não te perguntei nada. _ respondo sem olhá-la.

- Se você tiver filhos, pense neles. Gostaria que alguém os atrapalhasse.

- Eu mataria! _respiro fundo sentindo-me irado.

- Mataria? Então por que quer correr o risco? Estou vendo que está pilhado. É melhor se sentar.
Vou pegar o copo d'agua. _ olho para ela pela primeira vez, prestando bem atenção em seu jeito.

Uma mulher de aparentemente vinte anos, cabelos lisos amarrados em um coque, nada
chamativa, mas com uma educação surpreendente.
- Agora se quiser me contar o que aconteceu. _ ela se senta ao meu lado.

- Não me abro com pessoas de fora. _ digo olhando para o copo a minha frente.

- Faz muito bem. Também não me abriria. Ainda mais depois de querer dirigir bêbado. _ ela se
levanta indo até a pia atrás do balcão.

Começa a lavar as louças em um único ritmo. Primeiro ensaboa todos os copos, depois todos os
talheres e enxagua.

- Você é casada? _ ela olha para mim impressionada com minha pergunta.

- Não. Eu já fui durante três anos, mas a imaturidade dele fez com que não desse certo.

- Então sabe o que é alguém te julgar por seu passado o tempo inteiro?_ abaixo a cabeça
encostando minha testa no balcão.

- Não tinha historia, senhor...

- Ricardo. Somente Ricardo.

- Ele foi meu primeiro namorado, não tinha do que reclamar. _ ela dá de ombros aparentemente
sentida.

- Entendo... Nunca fiquei com ninguém virgem. Deve ser no mínimo interessante.

Sorrio, mas ela não.

- Não há diferença, Ricardo. Mas você deve ter uma mulher para dar explicação. Não acha
melhor ir? _ ela pergunta virando-se para mim, deixando um pouco amostra seus seios em um
decote um pouco avantajado.

- Tem razão. Muito obrigada pela conversa. Até mais.

- Até. _ ouço sua resposta quando já estava quase no carro.

O que eu tinha na minha cabeça quando resolvi parar naquele bar? Nem perguntei o nome da
menina. Que mole. Ela parecia ser boa pessoa.

Estaciono no hospital e então sigo para o ultimo andar onde Rafael e Alicia estão. Sinto algo
estranho em meu coração e quase volto, mas prefiro ser forte e seguir em frente, meu irmão deve
está bem.

Depois de discutir com ele, sento-me em sua cama e coloco minha cabeça entre minhas mãos.
Por que está tudo tão difícil?

Respiro fundo e fico a espera dele juntamente com a Alicia. Respiro fundo tentando conter a
minha vontade de ir embora e deixa-lo conversar sozinho com sua mulher.

Eu não devo me misturar nesse assunto. Cheguei quando o teto já estava desabando na cabeça
dos dois. Não é justo que eu conte algo que não sei por inteiro.

E a espera se tornou longa demais. Resolvi deitar, minhas costas já estavam doendo demais para
que eu permanecesse sentado.

E então depois de algum tempo acordei assustado me perguntando a onde eu estava e com uma
mulher me balançando de um lado para outro.

- Senhor? Me acompanhe. Acorde! _ ela diz e então me levanto rapidamente.

- O que aconteceu? Rafael está bem? Peguei no sono. _ ela fez uma cara engraçada de quem diz
que é logico que peguei no sono.

- Sim. Ele está bem. Mas gostaria que visse algo. _ ela se afasta e então a acompanho por alguns
metros até chegar de frente a um vidro. Avisto meu irmão emocionado com as mãos no Pedro, seu
filho.

- Meu Deus! _ abro minha boca diversas vezes tentando descrever o sentimento que estava
sentindo.

- Eles fazem uma família linda. _ a enfermeira diz com um sorriso no rosto e lágrimas escorrendo
por sua bochecha. Todos em volta estavam contemplando a cena linda.

- Eu não tive a sorte de meu irmão em ter filhos, não sei se ainda terei, mas quero ser um ótimo pai.
Diferente do que o meu foi para mim e Rafael. Desgraçado!

- Não fale assim do seu pai. você não sabe como foi a vida dele. Era novo para entender pelo
jeito que diz.

- Eu não era novo, o Rafael sim! E foi muito mais homem que eu, mas não o suficiente para salvar
nossa mãe. _ minha voz acaba ficando embargada.

- Ela amaria saber que é avó.

Deixo que as lágrimas descessem livremente pelo meu rosto. Respiro fundo para conter minha
vontade de me aproximar deles. Ao contrário disso pego o celular de meu bolso e tiro algumas
fotos. Acho que seria interessante trazer algumas fotos dele para o Rafael. É bom que ele tenha
memórias mesmo que somente em fotos.
Respiro fundo e passo algumas fotos de meu celular com isso acabo encontrando uma de um
jantar no restaurante de Alicia.

Como a comida daquela mulher é gostosa.

Tem um vídeo também. Quando clico para abri-lo fico perplexo ao ver o maldito por trás de
Alicia e Rafael sem que nós tivéssemos prestado atenção.

Dirijo-me rapidamente até eles.

- Alicia. _ digo sentindo meu peito queimar.


CAPÍTULO 34

ALICIA DALGLIESH

Rafael mantinha contato comigo e com nosso bebê, o amor deles é algo intimo e muito bonito de
se ver, meus olhos se enchiam de lágrimas, mas eu evitava demonstrar isso na frente dele. Eu posso
ver que está tentando me amar e se encontrar nessa loucura toda.

Há uma semana Ricardo me mostrou o vídeo do dia que eu e ele voltamos a nos encontrar, eu
preferi não mostrar ao Rafael, mas me fiz forte e fui conversar com Renata, aliás, pedi para que
ela viesse até mim.

Tivemos uma longa conversa, ela é uma grande mulher e ótima profissional. Não tenho duvidas
que faria de tudo por qualquer pessoa, mesmo que ninguém desse nada por ela.

E realmente não dão.

Em segredo de justiça, ela o mantém preso sozinho no confinamento. Os dias dele não tem sido
fáceis e eu espero que se tornem ainda mais difíceis.

Nunca desejei o mau de ninguém, mas eu quero muito que aquele desgraçado queime no fogo
do inferno.

- Oi._ olho na porta e percebo Ricardo. Sorrio com gosto e então peço que entre.

- Como está a minha cunhada mais linda?

- Está bem. _ sorrio e escondo o fato de está sentindo o primórdio das contrações. Há três dias que
venho sentido cólicas e o medo de meu filho nascer antes da hora quase me mata.

Tudo bem que já estou quase nos sete meses e que meu outro bebê já está forte o suficiente
para sobreviver.

Deus tem sido bom comigo.

- E a Raquel? _ pergunto sentindo algo estranho em meu peito.

- Ela está bem. A barriga está enorme. O que me deixa indignado é ela não aparecer pra te ver.

- Não se importe. Deixe que um filho é mais importante do que tudo na vida de uma mulher.

Eu realmente não culpava a Raquel. Eu sabia que quando me aproximei dela coloquei sua vida
em risco, não é mentira isso, eu me descuidei demais e acabei sendo achada. E o que eu posso
fazer se ela quis se afastar? No mínimo eu tenho que me contentar e quando tiver alta ir ao seu
encontro nem que seja para pedir desculpas.

- Eu posso me abrir com você? _ olho para ele tentando entender o que um ex-agente teria para
se abrir comigo. Não quero saber de suas chacinas.

- Diga. _ mordo meus lábios inferiores e respiro fundo.

- O Rafael guarda um segredo muito grande. Ele fez algo que eu tenho certeza que se arrepende
até hoje. Mas eu preciso que você o perdoe e o saiba ouvir quando te contar. Isso se ele conseguir
fazer isso algum dia.

- Ele vai conseguir. Ricardo, acho que você não sabe o que eu passei, você não tem ideia o que é
ter uma mãe filha da puta e um pai que fazia de tudo por mim. Eu posso está enganada, mas
minha mãe pode sim ter algo a ver com a morte do meu pai.

- Eu sei o que é ter um desgraçado dentro de casa sim, eu nunca contei o que passei e o
treinamento de base que tive só me fez endurecer mais ainda meu coração. Mas a minha ex-
mulher me deu algo bom, ela me proporcionou conhecer uma família de verdade. Eu tinha oito
crianças junto comigo todos os dias, eu tinha o exemplo do que era ser feliz, mesmo que não tivesse
acontecido comigo.

- Eu também tive o exemplo da Raquel. A família dela é algo invejável aos nossos olhos. É muito
difícil ter filhos e saber que não vão ter avós para mimá-los, assim como em outras famílias. Mesmo
sabendo que minha mãe não está morta, tenho absoluta certeza que nunca a deixaria se
aproximar de meus filhos.

- Eu não vou nem ter filhos, Alicia. Eu vou morrer sozinho. Porque com sua amiga tenho certeza que
não vai ser. Nunca pensei que ela fosse tão egoísta. Não sei como não quis tirar aquele menino.

- Ela é infantil. Tente entender alguém que nunca sofreu. _ respiro fundo e me ajeito na cama,
sentindo minhas costas incomodarem ainda mais.

- Está tudo bem? _ ele se aproxima depositando sua mão sobre minha barriga.

- Está sim. Muito obrigada pelo que tem feito por mim. Eu nunca pensei que poderia ser um amigo
tão gentil. _ digo sem olhar em seus olhos, apenas colocando minha mão encima da dele.

- Tinha outras impressões de você. Pensei que queria roubar meu irmão, ou algo do tipo, nunca se
sabe.

- Roubar seu irmão? _ não entendi o que ele queria dizer. Como roubar um segurança de banco se
em meu restaurante eu ganhava mais?

- Rafael tem dinheiro, Alicia. Bem difícil você não notar isso. _ ele revira os olhos, o que me faz
ficar ainda mais sem entender.

- Você acha que está pagando esse hospital? Está enganada. Tudo é ele. Os anos que ele
trabalhou com Amber ganhou mais que o triplo que você ganharia em cinco anos de trabalho.

Abro e fecho minha boca por diversas vezes, mas resolvo me calar.

- Isso não importa. Dinheiro eu já tinha com André e nem por isso eu era feliz.

- Calma, eu não quis te ofender. _ ele se rende colocando as mãos para cima e sorrindo sarcástico.

- Você não me ofendeu. Mas preciso de um favor. _ respiro fundo sentindo ainda mais dor, eu
precisava ver o meu filho antes que eu entrasse definitivamente em trabalho de parto.

- Me ajuda ir ver o Pedro? _ tento não demonstrar, mas acabo fazendo careta.

- O que você está sentindo, diz para mim, por favor. _ ele se levanta se aproximando ainda mais
de mim.

- Acho que meu filho vai nascer. Estou com muita contração.

Respiro fundo e a vontade de chorar acaba sendo eminente.

- Tem certeza do que está dizendo? O Rafael precisa saber. _ ele diz e então lembro da noite
anterior.

- Eu acho melhor não. eu não sei o que ele sente, Ricardo. Não posso forçar que ele seja pai de
algo que nem lembra que fez. _ a lágrima escorre involuntariamente.

- Deveria lembrar que o nascimento de um filho é a coisa mais importante desse mundo e que eu
não me importo que ele se lembre ou não. Quero ter a consciência limpa. _ ele diz me pegando no
colo e me colocando sentada a cadeira de rodas.

- Vamos ver o Pedro, mas você tem que me prometer que deixará que eu chame o Rafa. _ ele olha
em meus olhos.

- Sim, eu deixo. Prometo.

- Então vamos.

Saímos um pouco apressados do quarto, por sorte não encontrei ninguém que prestasse
bastante atenção em minhas caretas, mas me garanti respirar rapidamente e diversificadas vezes.

- Está piorando? _ Ricardo pergunta ao entrar comigo na sala dos bebês.


- sim, mas tem algo que tá me preocupando mais. _ tento conter o choro.

- O que Alicia? _ ele para de frente para mim e me olha atento, percebendo com certeza minha
palidez.

- estou sentindo que algo vai dar errado, eu não quero isso. _ ás lágrimas tomavam conta de mim
sem que eu tivesse chance de ao menos negá-las.

Então vejo a enfermeira se aproximar e se agachar ficando na minha altura.

- Você está bem? _ ela passa a mão pelo meu rosto, tirando alguns de meus cabelos que
tampavam sua visão.

- Meu bebê vai nascer. Mas eu preciso ver o Pedro antes. _ ela respira fundo e um pouco
protestante me leva até onde ele está.

- Temos boas noticias. Ele já está pesadinho e talvez quando seu filho tiver alta, ele também terá.

Ela sorri e então eu coloco minhas mãos dentro da incubadora, sentindo sua pele fininha, mas em
um toque inesperado, suas duas mãos rodeiam a minha apertando com um pouco de força.

Ele abre os olhinhos e me olha como se me entendesse e se me desse força.

- Mamãe ama muito você. _ digo prendendo meus lábios entre os dentes e sentindo um molhado
invadir minha intimidade. A dor aumenta mais ainda e então sem conseguir dizer para esperar
mais um pouco, tiro a mão de dentro da incubadora e olho tristemente para Ricardo, que direciona
seus olhos até o chão onde já havia liquido.

- Temos que leva-la agora. Não temos muito tempo e não acho considerável que ela tenha esse
bebê de parto normal.

Ricardo aparentemente preocupado vira minha cadeira ao contrário, tirando-me a possibilidade


de ver o meu filho e então saímos pelo corredor, um pouco desesperados por sinal. A dor já me
consumia, mas a falta do pai causa-me arrepios de terror.

Eu queria que ele estivesse comigo. Que visse nosso bebê nascer.

Tranco minhas mãos com força e tento forçar-me ficar acordada. As vozes a minha volta
estavam quase sumindo, mas a do doutor me fez acordar por instantes.

- Alicia, por favor, se mantenha acordada. Não podemos mais ter cesariana, seu bebê já está
vindo. _ ele diz após me deitar e fazer o exame de toque.

- Eu não tenho forças, por favor, não faça isso.


- Não temos escolha. O parto passou do tempo.

Na hora que ele me diz isso; sinto uma ponta de angustia dilacerar-me por dentro.

A culpa foi minha.

Respiro fundo tentando conter mais uma vez as lágrimas, mas ele olha para mim e segura minhas
mãos firmemente.

- Entenda que nada disso é culpa sua! Saberíamos que poderia acontecer a qualquer momento.
Mas prometa-me que será forte e me dará a honra de colocar esse meninão para fora?

Obrigada doutor, você não sabe como tem sido importante para mim.

Ainda olhando diretamente em seus olhos firmo mais ainda suas mãos as minhas.

- Por nada te decepcionarei. _ digo e então ele se afasta.

- É isso que queríamos ouvir, Rafael preciso que saia da sala, enfermeiras adiantem-se temos um
menino para colocar ao mundo e uma mãe para cuidar. Vamos lá.

Seu animo me fez sorrir apesar da dor.

- Qual vai ser o nome? Você já sabe? _ ele abre minhas pernas colocando sobre um suporte que
desce do teto.

- Thiago. _ sorrio com vontade.

- Pedro, Thiago e João no barquinho... Faz força para mim.

Ele brinca e então me esforço ao máximo para colocar meu bebê para fora, cada minuto que se
passava o esforço era maior, estou dando meu máximo, mesmo sentindo que a qualquer momento
eu possa desmaiar.

Eu queria que o Rafael estivesse aqui, mas pela demora do Ricardo, aposto que ele resolveu não
vir.

Por favor, Deus, deixe que eu coloque meu bebê para fora...

Deixo que minhas orações foquem em meu filho, mesmo que por alguns minutos meus
pensamentos se voltem para o Rafael.

- Força Alicia, eu ainda não estou vendo. Ele não pode ficar tanto tempo assim. Eu preciso que se
esforce. Pense na fofura dele e nos risos que ele te dará e force.
Olho para o doutor com os olhos arregalados por suas palavras. Esse medico não existe.

E então faço ainda mais força, sinto que um líquido começa a me invadir e eu não sei bem se é
xixi ou ainda resto da bolsa, mas forço até perder o meu folego.

Vejo o médico se entre olhar com uma enfermeira. Infelizmente eu tinha a sensação novamente
que algo estava errado.

- Doutor? _ pergunto e começo a gemer de dor, forçando com todas as minhas forças.

- Vá Alicia, não desista. _ ele diz com os olhos marejados e a mão apoiada sobre meu ventre.

- Não posso mais. _ sinto uma dor enorme me tomar, tão forte que me desnorteei.

- Alicia, se mantenha comigo. Por favor, olhe para mim. _ a voz dele parecia ao longe, mas algo
me chamou atenção. Um vulto reconhecido atrás dele, que quando se aproximou tinha os olhos mais
lindos e marejados do mundo.

RAFAEL MELLO

Acordo sentindo uma angustia no peito e um desanimo desolador. É estranho quando a gente
tenta sentir algo, mas no final só acha perda de tempo e foi assim que eu me senti.

Estou há mais de um mês tentando engolir a história de eu ser pai, de amar alguém. Eu sinto algo
por Alicia, eu sei que ela é importante para mim de um jeito diferente, mas é uma carga muito
pesada para um homem que não se lembra de absolutamente nada.

Sento-me na cama e por mais que eu quisesse negar, sinto uma imensa vontade de ver o
Pedrinho e é exatamente isso que faço. Vou até o banheiro e tomo um banho.

Essa parada de observação é um saco. Eu já consigo andar, saber onde estou e não sinto mais
dor na cabeça, por que ainda preciso ficar nesse maldito hospital?

Caminho pelos corredores frios e sem vida até chegar a ala pediátrica onde encontro meu
menino.

O que eu gosto de ver nele é o jeito com que ele reage quando eu chego, eu sinto meu coração
acelerar cada vez que ele abre os olhos e direciona-o para mim.

- Pelo visto o papai chegou cedo hoje. _ eu não havia percebido a hora que era, mas também não
me importei. Seu comentário me deixou tenso, mas ignorei.

- Senti saudade do garotão. _ sorrio e me sento na cadeira colocando minha mão sobre os dedos
dele.
Eu não sei bem quanto tempo ele está aqui e muito menos quando vai sair, mas em relação a um
bebê recém-nascido ele está quase chegando. Pelo menos no tamanho.

- Ele está parecido com você. _ ela sorri e puxa uma cadeira colocando-se ao meu lado.

- Está? Não acho. _ respiro fundo e volto minha atenção para ele.

- Ele é seu filho. _ ela respira fundo e sem paciência torna a se levantar.

- Me diz ai garotão. O que eu faço? Eu bem que poderia fugir desse hospital não é? O que acha?
Prometo te visitar às vezes.

Sinto uma imensa vontade de chorar e me acho ridículo por estar conversando com um bebê que
ao menos entende o que digo. Respiro fundo pela milésima vez e resolvo me levantar.

- foi bom te conhecer bebê. _ digo alisando seu dedinho que logo ele aperta com força.

Saio de dentro da ala pediátrica e vou direto para o jardim do hospital. Escolho um dos bancos
vazios e me concentro em uma criança a minha frente.

Ela me lembra exatamente Letícia quando estava passando por seus problemas de saúde.

- É engraçado quando a vida passa diante de seus olhos não é? _ uma paciente se senta ao meu
lado com sua camisola branca e seus olhos fundos.

- É mesmo. Não temos controle sobre ela. Precisamos apenas sobreviver a todo caos. E mesmo
assim ainda corremos riscos.

- O risco é o medo que devemos enfrentar. _ ela dá de ombros. Deixando que sua coluna
descanse enquanto apoia os antebraços nas costas do banco.

- Devemos enfrentar tudo para nos encontrarmos? _ pergunto sentindo uma imensa duvida em fugir
ou não.

- Não. Devemos nos enfrentar. Somos nossos maiores inimigos. _ ela olha para mim e então
percebo o quão está doente. Em sua mão há uma fistula e também manchas grandes arroxeadas e
inchadas por toda extensão de suas pernas e braços.

- Estou com medo de enfrentar a duvida.

Digo sentindo meu peito e garganta queimarem.

- Você tem que enfrentar a vida. Mas tem que ver se o seu jeito de enfrentar é o melhor.

- Obrigada.
Decidido me levanto e caminho rapidamente em direção ao meu quarto. Posso está agindo de
maneira equivocada, mas não posso de maneira alguma ficar nesse ambiente.

Começo a arrumar minhas coisas e colocar tudo no lugar adequado, mas entre minhas coisas
encontro um quadro com uma foto. Viro-o observando atentamente a imagem desconhecida. Uma
foto em um chalé aparentemente aconchegante. Eu tinha um sorriso largo nos lábios, tirei a foto do
quadro e a mantive em minhas mãos, então olhei o verso e vi que havia algo escrito.

"Te amarei por todos os dias da minha vida, mesmo que velho me esqueça de seu largo sorriso e
de seu nome, ainda assim lembrarei dos momentos inesquecíveis que passamos. Para sempre.
Rafael"

Continuo com o olhar perplexo sobre a imagem. Eu escrevi isso. Eu disse que a amava para
sempre.

Por que meu Deus, por que eu esqueci?

Eu preciso me lembrar!

Tranco os olhos com força e então ouso a maçaneta e girar.

Olho para frente e percebo meu irmão em sua melhor forma preocupada.

- Você precisa vir comigo. _ ele diz ofegante.

- Eu não posso. _ respiro fundo irritado.

- Caralho. É o seu filho! O que pensa que está falando? Como eu queria está em seu lugar e você
ai negando sua cria seu porra louca?

Ele se aproxima me segurando pelo colarinho, mas não me intimido.

- Eu não tenho medo de você! Solte-me.

Deixo que a foto caia ao chão e olho firme em seus olhos.

- Acho que terei que te dar outra porrada nessa sua cabeça. Caralho.

Ele diz irritado puxando seus cabelos loiros com força.

- Foda-se o que você acha certo e o que esteja acontecendo com aquela mulher. Eu não me
lembro! Não posso simplesmente acordar sendo pai. _ esbravejo.

E então ele arranca o celular do bolso abrindo espaço para mim.


- Sente essa bunda ai. Serei obrigado a quebrar uma promessa, mas não importa! Se você não
lembrar de nada, vá embora. Faça o que quiser de sua vida.

Respiro fundo e resolvo ouvi-lo. Sei que está certo, mas sinto que também estou. Preciso de um
tempo.

Sento-me a cama e logo ele me entrega o celular passando um tipo de vídeo feito de fotos e
vídeos. Uma montagem de slides para ser mais claro.

Pego o celular relutante, mas assisto. No começo mostra uma foto minha junto a Alicia em um
lugar bonito, que mal me lembro, mas não é estranho.

Depois aparece o vídeo de um jantar em um restaurante, estávamos dançando e aparentemente


felizes nos beijando. Falta-me ar quando uma sensação estranha me invade fazendo com que
novos flashs de memória apareçam em minha cabeça.

Coloco a mão automaticamente na cabeça, fecho meus olhos.

- Continue olhando!

Abro meus olhos e foco o vídeo que aparece um homem no final, uma forte dor de cabeça me
atinge e mais lembranças embaralhadas são vistas.

Coloco a mão em meu ombro, mas dessa vez nego-me a desviar o olhar.

O vídeo vai mudando para cenas fortes de muito sangue, mas quando se aproxima do rosto
familiar, uma dor forte me atinge, tranco meus olhos instintivamente e então muitas imagens todas
em sua devida ordem surgem em minha cabeça, começo a me lembrar de tudo e um ódio muito
grande me sobe.

- Desgraçado! Vou acabar com ele. _ abro meus olhos e me levanto sentindo-me transformado.

- Obrigada Senhor. Meu irmão! _ ele me abraça com força e então faço mesmo, mas nesse meio
tempo lembro-me de Alicia. Meu coração se enche de amor quando penso e consigo lembrar de
tudo que vivemos e de tudo que ainda preciso viver ao lado dela.

Saio às pressas de dentro do quarto correndo pelos corredores, meu coração estava na boca e
com certeza as lágrimas já não cessavam mais.

- Onde está ela? _ grito para uma enfermeira que responde imediatamente.

Ao parar de frente a porta, respiro fundo três vezes e a abro, deparo-me com Alicia pálida
encima da mesa de parto, suas pernas abertas e um imensa roda de sangue a sua volta.
Aproximo-me dela, mas percebo o olhar triste do médico.

- Por favor, tenha forças meu amor, você vai conseguir.


CAPÍTULO 35

RAFAEL MELLO

Depois de ser tirado de dentro da sala de cirurgia continuei parado olhando para porta por
longos minutos, eu não queria me sentar sem saber que Alicia estava bem e viva. Mas o cansaço
me venceu e me fez sentar pensando novamente na grande merda que havia acontecido em minha
vida.

Como isso aconteceu assim? Como eu deixei chegar ao ponto de ser sequestrado por um
babaca que só vive de capangas?

Mas se ele acha que escapou bem, está muito fodido. Não importa as consequências que
sofrerei, esse cara pagara com a vida pelo que ele fez eu e minha Alicia passar.

Não é assim que as coisas funcionam, posso ter prometido que não mataria mais ninguém, mas
esse cara merece que o diabo o leve para o canto mais escuro do inferno.

Levanto-me pela centésima vez em busca de paciência para não invadir a sala de operações.
Puxo meus cabelos com força e respiro fundo olhando para o corredor branco e sem vida.

Tudo estava tão silencioso...

Sento-me novamente e coloco minha cabeça entre minhas mãos evitando pensar em qualquer
coisa que envolvesse o crápula do André.

Prefiro pensar nisso quando eu tiver a possibilidade de quebrar cada ossinho dele.

Lembro-me dos momentos que passei com Alicia e principalmente de ter visto falecer em meus
braços. Sem que eu quisesse as lágrimas começam a escorrer, deixando que soluços baixos e
angustiantes escapassem de minha garganta.

Meu Deus, por favor. Não leve a Alicia.

Esfrego meus olhos e olho para cima evitando derramar ainda mais lágrimas.

Eu não posso, nãos quero que ela parta sem ter tudo de mim. Eu não posso deixar que isso
aconteça.

Seguro minhas mãos com força evitando gritar pelo corredor e então meu irmão surge, olhando-
me estranhamente.

- Como foi?_ ele parecia atônito de tudo que havia acontecido.


- Eu fui tirado de lá... _ digo olhando para baixo quando sinto minha garganta apertar pela
vontade de chorar.

Resolvi ignorar o motivo de ter sumido nessas horas. Mas sei muito bem que está escondendo
algo, posso ver em seus olhos.

- Por quê? Minha cunhada está bem? _ ele se senta ao meu lado tentando visualizar meu rosto.

- Ela entrou em choque. Teve hemorragia. _ deixo que o choro escorra livremente desistindo de
tentar conte-lo. Não posso ser forte sempre.

Não mais...

- E como você está aqui tão calmo? Pelo amor de Deus! _ ele se levanta andando de um lado para
outro.

- Não adianta eu tentar quebrar tudo. Só deixará quem está cuidando dela ainda mais nervoso.

Respiro fundo.

- Tem razão. Eu tenho que te pedir conselho. Mas como farei isso se está mais ferrado que eu? _
ele passa freneticamente as mãos pelos cabelos, deixando-me ainda mais nervoso.

- Peça o conselho que quiser. Melhor que desfoco dos meus problemas. _ digo e olho para ele,
mantendo minha coluna reta para que ele entenda que quero ouvi-lo.

- Eu não sei se já te contaram, a Raquel, minha ex-mulher morreu.

- Ela o que? _ olho para ele incrédulo do que havia falado. Acho que realmente não lembrei de
tudo.

- Você não lembra? _ ele arregala os olhos.

- Não... _ digo tentando buscar na memória e por fim desisto.

- Ela estava envolvida no seu sequestro e no da Alicia também. Pelo que entendi estava de chefe
de segurança do desgraçado. Por isso facilitou tanto o divórcio e foi embora sem se importar. Mas
o problema que com tudo que aconteceu meu envolvimento com a amiga de sua mulher também foi
pra merda. Ela é uma escrota. Sei que essa palavra é meio gay, mas não tenho outro termo.

Respiro fundo tentando engolir tudo que recebi de uma vez só.

- Você esperava algo a mais de uma mulher que cismou de dar para um médico e engravidar dele
do nada? Ah péra ai... Vou dar ali e já volto.
Digo sem dar muita importância.

- Você mais do que ninguém deve se lembrar-me que não podemos julgar ninguém pelo que ela
fez. Ou você acha que a Alicia não vai te julgar por ter matado seu próprio pai?

A tensão no meu corpo faz com que eu posicione um soco diante ao nariz dele.

Mas quando olho em seus olhos mantenho-me parado e ele nem ao menos se move. Saberia que
eu seria incapaz.

- Você sabe qual o motivo do meu erro... ele matou a mamãe. _ digo desviando o olhar do seu.

- É? Será que ela vai entender isso? Mesmo amando o pai como ela amou? Já cansei de dizer
para não julgar por uma atitude.

- Desculpa. _abaixo a cabeça tentando colocar um juízo nela.

- Eu transei com outra mulher. _ ele diz fazendo com que eu o olhe.

- Você fez o que? _ ele respira fundo ao ver meus olhos intrigados sobre ele.

- Eu transei com outra mulher. Estava com ela agora. Estou fodido. Foi a melhor boceta que já comi!

- Sujo. Chega de trair. Pelo amor! _ reviro os olhos.

- Ela não é uma qualquer. _ ele diz tentando se explicar.

- Eu que sou. Quantas vezes já ouvi isso de sua boca? Assuma que você não consegue ser fiel. É
tão difícil assim?

- Difícil é você não compreender quando seu irmão diz que está apaixonado na primeira foda! _
olho para ele novamente esperando mais uma babaquice de sua boca, mas não ouço. Apenas vejo
o olhar mais sincero dele em toda minha vida.

- Tá de sacanagem não é? _ incrédulo deixo que minha boca se abra sem entender sua frase.

Primeira foda?

Só me faltava essa.

- Não. Eu a quero para mim. Vou esperar o filho de Raquel nascer e vou embora.

Balanço minha cabeça de um lado para outro, mas deixo seus assuntos para depois quando
olho e percebo o médico se aproximar.
- Doutor.

- Rafael. _ ele sorri com gosto, o que me deixa respirar aliviado pela primeira vez.

- Como ela está?

- Está ótima. O bebê também. Quer vê-la? _ ele diz com um sorriso no rosto, mas sem acreditar que
estava tudo bem o segui.

- Sério doutor? Eu a vi entrando em choque. _ digo sentindo uma pontada estranha em meu peito.

- Eu tive uma ajuda muito competente. Realmente pensei que perderia sua esposa. _ ele respira
fundo.

- Quem o ajudou? _ ele olha para mim e sorri novamente, abrindo a porta do consultório e dando-
me uma visão inimaginável.

Amber...

Sorrio e então me aproximo. Ela está de jaleco e cabelos presos dando destaque aos seus olhos
azuis.

- Acho que alguém está com saudades do amor. _ ela diz sorrindo e a sua voz faz com que meu
coração se alegre de maneira fraterna.

- Saudades? Eu estou louco para amassar minha mulher. _ me aproximo de Alicia e percebo que
mesmo debilitada sorri para mim com amor.

- Me desculpe por tudo. Tudo foi culpa minha. _ digo pegando em sua mão e então ela segura a
minha emocionada, as lágrimas escorriam de seus olhos freneticamente.

Percebi que o aparelho que media seus batimentos apitava freneticamente o que me deixou um
pouco preocupado. Não é bom que ela se exalte nesse momento.

- É melhor deixar essa emoção toda para depois. _ Amber adverte alisando a mão de Alicia, que
a olha com ternura.

Assentindo, dou-lhe um beijo na testa e digo em seu ouvido que passaria a noite ao seu lado,
mas que antes passaria para ver nossos filhos.

Afasto-me indo em direção a porta e Amber me acompanha.

- Você formou uma família muito linda. _ ela diz em inglês fazendo com que eu lembre-me de como
me comunicava.
- Obrigada. _ respondo em português. Não quero mais sair daqui e muito menos sentir a mesma
sensação que tinha enquanto vivia com ela.

Ela sorri um pouco sem graça e volta para o vidro observando o choro silencioso de Alicia.

- Ela é a mulher da minha vida. _ digo respirando fundo e sentindo uma paz imensa em lembrar
de tudo.

- Eu percebi que era quando a olhou. _ ela diz se sentando em um banco bem atrás de nós.

- Eu percebi que era quando a encontrei pela primeira vez no Rio.

Apesar do olhar intrigante que recebi, as perguntas ditas em seu olhar não foram ditas.

- E as crianças como estão? _ olho para ela observando cada detalhe de seu rosto e percebendo
o quanto aparenta está feliz.

- Eu estou cada dia mais ferrada, Rafael. Sinceramente eu não sei o que eu vou fazer com Letícia.
_ ela respira fundo dando espaço para uma expressão cansada e preocupada.

- O que houve? _ viro-me de frente para ela atento as suas próximas palavras.

- Letícia e Henrique estão próximos demais. Eu não sei o que isso pode dar. _ ela passa as mãos
umas nas outras freneticamente.

- Próximos... É natural. Eles são irmãos.

- Não. Eles são primos e esse amor não é fraterno. Tenho medo do que possa acontecer.

- Não adianta ter medo. Você sabe bem disso é lutar contra a correnteza como fez com si própria.

Ela balança a cabeça ponderando o que dirá.

- Se ele se apaixonar por ela... Ele é homem.

- Eu também era. Apaixona, quebra a cara, volta a ser feliz um dia.

- Eu não quero que meu filho sofra Rafael! Você é pai deveria entender.

- Você deveria entender que não temos controle sobre a vida de ninguém. Nem de nossos próprios
filhos.

- Você tem razão. _ ela respira fundo, mas mantém sua preocupação.
- Amber. Desde que eles são pequenos a gente vê isso, quanto mais você afastar eles, mas será
provável o envolvimento mais pesado dos dois.

- Quanto eu já pensei nisso. Quanto eu penso vendo eles dormirem juntos todos os dias. Eu não sei
como controlarei isso sem que os afaste.

- Ensine para eles o amor fraterno, faça o que tiver em seu alcance. Mas cuidado para não
machuca-los.

- Você tem razão. Toda razão... _ respiro fundo.

Levanto -me e a olho.

- Amber. Te ver foi a melhor coisa que aconteceu. Foi bom saber que tudo que eu vivi foi um
engano. Eu estava me iludindo pela falta de alguém para mim, um apoio, não sei. Mas a Alicia
trouxe tudo para mim e mais um pouco. Muita luz.

- Ela tem uma luz imensa. _ sorrio olhando para minha mão e sentindo muita falta da aliança em
meu dedo.

- O Alexander queria conversar com você. _ ela diz se levantando também e abrindo caminho
para que eu passasse.

- Conversar sobre? Não temos nada a dizer um para o outro.

Dou de ombros. Não que eu sinta alguma raiva dele, mas sei lá.

Ele fez muito mal a Amber e querendo ou não. Eu não respeito alguém assim.

- Eu sei que você sente por mim, mas eu estou bem. Ele mudou.

- Faça como quiser, mas eu preciso que vocês conversem. Eu sinto que não é a ultima vez que a
gente vai se ver. _ ela coloca a mão em meu ombro e eu sinto como se tivesse vendo a menina que
conheci há anos atrás. Um sorriso lindo.

- Bom te ver feliz. Pode chama-lo. Mas primeiro quero ver meus filhos. _ digo sorrindo.

A emoção de ser pai é algo que só podemos explicar ao ter algo tão lindo e que mesmo sem
falar e totalmente dependente é só amor.

- Veremos. Eu vou cuidar deles daqui para frente. Não é a minha área, mas creio que os médicos
daqui não estão preparados para um caso tão delicado. Se eu não tivesse chegado...

- Nem abra a boca para falar uma porra dessa. _ aponto o dedo em seu rosto.
- Calma, Fael. Estou só dizendo. Eu cheguei para investigar esse caso de minha irmã mais a fundo.

- Seu pai quer?

- Sim. _ ela respira pesadamente.

- Eu não posso permitir. Ele é meu. Avise ao seu pai que a vingança será feita, mas quem sofreu fui
eu. Eu não quero deixar que isso seja feito pela mão de ninguém.

Fixei meus olhos nela e percebi seu corpo tencionar.

- Eu vou falar com ele. _ ela parecia entender que não tinha um modo de deixar que seu pai
fizesse isso sem arrumar uma boa confusão com ele.

- Vamos deixar essa história para depois. Vamos ver os meninos.

Entramos na ala pediátrica e logo vimos as incubadoras.

Percebi a diferença que um útero faz quando olhei para os meninos e percebi que Thiago,
mesmo mais "novo" está maior e aparentemente mais saudável que Pedro.

Meu coração se enche de amor quando olho para os dois e percebo a imensa semelhança com
a mãe, porém, o mesmo não acontecia comigo. Incrivelmente nem os cabelos claros não tinham.

Mas não tem problema, poderei me recuperar nesse tapa de gêmeos.

- Eles se parecem muito com ela. _ Amber diz indo até a incubadora de Pedro e o pegando no
colo, eu nunca tinha o segurado, apesar de saber que a Alicia já.

Eu perdi tanto tempo.

- É emocionante não é? _ ela passa a mão pela cabecinha dele que abre a boca ficando
totalmente relaxado em seu colo.

- É demais. Eu não pensei que poderia sentir tanto. Parece que nunca presenciei nascimento algum.
É muito diferente quando a gente sabe que é do nosso sangue.

- Sim. Meus filhos são tudo para mim. E eu agradeço a Deus por serem unidos. Realmente são
irmãos.

- São quantos agora? _ sorrio, lembro que eles adotaram mais crianças, mas preferi não me
aprofundar nesse assunto.

- São oito.
Abro a boca sem conseguir acreditar.

- Meu Deus. _ coloco a mão em meu Thiago sentindo sua pele quentinha e percebendo alguns
amassados em seu rostinho provenientes do parto complicado.

- Sim. Bárbara e Henrique, Camilla, Tamy, Bruno, Amanda, Letícia, Elena._ sinto que o ultimo nome é
dito com certa dor.

Elena é a mãe da Amber. Ela sumiu há alguns anos e nunca mais apareceu.

- Nunca mais? _ pergunto referindo-me a noticias sobre ela.

Ela apenas balança a cabeça.

- Bruno é o filho da irmã de seu marido? _ pergunto, quando eles o adotaram eu já não fazia
parte da família.

- Sim. Um ótimo menino. Todos são maravilhosos. O único "problema" da família é o Henrique.

- Eu gostaria de conhece-lo. _ digo aproximando-me dela e passando a mão pela cabeça de meu
filho e logo deixando um beijo.

- Você vai. Eu sinto.

Sorrio.

Sento-me na cadeira no intuito de segurar meu filho. Eu ainda me sentia inseguro de pegá-lo tão
pequenininho. Mas um dia isso passaria.

Ela o colocou em meu peito e ajeitou os aparelhos para que não o machucasse em algum
movimento e então passei a alisar ele com carinho e sentir o cheiro de sua pele.

Limpo os olhos tentando ignorar a vontade louca de chorar.

A Alicia me deu tudo...

Desfoquei meus pensamentos do momento, localizando-os apenas no que eu faria quando todos
tivessem alta. Eu preciso que ela saiba de tudo que eu sinto, de tudo que eu passei, mesmo
temendo sua reação.

Como o Ricardo disse ela pode muito bem deixar de sentir algo por mim, ou me odiar por ter
matado meu próprio pai.

Mas ele me mataria...


Ele matou a minha mãe...

Ele era um desgraçado...

Se eu tivesse que mata-lo novamente, faria! Eu não consigo sentir nenhum sentimento que não
seja ódio por ele, ódio pelo que ele fez eu me tornar.

Respiro fundo novamente e penso em uma maneira de contar tudo para ela, deixando que minha
máscara caia por terra, deixando meus sentimentos todos expostos.

- Ela não vai te deixar. _ Amber diz colocando a mão sobre meu ombro e percebo que ao seu
lado, seu esposo se posiciona de maneira impaciente.

Sei que ele quer dizer algo.

- Oi Alexander. _ digo com um sorriso no rosto, mesmo que não tivesse motivos.

- Está tudo bem? Soube do que você passou e sinto muito. Não tive tempo de conversar com você
da primeira vez que viemos vê-lo. _ ele disse se aproximando e apertando minha mão.

- Eu não era eu, não se preocupe.

Assentindo ele pede espaço para ver o meu filho e então lhe dou. Posso ver a emoção em seus
olhos.

- Fico muito feliz por você. Eu sei que não fiz antes, mas eu devo muito a você. Não poderia deixar
que nesse momento estivesse sozinho.

- Tudo bem. Não se preocupe cara. Eu estou bem.

- E vamos te ajudar ainda. Sei que precisa ficar aqui um tempo, pensei em sei lá. Te ajudar a
encontrar um lugar novo para você. O sul e sudeste do Brasil já deram. Não acha?

Sorrio com seu tom cansado.

- Sim. Mas eu não queria deixar o meu país. Preciso pensar onde reconstruirei minha vida.

- O que acha da Argentina? Não deixará a América. Lá é um bom lugar para seus filhos
crescerem. O Brasil está em uma crise muito difícil. Eles perderam a noção do certo e errado.

- Você tem razão. Eles perderam. Mas podemos conversar isso mais tarde? Quero muito curtir esse
momento sem me preocupar com mais nada. _ passo o rosto pela cabeça de meu filho.

- Claro.
[...]

Abro a porta do quarto de Alicia, olho para seu corpo e mesmo que eu tentasse me conter, meu
pau endurece virando roxa dentro de minha calça.

- Merda. _ falo baixinho o ajeitando.

- Eu sinto a mesma coisa quando te vejo. Só não sobe nada. _ mesmo fraca, Alicia respondia com
carinho.

- Que saudade que estou de você. Faz tanto tempo. _ digo passando as mãos pelo seu rosto e
aproximando-me. Assim que encosto meus lábios que sinto sua boca se abrir, afundo minha língua
ali, passando pela dela e segurando automaticamente a lateral de seu corpo.

Puxo seu lábio inferior e quando volto a beijá-la puxo sugo sua língua, sentindo seu gosto
maravilhoso.
CAPÍTULO 36

RAFAEL MELLO

Dois meses depois...

Chegou o grande dia. O dia em que minha vida voltará ao normal e a chegada de um dos
momentos mais importantes da minha vida, não, eu não estou falando somente de levar meus filhos
para casa e pedir formalmente a Alicia em casamento, mas sim para acabar com a vida daquele
maldito.

Ele não tem ideia do que espera por ele e com certeza temerá somente de me ver.

Desgraçado!

Respiro fundo, ainda não me conformo e não me entendo de ter deixado que as coisas
chegassem aquele ponto.

Deixei que minha mulher e meus filhos passassem por isso tudo, por causa de uma simples
frescura minha.

Tudo bem, eu sei que eu preciso acreditar em mim mesmo e que nem sempre o caminho da lei é
o melhor.

Não foi com meu pai. Não será com o André.

Depois que eu me lembrei de tudo é impossível deixar aquele filho da puta em puni.

- Coloque sua cabeça no lugar, Rafael! Você vai se lembrar dessa vingança pelo resto da vida.
Talvez não seja algo a se orgulhar. _ Ricardo diz colocando a mão em meu ombro e então olho
para ele entendendo o que ele sente.

Ricardo já fez muita coisa ruim e pelo que enxergo se arrepende da maioria.

Mas apesar de eu sentir algo estranho ao falar do meu pai, tenho absoluta certeza que não
sentirei isso com o verme do André.

Darei a ele a melhor morte que um bandido pode ter.

Assim como ele queria que fosse a minha.

Porque se eu ficarei marcado para o resto da minha vida. Ele também, mas no inferno!
- Eu não vou me arrepender Ricardo. Fique tranquilo.

Digo me levantando e indo até a geladeira pegar um copo de agua.

Faz uma semana que estou em casa, a ideia é não falar com Alicia até que ela esteja em casa e
os bebês com Débora. Tudo já estava arquitetado e se dependesse de mim todos os segredos
acabariam hoje.

Não quero uma vida dupla. Quero ser único ao lado dela. Para sempre...

Bebo a água e passo as mãos por meus cabelos. E se ela descobrir e não me querer mais?

Porra de mulher que me deixa maluco.

Eu já fui mais confiante.

Tudo havia ficado perfeito. Eu nunca imaginei que eu poderia fazer algo que ficasse meramente
romântico.

E bom de foder...

Um sorriso sarcástico tomou conta de mim e então meu irmão sorri também.

- Vai comer né? _ ele gargalha e se senta na cama.

- Vou comer? Claro que não! Vou só colocar a minha cobra no ninho dela! _ sorrio e ele me
acompanha jogando a cabeça para trás.

- A mulher que eu estou ficando está me deixando sem chão.

- Você não tem jeito. _ balanço a cabeça sem parar.

- Ela me deu todo jeito. _ ele morde os lábios como se lembrasse de algo.

- Me poupe dos detalhes! _ pego uma camisa branca dentro do armário e me sento olhando para
minha antiga casa. Nada será como antes.

- Não. Você a conhecerá. _ ele sorri e então fico feliz.

- Espero que dê certo dessa vez. _ pego uma calça também clara, com o tecido fino. A ocasião
pede.

- Ainda não falta muito tempo não? _ Ricardo me olha pensativo.

- Falta sim, mas quero tudo perfeito. Além do mais é meu ultimo dia aqui.
- A casa já está comprada? Tudo certo? A Débora vai também? _ ele pergunta mesmo apreensivo.

- Calma. Sim, está tudo pronto e a Débora não irá conosco. Ela ficará com o Bruno.

Ainda bem que ela se deu bem com esse homem, espero do fundo de meu coração que ele o
faça feliz. A felicidade dela, também é a minha.

O nosso destino para a Argentina já está traçado, mas como despedida terei uma noite só nossa.

Pensei muito em levar as crianças. De certo modo seria a melhor escolha. Mas creio que Débora
dê conta. Afinal, ela também é mãe. De um menino, aliás. Assim como meus filhos.

O da Raquel também é menino. A guerra de espadas será boa.

Sinto-me tão diferente do que eu estava. Me sinto tão mais solto. Pensei que aquele hospital iria
me enlouquecer, mas me mantive forte e a espera da minha família.

- Ainda bem que eles se gostaram. Você não tem ideia de como fico feliz. A Débora é ótima
pessoa.

- Ela é alguém que merece ser muito feliz, mas sinto algo estranho por não contar a ela sobre o
plano com André.

Sento-me na cama deixando que meu peso arreie sobre a cama.

- Merda! Eu vou matar o pai do filho dela. _esfrego meus olhos.

- Você vai o que?

Sou surpreendido pela voz de Débora e me levanto rapidamente tentando evitar que meu corpo
denuncie o susto que tomei.

- Desculpa. _ abaixo a cabeça, mas mantenho uma postura firme.

- Desculpa? Sim, você me deve por não ter me contado. Mas se for por acabar com ele. Devo-lhe
agradecimentos. _ levanto minha cabeça, estou tanto tempo sem conversar com ela.

Vejo que as lágrimas escorrem sem parar de seus olhos.

Direciono meu olhar para Ricardo e entendendo o recado ele se afasta, saindo do quarto e me
deixando sozinho com ela.

Aproximo-me e passo minhas mãos por seus ombros, deslizando-os até suas mãos.
- Me desculpa por tudo. _ ela mantinha a cabeça baixa, mas senti sua respiração se alterar.

Sei que ela ainda sentia algo quando eu me aproximava, mas resolvi esquecer.

- Eu não tenho nada que te perdoar, você foi um ótimo amigo para mim. Eu que me perdi. _ agora,
claramente eu podia ouvir seu soluço.

- Eu não vou te deixar, Débora. Mas preciso fazer isso com o André. Eu espero que você me
entenda mesmo que ainda sinta algo por ele.

Eu entendia que tudo era diferente, nunca comparei atração com amor e muito menos com
qualquer outro sentimento.

- Eu sei. Mas eu tenho que te pedir algo muito importante para mim. _ ela segura minhas mãos com
força e logo levanta seu olhar.

Encostamos nossas testas. Seu cheiro era o mesmo que eu me lembrava, mas meus sentidos
aguçados levam-me direto para a noite no terraço, quando a beijei.

Débora merece alguém muito bom.

- Deixe que eu vá com você. _ ela olha para mim e não consigo negar seu pedido. Algo mais forte
faz com que eu apenas assinta e continue naquela mesma posição, mas dessa vez apenas curto a
sensação de tê-la ali comigo.

- Nossa vida mudou tanto...

Ela diz e então respiro fundo.

- Éramos somente nós dois. Um trabalho... _ vejo seu sorriso de canto de boca.

- Eu preciso trabalhar. O filho não é do meu namorado. Não posso deixa-lo com a
responsabilidade toda.

Começo a fazer um leve carinho em suas mãos, mas mantenho meus olhos fechados.

- Promete que será tudo como se não tivesse acontecidos tantos problemas? Promete que para
sempre será eu e você? Mesmo que em torno de nós tenha nossos filhos e esposos. _ ela diz
passando-me uma intensidade jamais sentida.

Pelo menos não por ela.

- Prometo. Eu sempre estarei por perto, mesmo que em outro país.

Levanto minha cabeça e deixo um beijo casto em sua cabeça, minha mão teima em ir para sua
cintura e tento controlar a emoção do momento.

- Não vou te deixar ir nunca. _ ela me abraça com carinho e então faço o mesmo.

- Meu medo é que você passe mal. Não acha melhor ficar em casa? Eu prometo nos vingar. _ mudo
de assunto antes que o clima esquente mais do que devia.

- Eu não vou ficar muito tempo. Quero mesmo jogar na cara dele sobre o filho. Mais nada.

- Isso é boa ideia? Eu não sei. _ me afasto olhando em seus olhos.

- Não que seja ótima ideia. Mas eu preciso tirá-lo de meu coração. Quero que isso seja o fim.

Mordo meu lábio inferior tentando entender o que estava me pedindo, mas uma raiva
sobrenatural me atinge, deixando meu corpo rígido mesmo não querendo demonstrar.

- Como você consegue? _ fecho meu punho e desvio meu olhar dela tentando não ser ignorante.

- Como eu consigo o que? Espero que você não me julgue, mas eu me apaixonei por ele, Rafael. Foi
o meu primeiro homem.

- Seu primeiro homem? Aquilo que você chama de homem? Realmente acho que não devo te levar
lá.

- Se ele tem um pinto...

Débora e sua incrível mania irritante de fazer piada em horas erradas.

- Se ele tem pinto, ele não é homem é um animal. Desgraçado. Que quase acabou com sua família.
_ acabo aumentando o tom de minha voz e me arrependo no segundo seguinte.

- Desculpa. _ vejo que ela se encolhe aparentemente chateada.

- Acho que vai mesmo ser bom você ir para outro país. Preciso aprender a viver sozinha como
antes. _ as lágrimas já desciam freneticamente de seus olhos.

Hormônios a deixem, por favor!

- Me perdoa. Eu não quis... _ quando me aproximo ela se afasta e então resolvo parar.

- Se for para ficar assim eu prefiro que você não me acompanhe. Droga de hormônios sempre
atrapalhando a vida do homem. _ digo me sentando e colocando minha cabeça sobre minhas
mãos. Respiro fundo diversas vezes e à medida que o tempo passa volto a sentir sua presença a
minha frente.
Quando olho para cima dou de cara com Débora e um sorriso lindo, mas também observo de
mais perto sua barriguinha.

Estendo minha mão até ela e aliso instintivamente.

- Espero que ele me puxe. _ ela diz respirando fundo e eu assinto com a cabeça. Será sim.

- Fique pronta, amanhã virei de pegar às dez da noite. Espero que a Alicia já esteja dormindo e
os bebês também. Dará tudo certo.

Ela assente e se abaixa.

- Eu te amo. _ ela alisa meu rosto, passando delicadamente seu dedo por meus lábios. Fecho os
olhos com seu toque.

- Eu quero que você seja muito feliz e que seus filhos lhe deem muito orgulho.

- Parece está se despedindo. _ digo sem olhá-la.

- Estou me preparando. Quero me acostumar a não ter você todos os dias em todos os lugares
comigo. A saudade vai ser se arregaçar. _ acabo sorrindo pelo seu palavreado.

- Ah minha amiga. Eu vou te agradecer por tudo. Para sempre. _ seguro em suas bochechas e me
aproximo dando um beijo de cada lado de seu rosto.

- Agora você precisa se arrumar. Está quase na hora. _ ela diz tirando os olhos de cima de mim e
se levanta levando minha camisa de botão com ela.

- Se for para passar pode levar. _ sorrio e ela apenas revira os olhos.

ALICIA DALGLIESH

Meu coração estava explodindo de tanta alegria, meus filhos e eu recebemos alta, todos com
saúde.

Confesso que teve momentos que pensei que tudo ia acabar. Que nossa vida tinha ido por água
abaixo e que provavelmente eu nunca mais seria feliz.

Mas tudo me surpreendeu. Meus filhos com saúde e tão bonitos que poderia ser capa de
calendário infantil.

Olho para os dois em meu colo e percebo o amor invadindo meu peito de uma maneira nunca
sentida antes.

Eu estou vivendo o maior sonho da minha vida


Eu estou vivendo o maior sonho da minha vida.

- Está na hora. Vamos? _Ricardo aparece atrás de mim, já estava com as bolsas dos bebês no
ombro.

- E o Rafael? _ pergunto estranhando ele não estar presente. Se bem que anda estranho nessas
ultimas semanas.

Um frio na barriga me atinge.

- Está tudo bem? _ pergunto firmando meu olhar no seu, mas ele vacila.

- O que está acontecendo Ricardo? _ paro de frente para ele não entendendo seu silêncio.

- Está tudo como antes, Alicia. Tudo ficará bem. Estarei ao seu lado. _ ele diz com lágrimas nos
olhos e espero que esteja brincando.

Mas não percebo sorrisos em seu rosto.

- Está com outra? _ pergunto sentindo minha cabeça rodar e minha garganta queimar.

- Quem tem que lhe dizer isso é ele. Mas agora vamos. Esse cheiro me faz mal.

Meus olhos já estavam cheios de lágrimas, quando ele passou em minha frente, olhando seu
corpo por trás percebo que usa uma roupa branca e sandálias.

Estranho sua vestimenta percebendo que nunca havia o visto de roupas assim.

- Vai bater curimba a onde? _ pergunto tentando não chorar.

- Vou bater bem forte mesmo, mas não vai ser no tambor. _ ele pisca para mim e acabo sorrindo.

- Muito sujo. _ digo mantendo meus olhos no corredor.

Percebo uma enfermeira me encarar muito e então ela se aproxima e sem falar nada estende as
mãos para pegar o Thiago. A conhecendo entrego-lhe meu filho e então ela me estende um
guardanapo de pano com algo escrito.

Ricardo com cara de poucos amigos se aproxima e segura o Pedro, deixando-me livre para
abrir o que acabo de receber.

" A lua me levou a memória, o sol me trouxe o verdadeiro sentido de tudo."

Respiro fundo e com um sorriso no rosto direciono meu rosto para uma frase bem pequena
bordada.

"sempre em frente. RM."

Quando volto meu olhar para o Ricardo a enfermeira já havia sumido e meus dois filhos estavam
em seu colo. Pude observar por um momento a comoção de Ricardo ao ter os dois bebês em seu
colo.

Seus olhos estavam cheios de agua.

- O que é isso? _ sorrio para Ricardo, mas ele apenas dá de ombros e continua a andar. Faço o
mesmo até que na metade do corredor outra mulher se aproxima, dessa vez me dando um galho
com flores de cerejeira.

Meu coração dispara já sabendo de quem se trata e então continuo a andar dessa vez ansiosa
para chegar ao lado de fora.

No fim do corredor outra mulher se aproxima, dessa vez com uma caixa em mãos, como um
presente.

- Venha comigo. _ ela diz com um sorriso lindo e logo percebo o mesmo sorriso em Ricardo.

- Vá com ela. _ ele diz e então a acompanho.

A enfermeira me leva até o banheiro e dentro da caixa está um biquíni com um vestido branco,
com o tecido leve, muito bonito, sandálias rasteiras e uma coroa com flores de cerejeira.

- Meu Deus. Você está parecendo uma boneca. Nem parece que teve dois filhos. _ me agradeço
intimamente por ter pintado o cabelo ontem à noite.

Respiro fundo e saio de dentro do banheiro, dessa vez mais olhos estão a minha volta e
novamente recebo um guardanapo.

" Dê-me a sua mão? Seremos eu, você e nossos filhos?"

Sorrio novamente, mas quando saio do hospital meu coração para.

Todos estavam vestidos de branco, há flores de cerejeira praticamente com todas as pessoas,
mas não encontro Rafael.

Consigo reconhecer algumas pessoas, mas meu coração se entristece ao não encontrar Raquel
em meio às pessoas.

Realmente acabou.
Deixo esse assunto de lado e desço as escadas do hospital, as pessoas amontoadas a minha
frente abrem um corredor. Dando-me a visão mais linda de todas.

Rafael está todo de branco do mesmo estilo que Ricardo, meu coração começa a bater tão
rápido que sinto como se fosse sair pela boca.

Ele se aproxima aos poucos, seus passos são firmes fazendo com que minhas pernas amoleçam
por breves segundos.

Fecho meus olhos quando sinto sua mão tocar a minha.

Ele aproxima seus lábios de minha cabeça.

- Não se preocupe. Não é um sonho. _ ele diz com os lábios colados em minha testa, mas
permaneci de olhos fechados, apenas curtindo o som de sua voz, mas sinto se afastar. Abro os
olhos e o encontro de joelhos com um boque nas mãos e uma caixinha.

Sem pensar coloco a mão na boca e viro de costas para ele tentando não chorar.

Eu amo esse homem!

Tomara de emoção viro-me novamente para ele e olho em seus olhos. Percebo sua emoção e
sinto vontade de me jogar de joelhos também.

- Olhe para mim. _ ele dizia em um tom baixo, mas eu não conseguia. Olho para o céu
agradecendo a Deus por ele, por ter me dado alguém tão bom mesmo depois de tantos erros e
atribulações.

Respiro fundo e o olho.

Ele me dá seu melhor sorriso e percebo uma lágrima escorrer, mas respirando fundo ele se
mantém firme ao me olhar e me entrega o buque.

- Sei que errei muito nesses últimos meses e que de longe mereço ser alguém importante pra você,
mas eu também admito: Não há momentos com outras pessoas que façam os nossos serem
esquecidos. Admito que as melhores coisas de minha vida aconteceram ao seu lado e que mesmo
me esquecendo de todo resto, não me esqueci do seu gosto, muito menos do amor que sentia por
você. Estava escondido em algum cantinho, mas jamais esquecido. Você me mostrou o que é a
paternidade, que amar de graça é a melhor coisa do mundo e que sem vocês a minha vida não
faria nenhum sentido. Por isso... Hoje. Depois de tanto tempo eu venho humildemente em meio a
todo hospital e pessoas comuns que você seja a minha esposa. A mãe dos meus filhos, a minha
companheira...

Sem saber o que dizer permaneço imóvel, respiro fundo diversas vezes até que seguro em sua
mão o puxando para que fique de pé.
- Eu não posso aceitar. _ todos se assustam e os olhos dele se arregalam dando-me uma imensa
vontade de gargalhar.

- Na verdade eu não tenho nada a aceitar. Eu já o quero para sempre, em todos os dias da minha
vida, assim como estava sendo antes de todos os problemas. Eu não sabia que Deus poderia ser
tão generoso comigo, mas já que ele foi. Eu não vou desperdiçar a maior chance de ser feliz na
minha vida. Eu não vou dizer o mesmo que você. Meus momentos com outras pessoas não
apagaram os meus com você. Não posso falar isso, depois que eu te encontrei eu não tive
"momentos" com mais ninguém. Eu tive um período em que você não estava presente. Eu vivo você,
Rafael.

Tomados pela emoção Rafael se aproxima de mim e me puxa pela cintura colando totalmente
nossos corpos, roça o nariz no meu deixando-me louca por ele e não resisto em não colocar minha
mão em seu pescoço o puxando ainda mais para mim.

Sinto nossos lábios se colarem e nossa língua travar um tipo de briga intensa e extremamente
sensual.

Sua mão passeia por minha cintura com possessão. Enquanto a outra está em meu pescoço
deixando meu corpo mole e minha intimidade extremamente molhada.

Ao deixar meus lábios puxa-os para ele e termina o beijo deixando uma mordida sedenta em
meu maxilar.

- Vou acabar com você essa noite. A saudade vai para porra.

Sorrio com seu palavreado, mas fico envergonhada ao ouvir vários gritos e palmas a nossa
volta.

Lembrando-se da aliança, Rafael a coloca em meu dedo, com um sorriso maravilhoso e então
faço o mesmo com ele.
CAPÍTULO 37

ALICIA DALGLIESH

As praias não eram muito próximas de onde morávamos, mas como a surpresa de Machu Picho
foi ainda mais longe, era de se esperar que Rafael fizesse algo inesquecível e relativamente
distante.

Nos afastamos de todos e nossos bebês ficaram por conta do Ricardo e da Débora. Senti meu
coração se esfriar por isso, mas estava convicta que ficariam em boas mãos.

Senti um frio no coração ao imaginar que hoje seria o primeiro dia de amor com Rafael vendo a
verdadeira pessoa que ele é.

Eu posso ver medo em seus olhos cada vez que desvio meu olhar da janela para ele.

O silêncio estava agradável, mas algo pesado estava interferindo no bater do meu coração.

Sinto sua mão na minha coxa apertando-a com força e no segundo seguinte o carro parar
fazendo com que eu o olhe atenta para ele.

- O que foi? _ olho para ele e percebo que seus olhos estão marejados, ele se vira para mim.

- Promete que mesmo quando souber de tudo continuará ao meu lado?

Ele me olhava com tanto medo que quase era possível desconfiar que não era o Rafael que eu
conhecia que estava ali e sim um homem fraco com a mente conturbada por seu passado ou sei lá
o que, que tenha passado.

- Eu já provei tantas vezes que eu te quero do jeito que você é. O que um segredo muda? _
pergunto levando minhas mãos até suas bochechas e puxando-as para mim, selo sua boca.

- É só medo... _ ele diz alisando minhas mãos.

- Não precisa. Eu sempre estarei aqui. _ digo sorrindo.

Então ele sorri também e volta o carro para pista fazendo com que meus pensamentos me levem
ao motivo dele está tão apreensivo.

Eu matei um homem, eu usava outro para não deixar que eu engravidasse.

Não que eu me envolvi com ele de alguma forma, apenas deixei que me conhecesse de maneira
que eu fosse vitima, o que nunca deixou de ser verdade.
Rafael deve ter feito algo que ele se arrependa muito e disso eu tenho certeza.

Aos poucos uma brisa gostosa e um cheiro salgado começavam a deixar que meus pensamentos
se voltassem para a maravilhosa noite de sexo que teremos.

Estamos chegando.

A praia ainda desconhecida revelava uma noite de lua cheia, com estrelas honrosas no céu.

- Daqui por diante nós caminharemos.

Ele diz e eu sorrio animada e excitada antes mesmo de começar a nossa aventura particular.

A noite estava perfeita.

Desço do carro e caminho até o capô, deixando meu corpo relaxar sobre ele, posso ouvir o
barulho das ondas se quebrando nas pedras, fecho os olhos e logo sinto sua mão em minha cintura,
segurando-a com força, deixando que o resquício do meu ar faltasse.

Seu hálito se aproximou e tirando um facho de meu cabelo que estava em meu rosto, ele segura
meu queixo e leva meu olhar até ele.

Tão intenso que eu poderia ficar vidrada ali para sempre.

Esfrego minhas pernas no intuito de apagar a vontade que estou de senti-lo, mas mantenho-me
molhada quando ele resolve beijar o meu pescoço lentamente arrancando arrepios generosos de
mim.

Sinto suas mãos deslizarem por minhas laterais e sua boca passear tão deliciosamente que eu
poderia parar no tempo para senti-la para sempre e jamais eu me enjoaria.

Seus lábios começam a subir, deixando minha boca ansiosa por sentir seu gosto. E então sem
esperar por mais nada ele puxa meu lábio inferior para ele e retorna deixando que minha língua
deslize sobre a dele, fazendo um tipo de dança erótica ritmar nosso beijo. Eu podia sentir sua
ereção se formar e pressionar minha intimidade.

Nessa altura eu não tinha mais pernas, apenas uma intimidade molhada que com certeza me
causaria grande histeria e gritaria mais tarde.

Deixo-me cair sobre o capô do carro sentindo seu corpo por cima do meu dessa vez roçando,
fazendo com que eu sinta ainda mais vontade de tê-lo dentro de mim de maneira agressiva e
possessiva.

Sua respiração ofegante, faz com que separamos nossos lábios, olho em seus olhos e vejo
intensidade neles, dizendo-me que ele me quer tanto quanto eu o quero.

Puxo-o de volta para mim e dessa vez deixo o beijo mais intenso, minhas unhas arranhavam sua
nuca e minhas pernas estavam abertas, deixando que seu mastro roçasse com força sobre minha
intimidade.

Deixei que um gemido escapasse quando senti suas mãos puxarem meu cabelo com força para
trás, deixando meu pescoço livre para ele.

Inclinei-me para trás, dando-o ainda mais espaço, foi quando senti meu vestido ser puxado com
força e um vento agradável tocar meu seio.

Logo sua língua rodeou meu mamilo e não demorou muito para que eu ganhasse uma chupada
generosa, sua mão estava deslizando por minhas coxas deixando-me ansiosa por um toque ainda
mais intimo.

Sua outra mão alisava meu corpo, passando os dedos lentamente como um tipo de martírio.
Acima de mim o céu, deixando-me ainda mais sedenta. A lua clareava nossos corpos, fazendo com
que eu pudesse ver seus movimentos por cima de mim.

Desvio minha atenção dele e olho para o céu, aos poucos sinto seus lábios me tocarem por cima
do fino tecido que eu usava, não demorou muito para que seus lábios tocassem minha intimidade
por cima da calcinha.

Se eu continuar louca como estou, ele passar a língua meu prazer se esvai.

Respiro fundo diversas vezes tentando acalmar meus ânimos.

- Boa noite. _ ouço uma voz masculina, fazendo-me sentar rapidamente.

Sem coragem respondo uma "boa noite" quase falho e mantenho minha cabeça baixa, quando o
homem ia se afastando desviei meu olhar para o Rafael com raiva.

- Eu não acredito Rafael! _ ele me dá um sorriso sacana e prende os lábios entre os dentes.

- Eu pensei que... _ ele diz levando seu polegar até minha intimidade e massageando meu clitóris
fazendo-me quase esquecer-me da vergonha que acabei de passar.

- Para... olha... você... _ seu movimento ficou ainda mais ritmado, fazendo que eu voltasse a me
deitar.

Logo ouvi minha calcinha ser rasgada, mas deixei esquecer esse detalhe.

Senti sua língua tocar em meu ponto de prazer e circulá-lo.


Tranquei meus olhos e segurei meus lábios entre os dentes para que eu não gemesse.

Rafael abre minhas pernas com certa ligeireza e enfia ainda mais seu rosto, deixando que sua
língua passeie por toda minha intimidade.

Seguro sua cabeça tentando o afastar, eu ia gozar e gemer alto e isso eu não queria.

- Não adianta. _ ele diz pegando minhas mãos e segurando-as força deixando-me imobilizada.

Respiro fundo ao tentar não gemer, mas quando ele suga meu clitóris com certa força é
inevitável.

- Rafael, por favor... Ah... _ digo e ele volta a me chupar com vontade, dessa vez deixando que um
de seus dedos se movimente dentro de mim, circulando meu colo fazendo com que eu sentisse tudo
ainda mais.

Abro os olhos encarando o céu e movimento minhas pernas sem esfregando seu rosto ainda mais
em minha intimidade.

Ele solta minhas mãos e passa a segurar minha bunda com força deixando que um ritmo intenso
tomasse conta.

Meu clitóris não estava somente sendo sugado e lambido, mas sim esfregado em sua boca.

Ergui ainda mais meu quadril deixando-me tomar pelo momento, deixei também que gemidos
altos escapassem de minha garganta, mas quando menos esperava meu quadril foi puxado com
força e seu pau entrou em mim arrancando tudo que ele poderia de minha garganta.

Sem perder o ritmo, Rafael mete seu pau dentro de mim diversas vezes, deixando-me perdida e
de olhos revirados.

É insaciável.

Aumento o ritmo do meu quadril, esfregando-o com força no pau dele.

Movimento-me deixando-o sem ar.

- Ah, Alicia. Que foda! _ ele diz mordendo os lábios. Rafael me puxa fazendo com que ficasse em
pé. Minhas pernas estavam em sua cintura, mas mesmo assim eu ainda me permitia gemer.

Encostei meus lábios em seu pescoço, deixando beijos molhados e quentes, suas mãos apertavam
com força minha bunda, fazendo-me subir e descer em seu pau. Arranhei suas costas e mordi seu
ombro.

Dessa vez Rafael deixou uma urrada gostosa escapar de sua garganta. Ele se senta no capô do
carro e eu empurro seu corpo para que ele se deite.

Ajeito-me por cima dele e começo a sentar freneticamente. Podia sentir seu pau latejar dentro de
mim e os bicos de meus seios se endurecerem tanto a ponto da brisa os deixarem doloridos.

A face de prazer do Rafael, deixou-me ainda mais molhada. Seus olhos estavam trancados e
suas mãos apertando com força minhas coxas.

Seus lábios entre abertos convidando-me para beijá-los com intensidade.

Inclino-me sobre seu corpo apoiando meus braços em suas laterais, beijo-o com vontade.

Um beijo que dizia o prazer que estávamos sentindo.

Rafael enfia a língua dentro de minha boca e a chupo com vontade. Resolvo fazer no mesmo ritmo
que me encaixo ao seu pau.

- Porra Alicia. _ ele diz segurando minha bunda e me fazendo sentar com força nele.

- Vou acabar com ela. _ ele diz mordendo os lábios e mais algumas vezes ele me faz sentar, dessa
vez estocando em meu ponto máximo de prazer.

Começo a sentir espasmos me tomarem, deixando que meus olhos se fechassem.

Não demora muito para que meu prazer escorra por minha intimidade.

Senti também seu gozo invadir minha intimidade deixando-me ainda mais húmida.

Respiro fundo e deixo meu corpo descansar sobre o seu, sinto suas mãos alisarem meu cabelo e
sua respiração pesar.

- Eu não queria que isso tivesse acontecido antes da gente conversar.

Ele respira fundo fazendo com que eu erga minha cabeça e deixe um beijo em seu queixo.

- Eu já disse que não vou me zangar com sei lá o que, que tenha a me contar. _ digo respirando
fundo.

- Acho melhor irmos. Não quero que outro nos veja nessas situações. _ ele diz com um sorriso falso
nos lábios, mas ainda assim consigo ver seu desejo.

- Tem razão. Quase perdi o tesão. _ digo com um sorriso sarcástico nos lábios.

- Sei que isso era impossível. Não tem como controlar o que a gente sente. _ ele diz contornando
meus lábios com os dedos e eu assinto.
Saio de cima dele e ajeito minha roupa.

- Esse vestido é transparente e agora estou sem biquíni. Vou tomar banho como? _pergunto
cruzando meus braços.

Ele me dá um sorriso de lado e tranca o carro.

- Não precisamos de roupa para tomar banho.

Ele dá de ombros e pega em minha mão, descemos uma pequena escadaria até colocarmos os
pés na areia.

Tiro a sandália que eu estava e Rafael a pega de minha mão, juntando as nossas em sua mão
desocupada.

- Queria que essa noite fosse perfeita. _ele diz meio engasgado.

- Tenho uma ideia. _ digo respirando fundo e virando-me de frente para ele.

- O que? _ ele alisa meu rosto. Minha vontade é beijá-lo novamente. Eu poderia transar nessa
praia aqui mesmo.

- Que tal você me contar sua vida depois que tivermos nossa noite? _ digo com um sorriso no rosto,
mas não sou retribuída.

- Não. Eu não quero que você se arrependa. Quero conversar antes.

Antes que ele falasse mais alguma coisa sento-me na praia onde mesmo estávamos.

Ele respira fundo impaciente.

- Aqui não, Alicia. _ ele diz esticando a mão para mim para me ajudar a levantar.

- Melhor aqui, se for para eu ir embora que eu vá sem me arrepender de não ter fodido no barco
inteiro. _ dou de ombros e o vejo sorrir e morder o lábio inferior.

- Será que vai ser sempre do seu jeito? _ ele pergunta e eu me deito na areia.

- Com certeza! Nós mulheres mandamos. _ pisco para ele que se senta ao meu lado, deixando
nossas sandálias ao nosso lado.

- Mandam, mandam! Quero ver se gostariam só de mandar na cama ou em todas as contas da


casa. _ ele revira os olhos.
- Babacão! Claro que sim! Você acha que o dinheiro na minha mão não é melhor não? _ ele
gargalha com o jeito que eu digo e então volta a ficar sério.

Sinto que ele vai começar a dizer e então me sento para que ele sinta que estou lhe dando total
atenção.

- Se você não me perdoar, se achar que é pesado demais, por favor, não me humilhe não. Só se
levante e vá. Já dói demais em mim. _ ele diz e ouço sua voz embargada.

- Eu nunca te humilharia. Eu também tenho um passado. _ digo tentando não me lembrar de tudo
que já fiz para fugir do crápula do André.

Só de imaginar que ele ainda está vivo...

- Quando eu ainda era criança, Ricardo não estava mais em casa. Sempre vivemos em fases
diferentes decorrentes de nossa idade. Ele também não era apegado a minha mãe e piorava em
relação ao meu pai. Quando eu comecei a crescer percebi que meu pai não tinha nada a me
oferecer, mas sempre me tirava algo. Sempre me deixou longe da escola, longe da minha mãe. Ela
sempre estava machucada dentro do quarto e eu jamais poderia vê-la. Apanhava o tempo inteiro
e era obrigado a trabalhar catando latinhas aqui mesmo no Brasil.

Deixo que as lágrimas escorram quando me lembro de minha mãe, mas desvio meu olhar para o
mar para que ele volte a contar.

- As coisas foram piorando, até eu passar a ouvir minha mãe apanhando todos os dias durante
quase toda a noite. Eu tampava meus ouvidos para não ouvir os gritos dela, mas se meu pai me
visse chorando ele me obrigava a assistir as sessões pesadas de coças que ele dava nela.

Olho para ele incrédula, perguntando-me como há pessoas assim no mundo.

- Onde vocês moravam não havia vizinhos?

- Onde a gente morava ninguém ousava se meter com ele. Meu pai era amigo do chefe do morro
e o cara conseguia ser mais cruel que meu pai.

Respiro fundo e faço silêncio esperando por mais.

- Quando eu tinha quinze anos eu comecei a chorar porque achei minha mãe com duas fraturas
expostas na perna e um corte fundo no supercilio, ela estava tão mal que quando me aproximei
ela não me enxergou. Ele tinha cegado a minha mãe.

Na noite que isso aconteceu, eu tinha saído com uma menina; pouco depois descobri que ela
tinha envolvimento com o tráfico e que meu pai tinha dado uma grande quantia de dinheiro para
que ela me tirasse de casa. Quando ele chegou, eu só enxergava vingança e sangue a minha
frente. Posso ouvi-lo dizer que a culpa era minha por ter deixado minha mãe sozinha em casa. Que
a culpa era minha. Que ela estava cega por minha culpa. Me levantei sentindo meu coração bater
forte, fui para a cozinha e peguei uma faca que tinha lá. Minha mãe usava para cortar carne,
deixei que ele se distraísse e quando dormiu eu o amarrei de joelhos a minha frente, acordei ele
com tapas fortes na cara, minha mãe estava em outro cômodo. Não queria que ela ouvisse.

Ele aperta as mãos e vejo uma lágrima solitária escorrer.

- Eu coloquei a faca na cara dele e cortei abaixo de seus olhos, ele me xingava de todos os nomes
e disse para mim que eu não seria diferente dele se eu o matasse. E eu sou diferente, eu nunca
bati em ninguém. Quando me mudei para Londres treinei muito tempo para cuidar de Amber e fiz
de tudo para que ela fosse feliz, tentei manter ao máximo a essência que minha mãe me ensinou.
Eu queria manter tudo de bom que ela me deu, mesmo que eu tenha matado ela no mesmo dia
mais tarde.

Mexo-me desconfortavelmente ao ouvi-lo dizer que matou os pais, mas me mantive a ouvir, não
posso tirar minhas conclusões sozinha.

- Eu esfaqueei meu pai, furei pontos que o deixariam sangrar lentamente, mas que não teria
chance de salvá-lo. Fiz um pequeno furo em seu pescoço que espirrava sangue o tempo todo, fiz o
mesmo em sua perna e depois furei seus olhos para que ele sentisse o que minha mãe sentiu. Eu
queria vingança.

Ele chorava com força soluçando, sua voz estava extremamente carregada. Ele parou por alguns
segundos e quando eu me aproximei ele balançou a cabeça para que eu o deixasse falar.

- Quando eu acabei com meu pai eu fui até minha mãe e disse o que eu tinha feito, estava
orgulhoso. Eu tinha a salvo para sempre. Mas ela acabou ainda mais comigo. Ela disse que a dor
que ela sentia ainda continuaria doendo, ainda mais agora que não teria ninguém para fazer
outra coisa que doer que não fosse sua alma. Ela mandou que eu pegasse uma agulha e um
remedinho dentro da gaveta de seu quarto.

O jeito que ele pronuncia "remedinho" remete ao jeito que ela falou com ele. A dor que ele diz...
Meu Deus. O que ele passou foi demais.

Ele para novamente de falar, dessa vez o choro se torna ainda mais compulsivo.

Começo a chorar imaginando o que ele passou e me aproximo dele encostando minha mão em
seu ombro, não pedindo que ele parasse, mas sim que continuasse. Senti que Rafael precisava
desabafar e eu daria isso a ele.

Eu queria que ele me dissesse tudo que aconteceu na sua vida, que me deixasse a par dela.

Daqui por diante nós seremos um só.

- Ela me pediu para colocar o veneno na seringa, mesmo eu negando, ela não me enxergava mais,
mas eu podia ver o sofrimento que ela estava e o peso em sua alma. Ela me disse assim. " Filho, eu
quero que você seja diferente, que esqueça o que papai e mamãe fizeram você passar, mas
primeiro preciso que me faça dormir, você faz?" ela disse isso para mim e eu já chorava ao ponto
de perder o sentido. E então ela me disse mais uma vez. "Filho eu preciso que você faça isso, me
deixe feliz, filho, por favor."

Ele chora ainda mais ao repetir suas frases e então ao respirar volta a falar.

- Eu realizei seu pedido e antes dela ir me deu um beijo e um abraço que eu nunca mais me
esqueci. A história repercutiu fora do país, mas aqui poucos jornais exibiram. Foi nesse que o
Christian me buscou e me fez o homem que sou hoje. Mas me vejo mais uma vez preso a vingança.
Eu sinto necessidade de acabar com o que quase acabou comigo. E eu prometo que vou vingar
todo nosso sofrimento acabando com o André da pior maneira possível.

Aproximo-me dele e sento-me em seu colo de frente.

- Eu nunca te julgaria por isso. Eu vi o meu pai morrer em meus braços e eu nunca fiz nada para
mudar isso, não porque eu não queria, mas porque eu nunca tive a sua coragem. Eu sempre te
amarei Rafael, independente do que aconteceu no nosso passado. Eu te amo.

Ele me toma em um beijo apaixonado, deixando que o choro se misture a ele, tudo estava tão
intenso, seguro seus cabelos em meus dedos com força.
CAPÍTULO 38

RAFAEL MELLO

Acordei sentindo a presença da Alicia ao meu lado, abri os olhos vagarosamente e notei sua
face tranquila afundada em meu peito. Sinto meu coração mudar as batidas ao perceber pela
milésima vez que cada vez que a olho está ainda mais bonita.

Dá até pena de acordá-la. Mas eu preciso.

Quero conversar com ela de um jeito unido, sabe? Aquele que eu fico entre as pernas dela.

Sorrio com meus pensamentos indecentes, mas logo vem à memória que hoje é o dia de minha
vingança. Não queria me sentir sujo em fazer isso, mas é impossível quando lembro-me de meu pai.
Talvez eu não tivesse que...

Resolvo cortar meus pensamentos, não quero ter que me martirizar por isso por mais anos. Sei
que muitas pessoas fariam a mesma coisa em meu lugar.

Passo as mãos pelos cabelos de Alicia com carinho, ajeito seu corpo para que seus lábios fiquem
dispostos a mim. Contorno eles com meus dedos, mas Alicia não acorda. Sorrio com um pensamento
malicioso e então coloco em pratica. Ainda não sei que horas são, mas não custa acordá-la para
termos mais tempo. Tiro meu braço de sua cabeça e agradeço por suas pernas estarem entre
abertas.

Como pode ter uma intimidade tão linda? Nossa!

Aproximo-me com cautela e passo a ponta da minha língua, olho para seu rosto e percebo que
ainda dorme.

Acho que estou sendo muito piedoso.

Coloco seu clitóris em minha boca e sugo com certa pressão, passo a língua nele diversas vezes e
quando volto a olhar para cima, Alicia está me fitando com uma expressão de desejo que me dá
ainda mais vontade de tê-la.

Puta que pariu de mulher gostosa.

Posiciono-me entre suas pernas e as abro dando-me ainda mais espaço, com meus olhos
grudados aos seus enfio minha língua dentro dela diversas vezes até sentir sua mão segurar meus
cabelos com força.

Sorrio e ela me dá um tapinha leve no ombro.


- Não mereço acordar assim. _ ela diz ofegante sabendo que eu só pararia quando sentisse seu
prazer escorrer.

- Ah merece sim e vai acordar assim todos os dias. _ digo malicioso e ela sorri deixando-me
satisfeito.

Afundo-me em sua intimidade rapidamente, com movimentos ritmados em círculos e formando


oitos em torno de seu clitóris, mas não demora para que eu esteja lhe dando uma coça de língua,
arrancando gemidos estridentes de sua garganta.

Sentindo seu corpo dar sinal de que explodiria, afasto-me subindo em cima dela e tomando sua
boca com vontade. Ajeito-me sentindo sua intimidade molhada em meu pau e então enfio-o com
vontade e força, sinto meu pau bater em seu colo, mas não me incomodo vendo que ela revira os
olhos e finca as unhas em minhas costas.

Movimento-me rapidamente e beijo-a com certa pressão, quero marca-la.

Enfio meu pau diversas vezes até sentir sua intimidade apertar meu pau. Aperto seu peito com
força, mordo seu pescoço e enfio com ainda mais vontade, viro-a em meu colo, deixando-a por
cima, com malicia Alicia senta por cima de mim diversas vezes, deixando suas unhas arranharem
meu peito e contornarem minha face.

- Você vai me matar. _ digo jogando a cabeça para trás ao senti-la apertar meu pau. Como
consegue fazer isso.

Que delicia.

Alicia não perde tempo em tomar meu pescoço enquanto senta com força em meu colo, deixando-
me sem ar.

Levo minhas mãos até sua bunda e seguro com força.

- Senta, isso... porra. _ mordo seu ombro e resolvo tirá-la de cima de mim antes de gozar.

Seria rápido demais.

Saio de cima da cama e fico me alisando em sua frente, como uma gata manhosa Alicia vem de
engatinhando até mim e engole meu pau, deixando-me sem ar e com uma vontade ainda maior de
gozar em sua boca. Respiro fundo para não fazer isso e faço força para falar mesmo querendo
gemer com força.

- Fique de quatro, pernas fechadas, rosto enterrado no travesseiro. _ digo e sedenta ela faz
imediatamente.
Isso minha cadelinha.

Olho para sua bunda de quatro e respiro fundo. É hoje que me enterro...

Pego em meu mastro e enfio de uma vez só em sua intimidade, puxando-a com força contra mim,
posso vê-la segurar os lençóis ao seu lado e gemer abafado no travesseiro.

Faço isso diversas vezes deixando-me em êxtase, dou-lhe um tapa forte em sua bunda deixando
a marca de meus dedos. Alicia me surpreende ao pegar minha mão e levar até sua entrada
traseira; levo meu dedo até a boca e molho-o, voltando com ele para sua entrada, enfio com
cautela para não machuca-la e logo percebo que Alicia reage de uma maneira pouco esperada.
Vejo-a rebolar maravilhosamente arrancando de mim um tipo de sensação jamais sentida.

Fecho meus olhos e aumento a intensidade de meu dedo e de meu mastro também. Respiro fundo
sabendo que eu não demoraria muito para chegar ao meu ápice e muito menos ela.

As pernas de Alicia fechadas a deixou ainda mais apertada, meu pau estava sendo esmagado,
mas uma vontade crescia em mim, uma vontade enorme de fodê-la por trás, quero sentir meu pau
ser amassado ao descobrir uma coisa jamais explorada por mim.

- Você me deixa louco. _ digo mordendo o lábio inferior e metendo ainda com mais força.

- Minhas pernas estão moles. _ ela diz sorrindo e então sinto que vou gozar.

Trago-a ainda mais para mim com força, sentindo seu prazer escorrer, permito-me gozar dentro
dela, sinto seu corpo ficar mole e então ela se deita e eu faço a mesma coisa por cima dela, ainda
com meu pau em sua intimidade.

Beijo seu ombro até alcançar sua orelha.

- Você é linda. _ digo respirando fundo.

- Você também. _ ela diz e então permanecemos em silêncio por alguns segundos.

[...]

Voltamos para nossa antiga casa, claro que não moraríamos mais aqui, mas não posso ir para
outro país deixando histórias mais resolvidas, creio que Alicia também tenha coisas a fazer já que
Raquel nos espera no portão.

Segurando um de nossos filhos.

- Preparada? _ pergunto vendo que ela se remexe desconfortável ao ver o bebê em seu colo.

- Preparada não, mas quero enfiar minha mão na cara dela. Fomos amigas, pelo menos eu fui. Ela
não. _ lembro que elas tem a sociedade do restaurante e me pergunto o que ela fará.

- Amor, e o restaurante? _ ela parece olhar para mim como se lembrasse de algo que tivesse
passado a quilômetros de suas lembranças.

- Eu não sei. _ ela diz tirando o cinto e logo que paro ela sai.

Vejo que o clima pesa no mesmo instante e quase vou embora. Mas repenso na má ideia
deixando-a de lado. Olho para Raquel que não parece muito feliz ao ver-me. Será que é algo
com meu irmão?

Ele me disse que estava com outra e não duvido que esteja mesmo. Meu irmão não toma jeito.

Olho-a com certo desprezo e percebendo que o clima não ficaria favorável para um recém-
nascido vou até meu filho e o pego em meus braços.

- Vem com o papai. Deixem as mamães conversarem. _ Raquel não estava grávida mais, mas
também não sei onde estava seu neném.

Não me interesso muito por sua vida, assim como a vida de Débora também não me diz respeito,
a não ser que ela queira me contar.

Entro em casa e percebo que está tudo recém arrumado, a casa está cheirosa e bem limpa. Na
sala mesmo está os berços e Débora está sentada com meu outro bebê em seus braços.

- Oi. _ digo e ela se levanta com certa dificuldade, sua barriga está enorme. ​

- Rafael. Que bom que chegou, viu a Raquel ai fora? _ ela pergunta balançando meu Thiago de
um lado para outro.

- Eu vi sim, mas não gostei dela está com meu filho nos braços. Por que deixou e onde está o dela?
_pergunto sentindo um desconforto considerável.

- Não gostamos né. Mas eu não tive como proibir. _ ela diz e eu a entendo, mas ao olhar pela
janela percebo que quer me falar algo.

- O bebê dela nasceu enquanto vocês ainda estavam no hospital, mas ela não veio com ele pra
casa. Ele também nasceu prematuro. Pelo que o Ricardo disse ela tentou tirar o bebê, mas ao invés
disso ele nasceu vivo. _ ela me olha assustada.

- Eu não acredito que ela tenha feito isso. _ respiro fundo. – Ela não pensou na criança? Como foi
capaz? _ digo olhando para o ser em meus braços e sorrio com ele.

- Eu não sei. Foi isso que me contaram, eu nem ousei em perguntar nada, mas sugiro que se
afastem dela. _ ela me diz com um ar de quem estava preocupada. Assinto e vou para janela
prestar atenção na conversa das duas.

- O que faremos do restaurante? _ Alicia pergunta com as mãos fechadas. Está nervosa.

- Não me importo com aquela bosta, já está fechado há tanto tempo. _ ela diz com desdém.

- Espero que você tenha uma vida feliz, mas se me permitir quero curtir meus filhos.

- Está me dispensando? _ Raquel pergunta erguendo uma das sobrancelhas.

- Claro que não. Só não a quero perto. Parece que a máscara de boa menina caiu. _ Alicia diz e
ela se irrita.

- Ham? Você quase me matou e eu que sou a ruim? Por sua culpa entrei em depressão e quase
matei o meu filho. _ ela diz e Débora e eu nos entre olhamos.

- Se você tentou contra a vida de seu filho eu não tenho culpa disso. Não fui eu que trepei com
qualquer um. Não tenho culpa de seus erros. _ Alicia parecia mais fria do que nunca.

Raquel não a visitou no hospital e acho que isso a feriu.

- Olha aqui... _ Raquel diz com os olhos cheios de lágrimas.

- Olha aqui nada. Você me deixou em um momento complicado da minha vida, me mostrou que não
era minha amiga como eu era a sua, porque eu jamais faria o que você fez. Espero que sua
consciência lhe mostre o que fez, mas agora eu realmente preciso cuidar da minha família.

Alicia dá as costas para ela e logo eu e Débora voltamos para nossos lugares como se não
tivéssemos visto nem ouvido nada.

Alicia respira fundo e me olha triste.

- As coisas poderiam estar sempre do jeito que estavam nessa manhã. Estou cansada dessa vida.

Ela se afasta da gente indo em direção ao quarto, levantei-me para ir atrás, mas Débora disse
que era melhor deixar que ela se acalmasse sozinha para depois eu ir. Ela tinha razão.

Respirei fundo e me sentei colocando meus filhos em meu colo.

- Como eles passaram a noite? _ pergunto olhando para eles e percebendo o quanto são a
mistura perfeita entre mim e Alicia. Serão belos rapazes.

- Passaram bem. São muito quietinhos. _ ela sorri amigavelmente e passa a mão pela barriga.

- Está sentindo ansiedade em vê-lo? Calma já está quase na hora. _ digo e ela sorri.
- Estou sim. Só espero que ele não puxe ao pai. _ ela parece preocupada, mas muda o foco do
olhar tentando não se emocionar.

Passamos mais alguns minutos conversando até que resolvo subir para procurar minha mulher e
descansar um pouco para não ficar extremamente cansado para mais tarde.

A noite será do balaco.

[...]

Vou até meu armário e busco uma calça preta, blusa na mesma cor, sapato, coldre. Arrumo-me
inteiro e me sinto eufórico. Débora pediu para que eu a levasse comigo, mas nunca faria isso com
ela em seu estado. Recuso-me machuca-la de alguma forma.

Assim que acabo de arrumar tudo beijo a cabeça da Alicia com carinho.

- Volto logo. _ saio do quarto e desço as escadas rapidamente. Renata e Ricardo já me esperavam
do lado de fora.

Entro no carro e recebo olhares atentos dos dois.

- Está pronto para matar. _ Renata diz brincando.

- Eu mal posso esperar por isso. _ estalo o pescoço como se eu fosse um homem muito mal e
Ricardo sorri.

- Foi uma bosta fazer a Débora se acalmar. Meu irmão teve que usar recursos indevidos. _ Renata
diz colocando o pé no acelerador e me fazendo segurar no banco por medo.

- Drogou ela? _ pergunto olhando-a.

- Que drogou o que. Ele deu foi uma noite de sexo bem dada. Meu irmão a ama. _ ela diz e todos
rimos.

- Ricardo. Quero saber quem é a mulher que você está comendo. _ digo e ele arregala os olhos
para mim.

Olho para Renata que mantem a atenção na estrada o que me faz gargalhar alto.

- Um agente e uma delegada... parece livro. _ digo e então ela parece desconfortável.

- Desculpa pelo jeito que falei, Renata. Não foi minha intenção. _ digo e ela assente.

O resto do caminho foi em silêncio.


Meu coração teimava em me deixar na mão, ao mesmo tempo que eu queria muito mata-lo, eu
não sei se conseguirei.

Sei também que deixa-lo preso no Brasil é arrumar problema para mim. Sei bem que quando
ele sair dará um jeito de vim atrás de mim e da minha família e isso me dá forças para que eu o
mate.

- Não podemos fazer isso aqui, iremos leva-lo para um lugar. _ Renata diz ao descermos do carro
em frente à delegacia.

- Imaginei. Mas não podemos dar chances para que ele fuja. Sabe que aquele homem é o diabo.
_ digo respirando fundo e então ela sorri de mim.

- Acha mesmo que alguém sabe do que faremos hoje? _ ela desdenha de mim.

- Não sei em quem confiar, Renata. _ digo e ela sorri.

- Bom, se você não sabe, imagina eu. Vamos logo. Quero amanhecer em minha cama.

Entramos na delegacia onde André ainda permanecia. Não sei como Renata conseguiu que ele
não fosse para o presidio, mas agradeço por isso. Será bem mais fácil.

Chegamos a uma sela, André estava dormindo e então Renata a destrancou dando-me espaço.
Em minha mão tinha uma seringa com sedativo forte o que seria suficiente para leva-lo até o lugar
onde morreria sem nos preocupar se ele acordaria ou não.

Renata passou em minha frente e o algemou ainda dormindo. Tem sono de pedra!

Aproximei-me dele quase colado ao seu ouvido.

- Olá. _ digo e ele pula se sentando rapidamente e fitando-me com medo.

- O que faz aqui? _ ele pergunta mostrando sua face demoníaca.

- Visitando um amigo a beira da morte. _ sorrio para ele que parece querer gritar.

Renata se prontifica imediatamente se ajoelhando e apontando sua pistola para o joelho do


maldito.

- Achou que ia escapar de mim, não é? Você mexeu com a pessoa errada. _ sorrio novamente.

Antes de esperar por sua resposta injeto o calmante nele.

- Hoje é o dia que o diabo ganha seu sucessor. _ digo e o vejo apagar em meus braços.
Tiramos ele em uma maca, outros presos olharam assustados, mas fizeram questão de ignorar. O
levamos até o carro e não demorou muito para que Renata nos levasse até o lugar pretendido.

Chegando lá achamos uma cabana estranha, no meio do nada.

- Eu descobri que ele usava esse lugar para estuprar mulheres há alguns anos atrás. _ ela diz
angustiada e então presto atenção em cada detalhe do lugar.

Muitos tipos de chicote e ferros usados com animais.

Ele tinha um verdadeiro centro de tortura. Respiro fundo e o pego sem cuidado algum, o jogo em
cima de uma cadeira de ferro e sinto uma imensa vontade de coloca-la no fogo. Esse desgraçado
está fodido comigo.

Vai pagar cada coisa que fez comigo e com outras pessoas.

Renata percebeu que ele ainda demoraria a acordar e então lhe deu outra injeção, dessa vez
de adrenalina.

O vi abrir os olhos diversas vezes, até que o conseguiu manter.

- Vocês vão morrer por me trazer aqui. Todos vocês. _ ele diz gargalhando e então me aproximo
calmamente dele.

- Você vai morrer, mas só você. Olha o que fez a sua vida toda! Você me fez desejar a morte de
alguém novamente. _ digo sentindo meu peito queimar.

- Olha que fácil. Me matando terá mais um peso em sua consciência. _ ele dá de ombros.

- Te matando eu terei menos um peso! Não quero que meus filhos cresçam com um cara como você
no mundo! _ digo olhando firmemente em seus olhos.

- Terá o meu filho. Ele vai honrar o sangue e matar a sua filha. _ ele diz e sinto um aperto em meu
coração.

- Como é burro. Eu não tenho filha. _ sorrio.

- Mas terá uma menina e meu filho a matará. _ ele diz ainda sorrindo.

- Cala a sua boca. _ aponto o dedo em seu rosto.

- Que foi, ficou com medinho? _ ele gargalha alto e o ódio me faz dar um soco em sua boca.

- Eu comi a sua mulher aqui sabia? Arregacei o cu dela com tanta força que as veias estouraram. _
ele diz jogando a cabeça para trás.

- Cala a boca. _ digo fechando meus punhos.

- Enquanto ela estava presa comigo, toquei seus filhos com meu pau. Quando nasceram não tinha a
marca dele na cabeça? Alicia chorou tanto. _ ele faz gesto de choro com as mãos e então me
aproximo mais.

Meu irmão olha-me preocupado já sabendo o que eu faria.

- Pelo menos seu pau não tem mais a quem fazer mal. Não existe mais. _ digo com desdém e ele
fica sério.

- Ricardo arranque a roupa dele. _ digo sorrindo e ele fica sério quase apavorado.

- Não, deixe-me assim, deixe-me assim. _ o sorriso debochado sumiu de seu rosto dando-lhe um ar
apavorado.

Ricardo fez imediatamente o que eu havia mandado e sinto uma imensa vontade de gargalhar
ao olhá-lo.

- Mas olha isso! Essa porra não dá nem para mijar. _ digo e ele respira fundo como se fosse
chorar.

- Oh... Me desculpa. Te ofendi não é? Me explica ai, como faz pra mijar com essa porra? Caralho
como isso é feio. _ digo tocando com a ponta de meu tênis.

- Saia de perto de mim. _ ele diz e posso ver seus olhos marejarem.

- Porra cara não sabia que estava fazendo um favor tão grande em te matar. Pensou as pessoas
olhando esse rosto bonito, mas quando abaixasse as calças visse uma merda dessa? Que vergonha
meu irmão. _ coloco minha mão em seu ombro e mantenho um sorriso debochado nos lábios.

- Cala a boca. _ ele diz entre os dentes.

- Por que você vai fazer o que? Me estuprar? _ gargalho e ele começa a ficar vermelho.

- Pode chorar. _ faço o mesmo sinal com ele quando se referiu a Alicia.

- Ouça uma coisa filha da puta, eu não estou aqui para ouvir você me mandar calar a boca não,
vim te matar de maneira dolorida, assim como queria fazer comigo. Sabia que você me fez perder
a memória? É, eu perdi. Quase perdi a minha família por sua causa, mas isso não acontecerá
novamente.

- Renata acenda a lareira e Ricardo, pegue aquele latão ali, encha de madeira e ponha fogo.
Acho que o nosso amigo aqui gostará de sentir o pinto fritar. Já está feio mesmo. queimar não fará
a diferença.

Os dois saíram para resolver as coisas que pedi.

- Sabe André. Desde que soube de tudo que fez pensei em te matar, mas queria algo inesquecível
para você e claro para mim também. Preciso me lembrar durante os anos da minha vida porque
fui tão cruel. Descobri vendo esse lugar que eu estava sendo muito bonzinho com você. Queria te
dar apenas uma queimadura e um tiro. Você merece mais não acha? Um senador, morrer assim,
com tanto conforto. Precisamos esquentar isso ai.

Sorrio e então Ricardo chega com o latão já aceso e o coloca debaixo da cadeira de André.
Desesperado ele começa a gritar pedindo para que eu parasse, posso ver o ferro da lata
começar a esquentar consequentemente esquentando a cadeira.

- Seu saquinho vai fritar e deformado ficará. _ rimo para ele.

- Disseram-me que você já matou muitas mulheres, que queimava elas com ferro, que sentia prazer
em fazer isso. Será que sente com os outros fazendo em você também?

Assim que digo isso Renata me traz a barra de ferro flamejando.

- Como esquentou rápido. _ digo e ele se assusta ao ver o ferro passar rente a sua testa.

- Vamos testar? _ aproximo a barra de ferro de seu rosto e respiro fundo tomando coragem para
enfia-la em seu rosto e quando encosto levando meu rosto evitando sentir o cheiro de sua pele
fritando.

Os gritos dele se tornam altos e claros, ele se remexeu até urinar a onde estava. Ainda podia
ouvir o ferro em sua pele, quando os gritos cessaram, eu o olhei e vi o estrago em seu rosto,
coloquei a mão em minha boca, André estava desacordado.

Ricardo segura em meu ombro vendo o estado que eu estava então me traz para seus braços.

- Meu irmão, você não é assim. Termine logo com isso.

Renata passava as mãos pelos cabelos aparentemente perturbada.

Deixo que uma lágrima solitária escorra, busco a pistola em meu coldre e atiro contra sua
cabeça três vezes.

Acabou...

[...]
Olho para trás e vejo o local queimando, uma sensação estranha habita meu ser, mas tento
ignora-la.
CAPÍTULO 39

RAFAEL MELLO

Apesar das notícias deixarem meu coração um pouco apreensivo o meu cérebro emitia um alívio
para todo meu corpo e eu agradeço por não ter mais nada do que me preocupar, pelo menos por
enquanto não. A notícia da morte do André repercutiu até mesmo fora do Brasil. Políticos de todo o
mundo revoltados pelas condições dos presídios e delegacias brasileiras. Se eles investigarem
podem até me achar, mas não terão como provar nada contra mim. A única coisa que me dói é
saber que agentes morreram por minha culpa. Conseguimos pegar todos os fugitivos, mas ninguém
consegue trazer a vida de volta. As famílias deles estavam arrasadas em frente a delegacia, mas
mesmo olhando aquilo tudo me mantive calmo, saberíamos que teríamos problemas, mas mesmo
assim resolvemos atuar, mesmo parecendo egoístas.

Sentei-me ao sofá pela primeira vez depois de tudo e olhei para Alicia que parecia mais
distante que o normal. Estava com nossos filhos próximos, mas não os tocava. Apenas observava
seus movimentos. Queria me aproximar, mas eu sei bem porque ela ainda não falou comigo. Alicia
não aceita tão bem a morte mesmo que já tenha feito isso outras vezes para fugir desse homem.

Passei alguns minutos em silêncio e então resolvi me aproximar vendo que ela não faria. Toquei
seu ombro com gentileza e a puxei para mim, Alicia deitou sua cabeça em meu ombro e se
manteve ali por alguns minutos sem dizer nada apenas respirando fundo e passando a mão no
rosto.

- Me desculpa. Eu não queria que fosse desse jeito, mas eu não pude evitar. _ digo e volto a fazer
silencio vendo que ela não iria me responder nada naquele momento.

Entendo que ela não esteja chateada pelo André, mas sim pelos homens que morreram
injustamente. Antes eles, que já não valiam muita coisa por serem corruptos do que eu e minha
família.

- Eu entendo. E também fico feliz por não ter que me preocupar com mais ninguém atrás de mim e
dos meus filhos, sinceramente não me importo com ele e por mim eu mesma o teria matado. Mas
algo em mim mudou desde que eu tive nossos filhos. Não estou pensando nesses homens, conheço
esse tipo. Estou pensando na família deles que agora está desamparada. _ Alicia me olha com
certa tristeza o que me deixa também no mesmo estado por me por no lugar da família.

Eu sofri em perder a Alicia, eles estão sofrendo por uma vingança.

- Você acha que...

- Nem seja louco de querer se entregar. Eles não voltarão se fizer isso. _ ela se aconchega em meu
abraço e ali permanece até pegar no sono.
Passou-se mais de uma hora e meia e vendo que ela não acordou me forço a acordá-la. Levo-a
para cama juntamente nossos filhos e me forço a trancar os olhos mesmo que minha mente me
faça relembrar de tudo que aconteceu durante a madrugada.

DOIS MESES DEPOIS...

Estávamos sentados em volta da mesa de nossa nova casa. Aos poucos eu pagaria o que devo
ao Miller, mas por enquanto desejo me estruturar e dar uma vida ainda mais confortável para ela.
Alicia decidiu reabrir seu restaurante aqui servindo o mesmo tipo de comida, mas com outro nome.
Agora ela não tem mais sociedade e o nome bem chamativo deixou-me feliz. Era surpresa, mas eu
decidi visitá-la antes de inaugurar e acabou tudo. "Mello's" esse é o nome do novo restaurante. Eu
e Alicia ainda não somos casados, mas a partir do mês que vem isso ira mudar. A celebração vai
ser pequena, apenas para meu irmão e minha nova cunhada, uma delegada que me ajudou e
cismou de namorar o meu irmão, com ela também vem a Débora e seu filhinho juntamente com
Bruno, irmão de Renata. Alicia mesmo decidiu fazer as comidas e a igreja? Decidimos fazer ao ar
livre. O lugar? No dia eu conto.

- Está pensando no que?_ ela me olha enquanto amamenta e se alimenta ao mesmo tempo. Não sei
como consegue.

- Na gente. Pensei que nunca haveria momentos de pais. Eu estava morrendo de saudade disso. _
pego Pedro de seu colo e o coloco no meu recebendo um sorrisinho sacana de quem vai me dar
dor de cabeça quando crescer.

Os meninos têm um gênio muito parecido um com o outro. Realmente são irmãos gêmeos até na
alma. Tenho certeza que se darão muito bem. A aparência deles que tem mudado um pouco. As
características mais aloiradas, é como se apenas eu tivesse doado o DNA.

- Estou louco que eles cresçam para que eu possa brincar com eles. Espero que minha família seja
muito unida.

Olho para Alicia que me observa de um jeito diferente. Então deixando os meninos no carrinho
ela se aproxima de mim e tira o Pedro de meu colo, colocando-o junto ao irmão. Volta para perto
de mim e senta em meu colo. Sinto suas partes intimas colarem em minha perna, deixando-me
imediatamente duro.

Olho para ela e agarro em seus cabelos deixando seu pescoço livre para mim.

ALICIA DALGLIESH

Pude sentir um volume extra logo assim que sentei em seu colo. Eu e Rafael passamos esses
últimos meses como se fossemos animais. E acho que essa é a melhor definição. Quando eu o olho
minha amiguinha rapidamente dá sinal. É incontrolável o desejo que sinto por esse homem. Sinto
suas mãos passarem por minha nuca e rapidamente pedir espaço em meu pescoço. Fecho meus
olhos e sinto seus lábios quentes contornarem meu pescoço, meu maxilar, seguindo lentamente até
minha saboneteira e deixando uma mordida gostosa em meu ombro. Controlo meu gemido para
não dar-lhe o gostinho, mas com certeza ele já havia percebido pela quentura de minha pele em
contato com a dele. Respirei fundo e me remexi em seu colo no intuito de sentir ainda mais seu pau
próximo a minha entrada. Rafael sempre estava com um moletom leve em casa e sempre sem
boxer, o que me deixava ainda mais sedenta. Olhar aquele pauzão mexendo de um lado para
outro quando se movimentava.

Rebolei em seu colo um pouco mais forte e dessa vez ele beijou minha boca, deixando
transparecer mais desejo do que de costume. Arranquei sua blusa de qualquer jeito e apreciei a
imagem com muito gosto. Aquele corpo definido, com sardas e grande me deixava fora do sério.

Sinto suas mãos deslizarem até meus seios e como de costume perco mais uma camisola. Rafael a
puxa com força fazendo com que todos seus botões saltassem.

Ele olha meus seios como se os vissem pela primeira vez o que me deixa tão segura que sou
capaz de fazer qualquer coisa para satisfazê-lo e farei. Peço um minuto para ele e coloco as
crianças no quarto. Respiro fundo tentando acreditar que sou capaz e volto para sala, fecho todas
as cortinas rapidamente e coloco uma música bem sexy e lenta no rádio. Rafael me olha intrigado
vendo que eu nunca tinha feito nada parecido, mas não me senti incomodada. Eu pensava em
fazer isso no dia de minha lua-de-mel, mas não vejo necessidade de esperar sabendo que posso
fazer algo ainda mais louco para ele.

Afasto sua cadeira da mesa e subo em cima dela. Eu já estava apenas de calcinha, meus seios
cheios de leite, mas ele não se importava então não haveria motivo de ligar também. Começo a me
remexer ao ritmo da música. Eu não estava maquiada, de salto, estava apenas de calcinha, uma
mãe de família, exposta para ele, me sentindo bem daquele jeito.

Passei lentamente as mãos pelo meu corpo e deixei que meus movimentos ficassem pouco mais
provocativos. Minhas unhas passavam pelo meu corpo causando-me um arrepio enorme. Queria
olhá-lo, mas tenho medo que eu perca o ritmo por o querer dentro de mim e então mantenho-me
de olhos fechados. Viro-me de costas para ele e empino minha bunda, deixando minha intimidade
exposta na calcinha que não era nem um pouco senhora. Depois subo e viro-me para ele, antes
que eu pudesse abrir meus olhos sinto seu corpo se colar ao meu e dançar no mesmo ritmo, se
esfregando em mim de uma maneira jamais sentida. Viro novamente de costas para ele e coloco as
mãos para trás segurando em seu pescoço. Suas mãos tocam em minha cintura e deslizam até meu
ventre ditando seu movimento. Seus lábios agora contornam minha orelha, deixando-me
extremamente arrepiada.

NUNCA FUI TÃO FELIZ...

Sinto suas mãos descerem até minha intimidade e com o dedo em meu clitóris, Rafael massageia
meus seios no mesmo ritmo que seus dedos em meu ponto fraco. Jogo a cabeça para trás e a
música muda, deixando que meus ouvidos entrassem em outro ritmo ainda mais sedutor. Rafael me
vira de frente para ele e me beija com tanto tesão que eu posso me sentir fora do mundo real.
Suas mãos me apertam com força, deixando-me sem ar. Arranho suas costas e então ele me pega
no colo, deixando que um frio em minha barriga se instale por estar em cima da mesa. Ele pula
dela e eu solto um gritinho, mas logo me surpreendi pegando parte de minha camisola e
amarrando em minha boca para que eu não gritasse. Me põe empinada na mesa, deito minha
cabeça e sinto um tapa forte em minha bunda fazendo que eu solte um gemido abafado.

- Desgraçado!_ xingo ele e logo sinto novamente. Mas não demora que seu dedo se afunde em
mim sem nenhuma dificuldade. Estava totalmente lubrificada. Os tapas continuam com a mesma
intensidade que meus gemidos por sentir seu dedo tocar em um ponto bem conhecido por mim. "O
Gozador", mais conhecido como ponto G.

Nunca tive um sexo desse jeito com Rafael e sinto que nunca mais deixarei que ele volte a fazer
"amor". Estou fraca de tanto prazer. Assim que para de bater em minha bunda já sabendo que
estava bem vermelha, Rafael abre minhas nádegas deixando meu anus exposto e enfia a língua
nele, enfiando várias vezes, lambendo, alternando entre me deixar louca e me fazer gozar.

Assim que ele se afasta espero pelo seu próximo movimento e então ele puxa meu cabelo,
fazendo-me erguer e sentir seu pau ainda mais duro do que antes roçar em minha bunda. Porém,
ainda não satisfeito ele quase se deita por cima de mim e cochicha em meu ouvido.

- Hoje eu vou meter em um lugar que você nunca experimentou de mim. Quero que goze como
nunca fez antes minha puta.

Surpreendida com suas palavras fecho os olhos e espero que cumpra o que disse. Rafael voltou
a me bater e a beijar minhas costas alternadamente, deixando chupões fortes. Onde sua boca e
barba encostava minha pele parecia ferver. Voltei a sentir sua língua em um ponto que eu tinha um
trauma, mas que naquele momento mal me lembrava por qual motivo tinha receio. Rafael era tão
gostoso que eu mal conseguia discernir o que acontecia em volta.

- Quero que saiba que nem sempre serei o cara dos seus sonhos, mas que na cama não
descumprirei meu papel.

Ele diz e me vira, seus olhos tinha um brilho diferente. Algo que eu nunca tinha visto, um desejo fora
do normal, à quebra de um segredo ou de uma barreira.

Sem desgrudar meus olhos dos dele, ele se começa a beijar minhas coxas, o entorno de minha
intimidade e por ultimo minha intimidade, mas não estava sugando-a ou sei lá, chupando. Ele
estava a beijando como se estivesse travando um beijo desejoso comigo, em minha boca. Perdi o ar
ao sentir sua língua deslizar por meu clitóris lentamente. Fechei minhas mãos, mas em um movimento
mais preciso agarrei em seus cabelos, mas ele me impediu lançando-me um olhar frio para mim.

- Não quero que me toque. _ a seriedade de suas palavras me fez estremecer de prazer. Rafael
estava designado a me foder da maneira mais gostosa que pudesse.

Seu dedo novamente estava dentro de mim, ritmado com sua língua de uma maneira
enlouquecedora. Antes que eu voltasse a gemer senti um tapa em meu rosto. Não um tapa
ignorante, mas algo que me fez querê-lo ainda mais dentro de mim. Quem é esse?

- Agora... Vou te virar de costas, melar o meu buraquinho e meter nele como sempre sonhei. E não
ouse em me impedir, entendeu?_ demoro a assimilar suas palavras e ele espalma minha coxa
perguntando novamente se entendi.

- Sim. _ digo ainda com a "mordaça" em minha boca.

Rafael me vira de costas para ele e abre bem minhas pernas, tenho certeza que se quisesse
poderia até mesmo ver minhas tripas. Antes que eu pudesse retomar o fôlego, Rafael começa um
tipo de treinamento em meu ânus. Sinto sua saliva o deixar melado de uma maneira
enlouquecedora, mas ganho um presente ainda maior quando ele começa a atacar minha boceta
com o dedo, massageando toda, apertando, dando-lhe tapas.

Fecho meus olhos e sinto seu pau aproximar-me de minha entrada. Antes que eu pudesse me
assustar ele o enfia em minha amiguinha fazendo-a engolir e o suportar rapidamente, As
estocadas pareciam tão fortes que eu podia senti-lo tocar meu colo. Rafael urrava como um lobo e
me apertada como se aquele fosse nosso ultimo momento juntos. Arranhei a mesa de tanta ânsia,
mas assim que percebeu que estava chegando ao meu fim, ele se afastou e derramou saliva em
minha traseira, começou a enfiar o dedo em mim, ao mesmo tempo que metia seu pau em minha
intimidade.

Comecei a deixar que os gemidos escapassem de tal maneira que se as crianças chorassem, eu
mal ouviria.

Senti minhas pernas bambearem quando seu pau forçou a entrada, eu sentia dor, mas Rafael
não deixava aquilo importasse muito. Estava tão gostoso que eu mal pensava que no próximo dia
mal poderia sentar.

Aos poucos seu pau entrou em mim, ele não se movimentava apenas o deixou lá, para que eu me
acomodasse, mas aos poucos eu mesma quis me movimentar, lentamente... Assim como quando eu
estava de pé na mesa, dançando para ele. Meu amor apoiou suas mãos em minhas costas e
gemendo bem fraquinho ele começou a estocar bem lentamente. A sensação me deixava extasiada
demais. Estava mais molhada do que de costume, mas me mantive quieta mesmo desejando que o
ritmo aumentasse.

- Tá gostando não é putinha? _ ele diz e deixa uma mordida próximo ao meu ombro.

- Mais do que eu gostaria. _ digo e ele sorri.

Dessa vez me surpreendo mais uma vez. O pau de Rafael não é um normal, não tem medidas
comuns. Nunca parei para medir, mas não me surpreenderia se passasse de vinte cm. E é claro não
caberia totalmente dentro de mim, pelo menos não desse lado. Mas eu queria ao máximo.
- Faça o quanto quiser amor. _ digo abrindo-me ainda mais pra ele. Deixei meu corpo relaxar em
cima da mesa e senti seu corpo se aprofundar ainda mais dentro de mim. O movimento estava
começando a ficar rápido, mas tudo que eu sentia era prazer. Ele estava me arrebentando por
dentro, mas a minha vontade de gozar aumentava cada vez que ele estocava dentro de mim. Seu
corpo se colou ao meu e pude sentir uma camada fina de suor de seu corpo, a fricção entre mim e
ele estava me tirando do sério.

Sem camisinha...

Senti seu corpo estremecer e já sabendo o que ele faria. Deixei que se afastasse e então ele me
virou de frente para ele, me levantou e me deitou no chão subindo por cima de mim e pegando
minha perna, deixando-me aberta para ele.

Uma metida e meu fim chegaria.

- Está com uma cara de prazer.

Ele diz e retira minha mordaça, no mesmo instante começa a beijar minha boca, sugando minha
língua e mordendo meus lábios com vontade.

Isso me deixa sem ar.

Seguro em seus cabelos com força puxando-o ainda mais para mim, meu Deus... Desse jeito eu
vou morrer nessa noite mesmo. Rafael ergue um pouco o corpo, apenas para passar as mãos em
mim, pelo meu corpo, contemplando-o.

Seu olhar de desejo sob mim deixava-me ainda mais sedenta. Eu não quero que esse momento
acabe nunca. Ou que pelo menos pudesse repeti-lo outras vezes. Senti o seu pau se encontrar a
minha entrada, mas ele não se moveu para que entrasse, apenas me provocou roçando-o em mim.
seus lábios agora brincavam com meus seios e com meu abdômen fazendo-o se contrair mais do
que eu gostaria. Os gemidos escapavam de minha garganta sem que eu tivesse controle e se não
morássemos em um lugar mais afastado com certeza teriam vizinhos esmurrando nossa porta para
que os deixássemos descansar. Mas eu não ligava. O suor do prazer escorria pelo meu corpo
como se o sol estivesse pairado sob mim. Mas o que eu sentia era um calor bem mais forte, bem
mais intenso.

Agarrei em seus cabelos e o trouxe mais para mim, tomei sua boca com intensidade e quando
tive oportunidade virei nossos corpos no chão. Agora eu estava em cima e queria dar-lhe uma bela
visão. Porém ele não deixou. Sentou-se colando sua boca ao meu peito e segurou em minhas costas
para que eu tivesse mais força em meus movimentos. E ai sim... sentei fortemente em seu pau.
Rebolei, pulei em cima dele. A sensação de seu membro entrando em minha intimidade era como se
ela tivesse sido preenchida com algo maior que ela. Podia senti-lo se movimentar dentro de mim,
sair e entrar e quando rebolo minhas paredes parecem se contrair ao serem tocadas por ele.
Começo a ficar fraca, perco forças em minhas pernas e ele... Com certeza estava no mesmo estado
que eu. Seus movimentos se tornaram mais intensos, fortes, brutos. Seus chupões em meus seios, suas
socadas em minha intimidade. Rafael me deita no chão e levanta uma de minhas pernas, levando-a
até a altura de sua cintura.

Começa a meter com tanta força que sinto empurrar meu colo para trás, abraço suas costas e
respondo a intensidade de seus movimentos com arranhões em suas costas. Fecho meus olhos
sentindo algo descer, contraio-me e deixo que o gemido do meu prazer escape. O mesmo acontece
com ele. Sinto suas pernas tremerem e ele ergue o corpo dando-me uma visão maravilhosa. Sua
boca se abre em um "O" perfeito, seus cabelos suados caindo pelo rosto e seus músculos se
contraindo de uma maneira muito sensual.

Rafael estava ofegante quando se deitou por cima de mim e começou a me beijar lentamente.
Seus dedos começaram a fazer um carinho gostoso em minha pele, até que se deitou ao meu lado,
aconcheguei-me em seu peito e fechei meus olhos tentando me instabilizar.

- Te amo. _ digo.

- Amo muito. _ ele diz.


CAPÍTULO 40 – FINAL

Primavera 2016

UM MÊS E MEIO MAIS TARDE...

ALICIA DALGLIESH
Olhei no espelho e pouco me reconheci. Estava bem maquiada e com um vestido longo, porém,
na cor creme e não tão contemplado de acessórios como os vestidos de noiva costumam ser. Passei
a mão por ele o alisando como se houvesse alguma ruga, mas tudo ali estava perfeito. Arrumamos
rapidamente as coisas para o casamento e esse vestido foi uma paixão a primeira vista. Havia
renda em todo seu cumprimento até pouco acima dos joelhos, onde um pano fino e esvoaçante
continuava deixando-me com aparência de sereia.

Minha cintura estava levemente marcada e em meus pés um salto não muito alto com o bico fino.
Decidi deixar meu cabelo natural. Não havia pedras, nem tiaras, muito menos véu, apenas meu
cabelo. A maquiagem estava mais chamativa do que o restante, deixando meus lábios carnudos
bem delimitados e avermelhados. Sentei-me na poltrona atrás de mim e respirei fundo ainda me
perguntando da onde aquela felicidade havia saído.
Minha vida não foi fácil, não ter meu querido pai aqui não é fácil, mas em compensação tenho
um cunhado e uma família linda e acolhedora. Meus dias são mais felizes e menos nervosos que
costumavam ser. O restaurante vai bem, as crianças... Mais ainda. Tudo na perfeita ordem como
Deus sempre quis, mas esperava o momento certo.

Creio que quando eu e o Rafael nos encontramos pela primeira vez estávamos muito magoados,
tínhamos sofrido muito e dali não sairia nada proveitoso, somente mágoa. E hoje é como se eu
suspirasse esperando por cada momento ao lado dele. E é assim. Eu anseio por estar com ele em
todos os momentos da minha vida. Em todas as circunstancias.
Pelo espelho vi Renata e Ricardo se aproximarem, os dois estavam sorrindo como nunca havia
visto. Renata pelo estresse do trabalho e Ricardo... Não sei. Tem algo a mais nele que eu nunca
tinha visto.

- Preparada? _ Ricardo diz deixando um beijo em minha testa.


- Como nunca... _ digo com um sorriso de canto a canto.
Então ele esticou o braço para que eu pegasse sua mão e me levantou, pediu para que Renata
registrasse o momento e então seguimos para o lugar misterioso escolhido por Rafael.

Como havia ouvido várias vezes, Rafael escolheu não se casar na igreja e sim ao ar livre onde
achasse que Deus estivesse nos olhando com mais facilidade.

E eu não me opus. Gosto das escolhas dele e me contento em casar em um ambiente externo
onde eu sinta o vento em meu corpo e sensação de liberdade aumentar.
- O Rafael está muito ansioso. _ Ricardo diz assim que abre a porta do carro.

- Ele já está na cerimônia? _ pergunto sorrindo e ele balança a cabeça.


- Menina, se quer saber, desde que te levei para nossa casa cumprir o período pré-nupcial ele
está indo ao local todos os dias. _ quem disse que cumprimos essa bosta de período? Não deixo
transparecer minha expressão sem vergonha, apenas me faço de surpresa.

- Nem eu que sou mulher estava tão ansiosa. _ sorrio e ele me acompanha. O restante do caminho
seguiu em silêncio, mas por mais que eu tentasse teimar em não colocar a venda, me obrigaram
dizendo que seria uma surpresa ainda maior.
Ninguém pensou em minha maquiagem? Nem a Renata me ajudou.

A escolha do buque foi simples, rosas brancas com rosas, nada muito chamativo. Eu imagino que a
arrumação seja branca, com rendas, mas que seja extremamente simples. Assim como planejamos.
As comidas eu mesma fiz, tudo bem decorado a moda primavera do jeito que eu gostava.
Senti que o carro estava subindo uma montanha de tão inclinado que estava, mas a sensação
sumiu quando o morro acabou e o carro parou.
Respirei fundo e então abriram a porta dando-me espaço para descer e eu fiz, senti meu pé
em cima de um tapete e sorri mesmo antes de abrir os olhos. Esse cheiro não me era estranho. Era
ar puro. Estávamos em um local alto.

À medida que Ricardo me conduzia eu sentia a brisa ainda mais fresca.


- Deixe-me ver. Estou tão ansiosa.

- Só mais alguns passos, você aguenta.


Os segundos se passavam como eternidades e enfim ele parou, ajeitou-me de qualquer maneira
e foi para trás de mim, senti suas mãos passarem por meus cabelos até a venda ser retirada.

Olhei para frente e meus olhos se grudaram com os do Rafa. A emoção foi instantânea e a
alegria nem se fala. Assim como imaginei estávamos em um local muito alto. Na realidade,
estivemos aqui outra vez, mas o lugar não estava tão lindo como agora. A ornamentação era toda
de renda, exatamente na cor do meu vestido e também do terno do meu noivo. Em volta haviam
flores típicas de Machu Picchu e o altar estava montado quase no precipício deixando que meus
olhos tivessem a sensação do caminho eterno, do “felizes para sempre.”

A vontade de chorar sair correndo se instalou em minha garganta e então, mais uma vez lembrei
que não haveria ninguém para me levar até o altar e que eu era sozinha no mundo. Vacilante, dei
meu primeiro passo, mas logo Ricardo se pôs ao meu lado, colocou meu braço entre o seu e olhou
para mim amigavelmente.

- Sei que não sou a melhor pessoa do mundo para isso. Mas nunca a deixaria seguir sozinha.
Somos uma família.
Suas palavras me deixaram ainda mais emocionada, mas olhei para frente confiante, comecei a
caminhar pelo tapete bege que me levava até o altar. Olhei para Rafael que tinha um sorriso nos
lábios e olhos cheios de lágrimas agradeci a Deus naquele momento por me dar ele e olhei para o
céu como se ele confirmasse tudo o que eu havia pedido há anos. O sol brilhava de uma maneira
única, deixando sua pele exposta reluzir de maneira única.

Não tipo saga crepúsculo, por favor. Mas o suficiente para ser único.
Deixei um sorriso bobo transparecer por meus lábios por conta de meus pensamentos e Rafael
sorriu para mim como se pudesse entender o que eu estava pensando.

À medida que os segundos eternos se tornavam mais curtos eu prestava ainda mais atenção no
quão bela estava a paisagem. As nuvens colando-se as montanhas ao longe. Os pássaros
cantando em volta, a brisa levando o passado e eternizando nossas expressões. Era tudo como eu
sempre imaginei.
Minhas mãos estavam trêmulas e eu mal conseguia focar em algo que não fosse meu noivo e o
padre ao seu lado com um sorriso amigo, daqueles que nos acolhem até mesmo em momentos
extremamente complicados.

Nossos bebês estavam no colo da Débora assim como seu filho e seu noivo Bruno. Estavam
devidamente arrumados e de terno claro assim como o do Rafael.
Eu não conseguia mais conter a emoção e então Ricardo segurou minha mão e beijou minha
cabeça entregando-me para o Rafael.
- Cuida dessa mulher ou eu te arrombo filho da puta. _ Ricardo mordeu o maxilar e o padre deu
seu melhor pigarreado.

Todos que ouviram soltaram uma gargalhada alta, mas o Ricardo não. Apenas virou-se e se pôs
ao lado de Renata que já estava no altar. Entreguei meu buque a ela e então a cerimônia deu-se
inicio.

- Depois desse raro momento de amor e cumplicidade entre irmãos, daremos inicio a essa
celebração a qual o intuito se dá em juntar eternamente esse casal tão belo...
Enquanto o padre falava algumas partes arrancando gargalhadas dos convidados eu e Rafael
apenas nos olhávamos de maneira cumplice.

- Repita comigo... _ ele disse mais baixo para o Rafael, mas ele pediu que ele mesmo dissesse os
votos e então o padre assentiu sem delongas.

Rafael buscou minha mão e olhou fixamente em meus olhos, entendi ali o quanto me amava e
soube que seria para sempre. Dali até a morte.

- Quando, anos atrás passei por um momento difícil, eu pensei que Deus estava me castigando de
alguma maneira pelos meus erros passados e que dali para frente seria somente dor e sofrimento,
mas eu estava completamente equivocado. Deus não me castigou, ele me disciplinou, ele me fez ser
o seu homem. O cara certo para estar ao seu lado nos momentos que precisasse. Assim como minha
base está em você, os meus sorrisos, o meu melhor humor. Alicia Dalgliesh, hoje mais que nunca, hoje
eu posso dizer que você é a mulher que eu escolhi para ser minha desde aquela praça. Desde
muitos anos atrás. Fui moldado para te esperar e você não sabe o quanto doeu imaginar que
estivesse morta. A agonia que eu senti nos dias que estávamos longe em nossa primeira separação,
mas nós precisávamos daquilo para estar hoje aqui. Firmes juntos durante todo o mundo e perante
Deus também. Ele é o cara que merece mais agradecimentos por hoje do que qualquer um. Tudo
aconteceu porque ele quis e eu agradeço tanto... _ as lágrimas começaram a descer de seu rosto
sem que ele tivesse controle. – Alicia, muito obrigado por estar comigo. Muito obrigada por me
amar. _ ele diz isso e não me contenho em abraça-lo. Agarro-me a ele e quando sinto nossos
corpos se acalmarem me afasto deixando que ele coloque a aliança em meu dedo.
E então tomo meu folego. Olho bem para ele e sorrio.

Se esse fotografo for bom essas fotos serão emocionantes.


- Quando eu te encontrei lá no comecinho da nossa historia, eu senti meu peito queimar de um jeito
estranho. Naquela noite a sua dor era a mesma da minha, estávamos sintonizados e ali eu percebi
algo diferente em você. Queria ter te conhecido, mas como você mesmo disse não estávamos
prontos naquele momento. Viveríamos uma farsa de sentimentos inúteis e jogados fora. Mas quando
retornei a te encontrar tinha certeza do quanto você é meu e que Deus tinha algo bem maior para
nós dois. Superamos muitas coisas juntos, mas além de tudo, superamos a tristeza que nos consumia.
Eu acordo todos os dias com um sorriso no rosto e a esperança de que a cada momento nossa vida
se torna melhor, o nosso companheirismo aumenta e nosso desejo... _ olho para o padre e sorrio. –
e o nosso desejo de ficar juntos, de fazer dar certo só aumenta. Os momentos que passei longe de
você me fizeram entender o quanto eu te amo e o quanto eu lutaria até a morte por você. Nossos
filhos são provas vivas disso. Prova do nosso amor em um sorrisinho sem dentes.
Limpo uma lágrima solitária em meu rosto e respiro fundo tentando falar sem desabar um litro de
lágrimas.

- A verdade Rafael, é que eu te quero para sempre, sem espaços, virgulas, travessões, sem norma
culta, mas a oculta de nosso quarto pode. _ novamente o padre pigarreou. – Enfim, eu te amo mais
que tudo nesse mundo e eu o quero para sempre em minha vida.
Ele também limpa uma lágrima e me abraça. Dessa vez por um período mais curto. Assim que
nos afastamos novamente coloquei a aliança em seu dedo e sorri a beijando.

- Mesmo que vocês já façam isso sem que o casamento esteja consumado... Pode beijar a noiva
meu rapaz. _ o padre diz e o Rafael me ergue em seu colo beijando todo meu rosto e em seguida
me põe no chão dando inicio a um beijo demorado e quente. Sinto suas mãos deslizarem por minha
cintura até parar em meu cabelo o puxando para trás.
- Queridos... _ dessa vez o padre nem pigarreou.

Separei nossos lábios e limpei os dele com minha mão retirando o batom, mas ele não deixou
que eu terminasse, mandou que eu virasse para o fotografo e desse meu melhor sorriso borrado. E
assim fiz.
Saímos do altar e fomos tirar algumas fotos, todas muito bobas e que com certeza nos faria rir
na velhice. Afastei-me durante alguns minutinhos para amamentar e contemplar a face serena de
meus bebês. Assim que voltei, a arrumação estava diferente e a onde era o altar agora se tornou
um palco com microfone e um violão.

O ritmo calmo tomou o fim de tarde fazendo com que o meu coração se enchesse de amor.
Rafael subiu no palco e seu olhar rapidamente encontrou o meu, a sua voz, agora pela primeira
vez ouvida por mim, saiu pelo som como a cantiga dos céus. Ouvi atentamente suas palavras.
O coração dispara
Tropeça, quase para

Me enlaço no teu beijo

Abraço teu desejo

A mão ampara, acalma


Encosta lá na alma

E o corpo vai sem medo


Descasca teu segredo

Da boca sai, não para


É o coração que fala

O laço é certeiro
Metades por inteiro

Não vou voltar tão cedo

Mas vou voltar porque

Eu amei te ver

Eu amei te ver
Eu amei te ver

Antes que eu pudesse me dar conta já estava chorando aos pés do palco. Ele pulou dele
deixando o violão de qualquer maneira e veio até mim, beijando-me com todo carinho. Enfiei
minhas mãos debaixo de seu terno e curti sua quentura com meus dedos. Queria eternizar aquele
momento da maneira mais romântica que eu pudesse.
Novamente uma musica suave voltou a tocar. Não era ao vivo, mas trazia-me uma sensação
maravilhosa.

Separei nossos lábios e encostei minha cabeça em seu peito, respirei fundo e comecei a dançar
lentamente juntamente com ele que trazia e levava meu corpo com calmaria.
- Te amo até o fim de meus dias._ ele diz e eu sorrio apenas o apertando ainda mais. Na posição
que estávamos eu podia ver o por do sol. Nunca senti nenhuma sensação parecida e para mim não
havia melhores.

Olhei para o Rafael e vi que sua expressão possuía o mesmo brilho que a minha. Um garçom se
aproximou e nos serviu um drink colorido ao em vez de champanhe que seria a melhor escolha
para o momento. Sorrimos dele e tomamos um gole pequeno.
Rafael passou as mãos pelo meu cabelo e nos viramos para o por do sol.

- Que o nosso amor seja como o sol, renasça todos os dias forte e quente. _ ele sorri com a
comparação. Não um sorriso largo, mas era contido.

- Que o nosso amor seja como esse momento tem sido. _ ele alisou meu cabelo e então eu decidi
me afastar dele.

- Também tenho surpresas para você. _ me afasto indo em direção ao carro e então mudo a
roupa. Olhei para trás por um momento e vi o Ricardo o afastando e o colocando no palco,
sentado, com a blusa um pouco aberta.
Rafael sorria sem entender, mas pela sua expressão sem vergonha sabia que pelo menos ele
imaginava do que se tratava.

Enrolei meia hora até que a noite caísse e retoquei o batom. Estava de sobretudo, porém por
baixo havia uma cinta liga, delimitando cada parte de meu corpo da maneira mais sexy.

As luzes brancas e calmas foram trocadas por vermelhas. Uma musica sexy tocou o ambiente e
quando a voz suave e tentadora começou eu cheguei por trás do Rafael alisando seu peitoral,
abrasei seu pescoço com minha língua deixando sua pele extremamente arrepiada. Puxei seus
cabelos para trás e passei a língua sobre seus lábios sem permitir que um beijo se iniciasse.
- Pense em mais tarde...

- Estou no meio de todos amor, ficarei duro! Que maldade.


- Os sábios dizem foda-se. _ sorrio maliciosamente para ele e vou para sua frente, assim que ele
me vê desabotoando os botões começa a balançar a cabeça de um lado para outro, mas quando
me aproximo ele não se contenta em apenas me olhar, coloca as mãos em minha cintura salivando
por mais contato.

Nego seu contato e abro meu sobretudo deixando que deslize pelo meu corpo até os pés. Ouço
palmas dos poucos convidados e me pergunto se o padre já havia se despedido e espero que sim.
Com a cara de tarado de Rafael, aproximo-me e coloco um de meus pés entre suas pernas.
Jogo meu pescoço para trás deixando meu peito ainda mais estufado. Quando volto incendeio seus
olhos com os meus e começo a rebolar lentamente. Aproximo-me de seu corpo e pego suas mãos e
passo-as lentamente por meu corpo.

Encosto praticamente a bunda em seu colo e rebolo firme sentindo sua ereção. Rafael não se
contenta e puxa meu cabelo dizendo que ali naquele território, só ele mesmo mandava.
Continuei quebrando minha cintura de maneira sedutora até que o Rafael se levanta e me joga
em cima da cadeira. Retira a blusa e a joga em cima de mim com gosto. Começa a rebolar na
maneira mais máscula que eu já pude ver.

Paraliso meu corpo quase babando por ele e então ele me puxa me tirando daquele lugar e me
levando para um lugar onde havia preparado uma surpresa para mim.
Uma barraca com uma fogueira enorme, nos jogamos no chão e começamos a olhar as estrelas.

- Te amo.
- Para sempre...

- Sempre...
Quatro anos depois...
Rafael havia feito uma viagem longa e agora faltavam poucos minutos para que estivesse em
casa. Nesse tempo eu descobri que estava grávida de três meses e antes que completasse os
quatro meses pedi um exame para saber o sexo. Queria fazer uma surpresa e tanta e espero que
eu tenha conseguido. Eu e os meninos que apesar de pequenos deram boas ideias, montamos uma
surpresa para o papai.

Estava ansiosa sentada no quarto que fiz em quanto ele estava fora. A viagem durou duas
semanas, o suficiente para eu quase quebrar a casa inteira para colocar mais um quarto. Os
meninos estavam espalhados em pontos estratégicos da casa. Quando ele chegasse e ganhasse
seus presentes seria conduzido pelos dois até onde eu estou. Um quartinho rosa, bem decorado, do
jeito que sempre sonhamos.
A gravidez não foi algo planejado, mas como tive uma infecção urinária violenta, creio que os
antibióticos tenham cortado o efeito das pílulas e ai está... nossa Isa para integrar a família mais
uma vez.
Ouvi o barulho do carro do Rafael e senti meu coração bater forte.

RAFAEL MELLO

Estava morrendo de saudade da minha casa e da minha família. Meu filho já me esperava na
porta de casa, mas estranhei que Alicia e Pedro não estivessem também.

- Sua mãe está dando banho no Thiago? _ perguntei e ele balançou a cabeça que não.

Preocupado o peguei no colo e beijei seu rostinho.


- Pai sentiu muita saudade. _ digo e o abraço mais forte.

- Papa, mamã mandou não abrir até chegar no quato, é seguedo. _ ele entregou um envelope e
sinalizou o segredo com o indicador próximo aos lábios.

Mais à frente encontrei Thiago e o peguei no colo. Meu menino me entregou uma caixinha branca.
Sorri na expectativa do que seria e então fui levado por eles até a porta do quarto.

- Solta, pai. Mamã disse para você fechar os olhos e não abrir.
Lembro-me bem que até duas semanas essa porta não existia.
Será que ela fez meu escritório que tanto estava sonhando? Seria bom demais para ser
verdade.

Abro a porta com cautela, mas como prometi não abro os olhos. Os meninos me levam para algo
como um sofá e então me sento.
Sinto um abraço forte de Alicia e sorrio pela saudade.

- Já posso abrir? _ pergunto sentindo uma ansiedade muito grande e ela confirma deixando-me
abrir os olhos.
Meu coração acelera sem parar e cada vez mais, meus olhos repletos de lágrimas, olho tudo em
volta e percebo um quarto rosa, berço, bonecas.

Obrigada meu Deus!


Abraço a Alicia sem que as lágrimas se controlassem e abro o envelope. Um exame beta
confirmando a gravidez e o sexo. Depois abro a caixinha que tem uma roupinha bordada a frase
“Isa do papai”.
Começo a chorar sem controle e então puxo meus bebês para um abraço com a mamãe e juntos
beijamos a irmãzinha Isabel.
- Obrigada meu amor! Obrigada meu Deus!

FIM
NOTA FINAL

Querido leitor, obrigada por ter me acompanhado até aqui. Espero que tenha gostado do livro e
que volte sempre que sentir saudade da estória. Esse foi meu ultimo livro da temporada e agora só
volto para o meio do ano ou quem sabe final? O livro em que venho trabalhando tem me dado
esperanças e espero que você também sinta ao lê-lo. Será um bom livro, espero.

Deixo aqui meu email para contato – wilenepereira@gmail.com e também minha página WS
romances – Sob Meu Desejo.

Então era isso. Muito obrigada de verdade e até a próxima.

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