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ÍNDICE
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
CIP – Brasil. Catalogação na Fonte

Catalogação pela editora.

Capa: Jessica Gomes

Revisão: Andreia Tonello

Diagramação: Daniella Moreno

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Quaisquer semelhanças com nomes, datas e acontecimentos
reais são mera coincidência.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte destas obras, através de


quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

Todos os direitos reservados.

Criado no Brasil.
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Quero agradecer em primeiro lugar a Deus, que me sustentou até aqui.

As minhas leitoras, que depositaram a confiança nesta autora e leram a obra mesmo sem
estar concluída. Agradeço também as meninas do “Fã Clube da Olívia”: Cassia, Cauane,
Shirley, Larissa, Julianny que leram e me deram as suas impressões sobre a obra.

Agradeço aos amigos e autores Tom Adams e Cinthia Basso que me ajudaram na
divulgação. Não posso esquecer também das meninas do Vale Ler, que são peças importantes
na minha vida: Jéssica Bidoia, Renata Barbosa, Veveta Miranda, Bah Pinheiro, Mônica
Rodrigues, Mag Alves, Ariane Fonseca, AWF Santos, enfim... a lista é enorme.

E principalmente ao meu marido que apoiou minhas decisões e ouviu cada uma das
minhas ideias para dar um desfecho decente para essa história. Agradeço a minha mãe que
muitas vezes teve que lidar com os clientes para que eu pudesse escrever sem interrupções.

Jéssica Gomes pelas maravilhosas capas e toda a equipe da Editora Livros Prontos que
apostou em mim e nesse casal nada convencional.

Obrigada a todos de coração.


A porta do escritório se abriu lentamente. Michael levanta os olhos e sorri abertamente.
Ao ver que ele não a dispensaria, entrou e fechou a porta atrás de si, não se esquecendo de
virar a chave e trancá-la.

Caminhou elegantemente em seus saltos altos e abriu outro sorriso ao ver que ele a
observava. Michael estava sedento. Fazia um bom tempo que não se juntavam e não
desperdiçaria aquela oportunidade.

— Vejo que fez como o combinado. Devo lhe dar os parabéns.

Ele sabia que sim.

Tinha feito conforme o planejado.

— Receio que sim. – responde. — Onde ela está?

A mulher deu de ombros.

— Saiu com Anthony. Provavelmente foi atrás dele.

Michael bufa e fecha as mãos em punho.

— Acalme-se. – ela pediu. — Soube que ele pegou um avião de volta para Londres.

O homem relaxa na poltrona.

— Ótimo.

— Agora, temos que traçar os próximos passos. – diz ela. — Quando será o casamento?
— Não sei ainda. – Michael bufa. — Temos que esperar a poeira abaixar um pouco.
Elizabeth ainda me vê como um fantasma.

A mulher ri.

— Todos o veem como um fantasma. Decidiremos isso mais a frente. Quero que a
reconquiste em primeiro lugar.

— Você sabe que isso é impossível. – Michael rebate. — Sua querida irmã está
apaixonada por aquele idiota.

Gwen contornou a mesa e se aproxima dele.

— Não me interessa. Você sabe o quanto ela é teimosa e não vai se casar se você não usar
artilharia pesada.

— Eu usei e vou continuar querida. Não se preocupe.

Michael abriu os braços em um movimento convidativo para que ela se sentasse. E assim
ela o fez. Sentou em seu colo e fechou os olhos ao receber os lábios sedentos em seu pescoço.

— Eu senti a sua falta, Gwen. – murmura.

— Eu também. – ela sorri diabolicamente. — Mas temos que ser cuidadosos. Elizabeth
não é burra.

Michael concorda com um ruído e continuou percorrendo o corpo da mulher com as


mãos.

— Tenha calma. Em breve todo esse império será nosso.


7 meses depois...

O celular despertou no mesmo horário de todos os dias. Elizabeth abre os olhos


lentamente e se não fosse pelas suas obrigações, sequer se levantaria da cama. Ela ouve o
barulho da porta se abrir e Jofrey coloca a cabeça para dentro, esperando que ela já estivesse
acordada.

Seu olhar encontra o dele e com um leve sorriso, ele entra atrapalhado com uma bandeja
cheia de frutas e outras guloseimas que sabia que ela adorava.

— Trouxe seu café da manhã, senhorita. – diz ele, de forma cordial e pacífica.

— Não estou com fome, Jofrey. – murmura melancolicamente.

Essa era a sua vida nos últimos meses. Pouco comia, pouco falava. O mordomo a fita de
forma repreensiva.

— A senhorita precisa comer... está muito magra e abatida.

Elizabeth suspira e se pergunta se Jofrey sabia a dor que ela estava sentindo. Ele era seu
mordomo há muitos anos e a conhecia como ninguém.

Ela baixa os olhos e pega o celular, rolando a tela pelas redes sociais. Todos pareciam tão
felizes. Menos ela.

Respira fundo e se pergunta para que existiam essas porcarias de redes sociais? Só para
lembrá-la do quanto era infeliz?

— Vou deixá-la a sós. – disse ele antes de virar as costas e sair.


Após Jofrey sair, em um movimento rápido, ela arremessa o celular longe. Essa
melancolia não podia continuar. Passa as mãos pelo rosto. Precisava ser forte, já não aguentava
mais aquela dor em seu peito.

Deixou a bandeja sobre a cama e caminha até o espelho. Pela primeira vez ela sentiu o
choque daquelas palavras: “Magra e abatida”.

Fecha os olhos, não querendo ver aquela imagem novamente. Entretanto, o que podia
querer quando não comia e muito menos dormia?

Durante os últimos meses, Elizabeth apenas sobreviveu, essa era a triste realidade. Todos
os dias se arrastava até o trabalho, desejando que a hora passasse o mais rápido possível, para
que pudesse voltar para casa e se afundar em seu mundo triste e amargo.

Na maioria das vezes as lágrimas desciam sem que pudesse prever. Todos os dias, ela
tentava resgatar o pouco de esperança que estava adormecido em meu peito. Mas quem disse
que conseguia?

Tudo era surreal.

Gwen sempre lhe dizia: “Não chore por quem te enganou!”

E ela sabia que não deveria chorar. Como Edward teve a ousadia de enganá-la desta
maneira?

Por outro lado, ela sabia que também, não tinha nenhum ponto a favor. Ela destroçara seu
coração, e tinha visto isso estampado em seu rosto, quando chegou na festa e viu Michael
anunciando o retorno do “noivado”.

Ah... se ela pudesse voltar e apagar aquele dia. Em realidade, ela apagaria o dia em que
conhecera Michael Sanders. Seria tudo mais fácil. Sem dores, sem perdas, sem sofrimentos.
Porém, agora era tarde demais.

Deixando aqueles pensamentos de lado, arruma os cabelos em um coque simples e veste


suas habituais roupas de trabalho. Aproxima-se da bandeja e pega apenas o suco, que parecia
estar delicioso.

E ela pôde confirmar isso quando o líquido entrou em contato com o interior da sua boca.
Elizabeth sempre agradeceria aos céus por Jofrey, afinal, ele tinha as melhores receitas.

Desceu as escadas rapidamente e pegou as chaves do carro na bolsa. John Meyers, seu
motorista, tinha lhe pedido uma folga de dois dias para visitar sua família em Boston, e é claro,
concordou. Ele sempre se mostrara um ótimo funcionário.

O caminho até a empresa foi tranquilo. Ao chegar ao escritório cumprimentou Jane. Ela
abriu um sorriso tranquilo e devolveu o cumprimento. Elizabeth olhou para os lados e acenou
para outros funcionários.

Ela já não era mais aquela chefe arrogante e insensível. Depois de todo o inferno que
passara e ainda estava passando, viu que não adiantava tratar os outros como se fossem
cachorros. Sendo que muitas vezes, até os cachorros eram tratados de melhor maneira. A maior
tortura era entrar em sua sala. Tudo parecia tão escuro... triste.

Ela se encostou à porta e foi inevitável que as memórias invadissem seus pensamentos.
Os cafés que Edward lhe trazia, os comentários recheados de ironia, sua presença alegre e
divertida, que por quase um ano fizeram a sua vida mudar irremediavelmente. E agora ela
estava ali. Sozinha. Vazia. Incompleta.

Elizabeth abre os olhos e caminha até sua mesa. Seria inútil pedir a Deus que lhe desse
forças para aguentar e não enlouquecer de vez?

Mesmo sem querer, olhou o calendário e seu coração se afundou mais uma vez. Faltava
pouco mais de um mês para o seu casamento com Michael. E quando chegasse o tão famoso
dia, ela seria a senhora Sanders e Michael, bem, ele colocaria as mãos imundas em seu
dinheiro. Era isso o que ele queria, não era?

Além de torturá-la...

Ela sempre se perguntou por que a odiava tanto. Era por causa do aborto? Ela não sabia,
não tinha feito por mal.

— Bom dia, como você está?

Ela levanta os olhos e vê Anthony parado na soleira da porta. Ele fora o único que a
abraçou nos momentos em que queria cometer uma loucura. Ele era muito mais que um amigo.

— Estou bem. – deu de ombros.

Anthony fecha a porta atrás de si e se aproxima. Colocou uma das mãos na cintura e
respira fundo.

— Estou preocupado com você. Está pálida e sem vida.

— Que vida eu teria, Tony? – dispara. — Eu perdi tudo!

— Não perdeu. – ele murmura com seriedade, seus olhos sustentando os dela. — Você
perdeu a batalha, mas não a guerra.

Elizabeth teve vontade de rir, mas que diabos de guerra?


— Muito difícil vencer essa guerra, viu. – retruca. — Vamos mudar de assunto, o que
você queria comigo?

Anthony se senta na poltrona em frente a mesa e abre um leve sorriso.

— Vim te lembrar sobre a viagem. Já está tudo preparado?

A viagem.

Seria estranho se ela dissesse que tinha se esquecido completamente daquele detalhe?

— Para falar a verdade, não. – suspira pesadamente. — Não estou com ânimo para viajar,
Tony.

E não estava mesmo, sua única vontade era ir para casa e se encerrar por lá.

Ele revira os olhos.

— Vamos... vai ser legal, apesar do imbecil do seu noivo nos acompanhar. – ele
continuou. — Sem falar que você é a chefe, então nada mais justo.

Sim, era mais do que sua obrigação, mas definitivamente não queria ir. Algo martelava
em sua mente, no momento em que soube onde seria a reunião.

— Você sabe se... corremos o risco de encontrá-lo por lá? – ela pergunta de repente.

Anthony arqueia a sobrancelha e sorri calmamente.

— Querida, Londres tem mais de 8 milhões de habitantes. Qual seria a possibilidade de


encontrar Edward? Sem mencionar o fato de que ele é membro da família real. Ficou louca, é?

Elizabeth baixa a cabeça e concorda lentamente.

— Tem razão. Seria loucura se isso acontecesse, não é?

— Totalmente.

Anthony sorri para ela, mais uma vez, antes de se levantar da poltrona.

— Vou arrumar minhas malas hoje. – Elizabeth fala antes que ele saísse. — Poderíamos
ir em outro avião. Não estou com a mínima vontade de aguentar Michael e suas reclamações.

— Assino em baixo. – ele concorda. — Vou providenciar isso.

Ambos se olham por alguns instantes e sorriram um para o outro. “Um dia, isso tudo vai
acabar.” Ele repete a frase que lhe dizia todos os dias durante os últimos meses.
— Falta um pouco mais de um mês, Tony.

O rapaz lhe dá uma última olhada e assente calmamente.

— Vai dar tudo certo, não perca a fé.

— Faremos a cerimônia na casa que Anthony comprou. O que acha? – Michael pergunta
pela milésima vez.

Elizabeth estava tão avoada, que a sua voz era tão impertinente, assemelhando-se a um
palavrão invadindo seus ouvidos. Todas as vezes que lhe dirigia a palavra, ela entrava em
modo automático. Era mais fácil.

— Por mim, não seria necessário cerimônia alguma.

Por ela, não seria necessário casamento algum.

Por ela, não seria necessário conhecer Michael em vida alguma!

Todos esses sentimentos vinham em sua garganta na forma de um grito, porém, ela
engolia e deixava passar.

Michael cruza os braços.

— Acho que seria bom se você se atentasse aos detalhes da cerimônia. Não quero passar
vergonha.

Elizabeth levanta os olhos com raiva.

— O senhor não vai passar vergonha alguma! Se é só com isso que está preocupado...

— É o que espero. – diz ele, com um sorriso diabólico. — Sabe, devo confessar que estou
impressionado em como não tentou fazer nenhuma besteira nesses meses que se passaram.

Ela se pergunta quando é que ele ia calar a maldita boca?

Ultimamente ela vivia à base de analgésicos, de tanta dor de cabeça que sua voz lhe
causava. Decidida a não ser fraca, se levanta, respira fundo e sustenta o olhar.

— Que tipo de besteira eu faria?


— Ir atrás daquele aristocrata imbecil, por exemplo.

“Correr atrás de Edward e deixar tudo em suas mãos, queridinho? Nem que eu estivesse
louca.” Pensou ela.

Seu plano era que depois do casamento, faria de tudo para tirá-lo da jogada e anular
aquela união ridícula, entretanto, precisava de tempo e paciência.

— O que mais você quer? – abre os braços, exasperada. — Eu tenho muito trabalho para
terminar antes de viajarmos à Londres.

Michael arqueia a sobrancelha e sorri deliberadamente. Ela pensa que talvez, Michael
tivesse o mesmo receio que ela, o de encontrar Edward por lá.

— Você não faz ideia do quanto desejo consumar nosso casamento. – diz ele, com ironia.
— Talvez não espere acabar a festa. Poderia tomá-la no chão mesmo do jeito que você merece.

Ela sabia o que ele queria dizer e aquilo doeu profundamente. A sorte de Michael é que
estava a uma distância onde seus braços não o alcançariam ou então, teria lhe dado o tapa que
merecia há muito tempo.

Sorrindo, ele sai da sala e a deixa sozinha com aqueles sentimentos à flor da pele. As
lágrimas desceram violentamente.

Que mal eu fiz para merecer tanto sofrimento?

Ela fecha os olhos e respira fundo mais uma vez. Quem sabe um milagre acontecesse e as
coisas ainda pudessem mudar de rumo.

— Tem certeza que não quer que eu fique com você? – Anthony pergunta ao estacionar o
carro em frente ao edifício.

— Pode ir para casa, Tony. Amanhã teremos uma longa viagem.

Ele a fita preocupado e ela deu um sorriso triste. Ambos se olharam pelo retrovisor do
carro e ela deita a cabeça em seu ombro. O silêncio toma conta, até que Tony ri sozinho.

— Sabe qual a primeira coisa que vou fazer no dia em que encontrar o Edzão cara a cara?

Elizabeth nega com a cabeça. Pergunta-se o que aquela mente miraculosa já planejava.
— Vou dar um soco naquele rosto de Barbie. Juro por Deus!

Elizabeth arregala os olhos e foi impossível controlar as risadas. Anthony não seria tão
louco assim, pelo menos, era nisso que preferia acreditar. No meio de tanta tempestade, ele
ainda era o único que conseguia lhe arrancar risos.

— Você iria preso. Disso eu tenho certeza.

Anthony dá de ombros.

— Provavelmente, mas ai teria vingado a mentira que ele nos contou.

Elizabeth suspirou. Não seria hipócrita em dizer que aquela mentira não a chateava até os
dias atuais. Ela realmente acreditou que ele era pobre e que seus problemas familiares se
davam por outros motivos. Mas aí, de repente, se descobre que era parente da rainha da
Inglaterra. Loucura, não? Apesar de tudo, jamais conseguiria guardar mágoa daquele homem.

— Eu não entendo por que ele se escondeu atrás da fachada de homem pobre. –
murmurou. — Se ele tivesse sido sincero...

— Se ele fosse sincero, você não o teria contratado, para começo de conversa.

Elizabeth levanta a cabeça e fita seu amigo. Ele tinha razão nesse ponto, pensou ela.

— É claro que não! O que um parente da rainha estaria mendigando emprego na minha
empresa?

Anthony ri e olha para o outro lado.

— Eu ainda quero encontrar aquele safado e saber dessa história tim tim por tim tim!

Elizabeth assentiu.

— E você já sabe por que Michael fingiu o acidente?

Essa era outra história que não encaixava.

— Ele se recusa a falar. Diz que tinha seus motivos.

Tony suspira e segura sua mão.

— Eu acho que ele estava encrencado com os sujeitos da máfia.

Elizabeth arregala os olhos.

— Que máfia???
— Ué... máfia igual nos filmes do Poderoso Chefão, sabe? – ele pergunta em tom
divertido. Ela bufa e ele ri. — Estou brincando... mas vai chegar o dia em que descobriremos
essa história com os detalhes sórdidos.

Ela balança a cabeça negativamente. Era só isso que faltava em sua vida. Além de se
envolver com o suposto sobrinho neto da Rainha, estava envolvida com um membro da máfia?

— Nem brinca com uma coisa dessas, Tony. – o repreende. — Quer subir para beber
algo?... ver a Gwen?

Anthony bufa.

— Não quero ver a sua irmã nem pintada de ouro!

— Ué, o que houve?

— Eu dei um pé na bunda da Jane por causa dela e o que ela faz? Sai falando de mim por
aí.

Elizabeth ri da indignação de seu amigo. Ele e Gwen tinham algo que ela nunca
entenderia. Sua irmã sempre o quis, mas quando estava disposto a retribuir, ela fugia.

— Você diz isso, mas logo estará igual cachorro farejando atrás dela.

Anthony arregala os olhos.

— Você me chamou de cachorro?

Ela ri do drama que ele conseguia fazer. A intenção não era chamá-lo de cachorro,
entretanto...

— Até amanhã.

Elizabeth dá um beijo em seu rosto e sai do carro. Anthony tivera problemas com seu
carro e ficaria com o dela por algum tempo. É claro que ela o obrigara à prometer que cuidaria
do veículo como se fosse seu próprio filho. Não queria dizer que Anthony seria um bom pai,
longe disso, provavelmente esqueceria seus filhos na escola ou no parquinho.

Elizabeth entrou no edifício e os que a conheciam logo a cumprimentaram. Ela devolveu


o cumprimento, porém, logo seguiu para o elevador. Ao entrar em seu apartamento, sentiu
aquele vazio mais uma vez.

Quando Anthony estava ao seu lado, pelo menos, se sentia um pouco mais feliz. Não
completamente, mas na medida do possível, conseguia levar adiante os seus dias.
Gwen estava sentada numa das poltronas. Usava um vestido preto que mal lhe cobria as
coxas. Ela ergue os olhos do livro, que estava lendo, e abre um sorriso calmo.

— Onde está Anthony?

— Não quer te ver nem pintada a ouro! – foi direta ao ponto.

Muitas pessoas pensariam dez vezes antes de dizer algo assim, mas Elizabeth não.

— Por quê? – ela pergunta atônita.

Elizabeth se senta na poltrona e bufa.

— Ah sei lá... Você faz as suas merdas e quer que ele corra atrás de você, até quando?

Gwen se levanta e cruza os braços.

— O que ele te falou?

Talvez ela não devesse ter falado nada, porém, Gwen precisava saber que cada vez que o
iludia, perdia mais pontos.

— Gwen, dá um tempo para ele, ok?

A loira respira fundo e a fita com a cara fechada.

— Por que você não fica com ele? – dispara. — Ele sempre preferiu você! Até acho que
se fosse para escolher, teria ficado com você!

Elizabeth estranha aquelas palavras e aquele tom ofensivo. Gwen nunca tinha se dirigido
a ela desta maneira. Que diabos estava acontecendo com ela?

— Hey... – tenta protestar, mas a loira despeja sua fúria.

— Estou falando sério, Elizabeth! Vocês não se desgrudam! Agora que o Edward te
deixou a mercê do Michael, deveria aproveitar o apoio que Anthony te dá e pular na cama
dele, já que ele é o único que consegue arrancar um sorriso do seu rosto!

Dizendo isso, ela vira as costas e sai, a deixando boquiaberta. Por que Gwen explodira
daquela maneira?

Ela sempre foi consciente da amizade que ambos nutriam. Elizabeth fecha os olhos e
encosta a cabeça no estofado. É claro que na juventude, Elizabeth chegou a cogitar se aquilo
era somente amizade ou algo mais. Será que Gwen achava que...

Não, definitivamente não!


Anthony fora o irmão que a apoiou quando Gwen preferiu fugir para a Europa. Ele a
abraçou quando ela estava destruída pela morte do pai e agora, pela distância de Edward.

Gwen estava furiosa e logo passaria, disso tinha certeza. Sua vida desmoronava um pouco
a cada dia. Na empresa, as coisas não estavam boas. O contrato que tinham firmado em
Washington, havia sido cancelado. Elizabeth não sabia o que fazer, não tinha alternativas e
justamente por isso, teria que fazer aquela viagem. Um homem que não se identificara,
comprou várias ações das empresas e se tornou um dos acionistas majoritários e esta viagem
havia sido programada para o encontrarem.

Tudo o que desejava é que não fosse mais um explorador a fim de tirá-la da jogada. Ela
somente não perdera o controle das empresas, pois os acionistas ainda confiavam em seu
trabalho. Cenário que podia mudar de uma hora para outra. Ninguém arriscaria perder seus
investimentos e era isso o que temia. Michael se aproveitaria e ficaria em seu lugar.

Naquele momento, tudo o que sentia por Michael era desprezo, pois nem o seu ódio ele
merecia, pelo menos era o que acreditava.

Pouco mais de trinta dias para o casamento... será que Elizabeth encontraria alguma
saída?

Seus pensamentos voltaram para a viagem desastrosa que Edward e ela tiveram que
dividir o quarto, numa espelunca de lugar. Ela riu sozinha ao constatar que o sobrinho neto da
Rainha havia dormido em uma cama da pior espécie. Num hotel de beira de estrada, onde
poderiam ter acontecido assassinatos igual o Motel Bates.

Apesar da mentira, sabia que uma coisa deveria admitir: Edward fora a pessoa mais
humilde que conhecera em toda a sua vida. Qualquer outro homem teria feito questão de
estampar seu título e jamais se envolveria em situações como aquela. Todas às vezes em que
gritou com ele, dizendo que nunca seria nada além de um “simples funcionário”.

Edward James Phillips. Era um belo nome, afinal.

Ela respira fundo, mais uma vez, querendo apagar aquelas memórias. Estava cansada de
sofrer. Edward a tinha enganado e não merecia a sua compaixão. Sabia que também não
merecia a dele, mas o que conta isso tudo quando restam poucos dias para perder a própria
liberdade?
Westminster, Londres – Inglaterra

Palácio de Buckingham.

Seis meses se passaram desde que Edward resolvera voltar para sua casa. No começo, se
sentiu estranho, pois estivera fora por mais de um ano. No entanto, seus pais o tinham recebido
de braços abertos, assim como seu irmão George, que era o mais velho e sua irmã mais nova,
Rebecca.

Edward era o filho do meio e por isso, constantemente se sentia “esquecido”. Poderia soar
engraçado, mas para ele, aquilo era a pura realidade. Quem ligava para o filho do meio quando
se tinha o mais velho, que nada mais era que um Visconde e uma irmã mais nova, a queridinha
de todos?

Não que Edward ligasse para títulos e muito menos para a atenção da mídia, pelo
contrário, fazia de tudo para mantê-los bem longe de si.

— Você disse que me levaria ao parque hoje. – Seus pensamentos foram interrompidos ao
ouvir a voz melodiosa atrás de si. Ele se vira e seu olhar se ameniza.

Era ela, a sua pequena Becky.

— É claro que vou levá-la, meu amor. – responde ele com doçura ao se abaixar até ficar
na sua altura. — E depois vamos tomar sorvete.

Rebecca o fita com os olhinhos azuis brilhantes, que sem dúvidas, eram uma herança de
sua mãe, e sorri, seus dentinhos pequenos e bem alinhados. A menina segurava nos braços um
ursinho de pelúcia que havia ganhado do Príncipe de Gales em seu último aniversário.
— Tá bom, eu espero então. – responde ela ao erguer uma das mãos e acariciar o rosto de
seu irmão. — Não gosto de vê-lo triste...

Edward fecha os olhos ao sentir a mãozinha em seu rosto. Rebecca era muito apegada ao
irmão e foi a que mais sofreu quando ele decidiu virar as costas e vivenciar sua jornada louca e
descabida nos Estados Unidos.

— Não estou triste. – ele abre os olhos e ergue a mão direita para alisar seus cabelos
loiros. — Só estou com fome. Geralmente, eu fico com uma cara bem feia quando estou com
fome.

Becky ri e abre um sorriso travesso.

— Será que o papai vai demorar muito nessa reunião?

Eles estavam no salão azul do Palácio. Um local gigantesco, que abrigava obras de arte,
quadros dos antecessores da rainha, móveis rústico. Coisas que somente os aristocratas tinham
o prazer de desfrutar.

— Não sei querida. – murmura enquanto se levantava. Essa posição não ajudava muito e
suas pernas logo começaram a doer. — Quer passear um pouco?

— Não sei... – Becky cruza os bracinhos. — Não quero brincar com as outras crianças.
Elas disseram que sou feia.

Edward bufa.

— E você ainda liga para o que aqueles ranhetas dizem? Só pode ser inveja porque você é
a menina mais linda de todo o mundo.

Rebecca o fita com um sorriso tímido. Cruza as perninhas e balança o corpo.

— Não precisa mentir, eu sei que tem outra menina que você acha linda.

Edward arregala os olhos. O que ela queria dizer?

— Eu vi no seu celular a foto daquela moça bonita... – ela esclareceu as bochechas


assumindo um tom rosado. — Ela é a sua namorada?

Para uma menina de apenas seis anos, Rebecca era esperta demais. Pudera, seus
professores particulares diziam que era a garota mais aplicada que conheciam. Mesmo assim,
balança a cabeça, celular não era coisa para estar na mão de crianças.

— Eu não acho que é educado a senhorita mexer no celular dos outros. – a repreende. —
Nunca mais faça isso, mocinha.
Becky remexe o lábio e olha para o chão.

— Me desculpa... eu só estava procurando joguinhos no seu celular e de repente encontrei


a foto daquela moça com você.

Edward assente e estende a mão para ela.

— Dessa vez passa, mas na próxima vou ter que contar para a mamãe.

A menina encaixa sua pequena mão na dele e abaixa a cabeça.

— Tá bom... mas, quem é ela?

Eles começaram a caminhar pelo extenso salão. A babá de Rebecca estava sentada em
uma poltrona quase dormindo. Se fosse em outros tempos, Edward teria lhe pregado uma peça,
no entanto, sequer tinha ânimo para tais brincadeiras. Ainda mais depois de se lembrar da
autora de seus flagelos.

O que responderia para Rebecca? Quem era Elizabeth Adams?

Todos os dias quando se lembrava daquele nome, era como se uma faca perfurasse seu
peito. Ele tinha se apaixonado e se entregado de coração a ela e o que tinha recebido em troca?

— Não é ninguém. – responde metodicamente. — Ela não é ninguém...

Edward e Rebecca passearam pelos jardins fora do palácio, claro, sempre seguidos por
seguranças, babá e sob o flash dos fotógrafos e curiosos. Claro que o assédio com sua família
era bem menor quanto com os membros diretos da família real, mesmo assim, tinham que
tomar certos cuidados.

Depois de mais de uma hora de passeio, voltaram para o palácio e a reunião já havia se
encerrado. Questões políticas e sociais que Edward não atrevia a se meter. Já bastavam seus
problemas particulares.

Edward encontra seu pai em outra sala, sentado, bebendo chá. Seu pai já estava na casa
dos sessenta anos. Cabelos grisalhos e aparência cansada. Apesar das diferenças entre
pensamentos, ambos conseguiram viver em paz nos últimos meses que Edward sossegara
dentro de casa.
— Onde está Becky? – ele pergunta após bebericar um pouco do chá. Edward se senta na
poltrona ao lado oposto e relaxa.

— Pedi para Chester levá-las para casa. – responde ele, referindo-se a menina e a babá. —
Becky estava cansada.

O homem assente.

— Você vai ficar aqui ou vai voltar para casa?

O palácio não era um lugar muito convidativo para ficar, no entanto, ele abria algumas
exceções.

— Vou ficar. Amanhã tenho umas coisas para resolver.

O pai de Edward o fita por longos instantes, como se quisesse ler sua mente. Ele deixa a
xícara na bandeja ao lado e suspira pesadamente.

— Edward espero que não faça nenhuma besteira...

Ele se segura para não revirar os olhos. Lá vinha seu pai com mais um sermão. Será que
seu pai não entendia que estava bem crescido e sabia muito bem o que fazer da vida?

— Não se preocupe papai. – murmura secamente.

O homem balança a cabeça negativamente.

— Você sabe que poderia ter nos trazido sérios problemas com aquelas aventuras em
Nova York. – disse ele de maneira reprovadora. — Filho de um Conde, sobrinho neto da
Rainha, trabalhando como assistente de uma mulher?

Essa era uma das coisas que seus pensamentos não batiam. Seu pai ainda carregava
aqueles pensamentos retrógrados. Qual era o problema em se trabalhar para uma mulher? Ou
será que o problema era ele sendo quem era trabalhar? Pelo que sabia, não era vergonha
alguma, tanto é que sua mãe logo no começo de casamento abriu um negócio para ela, que não
deu muito certo, mas isso não vinha em questão.

— Eu trabalhei honestamente e não me envergonho por isso. – respondeu, tentando


manter a calma. — Mas não se preocupe, seu querido filho está aqui de volta.

— Até quando? – ele se levanta e o encara furioso. — Pelo que soube, comprou ações
daquela empresa. Qual é o seu objetivo? Vai voltar lá para ser humilhado por aquela mocinha?

O sangue de Edward ferve mais uma vez. O que seu pai queria dizer? Que ele era um
imbecil que se deixava ser controlado por Elizabeth? Bom, talvez fosse mesmo um imbecil,
mas ninguém tinha o direito de se meter em suas escolhas.

Ele se levanta, desvia do olhar de seu pai e foi até a mesinha onde o chá estava esfriando.
Um oficial estava ao lado das portas duplas, fingindo que não estava ouvindo aquela conversa.

Ele entorna um pouco do chá e toma um gole. Em realidade, sua mente também fazia a
mesma pergunta. Por que diabos comprara ações naquela empresa? Qual era o seu objetivo?

— Não sei ainda... – murmura, sem virar para ele. — Não posso fazer meus
investimentos?

O homem ri secamente.

— Eu já vi isso antes. Você se apaixonou por ela.

— O quê? – larga a xícara de lado e bufa. — Não fale besteiras, papai.

— Americanas tem esse costume, não é de hoje. E os homens desta família sempre caem
aos seus pés. – murmura ele indignado.

Edward não queria entrar numa discussão histórica. O que ele menos se importava
naquele momento era por quem seus antepassados foram atraídos.

O homem o analisa por longos instantes e suspira.

— Eu também ficava assim quando conheci sua mãe.

Estaria mentindo se dissesse que não foi apaixonado por ela, mas agora, tinha certeza que
não mais e aquela história deveria ficar enterrada. Elizabeth o tinha manipulado e enganado,
destroçado seu coração e naquele momento, tudo o que queria mostrar é que nunca fora um
“simples assistente”.

Seu pai aproxima-se e lhe dá um tapinha no ombro.

— A diferença é que sua mãe veio de berço aristocrata. Essa moça pode ser rica e
bonita... mas não tem qualificações para se casar com você.

Edward bufa e nem se dá ao trabalho de responder a seu pai. Ele era a última pessoa no
mundo que ligava para títulos e todas aquelas baboseiras que envolviam seu mundo. Se ele se
preocupasse com isso, quem diria que viveu por mais de um ano nos Estados Unidos como
uma pessoa qualquer?

O homem se despede e sai, acompanhado por um oficial. Edward ficou sentado em uma
poltrona macia enquanto seus pensamentos divagavam para outros lugares.
Será que Elizabeth iria para a reunião? Será que ela já sabia que ele havia comprado boa
parte das ações de suas empresas?

Seu desejo não era vingança, pelo contrário, até gostaria de ajudá-la, embora fosse muito
bom lembrá-la de que não era o cachorro que ela chutou, sem dó e nem piedade.

Ele fecha os olhos e as lembranças o atormentaram mais uma vez. Seus lábios vermelhos
de encontro ao seu, seus olhos verdes como esmeraldas, seu corpo fino e delicado debaixo do
seu...

Edward se levanta e caminha até as janelas, de lá, podia ver a movimentação ao redor do
Palácio. A guarda real prestes a fazer a troca enquanto turistas aguardavam ansiosos.

Chegou à conclusão de que Elizabeth não merecia suas lágrimas e muito menos o seu
amor. Ela fazia parte do seu passado e nada poderia mudar aquela situação. Ele sinceramente
desejava que ela fosse feliz com a escolha que fez naquele dia.

— Meu lorde... – ele ouve a voz de um dos empregados. Olha para trás. — A senhorita
Harrison já chegou e deseja vê-lo.

— Tudo bem, pode deixá-la entrar.

O empregado assente e abre a porta.

— Edward! – ela grita assim que as portas se abrem.

— Serena. – ele sorri.

A jovem de cabelos louros e olhos claros se aproxima e abre um sorriso acalentador. Ela
era filha de um Conde e nesses últimos meses fora a sua única amiga.

— Achei que não viria! – diz ela. — Soube que esteve na Escócia esses dias.

Ela se aproxima, em dúvida se o abraçava ou não.

— E desde quando não cumpro alguma promessa? – diz ele com um meio sorriso. Ao ver
que o fitava ansiosa, ele abre os braços e ela se joga neles.

— Temos muito o que fazer hoje! – Serena resmunga. — Vou te levar em uma balada
nova que conheci esses dias atrás.

Edward ri de seu entusiasmo. Serena era assim, não se contentava em ficar dentro de casa.
Gostava de sair e espalhar seu belo sorriso.

— Você sabe que há olhos em cima de nós. Como vamos sair sem sermos reconhecidos?
O pai dela seria o primeiro a enlouquecer se soubesse que sua filha andava de balada em
balada.

Serena olha para ele com ar de cumplicidade.

— Os disfarces deixe comigo, você se vira com o dinheiro.

— Isso não é um problema.

Ambos riram e ele a soltou de seus braços.

— Mas sabe... eu acho que precisamos arrumar um vestido adequado para você.

Ela arregala os olhos.

— Acha que eu não sei me vestir para essas ocasiões?

Ele pensa se seria ruim falar claramente que ela não tinha um bom gosto para suas roupas,
entretanto, resolveu simplificar.

— Você sempre se veste recatada demais. Hoje será diferente, tenha certeza.

Serena o olha com desconfiança, mas logo relaxa. Entre sorrisos se sentam nas poltronas.
Naquele momento, teriam que combinar todos os detalhes de como seria a sua próxima
aventura, longe das obrigações sociais.

Serena fica satisfeita com o vestido que Edward escolhera para ela. Era rosa, que lhe
cobria até os joelhos, mas se ajustava perfeitamente ao seu pequeno corpo.

— E aí, o que acha? – ela pergunta, dando uma volta.

Ele cruza os braços, analisa-a por alguns instantes e sorri.

— Ficou perfeito!

Serena sorri novamente.

— Sabe, você tem bom gosto. Você também não está nada mal.

Edward olha para si e sorri. Durante o dia sempre usava terno e gravata, porém, em
ocasiões como aquela, uma camisa social já estava de bom tamanho.

— E quais serão os nossos disfarces? – pergunta curioso.

— Oh... sinto muito, mas para você não encontrei nada. – lamenta. — Mas eu consegui
uma peruca pra mim.

Serena se afasta até uma cômoda e a abre, retirando de lá uma peruca negra. Edward
desvia o olhar e ri.

— É sério que você vai com isso?

Ela encaixa a peruca em sua cabeça e vai até o espelho.

— É claro que vou! Se meu pai souber que frequento esses lugares vai me matar!

Edward não poderia discordar dela e lhe estende a mão.

— Melhor irmos, antes que alguém nos procure.

As batidas ensurdecedoras não conseguiram o animar. A casa noturna, enfestada por


pessoas, na grande maioria, bêbadas, só o faziam se lembrar do vazio que carregava no peito.

Edward está em uma mesa bebericando de sua bebida enquanto varre o salão com os
olhos. Deveria procurar alguém, dançar com alguma garota. No entanto, tudo o que conseguia
era manter o seu mau humor em níveis extremos.

Serena, percebendo que não conseguiria arrastá-lo até a pista de dança, revira os olhos e
vai sozinha, para dançar com qualquer idiota que lhe desse mole.

Durante os últimos meses, aquele era um dos lugares que Edward frequentava
praticamente todos os dias, perguntando-se o que diabos estava fazendo de sua vida. A
resposta deveria ser simples, embora não fosse.

Ele toma mais um pouco da bebida e respira fundo. A iluminação não ajudava e ele
começa a acreditar que estava velho demais para aquelas coisas. Algumas mulheres tentaram
se aproximar, mas ao ver seu rosto irritado, se afastavam no mesmo instante e partiam em
busca de outra companhia.

— Você vai ficar aí sentado a noite toda? – Serena pula no encosto da poltrona e sorri. —
Viemos aqui para nos divertir!

Ele toma mais um gole da bebida.

— Eu estou me divertindo...

Serena lhe dá um tapa em seu braço e se senta ao seu lado.

— Para com isso, Edward. A cada dia que passa você está mais chato!

“Bem vinda ao meu mundo”, pensou ele.

— Eu sou chato... não percebeu isso ainda?

Serena o estuda por alguns instantes e se aproxima do seu ouvido. A música estava muito
alta, o que dificultava uma conversa cordial.

— Está pensando naquela moça?

Ele revira os olhos e toma mais um pouco da bebida. Por que diabos todos tinham que o
lembrar daquela maldita mulher?

— Até você? – murmura com desgosto. — Não te disse que não queria ouvir falar dela?

Serena assente e pega sua mão.

— Quer esquecê-la? Então vem dançar comigo...

Edward fita a pequena mão segurando a sua e pensa que aquela seria uma boa proposta,
afinal. Ele fita seus olhos acinzentados suplicantes e deixa o copo em cima de uma mesa.

— Tudo bem! Mas já aviso que eu danço super mal...

Eles se levantam e Serena o guia até a pista de dança.

— Ouvi falar que você dança muito bem. – ela resmunga. — Não precisa ter falsa
modéstia.

Eles riram e ficam de frente um para o outro. Edward não podia negar que Serena era uma
moça linda e que... era tudo o que ele precisava para esquecer Elizabeth Adams.

Aquela deveria ser uma chance para retomar sua vida, porém, aquele nome ainda pesava
em seu coração.
Nova York – Estados Unidos.

Elizabeth acreditava que se Anthony não fosse seu melhor amigo, teria lhe dado um beijo
na boca. Claro que seria ridículo, mas por tudo o que ele fazia para ajudá-la, bem que merecia.

Só de ouvir de seus lábios que conseguira outro avião para eles, já a deixava muito mais
tranquila.

— Planeta Terra chamando. – ele estala os dedos e ela volta a lhe dar atenção.

— Desculpa eu estava pensando em outras coisas.

— Sei. – ele murmura. — Quanto tempo vamos ficar por lá?

Ela olha no relógio do computador.

— Não sei ainda.

Anthony cruza os braços.

— Você sabe que eu quero curtir umas baladinhas por lá, né?

Elizabeth revira os olhos e prefere se manter calada. Não queria e nem estava com ânimo
para discutir essas bobagens com Anthony. Tudo o que sua mente projetava era sobre a tal
reunião de negócios e o novo acionista que se recusava em mostrar sua verdadeira identidade.

— Está preocupada? – Anthony pergunta novamente.

Ela balança a cabeça afirmativamente. Ele suspira.


— Não se preocupe, vai dar tudo certo... e se acalme, o único que quer o seu trono é o seu
querido noivo.

Elizabeth se levanta e lhe da as costas.

— Você não entende Tony, quem é esse acionista? O que ele quer? Ele sabe que estamos
afundando em dívidas?

Anthony a fita por vários segundos antes de dar de ombros.

— Deve saber. Todo mundo sabe.

— Nunca achei que as coisas fossem ficar tão difíceis assim.

— Vamos ter fé de que é alguém bem intencionado, querendo nos ajudar. – disse ele
calmamente. — Por enquanto, acho que você deveria ir para casa se arrumar. Mais tarde passo
lá para te pegar e seguirmos viagem.

Elizabeth se vira para ele e suspira.

— Vamos ter que dormir no avião ou enfrentaremos essa reunião caindo de sono.

— Eu já me encarreguei disso, querida. – ele sorri sugestivamente enquanto retirava do


bolso do paletó um pequeno frasco. Anthony e suas ideias absurdas.

— Espero que não seja um laxante... – ela resmunga, lembrando-se da última vez que
Tony dera um frasco desses para Edward.

— Não, não. É apenas uma coisinha que vai fazer nosso sono vir rapidinho!

Ela ri calmamente e pega sua bolsa, seguindo em direção à porta.

— Qual farmácia você assalta para conseguir essas coisas?

Anthony ri.

— São segredos que eu nunca vou te falar...

Elizabeth fica satisfeita por chegar em casa e não dar de cara com Gwen. Não estava a fim
de aguentar as suas ofensas e, muito menos, seus episódios de imaturidade. Anthony lhe avisou
que passaria para buscá-la em cerca de uma hora, tempo suficiente para que ela arrumasse as
malas e trocasse de roupa.

Claro que Michael não gostou da ideia. Odiava todas as vezes que Elizabeth passava
muito tempo com Anthony e isso era algo que nunca entendeu. Seria ciúmes? Ela acreditava
que não, pois o que Michael sentia por ela, estava bem longe de ser amor.

— A senhorita deseja comer algo? – ela ouve a voz de Jofrey assim que começou a subir
as escadas.

— Não, obrigada. Sabe onde está Gwen?

— Ela disse que tinha algumas coisas para resolver e logo estaria de volta. Caso a
senhorita perguntasse.

Elizabeth assente e continua subindo degrau por degrau.

Entra em seu quarto e suspira ao olhar o cômodo. Sabia que não deveria ficar tão
melancólica, mas aquilo era mais forte. Sempre que se olhava naquele espelho gigante, era
como se pudesse ver Edward atrás de si, abraçando-a e dizendo que tudo daria certo.

Ela queria que tudo desse certo, mas cada vez parecia mais difícil. Ergue a mão e o lugar
que antes ocupava o anel de Edward, agora fora substituído pela aliança de Michael.

Anda até a cômoda e abre a última gaveta. Puxa algumas roupas para o lado e do fundo
retira uma caixinha de veludo vermelho. Ele estava lá. Abriu-a lentamente e ao vislumbrar a
magnitude daquela joia, não conteve suas lágrimas.

Ela se senta no chão, humilhada, rendida, com aquele aperto no peito. Tudo estava tão
perfeito... porque Michael voltou e a chantageou daquela maneira tão ridícula e ordinária?

Elizabeth fecha os olhos e se obriga a não sentir aquela dor. Ela deveria ser fria, como
antes. Sem sentimentos, pelo menos, as coisas seriam mais fáceis.

“Não posso ser fraca. Não posso deixar que um sentimento me destrua.”

Seca as lágrimas e fecha a caixinha. Ela deveria esquecer Edward e focar no presente.
Reerguer sua companhia e se casar com Michael, buscando meios de tirá-lo da jogada.

Edward mentira para ela e, mesmo sendo quem era, não teriam um futuro juntos.
Lembrou-se das várias tentativas que fizera para afastá-lo de si.

Elizabeth guarda a caixinha no fundo da gaveta mais uma vez. Depois, trataria de
devolvê-lo para o seu dono. Por enquanto, ficaria ali guardado. Ela se levanta, caminha até o
espelho e se olha da cabeça aos pés.
“Eu sou forte. Eu sou Elizabeth Adams. Ninguém pode me machucar.”

Anthony não demorou e com apenas duas malas, saíram em direção ao aeroporto.

— Eu trouxe alguns sanduíches, você quer? – ele perguntou enquanto se concentrava no


trânsito.

— Não estou com fome, obrigada.

— Mas estão uma delícia, você deveria comer... a viagem é longa e a comida de avião é
horrível, você sabe, mesmo sendo um avião particular.

Ela revira os olhos.

— Não quero, Tony. Você sabe que não costumo comer sanduíches.

Anthony a olha de relance e não responde. Ele sabia que a sua última experiência com
sanduíches fora quando Edward e ela saíram naquele “primeiro encontro”.

Nos últimos seis meses, Anthony, Elizabeth e o advogado da empresa analisaram aqueles
papéis que ela tinha assinado de “cabo a rabo”, porém, não encontraram nenhuma negligência.
Michael tinha sido muito astuto e não tinha deixado nenhuma brecha sequer.

— Lisa, nós vamos encontrar uma saída. – Anthony murmura, se referindo ao casamento
forçado.

— Espero que sim...

O silêncio perdura até o pequeno aeroporto. Anthony deixa o carro com um rapaz e
ordena a outro que levassem suas malas. Ela caminha alguns metros e Anthony a alcança logo
em seguida com seu bonito sorriso.

— Acho que ainda temos tempo para comer.

— Cristo! Você só pensa em comer? – ela arregala os olhos. — Desse jeito vai engordar!

Anthony enfiou as mãos na jaqueta de couro.

— Saiba que eu malho todos os dias. Eu como e malho, é assim que a vida funciona.
Elizabeth ri calmamente e continuam caminhando. Sem querer, ela observa como estava
bonito, usando uma camisa de gola V, jaqueta de couro preta, calças escura e tênis. Talvez, se
fossem em outros tempos... Quem sabe, não é?

Não, definitivamente não!

Anthony foi na frente para falar com o piloto e terminar de resolver algumas questões.
Elizabeth se senta em um banquinho enquanto aguardava pacientemente. Logo, ele volta e se
senta ao seu lado.

— Você está muito calada, aconteceu algo?

Ela cruza as pernas.

— É impressão sua. Só estou cansada.

— Também estou... mas dependendo da hora que chegarmos ainda dá pra beber um
pouco.

— Você é louco? – pergunta incrédula. — Vamos direto ao hotel para descansar. Uma
reunião muito importante nos aguarda.

Ele não responde, apenas cruza as pernas e passa o braço por cima do seu ombro. Ela
suspira e encosta a cabeça no peito de Anthony.

Seu celular vibra e ela não se surpreende ao ver que era Michael.

— O que você quer? – pergunta ríspida ao atender.

Michael deu uma risadinha do outro lado.

— Olá para você também, querida.

Ela revira os olhos.

— Pensei que já estivesse em Londres.

— Eu deveria estar. – disse ele, com a calmaria que odiava. — Porém, liguei para te
avisar que tive alguns problemas e não poderei ir.

Elizabeth não respondeu de imediato, mas se aquilo fosse sério, teria que queimar uma
caixa de fogos inteira em comemoração.

— Sério? – pergunta fingindo surpresa.

— É sério... E espero que você se comporte e não faça nenhuma besteira.


O sangue dela ferveu e se levanta no mesmo instante. Anthony não precisava ouvir mais
aquela discussão.

— Olha aqui Michael, você não é meu dono! E eu faço o que eu bem entender com a
minha vida!

— Depois não reclame quando ficar na miséria. – disse ele em tom ameaçador. — Você
sabe que posso ferrar com você quando quiser.

— Você não vai fazer isso. – ela vacila. — Nós vamos nos casar em breve. Não foi esse o
combinado?

Michael fica em silêncio por alguns instantes.

— Sim e não volto atrás na minha palavra. Espero que você faça o mesmo.

Elizabeth respira fundo, controlando-se. Ah se pudesse socá-lo...

— Você deveria me conhecer. Sabe que também não volto atrás na minha palavra.

— Não sei se deveria acreditar nisso, não é Elizabeth? Mas enfim... Você será a minha
senhora Sanders. Nos veremos em breve.

Ela nem se deu ao trabalho de responder, apenas desligou a ligação e olhou para o nada.
Elizabeth mal conseguia respirar, tamanho o seu nervosismo. A pergunta que rondava sua
mente era: Por que Michael estava fazendo isso? Era só pelo dinheiro? Era para puni-la pelo
aborto? Ou tinha algo mais naquela história?

Ela sabia que já estava sendo suficientemente punida pelos seus erros. Nunca desejou que
as coisas tivessem seguido por aquele rumo, mas infelizmente aconteceram. Já não bastava
saber que para ter outro filho, teria que se submeter a vários tratamentos.

Seus olhos se encheram de água novamente, quando ela sentiu um braço envolver seus
ombros.

— Hey, vem cá. – Anthony a puxa de encontro ao seu peito e ela aceita, porém, segurou
as lágrimas bravamente.

Foi então que sua mente estalou e ela se lembrou de algo.

Afasta-se no mesmo instante com os olhos arregalados.

— Com essa confusão, me esqueci completamente do Dylan. Você sabe onde ele está?
Anthony a fita com a mesma expressão e então olha para os lados.

— Ele já deveria estar aqui.

Elizabeth guarda o celular no bolso da calça e bufa. Era só essa que faltava. Dylan era seu
novo – e atrapalhado – assistente.

— Vou ligar para ele. – Anthony determina ao pegar seu celular, porém, antes que ele o
fizesse, ela viu um burburinho e alguém gritando pelo hall da sala. “Hey! Me esperem!!!”

— Acho que não será necessário. – ela resmunga ao cruzar os braços. Anthony se vira e
divertimento se apossou de seu rosto.

— Se tem uma coisa que você sabe é escolher seus assistentes. – disse ele com ironia.

Ela revira os olhos e o jovem se aproxima todo afobado.

— Me perdoe senhorita Adams, eu me atrasei e...

— E quase ia ficar para trás! – ralha. — Não sabe que odeio atrasos?

O rapaz assumiu o tom avermelhado e olha para o chão, certamente procurando um


buraco para se enfiar.

— Eu... eu só fiquei sabendo da mudança de planos agora pouco. Eu pensei que eu iria
com o senhor Michael.

Anthony ri despreocupadamente enquanto ela mantinha o semblante fechado.

— Trouxe os relatórios que vou precisar?

Dylan olha para o chão e isso a irrita profundamente.

— Sim senhorita...

— Olhe para mim quando falar com você. – ralha mais uma vez. — Por acaso tem medo
de mim?

E quem não tinha? Dylan pensou.

Elizabeth se aproxima dele e encara seus olhos castanhos. Dylan tinha seus vinte e dois
anos e estava começando na vida. Na realidade, ela nem sabia por que o tinha contratado.

— Nã, não... – ele gagueja. — Me, me perdoe.

Anthony assiste a cena de braços cruzados e um sorriso travesso. Foi quando deram o
sinal verde para entrarem na aeronave.

Ela sai na frente, mas a tempo de ouvir Anthony dar uns tapinhas no ombro do rapaz e
murmurar:

— Ela deve estar de TPM.

Londres era belíssima, mesmo quando vista pela janela de um hotel. Hotel esse que fazia
parte do império dos Adams. Eles haviam chegado fazia um pouco mais de uma hora e a
primeira coisa que Elizabeth fez, foi se jogar na cama. Devido o fuso horário, chegaram pela
manhã e a reunião estava marcada para as dezesseis horas.

Ela tinha tempo suficiente para descansar, entretanto, seus pensamentos teimavam em
seguir outra direção. Edward deveria estar ali, quem sabe, sentado no colo da rainha. Talvez,
ostentando sua posição na família real ou sabe-se lá fazendo o que.

Elizabeth fecha os olhos e se lembra da expressão que vira em seu rosto quando Michael
anunciou o “retorno” do noivado. “Choque, terror, decepção, raiva”. Nessa mesma ordem e
foi incapaz de conter aquela situação. Mas... no final das contas, ela também estava com raiva
de Edward, de Michael, dela mesma. Raiva de todos.

Respira fundo e se vira de lado. Deveria se concentrar em outras coisas, para começar,
naquela bendita reunião. Agora que Michael não estava lá, deveria reunir suas forças para
encarar o novo acionista, que além de tudo, era muito folgado. Não podia ter viajado a Nova
York para resolver isso? Não... Uma de suas exigências era que a reunião fosse em seu país de
origem. Era estranho que aquela petulância a fazia se lembrar de nada menos que Edward. Mas
não... Definitivamente aquilo seria loucura demais.

Edward provavelmente nem queria vê-la pintada de ouro na sua frente.

Elizabeth ri de seu pensamento ridículo quando batidas na porta a tiraram desse devaneio.
Ela se levanta para atender a porta.

— O que é?

Anthony a olha com um sorriso.

— Pensei que estivesse dormindo.

— Estou pensando sobre a reunião.


Ela se afasta da porta.

— Lisa, pelo amor de Deus, pare de se atormentar com isso! – diz ele ao entrar e fechar a
porta. — Vim te chamar para tomarmos um café e darmos umas voltas por aí.

Ela suspira desanimada.

— E o Dylan?

— Ele está lá embaixo fazendo amizade com as moças do balcão. – Anthony colocou uma
mão na cintura. — Ele só tem medo de você, Lisa. Com as outras, o menino é soltinho!

Elizabeth ri.

— Eu gosto que ele tenha medo de mim.

— Acha que eu não sei disso? – Tony caminha até o armário e pega umas roupas que ela
tinha colocado lá. — Vamos, levante-se.

Ela pega um vestido que ele lhe estendia e bufa. No final das contas, Anthony estava
certo. Ela deveria aproveitar sua estadia naquela linda cidade.

Caminhar até o famoso relógio nunca lhe pareceu tão difícil quanto naquele dia. Apesar
de ser magra, estava sedentária desde que Michael tinha voltado. O clima estava ameno e se
lembrou dos meses que seu pai gostava de passar umas férias em Miami.

Calor, sol, praia... Tinha coisa melhor?

— Tony, você não acha melhor voltarmos ao hotel? Já estamos andando há horas.

— Que horas são?

— Tem um gigantesco relógio atrás de você e ainda tem coragem de me perguntar isso?

Ele ri despreocupadamente.

— Estou brincando e acho que sim, devemos voltar ao hotel. Mulheres levam anos para
se arrumar. – fala em tom zombeteiro.
Voltaram ao hotel e cada um foi para o seu quarto, porém, antes de chegar ao seu,
Elizabeth passa no de Dylan para verificar se estava tudo “ok”. Ele a olha desconfiado e fecha
a porta antes que ela pudesse dar uma olhada dentro do cômodo.

Ela revira os olhos e segue em frente. Não havia um dia que não pedisse a Deus em sua
infinita glória que lhe desse um pouco de paciência.

A CEO da Adams Corporation deveria estar impecável. Por isso, escolhe um vestido azul
escuro e sapatos vermelhos de salto alto. Após o banho, escova os longos cabelos castanhos e
passa a sua maquiagem favorita.

As horas voaram e quando menos percebeu, Anthony batia em sua porta. Ele entra e lhe
dá um sorriso satisfeito ao ver que pelo menos na aparência ela continuava impecável.

— Você está linda! – ele murmura. — O carro já está nos esperando.

Ela dá um meio sorriso e se olha no espelho, murmurando uma frase que era uma espécie
de mantra: — Vamos lá Elizabeth, não é hora de se intimidar.

— Não há motivos para se intimidar. – Anthony diz. — Você é ótima e tem cumprido
com os desejos do seu pai. Se a situação está assim, são por outros motivos.

Elizabeth não responde, apenas pega sua bolsa jogada em cima da cama.

— Dylan já está nos esperando?

— Ele deve estar pronto há mais de uma hora. Depois da chamada que você deu nele,
duvido que vá se atrasar de novo.

— Acho bom. – ela resmunga.

Entram no elevador e depois caminham pelo extenso hall do hotel. O local era magnífico,
um verdadeiro cinco estrelas. Decoração rústica, com lustres de cristais e funcionários bem
vestidos.

Dylan já estava ao lado do balcão os esperando. Vestido com um terno que parecia ter
pertencido ao seu avô. Elizabeth teve vontade de revirar os olhos, mas se conteve.

Adicionou uma nota mental: Pedir ao Anthony para que leve esse garoto para comprar
roupas novas.

Elizabeth ignora os olhares curiosos dos funcionários e segue até o carro que já os
esperava na porta do hotel. Ele a cumprimenta e assim que ela entra, fecha a porta. Anthony
vai na frente e Dylan entra pelo outro lado.
Aquela não era a primeira reunião que Dylan participava, porém, toda vez que se sentava
ao lado de Elizabeth, tremia e não conseguia olhá-la nos olhos.

“Que diabos acontece com esse fedelho?” Pensou irritada.

O caminho até o local da reunião foi em perfeito silêncio. Algo dentro de seu peito se
remexia e não sabia definir o que era. Uma sensação estranha. Ela olha em seu dedo e o
solitário que Michael a obrigava usar, ainda estava lá, intacto.

Não demora para que o carro estacionasse em frente a outro edifício. Lá era um dos
escritórios das suas empresas.

Anthony desceu primeiro e poupou o trabalho do motorista de abrir a porta para


Elizabeth. Dylan desce logo depois e olha para os lados, maravilhado com a magnitude do
local.

— Faz um bom tempo que não venho aqui. – murmura enquanto seguia Anthony.

— Somos dois. – ele contempla o local após passarem pelas portas. — Será que tem
novas gatinhas solteiras?

Ela revira os olhos.

— Anthony, menos.

— Você sabe como são os homens. Não ficamos muito tempo solteiros.

Elizabeth prefere não responder e continua caminhando enquanto sentia mais olhares
curiosos. Alguns já a conheciam, outros eram novos funcionários. Aquelas palavras de
Anthony grudaram em sua mente. Será que Edward já tinha arrumado uma namorada? Esse
simples pensamento a machucava muito, mais do que queria de admitir.

— Senhorita Adams, é bom revê-la. – Jack Montback a cumprimenta. — Espero que


esteja satisfeita com nosso trabalho.

Jack era um homem baixinho, na casa dos cinquenta anos, responsável por aquela filial e
sempre fora muito competente com seu trabalho. Desde a época que começou a trabalhar para
o seu pai, nunca ouvira uma reclamação sequer.

— Como todos sabem que a senhorita odeia atrasos, eles já estão na sala de reuniões.

Elizabeth assente e se encaminha até o escritório de Jack.

— Sim, mas primeiro quero dar uma olhada nas instalações.


Jack assente e a acompanha até sua sala. Ela olha canto por canto e passa o indicador
sobre sua mesa, para ver se encontrava alguma sujeira. Tudo estava impecável, do jeito que
gostava.

Passado o clima de tensão, Elizabeth se vira para ele e abre um pequeno sorriso. — Jack,
é bom revê-lo também.

Ele então relaxa e olha de esguelha para Anthony.

— Eu entendo que a senhorita queira visitar os outros cômodos... – pondera. — Mas o


novo acionista já está na sala de reuniões, junto com o corpo jurídico e disse que odiaria ter
que esperá-la muito tempo, afinal seu tempo é muito precioso.

Elizabeth olha para Anthony sem acreditar na petulância daquele sujeito. Ele dá de
ombros e ela respira fundo, conta até dez mentalmente e se rende.

— Muito bem. Chegou a hora de conhecer esse senhor.

A sala de reuniões era anexa à sala de Jack. Apenas uma porta os separava. Uma
recepcionista entra com uma bandeja contendo chá e alguns biscoitos.

— Deseja um chá, senhorita? – ela pergunta com receio.

Elizabeth, com seu humor já abalado, fita a garota dos pés à cabeça, procurando algum
defeito para que pudesse soltar os cachorros, porém, não encontrou nenhum.

— Não. Obrigada. – recusa secamente. — Jack, vamos?

Jack assente e corre na frente para abrir a porta. Ele entra e abre passagem para ela.
Anthony veio atrás, impaciente com toda aquela merda.

Nesse momento, Elizabeth recebe uma mensagem em seu celular e não pôde ignorar e
entra na sala olhando para o aparelho em suas mãos.

Aquelas pessoas entenderiam que uma mulher como ela recebia muitas mensagens
importantes.

— Bem vinda, senhorita Adams...

E então aquela voz preenche seus ouvidos. Foram segundos que pareceram uma
eternidade. Elizabeth estaca no lugar e suas mãos ameaçaram derrubar o aparelho quando
sentiu o impacto do corpo de Anthony trombando com o seu.

Elizabeth levanta os olhos e vê que aquela voz não poderia ser de ninguém mais, ninguém
menos, do que o dono daqueles malditos olhos azuis, encarando-a do outro lado da sala.
Elizabeth aperta as mãos em torno do aparelho para que não caísse. Aquilo era real?

Choque, terror, medo, saudade.

Sentimentos que se apossaram de seu coração de uma só vez.

Edward nunca se sentiu tão vitorioso quanto naquele dia. Não deveria, mas não se
incomodou ao observar os olhos assustados daquela, que meses atrás, destroçara seu coração.

Os segundos pareceram horas mediante aquele encontro improvável e nenhum dos dois
conseguiu desviar o olhar.

Os outros executivos assistiram a cena curiosos.

Elizabeth constatou que ele não mudara. Talvez seu cabelo, estava um pouco mais claro,
mas seus olhos continuavam com aquela chama que a acendeu desde que se viram em sua sala
pela primeira vez, há mais de um ano.

Edward também não poderia deixar de admitir que ela continuava a mesma mulher
lindíssima de antes. Entretanto, algo em seu olhar lhe chamou a atenção. Não era frio como
aquele que encontrou quando se viram pela primeira vez. Algo em Elizabeth estava diferente.

— Mas só pode ser brincadeira! – a voz de Anthony interrompe o silêncio assustador. —


O que você está fazendo aqui?

Edward desvia o olhar para aquele que, um dia, foi seu amigo, sem saber o que esperar
dele, mas pelo tom de voz empregado, sabia que não vinha coisa boa por ali.

— Anthony.
Anthony não responde, apenas se lembrou de uma promessa que ele fizera para Elizabeth
algum tempo atrás. Imediatamente, saiu detrás de Elizabeth, coloca umas pastas sobre a mesa.
Tira seu paletó e o entrega a um dos executivos que estava sentado observando a cena
boquiaberto.

— Edzão... Edzão... – disse ele metodicamente enquanto subia as mangas de sua camisa.

Edward não sabia o que esperar, apenas observa Anthony. Será que ele está com calor?

— Tony... – Elizabeth o chama temerosa, porém, ele não a ouviu e avançou, como um
leão prestes a devorar sua presa.

Agora as coisas ficarão quentes, pensou Tony.

— Calma Lisa. Só quero cumprimentar meu amigão! – diz ele ao parar em frente de
Edward.

Anthony e Edward tinham uma diferença de altura significativa e Edward não gostou
nada quando viu os olhos assassinos que o outro mantinha sobre si.

— Acho que precisamos conversar... – Edward diz.

O homem coloca as duas mãos nos ombros de Edward e abre um meio sorriso.

— Tem razão, mas acho que antes, você merece uma coisa.

E antes que Edward pudesse falar algo, Anthony ergue o punho e lhe desfere um soco no
rosto.

— Isso é pela mentira que contou à minha amiga! Seu idiota!

Elizabeth arregala os olhos, surpresa com a atitude de Anthony. Ele nunca fora agressivo.
Ela achou que aquilo era uma brincadeira e... por Deus! Ele realmente tinha dado um soco no
rosto de Edward!

O alvoroço teve início a partir desse momento, quando ela gritou de horror e homens de
terno preto entraram na sala, decretando voz de prisão a Anthony. Sua atitude era nobre,
porém, ele havia se esquecido que Edward não era qualquer pessoa!

Edward leva a mão ao rosto, que já estava sangrando. Era verdade que estava incrédulo.
Acreditou que a amizade estaria abalada, mas não imaginou o quanto.

Elizabeth se aproximou de Anthony que não estava resistindo. Ela colocou as mãos no
rosto do rapaz.
— Tony! Pelo amor Deus! Por que fez isso? – Choramingou e olhou para os homens de
preto. — Não o levem por favor!

— Afaste-se, senhorita. – um deles pediu. Ela resistiu, porém, Jack a segurou pelos
ombros.

Anthony não ofereceu resistência. Ele sabia o que tinha feito e não se arrependia. Tinha
feito uma promessa à sua amiga e naquele momento estava pouco se lixando se Edward
estivesse na linha de sucessão do trono Britânico.

Ele sentia-se vingado pela melhor amiga.

— Fica calma Lisa, logo estarei de volta! – Anthony gritou quando já estava distante.

Edward continuava parado, olhando para o nada com a mão no rosto. Nesse momento, a
dor já estava latejando e ele sabia que aquilo ficaria, no mínimo, roxo.

Jack e o advogado de Edward tentaram se aproximar dele, porém, ele estendeu a mão,
impedindo-os de se aproximarem.

— Faça alguma coisa! – Elizabeth se virou para ele.

Edward a fitou com os olhos mais arrogantes que ela já tinha visto em sua vida.

— Precisa de gelo ou alguma coisa? – John, seu advogado, perguntou. Edward balançou a
cabeça negativamente.

— Eu... acho que a reunião deve ser adiada. – Jack arriscou e recebeu um olhar
fulminante de Elizabeth e Edward.

Quem ali no raio de dez metros tinha disposição para um reunião?

— É claro que vai ser adiada! – Elizabeth vociferou. — Tem alguém aqui disposto a fazer
uma reunião? Eu quero que todos vocês caiam fora daqui agora!

A sala continha cerca de dez homens e nenhum deles tinha se levantado para segurar
Anthony.

Todos bundões. Pensou ela, com desgosto. Estou cercada por imbecis!

E agora, a última coisa que ela precisava era lidar com aqueles idiotas.

Os homens se levantaram, pegaram suas coisas e saíram imediatamente. Jack os guiou


para fora. John vacilou por um instante, mas depois de receber um olhar afirmativo de seu
cliente, também se foi.
Edward ainda não tinha conseguido dizer uma só palavra. Talvez a situação lhe doesse
mais do que o soco que recebera.

Elizabeth e Edward ficaram sozinhos na sala. Nenhum quis dirigir o olhar ao outro.
Ambos estavam machucados, tanto por dentro, quanto por fora, pelo menos no caso dele.

Elizabeth se sentou na cadeira e levou a mão até a cabeça. Precisava pensar em todo
aquele inferno.

Ela tinha avisado para Anthony não se meter em problemas. E agora, o que iria
acontecer?

Edward estava do outro lado da sala, pensativo. O silêncio era mortal e tudo o que ela
queria fazer era sair correndo dali. Porém, a Elizabeth Adams de antes, enfrentaria aquela
situação.

— Que diabos você está fazendo aqui? – ela perguntou sem entusiasmo.

Edward não ergueu o olhar para ela. Devia responder a pergunta dizendo que estava ali
porque comprou ações, muitas delas. Mas ele no fundo sabia que não era só por isso.

— Eu te fiz uma pergunta! – Elizabeth se levantou e socou a mesa. — Que. Inferno.


Você. Está. Fazendo. Aqui? – vociferou lentamente.

— Preciso mesmo falar que sou o novo acionista? Achei que você fosse mais inteligente.
– Edward murmurou, ainda de costas, olhando a paisagem através das grandes janelas da sala.

Elizabeth sentiu o sangue ferver em suas veias e o controle que havia adquirido se esvaía
a cada segundo. Então era ele. A pergunta deveria ser: O que você quer de mim?

— Se Anthony não tivesse me dado um soco, deveríamos estar discutindo assuntos


relacionados à negócios.

— Você vai dar um jeito de tirar ele da cadeia, agora. – ela ordenou secamente, com seu
habitual tom de Chefe.

Edward se virou para ela.

— E por que eu deveria? Foi ele quem me agrediu.

Um palavrão veio à boca de Elizabeth, porém, ela o engoliu. Não se rebaixaria, nem por
um milhão de dólares.

— Você deveria saber por que ele te agrediu... como devo chamá-lo? – Ela se levantou e
perguntou com deboche. — Milorde? Vossa Alteza Real? Deseja que eu lhe faça uma
reverência?

Edward se virou para ela e encarou seus olhos.

— Meu Lorde cairia bem. – devolveu com cinismo.

Elizabeth abaixou a cabeça e respirou fundo, enquanto seus punhos pareciam querer se
fundir à mesa.

Ele queria bancar o arrogante agora?

— Não estou aqui para discutirmos. Quero resolver a situação com Anthony e voltar para
os Estados Unidos o mais rápido possível.

Edward assentiu e como por instinto, procurou em seu dedo a aliança de casamento,
constatando que ela ainda não havia se casado.

— Vou falar com o Comissário Johnson, logo ele estará livre. Vamos até a Scotland Yard,
mas antes, preciso dar um jeito nesse olho.

Elizabeth olha para ele e passado a raiva do momento, queria se aproximar para ver como
estava aquele machucado. Ela chegou a se mover do lugar, porém, sabia que não deveria e
então parou.

Ela queria ficar feliz pelo que aconteceu. Seu amigo cumprira a promessa que lhe fez
alguns meses atrás, embora se sentisse totalmente o oposto. Estava mal, enjoada, com vontade
de sumir e deixar tudo para trás.

— Eu não vou à lugar algum com você. – disse ela, retomando a frieza em sua voz.
Edward bufou e pegou o celular no bolso de seu paletó.

Ela observou quando ele discou um número e levou o aparelho até o ouvido.

— Serena, sou eu. Aconteceu algo... preciso que traga o doutor Rochester. Não, não...
depois eu te explico. Eu levei um soco e... Calma Serena! Eu vou te explicar tudo, mas traga o
doutor rápido, por favor.

Elizabeth arqueou a sobrancelha.

Quem era Serena? Sua namorada? Esse simples pensamento fez seu coração endurecer
um pouco mais. A maneira como ele falou no telefone, a doçura... e a preocupação da tal
Serena. Aquilo não era uma coisa boa.

Edward desligou o telefone e sentou na outra extremidade da mesa. Elizabeth fechou os


olhos e passou as mãos pelos cabelos. Ela tinha uma tendência a atrair desastres.
O silêncio reinou e nenhum dos dois teve a coragem e nem vontade de quebrá-lo.
Entretanto, havia tantos questionamentos, tantas dúvidas. Edward olha para Elizabeth e foi
impossível não se lembrar de alguns dos momentos que passou ao seu lado.

Elizabeth queria fazer a famosa pergunta de um milhão de dólares. Por que diabos ele
mentira sobre quem era? Mas ela sabia que se fizesse, traria assuntos que não estava a fim de
falar, incluindo seu noivado ridículo com Michael.

— Assim que o doutor examinar esse machucado, nós iremos até Anthony.

— Eu já disse que não vou com você. – Elizabeth retruca.

— Você vai ou então ele vai passar a noite na cadeia. A escolha é sua.

— Não seja ridículo! – ela protesta. — Você pensa que está falando com quem?

Edward se sentou na cadeira e dá um meio sorriso.

— Eu não sou seu assistente. Falo com você do jeito que quiser.

Seus olhos se arregalam. Onde infernos ele tinha aprendido a ser assim? Com resignação,
respira fundo e conta até dez mentalmente.

— Corro o risco de ser presa se não o obedecer, meu Lorde? – pergunta cinicamente.

Edward bufa. Elizabeth faria mesmo esse jogo? Será que não tinha percebido que as
posições nesse tabuleiro tinham mudado? Ele não era mais o seu capacho que desprezou meses
atrás.

Ele fica em silêncio e um tempo depois a porta se abre. Serena entra correndo,
acompanhada pelo doutor Rochester.

Elizabeth observa o homem acompanhado por uma menina loira. Como se confirmasse
suas suspeitas, a jovem se jogou nos braços de Edward.

— Meu Deus! O que aconteceu com você?

— Não foi nada... apenas um mal entendido. – Edward resmunga ao ser solto. — Meu
olho deve estar horrível.

Serena o olha por alguns instantes pesarosa.

— Meu Lorde, sente-se que vou examiná-lo.

Edward o obedece e se senta. Enquanto o médico fazia seu trabalho. Serena se vira e
encara a mulher sentada na outra extremidade. Elizabeth a encara friamente, analisando-a da
cabeça aos pés.

— Serena esta é Elizabeth Adams... – Edward pronuncia ao ver que ambas se encaravam.

Elizabeth se levanta e caminha até a jovem, que é uns dez centímetros menor que ela.

— Muito prazer. – disse secamente e estende a mão.

Serena sabia que ela era a mulher que destroçara o coração de seu amigo e aquilo a
incomodou profundamente.

— Não posso dizer o mesmo. – disse ela petulante. — O que está fazendo aqui?

Elizabeth arqueia a sobrancelha e recolhe sua mão.

— Pelo que eu saiba, fui chamada para uma reunião de negócios com esse senhor.

Serena se sentiu diminuída perto da beleza daquela mulher. Ela realmente era estonteante
e agora sabia por que seu amigo estava fascinado por ela.

— Uma reunião que pelo jeito não deu muito certo. – ela murmura. — Eu te falei Ed que
isso era loucura.

Edward não respondeu, apenas observou sua ex-chefe que saiu de perto de Serena e
caminhou até as janelas.

— Vai demorar muito? Eu realmente tenho pressa em tirar Anthony dessa confusão. –
Elizabeth resmunga.

— Se ele não tivesse me dado um soco...

Serena arregala os olhos.

— Meu Deus! Quem é esse? Eu achei que tivesse sido ela que te bateu!

Edward não evitou rir da imaginação fértil de sua amiga.

— Eu? – Elizabeth se vira para ela. — Está louca?

Serena dá de ombros.

— Edward me contou algumas histórias...

Elizabeth o fulmina com o olhar.


— Que raios você andou falando pra essa garota?

Edward não respondeu. Sim, ele tinha falado sobre o soco que ela dera em Michael e
todas as outras histórias hilárias que vivenciaram naqueles tempos em Nova York.

— A sorte é que o machucado não foi profundo, mas o senhor terá um olho roxo por
algum tempo. – disse o médico, após terminar seu trabalho.

Edward assente e pega da mão do médico o analgésico que lhe estendeu. Serena corre até
uma jarra com água e entorna o líquido em um copo, se aproxima e com cuidado lhe entrega.

— Obrigado. – Edward agradece antes de virar o copo e engolir o comprimido.

Elizabeth assiste toda aquela cena, enjoada. As coisas realmente tinham mudado. Edward
não era mais aquele rapaz que chegou em sua empresa mendigando por um emprego. Ele se
mostrava outro homem, maduro.

— Vamos? – Serena lhe estende a mão, mas Edward recusa.

— Preciso resolver essa questão com Anthony. Vá para casa, depois te encontro lá.

Serena se desanima e se aproxima dele.

— Você vai com ela?

Apesar da voz baixa, Elizabeth ouviu e a sua vontade foi gritar: SIM E QUAL É O
PROBLEMA?

— Eu acho que mencionei que não tenho o dia todo. – disse ela, sem rodeios. — Vamos,
Edward?

Edward assente e se encontraram de frente a porta, ambos esperando que um ou outro


girasse a maçaneta. Elizabeth não faria esse serviço, esperava que no mínimo, continuasse o
mesmo cavalheiro de antes.

Edward gira a maçaneta, abre a porta e aponta para que ela fosse na frente. Serena se
despede dele, afirmando que o esperaria em sua casa e fazendo-o prometer que não cometeria
loucuras.

Elizabeth sente vontade de perguntar quais loucuras ele poderia cometer além de comprar
inúmeras ações de suas empresas. Aquele, sem dúvidas, era um nó que ninguém conseguia
desfazer.

Ela não se deu ao trabalho de se despedir da garota. Pelo contrário, quando saíram da sala,
viram o alvoroço que a empresa estava. Os funcionários se perguntavam o que um lorde estava
fazendo ali e por que seu olho estava machucado, além de questionarem os motivos que
levaram a chefe ficar sozinha com ele naquela sala.

Desceram pelo elevador até o estacionamento subterrâneo. Nenhum dos dois conseguia
falar. Ambos se sentiam como bombas relógio prestes a explodir.

— Eu não vou no mesmo carro que você. – Elizabeth determina quando ve a limusine os
esperando.

Eles nunca estiveram tão próximos quanto nesse momento. Edward se aproxima mais
ainda, fazendo com que ela desse alguns passos para trás e se não fosse o carro, provavelmente
teria caído.

— Não estou pedindo. Você vai nesse carro e fim de conversa.

Elizabeth arregala os olhos.

— Olha aqui Smith...

— Phillips. – ele a corrige. — Edward James Phillips. Esse é o meu nome e gostaria de
ser chamado por ele.

A vontade de mandá-lo ao quintos dos infernos subiu na garganta de Elizabeth, que mais
uma vez, ficou em silêncio.

— Meu Lorde, há algum problema? – um homem se aproxima.

— Nenhum. – informa. — Esta senhorita já vai entrar no carro, não é?

Elizabeth engole em seco o seu orgulho e entra, mesmo contra a própria vontade. Já tinha
problemas demais para se preocupar com outros novos. Edward também entrou no carro e a
janela que dava acesso ao motorista se abriu.

— Para onde meu lorde deseja ir?

Todos os chamavam assim? Elizabeth já estava de saco cheio com toda aquela
formalidade.

— Scotland Yard, por favor.

O homem assente e sobe o vidro. Edward se recosta ao banco e não olha para Elizabeth.
Ela, por sua vez, não sabia se estava surpresa, chateada ou inconformada. Deveria ter seguido
suas intuições e não ter ido àquele maldito encontro.

A verdade é que não queria falar com ele, muito menos estar naquele carro. Como é que
as coisas podiam mudar assim, em menos de uma hora?

O caminho até o prédio da Scotland Yard foi rápido. Edward estende a mão para ajudá-la
a sair do carro, algo que ela prontamente recusou. Não precisava dele.

Edward respira fundo quando ela sai na frente, deixando-o para trás. Seu olho doía,
sentia-se cansado, mas precisava resolver aquela situação.

Entraram no prédio e se encaminharam até um dos agentes.

— Meu lorde, o que faz por aqui? – Um homem de terno o cumprimenta.

— Resolvendo umas coisas. – disse ele. — Posso falar com o Comissário Johnson?

O homem assente e rapidamente sai para chamar Johnson. Elizabeth cruza os braços
observando tudo ao seu redor. Quem diria que estaria ali, resgatando seu melhor amigo?

Depois de um tempo o homem volta.

— Ele está o esperando em sua sala.

Edward estende o braço para que Elizabeth seguisse na frente. Com seu ego inflado, ela
seguiu o agente.

Chegaram até a sala do Comissário e entraram. O local era revestido por paredes de vidro
e equipada com um computador de última geração. Em uma das paredes várias fotos de
prováveis casos sob investigação.

— Johnson é bom vê-lo! – Edward aperta sua mão gentilmente. O homem que aparentava
ter seus cinquenta anos sorri de volta.

— Digo o mesmo meu jovem. – fita Elizabeth. — Muito prazer, senhorita...?

— Adams. – responde simplesmente e aperta a mão que lhe estava estendida.

A pequena reunião com o comissário não demorou. Johnson já sabia o que levava Edward
ali e ele lhe explicou que Anthony não oferecia perigo algum e que era um amigo de longa
data, mas por alguns motivos pessoais, se desentenderam e por isso houve a agressão.

Elizabeth nota na voz de Edward que não havia um pingo de mágoa. Será que era só com
ela que ele estava magoado?

Johnson os guiou para outra sala, onde Anthony estava.

— Tony! – Elizabeth se aproxima quando a porta se abre e o abraça fortemente. — Por


Deus, eu vou te matar seu desgraçado!

Anthony a abraça de volta e ri despreocupadamente.

— Acalme-se baixinha. Eu estou bem, estava até conversando com o policial sobre a
polícia de Nova York.

Foi impossível não sorrir. Elizabeth não imaginava aguentar todo aquele pesadelo se
Anthony não estivesse ali ao seu lado.

— O senhor está livre. – Johnson determina e após se virar para Edward e se despedir,
saiu da sala.

Anthony solta Elizabeth e encara aquele que um dia fora seu amigo. Tantas coisas que
precisavam conversar. Ele realmente acreditou que Edward a faria feliz. Claro que sabia sobre
toda a chantagem de Michael, mas achou que, no mínimo, ficaria para lutar por ela.

Edward se aproxima de Anthony e Elizabeth, temendo por um novo confronto, se coloca


entre os dois.

— Sem brigas, pelo amor de Deus!

Anthony balança a cabeça negativamente.

— Não vou brigar com ele, mas acho que precisamos conversar.

Elizabeth encara Edward por longos segundos. Ele a fita sério e ela soube que
necessitavam daquela conversa a sós.

— Tudo bem. Vou esperar do lado de fora.


Elizabeth contou no relógio exatamente 57 minutos, até que a porta se abriu e de lá saíram
os dois homens da sua vida. Era engraçado pensar assim, mas reencontrar Edward não tinha
lhe feito nada bem.

— Vamos? – Anthony se aproxima. Elizabeth fita os dois homens à procura de rastros de


ódio, mágoa, brigas, porém, não encontrou nada.

— Está tudo bem? – pergunta se sentindo uma idiota.

Edward e Anthony trocam olhares e assentem.

— Sim. Nós já conversamos.

Anthony respira fundo e não quis dar detalhes da conversa. Era algo que ele e Edward
tiveram que resolver a sós. Não se tratava sobre o relacionamento entre os dois, pois isso era
coisa que ambos deveriam resolver depois.

— Então vamos, estou exausta. – Elizabeth resmunga.

Edward dá uma leve tossida e enfia as mãos no bolso. Elizabeth o encara.

— O que é?

— Não posso deixar vocês ficarem em um hotel...

— É o meu hotel! – retruca.

— Entendo, mas... Precisam de conforto e isso tenho de sobra em minha casa.


Elizabeth encara Anthony como se perguntasse “Que diabos ele quer agora?”.

— Obrigada, mas não. Nós ficaremos bem.

Edward bufa.

— Nós ainda não terminamos. Precisamos conversar sobre a empresa.

Elizabeth se aproxima dele e o encara friamente.

— Se meu lorde deseja falar sobre negócios, quem somos nós, reles mortais para não
cumprir os seus desejos?

Edward engole em seco e aperta as mãos. Há um bom tempo não lidava com mulheres
petulantes como Elizabeth Adams.

— Vamos deixar para outra hora, Edzão. – Anthony tenta quebrar a batalha visual travada
entre os dois. — Estamos exaustos e queremos descansar.

Edward assentiu.

— Tudo bem, mas não gostaria de viajar para os Estados Unidos sem termos resolvido
todas as questões.

Elizabeth arregala os olhos.

— O que quer dizer com isso? Você vai voltar?

Ele a encara mais uma vez.

— Eu vou.

Elizabeth quis retrucar, porém, Anthony tomou a frente.

— Bom, acho que precisamos mesmo marcar esta reunião. Amanhã seria ótimo. – disse
ele. — Hoje teremos algum tempo para colocar as ideias em ordem.

— Tudo bem. – Edward lhe estende a mão. — Foi um prazer revê-lo, Tony.

Anthony aperta a mão gentilmente e como de costume, lhe deu um tapinha nas costas.

— Senti sua falta, amigão.

— Foi um prazer revê-la, senhorita Adams. – Edward lhe estende a mão formalmente.

Elizabeth a aperta e ambos se encararam por longos segundos. Haviam tantas coisas que
precisavam falar...

— Não sei se posso dizer o mesmo, meu lorde.

Edward solta a mão imediatamente e vira as costas, deixando-os para trás. Após sumir de
suas vistas, Elizabeth se encosta na parede e toma fôlego.

— Preciso ir embora agora!

Edward chegou em sua casa e a primeira coisa que fez, foi entrar na sala de visitas em
busca de uma bebida. Precisava de algo corroendo sua garganta antes de pensar em toda aquela
merda. Como já era de se esperar, Serena havia cumprido suas ordens e tinha lhe esperado.

— Você está péssimo. – ela resmungou ao vê-lo.

Edward caminha até o bar e procura pela garrafa da bebida mais forte que conhecia.
Derrama o liquido âmbar no copo e de uma só vez, bebe todo o conteúdo.

— O que aconteceu? – Serena pergunta. — O que ela fez?

Edward balança a cabeça negativamente.

— A pergunta deveria ser: O que você fez Edward?

Serena se aproxima com olhar complacente.

— Me conta o que aconteceu... estou aqui para ouvi-lo, você é o meu melhor amigo.

Edward encara seus olhos e se pergunta se deveria se abrir com ela. Serena parecia ser a
única que o entendia naquele mar de confusões.

— Eu não sei onde estava com a cabeça de comprar aquelas ações. – disse com
dificuldade, apoiado no balcão e olhando para o chão. — No momento que eu a vi... – pausou
alguns instantes. — Meu mundo parou por um instante e ela era o centro de tudo.

Serena balança a cabeça e cruza os braços.

— Você ainda está apaixonado por ela, essa que é a verdade.

Edward a encara.
— Não diga isso. Elizabeth é o meu passado.

— O passado que você fez questão de resgatar. O que quer com tudo isso?

Ele queria mostrar para Elizabeth e para os outros que nunca foi um “simples assistente”
e talvez tenha sido essa a sua maior motivação. Travar essa pequena batalha com aquela
mulher, só tinha feito piorar as coisas dentro de seu coração machucado.

— Eu estou bem. – murmura, balançando o copo nas mãos. — Talvez eu não estivesse
preparado para encarar aquela Elizabeth de antes, mas enfim, não posso voltar atrás em minha
palavra.

Serena bufou e se senta na gigantesca poltrona de couro.

— Eu não gostei dela.

Edward riu e tomou mais um gole da bebida.

— Você não é a primeira que diz isso.

— Ela tem o nariz em pé e olha que nós somos os nobres! – Serena revira os olhos. — O
que você viu nela, hein?

Todos os dias fazia essa mesma pergunta para si. O que diabos vira em Elizabeth Adams
para que se apaixonasse feito louco? No entanto, agora as coisas mudaram e ele deveria
enterrar o que viveram juntos e de agora em diante eles trabalhariam lado a lado, mais uma
vez. Só que desta vez, seriam somente negócios.

— Hoje tem outra festa, acho que deveríamos ir.

— Eu sinceramente gostaria de descansar...

— Nem pensar! Não aceito não como resposta. Você precisa se divertir e esquecer aquela
megera.

Edward bufou e se senta na poltrona ao seu lado.

— Jantar fora, que tal?

Serena se rastejou até estar bem perto dele.

— Quero dançar.

Edward ergue a cabeça para trás e bufa. Por que as mulheres que o rodeavam eram tão
mandonas?
— Tudo bem. Vamos lá.

Elizabeth trancou a porta e se recosta nela. Foi então que as lágrimas que estavam presas
há um bom tempo, caíram, uma por uma. Com seu coração em frangalhos, desceu lentamente
até se sentar no chão.

Ela era uma mulher bonita, pertencente à nata da sociedade e com o dinheiro que possuía,
podia ter qualquer coisa na vida. No entanto, a única coisa que queria dinheiro não comprava.

Fecha os olhos e as lembranças tomaram a sua mente.

“― O que você quer? – ele murmurou entre um beijo e outro.

Não conseguia pensar corretamente. Sabia que aquilo aconteceria, mas não tinha certeza
de que estava preparada.

― Eu não sei... Eu não acho que isso deva acontecer. – murmurou com dificuldade.

Edward sorriu maliciosamente e desceu os lábios pela curva de seu pescoço.

― Por que não deveria?

Os lábios quentes devoraram seu pescoço, fazendo com que fechasse os olhos. Na
verdade, nem ela mesma sabia porque ele não podia tocá-la.”

Mas ela se entregou, sem reservas... Sabendo que aquela era a coisa certa a se fazer. E ele
a amou. Ele a tomou de maneira que anunciava que ela pertencia a ele.

As lágrimas desceram mais uma vez. Deus, como ela o amava. No momento em que
entrou naquela sala e ouviu a sua voz, seu coração pareceu que ia parar. E então, pensando que
era loucura, ergueu os olhos e o encontrou ali, do outro lado da sala.

Ela sabia que ele a odiava e que tudo o que queria era atormentá-la. Por isso comprou
aquelas ações, queria mostrar que era alguém importante.

Elizabeth se levanta com dificuldade e se joga na cama. Esse pesadelo já podia acabar.

Elizabeth pega o celular e navegou pela galeria até encontrar aquela foto que tinham
tirado em uma aventura por Coney Island.
— Que saudade de você. – confessou em meio a uma nova enxurrada de lágrimas.

Elizabeth adormeceu com o aparelho nas mãos. Duas horas depois, o toque do aparelho a
fez acordar. Ergue a cabeça lentamente e vê o número de Anthony.

— O que é? – pergunta do seu jeito habitual. Anthony ri.

— Eita mau humor desgraçado!

Elizabeth vira de barriga para cima.

— O que é Tony? Fala logo!

— Acorda querida, se arruma porque vamos sair.

Elizabeth se levanta e senta na cama.

— Não estou com ânimo.

— Não perguntei se está animada ou não, estou avisando que daqui meia hora saímos. Me
indicaram uma balada muito boa e não vou perder.

— Tony...

— Sem essa, Lisa. Você vai me acompanhar. Já, já passo no seu quarto.

Dizendo isso, ele encerrou a ligação. Elizabeth olhou para o aparelho e suspirou. Ele não
a deixaria em paz e o que ela deveria fazer?

Ir para a balada.

Elizabeth toma um banho rápido e escolhe um vestido vermelho que lhe cobria até os
joelhos. Coloca meias calças escuras e um scarpin de salto alto. Arruma o cabelo em um rabo
de cavalo alto e passa uma maquiagem simples. Não estava com ânimo de sair e muito menos
de se produzir.

Há quanto tempo não ia em uma balada? Nem se lembrava mais. Das últimas vezes que
fora, Gwen ou Clara beberam demais e vomitaram em sua roupa nova. Só estava indo por
causa de Anthony, afinal, depois daquela confusão da delegacia, merecia se divertir um pouco.
— VAAAAMOS LISA! – ele grita do corredor. — DEIXA DE SER ENROLADA!

Elizabeth revira os olhos, caminha até a porta e abre.

— Calma. Eu estava terminando de me arrumar.

Anthony estava encostado na parede com os braços cruzados. Foi inevitável descer os
olhos pelo corpo da mulher à sua frente. Anthony assobiou.

— Meu Deus Lisa! Se você não fosse minha amiga, tinha jeito?

Elizabeth ri.

— Jeito de quê?

— Nós dois, você sabe, hum...

— Deixa de ser ridículo, Tony. – Elizabeth ralha enquanto fechava a porta. — Você pode
ter todas as mulheres que quiser, tire os olhos de mim.

Anthony ri e balança a cabeça. Ele ainda era homem, poxa!

Caminharam pelo corredor a passos lentos e uma pergunta sobrevoou e mente de


Elizabeth todo o dia.

— Como foi a sensação de bater nele?

Anthony coçou a cabeça.

— Quer a sinceridade?

— Claro.

— Foi maravilhoso!

Elizabeth riu com vontade.

— Você quase nos meteu em uma confusão sem tamanhos.

Anthony aperta o botão do elevador.

— Pelo menos a minha alma está lavada.

O elevador abre e entram. Eram poucos momentos que Elizabeth se sentia em paz, e um
deles, sem dúvidas, era quando estava na companhia de Anthony. Seu espírito alegre
contagiava todos que estavam ao seu redor.
Dylan havia ficado trancado em seu quarto após ter presenciado todo aquele circo. O
menino tinha saído correndo junto com os outros executivos e quando viu Anthony sendo
levado pelos homens, tratou de pegar um táxi e voltar para o hotel.

É claro que levou outra chamada de Elizabeth. Onde estava seu assistente quando mais
precisava?

Após saírem do elevador, Anthony a guiou até onde o carro estava estacionado. Ele os
levou até uma área afastada, onde poucas pessoas da alta sociedade se atreviam a entrar.

— Tony... esse lugar é seguro? – Elizabeth pergunta após pararem em frente a um prédio
antigo. Ali não se parecia em nada com uma casa noturna.

— Claro que é! Meus contatos indicaram esse lugar. Parece que aqui é o prédio de
uma antiga indústria, que claro, está desativada há alguns anos e transformaram nisso.
Disseram que é a sensação do momento. Todo mundo vem pra cá.

Elizabeth revira os olhos. O que podia fazer? Não adiantava discutir com Anthony, ainda
mais quando ele abre a porta do carro e a puxa pelo braço.

— Calma garoto! – Elizabeth bufou.

— Vem por aqui.

Anthony a puxa pela mão e ambos seguiram para parte de trás da rua. Havia uma portinha
estreita. Anthony deu duas batidas e uma janelinha se abriu, revelando dois olhos escuros.

— Senhor Carter e Senhorita Adams.

O homem os observou por longos instantes e abriu a porta, liberando a passagem.

— Você é rápido com seus contatos. – Elizabeth observa.

O som da música era ensurdecedor. Anthony a alertou no carro que não era como os bares
que estava acostumada, com música ambiente. Ali o negócio fervia até de manhã.

Caminharam por entre as pessoas e a cada passo, ela sentia que deveria ter ficado no hotel
ou procurado algum lugar calmo para estar. Anthony estava tão animado que passava pelas
pessoas sorrindo, como uma criança feliz com seu novo brinquedo.

— Quer beber algo? – Anthony pergunta em seu ouvido. Elizabeth assentiu, se ia ficar
naquela loucura, pelo menos uma bebida poderia acalmar seus nervos.

Ele a guiou até uma área afastada, onde tinham algumas poltronas. O local parecia ser
recém inaugurado, apesar de manter o clima de “indústria desativada”. Elizabeth olha para os
lados e vê casais praticamente se engolindo. Respira fundo e conta até dez mentalmente.

Definitivamente, não servia para esses tipos de lugares.

Edward e Serena estavam sentados numa das poltronas enquanto bebiam, apesar de seu
espírito livre e sua vontade de dançar, Serena respeitou o cansaço de seu amigo e se aquietou
em seu lugar.

— Sei que não está feliz de estar aqui. – murmura. — Se quiser vamos embora.

Edward nega com a cabeça.

— Claro que não, só estou um pouco cansado. Hoje o dia foi intenso.

Intenso seria uma piada perto do que acontecera, pensou ele. Edward belisca a ponta do
nariz quando uma pontada na cabeça o atingiu.

— Se quiser dançar, fique a vontade. Eu vou ficar aqui.

— De jeito nenhum... se for dançar, você vai comigo.

Edward se recosta na poltrona e bufa.

— Você tem ideia de que... se souberem que saímos para a balada por duas noites
seguidas, vão nos matar, não é?

Serena ri abertamente.

— Eu sei disso.

Edward toma mais um gole da sua bebida. Dentro do ambiente estava calor e isso fez com
que abrisse alguns botões de sua camisa.

— Está pensando nela?

Edward quase se engasga com a bebida.

— Não. – mentiu.

Serena arqueia a sobrancelha e soltou um “ah tá...” que não convencia a ninguém. A
verdade é que não conseguira deixar de pensar naquela mulher um só segundo.

Vê-la naquela sala, tão próxima, com aqueles olhos verdes que tanto adorava, mexeu com
suas estruturas. Edward se sentia um merdinha por não conseguir esquecê-la. Estava ali, numa
casa noturna, rodeado por mulheres lindíssimas e tudo o que conseguia era pensar em
Elizabeth Adams! Qual foi o dia em que se tornou esse franguinho?

Serena se levanta, olha ao redor e se senta, com o rosto em choque.

— Essa não! – resmunga baixo, porém, Edward ouviu a fita interrogativo.

— O que houve?

Serena não sabia se falava que viu Elizabeth e um rapaz entrando no local ou se ficava
calada. Era certo que se encontrariam ali. Será que esse era o noivo daquela mulher arrogante?
Porque se fosse, ela era mesmo uma sortuda.

— Como é o tal noivo da Elizabeth? – Serena pergunta calmamente. Edward bebe mais
um gole, perguntando a Deus por que ela tinha curiosidade sobre isso.

— Ah... sei lá, além de arrogante e filho da p...

Serena ri.

— Eu disse características físicas.

— Alto, cabelos negros e sei lá Serena, vou ficar reparando em homem agora? Não
cheguei aí ainda.

— Ah tá... mas ele não estava com ela hoje, não é?

Edward ponderou aquela pergunta por alguns instantes. Realmente, não havia visto
Michael em lugar algum. Será que ele não tinha vindo?

— Acho que o desgraçado não veio, ela estava com Anthony.

— O que te acertou um soco, né?

Edward assentiu. Seu olho ainda doía e por sorte não estava inchado. Com alguns toques
de maquiagem pôde sair livremente na rua.

— Vou pegar algumas bebidas para nós. – Serena se levanta e ajeita seu vestido. — Não
saia daqui.

Ele não tinha a intenção nenhuma de se levantar dali. A verdade era que nem sabia o que
tinha ido fazer ali. Edward não era um frequentador assíduo de casas noturnas.

Respira fundo e fecha os olhos. Elizabeth não parecia ter mudado. Seu jeito arrogante,
petulante e desafiador continuavam ali. Ele sabia que as coisas seriam difíceis agora, ainda
mais, como novo acionista, apesar de tudo seu desejo era ajudá-la.

Ajudaria Elizabeth a reerguer a empresa e depois cairia fora. Esse era o seu plano. Porque,
apesar de tudo, a amava e não deixaria que perdesse tudo sem ao menos lhe estender a mão e
Deus... como a amava! Quando seus olhos se encontraram naquela sala, a sua vontade foi sair
correndo e abraçá-la, dizer-lhe que sentiu a sua falta nesses malditos meses de distância. Mas
para a sua infelicidade, ela não parecia sentir absolutamente nada. Seu olhar frio e distante
denunciavam que ele fora somente um jogo para ela, enquanto seu noivo parecia estar morto.
Aliás, isso era algo que Edward sempre se perguntou. O que diabos aconteceu com Michael?

Edward se levanta e olha ao redor. Àquela altura da noite já tinha bebido algumas doses,
mas não acreditou que aquilo que via era uma miragem.

— Eu sei que você quer dançar, Tony. Pode ir, eu fico aqui.

— Eu acho que vou mesmo, você é chata pra essas coisas.

Elizabeth revira os olhos e ri.

— Eu disse que eu não era uma boa companhia.

Anthony deu de ombros. Elizabeth bebe mais uma dose do líquido em seu copo.

— Aquelas meninas estão te encarando. – Elizabeth o cutuca. — Por que não as chama
para dançar?

Anthony as observa por alguns instantes.

— Eu não! Elas estão me comendo com os olhos.

— Isso é um bom sinal, não?

— De jeito nenhum. Estou cansado, não dou conta de quatro garotas hoje.
— Você já deu conta de seis. Tá reclamando do quê?

Ele deu de ombros.

— Isso foi quando eu estava descansado. Hoje fui preso por socar a cara do seu ex que é
um lorde ou sei lá o quê.

Elizabeth bebe mais um gole.

— Será que ele está na linha de sucessão?

— Deve estar, mas só se todos morressem algo que é improvável. A não ser que ele
mesmo matasse a todos. Mas acho que seriam umas dezesseis mortes e ele iria preso bem
antes.

Elizabeth e Anthony se entreolharam e riram. Eles sabiam que aquilo era loucura. Mas a
vida é o que? Uma loucura sem fim!

— Lisa, o Michael não está aqui... por que não aproveita um pouco e se diverte com os
errados?

Ela arregala os olhos.

— O quê?

— Sim, porque não vai dançar com algum cara e... sei lá, se diverte.

— Está louco? – ela arregala ainda mais os olhos. — Eu estou noiva.

Dessa vez, Anthony revira os olhos.

— Esse noivado de fachada não engana ninguém. Acha que ele não dorme com ninguém?
Sinto muito em te dizer, mas você é uma chifruda, minha querida.

Elizabeth ponderou aquelas palavras. É claro que Michael dormia com alguém. Ele era
homem e não a amava, só tinha forjado aquele noivado por uma questão burocrática e
interesseira.

— Mesmo que se case com ele, você pode ter seus rolinhos por fora.

Que diabo de conselho era aquele? pensou irritada.

Elizabeth bufou e se recostou na poltrona. Não tinha interesse em manter um caso com
ninguém. Seu único interesse era resolver aquela situação e se livrar do imbecil do seu noivo.

— Por que não vai pegar mais uma bebida? – Elizabeth pergunta em um tom como se
dissesse: “Vamos calar essa boca, né colega”.

Anthony se levanta.

— Eu já volto.

Elizabeth queria pronunciar uma extensa lista de palavrões, mas se segurou. Bebe o
restante do líquido em seu copo e vê quando alguém para em sua frente. Disposta a mandar o
sujeito “sumir” da sua frente, levanta o olhar, porém, prendeu a respiração no mesmo instante
quando aquele par de olhos azuis a encararam.

— Elizabeth? Sozinha aqui?


De todas as pessoas que queria encontrar em sua frente, Edward estava no final da lista. O
que faria nesse momento? Ele estava parado na sua frente com um sorriso debochado nos
lábios. Disposta a não deixar ser humilhada por ele, se levanta e o encara.

— Sozinha? – pergunta cinicamente.

— Jamais.

Edward cruza os braços e arqueia a sobrancelha.

— Pensei que você, com seu gênio amigável, já tinham assustado os outros rapazes.

Elizabeth o encara por uns instantes. Ele queria o outro olho roxo, era isso?

Apesar da música alta, eles conseguiam conversar.

— Me admira você aqui... – murmura. — Não pensei que gostava desses lugares.

Edward deu de ombros.

— Eu vim com a Serena.

Nesse instante, Elizabeth entendeu tudo. Eles realmente estavam juntos, a julgar pelo jeito
cuidadoso que a moça teve quando o encontrou ferido na sala de reunião.

— E eu vim com Anthony.

Edward assentiu e viu Serena se aproximando com duas bebidas.

— Nossa... a noite estava tão boa. – Serena resmunga ao encontrar o pequeno duelo. —
Mas já vi que o clima foi por água abaixo.

Edward pega a bebida de sua mão.

— Que isso, eu só estava aqui cumprimentando a senhorita Adams.

Elizabeth se segura para não revirar os olhos. Essa era a garota mais petulante que
conhecera em sua vida.

— Que bom que sua companhia voltou. – abre um sorriso forçado. — Aproveitem a noite.
Vou procurar por Anthony.

Dizendo isso, passa por Edward e vira as costas. Não era obrigada a aguentar aquelas
coisas. Serena toca o braço de Edward e ele bufa, observando cada passo de Elizabeth.

— Vem. Se quiser vamos embora.

Ele negou com a cabeça.

— De jeito nenhum. Estamos aqui para aproveitar a noite.

Elizabeth caminha a passos pesados até o bar. Era só essa que faltava. Com uma Londres
gigantesca, tinha que estar no mesmo lugar que aquele idiota? Era muita falta de sorte
mesmo...

Senta-se em um dos bancos e procura por Anthony, nem sinal dele. Onde diabos ele se
metera?

O atendente se aproxima com um sorriso de orelha a orelha.

— O que a senhorita deseja?

— Qualquer coisa que seja forte. – responde impacientemente. — Me traga logo uma
garrafa.

O rapaz arregala os olhos.

— Tem certeza?

Elizabeth ergue seu olhar fulminante.

— Eu tenho cara de estar brincando, meu rapaz?

Ele assente e sai apressado para pegar a garrafa que ela queria. Elizabeth bufou e olha em
seu celular. Nem sinal de Anthony.
— O que uma bela dama faz aqui, sozinha?

Elizabeth olha para o lado direito, onde um rapaz tinha acabado de se sentar. Ele tinha
cabelos escuros, provavelmente castanhos, mas isso era algo que não conseguia constatar
devido a escuridão do ambiente. Tinha um sorriso encantador, com duas covinhas. Usava um
terno e os alguns botões de sua camisa estavam abertos. Aparentava ter seus vinte e poucos
anos. Era um homem bonito, constatou logo de cara.

— Procurando um amigo. – tentou soar educada.

— Entendo. Eu também vim com alguém que me abandonou aqui.

Elizabeth assentiu e viu quando o rapaz derrama o liquido âmbar em seu copo.

— Aceita? – pergunta ao lhe estender o copo.

— Claro. – ele sorri novamente. — Como é o seu nome?

Elizabeth pensa se deveria revelar seu verdadeiro nome. Sabia que esses caras que se
aproximavam assim, podiam não ter tão confiáveis. Resolve adotar o nome de alguém.

— Sophia. Sophia Gerald.

O homem juntou as sobrancelhas, em sinal de compreensão.

— O meu é Jonathan. – ele estende a mão. — Jonathan Nicholson.

Elizabeth o cumprimentou e se deixou entreter com a conversa do rapaz. O que mais tinha
a fazer, senão conversar? Anthony sumira e para sua infelicidade, Edward estava bem entretido
dançando com a menina petulante.

Elizabeth já tinha perdido as contas de quantas bebidas consumira. Anthony desaparecera


fazia horas e o rapaz que estava lhe entretendo, viu que não conseguiria nada além de um bom
papo e deu um jeito de sumir.

Tomou mais um gole e bufou. Seus pensamentos estavam bagunçados e sua cabeça
girava. Talvez devesse ir para o hotel, não se sentia bem o suficiente para ficar ali.

Com dificuldade se levantou, enfiou a mão na bolsa de mão e jogou uma boa quantia de
dinheiro no balcão. Riu sozinha. Sabia lastimável a situação na qual se encontrava, mas no
momento, apenas queria rir. Ao se levantar uma vertigem a atingiu e quase caiu, porém, o
banco atrás de si a ajudou se equilibrar.

— Eu naão estou bêbada. – murmura consigo enquanto ria.

Elizabeth olha para os lados, tentando encontrar a saída. Quando a avistou, sorriu e
caminhou com dificuldade em seus saltos altos. Por que diabos gostava mesmo de usar aqueles
sapatos desconfortáveis?

— Heeey moleque, olha por onde andaa! – berrou quando um homem passou por ela.
Balançou a cabeça, riu novamente e continuou sua tentativa de chegar até a saída.

Quando estava relativamente perto, Elizabeth sentiu um braço circundando sua cintura.

— Me soltaaaa seu tarado! – berrou mais uma vez. Mas então ela viu quem era e riu. —
Ah, é voceeê!

Edward a guiou para fora do prédio. Ao saírem, o vento gelado da madrugada os atingiu.

— Você está bêbada?

Elizabeth não conseguia formular muito bem as suas respostas. Sua cabeça dava voltas e
suas pernas mal sustentavam seu peso. Ela olha para Edward e viu três em sua frente.

— Que droga... – murmurou. — Um Edward já me dá dor de cabeça. Três é demais!

Edward coloca uma mão na cintura e respira fundo, quando percebeu, ela se aproximou
até ele.

— Eeu não. Você que está... seu tarado! – soltou seu bafo alcoólico e riu quando Edward
virou o rosto. — Vem cá, Edzão... vou te chamar assim, porque todo mundo te chama assim.

Elizabeth o agarrou e riu como nunca. Edward não acreditava que aquilo estava
acontecendo. Quando imaginou que um dia veria Elizabeth Adams bêbada?

Ele iria se afastar, porém, aqueles braços em volta de seu corpo...

— Cadê a loirinha sem sal? – pergunta quase fechando os olhos. — Eu pensei que você ia
arrumar uma namorada mais bonitinha sabe!?

Edward a afasta e a segura pelos ombros.

— Ela não é a minha namorada. – disse com firmeza. Elizabeth arregala os olhos e ri mais
uma vez.
— Mentiroso... Você sabia que mentir é pecado? Já transou com ela?

Desta vez, Edward arregala os olhos, incrédulo com aquela situação. O que ele faria
agora? O certo seria colocá-la em seu carro e levá-la até o hotel, entretanto, não sabia onde
estava Anthony e não confiava de deixá-la sozinha naquele estado deplorável.

— Me responde seu babaca! – Elizabeth tenta estalar os dedos. — Você já dormiu com
aquela garotinha esquisita?

Edward se recusa a responder aquela pergunta. Nunca tocou em Serena, aliás, tentara uma
vez algo com outra mulher, sem sucesso, porém, aquilo era algo que Elizabeth não deveria
saber.

— Vem. Vou te levar para casa. – determina ao puxá-la pela cintura. Elizabeth se esquiva.

— Não senhor! – berrou. — Me conta! Você vai se casar com ela?

Edward fecha os olhos, pedindo a Deus um pouco de paciência.

— Não vou casar com ela. – replica sério — Agora vamos. Está frio e você precisa
descansar.

Elizabeth se esquiva mais uma vez, mas desta vez seu pé virou e ela caiu no chão com um
grito ecoando pela rua deserta. Edward se abaixa no mesmo instante preocupado com o que
poderia ter acontecido e, então, viu seus olhos cheios de água.

Elizabeth estava bêbada e vulnerável de uma maneira que só tinha visto duas vezes na
vida.

— Eu virei o pé. – murmura sentindo a dor aguda subir por sua perna.

Edward se ajoelha e rapidamente remove seus sapatos.

— Vou levar você para minha casa.

Elizabeth nega com a cabeça.

— Não... eu não quero sua ajuda.

Mesmo bêbada e vulnerável, ela não deixava de ser arrogante.

— Nem pensar! Vamos cuidar disso. – ele determina e se levanta, puxando-a de encontro
ao seu peito.

Elizabeth sentiu o choque do encontro de seus corpos e observa quando ele se abaixa e a
pega no colo. Ela não era pesada e, apesar da bagunça em sua cabeça, soube que continuava o
mesmo cavalheiro de antes.

Edward a colocou em seu carro e dirigiu a toda velocidade até um apartamento que
mantinha para quando quisesse fugir de todos. Olhou para o lado e viu que Elizabeth havia
pegado no sono.

Respirou fundo.

— Ótimo...

Estacionou o carro e a pegou no colo mais uma vez, fechando a porta do carro com o pé.
Com muita dificuldade, conseguiu chegar até o andar do seu apartamento.

Edward entra no local pouco iluminado e a coloca no sofá. Elizabeth não acordara,
mesmo com o barulho que fizera. Ele a fita por longos instantes e passa as mãos pelo cabelo.

Elizabeth se acomoda no sofá, como se estivesse em casa. Edward tira seu paletó e o
coloca em outra poltrona. Fica observando por mais alguns instantes e vai até o banheiro
procurar por produtos de primeiros socorros.

Essa era a segunda vez que ajudava Elizabeth com algum machucado. O primeiro, fora no
dia em que tentou salvá-la da tentativa de estupro e ela acertou um soco no rosto do próprio
noivo.

Edward pegou a bolsinha e volta para a sala, onde Elizabeth continuava dormindo. Ele se
aproxima e senta no sofá, puxando as pernas dela para cima das dele.

Seus olhos vagaram pelas pernas de Elizabeth e não conseguiu controlar seus
pensamentos. Olhou minuciosamente cada parte e tentou se livrar daquele desejo de tocá-la.

Sua ex chefe continuava linda, com um corpo esbelto e tudo no lugar, do jeito que ele se
lembrava. Respira fundo, amaldiçoou-se a si próprio e tratou de enfaixar o seu tornozelo.

Elizabeth abre os olhos e encontra Edward enfaixando seu tornozelo com todo o cuidado.
Sua mente ainda era um turbilhão.

— O que você está fazendo?

— Enfaixando seu pé.

Elizabeth puxa as pernas com rapidez e tenta se levantar, sentindo a dor a atingi-la de uma
só vez.

— Para com isso, Elizabeth! – Edward ralha ao se levantar e pegá-la pelo braço. — Estou
cuidando disso.

— Eu não quero sua ajuda! – disse contrariada. — Eu quero ir para casa. Você mentiu pra
mim.

Nesse momento, mesmo com sua mente em trevas, Elizabeth soube que não deveria ter
falado aquilo. Os olhos azuis de Edward se escureceram e ele a puxa com força de encontro ao
seu peito.

— Eu menti pra você? – pergunta com a voz rígida. — Você tem certeza que eu fui o
único que menti nessa merda toda?

Elizabeth arregala os olhos e sente seu perfume amadeirado. Seus olhos se enchem d’água
e tudo o que queria fazer era sair correndo dali, o mais rápido que pudesse.

— Me solta... – pronuncia lentamente.

— Eu não vou ter essa conversa com você nesse estado. – determina ao soltá-la. — Nós
vamos conversar, mas quando você estiver sóbria.

Dizendo isso, deixou-a sozinha na sala e se trancou em quarto. Elizabeth não aguentou e
soltou as lágrimas que tentava inutilmente segurar. Senta no sofá e se deixa afogar em seu mar
de miséria enquanto tentava encontrar meios de sair daquela confusão.

Edward bateu a porta do quarto e se aproximou da sacada. Olhou para a paisagem a sua
frente e respirou fundo. Toda vez que a encontrava se perguntava por que diabos inventou de
comprar aquelas ações. Podia ser considerado um masoquista, mas quando fez aquela compra
achou que estava preparado para encarar Elizabeth.

No entanto, agora começava a rever seus sentimentos. Ela o torturava, deixava-o louco e
sabia que aquilo não terminaria bem. Fecha os olhos e soube o que deveria fazer.

Elizabeth dormiria em seu apartamento e assim que ela acordasse lhe diria que não queria
mais aquelas ações e que a deixaria em paz. Assim, Elizabeth poderia voltar para Nova York e
ser feliz com Michael. Afinal, era Michael quem Elizabeth amava, não era?

Elizabeth abriu os olhos lentamente, tentando se acostumar com a claridade machucando


seus olhos. Uma dor irritante a atinge e afunda a cabeça no travesseiro. O que havia
acontecido? Não se lembrava de quase nada da noite anterior.
Levanta a cabeça novamente e olha ao redor.

Não estava em seu hotel. Onde estava?

Olha no criado mudo e constata seu celular. O pega e se não estivesse deitada na cama,
teria caído de costas. Passava do meio dia e sequer sabia onde estava.

Inúmeras mensagens de Anthony:

“Onde você está?”

“Desculpa ter deixado você sozinha, mas eu conheci uma gatinha que nossaaaa...”

“Lisa, você dormiu com o Edward? Safadinha!”

“Lisa, eu estou preocupado, onde você está?”

Elizabeth digitou uma resposta:

“Tony, primeiro: sinceramente não sei onde estou, vou descobrir e te aviso. Segundo: Eu
vou te matar por ter me deixado sozinha. Prepare seu caixão, cretino!”

Apertou a tecla de enviar e jogou o aparelho na cama. Elizabeth tenta se mover e


constatou seu tornozelo enfaixado. Deus, que confusão era aquela que havia se metido?

Foi então que a bile subiu e com rapidez se levantou, ignorando a dor em seu pé e correu
até o banheiro. Por sorte, conseguira abrir a tampa do vaso antes de despejar todo o conteúdo
de seu estômago.

Elizabeth vomitou até o que não queria e quando estava melhor, aproximou-se do espelho
e abriu a torneira, encheu sua mão com uma porção de água e jogou-a em seu rosto.

Olha seu reflexo no espelho e se desespera com o que encontrou. Estava aos pedaços.
Cabelos bagunçados, olhos vermelhos e inchados, maquiagem borrada.

Elizabeth seca o rosto, em uma toalha que estava pendurada, e volta para o quarto. Não
aguentando o cansaço e a dor de cabeça, se joga na cama, rezando para que não estivesse na
casa de um maníaco.

Batidas na porta chamaram sua atenção. Elizabeth ergue a cabeça e fica com medo do que
viria a seguir. Será que havia sido raptada por um magnata buscando vingança? Porque sim, já
tinha lido um livro sobre isso e não gostaria de estar na pele da pobre moça.

— Pode entrar!
A porta se abre e uma mulher entra. Ela aparentava ter na faixa de seus quarenta anos.
Elizabeth teme que realmente estivesse vivenciando o que lera naquele livro.

— Perdoe incomodá-la, senhorita. – a mulher disse com seu sotaque britânico. — Meu
lorde ordenou que lhe trouxesse o café da manhã assim que acordasse.

A mulher entra no quarto com uma bandeja cheia de alimentos. Elizabeth arqueia a
sobrancelha, tentando entender suas palavras.

Meu lorde...

Meu lorde...

MEU LORDE?

— Estamos na casa do Edward? – berra. A empregada a fita sem compreender.

— Sim, senhorita.

Elizabeth queria se afundar naquele colchão e nunca mais aparecer. Sua mente se lembrou
de parte das coisas que tinham acontecido.

— Onde ele está? – pergunta ao ver a empregada colocando a bandeja sobre a mesa de
canto.

— Meu lorde está no escritório. – disse ela ao se virar. — Mas seria bom a senhorita
comer algo.

— Eu quero falar com ele.

— Me desculpe senhorita, mas meu lorde não gosta de ser contrariado. Ele disse que a
senhorita deveria comer primeiro e depois viria até aqui.

Elizabeth queria mandá-lo ao inferno com suas ordens.

— Eu não sigo as regras dele. – avisa. — Mas me passa essa bandeja, estou morrendo de
fome.

A empregada abre um sorriso e a coloca no colo de Elizabeth. Foi então que percebeu que
a porta estava aberta e uma pessoinha as observava.

— Becky, por favor, espere na sala. – a empregada ralhou.

Elizabeth tentou olhar para ver quem era e viu dois olhinhos pequenos a encarando.

— Quem é ela? – pergunta à empregada.


— Lady Rebecca. Mas não se preocupe, vou levá-la para a sala.

— Não. – Elizabeth a puxa pelo pulso. — Deixe que ela entre.

A empregada hesita por alguns segundos até ceder.

— Tudo bem, mas se ela fizer algo pode me chamar.

Elizabeth assentiu e viu quando a empregada saiu do quarto, despejando ordens em cima
da menininha. Ela estava realmente curiosa para saber quem era aquela garotinha, foi então
que se surpreendeu quando ela se revelou, mostrando sua aparência quase idêntica a Edward.

— Você é a namorada do meu irmão? – a menininha se aproxima. Ela segurava um urso


entre os braços.

Elizabeth sorri.

— Não... eu sou uma amiga, quase inimiga. – balança a cabeça. — Mas isso não vem em
ao caso.

A menina a observa, curiosa.

— Quantos anos você tem, Rebecca?

— Seis. – disse ela, abrindo um sorriso e revelando suas covinhas. — E você, quantos
anos têm?

— Vinte e oito.

Rebecca sorri, mais uma vez, e se senta na cama, com as perninhas cruzadas.

— Você deveria comer, está com cara de fome.

Elizabeth se surpreende com a inteligência da garotinha. Apenas seis anos e se


comportava como alguém mais velho.

— Eu realmente estou com fome. Quer se juntar a mim?

A menina negou com a cabeça.

— Eu já comi.

O silêncio se forma enquanto Elizabeth comia e a menina brincava com seu urso. Sua
cabeça dava voltas tentando entender tudo aquilo. Não deveria estar em um Palácio? Por que
estava em um apartamento?
Foi então, que ao terminar seu café da manhã, a porta se abriu e viu o causador de todos
os seus problemas. Edward estava estupidamente bonito em um terno azul marinho, barbeado e
usando a fragrância que tanto adorava.

— Você veio! – Rebecca pulou da cama em direção ao seu colo. Edward a colocou contra
seu peito e sorriu abertamente.

— Eu vim. Mas o que você está fazendo aqui incomodando a senhorita Adams?

Rebecca se ajeita em colo e sorri discretamente.

— Ela é minha amiga agora!

Os olhos de Elizabeth se encheram d'água e ficou sem palavras. Edward a encara e ambos
não sabiam o que dizer. O clima subiu vinte graus e ele a colocou no chão.

— Becky, eu acho que você deveria ir para a sala, preciso conversar com a senhorita
Adams.

Rebecca assentiu e se vira para a mulher. Aproxima-se dela como se quisesse lhe dizer
algo, no entanto, ao se abaixar, Elizabeth foi surpreendida com um beijo no rosto.

Elizabeth segurou as lágrimas. Nunca havia conhecido uma criança tão doce quanto
aquela. Observou-a agarrar seu ursinho e sair correndo, com seus finos cabelos loiros voando
pelos ares.

Edward ainda a olhava intensamente e após Becky sair, ele confessou:

— Rebecca é minha vida.

— Ela é adorável. – concordou.

Edward enfia as mãos no bolso e suspira.

— Precisamos conversar.
Edward se senta na beirada da cama enquanto Elizabeth se ajeitava, dando-lhe mais
espaço. Ele não a encarou, porém, sabia que os olhos verdes estavam presos em seu rosto.

Elizabeth sabia que estava horrível e não gostaria que ele a tivesse visto dessa maneira.
Infelizmente, nem tudo saía conforme o planejado.

— Como está o seu tornozelo? – Ele perguntou por fim, virando-se para encará-la.

— Está melhor, obrigada.

Ele assentiu e buscou em sua mente as palavras que tinha ensaiado durante a madrugada.
Logo quando voltou para a sala, encontrou-a dormindo no sofá e jamais a deixaria naquela
posição desconfortável. Foi quando a pegou no colo e a levou para seu quarto. Quando
amanheceu, já estava decidido sobre o seu discurso, mas entrar lá e vê-la tão desprotegida o
desarmou de todas as maneiras possíveis.

— Eu preciso falar com Anthony. Ele deve estar preocupado.

— Ele já sabe que está aqui. – responde. — Está vindo buscá-la em algumas horas.

Elizabeth arregala os olhos.

— Algumas horas? Eu já deveria estar embarcando de volta para Nova York.

Edward deu de ombros como se aquela informação fosse irrelevante.

— Você vai me falar por que comprou as ações?


Ele já esperava aquela pergunta. Se estivesse no lugar dela, teria sentido o mesmo choque,
no entanto, não lhe daria muitas informações a respeito daquele negócio.

— Como pôde ver, - suspirou. — Eu posso investir no que eu quiser...

Elizabeth o corta.

— Por que não pega o seu dinheiro e investe no Mc Donald’s então?

— Teria sido melhor, suponho. – ele rebate. — Mas caso você não saiba, suas empresas
são muito valiosas e mesmo com essa crise, continuam dando lucro.

Elizabeth sabia daquilo, não era a toa que se mantinha no cargo de CEO. Entretanto, sente
uma pontada no seu coração ao ouvir aquelas palavras. Mais um que somente se interessava
pelo que ela tinha...

— Eu não quero o seu dinheiro, Elizabeth. – disse ele, como se tivesse lido seus
pensamentos. — Acredite, eu quero ajudá-la.

Elizabeth desvia o olhar, sem acreditar no que dizia. Ele queria ajudá-la? Se quisesse não
teria fugido que nem o diabo foge da cruz.

— Você mentiu pra mim. – disse duramente. — Você era e é um maldito aristocrata e em
quase um ano não teve a coragem de me falar isso!

Edward desvia o olhar, envergonhando-se por sua mentira.

— Eu tive meus motivos.

— Ah, sei. Seus motivos devem ser bem convincentes, não é?

Edward se levanta furioso.

— Eu não vou entrar nessa discussão com você. Eu nem mesmo quero falar sobre a
palhaçada que você fez na noite em que iríamos anunciar nosso namoro para todos!

Elizabeth sentiu o rancor naquelas palavras. Sim, uma hora eles deveriam falar sobre
aquilo. Mas quando? Assim, tão de repente?

— Você não faz ideia do que está falando. – murmura, ainda sem encará-lo.

Edward anda de um lado para o outro, passando as mãos pelos cabelos.


— É claro que faço! Não foi você que chegou no apartamento da sua namorada e a
flagrou anunciando o noivado com o ex que deveria estar morto!

Elizabeth ergue a cabeça, assombrada.

— Eu fui atrás de você!

Ele se aproxima, com a mágoa estampada em seu olhar.

— Não me interessa se você foi atrás de mim... aquela “coisa” entre nós, acabou naquele
instante.

E seu coração foi perfurado mais uma vez. Elizabeth sentiu as lágrimas ameaçando descer
por seu rosto, mas as segurou. Aquela “coisa” que ele se referiu, foi a única que a fez se sentir
viva nos últimos anos. No entanto, ela não iria chorar.

— Muito bem e por isso você resolveu mostrar que é o Todo Poderoso e quer mandar na
minha empresa.

Edward deu de ombros.

— Isso é o de menos. Nós vamos trabalhar juntos, espero que se adapte com isso.

— Nós já trabalhamos juntos uma vez...

— Eu não sou mais seu assistente. – ele a corta. — Agora somos nós, Elizabeth e Edward.
Eu não quero roubar o seu posto, mas espero que cada coisa que for feita passe por minha
autorização.

Elizabeth arregala os olhos.

— Como é que é?

— É isso que ouviu. Também estou voltando para Nova York e espero que me prepare
uma bela sala com uma vista excelente para o Central Park.

Dizendo isso, vira as costas e sai pela porta, deixando uma Elizabeth embasbacada para
trás. Ele nunca falara nesse tom com ela, o que havia acontecido com aquele rapaz alegre,
divertido que encontrara no ano anterior?

É claro, ele havia ido embora naquele momento que a viu anunciando um noivado de
mentira com Michael. Fechou os olhos, sentindo-se chateada demais para pensar em algo.
Deveria se levantar e dar um jeito de ir para sua casa. Que a maldita reunião fosse para o
inferno.

Edward sai do quarto com o coração em frangalhos. Odiava usar esse tom com a mulher
que amava, mas não lhe restavam opções. Não queria conversar sobre aquela fatídica noite
porque já sabia o que tinha acontecido.

Parou no meio do corredor e respirou fundo. Sua vontade era deixar seu orgulho de lado,
voltar até o quarto e tomá-la em seus braços, amá-la até se esquecerem de todos os problemas.

No entanto, ele sabia que o desejo não era mútuo.

Fecha as mãos em punho e só não socou a parede porque no fundo, ainda tinha um pouco
de autocontrole. Olha para o chão e encosta a cabeça na parede. Por que aquela mulher tinha
que mexer tanto com seu intelecto?

— Você está bem?

A voz conhecida de Serena encheu seus ouvidos e o tirou daquela depressão. Ergue a
cabeça e a olha.

— Estou sim. Onde está Becky?

Serena cruza os braços.

— Está lá na sala com aquele grandalhão idiota. Ele disse que é seu amigo, tem certeza?

Edward dá um meio sorriso.

— Tirando o soco que ele me deu, é sim.

Serena arregala os olhos.

— Foi ele? Meu Deus Edward! Como você o deixa entrar assim?

Edward deu de ombros.

— Esse assunto já foi resolvido.

— Entendo... – Serena resmunga. — E a metida? Ainda está dormindo?

— Não, ela já acordou. – suspira e volta a andar, porém, sua amiga continua parada como
se estivesse decidindo se ia falar com Elizabeth ou não. — Não vai vir?
Serena se voltou para ele com a sobrancelha arqueada.

— Tudo bem, vamos deixar a senhora metida se arrumar.

Antes que pudesse caminhar, Edward bloqueia seu caminho.

— Por que está agindo assim? – pergunta, encarando-a. Serena desvia o olhar. — Me
responda, que eu saiba Elizabeth não fez nada pra você.

— Ela machucou você e eu não gosto disso. – bufou. — Além do mais, ela é muito
metida.

— Não importa. – Edward disse. — Não quero que a trate mal.


Serena o encara como se aquilo fosse uma piada. A mulher o enganou, o usou e ele ainda
queria compaixão por ela?

— Você é um idiota!

— Eu devo ser. – concordou. — Mas nada justifica seu temperamento com alguém que
nunca lhe fez mal.

Dizendo tais palavras, abriu passagem para ela. Serena o encarou com os olhos
fumegantes, mas não retrucou. O que ela poderia dizer, afinal de contas? Ela sabia que Edward
ainda tinha olhos somente para Elizabeth.

Edward a segue até chegarem na sala, onde Anthony brincava com Rebecca. A menina
estava em seu colo contando onde ganhara aquele presente.

— Eu dei um igualzinho para minha irmã, mas ela já é bem grandinha.

A menina ergue os olhinhos azuis e riu.

— Quantos anos ela tem?

Anthony pensou por alguns instantes.

— Sei lá, uns cinquenta eu acho.

Rebecca arregalou os olhos.

— É muita coisa, não é?

Anthony assente e então desvia o olhar para Edward e a jovem bonita atrás dele.
— E aí Edzão. – colocou a menina no chão e o cumprimentou. — A Lisa já acordou?

— Já sim. – assentiu. — Se quiser entrar, ela está no quarto. O último do corredor.

Anthony olha para a jovem atrás de Edward que mantinha uma cara fechada.

— Posso ir junto? Eu gostei dela. – Rebecca pediu com sua vozinha animada.

— Você gostou dela? – Anthony a fitou. — Nossa, que milagre!

Edward riu.

Anthony pegou na mão da garotinha e ambos seguiram pelo corredor.

Anthony abre a porta e Rebecca pula na cama, ao lado de Elizabeth.

— Ahhh você voltou! – encara a menininha e sorri. — Tony, me leva embora, por favor!

Anthony suspira e se encosta no batente da porta.

— Vim para isso mesmo, mas se quiser ficar mais um pouco eu volto depois.

Elizabeth o fuzila com os olhos e acaricia os cabelos da menina.

— Eu quero que consiga um voo ainda hoje. Quero voltar para casa o mais rápido
possível.

Anthony se remexe no lugar e coça a sobrancelha.

— Você sabe que não adianta fugir dele, não é?

Elizabeth não entendeu.

— Fugir?

— Sim. Se você está pensando em voltar para casa somente para “fugir” dos encontros
com ele, esquece. Vocês estão atrelados, ainda mais agora que ele é sócio majoritário.
Elizabeth fecha os olhos e se pergunta como as coisas seriam de agora em diante.

— Ele pretende mesmo voltar para Nova York?

Anthony assentiu.

— E ele quer uma sala. Quer estar por dentro de cada detalhe, cada decisão.

Elizabeth olhou com desgosto para a menina ao seu lado, que brincava com seu ursinho e
nem imaginava as confusões que rolavam ao seu redor. Elizabeth invejou sua inocência e
desejou ser uma criança novamente.

— O problema é Michael. – suspira. — Como ele vai reagir quando souber disso?

Anthony se aproxima e também se senta na cama.

— Ele vai ficar louco, disso tenho certeza...

— Está vendo? Edward só quer me complicar!

— Ele quer te ajudar, tenho certeza.

Elizabeth arqueia a sobrancelha e resolve fazer a pergunta que queria saber desde que
saíram da delegacia no dia anterior.

— O que é que vocês conversaram, hein?

Anthony não iria revelar sua conversa com Edward. Se ele não fizera, é porque não queria
que ela soubesse. Respira fundo e acariciou os cabelos de sua amiga.

— Relaxa Lisa. – sorriu. — Lembra que eu falei que daria tudo certo?

— A única coisa que quero que dê certo nesse momento é o voo para Nova York!

Elizabeth já não sentia tanta dor no tornozelo quando Anthony voltou dizendo que
conseguira um avião particular. Depois do acidente de Michael, Elizabeth se livrou da frota de
aviões da sua companhia e passaram a alugar. Edward estava encostado no batente da porta,
com os braços cruzados.
— Vocês vão voltar sem fazermos a reunião? – pergunta descrente.

Elizabeth deu de ombros. Anthony toma a frente:

— Acho que é melhor resolvermos isso em Nova York. – esclareceu. — Veja bem, temos
que comunicar aos outros.

Edward assentiu.

— Então pode cancelar esse voo, nós iremos no meu avião particular.

Elizabeth o encara como se fosse um extraterrestre.

— Eu não vou no seu avião.

— E por que não? – Edward a encara cinicamente.

Ela bufa e olha para Anthony.

— Pode me deixar a sós com o lorde metido?

Edward se empertigou no lugar e engoliu em seco a vontade de retrucar.

— É claro. – Anthony deu um sorrisinho travesso e se aproximou de Rebecca. — Vamos


brincar com o tio Tony? Tenho alguns truques de mágica para te ensinar.

— Obaaaa! – Rebecca deu um pulo da cama nos braços de Anthony.

Foi impossível Elizabeth e Edward não sorrirem mediante a inocência da criança. Ela era
especial.

Anthony saiu com a menina no colo e passado alguns minutos de “fofurice”, Edward e
Elizabeth voltaram a se encarar como dois cachorros prestes a avançar no pescoço um do
outro.

— Eu entendi a parte que você disse que voltaria. - Elizabeth rosna. — Mas não entendi
que seria agora, já.

— Já ouviu falar que “tempo é dinheiro”?

— Edward! Você não pode voltar agora! Eu preciso... – tenta achar as palavras exatas
para lhe explicar que não poderia voltar antes que Michael soubesse.
— Ah entendi... – Edward suspira pesadamente. — Você precisa conversar com seu
noivinho, não é?

Elizabeth abre a boca para responder no momento que o homem tira do bolso seu celular
e o entrega para ela.

— Quer ligar para ele? Pode usar meu celular.

Seu sangue ferve no mesmo instante e pega o celular com raiva para depois jogá-lo com
força na cama.

— Você acha que está falando com quem?

Edward e Elizabeth travaram mais uma batalha. Nenhum dos dois ousou falar nada
enquanto seus olhos falavam tudo. Aquilo não passava de raiva, mágoa, ciúmes... Tudo o que
queriam era envolver-se nos braços um do outro e esquecerem todos ao redor.

No entanto, a mágoa ainda falava alto. Edward não conseguia esquecer que ela o trocara
por Michael. Elizabeth não conseguia apagar de sua mente que ele não era o que mostrava ser.
E não precisou nem de um segundo a mais para que o celular de Elizabeth começasse a tocar.

— Não vai atender? – ele pergunta com os dentes trincados. Já tinha visto o nome de
Michael na tela.

— Me deixe sozinha, por favor. – pede em voz baixa, o celular preso em sua mão.

Edward não queria, mas depois de longos instantes, bufou e saiu do quarto. Elizabeth
esperou alguns segundos até atender a ligação.

— Mas que droga! Não pode me deixar em paz um só dia na minha vida? – berrou.

— Heey... calma aí, querida. – disse ele calmamente. — Só liguei para saber como a
minha noivinha está.

Elizabeth revira os olhos, seria possível que a sua vida fosse mais merda do que já era?

— Tudo ótimo. – retruca com acidez. — E o que mais você quer?

Michael riu do outro lado.

— Eu sinceramente não entendo como aquele imbecil conseguiu gostar de você.

Nem ela entendia.


Respira fundo e pensa se era uma boa oportunidade para revelar as atuais circunstâncias
para seu noivo. Ele certamente surtaria.

— Vou embarcar ainda hoje e nós conversaremos amanhã.

Dizendo isso, não deu nem a oportunidade dele responder, apenas desligou o telefone.
Passou as mãos nervosamente pelos cabelos e olhou para o teto. “Deus, se Você estiver aí...
dai-me forças!”

As horas passaram rapidamente. Elizabeth e Anthony voltaram para o hotel e arrumaram


suas coisas. Viajariam durante a madrugada no avião particular da família de Edward.

Elizabeth ainda estava trêmula ao pensar que as coisas seriam muito mais difíceis de
agora em diante. Faltava pouco tempo para o seu casamento e nunca imaginou que Edward
estaria de volta para presenciar tal acontecimento.

Seu coração doeu ao ver a mágoa com que lhe dirigia a palavra. No entanto, ela não podia
revelar seus motivos. Não estava noiva de Michael por querer, mas sim coagida.

Suspirou pesadamente ao enfiar a última peça de roupa na mala. Poderia ter pedido para
algum empregado fazer, mas queria distrair sua mente que teimava pousar em certa pessoa de
olhos azuis.

Se não fosse o bastante lidar com a raiva nos olhos de Edward, teve que lidar com os
comentários desnecessários da loirinha petulante. Apesar de não gostar dela, ficou aliviada ao
constatar que não era sua namorada.

Após puxar o zíper da mala, se senta na borda da cama e respira fundo. Pega o celular e
navegar pela galeria até encontrar a foto que ambos tiraram em Coney Island.

Durante todos esses meses aquela foto foi alvo de seus olhares e lágrimas. Lembrou-se de
uma vez que a desafiou, dizendo que conquistaria seu coração. Ela duvidou e algum tempo
depois... caiu loucamente apaixonada.

“Como esquecê-lo se agora estará mais perto do que nunca?” Essa era a pergunta que
rondava sua mente.

— VAMOOS LISA! O CARRO JÁ ESTÁ NOS ESPERANDO!!!


Anthony grita do corredor. Elizabeth bufou e se levanta, mesmo com um pouco de
dificuldade, afinal, seu tornozelo ainda doía um pouco. Sabia que agora teria que ser mais forte
do nunca. Primeiro para se casar com um homem que não amava e segundo para proteger o
homem que amava.
Abriu a porta e encontra Tony e Dylan com uma mochila nas costas e sua habitual cara de
nerd.

— Quer ajuda, Chefe? – ele pergunta.

— Traga minha mala. – responde com seu mau humor subindo as colinas. Maldito dia em
que resolvera encher a cara.

Anthony a apoia e ajuda-a a se locomover enquanto seu novo assistente os seguia


puxando a mala de rodinhas. Eles entram no elevador em absoluto silêncio. Não ousava fazer
piadas sabendo que sua amiga estava uma pilha de nervos. Na verdade, ele também estava
preocupado. Em sua conversa particular com Edward, o chamou de louco por três vezes
seguidas.

Saem do elevador e caminham até o carro estacionando em frente ao hotel.

— Um veículo real? – comenta com ironia. — Até onde ele quer jogar na nossa cara que
é poderoso?

— Não preciso jogar na sua cara, querida. – disse Edward ao abaixar o vidro traseiro.
Elizabeth arregala os olhos e queria que um buraco se abrisse sob seus pés. — Boa noite para
vocês.

Anthony controla sua risada antes que levasse um cutucão de sua amiga. Pensando bem,
seria hilário ver os dois trabalhando juntos novamente. Edward desce do carro e fez menção de
ajudá-la.

— Nem chegue perto de mim, lorde metido. – Elizabeth rosna e ele se afasta, deixando
que Anthony cuidasse dela.

Elizabeth se acomoda no banco e bufa. Edward sempre fora petulante e agora, para piorar,
se achava o rei da situação. Elizabeth arqueia a sobrancelha e se pergunta se ele poderia
mesmo ser rei. Havia essa possibilidade?

Edward espera que se acomodem quando encara o rapaz de mochila nas costas.

— Vovocê que é o Edward? – Dylan pergunta.

Edward lhe estende a mão.


— O próprio.

Dylan respira fundo e seus olhos se encheram de admiração.

— Oouvi falar muito de você!

Edward arqueia a sobrancelha.

— Ah é? Ouviu coisas boas ou ruins?

— Coisas boas. – sorriu. — Ssou Dylan, novo assistente da da chefe.

Edward abre um sorriso e não conteve sua curiosidade.

— Está trabalhando para ela há quanto tempo?

Dylan toma fôlego e estufa o peito.

— Sete meses.

— Difícil aguentar esse gênio por tanto tempo, hein... – Edward brincou.

— DYLAN ENTRA LOGO NESSA DROGA DE CARRO! – Elizabeth grita, já furiosa


com aquela enrolação.

Dylan assentiu, mas antes de entrar no carro, se aproximou de Edward e lhe confessou
algo:

— Sou seu fã, cara.


O trajeto até o aeroporto não foi dos melhores. Edward e Elizabeth não trocaram sequer
uma palavra, enquanto Anthony tentava apaziguar o clima ruim fazendo algumas piadas bem
ruins.

Chegaram lá e na hora de sair do carro, mais uma vez Edward tentou ajudá-la, recebendo
um NÃO em voz bem alta. Anthony, contrariado, teve que seguir com a tarefa de ajudar sua
amiga teimosa.

Elizabeth estava de mau humor.

Não queria viajar no mesmo avião que Edward.

Não queria trabalhar com ele.

Não queria vê-lo nem pintado de ouro, essa que era a verdade.

É claro que ela o amava, mas na mesma medida, ele a irritava. Sem contar o fato de que
arrumaria um problema gigantesco ao revelar a notícia para Michael. Ele surtaria.

Edward não quis provocá-la mais do que já tinha feito desde que a encontrou. Mais cedo
quando entrou em seu quarto, seu propósito era um só: Acabar com aquela loucura de trabalhar
mais uma vez com Elizabeth. No entanto, ao vê-la, seu sangue ferveu e deixou seu maldito
orgulho falar mais alto, se rendendo mais uma vez.

Era um bundão, sabia disso.

Enquanto se aproximavam do avião, Edward avistou as duas pessoas que lhe importavam
naquele momento.
— Serena! Becky! O que estão fazendo aqui? – pergunta surpreso.

Ele se abaixa e abre os braços para que a pequena menina o abraçasse.

— Não pensou que só aquela despedida adiantaria, né? – Serena se aproxima.

Edward se levanta com Becky em seus braços e fitou a amiga com tom reprovador.

— Eu disse que não era para trazê-la.

Serena revira os olhos.

— Você sabe que essa mocinha é teimosa... e saímos sem que seus pais nos vissem.

— Me leva com você... – Becky pediu ao passar uma das mãos pelo rosto de Edward. —
Quero viajar também.

Edward a segurou com mais força.

— Eu não posso meu amor. É uma viagem de negócios, mas prometo que logo venho
visitá-la.

— Da última vez, você ficou quase dois anos sem aparecer. – Serena alfinetou.

Elizabeth e Anthony observavam a cena em silêncio. Em momento algum queriam se


intrometer no momento família/amigos.

— Essa menina até que é gatinha, né? – Anthony sussurra no ouvido de Elizabeth.

— Não acho.

Edward olhou para as duas e um clima pesado se instalou entre eles. Serena se vira para
Elizabeth com cara de poucos amigos.

— Saiba que eu sou contra essa atitude do Edward.

Coisa que não era novidade para Elizabeth.

— Por quê? – Pergunta com acidez. — Tem medo dele voltar para os meus braços?

Serena engoliu em seco a vontade de falar um palavrão. Edward arregalou os olhos com
vontade de gritar: “QUE DIABOS FOI ISSO?”. Anthony tossiu, tentando desviar o foco da
conversa mais uma vez.

— Ele não se rebaixaria a tanto. – Serena deu um meio sorriso. — Meu amigo sabe se
valorizar.
Edward ponderou se aquilo era verdade. Será que se Elizabeth desse uma brecha ele se
infiltraria novamente? Não. Não podia. Ele tinha que ser forte e mostrar a ela que não se
rebaixava aos seus caprichos.

— Eu acho que é bom parar de falar de mim. – Murmura ele. — Minha irmã está cansada
e nós temos que entrar nesse avião.

Elizabeth se aproxima e brinca com uma mecha de cabelo da garotinha.

— Adorei conhecer você, viu mocinha?

Becky olha para ela e estende os braços.

— Eu também gostei de você, moça.

Elizabeth a abraça e seus olhos se encheram de água mais uma vez. Será que um dia seria
capaz de segurar nos braços sua filha? Será que ela seria tão linda quanto Rebecca?

— Você é mais bonita do que na foto. – Becky disse ao se separar do abraço. Elizabeth
estranha e resolve perguntar:

— Que foto?

— A que meu irmão tem no cel... – porém, antes que terminasse, Edward a corta.

— Bom, é melhor irmos.

Elizabeth desvia o olhar para Anthony que apenas deu de ombros. Não iria tocar no
assunto, mas será que Edward ainda guardava aquela foto? Bem, isso não devia lhe interessar
desde que seu envolvimento seria estritamente profissional.

Edward coloca Rebecca no chão e vai até o avião para falar com o piloto. Anthony
também se abaixa para se despedir da garotinha.

— Olha aqui... – Serena se aproxima de Elizabeth. — Eu não fui com a sua cara porque
sei o que fez com ele.

Elizabeth sustenta o olhar e suspira.

— Você não sabe de nada, garota!

Serena cruza os braços.

— Eu sei mais do que imagina. Sei que ele ainda te ama e se não fosse por isso, não
estaria embarcando nesse maldito avião com você.
— E o que você quer que eu faça?

— Impeça-o. Diga que não o quer por perto...

Elizabeth respira fundo. Quem era aquela garotinha para entender as complicações da sua
vida?

— Eu já fiz isso! Você não entende não é? – Suspira, sentindo as lágrimas voltarem aos
seus olhos mais uma vez. — Eu amo aquele idiota. Você não faz ideia do quanto doeu ter que
destruí-lo.

Serena encara os olhos de Elizabeth e nesse momento soube que ela falava a verdade. Não
sabia quais os motivos que teve para fazer aquilo, mas se ela o fez, era porque o amava de
verdade.

— Fique tranquila. – Serena murmura após algum tempo. — Eu realmente não sei o que
aconteceu entre vocês, porque ele não me contou. Mas... – continuou. — Se vocês realmente se
amam, não há nada que consiga separá-los.

Elizabeth queria ser forte, mas naquele momento uma lágrima rola por seu rosto. Será que
o que eles sentiam realmente era amor? Será que não era só desejo? Será que nada podia
separá-los?

— Hey! Vamos pessoal! – Edward grita da porta da aeronave.

Rebecca se agarra entre as pernas de Serena e com acenos se despediram deles. Elizabeth
entra e vislumbra o luxuoso espaço. A porta se fecha e nesse momento soube que não daria
para voltar. Passa as mãos pela cabeça. Estava cansada, mal humorada e cheia de dúvidas.
Ainda mais com as coisas que a loirinha petulante lhe dissera.

Será que Edward a amava?

Como se dissesse “não quero ninguém perto de mim” se sentou na última poltrona, perto
do banheiro. Não era um lugar privilegiado, mas pelo menos, estava distante de Anthony e
principalmente de Edward.

Elizabeth pega na bolsa seu laptop e fones de ouvido. Não estava com ânimo para
trabalhar, então entra na sua conta da Netflix e procura por algum filme de seu interesse.

Durante boa parte do trajeto, Edward se mantém absorto em seus pensamentos. Mas é
claro que sempre vinham algumas perguntas na sua mente: O que estou fazendo? Por que
estou voltando para ela?

A verdade é que não tinha resposta para suas perguntas. Elizabeth era como um ímã e por
mais que quisesse ser duro e frio com ela, não conseguia. Sentia-se um imbecil, fraco.
Ele a amava.

Pega o celular no bolso de seu paletó e vasculha pela galeria até encontrar a foto que sua
irmãzinha mencionara. Passa o dedo pela tela e suspira pesadamente. Ele a queria mais do que
tudo nessa vida.

Olha discretamente para trás e lá estava ela, sentada na última poltrona atenta à alguma
coisa em seu laptop. Sua vontade era ir lá e puxá-la de encontro ao seu peito, fazendo-a
entender que era dele e de mais ninguém, mas infelizmente, ela tinha escolhido outro.

Elizabeth termina de assistir ao filme “A Proposta” com Sandra Bullock, que acabou lhe
arrancando alguns risos. Era engraçado como a sua vida se parecia com aquele filme. A
diferença é que no final eles ficavam juntos...

Não precisou erguer os olhos para saber que alguém estava ao seu lado. Aquele perfume
tão conhecido invadiu suas narinas. Ergue a cabeça e suspira.

Edward abriu um meio sorriso. Estava encostado na poltrona, com duas taças de
Champanhe nas mãos.

— Aceita? – Pergunta ao lhe estender uma das taças.

Elizabeth tira os fones de ouvido e resolve dar uma trégua.

— Aceito.

Sem que seus olhos se desgrudassem, pegou a taça e a levantou, claramente brindando a
algo, só não sabia o quê.

— À nossa parceria. – Edward disse como se tivesse lido seus pensamentos.

— Sim. À nossa parceria.

Eles brindaram e entornaram a taça. Cada um ficou em silêncio, mergulhado em seus


próprios pensamentos. Edward se senta na poltrona ao seu lado e Elizabeth não sabia o que
fazer, afinal de contas, nunca imaginou que o rapaz voltaria a aparecer em sua vida tão cedo.

Ergue a cabeça na poltrona, procurando por Anthony.

— Ele dormiu. – Edward esclareceu. — Só nós estamos acordados.

Elizabeth se perguntou o que ele queria dizer com aquilo. Será que... não, não era
possível. Ele a odiava, não?

— Anthony sempre dorme. – disse tentando quebrar aquele clima estranho. — Ele trouxe
algumas pílulas e bem, você sabe...

— Sim, eu sei. – Edward comenta divertido. — Da última vez, seu noivo ficou no trono
por muitas horas, creio eu.

Eles riram, mas ao mesmo tempo ficaram em silêncio. Aquele não era um assunto que
gostariam de mencionar, ainda mais quando nada estava explicado.

— Edward. – ela chama sua atenção. — Por que está voltando?

O que iria responder quando nem ele mesmo sabia?

— Eu já disse que investi na empresa, nada mais justo que eu participe das decisões.

Elizabeth o encara decepcionada com suas palavras, mas o que esperava afinal? Que ele
voltasse por ela? Que depois de tudo ele a perdoasse?

— Entendo. – murmura e toma mais um gole do Champanhe. — Boa sorte então.

Edward a fita de soslaio e a ve se acomodar em seu assento. Ambos permaneceram em


silêncio pelo restante da viagem. Não haviam palavras, somente sentimentos.

Conflituosos sentimentos.

Algumas horas depois, o avião pousou em Nova York. Elizabeth abriu os olhos
lentamente ao sentir alguém encostado em seu corpo. Olhou para o lado e se assustou ao ver
que Edward dormira com a cabeça encostada em seu ombro.

— Hey acorda! – o empurra. — Já chegamos!

Edward abre os olhos e volta à posição normal, sentindo uma dor absurda em seu
pescoço. Por Deus! Quantas horas ficara naquela posição?

— Meu lorde já chegamos. – o copiloto se aproxima.

Elizabeth se levanta e vai até o lugar onde Anthony estava deitado.

— Acorda dorminhoco. – o cutuca com carinho. — Já chegamos.

— Eu não gosto de acordar às três da madrugada. – resmunga ainda de olhos fechados.


— Temos que ir para casa.

Anthony abre os olhos lentamente e encontra o rosto de sua amiga.

— Por Deus, Lisa. – resmunga ao se levantar. — Como ousa me acordar a essa hora?

Edward observa a cena em silêncio. Sempre se perguntou como Anthony nunca desejou
Elizabeth como mulher. Ela, sem dúvidas, despertava a atenção por onde passava. Inclusive do
copiloto que a comia com os olhos.

— Eu acho que por aqui já está tudo certo. – se direciona ao homem. — Muito obrigado,
pode se retirar.

O homem assente e se retira, não sem antes dar mais uma boa olhada em Elizabeth, o que,
sem dúvidas, corroeu Edward por dentro. Odiou-se por ainda sentir ciúmes daquela maldita
mulher.

Anthony esfrega os olhos. Era hora de ir para casa.

Elizabeth pega sua bolsa e sai da aeronave. Sente a brisa da madrugada de encontro ao
seu rosto. Estava de volta e como nunca pensou que voltaria, acompanhada pelo culpado das
suas noites mal dormidas.

— Você já tem onde ficar, Edzão? – Anthony pergunta quando se aproximaram.

— Sim... não se preocupe. – responde com calma.

— Quer uma carona até lá?

Edward fita Elizabeth por alguns instantes.

— Não, meu motorista já está me esperando.

Elizabeth olha para a direção que ele apontava e constata a presença de um luxuoso carro
e um homem o esperando.

— Ótimo.

Anthony estende a mão e cumprimenta Edward. Elizabeth não fez questão, apenas deu as
costas e seguiu para o carro onde seu motorista estava. As coisas agora eram bem diferentes e
ela teria que lidar, em primeiro lugar, com seu noivo.
Após chegar em casa, Elizabeth se senta na poltrona da sala e abre uma garrafa de
Whisky. Não bebeu muito, afinal, não queria ficar bêbada. Queria estar bem sóbria quando
Edward entrasse naquela sala e anunciasse seu novo posto dentro da empresa.

— Meu Deus! O que está fazendo aí? – ouve a voz de Gwen descendo as escadas. — Faz
tempo que chegou?

Elizabeth vira o rosto para ela e sorri tristemente.

— Fazem algumas horas.

Gwen se aproxima elegante, como sempre. Seu cabelo loiro batendo o meio de suas
costas.

— Pelo jeito as coisas não estão boas. – cruza os braços.

— Talvez estejam sim. – suspira e desvia o olhar.

Gwen se senta na outra poltrona.

— Não vai me contar o que aconteceu?

— Edward voltou. – disse simplesmente.

A loira pensa não ter ouvido direito. Fica alguns minutos em silêncio absorvendo aquela
informação.

— O que você disse?

Elizabeth a encara.

— É isso que ouviu. Edward é o tal acionista majoritário e está de volta.

Gwen se levanta e anda de um lado para o outro.

Não era possível.

Não podia ser verdade.

Aproxima-se das grandes janelas do apartamento e fecha os olhos, com raiva. O que
diabos aquele sujeito estava fazendo de volta? Aquilo atrapalhava e muito seus planos... Ela
precisava dar um jeito nisso ou correria o sério risco de ser descoberta. Mas o que ela poderia
fazer para tirar Edward da jogada?

Olhou de soslaio para Elizabeth. Ela a odiava tanto...

— Seu casamento é daqui alguns dias. – disse sem se virar para ela. — O que pretende
fazer?

Elizabeth continuou sentada, com o copo da bebida em sua mão, se parecendo com uma
morta viva.

— O que pretendo fazer? – repetiu. — Não tenho o que fazer Gwen. Vou me casar com
Michael no final do mês.

A outra suspirou aliviada. Pelo menos o seu plano estava dando certo. Vira-se para
Elizabeth e se ajoelha em sua frente, segurando suas mãos como se realmente quisesse ajudá-
la.

— Michael te ama e vai fazer você feliz.

Elizabeth queria poder se conformar com aquelas palavras, porém, sua irmã não sabia de
nada do que estava acontecendo. Pelo menos era isso o que Elizabeth pensava.

— Tem razão. – suspira e se levanta, desvencilhando do toque de sua irmã. — Vou me


arrumar, o dia vai ser longo.

Gwen observa sua irmã deixar o copo em cima da mesinha de centro e se afastar, subindo
degrau por degrau da escadaria que levava aos quartos. Bufou quando ela já estava longe.

— Preciso dar um jeito nisso. – imediatamente pega o celular e disca um número.

— O que quer?

— Edward está de volta.

— O quê?? Do que está falando?

Gwen bufa e olha para os lados, para ver se não tinha ninguém a espiando.

— Não sei direito o que aconteceu, mas sei que Edward está de volta e é o novo acionista
da empresa.

— Desgraçado...
— Dê um jeito, Michael. – disse com rispidez. — Não pode haver falhas no nosso plano.

— Eu vou dar um jeito nesse babaca, tenha calma.

— Ótimo.

Dizendo tais palavras, Gwen termina a ligação bem a tempo de ouvir a voz de Anthony
ecoando pela sala.

— Oi Tony! – abre um sorriso fingido. — O que está fazendo aqui?

Anthony já estava arrumado, vestindo um terno cinza escuro.

— Oi Gwen... vim buscar a Lisa. – disse ele, encarando-a sério. — Você está bem?
Parecia nervosa no telefone.

Ela balança a cabeça negativamente.

— Ah... não é nada. Foi meu cabeleireiro que desmarcou meu horário e bem, eu fiquei um
pouco nervosa.

Anthony arqueia a sobrancelha.

— Entendo...

— Bem, a Lisa foi se arrumar. – sorri novamente. — Quer se sentar, comer algo?

A palavra “comida” tinha certo poder sobre Anthony, tanto é que apagou a sua memória
no mesmo instante.

— Opa, claro. – sorri. — Estou morto de fome mesmo.

Gwen sorriu e respirou aliviada ao perceber que Tony já esquecera da ligação suspeita.
Quase fora pega... quase.

— Eu vou pegar algo pra você. Senta aí... eu já volto.

O caminho até a empresa foi em total silêncio. Elizabeth ainda não sabia como agiria e
Anthony não queria se intrometer. Apenas pega em sua mão e sorri para ela, trocando aquele
olhar cúmplice que dizia: “Estou nessa com você”.
Elizabeth vestiu suas habituais roupas de trabalho e caprichou na maquiagem, já que não
conseguira dormir e as marcas de olheiras apareciam com facilidade em seu rosto.

— Preocupada? – Anthony pergunta quando já estavam no elevador.

— Sim. Tenho medo da reação do Michael.

O rapaz bufa ao ouvir aquele nome.

— Temos que achar um jeito de tirar esse cara da jogada. – resmunga. — Estou cansado
daquela cara nojenta.

Elizabeth ri e balança a cabeça negativamente. O elevador chega ao andar correspondente


e ambos saem, encontrando a empresa do mesmo jeito que antes. Funcionários correndo para
lá e para cá. Jane em seu posto com o headset no ouvido.

— Bom dia, senhorita Adams. – Jane a cumprimenta. — Recebi seu recado e a reunião
foi marcada para às onze horas.

— Bom dia, Jane. – responde com tranquilidade. — Ótimo. Michael já chegou?

— Ainda não, mas chegou algo para a senhorita. Está em sua sala.

Elizabeth arqueia a sobrancelha e olha para Anthony. Ele deu de ombros.

— E aí gatinha, não fala mais comigo? – Anthony se apoia no balcão e abri o seu famoso
sorriso sedutor. Jane revira os olhos.

— Senhor Carter, não caio mais nas suas graças.

Elizabeth não pôde deixar de rir do fora que seu amigo levara. Ele merecia, afinal de
contas, adorava brincar com os sentimentos alheios.

Após pegar alguns papéis, seguiu para sua sala e ao abrir a porta, foi surpreendida por um
buquê de rosas vermelhas.

— Mas o quê? – pergunta a si mesma.

Seu coração se acelera ao pensar que aquelas flores poderiam ser de Edward, embora não
quisesse se iludir. Deveria ser alguma brincadeira de Michael.

Com curiosidade, fuçou o buquê, em busca de um cartão. E finalmente o encontra. Suas


mãos tremeram ao pensar que ali poderia ter algo que melhorasse o seu dia.

“Eu poderia ter te mostrado a América


Todas as luzes brilhantes do universo.

Poderíamos ter alcançado as maiores alturas.

Um lugar diferente, uma vida diferente.

Lembre-se daquela noite debaixo das estrelas

Por um minuto, eu pensei que o mundo era nosso.

Tudo o que você tinha que fazer era me mostrar o amor.”

As lágrimas escorreram dos olhos de Elizabeth. Sim, aquelas flores eram dele. Fecha os
olhos e sente seu coração se apertar. Por que ele estava fazendo isso? Queria puni-la? Queria
magoá-la?

Essas eram as perguntas que rondavam sua mente.

Trecho de: Show me Love – The Wanted


Elizabeth guarda o bilhete em sua gaveta e respira fundo. Edward claramente jogava na
sua cara que o tinha enganado.

Deixou as rosas no balcão atrás de sua cadeira e tentou se concentrar em seu trabalho.
Tinha duas horas para se preparar até que todos chegassem para a reunião que deveria ter sido
realizada em Londres.

Claro que poucos participariam, pois a maioria dos executivos ainda estavam em Londres.
No entanto, ela estava pouco se lixando. Apenas queria que os mais importantes soubessem
daquela novidade aterradora.

Elizabeth estranha a ausência de Michael, porém, não ligaria para ele. Já seria demais ter
que aguentar seus berros quando soubesse que Edward estava de volta.

As dez e quarenta e cinco Edward e seu amigo/advogado chegam em frente ao prédio que
mudara sua vida alguns meses atrás. Retira os óculos escuros e dispensa seu motorista. Estava
na hora de voltar. Pra valer.

Sabia que milhares de perguntas o cercariam, mas será que estava preparado para
responder a todas?

— Preparado? – John pergunta.

Edward o fita de soslaio.


— Espero que sim.

Ambos riram e entram no grandioso prédio. Edward olha para os lados e ve que nada
tinha mudado. Inclusive, as mesmas recepcionistas estavam atrás do balcão, com um sorriso
nos lábios. Ele se aproxima, com John em seu encalço e quando elas o veem, arregalam os
olhos.

— Ai meu Deus! – uma delas exclama. — É você mesmo???

Edward apoia os braços no balcão e abre um sorriso sedutor.

— O próprio, em carne e osso.

As duas recepcionistas se entreolharam e riram.

— Meu Deus! Quanto tempo!

Elas se levantam sorridentes e abraçam Edward.

— Por que sumiu?

Edward suspirou.

— Olha, é uma longa história... mas meu amigo e eu temos uma reunião agendada com a
senhorita Adams.

Uma delas olha no computador.

— Tem razão. Mas aqui está como Edward James Phillips.

Edward assente e lhe entrega seu passaporte. A mulher olha no documento e volta a olhar
para ele. Não estava entendendo absolutamente nada.

— É uma longa história, como eu disse...

A mulher entrega o passaporte, boquiaberta.

— Pode subir. Você já sabe o andar, né?

Edward arruma a postura e sorri.

— É claro!

As recepcionistas se entreolham novamente enquanto ele e o advogado se afastam e


seguem para o elevador. Aquele lugar lhe trazia tantas sensações que sequer era capaz de
explicar.
Edward olha para John e respira fundo. Além de seu advogado, ele era um bom amigo, de
muitos anos. Quando Edward sumiu em Nova York, John ficou como louco atrás dele e
quando retornou à Londres, descobriu que seu amigo o tinha encontrado e passado todas as
informações para sua família, descobriu ainda que seu pai tinha colocado seguranças em seu
encalço.

— Eu nunca te disse isso, mas ainda quero te matar por ter me delatado ao meu pai.

John arqueia a sobrancelha e ri.

— Qual é o problema? Vai me dizer que ele ainda tira onda com a sua cara por ter
trabalhado para uma mulher?

Edward não precisava responder. Ele sabia que seu pai nunca pararia de falar sobre suas
escolhas.

— Ele só quer o seu bem.

O elevador abre no andar correspondente.

— Vamos lá, chegou a hora. – murmura para si, mais alto o suficiente para que John
ouvisse.

Edward sai do elevador e vislumbra o local que um dia trabalhou. Continuava da mesma
maneira. A mesma correria, os mesmos funcionários, exceto um ou outro que não apareceu de
imediato.

Aproximou-se lentamente do balcão, onde Jane estava distraída com o headset no ouvido.

— Bom dia, senhorita. Tenho uma reunião às onze horas.

Jane levanta os olhos azuis do computador e não encontra as palavras ideais. Arregala os
olhos e abre a boca em um perfeito “O”.

Edward se diverte ao ver a surpresa no rosto da jovem.

— Qual é? Não vai falar nada?

Ela ainda continuava sem reação. Ele estava um pouco diferente, com os cabelos mais
claros e sua roupa impecável, mas era ele, o mesmo Edward de sempre.

— EU NÃO ACREDITO! – Jane berra de repente, pulando de seu assento. — É VOCÊ


MESMO!!!

Edward sorri e abre os braços. Jane fez questão de sair de seu posto para poder lhe dar um
abraço.

— Como senti a sua faltaaaa! – Jane resmunga ao ser embalada nos braços do rapaz.

— Eu também senti a sua. Como você está?

Jane se separa dele e o olha da cabeça aos pés.

— Eu estou ótima, mas veja você, hã? Está muito elegante!

— É, nada que um bom banho de loja não resolva.

— Temos muito o que conversar viu! – Jane ralha. — E esse senhor aí, quem é?

John se coloca à frente de Edward e a cumprimenta.

— John Hughes. Sou advogado do senhor Phillips.

Jane olhou para Edward com a interrogação estampada em seu rosto.

— Temos muito o que conversar. – ele diz antes que ela perguntasse algo.

— Você não tem jeito né. – diz ela, em tom reprovador, porém, logo sorri e o abraça
novamente. — Tenho tanta coisa para te contar.

— Mas vai ficar para outra hora, Jane. – a voz de Elizabeth ecoou pela sala, fazendo com
que a jovem se separasse no mesmo instante. — Tenho uma reunião com o Lorde Phillips.

Edward e Elizabeth se encararam novamente. Ela usou o mesmo tom irônico de Londres.
Jane os olha, agora com duas interrogações, uma em cada olhar.

— Oh, sim... – se recompôs. — Vou guiá-lo até a sala de reuniões.

— Não precisa. – Elizabeth a corta. — Ele sabe o caminho.

Jane sente o clima pesado na sala e ve que era melhor voltar ao seu posto, antes que sua
chefe explodisse.

Edward se aproxima dela, ambos sem desviar o olhar um do outro. Pega a sua mão, levou
até os lábios e deposita um beijo demorado.

— Bom dia, senhorita Adams. Espero que tenha gostado das flores que lhe enviei.

Um dos funcionários que passava nesse instante, tropeça e derruba os papéis que
segurava. Elizabeth não sabia se estava vermelha, roxa ou qualquer outra cor, o que sabia, é
que ele conseguia constrangê-la de todas as maneiras possíveis.
— Sim. Muito bem. – responde secamente e puxa a mão de volta. — Agora vamos, não
quero que isso demore mais que o necessário.

Elizabeth sai na frente a passos firmes. Edward olha para seu amigo e ele ri de seu
atrevimento. John sabia o que havia se passado entre os dois e, como todos os outros, também,
foi contra sua atitude de voltar para Nova York.

Caminharam pelo corredor até a última sala, que era a de reuniões. Edward entra e se
surpreende ao encontrar as pessoas que fizeram parte de sua vida.

— Edzão! Você voltou mesmo! – Clara se levanta num pulo e corre para os seus braços.
Edward se surpreende e retribui o gesto, abraçando-a fortemente.

— É voltei. – disse satisfeito.

Gwen se aproxima, o encarando séria.

— Edward, é bom revê-lo.

Ele estranha o tom de voz empregado pela loira, porém, a cumprimenta e depois se dirige
a Jason. Todos tinham parte naquela empresa, então, era óbvio que suas presenças ali fossem
necessárias, além, é claro, de alguns acionistas que estavam em Nova York e a equipe jurídica
da Adams Corporation.

John não se sentiu desconfortável. Era um dos melhores advogados da Europa e estava ali
para ajudar seu amigo. Ambos sabiam que as coisas não seriam fáceis, mas estavam ali
dispostos a reverter aquela situação.

Elizabeth estava nervosa até o seu último fio de cabelo. Respira fundo e tenta não se
abalar pelas circunstâncias. Quando sai de sua sala, não esperava encontrar Jane nos braços de
Edward.

Ela sabia que não deveria sentir ciúmes, mas, maldito fosse aquele homem, queria odiá-lo
com todas as suas forças.

— Onde está Michael? – perguntou após todos se sentarem.

Edward olha para John e depois para os outros. Todos estavam em silêncio. É claro que
não gostaria de ter que aturar aquele sujeito mais uma vez, entretanto, estava curioso para ver a
reação de Michael.

— Anthony? – Elizabeth o chama. Ele deu de ombros.

— Eu vou saber onde está esse sujeito?


Com o sangue fervendo nas veias, aperta o ramal de Jane no telefone. Porém, não foi
necessário dizer nada, pois a porta se abriu e Michael entrou por ela, com o semblante sério,
seu terno bem alinhado e sua pose de “Senhor dos Senhores”.

— Ótimo. – Elizabeth resmunga e foi pega de surpresa quando a puxou pela cintura e
colou os lábios nos dela.

A cena chocou a todos, inclusive Edward que assistia tudo aquilo inconformado. Sua
vontade foi a de levantar e ir até lá dar um soco no olho daquele imbecil.

Elizabeth estava sem reação quando a soltou e alisou seu rosto.

— Senti sua falta, minha noivinha linda.

— Michael, o que é isso? – sussurra ao ver o olhar mortífero de seu noivo. — Estávamos
te esperando para a reunião.

Michael se aproxima em seu ouvido e sussurra:

— Temos que ter uma conversinha depois.

— Eu pensei que estaríamos em uma reunião de negócios. Se quiserem, procurem um


Motel. – Edward murmura insatisfeito.

Seu sangue fervia a cada segundo. Sua vontade era se levantar e arrebentar o rosto de
barbie de Michael, entretanto, era isso o que Michael queria e não lhe daria esse gostinho.

— Ora, vejamos só... Edward Smith, não é? – zombou. — Ah não... pelo que soube da
última vez, você era alguma coisa da rainha, não era?

Por baixo da mesa, John o cutuca para que se acalmasse e não entrasse no jogo do outro.

— Michael... – se levanta. — Da última vez que nos vimos você tinha acabado de
ressuscitar.

Elizabeth estava tão atordoada com aquela situação que apenas procura por Anthony. O
mesmo estava encostado em um balcão, com os braços cruzados assistindo o espetáculo.

— Tony, faça alguma coisa! – sussurra para ele. Anthony deu de ombros.

— Deixe-os está divertido isso!

Jason vê que Elizabeth implorava para que alguém interferisse antes que aquilo virasse
uma verdadeira guerra.
— Pessoal, eu sei que estão com saudades um do outro, mas vou precisar ir embora daqui
a pouco e... realmente gostaria de participar da reunião.

Michael olha para Jason com o mesmo olhar arrogante de sempre.

— Ótimo. Eu também estou ansioso para ver o que teremos de novidade.

Elizabeth engole em seco e agradece quando seu noivo se sentou na poltrona. Não queria
ter que encarar os olhos de Edward, sabia que estava magoado mais uma vez.

A reunião se iniciou e ela falou tudo o que estava acontecendo durante os últimos meses.
Dylan a auxiliou com a papelada e com os gráficos que ele sabia muito bem como montar.
Edward parecia ter esquecido o pequeno incidente, pois sua mente se concentrava em cada
palavra que aquela mulher dizia. Para ele, era fascinante observá-la, sempre com sua pose de
CEO daquela companhia. Dado momento da reunião, John se colocou em pé e anunciou os
direitos de Edward.

Todos o aplaudiram e desejaram boa sorte. Edward confessou que estava cheio de planos
e que com um pouco de fé voltariam a colocar as coisas no eixo. E então, chegou a vez de
Michael se pronunciar, como diretor financeiro, deveria prestar contas de tudo.

Dylan distribuiu uma pilha de relatórios para cada um dos participantes. Enquanto
Michael falava, Edward observou cada número e pelas suas contas, não batiam. Edward
sempre se dera muito bem com os números. Fazia apenas sete meses que ele tinha ido embora,
e pelas informações que obtivera, aquele relatório era surreal.

Edward voltou sua atenção para o que o homem falava e notou que algo não estava
normal. Michael nunca lhe passou confiança alguma, mas ele seria capaz de roubar sua própria
noiva?

Ele seria capaz de maquiar as contas?

Do que Michael Sanders era capaz?

— Então é isso senhores, espero que tenha ficado bem claro a nossa situação. – Michael
disse asperamente.

— Ficou claríssimo.

Dito isto, todos se colocaram em pé. Elizabeth se despediu de Clara, Jason e Gwen.
Michael a rodeou como se fosse um leão atrás da sua presa e ela, sinceramente, estava com
medo.

Edward aguardou um pouco, não queria colocar Elizabeth em maus lençóis, no entanto,
John lhe confidenciou que era melhor saírem, antes que a situação piorasse.
— Eu posso conversar um pouco com a Jane? – Edward pergunta ao se aproximar de uma
Elizabeth pálida, encostada na mesa.

— Sim, claro. – responde, fitando o nada. — Já está no horário do almoço dela.

Michael o fita ferozmente.

— Depois conversaremos sobre a minha nova sala.

Elizabeth apenas assentiu. Nesse momento, seu coração parecia querer saltar pela boca.
Estava com medo, não por ela, mas sim pelo próprio Edward e jamais se perdoaria se algo
acontecesse a ele. Deveria ter insistido para que não voltasse para Nova York.

Mesmo a contra gosto Edward saiu da sala e a deixou sozinha com o imbecil do noivo.
Dylan estava guardando os equipamentos em uma bolsa quando Michael o puxou pelo
colarinho da camisa.

— Cai fora daqui, moleque.

Dylan engole em seco e sai correndo. A última coisa que queria na vida era lidar com
Michael. Elizabeth fecha os olhos e orou a Deus em silêncio, para que acalmasse o coração do
homem.

— Então você acha que traria seu amante de volta, assim, para esfregar na minha cara?

Ela não respondeu, às vezes, o silêncio era a melhor alternativa, ainda mais quando o
homem próximo estava nervoso e não era nem um pouco confiável.

— RESPONDA! – berra ao socar a mão fechada na mesa. Elizabeth dá um pulo e fecha


os olhos.

— Eu não o trouxe! – tenta se manter calma, porém, a risada demoníaca de Michael a


atormenta.

— Você pensa que sou idiota, não é? – Michael murmura, puxando-a pelo braço. — Olhe
para mim.

Elizabeth abre os olhos, mesmo sem vontade. Michael a segura pelo maxilar.

— Eu te disse que ele sofreria as consequências...

— Não! Por favor! – Elizabeth tenta se desvencilhar do aperto. — Deixe-o em paz. Ele
veio por vontade própria... tentei afastá-lo de todas as maneiras possíveis.

Michael não se convenceu com aquela conversa. Em sua mente, acreditava que se Edward
tinha voltado era porque sua noiva tinha lhe dado esperança. Coisa que ele cortaria pela raiz.
Com brusquidão a soltou.

— Sabe Lisa... – disse calmamente, se recompondo. — Eu acho bom você dar um jeito de
afastar esse sujeito.

— Você sabe que não é assim, Michael! – berra. — Isso não é algo que está ao meu
alcance. Edward veio porque quis!

Michael se aproxima dela e a encara.

— Espero então que você se mantenha fiel ao nosso compromisso. Eu não quero ser
humilhado por você e seu amantezinho aristocrata.

Elizabeth sente as lágrimas queimarem seus olhos.

— Controle-se minha querida... ou seu querido Edward vai sofrer as consequências.

Despejando tal ameaça, Michael se afasta e sai da sala, deixando-a sozinha com seus
próprios conflitos. Seu peito ardia com a vontade de chorar, porém, tudo o que lhe restava era
ser forte. Estava condenada a se casar com alguém que não amava, alguém que a odiava e nem
sabia os verdadeiros motivos.

Lidar com aquela situação e com a frieza de Edward era demais para ela. Nunca pensou
que as coisas pudessem correr desta forma. Sempre sonhou em formar uma família, feliz, que
se reunisse nos feriados, que aproveitasse a vida da melhor maneira.

No entanto, o destino não parecia conspirar ao seu favor.

Edward saiu da sala de Elizabeth bem a tempo de pegar Jane de saída para o almoço.

— Hei! Me espera! – disse ao encontrá-la entrando no elevador. — Estou te devendo um


almoço.

Jane olha para o homem a sua frente e sorri.

— É claro, mas cadê o seu amigo?

Edward deu de ombros, entrou no elevador e aperta o botão correspondente ao andar


térreo.
— Foi ao banheiro.

Jane arregala os olhos.

— E vai deixá-lo sozinho?

— Sou babá dele, por acaso? – brinca. — Ele sabe onde me encontrar depois.

O elevador os deixa no térreo. Eles caminham lado a lado como bons e velhos amigos. É
claro que os olhares curiosos recaiam sobre eles, entretanto, tudo o que queriam era um bom
papo.

Edward e Jane saíram do prédio e caminharam pelas movimentadas ruas de Nova York.
Ele devia confessar que sentira falta daquilo, não que Londres fosse muito diferente, mas
muitas vezes não podia se dar ao luxo de caminhar livremente.

— Pelas suas roupas, acredito que você queira almoçar em um restaurante fino, não é?

Edward ri.

— Claro que não. Tudo o que quero é ir naquela barraquinha de cachorro quente que
frequentávamos antes, lembra?

— Claro que me lembro! Como posso esquecer?

Eles riram e continuaram caminhando enquanto Edward absorvia todo o clima da grande
cidade. A barraquinha não era tão longe, por isso logo chegam e fazem seus pedidos ao homem
que nem americano era.

Por sorte, a barraquinha ficava perto do Metropolitan Museum e ali podiam se sentar para
comer à vontade enquanto observavam o movimento da cidade.

— Finalmente. – Jane sorri ao se acomodar na escadaria. — Estou curiosa para ouvir sua
história.

Edward também se senta e, pela primeira vez, em sete meses, se sentiu uma pessoa
comum. Não podia negar que gostava da sua vida em Londres, mas aquela sensação de ser
uma pessoa sem títulos e regras, lhe parecia extasiante.

Mordeu seu cachorro quente com vontade... aquilo era como a comida dos deuses,
pensou com satisfação.

— Anda!!! – Jane o cutucou. — Me conta logo!

Edward riu, se deliciando naquele lanche cancerígeno.


— Ok, eu vou te contar.

Jane sorriu e só assim conseguiu comer o seu próprio lanche.

— Você já deve saber que não sou pobre, não é?

Ela assentiu.

— Com essas roupas, qualquer um sabe.

— Ok, ok. – Edward lhe confidencia. — Bom... eu sou sobrinho neto da rainha da
Inglaterra, caso não saiba.

Os olhos da moça se arregalam e por pouco não deixou seu lanche cair no chão.

— Você está brincando! – sussurra. — Cadê seus seguranças? Como assim você anda
livremente na rua?

Edward deu de ombros.

— Eu sou o filho do meio, as atenções quase nunca recaem sobre mim. E não é como se
eu estivesse no meu país.

Jane balança a cabeça, compreendendo.

— Mas me conta... que loucura é essa de vir trabalhar aqui? Sério! Você tem que me
contar TUDO!

— Eu não tinha uma boa relação com o meu pai e por isso resolvi seguir meus próprios
caminhos. É claro que ele surtou, mas quando já estava aqui, ninguém, além da minha mãe,
sabiam onde eu estava. – sorri ao se recordar. — Trabalhei algum tempo no MC Donald´s e,
acredite, isso me ajudou a compreender melhor a vida das pessoas.

Jane o observa com atenção enquanto se abria com ela.

— Então eu fui pego com uma garota lá e fui mandado embora. – balança a cabeça e ri.
— Até que encontrei o anúncio procurando um assistente para Elizabeth.

E a simples menção daquele nome o fez mergulhar em um mar de recordações. Lembrou-


se de pensar que a fama de megera se devia ao fato de ser uma velha que deveria estar em um
asilo.

— Seus olhos brilham quando fala dela.

Edward fecha o semblante.


— O quê?

Jane engole o último pedaço de seu lanche.

— Eu sei que o aconteceu entre vocês. Não precisa me esconder...

— O que você sabe? – pergunta interessado.

— Edward, eu não sou criança. – protesta balançando a cabeça. — Acha que eu não
percebi as suas trocas de olhares, os trabalhos até tarde... e devo confessar que eu vi vocês se
pegando na sala dela.

Edward nunca foi de se envergonhar, mas nesse momento, sentiu suas bochechas
esquentarem. Anthony bem que lhes advertira que um dia seriam pegos.

— Não precisa se envergonhar. – a loirinha deu uma batidinha em seu braço. — Eu fiquei
feliz por vocês.

E então, no mesmo instante o sorriso envergonhado se desfez. Edward se lembrou


daquela fatídica noite que seu coração fora despedaçado.

— Quer falar sobre o que aconteceu?

Com frustração, respirou fundo e desviou o olhar para o movimento à sua frente. Falar
sobre aquilo era difícil, ainda mais quando as feridas eram tão recentes.

— Ela me enganou. – disse, com a mágoa estampada na voz. — Elizabeth voltou para o
noivinho assim que ele apareceu.

Jane movimenta os lábios em uma linha reta.

— Olha... não sei o que aconteceu, mas sei que ela passou pelo inferno nesse tempo que
você estava longe.

— Como assim? – pergunta querendo saber mais.

— Michael... ele voltou muito mudado. – disse sem rodeios. — Antes ele fazia questão
de mostrar que gostava dela, agora, sempre grita com ela e a obriga fazer coisas.

— Como é que você sabe disso?

Jane revira os olhos.

— Como disse, eu sou secretária dela e consigo ter acesso a coisas que mais ninguém
tem.
— Você está dizendo que ela... está sofrendo com ele?

— Digamos que sim.

Aquilo não podia ser possível. Se Elizabeth estava sofrendo com Michael, por que diabos
estava com ele? Algo naquela história não estava cheirando nada bem...

— Eu já o vi saindo com outra mulher. – Jane confessou. — Bem debaixo do nariz da


Chefe.

— Mas por que ela está levando isso à frente?

Jane levantou um dos ombros.

— Eu é que sei? Esses ricos tem umas manias esquisitas.

Edward fecha as mãos em punho e sua vontade era pegar Michael pelo colarinho e lhe dar
uma surra que o mandaria de volta para o inferno, que era o seu lugar. Sua cabeça estava cheia
de perguntas.

Jane, vendo a sua confusão, resolve agir como um amigo de verdade faria. Pegou em sua
mão com delicadeza.

— Não sei o que você viu naquela mulher. – fala séria. — Se você gosta dela, por que não
luta?

— As coisas não são mais as mesmas. – diz relutante.

— Você já lutou uma vez, qual o problema em lutar novamente? Eu não sei... – suspira.
— Mas acho que ela ainda gosta de você.

O coração de Edward saltou nesse momento. Será possível que Elizabeth gostasse dele?

— Se ela gosta de mim, por que está com aquele imbecil?

Jane ri.

— Edward, aprenda uma coisa: As mulheres têm senso de proteção. Se algo aconteceu, é
claro que ela preferiu se colocar à frente de batalha do que envolver você em algo pior.

E novamente aquelas palavras ecoaram em sua mente. Será que fora tão estúpido e não
notou que algo ruim estava por detrás daquela história? Por que Michael voltou justamente
naquele dia? Por que em tão poucos minutos ela aceitara reatar aquele noivado? Ele sabia que
o coração de gelo tinha se quebrado naquela pequena viagem desastrosa. Aliás, ele sabia que
Elizabeth tinha se rendido naquele dia no restaurante, quando ameaçou virar as costas e desistir
do que sentia por ela.

Olhou para Jane e ela lhe transmitiu a segurança, a paz e a força que necessitava. Ele
amava Elizabeth? Claro que sim... no entanto, a mágoa não estava deixando-o ver com clareza.

— Eu vou ter que correr atrás dela de novo? – pergunta para si, alto o suficiente para que
ela ouvisse.

— Se você a ama de verdade, não vejo problema algum.

Edward assentiu e uma ideia tomou posse de sua cabeça.

— Me espera aqui, vou fazer uma ligação rápida.

Jane assente e ele se levanta, se afasta um pouco até que pudesse falar em seu celular à
vontade. Disca o número e leva o aparelho até o ouvido. Após alguns bipes, a voz conhecida
de seu amigo ecoou.

— Alô, John?

— Seu desgraçado, onde está?

Edward ri.

— Desculpa, eu saí para almoçar com uma amiga.

— Sei... mas fala aí, o que você quer?

— Lembra-se daquele cara que trabalhou na Scotland Yard e depois foi transferido como
consultor da Polícia de Nova York?

John fez silêncio por alguns instantes, puxando em sua memória.

— Ahhhh sei! Não me lembro o nome do sujeito, mas sei que o apelido dele era Sherlock
Holmes, de tão bom que o cara era.

Edward ri e pensa quem era imbecil ao ponto de usar um apelido desses.

— Esse mesmo. Eu preciso que o encontre... tenho um servicinho para ele.

— Pode deixar Edward. Vou providenciar isso o mais rápido possível.

— Obrigado, John.

Dizendo isso, desliga o telefone e pela primeira vez, a nota da esperança começa a tocar
em seu coração. Aquela história em torno de Michael estava muito mal contada e Edward
queria descobrir até o fundo.

Quem era Michael e o que pretendia?


Elizabeth passou o restante do dia compenetrada em seu trabalho. Havia muito o que
fazer, ainda mais agora, com Edward em seu encalço. Depois de se recuperar da fatídica
reunião, pediu à Jane para lhe preparar a nova sala.

Desliga o computador e olha no relógio, já se passavam das nove horas. Ficou tão
entretida com seu trabalho que se esquecera das horas, provavelmente, a maioria dos
funcionários já tinham ido embora e novamente estava sozinha.

Faziam menos de quatro dias que reencontrara Edward e sua vida já estava de pernas para
o ar.

Será que esse era o seu destino?

Achou melhor parar de pensar nas coisas e ir para sua casa. Estava cansada e um banho
lhe cairia bem. Levanta-se, pega sua bolsa e sai da sala.

Como já se era de se esperar, a maioria havia ido embora. As luzes já estavam quase todas
apagadas e somente o técnico dos computadores estava lá, fazendo uma pequena revisão nas
máquinas.

Não demorou para que chegasse em seu apartamento. Estava tarde e por isso não quis
incomodar Jofrey em relação ao seu jantar, ao invés disso, correu para sua suíte e após encher
a banheira, mergulhou naquelas águas tranquilas. A verdade é que nem fome tinha.

Sua vida estava um caos e desde que Edward havia ido embora, havia somente uma coisa
que a tirava daquela depressão. Olha no relógio do celular e, apesar de estar tarde, soube que
deveria ir até lá. Jason lhe confiara uma chave de sua escola de dança para quando quisesse ir
treinar.
Elizabeth saiu da banheira, se secou e vestiu roupas leves. Calça legging, camiseta regata,
cabelo em um rabo de cavalo alto. Estava pronta para sua “fuga da realidade”.

Saiu do seu quarto e não avistou nem sinal de Gwen, o que achou ótimo, afinal, não
estava a fim de falar com ninguém. Deus era testemunha de como seu dia havia sido um
inferno.

A escola de Jason não era tão longe, por isso, preferiu ir a pé. Uma boa caminhada não
lhe faria mal. Durante o trajeto, teve tempo para observar as pessoas, que em sua maioria,
pareciam felizes.

Turistas e moradores, todos misturados em um só propósito: viver e ser feliz.

Aquilo era pedir demais?

Elizabeth caminhou por cerca de vinte minutos até avistar o prédio onde se localizava a
escola de seu amigo. Uma das luzes estava acesa e estranhou, afinal, aquele não era dia e nem
horário para aulas.

Atravessa a rua, olha para os lados e enfia a chave na porta. Abre a porta, entra e acende a
luz da recepção. Uma música tocava de fundo, ela constatou.

Jason deve estar aqui.

Pensou em dar meia volta e ir embora, mas se fosse mesmo Jason, poderiam conversar
um pouco. Ela tinha sido cruel quando recusara participar daquele concurso. Mas, para a sorte
de todos, ele tinha encontrado outro casal que atendeu suas expectativas e conseguiu arrematar
o prêmio máximo.

Trancou a porta e subiu as escadas, degrau por degrau até chegar no corredor. Todas as
salas estavam fechadas, exceto a última, no final do corredor. Elizabeth engoliu em seco ao se
lembrar de que, naquela sala, dançou com Edward pela primeira vez.

Ela deveria ir embora. Se fosse mesmo Jason, ele deveria estar ensaiando e ela não queria
atrapalhá-lo de maneira alguma. No entanto, as coisas costumam acontecer iguais nos filmes
de terror onde a mocinha sabe que deveria voltar, mas mesmo assim cria coragem e vai até o
fim para ver o que está acontecendo.

Elizabeth era dessas.

A música aumentava conforme cada passo em que se aproximava. Abre a porta


lentamente e seu coração quase para ao ver o homem sentado no balcão. Jason ainda mantinha
aquele pequeno bar, para os alunos e algumas festas que costumava dar.

Edward estava distraído com a bebida e o som daquela música. No entanto, sentiu a
presença de alguém ali. Virou o rosto imediatamente e se surpreendeu ao ver quem era.

— O que está fazendo aqui? – ela pergunta, abrindo mais a porta.

— Faço a mesma pergunta.

Elizabeth balança a cabeça e... deveria ir embora. Não podia ficar ali sozinha com ele. Se
Michael imaginasse isso, estaria perdida. Aliás, todos eles.

Imediatamente vira as costas e sai da sala. Caminha apressada pelo corredor, porém, antes
que chegasse até a ponta da escada, sentiu Edward puxar seu braço.

— Me solta, Edward. – pede. — Eu vou embora!

Eles se olharam por longos instantes. Edward a solta e suspira.

— Não vá, por favor.

Elizabeth fecha os olhos no momento que o perfume amadeirado entra em suas narinas.
Sabia que não podia ficar ali. Era perigoso demais para seus sentidos.

— Eu preciso ir. – murmura.

Edward respira fundo e pensa em alternativas para convencê-la a ficar. Ele sabia que indo
ali tinha a chance de encontrá-la e mesmo sabendo que aquilo era perigoso, não conseguiu
resistir.

— Talvez eu devesse lhe propor um desafio.

A palavra “desafio” despertava algo dentro de Elizabeth. Ela nunca fugia de um. Não era
agora que fugiria. Ela abre os olhos e o encara.

— O que você pretende?

Ele ri, aquela risada que ela tanto adorava.

— Venha comigo e você vai saber...

Dizendo isso, estende a mão. Elizabeth sabia que se colocasse sua mão sobre a dele,
estaria assinando sua sentença de ir ao inferno abraçada com o capeta, mas quem disse que
resistia?

Edward fica satisfeito quando ela encaixa sua mão na dele e o fita com aqueles olhos
verdes que amava.

Ele a guia de volta para a sala onde estavam. Aquele lugar fora o começo de tudo, será
que também seria o recomeço?

— Quer beber algo? – disse ao soltar sua mão e se aproximar do pequeno bar.

— Não quero beber. Quero saber qual é o desafio?

Edward ri e pega o copo que havia deixado em cima do balcão. Ele a fita intensamente e
depois se aproxima.

— Não tem desafio algum. Eu queria que ficasse aqui.

Elizabeth fecha o semblante.

— Mas que diabos pensa que está fazendo?

— Eu disse que queria sua companhia... é errado isso?

Edward e suas artimanhas para conseguir o que quer.

— Primeiro que não tenho ideia de como conseguiu entrar aqui e segundo que não posso
ficar. Michael vai...

— Que droga Elizabeth! – Edward berra furioso. — Nós temos que ter essa conversa! Eu
estou morrendo por dentro e você parece estar satisfeita com isso!

Aquelas palavras perfuraram seu coração. Como assim ele estava morrendo? Mais do que
ela? Impossível!

— Você não sabe do que está falando. – nega com a cabeça. — Temos que nos distanciar.

Afasta-se alguns passos, tentando convencer a si mesma que aquilo era o melhor a se
fazer. Edward avança na frente e fecha a porta com um estrondo.

— Daqui você não sai se não conversarmos!

Seus olhos travaram mais uma batalha. Elizabeth queria sair dali correndo. Não queria
falar sobre aquele assunto. Edward precisava entender que iria se casar com Michael. É claro
que não lhe revelaria o quanto o homem era perigoso.

Aquela distância era necessária! Elizabeth precisava protegê-lo das loucuras de Michael.

— O que você quer conversar? – choraminga. — Não entende que eu te deixei?

Edward avança em sua direção, com os olhos raivosos.

— Me diga a verdade, Elizabeth. – ela recua na medida que ele avança. — Me diga que
você me deixou por que ama aquele imbecil. Se você me disser isso, com todas as palavras, eu
juro por Deus que viro as costas e nunca mais vou te perturbar.

Ele a prensa contra a parede e espera que ela diga aquelas palavras. Ele não podia
acreditar que ela amasse Michael. Não depois dele quase tê-la estuprado.

Elizabeth jamais conseguiria dizer que amava outra pessoa que não fosse ele. O homem
que ela amava estava ali, a encarando ferozmente, esperando que lhe arrancasse as últimas
esperanças.

Ela fecha os olhos, aspirando todo o perfume que emanava de seu corpo. Sua vontade era
chorar, espernear e sair correndo.

— Eu estou esperando. – diz ele. — Me diga que você não sente falta disso.

Passa uma de suas mãos pelos braços desnudos. No mesmo instante, ela se encolhe, como
se aquele toque fosse doloroso demais.

Edward encosta sua testa na dela, uma mão apoiada na parede e com a outra, enfia por
baixo da sua blusa, passeando pela curva de sua cintura.

— Me diga que não sente falta do meu toque.

Ela sentia falta de tudo... Dos toques, dos beijos, dos abraços.

Edward a tocou somente duas vezes, mas foram suficiente para marcar seu corpo e sua
alma.

Mesmo de olhos fechados, as lágrimas rolaram por seu rosto.

— Edward... por favor...

Ele deveria ouvi-la e deixá-la em paz, porém, a saudade queimava em seu peito,
consumindo-o de todas as maneiras. Ele sabia que era um idiota, mas as palavras de Jane
ecoavam em sua mente:

“Se já lutou por ela uma vez, por que não luta novamente?”

— Me diga que não sentiu falta dos meus beijos.

Edward desce os lábios pelo rosto dela, alcançando seu pescoço. Despeja beijos calmos e
quentes.

Elizabeth constata que não era e nunca seria forte o suficiente para afastá-lo. Ela o queria
mais que tudo. Os lábios dele em contato com sua pele, faziam sérios estragos em sua alma.
Levou as mãos até as lapelas de seu paletó e o puxa para ela.

— Eu não posso.

Seus olhos se encontraram mais uma vez e ele vê o medo estampado. Ele sabia que não
podia. Elizabeth estava compromissada com outro, mas sentia que ela não o amava. Ele
precisava daquilo, mesmo que fosse pela última vez.

— O que você não pode meu amor? – pergunta com a delicadeza que a faz se derreter em
seus braços.

Não fale assim. Como resistir quando ele me chama assim?

As lágrimas rolam de seus olhos, mais uma vez, e sem pensar nas consequências, se
entrega ao momento, puxando-o para seus lábios.

E aquele momento foi uma verdadeira explosão de sentimentos. Edward a segura pela
cintura e se afunda em seus lábios, provando da carne que tanto desejou durante esses
intermináveis meses. Suas línguas se moveram, sedentas por aquele beijo. Ah! Como sentiram
falta um do outro.

Nada entre eles estava certo, mas tudo o que precisavam era estar nos braços um do outro
e não havia nada ali que os impedisse. Elizabeth joga os braços em volta de seu pescoço e
deixa que ele a pegue a deite em um dos colchonetes espalhados pela sala.

Saudade e desejo, ambos sentimentos cruéis que corroem suas almas. Elizabeth sabia que
mesmo vestida da maneira mais simples possível, Edward ainda a desejava, pois sente o objeto
de seu desejo, quente contra seu corpo.

Edward separa seus lábios de um beijo frenético, para seguir beijando cada centímetro de
seu colo e quando a camiseta é um empecilho, não teve medo de puxá-la, revelando um belo
sutiã rendado.

Elizabeth sabia que era errado, mas não conseguia parar. Ela o desejava dentro dela,
levando-a para lugares que nunca imaginou. A razão e coração trabalharam em ambos os
lados, porém, ela escolheu ouvir seu coração.

— E se alguém chegar? – Pergunta com dificuldade.

— Não vai chegar ninguém.

Ele toma seu pescoço novamente e ela fecha os olhos. Já que não tinha mais volta,
empurra seu paletó.

— Você está muito vestido...


Edward a fita e abre aquele sorriso que lhe roubava o ar.

— Tem razão. – Se coloca de joelhos e tira o paletó, seguido da gravata e a camisa de


linho.

Elizabeth suspira quando o vê sem a camisa. Ele era um homem tão bonito... por que
estava ali? Por que estava atrás dela? Várias mulheres cairiam aos seus pés.

Por que eu?

Ele se abaixa para ela e a encara mais uma vez.

— Sentiu a minha falta?

Elizabeth não responde, apenas o puxa pelo pescoço, entrelaçando seus lábios mais uma
vez. Um beijo profundo, forte, apaixonado.

Edward continua suas carícias com os lábios e com seus dedos ágeis abriu o fecho do
sutiã. Elizabeth arfa quando a toca daquela maneira, tão íntima. Fecha os olhos e deixa que ele
a levasse naquelas sensações.

Ele a leva nas alturas quando envolve seus seios com os lábios. Beijando, mordiscando,
saciando-se na pele macia.

Com suas mãos ágeis, abre a fivela de seu cinto e se livra dele. Logo depois, abre o zíper
da calça e a abaixa. Elizabeth queria vê-lo completamente, queria matar a saudade daquele
corpo no seu.

Edward puxa sua calça legging enquanto sustentava um sorriso bobo nos lábios. Nem
acreditava que Elizabeth estava ali em seus braços. Ele a beijou novamente. Um beijo cheio de
sentimentos, de emoções. O momento era único.

Edward achou que seria forte o suficiente para mantê-la distante, para não desejá-la.
Achou que sua interferência na compra das ações se dava apenas por motivos fúteis. Chegou a
pensar que ela o tinha trocado por pensar que era pobre...

No entanto, vê-la em Londres o fez quebrar seu coração, trazendo à tona todo aquele mar
de sentimentos que mantinha. E mesmo sabendo que ela tinha um noivo, naquele momento
teve a certeza que ela não amava aquele idiota. Se ela o amasse, não estaria ali, entregue em
seus braços.

Ambos fecham os olhos e se perdem naquela montanha russa de sentimentos quando seus
corpos se uniram. Nada era capaz de descrever aquelas sensações. Uma verdadeira mistura de
saudade, paixão, entrega, dor. Elizabeth sabia que depois daquilo, se arrependeria até o fundo
da sua alma, mas não conseguiu controlar seu corpo que ansiava por Edward mais do que tudo
em sua vida.

Elizabeth envolve seu pescoço com os braços e permite que a levasse cada vez mais
longe, esquecendo-se de quem era e de onde estavam. Mesmo que não fosse o lugar mais
confortável, afinal, estavam deitados sobre um colchonete, no entanto, aquele lugar era
simbólico para ambos.

Ao fechar os olhos, mais uma vez, se lembrou do primeiro contato que ambos tiveram,
naquela dança ridícula, quando ele a fez se sentir como se fosse a única naquela sala, e agora,
sentia-se da mesma maneira com seu corpo unido ao dele e com aqueles olhos azuis,
admirando-a da cabeça aos pés.

— Eu senti a sua falta. – Confessa em seu ouvido, sentindo-se derrotada.

Edward a encara mais uma vez, seus corpos ainda unidos naquela dança lenta e
enigmática.

— Você sabe que eu também senti a sua.

Elizabeth agarra seu corpo forte com força enquanto ele se movimentava dentro dela. Ela
suspira e não pôde conter as lágrimas. Ele também havia sentido a sua falta... Por que as coisas
para ambos eram tão difíceis?

Ele beija cada uma de suas lágrimas.

— Não chore. Eu ainda amo você.

Dizendo isso, ele a leva mais uma vez naquela escuridão, fazendo-a se retorcer e alcançar
níveis que jamais atingira. Não lhe restavam dúvidas de que amava aquele homem. No entanto,
as coisas não seriam tão fáceis e quando tudo se acabou, Edward deita ao seu lado, puxando-a
para seu corpo exausto, mas com o coração e a alma em chamas.

O silêncio reinou no local, a música que antes tocava, já tinha se acabado. Foi nesse
momento que ela foi atingida pela dura voz da consciência.

O que foi que eu fiz?

Elizabeth se levanta, desesperada e apressadamente começa a vestir suas roupas. Edward


se senta. Não estava entendendo nada.

Eles tinham acabado de fazer amor. Por que ela estava desesperada daquele jeito?

— Aonde você vai?

— Vou para casa. – responde ela ao vestir sua calça legging.


Ele se senta, incrédulo com a frieza na voz de Elizabeth. Como ela podia agir daquela
maneira depois de tudo o que fizeram?

Edward passa as mãos pelo rosto e respira fundo. Ela estava certa.

Como ele queria que ela agisse logo após ter traído seu compromisso? Mesmo que não
fosse por amor. Perante todos, Elizabeth era noiva de Michael.

— Elizabeth, espera... eu... te levo. – tenta soar compreensivo, mesmo que sua vontade
fosse tomá-la novamente.

A voz da consciência é dura demais. Disposta a segurar suas lágrimas, vira-se de costas
para ele enquanto vestia sua blusa.

— Não é necessário. Eu vou de táxi.

Edward se sentia um tolo. Levanta-se, veste sua calça e antes que ela saísse, puxa seu
braço.

— O que é que aconteceu?

— Não é nada! – ela puxa seu braço de volta. — Está tarde e eu preciso voltar para casa.

Elizabeth não podia ficar ali um segundo sequer, brincara com o perigo e colocara a vida
dele em risco. Se Michael imaginasse que ela estava ali com sozinha com Edward.... Não
queria nem pensar nas consequências.

— Lisa, - ele pronuncia seu apelido. — Você está muito alterada. Acalme-se um pouco,
nós precisamos conversar sobre o que aconteceu aqui.

— Não. Não precisamos! – ela determina. — Você precisa voltar para Londres e me
deixar em paz!

Aquelas palavras lhe soaram como um tapa no rosto. Edward não acreditava que depois
do que tinham feito, ela fosse agir dessa maneira, tão infantil.

— Não é isso o que você quer! – disse ele já perdendo o resto da sua paciência.

Elizabeth anda de um lado para o outro, segura suas lágrimas e pensa em alguma maneira
de fazê-lo entender que aquilo era o melhor.

— É o que precisa ser feito.

E dizendo tais palavras, da maneira mais fria possível, vira as costas e sai da sala. Edward
permanece parado por um bom tempo olhando para o nada, esperando que talvez ela voltasse,
até ouvir o barulho da porta do andar de baixo abrindo e fechando.

— Maldição! – Vocifera ao perceber que não voltaria.

Elizabeth fecha a porta atrás de si e sai pelas ruas, atordoada e sem saber o que fazer.
Havia sido um erro! Nunca poderia ter se entregado a Edward daquela maneira, sabendo que
estava comprometida com outro.

Michael não prestava, mas ali estavam em jogo o seu caráter, sua criação, seus
ensinamentos. Sem falar que a situação que enfrentava era muito delicada. Michael era
perigoso.

As lágrimas rolam por seu rosto mais uma vez. Se Michael os descobrisse? O que seria de
ambos?

Caminhou feito louca, esbarrando em pessoas. Tenta colocar seus pensamentos em


ordem, mas nada tirava o medo que a consumia. Assustada e sem saber por qual direção ir,
entra na avenida sem olhar para os lados e percebe somente quando o farol a ilumina e já não
sobra tempo para o motorista frear.
De todas as coisas que Edward acreditou que poderiam acontecer em sua vida, aquela,
definitivamente estava fora dos planos. Duas semanas haviam se passado desde o infeliz
acidente com Elizabeth e agora estava ali, sentado em sua sala, perguntando a Deus como sua
vida poderia ficar pior.

Sentia-se culpado por não ter ido atrás dela. Sentia-se culpado pelo que fizeram, por tê-la
deixado sem saída. Fechou os olhos por alguns instantes e deixou sua cabeça cair para trás.
Não suportaria perdê-la.

Seus olhos derramaram as lágrimas que segurou por todas essas malditas duas semanas.
Elizabeth não podia deixá-lo... não podia morrer.

Seu coração estava apertado e sua gravata parecia querer lhe enforcar. Seca os olhos com
as costas da mão e se levantou. Vira-se para as grandes janelas atrás de si e admira a linda
paisagem que sua sala lhe proporcionava. Precisava fazer algo... levá-la para o melhor hospital,
com os melhores médicos.

A pergunta era: Como?

Michael proibira a sua entrada no hospital, mesmo não tendo direito algum sobre
Elizabeth. Gwen, sua única parente viva, achou melhor acatar seu pedido, alegando que ele,
afinal de contas, ainda era seu noivo.

Edward não acreditou que Gwen fosse ficar ao lado daquele imbecil, mas ela disse que
não poderia fazer nada. Os únicos com quem podia contar era Anthony, Jason e Clara, que lhe
traziam notícias todos os dias. E mesmo assim, Anthony também fora proibido de visitá-la.

Elizabeth estava em coma e os médicos alertaram que aquilo poderia durar dias, semanas,
meses ou... anos.
Não sabia o que doía mais: Ver a possibilidade de que Elizabeth nunca acordasse ou ver
que sua irmã e Michael continuavam os preparativos do casamento. Era nojento.

A que ponto eles queriam chegar?

— Posso entrar? – ouviu a voz de Anthony atrás de si.

— Já entrou, não é? – murmura. Anthony respira pesadamente.

— Edzão... você não é o único que está sofrendo com essa situação. Elizabeth também é
tudo pra mim e não sei o que vou fazer da vida se nós a perdermos.

Edward se vira para ele e o encontra totalmente diferente do Anthony que havia
reencontrado duas semanas antes. Estava mais magro, pálido e claramente se via que não
pregava os olhos, assim como ele próprio. Os dois sofriam por aquela situação.

— Me desculpa, Tony... eu...

Ele ergue a mão.

— Não precisa falar, eu te entendo.

Edward se encosta na mesa e passa uma das mãos pelos cabelos desgrenhados. Há essa
altura do campeonato, estava pouco se lixando para cortes de cabelo.

— Tem alguma notícia dela? – pergunta por fim.

Anthony se senta na poltrona em frente à mesa.

— Continua na mesma. Consegui falar com Clark e ele me disse que ela aparenta estar
apenas dormindo. Ele está otimista que a qualquer momento ela acorde.

— Deus queira que sim. – suspira e também se joga em sua poltrona. — Você precisa
conseguir que me deixem entrar naquele hospital.

— Você sabe que não sou eu que mando nessas coisas. Por mim, você estaria ao lado dela
todos os dias. O problema é Gwen e Michael.

Edward soca a mesa.

— Mas que diabos ela pretende acatando as ordens daquele imbecil?

— Não faça perguntas difíceis. Gwen me disse que pela mentira que você contou a nós,
não é digno de estar perto de sua irmã.

Edward se levanta furioso.


— Aquela loira de farmácia sabe quem eu sou? Eu posso muito bem dar um jeito de levar
Elizabeth daqui!

— Tenha calma cara... tudo vai se resolver.

Derrotado, senta-se novamente e coloca a cabeça entre as mãos. Até o momento, não
tinha se aberto com ninguém sobre o que acontecera na noite do acidente. Talvez essa fosse a
hora.

— Vamos lá... já sei que quer se abrir. – Tony tenta. — Você não me disse como foi que
conseguiu socorrê-la.

Edward fecha os olhos e se recorda daquela noite.

“— Por que Elizabeth tem que ser tão teimosa? – murmura consigo enquanto vestia suas
calças. — Ela não entende que eu a quero?

Com agilidade, veste suas roupas e coloca o paletó. Olha no bolso e vê que horas eram.
Tarde demais... deveria ir para casa.

Mesmo frustrado e com raiva, a procuraria no outro dia para conversarem. Eles tinham
muito o que falar, inclusive, sobre a sua mentira no ano anterior. Edward sabia que com
orgulho, nunca chegariam a lugar algum e, sinceramente, não estava disposto à perdê-la para
Michael.

Edward pega a chave da porta sobre o balcão e após dar uma olhada ao redor e constatar
que não havia nenhum vestígio do que haviam feito, deu uma risadinha satisfeita. Depois teria
que conversar com Jason sobre as imagens nas câmeras de segurança.

Sua esperança era de que o lugar onde tinham feito amor, não estivesse no alcance da
câmera ou... algumas pessoas teriam se deleitado com um showzinho particular.

Fecha a porta e sai. Caminha pelo corredor até que sentiu uma pontada em seu peito. Por
Deus, a última coisa que precisava agora era de um infarto. Parou, encostou a mão na parede e
respirou fundo algumas vezes. Após se recuperar, voltou a andar. Desceu as escadas e apagou
a luz da recepção. Saiu para a rua, fechou a porta e trancou. O vento gelado o atingiu e se pôs a
caminhar.

Em sua mente, buscava meios de fazer as coisas darem certo de agora em diante. Foi
então que ao se aproximar da esquina, viu uma movimentação. Um círculo de pessoas se
formou e ele soube que era um acidente.

Edward não gostava de ver acidentes, mas algo o deixou curioso.


— É uma mulher! – um casal passou ao seu lado, correndo de encontro à movimentação.

Ele sentiu um frio no estômago e apesar da vontade de ir para casa, algo o puxou até
aquele círculo. Infiltrou-se no meio das pessoas até chegar ao miolo e, então, seu coração
quase parou.

— ELIZABETH! – Berrou, alucinado. — SAIAM DE CIMA, EU CUIDO DELA!

Nesse ponto, sua mente já não trabalhava de acordo com suas ações. Ajoelha-se ao seu
lado sem saber o que fazer e nem como agir, o desespero tomando conta de cada veia.

— JÁ CHAMARAM A EMERGÊNCIA???

— Já sim. – um dos envolvidos falou. — Eles estão vindo.

Edward fora ensinado que não podia mexer em um corpo acidentado. No entanto, seu
desejo era pegá-la em seus braços e lhe mostrar que estava ali pronto para dar sua vida pela
dela.

— Ela foi atropelada. – um homem gorducho falou. — Eu vi... mas o sujeito fugiu e
deixou ela aí.

Lágrimas picaram os olhos de Edward e nesse momento achou melhor o sujeito ter
fugido, senão, ele teria o matado com as próprias mãos.

Não demorou para que a ambulância chegasse. A equipe de socorristas contava com três
membros. Dois deles fizeram os preparativos, colocando Elizabeth com segurança em cima da
maca, enquanto o outro era o motorista.

— O senhor é parente da vítima? – um deles perguntou.

— Sou um amigo.

— O senhor nos acompanhará até o hospital? – perguntou mais uma vez. Edward quis
responder: É CLARO QUE VOU MEU FILHO!

— Sim, eu vou.

Eles assentiram e após colocarem Elizabeth dentro da ambulância, Edward entrou e se


sentou. Aquela cena o chocou mais do deveria. Nunca imaginou que um dia veria o amor de
sua vida, naquela situação.

A ambulância se pôs a correr pelas ruas de Nova York, enquanto os paramédicos faziam
os procedimentos necessários.
Edward tentou segurar sua mão, no entanto, precisou dar espaço aos profissionais que
estavam ali para cuidar dela.

— A pulsação está caindo. – um deles comentou ao olhar para o aparelho. — Rápido,


vamos!

O que aquilo significava? Edward olhou para o aparelho e viu seus batimentos
diminuindo. Meu Deus, Elizabeth não podia deixá-lo.

— Afaste-se senhor. – um deles exigiu enquanto o outro abria suas roupas rapidamente.

Ao pegarem o desfibrilador, Edward entendeu que ela estava deixando-o. As lágrimas


desciam sem parar e tudo o que podia fazer naquele momento, era rezar para que Deus lhe
desse mais uma chance.

“Não a tire de mim... por favor.”

— 1, 2, 3...

— Vamos lá, mais uma vez!

— 1, 2, 3...

De repente, sua oração silenciosa pareceu ter sido ouvida, pois no mesmo instante o bip
no computador voltou ao normal. Os paramédicos se entreolharam e suspiraram aliviados.

— Ela voltou. – um deles o comunicou.

Edward secou suas lágrimas e foi o tempo para que chegassem até a área de desembarque
de pacientes do hospital. A porta se abriu e com rapidez eles transferiram Elizabeth da
ambulância para outra maca e a levaram para dentro do hospital.

Ele correu, acompanhando-a até onde pôde. Na recepção, já haviam sido informados para
que chamassem o doutor Clark, pois de imediato reconheceram-na.

— Daqui o senhor não pode passar. – o enfermeiro o parou. — Agora nós cuidaremos
dela.

Edward assentiu e viu quando Clark correu, vestido com suas roupas brancas. Ele não
teve tempo para cumprimentá-lo adequadamente, queria apenas salvar a vida de Elizabeth.”

— Aí depois você ligou pra mim? – Anthony perguntou, mergulhado naquela história.

Edward bufou.
— Sim... eu não tinha o telefone da Gwen, talvez seja por isso que ela ficou com raiva.

“Após uma longa espera, Anthony chegou, acompanhado por Gwen. No primeiro
instante, Edward pensou que ela entenderia a situação, porém, não estava preparado para o
tapa que a loira lhe desferiu no rosto.

— Eu quero você longe da minha irmã!

Anthony e Edward se entreolharam assustados. Que diabo tinha incorporado no corpo


dela?

— O quê? – perguntou descrente.

— Toda vez que você está por perto, as coisas saem do controle e ela fica ferida. Não
bastou você ter ido embora e dado as costas? Seu mentiroso de merda!

— Gwen, acalme-se... – Anthony pediu, porém, ela estendeu a mão, claramente


mandando que ele se calasse.

— Elizabeth não precisa de você. Ela precisa de Michael e eles vão se casar assim que ela
acordar.

Edward estava assustado com o jeito de Gwen. Nunca lhe fizera nenhum mal, por que
estava tratando-o dessa maneira?

— Gwen, olha... – tentou se explicar, porém, ela foi dura em sua decisão.

— Eu disse que quero você fora daqui! – disse ameaçadoramente. — Se não sair eu vou
fazer um escândalo nesse hospital e vão tirá-lo daqui a força!

Todos os que estavam na recepção se entreolharam, assistindo o pequeno circo. Edward


respirou fundo e controlou seu nervosismo.

— Eu vou, mas eu vou voltar. – determinou ao encará-la friamente. — Eu amo a sua irmã
e vou lutar por ela.

Gwen não respondeu. Edward virou as costas e saiu do hospital, arrasado em seu próprio
mundo. Nunca pensou que as coisas poderiam chegar a esse ponto.”

— Ela está mais calma... talvez consiga convencê-la deixar você entrar. – Anthony
murmura.

— Se você não conseguir, vou dar meu jeito.

Anthony arqueia a sobrancelha.


— Planos mirabolantes? Sabe que é comigo mesmo!

Edward riu, apesar dos momentos difíceis que estavam vivendo naqueles dias, Anthony
ainda conseguia manter um pouco do bom humor.

— A Lisa vai voltar para nós. Você vai ver.

Batidas na porta os tiraram de seus devaneios. Apesar de tudo aquilo, ainda tinham que
manter o foco na empresa. Sem Elizabeth ali, as coisas se tornaram mais difíceis, afinal, ela
sempre fizera o trabalho duro e contar com Michael sendo CEO temporário, as coisas se
tornavam piores ainda.

— Pode entrar Dylan.

Edward já conhecia suas batidas. Três batidas rápidas de uma só vez a cada dez segundos.

Dylan entrou, com seu terno que parecia ter servido a um defunto.

— O senhor Sanders deseja vê-lo em dez minutos.

Edward revira os olhos.

— Ele acha que manda e desmanda em mim a hora que quer?

Anthony ri e deu de ombros.

— Vai lá ver o que ele quer... quem sabe ele deixa você ver a Lisa.

— Só se acontecesse um milagre. – bufa e joga a caneta em cima dos papéis. — Vou lá


ver o que aquele escroto quer.

Anthony assente e Edward se levanta. Deu um tapinha no ombro de Dylan.

Pobre menino... agora com Elizabeth longe, não teve como escapar das mãos sórdidas de
Michael.

Edward não bate na porta antes de entrar, na verdade, estava pouco se lixando para
formalidades com aquele idiota. Michael ergue os olhos escuros arrogantes e abre um sorriso
diabólico.

— Vejo que ainda acata as minhas ordens. – disse ele, com ironia.

Edward jurou que tentaria se controlar para não cometer um assassinato. Definitivamente,
não queria que Elizabeth acordasse e estivesse condenado à prisão perpétua.

— Meu tempo é muito precioso para suas ironias, meu caro.


Michael sorri novamente.

— Entendo... mas primeiro gostaria de falar sobre a reunião que temos depois de amanhã.

— Eu já sei sobre a reunião.

— Sim, você sabe. – Michael repete. — No entanto, não acho que seja necessário a sua
presença.

Edward arqueia a sobrancelha.

— Você acha que não?

— Acho.

— Pois eu acho muito necessário a minha presença. – Edward devolve. — Veja bem, não
é algo que você acha... é algo que a empresa necessita.

Michael fecha o sorriso irônico. Sabia que nunca conseguiria competir com Edward em
alguns quesitos, afinal de contas, ele era mais poderoso do que todos ali juntos. As alianças
políticas sempre falavam mais alto.

A sua sorte era que Edward não queria fazer uso dessas forças. Ele era orgulhoso demais
para recorrer à sua família.

— Veja bem, eu não entendo a necessidade de você trabalhar aqui. – Michael despejou
seu veneno. — Eu entendo que investiu seu precioso dinheiro aqui, mas... se o seu propósito
era voltar para reconquistar Elizabeth, pressinto que o tiro saiu pela culatra.

Edward cruza os braços e o encara seriamente.

— Você acha que o tiro saiu pela culatra?

— Acho.

Edward ri e balança a cabeça negativamente.

— Eu não diria isso... – não deveria falar aquilo, mas não perderia a chance de devolver a
dose de veneno. — Sabia que eu tive uma noite muito agradável com a sua noiva minutos
antes do acidente?

Michael fecha o semblante e se levanta, furioso.

— De que diabos está falando?


— Pois é... eu não diria que o tiro saiu pela culatra quando ela claramente sussurrou o
meu nome, em meus braços, minutos antes do acidente.

Se Michael pensava que o provocaria e ficaria tudo bem, estava enganado. Edward sabia
como devolver uma provocação.

— Sabe Edward... posso entender o que aconteceu, afinal, Elizabeth nunca valeu muita
coisa, apesar de sua fortuna.

Aquela foi a gota d’agua. Edward avança em sua direção, disposto a lhe socar o outro
lado da face, entretanto, Michael foi mais rápido e desviou.

— Calma rapaz! – ri com escárnio. — Falar dela te irrita, não é?

Se Michael não calasse a boca, sairia daquela sala dentro de um caixão. Edward respirou
fundo várias vezes, tentando se controlar.

Michael se encosta na estante que antes acomodava algumas fotos e que agora estava
vazia.

— Eu tenho uma solução para nós dois, meu caro. – Michael disse por fim. — Vai me
poupar um bom trabalho.

— Do que está falando, idiota?

Michael anda alguns passos ao redor de Edward, medindo seu temperamento. Na verdade,
não o tinha chamado ali para provocá-lo, porém, aquela oportunidade lhe era irresistível.

— Elizabeth morre e nenhum de nós fica com ela. Seria um ótimo desfecho para essa
disputa. O que acha?

Edward o encara boquiaberto. Estava surpreso e assustado ao mesmo tempo.

— Você está louco?

Michael sustenta o olhar por longos instantes. Balança a cabeça negativamente e ri.

— Estou brincando. Acredite ou não, eu amo a Lisa.

“Ahhhh ama muito!” Edward teve vontade de retrucar, porém, achou melhor se calar
antes que aquela conversa saísse dos limites. Se é que essa palavra ainda existia no dicionário
de Michael. Que tipo de amor era aquele?

— Tudo bem. – ele se rende. — A proposta que eu quero te fazer é outra.


— Desembucha logo! – Edward vocifera, perdendo todo o restante de paciência.

Michael volta ao seu lugar, que na verdade, usufruía sem ter direito algum. Senta-se
despreocupadamente na poltrona e fita Edward.

— Você quer ver a Elizabeth?

E que raio de pergunta era aquela? É claro que daria tudo para vê-la. Como se adivinhasse
seu pensamento recente, Michael sorri.

— O que você faria para poder vê-la?

Tenta pensar em um milhão de respostas, faria tudo para ter um tempo com ela. Em duas
malditas semanas estava à beira da loucura por estar longe.

Michael sabia disso e pretendia jogar com ele.

— Pois bem... eu permito que você a veja, mas com uma condição.

— Qual. Maldita. Condição?

Depois de alguns segundos pensando se falaria ou não, decidiu por jogar a merda e ver
qual seria a reação do homem.

— Que você seja padrinho do nosso casamento.

Edward queria voltar a fita e ver se aquilo que ele ouviu tinha sido real. Michael com sua
tremenda cara de pau o tinha convidado para ser padrinho de seu casamento com Elizabeth?
Que espécie de ser humano ele era?

Michael ri novamente.

— Vamos Edward, me responda! Não tenho todo o tempo do mundo.

Se não fosse por sua boa índole teria o matado ali mesmo. Como Michael Sanders
conseguia ser tão cretino?

— Você só pode estar brincando. – ri, tentando achar graça naquela conversa. — Você é
um bom contador de piadas, viu?

Michael fecha o semblante.

— Eu não estou brincando. Se você não aceitar, não vai poder ir visitá-la.

Ele nunca concordaria com uma bizarrice daquelas. Com raiva, vira as costas e se dirige
até a saída.
— Eu quero que você vá para o inferno, desgraçado! – disse, com ferocidade ao alcançar
a porta. — Ah! E se acontecer alguma coisa com Elizabeth, pode ter certeza que eu te caço até
no inferno se for preciso!

Dizendo tais palavras, sai e bate a porta com força. Aquilo era o cúmulo e não estava
disposto a entrar nos joguinhos daquele sujeito.

Afasta-se em direção à sua sala viu que estava vazia. Tranca a porta e pega o celular. Já
havia passado a hora de começar aquelas investigações.

Chegou à constatação de que Michael era um homem muito perigoso e que nem ele, nem
Elizabeth tinham percebido isso. Ele não era simplesmente louco, era um bandido e
provavelmente tinha uma ficha suja.

E isso, ele descobriria, nem que tivesse que cavar até a última sepultura.
“Se Deus te desse só o amanhã

Pra sentir o que nunca sentiu, sentiria?

Qual seria sua última oração?”

Cartas ao Remetente – Rosa de Saron.

“— Lisa! Vamos querida, você precisa provar o seu vestido... – Rose, uma das
empregadas a chama do outro lado da porta. Elizabeth estava tão nervosa que nem consegue
sair do banheiro.

Deixou seu celular no chão e levanta do assento do vaso sanitário. Caminha até o
espelho e se observa. Uma espinha maldita tinha crescido em seu queixo bem no dia do baile
de debutantes.

Como isso era possível? Era um presente dos deuses? Porque se fosse, ela realmente
passaria para outra pessoa.

— Senhorita Adams? – a empregada grita mais uma vez.

Elizabeth revira os olhos.

— EU JÁ VOU! ME DEIXE EM PAZ!

Silêncio se fez do outro e Elizabeth suspira ao apoiar as duas mãos na bancada de


mármore. Seus cabelos estavam uma bagunça, suas olheiras acentuadas, sem contar com o
péssimo humor que lhe atingira.

Sabia que deveria estar feliz, afinal de contas, aquela era uma data comemorativa. Os
bailes de debutantes eram festas gigantescas, organizadas para apresentar as jovens à
sociedade. Seus amigos da escola passaram o último mês preparando seus trajes com os
melhores estilistas do mundo. Ninguém ousava aparecer nesse tipo de evento com qualquer
roupa.

— Que droga, eu estou horrível. – murmura com desgosto. — Se me verem com essa
espinha vai ser o meu fim.

Três batidas na porta a enfureceram mais uma vez.

— EU JÁ DISSE QUE ESTOU INDO! QUE DROGA!

— Filha, sou eu. Abra essa porta, por favor.

Elizabeth engole em seco ao constatar que era Charles, seu pai. Com certo receio,
destranca a porta e gira a maçaneta.

— Oi pai... eu já estou indo. – murmura com um sorriso amarelo. Charles ergue as duas
sobrancelhas, conhecia muito bem a sua filha.

— O que está acontecendo? Rose me disse que não quer sair do banheiro já faz mais de
uma hora.

Elizabeth se deu por vencida.

— Ah pai... olha essa espinha gigante no meu rosto! Eu não posso ir à festa desse jeito.

— Claro que pode! – Charles a interrompeu. — Que eu saiba paguei os melhores


maquiadores...

— Não é a mesma coisa! – fez um beicinho. — Eles não vão conseguir tirar isso de mim e
vai aparecer nas fotos.

Charles respirou fundo, sabendo que teria que ter a maior paciência do mundo com sua
filha. Adolescência era a fase mais complicada de um ser humano e, por infelicidade do
destino, ele tinha que lidar com isso sozinho, afinal, sua querida esposa não estava ali para
ajudá-lo.

— Filha... você sonhou com esse baile durante toda a sua vida e agora vai desistir?

O baile de debutantes era, sem dúvidas, um dos grandes sonhos de uma menina, seguido
por seu casamento. Elizabeth mudou o peso da perna e suspirou, seu pai tinha razão.
— A sociedade não perdoa uma falha, querida. – ele murmurou com carinho ao passar o
indicador em seu queixo. — E essa não é a Elizabeth que eu criei.

— Tudo bem! – se rendeu, erguendo as mãos para o alto. — Eu vou sair desse quarto e
arrasar nesse baile.

Charles sorri e admira a sua filha por alguns instantes.

— Eu tenho certeza que vai.

Elizabeth sai do banheiro e se joga nos braços de seu pai.

— Você vai ser o pai da debutante mais linda desse universo.

Charles ri e gira o corpo abraçado com sua filha.

— Eu já sou. Você é a minha razão de viver. Agora vamos, você ainda precisa ir até o
estúdio de dança para ensaiar uma última vez.

— Eu preciso mesmo. – se separa do abraço de seu pai. — Mamãe não me perdoaria se


eu fizesse feio.

— Não mesmo. – Charles ri. — Sua mãe era madrinha e defensora desse evento com
unhas e dentes.

Elizabeth se senta na cama e suspira.

— Tudo bem que eu preferia que tivessem me colocado com outra pessoa ao invés do
Michael. – revira os olhos. — A Gwen vai dançar com o Tony e eu preferia ter feito par com o
Julian, lembra-se dele papai?

Charles riu.

— Claro que lembro. Aquele sujeito que passeou com você na limusine para baixo e para
cima, não é?

— O próprio. – Elizabeth riu, lembrando-se da pequena aventura. — Nós estávamos com


os seguranças dele, papai.

— Mas estavam bêbados! – Charles ralhou. — Eu jamais perdoaria aquele moleque se


tivesse acontecido algo com você.

— Jamais aconteceria. – ela tentou tranquilizá-lo. — Agora quem vai dançar com ele é a
idiota da Valerie.
— Michael é um bom rapaz, filha. – ele disse, aproximando-se. — E gosta de você. Ele
quer se casar e formar uma família, já me confessou isso.

Elizabeth deu de ombros, nesse momento o que menos queria era falar sobre Michael.
Seu relacionamento com ele vivia entre altos e baixos, algumas vezes, mais baixos do que
altos. Ela odiava suas crises de ciúme e seu jeito possessivo.

— Eu amo Michael, papai. – suspirou. — Mas as vezes, ele me sufoca com aquele ciúme
doentio.

Charles se aproximou, beijou o topo da cabeça de sua filha e sorriu.

— Ele é ainda é jovem demais, mas não quer dizer que vai ser assim para o resto da vida.
Michael está com a cabeça em formação... tudo o que acontece agora terá consequências no
futuro. Seja paciente com ele.

Elizabeth assentiu e deixou a tristeza de lado.

— Agora se me der licença, preciso me preparar para um grande baile esta noite!”

Clark anotou alguns dados na prancheta que estava em suas mãos, enquanto observava os
batimentos cardíacos de sua paciente. A cada dia parecia que o quarto do hospital se tornava
mais frio.

Deixou a prancheta de lado e lamentou profundamente. Elizabeth e ele se conheceram


mais jovens, e ele, assim como tantos outros, ficou fascinado por sua beleza e inteligência.

Ela nunca fora como as outras garotas, apesar de ser da elite, ainda assim, mantinha
alguns princípios, tanto é, que nunca conseguiu seduzi-la. Por algum motivo, que ainda
gostaria de descobrir, ela se manteve fiel à Michael durante muitos anos.

Agora vê-la naquela situação lhe cortava o coração. Elizabeth tinha um futuro pela frente
e não merecia perder a vida, sendo ainda, tão jovem.

Clark não sabia exatamente o que havia acontecido, mas tinha certeza que a única pessoa
que deveria estar ao seu lado nesse momento não era Michael, mas sim Edward.

— A situação ainda é grave? – ele se virou após ouvir a voz de Anthony.

Anthony, depois de tanta insistência havia conseguido autorização para visitá-la.


— Um traumatismo craniano nunca é algo simples. – murmura. — No entanto, acho que
esse tempo é necessário para ela se recuperar.

Anthony fecha a porta atrás de si e se aproxima.

— Não há nada que possa ser feito? Por Deus, Clark, já fazem quase três semanas!

O médico respira fundo.

— Um coma não é algo que temos controle, Anthony. Eles podem durar alguns dias,
meses ou anos. Isso só depende do paciente.

Anthony engole em seco. Jamais desejou que isso acontecesse com Elizabeth. Queria vê-
la feliz e longe de todos aqueles problemas.

— Precisamos dar um jeito de conseguir que o Edzão venha vê-la.

— Eu estava pensando isso mesmo... é um absurdo que Gwen proíba sua entrada.

— Gwen está me saindo pior que uma bruxa. – Anthony disse, com desgosto. — Mas
precisamos dar um jeito e você vai me ajudar.

Clark encara o homem como se fosse um alienígena.

— Olha aqui... eu estou quase conseguindo a vaga para ser o responsável por esse hospital
e não vou arriscar isso.

— Nem por Elizabeth?

O médico desviou o olhar e fita a mulher deitada na cama. Não era nem sombra da
Elizabeth que conhecera anos atrás.

Ela precisava de Edward, mas não podia fazer aquilo. Se Gwen descobrisse e o
denunciasse, poderia dar adeus à chance de sua vida. Não estava a fim de colocar aquilo em
risco. Anthony deveria dar seu jeito.

— Eu gosto da Lisa e faria de tudo por ela, mas entenda, eu não posso colocar minha
carreira em risco. Sinto muito.

Dizendo isso, pegou sua prancheta, virou as costas e saiu do cômodo, deixando Anthony
sozinho.

Ele se aproxima do leito e pega na mão de Elizabeth. Deposita um beijo e se lembrou de


todas as coisas que eles passaram juntos. Apesar de considerá-la sua melhor amiga, Anthony se
lembrou de uma situação especial em que considerou conquistá-la.
É claro que aquilo seria um terrível erro. Edward era o homem certo para Elizabeth, disso
ele não tinha dúvidas.

— Acorda logo Lisa, nós precisamos de você.

“— Senhorita Adams! O senhor Michael está aqui!

Elizabeth revirou os olhos. O que ele queria desta vez? Ela havia deixado bem claro que
só o veria no baile. Preferia ir sozinha com sua irmã ao ter que aguentá-lo com suas atitudes
possessivas.

Olhou-se no espelho mais uma vez. Estava bonita e por sorte, conseguiram esconder sua
espinha com maquiagem. Ela deveria ser grata aos céus por ter essas oportunidades.

Usava um vestido creme, rodado e um corpete com alguns diamantes bem pequenos
espalhados. Era o vestido dos sonhos, feito especialmente para ela, por um dos grandes
estilistas do mundo da moda.

Seus cabelos estavam presos em um coque solto, com alguns fios caindo em volta de seu
rosto. Os lábios pintados com um batom vermelho, que era a sua cor favorita.

— Você está linda.

Elizabeth se virou e encontrou Michael parado na soleira da porta. Ele usava um traje de
gala que lhe caia perfeitamente, contrastando com seus cabelos e olhos escuros.

— Você também não está nada mal.

Michael se aproxima.

— Eu sei que você está chateada comigo e eu não te culpo por isso. Eu tenho sido um
babaca desde que nos conhecemos, mas entenda, eu não posso perdê-la.

Ele tomou seu rosto entre as mãos.

Elizabeth respirou fundo.

— Michael... eu acho que nós deveríamos terminar.

— Não fala isso. – ele pediu docemente. — Eu quero sempre estar ao seu lado. Eu te amo
como nunca amei outra garota. Você não entende isso?

Michael colou sua testa na dela e suspirou.

— Me perdoa, eu vou tentar mudar.

Elizabeth fechou os olhos. Ela realmente queria acreditar que ele poderia mudar.

— Você sempre diz isso. Odeio que me sufoquem.

— Hoje é o seu baile e não quero estragar isso. – Michael abriu um sorriso. — Logo
estaremos na faculdade e depois vamos nos casar. Você vai ser a mãe dos meus filhos e
seremos felizes até que a morte nos separe.”

Edward entorna pela terceira vez algum whisky qualquer que lhe tinham servido. Sua
intenção era beber até se esquecer de quem era e, talvez, isso o ajudasse a se sentir um pouco
melhor.

Não gostava de tais sentimentos, mas não podia negar que nesse momento odiava Gwen
por mantê-lo afastado de Elizabeth. Tudo o que queria era estar ao seu lado, segurando sua
mão, beijando sua testa, levando suas flores favoritas todos os dias.

Estava sentado no bar do hotel em que estava hospedado. O local era amplo, iluminação
fraca, vários barmen andando de um lado para o outro tentando servir seus clientes
adequadamente. Sua mente vagou, procurando meios de como chegar perto de Elizabeth até
que sentiu uma mão o cutucando no ombro.

Na verdade, não sabia se era real ou se estava bêbado. Numa altura dessas já tinha bebido
muito mais do que era acostumado. Virou a cabeça e se surpreendeu com a pessoa que vira.

— Mas o quê? Será que estou tão bêbado assim?

A moça colocou uma das mãos na cintura e bufa.

— Idiota como sempre. Pensei que saberia lidar com a situação e não vir aqui encher a
cara.

— Não estou bêbado. – Edward ri e luta para manter a sobriedade. — O que está fazendo
aqui, Serena?
Ela bufou, mais uma vez, e se sentou no banqueta ao seu lado.

— Fiquei preocupada com você. – colocou uma mão em seu ombro. — Aliás, toda a sua
família está. Eles souberam sobre o acidente com a Adams e bem, consegui que me liberassem
para vir vê-lo.

Nesse momento, ele não sabia se a agradecia ou se a mandava de volta. Tudo o que
precisava era ficar sozinho.

— Eu sei que você quer ficar sozinho. – Serena murmura, parecendo ouvir seus
pensamentos. — Mas a solidão faz mal às vezes.

— Tudo bem, pode ficar.

Michael se aproxima do leito e respira fundo. Aquela era uma das poucas vezes em que
ficava a sós com Elizabeth sem que ela o xingasse de todos os nomes possíveis. Sentou na
cadeira disposta ao lado e pegou em sua mão.

Seria mentira dizer que não lamentava vê-la naquela situação. Ele ainda a considerava a
mulher mais bonita que já vira em sua vida. Às vezes se perguntava por que aceitou entrar
naquele jogo.

Alisou as costas de sua mão e se lembrou do dia em que se conheceram. Ela estava
perfeita com seu uniforme escolar e a mochila nas costas. Metade do cabelo preso em um rabo
de cavalo curto e Charles atrás de si, guiando-a até a entrada do colégio.

Michael estava sentado em um muro, rodeado por outros amigos, mas no momento que a
viu, soube que ela seria sua. Elizabeth tinha apenas seis anos e ele oito.

No começo foi difícil se aproximar, pois era rodeada por amigas. Enquanto ela era amada
por todos, ele, ficava de fora. As pessoas apenas o suportavam, começando por seus pais que
viviam mais fora do país do que tudo.

Ele se lembrou de como a observava pelo pátio da escola. Queria ter a oportunidade de
começar uma amizade com ela, mas lhe parecia tão impossível, ainda mais quando Anthony
não saía de perto.

Porém, certo dia, Michael recebera a notícia de que o avião em que seu pai estava havia
caído. Aquela não era uma notícia que uma criança gostaria de ouvir. O diretor lhe comunicou
da maneira mais polida possível. Michael saiu da sala e no extenso corredor do colégio, sentou
com as pernas cruzadas e chorou a morte de seu pai.

E foi nesse dia que Elizabeth se aproximou. Ela era boa demais para ver alguém chorando
e se esquivar. Por isso, ao passar por ele, indo em direção ao seu armário, aproximou-se e se
sentou ao seu lado.

— Hei menino. Por que está chorando?

— Meu pai morreu.

Elizabeth o fitou com aqueles olhos verdes complacentes e passou a mão por seu rosto.

— Não chore. Deite-se aqui.

Michael deitou a cabeça em seu colo e ficou ali por horas. Pela primeira vez sentiu algo
bom dentro de si. Os toques macios de encontro com a sua pele e a forma como ela o ajudou,
contribuíram para que se apaixonasse por ela e não demorou para que acontecesse o primeiro
beijo.

Seu pai havia deixado milhões de dívidas e mesmo sua mãe falando que aquele casamento
era necessário, Michael queria acreditar que seu amor por Elizabeth era incondicional. No
entanto, a cada ano seu ciúme se tornava mais doentio. Ele tinha consciência disso, sabia que a
sufocava, mas não conseguia se controlar.

Toda vez que alguém a olhava de maneira diferente, ele sentia a fúria dentro de seu peito
e descontava nela, mesmo sem querer.

Aquele sentimento de posse tomou seu coração de todas as maneiras possíveis que
cogitou eliminar Anthony. Ele com a sua desculpa de “melhor amigo” se aproximava cada vez
mais e Michael temeu que ele conseguisse roubá-la.

Ele se levantou e aproximou-se da janela do quarto de hospital. Fechou os olhos e se


lembrou do fatídico dia em que tudo aconteceu. Ele jamais poderia perdoar Elizabeth pelo que
fizera.

Michael tinha lhe dado seu coração e o que ela tinha feito em troca?

Por isso que quando a viu apaixonada por Edward, desejou que ela também o destruísse,
da mesma maneira que fez com ele anos atrás.

É claro que seu peito oscilava entre o perdão e... mas não, agora era tarde demais. Por
causa do que acontecera, ele foi levado à praticar outras coisas que agora não podia desfazer.
Era tarde demais para arrependimentos quando estava tão atolado em sujeiras. E agora... a
mulher que um dia amou com todo seu coração, estava ali entre a vida e a morte e ele segurava
um contrato que de nada valia.

A porta se abriu e ele não precisou se virar para ver quem era.

— O que está fazendo aqui?

— Não posso visitar minha noiva?

Gwen riu com deboche.

— Como se você ligasse muito para ela.

Michael engoliu em seco. Na verdade, bem lá no fundo, sentia-se mal pela situação.

— Será que ela ainda vai ficar assim muito tempo? O casamento seria daqui duas
semanas.

— Seria não, será se ela acordar.

— Está louca? – Michael a fita. — Ela precisa de um tempo para se recuperar depois que
acordar.

Gwen se aproxima e rodeia o leito.

— Tempo para quê? Pra ela fugir com aquele maldito lorde?

Michael bufou. Odiava se lembrar da existência de Edward. Para ele, esse sujeito podia
muito bem voltar para Londres e deixá-los em paz.

— Ela não vai fugir.

— Eu estive pensando em algo. – Gwen olha para Elizabeth e sorri. — Essa é uma boa
oportunidade para dar um fim digno para minha querida irmã.

Michael a olha, incrédulo.

— Está dizendo o quê?

— Isso mesmo que você entendeu. – levanta os olhos. — Elizabeth já está um passo da
morte, poderíamos dar um empurrãozinho.

— Eu não vou me sujar mais uma vez por sua causa, Gwen. – Michael dispara, virando-se
de costas. — Se Elizabeth tiver que morrer, o destino cuidará disso.

— Você é um fraco mesmo!


— Fraco não! – devolve. — Você deveria estar feliz por que ela vai se casar comigo!

— Isso não é o suficiente. – disse com raiva.

Às vezes, nem mesmo Michael entendia a proporção do ódio que Gwen sentia por
Elizabeth.

— O que é suficiente então?

Gwen desce o olhar carregado de ódio para a mulher em coma e com raiva despejou seu
veneno.

— Será suficiente quando o coração dela parar de bater.


— Eu ainda acho que estou bêbado e você é uma alucinação.

Serena sorriu ao saírem do elevador. Ela usava um vestido branco esvoaçante e seus
cabelos loiros balançavam conforme andavam pelo extenso corredor do hotel.

— Você é um irresponsável, isso sim. – resmungou. — Rodei o quarteirão todo te


procurando, a sorte foi que o segurança me falou que você estava no bar.

— Que segurança? – Edward arqueou a sobrancelha.

Serena percebeu que tinha falado besteira. Não era para ele saber que tinha seguranças em
seu encalço.

Eles chegaram em frente a porta do quarto e antes que pudesse entrar, Edward se
precipitou e bloqueou sua passagem.

— Eu te fiz uma pergunta.

Não havia para onde correr. Serena bufou e revirou os olhos.

— Ok... sempre teve seguranças em seu encalço, caso você não saiba.

Ela falou aquilo com a maior naturalidade do mundo, afinal, já estava acostumada com
aquela vida. Edward, porém, se enfureceu.

— Mas que diabos meus pais pensam...?

— Eles só se preocupam com você. – ela o interrompeu. — E agradeça por isso, seria pior
se eles o obrigassem a deixar essa loucura para trás.
— Você acha que isso tudo é loucura?

— Acho. – responde sem pestanejar. — Ainda mais agora que ela está praticamente
morta.

E aquelas palavras perfuraram o seu coração como se fossem uma adaga. Não, aquilo não
era loucura. Ele a amava queria estar ao seu lado... apenas isso.

Serena observa a feição triste de seu amigo e suspira. Jamais teve a intenção de feri-lo,
porém, vê-lo naquela situação a deixava furiosa. Por Deus, ele poderia se envolver com
qualquer mulher no mundo, por que infernos fora se apaixonar justo por aquela?

— Olha me desculpa... eu não quis dizer isso.

Edward balança a cabeça.

— Vamos entrar, está tarde.

Serena assentiu e ele abre a porta, dando de cara com a pessoa mais preciosa que ele
poderia querer ver naquele momento.

— Como deixaram você trazê-la?

Serena sorriu ao vê-lo extasiado. Edward se aproximou da poltrona e observou a pequena


criança deitada de lado envolvendo seu ursinho preferido nos braços.

— A babá veio junto e, claro, muitos seguranças. – Serena esclareceu. — Lhe deram
alguns dias de folga das aulas. Ela estava doente com saudades de você.

Edward sentiu um aperto em seu peito. Doía-lhe ter que viver longe de sua família. No
meio daquele caos, a imagem de sua irmã dormindo tranquilamente era tudo o que precisava
para ter um pouco de paz.

— Obrigado. – sussurrou e se abaixou ao lado da poltrona, levando uma das mãos até o
rosto da menina. — Dorme minha pequena...

A noite passou rapidamente e Edward ficou satisfeito por ter conseguido pregar os olhos
por pelo menos algumas horas. Levantou-se, foi até o banheiro, tomou sua ducha matinal.
Escolheu um terno azul marinho e finalizou colocando no braço seu Rolex.
Acordou cedo, portanto, tinha algum tempo disponível para curtir a presença de sua irmã
e sua amiga. Na realidade, estava surpreso e furioso por sua vida estar essa bagunça e elas
terem que presenciar tudo isso.

Sua cabeça doía um pouco pela bebedeira do outro dia, por isso, ao chegar na pequena
cozinha do apartamento, procurou um analgésico qualquer e encontrando-o, encheu um copo
de água e entornou.

Apoiou as mãos na pia e respirou fundo. Apesar de toda a surpresa da noite anterior, a
bebedeira lhe ajudou a pensar em um plano para se infiltrar no hospital e assim conseguir ver
sua Elizabeth.

O dia prometia, pois além de conversar com Anthony sobre seu plano, seu advogado
conseguira contatar o tal “Sherlock Holmes” e ele marcara um horário para conversarem.

Alguns dias se passaram desde a fatídica conversa com Michael e desde então, Edward
estava cada vez mais sedento por descobrir quem ele realmente era e o que estava rolando por
trás daquela proposta absurda de casamento.

— Caiu da cama, é? – ele ouve a voz de Serena atrás de si. Vira-se para ela e sorri.

— Pois é...

Serena deu de ombros e abre a geladeira em busca de água.

— Olha, eu sei que você vai passar o dia todo enfiado naquela empresa, então eu gostaria
de passear com a Becky por aí. Posso?

— Claro que pode. Leve-a até o Museu de História Natural, ela vai adorar.

Serena engole um pouco da água e assente.

— Ela quer ver também o Rei Leão.

— É claro. – Edward assentiu. — Os seguranças estando com vocês, eu não me importo.

A jovem riu e guardou a garrafa na geladeira.

— Não foi você que ficou nervosinho por saber dos seguranças ontem?

Edward bufou.

— Fiquei estressado por mim, não por vocês.

— Entendo. – Serena arqueia a sobrancelha. — Quer ajuda em algo?


Ele nega com a cabeça e nesse momento seus pensamentos foram longe.

— É verdade que o noivo dela não deixa você entrar no hospital?

— Sim... mas já estou providenciando um jeito de conseguir entrar. – murmura entre


dentes. — Aquele desgraçado não perde por esperar.

Serena respira fundo e o toca no braço.

— Tenha paciência e não faça nenhuma besteira.

Edward a fita com um olhar divertido.

— Eu sou mestre no quesito “fazer besteiras”. Se não percebeu... estou em Nova York,
longe da minha família, atrás da minha ex-chefe.

Nesse momento, Serena ri e admiro que ele com tantos problemas, não perdia o senso de
humor. Edward a encara e não pôde deixar de observar como ela o olhava.

Eles se olharam por longos instantes e quando o clima já estava tenso, ele tossiu.

— Becky vai demorar para acordar?

Serena deu de ombros.

— Acho melhor deixar para vê-la mais tarde. Becky não dormiu no voo e chegou muito
cansada.

— Entendo. – assentiu. — Mais tarde nos vemos. A noite vamos sair para jantar em
algum lugar.

— Combinado.

Dizendo isso, ele se afasta e foi até o quarto pegar sua pasta. Serena o observa todo o
instante até o momento que ele se despede e sai do apartamento. Joga-se no sofá e bufa.
Aquele homem nunca seria seu, essa era a cruel realidade de sua vida.

Edward poderia ter usado a limusine, porém, não estava tão longe do prédio e uma boa
caminhada lhe faria bem. Passou pela sua cafeteria preferida e a garçonete lhe prepara o
mesmo café de sempre.
Foi engraçado explicar toda a sua vida para a mulher, que quis matá-lo e ao mesmo tempo
não sabia como tratá-lo, de senhor ou de meu lorde. A verdade era uma só: ele pouco se
importava com títulos. Tudo o que queria era ter uma vida normal: casar, ter filhos, morar em
uma casinha no interior da Irlanda, ficar velho e morrer em paz. Era pedir demais?

Pegou seu café e saiu de lá, pronto para enfrentar mais um dia. Quando conheceu
Elizabeth acreditou que não seria fácil a convivência, visto que ela era arrogante, fria e
exigente. No entanto, nunca teve a oportunidade de imaginar como seria com Michael e nesse
momento, podia garantir que era muito pior.

Enquanto caminhava pelas ruas de Nova York, não pôde deixar de se lembrar do dia em
que Elizabeth quase o atropelou.

“Impressionar a chefe é algo que deveria ser levado a sério, ele constatou após pedir os
dois copos de café. A moça que o atendeu revirou os olhos, já conhecia a fama de Elizabeth
Adams.

― Boa sorte, mas como dizem que ela é uma megera, duvido que vá gostar.

Edward deu de ombros, o que valia naquele momento era a intenção. Se sua chefe não
gostasse, paciência.

Deixou o pagamento no balcão e saiu do local segurando firmemente os dois copos. Dali
até o local onde trabalharia não era tão longe, então dava para ir a pé tranquilamente.

Nova York era uma loucura, ainda mais àquela hora do dia. O trânsito estava um caos,
porém, já estava acostumado com aquilo. Quando o semáforo fechou, atravessou,
acompanhando uma multidão.

Havia acabado de comprar um novo celular e por isso, teve a brilhante ideia de pegar o
aparelho ao mesmo tempo que atravessava uma avenida movimentada e se equilibrava com os
dois copos de café em mãos.

Foi então que ouviu o barulho do freio e voluntariamente se encolheu. Um dos copos
caiu de sua mão, abrindo a tampa e derrubando todo o liquido no capô do carro branco.

Era muita falta de sorte mesmo.

― IMBECIL!

Ele ouviu o xingamento bem a tempo de ver o rosto de quem quase o atropelara. SIM, era
muita falta de sorte.

― Oi... chefe. – murmurou com um sorriso assustado. Não sabia onde enfiar a cara,
ainda mais depois de ver a mulher mudar de vermelho para roxo em questão de segundos.
Ele sabia que era um imbecil e já estava pronto para os xingamentos.

― Mas que diabos estava pensando, Smith? – ela vociferou. ― A sorte é que consegui
parar! Ou então, a essas horas você estaria em outra dimensão! – apontando para o capô do
carro, ela bufou. ― Olha a porcaria que ficou meu carro!

Um dos copos continha Chantilly e nesse momento, ele soube que poderiam lhe trazer o
prêmio de “Maior otário do mundo”.

Ele viu que Elizabeth estava furiosa demais. Será que se ele apelasse para o seu lado
emocional funcionaria?

Resolveu arriscar.

― Me desculpe. Um desses cafés era pra você. – murmurou chateado.

Ele não sabia se tinha funcionado, porém, viu que ela ficou sem palavras por alguns
instantes. Ela pareceu respirar fundo e engolir algum impropério qualquer.

― Entre no carro. – disparou.

Deu certo, constatou satisfeito.

― Quer se atrasar?!

Ela berrou ao ver que ele não se movia. Edward engoliu em seco e rapidamente entrou
no lado do carona.”

Ele não sabia ao certo se foi nesse momento em que se apaixonou por ela ou se foi como
dizem, amor à primeira vista. Porque sim, no momento que entrou naquela sala presidencial e a
viu em pé, de frente para as enormes janelas, não pôde conter o desejo de tê-la em seus braços.
Porém, soube que não seria fácil quando se virou e ele viu seus olhos verdes frios. Elizabeth
não carregava consigo apenas a arrogância, era muito mais.

Ele viu em cada traço do seu olhar que ela sofria por algo e naquele instante sentiu o
desejo de descobrir o que tanto lhe aflingia.

Finalmente chegou ao edíficio. Passou pelas moças no balcão e as cumprimentou com seu
sorriso de sempre, foi em direção ao elevador e após alguns instantes já estava no andar
desejado.

― Ainda bem que você chegou! – Jane dispara ao vê-lo. ― Michael está atrás de você.
― Bom dia pra você também, Jane. – disse com desgosto. ― Eu não vou na sala daquele
maníaco.

Jane segurou o riso.

― Me desculpa, bom dia.

― E aí, Edzão. – Gerard se aproximou e inconveniente como era, lhe deu um tapa nas
costas.

A sorte é que Edward já estava acostumado e, por isso, segurou com força o copo em sua
mão para que não caísse.

― Gerard, bom dia.

― Tem notícias da Chefe? – perguntou usando um tom realmente preocupado.

Jane e Edward trocaram um olhar significativo.

― Eu não sei te responder.

Gerard encara Edward por longos instantes antes de perguntar:

― Como assim não sabe responder? Ninguém nessa droga de empresa pode nos
comunicar sobre o que há com Elizabeth?

― Olha... eu sei que está preocupado, todos nós estamos. – Edward disse. ― No entanto,
Michael proibiu a todos de vê-la, exceto Anthony e Clara.

― Ah! Mas só agora eu consegui liberação para visitá-la. – Anthony chegou no mesmo
instante e os pegou conversando. ― E ainda tive que usar meus truques com a Gwen.

Edward assentiu.

― Gerard, pode avisar os outros que ela precisa de muita oração, reza, pai nosso ou o que
preferirem, por que a situação não é boa. – disse Anthony.

O homem barrigudo assentiu e desejou que ela melhorasse o mais rápido possível.
Ninguém ousava falar, mas todos sabiam que depois de Edward, ela tinha mudado de uma
maneira inexplicável.

Anthony e Edward caminharam juntos até sua sala.

― E aí, conseguiu falar com o Clark? – Edward pergunta ao se acomodar em seu assento.

― Falei, mas ele não quer se meter. Disse que está prestes a conseguir uma promoção e
não quer correr riscos.

Edward socou a mesa.

― Maldição.

― Mas eu tive outra ideia. – Anthony sorri maliciosamente. ― Você está disposto a
assumir os riscos?

― Eu também tive uma ideia – Edward dispara.

Anthony respirou fundo. Sabia que seu amigo teria que ser forte, pois ela não era nem
sombra daquela Elizabeth. Edward viu seu olhar triste e entendeu o que se passava em sua
mente.

― Não importa. Só quero estar ao lado dela.

O horário do almoço chegou e Edward avisa Jane que talvez nem voltaria mais. Além de
se encontrar com o tal Sherlock Holmes, queria aproveitar sua irmã por um tempo.

Saiu do luxuoso prédio e olha para os lados, não queria que ninguém visse por qual
direção ía. Caminha pelo quarteirão até chegar à uma estação de metrô. Desceu as escadas e
seguiu o caminho pela multidão de pessoas.

A viagem durou cerca de vinte minutos até o bairro de Williamsburg. Não tinha ideia do
por que o homem tinha marcado um encontro em uma cafeteria.

Edward andou algumas quadras pelo bairro praticamente vazio. Quando chegou ao local
indicado, apreciou a loja com a fachada toda em vidro, do lado de dentro havia um balcão com
inúmeros doces, lanches rápidos, do outro lado, havia uma pequena biblioteca para que os
clientes pudessem escolher um livro enquanto comiam.

― Boa tarde...? – Edward cumprimenta o rapaz magrelo atrás do balcão. Ele assentiu e
olha na tela de seu celular, depois olha de volta para Edward.

― Senhor Phillips? Tem alguém o esperando lá atrás.

Edward assentiu e observa o rapaz desajeitado sair de trás do balcão e fazer sinal para que
o seguisse. E assim ele o faz, passando por uma porta e dando de cara com um pequeno jardim
na parte traseira do café.
― Fique à vontade. Vou lhe trazer algo.

― Tudo bem.

Edward fitou o homem sentado em uma das mesas perto de algumas folhagens. Ele estava
atrás de um notebook e levanta os olhos assim que parou na sua frente.

― Sherlock Holmes? – Edward perguntou, com um meio sorriso.

O homem aponta para o lugar vazio ao seu lado.

― Muito prazer, senhor Phillips. – ele o cumprimenta assim que Edward se senta. ―
Sherlock Holmes é apenas um apelido.

Edward quis lhe dizer que era muita petulância usar um apelido desses, mas se calou. Seu
advogado lhe informara que esse fora um dos melhores homens da Scotland Yard.

― Já deve saber por que o chamei aqui. – Edward murmura. ― Preciso que descubra
algumas coisas.

― E sobre quem seria? – Sherlock arqueia a sobrancelha. ― Se for sobre políticos, estou
fora. Não quero me meter em mais problemas.

― Você ainda é investigador da Polícia de Nova York?

O homem deu de ombros.

― Eu era.

Edward não quis se aprofundar no assunto, afinal, não tinha nada a ver com a vida do
sujeito. Tudo o que queria nesse momento era tratar sobre suas desconfianças com Michael.

― Esse cara aqui. – lhe estende o celular. ― Quero que descubra tudo o que conseguir
sobre ele.

O homem olhou para o aparelho e antes de pegar nas mãos, coloca uma luva de látex
preta. Após pegá-lo, analisou por vários instantes e o devolveu.

― Sabe o nome completo? – pergunta ao retirar a luva e abrir um arquivo no computador.

Edward não entendia bem como aqueles investigadores trabalhavam, mas resolveu
confiar.

― Michael Sanders. Tem vinte e nove anos e no momento está no cargo de CEO
temporário da Adams Corporation. É noivo de Elizabeth Adams desde que eles tinham, sei lá,
acho que desde quando ela nasceu.

O homem digitou todas aquelas informações.

― Senhor Phillips, todas as informações que tiver, são fundamentais para me ajudar no
meu trabalho.

Edward assentiu e se forçou a lembrar de mais algum detalhe. Não se lembrava de muita
coisa, afinal, Elizabeth só lhe contara o necessário.

― Sei que tem uma irmã que vive na Europa também.

Sherlock continuou digitando.

― E exatamente o quê o senhor quer que eu descubra?

― Toda a sujeira desse animal, por que tenho certeza que ele esconde algo.

O homem terminou de digitar, fechou o laptop e encarou Edward.

― Senhor Phillips, pode contar comigo. – se levanta e lhe estende a mão. ― Farei o
melhor nessa investigação.

Edward também se levanta e aperta a mão do homem.

― Conto com isso, senhor Holmes.


Após sair do café em Williamsburg, Edward pegou o metrô e voltou para Manhattan.
Decidiu ir direto para o hotel e aproveitar um pouco de sua irmã. E a sua surpresa se deu ao
abrir a porta e encontrá-la dançando em frente à TV ao som de Frozen.

— Let it go...! – a menininha estava toda animada.

Serena estava deitada no estofado e sorriu para Edward quando o viu. Ele fechou a porta
lentamente e Becky se virou para ele.

— Ed! – ela gritou ao mesmo tempo que saiu correndo para abraçá-lo. Edward a pegou no
colo e girou com ela.

— Que saudade de você, meu amor.

Ele a beija no rosto e acariciou seus cabelos.

— Eu pensei que você ia demorar... quero assistir o Rei Leão!

Edward caminha com a menina em seu colo até o sofá e se senta, colocando-a em sua
perna.

— Não tinha tanto trabalho assim... – ok, estava mentindo, mas era por uma boa causa. —
E quero aproveitar o dia com vocês.

Rebecca deita a cabeça em seu peito e sorri.

— Papai não queria deixar eu vir, mas se trouxesse a Danna estava tudo bem.

Danna era uma das babás responsáveis por Rebecca.


— Que bom que a Danna veio. – ele murmurou. — Então você quer ir assistir o Rei
Leão?

— Quero!!! – Becky ergue os bracinhos. — Podemos levar também aquela moça bonita
que você gosta?

Edward foi pego de surpresa e olha desconcertado para Serena. O que diabos ele diria
nesse momento?

Serena se aproxima dos dois e se abaixa ao lado de Becky.

— Aquela moça está um pouco ocupada esses dias... não vai poder ir conosco.

Rebecca fez um beicinho e cruza os braços.

— Anda, não faz essa carinha! – Edward pediu. — Nós vamos nos divertir muito e em
breve ela poderá ir conosco.

— Tá bom! – ela levanta os bracinhos novamente. — Eu vou me arrumar.

Dizendo isso, ela pulou do colo de Edward e foi correndo para o quarto ao lado. Serena e
Edward riram juntos.

— Essas crianças...

O celular de Edward toca e viu na tela quem era.

— Serena, me desculpa, eu vou atender.

— Claro.

Edward atende a chamada enquanto se encaminhava para o seu próprio cômodo. — Oi,
fala aí.

— Mas que droga é essa Edzão? Cadê você?

— Eu te avisei que viria embora mais cedo. – bufou. — Está desmemoriado por acaso,
Anthony?

O homem riu do outro lado da linha.

— É pode ser, preciso ir atrás dos meus remédios para falta de memória.

Edward revira os olhos e apoia o celular no ombro enquanto retirava seus sapatos.

— Mas fala aí, o que você quer?


— É hoje. Nós vamos entrar naquele hospital e você vai ver a sua Elizabeth.

Edward segura o aparelho na mão e fica em silêncio alguns instantes.

— É sério?

— É claro! Você está falando com Anthony Carter.

Edward se levanta e caminha um pouco para ver se aquilo não era um sonho.

— Você está brincando comigo, Anthony?

— Claro que não, idiota. – Tony riu. — Quer ver a Lisa, sim ou não?

— É claro que eu quero! Só que eu tinha combinado de levar minha irmã e Serena para
ver o Rei Leão.

— Serena? Aquela loirinha gostosa de Londres?

Edward riu.

— Se ela é gostosa ou não, não sei. Sei que está aqui.

— Hummmmmm – ele murmurou. — Acho que vou encontrar vocês lá no teatro e de lá te


explico o plano. Pode ser?

— Claro. Mas como conseguiu isso?

— Eu te explico pessoalmente, não posso falar muito porque o Michael está rodeando a
minha sala. Parece que hoje acordou com o diabo no corpo.

— Ele sempre acorda com o diabo no corpo. – revirou os olhos. — Às sete em frente ao
teatro, ok?

Anthony confirma e desliga a chamada. Edward tira sua calça, depois a camisa e correu
para o banheiro tomar um banho. Ainda tinham algumas horas e ele queria levar as meninas
para comer e conhecer a cidade.

Após o longo banho, enrola a toalha na cintura e procura por uma roupa adequada. Vestiu
calça jeans escura, camisa de gola V, sapatênis e penteou seus cabelos.

Perfumou-se, afinal de contas, pela primeira vez em quase um mês veria sua amada e
queria estar apresentável. Quem sabe ela acordaria?

— Nossa, a noiva já está pronta? – Serena brincou do outro lado da porta.


Edward riu e abriu a porta para ela. Serena estava com um vestido verde musgo que lhe
cobria até os joelhos.

— Não sou a noiva, mas hoje é uma ocasião especial.

— Ah é? – a loirinha arqueou a sobrancelha. — Você está com um sorriso... algo de bom


aconteceu nessa ligação.

Ele poderia esconder as coisas de qualquer pessoa, menos de sua amiga.

— Hoje vou visitar Elizabeth. – disse com animação.

Serena cruza os braços.

— Ah, sério? Você não estava proibido de ir até lá?

— Então... Anthony conseguiu, não sei como. Ele vai me explicar tudo mais tarde.

A loirinha assentiu.

— Fico feliz por você.

E no fundo ela ficava. Apesar de gostar dele e querer que ele a olhasse, ela sabia que seria
impossível. Edward estava enfeitiçado por Elizabeth e nada mudaria aquilo. Ela poderia
desejar a morte da mulher, no entanto, ela aprendeu que o amor não era egoísta e que se a
pessoa amada estivesse feliz, mesmo nos braços de outra, que assim fosse. Ela só esperava que
o destino se encarregasse de alguém especial para ela.

— Você não tem ideia do quanto eu estou esperando por isso. – murmurou, com os olhos
brilhando. — Vou levar as flores que ela mais gosta.

— Aonde você vai? – Michael berra assim que Anthony coloca os pés na recepção.

Anthony para, olha para Jane e de volta para Michael.

— Noé.

— Noé o quê? – Michael pergunta desentendido.

— Noé da sua conta aonde eu vou! Deixa de ser enxerido homem!


Jane engoliu lentamente a risada que ameaçou sair. Michael variou nos tons de vermelho,
roxo, azul. Sua raiva era aparente, mas não discutiria ali na frente dos funcionários.

— Estou precisando de alguns relatórios, Carter. – disse lentamente, deixando de lado


cada célula de nervosismo se esvair do seu corpo.

— Acabei de entregar ao Dylan. – responde, mantendo a calma. — Agora, se o senhor me


der licença, eu preciso salvar o mundo.

Michael não respondeu. Anthony bate continência e sai com um sorriso bobo nos lábios.

— Você sabe aonde ele vai? – pergunta à Jane com rispidez.

— Não senhor.

Edward leva Jane e Rebecca para passear. Passaram pelo Central Park e caminharam um
pouco. Foram até a ponte onde Edward e Elizabeth tiveram uma leve discussão e seu coração
se apertou mais uma vez ao se recordar.

Logo depois, Edward as levou em uma lanchonete que adorava. Elas comeram
hambúrguer’s, batatas fritas e tomaram refrigerantes até dizer chega.

Faltava meia hora para o espetáculo quando deixaram a lanchonete. Edward estava um
pouco desconfortável pela presença dos seguranças, mesmo que estivessem disfarçados. Por
outro lado, prezava pela segurança das meninas.

Anthony já os esperava com uma sacola em mãos. Rebecca o reconhece logo de cara e
correu para abraçá-lo.

— Hei pequena! – ele a pega no colo. — Como você está?

Edward o cumprimenta com um tapinha no ombro e Serena fez uma cara de poucos
amigos.

— Olha o que eu trouxe pra você! – Tony levanta a sacola e entrega nas mãozinhas da
garota.

— Que legal! – ela sorri. — Você lembrou de mim!


— É claro que lembrei! Como esqueceria uma garota tão bonita que como você?

Rebecca se animou com o presente e enquanto isso, Anthony fitou Serena da cabeça aos
pés.

Controle-se Anthony!

— E aí, você disse que me contaria sobre o plano. – Edward o puxa de seu devaneio.

— Ah, tem razão. – Tony se vira para ele. — Mas não acho que seja bom eu te falar
agora, estou esperando uma confirmação no meu celular.

— Olha... eu só peço que vocês não se metam em confusão. – Serena se intromete. —


Edward não pode se envolver em escândalos. Seus pais já estão furiosíssimos com essa
aventura.

— Serena, não se intrometa. – Edward ralha. — Eu estou pouco me lixando para meus
pais. Sou um homem de 29 anos, sei me cuidar muito bem.

— 29 com cabeça de 20, querido! – ela devolve.

Anthony revira os olhos.

— Estamos aqui nessa ladainha toda, é melhor entrarmos e logo e explico como vai
funcionar o plano.

Edward assentiu e entraram no teatro. Foram guiados até seus assentos e assistiram o
show completo que durou mais de duas horas. Serena e Rebecca ficaram animadas o tempo
todo com as luzes, o som, os dançarinos. Uma super produção.

Em alguns momentos do show, Anthony se pegou olhando para a loirinha inglesa. Se ela
não fosse filha de um lorde, já teria colocado em prática seus dotes de sedução, no entanto,
aquela não era qualquer moça.

Serena percebe os olhares que o rapaz lhe dirigia e fez questão de ignorá-lo. Anthony era
um homem bonito, sem dúvidas, mas ela conhecia aquele tipo. Fazia de tudo para sair com
uma moça e quando conseguia, metia o pé na primeira oportunidade. Ela não lhe daria esse
gostinho.

O espetáculo terminou e saíram do local, maravilhados.

— Vocês querem comer alguma coisa? Podemos encontrar algum restaurante por perto. –
Anthony pergunta.

— Não estou com fome. – Serena murmura. — Na verdade, estou cansada e gostaria de ir
para casa.

Edward olha para Anthony.

— Recebeu a tal confirmação que você queria?

— Ah! Espera aí, vou ver. - Anthony pega o celular no bolso do paletó e o liga. — Eu
deixo desligado, porque né... sou uma pessoa importante.

— Você deixou o maldito celular desligado? – Edward arregala os olhos. — E se


precisassem falar alguma coisa sobre a Elizabeth?

Anthony revira os olhos.

— Eles teriam ligado ué.

— E teriam achado o celular desligado, imbecil! – Serena completa.

— Olha aqui mocinha... – Tony se vira para ela. — Posso ser imbecil, mas tenho um
coração muito generoso.

Serena revira os olhos, pronta para mandá-lo se ferrar quando Anthony recebe uma
chamada.

— Oi, fala aí.

Edward bufa e passa as mãos pelo cabelo. Não acreditava que seu amigo podia ser tão
idiota. Coloca uma mão na cintura e observa quando ele fala algumas palavras e desliga.

— Edzão, vamos lá... você vai ver a sua garota hoje!

— Graças a Deus!

— Estou aqui com meu carro, te explico melhor no caminho.

Edward assentiu e olhou para sua amiga.

— Eu não vou com vocês.

— E se precisarmos da sua ajuda?

— Vocês não vão precisar.

Anthony enfia as mãos no bolso.

— Olha, não acho que vamos precisar, mas toda ajuda é bem vinda.
Serena respira fundo e olha para os lados. Os seguranças estavam espalhados ao redor
deles enquanto a babá de Rebecca estava conversando com um deles.

— Tudo bem, mas antes vamos deixar Rebecca e Danna no apartamento.

— Claro, vamos lá.

Rapidamente chegaram ao edifício onde Edward e as meninas estavam hospedados.


Serena resolveu participar da aventura, por isso, após acompanhar Danna e Rebecca até o
quarto, voltou para o carro, onde os meninos a esperavam.

— Todos prontos? – Anthony pergunta.

— Falta uma coisa. – Edward responde. — Tenho que comprar um buquê de flores.

— Pra quê isso, cara? Ela nem vai ver...

Edward o fita com o semblante fechado.

— Eu disse que tenho que comprar as flores e vou comprar. Pare perto de algum lugar
onde eu possa fazer isso.

— Hummm... Edzão bravinho! Quem diria, hein? – Anthony brinca ao engatar a marcha e
acelerar.

Ele dirige algumas quadras e vira em uma avenida movimentada. Anthony conhecia o
lugar ideal onde poderia conseguir aquilo. Ao entrar na avenida, logo chegaram à pequena
floricultura, mas já estava fechada.

— O que adianta me trazer num lugar que já está fechado? – Edward bufou.

Anthony tirou o cinto.

— Calma aí amigo! A dona dessa floricultura mora na parte de cima e é minha amiga. Ela
vai nos atender.

Edward e Serena trocam olhares desconfiados e saíram do carro. Eles atravessam a rua e
se aproximam da pequena porta de vidro. Anthony aperta o interfone e espera.

— Hei, quem é?
— Oi gatinha, sou eu... seu cachorrão.

Edward engole a risada que ameaçou escapar. Serena revira os olhos.

— Uiii... que bom que você veio, cachorrão. Estava sentindo sua falta.

Tony riu abertamente.

— Eu também gatinha.

— Vou destrancar a porta e você sobe.

Ela desliga o interfone e depois de alguns segundos ouvem o barulho da porta sendo
destrancada.

— As damas na frente. – ele aponta o braço e Serena se recusa a ir.

— Nem pensar, a amante é sua.

Anthony ri e foi na frente, seguido por Edward e Serena. Eles subiram dois lances de
escadas e chegaram até o cômodo que era a moradia da mulher. Serena não pôde deixar de
fazer cara de nojo ao sentir o cheiro forte de cigarros, bebidas e incenso.

— Que horror. Espero que a casa em que você morava não seja assim. – ela murmura
próximo ao ouvido de Edward.

— CACHORRÃO! – A mulher berra assim que sai de outra porta e se joga nos braços de
Anthony.

Ela podia morar num “muquifo”, mas que era bonita... isso não podiam negar. Anthony a
agarra e a gira em volta de si mesmo.

— Hakita meu amor!

Ela era asiática. Baixa, olhos bem puxados, cabelos negros, com um humor
inconfundível.

— Ué trouxe mais amigos para nossas reuniõezinhas? – pergunta, fitando Edward e


Serena.

— Não, não. – Anthony tossiu. — Eles são meus amigos e não viemos para uma reunião.

Edward nem quis perguntar que tipo de reunião era aquela, pois já imaginava muito bem
o que acontecia ali.

— Meu amigão aqui está precisando de um buquê de flores, as mais bonitas que você
tiver.

Hakita se afasta de Anthony e rodeia os dois.

— Ingleses, não são?

— Como sabe? – Edward arqueia a sobrancelha.

— Nem precisa responder. – ela ri. — Seu sotaque acabou de te entregar.

Edward revira os olhos.

— Você pode nos ajudar ou não?

— É claro. – Hakita abre um sorriso. — Venham comigo.

Ela sai na frente, pelo mesmo caminho que tinham subido as escadas. Seguiram-na que
entrou em outra porta, que dava para a pequena floricultura. O cheiro do lugar era exótico,
misturava todos os aromas de plantas, rosas, margaridas e uma infinidade de espécies.

— Quais ela gosta? – Hakita pergunta assim que entram.

— Peônias, rosas vermelhas...

— Rosas brancas também. – Anthony completou.

Hakita assentiu e recolheu todas as opções que eles lhe deram. No final das contas, ela
montou um buquê e entregou nas mãos de Edward.

— Ela vai gostar quando ver.

Nesse momento, Edward não pôde evitar a tristeza assolando seu peito. Ele queria mesmo
que ela visse, mas como? Há quase um mês em coma... só se acontecesse algo impossível.

Anthony se vira para Hakita e a enlaça pela cintura.

— Ela não vai conseguir ver nesse momento, mas espero que a sua bondade ajude a trazer
minha amiga de volta.

A asiática sorri tristemente.

— Entendo, mas não se preocupe, vai dar tudo certo. Tudo acontece na vida por algum
motivo.

E ele esperava que sim. Despediram-se de Hakita e saíram pela porta lateral, claro que
antes, ela apertou a bunda de Anthony e ele jurou que depois voltaria ali para agradecê-la de
maneira apropriada.

Atravessaram a rua e entraram no carro. Era hora da aventura.

Anthony entra no lado do motorista, coloca a música do filme “Missão Impossível” e


acelera em direção ao hospital. Não demorou para que chegarem, no entanto, ele não
estacionou na vaga dentro do hospital, mas sim na parte de fora, do outro lado da rua.

— Edzão, o negócio é o seguinte. – falou, após desligar o motor. — Vocês me escutem


bem, não vou repetir o plano.

Edward e Serena reviram os olhos.

— Anthony, da última vez que nos unimos para algo assim, você usou um binóculo
ridículo.

Algo pareceu estalar na cabeça do homem.

— Eu trouxe! Está aqui. – estendeu o braço e tirou do porta luvas seu binóculo favorito.
— Não saio sem essa belezinha.

— Nossa, dá pra falar logo qual vai ser o plano? – Serena pergunta impaciente.

— Certo. – ele respirou fundo. — Vamos fazer assim. Daqui a pouco, mais precisamente
às onze horas, os médicos saem para uma pausa.

Edward e Serena assentiram, atentos ao que ele falava.

— Nesse tempo de pausa nós entramos em ação. – Anthony continuou. — Clark


conseguiu arrumar uma roupa de médico e você Edzão, vai entrar no papel. Você vai ser o
doutor Richards e terá dez minutos para ficar com a Elizabeth, nada mais que isso, entendeu?

— Só dez minutos?

— E é muito! – Anthony bufou. — Clark está arriscando a carreira dele por você. Não
seja mal agradecido.

Edward pesa os prós e os contras e aceita, melhor dez minutos do que nada.

— E Gwen? Michael? Se eles chegarem?

— Pelo que Jane checou, Gwen está ocupada com o sujeito da academia. – coçou o
queixo. — E Michael estava no escritório até agora. Duvido que vá aparecer aqui... a
recepcionista me disse que ele vem poucas vezes.
— E eu faço o quê? – Serena pergunta após alguns instantes.

— Você vai comigo, mas vai fingir que é uma desconhecida. – Anthony respondeu. — Eu
vou com o buquê de rosas primeiro e vou deixar lá, logo depois que eu sair, você entra.
Entendeu Edzão?

— Entendi claro!

Anthony sorri satisfeito.

— Pronto para ver a sua garota?

— Já nasci pronto!
“Elizabeth ouviu o despertador do celular tocando e mesmo sem querer se levantar, o
fez. Mais um dia que teria que enfrentar suas responsabilidades. Ela era, afinal de contas,
Elizabeth Adams, CEO da Adams Corporation.

Após vestir suas elegantíssimas roupas, se maquiou e passou um de seus batons


vermelhos favoritos. Seu noivo ligara, minutos antes, avisando que não poderia buscá-la.

Seu dia já começou mal.

Desceu as escadas e encontrou seu mordomo a esperando. Como era de costume não
tomava café da manhã.

— Bom dia, senhorita Adams.

— Bom dia, Jofrey. – cumprimentou secamente. — Sabe se meu carro ficou pronto?

Para ajudar, seu Mercedes teve alguns problemas de mecânica após Anthony inventar de
fazer uma viagem com ele.

— Infelizmente não. – Jofrey comunicou. — Eles disseram que somente amanhã.

Como se não fosse o bastante, teria que ir para o trabalho de Táxi. Elizabeth respirou
fundo e contou até dez mentalmente. Estava sem motorista e sem assistente pessoal. Com isso,
seu celular estava quase explodindo de tantas mensagens que chegavam.

Alguns dias antes, havia demitido seu assistente. O imbecil tivera a capacidade de gritar
para todos que ela era uma megera mal amada. Elizabeth estava entrando em sua sala
quando ouviu tal infortúnio.

Antes a sala que era movimentada, com pessoas andando de um lado para o outro, se
tornou em um local silencioso e com um clima extremamente pesado. Todos olharam
abismados para Alex que continuou gritando outros impropérios.

Elizabeth fechou a porta que tinha acabado de abrir e caminhou até o rapaz. Olhando-o
de cima a baixo, murmurou:

— Está demitido.

Ele ainda tentou rebater e avançar nela, porém, Anthony o segurou e enquanto
caminhava para sua sala, sem se mostrar abalada, ordenou para seu amigo:

— Jogue-o na rua, agora.

E agora estava ali, sem assistente e com sua agenda cheia. Respirou fundo e ligou para
Anthony. Se ele tivera a capacidade de estragar seu carro, teria que ir buscá-la.

Não demorou muito para que Anthony chegasse até seu apartamento. Ele sabia que
Elizabeth odiava atrasos.

— Já sabe quem vai contratar? – perguntou enquanto dirigia para o escritório.

— Vou entrevistar algumas pessoas hoje. Vamos ver no que vai dar.

Anthony assentiu e continuaram seu percurso até o escritório. Elizabeth se manteve em


silêncio a maior parte do tempo. Não estava com humor para brincadeiras, ainda mais
quando tudo parecia dar errado para ela nos últimos tempos.

— Quando sua irmã vai voltar? – perguntou ele, ao entrarem no elevador.

— Em breve. – respondeu secamente. — É sempre assim, Gwen nunca está aqui quando
eu preciso.

Anthony suspirou. — Ela está estudando... é apenas isso.

Elizabeth não respondeu. No fundo, a magoava saber que sua irmã nunca fez questão de
estar ali ao seu lado.

O elevador se abriu e ela vislumbrou o local que permanecia mais horas do que gostaria.
Passou por Jane e a cumprimentou com um bom dia, coisa que há tempos não fazia questão.

— Senhorita, daqui a pouco teremos um candidato para a entrevista.


Elizabeth assentiu e se dirigiu à sua sala. Tirou seu casaco e o jogou no balcão de Jane.
A jovem era responsável por tudo enquanto não contratassem o novo assistente.

As horas passaram e uma forte chuva caiu na bela Nova York. Elizabeth se virou para as
grandes vidraças de sua sala e observou o tempo fechado. Aquele, realmente não era o seu
dia.

Ela ouviu duas batidas na porta. Jane entrou com alguns papéis em mãos.

— Senhorita Adams, o rapaz que estava marcado para a entrevista já chegou e também
chegou mais um de última hora. – disse, lhe entregando a ficha. — Eu sei que a senhorita já
havia encerrado o processo, mas pelo que vi, esse rapaz tem um bom currículo.

Elizabeth pegou os papéis e leu a ficha pré preenchida.

— Edward Smith? Que nome ridículo.

Jane não respondeu. Elizabeth lhe estendeu os papéis de volta.

— Deixe o primeiro entrar, se não me agradar, vamos ver esse tal Smith.

Jane assentiu e se retirou, deixando sua chefe mal humorada para trás.

O primeiro candidato entrou e Elizabeth só não revirou os olhos porque ainda tinha um
pouco de educação. Ela já conhecia aquele tipo. Alex era do mesmo jeito e não a aguentou
por muito tempo.

O rapaz se sentou e ela só fez uma pergunta.

— Quem disse que você é apropriado para a minha empresa?

Frances a fitou com os olhos arregalados.

— Sen.. sen.. senhorita... eu.. eu..

Elizabeth bufou.

— Cai fora, moleque.

Frances se levantou, atordoado e saiu, branco como se tivesse visto um fantasma.


Elizabeth não perderia tempo com gente assim. Ela precisava de um assistente eficiente, que a
ajudasse e que aguentasse seu gênio.

Tirou da gaveta um maço de cigarro e o acendeu. Definitivamente, hoje não era o seu
dia. Se levantou e se virou para as grandes vidraças. Adorava aquela vista que sua sala
proporcionava.

Olhar para a belíssima Nova York a fez esquecer do tempo, até ouvir alguém
pigarreando atrás de si. Se virou e viu o rapaz que provavelmente seria o segundo candidato.

Ele estava um caos.

Suas roupas pareciam encharcadas, o cabelo desgrenhado.

— Sente-se. – ordenou ao apontar para a poltrona em frente à sua mesa. Edward, sem
tirar os olhos dela, se sentou.

Elizabeth colocou o cigarro no cinzeiro e também se sentou. Pegou a ficha e o currículo


de Edward e começou a ler atentamente.

— Seu currículo não tem muita coisa. – murmurou, porém, o homem parecia estar em
outra dimensão. — Senhor Smith?

― Me, me desculpe – ele gaguejou. ― O que a senhorita dizia?

Elizabeth quase bufou, então desceu o olhar para os papéis na mesa.

― Formado pela Universidade de Oxford? – perguntou um tanto quanto assustada. O


que um cara formado pela Oxford estaria fazendo ali?

Edward pensava que enganava alguém, porém, ela não.

― Sim. – ele respondeu. ― Estou em busca de experiências. – esclareceu.

Elizabeth o encarou por alguns segundos tentando decifrá-lo. Pela primeira vez, um de
seus candidatos tinha algo que lhe soou diferente. Ela sabia que deveria dispensá-lo, mas esse
tal Edward Smith era o único que não a encarava com medo.

Continuou em silêncio analisando seus outros dados enquanto sentia que ele fazia o
mesmo. Por um segundo pensou em perguntar: “― Quem você pensa que é para me olhar
assim?”

No entanto, estava cansada de entrevistas.

Colocou o papel de lado e voltou a encará-lo.

― Tem alguma experiência como assistente pessoal?

― Não... – ele respondeu devagar. ― Mas, tenho certeza que farei o melhor para não
desapontá-la.
Será? Ela tinha suas dúvidas...

― Senhor Smith, sabe por que não contrato mulheres para esta vaga? – essa era a hora,
se ele fosse fraco, desistiria no mesmo instante.

Ela notou que ele vacilou.

― Não sei, senhorita.

― Elas não me aguentam um dia sequer. O senhor tem certeza que gostaria da vaga?

Ela esperou que ele desistisse e que saísse correndo, assim como o último fizera. Porém,
ele ergueu o queixo e a fitou arrogantemente.

― Eu preciso deste emprego e garanto que irei fazer o melhor.

Elizabeth não teve dúvidas nesse momento. Era de alguém assim que precisava. Alguém
que desafiasse seus próprios limites.

Pegou sua caneta e assinou os papéis.

― Leve essa papelada para Jane e ela cuidará de tudo, comece amanhã. – determinou.
― É um prazer tê-lo em nossa empresa, senhor... – olhou para o papel. ― Smith.

Com educação, estendeu a mão para cumprimentá-lo. Edward a apertou de volta.

― O prazer é meu, ao fazer parte desta equipe, senhorita... – olhou para a plaquinha de
metal. ― Adams.

Elizabeth o fitou por alguns instantes, enquanto suas mãos estavam unidas naquele
cumprimento. Pela primeira vez, algo pareceu dar certo naquele dia. Ela realmente esperava
que ele cumprisse com suas obrigações e fosse um bom assistente.

― Até amanhã então, senhorita Adams.

Ele sorriu, porém, ela não retribuiu. Para quê sorriria de volta? Sua vida não tinha
motivos para distribuir sorrisos. Edward se levantou e saiu da sala, carregando um sorriso
que a deixou intrigada.

“Será que eu fiz a escolha certa?”

Clark anota mais alguns dados em sua prancheta. Anthony estava ao seu lado observando
e esperando o momento certo para colocarem o plano em ação.
— Nenhuma melhora?

— Elizabeth é um caso estranho, digamos assim. – Clark deu um meio sorriso. — Ela...
parece estar sonhando com algo.

— Pode acontecer?

Clark deu de ombros.

— Não temos como determinar, mas é fato que há atividade cerebral e com isso, ela pode
estar revivendo coisas do passado.

Anthony assentiu.

— Pois bem, você conseguiu a roupa? Onde está?

O médico se aproximou dele e lhe entregou uma chave.

— No armário temos algumas roupas. Vá e pegue, mas você nunca recebeu essa chave da
minha mão, ok?

Anthony segura o objeto com força.

— Nem te conheço, Clark.

Os dois assentiram e o médico saiu do quarto. Anthony soube que esse era o momento
para colocar o plano em prática. Aproxima-se do leito e passou uma das mãos no rosto de
Elizabeth.

— Espero que ele consiga trazer você de volta. Estamos com saudades, Lisa.

Anthony olha para a cômoda em frente ao leito e ve o vaso que a enfermeira tinha trazido
para colocar as flores. Olha em seu relógio e faltavam apenas dez minutos para o horário que
tinha combinado com Edward.

Não podia perder mais tempo. Saiu pelo extenso corredor branco e caminhou a passos
apressados. Passou pela recepção e por sorte, Michael não estava lá, muito menos Gwen.
Serena já estava sentada, lendo uma revista enquanto fingia esperar notícias de alguém.

Anthony saiu do hospital pelas escadas de emergência e caminhou até a parte traseira do
hospital. Edward estava esperando-o lá, dentro do veículo.

— Edzão, aqui está a chave do armário dos médicos. – ele abre a porta do carro. — Corre
lá, mano. Eu vou ficar na recepção para qualquer emergência.
Edward pula para fora do carro.

— Ótimo. Em qual quarto ela está?

— Primeiro andar, quarto 6 B, mas eu vou com você até lá.

Anthony aperta o botão na chave para trancar o carro e disparam a caminhar. Edward não
conhecia todas as dependências do hospital e, por isso, preferiu seguir o amigo. Eles entraram
por uma porta traseira e foram direto para as escadas de emergência, dispostas em um caracol
gigantesco.

Ao chegarem no primeiro andar, Anthony abre a porta lentamente. O corredor estava


vazio.

— Barra limpa. – murmura. — O armário é naquela porta ali. – apontou e deixou que
Edward visualizasse. — Você vai lá, se veste e vai seguir por esse mesmo corredor até o final.
Lá é o quarto da Lisa.

Edward assentiu.

— E você?

— Vou para a recepção. Boa sorte, amigão.

Anthony sai primeiro para checar se a barra realmente estava limpa. Confirmando, acena
para Edward, que sai o mais rápido que pôde e foi até a porta que o amigo tinha lhe indicado.

Com agilidade, gira a chave e entra no armário, um cubículo que continha algumas roupas
de médicos e enfermeiros. Escolheu qualquer um que lhe parecia servir e vestiu depressa.

A roupa era perfeita, afinal de contas. Era uma roupa azul, usada geralmente por
enfermeiros, com uma máscara no mesmo tom. Ninguém o reconheceria.

Edward abre a porta lentamente, o corredor continuava vazio. Olha no relógio, já estava
na hora. Sai depressa e fecha a porta, sem esquecer de trancá-la, afinal, não queria arrumar
confusão para o doutorzinho.

Assim como Anthony dissera, ele segue pelo corredor procurando pelo quarto 6 B,
encontrando-o no final, a última porta. Seu coração se apertou assim que colocou a mão na
fechadura.

Sua sorte era que naquele horário, todos, inclusive enfermeiras, estavam mais
preocupadas em comer do que ficar de olho nos pacientes. Girou a maçaneta e entrou,
encontrando-a deitada no leito, com várias agulhas pelo corpo e aquele monitor que mostrava
seus batimentos cardíacos.
Nesse momento, seu coração se apertou ainda mais. Fecha a porta e foi impossível
controlar suas lágrimas. A saudade e o medo de perdê-la eram sentimentos que se misturavam
em seu peito.

Aproxima-se do leito e retira a máscara. Edward nunca pensou que fosse chorar por uma
mulher, mas a verdade era uma só: ele a amava mais que tudo e vê-la naquela situação fazia
seu mundo perder o sentido.

— Eu estou aqui, meu amor.

Anthony voltou para a recepção e foi até o bebedouro. Precisava ficar de olho para que
nada desse errado. Clark se encarregaria das enfermeiras enquanto ele, de Gwen ou até
Michael, se aparecessem. Coisa que achava impossível, ainda mais naquela hora da noite.

Serena levanta o olhar da revista e assentiu minimamente.

Estava tudo ok.

Ele bebeu mais um pouco de água e relaxou, tudo estava saindo conforme o planejado,
então resolveu relaxar. Caminhou até onde Serena estava e se sentou ao seu lado.

— Tudo certo por enquanto. – ela murmurou.

— Está sim, duvido que Michael vá aparecer aqui.

Serena suspira.

— Ele deve ser um cretino, né?

— Você nem imagina o quanto. – Anthony ri sem humor. — Não sei como a Lisa
aguenta.

— Pela foto que você me mostrou ele é um cara bonito. – Serena divagou. — Essa mulher
tem mel não é? Só atrai cara bonito!

Anthony riu.

— O que você quer? A Lisa é...

De repente ele para de falar e arregala os olhos.


— Ela é o quê?

— Merda! – Anthony xinga. — Michael está aqui.

Serena olhou na mesma direção que Anthony e sentiu a temperatura do corpo subir uns 20
graus. O que fariam agora?

— Meu Deus do céu.

Anthony se levanta mais rápido que um raio e se dirige ao balcão da recepção, onde
Michael estava se identificando.

— O que você está fazendo aqui? – pergunta ao cutucá-lo nas costas.

Michael se vira lentamente e fita-o com seu famoso olhar arrogante.

— Acho que vim visitar a minha noiva. Algum problema?

O problema era que Anthony não sabia ficar longe de confusão e quando estava em
alguma situação apertada, sempre entregava o jogo.

— Nenhum... - murmura. — É que está tarde...

Michael apoia um dos braços no balcão e de repente desvia o olhar para a pessoa atrás de
Anthony.

— Quem é essa?

Anthony vira para trás desesperado. Serena não podia se intrometer. Se ela abrisse a boca,
seu sotaque entregaria tudo.

— Quem? Essa moça? Ah... ela está esperando alguém e eu estava conversando com ela.

Michael analisa-os por alguns segundos, assentiu e se vira para a recepcionista.

—Enfermeira posso entrar para ver Elizabeth?

— Não, não pode. – Anthony se intromete. — Deixa a Lisa descansar cara. Como você
quer que ela volte desse jeito?

Michael já estava de saco cheio com aquela intromissão de Anthony e estava achando
aquilo tudo muito estranho. Olhou mais uma vez para a menina ao seu lado e percebeu que ela
não aparentava ser dali. Ela tinha algo diferente e ele não era trouxa.

— Você é daqui, mocinha?


Serena engoliu em seco e tentando não entregar seu sotaque, falou lentamente.

— Sou sim.

Michael ergue uma das sobrancelhas.

— Sério? Onde você mora?

Pronto, ferrou. Serena não conhecia absolutamente nada daquele lugar. Foi então que se
lembrou de uma conversa que teve com Edward e que ele mencionara que viveu num bairro
chamado Brooklyn.

— Brooklyn.

— Ela chegou há pouco tempo. Veio da Suécia. – Anthony tentou disfarçar.

Michael os fitou por mais alguns instantes, achando aquilo tudo muito estranho. Anthony
estava aprontando alguma e esperava que não fosse o que pensava.

— Ótimo, agora se me dão licença, vou ver a minha noiva.

“Maldito homem teimoso”, Anthony pensou.

Certas situações pediam medidas extremas.

— Serena, vá para o carro! Vou avisar ele.

Dizendo isso, entrega as chaves na mão da jovem e sai em disparada pelo extenso
corredor.

— Maldição!

Suas suspeitas se confirmaram quando viu Anthony correr para dentro do hospital. O
sangue de Michael ferveu e jurou que agora ensinaria uma boa lição ao inglês metido. Sem
perder tempo, Michael corre atrás de Anthony, esbarrando em alguns enfermeiros e médicos
que voltavam aos seus postos.

E ali, o alvoroço começou.

Edward tinha acabado de lhe contar que Rebecca estava em Nova York e que desejava
vê-la quando ouviu uma gritaria no corredor. Preocupado, se levantou, porém, antes que
pudesse se despedir, a porta se abriu com um estrondo.

— VAMOS EDZÃO, A CASA CAIU!

Entretanto, ele queria se despedir dela. Edward olha para Elizabeth pela última vez e
quando decidiu que era melhor ir embora, Michael passa pela porta com o olhar carregado de
fúria.

— Seu maldito! – rosna ao partir para cima de Edward. — Eu disse que não o queria aqui.

Edward não queria brigar dentro do hospital, mais precisamente dentro do quarto de
Elizabeth e por isso não revidou.

— Olha cara, eu... – e não houve tempo para terminar sua frase, pois Michael lhe desferiu
um soco no lado direito.

Anthony grudou nas costas de Michael e tentou segurá-lo, porém a sua fúria estava toda
concentrada em acabar com Edward.

— Eu disse que não o queria aqui! – Michael berra. — ELA É MINHA. ELA VAI SE
CASAR COMIGO!

Edward sente o sangue escorrer de seu nariz, não era idiota e não deixaria isso assim, sem
pensar em mais nada, parte para cima de Michael, disposto a devolver o soco quando Clark e
uma equipe de enfermeiros entraram no recinto.

No entanto, o que os fez parar a briga não foi a equipe que entrou naquele momento, mas
sim o monitor que marcava os batimentos de Elizabeth, apitando um barulho ensurdecedor. E
eles sabiam que barulho era aquele. Um apito sem fim... que só podia significar uma coisa:

Elizabeth estava morrendo.


Elizabeth abriu os olhos lentamente, tentando acostumar sua vista à claridade do recinto.
Sua cabeça doía e sua boca estava seca, precisava urgente de um copo de água.

— A... água... – murmura com dificuldade.

— Que bom que você acordou, querida. – o homem à sua frente disse. — Pensamos que a
perderíamos.

Elizabeth ouve aquelas palavras mas sua cabeça ainda estava atordoada. Onde estava? O
que tinha acontecido?

O homem de branco se aproxima de uma mesinha e enche um copo com a água que
estava num recipiente de vidro. Ele volta para ela e lhe entrega o copo.

Suas mãos ainda tremiam e ao ver que não conseguiria segurar o objeto, o homem a
ajuda, derramando com delicadeza e saciando sua sede.

Elizabeth engole todo o liquído e sente sua garganta se limpando. Aquela sensação era
boa demais.

O homem recolhe o copo vazio e o coloca de volta na mesinha. Volta para ela e acende
uma lanterna pequena.

— Olhe para cima, por favor.

Ela fez o que ele pediu e ele gentilmente analisou seus olhos.

— Como se sente?
Elizabeth olha para os lados e depois para ele.

— Minha cabeça dói...

— Isso é normal. – o homem disse. — A pancada na sua cabeça foi muito forte e por
pouco você não resiste.

— Mas o que aconteceu?

Clark a fita por alguns instantes.

— Não se lembra?

Elizabeth pensa e pensa, porém, nada veio à sua cabeça.

— Não... onde estou?

— Você está no hospital. – ele responde calmamente. — Lembra-se do seu nome?

— Sim. Elizabeth Adams.

— Ótimo.

Clark pega sua prancheta e anota alguns dados.

— Lembra-se de sua família?

Elizabeth leva a mão até a cabeça e fecha os olhos.

— Gwen... minha irmã. Eu me lembro dela.

— E de quem mais você lembra?

— Anthony. Onde ele está?

Clark suspira aliviado. Pelo menos ela se lembrava das pessoas.

— Lembra o meu nome?

Elizabeth o fita, pensa por alguns instantes e sorri.

— Clark. É claro que me lembro.

O médico fez mais algumas anotações na prancheta.

— Tem alguém esperando para te ver.


Ela não sabia se queria ver alguém naquele momento. Parecia ter acordado de um sono
profundo, e mesmo assim, se sentia muito cansada.

O médico foi até a porta, abriu e chamou alguém. Logo depois, Elizabeth o viu. Ele
segurava um buquê de rosas.

— Seja bem vinda, meu amor.

Meu amor?

Elizabeth analisa seu rosto, porém, não se lembra de absolutamente nada em relação
àquele homem a sua frente.

Ela olha para o médico, desesperada.

— O que ela tem? – Michael pergunta ao médico, impaciente.

— Eu não sei... – Clark gaguejou. — Elizabeth, está tudo bem?

Ela nega com a cabeça.

— Quem é ele?

Michael arregala os olhos sem acreditar naquela situação. Elizabeth não se lembrava
dele?

— EU VOU MATAR AQUELE DESGRAÇADO! – Edward berrou ao chutar a roda do


carro.

— Calma Edzão. – Anthony toca em seu ombro. — Não adianta ficar assim.

— NÃO? COMO NÃO? AQUELE MISERÁVEL ME CHUTOU PRA FORA DO


HOSPITAL!

— Cara... No momento não podemos fazer nada. – Anthony suspira. — Mas agora a Lisa
acordou. O monopólio deles vai acabar.

Edward encosta as mãos no carro e respira fundo dez vezes. Precisava mesmo se acalmar,
no entanto, sua vontade era pegar uma arma e dar um tiro na cara de Michael.
— Anthony, você precisa voltar lá e saber como ela está.

— Você não viu que ele me expulsou também? – Anthony arregalou os olhos. — Eu
sempre soube que ele me odiava, mas não sabia que era ao extremo.

— Gente, desculpa... eu acabei estragando tudo. – Serena se encostou ao carro. — Se eu


não tivesse ido ao lado de Anthony nada disso teria acontecido.

— A culpa não é sua. – Edward disparou. — A culpa é do Michael, aquele desgraçado


dos infernos.

Eles ficaram em silêncio por muitos minutos. Anthony estava chateado por não poder
estar ao lado de Elizabeth nesse momento. Edward se sentia da mesma maneira, mas talvez um
pouco mais.

Ele a amava, afinal.

E Serena, se sentia mal por ter estragado toda a situação.

— Eu vou falar com a Gwen, não podem me impedir de ver a Lisa. – Anthony bufou. —
Somos amigos desde a infância.

Ele desviou o olhar para Edward e lhe estendeu as chaves. — Vá para o seu apartamento e
descanse. Amanhã te informo notícias sobre ela.

Edward assentiu e pegou as chaves.

— Avisa aquele imbecil que não vou deixar essa afronta assim. Ele não sabe quem eu
sou.

E Michael não sabia mesmo. Edward era uma boa pessoa, gentil e educado, porém,
quando alguém ousava entrar em seu caminho, conhecia a fúria escondida dentro de si. Com
essa raiva em seu peito, entrou no carro e após se certificar que Serena tinha colocado o cinto,
ligou o carro e acelerou.

— A falta de memória dela pode se instantânea. – Clark se adianta. — Já vi alguns casos


assim. A pessoa se lembra de algumas coisas, de outras não...

Michael bufou. Era só essa que faltava.


— Elizabeth, querida. Sou eu, Michael, seu noivo.

Ela ainda o fitava assustada, sem saber o que dizer. Não conseguia se lembrar de seu
rosto, nem de sua voz.

— Eu vou deixá-los a sós. Vocês precisam conversar.

O médico pegou sua prancheta, virou as costas e saiu. Michael olhou para a cômoda em
frente ao leito e se enfureceu ao ver o buquê de flores que Edward havia levado. Olhou para as
suas e viu que não tinham o mesmo esplendor.

Respirou fundo, tentando controlar seu gênio e colocou as flores em cima da cômoda.
Elizabeth analisou cada um de seus movimentos, em silêncio.

Ele se volta para ela e deu um meio sorriso. Se Elizabeth não se lembrava dele,
certamente não se lembrava das coisas que haviam acontecido no passado. Será que essa era
uma nova chance que a vida lhes dava?

Talvez aquela situação não fosse de toda ruim.

— Como você se sente?

— Com dor de cabeça e cansada.

Michael suspirou e se sentou na beirada do leito.

— Se quiser eu chamo o médico de novo.

— Não, não precisa. – Elizabeth encostou a cabeça no travesseiro. — Nós íamos nos
casar?

— Nós vamos... – ele disse e de repente ela o fitou assustada. — Digo, em breve... nosso
casamento estava marcado para o próximo fim de semana, mas com tudo o que você passou,
creio que seja bom adiarmos mais um pouco.

Elizabeth relaxa.

— Acho que seria bom.

Michael segurou sua mão por alguns instantes e algo dentro de si amoleceu. Aquelas
mãos finas, aquele olhar perdido. Sim, ele a amou alguma vez. Ele a desejou tanto que chegou
a doer, mas então as coisas aconteceram e ele se deixou levar pela mágoa.

Respirou fundo e desejou que nada daquilo tivesse acontecido. Ele desejava que um dia
Elizabeth pudesse perdoá-lo pelo que estava prestes a fazer. Sabia que ela não o amava mais e
nem iria pedir isso em troca. Ele sabia que era um desgraçado.

— Desde quando estamos noivos?

Ele depositou um beijo na sua mão e suspirou.

— Fazem alguns anos.

Elizabeth sente o toque dos lábios daquele homem desconhecido em sua mão e aquilo a
desconcertou. Ela queria se lembrar para ver era aquilo era verdade.

— Onde está minha irmã? Anthony?

Michael ergueu os olhos.

— Se lembra de Anthony?

Elizabeth se sentiu culpada por aquilo.

Michael vendo que ela não responderia, bufou e mais uma vez tentou se controlar.

— Anthony deve ter ido embora.

Ela sentiu como se não fosse certo perguntar por Anthony. Sua mente ainda estava
nublada e ela não conseguia se lembrar de muita coisa. Ela se lembrou de nomes e rostos, mas
o que havia acontecido em sua vida até ali, ainda era algo desconhecido.

— O que aconteceu comigo?

Michael suspirou. Não gostaria de dizer que ela tinha sofrido aquele acidente logo após
ter passado algumas horas com o cretino do Edward Smith, ou Phillips, nem ele sabia como
deveria chamá-lo.

— Você estava distraída quando um carro veio em alta velocidade.

Elizabeth assentiu e alguns flashbacks vieram à sua cabeça. Ela estava chorando,
desesperada quando atravessou a rua e viu os faróis de um carro.

— Sim... eu me lembro.

Michael arregalou os olhos.

— Lembra de tudo o que houve naquela noite?

Elizabeth negou com a cabeça.


— Lembro só de estar chorando e o carro vir na minha direção.

Michael respirou fundo e rezou para que ela não se lembrasse do restante. Aquele jogo era
muito arriscado, mas pelo menos até se casarem, ele preferia que sua memória continuasse
assim.

— Olha, eu sei que as coisas são um pouco difíceis, - Michael pegou em sua mão
novamente. — Mas eu gostaria que pudéssemos recomeçar à partir de hoje. Uma nova vida, o
que acha?

Elizabeth viu uma ponta de sinceridade naquelas palavras, mas dentro de si, sabia que
algo não estava normal. Sua cabeça se recusava a lhe fornecer as memórias necessárias para ter
certeza de que o que aquele homem falava era verdade.

— Eu preciso me lembrar das coisas.

Michael assentiu e se levantou.

— Vou deixá-la descansando e vou avisar a sua irmã. Creio que amanhã ou depois você
já poderá sair desse lugar.

— Tudo bem.

Michael hesitou por um instante, mas logo depois se aproximou e depositou um beijo no
topo da cabeça de sua noiva. Uma voz dentro de si, lhe disse o quanto era um desgraçado.

Ele não merecia ter recomeços.

Elizabeth o viu se afastar e engoliu em seco. Quem era aquele homem? Por que não se
lembrava dele?

Encostou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos. Provavelmente aquela era uma perda
de memória temporária. E ela esperava que assim fosse.

Três dias se passaram e Elizabeth não via a hora de poder ir para casa. Apesar do ótimo
tratamento, a comida do hospital era horrível. Sem falar na programação da TV, que era um
lixo. Sua memória começava a dar sinais de vida, fazendo-a se lembrar de quem era,
principalmente na empresa.

Ela era a CEO de uma grande corporação, que atualmente passava por problemas
financeiros. Michael todos os dias ficava uma hora com ela, conversando e a colocando por
dentro das coisas.

E apesar da conversa amigável entre os dois, ela ainda não conseguia se lembrar quem ele
era. Michael era uma parte de sua vida que estava em branco. E ela tinha medo do que
isso significava.

Anthony só pôde visitá-la no último dia, quando o próprio Clark disse na frente de
Michael que Anthony estava há dias querendo visitá-la.

— Por que não o deixa entrar? – Elizabeth fitou seu noivo. — Ele é meu amigo, não é?

— Ele é. – disse com desgosto. — Não me entenda mal, Elizabeth. Eu não o deixei entrar
porque da última vez ele fez um escândalo.

E apesar disso, Elizabeth quis vê-lo. Michael saiu do quarto e com a raiva contida, deixou
que Anthony entrasse.

Anthony segurava um buquê de rosas brancas e ao entrar, vislumbrou o sorriso de sua


amiga.

— Vejo que está ótima. – comentou ao lhe entregar as flores.

— Estou bem. – Elizabeth sorriu e cheirou as rosas. — Elas são lindas. Obrigada.

Elizabeth lhe devolveu as rosas e ele colocou em cima da cômoda. Depois, se sentou na
poltrona ao lado do leito.

— Alguma novidade?

— Acho que nenhuma. – suspirou. — Tony, é verdade que eu estava para me casar com
Michael?

Anthony arqueou a sobrancelha.

— Ué. Você não lembra?

Elizabeth negou com a cabeça.

— Jura?

— Sim. Por quê? Ele está mentindo?

Anthony relaxou na cadeira enquanto gargalhava alto.

— Por que está rindo? Anthony, pelo amor de Deus! – ela vociferou. — O que está
acontecendo?

Anthony parou de rir e a encarou. Ponderou por alguns instantes se deveria ser sincero ou
não.

— Do que exatamente você se lembra?

— Me lembro de você, meu melhor amigo. Gwen, minha irmã. Clara, sua irmã e Jason,
nosso amigo da escola de dança. Sei que sou a CEO de uma grande corporação. E só. Não me
lembro de mais nada.

Anthony arqueou a sobrancelha. Deveria mencionar sobre Edward?

— Você não se lembra do que aconteceu do ano passado para cá?

Elizabeth forçou um pouco a memória. — Poucas coisas. Lembro que eu estava


procurando um assistente, porque o imbecil do Alex me humilhou na frente dos outros.

— Não se lembra que você ia se casar com Michael?

Ela negou com a cabeça mais uma vez.

Anthony esfregou o rosto, alarmado com aquela situação. Elizabeth realmente não se
lembrava de Michael e muito menos de Edward.

— Daqui a pouco sua memória volta. – ele suspirou. — Vai para casa hoje?

Elizabeth assentiu.

— Ótimo. Quer que eu a acompanhe?

— Não é necessário. – Michael respondeu ao entrar no quarto. — Eu acompanharei


Elizabeth.

Anthony olhou para sua amiga e respirou fundo. Realmente esperava que ela se
recordasse de tudo. Nessa situação, Michael poderia fazer o que quisesse e manipulá-la ainda
mais.

Anthony se despediu dela com um beijo no topo da cabeça e saiu. Michael a ajudou a se
vestir e recolher suas coisas. Clark foi até o quarto e assinou sua ficha de saída, entregando à
enfermeira. Elizabeth não via a hora de chegar na sua casa.

Gwen, Jason e Clara os esperavam na recepção do hospital. Eles a abraçaram e Michael


lhes explicou que ela ainda estava se lembrando de algumas coisas.
Elizabeth percorreu todo o caminho até sua casa em silêncio. Michael estava ao seu lado e
vez ou outra segurava em sua mão, tentando resgatar a relação que existira no passado. Ele
sabia que no momento em que ela se lembrasse de tudo, ela o rejeitaria e o odiaria como estava
fazendo desde que voltou do suposto acidente aéreo.

No entanto, apesar de seus conflitos interiores, ele dizia a si mesmo que aquele casamento
era apenas uma forma de se apossar do reinado de Elizabeth.

O carro estacionou em frente ao edifício e Elizabeth desceu do carro, respirando o ar ao


seu redor. Ela se lembrava daquele lugar e de como ele era especial para o seu pai. Ela se
lembrava de tudo, por que o homem ao seu lado lhe era um estranho?

— Vamos? – Michael lhe estendeu a mão e ela olhou no fundo dos olhos escuros daquele
homem e encaixou a sua mão na dele.

Ele a guiou com delicadeza pelo hall de entrada e pelo elevador. Quando parou no último
andar, Elizabeth entrou em seu apartamento e sorriu por finalmente estar em sua casa.

— Seja bem vinda de volta, senhorita Adams. – Jofrey a cumprimentou. Elizabeth se


aproximou e o analisou por vários instantes até abrir um leve sorriso.

— Olá, Jofrey.

Ele suspirou aliviado, pois ficara sabendo que sua patroa tinha perdido algumas
memórias. Por curiosidade, ela se lembrava daquele pobre mordomo.

Michael se aproximou, enlaçou sua cintura e fuzilou Jofrey com o olhar.

— Bom, eu vou me retirar. Se a senhorita precisar de algo é só me chamar.

Elizabeth assentiu e se sentiu estranha ao ter o toque daquelas mãos em sua cintura.

— Eu estou cansada... – murmurou, tentando encontrar uma desculpa para ficar longe do
homem. — Vou para meu quarto.

Michael assentiu e puxou-a contra seu peito.

— Eu senti a sua falta. – disse com sinceridade. — Eu senti medo de te perder.

Elizabeth encarou novamente aqueles olhos escuros e suspirou. Será que ele falava a
verdade? Sua mente não a ajudava, por mais que tentasse.

— Michael eu... preciso de um tempo para me lembrar das coisas.

Ele não queria que ela se recordasse.


— Tudo bem, vou deixá-la descansar. – suspirou e antes de soltá-la, desceu o rosto e a
beijou nos lábios.

Elizabeth sentiu aqueles lábios contra os seus e nenhum sentimento a despertou. Os lábios
de Michael se moveram contra os dela e para não desagradá-lo, deixou que ele a beijasse. No
entanto, se ele era seu noivo e se iria se casar com ele, deveria sentir algo, não?

— Desculpa atrapalhar o casal. – eles se separaram ao ouvir a voz de Gwen. — Vejo que
estão se entendendo novamente.

Michael virou o rosto para sua cúmplice e a fulminou com o olhar.

— Ah... – Elizabeth suspirou. — Acho que sim.

— Vá descansar, maninha. – Gwen sorriu. — Você passou por muita coisa nos últimos
tempos.

Elizabeth assentiu e se afastou, seguindo em direção às escadas. Gwen e Michael


observaram enquanto ela subia e quando já tinha desaparecido de suas vistas, a loira o chamou
em direção ao escritório.

Michael fechou a porta atrás de si e a trancou, não precisavam que alguém aparecesse de
repente e ouvisse a conversa.

— Que merda você pensa que está fazendo? – Gwen se jogou na cadeira de sua irmã.

— Do que está falando?

Ela arqueou a sobrancelha.

— Acha que não sei que está batendo uma ponta de arrependimento?

Michael revirou os olhos.

— Não fale besteiras.

Gwen se levantou, furiosa. — Nem pense em voltar atrás no nosso plano, Michael.
Elizabeth não é confiável e nós devemos tomar tudo o que lhe pertence. Você não se lembra do
que ela fez?

Michael fechou os olhos e se lembrou daquele dia. A dor em seu peito veio mais uma vez.

— Eu vi como você a beijou. – Gwen murmurou, irritada. — Ela não merece o seu
coração. Ela te odeia... como você mesmo disse, foi só o idiota do Lorde inglês voltar que ela
correu para os braços dele. Elizabeth nunca te amou.
Gwen tinha razão, pensou ele. Elizabeth não merecia seu coração.

— Eu estou seguindo com o plano Gwen, mas vai ficar difícil se aquele imbecil fizer ela
se lembrar de tudo. Nesse ponto, temos a sorte ao nosso lado, até que sua memória volte.

A loira se sentou novamente e pensou por alguns instantes.

— Eu vou tomar as rédeas da situação, caso Elizabeth se lembre dele, e vou colocar o
plano B em ação.

— E que plano é esse?

— Espere e verá.
Elizabeth acordou no dia seguinte, e após se levantar, andou de um lado para o outro
reconhecendo o ambiente em que estava. Apesar de se lembrar de quem era e das pessoas que
a rodeavam, parecia que algumas coisas em sua vida simplesmente tinham sido apagadas.

Frustrada, pegou o celular e buscou o número de Clark na memória do aparelho. Rolou


várias páginas e não encontrou nada.

— Droga. – jogou o celular em cima da cama. — Por que não consigo me lembrar do
Michael?

— Lisa... – a voz ecoou da soleira da porta e Elizabeth levantou os olhos. Era sua irmã e
ela estava elegante em um vestido preto até os joelhos. Sua memória estava um pouco ruim,
mas... algo lhe dizia que aquela roupa era sua.

— Esse vestido não é meu? – arqueou a sobrancelha.

— Eu pensei que você não se importaria...

— Eu não me importo. – replicou. — Tenho outras coisas para me preocupar.

Gwen colocou a bolsa em cima da cama e se sentou ao lado de Elizabeth. Abraçou a irmã
e suspirou.

— Não fique assim... tudo vai ficar bem, você vai ver.

Elizabeth fechou os olhos. Era o que ela mais queria, sem dúvidas.

— Você vai sair? – perguntou.


— Bom, eu estava indo para a empresa nesses dias que você estava em... – parou de falar
temendo que Elizabeth se chateasse.

— Em coma, não é?

— Sim.

Elizabeth suspirou e se levantou bruscamente. — Então devo ir também. Quero voltar


minha vida ao normal o quanto antes.

Gwen segurou seu pulso. — Acho melhor você ficar em casa descansando.

— Não, eu preciso ir...

— Você precisa é descansar e se recuperar completamente. – Gwen se levantou e encarou


sua irmã. — Deixa comigo, tudo está em ordem.

Elizabeth suspirou, dando-se por vencida. Realmente deveria colocar sua cabeça em
ordem para poder se lembrar de tudo.

— Sem falar que logo teremos o seu casamento...

— Casamento? – Elizabeth contorceu o rosto em uma careta. — Não pretendo me casar


enquanto não me lembrar dele.

Gwen arregalou os olhos.

— Meu Deus! Você não pode fazer isso com o pobre Michael!

Elizabeth se afastou de sua irmã e foi até a janela. — Como eu posso me casar com
alguém que eu não reconheço?

Gwen pegou a bolsa em cima da cama, colocou a alça no ombro e se aproximou de sua
irmã.

— Como nosso pai dizia, amor vem com o tempo.

Elizabeth se virou e encarou sua irmã. Ela se lembrava vagamente de seu pai. Das coisas
que ele dizia e do quanto ele a amou. Das vezes que ele a levou para dançar na escola de Jason,
dos jantares no restaurante do Central Park.

Gwen a beijou no rosto, como o próprio Judas fez com Cristo.

— Semana que vem retomamos os preparativos. – sorriu. — Já era para você estar casada,
no entanto, tivemos que adiar. Mas nada que não possa ser remarcado o mais rápido possível.
Ela lançou um último sorriso e se retirou, deixando Elizabeth para trás com suas
frustrações. Suspirou e se jogou na cama, sentindo uma leve pontada na cabeça. As coisas
ainda demorariam para voltar ao lugar.

Elizabeth pegou seu celular e decidiu averiguar se alguma coisa nele a fazia se lembrar
das páginas em branco da sua vida. Abriu a galeria de fotos, esperando encontrar pelo menos
alguma foto que denunciasse seu compromisso com Michael.

Mas o que encontrou a deixou boquiaberta.

Na foto, estava abraçada com um homem de cabelos claros e olhos azuis igual o mar. Eles
estavam com os rostos colados, sorrindo como se fossem... namorados?

Quem diabos era aquele homem?

Memórias invadiram sua mente e ela deixou o celular cair de suas mãos. Em sua mente,
viu o homem da foto, elegante em um terno azul marinho, abrindo um sorriso encantador
enquanto a puxava para uma dança.

Seu peito se apertou e o ar faltou de seus pulmões. Fechou os olhos para tentar se lembrar
de mais coisas, mas isso não a ajudou em nada.

Ela precisava descobrir quem era aquele homem.

Apesar da recomendação de Clark e de sua irmã, não podia ficar trancada dentro de casa
enquanto sua vida era manipulada pelos outros. Foi até o closet, escolheu um vestido azul e o
deixou em cima da cama. Tirou suas roupas e entrou no seu luxuoso banheiro, deixando-se
relaxar debaixo da água quente.

Sua mente deu voltas e algumas imagens a cercaram, mas em nenhuma dessas imagens
conseguiu distinguir quem era aquele rapaz.

Após se vestir e estar devidamente maquiada, olhou-se no espelho e percebeu que aquela
era a Elizabeth que sempre foi. Seus cabelos estavam presos em um coque e seu habitual
batom vermelho fechando o visual com chave de ouro.

Pegou sua bolsa e saiu de seu quarto, pronta para tentar sanar aquelas dúvidas. Jofrey
estava no final da escada, esperando-a como sempre, com seu olhar suave.

— A senhorita vai com seu carro ou quer que eu chame o motorista?

— Chame o motorista, por favor.

Jofrey assentiu e se retirou. Elizabeth aproveitou a deixa para vasculhar em seu escritório
algo que a ajudasse refrescar sua memória.
Ao entrar no escritório, olhou em volta e ao que parecia, tudo estava do jeito que tinha
deixado. O retrato de sua família, estava pendurado no mesmo lugar e ao olhar para a cadeira
em frente à mesa, algumas cenas retornaram à sua cabeça.

O mesmo homem de olhos azuis estava sentado com um notebook nas mãos, atento à tudo
o que ela falava. Porém, na imagem que visualizava, não conseguia se lembrar das palavras
exatas que usara.

Jofrey bateu na porta e Elizabeth se virou.

— O motorista já está esperando a senhorita.

Elizabeth suspirou e saiu do escritório. Desceu pelo elevador e cumprimentou John


Meyers, que já estava pronto com a porta do carro aberta.

O caminho até a empresa foi rápido. A cada esquina, uma memória diferente vinha à sua
cabeça. Era estranha aquela sensação, mas sabia que logo tudo voltaria ao normal e sua vida
entraria nos eixos.

Ao descer do veículo, sorriu ao reencontrar a sede de suas empresas. Não deveria estar ali,
mas algo em seu peito denunciava que a resposta para o que precisava, estava dentro de seu
escritório. Não podia ficar em casa com as pernas para o ar.

Quando passou por alguns funcionários eles a cumprimentaram com receio. Foi até o
elevador e pegou o celular na bolsa, procurou pela foto e a encontrou. Memorizou cada detalhe
daquele rosto masculino.

E mais uma vez se perguntou:

Quem é esse homem?

A porta de ferro se abriu e Elizabeth encontrou sua secretaria conversando com um outro
funcionário que ela não se lembrava quem era. Talvez esse sujeito nem fizesse tanto sentido
em sua vida.

— Oh meu Deus. – a loirinha murmurou. — Senhorita Adams! É bom revê-la!

Elizabeth abriu um meio sorriso e olhou ao redor. Olhares curiosos eram direcionados até
ela. Será que eles estiveram preocupados com sua saúde? Ou tudo isso era medo de que ela
voltasse pior do que era antes?

— Bom dia... Jane. – esforçou um pouco e se lembrou do nome dela. — Está tudo bem
por aqui?

— Está sim... mas a sua irmã disse que não viria tão cedo.
— Pois é. Mas eu vim. – Elizabeth respondeu. — Quem está na minha sala?

— Michael, digo, - balançou a cabeça. — Senhor Sanders, seu noivo, mas ele disse que
estaria em reunião e não gostaria de ser incomodado.

Elizabeth assentiu.

— Tudo bem. Eu vou até lá.

— Eu vou avisá-lo... – antes que ela pudesse terminar sua frase, Elizabeth apertou o
gancho do telefone.

— Não precisa avisar o meu noivo, não é? Aliás, quem é a chefe por aqui mesmo?

Jane deu um meio sorriso, um pouco nervosa. Elizabeth podia ter perdido a memória, no
entanto, o gênio parecia continuar o mesmo.

— A senhorita é quem manda.

Elizabeth abriu um sorriso despreocupado. Olhou ao redor e suspirou, era a sua vez de
voltar e descobrir tudo o que tinha acontecido em sua ausência. Inclusive, descobrir mais sobre
o tal rapaz das fotos.

Caminhou elegantemente em seus saltos até a porta de sua sala, pelo menos, era mais uma
coisa que ela se lembrava. Colocou a mão na maçaneta e a girou, abrindo-a logo em seguida.

— O que você disse? – Edward tentou falar baixo, mas diante daquela estupidez, não
conseguiu manter sua sanidade.

— Eu disse que a Lisa perdeu um pouco da memória. Talvez ela não se lembre de você.

— E como sabe disso?

Anthony revirou os olhos.

— Eu conversei com ela, ok? E ela não se lembra de Michael... suponho que não vai se
lembrar de você, afinal, sequer mencionou seu nome.

Edward fechou os punhos e os levou até a altura da cabeça. Mais uma boa notícia para
completar o seu dia, não é?
Já não chegava ter que aturar o imbecil do Michael querendo fazer negociações perigosas
na bolsa de valores, Anthony lhe aparecia para dizer que Elizabeth tinha perdido a memória.

— Se ela perdeu ou não, vou fazê-la lembrar de tudo, inclusive de que o noivo dela é um
imbecil.

— Isso ela vai perceber com o tempo, tenho certeza. – Anthony riu. — Bom, falando no
diabo, daqui a pouco ele vai fazer uma pequena reunião conosco, na sala dele.

— Sala da Elizabeth, você quer dizer.

Anthony anuiu e achou melhor se retirar o quanto antes. Edward estava claramente
nervoso e não queria que as coisas piorassem ainda mais. A cada dia sua convivência com
Michael se tornava impossível.

Edward andou de um lado para o outro, tomou um copo de água que estava em cima de
sua mesa e digitou uma mensagem de texto para o detetive. Precisava de respostas, precisava
saber os podres que o canalha escondia.

O telefone tocou e Jane lhe informou que Michael os esperava nesse momento. Mesmo
sem vontade alguma, se levantou e foi, esperando que seu sangue se mantivesse frio o
suficiente para não avançar no sujeito e mandá-lo direto ao colo de Satanás.

E claro, ao entrar na sala da presidência se deparou com Gwen em pé ao lado de Michael,


com seus longos cabelos loiros caindo pelos ombros. Em outros momentos, Edward até
poderia achá-la bonita e atraente, mas com seu comportamento nos últimos tempos, queria é
manter distância daquela mulher.

Anthony estava sentado na poltrona do lado direito e um outro sujeito, pertencente ao


corpo jurídico da empresa, que Edward conhecia bem e se lembrava de tê-lo visto em Londres.
Dylan continuava com seu terno de defunto enquanto anotava tudo o que Michael lhe dizia.

— Pensei que precisaria mandar alguém buscá-lo. – Michael murmurou ao pegar um


charuto na gaveta e cortar a ponta para acendê-lo.

— É que essas reuniões são demasiadamente chatas, ainda mais quando é você que as
ministra.

Gwen abriu um meio sorriso.

— Olá, Edward.

Ele não respondeu ao cumprimento.

— Vamos lá, qual é o motivo para essa pequena reunião?


Michael virou o charuto na direção de Gwen e a mesma o acendeu. Ele tragou pela
primeira vez e olhou para o nada, esperando que Edward ficasse irritado.

Mas há essa altura do campeonato, ele já conhecia seus jogos e não entraria neles.

— Bom, eu o chamei aqui porque tenho uma proposta excelente pra você.

Edward se aproximou da mesa, com os braços cruzados e arqueou a sobrancelha.

— Ah, é?

— Sim...

Edward esperou que ele continuasse. Michael fumou o charuto mais algumas vezes até
decidir se expressar.

— Lhe devolvemos o dinheiro que foi investido nessa empresa e você volta para Londres.
Pelo que eu saiba, sua família o espera para cumprir suas obrigações, visto que seu irmão não
anda bem de saúde.

E isso não era mentira. Há alguns dias, Edward recebera uma ligação que o avisou sobre o
estado de saúde de seu irmão mais velho. O mesmo, recebera o diagnóstico de câncer, que se
alastrava com uma rapidez indecifrável.

Sua família esperava que deixasse aquela loucura para trás e retornasse à Londres. E ele
acreditava que era o certo a se fazer, mas quem disse que conseguia?

— Eu não vou sair daqui. Meu irmão está sendo tratado pelos melhores médicos do
mundo. Vai sobreviver.

Michael riu.

— Não sei não viu. – fumou mais uma vez. — Talvez você deva voltar para se despedir.
Sabe como são essas coisas.

Ele sabia e isso lhe machucava profundamente.

— É só isso o que têm para me propor? Até Elizabeth faria uma proposta melhor.

— Ouvi meu nome?

Todos ficaram em silêncio ao ouvir a voz feminina que encheu a sala por alguns instantes.
Edward estava de costas, mas seu corpo tremeu da cabeça aos pés. Ela estava ali, novamente.

Ele sabia que isso aconteceria em breve, mas não esperava que ela voltasse tão rápido.
Gwen e Michael olharam para além dele e por um segundo, podia jurar que vislumbrou um
cisco de medo no olhar de ambos.

Elizabeth entrou na sala justamente no momento que alguém citou seu nome. Aquela
voz... ela reconhecia de algum lugar. Sorriu mediante a expectativa no olhar de todos os
presentes na sala, exceto por um, que ainda estava de costas para ela.

Quem era esse sujeito? E por quê estava de costas?

Ele não sabia que era ela quem mandava naquela droga toda?

Seu sangue ferveu mediante a petulância daquele homem e quando se aproximou e ele se
virou para ela, seus olhos se encontraram.

Olhos azuis como o mar.

Cenas retornaram na cabeça de Elizabeth, invadindo-a de uma só vez. Transformaram sua


cabeça em um turbilhão de sensações e sentimentos. O ar lhe faltou e uma pontada na cabeça a
fez vacilar em seus saltos.

Por um instante ela pensou que estava morrendo. No entanto, cada cena parecia se
encaixar em sua vida.

Aqueles olhos.

Aquela sala.

Assistente pessoal.

Emprego.

Londres.

Acidente.

E então como uma lâmpada que se apaga de uma só vez, assim foi com sua cabeça. No
mesmo instante que tudo veio à tona, ela desmaiou.
Clark pediu para que Elizabeth olhasse para o teto. Ligou a pequena lanterna e a
examinou. Logo depois, pediu que ela abrisse a boca e enfiou um palito lá dentro. Pegou seu
pulso e olhou no relógio.

Após um longo tempo em silêncio ele falou:

— Está tudo bem com você. Foi só um desmaio ou você se sentiu enjoada?

Elizabeth respirou fundo e desviou o olhar para as vidraças em sua sala.

— Eu tive uma vertigem e desmaiei logo em seguida.

Clark assentiu.

— Foi sorte Edward conseguir te segurar para que não batesse a cabeça mais uma vez.

Ela deu de ombros.

Só estavam o médico e ela em sua sala. Clark tinha colocado todos para fora, alegando
que precisava um tempo a sós com a paciente.

— Você se lembrou de mais alguma coisa?

Ela negou com a cabeça.

O médico respirou fundo e segurou sua mão. Elizabeth se assustou com o toque, mas não
a recolheu, apenas fitou o homem.

— Isso que você está passando é normal, Lisa. – disse com calma. — O cérebro é uma
máquina que nós não temos o controle. Depois de uma pancada forte, pode acontecer essas
coisas. Por sorte, você se lembra da maior parte das coisas de sua vida. Já tive casos em que o
paciente não se lembrava de absolutamente nada.

— Eu sei. – ela relaxou. — Logo vou me recuperar.

A verdade era que ela tinha se lembrado de tudo, inclusive sobre a chantagem para o
casamento. Não queria acreditar que passara por tudo aquilo, mas infelizmente era a sua vida.

Clark se levantou, encheu um copo com água e lhe entregou. Elizabeth bebeu todo o
conteúdo de uma só vez, pensando em como as coisas seriam dali pra frente. Ela não podia
colocar Edward em risco.

Se arriscara demais na noite do acidente e o resultado? Ela quase tinha morrido. Talvez
aquilo fosse uma punição por seus atos errados, só podia ser.

— Eu te falei que deveria ficar em repouso. – Clark se sentou novamente. — É tudo


muito recente. E se isso tivesse acontecido na rua?

— Não aconteceria. – determinou ao lhe entregar o copo vazio. — Eu vim com meu
motorista.

Anthony colocou a cabeça para dentro da sala e perguntou se podia entrar. Elizabeth
assentiu e ele entrou, despejando uma enxurrada de perguntas.

— Hey, calma. – Clark riu. — Uma de cada vez. Nossa paciente ainda está se
recuperando.

— Ok. – ele revirou os olhos, impaciente. — Quero saber por que você desmaiou?
Lembrou do Edzão?

E antes que Elizabeth pudesse responder, Michael entrou, com sua pose imponente,
seguido por Gwen.

— Meu amor... – ele se aproximou e se abaixou ao seu lado. — Você está melhor? Fiquei
preocupado...

Elizabeth quase teve náuseas ao ver a cena ridícula interpretada por aquele falso. Suspirou
e tentou manter as coisas como estavam antes. Michael não podia suspeitar que ela tinha se
lembrado de tudo.

— Estou sim. Foi só um mal estar.

— Eu disse que deveria ficar em casa. – Gwen se intrometeu. — Nós demos conta todo
esse tempo. Por que não daríamos agora?
Elizabeth se levantou e se afastou de Michael, dando-lhes as costas. Queria distância
daquele homem que só a fizera sofrer.

— Eu sei disso. Eu apenas quis vir para dar uma olhada nas coisas.

— Entendo. – Gwen respondeu e olhou para Michael com a sobrancelha arqueada. Ela
desconfiava que sua irmã já tinha se lembrado de tudo.

— Bom, vou deixá-los a sós. – Clark levantou e pegou sua maleta. — Deixei uma receita
com alguns medicamentos que vão ajudá-la a se acalmar.

Elizabeth se virou e sorriu. — Tudo bem, Clark. Obrigada.

Clark assentiu e após se despedir de todos, se retirou. A loira deu sinal com a cabeça para
que Michael fizesse sua investigação enquanto ela esperaria em outro lugar. Anthony saiu logo
em seguida, precisava acalmar os ânimos de Edward.

Elizabeth contornou a mesa e sentou na sua cadeira presidencial. Sorriu ao sentir o


assento macio e a visão que sua mesa lhe proporcionava. Se ela não tivesse se lembrado de
cada detalhe, não acreditaria que já foi uma chefe megera alguma vez.

Michael se aproximou dela e suspirou, temia que ela tivesse recobrado a memória.

— Tem certeza que está tudo bem?

— Tenho.

— Você se lembrou de mais alguma coisa? – perguntou calmamente. Não poderia deixar
transparecer seu nervosismo.

— Não.

O homem assentiu e se aproximou mais, ajoelhando-se ao seu lado e puxando suas mãos
para as dele.

— Ótimo. – sorriu. — Você vai ficar aqui ou vai voltar para casa? Com essa correria toda
eu trouxe algumas coisas minhas. Preciso pedir para que alguém venha retirar.

Elizabeth olhou em seus olhos e se perguntou como ele era capaz de ser tão cínico.
Controlou seu nervosismo e agiu como se ainda estivesse desmemoriada.

— Tudo bem, eu espero. Não quero voltar para casa agora.

Michael assentiu e depositou um beijo nos nós de seus dedos. Se levantou e saiu da sala,
deixando-a respirar aliviada.
Como era possível pegar nojo de uma pessoa em questão de minutos?

Agora sua mente borbulhava com a pergunta de um milhão de dólares:

O que faria com Edward?

Levou as mãos à cabeça e respirou fundo. Talvez aquela falta de memória tivesse vindo
na hora certa. Não podia colocá-lo em risco, visto que ele estava disposto à tudo. E o fato dele
ainda estar ali, era a confirmação de seus pensamentos.

Ela decidiu que levaria aquela “falta de memória” à frente. Era melhor assim, pelo menos
até estar casada com Michael. Depois, daria um jeito de resolver aquela situação sórdida.

O restante do dia passou tranquilamente. Jane e Dylan a colocaram à par de todos os


assuntos da empresa. As coisas de Michael foram transferidas para sua antiga sala e ela
respirou aliviada por não ter que encontrar com Edward.

Quando se aproximou de seu horário de ir embora, ligou para Jane e perguntou se todos já
tinham ido, não queria correr o risco de encontrá-lo no elevador. Ainda não sabia como agiria,
visto que agora lembrava-se de tudo.

Jane a informou que o único que ainda estava na empresa era Michael, terminando alguns
trabalhos e esperando-a para acompanhá-la até sua casa. Não que isso a fizesse se sentir
segura, no entanto, lidar com Michael era muito mais fácil do que lidar com Edward.

Michael era cretino e ela já sabia disso. Fingir algo para ele era como devolver seu
cinismo na mesma proporção. Já com Edward, ela não conseguiria. Ele sempre fora sincero,
exceto, claro, pela mentira contada no ano anterior.

Porém, à essa altura do campeonato quem ligava para o que Edward era?

Elizabeth sabia que estava agindo como uma covarde, mas o que adiantava ser corajosa
colocando a vida do homem que amava em risco?

Decidida a não pensar nessas coisas, bufou e se levantou. Caminhou até o sofá e pegou
sua bolsa. Queria ir para sua casa, descansar e colocar seus pensamentos em ordem.

Michael a esperou na recepção, com um olhar estranho. Ela sabia que ele não queria que
tivesse a oportunidade de ficar a sós com Edward. Era perigoso... e bem, ela sentiu isso na
própria pele quando pela última vez quase partiu dessa para melhor.

O trajeto até seu apartamento foi silencioso. Ela não queria conversar, não depois de tudo
o que se lembrou. A chantagem, as ameaças, tudo o que aquele maldito homem a fizera passar.

Porém, o homem à sua frente não era nenhum imbecil. Ele percebera que depois do
desmaio, sua “noiva” estava diferente. Estava mais calada, com o olhar distante.

— Vejo que está melhor. – disse ele, quebrando o silêncio. — Pedi para Gwen que
voltasse com os preparativos do casamento.

— Tudo bem.

— Daqui duas semanas está bom para você?

Elizabeth arregalou os olhos.

— Duas semanas?

— Por quê? Algum problema?

Michael a fitou com a interrogação no olhar. Elizabeth precisava ser sensata e não
demonstrar o que realmente pensava.

— Nenhum. Eu só... achei que poderíamos esperar um mês.

O homem bufou e olhou para a janela do carro.

— Já esperamos demais. Não quero correr o risco de perdê-la mais uma vez.

— Eu não vou morrer.

Michael a encarou mais uma vez, como se dissesse que não era daquela forma que ele
queria dizer, mas sim perdê-la para um certo inglês metido.

O carro estacionou em frente ao prédio e Elizabeth se sentiu aliviada. O quanto mais


conseguisse ficar longe de Michael, melhor.

— Quer que eu a acompanhe até lá?

— Não é necessário. – deu um meio sorriso fingido. — Vá para casa, descansar.

— Se quisesse me acompanhar, poderíamos “descansar” juntos. – disse ele, acentuando


bem seu tom malicioso.

Elizabeth fingiu não entender e quando o motorista abriu a porta, pulou para fora do
carro.

— Nos vemos amanhã.

Michael a observou virar as costas e entrar no edifício. Respirou fundo e irritado, pegou
seu celular, discando um número já bem conhecido.
No terceiro toque, ela atendeu.

— O que é?

— Ela já se lembrou. – disse com convicção.

— O quê? – a voz disse, alarmada. — Tem certeza?

— Eu tenho. – bufou. — Desde que ela o viu, está diferente. Tenho certeza que já se
lembrou de tudo ou pelo menos, de boa parte.

O homem ouviu os palavrões do outro lado da ligação.

— Tenha calma, vou colocar a outra parte do plano em ação e vamos ver no que vai dar.
Você disse à ela que o casamento será daqui duas semanas?

— Sim.

— Ótimo. Faça a sua parte e deixe o resto comigo.

Elizabeth chegou ao seu apartamento mais cansada do que nunca. As luzes estavam semi
apagadas e o silêncio reinava no gigantesco lugar. Olhou ao redor e suspirou ao se lembrar da
festa que tinha sido preparada no dia em que anunciaria seu namoro com Edward.

Aproximou-se da bandeja e abriu uma garrafa de Whisky. Encheu o copo até metade e
virou de uma só vez. Encheu mais uma vez e se aproximou da vidraça para observar a
grandiosa Nova York iluminada somente pelas luzes artificiais.

Bebeu um pouco do liquido e fechou os olhos. Será que sua vida continuaria tão escura
quanto a noite?

Estava confusa e desesperada.

Por um lado, queria jogar tudo para o alto e correr para os braços de Edward, por outro,
não sabia nem mais se ele ainda a queria.

No entanto, se ele não a quisesse, o que estava fazendo em Nova York até então?

Elizabeth continuou ali parada, perdida em pensamentos quando ouviu passos atrás de si.
— Não quero nada, Jofrey. Pode se recolher. – disse ela, alheia à tudo ao seu redor.

— Suponho que o mordomo já tenha se recolhido faz um bom tempo.

Elizabeth apertou o copo com mais força ao ouvir aquela voz. Tão familiar, tão perto. Por
um momento, achou que aquele pouco de bebida já estava fazendo coisas em seu organismo.
No entanto, quando se virou, encontrou o homem que tirava a sua paz a alguns passos de
distância, vestido com um terno preto bem recortado e com as mãos nos bolsos, encarando-a
com uma intensidade indecifrável.

Não posso fraquejar.

Elizabeth se recompôs e tomou mais um gole da bebida.

— Quem é você e quem permitiu que entrasse aqui? – perguntou, tentando manter a frieza
em sua voz.

— Tem certeza que não se lembra de mim?

Elizabeth deixou o copo em cima da bandeja e se aproximou do homem. Ela tinha que
fingir muito bem para que ele acreditasse. Não seria fugindo, que ele cairia em sua história.

— Ah... você estava na minha sala quando passei mal, não é?

Edward a encarou por alguns segundos. — Eu mesmo.

— Bom. – disse ela ao se afastar. — Se veio saber como estou, saiba que foi um mal estar
temporário. Como deve saber, eu quase morri esses tempos atrás.

Edward não queria acreditar naquelas palavras e muito menos no jeito que ela estava
agindo. Ele a conhecia muito bem para saber quando estava blefando.

— Por que está fingindo que não me reconhece? – perguntou, por fim.

Elizabeth riu nervosamente.

— O quê? Está louco?

— Olha, tudo bem. – ele balançou a cabeça. — Eu estou agindo como um idiota. Mas
veja bem, se você não se lembra eu vou te falar apenas uma coisa: Eu não estou disposto a
perdê-la.

Elizabeth arregalou os olhos e antes que pudesse dizer algo, o homem virou as costas e foi
embora. Ali estava a resposta para a sua dúvida.
Edward ainda a queria.

Respirou fundo e se jogou no sofá, pensando o que faria. Não conseguiria levar aquela
farsa a diante. Ele a conhecia, afinal, fora o único homem que conseguira adentrar seu peito e
seu coração.

Uma hora ele perceberia que ela estava mentindo e aí não teria como escapar.

Edward chegou em seu apartamento e encontrou Serena sentada no sofá, assistindo


televisão, com um pote de sorvete no colo.

— Hey! – ela virou a cabeça em sua direção. — Já não era sem tempo! Achei um filme de
terror muito bom nesse catálogo.

Edward deu um meio sorriso, afrouxou a gravata e se sentou ao seu lado no extenso sofá
branco.

— Onde está Becky?

— Dormindo, é óbvio. – Serena revirou os olhos. — E você, onde se meteu?

Ele encostou a cabeça no sofá e fechou os olhos.

— Dia difícil, pelo jeito. – continuou. — Quer que eu lhe prepare algo?

— Não é necessário. – disse ele, sem vontade. — Eu só preciso de um bom banho e cama.

Serena assentiu e pensou se lhe diria que haviam ligado de Londres. Edward abriu os
olhos e a encarou.

— Já sei, quer me dizer algo.

Ela levantou o olhar e sorriu. — Precisa para com essa coisa de tentar adivinhar meus
pensamentos.

Edward sorriu e esperou que ela falasse.

— Ligaram de Londres e... seu irmão não está nada bem.

— O que disseram?
— Eles querem que você volte. – ela suspirou. — Seu pai foi bem enfático e disse que
precisa de você lá. A mídia está em cima, querendo saber onde o filho pródigo do Conde está.
Sim, seu apelido lá é esse.

Edward revirou os olhos e riu. Filho pródigo até que cairia bem.

— Eu ainda não posso voltar. – refletiu após alguns segundos.

— Essa mulher realmente virou a sua cabeça. Por que não desiste dela?

Essa era a maldita pergunta que ele se fazia todos os dias. Mas quem disse que encontrava
uma resposta?

Ele só desistiria quando ela colocasse uma aliança no dedo da mão esquerda.

— Elizabeth não é como as outras. – refletiu ele, após longos minutos de silêncio. — E
olha que eu tive vastas experiências com mulheres.

Serena riu.

— Eu sei dos seus casinhos.

Edward riu também. — Quando eu vim para Nova York, eu quis me afastar de tudo
aquilo. Da pressão da minha família, das obrigações e principalmente das mulheres, que só me
queriam pela minha posição.

Ele fitou o teto e continuou divagando.

— Eu criei um disfarce e deixei rolar. Quando conheci Elizabeth, meu mundo saiu do
eixo. – riu, lembrando-se daquele dia. — Pensa numa mulher chata e exigente? Era ela...

— E ali você caiu.

— Talvez. – disse calmamente. — Eu deveria ter dito a verdade para ela, mas era tão bom
como trabalhávamos. Apesar das dificuldades, estávamos conseguindo colocar a empresa nos
eixos.

Serena ouviu cada palavra atentamente.

— No dia em que ela terminou comigo, eu estava disposto a revelar toda a verdade antes
de anunciar nosso namoro. Estava tudo planejado... e bem, não achei que ela ficaria tão furiosa
ao saber quem eu sou.

A jovem balançou a cabeça negativamente. — A questão não foi essa. O problema é que
você mentiu para ela.
— E ela despedaçou meu coração. – disse amargamente. — Acho que nesse jogo,
estamos quites.

— Talvez. – ela deu um meio sorriso. — Onde está Anthony? Pensei que ele viria com
você.

Edward encostou a cabeça mais uma vez no sofá e fechou os olhos.

— Anthony teve alguns rolos para resolver. – Edward abriu um olho, de repente. — Por
que quer saber dele?

Suas bochechas ficaram vermelhas.

— Não é por nada...apenas quero devolver o Ipod que ele me emprestou.

— Sei. – Edward brincou e de repente foram interrompidos com batidas na porta.

Os dois se entreolharam perguntando-se quem podia ser àquela hora da noite. Não
esperavam visitas.

— Deixa que eu atendo. – Serena se levantou e caminhou até a porta. Abriu-a e se


surpreendeu ao ver a mulher elegante.

A mulher olhou para Serena por longos instantes antes de pedir passagem.

— Quem é Serena? – Edward perguntou, ainda sentado no sofá.

— Olá, Edward.

Ele ouviu aquela voz e se assustou. Virou a cabeça no mesmo instante e se surpreendeu
ao ver Gwen.

O que diabos essa mulher está fazendo aqui?

— Desculpa vir assim, sem avisar. – ela sorriu. — Mas o assunto é urgente.

Edward olhou para Serena que deu de ombros.

— Se precisar de mim, estarei no meu quarto.

Gwen olhou para a jovem e abriu um meio sorriso.

— Não sabia que você tinha companhia...

— Serena é como uma irmã e está a passeio. – esclareceu ele e apontou para que ela se
sentasse no outro sofá.
Gwen olhou para os lados e respirou fundo.

— Eu pensei que os Lordes viviam em casas luxuosas.

— Alguns Lordes preferem viver do jeito que gostam. – Edward retrucou. — Quer beber
algo?

— Eu aceito.

Edward caminhou até o pequeno bar e encheu dois copos com qualquer bebida que ele
encontrou na frente. Estava exausto e não queria perder muito tempo com aquela mulher.

Ele se aproximou e lhe entregou um copo.

— Então... a que devo a honra de sua visita numa hora dessas? – perguntou ele,
sarcasticamente.

— Olha, Edward. – disse ela após beber um pouco. — Eu sei que você não me vê com
bons olhos desde que o proibi de se aproximar de minha irmã.

Edward queria lhe dizer que era muito inteligente por adivinhar aquilo, que era tão óbvio.

— Mas veja bem, - ela suspirou. — Eu estava apenas protegendo Elizabeth. Você a fez
sofrer demais e... não sabe como ela ficou durante esses meses que você voltou para Londres.

Edward quis revirar os olhos, mas conteve-se.

— E quando eu soube que ela estava com você minutos antes do acidente, eu fiquei louca.
– suspirou. — E tem uma razão para que eu ficasse assim.

— Ah, é? – ele perguntou, sem vontade. — Qual razão?

Gwen se levantou, colocou o copo em cima da mesinha de centro e deixou que seu casaco
caísse no chão, revelando seu corpo marcado por um vestido curto e indecente, que mostrava
até o que não deveria.

— Eu não suportei a ideia de vê-lo nos braços dela. – disse ela, cinicamente. — Por quê,
Elizabeth? Por que nunca me olhou do mesmo jeito?
Pelo que Edward se lembrava, não tinha bebido muito naquele dia. No entanto, quase
engasgou ao ver o que Gwen acabara de fazer e falar.

— O quê?! – perguntou, alarmado.

Gwen se aproximou dele e o empurrou contra o assento do sofá. — Eu entendo que


Elizabeth é atraente, mas... todos os homens só têm olhos para ela. – sorriu cinicamente. —
Desde o dia que eu o vi, fiquei encantada por você.

Ela o prensou contra o sofá e passou as mãos habilmente por seu peito. Edward tentou se
afastar, porém, ela o puxou pelo paletó. Se ele a empurrasse ela poderia cair em cima da mesa
de centro... e ele não queria provocar uma morte dentro daquele lugar.

Já tinha problemas o suficiente.

— Gwen, pelo amor de Deus! – tentou se esquivar mais uma vez. — Você está bêbada?

A mulher riu.

— Como sempre, você tem um senso de humor ótimo. Mas não, querido. – ela colocou o
indicador sobre os lábios dele. — Eu não bebi nada além do que você me deu, e veja bem, eu
não estou mentindo. Aguentei por muito tempo e achei que essa era o momento ideal para você
saber.

O momento ideal era quando sua irmã acabara de voltar à vida?

Edward se cansou daquela palhaçada e segurou os pulsos da mulher, se levantou e fugiu


dela.
Nesses momentos, a melhor coisa era se manter o mais longe possível.

— Olha, eu não sei qual é o seu plano. – disse ao se encostar na parede oposta. — Mas
não vou cair nos seus jogos!

— Não há jogo algum! – disse ela, tentando parecer ofendida. — Eu gosto de você, mas
não pude fazer nada... além de assistir vocês dois tentando ficarem juntos.

Edward respirou fundo e passou as mãos pelo rosto. O que diabos tinha acontecido àquela
louca? Primeiro, ela foi à favor de seu relacionamento com Elizabeth, em segundo, ela foi
contra e ele pensou que era pela mentira que havia contado. Em terceiro, ela o proíbe de se
aproximar de sua irmã e agora vem com esse papo de que gostava dele?

Aquilo não fazia sentido algum.

Ele sabia que os homens demoravam algum tempo para entender as coisas, mas nesse
caso, era impossível o que ela estava lhe contando. Não sabia que jogo era aquele, mas não
cairia.

— Ela vai se casar com Michael e para falar a verdade, nem se lembra de você. – Gwen
murmurou. — Você acha que ela te amou alguma vez? Elizabeth não ama a ninguém, somente
ela própria.

O sangue do homem já estava fervilhando e ouvir aquelas palavras não ajudou em nada.
Com raiva, abriu a porta do apartamento e olhou no fundo dos olhos de Gwen Adams.

— Se é isso o que você pensa, sinto muito em dizer que conhecemos pessoas diferentes.
A Elizabeth que eu conheci, ama e muito! Porém, eu não a culpo por sentir medo de se
entregar. Só quem passa pelo problema é que sabe a dor que consegue suportar.

Gwen fechou o semblante após perceber que seu plano não daria certo. Sua ideia era
seduzi-lo no seu momento de solidão, tirar algumas fotos e caso Elizabeth houvesse se
lembrado dele, entregaria as provas dizendo que ele a tinha seduzido.

Nesse momento, odiou Elizabeth um pouco mais. Como um homem como Edward podia
se manter fiel à ela?

Gwen se achava mais bonita, mais atraente e todos os homens que conhecera caíram aos
seus pés, exceto dois e, lembrar-se disso, a enfurecia ainda mais.

Seu plano definitivamente não daria certo.

Edward a observou em silêncio enquanto ela pegou o casaco e o vestiu. Pegou sua bolsa e
se aproximou dele, que se encolheu um pouco mais contra a parede.
— Mesmo que Elizabeth recobre a memória, ela não vai te escolher. Elizabeth é
orgulhosa demais para renunciar à própria vida para viver um caso com você.

Se Gwen fosse um homem, Edward a teria pego pelo colarinho ali mesmo, porém, em
uma mulher nunca se tocava. Ele controlou-se e respirou fundo, esperando que ela tivesse a
decência de, pelo menos, se retirar de sua casa.

A mulher lhe deu um último sorriso cúmplice e saiu, caminhando despreocupadamente


em seus saltos altos. Edward fechou a porta com um baque e passou as mãos nervosamente
pelos cabelos.

— Que mulherzinha ordinária, hein? – disse Serena, parada no corredor, com os braços
cruzados.

— Ordinária é pouco. – resmungou. — Preciso esfriar minha cabeça.

Serena assentiu e ele se retirou para o seu quarto. As palavras de Gwen ecoaram em sua
cabeça, porém, não queria dar ouvidos. Ele tinha visto nos olhos de Elizabeth que ela ainda o
amava.

Ou será que ela era tão dissimulada quanto a própria irmã?

Elizabeth amanheceu com uma mensagem de Dylan a avisando que teria um evento
beneficente no qual precisavam de sua presença. Todos estavam ansiosos para rever a
senhorita Elizabeth Adams e ouvir sobre sua experiência de quase morte.

Ela confirmou, mesmo contra a própria vontade. Esses eventos eram apenas suportáveis,
visto que a nata da sociedade Nova Yorkina costumavam a tirar do sério com seus comentários
sarcásticos e preconceituosos.

No tempo em que Edward ficou em Londres, todos perguntavam por ele sem parar.
Algumas mulheres faziam piadinhas sobre os dois, afirmando que os tinham vistos juntos.

Fora um inferno sem tamanhos.

Elizabeth tomou o café da manhã, leu o jornal e saiu depressa, mesmo sem saber o
paradeiro de sua irmã. Sua vida tinha que voltar ao normal.
— Um baile de máscaras? – perguntou atordoada ao ler o convite que Dylan lhe entregou.

O rapaz assentiu.

— Eu teria avisado a senhorita antes, mas me proibiram de levar os assuntos enquanto


não melhorasse cem por cento.

Elizabeth respirou fundo. Mais essa... teria que correr atrás de um vestido e de uma
maldita máscara. Por que fora confirmar a presença antes de saber do que se tratava?

— Pelo visto, continua incompetente. – resmungou. — Onde está Anthony?

Dylan engoliu em seco e viu que Elizabeth Adams, sua chefe, realmente estava de volta.

— Está na sala dele.

Elizabeth ergueu os olhos do convite. — E o que está esperando? Vá chamá-lo!

O rapaz assentiu e saiu o mais depressa possível. Não queria correr o risco de perder seu
emprego, visto que sua chefe continuava com o humor dos diabos.

Ele teria que se lembrar de chamar Edward de vencedor mais uma vez.

Anthony foi até a sala de Elizabeth e teve que aguentá-la por mais de uma hora
reclamando sobre o tal evento. Ela não queria ir com Michael e mesmo alegando que não havia
se lembrado de nada, ele sabia que ela estava blefando.

Ele a conhecia como ninguém.

Após despejar sua fúria em Anthony, ordenou que Jane fosse atrás do vestido e da
máscara, afirmando que não tinha cabeça para aquilo.

Jane não hesitou.

Elizabeth ficou trancada no escritório todo o dia. Michael lhe propôs para que saíssem
para almoçar no seu restaurante favorito, porém, ela rejeitou, deixando claro que precisava
colocar as coisas em ordem.

Ela disse que precisava voltar à ser Elizabeth Adams, CEO daquela droga toda.
Edward passou o dia todo à espreita, esperando uma oportunidade para falar com
Elizabeth. É claro que ele poderia entrar em sua sala, na hora que quisesse, porém, as palavras
de Gwen ainda ecoavam em sua mente.

“— Mesmo que Elizabeth recobre a memória, ela não vai te escolher. Elizabeth é
orgulhosa demais para renunciar à própria vida para viver um caso com você.”

Ele esperava que aquilo fosse fruto de sua imaginação. Não queria ter a certeza de que
renunciar sua vida em Londres estava sendo em vão. Ele sabia que era loucura deixar o irmão
doente para correr atrás de uma mulher.

Mas qual era o botão que se apertava para deixar de amar alguém?

Ele estava na sala de cafés quando Jane chegou com uma caixa grande e uma sacola. Ela
colocou em cima da mesa e proferiu alguns xingamentos.

— Por que esse estresse todo? – Edward perguntou calmamente, apoiado na parede,
bebericando uma xícara de chá.

— O que acha? – disse ela, furiosa. — Corri em várias lojas atrás de um vestido para a
senhorita Megera.

Edward ergueu uma sobrancelha.

— Elizabeth?

— Quem mais? – ela bufou e se serviu de uma xícara de café. — Ainda tive que procurar
alguma máscara. Bom, Dylan também foi culpado por avisá-la do evento só hoje. Ela está com
um humor daqueles...

— Ela vai no jantar?

Jane o fitou com os olhos arregalados. — Você não sabe?

Ele bufou. — Ultimamente não sei nem quem eu sou.

— Então prepare-se, pois ela irá.

— Aposto que com o imbecil do você-sabe-quem.

Jane riu. — Posso te falar uma coisa?

Edward assentiu.

— Elizabeth voltou... é a sua chance de recuperar e domar aquela mulher. Se você não o
fizer, não sei quem mais o fará.

Jane tinha razão, pensou ele. Não se tratava de “domar” alguém. Se tratava de fazê-la
acordar para a vida e perceber que Michael não a amava. Fazê-la enxergar que ao lado dele, ela
seria infeliz.

O dia passou rapidamente. Elizabeth falou com todos que deveria falar, reagendou
algumas reuniões que haviam sido canceladas devido o seu estado de saúde, foi até a Bolsa de
Valores com Anthony e quando percebeu já estava na hora de ir para casa se trocar e preparar-
se para a festa daquela noite.

Jane lhe escolheu um vestido na cor Vinho e uma máscara dourada, com pedrarias.

Pelo menos a garota tem bom gosto, pensou ela, satisfeita.

Durante todo o dia tentou se manter afastada de Michael e de Edward. Sabia que poderia
ser fraca e entregar seu plano antes da hora. Ela precisava fingir que era uma desmemoriada, só
assim, manteria a salvo o amor de sua vida.

Tinha medo do que Michael seria capaz.

No entanto, não era fácil se manter afastada quando seu corpo clamava por ele. Toda a
maldita vez que fechava os olhos, era ele quem aparecia em sua memória. Lembrou-se da
última vez em que fizeram amor, no chão frio da escola de dança.

Para muitos podia ser ridículo, mas para ambos, era a fome, o desejo, a necessidade e
principalmente, a saudade que não cabia no peito. E aquele lugar, acima de tudo, era especial
para ambos.

Fora lá a primeira troca de olhares, o primeiro contato mais profundo. Talvez fora naquele
instantes em que Elizabeth se apaixonara perdidamente por aquele sujeito desajeitado.

Michael disse que a pegaria às sete e trinta. Ela ainda tinha quarenta minutos para se
preparar. Olhou no relógio e suspirou, desde o dia anterior não vira sua irmã e começava a se
preocupar.

No entanto, sua preocupação não durou muito, pois o elevador se abriu e Gwen saiu de lá,
com várias sacolas nos braços. Gucci, Prada, Louis Vuitton e outras grandes marcas. Gwen
tinha esse costume, principalmente quando estava nervosa com algo, descontava sua frustração
em compras.

— Achei que tinha sumido pelo mundo.

Gwen parou, a fitou da cabeça aos pés e abriu um sorriso preguiçoso.

— Me desculpe, eu estava frustrada com algumas coisas. – e analisando sua irmã por
mais alguns instantes, disse: — Você está diferente. Se lembrou de mais alguma coisa?

Elizabeth pensou em se abrir e revelar que havia se lembrado sim de tudo, porém, algo
dentro de si a silenciou. Quanto menos pessoas soubessem da verdade, melhor.

— Infelizmente não. – murmurou. — Michael disse que você iria retornar com os
preparativos do casamento.

— Sim, já voltei. Daqui duas semanas você será a senhora Sanders.

Elizabeth estranhou o tom de voz da sua irmã, porém, nada disse. Abriu um sorriso fraco
e seguiu pelas escadas em direção ao seu quarto.

— Você vai no jantar dos Rudbrick? – perguntou enquanto subia degrau por degrau.

— Jantar beneficente? Passo.

— Diz isso porque não está acostumada com os jantares que os Rudbrick oferecem. –
disse ela.

Gwen arqueou a sobrancelha. — Pelo menos disso você se lembra.

Elizabeth percebeu que havia falado demais e continuou rumo ao seu quarto. Chegando
lá, tomou um banho rápido, arrumou seu cabelo em um coque com alguns fios soltos, se
maquiou e pegou sua bolsa.

O vestido lhe caiu perfeitamente, deixando seus ombros à mostra.

Ainda lhe restavam cinco minutos, porém, quando desceu as escadas, encontrou Michael
esperando-a.

Ele se levantou e abriu um sorriso satisfeito.

Sua noiva estava perfeita, como sempre.

— Seja bem vinda de volta, senhorita Adams.

Elizabeth o fitou da cabeça aos pés. Usava um terno negro, como seus olhos. Se tivesse
algo que o definisse, aproximava-se à “Ave de Rapina”, pensou ela, segurando o riso.
— Obrigada. – ela agradeceu, fingindo despreocupação. Michael se aproximou e
depositou um beijo leve em seus lábios.

— Vamos? O motorista já está nos esperando.

Elizabeth assentiu e respirou fundo, precisava de muito ar para poder sair viva dessa
noite. Ela só esperava que Edward tivesse a decência de não aparecer por lá.

Porém, suas expectativas se mostraram frustradas quando chegou no enorme salão da


Trump Tower e encontrou-o lá, mais lindo do que nunca. Edward usava roupa de gala e uma
máscara negra, acentuando bem a cor de seus olhos azuis.

Ela precisou se segurar com mais força no braço de Michael ou então desmaiaria ali
mesmo. Notou que seu noivo se retesou ao notar que Edward também estava ali, e tentou à
todo custo entretê-la para que tirasse a atenção do homem.

Edward conversava despreocupadamente com Anthony e outros três homens quando


sentiu a vibração do lugar e seu olhar involuntariamente se dirigiu até a entrada. Como se fosse
certeiro, ele a viu.

E seu coração parou por alguns milésimos de segundos.

Como ela conseguia estar ainda mais bonita?

Ela usava uma máscara dourada e nesse momento, Edward soube que tudo o que aquela
maldita mulher usasse, lhe cairia perfeitamente.

— Edzão, acorda! – Anthony o cutucou ao ver que ele não desviava o olhar de algum
ponto. — Ah, já sei. – ele virou o olhar para a mesma direção e se surpreendeu. — Meu Deus,
quem é aquela gata?

Edward o olhou feio. — É a Elizabeth, seu imbecil!

— Ah não é. – ele retrucou e forçou a vista. — Nossa é ela sim! Meu Deus do céu!

Os outros homens também se alvoroçaram querendo ver a beldade que havia acabado de
chegar na festa, porém, Edward tratou de desviar a atenção antes que aqueles abutres
quisessem ciscar em cima da sua mulher.

Elizabeth já estava cansada de cumprimentar tanta gente. Por onde passava, as pessoas
queriam abraçá-la e falar sobre a sua recente experiência. De todas as maneiras tentou se
afastar, porém, Michael era bom com as palavras e atraía para si a atenção de todos.

O salão da festa se estendia com mesas e uma gigantesca pista de dança. Do outro lado,
havia um palco e uma das programações era um bingo. Elizabeth esperava que não a
convidassem para falar, pois não havia preparado nenhum discurso.

Michael até tentou se mostrar atencioso, porém, seu foco estava em se sair bem perante as
pessoas, por isso, perdeu Elizabeth de vista quando a mesma anunciou que ia pegar algo para
beber.

No pouco tempo que estava naquela festa, já desejava ir para casa. A multidão, a música,
o falatório, estavam deixando sua cabeça pesada. Elizabeth se aproximou do primeiro garçom
que viu e pegou duas taças de champanhe.

Precisava beber.

Era a única coisa que a deixaria tranquila naquela noite infernal.

— Da última vez que você ficou bêbada, tive que enfaixar seu tornozelo.
Ela ouviu aquela voz no pé de seu ouvido e sentiu os pelos de seu corpo se arrepiarem.
Sua respiração se acelerou e suas pernas tremeram. Fechou as mãos com força, espremendo as
taças e talvez, se usasse um pouco mais de força, as quebraria no mesmo instante.

Edward, cara de pau como era, pegou uma das taças de sua mão e abriu aquele sorriso que
a fazia flutuar. Elizabeth contou até dez e jurou a si mesma que se conseguisse sobreviver
àquela noite sem se render, disputaria uma maratona de corrida no Central Park.

— O que está dizendo? – conseguiu pronunciar, após tomar algum fôlego.

Edward bebericou o Champanhe e sorriu.

— Em Londres. – esclareceu. — Anthony sumiu com algumas garotas e você bebeu


demais. Houve alguma discussão entre nós e você tropeçou.

Elizabeth arqueou a sobrancelha, tentando fingir que não se lembrava daquela história.

— Ah, é mesmo? Não acho que sou assim, de beber até cair.

— Todo mundo sempre tem uma primeira vez. – Edward replicou cinicamente. —
Inclusive você, senhorita Adams.

Elizabeth não respondeu, apenas fitou o homem por alguns segundos e resolveu beber o
Champanhe antes que deixasse a taça cair de suas mãos.

— Enfim, se me der licença, preciso voltar para o meu noivo. – disse determinada, porém,
ao passar por Edward, ele segurou seu braço e aproximou o rosto de seu ouvido, sussurrando
algumas poucas palavras:
— Seu noivo deve se preparar para passar uma noite inteira sentado no trono.

Elizabeth puxou o braço do aperto de Edward e o encarou, assustada. Ela sabia muito bem
o que aquilo significava. Dentro de si almejava gritar, dizendo que ele não podia fazer aquilo
novamente, porém, ela sabia que poderia ser uma tática para ver se estava mentindo ou não.

— Do que está falando?

Edward relaxou, bebeu mais do champanhe e sorriu.

— Até logo, senhorita Adams.

Elizabeth ficou tão atordoada que mal conseguiu responder. Respirou fundo, juntou suas
forças e voltou para o lugar onde Michael estava, rindo com seus companheiros. Ela sabia o
quanto era idiota por sustentar aquela mentira, mas pensava, em primeiro lugar, na segurança
do homem que amava.

Edward riu quando viu Elizabeth voltar para o lugar, pensando no espetáculo que os
próximos cinco minutos reservariam. Ele não deixaria Michael vencer. Se ele tinha vencido até
agora, era porque Edward não tinha usado as estratégias certas. Os remédios que Anthony
conseguia sempre eram eficazes.

O estômago sensível de Michael não aguentaria.

Mesmo com o barulho da música ao redor, ele sentiu o celular vibrando no bolso de seu
paletó. Pegou o aparelho e respirou aliviado ao ver a ligação que esperou por tanto tempo.
Perderia o show, mas precisava atender.

Elizabeth tropeçou em algumas pessoas que insistiam em pará-la para conversar. Alegou
que precisava falar com Michael, e saiu em disparada, chegando no minuto certo em que o
homem estava mais branco que uma folha de papel.

— Onde você estava? – ele disparou, rudemente.

— Fui pegar algo para beber. – replicou. — Por Deus, você está pálido. O que aconteceu?

Michael levou uma das mãos à cabeça e fechou o semblante.

— Estou me sentindo muito mal.

Elizabeth olhou para a taça nas mãos de Michael e entendeu o que havia acontecido.
Procurou ao redor, para ver se encontrava aquele sorriso travesso, porém, tudo o que encontrou
foram os olhos negros de seu noivo.

— Você vem comigo! – Michael disparou, agarrando-a pelo braço. Elizabeth quis se
soltar, mas a sua força era muito maior.

— Hey. Aonde pensa que vai levar Elizabeth, assim?

A voz de Anthony soou no momento exato. Michael parou, se virou para Anthony e
respirou fundo.

— Ela vai comigo aonde eu for e você não deveria se meter.

Anthony bufou e puxou Elizabeth de volta. — Ela é quem deve decidir se vai ou não com
você. E outra, ela é uma das principais convidadas, não pode ir embora tão cedo.

Elizabeth sabia que o melhor era se retirar com seu noivo, porém, ela temia o que ele
pudesse fazer. Olhou para Michael e seus olhos denunciavam que se ela não fosse com ele
naquele instante, sua vida iria direto para o inferno.

Mas como a sorte parecia estar ao seu lado, Michael estava cada vez mais pálido e suor
escorria de sua testa. Ele respirou fundo, balançou a cabeça negativamente e virou as costas,
deixando-os para trás.

— Ele vai ter uma longa noite... – Anthony comentou, com um sorriso nos lábios.

— O que você quer dizer?

Anthony levantou as mãos em sinal de rendição. Não era ele quem deveria falar o que
tinha feito, aliás, nem fora ele. Mas o próprio Edward ordenara que entregassem uma taça de
Champanhe contaminado ao diabo.

Do lado de fora do salão, Edward caminhou até um corredor vazio, onde poderia ouvir
claramente a ligação que tanto ansiou.

— Já não era sem tempo! – resmungou ao levar o aparelho até o ouvido.

— Meu Lorde, peço perdão. – disse o homem. — Estive muito ocupado com o pedido
que me fez.

Edward andou de um lado para o outro, impaciente.

— Pois bem, o que conseguiu descobrir?

O homem apelidado por “Sherlock Holmes” ficou em silêncio alguns instantes até que
decidiu falar.

— Senhor, acho que seria apropriado que nos encontrássemos.


— Faz mais de um mês que estou à espera de respostas. Não posso esperar um segundo
sequer!

— Não sei se esta é uma linha segura... – disse o homem.

Edward revirou os olhos. — Acha que está falando com quem?

— Tudo bem, senhor. Peço perdão. O que eu descobri é um assunto muito delicado, que
demanda a vossa atenção. Por isso o ideal seria nos encontrarmos. Mas já posso adiantar que...
a pessoa que investiguei, é muito perigosa.

— Perigosa? Em que sentido?

— Todos, senhor.

— Elizabeth corre perigo?

— Suponho que sim, meu Lorde.

Edward precisou respirar fundo três vezes para assimilar aquela conversa. Que Michael
não era confiável, isso ele sabia desde que colocou os olhos naquele patife, no entanto, a
palavra “perigoso”, tomava proporções bastante absurdas.

Ele precisava tirar Elizabeth do lado daquele cretino, mas antes, precisava saber tudo o
que estava acontecendo.

— Estou em um evento, podemos nos encontrar amanhã cedo?

— No mesmo lugar?

— Exato.

O homem deu seu ok e Edward desligou a ligação. Olhou no relógio e pelas suas contas, o
tal remédio já deveria ter dado efeito. À passos rápidos voltou até o salão da festa, onde várias
pessoas o cumprimentaram, reconhecendo-o mesmo estando sob a máscara.

Varreu os olhos pelo salão e a encontrou conversando com Anthony. Procurou mais a
fundo, para ver se Michael ainda estava lá, porém, suas suspeitas foram confirmadas quando
Tony o fitou e acenou levemente.

Edward se aproximou do organizador do evento e lhe comunicou o desejo de falar


algumas palavras.

Elizabeth estava muito furiosa com toda aquela situação. Michael havia ido embora e
Anthony estava ao seu lado como se fosse sua babá. Claro, ela não podia gritar aos quatro
ventos que não precisava de sua ajuda, quando ele pensava que ela estava ainda fora de si.

— Tony, acho que é exagero o que está fazendo. – murmurou em seu ouvido. — Eu só
estou desmemoriada de algumas coisas, mas sei bem quem eu sou, por Deus!

Anthony riu.

— E daí? Recebi ordens expressas de não sair do seu lado e é o que eu vou fazer.
Conforme-se.

Ela queria o mandar com suas ordens expressas diretamente ao inferno, porém, se calou e
entornou uma taça de champanhe. Realmente, beber estava sendo a sua única saída desde que
decidira parar de fumar.

E então, quando Elizabeth pensou que sua noite já estava desastrosa o suficiente, o
homem que comandaria o bingo pegou o microfone e atraiu para si a atenção de todos.

— Boa noite, senhoras e senhores! – disse ele, erguendo uma taça. — Primeiramente,
quero agradecer a presença de todos aqui. Essa é uma obra social muito bonita que queremos
continuar nos próximos anos. No entanto, esta noite temos uma presença ilustre, como já
devem saber, o nosso querido Lorde, Edward Phillips, que é um exemplo grandioso de
humildade, quer falar algumas palavras.

Edward também ergueu a taça em cumprimento e se aproximou do microfone sob os


aplausos dos demais. Ele procurou por Elizabeth e a encontrou, com os olhos verdes que ele
tanto amava, arregalados e assustados, como se perguntasse o que diabos ele estava fazendo.

Todos ficaram em silêncio, esperando que ele falasse. Alguns se entreolhavam, surpresos.
Um dia, aquele homem era o assistente de Elizabeth Adams, no outro, era um Lorde?

Edward respirou fundo e decidiu colocar a segunda parte de seu plano em ação.

— Sei que muitos estão surpresos. – ele sorriu. — Na verdade, até eu estou. Ano passado
eu me apresentei perante a sociedade, disfarçado e carregando o título de assistente pessoal da
senhorita Adams, que aliás, está belíssima essa noite. – ele a fitou e ergueu a taça, notando que
ela desviou o olhar, envergonhada. Os olhares curiosos se voltaram para ela e Elizabeth apenas
assentiu com um sorriso fraco nos lábios.

O que ele pensa que está fazendo? Elizabeth pensou, alarmada.

— Enfim. – disse ele, atraindo de volta a atenção de todos. — Eu vivi como alguém sem
privilégios, sem dinheiro e... garanto-lhes, meus caros, que foi uma experiência enriquecedora,
em todos os sentidos.

A plateia assistia ao discurso com atenção.


— Eu descobri como é viver em um apartamento pequeno e cheio de problemas. Descobri
o que é viver sem um empregado para me servir em todos momentos. Nesse tempo, vivi como
qualquer um vive. Andei de metrô e comi Fast Foods. – Edward pausou por uns instantes e
suspirou. — Fui considerado louco pela minha família, apenas por... querer ver o outro lado da
moeda. O lado de quem acorda cedo todos os dias e atravessa a cidade para poder trabalhar.

Elizabeth suspirou. Ela sabia que aquele discurso não era ensaiado. Ela sabia que ele
estava sendo sincero, pois pelo pouco que tinha visto do homem, uma coisa era certa: Ele não
mentiria sobre aquelas coisas.

— E eu também descobri o que é o amor. – disse finalmente, estreitando os olhos para a


mulher que lhe interessava. — Descobri o que era ter um coração partido, por ser pobre?
Talvez.

Elizabeth sentiu aquelas palavras atravessando-a como se fossem um punhal. Ela queria
gritar naquele instante que não! Ela não o deixara por pensar que ele era pobre, ela o deixou
por amor! Jamais colocaria sua vida em risco!

Houve um burburinho entre a plateia. Algumas mulheres cochichavam querendo saber


quem era a dona do coração de Edward. Alguns homens o admiravam ainda mais por suas
palavras e outros, apenas bebiam e nem sabiam o que estava acontecendo.

— Mas enfim! Estamos aqui por uma causa nobre e... como membro de uma das famílias
importantes do Reino Unido, quero fazer uma boa doação. Temos pessoas que morrem todos
os anos de frio, por não terem um local para dormir e é por isso que eu quero anunciar que vou
construir um abrigo grandioso nesta cidade.

Ele levantou a taça de champanhe e todos o aplaudiram até doer as mãos. Elizabeth não
conseguiu desviar os olhos daquele homem, pensando em como ele amadurecera em tão pouco
tempo.

— E para comemorar... – Edward continuou, descendo do palco e abrindo caminho entre


as pessoas até chegar em frente à mulher mascarada. O silêncio reinou mais uma vez e todos
aguardavam o que ele faria em seguida.

Elizabeth viu quando ele desceu do palco e caminhou em sua direção, com um olhar
enigmático e um sorriso bobo nos lábios. Nesse instante, suas pernas tremeram e seu coração
pulou dez vezes.

— Senhorita Adams... – ele parou na sua frente e estendeu a palma da mão. — Me


concederia a honra de uma dança?

E naquele instante, o mundo de Elizabeth parou quando ela mergulhou naqueles olhos
azuis como o mar.
Como podia resisti-lo?

Todos olharam expectantes, esperando a sua reação. Ela sabia que se aceitasse, estava
declarando a sua sentença de morte, afinal, seria notícia nos jornais. Se ela recusasse, estaria
declarando que se lembrava de tudo o que havia acontecido entre eles.

Edward não cansava de desafiá-la, um só segundo.

Como se tivessem se passado cinco horas, Elizabeth suspirou e encaixou sua mão na do
homem, sentindo aquela corrente elétrica percorrendo seu corpo mais uma vez.

A plateia ao redor abriu espaço e Edward gentilmente a levou até o centro, onde, com um
piscar de olhos, deu sinal para que começassem a música.

Ele sorriu satisfeito quando passou um dos braços pela cintura da mulher e a puxou para
si. Elizabeth arfou quando seus corpos se encontraram e ela soube que poderia muito bem
desmaiar naqueles braços, embora precisasse ser forte.

A música se iniciou, uma bela melodia, lenta e doce.

— Pelo menos não se esqueceu de como dançar. – Edward comentou em seu ouvido.

Elizabeth suspirou.

— E existem coisas importantes que eu deveria me lembrar?

Edward a girou e tentou não encarar os olhos verdes.

— Deveria começar por um ano atrás. – ele sussurrou. — Vivemos muitas aventuras,
minha querida.

Para a sorte de Elizabeth, os outros casais se animaram e se juntaram à dança. Assim, eles
não seriam a única notícia da noite.

— Do que está falando?

Edward sorriu. — Sabe o que eu deveria fazer? – disse em seu ouvido. A respiração de
Elizabeth se acelerou. — Eu deveria levá-la para algum dos quartos desse grandioso hotel e
refrescar a sua memória. Fazendo-a se lembrar de cada vez que gemeu meu nome.

Se toda aquela situação não fosse o bastante para ela desmaiar, aquela declaração
descarada o era. Elizabeth o encarou como se tivesse visto um fantasma e ele apenas sorriu.

Aquele maldito sorriso.


— Vo...você é louco? – gaguejou.

— Por você, talvez. – respondeu ele, tranquilamente.

Elizabeth respirou fundo mais uma vez, pensando em como a sua vida era infeliz. Ela
tinha ali um homem que a queria e estava arriscando tudo por ela. E o que lhe dava em troca?
Fingia que não se lembrava de cada momento que viveu ao seu lado.

Ela era uma ordinária e sabia muito bem disso.

A música se encerrou e Elizabeth não aguentou mais ficar ao seu lado. Sem qualquer
desculpa, saiu correndo pelo salão, deixando todos pensarem que estava se sentindo mal.

Edward correria atrás dela, se não fossem os outros que o interceptaram para lhe
parabenizar pela atitude. Anthony percebeu o que tinha acontecido e se colocou à correr atrás
de sua amiga.

Elizabeth correu pelo extenso corredor e entrou no elevador. Por sorte, estava vazio e ela
apertou até o último andar. Sua cabeça girava e não sabia quanto tempo aguentaria toda aquela
farsa.

Anthony chegou à tempo de vê-la dentro do elevador. Ele correu para pegar o outro.
Estava preocupado com o que sua amiga podia fazer, afinal, tudo ainda era muito recente para
ela.

Ao sair do elevador, Elizabeth subiu pelas escadas até o terraço e deixou que as lágrimas
descessem por seus olhos. Estava aguentando por muito tempo aquela vida e agora achava que
já não valia mais a pena.

Ela estava cansada de lutar pela sua empresa, cansada de se negar viver um sentimento
tão bonito quanto o que vivera com Edward. Cansada de se condenar à um casamento que seria
um desastre.

Estava cansada de mentir.

O vento da noite bateu contra seus cabelos, que neste momento ela já tinha soltado,
tamanha a sua fúria.

— Nem pense em se jogar! – ela ouviu a voz de Anthony logo atrás de si. Na verdade,
não tinha pensado em se jogar, porém, aquela até que era uma ideia aceitável.

— Sai daqui, Anthony. – gritou ao se virar para ele. — Me deixe em paz!

Anthony parou de andar e a observou. Elizabeth estava destruída.


— O que você tem? – ele perguntou. — Você é Elizabeth Adams! Você nunca chora!

Elizabeth respirou com dificuldade quando as lágrimas desceram com mais força. Seu
peito doeu de tal maneira que ela não sabia se tinha cura para aquela dor.

Fechou os olhos e se lembrou de uma vez que caíra da bicicleta. Seu joelho inchou e seu
pai ficou demasiadamente preocupado. Ela se lembrou de como ardeu o machucado, porém,
logo que aplicaram a medicação, cessou a dor e ela pôde voltar à brincar normalmente.

— Esse é o maldito problema! – gritou mais uma vez. — Eu nunca chorei como deveria!
Eu era uma maldita pedra de gelo até um ano atrás, quando aquele imbecil surgiu em meu
caminho.

Anthony arregalou os olhos.

— Você se lembrou, Lisa?

Elizabeth riu com desgosto.

— Eu me lembrei de tudo Tony! No momento em que eu olhei para aquele maldito


homem!

Anthony precisou de algum tempo para assimilar o que ela disse. Então... Elizabeth estava
fingindo todo esse tempo?

Elizabeth se virou de costas e continuou falando.

— Esse tempo todo eu fiquei calada, esperando que ele aceitasse que eu não poderia
voltar para ele. – seus olhos ainda ardiam com as lágrimas. — Ah, Tony... mas eu não consigo
ter nem um pouco de juízo quando estou perto dele.

Anthony continuou em silêncio, ouvindo aquelas palavras. No entanto, os dois não


perceberam que, atrás deles, outra pessoa também ouvia a conversa.

— Eu fui errada em mentir sobre isso, mas eu não podia colocar a vida dele em risco. Ah
se ele soubesse sobre a ameaça de Michael!

— O casamento? – Anthony perguntou.

Elizabeth balançou a cabeça. — Se ele soubesse que eu não o deixei por pensar que ele
era pobre, mas sim porque Michael voltou e me obrigou à fazer isso.

— O que você disse?

Anthony e Elizabeth viraram o rosto imediatamente para a voz atrás de si e então, seu
mundo parou mais uma vez. Edward olhava para ela atônito ao ouvir aquela declaração.

— O que você disse, Elizabeth? – ele repetiu a pergunta, desta vez furioso.
Elizabeth não esperava que Edward descobrisse daquela maneira. Seu desespero a fez
falar demais e agora ele estava ali, furioso, esperando uma resposta. Nesse momento, Anthony
já tinha sumido e os deixado a sós.

— Fazem dez minutos que estou aqui esperando uma resposta, Elizabeth.

Ela deveria falar algo, mas seus nervos estavam à flor da pele.

Não foi difícil para Edward os encontrar, visto que o hotel tinha seus funcionários
espalhados por todos os corredores. Alguém o informara que uma mulher entrara no elevador e
depois correra pelas escadas e que alguém a seguira.

O difícil, porém, foi ouvir aquelas palavras.

Edward se aproximou e a segurou pelos ombros. Elizabeth o fitou com seus olhos verdes
assustados, implorando para que não fizesse aquilo. No entanto, ele não conseguia parar. Ele
precisava ouvir toda a verdade da situação que o massacrou durante aqueles longos meses.

— Eu só quero que diga uma coisa! – disse ele, irritado. — Você perdeu ou não a
memória?

Ela poderia mentir e alegar que se lembrava de apenas algumas coisas, mas sabia que ele
não cairia. Edward era inteligente demais para os seus joguinhos.

— Eu perdi... no começo. – disse, após tomar algum fôlego.

— E agora? Você se lembra de quem eu sou?

Elizabeth temia que aquela resposta o afastasse e foi exatamente o que aconteceu. Edward
não esperou que ela respondesse. Respirou fundo, a soltou e balançou a cabeça negativamente.

— Tudo bem. Isso é uma perda de tempo sem tamanhos. – refletiu depois de alguns
segundos. — Elizabeth Adams, pode ficar feliz porque vou cumprir os seus desejos. Estou
caindo fora!

Elizabeth demorou segundos para assimilar que ele mais uma vez estava indo embora.
Edward virou as costas e se foi, deixando-a sozinha com o frio daquela noite.

Edward desceu as escadas e encontrou Anthony no caminho, que fez menção de se


aproximar. Porém, sua fúria era tanta que o fitou ameaçadoramente.

— Nem se aproxime, Carter! – berrou. — Você foi cúmplice desse joguinho!

Anthony queria se explicar, no entanto, Edward estava muito furioso e o deixou para trás.
Respirou fundo sabendo que tinha sido mesmo um idiota por ter acobertado aquela história
absurda e subiu as escadas, apenas para encontrá-la caída de joelhos, chorando até não
aguentar mais.

Ele se ajoelhou também e a abraçou.

— O que houve, Lisa?

— Ele se foi mais uma vez! Mais uma vez eu o perdi, Tony.

Anthony segurou o rosto de Elizabeth entre as mãos e a encarou seriamente. Ele sabia que
sempre fora o alívio cômico do grupo, porém, desta vez, ele precisava falar com Elizabeth
como nunca falara com ninguém, nem mesmo com sua irmã.

— Ele está furioso porque você mentiu e acredite, até eu ficaria. – deu um meio sorriso.
— Mas você não o perdeu. Pelos céus, Elizabeth! Aquele imbecil é louco por você. Ele
arriscou tudo para estar aqui e tentar reconquistá-la. O tempo que você esteve em coma, ele
morria a cada segundo que pensava que você não acordaria. Edward deixou o irmão morrendo
em Londres, para poder estar aqui. Consegue pensar em como ele se sente?

Elizabeth fechou os olhos e tentou imaginar porque ele havia feito tudo aquilo. Ele a
amava mesmo?

— Já passou da hora de vocês esclarecem essa situação. – Tony continuou. — Se você


não o quiser, pelo menos seja sincera com ele.

Anthony estava certo, pensou ela. Se era para eles ficarem separados, que pelo menos
soubessem da verdade.

O homem se levantou e estendeu a mão para ela. — Eu acho que já sei onde ele está.
Venha comigo.

Elizabeth agarrou a mão de seu amigo como se fosse a última salvação. Ela jogou a
máscara no chão e o seguiu, para onde ele fosse.

A questão era colocar as cartas na mesa. Ela precisava explicar tudo o que acontecera e
quem sabe, aquele peso em sua alma saísse de uma vez por todas. Mesmo que ambos não
pudessem viver o seu amor.

Edward deveria ter voltado ao seu apartamento ou no mínimo, ter ido beber alguma coisa
para se acalmar, embora soubesse que todas essas coisas eram temporárias e o que ele
precisava nesse momento, se encontrava em apenas um lugar.

Estacionou o carro em frente à grandiosa igreja. O Reverendo Jones havia sido transferido
para Manhattan e durante o coma de Elizabeth, todos os dias fora até lá para espairecer sua
cabeça.

Edward era o único de sua família que levava aquelas coisas a sério. Talvez, fosse
herança de sua tia avó.

Ele tinha consciência dos seus pecados e, se arrependia profundamente deles. Por várias
vezes se perguntou se aquela coisa toda que estava acontecendo em sua vida se devia ao fato
de ter desejado a mulher do próximo.

Balançou a cabeça negativamente, afastando aqueles pensamentos. Elizabeth não estava


casada com Michael... apenas eram noivos. E noivados acabavam, diariamente.

Por sorte, algumas pessoas saíam da grandiosa igreja, denunciado que a missa havia
terminado. Apertou com força o volante, perguntando-se se deveria mesmo entrar lá. Talvez
nem Deus quisesse vê-lo naquele momento.

Ou talvez sim.

Ser parente da chefe da Igreja contava como ponto positivo?

Edward saiu do carro e se espreguiçou antes de atravessar a rua e subir as escadas que
levavam até a entrada da igreja. Ele observou algumas mulheres que saíam de lá, felizes.
Pessoas que apesar de não terem tanto dinheiro quanto ele, eram mais felizes que ele próprio.

Isso é como a vida pode ser irônica.


Ele, com todo o poder aquisitivo, posição social, a roupa elegante que vestia, não tinha
sequer um terço de paz quanto aquelas outras pessoas que se vestiam de qualquer maneira.

Edward entrou no templo e fez o sinal da cruz. O reverendo Jones não estava, apenas
algumas pessoas que ainda estavam de joelhos rezando.

Se sentindo um pedaço de nada, aproximou-se e se sentou na segunda fileira de bancos.


Respirou fundo e fechou os olhos, assim como fizera nos últimos tempos em que todos os dias
rezava para que Elizabeth se salvasse da morte.

Ele estava feliz por ela estar a salvo, sem dúvidas. O que o dilacerava por dentro era o
fato de que todo esse tempo fora apenas um brinquedo nas mãos daquela mulher demoníaca.

Edward passou a acreditar que aquela mulher nunca fizera a comunhão porque nem
mesmo Deus a queria por perto.

— Veio rezar por ela mais uma vez? – a voz ecoou nas costas de Edward e ele se virou,
encontrando o reverendo com um sorriso nos lábios.

— Vim rezar por mim, eu acho. – murmurou, desanimado. — Elizabeth não vale a pena.

O reverendo se sentou ao lado de Edward.

— Por que diz isso? Aconteceu alguma coisa?

Edward respirou fundo. Por que as coisas estavam saindo desse jeito? Ele não era homem
o suficiente? Bem, talvez Elizabeth gostasse de homens malvados. Talvez, ela quisesse algum
homem problemático e mal resolvido na vida, e ele estava bem longe de ser assim.

— Acho que estou pagando os pecados por ter desejado a mulher do próximo. –
comentou em tom de brincadeira.

Jones riu.

— Pelo que eu saiba namoro e noivado são um tempo destinado para se conhecer o
parceiro. Se ela viu que estava infeliz com o noivo... você não tem culpa de ter entrado em sua
vida.

Edward assentiu. Queria que as coisas fossem assim tão fáceis.

— Só que as coisas nunca dão certo. – disse ele. — Talvez nunca darão.

Jones colocou uma das mãos no ombro de Edward.


— Tudo tem o tempo certo, meu jovem. Os seus planos não são os mesmos do criador.
Tudo acontece no tempo Dele.

Elizabeth perguntou três vezes se Anthony tinha certeza que Edward estava ali. E ele
afirmara que sim.

Coisa que lhe parecia surreal, visto que aquele prédio era uma igreja.

— Ele costuma vir aqui todas as vezes que está nervoso. – Anthony esclareceu. —
Quando você estava em coma... todos os dias ele vinha fazer suas preces.

— Isso é loucura, Anthony. – Elizabeth murmurou puxando a trava da porta do carro. —


Se ele não estiver aqui eu vou bater em você. Não posso perder tempo.

— Vai por mim! – ele berrou quando ela já tinha saído do carro. — Ele está lá dentro com
seus papos inimagináveis com o Criador.

Elizabeth revirou os olhos e olhou para os dois lados antes de atravessar. De tudo o que
acontecera em sua vida, não precisa somar mais um acidente.

Atravessou a rua e segurou seu vestido para subir as escadas. As pessoas que passavam na
rua a observavam, enquanto elegante naqueles trajes entrava dentro de uma igreja. Elizabeth
chegou até o salão e seu coração disparou ao ver a silhueta do homem em pé, de costas
conversando com o reverendo, que aliás, ela se lembrava perfeitamente.

Ele lhe dera um sermão sobre quem fora Davi.

Com essa lembrança, percebeu que sua mente estava perfeita mais uma vez. Ela ainda era
a mesma Elizabeth Adams.

Respirou fundo e reuniu sua coragem, que ameaçou correr de seu corpo. Deus, quando foi
que se tornara uma imbecil mesmo?

Ela entrou e se aproximou dos dois homens em silêncio. Jones a avistou assim que
colocou os pés na porta da igreja, porém, não esboçou reação alguma. Ouvia pacientemente os
desabafos de Edward.

Eles desenvolveram uma amizade sem tamanhos durante todo esse tempo.

Elizabeth se aproximou mais e Jones sorriu calorosamente para ela.


— Acho que vocês precisam conversar.

Edward se virou para trás e encontrou a dona de seus infortúnios se aproximando. Sua
maquiagem já tinha ido para o ralo à essa altura, porém, mesmo com o rosto borrado,
continuava linda.

— O que você está fazendo aqui? – Edward disparou.

— Calma, rapaz. – Jones interviu. — Deixe a senhorita falar.

Elizabeth olhou para o reverendo e assentiu. Ela se aproximou mais e suspirou, abrindo os
braços em sinal de rendição.

— Precisamos conversar. De uma vez por todas.

Ela o machucara de todas as maneiras possíveis e ele não sabia se queria ouvi-la. Mais
desculpas? Ele estava cansado de desculpas e mentiras.

— Vocês podem conversar no jardim dos fundos. – Jones falou, ao ver que o rapaz não
respondia.

Edward e Elizabeth se encararam por longos minutos em silêncio. O clima era


demasiadamente pesado, misturando mágoas, raiva, desejo, paixão. Ele só precisava pesar na
balança qual sentimento falava mais alto.

— Tudo bem.

O reverendo os guiou pela porta lateral até os fundos da igreja. Lá, existia um pequeno
jardim com alguns bancos. Alguns postes iluminavam o local.

— Fiquem à vontade. Estarei lá dentro, caso precisem de mim.

Elizabeth e Edward assentiram. O reverendo se retirou e eles continuaram em silêncio por


mais tempo que o necessário. A situação era, no mínimo, constrangedora.

Edward estava exausto, tanto no intelecto quanto no físico. Seus dias na Adams
Corporation não eram tão fáceis quanto imaginou. Talvez, se estivesse em Londres, estaria até
melhor. Ele se sentou no banco e esperou que ela falasse.

Não era para isso que ela tinha ido ali?

Elizabeth sabia que precisava falar, porém, não sabia por onde começar. Ela o observou
enquanto se sentava e pensou que talvez fosse um erro e devesse ir embora e deixar as coisas
como estavam.
Mas não, ela estava cansada de ser covarde.

Estava cansada de ser manipulada por Michael.

Mesmo que Edward não a perdoasse e sua história tivesse chegado ao fim, precisava
colocar aquele ponto final e seguir em frente.

— Eu sei que você deve me odiar nesse momento. – disse finalmente. — Acredite, eu
mesma estou me sentindo assim.

Elizabeth se sentou na ponta extrema do banco. Falar de seus sentimentos não era algo
fácil.

— Eu... – suspirou. — Nem sei por onde começar.

Edward olhou para o chão enquanto brincava com o chaveiro de seu carro.

— Que tal, pelo começo?

Sim, ela sabia disso, embora as palavras parecessem entaladas em sua garganta.

Edward viu que ela não falaria nada e se levantou. Aquilo tudo era perda de tempo e ele
não precisava se machucar um pouco mais.

Ele precisava de distância daquela mulher.

Elizabeth se levantou também e agarrou a manga de seu paletó.

— Por favor, não vá! – choramingou. — Não vê o quanto isso é difícil pra mim?

Edward a encarou.

— O que é difícil pra você? Falar a verdade?

— Edward! Por Deus! Você, melhor que ninguém sabe o quanto é difícil pra mim me
abrir sobre os meus sentimentos!

Edward respirou fundo mais uma vez e esperou que ela falasse. Aquela era a última
chance que Elizabeth tinha para ser sincera ou então, ele viraria as costas e voltaria para
Londres.

Elizabeth olhou para o chão.

— Naquela noite... da festa em que anunciaríamos nosso namoro, Michael voltou.

— E você o escolheu, isso foi bem óbvio pra mim.


— Não! – Elizabeth o encarou. — Michael me manipulou com alguns papéis que eu tinha
assinado. – ela desviou o olhar. — Ele havia trocado alguns papéis que eu assinei sem ler e que
me tirariam toda a administração das empresas.

— Então você trocou o que nós vivemos por suas empresas? – Edward perguntou.

— Por Deus, claro que não! – ela se virou e se afastou dele. — Claro que não vou ser
hipócrita de dizer que eu não pensei nisso. Eu não poderia simplesmente entregar tudo nas
mãos de Michael, porém, ele disse que se eu não o destruísse, ele mesmo o faria.

Edward se sentou no banco mais uma vez.

— Ele me destruiria? – perguntou em tom de deboche. — Michael não é tudo isso que
você pensa.

Elizabeth se virou para ele.

— Michael é perigoso. Ele apontou uma arma na minha cabeça enquanto eu falava com
você no telefone. Por que diabos teria outro motivo para que eu me rendesse à ele?

Elizabeth secou uma lágrima que escorreu de seus olhos.

— Naquela noite, eu fui atrás de você, mas você já tinha ido embora.

Edward ficou em silêncio, absorvendo e pensando sobre o que ela dizia.

— Claro que quando eu soube que você tinha mentido sobre quem era, eu fiquei furiosa.
Por que escondeu de mim? Tinha medo de que eu quisesse você só por seus títulos?

Edward a encarou.

— Não vire o jogo para o meu lado, Elizabeth. – disse com firmeza. — A minha mentira
não chega nem perto do que você fez comigo. Naquela noite eu estava disposto à te contar tudo
antes de anunciarmos nosso compromisso perante a sociedade.

Elizabeth se calou. Tudo bem, eles ainda estavam falando sobre ela.

— Eu vivi todos esses meses dentro de um inferno sem fim. – olhou para os céus. —
Michael todos os dias me ameaçava, dizendo que te mataria ou pior, nos mataria. Eu apenas
quis preservá-lo, mesmo que isso custasse o que nós sentimos.

Elizabeth se aproximou dele.

— Sobre a falta de memória, eu realmente não conseguia lembrar de Michael e parecia


que o último ano tinha se apagado da minha memória, porém, quando nos encontramos no
escritório, tudo veio à tona e eu me lembrei de cada detalhe.

Edward brincou com o chaveiro mais algum tempo, pensando em cada palavra dita. Ele
ergueu o olhar e a fitou. — E você tomou a decisão de me afastar sem me consultar?

— Eu não podia, Edward. – ela suspirou. — Michael ainda deve estar querendo me matar
uma hora dessas.

— Ele não vai fazer isso. – balançou a cabeça. — Ele precisa de você. Nas últimas
semanas aquela empresa se tornou um caos nas mãos dele.

Elizabeth sentiu como se um peso de duzentos quilos tivesse sido retirado de seus
ombros. Finalmente falara a verdade e não foi tão difícil quanto imaginou que seria. Agora,
Edward tinha motivos concretos para odiá-la um pouco mais.

— Eu só espero que possa me perdoar algum dia. – disse por fim, reunindo sua coragem,
disposta a sair dali o mais rápido possível.

No entanto, antes que desse um passo, Edward se levantou e se colocou na sua frente.

— Você diz isso assim, como se fosse tão fácil. – murmurou, encarando-a. — Você vem,
abre o jogo e já quer ir embora, tão depressa. Quer me deixar aqui pensando sobre toda essa
merda que foi a minha vida nesses últimos meses. Ah, minha cara, daqui você não sai
enquanto não ouvir tudo o que está entalado em minha garganta.

Elizabeth arregalou os olhos.

— Acho que já paguei por meus pecados durante todos os dias que você esteve em coma.
Eu me culpei todo santo dia por não ter ido atrás de você, ou pior, por tê-la coagido a se
entregar para mim naquele dia.

Ela suspirou. — Eu não fui coagida...

— Ah, não? – ele arqueou a sobrancelha. — Então o quê?

Elizabeth olhou para o chão, porém, ele ergueu seu queixo.

— Olhe para mim. – ordenou. — Se você não foi coagida, por que se entregou para mim
naquele dia?

Ela sentiu seus olhos arderem e seu peito ameaçou explodir.

Já que eles estavam sendo sinceros, ela falaria de uma vez.

— Porque eu quis! Inferno! – berrou e se afastou de Edward. — Eu quis você naquele


dia! E não me arrependo, mesmo que isso tenha quase custado a minha vida.

Ela bufou. — Eu quis e quero você por todos os dias da minha vida. Você não entende
não é? Eu não me afastei por que eu quis. Eu fui obrigada! E se não fosse por isso, nós
estaríamos...

— Casados? – ele perguntou, com um meio sorriso nos lábios.

— Talvez! Se você ainda me quisesse.

Pela primeira vez, Edward riu. Sua fúria havia cessado e tudo o que ele via na sua frente
agora, era uma oportunidade.

— Elizabeth Adams... você é a pessoa mais difícil que eu já conheci na minha vida. –
disse ele, estalando a língua. — Você transformou a minha vida em um inferno aqui na terra. O
que você tem a dizer sobre isso?

Elizabeth se virou para ele e cruzou os braços. — Posso dizer o mesmo de você. Desde
que o conheci, minha vida virou de pernas para o ar. Não acha que mereço um pedido de
desculpas?

Edward balançou a cabeça negativamente e se aproximou dela.

— Acho que você não está na posição de exigir nada. Eu fui o prejudicado aqui nessa
história.

Elizabeth encarou seus olhos azuis, que estavam escuros devido a pouca iluminação do
lugar.

— O que você quer que eu faça?

— Seja sincera.

— Mas eu já fui.

— Não totalmente.

Elizabeth o encarou e soube do que ele falava. Em nenhum momento ela disse que o
amava. Em todo esse tempo ela tentou ocultar esse sentimento e esconder embaixo da terra.
Porém, toda a vez que ele estava perto de si, seu coração parecia querer pular pela garganta.
Toda a vez que ele a tocava, seu corpo desejava o dele.

Ela se aproximou mais dele e com seu jeito nada delicado, puxou-o pelo terno de gala. —
Do que adianta eu dizer isso?
— Não sei o que quer dizer. Só estou exigindo que seja sincera ao todo.

Elizabeth fechou os olhos e os abriu.

— Eu te odeio por me fazer te querer à cada segundo. E depois quando eu tenho certeza
que já te odiei o suficiente, eu começo a amá-lo. Amá-lo por conseguir resgatar um pouco de
bom que há dentro de mim. E depois, nessa junção de amor e ódio, a única coisa que eu posso
querer é que você me beije como se não houvesse amanhã.

Edward abriu aquele sorriso que a fazia suspirar. — Amor e ódio? Não sei se isso é algo
bom.

— Muito menos eu. – ela suspirou. — A única coisa que eu sei é que nesse momento eu
mandaria ao inferno todo aquele império se você pudesse me perdoar.

Eles se encararam e não precisaram dizer mais nada. O que havia no meio de ambos era
suficiente para apagar todas as mágoas, receios, tristezas. A chama que os envolvia, era maior
que tudo.

Elizabeth era o ar que ele respirava.

Edward era a chama da vida que havia dentro de si.

E foi assim que lentamente seus rostos se aproximaram e seus lábios se encontraram.
Desejosos depois de tanto tempo, depois de tanta luta. O momento foi tão glorioso que
Elizabeth não se conteve e derramou as lágrimas presas em seus olhos, assim que seus lábios
se movimentaram.

Edward a envolveu pela cintura com seus braços e ela relaxou, derramando mais de si. E a
cada movimento, souberam que aquele era um recomeço. Se aquele não fosse uma
demonstração de perdão, o que mais poderia ser?
Edward separou seus lábios dos dela e segurou seu rosto entre as mãos.

— Elizabeth, o que esse beijo significa pra você?

Aquela era uma boa pergunta, pensou ela. Naquele momento, ela nunca se sentiu tão leve,
tão feliz, tão amada. Só havia uma resposta para aquela pergunta:

— Um recomeço?

Edward encostou sua testa na dela e respirou fundo. Para ele, sem dúvidas aquilo poderia
ser um recomeço, mas precisava de certeza da parte de Elizabeth. Não estava disposto à
entregar seu coração mais uma vez e ser destroçado.

Elizabeth sabia o que seu olhar significava, por isso resolveu falar tudo o que estava em
seu peito.

Com delicadeza, acariciou o rosto do homem e o segurou.

— Eu sei que isso é difícil pra você, ainda mais acreditar em mim depois de tudo o que
fiz. Mas... eu não consigo esconder as coisas de você. Não vou ser hipócrita de dizer que não
estou com medo, pois sim, eu estou. Tenho medo do que Michael pode fazer conosco,
principalmente com você. Tenho medo de deixar todo o meu patrimônio nas mãos daquele
infeliz, mas nada nesse mundo pode tirar o que sentimos um pelo outro. Eu te perdi uma vez e
não quero perder de novo, mesmo que isso custe tudo o que meu pai me deixou.

Edward abriu um meio sorriso. — Bem, você sabe que dinheiro não é o problema. Eu
tenho o suficiente por umas três vidas.

— Não falo do dinheiro em si, Edward. – ela sorriu. — Eu sempre lutei pelos ideais do
meu pai. Eu não ligo para o dinheiro, se fosse assim, eu jamais teria me envolvido com você. O
que meu pai me deixou vai muito além, envolvendo responsabilidades e maneiras de superar a
mim mesma.

— Eu entendo. – disse ele. — Diferente de você, eu não ligo muito para o que meu pai
espera de mim.

— Imagino que para ele deve ter sido uma decepção sem tamanhos você se envolver com
sua chefe. – Elizabeth riu. — Aliás, você não sabe a falta que me fez nesses meses. Digo na
questão profissional.

Edward arqueou a sobrancelha.

— Aposto que não foi só na questão profissional. Dylan não teria a mesma coragem que
eu.

— Dylan é um paspalhão. – revirou os olhos. — Oito meses que trabalha comigo e nunca
consegue me trazer o café certo.

Edward riu abertamente e a abraçou com força.

— Você tem certeza que está disposta a deixar tudo para trás em nome do nosso amor?

— Eu nunca tive tanta certeza. – respondeu ela, com sinceridade.

Ele abaixou o rosto e a beijou mais uma vez. Talvez fosse errado beijar uma moça nos
fundos da igreja, porém, ele imaginou que pela primeira vez o criador estava torcendo por eles.

Mesmo admirando a coragem de se abdicar de todas as suas coisas, Edward não deixaria
que Michael saísse daquela história com o prêmio nas mãos. Agora, com aquela força injetada
em suas veias, vasculharia até o inferno em busca das suas sujeiras, para que ele e Elizabeth
saíssem como vencedores naquela batalha.

— Só não sei como vou comunicar à ele sobre o cancelamento do casamento.

Edward respirou fundo e segurou suas mãos.

— Por enquanto, não fale nada. – disse ele. — Você confia em mim?

Elizabeth encarou os olhos azuis que tanto amava e sorriu.

— Claro que confio.

— Então nós não sairemos dessa história pelas portas do fundo, minha querida.
Elizabeth arqueou a sobrancelha e se perguntou qual era o plano mirabolante que aquela
mente criativa já planejava. Ele apenas sorriu e ela vislumbrou a figura diferente que ele havia
se tornado desde que se conheceram.

No começo, ele se parecia com um jovem inconsequente, que não era capaz de levar nada
a sério. Agora, ele se mostrava um homem forte, decidido, perspicaz. O homem que ela
precisava ao seu lado para completar a sua felicidade.

— Vejo que vocês dois se entenderam. Glórias a Deus!

Os dois se viraram para o local de onde a voz vinha. Anthony sorriu, acompanhado pelo
Reverendo Jones.

— Achei que vocês dois já tinham se matado a uma hora dessas. – brincou ele. — Mas
pelo visto não.

Edward fuzilou o amigo com o olhar.

— Em Londres a primeira coisa que você fez foi me acertar um soco no olho. Eu deveria
fazer o mesmo, visto que você foi cúmplice desta senhorita.

Anthony levantou as mãos ao alto em sinal de rendição.

— Eu apenas fui amigo, só isso.

— Amigo dela, quer dizer né. Eu não sou absolutamente nada pra você, pelo visto.

Anthony se aproximou de Edward e o abraçou com força. — Edzão, eu te amo, mas não
poderia interferir nas escolhas da Elizabeth.

Elizabeth e Jones riram com a cena hilária desenrolando debaixo de suas vistas. Edward
forçou para sair do aperto de Anthony, porém, o homem ainda era mais forte que ele.

— Maldição! – Edward praguejou ao se soltar. — Preciso voltar para a academia.

— Com certeza. – Anthony riu. — Ainda mais se planeja se casar com essa aí. Vai ser
uma surra todo dia.

Elizabeth riu como há tempos não o fazia. O reverendo se aproximou dos dois e os puxou
pela mão.

— Meus filhos, vejo que estão no caminho certo. Deus irá guiá-los pois sei que há amor
sincero entre vocês. E... quando se casarem, lembrem-se do velho aqui.

Edward sorriu e deu um tapinha no braço do reverendo.


— Por mim, já está convidado.

Elizabeth olhou para Edward com os olhos arregalados.

— Vamos com calma! Eu primeiro preciso me livrar de um casamento para depois pensar
em outro!

Eles se despediram do reverendo e saíram da igreja, agradecendo aos céus pela


oportunidade que tiveram de se entenderem. Anthony resmungou durante todo o caminho
sobre como era bom vê-los tão sorridentes e felizes. Também falou sobre o quanto seria difícil
se livrar de Michael, mas, qualquer que fosse o plano de Edward, ele estava dentro.

Elizabeth se sentia cansada, porém, antes de ir para sua casa, tinha uma coisa à fazer.
Edward arqueou a sobrancelha quando ela encostou a cabeça em seu peito e pediu que ele a
levasse até seu apartamento.

Ela não sabia o que, mas algo dentro de si dizia que deveria ir até lá.

E ela não se enganou quando entrou no apartamento e viu a baixinha de olhos azuis.

Rebecca estava sentada em frente à televisão. Quando a porta se abriu, ela olhou para trás
e se levantou no mesmo instante que viu Elizabeth. A menina correu e pulou nos braços da
mulher, que já estava emocionada.

— Eu sabiaaaaaa que você viria. – Becky gritou ao abraçá-la forte. — Eu queria tanto te
ver.

Elizabeth a segurou em seus braços e deixou as lágrimas rolarem. — Oh, minha pequena.
Me perdoe por não ter vindo antes.

— Ora, quem é vivo sempre aparece.

Serena encarou Elizabeth com os braços cruzados. Ela usava um pijama amarelo, com um
short curto demais. Com cuidado, Elizabeth colocou a criança no chão e olhou para Edward.

— É bom começar a explicar essa história desde o começo.

— Becky... acho que é hora de ir para a cama. Aliás, eu gostaria de saber da sua babá por
que ainda está acordada à uma hora dessas.

— Ela passou mal o dia todo. – Serena respondeu. — A dispensei para que pudesse
descansar.

Edward bufou e se abaixou na altura de sua irmã.


— Vou levá-la para a cama.

Rebecca assentiu e se despediu de Elizabeth, que jurou voltar outro dia para elas fazerem
um programa de meninas. Edward a levou no colo até o quarto e a colocou para dormir.

Logo depois, voltou para a sala e encontrou Elizabeth e Serena se encarando como se
estivessem prestes à lutar uma batalha.

— Serena foi de muita ajuda nesses dias. – disse ele enquanto ia até a cozinha e pegava
uma garrafa de cerveja. — Não me olhe assim.

Elizabeth não conseguiu disfarçar o ciúme que sentiu ao ver aquela jovem ali. Serena deu
de ombros e se aproximou de Anthony, muito intimamente, percebeu ela, depois de alguns
minutos.

Edward lhe entregou uma garrafa.

— Beba algo comigo.

— Tudo bem... – ela resmungou e levou a garrafa até os lábios. — Cerveja... já faz um
bom tempo que não bebo isso.

Anthony e Serena continuaram conversando enquanto Edward se sentou no sofá e


chamou a mulher para perto de si. Agora que estavam finalmente bem, não queria deixá-la se
afastar um só segundo.

Elizabeth sentou ao seu lado e se encostou no corpo do homem. Fechou os olhos e inalou
o perfume amadeirado. Ah... como ela sentiu falta disso. Aquela paz, aquela harmonia...

— O que você tem em mente? Digo, em relação ao Michael...

Edward bebeu um pouco da cerveja enquanto com a outra mão, acariciou o braço de
Elizabeth.

— Eu ainda não sei. – respondeu. — Por enquanto, você continua fingindo que não se
lembra de mim e que está feliz com os preparativos do casamento.

Elizabeth arqueou a sobrancelha.

— Tem certeza?

— Quero que finja ser uma noiva apaixonada. – repetiu ele. — Consegue fazer isso?

Ela deu de ombros. — Eu já estava fazendo isso.


— Não convencia nem metade da cidade. – ele riu.

— Não seria melhor eu terminar isso de uma vez por todas? – levou a garrafa até a boca e
bebeu mais um pouco.

Edward respirou fundo.

— Nós temos que estar um passo à frente de Michael. Você já sabe por que ele fingiu o
acidente aéreo?

— Não tenho nem ideia. – ela suspirou. — No começo, pensei que podia ser alguns caras
que estavam atrás dele... traficantes. Mas depois de um tempo eu descartei essa ideia. Michael
não faria isso por causa de dívidas no tráfico.

— Não mesmo. Tem algo maior por trás dessa história e nós precisamos descobrir.

Elizabeth suspirou.

— Que isso seja logo. Ele já reagendou o casamento para daqui quinze dias.

— Só por que ele quer. Antes disso, nós vamos dar um jeito nessa situação. Você não vai
perder o patrimônio do seu pai, te garanto isso.

Elizabeth encarou os olhos do homem de sua vida.

— Você sabe que eu acabei de abrir mão de tudo isso se for para ficarmos juntos. Não
quero nada além de você ao meu lado.

Edward sorriu calmamente. — Eu sei disso. Mas não é justo que depois de tudo o que
passamos, Michael ainda saia vitorioso.

— Cuidado com o que pretende fazer. Eu não quero que você corra riscos por minha
causa. Eu já te perdi uma vez e não aguentaria perdê-lo novamente.

Edward acariciou o rosto da linda mulher à sua frente e a beijou nos lábios.

— Não vai me perder. Eu lutei por você duas vezes e lutaria mais uma se fosse preciso.

Elizabeth sorriu e antes que beijasse o homem mais uma vez, eles olharam para trás e
viram Anthony e Serena em uma conversa bastante animada. Ele contava algo que tinha
acontecido e ela ria como ninguém.

— Esses dois... hum...? – Elizabeth arqueou a sobrancelha.

— Pois é, acho que sim. – sorriu. — Ele já até emprestou o Ipod para ela.
Elizabeth arregalou os olhos. — Tem certeza? Tony não empresta aquele Ipod pra
ninguém!

— Quem sabe? Até que eles formam um casal bonito.

— Gwen vai à loucura se souber disso.

Ao ouvir o nome da irmã mais nova, Edward se retesou no lugar. Se lembrou da noite
anterior onde a louca apareceu, praticamente nua e se insinuando para ele. Pensou se deveria
ou não falar aquilo para Elizabeth.

— O que foi? – ela perguntou.

Edward desviou o olhar. Não sabia como contar aquilo de uma forma simples.

— Não é nada.

— Ah não. Pode me falar tudo. – ela exigiu. — Tudo o que eu ouvi até agora foram as
versões de Gwen e Michael. Anthony me contou um pouco, mas agora quero ouvir de você
tudo o que aconteceu enquanto eu estive... em coma.

Edward respirou fundo, aquilo não seria fácil.

— Bom... Gwen e eu não temos uma boa relação desde então.

Elizabeth não respondeu, apenas esperou que ele esclarecesse aquela história. Bem, ela se
lembrou que Gwen ficou bastante furiosa quando ele voltou para Londres, mas, pelo que ela
sabia, sua irmã não estava por dentro das jogadas sujas de seu noivo.

— No dia do acidente... Gwen percebeu que estávamos juntos e a pedido de Michael me


proibiu de visitá-la. – ele encarou os olhos espantados de Elizabeth. — Todo esse tempo eu
tentei ficar ao seu lado, mas eles me impediram.

— Mas por que ela fez isso?

— Também gostaria de saber. – ele replicou. — Inclusive, ontem a noite ela veio até aqui.

— Fazer o quê?

Edward bebeu um pouco da cerveja. — Aparentemente, me seduzir.

Elizabeth moveu a cabeça de um lado para o outro e riu. — Espera. Você está dizendo
que minha irmã, veio aqui te seduzir?

— Serena está de prova. – ele deu de ombros.


— Mas por que diabos ela faria isso?

Essa era uma pergunta que nenhum deles tinha a resposta. Edward não quis entrar em
mais detalhes, pois sabia que Elizabeth adorava demais a irmã para ver as coisas que
aconteciam ao seu redor.

Eles não falaram mais sobre o assunto e de certa forma, ele achou melhor. Continuaram
conversando coisas aleatórias enquanto Anthony e Serena continuavam em um ritmo bem
animado.

Quando já se passava das duas horas da manhã, Elizabeth achou melhor ir para casa, antes
que Michael resolvesse procurá-la. Eles se beijaram fervorosamente e juraram que tudo daria
certo.

Edward se levantou decidido naquele dia. Tomou um banho e vestiu um terno cinza
escuro. Serena estava na cozinha preparando alguma coisa, porém, ele não tinha tempo para
esperar. Ele nunca entendeu porque a garota não esperava que os funcionários do hotel
trouxessem a comida.

— Já vai sair tão cedo?

— Tenho algumas coisas para resolver.

— Ligaram novamente de Londres. Seu irmão está péssimo...

Edward respirou fundo. Não podia deixar Nova York, ainda mais agora que Elizabeth
precisava dele.

— Eu preciso de duas semanas. – calculou ele. — Duas semanas e aí posso voltar para lá
em paz.

Serena assentiu.

— Becky e eu voltaremos amanhã. Seu pai nos quer de volta e agora ela finalmente
conseguiu ver Elizabeth. Está muito feliz.

— Tudo bem. – Edward respondeu. — Vocês devem mesmo voltar, as coisas por aqui
não vão ficar muito boas.

Serena se jogou no sofá.


— É... pelo visto você e a megera se entenderam finalmente.

Edward parou de mexer nos papéis e a encarou com o semblante fechado.

— Tudo bem! – ela riu. — Retiro a parte do “megera”.

— Acho bom. – disse ele. — Nós nos entendemos e agora estamos buscando meios de
tirar Michael da jogada.

— Você contou para ela sobre a irmã cretina?

— Sim.

— E...? O que ela disse?

Edward fechou a pasta e se encaminhou até a porta.

— Não disse nada. Porém, eu não esperava nada também, só contei porque não queria que
Gwen usasse isso contra a minha pessoa depois que soubesse que nós estamos juntos
novamente.

Serena assentiu.

— Você é esperto. Vai se sair bem dessa.

Edward sorriu e se foi. Antes de ir para o escritório, precisava se encontrar com o tal
Sherlock Holmes. Estava ansioso para descobrir o que Michael escondia de todos e esperava
que fosse algo bem grave para que ele pudesse tirar Elizabeth daquela situação.

Desta vez, não foi de metrô. Foi com o próprio motorista e alguns seguranças no encalço.
Ele cortou a cidade e o levou até o mesmo café em Williamsburg.

Edward adentrou o local e foi até os fundos, onde o homem já o esperava, sentado em
uma das mesas, com um laptop na sua frente.

— Meu Lorde. – ele se levantou e estendeu a mão, cumprimentando-o.

— Sherlock. – Edward devolveu o cumprimento e logo se sentou. — Vamos lá, estou


ansioso para saber as suas descobertas.

— O senhor vai se surpreender com as coisas que eu descobri.

Edward o observou digitar algumas coisas no laptop. Estava tão ansioso que mal
conseguia pensar.

Sherlock virou o laptop em sua direção.


— Este é o homem que o senhor mandou que eu averiguasse, correto?

Edward assentiu.

— Pois bem. – ele respirou fundo. — Este homem, Michael Sanders, possui várias contas
no exterior. Suíça, Andorra, Bahamas.

Aquilo não era novidade para ele. Sempre suspeitou que Michael colocava a mão no que
não deveria dentro da empresa.

— Sem falar, que ele foi visto na companhia do El Toro, alguns meses atrás. O senhor
sabe quem é o El Toro?

Edward negou com a cabeça.

O homem abriu outra pasta no computador.

— Vamos começar do princípio. Este homem, - ele apontou a tela do aparelho. — Se


chama González. Ele foi brutalmente assassinado cerca de um mês antes do encontro entre o
senhor Sanders e El Toro.

Edward observou a tela.

— O que você quer dizer? Seja mais específico por favor.

Sherlock se aproximou de Edward.

— El Toro é o sucessor de González. O senhor já parou para pensar nos motivos do


acidente de avião?

— Primeiro eu quero saber quem são esses dois e o que Michael tem a ver com eles. –
replicou Edward.

— Pois bem. O senhor deve saber que Michael é envolvido com drogas. Não sabe?

Edward assentiu, pois se lembrou de uma ocasião em que Elizabeth lhe contou que ele
precisou ser internado.

— González gerenciava todo o tráfico de drogas na América do Norte e Michael andou


pisando na bola com ele. Pelo que descobri, González se irritou ao perceber que os planos do
senhor Sanders eram outros e deu ordens para que o apagassem, embora, não foi isso que
aconteceu. Michael forjou aquele acidente aéreo para que tivesse tempo de se unir com El
Toro.
Edward pensou naquelas palavras.

— Então você quer dizer que El Toro traiu o chefe para ajudar Michael? Por que ele faria
isso?

— Sim, mas essa história não acaba aqui. – Sherlock respondeu. — El Toro tem um
irmão chamado Lorenzo, que neste momento está na prisão de Segurança Máxima em
Massachussets.

Edward já tinha ouvido aquele nome, mas não conseguia se lembrar da onde.

Lorenzo,

Lorenzo,

Lorenzo...

Até que sua mente acordou e ele se lembrou de algo.

“― E quem atirou nele? Vocês descobriram? – perguntou enquanto acariciava os


cabelos dela.

― Foi Lorenzo. – respondeu ela, despejando o ódio em cada palavra. ― Logo depois
que eu fui para casa, eles tiveram uma discussão e aí aconteceu...”

— Meu Deus! – ele exclamou. — Já me lembrei quem é esse sujeito. Mas qual ligação há
entre esses dois e Michael?

Sherlock deu de ombros.

— Ainda estou investigando. Eles são muito sigilosos nessas questões.

Edward respirou fundo e passou as mãos pelos cabelos.

— Isso quer dizer que eu tenho uma viagem até Massachussets.


A sorte de Edward era que mesmo contra a sua vontade, ter alguns seguranças em seu
encalço ajudava um pouco. Claro que eles não se faziam notar, mas estavam ali, caso ele
precisasse.

E nesse momento ele precisou.

Reuniu os dois homens que o seguiam e deu ordens explícitas de que cuidassem de
Elizabeth. Ele resolveria os assuntos necessários e caso fosse preciso, a levaria embora para
Londres naquele dia mesmo.

E para isso, ele precisou do seu jato particular, coisa que também não foi difícil. Apesar
de tudo, fazer parte da família Real lhe trazia muitos benefícios.

Excelentes benefícios.

Edward foi até o aeroporto e pegou o jato que o levou até a prisão de segurança máxima
do estado de Massachussets. Ele nunca tinha visitado um presidio, mas sabia que podia ser
muito opressor.

Um pouco antes, ligou para Jane e pediu que ela transferisse a ligação para Elizabeth.
Imediatamente ela atendeu, preocupada. Ele explicou que precisava resolver algumas coisas e
pediu que ela ficasse tranquila. Informou também que ordenou que seus seguranças ficassem
em seu encalço.

Quando ela perguntou onde ele estava e ele revelou que estava em Massachussets, ela
quase deu um grito, surpresa. Ela reclamou que Gwen queria levá-la naquela tarde para
experimentar o vestido do casamento.

Claro que ele se irritou com essa parte, mas não deixou transparecer. Estava ansioso para
derrubar a máscara de Michael e assim, livrar a sua amada das garras do filho de Satanás.

O responsável pelo presídio ficou surpreso e assustado quando Edward revelou quem era
e o que desejava, mas não fez nenhuma objeção. Aliás, quem era ele para se meter nos
assuntos de um Lorde.

E cerca de quarenta minutos depois, Edward foi levado por um extenso corredor branco e
gelado, que o deixou em uma sala. Ele não precisou passar pelos esquemas de segurança.

O policial pediu que aguardasse enquanto ia buscar o preso em questão. Edward respirou
fundo, pensando em como entraria naquele assunto com o homem. Ele provavelmente não
revelaria nada mais do que já sabia.

Mas ele precisava tentar.

Dez minutos depois, a porta se abriu e um homem de estatura média, moreno, vestido
com um macacão laranja entrou. Suas mãos estavam algemadas.

O homem mediu Edward da cabeça aos pés, perguntando-se quem era e o que queria.

— Eu o conheço de algum lugar. – disse ele, pensativo. — Já começo dizendo que não sei
de nada e muito menos quero saber.

Edward se sentou e observou o homem também se sentar. Eles ficaram se encarando por
alguns segundos. O policial avisou que estaria do lado de fora e que eles tinham apenas quinze
minutos.

— Você é Lorenzo?

O homem relaxou.

— Eu costumava ser. Agora meu nome é Colunga.

— Eu sou um homem que vai direto ao ponto. – Edward disse. — Estou aqui por causa
desse homem.

Ele tirou uma foto do bolso e a colocou em cima da mesa, arrastando-a até o homem.

Lorenzo observou a foto fechou o semblante.

Era ele.

— O que você é? – Lorenzo ergueu os olhos. — É um dos capachos desse imbecil? Por
que se for, pode cair fora. Por mim, esse sujeito aí já estaria apagado há muito tempo.
Edward ergueu a sobrancelha.

— Eu não sou nenhum capacho dele. Temos apenas quinze minutos e quero que saiba que
estou aqui, buscando meios de destruir esse cara.

Edward percebeu ter falado a coisa certa, quando Lorenzo ergueu levemente a cabeça e
assentiu.

— Pois bem. Quem é você?

— Edward Phillips. Antes conhecido como Edward Smith.

Lorenzo arregalou os olhos. — Ahhhhhh é você mesmo! Eu te vi na tv. Você dançou com
a Elizabeth Adams... – disse ele e logo seu semblante se entristeceu. — Como ela está?

— Te odiando um pouco menos, creio eu.

Os olhos do homem se encheram de água, porém, ele disfarçou e mudou de assunto.

— Por que quer pegar o Sanders? O que esse maldito fez pra você?

Edward bufou.

— Digamos que ele mexeu com a minha mulher e... eu odeio quando fazem isso.

Lorenzo coçou a testa.

— Michael não é noivo de Elizabeth? Ou sei lá, já não casaram?

— Não casaram e nem vão, no que depender de mim.

Edward não tinha tempo para bater papo com aquele sujeito. Por isso, resolveu apressar as
coisas.

— Eu quero saber o que Michael tem a ver com El Toro, que eu soube tratar-se de seu
irmão.

Lorenzo bufou e desviou o olhar.

— O que eu vou ganhar se te revelar toda essa história?

— Pensei que odiasse ao Michael. – Edward resolveu jogar as cartas que tinha. — Vê-lo
derrotado já não será uma vitória?

O homem ergueu os olhos, tomados pelo rancor.


— Só de ver aquele desgraçado na miséria, já posso morrer em paz. – disse ele. — Bom,
você sabe que eu fui acusado de matar o Charles Adams. Não sabe?

— E não foi você? – Edward cruzou os braços.

— Não. Claro que eu e Charles tínhamos nossas diferenças, mas eu jamais o mataria.
Acontece que... – ele pausou, medindo as reações de Edward, que se mostrava impassível. —
Essa união entre Michael e El Toro já se dá há muito tempo antes da morte de Charles.
Michael usou algumas negociações e privilégios que a sua posição na empresa lhe ofereceram,
para poder fazer suas movimentações no tráfico, sem que chamasse a atenção da Polícia,
principalmente do FBI. Charles nunca desconfiou, pois sempre o tratou como um filho.

Edward estava ainda mais curioso com o rumo daquela conversa.

— Depois de algum tempo, eu notei algumas transações estranhas e o confrontei. Michael


disse que eu estava louco e que jamais faria aquilo com alguém que o queria tão bem.

Ele suspirou e continuou:

— O problema de Charles é que sempre teve um coração bom demais. Ele ajudava à
todos. Apesar de toda a história que Michael me contou, eu não engoli e continuei
averiguando, mesmo que Elizabeth e Charles não soubessem. – ele riu. — Na época ela era
uma menina, apenas. Estava começando a aprender as coisas dentro da instituição.

Edward assentiu e ele continuou, como se aquilo fosse um desabafo de algo que ele
guardou por quatro anos.

— Foi então que eu descobri que Michael estava envolvido com a turma do González.
Naquela época ele estava muito estranho, atordoado... – ele respirou fundo. — Não me lembro
bem, mas houve um burburinho na empresa de que Elizabeth tinha o traído naquela época. Eu
me lembro de vê-lo algumas vezes com a irmã dela, aquela loira gostosa que eu nem me
lembro o nome.

— Gwen?

— A própria. – ele deu de ombros. — Michael e eu tivemos uma discussão muito séria e
eu o ameacei, dizendo que falaria toda a verdade para Charles.

— E o que aconteceu depois?

Lorenzo respirou fundo e pareceu mergulhar em um mar de lembranças ruins.

— Na noite em que Charles morreu, eu tinha ido até o seu escritório para lhe contar a
verdade. Eu tinha reunido provas e vídeos, mostrando o envolvimento de Michael com
González e meu irmão. Eu me lembro bem de quando Elizabeth se despediu dele e nos deixou
a sós.

Edward estava cada vez mais chocado com aquela história.

— No começo, Charles não acreditou na minha história, porém, ao ver cada prova que eu
tinha em mãos, seu mundo pareceu ruir em segundos. Todos pensam que brigamos por causa
da empresa, de negócios, porém, eu só quis ajudá-lo a ver o que o futuro genro estava
causando. – ele suspirou. — Michael entrou na sala e antes que Charles pudesse se levantar,
ele próprio lhe deu um tiro.

Lorenzo balançou a cabeça e fechou os olhos. — Ele o matou e colocou a culpa em mim.

— Mas... como pensaram que foi você?

— Já tinha todo mundo ido embora naquele dia. A sala de Charles era a única que não
tinha câmeras de segurança, apenas uma na porta. Ele manipulou o sistema de segurança para
mudar os horários e... eu fui o único suspeito.

Edward se recostou na cadeira e tentou digerir toda aquela conversa.

— Mas por que seu irmão ainda têm alianças com Michael mesmo sabendo que ele o
incriminou por algo que não fez?

— El Toro nunca me quis por perto. Ele sabia que eu poderia tomar o lugar dele, coisa
que eu não tinha o menor interesse, mas ele sempre se sentiu ameaçado. Me ter preso, para ele
foi ótimo.

— Mas pelo que eu soube você fugiu, não foi?

Lorenzo suspirou. — Essa é a segunda parte da história que eu vou te contar, rapaz. Eu
consegui fugir por dois anos. Porém, eu fui pego e me trouxeram de volta aos Estados Unidos.
O julgamento correu e Michael esteve em todos eles. Michael só tinha uma obrigação e ele não
conseguiu cumprir até agora, pelo jeito.

— E qual é?

— Se casar com a primogênita do Charles. Assim ele teria total controle das empresas e
poderia continuar com as negociações do tráfico.

— Por isso o González se irritou?

— Pelo que eu soube sim. – ele suspirou. — Ela estava encantada por outra pessoa, que
acredito agora que seja você. Isso a tirou da jogada e para o González era um erro
irremediável.
Edward ponderou aquelas revelações por alguns instantes. Isso era uma boa explicação
para a raiva que o González sentia.

Lorenzo suspirou pesadamente.

— Conhece a loira, irmã adotiva?

Edward assentiu.

— Ela era uma cínica, não sei se ainda é. – ele bufou. — Ela esteve morando fora alguns
anos e sempre disse para sua família que estava na Europa, porém, ela era uma das preferidas
do González, consequentemente, do El Toro.

Naquele momento, Edward não sabia o que falar. Ele não podia acreditar naquelas coisas,
porém, o homem falava tão abertamente, que parecia impossível que estivesse mentindo.

E ele continuou:

— Michael forjou aquele acidente de avião para despistar o González. El Toro já tinha
entregado todo o plano que havia sido arquitetado para a sua morte. Michael lhe disse que se o
ajudasse, daria um jeito para que eu fosse condenado à morte.

— E você foi?

O homem assentiu lentamente enquanto olhava para as próprias mãos.

— Por um crime que eu não cometi.

Edward estava enjoado depois de toda aquela conversa. Logo depois, o policial entrou na
sala, anunciando que o tempo havia acabado. Edward se levantou e o cumprimentou, dizendo
que daria um jeito para reverter aquela situação.

Lorenzo disse que as provas discriminatórias existiam e que se ele fosse capaz de achá-
las, salvaria todos ao seu redor. E era realmente isso o que ele queria, no entanto, por onde
começaria?

Ele sabia que havia algo que precisava ser feito. Elizabeth não podia passar tudo para as
mãos daquele criminoso. O problema estava em... como contar para a mulher que o verdadeiro
assassino de seu pai, estava ali a poucos metros dela?

Foi esse pensamento que o consumiu por toda a viagem de volta à Nova York. Era
ultrajante, era... difícil.

Ele precisava de um plano. Precisava encontrar a verdadeira gravação da câmera no dia


do assassinato de Charles, assim, teriam uma prova de que Michael entrara na sala minutos
antes do tiro.

O que ele não entendia ainda era o que Gwen tinha a ver com aquela situação? Será que
ela era a sua cúmplice?

Ou...

Será que ela manipulara a todos ao seu redor?

Elizabeth estava exausta por um dia tão corrido quanto aquele. Gwen a fizera
experimentar centenas de vestidos e no final das contas não escolheram nenhum. Claro que
não fazia questão disso, pois sua vontade era ir para a casar ou até voltar para a empresa e
trabalhar até dizer chegar.

Porém, era a sua irmã... e não gostaria de decepcioná-la.

— Amanhã vamos em outra loja em New Jersey. Ouvi falar que tem um estilista lá que é
maravilhoso.

Elizabeth assentiu enquanto bebericava um pouco de sua bebida. Ambas estavam sentadas
na sala, com um estofado embaixo das pernas esticadas.

— Tudo bem.

Gwen olhou para sua irmã. — Você não me parece muito animada com o casamento.
Aconteceu alguma coisa?

Ela deveria revelar que havia se lembrado de tudo?

Elizabeth queria contar tudo à sua irmã, mas algo a impedia e não sabia o que era.
Lembrou-se do que Edward havia lhe dito: Continue agindo como se os planos se mantivessem
intocáveis.

— Não é isso. – suspirou. — Só estou cansada. Faz poucos dias que saí do hospital, ainda
não me lembro de tudo.

— Entendo. – Gwen arqueou a sobrancelha.

Nesse momento, Elizabeth sentiu seu celular vibrando. Era uma mensagem de Edward.
“Preciso falar com você, o mais breve possível. Me encontre no Central Park às oito
horas, na ponte Mary Jane-Peter Parker”

Elizabeth quis rir ao se lembrar da discussão idiota que tiveram em cima daquela ponte.
Rapidamente digitou um “Ok”.

— Que sorrisinho é esse? – Gwen perguntou com malícia na voz.

Elizabeth largou o celular.

— Um vídeo que eu baixei... – mentiu.

Se fosse em outros tempos, ela diria com prazer que era Edward marcando um encontro,
porém, precisavam manter aquilo em segredo, pelo menos por enquanto, que não viam
maneiras de se livrar daquela situação.

Ela abriu a boca, fingindo sono.

— Vou para o meu quarto, estou muito exausta.

Elizabeth largou a taça de champanhe em cima da mesinha de centro e se levantou,


passou as mãos pelo vestido e se esticou.

— Bom descanso...

Gwen fechou os olhos e se deixou amolecer no estofado macio. Quando Elizabeth sumiu
de suas vistas, ela bufou. Só Deus sabia o quanto ela odiava a sua irmã e não via a hora de vê-
la sofrendo nas mãos de Michael.

Michael e ela seriam os novos Rei e Rainha de Nova York. Juntos, dominariam todas as
esferas e mostrariam que eles tinham o poder.

Elizabeth correu até seu quarto, tomou um banho rápido e vestiu roupas de moletom. Não
queria que a reconhecessem andando por aí ao lado de Edward. E a maioria das pessoas já
estavam acostumadas com o seu jeito e poucos a imaginavam em trajes que não fossem
aqueles elegantes que usava todos os dias.

Se o próprio Clark Kent usava apenas um óculos para se disfarçar, ela estava numa
melhor situação usando aquelas roupas velhas de academia.

Aguardou por mais um tempo e quando teve certeza que Gwen estava dormindo no sofá,
passou por ela e correu para o elevador. Olhou no relógio e faltava vinte minutos, tempo mais
que suficiente para chegar lá.

Sentindo-se em um filme de perseguição policial, andou rápido assim que o elevador se


abriu, olhando para o outro lado, onde as pessoas não podiam ver seu rosto claramente. Até
que... antes que chegar à saída, um guarda a parou.

— Onde pensa que...

Ele nem chegou a terminar sua pergunta quando Elizabeth ergueu o rosto e o encarou. O
homem apenas pediu perdão e saiu do seu caminho. Para não perder o costume, ela o chamou
de incompetente e disse que depois cuidaria de seu caso.

Elizabeth saiu do prédio e caminhou apressadamente pelas calçadas. O que será que ele
queria que não podia encontrá-la em seu apartamento?

Claro, ele estava sendo cuidadoso. Por sorte, no dia anterior, Michael não descobrira para
onde ela tinha ido depois da festa. Ele pensou que ela ficou com Anthony todo o tempo e claro,
seu amigo a acobertou muito bem.

Quando todo aquele sofrimento acabasse, ela deveria recompensar Anthony por tudo o
que ele fizera por ela.

Elizabeth adentrou o Parque e seguiu pelo caminho que conhecia tão bem. Olhou para os
lados e por sorte, ninguém a observava. Quem estaria preocupado com uma mulher com
roupas de academia uma hora daquelas?

Já de longe ela o viu, usando um casaco escuro, encostado no parapeito da ponte, olhando
para baixo. Parecia concentrado e mais uma vez ela admirou o quanto o homem era bonito.

Como se sentisse que estava sendo observado, Edward levantou os olhos e a encontrou
com um meio sorriso nos lábios. Ela se aproximou, porém, ele não estava tão animado para
aquela conversa.

— Hey, o que houve? – ela perguntou, ao perceber que ele estava sério demais.

— Precisamos conversar sobre algumas coisas. – disse ele. — Alguém te seguiu? Ou


alguém te reconheceu pelo caminho?

Elizabeth negou com a cabeça.

— Então fale, estou aqui para isso.

Edward respirou fundo, procurando as palavras ideais para falar, mas como se contava
para alguém uma situação como aquela?

Então ele teve uma ideia bem melhor.

— Amanhã, quero que você vá comigo em um lugar.


Elizabeth cruzou os braços e encostou a lateral do corpo no parapeito da ponte. —
Aonde?

— Sem perguntas. – retrucou ele. — Só posso te dizer que você precisa de algumas
informações.

— Mas isso tem a ver com Michael?

— Sim.

Elizabeth assentiu e ponderou aquilo. Ela precisaria de uma boa desculpa para ficar longe
do escritório sem que desconfiassem de algo.

Parecendo adivinhar seus pensamentos, Edward disse:

— Anthony vai se encarregar de Michael durante o dia, se essa é a sua preocupação.

— Ele vai achar bem estranho nenhum de nós no escritório. – Elizabeth murmurou. — Eu
vou falar que recebi uma ligação importante e vou ter que me ausentar por um dia inteiro.

Edward sabia que Michael poderia não engolir aquela história, mas era a única chance
que tinham. Eles precisavam tentar, só assim conseguiriam provas para derrubar aquele
noivado absurdo.

Sem falar, que nesse momento, o que ele mais desejava era colocar aquele criminoso de
quinta categoria atrás das grades.

— Irônico não? – ela perguntou, interrompendo o silêncio. — Nós dois aqui... nos
encontrando às escondidas. Isso é tão...

— Engraçado. – ele completou. — E ridículo. Odeio essa situação.

Edward se aproximou dela e a puxou pela cintura.

— Não vejo a hora de acabar com essa palhaçada. Michael vai se arrepender pelo que fez.

Elizabeth o fitou nos olhos.

— Me roubar de você?

— Também.

— Mas você me roubou dele primeiro... – ela brincou.

— Você chama aquilo que vocês mantinham de relacionamento? – ele revirou os olhos.
— Por que se for, você deve ser uma masoquista.
— Talvez eu seja. – ela murmurou. — Eu abri mão do que tínhamos por causa de uma
ameaça.

Ele suspirou e aproximou seu rosto do dela, colando suas testas.

— Isso é passado, Lisa. – disse ele, amoroso. — O importante é que temos uma nova
chance para fazer dar certo. A única barreira no momento é essa ameaça, mas logo vamos
resolver e tirar esse cara da jogada.

Elizabeth fechou os olhos, confiando naquelas palavras.

— Por que você voltou de Londres?

Edward riu.

— Por que eu também sou um pouco masoquista.

Elizabeth riu e abriu os olhos. Eles se olharam por alguns instantes e perceberam mais
uma vez que, ali onde estavam, nos braços um do outro, era o lugar certo. Não haviam
palavras, nem coisa alguma que substituísse aquela sensação de amar e ser amado.
Elizabeth e Edward conversaram por mais um tempo até que ela decidiu voltar para seu
apartamento. Se Gwen resolvesse procurá-la, veria que ela tinha saído e, provavelmente, não
saberia encontrar desculpas convincentes naquele momento.

Durante todo o trajeto sua mente deu voltas com ideias sobre onde Edward queria levá-la.
Ela sabia que era algo que envolvia Michael e isso a deixou apavorada, de certa forma. Como
lidar com a situação?

Elizabeth chegou no apartamento e Gwen continuava deitada no sofá com os olhos


fechados. Ela subiu rapidamente as escadas e se trancou no seu luxuoso quarto. Agora teria
que esperar até o outro dia para poder sanar suas dúvidas.

O dia amanheceu e sem delongas se arrumou com suas habituais roupas de trabalho.
Sabia que teria que ser dura com Michael ao informá-lo que estaria fora por um dia inteiro.

E foi preciso respirar fundo dez vezes quando Michael a encarou com a sobrancelha
arqueada.

— E posso saber aonde você vai?

A mulher deu um meio sorriso e se sentou na poltrona em frente à mesa. Deveria


continuar calma, agindo como se nada tivesse acontecido. O homem já estava bem furioso
depois do que acontecera na festa.

Ainda mais depois que vira uma foto nos jornais, sobre a dança com Edward. A mídia era
assim, não perdoava qualquer deslize. Ele lhe perguntou mil vezes se havia se lembrado de
mais alguma coisa e ela, mantendo a calma, disse que não.

— Vou resolver algumas coisas do casamento, não precisa se preocupar.


Michael assentiu e se levantou. Caminhou lentamente e se colocou atrás de Elizabeth.
Com calma, colocou as duas mãos nos ombros da mulher e os massageou.

— Como está se sentindo, meu amor? – ele perguntou, descendo o rosto até perto da
orelha dela. — Espero que sua memória tenha voltado.

Elizabeth estava tensa, notou ele. Naquela altura, tudo o que ele não queria era que ela se
lembrasse das coisas, mas pelo visto, estava prestes à acontecer. Ele não tinha mais cartas na
manga, agora, sua única salvação era o casamento.

— Não me lembro de mais nada, Michael. – ela suspirou. — Nós vamos nos casar daqui
alguns dias e isso é o que importa.

Nesse momento, ela acreditou que deveria ser vencedora de um Oscar, pois o homem
pareceu acreditar em suas palavras. Elizabeth se levantou e ao fazer menção de sair da sala, ele
segurou seu pulso.

— Eu quero uma prova. – disse ele, encarando-a seriamente.

Elizabeth desceu os olhos até seu pulso.

— Que prova?

Michael a puxou para ele e agarrou sua cintura.

— Não posso entrar na sua mente para saber se você está sendo sincera ou não. Mas uma
coisa pode provar isso.

Elizabeth não sabia o que era e temia saber o que era aquela “prova”.

— E o que é?

— Um beijo. – respondeu ele.

Ela riu desconfortavelmente. — Mas... um beijo não prova nada.

Michael não riu e ela viu que ele falou sério. Ela respirou fundo. Sabia que não tinha o
que pensar, era aquilo ou correr o risco de seu plano ir por água a baixo. Ela deveria encarnar a
boa atriz que poderia estar dentro de si e beijá-lo apaixonadamente.

Elizabeth segurou o rosto dele entre as mãos e seus olhos se encheram de água. Não era
ele quem ela queria beijar, era outro. Se Edward entrasse ali e visse aquela cena, sabia que
estava perdida. Respirou fundo e sem demora colou seus lábios nos do homem. Fechou os
olhos e disse a si mesma que aquele beijo seria o último.
Seus lábios se movimentaram com força e... Michael pareceu estar convencido de que ela
era o mesmo brinquedinho de antes, pois o beijo foi tão profundo que ele a segurou fortemente
pela cintura, retribuindo da mesma maneira.

Elizabeth se separou dele, rogando para que não estivesse com cara de nojo. Michael
sorriu e seus olhos e suavizaram.

Ele tinha caído naquela história.

— Ótimo. – ele voltou para o seu lugar. — Pode ir tranquila. Nos vemos mais tarde?

— Sim, claro. – ela respondeu e saiu da sala apressadamente, com o peso na consciência
falando mais alto que tudo.

Fechou a porta atrás de si e sua vontade foi chorar. Porém, chorar não resolveria sua
situação. Anthony estava conversando com Jane quando a viu e imediatamente se aproximou
dela.

— Hey. O que houve? Você está mais pálida que o normal!

Elizabeth se afastou e caminhou até a sua sala. — Tive que beijar o Michael como se
estivesse morrendo de amores por ele. – comentou em voz baixa.

— Vixe... O Edzão não vai gostar disso não.

— E você vai manter essa sua boca calada. – ela ralhou. — Vou pegar as minhas coisas
porque estou caindo fora. Ele vai me levar em algum lugar. – Elizabeth abriu a porta de sua
sala e entrou. — Tony, eu preciso que você nos dê cobertura.

— É claro. – respondeu ele. — Mas tenta ser rápida. Você sabe como o Michael é.

— Ele acreditou no que eu falei. – Ela disse enquanto guardava alguns papéis na bolsa. —
Bom, depois nos falamos.

Elizabeth se aproximou de Anthony e lhe deu um beijo no rosto. Tony respirou fundo e a
observou sair da sala.

Será que ele finalmente poderia ficar feliz por Elizabeth?

Edward já estava nervoso achando que ela não apareceria, porém, às 10:58 ela apareceu
no aeroporto. Essa era uma das suas qualidades, odiava atrasos.

Ela usava um vestido preto com duas listras brancas. Sapatos de salto alto e o cabelo
caindo em cascatas. Poderia soar clichê, mas no momento em que ela sorriu, ele se lembrou de
respirar.

— Você está linda. – disse ele.

— Obrigada. Você também, não está nada mal.

Edward sorriu e quando se aproximou para beijá-la, ela o parou. Aparências, sussurrou
depois, fazendo-o se lembrar de onde estavam. Qualquer um ali poderia denunciá-los à
Michael.

Eles entraram no jato e depois que o avião decolou, Edward a tranquilizou:

— Todos eles são de confiança. – disse ele, referindo-se aos funcionários. — Não trairão
a minha confiança. Sou um Lorde, afinal.

Elizabeth revirou os olhos.

— Não sei se vou me acostumar com essa coisa de “Família Real”.

O homem riu.

— Vai ter que se acostumar. Já até marquei uma visita à Rainha.

A mulher arregalou os olhos e ele riu.

— Estou brincando.

— Muito engraçado. – ela bufou.

Edward arqueou a sobrancelha e não pôde deixar de notar que ela estava estranha. Ele
conhecia Elizabeth como ninguém e algo lhe dizia que Michael não engolira aquela história tão
facilmente.

— O que está olhando? – Elizabeth perguntou ao notar que o homem a fitava como se
esperasse algo.

— Estou esperando você me contar o que houve com Michael.

Elizabeth encostou a cabeça no estofado e fechou os olhos. Ela não queria contar que foi
praticamente obrigada à beijar seu noivo como se estivesse perdidamente apaixonada.

— Nada demais. Eu falei que iria resolver algumas questões do casamento.


Um homem se aproximou e entregou uma taça para Edward.

— Entendo. Se fosse eu, não engoliria essa história tão facilmente.

— Ele precisou acreditar. – Elizabeth revirou os olhos. — Eu deixei bem claro que sou
uma noiva “apaixonada”.

O homem entornou Champanhe na taça de Edward.

— Ah, é? E como fez isso?

Nesse momento ela notou que havia falado demais. Odiou a si própria e desejou voltar no
passado e ficar bem calada.

— Nada... eu só falei.

O homem também encheu a taça que entregou à Elizabeth. Edward bebericou um pouco
do liquido.

— Sei... só falou e ele acreditou...

— Tá bom! – ela berrou. — Ele me fez beijá-lo e... eu tive que fingir um beijo
apaixonado.

Edward bebeu o restante do liquido e devolveu a taça para o funcionário.

— Espero que tenha sido o último beijo. – disse, irritado.

— Claro que foi!

Edward respirou fundo e desviou o olhar, quando uma pergunta se formou na sua mente.
Nesse tempo que ele tinha voltado para Londres, será que Elizabeth e Michael tinham dormido
juntos?

Ele não queria acreditar que aquilo fosse possível.

Mas ele precisava perguntar. O diabo sentado em seu ombro não parava de falar em seu
ouvido coisas desagradáveis.

— Você e Michael... enquanto eu estive em Londres...

Elizabeth ergueu os olhos e entendeu o que ele queria dizer. Por Deus! Ele mal conseguia
formular aquela pergunta.

— Claro que não! – retrucou. — Acha mesmo que eu dormiria com alguém que me
chantageou todo o instante?

Edward respirou aliviado ao ouvir aquela resposta. Se fosse algum tempo antes, daria uma
festa em comemoração.

Mas Elizabeth também queria saber.

— E você? Dormiu com quantas depois de mim?

Ela era assim, direta e reta. Com Elizabeth não tinha meio termo.

Ou era ou não era.

Edward bufou, sentindo-se um completo imbecil.

— Com uma. – confessou.

Elizabeth não sabia dizer se o que sentia era raiva ou vontade de matá-lo. Talvez fossem
os dois juntos e ele viu isso em seu olhar.

— Mas não deu muito certo, é claro. Eu estava bem bêbado para falar a verdade.

— Isso não é desculpa! Seu maldito! – ela disse duramente. — Mas eu não vou matá-lo
porque eu tenho um pouco de culpa. – bufou. — Foi com a Serena?

Na verdade ela não queria saber, mas esperava que não. Como ela olharia para aquela
pirralha se ela tivesse provado do seu homem?

— Não, não foi com ela.

A mulher respirou aliviada. Pelo menos não tinha sido com aquela garotinha petulante.

Edward se ajoelhou e pegou suas mãos, depositando um beijo em cada uma delas.

— Eu fui um imbecil, Lisa. – ele suspirou. — Eu não deveria ter ido embora tão
facilmente. Eu deveria ter ficado e analisado a situação de frente. Espero que possa me
perdoar. Essa noite que eu tive, foi uma loucura... do qual eu me arrependo. É claro que nem
chegamos ao fim, mas quero que saiba que você é a única mulher que eu amei e amo nessa
vida.

Elizabeth respirou fundo e alisou o rosto do homem com uma das mãos.

— Isso é passado, nós recomeçamos, não é?

Edward assentiu e ela o beijou nos lábios. Um beijo doce e singelo que significava muito
mais do que palavras poderiam dizer. Na verdade, seus futuros ainda eram incertos, mas eles
sabiam que lutariam até o fim por aquele sentimento.

— Meu Lorde, preciso pedir que o senhor se sente, nós já vamos pousar. – o comissário
falou, interrompendo-os. Edward se sentou e fez o que ele ordenou, travando seu cinto para um
pouso seguro.

Após o pouso, eles saíram do jato e um carro preto já os esperava. Elizabeth estava
impressionada com tudo aquilo, mas preferiu se manter calada. Por vezes, ela esquecia que
Edward era mais poderoso que ela e seus amigos juntos.

Por todo o caminho ela se manteve apreensiva, porém, os braços fortes envolta de seus
ombros a deixaram mais calma. Ela perguntou onde estavam indo, mas ele não respondeu.

— Tem algo que precisa saber - Disse ele após ela perguntar. Elizabeth odiava estar às
cegas. Anos de controle pareciam escorrer por seus dedos.

E seu coração quase parou quando ela viu que estavam em um presídio.

— Mas que diabos estamos fazendo aqui, Edward?

O homem suspirou.

— Eu disse que tinha algo que você precisa saber.

— Aqui? O que eu posso querer saber desse lugar? – perguntou, alarmada.

— Você confia em mim? Se confia, me estende a sua mão e me deixe guiá-la.

Elizabeth encarou os olhos azuis e tentou acreditar. Seu coração estava agitado e não
sabia o que a esperava por trás daqueles enormes muros.

Elizabeth assentiu e Edward ordenou que o carro continuasse, até passar pelos portões.
Não muito depois, eles adentraram o local e Elizabeth conheceu o diretor daquele horripilante
lugar.

Algo dentro de si ordenou que se preparasse para o que estava por vir. Ela viu a tensão
nos ombros de Edward e seu olhar distante. Realmente era algo muito sério e ela esperava que
não tivesse nada a ver com seu passado.

Eles foram guiados até a mesma sala que Edward tinha conversado com Lorenzo no dia
anterior. Elizabeth estava trêmula e quieta, mergulhada em seus pensamentos. Edward
esperava que ela ouvisse tudo o que o homem tinha à dizer ao invés de surtar.

Era arriscado, porém, se ele tivesse falado que a levaria para ver o suposto assassino de
seu pai, ela não teria ido.
Elizabeth ficou em pé e se virou de costas para a porta. Não queria ver se fosse quem ela
pensava que era, e caso fosse verdade, a primeira coisa que faria seria matar Edward por
aquela afronta.

E suas suspeitas se confirmaram quando a porta se abriu e Lorenzo passou por ela.

Elizabeth não sabia mais como se respirava, pois naquele momento tudo o que ela viu foi
vermelho. Um filme se passou na sua cabeça e ela olhou para Edward, atordoada.

— Por quê? – ela perguntou e de repente seus sentidos sumiram, fazendo com que
desmaiasse.

E se Edward não estivesse por perto, ela poderia ter batido a cabeça mais uma vez.

Elizabeth definitivamente não sabia lidar com fortes emoções, concluiu ele.

Não foi necessário levar Elizabeth até a enfermaria, pois ela logo recobrou os sentidos.
Edward a colocou sentada na cadeira e lhe deu um copo de água bem gelado. Ele pediu que
colocassem o preso para o lado de fora enquanto ele tentava acalmá-la.

Elizabeth não parava de chorar, perguntando porque diabos ele a tinha levado naquele
lugar. Edward pediu perdão e disse que era necessário ela ouvir o que o homem tinha à dizer.

E depois de muita relutância, ela aceitou.

— Se você quiser, podemos voltar outro dia. – Edward disse calmamente. — Mas acho
que Lorenzo tem algo muito importante para dizer à você.

Elizabeth assentiu. Não queria voltar outro dia, já que estava ali, iria até o fim.

Edward ergueu a cabeça e a balançou para o carcereiro, indicando que ela finalmente
estava pronta.

O homem abriu a porta e Lorenzo entrou. Edward se afastou um pouco enquanto


observava Elizabeth. Não queria que ela avançasse no homem.

Ela estava sentada, com uma das mãos apoiada na mesa, olhando para o chão. Lorenzo se
sentou na mesma cadeira do dia anterior, porém, ela não levantou o olhar. Seu coração ainda
estava cheio de rancor e ele transpassava sua pele, fazendo-a tremer, mesmo que
minimamente.
Elizabeth ainda não acreditava que Edward a tinha levado até à cova dos Leões. Apelido
carinhoso para o que estava ali naquela sala. Sua vontade era se levantar e voltar para casa,
claro, depois de ter uma briga muito séria com Edward.

— Elizabeth... – Lorenzo foi o primeiro à se manifestar e mesmo assim ela não levantou o
olhar.

As lágrimas vieram novamente quando se lembrou de tudo o que aconteceu naquele dia.
Uma coisa ela podia ficar satisfeita: Lorenzo finalmente estava preso e, provavelmente, seria
condenado à morte.

Isso não poderia deixá-la mais aliviada.

Porém, suas convicções estavam prestes à cair por terra diante do que o homem iria
revelar.

Elizabeth se levantou.

— Eu não posso. – fitou Edward. — Você sabe quem é esse homem? Ele matou o meu
pai! E você me trouxe aqui para ver isso? – ela se virou para Lorenzo. — Saiba que estou
muito satisfeita que você finalmente está pagando pelo que fez! – despejou toda a sua raiva de
uma só vez.

— Eu não matei o seu pai. – Lorenzo falou. — Você não pode falar de algo que não tem
provas.

Elizabeth arregalou seus olhos verdes e socou a mesa de uma só vez.

— Eu sei que foi você! Eu só queria saber o que você ganhou matando meu pai? Achou
que iria ficar com tudo pra você?

Lorenzo não respondeu, apenas balançou a cabeça negativamente.

Ela olhou para Edward, que estava de braços cruzados. — Você acreditou no que esse
sujeito falou?

O silêncio tomou conta do local e ela sabia que sim, Edward tinha acreditado. Descrença
tomou conta de sua feição e ela pegou sua bolsa, disposta à sair dali o mais rápido possível, até
que Lorenzo falou algo que a fez parar no meio do caminho:

— Foi Michael quem matou seu pai.

Elizabeth parou de andar no mesmo instante quando ouviu aquelas absurdas palavras.
Michael era um cretino? Sim.
Era orgulhoso? Sim.

Mas assassino?

— O que você disse?

Lorenzo estendeu a mão para a cadeira. — Você veio aqui para ouvir, não foi? Quero lhe
contar uma história.

Elizabeth não queria ouvir mais nada. Balançou a cabeça negativamente.

— Você acha que eu sou imbecil? – ela gritou, mandando ao inferno o restante da sua
paciência. — Você não tem ideia do que a minha vida se tornou durante esses anos que meu
pai está morto!

Edward a segurou pelos ombros enquanto ela falava sem parar.

— Eu desejei todos os dias que você tivesse um fim bem trágico, assim como o dele! Ele
não merecia!

Elizabeth colocou pra fora toda a sua fúria, porém, não era tão forte quanto pensou. As
lágrimas vieram mais uma vez e ela não aguentou, deixando-se cair nos braços de Edward.

Lorenzo não sabia o que dizer. Entendia que ela estava furiosa e machucada, mas, o que
diria para aliviar aquela dor?

— Vocês não podem colocar a culpa de um crime desses nas costas de uma pessoa
inocente. – ela disse, depois de algum tempo em silêncio.

Edward a forçou se sentar mais uma vez e se abaixou ao seu lado.

— Eu entendo que está doendo. – ele disse ao segurar suas mãos. — Mas eu não a traria
aqui se a história que esse sujeito me contou não fosse convincente o bastante. Acha que eu
gostaria de levá-la ao inferno mais uma vez?

Ela secou as lágrimas com o lenço que ele lhe estendeu. Elizabeth fitou os olhos de
Edward e percebeu que ele nunca a machucaria daquela maneira. Se ele a tinha levado até ali,
deveria existir um motivo bem razoável.

E mesmo que fosse difícil, ela ouviria as palavras daquele homem.

— Você tem dez minutos para me convencer. – disse ela, desviando o olhar para Lorenzo.
— Ou então eu vou sair daqui e me certificar de que você irá morrer o mais rápido possível.

O homem engoliu em seco. Pelo que ele se lembrava, Elizabeth sempre tivera um gênio
difícil, porém, agora ele viu que ela tinha herdado mais um dos traços do pai: a determinação.

Ele respirou fundo e despejou toda a história que contara para Edward no dia anterior,
detalhe por detalhe, rezando para que ela acreditasse naquelas palavras que não continham
nada, além da verdade absoluta.
Anos de confiança caíram por terra depois de todas as palavras que Elizabeth ouviu dos
lábios de Lorenzo. Ele não hesitou em nenhum instante, falou tudo o que se lembrava daquela
época.

Revelou inclusive as questões de Michael envolvido com o tráfico e suas jogadas para se
manter no poder, usando seu posto de executivo para manter as aparências. Então tudo se
encaixou perfeitamente, como num gigantesco jogo de quebra cabeças.

Cada peça entrou no seu devido lugar e Elizabeth não poderia estar menos chocada.

Ela podia jurar que a cor havia sumido de seu rosto, afinal, não é todo dia que se descobre
que seu noivo é o verdadeiro assassino do seu pai.

Elizabeth e Edward estavam de volta no jato e desde que saíram da sala, ela não disse
uma palavra sequer. Estava pensando em cada coisa que tinha ouvido e ponderando algumas.
Mesmo querendo encontrar brechas naquela história absurda, não conseguia encontrar nada.

Tudo o que Lorenzo relatou fazia sentido.

— Você está bem? – Edward perguntou.

Ela o fitou e suspirou.

— Como você estaria se descobrisse que alguém que você amou um dia foi o mentor do
assassinato do seu pai?

— Eu sinto muito. – foi o que conseguiu dizer.

— Não sinta. – Elizabeth desviou o olhar. — Infelizmente não podemos voltar no passado
e mudar as coisas, embora possamos mudar o futuro.

— E o que tem em mente?

Elizabeth o fitou. — Precisamos reunir todas essas provas contra Michael. Eu quero esse
desgraçado atrás das grades. Ele vai pagar por tudo o que fez na minha vida. – sua voz soou
dura. — Cada lágrima que eu derramei... ele vai pagar.

Edward suspirou e decidiu que era a hora de abrir o jogo.

— Eu não te disse nada, mas quando você sofreu o acidente, eu contratei um detetive,
considerado o melhor de Londres para investigar toda a vida de Michael. – Elizabeth assentiu.
— Ele descobriu essas ligações que ele tem com os chefes do tráfico e também descobriu
algumas contas no exterior. Felizmente, encontramos o autor do rombo nos cofres das
empresas. Sem que você soubesse, ele usou o nome das empresas para conseguir empréstimos
que foram injetados em compras de armas, financiando o crime em outros Países, incluindo o
Brasil. Por que acha que os bancos não querem mais negociar conosco?

Elizabeth levou a mão à boca e balançou a cabeça negativamente, sem acreditar no quão
idiota tinha sido por todo esse tempo. Michael provavelmente estava brindando sua vitória.

Mas uma coisa era certa: Seus dias estavam contados.

— Eu não acredito que fui cega todo esse tempo. – murmurou. — Eu já sabia que
Michael não prestava, mas não acreditei que ele fosse capaz dessas coisas tão horríveis.

Edward mudou de assento, puxando-a para o seu colo.

— As pessoas podem nos surpreender, tanto de maneiras boas, quanto ruins. Você não
tem culpa de ter acreditado nas coisas que ele falou.

Elizabeth encostou a cabeça no colo de Edward e deixou que as lágrimas caíssem mais
uma vez. Como pôde ter sido tão inocente? Por Deus, ela, que sempre foi uma mulher forte,
destemida... agora estava sendo pega de surpresa nesse jogo macabro.

— Já sabe o que vamos fazer para desmascarar esse cretino? – se levantou se enxugou os
olhos.

— As provas dos desvios de dinheiro eu consigo fácil. – Edward deu um meio sorriso. —
Sherlock já tem alguma papelada e o restante não é difícil de encontrar. Eu mesmo consigo
hackear o computador dele.

— Sherlock? – Elizabeth revirou os olhos. — Não acredito que o detetive usa esse nome.

O homem riu. — É um apelido apenas.


— Tudo bem. – ela assentiu. — Você vai encontrar essa papelada enquanto eu vou
procurar os vídeos originais das câmeras no dia do assassinato do meu pai.

— Você tem alguma ideia do que ele possa ter feito para conseguir burlar essas imagens?

— É claro. – ela bufou. — Michael sabe subornar as pessoas, mas eu também sei. Ele
sempre foi muito amigo do chefe da segurança. Agora eu entendo porque os dois se davam tão
bem.

— Mas ele seria capaz de acobertar um assassinato?

Elizabeth riu sem humor.

— Disso e muito mais. Josh é um ex militar. Ele foi expulso da corporação por mau
comportamento. Meu pai, bondoso como era, resolveu dar uma chance ao rapaz que chegara
com uma mão na frente e outra atrás.

Edward suspirou.

— Estamos rodeados por serpentes.

— Além disso, no dia do acidente de avião, eu me lembro de Josh ter ido pessoalmente
com Michael até o aeroporto. – ela suspirou mais uma vez. — Engraçado como as coisas se
encaixam. Michael forjou aquele acidente apenas para distrair o chefe do tráfico e se manter
longe de problemas. Quando ele percebeu que ficaríamos juntos, deu um jeito de voltar e fazer
aquela chantagem comigo.

— Exatamente. Mas ele não contava que nos reencontraríamos logo depois.

Elizabeth assentiu, mas algo ainda não encaixava naquela história.

— Mas... ainda assim, não acredito que seja somente pelas questões do tráfico que ele fez
essa chantagem. Eu não sei, mas tenho a sensação de que ele não está trabalhando sozinho e
que há algo muito maior por trás dessa história.

— O que você quer dizer?

Elizabeth desviou o olhar. — Acho que Michael teve outras razões para matar meu pai.
Ele poderia muito bem ter matado Lorenzo e seu segredo estaria seguro, não acha?

Edward assentiu.

— Então... por que justamente o meu pai?


Edward chegou em seu apartamento e se deparou com as malas prontas na sala. Serena
estava sentada no sofá, entretida com o celular nas mãos enquanto Becky estava no tapete,
lendo um livro.

A menina tinha apenas seis anos mas já sabia ler.

— Até que enfim você chegou. – Serena resmungou. — Te esperamos apenas para nos
despedirmos. Precisamos voltar para Londres.

— Claro. – Edward assentiu e se sentou na outra poltrona. — Acho melhor voltarem


mesmo, as coisas não vão ficar boas por aqui.

— Sério? – ela arqueou a sobrancelha. — O que aconteceu?

Edward olhou para o corredor para ver se a babá de Rebecca não estava ouvindo a
conversa.

— Descobrimos coisas horríveis sobre Michael. Finalmente tenho aquele cretino nas
mãos e essa semana ainda quero que esteja atrás das grades.

— Meu Deus, isso é ótimo! – Serena sorriu. — Fico feliz por vocês. Aquele cara, apesar
de ser muito bonito, tem jeito de ordinário mesmo.

Edward riu.

— Pra você ver que beleza não significa nada.

Rebecca largou o livro e se aproximou de seu irmão.

— Quando a sua namorada vai vir me ver?

Edward colocou a menina em seu colo.

— Ela está um pouco ocupada com algumas coisas, querida. – disse calmamente. — Mas
em breve eu vou levá-la para te visitar em Londres, o que acha?

A menina abriu um sorriso magnífico que deixou à mostra suas covinhas.

— Tá bom!
As horas se passaram e Edward prontamente as acompanhou até o aeroporto, onde um
avião particular as esperavam. Seguranças os acompanharam durante todo o trajeto e naquela
altura, a mídia já estava ciente de que membros da Família Real estavam passeando por Nova
York.

A sorte é que descobriram tarde demais, e ele conseguiu colocá-las no avião em


segurança. Edward chegou a temer que Michael fosse capaz de algo contra sua irmã e sua
melhor amiga, coisa que ele jamais se perdoaria se acontecesse algo.

E quando finalmente o avião decolou, ele pôde respirar aliviado, preparando-se para o que
estava por vir.

Pegou o celular e discou um número. Depois de três toques o homem atendeu.

— Preciso daqueles papéis. Consegue me entregar hoje mesmo?

— Claro. Me encontre no Distrito Financeiro, daqui uma hora.

Edward desligou o telefone e abriu um pequeno sorriso. O castelo de areia de Michael


estava prestes à ruir.

Elizabeth ainda não sabia como iria olhar na cara daquele cretino depois de tudo o que
descobrira. Certamente, teria que se controlar mil vezes para não pular em seu pescoço e matá-
lo com suas próprias mãos.

Respirou fundo e tentou se concentrar no futuro. Precisava reunir todas as suas forças
para conseguir aquelas provas. Queria ela mesma ter tudo nas mãos para poder ver o terror em
seu rosto, assim como ele fez meses atrás, quando a forçou se livrar de Edward.

O motorista parou o carro em frente ao prédio de sua empresa e ela suspirou. Como podia
ter sido tão idiota? Tudo estava acontecendo bem debaixo de seu nariz. Talvez mais alguns
anos e o que restaria do legado de seu pai?

Apenas pó.

Elizabeth agradeceu à John Meyers e saiu do carro, rezando para que Deus lhe desse
forças para não atirar no peito de Michael.

“Vamos lá, finja... é apenas por um tempo. Logo esse desgraçado estará atrás das
grades.”
Mas não era tão simples quanto parecia. Olhar nos olhos do assassino de seu pai e fingir
que não sabia de nada, era algo surreal. No entanto, se ela não fosse forte agora e não
cumprisse com o plano, ele poderia fugir.

Anthony deveria saber de toda aquela situação. Ele seria uma peça essencial, caso ela
precisasse de ajuda. Quando voltou ao escritório, disse à ele que precisavam conversar sobre
algo.

Elizabeth nunca o convidava para jantar fora, porém, desta vez, eles precisavam de um
lugar onde pudessem ficar a sós.

— Por que não pode ser na sua casa? – perguntou ele, sem levantar os olhos de seu
laptop.

— Porque é algo de extrema urgência. – respondeu. — Em casa não teríamos privacidade.

Anthony riu.

— E por que não pode ser aqui?

Elizabeth revirou os olhos. Odiava quando ele fazia muitas perguntas.

— Paredes tem ouvidos.

Anthony assentiu e Elizabeth o deixou sozinho. Voltou para sua sala e trabalhou o
restante do dia. Tentou ocupar o máximo de sua cabeça para não pensar em nada do que tinha
descoberto.

Por sorte, Michael havia saído para resolver algumas coisas. Provavelmente estaria
comemorando sua vitória ou tramando mais coisas.

Elizabeth se levantou, aproximou-se das grandes janelas de sua sala e admirou a


paisagem. O sol estava se pondo e ela abraçou a si própria. Fechou os olhos e derramou as
últimas lágrimas.

Pela memória de Charles Adams, jurou que não iria derramar mais nenhuma lágrima. Por
tantos anos lutou sozinha e continuaria lutando, principalmente para colocar Michael atrás das
grades.

“Você vai pagar por tudo o que fez... Ou não me chamo, Elizabeth Adams”.
Gwen caminhou elegantemente em seus saltos altos até onde Michael estava sentado. Ele
tinha marcado um café com ela, afinal, o casamento seria dali alguns dias e ele queria saber se
tudo estava dentro dos conformes.

— Você deveria aprender algumas coisas com a sua irmã, como por exemplo, ser pontual.
– disse ele quando ela se sentou na poltrona oposta.

Ela bufou.

— Nunca serei como a minha irmã, querido.

Gwen colocou a bolsa no outro assento. Um garçom se aproximou e lhe entregou um


cardápio.

— Como estão os preparativos? – Michael perguntou, enquanto rolava a tela do celular


em alguma rede social.

— Tudo ótimo. – respondeu ela. — Só falta a noivinha escolher o vestido.

Michael levantou a cabeça.

— Não escolheram ainda?

— Não. Por quê?

O homem ficou pensativo por alguns instantes.

— Hoje ela me disse que iria ver algumas coisas do casamento em outra cidade. Está
sabendo de algo?

— Não. – Gwen arqueou a sobrancelha. — Que coisas? Ela falou?

Ele negou com a cabeça.

— Você tem certeza que ela não recuperou a memória?

Gwen bufou. Tudo o que eles não precisavam é de que Elizabeth se lembrasse de tudo,
afinal, a primeira coisa que faria, seria correr para os braços de Edward.

— Edward. – Gwen falou. — Ele estava na empresa?


— Não o vi o dia todo.

Gwen colocou o cardápio na mesa e arregalou os olhos. — Michael! Como você é idiota!
Ela deve estar nos braços daquele imbecil uma hora dessas!

— Mas é claro que não! – ele retrucou. — Eu coloquei um sujeito atrás dela. Ele teria me
comunicado se tivesse visto algo suspeito.

A mulher revirou os olhos e antes que pudesse falar algo, o celular de Michael tocou. Ele
olhou para Gwen e resolveu atender a ligação.

— O que é? – perguntou com rispidez.

— Sua noivinha... acabei de avistá-la saindo de um jato na companhia do sujeito que


você me falou.

Michael fechou as mãos e quase socou a mesa. Gwen já tinha entendido tudo, mesmo sem
que ele falasse.

— Não te falei? – disse ela, após ele desligar o telefone. — Teremos que dar início ao
plano final.

Gwen pegou na bolsa uma carteira de cigarros, tirou um e o acendeu. Michael estava com
o olhar perdido, sem saber o que fazer.

— O que ainda está fazendo aqui, paspalho? – perguntou ela. — Vá atrás de Elizabeth!

— E a história é essa. Michael é o assassino do meu pai e não sei como posso provar, a
não ser pelas imagens das câmeras de segurança que ele mesmo tratou de monopolizá-las.

Anthony não sabia o que dizer após ouvir aquela história. Ele nunca tinha ido com as
fuças de Michael, mas não imaginava que ele poderia ser um assassino. Agora temia ainda
mais pela vida de Elizabeth.

— E o que você pretende fazer?

— Edward me mandou uma mensagem dizendo que está com alguns papéis que provam
que ele desvia dinheiro da empresa. Isso seria o suficiente para colocá-lo na prisão, mas
também quero encontrar as filmagens. A prisão perpétua ainda não é suficiente para Michael.
Anthony assentiu.

— Você sabe que pode contar comigo para o que precisar. Como pretende encontrar essas
filmagens?

Elizabeth suspirou.

— Preciso usar o mesmo que ele. Chantagem. Assim, quem sabe o chefe da segurança me
entrega o verdadeiro material.

— Mas como você sabe que está com ele?

— Ele e Michael sempre foram muito próximos. Não teria outra pessoa que acobertasse
isso.

— Mas acho que você deveria procurar primeiro no escritório da casa dele.

Elizabeth ponderou aquelas palavras. Ela nunca tinha entrado no escritório particular de
Michael e se havia um lugar onde ele poderia fazer todas as suas tramoias, era lá. Talvez ela já
tivesse por onde começar.

— Mas como vou fazer isso? Michael iria suspeitar se eu entrasse no escritório sem mais
e nem menos.

— E se... você o dopasse?

— Seria uma boa ideia. Mas quando ele acordasse... eu até hoje não sei como ele não te
matou pelas duas vezes que colocou aquelas coisas na bebida dele.

Anthony riu com vontade. Desde criança sempre gostara de aprontar com os outros, nesse
caso, foi algo essencial para livrar sua amiga dessas enrascadas. Eles continuaram conversando
e comendo naquele restaurante luxuoso e logo depois Edward os encontrou.

— Já estávamos quase indo embora. – Anthony disse.

— Desculpem o atraso. – Edward tirou o paletó, entregou ao garçom e se sentou. — Já


está feito. A papelada já está nas mãos do FBI.

Os olhos de Elizabeth brilharam.

— E fiquem surpresos ou não, a casa de Michael já estava prestes a ruir. – Edward falou
baixo, temendo que alguém os ouvisse. — Ele já estava sendo alvo de investigação. Só não sei
o que eles descobriram até agora.

— Finalmente. – Anthony sorriu. — Só temos agora que encontrar as filmagens originais


do dia da morte de Charles.

— Eu vou no apartamento dele. Pode ser que eu consiga encontrar.

Edward a fitou como se ela fosse um E.T

— Ficou louca? Não vou deixar você entrar sozinha naquele lugar. Aliás, nem perto dele
você deveria ficar.

— Claro que vou! Eu preciso encontrar isso. – ela bufou. — Temos que fazer Michael
apodrecer na cadeia.

— Tenha calma. – Edward disse. — As coisas já estão na mão de gente competente. O


inspetor me disse que assim que sair o pedido de prisão, ele irá atrás de Michael. Talvez esse
pedido seja concedido ainda amanhã.

— Tomara. – disse ela.

— Sem falar que eu entreguei os papéis que você foi obrigada à assinar naquele dia e eles
foram anexados juntos às outras provas. Um papel daqueles não poderia existir sendo que você
estava com suas capacidades intelectuais inatingíveis.

— Isso quer dizer o quê?

— Que aquele papel não vale nada. – Anthony arriscou.

Edward assentiu.

— Ele usou como um truque para te chantagear e nada mais. Por que acha que ele está
apressando o casamento? Pois só assim conseguirá ter controle de tudo.

— Mas... eu averiguei aqueles papéis junto com o advogado... – e de repente, seu cérebro
estalou. Michael nunca conseguiria suas sujeiras se estivesse sozinho. — Não acredito!

— Infelizmente, ele também está envolvido nisso.

Elizabeth respirou fundo, controlando-se para não falar um palavrão. Odiava-se por ter
caído naquela história sem pé e nem cabeça de Michael.

Eles continuaram conversando por mais algum tempo. O que eles não contavam é que não
estavam sozinhos. Michael já os observava do outro lado da rua, esperando que saíssem de lá.

Pela primeira vez, o homem que tinha encarregado de vigiar Elizabeth tinha o informado
de algo certo. Ela estava jantando animadamente com Anthony e Edward, e nesse momento,
Michael a odiou um pouco mais.
Ela é uma mentirosa.

Eles saíram do restaurante e Elizabeth sabia que deveria ter ido com Anthony, mas
Edward insistiu para que fosse com ele. Ela entrou em seu carro, mas sentiu um aperto no seu
peito.

— Eu não gosto da ideia de deixá-la sozinha. – Edward falou. — Michael é muito


perigoso. Você deveria ficar no meu apartamento. Provavelmente amanhã já sai a ordem de
prisão.

Elizabeth suspirou ao olhar para a janela do carro.

— Eu sei, mas não acho que é necessário. Michael nem sonha que estamos juntos e
planejando algo contra ele.

Edward encostou o carro na porta do edifício e a fitou. — Se precisar de algo sabe que
pode me ligar, não sabe?

— Claro que sei. – Ela sorriu. — E aliás, acho desnecessário esses seguranças atrás de
mim.

— Não é algo desnecessário. – replicou. — Amanhã tudo isso vai acabar, meu amor.

Elizabeth fechou os olhos e encostou sua testa na dele.

— Assim espero.

Eles trocaram algumas carícias e ela saiu do carro. Respirou fundo e entrou no edifício.
Subiu pelo elevador até o seu apartamento e não estranhou quando viu a maioria das luzes
apagadas. Gwen não deveria estar em casa, como de costume.

Elizabeth olhou para os lados e pensou em chamar por Jofrey, porém, sabia que ele
deveria estar descansando. Ela subiu degrau por degrau e foi em direção ao seu quarto. Entrou
lá e seu coração quase saiu pela boca quando viu Michael sentado na poltrona com uma arma
nas mãos.

— Pensei que iria ficar mais tempo trocando beijos com aquele imbecil, sua vagabunda!

Ela tinha duas opções: Fugir ou se fazer de desentendida.

Se ela fugisse, ele atiraria. Michael era um bom atirador, pelo que ela se lembrava. Ele
adorava sair para caçar.

Ela só tinha a segunda opção.


— Michael... o que é isso? – fingiu surpresa. — Abaixa essa arma, por favor!

Michael se levantou e caminhou até ela.

— Não adianta fingir mais, sua vadia. – ele a puxou pelos cabelos. — Eu já sei que você
se lembrou de tudo. Eu vi vocês no restaurante e acredite, eu também sei que estiveram o dia
todo juntos.

Elizabeth arregalou os olhos.

— Do que está falando? – gritou, porém, ele a empurrou contra a cama.

Elizabeth tentou se levantar, mas, Michael se colocou sobre ela.

— Me solta!!!

O homem, tomado pelo ódio, deixou a arma e a segurou pelos braços. Elizabeth se debatia
o máximo que conseguia, porém, ele era muito mais forte que ela.

— Eu tenho uma surpresinha pra você. – disse ele, ao pegar uma seringa no bolso de sua
calça. Elizabeth arregalou os olhos e gritou mais ainda, no entanto, ninguém poderia ouvi-la,
visto que Michael tinha se encarregado de fazer com que todos os empregados dormissem.

Ele tirou o lacre com a boca e injetou a seringa com o liquido que a faria dormir por
horas.

Elizabeth se debateu por mais algum tempo, até que seus sentidos começaram a se
desligar e tudo se escureceu.
Elizabeth acordou com os lábios ressecados. Tentou abrir a boca, porém, o gosto forte do
remédio a enjoou. Sua cabeça doía e seu corpo mais ainda. Abriu os olhos lentamente,
perguntando-se onde estava.

E foi na tentativa de passar as mãos pelo rosto que percebeu que seus braços estavam
amarrados atrás de seu corpo.

Então o choque da realidade a atingiu.

Ela se lembrou imediatamente dos eventos que se sucederam logo depois que chegou na
sua casa.

Quantas horas se passaram desde então?

Ela abriu os olhos completamente e seu coração se acelerou. Estava sentada em uma
cadeira, num local escuro, iluminado por somente uma lâmpada. No chão, havia terra e palha
espalhados.

— Michael? – arriscou e não obteve nenhuma resposta.

Elizabeth sabia onde estava e isso a preocupou ainda mais. Algumas horas de distância de
Nova York, na fazenda que era de seu pai e que fora abandonada muitos anos antes.

Michael pretendia matá-la? Se assim o fosse, por que já não o tinha feito?

Ela sentiu as lágrimas cercando seus olhos. Então esse seria o seu fim?

Fechou os olhos e respirou fundo.


Não haviam opções no momento.

Tudo o que ela precisava era... esperar.

— Elizabeth deveria ter chegado há duas horas. – Edward vociferou ao entrar na sala de
Anthony. — Estou ligando para o celular dela mas só cai na caixa postal.

Tony levantou os olhos e viu a preocupação estampada no rosto do amigo. Ele estava
certo. Elizabeth nunca se atrasava.

Raras exceções.

— Michael já chegou?

— Também não. – disse ele, andando de um lado para o outro. — Estou com medo desse
maldito ter feito alguma coisa com ela.

— Já tentou ligar para a Gwen?

— Para ela não.

Anthony pegou o telefone e discou o número da mulher. Em poucos toques ela atendeu a
chamada e ele perguntou se tinha visto Elizabeth. Não queria alarmá-la, mas disse que teriam
uma reunião em algumas horas e que ela ainda não tinha chegado na empresa.

Gwen afirmou que não tinha visto sua irmã e que provavelmente, ela deveria ter passado
em algum outro lugar para ver as questões do casamento.

— Não acredito nela. – Edward murmurou ao apoiar as mãos no encosto da poltrona. —


Temos que procurá-la.

Anthony respirou fundo.

— Calma Edzão... a Gwen tem razão. Ela deve ter passado em algum lugar para ver as
questões do casamento. O plano não era esse? Continuar como se nada tivesse acontecido?

Edward assentiu, porém, algo dentro de si denunciava que as coisas estavam erradas.
Algo estava acontecendo e ele deveria descobrir, antes que fosse tarde demais.
A porta do celeiro se abriu e Elizabeth viu a silhueta de Michael. Ele vestia calça jeans,
camiseta preta de gola V. Estava barbeado e seu cabelo molhado, provavelmente, tinha
acabado de sair do banho, concluiu ela.

— Como passou a noite, meu amor? – ele perguntou com ironia.

Elizabeth não queria responder, no entanto, ela precisava saber o que ele pretendia fazer
com ela.

— Como acha que passei a noite? – devolveu.

Michael riu e puxou outra cadeira para se sentar em frente à ela. Elizabeth desviou o
olhar, era terrível ter que olhar para o rosto de um monstro.

— Sinto muito pelas algemas. – disse ele. — Mas... não posso correr o risco de perdê-la,
mais uma vez.

Ela respirou fundo, sentindo o desejo de chorar.

— Não chore, Lisa. – pediu ele. — Meu interesse não é machucá-la, embora você
merecesse uma boa surra.

— Você é um desgraçado. – ela cuspiu as palavras. — O que pretende com tudo isso?

Michael respirou fundo, como se estivesse tranquilo em uma praia. Olhou para sua noiva
por longos instantes sem saber se anunciava suas projeções ou não.

— Assim que eu conseguir um avião, nós iremos para o exterior, minha querida. – disse
ele, despreocupadamente. — A essa altura do campeonato você já deve saber que tenho muito
dinheiro nos esperando lá fora. Dinheiro que... veio do seu esforço, você bem sabe.

Elizabeth o encarou pela primeira vez.

— Que você é um ladrão, não me admira.

Michael deixou passar o insulto.

— Eu só estava me prevenindo, caso o plano central desse errado.

— E que plano era esse?


Ele se aproximou um pouco. — Na verdade, o plano era de alguém ligado à você. Eu não
vou revelar mais detalhes porque essa pessoa está vindo te ver. Ela quer finalmente ter uma
conversa séria.

Mais uma hora se passou e nem sinal de Elizabeth. Edward já estava louco de
preocupação e a única coisa que lhe restava era ir atrás dela.

— Cara, eu vou com você. – Anthony sentenciou. — Vamos primeiro ao apartamento,


que foi o lugar onde você a deixou ontem.

Edward assentiu e eles saíram o mais depressa possível. Chegaram ao edifício e foram
informados que a senhorita Adams não estava e que fora deixado ordens expressas de que
ninguém poderia subir até o apartamento.

Anthony perguntou quem deixara aquela ordem absurda e ele fora informado que a irmã
mais nova. As suspeitas de que algo não estava normal, se acentuaram ainda mais e Edward
teria socado alguém naquele momento, mas, tentou se controlar, afinal, precisavam descobrir o
que estava acontecendo.

— Vamos até o apartamento do Michael. – determinou após entrarem no veículo.

Anthony dirigiu igual um louco pelas ruas de Nova York e finalmente chegaram no
edifício que Michael residia. Lá não tinha ordens e eles, se passando por familiares, subiram
até o apartamento. Estava trancado, porém, Anthony já tinha burlado algumas fechaduras na
vida e aquela não foi difícil.

Eles entraram e vasculharam cômodo por cômodo. E foi quando chegaram no quarto que
tiveram a certeza de que algo estava muito errado. O closet estava revirado e algumas das
malas jogadas no chão.

Edward não esperou uma palavra para entender o que significava. Pegou o telefone e
discou para o capitão da polícia de Nova York. Ele, que por sua vez, já teve um leve
desentendimento com Elizabeth, fez pouco caso.

Para eles, um desaparecimento só podia ser levado em conta quando completassem vinte
e quatro horas. Elizabeth estava desaparecida há pouco mais de oito horas. Não poderiam
considerar aquilo um crime.

— Incompetentes! – Edward vociferou no telefone antes de desligar.


Mas para a sua sorte, seu celular vibrou com a ligação que ele tanto aguardava. O pedido
de prisão de Michael havia sido deferido.

Enquanto não fosse encontrado, Michael era considerado um foragido da lei.

Elizabeth sabia que mais horas haviam se passado. Seus pulsos doíam devido a pressão
das algemas, seu corpo estava exausto, sua garganta seca. Precisava de água, o mais rápido
possível.

Ela viu a porta do celeiro se abrir mais uma vez. Desta vez, Michael parecia ter
adivinhado seus pensamentos.

— Pensou que eu a deixaria morrer de sede? – perguntou ele. — Apesar de tudo, não
quero que morra.

Elizabeth não respondeu. O que ela menos queria naquele momento era conversar com
aquele maníaco.

Michael deixou a jarra de água de gelada em cima de uma mesa antiga de madeira e
encheu um copo. Primeiro, bebeu todo o liquido, de forma lenta e dolorosa, para que ela
sentisse um pouco mais de sede.

Os olhos de Elizabeth se encheram de água e ela quis gritar, porém, lembrou-se da


promessa que fizera: Seria forte até o último instante.

— Calma, eu vou te dar. – Michael deu um meio sorriso. Encheu o copo novamente e se
aproximou dela.

Com cuidado, colocou o copo na boca de Elizabeth e a ajudou. Ela bebeu todo o liquido
com pressa, quase se engasgando.

— Hey, calma. – ele riu. — Quer mais?

Ela assentiu e ele encheu o copo mais uma vez, repetindo o ritual.

Após ela beber o liquido, ele colocou o recipiente em cima da mesa, junto com a jarra e se
sentou na cadeira que estava em frente à ela.

Elizabeth já nem sabia mais o que se passava em sua cabeça. Era uma mistura de medo,
angústia, nervosismo. Ela jamais cogitou a hipótese das coisas chegarem até esse nível. Apesar
de tudo, achava que Michael tivesse pelo menos um pouco de humanidade dentro de si.

— Por que está fazendo isso? – perguntou finalmente, sem encará-lo.

Haviam várias respostas para aquela pergunta e ele ponderou se respondia todas de uma
só vez.

— Você sabe o motivo.

— Por causa de Edward?

Michael riu.

— Bom... também. Eu te avisei que era para se manter longe daquele sujeito e você não
me ouviu.

Michael pegou no bolso um maço de cigarros e acendeu um. Elizabeth tinha parado de
fumar há muito tempo e não se afetou com o gesto.

— Eu sei de tudo o que você fez... – disse ela. — Só não consigo entender suas
motivações. Você me odeia?

Michael fumou um pouco do cigarro e a fitou.

— Talvez um pouco. Mas... posso dizer que eu te amava.

Amava?

Elizabeth virou o rosto, com desgosto. — Você nunca me amou.

Michael bufou.

— Vamos lá, me diga o que você tanto sabe sobre mim.

Ela o fitou com receio, e, naquele momento, Michael pareceu disposto a ter aquela
conversa.

— Você conversou com Lorenzo, não é? – ele perguntou. — Aquele desgraçado abriu a
boca.

Elizabeth não aguentou e derramou as lágrimas que tanto segurou. Era muito doloroso se
lembrar de cada palavra. Cada momento em que foi enganada, iludida.

Michael respirou fundo.

— Eu não queria que as coisas fossem assim, Lisa. – disse ele, cauteloso. — Infelizmente
eu tive que tirar seu pai da jogada.

Elizabeth levantou o rosto, com o ódio estampado em seu olhar.

— Seu desgraçado! – gritou. — Eu ainda tinha uma pequena esperança de que não fosse
você!

E ela chorou mais uma vez. No fundo, era verdade. Não queria acreditar que Michael
tivesse sido capaz de tal ato, mas agora, ele próprio confessara seu delito.

Michael viu as lágrimas que ela tanto segurou por anos e algo dentro de si remexeu. Ele
sabia que era um monstro e que ela nunca o perdoaria. Ah se pudesse voltar no passado... teria
feito tudo de outro jeito.

— Não foi planejado, Elizabeth. – disse ele, com a voz baixa. — Eu estava com muito
ódio de você e as circunstâncias me levaram à cometer aquele ato.

— Que malditas circunstâncias são essas? – ela vociferou, sentindo seu coração sendo
dilacerado mais uma vez.

Michael se levantou e lhe deu as costas.

— Você é uma maldita traidora! Desde o começo! Acha que eu não sei que você me traiu
com Anthony?

Nesse momento, os olhos de Elizabeth se arregalaram.

O que diabos ele tinha falado?

— Você acha que eu não sei daquela noite com Anthony. – ele se virou para ela.

— Eu não sou idiota, Elizabeth. Essa amizade entre vocês é uma fachada para tentar
esconder o que realmente aconteceu naquele dia!

Edward estava sentado numa das cadeiras do escritório do FBI em Nova York. Sua
respiração estava incontrolável, assim como seu nervosismo. Nessa altura, ele já sabia que
Michael estava com Elizabeth e ele temia o que poderia acontecer.

Odiou-se por tê-la deixado sozinha. Deveria ter ficado ou a levado para seu apartamento.
Eram só algumas horas que precisavam para pôr as mãos em Michael e um passo em falso eles
o perderam.

E o pior de tudo, só Deus sabia o que ele poderia fazer.

A porta se abriu e ele se levantou imediatamente.

— Senhor Phillips. – o homem o cumprimentou. — Nós já estamos trabalhando com a


Polícia de Nova York e estamos tentando localizar o paradeiro da senhorita Adams.

O homem era o Inspetor Chefe da operação que investigava Michael. Ele trajava um terno
cinza, tinha aparência de uns cinquenta anos, cabelos grisalhos.

— Nós precisamos encontrá-los o mais rápido possível. – Edward bufou. — Ele não pode
escapar!

O homem pegou uns papéis na mão.

— Ele não vai escapar. Confie em nós, senhor.

Edward queria confiar ou então, daria um jeito de colocar a Scotland Yard no caso.

— Graças aos papéis que o senhor nos entregou, nós conseguimos provas contra os
membros da máfia em que ele estava envolvido. Já mandamos a polícia para lá e em breve
vamos colocar as mãos nesses safados.

Edward não queria esperar. Não podia esperar a boa vontade da polícia enquanto a sua
mulher estava à mercê daquele maluco. E ele sabia que Gwen estava envolvida naquilo.

Seu celular tocou e ele viu a mensagem de Anthony.

“Gwen desapareceu, mas o motorista me disse que ela alugou um carro. Te encontro em
breve”.

— Senhor. – Edward chamou o homem e ele o fitou. — Tenho fortes indícios para
concluir que Gwen Adams está envolvida nesse caso.

O homem assentiu.

— Já estamos rastreando o telefone da senhorita Adams.

Edward saiu da sala e foi de encontro à Anthony que já estava o esperando no carro.

— E aí, conseguiram alguma coisa?

— Nada ainda. Estão rastreando os telefones, mas duvido que vão conseguir encontrar
desse jeito. Michael não é burro.
Anthony assentiu.

— Você não tem ideia de onde possam ter ido? – Edward perguntou.

— Primeiro temos que pensar o que ele poderia querer com ela.

— E o que você acha? – Edward levantou o tom de voz. — Ele já deve saber o que
pretendíamos e por isso a sequestrou. Temos que ser rápidos, Tony!

Anthony respirou fundo e pensou por alguns instantes.

— Tem que haver um lugar que ele a tenha levado!

E então, se acendeu uma ideia na cabeça de Anthony.

— Olha... eu não sei se faz sentido, mas há muitos anos a família Adams tinha uma
propriedade em Westchester. Eu não sei se eles ainda tem, pois a Elizabeth queria vender logo
após a morte do pai.

Edward assentiu.

— O que é essa propriedade?

— Ah, é uma fazenda antiga. O pai dela gostava dessas coisas.

— Temos que ir até lá! – Edward berrou. — Pelo amor de Deus!

— Mas não é certeza que eles estejam lá. – Tony falou. — E se não estiverem? Vamos
perder cerca de duas horas para ir e voltar.

Edward desviou o olhar para a janela do carro e suspirou. Realmente, se eles não
estivessem lá perderiam um precioso tempo. Mas ele precisava arriscar ou o pior poderia
acontecer.

Ele passou as mãos pelos cabelos e fechou os olhos.

O que fazer numa hora dessas?


— Eu não faço ideia do que está falando Michael! – Elizabeth falou alto. — Eu e Tony?
Você ficou louco?

Michael se aproximou dela com os olhos chamuscados de raiva e segurou seu rosto com
força.

— Seu baile de debutante. – disse ele, recordando-se da data. — Vocês beberam tanto que
até se esqueceram do próprio nome. Vamos lá querida, lembre-se.

Elizabeth tentou se esquivar de seu aperto, porém, ele não deixou.

Ela não se lembrava de nada do que ele estava falando. Realmente tinha bebido muito e a
única coisa que se lembrava foi de ter acordado no outro dia com uma dor de cabeça horrível.

— Se você não sabe, Anthony sempre quis ficar com você. – ele continuou. — Porém,
soube muito bem esconder isso durante esses anos. E é claro, eu nunca dei espaço para ele
fazer seus avanços.

— Não fale asneira! – Elizabeth berrou. — Anthony sempre foi e sempre será somente
um amigo.

Michael a soltou e riu.

— Então me diz como foi beijar o seu melhor amigo? E depois ir para a cama com ele?

Elizabeth tentou se esforçar para lembrar de algo daquele dia, mas não tinha ideia da onde
ele tinha tirado aquela história ridícula.

— Desde esse dia eu comecei a te odiar. – ele confessou, virando-se de costas. — Eu


sempre idealizei a vida perfeita para nós.

— Perfeita? – Elizabeth perguntou, com amargura. — Você está envolvido até o pescoço
com o tráfico. Você roubou a minha empresa durante todos esses anos. Essa é a vida perfeita
que queria para nós? – Elizabeth respirou fundo. — Sem mencionar que tudo isso é uma
grande mentira. Naquele dia nós bebemos sim... e ele me levou em casa, mas...

Então os olhos de Elizabeth se arregalaram.

Será que eles tinham mesmo feito aquilo? Elizabeth tinha bebido tanto que não se
lembrava de quase nada.

Michael pegou seu Ipad e vasculhou a galeria em busca de uma foto.

— E o que me diz dessa foto? – ele estendeu o aparelho em sua direção e o coração de
Elizabeth quase parou.
Na foto, ela estava em seu quarto com o vestido que usou no baile de debutantes. Ela
estava em pé, de frente para Anthony, abraçada com ele. Na foto seguinte, eles estavam
trocando um beijo.

Ela chorou mais uma vez, não querendo acreditar naquilo. E mesmo que assim fosse,
Michael não tinha o direito de puni-la por uma inconsequência da adolescência. Aquilo tinha
acontecido há mais de dez anos.

Por mais de dez anos ele nutriu aquela mágoa?

— Mas isso não foi tão ruim para mim quanto para outra pessoa. – Michael guardou o
aparelho. — Acho que agora você pode começar a entender porque nós quisemos que você
sofresse durante todos esses anos.

— Nós? – ela perguntou, sentindo-se derrotada.

— Nós.

E de repente, a porta do celeiro se abriu e Elizabeth não acreditou quando viu Gwen
entrar, com toda a calma do mundo. Vestida com um de seus vestidos caríssimos e um sorriso
diabólico nos lábios.

— Olá Lisa. Vim para ver o espetáculo.


— Você não acha melhor avisar o inspetor sobre a nossa suspeita? – Anthony perguntou
enquanto dirigia.

— É claro que avisei. Só não falei que estamos indo na frente.

Anthony assentiu, manobrou o carro e virou numa rua que levava à sua nova residência.

— Venha comigo, precisamos pegar algumas coisas. – disse ele após passar pelos portões
e estacionar em frente à mansão.

Edward estranhou, porém, Anthony não lhe deu tempo para questionar nada. Ele bufou e
saiu do carro, acompanhando o amigo. Pela primeira vez, teve a oportunidade de conhecer a
nova casa de Anthony. Ela era espetacular, com um grande vestíbulo e uma escadaria
gigantesca que levava aos cômodos do andar de cima.

— Tony! Pelo amor de Deus! – eles ouviram os gritos vindo do andar de cima e logo
Clara apareceu no topo da escada. — Gwen me ligou com uma voz estranha. E Jason me disse
que Elizabeth está desaparecida!

Anthony olhou para Edward. — Você tinha razão. Gwen está envolvida nisso tudo.

Edward bufou.

— Gente! Alguém pode me falar alguma coisa? Eu estou morrendo de preocupação!

Edward e Anthony explicaram tudo o que estava acontecendo, para o desespero da jovem.

— Vocês vão atrás deles? Eu quero ir junto!


— Nem pensar! – Anthony disparou. — Você vai ficar com o Jason e qualquer ligação
que receberem, nos informem.

Clara assentiu e Tony fitou Edward.

— Me acompanhe até lá em cima, Edzão.

Eles subiram os dois lances de escada e viraram à direita. Anthony foi na frente e
passaram pelas várias portas, chegando na última, no final do corredor. Tony pegou a chave
escondida em sua carteira e abriu o local.

Era o seu escritório particular.

— Pensei que seu escritório fosse lá em baixo. – Edward murmurou ao vislumbrar o


local.

— Era, mas aqui o silêncio é maior. – Tony respondeu enquanto vasculhava algo na
parede.

— O que está procurando?

— Calma aí...

Anthony apalpou mais um pouco até achar o que procurava. Apertou o botão e o que era
uma gigantesca pintura de Salvador Dali, deu lugar à um espaço com alguns itens peculiares,
incluindo armas de artilharia pesada.

— Você é contrabandista por acaso? – Edward perguntou após analisar cada item à sua
frente.

Anthony deu um meio sorriso.

— Sou um exímio atirador. Escolha alguma arma e vamos embora. Temos uma missão à
cumprir.

Edward ainda não acreditava naquilo que seus olhos viam, porém, agradeceu aos céus por
Anthony ter pensado naquela possibilidade. Edward também era um bom atirador e isso os
ajudaria, sem sombras de dúvida.

Ele escolheu uma arma pequena e Tony, por via das dúvidas pegou logo duas. Sem
delongas eles saíram da mansão e puseram o pé na estrada. Não havia tempo à perder.
Elizabeth corria um sério risco de vida, ainda mais se Gwen realmente estivesse dentro daquele
jogo imundo.
— Gwen? – Elizabeth arregalou os olhos. — O que está fazendo aqui?

A mulher colocou seus óculos escuros no alto da cabeça e se aproximou lentamente. Ela
deixou a bolsa em cima da mesa, ao lado da jarra de água.

— Surpresa em me ver?

Naquele momento, Elizabeth não entendeu mais nada. Gwen estava ali para o quê? Para
salvá-la? Se assim o fosse, por que estava com aquele sorriso medonho estampado no rosto?
Por que a olhava como se fosse divertida aquela situação?

— Não vim para salvá-la, se é isso o que está pensando. – ela continuou. — Eu... apenas
vim para conversarmos um pouco.

Elizabeth fechou os olhos e respirou fundo. Sua mente negou-se à acreditar que aquilo
estava acontecendo.

— Eu não estou entendendo nada! – disse, com nervosismo. — Gwen, o que significa
isso?

E a perguntava englobava tudo. Desde o sequestro até suas mãos algemadas e aquela
história ridícula que Michael tinha lhe contado.

Gwen olhou para Michael e moveu os lábios em um gesto desaprovador.

— Não contou tudo à ela?

— Uma parte. – respondeu ele. — Você chegou bem na hora... sinta-se à vontade.

A loira bufou e andou ao redor de sua irmã.

— Essas algemas estão doendo?

Elizabeth não respondeu e ela puxou seu cabelo.

— Eu te fiz uma pergunta, ordinária!

— Estão sim! – Elizabeth gritou. — O que você quer? Por que está fazendo isso?

Gwen a soltou e parou na sua frente, encarando-a bem de perto.


— Por que eu simplesmente te odeio. – respondeu sem delongas. — Mas antes eu preciso
te contar porque eu nutro esse sentimento por você.

A cabeça de Elizabeth rodopiava com aquelas informações. Ela não podia acreditar que
sua irmã era cúmplice de Michael. Não encaixava, não era certo.

Sua vontade era chorar. Não queria ouvir mais nada...

— Você teve tudo enquanto eu, sempre fui a esquecida... – disse ela, o rancor estampado
em sua voz. — Você e o Papai sempre me trataram diferente, pelo fato de terem me adotado.

Elizabeth negou com a cabeça.

— Não, isso não é verdade!

— Michael! você deveria ter tampado a boca dessa desgraçada! Eu não suporto a voz
dela! – Gwen levou as mãos aos ouvidos. — Não quero ouvir as lamúrias dela, não a
suporto!!!

Elizabeth não conseguiu controlar as lágrimas. A cada palavra de sua irmã, era uma faca
cravada em seu peito. Apesar de ter sido adotada, Gwen sempre foi a irmã que ela pedira aos
céus.

Michael fez o que ela ordenou. Pegou a fita crepe e colocou na boca de Elizabeth.

Gwen se sentou na cadeira e cruzou as pernas. Michael se colocou atrás de Elizabeth e


ambos se olharam como os cúmplices que eram.

— Finalmente vamos acabar com isso. – Gwen murmurou. — O que você estava falando
para ela antes da minha chegada?

— Falei sobre a traição com Anthony.

O semblante de Gwen se fechou no mesmo instante. Ela tirou do bolso um canivete e


segurou o rosto de Elizabeth com força.

— Eu deveria cortar esse seu rosto bonito. – disse ela enquanto passava o objeto
lentamente ao redor de sua irmã. — Todos os homens sempre caíram aos seus pés, não é? Mas
será que Edward ainda iria te querer se estivesse deformada?

Elizabeth tremeu a cada vez que Gwen passou a lâmina fria em alguma parte de seu
corpo. As lágrimas não pararam de descer e ela parecia se divertir com aquela situação.

— Eu acho que você não se lembra, afinal, estava mais bêbada que todo mundo. – Gwen
continuou. — Mas eu vi você e Anthony se beijando... e acredite, Elizabeth, eu nunca te
perdoei por isso.

Elizabeth balançou a cabeça negativamente. Por Deus! Ela não se lembrava daquilo... eles
eram adolescentes!

— Mas o pior de tudo, não foi o beijo. – Gwen sussurrou em seu ouvido. — Ele gostava
realmente de você e quando ficou comigo, foi por pura diversão. Uma vez eu o ouvi
conversando com Jason, falando que a única mulher que o faria entrar nos eixos seria você.

Elizabeth não queria acreditar em nenhuma daquelas absurdas palavras. Anthony era seu
amigo, não era? Será que um dia ele nutrira tais sentimentos? E por que nunca falou nada?

— Eu sempre quis estar no seu lugar, querida. – Gwen passou a lâmina pelo colo
descoberto pela camisa. — Mas eu tive que esperar... por anos. Primeiro, tivemos que eliminar
nosso pai, afinal, como eu poderia tomar o seu lugar?

Elizabeth chorou mais uma vez. Então havia sido ela, durante todos esses anos. Ela fora a
mentora de toda aquela tragédia.

— Estava tudo planejado, mas como sempre... você consegue estragar tudo. – Gwen
bufou. — Deveria ter se casado com Michael, porém, viveu nesse luto eterno. Quando pensei
que as coisas estavam entrando nos eixos, aquele maldito inglês apareceu e eu só não dei um
fim nele, por que não quero problemas diplomáticos. Mas vontade não me faltou.

Imaginar Edward nas mãos daqueles dois malucos era demais. Ela fechou os olhos e
rezou a Deus para que olhasse por ela. Ela poderia não sobreviver àquele dia, mas queria que
os dois fossem pegos pela polícia.

E pensar que em todos esses anos culpou Lorenzo pela tragédia.

Gwen se sentou mais uma vez na cadeira e sorriu.

— Sabe que é bom ser uma das rainhas do tráfico? – disse ela. — Eles me tratam tão
bem... me dão de tudo. Não queria me envolver com isso, mas não teve jeito. Seu noivinho é
um exímio “cheirador”.

— Você conseguiu o avião? – Michael perguntou, desconfortável com o assunto que


Gwen adentrava.

— Sim, mas aqui eles não conseguem pousar. – ela bufou. — Teremos que ir até outro
lugar. Mas isso já está sob controle.

Elizabeth tentou respirar e controlar seus nervos.

— Mas isso você já deve saber. – ela fitou Elizabeth. — Já que você foi visitar Lorenzo.
Aliás, não se preocupe com ele, afinal, nós já temos um final feliz para o seu amigo.

Michael e Gwen trocaram olhares e riram feito loucos. Mas era isso o que eles eram, no
final das contas. Dois loucos que faziam suas maldades com crenças absurdas. Eles
acreditavam que Elizabeth era a culpada de tudo, mas não viam que aquilo era apenas uma
desculpa para esconder o verdadeiro interesse de ambos:

Dinheiro e Poder.

Gwen nunca aceitara o fato de Elizabeth ser a herdeira e por isso controlou tudo o que
podia para que o jogo virasse para o seu lado. O ódio culminou por anos e um simples erro de
adolescentes, serviu como uma alavanca para ela conseguir o controle sobre Michael.

Michael era um namorado ciumento e quando viu aquelas fotos, não se controlou. Ela
envenenou cada centímetro de seu coração e o fez acreditar que sua irmã não valia nada, e que
somente brincava com seus sentimentos. Com o ódio culminado no coração de Michael, ela
teve acesso à fazer dele o que bem entendesse.

E por todos esses anos o controlou como se fosse um boneco de ventrículo.

Gwen se aproximou e removeu a fita adesiva dos lábios de sua irmã de uma só vez.

— Você deveria falar as suas últimas palavras.

— Como assim? – Michael se intrometeu. — Não está pensando nisso, não é?

A loira o fitou com a sobrancelha arqueada.

— Que diferença faz? Se ela morrer eu sou a herdeira mais próxima... Vamos ficar com
tudo do mesmo jeito.

— Hey, nem pensar nisso. – disse ele. — Eu vou me casar com ela. Já está tudo certo.

Gwen revirou os olhos. — Você é um babaca. – ela fitou sua irmã. — Sabia que ele não
deixou que eu te matasse no hospital?

Michael bufou e fechou as mãos em punho. Gwen começava a irritá-lo.

— Ele realmente achou que se você não se lembrasse de nada, poderiam viver como um
casal feliz. – Gwen riu abertamente. — Mas é claro que isso não seria possível. Assim que
vocês se casassem, ele a deixaria na rua da miséria e se casaria comigo...

Elizabeth fitou Michael com os olhos mais decepcionados que ele já vira em sua vida.
Nesse momento, ele sentiu um aperto em seu peito, mas tentou não se abalar.
— Bom, ainda faltam uns quarenta minutos para o avião chegar. – Gwen suspirou. — Eu
vou até a casa principal e volto logo. Mike, fique de olho nela.

“Mike” era o seu apelido de infância. Elizabeth olhou para o chão e respirou fundo. Não
sentia vontade de falar, muito menos de gritar. Seu coração estava em frangalhos e tudo o que
ela queria era que aquele inferno terminasse o quanto antes.

Gwen pegou sua bolsa e saiu do celeiro. Pela pequena janela, Michael avistou quando ela
se perdeu dentro da residência. Ele suspirou e a verdade é que estava perdido, sem saber o que
fazer.

Elizabeth sabia que lhe restava pouco tempo. Nunca acreditou que Gwen nutrisse tantos
sentimentos ruins por ela. Nesse momento, percebeu que a frieza que sentiu por Michael logo
após a morte de seu pai, já era um presságio de que deveria se afastar dele.

Respirou fundo e percebeu que aquele ódio só destruía as pessoas. Ela poderia morrer
naquele momento, mas ficaria em paz. No entanto, Gwen e Michael viveriam suas vidas
vazias, fugindo da polícia, carregando mais uma morte no currículo.

Ela não acreditava ter dormido com Anthony naquele dia, mas mesmo assim, soube que
deveria fazer algo antes que o pior acontecesse.

— Me perdoa? – disse com a voz baixa e tímida.

Michael não respondeu, apenas se manteve de costas para ela.

— Eu juro que não me lembro desse episódio com Anthony, mas... eu sinto muito. Nós
éramos adolescentes. Eu jamais quis que as coisas fossem por esse caminho.

E Michael continuou em silêncio.

Elizabeth chorou mais uma vez.

— Mas me diz só uma coisa... – ela pediu. — Sempre foi pelo dinheiro?

Nesse momento, Michael se virou para ela e uma muralha dentro de si começou a ruir.
Ele amou Elizabeth de verdade, apesar de o relacionamento de ambos sempre estar envolto em
um mar de confusões. No fundo, sua esperança era de que um dia eles pudessem deixar tudo
para trás e começar novamente.

— Não foi só pelo dinheiro. – ele confessou. — Eu realmente te amei, Elizabeth. Desde
aquele dia em que eu a vi na escola.

As lágrimas rolaram pelos olhos dela mais uma vez. As coisas poderiam ter sido
diferentes?
Uma pontada de culpa pulou em seu peito.

— Mas eu sei que agora você ama outra pessoa. – ele continuou e deu de ombros. — E...
eu não consigo deixar de odiar Edward por isso.

Elizabeth suspirou.

— Eu sinto muito pelo nosso filho. – disse ela, arrependendo-se mais uma vez pelo que
fizera anos antes.

Os olhos de Michael se encheram de água, mas ele as segurou.

— Um filho... talvez teria sido um bom recomeço para nós.

Ela negou com a cabeça.

— Michael, você matou meu pai! Nunca haveria um recomeço.

Ele se ajoelhou e nesse momento, ela viu um misto de sinceridade em seus olhos.

— Eu sei disso e não sabe o quanto me arrependo. Eu sei o quanto eu fui um cretino e sei
que você me odeia nesse momento, mas... eu só queria ter uma chance de fazer diferente.

— Sim, conseguiram rastrear o carro da Gwen? Ótimo... estamos indo para lá. Não, não
faremos nada precipitado. Claro, nós aguardaremos os senhores, fique tranquilo Inspetor. –
Edward desligou o celular e bufou. — Vou esperar eles o caramba! Nós vamos entrar lá e tirar
Elizabeth da mão daqueles maníacos.

— O que ele falou? – Anthony perguntou.

— Disse que o carro que a Gwen alugou tinha um rastreador e estamos no caminho certo.

Anthony enfiou o pé no acelerador e dirigiu à toda velocidade pela estrada. A cada milha
em que se aproximavam, Edward tentava controlar seu coração. Temia por Elizabeth.

Não se perdoaria caso acontecesse algo à ela.

Só Deus sabia o quanto se sentia um idiota. Deveria ter ficado com ela todo o tempo.

— Não se culpe, nós já estamos chegando e você vai resgatar a sua garota.
— Michael, se você ainda tem algum sentimento bom dentro de você, nunca é tarde para
recomeçar. – Elizabeth sussurrou.

— Não há tempo. – ele bufou. — À essas horas, o FBI deve estar atrás de mim e eu vou
ser preso, provavelmente, condenado à morte.

Eles se olharam por longos instantes e se lembraram dos momentos bons que vivenciaram
durante a juventude. Michael se lembrou de quando colocou os olhos nela pela primeira vez.

Seus longos cabelos castanhos ondulados e sua pele, branca como a neve. Ele se lembrou
das vezes em que a ajudou com os trabalhos escolares. Se lembrou de como morria de ciúmes
quando alguém se aproximava dela com segundas intenções.

Se lembrou de quando ela aceitou ser sua namorada. De quando ela o recomendou para
seu pai, dizendo que ele seria ótimo na empresa. Se lembrou do primeiro beijo, da primeira vez
que fizeram amor.

Como um sentimento tão bom podia ser encoberto por outro tão ruim?

Nesse momento ele percebeu o quanto fora idiota e se deixara cair nas armadilhas de uma
mulher invejosa. Gwen sempre quisera o lugar de Elizabeth e ele fora a arma em suas mãos.

Ele fechou os olhos e deixou que as lágrimas rolassem por seu rosto. Não havia mais o
que fazer, seu destino estava selado. Ou fugia ou se entregava e vivia o resto de seus dias atrás
das grades.

Para ele não haviam mais alternativas, mas para Elizabeth sim.

Ele se levantou e decidiu fazer algo de útil pelo menos uma vez em sua vida. Se
aproximou de Elizabeth e a beijou nos lábios demoradamente.

Ela não entendeu o que aquilo significava, mas depois, ele colou sua testa na dela e
murmurou: — Me perdoa, Lisa.

Ela fechou os olhos e ele pegou a chave das algemas no bolso de sua calça. Com rapidez
as abriu.

— Você não tem muito tempo, logo a Gwen vai voltar. Fuja.

Elizabeth se levantou, mas estava muito fraca. Ele a segurou e a encarou.


— Vamos lá, você precisa ser forte. Fuja enquanto há tempo.

Ela assentiu e quando encontrou forças, eles ouviram a porta do celeiro se abrir.

— Mas é muito linda essa cena! – a voz estridente da mulher ecoou. — Eu não disse para
você ficar de olho nela! Inferno!

Michael se virou para Gwen.

— A sua festa acaba aqui, agora! Eu sempre fui um fantoche nas suas mãos!

E dizendo isso, ele foi para cima de Gwen, que apontou uma arma para ambos.

— Corre Elizabeth! – ele gritou enquanto tentava segurar os braços da mulher.

E foi o que ela fez. Ela correu o máximo que conseguiu, enquanto o sol se punha.

Ela ouviu a briga, os xingamentos e um disparo.

Ela correu contra o vento quando avistou um carro se aproximando. Sem forças, se
ajoelhou no chão, esperançosa de que fossem pessoas boas que pudessem ajudá-la.

E então tudo aconteceu de forma lenta e dolorosa. Elizabeth viu quando outros carros se
aproximaram e cercaram o local. Homens armados até os dentes e outro carro que trazia o
homem de sua vida.

Edward desceu do carro e se jogou no chão, abraçando-a fortemente.

— Eu estou aqui. Acabou.

Ela fechou os olhos e encostou o rosto contra o peito forte. Chorou tudo o podia e se
recusou à olhar para trás.

— Senhorita Adams, sua irmã será levada sob custódia. – disse o Inspetor com uma
prancheta nas mãos. — A senhorita deseja algo?

Elizabeth negou com a cabeça. Ainda estava em choque e não conseguia falar
absolutamente nada.

Ela estava sentada na traseira de um dos carros com um cobertor enrolado em seu corpo.
Edward se aproximou com as mãos no bolso.

— O que aconteceu com Michael? – perguntou.

Edward suspirou.

— Ele morreu.

Elizabeth levantou o olhar pela primeira vez. Ela deveria ficar feliz por ele finalmente ter
pagado por seus erros, mas o que sentiu foi outra coisa:

Misericórdia.

— No último momento, ele me soltou.

Edward assentiu. — Eu fui um imbecil, deveria ter ficado com você até o fim. – se
aproximou. — Me perdoa?

— Eu não tenho o que te perdoar. – disse ela. — Eu preciso fazer uma coisa. Onde está
Anthony?

Edward olhou para os lados e deu de ombros.

— Acho que está na casa grande. Disse que ia lá ver as coisas. Na verdade, ele está meio
abalado por descobrir que a Gwen era a mentora de tudo isso.

Elizabeth assentiu e pulou do carro, lhe entregando o cobertor.

— Eu já volto.

Edward assentiu e ela caminhou até a casa grande. Há muitos anos não ia até lá e passar
por cada canto, a faz se lembrar de seu pai.

Por sorte, encontrou Tony sentado na poltrona da sala observando uma foto.

Ele ergueu o olhar para ela e sorriu.

— Nasceu de novo, hein. – brincou. — Começo a achar que você é um gato e tem sete
vidas.

Elizabeth deu um meio sorriso. Só ele conseguia fazer piadas naqueles momentos
impróprios.

— Precisamos conversar.

Ele se levantou.
— Ixi... lá vem bronca. Eu não fiz nada hein.

Elizabeth ficou de frente à ele. Anthony era bem mais alto que ela.

— Quero que seja sincero comigo, Tony. – ela pediu. — Você algum dia gostou de mim,
além da amizade?

A pergunta o pegou desprevenido. Anthony fechou o semblante e deu uma leve tossida.

— O quê? Da onde tirou isso?

— Seja sincero, Anthony Carter. – ela pegou na sua mão e Anthony olhou para o toque.

Ele respirou fundo e encarou sua amiga.

— Tem coisas que não são para acontecer, Lisa. – respondeu ele. — Você é a melhor
coisa que alguém poderia desejar nessa vida.

Os olhos de Elizabeth se encheram de água mais uma vez.

— Por que nunca me contou?

Ele deu de ombros.

— Algumas coisas devem ficar só na amizade. – concluiu ele. — Edward é um sortudo


por ter você e... eu sinceramente não saberia lidar com sua bipolaridade.

Elizabeth riu e Anthony a puxou para um abraço.

— Depois que o Edzão apareceu eu entendi que ele era o cara certo pra você.

Ela fechou os olhos e naquele momento entendeu que a amizade que ambos nutriam
estava acima de tudo.

— Você ainda vai encontrar alguém que te coloque nos eixos. – Elizabeth brincou.

— Quem sabe um dia...


1 mês depois...

— Eu quero que aquele vaso fique ali, perto do quadro dos meus pais. – Elizabeth
ordenou. — Será que é tão difícil seguir uma ordem?

O homem assentiu e correu para colocar o vaso no lugar que ela ordenara. Ela bufou e
olhou na prancheta em suas mãos. Tudo estava em ordem, mas é claro que só isso não bastava.
Tinha que ser perfeito.

— Lisa, os doces já estão prontos, você quer provar? – Clara perguntou assim que saiu da
cozinha. — Estão uma delícia.

Elizabeth negou com a cabeça.

— Se eu comer doce agora, vou passar mal. Preciso comer algo salgado primeiro.

— Acalme-se, tudo vai ser perfeito.

Elizabeth queria acreditar que sim. Organizar uma festa se tornou algo bem difícil depois
que Gwen fora presa.

Ao se lembrar de sua irmã, seu coração pesou. Ela queria que as coisas tivessem sido
diferentes.

Deus lhes deu o livre arbítrio e assim cada um segue seu próprio caminho. Gwen escolheu
o dela e infelizmente, pagaria por sua escolha.

Elizabeth enfiou a prancheta no colo de Clara.


— Se vira. Eu preciso me arrumar.

Clara tentou se equilibrar com um Cupcake e a prancheta nas mãos. Elizabeth sorriu e
subiu as escadas. Dentro de uma hora seus convidados começariam a chegar e ela queria estar
perfeita.

Seu vestido estava pendurado em um cabide. Era um Marc Jacobs dourado, com
pedrarias. Um vestido longo que lhe caía perfeitamente, acentuando suas curvas. Olhou em seu
celular, não havia nenhuma mensagem.

Elizabeth correu para o banheiro, tomou um banho rápido e se enrolou em um roupão


branco e felpudo. Logo, seu cabeleireiro favorito apareceu e com seu jeito animado, arrumou
seu cabelo e depois fez a sua maquiagem.

— Estou estranhando o fato de Edward não ter me mandado sequer uma mensagem até
agora. – reclamou. — Será que ele não vai vir?

— Para com isso, querida. – o cabeleireiro falou. — Ele deve estar preparando uma
surpresa bem especial pra você.

Elizabeth bufou. Odiava surpresas. Mesmo que elas fossem boas.

— Vamos lá, você está perfeita. – Francis girou a cadeira e a fez se olhar no espelho. —
Edward vai babar em você, tenho certeza.

Ela se olhou no espelho e sorriu.

— Tomara.

Do outro lado da cidade, Edward se analisava em frente ao espelho. Arrumou sua gravata
borboleta pela última vez.

Até parecia que estava prestes à se casar.

Respirou fundo, feliz por saber que as coisas não aconteceriam como da última vez.
Olhou incontáveis vezes no visor do celular para se certificar de que não havia nenhuma
ligação de Elizabeth.

Era paranoico? Talvez.


Mas odiaria ter que voltar à Londres mais uma vez por ter levado um pé na bunda da
mesma mulher.

— Estamos atrasados, daqui a pouco a Elizabeth vai pensar que não vamos. – a voz de
Serena o tirou de seu devaneio. Ele se virou para ela com um meio sorriso.

— Não seria uma má ideia deixá-la um pouco aflita.

— Não seja imbecil. Você não ligou para ela o dia todo. Aflita deve ser o sobrenome dela
neste momento.

— Rebecca já está pronta?

— Falaram de mim? – a menina entrou no cômodo com sua alegria contagiante. Ela usava
um vestidinho azul claro. Edward a pegou no colo.

— Você está linda. Uma princesa!

Serena revirou os olhos. — Ainda não sei como seus pais permitiram que nós voltássemos
depois de tudo o que aconteceu.

Edward soltou sua irmã e bufou.

— Depois da conversa que eu tive com meu pai, seria impossível ele negar alguma coisa.

Serena sorriu.

— Tem certeza que é isso o que vai fazer?

— Não tenho dúvidas. – ele suspirou. — Espero que Elizabeth entenda isso.

Ela assentiu e ambos saíram do cômodo. Becky estava feliz porque iria rever sua amiga.
Elas tinham acabado de chegar de Londres especialmente para aquela ocasião.

Edward passou pelos seguranças que estavam a postos no corredor e foram diretamente
para a limusine que os esperava em frente ao edifício.

Não demorou para que chegassem no endereço de Elizabeth. Ela preferira comemorar
aquela ocasião em seu apartamento, afinal, era grande o suficiente para vários convidados.

Ele sentiu um nó na garganta ao se lembrar da última vez que tentaram fazer aquilo. Um
mal entendido, seguido de vários outros. Respirou fundo e apertou o objeto no bolso do paletó.

Os seguranças os acompanharam, não por ele, afinal ele sempre dispensou esse tipo de
coisa, mas pelas duas mulheres que o acompanhavam. Rebecca segurou em sua mão e andou
como uma mocinha comportada.

A porta do elevador se abriu e imagens do dia que ele viu Michael e Elizabeth no pé da
escada anunciando a volta do noivado quiseram invadir sua mente, porém, ele tratou de
expulsá-las.

Agora as coisas eram diferentes.

Elizabeth estava conversando com alguns convidados quando sentiu que alguém a
observava atrás de si.

Ela se virou e seus olhos se encontraram mais uma vez.

Ele sorriu e ela devolveu, erguendo a taça de champanhe em suas mãos.

— Lisaaa! – Rebecca gritou e correu para abraçar a mulher, que prontamente se abaixou
para recebê-la em seus braços.

— Ah, minha pequena! Que saudades!

Elizabeth se levantou e cumprimentou Serena, logo depois Edward.

— Que bom que vieram. – disse de forma polida, porém, seu coração dava saltos. — Fico
feliz.

Serena a abraçou.

— Eu preciso te pedir desculpas por tudo. – disse a loira. — Não gostava de você, mas
hoje vejo que eu estava completamente errada.

Elizabeth sorriu e sussurrou:

— Sou eu quem te peço perdão. Eu sei que eu era uma megera sem tamanhos.

As duas riram e logo foram interrompidas por Anthony que se aproximou muito
animadinho.

— Abraço? Eu também quero um abraço, senhorita Serena.

A jovem olhou para Elizabeth com a sobrancelha arqueada e ambas riram. O clima que
havia começado algum tempo atrás perdurava até agora, percebeu ao analisá-los.

— Você está linda. – Edward sussurrou em seu ouvido. — De tirar o fôlego.

Elizabeth sentiu suas bochechas se esquentarem e riu.


— É mesmo?

— Com certeza.

Eles se olharam e ela sorriu mais uma vez. A felicidade era tanta que mal cabia em seu
peito. Poder respirar aliviada, sabendo que estava mais uma vez livre para fazer o que bem
entendesse da sua vida.

Elizabeth cumprimentou mais pessoas que chegaram e percebeu que Jofrey estava
sofrendo para levar todos os seus presentes para o quarto. Algumas caixas eram bem grandes.

Em certo momento da festa, ela pegou o microfone e chamou a atenção de todos para si.
Ali estavam amigos, imprensa e principalmente os funcionários que trabalharam para ela
durante todos esses anos na sede em Nova York.

É claro que todos estranharam receber um convite para a festa de aniversário de Elizabeth
Adams. Eles nunca imaginariam que ela se daria ao trabalho de entregar convite por convite.

— Bom... – disse ela, ao pé da escadaria. — Em primeiro lugar, quero agradecer a


presença de todos vocês. Eu sei que durante muito tempo eu fui aquela pessoa que todos
temiam chegar perto.

— E como! – Anthony gritou lá do fundo e todos riram.

Elizabeth revirou os olhos e continuou.

— Eu chamei vocês aqui, porque eu não queria comemorar meu aniversário sozinha e
também porque quero pedir perdão à todos. Eu sei que depois da morte do meu pai eu agi da
maneira errada, descontando a minha raiva em pessoas que não mereciam. – seus olhos se
encheram de água. — Eu espero que possam me perdoar por tudo. Hoje, nossa empresa
conseguiu recuperar vários milhões de dólares que foram desviados e graças a Deus estamos
nos reerguendo.

Todos se entreolharam e sorriram. Alguns até pensaram: Essa é a verdadeira Elizabeth


Adams?

Ela olhou para o chão e suspirou. — Não é segredo para ninguém o que aconteceu com
minha irmã e com... Michael. – falar daquele assunto ainda era difícil. — Mas... eu os chamei
aqui e quero dar uma notícia.

— Não vai dizer que está grávida! – Desta vez, Jason foi o autor do grito

Elizabeth revirou os olhos mais uma vez e riu.

— Não, não estou grávida. – bufou. — Mas... depois de algum tempo pensando nas
coisas, eu decidi que está na hora de viver um pouco. – Elizabeth encarou Anthony. — E é por
isso, que eu nomeio meu melhor amigo, Anthony Carter, à CEO da Adams Corporation.

Anthony engasgou com o champanhe que estava bebendo naquele momento e foi preciso
que batessem em suas costas.

Ele encarou sua amiga como se perguntasse: Que diabos está fazendo?

E ela somente sorriu.

— Tem certeza que deseja fazer isso? – Edward perguntou ao se aproximar com as mãos
no bolso. Elizabeth estava de costas olhando para o pôr do sol, exuberante entre os prédios de
Manhattan.

— Não há pessoa melhor para o cargo. – respondeu. — Ele é competente e conhece essas
empresas como a palma da própria mão.

Edward assentiu e parou centímetros atrás de Elizabeth.

— Precisamos conversar sobre uma coisa.

Ela se virou para ele e sorriu. As pessoas estavam dançando e bebendo enquanto eles
estavam no lado de fora, bem perto da piscina onde eles caíram certa vez.

— Mas não acho que aqui seja o lugar apropriado. – Edward completou e estendeu a mão.
— Me acompanha?

Elizabeth encaixou sua mão na dele e o acompanhou, certa de que ele a levaria para o
lugar certo. E não se enganou quando ele parou o carro em frente à escola de dança de Jason.

Ah se aquelas paredes falassem...

— Por que me trouxe aqui? – ela perguntou.

— Não acho que exista outro lugar mais apropriado que aqui. – respondeu
tranquilamente. Elizabeth o seguiu pelas escadas e depois pelo corredor que os levou até a sala
onde tinham dançado pela primeira vez. Além de dançar, fizeram outra coisa que não vinha ao
caso nesse momento.

— Eu ainda quero saber por que esse lugar... – cruzou os braços.


Edward se aproximou dela e sorriu.

— Bem, eu disse que precisava conversar com você sobre uma coisa.

Ela assentiu.

— A primeira coisa é que... eu vou vender as minhas ações na empresa.

O coração de Elizabeth se apertou um pouco.

Isso queria dizer o quê?

— A segunda coisa é que eu preciso voltar para Londres. – ele suspirou. — O que
começou como uma pequena aventura, já passou dos limites. Minha família precisa de mim e
eu fiz um acordo com meu pai de que eu voltaria.

Naquele momento, Elizabeth não soube o que falar. Então ele estava indo embora mais
uma vez?

Desta vez seria ele quem meteria o pé em tudo?

Ela não respondeu, apenas virou as costas e se aproximou das janelas da sala. Dali não
tinha uma vista privilegiada, como a de sua casa, porém, servia para não ter que encarar o rosto
do homem que estava despedaçando seu coração.

— Elizabeth? – ele a chamou.

— O que é?

Não queria se virar para ele pois temia derramar mais lágrimas. Ela respirou fundo,
tentando entender aquela situação. Nesse mês que se passou desde a morte de Michael, eles
não assumiram nada formalmente.

Mas ela pensou que...

Enfim, Edward não era um cara comum. Ele era membro de uma família nobre e ela era o
quê?

É claro que não estava a altura de acompanhar um homem como ele.

Lordes se casavam com garotas como Serena, não era?

— Elizabeth? – ele chamou mais uma vez. — Dá para olhar pra mim?

Ela bufou e se virou para ele, surpreendendo com a cena diante de seus olhos. Edward
estava de joelhos, segurando uma caixinha vermelha nas mãos, contendo aquele lindo anel que
ele tinha lhe dado antes de ir embora.

— Acha mesmo que eu iria embora sem você? – perguntou com um meio sorriso. —
Você aceita ser minha esposa?

O choque em seu rosto era tamanho que não sabia nem o que falar. As lágrimas desceram
de uma só vez e ela se ajoelhou.

— Eu pensei que... – murmurou, olhando o anel. — Você voltaria para Londres sozinho
e...

Ele bufou. — Você ainda não entendeu que é a mulher que eu escolhi para viver ao meu
lado para o resto dos meus dias? Claro, se você quiser.

Eles se olharam nos olhos mais uma vez. O encontro do azul e do verde, cada um com
seus sentimentos aflorados dentro do peito.

— É claro que eu aceito!

Edward sorriu feito criança e pegou o anel da caixinha. Pegou a sua mão direita e deslizou
o anel com cuidado. Deu um beijo leve e a puxou para ele, segurando-a pela cintura.

— Eu te amo, senhorita Adams, como nunca amei ninguém.

Ela fechou os olhos e aspirou o seu perfume amadeirado.

— Eu também te amo, Edward James Phillips.

Eles sorriram um para o outro e se deixaram levar pelas emoções. Seus lábios se
encontraram e travaram aquela batalha onde não havia perdedores, apenas duas almas
desejosas uma pela outra.

Seus lábios se moveram com facilidade, como se tivessem sido projetados um para o
outro.

Ainda ajoelhados, Edward desceu uma alça do vestido dourado e após ver a permissão
nos olhos de Elizabeth, ele desceu a outra alça, revelando o colo macio que ele tanto tinha
saudades.

Com desejo, desceu os lábios até aquela região e beijou cada centímetro. Elizabeth
respirou com dificuldade e grudou as mãos nos ombros do homem. Aquele não era o lugar
apropriado, mas naquele momento não conseguiam pensar em mais nada, além de saciar o
desejo de ambos.

Por obra do destino ou não, alguns colchonetes estavam espalhados na sala. Edward a
levantou em seus braços e a deitou sobre os estofados. Ela, porém, se sentou e o ajudou a se
livrar de seu paletó. O ajudou a tirar a gravata borboleta e desabotoou a camisa de seda.

Edward arfou quando sentiu os dedos macios de encontro à sua pele. Ah como ele sentiu
falta daqueles toques!

Seus lábios se encontraram mais uma vez e eles se beijaram como se não houvesse
amanhã. Finalmente podiam viver o seu amor daquela maneira intensa e fervorosa.

Elizabeth se entregou completamente, sem receios do que poderia acontecer. Ela era livre
para ele. Aliás, os seus momentos de mulher livre duraram bem menos do que ela imaginou.

Mas aquela era uma liberdade que ela estava disposta à renunciar se fosse para estar ao
lado do homem que amava.

Edward retirou seu vestido completamente e beijou cada centímetro de seu corpo. Ela
arqueou a cada toque, a cada vez que ele sussurrou em seu ouvido que ela pertencia somente à
ele.

Elizabeth o ajudou a tirar suas calças e não demorou para que ela estivesse pronta para
ele. Com seu corpo ardendo em chamas, sentindo-o tocando as partes mais sensíveis de seu
corpo.

Ela gemeu seu nome com devoção e implorou para que ele saciasse o seu desejo. Ele não
hesitou e ao estar devidamente protegido, a penetrou, levando-a a loucura com suas investidas.

Uma coisa ela sabia:

Se aquele era o paraíso, não queria sair de lá nunca mais.

Suas mãos se uniram e suas testas se colaram, ambos com a respiração acelerada.

— Eu te amo, Elizabeth. – ele murmurou.

Ela sorriu.

— Eu também te amo.

Eles sorriram e Edward a beijou mais uma vez, querendo provar para si que aquilo não
era um sonho.

Elizabeth era sua... noiva.

E logo seria... sua esposa.


Conseguir a aprovação dos pais de Edward não foi difícil, muito menos da Rainha.
Elizabeth nunca pensou que um dia teria a chance de conhece-la pessoalmente.

No momento em que colocou os pés em Gloucestershire, que era onde seus sogros
estavam naquela época, percebeu que sim, aquilo poderia dar certo. Ainda mais quando o
Conde a viu e pareceu se apaixonar por ela em primeira instância.

Claro, se ele a tivesse conhecido um ano antes, certamente não teria gostado tanto assim.

A Condessa também a tratara como uma filha, mesmo sabendo das poucas e boas que seu
filho passara nas mãos da sua ex chefe.

Algumas notícias saíram nos jornais. Pessoas apostavam quem seria o designer escolhido
para desenhar o vestido de Elizabeth. E ela sabia que aquilo seria um grande passo em sua
vida.

Depois de acertar inúmeros detalhes sobre seu casamento, por que sim, a cerimônia
também exigiria protocolos e regras que eles não podiam quebrar.

Se fosse colocar na ponta do lápis, Elizabeth preferia que seu casamento fosse uma
cerimônia simples, no jardim da nova de casa de Anthony. Porém, não era assim que as coisas
funcionavam e, para não quebrar regras, escolheram a igreja de Santa Margarida em
Westminster, onde sua sogra também se casara.

Elizabeth deixou Edward em Londres e voltou para Nova York, onde precisava resolver
algumas coisas e se despedir dos seus amigos.

Ao entrar em seu apartamento, respirou fundo, sabendo que aquilo ficaria para trás. Ela
tinha feito uma escolha quando aceitou se casar com Edward. Sentou-se na poltrona que lhe
dava uma ampla vista da cidade e se perguntou se sentiria falta daquela paisagem.

É claro que sentiria.

Perguntou-se também se sentiria falta de comandar a sua empresa.

E a resposta era óbvia.

No entanto, ela não se arrependia de nada. Tudo o que fizera ou quem ela era, a
transformaram na pessoa de agora. Sorriu consigo mesma ao perceber que se não fosse por
aquele assistente louco e arrogante, ela nunca saberia o que era respirar aliviada.

— Senhorita Adams. – Jofrey se aproximou. — Espero que tenha feito uma boa viagem.
Quer que eu lhe prepare algo?

— Obrigada, Jofrey, mas... eu vou me recolher agora, preciso de um banho. Esse último
mês eu andei mais que tudo.

O mordomo deu um meio sorriso.

— Tudo bem, se a senhorita precisar...

— Ah sim. – Elizabeth o cortou. — Eu ia esquecendo de algo.

Jofrey sentiu seu coração se apertar, sabendo que aquela seria, provavelmente, a última
vez que veria sua patroa. Apesar de sempre se manter em seu lugar, ele gostava dela como se
fosse sua própria filha.

— Pois não?

Elizabeth se levantou e ficou de frente à ele. Jofrey era um pouco mais baixo que ela, por
isso, colocou a mão em seus ombros e o fitou seriamente.

— Eu quero te agradecer por tudo. – disse ela. — Eu sei que você achou o anel escondido
no fundo da minha gaveta e entregou para Edward quando eu ainda estava em coma. –
enquanto ela falava, seus olhos se encheram de água. — Você sabe que tem um lugar especial
no meu coração e quero te pedir perdão pelas vezes que eu fui mal criada.

Jofrey deixou uma lágrima escorrer em seu rosto.

— Eu vi a senhorita nascer e não podia desejar outra coisa senão a sua felicidade.

Elizabeth o abraçou com força.

— Prepare as suas coisas. – ela disse. — Claro, se ainda quiser se manter perto de mim.
Ele a fitou com confusão.

— Como assim?

Ela se separou dele e sorriu. — Eu gostaria que você fosse o chefe dos meus empregados.
Sabe como é esse negócio de morar em Palácios, né. Eles são enormes e vou precisar de muita
gente para me ajudar.

Jofrey secou as lágrimas de seu rosto e sorriu.

— Se é o desejo da senhorita... – disse ele e se abaixou em uma reverência. — Seus


desejos são uma ordem.

Elizabeth riu e lhe deu um tapinha no braço. Ela pediu que ele providenciasse o
fechamento do seu apartamento. Ela não venderia o edifício, pois aquele era um sonho de seu
pai e certamente, gostaria de ter um lugar quando pudesse voltar aos Estados Unidos.

Elizabeth estava com saudades de sua empresa, por isso, logo depois que acordou, se
arrumou e foi direto para lá. Suspirou quando passou pelas portas de vidro do edifício, sabendo
que agora as coisas seriam diferentes.

Ela subiu pelo elevador e quando chegou no andar da sua sala, foi recebida com sorrisos.
Realmente as coisas tinham mudado como da água para o vinho.

— Bom dia Senhorita Adams! – Jane a cumprimentou.

— Bom dia, Jane. Anthony está na minha sala? Digo, digo, - se corrigiu. — Na
presidência?

— Está sim.

Elizabeth sorriu e caminhou até a sala que fora sua um dia. Ela pensou que encontraria
Anthony com as pernas em cima da mesa ou jogando golfe, como ele costumava fazer, porém,
se surpreendeu quando o encontrou compenetrado em seus afazeres.

— Meu Deus, as coisas realmente mudaram! – exclamou, atraindo para si o olhar do


rapaz.

— Lisa! – ele sorriu e se levantou. Foi até ela e a abraçou tão forte que a retirou do chão.
— Estava com saudades.
Aquele abraço de urso que ela tanto sentira falta. Sorriu para ele quando a deixou no chão.

— Eu também senti saudades. Como estão as coisas por aqui?

Anthony se agitou e foi até o computador.

— Vem aqui ver esses gráficos.

Elizabeth foi até ele e se surpreendeu com o resultado positivo que era mostrado naquelas
colunas coloridas. Ela sabia que ele faria um bom trabalho.

— Que bom, Tony... não sabe o quanto fico feliz.

O rapaz sorriu vitorioso. — Bom, mas... é claro que devemos tudo isso ao Edzão. Se ele
não descobrisse as tramoias do Michael, sabe-se lá onde estaríamos nesse momento.

Elizabeth assentiu com a cabeça.

— Tem razão. Mas... me conta, como está a Clara?

— Está bem ansiosa para o seu casamento. – ele sorriu. — Ela jura que vai encontrar lá
um Christian Grey.

Elizabeth revirou os olhos e riu, porém, seu sorriso logo se desfez quando sua mente
vagou para outra pessoa.

— E... Gwen?

Anthony se recostou na cadeira e suspirou.

— Na mesma situação.

Elizabeth respirou fundo e se sentou na poltrona em frente à mesa.

— Eu quero vê-la.

— Acha que é uma boa ideia?

— Não sei.

Anthony e ela trocaram olhares significativos. Ambos sabiam que aquilo não seria fácil.

— Antes de voltar para Londres, eu preciso fazer duas coisas. E quero que me
acompanhe.

O rapaz assentiu com a cabeça. É claro que ele iria, aonde ela pedisse. Ele devia muitas
coisas à Elizabeth e quando soube que Gwen interpretara de forma errônea algumas coisas do
passado, seu coração pesou.

Elizabeth pegou sua bolsa e ele a chave do carro. Ela explicou o que queria fazer e mesmo
não concordando, a levou onde ela pediu.

Cada passo que Elizabeth deu era como se seu coração sangrasse. Jamais quis que aquele
fosse o fim de sua irmã. Um homem de branco a guiou pelos corredores gélidos e a cada cela,
ela viu o triste fim de um ser humano.

Quando se aproximaram da última cela, Anthony a puxou pelo braço.

— Lisa, não acho isso uma boa ideia.

Ela olhou para a mão em seu braço e bufou.

— Eu preciso vê-la.

Elizabeth tinha mudado em várias coisas, porém, continuava teimosa como sempre. Ele
soltou seu braço e passou as mãos pelo cabelo.

Algumas coisas nunca mudariam.

— A senhorita Adams está sendo cuidada pelos melhores médicos. Temos a certeza de
que algum dia ela irá sair daqui.

O médico destrancou a porta de ferro e abriu passagem. Elizabeth hesitou por um instante,
mas depois respirou fundo e entrou.

Ela olhou para todos os lados e viu centenas de papéis desenhados com lápis de cor.
Sentada em uma cadeira pequena, de costas para ela, estava sua irmã, vestida com uma camisa
de força.

Ela olhou para o médico, assustada.

— Preferimos que ela use isso enquanto a senhorita estiver aqui. Normalmente a
deixamos livre.

Os olhos de Elizabeth se encheram de água e desta vez, ela não as controlou. Deixou que
rolassem por seu rosto.

Lentamente se aproximou de sua irmã e a olhou de frente. Gwen tinha o olhar perdido na
grande janela de vidro e parecia alheia à tudo o que acontecia ao seu redor.

Nesse momento, Elizabeth constatou que sua irmã não era nem sombra daquela mulher
bonita e elegante que fora um dia. A raiz de seu cabelo tinha crescido um palmo, fazendo
divisão entre o louro escuro e o louro claro, fruto de suas idas ao salão de cabeleireiro.

— Gwen? – ela chamou, porém, sem sucesso. Ela continuava com o olhar fixo na janela,
como se sua mente estivesse vazia.

Anthony se empertigou no lugar. Não gostava de ir ali e ver como aquela linda mulher
tinha se transformado.

Elizabeth respirou fundo.

Depois que Gwen fora presa ela desenvolveu um quadro de loucura. Na prisão, tentou
atacar alguns policiais, alegando que precisava de sangue. Depois, começou a conversar com
Michael, dizendo que ele estava ali na cela.

A justiça determinou que ela não tinha condições de estar em uma prisão convencional e
Elizabeth jamais a deixaria em um hospital do governo. Por isso, mesmo depois de tudo o que
ela fizera, mandou que a internassem em um hospital particular, onde receberia os melhores
tratamentos.

— Sou eu, Lisa. – disse ela novamente.

Desta vez, Gwen moveu a cabeça para ela e a fitou por longos instantes.

No entanto, nenhuma palavra saiu de sua boca.

— Vamos Lisa, ela não vai falar com você. – Anthony disse. — A única pessoa que ela
fala é com Michael.

Elizabeth não queria sair dali sem ouvir a voz de sua irmã e tentou uma jogada arriscada.

Tocou nela.

E nesse instante, Gwen se levantou furiosa e se afastou.

Ela se remexeu e choramingou. Gritou para que a deixassem sozinha. O médico


imediatamente pegou uma seringa no bolso de seu jaleco e aplicou enquanto ela se debatia e
gritava por uma pessoa que nunca mais veria:

Michael.

Anthony puxou Elizabeth para consolá-la.

Infelizmente, para poder se casar com Edward, eles foram obrigados à interná-la com
outro nome. Ninguém gostaria de saber que a cunhada de um Lorde era considerada louca.
Para a mídia, Gwen Adams tinha morrido no tiroteio, junto com Michael.

A segunda parada de Elizabeth foi no cemitério. Ela comprou um pequeno buquê de


flores.

Anthony a seguiu, subindo uma pequena colina. No alto estava o mausoléu da família
Sanders. Elizabeth se aproximou daquele gigantesco santuário e observou a paisagem ao seu
redor.

Havia uma árvore ao lado, que nesse momento começava a derrubar suas folhagens
devido o inverno que se aproximava. Elizabeth se aproximou da placa onde estava escrito:
“Michael Sanders, filho amado. 1989 – 2018”

Passou os dedos pelas letras em relevo e suspirou.

Colocou as flores ali e ficou em silêncio por vários instantes, até que Anthony pigarreou.

— Por que vir aqui? Ao túmulo de alguém que só fez você sofrer...

Sim, Michael a tinha feito sofrer boa parte do tempo, mas agora ela entendia que ele havia
sido manipulado por Gwen. Ele havia sido o autor da maior tragédia de sua vida, mas... mesmo
assim, ela não conseguia odiá-lo.

Não mais.

— Não vou negar que tive meus momentos felizes com ele. – suspirou. — Apesar de tudo
o que ele fez, não há espaço em meu coração para ódio.

Anthony assentiu e achou que aquela não podia ser a melhor oportunidade para falar
sobre algo que estava entalado em sua garganta.

— Lisa... eu... quero esclarecer algumas coisas.

Elizabeth não se virou para ele, mas soube sobre o que ele falava.

— Aquela foto... que a Gwen tirou, bem... foi um erro meu. Você nem deve se lembrar
porque estava tão bêbada. – ele riu, nervoso. — Mas, eu não deveria ter te beijado naquele
estado. Aquele simples erro desencadeou todo esse inferno e eu não consigo dormir em paz,
sabendo que foi tudo culpa minha.
Ela suspirou e se virou para ele.

— A culpa não é sua Tony. – disse calmamente. — A culpa não é de ninguém. Gwen
alimentou aquele ódio desde que éramos crianças. A situação do beijo foi apenas uma desculpa
para tentar abalar a nossa amizade.

Anthony desviou o olhar.

— Mas mesmo assim...

Ela se aproximou e puxou seu rosto com delicadeza.

— Quem nunca quis beijar o melhor amigo?

— Aposto que você não.

Elizabeth deu um meio sorriso. — Você acha que eu nunca pensei na possibilidade?

Ele a fitou com a sobrancelha arqueada.

— Bom... é difícil resistir um cara lindo como eu.

Ambos riram e chegaram à uma conclusão:

— Nunca daria certo. – disse ele. — Você é a pessoa mais mandona que eu conheço.

Elizabeth riu e o abraçou.

— E você, é o cara mais idiota que eu conheço.

Anthony retribuiu o abraço, respirando aliviado de que Elizabeth não o culpava pelas
desgraças em sua vida.

Aquele beijo fora um erro, mas eles eram jovens demais. E na maioria das vezes, jovens
não medem as consequências de seus atos. Anthony passava por seus momentos de conflitos,
onde tentava descobrir se o que sentia por ela era somente amizade ou algo mais.

Elizabeth e Gwen eram pessoas totalmente opostas e ele sabia disso, pois tivera a
oportunidade de se relacionar com a outra. No entanto, agora ele sabia porque as coisas nunca
tinham dado certo.

— A chave de tudo é o perdão, Tony.


Edward estava aflito enquanto seu pai arrumava o lenço de seu fraque.

— Tenha calma, meu filho. – disse o homem. — Sua noiva não irá fugir.

— Diz isso porque não conhece Elizabeth. – retrucou ele. — Ela fugiu de mim inúmeras
vezes.

— Mas agora não tem mais motivos para fugir. – Serena completou e se aproximou dele.
— Você está muito bonito.

Edward sorriu e quando seu pai se afastou, ele se olhou no grande espelho. Alguns
empregados estavam ao seu redor, esperando por uma ordem.

Finalmente.

O grande dia havia chegado.

Estava nervoso como nunca. Suas mãos tremiam, suas pernas mal se moviam do lugar.

Seu irmão, que agora estava bem melhor de saúde, se aproximou e abriu um largo sorriso.

— Até que enfim alguém te colocou nos eixos.

Edward riu, sabendo que aquilo nada mais era do que a pura verdade.

Elizabeth tinha o colocado nos eixos desde a primeira vez que seus olhos se cruzaram
naquela sala.

Ele fechou os olhos, contente pelas escolhas que havia feito.

Se não tivesse agido como um filho rebelde, talvez jamais a teria conhecido. Se não
tivesse lutado por ela, talvez ela estivesse presa à um casamento injusto e sofrido.

— Vamos? O carro já está nos esperando. – seu pai disse, tirando-o de seus devaneios.
Elizabeth se olhou no grande espelho e admirou a nova mulher que estava refletida. Sua
aparência não havia mudado, mas sim o seu espírito. Seus olhos continham um brilho que
antes era algo inexistente.

Ela sabia que seu pai adoraria vê-la daquela maneira, vestida de noiva.

As lágrimas ameaçaram descer de seus olhos.

— Nem pense em chorar. – disse Clara. — Esse é um evento público, você deve estar
belíssima, igual a Duquesa de Cambridge.

Elizabeth riu.

— Eu nunca vou chegar aos pés da elegância daquela mulher. – suspirou. — Mas quem
sabe ela possa me dar algumas dicas.

Clara fitou sua amiga dos pés à cabeça e sorriu.

— Você está linda demais. Edward vai babar, eu tenho certeza.

Ela assentiu.

— Espero que sim.

Logo um empregado bateu na porta, anunciando que o carro já estava esperando a noiva.
Elizabeth se olhou pela última vez no espelho.

Era agora.

O grande dia.

Clara a ajudou entrar no veículo e como dama de honra a acompanhou durante o trajeto.
Elizabeth se perguntou se estava em seu conto de fadas particular.

E ela soube que sim, quando o piano e os violinos anunciaram a sua entrada. Edward
estava perfeito em seu belo traje. Serena e Clara com seus vestidos cor de rosa. Anthony e
Jason como padrinhos.

Seus pais estariam mais do que orgulhosos naquele momento.

A igreja não era tão grande como a Abadia de Westminster, mesmo assim, presenças
ilustres de várias partes do mundo quiseram comparecer ao casamento.

A história de um Lorde que se passou por um rapaz pobre e conquistou o coração de sua
chefe se alastrou por meio mundo e todos queriam conferir de perto para ver se era verdade ou
apenas burburinho da mídia.

E como foi pedido, o celebrante daquela linda união não poderia ser outra pessoa além do
reverendo Jones, que acompanhou de perto o sofrimento de ambos. Ele os abençoou e os
declarou marido e mulher perante Deus e aos homens.

— Pode beijar a noiva. – disse o reverendo.

Edward se aproximou de Elizabeth e segurou seu rosto entre as mãos. Ambos já tinham
derramado todas as lágrimas possíveis e naquele momento, sorriram.

Certa vez Elizabeth ouviu que “O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O
amor jamais acaba”

Edward a beijou como da primeira vez.

Elizabeth Adams agora era a sua esposa.

Elizabeth Louise Adams Phillips.

Para sempre,

Até que a morte os separassem.


FIM

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