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Oi leitor, bem-vindo!
Se é sua primeira vez lendo um livro meu, prazer, meu nome
é Jéssica e eu escrevo livros que sempre tocam o coração de
alguma forma.
Se você já é de casa, muito obrigada pelo companheirismo
de sempre.
Este livro contará a história de Fernando e Aurora, filhos de
Manu e Caio, personagens do livro O desejo de Manuela, disponível
na minha página na Amazon. Se quiser conhecer a história deles,
fique à vontade, te prometo um romance que vai deixar seu coração
quentinho.
Nossos personagens foram criados como irmãos adotivos,
então peço que se esse tema não lhe agrade, por favor, não leia o
livro.
São inúmeras camadas que compõem essa relação e
garanto que o pecado de Aurora se transformará em sua salvação.
Preparem-se para fortes emoções.
Boa leitura ♡
Aurora e seu irmão, Fernando, sempre foram muito unidos.
Tendo sido adotada quando ainda era uma recém-nascida e
acolhida pelos pais do rapaz, tornaram-se, desde muito novos,
melhores amigos e confidentes um do outro; ao seu lado ela sempre
se sentiu segura e protegida. E o que menos esperava era um dia
perceber que o que sentia por ele estava além de um simples amor
fraternal. E mesmo sabendo que não eram irmãos de sangue, ela se
sentia suja por tal sentimento que aflorava em seu coração. Confusa
e perdida, Aurora tentará se afastar dele, usando todas as
artimanhas possíveis. Mas Fernando, que logo confessará amá-la
na mesma proporção, não permitirá isso.
Fantasmas do passado ressurgirão, deixando-a ainda mais
atordoada, e ela descobrirá segredos que nunca havia imaginado. E
diante de seus olhos, verá a sua vida, aparentemente perfeita,
desmoronar.
O que fará quando tudo o que acreditava ser verdade se
revelar uma grande mentira e os traumas de sua nova vida a
impedirem de ser completa como antes? Será o amor capaz de
apagar as mágoas e lhe dar um novo recomeço?
Dedico este livro a todos que acreditam que o verdadeiro
amor é capaz de superar barreiras, vencer preconceitos e muitas
vezes, curar feridas que nem foi ele que causou.
O som alto do vizinho, em vez de me irritar, me faz querer
levantar e dançar.
— Foco, Aurora, você precisa terminar esse livro ou Mari vai
te xingar novamente — digo a mim mesma.
— Não é nada.
Me levanto e vou até a janela. Olho para o céu e tento
reorganizar meus pensamentos, meus sentimentos.
— E seu trabalho? Você sabe quanto tempo vai ficar por lá?
— Consigo terminar o projeto do novo cliente em qualquer
lugar, amor. — Beija minha cabeça. — Só preciso do meu notebook,
papel e lápis. E quanto ao tempo, não tenho certeza, mas acho que
uma semana.
Me solto dos seus braços e o encaro sem acreditar.
— Foi uma colega que tem essa garota nas redes sociais que
tirou print e me mandou. Eu sinto muito, Aurora, mas pela data, foi
semana passada.
Nesse momento todas as peças se encaixam em minha
cabeça. Me sinto a pessoa mais burra de todo o planeta. Eu ignorei
os sinais, achei que só estávamos atravessando uma fase ruim em
nosso relacionamento.
— Ele não estava indo pra casa do pai dele, Nando. —
Encaro minhas mãos. — Estava indo ficar com outra. Como sou
idio... — Seu dedo indicador toca meus lábios me impedindo de
completar a frase.
— Você não é nada disso. Você é alegre, divertida e muito
inteligente. E sempre ilumina tudo ao seu redor. — Sinto minhas
bochechas queimarem. Sempre fico sem jeito quando me elogia
desse jeito. — Você é maravilhosa, Aurora. O idiota é ele por perder
uma garota como você.
Seu rosto está a poucos centímetros do meu e ele me olha
com uma intensidade que me atordoa. Meu coração acelera quando
a sua mão toca o meu queixo, com a mesma suavidade de antes, e
os meus olhos, inconscientemente, se fecham. Os pensamentos
embaralhados demais para compreendê-los. Sinto os seus lábios
tocarem os meus com delicadeza e só então a realidade me
encontra.
Nando está realmente me beijando?
Os lábios de Nando ainda estão colados aos meus. Nosso
beijo é doce e gentil, e a sensação é tão boa — tão diferente dos
outros que já experimentei. Quando minha ficha cai e percebo que o
que estamos fazendo é errado, me afasto rapidamente e tento voltar
a respirar.
— Meu Deus. Isso é loucura! — Me levanto da cama
nervosa.
— Desculpa, foi culpa minha. — Ele abaixa a cabeça, as
bochechas corando com a vergonha.
E estou ainda mais envergonhada que ele, por ter sentido o
que senti. Acabei de cometer um enorme pecado. Eu beijei meu
irmão.
Por que será que não consegue? Será que aquele beijo
também significou algo para ele? Será que as mesmas dúvidas que
pairam na minha cabeça também estão na dele? Minha cabeça
parece que vai explodir! Queria que tudo isso não tivesse
acontecido. Queria minha vida perfeita de volta.
— Pode sentar. Você está na sua casa. — Aponto para a
cadeira.
— Estou na nossa casa, Aurora. — Ele se senta e fica me
observando.
— Não vou conseguir comer com você me encarando. Quer
um pedaço? — Levanto o garfo com o último pedaço de pizza.
Eu rio.
— Você é maravilhosa, Mari! — Me sento e a abraço.
— Nós somos. Mas sinto que não é só isso que está te
incomodando. — Ela segura minhas mãos. — Aconteceu mais
alguma coisa?
Mari me conhece tão bem. Ela, Nando e eu sempre fomos
muito ligados. Crescemos juntos e seus pais são nossos padrinhos.
— Aconteceu uma coisa ontem que me deixou mais
atordoada.
Mari me olha com curiosidade.
— Coloca tudo pra fora. Você sabe que não vou te julgar.
Respiro fundo para tomar coragem de entrar nesse assunto.
— Nando e eu nos beijamos.
Mari fica literalmente de boca aberta. Eu sei que ela já
aprontou muito nessa vida, bem mais que eu, mas também sei que
nunca beijou seu irmão, ou meio irmão, até porque ela não tem
nenhum dos dois.
— Menina, que babado! Me conte os detalhes.
Nós duas nos deitamos na cama e ficamos olhando para o
teto.
— Pode deixar.
Após me despedir da família toda e agradecer pelo carinho,
sigo meu caminho para casa. Meu estômago está se revirando. Sei
que será difícil enfrentar Henry. Não tem como apagar tudo o que
vivemos nesses últimos anos, mas preciso ser forte. Não vou
derramar nenhuma lágrima em sua presença. Assim que chego,
vejo Henry descendo do carro. Chegamos praticamente juntos. Ele
me olha dos pés à cabeça, admirado. Nunca havia usado um
vestido assim tão chamativo. Mari tem razão, preciso ousar mais,
aproveitar do corpo que tenho. E é isso que irei fazer a partir de
hoje.
— Não sabe como fico feliz. Tive essa ideia quando estava
pela milésima vez assistindo o filme da Bela e a Fera com Nando. —
Sorrio ao me lembrar. — Nando passou o dia comigo assistindo
todos os live-action existentes das princesas da Disney. E eu sei
que não gosta, só fez isso para me agradar. Até cancelou a partida
de futebol pra ficar comigo. Estava muito melancólica devido
aqueles dias.
— Eu acho... Na verdade, tenho certeza que não há nada
nesse mundo que esse homem não faria por você.
— Eu... — Não termino a frase e dou um leve aceno para
Mari. Sua cliente está de pé bem atrás dela. Ela se levanta e nos
apresenta. Após se despedir, ela fecha a porta e volta para o sofá.
— Menina, eu daria de tudo pra estar lá e ver Caio todo bravo
batendo no traidor. Com aqueles braços fortes...
Não sei se foi uma boa ideia aceitar com que os gêmeos
Alice e Bernardo se sentassem à mesa conosco. Sei que fui covarde
e só queria uma desculpa pra não continuar a conversa com Nando
e ele também percebeu. Eu vi o jeito que olhou para mim. Mas o tiro
realmente saiu pela culatra. Alice está dando em cima dele na maior
cara de pau.
— Você está bem? — pergunta Bernardo.
Após nos despedir, seguimos para seu carro. Essa noite foi
muito diferente do que imaginei e estou aqui dentro do carro,
finalizando a noite muito irritada.
— Ficou com ciúmes? — Nando pergunta baixinho enquanto
continua a encarar a estrada.
— Não — minto.
— Por que pra você é tão difícil assumir o que sente? —
Sinto o desapontamento em sua voz.
Não respondo sua pergunta. Fico em silêncio até chegarmos
em casa. Assim que entramos, percebo que as luzes estão
desligadas. Manu e Caio já devem estar dormindo. Quando piso no
primeiro degrau, sinto sua mão segurar meu braço e me viro para
Nando.
— Eu não quero viver assim, Aurora. — Sua voz é um misto
de tristeza e raiva. — Eu vou para o meu quarto tomar um banho.
Se eu for até o seu e a porta estiver trancada, eu te deixarei em paz.
Não tocarei mais nesse assunto. — Nando me dá um selinho. É
como se estivesse se despedindo. — Agora tudo está em suas
mãos. — Ele sobe as escadas e me deixa ali totalmente paralisada
sem saber o que fazer após esse ultimato.
Enquanto a água quente cai sobre meu corpo, penso se
realmente tomei a decisão certa. Essa porta será como meu
coração. Deixá-la destrancada demonstra que estou disposta a
arriscar toda a minha vida para ter Nando ao meu lado. E não como
meu irmão, mas sim meu companheiro. Ele não estava blefando.
Agora é tudo ou nada.
Me enrolo na toalha e ao sair do banheiro, encaro aquele
pedaço de madeira que tem o poder de mudar completamente as
nossas vidas. Meu estômago está doendo, minhas mãos estão
suando. Me troco e vou até o espelho. Escolhi um conjunto que é
meu favorito, um shortinho de seda rosa e um top de renda preto.
Passo um hidratante no meu corpo enquanto minhas dúvidas
continuam a borbulhar em minha mente. O que faço agora? Finjo
que estou dormindo para ver se ele me acorda? Deixo tudo escuro
ou deixo a luminária ligada?
Passo minhas mãos pelo cabelo, sentindo que vou
enlouquecer, e respiro fundo, tentando acalmar meus nervos.
Decido apagar a luz e me deitar na cama. Pra que tanto drama? É
só deitar e esperar. Só isso. Me ajeito sob a coberta.
As vezes que fiz sexo com Henry era sempre o básico. Agora
me pergunto: será que sei transar direito? E se eu passar vergonha?
E se Nando se arrepender depois? Será que isso vai mesmo
acontecer?
Acabo ficando mais nervosa ainda. Escuto o som da porta
abrindo lentamente e, logo depois, sendo trancada. Meu coração
parece que vai sair pela boca. Fico com medo de Nando conseguir
ouvir, de tão acelerado que está. Como desliguei a luminária, o
quarto está muito escuro. Escuto um barulho um pouco mais alto.
Volto para a cozinha e tento lavar a louça que sujei, mas não
consigo por muito tempo. Escuto a campainha tocar novamente.
— MEU DEUS! — Já irritada, encho um pote com água.
Henry vai tomar um banho agora.
— Eu entendo.
Pego as rosas que deixou na sala e vou até a cozinha.
Escolho um vaso, as coloco nele e o levo até meu ateliê. Fico
admirando-as por um tempo até sentir os braços de Nando
envolverem minha cintura.
— Espero que tenha gostado, mesmo sendo o tipo de flores
que Henry trouxe.
Me viro para ele e vejo que já colocou outra camisa.
— Contei a ele que você vai abrir sua própria loja — Caio
fala, todo orgulhoso.
Manu faz questão de Adam se sentar ao meu lado à mesa.
Esses dois estão tentando nos juntar. Nando vem e se senta na
minha frente.
Abaixo uma alça de seu sutiã e beijo seu ombro. Ela solta um
suspiro. Faço o mesmo com o outro ombro e vou subindo até o seu
pescoço, enquanto a livro do sutiã e a seguro em meus braços.
Sorrio contra a sua pele e a levo até a cama. Me livro de sua
calcinha. Deito-a sobre os lençóis e não consigo desviar meus olhos
dos seus. A sensação de me perder em seu olhar, azul como duas
piscinas refletindo o céu turquesa, é indescritível.
— Eu te amo. Sinto que posso repetir isso pro resto da minha
vida. Eu quero repetir essas palavras pra você até o fim de nossas
vidas, Aurora.
— Eu não sei o que dizer. Dei um show por nada — falo sem
jeito e Aurora ri.
— Mas isso fez você se abrir, e eu também. Então não foi
uma coisa assim tão ruim.
— Você tem razão.
Ela sorri.
Aurora passa a mão sobre meu peito e vai deslizando para
baixo. Quando penso que irá me tocar, ela para.
— Nando?
— Sim? — Seguro seu queixo e a faço me encarar. — Não
precisa ter vergonha.
— É que tenho receio de não gostar do jeito que faço as
coisas.
— É totalmente impossível eu não gostar de algo que faça. —
Seguro sua mão e a levo até meu pau. Olhando em seus olhos,
começo a subir e descer nossas mãos cada vez mais rápido.
Quando percebo que já está mais confiante, a solto. Minha mão vai
até o bico de seu seio e massageio seu mamilo sem desviar o olhar.
— Não tem ideia de como está gostoso. — Quando sinto que estou
perto de gozar, a interrompo, segurando sua mão. — O que você
quer fazer agora, baby? — pergunto só para provocá-la, pois está
estampado em seus olhos o que ela quer.
— Eu quero ficar em cima de você — cochicha no meu
ouvido e morde a ponta da minha orelha.
— Eu sou seu, você pode fazer o que quiser comigo. — E
realmente estou de corpo e alma entregue a essa mulher.
Aurora sobe em cima de mim e coloca uma perna de cada
lado. Começa a se esfregar e quando vê que já não aguento mais a
provocação, enfim levanta o quadril e a penetro devagar. Amo essa
sensação. Sua cintura se move para frente e para trás, seus lábios
encontram os meus e seu beijo é tão intenso e ardente. Seus lábios
vão até o meu pescoço, me fazendo arrepiar todo.
Ela assente.
Subo rápido até o quarto, pego meu celular e desço. Eu
preciso urgentemente gravar o novo número de Manu, se bem que
poderia ter passado o de Caio. Quando chego na sala, a vejo
passando os dedos sob os olhos, como se estivesse enxugando
lágrimas. Fico preocupada.
— A senhora está bem? Precisa de alguma coisa?
— Estou bem, sim, é que hoje o dia foi difícil. Aurora, você
não chama Caio e Manu de pai e mãe?
Rafa é um pouco mais velho que nós, mas seu jeito de ser
combina muito com o nosso. Ele é bem alegre, do mesmo jeito que
Mari. Eles fazem um par perfeito.
— Vamos lá na cozinha pegar duas colheres e subir pro
quarto — digo e Mari concorda.
— Manu?
Sinto meu coração acelerar ao reconhecer a voz.
— Dulce, como você está? Onde você está? Faz tanto tempo
que não nos falamos — falo tudo apressadamente e a escuto rir.
Caio me olha surpreso ao ouvir o nome de Dulce.
— Eu também estava com saudade. Estou bem, acabei de
chegar em casa. Manu, eu preciso conversar com você e Caio
pessoalmente.
— Caio tem razão. Eu não quero tirar ela de você, nem nada
do tipo. — Dulce segura minha mão. — Agora vamos entrar, é
melhor conversar lá dentro.
Entramos juntos e nos sentamos no sofá.
— Como está sua vida? Não nos falamos desde a última vez
que fui te visitar, muitos anos atrás. Você falou que não queria mais
ter nenhuma ligação com a gente.
Dulce me olha triste.
— Desculpa, Manu, eu não queria te ver indo naquele lugar.
Você se sujeitava a uma revista humilhante só pra me visitar. Achei
melhor falar isso pra você não voltar mais, e com os anos Aurora
poderia desconfiar. Só tentei fazer o melhor por vocês. — Ela
segura minha mão com carinho. — Nunca parei de pensar em
vocês. Eu não tenho mais ninguém no mundo, vocês são minha
família.
— O que você achou de Aurora? — Caio pergunta e na hora
ela abre um sorriso.
— Ela está linda! Conversei pouco tempo com ela e com
Nando, mas dá pra ver que os dois são pessoas maravilhosas.
Vocês souberam criá-los muito bem. Não esperava menos de vocês.
Caio me olha todo orgulhoso.
— E você está trabalhando? — pergunto e Dulce faz que sim
com a cabeça.
— Estou há um tempo trabalhando como empregada
doméstica em uma casa aqui da cidade. Eu gosto do trabalho, o
pessoal de lá me trata muito bem e não me julga por ser ex-
presidiária.
— Você sabe que se precisar de um emprego ou qualquer
coisa pode procurar a gente, né? — Caio diz e Dulce o olha com os
olhos marejados.
— Pai, acho que vai ter que buscar minha alma lá no céu.
Aqui só tem o corpo.
Ele ri sem jeito.
— Não vamos julgar vocês por estarem apaixonados. Como
disse uma amiga: ninguém manda no coração. Eu só quero que
vocês sejam muito felizes! — Minha mãe abraça nós dois de uma
vez. — E quero que saibam que estamos com vocês para o que der
e vier. — Olho para meu pai, que balança a cabeça concordando. —
Nem dá pra acreditar. Meus filhos estão juntos como um casal, e eu
nem tinha reparado nisso. Que tal fazermos um jantar bem gostoso?
— Manu, já é quase meia-noite! — meu pai fala. Ela olha
para ele de cara fechada.
— Eu ainda não jantei, e você também não. E vocês? —
pergunta a Aurora e eu.
— É só um aviso!
Assim que Henry sai, me sento na cadeira. E só então
percebo que estou com as minhas mãos tremendo. Como esse
idiota sabia que eu estava aqui na loja? Agora terei que tomar
cuidado redobrado. Sinto meu estômago embrulhar. Na hora da
raiva, falei coisas que não devia, só alimentei mais essa loucura
dele.
Passo minhas mãos no local onde ele apertou e levanto as
mangas da blusa vendo que ficaram algumas marcas. Escuto a
porta sendo aberta novamente e respiro aliviada quando vejo meu
amor entrar sorrindo para mim.
— A loja ficou tão linda. É a sua cara — ele fala, e eu me
levanto e vou até Nando. O abraço forte. — O que foi? Aconteceu
alguma coisa? — Seus olhos são pura preocupação.
— Só estou cansada. Não imaginei que organizar a loja seria
tão trabalhoso. — Dou um sorriso e Nando beija minha cabeça.
— Vai ser daí pra pior. Sua loja vai ser um sucesso. Você é
uma excelente estilista e vai conquistar o mundo!
Ele abre um sorriso tão lindo, o sorriso pelo qual sou tão
apaixonada.
— O que acha de irmos ajudar Celina na cozinha, Dirce? —
Manu pergunta, as duas se levantam e vão de braços dados até lá.
— Vai ser muito estranho não ter vocês lá. A casa vai ficar
tão vazia. — Caio segura a mão de Manu. — Se bem que tem um
lado bom.
— Então me diga, que não vejo nenhum! — Manu cruza os
braços.
Nós rimos.
Tive tanto medo de decepcionar quando soubessem do
nosso relacionamento, mas no fim fui surpreendida positivamente.
Eles nos mostraram mais uma vez o quanto nos amam.
— Vamos começar a carregar as caixas que estão no carro e
colocar as roupas no lugar antes que seu pai solte mais alguma
piadinha. — Manu se levanta e nós fazemos o mesmo.
Voltar para casa e saber que meus filhos não estarão mais lá
é tão estranho. Meu coração de mãe se aperta em pensar o que irão
enfrentar daqui pra frente. O preconceito já era grande quando
estavam namorando, agora com eles morando juntos será ainda
pior. Já briguei com tantas "amigas" que tentaram me convencer a
não apoiar esse relacionamento. Até me aconselharam a me afastar
dos dois até que parem com essa "monstruosidade". Elas não
conseguem ver o que eu vejo. Não enxergo mais Aurora e Nando
como irmão. Agora só consigo vê-los como um casal que se amam
e se respeitam.
Meus pais e minha irmã também ficaram surpresos com a
novidade. Meu pai foi quem mais se chocou, mas após uma longa
conversa por telefone, ele entendeu melhor. Meu filho encontrou o
amor de sua vida. Isso não acontece com todos. Muitos passam
pelo mundo sem saber o que é um amor verdadeiro, ainda mais um
amor correspondido na mesma proporção. Sei que criamos os filhos
para o mundo, mas é tão difícil essa separação.
— Que visão... Ah, baby, você não sabe o quão gostosa você
é. — Olho para Nando e vejo ele acelerar o ritmo. — Deslize um
dedo pra dentro e faça um vai e vem. Comece devagar e vá
acelerando — pede e eu o obedeço. Meu dedo entra e sai cada vez
mais rápido, sentindo a umidade e a quentura. O curvo, atingindo o
ponto exato que me faz ver estrelas.
— Estou perto, Nando... — sussurro.
Ele sorri.
— Fico muito contente em saber que sua vida está tão boa
assim. — Alonzo vai até Íris e paga a compra enquanto termino de
embalar.
— Aurora não vai sair daqui. Ela vai ficar conosco. Comigo!
— digo firme.
— Com licença, a paciente já despertou. Ela está chamando
por Fernando — a enfermeira diz e eu me levanto. — Vou levá-lo
até ela.
— Dessa parte eu não sabia, mas isso não muda o que você
é e nem o que sentimos por você. Eu não sei por qual motivo eles
resolveram mentir, mas devem ter algum. Nossos pais te amam,
Aurora. Você tinha que ver como eles estavam quando chegaram
aqui.
— Não quero falar com ninguém por enquanto, só quero você
ao meu lado. Não me deixa sozinha, por favor.
— Sabia que seu nome foi a última coisa que disse antes de
apagar? Eu fiquei com medo de nunca mais te ver, de não termos
um futuro juntos. — Só de pensar nisso, sinto meu coração ser
esmagado novamente. — Nunca mais quero ter essa sensação.
Então a resposta é não. Eu não vou sair do seu lado.
Acabo sorrindo com sua resposta.
— Eu tenho que te perguntar uma coisa. — Aurora me olha
com atenção. — Você sabia que estava grávida?
Levo sua mão ao meu peito para que ela possa sentir como
está acelerado. Com a outra seguro seu rosto e acaricio sua
bochecha. Seus olhos azuis estão fixos nos meus. Vou aproximando
meu rosto devagar e por um momento Aurora recua. Isso fez meu
peito doer tanto. Mas não vou desistir assim tão fácil. Continuo a me
aproximar, e enfim quando nossos lábios se tocam, sinto todas as
coisas boas que só ela me proporciona.
Nosso beijo é doce, suave e transborda paixão. Eu quero
mostrar a ela o que somos juntos. Que um complementa o outro.
Quando terminamos, colo minha testa na dela novamente e fecho
os olhos.
Sinto falta de ter meus avós por perto, mas como agora tia
Viviane está grávida do terceiro filho, eles se mudaram para lá para
poderem ajudá-la.
Com meu tio Alonzo, falei apenas uma vez, por telefone. Ele
insiste em me levar com ele para o México. Já disse várias vezes
que não vou mudar de ideia, não vou deixar Nando. Sei que fiquei
distante por um tempo... Isso porque sinto um vazio no peito e
mesmo ele pedindo todos os dias para não me culpar pelo que
aconteceu, eu não consigo. Penso muito no bebê que agora não
temos por uma irresponsabilidade minha. Sinto que sou culpada
pela morte de um pedaço de nós dois.
— Chegamos, baby — diz ao estacionar o carro na garagem.
— Estava com saudade de casa. — Abro um sorriso.
— E eu estava com saudade de ter você em casa. — Nando
me dá um selinho. — Vou abrir as portas, já volto.
— Eu adoraria.
— Vou arrumar tudo. — Nando beija minha testa e se
levanta.
Vejo ele caminhar pelo quarto. Nando vai até o guarda-roupa,
separa um vestido leve, um conjunto de lingerie, creme de pentear e
pente, e coloca tudo em cima da cama. E ainda confere. Fico
admirada. Parece que ele irá cuidar de um bebê. Eu sei que ele
seria um ótimo pai, assim como Caio é. Ou como ele foi. Não sei ao
certo o que pensar sobre eles, a única coisa que tenho certeza é
que tirei de Nando a chance de conhecer nosso filho.
Nando vai até o banheiro e escuto o barulho de algumas
coisas sendo arrastada, provavelmente a cadeira de banho. Quando
retorna, ele está com um saco transparente na mão. Com cuidado,
começa a tirar minha roupa. Me sinto um pouco envergonhada, pois
algumas marcas do acidente ainda mancham meu corpo. Nando se
abaixa, coloca meu pé dentro da sacola e fecha a ponta, para não
molhar o gesso.
— Baby, você é a mulher mais linda do mundo. Não se
preocupe, logo essas marcas sumirão. — Nando passa a ponta do
dedo em um corte na coxa, onde levei seis pontos. — E mesmo se
ficar alguma cicatriz, ela servirá pra me lembrar que eu poderia ter
te perdido, mas Deus foi tão bom que resolveu deixar esse anjo aqui
comigo. — Ele se abaixa e beija uma das marcas roxas. — Eu amo
você, Aurora. Amo cada pedacinho seu. Nada disso mudou.
— Filha, juro pela minha vida que nunca fizemos nada pra te
prejudicar. Ao contrário, Caio e eu sempre tentamos fazer de tudo
por vocês.
— Os dois são nossos filhos! — diz Caio com firmeza. —
Nando de sangue, você de coração. Não existe nada no mundo que
não faríamos pra ver vocês bem. Por favor, nos perdoe.
Nando me dá um selinho.
— É tão bom ver esse brilho de volta em seus olhos. — Sua
mão acaricia meu rosto. — Agora beba seu chá antes que esfrie.
Espero que não esteja muito doce. Se bem que dizem que quando
uma pessoa está apaixonada, ela adoça demais as coisas. E mais
apaixonado do que sou por você é impossível.
Abro um grande sorriso instantaneamente e agradeço aos
céus pela pessoa que meu coração escolheu para amar.
Acordo ofegante após ter um pesadelo. Vai ser difícil
esquecer aquele acidente. As cenas ficam se repetindo quase todas
as noites quando deito para dormir.
— Está tudo bem? — Escuto a voz sonolenta de Nando. Não
queria tê-lo acordado.
— Só um pesadelo. Pode voltar a dormir. — Ele estica o
braço.
Coloco minha cabeça em seu peito e ele acaricia meus
cabelos. Ficamos um tempo em silêncio.
— Por isso quis que viesse morar comigo assim que descobri
que estava viva, mas como vi que realmente estava feliz aqui com
sua família e seu companheiro, decidi que manteria sua existência
em segredo. Paguei uma boa quantia ao detetive que contratei pra
que ele não contasse a ninguém. Fiz minha esposa e minha filha
prometerem que manteriam segredo, e assim fizeram. — Alonzo
passa a mão no cabelo. Parece atordoado. — Mas ontem fiquei
sabendo que o detetive foi encontrado morto. Não sei o motivo de
seu assassinato, mas desconfio que Santoro deve estar perto de
descobrir que você está viva. Ele vai querer mais vingança. Aurora,
e eu só vou conseguir te manter segura se for comigo embora.
— Por que não contou isso no início? — Minha voz quase
não sai.
Com amor,
Aurora.”
Nesse momento já estou soluçando. Cruzo os braços sobre a
mesa e apoio a cabeça sobre ela.
Amor, um sentimento tão intenso, capaz de te dar forças
quando mais se precisa; tão puro e verdadeiro que pode abalar sua
estrutura e mudar sua vida. Eu mataria por amor, eu morreria por
amor. Amor à minha família, amor ao meu homem, que agora dorme
tranquilamente em nossa cama; em nosso ninho de amor.
Vou até o carro preto com vidros escuros e assim que entro,
vejo meu tio e dois seguranças; um dirigindo e o outro ao seu lado,
no banco do passageiro.
— Você está fazendo a coisa certa, querida. Está protegendo
quem você ama. Do mesmo jeito que protegerei você com minha
vida. — Alonzo segura minha mão.
— Você vai ficar bem. Eu vou cuidar de você — meu tio fala
com a voz trêmula enquanto me abraça.
E a escuridão me abraça tão forte quanto ele.
— Deixa meu pai ver que você está fora do seu posto.
— Eu também tenho horário de descanso, Vic. Não se
esqueça. Agora vou tomar um café. Até mais, belas moças. — Juan
pisca e se vai.
— Sinto muito.
Me levanto e vou até Juan, que está ao lado da pia. Apesar
de tantas coisas ruins, estou feliz por ter conhecido ele. Juan é uma
pessoa boa, e quando voltar para casa vou sentir falta de sua
companhia.
— Obrigada por sua amizade e por sempre se preocupar
comigo.
— Imagina. Amigos são pra essas coisas.
Fico na ponta dos pés e beijo sua bochecha. Juan sorri para
mim.
— Boa noite, milady.
— Boa noite, Juan.
Subo para meu quarto, separo algumas folhas e começo a
fazer a única coisa que me distrai. Desenhar. Olho para o relógio e
já é quase meia-noite. Escuto batidas na porta e Vic entra com uma
xícara de chá na mão.
— Oi, vim trazer seu cházinho. — Sorri.
— Entre. Sente-se um pouco. — Bato com a mão ao meu
lado.
Vic me entrega a xícara e o delicioso aroma do chá invade
minhas narinas. Todas as noites ela me traz a bebida, cujos cheiro e
sabor são diferentes de todos os que já provei e senti antes. Ela me
diz que mistura algumas ervas.
— Não vou perguntar como você está, porque sei que não
gosta.
Balanço a cabeça, concordando. Tomo um pouco do chá e
agradeço mentalmente por ela me conhecer.
— Vic, posso te perguntar uma coisa? E você me promete
falar a verdade?
— Claro. O que é?
— Como seu pai sabia que estava no telefone e falando com
Nando? — Vic desvia o olhar. — Você prometeu.
— Tudo bem. Meu pai sabia que você poderia usar o telefone
pra falar com eles, então deixou grampeado. Ele te deu esse voto
de confiança, Aurora, você não deveria ter feito aquilo. Lembra
como foi difícil convencê-lo a deixar você ficar com um celular?
— Lembro. É que estou com tanta saudade de casa e de
Nando... Você não imagina como é ficar tanto tempo longe de quem
amamos. — Tomo mais um pouco de chá.
— Você acha que iria ser tão idiota quanto meu pai? Ele
protegeu a filha do homem que causou a morte de minha mãe! —
Sua voz é puro ódio.
— Não faz sentido você estar ao lado do homem que a
assassinou. — Meu olhar vai diretamente para Santoro, que está
com os braços cruzados encostado em uma parede, observando
tudo.
Santoro vem até mim e sinto meu rosto arder com a força de
seu tapa.
— Você sujou minha casa, vadia! — Segurando meu rosto
com força, me encara. — Você tem ideia do que senti quando minha
filha contou as coisas horríveis que seu pai fez com ela? Minha
inocente menina violentada por um homem que considerava meu
amigo. — Ele me desfere outro tapa e eu fecho os olhos, implorando
para acordar desse pesadelo.
Não sei quanto tempo se passa, mas estou com fome, sede e
frio. Que mal eu fiz na vida para merecer isso? Escuto o barulho da
porta sendo destrancada e me sento, com medo do que pode
acontecer. Quando a porta é aberta, Santoro entra com uma
bandeja.
— Coma! Não quero que morra... ainda.
A bandeja é colocada no chão. E nela há um pão e um copo
com água. Penso em não comer, mas sei que irei desmaiar se fizer
isso. Santoro vai até uma porta no canto do quarto e a destranca.
— Aqui é o banheiro. Sem espelhos, sem janelas nem nada
que possa te ajudar a fugir ou a se matar. — Santoro se aproxima e
passa a mão em minha bochecha. Me distancio. — Será que
deveria fazer com você o mesmo que seu pai fez com minha filha?
— Sinto meu corpo tremer só de imaginar esse homem me tocando.
Balanço a cabeça com lágrimas nos olhos. — Acho que iria me
divertir. Pagaria na mesma moeda. — Sua mão se enrola em meu
cabelo.
— Não... Não faça isso, por favor. Eu imploro.
— Pra quê?
— Para o leilão que irá acontecer daqui a uma semana. —
Yolanda me observa com curiosidade. — Você é mesmo muito
bonita, apesar desse ferimento na boca e de estar magra demais.
Também tem marcas em seu pescoço. — Levo a mão até ele e me
lembro de Santoro o apertando. — Acho que será preciso duas
semanas até você estar perfeita.
— Ele vai me levar ao leilão pra que eu o acompanhe? —
Não estou entendendo nada.
Passo por ela e vou até Alonzo, que continua sentado. Jogo
as folhas nele. Alonzo olha para elas com tristeza e o seguro pelo
colarinho para levantá-lo.
— Cadê Aurora, porra?! — grito.
— Cadê minha filha, Alonzo? Você mentiu. Quando vim aqui,
disse que não sabia de nada. Você a escondeu por todo esse
tempo. Por quê? — A voz de Dulce se altera.
Seu olhar vai de Dulce para mim. Ele olha para minha mão,
que o segura com força.
— Me solte, Fernando, ou não digo nada.
Contra minha vontade, solto Alonzo e o jogo de volta no sofá.
Passo a mão pelo cabelo, tentando controlar a raiva.
— Pode começar a falar — Dulce diz, se sentando à sua
frente.
— Eu estava tentando protegê-la. — Olho para ele totalmente
confuso. — Vou explicar a vocês com todos os detalhes o que
aconteceu.
Concordo e me sento ao lado de Dulce. E a cada informação
que Alonzo nos dá, meu peito dói mais e mais. Tudo desaba quando
ele conta sobre a traição de sua filha e seu homem de confiança.
Eles entregaram minha Aurora a um traficante e, apesar de já terem
pago a dívida com a própria vida, ainda assim sinto um ódio mortal
por eles. Não consigo conter a raiva e vou para cima de Alonzo, e
ele não faz nada para se defender.
— Você não teve capacidade de protegê-la, seu maldito. Se
tivesse nos avisado, eu moveria céus e terra pra manter meu amor a
salvo. — Minha mão se suja de sangue quando outro soco atinge
sua boca.
— Você está machucando ele, Fernando! — grita Silvana,
tentando me segurar.
— Aonde vamos?
— Salvar minha Aurora.
Esses dias têm sido um tormento. Não consigo dormir direito,
minha cabeça só foca em Aurora e em tudo o que pode estar
passando. Dia após dia, sinto meu peito sendo rasgado cada vez
mais por não saber o que aquele bandido está fazendo com ela, se
ela está se alimentando. Só de pensar em meu amor com fome ou
frio, sinto o ar faltar em meus pulmões. Sei que ela é uma mulher
forte, e estou pedindo aos céus para aguentar um pouco mais e se
manter firme até ser resgatada. Eu vou salvar minha Aurora, não
importa o que tenha que fazer e a quem tenha que enfrentar. Ela vai
voltar para casa nem que seja a última coisa que eu faça.
Dulce descobriu por fontes seguras que Aurora está viva e
que Santoro irá vendê-la em breve em um de seus leilões. E desde
que descobrimos isso, nosso plano de resgate teve início.
Pego as lentes de contato e as ponho. No começo era
estranho usá-las e me irritavam muito, mas me forcei a ficar com
elas durante um bom tempo até me acostumar, para que meus
olhos não fiquem vermelhos ou lacrimejando. Devem parecer
naturais. Você tem que ser frio, calculista, indiferente e,
principalmente, se sentir superior a qualquer um; as palavras de
Ivan ecoam na minha cabeça. Esse tem que ser o meu novo eu
enquanto estivermos entre eles.
Dulce já me disse tantas coisas horríveis sobre esse Santoro
que já sinto um pavor de imaginá-lo tocando Aurora, agredindo-a ou
tentando... Aperto o mármore frio da pia, fecho os olhos e abaixo a
cabeça.
Somos guiados até uma pequena sala toda preta, com uma
parede de espelho que vai do teto ao chão. Me sento na grande
poltrona que está virada para ela e Ivan fica de pé atrás de mim, em
silêncio. Uma luz é ligada, revelando que atrás desse vidro há uma
espécie de octógono bem iluminado. Um homem logo aparece ali no
centro. Ele usa uma bela máscara de ouro e o microfone em sua
mão parece ser do mesmo material.
Após um discurso que faz meu estômago embrulhar, uma
mulher entra na sala usando apenas uma lingerie vermelha
combinando com a máscara. Ela me entrega um tablet que deve
custar os olhos da cara e eu seguro seu queixo e a olho dos pés a
cabeça, como se realmente tivesse me interessado por ela. Um
grande sorriso se forma em seu rosto quando a solto e o leilão
começa. Uma música baixa e sensual começa a tocar e uma mulher
é levada até o centro. Consigo ver o pânico e o desespero em seus
olhos. Ela parece estar perdida, meio desnorteada, provavelmente
drogada. As mulheres mudam, mas o olhar é sempre o mesmo. Me
mantenho calmo, mas por dentro me sinto quase doente, em
remorso por não poder ajudar todas elas. A única coisa boa é que
irei salvar ao menos duas.
Uma lágrima desliza do canto dos meus olhos. Será que essa
é minha última noite viva? Paramos em frente a uma porta.
— Seu novo dono está lá dentro — diz ela, segurando a
maçaneta da porta.
Sou empurrada para dentro e me deparo com dois homens.
Um está sentado e o outro de pé ao lado da porta. Os dois estão
vestidos de preto, com luvas e usam máscaras, o que me
impossibilita de ver seus rostos. Só consigo ver os olhos castanhos
do homem que está sentado na cadeira, como se fosse seu trono.
Esse deve ser o maldito Eros. Nenhum deles se move por um bom
tempo. Então o homem se levanta e vem em minha direção. Cada
passo que ele dá faz meu medo aumentar. Ele parece irradiar poder.
Me encosto na porta, ofegante. Seu rosto se aproxima do meu e
desvio o olhar e viro o rosto.
— Oi, baby, estava com saudade? — pergunta baixinho.
Me falta o ar quando eu o encaro. Será que estou delirando?
Estou de pé em frente a cama encarando a roupa de Eros.
Está tudo impecável como sempre. Acho que essa é a única coisa
que temos em comum. No começo, foi difícil me acostumar com
essa personalidade; Eros é tão diferente de mim, no jeito de agir e
de pensar... Eu realmente mudo quando coloco essa roupa e essa
máscara. Mas tudo isso tem um propósito: trazer Aurora de volta
para nós. Estamos cem por cento empenhados nisso. Sei que ainda
faltam algumas horas para ir ao meu último leilão e resgatar minha
mulher, mas já estou preparado para dar o maior lance possível.
Não deixarei nenhum outro sequer pensar que terá chance de levá-
la para casa. Ela voltará conosco amanhã. Não irei decepcionar
minha família, muito menos a mulher que amo.
Não sei se Santoro já falou de Eros para Aurora. Dulce disse
que ele não iria perder a oportunidade de fazer uma tortura
psicológica com ela, que ele gosta desses joguinhos. Minha Aurora
sempre foi tão doce e gentil. Sei que voltará diferente para casa e
que tudo isso deixará marcas nela, assim como deixará em mim,
mas não me importo. Quero Aurora de volta à minha vida, e irei
ajudá-la a passar por tudo isso. Estarei ao seu lado. Ela terá todo o
apoio de nossa família, que tanto a ama.
Ela deve estar apavorada achando que irá parar nas mãos de
um homem cruel e sem escrúpulos. Mal sabe que irá voltar para
mim, para os braços do homem que a ama e que faria qualquer
coisa por ela. A fama de Eros não demorou para se espalhar, graças
aos leilões que fui e também a ajuda de Dulce. Tivemos que
inventar uma história bem convincente. O medo que as mulheres
me olham quando me veem se transforma em gratidão todas as
vezes em que dizemos a elas que estão livres. Claro que não deixo
que vejam meu rosto nem o de Ivan, mas gosto de dar a notícia
pessoalmente, e a única coisa que peço em troca é que não
comentem nada do que aconteceu. Esses momentos se tornaram
meus favoritos nesses últimos dias. São os únicos em que me
permito sentir um pouco de felicidade.
— Eu vou sim, Caio — diz Dulce enquanto entra no meu
quarto. — Nando, diga a eles que irei junto.
Assinto.
— E Manu? E Dulce? — pergunto a Nando.
— Elas estão nos esperando no hotel. As duas queriam vir,
mas seria muito arriscado.
Não sei o que sentir, meu sentimento por Alonzo está muito
confuso.
— Mesmo se ele não tivesse feito isso, eu daria um jeito —
diz Caio. Nando concorda com a cabeça.
— Rosa está em segurança — digo, ainda sem acreditar.
— Está sim. — Sorrimos um para o outro. — Eu não
conseguiria olhar para as garotas que entravam na sala e pensar
que você seria salva e elas não. Ivan vai ajudar cada uma a voltar
pra casa ou tentar recomeçar em outro lugar.
— Eu nem tenho como agradecer a vocês por isso.
— Nunca desistiria de você, filha. Se esse plano não tivesse
dado certo, nós teríamos pensado em outro, mas nunca iríamos
desistir de recuperar você. — Caio me fazendo chorar novamente.
— Eu te amo — Nando sussurra em meu ouvido.
Passo a mão em seu rosto e lhe dou um beijo.
— Eu também te amo muito. Seus olhos... Eles estão
castanhos. É estranho — comento.
Nós concordamos.
Assim que o carro é estacionado na entrada do hotel, sinto
meu coração acelerar. Minhas duas mães estão lá me esperando.
Aperto a mão de Nando, que corresponde, como se dissesse que
está comigo para o que der e vier. Respiro fundo. Enfim verei minha
família reunida novamente.
A porta do apartamento é aberta e no mesmo instante vejo
minhas duas mães correndo em minha direção. Corro até elas e nos
encontramos no meio do caminho. E, como descontroladas,
começamos a chorar. Ficamos um longo tempo assim, abraçadas e
agradecendo a Deus por estarmos juntas novamente.
— Minha filha, minha filhinha, não acredito que você está
aqui na minha frente. — Manu segura meu rosto e beija minha testa.
— Eu amo vocês. Amo muito cada uma. Eu senti tanta
saudade.
— Nós também te amamos, filha. Eu daria a minha vida pra
salvar a sua. — Dulce me aperta nos braços.
Eu não tenho dúvidas. Graças a ela tudo isso deu certo no
final.
— Você quer tomar um banho, tirar essa roupa, comer
alguma coisa? — pergunta Nando, se aproximando de nós.
Me solto dos braços das duas e me viro para ele, abraçando
sua cintura.
— Eu adoraria me livrar dessas roupas. Mas antes quero
saber para onde levaram as meninas.
— Ivan já reservou dois quartos. Ele e Ricardo estão
cuidando delas. Vamos passar essa noite aqui e amanhã de manhã
voltamos pra casa. Rosa vai ficar bem, pode ficar tranquila.
— Tente descansar um pouco, filha — diz Manu, acariciando
meu ombro. — Tem roupa limpa em cima da cama. Trouxe de casa.
— Vou pedir pra trazerem algo pra vocês comerem. — Dulce
beija minha testa. — Qualquer coisa é só bater no quarto ao lado.
Do lado direito é o meu e no esquerdo de Manu e Caio. À sua frente
fica Ivan e Ricardo.
Assinto.
Sinto alívio em saber que Yolanda está morta, mas saber que
o verme de Santoro ainda respira me enche de ódio.
— Vou pedir para meus pais ficarem com Aurora enquanto
saímos. Não quero que acorde e veja que está sozinha.
Nós rimos.
— Não ligo em voltar a ser a vilã se isso garantir a paz da
minha filha. Esse pedacinho de mim ainda está aqui dentro e
sempre vem à tona quando o assunto é Aurora. — Sua mão vai até
a porta do carro, e antes de descer ela diz: — Sabe, Nando,
ninguém é cem por cento bonzinho. A maioria só disfarça muito
bem.
Os minutos parecem se arrastar. Será que Dulce irá
conseguir? E se alguma coisa der errado? Esse tempo que
passamos juntos nos aproximou muito. Apesar de já ter feito muitas
coisas ruins, eu a admiro demais. A porta é aberta e lá está ela. Ligo
o carro e saio o mais rápido que posso. Dou algumas voltas no
quarteirão, próximo ao nosso hotel, e assim que estaciono na
garagem, fecho os olhos para que ela possa se trocar novamente.
Quando avisa que já está pronta, me viro para ela. Não aguento
mais esperar.
— Conseguiu?
— Sim. Santoro não está mais entre nós, agora está fazendo
companhia ao diabo. Creio que vão se tornar grandes amigos. —
Um sorriso se forma em seu rosto.
— Você se sente mal quando faz isso? Tirar a vida de outra
pessoa? Eu já quase fiz isso, quando Henry machucou Aurora. Se
não fosse meu pai, teria ido até o fim.
— Se for por um bom motivo, não sinto. Faria o que fosse
preciso pra manter Aurora segura. Eu consegui protegê-la de
Miguel, mas infelizmente não de Santoro. Mesmo morto, aquele
homem conseguiu traumatizar minha filha e sinto que falhei com ela.
— Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Não sinta, você é uma ótima mãe. — Seguro sua mão e
ela sorri. — Tenho certeza de que ela te ama muito e que tem
orgulho de ser sua filha.
Subimos, e ao nos aproximarmos do quarto de Aurora, posso
ver a porta aberta, e a cena a seguir faz meu coração se encher de
alegria. Aurora e nossos pais estão sentados na cama, ao lado de
uma das moças que salvamos. Rosa, imagino. Estão todos
conversando e rindo, e ela parece feliz.
— Por ela, Nando. Por ela faço qualquer coisa, enfrentaria
qualquer um — Dulce diz baixinho.
Nos abraçamos.
— Está vendo? Não sou só um rostinho bonito, também sei
dar bons conselhos. — Mari pisca, coloca o cinto e liga o carro.
— Você é perfeita! — Beijo sua bochecha.
— Nós somos, amiga.
Vamos até uma lanchonete onde vende a melhor batata
recheada da cidade, que fica a cinco quadras da loja. Quando
estamos chegando, vemos Henry passando com o carro no sentido
oposto. Ele não nos vê.
— Nando me disse que vocês foram atrás do Henry quando
fui embora. Como foi isso?
Mari estaciona o carro e solta o cinto de segurança.
— Vamos descer e fazer nossos pedidos, e enquanto
esperamos te conto tudo. Pode ser?
Balanço a cabeça, concordando. Entramos e realizamos
nossos pedidos e, após nos sentarmos em uma mesa no canto, olho
para Mari e gesticulo com as mãos para ela começar a contar o que
aconteceu. Nando não quis me contar e nem deixou nossos pais
contarem.
— Assim que Nando leu sua carta de despedida, ele ligou pra
Manu dizendo que você o tinha abandonado. — Meu coração se
aperta só de imaginar a dor que ele sentiu. Tentei ser clara na carta,
mas sabia que ele pensaria que o estava deixando porque queria,
não porque precisava. — E quando Manu ficou sabendo da carta,
ela foi pra sua casa e no caminho ligou pra minha mãe, e não
demorou pra estarmos todos lá tentando achar alguma pista sobre
seu paradeiro. Amiga, você não contou nem pra mim. — Sinto uma
pontada de decepção em sua voz. — Eu sempre guardei seus
segredos. Não seria diferente dessa vez.
— Mari, foi tudo de última hora. Estava desesperada, não
sabia o que fazer. Confiei cegamente em meu tio. Não que a culpa
de tudo seja só dele. É muito complicado. — Sinto meus olhos
arderem.
Nosso pedido é entregue e agradecemos ao garçom, que
logo se retira.
— Me desculpa, sei que é difícil tocar nesse assunto. Fui
indelicada. Você tinha os seus motivos. Agora voltando à história. —
Mari dá uma garfada em sua batata e faço o mesmo na minha. —
Nando colocou na cabeça que Henry havia feito algo a você por
causa do casamento de vocês. Fomos todos atrás dele em sua
casa, não podíamos deixar Nando sozinho, ele estava fora de si. —
Mari ri e olho para ela confusa. — Quando Henry abriu a porta e viu
toda a família, ele ficou branco como um papel. Ainda mais quando
Nando foi pra cima dele.
— Não, é uma boa ideia sim. Salva meu número aí. Você me
avisa a hora e onde devemos nos encontrar.
Passamos um tempo conversando, com eu sempre incluindo
Rosa. Estou me sentindo uma casamenteira.
— Agora já vou indo. Nem vi as horas passarem. — Juan se
levanta. — Foi um prazer conhecê-la, Rosa.
— Igualmente — diz em voz baixa.
Eu poderia pegar esses dois e colocar em um potinho. É
muita fofura. Será que Juan já notou o interesse dela?
— Vou te levar até a porta.
Juan se despede do restante das meninas e caminhamos
juntos até a entrada.
Aperto a mão de Nando e sinto que meu coração vai sair pela
boca a qualquer momento. A porta é aberta.
— Eu quero apresentar a vocês meu namorado — diz,
apontando para o lado, e eu mal posso acreditar quando vejo Ivan
entrar.
Nos afastamos.
— Ainda estou me acostumando. Parabéns, Nando, tenho
certeza de que serão muito felizes.
Seguro a mão de Aurora, que está ao meu lado.
— Ei, tem uma fila aqui!
— Nando...
No mesmo instante ele se afasta e vejo o conflito estampado
em seu rosto.
— É sério?
Assinto. Nando liga um dos abajures e vai até o interruptor
desligar as luzes. Cada passo que ele dá em minha direção faz meu
coração acelerar mais e mais. Suas mãos seguram meu rosto e olho
em seus olhos.
— Foi perfeito.
Um grande sorriso se forma em meu rosto. Volto a me deitar
e envolvo meu braço em sua cintura. Sua mão faz cafuné em minha
cabeça.
— Baby, como você imagina que estaremos daqui a alguns
anos?
Me apoio em meu cotovelo. Quero dizer tudo olhando do em
seus olhos.
— Imagino nossa família crescendo e crianças correndo pela
casa nos chamando de mamãe e papai. — Nando sorri. Levo minha
mão até seu rosto. — Parece até que consigo ouvir as gargalhadas.
Serão tão boas de ouvir como são as suas. Vejo Caio sendo avô e
mimando seus netos, assim como fazia com nós dois. — Seus olhos
ficam marejados. Tenho que me segurar para não chorar. —
Imagino Manu na cozinha ensinando eles a fazerem seu famoso
cupcake de chocolate. Dulce e Ivan os levando ao parquinho. Ivan
ficará sempre atento ao redor pra mantê-los seguros, enquanto
minha mãe defenderá eles das outras crianças e até mesmo dos
outros pais que ousarem olhar torto pra algum deles.
Nós rimos.
Todos riem.
— A mesa já está posta — avisa Manu. — Parem de brigar e
vamos comer.
Fim...
Uma Nova Chance Para Amar
Noah sabe bem como usar sua beleza e charme para conquistar as
mulheres, e com elas não busca nada além do prazer, pois
aprendeu muito cedo que amar também é sofrer, e que se entregar
a outra pessoa é um risco que jamais voltaria a correr. Anos atrás,
ele se apaixonou, e a única garota que já amou na vida o
abandonou, deixando em seu peito apenas as cicatrizes de uma
paixão interrompida.
Mas quando sua irmã anuncia que Aline, o seu amor da
adolescência, está de volta e formará par com ele como sua
madrinha de casamento, Noah terá de provar para si mesmo que as
muralhas que construiu em torno do coração continuam firmes e que
todos os seus sentimentos estão enterrados dentro dele. Ou então
se renderá mais uma vez à paixão.
Poderão duas pessoas que já se machucaram tanto superarem o
passado para viverem o presente?
Em Suas Mãos