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Obras publicadas da autora

Obras publicadas da autora

LIVROS ÚNICOS
Lembre-se de mim, Thomas
A coragem das estrelas
Minhas estrelas têm olhos castanhos

Série Sobre Nós


Antes que ela diga não
Antes que ela desista
Antes que ela decida
Depois que elas se apaixonaram

Duologia BAD BLOOD


BAD BLOOD: O reencontro de Skye e Mason
BAD BLOOD: A vingança de Skye

Contos BAD BLOOD


EVER
SURRENDER

Série Legacy
Dark Past
Dark Emotions (em breve)

Série Segredos Revelados


Razões para lutar
Razões para acreditar

Série Paradise
Rendido
Destinado
Arruinado (em breve)
Copyright © 2023 Fernanda Freitas
Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução, transmissão ou distribuição não autorizada


desta obra, seja total ou parcial, de qualquer forma ou quaisquer meios
eletrônicos, mecânicos, sistema de banco de dados ou processo similar, sem
a devida autorização prévia e expressa do autor. (Lei 9.610/98)

Capa:
Fernanda Freitas | Larissa Chagas

Diagramação:
Fernanda Freitas

Ilustração e insígnia do time:


Gabriela Gois (@olhosdtinta)

Bestagem:
Camila Moura
Laura Vitelli
Nota de gatilho

Oi, gente. Tudo bem?

Antes de vocês começarem a leitura de Destinado (que é o


SEGUNDO livro da série Paradise, que contará com cinco livros no total),
há alguns pontos que preciso elucidar para vocês.

Caso você não tenha lido Rendido, que é o primeiro livro da série,
recomendo a leitura dele antes de começar Destinado, para que a história
seja entendida cem por cento, tá bom?

Destinado é um livro new adult, portanto, contém cenas de sexo


explícito, palavras de baixo calão, violência e consumo de álcool e drogas.
Esse livro contém gatilho de abandono parental, negligência parental e frases
gordofóbicas, por parte de uma personagem secundária.

Se você não se sentir confortável com a leitura por conta desses


gatilhos, não leia. Preze a sua saúde mental em primeiro lugar.

Deixo avisado de antemão que não compactuo com qualquer situação


que envolva gordofobia e nem com abuso de drogas e álcool trabalhados
neste livro. Qualquer cena que passe essa ideia é única e exclusivamente
parte da contextualização do personagem no momento do processo criativo.

Esclarecido esses pontos, eu espero que vocês aproveitem a leitura e


se apaixonem por esse novo universo.

Com todo o meu carinho, Fers.


Playlist

Para conferir a playlist de Destinado, clique aqui ou escaneie o


código abaixo com a câmera do seu celular, dentro do aplicativo do Spotify.
Capítulo 01

E eu ouvi falar de um amor que vem uma vez na vida


E eu tenho certeza de que você é esse amor meu
Ruth B. – Dandelions

Aos vinte anos, me tornei pai.


Com três semanas de vida, a minha filha foi abandonada pela mãe
dela.
Por que foi isso que Anna fez, não foi? Ao me entregar Kiara, minha
filha, junto com todas as suas coisas e dizer que estava se mandando para
“seguir com a própria vida” — palavras dela, não minhas —, ela estava se
exonerando da responsabilidade sem qualquer remorso, certo? Não sei por
que eu estou surpreso com isso, para falar a verdade. Anna é a pessoa mais
narcisista que eu já conheci. A gravidez só lhe interessava enquanto existia a
possibilidade do bebê ser do Trevor, o capitão de time de hóquei da
Universidade de Paradise — time do qual eu também faço parte, aliás. Essa
obsessão da Anna pelo Trev nunca fez sentido para ninguém, embora
parecesse fazer todo o sentido do mundo pra ela.
Eu não sei se foi o status dele dentro da universidade, a beleza dele
ou o dinheiro dele que a fez criar essa história irreal de que eles foram feitos
um para o outro, mas com certeza não foi o afeto dele, pois Anna nunca teve
isso do Trevor, já que ele só tem olhos para a Grace, sua atual namorada,
desde… bom, desde sempre, pelo que eu fiquei sabendo. E embora eu saiba
que o status de atleta atrai muitas garotas e garotos também, eu sinceramente
não entendo essa fascinação, principalmente se levarmos em consideração
que nem metade dos atletas universitários de um mesmo time realmente
chega a jogar profissionalmente. As pessoas tratam os anos de faculdade
como se eles definissem uma vida inteira. Mas adivinha só, o resto do
mundo não dá a mínima para quem você foi na época de faculdade. A menos
que você se torne alguém importante de alguma forma.
— Espera, eu... eu devo ter entendido errado. Você tem certeza do
que está dizendo, Colin? — A pergunta de Grace me puxa de volta para a
realidade.
Minha amiga e colega de quarto está olhando para mim com os olhos
tão arregalados que parece que eu acabei de confessar ter cometido um crime
hediondo. Trevor me olha exatamente do mesmo jeito, mas não sei como ele
pode se surpreender com essa atitude de Anna, já que ele sabe tão bem
quanto eu quem ela é. Eu daria risada das expressões dos dois se fosse capaz,
mas nesse momento tudo o que consigo sentir é pânico. E raiva. Eu estou
sentindo tanta raiva da indiferença de Anna com a nossa filha que não
consigo sequer mensurar esse sentimento.
Eu não sou um cara complicado, explosivo ou revoltado com a vida.
Longe disso. Meus amigos costumam dizer que eu faço o tipo galã, o
príncipe dos contos de fadas, o genro que toda a mãe pediu pra Deus e essas
paradas. Eu sei que isso se deve à maneira como fui criado. Minha mãe
influenciou diretamente nisso. Ela nunca me contou com todas as letras, mas
eu sei que algo aconteceu com ela quando era adolescente; algo envolvendo
um cara filho da puta que tentou machucá-la. E mesmo que meu pai e meus
tios a tenham feito entender que nem todos os homens são ruins, eu acho que
esse é o tipo de trauma que nenhuma mulher consegue se recuperar cem por
cento. Então, minha mãe garantiu que eu fosse tão bom homem quanto meu
pai é para ela.
Essas características de criação combinadas com a minha
personalidade tranquila acabaram me dando a reputação que eu carrego e
pela qual não me incomodo nem um pouco. Mas não se enganem, eu fico
irritado, puto e safado como todo mundo.
— Pode acreditar, eu tenho certeza — eu respondo à pergunta de
Grace. — O resto das coisas da Kiara estão na caminhonete.
Grace senta no sofá, apoiando os cotovelos nas coxas e levando as
mãos até a boca, tentando conter o choque da notícia. Eu mesmo ainda estou
tentando absorver. A ficha claramente não caiu, embora a indignação que eu
estou sentindo seja bem palpável. Eu tentei fazer Anna mudar de ideia e
parar com aquela loucura. A Kiara precisa dela. Não só porque Anna deve
amamentá-la, mas porque qualquer criança precisa da mãe, principalmente
se é um bebê recém-nascido que depende de outra pessoa para tudo e
qualquer coisa. Mas Anna nunca me deu ouvidos, não sei por que eu estava
esperando que isso fosse mudar agora.
— Você não queria tanto que ela fosse sua filha? — Anna debocha,
fria. A indiferença nos olhos dela quando olha para a Kiara me revira o
estômago. — Então fique com ela.
— Você é a mãe dela, Anna! A Kiara precisa de você!
Ela dá de ombros como se não fosse nada importante; como se a
minha filha não fosse importante.
— E eu precisava do Trevor, mas parece que ninguém está
conseguindo o que quer por aqui ultimamente.
Eu a encaro, cético. Eu nunca pensei que conheceria alguém tão
egocêntrico e insensível. Meu Deus!
— Você é inacreditável! Você consegue se ouvir? — questiono,
colérico. Acho que nunca cheguei tão perto de perder completamente a
cabeça. — Essa comparação é ridícula! Trevor nunca alimentou essa sua
obsessão por ele e, ainda assim, você o coloca acima da sua própria filha!
Anna se aproxima de mim e me olha nos olhos. E mesmo que ela seja
uma garota absurdamente linda por fora, com seus longos cabelos loiros e
olhos azuis, é impressionante e perturbador como eu não consigo ver nada
bom dentro dos olhos dela. Não tem brilho, não tem humildade e nem nada
meramente familiar para mim.
— Se não quiser criar a pestinha sozinho, então a coloque em um
orfanato — ela sugere, como se estivesse falando sobre algo banal. — Eu
não me importo, Colin, então pega esse seu discursinho de merda e dá o
fora. Você entendeu?
Lembro de ter dito ao Trevor, no dia que a Kiara nasceu, que eu não
queria tirá-la da Anna, embora já previsse que ela não seria a melhor de
todas as mães, mas depois de ouvir aquilo, mesmo que Anna mudasse de
ideia e se arrependesse amargamente do que disse, eu iria até a porra do
inferno para garantir que ela não chegaria perto da minha filha de novo.
— O que você vai fazer agora, cara? — Trevor me pergunta, ainda
em estado de choque, me trazendo de volta à realidade mais uma vez.
Passo as mãos pelo rosto e olho para a Kiara, que está dormindo
tranquilamente na cadeirinha. Não sei quanto tempo esse sono vai durar,
então preciso aproveitar para colocar a minha cabeça no lugar agora.
— Eu não sei.
— Você já contou para os seus pais? — Grace quer saber.
Nego com a cabeça.
— Por que não?
Para ser honesto, não sei. Quando eu soube da gravidez de Anna e
comecei a considerar que o bebê pudesse ser meu, eu não quis contar a eles
porque não queria preocupá-los à toa, caso eles não estivessem prestes a
virar avós de fato. Mas essa desculpa não vale mais. Mesmo com a certeza
de que Kiara é minha filha, eu não contei para eles. Sei que meus pais vão
ficar surpresos, chocados, talvez decepcionados por eu não ter me protegido,
mas depois que isso passar, eles vão ajudar como puderem e vão acolher a
Kiara na nossa família como ela merece. Aparentemente, não tem motivo
para eu não contar a eles, mas simplesmente ainda não consegui pegar o
telefone e dar a notícia.
— Eu não sei. — É o que eu respondo para a Grace. Parece que essa
é a resposta para todas as perguntas no momento.
— Eu não acredito que aquela desgraçada fez uma coisa dessas —
esbraveja Trevor, indignado.
— Jura? Você jura que está surpreso? — Grace indaga, e pelo seu
tom de voz dá para notar que ela está revoltada. — Aquela garota é o pior
ser humano que eu já conheci!
Kiara se remexe na cadeirinha. Não vai demorar muito mais tempo
para ela acordar.
— Eu preciso arrumar alguma coisa para ela comer — eu anuncio,
colocando a minha cabeça para funcionar. Não posso me dar ao luxo de
surtar agora. — Vocês conseguem ficar de olho nela para mim enquanto eu
vou na farmácia?
— Claro — Trevor responde com um sorriso. — Eu vou adorar ter
um tempinho com a minha filha postiça.
Depois de passarmos nove meses sem saber se o pai era eu ou
Trevor, é natural que ele se sinta metade pai de Kiara. E isso não me
incomoda nem um pouco. Trev é um cara incrível. Anna pode ser uma mãe
de merda, mas pelo menos no quesito pai, a minha filha tirou a sorte grande.
Sorrio para o Trev.
— Valeu, cara.
Tiro todas as coisas de Kiara da caminhonete e coloco para dentro de
casa antes de seguir para a farmácia mais próxima.
Meu pai me deu esse carro quando eu fiz dezesseis anos. Ele me
contou que era o carro que usava na faculdade e ele o havia guardado para
mim. O modelo é um pouco antigo, se comparado com as caminhonetes que
temos hoje em dia, mas eu adoro. Mesmo que pudesse ter outro carro, acho
que continuaria com esse só pela memória afetiva.
Estaciono a caminhonete no estacionamento da farmácia e adentro o
estabelecimento indo direto na sessão de bebês. Eu não faço ideia de que
fórmula comprar, então leio todos os rótulos até encontrar a que eu acredito
ser a mais adequada. Preciso de um pediatra e rápido. Não é preciso ser um
gênio para antecipar que se Kiara não vai ter acesso ao leite materno, então
preciso encontrar outras fontes de vitaminas e nutrientes para que ela não
fique doente. Aproveito que estou na farmácia e compro quatro mamadeiras,
três chupetas, fraldas, babadores e o que mais eu for encontrando e que a
minha inexperiência julga necessário para um bebê recém-nascido.
Quando tomo meu lugar atrás do volante para voltar para casa, meu
celular começa a tocar. O nome da minha mãe brilha na tela e as minhas
mãos tremem um pouco pelo nervosismo em atender. O que vou dizer a ela?
Como vou começar a explicar? Será que essa notícia não deveria ser dada
pessoalmente? Porra, mas como vou chegar na casa dela de repente, com um
bebê, e dizer: “Oi, mãe. Essa aqui é sua neta. Legal né?”
Meu Deus, Sophie Harley Mackenzie vai ter um colapso nervoso. Eu
a conheço bem.
Por enquanto, ignoro tudo isso e atendo à ligação. Eu havia
prometido ao meu pai que não os deixaria muito tempo sem notícias minhas.
— Oi, mãe.
— Oi, meu amor — ela me cumprimenta de volta. Eu praticamente
consigo senti-la sorrindo do outro lado da linha. — Como você está?
Eu nem saberia por onde começar a responder essa pergunta.
— Bem — minto, tentando ser o mais convincente possível. Por que
ainda estou mentindo para ela? — E você?
— Estou bem também.
— Colin, querido, você precisa vir visitar a sua mãe! — A voz da Tia
Sav preenche os meus ouvidos.
— É assim que as coisas funcionam, não avisaram vocês? — Tia
Eretria diz logo em seguida. — Nós criamos os filhos para eles nos
abandonarem na primeira oportunidade.
Eu dou uma risadinha.
Às vezes, quando vejo minha mãe junto com as amigas que conheceu
na faculdade, eu me pergunto se Grace, John, Aaron, Trevor e até mesmo
Luca, com quem não tenho tanto contato, farão parte da minha vida quando
eu estiver mais velho. Me pergunto se seremos nós, futuramente, reclamando
que nossos filhos não nos dão a atenção que queremos deles.
— Meu Deus, quanto drama — eu brinco, dando risada.
— E eles ainda têm a audácia de tirar sarro da nossa cara — Tia
Eretria se indigna. — Esse seu filho está muito abusado, Soph.
Escuto minha mãe dar uma risadinha.
— Tia Sav, pode deixar que eu vou visitar assim que tiver uma
folguinha nos treinos. Tia Tria, só queria falar que os meus dias não são os
mesmos sem ter você pra jogar as coisas na minha cara.
A Tia Sav dá risada.
— Eu te falei, amiga, você joga as coisas na cara das pessoas.
É impressionante como consigo distinguir bem cada uma delas. Isso
só reafirma o quanto elas, junto com a Tia Ronnie, a Tia Bree, a Tia Kait e a
Tia Brooke estiveram presentes enquanto eu crescia.
— Abusado — resmunga a Tia Tria, mas eu sei que ela está sorrindo.
— Eu preciso desligar, vou começar a dirigir, mas eu estou morrendo
de saudade de todas vocês. Especialmente de você, mãe. Prometo que vou
para casa em breve.
— Tudo bem, querido. Dirija com cuidado, ok? Também estou
morrendo de saudade — ela diz, e percebo que sua voz fica um pouco
embargada. Merda. Eu realmente preciso ir para casa vê-la. — Eu te amo,
Colin.
A culpa pesa no meu peito.
— Eu também te amo, mãe. Mais do que você imagina.
Antes mesmo de entrar dentro de casa, eu já consigo escutar o choro
agudo de Kiara. Quando adentro a sala, encontro a minha filha no colo de
Grace, com o rosto todo vermelho de tanto chorar, e um Trevor
completamente desesperado, claramente sem saber o que fazer para ajudar.
— Ai, Colin, ainda bem que você chegou — diz Grace, aliviada. —
Eu acho que ela está morrendo de fome. Pensei que pudesse ser a fralda suja,
mas ela está limpinha. Tentei balançar ela no meu colo, mas não está dando
certo. Só pode ser fome.
— Vou preparar a fórmula — eu digo, correndo para a cozinha.
Sigo as instruções da embalagem, porque nunca fiz isso na vida, e
coloco tudo na mamadeira, depois de lavar com água quente, para esterilizar.
De jeito nenhum eu deixaria a minha filha colocar a boca em uma coisa que
estava exposta para todo mundo mexer.
Pego Kiara do colo de Grace, me sento no sofá da sala e tento ajeitá-
la da melhor forma possível nos meus braços. Ofereço a mamadeira, mas ela
rejeita, virando o rostinho para longe do bico. Tento de novo, mas ela
continua rejeitando enquanto chora tão desesperadamente que me deixa
agoniado. Se ela está com fome, então por que não está comendo?
— Por que ela não quer? — eu pergunto, confuso. Olho para Grace e
Trevor como se eles pudessem me oferecer uma resposta. No fundo, eu sei
que eles são tão inexperientes quanto eu quando o assunto são bebês.
— Eu não sei — Grace responde, também perdida.
Tento mais algumas vezes, mas Kiara parece estar ficando mais
irritada do que qualquer outra coisa. Não entendo o porquê.
— Cara, você precisa de ajuda. A Universidade de Paradise tem um
hospital não muito longe daqui. Podemos ir até lá e você tenta conseguir
ajuda com alguém — Trevor sugere.
— Acho que não custa nada tentar.
O que não te contam sobre sair de casa com um bebê é que parece
que você está de mudança. São tantas coisas para levar, pois o bebê pode
acabar precisando de algo no meio do caminho, que se não fosse Grace e
Trevor para me ajudar nesse momento, eu provavelmente teria esquecido
uma dúzia de coisas.
Trevor vai dirigindo a minha caminhonete enquanto Grace e eu
vamos no banco de trás com Kiara. Minha amiga tenta me ajudar a controlar
a minha filha inquieta, mas nada parece estar funcionando hoje. Kiara está
histérica, chorando e gritando como se nós a estivéssemos machucando. Meu
Deus, eu devo estar fazendo alguma coisa muito errada. Por sorte, Trevor
não mentiu quando disse que o hospital era perto. Eu saio do carro com uma
Kiara esperneando e entro na recepção tão perdido quanto se é possível estar
na minha situação.
Enquanto tento acalmar a minha filha, Grace e Trevor explicam para
a recepcionista o que aconteceu. Nós somos orientados a seguir para o
elevador e subir até o segundo andar, onde fica o pronto atendimento da
pediatria. Assim que pisamos no andar, os gritos do choro da Kiara parecem
preencher todos os cômodos, porque três enfermeiras aparecem, procurando
a fonte do choro.
— Por favor, me ajudem — eu peço, angustiado de ver a minha filha
chorando desse jeito.
— Qual é o problema? — a enfermeira da direita pergunta. Ela é
negra e seu cabelo em tranças está preso em um coque alto no topo da
cabeça.
— Ela está recusando a mamadeira e não consigo fazê-la parar de
chorar — eu respondo, falando rapidamente.
As enfermeiras se entreolham.
— Ela é muito pequenininha para mamadeira — observa a
enfermeira da esquerda, uma loira que deve estar na casa dos cinquenta anos.
— Mamar no peito não é uma opção quando a mãe abandona a
própria filha — eu retruco, rancoroso e irritado. Respiro fundo logo depois,
tentando me acalmar. Ser rude não vai adiantar nada. — Desculpa, não quis
ser grosseiro, mas eu estou desesperado.
— Por favor, senhor, me acompanhe — a enfermeira da direita pede,
docemente.
Eu confirmo com a cabeça.
— Nós vamos te esperar aqui — Grace me avisa.
Sigo a enfermeira até uma sala no final de um corredor. Ela pede que
eu me sente e aguarde um momento, pois a médica logo irá aparecer.
Enquanto isso, eu continuo tentando fazer a Kiara se acalmar, mas parece
que só consigo deixá-la ainda mais irritada.
— Shhhh, princesa, por favor, me ajuda — eu converso com Kiara,
falando baixinho. Não sei se ela consegue me ouvir por cima do choro, mas
falar alto não vai ajudar. — Shhh, não chora.
Ficar sentado não está ajudando também, então eu me levanto e
começo a andar em círculos pela sala, tentando fazer Kiara parar de chorar.
Nada funciona.
— Tente colocá-la mais perto do seu rosto — uma voz feminina
invade a sala, fazendo com que eu me vire abruptamente em direção à porta.
Uma garota ruiva está parada junto ao batente, olhando para mim
com olhos solícitos e um sorriso tranquilo. Ela deve ter notado que eu estou
completamente transtornado, pois se aproxima com cautela, olhando para
Kiara antes de olhar para mim.
— Posso? — ela pergunta, estendendo os braços como se quisesse
pegar a minha filha.
Mas ao contrário do que eu estava pensando, a garota não pega Kiara
dos meus braços, ela só ajeita a minha filha no meu colo, de forma que o
rostinho de Kiara agora está mais perto do meu; como se ela estivesse
sentada no meu antebraço e não deitada nele. Automaticamente, Kiara
aconchega o rosto perto da curva do meu pescoço. A garota segura o meu
pulso e leva a minha mão livre até as costas de Kiara. Devagar, ela
movimenta a minha mão para cima e para baixo em um carinho lento pelas
costas da minha filha. Aos poucos, Kiara para de gritar, embora ainda esteja
chorando.
— Sentir o seu cheiro pode ajudar ela a relaxar — a garota me
explica, a voz suave e melódica como quem fala com uma criança. — E
quando a balançar nos seus braços, não faça isso rápido. Balance ela com
movimentos calmos.
— Obrigado — respondo, realmente agradecido.
Ela sorri.
— Não por isso.
— Você trabalha aqui? — pergunto, tentando entender exatamente de
onde foi que ela surgiu.
— Ainda não, estou só fazendo uma visita. Eu sou aluna do curso
preparatório de medicina da Universidade de Paradise. Fui transferida para
cá recentemente e queria dar uma olhada no hospital onde possivelmente
vou fazer minha residência, quando chegar a hora — ela me explica, olhando
para Kiara com um sorriso. — Eu a escutei chorando e achei que você estava
precisando de uma mãozinha.
— Você não faz ideia.
— Bom, acho que está tudo sob controle por aqui agora.
Quando ela começa a se afastar, eu entro em desespero de novo. E se
Kiara começar a espernear? E se eu fizer alguma coisa errada?
— Espera — eu peço, minha voz saindo com urgência. — Você pode
ficar mais um pouco, por favor? Eu... eu não sei o que estou fazendo.
Não gosto de admitir que estou fracassando, mas não é sendo
orgulhoso que vou conseguir ajudar a minha filha.
A garota olha rapidamente no seu relógio de pulso, porque com
certeza deve ter outro lugar onde ela precisa estar.
— Por favor — eu insisto. — Eu prometo que deixo você ir quando a
médica chegar.
— Eu acho que posso ficar mais alguns minutinhos. — Ela volta a
sorrir e se aproximar. — Qual o nome dela?
— Kiara.
A garota ergue os olhos na minha direção por um instante e me
encara, e depois volta a olhar para a minha filha. A desconhecida abre um
pequeno sorriso para mim.
— É um nome muito bonito.
Eu sorrio de volta.
É, realmente é um nome muito bonito.
— Obrigado.
— Se me permite perguntar... Por que você a trouxe? Ela está
doente?
Sei que provavelmente vou precisar repetir essa história muitas
vezes. A história da mãe que abandona a própria filha com apenas três
semanas de vida. No entanto, a garota na minha frente tem os olhos verdes
mais solícitos que já vi. Ela tem uma energia que emana tranquilidade e
Kiara está muito mais calma desde que ela apareceu. Vou escolher
interpretar isso como um bom sinal.
— Ela está recusando a mamadeira com a fórmula que eu comprei —
eu explico, frustrado e confuso. — E eu sei que ela não deveria estar
tomando mamadeira, mas... vamos apenas dizer que a mãe dela não faz mais
parte da nossa vida.
A garota balança a cabeça. Se ela se surpreendeu com o que eu disse,
conseguiu disfarçar bem.
— Entendo. Sinto muito por isso.
— Eu também.
Uma mulher adentra a sala logo em seguida.
— Boa tarde — a médica cumprimenta. — Me perdoe pela demora.
— Sem problemas, doutora.
— Bom, acho que você está em boas mãos agora — diz a garota.
— Obrigado pela ajuda.
Ela me dá um curto aceno de cabeça junto com o mesmo sorriso
meigo. Quando estou prestes a virar para a médica para iniciar a consulta,
me lembro que não fiz uma pergunta importante à garota.
— Ei, você não me disse o seu nome.
A ruiva para na soleira da porta e olha para mim. Seu rosto é
tranquilo quando me encara. Ela tem sardinhas despontando pelas maçãs do
rosto e pelo nariz, o que dá um charme especial ao seu sorriso.
— Casey. Meu nome é Casey.
Capítulo 02

Você nunca sabe quando vai conhecer alguém


E todo o seu mundo, muda de uma hora pra outra completamente
| Daughtry – Start Of Something Good

O HGP — Hospital Geral de Paradise — é bem maior do que eu


estava esperando e consequentemente leva mais tempo para ver tudo o que
eu quero ver. Ainda falta alguns anos para que eu realmente possa começar a
trabalhar como interna, mas a minha ansiedade me consome. Eu quero ser
médica desde que me entendo por gente. Talvez tenha algo a ver com o
acidente que matou a minha mãe quando eu era muito pequena. Eu não
lembro de muita coisa, mas me lembro dos paramédicos tentando reanimá-
la, ainda na cena do acidente. Acho que aquela imagem ficou gravada na
minha cabeça e automaticamente me fez acreditar que, se eu pudesse ser
médica naquele instante, talvez poderia ter salvado a vida da minha mãe.
Não foi o que aconteceu, no entanto.
E por cerca de dois anos, foi apenas meu pai e eu. Até que ele
conheceu outra mulher. Georgina. Ele está casado com ela até hoje. É uma
pena que a vida não se tornou mais fácil depois que ela chegou. Para ser
sincera, eu me sentia dentro de uma das várias novas versões de A
Cinderela. A diferença é que meu pai não havia morrido para me deixar com
a madrasta malvada. Ele apenas não enxergava, e ainda não enxerga até hoje,
o quanto ela era manipuladora.
Quando saí da casa do meu pai — da casa deles — logo após
terminar o colegial, dois anos atrás, eu praticamente me livrei de Georgina,
embora não tenha me livrado totalmente da irmã postiça que esse casamento
me trouxe.
Enquanto caminho pelos corredores do hospital, indo em direção ao
centro cirúrgico, para poder conhecer as instalações, estico meus músculos
cansados, tentando me livrar da tensão que sinto nos ombros. Sinto que meu
corpo inteiro está exausto, devido as últimas noites mal dormidas. O
desgaste é arrasador.
Puxo meu celular de dentro do bolso e verifico se tenho alguma
chamada perdida ou mensagem de texto que não tenha lido ainda. Minha
querida “irmã” já deveria ter me ligado, mas eu deveria saber que ela nunca
compre o que promete. Não sei como ainda me surpreendo.
Dobro a esquina do corredor, já sentindo o alívio tomar conta de
mim, pois o centro cirúrgico é a última ala que tenho para visitar hoje.
Depois disso, posso finalmente voltar para o meu dormitório e dormir pelo
restante do dia. Mas então vejo o garoto que conheci mais cedo sentado em
uma cadeira no corredor, com Kiara em seu colo, que parece dormir
tranquilamente. Eu deveria seguir o meu caminho e deixar que ele continue
fazendo seja lá o que ainda estiver fazendo aqui, mas a minha vontade de
saber se Kiara está bem, é maior. O que eu posso dizer? Eu sou uma futura
médica. Saber do bem-estar das pessoas é o meu trabalho.
Devagar, eu me aproximo.
— Olá de novo — eu o comprimento, falando baixo para não correr
o risco de Kiara acordar. Alguns bebês têm o sono muito leve,
principalmente quando são tão pequenos.
Ele ergue a cabeça na minha direção e é tangível o seu cansaço. Está
estampado por todo o seu rosto, mas ele ainda encontra uma forma de abrir
um sorriso, como se estivesse feliz em me ver.
— E aí — o garoto me cumprimenta, também falando baixo. — O
que ainda está fazendo aqui?
Acho graça da sua pergunta.
— Estou visitando o hospital, lembra? Qual é a sua desculpa?
— Kiara finalmente conseguiu dormir. Eu fiquei com medo de
colocá-la na cadeirinha do carro e ela acordar. Não sei se aguento ouvir ela
chorar por horas consecutivas de novo. — Ele respira fundo. — Eu não
tenho ideia do que estou fazendo.
Sorrio em solidariedade e me sento na cadeira ao lado da dele.
— Não se cobre tanto. É normal se sentir perdido quando se é pai ou
mãe de primeira viagem. Ainda mais se estiver fazendo tudo sozinho. Você
está dando o melhor de si nesse momento. É exaustivo no começo, mas você
vai pegar o jeito.
Ele olha rapidamente para a filha e dá um sorriso sem mostrar os
dentes.
— Eu só não quero que Kiara sofra com o meu mau jeito. Já vai ser
difícil o suficiente sem a mãe por perto.
— Ela pode não saber falar ainda, mas os bebês também conversam.
Linguagem corporal, olhares, sorrisos, choro... Ela está constantemente se
comunicando com você. Eles também sentem quando são queridos,
amados... Tenho certeza de que Kiara sabe que você está se esforçando. —
Dou um sorriso para encorajá-lo. — Tente ficar calmo. As suas emoções
influenciam as dela. Se você estiver nervoso, ansioso ou tenso, ela vai sentir.
Kiara solta um resmungo baixinho e se aconchega melhor nos braços
do pai, buscando mais conforto.
Ela é lindíssima. O pouco cabelo que possui é loiro e, pelo que pude
ver mais cedo, seus olhos são verdes. Como os do pai.
— Obrigado — ele agradece em um sussurro. — Você foi a única
pessoa que conseguiu me acalmar.
— Ora, não há de quê. Fico feliz em ajudar. — Olho rapidamente
para o relógio pendurado na parede do corredor. — Preciso ir. Tenho mais
uma ala para conhecer hoje.
— Foi um prazer te conhecer, Casey. Meu nome é Colin, a propósito.
Sorrio.
— O prazer foi meu, Colin. — Eu me levanto da cadeira. — Boa
noite.
— Boa noite.
Sigo para o centro cirúrgico, mas não sem antes dar uma olhadinha
por cima do meu ombro para ter um último vislumbre de Colin e Kiara.
Eu não sou ninguém de manhã sem uma grande, imensa,
monumental, estratosférica xícara de café. Na verdade, desde que eu
realmente comecei a me dedicar a estudar para ser médica, o café tem me
acompanhado fielmente em todas as minhas longas sessões de estudo — o
que me rendeu ser a melhor aluna da classe; tanto na escola como agora na
faculdade. Em todos os momentos do dia, eu só consigo pensar: Mmm, um
cafezinho agora seria perfeito. Então, vocês podem imaginar o meu
completo desespero; a minha tristeza sem igual, quando eu acordo na manhã
do dia seguinte e percebo que esqueci de colocar café na minha lista de
compras.
Maldição.
Como vou começar o dia sem um cafezinho? Como vou sobreviver e
conseguir caminhar até a cafeteria mais próxima para abastecer a minha
alma com a bebida milagrosa?
Suspiro, sentindo pena de mim mesma.
Mesmo sem o meu combustível diário, eu tomo um banho rápido, me
visto e estou prestes a sair do meu dormitório para procurar a cafeteria mais
próxima quando Erin, minha colega de quarto, me chama.
— Isso aqui chegou para você hoje de manhã. Estava na recepção.
Quando Erin me entrega um buquê de lírios brancos, eu fico
completamente sem reação. Ela disse que aquilo chegou para mim? Para
mim? Como? De quem? Talvez do meu pai. Talvez ele finalmente tenha
saído da bolha Georgina e se lembrado que comentei com ele que estava
pedindo transferência para a Universidade de Paradise e talvez essas flores
signifiquem que ele está me desejando boa sorte na nova jornada.
— É para mim? Tem certeza?
Ela apenas faz que sim com a cabeça.
Deixo as minhas coisas em cima da minha cama e seguro o buquê de
flores em um dos braços antes de buscar pelo cartão preso entre os lírios.
Meu coração dá pulinhos pela antecipação.
Abro o cartão, mas estranho a caligrafia.
Essa não é a letra do meu pai.

Obrigado por ser tão atenciosa comigo e com a minha filha ontem.
Não vou me esquecer da sua gentileza.

Colin
Capítulo 03

Isto poderia ser o início de algo novo


Parece tão certo
Estar aqui, com você, oh
E agora, olhando em seus olhos
Eu sinto em meu coração (sinto em meu coração)
O início de algo novo
| High School Musical – Start of Something New

Por mais que o Treinador, Trevor e o restante do time estejam sendo


compreensíveis com o meu mau desempenho no gelo desde que Kiara
nasceu, eu sei que preciso voltar a me dedicar com o mesmo afinco e
determinação de antes, nos treinos e nos jogos também. Não quero ficar no
banco a temporada toda. O problema, além de eu ter um bebê recém-nascido
sob a minha responsabilidade, é o cansaço que eu sinto por passar a noite em
claro enquanto Kiara chora. Eu ainda não consegui entender os seus choros.
Ainda não sei dizer se ela chora porque está com fome, porque está com
cólica, porque está cansada ou porque sente falta da mãe que, de um dia para
o outro, desapareceu.
Anna evaporou como se nunca tivesse existido. Nenhuma das amigas
dela soube me dizer para onde ela poderia ter ido.
Na consulta de ontem com a pediatra, quando expliquei a minha
situação, ela me disse que Kiara pode estar rejeitando a fórmula porque
simplesmente não gostou. A médica me orientou a tentar novamente e, caso
não desse certo, comprar uma nova fórmula e testar, até encontrar uma que
Kiara goste. Ela também me explicou que é importante fazer a minha filha
arrotar depois de mamar, para evitar refluxo. E depois de me dar inúmeras
instruções, a Dra. Ronson me indicou alguns livros que disse que podem me
ajudar a entender tudo o que eu preciso saber. Pretendo passar em uma
livraria hoje e comprar todos eles, aproveitando que Aurora está cuidando de
Kiara para que eu pudesse vir treinar.
A pré-temporada acabou e o primeiro jogo oficial é na semana que
vem. Se eu quero ter a chance de estar no time titular, preciso recuperar o
tempo perdido.
Assim que saio do chuveiro, depois de dar tudo de mim no treino,
escuto meu celular tocar dentro da minha mala esportiva. Nem preciso olhar
no visor para saber que provavelmente é Aurora quem está ligando. Eu estou
fora de casa há três horas. Com certeza Kiara já está dando um show a essa
altura.
Reviro minha mala atrás do celular e minhas suspeitas são
confirmadas quando vejo o nome da minha melhor amiga no visor. Atendo
depressa.
— Já estou indo para casa — eu digo rapidamente.
— Colin, ela está chorando muito. Já tentei de tudo, mas não sei o
que está errado.
Passo as mãos pelo cabelo ainda úmido pelo banho.
— Ela comeu?
— Sim. E eu a coloquei para arrotar, como você disse. Pouco tempo
depois ela começou a chorar e não parou mais.
— Eu estou indo. Aguenta aí.
Desligo o celular e visto a minha roupa depressa. Talvez Kiara esteja
com cólica. Eu ainda não descobri um jeito de aliviar as dores dela. Talvez
em algum dos livros que a médica me indicou, eu encontre a solução.
Estou saindo do rinque quando vejo um cabelo ruivo familiar.
Semicerro os olhos para ter certeza e reconheço Casey sentada em um dos
bancos na frente do Centro Esportivo. Ela se levanta depressa quando me vê,
o que me faz entender que ela estava esperando por mim.
Casey tem uma beleza singular. Talvez seja o cabelo ruivo natural e
as sardinhas embaixo dos olhos, considerando que os ruivos representam de
1% a 2% da população mundial. Ela tem olhos verdes, lábios finos e um
corpo que a sociedade considera como Mid-Size. Sei dessas coisas porque
fui criado com Kenna e Charlie, que são super antenadas nessas coisas de
empoderamento feminino. Quando eu tinha dezessete anos, elas juntaram
Noah, Sebastian, Finn, Adam e eu para nos dar uma aula sobre a importância
do feminismo, a diferença dos corpos das mulheres e qual a forma correta de
se falar sobre eles.
Devagar, eu me aproximo de Casey, que continua parada em frente
ao banco onde estava sentada. Ela mexe nas mãos como se tentasse conter o
nervosismo ou a inquietação.
— Oi — eu a cumprimento, um pouco surpreso por vê-la. — Estava
me esperando?
— Estava sim. — Ela sorri, sem graça.
— Está tudo bem? — Essa é a primeira coisa que penso em
perguntar, porque eu não faço a menor ideia do porquê ela poderia estar aqui
esperando por mim.
— Você me mandou flores — ela responde, embora não esteja
respondendo à minha pergunta.
Pisco, confuso.
Ah! Isso.
— Mandei. — Franzo o cenho. — Você não gostou?
— Não... Quer dizer, sim — ela se atrapalha. — Sim, eu gostei,
mas... como você descobriu o meu endereço?
A pergunta me pega de surpresa e, por alguns segundos, eu fico em
silêncio. Merda, acho que ela está pensando que eu sou um perseguidor.
— Você me disse o seu nome, eu fiz umas perguntas aqui e ali e
consegui a informação — digo, tentando soar o mais casual possível para
que ela não pense que eu sou completamente louco. — O fato de você ser
ruiva também te distingue muito da maioria das pessoas. Não foi tão difícil.
Como atleta, onde quase todas as pessoas da universidade — da
cidade, pelo amor de Deus — sabem o meu nome, não é difícil conseguir
uma informação se você sabe para quem perguntar. Mas Casey não precisa
saber disso. A última coisa que eu quero é assustá-la.
— Desculpe se fui invasivo demais, não foi a minha intenção. E eu
prometo que não sou nenhum stalker.
Ela dá uma risadinha.
— Se você fosse um, iria admitir isso para mim? — ela me desafia,
erguendo a sobrancelha.
Touché.
— Ok, você me pegou. Mas, em minha defesa, eu sou muito
confiável. Você pode perguntar para quem quiser no campus, se quiser ter
certeza.
— Talvez eu faça isso — ela brinca de volta.
Nós sorrimos um para o outro.
Não sei se Casey tem a mesma percepção que eu, mas não consigo
me lembrar da última vez que tive uma interação tão natural com alguém
desconhecido. Talvez seja o jeito tranquilo dela que me deixa à vontade para
quebrar o gelo.
— Olha, eu agradeço pelas flores, Colin, mas eu acabei de chegar na
cidade e tem tanta coisa acontecendo na minha vida agora… Me envolver
com alguém não faz parte do plano.
Sorrio porque noto que suas bochechas estão vermelhas. Ela tem uma
mistura de firmeza e fofura que é bastante encantador, se estou sendo
honesto.
— Casey, eu não mandei as flores com o intuito de flertar com você.
Eu estava completamente atordoado ontem. Você não tem ideia do dia que
eu tive. Da semana que eu tive, na verdade. Eu mandei as flores porque
queria agradecer a sua gentileza. Eu estava desesperado e você teve a
sensibilidade de me ajudar sem nem me conhecer, simplesmente porque
percebeu que eu precisava.
— Ah — ela diz, envergonhada ao se dar conta de que interpretou a
situação de maneira errada. — Sinto muito, eu não deveria ter presumido
nada.
— Tudo bem. Você é uma garota bonita, então é normal que pense
que eu estava flertando com você.
Ela pisca. Se eu achei que ela estava vermelha antes, agora Casey
está parecendo um tomate.
Dou uma risadinha.
— Desculpa, não queria te deixar sem graça.
Ela balança a cabeça, desviando o olhar do meu e encarando os
próprios pés por alguns instantes antes de erguer a cabeça mais uma vez e
me olhar nos olhos.
— Tudo bem. Eu agradeço pelas flores. São lindas.
Sorrio.
— De nada. Fico feliz que você tenha gostado.
Ela sorri também.
— Como está a Kiara?
— Eu acho que ela está sofrendo um pouco com as cólicas. Ou pelo
menos eu acho que é por causa disso que ela chora muito durante a noite. —
Suspiro. — Ainda estou tentando entender o que ela tenta me dizer. Minha
melhor amiga está cuidando dela para mim agora, mas acabou de me ligar
para dizer que a Kiara está chorando sem parar.
Casey fica em silêncio por um momento.
— Acho que sei de uma coisa que pode ajudar a Kiara com as
cólicas.
— Qualquer ajuda que você puder me oferecer é mais do que bem-
vinda.
— Primeiro, precisamos ir em uma loja de departamento.
— Eu estou de carro — eu anuncio. — Você está livre agora?
Casey olha para o seu relógio de pulso.
— Tenho algumas horas.
— Então vamos.
Guio Casey até o meu carro e tenho um momento de nostalgia
quando a vejo pulando para dentro da caminhonete. Meu pai sempre gostou
de carros grandes e altos, o que sempre deixou a minha mãe irritada porque
ela sempre reclama que precisa saltar para dentro e para fora dos carros dele.
Então ver Casey executar a mesma ação de pular para dentro
automaticamente me faz sorrir.
— Você não vem? — ela me pergunta, me olhando de forma curiosa,
já que ainda estou parado do lado de fora do carro. — Se está pensando em
como vai me manter sua prisioneira, preciso te alertar agora que eu sou faixa
marrom em karatê.
Eu gargalho, jogando a cabeça para trás.
— Relaxa, eu não vou fazer nada que justifique você usar as suas
habilidades comigo. Eu sou um cara confiável, lembra?
Casey dá de ombros.
— É você quem está dizendo, eu não fiz a minha pesquisa pelo
campus ainda — ela rebate, brincalhona.
— Mas entrou no meu carro, então isso deve significar alguma coisa.
Ela sorri.
— Touché.
Abro a porta rapidamente e entro, tomando meu lugar atrás do
volante. Nós colocamos o cinto de segurança e Casey vai me indicando o
caminho até a loja de departamento que ela julga como a melhor para
compras de coisas para bebês.
Deixo o som ligado na rádio em um volume confortável para
preencher o silêncio do carro. Penso se devo puxar assunto com ela ou se ela
vai se sentir desconfortável de novo por pensar que eu posso estar dando em
cima dela. Nós, atletas, temos essa fama de achar que o mundo está aos
nossos pés. Bom, não é uma fama não justificada, porque muita coisa é
facilitada para nós, por sermos considerados “importantes”, não só para o
time da faculdade, mas para a sociedade de forma geral. As pessoas
valorizam muito seus esportes preferidos, ainda mais em uma cidade
pequena como Paradise.
Eu diria que sou arrogante o suficiente para saber que sou um cara
gostoso, mas humilde o suficiente para saber que isso não faz de mim um
deus grego.
Quando chegamos na loja de departamento, Casey me guia direto
para a sessão de bebês. Seus olhos verdes vasculham as prateleiras atrás de
algo em específico e noto a forma como seu rosto se ilumina quando ela
encontra o que estava procurando.
— Aqui — ela anuncia, pegando um macacãozinho marrom com um
cinto no formato da cara de um urso, bem na região da barriga.
Franzo o cenho, confuso.
— Isso é o que vai ajudar a Kiara com as cólicas? Um macacão de
urso?
Casey dá uma risadinha.
— Não, não. Isso não é só um macacão. É uma bolsa térmica. Tem
uma bolsa térmica na região da barriguinha do bebê, está vendo? — ela me
explica, mostrando a tal bolsa térmica para mim, que é justamente o tal cinto
que eu estava achando esquisito. — Compressas de água morna costumam
ajudar os bebês que têm cólicas.
Não consigo esconder a minha surpresa. Faz sentido.
— Acho que vou ter que comprar outro buquê de flores para você.
Dessa vez para agradecer pela sua orientação.
Casey nega com a cabeça; os olhos arregalados.
— Não se atreva.
Sorrio.
— Você tem algum problema contra flores?
— É claro que não. Eu adoro flores, mas não tem a menor
necessidade de você ficar comprando-as para mim.
Dou de ombros.
— Tudo bem, então. O que mais você acha que eu preciso comprar
para ela?
Casey acha melhor que eu pegue um carrinho, então faço o que ela
pede. Vou guiando o carrinho pelos corredores enquanto ela joga dentro dele
tudo o que acha importante. Muitas coisas Trevor e eu já havíamos
comprado quando Anna ainda estava grávida, mas outras eu não sabia que
eram importantes, então presto atenção nas orientações de Casey.
Nós passamos tudo no caixa e eu carrego o carro com as compras o
mais rápido que consigo, querendo chegar em casa logo para cuidar de
Kiara, pois a essa altura, eu acho que Aurora já deve estar enlouquecendo, se
perguntando onde foi que eu me enfiei e por que ainda não cheguei em casa.
— Seria muito ruim da minha parte se eu te pedisse para ir até a
minha casa me ajudar com a Kiara? — pergunto para Casey. — Eu não
quero ultrapassar os limites ou abusar da sua boa-vontade, eu juro, mas...
Porra, eu estou desesperado e você parece entender mais de bebês do que
qualquer outra pessoa que eu conheço.
Casey dá uma risadinha.
— Eu posso fazer isso, mas preciso estar de volta no dormitório antes
das oito. Pode ser? Quero estudar um pouco antes de dormir.
— Claro, sem problemas. — Sorrio. — É tempo o suficiente.
Nós voltamos para dentro do carro, e eu sigo para casa.
Já do lado de fora, quando estaciono o carro na entrada da garagem, é
possível ouvir os gritos estridentes de Kiara do lado de dentro da casa.
Começo a pensar que talvez eu precise me mudar, alugar um apartamento
pequeno em algum lugar perto do campus para não atrapalhar o sono da
Grace e dos caras. Por mais que eles queiram me ajudar com Kiara, não
posso ficar atrapalhando suas noites de sono. Uma pessoa e um bebê sem
dormir já é difícil o suficiente.
— Droga — reclamo, angustiado ao notar o desespero no choro da
minha filha.
Deixo as compras dentro do carro, pegando apenas o macacão com a
bolsa térmica, e entro em casa. Aurora está em pé na sala, andando de um
lado para o outro com uma Kiara super agitada nos braços. Noto o alívio
tangível no rosto da minha melhor amiga quando ela me vê entrando em
casa. É quase como se Aurora fosse um viajante do deserto e tivesse acabado
de avistar um oásis.
— Graças a Deus você chegou! Onde é que você estava, caramba?
— ela quer saber, em uma mistura de alívio e irritação. — Eu tentei de tudo
para fazê-la parar de chorar, mas está impossível.
— Me dá ela aqui — eu peço, estendendo meus braços.
Aurora coloca Kiara no meu colo. O rosto da minha filha está todo
vermelho por conta do choro, o que deixa meu coração apertado.
— Posso preparar a bolsa de água quente? — Casey me pergunta, e
eu faço que sim com a cabeça. Ela pega o macacão da minha mão e olha na
direção de Aurora. — Oi. Eu sou a Casey.
— Aurora — minha melhor amiga devolve a apresentação, dando um
sorriso amigável. — Prazer em te conhecer.
— O prazer é todo meu.
Com um sorriso, Casey sai da sala e adentra a cozinha, depois de eu
indicar para ela onde fica. Nesse interim, Aurora olha na minha direção com
seus expressivos olhos castanhos escuros. A pergunta que permeia o seu
olhar é bem clara: ela quer saber de onde foi que Casey surgiu e por que,
como minha melhor amiga, ela não soube da existência de Casey antes.
— Não é o que você está pensando — eu digo para a minha amiga,
tomando o cuidado de falar baixo para que Casey não consiga nos ouvir da
cozinha.
— Então me explique para que eu deixe de pensar o que estou
pensando — ela devolve, curiosa como sempre.
Aurora puxou essa característica do Tio Friends. Enquanto a Tia Bree
não vê problema em ser a última a saber de uma fofoca, o Tio Friends parece
ser abastecido por elas. Aurora é igual a ele nesse departamento.
— Ela está no curso preparatório de medicina e me ajudou com a
Kiara ontem, quando eu fui até o hospital procurando ajuda. Ela entende
bastante sobre bebês.
Aurora semicerra os olhos na minha direção, desconfiada, mas não
fala mais nada, porque ela claramente percebe que tenho algo mais
importante para lidar no momento.
Balanço Kiara enquanto caminho de um lado para o outro na sala,
tentando acalmá-la. A seguro em um dos braços e, com a mão do outro, faço
massagem na sua barriguinha, imaginando que, se ela já comeu, já arrotou,
não está suja de xixi e nem de coco, então ela só pode estar com cólicas. É o
que resta entre as opções que conheço.
O choro perde um pouco da intensidade, mas não cessa por
completo.
Casey aparece logo em seguida e pede que eu coloque Kiara deitada
em cima do sofá. Eu obedeço.
— Está sentindo a temperatura? — Casey pergunta ao colocar a parte
com a bolsa térmica do macacão na parte interna do meu braço. — Sempre
teste a temperatura nessa região do braço, onde a pele é mais fina e mais
sensível, então você saberá se não vai queimar a Kiara. Seja a bolsa de água
quente ou o leite na mamadeira. Você sempre testa a temperatura antes.
Eu confirmo com a cabeça, anotando essa informação na mente.
— Certo. Ok.
Com cuidado, Casey veste Kiara com o macacão de urso,
acomodando a bolsa térmica bem em cima da barriguinha da minha filha.
— Converse com ela — Casey me instrui. — Ouvir a sua voz pode
acalmá-la. Fale baixo e mantenha uma cadência na voz.
Eu me ajoelho em frente ao sofá, ficando pertinho do rostinho de
Kiara. Ela ainda chora, mas não está mais gritando, o que vou considerar um
progresso. Com o dedo indicador, faço carinho em seu rostinho, sentindo sua
pele macia. Bebês são tão macios e gordinhos. É difícil resistir. Eu poderia
ficar fazendo carinho nela o dia todo.
— Oi, pequena — eu falo baixinho com a minha filha. — É o papai
quem está falando. Está tudo bem, amor. A dor vai passar daqui a pouco, eu
prometo. Você não precisa chorar assim.
Demora mais alguns minutos, mas Kiara vai se acalmando aos
poucos. O choro se torna um resmungo até parar por completo. Ela pega no
sono em seguida, deixando que a casa seja envolvida em um silêncio
reparador.
Aurora joga o corpo em cima da poltrona, exausta.
Cuidar de um bebê é muito mais cansativo do que eu imaginava. Eu
sabia que seria complicado, que Kiara acordaria durante a noite muitas vezes
e por causa disso, eu estaria cansado na maior parte do tempo, mas eu
definitivamente não imaginei que seria tão difícil assim. Sinto como se as
minhas energias tivessem sido drenadas de mim.
— Isso foi incrível. Simplesmente incrível — diz Aurora, aliviada.
— Foi mesmo — concordo. — Obrigado, Casey. De novo.
Casey abre aquele sorriso tranquilo de quem está feliz em poder ter
ajudado. Acho que o que ela disse sobre a Kiara sentir se eu fico tenso ou
ansioso ou nervoso é verdade mesmo, porque Casey transmite uma energia
completamente oposta a tudo isso, o que faz com que eu me sinta calmo
perto dela. Parece que Kiara compartilha da mesma opinião que eu.
— Não precisa agradecer. Fico feliz em ajudar. — Ela mantém o
sorriso no rosto. — Ah, não deixe a água esfriar completamente. A água
gelada contra a barriguinha dela pode ter o efeito contrário ao que estamos
buscando.
— Certo. Tirar o macacãozinho antes que a água fique fria — eu
repito a instrução, gravando na cabeça.
— É isso aí. Você vai pegar o jeito rapidinho, tenho certeza.
— Obrigado. — Sorrio. — Você está com fome? Posso preparar
alguma coisa para nós comermos, como agradecimento pela sua ajuda, já
que você expressamente me proibiu de mandar mais flores.
Casey ri.
E de canto de olho percebo Aurora olhando para mim. Há poucos
minutos eu disse para ela que Casey estava apenas me ajudando com Kiara,
mas acho que mencionar as flores não vai convencer a minha amiga de que
eu estava falando a verdade.
Merda, eu vou ser questionado sobre isso depois, tenho certeza.
— Você é sempre assim? — Casey indaga.
Franzo o cenho.
— Assim como?
— Com essa vibe de príncipe encantado em um cavalo branco. Quer
dizer, eu não conheço nenhum homem da nossa idade que realmente mande
flores.
Eu dou de ombros.
— Você não tem conhecido homens que sabem o que estão fazendo,
então.
Ela acha graça.
— Vejo que a presunção é de fato um traço característico dos homens
bonitos.
— Ah, você não faz ideia — Aurora resmunga, fazendo uma careta.
— Bom, o meu papel aqui foi cumprido. — Ela se levanta da poltrona onde
estava sentada. — Me liga se você precisar de alguma coisa, ok?
Assinto.
— Obrigado, Rory. De verdade.
— De nada.
— Foi um prazer te conhecer, Aurora — Casey diz, simpática.
— O prazer foi meu. Apareça mais vezes.
Casey balança a cabeça em anuência. Segundos depois, Aurora já se
mandou. Ela não sabe ser nem um pouco discreta. Também puxou essa
característica do Tio Friends.
— Então... você me acha bonito? — pergunto, retomando o assunto,
porque não consigo manter a boca fechada. É mais forte do que eu, ao que
parece.
— Você não se acha bonito? — ela retruca, mantendo seus olhos
presos aos meus.
— Eu me acho bonito, sim, mas essa não foi a pergunta que eu fiz.
Casey dá uma risadinha.
— Você é um cara bonito, Colin. Não precisa de ninguém para
reafirmar isso para você.
— Mas é bom ouvir de vez em quando.
Ela revira os olhos, achando graça.
— Respondendo à sua primeira pergunta: sim, eu estou com fome.
— Ótimo. Tem alguma coisa que você não come ou que é alérgica?
— pergunto antes de começar a pensar em alguma coisa para nós comermos.
Com uma tia vegana e uma melhor amiga alérgica a frutos do mar, eu
aprendi desde criança a sempre fazer essa pergunta para as pessoas.
Casey nega com a cabeça.
— Você gosta de comida chinesa?
Ela arqueia uma sobrancelha e olha para mim de uma maneira
divertida.
— Gosto. Você sabe fazer comida chinesa?
— É claro que não. Eu vou ligar para um restaurante e fazer o pedido
— respondo, puxando meu celular do bolso da calça.
Casey dá risada.
— Foi o que eu pensei.
— Eu não gosto desse seu tom de descrença nas minhas habilidades
— brinco, porque me dou conta de gosto da dinâmica de provocação que
criamos sem nem nos darmos conta.
Casey dá de ombros, despreocupada.
— Cozinhe comida chinesa para nós, e eu não vou mais desacreditar.
Que tal?
Balanço a cabeça, achando graça.
— Espertinha.
Faço o pedido enquanto Casey mantém os olhos em Kiara, que
dorme tranquilamente.
Finalmente!
Com cuidado, tiro a bolsa de água quente da barriga de Kiara, para
que a água não fique fria, como Casey orientou, e então levo minha filha
para o meu quarto e a coloco no berço. Trago a babá eletrônica comigo de
volta para a sala, para o caso de Kiara acordar. Me sento ao lado de Casey no
sofá enquanto esperamos a comida chegar. Só agora me dou conta do quanto
realmente estou com fome. Eu nem sequer me lembro quando foi a última
vez que eu comi.
— Então, você disse que veio para cá transferida... De onde você
veio?
— De Washington.
— Você nasceu lá? — pergunto.
Casey assente.
— Você é daqui? — ela me pergunta.
Nego.
— Nasci na Carolina do Norte. Raleigh, para ser mais específico.
— Sempre que eu penso na Carolina do Norte, eu penso em Nicholas
Sparks.
Franzo o cenho.
— Quem?
Casey olha para mim como se de repente eu tivesse três cabeças.
— Você não sabe quem é Nicholas Sparks?
— Eu deveria?
Ela balança a cabeça, cética.
— Ele é um escritor de livros de romance e vários dos livros dele se
tornaram adaptações. Você nunca ouviu falar do filme “Diário de Uma
Paixão” ou “Um amor para recordar” ou “Querido John”?
— Ah! Já ouvi falar, mas nunca assisti.
Casey continua olhando para mim como se eu fosse um ser de outro
planeta.
— Precisamos mudar isso, meu caro.
— Ok, eu topo essa imersão. — Sorrio para ela. — Mas antes, por
que Paradise? De todos os lugares para onde você poderia ter ido, por que
aqui?
— Eu posso te fazer a mesma pergunta.
Dou risada. Ela é boa em rebater tudo o que eu falo.
— Eu vim pelo hóquei. Paradise tem um dos melhores programas de
hóquei do país — respondo. — Sua vez.
— Minha irmã precisa de mim. — Ela dá de ombros. — Então aqui
estou eu.
— Sua irmã está bem?
Casey leva mais do que poucos segundos para responder, o que acaba
sendo uma resposta de qualquer maneira. E antes que eu possa dizer para ela
que está tudo bem, que ela não precisa me contar qual é o problema, Aaron,
Trevor e Luca entram pela porta da sala, barulhentos como de costume —
quer dizer, Trevor e Aaron são barulhentos. Se tem uma coisa que Luca
Capone não é, é barulhento.
— Merda — Aaron arregala os olhos quando me vê no sofá com
Casey. — Foi mal, cara. A gente não queria interromper.
— Não estão interrompendo nada, relaxa. Galera, essa é a Casey.
Casey, esses são Trevor, Aaron e Luca.
— É um prazer conhecer vocês.
— O prazer é nosso — Trevor diz, educado. — Cadê a minha filha
postiça?
— Está dormindo — respondo. — E seria maravilhoso se vocês
mantivessem o volume baixo. Seria melhor ainda se vocês decidissem imitar
o Luca e ficarem de boca fechada.
Recebo uma encarada de desgosto de Luca, mas ignoro.
— Filha postiça? — Casey pergunta, confusa. — Kiara?
— É uma loooooonga história — comenta Aaron, sentando-se na
poltrona onde Aurora estava sentada até pouco tempo atrás.
— Resumindo: por nove meses, Colin e eu não sabíamos quem era o
pai da Kiara, já que a mãe dela decidiu fazer das nossas vidas um verdadeiro
inferno. Ela achou que a Kiara era minha filha, mas ela estava errada. Só que
eu acabei me apegando ao bebê e me considero metade pai da Kie.
— Ah — exclama Casey, com os olhos levemente arregalados. —
Puxa, que coisa... confusa.
— Você não faz nem ideia — eu digo, cansado só de me lembrar da
tortura que foi não saber quem era o verdadeiro pai da Kiara. — O que vocês
estão fazendo aqui agora? — pergunto aos meus amigos.
— Vamos patinar — responde Trevor. — Grace disse que Antonella
queria aprender a patinar no gelo, então eu e o Luca vão levar as duas.
Demoro alguns segundos para entender.
— Tipo um encontro duplo? — sugiro.
Trevor abre a boca para responder, mas, por incrível que pareça,
Luca é mais rápido ao dizer:
— Não.
E isso é tudo o que ele diz. Trevor, por outro lado, tenta esconder um
sorriso ao pressionar os lábios.
— Bom, nós já estamos indo. Só viemos dar uma carona para o
Aaron e eu estava na esperança de ver a Kie, mas posso voltar outra hora —
diz Trevor, depois de olhar rapidamente para mim e Casey. Eles ainda acham
que estão atrapalhando alguma coisa.
— Ah, é, e eu tenho que fazer umas coisas no meu quarto. Prometo
que não vou fazer barulho — Aaron diz, levantando-se da poltrona. — Foi
legal te conhecer, Casey.
— Legal te conhecer também.
Aaron desaparece escada acima enquanto Luca e Trevor saem de
fininho pela porta.
Casey ri.
— Seus amigos não são discretos — ela pontua.
— Realmente não é uma das qualidades deles, não. — Rio, sem
graça. — Sinto muito por isso.
— Tudo bem.
— Quer assistir um dos filmes do tal do Nicholas Sparks enquanto
esperamos pela comida?
Casey me encara por longos segundos.
— Por que você está me olhando como se pudesse ver a minha alma?
— pergunto, curioso.
— Ainda estou decidindo se você é mesmo confiável.
— Besteira! Você já decidiu isso ou não estaria aqui comigo.
Ela sorri, e eu sei que estou certo. Nenhuma garota permaneceria
perto de um cara se achasse que corre perigo, principalmente se o que ela
disse sobre ser faixa marrom no karatê for verdade. E na minha opinião,
todas as mulheres deveriam ter aulas de autodefesa ou qualquer coisa do
tipo. Infelizmente, esse é o mundo que vivemos e todo o cuidado é sempre
pouco.
Eu vou garantir que Kiara saiba como se proteger.
— Vamos começar com “Um amor para recordar” — anuncia Casey,
mudando completamente de assunto.
— Preciso providenciar uma caixa de lencinhos para quando você
começar a chorar?
— Por favor.
É, eu imaginei.
Capítulo 04

Você nunca sabe o que você vai sentir, oh


Você nunca vê chegando e de repente é real
Ah, nunca sequer cruzou a minha mente, não
Que eu acabaria estando aqui esta noite
Todas as coisas mudam
Quando você menos espera
Ninguém sabe o que o futuro vai fazer
Eu nunca sequer notei
Que você esteve aqui esse tempo todo
Eu não consigo tirar meus olhos de você
Eu sei que você se sente da mesma forma também, sim
| High School Musical – I Can’t Take My Eyes Off Of You

Dizer que eu choro com “Um amor para recordar” é um eufemismo


tremendo. Não importa quantas vezes eu assista esse filme, eu sempre vou
chorar como se fosse a primeira vez. Colin se emocionou com o final, mas
não sei dizer se ele realmente chorou, pois a luz da sala estava apagada. Mas
eu definitivamente ouvir ele fungar.
Depois da sessão choro, eu ainda não estava com vontade de voltar
para o meu dormitório, mesmo que eu tenha dito que gostaria de estudar um
pouco antes de dormir. Acho que uma noite de folga não vai comprometer a
minha vida acadêmica, principalmente porque eu venho estudando como
louca há anos para ter a chance de passar no curso de medicina e seguir o
meu sonho de me tornar médica.
Para deixar as lágrimas para trás, Colin e eu concordamos que um
filme de comédia seria a melhor escolha.
Foi difícil decidirmos qual filme assistir. Eu queria um dos clássicos
com Adam Sandler e Drew Barrymore. Eu simplesmente amo os dois juntos
fazendo filmes. Mas Colin queria assistir algo novo. Depois de quase vinte
minutos debatendo, decidimos assistir à um filme de comédia estilo besteirol
chamado The Wrong Missy. O filme acabou virando um romance no final,
mas, meu Deus do céu, a protagonista feminina é completamente
ensandecida. Tipo, completamente doida mesmo. Confesso que não sou
muito fã de filmes besteirol, mas desse eu gostei e realmente dei risada. Eu
nunca vi uma protagonista tão completamente fora de si. E ela ainda era
totalmente fanfiqueira, enxergando um romance onde, na verdade, não
existia nada.
Gente como a gente, sabe?
A comida chegou um pouco antes da metade do primeiro filme, o
que foi perfeito pois eu adoro comer alguma coisa enquanto estou assistindo
algo. E Colin provavelmente é da mesma opinião que eu, pois na metade do
segundo filme, ele pausou e foi fazer um balde de pipoca.
— Você já teve um encontro assim? — pergunto, depois que o
segundo filme acaba. — Com uma garota completamente doida?
Colin dá risada.
— Uma vez, quando eu estava na escola. Ela não chegava a ser louca
como a Missy do filme, mas depois de um encontro, ela achou que eu iria
pedi-la em casamento, porque, na cabeça dela, nós tínhamos nascido para
ficar um com o outro.
— Em defesa da garota, eu vou dizer que você tem essa vibe de
príncipe encantado. Ela pode ter se confundido com o seu comportamento e
interpretado a situação de uma maneira equivocada.
Colin franze o cenho sem entender.
— Como assim?
— Você me deu flores depois de conversar comigo por… o quê? Dez
minutos?
— Foi um agradecimento — ele se defende.
— Eu sei, mas se eu fosse o tipo de garota que se apaixona fácil, eu
estaria em perigo agora, por sua causa.
Eu não sei exatamente o porquê, mas Colin sorri.
— Que tipo de garota você é?
— Do tipo que sabe que se apaixonar por um cara como você é um
pedido expresso para dor de cabeça e coração partido.
Dramático, Colin leva a mão ao peito e age como se eu o tivesse
apunhalado.
— Você me magoa desse jeito, Case. Qual é o problema de se
apaixonar por caras como eu?
Olho bem para o rosto dele. Colin é um cara bonito. Não, me
desculpe, bonito não é o adjetivo correto. Ele é deslumbrante. Com as
covinhas despontando em suas bochechas, o cabelo castanho médio com
alguns fios caindo sobre a sua testa, os profundos olhos verdes e o físico
impecável por conta do esporte, ele compõe uma aparência difícil de ignorar.
Mas essa não é a parte mais perigosa sobre Colin. Diferente de muitos
homens que sabem que são bonitos, Colin é doce, educado e atencioso.
Posso estar redondamente enganada, mas não parece ser do tipo que gosta de
brincar com os sentimentos alheios. Ele certamente tem seus defeitos, como
todo mundo, mas as qualidades parecem ser muitas.
— Vocês são difíceis de esquecer e superar.
— Parece que você fala por experiência própria.
Dou de ombros.
— Acho que todo mundo já teve uma experiência amorosa que deu
errado e machucou. Faz parte.
Colin fica pensativo por um momento.
— Eu nunca me apaixonei — ele conta, automaticamente. — Nunca
tive nada sério com nenhuma garota. Não porque eu não quis ou porque fujo
de relacionamento por preferir algo casual. Eu simplesmente não conheci
ninguém que fizesse meu coração disparar. Meus pais têm um casamento
incrível. Eles têm os problemas deles como todo o casal, mas eles se amam
profundamente. Se conheceram na faculdade e estão juntos desde então. Se
eu for me apaixonar, eu quero algo assim também.
Concordo com a cabeça.
— Devo imaginar então que a Kiara foi um acidente.
Colin ri sem humor.
— Eu não me arrependo de tê-la. Não mesmo. Eu amo a minha filha,
mas se pudesse escolher, teria esperado e com certeza não iria querer que
fosse com a mulher que é a mãe da Kie. — Ele balança a cabeça. — Eu
sabia que ela não era a garota mais legal do mundo, mas não imaginei que
ela simplesmente fosse abandonar a própria filha. — Colin suspira, cansado.
— Mas não quero ficar aqui falando mal dela. Ela fez o que achou que era
certo e, em algum momento, vai ter que arcar com as consequências dessa
escolha. Eu só não quero ter nada a ver com aquela mulher. Nunca mais.
Concordo com a cabeça. Pelo desespero de Colin quando o encontrei
no hospital, com Kiara chorando a plenos pulmões, eu sei que está sendo
mais do que apenas difícil para ele. Um filho fora de hora, apesar de ainda
ser uma benção, é uma dor de cabeça, ainda mais quando se faz tudo sozinho
porque o outro não assumiu nenhuma responsabilidade.
Eu admiro muito cada mulher e cada homem que atua em ambos os
papéis para seus filhos.
— Você está fazendo um bom trabalho, Colin.
— Às vezes eu acredito nisso e às vezes acho que eu não poderia
estar mais errado.
Sorrio, complacente.
— Eu acho que, quando se tem um filho, é normal pensar isso. Tenho
certeza de que você não é o único.
Ele sorri de volta para mim.
— Obrigado. Você parece sempre saber a coisa certa para dizer.
— É um dom, eu acho.
O silêncio que recai no ambiente depois disso é ensurdecedor. Colin
mantém os olhos nos meus, me estudando como se quisesse conhecer todas
as sardinhas presentes nas maçãs do meu rosto e sobre o nariz. Muito bonito
para ser seguro permanecer sozinha com ele em um ambiente com meia luz.
— Eu acho que eu deveria ir agora — eu digo, e detesto que a minha
voz tenha soado fraca.
Colin pisca. Só então me dou conta de que havíamos nos inclinado
um pouco na direção um do outro.
Eu me levanto do sofá depressa. E, no susto, Colin faz a mesma
coisa.
— Eu levo você.
— Não precisa.
— Eu faço questão — ele insiste. — Por favor, Casey.
Estou começando a achar que vou me arrepender disso. E
provavelmente de outras coisas também.
— E a Kiara?
— Aaron está em casa. Vou pedir para ele ficar de olho nela para
mim. Quando eu voltar, vou ter que acordá-la para a próxima mamadeira,
então posso aproveitar mais alguns minutinhos de tranquilidade.
— Tá bom. Obrigada.
Colin vai até o andar de cima para pedir que seu amigo fique de olho
em Kiara e volta para a sala vestindo um moletom azul escuro e um boné
virado para trás.
Eu devo considerar que ele está fazendo isso de propósito? Para me
sacanear? Como pode ser que ele está ainda mais bonito do que segundos
atrás? Quer dizer, é apenas um moletom e um boné, pelo amor de Deus.
— Pronta? — Ele roda as chaves do carro no dedo indicador.
— Pronta.
A caminhonete de Colin é tão ridiculamente alta que eu preciso
literalmente pular para o lado de dentro. Ele dá uma risadinha enquanto eu
me ajeito no banco do passageiro.
— Do que você está rindo? Você não podia ter arrumado um carro
um pouco mais baixo? Para que não seja absolutamente vergonhoso para as
outras pessoas tentarem entrar nele?
Colin ri mais ainda.
— Era do meu pai. A minha mãe também sempre reclamou da altura.
Ela não é uma mulher muito alta. Acho que é mais baixa que você, inclusive.
— Coitada da sua mãe. Ela devia gostar muito do seu pai, se
precisava escalar o carro dele para conseguir entrar.
Ele continua rindo, com as covinhas aparecendo nas suas bochechas.
— Eu acho que você está certa.
No momento que Colin liga o carro, uma música, que parece ser do
estilo trap, começa a tocar. Eu acho que a maioria dos caras nesse país
escuta esse tipo de música. E mesmo sendo no meu idioma, eu não consigo
entender cem por cento do que eles dizem. É tanta gíria que fica difícil
entender a mensagem da música, embora todo mundo saiba que as letras
falam, em sua maioria, de mulheres, sexo e drogas.
Nós mantemos um silêncio confortável. Acho que Colin realmente
está apreciando os últimos momentos de tranquilidade, já que não está tendo
e nem vai ter muito disso nos próximos meses. Leva um tempinho até o bebê
deixar de chorar tanto e os pais desvendarem todas as formas que eles usam
para comunicar o que querem e o que estão sentindo.
Vou orientando Colin sobre qual caminho ele deve seguir, e quando
ele para o carro atrás do prédio do meu dormitório, uma sensação de
conforto pela noite que tivemos se assenta no meu peito.
— Obrigada pela comida e pela sessão cinema. Eu me diverti muito e
acho que posso de fato atestar que você é confiável.
Ele dá uma risadinha.
— Finalmente! — brinco. — Obrigado pela ajuda e pela companhia.
Eu também me diverti.
Eu sorrio.
— De nada.
Ah Deus, eu vou me arrepender disso, eu tenho absoluta certeza. No
entanto, não consigo realmente me convencer a não fazer o que estou prestes
a fazer. Meu bom senso claramente não está cooperando comigo essa noite.
— Me dê o seu celular — eu peço.
Colin franze o cenho por um instante, mas puxa o celular do bolso da
calça, o desbloqueia e o entrega para mim. Movo meus dedos rapidamente
sobre a tela, colocando meu nome e o número do meu telefone, antes de
entregar o celular de volta para ele.
— Esse é o número do meu telefone. Me ligue se precisar de ajuda.
Eu não costumo fazer isso, mas... você realmente precisa.
Colin olha para a tela do celular, depois olha para mim como se não
soubesse o que dizer ou como agradecer.
— Vou ter que te mandar flores mesmo — brinca.
Semicerro os olhos na direção dele.
— Tá bom, mas se certifique de que sejam rosas e tenham espinhos,
para que quando eu jogar elas em você, você aprenda na dor.
Colin gargalha.
— Que violenta!
Eu sorrio para ele.
Não sei como aderimos essa dinâmica tão depressa, já que hoje de
manhã ele ainda era um completo estranho para mim. Quer dizer, ele
continua sendo um estranho, mas não parece ser. É tão esquisito como
podemos nos conectar com pessoas em questão de horas e sentir como se já
nos conhecêssemos há muito tempo.
Na minha opinião, os melhores relacionamentos, sejam eles
românticos ou de amizade, começam assim.
— Boa noite, Colin.
Ele sorri de volta para mim.
— Boa noite, Casey.
Capítulo 05

É como se eles quisessem que eu fosse perfeito


Quando eles nem sabem que eu estou sofrendo
Porque a vida não é fácil
Não sou feito de aço
Não esqueça que sou humano
Não esqueça que sou real
| Justin Bieber – I’ll Show You

Kiara está chorando a plenos pulmões quando eu chego em casa.


Aaron está andando de um lado para o outro da sala, com a minha filha no
colo, completamente desesperado. Os olhos arregalados e o pavor estão
totalmente presentes no seu rosto quando eu abro a porta e olho para ele.
Eu corro para socorrê-lo.
— Eu tentei fazer ela parar de chorar, mas nada funcionou. Eu não
quis arriscar dar uma mamadeira e fazer alguma coisa errada. Eu nunca
alimentei um bebê antes.
— Tudo bem, cara — digo, pegando Kiara do colo dele e passando
ela para os meus braços. — Obrigado por cuidar dela para mim.
Adentro a cozinha com Kiara nos braços e faço malabarismo para
preparar a mamadeira dela usando apenas uma mão. Esquento a fórmula no
micro-ondas e consigo derramar um pouquinho de leite na parte interna do
meu braço, como Casey me ensinou. Está um pouco quente demais, então
espero alguns minutos antes de testar a temperatura de novo.
— Calma, princesa — converso com Kiara, tentando acalmá-la e
tentando eu mesmo não ficar ansioso ou estressado com o choro dela. Me
lembro que Casey disse que ela consegue sentir as minhas emoções. Se eu
ficar calmo, talvez ela se acalme também. — Papai já vai te dar a
mamadeira.
Quando o leite esfria o suficiente para não queimar Kiara, eu volto
para a sala, me posiciono no sofá e ofereço a mamadeira para a minha filha.
Kiara prende o bico entre os lábios e suga o alimento com determinação.
Pela quantidade inédita de horas que dormiu, era de se esperar que estivesse
faminta.
Depois da mamadeira, coloco Kiara para arrotar antes de dar uma
olhada na fralda e ver se ela precisa de uma nova. E precisa, sim. Então,
decido que é melhor dar um banho nela. Essa foi uma das primeiras coisas
que tentei aprender. Assisti inúmeros vídeos no Youtube para aprender a
maneira correta de dar banho em um bebê recém-nascido. Tem todo um jeito
de segurar, para tomar cuidado principalmente com a cabeça e o pescoço. Eu
ainda não sou muito bom nessa parte, mas estou pegando o jeito. Kiara bate
os bracinhos, espirrando água para todos os lados, mas eu nem consigo ficar
irritado com a bagunça que ela faz, porque só consigo achá-la a coisa mais
fofa que existe.
De banho tomado, alimentada e quentinha, Kiara se aconchega no
meu colo e pega no sono depois de quase uma hora. O cansaço também
começa a tomar conta de mim, mas eu ainda preciso revisar algumas
matérias e finalizar as lições de casa que preciso entregar amanhã. Graças a
Deus que é tudo online e tenho até meia noite do dia seguinte para isso. No
entanto, sei que se deixar para depois, meu cansaço vai ser tamanho que eu
nem vou conseguir raciocinar. Então, coloco Kiara no berço, que fica ao lado
da minha cama, rezando para que ela não acorde quando perceber que não
está mais nos meus braços.
Por sorte, ela permanece dormindo.
Antes que eu sequer tenha a chance de ligar meu computador para
começar a estudar, meu celular toca. Eu o alcanço tão depressa, para que o
toque não acorde Kiara, que o aparelho quase sai voando.
— Porra — resmungo, atendendo a ligação sem nem ver quem é. —
Alô?
— Colin, sou eu — diz Aurora.
— Oi, Rory, o que foi? — pergunto ao sair do quarto, morrendo de
medo que até o meu sussurro possa acordar Kiara.
— Eu estava na esperança de que nós poderíamos conversar hoje,
mas você apareceu acompanhado e eu não tive a chance de falar.
— Falar o quê? Está tudo bem?
Aurora é minha melhor amiga desde sempre e sei que quando ela
quer ter uma conversa sobre alguma coisa, ela não sossega enquanto não
falar. Estou realmente surpreso que ela tenha conseguido esperar horas para
poder me ligar para conversar.
— Enquanto eu estava tomando conta da Kiara hoje, finalmente
me dei conta de que você ainda não contou para os seus pais sobre ela,
contou?
Suspiro.
— Não, ainda não contei.
— É isso o que eu não estou entendendo. Por que diabos você ainda
não falou nada?
— Não sei como contar. Eu estou aterrorizado com a ideia de contar
para eles que engravidei uma garota e que o bebê já até nasceu. Eles nem
vão ter tempo de se preparar para o acontecimento, porque o acontecimento
já está aqui.
Esse é o problema com mentiras. Quando você começa, fica difícil
demais parar no meio do caminho e contar a verdade. Tudo bem que eu não
estou necessariamente mentindo, estou omitindo. Mas o princípio é meio que
o mesmo, certo?
— Eu sei que você sabe que não dá para continuar morando aí com a
Kiara. Vai levar um tempo até que ela deixe de chorar à noite.
— Eu sei.
— Você tem que falar com os seus pais. Eles têm o direito de saber,
Colin, e vão poder te ajudar também. Você não precisa passar por isso
sozinho, sabe? A família existe, entre outras coisas, para nos apoiar.
Confirmo com a cabeça, mesmo que Aurora não possa ver. Já está
mais do que na hora de eu contar para os meus pais. Enquanto eu estava
esperando para ter certeza de que o bebê era mesmo meu, havia uma
justificativa para o meu silêncio, mas agora? Acho que eu só estou sendo
covarde porque não quero sentir que meus pais estão decepcionados comigo,
porque eu nunca poderia encontrar arrependimento no meu coração por
Kiara existir.
Mesmo que inicialmente eles fiquem chocados e assustados,
pensando o que vai ser da minha vida sendo pai solo tão cedo, sei que os
dois vão se apaixonar perdidamente pela Kiara antes mesmo de vê-la.
— Eu vou contar para eles.
Quase consigo sentir Aurora assentindo.
— Você não tem que ter medo de nada, Colin. Nossa família é uma
das melhores que existe e todos vão receber a Kiara da melhor maneira
possível. E eu sei que, no fundo, você sabe disso também.
Sorrio.
— Você está certa. Obrigada, Rory, por tudo. Não sei o que eu faria
sem você aqui.
— Ah, eu sou a melhor de todas, eu sei disso. — Ela dá uma
risadinha, toda convencida de si mesma. — Tente descansar um pouco, ok?
Cada vez que vejo você, parece que o cansaço te dominou mais.
Concordo com a cabeça.
— Eu vou, pode deixar.
Depois que Aurora desliga e antes de finalmente começar a estudar,
decido que preciso mesmo conversar com os meus pais. Eu claramente
preciso de ajuda, e mesmo que Casey tenha oferecido a dela, não posso
sobrecarregá-la com isso. Nós mal nos conhecemos, e ela tem a própria
rotina com a faculdade, tem a própria vida. Não é certo acrescentar esse peso
nela só porque ela se dispôs a me ajudar.
Eu me sento no corredor, ao lado da porta do meu quarto, não
querendo me afastar muito, para o caso da minha filha acordar chorando de
repente, e então faço uma ligação. Mas não é para os meus pais que eu ligo.
Não ainda.
— Colin? — A voz do Tio Babyface ecoa nos meus ouvidos. Ele
parece quase assustado por estar recebendo uma ligação minha. Imagino que
não posso culpá-lo por isso. Eu mesmo não me lembro da última vez que
liguei para ele.
— Oi, tio. Eu preciso da sua ajuda.
Há um momento de silêncio do outro lado da linha. É quase como se
meu tio conseguisse antecipar que eu estou prestes a despejar uma bomba no
seu colo.
— Eu tenho um mal pressentimento em relação a isso — meu tio
responde, e consigo sentir pelo seu tom de voz que ele está preocupado.
Enquanto eu crescia, desenvolvi um relacionamento incrível com
todos os amigos do meu pai, tanto é que eles são realmente como se fossem
meus tios de sangue, embora não sejam. No entanto, embora tenhamos uma
relação próxima e muito boa, eu dificilmente ligo para eles, então não é
estranho que ele esteja preocupado com o motivo que me fez finalmente
ligar.
— Eu engravidei uma garota — conto de uma vez. Não é da reação
dele que preciso ter medo.
— Puta que pariu, Colin! — tio Babyface exclama.
— O bebê já nasceu, inclusive — acrescento. Talvez seja inteligente
dar a notícia em doses homeopáticas para prevenir um ataque cardíaco. — É
uma menina.
— Jesus Cristo! E com essa ligação eu posso deduzir que os seus
pais não sabem disso ainda, certo?
— Eu estava tentando decidir como exatamente vou contar isso para
eles.
— A pergunta é: por que caralhos você ainda não contou, garoto? —
ele indaga, confuso. — Se o bebê até nasceu, você já teve mais do que tempo
suficiente para juntar coragem e contar a eles o que está acontecendo!
— Porque eu não tinha certeza se o bebê era mesmo meu. Tivemos
que esperar minha filha nascer para fazer o teste de DNA. Eu só descobri
que realmente sou pai há alguns dias. Não queria jogar uma bomba dessas
nos meus pais sem ter absoluta certeza e, quando descobri, fiquei apavorado
com a reação deles.
Escuto meu tio respirar fundo do outro lado da linha.
— Eu sei que tenho que contar para eles, mas eu queria falar com
você primeiro para me acalmar um pouco, afinal de contas você já esteve no
meu lugar, quando a Tia Sav engravidou do Noah na faculdade.
— Você disse que não tinha certeza se o bebê era seu, o que me faz
pensar que a mãe da criança não é a sua namorada.
Nesse caso, graças a Deus que Anna não é minha namorada. Ser
apaixonado por uma mulher como ela provavelmente acabaria com a minha
sanidade.
— Agora vem a pior parte, eu acho... A garota se mandou, tio. Ela
não quis saber da nossa filha, simplesmente reuniu todas as coisas da bebê e
a entregou para mim antes de desaparecer de Paradise.
— Você está brincando.
Dou uma risada sem humor.
— Não.
— Meu Deus! — Meu tio esvazia os pulmões em uma longa lufada
de ar, demonstrando a sua perplexidade. Eu posso só começar a imaginar
como a minha mãe vai reagir quando souber dessa parte da história. —
Como você está se virando?
— Estou exausto — confesso. — Tenho ficado no banco a maior
parte do tempo porque não consigo dar o meu melhor no gelo, já que quase
não me aguento de pé, e preciso urgentemente me mudar. Não dá para ficar
aqui com um bebê recém-nascido que chora a noite toda. A Grace e os caras
precisam descansar e eles não podem ficar morrendo pelos cantos por minha
causa. Não é justo.
— Colin, eu sei que está tudo um caos agora, mas vai passar. Vai
melhorar. Os primeiros meses são difíceis e vão ser ainda mais difíceis para
você e para a bebê sem a mãe por perto, mas vai melhorar. Ligue para os
seus pais, converse com eles. Eu acho que você sabe tão bem quanto eu que,
mesmo que eles fiquem chocados e irritados de início, eles vão te ajudar e te
apoiar no que você precisar.
Solto a respiração.
— Não quero decepcioná-los, eu acho. Eles me criaram para ser
responsável e lá estava eu, transando sem camisinha com uma garota que
nem era a minha namorada — digo, sentindo pena de mim mesmo. — Eu
praticamente consigo ouvir a voz do meu pai na minha cabeça, me
lembrando da importância de usar camisinha. Ele vai ficar uma fera.
— Vai — confirma o meu tio, não ajudando nem um pouco, mas,
afinal, eu não liguei para ele para que ele me tranquilizasse com mentiras. —
Mas isso também vai passar. Eles não vão te amar menos por isso, Colin, e
eu sei que você também sabe disso, só está com medo, o que é totalmente
compreensível.
Meu tio está certo. Eu sei que meus pais não vão me amar menos,
mas acho que essa é uma das notícias mais difíceis de dar, principalmente
quando você nem sequer está em um relacionamento.
— Obrigado, tio. Você não me disse nada que eu já não soubesse,
mas foi bom conversar com você mesmo assim. — Sorrio. — Fala para a tia
Sav que eu mandei um oi e dá um beijo na Harmony por mim.
— Farei isso — ele promete. — Depois que falar com os seus pais,
mande uma foto da sua filha. Estou ansioso para conhecer a mais nova
integrante da insanidade que nós chamamos de família.
Eu dou risada.
— Pode deixar, tio. Obrigado por tudo. Amo você.
— Eu também amo você, garoto.
Logo após desligar o telefone, dou uma checada na babá eletrônica
para ter certeza de que Kiara continua dormindo. Por um milagre, ela nem
sequer se moveu desde a última vez que olhei. Então, respiro fundo e faço o
que eu acredito ser a ligação mais difícil da minha vida. Minha mãe atende
no terceiro toque, quase como se ela mantivesse o celular sempre por perto,
esperando por uma ligação minha, o que só aumenta a minha culpa por tê-la
deixado no escuro com relação a tudo isso por tanto tempo.
— Oi, querido — ela me cumprimenta calorosamente, como sempre,
e consigo sentir o sorriso na sua voz. — Que bom que você ligou. Eu estava
agora mesmo pensando em você.
Sorrio. Meu Deus, eu sinto muito a falta dela. Do meu pai também, é
claro. Acho que nunca fiquei tanto tempo sem vê-los. Não é a toa que a
minha mãe está chateada com o meu sumiço.
— Oi, mãe — falo baixo, com medo de que Kiara acorde no meio
dessa conversa. — Você está ocupada?
— Não, meu amor. Nunca estou ocupada para você. O que foi?
— O meu pai está aí? Eu queria falar com vocês dois. É bem
importante.
Há um breve momento de silêncio do outro lado da linha.
— Colin, você está bem? Aconteceu alguma coisa?
— Eu estou bem, mãe, prometo. É só que eu quero falar com vocês
dois ao mesmo tempo.
De novo, minha mãe fica em silêncio por um momento, mas escuto
quando ela chama pelo meu pai. Aproveito esse tempo para respirar fundo e
reunir coragem. Eu sei que meus pais não vão me deserdar, nem nada
parecido, mas eu realmente não queria sentir que posso tê-los decepcionado
de alguma forma.
— Colin, o que foi? — meu pai pergunta alguns segundos depois. —
Está tudo bem?
Fecho os olhos e encosto a minha cabeça na parede atrás de mim.
Quando eu era pequeno e eu ou um dos meus primos nos machucávamos,
me lembro da Tia Ronnie sempre dizer que é melhor arrancar o band-aid de
uma vez só, sentir a dor de uma só vez e depois seguir em frente do que
fazer isso devagarinho e sentir dor por mais tempo. Então uso essa mesma
analogia quando dou a notícia aos meus pais.
— Eu tenho uma filha.
Não preciso que eles estejam parados na minha frente para ver a
perplexidade e a confusão estampadas em seus rostos. A forma como a
respiração deles muda do outro lado da linha me diz o suficiente.
O silêncio se estende entre nós. Eu sei que preciso elaborar a minha
declaração, preciso explicar tudo desde o começo, mas quero dar aos meus
pais o tempo que eles precisam para processar a notícia, para depois poder
explicar tudo, então continuo em silêncio, esperando que eles falem
primeiro.
— O quê? — minha mãe pergunta, e noto o tom de histeria na sua
voz.
— Você... — A voz do meu pai atinge meus ouvidos. — Você tem
uma filha? O que isso significa, Colin? Você engravidou uma garota e...
— E a bebê já nasceu, sim — eu completo por ele.
Mais um momento de silêncio paira sobre nós.
— Você só pode estar de brincadeira! — meu pai brada.
— Colin — minha mãe fala, a voz embargada. — Por que você só
está nos contanto isso agora? A bebê já nasceu e… você não nos disse nada.
Eu consigo sentir o quanto minha mãe está chateada e não acho que
seja apenas por eu ter contato que sou pai, mas por eu não ter dito nada
antes. Eu sabia que isso aconteceria, que eles ficariam chateados com a
notícia tardia, mas estou na esperança de que eles entendam o motivo de eu
não ter falado nada antes.
— Porque eu não tinha certeza se o bebê era meu. Eu não quis contar
para vocês sem ter certeza primeiro, então esperei até o bebê nascer. E ela
nasceu. Uma garotinha linda que se parece muito com você, mãe. — Respiro
fundo para manter minhas emoções sob controle. — Foi por isso que eu
fiquei tão ausente e não pude visitá-los nas férias. Eu sinto muito por não ter
dito nada antes. Sinto muito por provavelmente ter decepcionado vocês dois.
— Depois de todas as conversas que tivemos sobre a importância de
usar camisinha, você teve a irresponsabilidade de transar sem, Colin? Tudo o
que conversamos entrou em um ouvido e saiu pelo outro? — meu pai
esbraveja.
— Derek… — minha mãe tenta apaziguar. Ela normalmente não
precisa de um grande discurso para acalmar o meu pai, somente o nome
dele, nesse mesmo tom tranquilo, costuma acalmá-lo. Mas não sei se vai
funcionar dessa vez.
— Soph, não é possível que você não esteja indignada com essa
irresponsabilidade! Isso sem contar as doenças sexualmente transmissíveis!
Penso em dizer para eles que eu fiz um teste um tempo depois, para
garantir que eu continuava limpo. Não adquiri nenhuma doença sexualmente
transmissível, graças a Deus, mas não falo isso para os meus pais porque não
acho que vá ajudar nesse momento.
— Eu sei, amor, é óbvio que uma notícia como essas não era o que
eu estava esperando e, sim, é uma irresponsabilidade gigantesca, mas gritar
com ele não vai resolver ou mudar coisa alguma — diz minha mãe,
suavemente. — Colin, seu pai e eu vamos para Paradise assim que possível e
então vamos nos sentar e ter uma conversa séria sobre tudo isso. E, é claro,
eu quero conhecer a minha neta.
Não consigo evitar um sorriso, mesmo que o clima não seja dos
melhores, porque estou animado ao imaginar a minha mãe conhecendo a
minha filha, que se parece tanto com ela e carrega uma homenagem ao nome
da mãe da minha mãe também.
— Tudo bem — respondo apenas.
Eu poderia contar a eles sobre Anna ter ido embora, mas acho melhor
relevar essa parte da história quando estivermos conversando pessoalmente.
Por mais que tudo o que envolva esse assunto seja delicado, o abandono de
Anna é ainda pior.
— Nos vemos em breve, querido. Amamos você.
— Eu também amo vocês.
Minha mãe desliga o telefone sem dar chance para o meu pai dizer
qualquer outra coisa. Eu sei que ele provavelmente deve estar esbravejando
nesse exato momento, mas não tiro sua razão e entendo sua frustração, pois
realmente foram muitas e muitas conversas sobre a importância de ter uma
vida sexual segura, tanto em relação a filhos quanto à doenças. O tio
Babyface também teve a mesma conversa comigo e com meus primos,
quando chegamos na ideia de descobrir o sexo. Ele, melhor do que ninguém,
entende o que é ter um bebê fora de hora. É claro que nem ele e nem a tia
Sav se arrependem de ter tido o Noah, mas eles sempre falam que, se
pudessem escolher, teriam tido o filho em um momento menos conturbado e
com um melhor planejamento.
Fecho os olhos por um momento e volto a encostar a minha cabeça
na parede atrás de mim. O cansaço me atinge com força total.
— Ei, cara, está tudo bem? — A voz de John soa baixa ao meu lado.
E quando abro os meus olhos, vejo que meu amigo se sentou ao meu lado no
chão do corredor.
Solto um suspiro cansado.
— Acabei de contar para os meus pais sobre a Kiara.
— Caramba! E como foi?
— Não foi péssimo, mas não é como se eles estivessem pulando de
alegria agora. Mas acho que tudo vai ficar bem depois que eles se
acostumarem com a notícia.
John balança a cabeça em anuência.
— Sinto muito que tudo isso esteja acontecendo, cara. Quer dizer, a
Kie é uma gracinha e você sabe que eu a adoro, mas o lance com a Anna é
uma merda.
John foi o primeiro a dar um apelido para a Kiara. Ele nunca a chama
pelo nome. É sempre Kie. Todo mundo acabou aderindo o apelido também.
— Para ser sincero, acho que o abandono de Anna pode ter sido a
melhor coisa que aconteceu conosco. É uma merda que a minha filha vai
crescer sem a mãe e sei que vai chegar o dia em que ela vai me perguntar
sobre Anna, e vai ser horrível ter que dizer para ela que a sua própria mãe
não a quis, mas, ao mesmo tempo, considerando a pessoa horrível que Anna
é, acho que o melhor para a Kiara é crescer longe dela.
Meu amigo concorda com a cabeça.
— É, eu acho que você está certo. A pequena Kie não poderia ter um
pai melhor, no entanto. Você é um cara bom, Colin. Ela tem sorte por ter
você.
Sorrio.
John não faz o tipo sentimental, mas ele tem alguns raros momentos
em que deixa a razão um pouco de lado.
— Valeu, J. Você também é um cara bom.
Ele sorri de volta antes de se levantar do chão.
— Eu preciso urgentemente de um banho — ele comenta com uma
careta.
Só então eu reparo que John está um pouco suado e com leves
olheiras embaixo dos olhos. Parece que eu não sou o único que não tem
dormido bem por aqui, mas os motivos de John são bem diferentes dos
meus.
— Onde é que você estava? Parando para pensar agora, parece que
eu não te vejo há séculos.
John dá de ombros.
— Você sabe como é, eu tenho que dar atenção para as minhas
garotas. Não estou dormindo em casa há alguns dias.
Isso não me surpreende nem um pouco.
Dou uma risadinha enquanto balanço a cabeça de um lado para o
outro.
— Não sei como você consegue equilibrar a faculdade, o hóquei e
um fluxo de garotas interminável. Eu fico cansado só de pensar.
John me lança um sorriso cafajeste.
— Nós sempre encontramos tempo na vida para o que é importante,
meu caro amigo.
Reviro os olhos, mas não dá para dizer que discordo dele. A questão
é que as prioridades de John são bem… peculiares.
— Se você está feliz, então é isso que importa.
— Eu acho que posso dizer o mesmo para você, independentemente
de qualquer coisa.
Sim, ele está certo. Eu estou feliz. Mesmo com todo o caos e cansaço
que dominaram a minha vida, com certeza eu faria tudo de novo só para
poder olhar para Kiara mais uma vez. Não me arrependo dela. Nunca seria
capaz de me arrepender por ela.
— Tente descansar um pouco, Colin. Eu preciso de um banho, mas
posso cuidar da Kie por algumas horas enquanto você tenta dormir. Pode
ficar no meu quarto.
Dou um sorriso cansado.
— Obrigado.
John sorri para mim mais uma vez antes de seguir até a porta no final
do corredor e entrar no banheiro.
Eu me levanto do chão e sigo para o quarto de John com a babá
eletrônica, para o caso de Kiara acordar enquanto meu amigo ainda está no
banho. Eu sei que eu deveria estudar, mas meus olhos mal conseguem ficar
abertos. Talvez se eu conseguir tirar um cochilo de uma hora e meia, isso já
me ajude a focar no que preciso entregar até a meia noite de amanhã. E
talvez Kiara finalmente esteja disposta a me dar algumas horas ininterruptas
de descanso, porque ela não acorda até o momento em que eu pego no sono.
Capítulo 06

Eu me lembro de anos atrás


Alguém me disse que eu deveria ter
Cuidado quando se trata de amor, eu tive
(...)
E agora, quando tudo está feito, não há nada a dizer
Você se foi e tão sem esforço
Você ganhou, você pode ir em frente, diga a eles
Diga a eles que eu era feliz
E meu coração está partido
Todas as minhas cicatrizes estão abertas
Diga a eles que o que eu esperava seria impossível

| James Arthur – Impossible

Para o treino de hóquei de hoje à tarde, nem Aurora e nem Grace


estavam disponíveis para tomar conta de Kiara. Eu não gosto de levá-la até o
rinque, porque é frio e barulhento para um bebê tão pequeno. No final das
contas, precisei confiar na maluca das malucas para tomar conta da minha
filha. Quando eu chego em casa, Antonella está dançando pela sala com
Kiara em seu colo. Há uma música clássica tocando, o que faz sentido, já
que Antonella é bailarina. E por alguns poucos segundos, eu fico parado
junto à porta, olhando a melhor amiga de Grace dançar com a minha filha
nos braços. Antonella tem a reputação de ser a melhor bailarina de Paradise,
e agora, vendo-a dançar, entendo o porquê.
— Ela vai acabar vomitando com todas essas piruetas, Ella — eu
comento, finalmente entrando em casa e fechando a porta.
— Já faz tempo que ela comeu e não parece que Kiara está
detestando isso, então... — Antonella dá de ombros. — O ballet tem um
poder que você nunca vai compreender, Mackenzie.
Reviro os olhos, mas estou sorrindo. Não esperava encontrar Kiara
tão tranquila. Sempre que eu passo algumas horas fora de casa e alguém
precisa tomar conta dela para mim, eu sempre a encontro chorando a plenos
pulmões quando volto. Talvez Antonella e o seu ballet sejam encantadores
de bebês.
— É, tenho que admitir que ela parece estar se divertindo.
Estendo os meus braços para Antonella em um pedido silencioso
para que ela me entregue Kiara, pois quero dar um beijinho na minha filha,
mas, ao invés de fazer isso, a melhor amiga de Grace chega perto de mim e
fareja o ar ao meu redor, fazendo uma careta logo em seguida.
— Você sequer tomou banho depois do treino? — ela indaga, me
olhando com seus incisivos olhos castanhos.
Olho para mim mesmo tentando identificar o que foi que me
denunciou. Eu estou tão mal assim?
— Não. Eu estava preocupado com Kiara, então vim logo para casa.
— Santo Deus! — Antonella resmunga, se afastando de mim e
levando Kiara consigo. — Faça um favor para a sua filha e vá tomar um
banho, Colin. Eu limpei a Kie e ela está cheirosa. De jeito nenhum vou
entregá-la a você enquanto você estiver fedendo suor desse jeito. Vai logo!
Você está impregnando o ar e perturbando o nosso momento juntas.
Acho graça e não retruco. Ela está certa, eu preciso de um banho e
Kiara parece bem confortável no colo de Antonella. Eu achei que encontraria
tudo um verdadeiro caos, mas a italiana maluquinha não para de nos
surpreender.
— Tá bom. Eu já volto.
Antonella confirma com a cabeça e volta a rodopiar devagarinho pela
sala. Kiara solta um barulhinho como quem sinaliza que gosta daquilo.
Talvez ela cresça e se torne uma bailarina como Antonella.
Sorrio.
É assustador e extraordinário, ao mesmo tempo, pensar em Kiara
crescendo; pensar em quem ela vai se tornar, quais serão os sonhos dela, do
que ela vai ter medo, que tipo de criança ela vai ser, que tipo de adolescente,
que tipo de mulher, o que ela vai querer ser quando crescer… Espero que ela
não seja como Anna: uma pessoa vazia, sem compaixão ou empatia. No que
depender de mim, e sei que da minha família e amigos também, Kiara vai ser
a pessoa mais feliz e amável do mundo.
Espero, talvez tanto quanto tudo o que eu mencionei antes, que ela
tenha orgulho de mim, mesmo que eu não seja perfeito como pessoa e nem
como pai.
Afasto esses pensamentos por enquanto, pois já tenho coisas o
suficiente para me preocupar no presente. Se eu começar a pensar no futuro
também, vou ficar maluco.
Uma coisa de casa vez.
Baby steps[1], certo?
Largo a minha mala esportiva no chão do meu quarto, pego uma
muda de roupa limpa e vou para o banho. Por longos minutos, apenas deixo
a água cair sobre os meus músculos doloridos, para tentar mitigar o cansaço
e a dor das pancadas que tomei durante o treino. Eu tenho tentado recuperar
o meu jogo para poder sair do banco de reserva. Eu não pertenço ali;
pertenço no gelo, como titular, junto com os meus amigos. É onde eu quero
estar, é onde eu quero que Kiara me veja. Principalmente porque tenho o
sonho de jogar profissionalmente na NHL, assim como meu pai jogou
basquete profissionalmente na NBA.
Eu me lembro de quando minha mãe e eu íamos assisti-lo jogar. Eu
me lembro da sensação de ouvir as pessoas gritando o nome do meu pai
como se ele fosse a resposta para as suas preces. Eu me lembro da energia da
arena e de como meu pai parecia feliz quando estava na quadra, junto com o
tio Nash e os seus outros companheiros de time. Ele nasceu para fazer
aquilo, é o que a vovó Mackenzie sempre diz, e eu concordo com ela. Meu
pai está aposentado agora — porque ele se tornou velho para o jogo, embora
ainda seja bem novo, mas depois de várias lesões e muito tempo longe da
minha mãe e de mim, ele optou por parar —, mas nunca deixa de
acompanhar um jogo do Boston Celtics, seu antigo time, e ele ainda joga
com os meus tios sempre que pode.
Eu quero ter a chance de viver esse sonho também.
Depois de tomar um banho e colocar uma roupa limpa, encontro
Antonella, Kiara e Casey na sala. Eu acho que estava tão imerso em
pensamentos que nem sequer ouvi a campainha tocar. Casey e eu trocamos
mensagens nesses últimos dias e ela estava super estressada por conta de
uma prova que precisa fazer no final dessa semana. Então, em uma tentativa
de retribuir a ajuda que ela me deu com Kiara, eu perguntei se ela não queria
vir até a minha casa para nós assistirmos mais um filme com um enredo
duvidoso. Quem sabe assim ela conseguiria se distrair um pouco do que a
está preocupando.
— Oi — eu cumprimento Casey, surpreso em vê-la ali. Eu esperava
que ela fosse aparecer mais tarde. — Você chegou cedo.
— Desculpe. Nós não combinamos um horário certinho, então eu
vim assim que fiquei livre do que precisava fazer hoje.
— Não precisa se desculpar, está tudo bem. Que bom que você veio
cedo, porque aí podemos assistir mais de um filme. — Sorrio. — Você está
com fome? Quer uma água, um café… alguma coisa?
Casey abre um sorriso para mim e suas bochechas ficam um pouco
vermelhas, de modo que as sardinhas ficam ressaltadas na sua pele branca.
— Ah, você atingiu o meu ponto fraco. — Ela dá uma risadinha. —
Um café seria incrível.
— Um café, então.
Entro na cozinha e me apresso para preparar um café para Casey.
Antonella aparece logo em seguida, de braços vazios, o que me diz que ela
deve ter deixado Kiara com Casey.
— Eu estou louca ou há um clima pairando no ar? — Antonella diz
baixinho, parando do meu lado e encostando o quadril na ilha da cozinha.
— Não há clima algum. Ela é só uma amiga.
Antonella ergue uma sobrancelha perfeitamente desenhada.
— Bem, a atmosfera do ambiente mudou quando você apareceu.
Disso eu tenho certeza. Talvez a pobre Casey seja inocente e toda essa
energia que eu estou sentindo esteja vindo de você.
Reviro os olhos.
— Não delira, Antonella. Eu tenho um bebê recém-nascido para
criar. Pode acreditar que a última coisa que está se passando na minha
cabeça agora é acrescentar uma namorada à essa loucura toda.
Antonella dá de ombros.
— Se você diz… Posso ir embora ou você precisa de mim aqui para
não flertar com a pobrezinha?
— Você é completamente doida. — Dou risada. — Pode ir. Obrigado
pela ajuda. De verdade.
— Sempre que eu puder, será um prazer cuidar daquela coisinha fofa.
— Ela sorri. — Juízo, Mackenzie.
Reviro os olhos mais uma vez.
— Tchau, Reviello.
Antonella lança uma piscadela na minha direção antes de sair da
cozinha. Escuto quando ela e Casey se despedem. Logo em seguida, ouço o
barulho da porta se abrindo e se fechando, indicando que a italiana doidinha
foi embora.
Me apresso para terminar de fazer o café e volto para a sala com duas
canecas da bebida fumegante. Kiara está surpreendentemente quieta, o que
eu não sei se é um bom sinal ou um mau sinal, já que ela normalmente não é
tão quietinha assim. Talvez Antonella tenha conseguido fazer um milagre
com a sua dança.
— Aqui está — digo, oferecendo a caneca de café para Casey.
— Obrigada.
Casey segura Kiara no colo com um braço enquanto leva a caneca
com a bebida aos lábios com a mão do outro braço. Juro por Deus que escuto
um suspiro quando ela dá um gole na bebida.
— Como estão as coisas? — Casey pergunta. — Você parece um
pouco menos cansado hoje.
— Acho que estou finalmente pegando o jeito. Comecei a colocar
barulhos de ruído branco no quarto e a Kiara parece dormir melhor com eles.
E eu também contei para os meus pais sobre ela, o que automaticamente
tirou um peso das minhas costas.
Casey franze o cenho.
— Seus pais não sabiam?
Balanço a cabeça.
— Caramba! Como eles reagiram?
— Não foi tão ruim quanto eu pensava — admito. — Mas vamos ver
como vai ser pessoalmente. Eles me disseram que estão vindo para cá há
alguns dias.
Mesmo que meus pais já saibam sobre Kiara e a reação deles não
tenha sido tão ruim quanto a minha mente estava tentando me fazer
acreditar, eu estou tenso com a chegada deles em Paradise.
— Pelo visto você precisa de uma distração tanto quanto eu — diz
Casey, percebendo a minha mudança de humor.
— Acho que você está certa.
E nós iniciamos a jornada de tentar escolher que filme vamos assistir.
Considerando que Kiara está acordada, eu nem insisto para um filme de
terror, que normalmente é o que eu mais gosto de assistir. Mesmo definindo
um gênero — ação —, Casey e eu não conseguíamos chegar em um acordo
sobre qual filme assistir.
— Como pode que nós nunca concordamos em nada? — pergunto,
inconformado.
— Você só gosta dos piores filmes de ação já feitos — Casey diz,
mas pelo tom brincalhão, eu sei que ela só está tentando me provocar.
— O seu gosto é realmente duvidoso — resmungo.
Casey dá risada, jogando a cabeça para trás de forma que o cabelo
ruivo se solta do coque onde estava preso. As mechas caem sobre os seus
ombros e as bochechas ficam um pouco vermelhas por conta da risada,
ressaltando de novo as sardinhas presentes na região.
Ela é uma garota muito linda.
Ao mesmo tempo que é absurdamente discreta, seu cabelo ruivo com
certeza chama atenção em qualquer lugar. Eu mesmo acho que nunca
conheci uma ruiva natural antes dela — bom, com exceção do meu tio Ryan,
que é ruivo.
O momento descontraído acaba quando, de repente, Kiara começa a
regurgitar. Imediatamente, eu pego uma toalhinha que estava ali por perto e
começo a limpar a boca dela para evitar que Casey se suje.
— Eu não entendo por que isso está acontecendo — digo, frustrado e
preocupado. Gentilmente, tiro Kiara dos braços de Casey e dou um beijinho
na cabeça da minha filha. — Ela tem colocado a comida para fora desde
ontem.
— Você continua colocando-a para arrotar depois que ela come,
certo? — Casey pergunta.
— Sim.
— Pode ser que a Kiara tenha refluxo — supõe Casey, mas parece
que ela está falando mais consigo mesma do que comigo.
— E isso é grave? — pergunto, preocupado, olhando para a minha
filha. — O que exatamente isso significa?
— A princípio, não é grave. Você precisa monitorar para ter certeza
de que ela não vai começar a perder peso ou algo do tipo. Na verdade,
refluxo em bebês recém-nascido é algo bastante comum, por conta da
imaturidade do trato gastrointestinal — Casey explica calmamente, o que
ajuda para que eu não fique nervoso e mais preocupado com a situação. —
Pode ser também que a Kiara tenha intolerância a algum componente da
atual alimentação dela. Você pode tentar mudar a fórmula e ver se isso ajuda.
Concordo com a cabeça, mas ainda sinto meus batimentos cardíacos
acelerados. Detesto essa sensação de estar fazendo tudo errado com a minha
filha. Detesto ser tão inexperiente. Sei que não é culpa minha, sei que é
justamente vivenciando tudo isso que se adquire experiência, mas nunca
pensei que estaria passando por essa situação sem a mãe do bebê por perto,
para que possamos descobrir todas essas coisas juntos.
Fico tão imerso em pensamentos que nem me dou conta quando
Casey se aproxima e pousa a sua mão sobre a minha. Meus olhos
rapidamente encontram os dela. Há um sorriso calmo e sutil nos seus lábios
e seu olhar transmite toda a tranquilidade que parece ter desaparecido da
minha vida nos últimos tempos.
— Colin, respire — ela pede. — A Kiara está bem.
Tento deixar a preocupação de lado e estranhamente percebo que
acredito no que Casey está dizendo. Eu mal a conheço, mas ela tem essa
áurea tranquila e adorável que imediatamente me acalma. Não sei explicar,
mas sei, com certeza, que ela vai ser uma médica incrível.
— Obrigado. — Sorrio. — Mesmo que ainda seja difícil, se tornou
um pouco mais fácil desde que conheci você.
As bochechas de Casey ficam rubras no segundo seguinte.
— Desculpe, não era a minha intenção te deixar constrangida.
— Tudo bem. — Ela sorri. — Você é muito gentil, Colin.
Nós sorrimos um para o outro. Caramba, talvez Antonella esteja
mesmo certa e o clima mude quando Casey e eu estamos no mesmo cômodo,
porque eu consigo sentir a energia pairando sobre a minha pele. E talvez eu
esteja maluco, mas eu acho que ela também consegue sentir.
— Acho que já sei qual filme nós podemos assistir. — Ela quebra o
contato visual comigo e a energia é desfeita.
Pisco, tentando me concentrar depois da brusca mudança de
comportamento.
— Qual?
— Contratempo — ela fala. — Não é ação, é suspense, mas a crítica
do filme é muito boa, então acho que vale a pena a gente dar uma chance.
— Tudo bem. Deixa só eu colocar a Kie para dormir, aí podemos
assistir.
Casey concorda com a cabeça.
Levo Kiara para o meu quarto, coloco ela no berço, posiciono o seu
bichinho de pelúcia em formato de pato do lado dela, porque sei que ela
nunca dorme sem ele, e ligo os sons de ruído branco que têm ajudado
bastante. Até eu sinto que durmo melhor com eles. Fico parado ao lado do
berço de Kiara, fazendo carinho na sua barriguinha e esperando que ela
realmente dê sinal de que vai dormir. Quando os olhinhos dela começam a
ficar pesados, eu sei que é seguro eu sair do quarto, pois ela está há apenas
alguns minutinhos de adormecer. E deixo a babá eletrônica ligada, para
continuar de olho nela mesmo não estando no quarto.
Me inclino sobre o berço de Kiara e dou um beijinho de leve na sua
testinha.
— Boa noite, princesa — eu sussurro.
Me afasto do berço, saio do quarto sem fazer nenhum barulho brusco
e volto para a sala, onde Casey me espera com o filme já pronto para dar
play. Eu me sento ao seu lado no sofá e estendo minhas pernas, colocando-a
apoiadas em cima da mesa de centro. Pode ser que não seja o ideal, mas os
caras e eu fazemos isso o tempo todo, o que deixa Grace maluca, pois a
mesinha de centro é para servir de apoio para comida e não para os nossos
pés imundos. Palavras dela, não minhas. Mas eu estou muito cansado e
esticar as pernas é o paraíso para mim agora. Gracie vai me perdoar.
— Pronto? — Casey pergunta.
— Pronto.
A última coisa que eu me lembro da noite passada foi terminar de
assistir o filme com Casey e nós concordarmos que havia tempo o suficiente
para assistir mais um. O filme Contratempo que ela sugeriu foi uma escolha
muito boa, pois o enredo é realmente surpreendente. Nós dois ficamos de
queixo caído no final, mas para o segundo filme, decidimos que seria bom
assistirmos algo mais leve. Como era a minha vez de escolher, optei por um
dos clássicos, que eu amava assistir quando era criança.
Beethoven’s 4.
Eu me lembro de implorar para os meus pais me darem um cão São
Bernardo de presente de aniversário, mas os dois foram firmes em resistir às
minhas insistentes tentativas. Mesmo que nós tivéssemos uma casa grande,
um cachorro daquele tamanho requereria ainda mais espaço, cuidado e
dinheiro. Não que isso realmente fosse um problema para os meus pais, mas
eles achavam que eu não era maduro e responsável o suficiente para cuidar
de um animal. Depois, quando cresci, entendi a mensagem que eles queriam
me passar: animal não é brinquedo de criança.
Enfim... nós colocamos o filme, mas se eu permaneci acordado pelos
primeiros vinte minutos, foi muito. Não sei se Casey dormiu primeiro ou se
eu dormi primeiro, o fato é que o sol já nasceu e nós dois dormimos juntos
no sofá. Não sei se o que me acordou foi o faixo de luz do sol batendo no
meu rosto ou se foi o choro estridente de Kiara que, surpreendentemente,
dormiu praticamente a noite inteira.
Pisco os olhos depressa para me orientar e tento me levantar do sofá
para ir até Kiara, mas então me dou conta de que Casey está dormindo com o
corpo apoiado no meu. Não tem como eu me movimentar sem acordá-la,
mas também não tem como eu deixar Kiara chorando desse jeito.
— Case, acorda — eu falo baixo para não acordar ela no susto. — Já
amanheceu.
Eu a cutuco de leve até que Casey finalmente comece a se
movimentar e dar sinal de que está acordando. Quando os seus olhos verdes
encontram o meu rosto, ela se movimenta depressa para se afastar de mim.
Não sei se por estar desconfortável porque estava dormindo encostada em
mim ou se é só uma breve confusão mental porque ela acabou de acordar.
— Ah Deus! Desculpa. Eu... — Ela pisca os olhos depressa antes de
passar as mãos por eles, tentando se livrar da sonolência. — Que horas são?
— Sete horas.
Casey arregala os olhos.
— Eu preciso ir embora.
— Espera um pouquinho. Eu vou pegar a Kie no quarto rapidinho e
posso te fazer um café antes de você ir embora.
Casey olha para mim com os olhos semicerrados.
— Você está jogando com o meu ponto fraco. Eu amo um bom
cafezinho.
Eu dou risada.
— Volto já.
Subo as escadas correndo e entro no meu quarto, encontrando Kiara
aos berros. Eu vou até ela com calma, para que ela não sinta a minha
ansiedade, e a pego no colo.
— Bom dia, meu amor. Está com fome? — Eu dou um beijinho na
sua cabeça. — Vamos comer.
Quando volto para o andar de baixo, Casey já está com a mamadeira
de Kiara na mão.
— Tomei a liberdade de pegar uma na geladeira e esquentar pra
você, pra ser mais rápido — ela diz, como se precisasse justificar a ajuda que
está oferecendo. — A temperatura já está correta, eu chequei no meu pulso,
como te ensinei.
— Você é um gênio. Obrigado. — Eu sorrio para Casey e me sento
com Kiara para começar a dar a mamadeira. — Assim que ela terminar, eu
prometo que vou fazer pra você o melhor café que você já tomou na sua
vida.
Casey dá uma risadinha.
— Você esquece que eu já experimentei o seu café e não é tão bom
assim — ela diz, e não sei dizer se está brincando ou não.
Droga.
— Eu aceito o seu desafio. Se prepare porque eu vou te surpreender.
— Por favor, estou pronta para ser surpreendida.
Casey não tem ideia do quanto eu sou competitivo e o quanto eu
gosto de vencer. Mesmo que eu precise pesquisar na internet como fazer o
melhor café da história dos cafés, eu vou dar a ela exatamente o que prometi.
Kiara mama tranquilamente e mantém os olhinhos atentos no que
está acontecendo ao seu redor. Ela com certeza será uma criança curiosa.
Mesmo que esteja concentrada na sua comida, ela sempre encontra uma
forma de se manter atenta ao que está acontecendo ao redor também.
— Ela é lindíssima, Colin — diz Casey de repente, olhando para
Kiara com aquele sorriso tranquilo de sempre no rosto.
Eu sorrio também ao olhar para a minha filha novamente.
— Ela é mesmo. Com certeza o bebê mais lindo que já existiu.
— E você também está mais confiante com ela, o que é ótimo.
— Nós temos nos entendido melhor nos últimos dias, com certeza —
concordo. Eu não fico tão assustado sempre que preciso realmente interagir
com a minha filha. Tudo me deixava apavorado antes.
— Que bom, isso me deixa feliz.
Uma batida soa na porta e a campainha toca ao mesmo tempo, antes
que eu tenha a chance de responder à Case. Parece que alguém está ansioso
do outro lado.
— Você pode abrir a porta para mim, por favor? — peço para Casey,
já que Kiara ainda está mamando e eu não quero movimentá-la até que ela
termine.
— Claro.
Não tenho tempo de me preparar para o furacão Mackenzie que
invade a minha casa no segundo em que Casey abre a porta. Meus pais
estagnam no meio da sala de estar quando olham para mim no sofá,
segurando Kiara nos braços. É praticamente instantâneo, os olhos azuis da
minha mãe se enchem de lágrimas e ela leva as mãos até a boca, tentando
conter o choque e a emoção. Meu pai — que parece uma versão mais velha
de mim mesmo —, por outro lado, apenas olha para mim com os olhos
arregalados, como se só agora, realmente me vendo com a minha filha, a
ficha tenha caído.
Eu daria risada da situação, se não estivesse absurdamente nervoso.
— Ah, meu Deus! — minha mãe exclama suavemente e começa a se
aproximar devagar. — Olhe só para ela!
Emocionada, minha mãe se senta ao meu lado no sofá e olha para
Kiara com lágrimas dominando os seus olhos.
— Filho — ela balbucia antes de envolver os seus braços ao meu
redor, em um abraço apertado e desengonçado ao mesmo tempo, porque
Kiara ainda está nos meus braços, e eu não consigo abraçar minha mãe de
volta. — Ela é perfeita. Ela é tão linda.
— Obrigado, mãe — eu digo, com um embargo alojado na minha
garganta.
— Como você está, meu amor? — ela me pergunta, preocupada,
depois de dar um beijo na minha têmpora. — Eu estava morrendo de
saudades, Colin.
Sorrio.
— Eu estou bem, mãe. Prometo. Só um pouco cansado, mas as coisas
estão finalmente melhorando agora.
Minha mãe faz um carinho breve no meu rosto. E então, nós dois
olhamos para o meu pai, que continua parado no mesmo lugar, assistindo a
cena. Agora, ele também tem lágrimas nos olhos ao olhar para mim e para a
bebê linda nos meus braços.
— Pai, vem conhecer a sua neta.
Isso parece ser o suficiente para fazê-lo se mexer. Meu pai ajoelha na
minha frente e olha para Kiara, que finalmente decide levantar os olhos
verdes e encarar os meus pais. O sorriso no rosto da minha mãe e do meu pai
diz tudo o que eu precisava saber para acalmar o meu coração ansioso. Eles
já a amam tanto quanto eu a amo.
— Ela é perfeita, filho, e com certeza se parece com você. Ela tem os
seus olhos. — meu pai diz, emocionado. — Qual é o nome dela?
Sorrio e olho para a minha mãe.
— Kiara.
Sophie Harley Mackenzie nunca foi uma mulher durona. Quer dizer,
ela enfrentou muitas coisas ruins e é uma mulher forte, mas também é uma
manteiga derretida. No momento em que digo o nome da minha filha, minha
mãe cobre o rosto com as mãos e chora mais forte do que nunca. Sei que
fazê-la lembrar da própria mãe é difícil, sei que crescer sem os pais foi mais
difícil ainda, mas eu não poderia fazer uma homenagem mais bonita à avó
que eu nunca conheci, do que dar o nome dela para a minha filha.
— Ah, Colin — minha mãe balbucia, segurando o meu rosto entre as
mãos trêmula. — Obrigada, meu amor. Isso é perfeito.
Minha visão embaçada não contribui comigo, mas eu consigo sentir
o tamanho da emoção da minha mãe. E do meu pai também.
— Posso segurá-la? — ela pergunta.
A essa altura, Kiara já terminou de mamar, então eu tiro a mamadeira
da sua boca e a preparo para entregá-la a minha mãe.
— Claro. Você pode colocá-la para arrotar, por favor?
— Claro, querido.
Entrego Kiara para a minha mãe. Meu pai se senta ao lado da esposa
e os dois olham para a minha filha com uma expressão de encanto no rosto.
— Oi, Kiara — minha mãe diz baixinho.
— Seja bem-vinda à família, princesinha — meu pai complementa,
emocionado.
Não consigo desviar os olhos do momento. Mesmo que tenha sido
difícil nos últimos dias, de repente, tudo parece leve e perfeito. O peso
invisível que eu segurava nos ombros, uma mistura de culpa, medo e
esgotamento, desaparece.
Percebo, de canto de olho, que Casey tenta sair de fininho para não
atrapalhar o nosso momento em família, mas não quero que ela vá embora
desse jeito, sem que eu sequer a apresente para os meus pais e vice-versa.
— Parada aí — eu digo, apontando na direção dela e fazendo Casey
dar um pulo pelo susto.
Tento conter uma risada.
— Onde você pensa que vai saindo assim de fininho? — pergunto,
brincalhão. — Que coisa feia, Case!
Ela semicerra os olhos para mim como se pudesse me matar. Preciso
me esforçar mais ainda para não rir. Caramba, como eu gosto da dinâmica na
qual a nossa amizade se desenvolveu.
— Eu estava tentando não atrapalhar, mas você não sabe ser discreto,
Colin!
Dou de ombros.
— Não é do meu feitio, realmente.
Percebo que Casey se segura para não me mandar à merda. É
engraçado pensar como nossas interações parecem tão naturais, como se
fossemos amigos há muito tempo. Me sinto tão a vontade com ela que nem
parece que nos conhecemos há apenas duas semanas.
É como Kenna costuma dizer: não tem a ver com tempo, tem a ver
com conexão.
— Mãe, pai, essa é a Casey — eu a apresento, me movimentando na
sala para parar ao lado dela. — Casey, estes são meus pais. Sophie e Derek
Mackenzie.
— É um prazer conhecê-los — ela diz, simpática e com aquele
sorriso tranquilo de sempre no rosto.
Me dou conta de que é esse sorriso que tem me transmitido calma
nos últimos dias. Não sei o motivo para isso. Mesmo quando eu a conheci,
eu senti que ela tinha essa áurea tranquila, que te faz se sentir confortável e
calmo perto dela, mesmo que o restante do mundo esteja todo errado e
confuso.
— O prazer é todo nosso, querida. — Minha mãe sorri. — Você é
lindíssima! Não é à toa que Kiara é perfeita!
Casey e eu nos olhamos rapidamente, os olhos arregalados um para o
outro. Minha mãe... ela... ela está pensando que a Casey é a mãe da Kiara?
Ah, Deus...
— Não, não, mãe... Casey não é...
— Nós dois não… — Casey também tenta explicar, mas as palavras
parecem não saber como se juntarem para passar a mensagem.
— Ela não é a mãe da Kiara — eu consigo finalmente dizer.
Meus pais franzem o cenho ao mesmo tempo.
— Não? — eles perguntam juntos.
— Não sou — Casey responde tranquilamente. — Mas concordo que
ela é perfeita. E agradeço o seu elogio, Sra. Mackenzie. É muita gentileza.
— De nada, meu bem — minha mãe fala, mas consigo perceber pela
sua voz que ela está confusa. — Onde está a mãe, então? Eu gostaria muito
de conhecê-la.
Agora começa a parte difícil. Não faço ideia de como meus pais vão
reagir quando souberem sobre Anna.
— Ela se mandou.
— Como é que é? — meu pai questiona, indignado. — Como assim
“ela se mandou”?
Suspiro.
E então, eu conto tudo para eles desde o começo. Conto sobre mim e
Anna; sobre Anna e Trevor e a obsessão maluca que ela tinha por ele. Conto
sobre a dúvida de quem era o pai e o que aconteceu depois que a Kiara
nasceu. E a cada frase que sai da minha boca, meus pais ficam ainda mais
horrorizados. Casey permanece em silêncio, prestando atenção na história.
Ela sabia que a mãe de Kiara tinha caído fora, eu disse isso para ela logo que
nos conhecemos, mas não cheguei a contar os detalhes.
Se Casey ficou horrorizada com a história, ela escondeu bem. Talvez
não queira acrescentar a sua indignação, pois claramente os meus pais já
estão demonstrando muito disso.
— E você não faz ideia de onde está essa menina? — minha mãe
pergunta, perplexa.
Faço que não com a cabeça. Anna simplesmente evaporou de um
segundo para o outro. Nem as amigas dela sabem para onde ela foi. Eu até
tentei encontrá-la para ver se conseguia colocar algum bom senso naquela
cabeça, mas depois pensei melhor e decidi que não valia a pena.
— Para ser sincero, mãe, eu acho que foi melhor assim. Ela não era
uma pessoa legal. É horrível dizer isso, porque a Kiara merece ter uma mãe
presente, mas acho que nós estamos melhores sem ela.
— Não posso dizer que eu discordo disso — meu pai diz com uma
careta de desgosto.
— Isso é terrível — minha mãe lamenta. — Um bebê tão pequeno
precisa da mãe. Como ela está se alimentando?
— Com fórmula. Casey tem me ajudado muito também. Ela está no
curso preparatório de medicina, então ela sabe um monte de coisa útil para
mim nesse momento. Foi assim que nos conhecemos. E antes que vocês
perguntem, nós somos apenas amigos.
Meus pais se entreolham por um momento e sorriem um para o outro
em uma linguagem que só os dois conseguem entender. Me pergunto se um
dia vou sentir tal conexão com alguém.
— Você já a levou no médico? — minha mãe quer saber. Ela desvia
os olhos de mim por um momento, direcionando o olhar para Kiara, que está
brincando uma mecha do cabelo loiro da minha mãe.
— Levei sim. Ela tem outra consulta com a pediatra daqui duas ou
três semanas, se não estou errado.
Minha mãe assente com a cabeça automaticamente.
— Vou entrar com um pedido de guarda integral para você por
motivo de abandono — diz a minha mãe, colocando sua mente de advogada
para funcionar. — Dessa forma, se essa moça quiser ter contato com Kiara
novamente, nós vamos dificultar as coisas apenas o suficiente para ter
certeza de que as intenções dela com a minha neta são boas.
Eu concordo com a cabeça, embora eu duvide que Anna vai
realmente querer ter qualquer interação com Kiara no futuro.
— Vocês estão com fome? — meu pai pergunta de repente, mudando
completamente de assunto. — Sua mãe e eu alugamos uma casa aqui perto
pelos próximos meses. Vamos ficar em Paradise por enquanto, para ajudar
você a se estabilizar com a nova rotina.
Minha mãe balança a cabeça e completa:
— Estávamos pensando em tomar café da manhã com você. E você é
mais do que bem-vinda para se juntar a nós, Casey.
Casey e eu trocamos um olhar rápido.
— Eu agradeço muito, Sra. Mackenzie, mas não quero atrapalhar. Eu
tenho certeza de que vocês fizeram uma longa viagem e querem um tempo
sozinhos com Colin e Kiara.
Meu pai dispensa o comentário de Casey com um gesto de mão.
— Besteira. Soph e eu vamos adorar ter vocês três para o café da
manhã. Não vou aceitar não como resposta.
Minha mãe sorri calmamente diante disso.
Olho para Casey novamente e dou de ombros como quem diz: “por
que não?”
Casey sorri para mim.
— Sendo assim... Obrigada — ela agradece. — Será um prazer.
Capítulo 07

Ainda não posso te deixar em paz


Na maioria das noites quase não dormi
Não pegue o que você não precisa de mim
| Ron Pope – A Drop In The Ocean

A casa que os pais de Colin alugaram para passar o tempo em


Paradise é ridiculamente grande. Eu imagino que eles escolheram uma casa
desse tamanho na esperança de que Colin venha para cá com Kiara, porque é
óbvio que ele não pode continuar morando onde está. A casa não é silenciosa
o suficiente para um bebê recém-nascido, e com Kiara acordando várias
vezes durante a noite, não é bom para os colegas de quarto de Colin também.
A decoração da casa que os pais dele escolheram é minimalista, em
tons de preto, branco, cinza e amarelo. E eu calculo que deve haver, no
mínimo, uns cinco ou seis quartos. Acho que nunca estive dentro de uma
casa tão grande, então com certeza não consigo disfarçar o deslumbramento.
Minha família não é necessariamente pobre, mas com certeza não
estamos no mesmo patamar da família de Colin. Quando Colin me disse o
nome do seu pai, tudo fez sentido. Ele é Derek Mackenzie, o ex-jogador de
basquete da NBA. O pai de Colin foi um dos melhores e mais famosos
jogadores da liga profissional. É até estranho pensar que Colin se interessou
pelo hóquei no gelo quando, com certeza, ele cresceu cercado por basquete.
É mais estranho ainda pensar que me tornei amiga do filho de um astro da
NBA e que acabei de conhecê-lo pessoalmente. Está aí uma coisa que eu
nunca pensei que fosse acontecer na minha vida.
Meu pai não acreditaria se eu dissesse que conheci Derek Mackenzie
em pessoa. Ele é um grande fã do Boston Celtics, time em que o pai de Colin
costumava jogar.
— Casey, querida, você come bacon e waffles? Ou prefere
panquecas? Temos cereal também, se você preferir — a mãe de Colin me
pergunta quando adentramos a sala de estar da casa.
— Bacon e waffles está perfeito.
— Maravilha! — Ela sorri.
Colin coloca Kiara para dormir em um dos quartos da casa e é claro
que seus pais pensaram na questão de a neta precisar de um berço. Portanto,
um dos quartos já estava perfeitamente equipado com tudo o que Kiara
poderia precisar.
Enquanto os pais de Colin preparam o café da manhã, eu o ajudo
com Kiara. Ela precisava de uma troca de fralda, então eu fiquei fazendo
gracinhas na frente dela para distraí-la enquanto Colin a trocava. E com seus
lindos olhos verdes, ela sorriu para mim.
— Seus pais parecem muito legais — comento quando nós saímos do
quarto. Colin tentou colocar Kiara para dormir, mas já que ela dormiu a noite
inteira, ainda não está cansada o suficiente para dormir de novo.
Ele sorri enquanto ajeita Kiara em seu colo.
— Eles são. Eu tenho muita sorte, porque toda a minha família é
maravilhosa — ele conta, sorridente. — Meus pais se conheceram na
faculdade, como eu te disse, e ambos mantêm uma amizade muito forte com
todos os amigos que fizeram naquela época. Somos como uma grande
família.
— Deve ser legal ter crescido em uma família assim — digo,
amargurada.
Colin imediatamente sente a minha mudança de humor.
— Família complicada? — ele sugere, olhando para mim com os
mesmos olhos verdes que sua filha também tem.
— Você não faz ideia. — Suspiro. — Minha mãe morreu em um
acidente de carro quando eu era criança. Meu pai se casou de novo alguns
anos depois, com uma mulher que é a própria madrasta da Cinderela.
Colin faz uma careta.
— E a sua irmã? Eu me lembro de você falar que sua irmã precisa de
ajuda e é por isso que você veio para Paradise. Ela é como as irmãs da
Cinderela?
Eu dou uma risadinha.
— Nós não somos muito próximas, para ser sincera. Ela é filha da
mulher do meu pai, então não somos realmente irmãs, mas fomos criadas
como se fôssemos. Enquanto crescíamos... Não sei, a gente simplesmente
parecia não encontrar nada em comum uma com a outra. Depois que ela saiu
de casa para ir para a faculdade, nós não mantivemos muito contato.
— Sinto muito por isso — Colin lamenta, e sei que é genuíno. — Eu
sempre quis ter irmãos, mas tenho tantos primos que eles acabaram suprindo
isso. Nós somos bem próximos. Aurora é uma delas, na verdade.
— Sério?
— Não somos primos de sangue, mas fomos criados juntos, então é
como se fosse. Talvez você acabe conhecendo mais alguns, porque eu tenho
certeza de que quando a notícia da Kiara se espalhar pela família, eu não vou
mais ter paz.
Dou risada.
A forma como Colin fala da própria família... É tangível que eles têm
um carinho enorme uns pelos outros. Minha família é pequena, mas eu
adoraria ter vários primos. Tenho certeza de que o feriado de Ação de Graças
ou o Natal deve ser maravilhoso, tendo uma família tão grande.
— Eles parecem ser incríveis. Quantos primos exatamente você tem?
— Noah, Sebastian, Aurora — Colin conta e eu vou sinalizando nos
dedos enquanto andamos pelo corredor até a escada. — Kenna, Charlie,
Adam, Finn e a Harmony, que é a caçula. São oito, no total.
Arregalo os olhos.
— Meu Deus, quanta gente! — exclamo, maravilhada.
Colin ri.
— O Adam e o Finn chegaram depois, apesar de não serem os
caçulas. Eles foram adotados aos quinze ou dezesseis anos, não lembro ao
certo. O Seb também é adotado, mas isso foi quando nós éramos crianças,
então ele cresceu com a gente — Colin explica, e dá para notar que mesmo
os que foram adotados são considerados da família tanto quanto os filhos de
sangue.
Sorrio.
— É adorável o jeito que você fala da sua família.
Colin sorri de volta para mim.
— Você me acha adorável?
O ego desse cara...
— Eu não falei que você é adorável. Eu falei que o jeito como você
fala da sua família é adorável.
Ele dá risada.
— Semântica.
— Você está delirando, Mackenzie. Delirando.
Colin continua com aquele sorrisinho arrogante no rosto que me faz
revirar os olhos. Como pode esse cara ser tão convencido e ao mesmo tempo
tão doce? É uma combinação que eu nunca vi antes. Nem sequer sabia que
poderia existir essas duas características tão antagônicas em uma mesma
pessoa.
Vocês sabem o que isso significa, não sabem?
Colin Mackenzie deve ser considerado um território perigoso.
Principalmente porque eu não estou sendo cem por cento honesta com ele.

Depois de um pouco mais de duas semanas sendo aluna da


Universidade de Paradise, eu ainda consigo me sentir um pouco perdida no
campus. A Universidade de Washington não era tão grande assim. Sem
contar que eu preciso sair cedo do meu dormitório só para garantir que, se eu
me perder, vou conseguir encontrar a minha sala a tempo de não chegar
atrasada na aula. Nesse momento, a minha missão é encontrar a biblioteca
para conseguir um pouco de silêncio para estudar. Erin, minha colega de
quarto, estava em uma chamada de vídeo com o namorado que mora do
outro lado do país, e eu definitivamente não queria ficar ouvindo a conversa
deles. Um pouco de privacidade é sempre bom.
Erin e eu ainda não tivemos a chance de tentar uma amizade. A
rotina dela parece tão cheia quanto a minha, já que ela está no curso
preparatório de direito. Então, quando não está em chamada de vídeo com o
namorado, Erin está sempre com a cara enfiada nos livros. Desde que
cheguei em Paradise, só a vi saindo à noite para se divertir uma única vez,
que foi justamente no dia em que cheguei.
Eu estava na esperança de conseguir fazer amizade com ela, para me
sentir um pouco menos sozinha aqui, mas isso ainda não aconteceu. Colin,
entretanto, tem suprido um pouco da minha solidão, já que não paramos de
conversar por mensagem desde o café da manhã com os seus pais, dois dias
atrás. Inclusive, foi incrível estar com eles e eu me senti muito à vontade.
Sophie — como ela insistiu que eu a chamasse, sem toda a formalidade de
usar “Sra. Mackenzie” — me contou como conheceu o marido e como o
romance deles se desenvolveu. Derek — o pai de Colin também insistiu para
que eu abandonasse a formalidade — contou que Sophie dava tanto fora nele
que sua autoestima quase ficou fragilizada. Sophie revirou os olhos nesse
momento e disse, exatamente com essas palavras: “Eu não tenho culpa que
você agiu como um babaca quando nos conhecemos no Tina’s”.
Colin e eu apenas dávamos risada enquanto seus pais revezavam para
contar a sua história de amor. Eu tenho certeza de que Colin já deve ter
ouvido tudo aquilo antes, mas ele olhava para os pais com muita admiração e
carinho, como se fosse a primeira vez que ouvia a história de como os dois
se conheceram.
— Casey!
Viro rapidamente para trás ao ouvir o meu nome e encontro Aurora
vindo na minha direção com um sorriso simpático no rosto. Ela é uma garota
lindíssima. Nós nos conhecemos tão rapidamente que nem sequer tive tempo
de reparar nela. Aurora está vestindo o uniforme do time de vôlei da
universidade, o que imediatamente chama a minha atenção. Ela também é
atleta? Eu não me surpreenderia, já que descobri, durante o café da manhã
com os pais de Colin, que o pai de Aurora jogava basquete com Derek na
época da faculdade. Todos na família parecem se relacionar com os esportes
de algum jeito.
— Aurora, oi! — eu a cumprimento quando ela se aproxima o
suficiente. — Tudo bem?
— Tirando o fato que eu estou faminta, está tudo ótimo. E você?
Dou uma risadinha.
— Tirando o fato que eu ainda não tomei o meu cafezinho diário e
sinto que estou em estado de abstinência de cafeína, está tudo ótimo.
Ela abre um sorriso largo para mim.
— Eu sabia que iria gostar de você. Então, eu e as meninas
estávamos pensando em fazer uma festa do pijama amanhã à noite, no
apartamento da Antonella. Acho que ela mencionou ter conhecido você em
algum momento.
Faço que sim com a cabeça.
— Perfeito! Colin me disse que você veio transferida para Paradise,
então supus que você ainda não fez muitos amigos por aqui, certo?
— Acho que posso dizer que Colin é o único amigo que tenho até o
momento.
Algo no rosto de Aurora muda ao me ouvir dizer isso, mas não sei
exatamente dizer o quê.
— Meu Deus, você precisa de amigos melhores.
Eu dou risada.
— Pensei de ouvir ele me dizer que você é a melhor amiga dele,
como pode dizer isso? — brinco.
— Justamente por ser a melhor amiga dele, eu o conheço muito bem.
Colin é um pé no saco — ela diz, revirando os olhos. Mas consigo identificar
no seu tom de voz e no sorrisinho que ela tenta esconder, que Aurora só está
me dizendo isso para pegar no pé do melhor amigo. — De qualquer forma,
está decidido, você vem com a gente para a festa do pijama — determina
Aurora, puxando o seu celular de dentro da bolsa esportiva que carrega
pendurada em um dos ombros. — Coloca o seu número aqui e eu vou te
enviar uma mensagem com o horário e o endereço.
— Sério?
Eu nunca tive muita facilidade de fazer amigos em lugares novos.
Desde a minha adolescência, estive tão concentrada em estudar para alcançar
o meu sonho de entrar em uma boa universidade e ter a chance de me tornar
médica, que às vezes penso que posso não ter aproveitado tanto quanto a
maioria dos meus colegas de turma da época da escola aproveitaram. E eu
estava sentindo que isso se repetiria na faculdade, mas talvez eu estivesse
errada no final das contas.
— É claro!
Pego o celular de Aurora e coloco meu nome e meu número de
celular antes de devolver o aparelho de volta para ela.
— Aqui está.
— Perfeito! Vou te mandar a mensagem e vou esperar por você lá. Se
você não aparecer, vou considerar uma ofensa pessoal.
Meu corpo fica um pouco tenso, porque não a conheço o suficiente
para identificar se ela está brincando ou se está falando sério.
— Pelo amor de Deus, relaxe. — Ela ri. — Eu só estou brincando.
Mas, sério, apareça. Vai ser legal, e a Grace está ansiosa para te conhecer.
No dia que conheci Aaron, Trevor e Luca, eu me lembro de eles
mencionarem uma garota chamada Grace. Se não estou errada, ela é a
namorada do Trevor e eles estavam indo patinar juntos ou algo assim.
Eu sorrio, voltando a relaxar. Meu Deus, não é se de surpreender o
porquê eu sou péssima em fazer amigos.
— Eu estarei lá, prometo. Obrigada pelo convite.
Aurora me dispensa com um gesto de mão, como se o convite não
fosse nada demais, e diz que precisa ir embora logo em seguida, pois tem
treino de vôlei e não pode chegar atrasada de novo. E com a mesma rapidez
que ela apareceu, ela vai embora.
Eu ainda estou sorrindo diante da possibilidade de finalmente fazer
algumas amigas, quando meu telefone toca com uma ligação que vem direto
do centro de todos os meus problemas.
Capítulo 08

Eu quero chamar seu nome


Eu quero te dizer o quão linda você é
De onde estou observando
| Shawn Mendes – Imagination

As sete e meia da manhã, quando eu acordo para me arrumar para a


primeira aula do dia, encontro meus pais dançando na cozinha da casa que
eles alugaram — e onde ficou decidido que vou ficar com Kiara pelo tempo
que eles estiverem aqui, até encontrarmos um novo lugar para eu morar com
a minha filha. Não há nenhuma música tocando, mas meus pais estão
abraçados e se movimentando silenciosamente pela cozinha enquanto
dançam, com direito a rodopios e tudo mais. Minha mãe ri baixinho dos
movimentos desengonçados do meu pai, e ele, por sua vez, olha para ela
como se minha mãe fosse o centro do mundo dele.
E eu sei que ela é mesmo.
Encosto meu corpo no batente da entrada da cozinha e apenas os
assisto sem ser notado. Me sinto uma criança de novo, acordando cedo para
ir para a escola e encontrando os dois pela casa com suas infinitas
manifestações de amor um pelo outro. Sempre foi assim. Mesmo quando
meu pai estava longe de casa porque estava na temporada da NBA, ele
ligava para ela todos os dias de manhã e todas as noites antes de dormir. Não
importava o que acontecesse, ele sempre ligava para ela duas vezes por dia.
Sei que há muitas pessoas da minha idade que não acreditam que
esse tipo de amor realmente exista. Em uma época em que sexo sem
compromisso é muito valorizado — e não há nada de errado com isso —,
muita gente passou a desacreditar no poder de um grande amor. Mas quando
você cresce com pais como os meus, vendo o que realmente é o amor, você
percebe que, mesmo que seja difícil de encontrar, esse sentimento ainda
existe e pode durar para sempre.
— Bom dia — eu os cumprimento baixinho. Sei que Kiara ainda está
dormindo, pois dei uma espiada no quarto dela para ver se estava tudo bem.
— Bom dia, meu amor — minha mãe diz, sorridente. — Eu não vi
que você estava aí.
— Tudo bem, eu gosto de ver vocês dois interagindo assim. Me traz
boas lembranças.
Minha mãe vem até mim, segura meu rosto entre as suas mãos e me
dá um beijo na bochecha. Essa sempre foi a forma dela de me cumprimentar
pela manhã. Meu pai, por sua vez, costumava bagunçar o meu cabelo, mas
ele parou de fazer isso depois que eu completei treze anos. Agora, recebo
batidinhas no ombro e um sorriso.
— Que bom que você está de bom humor, porque nós precisamos ter
uma conversinha — ele diz, apontando com a cabeça para o sofá na sala de
estar.
Eu franzo o cenho.
— E-eu… eu pensei que estivesse tudo bem.
Meu pai está sério; minha mãe, embora seja sempre mais doce e
suave, olha para mim em um misto de seriedade e ternura.
Acho que as coisas não estão tão bem quanto eu imaginei.
— Sente-se, Colin — meu pai pede, calmamente.
Engulo em seco.
Sem retrucar, eu vou até o sofá e me sento. Meus pais vêm logo em
seguida e cada um se senta de um lado meu. Me sinto de novo como uma
criança que está prestes a levar uma bronca por algo que não deveria ter
feito.
— Filho, nós estamos muito felizes que você está bem e que a Kiara
está bem, que você tem conseguido lidar com a situação toda de uma forma
madura e responsável, mas o que não entra na minha cabeça é como foi que
você deixou isso acontecer, Colin? Depois de todas as conversas que
tivemos sobre isso; depois do seu tio ter contado a vocês como foi
complicado criar o Noah quando ele e a Savannah ainda eram tão jovens e
ainda estavam na faculdade — meu pai fala, e eu percebo a pontinha de
decepção na voz dele.
— Querido, veja, nós já amamos a Kiara imensamente e é claro que
agora que ela está aqui, nós nem conseguimos mais imaginar como seria sem
ela, mas um filho é uma responsabilidade gigantesca, Colin — minha mãe
diz, preocupada. — Ela vai precisar de roupa, comida, brinquedos, convênio
médico, material escolar, remédios, enfim… E é claro que o seu pai e eu
vamos te ajudar no que você precisar, mas…
— Mas vocês não vão bancar a minha filha — eu completo por eles,
entendendo. — Eu sei, e eu não quero que façam isso. Ela é minha
responsabilidade, não de vocês. Eu entendo isso.
Meus pais anuem.
— No entanto, nós queremos que você se forme na faculdade e se o
seu sonho é jogar profissionalmente, nós queremos que você tenha essa
chance. Graças a Deus, a sua mãe e eu temos condições financeiras de
oferecer essa ajuda pra você agora — meu pai continua, sério. — Então, por
enquanto, nós queremos que você foque nos estudos, no hóquei e na sua
filha. Não se preocupe com dinheiro, mas não gaste se não for necessário. E
quando a faculdade acabar, nós vamos sentar e ter essa conversa de novo.
Eu assinto e não consigo evitar me sentir emocionado pelo apoio
deles. Eu não sei o que aconteceria se eles não me ajudassem nesse
momento. Talvez eu tivesse que abandonar o hóquei para ter um emprego.
Com certeza seria impossível dar conta de tudo, mesmo com os meus
amigos me ajudando a cuidar de Kiara, quando meus pais não estiverem
mais em Paradise.
— Obrigado — eu digo, com a voz embargada. — E eu sinto muito
por colocar vocês nessa posição. Eu sei que fui irresponsável, mas, é como
você disse, mãe… Agora que Kiara está aqui, eu não consigo mais imaginar
a vida sem ela. Não consigo me arrepender dela, embora eu concorde que
não foi no melhor momento e que eu deveria ter tido mais cuidado.
Meus pais concordam.
— Você vai precisar amadurecer ainda mais agora, Colin, e não vai
ser fácil — meu pai elucida e coloca uma mão no meu ombro, o que
automaticamente me faz olhar para ele. — E embora a sua mãe e eu
tenhamos ficado bravos com a situação, nós te amamos, já amamos a Kiara e
vamos te apoiar até onde pudermos.
— Obrigado. E eu amo vocês e sou muito grato por serem os meus
pais.
Olho de um para o outro e os vejo sorrindo para mim. No segundo
seguinte, estamos todos abraçados e chorando. Nós não somos uma família
perfeita, eu não sou o filho perfeito e nem eles os pais perfeitos, mas eu
simplesmente amo como a nossa relação chega bem perto de ser perfeita.
— Agora vá, querido — minha mãe diz quando nós nos soltamos do
abraço. — Não queremos que você chegue atrasado para a aula.
Confirmo com a cabeça e me levanto do sofá.
— Obrigado mais uma vez.
— Claro, meu bem. — Minha mãe sorri.
— E seja sexualmente responsável daqui para frente — meu pai
demanda. Ele é sempre um pouquinho mais duro que a minha mãe, embora
eu saiba que é para o meu bem.
— Sim, senhor.
Eu estou pronto para sair da sala, mas meu pai me chama mais uma
vez.
— Só mais uma coisa, filho… Agora que conversamos, acho que é
um bom momento para te avisar que A Tropa está chegando — ele me avisa
em um misto de empolgação e desespero.
Puta merda.
Conforme eu e meus primos íamos crescendo, por sermos muitos,
nossos pais nos apelidaram de “A Tropa”. Sempre que essa frase era
proferida: “A Tropa está chegando”, meus tios reagiam com uma mistura de
animação e desespero, porque, ao mesmo tempo que eles achavam
maravilhoso que todos nós estivéssemos juntos, eles sabiam que daríamos
dor de cabeça em algum momento. Muitas crianças juntas, depois muitos
adolescentes juntos... Era uma receita e tanto para problemas.
— Eles estão vindo para Paradise? — pergunto, chocado. — Todos
eles?
— Cada um deles, sim — meu pai confirma, e eu juro por Deus que
o corpo dele chega a estremecer de desespero, o que automaticamente me
faz dar risada.
— Depois que eu falei com as suas tias sobre a Kiara, toda a família
ficou sabendo — conta a minha mãe. — Onde está o seu celular? Noah e
Sebastian já devem ter lotado a sua caixa de mensagens a essa hora.
Volto correndo para o meu quarto e tiro meu celular do carregador.
Minha mãe estava certa. Eu tenho 23 mensagens não respondidas, mas não
só de Noah e Sebastian, mas de todos os meus primos.

Noah
Como assim vc tem uma filha, caralho?
Noah
E pq porra eu só tô sabendo disso agr?
Seb
Isso é uma baita traição, Colin. Nós n deveríamos ser os últimos a
saber!!!!!!!
Noah
N mesmo!!!! Nós somos seus melhores amigos, seus parceiros!!!!!!
Kenna
Eu fiquei simplesmente chocada. E todo mundo achando que eu seria
a primeira a ter um filho KKKKKKKK
Noah
Tá doida, Kenny? N vamos ter filho tão cedo.
Adam
Eu aposto q a Aurora sabia e foi cúmplice nessa omissão!!!!
Aurora
N me mete nisso n, Adam! Não era uma notícia minha p q eu
contasse.
Finn
Colin, ngm deu detalhes! Conta os detalhes!!!!
Kenna
Só tem fofoqueiro nessa família…
Seb
Como se vc n estivesse morrendo de vontade de saber a história
toda, né, Kenny?
Charlie
Eu acabei de ficar sabendo! Meu Deus do céu, Colin! Que
loucuraaaaa! Mas parabéns, papai!
Harmony
MANDA FOTO DELA PRA GENTEEEEEEEE!!!
Seb
Eu acho q a gnt deveria fazer uma caravana p Paradise p conhecer a
mais nova integrante da família.
Noah
Eu tô dentro! Kenny e eu estamos livres esse final de semana!
Charlie
Eu tô livre tbm!
Seb
Acho q consigo reorganizar umas coisas p estar livre tbm.
Finn
Tô dentro.
Adam
Eu tbm.
Harmony
Eu tbm!!!!
Charlie
A tia Soph e o Tio D estão em Paradise. Podemos ficar com eles!
Noah
Colin, libera o seu final de semana pq... Fala aí, Seb!
Seb
A Tropa tá chegando, porra!!!!!!!! ;)

Sorrio igual um idiota enquanto leio as mensagens. Estudo em


Paradise há quase dois anos e, considerando que não fui ver os meus pais nas
férias, consequentemente não vi os meus primos também. Eu estou
morrendo de saudade deles.
Que Deus salve Paradise, porque A Tropa está chegando, caralho!
Meus pais ficaram mais do que felizes em cuidar de Kiara quando eu
disse que tinha treino de hóquei à tarde e, pela primeira vez desde que minha
filha nasceu, eu realmente consegui fazer um treino decente. Eu sei que
meus pais não vão estar perto o tempo todo para me ajudar com Kiara, mas
eu vou aproveitar enquanto eles estiverem aqui para recuperar meu jogo e
colocar toda a matéria da faculdade em dia. Eu queria provar para mim
mesmo que eu conseguiria cuidar da minha filha sozinho, já que ela é minha
responsabilidade, mas eu preciso de ajuda e não há problema nenhum em
admitir isso. Pedir ajuda não faz de mim menos capaz de cuidar da minha
filha. Não faz de mim menos pai dela.
Sei que vou precisar mais do que um treino bom para voltar a ser o
que era antes, mas definitivamente vou me esforçar para fazer isso acontecer
o mais rápido possível. Meu lugar é no gelo e não vou abrir mão disso tão
facilmente.
— Fico feliz de ver que você está retornando ao seu potencial total,
Mackenzie — o Treinador diz, no final do treino. — Seja bem-vindo de
volta, filho.
— Obrigado, Treinador — digo com um sorriso. Fico feliz que ele
tenha percebido que eu estou me esforçando para recuperar o ritmo.
Quando somos mandados para o vestiário para tomar banho, após o
treino, eu aproveito que todo o time está reunido para fazer um anúncio.
— Galera, escutem! — eu falo um pouco mais alto do que o normal
para garantir que os caras vão parar o que estão fazendo e prestar atenção em
mim. — Meus primos estão vindo para a cidade para conhecer a minha filha,
mas eu estava pensando em aproveitar a oportunidade e fazer uma puta festa.
E quando eu digo uma puta festa, eu estou falando de uma parada lendária!
A porra da festa do ano!
John dá um sorriso tão largo que eu tenho certeza de que consigo ver
todos os seus dentes.
— Eu gosto da forma que você pensa, Colin.
É claro que, se você está falando de festa, você está falando de John
O’Brien. Não me surpreende que a primeira reação à palavra festa tenha
vindo dele.
— Eu pensei também de fazermos uma festa temática, para ser
realmente diferente das festas que já estamos acostumados. Alguém tem
alguma sugestão?
— Eu gosto da ideia de uma festa do pijama — diz Aaron com um
sorriso do Coringa no rosto.
Os caras começam a soltar comentários de aprovação, com certeza já
imaginando as garotas em pijamas curtinhos e de tecido fino. Não posso
dizer que não estou pensando a mesma coisa. Me pergunto se Casey
aceitaria ir em uma festa como essa. Ela não parece o tipo de pessoa que
gosta de virar a noite em uma festa. No entanto, eu vou fazer questão de
arrastá-la, quer ela queira, quer não. Descobri que gosto da companhia de
Casey. Não só porque ela me ajudou no meu pior momento com a minha
filha, mas também porque ela é divertida e eu me sinto tranquilo e relaxado
na presença dela.
— Que tal uma festa à fantasia? — pergunta Gally, um dos caras do
time.
— Já vamos ter festa à fantasia em Outubro, para o Halloween —
Trevor rebate. Dá para perceber que ele está pensativo sobre qual poderia ser
o tema da nossa festa.
— Você disse lendária, certo, Colin? — Luca, entre todas as pessoas,
corta o silêncio do vestiário, o que faz com que todo mundo olhe para ele
com choque estampado no rosto.
O melhor amigo de Trevor não é do tipo que fala em público. Não,
perdão, na verdade ele não é do tipo que fala. Ponto final. A gente chega a
esquecer o timbre da voz dele de tão pouco que a escutamos.
Assinto com a cabeça.
— Qualquer coisa, menos roupa — Luca diz. — Esse é o tema.
— Puta merda! — Trevor exclama com os olhos arregalados. — É
isso, caralho!
Liam franze o cenho, confuso.
— Qualquer coisa, menos roupa? Como que funciona isso?
Com a sua contribuição já feita, Luca volta a ficar em silêncio e
deixa que Trevor explique o conceito da festa.
— Você só pode entrar na festa vestindo algo que não seja realmente
roupa, por exemplo: plástico bolha, folhas de alumínio, boias de piscina,
embalagem de alimentos... Qualquer coisa vale, menos roupa.
Ninguém precisa falar mais nada, porque pelos sorrisos e pela clara
empolgação no rosto dos caras, nós acabamos de decidir o tema para a festa
desse final de semana. Agora, só precisamos espalhar a notícia.
Mandei uma mensagem para Casey logo após sair do Centro
Esportivo e perguntei onde ela estava. Como a nerd que já me dei conta que
ela é, Casey me disse que estava estudando na biblioteca. É compreensível
que se ela quer ser médica, tem que estudar muito para conseguir passar no
Pre-Med e finalmente começar a faculdade de medicina logo após, mas
aquela garota também precisa se divertir um pouco.
Entro na biblioteca e começo a procurar pelo familiar cabelo
vermelho. Encontro Casey sentada perto da janela e com o rosto enfiado em
um livro que deve ser capaz de matar alguém se jogado na direção da
pessoa. Meu Deus, ela realmente vai ler esse livro inteiro? Casey está
vestindo um moletom cumprido, que chega a se assemelhar a um vestido por
conta do comprimento, e as pernas grossas estão à mostra. Seu cabelo está
preso em um coque bagunçado no topo da cabeça e ela tem um franzidinho
entre as sobrancelhas, que me deixa saber que ela está superconcentrada no
que está lendo. Então, para não atrapalhar, eu apenas fico observando-a de
longe por um tempo, esperando que ela termine o raciocínio para poder me
aproximar.
Casey passa a língua pelo lábio inferior, umedecendo-o e prende a
ponta da caneta que está segurando entre os dentes. Ela não levanta os olhos
nem uma vez, parece ter esquecido completamente o mundo ao seu redor.
Eu sei que eu não deveria querer complicar a minha vida mais do que
já está complicada agora, mas Casey é uma garota bonita e que, por algum
motivo, decidiu que seria bacana ser minha amiga. Eu deveria estar
acostumado a ter amizade com garotas bonitas, considerando que todas as
minhas primas sempre deram dor de cabeça justamente por serem
maravilhosas a sua própria maneira. É claro que Noah foi o único que
conseguiu realmente enxergar além de vê-las como somente nossas primas,
já que acabou engatando em um namoro com a maluca da Kenna. O ponto é
que, fora as minhas primas, eu nunca tive amizade com garotas, pois sempre
havia uma segunda intenção de alguma das partes.
Mas eu super acredito que é possível existir amizade entre homem e
mulher sem qualquer interesse sexual ou amoroso. Aurora e eu somos a
prova viva disso. No entanto, pelo jeito como estou reparando em Casey, não
vai ser nesse tipo de amizade eu vou focar.
Porra.
Casey finalmente ergue os olhos do livro e me pega encarando-a
descaradamente. Ela semicerra os olhos na minha direção, como se
perguntasse o que é que eu estou olhando.
Eu prefiro não responder à essa pergunta.
Me aproximo devagar e puxo uma cadeira para me sentar na frente
dela.
— Gostou do que viu? — ela provoca assim que eu me sento.
Dou de ombros, fingindo indiferença. Mas sim, eu gostei do que eu
vi, caramba. Claro que eu gostei.
— Você é bonitinha — digo com falso desdém.
Casey joga uma bola de papel que estava amassada em cima da mesa
na minha direção, me acertando bem no meio do rosto.
— Caralho, Casey! — resmungo, massageando a região que foi
atingida. — Doeu.
— O seu “bonitinha” também doeu, babaca — ela resmunga. — O
que você quer, Colin? Eu estou estudando!
Casey tem um equilíbrio perfeito entre ser calmaria e irritação que
me deixa intrigado e curioso, o que, na minha atual situação, é perigoso.
— Quero te convidar para uma festa.
— Hoje?
— Não, no final de semana. Meus primos já ficaram sabendo sobre
Kiara e agora estão vindo para Paradise para conhecê-la. Faz um tempo que
não nos reunimos, então falei com os caras do time e nós decidimos fazer
uma festa histórica! — conto, animado. Essa festa vai dar o que falar, eu
tenho certeza.
— Eu não sou muito do tipo que curte festas — ela diz o que eu já
imaginava que seria a sua resposta. — E eu preciso mesmo estudar. As
primeiras provas estão chegando.
— Qual é, Casey! Se divertir de vez em quando é super permitido. E
eu não faço ideia de quando vou conseguir ir em uma festa de novo, agora
que a Kiara nasceu. Só vou ter o final de semana livre porque meus pais
estão aqui — insisto, torcendo para que ela diga que vai. Eu deveria me
sentir patético por isso? Foda-se, não me importo de insistir, porque a quero
lá.
Casey olha para mim com divertimento.
— O que eu vou ganhar com isso? — Casey pergunta, apoiando os
antebraços na mesa e inclinando um pouco o corpo na minha direção. —
Porque eu sei exatamente o que eu vou perder com isso: uma boa noite de
sono e uma sessão de estudos importante.
Eu sorrio como o filho da puta safado que eu sou, mas que faço um
bom trabalho em esconder. Também tento conter a arrogância que ameaça
escapar pelo meu sorriso, mas sei que não consigo. É mais forte do que eu e
acho que puxei essa característica do meu pai.
— O que você quer?
Casey faz um beicinho enquanto pensa na minha pergunta.
— Não sei exatamente, mas você vai deixar isso em aberto e quando
eu escolher, você vai ter que fazer — ela me desafia, com um brilho de
divertimento em seus olhos.
Eu sorrio para ela, adorando essa ideia.
— Combinado.
Capítulo 09

Palavras pesadas são difíceis de aguentar


Sobre pressão coisas preciosas podem quebrar
E como nós nos sentimos é difícil de fingir
| Gabrielle Aplin – Please Don’t Say You Love Me

Eu estou deliberadamente entrando em um problema no qual vai ser


difícil de sair depois. Sei disso. No entanto, parece que perdi o controle da
situação. Com o meu passado, eu não deveria chegar em qualquer lugar
perto de Colin, mas a maneira como nossa amizade se desenvolveu foi
natural e é tão fácil conversar com ele; é tão fácil estar na companhia dele; é
tão fácil gostar dele. E a cada nova interação, eu descubro que gosto da
sensação de borboletas no estômago que ele me causa. Não acho que tenha a
ver com paixão, mas sim com as pequenas provocações que fazemos um
com o outro e por tudo ser novidade.
No entanto, a ligação que recebi ontem fez lembrar que eu deveria
manter distância. Eu preciso ficar longe ou sei que vou me arrepender. Mais
do que isso, vou trazer problemas para Colin. Problemas dos quais ele não
precisa lidar agora, com tanta coisa já acontecendo na sua vida. Não seria
justo. E quando ele me mandou uma mensagem ontem perguntando onde eu
estava, eu me preparei toda para dizer a ele que a nossa amizade não poderia
continuar. Eu estava pronta para dizer a ele que preciso mesmo focar nos
estudos e não tenho tempo para qualquer tipo de distração. Mas bastou
encontrar Colin olhando para mim com curiosidade e um quê de
contemplação para que todo o discurso sumisse da minha cabeça.
Merda.
E eu ainda piorei tudo com aquele acordo sem cabimento nenhum.
Outra coisa que eu também não deveria fazer é ir à festa do pijama
com as meninas. Eu não deveria estreitar laços com ninguém desse lugar,
mas se continuasse no meu dormitório, deitada na cama e olhando para o
teto — já que a minha concentração estava valendo centavos naquele
momento e eu não conseguia estudar —, eu enlouqueceria. Então, chamei o
Uber e fui para o apartamento de Antonella, sem saber exatamente como
elas iriam me receber. Aurora parece ser legal e Antonella claramente é bem
carismática, mas eu não sei quem mais estará lá e, como eu disse antes, eu
nunca fui muito boa em fazer amizades.
— Você veio! — Aurora exclama no instante em que me vê parada
na porta, logo após uma garota loira abri-la para mim. — Entra, entra!
— Oi, eu sou a Grace — a loira se apresenta com um sorriso
simpático.
— Mais conhecida como a namorada do capitão do time de hóquei
de Paradise — diz Antonella, claramente em uma tentativa de provocar a
amiga.
Pisco.
Grace revira os olhos.
— Se você continuar fazendo isso toda a vez que eu me apresentar
para alguém, eu juro por Deus que vou começar a comentar sobre o que
aconteceu entre você e o Luca naquela maldita pista de gelo — dispara
Grace.
— O que foi que aconteceu entre você e o Luca na pista de gelo? —
Aurora indaga, exalando curiosidade e surpresa. — Vem, Casey, senta aqui
do meu lado e vamos ouvir uma fofoca em primeira mão.
Dou uma risadinha e entro no apartamento, sentando-me ao lado de
Aurora, em cima de uma almofada no chão, ao redor da mesa de centro da
sala, que está abastecida com taças de vinho e uma garrafa ainda fechada.
— Nada aconteceu — retruca Antonella, revirando os olhos. — Luca
só estava sendo irritante. Desde que fizemos aquela festa com a barraca do
beijo, ele tem sido um completo babaca.
— O que aconteceu na festa da barraca do beijo? — Aurora
questiona de novo, visivelmente perdida. — Como eu não fiquei sabendo de
nada disso antes?
Antonella se senta no chão e solta um longo suspiro.
— Eu preciso de vinho — ela declara, pegando a garrafa do centro da
mesa.
— O que aconteceu é que ela ficou brava porque os meninos não
tinham chamado ela para participar da barraca do beijo em si. Então, Luca
disse que Antonella deveria provar que sabia beijar bem para poder
participar.
— E eu beijei o Colin — ela completa, colocando uma boa
quantidade de vinho na sua taça. — De jeito nenhum eu iria beijar aquele
babaca arrogante. Desculpa, Casey.
Eu franzo o cenho, confusa do motivo de ela estar se desculpando
comigo.
— Pelo que?
— Por ter beijado o Colin e vocês estarem... meio que... sei lá.
Eu dou risada.
— Ah, não, não. Colin e eu somos só amigos. Não tem nada rolando
entre nós dois. Não há qualquer necessidade de você se desculpar.
— Jura? — Antonella questiona, cética. — Eu tinha certeza de que
alguma coisa estava rolando.
Faço que não com a cabeça.
— Mackenzie é mais devagar do que esperava — brinca Antonella,
dando um gole em seu vinho.
— Mas claramente o Luca não é, se você está tentando desviar o
assunto — eu digo, reunindo toda a minha coragem para tentar fazer uma
piadinha com garotas que ainda não são minhas amigas.
Grace e Aurora gargalham enquanto Antonella faz uma careta que
praticamente deforma o seu rosto bonito.
— Eu gostei dela — comenta Grace, ainda rindo. — Mas sim, o que
Antonella está tentando me impedir de contar, é que ela ficou caidinha ao
ver o Luca patinando tão pertinho dela.
— Que mentira!
— Eu duvido que seja mentira — Aurora contrapõe. — Luca é uma
delícia, mas é uma pena que ele esteja sempre tão de mau humor. Sem contar
que, se você tenta conversar com ele, tudo o que você consegue é um
monólogo, porque ele não conversa de volta.
— Por que não? — pergunto, curiosa.
— Porque ele se acha o último copo de água no deserto e acha que
ninguém é bom o bastante para ele — responde Antonella, venenosa.
— Na verdade, o Luca só é na dele mesmo — Grace corrige a amiga.
— Eu também pensei que o fato de ele nunca falar era porque se achava bom
demais para todo mundo, mas desde que comecei a namorar com o Trevor, e
consequentemente passei a conviver com o Luca com mais frequência, eu
percebi que esse é só o jeito dele mesmo. Ele não fala muito, nem mesmo
com o Trevor. Mas como os dois são amigos há muito tempo, o Trev
consegue entendê-lo sem que o Luca precise falar.
Aurora serve um pouco de vinho para todas nós.
— É bem estranho, mas é bem sexy também. Ele é todo misterioso.
— É irritante — Antonella rebate. — Eu detesto não entender o que
se passa na cabeça dele. Ele me deixa nervosa.
Eu me lembro de ter conhecido Luca muito rapidamente, em um dos
dias em que estava na antiga casa do Colin. Ele tem mesmo essa áurea
misteriosa. Lembro também que a única coisa que ele disse foi “Não”, ao
responder uma pergunta do Colin sobre ele estar se enfiando em um
encontro duplo. Entendo também o que Aurora quer dizer quando declara
que é sexy. Ela não está errada.
— Ele deixa qualquer garota nervosa — confirma Grace. — Mas eu
nem cheguei na melhor parte ainda.
Preciso conter a vontade de rir quando vejo Aurora se acomodando
para receber a melhor parte da fofoca.
— Os dois estavam patinando razoavelmente perto um do outro e
quando ela perdeu o equilíbrio, quem estava lá para impedir que ela se
esborrachasse no gelo? O Luca. Bem aquelas cenas de filme clichê que nós
amamos — conta Grace, e eu consigo sentir a empolgação na sua voz. — Os
dois ficaram se encarando por quase um minuto antes de ele soltá-la.
— E voltar a me ignorar logo em seguida — completa Antonella,
revirando os olhos. — Eu não entendo qual é a dele, sinceramente. Mas
enfim, essa palhaçada com o Capone está encerrada. Podemos mudar de
assunto agora?
Eu tenho a impressão de que elas vão tentar voltar a conversa para a
minha vida amorosa e, por algum motivo, elas parecem pensar que Colin faz
parte dela, então penso rápido ao dizer:
— E você, Aurora? — pergunto. — Grace tem namorado, Antonella
está em um limbo com o Luca, eu já comentei que sou só amiga do Colin,
mas você não disse nada sobre a sua vida amorosa.
— Casey está coberta de razão — concorda Antonella.
Aurora faz uma careta.
— É tão mais legal falar da vida amorosa dos outros. — Ela suspira.
— Eu estou a fim de uma garota do meu time de vôlei. Ah, é, Casey, você
tem que saber que eu sou bissexual.
Quando eu não esboço nenhuma reação, Aurora franze o cenho.
— Você não vai dizer nada?
Eu estranho a sua pergunta.
— Sobre o quê?
— Sobre eu ser bissexual.
Fico ainda mais perdida.
— Eu deveria dizer algo? — pergunto, enquanto encaro as outras
garotas à procura de entendimento. Eu deveria comentar algo a respeito
disso?
— Não, é só que... sempre que eu falo isso, as pessoas arregalam os
olhos em surpresa. Não necessariamente elas são preconceituosas, mas já me
acostumei tanto a ver as pessoas ficando surpresas com isso que ver você
não esboçando nenhuma reação é chocante.
Dou uma risadinha.
— Não vejo por que eu deveria me surpreender. Se eu te falar que
sou hétero, você vai arregalar os olhos para mim?
— Não.
— Então por que eu deveria arregalar os meus para você?
Aurora abre um sorriso.
— Eu sabia que não estava errada sobre você. Enfim... Tem essa
garota, Marjorie, mas eu ainda não entendi muito bem qual é a dela. A
minha orientação sexual não é um segredo para ninguém, então ela sabe que
eu também fico com garotas. Às vezes parece que ela está me dando umas
indiretas, às vezes parece que ela não poderia estar mais distante. Não sei.
Não entendo.
Finalmente dou um gole no meu vinho.
— Você já tentou conversar com ela ou chamar ela pra sair? —
Antonella pergunta, dando um longo gole na sua bebida.
Aurora faz que não.
— Eu sempre priorizo me sentir segura. Ela não está me passando
segurança nenhuma, então por que eu deveria me expor? Eu já estou
correndo risco de me magoar, não quero dar ainda mais poder pra ela.
— Mas se apaixonar não é justamente sair da sua zona de conforto?
— sugiro. — Se você sempre tenta estar segura, como quer se apaixonar?
Grace anui.
— Eu concordo. Olhem só para mim e para o Trevor. Eu o odiava
antes, e mesmo quando ele finalmente começou a ser legal comigo, eu
continuei desconfiada. Acho que eu fiquei ainda mais desconfiada porque
ele nunca era legal. Eu precisei me abrir um pouco, dar um voto de
confiança para tentar entender qual era a dele. Olha só onde estamos agora.
Sou completamente apaixonada por ele.
— Você odiava o seu namorado? Por quê? — questiono, curiosa.
Então Grace explica como Trevor sempre encheu o saco dela na
época da escola, fazendo todo o possível para tirá-la do seu juízo perfeito,
até que na última festa do último ano do colegial, os dois acabaram na cama.
Grace achou que nunca o veria de novo, mas depois descobriu que eles
estavam na mesma faculdade e as provocações continuaram. No fundo,
Trevor sempre foi apaixonado por ela, só não sabia se comportar de outra
forma depois de tantos anos naquele joguinho de ódio.
O clássico enemies to lovers, quando o cara já está apaixonado pela
mocinha, mesmo quando fala que detesta ela.
— Foi uma verdadeira história de novela. Teve até a vilã mentindo
sobre estar grávida do Trevor para tentar separar ele e a Grace — comenta
Antonella. — Inclusive, ainda bem que ela sumiu do mapa. O Colin e a
Kiara estão melhores sem a Anna.
Grace e Aurora confirmam com a cabeça.
Bebo um longo gole do meu vinho, mas me arrependo quase que
imediatamente, pois me lembro que faz horas desde que eu comi pela última
vez e não quero encher a cara estando de estômago vazio.
— Mudando de assunto... nós poderíamos pedir uma pizza — sugere
Antonella. — Eu estou faminta.
— Eu não queria falar nada para não ser mal-educada, mas eu
também estou morrendo de fome. — Faço uma careta e coloco minha mão
sobre minha barriga em uma tentativa de conter o ronco do meu estômago.
Isso é constrangedor.
Aurora dá uma risadinha.
— Vamos providenciar algo para comer então.
— E depois vamos escolher um filme para assistir — sugere Grace.
— Eu topo — concordo.
— E o que vamos pedir de sobremesa? — pergunta Antonella,
pensativa. — Eu estava pensando em alguma coisa com chocolate.
Muuuuuito chocolate.
Nós damos risada e começamos a considerar as opções que temos,
tanto de pizza quanto de sobremesa. Depois, partimos para a missão de
escolher um filme para assistir. Por que eu sinto que essa é sempre a parte
mais difícil? Seja para um encontro romântico ou para uma reunião de
amigas. Será que todo mundo tem esse mesmo “problema”?
Optamos por uma comédia romântica depois de analisarmos todos os
gêneros possíveis. Aurora e Antonella queriam ver um filme de terror, mas
Grace e eu fomos explicitamente contra. Por um momento, achei que eu teria
que assistir terror. Eu sou medrosa demais para isso, pelo amor de Deus. Eu
sei que tem muita gente que fala que os filmes de terror são ridículos e não
dão medo, mas como eles podem dizer isso quando há a mensagem: baseado
em fatos reais? GENTE! Deus me proteja! Eu quero passar bem longe de
qualquer coisa que seja baseada em fatos reais quando se trata de filmes de
terror, muito obrigada!
No meio do filme, depois de já termos acabado com duas caixas de
pizza e alguns donuts, que foi a sobremesa vencedora depois de um longo
debate, eu recebo uma mensagem de Colin. Disfarçadamente, checo o
celular, pois não quero que as garotas saibam que ele me mandou
mensagem. Eu sei muito bem como isso vai parecer para elas.

Colin
Como está a festa do pijama? As meninas já estão te fazendo
perguntas?
Eu
Como vc sabe que elas iriam fazer perguntas?
Colin
Pq eu conheço mt bem as amigas q eu tenho. Aurora é uma
fofoqueira nata hahaha
Eu
Se elas estão fazendo perguntas, vc deve ter falado mt bem de mim
pra elas…
Colin
Depois o arrogante sou eu. Abaixe essa bola, Casey.
Colin
A propósito, qual o seu sobrenome? Quero poder te chamar pelo
sobrenome igual vc faz comigo. Vamos igualar as coisas!!!

Tenho vontade de rir, mas me contenho. As garotas parecem


entretidas pelo filme, então acho que é seguro responder à mais essa
mensagem de Colin. Mas depois disso, vou voltar a ignorar o celular. Não
quero ser o tipo de pessoa que fica no celular e não sabe aproveitar os
momentos com as pessoas que estão realmente ao meu lado.

Eu
Fletcher.
Colin
Chique. Casey Fletcher. Gostei.
Colin
Vc não devia estar aproveitando a festa do pijama com suas novas
amigas, Fletcher? Responder às minhas mensagens deve ser mt mais
interessante, aposto.

Reviro os olhos.
Esse garoto se acha a última bolacha do pacote!
No entanto, não consigo evitar sorrir.

Eu
Vai ver se eu tô na esquina, Mackenzie!
Tchau!!!!!!!!
Colin
Tchau, nervosinha ;)
Coloco o celular no chão, do meu lado e com a tela virada para baixo
antes de voltar a prestar atenção no filme como se nada tivesse acontecido.
No entanto, acredito que não fui tão discreta quanto pensei, pois dois
segundos depois, Aurora diz:
— Ele é um pé no saco às vezes, sabe, mas também é capaz de
causar sorrisinhos como esse seu.
Grace e Antonella dão risadinhas com o comentário da melhor amiga
de Colin. E o sorriso malicioso no rosto de Aurora me diz que ela está me
provocando; tentando, de alguma forma, rebater o que eu disse antes sobre
Colin e eu sermos apenas amigos.
Solto um longo suspiro.
— Acho que vou mudar de ideia sobre ser amiga de vocês.
As três riem.
— É um pouco tarde demais para isso agora — diz Antonella. —
Você está presa com a gente, Casey. Conforme-se.
— Que ótimo — brinco, fingindo tristeza, mas sorrindo para elas,
para que saibam que eu estou brincando.
As três retribuem o meu sorriso com olhares cúmplices.
Acho que eu realmente posso ter feito algumas amigas.
Capítulo 10

Tem um espaço para você no meu carro, deixe eu abrir a porta


Abro meus olhos para um sentimento que não posso ignorar
Eu preciso de você ao meu redor
Oh, sim, sim, sim, sim
Eu preciso de você ao meu redor
Eu não gostaria de estar em outro lugar
| Justin Bieber – All Around Me

Quando o final de semana finalmente chega, minha ansiedade atinge


níveis estratosféricos.
Minha mãe está dando mamadeira para Kiara enquanto eu abasteço a
geladeira com várias outras madeiras, já deixando-as prontas para quando
Kie ficar com fome. É muito mais fácil só esquentar depois, do que ter que
fazer tudo do zero enquanto ela chora porque está com fome. Meu pai está
terminando de preparar a churrasqueira para o churrasco, já que meus primos
estão previstos para chegar aqui a qualquer momento. Eu estou tão ansioso
para vê-los que não consigo me aguentar; não consigo parar quieto.
Organizei todo o meu quarto e o quarto de Kiara também; coloquei as roupas
sujas para lavar; dobrei todas as roupinhas dela que já estavam limpas e
coloquei no lugar… Tudo para ocupar o tempo que parece nunca passar.
— Você deveria chamar a Casey para o churrasco — sugere minha
mãe, após terminar de dar a mamadeira para Kiara e colocá-la para arrotar.
Minha filha ainda tem regurgitado de vez em quando, mas me sinto
muito menos estressado e preocupado agora que meus pais estão aqui para
me ajudar. Não parece mais que o mundo inteiro está sobre as minhas costas
e me sinto muito mais seguro em cuidar de Kiara, com as instruções dos
meus pais para me guiar.
— Para quê? Para que todo mundo fique pensando que nós temos
alguma coisa? — indago antes de olhar para a minha mãe. — Não pense
nem por um segundo que eu não sei o que você está fazendo, Sophie Harley
Mackenzie — brinco.
Minha mãe ri.
— Que absurdo! Eu não estou fazendo absolutamente nada, querido.
— Você não me engana, mãe. Eu conheço você e o meu pai muito
bem. Eu sei exatamente o que significou quando vocês dois se encaravam
com sorrisinhos no rosto durante o café da manhã com a Casey. Ela é só
minha amiga, pode ir tirando o cavalinho da chuva.
— Eu não posso simplesmente ter gostado dela e querer convidá-la?
— É claro que pode, mas eu sei que você tem segundas intenções.
Minha mãe dá de ombros.
— E se eu tiver? Não é nenhum crime uma mãe querer que o filho
encontre uma moça bacana.
Balanço a cabeça enquanto rio.
— Mãe, eu te amo, mas, por favor, fique fora da minha vida
amorosa. Já basta ter Aurora, durante a minha vida inteira, achando que o
universo deu a ela a função de ser meu cupido.
— Eu sou sua mãe, não tenho que prometer coisa alguma.
Que maravilha.
— Do que estamos falando? — meu pai pergunta quando entra em
casa. Ele vai direto até a geladeira, à procura de uma garrafa de água.
O dia está quente e a prova disso são as gotas de suor que se
prenderam na testa do meu pai. Ele também está sem camiseta, com a peça
jogada de qualquer jeito sobre um dos seus ombros. Meu pai, em seus plenos
quarenta e poucos anos, ainda é um homem com um físico de dar inveja.
Mesmo não sendo mais um atleta, ele faz questão de frequentar a academia
regularmente e manter a boa forma. Minha mãe também é uma mulher linda.
Quem olha para ela não diz que ela tem um filho com mais de vinte anos e
que agora é avó.
— A sua esposa quer se intrometer na minha vida amorosa — conto
ao meu pai.
— Ah sim. Você deveria convidar a Casey para o churrasco.
— Você também?! — exclamo, impressionado com o complô.
Meu pai dá um longo gole na sua garrafa de água e depois dá de
ombros.
— Se ela é só sua amiga, qual o problema de convidar? Grace
também vai vir e ela é só sua amiga, certo?
— Seu pai tem um argumento excelente, querido — acrescenta
minha mãe, com inocência fingida.
— Vocês dois são inacreditáveis. Ok, eu vou convidá-la — eu acabo
cedendo, porque a presença de Casey acabou se tornando uma constância
nos meus dias e eu gosto da companhia dela. — Por favor, não façam eu me
arrepender disso.
— Não se preocupe, filho. Sua mãe e eu estaremos no nosso melhor
comportamento — meu pai garante, mas não sei se confio nele.
Prefiro não falar nada, no entanto. Eu apenas olho para os meus pais
com os olhos semicerrados antes de puxar meu celular do bolso da calça e
mandar uma mensagem para Casey, a convidando para o churrasco.
Não tenho tempo de conferir a resposta de Casey, pois a campainha
começa a tocar ininterruptamente, o que automaticamente me faz sorrir
porque eu sei exatamente quem são as pessoas que estão do outro lado da
porta.
— Aurora, eles chegaram! — eu grito para a minha melhor amiga,
que está no andar de cima terminando de arrumar os quartos.
— Eu estou indo! — ela grita.
E em segundos, eu escuto os passos apressados dela do lado de cima.
Espero Aurora descer as escadas e então me apresso até a porta, abrindo-a
em um rompante ansioso e encontrando A Tropa parada bem na minha
frente.
— Só me diz uma coisa — Noah começa, com um olhar divertido no
rosto —, eu vou ser o padrinho? Porque se não for eu, eu nem vou entrar
nessa casa.
Seb revira os olhos.
— Por que você se acha tão especial? — brinca.
— O posto de padrinho e madrinha já foram ocupados, foi mal, cara
— eu digo, dando risada.
Noah balança a cabeça.
Como Trevor passou por tudo isso comigo e achou, por nove meses,
que poderia ser o pai de Kiara, nada mais justo do que colocar ele como
padrinho. E a madrinha da Kie é a Aurora.
— Não tenho nada para fazer aqui então. Tchau, Colin — dramatiza
Noah.
— Para de graça, caralho! — Adam reclama.
— Calem a boca e me deem um abraço logo — eu exijo.
Meus primos começam a rir e nós nos envolvemos em um abraço
coletivo. São tantos braços envolvidos que eu nem sei mais quem
exatamente eu estou abraçando, mas sei que é bom. Faz com que eu me sinta
em casa, mesmo estando tão longe de onde nós crescemos; mesmo que
passemos a maior parte do ano separados.
— Eu acho bom que você esteja preparado, Colin — diz Kenna, com
um quê de desespero na voz. — Nós não fomos os únicos a entrar em um
avião para vir até aqui.
Franzo o cenho, um pouco confuso por um momento, mas tudo
começa a fazer sentido quando vejo o Tio Nash sair de dentro de um dos
carros que eu nem notei que estavam parados na frente de casa.
Puta que pariu! A família inteira veio para conhecer a Kiara?
— Olha só para ele! — Tio Nash grita, jogando os braços para cima e
sorrindo como o Coringa assim que me vê. — O novo papai do pedaço!
— Você não sabe não ser escandaloso, sabe? — Tia Eretria brinca ao
sair do carro logo em seguida.
— Depois de anos de casada com ele, você ainda não se acostumou?
— Tia Sav dá risada.
Quando todos os meus tios e tias — todos eles, sem exceção — saem
de dentro dos carros e olham para mim, olham para os filhos que também
estão parados ao meu lado, vejo os sorrisos ganharem lugar em seus rostos.
Puxa, como eu senti falta deles.
— Dá para acreditar em como eles cresceram? — Tio Ryan comenta.
— Parece que foi ontem que eles estavam nascendo — Tia Bree se
emociona, colocando uma mão sobre o peito. — Agora já estão tão grandes,
seguindo as próprias vidas, tendo bebês...
— Nós estamos ficando velhos — Tio Jeremy comenta com uma
careta.
— Fale por você — Tia Ronnie contra-argumenta. — Eu não me
sinto nem um pouco velha, Jer.
Tio Kyle ri ao dar um beijo na bochecha da esposa.
— E você não está, amor.
Seb faz uma careta.
— Podemos simplesmente deixar as demonstrações de afeto para
depois? Eu estou ansioso para conhecer a nossa mascote da família.
— Devo dizer que eu fui o primeiro a ficar sabendo da existência da
Kie — Tio Babyface pontua, todo orgulhoso.
— Pai, não viaja! — Harmony ri. — A primeira a saber foi a Aurora.
— Exatamente — Tio Friends exclama, orgulhoso. — Minha filha
foi a primeira a saber, o que significa a minha parte da família tem mais
direitos que a sua, Babyface!
Noah revira os olhos.
— Vai começar tudo de novo!

Depois que todo mundo se cumprimentou devidamente e lágrimas


foram derramadas de emoção e saudade, todos se concentram ao redor de
Kiara, que agora está em meus braços, super acordada e curiosa sobre a
quantidade de pessoas que olham para ela. Kie até chega a dar um sorrisinho
ou dois quando alguém brinca com ela ou faz cosquinha em sua barriga. Tia
Kait disse que tudo indica que ela vai ser uma bebê bastante simpática. O
que levou minha mãe a desenterrar lembranças de quando eu era um bebê.
Segundo ela, eu também fui um bebê e uma criança simpática, de modo
geral.
— Ela é lindíssima, Colin — Tia Brooke diz, sorrindo. — E se
parece muito com você.
Eu sorrio, satisfeito em ouvir que Kiara se parece comigo, mesmo
que eu sabia que ela também tem algumas características de Anna, como o
tom do cabelo puxado para o loiro.
— Obrigado.
— Vamos ter que desenvolver um sistema de proteção — comenta
Noah, pensativo.
— Sistema de proteção? — Charlie indaga, visivelmente confusa ao
olhar para Noah. — Como assim?
— Ora, não é óbvio? Kiara vai ter caras correndo atrás dela aos
montes. Vai ser nossa função ensiná-la a se defender.
Kenna, Aurora e Harmony reviram os olhos ao mesmo tempo
enquanto Charlie simplesmente olha para Noah como se ele tivesse perdido
a cabeça.
— Ela ainda é um bebê, Noah. Vai demorar bastante tempo para que
tenha caras correndo atrás dela — Charlie pontua o óbvio. E graças a Deus
por isso.
— Sabe, quando a Kenna e a Charlotte nasceram, eu tinha um plano
de manter os caras bem longe delas, mas aí você apareceu — diz o Tio Nash,
olhando para o Noah com falsa irritação. — Fedelho paquerador!
Nós todos damos risada. Foi meio estranho no começo, quando Noah
e Kenna assumiram que estavam namorando, mas agora? Acho que ninguém
nessa família consegue imaginar eles separados, nem mesmo o Tio Nash.
Quando a curiosidade sobre Kiara diminui, eu ajudo meus primos e
meus tios a descarregarem o carro, enquanto meu pai toma conta de Kiara e
minha mãe conversa com as minhas tias. Por alguns longos minutos, parece
que o tempo não passou. Parece que estamos de férias da escola, viajando
juntos como sempre fazíamos. A sensação de déjà vu é monstruosa e
maravilhosa. Eu não poderia estar mais feliz de saber que Kiara vai crescer
na mesma família que eu cresci, sendo amada, protegida e amparada do jeito
que eu fui. É verdade que nenhuma família é perfeita, nós temos nossos
problemas e brigamos como todo mundo, mas eu amo cada uma dessas
pessoas com todo o meu coração, independentemente das nossas diferenças.
E tenho certeza de que Kiara vai amá-los também.
Tio Jeremy e Tio Ryan estão revezando na churrasqueira enquanto a
Tia Ronnie, Charlie e a Tia Kait ajudam a minha mãe com o restante do
almoço. Kenna, por sua vez, está segurando Kiara no colo enquanto
Harmony cantarola algumas músicas para a minha filha, que parece bastante
feliz em ouvir a filha caçula da Tia Sav e do Tio Babyface cantar. Eu e o
resto do pessoal nos dividimos para organizar a mesa e ajudar no que mais
for necessário para que o almoço aconteça.
Quando Grace, Trevor, Aaron, John, Antonella, Luca e Casey
também aparecem, eu me dou conta de que estou completamente perdido em
meio a tantas pessoas no mesmo lugar. É tanta gente falando, se abraçando e
se cumprimentando ao mesmo tempo que juro por Deus que me sinto um
pouco tonto.
Onde é que está a minha filha?
Onde é que eu estou?
— Você está bem? — A voz de Casey me traz de volta para a
realidade. Encontro-a olhando para mim com aquele sorriso tranquilo no
rosto, embora seus olhos demonstrem um pouco de preocupação.
— O quê? — pergunto, ainda meio confuso.
Casey dá uma risadinha.
— Você está bem? Parece meio perdido.
Quando meu cérebro decide cooperar comigo e eu finalmente
consigo enxergá-la, percebo que Casey está usando um vestido amarelo
soltinho e uma jaqueta jeans por cima, com um Vans nos pés. O cabelo ruivo
está preso em um coque despojado no alto da cabeça, com duas mechas
solitárias emoldurando o seu rosto. Caralho, ela está muito bonita. O corpo
mid-size tem curvas deliciosas, que eu me esforço muito para não reparar
porque somos amigos e Casey deixou bem claro, logo no início, que o seu
foco aqui é em estudar. Também não deixo de reparar que Casey parece bem
confortável com o corpo que tem. A maioria das garotas que conheci e tive
algum tipo de envolvimento, para não dizer todas elas, que não eram
necessariamente magras, pareciam ter algum tipo de insegurança com o
próprio corpo. Mas não a Casey, o que, sinceramente, eu acho bastante
atraente. Confiança é algo atraente.
Eu não sou um desses caras que só fica com mulheres de um certo
biotipo. Eu gosto de mulher, ponto final.
— Colin?
— Huh? — Eu olho para ela. — Desculpe, eu estava viajando. É, eu
estou bem, não se preocupe. É só muita gente junta ao mesmo tempo, fiquei
momentaneamente perdido mesmo.
— É muita gente mesmo — Casey concorda, olhando ao redor.
— Meus tios e tias resolveram aparecer também. Faz muito tempo
que não temos todo mundo reunido no mesmo lugar desse jeito. Está vendo
aquele cara negro ali na churrasqueira e aquela mulher loira do lado dele? —
aponto. Casey confirma com a cabeça. — São meu Tio Jeremy e minha Tia
Kait. Eles são casados e moram na África, porque ela faz parte do Médicos
Sem Fronteiras. Nós só os vemos de tempos em tempos.
Casey arregala os olhos e juro por Deus que acho que nunca vi seus
olhos brilharem tanto quanto agora.
— Ela é do Médicos Sem Fronteiras?
É então que eu me toco que Casey está encantada porque ela também
quer ser médica.
— Eu posso te apresentar ela, se você quiser — ofereço.
Casey assente tão rapidamente que não consigo evitar rir. Ela é
adorável quando fica animada com alguma coisa.
— Vem — digo, pegando na mão de Casey e puxando-a comigo.
Ela não protesta, apenas deixa que eu a conduza para onde a Tia Kait
conversa com o marido com um sorriso enorme no rosto. Ela é um pouco
mais nova que as minhas outras tias, por ser a irmã mais nova do Tio
Babyface, mas poderia facilmente se passar pela irmã gêmea da minha mãe.
As duas são muito parecidas fisicamente, mas a tia Kait é consideravelmente
mais alta que a minha mãe.
— Ei, Tia Kait — eu chamo ao me aproximar. Minha tia vira-se na
minha direção quando me ouve. — Tem uma pessoa que eu quero te
apresentar. Essa é a minha amiga Casey. Ela também quer ser médica.
Tia Kait sorri, fofa como sempre.
— Ah é? Isso é ótimo! É um prazer te conhecer, Casey. Meu nome é
Kait.
— O prazer é todo meu. — Casey sorri de volta. — O Colin disse
que você é do Médicos Sem Fronteiras.
— Sou sim.
— Bom, eu vou deixar vocês conversando e vou dar uma olhadinha
na minha filha. Não dá para confiar cegamente nos malucos dessa família.
As duas dão risadinhas antes que eu me afaste o suficiente para não
ouvir mais a conversa. Procuro por Kenna, já que era ela quem estava
segurando Kiara há alguns minutos, mas percebo que já não é mais a gêmea
de Charlie quem está com a minha filha. Vasculho os arredores, procurando
por Kiara, mas não a vejo em lugar nenhum.
— Kenna, cadê a Kiara? — pergunto, preocupado por não ver a
minha filha.
— A Tia Ronnie a levou para trocar a fralda.
Respiro aliviado.
Eu não sei exatamente por que me causa ansiedade não ter Kiara
onde eu possa ver, acho que uma parte de mim se preocupa que Anna possa
aparecer de repente e levá-la embora. E por mais que eu também ache que
isso é pouco provável, considerando que ela não quis ter nada a ver com a
nossa filha, eu não duvidaria se Anna desse uma de maluca e tentasse algo
assim. É a cara dela ser completamente imprevisível.
— Quem é a sua amiga? — Seb pergunta, saindo da piscina e vindo
na minha direção, todo molhado. A sua fisionomia não nega que ele tem
segundas intenções com a sua pergunta.
Automaticamente, olho para onde deixei Casey com a Tia Kait. As
duas parecem ter embarcado em uma conversa animada.
— O nome dela é Casey.
— Casey — Seb repete, todo interessado.
— Pode esquecer, Seb.
— O quê? — ele questiona, arregalando os olhos. — Você está
investindo? Ela é bem gata.
— Eu não estou investindo, ela é minha amiga, mas eu te conheço
muito bem e sei que você é um conquistador de mão cheia. Você só vai ficar
na cidade por alguns dias, não quero lidar com os estragos de corações
partidos que você deixa pelo caminho.
Por sermos muito próximos, eu conheço meus primos como a palma
da minha mão. Eu os amo, mas sei que eles não valem nada quando o
assunto é romance, com exceção do Finn que tem uma namorada que ainda
não conhecemos, Noah que se apaixonou perdidamente pela Kenna e do
Adam que tem um amor de infância que nunca superou. Adam não fala
muito sobre ela, nós nem sequer sabemos o nome da garota, mas sabemos
que ela também era do orfanato de onde ele foi adotado pelo Tio Ryan e pela
Tia Brooke. Eles adotaram o Adam cerca de seis meses depois de adotarem
o Finn.
— Você pensa tão mal de mim, Colin — dramatiza ele. — Tudo bem,
vou ficar longe da ruiva. Mas se eu fosse você, eu manteria os olhos bem
abertos.
Reviro os olhos.
— Colin finalmente tem um interesse amoroso? — Kenna pergunta,
toda curiosa, porque é óbvio que ela estava escutando a conversa. Essa
família está lotada de fofoqueiros de plantão.
— Qual a parte do “ela é só minha amiga” vocês não estão
entendendo?
Kenna e Seb erguem as mãos para o alto, se rendendo.
— Eu só estou dizendo que você nunca trouxe nenhuma amiga para
uma festa de família — ela argumenta. — Você tem que entender a nossa
curiosidade.
Bom, Kenna não está errada sobre isso. Eu realmente nunca trouxe
nenhuma garota para festas de família, mas isso se deve ao fato de eu nunca
ter tido uma garota como amiga — com exceção de Grace, mas acho que
isso só aconteceu porque moramos — morávamos — juntos.
— Por favor, não abordem ela com esse assunto. Eu não quero que
ela se sinta incomodada.
Seb e Kenna trocam um olhar. É tão rápido que eu não consigo
entender o que significa.
— Não se preocupa, Colin. Vamos manter a boca bem fechada —
promete Kenna, com um sorriso que não me passa muita confiança.
Capítulo 11

Eu nunca te disse como eu realmente me sinto


Porque eu não consigo encontrar as palavras para dizer o que eu sinto
| Ariana Grande – Just A Little Bit Of Your Heart

A família de Colin é encantadora no verdadeiro sentido da palavra.


Eu acho que nunca conheci pessoas tão diferentes e tão legais reunidas em
um mesmo lugar. Acho que nunca dei tanta risada também. Quando os tios e
tias de Colin começaram a contar sobre as aventuras deles quando tinham a
nossa idade, todos à mesa caíram na gargalhada. Nash nos contou sobre
como foi o pedido de namoro dele para Eretria e fez questão de mostrar o
vídeo do momento. Ele fez uma performance musical no pedido de namoro e
no de casamento também. Parece que ele é especialista em fazer
performances musicais, pois fez o mesmo em vários dos aniversários das
filhas gêmeas: Charlotte e Kenna.
Friends e Babyface — pois é, esses são os apelidos de dois dos tios
de Colin, mas seus verdadeiros nomes são Dylan e Zach, respectivamente —
são sem dúvida os mais engraçados do grupo. Junto com Nash, eles vivem
para se infernizar entre si e infernizar os outros também. E todas as
interações são motivos de risada. Os primos e primas do Colin também não
ficam atrás. Eles são tão engraçados e simpáticos quanto os pais. Dá para
entender ainda melhor o carinho por trás das palavras de Colin, quando ele
estava me contando sobre a sua família.
Eu queria ter uma família assim. Talvez se minha mãe tivesse
sobrevivido ao acidente isso teria se tornado real. Deus, eu nem sequer
reconheço o meu pai depois que ele se casou com Georgina. Não é desse
homem que eu me lembro quando minha mãe estava viva.
— Então, eu fiquei sabendo que vocês têm uma festa hoje à noite —
Friends puxa o assunto enquanto todos estão à mesa para o almoço.
Todos os pares de olhos se voltam na direção dele.
— Como você sabe disso? — Colin pergunta.
Ele fez questão de sentar ao meu lado porque não queria que eu me
sentisse abandonada. Essa foi a palavra que ele usou e ainda acrescentou que
sabia que eu iria preferir tê-lo ao meu lado a qualquer outra pessoa.
Convencido! Esse cara é completamente sem limites quando se trata do seu
ego. Em resposta, eu apenas revirei os olhos e soltei um recatado “Vai
sonhando”.
— Eu tenho minhas fontes de informação — responde Friends, todo
misterioso.
— Aurora contou para ele — Brianna diz logo em seguida, acabando
com a onda do marido e arrancando risadas de todo mundo.
— Porra, Bree! — ele protesta.
Ela dá uma piscadinha para o marido enquanto se esforça para conter
a risada.
— Pelo menos a sua filha te conta as coisas. E o meu filho que
escondeu que tinha engravidado uma garota? — brinca Derek.
— Culpado — Colin responde com um sorriso brincalhão para o pai.
— Eu sinto tanta falta das festas universitárias — comenta Eretria
com um tom saudoso.
— Do que acontecia nos banheiros das festas universitárias —
completa Nash e todo mundo percebe a malícia em sua voz.
— Pai — as gêmeas protestam ao mesmo tempo.
— Totalmente desnecessário — Kyle diz, revirando os olhos.
— O Tio Kyle é o irmão mais velho da Tia Tria — Colin cochicha no
meu ouvido, para que eu não fique sem entender a indignação de Kyle em
relação ao comentário de Nash.
— Faz sentido.
O almoço segue animado e não há um único momento em que o
silêncio prevalece. Todos parecem estar muito à vontade e felizes. Até
mesmo Luca, que estava com a cara fechada quando chegou, parece estar
mais amigável agora, embora ele insista em responder às perguntas com
gestos e não com palavras. Ninguém parece recriminá-lo por isso. Aqui,
com essas pessoas, eu sinto que é a definição de se sentir em um lugar
seguro. Seguro para ser você mesmo, para sorrir, para chorar, para estar de
bom humor, de mau humor. Apenas seguro, em todos os sentidos da
palavra.
Logo após o almoço, alguém sugere um karaokê, o que faz Nash
ficar muito empolgado, já que ele é o cara das performances musicais. Todo
mundo acabou entrando na brincadeira e cantando pelo menos uma música
— menos o Luca, mas ele deu um apoio moral para o Trevor enquanto ele
cantava. E por apoio moral eu quero dizer que Luca ficou parado ao lado de
Trevor como uma estátua, quase como se fosse o seu segurança particular e
Trevor algum cantor muito famoso. Foi engraçado de assistir.
Quando chegou a minha vez de cantar, escolhi um clássico e chamei
Aurora para cantar comigo. Ao som de Dancing Queen do ABBA, nós
demonstramos toda a nossa habilidade — ou a falta dela — em manter a voz
afinada. Tentamos até imitar a coreografia que as cantoras fazem no clipe.
Não tem uma pessoa que eu conheço, independentemente da idade, que
nunca tenha ouvido Dancing Queen pelo menos uma vez.
Não me lembro quando foi a última vez que me diverti tanto assim
com pessoas que não conheço tão bem.
— Que bom que você escolheu ser médica e não cantora, Casey —
brinca Colin, logo após eu entregar o microfone para Sebastian.
Eu empurro seu ombro usando o meu e faço uma careta.
— Como se você fosse muito melhor do que eu — retruco,
brincalhona. — Não pense que eu não notei a desafiada grotesca que você
deu. Tenho certeza de que parte da minha audição foi embora depois
daquilo.
Colin ri.
— Eu nunca prometi que seria bom em cantar, embora eu seja bom
em muitas outras coisas.
Eu o encaro com os olhos semicerrados.
Muito do que Colin diz sempre parece conter um flerte velado. Eu
nunca sei exatamente como interpretar as coisas que ele fala. Por via das
dúvidas, eu sempre me faço de desentendida.
Essa é a minha solução quando Colin é o assunto: se não tenho
certeza, me finjo de desentendida.
— Cite cinco coisas — eu desafio, porque aparentemente ele sempre
consegue me fazer entrar no seu joguinho.
Colin ergue uma sobrancelha enquanto um sorriso que deveria ser
proibido por lei desenha os seus lábios.
— Vamos começar com o mais óbvio: hóquei — Ele começa a contar
nos dedos. — Eu diria que também sou muito bom com bebês, apesar de ter
ficado perdido nos primeiros dias, o que, em minha defesa, você mesma
disse que era super normal.
— Ok, e o que mais?
— Também sou muito bom no basquete, o que também é bastante
óbvio considerando a família onde eu cresci — ele diz, contabilizando nos
dedos. — Já foram três. As outras duas coisas eu acho que é melhor eu não
dizer.
Isso automaticamente me deixa curiosa.
— E por que não?
— Porque não quero te deixar sem graça.
— Você vai ter que dizer de qualquer forma agora, porque conseguiu
me deixar curiosa.
Por que eu tenho a impressão de que eu acabei de dizer o que ele
queria que eu dissesse? Maldição.
— Ok, mas lembre-se que foi você quem pediu. — Colin dá um
passo para mais perto de mim e fala perto do meu ouvido: — Eu também
beijo muito bem, mas o que eu faço na cama é ainda melhor.
Engulo em seco.
Tem algum incêndio acontecendo aqui perto? Porque eu sinto como
se o meu rosto estivesse em chamas, tamanha é a minha vergonha. Eu
imaginei que ele fosse dizer alguma coisa engraçadinha como essa, mas não
pensei que fosse ser tão direto.
Colin ri.
— Tá vendo? Você está vermelha como um tomate.
— Não é culpa minha que você é um tarado sem vergonha!
Ele gargalha, jogando a cabeça para trás. A leveza do som me pega
um pouco de surpresa e, por alguns instantes, eu pareço estar hipnotizada,
olhando para ele e o escutando rir como se pudesse ficar horas fazendo só
isso. Mas então o toque do meu celular soa para me puxar de volta para a
realidade. Obrigada por isso, Deus.
— Algum ser abençoado está me ligando agora para me dar a chance
de escapar de você — brinco. — Com licença.
— Você vai precisar de mais ajuda que isso para escapar de mim,
Fletcher.
Reviro os olhos ao ouvi-lo me chamar pelo meu sobrenome.
Me afasto o suficiente da festa para conseguir atender o telefone sem
ser difícil ouvir a voz da outra pessoa do outro lado da linha.
— Alô?
— Oi, querida — a voz do meu pai me pega completamente de
surpresa. Eu estava tão distraída com o Colin que nem sequer vi quem estava
ligando antes de atender a chamada.
— Pai! Oi! — cumprimento, animada.
Eu mentiria se dissesse que não sinto falta dele, falta da família que
fomos um dia, quando minha mãe ainda estava viva. É tão estranho olhar
para uma pessoa que você jurava que conhecia como a palma da sua mão e
se dar conta de que você não faz a menor ideia de quem ela é de verdade. Eu
sinto isso em relação ao meu pai. Sinto falta do homem que ele era antes de
Georgina.
— Como você está?
— Estou bem e você? — pergunto, sentindo meu coração disparar
pelo simples fato de ele ter se dignado a ligar. Nem me lembro quando foi a
última vez que nos falamos por telefone porque ele ligou, não eu. — Estou
feliz que você tenha ligado.
— Estou bem. Liguei para saber como foi a mudança para a nova
cidade. Como é mesmo o nome?
— Paradise.
— Isso. Você conseguiu se instalar? Encontrou a sua irmã?
— Me instalei, sim, e até fiz alguns amigos também — conto,
empolgada. — Eu falei com ela tem alguns dias, mas não nos encontramos
pessoalmente ainda.
Prefiro esconder uma parte da verdade.
— Mas ela está bem?
— Sim. — Não. — Ela está ótima.
— Ah, que bom... Eu estava pensando... Sei que está um pouco longe
ainda, mas pensei que talvez você pudesse vir para casa no Dia de Ação...
Michael! — Escuto a voz de Georgina ao fundo antes que meu pai tenha a
chance de terminar o que estava dizendo. — O que foi, querida? Você pode
vir aqui na cozinha pegar um copo para mim? É tão alto. Eu não consigo
alcançar.
— Pai — eu tento chamar a atenção dele de volta para mim. — Pai, o
que você estava dizendo? — pergunto, torcendo para que ele volte a
conversar comigo, nem que seja por mais alguns minutos. Nós quase nunca
nos falamos por mais de cinco minutos, porque Georgina sempre atrapalha.
Eu não me dei conta antes, mas talvez ela faça de propósito.
— Casey, preciso ir. Georgina precisa de mim. Falamos depois, tá
bom?
— Espera, pai, nós...
Ele encerra a ligação antes que eu consiga protestar.

— Aí está você.
Colin aparece de repente e se senta ao meu lado, no degrau da
entrada para a casa. Eu me escondi aqui depois da ligação do meu pai, já que
todo o clima de festa que eu estava sentindo antes, desapareceu por completo
depois que, mais uma vez, meu pai me deixou de lado por uma mulher que o
faz de gato e sapato. Será que realmente dá para chamar isso de amor? Às
vezes me pergunto se meu pai não se tornou dependente emocional de
Georgina em uma tentativa de suprimir a ausência da minha mãe.
— Procurei você por todo o canto.
— Desculpe, eu só precisava de um tempinho.
Colin olha para mim com preocupação cintilando nas nuances de
verde dos seus olhos.
— Aconteceu alguma coisa? Você sumiu depois que recebeu aquela
ligação que te salvou de mim.
Dou um sorriso pela brincadeira. Parece ser tão fácil sorrir com ele.
— Por incrível que pareça, e não acredito que vou dizer isso, a sua
companhia estava melhor.
Ele sorri, mas ainda me olha com preocupação.
— Eu sei, é você quem está se enganando aqui, Case — ele brinca de
volta, mas fica sério logo em seguida. — Quer conversar ou prefere que eu
te deixe sozinha?
— Não quero acabar com o clima da festa para você. Eu acho que
vou embora, de qualquer forma. Só não queria ir sem me despedir.
— Ah, qual é, você não pode ir embora. Temos a festa hoje à noite,
lembra? As meninas estão combinando de se arrumarem juntas e eu estava te
procurando para perguntar se você não quer se juntar à elas.
Talvez uma festa até seja uma boa ideia para tirar a minha mente de
mais uma interação fracassada com o meu pai, mas não quero estragar a
noite deles caso o meu desanimo seja insuperável.
— Ei. — Colin segura o meu queixo com delicadeza e levanta a
minha cabeça, virando meu rosto na direção do dele. Perto demais. — O que
aconteceu? Conversa comigo.
Solto um suspiro.
Colin solta o meu rosto em seguida, mas mantém seus olhos verdes
prendendo os meus, me impedindo de olhar para qualquer outra direção que
não seja o seu rosto.
— Como eu te falei antes, minha mãe morreu em um acidente de
carro quando eu era criança. Eu estava no carro com ela, mas, por incrível
que pareça, eu só sofri alguns arranhões. O outro carro bateu do lado dela.
Ela ainda estava viva quando os paramédicos chegaram, mas acabou não
resistindo aos ferimentos — conto, agora com mais detalhes. Antigamente,
eu nem sequer conseguia falar sobre isso sem começar a chorar. — Alguns
anos depois, meu pai conheceu a mulher com quem é casado atualmente. Ele
se transformou em outro homem desde que a conheceu. Tudo é para ela.
Parece até que ele está enfeitiçado, sei lá. Ele não vê nada além dela, quase
não se lembra mais que eu existo e, quando realmente lembra, basta que ela
chame o nome dele para que ele praticamente desligue o telefone na minha
cara para fazer o que ela quer.
— E foi ele quem te ligou?
Faço que sim com a cabeça.
— E, como sempre, ele a escolheu. Em cada mínimo detalhe, é
sempre Georgina em primeiro lugar. — Dou uma risada sem humor. — Se
ela ainda fosse uma mulher legal, talvez eu não me sentisse tão magoada,
mas ela é horrível. Ela é realmente a madrasta da Cinderela.
— Sinto muito por isso, Case — lamenta Colin, e sinto que é
genuíno. — Nenhum filho deveria ser desprezado por nenhum dos pais desse
jeito. Um dia, eu vou precisar ter essa conversa com a Kiara. Então eu
consigo apenas imaginar como você está se sentindo, porque já me dói
pensar que minha filha vai se sentir rejeitada também.
— Eu acho que nunca te disse que sinto muito por toda essa
história.
Colin me dá um sorriso triste.
— Hoje não é dia para ficar triste. Qual é, eu quero você naquela
festa, curtindo com a gente. Não vai ser a mesma coisa sem você.
Não consigo segurar o sorriso que toma os meus lábios. Bem como
não consigo evitar provocá-lo logo em seguida, usando a sua fala.
— Eu sei que os seus dias são muito melhores desde que eu apareci,
mas você não deveria deixar o seu desespero pela minha presença tão
evidente, Mackenzie. Se valoriza, cara! — brinco.
Colin gargalha, mais uma vez jogando a cabeça para trás enquanto o
som da sua risada preenche tudo. Ele ri tanto que o boné que estava em sua
cabeça acaba caindo.
— E depois eu é que sou arrogante. Meu Deus, parece que eu estou
criando um monstro.
Sorrio. Pode apostar que ele realmente está criando um monstro.
— Acho que você está certo, talvez uma festa ajude o meu ânimo a
melhorar.
— É disso que eu estou falando! — ele comemora e rapidamente se
levanta do degrau, pegando o seu boné que ficou caído no chão e colocando-
o de volta na cabeça, antes de oferecer a mão para mim. — Vem!
Eu coloco a minha mão sobre a de Colin e deixo que ele me puxe
para cima. Eu calculo mal o espaço e meus seios acabam sendo espremidos
pelo peito de Colin quando colidimos. Ele agarra a minha cintura para me
estabilizar.
Minha respiração fica presa no meu pulmão.
As mãos dele sempre foram tão grandes e quentes?
— Obrigada.
Ele sorri, com aquelas covinhas aparecendo.
— Às ordens. — Colin tira as mãos da minha cintura e usa uma delas
para fazer um carinho efêmero e suave na minha bochecha. — Chega
daquela carinha triste.
Sem confiar na minha voz, eu apenas balanço a cabeça em anuência
e retribuo o sorriso.
Colin volta a segurar a minha mão para me puxar de volta para a
festa. Ele não parece nem um pouco preocupado sobre o que sua família vai
pensar de nos ver de mãos dadas. E eu sei que eu deveria me preocupar e
muito com isso, mas somente por aquele momento, eu finjo que nada mais
importa.
Capítulo 12

Sei que tem algo por trás do seu sorriso


Tenho uma noção pelo olhar nos seus olhos, sim
| Roxette – Listen to Your Heart

Naquela noite, mesmo depois do almoço caprichado que tivemos,


meus pais e meus tios optaram por pedir comida chinesa e assistir um filme.
Se eu os conheço bem, eles vão passar mais de uma hora apenas para
escolher o filme e, quando finalmente conseguirem entrar em um acordo,
metade deles vai dormir antes do filme chegar ao meio. É sempre assim. E
nessa noite, já que vão cuidar de Kiara para que eu tenha a chance de me
divertir com meus primos e amigos, com certeza devem acabar optando por
um filme de comédia, para evitar barulhos do filme, como explosões, que
possam assustar Kiara.
Os caras, Casey, Grace e Antonella foram para suas próprias casas
para se arrumarem para a festa, mas meus primos e eu ficamos na casa que
meus pais alugaram e começamos a pensar no que vamos vestir, já que o
tema da festa é “Qualquer coisa, menos roupa”. Eu estou curioso para saber
no que cada um pensou para vestimenta.
Eu não preciso de muito tempo para terminar de me arrumar, já que a
minha roupa é toda feita de alumínio. Eu comprei vários rolos no mercado
para que conseguisse cobrir tudo que fosse necessário, mas a maior parte do
meu corpo está à mostra. Meu pau e minha bunda são as únicas partes
cobertas, na verdade. É claro que eu coloquei uma cueca por baixo, só para
ter certeza de que, se minha roupa de alumínio não sobreviver à festa, eu não
vou ficar completamente nu para a universidade inteira ver.
Quando saio do quarto, tenho um ataque de riso instantâneo ao
encontrar Seb e Adam vestidos com uma roupa feita de pacotes de
camisinha. Sim, é isso mesmo. É uma roupa feita de vários e vários e vários
pacotes de camisinha.
— Que porra é essa? — pergunto, gargalhando.
— Não sei do que você está rindo, é a roupa mais prática que já vesti.
Posso literalmente pegar uma camisinha da minha roupa pra trepar —
explica Seb, todo orgulhoso de si mesmo.
— Nojento — comenta Charlie, saindo de outro quarto.
Charlie está usando um vestido feito de cartas de baralho. Muito
menos chamativa que a irmã gêmea, que saí em seguida com uma saia e um
top feito daquelas fitas que a polícia usa para isolar a área por conta de um
crime. Caution Tape. Noah vem logo atrás, vestindo shorts feito com caixas
de cerveja de várias marcas diferentes.
— Puta que pariu, Kenny! — Adam arregala os olhos.
— Oh, desgraçado! Mantenha os olhos aqui em cima — repreende
Noah, erguendo a cabeça de Adam.
Dou risada.
— Boa sorte, cara — digo apenas.
Kenna e Charlie são lindas demais para o bem delas. Mas enquanto
Charlie gosta de passar despercebida, Kenna ama ser o centro das atenções.
Noah leva numa boa, ele sabe bem a namorada que tem, mas isso não quer
dizer que ele não solte fumaça pelos ouvidos, igual os personagens de
desenho animado, por precisar aguentar os caras comendo a namorada dele
com os olhos.
— É, estou sabendo — responde Noah, passando o braço ao redor da
cintura de Kenna e puxando-a para perto para lhe dar um beijo no alto da
cabeça. — Você está uma delícia e com certeza vai ser o motivo do meu
ataque cardíaco um dia desses, Kenna Nash.
Ela ri.
— Eles podem olhar, mas você é o único que me tem, amor.
— Não preciso ouvir isso não, obrigada — Charlie resmunga, com as
bochechas vermelhas de vergonha.
É claro que eu e meus primos sempre vamos defender as garotas
igualmente, mas entre todas as minhas primas, Charlie é a que mais me
preocupa. Ela é meiga demais para esse mundo fodido, o que acaba
causando um senso de proteção maior em cima dela.
Finn aparece logo em seguida vestindo shorts e uma camiseta feitos
de saco de lixo. Aurora vem logo em seguida vestindo apenas espuma em
forma de saia e top. Espuma como a que preenche travesseiros.
— Estamos todos prontos? — Aurora pergunta.
— Falta a Harmony — lembra-se Charlotte. — Ela não vai?
— A Harmy detesta festas universitárias, então ela preferiu ficar com
os nossos pais pra poder passar mais tempo com a Kiara — Noah responde.
Harmony sempre gostou muito de bebês, é verdade.
— Então estamos prontos? — Adam pergunta, animado.
Nós todos sorrimos uns para os outros.
— Está na hora de disseminar a loucura — diz Kenna, com os olhos
brilhando de empolgação.

Foi um pouco difícil convencer a Grace de deixar que fizéssemos a


festa na casa. John e Aaron foram totalmente a favor, mas Grace já estava
preocupada com o tamanho do estrago que os universitários poderiam
causar. Como solução, ela sugeriu de fazermos a festa do lado de fora e
limitar o acesso à casa. Eles têm um quintal grande e a temperatura ainda
está alta o suficiente para ser confortável ficar do lado de fora usando pouca
roupa. Os caras concordaram em fazer dessa forma, então colocamos as
caixas de som do lado de fora e alugamos alguns banheiros químicos, para
evitar que as pessoas precisem entrar em casa.
Quando chegamos, a música já está dominando tudo e há uma
quantidade enorme de pessoas já curtindo a festa. A galera não perde um
segundo de uma boa festa, é impressionante. Ainda mais porque as festas
organizadas pelos times da universidade têm a reputação de durar até um
pouco mais tarde que as outras festas, que normalmente acabam logo após as
duas da manhã.
Já na entrada, encontro Trevor e Luca supervisionando a galera para
ter certeza de que os convidados estão cumprindo a regra de vestir qualquer
coisa, menos roupa. Trev está usando shorts feito com o tabuleiro daquele
jogo Twister. Grace não deve estar feliz com isso, já que, nesse jogo, os
jogadores precisam colocar as mãos nos lugares indicados por uma roleta
que, nesse caso, está pendurada no pescoço de Trevor.
Dou risada.
— A Gracie já viu a sua fantasia? — pergunto para o capitão.
— Já. — Trevor ri. — Ela está puta da vida.
— É claro que ela está — diz Antonella, aparecendo de repente. —
Que escolha de fantasia mais infeliz, Trevor.
Antonella está usando um sutiã e shorts curtinhos formados por
várias peças de quebra cabeça. Meus primos não conseguem disfarçar
enquanto a encaram. Antonella normalmente tem esse efeito nos caras. Ela é
gata demais. Talvez a garota mais bonita de Paradise, ouso dizer. E apesar de
eu ter ficado momentaneamente apaixonado por ela depois que ela me
beijou, eu não gosto dela desse jeito.
Acho que sou mais a fim de ruivas.
De repente, Antonella vira os olhos castanhos na direção de Luca,
erguendo uma sobrancelha ao analisar a fantasia dele. Luca está vestindo
apenas uma toalha amarrada na cintura.
— Está usando uma cueca por baixo ou podemos esperar um show
essa noite? — ela o provoca.
Luca abaixa os olhos até encontrar os de Antonella. Eu acho que
posso dizer por todo mundo que o ar parece ser roubado do ambiente
enquanto eles se encaram. Juro por Deus que dá para ver as faíscas saindo
dos olhos deles. Todo mundo fica em silêncio, esperando para ver se Luca
vai dizer alguma coisa. Quando ele dá um passo na direção de Antonella,
obrigando-a a erguer mais o queixo para continuar o contato visual, tenho a
impressão de ouvir alguém atrás de mim segurar a respiração.
— Quer descobrir? — Luca pergunta, desafiando-a.
Antonella dá um sorrisinho debochado.
— Ah, não, amor. Eu já tenho o cara que vai acabar na minha cama e
não é você.
Antonella dá uma piscadinha para Luca antes de olhar para mim e
para os meus primos. Luca por sua vez, mantém a expressão estóica. Se o
que Antonella disse o abala — o que eu duvido — ele é muito bom em
esconder.
— Aproveitem a festa, gente.
E sem mais nenhuma palavra, ela sai desfilando.
— É impressionante o quanto ela parece a minha mãe, pela forma
como meu pai sempre a descreve — comenta Kenna, fazendo com que
Charlie concorde com a cabeça. — Tenho certeza de que podemos ser boas
amigas.
Kenna e Antonella juntas incendiariam algum lugar e levariam mais
do que apenas alguns caras à loucura.
— Vamos entrar? — Finn pergunta.
— Vão na frente, eu vou esperar a Casey — respondo.
Noah me dá um sorrisinho cheio de segundas intenções e depois vira
os olhos para Seb em um diálogo silencioso. De todos os meus primos, eu
diria que os dois são quem me conhecem melhor. Até um pouco mais que
Aurora, embora ela tenha o título de minha melhor amiga.
— Claro, querido primo — diz Seb, todo engraçadinho. — Nós
entendemos a sua prioridade.
Mostro o dedo do meio para eles e praticamente os empurro para
dentro do território da festa, torcendo para não ter que ouvir outras
provocações. Um cara não pode simplesmente esperar pela amiga? Meu
Deus!
Mando uma mensagem para Casey dizendo que eu a estou esperando
do lado de fora da festa e ela responde dois minutos depois dizendo que já
está no Uber e chegará em breve.
Sorrio.
Sinto uma ansiedade inexplicável em vê-la, em querer estar perto
dela. Nunca foi tão fácil fazer amizade com uma garota como foi com Casey.
Tudo com ela parece fluir naturalmente. Ela é leve, tem um sorriso bonito e
tranquilizador e umas curvas que me deixam um pouco desnorteado. É
curioso pensar que a maior parte das meninas com quem tive qualquer tipo
de envolvimento, quase nunca foi por iniciativa minha, e sim delas. Na
época da escola, eu estava muito focado no hóquei porque queria a chance
de conseguir uma bolsa de estudos pelo esporte, então garotas, embora eu
tenha ficado com algumas, não eram a prioridade. Eu não via muita coisa
além do hóquei naquela época.
Fico andando de um lado para o outro, esperando Casey aparecer.
Estou ansioso também para ver o que ela está vestindo. A maioria do pessoal
se torna bem criativo em festas desse tipo.
Quando um carro para em frente à casa e vejo um cabelo ruivo
despontar assim que a porta se abre, meu coração maluco dá uma disparada.
Ai, cacete. Casey sai de dentro do carro vestindo top e shorts feitos de
girassóis. Suas curvas estão totalmente à mostra, os seios fartos abraçados
por aquele top em formato de sutiã atraem os meus olhos mesmo que eu
tente não olhar, porque não quero que ela se sinta desconfortável. As coxas
grossas e bonitas caminham na minha direção. Santo Deus. Ela está com o
cabelo ruivo completamente solto e percebo que usa um pouco mais de
maquiagem do que eu estou acostumado a vê-la usando. Ela está
simplesmente... simplesmente deslumbrante.
— Olhos aqui em cima, Mackenzie — ela diz, erguendo o meu
queixo com a ponta do dedo indicador. Meus olhos encontram os dela. —
Aqui em cima.
Engulo em seco.
— Desculpe.
Ela sorri. Não é o mesmo sorriso tranquilo do qual estou acostumado,
é um sorriso de divertimento, de quem promete encrenca.
— Você está muito linda, Case.
— Gostou? — Ela dá uma voltinha na minha frente.
— Sacanagem você me provocar desse jeito. Sou um pobre homem
vestindo uma roupa de alumínio. Você não vai querer despertar nada aqui
agora.
Casey ri, entendendo o que eu quero dizer. Ficar de pau duro nesse
momento pode ser desastroso.
— Obrigada pelo elogio. Você também não está nada mal. Com
certeza teve a intenção de impressionar alguém com esses músculos à
mostra.
Sorrio, feliz que ela tenha notado.
— Gostou, huh?
Casey dá de ombros, desdenhosa.
— São razoáveis.
Essa mulher tem o dom de me provocar.
— Pode ter certeza de que se você estivesse nos meus braços agora,
acharia eles bem mais do que apenas razoáveis.
As bochechas dela ficam vermelhas imediatamente.
— Vamos entrar? — ela muda de assunto, voltando para um território
seguro.
— Vamos.
Seguro a mão de Casey e a trago comigo. A festa já está cheia e não
quero perdê-la no meio da multidão. Também quero que os caras vejam que
ela não está sozinha. Tenho o direito de fazer isso? Nenhum, mas não
consigo evitar. Nenhum desses babacas, que só querem uma noite para se
darem bem, a merecem.
A galera do time fez um bom trabalho com a distribuição das caixas
de som no quintal de casa, porque não tem um espaço sequer onde a música
fica mais baixa. Todo mundo vai ser capaz de curtir igualmente,
independentemente de em que canto do quintal estão.
Quando encontro meus primos e amigos, me junto a eles, trazendo
Casey junto comigo. Ela cumprimenta todo mundo antes de voltar a ficar
parada ao meu lado, segurando as mãos uma na outra. Ela está nervosa, eu
percebo. Ou talvez só esteja tímida por ainda não conhecer muito bem todo
mundo.
— Vocês realmente sabem dar uma festa.
— O quê?! — pergunto, aproximando meu ouvido dos lábios dela,
porque não consegui entender com clareza o que ela disse.
— Eu disse que vocês realmente sabem dar uma festa — Casey
repete, falando um pouco mais alto. — Isso aqui está bombando.
Levo meus lábios até perto do ouvido dela, para que Casey também
consiga me ouvir bem.
— As festas organizadas pelos times normalmente são as melhores.
Nós invertemos as posições. Casey fica na ponta dos pés para
conseguir alcançar o meu ouvido.
— Eu não saberia. Nunca fui à uma festa dos times da minha antiga
faculdade.
Franzo o cenho.
— Por que não?
Casey dá de ombros.
— Eu nunca fui convidada. Meus amigos não estavam dentro do
meio dos populares. Nós só ficávamos sabendo das festas no dia seguinte,
quando ouvíamos alguém comentar pelos corredores — ela diz, sem
qualquer tristeza presente na voz por não se sentir incluída na experiência
festiva das universidades. — Mas tudo bem, eu não me importava.
— Espero que estar aqui comigo não seja um sacrifício imenso pra
você — digo, me fazendo de coitado.
Casey dá uma risadinha e, discretamente, confere o meu abdômen
despido. Ela é realmente discreta, mas eu sou muito bom em detectar essas
coisas. Afinal de contas, cresci com seis tios que me ensinaram muita coisa.
— Não, não é um sacrifício.
— Ótimo — falo no ouvido dela. — Então dança comigo.
— Dançar com você? — ela pergunta, confusa. — Como que se
dança música eletrônica com alguém?
Sorrio.
— Assim. — Puxo o corpo de Casey contra o meu, mantendo uma
das minhas mãos na sua lombar enquanto a outra está no alto.
Casey ergue os olhos para mim, surpresa. E, pelos primeiros
segundos, ela nem sequer se move, apenas mantém os olhos fixos nos meus.
As sardinhas presentes nas maçãs do seu rosto estão escondidas pela
maquiagem e, embora ela esteja linda de maquiagem, eu sinto falta das
sardinhas.
— Mova o quadril no ritmo da música, Case — eu oriento.
Ela pisca, saindo do estupor. Timidamente, seu corpo começa a se
mover junto com o meu. Demora alguns minutos, mas quando Casey
finalmente abandona a timidez, nossos corpos entram em sincronia. Ela
envolve o meu pescoço com uma das mãos enquanto a outra se mantém para
cima, sentindo a energia do ambiente e da música.
Nossos olhos se encontram de tempos em tempos, mas Casey é
rápida em desviar os dela, não sustentando o meu olhar por mais que alguns
segundos. No entanto, eu sei que ela sente a eletricidade que circula entre
nós dois, passando do corpo dela para o meu e vice-versa. No entanto,
nenhum de nós dois faz algo a respeito; ninguém toma a atitude, afinal de
contas, somos amigos e misturar as coisas com essas circunstâncias
normalmente não dá certo.
Não sei por quanto tempo ficamos dançando, mas é o suficiente para,
mesmo a céu aberto, meu corpo começar a suar e meu fôlego ficar
descompassado. Casey não está muito melhor do que eu.
— Acho que está na hora de pegarmos uma bebida — eu sugiro.
Ela assente, dando um passo para longe de mim, saindo do meu
alcance. Com agilidade, Casey prende os longos cabelos ruivos em um
coque desleixado no topo da cabeça. Eu a observo por alguns segundos antes
de segurar a sua mão na minha novamente e começar a me mover entre a
multidão. Eu nem sei para onde os meus primos e meus amigos foram,
estava tão profundamente entretido na minha dança com Casey que nem
reparei quando eles desapareceram.
Liam foi o responsável pelas bebidas e me lembro de ele dizer que
colocaria tudo em coolers para garantir que a cerveja ficaria gelada.
— Você toma cerveja? — pergunto, abrindo um dos vários cooler
dispostos pelo quintal para ver quais são as nossas opções.
— Não é a minha primeira escolha de bebida. Tenho alguma outra
opção?
Vasculho o cooler um pouco mais, sentindo minha mão começar a
congelar.
— Tem High Noon[2].
— De qual sabor?
— Pêssego.
— Perfeito.
Pego uma cerveja para mim e uma High Noon para Casey. Nós
brindamos, batendo nossas latinhas e viramos a bebida gelada goela abaixo.
Meu Deus, está muito calor aqui. A cerveja gelada é quase um bálsamo
nesse momento.
— Quais são seus planos para segunda à noite? — pergunto.
Casey ergue uma sobrancelha.
— Você já quer me ver de novo, Mackenzie?
Sorrio com divertimento.
— Eu vou jogar na segunda e queria que você fosse torcer por mim
na arquibancada junto com os meus primos. Vai ser o último dia deles em
Paradise.
Casey me encara por cima da borda da latinha de High Noon.
— O que te faz pensar que eu estaria lá para torcer por você e não
contra você? — brinca.
— Torcer contra mim pode ter consequências terríveis para você,
Fletcher.
Ela sorri, gostando do nosso joguinho habitual de provocação. Eu
gosto também, mesmo que não seja o meu tipo de provocação favorito.
— Como o que, por exemplo?
— Porque se nós ganharmos, eu nunca vou parar de te aborrecer
sobre o quão bom e maravilhoso eu sou quando estou jogando.
Casey olha para mim com divertimento brilhando em seu rosto.
— Pensei que hóquei fosse um esporte para ser jogado em equipe.
Dou de ombros.
— Não conta para os caras, mas eu sou o melhor.
— É claro que sim — Casey debocha.
Nós sorrimos um para o outro.
— Você está muito bonita essa noite, Fletcher — digo, não
conseguindo segurar as palavras dentro da boca.
— Cuidado, Mackenzie. Apreciar demais a minha beleza pode ter
consequências terríveis para você.
Porra.
Eu acho que ela pode estar certa sobre isso.
Capítulo 13

Por que eu nem sei o que somos


Eu nem sei por onde começar
Mas eu posso interpretar o papel
| Tate McRae – That Way

Eu sinto meu corpo quente dentro da caminhonete de Colin enquanto


ele me leva para casa, após o término da festa. Nós dois dançamos juntos
como se o amanhã nunca fosse chegar, também curtimos com os primos
dele, o que rendeu muitas risadas. Colin não estava exagerando quando
descreveu seus primos. Eles são mesmo incríveis. E embora festas não sejam
muito a minha praia, não posso negar que me diverti como nunca. E a prova
disso foi ter ficado até o final e lamentar quando o momento de encerrar a
festa chegou.
Agora, por outro lado, dentro do carro de Colin, com o nascer do sol
despontando no horizonte, eu começo a me arrepender de ter concordado
com essa carona. Sei que Colin e eu somos amigos, mas eu também não sou
idiota. Ele ficou grudado comigo a festa inteira, lançando olhares enfezados
para qualquer cara que chegava perto de mim. Sem contar os momentos em
que nós dançamos e as mãos dele estavam no meu corpo. A forma como ele
olhava para mim… A menos que eu esteja completamente louca, parece que
Colin Mackenzie se sente fisicamente atraído por mim, o que é uma
surpresa. Caras como ele, bonitos como ele, normalmente costumam se
interessar por garotas ridiculamente magras e dentro do padrão, mesmo
quando elas não tenham absolutamente nada para oferecer quando abrem a
boca.
Claro que há pessoas legais e com conteúdo independente de
qualquer aparência física, mas eu sendo uma garota fora do padrão — e fui
uma durante toda a minha vida — convivi com garotas babacas o suficiente,
que tentavam me fazer sentir inferior por não ter o mesmo corpo que elas,
então tenho certa propriedade para falar. E embora eu nunca tenha sido
magra, nunca me senti desconfortável com o meu corpo. Já me senti
insegura em alguns momentos, admito, mas sei que eu sou muito mais do
que só um corpo. E mesmo que eu fosse apenas um corpo, ainda é um corpo
bonito na minha opinião e, sinceramente, para mim, isso é tudo o que
importa.
Quando Colin estaciona o carro na parte de trás do prédio onde fica
uma parte dos dormitórios da universidade, eu estou prestes a saltar para
fora. O silêncio no qual viemos envolvidos não foi dos mais confortáveis e
não sei exatamente dizer o motivo, pois eu costumo me sentir muito
confortável quando estou com ele.
— Obrigada por insistir para que eu fosse à festa — eu digo, tirando
o cinto de segurança. — Eu me diverti muito, Colin.
Ele também tira o cinto de segurança e vira o corpo ligeiramente na
minha direção, de forma que fica de frente para mim.
— Eu também me diverti e estou feliz que você foi. — Ele lança
aquele sorriso com as covinhas despontando em suas bochechas. — Espero
ver você no rinque na segunda feira, torcendo por mim.
— Vou pensar no seu caso.
O sorriso no rosto de Colin aumenta.
— Obrigada pela carona — eu me apresso a dizer antes que ele fale
alguma coisa que vai aumentar ainda mais o ritmo dos meus batimentos
cardíacos.
— Por que eu sinto como se você estivesse por um triz de saltar para
fora desse carro? — Colin pergunta, mas não parece nem um pouco
ofendido com a minha evidente tensão. Ah não. Ele está se divertindo com
ela.
— Você está imaginando coisas, Mackenzie. Eu só estou cansada. —
Aproveitando o momento de falsa indignação, completo: — Boa noite.
Abro a porta do carro com a risada de Colin de fundo e pulo para
fora da caminhonete ridiculamente alta, o que, claro, o faz rir mais um
pouco.
— Boa noite, Casey.

Para compensar a noite da festa, passei o resto do final de semana


com a cara enfiada nos livros. As primeiras provas do semestre começarão
na semana que vem e não quero correr o risco de ter notas ruins logo de cara.
Isso não é nem um pouco do meu feitio. Ignorei completamente todas as
mensagens e ligações que recebi, tanto de Colin como do meu pai e da
minha irmã também. Eu não estava com a mínima vontade de falar com os
últimos dois. No caso de Colin, eu apenas o ignorei porque sabia que ele
seria uma distração gigantesca para a minha habilidade de concentração. No
entanto, na segunda-feira, após conseguir manter o foco nas aulas e nas
lições de casa que eu precisava terminar, eu me dirijo até a arena dos
Paradise Wolves para assistir ao jogo. E me certifico de enviar uma
mensagem para Colin, avisando que eu estarei lá. Ele respondeu poucos
minutos depois dizendo para eu procurar pela camisa de número 47, porque
é o número que ele veste.
Não é nem um pouco difícil encontrar Grace, Antonella, Aurora e
todos os outros primos de Colin — assim como os tios dele também. Os pais
de Colin também estão aqui. As únicas pessoas que não encontro são Kait e
Jeremy, então deduzo que eles ficaram encarregados de cuidar de Kiara. Ela
ainda é muito pequena para estar em um lugar tão barulhento.
— Casey! — Charlie grita com entusiasmo assim que me vê. —
Você veio!
— Eu vim. — Sorrio ao me sentar ao lado dela, em uma cadeira que
ainda estava desocupada. — Mas não entendo absolutamente nada sobre
hóquei — aviso, dando uma risadinha de constrangimento. — Oi, pessoal!
Recebo um oi coletivo e animado da família e amigos de Colin.
— Não se preocupa. A gente explica o que você não entender —
promete Noah. — Mesmo que o Colin seja um traíra que migrou para o
hóquei ao invés de seguir o legado da família no basquete. Nós também
tivemos que aprender sobre hóquei do zero.
Sebastian ri.
— Supera isso, Noah! Você já está carregando o legado da família.
Dou risada.
— Eu estava mesmo me perguntando como foi que o Colin acabou
no hóquei e não no basquete — comento.
— Agradeça ao Ryan e à Brooke por isso — responde Nash,
bufando. — Como jornalistas esportivos, eles acabaram apresentando outros
esportes para as crianças.
— E ainda bem que fizemos isso, porque o Colin pode ser bom no
basquete, mas ele manda muito melhor no gelo — rebate Brooke, toda
orgulhosa pela sua contribuição.
— A chaveirinho tem toda a razão — concorda Ryan, dando um
beijo no alto da cabeça da esposa.
Nash dispensa ambos com um gesto de mão.
Quando os jogadores entram no gelo, sendo anunciados pelo locutor,
toda a arena vibra, gritando palavras de incentivo e assobiando o mais alto
que conseguem. Procuro pela camisa 47 no time titular que começa a se
posicionar no rinque, mas não encontro.
— Onde está o Colin? — pergunto, para ninguém em específico. —
Achei que ele começava o jogo no gelo.
— Ele tem ficado a maior parte do tempo no banco, desde que a Kie
nasceu, já que não estava conseguindo manter o ritmo nos treinos — explica
Grace. — Mas o Trevor disse que ele está melhorando, o que é ótimo. Acho
que o Treinador deve voltar a colocá-lo no gelo com mais frequência.
Aurora concorda com a cabeça.
— Colin é um dos jogadores mais rápidos do time, então é ótimo ter
essa vantagem quando o jogo já está andamento e os jogadores já estão
cansados.
Eu apenas assinto porque não entendo a primeira coisa sobre hóquei.
Os jogadores se posicionam. Trevor é quem vai disputar o disco.
Reconheço, pelos sobrenomes nas camisetas, os amigos de Colin. Os garotos
seguram o taco com firmeza e estão com os olhos fixados em Trevor e no
que vai acontecer. No instante que o disco toca o gelo, Trevor consegue ser
mais rápido e o domina, lançando-o para Aaron, que já estava preparado. E
isso é basicamente o que eu consigo acompanhar sem ficar totalmente
perdida nos movimentos rápidos que acontecem no gelo. Os garotos se
movem tão depressa que é difícil ver quem está com o disco.
Os jogadores também entram e saem do gelo o tempo inteiro, o que
torna ainda mais difícil entender.
— Por que eles ficam entrando e saindo do gelo desse jeito? —
pergunto para Aurora, que está sentada do meu lado esquerdo.
— Isso é um padrão do hóquei. Normalmente o jogo começa e
termina com as estrelas do time, os melhores jogadores — Aurora me
explica sem tirar os olhos do que está acontecendo no gelo. — Mas no
decorrer da partida, todos os jogadores vão revezando entre si, de acordo
com as posições que eles ocupam dentro do time, o que quer dizer que Colin
deve entrar no gelo daqui a pouco. Seria muito difícil que os mesmos
jogadores ficassem no gelo do início ao fim da partida, porque é muito
cansativo para eles, já que o hóquei, além de um jogo de velocidade e
habilidade, é um jogo muito físico e violento.
— Faz sentido.
E como Aurora previu, Colin entra no gelo poucos minutos depois.
No hóquei, diferente de outros esportes, os jogadores são substituídos
sem que a partida precise ser pausada para isso. Então, quando o Colin entra
no gelo, substituindo outro companheiro de time, ele não perde tempo em
avançar para o ataque. Ele é tão rápido que eu preciso manter toda a minha
concentração nos seus movimentos para não perder nada do que está
acontecendo. Colin avança em direção ao gol do time adversário. Ele passa o
disco para o John, que já estava preparado para isso, à sua esquerda. Para
fugir da marcação, John lança o disco para a linha de fundo, e a força que ele
coloca na jogada faz com que o disco contorne todo o limite do rinque,
chegando ao outro lado, pronto para ser recebido por Luca. O amigo de
Colin domina o disco segundos antes de arremessá-lo em direção ao gol.
Uma buzina estrondosa soa e a palavra “Gol” é lida no telão.
Toda a família de Colin começa a comemorar junto com o restante da
torcida. Eu faço o mesmo. Aplaudo e grito o nome dele junto com as várias
outras pessoas que também gritam o nome de Luca.
— Que belo passe — comenta Ryan.
— Esse é o meu filho! — Sophie comemora, toda orgulhosa.
Colin não fez o gol, mas ele mandou o passe para John, que fez uma
assistência impecável para que Luca conseguisse fazer o gol. O time trabalha
perfeitamente, como uma engrenagem onde todas as peças se encaixam.
— Isso foi incrível — eu digo, admirada com a adrenalina que estou
sentindo.
— Hóquei é um dos esportes mais empolgantes de assistir — diz
Grace. Pelo seu tom de voz, sei que ela está tão eufórica quanto eu.
— Com certeza — concorda Antonella, que está sentada ao lado da
melhor amiga. — Mês passado eu fui assistir a um jogo de beisebol com a
minha família e quase morri de tédio.
Nós damos risada.
Eu lembro de alguns momentos em que tentei ficar mais próxima do
meu pai e me sentei com ele no sofá da sala de estar para assistir a qualquer
jogo que estivesse passando na televisão, já que meu pai é muito fã de
esportes. Beisebol realmente nunca foi o meu esporte favorito, as partidas
têm muito pouca ação, já que os jogadores passam mais tempo tentando
acertar a bola do que qualquer outra coisa. Não é nem um pouco
emocionante.
— Vai ser incrível quando a Kiara puder vir para ver o Colin jogar —
comenta Charlie, sorridente. — Eu aposto que vai ser uma gracinha ver ela
torcendo por ele, vestida com a camiseta dele e todas aquelas coisas clichês
que a gente vê os filhos de jogadores fazendo.
— Coisas que todos nós fizemos muito, considerando que também
somos todos filhos de atletas — comenta Kenna, dando risada.
— Não tem sensação melhor — diz Derek, sorridente. — Colin vai
poder experimentar isso assim que a Kiara crescer um pouco mais.
Eu pensei que o ambiente dentro da arena seria gelado, mas na
verdade o clima é bastante confortável. O maior problema é o barulho
absurdo da torcida e principalmente da buzina que anuncia quando um time
marca um ponto. Toda essa agitação com certeza seria demais para um bebê
com tão pouca idade. Daqui alguns meses, no entanto, eu tenho certeza de
que a filha de Colin estará aqui, tendo contato com uma das paixões do pai e
já crescendo para se tornar uma grande fã do esporte.
O jogo segue com vários confrontos violentos pela posse do disco e
alguns começos de brigas aqui e ali, mas os árbitros são muito bons em
controlar os garotos, o que eu imagino que não deve ser nada fácil. Colin é
esmagado contra a parede do rinque mais vezes do que eu consigo contar, o
que faz Sophie praticamente roer todas as unhas de nervoso.
— É tão diferente vê-lo jogando pela televisão e vê-lo jogando
pessoalmente — ela comenta, angustiada. — Eles parecem ser ainda mais
agressivos pessoalmente.
Concordo com a cabeça, sem conseguir tirar os olhos do rinque. Um
segundo que você olhe para o lado, você já perdeu um monte de coisa.
Colin entrou e saiu do gelo tantas vezes que eu já perdi as contas,
mas no último tempo, quando falta apenas três minutos para o final do jogo,
ele está no gelo de novo, junto com Trevor, Luca, John, Aaron e o goleiro
Sam Reyes que, segundo às garotas, é o melhor goleiro que os Paradise
Wolves já tiveram.
Meu celular começa a tocar faltando um minuto e meio para o final
do jogo. Puxo o aparelho da parte de trás da minha calça jeans para poder
recusar a ligação, já que o toque e a vibração do celular estão me
incomodando, mas quando vejo quem está ligando, sei que preciso atender.
— Preciso ir ao banheiro. Encontro vocês na saída — aviso a Aurora.
— Agora? Mas você vai perder o último lance!
— Nós sabemos que os meninos já venceram. Está cinco a dois. O
outro time não vai virar o jogo em um minuto e meio.
Aurora dá de ombros e eu rapidamente me levanto, pedindo licença
para as pessoas até conseguir sair para o corredor. Subo as escadas depressa
e vou até a área de conveniência, onde os restaurantes ficam. Encontro um
lugar de menor movimentação e atendo o telefone.
— Oi, irmãzinha — ela diz com escárnio.
Solto um longo suspiro.
— Oi, Anna.
Capítulo 14

Eu penso em você sempre que estou sozinho


Então por favor não vá
Porque eu nunca vou querer saber
Nunca vou querer ver as coisas mudarem
Porque quando estou por conta própria
Eu quero voltar e começar de novo
| Joel Adams – Please Don’t Go

Ainda consigo sentir a adrenalina no meu corpo, mesmo já estando


fora do gelo há vários minutos. Estou ansioso para ver a minha família e
ouvir os comentários deles sobre a minha performance no rinque,
especialmente porque já faz um tempo que eu não permaneço no gelo por
tanto tempo.
— Bom trabalho, Mackenzie — elogia o Treinador Scott quando
estou saindo do vestiário para encontrar minha família do lado de fora. —
Seja lá que dinâmica você encontrou para organizar a sua vida, está
funcionando.
— Obrigado, Treinador. — Sorrio, radiante.
Ele dá uma batidinha no meu ombro com a mão antes de ir embora.
Trevor também me lançou a sua própria cota de elogios quando
estávamos comemorando a vitória no vestiário, logo após o final do jogo.
Com certeza ter esse reconhecimento imediato do meu capitão e do treinador
me motiva ainda mais.
Do lado de fora, encontro minha família em euforia. Meus pais me
abraçam apertado e disparam elogios, mas não deixo de ouvir alguns
comentários preocupados da minha mãe. Desde que comecei no hóquei, ela
se preocupa que eu acabe tendo uma lesão muito grave, por ser um esporte
bem violento. Acho que agora que sou pai, entendo quando ela diz que
sempre vai se preocupar comigo, não importa qual seja a circunstância, não
importa quantos anos eu tenha. Sei que eu também sempre vou me
preocupar com Kiara, independentemente de qualquer coisa.
Todos me abraçam e me dão os parabéns pelo jogo, e por alguns
minutos eu fico distraído o suficiente com eles para não notar a ausência de
Casey. Ela me disse que vinha, então por que não a estou vendo em lugar
nenhum?
— A Casey veio? — pergunto.
— Veio — responde Charlie. — Mas eu não sei onde ela está. Não a
vejo desde o final do jogo.
— Ela recebeu uma ligação bem no final da partida e saiu para
atender. Não a vi depois disso — diz Aurora. — Será que aconteceu alguma
coisa?
Puxo meu celular do bolso dianteiro da calça. Não há nenhuma
mensagem de Casey, então decido ligar para garantir que está tudo bem, mas
o telefone cai direto na caixa postal.
— Estranho — comento comigo mesmo.
— O quê? — Noah pergunta.
— O telefone dela está indo direto para a caixa postal — respondo,
um pouco preocupado. Será que Casey está bem? Por que ela iria embora
sem avisar ninguém?
— Provavelmente ela deve ter tido alguma emergência — sugere
Harmony, tentando ajudar. — Ela com certeza está bem, Colin.
Confirmo com a cabeça.
Talvez o pai dela tenha ligado de novo e isso a tenha deixado
aborrecida, como da última vez. Bom, na pior das hipóteses, eu sei onde ela
mora e posso ir até lá para garantir que está tudo bem.
— Eu acho que podemos ir para algum bar e comemorar a vitória —
sugere Adam, empolgado. — O que vocês acham?
Meus primos comemoram e até meus tios parecem animados com a
ideia de ter uma noite de juventude junto com os filhos. Eu concordo com a
cabeça, forçando um sorriso diante da ideia. Quero curtir minha última noite
com os meus primos porque não sei quando vou vê-los de novo, todos
reunidos desse jeito, mas não consigo deixar de pensar no que pode ter
acontecido para Casey ir embora sem se despedir.

Depois de prometer para mim mesmo que vou focar em me divertir


essa noite e descobrir o que aconteceu com Casey amanhã, consigo
realmente aproveitar minha última noite com os meus primos. Nós
decidimos ir para o Circus, o melhor bar esportivo de Paradise. A cerveja
não é a mais barata do mundo, mas o ambiente e a amizade que temos com o
dono e os funcionários acaba compensando. Somos muito bem tratados aqui.
Eu perco completamente a noção do tempo. Só me dou conta de
quantas horas se passaram quando sinto meu celular vibrar dentro do bolso
frontal da minha calça e acabo vendo as horas ao puxá-lo para fora. Me
surpreendo ao ver o nome de Casey na tela.
— Eu já volto — digo para ninguém em específico antes de sair
rapidamente para procurar um lugar mais silencioso para conseguir atender
ao telefone. — Alô? — eu atendo antes que a ligação acabe sendo encerrada
automaticamente.
— Colin?
— Oi, me dá só um segundo para que eu consiga ir para um lugar
mais silencioso — eu falo alto para garantir que ela consiga me ouvir.
Consigo chegar do lado de fora do bar ouvindo as pessoas ao meu
redor me parabenizando pela vitória no jogo dessa noite. Eu tento ser
educado e agradecer rapidamente, mas não consigo disfarçar que estou com
pressa para dar o fora daqui e falar com Casey.
— Pronto — eu digo quando já estou do lado de fora. — Agora eu
consigo te ouvir. Está tudo bem? Pensei que encontraria você no final do
jogo.
Casey respira fundo do outro lado da linha.
— Desculpe, eu tive um problema para resolver com a minha irmã,
então precisei ir embora depressa.
— Ela está bem? Tem algo que eu possa fazer para ajudar?
— Eu acho que minha irmã não está bem tem um tempo, mas eu
estou lidando com ela. Você não precisa se preocupar. Eu só queria ligar para
te dar uma satisfação. Não queria que você ficasse chateado comigo por ter
desaparecido — ela diz, e talvez eu esteja louco, mas Casey parece triste.
Não gosto do tom da voz dela nesse momento.
— Você tem certeza de que está tudo bem? — insisto. — Nós somos
amigos, Case. Você pode me dizer se estiver precisando de ajuda.
Há um momento de silencio do outro lado da linha, o que só
confirma para mim que tem algo que Casey não está me contando.
— Talvez possamos conversar sobre isso pessoalmente, mas agora eu
preciso desligar. Só queria te dizer que estou bem e te parabenizar pela
vitória. Você arrasou lá, Colin. Parabéns!
Dou um leve sorriso ao ouvir o seu elogio.
— Obrigado. — Faço uma pausa. — Me ligue quando puder, ok?
— Eu ligo.
Eu desligo a chamada em seguida. Achei que falar com Casey faria
eu me sentir mais aliviado, mas ouvir a sua voz naquele tom só me deixou
mais inquieto. Espero que, seja lá qual for o problema com a irmã dela,
Casey seja capaz de resolver, ou espero que ela se sinta confortável o
suficiente para me dizer o que é, então eu posso tentar ajudar.
Mas, já que eu não consigo fazer nada agora, eu apenas enfio o
celular de volta no bolso da calça e volto para dentro do bar.
Capítulo 15

Da meia-noite até o café da manhã


Passando horas conversando
Caramba
Eu gosto mais de mim quando estou com você
| Lauv – I Like Me Better

Meu coração está apertado por estar escondendo de Colin que sou
irmã da mulher que o abandonou com um bebê recém-nascido para cuidar.
Eu já deveria ter contado a verdade para ele, mas depois que ouvi tudo o que
todos tinham para dizer de Anna, fiquei com medo de que automaticamente
pensassem coisas ruins sobre mim também. A verdade é que vim para
Paradise logo depois que Kiara nasceu, quando recebi uma ligação de Anna
dizendo que tinha feito a maior besteira de toda a sua vida. E não, a enorme
besteira a qual ela se referia não era ter abandonado a própria filha e, sim, ter
dado à luz a uma criança que ela nunca quis.
Demorou um pouco para que eu conseguisse entender toda essa
história. Deus, demorou até para entender por que ela ligou para mim, entre
todas as pessoas. Nós nunca fomos próximas e acho que Anna nunca havia
me ligado antes. Nem no meu aniversário ela costumava ligar — ou mandar
uma mensagem que fosse. Quando entendi que tudo o que Anna queria era
prender um cara que nunca foi apaixonado por ela, eu realmente me dei
conta de que a minha irmã é a pessoa mais fria e calculista que eu já conheci.
E tudo se confirmou ainda mais na minha cabeça depois que conheci Trevor
e Grace. Ele nunca teve olhos para outra garota que não fosse Grace, então
Anna pensar que poderia prendê-lo ao dizer que estava grávida dele —
quando ela sabia que Colin era o pai — é a coisa mais louca que já ouvi.
Anna abandonou a Kiara com o Colin sem pensar duas vezes. E eu
não sabia quem eles eram até encontrá-los no hospital e Colin me dizer o
nome da bebê e me explicar que a mãe havia ido embora. Naquele exato
momento, eu soube quem eles eram, mas mantive minha boca fechada
porque simplesmente não sabia como contar para ele quem eu era.
E para ser totalmente honesta, eu estava — e ainda estou — morta de
vergonha pelo que Anna fez.
Sei que não é minha culpa, que eu não compactuei com isso, mas eu
sinto que por sermos família, mesmo que não compartilhemos o mesmo
sangue, eu tenho culpa nisso também. E acho que Colin vai enxergar as
coisas exatamente da mesma forma. Acho que ele vai transferir a culpa de
Anna para mim e, sendo ainda mais honesta, eu não quero perder a amizade
dele e nem o contato que tenho com Kiara. Ela não é minha sobrinha de
sangue, mas é minha sobrinha de qualquer maneira e eu a adoro.
Eu adoro Colin e não quero que ele me odeie pelos erros que Anna
cometeu.
— Era o seu namoradinho? — ela pergunta, deitada no sofá do seu
apartamento e balançando as pernas no ar, como se não tivesse nenhuma
preocupação no mundo.
— Ele não é meu namorado — eu repito o que já havia dito para ela
mais cedo. — Anna, por que você não tenta conversar com ele? Vocês
podem tentar resolver isso. A Kiara precisa de você.
Anna suspira e se senta no sofá. O cabelo loiro está todo bagunçado e
os olhos um pouco nebulosos por conta do vinho que estava tomando
quando eu cheguei aqui.
— Quantas vezes eu preciso te dizer que eu não quero nada com
aquela criança catarrenta? — Anna faz uma careta. — Eu sou gostosa
demais para ser mãe, Casey. Você, por outro lado, poderia muito bem
desempenhar o papel de mãe. Quer dizer, não é como se você chamasse a
atenção dos homens com esse corpo enorme, certo?
Reviro os olhos.
— Esse seu discurso está ficando velho, Anna. Eu não dou a mínima
para o que você pensa sobre o meu corpo. Eu estou muito bem com ele,
muito obrigada — rebato, impaciente. — Por que você me chamou aqui,
afinal? Eu ainda não consegui entender o que você poderia querer comigo.
Você nunca precisou de mim para nada antes.
Ela sorri.
— Isso é verdade, mas eu preciso de você agora e como a boa pessoa
que você sempre tentou ser, eu sei que você vai me ajudar, irmãzinha.
Eu nem deveria estar aqui, para começar, mas minha intuição me diz
que estar perto de Anna agora é o melhor que posso fazer, porque se ela foi
capaz de abandonar um bebê sem o menor remorso, tenho medo do que mais
pode estar se passando na cabeça dela. Se eu estiver por perto, posso
antecipar qualquer besteira que ela pense em fazer, então tenho uma chance
de proteger Colin e Kiara.
— O que você precisa? — pergunto, entrando no jogo dela.
Anna abre um sorriso que promete problemas.
— Eu descobri recentemente que Colin é filho de Derek Mackenzie,
o jogador de basquete da NBA.
Franzo o cenho, confusa.
— E daí?
Anna bufa, impaciente.
— Você é muito burra mesmo. Zero ambição, exatamente como o
seu pai — ela praticamente cospe as palavras para mim e eu preciso me
controlar para manter a boca fechada, porque quero entender direitinho onde
ela quer chegar com essa conversa. — E daí que ele é rico, Casey. Ele é
podre de rico. Talvez tanto quanto o Trevor. Eu achei que Colin fosse um
pobre coitado que não tinha onde cair morto. Aquele idiota não sabe usufruir
do sobrenome que tem.
Engulo a minha raiva pela forma como ela fala sobre Colin, e então
pergunto:
— Por favor, me ilumine com a sua inteligência, porque eu ainda não
entendi onde você quer chegar com isso — replico, ácida.
Anna revira os olhos, porque ela sabe que estou sendo sarcástica
sobre a sua inteligência.
— Você tem noção quanto dinheiro eu posso arrancar daquele otário
por ter uma filha com ele? — ela indaga com os olhos brilhando.
Juro por Deus que sinto ansia de vômito.
— É aí que você se engana. Vocês não são casados e você abandonou
a Kiara. Vai tirar dinheiro dele como, Anna?
— Tecnicamente, eu ainda tenho a guarda da catarrenta. Eu posso
oferecer a minha parte para ele comprar — ela responde com uma
naturalidade que me assusta.
— Você não tem mais a guarda da Kiara. Você perdeu isso no
momento em que a abandonou. Além disso, a Kiara não é uma casa para
você oferecer a sua parte para ele comprar. Ela é uma pessoa! Uma criança!
Anna dá de ombros.
— Eu estou pouco me lixando, Casey. Eu quero uma boa quantia em
dinheiro para eu sumir desse fim de mundo e ter uma vida decente em Nova
York ou em Los Angeles. Eu quero viver bem e sei que o Colin vai me pagar
o quanto eu quiser para ser capaz de livrar a filhinha dele de mim. — Ela
sorri, diabólica. — Caso contrário, eu acho que posso fazer a vida dele ser
bem difícil.
— Acho que você está esquecendo do fato de que os pais de Colin
são ricos, não o Colin em si, Anna.
— Esse é um problema que ele vai ter que resolver, não acha?
Balanço a cabeça, inconformada e enojada com toda essa conversa.
— E para quê você precisa de mim?
— Vocês são amigos, não são? Convença-o a me dar o dinheiro que
eu quero, quando eu o procurar para pedir. Pode dizer coisas horríveis sobre
mim, não me importo. Apenas convença-o de me dar o que eu tenho direito
por ter carregado aquela pestinha por nove meses e ter deformado todo o
meu corpo. Eu acho que é o mínimo que ele pode fazer por mim — ela
elabora. — E então, eu desapareço e você pode ficar com eles e formar uma
família com as minhas sobras. — Anna sorri. — Vamos combinar que você
não vai conseguir nada melhor do que o que eu estou oferecendo, Casey.
Olho para Anna sem conseguir acreditar que uma pessoa tão
narcisista assim pode realmente existir. Eu sei que Georgina, sua mãe, não é
a melhor pessoa do mundo também, mas não me lembro de ela ser tão
horrível quanto a filha. Georgina parece ter o mínimo de sentimento, mas
Anna parece ser não apenas narcisista, mas também sociopata.
— Você é completamente louca — declaro.
— Loucura é um ponto de vista, irmãzinha.
— Não espere nenhuma ajuda de mim, Anna. Não com isso. Nem o
Colin e nem a Kiara merecem o que você está fazendo e eu espero que você
chegue nessa mesma conclusão antes de cometer outra besteira monumental.
Ela dá de ombros, nem um pouco abalada.
— Se você não me ajudar a conseguir o que eu quero, as coisas vão
ficar muito mais difíceis para eles. A escolha é sua, Casey. Seja lá o que
acontecer daqui para frente, saiba que é sua responsabilidade.
Pego a minha bolsa em cima do aparador e abro a porta do
apartamento de Anna, mas antes de ir embora de vez, eu olho para trás e
digo:
— Adeus, Anna.

Passei um pouco mais de vinte e quatro horas reunindo coragem para


contar ao Colin o que eu precisava contar. Ele precisa saber sobre o plano
sem cabimento que Anna está tramando. Colin pode achar que ela se
mandou de Paradise sem nunca olhar para trás, mas a verdade é que Anna
não foi muito longe. Ela está em Summer Ville, a cidade vizinha. Foi o mais
longe que o seu dinheiro foi capaz de levá-la, mas claramente não o
suficiente. Eu não sei se Anna chegou a falar com meu pai e Georgina sobre
tudo isso — eu duvido muito —, então eu não faço ideia de como ela está se
mantendo até agora e, honestamente, eu prefiro não descobrir.
Mesmo que a minha covardia estivesse tentando levar a melhor de
mim e me convencer a manter a boca fechada para não correr o risco de
perder a amizade de Colin e o meu contato com Kiara, eu respirei fundo
algumas vezes, depois que parei o carro em frente à casa onde sei que ele
está morando agora, e reuni toda a coragem que pude para sair do carro e
caminhar até a porta de entrada. Sei que essa pode ser a última vez que vou
vê-lo, porque talvez ele não queira mais me ter por perto sabendo quem eu
sou, mas também sei que se eu não falar nada, Colin vai ser pego
completamente de surpresa com a loucura de Anna. Ele não merece isso.
Kiara também não merece isso.
Toco a campainha e espero. Estou tão nervosa que simplesmente não
consigo ficar parada, então balanço o meu corpo sutilmente de um lado para
o outro enquanto brinco com meus dedos.
Por favor, não me odeie.
Quando a porta se abre, uma parte de mim agradece por ser Sophie
quem me recebe, pois a presença dela é bem tranquilizadora. A mãe de Colin
abre um sorriso quando me vê.
— Casey! Que prazer rever você, querida. Venha, entre!
Sophie abre mais a porta para que eu consiga entrar.
— Sentimos falta de você na comemoração da vitória dos garotos no
último jogo — ela lamenta.
— Sinto muito. Eu queria muito ter comemorado com vocês, mas
tive uma emergencia familiar — explico, lacônica.
— Ah, eu entendo. A família sempre deve vir em primeiro lugar. —
Ela sorri de novo. — Imagino que você esteja aqui para ver o Colin.
Confirmo com a cabeça.
— Ele está ocupado com o pessoal? Eu posso voltar mais tarde.
— Ah não, querida. Todos foram embora hoje de manhã — Sophie
me avisa. — É uma pena que você não conseguiu se despedir, mas sei que a
família adorou te conhecer.
Sorrio.
— Eu também adorei conhecer todos eles.
Sophie sorri de volta para mim.
— Que bom! Ah, o Colin está no quarto. Pode subir lá. É a terceira
porta à esquerda — ela me orienta com gentileza. — Apenas bata na porta
antes de entrar para ter certeza de que ele está decente.
Eu dou uma risadinha.
— Farei isso. Obrigada, Sophie.
Subo as escadas e sigo para a terceira porta à esquerda. Não sei se
Kiara está com Colin no quarto dele e se pode estar dormindo, então eu bato
na porta bem suavemente para que, caso ela esteja dormindo, eu não acabe
acordando-a.
— Pode entrar.
Por favor, não me odeie.
Respiro fundo mais uma vez e abro a porta. Encontro Colin sentado
na beirada da cama, sem camiseta, jogando videogame. Kiara não está em
nenhum lugar por aqui, mas a babá eletrônica está ao lado da TV, então sei
que Colin está monitorando a filha mesmo enquanto está jogando.
Ele pausa o jogo assim que me vê e abre um sorrisinho arrogante.
— Decidiu parar de me ignorar? — ele provoca, e pelo seu tom de
voz, eu sei que ele está brincando.
— Estamos sem nos falar a pouco mais de vinte e quatro horas,
Mackenzie — eu provoco de volta, porque é mais forte do que eu e acho que
preciso aliviar um pouco da tensão. — Não seja tão dependente de mim
assim.
Colin dá risada e bate no colchão ao seu lado, me convidando para
sentar. Mesmo sentindo todo o meu corpo tenso, eu faço o que ele pede.
— Você está bem? Sua irmã está bem? — ele pergunta, preocupado.
Toda a leveza que a sua fisionomia carregava segundos atrás, desaparece.
Suspiro.
— Tem uma coisa que preciso te contar e você não vai gostar.
Ele automaticamente enrijece um pouco a postura.
— Ok…
Por favor, não me odeie.
— Apenas prometa que vai me deixar explicar tudo.
— Eu prometo. Você está me deixando nervoso, Casey. O que
aconteceu?
— A minha irmã… é a Anna.
Colin pisca.
Ele pisca de novo enquanto continua me encarando.
— O quê? — Colin indaga, claramente começando a ficar bravo. —
Anna? A irresponsável que abandonou a minha filha com duas semanas de
vida? Você está de brincadeira comigo, porra?
— Colin, ela me ligou pedindo ajuda, disse que tinha engravidado,
mas não me deu mais nenhum detalhe. Eu pensei que ela tinha acabado de
descobrir que estava grávida, mas quando eu cheguei aqui, ela já tinha tido a
Kiara — eu explico, falando rápido pois tenho medo de que Colin não me
deixe terminar de explicar. — E só para ficar claro, eu não concordo com
nada do que ela fez e tentei fazê-la mudar de ideia e te procurar, porque eu
sei que mesmo que você não precise dela, a Kiara precisa da mãe, mas a
Anna, ela... — Suspiro. — Eu realmente não sei qual é o problema dela.
— Por que você não me disse nada antes? — ele questiona,
magoado. — Nós nos conhecemos há semanas, Casey. Semanas!
Concordo com a cabeça.
— Eu sei, me desculpa. Eu não disse nada antes porque eu vi o que
você e os seus amigos pensam dela, e tudo bem, porque vocês não estão
errados, mas fiquei com medo de que automaticamente transferissem essa
raiva para mim só porque Anna e eu somos irmãs — respondo. Bem, eu não
diria que nós duas somos realmente família, mas enfim... — Eu não queria
ser culpada pelos erros que ela cometeu, principalmente depois que percebi
que você e eu estávamos nos tornando amigos.
Colin fica em silêncio por um longo período depois disso. Ele não se
afasta de mim ou coisa parecida, nem parece prestes a explodir de raiva, ele
apenas fica sentado ao meu lado, com o corpo ligeiramente virado na minha
direção, de maneira que consegue me olhar de frente. Eu não faço ideia do
que ele está pensando, o que faz meu coração acelerar como louco dentro do
peito, pois tenho medo de que a próxima coisa que ele vai dizer é que nunca
mais quer me ver de novo e que eu devo ficar longe dele e de Kiara.
— Colin, por favor, fala alguma coisa — eu peço, angustiada.
Ele ainda permanece em silêncio por mais alguns segundos antes de
dizer:
— Por que agora? Por que você resolveu me contar isso agora? O
que a Anna queria quando te ligou?
Eu meio que estava esperando por essa pergunta em algum momento
e, sinceramente, eu acho que essa é a pior parte de todas.
— Anna tem um plano maluco para arrancar dinheiro de você —
revelo, sentindo vergonha pelas atitudes dela. — Ela descobriu que você é
rico e acha que tem algum direito em cima do dinheiro dos seus pais por ser
a mãe da Kiara. Ela disse... Ah Deus, é absurdo precisar repetir, mas Anna
meio que quer uma indenização por ter destruído o próprio corpo para dar à
luz.
Repetir essa loucura faz o meu estômago revirar.
— Mas que porra é essa?! — ele brada, levantando-se da cama em
um rompante. Agora sim ele está furioso. — Anna só pode estar louca pra
caralho se acha que eu vou dar um centavo que seja do dinheiro dos meus
pais para ela! Indenização? Por dar à luz? Isso é a coisa mais absurda que eu
já ouvi em toda a minha vida!
— Ela quer vender a parte da guarda dela sobre a Kiara para você.
— Aquela sociopata do caralho! — ele ralha, e percebo que está se
controlando para não socar a parede ou arremessar algo contra ela. Nunca vi
Colin perdendo a cabeça desse jeito, mas não posso dizer que ele não tem
um excelente motivo para isso. — Ela não tem mais a guarda da Kiara.
Minha mãe se encarregou disso logo depois que ficou sabendo o que tinha
acontecido. A Anna está achando que a minha filha é o que, porra? Uma
casa? Eu não quero saber de merda nenhuma que venha dela! Eu quero a
Anna o mais longe possível de mim e da Kiara! Nem que eu tenha que
preencher uma medida protetiva contra ela ou qualquer merda desse tipo!
Assinto.
— Eu imaginei que você não iria compactuar com isso, e eu não sei
exatamente quais são os planos dela além disso, mas Anna garantiu que vai
fazer da sua vida um inferno, caso ela não consiga o que quer — eu concluo,
já que essa é toda a informação que eu tenho no momento. — Ela me disse
tudo isso no dia do seu jogo e eu deixei claro que não vou ajudá-la, mas eu
achei que você deveria saber, para estar preparado para seja lá qual for o
próximo passo dela.
Colin volta a ficar em silêncio. Ele anda de um lado para o outro do
quarto, com uma das mãos na cintura enquanto a outra passeia pelos fios já
desordenados do seu cabelo. Eu quero abraçá-lo e dizer que sinto muito por
toda a confusão que Anna vem criando, mas ainda não entendi se ele só está
bravo com a situação ou se está bravo comigo também, então permaneço
sentada na beirada de sua cama, esperando uma brecha que me faça entender
onde, para ele, eu me encaixo nessa história toda.
— Eu sinto muito, Colin — eu digo, chateada com tudo o que vem
acontecendo e me sentindo impotente por não poder fazer mais para ajudar
ou para, pelo menos, colocar um pouco de juízo na cabeça de Anna.
— Você sabe onde ela está?
Assinto.
— Eu quero o endereço.
— Ela está em Summer Ville. Eu posso te levar até lá, se quiser.
Ele concorda com a cabeça antes de dar um longo suspiro.
— Você deveria ter me dito isso antes, Casey. Odeio pensar que você
estava mentindo para mim.
— Eu não estava mentindo — rebato, me defendendo. — Você nunca
me perguntou quem era a minha irmã, consequentemente eu nunca te dei
uma resposta sobre isso.
— Mas você também não foi necessariamente honesta comigo.
— Porque eu não queria perder a sua amizade ou o meu convívio
com a Kiara. Eu gosto de vocês dois, Colin, e isso não tem absolutamente
nada a ver com a Anna. Eu teria gostado da companhia de vocês mesmo que
não tivesse nenhum envolvimento com ela — argumento. — Me desculpa
por não ter dito nada antes, ok? Eu queria que você me conhecesse e
soubesse quem eu sou para não transferir a sua raiva para mim. Eu não sou
responsável pelas merdas que ela faz e não quero essa culpa sobre mim.
Ele abre a boca para rebater, mas acaba mudando de ideia. Ao invés
de falar, Colin apenas suspira mais uma vez e volta a se sentar na cama ao
meu lado.
— Você está certa, eu entendo. Talvez eu tivesse mesmo transferido
minha raiva para você, se não te conhecesse como te conheço agora. Muito
provavelmente teria te afastado de mim e da Kiara, principalmente. Não teria
conseguido confiar em você. — Ele passa as duas mãos pelo cabelo,
soltando o ar dos pulmões em seguida. — É só que… Toda essa história me
deixa puto pra caralho! Eu quero a Anna o mais longe possível da minha
filha, Casey. Eu vou fazer tudo o que estiver no meu alcance para que ela
nunca mais chegue perto da Kiara de novo.
Anuo.
— Eu sei, mas não acho que seja com a Kiara que você deve se
preocupar agora. A Anna não quer ter nada a ver com a filha. Ela deixou isso
bem claro para mim. Anna só quer o dinheiro, Colin.
Dá para notar que ele se esforça muito para não a ofender na minha
frente. Não sei se porque ele pensa que eu me importo a ponto de me doer
ouvir alguém falando mal dela ou se porque ele mesmo não quer descer no
nível dela.
— Você pode me levar até onde ela está?
— Posso.
Colin força um sorriso.
— Obrigado por me contar.
Eu sorrio de volta para ele.
— Obrigada por não me odiar.
Sem qualquer aviso prévio, Colin me puxa para um abraço e eu
praticamente desmonto nos braços dele, sentindo a preocupação finalmente
deixar o meu corpo. Eu o abraço de volta, apertado, e tenho certeza de que
ele consegue sentir o meu alívio.
— Eu nunca conseguiria odiar você, Case.
Meu sorriso cresce ainda mais ao ouvir isso.
Capítulo 16

Você vem andando por aí


Difamando o meu nome
Porque você sabia que eu tiraria satisfação
| Charlie Puth – Attention

Depois que Anna se mandou, depois de dizer que eu poderia colocar


Kiara em um orfanato porque ela não dava a mínima, eu prometi para mim
mesmo que nunca mais iria sequer olhar para aquela mulher ou estar no
mesmo cômodo que ela novamente, mas aqui estou eu, batendo na porta do
lugar onde ela se escondeu para exigir que ela fique longe de mim e da
minha filha.
Pedi para a Casey me esperar no carro, porque não quero que ela
esteja no meio disso. Eu sei exatamente o quanto Anna pode ser cruel e sei
que não vai demorar nem meio segundo para ela entender que eu a encontrei
graças à Casey.
Quando a porta se abre e eu coloco meus olhos em Anna de novo, eu
juro por Deus que sinto o meu estômago revirar pelo nojo, a indignação e a
cólera. São vários sentimentos distintos. Ela continua sendo uma garota
lindíssima por fora, mas seu interior é tão absurdamente horrível que tudo o
que sinto ao olhar para ela é ruim.
— É claro que aquela gorducha deu com a língua nos dentes e te
contou sobre mim — Anna diz, seca, revirando os olhos. — A que devo o
desprazer da sua visita, Colin? Como está a minha filhinha querida?
Eu consigo sentir o veneno na voz dela quando fala de Kiara — e
quando fala de Casey também. E é óbvio que Anna está tentando me tirar do
sério ao mencionar a minha filha. Desgraçada. Espalmo minha mão na porta,
forçando-a a abrir mais e entro em sua casa sem me preocupar em ser
educado e pedir licença. Não preciso usar a minha educação com essa
garota.
— Ei! — Anna protesta, cambaleando para trás quando eu passo por
ela. — Você não pode entrar na minha casa desse jeito!
Eu me viro de frente para ela, sentindo a fúria tomando conta do meu
corpo. Normalmente, eu sou um cara bem tranquilo e é bem difícil me tirar
do sério, mas não mexe com a minha família.
Não com a minha filha, porra.
— Eu vim até aqui só para te dizer isso uma única vez: fica longe de
mim e fica longe da minha filha — aviso, mal reconhecendo o som da minha
própria voz. — Seja lá que porra você acha que vai conseguir de mim,
esqueça! Eu não vou te dar um centavo do dinheiro dos meus pais! Você não
tem direito a absolutamente nada, Anna! Nada! Se você chegar perto de mim
ou da Kiara, sou eu quem vai fazer da sua vida um inferno. — Eu paro bem
perto dela, encarando-a nos olhos. — Você entendeu?
Ela sorri para mim, diabólica.
— Perante a lei, eu ainda sou a mãe daquela pirralha, Colin.
— Não, não é. Você não tem mais a guarda dela e nenhum juiz em sã
consciência te concederia qualquer privilégio em relação à Kiara. Não
depois que você a abandonou sem qualquer remorso — rebato.
— Você quer apostar? — ela me provoca, sem se deixar abalar por
nada do que eu disse. — Você é quem está dificultando as coisas, Colin. Por
mim, você pode ter uma vida longa e feliz com a pestinha. Eu estou pouco
me lixando. Me dê o que eu quero e eu me mando, vocês nunca mais vão
precisar me ver de novo. — Anna dá de ombros. — Eu acho que é um
pedido bem razoável.
— Você é completamente louca, garota. Meu Deus! — Balanço a
cabeça de um lado para o outro, cético.
— E você é dramático — ela rebate, impaciente. — Você é podre de
rico, Colin! Esse dinheiro não vai fazer a menor falta para você, mas pode
mudar a vida para mim!
Eu não sei o que esperar de Anna, mas sei com certeza que nunca
daria dinheiro para ela em troca da guarda integral de Kiara. Eu não vou
comprar a minha filha. Isso é um completo absurdo. Eu vou tirar da Anna
qualquer direito e privilégio que ela possa ter em relação à Kiara, mas vou
fazer isso por meio da lei. Anna não sabe que a minha mãe é advogada e
tenho certeza de que minha mãe vai ficar mais do que satisfeita de afastar a
neta de uma mulher como Anna, assim que eu contar o que está
acontecendo.
— Meu aviso está dado, Anna — eu repito, querendo encerrar essa
conversa o mais rápido possível. — Fique longe da minha família!
— Isso é uma ameaça?
— Não. É um aviso.
Não espero por uma resposta, porque, sinceramente, eu só aguento
ficar no mesmo cômodo que Anna por um certo período. Eu preciso sair
daqui e respirar ar puro de novo. Sempre que estou perto dela, sinto como se
não conseguisse respirar direito. Parece mesmo que o ar está carregado de
toxinas venenosas.
Quando entro no meu carro, ainda estou tentando recuperar a minha
calma. Casey olha para mim, mas não fala nada. Provavelmente ela percebe
que eu preciso de mais alguns minutos antes de ser capaz de ter uma
conversa tranquila de novo. No entanto, não quero que Casey pense que
estou irritado com ela ou coisa parecida, embora eu acredite que ela sabe
disso. Mas apenas para ter certeza, eu seguro a sua mão na minha por alguns
instantes e respiro fundo. É impressionante a calma que ela me transmite —
e isso desde o momento que nos conhecemos.
— Quer conversar? — Casey pergunta, falando baixinho como se
não quisesse correr o risco de me deixar ainda mais nervoso.
Balanço a cabeça.
— Não vou dizer nada que você já não saiba — respondo, tranquilo.
— Só quero sair daqui e segurar a minha filha no colo enquanto nós dois
assistimos um filme. O que você acha?
Eu realmente preciso distrair a minha cabeça agora e acho que um
filme com Casey e Kiara pode fazer isso por mim. Além disso, em algum
momento, vou precisar conversar com a minha mãe sobre os planos de
Anna. Eu quero estar preparado para o caso de ela tentar alguma estupidez.
— Acho que é uma ótima ideia.

Casey escolheu um filme chamado “Tá Todo Mundo Louco”, porque


ela achou que seria uma boa ideia assistirmos uma comédia. Esse é um filme
antigo, mas ela me prometeu que seria engraçado, então concordei em
assistir. E Casey estava certa, o filme é de fato engraçado. Basicamente, um
cara super rico, dono de um cassino, seleciona alguns jogadores do cassino
para participar de uma corrida em que o prêmio é dois milhões de dólares.
Os personagens cometem loucuras absurdas para conseguirem chegar no
local onde o dinheiro está.
Nós nos esforçamos parar não rir muito alto, pois não quero que
Kiara acorde.
Meu pai estava tomando conta dela quando Casey e eu chegamos.
Minha mãe estava trancada no escritório da casa, em uma reunião importante
a respeito de um caso do qual ela é responsável.
Depois de pegar a Kiara do meu pai, dei um banho rápido nela —
Casey me ajudou, porque ainda não me sinto totalmente seguro de manusear
a minha filha sem ajuda — e Kiara mamou uma mamadeira todinha de
fórmula antes de adormecer de novo. Agora, ela está deitada, com a
bochechinha colada no meu peito enquanto dorme profundamente. Casey
está sentada ao meu lado da cama, nossas costas apoiadas na cabeceira
enquanto assistimos o filme. Nossos braços, quadris e pernas estão se
tocando. Nem sei dizer exatamente como isso aconteceu, mas eu tenho
certeza de que não começamos o filme sentados tão próximos um do outro.
Acho que o magnetismo entre nós dois é natural. Foi assim desde o
começo. Eu me senti atraído por ela como um ímã. A princípio, por mais que
Casey seja uma garota bonita, eu não estava atraído por ela romanticamente
falando, mas sim atraído pela calma e tranquilidade que ela sempre
transmitiu em relação ao meu jeito desajeitado de lidar com a Kiara. Depois,
quanto mais fomos convivendo, mais eu me senti próximo dela e, aí sim,
atraído por ela. Nunca neguei que acho Casey uma garota linda e já senti um
clima diferente entre nós dois algumas vezes, mas pensar em acrescentar
uma garota na minha rotina já caótica parece uma loucura sem tamanho. Já
tem tanta coisa acontecendo na minha vida, já tenho tantas prioridades,
como eu conseguiria lidar com um romance também?
Sei lá, talvez eu esteja viajando completamente e Casey nem
considere ter alguma coisa comigo.
— Colin?
Pisco, voltando à realidade ao ouvir o meu nome.
— Oi.
Casey dá uma risadinha, como se estivesse tirando sarro de mim.
— Você estava viajando, não estava?
— Não, não. Eu estou super concentrado no fil... — Corto a frase no
meio quando volto a olhar para a televisão e me dou conta de que os créditos
já estão subindo e eu perdi o final do filme. — Merda.
Casey ri baixinho.
— Talvez eu estivesse um pouquinho longe — admito. — Desculpe.
— Você não tem que se desculpar. Eu imagino que a sua cabeça deve
estar a mil quilômetros por hora com tudo o que está acontecendo.
Concordo.
— Por que você veio para cá para ajudá-la? Anna não dá a mínima
para ninguém além dela mesma e acho que você comentou comigo, antes de
eu saber que ela é a sua irmã, que vocês duas não são próximas. Não entendo
como você mudou toda a sua vida por uma pessoa como ela.
Casey suspira.
— Honestamente, nem eu sei. Eu acho que por conhecer a Anna,
quando ela me disse que tinha engravidado, eu imaginei que poderia ser um
desastre. Infelizmente, eu não estava errada. Acho que eu fiquei mais
preocupada com a situação e com o bebê do que com ela em si. Achei que se
eu estivesse aqui, talvez a criança tivesse uma chance.
— Você não estava errada na sua linha de raciocínio — eu lamento.
Mesmo que eu não seja apaixonado por Anna, eu queria que nós tivéssemos
um bom relacionamento, pelo bem da Kiara. Eu queria que a minha filha
tivesse a mãe por perto, mas agora que sei toda a verdade a respeito de Anna
e Casey, fico feliz que Kiara tenha pelo menos uma tia que se importa com
ela. — Ainda bem que você veio para Paradise, Case. Eu não sei como
estaria agora se não tivesse conhecido você.
As bochechas de Casey se tornam vermelhas de repente. Ela é
adorável quando fica com vergonha.
— Você tem uma grande rede de apoio, Colin. Seus amigos e família
são incríveis. Você com certeza ficaria bem.
— Verdade, mas não seria a mesma coisa sem você.
Casey abre um sorriso que faz os seus olhos verdes claros brilharem.
As sardinhas nas suas bochechas parecem ganhar destaque com a cor rubra
que ainda está presente. Caramba, eu queria muito beijá-la agora e, sei lá,
talvez eu esteja maluco pra cacete, mas pela forma como ela está olhando
para mim, eu diria que ela está pensando em me beijar também.
Seria loucura se eu inclinasse meu corpo na direção dela e tomasse
seus lábios nos meus? Será que comprometeria a nossa amizade? Ficaríamos
estranhos um com o outro, sem saber mais como deveríamos nos comportar?
Eu não quero que nada disso aconteça.
— Acho que eu deveria ir embora — Casey fala baixinho, quebrando
o contato visual. — Está ficando tarde.
— Eu tenho certeza de que minha mãe vai obrigar você a jantar
conosco, então eu esperaria mais um pouco. Sophie Mackenzie sabe ser bem
persistente quando ela quer.
— Acho que Colin Mackenzie também sabe ser bastante persistente
— brinca Casey.
Dou de ombros.
— É de família.
Casey dá uma risadinha.
— Deveríamos assistir outro filme então — ela sugere.
Assistir filmes é meio que o nosso tipo de programa favorito,
percebo. Eu poderia passar o dia todo e a noite toda assim, com Kiara no
meu colo e Casey do meu lado, assistindo filmes e comendo pipoca.
Depois que ela decide o próximo filme que vamos assistir, fico
surpreso quando Casey deita a cabeça no meu ombro. Kiara se mexe nos
meus braços, soltando um resmungo que eu já conheço como aquele que ela
solta quando está acordando. Ela movimenta os bracinhos e abre os olhos
verdes.
— Oi, princesa — Casey diz, fazendo cócegas suaves na barriguinha
de Kiara, que solta um barulhinho que indica divertimento. — Quem é a
mocinha mais linda de Paradise? É você?
Antes que eu me dê conta do que estou fazendo, passo o braço pelas
costas de Casey, puxando-a para um pouco mais perto de mim. Ela ergue os
olhos para mim por um momento e sorri, antes de voltar a prestar atenção
em Kiara. Eu também volto a prestar atenção na minha filha e na forma
como ela sorri enquanto Casey brinca com ela.
Meu coração nunca se sentiu tão confortável como nesse momento.
Eu acho que posso ter encontrado o meu ponto de paz na Terra.
Capítulo 17

E seu coração encostado em meu peito


Seus lábios pressionamos no meu pescoço
Estou me apaixonado pelos seus olhos, mas eles ainda não me conhecem
(…)
Beije-me como se quisesse ser amada
É como se eu estivesse me apaixonando
| Ed Sheeran – Kiss Me

Eu tenho mentido para mim mesma há algum tempo.


Desde o começo da minha amizade com o Colin, nós flertamos um
com o outro com a desculpa de que é tudo brincadeira, que tudo faz parte da
dinâmica da nossa amizade, e eu nunca me deixei levar por essas
brincadeiras porque eu sabia que estava escondendo algo dele que poderia
mudar tudo. Para mim, não era certo ter qualquer envolvimento com Colin
sem que ele soubesse a verdade sobre mim e Anna. No entanto, agora que
tudo está esclarecido, eu não tenho mais nenhuma desculpa que me impeça
de pensar como seria se tornássemos esses flertes algo mais sério; mais real.
No começo, achei que Colin estava realmente apenas brincando, que
aquele era o jeito dele de ter amizade com uma garota, mas então comecei a
prestar atenção na forma como ele olha para mim quando consigo conter a
vergonha por tempo o bastante para, de fato, conseguir encará-lo de volta
por segundos a fio.
Será que eu estou ficando louca ou os olhos verdes dele realmente
brilham um pouco mais quando ele olha para mim? Será que eu estou
ficando mais louca ainda por perceber que os olhos dele desviam dos meus
para encararem os meus lábios?
Meu Deus, nunca foi tão difícil ser amiga de alguém.
Nos últimos dias, Colin e eu temos passado ainda mais tempo juntos,
o que significa que também passei bastante tempo com Kiara e com os pais
de Colin também. Derek e Sophie Mackenzie são o exemplo de casal
apaixonado que vemos nos filmes e livros e que passamos a vida inteira
procurando, para viver algo minimamente parecido.
Queria que minha mãe estivesse aqui para que eu pudesse ver se ela e
meu pai seriam esse tipo de casal também. Eu gosto de imaginar que sim.
Sinto falta dela. Sinto tanta falta da família da qual me lembro quanto
era pequena, antes de ela morrer, que chego a sentir dor no peito quando
penso a respeito. Também queria que meu pai me visse como uma
prioridade, mas, sinceramente, eu desisti disso faz um tempo.
— Olha o que eu achei! — Colin aparece ao meu lado, me mostrando
uma camiseta de hóquei para bebês. — Eu com certeza vou comprar isso
aqui e vai ser a única coisa que a Kiara vai vestir até não servir mais.
Dou risada.
— Eu consigo imaginar você fazendo exatamente isso.
— Melhor ainda, eu vou mandar fazer uma camiseta do Paradise
Wolves, com o meu número e o meu sobrenome atrás para que ela possa usar
— ele diz, animado com a ideia. — Caramba, como que eu não pensei nisso
antes?
— Eu tenho certeza de que ela vai ficar uma gracinha, mas você tem
que pensar em comprar roupas para ela agora. Você mesmo disse que a Kiara
está perdendo um monte de roupa.
Colin confirma com a cabeça.
— Caramba, ela cresceu tão rápido. Daqui a pouco já vai completar
três meses.
— É o que todos os pais dizem a respeito dos filhos.
Depois que Colin me ligou dizendo que algumas roupas que Kiara
tem — e que nem sequer chegou a usar — estavam pequenas demais para
ela, eu sugeri que nós fôssemos às compras, porque é realmente super
normal que bebês percam roupas com essa facilidade. Sophie ficou tão
empolgada com a ideia que nós a convidamos para vir junto. Derek ficou em
casa, curtindo um tempo sozinho com a neta. Ele disse que essa era a
oportunidade de garantir que Kiara vai gostar mais de basquete do que de
hóquei. E eu tenho certeza de que, em algum momento, Aurora vai garantir
que Kiara se apaixone pelo vôlei também. Eu aposto que é engraçado vê-los
batalhando para provar qual esporte é o melhor.
— O que vocês acham desses modelos aqui? — Sophie pergunta, se
aproximando de repente com dezenas de peças de roupa nos braços.
Colin ri.
— Mãe, para que tudo isso aí? Ela vai perder metade dessas roupas
antes de sequer usar.
— O inverno vai chegar em breve, Colin. A Kie precisa de roupas
quentinhas para todos os momentos do dia — Sophie argumenta. — Olha só
esse macacão felpudo que coisa mais fofa e é super quentinho. Eu peguei
rosa e lilás, para você ter outro quando um estiver lavando. Eu também
peguei touquinha, meias e luvinhas, porque pode ser que você queira levar
ela para o rinque em algum momento. Ah! Mas esse aqui é definitivamente o
meu favorito. — Sophie busca entre a pilha de roupa. — Olha esse
vestidinho vermelho de veludo para ela usar no Natal! Não é a coisa mais
fofa que você já viu?
Eu e Colin damos risada da empolgação de Sophie.
— Não tirem sarro de mim, vocês dois. São muitas opções de roupa
para meninas. Quando eu comprava roupinhas para você, não tinha que me
preocupar com lacinhos, sapatinhos para combinar com vestidinhos, tiaras e
tudo isso. Eu estou me divertindo aqui!
— Eu sei que está, mãe. Obrigado por ter vindo. Vamos levar tudo o
que você pegou. Eu tenho certeza de que a Kie vai adorar as roupas novas.
Sophie abre um sorriso, realizada que Colin aceitou as suas
sugestões.
Ao terminarmos as compras, vamos para o caixa para pagar, com o
carrinho transbordando de coisa. Colin escolheu alguns brinquedos novos
para Kiara, Sophie caprichou nos sapatinhos e eu escolhei dar um presente
também, embora ainda não seja aniversário dela nem coisa parecida.
Comprei um conjuntinho de moletom branco com detalhes brilhantes para
Kiara usar no Ano Novo, já que Sophie escolheu o look do Natal.
Como já estamos na hora do almoço, Sophie e Colin sugeriram que
eu fosse para casa com eles e almoçássemos juntos. Eu precisava ir para casa
estudar, mas quem eu quero enganar? Eu quero passar mais tempo com eles.
Mas não pensem que estou sendo irresponsável, pois eu jamais faria isso.
Meu sonho é ser médica e vou colocar todas as minhas forças para realizá-lo.
A questão, no entanto, é que eu não sei a hora de parar de estudar. Eu sei que
sei a matéria da próxima prova de trás para frente, mas quero sempre
continuar estudando até o último segundo, para garantir que não deixei
passar nada.
É exaustivo.
Por mais que eu ame estudar, já houve momentos em que minha
ansiedade com uma prova foi tão absurda que literalmente surtei e fui parar
no hospital. Todo mundo, inclusive eu, achou que eu estava tendo um
infarto, mas na verdade foi só um pico de ansiedade tão extremo que os
sintomas foram iguais aos de infarto.
Não entendo como há pessoas que podem acreditar que ansiedade é
uma frescura.
Quando chegamos à casa, Sophie, Colin e eu ficamos parados,
imóveis, na porta de entrada, observando a cena à nossa frente. Derek está na
sala de estar com Kiara. Ele colocou vários edredons e almofadas no chão,
formando como se fosse um cercadinho e está rolando uma bolinha de
basquete no chão, em direção à Kiara. Ela até tenta segurar a bola,
provavelmente morrendo de curiosidade para entender o que uma bola é,
mas Kiara ainda não tem força o bastante para segurar e levantar objetos —
teria que ser uma bola ainda menor do que essa.
Derek nem parece notar a nossa chegada.
— Está vendo? — ele fala com Kiara. — Bola de basquete. É o
melhor esporte do mundo, Kie.
Kiara solta um barulhinho.
— Você concorda? — Derek questiona e Kiara faz outro barulhinho.
— Eu sabia que você ia vir para o meu lado. Não diga isso para o seu pai,
mas hóquei não está com nada. Basquete é muito melhor, princesa.
— Pai — Colin ri. — O que você está fazendo?
Derek praticamente dá um pulo pelo susto.
— Puta merda, Colin! Para que esse susto gratuito? — Derek
resmunga.
Nós damos risada.
— Não é minha culpa que você estava tão entretido tentando
hipnotizar a minha filha, que não nos ouviu chegando — Colin rebate,
brincalhão.
Derek deu de ombros, despreocupado.
— Não consegui trazer você para o basquete, mas talvez eu consiga
fazer isso com a minha neta. Dá licença e me deixa continuar conversando
com ela.
— Amor, supera isso — diz Sophie, rindo.
— Nunca! — Derek responde, mas dá para notar pelo seu tom e pela
sua feição que ele está apenas brincando.
Sophie revira os olhos, ainda rindo, antes de pedir que Colin e eu
arrumemos as novas roupinhas de Kiara enquanto ela prepara o almoço.
Colin ainda está rindo quando entramos no quarto de Kiara.
— Meu pai é completamente doido.
Eu rio também.
— Ele é muito legal. Toda a sua família é. Você tem muita sorte,
Colin.
Ele nota a minha inevitável mudança de humor. Família é um assunto
delicado para mim. E não posso negar que me entristece ver o quanto uma
família pode ser boa. Eu não tenho inveja do Colin ou coisa parecida, porque
acho que todo mundo merece uma boa família, mas é indiscutível como ele
realmente deu sorte de ter pais incríveis, tios e tias incríveis, primos e primas
incríveis… Se eu não tivesse visto a relação deles com os meus próprios
olhos, com certeza pensaria ser uma utopia.
— Ei — Colin se aproxima de mim, esquecendo das roupinhas que
iríamos começar a organizar, e toca a minha bochecha antes de mover a mão
até o meu queixo e erguer o meu rosto. — Sinto muito que você não tenha
uma relação bacana com o seu pai. Mas é ele quem está perdendo, Case.
Você é uma garota incrível.
Forço um sorriso.
— Obrigada, mas… — Eu suspiro, chateada com todo esse assunto.
— Eu perco também, Colin. Ele é o único parente que eu tenho; a única
família que eu tenho, mas eu nem sei mais quem ele é e isso me magoa
muito.
— Eu sei — ele fala e consigo sentir o quanto lamenta. — Detesto te
ver chateada. Parte meu coração.
Por mais que a tristeza tenha me atingido, não consigo evitar um
sorriso. Colin sorri também e, de repente, meu corpo se torna muito
consciente da mão dele ainda na minha bochecha. O toque macio e suave;
cuidadoso. Ele também está mais perto do que alguns segundos atrás. Se eu
respirar fundo, meus seios vão tocar o peito dele.
Ai caramba, as minhas pernas estão tremendo.
Colin está olhando para mim como se me analisasse, como se
tentasse desvendar algo muito importante. Ele já me lançou olhares assim
antes e talvez eu já deveria estar acostumada com eles, mas não estou.
Nunca conseguiria me acostumar a receber esse tipo de olhar: intenso,
curioso e até um pouco sedutor.
— Nós… — Eu pigarreio, limpando a garganta ao perceber que
minha voz ia falhar se eu tentasse falar mais. — Nós deveríamos terminar de
organizar as coisas da Kie antes da sua mãe nos chamar para almoçar.
Colin não se move sequer um centímetro para longe de mim, assim
como não cessa o contato visual também. Seus olhos continuam sustentando
os meus.
— Por que você sempre foge de mim? — ele pergunta. A voz soa
baixa e rouca, o que termina de abalar as minhas estruturas remanescentes.
Engulo em seco.
— Eu não… não estou… É que… — eu gaguejo, o que faz com que
Colin abra um sorrisinho arrogante. Maldição. Solto um suspiro. — Eu não
quero dificultar as coisas.
— Por causa da Anna?
Faço que sim com a cabeça.
Sei que Anna não dá a mínima para o Colin e para a Kiara, mas me
pergunto se ela vai encontrar uma forma de prejudicar o Colin, caso ele
tenha algum envolvimento comigo. Eu não confio nela.
— Ela não me assusta, Casey. Eu não preciso ser um advogado ou
um juiz para saber que as chances de Anna conseguir alguma coisa são
muito pequenas. Ela abandonou a Kie e eu tenho dezenas de testemunhas.
Não vou deixá-la controlar a minha vida e você não deveria permitir isso
também.
Meu corpo estremece quando sinto a outra mão de Colin tocar o meu
braço. Ele desliza a ponta dos dedos pela minha pele, sentindo a textura e
fazendo com que todos os pelos se arrepiem por onde os dedos dele passam.
Prendo minha respiração e crio coragem para erguer os meus olhos de novo
e encará-lo. Mas quando o faço, sou recebida por olhos que queimam de
desejo de uma maneira que eu nunca havia visto antes.
Meu corpo formiga com o toque dele e com a tensão que permeia o
ar.
— Colin…
— Eu vou beijar você — ele me avisa. — Se você não quiser que eu
faça isso, é melhor se afastar agora.
Como eu disse antes, eu estou mentindo para mim mesma há algum
tempo, mas se vou ser honesta, eu estou cansada de fingir que não tem nada
acontecendo porque Anna está sempre no fundo da minha mente, me
lembrando da sua existência e do que ela fez. No entanto, Colin sabe de tudo
agora, eu não estou escondendo mais nada dele, então… por que não?
Sutilmente, eu ergo o meu queixo para dar ao Colin um acesso
melhor à minha boca. Não sou absurdamente baixa, mas devo ser uns quinze
centímetros mais baixa do que ele, pelo menos.
Quando percebe qual é o meu intuito, Colin abre um sorriso. A mão
que estava no meu rosto durante todo esse tempo, se firma na minha
bochecha, com determinação e carinho. Seus lábios se aproximam dos meus
e antes de realmente tocá-los, Colin sussurra:
— Eu estava torcendo para você não se afastar.
E então, ele pressiona os lábios nos meus.
O contato de início é gentil e calmo, como se Colin quisesse apreciar
isso e ter o seu próprio tempo para explorar os meus lábios centímetro por
centímetro. Eu entrelaço meus braços ao redor do seu pescoço e fico na
ponta dos pés, com o intuito de grudar ainda mais meus lábios nos dele.
Colin fecha os braços ao redor da minha cintura e me aperta contra o seu
corpo. Abro os meus lábios sutilmente, pedindo pela língua dele e Colin me
concede esse desejo, deslizando a língua para dentro da minha boca.
Nós dois soltamos um gemidinho baixo ao sentir o contato.
Tudo se torna intenso depois disso. A forma como seus lábios e sua
língua se movem e a forma como Colin me segura contra o seu corpo se
tornam mais possessivas. O toque exploratório acabou; estamos famintos um
pelo outro agora.
Colin dá um passo para frente, o que me obriga a dar um para trás, e
assim ele continua até que as minhas costas estejam na parede do quarto.
Meus dedos adentram o seu cabelo macio, e eu os puxo suavemente quando
Colin morde o meu lábio inferior. Ele geme. Sua boca rapidamente encontra
o meu pescoço, subindo para a minha orelha. Colin lambe e morde o lóbulo,
me fazendo jogar a cabeça para trás e me obrigando a lutar para conter o
gemido alto que sobe pela minha garganta. Os lábios dele percorrem a pele à
mostra como se fosse um oásis que ele encontrou no meio do deserto. E por
mais que uma parte de mim esteja preocupada que ele possa deixar uma
marca ali e nós estamos prestes a almoçar com os seus pais, no fundo, eu não
dou a mínima. Eu só quero que ele não pare.
Consigo sentir a ereção de Colin cutucando a minha barriga enquanto
ele pressiona o seu corpo no meu, me segurando pelos quadris. É até
vergonhoso a forma como meu corpo se derrete sob o toque dele; como
perdi totalmente o controle das minhas próprias ações e estou apenas
respondendo às investidas dele; me esfregando nele. Mas não posso
realmente reclamar, pois não me lembro da última vez em que beijar alguém
e dar uns amassos foi tão gostoso.
— Por quê? — pergunto entre beijos apressados e famintos.
— Por que o quê? O que foi?
— Por que suas mãos estão estagnadas no meu quadril? —
questiono, bêbada de desejo. — Coloque elas em algum lugar mais
interessante.
Colin abre um sorriso tão safado que eu poderia ter gozado apenas
com isso, sem que ele sequer tocasse em mim.
— Seu desejo é uma ordem, Case.
Com os lábios de volta aos meus, Colin desce ambas as mãos até a
minha bunda, enchendo as mãos ao apertá-la. Mais um gemido escapa de
mim. E...
— Colin! — Sophie chama, provavelmente do andar de baixo pela
forma como sua voz soa distante. — O almoço está pronto!
— Porra — Colin resmunga ao interromper nosso beijo. Ele cola a
sua testa na minha enquanto nós dois tentamos recuperar o ritmo das nossas
respirações. — Estamos indo! — Colin grita de volta alguns segundos
depois.
Respiro fundo, recuperando o fôlego.
— Temos que descer ou ela vai suspeitar.
Colin ergue uma sobrancelha para mim.
— Você não quer que minha mãe descubra que nos beijamos?
Não sei dizer se ele está me provocando ao perguntar isso ou se ficou
realmente ofendido.
— Não, não é isso… É só que… Eu prefiro que sua mãe não imagine
que nós estávamos aqui em cima nos pegando enquanto ela está lá embaixo
fazendo o almoço e o seu pai cuidando da Kie.
— É uma pena, porque eu vou anunciar para eles quando chegarmos
lá embaixo.
Meu queixo cai em descrença.
— Você não faria isso.
Colin dá uma piscadinha para mim antes de se afastar e estender a
mão para mim. Eu olho para ele com desconfiança, mas seguro a sua mão
mesmo assim e deixo que ele me leve para o andar de baixo. Quando
chegamos na cozinha, Sophie está terminando de colocar a comida em cima
da enorme ilha.
— Mãe, você interrompeu… — Colin começa, mas eu dou uma leve
cotovelada nas costelas dele, o que o faz dar risada imediatamente — …
você interrompeu o nosso esquema de organização das roupas da Kie. Casey
e eu estávamos separando tudo por cores.
Meu corpo relaxa um pouco, mas então me dou conta de que Sophie
está olhando para mim e Colin, mais especificamente para as nossas mãos
dadas.
— Sei… é por isso que vocês dois estão de mãos dadas?
Instintivamente, eu quase solto a mão de Colin, mas isso só faria com
que o clima fique estranho. Ela já nos viu, não há nada que eu possa fazer
para esconder agora.
Sinto minhas bochechas ficando vermelhas.
— Eu sabia que você não deixaria esse detalhe passar, mãe. — Colin
sorri e lança uma piscadinha para mim de novo.
Sophie sorri para nós dois.
— Uma mãe sempre sabe, querido. Sempre.
— O quê? — Derek pergunta, aparecendo na cozinha com Kiara no
colo. — O que uma mãe sempre sabe que um pai não sabe?
Nós damos risada.
— Nada, amor. Vou deixar que você descubra sozinho. — Sophie
diz, dando um beijo na bochecha de Derek. — Venham! Vamos comer.
Derek suspira, balançando a cabeça.
— Você está vendo isso, Kiara? Fomos excluídos das fofocas de
família.
Colin pega Kiara do colo do pai e dá um beijo na bochechinha da
filha.
— Não escuta o vovô, princesa. Papai vai te contar tudo mais tarde
— Colin diz, provocando o pai.
Derek revira os olhos, resmungando.
E eu mantenho a minha boca fechada, sentindo minhas bochechas
queimarem pela vergonha e torcendo para que ninguém note que eu
provavelmente virei um tomate.
Capítulo 18

Oh, eu estou obcecado


Com o jeito que sua cabeça está repousada em meu peito
Como você ama as coisas que odeio em mim mesmo
E ninguém sabe, mas com você, eu vejo esperança novamente
| Clinton Kane – I Guess I’m In Love

— Parece que não te vemos há décadas — reclama John.


Os caras me mandaram mensagem meia hora atrás falando que eu
deveria ir até a casa deles por uma questão de vida ou morte. No final das
contas, descobri que eles apenas estão sentindo a minha falta em casa. Minha
mãe se ofereceu para cuidar de Kiara enquanto eu estivesse fora, mas eu
preferi trazê-la comigo, porque sei que não vou ter meus pais aqui à minha
disposição para sempre. Eu preciso saber conciliar diversão e
responsabilidade e saber os lugares para onde posso levar Kiara comigo. A
casa dos meus amigos definitivamente é um ambiente seguro — quando eles
não estão dando uma festa.
— Do que você está falando? Eu vejo vocês todos os dias no treino.
— Não é a mesma coisa — John continuando reclamando. — A casa
não é a mesma desde que você foi embora. Não somos mais os três
mosqueteiros.
— Nós nunca fomos os três mosqueteiros — Aaron ri. — Quem foi
que apelidou a gente assim?
— Eu, oras — John diz simplesmente.
Reviro os olhos, rindo.
Kiara está no colo do Aaron, distraída pela textura da barba dele que
começa a crescer. Ela passa as mãozinhas na bochecha de Aaron e solta
barulhinhos que eu gosto de acreditar que são a tentativa dela de uma risada.
— Podemos fazer essas reuniões uma vez por semana — sugiro. —
Assim realmente vamos ter tempo para conversarmos e passarmos um tempo
juntos.
— Eu topo — John diz, animado. — A noite dos caras e da Kie.
Aaron e eu rimos.
— Eu gosto disso — concordo.
— Como andam as coisas? — Aaron pergunta, fazendo cócegas de
leve na barriguinha de Kiara. Ela parece gostar. — A Anna deu algum sinal
de vida?
— Infelizmente, sim. Ela deu.
— Puta merda! E aí? — John indaga, curioso. — Não acredito que
aquela cretina teve coragem de dar as caras. Acho bom que ela não esteja
pensando em chegar perto da Kie.
Solto um suspiro e então conto para os caras tudo o que aconteceu
nos últimos tempos, envolvendo Anna e Casey também. Conto que as duas
são irmãs de criação, que Anna quer tirar dinheiro de mim e que agora estou
esperando para ver o que ela vai aprontar em seguida, porque eu tenho
certeza de que isso ainda não acabou. Os últimos dias foram corridos e
minha mãe também estava trabalhando muito, mas eu pretendo conversar
com ela hoje sobre o possível plano de Anna e descobrir quais as medidas
legais que podemos tomar para manter a minha filha longe daquela mulher.
— Essa filha da puta é inacreditável! — John se indigna.
— Anna está completamente maluca! Que tipo de gente faz isso?
— Quanto mais eu interajo com a Anna mais eu acho que, além de
narcisista, ela é sociopata. Talvez eu esteja muito errado, mas parece que ela
não sente nada e tudo o que importa no mundo é ela mesma e dinheiro.
John balança a cabeça, indignado.
— A melhor coisa que poderia ter acontecido com a Kie, foi a Anna
se mandar, sinceramente.
Aaron e eu concordamos com a cabeça.
— Mudando de assunto, cadê a Gracie? — pergunto, não querendo
continuar falando sobre a Anna. — Estou com saudade dela.
— Ela está treinando para as Regionais, mas deve chegar daqui a
pouco — Aaron responde. — Esse ano, ela está focada em vencer as
Nacionais e conseguir a vaga para as Olimpíadas de Inverno.
— Ainda bem que ela não tem mais que se preocupar com a mãe dela
— John completa, relaxando também agora que o assunto é outro.
Eu não consigo nem imaginar o desespero de Grace ao precisar lidar
com a mãe doente por conta do câncer. Só de pensar na minha mãe passando
por algo parecido, eu já entro em desespero. Acho que meu pai e eu
perderíamos completamente o chão se algo acontecesse com a minha mãe.
Balanço a cabeça, me livrando desses pensamentos.
— Quando eu paro para pensar, é muito doido que a Grace e o Trev
sejam um casal e que ele foi uma das pessoas que mais ajudou ela a passar
por tudo aquilo — comento, querendo livrar minha mente dos pensamentos
anteriores.
— Aquele tipo de “ódio” sempre tem mais coisa por trás. Pelo menos
é isso o que as garotas dizem — John fala, pensativo.
— Como assim? — indago.
— Uma vez, eu fiquei com uma garota que adora ler e ela sempre
comentava comigo sobre o que estava lendo no momento. A população
leitora chama essa dinâmica de “enemies to lovers” — explica John. — Não
é loucura isso? As garotas curtem essas coisas. Talvez eu precise encontrar
uma inimiga para viver uma história de amor.
Aaron franze o cenho, completamente confuso no rumo que essa
conversa está tomando. Afinal de conta, é de John que estamos falando.
— Você quer viver uma história de amor? — Aaron questiona. —
Desde quando?
John dá de ombros.
— Definitivamente não agora. Ainda tem muita mulher solteira por
aí esperando para me conhecer. — John dá uma piscadinha. Esse arrogante
de merda. — Mas quando eu escolher sossegar, quem sabe… Talvez eu viva
um enemies to lovers.
Dou risada.
— Eu pagaria para ver isso.
— O quê?
— Você se apaixonando por alguém. Eu nem consigo imaginar isso.
— Pois saiba que eu já me apaixonei antes, seus otários — revela
John. — Foi a maior burrada que eu fiz na vida.
Aaron e eu trocamos um olhar confuso. John já se apaixonou? Como
estamos ouvindo isso pela primeira vez só agora?
— Quando isso aconteceu? — Aaron pergunta, com a curiosidade
brilhando em todo o seu rosto.
— Ah, nem vem! — John resmunga, dando um gole na sua cerveja.
— Eu não falo sobre isso. Nunca! Jamais! Vamos mudar de assunto.
— Mas cara… — eu tento insistir.
— Não! — John me interrompe e antes que ele possa dizer qualquer
outra coisa, a porta de casa se abre e Grace aparece. — Joaninha!
Finalmente! Vem aqui, vamos conversar sobre a sua vida agora!
Grace franze o cenho, confusa pela forma como está sendo recebida
em casa.
— O que está rolando?
Aaron se prepara para atualizar Grace sobre o andamento da
conversa, mas acho que ele também percebe o desconforto de John. Está
estampado na cara dele.
John suspira.
— Podemos só mudar de assunto, por favor?
É tangível que John não quer falar sobre a única vez que se
apaixonou. É até estranho vê-lo fugir de uma conversa, porque, conhecendo-
o como conhecemos, sabemos que não faz o feitio dele se intimidar assim,
mas deve ter sido bem ruim se ele não quer tocar no assunto. E acho que
amigos de verdade são os que percebem esse tipo de situação e não insistem.
Quando e se ele se sentir pronto para nos contar o que aconteceu, ele vai
fazer isso.
— Como andam os treinos para as Regionais, Gracie? — Aaron
pergunta, mudando de assunto.
John imediatamente relaxa na cadeira.
Grace se aproxima, olhando para nós três como se estivéssemos
tramando alguma coisa, mas talvez ela também tenha notado o desconforto
de John e, como uma boa amiga, escolheu não mencionar nada.
— Está tudo bem — ela responde por fim, sentando-se na última
cadeira vaga que restava. — Estou finalmente com a cabeça no lugar para
dar tudo de mim em todas as competições que estão por vir.
— E como está a sua mãe? — eu quero saber, pois tem um tempo
que eu realmente não pergunto sobre a mãe dela.
Grace sorri e consigo ver o alívio e a alegria tomar conta de todo o
seu rosto. Houve um momento que eu sei que ela pensou que perderia a mãe,
então me alegra muito saber que a minha amiga não precisou passar por essa
dor enquanto ainda tem tanto para viver com a mãe.
— Ela está ótima. Está toda feliz porque o cabelo dela está crescendo
de novo, agora que ela não precisa mais da quimio. Graças a Deus e à toda a
ajuda que eu recebi de vocês e do Trev, ela está tendo uma nova chance. Ela
e meu pai, na verdade, estão tendo uma nova chance — conta Grace, ainda
sorrindo. — Se não estou errada, essa semana eles vão para a Noruega.
Minha mãe sempre sonhou em conhecer e ela finalmente tem tempo e
disposição para fazer isso.
Estamos todos sorrindo junto com Grace quando ela termina de falar.
Aaron está tão radiante quanto a própria Grace e sei que é porque a mãe dela
também é quase como uma mãe para ele, já que Aaron não cresceu com a
presença da própria mãe sendo uma constante. Ele nunca fala muito sobre
isso e nós não sabemos toda a história, mas sei que ele tem um
relacionamento difícil com a mãe. Com ambos os pais, na verdade.
— Isso é maravilhoso, Gracie! — digo, feliz por ela.
— É sim. — Ela continua sorrindo. — E como está essa coisinha
mais fofa do mundo? — Grace pergunta, se referindo à Kiara. — Posso
segurá-la?
Aaron faz que sim com a cabeça e entrega Kiara para a melhor
amiga. Grace dá um beijinho no alto da cabeça da minha filha enquanto ela
se ajeita no colo de Grace.
— Ela está bem, mas está um pouco abaixo do peso que é esperado
— eu conto. — Eu a levei à pediatra hoje de manhã e ela me disse que eu
preciso mudar a fórmula que a Kiara gosta.
Meus amigos me olham, confusos.
— Como assim? Por que ela está abaixo do peso?
— Porque ela não recebeu leite do peito — respondo, amargurado.
É instantâneo como a fisionomia dos meus amigos muda sempre que
alguém cita Anna, mesmo que seja nas entrelinhas, como eu acabei de fazer.
— Mas muitas mães não têm uma produção de leite satisfatória e,
ainda assim, conseguem alimentar seus bebês sem que haja perda de peso,
não é? — Grace pergunta. — Eu vi isso em um filme uma vez.
Eu concordo com a cabeça.
— Sim, verdade, mas nesses casos, elas utilizam fórmulas específicas
que suprem o que o leite materno deveria prover. Muitas vezes, os bebês
também precisam de vitaminas para ajudar a completar a alimentação, que é
o caso da Kie. Eu não sabia de nada disso e como foi difícil encontrar uma
fórmula que a Kiara gostasse, eu achei que estava tudo bem quando
finalmente encontrei, afinal de contas, ela estava comendo. Mas não está
tudo bem. — Solto um suspiro, me sentindo mal por ter falhado com a
minha filha de novo. — Agora, preciso comprar as vitaminas e a fórmula
especial e rezar para que ela se adapte.
— Tudo nessa história me deixa puto pra caralho — diz Aaron,
balançando a cabeça de um lado para o outro.
John assente e, por mais que não fale nada, consigo ver a fúria
estampada na cara dele. E mesmo que toda essa história também me deixe
no limite, não posso deixar de ficar feliz de ver que meus amigos receberam
a minha filha como se fosse deles. Sei que todos eles vão proteger a Kiara
com unhas e dentes sempre que for necessário.
Isso me deixa muito feliz.
— Eu sinto muito por tudo isso, Colin. Eu nem consigo imaginar
como você deve estar se sentindo — lamenta Grace. Quando ela olha
novamente para Kiara, que agora está dormindo tranquilamente nos braços
dela, consigo ver os olhos de Grace se enchendo de lágrimas. — A Kie não
merece isso.
— Não, ela realmente não merece.
— Nem você merece — diz John. — Você é um dos caras mais
legais e decentes que eu conheço, Colin. Você merecia uma garota legal
também.
Não consigo conter um sorriso.
— Talvez eu até tenha encontrado.
— O quê? — Grace exclama. — Como assim? Do que eu não estou
sabendo?
— Nós também não estamos sabendo de nada — fala Aaron. — Pode
abrir o bico, Mackenzie.
John começa a rir de repente, fazendo com que nós todos olhemos
para ele.
— O que deu nele? — Grace pergunta.
— Vocês são tão lerdos, puta merda! — ele exclama. — É óbvio que
ele está falando da ruiva.
Grace arregala os olhos.
— Casey? Mas ela disse que vocês dois eram só amigos.
— Nós éramos, mas...
Eu dou de ombros, lembrando do beijo que compartilhamos alguns
dias atrás. Caralho, que beijo!
Casey e eu temos nos visto quase todos os dias, como de costume.
Nada mudou na nossa dinâmica, o que me deixa feliz e aliviado na mesma
proporção. E eu tenho roubado beijos aqui e ali sempre que consigo. Nós
não colocamos nenhum rótulo no que estamos fazendo, mas espero que
consigamos descobrir em breve para onde isso vai nos levar.
Por agora, tudo o que eu sei é que quero ter ela nos meus dias; na
minha vida e na vida de Kiara também.
— Não acredito que ela não nos contou nada! — indigna-se Grace.
— Eu vou mandar uma mensagem no nosso grupo e exigir uma reunião.
Eu dou risada.
— Não a pressione, Gracie. Nós nem sabemos onde isso vai dar,
estamos só deixando rolar.
— Não importa, eu quero ser alimentada por uma possível nova
história de amor!
— Ué, por que só a joaninha pode ser alimentada? Eu também quero
saber das fofocas — indigna-se John. — Pode começar a falar, Mackenzie!
Suspiro.
Por que é que eu fui abrir a minha boca para esses malucos?

Meu celular começa a vibrar dentro do meu bolso como se tivesse


criado vida própria. Eu não faço ideia do que é que está acontecendo, e
passei o restante da aula tentando ignorar o que só podia ser alguém tentando
me avisar que o apocalipse estava para acontecer.
A princípio, pensei que pudesse ser Anna me ligando para me
atormentar mais uma vez, mas ela não teria motivos para isso.
Principalmente não com toda essa insistência. Já ficou claro para ela, quando
Colin apareceu lá para mandar que ela ficasse longe, que eu não estou do
lado dela e não vou ajudá-la. Depois, penso que pode ser o meu pai, mas ele
também não insistiria tantas vezes. Ele mal lembra de me ligar, então com
certeza não estaria colocando tanto esforço assim para falar comigo. Quando
finalmente a aula termina e eu pego o celular, percebo que tenho mais de
cem mensagens não lidas no grupo das meninas.
Aurora me colocou nele depois da festa do pijama na casa de
Antonella.

Grace
Vcs n sabem!!!!!
Colin e Casey se beijaram E ELA N CONTOU NADINHA DE ND
PRA GENTE!
Aurora
Q????????
Antonella
Q amizade é essa, gnt? Onde já se viu a gente n saber das fofocas?
Eu me sinto T-R-A-Í-D-A.
Grace
Casey tá privando a gente de fanficar sobre a pegação dela com o
Colin.
Aurora
Eu tô chocada com o fato de que o COLIN tbm n me disse nada.
Como vc ficou sabendo disso, Grace?
Grace
Colin deu a entender, mas depois n quis abrir o bico. Disse que a
Casey é que devia decidir se contava ou n.
Aurora
Casey, começa a falaaaaaaaaaar!!!!
Antonella
Eu quero os detalhes sórdidos!!!! N esconde nadaaaaaa!
E as mensagens continuam por longos minutos, onde elas começam a
tentar adivinhar, já que eu ainda não tinha visualizado as mensagens, como o
beijo aconteceu, qual foi o contexto, quem tomou a iniciativa, se houve mais
do que apenas um beijo, enfim… todos os cenários possíveis.
Jesus amado.
Acho que eu nunca tive um grupo de amigas assim, então não estou
acostumada com toda essa animação por conta de apenas um beijo. Eu tive
uma melhor amiga na época da escola, com quem eu ainda falo muito
esporadicamente, por conta da vida corrida que ela leva. Emily engravidou
no último ano do colegial, de gêmeos. Ela e Yuri, seu namorado, vivem
juntos até hoje, mas a vida da minha amiga é tão absurdamente corrida que
eu tenho sorte quando ela tem um tempinho para responder às minhas
mensagens ou retornar minhas ligações.

Eu
Gnt, foi apenas um beijo! N tem nada de extraordinário para
compartilhar. Vcs sabem mt bem como um beijo funciona!

Não demora nem um minuto para que elas comecem a digitar várias
mensagens em resposta.

Aurora
Ah, n vem com essa n!
Antonella
Somos todas fofoqueiras, n deixa a gente desalimentadaaaaaaa!
Grace
Festa do pijama hoje à noite!
Antonella
Na minha casa!!!!
Aurora
Eu levo o vinho e vc, Casey, leva a fofoca.

Eu dou risada enquanto balanço a cabeça, achando graça da


determinação delas em conseguir os detalhes. E por mais que eu ache isso
uma doideira, não posso negar que é muito bom ter amigas.
— Elas vão te comer viva para conseguir os detalhes — Colin
comenta ao telefone. O desgramado está se divertindo desde que liguei para
ele e disse que estava a caminho do apartamento da Antonella para ser
drenada por informação.
— E você está amando isso, não é?
— Eu já passei pela minha dose de interrogatório, ou você acha que
os caras são menos fofoqueiros que as meninas? — ele indaga, rindo. —
Não são, Case. Por que eu tenho que ser drenado sozinho?
Balanço a cabeça, mesmo que ele não possa ver.
— Engraçadinho! Tá, eu falo com você depois, estou caminhando os
últimos passos antes da loucura me atingir.
Colin ri do outro lado da linha.
— Tá bom. Nos vemos amanhã, minha linda.
O apelido me pega completamente de surpresa e eu demoro mais
tempo para responder do que deveria.
— Nos vemos amanhã.
Não sei por que, mas tenho a impressão de que Colin está sorrindo.
— Um beijo nessa sua boca gostosa. Tchau!
E sem me dar a chance de responder, ele desliga, me deixando
completamente desequilibrada para enfrentar o trio avassalador que me
espera no final do corredor. Maldição. Tenho certeza de que minhas
bochechas estão da cor de um tomate.
Respiro fundo, tentando me recompor rapidamente.
Quando sinto que o meu rosto não está mais pegando fogo, bato na
porta do apartamento de Antonella. Sou puxada para dentro, quase abduzida
na verdade, assim que a porta se abre.
— Meu Deus do céu! — exclamo, surpresa por ter sido puxada tão
depressa. — Vocês estão realmente morrendo de curiosidade, né?
— Faz um tempo que não temos algo sobre o que fofocar, você não
pode nos culpar, Case — defende-se Grace. — Alguém precisa providenciar
entretenimento para esse grupo.
Dou risada.
Não vou ter como fugir disso, então… É como diz o ditado: se você
não pode com eles, junte-se a eles.
— O que vocês querem saber?
— Tudo!
Eu acho que posso me arrepender disso, mas dane-se.
— Tá bom.
Elas soltam um gritinho de empolgação e nós nos sentamos no chão
da sala de Antonella, ao redor da mesa de centro. A garrafa e as taças de
vinho já estão posicionadas e Aurora serve metade da taça para cada uma.
Será um milagre se conseguimos colocar um pé na frente do outro para
andar daqui uma hora.
Antes de contar exatamente sobre o que aconteceu entre mim e
Colin, preciso contar a elas sobre Anna e eu, porque nenhuma das três sabe
sobre isso ainda e não sei exatamente como elas vão reagir. O motivo pelo
qual eu liguei para Colin antes de chegar aqui foi esse. Eu queria achar uma
forma de antecipar a reação das garotas e saber a opinião de Colin sobre se
eu deveria ou não contar a elas, afinal de contas, ele as conhece melhor do
que eu. Colin me garantiu que, assim como ele entendeu o meu lado, elas
também entenderiam.
Eu espero que ele esteja certo.
— Antes de eu falar qualquer coisa, preciso que vocês saibam de
algo. Anna e eu somos irmãs de criação. O meu pai se casou com a mãe dela
alguns anos depois que a minha mãe morreu em um acidente de carro. Anna
e eu éramos crianças quando eles se casaram — falo de uma só vez para não
perder a coragem. — Algum surto em relação a isso?
— Quê?! — as três falam em uníssono.
E como eu esperava, longos minutos se passam onde eu explico para
elas tudo o que expliquei para Colin enquanto internamente torço para que
elas entendam como ele entendeu. Não quero perdê-las, mesmo que ainda
não sejamos super próximas. Principalmente porque, se eu vou ficar na vida
de Colin, não quero ter um problema com os amigos dele. Isso tornaria as
coisas muito difíceis para nós dois.
— Como é possível que vocês duas tenham sido criadas juntas, mas
sejam completamente diferentes uma da outra? — Aurora questiona,
chocada.
Dou de ombros. Eu também já me fiz essa mesma pergunta mais de
uma vez.
Eu não me lembro muito de como era a dinâmica entre Anna e eu
quando nós éramos crianças. Não me lembro se ela sempre foi tão egoísta
como é agora. Eu não me lembro dela quando criança, mas me lembro que
ela era bem maldosa quando éramos adolescentes.
— Sempre foi assim, eu acho. Enfim... eu só queria contar para
vocês, porque não quero mais guardar esse segredo. Estou cansada de ser
associada aos erros dela.
Grace segura a minha mão e dá um sorriso que me diz que ela não
está me culpando por nada. A reação dela era a que eu mais temia entre as
meninas, por conta de tudo que Anna aprontou com o Trevor.
— Tudo bem, Case. Fico feliz que você tenha nos contado — ela diz,
ainda sorrindo. — Obrigada.
— E você não precisa se preocupar, nós sabemos que você não é a
Anna. Não vamos culpar você pelas escolhas dela — completa Aurora, me
tranquilizando mais ainda.
— Eu concordo com tudo e assino embaixo, mas será que agora
podemos finalmente ir para a parte boa dessa história? — pergunta
Antonella, se corroendo de ansiedade. — Eu estou cansada de ter a Anna em
nossas conversas.
— Eu concordo. — Aurora pega a sua taça de vinho e dá um gole na
bebida. — Casey, comece a falar, por favor.
Dou uma risadinha. Acho que nada no mundo, nenhuma relevação
bombástica as faria esquecer o beijo que rolou entre mim e Colin.
— Bom, nós fomos comprar algumas roupinhas para a Kiara junto
com a Sophie. Quando chegamos na casa deles, Colin e eu fomos organizar
as compras no quarto da Kiara. Nós começamos a falar sobre a minha
relação complicada com o meu pai, eu fiquei chateada e Colin tentou me
consolar. Basicamente foi assim que o clima foi criado — eu conto, me
recordando do momento com um sorriso. — Eu tentei quebrar o clima,
porque não sabia se seria uma boa ideia nós dois nos envolvermos, por conta
de Anna e tudo o que aconteceu, mas Colin é bastante charmoso quando
quer.
As garotas estão olhando para mim com sorrisos bobos e olhos
brilhantes. Eu provavelmente estou olhando para elas de um jeito bastante
similar.
— Vocês estão juntos, então? Tipo… namorando? — Grace
pergunta.
— Nós não demos um nome para isso, estamos apenas aproveitando
a companhia um do outro e vendo onde é que isso vai dar, eu acho.
— Vocês transaram? — Antonella pergunta, fazendo Aurora olhar
para ela com os olhos arregalados. Eu não as conheço há muito tempo, mas
já ficou claro para mim que Antonella não tem problema para falar sobre
qualquer tipo de assunto. — O quê? Não olhem para mim desse jeito. Vocês
duas estão pensando a mesma coisa, mas não têm coragem de perguntar.
Grace dá risada.
— Não posso dizer que isso é mentira.
— Nós não transamos — eu respondo, rindo também.
Antonella solta um suspiro triste.
— Pelo menos eu não sou a única com uma vida sexual inexistente
— ela lamenta, bebendo um longo gole de vinho.
— Você tem uma vida sexual inexistente porque quer — Aurora
rebate. — Homem correndo atrás de você é o que não falta, Ella.
— Como eu vou ter paz para transar se a cada vez que meu pai me
liga, ele fala que está confiante que vai encontrar um marido para mim em
breve? — Antonella questiona, e o desespero na sua voz me deixa confusa.
Espera aí... o quê? Um marido?
— Desculpe... como assim seu pai está procurando um marido para
você? Por quê?
— Ah, você ainda não sabia dessa parte da minha vida? Pois bem,
deixa eu te contar... — Ela dá mais um longo gole no seu vinho. — Eu venho
de uma família italiana superconservadora. Infelizmente, eles ainda vivem
com a mentalidade do século passado, onde o pai é quem escolhe o marido
para a filha e, para o meu desespero, eu estou na idade de me casar, segundo
eles.
Eu acho que não consigo disfarçar a minha surpresa. Eu não sabia
que ainda existiam famílias vivendo sob essa regra. Quer dizer, eu sei que
em alguns países isso ainda é bastante comum e faz parte da cultura, mas os
Estados Unidos não é um desses países e, se não estou errada, nem a Itália.
— Caramba! — exclamo, e acho que meus olhos ainda estão
arregalados. — O que acontece se você se recusar a casar? Seus pais não
ficariam muito mais felizes se você se casasse por amor?
Antonella suspira, de repente parecendo cansada.
— Tradicionalmente, se eu me recusar a casar, serei vista como uma
mulher arruinada pela sociedade italiana, deserdada pelos meus pais e perco
qualquer contato com a minha família, porque vou ser uma vergonha para
eles — Antonella explica. — Sobre o amor... eles acreditam que isso é
desenvolvido com o tempo de casamento. Eles acham que, escolhendo o
meu marido, eu vou estar mais segura, porque eles vão garantir que o
escolhido seja um bom marido, mas se eu mesma escolher? Por amor? Pode
ser perigoso, pois eu vou estar cega para enxergar os defeitos dele. É tudo
muito arcaico e machista.
É notório o quanto Antonella detesta essa regra e o quanto isso a está
deixando infeliz. Não preciso que ela diga mais nada para saber que,
provavelmente, ela estava falando sobre a vida sexual inexistente porque
precisa garantir que se casará virgem.
— Sinto muito, Antonella — eu digo, porque é a única coisa que
vem à cabeça para dizer.
Ela me lança um sorriso desanimado.
— Obrigada.
Um silêncio domina o ambiente por alguns instantes.
— Olha, eu sei que esse assunto é um assunto difícil e eu já perdi as
contas de quantas vezes me indignei com isso, mas posso dizer que eu estou
fanficando sobre você e o Luca? — Grace diz, praticamente saltitando.
— O Luca? — pergunto, confusa.
— O Luca é italiano também e, segundo o que a Grace contou,
porque o Trevor é o melhor amigo dele, então nós ficamos sabendo de todas
as informações, o pai de Luca também está querendo que ele se case —
explica Aurora.
Antonella apenas revira os olhos.
— Isso é simplesmente ridículo. A verdade é que, sim, Luca é
irreparavelmente delicioso e, sim, eu adoraria sentar na cara dele e no pau
dele, mas casar? — Ela balança a cabeça em negação. — Luca e eu não
poderíamos ser mais opostos. Eu falo o tempo todo, sem parar; ele, não fala
absolutamente nada. Nunca. Eu sou extrovertida e adoro fazer amizade; ele é
o maior iceberg já visto na história da humanidade. Eu não sei se suportaria
viver com alguém assim.
Eu dou de ombros.
— Às vezes ele pode ser alguém completamente diferente do que
você imagina — eu sugiro. — Não tem como saber com certeza.
— Prefiro não arriscar. Eu fujo desse assunto o máximo que eu
consigo, porque tenho verdadeiro pânico do dia que meu pai vai ligar e me
dizer que encontrou o pretendente perfeito para mim.
O corpo de Antonella chega a estremecer, deixando claro o quanto o
desespero dela é genuíno.
— Sinto muito, Ella — Aurora lamenta.
— As coisas são como são. E nós nos desviamos completamente do
intuito dessa noite. Estamos aqui para falar sobre Casey.
— Não há muito mais para falar sobre mim. Eu já contei para vocês
tudo o que aconteceu.
— Eu me sinto na obrigação de dizer, como melhor amiga do Colin,
que se você machucar ele, eu vou machucar você — Aurora diz, me
encarando.
Por alguns instantes, ela olha para mim com seriedade, mas um
sorriso toma conta dos seus lábios logo depois. Sei que ela não me
machucaria de verdade, mas eu entendi o recado em alto e bom tom. No
entanto, eu não tenho qualquer intenção de machucar o Colin. Na verdade,
eu espero que ele também não acabe me machucando, pois, por mais que eu
tente ignorar, eu sei muito bem o que significa o calor no meu peito sempre
que eu estou perto dele.
— Ameaça detectada e entendida — eu digo, brincando. — Você não
precisa se preocupar, Aurora. Partir corações não faz o meu estilo.
Ela sorri.
— Que bom, porque eu tenho certeza de que ele também não vai
partir o seu.
Eu sorrio de volta para ela.
— Podemos pedir alguma coisa para comer e assistir uma série nova
que eu descobri esses dias? — sugere Grace.
— Qual série? — eu pergunto, automaticamente curiosa. Uns dos
meus programas favoritos é ficar na minha cama, com uma roupa
confortável, uma caneca considerável de café e assistindo alguma coisa
interessante.
— Se chama “A Vida Sexual das Universitárias[3]”. É maravilhosa!
Eu assisti só os dois primeiros episódios e amei. Não me importo nem um
pouco de reassistir para que vocês possam acompanhar.
Isso parece interessante.
— Eu topo.
— Eu também — diz Aurora.
— Eu estou dentro também, mas vamos escolher o que comer
primeiro porque eu estou faminta — fala Antonella, já pegando o seu celular
para pesquisar nossas opções.
Eu com certeza posso me acostumar com isso: amigas de verdade.
Capítulo 19

Antes de desistir do amor


Tenta o meu, por favor
Se não servir, você joga fora, vai embora e diz que não deu
Mas, antes disso, prova um beijo meu
| Luan Santana – Água com Açúcar

Esperei até que minha mãe terminasse a reunião com uma de suas
clientes, de um processo que meu pai disse que era bastante complicado, e
então pedi para conversar com eles. Acho que meus pais estão um pouco
traumatizados comigo falando que preciso conversar com eles, pois da
última vez eu vim com a notícia de já ter colocado um bebê no mundo. Pela
forma como eles estão me olhando agora, eu não duvidaria se eles
estivessem rezando para eu não ter engravidado outra garota.
Eu daria risada se não tivesse preocupado pra caramba com o que a
Anna pode aprontar em seguida.
— Filho, fala de uma vez — meu pai pede, angustiado. — Eu detesto
esse suspense.
— Eu descobri recentemente que a Casey é irmã da Anna, a mãe da
Kiara. A Case veio para Paradise para tentar ajudar a Anna e impedir que ela
fizesse uma besteira, mas claramente ela não conseguiu. Enfim, nós tivemos
uma conversa sobre isso e está tudo bem entre nós dois, porque eu acredito
que as intenções da Casey são as melhores — eu falo, e realmente confio
que ela não está compactuando com Anna de nenhuma forma. — O
problema é que Anna quer dinheiro, porque ela acha que tem algum direito
de me pedir isso, por ser a mãe da Kiara.
— Ah querido… Talvez essa menina só esteja precisando de ajuda
— supõe a minha mãe, tentando pensar o melhor de Anna.
— Talvez ela tenha abandonado a Kiara com você por um bom
motivo, embora seja difícil imaginar isso — sugere o meu pai, pensativo.
— Mãe, pai, eu prometo pra vocês que ela não é nenhuma coitadinha
que precisa que alguém estenda a mão, porque eu juro que se ela fosse, eu
mesmo já teria oferecido ajuda à ela. A forma como ela fala da Kiara… Não
há um pingo de carinho ou remorso pelo que ela fez. No dia em que ela se
mandou, ela me disse que eu poderia colocar a Kiara em um orfanato, se não
quisesse criar ela sozinho — eu conto, sentindo a raiva me consumir como
se isso tivesse acabado de acontecer de novo. Até hoje eu não me conformo
com isso. — Eu não vou dar um centavo para aquela garota, e eu a quero o
mais longe possível da minha filha. Estou com medo de que Anna crie
problemas por não conseguir o que quer.
— Que tipo de problemas? — meu pai indaga.
Uma coisa que eu sempre gostei muito na minha relação com os
meus pais, é que somos muito transparentes uns com os outros. Não existe
joguinhos de poder, não existe manipulações ou mentiras — embora eu
tenha escondido algo bem importante deles, mas essa foi a única exceção. Eu
consigo saber exatamente como eles estão se sentindo só de olhar para a cara
deles e, nesse momento, eu sei que o meu pai está irado com a mais nova
revelação que fiz sobre o comportamento de Anna. Minha mãe, por outro
lado, parece chocada e magoada, provavelmente por pensar que um dia,
Kiara vai precisar enfrentar a verdade de quem a mãe é. Esse dia não vai
fácil para ninguém, principalmente para ela e isso me mata desde já.
— Honestamente, qualquer coisa. Ela pode aprontar qualquer coisa.
Eu nem sei mais do que ela é capaz para conseguir o que quer.
— Amor, o que você acha? — meu pai pergunta para a minha mãe,
buscando a opinião dela como advogada. Por sorte, o âmbito que ela trabalha
é justamente o âmbito familiar, então minha mãe entende muito sobre o
assunto.
— Por enquanto, acho que o melhor seria esperarmos que ela dê o
primeiro passo, pois ela pode nem sequer fazer alguma coisa. Talvez ela
estivesse blefando na esperança de que você se intimidasse. Então, por
agora, nós esperamos. Se ela fizer alguma coisa, se entrar na justiça ou algo
parecido, então construiremos um caso — orienta a minha mãe. — Com
todo o histórico do que ela fez e todas as testemunhas que você tem, a
chance do juiz dar qualquer benefício para ela, é bem pequena, mas não
iremos tratar esse assunto de maneira leviana. Se chegar a tudo isso, teremos
um caso bem construído a nosso favor. Se você acha que essa moça não seria
o melhor para a Kiara, então minha neta não vai ficar aos cuidados dela.
Eu concordo, confiando que a minha mãe sabe exatamente o que está
fazendo. Embora eu esteja preocupado com tudo isso, me sinto um pouco
mais calmo depois de falar com a minha mãe, porque eu a conheço muito
bem e sei que vai lutar com unhas e dentes para proteger a Kiara. Eu confio
nela de olhos fechados, sem questionamentos.
— Obrigado, mãe. Eu te amo.
Ela sorri para mim com olhos brilhantes.
— Eu também te amo, querido.
— Tente descansar um pouco, filho — meu pai recomenda. — Tem
muita coisa acontecendo na sua vida ao mesmo tempo. Deixe que sua mãe e
eu cuidamos da Kiara por hoje.
Juro por Deus que eu preciso conter um gemido diante do qual
prazeroso parece essa ideia. Por mais que meus pais estejam aqui para me
ajudar, quando Kiara acorda de madrugada com fome ou precisando de uma
troca de fralda, sou eu quem acorda para socorrê-la. Meus pais me ajudam
durante o dia, enquanto estou na faculdade ou no treino ou quando tenho
jogo, mas fora isso, eu faço todo o resto.
E eu estou exausto.
— Obrigado, pai. Eu amo você também.
Ele sorri, com as covinhas aparecendo, exatamente como as minhas.
— Eu sei. Eu também amo você, Colin.
Deixo Kiara com os meus pais e vou para o meu quarto. Eu preciso
de um longo banho quente para relaxar o corpo antes de cair na cama. Mas
quando eu finalmente me deito, não consigo deixar de pensar no quanto eu
queria que Casey estivesse aqui comigo agora, para que eu pudesse beijá-la e
tê-la nos meus braços, sentindo o corpo dela contra o meu… Aí, caralho! Só
a ideia disso já é o suficiente para deixar o meu pau semiduro. Eu estou sem
transar há um tempo — tempo demais, se querem saber — mas com tudo o
que aconteceu nos últimos tempos, não havia espaço no meu dia para sequer
pensar nisso.
Pego meu celular e mando uma mensagem para Casey.
Sei que ela está na festa do pijama com as garotas, mas quero que ela
saiba que estou pensando nela.

Eu
Queria que vc estivesse aqui.

Demora cerca de três minutos para eu ouvir meu celular apitar,


indicando uma nova mensagem.

Casey
N acredito q vou dizer isso, mas é estranho n ver vc todos os dias.

Eu sorrio ao ler a mensagem. Sei que esse é o jeito Casey de dizer


que sente a minha falta, já que ela parece nunca querer fazer nada para
elevar o meu ego. Segundo ela, eu já tenho confiança demais, mas eu
também não faço nada para esconder isso. Muito pelo contrário, se posso
provocá-la utilizando meu ego, pode apostar que eu vou usar essa chance.

Eu
Eu sei que seus dias são tristes sem mim, Case.

Quando vejo os três pontinhos que indicam que ela está digitando, já
consigo imaginá-la revirando os olhos ao ler a minha mensagem. E isso me
faz sorrir ainda mais.

Casey
Mudei de ideia. Meus dias são MT melhores SEM vc.

Dou risada. É tão fácil irritá-la.


Casey me manda outra mensagem antes que eu consiga responder à
anterior.

Casey
Quer assistir um filme na minha casa amanhã?

Sei que Casey mora nos dormitórios da universidade e ela tem uma
colega de quarto, por isso eu nunca fui até lá. Será que a garota está fora da
cidade ou algo assim?

Eu
E a sua colega de quarto?
Casey
Ela vai passar uns dias em um hotel com o namorado q veio pra cá
visitar.
Eu
Eu tenho treino até as 4 da tarde. Vou pedir para os meus pais
ficarem com a Kie pra mim e eu te vejo amanhã, minha linda.
Casey
Te vejo amanhã <3

O coração no final da mensagem me arranca mais um sorriso.


Coloco meu celular no carregador e o deixo em cima do móvel de
cabeceira antes de me ajeitar na cama, buscando uma posição confortável
para deixar o sono me atingir. E sei que não vai demorar, porque sinto o
cansaço em cada parte do meu corpo, mas torço para que eu durma rápido,
para amanhã chegar logo e eu ter uma certa ruivinha nos meus braços de
novo.
Eu e Casey já nos encontramos mais vezes do que eu consigo contar,
então por que me sinto tão nervoso dessa vez? Não é como se fosse a
primeira vez que vou ficar sozinho com ela ou algo do tipo, mas durante
todo o percurso da minha casa até o dormitório, minhas mãos suam e eu
sinto meus batimentos cardíacos nos meus ouvidos. Isso nunca aconteceu
comigo antes.
Quando estaciono o carro, mando uma mensagem para Casey para
avisar que já cheguei, pois ela precisa abrir a porta do dormitório para que eu
consiga subir. Até onde eu sei, os alunos podem receber visitas em seus
dormitórios, mas não visitas com intuitos sexuais. Quer dizer... eu não sei se
algo sexual vai rolar com Casey essa noite, mas eu definitivamente estou
torcendo para que sim. No entanto, se ela não estiver a fim, vou pegar todo o
meu tesão por essa mulher e mantê-lo sob controle, mesmo que essa seja a
última coisa que eu quero fazer.
Encontro Casey na porta do alojamento estudantil. Ela mora na
Winter House, um dos complexos de dormitórios na parte sul do campus da
universidade, e por sorte não tem ninguém na recepção quando Casey abre a
porta para mim. A última coisa que precisamos agora é alguém fazendo
perguntas. Rapidamente, logo depois que eu passo pela porta de entrada,
Casey me puxa para o lado esquerdo e nós adentramos uma segunda porta
que, depois de um segundo de confusão, me dou conta que é a porta da
escada.
— Oi. — Ela sorri para mim com as sardinhas no rosto se tornando
mais evidentes. — Desculpa o mau jeito, mas é melhor que ninguém veja
você aqui.
Ergo uma sobrancelha.
— Ah, é? Por quê? Está com vergonha de ser vista comigo, Fletcher?
— Eu não quero virar a fofoca da faculdade amanhã de manhã — ela
explica. Já percebi que Casey prefere passar despercebida. — Por que eu
teria vergonha de ser vista com você?
— Tem razão. Eu sou um dos caras mais desejados dessa
universidade, por que você teria vergonha de ser vista comigo?
— Ah, Santo Deus! — ela resmunga, revirando os olhos. —
Sinceramente, Mackenzie, quem foi que subiu o seu ego desse jeito?
Dou de ombros.
Não é uma questão totalmente de ego, embora haja um pouco dele
envolvido nisso, mas é o prazer de vê-la irritada. Talvez eu não tenha muita
noção do perigo.
— Vamos, eu moro no terceiro andar — ela diz, já começando a
subir as escadas. Eu subo atrás dela. Quando chegamos no terceiro andar,
Casey coloca apenas a cabeça para fora, observando o corredor, antes de
segurar a minha mão e me puxar com ela. — Vem!
Não chegamos a dar cinco passos para a direita para chegar no quarto
dela. Casey encosta o seu cartão na porta, ela destrava e se abre. Nós
entramos rapidamente e sem fazer muito barulho, mas assim que a porta se
fecha atrás de nós, eu envolvo Casey com os meus braços e a puxo para
mim. Eu estou louco para beijá-la desde que acordei hoje de manhã.
— Oi — eu digo para ela, olhando os seus olhos verdes mais de
perto. — Como foi o seu dia?
Demora alguns instantes para que Casey coloque os braços ao redor
do meu pescoço. Nós ainda estamos tentando entender a dinâmica e as
mudanças que aconteceram na nossa amizade desde que nos beijamos pela
primeira vez.
— Foi bom, mas tenho certeza de que não absorvi nada das aulas
hoje. Eu não dormi muito durante a noite.
— Por que não? Está preocupada com alguma coisa, minha linda?
Percebo que o apelido que distraidamente acabei dando para ela a faz
sorrir um pouco e isso me deixa feliz.
— Achei que poderia ser por isso, mas não estou preocupada com
nada. Pelo menos, não conscientemente falando. — Casey solta um suspiro.
— Eu só quero relaxar um pouco agora e assistir um filme com você.
Eu sorrio.
— Gosto dessa ideia, mas antes eu acho que mereço um beijo.
— Merece, huh?
Faço que sim com a cabeça.
— Estou esperando por isso o dia todinho, Case. Não foi fácil.
Ela solta uma risadinha.
— Eu aposto que o seu dia foi mesmo muito difícil.
— Muito — confirmo, dramático.
— Sendo assim, acho que devo tentar fazer o seu dia terminar de
uma maneira melhor.
O gosto dos lábios dela quando Casey os pressiona sobre os meus é
de mel. Não sei se tem a ver com um possível hidratante labial ou se ela
estava comendo alguma coisa com mel antes de eu chegar, mas sei que
adoro o gosto doce na ponta da minha língua.
Aperto Casey um pouco mais contra o meu corpo e sou
recompensado por um gemidinho baixo. A minha língua se mistura com a
dela e nós nos perdemos nos lábios um do outro. Casey deita a cabeça para
aprofundar o beijo ao mesmo tempo que enfia os dedos no meu cabelo. Meu
pau começa a se manifestar, crescendo dentro da cueca e sei que ela
consegue senti-lo cutucando a sua barriga, mas Casey não faz menção de
interromper o momento, então eu também não interrompo, vou avançar até
onde ela me deixar ir. Pensando nisso, enfio uma das minhas mãos nos fios
ruivos do cabelo dela e agarro sua nuca, segurando a cabeça dela no lugar e
na posição que eu quero antes de deslizar meus lábios até o seu pescoço.
Casey levanta a cabeça, me dando espaço para beijar cada centímetro
de pele que está à minha mercê. Eu lambo e chupo a pele sensível do
pescoço dela, arrastando meus dentes em seguida para deixá-la arrepiada e
sorrio contra a sua pele quando sinto o corpo de Casey estremecer.
— Colin — ela geme meu nome.
Na minha opinião, não tem nada mais sexy do que ouvir uma garota
gemendo o seu nome desse jeito.
Quando beijei Casey no meu quarto, ela fez uma observação sobre as
minhas mãos estarem na sua cintura o tempo todo e que eu deveria colocá-
las em um lugar mais interessante, então eu não espero que ela fale a mesma
coisa para mim dessa vez. Devagar, eu deslizo minhas mãos pelas costas
dela e alcanço a sua bunda, apertando-a e espremendo o corpo de Casey
contra o meu. Ela arqueja, completamente entregue às sensações que o meu
toque está proporcionando para ela.
— Colin — ela arfa. — Eu pensei que iríamos assistir um filme.
— Você disse que precisava relaxar e eu sei um jeito muito melhor
de relaxar do que assistindo um filme.
Casey olha nos meus olhos com as pupilas dilatadas pelo tesão.
— Que jeito?
Eu sorrio com cada gota de safadeza que existe em mim.
— Gozando.
Os olhos dela brilham de desejo e seus lábios se separam para deixar
o ar sair. Eu sei que ela quer que eu continue, eu consigo sentir pela forma
como o corpo dela continua colado do meu; pela forma como ela me olha,
mas algo ainda a está segurando, impedindo que Casey apenas deixe
acontecer.
— Mas podemos parar, se é o que você quer — eu sugiro, querendo
deixá-la confortável.
— Não se atreva a parar.
Meu pau imediatamente responde, ficando ainda mais duro. Eu estou
maluco para saber qual é a sensação de estar dentro de Casey, mas sei que a
construção do clima é importante também e por mais que seja torturante, eu
gosto de deixar a tensão sexual crescer até o ponto que não é possível
aguentar mais. Sem contar que antes de estar dentro dela, eu quero sentir o
gosto da sua boceta na minha língua.
Conduzo Casey até a cama logo atrás dela, empurro o seu corpo
levemente para que ela se sente na beira do colchão e observo a sua reação
diante do avanço. Seus olhos continuam brilhando de tesão e as bochechas
estão vermelhas, mas dessa vez não acho que seja por vergonha. Dessa vez,
acho que tem mais a ver com desejo. Com os lábios inchados pelos beijos
que trocamos, o cabelo levemente bagunçado e aqueles olhos verdes com
pupilas dilatadas, Casey é a mulher mais sexy que eu já vi. Puta que pariu!
Devagar, eu ajoelho na sua frente e, com os olhos grudados nos dela,
eu abro as pernas de Casey, dando a ela a chance de me impedir. Ela não o
faz, no entanto. Casey está vestindo um vestido preto bem básico e conforme
as pernas dela se abrem, eu consigo ter um vislumbre da calcinha também
preta.
— Você tem ideia do quanto é sexy, Case?
Casey sorri de uma forma tão safada que poderia realmente me fazer
explodir.
— Sexy, huh?
— Pra caralho — eu confirmo, levando meus lábios até o interior da
sua coxa esquerda. O cheiro da pele dela adentra as minhas narinas logo em
seguida. — E cheirosa também.
O contato dos meus lábios com a pele macia de Casey é divino, mas
o meu objetivo está um pouco mais acima. No entanto, por mais que eu
esteja louco para sentir o gosto da sua boceta na minha língua, eu levo um
tempo trilhando o meu caminho até lá com beijos, mordidas e lambidas, o
que faz Casey estremecer de prazer. E mesmo que seja torturante, eu gosto
de sentir o tesão puro correndo pelas minhas veias.
Conforme deslizo meus lábios em direção a boceta de Casey,
conduzo minhas mãos para cima, pelo lado de fora das coxas dela e
aproveitando para subir um pouco mais o seu vestido também. A expectativa
de vê-la nua está me deixando maluco. E quanto mais a minha boca se
aproxima de sua boceta, mais rasa fica a respiração de Casey.
— Quão molhada você está, minha linda? — eu pergunto, erguendo
meus olhos para ela, mas com o rosto praticamente enterrado entre as suas
pernas. Se eu me aproximar só mais um pouco, a ponta do meu nariz vai
realmente tocar o tecido da sua calcinha.
Ela arqueja.
— Por que você não descobre sozinho? — ela me provoca, lançando
aqueles olhos verdes na minha direção. — Com a sua língua.
É disso que eu estou falando, caralho!
Agarro a bunda de Casey, a puxo com força mais para a beirada do
colchão e coloco cada uma das suas pernas em cima de um dos meus
ombros, porque eu literalmente quero me afogar no cheiro e no sabor dela.
Com a ponta dos dedos, eu afasto o tecido da calcinha e finalmente consigo
ver a umidade banhando sua boceta. Casey arfa somente ao sentir a minha
respiração na sua pele úmida. E eu sorrio, satisfeito com as respostas que o
corpo dela me dá.
Quando a minha língua toca a boceta de Casey, sinto que
imediatamente me tornei um viciado. Não só no gosto, mas no gemido longo
que ela solta quando eu começo a lambê-la, aproveitando cada gota da sua
excitação como se esse fosse o meu combustível. Apoiada nos cotovelos,
Casey mantém os olhos em mim enquanto eu a devoro. A imagem dela com
o cabelo bagunçado, os lábios inchados, as bochechas rosadas e os lábios
entreabertos para gemer e deixar o ar da sua respiração ofegante passar me
deixam maluco e ainda mais determinado a fazê-la gozar como nunca gozou
antes.
Casey arqueja quando passo a minha língua por toda a sua boceta. A
textura macia me faz fechar os olhos por um instante, querendo focar apenas
no que consigo sentir com a minha língua e nos sons roucos que saem da
boca dela. Eu já transei pra caralho e mais de uma vez com a mesma garota,
mas como nunca cheguei perto de me apaixonar, sempre foi algo puramente
físico. No entanto, nesse momento com Casey, não é só o meu pau que está
sentindo os efeitos dessa interação mais íntima entre nós; meu coração está
acelerado de uma maneira que nunca esteve antes.
Prendo o clitóris de Casey entre os meus lábios e o sugo. Abro os
olhos a tempo de vê-la jogando a cabeça para trás e estremecendo de prazer.
— Colin... Colin... — ela geme, e eu juro que nunca gostei tanto do
meu nome.
— Tudo bem se eu fizer isso? — eu pergunto ao colocar apenas a
pontinha do meu dedo próximo à entrada da sua boceta.
— Sim. Sim.
Devagar, aproximo a minha língua da sua boceta e volto a chupá-la
ao mesmo tempo em que enfio meu dedo dentro dela, sentindo seus
músculos internos contraírem e relaxarem ao me receber. Tão gostosa, porra!
Quando a respiração de Casey fica ainda mais rasa do que antes, e eu
acredito que ela está chegando perto de gozar, coloco mais um dedo dentro
dela para aumentar o atrito. Ela estremece, e eu afasto meus lábios da boceta
dela para concentrar a minha força e intensidade nos meus dedos, fodendo-a
rápido e o mais fundo que consigo chegar.
— Puta merda! — ela geme.
— Goza pra mim, Case. Eu quero chupar cada gota — eu incito,
aumentando um pouco mais o ritmo.
O barulho molhado que a sua boceta produz conforme meus dedos
entram e saem me deixa excitado em um nível que faz o meu pau realmente
doer. Eu quero tanto estar dentro dela; quero tanto que seja o meu pau que
vai sentir os músculos dela contraírem, mas ao mesmo tempo tem uma parte
de mim que quer fazer tudo com calma com ela. Eu quero descobrir o que
cada toque meu pode provocar no corpo dela e todas as maneiras que ela
pode responder às minhas investidas.
O corpo de Casey treme quando ela goza, e eu imediatamente tiro
meus dedos de dentro dela para deixar minha língua assumir o resto do
trabalho. O gosto dela é como aquela sobremesa que você nunca consegue
enjoar porque é simplesmente a melhor que existe.
Eu nunca conseguiria enjoar do gosto da boceta de Casey na minha
língua e o som dos gemidos dela nos meus ouvidos.
Aos poucos, vou diminuindo o ritmo até me afastar completamente
de Casey. Ela está deitada na cama, olhando para o teto enquanto recupera o
fôlego. Eu me deito ao lado dela, passando a língua pelos lábios para
aproveitar o resquício do sabor de minutos atrás.
— Posso te fazer uma pergunta? — Casey corta o silêncio de
repente, a respiração bem mais controlada agora.
— Claro.
Eu viro meu rosto na direção dela, então percebo que há uma
ruguinha entre as suas sobrancelhas, o que eu acho que indica que ela está
preocupada com alguma coisa ou pensamento seriamente sobre alguma
coisa.
Ao contrário do que eu imaginei, Casey não diz mais nada depois
disso, o que eu acho estranho. Ela não costuma hesitar tanto assim para
conversar comigo — com exceção de quando me contou sobre ela e Anna
serem irmãs de criação, mas a sua hesitação naquele momento era totalmente
compreensível.
— Case, o que foi? — eu insisto, preocupado com o que pode ter
passado pela cabeça dela.
Casey suspira.
— É uma besteira tão grande que eu estou repensando se deveria
falar ou não.
— Você pode falar comigo sobre qualquer coisa, minha linda. Eu sou
um lugar seguro.
Ela dá um sorriso.
— É, eu sei que é. Eu só... — Ela suspira de novo. — Caras como
você não costumam se interessar por garotas que não tenham um certo
padrão de beleza. E eu sei que é besteira dizer isso e as pessoas estão sempre
dando discursos sobre isso, mas nada muda o fato de que não é uma mentira.
Não totalmente. Não na maioria dos casos. E eu estou muito confortável com
o meu corpo, não estou dizendo isso para que você reafirme qualquer coisa
para mim, porque eu sei que sou uma garota bonita e que meu corpo também
é bonito na sua própria maneira, é só que... Eu não me lembro de já ter visto
um cara atlético como você se interessar por uma garota que não seja
igualmente atlética. Só vejo isso nos filmes e eu já aprendi que eles não são
muito confiáveis.
Eu cresci rodeado de mulheres o suficiente para saber o tipo de
pressão que elas sentem.
— Você não está errada. Muitos dos caras que eu conheço só ficam
com garotas magras e eu já ouvi histórias que as minhas primas contaram,
histórias que aconteceram com amigas delas, onde os caras até gostavam da
garota, mas não queriam assumi-las para os amigos porque elas não eram
magras. É uma merda, Case, e é real. Não vou tentar te convencer do
contrário porque isso seria mentira. O que eu posso dizer para você é que eu
particularmente não poderia me importar menos se você é magra ou gorda,
mas tem cara que não curte, assim como tem cara que curte pra caralho. O
goleiro do nosso time, Sam Reyes, ele curte mulher gorda ou mid-size. Ele
disse isso pra gente em uma conversa uma vez. E eu juro por Deus que
nunca vi ele ficando com uma garota magra.
— Você sabe o que mid-size significa, eu estou impressionada.
Eu dou uma risadinha.
— Kenna e Charlie ensinaram tudo para mim e para os caras quando
éramos adolescentes.
Casey sorri.
— Que bom. Isso é ótimo.
— Para ser sincero com você, eu te acho gostosa pra cacete, mas é
como você me faz sentir que importa mais. Eu já fiquei com várias garotas
magras que não me fizeram sentir um terço do que eu sinto quando estou
com você. Não é sobre o corpo para mim, Case. Talvez seja para muitos
homens, mas não é para todos. Não é para mim.
Ela respira fundo por um momento antes de sorrir para mim
novamente.
— Obrigada. Eu não costumo me sentir insegura desse jeito, mas...
— Ela faz uma pausa como se reunisse coragem para dizer o que dirá em
seguida. — ... mas eu realmente gosto de você, Colin. Só quero ter certeza
de que meu coração está seguro.
Eu a puxo para os meus braços e Casey deita a cabeça no meu peito.
Dou um beijo na sua têmpora enquanto ela aconchega seu corpo junto do
meu.
— Seu coração está seguro comigo, minha linda. Você está segura
comigo.
Capítulo 20

Acorde, fique comigo


Através da inundação e do medo
Agora preciso de você aqui
Eu preciso que você fique forte
Para me lembrar de onde eu vim
E de onde eu pertenço
Então, acorde e fique comigo
| Nilu – Are You With Me

Eu não estou sentindo o lado esquerdo do meu corpo.


Luca me prensou contra a parede de proteção durante o treino de hoje
e a porrada foi forte o bastante para que nem o equipamento de proteção
fosse o bastante para me proteger. Eu caí no chão em seguida e bati a cabeça.
Caralho, parece que eu fui derrubado por uma onda gigante e atropelado por
um caminhão logo em seguida.
Tudo.
Está.
Doendo.
Eu sei que boa parte dos atletas usa o esporte como forma de
extravasar a raiva — eu mesmo já fiz isso várias vezes —, o problema é que
quando você já é um cara naturalmente esquentado, o extravasamento no
esporte é ainda mais intenso. Luca estava puto desde o momento em que
colocou os pés no rinque. Trevor é o único que realmente chega perto de
entender esse cara, e quando, antes mesmo do treino começar, ele avisou
para tentarmos evitar Luca ao máximo, eu sabia que não era um bom sinal.
Pelo menos ele se desculpou comigo pelo excesso de força no final
do treino. Eu não estava esperando por aquilo, porque não faz o feitio do
Luca, mas acho que ele está mesmo tendo um dia de merda.
Deixo que a água morna caia sobre o meu corpo em uma tentativa
provavelmente falha de mitigar a dor no lado esquerdo do meu corpo.
Encosto minha testa no azulejo gelado e respiro fundo, torcendo para que a
dor de cabeça que estou sentindo, desapareça.
Não funciona.
Desligo o chuveiro e amparo o corpo na parede quando minha visão
escurece, me deixando zonzo pra caralho.
Acho que vou vomitar.
Minha visão entra e sai de foco algumas vezes antes que eu consiga
pegar a toalha que estava pendurada em um gancho. Amarro ao redor da
minha cintura e tento chegar até os armários no vestiário, mas o chão parece
estar se movendo sob os meus pés como se tivesse se tornado gelatina e eu
não conseguisse mais me manter firme.
— Porra — eu murmuro para mim mesmo.
Tento me concentrar para ver se um dos caras ainda está por perto,
mas acho que eu demorei demais no banho e todo mundo já se mandou.
Acho que preciso me sentar por um momento.
Avisto o banco de madeira que fica entre os armários, que serve de
apoio para os jogadores se sentarem enquanto se preparam para um jogo,
seja para vestir o uniforme ou apenas sentar e relaxar. Alguns tem seus
próprios rituais pré-jogo. No meu caso, eu faço uma breve prece e é isso.
Dou mais alguns passos, ainda tentando alcançar o banco, quando a
minha visão apaga de novo. E antes que eu consiga evitar, pois meu cérebro
parece estar lerdo agora, meu corpo bate contra o piso gelado do vestiário.
Não me lembro de me levantar depois.
Eu me certifiquei de tomar um longo banho e enluvar a minha pele
com o meu creme mais cheiroso. Fiz uma maquiagem bem simples, só para
esconder as olheiras que marcam as horas da madrugada que fiquei
acordada, sem conseguir dormir. Não sei dizer exatamente o que foi que me
tirou o sono de novo, mas foi impossível pregar o olho durante toda a noite.
Eu também perdi uma parte da minha alma quando me depilei mais cedo —
você nunca se acostuma com aquele tipo de dor — e lavei o cabelo, hidratei
e sequei, deixando os fios mais lisos do que normalmente são, já que os
sequei com o secador e não naturalmente. Não sei por que estou me dando
ao trabalho de fazer tudo isso, já que Colin se interessou por mim sem todos
esses detalhes, mas algo me diz que eu deveria estar arrumada e cheirosa
para essa noite, porque depois do encontro que tivemos na semana passada,
algo me diz que dessa vez vamos terminar o que começamos.
Colin me disse que chegaria por volta das seis e meia por conta do
treino de hóquei que teria durante boa parte da tarde. Quando o relógio
marca seis e quinze, eu já começo a ficar inquieta, ansiosa e eufórica com a
chegada dele nos próximos minutos.
Eu me lembro da primeira vez que senti essa euforia em relação a um
cara. Eu estava no segundo ano do colegial e ele era meu parceiro no projeto
de ciências. Heath era o nome dele. Nós nunca nos falávamos fora do
laboratório, já que não pertencíamos ao mesmo grupo de amigos e nem
tínhamos interesses em comum para nos encontrarmos nos grupos de
atividades extracurriculares. Todo o tempo que eu tinha com ele era durante
aquela uma hora, duas vezes por semana, no laboratório de ciências. E por
algum motivo, eu me contentei com isso. Até o dia que Heath veio falar
comigo enquanto eu estava guardando o meu material no armário, no
intervalo entre uma aula e outra. Acho que fiquei dez segundos
completamente paralisada, apenas olhando para ele. Então, ele sorriu para
mim e juro por Deus que o mundo ao nosso redor ficou em câmera lenta.
Heath me chamou para sair naquele dia. E eu estava tão
desesperadamente empolgada com o convite que ignorei a minha intuição
como se ela nunca tivesse existido. Eu deveria saber que aquilo não era uma
boa ideia. Não porque Heath nunca sairia com uma garota como eu — eu
nunca me desmereci desse jeito — mas sim porque todo o contexto foi
esquisito. Ele nunca trocou uma palavra comigo fora do laboratório e quando
conversávamos durante as tarefas, era uma conversa estritamente acadêmica.
Ele nunca deu uma deixa de que estaria interessado em mim; nunca olhou
para mim por mais tempo do que deveria; nunca sorriu; nunca sequer me
dava tchau quando a aula terminava e, de repente, estava me chamando para
sair e fazendo vários elogios.
Ele mudou o seu comportamento de um dia para o outro. Eu deveria
ter suspeitado de que tinha mais por trás daquilo do que ele estava me
dizendo.
Levou duas semanas para que eu descobrisse que os encontros que
tivemos, as vezes que ele sorriu, que me elogiou, que segurou a minha mão
na dele e me deu beijos no canto da boca faziam parte do caminho que ele
escolheu seguir para se aproximar de Anna, não de mim. Heath achou que,
ficando mais perto de mim, eu falaria dele para Anna e então ela se daria
conta do cara “incrível” que ele era. O problema nesse plano é que Heath
não se deu ao trabalho de realmente me conhecer, pois se tivesse feito isso,
ele saberia que Anna e eu não éramos próximas, que quase nunca
trocávamos sequer uma palavra, e então ele não teria pensado em me usar
para chamar a atenção dela.
E como se não bastasse o coração partido no meu peito, naquela
noite, logo após eu descobrir tudo — quando Heath apareceu na minha casa
procurando por Anna, não por mim —, Anna entrou no meu quarto, sentou-
se na beirada da minha cama enquanto eu chorava e disse: “você acreditou
mesmo que ele estava interessado em você?” E ela foi embora rindo.
Os dois começaram a namorar alguns dias depois.
Eu nunca soube se Anna havia aceitado namorar com ele apenas para
me machucar ou se ela realmente gostava dele. Eu nunca entendi nada a
respeito dela, para falar a verdade.
Começo a ficar inquieta quando olho para o relógio e me dou conta
de que Colin está meia hora atrasado. Checo o meu celular em busca de
alguma mensagem dele, mas não há nada. Talvez Colin tenha tido alguma
emergência envolvendo a Kiara, então decido esperar mais um pouco. Não é
do feitio dele desaparecer desse jeito, então algo deve ter acontecido. No
entanto, quando o relógio marca sete e meia da noite, eu sinto que ele não
vai mais aparecer, então decido ligar apenas para ter certeza de que está tudo
bem. Quando o telefone cai direto na caixa postal, eu realmente começo a
ficar preocupada.
A primeira pessoa que penso em ligar em seguida é Aurora. Procuro
o número dela na minha lista de contatos e faço a chamada. Aurora atende
no sexto toque.
— Casey — Aurora diz ao atender e mesmo que ela não tenha dito
nada além do meu nome, eu sei que tem alguma coisa errada apenas pelo seu
tom de voz.
— O que aconteceu? — pergunto, aflita. Meu coração dispara e eu
me levanto da cama onde estava sentada durante a última meia hora.
— É o Colin… ele… ele está no hospital.
O quê? Por quê? Ele está bem? Como isso aconteceu?
Eu penso em pedir por mais detalhes, pedir por respostas para todas
as perguntas que bombardeiam a minha cabeça nesse momento, mas eu sei
que vou acabar indo para o hospital de qualquer forma, porque preciso vê-lo.
— Qual hospital?
— HGP.
— Eu estou indo aí.
É tudo o que eu digo antes de desligar o celular, pegar a minha bolsa
e sair do dormitório como um míssil teleguiado e o coração batendo no
fundo da garganta.
A noite está gostosa, embora já estejamos no meio de outubro. O frio
vai chegar em poucas semanas, então todo mundo está aproveitando para
usar as últimas peças de verão antes de tirarmos os casacos do esquecimento.
Entro no meu carro, um Volkswagen Jetta antigo no qual tenho
muitas memórias boas com Emily — minha melhor amiga da escola —, e
disparo para fora do estacionamento enquanto rezo silenciosamente para
que, seja lá o que tenha acontecido com Colin, não seja tão ruim quanto
minha mente tenta me convencer que é.
Colin foi levado às pressas para o hospital por conta de uma pancada
forte na cabeça durante o treino daquela tarde. Essa foi a primeira coisa que
fiquei sabendo quando cheguei ao HGP. E a primeira coisa que questionei
foi: “mas e o capacete que eles normalmente usam?”. Sophie, que estava
andando de um lado para o outro, completamente inquieta quando eu
cheguei e sendo consolada por Derek, me disse que o capacete evitou que
algo pior acontecesse, mas que a pancada foi forte o bastante para que nem
mesmo o equipamento de proteção conseguisse evitar completamente a força
da pancada. O Colin foi encontrado no vestiário, desacordado, pelo treinador
Scott, que foi quem o trouxe para o hospital. Agora, estamos todos
esperando por mais notícias.
Luca está sentado no canto da sala de espera, junto com Trevor,
Grace, Aaron e John, e pela cara que ele está fazendo agora, eu acredito que
ele tenha algum envolvimento na pancada que Colin sofreu. Hóquei é um
esporte violento e todo mundo sabe disso, mas eu vi com meus próprios
olhos o que Luca Capone pode fazer no gelo. Você não quer estar no
caminho dele quando ele tem a posse do disco. É claro que ninguém o está
acusando de nada, mas não acho que isso realmente precise ser feito, pois ele
parece estar se culpando o suficiente.
Eu me aproximo deles, procurando por Aurora. Eu achei que ela
estaria aqui para ter notícias de Colin, mas então me dou conta de que se
Derek e Sophie estão aqui, assim como quase todos os amigos de Colin,
então talvez Aurora tenha ido para casa cuidar de Kiara para que Derek e
Sophie pudessem estar no hospital.
— Oi — eu comprimento Grace e os garotos. — Eu acabei de ficar
sabendo o que houve.
Grace me dá um abraço. Dá para ver no rosto dela que ela está
angustiada e preocupada, o que não ajuda para que eu tente ficar mais calma.
— Que bom que você veio, Case — ela diz ao me soltar do abraço.
— Sei que Colin vai gostar de ver você aqui quando acordar.
Eu dou um sorriso singelo, sem mostrar os dentes.
— Eu espero que tenhamos notícias em breve. Sophie me disse que o
levaram para fazer alguns exames.
Grace confirma com a cabeça.
— Tomografia. Já que ele estava desacordado e o Treinador contou
sobre a pancada durante o treino, eles decidiram fazer alguns exames na
cabeça dele, para ter certeza de que está tudo bem. Devemos ter notícias em
breve, pois já faz um bom tempo que estamos aqui esperando.
Eu espero que Grace esteja certa sobre isso, porque a espera nessas
situações é desesperadora.
Decido comprar um café em uma das máquinas automáticas do
hospital, na esperança de que o meu bom e velho cafézinho consiga acalmar
meus nervos. Uma pancada na cabeça nunca é algo bom, mas estou dando
tudo de mim para não permitir que minha mente me leve para pensamentos
ruins. Colin vai ficar bem. Ele precisa ficar bem. Não só porque eu acabo de
me dar conta que não consigo mais imaginar meus dias sem ele, mas
também pela família e amigos dele. Por Kiara, principalmente. Ela é a
pessoa que mais precisa de Colin nesse momento.
Quando volto para a sala de espera, vejo que o médico apareceu e
todo mundo se aglomerou ao redor dele para ouvir as atualizações sobre
Colin, então eu me aproximo depressa para ouvir também.
— … agora estamos esperando que ele acorde — conclui a médica
bem no momento que eu paro ao lado de Aaron.
— E quando vai ser isso? — Derek pergunta. Ele está com um braço
ao redor de Sophie, amparando-a. Sophie parece extremamente preocupada,
o que automaticamente me deixa preocupada também. — Quando ele vai
acordar?
— Nós não sabemos ao certo. O cérebro é sempre imprevisível, por
isso nunca damos uma previsão aos familiares — explica a médica. — O que
posso dizer é que Colin está sendo enviado para um quarto nesse momento,
onde ele será assistido vinte e quatro horas por dia. Iremos monitorar o caso
dele de perto.
— O que nós devemos fazer, então? — John pergunta, e a sua voz
soa um pouco mais aguda do que o normal, deixando transparecer o
nervosismo. — Apenas esperar?
— Infelizmente não há muito mais que possamos fazer no momento.
Mas se sentirem necessidade e quiserem, há uma capela no quinto andar —
informa a médica.
Isso não parece bom. Eu assisti filmes o suficiente para saber que
quando os médicos dão esse tipo de notícia para a família, significa que o
paciente pode entrar em um estado de coma e demorar meses para acordar.
Há alguns que não acordam. Todo mundo sabe disso e eu consigo ver esse
mesmo pensamento passando pelos olhos de todos ali, mas ninguém quer
verbalizar porque é assustador demais.
— Eu posso vê-lo? — Sophie pergunta com a voz embargada.
— É claro. Podemos levar todos vocês para vê-lo em duplas.
A sensação de alívio que me atinge não é o suficiente para me
acalmar, mas pelo menos eu vou poder vê-lo e falar com ele, mesmo que
Colin não consiga me responder. As pessoas dizem que esse tipo de
interação costuma ajudar e tenho certeza de que já li em algum lugar que
alguns pacientes se lembram de ouvir as vozes dos seus amigos e familiares
conversando com eles enquanto estavam inconscientes.
Nós voltamos a nos sentar quando o médico leva Sophie e Derek até
o quarto de Colin. Por longos minutos, ninguém diz nada. Em nosso próprio
silêncio, estamos tentando absorver o baque. Eu tenho certeza de que estou
olhando para o mesmo ponto na parede há séculos quando, de soslaio, vejo
alguém se levantar. Isso me desperta do estupor.
— Aonde você vai? — Trevor pergunta. Só então me dou conta de
que quem levantou foi o Luca.
Se tratando do Luca, eu penso que ele não vai responder, mas me
surpreendo ao ouvir a voz dele ao dizer:
— Preciso esfriar a cabeça.
Trevor não tenta impedi-lo de ir embora, então ninguém o faz
também. Eu nem consigo imaginar como Luca deve estar se sentindo pelo
que aconteceu com Colin. Eu sei que ninguém realmente o está culpando,
mas nós mesmos somos nossos piores juízes.
— Luca sabe que nós não estamos culpando ele, né? — Aaron
pergunta, olhando para onde Luca desapareceu segundos atrás. — Foi um
acidente.
Trevor solta um suspiro, preocupado.
— Ele vai se culpar, não importa o que a gente diga — Trevor
responde, sério. — Luca está com muita coisa na cabeça agora, estou com
medo de que ele faça uma besteira.
— Vai atrás dele, amor — diz Grace, visivelmente preocupada
também. — Vai atrás dele e eu te ligo se tivermos novidades aqui. Não acho
que seja uma boa ideia deixar o Luca sozinho agora e você é a única pessoa
que ele realmente deixa se aproximar.
Trevor confirma com a cabeça, dá um beijo na testa de Grace e sai
correndo atrás de Luca antes de ser tarde demais para alcançá-lo.
Como foi que a vida virou de ponta cabeça desse jeito?
Capítulo 21

Mas eu sinto que estou morrendo até sentir o seu toque


Só o amor pode machucar assim
| Paloma Faith – Only Love Can Hurt Like This

Colin está em coma há quatro dias e parece que a cada hora que
passa Sophie perde um pouco da sanidade. Ela não saiu do hospital em
nenhum momento porque não quer que Colin acorde e esteja sozinho no
hospital, então eu voltei para casa para cuidar de Kiara. Minha loirinha é
uma das mulheres mais fortes que já conheci, mas ela tem todo o direito de
não estar se sentindo tão forte agora, enquanto nosso filho segue deitado em
uma cama de hospital, de olhos fechados e com uma atadura na cabeça.
Sophie e eu concordamos que eu não deveria levar Kiara até o
hospital para ver Colin, pois ela ainda é muito pequena e hospitais contém
inúmeras bactérias e vírus que podem ser perigosos para um bebê. Mas pela
forma como Kiara chora — e sei que não é de fome ou de sono ou de cólica
—, ela está sentindo falta do pai, com certeza.
Aurora e Casey apareceram nesses últimos dias para verificar se eu
estava precisando de ajuda com alguma coisa, mas as duas passam a maior
parte no hospital dando apoio para Sophie. Eu detesto deixá-la sozinha, mas
sei que ela também está preocupada com Kiara e eu sou a pessoa que deveria
cuidar dela enquanto Colin está no hospital. As garotas se ofereceram para
ajudar com o que fosse preciso, mas elas têm aulas e coisas da faculdade
para fazer. Sei que no tempo livre, elas estão no hospital fazendo companhia
para a Sophie e, sinceramente, essa é toda a ajuda que eu preciso: alguém
que esteja lá para abraçar a minha mulher quando eu não posso fazer isso.
E acho que eu estou focando minha preocupação em Kiara e Sophie
para não me desesperar com o fato do meu filho estar em coma no hospital,
sem sabermos quando ele vai acordar, porque eu acho que se realmente parar
para pensar nisso, vou ficar louco e não posso me dar esse luxo agora.
Kiara começa a chorar bem no momento que eu termino de esvaziar
a lava louças. Lavei todas as suas mamadeiras enquanto ela dormia em seu
quarto e aproveitei para arrumar a cozinha que estava de pernas para o ar
desde que Colin foi hospitalizado. Sophie e eu estávamos fazendo um jantar
especial, como fazemos pelo menos uma vez no mês, como se fosse um
encontro, quando recebemos a notícia. Deixamos a cozinha exatamente
como estava e fomos para o hospital. Tudo estava uma bagunça desde então.
Pego a mamadeira que já havia deixado preparada para quando Kiara
acordasse e subo as escadas depressa, indo até o seu quarto, onde encontro
Kiara no berço, com o rosto completamente vermelho de tanto chorar. Eu a
pego no colo e me sento com ela na poltrona que fica encostada na parede do
lado oposto do quarto.
— Shhh… está tudo bem, princesa. Está tudo bem.
Ofereço a mamadeira para Kiara, mas ela vira o rosto.
— Querida, você precisa se alimentar — eu converso com ela com
um tom de voz tranquilo para que Kiara tente entender que não tem
necessidade de chorar desse jeito. — Eu sei que você quer o seu pai e ele vai
voltar logo. Mas enquanto isso, o vovô vai cuidar de você, tá?
Eu a balanço nos meus braços, tentando evitar que o choro estridente
dela me leve à loucura. Então, ofereço a mamadeira de novo enquanto
murmuro uma música que eu costumava murmurar para Colin, quando ele
era bem pequeno. Sempre funcionou bem com ele e estou torcendo para que
funcione com Kiara também. Sophie sempre diz que a chave de tudo é
manter a calma, então, com muita paciência e delicadeza, eu ofereço a
mamadeira para Kiara novamente e para o meu alívio, ela aceita e começa a
mamar.
Observo a minha neta se alimentando e penso no quanto a vida passa
rápido. Eu me lembro com muita riqueza de detalhes o dia em que conheci
Sophie no Tina’s. Me lembro como foi desafiador conseguir chegar perto
dela, me lembro como nos apaixonamos e da nossa primeira vez juntos,
quando ela finalmente se sentiu pronta para vencer o medo imenso que a
consumia. Me lembro de como descobri que ela estava grávida, como quase
morri do coração porque ela estava no hospital depois de ter desmaiado. Me
lembro como se fosse ontem o dia do nosso casamento e os votos que
trocamos. Eu jurava que aquele seria o dia mais feliz de toda a minha vida,
mas então o Colin nasceu. Aquele sim foi o dia mais feliz da minha vida.
Nossa pequena família estava completa.
Não percebo que estou chorando até ver uma das minhas lágrimas
pingar na pele de Kiara e escorrer pela sua bochechinha. Rapidamente seco
os meus olhos e fungo para me livrar da coriza momentânea.
— Desculpe, querida. — Seco a bochecha de Kiara e aproveito para
fazer um carinho. — Você é a cara do seu pai, sabia disso?
Ela me olha com aqueles grandes olhos verdes — os olhos de Colin
—, o que automaticamente me deixa angustiado de novo. Preciso ligar para
Sophie para saber como estão as coisas. Eu sei que ela me ligaria se
houvesse alguma mudança no quadro de Colin, mas eu preciso pelo menos
ouvir a voz dela e saber como ela está. Sei que Sophie não vai deixar aquele
hospital até Colin sair de lá e não vou tentar convencê-la de fazer isso, mas
preciso saber que ela está comendo e descansando. A última coisa que eu
quero agora é que ela dê entrada no hospital também.
Kiara termina de mamar e eu a coloco para arrotar. Lembro de Colin
mencionar que ela estava sofrendo um pouco com os refluxos, então passo
mais tempo do que o normal para que ela arrote. Depois, decido dar um
banho rápido na pequena para garantir que ela vai estar limpinha quando eu
a colocar para dormir de novo.
Com todos os meus afazeres com Kiara cumpridos, eu a coloco no
berço, ligo a caixinha de ruído branco e me certifico de que a babá eletrônica
também está funcionando. Se Kiara seguir o mesmo ritmo dos últimos dias,
ele vai dormir dentro de 5 ou 10 minutos.
Coloco a babá eletrônica na mesa de centro e me sento no sofá
depois de puxar meu celular do bolso frontal da minha calça jeans. Ligo para
Sophie, que me atende no quarto toque.
— Oi, amor — ela me cumprimenta, o tom de voz angustiado me
desespera. — Como você e Kiara estão por aí?
— Estamos bem. Ela acabou de comer e eu a coloquei no berço.
Como você e o Colin estão por aí?
Sophie solta um suspiro.
— Colin está na mesma. Os sinais vitais estão bons, mas ele
permanece em coma. Derek, eu… — Ela respira fundo e sei que está se
esforçando para segurar o choro. — Eu não posso perdê-lo. Ele precisa
acordar, ele…
Engulo com dificuldade o nó que se forma na minha garganta e
expulso as lágrimas de volta para trás dos meus olhos. Não posso
desmoronar agora, pois Sophie precisa de mim. Ela precisa que eu seja forte
quando ela não consegue ser. Mas tudo o que eu queria agora é segurá-la nos
meus braços e deixar que ela chore, porque eu sei que é isso o que ela
precisa fazer e provavelmente está segurando para parecer forte para todo
mundo. Ela não consegue fingir para mim, no entanto.
— Ele vai acordar, amor. Temos que acreditar nisso, ok? Temos que
ter fé.
Sophie funga e fica em silêncio por um longo tempo, mas eu consigo
ouvi-la chorando baixinho. E eu deixo que ela chore enquanto murmuro que
tudo vai ficar bem, embora nós dois saibamos que eu não tenho como
prometer isso.
Não sei quanto tempo ficamos no telefone apenas mantendo o
silêncio, mas foi tempo o suficiente para Kiara começar a dar indícios de que
vai acordar. Sophie disse que me ama antes de desligar o telefone para falar
com o médico e descobrir se houve qualquer mudança, mesmo que mínima,
no quadro de Colin. E antes de subir para o quarto de Kiara com uma nova
mamadeira, aproveito que meu celular está na minha mão e ligo para Aurora,
na esperança de que ela consiga ficar com Kiara para que eu possa ir para o
hospital ficar com a minha mulher, porque eu sei que Sophie nunca pediria,
mas ela precisa de mim lá. Eu preciso estar lá por ela e pelo meu filho.
— Derek, você tem certeza? — Eretria pergunta, preocupada.
— Nós podemos ir para Paradise de novo, sem problema nenhum —
Savannah completa, igualmente preocupada. É tangível na voz delas.
Elas me ligaram cerca de dez minutos atrás para perguntar se houve
alguma mudança na situação de Colin. Toda a família ficou sabendo o que
aconteceu logo no dia seguinte e desde então pelo menos um deles ligou
todos os dias para acompanhar a situação.
— Vocês são mais que bem-vindas para voltar, se quiserem, mas eu
acho melhor esperarmos mais um pouco. Tenho a sensação de que se Sophie
ver a família vindo para dar apoio, vai parecer que a situação de Colin é
ainda mais séria. Entendem o que eu digo? Eu não quero que ela comece a
pensar que ele não vai acordar e por isso ela precisa de apoio.
— Ok, mas por favor nos mantenha informadas. Está todo mundo
super preocupado com vocês.
Eu suspiro.
— Eu sei, e eu agradeço o apoio. Vamos avisar assim que tivermos
novidades — eu prometo. — Preciso ir agora, mas obrigado por ligarem.
— É claro! Estamos com vocês, D — diz Savannah.
— Amamos vocês — completa Eretria.
— Nós amamos vocês também. Se cuidem.
Desligo o telefone segundos antes de a campainha de casa tocar.
Aurora tem treino essa tarde e um jogo importante amanhã, então ela
não pode vir ficar com Kiara, mas ela me disse que daria um jeito de me
ajudar para garantir que eu conseguiria ir para o hospital e ficar com Sophie.
Então, quando vejo Casey parada na soleira da porta, sei que essa foi a
solução que Aurora pensou.
— Oi, Casey. — Eu sorrio sem mostrar os dentes. — Entre, querida,
por favor.
Ela sorri de volta para mim de maneira singela e entra na minha casa.
— Obrigada. Ahn… Aurora me ligou e disse que você precisava de
ajuda com a Kie. Ela estava na correria, então não me explicou direito o que
houve. Está tudo bem? — Casey indaga, visivelmente preocupada.
— Está tudo igual, eu só preciso ficar algumas horas com a Sophie.
Ela… — Solto um suspiro angustiado. — Ela não está indo muito bem.
A tristeza se mistura com a preocupação já presente no rosto de
Casey. Embora não saiba exatamente o que está acontecendo entre Casey e
Colin, sei que ela tem visitado ele no hospital nos últimos dias e sei também
que isso mostra o quanto ela se importa com o meu filho. Eu consigo ver
isso no rosto dela agora.
— Tudo bem para você ficar com a Kiara por algumas horas? — eu
pergunto. Não vou mentir que fico um pouco apreensivo de deixar minha
neta com alguém que não seja da família, mas se Colin confia em Casey,
então eu sei que posso confiar nela também.
— Claro, eu posso ficar com ela.
— Obrigado. — Sorrio. — Eu dei mamadeira para ela agora pouco,
então quando ela acordar, talvez você precise trocar a fralda dela. Você sabe
fazer essas coisas?
Casey confirma com a cabeça.
— Sei sim, não se preocupa.
— Certo… Bom, eu devo voltar em algumas horas, mas eu deixei
meu telefone anotado em cima da ilha da cozinha. Você pode me ligar se
precisar de qualquer coisa, ok? — eu oriento. Tem tanta coisa se passando
pela minha cabeça agora que é impossível que Casey não perceba que eu
estou no meu limite.
Como quem parece entender o desespero que eu estou sentindo,
Casey dá um sorriso acolhedor e tranquilo.
— Kiara e eu ficaremos muito bem, não se preocupe. Fique com a
sua esposa e com o Colin e, por favor, se tiver qualquer notícia…
— Eu aviso.
Ela confirma com a cabeça.
— Certo. Estou indo então. Muito obrigado, Casey. Sei que meu
filho se sente muito melhor em relação a tudo desde que conheceu você.
Os olhos dela se enchem de lágrimas, mas ela é boa em impedi-las de
cair.
— Obrigada.
Eu saio de casa logo em seguida. Pego as chaves da caminhonete de
Colin, que um dia foi minha, e sinto as memórias me atingirem no momento
em que entro no carro. Me lembro como se fosse ontem de quando salvei
Sophie de uma tempestade absurda que caiu sobre Raleigh — quando ela
ainda se esforçava muito para me manter longe —, assim como também me
lembro que foi com essa caminhonete que eu a ensinei a dirigir. Olho para o
banco do passageiro e praticamente consigo ver Sophie sentada ali, anos
mais nova e tão linda quanto é agora.
É engraçado olhar para a vida e para os anos que passaram, porque
você nunca sabe qual vai ser a decisão ou o momento em que tudo vai
mudar. Para mim, tomar café da manhã com os caras no Tina’s naquele dia,
ficar completamente obcecado por uma garota que não queria nem me ver
pintado de ouro, mas tomar a decisão de não desistir dela foi o que me
garantiu a família que eu tenho hoje, o amor que eu tenho hoje… E eu
jamais trocaria isso por nada no mundo. Sophie e Colin são a melhor decisão
que eu já tomei.
Quando chego no hospital, encontro Sophie no quarto de Colin,
sentada em uma cadeira ao lado da cama, com os braços sobre o colchão e a
cabeça apoiada nos braços, como se ela estivesse tirando um cochilo, o que
só me prova que ela não tem descansado quase nada nos últimos dias. Eu
fecho a porta devagar e me aproximo silenciosamente porque não quero
assustá-la, mas Sophie levanta a cabeça antes mesmo que eu consiga chegar
perto dela. Seus olhos estão um pouco inchados e não sei dizer se é por
causa de um choro recente ou se ela só está exausta. O sofrimento em seu
lindo rosto… Juro por Deus que se eu pudesse tirar o sofrimento dela e
aguentar tudo sozinho, eu faria.
— Derek?
— Oi, linda. Como você está?
Os lábios dela começam a tremer e um choro irrompe de repente.
Sophie cobre o rosto com as mãos e chora desesperadamente. Eu me
aproximo depressa e ajoelho na sua frente, puxando o seu corpo contra o
meu e deixando que ela chore o quanto precisar. Eventualmente, eu pego
Sophie no colo e me sento na cadeira onde ela estava sentada, deixando-a no
meu colo, com o rosto escondido na curva do meu pescoço enquanto chora.
— Ele precisa acordar, Derek — ela soluça. — Eu sinto que estou
enlouquecendo mais e mais a cada dia, vendo ele nessa cama, sem se mover.
— Eu sei, amor. Eu sei. — Eu faço carinho em seu cabelo macio. —
Ele vai acordar em breve, Soph. Vamos dar a ele o tempo que ele precisa,
ok?
Demora alguns segundos, mas ela balança a cabeça concordando.
Eu não sei quanto tempo eu passo apenas abraçando-a, mas foi o
bastante para que Sophie pegasse no sono. E no silêncio do quarto, eu
observo meu filho deitado na cama, como se estivesse dormindo
pacificamente. Com a minha mão livre, já que a outra está amparando o
corpo de Sophie, eu seguro a mão de Colin.
— Filho, por favor — eu imploro baixinho. — Por favor, Colin. Por
favor, acorde.
Gostaria de dizer que esse momento foi milagroso, como vemos nos
filmes, e ele abriu os olhos e tudo ficou bem, mas não. Colin permanece de
olhos fechados, sereno, enquanto nós sentimos nossos corações partirem a
cada hora que ele permanece inconsciente.

Fiquei com Sophie no hospital o máximo de tempo que eu pude e


mesmo que eu tenha sido capaz de fazê-la comer alguma coisa e dormir um
pouco, nós dois sabíamos que eu precisava voltar para casa e cuidar de
Kiara. Então, eu me despeço da minha esposa, dou um beijo no meu filho e
volto para casa. Dirijo o caminho de volta tão automaticamente que me
surpreendo quando me dou conta que já estacionei o carro na entrada da
garagem.
Estou pronto para me desculpar com Casey por ter ficado tantas
horas fora, mas as palavras desaparecem completamente quando encontro
Nash sentado no sofá da minha casa, assistindo um filme na televisão. Ele
ergue os olhos cinzentos para mim e, sem dizer qualquer palavra, eu sei
exatamente o motivo de ele estar ali. Ele é meu melhor amigo desde que eu
consigo me lembrar e sei que veio para cá, pois se eu sou o apoio de Sophie
nesse momento, eu iria precisar que alguém fosse o meu, já que minha
loirinha não consegue ser forte por nós dois agora.
Em silêncio, Nash desliga a televisão, levanta do sofá e vem na
minha direção. Ele coloca uma mão no meu ombro e me puxa para um
abraço. Imediatamente eu desmorono tudo que estive segurando para que
Sophie não se desespere ainda mais. Abraço Nash com força, literalmente
me agarrando nele como se fosse um bote salva-vidas lançado para mim em
alto mar. Nash me segura ainda mais forte para garantir que eu não vou
realmente desmontar.
— Estou contigo, D — ele diz, e não deixo de notar o embargo na
sua própria voz. — Vai ficar tudo bem.
— Eu preciso do meu filho de volta — choro, com o coração doendo
de lembrar de Colin deitado naquela cama sem se mover. — Não posso
perdê-lo, Nash.
— E você não vai. Ele vai acordar — ele fala com uma convicção
que poderia me tranquilizar se eu não precisasse muito colocar esse
desespero para fora.
Eu continuo abraçando Nash pelo tempo que preciso para me
recompor e meu melhor amigo permanece me segurando, me dando todo o
tempo que preciso para chorar e colocar o pânico que venho reprimindo para
fora. Quando me sinto pronto para me afastar, eu me solto do abraço devagar
e Nash permanece com as mãos nos meus ombros para garantir que eu estou
estável, pelo menos fisicamente.
— Cadê a Kie? — pergunto.
— Está dormindo. Eu cheguei aqui uma hora e meia atrás, mais ou
menos e Casey estava com ela, mas eu disse que ela podia ir para casa que
eu ficaria com a Kie. Afinal de contas, tenho experiência com duas bebês. —
Ele sorri de leve, provavelmente lembrando das filhas quando eram
pequenas. — Eu não quis ir para o hospital porque a Tria disse que talvez a
Sophie ficasse ainda mais preocupada.
Eu me sento no sofá, com Nash ao meu lado, e apoio os cotovelos
nas coxas antes de enterrar as mãos no meu cabelo.
— Você lembra quando estávamos na faculdade e a nossa única
preocupação era não se foder nas matérias, ganhar os campeonatos da
NCAA e fazer nossas garotas felizes? — eu lembro e um leve sorriso repuxa
os meus lábios sem que eu possa controlar.
Nash sorri também.
— Foram bons tempos.
— Tudo ficou bem mais difícil depois disso.
Ele não discorda.
— Mas tivemos momentos tão bons quanto aqueles da época da
Duke, cara. Lembra quando presenciamos o nascimento dos filhos de todos
os nossos amigos? Os casamentos? Lembra quando Noah cantou comigo
para convencer a Tria de casar comigo? Eu tenho certeza de que ela só disse
sim por causa dele — ele brinca.
Eu dou uma risadinha.
— Ainda bem que você sabe disso.
Nash faz uma careta.
— Lembra também quando o Friends abriu o próprio restaurante e a
gente jurava que ele ia matar as pessoas envenenadas? — Nash ri. — Agora
ele é o filho da puta que cozinha melhor entre nós. O mundo virou de ponta
cabeça.
Eu dou risada também.
— E ele nunca deixa de jogar na nossa cara.
Nash ri mais ainda.
— Você lembra quando ele estava cozinhando na república e nós
perguntamos o que era e ele disse “não sei, joguei um monte de coisa na
panela e tô esperando sentir que está pronto” — Nash gargalha. — Aquele
otário poderia ter matado a gente.
Jogo a cabeça para trás, rindo.
— Foi a coisa mais bizarra que já ouvi na minha vida.
Nash concorda, rindo também.
Quando as risadas acabam e o silêncio retorna, automaticamente a
dor no meu peito aperta também.
— Obrigado por ter vindo, cara. — Olho para o meu melhor amigo e
sorrio sem mostrar os dentes. — Eu não fazia ideia do quanto eu precisava
de você aqui até te ver sentado no meu sofá.
— Você é como um irmão para mim, D. Sempre que precisar, eu
estarei aqui.
Como filho único, eu nunca soube o que era ter irmãos para dividir as
alegrias e as dificuldades da vida, mas durante os meus anos na faculdade eu
acidentalmente acabei encontrando seis caras que se tornaram a minha
família. E eu não poderia ser mais agradecido por isso.
Capítulo 22

Você diz que está apaixonado por mim


Que não consegue tirar seus lindos olhos de mim
Não é que eu não queira ficar
Mas toda vez que você chega perto demais, eu me afasto
| Britney Spears - Sometimes

Estou funcionando no piloto automático desde que saí do meu


dormitório, vinte minutos atrás. Lembro de pensar que eu precisava chegar
no meu carro, mas não me lembro exatamente como cheguei nele. Não me
lembro de ligar o carro e dirigir até o HGP. Não me lembro se tranquei o
carro — eu tranquei o carro? — e nem me lembro de dizer o meu nome para
a enfermeira no balcão de informações para que ela liberasse a minha
passagem. Eu não me lembro de nada disso, mesmo que eu saiba que os
últimos fatos não devem ter sido mais de cinco minutos atrás.
Só volto a ter consciência do que está acontecendo quando entro no
quarto onde Colin esteve internado por quase treze dias e o vejo sentado na
cama. Sophie está em pé, ao lado da cama do filho, fazendo carinho nos
cabelos de Colin. Eu acho que os dois estavam conversando sobre alguma
coisa antes de eu entrar pela porta como um furacão, desesperada para
confirmar com os meus próprios olhos o que a ligação de Aurora me
informou, meia hora atrás.
Colin acordou.
É engraçado como as vezes nós desconfiamos de boas notícias,
mesmo que estejamos esperando por elas desesperadamente. Acho que o
medo da expectativa frustrada pode ser ainda maior do que não receber a
notícia boa que esperamos. Eu me certifiquei de que não estava sonhando, já
que tive sonhos com o Colin acordado desde que tudo aconteceu. Me
belisquei e joguei água fria no meu rosto, e quando a realidade me atingiu,
quando me dei conta de que eu estava bem acordada, saí em disparada para o
hospital.
Nos últimos dias, fiquei bastante tempo com Aurora. Nós
praticamente fizemos plantão no hospital, ao lado de Sophie e Derek, que
também ficou no hospital praticamente vinte e quatro horas, já que Nash
voltou para Paradise para dar uma força e está cuidando de Kiara. Eu não
comentei nada, mas dava para notar pela forma como Aurora olhava para os
tios, que ela estava preocupada. Não só com Colin, mas com o que iria
acontecer com Sophie e Derek se ele não acordasse.
Eu, por outro lado, não permiti que meus pensamentos fossem por
esse caminho ou acho que enlouqueceria pela impotência. Acho que se sentir
impotente é um dos piores sentimentos que existem.
— Eu vou deixar vocês dois à sós por um momento — Sophie diz
antes de dar um beijo delicado no topo da cabeça do filho, em cima da
bandagem.
Antes de sair do quarto, ela me lança uma piscadinha e um sorriso
que mistura alívio e felicidade. Eu sorrio de volta, mas acho que meu corpo
ainda está um pouco travado pelo choque dos acontecimentos, pois eu sinto
que meu sorriso saiu um pouco... desengonçado, talvez?
Sem falar nada, Colin apenas olha para mim. Não tive tempo de
realmente me atualizar sobre o seu atual quadro clínico, mas não acho que
ele tenha tido perda de memória ou coisa do tipo, pois Sophie parecia muito
tranquila, assim como Aurora ao telefone. Mas então por que ele diz nada?
Por que está me encarando em silêncio? Será por eu estar fazendo
exatamente a mesma coisa?
De repente, quase como se eu estivesse no piloto automático de
novo, eu solto um longo suspiro ao sentir meu peito ficando apertado. Antes
que eu me dê conta, meus olhos se enchem de lágrimas. Caminho na direção
de Colin e toco o seu rosto com delicadeza, morrendo de medo de fazer
qualquer movimento brusco que possa machucá-lo.
— Você me assustou — eu balbucio, sentindo as lágrimas rolarem
pelas minhas bochechas.
Colin sorri bem de leve.
— Desculpe, minha linda — ele lamenta, a voz um pouco rouca
pelos dias sem uso.
— Você está bem? — eu pergunto, ainda preocupada, mesmo que
visivelmente ele pareça bem. O único indício de que algo realmente
aconteceu é a bandagem em sua cabeça.
Colin coloca a sua mão sobre a minha e movimenta a minha mão até
os seus lábios, dando um beijo casto na minha pele. Os lábios dele estão um
pouco secos, mas ainda é o beijo mais macio que já recebi.
— Um pouco cansado e com dor de cabeça, mas estou bem.
— É normal que ainda esteja sentindo dores de cabeça? Você quer
que eu chame um médico? — indago, já preparada para sair do quarto
depressa e procurar por ajuda.
— Não precisa — Colin garante, segurando a minha mão com um
pouco mais de força para me impedir de sair do quarto. — Eu estou bem.
— Você promete? Não ouse mentir para mim, Mackenzie.
Ele sorri de novo.
— Eu prometo. Deite ao meu lado um pouco.
Hesito por um instante, mas decido que não vou colocá-lo em
nenhum tipo de perigo se me deitar na cama com ele por alguns minutos.
Tento ocupar o mínimo de espaço possível e não colocar o meu peso em
cima do corpo dele.
— Senti sua falta — revelo, mesmo que uma parte de mim ainda
esteja preocupada em demonstrar sentimentos demais por não termos
realmente definido o que somos.
Colin segura a sua mão na minha, entrelaçando nossos dedos. Por
longos minutos, ele não diz nada, o que aumenta a minha ansiedade. Será
que eu falei o que não deveria? Será que ele acha que estou me apegando
muito depressa? Bom, ele não está errado e, para ser bem sincera, isso me
assusta bastante, considerando que a última vez que me apaixonei por um
cara, ele acabou se revelando um completo babaca. No fundo, no fundo, eu
sei que Colin não é como Heath, mas controlar o medo é bem desafiador.
— Eu estive pensando — Colin faz uma pausa longa o bastante para
fazer meu coração disparar. — Você quer ser minha namorada?
Ligeiramente, ergo minha cabeça para conseguir encará-lo nos olhos.
Colin está olhando para mim com um sorriso tranquilo em seus lábios. Não
há qualquer sinal de dúvida em seu rosto.
— Você não está pensando direito — deduzo, já que ele acabou de
acordar do coma. E eu totalmente não tinha a intenção de dizer isso em voz
alta, mas meu cérebro me traiu.
— Eu discordo. Acho que nunca estive mais certo sobre alguma
coisa, além de Kiara.
Sorrio, porque simplesmente amo o fato de ele colocar Kiara em
primeiro lugar, já que é algo que eu não sinto que meu pai faz por mim.
— E então? Você quer ser oficialmente minha garota?
Faço que sim com a cabeça e digo:
— Quero.
— Então me beija, por favor — ele implora, como se estivesse
sofrendo de abstinência. — Eu poderia ter acordado muito antes se você
tivesse me dado um beijo de amor verdadeiro.
Eu rio. Não sei como ele consegue fazer piada sobre isso quando
literalmente acabou de acordar do coma, mas acho que essa é a maior prova
de que Colin continua o mesmo de sempre.
— Claro que sim — ironizo, revirando os olhos. — Como que eu não
pensei nisso antes?
— Sinceramente, não sei. Eu jurava que você era uma garota
inteligente, Fletcher.
Juro por Deus que bateria nele nesse momento se ele não tivesse
acordado de um coma algumas horas atrás.
— Babaca.
Ele dá uma risadinha.
— Me beija logo, mulher.
E então eu faço o que ele disse e o beijo, mas tomo o cuidado de não
aprofundar nada. Colin vai precisar pegar leve pelos próximos dias. Posso
não ser uma médica ainda, mas entendo um pouco de como funciona. Tudo
bem que um beijo não é necessariamente um esforço, mas não quero correr
nenhum risco desnecessário agora. Nós vamos ter muito tempo para beijos
depois.
Os lábios de Colin são suaves contra os meus, mas é o suficiente para
libertar as borboletas e fazê-las voarem pelo meu estômago. E mesmo que
me assuste, não posso mentir... Eu adoro essa sensação de frio na barriga que
ele me proporciona.
Quando nossos lábios se separam, nós nos abraçamos. Fecho os
olhos por um instante, deixando que o alívio crie raízes em mim depois de
dias de preocupação e angústia.
— O médico deu alguma estimativa de quando você vai poder voltar
para casa? — eu pergunto.
— Ainda não. — Colin suspira. — Eu sei que eu acabei de acordar e
o tempo para mim passou de forma diferente do que pra vocês, mas eu estou
maluco para ver a minha filha. Eu imagino que ela deve estar sentindo a
minha falta também.
— Ela está — confirmo. — Mas se concentre em ficar bem e cuidar
de você para que você possa cuidar dela.
Colin anui.
— Por agora, eu estou feliz que você está aqui — ele declara,
deixando as borboletas no meu estômago mais agitadas ainda.
— Eu estou feliz que você voltou — eu devolvo.
Mesmo que eu não esteja olhando para ele agora, pois estou com a
cabeça deitada em seu peito, sei que Colin está sorrindo.
— Não se preocupe, minha linda, eu não vou a lugar nenhum.

Não demora muito para que a notícia de que Colin acordou se


espalhe, o que faz a sala de espera do hospital ficar lotada. Todos os meninos
do time de hóquei vieram, assim como o treinador Scott, e as meninas
também. As enfermeiras quase enlouquecem com tanta gente, mas elas
sabem que estávamos esperando por esse momento desde que foi anunciado
que Colin estava em coma, então elas se apressam para nos organizar em
trios para que todo mundo possa vê-lo e ficar um pouquinho com ele no
quarto. De todos os presentes, Luca é o único que não parece tranquilo. Ele
está sentado em um banco no canto da sala, com os cotovelos apoiados nas
coxas e as pernas balançando em um clássico sinal de inquietação.
— Trevor disse alguma coisa sobre como Luca passou esses últimos
dias? — eu pergunto para Grace, que está parada ao meu lado, esperando a
sua vez de ver Colin.
Sem nenhuma discrição, todas as meninas olham na direção de onde
Luca está sentado, também esperando a sua vez de ver Colin.
— Ele parece tenso — observa Antonella. — É a primeira vez que o
vejo expressar alguma coisa que não seja aquela expressão estóica e irritante.
— Trevor me disse que ele esteve mais quieto que o normal — Grace
responde.
— Mais quieto? — Aurora questiona com o cenho franzido. —
Como isso é possível?
Grace dá de ombros.
— Trevor entende o Luca mesmo quando ele não fala nada, então
imagino que Luca não esteja se comunicando nem com linguagem corporal
— esclarece Grace. — Ele não está bem com toda essa situação, isso é
visível.
— Alguém deveria tentar falar com ele — sugiro. — Talvez ele só
precise ouvir que a culpa não é dele.
— Acho que os pais de Colin acabaram de ter a mesma ideia —
pontua Antonella, apontando com a cabeça na direção onde Luca está.
Nós voltamos a olhar para ele. Sophie se senta de um lado de Luca e
Derek se senta do outro. Sei que as meninas estão prestando atenção na
interação dos três, pois nós provavelmente conhecemos Luca melhor do que
os pais de Colin, mesmo que eu acredite que ninguém além de Trevor
realmente o conheça.
Sophie, com toda a sua gentileza, segura a mão de Luca na sua e sorri
para ele enquanto os dois conversam. Luca balança a cabeça para alguma
coisa que ela disse e vejo seus lábios se movendo para responder, o que é
quase surpreendente. Derek sorri para ele e passa o braço ao redor dos
ombros de Luca.
— Isso é novidade — diz Trevor, se aproximando de nós e com os
olhos também fixos em Luca.
— Talvez Luca esteja fazendo progresso no quesito interação social
— prevê Grace com esperança banhando suas palavras.
Ninguém responde a isso, pois acho que ninguém realmente acredita
que um dia Luca se tornará alguém sociável.
Derek e Sophie deixam Luca ir quando chega a vez dele de ver
Colin.
— Eu volto já, Elsa — Trevor diz, dando um beijo na bochecha de
Grace.
Quando Luca e Trevor somem pelo corredor e entram no quarto de
Colin, eu sei que não sou a única que gostaria de ser uma mosquinha agora
para saber como exatamente Luca Capone vai demonstrar que sente muito
pelo acidente que acabou causando tudo isso.

Estou me sentindo muito importante com todas as visitas que estou


recebendo desde que acordei. E mesmo que eu esteja muito feliz e
agradecido que todos os meus amigos querem me ver para desejar que eu
volte logo para casa e também garantir que eu estou bem mesmo, tudo o que
eu consigo pensar é na minha filha. Sei que o Tio Nash veio para Paradise de
novo para dar uma força para os meus pais e é ele quem está cuidando da
Kiara para que ambos os meus pais possam estar no hospital comigo, mas
ainda assim, eu sei que é de mim que a minha filha precisa e estou maluco
para vê-la.
Quando a porta do meu quarto se abre de novo e vejo Luca e Trevor
entrando, sei que essa visita vai ser um pouco diferente das anteriores.
— E aí, cara — Trevor me cumprimenta com um sorriso. Ele se
aproxima da cama e me dá um abraço razoavelmente apertado. Dá para
sentir que ele está aliviado, assim como todo mundo. — Como que você
está?
Eu o abraço de volta.
— Cansado, mas estou bem.
— Fico feliz que você tenha acordado, cara. Todo mundo estava
torcendo muito por isso.
Eu sorrio porque sei que é verdade.
— Obrigado. Eu estou feliz que eu tenha acordado também. —
Pigarreio, tentando fazer a minha voz soar normal de novo. — Trev, você se
importa se eu falar com o Luca sozinho por alguns minutos?
Trevor e Luca se entreolham antes de Trevor voltar a olhar para mim.
— Claro. Eu vou estar no corredor.
Espero até que Trevor saia para olhar para Luca. Nós dois não somos
muito próximos, apesar de nunca termos tido qualquer problema um com o
outro. Eu sei que por baixo de toda essa frieza e distância, Luca é um cara
legal e que se importa com as pessoas da sua própria maneira. A sua
linguagem corporal nesse momento deixa isso bem claro. Ele está tenso,
claramente preocupado, mas consigo ver alívio nos seus olhos também.
— Eu... — ele começa a falar, mas para. Há alguns segundos de
silêncio, como se Luca conversasse consigo mesmo antes de conseguir
conversar comigo. — Eu sinto muito, Colin. Eu... eu sinto muito.
É notório o quão difícil é para Luca expressar emoções que para mim
são tão simples. Eu nunca o vi proferir essas palavras antes. Eu nem sequer
sei o motivo que faz tudo isso ser tão difícil para ele, mas claramente é algo
bem enraizado em Luca.
— Eu sei. — Sorrio de leve e solto um suspiro cansado em seguida.
— Olha, cara, eu não sei quais são as merdas que você está lidando, mas
você claramente está lidando com algo, porque eu sei que não era de mim
que você estava com raiva.
Ele confirma com a cabeça, mas não fala nada.
— Seja lá o que for, mesmo que nós não sejamos tão próximos, eu
estou aqui para ouvir, caso você queira conversar.
Luca olha para mim como se uma segunda cabeça tivesse nascido em
mim.
— Eu poderia ter matado você — ele replica, confuso.
Dou de ombros.
— Poderia, mas não matou. Foi um acidente, mas talvez sirva de
alerta para você encontrar uma outra maneira de lidar com os seus
problemas, cara.
As narinas de Luca inflam e murcham enquanto ele tenta,
miseravelmente, manter suas emoções sob controle. Eu nunca o vi dessa
forma. Já o vi irritado e violento, mas nunca realmente emotivo. Parece
surreal, para ser sincero. Luca é sempre tão inexpressivo e intransponível
que faz as pessoas esquecerem que ele também é um ser humano como todos
nós; com emoções como todos nós.
— Luca — eu o chamo, exigindo que ele olhe para mim de novo. Ele
o faz. — Foi um acidente, cara. Mas se se sentir punido pelo que rolou te
fizer sentir melhor, eu com certeza tenho um monte de matéria atrasada que
você pode fazer para mim. — Sorrio, mostrando todos os dentes e sem um
pingo de vergonha na cara.
Luca abre um sorrisinho, sabendo que eu estou fazendo graça para
amenizar o clima. É o que eu faço. O Tio Friends sempre diz que a vida é
muito curta para guardar rancor. Segundo ele, o que temos que guardar são
boas memórias e excelentes receitas culinárias.
— Nos seus sonhos, Mackenzie.
Meu sorriso morre.
— Você é uma pessoa horrível, Capone.
Nós sorrimos um para o outro. E não deixo de notar que os ombros
de Luca parecem ligeiramente mais relaxados.
— Chama o Trev. Eu quero saber tudo o que rolou enquanto eu
estava apagado.
Luca acena com a cabeça antes de ir até o corredor chamar por
Trevor. E simples assim, ele volta a se comunicar sem palavras.
Capítulo 23

Se são apenas oito letras


Por que é tão difícil dizer?
Se são apenas oito letras
Por que eu estou em meu próprio caminho?
| Why Don’t We – 8 Letters

Depois do que parece uma eternidade, finalmente recebo alta e posso


voltar para casa. A minha ansiedade é tão grande para poder ver Kiara, que
passo todo o percurso até em casa balançando as pernas e checando o meu
relógio de pulso, como se isso fosse fazer com que cheguemos em casa mais
depressa. É minha mãe quem está dirigindo e ela é a motorista mais
responsável que eu já conheci. Sophie Mackenzie sempre demora o dobro de
tempo para chegar nos lugares, o que acabou virando uma piada dentro da
família. Todo mundo sempre diz que temos que marcar eventos ou encontros
sempre uma hora mais cedo do que o necessário, apenas para garantir que a
minha mãe vai estar lá na hora que de fato precisa estar.
O médico recomendou que eu pegue leve pelas próximas semanas,
mesmo que os exames estejam bons e meus sinais vitais também. No
entanto, pegar leve significa nada de hóquei, o que também significa que, de
novo, vou ficar no banco, sem poder ajudar o meu time a chegar na Frozen
Four. Eu só espero que isso não tenha nenhum impacto quando eu for para o
draft. Meu sonho sempre foi jogar hóquei profissionalmente e para isso eu
preciso ser draftado, mas esse ano não está muito favorável quando o
assunto sou eu e o hóquei.
Assim que minha mãe finalmente estaciona o carro na entrada da
garagem, eu abro a porta depressa, ansioso.
— Colin, você precisa pegar leve — meu pai fala para mim, mas eu
já estou abrindo a porta de casa.
Encontro Aurora brincando com Kiara no chão da sala, com vários
cobertores, travesseiros e brinquedos. Minha filha está deitada, com as
perninhas balançando desgovernadamente e as mãozinhas para o alto,
tentando pegar um brinquedo que Aurora balança em frente ao seu rosto. E
naquele momento, meu peito aperta. Estou um pouquinho a menos de um
mês longe de Kiara, mas é inquestionável a saudade que senti dela; é
assustador pensar que eu poderia ainda estar em coma, que poderia ter
perdido meses da vida dela. Só a ideia disso me causa um embargo imenso
na garganta.
— Olha só, Kie. Olha só quem chegou — diz Aurora, pegando Kiara
no colo e virando o rostinho da minha filha de frente para mim.
Eu sinto meus olhos enchendo de lágrimas enquanto me aproximo.
Kiara balança ainda mais os bracinhos, como se quisesse que eu a pegasse
no colo logo. E ela nem precisa insistir. Aurora a entrega para mim e eu
abraço a minha filha como se não a visse há séculos. Nunca foi tão nítido
para mim o quanto o amor de um pai ou uma mãe por um filho é avassalador
e sublime.
— Oi, meu amor — eu digo para a minha filha, dando um beijinho
em sua bochecha macia. Até do cheirinho dela eu senti falta. Esse cheirinho
de bebê que nada é capaz de reproduzir. — Como está a minha princesinha?
Kiara solta um barulhinho e continua no seu infinito movimento de
balançar os bracinhos desesperadamente.
— Papai estava morrendo de saudade de você.
Eu dou mais um beijinho na testa de Kiara.
Após alguns minutos matando a saudade da minha filha, eu vou até
Aurora e a abraço, segurando Kiara com um braço e abraçando Aurora com
o outro. Minha melhor amiga me segura com força, me deixando saber o
quanto ela está aliviada que eu esteja fora do hospital. É só depois de alguns
segundos que eu percebo que ela está chorando.
— Rory... o que foi? — eu pergunto, empurrando-a de leve para fora
do abraço para que eu possa olhar para ela. — Por que você está chorando?
Eu estou bem.
Ela soluça.
— Eu sei, eu sei, é só que... eu comecei a me perguntar se alguma
vez cheguei a dizer o quanto amo você e não consegui me lembrar de já ter
te dito isso, mesmo que eu saiba que você sabe, eu acho que eu nunca disse
e... e com o passar dos dias, com você em coma, eu comecei a pensar que
não conseguiria dizer tão cedo — ela chora, angustiada. — Eu estou tão feliz
que você está bem, Colin, e eu te amo como o irmão que eu nunca tive.
A declaração de Aurora me pega completamente de surpresa. Ela
está certa ao presumir que eu sei que ela me ama como o irmão que ela
nunca teve, porque eu também a amo como a irmã que eu nunca tive, mas,
parando para pensar agora, eu realmente não consigo me lembrar quando foi
a última vez — ou se houve uma vez — que eu disse que a amava. Eu acho
que nós estamos tão acostumados a ter certas pessoas por perto, e sabemos
que elas nos amam pela forma como se importam conosco, que acabamos
esquecendo de colocar esse sentimento em palavras de verdade.
— Eu também te amo, Aurora. — Dou um beijo em sua têmpora e a
puxo de volta para mais um abraço. — Não chora. Está tudo bem agora.
Meus pais decidem fazer um almoço especial para comemorar a
minha volta para casa. Infelizmente, Casey tem um projeto para apresentar
no dia seguinte, então sei que ela vai passar o dia mergulhada nos livros, mas
eu planejei um encontro especial para nós dois amanhã à noite. E agora que
estou com a minha filha nos braços e de volta em casa com a minha família,
percebo que parte da minha ansiedade de mais cedo está relacionada com a
reação de Casey diante do encontro que eu organizei para nós. Tive bastante
tempo para pensar no que podíamos fazer juntos, já que ficar internado no
hospital é um tédio sem fim.
— O Tio Nash já chegou em Raleigh? — pergunto enquanto dou a
mamadeira para Kiara, e Aurora ajuda os meus pais a colocarem a comida na
mesa.
Tio Nash foi me visitar no hospital algumas vezes, mas ele disse que
não poderia ficar muito, pois precisava estar em casa para o seu aniversário.
Ele e a Tia Tria têm uma tradição esquisita de sempre transarem no banheiro
no dia do aniversário dele, e eu sei disso porque Kenna e Charlotte nos
contaram quando éramos adolescentes. Os dois juravam que as filhas de
dezesseis anos não se dariam conta do que acontecia depois da festa de
aniversário em si.
Os pais subestimam a inteligência sexual dos filhos às vezes.
— Já sim — meu pai responde. — Ele chegou hoje de manhã.
— Eu fiquei tão feliz que Nash veio para cá — minha mãe comenta.
— É maravilhoso saber que tem pessoas lá por você mesmo quando você
não necessariamente pede por ajuda.
Parece contraditório, mas quando você não pede por ajuda é
normalmente quando você mais precisa.

— Para onde estamos indo? — Casey pergunta enquanto dirige.


Meu médico pediu que eu não dirija por mais alguns dias, só por
precaução, já que o cérebro é uma parte imprevisível e eu posso acabar
perdendo os sentidos momentaneamente, e nós com certeza não queremos
isso enquanto eu estiver dirigindo, então Casey veio me buscar em casa e eu
estou dando as direções para onde ela precisa ir.
— Você vai saber quando chegarmos lá.
Ela suspira com insatisfação, mas não parece que vai insistir em
tentar arrancar a informação de mim.
— Eu espero que, seja lá o que for, você esteja seguindo a
recomendação do seu médico, porque eu não vou ter problema nenhum em
arrastar você de volta para casa se for perigoso — ela argumenta, séria e sem
qualquer brecha para que eu argumente.
Sorrio.
— Não se preocupe, minha linda, é tudo muito seguro e tranquilo. Eu
prometo.
Casey me olha de canto de olho e tenho a impressão de que ela não
acredita em mim cem por cento, mas eu não seria doido de contrariar o meu
médico. A última coisa que eu quero é voltar para o hospital. E com uma
estudante de medicina como namorada, eu talvez nem conseguisse fingir que
está tudo bem se não estiver.
Eu não mentiria para Casey, de qualquer forma.
— Vire à esquerda na próxima rua — oriento. — E depois você vai
virar na terceira rua à direita.
Casey segue minhas orientações.
— Nosso destino vai estar à direita, bem ali na frente — eu aponto, o
que faz Casey reduzir a velocidade para não passar do local.
— Pode parar bem aqui — falo.
Ela estaciona o carro rente ao meio fio e olha para o lado, para onde
o nosso encontro vai acontecer, e franze o cenho, provavelmente porque não
está vendo nada além de algumas árvores e um portão que diz “propriedade
privada”.
— Você tem certeza de que estamos no lugar certo? — ela pergunta,
cismada.
Reprimo minha vontade de rir.
— Tenho. Confia em mim, Case, você não vai se arrepender.
Ela sorri quando direciona aqueles lindos olhos verdes na minha
direção.
— Eu confio em você.
Sorrio de volta e inclino meu corpo para dar um beijo naquela boca
gostosa. E se eu for bastante sortudo, talvez eu consiga convencê-la de me
deixar fazer um pouquinho de esforço essa noite.
Quando saímos do carro, estendo minha mão para Casey e ela a
segura. Eu a guio até o portão e puxo a chave do meu bolso, o que
automaticamente faz com que Casey arregale os olhos.
— Você tem a chave? Essa propriedade é dos seus pais? — ela
indaga, curiosa.
Eu rio.
— Não, mas eu conheço o dono. Eu costumava dar aulas de hóquei
para os filhos dele como trabalho temporário durante o recesso de inverno —
eu explico, abrindo o portão. — Então, eu pedi um favor e ele ficou mais do
que feliz em me emprestar uma parte da sua propriedade.
— Você não vai me levar para patinar não, vai? Porque eu preciso te
dizer que eu nunca coloquei patins nos pés antes e eu tenho zero
coordenação motora para isso — Casey se apressa a dizer, com os olhos
ainda arregalados, mas agora de pavor.
Eu rio mais ainda.
— Não, minha linda. Não vou colocar você para patinar... ainda.
Casey faz uma careta tão profunda que deforma todo o seu rosto
bonito e como eu sou maluco por tirar essa garota do sério, é óbvio que eu já
estou pensando que o nosso próximo encontro definitivamente vai ser em
um rinque. Vou decretar a partir de agora que para ser namorada de um
jogador de hóquei, você precisa saber patinar.
E então, Casey vai terminar comigo.
A ideia me faz querer rir.
De mãos dadas, nós seguimos pelo caminho de pedra que segue pela
lateral da propriedade, nos direcionando para os fundos da casa principal,
onde o dono mora com os filhos e a esposa.
— Eu vou pedir para você fechar os olhos agora — eu digo à Casey
ao parar de caminhar. Mais alguns passos para frente e ela poderá ver
exatamente para onde eu a estou levando e eu sou muito a favor de um
suspense, para o azar dela.
Eu penso que ela vai me contrariar, mas Casey apenas fecha os olhos,
me surpreendendo.
— Não me deixe tropeçar.
— Não vou.
Seguro ambas as suas mãos e a puxo para frente com cuidado.
— Não vale espiar.
— Eu não vou espiar, Mackenzie. Eu sou uma mulher de palavra.
Eu sorrio, mesmo que ela não possa ver.
A dinâmica do nosso relacionamento e o fato de não sermos apenas
fofos um com o outro na maior parte do tempo, me excita. Temos a dose
perfeita de fofura, irritação e tesão, embora eu acredite que essa última
característica precisa ser mais trabalhada. Com o meu acidente, as coisas
ficaram em pausa, mas eu pretendo dar play muito em breve, se Casey
concordar.
Continuo guiando Casey até ela estar no ponto perfeito para que eu
revele onde estamos. Peço que ela continue de olhos fechados enquanto eu
me afasto por um momento para acender as luzinhas de apoio que são
suficientes apenas para cortar a total escuridão da noite.
— Pode abrir os olhos agora.
Eu mantenho meus olhos fixos no rosto dela porque não quero perder
um segundo da sua reação ao ver onde estamos. E como eu estava
esperando, todo o resto de Casey se ilumina quando ela olha ao redor e
percebe que estamos em uma estufa de flores. Foi graças às flores que eu dei
para ela que nós nos vimos de novo e começamos a conversar, então achei
que não havia lugar melhor para levá-la no nosso primeiro encontro.
— Colin — ela diz o meu nome baixinho e totalmente maravilhada.
— Esse lugar é lindíssimo!
Eu sorrio, feliz que consegui a reação que estava esperando.
— Eu disse que te daria flores de novo.
Percebo que Casey está emocionada quando os vejo brilhando um
pouco mais que o normal. As lágrimas não chegam a deixar os olhos dela,
pois Casey seca elas antes disso.
— Você disse, sim. — Ela sorri, emocionada. — Obrigada. Eu...
Puxa, eu não estava mesmo esperando por isso, mas amei. Simplesmente
amei.
Eu não consigo parar de sorrir diante da reação dela.
Casey olha ao redor por alguns instantes, vendo as flores que são
mantidas e cuidadas aqui. Há rosas de várias cores diferentes; margaridas;
lírios; orquídeas; girassóis; flores do campo e várias outras que eu não sei o
nome. Não sei se Casey conhece muito sobre flores, mas não importa, pois o
sorriso no rosto dela é suficiente para mim.
É normal que eu ache que ela é muito mais bonita do que todas essas
flores juntas?
— Que bom que você gostou, mas a surpresa ainda não acabou.
Casey pisca, surpresa.
— Não?
Balanço a cabeça.
— Me espera aqui.
O Sr. Hunt disse que havia caixas de som instaladas na estufa, porque
os jardineiros trabalhavam mais felizes quando ouviam música. E acho que
foi bem atencioso da parte dele fazer isso, já que muitas pessoas que têm
muito dinheiro não se importam de verdade com o bem-estar dos seus
funcionários.
Quando encontro o sistema de som, conecto meu celular para que eu
possa escolher a música. Na verdade, eu fiz uma playlist inteira com músicas
que me lembram de Casey e da nossa história até aqui. No instante em que a
primeira música da playlist começa a tocar, eu me apresso para voltar para
onde Casey está, pois não quero perder a reação dela.
Eu a encontro parada no mesmo lugar, com um sorriso ainda maior
no rosto enquanto seu corpo balança sutilmente de um lado para o outro,
seguindo o ritmo da música.
— Ah Colin, isso é perfeito. — Ela fecha os olhos por um momento
e quando volta a abri-los, eu consigo identificar a emoção. — Obrigada.
Elimino a distância entre nós dois e entrelaço meus braços na cintura
de Casey, puxando-a para mais perto de mim. Casey entrelaça os braços ao
redor do meu pescoço, com aquele mesmo sorriso tranquilo de sempre em
seu rosto. Os olhos brilham. Talvez pelas lágrimas que ela não permitiu que
caíssem ou talvez porque eu cause esse efeito nela. Talvez o seu coração
goste do que vê, quando ela olha para mim. Eu sei que o meu coração, que
bate desenfreado no meu peito, é a prova viva de que eu gosto do que vejo.
Gosto demais.
— Dance comigo — sussurro para ela.
Nossos corpos ficam ainda mais próximos antes de começarem a
balançar de um lado para o outro. Eu não sou um excelente dançarino, então
não vou arriscar nada ousado, mas eu estava pensando nos meus pais quando
tive essa ideia; pensando em como sempre os via dançando na cozinha,
mesmo que não tivesse música tocando, e eu queria saber como é sentir o
que eles sentiam — e ainda sentem — quando faziam isso. É claro que eu
ainda não sei se Casey vai ser a mulher da minha vida, é muito cedo para ter
certeza, mas porra… eu me sinto muito bem aqui, agora, com ela nos meus
braços enquanto dançamos juntos.
O rosto de Casey está colado no meu peito e meu queixo apoiado no
topo da cabeça dela. E por longos minutos, nós permanecemos assim,
dançando ao som de Just A Little Bit Of Your Heart da Ariana Grande. Mas
quando Casey ergue os olhos para mim, eu imediatamente aproveito a
oportunidade de grudar meus lábios nos dela.
Casey solta um suspiro quando minha mão encontra a lateral do seu
pescoço e eu deito a cabeça para aprofundar o beijo. Nossas línguas se
encontram, provocando faiscas nas minhas veias. Meu corpo entra em
combustão com os gemidinhos quase inaudíveis que ela produz quando eu a
beijo. Eu não sei se ela tem noção do quanto é sexy sem nem se esforçar
para isso.
Não demora muito para o beijo tranquilo se transformar em um
frenesi. Minhas mãos encontram a bunda dela quase ao mesmo tempo que os
dedos dela adentram os fios do meu cabelo, puxando-os na altura da minha
nuca. É a minha vez de gemer, porque ela é tão gostosa, tão linda e confesso
que estou pensando na noite em que eu a chupei até que ela gozasse na
minha língua. Caralho, como eu quero isso de novo. Eu quero descobrir
todas as curvas do corpo dela, tudo que a faz gemer baixinho e tudo o que a
faz gritar de prazer. Eu quero que Casey me enlouqueça até que eu esteja
implorando por ela, e então nós vamos foder como loucos e ficar horas
abraçados depois, conversando ou assistindo filmes.
É assim que eu quero encerrar os meus dias, todos os dias.
Eu quero, tanto quanto tudo isso, que Kiara também tenha uma figura
feminina em quem se espelhar. Se Casey quiser, eu sei que minha filha ficará
tão feliz quanto eu de tê-la em nossas vidas.
— Vem comigo — murmuro, segurando a mão de Casey na
minha.
Nós seguimos para os fundos da estufa, onde eu encontrei um espaço
para colocar alguns colchonetes, almofadas e cobertores. Eu queria que essa
noite fosse realmente especial, para marcar o início do nosso
relacionamento, para receber ela na minha vida e na minha família, já que
agora não posso apenas pensar em mim mesmo.
— Ah meu Deus, você organizou isso também? — Casey pergunta,
com surpresa deslizando por cada palavra.
— Eu sei ser romântico quando eu quero. Afinal de contas, eu sou
filho do meu pai.
Casey solta a minha mão para chegar mais perto e absorver todos os
detalhes do cenário. Sem dúvida nenhuma, essa é a coisa mais romântica que
já fiz por uma garota. Mesmo sem nunca ter tido uma namorada, eu já fui
romântico outras vezes; quando chamei Erica Martin para o baile de
formatura, quando estávamos no último ano do colegial. Nós não éramos
realmente um casal, mas ela era o mais próximo que eu tinha de uma amiga
e eu quis fazer uma coisa legal para convidá-la para o baile. Erica fazia parte
do clube de música da escola, então obviamente eu tive a ideia de uma
serenata. Eu não cantei, porque não tenho essa habilidade, mas estava lá com
uma flor para oficializar o convite.
— Está tudo lindo, Colin — Casey diz, maravilhada, mas pelo seu
tom, eu sinto que vem um “mas” em seguida. — Mas… bom, talvez eu
esteja interpretando tudo errado, e você sabe que não seria a primeira vez
que eu faço isso, mas o médico disse que você tinha que pegar leve pelos
próximos dias e tenho certeza de que sexo não está na categoria “pegar
leve”.
Eu dou risada.
— Você sabe mesmo como destruir o clima, Fletcher.
Ela faz um beicinho.
— Não é a minha intenção, eu juro, eu estou simplesmente encantada
por tudo o que você fez e, acredite em mim quando eu digo que estar com
você essa noite é tudo o que eu quero, mas isso não muda o fato de que eu
estou preocupada com você.
Eu volto a me aproximar dela e faço um carinho em ambos os seus
braços, deslizando a ponta dos meus dedos pela pele macia dela. Casey fecha
os olhos por um instante quando o seu corpo estremece de leve.
— Eu agradeço a preocupação, minha linda, mas eu sei quais são os
meus limites. — Aproximo meus lábios do pescoço de Casey e deposito um
beijo na região, e então digo próximo ao ouvido dela: — Vou fazer amor
com você essa noite, mas quando eu estiver totalmente recuperado, vou
adorar foder você até que nós dois estejamos exaustos demais para nos
mover.
Casey arqueja, e quando volto os meus olhos para o seu rosto, ela
está vermelha como um tomate, mas consigo ver o tesão despertar nos olhos
dela, que agora estão com as pupilas dilatadas.
Sem nenhuma outra palavra, Casey avança na minha direção,
batendo os lábios contra os meus. Nós retomamos o beijo praticamente de
onde havíamos parado: no meio do frenesi. Com cuidado e sem ter um senso
de direção exemplar por estar de olhos fechados, eu nos guio até os
colchonetes no chão. E completamente desajeitados, nós nos deitamos.
Deixo metade do meu corpo sobre o corpo de Casey, encaixando uma das
minhas pernas no meio das dela. Uso uma mão para servir de apoio para o
meu corpo enquanto a outra desliza pela lateral corpo de Casey, explorando
cada centímetro da sua coxa, subindo até o seu quadril, passando pela curva
da cintura e terminando nos seios fartos dela.
Casey geme, encontrando a barra da minha camiseta e puxando-a
para cima, tirando-a por cima da minha cabeça. Eu estou louco para sentir a
pele dela contra a minha, então também começo a trabalhar para me livrar do
vestido de Casey. Me ajoelho no colchonete e levo minhas mãos até a barra
do vestido dela, que já está com o tecido embolado no seu quadril. Mas antes
de me livrar por completo da peça, eu escolho aumentar a tensão sexual ao
beijar o interior das coxas dela. Quando chego no tecido da calcinha, ao
invés de afastá-lo para o lado e mergulhar na sua boceta, eu subo o vestido
um pouco mais, revelando a sua barriga e distribuo mais beijos, sentindo a
pele quente dela contra os meus lábios.
Os dedos de Casey encontram o meu cabelo e pela forma como ela
puxa os fios, eu sei que ela quer que eu vá mais rápido com esse deliberado
crescimento da tensão sexual. E, sinceramente, quem eu estou querendo
enganar com toda essa demora? Eu estou maluco para estar dentro dela.
Portanto, desisto da ideia de provocá-la e me livro logo do seu vestido.
Casey está vestindo uma lingerie vermelha que combina
deliciosamente com a cor do seu cabelo e com as sardinhas presentes por
todo o seu corpo. Agora que eu realmente consigo vê-la seminua, percebo
que as sardinhas não estão presentes apenas nas maçãs do seu rosto, mas
também no colo dos seus seios e nos seus ombros.
E ela é a coisa mais linda que eu já vi.
Sem esperar por mim, Casey se livra do próprio sutiã, revelando pela
primeira vez os seios bonitos e carregados de sardinhas. Seus mamilos
vermelhos estão endurecidos pelo tesão e eu realmente chego a salivar de
vontade de chupá-los. Volto a deitar meu corpo em cima do de Casey e
agarro o seu mamilo esquerdo com os lábios enquanto brinco com o seu
outro mamilo, beliscando-o e puxando-o delicadamente, com força o
suficiente apenas para fazê-la gemer. E, por Deus, ela geme deliciosamente
alto.
— Por que... — Casey começa a dizer, mas corta a frase ao meio
para soltar mais um gemido.
— Por que o quê, minha linda? — eu provoco, e contorno o seu
mamilo com a língua logo em seguida.
— Por que você ainda está usando a sua calça? — ela geme.
Essa é uma excelente pergunta.
Eu acho que fiquei tão focado nela que esqueci totalmente que eu
deveria tirar as minhas roupas também.
Resmungo, mas volto a ficar de joelhos para desabotoar o meu cinto.
Arranco os meus tênis e a calça logo em seguida. Vou deixar que Casey
escolha o momento de arrancar a minha cueca.
Quando volto a me deitar em cima de Casey, ela me surpreende ao
rolar nossos corpos e terminar em cima de mim, com uma perna de cada
lado do meu corpo e com a boceta perfeitamente em cima do meu pau. Que
delícia de mulher.
— Eu prefiro ficar por cima — ela me avisa. — E não é como se
você pudesse fazer esforço agora.
O sorriso que se forma nos meus lábios provavelmente é o mais
tarado que já fui capaz de produzir.
— Eu definitivamente não estou reclamando.
Ela devolve o meu sorriso, repuxando os lábios da forma mais sexy
que eu já vi.
Nós rapidamente nos livramos das peças de roupa remanescentes, eu
pego uma camisinha de dentro da minha carteira e visto, para que Casey
volte a se sentar em cima de mim, mas agora com o meu pau dentro dela. No
entanto, parece que agora é ela quem quer deixar a tensão crescer, pois ao
invés de guiar meu pau para dentro, Casey apenas roça sua boceta em mim,
me provocando.
— Caralho, Case — gemo, agarrando a bunda dela com força
enquanto tento fazê-la rebolar mais rápido. — Essa boceta está tão molhada.
Gemendo de tesão, Casey finalmente segura o meu pau e senta para
mim, jogando a cabeça para trás e fazendo o seu longo cabelo ruivo cair em
cascata. Os lábios estão ligeiramente abertos, os olhos fechados, as mãos
espalmadas no meu peito para ter suporte enquanto ela se movimenta em
cima do meu pau.
Que delícia de mulher. Eu já disso isso, né?
Minhas mãos alcançam os seios de Casey, e eu brinco com seus
mamilos, beliscando-os e puxando-os.
— Colin — ela geme meu nome. — Isso, isso!
Permaneço com uma mão nos seus seios, mas levo a outra até a sua
boceta.
— Inclina o corpo para trás um pouco.
Ela obedece sem questionar, me dando o espaço que eu preciso para
encontrar o seu clitóris. Casey começa a rebolar e quicar ainda mais rápido,
perseguindo o seu orgasmo e puxando o meu também, porque eu
sinceramente posso gozar só de olhar para ela sentindo prazer. E quando
noto que ela está perto, quando sua respiração fica mais rasa e o corpo
começa a dar indícios de estremecimento, eu começo a massagear o seu
clitóris mais depressa, o que automaticamente a incentiva a me foder mais
rápido também.
— Isso, Case — arfo, sentindo a corrente elétrica descer pela minha
coluna. — Cacete!
Casey geme alto quando goza, com a boceta ainda rebolando no meu
pau e os seios quicando bem diante dos meus olhos. A imagem dela no ápice
me leva ao limite, mas eu seguro porque quero sentir meu pau dentro dela
por mais alguns minutos.
Caramba, eu poderia ficar aqui para sempre, em um looping infinito
de sexo.
— Você é tão gostoso, Colin — ela geme ao apoiar as mãos para trás,
exibindo a boceta para mim. — Eu não lembro a última vez que gozei assim.
— Senta na minha cara, Case. Eu quero gozar com o seu gosto na
minha língua.
Ela sorri e lentamente sai de cima de mim, quase como se quisesse
me torturar ao ter o meu pau fora dela. Porra, é quase uma tortura mesmo.
Agora que eu descobri como temos sintonia na cama, eu vou não perder
nenhuma oportunidade de estar dentro dela de novo.
Casey roça a boceta nos meus lábios antes de realmente sentar na
minha cara. Eu arranco a camisinha do meu pau e divido a minha
concentração entre chupar a boceta melada dela e bater uma para finalmente
gozar.
Me pegando completamente de surpresa pela ousadia, Casey afasta a
minha mão do meu pau e assume o controle, colocando-o na boca e
lambendo a pontinha logo em seguida. Porra! O meu gemido soa abafado, já
que estou com a língua afundada na boceta dela. Eu quero avisá-la para se
afastar antes que eu acabe gozando, mas não dá tempo, porque quando eu
sinto meu pau bater no fundo da garganta dela, eu explodo sem conseguir
impedir. E me surpreendendo mais ainda, Casey engole tudo, mesmo tendo
engasgado por um instante.
— Puta que pariu — eu consigo dizer, com a respiração
completamente desregulada. — Casey, eu não tive a intenção de gozar sem
te avisar.
Quando ela sai de cima de mim e vira o rosto na minha direção, eu
sei que está tudo bem. Seus olhos ainda carregam um tesão avassalador e ela
não parece nem um pouco irritada ou magoada por eu ter gozado na sua
boca. Eu sei que tem algumas garotas que não gostam, então eu sempre tomo
o cuidado de me certificar antes, mas essa mulher na cama foi totalmente
uma surpresa.
— Eu não estou reclamando, estou? — ela diz com um sorriso que
está muito distante de ser o sorriso tranquilo com o qual estou tão
acostumado. — Como você está se sentindo? Tudo bem?
— Eu não poderia estar melhor.
Casey abre um sorriso; um daqueles de sempre e que eu tanto adoro.
O sorriso que me passou tranquilidade quando as coisas estavam tão difíceis.
Eu a puxo para os meus braços e Casey deita com a cabeça apoiada
no meu peito. Cálculo silenciosamente quanto tempo seria bom esperar até
que eu possa estar dentro dela de novo, afinal de contas nós temos esse
espaço só para nós durante toda a noite. Mas nós dois acabamos caindo no
sono antes que meu plano se torne realidade.
Tudo bem. Sempre há um amanhã, não é mesmo?
Capítulo 24

E eu odeio a maneira como sou vista


Eu só tenho dois amigos verdadeiros
E ultimamente estou uma pilha de nervos
Porque eu amo pessoas de quem não gosto
(…)
Tudo que eu fiz foi tentar o meu melhor
Esse é o tipo de agradecimento que eu recebo?
Incansavelmente chateada
| Olivia Rodrigo – Brutal

Eu me considero uma pessoa otimista.


Não sei exatamente o motivo, já que muita coisa deu errado na
minha vida depois que perdi minha mãe. A começar pelo meu
relacionamento com o meu pai, depois o casamento dele com a Georgina, a
convivência forçada que precisei aguentar tanto com ela quanto com Anna, a
minha vida amorosa completamente fracassada… enfim. No entanto, eu
continuei sendo uma pessoa otimista. Talvez porque eu me lembro da minha
mãe sempre tentando enxergar o lado bom de todas as coisas, mesmo
aquelas que pareciam banais. Talvez eu quisesse manter alguma coisa dela
comigo.
Então, continuando… Eu me considero uma pessoa otimista. No
entanto, estou sentindo um aperto no peito, uma angústia, como se meus
anjos da guarda quisessem me avisar que alguma coisa ruim vai acontecer e
por isso eu deveria me preparar. O que automaticamente me leva a pensar
que Anna está muito quieta. Ela não deu mais nenhum sinal de vida desde
que me contou sobre o seu plano absurdo de conseguir dinheiro de Colin. E
eu sei que ela não desistiu simplesmente pelo fato de que Anna nunca desiste
de nada. Ela quer, ela consegue. Sempre foi assim.
O que me tranquiliza, de certa forma, é que Colin e seus pais estão
sabendo de todas as intenções de Anna, então eles não serão necessariamente
pegos de surpresa, embora nunca dê para prever que tipo de loucura ela pode
inventar.
A sagacidade dela voltada para o mal me deixa muito inquieta.
— Eu me sinto como se fôssemos completas desconhecidas —
reclama Emily, me trazendo para a realidade. Minha melhor amiga
encontrou um tempinho para me ligar, já que os gêmeos agora estão um
pouquinho mais tranquilos. — Eu sempre sou a última a saber de tudo o que
acontece na sua vida ultimamente e simplesmente detesto isso.
Eu dou uma risadinha.
— A vida tomou um rumo imprevisível para nós duas — concordo.
— Como estão meus sobrinhos?
Mesmo que não tenhamos nenhum parentesco, Emily sempre foi
como uma irmã para mim, então quando ela engravidou eu automaticamente
adotei os bebês como meus sobrinhos, mesmo que eu quase não os veja, o
que é uma pena.
— Eles estão bem. Por um lado, é bem mais tranquilo agora que eles
estão com dois anos, porque eles não choram mais durante a noite toda,
porém estão na fase de explorar tudo o que podem e o que não podem
também. Yuri e eu estamos vivendo um novo desafio.
— Eu posso imaginar.
— Mas me conte de você. Eu quero saber tudinho.
Sempre que Emily e eu temos tempo de conversar, parece que eu
literalmente estou contando para ela a história da minha vida, pois é tanto
assunto para colocar em dia que chega a ser absurdo. Mas eu conto para ela
sobre Colin e Kiara, sobre Anna, sobre a minha relação com o meu pai que
continua tão ruim quanto Emily provavelmente se lembra. Conto sobre o
acidente de Colin e sobre o encontro que tivemos na estufa três dias atrás. E
como eu definitivamente não quero contar sobre como foi o sexo com Colin
para Aurora, Antonella e Grace, eu conto os detalhes para Emily.
Não é que eu não confie ou não goste de conversar com as garotas
com quem fiz amizade em Paradise, é só que Aurora é a melhor amiga de
Colin, e eu ainda não sou tão íntima das meninas para não sentir vergonha de
falar sobre isso com elas. Mas sei que se fizermos das festas do pijama na
casa de Antonella uma coisa regular, não vai demorar muito para que eu
esteja abrindo a minha vida para elas.
— Uh, que depravada — brinca Emily.
Eu rio.
— Só você pode ter uma boa vida sexual? Que egoísmo.
Ela ri também.
— De maneira nenhuma, se bem que parece que faz anos que Yuri e
eu não temos uma boa dose de sexo depravado. É o meu favorito.
— Por que você não faz uma surpresa para ele e sai um pouco da
rotina? Acho que quando você transa com a mesma pessoa por anos, as
coisas tendem a cair em uma certa rotina, como tudo na vida. Compra uma
lingerie sexy e surpreende ele. Yuri nem vai saber o que o atingiu.
Emily ri mais ainda.
— Isso não é nem de longe uma má ideia. Acho que pode acabar
apimentando as coisas entre nós dois.
— Com certeza!
Um silêncio confortável se assenta entre nós. Emily sempre foi a
única pessoa com quem eu não me importo de ficar em silêncio por longos
minutos. Sempre foi confortável apenas sentar ao lado dela, sem dizer nada,
apenas apreciando o silêncio.
— Sinto sua falta, Case — ela diz de repente, com um quê de tristeza
na voz. — Não me arrependo dos meus filhos nem por um instante, mas
queria muito que pudéssemos viver a experiência da universidade juntas,
como sonhávamos quando éramos adolescentes.
Eu sorrio ao imaginar isso. Só Deus sabe o quanto eu queria que
Emily estivesse aqui.
— Eu também sinto sua falta, Em, e seria simplesmente incrível se
pudéssemos estar vivendo isso, mas você está vivendo a sua própria aventura
e eu estou feliz que você e Yuri estejam nessa juntos.
Eu a escuto folgar do outro lado.
— Aí, por que ficamos tão emotivas? Que coisa horrível! Vamos
falar de coisas boas.
Dou risada.
Emily e eu ficamos no telefone por mais quarenta minutos antes dos
gêmeos acordarem e ela precisar desligar. Preciso me organizar para ir vê-la
em breve, antes que meus sobrinhos esqueçam completamente quem eu sou.
É só quando desligo o telefone que percebo que tenho mais de dez
mensagens de Colin.
Franzo o cenho, estranhando a quantidade. Ele nunca me manda
tantas mensagens assim. No instante em que abro a sua janela de conversa e
entendo o motivo das várias mensagens, percebo que a angústia no meu
peito não é injustificada.
Anna finalmente fez a sua jogada no que parece ser o jogo de xadrez
das nossas vidas.

Quando chego na casa de Colin, é Derek quem abre a porta para


mim. Colin está andando de um lado para o outro em um clássico sinal de
inquietação e o olhar em seu rosto não é nada similar com a gentileza e bom
humor que conheço dele. Seja lá o que Anna fez — Colin não especificou
nas mensagens — sei que ele tem todos os motivos do mundo para querer
derrubar um prédio apenas pela potência da sua raiva.
Sophie, por outro lado, está no telefone. Não sei exatamente com
quem ela está falando, pois parece que ela está apenas aguardando para falar
com alguém ou aguardando alguma informação ser passada para ela. Derek é
quem está com Kiara no colo.
— Oi — eu digo baixinho, me aproximando de Colin. — O que foi
que ela fez?
— Ela pediu guarda compartilhada — Colin se revolta, passando as
mãos pelo cabelo. — Você acredita nessa merda? Aquela filha da puta tem a
coragem de pedir guarda compartilhada depois de abandonar a minha filha e
me chantagear por dinheiro!
— Colin, calma — Sophie pede, tampando o bocal do telefone para
que a pessoa do outro lado da linha não o escute. — Calma, por favor. Perder
a cabeça agora não vai ajudar ninguém.
Colin bufa, impaciente e assustado ao mesmo tempo. Dá para ver no
rosto dele, mesmo que a raiva tenha tomado conta.
— Oi, sim, eu ainda estou aqui — Sophie retoma a conversa no
telefone. Colin para de andar de um lado para o outro e se concentra na mãe,
como se ela tivesse todas as respostas. E nesse caso, eu acho que Sophie
realmente tem. — Entendi. E quando será isso? — Pausa. — Certo. Tudo
bem, meu cliente comparecerá à audiência conforme solicitado. Obrigada.
Quando Sophie desliga o telefone, todos nós olhamos para ela,
esperando que ela compartilhe a informação que possui.
— Anna entrou com um pedido de guarda compartilhada alegando
que o motivo que a fez abandonar Kiara está relacionado à depressão pós-
parto.
— Isso é mentira! — Colin brada, possesso.
— Eu sei, querido, mas Anna conseguiu um bom advogado que vai
tentar convencer o juíz de que ela está falando a verdade.
— Ela conseguiu um bom advogado? — eu pergunto, confusa.
Sophie confirma com a cabeça.
De onde foi que Anna tirou dinheiro para pagar um bom advogado?
Até onde eu sei, e ela mesma disse isso, todo o dinheiro que tinha, ela usou
para sair de Paradise e alugar um lugar para morar em Summer Ville. Como,
de repente, Anna tem dinheiro sobrando para pagar um bom advogado?
Não demora muito tempo para que a resposta venha à minha mente.
— Como ela conseguiu o dinheiro? — eu penso alto. Quando volto à
realidade, encontro todos olhando para mim. — Me deem licença por um
momento. Eu já volto.
Saio da sala de estar e me afasto do cômodo o suficiente para
conseguir fazer uma ligação com privacidade. O telefone toca, toca e toca
antes de cair na caixa postal. Tento de novo. A ligação é finalmente aceita no
quinto toque.
— Oi, querida — meu pai me cumprimenta com uma naturalidade
assustadora, até parece que nós nos falamos todos os dias, mas a última vez
que nos falamos foi quando ele me ligou e os primos de Colin estavam na
cidade. É verdade que eu poderia ter ligado, mas depois de anos eu cansei de
me esforçar tanto quando ele claramente não dá a mínima.
— Você e Georgina tiveram notícias de Anna nos últimos tempos? —
pergunto, ignorando o cumprimento.
— Ah sim, falamos com ela tem alguns dias. Pobrezinha, ela está
desolada. Você acredita que Anna engravidou e a família do rapaz roubou a
bebê dela? — meu pai conta, chocado. — É um absurdo. Ela nos pediu ajuda
para conseguir pagar um advogado e ter a bebê de volta.
Eu não consigo controlar a crise de riso que toma conta de mim. Meu
Deus, Anna é completamente dissimulada.
— Isso não é engraçado, Casey. É um completo absurdo!
Eu sinto a minha paciência desaparecer. A frustração de anos de
relacionamento falido atinge a superfície e de repente, eu percebo que estou
exausta de tentar ser boazinha.
— Sabe o que é um completo absurdo? O fato de você e Georgina
não fazerem ideia do tipo de pessoa que a Anna é. Ela engravidou sim, mas
não teve bebê roubado coisa nenhuma! Ela abandonou a criança porque
nunca quis ser mãe. Ela quis aplicar um golpe da barriga que deu errado.
Agora, você e Georgina deram dinheiro para que ela tente pegar de volta
uma criança que ela nunca quis! E sabe por que ela está fazendo isso, pai?
Porque ela quer arrancar dinheiro do pai da bebê! Anna não se importa com
nada e nem com ninguém além dela mesma! Sabe o que é ainda mais
absurdo? Que mesmo que essa seja a verdade, você provavelmente vai
acreditar nela ao invés de acreditar em mim, porque é isso o que você tem
feito desde que conheceu Georgina e a trouxe para a nossa vida sem nunca
me considerar! Sem nunca se preocupar como eu me sentiria! Como se eu
tivesse morrido com a mamãe naquele acidente!
Só percebo que estou chorando quando eu termino de falar. Mas pela
primeira vez, sinto que não tem um nó imenso na minha garganta sempre
que falo com o meu pai. Sinto que até os meus ombros estão um pouco mais
leves, pois eu finalmente consegui colocar para fora o que vem me matando
pouco a pouco todos esses anos.
— Casey, isso não é verdade.
— Ah, não é? Você consegue se lembrar da última vez que fizemos
alguma coisa juntos? Só eu e você? Você sequer se lembra quando foi a
última vez que você me ligou e como desligou o telefone na minha cara só
porque Georgina havia te chamado? Consegue se lembrar, pai?
— Casey, nós nos falamos tem só alguns dias.
Eu rio sem humor.
— Tem mais um de um mês, pai. Você não se lembra porque você
não se importa. Você está ajudando Anna a recuperar um bebê que ela
abandonou, o que é bem irônico porque você é muito bom em fazer a
mesma coisa. Você me abandonou também, pai. A diferença é que eu não
sou mais um bebê.
Desligo o telefone sem dar chance para ele dizer qualquer outra
coisa. Eu estou cansada disso, cansada de fingir que eu também não me
importo com o rumo que o nosso relacionamento tomou. É claro que eu me
importo, caramba! Ele é a única família que eu tenho, mas me recuso a
continuar pisando em ovos com ele apenas porque não quero perdê-lo de
vez.
Relacionamentos são uma via de mão dupla. E eu estou exausta de
trabalhar no nosso sozinha.
Quando volto para a sala de estar, Colin está segurando Kiara no colo
de uma forma que parece que Anna está aqui agora, querendo tirá-la dele. O
pavor está estampado por todo o seu rosto. Ainda assim, no momento em
que os seus olhos encontram o meu, eu sei que ele sabe exatamente com
quem eu estava falando. Então, sem dizer nada, Colin se aproxima de mim,
segurando Kiara em um braço e me envolvendo com o outro. Eu o abraço de
volta, mas não choro mais. Talvez porque nesse momento a minha raiva é
maior que a minha tristeza.
— Você está bem? — Colin indaga, preocupado.
— Não, mas vou ficar — respondo com sinceridade. Não quero mais
dizer que está tudo bem quando não estiver.
Colin assente e me dá um beijo na têmpora, ainda com um dos braços
ao redor do meu corpo, me mantendo perto.
— O que vamos fazer agora? — Derek pergunta. — Qual é o plano
exatamente?
— Agora, nós vamos reunir as testemunhas que temos a nosso favor:
os seus amigos, os amigos dela, os médicos que fizeram o parto da Kiara, as
enfermeiras que auxiliaram. Qualquer pessoa que possa falar a nosso favor,
caso chegue a ser necessário, para mostrar ao juiz que Anna está querendo a
guarda por todos os motivos errados.
— E o que acontece depois? — Colin pergunta, aflito.
— Nós vamos para uma audiência daqui duas semanas, onde ela vai
apresentar o caso dela e nós vamos apresentar o nosso. Baseado no que ouvir
e no que for provado tanto por nós quanto por ela, o juiz vai decidir se vai
conceder à Anna o direito de guarda compartilhada ou se vai negar —
Sophie explica calmamente. — Se o pedido for aceito, você vai ter que
entregar a Kiara para a Anna durante alguns dias da semana. Se for negado,
nós vamos entrar com uma medida de restrição para que ela não possa
chegar perto de você ou da Kiara de novo.
Colin parece completamente atordoado.
— Quais são as chances de ganharmos ou perdermos, Soph? —
Derek quer saber.
— Eu diria que nossas chances são muito boas, mas se ela conseguir
provar que teve depressão pós-parto, as coisas podem ficar mais
complicadas. O juiz pode entender que Anna estava fora do seu juízo
perfeito quando abandonou Kiara. — Sophie passa as mãos pelo rosto,
pensativa. — O ideal seria que conseguíssemos uma confissão de Anna de
que ela só está fazendo isso para te punir por não ter dado o dinheiro que ela
queria.
Como Colin ainda está com o braço ao meu redor, eu consigo sentir a
mudança na energia que o corpo dele emana. Ergo meu rosto e olho para ele,
tentando adivinhar o que está se passando na cabeça dele nesse momento.
Colin parece estar longe, como se tivesse se lembrado de alguma coisa ou
como se acabasse de ter uma ideia. Não consigo dizer ao certo.
— Eu vou cuidar disso.
E isso é tudo o que Colin diz.
Capítulo 25

Minha mãe não gosta de você


E ela gosta de todo mundo
(…)
Porque se você gosta tanto da sua aparência
Oh, querida, você deveria seguir em frente e se amar
| Justin Bieber – Love Yourself

Com a audiência acontecendo em duas semanas, não há tempo a


perder. Portanto, eu reuni todos os meus amigos na minha antiga casa para
atualizá-lo das últimas notícias. Eu vou reunir quantas testemunhas for
possível para que Anna não tenha a menor chance de conseguir o que quer.
Me apavora só de pensar em Kiara passando alguns dias com Anna. Eu
tenho certeza de que ela esqueceria de alimentá-la ou de trocar a fralda dela.
E se estou sendo bem honesto, eu não duvido que ela saia para curtir e deixe
a minha filha sozinha. A essa altura, eu não estou duvidando de mais nada
que envolva Anna.
Enquanto eu conto para os meus amigos, não deixo de reparar na
apreensão presente em suas feições. Trevor, especialmente, parece que está
prestes a explodir. Acho que ele também acreditou por um momento que nós
estávamos livres de Anna.
— A audácia dessa vaca é inacreditável! — John brada.
— John — Grace o repreende.
— Foi mal, joaninha, você sabe que eu nunca trato nenhuma garota
assim, mas não tem outra palavra que descreva essa desgraçada!
— Eu preciso concordar com o John nessa, Elsa — diz Trevor,
colérico.
Olho para Casey de soslaio, só para ter certeza de como ela está se
sentindo com tudo isso. Eu sei que ela não concorda com o que Anna está
fazendo e que elas não são próximas, mas não sei como ela se sente com
outras pessoas xingando a garota com quem ela cresceu. Casey parece
normal, no entanto. Se ela está incomodada, está fazendo um ótimo trabalho
em esconder.
— Eu posso tentar falar com a Bethany. Ela costumava ser a melhor
amiga da Anna — sugere Antonella, pensativa. — Beth é bem legal e bem
diferente da cobra que ela chamava de melhor amiga, então acho que
podemos confiar nela para depor em favor do Colin.
Bethany e eu já nos envolvemos algumas vezes, nada sério, só
diversão para ambos, e como Antonella pontuou, Beth é de fato uma garota
bem legal. Eu só não sei se Anna já não a convenceu de depor a seu favor. E
se fez isso, eu não quero que ela saiba o que estou fazendo. Não quero dar
qualquer vantagem para Anna.
— Eu prefiro focar a minha atenção em conseguir convencer as
enfermeiras e a médica que fizeram o parto da Kiara, já que a Anna estava se
recusando a fazer cesárea porque não queria uma cicatriz. Eu acho que ficou
bem claro para todo mundo ali que a prioridade da Anna não era e nem
nunca foi a Kiara — argumento.
Vejo Trevor concordando com a cabeça.
— Você pode contar com a minha ajuda, cara. Eu vou depor. E no
que depender de mim, a Anna não vai nem olhar para a Kie de novo.
— Obrigado, Trev.
— Eu acho que você e Trevor deveriam ir ao hospital juntos falar
com esse pessoal. Vai ter muito mais impacto se forem os dois — planeja
Grace, pensativa.
Assinto.
— Obrigado por tudo, galera. Eu… — Esvazio o ar dos pulmões. —
Sei lá, eu sei que parece óbvio que a escolha mais sábia e mais óbvia é
deixar Anna o mais longe possível da minha filha, mas estou apavorado que
talvez o juiz escolha dar a ela uma chance, mesmo que seja para ficar com
Kiara só por algumas horas, uma vez na semana. — Passo as mãos pelos
cabelos. — Eu não confio na Anna.
Há um momento de silêncio, provavelmente porque todo mundo está
pensando a mesma coisa, sentindo o mesmo medo. A justiça nem sempre faz
o melhor dos trabalhos, nem sempre é realmente justa e eu tenho certeza de
que Anna vai bancar a coitadinha para o juiz, só para me atormentar, porque
no final das contas é isso o que ela quer: me deixar maluco para que eu
concorde com as condições absurdas que ela impôs. Mas eu sei muito bem
como isso vai terminar. Se eu ceder uma vez, ela sempre vai achar que pode
me chantagear por mais. Eu não vou viver a minha vida nesse joguinho
doentio. Eu quero me livrar dela de uma vez por todas e o mais rápido
possível.
— Vamos confiar que vai dar tudo certo, Colin — diz Aurora,
quebrando o silêncio. — Energia é uma coisa poderosa. Não vamos começar
já pensando que vai dar errado.
Aaron concorda.
— Aurora tem razão. Vamos manter a calma e pensar nas coisas com
cuidado. Eu realmente não acho que Anna tenha muitas chances aqui, mas
não vamos subestimá-la. Vamos ser mais espertos do que ela.
Respiro fundo em uma tentativa de controlar a ansiedade e o
nervosismo que todo esse assunto está me gerando. E Casey provavelmente
percebe o meu estado de humor, pois ela entrelaça os seus dedos no meu e
aperta. Um aperto sútil, mas com força o suficiente para que ela me deixe
saber que eu não estou sozinho e que vamos encontrar uma maneira de tudo
ficar bem de novo.
E eu confio nela como tenho feito desde o dia em que a conheci.
Kiara está dormindo no berço quando eu volto para casa. Casey me
perguntou se eu gostaria que ela viesse comigo, mas acho que preciso de um
tempo sozinho com a minha filha. Tudo tem sido tão corrido ultimamente
que eu nem me lembro a última vez que tive um tempo realmente sozinho
com Kiara.
Eu não quero que isso soe como se eu estivesse me despedindo da
minha filha, porque apenas a ideia disso me deixa sem ar. Eu não posso
perdê-la. Eu não vou perdê-la.
Meu pai disse que Kie está dormindo há quase três horas, então eu
decido acordá-la para que ela possa se alimentar e tomar um banho.
Dei a noite de folga para os meus pais, para que eles pudessem ter
um tempinho só para os dois. Eles têm me ajudado tanto com tudo que eu
nem saberia por onde começar a agradecer. Sei que eventualmente eles vão
voltar para Raleigh e eu vou precisar me virar sozinho com Kiara, mas agora
que ela está um pouquinho maior, tem se tornado mais fácil. O pânico que eu
sentia antes, por ser uma situação completamente nova e eu não ter qualquer
experiência no assunto, ficou para trás. Hoje eu consigo cuidar da minha
filha sem ajuda.
É claro que vai ser insano conciliar um bebê, a faculdade e os treinos,
mas eu tenho amigos que sei que posso contar.
Eu vou ficar bem.
Nós vamos ficar bem.
Com gentileza, eu acordo Kiara. Ela resmunga um pouquinho e se
recusa a abrir os olhos. Eu tenho a impressão de que ela vai ser super
teimosa quando crescer, pois eu já consigo ver traços de teimosia desde
agora e ela é apenas um bebê.
— Hora de acordar, princesa — eu falo baixinho. — Você não está
com fome?
Coloco minha mão em cima da barriguinha de Kiara e a balanço de
leve, para que ela de fato acorde.
— Oi, dorminhoca.
Quando os seus olhinhos verdes finalmente se abrem e ela olha para
mim, eu juro por Deus que um pequeno sorriso se forma nos lábios dela e
isso é o suficiente para me deixar emocionado, já que já me sinto com os
nervos à flor da pele ultimamente.
— Oi, meu amor — eu continuo conversando com ela antes de pegá-
la no colo e me sentar na cadeirinha que fica no canto do quarto. — Vamos
jantar?
Eu acomodo Kiara no meu colo e ofereço a mamadeira para ela.
Desde que troquei a fórmula antiga por uma especial, para que ela tenha
todas as vitaminas e nutrientes que precisa por não estar mamando no peito,
Kiara tem comido um pouco menos, pois ela fica satisfeita mais depressa.
Ela também ganhou peso, o que me deixa aliviado.
Enquanto toma a sua mamadeira, Kie mantém os olhos verdes nos
meus. Uma das mãozinhas está em cima da minha, segurando a mamadeira.
Ela faz uns barulhinhos muito fofos quando está comendo e eu não me dei
conta do quanto sentia falta disso até esse momento.
— Eu te amo, Kiara, você sabe disso, não é? — converso baixinho,
usando a mão livre para fazer carinho na minha filha. — Papai não vai
deixar nada de ruim acontecer com você. Eu prometo.
Sei que Kiara não entende a complexidade do que estou prometendo,
mas ela agarra o meu dedo indicador, fechando a mãozinha pequena sobre
ele. Talvez eu esteja doido, mas vou interpretar isso como ela dizendo que
sabe que eu a amo e vou protegê-la. Vou interpretar isso como Kiara dizendo
que confia em mim.
Depois que minha filha termina de mamar e arrotar, eu a levo para o
meu quarto, me sento no meio da cama, com as costas encostadas na
cabeceira, e ligo a televisão no canal de desenhos. Decido que é uma boa
ideia esperar ela fazer digestão antes de tomar banho.
Quarenta minutos depois, eu me dou conta de que os desenhos de
antigamente são muito melhores, mas Kiara parece gostar, pois não
desgrudou os olhos da televisão. E sinceramente, mesmo que eu não tenha
me interessado muito pelos desenhos, eu vou continuar assistindo com ela,
todos os dias. Darei início a essa tradição para que, no futuro, nós possamos
trocar esses desenhos por filmes e então nós dois sempre teremos um
momento só nosso.
Depois que coloquei Kiara para dormir na noite passada, passei
praticamente o resto da madrugada pensando em tudo o que está
acontecendo e como eu poderia garantir que Anna não conseguiria
convencer o juiz com a falsa alegação de depressão pós-parto. Se eu tivesse
certeza absoluta de que esse é o caso, de que ela não estava em seu juízo
perfeito quando abandonou Kiara, de que ela tem qualquer afeto direcionado
à minha filha, com certeza eu não impediria Anna de ter contato com Kiara,
mas a essa altura, todo mundo conhece Anna o suficiente para saber
exatamente as intenções dela. Eu não tenho nada que prove que ela é uma
tremenda mentirosa, além da minha palavra e da de Trevor. Não sei se isso
será suficiente para convencer um juiz, caso ela tenha um laudo médico de
comprove a depressão pós-parto.
Eu sei que Anna não estava doente, mas sei também que há pessoas
corruptas em todos os âmbitos de trabalho existentes. Eu não me
surpreenderia se ela tivesse encontrado um médico para forjar um laudo.
Não vou cometer o erro de subestimá-la, porque sei que ela não tem nada a
perder e pessoas que não tem nada a perder são perigosas.
Eu preciso de algo mais concreto do que apenas o meu depoimento e
o de Trevor. Mesmo que a médica que fez o parto de Kiara seja intimada a
depor, eu ainda não sei se isso será o suficiente. E tendo o bem-estar da
minha filha em jogo, eu não quero correr nenhum risco.
— Você tem certeza disso? — Trevor pondera, olhando para o prédio
à nossa frente com um olhar pensativo. — Isso pode acabar sendo um erro,
Colin.
— Eu sei, mas também pode acabar sendo o que vai garantir o bem-
estar da Kie. Eu estou disposto a arriscar.
Trevor concorda com a cabeça.
—Me espera aqui… não acho que isso vai demorar mais do que
alguns minutos — ele diz, saindo do carro.
Assinto.
Trevor atravessa a rua e entra no prédio. Para passar o tempo, eu
tento ouvir música, mas estou tão agitado que não encontro uma maneira de
simplesmente parar quieto. Minhas pernas se movem o tempo todo, eu
tamborilo os dedos no volante, assobio uma música inteira e observo as
pessoas andando nas ruas, vivendo suas próprias vidas e me pergunto se elas
estão passando por situações tão caóticas como a que eu estou vivendo.
Os minutos passam como se fossem horas, mas sei que isso tem mais
a ver com a minha ansiedade e a minha angústia em esperar do que com a
real passagem de tempo. É engraçado como o tempo é sempre uma
constante. Ele nunca acelera e nunca reduz, mas nós temos uma percepção
equivocada do tempo em muitos momentos. Podemos sentir que as horas
passaram voando, sem que nem nos déssemos conta, como também podemos
sentir que uma hora parece interminável. Mas no final das contas, o tempo
passa igual em ambas as situações.
Loucura né?
Ou talvez eu esteja ficando louco e filosofando sobre coisas sem
sentido em uma tentativa desesperada de manter a minha mente ocupada,
para que eu não tenha que pensar se Trevor está sendo bem-sucedido no
nosso plano ou se isso só vai prejudicar ainda mais as minhas chances de
provar que Anna não passa de uma mulher dissimulada e mentirosa.
Quando vejo Trevor saindo do prédio, a minha ansiedade alcança
níveis descomunais. Eu preciso me controlar para não sair do carro e
encontrar ele no meio do caminho só para perguntar como que foi.
— E aí? — indago no instante que Trevor abre a porta da
caminhonete.
Ele sorri.
— Eu acho que o que acabamos de fazer é errado, então vamos usar
apenas em último caso. Mas a menos que Anna tenha uma carta na manga
que não antecipamos, eu acho que você não tem motivos para se preocupar,
Colin.
Respiro aliviado, instantaneamente me sentindo um pouco mais
tranquilo. É claro que eu só vou relaxar de verdade quando isso acabar, pois
como Trevor mesmo disse, Anna ainda pode ter uma carta na manga que não
conseguimos antecipar.
— Obrigado, Trev. Eu sei que isso não foi fácil para você.
— Isso não está sendo fácil para nenhum de nós há muito tempo,
Colin. Mas talvez esse pesadelo finalmente chegue ao fim com essa
audiência.
Anuo.
— Eu realmente espero que você esteja certo.
— Eu também. — Ele suspira. — Vamos embora.
No caminho de volta para casa, a conversa toma um rumo
completamente diferente
— A galera estava programando uma festa de Halloween atrasada
pra você — Trevor fala de repente. A revelação me faz franzir o cenho em
confusão.
— O quê? Por quê?
— Você estava em coma quando o Halloween aconteceu, então os
caras do time concordaram em adiar a festa que organizamos todo o ano para
esperar até que você acordasse, mas agora eu não sei se há clima para isso.
Isso me deixa surpreso. A festa de Halloween do time de hóquei de
Paradise é uma das mais famosas do ano, então me surpreende que o time
tenha escolhido adiar por minha causa. Eu imagino que haja certo sentido
nisso, mas realmente não estava esperando. Tudo tem sido tão corrido desde
que eu acordei do coma que eu esqueci completamente que o Halloween já
havia passado e nós já estamos no meio de novembro.
— Faça a festa. Eu não acho que eu deva participar. Não com tudo o
que está acontecendo. Não quero dar qualquer motivo para Anna usar contra
mim, então acho que estar em uma festa agora não iria parecer muito bom
para mim — argumento. — Mas faça a festa. A galera espera por isso o ano
todo, Trev. Eu agradeço de verdade por vocês terem adiado por minha causa,
mas eu não vou poder participar de qualquer forma.
Ele assente, entendendo.
Tenho certeza de que Anna ainda deve manter contato com algumas
das amigas da universidade e a última coisa que eu preciso é que ela use isso
contra mim na audiência. Eu consigo até imaginar ela dizendo ao juiz que
deixei Kiara com os meus pais para participar de uma festa universitária. Eu
não vou dar esse tipo de vantagem para ela.
Sei que deixar Kiara com os meus pais de vez em quando para que eu
também tenha tempo para mim não é ruim, mas eu sei como isso vai parecer
para o juiz. Principalmente se eu estiver metido em uma festa poucos dias
antes de uma audiência dessa importância.
— Eu imaginei que você diria isso. Tudo bem, vou falar com os
caras. — Trevor coloca uma mão sobre o meu ombro. — Nós vamos
conseguir que a justiça fique do nosso lado, cara. Só por cima do meu
cadáver vou deixar a Anna levar a Kie.
Eu balanço a cabeça e coloco uma mão sobre o ombro de Trevor.
— Obrigado, Trev. Por tudo.
Ele dá um curto aceno de cabeça.
Tudo o que posso esperar agora é que Trevor esteja certo e tudo
acabe exatamente do jeito que estamos esperando.
Capítulo 26

E machuca, sei que você está machucado, mas eu também estou


E amor, se suas asas estiverem quebradas
Pegue as minhas empreitadas para que as suas possam abrir também
Porque eu vou ficar ao seu lado
Mesmo se estivermos desmoronando
Podemos encontrar uma maneira de superar
Mesmo se não encontrarmos o céu
Vou andar com você pelo inferno
Amor, você não está sozinho
| Rachel Platten – Stand By You

— Como o Colin está? — Grace pergunta, mas não sei se está


falando comigo ou com a Aurora, enquanto esperamos Antonella encontrar a
garrafa de vinho que ela tem certeza de que está em algum dos armários da
cozinha.
As festas do pijama no apartamento de Antonella acabaram de fato
virando uma constante, e a cada uma delas, eu me sinto ainda mais à vontade
com as meninas; me sinto cada vez mais parte do grupo. A certeza de que
elas estarão lá por mim em algum momento que eu precise do futuro, cada
vez mais se assenta no meu peito, fazendo morada.
— Eu falei com ele ontem à noite — Aurora conta. — Ele disse que
está bem, mas Colin tem a péssima mania de querer parecer forte. Acho que
ele puxou isso do pai. O Tio D sempre quer se manter forte para a família,
mesmo quando ele está morrendo por dentro.
Eu já reparei que Colin tem mesmo a tendência de fazer isso, mas é
bom saber com certeza para que eu não acredite totalmente quando ele disser
que está tudo bem.
— Eu falei com ele hoje de manhã e ele me disse a mesma coisa —
conto. — Que eu não precisava me preocupar, mas quando perguntei se
podia passar lá para vê-lo, ele disse que queria ficar sozinho com Kiara.
— Não podemos culpá-lo por estar com medo — diz Antonella,
finalmente aparecendo com a garrafa de vinho. — Eu estaria apavorada
também.
Nós todas assentimos.
— Vamos dar a ele o tempo que ele precisa para processar tudo isso
— Grace sugere. — Não adianta ficarmos em cima dele porque corremos o
risco de deixar o Colin mais sobrecarregado do que ele já está.
— Não consigo acreditar que Anna está fazendo tudo isso por
dinheiro. Quer dizer, se ela conseguir a guarda compartilhada, o que ela
pretende fazer? Porque com certeza cuidar da Kiara não é o que ela quer —
penso em voz alta. — Se eu não estou errada, tem oficiais de justiça que
acompanham esse tipo de processo de perto, certo? Qualquer pessoa
conseguiria ver que a Kie não estaria sendo bem-cuidada com ela.
As meninas dão de ombros em sincronia.
— Acho que Anna não pensou tão adiante, já que ela só está fazendo
tudo isso para torturar o Colin — diz Grace.
— Juro por Deus que eu nunca quis dar na cara de alguém tanto
quanto eu quero dar na cara dessa garota — Antonella se revolta. — Vocês
sabem que eu sou super defensora de sonoridade e acho que rivalidade
feminina é a coisa mais idiota já praticada na história, mas essa garota…
Não dá para ser razoável com ela.
— Eu sinto vergonha de ser relacionada com ela de alguma forma —
admito.
— Você não é nada como ela, Case. E ninguém está comparando
vocês duas, então não se preocupe com isso — Aurora me tranquiliza com
um sorriso.
Eu sorrio de volta para ela.
— Obrigada.
— Será que podemos mudar de assunto? — Antonella sugere,
abrindo a garrafa de vinho e enchendo as nossas taças. — Eu preciso contar
uma coisa para vocês.
O clima automaticamente muda, porque nós não passamos de um
grupo incurável de fofoqueiras.
— Somos todo ouvidos — Aurora fala, sorridente.
Antonella solta um suspiro, como se já antecipasse que vai se
arrepender de nos contar.
— Luca e eu tivemos um momento… esquisito no dia da festa de
Halloween.
Os garotos organizaram a festa de Halloween do time logo depois
que Colin deu o aval. Eu escolhi não ir, pois queria ficar com ele e mostrar o
meu apoio com tudo o que está acontecendo. Então nós ficamos na casa
dele, assistindo filmes com Kiara dormindo no peito de Colin. E ficou claro
para mim que aquele era o nosso pedacinho do paraíso.
— O que você quer dizer com momento esquisito?
Antonella balança a cabeça como se nem ela entendesse.
— Às vezes eu acho que Luca gosta de me provocar de propósito,
mesmo que isso não faça sentido, porque não é nem um pouco do feitio dele
se dar a esse trabalho. Mas quando eu provoco de volta, ele fica irritado. —
Ela balança a cabeça de novo. — Todas as minhas interações com ele, desde
que consigo me lembrar, são sempre confusas.
Aurora franze o cenho.
— Desde que você consegue se lembrar? O que isso significa?
— Luca e eu crescemos juntos dentro da mesma comunidade
italiana. Teve uma época que fomos próximos, mas não durou muito. Não
sei dizer se posso considerar que fomos amigos, porque não acho que fomos.
Sei lá. Tudo que envolve ele sempre foi confuso.
Grace olha para a melhor amiga com a mesma expressão de confusão
que Aurora e eu mostramos.
— Você nunca me disse que vocês se conhecem desde crianças.
Antonella dá de ombros.
— Nunca foi relevante até agora, eu acho — ela diz simplesmente.
— Nós nunca mais interagimos depois que crescemos, mas quando você
começou a namorar o Trevor, ficou mais difícil ignorar ele, já que agora
parece que Luca está em todos os lugares que nós também estamos.
Eu e as garotas trocamos um olhar carregado de significado.
— Como exatamente ele te provocou? — pergunto.
— Não importa. Eu só queria dizer para vocês que adoraria que toda
essa fanfic que vocês criaram entre nós dois não fosse mais mencionada. Eu
não quero o Luca na minha vida. Não importa o quanto ele me deixe confusa
e curiosa, entrar nesse jogo vai me machucar e eu já tenho problemas o
suficiente. Então, será que podemos esquecer esse cara de uma vez por
todas?
Fica evidente que tem mais coisa aí do que Antonella está nos
contando, mas também fica claro a seriedade do seu pedido. Sempre que
mencionamos os dois juntos, por mais que ela revirasse os olhos e garantisse
que estávamos doidas de sequer considerar, ela nunca fez um pedido
expresso para que parássemos. Nada como o que acabou de pedir.
— Tudo bem — Grace diz, acatando o pedido da melhor amiga. —
Não vamos mencionar mais nada, certo, meninas?
Aurora e eu assentimos.
— Claro — digo.
— Não está mais aqui quem falou — completa Aurora.
Antonella dá um sorriso breve.
— Obrigada, amigas. — Ela solta o ar dos pulmões. — O que vocês
acham de continuarmos assistindo “A Vida Sexual das Universitárias”?
— Você leu a minha mente, Ella. — Grace sorri, pegando o controle
remoto e ligando a televisão.

Colin tem vivido os últimos dias com a ameaça da audiência


pendendo sobre a sua cabeça. Ele está tão preocupado com o que Anna pode
estar aprontando, com a possibilidade de ela estar vigiando o que ele está
fazendo para poder usar as ações dele contra ele, que Colin mal está
dormindo ou comendo. Ele tem vivido os dias como um zumbi desde que
recebeu a notícia que teria que enfrentar Anna perante um juiz. Isso está
acabando com ele. Então, um dia antes da tão temida audiência, Sophie
entrou em contato comigo e pediu que eu fosse até a casa deles para fazer
companhia para Colin, na esperança que eu consiga fazê-lo relaxar um
pouco. Ficar nesse estado de angústia não vai ajudá-lo amanhã.
Não é que Colin tenha me afastado, mas eu senti que ele precisava de
um tempo para colocar a cabeça no lugar, então dei esse tempo a ele.
Derek é quem abre a porta de casa para mim. Nós trocamos meia
dúzia de palavras, mas consigo ver no rosto dele que a angústia é
generalizada. Não está apenas em Colin e sei que não está só na família
deles também. A Grace disse, quando falei com ela essa manhã em uma
ligação em grupo com as meninas, que o Trevor está uma pilha de nervos.
Todo mundo está preocupado.
Subo as escadas depressa e sigo pelo corredor até o quarto de Colin.
Bato sutilmente na porta e espero que ele me dê autorização para entrar, mas
não ouço nada do outro lado da porta. Penso em descer e perguntar para
Derek e Sophie se eles têm certeza de que Colin está em casa, mas então
tenho a ideia de checar o quarto de Kiara primeiro. Talvez ele esteja lá.
A porta está entreaberta, então eu a empurro só um pouquinho e
coloco a minha cabeça para o lado de dentro.
— Colin? — chamo baixinho, pois não quero correr o risco de
acordar Kiara, caso ela esteja dormindo.
Encontro Colin sentado na poltrona de amamentação, com Kiara em
seus braços. A cena parte o meu coração, pois ele está chorando e segurando
a filha como se pudesse protegê-la de Anna.
— Ah, Colin — eu lamento quando me aproximo devagarinho.
Ele segura Kiara em seus braços, apertando-a um pouquinho mais
contra o seu corpo. Ela não parece incomodada, no entanto. Uma de suas
mãozinhas está espalmada na bochecha de Colin enquanto ela morde e baba
na outra bochecha. Ele parece se importar menos ainda com isso.
— Eu sei que eu não deveria me preocupar tanto, porque sei que
tenho como provar que ela é uma pessoa horrível e que deixar a minha filha
com ela não é seguro, mas a essa altura eu já nem sei mais do que Anna é
capaz — ele balbucia, atormentado. — E se ela tiver alguma arma secreta ou
sei lá?
Me sento no braço da poltrona e passo meu braço ao redor dos
ombros de Colin, tentando mostrar apoio.
— Não vamos permitir que ela consiga coisa alguma — eu prometo a
ele. — Você mesmo disse que tem como provar que ela não é o melhor para
Kiara e Trevor também vai depor amanhã, isso vai fortalecer a história ainda
mais. Acredite, você tem mais pessoas a seu favor do que ela jamais terá.
Confia que vai dar tudo certo.
Ele balança a cabeça, mas é perceptível que ainda está afundando em
desespero.
— Coloque Kiara para descansar e vem comigo — eu peço, fazendo
carinho nos cabelos dele, procurando uma forma de reconfortá-lo e acalmá-
lo, mesmo sem saber se isso é realmente possível a essa altura. — Vem, por
favor.
Sei que ele não quer se separar de Kiara agora, mas se Colin não
distrair um pouco a cabeça, vai ficar maluco, provavelmente não vai dormir
e estará destruído para a audiência amanhã. Ele precisa passar uma boa
imagem para o juiz, e para isso precisa estar com a cabeça no lugar.
Depois de colocar Kiara no berço, ligar os ruídos brancos e esperar
que ela caia no sono, eu seguro a mão de Colin e o puxo suavemente até o
seu quarto. Fecho a porta atrás de nós antes de envolver o corpo dele,
abraçando-o. Colin imediatamente me abraça de volta, apoiando o queixo no
topo da minha cabeça. Não sei dizer quanto tempo ficamos parados ali,
abraçados enquanto ele choraminga baixinho e meu coração se parte por ele.
Eventualmente, nós deitamos na cama. Pensei em sugerir que assistíssemos
um filme, já que isso é meio que uma coisa nossa, mas não quero que Colin
fique na frente da televisão, olhando para a tela enquanto a sua mente vaga
para longe. Portanto, faço a única coisa que consigo pensar que talvez tire a
mente dele totalmente da realidade. Eu o beijo.
Começo com um leve encostar de lábios para ver como ele vai
responder, e quando Colin me beija de volta, sei que posso continuar. Grudo
meus lábios nos dele e Colin puxa o meu corpo para mais perto, enfiando os
dedos entre os fios do meu cabelo. Sinto a ponta da sua língua pedindo
passagem, e eu concedo, deixando um gemido escapar assim que sinto o
toque da língua dele na minha. E o beijo que começou sútil e lento, agora é
forte e urgente. Colin puxa o meu corpo para cima do dele e guia suas mãos
até a minha bunda, apertando-a com força. O meu corpo instintivamente
começa a se movimentar assim que eu sinto o pau dele crescendo entre nós
dois. Eu me acomodo no seu colo de forma que consiga rebolar bem em
cima de onde o seu volume cresce e cresce.
Ele grunhe e no momento seguinte, nós já estamos nos livrando das
nossas roupas, deixando-as espalhadas pelo chão do seu quarto. Quando
estamos nus, Colin volta a me puxar para cima do seu corpo. Por um longo
minuto, ele apenas olha para mim. E quando uma mecha do meu cabelo cai
sobre o meu rosto, Colin a segura e a prende atrás da minha orelha. O toque
é tão suave que em conjunto com a forma como ele me olha, me emociona.
— Você é linda — ele murmura, os olhos brilhando. — Parece que
não tenho dito isso a você ultimamente, mas eu aprecio tudo o que você fez
por mim e pela minha filha desde que nos conhecemos. E dadas as
circunstâncias, eu acho que nós dois estávamos destinados a nos conhecer.
Faço um carinho de leve no rosto dele enquanto sorrio.
— Acho que uma parte de mim talvez deveria agradecer à Anna por
indiretamente ter colocado você na minha vida. Acho que essa é a única
coisa boa que ela já fez.
— E só é boa porque foi uma ação involuntária — brinca Colin, mas
eu consigo detectar o ressentimento e a raiva na voz dele.
Eu o beijo de novo.
— Não quero falar sobre ela agora — digo. — Você lembra quando
fizemos aquele acordo, onde você me convenceu a ir para a tal festa de
“qualquer coisa, menos roupa”?
Colin confirma com a cabeça.
— Eu te disse que em troca queria uma coisa, mas eu nunca cheguei
a realmente pedir. Mas vou pedir agora. Eu quero que você me beije e faça
amor comigo até nós dois estarmos sem fôlego e exaustos. Acha que pode
fazer isso, Mackenzie?
Pela primeira vez essa noite, ele sorri.
— Como se fosse um imenso sacrifício fazer amor com você. — Ele
me beija. — Será um prazer imenso estar dentro de você de novo, minha
linda.
Meu corpo é tão absurdamente responsivo ao Colin que chega a ser
vergonhoso. Basta que eu o escute falando uma sacanagem aqui e ali para
que todos os pelos do meu corpo fiquem arrepiados.
Ele não me dá chance de falar qualquer coisa antes de juntar os
lábios dele nos meus de novo. É indescritível a sensação de receber os beijos
dele. Colin emana uma mistura de fofura e segurança que acho
absurdamente sensual. Parece que a cada beijo ele quer que eu saiba que
estou segura com ele, que ele vai respeitar o meu corpo, as minhas vontades
e o meu tempo, mesmo que isso signifique desacelerar o ritmo dele. E isso
só me faz o querer mais a cada beijo, a cada toque, a cada troca de olhar e a
cada conversa.
Eu nunca senti isso com ninguém antes.
E sinceramente, eu acreditava que o amor que nós vemos nos livros e
nos filmes só existe para que nos decepcionemos com os amores da vida
real. Porque nunca é tão perfeito, os problemas nunca são solucionados
rapidamente e definitivamente como os livros e os filmes nos fazem
acreditar.
No entanto, Colin Mackenzie tem me mostrado que mesmo que não
seja sempre perfeito e os problemas continuem aparecendo, o amor é sempre
algo pelo que vale a pena lutar. É algo que vale a pena acreditar.
Colin gira os nossos corpos na cama de forma que agora eu estou
por baixo. Eu me lembro de dizer a ele que prefiro ficar por cima, mas eu
também lembro de ele me prometer que, assim que saísse do período de
repouso, ele iria me foder. Eu honestamente estou torcendo por isso, pois eu
senti saudade dele nesses últimos dias que estivemos afastados.
Mas agora eu não quero pensar em absolutamente nada disso. Nesse
momento, eu quero esquecer o restante do mundo e só me importar com o
que acontece dentro desse quarto, nessa cama. Porque a cada segundos que
estamos aqui, mais um pedacinho do meu coração se apaixona por ele. E
mesmo que nós não tenhamos dito as três palavras ainda, eu sei que o
sentimento é mútuo. Eu sinto em cada interação que temos um com o outro.
— Eu te fiz uma promessa, lembra? — Colin pergunta com a voz
áspera e rouca de tesão enquanto eu sinto o seu pau brincar com a entrada da
minha boceta.
— Lembro — respondo em um sussurro. — E eu espero que você
esteja pronto para cumprir.
Colin sorri com safadeza deslizando pelo repuxar dos seus lábios.
— Essa é a minha garota. — Ele me beija de novo, feroz e faminto.
Seus lábios não permanecem nos meus por muito tempo, no entanto.
Colin deposita beijos pelo meu queixo e depois pela minha clavícula até
chegar aos meus seios. Com a língua, Colin brinca com o meu mamilo
enrijecido enquanto os seus dedos brincam com o mamilo do meu outro seio,
beliscando e puxando exatamente como os seus dentes e os seus lábios
fazem.
Eu gemo, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos para sentir
mais intensamente a pulsação de prazer que cresce entre as minhas pernas
logo depois de atravessar todo o meu corpo.
Santo Deus.
Colin lambe o meio dos meus seios e continua lambendo a minha
pele até que seus lábios cheguem nos meus de novo.
— Eu amo o cheiro da sua pele — ele murmura com a boca colada
na minha. — E esses peitos deliciosos. — Colin segura ambos os meus seios
como se precisasse ilustrar.
Ergo o meu quadril, em um pedido silencioso para que Colin entre
em mim. As preliminares, por mais que eu as adore, não são o que eu quero
essa noite. Eu quero sentir de novo a sensação dele me preenchendo.
Ele sorri quando entende a minha mensagem.
— A sua ordem é o meu desejo, Case — ele diz, e eu penso em dar
uma risadinha da forma invertida que ele trabalhou a frase, mas Colin me
arrebata completamente ao dizer: — Fica de quatro para mim.
Ah caramba, ele não precisa me pedir duas vezes.
Eu com certeza sou o tipo de garota que gosta de fazer amor, algo um
pouco mais tranquilo e com mais conexão emocional, mas eu
definitivamente também sou o tipo de garota que gosta de algo mais
primitivo.
Me ajeito na cama, ficando de joelhos enquanto ajeito os travesseiros
para que eu possa colocar minha cabeça neles. Colin vem por trás de mim,
enfia as mãos no meu cabelo e puxa meu corpo para cima de forma que
minhas costas estão contra o peito dele agora.
— Você vai precisar ser bem quietinha. Não queremos que meus pais
nos escutem, certo? — Colin me lembra de que não estamos sozinhos em
casa. Droga.
Algo sobre a forma como ele comanda a situação e como parece que
estamos de volta à adolescência, transando escondido dos nossos pais, deixa
tudo ainda mais emocionante.
Eu confirmo com a cabeça e Colin morde o lóbulo da minha orelha,
fazendo o meu corpo inteiro estremecer pelo arrepio que percorre a minha
coluna.
— Empina a bunda para mim, Case — ele sussurra no meu ouvido.
Abaixo o meu corpo, empino a minha bunda e deito a cabeça nos
travesseiros à minha frente. Colin aperta ambas as minhas nádegas antes que
eu sinta o seu pau provocando a minha entrada. Eu estou prestes a
movimentar o meu corpo para trás para que ele entre, mas Colin faz isso por
mim, dando uma estocada rápida e funda, que me pega um pouco de
surpresa mesmo que eu realmente estivesse esperando por isso.
Eu abafo um gemido no travesseiro.
Colin não se movimenta tão rápido quanto eu gostaria,
provavelmente para evitar que a cabeceira da cama bata na parede e chame a
atenção para o que estamos fazendo, mas me surpreendo ao perceber que
gosto de um ritmo um pouco mais lento. Parece que não estamos com
pressa, o que faz com que a espera pelo orgasmo seja ainda mais alucinante.
Mesmo que nossos movimentos não sejam rápidos, mesmo que não
cheguemos a adentrar o frenesi que o sexo pode causar, a forma como Colin
toca o meu corpo e se movimenta dentro de mim é insuportavelmente
excitante, o que me obriga a enfiar o rosto nos travesseiros para não gemer
alto quando o orgasmo me alcança sem permissão. Meu corpo treme ainda
mais ao ouvir Colin gemendo sôfrego. O autocontrole dele é muito melhor
do que o meu, provavelmente porque ele dividia a casa com outras pessoas
antes de estar nessa casa com os seus pais. Isso com certeza o deixou bem
treinado.
Quando o orgasmo permite que eu remote o controle do meu próprio
corpo, eu estendo o meu braço por baixo do meu corpo e alcanço as bolas de
Colin, brincando com elas para incentivá-lo a gozar.
— Caralho, Case! Porra! — ele geme baixo, e involuntariamente
mete mais rápido. Ai caramba, eu acho que posso gozar de novo se ele levar
mais um tempinho para alcançar o próprio prazer.
Com um último impulso para dentro, Colin goza enquanto geme
baixinho. Seu corpo cai em cima do meu por alguns segundos e confesso que
gosto do contato das nossas peles suadas.
— Porra, isso foi ótimo — ele ofega.
Eu não confio na minha própria voz agora, então apenas confirmo
com a cabeça.
Colin movimenta nossos corpos na cama de forma que agora estamos
deitados, com o braço dele sob o meu pescoço e a minha cabeça apoiada no
seu peito. Por alguns minutos, nós não falamos nada, apenas trabalhamos em
corrigir nossa respiração e desacelerar os batimentos cardíacos.
— Obrigado — Colin fala de repente.
Ergo a minha cabeça para encará-lo.
— Pelo quê?
— Por tudo — ele diz simplesmente. — Você foi a melhor coisa que
poderia ter acontecido comigo depois do nascimento da Kie. Eu só queria
que você soubesse disso.
Eu sorrio, sentindo meu coração voltar a ficar acelerado, mas por um
motivo completamente diferente agora.
— Você também foi a melhor coisa que poderia ter acontecido
comigo, Colin. Eu me sinto em casa quando estou com você e nunca mais
senti essa sensação desde que a minha mãe morreu.
Ele me abraça com um pouco mais de força.
— Você sempre terá um lar comigo, Casey.
Preciso respirar fundo para não começar a chorar, porque eu acho
que essa foi a coisa mais linda que alguém já disse para mim.
— E se ainda não ficou claro… eu te amo.
Não impeço quando uma lágrima rola pela minha bochecha.
— Eu também te amo, Colin.
Ele sorri, e com delicadeza volta a grudar os seus lábios nos meus.
Capítulo 27

Me segurando como refém, usando essas palavras


Elas têm gosto de veneno
É veneno na sua voz, sim, sim
| BONES – My Heart, It Hurts (ft. Char)

Meu corpo inteiro está tremendo de nervosismo quando chegamos ao


local onde a audiência vai acontecer. E, infelizmente, a primeira pessoa que
eu vejo ao chegar é Anna. Ela está bem arrumada, em um vestido branco que
poderia parecer inocente, se eu não soubesse quem ela realmente é. Claro
que ela vai passar de boa moça para o juiz e tentar me fazer ser o vilão da
história, mas não vou permitir de maneira nenhuma que ela me coloque
nesse papel.
Depois de ter Casey comigo na noite anterior, eu finalmente consegui
dormir um pouco, o que foi maravilhoso para que eu acordasse melhor essa
manhã. Agora, todo o meu foco está em garantir que Anna não consiga nada
aqui.
Assim que me vê, Anna sustenta o meu olhar e dá um sorrisinho na
minha direção. Um sorriso que não tem nada de amigável. É puro veneno,
porque ela sabe que a última coisa que eu queria era estar aqui, correndo o
risco de ter que compartilhar a guarda de Kiara com ela. No entanto, eu não
deixo que ela me intimide. Sorrio de volta para ela da forma mais arrogante
que consigo. Mesmo de longe, vejo quando o cenho dela se franze
sutilmente por não entender o motivo de eu estar sorrindo de volta.
Que bom.
Talvez eu tenha conseguido abalar um pouquinho da confiança dela.
Talvez agora ela ache que eu tenho uma carta na manga, como de fato tenho.
Afinal de contas, eu sou filho do meu pai.
— Venha, querido, vamos nos preparar — diz minha mãe, tocando o
meu ombro para chamar a minha atenção.
Eu desvio os olhos de Anna e sigo minha mãe para uma sala de
espera, onde devemos ficar até o juiz nos chamar.
— Escute bem, Colin, quando o juiz te fizer uma pergunta, responda
apenas o que ele perguntar. Sei que nós somos os mocinhos e não os vilões,
mas não tente dar uma resposta maior do que o necessário para não correr o
risco de se enrolar. Dê respostas curtas e firmes — minha mãe me orienta,
entrando no seu modo profissional. — E haja o que houver, não perca a
cabeça. Mesmo que pareça impossível se segurar, tente não se alterar e
confie em mim.
Assinto.
— Eu confio, mãe.
Ela sorri para mim, orgulhosa.
— Sempre se refira ao juiz como Meritíssimo ou Vossa Excelência e
quando entrarmos na sala, não se sente até que receba autorização para isso,
certo?
— Certo.
Não demora muito mais para que nós sejamos chamados. Meu
coração bate tão depressa que tenho a sensação de que vai escapar da minha
caixa torácica e sair voando por aí, mas tento manter a fisionomia tranquila,
como se nada pudesse me abalar, mesmo que eu esteja por um triz.
Nós nos acomodamos perto das cadeiras onde iremos sentar, mas
conforme minha mãe orientou, eu fico parado, esperando que o juiz nos
permita sentar. Como uma figura de autoridade, permanecer em pé até que
ele ou ela entre na sala significa respeito. Há duas cadeiras de um lado e
duas do outro com uma mesa no meio. Anna fica parada na cadeira de frente
para a minha, mas ela também não se senta. O que chama a minha atenção é
que agora ela não faz nenhum contato visual comigo, permanece de cabeça
baixa, já entrando no papel de vítima que está tentando desempenhar.
Meu sangue ferve de raiva pela maneira dissimulada que ela age para
conseguir o que quer.
Não dessa vez.
Não com a minha filha, porra.
Sutilmente, eu respiro fundo para me acalmar. Não posso perder a
cabeça. Mesmo que eu tenha todos os motivos do mundo para fazer isso,
esse comportamento não vai ser bem-visto pelo juiz.
— Bom dia a todos — a juíza nos cumprimenta ao entrar na sala e se
sentar na sua cadeira. — Por favor, sentem-se.
Nós nos sentamos em silêncio.
— Estamos aqui hoje para discutir o pedido de guarda
compartilhada, feito por Anna Felicia Michele, mãe da menor Kiara Ivy
Mackenzie — a juíza apresenta. — Doutor Ferraz, por favor, apresente a
solicitação.
— Obrigado, Meritíssima. A minha cliente está solicitando o pedido
de guarda compartilhada para ter permissão de ver a própria filha, depois
que o Sr. Mackenzie recusou que a minha cliente tivesse contato com a
criança.
A vontade de gritar que aquilo tudo é uma tremenda mentira é
imensa, mas eu mantenho a minha boca fechada como minha mãe me
orientou.
— E por que exatamente a Srta. Michele precisa solicitar a guarda da
própria filha? — a juíza pergunta.
— Minha cliente abandonou a criança pouco tempo depois do parto
devido a um quadro de depressão pós-parto.
Cerro meus punhos sob a mesa enquanto tento controlar a minha
cólera. Anna, é claro, não olha para mim. Ela está interpretando
perfeitamente um papel de vítima que nem sequer combina com ela.
— Meritíssima, se me permite… — minha mãe pede autorização
para falar e a juíza concede. — Há algum laudo médico que comprove a
depressão pós-parto declarada pela sua cliente?
— Sim — o advogado de Anna responde antes de abrir a sua pasta
e tirar um documento de lá de dentro. — Aqui está, Meritíssima.
A juíza pega o documento e dá uma olhada rápida no que está escrito
antes de entregá-lo para um agente oficial que está parado ao lado dela. Eu
espero de verdade que eles chequem a veracidade de qualquer documento
entregue durante essa audiência.
— Meritíssima, o meu cliente jamais impediu a Srta. Michele de ver
a própria filha simplesmente porque ela nunca pediu por isso. A Srta.
Michele abandonou a criança duas semanas após dar à luz porque não a quis,
pois usou dessa gravidez para tentar manter ao seu lado um garoto por quem
ela era apaixonada. Quando foi revelado que o bebê era do meu cliente e não
do outro rapaz, a Srta. Michele abandonou a filha com o meu cliente e foi
embora — minha mãe elabora, apresentando o meu lado da história.
— Por que a minha cliente estaria pedindo a guarda compartilhada da
filha agora, se a abandonou de boa vontade? — pergunta o advogado de
Anna, tentando reverter a situação.
— A Srta. Michele apareceu algumas semanas atrás pedindo
dinheiro, ela quis “vender” — minha mãe desenha aspas no ar — a parte
dela sobre a guarda da filha. Quando ele se recusou, ela entrou com esse
pedido de guarda apenas para desestabilizar o meu cliente.
— Isso é mentira! — Anna finalmente se manifesta, falando alto. —
Você é uma mentirosa! Eu nunca faria uma coisa assim! Nunca! Eu só quero
ter a minha filhinha de volta!
Eu juro por Deus que Anna soluça como se estivesse prestes a
começar a chorar.
— Ordem! — a juíza demanda.
Anna fica em silêncio e recebe uma olhada furiosa do seu advogado.
— Eu vou chamar a primeira testemunha — a juíza anuncia. —
Senhor Trevor Gallagher, por favor, entre.
Eu não tinha a intenção de reparar, mas Anna empertiga a postura e
arruma o cabelo ao ouvir o nome de Trevor, como se quisesse parecer bonita
para quando ele entrar. Ela ainda continua fantasiando sobre ele, o que eu
simplesmente não consigo entender. Eu não consigo entender como ela pode
acreditar que os dois realmente têm algum tipo de história de amor e nós
somos os vilões que os estão separando. É loucura!
Trevor entra da sala e para em frente a uma cadeira colocada na
ponta da mesa, de frente para a juíza. Ele faz um juramento de não mentir e
dizer apenas a verdade antes de ser autorizado a se sentar. Em nenhum
momento, ele olha para Anna, mas ela não tira os olhos dele nem por um
segundo.
— Sr. Gallagher, pode nos contar o que aconteceu entre você e a
Srta. Michele? — a juíza pergunta.
— Nós estávamos em um bar em uma noite. Anna sempre mostrou
interesse em estar comigo, mas nada havia acontecido entre nós até aquela
noite. Para ser bem sincero, eu não gostava da energia que sentia quando ela
estava por perto. Eu bebi demais naquela noite, ela se aproximou de mim, se
sentou no meu colo e… bom, nós acabamos na cama. Naquele momento, eu
quis estar com ela, mas foi algo puramente físico. Eu estava muito bêbado,
então não me lembro se chegamos a usar camisinha ou não. Um tempo
depois, Anna espalhou a notícia pela faculdade de que estava grávida e que o
filho era meu. Ela não veio falar comigo, ela contou para algumas pessoas,
sabendo que a notícia iria se espalhar e que eventualmente chegaria na
minha namorada, uma garota que eu só me envolvi depois do que aconteceu
entre mim e Anna. Algumas semanas depois, Colin me procurou dizendo
que talvez o bebê pudesse ser dele, pois ele tinha se envolvido sexualmente
com Anna na semana anterior. Nós dois fomos procurá-la para perguntar de
quem de fato era o bebê e Anna continuou dizendo que era meu. Passamos
nove meses sem saber exatamente quem era o pai da criança, mas quando
Kiara nasceu, nós soubemos. Não precisava de teste de DNA, ela era do
Colin. Kiara é a cara dele, tem os olhos dele. Anna negou, continuou
insistindo que era meu. Nós fizemos o teste e quando o resultado foi
confirmado, ela ainda assim negou. Eu me lembro que ela me disse: “E daí
que essa bebê é do Colin? Podemos fazer outro bebê e deixar que Colin
fique com essa. Podemos fazer isso. Juntos. Podemos ser uma família.” —
Trevor balança a cabeça, apresentando incredulidade. — Meritíssima, depois
de nove meses pensando que o bebê era meu, eu desenvolvi um amor pela
Kiara como se ela de fato fosse minha filha. Mas Colin é a melhor coisa que
poderia ter acontecido com aquela bebê. Entregá-la para Anna seria um erro
enorme.
Trev troca um rápido olhar comigo e eu espero que ele possa ver no
meu rosto o quanto eu estou agradecido.
— Meritíssima, posso? — Anna pede permissão para falar dessa vez.
Quando a juíza concede autorização, eu me preparo para o que pode vir em
seguida. — Essa não é a verdadeira história. — Anna suspira, se fazendo de
coitadinha. — Sim, eu me envolvi com o Colin e com o Trevor uma semana
depois. Não nego isso. Mas eu tinha certeza de que o bebê era do Trevor. E
não vou mentir, eu sempre fui apaixonada por ele. Talvez meus sentimentos
por Trevor quisessem me convencer de que o bebê era dele, mas quando o
teste de DNA foi feito e o resultado revelado, eu não questionei. Mas
confesso que talvez tenha criado uma história de amor na minha cabeça que
nunca sequer existiu. Tenho certeza de que isso foi o que gerou a minha
depressão pós-parto. Talvez eu não tenha agido da melhor maneira possível,
mas eu amo a minha filha. — Ela começa a chorar. — Eu cometi um erro,
por isso estou aqui. Estou tentando consertar esse erro para não perder mais
tempo do que já perdi com a minha filha.
— Isso é mentira! — eu digo, porque simplesmente não consigo ficar
quieto. Mas me certifico de não parecer descontrolado. — Meritíssima,
desculpe, mas ela está mentindo. Quando Anna abandonou a Kiara, eu tentei
impedi-la de ir embora, mas ela me disse com todas as letras que não queria
nada com a nossa filha e que eu poderia colocá-la em um orfanato, se não
quisesse cuidar dela sozinha.
— Por que você está mentindo, Colin? — Anna chora. — Por que
você está tentando me manter longe da minha filha?
Balanço a cabeça, incrédulo.
— Você é a pessoa mais manipuladora que eu já conheci, Anna — eu
acuso, horrorizado com o teatro que ela está armando.
— Ordem! — a juíza bate o seu martelo para nos calar.
Por baixo da mesa, minha mãe segura a minha mão como se pedisse
que eu fique quieto. Com muito custo, eu obedeço.
Logo em seguida, é a vez da testemunha de Anna falar. Georgina
Fletcher é o nome que a juíza chama e sei que não devo esperar nada de
bom, porque Georgina é a mãe de Anna, e ela carrega o sobrenome de Casey
porque é casada com o pai da minha namorada. Casey a descreveu como a
madrasta da Cinderela, então não nego que estou nervoso com o tipo de
depoimento que ela vai dar.
— Sra. Fletcher, você sabia que sua filha havia engravidado e
abandonado a criança logo em seguida?
— Ela me ligou algumas semanas depois de ter a bebêzinha. Anna
estava arrasada, chorava muito e dizia o quanto estava arrependida. Ela
queria procurar pelo Sr. Mackenzie para pedir que ele a perdoasse, mas ela
sabia que ele não faria isso. Ele até se mudou de onde morava, para garantir
que seria difícil para a minha filha encontrá-lo. Anna passou dias sem comer,
sem dormir, chorando sem parar, com a culpa a corroendo por dentro. Eu
disse a ela para lutar pela própria filha. Anna estava preocupada porque o Sr.
Mackenzie tem uma rotina muito conturbada. Quer dizer, ele faz parte do
time de hóquei da universidade, então ter que lidar com a faculdade, o treino
e a escala de jogos é bastante coisa para um garoto de vinte e poucos anos
que também precisa lidar com um bebê recém-nascido, concorda? Quem vai
ficar com Kiara enquanto ele faz tudo isso? Os amigos? Quem melhor do
que a própria mãe?
— Meritíssima — eu finalmente falo, chamando a atenção da juíza
para mim. — Posso?
Ela concede para que eu fale.
— Anna, você sabe com quantos quilos a nossa filha nasceu? — eu
pergunto para ela.
Anna olha para mim e eu vejo o vislumbre de pânico nos olhos dela,
porque eu sei que ela não sabe e ela sabe que eu sei disso. O pânico é
efêmero, porque é óbvio que Anna quer que eu pense que é ela quem está no
controle da situação.
— Três quilos e duzentas gramas — Anna responde com firmeza.
— Não, ela nasceu com dois quilos e novecentas gramas. Um pouco
abaixo do peso normal de um bebê, porque você bebia em bares mesmo
sabendo que estava grávida — eu digo, dando tudo de mim para controlar a
minha raiva ao pensar nisso. — Você quer tanto cuidar da nossa filha, então
me diz… Se você fosse trocar a fralda dela, por exemplo, que tipo de lenço
umedecido você usaria? Que tipo de fralda?
— Que tipo de pergunta é essa? Todas as fraldas são iguais. E eu
usaria um lenço umedecido normal, oras.
— Não, porque o álcool presente em alguns deles deixa a pele dela
irritada, assim como tem algumas marcas de fraldas que também irritam a
pele dela. Kiara está com quase quatro meses, mas continua um pouco
abaixo do peso, porque não recebeu leite materno, então ela toma uma
fórmula especial e vitaminas para completar e garantir que ela vai ganhar o
peso que precisa. Você sabia disso? — eu descarrego a minha frustração. —
Você sabe como fazê-la dormir? — Anna não responde, então eu continuo:
— Ela tem um ursinho de pelúcia em forma de pato que não dorme sem. Se
o patinho não está no berço, ela simplesmente não para de chorar.
Anna olha para mim com raiva.
— Não é justo! É claro que você sabe de todas essas coisas, você
esteve com ela todo esse tempo!
— E você não estava porque você nunca a quis! — eu retruco,
falando um pouco mais alto. — Eu me mudei da casa onde morava, sim,
porque meus pais vieram para Paradise para poder me ajudar com Kiara,
porque você não estava lá para fazer isso. Ela precisava de você e você se
mandou sem nunca olhar para trás. Eu queria poder dizer que estamos aqui
porque você se arrependeu de verdade e quer conviver com a sua filha, mas
nós dois sabemos o porquê estamos aqui. E eu tenho como provar que tudo o
que você está fazendo, todas essas lágrimas que você está derramando, são
parte de uma manipulação sem precedentes.
Isso faz Anna arregalar os olhos.
— Quais provas você tem? — pergunta o advogado de Anna.
Eu me lembro do dia que meu pai me contou toda a história dele com
a minha mãe. Ele também me contou de um garoto chamado PJ, que era
interessado na minha mãe, armou um plano mirabolante para conseguir
separar os dois, fazendo parecer que meu pai a estava traindo. Então, meu
pai o confrontou e PJ admitiu o que havia feito. Meu pai gravou a sua
confissão. Era toda a prova que ele precisava para que minha mãe
acreditasse que ele nunca a traiu.
E como eu disse antes, eu sou filho do meu pai.
Sem dizer nada, minha mãe puxa o meu celular de dentro da sua
maleta e o coloca em cima da mesa antes de dar play na gravação. A
gravação do dia que Trevor e eu fomos até Summer Ville e ele procurou por
Anna em seu apartamento, com o meu celular dentro do bolso da sua calça e
o gravador ligado, na esperança que ela dissesse alguma coisa que pudesse
ser útil para mim. Eu sabia que se eu tentasse falar com Anna de novo, ela
poderia antecipar uma armadilha, mas eu estava na esperança que os
sentimentos dela por Trevor a deixassem cega o suficiente para que ela
mordesse a isca. E ela mordeu.
— Eu pensei que você tivesse dito que não queria me ver nunca mais,
Trevor — Anna diz, soando magoada.
— Colin me contou o que você está fazendo. Um pedido de guarda
compartilhada, Anna? Por que isso?
— Porque eu quero a minha filha de volta mais do que tudo no
mundo.
— Eu pensei que ficar comigo fosse o que você queria mais do que
tudo no mundo.
Há uma pausa.
Anna suspira.
— E era. Eu faria qualquer coisa por você, Trevor. Nós poderíamos
ter uma vida juntos. Eu te disse isso. Poderíamos deixar aquela criança com
o Colin e poderíamos fazer um bebê só nosso, mas você preferiu a vaca da
Grace!
— Se você não quer a criança, por que está fazendo isso, Anna?
Deixe a Kiara com o Colin. Nós dois sabemos que cuidar de um bebê não é
o que você quer.
— Eu cuidaria do nosso bebê, Trevor. E eu amaria o nosso bebê.
— Mas não a Kiara, certo? Isso é o que eu não entendo. Deixe ela
em paz, Anna, e me diga o que você quer em troca disso. Que tal?
Há outro momento de silêncio.
— Eu quero você.
— Não.
— Então não tem acordo, meu amor. Não há nada mais que eu
queira além de ser sua.
Trevor suspira.
— Qual é o seu preço? É por dinheiro que você estava chantageando
o Colin, não é? Me fala quanto você quer. Você sabe que as suas chances
nessa audiência são pequenas, Anna. Você estará melhor com o dinheiro que
eu posso te dar.
Anna fica em silêncio por alguns segundos.
— Cinquenta mil dólares. Esse é o meu preço. E então eu desapareço
e deixo Colin ser feliz para sempre com aquela criança.
Quando a gravação se encerra, o silêncio que se assenta na sala é
ensurdecedor. Anna parece verdadeiramente chocada, o que me deixa saber
que a possibilidade de estar sendo gravada naquele dia não se passou pela
cabeça dela em nenhum momento.
Trevor nunca deu o dinheiro para Anna, é claro, e é por isso estamos
aqui hoje, mas ele conseguiu arrancar dela o suficiente para fazer qualquer
juiz acreditar que dar privilégios à Anna é um erro.
— Bom, eu acredito que diante disso não há mais nada o que ser
esclarecido aqui. O pedido de guarda compartilhada está negado e essa
sessão encerrada — declara a juíza, batendo o seu martelo.
— Isso é um absurdo! — Anna brada. — Eles me manipularam! Isso
não está certo!
Anna continua gritando e se negando a aceitar o que foi declarado,
mas em algum momento eu simplesmente paro de ouvi-la. O alívio que toma
conta de mim é uma coisa que não consigo explicar. O meu desespero de
ontem à noite tinha mais a ver com o tipo de surpresa que Anna poderia
armar do que com a falta de convicção no caso que minha mãe e eu
construímos.
Imagino que seja muito difícil vender uma mentira quando a verdade
é tão palpável.
Minha mãe me dá um abraço apertado assim que nos levantamos das
cadeiras. Eu sinto que estou em um estado de estupor, como se estivesse
dentro de um sonho. Mas não. Não é um sonho, isso é o final de um
pesadelo, na verdade.
— Você foi maravilhoso, meu filho — ela me elogia, emocionada. —
Kie está segura.
É somente quando minha mãe diz essas palavras que a minha ficha
cai e eu começo a chorar. Um choro que carrega uma mistura de alívio, mas
também desespero por todos os cenários que se passaram pela minha cabeça
até que a juíza finalmente declarasse o pedido negado.
— Está tudo bem, meu amor — minha mãe diz, me abraçando forte.
— Eu te amo, Colin. Tudo vai ficar bem agora.
— Obrigado. — Eu a abraço com força. — Obrigado, mãe.
Ela seca as minhas lágrimas com um sorriso no rosto, mesmo que os
seus próprios olhos também carreguem lágrimas ainda não derramadas.
— Vem, vamos dar a notícia para todo mundo.
Capítulo 28

Quem sabe onde esta estrada deve nos levar?


Nós não temos nada além do tempo
Enquanto você estiver aqui ao meu lado
Tudo ficará bem
Se está destinado a acontecer, acontecerá, acontecerá
Amor, apenas deixe acontecer
| Bebe Rexha – Meant To Be (ft. Florida Georgia Line)

Três semanas depois.

Meus pais decidiram ficar em Paradise até o Natal, já que não


passamos o Natal juntos desde que eu vim para a universidade. Eu sempre
tenho jogos próximos dessa data, então fica inviável viajar para a Carolina
do Norte e voltar para Minnesota. São quase sete horas de avião e quase
vinte e três horas de carro de um estado para o outro. Fica inviável se a visita
for rápida.
Casey, John e Aaron passaram o Natal com a gente, já que eles
também não puderam visitar a família. Casey porque está tão chateada com
o pai que não quis ir vê-lo, mesmo que ele tenha ligado para convidá-la.
John e Aaron porque as famílias também moram longe e uma viagem de
avião seria inviável, já que nós jogamos no dia 27 e depois jogamos de novo
no dia 2, logo depois da virada do ano. E até onde eu sei, Aaron não tem
uma relação fácil com nenhum dos pais, embora eles sejam divorciados há
muitos anos, segundo o que ele nos contou na única vez que desabafou sobre
o assunto.
Então, na véspera de Natal, preparamos um grande jantar, que todo
mundo ajudou a cozinhar, e trocamos presentes na manhã do dia 25,
exatamente como eu costumava fazer com meus pais quando ainda morava
com eles. Senti falta dessa tradição desde que vim para Paradise, porque
meus amigos não têm o costume de trocar presentes, então eu sempre
recebia o presente dos meus pais e dos meus primos por correio, assim como
eles recebiam os meus. No entanto, não é nem de longe a mesma coisa. Mas
esse ano, além de estar junto com os meus pais, a data ganhou um novo
significado para mim graças à Kiara e Casey.
E embora meus pais não tenham dito nada, provavelmente para não
me preocupar, eu acho que eles quiseram ficar mais tempo para garantir que
Anna não aprontaria mais nada. Por enquanto, não tivemos nenhum sinal
dela, graças a Deus. Não sei se ela continua em Summer Ville ou se se
mudou de novo e, honestamente, eu não me importo, contato que ela fique
longe de mim e das pessoas com quem eu me importo.
— Você tem certeza de que não quer que a gente fique para te ajudar
com a mudança? — meu pai pergunta.
— Nós podemos mudar o horário do nosso voo, se você precisar de
ajuda, querido — minha mãe completa.
Eles decidiram voltar para Raleigh um dia depois do Natal, pois
minha mãe tem audiências importantes que precisa comparecer assim que o
ano virar.
A casa que eles alugaram é grande demais apenas para mim e Kiara,
então aluguei um apartamento razoavelmente perto do campus da faculdade
e da casa onde eu costumava morar com Grace e os caras. Antonella foi
quem conseguiu o apartamento para mim, pois é no mesmo prédio onde ela
mora, o que vai me ajudar muito se eu precisar de alguma ajuda imediata
com Kiara.
— O pessoal vai me ajudar — eu os tranquilizo. — Não se
preocupem.
— Eu vou sentir tanto a sua falta, meu filho — minha mãe diz, já
emocionada por conta da despedida. — E de você também, coisa mais linda
— ela fala com Kiara, fazendo minha filha dar um sorrisinho.
— Nós também vamos sentir muito a falta de vocês dois. Eu não
consigo agradecer o suficiente toda a ajuda que vocês me deram nesses
últimos meses. Obrigado.
Meus pais sorriem.
— Sempre que precisar, filho — meu pai garante. — Estamos a uma
ligação de distância. Nunca se esqueça disso.
Assinto.
— Não vou esquecer.
Eu entrego Kiara para Casey, que está parada ao meu lado, para que
eu consiga abraçar meus pais sem esmagar a minha filha no meio. Minha
mãe é a primeira a me abraçar e ela me segura com força em seus braços. Eu
apoio meu queixo no topo da cabeça da sua cabeça e a abraço de volta,
dando a ela todo o tempo que precisa para me abraçar e poder me soltar
depois.
— Me prometa que não vai mais ficar tanto tempo sem voltar para
casa — ela balbucia, se esforçando para não chorar.
Eu sorrio.
— Eu prometo, mãe. — Beijo o topo da sua cabeça. — Te amo.
— Eu também te amo, meu amor.
Quando minha mãe finalmente me solta, é a vez do meu pai me
abraçar. Ele me segura em seus braços com a mesma força e dá tapinhas nas
minhas costas.
— E se lembre de ligar com mais frequência ou eu volto aqui para te
dar uns cascudos, garoto — meu pai brinca, mas ao mesmo tempo não acho
que ele esteja blefando. — Não pense que só porque você é do meu tamanho
agora, eu não posso te dar umas bordoadas.
Eu gargalho.
— Não vou esquecer disso, pai. — Eu o abraço com mais força. —
Te amo.
— Eu também te amo, filho.
Quando meu pai me solta do abraço, Casey entrega Kiara para a
minha mãe para que eles possam se despedir da minha filha também. Meus
pais a enchem de beijos e carinho, deixando Kiara toda feliz com a atenção.
E por último, quando minha mãe me entrega Kiara, eles abraçam Casey e se
despedem dela também.
— Foi um prazer enorme te conhecer, meu bem — minha mãe diz,
segurando ambas as mãos de Casey nas suas.
— O prazer foi todo meu. — Minha namorada sorri.
— Me liguem quando chegarem em Raleigh, ok? — peço.
— Sim, senhor — meu pai brinca.
— Lembre-se que você tem até o final do dia para sair da casa —
minha mãe me lembra. — Então não demore muito com a mudança.
Confirmo com a cabeça.
Depois de mais alguns beijos e abraços apressados, meus pais vão
embora. E mesmo que eu já esteja acostumado a viver o meu dia a dia sem
eles, não consigo evitar sentir que uma parte de mim sempre está faltando
quando estamos longe. Mas acho que essa sensação faz parte de crescer e
seguir o seu próprio caminho.
Você nunca mais se sente cem por cento inteiro quando tem um lar
em mais de um lugar.

Conforme combinei com os meus amigos, eles aparecem logo depois


do almoço para me ajudar com a mudança. Quando saí da casa onde morava
com Grace e os caras, eu trouxe só o essencial, mas deixei a maioria das
coisas lá. Agora que estamos juntando todos os meus pertences — e os de
Kiara também — eu me dou conta que tenho mais coisas do que imaginei
que tinha.
Para ser mais rápido, nós nos dividimos. Trevor ficou responsável
por cuidar da Kiara, já que ele queria passar mais tempo com ela, mas o
resto de nós estamos trabalhando em empacotar as coisas nos mais diversos
cômodos da casa e colocar as caixas na minha caminhonete. Eu e Casey
ficamos responsáveis por esvaziar o meu quarto na casa onde fiquei com os
meus pais; Aaron e John estão fazendo o mesmo, mas na casa onde eu
morava com eles. Luca e Antonella estão esvaziando o quarto de Kiara na
casa alugada e Grace e Aurora estão recolhendo as minhas coisas nos outros
cômodos da minha antiga casa.
O motivo que fez Antonella e Luca trabalhem juntos no mesmo
cômodo ainda é desconhecido por mim, já que nenhum dos dois parece
realmente feliz de precisar ficar na presença do outro. Como eu sei disso? Eu
apareci no quarto de Kiara para perguntar como as coisas estavam indo, mas
dei meia volta quando vi Antonella jogando as roupas de Kiara — com os
cabides e tudo — na direção do Luca para que ele as colocasse nas caixas. A
forma como ela estava jogando, no entanto, parecia muito que ela queria que
um cabide o acertasse no meio da testa. Ela não parecia nem um pouco feliz;
e Luca... bom, ele nunca demonstra estar feliz, então não foi uma grande
surpresa.
— Quem foi que colocou o Luca e a Antonella para trabalharem
juntos? — eu pergunto baixinho para Casey, quando volto para o meu quarto
para terminar de empacotar a última caixa.
— Não faço ideia. Por quê?
— Eles vão acabar se matando lá dentro.
Casey dá de ombros.
— Tem alguma coisa lá, embora ninguém saiba exatamente o que é,
talvez nem eles mesmos saibam ainda — ela analisa. — Ninguém tem birra
de outra pessoa por nada.
Suponho que se usarmos a história de Trevor e Grace como
referência, Casey está absolutamente certa.
Nós terminamos de colocar tudo nas caixas e carregamos a minha
caminhonete. O plano é levar tudo isso para o meu novo apartamento e
depois passar na minha antiga casa e pegar as coisas que o resto do pessoal
empacotou. Provavelmente vamos passar o dia inteiro nessa função, mas
pelo menos sei que a noite vamos relaxar com algumas pizzas e muitas
garrafas de água, já que cerveja está proibido porque temos jogo amanhã e
ninguém quer estar de ressaca para isso. E eu finalmente estou liberado para
voltar para o gelo, então quero dar tudo de mim nesse jogo, mesmo sabendo
que o Treinador não vai me deixar no rinque por muito tempo, já que perdi
muitos treinos por conta da recomendação médica de pegar leve por um
tempo.
O dia foi tão corrido que eu nem sequer vi as horas passarem.
Quando me dou conta, o sol já se pôs e a única refeição que fiz o dia inteiro
foi o café da manhã. Caramba, eu estou morrendo de fome! Mas pelo menos
todos os meus pertences e os de Kiara estão no meu apartamento. Todos
dentro de caixas e mais caixas e completamente desorganizados, mas estão
aqui. Não vou conseguir organizar tudo essa noite, mas pelo menos o
essencial Casey me ajudou a tirar das caixas.
Aaron fez o pedido das pizzas enquanto eu terminava de organizar a
cozinha, porque preciso pelo menos do básico no lugar nesse cômodo, já que
Kiara precisa comer, não importa o quão desorganizada a casa esteja.
— Alguém mais consegue sentir isso? — John pergunta de repente,
enquanto estamos todos sentados no chão da sala do meu apartamento,
comendo pizza e bebendo água. Esse é o absurdo do século: pizza com água
como bebida.
— O quê? — Aaron indaga.
— A sensação de que tudo vai ficar bem — John responde com um
sorriso.
Eu sorrio.
— A sensação de ter encontrado as pessoas certas para fazer parte da
sua vida — eu completo, olhando para os meus amigos e para a minha
namorada. — Eu estou sentindo.
— Um brinde a isso — Aaron ergue a sua garrafa de água.
— Com água? — Trevor ri.
Mesmo depois da mudança, ele ainda quis ficar com Kiara. Segundo
ele, estava na hora de ela ficar com o pai postiço e padrinho por algumas
horas.
— Você vai liberar a cerveja, capitão? — Aaron provoca.
— É claro que não.
— Então não reclama e vamos brindar com água mesmo — Aaron
replica, ainda com a sua garrafa de água erguida. — A encontrar as pessoas
certas.
— Às pessoas que entraram na minha vida esse ano e mudaram tudo
para melhor. — Eu ergo a minha garrafa de água e olho para Kiara antes de
olhar para Casey e dar uma piscadinha.
Ela sorri para mim.
— À família que a gente escolhe — Casey completa o brinde.
Eu me lembro de ouvir em algum lugar que amigos são a família que
a gente escolhe e acho isso uma verdade. Essas pessoas são mais do que
meus amigos, eles são parte da minha família também.
Todos erguem as suas garrafas de água e batemos umas nas outras no
centro da roda.
Depois de mais ou menos uma hora e meia, Trevor praticamente
expulsa todo mundo com a desculpa de que os caras precisam dormir cedo e
dormir bem para estarmos bem-preparados para o jogo de amanhã. Trevor dá
um beijinho na bochecha de Kiara e faz cócegas de leve na barriga dela,
porque ele descobriu que isso a faz sorrir, antes de entregá-la para mim e ir
embora com Grace e o resto do pessoal. Casey é a única que permanece.
Pelo menos eu tenho uma cama no lugar para que nós possamos
dormir.
Eu bem que gostaria de ter disposição para colocar Kiara para dormir
e depois ficar na cama com Casey venerando o corpo delicioso que ela tem,
mas eu estou exausto por conta da mudança e da correria de hoje. Sem
contar o jogo de amanhã. Uma noite mal dormida é determinante para o meu
desempenho no gelo. E acho que Casey está tão cansada quanto eu e transar
nem deve estar se passando pela cabeça dela agora, embora sempre esteja
passando pela minha noventa e nove por cento dos momentos.
— Eu vou preparar a mamadeira da Kie — ela diz, ficando na ponta
dos pés para me dar um beijo na bochecha antes de ir até a cozinha.
— Obrigado, minha linda.
Apago a luz da sala para que Kiara entenda que está na hora de
dormir e fico em pé, balançando-a nos meus braços. Quando Casey aparece
com a mamadeira, eu levo Kiara para o quarto dela e me sento na cadeira de
amamentação para dar a mamadeira para ela. Mesmo com a luz apagada, eu
consigo ver seus lindos olhos verdes brilhando ao olharem para mim.
— Tudo vai ficar bem agora, filha — eu prometo.
Kiara continua olhando para mim e o único barulho que preenche o
ambiente é o que ela faz quando suga o leite da mamadeira. Para ser sincero,
é um dos meus sons preferidos, já que no começo era tão difícil fazê-la se
alimentar. É um alívio imenso que ela tenha se acostumado à nova fórmula
especial. Na última consulta que eu a levei, na semana passada, a médica
disse que ela está finalmente ganhando peso como é esperado, o que me
deixou ainda mais feliz e com a sensação de que agora tudo realmente vai
dar certo para nós dois.
Quando Kiara termina de mamar, eu a coloco para arrotar antes de
deitá-la no berço. O dia também foi cansativo para ela e Kie não está
acostumada a ficar acordada até tão tarde, então assim que eu a coloco
deitada no berço, vejo os olhinhos dela começarem a se fechar.
— Boa noite, minha princesa. Papai te ama muito.
Inclino meu corpo para dentro do berço e dou um beijinho em sua
testa. Me certifico de que o patinho que ela tanto ama está no berço junto
com ela antes de sair do quarto na ponta dos pés e fechar a porta com
suavidade.
Encontro Casey no meu quarto, sentada na beirada da minha cama.
Ela parece estar com os pensamentos bem distantes, porque não percebe a
minha presença até que eu me sente ao seu lado e o colchão se mova.
— Oi. — Ela sorri. — Ela dormiu?
Assinto.
— E provavelmente vai dormir o resto da noite, considerando o dia
corrido que tivemos.
Casey concorda com a cabeça.
— O que você estava pensando antes de eu chegar? — quero saber.
— Você parecia bem longe.
Ela suspira profundamente e isso basta para que eu saiba que ela está
chateada com alguma coisa.
— Eu estava pensando na minha mãe e o que ela poderia estar
pensando do que o meu relacionamento com o meu pai se tornou. Me
pergunto se estou fazendo a coisa certa em afastá-lo ainda mais de mim.
— Vem cá. Deite na cama comigo — peço.
Nós nos ajeitamos na cama e eu puxo Casey contra o meu corpo,
abraçando-a.
— Case, um relacionamento não funciona se só uma pessoa tentar.
Você vai se matar para manter esse relacionamento sozinha. O que seu pai
realmente fez nos últimos anos que te mostrou que ele estava tentando
também?
Ela dá de ombros.
— Ele me chamou para o Natal.
— Esse ano — eu reforço. — E os outros anos? Ele sequer lembrou
de te ligar?
Casey balança a cabeça em uma negativa.
— Mas talvez ele tenha se tocado que tem sido um péssimo pai
depois que eu finalmente joguei isso na cara dele.
— Talvez — concordo. — Mas eu não quero que você se machuque
mais ainda com essa história. Deixe que ele venha atrás de você agora. Se
ele realmente quiser ter uma relação com você, ele vai mover céu e terra
para estar na sua vida de novo. Se não, pelo menos você não vai se
decepcionar de novo.
— E se ele cansar de vir atrás de mim? — ela supõe, magoada.
— Então ele não te merece. Então não quis tentar o suficiente. — Eu
seguro o rosto dela e a faço olhar para mim. — O que você merece é alguém
que esteja disposto a ir até o fim do mundo por você. Eu iria até o fim do
mundo por você, amor.
Casey esconde o rosto na curva do meu pescoço quando me abraça
mais forte. Percebo que ela tenta muito não chorar e me deixa puto da vida
que o pai dela tenha escolhido qualquer pessoa à própria filha. Agora que
sou pai, isso simplesmente não faz o menor sentido para mim, porque eu iria
até o inferno para ter Kiara na minha vida, eu faria tudo o que estivesse ao
meu alcance para nunca perder a minha filha assim.
Vendo o quanto Casey sofre por conta do pai, mesmo sem gostar de
quem ele se tornou agora, percebo que nós podemos amar pessoas de quem
não gostamos.
— Eu te amo, Case. E eu gosto pra caramba de quem você é.
Ela ergue os olhos verdes para mim e dá um sorrisinho entre as
lágrimas.
— Eu também te amo e gosto pra caramba de quem você é.
Sorrio para ela antes de grudar meus lábios nos de Casey.
O gosto do beijo é salgado por conta das lágrimas dela, mas a textura
dos seus lábios continua tão macia quanto sempre foi e meu coração dispara
como nunca fez antes, por nenhuma outra garota.
E nesse momento eu sei que mesmo que eu não possa protegê-la de
algumas dores, eu vou me esforçar para que a felicidade dela seja maior do
que qualquer dor.
Capítulo 29

Quando eu olho para você


Eu vejo o perdão
Eu vejo a verdade
Você me ama por quem eu sou
Como as estrelas seguram a lua
Bem ali onde elas pertencem
E eu sei que não estou sozinha
| Miley Cyrus – When I Look At You

Os nervos estão à flor da pele com o jogo dessa noite.


Colin concordou que Kiara viesse assisti-lo jogar pela primeira vez.
Com quase 5 meses agora — e agasalhada, embora o rinque não seja tão frio
quanto um dia eu acreditei ser —, ela não necessariamente presta atenção no
jogo, mas está superatenta ao que está acontecendo ao nosso redor. Ela vira a
cabeça na direção de qualquer novo barulho e quando somos nós que
comemoramos um gol do time de Paradise ou lamentamos um gol do time
adversário, Kiara olha bem para o nosso rosto, como se analisasse e tentasse
entender o que estamos fazendo.
O jogo está empatado agora e tem sido assim desde que começou.
Nós abrimos o placar, mas pouco tempo depois, nossos adversários fizeram
um gol também. Se eu tivesse unhas restantes para roer, com certeza eu
estaria fazendo isso, o que é um péssimo hábito, eu sei.
— Vai, vai, vai! — Aurora incentiva aos berros quando nós
assumimos a posse do disco.
Aaron está atacando, deslizando pelo gelo como se fosse um raio.
Um jogador do time adversário patina na direção dele tão depressa quanto,
então Aaron passa o disco para Liam, mas isso não impede que o jogador
bata de frente com Aaron de maneira proposital. O melhor amigo de Grace
vai para o chão e o seu corpo sai deslizando pelo gelo.
— Ah meu Deus! — Grace se levanta da sua cadeira para conseguir
ter uma visão melhor do rinque. — Aaron!
Nós nos levantamos também, tentando ver o que está acontecendo
quando Trevor empurra o jogador que bateu em Aaron. O rinque vira uma
loucura quando os garotos do time adversário se aglomeram ao redor de
Trevor e Aaron, o que automaticamente faz Luca entrar no meio da confusão
também, empurrando um outro garoto para longe de Trevor. John entra no
meio também, e é ele quem recebe o primeiro soco. Depois disso, tudo vai
pelos ares.
— Briga, briga, briga! — a plateia começa a gritar.
Infelizmente, brigas são incentivadas no hóquei porque faz parte da
cultura desse esporte específico. Os juízes tentam separar os garotos, mas dá
para notar que eles estão tendo certa dificuldade. Dois juízes não dão conta
de separar vários garotos enfurecidos.
— Deixem eles brigarem! — alguém grita atrás de mim, o que
automaticamente me faz virar a cabeça para trás e olhar feio para seja lá
quem gritou.
Colin está no banco, mas também está de pé. Parece que ele está se
segurando para não ir até lá e ajudar os amigos, o que faz com que a minha
respiração fique presa na garganta. Só de pensar que ele pode se machucar
de novo… Prefiro nem deixar essa ideia se firmar na minha cabeça. O susto
que levamos da última vez foi mais do que suficiente.
A briga toma uma proporção que nós nem conseguimos mais
entender o que é que está acontecendo.
Quando os juízes finalmente conseguem separar os meninos, vejo
sangue manchando o gelo, mas não consigo identificar de quem é.
— Isso não é bom — Antonella analisa. — Os meninos vão levar um
esporro e tanto.
— Mas não foram eles que deram o primeiro soco — eu rebato.
— Mas foi Trevor quem começou a confusão — replica Grace,
respirando fundo. — Por ser o capitão, ele sente obrigação de defender os
meninos sempre que alguém os machuca de propósito, mas se alguém tenta
machucar o Trevor, o Luca sempre se mete.
O jogo fica paralisado por poucos minutos, o gelo é limpo e os
treinadores conversam com seus jogadores. Pelo pouco que eu consigo ver,
eles não estão felizes com os acontecimentos. Mas quando os garotos voltam
para o gelo, tudo parece mais calmo, como se eles já tivessem esquecido a
briga de minutos atrás e agora só estivessem preocupados em vencer o jogo.
Colin está no gelo agora.
— Olha lá, Kie! — eu falo, apontando na direção do Colin, mesmo
estando ciente de que ela não vai conseguir identificá-lo ainda. — É o papai!
Dá tchau para o papai!
Eu balanço a mãozinha dela no ar bem no momento em que Colin
olha na nossa direção. Ele lança um beijo para a gente antes de focar
completamente na disputa do disco que está prestes a acontecer.
E meu coração se derrete por inteiro na simplicidade de uma
demonstração inusitada de afeto.
No final do último tempo, a atmosfera do rinque está tensa de novo,
pois continuamos empatados. Eu nunca vi um jogo desse jeito, onde um time
marca logo após o outro, deixando a partida totalmente em empate durante o
tempo todo.
Nós estamos com a posse do disco, então Colin desliza pelo gelo,
guiando o disco na direção do gol. Antes que ele consiga ser marcado por
um adversário, Colin lança o disco na direção do gol, mas o goleiro
consegue interceptar e impedir o disco de entrar no gol.
— Puta merda! — Aurora grita, frustrada. — É por isso que eu
detesto vir assistir jogo, parece que vou ter um infarto todas as vezes!
Nós damos risada.
O problema com o hóquei é que, um segundo que você tira os seus
olhos do rinque, algo acontece. É um jogo rápido e difícil de acompanhar.
Então, eu não deveria me surpreender quando escuto a sirene que indica um
gol e percebo que o time adversário marcou durante os pouquíssimos
segundos que nos distraímos.
— Não! — eu e as garotas lamentamos em uníssono.
— Eles só têm um minuto para tentar reverter a situação agora —
Grace reclama, passando as mãos pelos cabelos.
— Esse jogo é eliminatório? — pergunto, ainda sem entender muito
sobre o campeonato.
— Ainda não, mas nos coloca em uma posição bem complicada para
chegar nos playoffs — Aurora me explica. Ela parece ser a que entende
melhor sobre tudo relacionado ao esporte.
Faço uma careta. Droga!
Os meninos se esforçam muito para conseguir marcar mais um gol,
mas o time adversário está mais focado em defender do que atacar agora,
então o nosso time não consegue encontrar brechas para um lançamento
limpo. E quando a sirene anuncia o final do jogo, toda a plateia do nosso
lado permanece em silêncio enquanto ouvimos os torcedores do time
adversário comemorar.
— Merda — Antonella pragueja.
— Foi um jogo bem complicado — comento, chateada pela derrota.
— Os meninos trabalharam duro.
Minhas amigas assentem.
— Vamos! — diz Aurora, levantando-se da cadeira. — Vamos
esperar por eles perto da saída.
Eu ajeito Kiara no meu colo e sigo as meninas através da multidão,
até a saída. Como estamos bem no finalzinho de dezembro, o fio já é
insuportável, então esperar pelos garotos do lado de dentro é a opção mais
inteligente. Na verdade, é a única opção viável, pois nós com certeza
congelaríamos se ficássemos muito tempo do lado de fora.
Kiara está brincando com um disco de brinquedo que eu comprei
para ela na loja de conveniência do rinque. Acho que é possível afirmar que
ela será uma grande fã do esporte. E como poderia não ser, com o pai e o
padrinho sonhando em jogar profissionalmente na NHL? Eu tenho certeza de
que essa criança vai aprender a patinar antes de andar. Não sei como eles
ainda não cogitaram apresentá-la para o gelo. No entanto, eu tenho a
impressão de que isso vai acontecer muito em breve, já que Colin já decidiu
trazer Kiara para um jogo.
— Vocês acham que eles vão querer ir para o Circus afogar as
lágrimas? — Grace pergunta, com o olhar fixo no túnel por onde os garotos
vão sair assim que terminarem de tomar banho e se arrumar.
Aprendi recentemente que o Circus é o bar esportivo mais próximo
da universidade, onde a cerveja não é tão barata, mas é de qualidade.
Palavras do Trevor, não minhas.
— É provável — considera Aurora. — Vocês estão dentro, caso eles
escolham ir?
— Acho que o Colin vai optar por ir para casa, por conta da Kie —
eu digo. — Então eu vou com ele, para podermos afogar as mágoas de outra
forma.
Recebo três pares de olhos cheios de segundas intenções.
— Quem diria, Casey! — exclama Antonella. — Finalmente se
abrindo para nos contar os detalhes sórdidos.
Eu rio.
— A mente de vocês é uma coisa perigosa. Colin e eu gostamos de
assistir filmes. Fazemos isso desde que nos conhecemos. É o nosso lance —
eu explico, mas é claro que se ele quiser afogar as mágoas de outra maneira,
depois que Kiara dormir, eu estou mais do que disposta para isso.
— Sei — brinca Grace. — Nós vamos fingir que acreditamos em
você pelo bem dos ouvidos inocentes da Kie.
Reviro os olhos, mas estou achando graça. A cada dia que passa eu
me sinto mais e mais confortável com as meninas. É claro que ainda acho
um pouco esquisito comentar sobre a minha vida sexual com elas, mas acho
que isso está começando a mudar. E para ser sincera, mesmo que eu seja um
pouco tímida para falar sobre isso, estou muito feliz de ter amigas com quem
eu possa comentar, quando eu decidir me abrir dessa forma.
— Eu não vou poder ir também — diz Antonella. E a forma como o
seu rosto muda quando ela diz isso não passa despercebida nem por mim e
nem pelas meninas.
— O que foi, Ella? — Grace é quem faz a pergunta. — Aconteceu
alguma coisa?
— Tenho um jantar importante com os meus pais e o pretendente que
eles finalmente escolheram para mim — ela revela com um pesar
gigantesco. — Eu não falei nada antes para não acabar com o clima, mas eu
estou desesperada. Fui tão idiota de achar que eu podia fugir disso.
Grace abraça a melhor amiga e Aurora e eu também nos
aproximamos para demonstrar o nosso apoio. Antonella não chora, mas é
por muito pouco. As lágrimas ficam todas presas nos seus olhos e tenho a
impressão de que ela não vai permitir que elas caiam. Não sei por que
Antonella sente a necessidade de se mostrar forte para a gente, mas não
questiono. Se essa é a melhor maneira que ela encontrou de lidar com isso,
tudo bem. Eu, particularmente, acho que chorar e colocar as emoções para
fora é sempre uma forma melhor de extravasar, mas entendo que não
funciona do mesmo jeito para todo mundo.
— Sinto muito, amiga — Grace lamenta. — Queria que tivesse algo
que nós pudéssemos fazer para te livrar dessa.
— Mas mesmo que não possamos fazer muita coisa, saiba que você
pode contar com a gente — eu digo, sorrindo para ela de maneira
complacente.
— E com a Kie também — completa Aurora. — Nós, garotas, temos
que ficar juntas.
Antonella dá uma risadinha.
— Com certeza. Obrigada, amigas. Saber que vocês estão comigo
significa muito para mim.
Nós a abraçamos em grupo, tomando o cuidado de não esmagar
Kiara, mas ela parece querer fazer parte do momento, pois agarra o pescoço
de Antonella como se tentasse abraçá-la também, o que nos faz dar risada e
automaticamente restaurar a leveza do momento.
— Posso entrar no meio desse abraço? — uma voz masculina que eu
não reconheço soa atrás de nós.
Nós nos soltamos do abraço e olhamos na direção de onde a voz
veio.
— Ah, sei liga, Liam! — Antonella resmunga. — Você não tem mais
o que fazer não?
Liam, um dos garotos que joga no time com o Colin, dá de ombros
de maneira despreocupada.
— O quê? Eu só queria receber um consolo pelo jogo que perdemos
— ele lamenta, fazendo a cara do gato de botas do Sherek.
Trevor aparece logo atrás de Liam e dá um tapinha atrás da cabeça
dele.
— Essa é a minha namorada, seu idiota! Vai receber consolo em
outro lugar!
Liam resmunga e Aaron dá risada, aparecendo logo depois.
— Eu não sabia que você é do tipo ciumento, Trev — ele provoca o
capitão. — Cuidado, Gracie, daqui a pouco ele vai querer controlar quem
são os seus amigos.
Grace dá risada.
— Hastings, vai ver se eu estou na porra da esquina! — Trevor
replica. Eu não sei dizer se ele está realmente irritado como parece ou se ele
só entrou na brincadeira. Provavelmente a segunda opção, pois tem um
sorrisinho se formando no rosto dele.
— Linguajar — Aurora repreende. — A sua afilhada está presente.
Trevor dá um beijo na têmpora de Grace antes de vir na minha
direção e estender os braços para pegar Kiara no colo. Ela imediatamente se
atira nos braços dele, feliz em vê-lo.
— Desculpa, minha princesa — ele diz, dando um beijinho na
bochecha da Kie. — Prometo que não vou mais falar coisas feias na sua
frente.
— Não faça promessas para a minha filha que você não vai cumprir,
Trev. — Colin aparece, vindo na minha direção e abrindo um sorriso para
mim. — Oi, minha linda.
— Oi. — Eu sorrio de volta.
— Cadê a minha bonequinha? — Colin pergunta, estendendo os
braços para pegar Kiara do colo de Trevor. Assim que Kie está no colo do
pai, ela gruda a boca na bochecha de Colin em uma tentativa babada de
beijo. — Oi, meu amor. — Ele dá um beijo na cabecinha da filha.
Como nós havíamos previsto, os meninos decidem ir para o Circus
para beber e lamentar pela perda de hoje. E como eu previ, Colin opta por ir
para casa. Foi uma noite cheia de emoções para Kiara e ela precisa comer e
dormir em breve ou vai começar a resmungar por estar cansada.
Nós nos despedimos dos nossos amigos, eu desejo boa sorte para
Antonella e peço que ela nos mantenha atualizadas sobre o jantar com o tal
pretendente. Deus do céu, eu sinceramente não sei o que eu faria se estivesse
no lugar dela. Posso apenas esperar que o cara seja pelo menos um homem
decente e não seja trocentos e cinquenta mil anos mais velho do que ela.
Casamento arranjado sempre tem dessas coisas e isso me causa desespero.
Colin coloca Kiara na cadeirinha antes de se sentar atrás do volante,
pronto para nos levar para a sua casa.
— Sinto muito que você tenha perdido o jogo essa noite, amor —
lamento, e agora que estamos sozinhos, percebo a decepção presente no
rosto dele.
— Esse ano foi muito difícil para mim e para o hóquei. Não
estivemos em alinhamento, o que é uma merda porque eu preciso garantir
que vou ser draftado — ele desabafa, preocupado. — O sonho da minha
vida é jogar profissionalmente, Case. Eu não sei o que eu vou fazer se não
conseguir.
Seguro a sua mão na minha e entrelaço os nossos dedos.
— Você vai conseguir, Colin. Você é um excelente jogador, só teve
um ano de muitas mudanças e às vezes leva um tempo até que você consiga
se adaptar a essas mudanças — eu o consolo, esperando que isso ajude. —
Ano que vem vai ser bem melhor, você vai ver.
Ele sorri para mim antes de inclinar o seu corpo na minha direção e
encostar seus lábios nos meus em um beijo tênue e breve.
— Obrigado, amor.
Eu sorrio de volta para ele.
— De nada. E para todos os efeitos, não importa o que aconteça, para
mim e para Kiara você sempre será um campeão.
Colin leva a minha mão, que está entrelaçada à sua, até os seus lábios
e dá um beijo. O sorriso que se forma em seu rosto depois disso é,
sinceramente, o sorriso mais lindo que eu já vi os seus lábios produzindo. As
covinhas estão à mostra e os olhos verdes brilham como se contivessem
todas as estrelas do céu.
— Eu te amo, Case — ele declara. — E mesmo que o ano tenha sido
difícil, eu viveria tudo de novo se fosse para conhecer você.
— Eu também te amo, Colin. — Eu me aproximo dele e deposito um
beijo em seus lábios. — Estava destinado a ser assim.
Ele me beija de novo, aproveitando que meu rosto ainda está perto do
dele.
— Estava destinado, minha linda.
Epílogo

Você é a agora certa


Nos momentos certos
Você é a luz do Sol
Que faz meu coração continuar
Saiba que quando estou com você
Eu não consigo evitar me apaixonar
Hora certa nos momentos certos
É você
| Henry – It’s You

Decidimos fazer a festa da virada do ano — adivinhem só onde — na


casa da Grace e dos caras, isso mesmo. Como sempre. Nós decoramos a casa
com alguns balões brancos e dourados e compramos mais bebida do que
provavelmente seremos capazes de beber. Grace, John e Casey estão
preparando o jantar para essa noite enquanto o resto de nós se reveza entre
cuidar de Kiara e arrumar a casa.
— Cadê o Luca? — pergunto ao Trevor, que está com Kiara no colo,
brincando com ela e o patinho de pelúcia pelo qual ela é apaixonada.
— Ele disse que viria mais tarde. Disse que tinha algo para resolver.
— Devemos estranhar o fato de que Antonella também não está
aqui? — Aurora pergunta da cozinha. — Só estou dizendo… isso é bastante
suspeito.
Aaron balança a cabeça em concordância.
— Eu não sei como vocês conseguem imaginar que eles podem estar
tendo alguma coisa pelas nossas costas. Primeiro porque não há qualquer
razão para eles esconderem isso da gente e segundo porque os dois
simplesmente não combinam em nada — analisa John enquanto mistura uma
panela sobre o fogão. — Eles são tipo… tipo água e óleo. Não se misturam.
— Você só está dizendo isso porque a Antonella nunca deu bola para
você — acusa Grace, com um sorriso debochado no rosto.
John nega.
— Isso não tem nada a ver, joaninha. Eu já superei a Antonella há
muito tempo — John se defende. — Só estou dizendo que eles são extremos
opostos para que isso funcione. Não consigo imaginar a Antonella que é a
pessoa mais tagarela que conheço, namorando alguém como o Luca que
nunca fala nada. Ela viveria um eterno monólogo.
Não consigo evitar dar risada, porque John não está totalmente
errado. No entanto, eu sei que Luca conversa com o Trevor, do jeito dele é
claro, mas conversa, então ele e Antonella poderiam muito bem desenvolver
uma forma única de comunicação. Mas preciso concordar com John, é
engraçado imaginar os dois em um relacionamento.
— Nós deveríamos parar de tomar conta da vida amorosa dos outros
— eu digo, embora também tenha imaginado. — Essa comida sai ou não sai,
galera? — provoco.
— VEM COZINHAR VOCÊ! — Aurora brada, mas sei que é de
brincadeira. — Se está achando a demora tão ruim.
Eu gargalho.
— Eu estou mais preocupado se você não herdou as antigas e
terríveis habilidades do seu pai na cozinha — falo para Aurora, só para
infernizar a vida dela.
— Não enche a porra do meu saco, Colin! — ela ralha, o que só me
faz dar ainda mais risada.
— Você não deveria provocar alguém que tem o poder de envenenar
a sua comida — Casey diz, maldosa.
— Obrigada, Case! — Aurora agradece.
Olho para a minha namorada com os olhos semicerrados, fingindo
indignação por ela ficar do lado de Aurora. Então, sem que ela esteja
esperando, eu a puxo para o meu colo e entrelaço os braços ao redor da sua
cintura para que ela não consiga escapar.
— Quer dizer que você está contra mim agora? Eu pensei que nós
dois fossemos um time, Case.
Ela sorri para mim como quem promete encrenca.
— Nós somos um time, querido, mas as garotas precisam ficar
juntas. É a regra.
— Desde quando?
— Desde sempre, seu idiota — responde Grace, dando risada. —
Nós sempre vamos nos apoiar, independentemente dos nossos namorados.
Trevor franze o cenho.
— E como eu só estou sabendo disso agora?
Grace dá de ombros.
— Você nunca perguntou.
— Garotos vem e vão, mas amigas são para sempre — diz Aurora.
— A Tia Tria quem me ensinou, briga com ela se você não está feliz!
Agora Trevor realmente parece preocupado.
— Como assim: garotos vem e vão? Eu não estou indo para lugar
nenhum! Estou, Elsa? — ele pergunta para Grace, realmente apavorado.
Nós começamos a rir.
— Não, seu bobo. — Grace sai da cozinha e vem acalmar o
namorado, dando um beijo suave em seus lábios. — Nós estamos bem.
A tensão deixa os ombros dele e Trevor abre um sorriso caloroso
para Grace. Eu sinceramente não sei como ela nunca percebeu que ele era
completamente louco por ela antes mesmo de começarem a namorar. Está
nos olhos dele, claro como a luz do Sol.
As horas passam, nós terminamos de decorar a casa e o pessoal
termina de cozinhar o jantar, mas quando a hora de realmente comer chega,
Antonella e Luca ainda não apareceram. A única notícia que tivemos de
Antonella foi a mensagem que ela enviou para Grace, dizendo que nós
podíamos jantar sem ela, pois levaria mais algumas horas para que Antonella
aparecesse. Luca, por outro lado, não deu qualquer sinal de vida para Trevor
ou qualquer um de nós.
— Devemos nos preocupar? — Casey pergunta, mas é claro que ela
já está preocupada.
— Honestamente, não sei — Grace responde. — Antonella está
esquisita desde o tal jantar com o pretendente alguns dias atrás. Ela não quis
falar comigo sobre o que aconteceu ou como foi. Ela não me disse coisa
alguma.
— Isso não parece bom — Casey comenta.
— Vamos esperar até a meia noite. Se ela não aparecer para a virada
do ano, nós vamos atrás dela — sugere Aurora.
— E atrás do Luca também — completa Trevor. — Eu não confio
nesse silêncio dele. Nunca é um bom sinal.
Nós todos concordamos com o plano.
Um dia que era para nós estarmos comemorando e enchendo a cara,
se transformou em um dia onde não conseguimos parar de nos preocupar
com os italianos do nosso não mais tão pequeno grupo de amigos. Nós
tentamos nos distrair como conseguimos: jogando cartas, brincando com
Kiara ou conversando, mas dá para perceber que ninguém está cem por
cento focado no presente.
Kiara, por outro lado, está achando incrível todos os balões e fitas
que decoram a casa. Ela brinca com eles como se fossem a coisa mais
divertida que ela já viu, e talvez, para um bebê que nunca viu balões antes,
seja mesmo. E embora eu esteja preocupado — talvez sem motivo — com
Luca e Antonella, eu me divirto em ver a minha filha tão feliz.
Não vejo a hora de que ela comece a falar as primeiras palavras e eu
possa ensiná-la a patinar no gelo. Talvez ela se interesse por ser patinadora
artística, como a Grace. Ou talvez ela queira jogar hóquei. Os times
femininos não são tão populares como os masculinos, infelizmente, mas eles
existem. E eu com certeza estaria na plateia em todos os jogos dela.
— Ok, isso é ridículo — Aurora resmunga, levantando-se do sofá. —
Faltam cinco minutos para o Ano Novo. Eu acho que é bastante óbvio que a
essa altura, nenhum dos dois vai aparecer.
Grace se levanta também.
— Eu concordo. Devemos ir atrás deles.
— Mas… e se eles estiverem juntos e nós acabarmos interrompendo
alguma coisa? — Casey sugere.
— Se Antonella e Luca estivessem juntos, ela me contaria — Grace
retruca, preocupada. — Eu conheço a Antonella. Tem alguma coisa errada.
— Gracie, talvez seja melhor nós esperarmos mais algumas horas. As
ruas vão estar uma loucura por conta da virada do ano e todo mundo sabe
que tem um monte de motorista bêbado na rua esse horário — Aaron tenta
racionalizar. — Não é seguro.
Nós começamos a falar uns em cima dos outros, tentando encontrar
uma solução que agrade todo mundo e que garanta que nós vamos descobrir
o que diabos está acontecendo, mas antes que cheguemos à uma conclusão, a
porta da casa se abre, fazendo com que nós calemos a boca no mesmo
instante.
Antonella e Luca entram sem falar nada, olhando para nós como se
não entendessem por que estávamos discutindo antes deles chegarem.
— Está tudo bem? — Antonella questiona com o cenho franzido.
— Eu que deveria te fazer essa pergunta — Grace replica, brava por
conta da preocupação com a melhor amiga. — Você está bem? O que está
acontecendo?
Olho para o relógio na parede e vejo que faltam exatos dois minutos
para a virada do ano. Eu sei que todo mundo está preocupado, inclusive eu,
mas não quero passar a virada do ano em clima de desentendimento.
Estou pronto para falar que podemos conversar sobre isso depois,
que primeiro deveríamos comemorar a chegada do Ano Novo, nos
abraçarmos, dar o tão fatídico beijo da meia-noite e fazer um brinde, mas
engulo as palavras quando vejo que Antonella segura a mão de Luca, que
continua parado do lado dela sem expressar nenhuma reação diante da
comoção alheia.
— Luca? — Trevor chama pelo melhor amigo como quem pede uma
explicação, mas é óbvio que quem responde não é ele.
— Luca e eu estamos noivos — Antonella revela, olhando para Luca
com um sorriso contido.
Eu tenho certeza de que o meu queixo não é o único que cai.
Noivos?!
DESDE QUANDO?!
— Isso é sério? — Casey pergunta com os olhos arregalados.
— Ele era o pretendente do jantar da outra noite? — Grace indaga,
completamente chocada.
Antonella nega com a cabeça.
— Não, não era ele, nós só… — a frase morre nos lábios dela, como
se Antonella não tivesse ideia de como explicar.
— Nós nos apaixonamos — Luca completa, para finalizar o choque
que todo mundo está sentindo.
Os fogos começam a tomar os céus logo em seguida, mas ninguém se
move na sala. Ninguém fala nada. O único som que permeia o ambiente são
as explosões dos fogos de artifício, indicando a chegada do novo ano.
— Devemos dizer Feliz Ano Novo ou parabéns aos noivos? — John
questiona, se sentindo tão perdido quanto o resto de nós.
O anúncio do casamento entre Luca e Antonella parece ser um
presságio, mas ainda não sei se bom ou ruim, embora eu tenha a ligeira
impressão de que esse novo ano será mais repleto de caos do que o anterior.

Passe para o lado e confira o capítulo bônus.


Capítulo bônus

Pensando que depois de todo esse tempo


Eu só quero encontrar seus olhos
Para que então eu possa me lembrar do porquê
Porque eu te amei uma vez
| Clara Mae – Loved You Once

Flashback – Organização da Festa de Halloween atrasada

— Vocês deveriam ter esperado mais um pouco para fazer essa festa
— eu comento com ninguém especificamente.
Estamos a manhã inteira organizando as coisas na casa de Grace para
que a festa de Halloween possa acontecer essa noite. E mais uma vez, a
minha melhor amiga não está nada feliz de ter que usar a sua casa para outra
festa. Acho que ela estaria mais complacente com a ideia se Colin realmente
fosse participar, já que o propósito do adiamento foi para que ele estivesse
aqui. Mas é claro que todos nós entendemos quando Trevor explicou o
motivo de Colin não participar.
Eu só espero que toda essa história com Anna termine logo e Kiara
possa estar completamente em segurança de novo.
— Nós deveríamos ter deixado essa festa para lá, na verdade —
resmunga Grace. — Daqui a pouco é Natal e nós estamos fazendo festa de
Halloween? Isso não tem o menor sentido.
— A festa de Halloween é uma tradição do time, joaninha —
argumenta John, enquanto carrega uma enorme caixa de som para dentro de
casa.
A temperatura não está mais favorável para uma festa do lado de
fora, como foi a última que tivemos, então Grace vai ter que se conformar
com uma festa do lado de dentro.
Grace suspira.
— Vou dormir na sua casa — ela me avisa.
Rio.
— É, eu imaginei.
Nós continuamos a organizar e decorar a casa para deixar tudo
preparado para essa noite. Não temos muitas horas para deixar tudo pronto,
mas o time todo está ajudando e eu apenas vim para fazer companhia para
Grace. No entanto, sou inquieta demais para apenas ficar sentada assistindo,
então começo a ajudá-los com o que eu consigo.
Grace conseguiu que os garotos concordassem em deixar apenas o
antigo quarto de Colin destrancado para a festa. Todos os outros quartos
estarão trancados, para evitar que a galera transe lá. Para que quarto se tem
dois banheiros na casa? Não que eu saiba alguma coisa sobre isso, porque eu
continuo miseravelmente virgem.
Cheguei tão perto de perder a virgindade tantas vezes, mas nunca
parece certo. Sempre que estou quase lá, penso na reação da minha família.
Eles ficariam arrasados e totalmente decepcionados comigo, mas o que mais
me incomoda é que eu estaria os magoando por um sexo que não significa
nada. Não é como se eu estivesse apaixonada pelos caras com quem quase
perdi a virgindade. No final das contas, sempre acabo decidindo que não
vale a pena o sofrimento. Mesmo que a minha família esteja me empurrando
para a tentativa de um casamento arranjado, eu não consigo odiá-los por
isso. Sei que eles me amam e só estão fazendo o que acreditam fielmente ser
o melhor para mim.
Eles estão errados? Sim.
Eu deveria fazer as minhas próprias escolhas e ser capaz de me casar
por amor? Sim e sim.
Mesmo assim, eu ainda me importo com a opinião deles, quero que
eles sejam felizes e sintam orgulho de mim. A questão é: estou realmente
disposta a passar por cima da minha própria felicidade para que isso
aconteça? Ainda não me decidi sobre isso, para ser sincera.
Estou tão distante em pensamentos que nem me dou conta que parei
no meio do corredor do andar de cima da casa, com as decorações que eu
supostamente deveria colocar no banheiro. Volto à realidade quando sinto a
caixa sendo tirada das minhas mãos.
Pisco os olhos para me livrar do estupor e encontro Luca parado na
minha frente, segurando a caixa que eu estava segurando até segundos atrás.
— Eu estou encarregada da decoração do banheiro — eu digo,
puxando a caixa das mãos dele, mas é claro que Luca não a solta de boa
vontade.
Sem dizer nada, como de costume, Luca apenas vira as costas para
mim e começa a andar pelo corredor. Bufando, com toda a paciência que eu
não tenho, eu vou atrás dele.
— Luca, me dá a caixa, por favor.
Eu tento ser educada, mas é nítido no meu tom de voz que eu estou
irritada. E é claro que Luca me ignora completamente. Ele entra no banheiro
e coloca a caixa em cima da pia. Eu o sigo, entrando no cômodo também. Eu
poderia deixar para lá, poderia deixar que ele fizesse o trabalho ele mesmo,
já que parece que é o que quer fazer, mas eu sou orgulhosa e teimosa demais.
Os olhos castanhos de Luca encontram os meus e ele sustenta o meu
olhar. Eu gostaria realmente de entender qual é a dele, mas esse cara é um
completo mistério para mim. Nós nos conhecemos desde que somos
pequenos, já que frequentamos a mesma comunidade de italianos e Paradise
não é uma cidade realmente grande. Eu me lembro dele de quando éramos
crianças. Luca sempre foi na dele, mais quieto que a maioria das crianças,
mas sei que ele falava mais naquela época. Ele sorria mais também. Foi
quando completamos dez anos, mais ou menos, que ele começou a mudar
drasticamente. Ele parou de sorrir quando as pessoas o cumprimentavam;
depois ele parou de respondê-las quando falavam com ele. Quando entramos
na adolescência, ele mudou o corte de cabelo, ganhou algumas cicatrizes —
só Deus sabe como — e encheu o corpo de tatuagens.
Eu o vi se transformar diante dos meus olhos e mesmo assim não
consigo entender o que rolou com ele.
— Obrigada, você pode ir agora.
Luca desvia os olhos dos meus e volta a sua atenção para a caixa.
Ainda sem me responder, ele começa a tirar as decorações de lá de dentro.
Não consigo entender se ele quer fazer isso sozinho ou se quer me ajudar.
Respiro fundo, não contendo a minha irritação por não conseguir
entender o que diabos ele quer. Estranhamente parece que sempre somos
atraídos um para o outro e detesto isso. Detesto tê-lo perto de mim porque
tudo o que consigo sentir é frustração. Por que ele tenta estar perto se não
fala comigo?
Por fim, desisto e decido que se ele me ignora, eu vou ignorá-lo
também. Eu estou encarregada da decoração do banheiro, então é isso o que
vou fazer. Tiro o restante da decoração de dentro da caixa, colocando tudo
em cima da pia para que eu decida exatamente o que quero colocar. Tento
lembrar de como estava a decoração do ano passado, porque com certeza
não quero fazer igual.
Encosto meu corpo na pia e me concentro em colocar as aranhas de
plástico presas na teia de mentira. Mantenho meus olhos na minha tarefa
como se minha vida dependesse disso, mas odeio não ser capaz de esquecer
completamente que ele está parado do meu lado. Eu consigo sentir a maldita
energia dele. Consigo sentir como ele emana violência e revolta, mas sei que
não adianta querer arrancar qualquer informação dele.
De novo, me pego perdida em pensamentos e só volto para a
realidade quando sinto a aproximação dele. Quando levanto a cabeça, me
dou conta de que Luca está parado na minha frente. Seus olhos estão fixos
nos meus de novo, mas ao invés de me permitir ser hipnotizada pelo
magnetismo que encontro ali, eu apenas permaneço parada e muito
consciente da aproximação dele. Não permito que a inegável atração física
que sinto por ele me domine.
Luca se aproxima mais um pouco, abaixando um pouco o tronco para
que consiga ficar da minha altura. Agora, seu rosto está apenas a alguns
centímetros do meu. Se eu erguer um pouco o queixo, acho que a minha
boca consegue tocar a dele. No entanto, eu não me movo. Cacete, eu acho
que nem estou respirando. Tudo o que faço é manter meus olhos nos dele e
garantir que meu rosto não entregue nada. E ele avança um pouco mais, mas
no último segundo antes de nossos lábios se tocarem, ele desvia o rosto e
estica o braço para pegar alguma coisa atrás de mim. Quando se afasta, vejo
que ele está segurando um morcego de plástico que estava jogado entre as
outras decorações, bem atrás de mim.
Maldito desgraçado.
Não esboço qualquer reação quando Luca dá um pequeno sorrisinho
para mim. Eu posso nem sempre entender qual é a dele, mas eu entendo
muito bem o que aquele sorrisinho quer dizer. Não sei o porquê, mas ele
parece gostar de brincar comigo. O problema é que, da mesma forma como
eu não o conheço mais, ele com certeza não me conhece também. Se ele
quer brincar, eu posso muito bem igualar esse jogo.
Luca se afasta totalmente de mim e continua colocando a decoração
pregada nas paredes e no lustre do banheiro, já que ele consegue alcançar.
Eu finjo que nada aconteceu e começo a colocar a teia de aranha na
banheira, mas me certifico de abaixar mais do que o necessário e empinar a
bunda na direção dele. Não viro meu rosto para ver se ele está olhando,
porque eu sei que está. Gostaria muito de ver a sua expressão agora, mas não
dou o gostinho de que ele tenha a certeza de que estou fazendo de propósito.
Continuo me movimentando com falsa inocência e me certifico de que
quando passo por ele, indo de um lado para o outro do banheiro, uma parte
do meu corpo encosta no dele. Como resposta, eu consigo ouvi-lo grunhindo
baixinho cada vez que eu faço isso.
Controlo a vontade de sorrir, pois eu sei que o estou deixando
irritado, no mínimo. Mas ainda não terminei. Espero mais alguns segundos
passarem e estão puxo minha camiseta por cima da minha cabeça, revelando
o sutiã vermelho que uso embaixo.
— Está calor aqui, não acha? — eu falo pela primeira vez em sabe-se
quanto tempo. Tenho a impressão de que qualquer envolvimento com Luca é
sempre nos detalhes, pois ele tem a sua própria forma de se comunicar.
Luca olha para mim, mas seus olhos não descem até o colo dos meus
seios. E como estamos fingindo ignorar um ao outro, eu passo por ele de
novo, indo até o outro lado do banheiro para terminar de colocar as últimas
decorações. No entanto, Luca me para no meio do caminho, segurando o
meu braço e me impedindo de me afastar mais.
— Se vista — ele demanda, a voz profunda como a escuridão do
fundo do mar.
Forço o sorriso para longe dos meus lábios, mas empino o meu
queixo, desafiando-o.
— Por quê? Se eu te desconcentro, não é problema meu. — Agora eu
finalmente sorrio. — Sabe qual é o seu problema, Luca? Você se acha
inabalável, acha que tem algum poder sobre as pessoas só porque elas não te
entendem. Adivinha só, amor, eu não dou a mínima. Se você tentar brincar
comigo de novo, eu vou me certificar de foder com você de um jeito que vai
impossível para você me ignorar. Ou me esquecer.
Luca aproxima o seu rosto e fica frente a frente comigo, mas eu acho
que ele ainda não entendeu que não me assusta. Luca me irrita e me deixa
frustrada, mas nunca assustada.
— Você vai se arrepender se fizer isso — ele me avisa, e
sinceramente, eu não acho que ele está errado. Tenho certeza de que essa
guerra fria entre nós dois vai acabar mal em algum momento.
— Não mais do que você vai se arrepender se não soltar o meu braço
agora — eu rebato.
Sem que eu precise falar duas vezes, Luca me solta, mas não se
afasta um centímetro. Não sei se ele consegue sentir a energia atravessando
nossos corpos como corrente elétrica, mas eu sinto. Assim como consigo ver
nos olhos dele, mesmo que ele ainda não tenha se dado conta. Eu posso não
entender nada quando o assunto é Luca Capone, mas de uma coisa eu sei:
algo em mim o incomoda e o instiga ao mesmo tempo, caso contrário ele
não estaria mais dentro desse banheiro comigo.
É só quando Luca se afasta e sai do banheiro que sinto que consigo
respirar de novo. Apoio minhas mãos na pia atrás de mim e respiro fundo,
tentando acalmar meus batimentos cardíacos.
Para a minha própria sanidade mental, eu preciso ficar longe desse
cara a qualquer maldito custo. E é exatamente o que vou começar a fazer
daqui para frente, não importa o quão curiosa eu seja sobre quem ele se
tornou.

Vejo vocês em Arruinado, em dezembro de 2023 na Amazon.


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Agradecimentos

Oi, gente! Chegamos ao final de mais um projeto. Destinado


começou a ser escrito em um momento da minha vida onde eu passei por
várias mudanças. Foi um livro difícil de me conectar, talvez porque tinha um
monte de coisa acontecendo comigo ao mesmo tempo. No entanto, é um
livro pelo qual eu tenho muito carinho. Não só porque trata de um tema tão
sério e doloroso, que é o abandono parental, mas também porque me traz
muitas memórias de Sobre Nós, a minha primeira série de livros e a que foi
responsável por eu estar aqui hoje.
Trazer esses personagens de volta é sempre divertido. Sinto como se
eles fossem meus amigos, aqueles que a gente fica anos sem ver, mas
quando se encontra é como se nada tivesse mudado de verdade, sabe? É
como se o tempo nunca tivesse passado. E eu espero que vocês tenham
sentido isso também enquanto liam.
Quero agradecer primeiramente a Deus por me conceder o dom e o
privilégio de contar tantas histórias.
Quero agradecer à minha família pelo apoio de sempre, por
acreditarem em mim e me motivarem a viver o meu sonho. Eu agradeço por
cada um de vocês e os amo mais do que tudo no mundo. Também quero
agradecer aos meus cachorros, Toddy Cleiton e Koda Nilton, por serem
meus eternos companheiros em cada nova jornada, em todas as longas horas
que eu permaneço trabalhando. Vocês fazem os meus dias serem mais
felizes.
Também agradeço às minhas amigas e colegas de trabalho: Beatriz
Garcia, Laura Vitelli, Fernanda Martins e Olivia Ayres por cada surto, cada
momento de desabafo e pela amizade que desenvolvemos. Amo vocês.
Claro que também preciso agradecer à Camila Moura e à Laura
Vitelli – de novo – por betarem esse livro e me darem os melhores
feedbacks, possibilitando que Destinado seja o que é. Um agradecimento
especial também à Carolini Araújo, que acompanhou o começo desse livro e
me ajudou a me conectar melhor com a história. Eu valorizo muito a
amizade de vocês e o cuidado que vocês têm com cada história que betam.
Amo vocês.
Ao Comando e às Atletas Mafiosas, o meu mais sincero obrigada.
Vocês fazem parte de cada livro, cada surto, cada degrau que eu subo nessa
infindável aventura de contar histórias. Eu nunca vou ser capaz de agradecer
o suficiente. Obrigada por ficarem comigo. Amo vocês.
A todos os meus leitores, todo o meu amor e o meu muito obrigada
por estarem aqui e acompanharem cada história e cada plot maluco que a
minha cabeça inventa. Eu amo vocês.
Os agradecimentos estão quase no fim, mas não posso deixar de fora
o cara que conheci no final de 2022 e que me mostrou um mundo
completamente diferente e que, à sua própria maneira e em cada detalhe,
com certeza marcou a minha vida para sempre. E curiosamente falando, ele
tem o nome de dois nos meus personagens e é absurdamente parecido
fisicamente com ambos. Loucura né? Josh, obrigada. Você foi um presente
que eu não imaginei receber. Amo você.
Para finalizar, agradeço à Gabriela Gois pelo incrível trabalho com a
ilustração dos personagens e à Larissa Chagas pelas mudanças feitas na capa
original.
É isso pessoal. Espero encontrá-los de novo nos próximos projetos.
Um super beijo,
Fers

[1] Passos de bebê. É um termo em inglês que se refere a fazer as coisas


devagar, com calma, passo a passo.
[2] Uma bebida bem conhecida nos Estados Unidos. É uma mistura de
vodca com suco de frutas. Tem de vários sabores.
[3] Com título original em inglês: “The Sex Lives of College Girls”.

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