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1ª Edição

2023

Copyright © 2023 Sara Ester

Revisão: Sara Ester

Diagramação Digital: Paula Domingues

Capa: TTenório

Ilustração: Hiago Berry

Esta é uma obra ficcional.

Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da

vida real é mera coincidência.

Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste

livro pode ser utilizada ou reproduzida em quaisquer meios


existentes sem a autorização por escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na


Lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Liam Sullivan estava de casamento marcado. No entanto, o
que predominava entre ele e sua noiva não era o amor, mas um
profundo ódio.

Duas famílias mafiosas. De um lado, os italianos mais


temidos do submundo. Do outro, irlandeses com fama de
implacáveis. No meio de um conflito de negócios surgiu a
proposta de aliança, um acordo simples para a união das
famílias...

Só que infelizmente, a palavra "simples" era uma ilusão.


Liam e Aurora se detestavam com fervor. Desde o primeiro
encontro, a antipatia sempre ficou evidente, e a ideia de se
unirem em matrimônio era um verdadeiro pesadelo para ambos.
Além disso, Liam sabia que Aurora tinha o poder de rejeitar a
união, pois não seria forçada a se casar contra sua vontade.

O problema era que a garota estava determinada a tornar a


vida dele um inferno, aproveitando cada oportunidade para
atormentá-lo. Ela encontrava prazer em semear o caos, e,
mesmo sem compreender o motivo, Liam se sentia cada vez
mais atraído por essa energia caótica dela. Talvez o ódio que
compartilhavam estivesse mais próximo da atração do que
imaginavam.

À medida que o passado obscuro de Liam vem à tona,


colocando em perigo não apenas sua própria vida, mas também
a de Aurora, ele percebe que nada pode roubar a felicidade que
conquistou. Mesmo que essa felicidade estivesse ligada,
exclusivamente, ao seu próprio "projeto de satanás", como ele
carinhosamente a chamava.

Será que o ódio pode se transformar em amor?


Se você está buscando um casal romântico, lamento
informar que não encontrará isso neste livro. Pelo contrário... a
toxidade reina aqui, amém!
MINHA PERDIÇÃO faz parte de uma série de máfia, sendo
este, o primeiro volume. No entanto, todos podem ser lidos
separadamente.

Aqueles que conhecem as séries: FRATELLI e os HERDEIROS


FRATELLI, já testemunharam o relacionamento tóxico e
agressivo do casal Liam e Aurora, e desde então me pediram o
livro dos dois. Posso garantir que... bem, ficou do jeito deles!

Aurora, apesar de toda a armadura de agressividade e


rudeza, acreditem ou não, é humana. Mas por que ela é tão rude
com todo mundo? Porque é a forma que ela aprendeu de se
proteger, de defender a si mesma de traumas e mágoas. No
entanto, aos poucos, Liam consegue perceber esse escudo dela
e, juntos, eles trabalham nisso. Não para mudá-la, mas para que
Aurora aprenda a ser mais leve e menos defensiva, hahaha.

Liam, bem... é aquele tipo emocionado, sabem? Sim, ele é


assim! Claro, como Aurora, ele também é grosseiro, impulsivo e
possessivo, mas nada que ultrapasse os limites do aceitável. De
alguma maneira distorcida, os dois se complementam e se
encaixam de uma forma que não precisam mudar. Ambos se
entendem sendo eles mesmos...

Eles são tão loucos e lindos e ainda mais loucos juntos...


rsrsrsrs

Espero que vocês apreciem a história desse casal


apocalíptico tanto quanto eu apreciei escrever sobre eles.

Aviso II
Esta história contém alguns gatilhos, como: violência física,
fobia de agulha, sequestro, claustrofobia, hospitalização e
ataques de pânico. Também inclui cenas de sexo e linguagem
inadequada para menores de 18 anos.
SINOPSE

DEDICATÓRIA

AVISO

SUMÁRIO

PRÓLOGO

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

EPÍLOGO

BÔNUS

AGRADECIMENTOS

OBRAS RELACIONADAS

REDES SOCIAIS
Sempre imaginei que um dia encontraria alguém com
quem me casar, alguém que despertasse em mim sentimentos
positivos como leveza, tranquilidade, cumplicidade e amor.

Infelizmente, minha noiva, Aurora Ricci, era tudo, menos


essa pessoa. Ela me transmitia todos os sentimentos negativos
possíveis. Eu a desprezava intensamente e sentia ainda mais
raiva dos meus irmãos por me forçarem a me casar com ela por
questões de negócios. Aurora não precisava concordar com essa
loucura, afinal, sua família nunca a obrigaria a um casamento
arranjado. No entanto, a desgraçada insistia nisso apenas para
tornar minha vida um verdadeiro inferno.
Às vezes, me questionava onde Deus estava quando essa
odiosa criatura foi formada. Certamente, nesse dia, Ele tirou
uma folga. Era evidente que Aurora não era obra Dele, mas do
próprio Satanás.

Apertei os dentes, lutando para conter toda a raiva que se


acumulava dentro de mim diante do sombrio futuro que se
desenhava na minha mente ao lado de alguém que eu
simplesmente não suportava e que, sem dúvida alguma,
aproveitaria a primeira oportunidade para me envenenar.

Era surpreendente como o nosso ódio mútuo surgiu


instantaneamente desde o momento em que nos conhecemos
há quatro anos. Foi durante um encontro tenso com os Fratelli,
quando meus irmãos e eu nos reunimos para traçar uma
estratégia visando resgatar nossa irmã, que havia sido
sequestrada pela implacável organização conhecida como
Igreja. Naquela época, Aurora tinha apenas quinze anos, mas
sua insolência se destacou de imediato, capturando minha
atenção de maneira inesperada, pois não era algo ao qual eu
estava acostumado.

Ouvi alguém perguntar:

— Já retiraram todas as armas e objetos cortantes da casa?

Reconheci a voz de Kael e, em resposta, fiz um gesto


obsceno para ele de onde eu estava, parado em frente à janela.
Não estava com vontade de falar, pois sabia que acabaria sendo
rude com meus irmãos. Lá no fundo, eu entendia que isso não
era culpa deles. Nascemos em um mundo onde cada um de nós
tinha um papel a desempenhar em prol do bem da família. Se o
fato de eu me casar com aquela insuportável dos Fratelli traria
benefícios para nossa organização, então eu faria isso.

Me sacrificaria.

No entanto, não havia como me obrigarem a ficar


entusiasmado com tal decisão. Pelo contrário, me sentia à beira
de explodir, com uma sensação de frustração intensa em
relação a tudo e a todos ao meu redor.

Enquanto terminava meu uísque, mantive meus olhos fixos


na paisagem além da janela do escritório, onde meus irmãos e
eu aguardávamos o momento do casamento. A cerimônia
estava prestes a acontecer na capela da família, seguindo a
antiga tradição. Foi nesse momento que notei uma figura se
movendo sorrateiramente no térreo, se misturando entre os
funcionários. Aurora tentava passar despercebida, usando uma
capa para encobrir seu vestido branco.

Um arrepio percorreu meu corpo ao perceber o que meus


olhos testemunhavam. Ela estava prestes a escapar. Aquela
maldita estava planejando fugir e arruinar minha vida.

Abandonei rapidamente a janela, deixando minha taça na


mesa. Meus irmãos ficaram confusos, mas eu não estava com
paciência para explicar nada naquele momento. A partir daquele
instante, Aurora se tornaria exclusivamente meu problema. Ela
achava que poderia me humilhar ao abandonar-me no altar?
Estava enganada. Eu não permitiria isso.

Em poucos segundos, desci as escadas até o térreo, mas já


era tarde demais. Os portões estavam abertos para receber os
convidados, o que facilitou a fuga de Aurora com um dos carros
que ela havia roubado. Sua astúcia não me surpreendeu. Aquela
maldita era ardilosa pra caralho.

— O que está fazendo aqui, meu querido? Você deveria


estar se preparando para receber sua noiva na capela — Amy, a
única mãe que conheci, interrompeu meu caminho.

Amy assumiu o papel de nossa babá após o trágico


assassinato de nossa mãe em um atentado no próprio carro, há
mais de vinte anos. Com o tempo, ela e meu pai se envolveram
romanticamente e logo tiveram Madison, que se tornou a alegria
de nossas vidas. Mesmo após a perda de nosso pai, Amy
permaneceu ao nosso lado, cuidando de nós como se fôssemos
seus próprios filhos.

Acariciei seu rosto e depositei um beijo em sua testa.

— Eu entendo sua preocupação, Amy, mas a cerimônia vai


sofrer um pequeno atraso — respondi, me afastando.

Apesar de amarmos Amy, nenhum de nós cinco — Owen,


Sean, Carter e Kael — a chamava de mãe.

— ATRASAR? — inquiriu, com os olhos arregalados. Em


seguida, abaixou o tom de voz, tentando me acompanhar
enquanto eu me dirigia apressadamente para a garagem. — O
que está acontecendo, Liam? O que você fez? Por favor, me diga
o que aconteceu...

Fiquei chocado, piscando os olhos.

— Por que vocês sempre presumem o pior de mim?

Amy estreitou os olhos e balançou a cabeça.


— Porque, para começar, você nem queria se casar. — Ela
cruzou os braços, e eu bufei. — E agora, de repente, diz que a
cerimônia vai atrasar? O que está acontecendo, afinal?

Meus olhos vasculharam os carros, tentando identificar


qual deles a maldita havia roubado.

— A noiva fugiu, é isso que aconteceu! — Eu falei sem olhá-


la diretamente, mas pude ouvir sua surpresa contida. — Mas não
se preocupe, eu irei atrás dela. Prometo trazê-la de volta,
mesmo que seja arrastada pelos cabelos.

Foi então que percebi que meu carro não estava lá. Ela
havia levado justamente o meu maldito carro.

Amy começou a falar incessantemente... e eu não estava


com paciência, nem tempo, para suas palavras. Segurei seu
rosto mais uma vez, forçando-a a me encarar.

— Não quero que você crie um alvoroço entre os outros —


declarei, sem permitir qualquer discussão. — Apenas tente adiar
a cerimônia. Prometo que o casamento irá acontecer.

Após dizer isso, me afastei e decidi pegar o carro esportivo


de Owen. No banco do motorista, liguei o GPS e ativei o
rastreador do meu próprio carro. Era apenas uma questão de
tempo até encontrar aquela teimosa fugitiva.

Depois de alguns minutos longos, o rastreador me levou a


uma praia praticamente deserta devido ao clima desfavorável.
Estacionei o carro, puxando o freio de mão com força. A ira
corria em minhas veias de forma intensa e assustadora, e eu
mal conseguia contê-la.

Aurora estava de costas quando me aproximei, curvada


com as mãos nos joelhos. Meu carro, que ela havia roubado para
fugir, estava estacionado de qualquer maneira, o que só
aumentou minha irritação, pois eu tinha um forte ciúme e apego
às minhas coisas.

— ACHOU MESMO QUE PODERIA ESCAPAR DE MIM,


GAROTA? — gritei, assustando-a, pois ela ainda não havia
notado minha presença. — ACHOU QUE PODERIA FUGIR E ME
DEIXAR PLANTADO NO ALTAR?

Finalmente, ela olhou para mim, mas parecia não me


enxergar de verdade. Vi o pânico brilhando em seus olhos
claros. Nesse momento, abaixei minha guarda, pois percebi que
a garota estava tendo um pequeno surto.

— Droga, garota! — exclamei, me aproximando mais. Para


minha surpresa, ela não me afastou quando a puxei para meus
braços, praticamente a escondendo, já que Aurora era toda
pequenina. Perto dela, eu me sentia um gigante em meus mais
de um metro e noventa de altura.

Era estranho tê-la ali, naquele lugar. Meus braços nunca


tinham abrigado ninguém além da minha família.

— Respire — pedi suavemente, deslizando minhas mãos


com cuidado ao longo de suas costas, buscando transmitir uma
sensação reconfortante. — Apenas respire — repeti, ciente da
angústia que a dominava, afinal, esses malditos ataques de
pânico e eu éramos íntimos há muito tempo.

O ar ficou preenchido com suas respirações ofegantes,


enquanto eu me esforçava para acalmar o turbilhão interno que
ameaçava sufocá-la. Tremores percorriam meu corpo devido ao
calor de sua respiração na curva do meu pescoço. Ela também
estava chorando, e eu não sabia ao certo por que isso me
causava desconforto, mas de alguma forma, causava.

Os minutos pareciam se arrastar, como se o tempo


estivesse suspenso. Com um esforço consciente, afastei meu
rosto e encarei Aurora. No entanto, à medida que nos
aproximávamos tanto, as memórias de um passado recente
inundaram minha mente, revivendo o momento em que nossos
lábios se encontraram após ficarmos presos em um maldito
elevador, há pouco mais de um ano.

Naquela situação, minha ansiedade tomou conta de mim


ao ficar confinado em um espaço apertado, e acabei passando
mal. Aurora, mesmo relutante, decidiu intervir e iniciou uma
respiração boca a boca para me ajudar. O que começou como
um gesto desesperado de auxílio logo se transformou em algo
incontrolável. Nossas bocas se uniram em um beijo faminto,
enquanto nossos gemidos se misturavam. Por um instante,
hesitei em acreditar que aquilo estava realmente acontecendo,
pois essa garota só me provocava raiva. No entanto, era como
se estivéssemos sendo levados por uma força maior, que
ultrapassava nossa vontade e raciocínio lógico.

Aquele beijo, tão surpreendente quanto avassalador,


deixou uma marca inegável em nossa história, e eu nunca o
esqueci. Talvez porque tenha sido mais agradável quando ela
usou aqueles lábios insolentes para me beijar em vez de me
insultar.

De repente, fui despertado de meus devaneios quando ela


me empurrou e se afastou como se eu fosse contagioso.

Aurora acariciou o rosto, enxugando as lágrimas teimosas.


Sua maquiagem estava borrada, mas isso não diminuía sua
beleza.

— Eu não tinha a intenção de te abandonar no altar, seu


idiota! — rosnou, com a voz embargada pelo choro recente. —
Valorizo minha própria vida! Como prima de Benjamin, meu
líder, eu seria morta, independentemente do parentesco.

Franzi a testa, mantendo meus olhos fixos nela enquanto


ela lutava para se recompor. Benjamin era o chefe da máfia
Fratelli, a organização da qual ela fazia parte.

— Mas acredite em mim — continuou, agora me encarando


com um ar de petulância —, a vontade não falta.

Estreitei os olhos e cruzei os braços.

— Se esse maldito casamento está sendo tão terrível para


você quanto está sendo para mim, por que aceitou? — desafiei,
tentando entender. — Eu não pedi por nada disso, garota. Eu
quero você o mais distante possível de mim — desabafei,
exasperado.

— Você não deveria ter cruzado o meu caminho — ralhou,


sua voz trêmula de pura raiva. — Sempre me provocando e
irritando. — Acha que não percebi quando você desdenhou da
ideia de se unir a mim quando a proposta de casamento foi
mencionada pelo Benjamin?

Trinquei os dentes, incapaz de acreditar nessa merda.

— E isso foi motivo suficiente para você aceitar essa droga


de casamento? A porra do seu ego ferido? — Apontei, fervendo
de indignação. — Por que quer conviver com um homem que
odeia?

— Para transformar a sua vida em um inferno! —


respondeu abruptamente, seus olhos faiscando.

Voltei a encará-la, meus olhos percorrendo seu vestido


branco, oculto sob aquela capa horrível. O vestido,
meticulosamente confeccionado para o casamento, exibia
detalhes de símbolos celtas em tons vermelhos. Mesmo
encobertos, eu conseguia vislumbrar as cruzes e trevos
bordados na renda irlandesa.

Permaneci imóvel, mãos na cintura, enquanto a tensão


pulsava em meus músculos.

— Você não deveria usar esse vestido — apontei, me


aproximando dela novamente. — Não é a noiva que escolhi.

Seus olhos me perfuraram como adagas afiadas.

— Não pense que isso vai me afetar — rosnou. — Na


verdade, o fato de minhas escolhas te incomodarem é motivo de
alegria para mim.

Estiquei os cantos dos lábios num sorriso cínico.


— Ah, é mesmo? — provoquei com sarcasmo. — Você
certamente não parecia tão contente quando a encontrei aqui,
depois de ter fugido com o meu carro. Parecia um bebê em meio
a um ataque de pânico.

Antes que ela pudesse me atingir com um tapa, segurei


sua mão firmemente. Mantivemos nosso olhar repleto de ódio.

— Não ouse me agredir — bradei.

No entanto, ela não era desse mundo. Fechou o punho e


desferiu um soco em meu estômago, me fazendo curvar de dor.
Não era a primeira vez que ela me atacava, aliás. Anos atrás, a
maldita tentou me matar com um tiro.

— Desgraçada! — murmurei, sem ar, me curvando e


segurando o abdômen para aliviar a dor.

— Que espécie de roupa é essa que você está usando,


afinal? — perguntou com desdém.

Endireitei-me, respirando fundo, em busca de calma e


controle.

— Você não estudou as tradições do seu futuro marido? —


debochei, gesticulando. — Agora estou desapontado, fedelha.

Em resposta, ela apenas fez um gesto obsceno.

— É um kilt tartan — expliquei finalmente. — É uma


vestimenta que representa os condados e distritos da Irlanda.
Nos casamentos irlandeses tradicionais, o noivo é obrigado a
usar um traje completo de kilt formal. — Apontei para mim
mesmo.
— Você realmente precisa usar essa saia? — ela fez uma
careta.

Senti-me ofendido.

— Não é uma saia, garota. Chama-se kilt — corrigi,


tentando manter a calma. — Esta é uma jaqueta Brian Boru, em
homenagem ao rei guerreiro irlandês. E este é um Sporran com
detalhes de trevo. — Gesticulei.

Ela continuou zombando, questionando o significado das


meias até os joelhos. A irritação tomou conta de mim e me
aproximei, segurando-a pelo braço.

— Já chega! — exclamei, indignado. — Você vai voltar


comigo agora para acabarmos logo com isso.

Ela tentou se libertar, me empurrando novamente.

— Eu ainda não estou pronta — alegou, se soltando do meu


aperto. — Você não entende? Por que acha que eu fugi? —
perguntou, angustiada. — Eu me sinto sufocada, você não
percebe?

Abanei a cabeça, incrédulo.

— Ah, peço desculpas, "magnânima" — ironizei, fazendo


aspas com os dedos. — Devo me ajoelhar diante de você e me
deixar ser torturado para seu deleite?

Um sorriso zombeteiro se formou em seus lábios.

— Não seria uma má ideia — afirmou, divertida.

Minha paciência atingiu o limite e peguei meu celular.


— Estou farto de você! — gritei. — Vou ligar para o meu
irmão e informar que o casamento está cancelado por sua culpa
e pelo constrangimento que me causou.

— Se você fizer isso, enfrentarei as consequências —


advertiu ela, com medo na voz.

— As consequências serão apenas suas! — respondi, dando


de ombros.

Minhas palavras só a deixaram mais enfurecida, e ela


avançou em minha direção, socando meu peito.

— Você é um egoísta, desgraçado! — rosnou. — EU TE


ODEIO! ODEIO! ODEIO! ODEIO! — Continuou a me socar.

Permaneci imóvel, permitindo que ela descarregasse sua


raiva. De repente, interrompi seus golpes e segurei seu rosto,
aproximando nossas testas.

— Não mais do que eu te odeio, garota — sibilei, entre


dentes.

Pude ver a umidade em seus olhos, mas ela não estava


chorando. O único sentimento que eu conseguia perceber era o
ódio refletido em seu olhar, o mesmo ódio que eu sentia.

O ritmo acelerado da nossa respiração preenchia o espaço


entre nós. Fiquei hipnotizado pelos seus lábios entreabertos, em
busca de ar. O movimento suave de sua garganta enquanto
engolia denunciava seu nervosismo. Era evidente que nossa
proximidade a afetava tanto quanto me afetava.
Não consegui mais resistir ao desejo avassalador e, de
repente, meus lábios famintos se lançaram sobre os dela. E,
puta que pariu, eles eram ainda mais doces do que eu me
lembrava.

Envolvi sua cintura com um braço, enquanto o outro


permanecia em sua nuca, guiando o ritmo do beijo. Para minha
surpresa, Aurora pulou em meu colo, me obrigando a segurá-la
com suas pernas ao redor da minha cintura.

Caminhamos juntos até que seu corpo encostasse na


lataria do carro. Meus lábios percorreram seu pescoço,
provocando mordiscadas em sua pele macia e perfumada.
Aurora puxava meus cabelos com força, soltando gemidos
incoerentes que despertavam uma resposta direta no meu pau.

— Eu me casarei com você — disse ela, recuperando o


fôlego —, mas não quero ser mais virgem quando isso
acontecer.

— Por quê? — indaguei, curioso.

— Porque não sou adepta a regras. Eu faço minhas próprias


regras!

A intensidade da sua voz e seu olhar penetrante


despertaram em mim um rosnado primitivo.

Sem trocar palavras, me afastei do carro e a coloquei no


chão. Em seguida, abri a porta do veículo e fiz um gesto para
que ela entrasse.

Inicialmente, ela hesitou, demonstrando incerteza.


— Ainda há tempo para desistir — comentei, percebendo a
urgência em minha própria voz. Droga, eu estava desesperado
para estar com ela.

— Eu não quero desistir — respondeu com uma careta —,


mas... você já fez sexo com alguém aqui? — Apontou para o
interior do carro.

Fiquei momentaneamente confuso e, em seguida, comecei


a rir.

— Com ciúmes, garotinha? — provoquei, o que a levou a


tentar me agredir. Porém, fui mais rápido e segurei suas mãos
perigosas.

— Não misture as coisas, irlandês insolente — rosnou.

Em seguida, entramos no carro. Rápido, empurrei os


bancos dianteiros para trás, facilitando nosso espaço. Nossas
bocas permaneciam coladas, como se estivéssemos famintos
um pelo outro.

Era incrível como uma garota tão inexperiente podia me


afetar tanto, a ponto de quase me fazer gozar nas calças só
pelos sons que escapavam de sua boca.

— Eu... quero estar por cima — disse ela, mordendo o lábio


inferior.

Eu me sentei, permitindo que ela se acomodasse em meu


colo. O problema foi que a parte de forro do vestido não permitia
que ela abrisse as pernas, então tive que improvisar.
— Acho que isso vai dar merda — comentou ela, sem
fôlego, ao me ver pegando uma das adagas que eu carregava
para cortar o tecido perto da sua coxa para facilitar sua
mobilidade.

Meus lábios se distenderam em um sorriso cínico.

— Pensei que você não se importasse com as regras,


fedelha — alfinetei. — Não é por isso que estamos aqui neste
carro, prontos para fodermos feito dois loucos enquanto nossos
convidados nos aguardam?

Dessa vez foi ela quem riu, ajeitando-se com as pernas


bem abertas sobre meu colo. Imediatamente, fui ao encontro de
seus seios firmes e empinados, empurrando a renda para baixo,
ansioso para saboreá-los com minha língua.

— Por que você precisava vestir essas roupas esquisitas? —


reclamou, ansiosa para me tocar tanto quanto eu estava ansioso
para tocá-la.

Dei uma risadinha e mergulhei o rosto em seus seios,


aproveitando o som dos seus gemidos. Ela quase se engasgou.

— Maldição! — Jogou a cabeça para trás, se perdendo nas


sensações que eu lhe proporcionava. — Isso é incrível...

— Espere até sentir minha boca na sua boceta...

Nesse instante, ela me encarou com os olhos dilatados,


demonstrando interesse em minha promessa. Agarrou meus
cabelos e aproximou meus lábios dos seus.
— Então, prometo nunca mais reclamar, contanto que você
utilize essa boca para me proporcionar prazer.

Retomamos nosso beijo, intenso e lascivo, quase selvagem.


Não éramos duas pessoas apaixonadas, muito pelo contrário. O
único elo que nos conectava naquele momento era o desejo
avassalador que nos consumia.

Levei minha mão para baixo, deslizando-a entre suas


pernas até encontrar sua calcinha encharcada. O fato de saber
que ela estava tão excitada por minha causa despertou o
homem das cavernas dentro de mim.

Aurora interrompeu o beijo, mas manteve seus lábios


próximos aos meus enquanto eu a tocava sem nenhuma
restrição, movendo meus dedos de um lado para o outro em sua
boceta, explorando e sentindo a sensação do seu amontoado de
nervos pulsante. Sem inibições, ela começou a se mover,
seguindo o ritmo dos meus dedos.

— Para alguém que me odeia, você se rendeu tão


facilmente — provoquei, adorando ver sua vulnerabilidade. —
Você está prestes a gozar nos meus dedos, e mal te toquei. —
Mordi seu queixo, sem desviar o olhar.

Seus olhos carregados de raiva me encararam. Era


evidente que ela não queria sentir aquilo, assim como eu
também não me sentia à vontade por desejá-la daquele jeito.

— Uma coisa não justifica a outra — sussurrou, rebolando


sobre meus dedos. Eu soltei uma risada, irritando-a ainda mais.
Seu rosto se escondeu na curva do meu pescoço e logo senti
sua mordida.
Maldita!

Para puni-la, aumentei a velocidade dos movimentos dos


meus dedos, apenas para deixá-la louca de desejo. Seus gritos
inundaram o carro quando ela gozou forte.

— O meu nome — rugi, segurando seu rosto. — Eu quero


ouvir meu nome saindo da sua boca!

— Li... Liam... — sua fraqueza e vulnerabilidade a fizeram


obedecer. Ouvir meu nome sendo pronunciado daquela maneira
por ela, tão enfraquecido pelo desejo, foi uma das coisas mais
excitantes que já testemunhei.

Rapidamente, peguei uma camisinha na carteira. Aurora


saiu do meu colo por alguns instantes, esperando enquanto eu
tirava meu pau para fora.

— É melhor você não me arrombar com essa coisa, porque


eu juro que vou cortá-lo quando você estiver dormindo —
ameaçou, com os olhos enormes em mim.

Lhe ofereci um sorriso.

— Isso não vai acontecer, porque você não vai querer ficar
sem seu brinquedo — falei, me jogando sobre ela. — E só para
constar, meu pau não é uma "coisa".

Apesar da falta de espaço ali, consegui me colocar sobre


ela; arrastei a barra — rasgada — do seu vestido para cima,
enlaçando minha cintura com suas pernas. Devagar, empurrei
sua calcinha para o lado, brincando com meu pau em sua
entrada escorregadia.
— Liam... — sussurrou em minha boca.

— Hum? — Continuei deslizando para cima e para baixo,


provocando-a.

— Se doer, você vai se ver comigo!

Apenas sorri, mordendo seu lábio inferior antes de


entrelaçar nossas línguas em um beijo faminto. Pressionei meu
pau em sua entrada, adentrando-a devagar. Aurora deslizou as
mãos por baixo da minha camisa e arranhou a pele das minhas
costas.

De repente, soltou um grito e seus olhos se arregalaram


quando cheguei à metade do caminho. Fiquei preocupado se
estava causando dor a ela. Eu sabia que a primeira vez de uma
virgem geralmente não era uma experiência agradável.

— Por que parou? — questionou com ferocidade. Sua boca


se abateu sobre a minha, mordendo com força. Senti o gosto
metálico do sangue.

— Desgraçada! — rosnei entre seus lábios.

Continuei a penetrá-la, aproveitando a sensação das


paredes de sua boceta apertada se contraindo ao meu redor,
reivindicando o lugar que seria apenas meu dali por diante.

Meu.

Quando finalmente a penetrei por completo, fiz uma pausa


para respirar. Estava me esforçando para controlar meu desejo
de possuí-la do jeito que eu gostava.
— Pronto! Acabei de tomar sua virgindade. — Sorri
sarcasticamente para ela.

— Você não tomou. Eu a entreguei.

Ri de sua necessidade constante de estar no controle ou de


sempre ter a última palavra. Comecei a me mover devagar,
observando cada expressão em seu rosto. Não queria que ela
sentisse apenas dor.

Então, levei minha mão até seu clitóris e a masturbei


enquanto continuava a penetrá-la com mais intensidade.

— Nunca encontrei uma mulher tão apertada assim... —


comentei.

Ela puxou meu cabelo com agressividade.

— Suas experiências passadas não me interessam! —


exclamou, com um olhar ameaçador. Beijei-a para evitar rir na
cara dela, pois seu ciúme ficou evidente.

Conforme nossos movimentos continuaram nos minutos


seguintes, percebi quando Aurora se tensionou, soltando
gemidos incoerentes. Espasmos percorreram seu corpo quando
estimulei seu clitóris. O orgasmo a atingiu como um tsunami,
fazendo com que seus braços me apertassem, parecendo buscar
uma conexão maior.

Com a boca próxima à dela, acelerei meus movimentos em


busca do meu próprio prazer.

— Vou gozar... — avisei. Suas pernas se apertaram ainda


mais em torno da minha cintura, aprofundando a penetração. O
orgasmo me atingiu em ondas, arrancando de mim um rosnado
animalesco.

Quando finalmente recuperei o fôlego, ergui a cabeça e


encarei a garota debaixo de mim.

— Não pense que me ter dessa forma vai mudar alguma


coisa — declarou, sem a receptividade de antes. — Eu apenas
usei você para alcançar meu objetivo.

Franzi o cenho.

— Que objetivo? Perder a virgindade antes do casamento?

— Sim, — respondeu, seca.

— E gostou? — Tentei disfarçar minha curiosidade e


ansiedade em relação à sua resposta.

Ela sorriu, percebendo.

— Preocupado com seu desempenho, irlandês?

E ali estava... a raiva que só ela conseguia despertar em


mim.

Afastei-me e me sentei.

— Precisamos ir! — declarei, sério. — Todos estão nos


esperando.

Não a encarei, mas percebi que ela também se sentou,


ajeitando-se.

— Não sangrei — reclamou, me obrigando a encará-la. Ela


olhava para si mesma. Meu pau quase endureceu novamente só
de ver sua boceta lisinha e inchada, brilhando aos meus olhos.
Me obriguei a desviar o olhar, ou não responderia por mim.

Pigarreei:

— Nem todas as garotas sangram quando perdem a


virgindade.

— Como você sabe disso? Eu não fui a primeira virgem que


você...?

Revirei os olhos.

— Não é da sua conta! — cortei, saindo do carro.

Segundos depois, ela também saiu.

— Aonde você vai? — perguntou.

— Vou voltar para casa — avisei. — É melhor você me


seguir. Chega de joguinhos, fedelha.

— Fedelha é o...

— Cuidado com essa boca suja! — a cortei, não


escondendo a diversão em minha voz. Afastei-me, ouvindo seus
resmungos.

Por um momento, fiquei em dúvida sobre o que era melhor:


o som de seus gemidos ou o som de seus xingamentos?

Curiosamente, não soube responder.


— Meu Deus, Aurora! ¿Dónde estabas, hija? — exclamou
minha mãe, me envolvendo em um abraço apertado e
misturando os idiomas, já que ela era de origem mexicana. —
Estávamos procurando por você como loucos, garota! —
Começou a me examinar cuidadosamente.

Antes mesmo de entrar no quarto, meu pai e meu irmão


Giovanni me interceptaram, bombardeando-me com tantas
perguntas que me senti tonta.

Por que tanto drama, Dios mío?


— Você está machucada? — Kira perguntou, tão
preocupada quanto os outros. Olhei para a garota russa, esposa
do meu primo Benjamin, o chefe da família, e foquei em sua
barriga saliente. Ela estava grávida de pouco mais de quatro
meses, esperando seu primeiro filho.

Imediatamente, minha mente foi invadida pelas memórias


dos recentes momentos com Liam naquele carro. Odiaria se ele
me deixasse com uma criança.

— Aurora, pelo amor de Deus! — Donna, minha prima, deu


um tapa no meu rosto, me despertando. — Você parece em
transe.

— Ela está agindo de forma estranha — comentou Nina,


com sua barriga de sete meses e meio. Ela também era minha
prima. — Alguém te atacou? — Olhou para meu vestido e fez
uma careta. — Parece que você rastejou pelo chão —
semicerrou os olhos —, está toda amassada e... rasgada? O que
houve? — preocupou-se.

— Que merda é essa, Aurora? Como isso aconteceu, filha?


— Mamãe se aproximou, com as mãos no tecido rasgado.

Revirei os olhos, irritada com toda aquela conversa.

— Estou bem! — respondi por fim. — Eu só precisava de


um momento sozinha. — Afastei-me, sentindo a pressão me
sufocar. —Infelizmente, essa merda de vestido acabou se
enroscando e... — Pigarreei, disfarçando —, acabou rasgando.
Será que não dá para reparar a costura?
— Que costura? — inquiriu Donna. — Tem um enorme rasgo
aí. — Semicerrou os olhos, desconfiada. — Essa sua história está
muito mal contada...

Eu ainda estava tentando processar o que havia acontecido


nos últimos minutos comigo e Liam, e não queria, aliás, não
precisava, compartilhar todos os detalhes com ninguém.

— Como assim, você queria um momento sozinha? —


perguntou minha mãe, aflita e um pouco impaciente. A encarei,
admirando seu vestido. Ela estava linda, com o corpo cheio e
cabelos longos. — Hoje é o dia do seu casamento, filha! Não se
esqueça de que foi você quem concordou com isso. Você não
pode agir como bem entender, querida. Isso se tornou maior do
que nós agora. Você entende isso? E agora temos que dar um
jeito nesse vestido, bem em cima da hora! — Começou a
praguejar em espanhol, me deixando culpada.

Sentei-me em frente à penteadeira, me encarando no


espelho. Minha maquiagem borrada era uma prova viva do que
Liam e eu havíamos vivido naquele carro. Eu o odiava ainda
mais por mexer tanto com a minha mente. Ele não deveria ter
tanto controle sobre o meu corpo.

Talvez fosse por ele ser um homem experiente, porque sim,


Liam era experiente. Quantas mulheres teriam passado pela
cama dele?

Desgraçado, insolente!

— AURORA?
— Argh! O que foi? — Assustei-me com o grito de Donna. —
Não grite, droga! Parece uma louca.

Donna respirou fundo, claramente frustrada com minha


atitude. Tanto ela quanto Nina e Kira estavam usando vestidos
da mesma cor, pois seriam minhas madrinhas de casamento. Eu
não me importava muito com esses detalhes, mas entendia que,
às vezes, não podíamos escapar das formalidades.

— Aurora, nós sabemos que você está nervosa, mas é


importante que você se concentre. Este é um momento crucial
para nossas famílias. Você precisa estar preparada para o
casamento — murmurou Kira, me lançando um olhar
impaciente, seus olhos verdes penetrando os meus com
autoridade. Como esposa do capo, ela se preocupava em
manter a lei e a ordem.

Anos atrás, quando ela entrou em nossas vidas, eu a


rejeitei instantaneamente. Confiança nunca foi algo que eu
concedia tão fácil, e a ruiva não foi exceção. No entanto, tudo
mudou quando o destino nos colocou em uma situação perigosa,
e Kira foi a responsável por me salvar. Foi a partir desse dia que
essa ruiva intrometida conseguiu conquistar meu coração e
encontrar seu lugar nele.

Revirei os olhos com um toque de rebeldia, ignorando seu


discurso ensaiado.

Eu estava plenamente consciente de que aquele maldito


casamento era minha culpa, afinal, fui eu quem decidiu me
envolver nessa confusão. E agora, mesmo desejando desistir, eu
sabia que não era mais uma opção viável. Tinha se
transformado em algo além das minhas vontades e caprichos
infantis.

— Eu entendo, mãe — respondi às suas palavras anteriores


com um suspiro contido. — Mas acho que mereço um momento
para mim mesma antes de subir ao altar, não acha? — soltei,
com uma pitada de sarcasmo. — Aceitei essa situação, mas isso
não significa que eu esteja feliz com a decisão que tomei
baseada no meu estado de espírito momentâneo.

— Eu sabia que ela ia se arrepender — argumentou Nina,


balançando a cabeça como se pudesse ler meus pensamentos.
Seus cabelos loiros balançavam enquanto ela se movimentava
pelo quarto, um tanto desajeitada devido à sua enorme barriga.
Era estranho, pois ainda não tinha me acostumado com sua
aparência de grávida.

Minha mãe me encarou com uma mistura de preocupação


e desaprovação.

— Então é isso? — indagou, com a mandíbula tensa. Notei


que estava com agulha, linha e um pedaço de tecido vermelho
nas mãos. — Você está arrependida?

Pisquei, observando as quatro através do reflexo do


espelho. Com apenas dezenove anos, eu estava no auge da
vida. Tinha certeza de que meus pais ou Benjamin jamais me
obrigariam a me casar por interesses comerciais. Nós, da máfia
Fratelli, sempre valorizávamos o amor e o respeito familiar
acima de tudo. No entanto, eu entendia que cada um de nós
precisava conhecer seu papel nesse jogo.
Apesar de toda minha resistência, eu compreendia a
importância da minha união com Liam. Sua organização traria
benefícios para nós. A máfia irlandesa fortaleceria nossos
negócios. E, no fundo, seria melhor me casar com um homem
que eu conhecia — mais do que eu gostaria — do que ficar
sujeita ao acaso e correr o risco de perder o controle sobre meu
futuro marido.

Inspirei profundamente, soltando o ar de forma áspera.


Minha mente me presenteou com lembranças do que Liam e eu
havíamos feito juntos, e foi inevitável o rubor em minhas
bochechas.

O que era aquela umidade entre minhas pernas? Droga!

— Não... — pigarreei, lutando para limpar minha voz. —


Não estou arrependida.

Era a mais pura verdade.

— Aurora, eu sei que esse não é o casamento dos seus


sonhos, mas precisamos olhar além disso — acrescentou
mamãe, dando um jeito de consertar o rasgo no meu vestido. —
No entanto, você sabe que se quiser desistir, seu pai e eu
estaremos ao seu lado, não importa as consequências! Vamos
enfrentar juntos qualquer desafio que surgir.

Suspirei, sentindo uma mistura intensa de raiva e


resignação se misturarem em meu peito.

Minha mãe estava certa, embora fosse doloroso admitir. O


mundo em que vivíamos era cruel e impiedoso, regido por um
conjunto de normas antiquadas e implacáveis. Se eu desistisse
agora, toda a responsabilidade e culpa recairiam
completamente sobre meus ombros. Era como se uma guerra
inevitável estivesse prestes a explodir, e eu seria a causa
principal.

Embora meu noivado com Liam tenha sido oficializado


apenas seis meses atrás, o acordo de casamento havia sido
decidido há anos.

— Eu entendo, mãe. Mas não quero que se preocupe. Eu só


preciso de um momento para respirar e reunir minhas forças —
respondi, tentando manter minha compostura.

O quarto ficou em silêncio enquanto todas processavam


minhas palavras. Foi então que Donna deu um passo à frente,
olhando para mim com seriedade.

— Você realmente não vai nos contar onde esteve todo


esse tempo? — perguntou, com curiosidade brilhando em seus
olhos.

— Ouvi rumores de que Liam também estava desaparecido


— acrescentou Nina. Não pude deixar de pensar que ela era
uma fofoqueira.

Sem perder minha postura, comecei a retocar minha


maquiagem.

— Não faço ideia do que estão falando — aleguei, dando de


ombros. — Eu apenas me escondi em um cômodo, tentando me
recompor. Quanto ao insolente do meu noivo, não tenho a
menor ideia de onde ele esteve enfiado.
Meu subconsciente não perdeu a chance de fazer uma
insinuação: "Eu tenho uma ideia de onde ele esteve enfiado."

Donna, Nina e Kira me encararam com desconfiança, mas


optaram por manter o silêncio. Elas me conheciam o suficiente
para saber que eu não gostava de expor minha intimidade.

— Você encontrará a sua felicidade, minha filha. Eu


acredito nisso. — Minha mãe me abraçou e beijou meu ombro.
— Mas agora, por favor, recomponha-se. O casamento está
prestes a começar.

Respirei fundo, tentando acalmar meus nervos. Por mais


que eu tentasse negar, o que aconteceu entre Liam e eu mudou
completamente a minha perspectiva sobre nosso casamento.

— Ainda não consigo acreditar nessa situação! — Ouvi meu


pai rosnar quando paramos diante da porta fechada da capela.
— Tive um casal de gêmeos, mas minha filha é completamente
maluca.

Não pude conter o riso diante da sua reação exagerada.

— Não comece com seus dramas, pai — murmurei com um


sorriso, tocando seu rosto com uma das mãos. — Já disse que
está tudo bem, entendeu? Eu quero isso!

— Pelo menos está apaixonada pelo infeliz? — perguntou


com os lábios tortos. — Ou está apenas teimando nisso porque
seu orgulho foi ferido? Conheço você muito bem, querida, sei da
sua obstinação. Infelizmente, você herdou essa merda de mim.

Um sorriso travesso se formou nos meus lábios, ciente de


que entre Giovanni e eu, minha personalidade era mais forte.

— Não se preocupe comigo — afirmei.

Dessa vez, foi ele quem sorriu.

— Preocupo-me com o noivo, na verdade — zombou, me


puxando para um abraço apertado. Logo, senti seu beijo na
minha cabeça.

As portas finalmente se abriram e a marcha nupcial


começou a tocar, enchendo o ambiente com sua melodia.
Chiara, filha de Donna, seguia na frente, uma pequena boneca
de porcelana com seu vestido branco imaculado. Os convidados,
em número reduzido, eram todos rostos do submundo da máfia
irlandesa e italiana, e observavam com olhares curiosos e
sorrisos dissimulados.

Caminhei com passos determinados pelo corredor, meu pai


ao meu lado, enquanto meus olhos se fixavam no homem
imponente que me aguardava no altar. Liam era uma figura
marcante, isso eu não podia negar. Seus cabelos escuros
estavam um pouco desalinhados, conferindo-lhe um charme
irresistível, combinando com o traje tradicional de seu país.
Secretamente, eu reconhecia a beleza que ele emanava usando
essas roupas, embora soubesse que nunca admitiria esse
pensamento. A ironia residia no fato de que ele jamais saberia o
impacto que causava em mim.
Ao chegar ao altar, o encarei com um leve sorriso nos
lábios. Era uma provocação descarada. Por sorte, minha mãe
conseguiu consertar o vestido, disfarçando o estrago que Liam
havia feito.

— É melhor fazer minha filha feliz, mio caro — afirmou meu


pai, em tom ameaçador.

— E quem vai me fazer feliz? — rebateu Liam, com


sarcasmo afiado.

Quase ri, mas me contive a tempo. Meus tios puxaram meu


pai para longe, percebendo a tensão crescente entre ele e Liam.
Afinal, aquela era uma cerimônia de casamento, não um ringue
de luta.

A voz do reverendo preencheu o ambiente, dando início à


cerimônia, enquanto nós permanecíamos em silêncio, trocando
olhares carregados de tensão. Logo, os votos foram
pronunciados, mas não havia promessas de amor eterno ou
felicidade conjugal.

Quando chegou o momento de trocar as alianças, estendi


minha mão para ele, o desafiando mais uma vez. Liam me olhou
por um instante, como se estivesse considerando rejeitar o
gesto, mas então, contra todas as expectativas, deslizou o anel
em meu dedo.

— Que assim seja, então — sussurrou com um misto de


desprezo e resignação. — Você escolheu isso, não eu.

Percebi seu tom como uma ameaça, mas decidi ignorar.


Fomos declarados marido e mulher pela voz do reverendo,
mas para mim, era muito mais do que isso. Era uma vitória
pessoal, uma conquista que ninguém entendia. Desde que ouvi,
anos atrás, sobre a possível aliança entre as famílias, Liam foi
enfático em sua recusa de se casar comigo. O idiota não me
queria.

Quem ele pensava que era para me rejeitar?

Enquanto os convidados aplaudiam, estendi minha mão


para ele.

— Vamos, "marido", temos uma festa para celebrar —


provoquei, sentindo o prazer de irritá-lo a cada palavra.

Liam apertou os lábios, mas não pude deixar de notar a


tensão em seus olhos enquanto ele aceitava minha mão,
conduzindo-nos para fora da capela.

— Celebrar o quê? Só se for o luto pelo pior dia da minha


vida! — resmungou, amargo.

Optei por não dizer nada.

Enquanto seguíamos em direção ao salão de festas, senti o


olhar abrasador de Liam queimando minha pele.

— O que passa pela sua cabeça? — perguntei, sem encará-


lo.

— Muitas coisas — respondeu, seu tom carregado de fúria,


capturando minha atenção. — Mas "maneiras de esconder um
corpo" está no topo da lista.
Um sorriso divertido se abriu em meu rosto.

— Está me ameaçando? — inquiri, com os olhos


semicerrados, testando os limites de sua audácia. — Saiba que
não tolero ameaças, "marido". E não sei ser racional quando me
sinto ameaçada. — Aumentei o sorriso perverso, desejando que
ele visse toda a tempestade que se agitava em meus olhos.

Em um breve instante, pude perceber a tensão em seu


rosto, um sinal claro de que a lembrança daquela fatídica noite
havia retornado à sua mente. Era a lembrança do momento em
que, tomada pelo medo, disparei acidentalmente contra ele. A
noite em que minhas primas e eu fomos atacadas, quando, em
meio ao pânico, confundi Liam com o inimigo. O eco desse
evento traumático ainda vibrava entre nós.

— Casei-me com uma mulher louca, meu Deus! —


lamentou, balançando a cabeça em indignação.

Entramos no salão sob aplausos e sorrisos forçados dos


presentes. A animosidade entre nós era um segredo mal
guardado, algo perceptível a todos, mas preferiam ignorar. Nas
famílias mafiosas, a habilidade de ocultar verdadeiros
sentimentos, era uma arte dominada com maestria, como se
dançassem na corda bamba entre a cordialidade e o perigo
iminente.

A música alta preenchia o salão, tentando abafar os


sussurros trocados em cantos sombrios. As mesas, decoradas
com flores exuberantes e velas que projetavam sombras
dançantes nas paredes, ostentavam uma decoração irônica e
romântica em sua perfeição.
— Melhor controlar suas atitudes diante dos outros —
sussurrou ele, com sua voz grave ressoando em meu ouvido.
Um arrepio percorreu minha espinha, despertando uma mistura
de desconforto e excitação. — Você pode nutrir todo o ódio e
soltar palavras ofensivas quando estivermos a sós, mas não vou
permitir que faça isso em público. — Seu tom firme deixava
claro o quão a sério ele falava.

Apenas assenti com a cabeça em resposta. No fundo, eu


era consciente dos meus limites. Liam era um mafioso perigoso,
imponente e cruel.

Nos minutos seguintes, enquanto cumprimentávamos os


convidados, percebi Liam jogando seu jogo, mantendo as
aparências, agindo como um marido devoto. Mas eu sabia que
por trás daquela máscara, um vulcão de raiva e frustração
estava em erupção.

Finalmente, chegamos à mesa principal, onde nos


sentamos lado a lado, separados por uma fenda invisível. O
silêncio entre nós era palpável.

— Está arrependida? — indagou de repente, me forçando a


olhá-lo.

— Do casamento?

Um brilho perigoso tomou conta de seu olhar.

— Você sabe exatamente do que estou falando, não é,


garota? — retrucou ele, aproximando sua mão da minha e
deixando um leve toque que fez meu corpo estremecer
involuntariamente. Era irritante como ele percebia o efeito que
causava em mim, mesmo quando eu tentava disfarçar. — Você
está dolorida? — Ele sorriu com malícia. — Pelo menos, esse
maldito casamento não será completamente terrível, não é?
Terei o prazer de aliviar minha frustração, comendo sua boceta!

Arquejei, me remexendo no lugar, olhando ao redor,


preocupada que alguém nos ouvisse.

— Fique calado!

Ele continuou sorrindo, me provocando:

— Mal posso esperar para domar você na cama, fedelha —


deslizou os dedos pelo meu pulso —, fazê-la engolir toda essa
petulância irritante.

Endureci o maxilar, lutando para esconder todas as reações


que suas palavras me causaram.

Decidi pegar uma taça de champanhe e me levantar,


determinada a fazer um brinde para não ficar em desvantagem.
Percebi que Liam se enrijeceu no lugar, temeroso do que eu
poderia dizer. Seus olhos fixos em mim, esperando o impacto.

— A todos os presentes, gostaria de expressar minha


gratidão por estarem aqui para celebrar esse momento especial.
Que a união entre nossas famílias fortaleça os laços e nos
conduza a um futuro próspero — fiz uma pausa calculada,
olhando diretamente nos olhos de Liam, desafiando-o com cada
palavra. — E que o amor, a confiança e o respeito prevaleçam
em todas as situações, inclusive nas mais desafiadoras.
Os convidados ergueram suas taças, brindando ao nosso
casamento, mas não pude deixar de notar a irritação ardendo
nos olhos de Liam por eu tê-lo desafiado.

Enquanto a festa prosseguia, eu me esforçava para


interagir com os convidados. Na verdade, era mais uma
desculpa para me afastar um pouco daquele irlandês
insuportável. Precisava respirar, encontrar um momento de
tranquilidade em meio a essa turbulência emocional.

— Você sabe que seu marido está prestes a saltar em seu


pescoço, não é? — insinuou Nina em determinado momento,
com um sorriso malicioso.

Apenas sorri, levando meu copo de vinho aos lábios,


enquanto observava Liam conversando com seus irmãos.
Contudo, não pude deixar de notar como os olhos dele
permaneciam fixos em mim, intensos e penetrantes, como se
estivessem queimando cada fibra do meu ser. Será que ele
também revivia em sua mente a nossa recente aventura?

— Não é como se nosso casamento estivesse o levando


para a forca, Nina — respondi, tentando ocultar minhas reações.
— A família dele também tem muito a ganhar com a união de
nossas organizações.

— Isso é verdade! — concordou ela com um olhar cúmplice.


— O problema é que você o provoca, Aurora. Aposto que ele não
está acostumado com uma mulher que o desafia
constantemente como você faz.

Abri um sorriso amplo, um sorriso que escondia um fogo


incandescente.
— Para tudo há uma primeira vez, não é mesmo? —
ironizei, sussurrando as palavras como uma promessa.

Os minutos foram passando, e a tensão entre Liam e eu só


aumentava. Dançamos juntos, envolvidos em uma dança formal,
mas era apenas um ritual vazio, apesar das faíscas que surgiam
entre nós. Nossos corpos estavam próximos, mas nossas mentes
estavam em guerra.

Finalmente, a noite terminou, e era hora de nos retirarmos.


Enquanto caminhávamos em direção ao quarto da mansão que
compartilharíamos naquela noite, Liam quebrou o silêncio:

— Você se divertiu? — perguntou, exibindo um sorriso


irônico em seus lábios carnudos.

Eu o encarei com o nariz empinado, sem recuar nem um


centímetro.

— Admito que aproveitei a festa, sim. Afinal, é isso que se


espera de uma noiva, não é mesmo? — respondi, com um brilho
nos olhos.

Ele segurou meu braço e me puxou para um corredor vazio.


Sua proximidade me afetou, meu coração batia descompassado,
mas eu disfarcei bem.

— Não se esqueça de que eu não sou como os homens com


quem você está acostumada a lidar. Não pode me provocar
impunemente — sussurrou, me fitando com intensidade. Seu
perfume invadiu minhas narinas, me deixando um pouco
atordoada, como se suas palavras e sua presença estivessem
criando um turbilhão de sensações dentro de mim.
Droga! Por que esse idiota tinha que ser tão atraente?

Eu sorri com petulância.

— Você não me conhece tão bem quanto pensa, insolente!


Não sou como as outras mulheres que passaram pela sua cama.
Eu não vou me curvar diante de você.

Meu corpo estremeceu quando Liam me pressionou contra


a parede. Seu sorriso cínico só aumentou minha irritação.

— Você realmente acredita que não vai sucumbir a mim? —


provocou, curvando os lábios em um sorriso repleto de desejo.
Sua mão firme apertou minha cintura, enviando ondas de
arrepios pela minha pele. A outra mão encontrou seu lugar em
meu ombro, me fazendo tremer diante de sua presença
dominante. — Eu posso ver nos seus olhos o fogo que queima
dentro de você, o desejo incontrolável de cavalgar no meu pau
novamente, fedelha. É isso que tanto anseia, não é?

Meu coração acelerou, retumbando no peito. Com raiva de


suas insinuações e zombarias, o empurrei com força, deixando
transparecer minha ira em cada gesto.

Um rubor invadiu meu rosto, mas não recuei. Quem ele


pensava que era? O deus da sedução?

Cretino insolente!

Sem dúvida, eu desejava fazer sexo com ele novamente.


Mas sua arrogância estragou tudo. Eu não queria e não
precisava que esse idiota tivesse qualquer vantagem sobre mim.
— Não seja ridículo! — exclamei, minha voz ecoando com
nervosismo, o que só me irritou mais. — Aquilo nunca mais vai
acontecer! — Apontei meu dedo em direção ao seu rosto bonito.
— Você não terá mais o privilégio de desfrutar do meu corpo,
nunca mais!

Virei nos calcanhares, decidida a escapar daquele


confronto, mas antes que pudesse dar mais um passo, sua mão
firme envolveu a minha, me puxando para mais perto dele. Meu
corpo foi forçado a colidir com o seu, e mesmo com todas as
minhas defesas erguidas, não pude evitar sentir o calor que
emanava de sua pele. Seu olhar intenso parecia ter o poder de
penetrar em minha alma, me queimando como brasas vivas. Era
uma invasão que me deixava vulnerável e sem saída.

— Veremos, fedelha — sussurrou, sua voz rouca e cheia de


promessas. — Veremos...

Com um último olhar, ele me soltou e eu continuei meu


caminho para o quarto, meu coração disparado e minha mente
cheia de incertezas.

Era assustador saber que agora, não éramos apenas rivais,


mas também marido e mulher.
Ao avistar a silhueta de Aurora deslizando para dentro do
quarto e a porta se fechando atrás dela, uma onda de emoções
conflitantes se agitou dentro de mim. Minhas mãos se fecharam
enquanto eu lutava para conter a fúria que ameaçava explodir.
Respirei fundo, consciente de que precisava manter o controle,
mesmo que a tentação de entrar no maldito cômodo e aplicar
alguns tapas naquela bunda insolente se mostrasse quase
irresistível.

Garota insolente do inferno!


Sentia-me sufocado pela minha nova realidade, como se
cada respiração fosse um lembrete doloroso do compromisso
que agora carregava. A aliança reluzente em meu dedo parecia
pressionar minha pele, servindo como uma constante lembrança
de uma decisão da qual não pude escapar.

Com um misto de nervosismo e agitação, deixei o ambiente


para trás e me encaminhei ao escritório. Embora estivéssemos
na imponente mansão da minha família, tudo parecia vazio e
estranho. As paredes elegantemente decoradas não conseguiam
abafar o turbilhão de pensamentos que invadia minha mente.

Ao raiar do dia, Aurora e eu partiríamos para nossa lua de


mel, uma viagem que deveria ser repleta de amor e felicidade.
O problema era que, eu me sentia mais como um prisioneiro
sendo levado ao exílio, arrastado por um destino que parecia
escapar do meu controle.

Adentrei o escritório e imediatamente desfiz o aperto


sufocante da gravata em meu pescoço. Cada fibra do meu ser
clamava por um momento de alívio, por uma forma de acalmar
os ânimos que fervilhavam dentro de mim.

Encaminhei-me até o bar no canto do escritório, onde as


garrafas de bebidas destiladas estavam dispostas. Meus olhos
percorreram a seleção, em busca de algo forte o bastante para
aplacar os tremores em minhas mãos e acalmar a tempestade
que rugia em minha mente.

Peguei uma garrafa de uísque, despejando uma dose


generosa em um copo de cristal, enquanto observava o líquido
âmbar escorrer lentamente. Ergui o copo em um brinde solitário,
uma prece silenciosa em busca de serenidade, antes de levar a
bebida aos meus lábios.

O uísque queimou em minha garganta, deixando um rastro


reconfortante de calor. Fechei os olhos por um momento,
permitindo que a sensação se espalhasse por todo o meu corpo,
buscando um instante de paz em meio ao caos que me cercava.

Desde aquele momento explosivo no carro, algumas horas


atrás, Aurora não saía dos meus pensamentos. Era um turbilhão
de emoções contraditórias, pois, por mais que a odiasse com
todas as minhas forças, a intimidade compartilhada me fez
vislumbrar um futuro diferente. Não que eu estivesse disposto a
aceitar ou me conformar com o fato de estarmos agora casados,
mas tinha que admitir que a perspectiva de transar com ela
parecia ser a única forma de nos compreendermos.

Era como se nossos corpos falassem uma linguagem


própria, transcendendo todas as nossas diferenças e
ressentimentos.

Não me iludia achando que o sexo pudesse resolver todos


os nossos problemas ou tornar o casamento uma experiência
agradável. Estava longe disso. Mas em meio ao caos que era a
nossa relação, seria quase um refúgio, um oásis momentâneo
onde as barreiras caíam e a vulnerabilidade se revelava.

Enquanto meus pensamentos oscilavam entre o ódio e a


atração, tomei outro gole de uísque, sentindo o fogo arder em
meu peito.

De repente, Owen entrou abruptamente, me assustando.


— Por que você está aqui em vez de estar no quarto com
sua esposa?

Como o irmão mais velho, ele assumiu o cargo de chefe da


organização após a morte de nosso pai. Éramos uma família de
seis irmãos, sendo Madison a mais nova, com vinte anos, eu
com vinte e seis, Owen com trinta e sete, e os trigêmeos Sean,
Carter e Kael, com vinte e nove.

— Porque simplesmente não estou com vontade de sufocar


aquela carinha bonita dela com um travesseiro — resmunguei,
sentindo a raiva pulsar dentro de mim. Owen não conseguiu
conter o riso, o que só aumentou minha irritação. — Você ri
porque não é seu traseiro em perigo, seu idiota! Eu sou aquele
que terá que dormir ao lado daquela víbora e enfrentar a
incerteza de ver a luz do dia novamente.

Owen jogou a cabeça para trás e riu ainda mais.

— Você está exagerando, Liam — afirmou, soltando uma


risada divertida. Enquanto tentava se controlar, ele se serviu de
uma dose de uísque e ergueu o copo na minha direção. — A
garota não é tão ruim assim, e sei que você já teve uma
amostra do que ela tem a oferecer — provocou, me olhando
com uma expressão de deboche.

Apertei os dentes, incomodado com suas palavras.

— O que foi? Eu disse alguma mentira? — Cutucou meu


braço. — Vocês desapareceram um tempo antes da cerimônia, e
eu notei no vestido remendado dela, não sou idiota. — Deu uma
risadinha. — E não me surpreenderia se você estivesse dando
uma conferida nela antes de...
Interrompi-o bruscamente, empurrando seu corpo para trás
e o segurando pelo colarinho da camisa. Owen piscou, surpreso
com minha reação, enquanto suas mãos permaneciam
suspensas, sem saber o que fazer.

— Não fale assim dela — sibilei, sentindo a irritação inundar


minhas entranhas e uma chama se acender dentro de mim. —
Mesmo que eu não goste, Aurora é minha esposa agora, e exijo
respeito.

A expressão de deboche em seu rosto foi se dissipando aos


poucos. Owen soltou uma risada contida, mas seus olhos
refletiam uma nova seriedade enquanto ele segurava meu rosto
com as mãos, me forçando a encará-lo de perto.

Por um momento, o ar ficou carregado com a tensão entre


nós. Owen percebeu que eu estava disposto a defender Aurora,
mesmo que isso fosse contra todos os meus instintos e
convicções. Era uma atitude que ele não esperava, mas que
parecia despertar certo orgulho em seu olhar.

— Você mudou, irmão — murmurou ele, com admiração na


voz. — Nunca pensei que veria o dia em que você estaria
disposto a lutar por ela, mesmo que seja apenas para exigir
respeito. — Sorriu, orgulhoso. — Mas é exatamente assim que
você deve agir. Aquela garota é sua esposa agora — afirmou
com convicção —, sua responsabilidade de cuidar e respeitar. Ai
de você se algo der errado, porque estaremos na mira daquele
bando de italianos. Não estou interessado em ter mais inimigos,
Liam. — Deu alguns passos para trás, soltando um suspiro
pesado.
Enquanto ele se afastava, observei o cansaço estampado
em seu rosto. Nos últimos tempos, essa expressão exausta se
tornou uma constante em sua vida. Há cinco anos, Owen
assumiu o comando da organização e desde então tem
enfrentado inúmeros desafios e problemas. Eu sabia o quanto
ele se preocupava com o bem-estar da família, especialmente
depois do sequestro de Madison.

Aquela foi uma época sombria e dolorosa para todos nós.

Recordava-me das noites sem dormir, dos dias repletos de


angústia e incerteza, enquanto lutávamos para trazer Madison
de volta sã e salva.

Ao observar Owen, percebi que ele carregava um fardo


ainda maior do que o meu. Ele era responsável não apenas por
si mesmo, mas por todos nós. Era quem mantinha os laços
firmes entre os membros da organização, quem tomava as
decisões difíceis e liderava com determinação.

Decidi naquele momento que não permitiria que minha


relação complicada com Aurora se tornasse mais um fardo para
ele.

— Você está certo — desabafei, reconhecendo a sabedoria


em suas palavras. — Preciso manter o controle e lidar com essa
situação da melhor forma possível — admiti, soltando um
suspiro profundo. — Não podemos nos dar ao luxo de criar mais
inimigos, especialmente agora que estamos conectados aos
italianos.

Owen assentiu, com uma expressão séria em seu rosto.


— Nossa conduta precisa ser exemplar — afirmou ele. Sua
mão no meu ombro transmitia confiança. — Os italianos estão
observando cada movimento nosso, aguardando qualquer
deslize. Precisamos estar sempre um passo à frente, sem
permitir que nossas emoções turvem nosso julgamento.

Concordei com um aceno de cabeça, ciente de que ele


estava totalmente certo. Eu precisava deixar de lado meu
orgulho e ressentimento em relação a Aurora, pelo menos na
frente dos outros.

— Farei o que for necessário para manter as aparências e


proteger nossa família — declarei. No entanto, não pude evitar
um suspiro carregado de frustração. — Mas não será fácil. Essa
garota mexe comigo de uma forma inexplicável — confessei,
desviando o olhar por um breve momento. — O ódio e a atração
se entrelaçam dentro de mim, o que apenas complica ainda
mais as coisas.

Meu irmão suspirou novamente e balançou a cabeça,


compreensivo, optando por não fazer nenhum comentário.

— Onde estão os "gigantes"? — perguntei por fim, me


referindo aos trigêmeos. Foi a Madison quem deu esse apelido a
eles.

— Provavelmente se divertindo com alguma convidada em


um dos quartos — respondeu, dando de ombros. — Você sabe
que nenhum deles perde a oportunidade de uma boa foda. —
Riu.

Fiz uma careta, sem esconder a inveja.


— Pelo menos, eles estão aproveitando, diferente de mim...
— resmunguei meu incômodo em voz alta. Minha mente se
enchendo com as lembranças dos gemidos daquela infeliz que
agora carregava meu sobrenome, mas que se recusava a me
dar sua boceta apertada.

Owen soltou uma risada, dando um tapinha no meu ombro.

— Tenho certeza de que você vai encontrar uma maneira


de se entender com sua esposa. Afinal, dizem que o ódio é o
combustível perfeito para o tesão. Mostre a ela quem está no
controle, irmão. — Eu o encarei, percebendo sua sugestão. —
Tente usar as armas dela contra ela mesma.

Com um aperto firme no meu ombro, ele se afastou e me


deixou sozinho no escritório silencioso.

Terminei minha bebida e devolvi a garrafa ao bar do


escritório. Era hora de voltar para aquele quarto e enfrentar a
garota que parecia ter vindo direto do inferno para me
atormentar.

Minutos se arrastaram antes de eu abrir a porta do quarto,


girando a maçaneta com cautela para evitar qualquer ruído
indesejado. A pouca iluminação do quarto me envolveu,
permitindo que meus olhos se ajustassem à escuridão. Por um
instante, permaneci imóvel, atento a qualquer sinal de
movimento suspeito. Mas para minha surpresa, encontrei Aurora
deitada na cama.

— Achou que eu o receberia com tiros? — Sua voz ecoou


naquele ambiente sombrio, como se ela pudesse ler minha
mente.
Um arrepio percorreu minha espinha ao ouvir suas
palavras. Nunca sabia o que esperar dela, nem qual seria seu
próximo movimento. Havia uma aura de imprevisibilidade ao
seu redor, algo que me mantinha alerta, mesmo que eu não
quisesse admitir.

Finalmente, entrei no quarto e fechei a porta.

— Não seria a primeira vez — rebati, sentindo arrepios com


a lembrança intrusa. Por sorte, naquela ocasião, o disparo
acidental acertou apenas meu braço, ou eu já estaria a sete
palmos abaixo da terra.

De soslaio, percebi um leve movimento na cama. Aurora


vestia uma camisola delicada, mas evitei olhar diretamente para
ela, resistindo à tentação de admirar suas curvas deliciosas.

— Agora, Liam, você é meu marido — afirmou ela, com


determinação em sua voz. — E não pretendo me tornar uma
viúva poucas horas após o nosso casamento.

Um sorriso escapou dos meus lábios enquanto eu entrava


no closet. Algumas de nossas roupas estavam temporariamente
guardadas ali, pois depois da viagem, nós nos mudaríamos para
um apartamento juntos. A ideia de conviver diariamente com
essa garota infernal era algo que eu não conseguia nem
imaginar.

— Essa foi uma forma de me tranquilizar? — perguntei,


desabotoando o paletó e deslizando a gravata pelo pescoço. —
Porque admito que estou considerando me livrar das armas que
escondi no quarto, já que percebo que não são mais
necessárias.
Aurora olhou ao redor, perplexa, como se esperasse
encontrar armas escondidas em cada canto do quarto. Seus
olhos arregalados denotavam surpresa e preocupação.

— Espera, você tem armas escondidas aqui? — perguntou,


meio atordoada. — Você está louco?

Desabotoei meu cinto, com um sorriso brincalhão nos


lábios.

— Seria louco se não me precavesse com você.

Ela abriu a boca para falar, mas as palavras se dissiparam


em seus lábios ao me ver desabotoando a calça e deixando-a
escorregar pelas minhas pernas. Mesmo na penumbra do
quarto, pude sentir sua tensão.

— O-o que você está fazendo, seu insolente? — Sua voz


saiu um pouco esganiçada. — Não pense que vai conseguir
alguma coisa comigo esta noite, porque eu não quero você!

Tentei não me abalar com sua rejeição descarada.

— Não me lembro de ter mencionado sobre fazer algo com


você, garota — aleguei, usando um tom divertido apenas para
provocá-la e ferir seu ego como ela feriu o meu. — Estou apenas
me despindo, pois estou acostumado a dormir pelado.

Ela deu um pulo para fora da cama na mesma hora quando


me viu tirando a cueca. Foi quando pude ver sua camisola com
mais clareza. O tecido era branco, com a barra até metade das
coxas torneadas. Os bicos dos seios enrijecidos, apontavam para
mim, aguando minha boca. Foi impossível de evitar a rigidez do
meu pau.

Puta merda! Essa garota era muito gostosa, eu tinha que


admitir.

— Seu indecente! — exclamou, cruzando os braços, ficando


o mais longe da cama possível. — Não vou dividir a cama com
você.

Sorri, caminhando até o móvel, totalmente à vontade,


como vim ao mundo. Meu pau balançando à medida que meus
olhos se arrastavam por ela descaradamente.

— Por quê? Está com medo de não resistir e pular no meu


pau enquanto eu estiver dormindo? — zombei, me divertindo
com a situação.

Ela bufou e se dirigiu à cama apenas para pegar um


travesseiro.

— Seria mais fácil eu cortá-lo fora! — sibilou, me fazendo


segurar meu pau instintivamente. — Idiota! — Puxou uma das
cobertas de forma agressiva.

Fiquei observando enquanto ela improvisava uma cama no


chão. Abanei a cabeça, incrédulo com aquilo.

— Agora você está agindo de maneira ridícula, garota! —


Rolei os olhos com impaciência. — Isso tudo é medo? Olhe o
tamanho dessa cama! Eu nunca faria algo que você não queira,
não é do meu estilo. — Ela não disse nada e continuou
preparando o local para dormir. — Entendo que você possa ter
dificuldade em resistir ao meu charme, mas prometo que vou
me comportar para tornar as coisas mais fáceis para você.

— Você realmente se acha um deus da sedução, não é? —


indagou, parecendo incrédula com minhas palavras anteriores.
— Tem certeza de que conseguia seduzir garotas com esse papo
furado?

Ajeitei-me confortavelmente entre as cobertas, com os


braços atrás da cabeça.

— Não me recordo de ter ouvido reclamações de nenhuma


delas, apenas gemidos.

Fui atingido por um objeto em movimento. Em seguida,


percebi que era um sapato.

— Puta merda! — exclamei, surpreso e irritado. —


Enlouqueceu?

Ela apontava um dedo na minha direção, de forma


ameaçadora.

— Pare de falar sobre suas aventuras sexuais, não estou


interessada em ouvir nada disso! — rugiu com raiva.

Pisquei, confuso.

— Ciúmes? — insinuei, com um sorriso irônico.

Revirou os olhos e se deitou no chão, virando as costas


para mim.

— Se ousar abrir a boca novamente para me irritar, eu


prometo mostrar meu ciúme, seu insolente.
Não tive outra escolha. Pela minha integridade física, decidi
ficar em silêncio.

Com um último olhar divertido para a garota que tanto me


irritava e excitava, me acomodei melhor na cama e fechei os
olhos. Logo, o sono me envolveu, enquanto eu imaginava as
várias formas de seduzir Aurora e fazê-la admitir que a atração
entre nós era inevitável.
Acordei abruptamente, me debatendo nos lençóis,
enquanto meus olhos piscavam, tentando se ajustar à nova
luminosidade. Ergui-me, examinando o quarto ao meu redor.
Uma sensação de confusão se apoderou de mim, pois eu me
lembrava de ter adormecido no chão. Como eu havia parado
nessa cama?

Recusei-me a acreditar que aquele cretino havia me


colocado na cama enquanto eu dormia, mas as evidências eram
inegáveis. Passei as mãos pelos cabelos, prestes a arrumá-los,
quando meu olhar se fixou na aliança reluzente em meu dedo.
Seu brilho intenso ecoava a nova realidade em que me
encontrava.

Meu coração acelerou no peito, seus batimentos ecoando


em meus ouvidos. Cada fibra do meu corpo parecia tremer sob o
peso dos acontecimentos das últimas horas, uma enxurrada de
emoções que me sufocava. Pisquei, atordoada, quando a porta
do banheiro se abriu, revelando a figura que se tornara meu
tormento.

— Ah, finalmente acordou, minha "querida esposa"? —


provocou, com sua habitual dose de sarcasmo. — Estamos
prestes a sair, então sugiro que comece a se arrumar. Não gosto
de sair correndo em cima da hora.

De costas, deixou a toalha cair aos seus pés, exibindo seu


traseiro nu.

Merda!

Desviei o olhar, sentindo minhas bochechas queimarem.

— Qual é o seu problema com essa obsessão de ficar nu o


tempo todo? — murmurei, indignada.

Ele soltou uma risada.

— Por quê? Está sendo difícil resistir, fedelha?

Revirei os olhos diante de sua arrogância.

— Vá se catar! — exclamei, jogando as pernas para fora da


cama. — A única coisa difícil de resistir é minha vontade de
socar sua cara.
Levantei-me e me encaminhei para o closet, determinada a
escolher uma roupa, mas fui impedida pela firmeza das mãos de
Liam. Ele ainda estava nu e me pressionou com seu corpo
quente. Uma onda de calor percorreu minha pele, deixando
minha respiração ofegante.

— Você pode tentar fingir, mas não me engana — sussurrou


ele, com o rosto tão próximo ao meu que sentia sua respiração
quente. Seu braço envolveu minha cintura, me mantendo presa
a ele. — Eu sei que você me deseja... — mordeu suavemente
meu queixo, deixando uma sensação ardente em minha pele.
Soltei um suspiro audível, minha resistência começando a se
dissipar. — E mal posso esperar para explorar cada parte do seu
corpo, "esposa". Quero levá-la ao êxtase enquanto ouço seus
gemidos de prazer. Será um deleite testemunhar sua petulância
se dissolvendo enquanto você se perde em cima do meu pau...

Com o coração acelerado, minha mão trêmula encontrou


sua ereção, que pulsava com uma necessidade avassaladora.
Era quente e robusto, fazendo minha calcinha ficar ainda mais
molhada. Cedi ao desejo quando Liam começou a beijar meu
pescoço, sua língua deixando um rastro de fogo sobre minha
pele. Cada toque, cada roçar de seus lábios, desmoronava
minha resistência, me deixando refém àquele momento.

— Podemos continuar nos odiando — insistiu, com a voz


rouca e sedutora, enquanto seus toques habilidosos
continuavam a me envolver —, mas isso não nos impede de
transar.

Inclinei minha cabeça para trás, me entregando ao prazer


que ele me proporcionava com sua boca experiente. Minha mão
deslizava com firmeza ao longo de seu membro, apreciando a
sensação da sua grossura pulsando sob meus dedos. O conflito
de emoções desaparecia diante da intensidade que se
espalhava por todo o meu corpo, enquanto nos entregávamos à
luxúria que nos consumia.

Deslizei meus lábios pelo seu pescoço e contorno dos


músculos de seu peitoral, explorando cada centímetro de sua
pele com um misto de desejo e curiosidade. Seu perfume
envolvente, mesclado com sua essência masculina, despertou
todos os meus sentidos, me deixando embriagada. Ao pairar
meu rosto diante da sua ereção, soltei minha língua lentamente,
provocando-o com um toque suave, apenas saboreando seu
gosto. O calor que emanava dele e a tensão no ar aumentavam
meu desejo de explorar minuciosamente cada detalhe de seu
corpo.

— Sempre tive curiosidade em saber como é chupar um


pau — falei, com os olhos fixos em sua masculinidade.

Liam segurou meus cabelos com força, completamente


perdido naquele torpor de desejo.

— Já aviso que o único pau que você vai chupar será o meu
— bradou, com o maxilar trincado.

Sorri de forma travessa, achando graça da sua


possessividade, enquanto continuava a movimentar minha mão.

Deslizei meus lábios pelo seu membro, brincando com a


ponta dele na minha língua. Liam soltou um rugido, jogando a
cabeça para trás, proferindo palavrões.
Uma sensação de poder percorreu meu corpo ao provocar
essa reação tão intensa nele. Seus gemidos se tornavam cada
vez mais intensos a cada carícia da minha língua na glande
rosada, então decidi me concentrar nessa área sensível,
explorando com calma. Mantive meus olhos fixos nos dele o
tempo todo, capturando a expressão de descontrole que tomava
conta de seu rosto. Não era apenas eu que estava afetada,
ficava evidente em seu olhar que ele estava tomado por uma
mistura de excitação e raiva, lutando contra a atração que o
consumia ao reconhecer que era eu ali, a garota que
constantemente o desafiava.

A percepção de que me tornei uma espécie de fraqueza


para ele me envolveu com força. Liam pressionou minha nuca,
conduzindo o ritmo com habilidade. A vontade de mordê-lo para
mostrar meu domínio pulsava em meu ser, mas optei por
ignorá-la e me esforcei para acompanhar seus movimentos,
mesmo que não conseguisse engoli-lo por completo.
Surpreendentemente, testemunhar seu descontrole me excitava
ainda mais. Nunca imaginei que o ato de proporcionar prazer a
um homem pudesse me afetar de forma tão intensa,
despertando desejos desconhecidos dentro de mim.

— Caralho! — exclamou, perdido. Seu corpo tremia. — Sua


boca é perfeita demais, porra!

Os movimentos de seus quadris se tornaram mais intensos,


causando uma leve sensação desconfortável em minha
garganta. Por impulso, dei uma suave pressão com os dentes
naquela área sensível, como um aviso discreto. Seus olhos se
arregalaram, refletindo uma mistura de temor e excitação.
— Não pense em me morder, fedelha! — sibilou, se
reajustando na cama.

Soltei seu membro da minha boca, ouvindo o som audível


de um "click" provocado pela sucção. Um sorriso satisfeito
brincou nos meus lábios enquanto olhava para ele.

— Pare de pensar que está no controle aqui... — respondi


com desafio, mantendo meu olhar fixo no dele.

Com um movimento hábil, intensifiquei os movimentos do


meu punho, deslizando para cima e para baixo em seu membro
ereto. A cada sucção e lambida, eu me alimentava dos gemidos
roucos e sensuais que escapavam de seus lábios. Era uma
experiência excitante observá-lo perder o controle e se render
ao prazer que eu o proporcionava.

Observá-lo no auge do prazer estava me desestabilizando


por completo.

— Caralho! — rosnou, sua voz carregada de intensidade. —


Vou gozar. — Sua mão permanecia na minha nuca, mas sem
exercer pressão. Nossos olhos se encontraram, e fui capturada
pelo seu olhar penetrante. — Você vai engolir tudo.

Suas palavras ecoaram em minha mente, fazendo um


estalo. Era uma ordem clara. Uma maldita ordem.

Uma mistura de desafio e submissão percorreu meu corpo.


Eu desejava mostrar a ele que não seria dominada, mas, ao
mesmo tempo, sentia uma estranha excitação em ceder ao seu
comando.
Odiei a mim mesma por ceder àquele desejo incontrolável,
ansiosa para saborear cada gota do que ele tinha a me oferecer.
Quando finalmente parei, desviei o olhar para seu membro
agora limpo e menos ereto. Liam me encarava com fascínio,
como se estivesse em transe.

Nossas respirações estavam pesadas, e o silêncio era


preenchido pela tensão e eletricidade que pairavam entre nós.
Era como se o tempo tivesse parado, deixando apenas o eco das
sensações que nos dominavam.

Um turbilhão de emoções me invadiu. Parte de mim se


envergonhava por ter sucumbido aos meus instintos mais
profundos, enquanto outra parte ansiava por mais. Era uma
batalha entre minha consciência e meu desejo insaciável por
ele.

Determinada a deixar para trás a confusão que me


sufocava, me ergui com determinação. Passei os dedos nos
cantos dos lábios, removendo qualquer resquício de sujeira.
Quando estava prestes a me afastar, Liam segurou minha mão e
me puxou para perto dele, fazendo nossos corpos colidirem.

— Para onde acha que vai? Ainda não terminamos... —


sussurrou, seus lábios roçando suavemente nos meus.

Um arrepio percorreu minha pele, intensificando a


excitação que começava a se acender dentro de mim. Meu
coração batia mais rápido.

— Não! — exclamei, empurrando-o com firmeza. — Não


quero! — menti descaradamente, mesmo que minha respiração
acelerada traísse a verdade. Ainda não estava pronta para
admitir o desejo avassalador que me consumia. — Só estava
tentando alcançar meu objetivo. É só isso.

Ele piscou, incrédulo com minhas palavras.

— Que objetivo? — Tentava entender. — Chupar um pau?

Seu semblante se tornou sombrio, a raiva começando a


transparecer por toda a sua expressão.

Dei de ombros, tentando parecer despreocupada.

— Sou uma garota curiosa, marido. — Abri um sorriso falso,


tentando ocultar a turbulência que se agitava em meu interior.
— Mas não se sinta especial, por favor. Estou apenas...
explorando, avaliando minhas opções.

Determinada a manter uma aparência de controle, me


afastei dele e segui em direção ao banheiro, sentindo o calor
intenso de seus olhos fervorosos queimando minhas costas.
Cada músculo do meu corpo parecia pulsar com a tensão do
momento, enquanto buscava algum alívio na privacidade do
ambiente.

Agradeci silenciosamente ao sair do banheiro e constatar


que Liam não estava mais no quarto. Era um alívio não ter que
encará-lo após o ato de coragem que tive. Embora houvesse um
leve constrangimento, eu não me arrependia. Na verdade,
sentia uma estranha satisfação com o desafio que protagonizei.
No entanto, não havia necessidade de revelar esse sentimento a
Liam. Não queria dar-lhe mais motivo para inflar seu já enorme
ego. Era melhor guardar esse segredo só para mim.

O problema surgiu quando, em vez de Liam, encontrei


minhas primas intrometidas, Nina e Donna. Pelos olhares das
duas, tive certeza de que não descansariam até que eu contasse
sobre minha noite. Suspirei com impaciência.

— Conta tudo! — decretou Nina, sentada de lado na cama.


Meus olhos se fixaram em sua barriga proeminente. — Confesso
que quase não consegui dormir, preocupada com seu marido.

Fiquei surpresa com suas palavras, e Donna soltou uma


risada.

— Preocupada com aquele idiota? — retruquei. — É bom


saber que está do lado dele, sua traidora.

Caminhei em direção ao closet.

— Não finja ser inocente, Aurora — respondeu a loira,


rolando os olhos. — Você vive ameaçando o irlandês. Então,
francamente, nada mais me surpreende entre vocês dois. —
Soltou um suspiro suave, mostrando o cansaço que acometia
seu corpo. Era compreensível, considerando que ela estava nos
estágios finais da gestação de seu primeiro filho com o siciliano
Matteo.

Apesar de ainda não nutrir simpatia por ele, encontrava


consolo na felicidade que o imbecil trazia para minha prima. A
história dos dois tinha sido cheia de dificuldades, mas agora eles
estavam vivendo o auge de suas vidas juntos.
Entre todas nós, Nina sempre foi a mais romântica, uma
alma apaixonada e vibrante, porém não menos feroz quando se
tratava de proteger aqueles que amava. Ela era filha dos meus
tios, Manuele e Beatrice[1], uma combinação de amor e força. Já
Donna possuía uma natureza mais selvagem, herdando uma
personalidade forte de seus pais, Rossi e Maya[2]. Meu tio Rossi,
um homem respeitado e temido, foi o antigo chefe da família,
deixando um legado marcante durante seu reinado antes de
passar a liderança ao seu filho Benjamin. Sua influência ainda
ecoava entre nós, carregando consigo a história e as tradições
da nossa família.

— Onde está Kira? — perguntei, sentindo falta da russa.

— Ela e Benjamin voltaram cedo — respondeu Donna, com


um brilho travesso nos olhos. — Aliás, nós também partiremos
em breve, mas não poderíamos perder a oportunidade de
descobrir como foi sua noite de núpcias. — Ela esfregou as mãos
uma na outra, ansiosa por fofocar. — Então, conta pra gente!
Houve algum momento ousado? Alguma mão boba?

O que elas pensariam se soubessem que perdi minha


virgindade no carro? Ou que, minutos antes de entrarem no
quarto, eu estava com o pau do Liam na garganta?

— Você está falando sério, Donna? — retruquei, fingindo


ser puritana. Escolhi uma peça de roupa para vestir e joguei o
resto na cama. — Por que eu permitiria que ele me tocasse?

Enquanto deixava a toalha cair, revelando minha nudez


diante delas, comecei a me vestir.
— Porque ele é seu marido, simples assim! — respondeu,
como se fosse óbvio. — Ou vocês pretendem ter um casamento
aberto, onde ambos podem se relacionar com outras pessoas de
forma discreta?

Pisquei, incrédula diante da pergunta absurda. Uma onda


de ciúme percorreu meu corpo, o simples pensamento de Liam
tocando outra mulher acendendo uma chama dentro de mim. A
traição era algo que eu jamais admitiria!

— Você ficou louca de vez? — exclamei, minha voz escapou


em um tom cortante. A indignação fluindo por minhas veias.

Nina, aproveitando a oportunidade para se envolver na


conversa, soltou uma risada, alimentando o fogo:

— Parece que a única louca aqui é você, se acha que um


homem como Liam conseguiria ficar sem uma mulher —
insinuou.

— Se você não for capaz de satisfazê-lo, com certeza ele


buscará isso fora de casa, prima — complementou Donna, me
encarando com um sorriso cínico. Era nítido que ambas estavam
me provocando, testando meus limites.

Traidoras!

Engoli em seco, me sentindo tensa. Não gostei de ouvir


aquilo, mas foi impossível não refletir sobre o assunto.
Após alguns minutos, desci as escadas acompanhada de
minhas primas. Era hora de partir para a lua de mel. Tínhamos
planejado passar uma semana na Jamaica.

— Promete que vai se comportar? — perguntou minha mãe,


me abraçando apertado.

Contive a vontade de revirar os olhos.

— Vocês me fazem parecer horrível, mãe — murmurei, um


tanto indignada. — Mas eu não sou esse monstro que pintam.

Ela me encarou com um olhar culpado, suas mãos


acariciando meu rosto. Minha mãe, com sua herança mexicana,
transmitia em seus traços marcantes a força e a rebeldia que eu
sabia ter também.

— Não foi isso que eu quis dizer, querida — se corrigiu


rapidamente —, mas eu conheço sua teimosia. Só desejo o seu
bem e muitas vezes vejo que você prefere seguir pelo caminho
mais difícil. — Inclinou a cabeça para o lado, me desafiando a
contradizê-la.

— O que mamãe está tentando dizer, irmã, é que você


precisa deixar de ser uma cadela louca e começar a se
comportar melhor — argumentou Giovanni, se aproximando de
nós.

Minha mãe o estapeou.

— Não fale assim da sua irmã! — repreendeu-o.

Dei um leve cutucão na barriga dele, fingindo estar


ofendida com suas palavras, mas, no fundo, não pude conter
uma risada. Giovanni me envolveu em um abraço apertado,
cobrindo minha cabeça com beijos carinhosos. Como gêmeos,
tínhamos nossas diferenças, mas o amor que nos unia era
inabalável.

— Vou manter meu telefone ligado o tempo todo, ok? —


avisou, acariciando minhas costas. — Se algo der errado com
aquele idiota, eu quero saber. Vou atrás de vocês
imediatamente.

Sorri, sentindo meu coração se aquecer por sua


preocupação.

— Você faria isso? — perguntei, sorrindo, sabendo muito


bem a resposta. Ele beliscou meu nariz de forma brincalhona.

— Sem pensar duas vezes, você sabe disso — respondeu


com convicção.

— Eu sei. — Sorri emocionada. — Obrigada por se importar


tanto comigo. Significa muito para mim — agradeci, segurando
suas mãos por um momento antes de soltá-las. A conexão entre
nós era inquebrável, mesmo quando estávamos separados.

Enquanto me despedia dos familiares que ainda estavam


presentes, Liam apareceu, impecavelmente vestido e elegante
como sempre. Papai estava com ele.

Tremores involuntários percorreram meu corpo quando


Liam se aproximou, ficando ao meu lado, seu olhar quase
queimando minha pele. Eu me esforcei para não permitir que
minha mente se perdesse nos momentos intensos que
compartilhamos.
— Pronta para nossa tão esperada lua de mel? —
perguntou, com uma pitada de sarcasmo em sua voz.

Revirei os olhos, lutando para manter uma expressão


indiferente.

— Não exagere, Liam. Não é como se estivéssemos


ansiosos para passar uma semana inteira juntos — respondi,
com um sorriso falso nos lábios.

Ele soltou uma risada cínica.

— Ah, Aurora, vamos fingir que você não está animada


para me ter só para você... — provocou.

Percebi que meu pai se tensionou.

— Poupe-me de suas insinuações, irlandês — rosnou ele,


com ciúmes. Em seguida, me puxou para seus braços. — Vou
sentir sua falta, querida. — Beijou minha testa, acariciando
minhas bochechas. — Lembre-se de que sua mãe e eu estamos
sempre prontos para você.

Sorri, sentindo meu coração se aquecer.

— Obrigada, pai.

Então, me virei para minha mãe, envolvendo-a em um


último abraço apertado.

— Te amo muito, mamãe — murmurei, lutando para


esconder a ansiedade em minha voz. — Prometo que vou visitá-
la com frequência.
Ainda não havia tido tempo para processar o fato de que,
após a lua de mel, minha casa seria na Irlanda e não mais na
Itália.

Minha mãe me abraçou de volta, seus olhos transmitindo


amor e preocupação. Em seguida, seu olhar se voltou para Liam
e para mim.

— Só espero que vocês dois tenham juízo e aproveitem


essa viagem para se conhecerem melhor, de uma maneira
mais... saudável.

Donna soltou uma risadinha, enquanto Nina assentiu com a


cabeça, como se concordassem plenamente com a declaração
da minha mãe. Minhas primas definitivamente não eram de
grande ajuda quando se tratava de me apoiar contra Liam.

A interação foi interrompida quando Liam pigarreou,


chamando a atenção para si. Seu rosto assumiu uma expressão
séria, mas havia ainda aquele brilho de expectativa em seus
olhos. Eu não conseguia entender como alguém poderia ser tão
detestável e, ao mesmo tempo, tão irresistível.

— Desculpe interromper o momento de emoção, mas


precisamos nos apressar se não quisermos perder o voo — disse
com impaciência.

Revirei os olhos mais uma vez e me virei para me despedir


de Giovanni e das minhas primas.

— Divirtam-se na minha ausência — pedi, tentando


disfarçar qualquer traço de incerteza em minha voz.
Donna soltou um risinho malicioso.

— Ah, tenho certeza de que nos divertiremos. E vamos


aproveitar para colocar em dia as fofocas sobre você e o
irlandês — provocou, piscando um olho com malícia.

Ignorando o comentário, segui Liam para fora da casa.


Ousado, ele envolveu o braço ao redor da minha cintura, me
puxando para mais perto de seu corpo, inundando-me com seu
calor e provocando arrepios que percorreram minha espinha.
Sua voz baixa e cheia de intenção ecoou em meu ouvido:

— Não se preocupe, fedelha. Vamos nos divertir muito


juntos. Farei você esquecer todos os seus planos de se
comportar.

Estalei os lábios, fazendo pouco caso, mas por dentro uma


parte de mim já estava curiosa para saber como seria essa
viagem.

Enquanto caminhávamos em direção ao carro, senti a brisa


suave da manhã acariciar meu rosto e bagunçar levemente
meus cabelos. Liam, com um gesto cavalheiresco, abriu a porta
do passageiro para mim, e entrei em silêncio. Apenas assenti
com a cabeça para o motorista, indicando que estávamos
prontos para partir.

Dentro do veículo, a realidade da minha nova vida começou


a chocar minha mente. A sensação de estar ao lado de Liam,
prestes a embarcar em uma viagem que mudaria tudo, era
avassaladora.

Casada. Eu estava casada.


Meus olhos se fixaram em Liam, sentado ao meu lado no
banco traseiro do veículo, com o olhar concentrado em seu
celular. Era como se ele estivesse fingindo que eu não estava
ali, o que contradizia completamente a forma como havia agido
comigo momentos antes.

Imbecil!

Por um instante, me perguntei com quem ele tanto


conversava.

Sentindo-me ansiosa e um tanto entediada, decidi fechar a


minha janela. Em seguida, me inclinei sobre o corpo de Liam e
fechei a janela ao lado dele, pois o som do vento estava
começando a me irritar. Tentei não me concentrar no seu
perfume amadeirado, nem na maneira como seu maxilar se
contraiu quando percebi sua tentativa sutil de me cheirar.

— Eu não pedi para você fechar minha janela — sibilou,


impaciente, abrindo novamente o vidro.

Suspirei, me sentindo frustrada com sua falta de empatia.

— O barulho está me irritando — expliquei, mas era óbvio


que ele não se importaria. Encarei-o novamente, percebendo
que ele voltara a se distrair com seu celular. — Tem algo a ver
com a sua fobia de lugares fechados?

Minhas palavras tiveram o efeito desejado, pois ele me


encarou. Um brilho misterioso percorreu seus olhos, mas foi
difícil decifrar seu verdadeiro significado. Não seria surpresa se
sua mente estivesse relembrando o nosso momento no
elevador, anos atrás. Naquela ocasião, eu tinha dezoito anos, e
Liam e eu ficamos presos juntos quando ele começou a passar
mal. Na minha tentativa de ajudá-lo, as coisas saíram do
controle e acabamos nos beijando. Foi meu primeiro beijo, um
momento que ficou gravado em minha memória como uma
maldita cicatriz.

— Se eu disser que sim, você vai parar de falar e me deixar


em paz? — rosnou em resposta.

Grosso!

Apenas fiz um gesto obsceno em sua direção, mostrando


minha frustração, e em seguida me ajeitei no meu canto, peguei
meu celular e me afundei em meu próprio mundo.

O restante do trajeto até o aeroporto foi feito em completo


silêncio, apenas o som do motor do carro preenchendo o espaço
entre nós.

Antes de embarcarmos no jato particular da família, Liam


segurou minha mão e colocou um pequeno objeto nela. Era um
bracelete de ouro com um pingente delicado em forma de lua e
estrela. Olhei para ele, confusa e curiosa ao mesmo tempo, sem
compreender o significado por trás do gesto.

— O que é isso? — perguntei, intrigada.

Liam sorriu de forma enigmática.

— Considere como um presente de casamento.

Meu coração acelerou ao ouvir suas palavras. Era difícil


discernir suas verdadeiras intenções, considerando nosso
histórico tumultuado. Ainda assim, havia algo em sua expressão,
um brilho fugaz em seus olhos, que me deixou confusa. Será
que, por um momento, ele estava tentando me conquistar? Ou
isso fazia parte de um plano ardiloso para me enganar?

Enquanto o avião ganhava altitude, uma montanha-russa


de emoções me invadia. A tensão entre Liam e eu era palpável,
como se a atmosfera ao nosso redor estivesse carregada de
eletricidade. Por mais determinada que eu estivesse a resistir,
havia uma faísca de desejo que continuava a queimar no meu
peito. Era uma batalha entre minha vontade de resistir e a
certeza de que Liam faria de tudo para derrubar minhas
defesas.
Por mais que eu me esforçasse, não conseguia tirar da cabeça a
imagem de Aurora me chupando. Seu rosto provocador, seus
lábios envolvendo meu pau... Era uma mistura de raiva e
excitação que dominava meus sentidos, mesmo que eu me
esforçasse para evitar.

Aurora era uma garota desafiadora e obstinada, com uma


beleza irresistível que não passava despercebida. A animosidade
entre nós era visível, mas agora uma maldita tensão sexual
parecia nos consumir, nos envolvendo em um ciclo vicioso de
atração e repulsa.
Durante o voo, optei por ignorá-la na maior parte do
tempo, ciente de que o presente que lhe ofereci a deixou
desconfiada. A garota não estava acostumada a receber
gentilezas da minha parte.

— O que você está planejando, afinal? — perguntou de


repente, quebrando o silêncio constrangedor durante o voo.
Estávamos sentados um de frente para o outro. — Ainda não
entendi o motivo do presente. O que há de errado com esse
bracelete, Liam?

Não pude evitar revirar os olhos diante de sua


desconfiança.

— A única coisa errada que vejo é essa sua mania de


sempre encontrar defeito em tudo, garota. É apenas um
presente, uma gentileza. Infelizmente, você não sabe o que é
isso, né? Não está acostumada, já que age constantemente
como uma cadela — provoquei, deixando-a cada vez mais
irritada. Ela tentava disfarçar, mas eu podia ver o fogo em seus
olhos.

— Não vi você reclamando quando a “cadela aqui, estava


no cio”, hum!? Com seu pau na minha garganta! — rugiu, com a
raiva crepitando de seus poros.

Naquele momento, meu corpo foi invadido por uma intensa


excitação ao me lembrar de sua boca deliciosa ao redor do meu
pau. Eu não era um homem inexperiente, muito pelo contrário,
mas nunca havia encontrado uma garota como Aurora, capaz de
despertar essa mistura de sentimentos e sensações em mim.
Com um sorriso malicioso nos lábios, me recostei no
encosto da poltrona, mantendo meu olhar fixo no dela, que
exalava ferocidade. Levei uma das mãos para baixo,
pressionando meu pau, duro feito rocha. Não me passou
despercebido seu olhar de interesse, acompanhando cada gesto
meu.

A safada me queria.

— Foi bastante satisfatório ver você usando essa boquinha


atrevida para algo mais útil e prazeroso. — Meu sorriso cafajeste
se ampliou. — Devo admitir que não me importaria se você
quisesse repetir a performance...

A reação dela foi me socar.

— Cretino! — exclamou, se levantando ao som da minha


risada divertida.

Eu sabia que estava provocando-a, mas a maldita não me


daria o prazer de vencer nessa batalha de egos.

Irritada, ela encontrou um assento distante, determinada a


me evitar pelo resto do voo.

Enquanto os minutos passavam, eu disfarçava e a


observava com atenção, analisando cada um de seus
movimentos. Aurora tentava se concentrar em um livro, mas
seus olhos ocasionalmente desviavam na minha direção,
revelando curiosidade e ansiedade em relação às minhas
próximas ações.
Aproveitando a oportunidade, chamei a aeromoça para
pedir uma taça de champanhe. Com um sorriso travesso,
estendi a mão e ofereci a Aurora um gole da bebida.

— Aqui está, "querida esposa" — ironizei, enfatizando a


farsa que era o nosso casamento, meu próprio inferno pessoal.
— Acredito que precisamos brindar para aliviar a tensão entre
nós — provoquei, erguendo a taça em sua direção.

Ela lançou um olhar desconfiado à taça, mas uma leve


hesitação se fez presente em seus olhos. Determinada a me
desafiar, se inclinou, pegou a taça e deu um gole, mantendo seu
olhar fixo no meu. O líquido dourado deslizou por sua garganta,
enquanto meus olhos permaneciam fixos nela. Mesmo ao beber
champanhe, a maldita conseguia ser atraente.

Aliás, desde quando essa garota passou de "fedelha que


me irritava" para ser a "fedelha que me excitava"?

Porra!

— Você acha mesmo que uma taça de champanhe vai


resolver todos os nossos problemas? — questionou, com uma
sobrancelha arqueada.

Um sorriso de satisfação se formou em meu rosto ao obter


uma reação dela.

— Não, — dei de ombros, estalando os lábios — uma taça


de champanhe não vai solucionar nossos problemas. Mas quem
sabe possa nos ajudar a esquecê-los por um momento —
respondi, com uma insinuação em minha voz.
Aurora ergueu uma sobrancelha, se mostrando intrigada
com minha resposta.

— Você só quer entrar na minha calcinha, Liam — afirmou,


mantendo o olhar fixo nos meus. — Não negue. E não pense que
essa aliança brilhante — apontou para o anel em seu dedo —
seja uma porta aberta.

Um sorriso arrogante se estampou em meus lábios.

— Você realmente acredita nisso? — retruquei, não


escondendo minha zombaria. — Suas palavras dessa manhã,
quando me disse que é uma garota curiosa, ainda ecoam em
minha mente. É apenas uma questão de tempo até você estar
bem aqui, montada e cavalgando. — Bati em meu colo de forma
provocativa, com um sorriso malicioso nos lábios.

Mesmo à distância, percebi o rubor inundando suas


bochechas, e essa simples observação me fez pulsar de maneira
dolorosa. Ver essa atrevida corar me deixou cheio de tesão.

— Isso não vai acontecer — decretou, pigarreando, como se


estivesse tentando se convencer disso. Eu dei mais um gole na
minha bebida, perdido em pensamentos.

Um silêncio pairou entre nós enquanto eu a observava com


um olhar penetrante.

— Sou um homem, Aurora — declarei, a encarando com


olhos predatórios. — E se você não me quer, saiba que há
muitas outras mulheres que dariam tudo para estar em seu
lugar. Mas a escolha é sua...
Ela permaneceu em silêncio por um momento, processando
minhas palavras.

— Acha que pode me provocar ciúmes? — desafiou de


repente, sua taça de bebida suspensa em seus lábios. Eu me
inclinei mais perto, reduzindo a distância entre nós.

— Não há nada mais excitante do que brincar com fogo,


não é mesmo? — aleguei, com meu olhar fixo no dela, que
permanecia quieta. Apesar de seu silêncio, seu olhar parecia me
desafiar com ferocidade.

Finalmente, soltou um suspiro resignado.

— Muito bem, insolente. Vamos jogar o seu jogo —


decretou, firme, provocando um turbilhão de sensações em
mim. — Mas saiba que não vou tornar as coisas fáceis para
você.

Meus olhos brilharam de excitação, e me aproximei ainda


mais, nossos corpos a poucos centímetros de distância.

— É assim que eu gosto... sempre desafiadora. Mal posso


esperar para ver do que você é capaz.

Finalmente chegamos ao nosso destino, um resort luxuoso


na ensolarada Jamaica. O clima tropical envolvia tudo ao nosso
redor.
— Caramba! Não tinha um lugar mais quente para me
trazer? — ironizou ela, com um tom mal-humorado.

Eu sorri, a envolvendo pela cintura, apesar da resistência


do seu corpo contra o meu. No fundo, eu sabia que ela não se
afastaria, já que estávamos em público.

— Em compensação, não podemos negar que a atmosfera


entre nós dois está ainda mais quente, não é mesmo? —
sussurrei em seu ouvido, observando a pele dela se arrepiar.

Ela reagiu me empurrando, enquanto eu apenas ria de sua


tentativa de se manter indiferente.

Ao entrarmos no quarto reservado, senti meu corpo


estremecer. O ambiente exalava romantismo, com pétalas de
rosas espalhadas pelo chão, velas perfumadas e uma cama
imensa adornada com lençóis de seda. Era um cenário perfeito
para a nossa farsa de casal apaixonado.

— Que diabos é tudo isso? — perguntou, fazendo uma


careta enquanto gesticulava ao redor. Aproximou-se da cama e
começou a remover as pétalas de rosa dos lençóis. — A pessoa
responsável pela reserva deste quarto deve estar querendo
debochar de nós, já que nada disso combina com a nossa vibe.

Fechei a porta atrás de nós e percorri o quarto com os


olhos, analisando cada detalhe.

— É verdade! — exclamei, capturando sua atenção e vendo


a surpresa em seu rosto lindo por eu concordar com ela. — Seria
mais interessante algo mais sombrio, não é mesmo? Algo que
remetesse a um ambiente fúnebre.
Contrariando minhas expectativas, ela não se ofendeu e
começou a rir. De forma estranha, sua risada contagiante me
pegou também.

— Não sei você, mas pretendo descer e explorar o lugar —


comentou de repente, sem nem mesmo me olhar, enquanto
mexia em sua mala em busca de roupas e acessórios. — Ainda é
cedo, e quero me divertir um pouco.

Afrouxei minha gravata e sorri de forma sugestiva.

— Preciso fazer algumas ligações — avisei, acompanhando


cada movimento dela pelo espaço. — Mas você pode ir, — dei de
ombros — não vou ser um obstáculo para a sua diversão —
ironizei.

Ela se aproximou lentamente, mantendo seu olhar fixo no


meu, e sorriu com aquela petulância que eu conhecia tão bem.

— E quem disse que estou pedindo sua permissão? —


debochou, com sua habitual insolência.

Trinquei os dentes, sentindo a irritação pulsar dentro de


mim. Era impressionante como essa maldita criatura sabia
exatamente como me frustrar.

Enquanto eu permanecia no quarto, focado em organizar


minhas coisas, ela se trancou no banheiro. Nada me incomodava
mais do que a bagunça e a desorganização, então eu precisava
colocar tudo em ordem antes de conseguir me concentrar em
qualquer outra coisa.
Depois de um longo tempo, terminei de arrumar minhas
roupas no closet quando Aurora finalmente saiu do banheiro. Ela
usava um conjunto de shorts jeans e uma blusa de alças,
realçando sua beleza. Sem usar sutiã, notei que seus mamilos
se enrijeceram sob o meu olhar faminto. Por um instante,
desejei impedi-la de sair sem mim, mas me controlei.

— Nossa! Eu não sabia que você era tão organizado. — Ela


gesticulou, com os olhos brilhando de surpresa. — Parece que
você não é tão ruim assim...

Estreitei os olhos em sua direção.

— Não fale como se você já não tivesse conhecido minhas


habilidades, fedelha... — Insinuei, com um tom zombeteiro.

Ela revirou os olhos, fingindo desinteresse.

— Apegado ao passado, como sempre...

Num impulso repentino, me aproximei dela, pegando-a de


surpresa. Seu corpo se chocou contra a parede, e nossos olhares
permaneceram fixos um no outro.

— Pode mentir o quanto quiser, mas eu sei que você me


deseja — sussurrei, arrastando meu olhar pelo seu rosto. — Você
só não quer admitir, porque acredita que aceitar o tesão que
sente por mim a fará parecer fraca aos meus olhos.

Aurora encarou meus lábios enquanto lambia os seus. Será


que ela também estava tão tentada a me beijar quanto eu
estava de beijá-la?

— Não confio em você — disse, com a voz trêmula.


Levei uma das mãos ao seu rosto, acariciando sua pele
sedosa.

— Prometo que na cama você pode confiar — sussurrei,


incapaz de conter um sorriso malicioso. — Garanto que será o
único lugar onde você poderá gritar comigo, e eu não vou
reclamar.

Senti suas mãos deslizando pelo meu peito, causando


arrepios infindáveis em meu corpo, mas me mantive controlado.

— Ainda estamos jogando? — retruquei, fixando meu olhar


em seus seios, que balançavam suavemente ao ritmo de sua
respiração entrecortada.

Ela não respondeu, apenas me empurrou para longe.

— Aurora? — chamei, frustrado com seu silêncio.

Permaneceu quieta, se dirigindo à porta. No entanto, antes


de sair do quarto, me lançou um olhar provocativo.

Quando pensei que fosse sair sem dizer nada, ela falou:

— Vamos continuar jogando, Liam. Mas desta vez, eu


estabeleço as regras.

Minha única reação foi praguejar. Praguejei até sua última


geração, porque me recusava a admitir que, no fundo, ela
estava começando a me afetar. Maldita hora em que cedi à
tentação de ter um gostinho dela.

Fedelha do caralho!
Nesse momento, meu telefone começou a tocar. Era uma
chamada do Owen, provavelmente querendo saber como as
coisas estavam indo. Suspirei, irritado com a interrupção, mas
atendi mesmo assim:

— O que você quer? — falei, com impaciência evidente na


voz.

— Wou! Liguei para saber se ainda estavam vivos, mas


pelo seu tom de voz, já deu para perceber que as coisas estão
se encaminhando para um próximo round, hum? — zombou,
sem esconder a risada. — Sua lua de mel parece estar bem mais
emocionante do que aqui, irmão.

— Vá se ferrar, caralho! — rosnei. — Ligou apenas para tirar


sarro da minha cara? Porra, Owen! Não tinha uma esposa
melhor para me arrumar, não? Juro que essa garota está
acabando com minhas energias pouco a pouco, e estamos
casados há menos de dois dias. — Suspirei com impaciência.

— Não é o fim do mundo, Liam! E tenho certeza de que


Aurora é a garota ideal para você.

Pisquei, incrédulo.

— Ideal para mim? — repeti, ainda sem acreditar nessa


afirmação descabida.

— A única que consegue colocá-lo no seu devido lugar! —


declarou Sean, ao som da risada dos demais. Entendi que Owen
estava com a ligação no viva voz. — Sinto em dizer, irmão, mas
você não gosta da Aurora, porque ela faz você sentir o gosto do
seu próprio veneno.
Revirei os olhos, odiando me tornar um motivo de piada
para esses idiotas. Meus irmãos sabiam ser insuportáveis
quando queriam.

— Está usando proteção no pau? — inquiriu Carter, entre


risos. — Porque todo cuidado é pouco. Não podemos nos
esquecer de que sua querida esposa é louca o suficiente para
atirar nas pessoas quando se sente acuada.

Calafrios percorreram meu corpo ao relembrar aqueles


momentos, enquanto suas risadas ecoavam do outro lado da
linha. Eles estavam se divertindo às minhas custas.

— Quando eu voltar, é melhor vocês não cruzarem meu


caminho, seus imbecis! — ameacei, cheio de raiva.

Encerrei a ligação e saí do quarto, decidido a encontrar


Aurora e colocar um fim nessa palhaçada. Queria que essa porra
de lua de mel chegasse ao fim de uma vez por todas.

Perambulei pelos corredores do resort, seguindo as pistas


da infeliz. Eu a encontraria, não importava onde estivesse.

Quando finalmente a encontrei, parei, observando a cena


com um misto de desgosto e ciúme. Ela estava em uma área
comum do resort, envolvida em uma conversa animada com
outro homem. Minha mandíbula se apertou, e um sentimento de
possessividade tomou conta do meu corpo ao vê-la tão à
vontade com aquele sujeito. Era inaceitável. Ninguém além de
mim poderia ter sua atenção. Num rompante, avancei em
direção aos dois, pronto para reivindicar o que era meu.
O homem percebeu minha aproximação abrupta, mas não
recuou. Eu não sabia quem ele era, nem me importava. Tudo o
que importava era deixar claro a quem ela realmente pertencia.

Meus olhos se fixaram na mão do intruso, ousando tocar o


braço da minha mulher.

Que se dane o fato de eu detestá-la! Aurora ainda


carregava o meu sobrenome e, enquanto isso fosse verdade,
ninguém mais teria o direito de se aproximar dela de maneira
tão íntima.

— Vou te dar dez segundos para dispensar esse idiota —


rugi perto da sua orelha, minha voz carregada de frieza. — Caso
contrário, prometo que a mão dele será o prato principal do seu
almoço.

Dizendo isso, retrocedi alguns passos, deixando claro que


não estava blefando. O homem tentou dizer algo, mas ignorei
completamente suas palavras insignificantes. Meu problema não
era com ele.

Ainda.

Caminhei com passos firmes, as mãos nos bolsos,


consciente de que Aurora logo me seguiria. Ao dobrar o
corredor, senti um puxão firme em meu braço. Virei-me
rapidamente, encontrando o olhar determinado de Aurora.

— O que foi aquilo, hein? — rosnou, lançando um olhar


cauteloso ao redor para evitar qualquer escândalo
desnecessário. — Está tentando me impressionar? — Arqueou as
sobrancelhas, me fitando com fúria nos olhos. — Saiba que sua
tentativa não funcionou, pelo contrário, só me deixou irritada! —
Com um soco forte, acertou meu peito, me fazendo recuar
alguns passos.

Minha paciência estava no limite. Avancei ainda mais,


aproximando-nos até que nossos corpos quase se tocassem.

— Não estou aqui para te impressionar, fedelha. Apenas


para deixar claro quem está no controle — ameacei, minha voz
baixa, carregada de intenções sombrias. Minha declaração só
alimentou sua raiva. — Goste ou não, eu sou seu marido e exijo
respeito!

Ela não recuou, nem demonstrou medo. Pelo contrário,


seus olhos brilharam com uma emoção que não consegui
identificar.

— Você acha que pode me intimidar? Acha que tenho medo


de você? — provocou.

Segurei seu braço.

— Acredite em mim, garota, posso ser muito mais


ameaçador do que você imagina — sussurrei.

A maldita inclinou a cabeça para trás, me encarando


intensamente, desafiando todos os limites. Seus olhos se
fixaram em meus lábios, num pedido mudo para que eu a
beijasse. A atração entre nós era inegável.

No entanto, algo dentro de mim hesitou. Uma voz interior


sussurrou que havia mais em jogo do que apenas meu desejo.
Era ela quem precisava ceder primeiro.
Com um movimento brusco, me afastei e soltei seu braço.
Ela ficou momentaneamente surpresa e desapontada com
minha reação, mas logo recuperou sua postura petulante.

— Você é um covarde! — acusou. — Tem medo de enfrentar


o que realmente sente — insinuou, frustrada.

Suspirei, passando a mão pelos cabelos, buscando


recuperar o controle sobre mim mesmo.

— Se quiser me beijar, terá que implorar — declarei,


sorrindo, enquanto ajustava as lapelas do paletó.

— Nunca!

Aumentei o sorriso, sentindo aquela sensação gostosa de


adrenalina me tomando.

— É isso o que vamos ver, fedelha...


Após o intenso confronto durante nossa chegada, decidi me
distanciar de Liam. Precisava de espaço e tempo para processar
tudo o que estava acontecendo entre nós dois. Não era apenas
o medo de como ele reagiria se eu me entregasse, mas também
o receio do desconhecido que me consumia.

Enquanto caminhava pelos jardins do resort, em busca de


clareza mental, senti meu celular vibrar no bolso. Era meu
irmão. Um sorriso iluminou meu rosto ao atender a ligação:

— Não acredito que já está com saudades — provoquei, em


tom divertido, mas secretamente aliviada por estar conversando
com ele.

— Não se iluda, não é um privilégio tão grande assim —


respondeu ele, fingindo indiferença —, mas devo admitir que
sem você, as coisas perderam a graça. Perdi minha parceira de
aventuras.

Sorri com afeto.

— Também te amo, irmão — declarei. — E estou morrendo


de saudades.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes. Giovanni sempre


teve dificuldade em expressar seus sentimentos, assim como
eu, mas eu sabia o quanto ele me amava.

— Como vão as coisas entre você e o irlandês? —


perguntou, evitando usar a palavra "marido" para se referir a
Liam.

Refleti por um momento, considerando a possibilidade de


abrir meu coração com meu irmão. Giovanni sempre foi meu
confidente mais leal, aquele que conhecia segredos meus que
nem minhas primas imaginavam.

— Estou pensando seriamente em matá-lo, picar o corpo


dele e jogar os pedaços no mar. Será que isso me fará ser
expulsa da família?

Sua gargalhada ecoou do outro lado da linha.

— Falei para você levar uns bolinhos de maconha —


murmurou, divertido. — Poderia estar mais calminha agora. —
Foi minha vez de rir alto, acompanhando-o. — Mas agora,
falando sério, o que está acontecendo entre vocês, irmã? Sinto a
sua tensão, você não consegue me enganar. Pode me contar,
você sabe que eu nunca a julgaria.

Pausei por um momento, mordendo o lábio inferior


enquanto refletia sobre o assunto. Em seguida, decidi
compartilhar com meu irmão a verdade que carregava dentro de
mim:

— Giovanni, eu transei com ele — confessei, soltando um


suspiro aliviado. Era como se um peso tivesse sido retirado dos
meus ombros. — Isso aconteceu antes da cerimônia do nosso
casamento. Sei que pode parecer estranho, mas não sinto
arrependimento. Na verdade, eu gostei do que aconteceu,
entende? Foi intenso, e Liam...

— Pelo amor de Deus, me poupe dos detalhes, porra! —


interrompeu-me em tom azedo. — Já está difícil tirar as imagens
da cabeça, da minha única irmã transando, não preciso de nada
descritivo.

— Ah, pare de ser dramático! — Ri em resposta. — Enfim,


estou com medo, irmão.

Ouvi seu suspiro baixo.

— Como assim, medo?

— Liam é um homem experiente — falei, aflita. — E se ele


quiser usar isso contra mim? O idiota pode pensar em me
prender num chá de pica.
Giovanni permaneceu em silêncio por um momento, e
então, de repente, começou a rir.

— Às vezes, você é realmente engraçada, irmã — disse,


divertido. — Você já parou para ouvir o que está dizendo?

Franzi o cenho.

— O que você quer dizer com isso? — perguntei, confusa.

Ele soltou um suspiro exasperado.

— Você acabou de admitir que gostou de transar com ele. E


Liam é seu marido, Aurora. Qual é o problema de transar com o
seu próprio marido? A menos que você esteja com medo de se
apaixonar...

A confusão se instalou em minha mente, enquanto eu


lutava para assimilar suas palavras. Seu comentário me atingiu
em cheio, acelerando as batidas do meu coração. A ideia de me
apaixonar por Liam me despertou uma mistura de emoções
contraditórias tão forte que tirou meu ar por um segundo.

Amar significava renunciar ao controle, confiar plenamente


em alguém e permitir que essa pessoa enxergasse além das
minhas defesas.

— Giovanni, você não entendeu. — Minha voz saiu tensa


em um sussurro, quase desejando repreendê-lo por pensar
dessa forma. — Não é apenas sobre Liam ter controle sobre
mim. A máfia é o nosso mundo, e os sentimentos podem se
tornar armas perigosas contra nós.
Houve uma breve pausa do outro lado da linha antes que
Giovanni quebrasse o silêncio com sua resposta:

— Você é muito mais forte do que imagina — afirmou com


convicção. — Além disso, já considerou a possibilidade de Liam
também estar lutando contra seus próprios demônios?

Uma pequena chama de irritação se arrastou pelo meu


corpo. Giovanni sempre tinha respostas para tudo.

Apesar da contrariedade, continuamos a conversar por


mais alguns minutos antes de finalmente encerrar a ligação.
Respirei fundo, absorvendo tudo o que meu irmão havia dito.
Ainda não me sentia pronta para enfrentar meu irritante marido,
então decidi aproveitar o ambiente paradisíaco e continuar
explorando o lugar.

Mais tarde, quando retornei ao quarto, o encontrei vazio.


Deduzi que Liam já estivesse no restaurante para o jantar. Sua
falta de cavalheirismo em não me esperar para irmos juntos não
me surpreendeu. Afinal, nós não éramos um casal apaixonado.
Na verdade, mal conseguíamos nos suportar.

Decidi dedicar algum tempo extra para me cuidar, tomando


um banho demorado e garantindo que estivesse bem
perfumada e atraente. Normalmente, eu valorizava a
praticidade e não gostava de perder horas me arrumando. No
entanto, naquela noite, decidi fazer um esforço adicional.
Escolhi um vestido azul elegante, com uma fenda longa na
perna, e realcei meus olhos com uma maquiagem sutil. Queria
estar impecável para a ocasião.

Optei por prender meu cabelo em um coque bem firme.


Apesar de não ser fã de saltos, não consegui resistir a uma
sandália de salto alto, adornada com pedrarias em tons
caramelos. Era uma escolha que acrescentava um toque de
elegância ao meu visual. Por fim, peguei o bracelete que ele
havia me presenteado, admirando a beleza da joia. Embora
estivesse cética em relação ao gesto, não podia negar que a
peça era deslumbrante.

— Gostosa pra caralho! — exclamei, me admirando no


espelho antes de finalmente sair do quarto com um rumo certo.

Deslizei pelas escadas do hotel em direção ao restaurante,


cheia de expectativa de encontrar Liam, mas assim que adentrei
o local, minha empolgação se dissipou. Ele não estava em lugar
algum. Vasculhei com os olhos o ambiente, buscando seu rosto
familiar, porém ele parecia ter evaporado. Uma onda de
frustração se abateu sobre mim, mesclada com uma pitada de
raiva.

Decidi então me dirigir à recepção do hotel, em busca de


respostas. Foi lá que fui informada de que Liam havia deixado
um recado para mim, indicando que estava no bar.
Meu coração acelerou ao ler aquelas palavras, alimentando
ainda mais minha raiva. Amassei o papel com força, desejando
que fosse o rosto dele. Decidida a enfrentá-lo, segui em direção
ao bar com passos firmes. A música animada e o burburinho das
conversas preenchiam o ambiente, criando um cenário agitado.

Ao adentrar o bar, meus olhos capturaram rapidamente a


visão de Liam sentado em uma mesa próxima ao balcão,
segurando um copo de uísque. Ao seu redor, quatro mulheres
riam das piadas que ele contava. Nossos olhares se
encontraram, e um sorriso malicioso se formou em seus lábios,
como se ele soubesse que estava me atingindo.

Embora minha raiva aumentasse diante da cena, eu


caminhei com confiança pelo bar, meus saltos ecoando no chão.
Ao chegar ao balcão, pedi um drinque ao barman, fingindo
ignorar a presença de Liam do outro lado. No entanto, era
impossível não sentir seus olhos escrutinadores sobre mim,
observando cada um dos meus movimentos.

Com a taça em mãos, levei-a aos lábios, saboreando o


líquido devagar, ao mesmo tempo em que meu olhar se fixava
em um homem atraente e aparentemente bem-sucedido ao
meu lado. Aproveitei a chance para exibir meu charme e
inteligência, o fazendo rir e se interessar pela minha companhia.
Ignorando o olhar penetrante do meu marido, cruzei as
pernas de maneira sugestiva, consciente de que esse gesto o
afetaria. Enquanto a conversa fluía com meu acompanhante,
percebia os olhos de Liam fixos em mim, intensificando minha
excitação e a sensação de adrenalina.

— E então, senhorita...

— Senhora! — rugiu a voz de Liam, interrompendo meu


momento com o homem. — Parece que o brilho do diamante na
aliança dela está atrapalhando sua visão, não é mesmo? Se
preferir, posso usar meu punho para que você veja melhor de
perto — gesticulou com a mão, exibindo sua própria aliança — O
que acha dessa sugestão? — Ele voltou a encarar o homem com
um olhar repleto de raiva contida.

Esse insolente se tornava tão primitivo quando estava com


ciúmes... Era divertido vê-lo reagindo assim.

Desviei o olhar, fingindo interesse na minha taça, mas


lutando para conter o riso diante da situação.

Assim que o homem se afastou do balcão, visivelmente


contrariado e intimidado pela presença do meu marido, Liam se
aproximou ainda mais, ocupando o banco ao meu lado. Tentei
manter uma postura indiferente enquanto seus olhos percorriam
meu corpo, observando atentamente minha escolha de visual. A
sensação de umidade entre minhas pernas era uma evidência
do impacto que ele tinha sobre mim.

O imbecil não mediu palavras para expressar sua


insatisfação:
— O que diabos você está fazendo aqui? Eu não te quero
por perto — rugiu em um tom seco, deixando claro seu
desconforto.

Fingindo surpresa, eu arqueei as sobrancelhas e apontei


em direção à entrada.

— Oh, me desculpe, não percebi que você era o dono deste


bar, nobre senhor — retruquei com sarcasmo, dando uma leve
revirada de olhos. — Vá para o inferno, Liam! — exclamei com
raiva. — Assim como você, estou apenas me divertindo. Qual é o
seu problema, afinal!? Aliás, por que não volta para suas
amiguinhas ali? — provoquei, apontando discretamente com o
queixo.

Nesse instante, um sorriso sedutor surgiu em seus lábios,


acentuando ainda mais sua beleza. Ele estava irresistível, bem
diferente de seu usual traje formal. De modo discreto, me
permiti analisar sua aparência, focando especialmente em sua
camisa com os primeiros botões desabotoados, que revelavam
um vislumbre de sua pele.

— Ciúmes? — provocou, me lançando um olhar divertido.

Sorri provocativa enquanto dava um gole da minha bebida,


deixando a língua percorrer a borda da taça de forma sedutora.

— Eu poderia fazer a mesma pergunta — mordisquei os


lábios. — O que foi toda aquela encenação com o homem com
quem eu estava conversando? Ele era bastante divertido, sabe?
— Suspirei de forma afetada, olhando ao redor. — Agora, por sua
causa, terei que encontrar outra companhia capaz de me
entreter esta noite.
Seu maxilar se contraiu, demonstrando um leve
desconforto.

— Não ficaria surpreso se, lá no fundo, ele estivesse me


agradecendo agora por ter evitado uma conversa tediosa com
você — disse com desdém, e eu senti a irritação crescer dentro
de mim.

Quase avancei em seu pescoço, mas me contive a tempo.

— Ah, mio caro, não subestime minha capacidade de


persuasão — afirmei, erguendo o queixo com confiança. — Só
porque você não consegue chamar minha atenção, não significa
que eu não possa seduzir quem eu quiser.

Uma faísca brilhou no fundo de seus olhos azuis, revelando


uma mistura de curiosidade e interesse.

— Está me desafiando? — questionou, com uma


sobrancelha arqueada. — Tem certeza de que quer seguir por
esse caminho, mocinha? — Um brilho atrevido surgiu em seus
olhos, deixando claro o jogo de sedução que estava por vir.

Foi minha vez de erguer uma sobrancelha.

— Aposto que consigo obter mais números de telefone de


outros parceiros hoje à noite do que você — declarei, mantendo
meus olhos fixos nos dele, repletos de expectativa.

Liam soltou uma risada baixa, se divertindo com a


proposta.

— Gosto do seu espírito competitivo, fedelha — disse,


pegando minha taça e terminando o que restava da bebida. —
Aceito o desafio. — Seu corpo se aproximou do meu, e eu pude
sentir sua respiração quente em minha pele, provocando
arrepios incontroláveis. — Mas lembre-se, não subestime meu
poder de persuasão. Está prestes a descobrir o que sou capaz
de fazer.

Com um sorriso provocante nos lábios, me afastei do


banquinho, deixando meus seios roçarem de leve em seu peito.
A sensação de meus mamilos endurecendo rapidamente não
passou despercebida por ele, e sua reação foi lamber os lábios.
Essa troca de olhares e gestos intensificou ainda mais minha
excitação.

— Que vença o melhor, então — brinquei, deixando nossos


lábios quase se tocarem, mas evitando o beijo. — Aliás, você
percebeu que estou sem calcinha? Achei que seria melhor
assim, para não deixar marcas na roupa. — Pisquei e me afastei,
desfrutando da sua reação às minhas palavras.

Antes de sair, observei suas pupilas dilatando. Tive que me


esforçar ao máximo para não tropeçar, já que o olhar intenso
dele em minhas costas, ou talvez em meu traseiro, era
extremamente forte.

À medida que a noite avançava, nós nos entregamos


completamente ao jogo. Nossas conversas eram envolventes,
nossos sorrisos sedutores e nossos toques sutis eram
estrategicamente calculados. Cada vez que eu notava Liam
obtendo um novo número, redobrava meus esforços para
superá-lo. Nossa competição ia além do simples flerte; era uma
batalha de egos, onde o objetivo era desequilibrar um ao outro.
Em determinado momento, nos encontramos sentados em
mesas próximas, totalmente envolvidos no jogo. Enquanto meu
acompanhante falava sem parar, eu aproveitei a oportunidade
para provocar Liam de maneira descarada. A garota loira com
quem ele conversava estava de costas para mim, mas Liam não
conseguia disfarçar seu olhar fixo na minha direção. Era como se
seus olhos fossem os de um falcão, atentos a cada movimento
meu.

Com um movimento sutil, abri as pernas de leve, simulando


um ajuste em minha posição. Notei que seus olhos foram
atraídos para minha nudez, enquanto seu maxilar se apertava.
Um murmúrio de frustração escapou de seus lábios, e pude
perceber a tensão em sua mão ao segurar a taça com mais
força do que o necessário. Um sorriso vitorioso se formou em
meus lábios, pois eu sabia que havia conseguido desestabilizá-
lo.

No entanto, minha breve sensação de triunfo foi


rapidamente dissipada quando, com uma explosão de raiva, o
imbecil se ergueu de modo abrupto e arrastou a garota loira
para fora do bar. Meu coração acelerou, enquanto minha mente
tentava assimilar aquela perturbadora cena.

Onde diabos esse cretino estava levando aquela vadia?

Decidi dispensar meu acompanhante e simplesmente me


afastei da mesa, seguindo os passos de Liam. Encontrei-os na
entrada do bar, ambos rindo de alguma piada. Quando ele notou
meu olhar, sorriu, ciente de que havia me afetado.
Dominada pela ira e frustração, avancei em direção a eles,
mas meu foco estava totalmente voltado para Liam. Ao parar
diante dele, mal conseguia conter minha indignação. A garota
permanecia um pouco afastada, engajada em uma conversa
com a recepcionista.

— Se livre dessa vadia agora, ou vou cortar a garganta dela


na sua frente — ameacei, mantendo meus olhos fixos nos dele.
Um sorriso arrogante se abriu nos lábios do bastardo, enquanto
ele analisava meu rosto em busca de qualquer sinal de
hesitação. — Você sabe que eu sou capaz disso, Liam. Coragem
não me falta. — Mantive minha postura firme, permitindo que
ele visse a turbulência em meus olhos.

Com um palavrão escapando de sua boca, ele se afastou e


se dirigiu à garota loira, que mostrou uma expressão de
desapontamento quando Liam a descartou. Eu não fiquei para
presenciar aquela cena patética. Era simplesmente ridículo! Na
verdade, tudo o que eu estava sentindo parecia ridículo.

Antes de entrar no elevador, senti alguém segurando meu


braço. Nem precisei me virar para saber de quem era aquele
toque. Meu corpo reconheceu instantaneamente.

— Solte-me! — Rosnei, o empurrando com força. — Estou


farta de você. Farta de toda essa porcaria. — Gesticulei com
impaciência.

Liam olhou ao redor, preocupado com o potencial


escândalo.

— Farto estou eu, droga! Eu, maldição! — Ele golpeou o


peito, fervendo de frustração.
Abri a boca para responder, mas o imbecil simplesmente
virou as costas e saiu, me deixando falando sozinha. A raiva
tomou conta de mim.

Decidi segui-lo, segurei seu braço e o forcei a recuar alguns


passos.

— Ainda não terminei de falar, seu mal-educado! — rugi,


cerrando os dentes. — Quem você pensa que é para agir como
se fosse superior, huh?! — Apontei o dedo na sua direção. —
Você quebrou as regras do nosso jogo. — Minha mandíbula ficou
tensa. — O que estava pretendendo fazer com aquela vadia?

Uma emoção desconhecida tomou conta do seu rosto.

— Não sou um moleque, Aurora — declarou com fervor. — E


pare de me subestimar, porque isso não funcionará comigo. Não
vou esperar indefinidamente. Se você não me quer, encontrarei
alguém que queira.

Nesse momento, minha raiva atingiu o ápice, e quando o


elevador se abriu vazio, aproveitei a oportunidade e o empurrei
para dentro, fazendo com que seus olhos se arregalassem ao
perceber onde estávamos, considerando sua estranha fobia de
lugares pequenos e fechados.

Porém, não dei tempo para que ele reagisse ou surtasse,


pois segurei sua nuca, pressionando nossos corpos e unindo
nossos lábios em um beijo intenso antes de mordê-lo com força.

— Porra! — praguejou, limpando o sangue em sua boca. —


Sua cadela raivosa do caralho!
— Eu não vou ser corna, entendeu? — resfoleguei, sentindo
meu corpo todo tremendo. — Se você se atrever, vou fazer o
mesmo com você.

Liam envolveu minha cintura, deslizando suas mãos pelo


meu traseiro, por baixo do vestido, explorando minha pele
exposta. Eletricidade percorreu meu corpo quando seus dedos
encontraram o caminho entre minhas pernas, me tocando sem
restrições. Soltei um suspiro ofegante.

— Foi você quem optou por não fazer sexo comigo, fedelha
— afirmou, mantendo a outra mão na minha nuca, assumindo o
controle da situação. Trocamos de posição e ele me pressionou
contra a parede espelhada. Sua boca desceu pelo meu pescoço,
provocando uma mistura de prazer e dor com suas mordidas e
chupões úmidos, até chegar aos meus seios. — E eu sempre
estarei pronto para foder minha mulher. — Puxou o tecido para
baixo, expondo um dos meus seios, e o devorou com avidez.

A maneira como ele proferiu essas palavras, combinada


com a audácia de suas carícias, provocou uma excitação que se
arrastou por todo o meu corpo.

O elevador se abriu no nosso andar e Liam me segurou


pelo pescoço, reivindicando meus lábios em um beijo lascivo.

— E então? — sussurrou contra meus lábios. — Quer ser


fodida por mim?

Meu peito subia e descia, denunciando a intensidade do


momento.
— Fique ciente... — respirei ofegante, minhas pernas
trêmulas. — Você não dita as regras nessa relação.

Com essas palavras, impulsionei meu corpo, fazendo com


que Liam me segurasse, envolvendo minhas pernas ao seu
redor. Saímos do elevador, agarrados um ao outro, sem nos
importarmos com o perigo que aquela situação poderia
representar para ambos.
Assim que fechei a porta atrás de nós, agi com ímpeto,
pressionando o corpo de Aurora com força contra a madeira.
Minha boca estava ávida, incapaz de se afastar da dela, uma
mistura inebriante de desejo de mordê-la e beijá-la com
intensidade, marcando sua pele como minha. Seu perfume,
entrelaçado com seu aroma natural, me envolvia e aos poucos
enfraquecia meus sentidos. Com uma mão firme em seu
pescoço, reivindiquei seus lábios cheios, ansiando por engolir
cada gemido que escapava de sua garganta.

De repente, me afastei e dirigi meu olhar ao seu rosto


corado. Seus olhos transbordavam desejo, pesados com a
luxúria que pairava no ar ao nosso redor. Com calma, acariciei
suas bochechas ruborizadas, me deleitando com sua entrega.

— Você fica simplesmente deslumbrante assim, sabia? —


indaguei, com a voz rouca.

— Assim, como? — sussurrou ela, curiosa e ansiosa.

Um sorriso malicioso se espalhou por meus lábios enquanto


a puxava para longe da porta.

— Entregue a mim — respondi, envolvendo seu pescoço


com minha mão grande. Puxei seu rosto em direção aos meus
lábios. — Submissa e obediente. — Mordi levemente seu queixo.

Nesse momento, ela também me mordeu, deslizando as


mãos por dentro da minha camisa.

— Estou aqui porque eu quero, insolente — sibilou entre


dentes. — Portanto, pare de fantasiar sobre um romance.

Joguei a cabeça para trás, soltando uma gargalhada


fervorosa. Puxei-a ainda mais para perto, ansiando por seus
lábios nos meus. Ela era tão pequena que minha mão cobria
completamente seu pescoço.

— Quem mencionou algo sobre romance aqui, garota? —


sussurrei, provocando seus lábios com uma mordida. Em
seguida, empurrei seu corpo para baixo, forçando-a a se
ajoelhar diante de mim. — Agora, use essa boca atrevida para
algo mais útil. — Comecei a desafivelar o cinto. — Faça bom uso
dela com o meu pau.
Ela piscou, desviando o olhar do meu rosto para as minhas
mãos. Era nítido a batalha interna entre me obedecer e mostrar
sua força.

— Por que você acha que eu o obedeceria? — indagou,


ainda ajoelhada à minha frente. — Não tem medo de que eu o
morda?

Estendi os cantos dos meus lábios em um sorriso


presunçoso e me inclinei, segurando seu rosto enquanto
brincava com seus lábios. Afundei meu polegar em sua boca.

— Chupe — ordenei, mantendo meus olhos fixos nela.


Percebi suas pupilas dilatando automaticamente enquanto ela
me obedecia sem hesitar. — Você não vai me morder, pois gosta
de seguir meus comandos na cama — declarei. — Pode ser uma
pessoa cheia de atitude fora deste quarto, mas aqui... — dei
uma risadinha —, você se transforma em uma criaturinha dócil.

Seu rosto se encheu de uma miríade de emoções enquanto


ela sugava meu dedo com vontade antes de soltá-lo. Era como
se um turbilhão de sensações a atravessasse, refletido em seus
olhos. Suas mãos trêmulas se apressaram em direção à minha
braguilha, ansiosas para me tocar. Eu fiquei lá, observando,
fascinado demais para desviar o olhar. Aurora ergueu os olhos
para mim ao me envolver com suas mãos, transmitindo o calor
de seus dedos. A intensidade do momento era palpável.

Sem dizer uma palavra sequer, ela me tomou em sua boca,


me envolvendo com habilidade, se preenchendo com minha
espessura e comprimento. Um gemido baixo escapou de meus
lábios, enquanto lutava para me controlar diante da sensação
aveludada e úmida de sua boca. Talvez fosse pelo fato de ela ser
inexperiente além do que havíamos compartilhado, mas porra!
A maneira como ela me chupava, com essa mistura de timidez e
confiança, me levava ao êxtase.

— Posso até gostar de seguir suas ordens, mas isso não


significa que você esteja no controle — declarou ela de repente,
fixando seus olhos nos meus. Sua língua deslizou para fora,
roçando suavemente a glande sensível, provocando pequenas
ondas de arrepios. — Serei a garota que o deixará de joelhos,
irlandês...

Apertando os dentes para conter o desejo de ter sua boca


em mim, coloquei uma das mãos em seus cabelos, liberando o
coque desajeitado que os prendia.

— A única pessoa que vejo de joelhos aqui é você,


fedelha... — impulsionando meu quadril, estabeleci um ritmo.

Mesmo enfurecida com minhas palavras, ela persistiu em


me chupar, mostrando determinação e aguentando tudo o que
eu tinha a oferecer. Quando finalmente cheguei ao orgasmo, não
consegui desviar os olhos de seu rosto corado, onde a ansiedade
brilhava. No fundo, ela sentia uma necessidade de me agradar,
de provar que era capaz de me satisfazer.

Nesse momento, a única certeza que eu tinha era de que


estávamos casados e que eu não desperdiçaria a oportunidade
de foder a mulher que carregava meu sobrenome, mesmo que
ela fosse a pessoa mais insuportável que já havia conhecido.

Assim que ela liberou meu pau, agora limpo após ter
engolido tudo, eu a segurei pelo pescoço e a puxei para cima,
atacando sua boca com sofreguidão. Minhas mãos avançaram
em direção ao seu vestido, rasgando o tecido que a envolvia
como um animal primitivo.

— Porra, Liam! — exclamou, chateada. — Eu gostava deste


vestido, droga!

Deitei-a na cama, permitindo que meus olhos explorassem


cada curva do seu corpo.

— Ah, que se dane! — resmunguei, me ajoelhando no


colchão. — Amanhã mesmo vou comprar mais dez desses
vestidos para você — segurei suas pernas, abrindo-as para
admirar sua boceta lisa e brilhante —, só para rasgá-los um por
um, repetidamente.

Ela soltou uma risadinha.

— Casei-me com um homem das cavernas?

Rugindo como um animal selvagem, me posicionei entre


suas pernas, ansioso demais para saborear o gosto de sua
boceta em minha língua.

— Não, — respondi. — Mas você vai apreciar esse meu


lado, acredite em mim.

Dito isso, coloquei uma almofada sob seu quadril para


deixá-la na posição perfeita e, em seguida, mergulhei meu rosto
na curva de sua coxa, beijando-a com calma...

Provando.
Obviamente que o clitóris era a região que mais
proporcionava prazer na mulher, mas não era o único. Então,
com calma, comecei explorando, beijando e acariciando a parte
interna da sua coxa, virilha e grandes lábios.

Fui contornando a região toda, beijando, passando a língua


na área acima dos pelos pubianos e deixei o clitóris por último.
Dessa forma, Aurora ficou com mais vontade, mais excitada e
mais preparada para o toque no clitóris.

Quando finalmente a toquei, mantive a língua macia,


causando uma pressão leve apenas. Aurora gritou, rebolando na
minha cara, desesperada para gozar, enquanto eu movimentava
a língua de maneira suave, movimentos circulares. Eu era
incapaz de desviar os olhos, desejava observar cada reação
dela.

Lentamente, comecei a brincar com meus dedos em sua


entrada, provocando e a estimulando. A ansiedade de Aurora
aumentou, e ela pressionou as mãos em minha cabeça, me
instigando a continuar. Soltei uma risada, desfrutando da
situação, e aproveitei para dar uma leve mordida em seu
clitóris. Isso foi o gatilho para que o orgasmo a tomasse,
causando espasmos incontroláveis em seu corpo febril.

Mordi sua coxa.

— Meu nome, Aurora — ordenei. — Eu quero ouvir meu


nome saindo da sua boca.

Seus olhos pesados encontraram os meus, e, mesmo


lutando internamente, ela se permitiu vencer:
— Liam... droga! — exclamou, se contorcendo toda. —
Liam...

Saboreei cada centímetro de sua pele, explorando-a com


lambidas e chupões, me extasiando com tudo o que ela tinha a
me oferecer. Meus beijos percorreram seu corpo, cada parte
dele merecendo minha atenção. Cada marca, mancha ou cicatriz
contava uma história que eu estava disposto a desvendar.
Minhas mãos deslizaram até seus seios, acariciando-os com
ânsia, enquanto eu me deleitava com a sensação de tê-los em
minhas mãos. Envolvi um mamilo com meus lábios, brincando
com o outro entre meus dedos, provocando ondas de prazer em
seu corpo. Suas mãos se entrelaçaram em meus cabelos,
acompanhadas de murmúrios incoerentes.

Quando meu rosto pairou sobre o dela, reservei um


momento para apreciá-la. Era uma visão deslumbrante, ainda
mais irresistível com seu rosto corado.

Com uma voz rouca, ela decretou:

— Essa boca não tocará nenhuma outra mulher além de


mim. — Senti sua possessividade transbordando enquanto ela
pressionava seus lábios contra os meus.

Um sorriso curvou meus lábios enquanto usava minhas


pernas para separar as dela. Com um tom provocador, perguntei
de maneira zombeteira:

— Ciúmes?

Aurora envolveu seus braços em volta do meu pescoço e


provocou:
— Então, você acha que posso estar assim com outro
homem? — Sua resposta sarcástica me irritou de maneira
profunda.

Sem hesitar, coloquei suas pernas ao redor da minha


cintura e declarei:

— O único homem que terá sua boceta serei eu — afirmei,


penetrando-a devagar, ciente de que, mesmo com seu estado
de lubrificação, a segunda vez poderia ser um pouco dolorosa.

— Ciúmes? — ela usou minha própria pergunta contra mim,


desafiadora. Aproximei meu rosto do seu, inalando o seu cheiro.

— Já ouviu falar sobre enfrentar nossos próprios demônios?


— indaguei, mordiscando suavemente seu lábio inferior. —
Nesse caso, você é o meu. Meu para foder — declarei, deixando
uma marca no seu pescoço em resposta à sua mordida.

Aurora soltou um gemido, não pela mordida, mas pela


sensação de ser completamente preenchida por mim. Pausamos
por alguns instantes, permitindo que ela se acostumasse com
meu tamanho e a invasão.

Com nossas testas coladas, lutei para controlar minha


respiração e o tesão de sentir aquelas paredes apertadas em
torno do meu pau. Nunca havia experimentado uma boceta tão
deliciosa. Aos poucos, comecei a me movimentar, com os olhos
fixos nos dela, curioso para acompanhar cada expressão que ela
fazia. Talvez fosse o fato de ser ela ali, o fato de sermos nós dois
naquele momento, que tornava meu tesão tão intenso. Eu não
conseguia explicar, mas tinha que admitir que o prazer que
sentia naquele momento, naquela foda, era surreal. Que essa
garota me deixava louco, não era nenhuma novidade, mas
agora... o tesão que ela provocava em mim estava tirando meu
fôlego.

Minutos antes, enquanto ainda estávamos no bar, tive que


conter ao máximo meu impulso de afastar todos os homens que
se aproximavam dela e com quem ela conversava. O ciúme me
consumia, especialmente quando ela fez questão de me avisar
que estava sem calcinha. Aquilo foi o limite. Eu não podia mais
permitir que ela continuasse nesse caminho, não comigo.

— Se eu descobrir que você conversou com outro homem


sem usar calcinha, eu vou matá-lo — declarei, avançando contra
ela com maior intensidade. — E a morte dele, será
responsabilidade sua.

Ela zombou, resfolegante, provocando meu ciúme ainda


mais.

— Não imaginei que você fosse tão possessivo, marido.

Aprofundei ainda mais a penetração, atingindo um ponto


inexplorado, e seus gemidos se intensificaram. Amassei seu
seio, acelerando o ritmo dos movimentos do meu quadril.

— Você ainda não viu nada, fedelha... — respondi,


enigmático.

Ela me mordeu, irritada pela forma como eu me referia a


ela. Sua irritação era o combustível perfeito para o meu tesão. O
som do choque dos nossos quadris e dos nossos gemidos
preenchiam o ar, tornando o cenário ainda mais excitante.
Quando Aurora apertou as coxas, pulsando a boceta ao
redor do meu pau, soube que ela estava gozando. Pressionei
minha boca contra a sua, me alimentando de seus gemidos, de
sua entrega. Apesar do seu murmúrio fraco, consegui
reconhecer meu nome escapando de seus lábios entreabertos. E
eu sabia que ela se odiava ainda mais por estar assim...
vulnerável e à minha mercê.

Sorri, completamente perdido em sensações. Me concentrei


nas investidas implacáveis e profundas. No instante que
comecei a sentir as ondas me empurrando para o precipício, me
afastei dela e pulei para fora da cama. Aurora não entendeu de
imediato, mas logo arfou quando a forcei a sair também.

Continuei a me estimular, segurando meu pau.

— Ajoelha — ordenei, hipnotizado pela visão dela e seu


vestido todo rasgado. Sua pele vermelha e lábios inchados me
fizeram trincar os dentes. Ela se ajoelhou, e me aproximei,
mantendo uma mão em seu rosto e outra no meu pau.

Os gemidos escapavam da minha garganta sem controle. A


verdade era que eu não estava sabendo lidar com a avalanche
de sensações que tomava conta de mim. Forcei meu pau em sua
boca aberta, sem parar de me masturbar, em um movimento
intenso de vai e vem. No momento que os jatos vieram, Aurora
engoliu tudo, mantendo seus olhos fixos nos meus o tempo
todo. Quase desfaleci, atingido pela cena erótica. Puta merda!
Essa garota ia me enlouquecer.

Ainda lutando para recobrar meus sentidos, ergui seu corpo


em direção ao meu, reivindicando seus lábios com fervor.
Removi os pedaços restantes do vestido que cobriam seu corpo,
ansiando por tê-la completamente nua sob meu toque.

— Está cansada? — quebrei o silêncio com uma pergunta.

— Não, e você? — Afastou o rosto, exibindo um sorriso


petulante.

Empurrei-a de volta contra o colchão macio, meus olhos


fixos em seu corpo com um olhar predatório.

— De forma alguma, fedelha— respondi. — Estou bem


longe de me sentir satisfeito. — Me posicionei sobre ela,
enquanto ela abria as pernas para me receber. — Sua boceta se
tornou minha mais nova obsessão.

Um tempo depois
— Quero que você comece a usar um método
contraceptivo — declarei, quebrando o silêncio. Estávamos
deitados na cama, ambos nus e exaustos. O aroma do sexo
ainda pairava no ar, turvando um pouco minha mente. — Comer
sua boceta sem nada é uma sensação indescritível, mas não
estou a fim de continuar correndo o risco de você engravidar.

Aurora se ajeitou em seu travesseiro, mantendo os braços


debaixo dele, enquanto seus olhos permaneciam fixos em mim.
Seus cabelos colavam-se em sua testa e nuca, denunciando
todo esforço que fizemos nas últimas horas. Eu ainda podia
ouvir o som de seus gemidos na minha mente.

— Eu pensei que na máfia irlandesa, um filho seja o que se


espera das esposas dos membros da organização — comentou,
e eu não pude discernir a emoção em sua voz.

Soltei uma risada.

— Por que você acha que eu iria querer ter um filho com
você, fedelha? — provoquei, observando a fúria se acumular em
seus olhos. — Você acha que eu quero me preocupar toda vez
que sair de casa, deixando você cuidando da nossa criança?

Ela arfou.

— Você está insinuando que eu seria capaz de fazer mal ao


meu próprio filho?

Dei de ombros.

— Infelizmente, ainda não sei do que você é capaz, garota


— resmunguei, sendo sincero. — Além disso, nosso histórico de
convivência tem sido marcado por conflitos e desgastes
frustrantes e exaustivos.

— Você sabe que está sendo um escroto, não é? — rebateu,


com a voz baixa.

— Se ofendeu, por quê? Não acredito que ter um filho meu


seja um sonho que você tenha — respondi, rindo.

Ela me desferiu um soco com força, me fazendo arfar


enquanto seu punho atingia minha costela.
— Porra! — exclamei, gemendo.

— Não, não é um sonho — disse. — Mas você não me


conhece o suficiente para ousar me julgar, seu idiota! Eu posso
ser uma mãe maravilhosa, sabia?! Não sou nenhum monstro.

Se virou de costas para mim, exibindo aquele traseiro


empinado diante dos meus olhos. Sem conseguir resistir à
tentação, meu corpo se ergueu, desejando me aconchegar a ela
e sentir seu calor.

— Nem tente me tocar com essas mãos — rugiu, me


fazendo parar no meio do caminho.

— Qual é o problema? Essas mesmas mãos estavam em


você nas últimas horas... — provoquei.

— Nas últimas horas, você não estava sendo tão idiota! —


retrucou, se ajustando no travesseiro com uma expressão
zangada. Sua irritação era notória.

Trinquei os dentes, frustrado. Ergui o lençol e observei suas


curvas, apreciando sua nudez.

— Pelo menos, pode colocar alguma roupa? — resmunguei


em tom sofrido.

— Não estou com vontade.

Praguejei audível, irritado com sua teimosia e mania de


sempre me aborrecer.

Droga, fedelha do caralho!


Sem opções, virei as costas para ela, pois continuar a
observando só tornaria minha noite mais lenta e torturante.
No decorrer da vida, inevitavelmente nos deparamos com
momentos em que nos questionamos sobre as escolhas que
fizemos e os obstáculos que permitimos nos afetar. E naquele
instante, enquanto observava Liam adormecido, essa reflexão
invadiu minha mente. Cada fibra do meu ser carregava as
marcas da intensa experiência que compartilhamos há poucas
horas. Seria hipocrisia negar a imponência e a dominância que
emanavam dele. Liam era sim, um homem sedutor, um
verdadeiro conhecedor da arte de proporcionar prazer a uma
mulher.
E isso, de certa forma, me sufocava e amedrontava. A
animosidade ainda persistia entre nós, intacta, mas agora havia
algo mais... um desejo avassalador que me consumia,
ameaçando me aprisionar em suas mãos envolventes e
irresistíveis. Seria tão mais simples se ele não fosse tão
atraente...

— Droga! — deixei escapar em um sussurro abafado,


temendo acordá-lo. A simples ideia de ouvir sua voz já me
irritava profundamente.

Ainda não havia me esquecido de sua insinuação


despropositada, sugerindo que talvez eu não fosse capaz de ser
uma boa mãe caso tivéssemos um filho. Isso era injusto!

Embora engravidar não estivesse nos meus planos, algo se


apertou em meu peito com seu comentário cruel. Apesar de
meu comportamento muitas vezes ser o de uma cadela raivosa,
lá no fundo, eu era uma pessoa decente.

Ou pelo menos queria acreditar que sim.

— Argh! — soltei um praguejar, lançando minhas pernas


para fora do colchão.

Afastei-me da cama, sentindo a raiva e a confusão se


entrelaçarem dentro de mim. Eu precisava espairecer, me
acalmar antes de explodir. Decidida, me dirigi até minha mala,
ainda desorganizada desde a nossa chegada ao resort, e peguei
as algemas que estavam escondidas. Rapidamente, retornei ao
lado de Liam.
Meu coração batia acelerado enquanto observava o homem
adormecido; era impossível ignorar uma pontada de prazer no
meu gesto audacioso. Era uma forma de exercer controle,
mesmo que passageiro, sobre esse idiota. Com habilidade, o
algemei à cama, me assegurando de que ele não tivesse a
menor chance de escapar durante minha ausência.

Mordi os lábios ao permitir que meus olhos percorressem


seu corpo nu, onde a ereção pulsava. Sabendo sobre a excitação
matinal dos homens, não fiquei surpresa ao vê-lo naquele
estado, mesmo enquanto dormia. Por um breve instante, a
tentação de despertá-lo com minha boca passou pela minha
mente, mas me contive. Não queria que o cretino se
acostumasse com o poder que começava a exercer sobre mim.

Soltei um suspiro pesado e decidi que um banho frio seria a


melhor maneira de acalmar meus nervos, ao mesmo tempo em
que processava os recentes acontecimentos. Dirigi-me ao
banheiro, determinada a passar alguns minutos imersa em um
oceano de pensamentos.

Ao dar uma breve olhada no espelho da pia, percebi a


marca da mordida de Liam em meu pescoço. Meu maxilar se
contraiu enquanto a irritação se intensificava.

— Desgraçado! — resmunguei, tocando a mancha


levemente roxa e me questionando por que os homens sentiam
a necessidade constante de marcar território.

Idiota!

Respirei fundo antes de me encaminhar para o box. Sob a


água gelada, busquei esvaziar minha mente, pelo menos por um
tempo.

Após alguns minutos, saí do banho me sentindo mais


calma, porém atenta. O ambiente estava envolto em silêncio,
mas algo parecia estar fora do lugar. Com nervosismo, enrolei a
toalha ao redor do corpo, sentindo um arrepio percorrer minha
espinha. Será que Liam conseguiu se livrar das algemas? Não
me surpreenderia, já que eu fazia isso até com os olhos
fechados.

Abri a porta do banheiro devagar e meus olhos se


depararam com uma cena que fez meu coração quase parar de
bater. Liam estava lutando contra as algemas enquanto um
homem tentava sufocá-lo.

Que merda era aquela?

A porra dessa visão despertou minha coragem. Eu estava


decidida a defender meu marido, mesmo que meu ódio por ele
ainda queimasse em meu peito.

Liam era meu demônio. E eu era a única com o direito de


torturá-lo.

Com a adrenalina pulsando em minhas veias, aproveitei a


surpresa do momento e saltei em cima do agressor, derrubando-
o no chão. Cerrei o punho e desferi alguns golpes em seu rosto,
mas o desgraçado sabia lutar e contra-atacou, me acertando
também.

— Vadia! — exclamou, ofegante, passando a mão na boca


para limpar o resquício de sangue.
Liam continuava esbravejando e esperneando na cama,
desesperado para se libertar e entrar na luta.

Assim que me pus de pé novamente, percebi que estava


em vantagem mais uma vez.

— Vadia é o inferno, seu desgraçado! — gritei com raiva,


envolta em adrenalina.

Em seguida, concentrada no treinamento que tive desde


criança, impulsionei meu corpo em um dos móveis e enlacei
minhas pernas em volta do pescoço do homem, sufocando-o
com minhas coxas. Em questão de segundos, ele desmaiou e
caiu no chão como um saco de batatas.

Sentindo meu coração acelerado, assim como minha


respiração, corri até a cama, onde Liam ainda lutava para se
libertar. Ele tinha conseguido se soltar de uma algema.

— Você está bem? — perguntei, percebendo o medo em


minha própria voz.

— Estou — respondeu, com os olhos fixos em mim. — Você


está sem roupa por baixo dessa toalha?

Terminei de soltar suas algemas.

— Por que a pergunta? — indaguei, meu corpo todo


tremendo. — Eu pensei que você estaria mais preocupado em
descobrir quem é esse homem que tentou te matar.

— Há sangue na sua toalha — observou, sem se importar


com o que eu disse. — Você está machucada?
Olhei para o tecido, ainda sentindo meu corpo tremendo.

— Acredito que não seja meu — murmurei, examinando


meu próprio corpo, incapaz de sentir dor devido à adrenalina.

De repente, Liam agarrou minha mão, me assustando.

— Você está ferida — declarou, com seriedade, com os


olhos no pequeno corte.

Nervosa, puxei minha mão para longe do seu toque.

— Não deve ser nada sério — resmunguei, dando de


ombros.

Dirigi-me até a porta, espiei pelo lado de fora e em seguida


a fechei novamente, tomando o cuidado de trancá-la com a
chave. Ao me virar, esbarrei em um peito musculoso, que mais
parecia uma parede sólida. Liam colocou as mãos na barra da
minha toalha e a abriu, revelando minha nudez.

— Caralho, Aurora! — exclamou, visivelmente irritado,


passando uma das mãos no rosto. — Você está nua, droga! Nua,
caramba!

Pisquei, sacudindo a cabeça, sem entender.

— E qual é o problema disso? Não sei se você percebeu,


mas eu tinha acabado de sair do banho quando entrei no quarto
e vi aquele homem tentando te enforcar.

Liam colocou as mãos na cintura, cheio de tensão.

— O problema é que você envolveu suas coxas no pescoço


daquele sujeito ali — apontou, furioso. — O que significa que
você pressionou a boceta no rosto dele, Aurora!

Arregalei os olhos, incrédula.

— Fiz isso para salvar a sua vida, seu ingrato, insolente.

— Pois que me deixasse morrer, droga! — Jogou as mãos


para o alto, indignado. — Mas não precisava se sentar com a
boceta no rosto daquele idiota!

Sacudi a cabeça, incapaz de acreditar.

— Você é inacreditável, sério! — comentei, passando por


ele e indo em direção à minha mala. — Só sei que não podemos
ficar aqui. É provável que mais pessoas como esse homem
apareçam, é apenas uma questão de tempo.

Ouvi seu suspiro em minhas costas.

— Vou ligar para Owen e Benjamin, e explicar a situação —


avisou, já teclando algo no seu celular. — Precisamos investigar
o que está acontecendo.

Virei-me para ele e observei quando se aproximou do


homem desmaiado. Verificou o pulso do moribundo e começou a
vasculhar seus bolsos, enquanto aguardava, provavelmente seu
irmão atender.

— Você suspeita de algo? — perguntei, após sua ligação,


deixando minha toalha cair aos meus pés para vestir minhas
roupas. Liam me lançou um olhar intenso e guloso que me fez
segurar um gemido ridículo, mas logo desviou o olhar. — Parece
que o alvo é você. Tem certeza de que não deixou nenhum
marido furioso por aí...?
Ele rolou os olhos diante do meu comentário cínico.

— Fico honrado por você me ver como um deus da


sedução, minha “querida esposa”, mas não — resmungou,
suspirando —, nunca me envolvi com mulheres casadas. —
Ergueu-se, exibindo sua imponente nudez. Precisei engolir em
seco para disfarçar os efeitos que me causou. — Portanto, não
faço ideia do que diabos está acontecendo aqui. — Apontou
para o homem caído no chão. — Aliás... — trouxe o olhar em
minha direção — se eu não tivesse sido algemado, teria
resolvido essa situação num piscar de olhos.

Dei de ombros, ignorando seu olhar acusador.

— Eu só queria te mostrar seu lugar — respondi, sem


remorso. — Na verdade, tinha planos para você assim que
saísse do banheiro, mas fomos interrompidos.

— Que planos? — perguntou, desafiador.

Sorri maliciosamente.

— Assumir o controle — eu disse, aumentando o sorriso. —


Mostrar que eu também posso te derrubar...

Nesse momento, ele se aproximou, me segurando pela


cintura, e senti um arrepio com seu toque quente.

— Não pense que vou esquecer disso — ameaçou em um


tom profundo, arrepiando todos os pelos do meu corpo.

Empurrei-o para longe, fingindo desinteresse.


— Chega de ameaças! — exclamei, sentindo preocupação
ao olhar para o homem caído. — Precisamos sair daqui, não
quero morrer aos dezenove anos. Além disso, só fiz sexo duas
vezes na vida e pretendo aproveitar muito mais.

Ouvi sua risada.

— Não sei por que ainda me surpreendo com você, garota


— murmurou, rindo, enquanto eu ajustava minhas roupas e
tentava esconder minha inquietação interna. — Você é mais
louca do que eu. — Sacudiu a cabeça e foi para o closet, onde
suas roupas estavam organizadas.

— Era uma piada? Porque juro que ainda não encontrei a


graça — ironizei, terminando de vestir minha camiseta. Olhei ao
redor do quarto em busca de possíveis armas ou pistas. — Estou
falando sério, Liam, este resort não é seguro, estamos expostos
a ameaças desconhecidas.

— É engraçado que o único perigo que imaginei enfrentar


nesta viagem seria dormir e acordar ao seu lado, fedelha —
zombou, terminando de vestir suas calças.

Arqueei as sobrancelhas, cruzando os braços.

— Ah, que engraçado! — eu disse, revirando os olhos e


fazendo gestos obscenos para ele, que riu.

O idiota circulou pelo cômodo com a camiseta nas mãos.


Eu gostava de vê-lo fora de seu traje formal rotineiro.

— Owen e Benjamin devem estar a caminho — declarou, se


aproximando da janela e observando o movimento lá fora. —
Mas sei que não podemos depender apenas deles. Precisamos
agir por conta própria até chegarmos a um local seguro.

— Além disso, a viagem até aqui vai levar longas horas,


não podemos esperar desprotegidos — argumentei, tensa.

Foi nesse momento que Liam voltou a se concentrar em


minha mão. Seus olhos se estreitaram.

— Puta merda! Esse corte não para de sangrar — disse, sua


voz soando estranhamente preocupada.

Fixei o olhar no ferimento, sentindo o pânico tomar conta


de mim, pois percebi que apesar de ser pequeno, o corte era
profundo.

Engoli em seco, sentindo uma grande aflição ao


compreender o que aquilo poderia significar:

— Bem... ainda acho que não seja nada grave.

O abusado se aproximou, invadindo meu espaço pessoal.

— Puta que pariu! — praguejou, franzindo os lábios como


se o corte fosse realmente preocupante. — Isso vai precisar ser
suturado — observou.

Nesse momento, uma mistura de constrangimento e medo


me invadiu. Eu odiava agulhas e a ideia de ter pontos me enchia
de pavor.

Respirei fundo e afastei minha mão dos seus olhos


curiosos, incapaz de encontrar coragem para admitir minha
fobia. Não havia dúvidas de que ele zombaria de mim e usaria
isso para me atingir. Afinal, era uma fraqueza.

— Estou bem, — respondi, tentando parecer forte. — Enfim,


o que faremos agora?

Percebi que ele continuava me observando, talvez


analisando minha postura rígida. Então, soltou um suspiro.

— Pensando bem, acredito que ficaremos mais seguros


aqui dentro — afirmou por fim, indo em direção ao closet e
pegando algumas armas, cartuchos e facas. — Owen e Benjamin
virão de jatinho, o que significa que a viagem será mais rápida.

Respirei fundo e aceitei quando ele me ofereceu uma


pequena pistola.

— Nesse caso, não seria melhor fazermos uma barricada?


— perguntei, apontando para a porta com o queixo, mantendo
os olhos na pistola em minhas mãos.

Ele concordou e começamos a trabalhar imediatamente.

Minutos depois, paramos lado a lado, encarando os móveis


que havíamos colocado em frente à porta como uma barreira.

— Eu não estava completamente empolgada para a nossa


lua de mel, mas... droga! — Encontrei seus olhos, que me
observavam com curiosidade. — Ser alvo assim não estava nos
meus planos. — Fiz uma careta.

Seus olhos estreitaram.

— Tecnicamente, o alvo era eu. — Deu de ombros.


Revirei os olhos.

— Era para eu me sentir melhor com isso? — Rebati com


impaciência, virando as costas. — Porque sinto muito, mas não
funcionou. Tudo que sei é que, se não tivesse te salvado a
tempo, a próxima a morrer seria eu.

— Se você não tivesse esfregado a boceta na cara daquele


sujeito, você quer dizer, né? — zombou indignado— Tudo o que
você precisava era usar os braços, garota, tenho certeza de que
o resultado teria sido o mesmo.

Suspirei baixo, cansada dessa discussão sem fim.

— Ainda nisso, Liam? Sério mesmo? — perguntei entediada.


De repente, não consegui evitar uma expressão de dor ao olhar
para o corte em minha mão, que começava a latejar. Soltei um
pequeno gemido quando ele se aproximou abruptamente.

— Precisamos cuidar disso — insistiu. — Esse corte precisa


de pontos ou pode piorar — afirmou, segurando minha mão.
Tentei puxá-la de volta, mas o teimoso a manteve firme entre as
suas. — Qual é o problema? — Arqueou as sobrancelhas com um
ar zombeteiro. — Você não vai me dizer que tem medo de
agulhas, vai? — Fiquei em silêncio e sua expressão divertida
logo se desvaneceu. Seus olhos me examinaram com cuidado.

Ao contrário do que eu imaginava, ele não riu nem fez


nenhum comentário. Em vez disso, se afastou em silêncio e
caminhou em direção ao banheiro.

Fiquei imóvel, esperando para ver o que ele tinha em


mente. Quando voltou, segurava uma caixa de primeiros
socorros. Meu coração começou a bater descompassado.

— Encontrei isso — disse, gesticulando.

Eu o segui quando ele se sentou na cama. Nosso invasor


ainda estava inconsciente, jogado no canto do cômodo.

— Talvez consigamos cuidar do seu corte sem o uso de


agulhas, não é o ideal, mas pode ser uma opção — explicou,
abrindo a caixa na minha frente enquanto eu me sentava ao seu
lado na cama.

Dentro da caixa, encontrei uma garrafa de álcool, gaze


esterilizada e fita adesiva. Meu corpo estava tenso, travado pelo
medo, e eu não conseguia articular nenhuma palavra. Minhas
mãos estavam suadas.

— Liam... — comecei a dizer, mas parei, com a respiração


entrecortada. Não era preciso dizer nada, meus olhos diziam
tudo.

E ele entendeu.

— Está tudo bem, Aurora — assegurou em um tom baixo,


me prendendo no lugar com a intensidade de seu olhar. —
Deixe-me examinar melhor. — Segurou minha mão,
inspecionando o corte. De repente, seus olhos se encontraram
com os meus. — O corte é realmente profundo, não posso
ignorá-lo e deixar assim — explicou.

Minha boca ficou ainda mais seca.

— E-eu não... — comecei a balançar a cabeça, desesperada


para escapar — Qualquer coisa, menos agulha — admiti em voz
alta.

Ele assentiu, sério.

— Não vou usar agulha — garantiu, me oferecendo um


sorriso gentil. Meu coração deu um salto, sem entender o que
estava acontecendo ali.

Deixei de pensar quando Liam pegou um pedaço de gaze e


o umedeceu com álcool, se certificando de que estivesse
esterilizado. Com cuidado, começou a limpar suavemente o
corte em minha mão, removendo sujeira e bactérias que
poderiam causar uma infecção.

Depois de limpar o corte, Liam pegou uma faca, assim


como um isqueiro que havia encontrado no bolso do invasor.

Em seguida, nossos olhares se encontraram.

— Se não posso costurar, terei que cauterizar — avisou,


observando minhas reações atentamente. — Você concorda com
isso?

Engoli em seco, ciente de que era necessário. E,


felizmente, não seria a primeira vez. Em meu histórico familiar,
cada um de nós precisou enfrentar cortes e ossos quebrados
durante o treinamento.

— Eu aguento! — declarei, me acomodando na cama. Meu


corpo todo estava dolorido devido à tensão.

Liam realizou toda a preparação em silêncio e, em seguida,


com um último olhar, aplicou a faca quente em meu corte. O
cheiro de carne queimada encheu o ambiente. Não gritei,
apenas prendi a respiração, permitindo que um gemido de dor
escapasse entre meus dentes, fazendo minha garganta arder.

Não soube dizer se foi pela intensidade da dor, pelo medo


da situação ou uma combinação dos dois... de qualquer forma,
meus olhos se tornaram pesados e acabei desmaiando,
enquanto a escuridão me envolvia.

Quando recobrei a consciência, piscando freneticamente,


me concentrei no ambiente ao meu redor. Liam estava sentado
ao meu lado na cama, sem desviar o olhar de mim. Levantei-me,
lutando para clarear a mente.

Ao erguer as mãos para massagear o rosto, notei o curativo


em minha mão. Na verdade, Liam a havia enfaixado.

— Quanto tempo fiquei desacordada? — perguntei, com a


voz um pouco rouca.

— Apenas alguns minutos — respondeu. — Como você está


se sentindo?

O observei atentamente, examinando cada detalhe de seu


rosto, em busca de qualquer indício de zombaria. Nunca
imaginei que ele seria capaz de cuidar de mim dessa maneira,
revelando um lado sensível.

Meu rosto corou ao pensar em quão vulnerável fiquei


diante dele, por causa de algo que muitas pessoas
considerariam bobo.

— Estou bem — respondi, pigarreando para limpar a


garganta.
Liam colocou a mão em meu braço.

— Não precisa se envergonhar do seu medo, Aurora —


disse, capturando minha atenção novamente com seu olhar.
Fiquei em silêncio. — Eu jamais zombaria de algo que te causa
dor. Nunca exploraria uma fobia sua para ganhar vantagem em
nossas alfinetadas constantes. Não sou tão desprezível.

Percebi a sinceridade em sua voz, assim como em seus


olhos.

Respirei fundo.

— É algo que realmente me paralisa e me deixa vulnerável


— confessei, sentindo angústia. — Agradeço por compreender
e... — tossi levemente, nervosa — por me ajudar.

Seus lábios se curvaram em um sorriso, me deixando


hipnotizada. Ele se aproximou, seu corpo se inclinando sobre o
meu. Nossas bocas se encontraram e seus beijos me
envolveram por completo. No início, eu retribuí, me entregando
às sensações que seu toque e beijo despertavam em mim. Liam
sabia exatamente como me provocar, conhecia o caminho certo
para me enlouquecer.

No entanto, meu cérebro finalmente registrou o que estava


acontecendo... o significado daquilo tudo. Mais uma vez, ele
estava assumindo o controle.

Liam estava dominando novamente.

Com raiva dessa percepção, me afastei do seu corpo


tentador e dei um tapa no seu rosto. O susto se espalhou pelo
seu rosto.

— Droga! Por que você me bateu? — Me encarou com os


olhos arregalados.

Eu o empurrei, jogando minhas pernas para fora da cama.


Eu precisava me afastar dele ou acabaria sucumbindo à
tentação.

— Porque você estava se aproveitando da situação —


respondi, nervosa. — Não preciso que você confunda as coisas
só porque me ajudou com a minha fobia.

Ouvi ele praguejar, expressando raiva e frustração.

— Confundindo as coisas? — perguntou, confuso.

Virei-me para ele com cautela. As paredes protetoras em


torno de mim estavam de volta.

— Sim, confundindo as coisas! Eu e você — gesticulei entre


nós dois — não somos um casal romântico.

— Não se preocupe, "querida esposa", porque eu não estou


confundindo nada aqui — resmungou, com os lábios retorcidos
— Continuo ciente de que me casei com uma cadela raivosa!

Permaneci em silêncio, sentindo sua fúria pulsar em cada


poro meu.
— Se você tivesse me escutado desde o começo, já
estaríamos longe daqui há muito tempo. — Ouvi as reclamações
de Aurora atrás de mim, o que me fez revirar os olhos de
frustração. Sua voz ecoava no abafado quarto onde nos
encontrávamos, enquanto eu amarrava e amordaçava o
prisioneiro inconsciente. — Aposto que esse sujeito tem um
parceiro. Ninguém ataca um mafioso sozinho, quem seria tão
louco?

Bufei com impaciência, me certificando de amarrar as


cordas com firmeza.
— Bem, há pessoas tolas para tudo, "querida esposa" —
repliquei com ironia, me levantando e esticando meu cansado
corpo. — Afinal, me casei com você, não foi?

Ela estreitou os olhos e desferiu um soco no meu peito com


força. Uma risada escapou involuntariamente dos meus lábios,
adorando o fato de provocá-la. Era um passatempo que eu
apreciava.

— Você precisa aprimorar seus insultos, Liam. Esse foi fraco


até para os seus padrões — argumentou, balançando a cabeça,
enquanto eu massageava o local atingido, mantendo um sorriso
nos lábios.

— Padrões? — indaguei, arqueando as sobrancelhas. — Não


sabia que você já havia feito uma avaliação sobre mim,
fedelha...

Notei que ela revirou os olhos, mas não conseguiu esconder


um leve sorriso. Era reconfortante perceber que, mesmo em
meio a todo esse caos, ainda éramos capazes de encontrar
momentos de descontração, mesmo que estivessem permeados
pelas nossas habituais alfinetadas.

— Vamos deixar esse imbecil amarrado e amordaçado aqui.


Acredito que ele terá dificuldade em escapar tão facilmente —
sugeri, apontando para a porta do quarto. — Tenho certeza de
que Owen vai querer interrogá-lo.

— Eu também quero interrogá-lo — declarou ela, jogando


suas coisas de qualquer jeito dentro da bolsa. Ignorei a careta
que se formou diante da sua falta de organização. Estava
ficando cada vez mais evidente que ela era uma garota
bagunceira.

— Por quê? — perguntei, provocando. — Não me diga que


ficou preocupadinha comigo? — zombei. — Ah, isso me lisonjeia,
esposa.

A peste se aproximou e, antes que eu pudesse reagir,


agarrou meu pau, dando um leve apertão. Seu rosto ficou
próximo ao meu. Maldita, tão linda!

— Porque você é meu — afirmou, me fazendo sorrir com


arrogância, sabendo que a atingia —, e não permito que mexam
nas minhas coisas sem permissão. — Parei de sorrir
imediatamente quando ela concluiu a frase.

— Coisas? — questionei, me sentindo ofendido, perdendo


completamente o entusiasmo. — Agora, eu me tornei apenas
uma coisa sua?

Ela se afastou em direção à porta, rindo, enquanto sua


deliciosa bunda passava diante do meu rosto.

Uma mistura de raiva e impotência tomou conta de mim,


revivendo incessantemente aquela cena em que ela aplicou
uma "chave de pernas" naquele invasor maldito. Sentia-me
como se estivesse preso em um filme de terror.

Porra!

Resmungando de frustração, segui atrás dela, com a


mochila nas costas, carregada com armas, dinheiro e celular.
Fechamos a porta do lado de fora, garantindo que nosso
prisioneiro ficasse preso lá dentro. Agora, nosso objetivo era
esperar por Owen e Benjamin em um local seguro.

— Fique perto de mim — declarei em tom grave para


Aurora, colocando minha mão em suas costas. — Não sabemos
com quem estamos lidando.

Ela me encarou rapidamente.

— Eu sei me defender, você viu — retrucou de forma


malcriada.

Nesse momento, minha mente foi assombrada mais uma


vez por aquela imagem infernal.

— Infelizmente, eu vi sim, — murmurei, sentindo a irritação


tomar conta de mim — aquela cena em que você colocou sua
boceta no rosto daquele idiota.

— Argh! — praguejou, se afastando dos meus braços. —


Insolente e ingrato!

Seguimos pelo corredor em direção à escada que nos


levaria ao saguão de entrada. Ouvimos vozes ao longe e, ao nos
virarmos, avistamos dois homens vestidos como funcionários se
aproximando. Uma sensação de desconfiança nos invadiu.

— Algo está estranho aqui, Liam — sussurrou ela, se


aproximando ainda mais de mim.

Assenti com a cabeça, mantendo meu olhar fixo nos


homens que se aproximavam. Decidimos aumentar o ritmo,
tentando alcançar as escadas antes que eles nos alcançassem.
O problema foi que, antes que pudéssemos chegar à
segurança das escadas, um dos homens nos surpreendeu,
agarrando Aurora pelos cabelos.

— Droga! — exclamou ela, com uma expressão de dor. A


raiva pulsou em minhas veias.

Com uma agilidade impressionante, ela conseguiu se


libertar do homem que a segurava pelos cabelos e acertou um
golpe direto em seu rosto. Ele cambaleou para trás, atordoado.

Antes que Aurora tivesse a oportunidade de atacá-lo


novamente, me adiantei e estendi meu punho, acertando com
força o rosto do desgraçado que ousou tocá-la na minha frente.

— Ela é minha, seu desgraçado! — gritei, rangendo os


dentes. — Ninguém toca no que é meu, porra!

Aurora não hesitou e se juntou à briga ao meu lado,


desferindo socos e chutes contra o outro homem.

— "Ninguém toca no que é meu" — zombou, imitando


minha voz de forma barata, enquanto lutávamos. — Então agora
sou sua propriedade?

Sorri com desprezo.

— Assim como eu me tornei uma "coisa sua", não é? —


devolvi, ainda irritado com aquilo.

— Touché.

Durante os próximos minutos, a escada se transformou em


um cenário de uma luta intensa e frenética.
Presenciei o momento em que, em um movimento ágil,
Aurora lançou seu oponente contra a parede, deixando-o
atordoado. Aproveitando a brecha, pegou sua pistola e acertou-
lhe um golpe com a coronha na cabeça, fazendo com que o
desgraçado desmaiasse.

Apliquei um golpe de “mata-leão”, envolvendo meus braços


em torno do pescoço do meu oponente. Em questão de
segundos, o idiota caiu, desmaiado aos meus pés.

Ofegantes, nossos olhares se encontraram. Por um


instante, senti o desejo de beijá-la, excitado demais para ignorar
a luxúria que toda aquela situação despertou em mim. Vê-la
lutando me deixou cheio de tesão.

— Conseguiu perceber como é feito? — Apontei para o


homem que eu tinha feito desmaiar. — É possível usar os braços
em vez das pernas — provoquei.

Ela simplesmente revirou os olhos diante da minha


insistência no assunto, desviando o olhar para os degraus da
escada.

— Precisamos esconder os corpos para evitar chamar a


atenção — disse ela, se inclinando para revistar os bolsos dos
homens.

— Concordo! — exclamei, forçando minha mente a se


concentrar no que era mais urgente. — Quanto mais discretos
formos, melhor — acrescentei, ajudando-a.

Juntos, transportamos os dois indivíduos até um canto


escuro do saguão e os escondemos atrás de um grande vaso de
planta, na esperança de que não fossem facilmente
descobertos.

Aurora examinou o entorno, verificando se havia mais


pessoas se aproximando. A tensão no ar era intensa e ficou claro
que precisávamos encontrar um lugar seguro para esperar
Owen e Benjamin. O hotel não parecia ser a melhor opção
naquele momento.

— Temos que sair do hotel — disse ela. — Não podemos


confiar em ninguém neste lugar. — Fez uma careta enquanto
massageava sua mão ferida. — Droga! Nem tive a chance de
aproveitar as praias daqui — lamentou.

Nesse momento, segurei sua mão, preocupado em verificar


se havia algum sinal de sangramento. Desde que descobri sua
fobia de agulhas, passei a sentir uma estranha conexão com ela.
Era curioso pensar que alguém como ela, uma verdadeira cria
do demônio, tinha medo de algo tão bobo.

— Imagino que tenha trazido biquínis... — mencionei,


desviando meu olhar do ferimento em sua mão para seus olhos.
Não perdi a expressão maliciosa que tomou conta de seu rosto.

— Apenas os menores, “marido” ... — respondeu, abrindo


um sorriso maquiavélico, sabendo que mexeu comigo. Maldita
do inferno! Soltei um gemido baixo, sendo obrigado a apertar
meu pau duro, ajeitando-o na calça. — Uhu... — fez um biquinho
com os lábios, enquanto olhava para meu pau duro —, precisa
de uma ajudinha com isso?

Não resisti à tentação e a puxei pela nuca, colando nossas


bocas num beijo esfomeado. Mordi seus lábios, sendo mordido
de volta.

— Cadela — rugi, chupando sua língua com lasciva.

A desgraçada sorriu abertamente.

— Au, au... — retrucou, debochada, antes de morder meu


queixo e me empurrar para trás.

A situação não nos permitia continuar nos distraindo.


Estávamos correndo risco de vida. Por isso, aceleramos nosso
passo para nos afastar daquele lugar.

A adrenalina corria pelas minhas veias enquanto nos


dirigíamos rapidamente em direção à saída do hotel. A urgência
em nossos passos refletia a tensão que nos cercava. No entanto,
chamar um táxi ou utilizar o transporte público não era uma
opção viável. Isso poderia atrair atenção indesejada e
comprometer nossa fuga.

Aurora e eu, movidos pela necessidade, alugamos um carro


próximo ao hotel, utilizando cuidadosamente documentos falsos
preparados para emergências como essa. Entramos no veículo e
partimos em direção à cidade, mantendo um olhar vigilante,
desconfiados de cada pessoa ao nosso redor.

Enquanto eu me concentrava na direção, Aurora expressou


sua preocupação:

— Talvez as pessoas que nos perseguem, ou que estão


atrás de você... ainda não está claro para mim... tenham alguma
ligação com aquela organização chamada Igreja. Eu sei que
você e seus irmãos declararam guerra a eles depois do que
fizeram com a Madison.

A lembrança do sequestro da minha irmã ecoou em minha


mente, trazendo à tona as marcas físicas e emocionais deixadas
durante aquele período de cativeiro. Eu sabia, mesmo que ela
negasse, que algo terrível havia acontecido com Madison
naquela época.

Apertei os dentes, sentindo a impotência invadir meus


pensamentos.

— Mesmo que você esteja certa, não consigo entender


como eles poderiam saber que estamos aqui — respondi,
mantendo a concentração no tráfego movimentado.

Aurora franziu a testa, compartilhando minha perplexidade.

— Traição? — sugeriu, como se fosse a resposta óbvia. —


Não seria surpresa, afinal. Benjamin lida com esses ratos com
muita frequência.

Silenciei, incapaz de formular uma resposta. Minha mente


estava cheia de pensamentos conflitantes, tornando difícil
encontrar uma explicação plausível para a situação.

Depois de um tempo, estacionei o carro e decidimos


prosseguir a pé, caminhando pelas movimentadas ruas da
cidade, misturando-nos à multidão.

Conforme nos aproximávamos do centro da cidade, senti a


necessidade de ligar para Owen e informá-lo que Aurora e eu
tivemos que deixar o hotel às pressas, pois não era mais seguro
ficar lá. Durante a ligação, forneci nossas coordenadas e avisei
que manteria o GPS ligado para facilitar nosso encontro.

— Nem precisaríamos do GPS — comentou Aurora, seus


olhos atentos escaneando o ambiente ao nosso redor. — Eu
tenho um chip implantado no dente — revelou em um sussurro.

Pisquei, incrédulo com a informação.

— Sério? — perguntei, movido pela curiosidade. — Deixa eu


ver... — ergui minha mão para tocar sua boca, mas ela
rapidamente me deu um tapa leve.

— Para! — exclamou com um sorriso divertido. — Você está


agindo como uma criança diante de um experimento. —
Começamos a rir, aliviando a tensão que nos cercava.

Continuamos a nos mover pelas ruas, buscando manter a


discrição e evitando contato prolongado com estranhos. A cada
esquina, nossos olhos examinavam o ambiente, permanecendo
em constante alerta para qualquer possível ameaça. Depois de
um tempo considerável, decidi que era hora de tentar alugar um
jato para deixarmos aquela ilha maldita o mais rápido possível.

— Mas e quanto ao seu irmão e meu primo? — perguntou


Aurora, demonstrando preocupação. — Vamos nos separar
deles.

Estávamos próximos a uma praça movimentada quando


respondi:

— Foda-se! O que importa é que não podemos mais ficar


aqui, expostos dessa maneira. — Minhas palavras carregavam
determinação, e ela concordou, compreendendo a necessidade
de priorizar nossa segurança.

No entanto, enquanto eu fazia uma ligação para um dos


meus contatos de confiança, avistei os gigantes: Kael, Sean e
Carter, surpreendendo-me, porque não imaginei que também
viriam.

— Como estão vocês? — indagou Kael, ao se aproximar,


nos observando atentamente.

Sean e Carter também se aproximaram, seus olhares


escrutinadores revelando preocupação.

— Estão feridos? — perguntou Sean, direcionando sua


atenção para a mão de Aurora, que ainda mostrava os sinais do
confronto. Ela me lançou um olhar de soslaio, possivelmente
preocupada com a minha resposta.

— Não foi nada grave — respondeu ela, dando de ombros.


— Mas se vocês estão procurando material para zoar o Liam,
saibam que eu acabei salvando a vida dele.

Os três mantiveram os braços cruzados, claramente


interessados na história.

— Hmm... curioso — murmurou Carter, com um sorriso no


rosto.

— Enquanto eu tomava banho, alguém invadiu o quarto e


Liam quase foi enforcado, pois estava dormindo feito um bebê
— acrescentou Aurora, sua voz carregada de desdém.
Estreitei os olhos para ela, enquanto meus irmãos idiotas
riam alto.

— Não foi bem assim — murmurei, sentindo uma pontada


de irritação.

Ela ergueu as sobrancelhas, desafiadora.

— Ah, você quer que eu conte os detalhes? — provocou, se


referindo ao fato de que, em determinado momento, conseguiu
me algemar à cama. Engoli em seco, sentindo a raiva e o
desconforto se misturarem dentro de mim.

Passamos os próximos minutos conversando, explicando o


ocorrido de forma sucinta, sem entrar em detalhes
desnecessários, e compartilhando as informações que tínhamos
até aquele momento. À medida que continuávamos a caminhar,
os gigantes nos informaram que Owen e Benjamin estavam no
hotel, lidando com os problemas que Aurora e eu havíamos
deixado lá.

Após uma espera prolongada, todos nós — eu, Aurora,


Owen, Benjamin, os trigêmeos e até mesmo os capangas que
nos atacaram no hotel — embarcamos no jato particular da
minha família.

— Eu quero participar do interrogatório — decretou


Benjamin, se referindo aos reféns que tínhamos. — Preciso
descobrir se eles estão atrás da minha prima.
— Acredito que tenha alguma ligação com a Igreja, vocês
repararam nas tatuagens? — perguntei, enquanto terminava
minha bebida.

Os três agressores tinham uma tatuagem de cruz na parte


de cima do braço, característica dos integrantes dessa maldita
organização.

O italiano concordou com a cabeça.

— Estamos atraindo a atenção desses malditos —


argumentou Owen, tragando seu cigarro com seriedade. — Não
me surpreende que estejam contra-atacando.

— A única coisa que não entendo é como eles descobriram


que nosso irmão estaria aqui — comentou Kael, franzindo a
testa com expressão perplexa. — As mídias só divulgaram o
casamento, não revelamos o destino da lua de mel.

Senti o cansaço tomar conta de mim e decidi que era hora


de me retirar da conversa. Pedi licença e saí, deixando-os para
trás enquanto seguia em direção ao quarto onde Aurora estava
desde que entramos na aeronave. Usei a desculpa de precisar
esticar as pernas, que estavam doloridas da caminhada que
havíamos feito mais cedo.

Assim que adentrei o cômodo, me deparei com ela


dormindo tranquilamente. Ela usava um conjunto de pijama que
fez meu pau latejar instantaneamente, já que o short mal cobria
seu traseiro. Lambi os lábios, arrancando minha camiseta e me
deitando ao seu lado, o peso do meu corpo no colchão a
despertou.
— Liam... — murmurou, mas antes que pudesse dizer
qualquer coisa, toquei meus lábios nos dela, silenciando
qualquer protesto que a diaba pudesse fazer. Eu tinha quase
certeza de que suas palavras seriam para me irritar.

— Sabe o que acabei de me lembrar? — perguntei,


descendo meus beijos pelo queixo e pescoço dela. Aurora se
remexeu, ficando de barriga para cima, entregando-se aos meus
carinhos.

— O-o quê? — respondeu com a voz trêmula. Mordi seus


seios por cima do tecido da blusa de alças e continuei a descer,
explorando seu corpo com meus lábios. Ao chegar em sua
boceta, dei uma mordida suave, ouvindo-a soltar um suspiro de
prazer.

Enrosquei meus dedos na barra do short indecente, que ela


colocou só para enlouquecer minha mente.

— A cena em que você esfrega a boceta na cara daquele


filho da puta! — rosnei, puxando o short pelas suas pernas,
quase de maneira agressiva.

— Puta merda, Liam! Aquilo foi para salvar a sua vida... —


respondeu, se remexendo em resposta às minhas carícias.

Um sorriso se formou em meus lábios, sabendo que ela já


estava completamente entregue a mim.

Rasguei sua calcinha, ouvindo-a praguejar em surpresa.

— Pois agora eu vou te chupar tão intensamente que você


vai gritar de prazer, e meus irmãos e seu primo vão saber
exatamente o que estamos fazendo aqui — sussurrei
maliciosamente. Ela arqueou as costas, pressionando sua
boceta contra minha boca, sem resistência alguma. — Para você
nunca mais se esquecer de que o único rosto entre suas pernas,
cheirando e chupando sua boceta, será o meu.

Sua única reação foi soltar um arquejo excitado, me


encarando com os olhos numa mistura de raiva, por ceder tão
fácil, e expectativa pela minha promessa.

E puta que pariu! Eu estava louco para cumprir tudo e nos


mínimos detalhes.
Quando finalmente chegamos à Irlanda, um misto de
decepção e alívio tomou conta do meu peito. Fiquei
desapontada por ter sido impedida de aproveitar minha viagem,
mas aliviada por ver meus pais e Giovanni esperando por nós na
entrada da imponente mansão da família de Liam. Aquela
mansão era ainda maior do que o Forte dos Fratelli, onde nasci,
na Itália, e emanava uma aura imponente e cheia de história.

Viajamos em dois carros e, assim que o veículo em que eu


estava acompanhada por Liam e Benjamin, parou, não hesitei
em sair. Sentia uma urgência intensa em abraçar meus pais e
meu irmão. Embora tentasse disfarçar, meus olhos estavam
marejados de lágrimas. Por mais que eu me mostrasse forte o
tempo todo, no fundo, eu era uma pessoa repleta de
inseguranças.

Corri em direção a eles, meus pais, com sorrisos radiantes,


ansiosos por me receber após longas horas de angústia.
Giovanni foi o primeiro a abrir os braços, me envolvendo em um
abraço apertado, como se quisesse me proteger de todo mal do
mundo.

— Benjamin não permitiu que eu fosse junto, mas juro que


queria ter estado lá por você — expressou ele, segurando meu
rosto entre suas mãos e revelando toda a sua preocupação. Um
sorriso brotou em meu rosto enquanto segurava sua mão contra
minha face e lhe dava um breve beijo.

— Eu sei disso, irmão — respondi, retribuindo o gesto e


amparando seu rosto também. Nós dois não estávamos
acostumados a demonstrar afeto dessa maneira, mas naquele
momento senti a necessidade de fazê-lo.

— Aurora, filha! — exclamou meu pai, me puxando para


seus braços fortes. Eu me sentia quase escondida em seu
abraço. — Graças a Deus você está bem. Estávamos tão
preocupados.

Minha mãe me tirou dos braços dele, agitada demais para


conter sua inquietação. Seus olhos marejados deixaram meu
coração aflito. Eu não suportava vê-la preocupada, embora, com
minha personalidade forte, isso fosse quase inevitável.

— Você se machucou? — perguntou, segurando minha mão


enfaixada.
— Não foi nada grave, eu...

— Precisamos examiná-la — interrompeu, cortando minhas


palavras. — ¿Cómo te sientes? — perguntou em seu idioma
nativo. — Está com dor? Por Dios, Aurora, não minta para mim
— mesclou os idiomas.

Ao meu lado, observei Amy se aproximar de Liam com um


olhar carregado de afeto e preocupação. Ela também desejava
garantir que ele estivesse são e salvo após tudo o que
passamos.

— Liam, meu amor, você está bem? — perguntou ela, o


examinando atentamente.

— Estou bem, Amy, não se preocupe — assegurou ele. Sua


irmã também se juntou a eles, igualmente preocupada.

Embora eu e Madison não tivéssemos conversado muito, já


tinha uma boa impressão dela.

— Tem certeza de que não está machucado? — insistiu


Amy, tocando os braços de Liam desesperadamente. — Fiquei
tão assustada quando Owen mencionou a emboscada, meu
filho... — sua voz chorosa fez Liam envolvê-la em um abraço
apertado. Eu sabia que Amy não era a mãe biológica dos
rapazes, mas era evidente o amor genuíno que ela sentia por
eles.

Enquanto caminhávamos em direção ao hall de entrada da


mansão, notei os trigêmeos conduzindo os capturados,
informando aos demais que os levariam para a "sala dos
prazeres". Pelo nome peculiar, deduzi que fosse algum tipo de
calabouço para interrogatório. Não pude evitar sentir uma
pontinha de curiosidade sobre o que aconteceria lá.

— Precisamos cuidar da sua mão — decretou minha mãe,


não permitindo espaço para discussões. — Onde está o médico
da família? — elevou o tom de voz.

Eu tinha plena consciência de que argumentar não


adiantaria, já que quando se tratava de mim ou de Giovanni, ela
ficava completamente cega. Será que um dia eu experimentaria
esse tipo de amor incondicional?

Sacudi a cabeça, afastando esses pensamentos absurdos. A


mera ideia de engravidar de Liam já me causava arrepios.

— Quer me contar como as coisas foram? — perguntou


Giovanni assim que me joguei na cama ao seu lado.

Tinha acabado de tomar um banho depois da longa sessão


de cuidados excessivos da minha mãe. Finalmente, ela decidiu
fazer uma sopa para mim, e essa foi a oportunidade perfeita
para escapar de suas garras amorosas. Claro que Giovanni não
perdeu a chance de me seguir.

Não tinha ideia de onde os outros estavam, especialmente


Liam.

— Qual parte você quer saber? — perguntei. — Das brigas,


do ataque ou do sexo?
Ele fez uma careta e uma expressão de náusea tomou
conta de seu rosto.

— Pelo amor de Deus, Aurora! Por que eu iria querer saber


sobre suas relações sexuais? Poupe-me, garota! — Gargalhei
alto, adorando provocá-lo.

— Bem... eu e Liam sobrevivemos, certo? Acredito que seja


uma grande vitória, e não estou falando apenas sobre o ataque
— comentei, rindo.

— Então quer dizer que vocês dois estão se entendendo? —


perguntou ele.

— Na cama, quer dizer? — brinquei.

— Droga, Aurora! Pare de me torturar desse jeito —


reclamou, jogando um travesseiro em minha direção. — Já está
difícil aceitar que minha única irmã está transando, não preciso
ficar com imagens disso na minha cabeça.

Mordi os lábios, lutando para conter o riso que estava


prestes a escapar.

Ajeitei-me entre os travesseiros, encolhendo as pernas no


colchão. A viagem de volta ainda estava fresca em minha
mente, quando Liam teve a audácia de me fazer gritar dentro do
avião, com seus irmãos e meu primo ouvindo tudo.

Naquele momento, eu desejei matá-lo, mas não conseguia


resistir aos seus comandos. Aquele maldito conhecia todas as
minhas fraquezas e sabia exatamente como explorá-las. Eu era
completamente incapaz de resistir ao seu toque e às suas
carícias mais ousadas. Tudo o que eu podia fazer era sentir e
implorar por mais.

"Droga!" interrompi o momento tenso com um resmungo.

— Agora você está dramatizando, Giovanni — respondi, me


esforçando para me concentrar em nossa conversa.

Meu irmão soltou um suspiro.

— Você simplesmente não entende, garota — retrucou,


revirando os olhos com impaciência. — Enfim, quero saber os
detalhes do ataque e como está se desenvolvendo a relação
entre você e o Liam. Você decidiu seguir o meu conselho?

Pisquei confusa.

— Que conselho? — perguntei curiosa.

— O de seguir seu coração e dar uma chance para você e


Liam — respondeu ele.

Não pude evitar soltar uma risada abafada.

— Que chance? — indaguei divertida. — Liam e eu nos


odiamos, irmão. O único momento em que nos entendemos é
quando ele está entre minhas pernas.

— Ah, chega de ouvir suas bobagens! — rugiu, se


levantando da cama e se dirigindo para a porta de saída.

— Ei?! — chamei, rindo. — Aonde você vai? Tudo bem, vou


parar de falar isso...
No entanto, ele ignorou minhas palavras e saiu, me
deixando falando sozinha. Quando eu já estava prestes a sair do
quarto também, ouvi uma batida suave na porta.

— Pode entrar! — gritei, enquanto terminava de calçar


minhas sandálias. Quando a porta se abriu, me deparei com
Madison. Ela se assemelhava muito à sua mãe, Amy, com
cabelos escuros e compridos, e olhos de um azul surpreendente.
— Ah, oi, Madison.

— Oi. Pretende sair? — perguntou, percebendo minha


intenção.

Respirei fundo, esfregando as mãos na minha calça jeans.

— Você sabe onde fica a "sala dos prazeres"? Quando


chegamos, eu ouvi seus irmãos mencionando que levariam os
reféns para lá.

Ela piscou, fazendo uma careta, e então olhou para o


corredor como se estivesse prestes a me contar um segredo.

— Por que você quer saber? — indagou, com nervosismo.


— Acredito que meus irmãos e seu primo estejam torturando
aqueles homens. — Vi um leve estremecimento em seu corpo,
como se ela estivesse imaginando a cena.

Fixei meus olhos nela, apreciando seus traços delicados e


sua personalidade única. Contudo, no fundo, podia perceber a
tristeza que a envolvia. Essa garota escondia algo, talvez uma
ferida profunda na alma.
Um sorriso se formou em meu rosto diante de sua
pergunta.

— Na verdade, eu quero assistir.

— O QUÊ? — gritou, mas logo suavizou o tom, desviando o


olhar para o corredor. — Você enlouqueceu? Por que você iria
querer presenciar essa brutalidade? Não tem medo de ter
pesadelos?

Soltei uma risada, me aproximando dela.

— Pesadelos? — repeti, deixando claro que ela não me


conhecia bem. — Parece que você não sabe quem eu sou,
garota doce.

Passei por ela e, rapidamente, ela fechou a porta, me


seguindo pelo corredor.

— Mas... talvez eles não permitam sua presença lá, Aurora


— argumentou, parecendo aflita com minha ideia. — Nós,
mulheres, nem sempre temos permissão para fazer ou participar
de certas coisas.

— Não me importo com isso, Madison! — exclamei. — Só


preciso que você me mostre o caminho. Prometo que enfrentarei
as consequências e seu nome nunca será mencionado. Confie
em mim.

Ela parou, pensou por um momento e soltou um suspiro,


concordando em me ajudar. Agradeci com um aceno de cabeça,
sentindo uma mistura de gratidão e adrenalina correr em
minhas veias. Madison descreveu detalhadamente o caminho
até o calabouço, mencionando cada curva e porta.

Sem perder tempo, acelerei meus passos, preocupada em


passar despercebida pelos olhares curiosos de meus pais,
Giovanni, Owen e Amy. Sabia que, se eles descobrissem o que
eu estava prestes a fazer, enfrentaria uma pequena
tempestade.

À medida que me aproximava do calabouço, um arrepio


percorria minha espinha. No entanto, a empolgação superava
qualquer medo que pudesse sentir.

Finalmente, cheguei à porta do calabouço. Era feita de


madeira, repleta de entalhes estranhos. Respirei fundo antes de
girar a maçaneta e adentrar aquele espaço sombrio, cujas
paredes pareciam sussurrar histórias de dor e sofrimento.

No interior, encontrei com Benjamin, Liam e seus irmãos,


Kael, Carter e Sean. Liam ficou surpreso com a minha chegada e
tentou me impedir, bloqueando meu caminho.

— O que você está fazendo aqui? Este não é assunto para


você. Não é lugar para uma mulher — sibilou, entre dentes.

Sua declaração me enfureceu imediatamente. Estava


cansada de ouvir esse argumento, como se o fato de eu ser
mulher automaticamente fosse motivo suficiente para me
subestimarem.

— Só quero assistir, por favor — falei, o encarando e


tentando convencê-lo com um olhar doce.
Ele me ignorou e me arrastou para fora da sala.

— Liam! — exclamei, irritada com sua atitude brusca.


Consegui me libertar de seu aperto. — Pare!

Seu rosto se aproximou do meu.

— Você não deveria estar aqui — repetiu, com raiva. Seus


olhos estavam cheios de fúria, uma chama intensa que eu
nunca tinha visto antes. — Não quero que sua mente seja
prejudicada com... bem... — pigarreou, tenso — os gigantes
tendem a ser muito criativos quando se trata de tortura. —
Aprumou o corpo, meio desconfortável.

Nesse momento, algo clicou em minha mente e um sorriso


involuntário se formou em meus lábios.

— Que fofo! — exclamei. — Você está preocupadinho


comigo? — Meu sorriso se alargou.

— Não enche, garota! — retrucou, ainda mais incomodado.


— Eu só não quero ter que acordar no meio da noite com seus
gritos histéricos por causa de pesadelos.

Eu continuei sorrindo, pois sua desculpa não convenceu. No


entanto, não tinha vontade de prolongar aquela conversa.

— Prometo me comportar — insisti, o segurando pela gola


da camisa. — Vocês nem vão perceber que estou lá dentro.

Ele me encarou, talvez considerando se permitiria ou não.


No final das contas, acabou cedendo. Mas antes que eu pudesse
alcançar a porta, segurou meu braço e me puxou para perto de
seu corpo rígido. Sua boca roçou meu ouvido.
— Não se esqueça, Aurora, que na frente dos outros você
me deve respeito e obediência — declarou, causando arrepios
em todo o meu corpo. — Assim como na cama, sou eu quem
dita as regras!

— Cretino!

Revirei os olhos, lutando para esconder os efeitos que suas


palavras provocaram em meu corpo traiçoeiro.

De volta à sala, meus olhos exploraram os detalhes


sombrios do lugar, se fixando na mesa repleta de instrumentos
usados para tortura.

— Tem certeza de que é uma boa ideia deixá-la assistir? —


perguntou Kael.

— Ela vai ficar quieta — afirmou Liam, com seriedade,


enquanto eu me movia pelo ambiente.

Benjamin me encarava com seus olhos frios. Meu primo


realmente correspondia à fama de um mafioso cruel. Eu não me
recordava muito dos tempos em que meu tio Rossi era o chefe
da família, mas ouvia histórias. E não conseguia decidir quem
era mais assustador entre os dois.

Permaneci em silêncio, apenas observando. Enquanto os


trigêmeos tentavam extrair informações dos três prisioneiros,
que estavam acorrentados e encurralados contra a parede, eu
examinava minuciosamente cada instrumento. No entanto,
meus ouvidos estavam atentos a tudo ao meu redor. Apesar das
torturas já infligidas aos prisioneiros, nenhum deles revelava
informações úteis. Os tolos se recusavam a mencionar os nomes
dos mandantes, e isso estava começando a me irritar.

— Por que estavam atrás do meu irmão? — perguntou


Carter.

— Quem os enviou? — foi a vez de Sean.

Impaciente, eu percorria de um lado para o outro,


completamente agitada pelos gritos de dor dos prisioneiros e
pelas perguntas repetidas que pareciam não levar a lugar
nenhum. Virei-me para Liam e sussurrei com frustração:

— Esses malditos não vão abrir a boca, não importa o que


façamos.

Ele cutucou meu braço, me lançando um olhar repreensivo


que dizia: "Você prometeu que ficaria quieta!"

Eu lhe mostrei o dedo do meio em resposta e voltei a me


afastar, sentindo a inquietação tomar conta de mim diante de
toda aquela cena horrenda.

De repente, meu olhar foi atraído pelo maçarico que


repousava sobre a mesa. Uma onda de adrenalina percorreu
meu corpo, e minha frustração com a falta de progresso no
interrogatório tomou conta de mim. Sem hesitar, me aproximei
de um dos prisioneiros, segurando firmemente sua cabeça.

— Aurora, o que você...

As palavras do Liam se dissiparam quando me viu


aproximando o maçarico do rosto do homem.
— É melhor você começar a falar tudo o que sabe, ou juro
que farei de você um pedaço de carne carbonizada. — Meu
sorriso se alargou, me deleitando com a sensação de poder que
me invadia. Liam e os outros se aproximaram, curiosos com o
que estava prestes a acontecer. — Lembre-se, mio caro,
ninguém estraga minha lua de mel e sai impune. E você e seus
companheiros aqui — apontei para os demais prisioneiros —
foram responsáveis por isso. — De relance, percebi Liam
sorrindo em resposta às minhas palavras.

Idiota, arrogante!

Benjamin cruzou os braços, me fitando com frieza.

— Já chega, Aurora! — decretou. — Agora que você já se


divertiu brincando de torturar, é melhor sair e nos deixar
trabalhar.

Abri a boca para protestar, mas fui interrompida por Liam:

— Aurora não responde mais às suas ordens, Benjamin —


esbravejou ele em minha defesa, com os olhos fixos em meu
primo, que se tornou visivelmente tenso com a contrariedade. —
Ao se casar comigo, sua prima passou a ser minha
responsabilidade. Ela é minha agora, e não permito que
ninguém dê ordens ou tome decisões sobre aquilo que me
pertence.

Mesmo engolindo os xingamentos em silêncio, meu primo


acenou com a cabeça. Tecnicamente, Liam estava correto. Agora
eu não devia mais lealdade a Benjamin, já que Owen se tornara
meu novo capo.
No entanto, uma mistura de gratidão por Liam ter me
defendido e raiva por ele me tratar como um mero objeto dele
tomou conta de mim naquele momento.

Insolente, gostoso do caralho!

Sentindo-me confusa com todas essas emoções


conflitantes, decidi me afastar dali. Deixei o maçarico na mesa,
ouvindo as vozes de todos ao meu redor, mas era incapaz de
assimilar qualquer coisa naquele momento.

Saí da sala, percorrendo rapidamente o corredor, até que


alguém me interrompeu, segurando meu braço.

— Ei, o que aconteceu? — perguntou Liam, arrastando o


olhar pelo meu rosto, tentando compreender a mudança brusca.

Meu coração disparou, e eu avancei na direção dele,


desesperada para beijá-lo, mordê-lo... marcar cada centímetro
visível de seu corpo.

Apesar de inicialmente confuso, Liam logo assumiu o


controle da situação. Ele me ergueu em seus braços, fazendo
com que minhas pernas envolvessem sua cintura. Enquanto
continuava a me beijar, nos conduziu a um cômodo
desconhecido, mas eu não me importava com isso. Todo o meu
foco estava voltado para Liam, suas mãos e seus beijos
deliciosos.

Ali mesmo, contra a parede e envolvidos na baixa


iluminação daquele ambiente, Liam me posicionou de costas
para ele, abriu o zíper do meu jeans, baixou minha calcinha e
me penetrou de uma só vez. Seus dentes roçaram meu pescoço
e nuca, enquanto suas investidas se intensificavam e suas mãos
amassavam meus seios.

Nenhum de nós pronunciou uma palavra sequer.

Aquele não era o momento para falar, pois eu tinha a


sensação de que palavras apenas estragariam tudo. E inferno!
Eu mataria quem ousasse estragar aquele momento.

Liam enrolou meus cabelos em uma de suas mãos,


forçando meu pescoço a se inclinar para o lado e exigindo que
minha boca encontrasse a sua.

— E-eu... quero que você goze dentro de mim — pedi,


ofegante.

Ele soltou um rosnado, arrepiando cada centímetro do meu


corpo. Parecia que meu pedido desencadeava um turbilhão de
sensações dentro dele.

Nos minutos seguintes, Liam me empurrou ainda mais


contra a parede, inclinando meu corpo. Suas mãos seguraram
meus quadris enquanto ele me castigava com estocadas
violentas e urgentes.

Não havia delicadeza ali.

Era apenas o tesão nos consumindo por completo.

Quando aquela sensação prazerosa e intensa começou a se


espalhar por todo o meu corpo, do dedo mindinho do pé aos
cabelos, eu soube que estava chegando ao clímax.

— Vai gozar? — perguntou, percebendo.


Eu tentei falar, mas nada coerente saiu dos meus lábios. No
momento em que os espasmos me tomaram, eu me perdi na
intensidade do prazer. Era como flutuar sem saber voar, como
cair sem sentir dor.

— Li-Liam... — gemi durante o ápice.

— Porra! Sua boceta gulosa está ordenhando meu pau,


caralho! — murmurou, completamente enlouquecido.

Com mais algumas estocadas, o senti se derramar dentro


de mim, urrando com a boca perto do meu ouvido, lambendo
minha orelha e pescoço.

Foi tão erótico que quase gozei de novo.

Ofegante, sentindo meu peito subindo e descendo, lutei


para retomar a clareza da mente quando Liam se afastou. Ele
me ajudou a virar para ele, me castigando com a intensidade de
seu olhar.

— Da próxima vez que resolver me agarrar assim, me avise


para que eu possa me preparar — provocou, sorrindo,
visivelmente sem fôlego.

— Pare de agir como se você não quisesse me foder o


tempo todo, Liam — murmurei, balançando a cabeça, com um
sorriso nos lábios. Olhei para baixo, onde seu sêmen escorria
pelas minhas pernas — Eu também quero te dar minha boceta
sempre que possível, e não tenho vergonha de admitir isso.

Sua mão agarrou meu pescoço e me puxou para perto.

— Porra, garota! Você sabe que me enlouquece, não é?


Sorri cheia de malícia.

Passei os dedos pelo seu sêmen e, em seguida, os levei à


boca, chupando-os diante do olhar excitado de Liam.

— Não sei do que você está falando... — me fiz de


desentendida.

Ele apertou minhas bochechas, tomando meus lábios nos


seus de modo faminto.

— Você precisa tomar a pílula do dia seguinte... — disse, de


repente, quebrando o clima. — Vou pedir para Amy cuidar desse
problema para mim.

— Problema? — perguntei, chocada. — Agora eu me tornei


um problema? — Empurrei-o para longe de mim. — Minutos
atrás, quando você estava me comendo contra essa maldita
parede, eu não era um problema, seu idiota!

Vesti minha calcinha e calça.

— Aurora, não foi isso que eu quis dizer... — tentou se


aproximar, segurando meu braço enquanto eu me dirigia à
porta, mas me virei e soquei seu rosto.

— Caralho, garota! — gritou, pressionando o nariz.

— Eu sei muito bem o que você quis dizer, seu imbecil.


Saiba que eu também não quero engravidar de você, porque se
isso acontecesse, eu me jogaria de um prédio.

Dito isso, abri a porta e saí pisando forte. Aquela atmosfera


de luxúria havia se dissipado, dando lugar à constante irritação
que pairava entre nós.

Era tão exaustivo.

Merda!
Um tempo depois
A impaciência começava a me consumir, e a situação se
tornou ainda pior quando dois prisioneiros perderam a vida,
restando apenas um.

Minha irritação era evidente, e acabei descontando em


Owen, desabafando toda a minha insatisfação:

— Se você continuar deixando tudo nas mãos dos gigantes,


eles vão matar o último prisioneiro como fizeram com os outros
dois, e não vamos descobrir absolutamente nada! —
resmunguei, sem esconder minha frustração. A briga recente
com Aurora ainda ecoava em minha mente, embora já tivesse
se passado um bom tempo. Aquela garota era capaz de me
perturbar mesmo quando estava longe.

Foi nesse momento que Owen lançou uma pergunta direta,


seus olhos penetrantes fixos em mim:

— Você tem algo a me dizer?

Pisquei, sem entender exatamente o que ele queria dizer.


Me desencostei da parede e perguntei:

— Como assim?

Owen suspirou cansado.

— Antes de morrer, aquele ali — apontou para um dos


cadáveres — deixou escapar que você andou se intrometendo
onde não devia.

Meu coração começou a bater descontroladamente.

— Quer nos contar o que isso significa, caro? — questionou


Benjamin, com seriedade. — Afinal, você é casado com minha
prima, o que nos faz aliados. Ou seja, tudo o que afeta vocês,
também nos afeta.

— Além disso, não suporto a ideia de que minha filha possa


se tornar um alvo por sua causa — retrucou meu sogro.

Apertei os dentes, irritado com a insistência deles em se


apropriar de Aurora. O projeto de satanás era meu, caramba!
Sentindo-me sufocado pelos olhares fixos, meus olhos
percorreram cada um deles.

— De repente, parece que sou eu quem está sendo


interrogado — ironizei, gesticulando em minha direção. — O que
falta agora? Vão começar a usar equipamentos de tortura em
mim?

— Não diga bobagens! — repreendeu Owen. — Estamos


apenas tentando entender o que está acontecendo aqui, o
motivo pelo qual você e sua mulher foram atacados na Jamaica.

Respirei fundo, tentando acalmar os ânimos.

— E-ele vai... pegar vocês — balbuciou o prisioneiro,


chamando nossa atenção, enquanto cuspia sangue. Sua risada
fraca escapou entre seus ferimentos. — Não vai sobrar... nada.

Sean segurou seus cabelos, puxando sua cabeça para trás.


Com uma faca em mãos, meu irmão pressionou a lâmina contra
o rosto do homem.

— Ele quem, desgraçado? — Sean sibilou entre dentes. —


De quem você está falando? Quero nomes.

Com a respiração entrecortada, me aproximei, meus olhos


percorrendo os corpos dos cadáveres. Ambos estavam nus,
cobertos de sangue e faltando partes. Em seus peitos, havia um
profundo corte em forma de T, a marca dos trigêmeos. No
submundo, eles eram conhecidos como a Trindade.

Minha impaciência estava no limite, e me aproximei do


moribundo, cuja tosse de sangue não o impedia de continuar
rindo e falando tolices. Incapaz de conter minha raiva, desferi
um soco tão poderoso em seu rosto que sua cabeça tombou
para trás.

— Olha aqui, seu filho da puta — rugi, apertando seu rosto


—, eu sei que vocês fazem parte da Igreja, porque já vi essa
tatuagem de cruz antes. O problema é que anos atrás, eu vi
outra tatuagem com um símbolo de cruz diferente. O que isso
significa? — sibilei, sentindo meus dentes trincando. — Há uma
hierarquia nessa merda? É isso? FALA, PORRA! — Continuei o
socando com ainda mais força. — ABRE A PORRA DA BOCA, SEU
MALDITO!

Senti alguém me puxando para longe do homem, alertando


que eu acabaria matando o infeliz antes da hora. Reconheci que
era Owen.

— Como assim, você já viu uma tatuagem diferente? Onde?


— perguntou ele, confuso. — Do que diabos você está falando,
Liam?

Os trigêmeos também se aproximaram, igualmente


confusos e curiosos. Merda!

— O que está acontecendo? — indagou Kael.

— Não gosto da ideia de saber que você não confia em


seus irmãos — resmungou Carter, ofendido.

Meu peito estava apertado, a cabeça prestes a explodir.

— Vamos sair daqui! — decretou Owen, apontando para a


saída. — Este não é o lugar adequado para termos essa
conversa.

Saímos do calabouço, deixando Benjamin e Luca


terminando de interrogar o último desgraçado.

— Vamos lá, comece a falar.

Endureci minha mandíbula, encarando meus irmãos.

— Por que vocês estão me olhando assim? Eu não sou a


porra de um traidor, droga! — resmunguei, irritado.

— Ninguém aqui está te acusando de nada, Liam —


respondeu Carter, tenso. — Estamos apenas tentando entender
o que você disse no calabouço.

— O que diabos foi aquilo, Liam? — rosnou Owen, com seus


olhos fixos nos meus.

— Que porra está acontecendo, irmão? — insistiu Sean.

Inspirei profundamente, enchendo meus pulmões de ar.


Passei as mãos inquietas pelos cabelos.

— Lembram do acidente da nossa mãe? — perguntei por


fim, lutando para manter minha voz estável.

Imediatamente, a expressão de todos eles ficou sombria.

— Como poderíamos esquecer? — respondeu Owen. — Foi


um dos piores dia das nossas vidas, quando perdemos nossa
mãe e quase perdemos você também.

Tentei não permitir que aquela maldita lembrança me


afetasse, mas era impossível. Eu tinha apenas quatro anos, mas
aquele dia sempre me assombrava.

— Havia mais alguém lá — murmurei, lutando para reunir


os pequenos fragmentos daquelas terríveis memórias. — Não
me lembro com clareza, mas... havia outra pessoa.

— O que você está querendo dizer? — indagou Owen,


nervoso. — Eu não estou entendendo.

Suspirei, cansado, e esfreguei o rosto.

— Alguém me retirou do carro — relatei, me concentrando


para manter minha voz firme. — Essa pessoa tinha uma
tatuagem no antebraço.

— Quem era? — questionou Owen.

Balancei a cabeça em negação.

— Não me lembro — respondi. — Eu era muito menino


naquela época. A única coisa que permaneceu gravada na
minha memória foi essa maldita tatuagem. Cravou aqui,
entende? — Bati na minha cabeça.

— Como era essa tatuagem?

— Era uma cruz, mas... diferente — expliquei, com a


expressão atordoada. — Os detalhes eram únicos. — Suspirei,
sentindo a exaustão se apoderar dos meus músculos. — Enfim,
seja quem for, essa pessoa não queria me matar, já que me
retirou do carro.

Um silêncio pesado dominou o ambiente por alguns


instantes.

— Por que você nunca me contou? — questionou Owen de


repente.

Dei de ombros.

— Porque não achei que fosse relevante — resmunguei,


sendo sincero. — É apenas um detalhe insignificante —
desabafei, frustrado. — Há algumas semanas, comecei a
investigar e talvez esse...

— Seja o motivo do ataque no resort — Kael concluiu meu


raciocínio. — Você começou a se intrometer onde não devia.

— Saiam! — Owen ordenou aos trigêmeos. — Quero


conversar com Liam a sós.

Relutantemente, os gigantes saíram.

— Não posso acreditar que você não confia em mim —


declarou Owen, assim que ficamos sozinhos. Ele caminhou até o
armário das bebidas e se serviu de uma dose de uísque. — E é
ainda pior porque, além de ser seu irmão, sou também seu
capo, Liam — continuou. — Estou desapontado ao descobrir que
você agia às escondidas.

Rangi os dentes com sua insinuação.


— Você sabe o quanto aquilo me marcou — rosnei,
tentando controlar minhas emoções. — Sabe que carrego as
cicatrizes daquele dia até hoje, Owen. Eu só queria entender o
que aconteceu, descobrir por que fizeram aquilo com ela.

— E VOCÊ ACHA QUE É O ÚNICO, PORRA? — explodiu,


furioso, jogando o copo contra a parede. — Acha que é o único
que sofreu e ainda sofre com a morte da nossa mãe? Nosso pai
morreu tentando encontrar o culpado. Porra, irmão, droga! —
Sacudiu a cabeça, indignado, apoiando as mãos na mesa e
respirando ofegante. — Não, Liam, você não tinha o direito de
me esconder isso.

Limpei as lágrimas do meu rosto com as mãos, percebendo


que estava tremendo.

De repente, Owen se aproximou, e seu olhar furioso se


suavizou quando nossas testas se tocaram.

— Tudo o que vem de você, dos trigêmeos e da Madson é


importante para mim. Tudo, Liam, será que você não entende?
— Sua voz carregava vulnerabilidade, quebrando meu coração.

— Você já está com problemas demais, irmão — consegui


dizer, apesar da dificuldade causada pelo choro engasgado. —
Eu só não queria causar mais transtornos.

Ele respirou fundo, soltando o ar lentamente.

— Pode se retirar! — ditou com um aceno, sua autoridade


evidente. — Ficará excluído dos assuntos da Igreja até segunda
ordem.
Meu coração congelou em meu peito.

— Owen, eu...

— Não é uma pergunta, Liam! — interrompeu-me com


fúria. — É uma ordem!

Engoli todos os xingamentos que ameaçaram escapar pela


minha garganta e, resignado, saí do escritório pisando firme.

Minutos depois, ao entrar no meu quarto, infelizmente, me


deparei com Aurora sentada na cama.

— Ah, que bom que você chegou! — exclamou, mas pausou


por um instante, olhando para mim com curiosidade. — Por
acaso você esteve chorando? — Deitou a cabeça de lado.

Respirei fundo e caminhei até o closet.

— Não fale besteiras, garota. Não estou interessado em


brigar agora, então me deixe em paz — murmurei, sentindo a
exaustão me dominar, odiando que ela visse minha
vulnerabilidade.

— Quem disse que eu quero brigar? — rebateu, com seu


tom insuportável. — Estou falando sobre isso aqui — obrigou-me
a encará-la, de pé ao meu lado —, comprei a pílula do dia
seguinte. — A desgraçada engoliu na minha frente, exibindo a
língua como se quisesse me assegurar de que realmente a
tomou. — Assim como você, eu também não quero ter um filho
seu!

Permaneci em silêncio, apenas a fitando, questionando


minha sanidade por ter aceitado essa loucura de casamento.
Essa garota trazia o pior de mim à tona.

Eu sabia que ela continuava falando, gritando como uma


louca, mas minha mente parecia estar em transe naquele
momento, dominada pela raiva acumulada dos últimos eventos.
Sentia-me à beira de explodir.

— Então você fez isso para me provocar? — indaguei de


repente, fazendo-a se calar. — Esperou até eu chegar ao quarto
para tomar a maldita pílula, achando que isso me atingiria? —
Comecei a rir, cruzando os braços contra o peito.

Piscou freneticamente.

— Não seja ridículo! Eu não preciso disso para te atingir,


seu idiota! — exclamou, mas percebi que meu tom de voz a
abalou. Eu não estava bem, e infelizmente ela se tornou meu
alvo para descontar minha raiva. — Só não quero que você
pense que estamos em páginas opostas, porque isso não é
verdade. O único elo que nos une é o tesão. Nada mais!

— Então toda essa encenação ridícula é por causa disso? —


perguntei, avançando em sua direção como um predador,
enquanto ela recuava, claramente assustada com minha postura
dominadora. — Bem, talvez seja melhor você repensar sua
estratégia, porque eu não suporto jogos psicológicos. Mas o que
esperar de uma garotinha como você, não é mesmo? — Torci os
lábios em desdém.

— Como assim, como eu?

— VOCÊ É IMATURA E ESTÚPIDA! — gritei, fazendo-a se


encolher. No entanto, seu susto durou apenas alguns segundos,
pois logo se recuperou e ergueu seu narizinho petulante. — E
parece que ultimamente todos pensam que sou um idiota.
Francamente, estou cansado dessa merda toda. É você, meu
irmão, todos querem me foder.

Aurora ficou momentaneamente em silêncio, absorvendo


minhas palavras. Em seguida, pigarreou, misturando choro e
raiva:

— Não sei o que diabos aconteceu com você, mas não vou
aceitar que desconte tudo isso em mim, Liam — declarou com
firmeza. — E mais, posso não ter a experiência das vagabundas
que passaram pela sua cama, mas não sou estúpida! — Percebi
que estava abalada e, por um breve momento, senti culpa por
ter gritado com ela.

— Ah, não? — Soltei uma risada irônica. — Quando se trata


de nós, Aurora, você age como uma criança mimada — acusei.
— Se você realmente quer ser tratada como uma adulta, então
comece a agir como uma.

Sem esperar por uma resposta, saí do quarto


apressadamente, batendo a porta com força. Caminhei pelo
corredor em busca de um refúgio longe daquela garota.
Precisava de paz de espírito para lidar com todas as emoções
que me sufocavam.

No entanto, minutos depois que entrei em um dos quartos


de hóspedes, fui surpreendido pelo som alto de saltos se
aproximando. Espiei pela fresta da porta e vi a silhueta de
Aurora. Sua postura deixava claro que uma briga estava prestes
a começar. Não tive escolha senão segui-la.
— Maldita fedelha! — praguejei, me sentindo frustrado. —
O que eu fiz para merecer uma esposa como essa?

Com passadas rápidas, cheguei ao andar inferior. A mansão


estava mergulhada no silêncio da meia-noite. Ao me aproximar
do escritório, pude ouvir vozes em uma discussão acalorada.
Parei à porta, apenas escutando atentamente.

— É melhor você baixar o tom, garota — ouvi Sean dizer. —


Owen é seu líder agora!

— Pois eu não estou aqui falando com o chefe, mas com


meu cunhado — rebateu Aurora, com raiva. — Aliás, vocês
também devem ter algo a ver com o problema do Liam —
acusou.

Meu coração acelerou.

— Que problema? — questionou Kael. — O que ele te disse?

— Nada. Aquele insolente não me conta absolutamente


nada — sibilou ela, impaciente. — Mas eu sei que algo
aconteceu com ele, sinto que meu marido não está bem! —
concluiu. — E exijo saber quem foi o responsável por deixá-lo
assim.

— Isso é um tanto irônico, não é? — questionou Owen de


modo curioso. — Você vive atormentando a vida do Liam e
agora quer demonstrar preocupação?

— MAS ISSO É DIFERENTE! — berrou, perdendo o controle.


— Eu posso perturbá-lo, mas não aceito que outra pessoa o
machuque ou o magoe.
— Porque essa é a sua tarefa, não é mesmo? — zombou
Sean, se divertindo.

— Exatamente! — exclamou ela, e mesmo sem olhar, eu


podia imaginar seu nariz empinado.

Um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente. Decidi


sair dali e voltar para o quarto de hóspedes, deixando minha
mente confusa ficar ainda mais atordoada com o que acabara
de ouvir.

Puta que pariu! Essa garota era extremamente bipolar.

Não fazia ideia de que horas eram, mas ainda era


madrugada quando Aurora entrou sorrateiramente no meu
quarto, achando que eu estaria dormindo. Fiquei em silêncio,
observando seus movimentos e tentando antecipar suas ações.
Era preciso ter cuidado com essa desequilibrada.

No entanto, ao invés de iniciar uma briga, ela se acomodou


nos lençóis ao meu lado, colocando a cabeça em meu peito. Não
perguntou se eu queria, simplesmente ergueu meu braço e
tomou seu lugar à força.

Atrevida!

Eu não podia negar que passei as últimas horas pensando


sobre a atitude dela ao enfrentar meus irmãos para me
defender, mas não cheguei a nenhuma conclusão. Era difícil
entendê-la.
— Não conseguiu resistir a ficar longe do seu macho? —
provoquei, tentando irritá-la.

— Argh! Cala essa boca! — exclamou, se acomodando


melhor em meu calor. — Passei horas te procurando, abrindo um
milhão de portas até chegar aqui, então apenas... fecha essa
boquinha insuportável e vá dormir.

Um sorriso malicioso escapou dos meus lábios.

— Boquinha insuportável que você adora quando está


chupando sua boceta, não é?

Percebi um leve tremor nela com minha insinuação.

— Para, Liam... — murmurou, bocejando. Notei que seus


olhos estavam pesados de sono.

Ela parecia cansada.

De repente, me senti um idiota egoísta por não ter


percebido que ela também sofreu, que também correu riscos.
Assim como eu, sua mente também deveria estar tumultuada.

No final das contas, me ajeitei na cama, mantendo-a ao


meu lado, mas continuei a observá-la. Admirava seus traços
enquanto meus dedos acariciavam seu rosto lindo. Me peguei
sorrindo quando notei que ela estava usando o bracelete que
dei.

Não fazia ideia de quanto tempo fiquei assim, mas logo


adormeci.
Na manhã seguinte, fiquei extremamente surpreso ao
descer para o café da manhã e encontrar meu tio, o único que
tínhamos por parte de pai.

— Oh, meu querido Liam! — Ele veio em minha direção, me


abraçando apertado. — Fiquei tão triste por não ter conseguido
chegar a tempo para o seu casamento. — Segurou meu rosto,
me olhando com pesar.

— Não tem problema, tio — murmurei, com um sorriso. —


Foi uma cerimônia simples.

Então, seus olhos pousaram em Aurora, parada ao meu


lado. Perto dele, ela parecia ainda menor, quase como uma anã.

— Então essa é a pequena e turbulenta mulher que


conquistou meu sobrinho caçula?

Contive o riso, sabendo que a resposta dela seria bastante


malcriada.

— Pequena? — retrucou ela, com os lábios tortos. —


Desculpe-me, mas não me permitirei ser desrespeitada. E,
embora eu possa ser baixinha, consigo causar um bom estrago
quando quero — ameaçou com ferocidade.

Tio Aidan abriu um sorriso impressionado.

— Ah, aposto que sim, querida — disse ele, pegando-a pela


mão e a fazendo girar para admirá-la melhor. — Uau! Você é
linda! Uma verdadeira Viúva Negra. Já assistiu ao filme?

Aurora sorriu, apreciando a referência. Logo, Owen e os


outros chegaram, roubando a atenção do nosso tio.

— Por que eu ainda não o conhecia? — perguntou Aurora a


mim.

— Porque ele estava em uma missão, viajando. Ficou fora


por semanas — respondi. — O que você achou dele?

Ela estalou os lábios, pensativa.

— Um pouco afeminado, não acha?! — respondeu baixinho,


me fazendo sorrir, impressionado por sua percepção.

Na realidade, de acordo com a hierarquia, tio Aidan deveria


ter assumido o comando da nossa organização, mas, devido à
falta de aceitação de sua identidade de gênero, a liderança foi
passada para o meu pai.

— Espero que você não cometa a indiscrição de dizer isso


em voz alta — murmurei, e ela me cutucou.

— Eu não sou mal-educada, sabia?!

— Comigo, você é!

Ela riu e, em seguida, apertou meu pau, me fazendo


encolher.

— E você gosta disso.

Dizendo isso, ela se dirigiu à sala de jantar, onde o café da


manhã seria servido.
Minha única reação foi ficar parado, hipnotizado pelo
movimento sensual daquela bunda tentadora.

Fedelha, insuportável, gostosa do caralho!


A tensão que envolvia Liam durante o café da manhã era
impossível de ignorar. E eu estava determinada a descobrir o
que estava acontecendo, pois aquilo me incomodava bastante.
Era absurdo como me sentia perturbada ao perceber que ele
não estava bem.

Que diabos estava acontecendo comigo, afinal?

A conversa na mesa era dominada principalmente pelo tio


de Liam, embora minha mãe também tivesse o talento de falar
sem parar. Por um instante, parecia que estávamos de volta à
Itália, onde os momentos à mesa eram preenchidos com risos
de toda a família.

— E o que já descobrimos sobre o ataque a vocês dois? —


perguntou Aidan, se referindo a Liam e a mim, enquanto dava
uma mordida em seu pão. Eu ainda não tinha uma opinião
formada sobre ele, mas minha primeira impressão era positiva.
— Não podemos deixar esses desgraçados impunes. — Ele
bufou, manifestando sua raiva. Por ser um homem refinado,
suas reações eram sutis. Era a primeira vez que eu conhecia um
mafioso homossexual. — Fico furioso por não ter chegado a
tempo para ajudar. — Balançou a cabeça, desapontado consigo
mesmo.

Owen soltou um suspiro, expressando sua frustração em


igual medida.

— Não se preocupe, tio — assegurou ele. — Estamos


trabalhando com algumas pistas e detalhes que foram
descobertos. — Seus olhos encontraram os de Liam, carregando
seriedade e decepção.

Fiquei ainda mais confusa quando percebi o corpo de Liam


se tensionar ao meu lado. O que diabos estava acontecendo?

Na noite anterior, durante nossa discussão, percebi que ele


estava agindo de forma diferente. Por isso, decidi buscar
esclarecimentos com seus irmãos, na esperança de
compreender a situação. Só que continuei sem entender.

— Isso é bom! — exclamou Aidan, balançando a cabeça. —


Porque, em minhas investigações, também descobri algumas
coisas bastante interessantes.
Nesse momento, Benjamin se juntou à conversa, curioso
para saber mais detalhes. Infelizmente, a maldita questão da
"Igreja" era o foco principal daquela discussão.

Após alguns minutos, Liam se levantou ao perceber que


seus irmãos também estavam deixando a mesa. O problema foi
que Owen bloqueou sua tentativa de segui-los.

— Que tal levar sua esposa para o apartamento de vocês?


Infelizmente, o assunto que discutiremos não é de seu interesse.

Fiquei chocada, mas decidi não dizer nada. Eu sabia que, se


abrisse a boca, Liam descarregaria sua visível frustração em
mim, assim como aconteceu na noite anterior.

Observei enquanto ele saía da sala, pisando com força.


Fiquei para trás com minha mãe e meu irmão.

— Você sabe o que está acontecendo? — perguntou minha


mãe, tão incomodada quanto eu.

Neguei com a cabeça.

— Não sei se você percebeu, mamãe, mas eu e Liam não


somos um casal tradicional — ironizei, terminando meu café,
lutando para disfarçar meu incômodo.

— Vocês estão mais para um casal tradicional do inferno —


brincou Giovanni, arrancando uma risada minha.

— Palhaço! — exclamei, beliscando-o.

— Quando vocês voltam para casa? — perguntei,


segurando suas mãos sobre a mesa.
— Ainda hoje — respondeu minha mãe com pesar. — Você
sabe que seu pai não pode ficar muito tempo longe dos
negócios. Além disso, também preciso estar à frente do
restaurante.

Olhei para o meu irmão.

— Será que você poderia ficar mais alguns dias comigo? —


pedi. — Assim, não me sentirei tão sozinha.

Os dois me encararam como se eu tivesse duas cabeças.

— O que é esse brilho no seu rosto? — ironizou minha mãe.


— Insegurança? — Semicerrou os olhos na minha direção.

Giovanni colocou a mão no queixo, fingindo me analisar


também.

— Acho que é isso mesmo, mamãe — concordou ele. —


Insegurança, hesitação. Vejo um pouco de dúvida também...

Revirei os olhos para os dois.

— Argh! Fiquem quietos! — exclamei, acompanhando a


risada deles.

Ao final do dia, após me despedir da minha família, Liam e


eu finalmente partimos para o imponente edifício que se
tornaria nosso lar dali em diante. Era um lugar magnífico, um
refúgio luxuoso que refletia o status e o poder de Liam.
Prestes a subir até o segundo andar, notei que Liam evitou
pegar o elevador, como de costume. Seu desconforto em
lugares pequenos e fechados era notório, então subir as escadas
era sua alternativa preferida.

Minutos depois, as portas do elevador se abriram,


revelando um corredor impecavelmente decorado que
despertou minha curiosidade. Meus olhos logo encontraram
Liam me esperando, com sua postura confiante e atlética,
mostrando seu condicionamento ao subir as escadas tão
rapidamente quanto o elevador permitiria. No entanto, sua
expressão fechada indicava que algo o estava perturbando.

— Sua alegria é realmente contagiante, "marido" —


resmunguei, começando a me irritar com seu humor sombrio.

Ele zombou e respondeu, caminhando ao meu lado pelo


corredor:

— Peço desculpas se meu humor está te desagradando,


"amada esposa".

Optei por não responder, sabendo que qualquer palavra


poderia levar a uma discussão. Eu o conhecia o suficiente para
saber que era melhor deixar as coisas esfriarem antes de
abordar qualquer assunto delicado.

Idiota! — pensei, reprimindo a vontade de xingá-lo.

Ao adentrar o apartamento, me deparei com um cenário de


puro luxo. O piso de mármore brilhante refletia a luz dos lustres
de cristal, banhando o ambiente em um brilho dourado e
elegante. As paredes eram revestidas com um papel de parede
texturizado em tons suaves, enquanto obras de arte enfeitavam
cada canto, proporcionando um toque de sofisticação. Tinha
certeza de que Benjamin passaria horas admirando aqueles
quadros, considerando seu amor por arte.

Caminhamos pela ampla sala de estar, onde um sofá de


couro elegante se destacava como o centro das atenções. Ao
lado, uma lareira imponente completava a atmosfera
acolhedora, adicionando um toque de conforto ao ambiente. A
sala de jantar, por sua vez, apresentava uma mesa de madeira
maciça, cercada por cadeiras estofadas em veludo, emanando
um sentimento de requinte.

Enquanto eu observava tudo ao meu redor, uma mistura de


fascinação e desconforto tomava conta de mim. Aquela era a
representação da minha nova vida, da minha nova realidade, e
às vezes sentia dificuldade em me adaptar completamente.

Meus pensamentos foram interrompidos quando Liam se


aproximou de mim, seus olhos fixos nos meus, como se quisesse
decifrar meus pensamentos.

— O que você achou do nosso novo lar? — perguntou, sua


voz carregada de sarcasmo. — Por favor, me deixe saber se tudo
está ao seu agrado...

Por um breve instante, fiquei ali, o encarando com


intensidade, deixando sua beleza se gravar em minha mente.
Seu terno habitual estava presente, mas seus cabelos
desalinhados lhe conferiam um ar ainda mais sedutor.

Decidi ignorar sua alfinetada e me focar no que era


realmente importante:
— Poderia me dizer o que está acontecendo entre você e
seus irmãos? — perguntei, mantendo meu olhar fixo nele.

Com um gesto de desdém, ele revirou os olhos e se


afastou, dirigindo-se ao quarto que compartilharíamos.

Sim, eu me recusava a dormir sozinha, o que me levou a


procurá-lo na noite anterior quando ele decidiu ocupar um
quarto de hóspedes.

Tão insolente!

— Isso não é da sua conta! — resmungou, deixando um


rastro de desprezo no ar.

— Claro que é da minha conta! — exclamei, irritada. —


Você é meu marido agora.

Sua risada sarcástica ecoou pelo cômodo.

— Que fofo ouvir você falando assim... — zombou — parece


até que está apaixonada.

Dessa vez, a risada partiu de mim.

— Piadas agora? — ironizei, enquanto percorria o espaçoso


cômodo. — Devo salientar que não teve a menor graça,
insolente!

Abri o closet e vi todas as minhas roupas organizadas,


esperando por mim.

— O que você está fazendo? — perguntou, observando


enquanto eu selecionava alguns vestidos e os jogava na cama
de qualquer jeito.
— Você pode até estar com essa cara de cu sujo e esse
humor insuportável, mas eu não! — exclamei, forçando um
sorriso, adorando ver que minhas palavras o irritaram. —
Pretendo sair e aproveitar a noite.

Continuei jogando as roupas na cama, me sentindo


indecisa sobre qual escolher. Nunca fui boa com essas coisas.

— Não podemos sair! — decretou com seriedade. — Você


se esqueceu do atentado que sofremos na Jamaica? O que te faz
pensar que foi apenas um incidente isolado, fedelha?

Trinquei os dentes, contendo minha irritação.

— Fedelha é o seu...

Antes que eu pudesse concluir minha frase, ele me puxou


para seus braços, pressionando sua grande mão contra a minha
boca. Não pude ignorar o delicioso aroma de seu perfume que
inundou minhas narinas, envolvendo meus sentidos.

— É incrível como seus pais não te ensinaram bons modos,


"querida esposa" — provocou, rindo. — Ou será que essa versão
sua é reservada apenas para mim?

Mordi sua mão, o fazendo se afastar com um grito de dor


ao sentir meus dentes em sua palma.

— Considere-se privilegiado, porque isso é exclusivo para


você — declarei com um sorriso divertido nos lábios.

Liam me encarou com raiva, faíscas nos olhos.


— Não podemos sair! — repetiu sem paciência. — As
ordens do meu irmão são claras e...

— Desde quando você segue regras? — desafiei, o que o


fez se calar, enquanto um sorriso malicioso se formava em meus
lábios. — Pelo que eu entendi, seus irmãos te excluíram dos
negócios, então... só nos resta nos divertir. Tecnicamente, ainda
estamos em lua de mel, Liam...

Ao pronunciar essas palavras, comecei a me despir diante


dele, sentindo seu olhar ardente percorrer cada movimento
meu. Primeiro a blusa, que deixei cair descuidadamente no
chão, e em seguida a calça, mas Liam rapidamente a
interceptou.

— Argh! Qual é o seu problema com organização? —


resmungou ele. Então, tirei a calcinha e a joguei diretamente em
seu rosto. Sua mão ágil a segurou, mantendo a peça próxima ao
nariz.

Seu olhar intenso, como um scanner implacável, parecia


penetrar em minha alma.

— É uma pena que você esteja mais preocupado com a


minha desordem, marido... — fiz uma expressão de
desapontamento —, quando temos coisas muito mais
interessantes para fazer...

Decidi me virar de costas, planejando seguir em direção ao


banheiro, mas em questão de segundos, ele rosnou como um
animal selvagem. Minha única alternativa foi correr, sabendo
que não chegaria muito longe.
Um tempo depois
— Que lugar é este? — indaguei a Liam, enquanto
estacionávamos o carro em frente a um prédio repleto de luzes
cintilantes. Dois veículos com seguranças estavam logo atrás.

Não foi difícil convencê-lo a sair comigo, afinal, assim como


eu, Liam também adorava o caos.

Ele me encarou com os olhos cheios de brilho diante da


minha pergunta.

— Você vai gostar — respondeu, mantendo um ar


misterioso.

Caminhamos lado a lado em direção a entrada do local e


não demorou muito para eu descobrir exatamente do que se
tratava. Um sorriso espontâneo se espalhou pelo meu rosto.

— O que achou? — perguntou ele.

— Um cassino? Confesso que não estava esperando por


isso, devo admitir — comentei, enquanto observava
atentamente o ambiente ao nosso redor.

O lugar era amplo, e por onde meus olhos percorriam,


encontrava homens atraentes e mulheres ainda mais
deslumbrantes, vestindo roupas provocantes e sensuais.
Não que eu estivesse muito diferente, considerando minha
escolha de vestuário. Optei por um vestido branco, com um
decote profundo e uma fenda marcante em uma das pernas. Os
saltos estavam me causando um certo desconforto, mas valia a
pena.

Liam segurou meu pulso, notando o bracelete que ele havia


me presenteado, e soltou um sorriso petulante que me irritou.

— Parece que gostou do meu presente — observou.

Repreendi-o imediatamente, desviando seu comentário.

— Pare de fazer suposições fantasiosas — falei com


firmeza. — Foi apenas uma escolha para combinar com o visual
que escolhi para a nossa noite de diversão.

Ele riu.

— Não sabia que você tinha dado um nome tão pomposo


para a nossa ousadia. — Parei e me apoiei em seu ombro,
sentindo suas mãos se envolverem automaticamente em minha
cintura. Tentei não me deixar afetar pela sensação, afinal, a
intensidade do nosso sexo no banheiro ainda estava impregnada
em minha pele. — Você sabe que, se Owen descobrir, não vai
gostar nem um pouco, não é mesmo?

— Alguém nunca te disse que não há diversão sem um


pouco de caos? — sugeri, provocando ao mordiscar seu lábio
inferior. Um gemido escapou de seus lábios, rendido à minha
provocação. Senti sua mão deslizar pelas minhas costas,
deixando um rastro de fogo em seu toque. Nossos corpos
pareciam queimar.
— Você será minha perdição, garota. Você sabe disso, não
é? — Seus olhos pesados se encontravam com os meus,
brilhando com uma combinação de desejo e perigo.

— Vamos brincar um pouco — sussurrei, permitindo que


meu olhar mergulhasse em seus olhos azuis, em busca da
conexão intensa que apenas nós compartilhávamos. — Uma
brincadeira que nos levará ao limite e mostrará ao mundo o
quanto somos bons juntos.

Ele ergueu as sobrancelhas, intrigado com minha proposta.

— E o que você tem em mente, meu pequeno projeto de


satanás? — indagou, provocando um desejo crescente em mim
com suas palavras. Eu o mordi de leve, deixando claro que não
seria tão fácil assim.

— É incrível como você tem o talento de me deixar furiosa,


Liam.

Uma risada escapou de seus lábios.

— Parece que é um dom que só eu possuo...

Afastei-me dele, exalando minha indignação em um bufar,


mas logo me recompus, meu corpo ganhando postura enquanto
observava o ambiente ao nosso redor. Minha mente já estava
maquinando um plano, uma forma de aproveitar a noite no
cassino e, ao mesmo tempo, mostrar aos jogadores que Liam e
eu éramos um casal imbatível.

— Vamos nos divertir às custas desses otários — murmurei,


com um brilho travesso iluminando meus olhos. — Vamos
enganá-los e mostrar que somos os melhores.

Liam pareceu surpreso com minha sugestão, mas logo um


sorriso malicioso se estampou em seu rosto, refletindo meu
próprio entusiasmo.

— Adoro essa ideia, minha provocadora favorita —


concordou, seu olhar safado encontrando o meu. — Vamos jogar
com maestria e deixar todos boquiabertos.

Decidimos começar pela roleta.

Nos posicionamos estrategicamente na mesa, agindo como


um casal apaixonado em busca de sorte. Por trás dessa fachada,
nossas mentes fervilhavam com um plano meticuloso. Enquanto
Liam girava a bola na roleta, eu observava atentamente as
expressões dos outros jogadores, em especial de um homem
elegante, impecavelmente vestido, que irradiava confiança e
parecia ser um veterano nas artes do jogo. Nossos olhares se
cruzaram por um breve momento, despertando minha
curiosidade.

— Coloco todas as minhas fichas no vermelho! — declarei


com euforia, empilhando as fichas na mesa.

Liam lançou um olhar rápido para mim, surpreso com


minha audácia, mas logo se deixou levar, fazendo sua aposta no
preto, indo contra minha escolha. Era hora de colocar nosso
plano em ação.

A roleta começou a girar, e a tensão pairou no ar. Meu


coração batia mais rápido, alimentado pela adrenalina da
trapaça iminente. A bola finalmente encontrou seu destino, e o
vermelho saiu vitorioso.

— Ganhamos! — exclamei, expressando minha euforia.

O homem elegante, cujo olhar havia capturado


anteriormente, parecia intrigado com nossa vitória. Ele passou a
observar nossas jogadas seguintes com uma mistura de
curiosidade e desconfiança.

Mantivemos o jogo, alternando estrategicamente nossas


apostas, às vezes escolhendo números próximos, outras vezes
arriscando combinações contrastantes. A cada rodada, nossos
ganhos aumentavam e nossa reputação se espalhava pelo
cassino, deixando os frequentadores perplexos. Liam e eu
mudamos para as cartas também, continuando nosso jogo de
trapaça.

No entanto, chegou um momento em que nossa sorte


começou a levantar suspeitas. Expressões de descontentamento
se misturaram a olhares inquisitivos dos outros jogadores, e os
seguranças do cassino começaram a nos observar com mais
interesse e cautela.

Liam e eu trocamos olhares, cientes de que tínhamos


atingido o nosso limite. Era hora de desaparecer antes que fosse
tarde demais. Agarrando nossos ganhos até aquele momento,
nos levantamos da mesa e começamos a nos afastar, enquanto
os sussurros se espalhavam pelo local, anunciando nossa saída
antecipada. O problema foi que, antes que pudéssemos escapar,
um segurança corpulento bloqueou nosso caminho. Seu olhar
sério e ameaçador deixou claro que não escaparíamos impunes.
Olhando um para o outro, Liam e eu decidimos improvisar.
Era melhor do que agirmos com agressividade.

— Viu só o que você fez? — perguntei, alterando o tom de


voz para um fingido tom de raiva. — Você percebeu o
constrangimento que nos causou?

— Por acaso você está se ouvindo, mulher? — rosnou ele,


igualmente irritado, entrando no jogo. — Sempre é assim. Você
faz besteiras e quer jogar a culpa dos seus erros em mim. Eu
não sei até quando vou aguentar isso...

Franzi a testa, desempenhando perfeitamente o papel de


mulher indignada.

— O que você está insinuando, afinal? — retorqui,


enraivecida. Nossa discussão atraindo olhares curiosos. — Você
não tem para onde ir, querido, eu sou a sua única saída!

Ele soltou uma risada, entrando no personagem.

— Eu não teria tanta certeza disso, minha querida —


insinuou, me provocando. Num impulso, agarrei uma garrafa de
vinho de uma mesa próxima e a arremessei em sua direção.
Habilidosamente, Liam desviou, mas o gesto serviu como
estopim para uma briga encenada entre nós.

Gritamos, empurramos mesas e derrubamos fichas,


enquanto os seguranças tentavam nos separar. Aproveitando o
caos que se instalou, conseguimos escapar, correndo pelos
corredores do cassino. O som das sirenes e os gritos das
autoridades enchiam o ar enquanto nos aproximávamos da
saída, rindo e alimentados pela adrenalina que nos invadia.
— Você viu a cara deles? — perguntei, sentindo minha
barriga doer de tanto rir, enquanto continuávamos a fugir, nos
afastando o máximo que podíamos. — ¡Dios mío, Liam! Nunca
me diverti tanto.

De repente, ele parou comigo e me encarou, os raios da


Lua destacando os contornos de seu rosto bonito.

— É a primeira vez que ouço você falar espanhol.

Seu sorriso brincalhão permanecia, refletindo a


cumplicidade que compartilhávamos. Uma mistura de
admiração e timidez tomou conta de mim, sem entender
exatamente por que me sentia assim diante do elogio dele.

Pigarreei, lutando para manter minha compostura.

— Não é meu idioma nativo, mas minha mãe fez questão


de que tanto eu quanto meu irmão aprendêssemos, já que é o
idioma dela — expliquei, minha voz buscando um tom neutro.
Liam se aproximou mais, seus olhos penetrantes me envolvendo
em um olhar intenso.

— Eu gosto, sabia? — disse, fazendo com que minha boca


se tornasse seca de repente.

— Gosta? — sussurrei, odiando a maneira como minha


fraqueza transparecia quando ele me olhava assim, como se
desejasse me devorar.

E, inferno! Eu ansiava desesperadamente por ser devorada


por ele.
Minhas costas foram pressionadas contra a parede fria, e a
única testemunha da nossa proximidade era a lua, derramando
sua luz sombria sobre nós.

— Gosto — afirmou, apertando minha cintura com firmeza.


Olhei para cima a tempo de notar sua língua deslizando sobre
seu próprio lábio. Perto de mim, o insolente era um gigante. — É
sexy. — Meu coração acelerou, ecoando a intensidade do
momento. — E sabe o que é ainda mais sexy, “querida esposa”?
— Seu perfume envolvente começou a me entorpecer
lentamente.

— O quê? — perguntei, sentindo minha curiosidade e


ansiedade aumentarem com suas palavras. Ele sorriu, se
inclinando levemente para me beijar, mas, em vez disso, apenas
me provocou como o cretino que era. — Você me defendendo
em uma briga com meus irmãos. — Meus olhos se arregalaram
de confusão e ele percebeu minha perplexidade, continuando
logo em seguida: — Não adianta negar, porque eu ouvi tudo
ontem à noite. Fiquei na porta do escritório escutando. — Sua
mão se aconchegou em meu rosto, transmitindo calor e ternura.
— O que isso significa, garota? Juro que tento, mas não consigo
entender você.

Com meu coração aos pulos, envolvi seu pescoço com


meus braços, buscando segurança em seu abraço.

— Não significa nada! — exclamei, minha boca próxima à


sua. Mordi seu lábio inferior, me esforçando para não mostrar o
quanto toda aquela conversa estava me deixando nervosa. —
Nada.
Notei que seu olhar se obscureceu com alguma emoção
que não consegui decifrar.

— Venha — me afastei um pouco, segurando sua mão com


firmeza — precisamos sair daqui.

— Nossa noite ainda não terminou — afirmou ele, me


seguindo com passos rápidos. Sorri, sentindo novamente a
sensação avassaladora de excitação tomar conta do meu peito.

— Claro que não! — exclamei, me jogando em seus braços


com desejo incontrolável. — Afinal, eu ainda pretendo chupar
seu pau enquanto você dirige...

— Droga, garota! — praguejou, me agarrando novamente e


reivindicando meus lábios com urgência.

Éramos dois loucos. E eu não podia negar que... juntos


éramos selvagens e perfeitos.
Dois meses depois
— Me chamaram? — perguntei a Owen assim que entrei em
seu escritório. Meu tio também estava lá, ambos imersos em
pilhas de papéis e documentos importantes.

Owen fez um gesto com a mão, indicando para eu me


aproximar da mesa. Percebi que sua atenção estava totalmente
focada naqueles documentos.

— Como vão as coisas? — Aidan quis saber. — Imagino que


esteja sentindo falta da sua esposa. — Ele sorriu.
Imediatamente, meus pensamentos foram para Aurora,
aquela garota infernal. Ela estava ausente há dois dias, pois quis
acompanhar o parto de sua prima, Nina.

Forcei um sorriso.

— Ainda não se passou tempo suficiente para sentir falta


dela — resmunguei, irritado.

A verdade era que, embora negasse, aquela maldita fazia


uma falta imensa.

— Tenho um problema para você resolver — explicou Owen,


chamando minha atenção. — Preciso que vá até a delegacia e
entregue o pagamento ao maldito delegado. — Me entregou um
envelope.

Apertei os dentes, sentindo a constante irritação me


consumir.

— Você está falando sério? — não consegui controlar


minhas palavras. — Até quando você vai me tratar como um
mero "faz-tudo", droga? Já se passaram dois meses, Owen! Dois
malditos meses sendo mantido no escuro!

Ele parou o que estava fazendo e me encarou. Nosso tio


apenas baixou os olhos, incapaz de dizer qualquer coisa. Assim
como eu, ele também era um subordinado ali.

— Está questionando minhas ordens? — perguntou com


frieza. — Esqueceu quem eu sou, Liam?

Silenciei, engolindo todos os xingamentos que se


acumularam em minha garganta. Aquilo não era justo, e ele
sabia disso. Eu não merecia ser rebaixado a cumprir esse tipo de
tarefa quando minha vontade era participar das investigações
relacionadas à Igreja.

No final das contas, apenas neguei com a cabeça. Não


precisava piorar as coisas.

— Ótimo! — exclamou.

Inspirei fundo, odiando sentir raiva do meu irmão, mas era


exatamente isso que eu estava sentindo.

— Precisa de mais alguma coisa? — perguntei, com uma


pitada de irritação em minha voz.

Owen apenas balançou a cabeça negativamente, enquanto


eu me virei e me encaminhei em direção à porta. No momento
em que estava prestes a sair, a voz do meu tio interrompeu meu
movimento:

— Quer companhia?

Um sorriso sarcástico se desenhou em meus lábios.

— A humilhação já não é suficiente? Agora vocês querem


me humilhar um pouco mais? É isso? — retruquei, sentindo a
raiva ferver dentro de mim. — Será que sou tão inútil que não
consigo nem entregar um simples envelope de dinheiro para
alguém?

Dito isso, abri e fechei a porta com força, liberando parte


da minha frustração.

Estava completamente furioso.


E para piorar, Aurora, aquela maldita, não estava presente
para melhorar meu dia. Estranhamente, nossas discussões
sempre me deixavam com uma sensação de leveza. Não pude
evitar um sorriso diante dessa constatação.

Ao chegar à garagem, entrei no meu carro, sentindo uma


onda de nostalgia me envolver. Meus olhos se fixaram no
espelho retrovisor central, refletindo minha própria expressão.
Minha mente se encheu de lembranças das loucuras que Aurora
e eu cometemos ali, naquele veículo. O maldito perfume dela
ainda pairava no ar, me deixando entorpecido.

Dois meses de casamento pareciam ter passado num


piscar de olhos, pouco mais de oito semanas convivendo com
meu pequeno projeto de satanás, como costumava brincar.

Acelerei furiosamente pelas ruas da cidade, meu coração


ainda repleto de rancor. A tarefa de entregar o pagamento ao
delegado poderia parecer insignificante, mas representava
muito mais do que isso para mim. Era um símbolo de
menosprezo, de ser subestimado. Owen persistia em me tratar
como um simples executor de suas ordens, sem reconhecer
minhas habilidades. A sensação de estar aprisionado em uma
gaiola de tarefas monótonas e sem propósito me corroía por
dentro.

Cheguei à delegacia com a expressão fechada e a postura


firme, determinado a concluir aquela missão o mais rápido
possível. Ao entrar no prédio, pude perceber a agitação no ar. Os
policiais pareciam mais tensos do que o normal, e seus olhares
se voltaram em minha direção assim que me viram, curiosos
para saber o motivo da minha presença.

O delegado, um homem robusto, estava ao fundo da sala,


falando em voz baixa com um dos policiais. Ao notar minha
presença, seu semblante se contorceu em uma expressão
nervosa. Ele rapidamente interrompeu a conversa e se
aproximou de mim, tropeçando em suas próprias palavras
enquanto tentava se explicar, como se tivesse algo a esconder:

— Ah, Sr. Sullivan! É uma surpresa vê-lo por aqui. Eu


estava... reunindo algumas informações, sim. Coisas
importantes, você sabe como é. — Um sorriso forçado se formou
em seu rosto, porém sua voz vacilava, revelando sua
inquietação.

Ergui uma sobrancelha, confuso diante de sua postura


desconcertada. Não fazia ideia do que ele estava se referindo ao
mencionar a coleta de informações, e sua reação desajeitada
apenas aumentou minha desconfiança.

— Informações? Sobre o quê? — Inquiri, observando seus


movimentos nervosos e gestos trêmulos, enquanto minha
intuição clamava por algo errado.

O delegado parecia transpirar frio, gaguejando em busca


de uma resposta plausível.

— Bem, é... investigações em curso, assuntos


confidenciais. Não posso compartilhar muitos detalhes no
momento, mas, ah... estou empenhado em solucionar esses
casos, pode acreditar! — Coçou a nuca, evitando meu olhar.

Continuei o encarando, minha desconfiança crescendo a


cada desculpa esfarrapada que ele apresentava. Era evidente
que algo estava errado ali, e aquele sujeito não estava sendo
completamente honesto comigo. Decidi entrar no jogo, me
sentando em uma das cadeiras próximas, movimentos lentos e
calculados, indicando que não estava disposto a deixar o
assunto de lado.

Cruzei os braços e esperei. Notei quando ele engoliu em


seco, percebendo que eu não iria embora sem algo concreto.

Por fim, suspirou resignado e finalmente se rendeu:

— Tudo bem, Sr. Liam. Vou ser franco com você. Há algo
acontecendo em nossa cidade que vem chamando minha
atenção. Mas antes, precisamos conversar em particular. Venha
comigo.

Ele me conduziu até uma sala reservada nos fundos da


delegacia, onde nos sentamos diante de uma pequena mesa. A
sala estava mal iluminada, e uma tensão pairava no ar,
aumentando minha expectativa em relação ao que ele tinha a
dizer.

Curioso e cauteloso, mantive minha postura rígida,


aguardando que ele revelasse o que sabia. O silêncio se
arrastou por alguns segundos, até que finalmente o bastardo
começou a falar em um tom grave:
— Recentemente, descobri informações alarmantes sobre o
desaparecimento de algumas garotas. E tenho evidências que
sugerem uma possível conexão com um grupo novo que chegou
à cidade.

Arqueei as sobrancelhas, sentindo meu coração acelerar.


Aquilo era muito mais do que eu esperava.

— Um grupo novo? O que quer dizer com isso? —


perguntei, buscando entender melhor a situação.

— Criminosos — respondeu, revelando a tensão em sua


expressão. Seus olhos encontraram os meus, como se estivesse
pedindo minha cooperação.

Estreitei os olhos enquanto girava a cadeira de um lado


para o outro, mantendo meu olhar fixo naquele porco.

— Continue, delegado. Estou ouvindo.

Minha curiosidade aumentava a cada palavra que ele


pronunciava. O bastardo me forneceu alguns detalhes e até
mesmo o endereço de uma boate, alegando que era o local
utilizado pelo grupo criminoso para suas principais atividades.

Minutos depois, dentro do meu carro, peguei meu telefone,


pensando em ligar para Owen e contar tudo. Porém, no último
instante, mudei de ideia e decidi ir sozinho para investigar
pessoalmente.
Cheguei à boate indicada pelo delegado, observando o
local de longe antes de me aproximar, como um predador
analisando seu território. O ambiente pulsava com energia, luzes
coloridas piscavam freneticamente e a música alta preenchia o
ar, agitando os corpos das pessoas.

Com habilidade, me misturei à multidão, buscando passar


despercebido, apesar da fila considerável que se formava na
entrada.

Ao entrar no local, meus olhos examinaram


cuidadosamente o ambiente, buscando pistas ou
comportamentos suspeitos. A música vibrante, as pessoas
dançando e se divertindo, tudo parecia normal à primeira vista.
Só que minha intuição insistia que algo estava errado ali.

— Oh, sozinho, gato? — Uma das dançarinas se aproximou,


pendurando-se em meu pescoço e lançando um olhar sedutor
enquanto passava a língua pelos lábios. Sua tentativa de me
seduzir falhou miseravelmente, pois não senti nem um traço de
interesse.

Com gentileza, a afastei, pressionando minhas mãos em


seus ombros.

— Agradeço, mas estou bem, querida — declarei, tentando


soar educado, enquanto a aliança em meu dedo parecia
queimar. Sabia que, de qualquer forma, a dançarina se sentiria
rejeitada. Pouco me importava.

Enquanto circulava pelo local, tentando aparentar


casualidade, uma briga inesperada irrompeu no meio da pista
de dança. Homens se empurravam, socos eram desferidos e o
caos se instalou de modo rápido. Alguns seguranças da boate
tentaram intervir, mas a situação logo saiu de controle.

Desorientado, fui arrastado para dentro da confusão sem


nem perceber.

— Ei?! — resmunguei, sem entender o que diabos estava


acontecendo.

Instintivamente, entrei na luta, me defendendo dos


agressores. Meu treinamento e habilidades de combate
entraram em ação, me permitindo enfrentar os ataques. O
problema foi que, para minha desgraça, a luta se tornou
desigual, com mais homens se unindo contra mim.

Eu me tornei o alvo principal, uma presa cercada por


predadores famintos.

Apesar de todos os meus esforços, acabei sendo superado


em número e dominado. Golpes me atingiram, me derrubando
no chão, enquanto outros homens me seguravam e arrastavam
para uma sala nos fundos. Sentia uma fúria avassaladora por ter
caído em uma armadilha tão óbvia.

Maldito delegado!

Imobilizado, meu olhar se fixou em um dos agressores mais


próximos. O suor escorria pelo seu rosto enquanto ele
arregaçava as mangas da camisa, revelando uma tatuagem em
seu braço. Uma cruz adornava sua pele, indicando que ele
estava de alguma forma associado à Igreja. Contudo, percebi
que essa tatuagem era diferente daquelas que os homens do
ataque na Jamaica e daquele que eu tinha visto quando era
criança tinham.

Minha mente começou a divagar sobre o significado por


trás daquilo, enquanto a dor lancinante nas minhas costelas me
lembrava o quão terrível era minha situação.

Um pequeno sorriso irônico se abriu em meus lábios, até


que comecei a rir de verdade. Minha risada ecoou pelo
ambiente, causando confusão entre meus captores, que não
entendiam o motivo da minha reação.

— O que há de tão engraçado, seu idiota? — um deles


perguntou, franzindo a testa, claramente incomodado com
minha reação.

Ainda rindo, olhei para o homem com a tatuagem da cruz


no braço e respondi:

— Vocês não têm a menor ideia do problema em que se


meteram. Meus irmãos estão a caminho.

Minha declaração provocou reações variadas entre os


bandidos. Alguns pareciam preocupados, enquanto outros riam,
achando que eu estava apenas blefando. No fundo, eu
alimentava essa esperança, mesmo sem ter certeza se Owen
havia percebido minha demora.

Enquanto continuavam a me golpear e amarrar, os


agressores não acreditavam nas minhas palavras.

— Eu conheço muito bem vocês... — rosnou o homem. Ele


era alto, de cabeça raspada e olhos escuros. — Os idiotas que
ainda acham que mandam nesta cidade. — Sua declaração
provocou risos entre os presentes.

Endureci minha mandíbula, irritado com tanta audácia.


Girei os pulsos, lutando para me soltar das amarras.

— Está tentando parecer ameaçador? — zombei, cuspindo


sangue, sem perder o sorriso no rosto.

— O que você veio fazer aqui, seu desgraçado? —


questionou, ignorando meu sarcasmo e me acertando com outro
soco no rosto, quase me derrubando da cadeira onde estava
amarrado.

Fiquei momentaneamente atordoado. Ao encarar aquele


maldito, meus olhos se encheram de raiva.

— Vá se foder!

O tempo passava, e a cada golpe, sentia minha


determinação se fortalecer, sabendo que meus irmãos estavam
cada vez mais próximos.

— É melhor apagar ele logo, porque está claro que ele não
vai falar nada. Só está nos fazendo perder tempo — ouvi um
deles dizer.

— Não seja idiota! — repreendeu o homem com a


tatuagem, que eu havia notado anteriormente. — Esse é um dos
Sullivan, você não entende o que isso significa? Imbecil!

Eu o encarei, curioso e intrigado, os hematomas marcando


meu rosto, mas minha mente ainda alerta.
— Vejo medo em seus olhos? — indaguei, soltando uma
risada de desprezo.

O idiota arregaçou novamente as mangas, exibindo aquela


maldita tatuagem. Era uma cruz com um pequeno círculo na
parte superior.

— Medo? — repetiu em tom de deboche. — Parece que


nenhum de vocês entendeu onde se meteram... — começou a
rir, causando uma sensação de tensão em todo o meu corpo.

Decidi confrontá-lo sobre as tatuagens e a hierarquia.


Apontei com o queixo, desafiador:

— Por que não me explica a diferença dessas tatuagens?


Como é feita a divisão hierárquica na maldita organização que
vocês fazem parte?

Irritado, ele agarrou meus cabelos, forçando minha cabeça


para trás enquanto pressionava a lâmina afiada de uma adaga
próximo a um dos meus olhos.

— Tenho uma ideia melhor — sussurrou ele. — Posso fazer


uma pequena obra de arte no seu rosto, o que acha?

De repente, uma explosão poderosa sacudiu o local,


deixando meus agressores atordoados e confusos com o barulho
e a interrupção. Em seguida, uma saraivada de balas irrompeu,
atingindo cada um dos capangas ao meu redor.

Apesar de me esforçar, não consegui identificar nenhum


dos meus irmãos, mas não havia dúvida de que eram eles por
trás desse caos.
— Eu vou matá-lo! — ameaçou o homem da tatuagem,
mantendo a faca apontada para mim.

— É melhor soltar meu marido — uma voz soou,


provocando uma mistura de excitação e euforia em mim em
reconhecimento. O idiota que me mantinha na mira ficou tenso,
pressionando a lâmina um pouco mais contra meu pescoço.

— Estou te avisando, sua vadia — rosnou ele, usando um


termo desrespeitoso para se referir à minha mulher, o que me
enfureceu.

— Vadia? — repetiu Aurora, sem esconder a raiva. Nesse


momento, ela surgiu em nosso campo de visão, fazendo meu
coração acelerar ainda mais de entusiasmo e medo, porque não
sabia o que podia acontecer. — Talvez eu deva te ensinar boas
maneiras, hum? Ensinar a como tratar bem uma mulher...

— Ou, eu posso te...

Suas palavras foram se perderam quando uma faca foi


cravada bem no meio da sua testa.

Preciso. O homem caiu inerte.

Em questão de instantes, Aurora avançou em minha


direção, enquanto permanecia atenta ao que ao nosso redor,
sem perder a postura de luta.

Eu era incapaz de desviar meus olhos dela, imponente em


seus saltos altos. Seus cabelos estavam bagunçados, mas sua
beleza era indomável. Nunca pensei que sentiria tanta falta
dessa garota.
— Puta merda! Você o matou... — balbuciei enquanto ela
me ajudava a me libertar das amarras.

— Sim, — respondeu com seriedade. — Minha pontaria é


impecável.

Meus irmãos também surgiram, armados. Eram os


trigêmeos.

— Você está bem? — perguntou Kael, me olhando de cima


a baixo. — Quebrou algum osso? — Neguei com a cabeça. —
Quem foi o responsável por isso? — Ele apontou para mim,
referindo-se aos meus ferimentos visíveis.

— Ele. — Indiquei o homem morto com uma faca cravada


na cabeça.

— Quem o matou? — perguntou Carter de modo sombrio.


Aurora permaneceu em silêncio por um momento, seu rosto
revelando uma expressão estranha, uma mistura de raiva e
tristeza.

— Fui eu — respondeu, sua voz firme e inflexível. Um


vislumbre de melancolia passou por seus olhos.

— Precisamos sair daqui — interveio Carter, agitado. —


Mais capangas virão, tenho certeza.

Meu sangue fervia nas veias, a adrenalina ainda pulsava


em meu corpo enquanto eu encarava Aurora, perturbado com
sua postura tensa e distante.

— Qual é o problema? — provoquei, buscando uma


explicação para sua mudança de comportamento. Foi nesse
momento que nossos olhares se encontraram, e pude ver a fúria
ardendo em seus olhos.

— Qual é o meu problema? — sua voz ecoou, repleta de


raiva. — Eu fiquei te esperando no maldito aeroporto, Liam. Esse
é o meu maldito problema! E então, quando finalmente chego
em casa, descubro que meu marido decidiu se matar, porque
acredita ser um homem com superpoderes.

Tentei conter os xingamentos que ameaçavam escapar dos


meus lábios, engolindo o amargo sabor do remorso.

— Eu não estava tentando me matar... — murmurei, minha


voz quase inaudível. No entanto, Aurora não estava disposta a
ouvir minhas desculpas.

Ela cruzou os braços, desafiadora, e prosseguiu despejando


suas frustrações:

— Ah, não? — interrompeu-me, cheia de sarcasmo. — E o


que diabos você achou que conseguiria fazer, sozinho aqui? Por
que não ligou para seus irmãos? Por que ignorou minhas
chamadas? Tentei entrar em contato com você há horas, por
que não atendeu?

Elevei minha guarda, praguejando em voz baixa.

— Porque bloqueei o seu número! — respondi, minha voz


soando mais firme. Uma mistura de surpresa e indignação se
refletiu em seu rosto, e por um breve momento, um sorriso de
satisfação escapou involuntariamente de meus lábios.
— O QUÊ? — berrou, sua voz ecoando pelo ambiente. Ri,
um riso exausto e repleto de alívio.

No entanto, nossa breve troca de palavras foi interrompida


pelo som de explosões, abalando o local e enchendo o ar com
fumaça. Mais capangas surgiram, nos forçando a lutar por
nossas vidas. Aurora se escondeu habilmente atrás de uma
coluna, enquanto meus olhos não conseguiam se desviar dela,
meu coração apertado com o medo de algo acontecer com
minha diaba.

Com a ajuda dos trigêmeos, conseguimos lidar com os


inimigos restantes, mas não antes de sofrermos algumas
feridas.

— Não acredito que você bloqueou o meu número, Liam —


rugiu Aurora, avançando em minha direção como uma leoa
furiosa. Seus punhos atingiram meu peito com força, me
fazendo gemer de dor.

— Droga, garota, eu estava apenas brincando! — exclamei,


sentindo a pontada aguda de dor percorrer meu corpo. — Eu
levei uma surra, caralho!

Sean se aproximou, me segurando pela nuca para me


ajudar a manter o equilíbrio.

— Vamos levá-lo para casa — declarou, com preocupação.


— Mas antes, precisamos saber o que de fato aconteceu, porque
nosso contato na delegacia comunicou ao Owen as informações
que você recebeu do delegado.

Trinquei os dentes.
— Fui enviado para cá pelo delegado. Acredito que tenha
sido uma armadilha! — revelei, meus olhos obscurecidos pela
dor e pela frustração.

Os trigêmeos trocaram olhares, compartilhando um


momento de cumplicidade silenciosa.

— Depois vou lidar com aquele desgraçado! — afirmou


Kael, repleto de raiva contida. — Mas agora, precisamos sair
deste lugar. Não é seguro.

Apesar de Aurora ter eliminado o maldito com a tatuagem,


tivemos a sorte de encontrar outro sujeito com uma tatuagem
idêntica e o levamos conosco.

Eu estava todo machucado, meu corpo doendo pelos


ferimentos, mas fiz questão de confrontar Owen quando
chegamos à mansão. Encontrei-o ao lado do nosso tio Aidan,
ambos imersos em uma discussão acalorada, traçando planos e
debatendo as últimas descobertas. Apesar dos esforços de
investigação do nosso tio na viagem que fez, os últimos dois
meses foram marcados por uma série de ataques e pistas
frustradas nos lugares onde a Igreja exercia seu controle.

— O que diabos passou pela sua cabeça ao decidir fazer


uma missão solo, Liam? — rosnou Owen, se aproximando de
mim com passos rápidos e determinados. Senti um arrepio
percorrer minha espinha quando ele me envolveu em um abraço
apertado, sua preocupação evidente em cada gesto.
— Droga, Liam! — exclamou meu tio, com uma mistura de
raiva e alívio. — Você poderia ter morrido, rapaz! — Ele me tirou
dos braços do meu irmão.

— Quase morreu mesmo, esse idiota! — repreendeu


Aurora, parando ao meu lado, com aflição em sua voz, embora
tentasse disfarçar.

Nesse momento, os trigêmeos entraram na sala, trazendo


consigo uma sensação de segurança que sempre emanavam.

— Levamos alguém para o calabouço — informou Kael. —


Acredito que temos uma chance de descobrir algo útil sobre a
Igreja.

Aproveitei a oportunidade para fazer um pedido a Owen,


roubando a atenção do caos que se desenrolava em minha
mente.

— Por favor, Owen, me deixe participar — implorei,


buscando seus olhos e esperando que ele compreendesse minha
necessidade. — No fundo, você sabe que está apenas perdendo
mais um membro se me deixar de fora...

Owen soltou um suspiro tenso, sua expressão nublada pela


preocupação.

— Eu quase te perdi hoje! — exclamou ele, suas palavras


carregadas de tensão.

— Mas eu não sabia que estava caindo em uma armadilha,


droga! — me defendi, sentindo a frustração se misturar com a
exaustão.
Nosso tio interveio na conversa, buscando entender melhor
a situação:

— Por que vocês acreditam que essa organização esteja


envolvida no ataque de hoje? — indagou ele, calmo e
ponderado.

— Porque alguns dos homens que enfrentamos tinham


tatuagens semelhantes — expliquei, tentando articular minhas
palavras da melhor maneira possível. — No entanto, essas
tatuagens têm pequenas variações, o que sugere uma
hierarquia dentro da organização.

Aidan assentiu, processando as informações em silêncio.


Owen se aproximou de mim novamente, segurando meu rosto
ferido em suas mãos calejadas.

— Vou permitir que você volte a participar das


investigações, mas nunca mais esconda nada de mim,
entendeu? — declarou, em um tom que mesclava ternura e
autoridade. Assenti, olhando diretamente em seus olhos para
mostrar minha determinação. — Nunca mais, Liam!

Mais tarde, ao retornarmos para nosso apartamento, a


atmosfera estava tensa e carregada de saudade. Durante o
trajeto, em uma breve conversa, finalmente compreendi como
tudo aconteceu antes de Aurora e meus irmãos me
encontrarem. Descobri que Aurora decidiu voltar para casa
sozinha, ao perceber que eu não iria buscá-la no aeroporto. Ao
chegar em casa e me encontrar ausente, ela se uniu aos
trigêmeos para me procurar usando o rastreador que tínhamos
implantado em meu celular.

No fundo, uma sensação estranha me envolvia toda vez


que recordava da cena em que Aurora apareceu no local para
me defender, sabendo que ela havia se colocado em perigo por
minha causa.

— Você não deveria ter ido até lá — falei, jogando as


chaves com um gesto brusco sobre o aparador na entrada do
nosso apartamento.

Ela parou no meio do caminho e me encarou, seus olhos


transbordando emoção e fixos nos meus. Notei que estava
descalça, seus sapatos foram deixados perto da entrada.

Sempre bagunceira.

— De nada por salvar sua vida! De novo, aliás.

Franzi o cenho, confuso com sua reação.

— Pelo menos dessa vez você não esfregou a boceta na


cara do desgraçado!

Uma fúria avassaladora tomou conta de seus olhos.

— Sabe o que é pior, Liam? — questionou, cheia de


frustração. — Você não pensou em mim.

Pisquei rapidamente, buscando compreender suas


palavras.
— Como assim? — perguntei, tentando encontrar clareza
no meio da confusão.

Balançou a cabeça com impaciência.

— Você não considerou como eu ficaria se algo acontecesse


com você naquele maldito lugar! — explodiu, suas mãos
tremendo de raiva. Suas palavras me atingiram em cheio, a
culpa se enraizando em meu ser.

— Então você está dizendo que sentiria a minha falta? —


Me aproximei dela, nossos corpos quase se tocando, enquanto
seus olhos se fixavam nos meus. — É isso o que está dizendo,
fedelha?

A tensão entre nós aumentava a cada segundo, como se o


ar ao nosso redor estivesse prestes a se inflamar.

— Você está horrível! — exclamou, ignorando minha


pergunta e focando em minha aparência machucada.

Apesar de nossas respirações entrecortadas, eu a abracei,


ignorando a dor que percorria meu corpo todo. Tudo o que eu
queria era me conectar com ela de alguma forma; deixar para
trás o medo surreal que senti ao vê-la vulnerável naquele lugar.

Aurora retribuiu meu contato, impulsionando seu corpo


contra o meu, enquanto nos beijávamos com fervor e
mordíamos um ao outro.

— Droga! Eu preciso estar dentro de você — sussurrei, com


os lábios nos seus. — Agora!
Empurrei suas costas contra a parede, avançando em seu
pescoço, perdido no desejo. O problema foi que Aurora parou, de
repente, me empurrando para longe. Seus olhos arregalados
fitavam os meus, enquanto ela dava passos para trás, mantendo
um dos braços esticados como uma barreira entre nós.

— Não!

— Não? — Franzi o cenho, confuso.

— Exatamente, é isso que você ouviu. Não — repetiu, com


dificuldade, passando as mãos no pescoço e na nuca,
provavelmente suados. — Eu me lembro dos gritos da minha
prima durante o parto dela e... não quero passar por isso.

Ela se dirigiu ao quarto, e eu a segui de perto, exigindo


uma explicação:

— Aurora, isso não faz sentido para mim.

— Claro que não faz, porque os homens não sofrem nada,


vocês têm apenas a parte boa de todo o processo, não é
mesmo? — explodiu, me assustando.

— Que processo, garota?

— DE TER FILHOS, HOMEM! — gritou, e eu parei


abruptamente. Apontou o dedo indicador na minha direção. —
Escute bem o que vou te dizer, Liam... nunca mais se aproxime
de mim com... — seus olhos se desviaram para baixo, para o
meu pau — essa coisa que tem o poder de trazer ao mundo um
monte de crianças choronas.
Após dizer isso, ela entrou no banheiro e bateu a porta com
força.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando assimilar


tudo o que acabara de ouvir.

— Ei, meu pau não é uma coisa — murmurei, embora


soubesse que ela não se importaria.

Maldição!
“— AAAAAh!

— Sério que não há nada que a faça ficar em silêncio? Isso


não é possível! — indaguei, frustrada.

— Aurora, são as dores do parto, não há nada que


possamos fazer — explicou tia Beatrice, enquanto eu fixava
meus olhos em Nina, encolhida naquela cama de hospital. Seu
rosto expressava uma angústia que me fez compreender que
aquela experiência nunca faria parte da minha vida. Nunca.”
Sentia-me aprisionada entre o turbilhão desse sonho
perturbador e a intensa sensação de prazer ao ter alguém entre
minhas pernas. Levei alguns instantes para despertar
completamente e raciocinar sobre o que estava acontecendo ao
meu redor.

Deslizei meus dedos pelo meu corpo, sentindo a pressão


das mãos de Liam sobre os meus seios enquanto sua boca me
punia de maneira incessante. Entreguei-me sem reservas, me
movendo de forma desavergonhada, ansiando por mais da sua
língua.

— Liam... — gemi, abrindo os olhos e me deparando com


seu olhar fixo em mim, atento às minhas reações. Esse canalha
sabia exatamente como me enlouquecer. — Você não pode...

— Eu não posso, o quê? — questionou ele, com aquele tom


zombeteiro que tanto me irritava. — Se preferir, posso parar... —
ameaçou se afastar, mas não hesitei em agarrá-lo pelos cabelos,
ouvindo um gemido de dor escapar de seus lábios.

Os hematomas da surra que ele havia levado horas atrás


eram visíveis em seu rosto, marcando a brutalidade daquela
situação.

— Não se atreva a sair daí! — rosnei, arrancando uma


risada dele. Envolvi minhas pernas em torno de seu pescoço, me
movendo provocativamente sobre sua boca. O safado estava
apenas de cueca.

Minhas costas se arquearam no colchão, envolvida em uma


montanha-russa de sensações contraditórias que me
consumiam por completo.
— Está gostoso? — indagou, beliscando meu clitóris com os
dentes. — É isso que você está tentando negar a si mesma,
fedelha?

— Fedelha é o seu cu!

Ele soltou mais uma risada.

— Tão malcriada... — disse, entre risos.

— A culpa é sua, que só sabe me provocar — resfoleguei,


lambendo meus lábios, enquanto me contorcia
desesperadamente. — Hmm... — gemi, enlouquecida.

Liam apertou meus seios com firmeza, brincando com


meus mamilos. Ele adorava deixar suas marcas em mim.

Cretino!

O toque de sua barba ali, naquela área tão sensível do meu


corpo, estava me deixando tonta.

— Sentiu minha falta? — perguntou, soprando em meu


nervo pulsante. A vibração de sua voz me causou tremores
incontroláveis. — Admita que estava louca para me dar a
boceta. Assume que não via a hora de voltar para casa para
poder se sentar no meu pau.

Minha respiração estava ofegante e se tornou ainda mais


agitada quando alguns espasmos me atingiram. Pisquei,
tentando processar suas palavras. Não havia dúvidas de que
sim, eu senti falta desse idiota. Algo que jamais pensei que
aconteceria.
Os últimos dois meses de nosso casamento foram intensos,
desafiando todas as probabilidades de que acabaríamos nos
matando. Na verdade, a maior parte do tempo era gasta entre
brigas acaloradas e momentos de sexo desenfreado. Mas assim
éramos nós.

Éramos um caos.

E a mera ideia de perdê-lo me deixava à beira de um


colapso. Por isso que, no dia anterior, não hesitei em exigir ir
atrás dele assim que descobri que o desgraçado poderia estar
em perigo de vida. Ele não tinha o direito de me deixar.

— Não vou admitir nada — resmunguei, dispersando meus


pensamentos. — Seu ego já é enorme demais e não estou com
vontade de alimentá-lo.

Nesse momento, o bastardo simplesmente parou de me


chupar.

— Que pena! — lamentou, se levantando.

— Ei?! — inquiri, me apoiando nos cotovelos. — Aonde vai?


— Meu peito subia e descia com dificuldade, minha respiração
agitada.

— Vou recolher minha insignificância e ir trabalhar, já que


aparentemente não faço diferença. — Saiu da cama como se
nada tivesse acontecido, como se eu não estivesse prestes a
implorar para que ele me fizesse gozar.

— Liam, pare de brincadeira! — falei, lutando para limpar a


voz. — Volte para a cama e termine o que começou — me
remexi, sentindo meus músculos tensionados. — Eu estava
quase chegando ao orgasmo, seu idiota!

Ele abriu um sorriso largo, enquanto tirava a cueca,


expondo sua ereção imponente. Minha boca salivou. Caramba!

Por que ele tinha que ser tão irresistível?

— Pronta para admitir que sentiu minha falta? — insistiu,


exibindo aquele sorriso arrogante. — Vai parar com essa
besteira de fazer greve de sexo por medo de engravidar?

Trinquei os dentes, irritada.

— Você realmente vai me deixar na mão? — perguntei,


ignorando sua pergunta. — Tem certeza de que pretende me
deixar ansiando por mais?

Notei que minhas palavras o afetaram, mas ele


permaneceu firme em sua decisão. Deslizou a mão sobre sua
ereção, movendo-a para cima e para baixo.

— É melhor você se aprontar, porque Amy e Madison estão


vindo para cá — avisou, se dirigindo ao banheiro.

Meus olhos se arregalaram.

— O quê? Por quê? Eu não marquei nada com ninguém.

Ele riu.

— Parece que Amy quer levá-la a um evento beneficente


agora pela manhã. — Parou à porta do banheiro. — Como
esposa de um Sullivan, você precisa aprender a se tornar uma
figura pública e influente em nossa comunidade. É importante
mostrar seu lado doce e generoso para as pessoas, minha
querida. — Seu sorriso zombeteiro se intensificou.

Não resisti e arremessei um objeto nele, que se defendeu a


tempo, fechando a porta. Sua risada ecoou do outro lado.

— TAMBÉM É IMPORTANTE FAZER A MULHER GOZAR,


SABIA? — gritei, cheia de raiva. Afundei-me para trás na cama,
frustrada. Peguei um travesseiro e o pressionei contra meu
rosto: — AAAAH! SEU IMBECIL!

— Experimente esticar os lábios, querida — comentou Amy,


assim que saímos do carro. — Seu sorriso é encantador!

Madison se aproximou de mim, passando o braço pelo meu.


Fiquei momentaneamente confusa com esse gesto, já que eu
não tinha o hábito de mostrar muito afeto, mas ela insistiu.
Minha linguagem corporal não costumava transmitir essa
necessidade de proximidade.

— Acredito que você esteja aqui contra sua vontade.


Acertei? — sussurrou, me empurrando em direção à entrada do
prédio onde o evento estava ocorrendo. A imponência do hotel
era inegável.

— Você sabe que seu irmão adora me irritar, então essa é


só mais uma forma que ele encontrou para me tirar do sério —
resmunguei, inspirando profundamente para acalmar os nervos.
Eu vestia um conjunto social, com uma saia de cintura alta e
uma blusa de alças. Nos pés, optei por uma elegante bota de
salto alto e fino.

Madison parou quando nos deparamos com alguns


paparazzi. Fui obrigada a sorrir, mesmo que secretamente
desejasse mandar todos eles para o inferno.

— Juro que não consigo entender a relação de vocês dois —


murmurou ela assim que retomamos nosso caminho. — Em um
momento, estão prestes a se matar, e no outro já estão se
pegando. — Riu, corando levemente. Tão sensível.

Meu coração sempre doía quando lembrava do que havia


acontecido com ela no passado, durante seu período de
cativeiro. Embora nunca tivéssemos discutido esse assunto em
nossas conversas, pois era algo íntimo e eu respeitava seu
espaço, eu sentia que ela estava escondendo algo.

— Nem eu mesma entendo, garota fofa, porque na maior


parte do tempo seu irmão se comporta como um idiota! —
exclamei, rolando os olhos. Ela riu, me contagiando com sua
risada.

Chegamos à mesa, onde Amy nos observava com


curiosidade. Ao longo do tempo, desenvolvi um apreço por ela.
Embora não seja a mãe biológica dos rapazes, seu amor por eles
era evidente, e isso me comovia.

— Posso saber o motivo das risadas? — perguntou ela.

Suspirei e me sentei.
— Estávamos falando mal do meu marido — respondi,
dando de ombros. — Estou aqui neste evento entediante por
causa dele!

— Aurora! — repreendeu Amy, nervosa, olhando ao redor


para ter certeza de que ninguém escutou. — Fale mais baixo,
querida. Não se esqueça de que estamos aqui para representar
o papel de boas samaritanas.

Revirei os olhos, tentando encontrar paciência. Em seguida,


me inclinei um pouco, observando a elegante figura de Amy.
Apesar de estar quase nos cinquenta anos, ela ainda era muito
bonita.

— O que será que passaria pela cabeça delas se


soubessem que ontem eu enfiei uma faca na cabeça de um
homem? — perguntei com um tom divertido.

Amy parecia incrédula enquanto massageava as têmporas,


visivelmente aflita e incomodada. Madison apenas ria, evitando
o olhar da mãe.

Suspirei novamente, sentindo uma mistura de impaciência


e indignação percorrer meu ser. Ao observar as pessoas ao
nosso redor, pude sentir a hipocrisia enraizada em suas
expressões. A maioria dos participantes era composta por
mulheres elegantemente vestidas. Elas provavelmente
desviariam o olhar diante de uma criança faminta ou de alguém
necessitado, mas ali estavam elas, doando quantias milionárias
para projetos dos quais nem mesmo tinham certeza se
cumpririam suas promessas.
Enquanto as palestras continuavam, eu lutava para conter
os xingamentos que se acumulavam em minha mente. Meus
lábios doíam de tanto sorrir com falsidade. Não era isso que eu
desejava. Não queria sorrir.

Tudo o que eu queria era extravasar minha frustração


gozando.

Maldição. Maldição. Maldição.

Maldito seja aquele idiota que decidiu me provocar e me


deixar ardendo de desejo.

Passei as mãos pelo rosto, agitando as pernas de forma


ansiosa. A impaciência me dominava, ansiando por sair daquele
lugar. Amy notou minha inquietação:

— Você está se sentindo mal, Aurora? — perguntou.

Contive minha irritação com dificuldade, apertando os


dentes.

— Não, não estou bem! — sussurrei, me levantando de


modo brusco. — Com licença, preciso ir ao banheiro.

Não esperei por resposta e, simplesmente me afastei da


mesa em direção aos banheiros. No caminho, peguei meu
celular na bolsa e disquei o número do Liam.

Ele atendeu no segundo toque:

— O que você quer? — sua voz soou ríspida do outro lado


da linha.

Grosso!
— Você precisa vir me buscar! Não aguento mais essa
merda — rosnei, sentindo a fervura da minha frustração. — Isso
está sendo uma tortura, e juro que vou surtar a qualquer
momento.

Ele riu do outro lado da linha, uma risada que só


aumentava minha irritação.

— Quarenta minutos, Aurora. Você não consegue ficar


sentada e sorrindo por malditos quarenta minutos?

Inspirei forte, andando de um lado para o outro, buscando


desesperadamente encontrar paz interior.

— Eu ficaria, se estivesse calma e tranquila, sabe?! Mas


infelizmente, meu marido achou interessante me provocar e me
deixar subindo pelas paredes. O que você achava que ia
acontecer, hein, idiota? Minha raiva duplicou, Liam. E estou te
avisando, se você não vier me buscar agora, vou começar a
lançar adagas na cabeça de todas aquelas vagabundas no salão.

Desliguei o telefone sem esperar por sua resposta e voltei à


mesa, encontrando Amy me observando com cuidado,
analisando minha expressão e postura.

— Está tudo bem? — indagou, preocupada.

— Uhum — resmunguei, forçando um sorriso mecânico.

Por dentro, eu estava louca para mandá-la para o inferno,


mas consegui me controlar a tempo.

Um minuto se passou. Dois, três, cinco. Quando se


passaram pouco mais de quinze minutos desde que liguei para o
Liam, decidi tomar uma atitude. Não ficaria ali nem mais um
segundo.

Estava cansada de toda aquela merda.

Sentia-me exausta por fingir ser alguém que não era.


Odiava mentiras e falsidade. Então, pedi desculpas novamente a
Amy e Madison, mas avisei que precisava ir embora, pois não
estava me sentindo bem, o que não deixava de ser verdade,
afinal.

Ambas se ofereceram para me acompanhar, mas recusei.


Eu só queria sair dali o mais rápido possível antes que eu
cometesse uma loucura que afetaria a imagem da família.

Mesmo com pressa, caminhei a passos serenos, exibindo


sorrisos educados ao passar pelas pessoas. Lá fora, acenei para
um táxi no exato momento em que Liam chegou. Aproveitei a
ocasião em que o maldito abriu a janela do carro e,
discretamente, ergui meu dedo médio para ele, mandando-o se
foder.

Em seguida, entrei no táxi.

— Para onde, senhora? — perguntou o taxista.

— Apenas dirija, por favor — respondi, me acomodando


melhor no banco traseiro. — E, se possível, o mais rápido que
puder.

Meu telefone começou a tocar, mas optei por ignorá-lo,


sabendo que era uma ligação de Liam. Arrumei meus cabelos,
soltando o ar devagar, fazendo um esforço para manter a calma.
No entanto, meu marido tinha outros planos.

Liam simplesmente bloqueou o carro no meio da pista,


obrigando o taxista a frear de modo brusco. Minha irritação se
dissipou quando vi aquele homem ridiculamente atraente vindo
em minha direção. Sua raiva era evidente, podia senti-la à
distância.

Aguardei até que ele agarrasse a maçaneta da minha porta


e a abrisse, bufando de raiva. Com a mandíbula tensa, Liam
apenas indicou seu carro com um gesto silencioso, me
convidando a acompanhá-lo.

— Senhora, devo chamar a polícia? — perguntou o taxista,


visivelmente assustado. Fiquei surpresa com a coragem dele.

Liam apenas rosnou em resposta. Não tive escolha senão


pagar pela corrida, acrescentando um valor extra pela
inconveniência, e sair do veículo antes que o imbecil do meu
marido incendiasse o táxi comigo dentro.

Caminhamos lado a lado, sem trocar uma palavra sequer,


enquanto eu tentava ignorar os olhares, buzinas e palavrões dos
outros motoristas, já que Liam havia paralisado o maldito
trânsito.

Ele era tão mimado!

Mal fechei o cinto de segurança e o idiota já acelerou,


incapaz de esconder sua fúria.

— É incrível como você consegue me tirar do sério, garota!


Por que age de forma tão inconsequente? — sibilou, quebrando
o silêncio. — Sempre me desafiando e provocando...

Revirei os olhos diante de seu sermão absurdo.

— O problema é que você gosta desse meu jeito, apenas


não quer admitir — aleguei, sorrindo.

Sua atenção se desviou da estrada por um momento, e


pude ver o fogo em seus olhos.

Meu corpo inteiro se acendeu instantaneamente.

A adrenalina pulsava em minhas veias quando Liam se


inclinou em minha direção, suas mãos ávidas buscando o calor
do meu corpo.

— Droga, Liam! Preste atenção na estrada...

O carro foi abruptamente estacionado em qualquer lugar, o


cenário ao redor parecia embaçado, ofuscado pela intensidade
do momento que se desenrolava entre nós.

— Você é louco... — sussurrei, ofegante.

Minhas mãos tremiam de excitação ao soltar o cinto, e um


gemido escapou de meus lábios quando Liam se aproximou, sua
boca ávida encontrando o caminho pelo meu pescoço, deixando
um rastro de arrepios por onde passava. A eletricidade entre nós
era palpável, uma conexão tão intensa que incendiava cada
célula do meu corpo.

— Diga que sentiu minha falta — sua voz soou rouca, cheia
de desejo. — Confesse que ansiava estar de volta em meus
braços.
Eu me esforcei para desviar meu olhar do dele, minha
respiração descompassada revelando a turbulência interna que
ele provocava. Sua pergunta ecoava em minha mente, mas, no
calor do momento, minhas mãos pareciam desajeitadas ao
tentar abrir o botão de minha saia e erguer o tecido.

— Por que isso é tão importante para você, hm? —


repliquei, lutando para parecer indiferente.

Foi então que Liam, com destreza e urgência, veio em meu


auxílio, além de empurrar o banco para trás, criando espaço
para mim em seu colo.

Ele não respondeu minha pergunta. Ao invés disso, tirou


seu pau para fora e me fez sentar na sua grossura, após arrastar
a calcinha para o lado. Fechei os olhos em êxtase. Naquele
momento nada mais me importava.

Eu só queria gozar.

Com urgência, comecei a me mover para cima e para


baixo, cavalgando nele com fervor, ignorando o local em que
estávamos e o fato de eu ter dito que faria uma greve de sexo.

— Este carro está se tornando o nosso lugar de fodas, não


é? — brincou, mordendo meu queixo e impulsionando meu
corpo para cima dele com mais intensidade.

Joguei minha cabeça para trás, me concentrando no prazer


de senti-lo completamente dentro de mim, me preenchendo e
explorando. Eu adorava a sensação de ser preenchida por ele,
de tê-lo me fodendo.
Soltei gemidos incontroláveis quando o orgasmo me atingiu
com força, tirando meu fôlego e minha capacidade de raciocínio.
A única coisa que pude fazer foi me deixar levar, balbuciando
palavras incoerentes enquanto sentia os espasmos deliciosos.

Então, ciente de que ele também estava prestes a chegar


ao clímax, me levantei, saindo de cima dele.

— Mas...

— Agradeço o orgasmo, mas acho que agora podemos


continuar o trajeto — falei ofegante. — Estou cansada e ansiosa
por um banho, sabe? Para eliminar o odor de suor impregnado
na minha pele.

Um sorriso cínico surgiu em meus lábios, desejando que


Liam pudesse perceber que aquilo era minha forma de
vingança. Eu estava retribuindo a ele o que ele havia feito
comigo mais cedo.

Para minha surpresa, ele apenas se acomodou no assento,


assim como eu, sem dizer uma palavra sequer.

Absolutamente nada. Seu silêncio me preocupou por um


momento, pois não estava acostumada com ele tão calado,
especialmente após minha provocação.

Em seguida, ele deu partida no carro, sem sequer me olhar.


Sua atenção estava completamente voltada para o trânsito.

Embora eu pudesse perceber a tensão em seu corpo e na


forma como segurava o volante, ele preferia o silêncio. Eu tinha
que admitir que toda aquela tensão estava me deixando
nervosa, ainda mais quando podíamos sentir nosso cheiro
impregnado no ar.

Minutos depois, ao chegarmos ao prédio onde morávamos,


cada um seguiu em uma direção. Eu caminhei em direção aos
elevadores, enquanto Liam optou pelas escadas.

Minhas pernas tremiam enquanto percorria o corredor,


cercada pelo ensurdecedor silêncio de Liam.

Assim que a porta do apartamento se abriu, fui


imediatamente pressionada contra ela, sem chance de defesa e,
na verdade, sem nenhuma vontade de me defender. Eu não
queria ser defendida, pois adorava toda aquela possessividade.
E ele sabia disso, conhecia perfeitamente as minhas fraquezas.

— Argh! — reclamei quando senti seus dentes afundarem


em meu pescoço. — Isso doeu, seu canalha! — Dei um tapa em
seu rosto, buscando qualquer forma de revidar.

O fogo em seus olhos aumentou diante da minha reação


desafiadora.

— Ah, doeu? — perguntou com ironia. Uma de suas mãos


apertou meu pescoço, me puxando em direção à sua boca. —
Mas nós dois sabemos que você gosta disso, não é mesmo?
Cadela raivosa!

Um sorriso travesso se formou em meu rosto, enquanto


minhas mãos agarravam seu paletó, arrancando-o com
agressividade. Liam me arrastou pelo apartamento, mas não
chegamos além da sala. Um gemido de decepção escapou dos
meus lábios quando ele rasgou minha blusa.
— Eu odeio quando você rasga minhas roupas! —
resmunguei, expressando minha frustração.

Ele segurou meu rosto, me encarando com uma mistura de


raiva e excitação.

— Mentirosa! — exclamou, me obrigando a apoiar-me no


sofá. Rapidamente, suas mãos encontraram minha cintura,
desabotoando minha saia e a puxando para baixo.

Liam se acomodou sobre mim, em minhas costas,


pressionando seus lábios contra meu ouvido, enquanto eu
rebolava em sua ereção.

— Liam... — gemi ao sentir seus dedos penetrarem em


minha calcinha.

— Você fica tão molhada quando eu ajo com


possessividade, sua safada.

— Como um homem das cavernas, você quer dizer, certo?

Ele sugou minha orelha, invadindo minha entrada com seus


dedos habilidosos. Respirei pesadamente, me movendo em
resposta a seus toques.

— Fique de quatro no sofá — ordenou, sem dar espaço para


qualquer argumentação.

Embora eu quisesse xingá-lo e mandá-lo para o inferno, no


fundo... eu gostava disso.

Droga!
Terminei de tirar minha saia e calcinha, assim como os
pedaços restantes da minha blusa, então o encarei com desejo
estampado nos olhos. Eu sabia que ele estava irritado comigo,
isso era evidente em seu olhar e em suas ações.

De quatro, senti seus beijos trilharem minhas nádegas,


lambendo e mordendo minha pele com força, sem nenhuma
delicadeza. Minha excitação estava tão intensa, que umedecia a
parte interna das minhas coxas.

No momento em que Liam me penetrou, joguei minha


cabeça para trás, apoiando-a em seu ombro. Envolvi um dos
braços em torno de seu pescoço, mantendo minha mão em sua
nuca, ansiosa para tocá-lo, mordê-lo, deixar marcas nele, marcá-
lo como meu.

Meu.

Seus movimentos se tornaram mais intensos à medida que


meus gritos aumentavam. Eu não me importava com o
escândalo durante o sexo; sempre me permitia sentir com total
liberdade. Por que esconder?

— Liam...

De repente, ele se afastou de cima de mim, e enquanto eu


piscava confusa sem entender o que estava acontecendo, me
ergueu do sofá em seus braços com facilidade. A penetração foi
profunda. Sem parar de devorar minha boca com a sua, ele me
conduzia pela casa, impulsionando seu quadril conforme
avançávamos pelo espaço. Liam me pressionou contra a parede
perto da escada e então me fez ficar de quatro para ele nos
degraus também.
Transamos por toda a casa, como dois animais.

Por último, quando eu já estava me tremendo toda,


desesperada para gozar, ele me forçou de quatro na cama do
nosso quarto e me chupou com força antes de voltar a me
penetrar. Gritei tão alto que temi perder a voz. Trêmula e de
olhos fechados, me deleitei da sensação do êxtase enquanto
Liam continuava me penetrando.

No segundo que gozou, seu urro de prazer quase me


arrancou outro orgasmo, tamanho tesão que me causou.

Puta que pariu! Esse homem seria minha perdição.

Ao sair de dentro de mim, ele me fez virar de barriga para


cima. Aceitei seus lábios nos meus, me beijando com aquela
fome sem fim.

Nunca nos cansávamos um do outro.

— Você é minha, Aurora! — declarou, fazendo meu coração


acelerar ainda mais. — Aceito qualquer desobediência e
atrevimento que venha de você, mas não aqui — mordeu meu
queixo, sem tirar os olhos dos meus — Na cama, sou eu quem
manda, não vou aceitar seus joguinhos.

Abri minhas pernas para que ele se ajeitasse melhor.


Amparei seu rosto com uma das mãos, apertando suas
bochechas de modo que seus lábios formassem um bico
delicioso.

— Se você colocar uma criança chorona na minha barriga,


vou cortar suas bolas e fazer você engoli-las, seu insolente!
O bastardo apenas soltou uma risada, ignorando
completamente a minha ameaça.

No final das contas, seus beijos me desconcentraram,


confirmando mais uma vez que, sim... aquele imbecil tinha total
domínio sobre mim.
Já se passaram alguns minutos desde que Aurora e eu nos
deitamos na cama, envoltos em um silêncio carregado de
pensamentos. Seus dedos percorriam minha pele com
suavidade, explorando cada hematoma e cicatriz antiga que
marcavam meu corpo. Enquanto isso, eu brincava com seus
cabelos bagunçados, sentindo a maciez dos fios entre meus
dedos. Era fascinante observar o bracelete que eu havia dado a
ela adornando seu pulso delicado.

Incapaz de resistir ao desconfortável silêncio, decidi


quebrá-lo:
— No que está pensando? — perguntei, curioso e ansioso
para compartilhar nossos sentimentos.

Apesar de estarmos nus e exaustos, ainda sentia a tensão


em meu corpo desde o momento em que ela me ligou, há pouco
mais de uma hora, exigindo que eu a buscasse no evento.
Aurora tinha o poder de me deixar à beira da loucura com sua
teimosia e petulância.

— Você deveria ter ido ao médico — comentou no final. —


Seu corpo está cheio de marcas.

Continuei acariciando seus cabelos.

— Preocupada, é?

Ouvi o som de sua bufada.

— Estou falando sério, Liam! — repreendeu, se sentando no


colchão. Sua nudez me deixou um pouco desconcertado. — O
que aconteceu com você foi grave.

Fiquei a observando por alguns segundos, enquanto as


lembranças invadiam minha mente.

— Ainda não consigo acreditar que você foi atrás de mim —


confessei, sendo sincero. — Juro que nunca conheci uma garota
como você.

Ela me encarou, mas sua expressão era indecifrável.

— Não conheceu e nunca vai conhecer, porque sou única,


querido! — exclamou, com arrogância, fazendo-me sorrir. — E
eu fui atrás de você porque você é meu marido. É meu dever
zelar por sua segurança e proteção.

Uma risada escapou involuntariamente da minha garganta.

— Algo não está certo aqui, não é mesmo? — perguntei


com ironia. — Essa frase é minha! Eu é que deveria dizer isso
para você, que é minha esposa.

Dessa vez, foi ela quem riu, mas seus olhos permaneceram
fixos nos meus.

— Esqueceu que você é uma das minhas posses? —


provocou, me fazendo rolar de olhos de indignação. — E sou
muito protetora com o que me pertence.

Levei a mão ao seu cabelo e puxei suavemente para o lado.

— Cadela! — murmurei, e ela fingiu rosnar, mordendo


minha mão.

Mais risadas ecoaram pelo ambiente.

De repente, sua mão deslizou para baixo, explorando a


cicatriz em minha perna. Era uma marca antiga, que contava
uma história dolorosa.

— Sempre tive curiosidade em saber como você conseguiu


essa cicatriz — disse ela, seus dedos traçando o contorno da
marca, provocando arrepios em mim. — Tenho algumas
cicatrizes do meu próprio treinamento, mas nenhuma como
essa...
Meu coração acelerou, batendo como um tambor em meu
peito. O clima se tornou tenso, e seus olhos encontraram os
meus, como se estivesse buscando algo nas profundezas da
minha alma. Sua pergunta penetrou em mim como uma faca
afiada.

— Aliás, ainda não conversamos sobre o homem que você


matou — falei, ansioso para mudar o rumo da conversa.

— Qual deles? — sua voz saiu ligeiramente rouca,


revelando um tom desafiador. — Sério, Liam! Já matei antes e
não sinto nenhum remorso em mandar esses desgraçados para
o inferno!

Fiquei chocado com sua franqueza, embora não fosse a


primeira vez que ela me surpreendia com suas atitudes
audaciosas.

— Nenhum pesadelo? Nada? — questionei.

Ela deu de ombros.

— Pode me chamar de insensível ou o que quiser, mas


nunca desperdiçarei meu tempo me preocupando com essas
questões em vez de me concentrar e cuidar dos meus, entende?
Da minha família — concluiu, com firmeza. — Agora, deixe de
enrolação e me conte sobre essa cicatriz...

Pisquei rapidamente, tentando processar suas palavras


antes de responder.

Seus olhos curiosos voltaram a se fixar na minha cicatriz, e


senti um arrepio percorrer meu corpo. Era uma lembrança
constante do que enfrentei.

— Eu tinha apenas quatro anos quando adquiri essa cicatriz


— revelei, apontando para a marca com o queixo. As
recordações inundaram minha mente, fazendo minha pele se
arrepiar. — Tive sorte de não perder a perna.

— Como aconteceu? — perguntou, genuinamente


interessada, sua curiosidade me desconcertando.

— Não imaginava que você fosse tão curiosa, fedelha —


murmurei, tentando disfarçar meu desconforto com um tom
zombeteiro. Mas, no fundo, eu desejava ocultar as emoções que
a conversa trazia à tona.

Aurora franziu o cenho, irritada, e tentou afastar minhas


mãos quando ameacei segurá-la.

— Argh! Você sempre consegue estragar o clima da


conversa — reclamou, fazendo uma careta.

Nesse momento, a tensão entre nós aumentou. Eu a


abracei com firmeza, pressionando seu corpo contra o colchão,
enquanto me deitava sobre ela.

— Mas eu não acabo com o clima quando estou fodendo


sua boceta, hm? — sussurrei de modo provocativo, mordiscando
seu queixo e arrastando os lábios pelo maxilar até o pescoço,
sentindo o calor se espalhar pelo meu corpo. Minha voz era um
murmúrio próximo ao seu ouvido: — Na verdade, você adora...

Ela revidou, impulsionando seu corpo e invertendo nossas


posições. Meus olhos brilharam ao ver seus seios firmes à minha
frente, provocando um desejo incontrolável em minha boca.

— Pelo menos você tem alguma qualidade, não é,


insolente? — provocou, divertida.

Eu a segurei pela nuca, puxando-a para um beijo intenso,


desejando silenciar suas palavras e me entregar completamente
àquele momento.

Segurei meu pau, ajudando-a enquanto Aurora se sentava


lentamente, rebolando de uma maneira que quase me levava à
loucura. Ela parou de me beijar, endireitou o corpo e apoiou as
mãos no meu peito.

Seu olhar enigmático tinha o poder de me deixar


vulnerável. Cada vez que eu tentava decifrar suas expressões,
me sentia ainda mais perdido. Ela era um enigma que eu
ansiava desvendar.

À medida que meu desejo aumentava, segurei firmemente


seus quadris quando ela se preencheu completamente com meu
pau. Seus gemidos sensuais eram únicos, uma melodia que só
ela conseguia criar. Seus movimentos ganharam ritmo enquanto
os espasmos tomavam conta de seu corpo delicado e sensível.
Minhas mãos exploraram seus seios, acariciando-os e beliscando
os mamilos eretos. Em um momento de intensidade, segurei seu
pescoço, ansiando por seus beijos e pela sensação de sua
língua...

E pelo seu cheiro.

— Adoro beijar sua boca enquanto fodo sua boceta —


murmurei rouco, metendo com força em sua entrada molhada e
escorregadia.

Enquanto minhas mãos apertavam suas nádegas,


facilitando a penetração, aproveitei para explorar sua região
íntima com dedos curiosos, alcançando seu cuzinho.

Aurora interrompeu nosso beijo de modo abrupto, seus


olhos arregalados fixados em mim.

— O-o que você está fazendo? — perguntou, ofegante.

Sorri, atraindo-a novamente para um beijo.

— Você vai gostar, eu prometo!

Em seguida, continuei a explorá-la, acariciando aquela área


ainda não explorada e intocada.

Enquanto a satisfazia com movimentos penetrantes e


intensos, meus dedos exploravam delicadamente seu ânus. No
começo, ela estava cautelosa e desconfortável com essa nova
sensação. No entanto, com o tempo, seus gemidos ecoavam em
meus ouvidos, indicando sua entrega ao prazer de ter ambos os
pontos estimulados, já que eu consegui introduzir um dedo em
seu buraquinho apertado.

— Em breve, será a vez do meu pau, não é? — rosnei,


ofegante. — Vou foder seu cuzinho da mesma forma que fodo
sua boceta, e você vai adorar.

Ela revirou os olhos, perdida em um turbilhão de


sensações. Tão linda.

E gostosa pra caralho!


— Com uma condição — disse, ofegante.

— Estou ouvindo...

Foi então que ela soltou uma risadinha maliciosa e se


inclinou para sussurrar em meu ouvido:

— Se você me permitir possuir você primeiro — respondeu


ela. — Já li que o ponto G masculino fica na próstata, sabia?

Nesse instante, cerrei os dentes, perturbado com sua


audácia.

Rapidamente, trocamos de posição na cama, e eu me


coloquei sobre ela novamente. Meus movimentos se tornaram
mais intensos, provocando gemidos de prazer em nós dois.

— Não se atreva, fedelha! Não se atreva!

Joguei a cabeça para trás, extasiado pela avassaladora


sensação de tê-la. Cada vez que transávamos, era uma
experiência única, algo que nunca me cansava. Eu ansiava pelos
gemidos que ela soltava, pelo seu cheiro e até pelas suas
palavras provocativas.

— Liam...

— Vai gozar? — perguntei, hipnotizado por suas reações,


acelerando os movimentos do quadril para aumentar seu prazer.
Eu estava ansioso para testemunhar sua entrega. A maldita
ficava ainda mais linda quando atingia o clímax, completamente
imersa nas sensações que eu despertava.
Após confirmar que ela havia alcançado o orgasmo, me
concentrei no meu próprio prazer. Para sua surpresa, me retirei
de dentro dela e me posicionei com as pernas abertas ao redor
de seu pescoço.

— Me chupa! — ordenei, observando com fascínio sua


obediência. — Quero que engula tudo.

Fiquei hipnotizado enquanto ela segurava meu pau e o


engolia com avidez, chupando e sugando desde a glande até a
base. A maneira como Aurora me olhava levava-me à loucura,
me empurrando para os limites do êxtase.

Naquele momento, comecei a temer o poder que essa


garota passou a exercer sobre mim, pois era uma força
incontrolável.

Um tempo depois
— Pensei que tivesse desistido de participar dessa
brincadeira — ouvi a voz de Owen assim que entrei no
calabouço.

— Tive um pequeno contratempo — resmunguei,


encarando o prisioneiro diante de mim, seu corpo marcado pelos
ferimentos causados pelos trigêmeos.

— Imagino quem tenha sido o contratempo — debochou


Kael, soltando risadas que reverberaram pelas paredes úmidas.
Ele estava lavando as mãos manchadas de sangue. — Meu
irmão, você pode tentar, mas não conseguirá controlar
completamente sua mulher.

— Cale a boca, seu idiota! — repreendi, irritado. — Não se


intrometa na minha vida. Aurora é um problema meu.

Meu tio Aidan colocou a mão em meu ombro com um


sorriso cúmplice, me apoiando com suas palavras.

— Um homem sempre deve proteger o que é importante.


Não se importe com as provocações de seus irmãos, pois
nenhum deles compreende a verdadeira força do amor.

Fiquei surpreso com suas palavras, piscando para absorver


o significado por trás delas. As risadas ecoaram novamente,
cada vez mais intensas.

— Amor, tio? — questionei, sentindo a tensão se instalar


em meu corpo. — Não exagere! Aurora e eu temos um
relacionamento diferente.

Tio Aidan continuou me encarando com aquele olhar


perspicaz, porém com um leve sorriso. Entre todos os membros
da família, ele sempre foi o mais romântico, acreditando
profundamente nessas coisas do amor. Rumores circulavam
entre os familiares de que, quando era mais jovem, tio Aidan
havia tido um relacionamento com outro homem, mas o caso
terminou em tragédia quando seu amante foi assassinado.
Nunca tive coragem de abordar esse assunto e descobrir se era
realmente verdade.
— Acho que você está se enganando — afirmou Aidan,
apontando para uma possível realidade.

— Concordo com nosso tio — acrescentou Owen, roubando


minha atenção com seu olhar divertido. — Mas,
independentemente disso, não é o momento de discutir esse
assunto. Temos um desgraçado aqui que se recusa a nos
fornecer qualquer informação útil para nossa investigação. —
Apontou para o homem amarrado contra a parede.

O sujeito estava à mercê dos trigêmeos.

— Ele precisa de um incentivo maior — ironizou Carter,


procurando por mais equipamentos de tortura.

— Nem sempre a tortura é a resposta — disse tio Aidan,


desdenhando desse método. — Especialmente com esse tipo de
pessoa. — Gesticulou para nosso prisioneiro com repulsa.

— Como assim? — perguntou Owen, confuso.

Aidan parou por um momento, respirando fundo. Ele estava


elegantemente vestido com seu característico terno impecável.

— Vocês ainda não perceberam que os seguidores dessa


organização são fanáticos? — indagou. — Acredito que seja inútil
torturá-los, pois nenhuma dor será suficiente para fazê-los trair
sua fé. — Suspirou, parecendo cansado. — Precisamos encontrar
informações de outra maneira.

— O problema é que não estamos progredindo nas


investigações, tio — resmungou Owen, frustrado. — Tudo o que
descobrimos até agora nos levou a lugar nenhum, pelo
contrário, parece que estamos apenas dando voltas em círculos.
E eu não vou descansar até destruir essa maldita organização e
acabar com o demônio que a lidera. É uma questão de honra!

— Pela Madison — afirmou Sean, com sua voz grave.

— Pela Madison — repeti, me juntando a eles, assim como


os outros. Essa era a nossa forma de buscar vingança por tudo o
que tinham feito à nossa irmã.

Tio Aidan se aproximou do prisioneiro, o segurando pelo


pescoço e encarando-o nos olhos.

— Já passou da hora de você abrir essa maldita boca e nos


contar o que sabe, seu desgraçado! — rugiu em seu rosto. — O
que vocês estavam fazendo em nosso território? Que tipo de
atividades ocorriam naquela boate? Tráfico e exploração de
mulheres? FALA, PORRA!

Nada. Apenas silêncio. A frustração permeava o ambiente.

— Acredito que o delegado saiba alguma coisa —


argumentei, com a mandíbula cerrada. — Não se esqueçam de
que foi ele quem me enviou para aquele endereço, e era uma
maldita armadilha.

De repente, tio Aidan chamou nossa atenção para algo:

— Vocês notaram isso aqui? — Ambos nos aproximamos,


curiosos para ver o que ele segurava. — É um cordão com um
pingente da cruz de Caravaca.

Eu me aproximei ainda mais, observando o objeto entre os


dedos de meu tio. Nesse momento, meu coração começou a
bater acelerado no peito, reconhecendo o símbolo.

— Foi essa cruz que eu vi, Owen — sussurrei para ele, que
estava ao meu lado. — A tatuagem que eu vi era dessa cruz. —
Apontei, sentindo um arrepio percorrer meu corpo.

De súbito, o prisioneiro conseguiu agarrar o pingente com a


boca e cravou a ponta da cruz em sua própria gengiva ou língua,
não foi possível distinguir claramente.

— Vocês não podem causar dor ao que já está morto!


Glória ao Grão Mestre, testifiquem! — sibilou, com o rosto em
uma expressão enlouquecida.

Em seguida, ele começou a se contorcer, espumando pela


boca e se debatendo violentamente.

— Que merda! — exclamou Carter, chocado com a cena. E


não era o único, aliás.

Poucos segundos depois, Kael colocou a mão no pescoço do


infeliz para verificar sua pulsação.

— Ele está morto! — declarou com lamento.

Tio Aidan suspirou ao empurrar a cabeça do cadáver para


trás, a fim de observá-lo de perto.

— Cianeto — disse finalmente. — O cheiro lembra


amêndoas.

Owen praguejou, indignado.

— Estamos lidando com fanáticos religiosos — argumentou


ele, incrédulo. — Que diabos está acontecendo?
— É o fim dos tempos, meu irmão — respondeu Sean, ainda
desnorteado com o que acabamos de presenciar. — O fim dos
tempos.

Com os dentes cerrados, Owen se dirigiu à porta de saída,


pegando seu celular.

— Para onde você vai? — perguntou tio Aidan, preocupado.

— Chamar reforços — respondeu. — É hora de pedir ajuda.


Eu me recuso a desistir. Se estamos enfrentando lunáticos —
apontou para o homem morto —, precisamos nos tornar mais
loucos do que eles.

Dito isso, ele partiu.

Eu apenas fiquei ali, encarando o cadáver daquele homem


que carregava a maldita cruz. A imagem dessa cruz nunca havia
abandonado minha mente, e agora eu sabia que não era uma
coincidência. Havia algo muito mais profundo e sinistro
acontecendo.
Enquanto eu estava deitada, imersa em pensamentos, meu
celular emitiu um som de notificação indicando mensagens.
Estiquei preguiçosamente o braço e peguei o aparelho, curiosa
para ver o que estava acontecendo. Deslizei o dedo pela tela e
notei que o grupo das garotas estava agitado. Pensei em
ignorar, mas sabia que minhas primas acabariam me ligando,
considerando que eram grandes fofoqueiras.
Acabei rindo ao ler isso. Não pude evitar, a imaginação
criativa de Donna sempre me surpreendia.

Revirei os olhos. Claro, o bom e velho sarcasmo de Nina


sempre presente.
Estiquei os lábios num sorriso, consciente de que Kira
estava se aproximando do sétimo mês de gestação. Seu
primeiro filho com meu primo Benjamin.

A conversa prosseguiu, enquanto eu apenas lia e enviava


uma mensagem ou outra. De repente, meu irmão mandou um
emoji.
Comecei a rir. Meu irmão era conhecido por sua
personalidade peculiar e suas respostas sempre carregadas de
ironia.
Justo nesse momento, meu telefone tocou, interrompendo
nossa conversa. Era meu irmão ligando.

Eu atendi:

— Por que você tem evitado atender minhas ligações? —


intimou logo de cara. — Você sabe que não gosto de passar
tanto tempo sem falar com você.
— Tanto tempo? Eu só não atendi ontem, irmão. Quanto
exagero!

Ele suspirou.

— Não aguento essa distância entre nós — reclamou,


partindo meu coração. — E piora quando penso que seu marido
está envolvido com pessoas perigosas que podem te fazer mal.

Desde o atentado que Liam e eu sofremos na Jamaica,


Giovanni começou a me ligar todos os dias para se certificar de
que eu estava bem. E eu entendia, porque tínhamos um vínculo
extremamente forte.

— Por que você não vem passar alguns dias aqui comigo?
Poderia trazer o Rafa também. Seria incrível. — Sorri com a
ideia.

— Não sei — respondeu. — Preciso conversar com o


Benjamin. Além disso, comecei a trabalhar diretamente com a
mamãe no restaurante e... — se calou, ponderando sobre o que
dizer.

— Você não parece feliz com isso — observei, atenta.

— Estou! — afirmou, porém, senti que estava mentindo. —


Mas... me conta, o que você está fazendo? Aliás, onde está
agora?

Pensei em retrucar e insistir na conversa, mas percebi que


ele não estava pronto para revelar o que estava lhe
incomodando.

Então, abri um sorriso enquanto me espreguiçava na cama.


— Estou deitada — respondi. — O Liam não está em casa,
mas antes de sair, ele me proporcionou um orgasmo tão intenso
que ainda sinto minhas pernas trêmulas.

— Pelo amor de Deus, Aurora! — exclamou, indignado. —


Que porra, irmã!

— O que foi? O que eu disse de errado? — Fingi inocência.

— Já te falei para parar de falar essas coisas, que nojo!

Começou a reclamar alto enquanto eu ria. No final das


contas, ele ficou tão irritado comigo que desligou.

Joguei o telefone descuidadamente na cama e voltei a me


esticar no colchão, desfrutando da sensação prazerosa que
percorria meu corpo. Não entendi o motivo de ter a imagem do
Liam em meus pensamentos, mas estava lá.

Talvez fosse por quase tê-lo perdido naquela maldita


armadilha na boate. Ou pela hesitação dele ao falar sobre sua
cicatriz de infância.

No fundo, eu sentia um desejo, quase uma necessidade, de


desvendar todos os segredos que o envolviam, e odiava não
conseguir compreender isso.

Droga!

Dois dias depois


— Ainda não entendi qual é o propósito de estarmos aqui —
reclamei, saindo do carro. — Prefiro mil vezes ficar no nosso
apartamento.

— Ah, para de ser mal-humorada! — exclamou Liam,


contornando o veículo e se aproximando de mim. — Eu entendo
que você gosta de me manter em cativeiro, mas precisamos
disfarçar um pouco, não acha? Senão meus irmãos vão começar
a suspeitar que você me usa apenas como objeto sexual.

Eu o encarei, surpresa e ao mesmo tempo divertida com o


comentário.

— Você é ridículo, sabia? — Balancei a cabeça, afastando-o


quando tentou envolver minha cintura com seu braço
possessivo.

— Você adora isso, admita — provocou. — E não tem


problema, porque eu adoro ser seu objeto sexual. Somos um
casal perfeito.

Revirei os olhos, mas não pude evitar sorrir. A verdade é


que Liam estava certo. Nós tínhamos uma conexão intensa e
uma química indescritível. Era impossível resistir aos avanços
um do outro.

Enquanto caminhávamos em direção à entrada da mansão,


algo no canto do meu olho chamou minha atenção. Uma garota
loira se aproximava rapidamente de Liam e, antes que eu
pudesse reagir, ela se jogou em seus braços, abraçando-o com
empolgação exagerada. Meu coração se apertou e uma onda de
ciúmes me dominou instantaneamente.
Sem pensar duas vezes, empurrei a garota com força,
desesperada para afastá-la de Liam. Meus olhos brilhavam de
raiva, e minha voz ecoou com fúria:

— O que você pensa que está fazendo? Liam é meu


marido, e não vou tolerar que outras mulheres se atirem nele
assim! Enlouqueceu, vadia?

A garota piscou os olhos, fingindo inocência.

— Liam? Vai permitir que essa maluca fale assim comigo?


— Apontou para si mesma, com uma expressão de vítima.

Olhei para Liam, aguardando uma explicação. Ele se


adiantou, apresentando a garota como sua prima Sophie.

— Prima, esta é minha esposa, Aurora. — Gesticulou em


minha direção.

O fato de conhecer seu nome não mudou minha primeira


impressão. Apontei o dedo para ela enquanto me aproximava,
mas Liam me segurou pela cintura, pressentindo minha
intenção.

— Fique longe do Liam, ou juro que vou cortar suas mãos


antes que tenha a chance de tocá-lo outra vez — ameacei com
revolta.

— Caramba, mulher! Que mania de querer machucar as


pessoas — repreendeu Liam, embora soubesse que ele estava
adorando testemunhar minha demonstração de ciúmes. Imbecil!

— Eu adoraria ver você tentar — insinuou a garota,


revelando sua verdadeira essência. vaca!
Meu sangue ferveu nas veias e me debati nos braços de
Liam, sentindo a raiva pulsar dentro de mim.

Determinada, exclamei, lutando para me libertar:

— Me solte, que eu vou acabar com essa garota! — Liam,


compreendendo minha fúria, me arrastou pelo corredor. Cada
passo que dávamos era acompanhado pela risada irritante dela,
intensificando ainda mais minha ira.

Passamos pelos trigêmeos, por Owen e por mais dois


homens presentes na mansão. Reconheci um deles como
Christopher, filho do caçador. Liam, sem demonstrar dificuldade
alguma, subiu as escadas comigo em seu ombro. Chegamos ao
quarto em que costumávamos ficar na mansão, e Liam
rapidamente trancou a porta, tirando a chave para evitar que eu
saísse.

— Você pretende me manter trancada aqui? — questionei,


com os lábios contraídos pelo rancor.

Liam respondeu com tranquilidade:

— Até você se acalmar.

Arqueei as sobrancelhas, insatisfeita com sua resposta.

— Em algum momento, eu vou sair daqui e prometo que


vou procurar aquela vagabunda em cada canto desta mansão.

Ele começou a rir, me provocando ainda mais. Cruzei os


braços, encarando-o desafiadoramente. Descontente com minha
atitude, ele se aproximou, diminuindo a distância entre nós.
— Eu adoro quando você sente ciúmes — murmurou,
envolvendo minha cintura com seus braços. — Sua
possessividade comigo me enche de tesão, sabia? — Seus lábios
roçaram meu pescoço, e aproveitei o momento para apertar seu
pau, tentando afastá-lo. Segurei-o pelo rosto, apertando suas
bochechas com força.

— Você já se envolveu com ela? — perguntei com raiva,


buscando respostas. — Comeu aquela vadia? — Continuou
sorrindo, aumentando minha irritação.

— Não — respondeu, segurando minhas mãos e me


pressionando contra a porta fechada. Arfei com o calor de seu
corpo próximo ao meu enquanto mantinha meus braços
erguidos. — Sophie e eu sempre fomos muito próximos, mas
nunca tivemos nada além disso.

Permaneci em silêncio, encarando seus olhos intensos


enquanto absorvia suas palavras. Acreditei nele, confiando em
sua sinceridade.

— Mas você quis ter algo com ela — acrescentei em tom


acusatório.

Seu rosto se iluminou com uma expressão divertida.

— Está brincando? Você viu aquela bunda?

Tentei atingi-lo novamente, mas não consegui. Ele tocou


nossos lábios com uma intensidade que me fazia questionar
meus próprios desejos. Eu tentava mordê-lo, mas sua risada
ecoava no ambiente, zombando de minha fúria.
— Não seja tão brava, meu "docinho de coco", porque eu
só tenho olhos para você — provocou ele, entre risos
sarcásticos.

— "Docinho de coco"? Sério, Liam?

— Cadela — sibilou enquanto beijava meu queixo,


provocando um sorriso de excitação em meus lábios. — Cadela
raivosa.

Determinada, consegui mordiscar seu pescoço, apreciando


o sabor de sua pele. No momento em que ele liberou meus
pulsos, envolvi seus ombros com meus braços e mergulhei
minha língua em sua boca em um beijo voraz.

— Você é só meu, entendeu? — gemi em seus braços,


sentindo-o erguer minha saia, procurando me tocar. — Não
compartilho o que é meu, Liam!

De repente, ele me virou de costas para ele, de frente para


a porta de madeira, sua mão pressionando minha cabeça,
afastando meus cabelos para o lado, buscando acesso ao meu
pescoço e orelha.

— Ah, sim, você adora me lembrar que sou parte de suas


posses, não é? Tão romântica... — ironizou enquanto introduzia
dois dedos em mim, e eu me contorcia em sua mão sem
restrições.

— Desde quando você espera romantismo de mim? —


retruquei. — Pensei que me odiasse.
Seus movimentos se tornaram mais rápidos, arrancando
gemidos incontroláveis da minha garganta.

— Não te odeio! — afirmou, acelerando ainda mais meu


coração, deixando a frase no ar.

— Então o que sente? — perguntei, incapaz de resistir à


minha curiosidade, apesar do medo da resposta.

Sua boca desceu para minha orelha, enquanto sua língua


traçava minha pele, causando arrepios intensos.

— Curiosa, fedelha? — respondeu com um arfar, sua ereção


pressionando meu traseiro. — Acredito que você terá que
descobrir...

Minha respiração se acelerou, e involuntariamente fechei


os olhos, me entregando completamente ao turbilhão que me
envolvia, levando-me a um lugar só meu. O orgasmo me atingiu
com uma força avassaladora, minhas pernas amolecendo, mas
Liam me segurou firme em seus braços.

Momentos depois, quando recuperei um pouco da


compostura, ele se afastou e eu fiz o mesmo. Fiquei hipnotizada
enquanto ele levava os dedos aos lábios, chupando-os um por
um, sem desviar o olhar do meu.

Tão arrogante!

— Agora que está mais calma, podemos sair — decretou,


caminhando em direção à porta e colocando novamente a chave
na fechadura. — Por favor, tente não se aproximar de minha
prima.
Com um sorriso sarcástico estampado em meu rosto,
delicadamente arrumei minha calcinha e saia no lugar. A
provocação estava no ar quando me virei para ele, exibindo um
olhar desafiador:

— Tem medo de eu acabar rasgando o pescoço perfeito


dela? — provoquei, erguendo o nariz com elegância.

O idiota balançou a cabeça, rindo de forma presunçosa.

— Não se deixe enganar por aquela aparência angelical,


minha querida esposa — insinuou ele, se divertindo com a
situação. — Sophie é muito mais selvagem do que você imagina.

Ao dizer isso, abriu a porta e saiu, me deixando imersa em


um mistério e uma curiosidade latente sobre aquela prima
atrevida.

Incrivelmente, suas palavras se transformaram em um


combustível para mim, alimentando meu ímpeto.

Quase saltitando de euforia, decidi segui-lo de imediato.

Ao descer, me deparei com os trigêmeos conversando com


a intrusa. Seus sorrisos eram tão irritantes quanto seu olhar
arrogante. Decidi ignorar e apenas gesticulei com o dedo,
elegantemente mandando-a se foder, e continuei meu caminho.

Em seguida, avistei Madison e a segurei pelo braço, ansiosa


para descobrir mais detalhes. Foi assim que soube que Sophie
era filha de Shadow, um dos membros do ESQUADRÃO
DANGER[3], a equipe do caçador. Sua mãe se chamava Adalynn,
prima da falecida mãe de Liam. Segundo Madison, Shadow
conheceu Adalynn durante uma missão, quando a mulher era
uma noviça e vítima da perigosa organização chamada Igreja.
Incapaz de abandoná-la, sabendo do terrível destino que a
aguardava, Shadow a salvou, e desde então, eles estão juntos,
com dois filhos, Sophie e Michael.

— E o irmão também veio? — perguntei, olhando ao redor


enquanto conversávamos em uma das salas.

Madison balançou a cabeça negativamente.

— Apenas Sophie, o pai dela e o... — pigarreou,


demonstrando timidez e nervosismo — Christopher.

Franzi o cenho, observando suas reações. No passado, foi


Christopher quem a resgatou do cativeiro. Curiosamente, Donna
e Madison estavam aprisionadas no mesmo lugar.

Levei a mão ao queixo de Madison, brincando com ela.

— E essa coradinha aí? — insinuei, com um olhar


provocativo. — Parece que o caçador mexe com você, hein?

O rubor em suas bochechas se intensificou.

— Para com isso, Aurora! — Seus olhos se arregalaram. —


Você está imaginando coisas.

Semicerrei os olhos.

— Será mesmo?
Ela ficou irritada com meu comentário e saiu do sofá, me
deixando falando sozinha. Acabei achando graça da situação.

Do lugar onde eu estava, podia ver Liam, Owen, Shadow,


Aidan e Christopher conversando. Deduzi que era uma conversa
tranquila, já que não estavam trancados no escritório.

Na outra extremidade da sala, observei os trigêmeos


interagindo com a prima intrusa, Sophie. Seu olhar fixo em mim
era irritante e intrigante ao mesmo tempo. Eu permaneci
sentada, tentando me acalmar enquanto repetia mentalmente
um mantra para manter a compostura:

"Aurora, você acabou de gozar, garota, então sossegue."

No entanto, meus pensamentos estavam incontroláveis, e


eu não conseguia ouvir nem mesmo minha própria voz interior.
No fundo, ainda estava engasgada com as palavras dela
alegando que ela e Liam eram íntimos.

Decidi me aproximar dos trigêmeos, notando que Sophie se


empertigou, exibindo um sorriso provocador. Ela era realmente
bonita, tinha que admitir. Cabelos loiros e compridos, um corpo
equilibrado e nada exagerado. Seus lábios carnudos e olhos
verdes chamavam a atenção.

A intrusa cruzou os braços, parecendo confiante com minha


presença.

— Ah, a querida decidiu se juntar a nós? — zombou ela. —


Lamento, mas não estou interessada em compartilhar meus
primos com você. Já faz tempo que não os vejo, sabe? Estou
com saudades.
Kael se posicionou entre nós duas, tentando amenizar a
tensão.

— É melhor as duas se acalmarem — disse ele. — Não


quero ter que intervir se a briga começar.

Acusei os trigêmeos, apontando o dedo para eles:

— Parece que vocês escolheram um lado, não é mesmo? —


exclamei indignada. — Só quero ver quando vocês vierem me
pedir brigadeiro, seus traidores, eu não vou fazer!

Carter, o mais alto e imponente dos trigêmeos, murmurou:

— Oh, diabinha... não seja tão vingativa. Estamos apenas


buscando a paz.

— A paz de quem? — esbravejei. — Certamente não é a


minha!

Sophie soltou uma risada, mantendo os braços cruzados.

— Você é marrenta, né? — provocou. — Fico surpresa que


Liam tenha se casado com uma garota assim.

Forcei um sorriso.

— E eu estou surpresa que você não tenha sido convidada


para o casamento — retruquei. — Pelo visto, Liam não tem uma
alta estima por você.

Sean, visivelmente nervoso, exclamou:

— Melhor pararmos por aqui...


— Você pode latir à vontade, mas saiba que minha história
com Liam existiu, querida — insinuou a vadia, interrompendo as
palavras de Sean.

Se antes eu estava engasgada, naquele momento, me


sentia fervendo de dentro para fora. Quem ela pensava que era
para me desafiar desse jeito?

Aproveitando um momento de distração, dei um soco nela,


que ficou surpresa com o golpe. Uma faísca de excitação
percorreu meu corpo ao sentir o impacto do meu punho com seu
rosto.

— Isso é para você aprender a nunca mais encostar um


dedo no que me pertence — bradei, destilando todo meu
veneno naquela vadia.

Incrédula e surpresa, ela pressionou a mão na boca.

— Você... me bateu? — indagou, limpando um pouco de


sangue dos lábios. Fúria brilhava em seus olhos.

Com os olhos semicerrados, a desafiei para revidar.

Sophie se recuperou rapidamente e retribuiu com um soco


certeiro em meu rosto. O gosto metálico do sangue encheu
minha boca, mas não pude conter o sorriso que se formou em
meus lábios.

— Ora, ora... — murmurei, cuspindo um pouco de sangue


no chão.

Os trigêmeos ficaram entre nós, tentando apartar a briga,


mas no fundo, eu sabia que eles estavam se divertindo com a
situação. Era evidente que apreciavam uma boa briga.

— Caramba, elas não estão brincando! — exclamou Kael,


observando com uma mistura de preocupação e admiração.

Carter e Sean trocaram olhares, e a atmosfera ao redor


deles se tornou carregada de uma energia competitiva. Afinal,
eles também eram lutadores habilidosos e não queriam perder a
oportunidade de fazer uma aposta.

— Aposto cinco dólares em Aurora! — declarou Carter,


empolgado.

— O quê? — Sean franziu a testa. — Claro que não! Sophie


vai dominar essa briga. Eu coloco vinte dólares nela!

Rolei os olhos, indignada com eles.

Os idiotas estavam tão envolvidos na discussão sobre a


aposta que quase se esqueceram de que estávamos ali lutando.

Sophie aproveitou a distração dos trigêmeos e lançou um


golpe ágil em minha direção. Instintivamente, me desviei e
agarrei seu braço, tentando usar sua própria força contra ela. A
adrenalina pulsava em minhas veias, e o suor começava a se
formar em minha testa.

A loira lutava com uma agilidade impressionante. Seus


movimentos eram rápidos e precisos, mostrando que ela
também tinha experiência e treinamento no combate.

A rivalidade entre nós duas se transformou em uma batalha


feroz, onde cada uma buscava provar sua superioridade.
— Espero que não esteja cansada — ironizou ela,
arrancando um sorriso meu. — Porque pretendo te deixar toda
dolorida, mesmo que Liam se chateie comigo.

— Eu vou ficar dolorida com Liam sim, mas por outra coisa,
querida — insinuei, avançando em sua direção.

Os trigêmeos se aproximaram, tentando nos separar


novamente. Ambas estávamos ofegantes e com marcas da luta,
mas o brilho de satisfação em nossos olhos era inegável.

— Chega, meninas! Isso já foi longe demais! — exclamou


Sean, segurando Sophie pelos ombros.

— Concordo. Vocês já mostraram suas habilidades. Agora,


vamos nos acalmar — disse Kael, segurando firmemente meu
braço.

Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego. Olhei para


Sophie, e pela primeira vez, nosso olhar não estava repleto de
hostilidade. Era uma mistura de respeito mútuo e uma pitada de
admiração.

— Você luta bem, garota — admiti, ainda recuperando o


fôlego. — Talvez tenhamos mais em comum do que eu
imaginava.

Ela sorriu, e seu sorriso não parecia mais arrogante.

— Você também não é tão ruim. Quem sabe, da próxima


vez, possamos lutar juntas em vez de uma contra a outra?

Liam finalmente se aproximou, visivelmente assustado.


— O que diabos está acontecendo aqui? — exclamou, com
os olhos fixos em mim.

Sorri para ele, enquanto limpava o resquício de sangue no


canto dos meus lábios com as costas da mão.

— Sua esposa insistiu em sentir o peso do meu punho,


primo — zombou Sophie, sendo afastada por seus primos.

— Parece que você tem uma ou duas marcas no seu rosto


bonito, loira — falei, entre risos.

Liam me segurou com força, obrigando-me a encará-lo. Seu


semblante estava zangado.

— Você não deveria ter feito isso! Droga, Aurora! Será que
não sou digno de ter uma esposa que se comporte por alguns
minutos? Parece uma garota sem modos!

Dito isso, ele me soltou de modo abrupto e saiu pisando


duro.

Fiquei paralisada, atordoada, sem entender o motivo de


sentir as palavras dele perfurarem meu coração como malditas
adagas afiadas.

Que merda estava acontecendo comigo, afinal?


Eu estava fervendo por dentro enquanto caminhava em
direção ao escritório onde Owen estava reunido com nosso tio,
além de Shadow e Christopher. Apesar de estar com vontade de
jogar Aurora nos meus ombros e encher seu traseiro de tapas,
eu sabia que aquele não era o momento propício.

Ao entrar no escritório, fui recebido com a pergunta de tio


Aidan:

— Que estardalhaço foi essa? Ouvimos gritos.

Shadow, pressentindo o problema, interveio:


— Espero que não tenha sido algo com a Sophie.
Infelizmente, essa garota tende a me deixar de cabelos brancos
com frequência. — Soltou um suspiro frustrado.

Inspirei fundo, lutando para controlar minhas emoções, e


respondi:

— Ela e a Aurora começaram a discutir.

— Se agredir, você quer dizer, né? — intrometeu-se Kael,


entrando no escritório. Carter e Sean vieram logo atrás. —
Parecia uma rinha. — Riu.

— Por acaso está dizendo que minha filha é uma galinha?


— rosnou Shadow.

Cruzei os braços, encarando meu irmão:

— Também não entendi a comparação.

Carter se aproximou de mim e afastou Kael dos meus olhos


raivosos:

— O importante é que conseguimos separá-las — disse.

— De qualquer maneira, ambas estavam gostando da luta.


Eu não saberia dizer qual das duas ganharia — acrescentou
Sean, entre risos.

Rolei os olhos, impaciente. Ainda estava irritado com todo


aquele escândalo desnecessário.

— Será que agora podemos focar no que é realmente


importante, por favor? — inquiriu Owen, sério. Sua agonia era
visível em seu semblante.
Desde aquele estranho suicídio do prisioneiro no calabouço,
notei que Owen se tornou ainda mais obcecado em descobrir o
líder por trás dessa organização maldita. Foi por isso que ele
recorreu a Shadow, considerando todo o histórico dele com essa
máfia.

Aproveitando que eles retomaram a conversa, fui até o


armário de canto para pegar uma bebida. Minha boca estava
seca e eu precisava de algo para refrescar minha garganta e
aliviar a pressão em minha mente.

Enquanto pegava a garrafa de uísque e servia uma dose


generosa, observei Shadow abrir uma pasta sobre a mesa. O
grandalhão desdobrou vários documentos e mostrou fotos com
rostos desconhecidos, explicando que eram pessoas de alta
patente eliminadas ao longo dos anos, uma prova do trabalho
árduo que eles haviam realizado.

— Esses são alguns dos dossiês que reunimos ao longo dos


anos, com todas as informações que conseguimos sobre a
organização.

Me aproximei e examinei a pasta, curioso para ver os


documentos e fotos. Era impressionante a quantidade de
detalhes que eles haviam conseguido coletar sobre a hierarquia
da organização.

— Aqui está a ordem hierárquica da organização —


explicou Shadow, apontando para um diagrama detalhado que
ilustrava a estrutura interna da instituição. Seu dedo percorreu
os diferentes níveis de liderança e poder. — Essa corrente com o
pingente é uma espécie de símbolo de adoração ao grão-
mestre. Cada membro possui uma tatuagem exclusiva que
representa sua posição, mas todos carregam a Cruz de Caravaca
como um objeto sagrado e unificador.

Curioso, segurei a foto com as mãos trêmulas enquanto


indagava:

— Então, a cruz de Caravaca pertence ao Grão mestre? —


Minha mente estava repleta de questionamentos. — E somente
ele a utiliza como tatuagem?

Foi Christopher quem respondeu:

— Sim, apenas o grão-mestre possui essa cruz tatuada no


braço. Os outros membros usam-na através do pingente.

Compreendi a explicação e então Shadow acrescentou:

— Além disso, o pingente contém uma cápsula de cianeto


como medida de precaução em caso de captura. Dessa forma,
evitam colocar toda a organização em risco. Claro que nem
sempre as coisas saem como o esperado, mas... quando podem,
eles se suicidam em nome do seu mestre.

Enquanto assimilava as informações, Shadow continuou


compartilhando seus conhecimentos:

— Essa é uma entidade enorme e, pior ainda, fanática. Eles


não estão motivados pelo dinheiro, mas sim pela fé. Acreditam
que entregando essas garotas como sacrifício ao grão-mestre,
estarão purificando seus pecados.

— Caramba! — exclamou tio Aidan, tão impressionado


quanto todos nós. — Como vocês conseguiram reunir todas
essas informações? Nem mesmo durante minhas missões
consegui obter detalhes tão precisos como esses.

Shadow olhou para meu tio com seriedade:

— Depois que resgatei Adalynn, que hoje é minha esposa, o


esquadrão se dedicou a coletar o máximo de informações
possível. Sempre tivemos um objetivo claro: chegar até o Grão
Mestre. Se quisermos acabar com as metástases, precisamos
eliminar o foco do câncer. Mate o rei e todos os seus súditos
caem. É assim que essas organizações corruptas funcionam —
explicou com convicção em sua voz.

Adalynn, prima de minha falecida mãe, fora roubada na


infância e criada em um convento como noviça, com um único
propósito: ser vendida quando chegasse à idade apropriada.

Shadow, Razor, Litte Roy e Fire eram todos membros do


ESQUADRÃO DANGER, liderados por seu chefe Ryan, o lendário
caçador[4]. Na época em que começaram a investigar a Igreja,
nenhum deles tinha família ainda, exceto seu líder, Ryan. No
entanto, a equipe agora era composta por seus filhos, incluindo
Sophie. O simples pensamento me fez balançar a cabeça, já que
a briga entre Sophie e Aurora me irritou mais uma vez.

Aidan inclinou a cabeça, genuinamente interessado.

— Você já conseguiu se aproximar do Grão-Mestre? —


perguntou ele, com a curiosidade brilhando. — Porque é isso que
a maioria das pessoas deseja. Na verdade, nem sabemos se é
homem ou mulher.

Shadow suspirou e balançou a cabeça.


— Infelizmente, não. Até pouco tempo atrás, nunca
tínhamos tido a chance de chegar perto do Grão-Mestre —
respondeu, parecendo cansado. — No entanto, meus sobrinhos
e filhos descobriram uma garota que os membros da Igreja
protegem como se fosse a reencarnação da Virgem Maria. Ela é
uma peça-chave para alcançá-lo.

— Gostaria de saber mais sobre essa menina. Se eu puder


ajudar de alguma forma, temos contatos que podem abrir portas
para vocês — ofereceu Aidan.

— Você tem certeza de que essa garota tem algo a ver com
o Grão-Mestre? — Owen perguntou, interessado.

Shadow deu de ombros.

— Tudo indica isso — respondeu.

— Então, se a capturarmos, vamos atrair esse bastardo —


argumentou Kael.

— Ou cadela, já que não sabemos se é um homem ou uma


mulher — acrescentou Carter, sua expressão dura.

Enquanto eles discutiam, uma pergunta continuava


incomodando minha mente. Eu precisava entender melhor a
conexão entre o Grão-Mestre e minha própria história.

— Mas se a cruz que vi na tatuagem quando era criança


representa o Grão-Mestre, por que ele me salvou? Por que me
deixar viver? — perguntei, confuso. — Não faz sentido.

Owen interveio:
— É exatamente isso que estamos tentando descobrir —
afirmou, esfregando o rosto agressivamente. — Precisamos
entender os motivos por trás desse jogo macabro.

— Concordo com o Owen — Christopher argumentou,


olhando diretamente para mim. — E rastrear essa garota
protegida pela Igreja pode ser crucial agora.

— Na verdade, se colocarmos as mãos nessa menina, é


provável que consigamos chamar a atenção do grão-mestre. E
uma vez que ele esteja envolvido, teremos a chance de
finalmente confrontá-lo e obter as respostas que temos buscado
— complementou Aidan.

Shadow olhou para cada um de nós.

— Eu jurei que sairia da aposentadoria apenas para pegar


esse maldito anticristo, e tenho certeza de que todos vocês
querem vê-lo pagar pelo que ele fez — declarou.

Sorri com amargura, sentindo o fogo da vingança ardendo


no meu peito.

— Existe a possibilidade de ele ter sido o responsável pelo


ataque à nossa mãe — comentei, expressando a dúvida que me
assombrava. Owen e os trigêmeos se empertigaram com minha
insinuação. — Por que ele me salvaria?

— Mas por que ele mataria nossa mãe? — Carter


perguntou, confuso.

— Pode ter algo a ver com nosso pai — respondeu Kael,


pensativo.
Owen se levantou, voltando o olhar para Christopher:

— Não adianta perdermos tempo com questionamentos


vazios — decretou, sua voz sombria ecoando pelo cômodo. —
Pela primeira vez, temos uma pista quente. Precisamos começar
a rastrear essa garota imediatamente.

— Se ela é tão importante para a Igreja, provavelmente


estará sob vigilância constante. Temos que agir com cuidado e
encontrar uma brecha para chegar até ela — declarou Shadow.
— Permita que meu novo esquadrão ajude nas investigações.

— Toda ajuda será bem-vinda! — Assentiu Owen,


reconhecendo o valor da oferta.

Aidan se aproximou de mim, colocando uma mão


reconfortante no meu ombro.

— Você está pronto para enfrentar tudo isso? É uma


estrada perigosa e cheia de incertezas.

Olhei para ele, sentindo uma mistura de medo e


determinação invadir meu ser.

— Eu não tenho escolha, tio. Essa é a minha história, meu


passado e meu futuro. Preciso descobrir a verdade, não importa
o que isso signifique.

A conversa se prolongou por mais algum tempo, discutindo


estratégias e possibilidades, até que finalmente encerramos.

Decidi partir em busca da Aurora, mesmo com a exaustão


me consumindo. Minha mente estava inundada de
pensamentos, e tudo o que eu desejava era chegar em casa,
tomar um banho e descansar.

Demorei um pouco para vasculhar todos os cômodos, mas


não encontrei nenhum sinal da cria do satanás. Foi então que
avistei Sophie parada perto da escada, brincando com suas
unhas.

Inspirei fundo, sentindo a irritação pulsar em minhas veias.

— Por acaso está procurando sua digníssima esposa? —


perguntou. Foi impossível ignorar seu sarcasmo evidente.

— Você a viu? Porque se viu, pare com seus joguinhos e me


fale de uma vez! Não estou com muita paciência e quero ir
embora.

Sophie me encarou por alguns instantes, como se estivesse


avaliando minha postura. Seus olhos penetrantes pareciam ler
minha alma.

— Impressionante como você continua sendo o mesmo


cara desligado de sempre, né, primo? — comentou, balançando
a cabeça. Em seguida, desceu o degrau da escada em que
estava e se aproximou de mim.

Fiquei confuso com sua afirmação e suas palavras


enigmáticas.

— Não entendi.

— Eu ouvi o que você falou pra ela, Liam — disse. — Você


foi um idiota com sua esposa. Por mais que ela tenha sido uma
cadela comigo, a garota não merecia palavras tão duras.
Pisquei, tentando assimilar sua declaração. Meus
pensamentos ficaram turvos, inundados pelas lembranças da
discussão acalorada que tive com Aurora. Os olhos magoados
dela ainda assombravam minha mente, me atordoando.
Enquanto permanecia em silêncio, Sophie pressionou a mão em
meu ombro.

— Sua garota pegou um carro e saiu — revelou,


interrompendo meus devaneios. — Não imagino para onde ela
foi, mas já faz tempo.

Dizendo isso, se afastou, me deixando com a bagunça de


meus pensamentos. Fiquei ali parado, como que petrificado,
enquanto tentava absorver tudo o que acabara de ouvir.

Pisquei freneticamente, tentando clarear minha mente.


Sentindo-me trêmulo e com o coração acelerado, peguei meu
celular e abri o rastreador para localizar meu carro. Afinal,
Aurora havia saído sem cerimônia, levando-o consigo. O sinal do
rastreador indicava que o veículo estava próximo, e meu
estômago se retorceu ao perceber que o prédio onde
morávamos era o local apontado. Ela havia retornado para casa?

Tal constatação só aumentou minha confusão. Não me


restava alternativa a não ser ir até lá e confrontá-la.

Decidi subir pelas escadas do prédio, deixando o elevador


de lado. O tempo de espera seria insuportável, além de
alimentar minha fobia de lugares pequenos e fechados. Cada
degrau que eu subia parecia ecoar minha inquietação, enquanto
meu coração batia com mais força.

Assim que abri a porta do apartamento, meus olhos


começaram a vasculhar o ambiente em busca de Aurora. Eu
precisava entendê-la, compreender o motivo pelo qual ela havia
partido da mansão sem mim.

E então, eu a encontrei. Ela estava saindo do banheiro,


envolta em uma toalha, e meu corpo se enrijeceu
instantaneamente quando nossos olhos se encontraram. Nossa
troca de olhares carregava uma mistura de emoções intensas.

— Por que veio embora sem mim? — minha voz soou


trêmula e cheia de grosseria. — Eu perdi um tempo precioso te
procurando, sabia? É isso que você gosta, né? Se divertir em me
fazer de...

Antes que eu pudesse terminar, ouvi seu suspiro baixo,


interrompendo minhas palavras carregadas de frustração. Foi
um som quase imperceptível, mas me afetou profundamente.
Aurora passou por mim, seguindo em direção ao closet, e, por
um instante, eu fiquei sem saber o que dizer.

Ainda confuso e atordoado, gesticulei em sua direção,


buscando uma explicação para sua partida repentina. A resposta
dela foi curta e direta:

— Não houve nada. Eu só quero que você me deixe em


paz.

Franzi o cenho.
— Deixar em paz? Ficou louca? Nós somos casados, garota!

Percebi que ela não estava discutindo comigo. Na verdade,


estava apática, como se tivesse desistido de lutar.

Quando tirou a toalha para se trocar, eu vi seus olhos


avermelhados. Instintivamente, tentei me aproximar,
alcançando-a com a mão estendida. No entanto, a teimosa se
esquivou do meu toque, me encarando com uma mágoa
profunda. Era a primeira vez que eu recebia aquele olhar dela, e
algo se quebrou dentro de mim. Era uma sensação horrível.

— Ei, por que está me tratando assim? Por que essa frieza
e indiferença? — insisti, me aproximando novamente, mas ela
me empurrou.

— Não chegue perto de mim — declarou, sua voz carregada


de mágoa. — Nem tudo se resolve com sexo. E é tão ridículo,
porque você nem ao menos percebeu o seu próprio erro,
deixando claro o quão insignificante eu sou para você. — Sua
voz se engasgou, mas ela não chorou. Desviou o olhar, tentando
se recompor.

Senti um aperto no peito. Eu realmente não tinha percebido


o que tinha feito, mas estava disposto a me desculpar.

— Eu... realmente não percebi o que fiz, mas... por favor,


me desculpe — minha voz saiu trêmula, repleta de
arrependimento.

Aurora colocou uma camisola de forma rápida e se virou


para mim, o olhar cheio de sentimentos que eu não soube
identificar.
— Você não pode simplesmente falar o que vem à mente
sem pensar nas consequências e no quanto isso pode machucar
as pessoas —disse, com um tom de voz carregado. — Não
adianta pedir desculpas agora. Eu só quero um tempo sozinha.

Abri a boca para falar, mas antes que pudesse dizer


qualquer coisa, ela se afastou e saiu do quarto em silêncio,
dirigindo-se a um dos quartos de hóspedes. Fiquei parado, meio
desnorteado.

Meu corpo parecia mais pesado do que nunca enquanto


caminhava em direção ao quarto de hóspedes. A porta estava
entreaberta, revelando a silhueta solitária de Aurora lá dentro.
Aproximei-me devagar, sentindo meu coração apertado no
peito.

— Aurora... — minha voz saiu quase como um sussurro.

Ela se virou para me encarar, seus olhos vermelhos


evidenciando as lágrimas que parecia estar segurando. Era uma
visão dolorosa, saber que eu tinha contribuído para aquela
vulnerabilidade, considerando que minha garota era uma força
da natureza.

Minha garota.

— Liam, eu preciso de um tempo sozinha — repetiu com


impaciência.

Balancei a cabeça, engolindo em seco o nó que se formava


em minha garganta.
— Num quarto de hóspedes? — Arqueei as sobrancelhas,
tentando não demonstrar meu desespero com sua decisão
abrupta. — Somos um casal, não quero dormir longe de você.

Ela sorriu, mas foi um sorriso cheio de sarcasmo.

— Engraçado você falar isso — murmurou com ironia. — Na


privacidade do nosso apartamento, você se lembra que sou sua
esposa? Mas na frente dos outros, eu te faço passar vergonha,
certo? A louca, a cadela raivosa, a garota sem modos...

Puta merda! Agora entendi meu erro...

Fiquei atordoado, sem palavras, e demorei a perceber


quando ela rumou até a porta e a escancarou:

— Por favor, saia! — exclamou, apontando para fora. —


Estou cansada de falar, de brigar... — suspirou baixo — eu só...
quero ficar sozinha.

Meu coração disparou quando fiz o que ela pediu, sentindo


minhas pernas pesando uma tonelada cada uma. No corredor,
por um momento pensei em voltar atrás, implorar para que ela
me desse uma segunda chance. Mas já era tarde. Aurora fechou
a porta na minha cara, deixando-me ali, me sentindo um
completo idiota e muito, muito arrependido.

Minutos depois, perdido e desesperado por ajuda, saí dali,


mas decidi ligar para Giovanni. Talvez ele pudesse me ajudar a
consertar as coisas, afinal, era gêmeo de Aurora.

Com as mãos trêmulas, peguei meu celular e disquei o


número dele. Enquanto o telefone chamava, minha mente corria
com mil pensamentos sobre como explicar a situação.

Quando ele finalmente atendeu a ligação, sua voz soou um


pouco ríspida, provavelmente surpreso pelo meu telefonema:

— O que você quer, Liam? Não costumamos falar muito um


com o outro. Aconteceu alguma coisa com minha irmã?

Respirei fundo, tentando controlar minha ansiedade.

— Aconteceu algo... algo ruim — comecei a desabafar


rapidamente. — Nós tivemos uma discussão séria, e... eu não
sei o que fazer.

— E qual a novidade disso? Vocês vivem discutindo.

— Mas agora é diferente — expliquei, aflito. — Ela nunca


agiu assim antes. Estou preocupado e me sentindo culpado.

— O que diabos você fez? — sua voz endureceu. — Se você


magoar minha irmã, eu juro que... — não terminou a frase, mas
a ameaça ficou clara em sua voz.

— Não adianta me ameaçar, porque você sabe muito bem


como é sua irmã — aleguei, tentando não o mandar para o
inferno. Eu não precisava de sermões naquele momento, mas
sim de uma solução para consertar a situação. — A verdade é
que nós discutimos, e eu acabei falando coisas que a
magoaram. Eu não queria isso, mas as palavras simplesmente
escaparam da minha boca. Agora ela está dormindo num quarto
de hóspedes, separada de mim, e eu me sinto péssimo com
toda essa merda.

Ouvi seu praguejar:


— Droga, irlandês! Se minha irmã decidiu dormir sozinha, é
porque a coisa deve ter sido grave — expôs, e eu não entendia
sua preocupação. — Aurora não dorme sozinha desde o
incidente com Kira. Isso significa que você realmente a
machucou.

Suas palavras me atingiram como um soco no estômago,


porque eu não fazia ideia do que ele estava falando.

— Que incidente?

O imbecil voltou a praguejar.

— Se você não sabe, é porque ela não te contou, então não


espere que eu conte — rosnou, impaciente.

— Não queria magoá-la — desabafei com sinceridade, não


adiantava continuar mentindo. — Preciso fazer algo, mas não sei
o quê. Por favor, me ajude.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes.

— Bem, o único conselho que posso te dar agora é que não


a deixe sozinha — disse no fim. — Por mais que ela tenha
optado por dormir num quarto de hóspedes, insista, porque sei
que minha irmã não quer ficar sozinha. — Fez uma pausa. — Vou
pegar o primeiro voo amanhã.

— Não precisa vir, eu posso cuidar dela.

— Eu não estava pedindo sua opinião, irlandês — rugiu, me


irritando. — Se minha irmã está precisando de mim, vou até o
inferno por ela.
Dizendo isso, encerrou a ligação.

Frustrado, ameacei jogar o aparelho contra a parede, mas


controlei o impulso a tempo. Sentia-me perdido, sem saber por
onde começar a consertar o estrago que eu mesmo causei.

Merda. Merda. Merda.


Eu não conseguia compreender a razão por trás dessa
intensa mágoa que me consumia, mas era algo que eu não
conseguia evitar. Odiava a sensação de vulnerabilidade que
esses sentimentos despertavam em mim. Por que eu me sentia
tão insignificante? Droga!

Frustrada, rosnei enquanto esfregava agressivamente as


mãos no rosto, tentando enxugar as lágrimas persistentes.
Odiava essa sensação, odiava!

Passeava de um lado para o outro, agitada, sem saber


como lidar com o turbilhão de emoções que me sufocava. As
palavras de Liam, ou melhor, o modo como ele me olhou, me
despedaçaram. Algo dentro de mim se quebrou.

Normalmente, nossas discussões eram ásperas e repletas


de grosserias, mas desta vez foi diferente. Era como se ele
estivesse indiretamente ao lado da sua prima. O problema não
era a Sophie em si, mas sim o vínculo que existia entre Liam e
eu. Cheguei à conclusão de que não tínhamos nada. Nós não
significávamos nada. Pelo menos foi essa a sensação que ele
transmitiu.

E por que raios isso estava me machucando tanto?

Ignorei as incessantes chamadas do meu telefone, não


estava com disposição para conversar com ninguém. Precisava
de um momento de solidão para enfrentar toda aquela confusão
infernal em minha mente. Com o nariz fungando, decidi me
aninhar na cama, sem energia para mais nada. Era tão
estranho, pois nunca me senti dessa maneira antes. Insegura.
Com medo. Apatia me dominava.

Cobri-me com as cobertas, tentando conter o choro. Odiava


essa versão fraca e chorona de mim mesma. Fechei os olhos,
lutando para acalmar meus pensamentos. O quarto parecia
crescer a cada instante, tornando-se mais barulhento, mesmo
eu estando sozinha ali.

Sozinha. Eu estava sozinha.

Perdi a noção de quanto tempo permaneci daquele jeito,


encolhida e incapaz de me mover devido ao medo, quando ouvi
a porta do quarto se abrir e, em seguida, fechar. Estava de
costas, mas meu corpo o reconheceu imediatamente.
— Liam, não insista, já disse que... — comecei a dizer, mas
fui interrompida.

— Eu sei que você quer ficar sozinha — falou em um tom


suave —, mas eu não quero. Prometo que vou ficar bem
quietinho, você nem vai perceber que estou aqui.

Dei um suspiro audível, misturando cansaço e alívio,


porque, no fundo, não queria dormir sozinha, embora preferisse
que ele não soubesse disso.

Permaneci em silêncio. E minha falta de resposta foi


suficiente para que Liam se deitasse ao meu lado, afundando o
colchão. Imediatamente, seu aroma me envolveu como um
abraço. Desejei sentir seu calor, seus beijos e suas mãos em
meu corpo, mas a mágoa continuava a me atormentar,
lembrando-me constantemente de que eu não significava nada
para ele.

E eu nem podia culpá-lo, já que Liam nunca quis esse


maldito casamento. A tensão entre nós era evidente.

— Pegue um cobertor para você, porque não vou dividir o


meu! — resmunguei com impaciência quando ele tentou se
aconchegar a mim. Minhas palavras foram duras, cheias de
ressentimento acumulado.

Apesar de irritado com minha recusa, ele não retrucou. Em


vez disso, optou pelo silêncio, um silêncio repleto de emoções
não expressas. Era como se nossas palavras não fossem mais
capazes de descrever o turbilhão de sentimentos que nos
envolvia.
Quando eu estava quase adormecendo, sua voz ecoou no
silêncio do quarto, inundando meus sentidos:

— Não me envergonho de você — disse, parecendo lutar


para encontrar as palavras certas. — Você me causa tudo,
menos vergonha, Aurora.

No dia seguinte, despertei e encontrei o outro lado da cama


vago, mas o aroma de Liam ainda pairava no ar, persistente e
perturbador. Uma frustração crescente tomava conta de mim ao
perceber que meu peito continuava apertado e estranhamente
dolorido, como se algo estivesse fora do lugar.

Antes mesmo de sair da cama, peguei meu telefone e


descobri várias chamadas e mensagens não atendidas. Minha
mãe estava preocupada e havia muitas mensagens meu irmão.
Optei por ignorar os insultos dele e me concentrei na mensagem
mais recente:
Fiquei atônita, incapaz de acreditar no que estava lendo.
Liam havia ligado para Giovanni? Que estranho. Essa atitude
incomum só aumentava minha sensação de que eu nunca
realmente conheci Liam além da superfície do nosso
relacionamento. Os únicos momentos em que parecíamos
genuínos eram quando nos entregávamos à luxúria, mas fora
disso éramos dois estranhos que se desprezavam.

Frustrada com a direção dos meus pensamentos, joguei


minhas pernas para fora da cama, determinada a tomar um
banho e tentar clarear a mente. Eu não tinha ideia de onde Liam
estava ou se ainda estava em casa, mas, sinceramente, não me
importava. Pela primeira vez em muito tempo, era incapaz de
sentir qualquer preocupação.

Estava exausta, completamente esgotada com toda a


turbulência emocional que envolvia nossa relação.

Após longos minutos, finalmente saí do quarto. Optei por


uma roupa casual e amarrei meus cabelos com força, pois não
estava no clima de deixar as mechas soltas, revelando o caos
que se escondia dentro de mim. Voltei a dar uma olhada no meu
celular quando ele voltou a vibrar com novas mensagens.

Instantes depois, enquanto caminhava pelo corredor, fui


invadida por um cheiro forte de algo queimando, e percebi que
vinha da cozinha. Meu coração acelerou ao me deparar com a
cena diante da porta do espaçoso cômodo. Liam estava sem
camisa, usando um short de pijama, e a bancada estava
completamente suja e desorganizada, com farinha espalhada
por todos os lados, inclusive em seu rosto.
Apontei, ainda surpresa:

— Que bagunça é essa? — Minha voz ecoou pelo ambiente.


Liam soltou uma risadinha.

— Eu acordei mais cedo e... — pigarreou, aparentando


nervosismo, andando de um lado para o outro, mexendo em
algo no fogão — ...pensei em preparar um delicioso café para
nós.

Fiz uma careta ao sentir o cheiro de queimado invadir


minhas narinas.

— Pelo cheiro, não parece ter nada delicioso — resmunguei.


— Enfim, estou saindo.

Decidi sair da cozinha, não dando tempo para ele retrucar.


No entanto, é claro que ele não facilitaria as coisas. Arfei ao
sentir sua mão tocar meu braço; automaticamente meus olhos
desceram para seu peitoral, bem ali, em minha frente. Seus
músculos definidos e cheios de gomos me atraíam como um
ímã.

— Como assim, vai sair? — questionou, aflito. — Aurora,


nós precisamos conversar, você sabe disso.

Fechei os olhos por um momento, inspirando devagar,


tentando acalmar minha mente.

— Não estou com cabeça para conversar com você — fui


sincera, enquanto me afastava do toque dele que era
insuportavelmente delicioso. — Preciso de um tempo.
— Tempo? Que tempo? — Piscou, visivelmente
desnorteado. — Eu já te pedi desculpas, por que continuar com
essa indiferença? Não entendo. Essa não é a primeira vez que
discutimos.

Fiquei olhando para ele, buscando respostas em seu rosto.

— Esse é mais um motivo para evitarmos essa conversa


agora — apontei, sentindo o cansaço me dominar. — Enquanto
você não compreender onde me atingiu, de nada adianta. Com
licença, pois pretendo encontrar meu irmão no aeroporto.

Só que o insolente voltou a me segurar, me forçando a ficar


perto do seu calor. Tive que fazer um esforço sobre-humano
para não deixar transparecer minha fraqueza diante dele.

— Foi pelo que eu disse depois da sua briga com a Sophie?


— insistiu, com os olhos fixos nos meus. Sua mão queimava
minha pele ao tocar meu rosto. — Não quis magoar seus
sentimentos...

Seu rosto se escondeu na dobra do meu pescoço, me


fazendo vacilar por um segundo com o calor de seus beijos.

— Eu estava irritado, só isso... — sua voz soou abafada


contra minha pele.

Meu corpo se arrepiou ao sentir suas mãos percorrerem


cada centímetro de mim, como se uma corrente elétrica
invadisse minhas células. A respiração acelerou e meu coração
parecia querer escapar do peito. Só que a excitação logo se
transformou em desconforto quando ele se recusou a me soltar.
Fui obrigada a empurrá-lo com toda a minha força, buscando me
libertar de sua insistência indesejada.

— Solte-me! — gritei, com a voz cheia de irritação.

— Que droga! — rosnou. — Até quando vai me punir? —


bradou com frustração, enfurecido com minha recusa.

Meu coração pareceu se partir novamente, enquanto eu


forçava um sorriso doloroso e olhava em seus olhos.

— Está falando do sexo? — perguntei com mágoa, minha


voz trêmula. — Porque é só para isso que eu sirvo para você,
não é? A esposa que te satisfaz na cama, mas fora dela não tem
valor algum!

Decidida a escapar daquela situação insuportável,


caminhei em direção à porta com passos firmes, deixando claro
que tinha encerrado a conversa.

— Aurora...

Sua voz me fez virar rapidamente. Meus punhos se


fecharam de raiva e, sem hesitar, desferi um soco em seu peito
com toda a minha força.

— Não se atreva a me tocar, droga! — rugi com uma


mistura de raiva e desespero. — Insolente do caralho!

Apesar de seus protestos, consegui sair. Para me livrar


completamente dele, escolhi as escadas, me afastando o
máximo possível. Precisava ficar longe, caso contrário, acabaria
cedendo e sucumbindo aos meus próprios sentimentos.
O hall do prédio se revelou à minha frente, e um dos
seguranças do Liam se aproximou, claramente agindo sob suas
ordens.

— Bom dia, senhora Sullivan! — cumprimentou-me,


mantendo as mãos atrás das costas como sinal de respeito. — O
senhor Liam me pediu para acompanhá-la.

Revirei os olhos, sentindo a irritação tomar conta dos meus


poros.

— Não preciso de uma sombra, além da minha —


repreendi, continuando a caminhar.

— Peço desculpas, senhora, mas estou apenas seguindo as


ordens do chefe — explicou, tentando se justificar.

Parei por um momento, tentando encontrar a paciência que


não possuía.

— Tecnicamente, eu também sou sua chefe — exclamei. —


Portanto, quero que você vá para o inferno e me deixe em paz!

Infelizmente, meus protestos foram em vão. Ciente de que


os seguranças continuariam a me seguir, mesmo contra a minha
vontade, entrei em um táxi e informei o endereço ao motorista.
Acomodei-me no banco traseiro, desejando esquecer, nem que
fosse por alguns minutos, do meu insolente e idiota marido.

Merda!
— É incrível que você tenha vindo! — sussurrei, apertando
meu irmão Giovanni com força. Seus braços me envolveram, e
ele começou a me encher de beijos na cabeça, transmitindo
todo o amor e apoio do mundo.

— E por que eu não viria, hm? Se você não está bem, eu


também não fico bem. — Me encarou naquele momento, seus
olhos transbordando de carinho e preocupação. A sinceridade
em seu olhar quase me fez derramar lágrimas. Eu realmente
precisava dele e do seu ombro nos momentos difíceis.

Fiquei surpresa ao ver que, além de Rafaello, GianLuca e


Katherine também vieram.

— Parece que todos estavam apenas esperando uma


desculpa para sair de casa, não é? — Sorri, tentando trazer um
pouco de leveza à situação. Eu me recusava a mostrar fraqueza
diante dos outros.

— Também senti sua falta, prima — brincou Gian, me


puxando para um abraço apertado. Ele era irmão de Donna e
Benjamin. — Mas admito que quando Benjamin decidiu me
mandar para cá junto com esses dois idiotas, não fiquei tão
animado com a ideia.

— Ei, idiota é você, cara! — Rafa retrucou, socando Gian,


que riu da situação.

— Tão educados! — Katherine revirou os olhos, claramente


impaciente. Ela era uma garota bonita, porém reservada.
Quando a encontraram anos atrás, entre um grupo de garotas
raptadas durante uma missão dos Fratelli e descobriram que ela
era agente do FBI, Benjamin fez questão de mantê-la na família.
Tê-la conosco era uma vantagem que meu primo não poderia
ignorar.

— Imagino que você esteja aqui contra a sua vontade —


comentei, me aproximando dela e observando suas reações.

Ela sorriu de maneira genuína.

— Pode até parecer que não, mas eu senti sua falta,


garota! — exclamou, arrancando também um sorriso dos meus
lábios. Era exatamente o que eu precisava, sentir-me querida e
apoiada.

Seguimos para o carro, conversando animadamente. Pelo


que entendi, Benjamin aproveitou a visita de Giovanni e Rafa à
Irlanda para me ver e enviou seu irmão e Katherine para ajudar
Owen com assuntos da Igreja, já que ambos eram hackers
excepcionais, embora Gian não apreciasse muito a companhia
da garota do FBI.

Rafa, Gian e Katherine seguiram em um carro separado,


enquanto meu irmão e eu continuamos no táxi em que eu havia
chegado.

— Estou preocupado com você — disse Giovanni assim que


o veículo começou a se mover. Estávamos sentados no banco de
trás. — Confesso que fiquei surpreso com a ligação do irlandês.
— Fez uma careta. — Ele me pegou de surpresa de certa forma,
parecia desesperado e perdido. O que aconteceu, afinal?

Respirei fundo, absorvendo suas palavras antes de


responder.
— Não quero falar sobre ele agora — resmunguei,
suspirando. Em seguida, segurei sua mão e a apertei, olhando-o
nos olhos. — Quero aproveitar nosso tempo juntos, irmão. —
Sorri. — Vamos aprontar algumas travessuras, que tal?

Ele riu.

— Então, precisamos planejar nosso itinerário — sugeriu,


entre risadas. — Pretendo ficar aqui alguns dias. Só vou embora
depois que você estiver bem.

Sorri, sentindo meu coração aquecido pelo amor e cuidado


que ele demonstrava.

Dias depois
Eu estava deitada na cama, mexendo no meu celular,
quando ouvi uma batida suave na porta. Meu coração começou
a acelerar quando Liam entrou no quarto, segurando uma
pequena caixa nas mãos. Nossa situação não tinha melhorado,
na verdade, a cada dia, eu me sentia mais distante dele, apesar
de suas constantes tentativas de me reconquistar. Infelizmente,
eu não conseguia acreditar em suas intenções, não encontrava
verdade em suas desculpas. Estava exausta.

— O que é isso? — perguntei, apontando para a caixa em


suas mãos.
Ele sorria de forma nervosa, o que só aumentou minha
curiosidade. Por um breve momento, me permiti admirá-lo,
absorvendo sua beleza em minha mente. A saudade que sentia
dele corroía meu coração como um maldito ácido.

— É um presente — respondeu à minha pergunta. — Já que


nenhuma das minhas tentativas nos últimos dias de te fazer me
perdoar funcionou, decidi apelar.

Abriu a caixa, revelando um adorável filhote de cachorro.


Fiquei piscando, incrédula, demorando um pouco para reagir.

— Disseram-me que ele é da raça Pit Bull — contou, tirando


o filhote da caixa. — Pensei que seria uma combinação perfeita
para você.

Franzi o cenho com o comentário dele.

— Por quê? Por que sou raivosa? — perguntei, levantando


uma sobrancelha.

Percebi que ele suspirou, impaciente.

— Não foi isso que eu quis dizer, garota. Droga!


Ultimamente, você só enxerga o lado ruim das coisas que eu
falo — reclamou, me entregando o animal. O filhote era lindo. —
Você ainda não percebeu que estou tentando fazer as pazes
com você? — Seus olhos estavam tão magoados quanto os
meus. — Sinto sua falta.

Nesse momento, o encarei, absorvendo sua declaração. Ele


se sentou na cama ao meu lado e tentou segurar minha mão,
mas eu recuei, o que o deixou zangado.
— O que exatamente você espera de mim? — explodiu. —
Não foi o bastante me punir todos esses dias? Eu ainda não
consegui provar que me arrependo de como falei com você?
Porra, Aurora! Parece que agora você está agindo puramente
por capricho. É isso?

Atordoada, lutei para processar suas palavras. Respirei


fundo, deixando o filhote na cama e me levantando.

— Não vai dizer nada? — insistiu, agitado. — Chegamos ao


ponto em que você se recusa a conversar comigo também?

Passei as mãos no rosto, esfregando-o com frustração.

— Estou cansada — desabafei. — Exausta, na verdade.

— E você acha que eu não estou? — rebateu. — Porque eu


só desejo ficar de bem com você.

Nossos olhares se encontraram. Fazer as pazes com ele era


tudo o que eu queria também.

— Ainda me sinto muito magoada com você — decidi ser


sincera com meus sentimentos. Estava na hora. — Nada do que
você fez ou tem feito, está sendo suficiente para amenizar essa
dor. — Pressionei meu peito.

Piscou, processando minhas palavras.

— É sobre o que eu disse depois da sua briga com a


Sophie? — indagou, meio perdido.

Inspirei profundamente.

— Eu briguei com sua prima por nós dois — revelei.


Ele balançou a cabeça.

— Não! Você brigou porque seu orgulho foi ferido. —


Apontou.

Neguei, chocada com sua dificuldade em compreender.

— Eu briguei para proteger o que tínhamos, Liam —


expliquei, batendo no peito, tentando aliviar a dor insuportável
que sentia. — Suas palavras duras me fizeram enxergar o que
eu estava ignorando.

Ele permaneceu imóvel à minha frente, com as mãos na


cintura, mas pude sentir a tensão em seus ombros.

— O quê? — retrucou, um pouco engasgado. — O que você


passou a enxergar?

Respirei fundo.

— Isso não está mais funcionando — gesticulei entre nós


dois —, já não tem mais graça.

Seu rosto foi tomado por uma emoção que eu não consegui
identificar.

— Não tem mais graça? Do que você está falando?

Endireitei meu corpo, fingindo ter uma postura forte que


estava longe de possuir. Aquilo estava me destruindo por
dentro.

— No começo, todas essas brigas entre nós dois eram


engraçadas, mas agora... — fiquei em silêncio por um momento,
buscando forças para concluir o raciocínio — chega! Eu não
quero mais. — Minha respiração acelerou. — Vamos... —
pigarreei, limpando a voz — ou melhor, eu vou fazer o favor de
conceder o divórcio a você. Imagino que seja o que você deseja.
— Engoli o choro ridículo que estava prestes a escapar. — Não
teremos mais discussões. Você não será mais obrigado a
conviver com uma garota mal-educada e atrevida como eu. Sem
ressentimentos, sem grosserias e...

— Cale a boca! — exclamou, me interrompendo. Sua voz


soou estranha.

— Mas eu...

Ele me interrompeu novamente:

— Apenas... fique quieta!

Observei suas reações, tentando compreendê-lo, mas Liam


sempre foi um enigma para mim. Era impossível decifrar seus
olhos, embora eles estivessem nublados naquele momento.

Será que ele estava prestes a chorar?

— Liam...

— Não! — Estendeu a mão, me interrompendo mais uma


vez, enquanto caminhava em direção à porta. — Não diga mais
nada.

Pisquei, ainda mais atordoada.

Quando ele saiu do quarto, batendo a porta, me senti


sufocada. Era como se nossa história estivesse desmoronando
naquele momento, bem diante dos meus olhos. E, mesmo sem
compreender o significado disso, meu coração estava em
pedaços.

Arrastei-me de volta para a cama, pegando o filhote de


cachorro nas mãos. Ergui-o diante do meu rosto, observando
seus olhos brilhantes e inocentes.

— Parece que você e eu estamos no mesmo barco,


pequeno — sussurrei para o filhote. Ele me olhou, abanando o
rabo, como se percebesse que algo não estava bem.

Enquanto acariciava o pelinho macio do cachorro, as


lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Eu estava
perdendo Liam, e não conseguia entender por que aquilo doía
tanto.
Eu me sentia como se estivesse flutuando, imerso em uma
escuridão sufocante, sem forças para lidar com o impacto
devastador que acabara de me atingir. Minha mente parecia
aprisionada enquanto adentrava o quarto que costumávamos
compartilhar, minhas mãos percorrendo os cabelos e meu corpo
inquieto, andando de um lado para o outro. A frustração pesava
sobre mim como um fardo insuportável, apertando meu peito a
cada respiração.

Os últimos dias tinham sido uma montanha-russa


emocional em todos os sentidos. As investigações sobre a Igreja
estagnaram, sem qualquer progresso significativo, e eu lutava
para convencer Aurora a me perdoar. A distância que se
estabeleceu entre nós me feria profundamente, de uma maneira
lancinante, pois era algo que eu não desejava. Pelo contrário,
ansiava por tê-la em meus braços novamente, revivendo os
momentos intensos em que ela me arranhava, mordia e tocava
de uma forma única, que só ela sabia como fazer.

— Ela não pode simplesmente me deixar... — sussurrei,


minha voz quase inaudível, enquanto minhas mãos se
encontravam sobre o rosto, numa tentativa de conter a
avalanche de sentimentos.

Sentia-me perdido, sem saber qual caminho seguir, sem ter


clareza sobre que direção tomar. Sabia que nosso
relacionamento não era convencional, mesmo assim, eu não
queria perdê-la. A ideia de viver sem ela era assustadora.

— AAAAAAAHH! — gritei, começando a quebrar tudo o que


encontrava pela frente.

Precisava liberar minha raiva, senão ela me dominaria


completamente. O quarto que antes era um santuário, agora se
transformava em um cenário caótico de destruição. Móveis
voavam pelos ares, objetos se chocavam contra as paredes,
como se eu fosse um furacão desencadeando minha fúria em
cada pedaço que se despedaçava.

A cada fragmento que se partia, meu coração parecia se


partir ainda mais. Por que Aurora queria me deixar? Por que a
decisão dela me afetava tão intensamente? A dor latejava em
meu peito, uma mistura incontrolável de emoções
contraditórias. Eu não conseguia aceitar a ideia de perdê-la, de
viver sem a sua presença ao meu lado.

Gritei novamente, socando o ar com força, sentindo o suor


escorrer pelo meu rosto. Meus punhos estavam feridos, mas a
dor física se tornava insignificante em comparação com a
tormenta emocional que me consumia por dentro.

À medida que a raiva se dissipava gradualmente, o silêncio


pesado se instalava, como uma manta de tristeza. Os destroços
ao meu redor eram uma cruel lembrança do que estava se
desintegrando entre nós. E mesmo em meio a toda a bagunça
que eu havia criado, a resposta para o porquê de tudo aquilo
estar acontecendo permanecia oculta, um enigma a ser
desvendado.

Absolutamente sem fôlego e esgotado, me sentei no meio


da devastação que eu mesmo havia provocado. Meu olhar
percorreu o ambiente, testemunhando os destroços que um dia
foram nosso quarto. Lágrimas incessantes se mesclavam ao
suor em meu rosto, transbordando de uma dor profunda.

A simples ideia de perder Aurora era insuportável. Não


conseguia conceber a noção de seguir adiante sem ela ao meu
lado. Ao mesmo tempo, lutava para compreender por que sua
decisão me afetava tanto. Essas emoções conflitantes criaram
uma tempestade interna que ameaçava me engolir por
completo.

Com grande esforço, me levantei, sentindo o peso da


exaustão sobrecarregar cada músculo do meu corpo. Decidi
deixar o quarto bagunçado e procurar Aurora no quarto de
hóspedes, desesperado para falar com ela e convencê-la a
reconsiderar sua decisão de me deixar. O problema foi que ao
adentrar o cômodo, fui recebido apenas pelo vazio.

Confuso, meus olhos se fixaram em um bilhete deixado na


cama, onde ela explicava que havia ido atrás de seu irmão no
hotel. Irritado e desapontado, amassei o papel com força, como
se pudesse descontar minha raiva naquele pequeno pedaço de
papel.

Nesse instante, concentrei minha atenção em minhas


mãos, observando os dedos manchados de sangue proveniente
da explosão de raiva. Porém, nada disso importava para mim.

Uma sensação de impotência me corroía por dentro.


Desejava estar ao lado daquela diaba, lutar pelo nosso
relacionamento, mas agora parecia que a distância entre nós só
aumentava.

Abandonei o quarto de hóspedes e me dirigi à sala. Com a


mente tumultuada, busquei refúgio em uma garrafa de bebida.
Não era algo comum para mim, mas naquele momento sentia a
necessidade desesperada de escapar.

Sem hesitar, segurei a garrafa e a levei diretamente aos


meus lábios, bebendo do gargalo. O líquido amargo deslizava
pela minha garganta, trazendo um breve alívio. Porém, era
apenas uma ilusão passageira.

Sentado no sofá, com as mãos trêmulas e a garrafa ao meu


lado, fui tomado por uma onda de nostalgia. As lembranças das
noites de paixão, dos sorrisos compartilhados, das conversas
animadas e das brincadeiras se transformaram em memórias
amargas do que estava perdendo.

Rendi-me à raiva e me deixei cair no chão, sentindo o peso


do desespero em minhas costas ao encostar no sofá. A fúria
fervilhava no meu peito, enquanto as lembranças continuavam
a me assombrar e lágrimas silenciosas escorriam pelo meu
rosto.

Foi nesse momento de vulnerabilidade que meu telefone


começou a tocar em algum lugar. Mesmo com o corpo pesado,
me forcei a levantar e comecei a caminhar pelo apartamento,
procurando o maldito aparelho. A desordem do quarto parecia
refletir o caos que reinava dentro de mim. Finalmente, encontrei
o telefone no meio de toda aquela bagunça. A porcaria parou de
tocar, mas rapidamente voltou a vibrar em minha mão.

Não tive escolha a não ser atender:

— Onde você está? — perguntou Owen do outro lado da


linha.

Passei as mãos no rosto para enxugar as lágrimas


persistentes.

— Estou em casa — respondi com a voz embargada, mas


tentando não revelar minha desordem interior. — Por quê?

— Preciso que venha até a mansão — disse ele com


urgência. — Christopher encontrou uma pista significativa do
grão-mestre. Precisamos nos reunir para planejar o que faremos.
Concordei com a cabeça, mesmo que Owen não pudesse
ver.

— Estou indo — murmurei antes de desligar a ligação.

Fiquei imóvel por um momento, ainda me sentindo um


merda. No entanto, no fundo, sabia que seria bom direcionar
minha atenção para algo diferente, desviar o foco dos meus
pensamentos.

Meu problema com Aurora poderia esperar.

Ao chegar na mansão, fui recebido por Amy logo na


entrada. Seu olhar perspicaz detectou imediatamente que algo
estava errado comigo.

— Tem chorado, querido? — Segurou meu rosto em suas


mãos quentes, seu toque reconfortante trazendo um pouco de
alívio. Ela era tão pequena quanto Aurora. — Parece abatido. —
Sua expressão estava repleta de preocupação.

— É apenas uma impressão, Amy. — Forcei um sorriso, me


esforçando para esconder as emoções que me consumiam. —
Os outros estão no escritório? — Comecei a me afastar, ansioso
para me juntar a eles.

— Sim, estão — respondeu ela, hesitante. — Mas...

— Vamos conversar mais tarde — interrompi sua tentativa


de me segurar ali e acelerei o passo, precisando me afastar e
afogar as lembranças em uma missão ou qualquer assunto que
não fosse relacionado a mim e meus problemas.

Acabei esbarrando em Madison, fazendo-me segurar seus


ombros por reflexo. Seu rosto refletia preocupação e ansiedade,
refletindo a mesma inquietação de Amy.

— Meu Deus, Liam! O que aconteceu com você, irmão? —


quis saber. — Por que seus olhos estão vermelhos? Você andou
chorando?

Suspirei, sentindo uma pontada de irritação, mas me


contive para não descontar nela.

— Não se preocupe, querida, estou bem. — Beijei sua testa


carinhosamente, tentando transmitir tranquilidade.

— Você tem cer...

Interrompi suas palavras rapidamente:

— Preciso ir.

Acelerei meus passos, ansioso para me afastar dela e de


sua curiosidade avassaladora.

Adentrei o escritório, onde já estavam reunidos meu tio


Aidan, meus irmãos Owen, Carter, Sean e Kael, assim como
Sophie, Christopher, Katherine e GianLuca. Agradeci por não ter
chamado muita atenção ao entrar, pois realmente não estava
com paciência para dar explicações. Só que, minha prima
cravou seus olhos em mim, observando cada passo que eu
dava.
— O que diabos aconteceu com você? — sussurrou ela,
chegando ao meu lado. Pisquei e cruzei os braços, sentindo a
pressão sobre mim.

— Nada.

Claro que ela não acreditou na minha resposta, mas não


insistiu, considerando que tínhamos assuntos mais importantes
para discutir naquele momento.

Christopher revelou ter descoberto informações sobre uma


iniciação da Igreja que ocorreria em uma cidade próxima. Ele
afirmou que, de acordo com suas investigações, havia indícios
de que o grão-mestre estaria presente no evento.

— Por que você acredita que ele estará lá? — questionou


Owen. — Pode ser uma armadilha, caçador.

— Eu não nos colocaria em uma cilada, irlandês —


respondeu Christopher, quase ofendido. — Durante minhas
investigações, descobri que o maldito anticristo gosta de estar
presente nessas iniciações, pois é vaidoso.

— Ele gosta de ser glorificado — acrescentou tio Aidan,


obtendo a concordância de Christopher.

— Nesse caso, temos uma oportunidade valiosa em mãos


— mencionei, sentindo a euforia tomar conta de mim. —
Finalmente teremos a chance de enfrentar esse maldito cara a
cara.

— Precisamos planejar uma estratégia que nos permita


entrar no lugar sem causar muitos danos — declarou Owen.
— Como assim? — balbuciou Kael, confuso.

— Eu quero criar caos, Owen — argumentou Carter.

— Qual é a graça se não pudermos quebrar alguns


pescoços? — indagou Sean, esfregando as mãos ansiosamente,
como se mal pudesse esperar para fazer exatamente isso.

Os três eram conhecidos como os mais sádicos da família,


tendo adquirido reputação no submundo pela crueldade de suas
torturas.

Nos minutos seguintes, começamos a discutir como


seguiríamos o plano de forma a alcançar nosso objetivo:
capturar o grão-mestre vivo.

Enquanto nos preparávamos para deixar a mansão,


GianLuca e Katherine nos forneceram as informações finais e
coordenadas precisas do local do evento, revelando cada
detalhe necessário para o sucesso de nossa missão. Com tudo
em mãos, Owen, os trigêmeos, Sophie, tio Aidan, Christopher e
eu partimos em direção à cidade vizinha, onde ocorreria a
iniciação da seita.

Ao chegarmos ao local, ficamos surpresos com a paisagem


que se desdobrou diante de nós. Era uma mansão abandonada,
envolta por uma floresta densa. Suas paredes deterioradas
estavam cobertas de hera, e as janelas quebradas permitiam
que uma luz fraca penetrasse, criando uma atmosfera sombria.
Observamos atentamente, mantendo nossos olhos fixos no
perímetro e nos movimentos dos seguidores da seita. A
agilidade e a precisão das nossas ações eram cruciais para o
sucesso da missão.

— Acredito que precisamos nos separar — sugeriu Owen,


quebrando o silêncio.

Acabei sendo designado para ficar com Sophie.

Após examinarmos os arredores, descobrimos uma porta


lateral parcialmente camuflada pela vegetação. Minha prima,
utilizando suas habilidades de arrombamento adquiridas com
seu pai, conseguiu abrir a porta sem fazer barulho.

— Tão talentosa — comentei em tom divertido, recebendo


uma risada como resposta.

Com cautela, adentramos o ambiente sombrio,


permanecendo atentos a cada movimento para evitar chamar a
atenção indesejada.

— Você não vai mesmo me dizer o que está acontecendo


com você? Seu semblante está péssimo, Liam, eu te conheço. O
que aconteceu? Brigou novamente com sua garota? —
perguntou ela, quebrando o silêncio.

Fiquei calado por alguns instantes, imerso em


pensamentos.

— Ela pediu o divórcio — revelei, desabafando de uma vez.

Sophie ficou momentaneamente calada, processando a


informação.
— E o que você disse? Ou melhor, o que você fez? —
indagou.

— Nada — respondi, enquanto a escuridão densa da


mansão apenas era rompida pela fraca luz das lanternas que
iluminavam nosso caminho. — Na verdade, na hora eu travei e a
única coisa que fiz foi deixá-la no quarto e me afastar.

— Você quer se divorciar dela? — questionou,


demonstrando empatia.

— Não, claro que não! — exclamei, com ênfase. — Aurora


pode ser uma cadela na maior parte do tempo, mas...

— Ela é a sua cadela! — completou, com um sorriso maroto


estampado no rosto.

Retribuí o sorriso, balançando a cabeça em concordância.

Continuamos avançando, seguindo as coordenadas


fornecidas por GianLuca e Katherine. Cada passo que dávamos
ecoava pelos corredores desgastados. Para nos comunicarmos
sem chamar a atenção, todos estávamos equipados com
escutas discretas.

Finalmente, chegamos a uma sala ampla e imponente,


localizada no coração da mansão. O aroma de incenso e velas
queimadas impregnava o ar, criando uma atmosfera ainda mais
sinistra.

— Que sinistro! — comentou Sophie, sentindo calafrios.


Observamos o local com cautela, verificando se estávamos
sendo vigiados. — Vamos nos separar aqui — sugeriu. — Você
explora o andar superior, e eu fico responsável pelo térreo. Se
encontrarmos algo suspeito, nos reunimos novamente nesta
sala.

Concordei com sua sugestão, reconhecendo a lógica em


sua abordagem. Nos separamos, seguindo direções diferentes.
Enquanto subia as escadas, meu coração acelerava com a
expectativa de encontrar pistas que nos levassem ao grão-
mestre.

Ao vasculhar os quartos no andar de cima, minha mente se


dividia entre as memórias compartilhadas com Aurora. Imagens
dos nossos momentos quentes, conversas e da intensidade do
fogo que ardia entre nós dois surgiam em minha mente,
trazendo consigo uma dor profunda. Sabia que precisava focar
na missão, mas era difícil afastar a angústia que me
atormentava.

De repente, um ruído atrás de mim chamou minha atenção,


e prontamente apontei minha arma na direção do som.

— Wou! — Sophie ergueu as mãos. — Sou eu, abaixa essa


coisa, droga!

Suspirei baixo.

— Quem mandou chegar tão sorrateiramente, porra!

Ouvimos vozes vindo de uma sala próxima. Com cautela,


nos aproximamos para investigar. Espiei pela fresta da porta e vi
alguns homens reunidos em um círculo, envolvidos em um
estranho ritual. Sophie foi mais rápida e comunicou aos outros
que havíamos encontrado algo.
— Você acha que um deles é o grão-mestre? — perguntei a
ela, meus olhos fixos na cena diante de nós.

— É o que vamos descobrir em breve — respondeu, com o


olhar na cena também.

Logo em seguida, os outros se uniram a nós, inquietos e


tensos. Apesar da iluminação baixa, pude notar traços de
sangue em seus rostos, indicando que eles haviam enfrentado
capangas durante o caminho.

— O que está acontecendo ali? — perguntou tio Aidan,


espiando. — Parece que estão recitando palavras misteriosas.

— Aquelas pessoas no círculo estão passando por uma


iniciação na organização — comentou Christopher, sussurrando.
— Em breve, receberão a tatuagem.

— Então aquele indivíduo de capuz branco deve ser o grão-


mestre — observou Owen, atento. — Precisamos agir agora
antes que esse maldito escape.

Christopher nos entregou túnicas escuras semelhantes às


usadas pelos seguidores.

— Incrível, caçador! Você pensou em tudo — murmurou


Sean, impressionado.

— De nada — brincou ele.

Vestidos com as túnicas, nos infiltramos no grupo,


avançando devagar em direção ao círculo. O ambiente ficou
impregnado com um silêncio opressivo à medida que nos
aproximávamos. Todos os olhares estavam fixos no grão-mestre,
conduzindo o ritual. Cada passo que dávamos era calculado e
preciso, garantindo que não despertássemos suspeitas. O
problema foi que nosso plano foi ameaçado quando um capanga
surgiu na entrada da sala, alertando que o local havia sido
descoberto.

O caos se instaurou, e agimos rapidamente em resposta.


Iniciamos uma troca de tiros, procurando abrigo sempre que
ouvíamos disparos vindos do lado oposto.

— Droga! — praguejei, ao perceber que uma bala havia me


atingido de raspão no braço.

O confronto durou apenas alguns minutos, mas, felizmente,


saímos vitoriosos. Guardei minha pistola e, juntamente com
Owen, nos aproximamos do homem de capuz branco. Ele estava
caído no chão, morto.

— É ele? — perguntei, enquanto Owen removia o capuz


para finalmente revelar o rosto do infeliz. Era um homem idoso,
com uma longa barba grisalha.

Tremendo, estendi meu braço e fiz um gesto para que


todos olhassem para a tatuagem. Meus olhos piscaram,
atônitos, diante da descoberta surpreendente.

— Puta merda! — exclamei, chocado, as palavras


escapando de meus lábios, incapaz de desviar o olhar.

— Esta é a mesma tatuagem que você viu na sua infância,


Liam? — perguntou tio Aidan.
Balancei a cabeça, confirmando. A marca na pele daquele
homem era o mesmo símbolo que assombrava meus pesadelos
há tantos anos. A cruz de caravaca.

— Então é isso! — exclamou Sophie, enquanto limpava sua


adaga na túnica. — Acabamos de eliminar o líder da Igreja. —
Um sentimento de realização tomou conta de todos nós.

Owen, assim como eu, permaneceu em silêncio, sua


expressão meio absorta com o que acabara de acontecer. O
homem morto diante de nós foi responsável por atrocidades
abomináveis e pela maior dor que nossa família havia
enfrentado. Era estranho pensar nele como uma missão
concluída com sucesso.

Num gesto instintivo, esfreguei meu rosto, sentindo meu


coração pulsar fortemente em meu peito.

— E-eu preciso sair daqui — sussurrei, minha voz


tremendo, enquanto abalos percorriam todo o meu corpo. —
Preciso ir embora.

Sophie se ofereceu para me acompanhar, mas eu recusei.


No momento, eu só precisava de uma única pessoa ao meu
lado, e a desgraçada estava irredutível em me perdoar.

Ao entrar no hotel, me dirigi diretamente à recepção para


descobrir em qual andar Giovanni estava hospedado, mas
acabei avistando Rafaello saindo do elevador. Percebi que ele
carregava bagagem, indicando que estava prestes a partir da
Irlanda.

Antes que eu pudesse falar, ele foi mais rápido:

— Liam... — começou, sua voz pesada. — Lamento ser o


mensageiro dessa notícia, mas Aurora e Giovanni viajaram para
a Itália.

Nesse momento, fiquei paralisado, sentindo as palavras


ecoarem ao meu redor, reverberando em minha mente como
um eco distante. Meu corpo tremia e o vazio em meu peito se
intensificou. Itália... Aurora havia ido para a Itália sem sequer se
despedir de mim.

Uma mistura de raiva, tristeza e desespero começou a


invadir meu ser.

— Por quê? Ela disse algo? — perguntei, apesar da


dificuldade causada pelos tremores internos.

— Você sabe que Aurora não gosta de dar explicações, não


é? Muito menos se justificar — disse, dando de ombros.

Balancei a cabeça, ciente de que sim, a porra da minha


esposa era uma cadela sem coração, acostumada a agir por
impulso.

Mas era minha, caralho!

Minha.

A impotência voltou a me dominar, agora acompanhada de


um vazio profundo. Com um suspiro pesado, me afastei de
Rafaello e saí do hotel. A chuva começou a cair, se misturando
com as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Lágrimas de
raiva.

De dor e frustração.

Eu faria de tudo para encontrar aquela desgraçada, mesmo


que fosse necessário ir ao inferno. Ela voltaria para mim.
Um tempo antes
Meu coração parecia prestes a explodir dentro do peito
quando Giovanni abriu a porta do quarto em que ele estava
hospedado. Minhas pernas tremiam, mas mantive minha
determinação, parada diante dele.

— Aurora? — Piscou os olhos, confuso, sem entender o


motivo da minha presença ali.

As lágrimas que eu vinha segurando escaparam sem


controle, e minha bolsa caiu no chão enquanto eu me lançava
nos braços do meu irmão. Meu choro era convulsivo, e por mais
que eu tentasse me acalmar, era uma tarefa impossível.

— Meu Deus! O que aconteceu? — perguntou ele,


segurando minha cabeça e inclinando-a para trás para ver meu
rosto encharcado. — Foi aquele idiota? Foi o maldito irlandês,
filho da puta?

Minha respiração estava entrecortada enquanto negava


com a cabeça e me afastava dos braços protetores do meu
irmão. Meu corpo tremia em completa agitação. Tudo o que eu
conseguia pensar era no Liam, na maneira como o deixei no
apartamento, no seu olhar...

— Irmã? — Giovanni estava tenso, confuso diante do meu


silêncio, enquanto eu soluçava incontrolavelmente.

Pisquei rapidamente, minha mente se recordando da bolsa


que tinha deixado jogada no corredor. Corri para pegá-la e, em
seguida, fechei a porta.

— E-eu briguei com o Liam — finalmente contei, seguindo


em direção à cama. — Decidi que seria melhor nos divorciarmos,
e ele meio que enlouqueceu. Não entendi muito bem a reação
dele, para falar a verdade.

— O quê? — Giovanni piscou, um tanto incrédulo. — Você


pode repetir? — Sentou-se ao meu lado no colchão.

— Liam ficou completamente fora de si e...

— Não é isso — interrompeu-me. — A parte em que você


diz que ofereceu o divórcio a ele.
Baixei os olhos, inspirando profundamente. Ouvir as
palavras dele me fazia consciente do impacto de tudo aquilo.

— Refleti muito nos últimos dias — expliquei, buscando


uma respiração ofega. — No começo, parecia divertido, mas
agora... — pausei, enxugando as lágrimas do meu rosto, irritada
com todo esse choro sem fim — percebi que estamos nos
machucando. Liam e eu não somos um casal movido por amor,
somos um casal movido por ódio. — Ele soltou uma risadinha,
me revoltando. — É sério que sua própria irmã está chorando
feito uma condenada aqui, na sua frente, e você está rindo? —
repreendi, ofendida.

— Não é minha culpa se suas palavras soaram engraçadas,


ora — defendeu-se, entre risos. — “Casal movido por ódio” —
repetiu, gesticulando para enfatizar.

Revirei os olhos, apesar de estar rindo também. Foi nesse


momento que minha bolsa começou a se mexer, chamando a
atenção do meu irmão. Me inclinei e abri o zíper, tirando de
dentro o filhote de cachorro.

— Uau! De onde saiu esse monstrinho? — exclamou,


surpreso.

Semicerrei os olhos para ele.

— O único monstrinho que vejo aqui é você, palhaço! —


reclamei, chateada. — Foi um presente do Liam, uma tentativa
de reconciliação. — Deixei o filhote sobre a cama, sorrindo
quando ele começou a abanar o rabinho.
A fofura daquela criaturinha parecia trazer um pouco de
leveza para o ambiente tenso em que estávamos.

— Agora estou ainda mais confuso, irmã — resmungou


Giovanni, franzindo a testa. — Se o irlandês te deu um presente
e você gostou, por que você quer se divorciar?

Suspirei, tentando afastar os pensamentos que


constantemente me levavam de volta ao que aconteceu naquele
apartamento. A destruição que Liam estava causando no nosso
quarto ecoava em minha mente, mas eu sabia que interferir não
adiantaria. Precisávamos de um tempo separados, pois eu me
sentia muito confusa para compreender meus próprios
sentimentos, como poderia ajudá-lo? Foi por isso que saí às
escondidas.

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra —


resmunguei, aflita. — Um presente não apaga as mágoas. Não
funciona assim.

Então, nos próximos minutos, narrei a ele o que aconteceu,


sem mencionar os detalhes, claro.

— Se ele surtou desse jeito, será que não foi porque ficou
desesperado com medo de te perder? — questionou, após ouvir
toda a história.

Pisquei, confusa com essa nova perspectiva.

— Me perder? — repeti, perplexa. — Não seja ridículo, Liam


nunca me teve de verdade. — Tentei disfarçar minhas emoções
empinando o nariz.
Giovanni soltou uma risada alta.

— Ah, é mesmo? Engraçado, porque a imagem do seu


desespero ao chegar aqui, minutos atrás, ainda está bem viva
na minha mente. Resumo da história: dois teimosos idiotas que
não conseguem enxergar além do próprio nariz.

Revirou os olhos, pegando o cachorro nos braços.

— Não sei do que você está falando. — Fiz uma careta,


estendendo a mão para pegar o filhote. — Me dá o
"insolentezinho".

— Quem? — Piscou, confuso.

— O cachorro, Giovanni, o cachorro! — Levantei-me,


aconchegando o filhote nos braços. Minha mente estava uma
bagunça, lutando para não pensar em Liam e na destruição que
ele estava causando em nosso apartamento. Imaginar que
aquele caos poderia refletir o que estava dentro dele era
sufocante. Era doloroso.

— O que está passando pela sua cabeça agora? — Giovanni


perguntou, talvez percebendo minha angústia.

Com os olhos marejados, encarei meu irmão ao meu lado.


De alguma forma, me sentia devastada, arrasada por tudo o que
havia acontecido.

— Eu quero voltar para casa — respondi com a voz


embargada. — Preciso de um tempo para refletir sobre tudo
isso. Se eu continuar ao lado dele, vamos nos destruir e... eu
não posso permitir isso.
— Tem certeza? — questionou. Voltei a fungar, enxugando
as malditas lágrimas.

— Quando foi a última vez que você me viu chorando desse


jeito, irmão? — indaguei, apontando com a mão trêmula para
mim mesma.

Nesse momento, Giovanni suspirou e me envolveu em seus


braços fortes, beijando repetidamente o topo da minha cabeça.

— Está certo! — exclamou, sua voz ecoando pelo quarto. —


Está certo, irmã.

Passaram-se mais de cinco horas até que Giovanni e eu


finalmente desembarcamos em Palermo, Itália. A viagem foi
exaustiva e a ansiedade me consumia. Eu estava determinada a
manter minha mente ocupada durante o trajeto, conversando
sobre diversos assuntos com Giovanni. No entanto, a cada
momento de silêncio, as lembranças de Liam me invadiam,
mesmo que eu lutasse para evitá-las. Era frustrante, pois eu não
tinha controle sobre essa merda.

Assim que entramos na mansão dos nossos pais, mamãe


não conseguiu esconder sua surpresa e preocupação ao nos ver.
Ela logo se aproximou e me abraçou apertado.

— Eu não quis acreditar quando Giovanni me ligou


avisando que vocês dois estavam vindo — mencionou ela,
agitada. — O que aconteceu?
— Aurora pediu o divórcio — disse Giovanni, se
intrometendo na conversa.

A reação da nossa mãe foi instantânea. Ela se arrepiou toda


e voltou a me puxar para um abraço, demonstrando sua
preocupação e apoio.

— O quê? Como assim, querida? O que aconteceu? —


questionou, ansiosa por mais informações.

Semicerrei os olhos para Giovanni, desejando mentalmente


enforcá-lo por ter divulgado essa informação antes que eu
tivesse tempo de me recuperar emocionalmente. Tudo o que eu
desejava naquele momento era me refugiar no meu antigo
quarto e passar o resto do dia sozinha, mas agora teria que
enfrentar minha mãe e seus interrogatórios.

— Não é nada demais, mãe. Apenas acordei para a


realidade e percebi que não tinha o direito de prender ninguém
a mim por puro capricho — murmurei, pigarreando para ganhar
tempo. — Eu estava sufocando o Liam. Onde está o papai? —
perguntei, tentando mudar de assunto e olhando ao redor.

— Ele está na Fortaleza — respondeu ela, acariciando meu


rosto e meus cabelos com preocupação evidente em seu olhar.
— Eu estava prestes a sair também, precisava passar no
restaurante, mas vou ficar com você.

— Eu posso ir — ofereceu Giovanni.

— Faria isso, querido? — intimou ela. — Eu realmente


gostaria de cuidar da sua irmã e entender o que de fato
aconteceu para todo esse surto.
Enquanto conversávamos, meu cachorro conseguiu
escapar da bolsa, chamando a atenção da mamãe. Ela se
inclinou para pegá-lo, surpresa com a presença do pequeno
animal.

— Olhe só, um filhote! — exclamou, sorrindo ao segurá-lo


em seus braços. — De onde você o tirou?

Sorri levemente ao ver a reação dela ao pequeno cão.

— É o insolentezinho da sua filha — ironizou Giovanni,


rindo. Que imbecil!

— Hm? — resmungou ela, sem entender o comentário do


Giovanni.

Rolei os olhos.

— Nada, mãe — murmurei, minha voz carregada de


irritação. — Ignora esse idiota!

Nos próximos minutos, decidida a aliviar a tensão que me


consumia, optei por tomar um banho. Ansiava pela sensação
reconfortante da água quente pelo meu corpo, esperando que
ela pudesse também lavar a angústia que habitava em meu
peito. No entanto, por mais que eu me esforçasse, sabia que
aquilo seria apenas um alívio temporário. O incômodo que
sentia não estava apenas relacionado ao mundo exterior, mas
estava profundamente enraizado em minha própria essência.
Nenhum banho seria capaz de me libertar daqueles
pensamentos intrusivos que teimavam em me atormentar. Cada
vez que eu fechava os olhos, lá estava Liam, com seu olhar
carregado de tristeza e ressentimento, como um fantasma que
se recusava a me abandonar.

Assim que terminei o banho e saí do banheiro, encontrei


minha mãe me esperando, sentada na cama. Optei por vestir
um confortável conjunto de pijama, já que a tarde estava
avançada.

— Preparei um sanduíche para você — disse, sua voz


carinhosa me envolvendo. — Também liguei para seu pai, ele já
está a caminho. — Batendo suavemente no colchão, ela me
convidou para me juntar a ela.

Naquele momento, com todas as minhas emoções à flor da


pele, meus olhos se encheram de lágrimas ao vislumbrar a visão
reconfortante dela e de seus braços acolhedores.
Instantaneamente, me senti novamente como uma garotinha
perdida e assustada em busca de amparo. Sem hesitar, peguei
meu pequeno insolentezinho do chão e corri na direção da
mamãe, buscando refúgio em seu abraço.

— Oh, meu bebê. — Me apertou com ternura em seus


braços, beijando minha cabeça. — Eu sinto tanto...

Meu choro aumentou de intensidade, apesar de meus


esforços para controlá-lo.

— Será que eu realmente sou uma garota ruim, mamãe? —


perguntei, entre soluços. — Será que as pessoas têm vergonha
de ter alguém como eu por perto, por causa desse meu jeito
agressivo?
— Por que está falando assim? Você é uma garota incrível,
querida, exatamente do jeitinho que você é.

Movida pela necessidade de compartilhar tudo o que


estava me afligindo, decidi ser honesta com minha mãe e
contar-lhe toda a história, desde o momento em que conheci a
prima de Liam até a briga recente. Embora Giovanni tenha
viajado para a Irlanda dias atrás para ficar comigo, mantive tudo
em segredo, tanto dela quanto do papai, sabendo que eles
certamente se intrometeriam. Na ocasião, só mencionei que
Liam e eu estávamos brigando mais do que o normal.

— E você acha que ele ficou do lado da prima e não do seu


— disse ela, minutos depois de ouvir tudo. Seu olhar estava fixo
em mim, transparecendo compreensão.

— Com certeza! Ao menos foi o que pareceu, não? —


respondi, com um tom de frustração evidente na voz. — Além
disso, não foi a primeira vez que ele jogou na minha cara que
não gostava do meu jeito, que me achava agressiva demais,
mal-educada...

— Mal-educada? — repetiu, me cortando. — Ah, agora


quem quer a garganta daquele irlandês cortada, sou eu.

Um sorriso escapou dos meus lábios, e minha mãe se


juntou a mim em uma risada. A presença dela ao meu lado
trazia um conforto imensurável, como se todos os problemas
diminuíssem diante de seu amor incondicional. Suspirei baixo,
me aninhando melhor nos seus braços, enquanto ela continuava
acariciando meus cabelos com doçura.
— De tudo o que escutei até agora, querida — disse,
quebrando o silêncio — ficou nítido para mim que vocês dois
estão magoados e assustados com esses novos sentimentos que
começaram a nascer com o tempo.

Pisquei, tentando processar suas palavras.

— Que novos sentimentos? — questionei, com meu coração


aos pulos. Meu insolentezinho estava dormindo tranquilamente
em meu colo.

Logo que chegamos, fiz questão de cuidar das


necessidades dele, como comida e água. Assim que o dia
amanhecesse, o levaria a uma consulta com o veterinário para
garantir que ele estivesse bem e saudável.

— Vai me dizer que não está apaixonada por ele? —


perguntou, com um brilho curioso nos olhos.

Meu coração retumbou no peito com sua pergunta abrupta.


Amor? A ideia parecia tão assustadora quanto tentadora.

— Não viaja na maionese, mãe — falei, sentindo meu corpo


todo reagindo à mera menção desse sentimento proibido. —
Liam e eu sentimos muitas coisas um pelo outro, mas amor não
é uma delas.

— Se você diz... — respondeu, com um tom de dúvida, mas


respeitando minha opinião.
Na manhã seguinte, fui despertada com um toque suave
em meu rosto. Era minha mãe, olhando para mim com aquele
amor que só ela sabia transmitir.

— Trouxe o seu café da manhã — anunciou, enchendo meu


coração de gratidão por sua constante preocupação. Sorrindo,
me sentei apoiada na cabeceira da cama.

— Estou me sentindo a garota mais mimada do mundo,


hein?! — comentei, arrancando uma risada dela.

— E eu adoro poder mimar minha filha — respondeu, com


ternura.

Enquanto minha mãe falava, senti um calafrio percorrer


minha espinha. Algo não estava certo. De repente, um tumulto
no andar de baixo interrompeu nossa conversa. Vozes exaltadas
e discussões acaloradas ecoaram pelas paredes.
Instintivamente, minha mãe e eu nos olhamos, preocupadas
com o que poderia estar acontecendo.

Sem pensar duas vezes, saímos do quarto e corremos


escada abaixo em direção a bagunça. Ao chegarmos ao hall de
entrada, nos deparamos com uma cena caótica. Meu pai estava
de pé, gritando com Liam, exigindo explicações sobre a situação
envolvendo nosso relacionamento.

— O que está acontecendo aqui? — perguntei, tentando


entender a confusão que se desenrolava diante dos meus olhos.

Liam, com o rosto tomado pela raiva, direcionou seu olhar


diretamente para mim e fez um gesto com a mão, indicando que
queria conversar comigo. Apesar da expressão zangada, pude
enxergar uma profunda dor em seus olhos, refletindo a
turbulência de seus sentimentos.

— Aurora, precisamos ter uma conversa! — declarou, com


urgência em sua voz. Por um momento, me senti paralisada,
sem saber como reagir.

Ouvir sua voz e testemunhar sua angústia trouxe à tona


todas as emoções que eu estava tentando controlar. Minhas
mãos começaram a tremer e senti um aperto na garganta, uma
mistura intensa de medo e esperança se entrelaçando dentro de
mim.

— No dia em que entreguei minha filha a você, fiz uma


promessa, irlandês — continuou meu pai, em um tom
ameaçador —, eu disse que se a fizesse sofrer, enfrentaria as
consequências.

Assustada com a direção que a discussão estava tomando,


corri e me posicionei entre eles, na esperança de acalmar os
ânimos e proteger Liam.

— Papai, por favor, se controle! — implorei, tentando


apaziguar a situação e evitar um confronto físico.

Liam levantou a mão, exibindo a aliança em seu dedo, um


símbolo do compromisso que compartilhávamos.

— Aurora é minha mulher, Fratelli — apontou, cheio de


determinação —, e nossos problemas precisam ser discutidos na
privacidade. Vou atrás dela até no inferno se for preciso, mas
garanto que ninguém pode me proibir de vê-la ou de falar com
ela.
Nesse momento, meu pai tentou avançar em direção a
Liam, mas fui mais rápida e interrompi seu caminho, me
colocando firmemente entre eles. Por sorte, Giovanni apareceu
naquele exato momento, e tanto ele quanto nossa mãe ficaram
para acalmar meu pai, enquanto eu conduzia Liam escada cima,
procurando um local tranquilo.

Ao chegarmos ao quarto, empurrei a porta e a fechei atrás


de nós, criando um breve refúgio. Por um instante, mantive
minha testa pressionada contra a madeira, respirando fundo
para absorver toda aquela confusão e tensão que se
acumulavam em meu peito.

— Aurora... — começou Liam, com sua voz carregada de


emoção.

— O que veio fazer aqui? — indaguei, o interrompendo,


buscando clareza e firmeza em minhas palavras.

Me virei em sua direção, meus olhos assimilando a visão de


seu rosto abatido e cansado, as roupas amarrotadas revelando a
agitação que ele também vivenciara.

— O que você quer dizer com "o que vim fazer aqui"? —
Franziu a testa, parecendo lutar para encontrar as palavras
certas. — Vim te buscar — concluiu.

Por um momento, parei e balancei a cabeça, expressando


incredulidade.

— Você acha que sou sua posse? — questionei, sentindo a


raiva pulsar em minhas veias, mas, ao mesmo tempo, uma
parte de mim lamentava a falta que ele estava fazendo.
Liam estava com as mãos na cintura, olhando fixamente
para mim com aquela intensidade que me enfraquecia e
despertava uma mistura de sentimentos. Caramba! Eu sentia
tanto a falta dele... de seus beijos e de suas mãos em mim.

— É claro! — respondeu, como se fosse óbvio, sua


expressão revelando a convicção que ele tinha sobre nós.

Se eu não estivesse tão furiosa com ele, teria rido de sua


insolência e audácia. Era típico dele.

Afastei-me da porta, passando as mãos no rosto, tentando


encontrar clareza em meio a bagunça da minha mente.

— Liam, eu não mudei de ideia sobre o que eu disse —


murmurei, buscando firmeza em minhas palavras. — Ainda
acredito que nosso casamento precisa acabar, que foi um erro.
Não quero mais te machucar, e não quero mais ser magoada.

Eu estava de costas para ele, mas o encarei quando ouvi


seus soluços. Meus olhos se arregalaram, assustada. Era a
primeira vez que Liam me permitia ver sua vulnerabilidade,
rompendo a casca protetora que sempre o envolvia.

— Liam... — meu coração batia rápido, ressoando em meus


ouvidos, a dor e a angústia se misturando em meu peito.

— Você pode continuar sendo uma cadela raivosa comigo,


Aurora, mas não hoje... — desabafou, suas palavras carregadas
de dor e tristeza, enquanto dava passos para trás até sentir a
cama contra suas pernas, seu corpo cedendo ao peso das
emoções. — Não hoje.
Foi nesse instante que percebi... havia algo errado com ele.
Algo que não tinha relação com nossos problemas ou
desentendimentos. Meu coração apertou ao vê-lo curvar os
joelhos e apoiar a cabeça neles, seu choro doloroso ecoando
pelo quarto.

Fiquei momentaneamente sem saber o que fazer ou dizer


diante de sua vulnerabilidade exposta. Lentamente, me
aproximei, inclinando-me para segurar seu rosto e transmitir
conforto através do toque.

— O que aconteceu? — perguntei, sentindo minhas mãos


tremerem diante da intensidade das emoções no ar. — Qual é o
problema?

Liam olhou para mim com os olhos marejados, seu rosto


contorcido pela tristeza e pela dor que parecia consumi-lo.

— Além de você querer me deixar? — respondeu, com a


voz embargada.

Uma sensação de aperto tomou conta do meu peito ao


ouvir suas palavras. Engoli o desejo de chorar, pois seu
sofrimento estava me afetando profundamente.

Respirei fundo, tentando manter a compostura, e me sentei


ao seu lado, nossos ombros se tocando. Sabia que precisava ser
forte, mas seu desamparo me despedaçava por dentro.

— Agora você está sendo dramático, e isso não combina


com você. — Suspirei, procurando encontrar as palavras certas.
— Já percebi que você não está feliz com a ideia de nos
separarmos, mesmo que eu ache isso estranho, mas sua reação
vai além disso. O que aconteceu para te deixar nesse estado?
Você nunca permitiu que eu te visse tão vulnerável, Liam.

Ele me encarou, e a umidade em seus olhos claros


dilacerou meu coração. Seu sofrimento estava me corroendo.

— Esse é o único dia do ano em que eu me desarmo


completamente — admitiu com a voz rouca, lutando contra as
lágrimas. — Normalmente, eu passo esse dia trancado no
quarto, sem falar com ninguém — pausou, desviando o olhar. —
Mas hoje eu encontrei forças onde não sabia que tinha para
estar aqui com você.

Pisquei, tentando assimilar suas palavras e a intensidade


que as acompanhava.

— Por quê? — perguntei num sussurro. — Por que sentiu


essa necessidade de me procurar?

Liam balançou a cabeça, visivelmente incrédulo.

— Porque eu te amo, sua diaba! — exclamou entre soluços,


num misto de raiva e frustração. — Cadela sem coração do
caralho!

Pela primeira vez na vida, fiquei sem palavras. O impacto


de sua declaração reverberou em mim, me deixando atordoada.
O amor que ele expressou era tão poderoso e intenso que
abalou minhas convicções e me deixou sem saber como
responder.

Puta que pariu!


— Não vai dizer nada? — perguntei, sentindo o gosto
salgado das lágrimas enquanto lutava para conter a emoção
que ameaçava me dominar. Maldito dia, maldito momento. Cada
palavra parecia pesar toneladas sobre meus ombros, e lidar com
toda aquela turbulência emocional era uma tarefa quase
impossível.

Olhei para Aurora, buscando algum conforto em seu olhar,


mas encontrei apenas uma expressão atordoada. Era
compreensível, afinal, eu nunca havia me aberto daquela
maneira para ninguém além da minha própria família. Era um
território desconhecido, um mar de vulnerabilidade que me
assustava e me fazia questionar minha própria coragem.

— O-o que este dia significa para você? — respondeu no


fim, sua voz trêmula e cheia de incertezas, ignorando minha
declaração de amor. Notei que ela evitava me encarar
diretamente, como se temesse a intensidade das minhas
emoções.

Suspirei fundo, sentindo o peso da expectativa e do medo


em minhas mãos apoiadas nos joelhos. Eu precisava reunir
todas as minhas forças para me abrir, para expor as feridas
profundas que haviam se formado entre nós.

— Você foi embora — falei, minha voz saindo com uma


mistura de tristeza e frustração, enquanto meu peito se
apertava dolorosamente. Cada palavra parecia uma faca afiada
perfurando meu coração. — O que você estava pensando?
Achou que eu não viria atrás de você?

Ela baixou os olhos, mergulhada em pensamentos. O


silêncio pairou no ar, carregado de todas as palavras não ditas e
das perguntas sem respostas.

— Eu estava cheia de mágoa, não conseguia entender o


que estava acontecendo entre nós, Liam — explicou em um
murmúrio abafado. Cada palavra dela era como um eco no vazio
do quarto, ecoando as cicatrizes invisíveis que havíamos criado.
— Nunca imaginei...

— Que eu ficaria tão obcecado por você? — completei,


interrompendo-a com uma mistura de surpresa e incredulidade.
Seus olhos carregavam um significado profundo, mas ela optou
pelo silêncio, deixando que suas emoções falassem por si só.

— Sim, admito que no começo a única coisa que passava


pela minha cabeça quando olhava para você era afogá-la ou
estrangular seu pescoço, mas... — parei, esfregando o rosto,
sentindo o cansaço tomar conta de mim. A jornada emocional
tinha sido exaustiva. — Ah, sei lá, fedelha. Agora não consigo
me ver sem você.

Desviei o olhar para encarar seu rosto lindo, observando


cada detalhe. Percebi que seus olhos brilhavam de modo sutil,
mesmo que as lágrimas não escorressem por suas bochechas.
Um sorriso tímido se formou em seus lábios.

— Repete isso — pediu, estendendo a mão para tocar meu


rosto. A ansiedade pulsava dentro de mim enquanto eu
aguardava ansiosamente seu toque. Minha boca encontrou sua
palma e deixei um beijo suave, buscando a conexão e o conforto
que só ela poderia me dar.

Neguei com a cabeça, brincando de maneira divertida.

— Só se você admitir que também está apaixonada por


mim. — Sorri, afastando minhas pernas ao perceber que ela
estava prestes a se sentar em meu colo. Uma faísca de
provocação preenchia o ar, mas também um desejo crescente.

— Não estamos falando de mim agora — soprou, divertida,


me desafiando com um olhar travesso.

Em um instante, nossos lábios se encontraram em um beijo


faminto, cheio de saudade. Apertei sua bunda, gemendo
enquanto ela se esfregava no meu pau, desejando um contato
mais intenso.

Segurei seu rosto, deslizando meus lábios pelo seu maxilar


e apertando seu seio com a mão livre.

— Eu senti tanto a sua falta, sabia? — soprei, perdido em


sensações. — Do seu cheiro, do seu toque... — prendi seu lábio
inferior nos meus dentes.

Ela resfolegou audivelmente.

— Não ouse ficar cafona só porque descobriu que está


apaixonado, Liam — murmurou, me provocando.

Puxei seus cabelos para poder encarar seus olhos. O rubor


em suas bochechas evidenciava sua excitação.

— Você sempre estraga minhas tentativas de ser legal.

Avancei em sua boca, sugando sua língua e mordendo seu


lábio inferior. Minhas mãos desceram, rasgando a parte de cima
do seu pijama, ansioso para abocanhar seus seios.

— Ah, é assim que eu gosto... — gemeu, se entregando


completamente ao prazer enquanto eu abocanhava seu mamilo
com avidez, lambendo seus seios com vontade. Sentia uma
fome insaciável por ela, uma necessidade incontrolável.

Com habilidade, me ergui segurando seu corpo e, sem dar


tempo para qualquer objeção, joguei-a de barriga para baixo na
cama. Num movimento rápido, abaixei sua calça e calcinha.
Aconcheguei-me junto ao seu corpo, roçando meu nariz em seu
pescoço, enquanto abria minha braguilha e a penetrava de uma
vez só.

— Porra! — exclamei em êxtase, junto com ela. — Que


saudade de sentir essa boceta gostosa do caralho!

Aurora começou a rebolar, acompanhando meus


movimentos com volúpia. Enrolei seus cabelos com uma mão,
expondo seu pescoço e rosto, onde saboreei com minha língua.

— É disso que você gosta, não é, cadela? Gosta quando sou


possessivo, hm? Quando sou agressivo...

— Hmmm... — gemeu, desavergonhada. — Oh, Liam...

— O que foi? — questionei, curioso. Descendo minha mão


até alcançar seu clitóris sensível, arranquei outro gemido dela.
— Está gostoso?

Sem esperar por resposta, belisquei seu clitóris e ela


explodiu num prazer incontrolável, balbuciando palavras
incoerentes, enquanto sua boceta me apertava com força.
Surpreendeu-me a rapidez com que ela gozou.

Deixei seu interior e retirei completamente sua calça e


calcinha. Empurrei seu corpo para cima, afundando meu rosto
em suas dobras molhadas, dando uma chupada deliciosa antes
de subir, lambendo cada parte dela, me concentrando em seus
mamilos eriçados.

— Tão sensível... — murmurei, pairando meu rosto acima


do seu, ruborizado. — Mal fodi sua boceta e já gozou. Será que é
por causa da saudade?
Sorriu abertamente, abrindo as pernas para me receber em
seu calor. Nossos gemidos se misturaram enquanto
retomávamos o ritmo das investidas.

— Não se sinta tão privilegiado, porque eu me tocava todos


os dias — afirmou, sem fôlego.

Soltei uma risadinha arrogante.

— E em quem você pensava enquanto tocava sua


bocetinha, hm? — Deslizei o rosto para baixo, brincando com
seus lábios entreabertos. — Aposto como pensava no meu pau,
te fodendo com força do jeitinho que você gosta... estou certo?

A safada gemeu, apertando os dentes para não gritar, pois


ambos sabíamos o quanto ela era barulhenta durante o sexo. E
eu adorava deixá-la descontrolada todas as vezes.

Repentinamente, ouvimos uma batida na porta do quarto.

— Querida? — Era o pai dela. — Está tudo bem aí dentro?

Aurora soltou um resmungo, demonstrando seu desagrado,


enquanto eu acelerava meus movimentos, buscando um ponto
mais profundo dentro dela. Seus olhos reviraram nas órbitas,
expressando uma mistura de prazer e impaciência.

— Filha? — insistiu, tentando chamar sua atenção.

— Não vai responder, fedelha? — provoquei, brincando com


seus lábios entreabertos. — Se quiser, posso dizer a ele o quão
bem está aqui, dentro da sua boceta.
Desesperada, ela pressionou minha boca, me silenciando
antes que eu pudesse falar qualquer coisa. O olhar em seus
olhos mostrava claramente que ela não queria que eu dissesse
uma palavra.

— E-está tudo bem, pai — respondeu finalmente, com a voz


trêmula. — Liam e eu estamos... conversando.

Mordi sua mão para me livrar de seu aperto na minha boca.

— Uma conversa para maiores de dezoito anos, sogrão —


gritei, divertido.

Aurora arregalou os olhos, ficando vermelha, num misto de


raiva e vergonha estampada em seu rosto.

Lá fora, seu pai começou a praguejar alto, forçando a


maçaneta da porta, apesar dos protestos de sua esposa.

— Eu vou matar esse irlandês, Rosa, você não ouviu o que


ele falou? — Escutei suas lamentações. — Ele está... na cama
com a nossa filha!

— Eles são casados, homem! ¡Por Dios! — Sua esposa


tentava acalmá-lo.

Eu só conseguia rir da discussão dos dois, enquanto


pressionava a mão na boca de Aurora, impedindo-a de me
xingar, pois seus olhos me diziam que era exatamente isso que
ela queria fazer.

— Acho que vou ter que sair correndo daqui, senão seu pai
vai querer cortar meu pau fora — zombei, entre risos.
Tirei minha mão da sua boca, observando-a revirar os olhos
e se contorcer. Ela estava entregue ao prazer, mesmo que
quisesse demonstrar resistência.

— Não vou permitir isso — disse com determinação.

— Por quê? — questionei, curioso.

— Porque os pais prezam pela felicidade dos filhos, e seu


pau faz parte dos meus brinquedos — respondeu com um
sorriso travesso.

Uma risada escapou dos meus lábios espontaneamente.


Aumentei a intensidade dos movimentos do quadril,
impulsionando com velocidade e força. Colei nossas testas,
sentindo meu corpo se aproximar do orgasmo.

— Vou gozar — avisei, socando meu pau na sua boceta


num ritmo acelerado. — Vem comigo...

Aurora enrolou meu pescoço com força, arqueando as


costas do colchão, se perdendo em seu próprio prazer, enquanto
eu urrava, investindo contra ela com força e intensidade.
Gozamos juntos, com nossas bocas coladas uma na outra.

Ofegantes e com a respiração descompassada, me deitei


ao seu lado, mantendo-a em meus braços, incapaz de soltá-la.
Alguma parte de mim temia que ela desaparecesse, que tudo
aquilo fosse apenas um sonho fugaz. Permanecemos juntos,
com nossos rostos próximos, compartilhando o mesmo ar.
Embora Aurora tentasse parecer indiferente, senti que ela
também compartilhava dessa sensação de medo.
— Ainda não posso acreditar que você considerou o
divórcio — falei, rompendo o silêncio que envolvia o ambiente,
enquanto meus dedos acariciavam seu rosto, buscando uma
conexão reconfortante.

Ela franziu a testa, revelando a angústia que a ideia lhe


causava.

— Eu só queria te ver feliz e livre para seguir em frente —


respondeu, em um tom cheio de tristeza e pesar.

— Com outra pessoa? — Arqueei as sobrancelhas, deixando


claro meu espanto. — Você realmente achou que eu me casaria
com outra mulher assim que me separasse de você?

Uma expressão de raiva e ciúme atravessou seu


semblante, revelando suas emoções conflitantes.

— Eu te mataria se isso acontecesse, seu cretino! —


exclamou, mas logo em seguida um riso divertido escapou de
seus lábios.

Eu também ri, apreciando sua resposta inesperada.

— Agora não entendi — resmunguei, mostrando meu


desentendimento. — Se eu estivesse livre, por que eu não
poderia começar uma nova história com outra pessoa?

Aurora avançou em minha direção, mordendo meu


pescoço, enquanto eu a beliscava de forma igualmente
divertida.

— Insolente! — rugiu antes de beijar minha pele. — Estava


morrendo de saudades, sabia disso? — Nossos lábios se
encontraram em um beijo mais suave e tranquilo, repleto de
saudade e amor.

— Eu também senti sua falta — falei, enquanto entrelaçava


nossas pernas e pressionava suas costas com ternura. —
Independentemente de qualquer coisa, saiba que eu não
poderia te dar o divórcio, porque minha família não aceita isso.
Para nós, o casamento é um compromisso para a eternidade.

Seus olhos se arregalaram, surpresa com a revelação,


assimilando a importância dos laços familiares em minha vida.

— É por isso que você ficou tão irritado com a ideia do


casamento, não é? — observou. — Ainda mais a noiva sendo eu.

Fiz uma careta, reconhecendo a veracidade de suas


palavras.

— Eu só ficava imaginando o resto da minha vida ao lado


de uma fedelha tão irritante e insuportável... — comentei,
deixando escapar um leve sorriso.

— Ei?! — ralhou, interrompendo meu pensamento, e voltou


a me morder, reavivando a chama do desejo que ardia entre
nós. A luxúria falou mais alto e, em um instante, estávamos
novamente entregues ao tesão desenfreado, como os selvagens
que éramos.

— Estou preocupada com você, Liam — disse de repente,


quebrando o silêncio que nos envolvia. Aconchegados na cama,
nossos corpos nus e entrelaçados, Aurora repousou a cabeça em
meu peito. Seus dedos traçavam suavemente linhas em minha
pele. — Consigo enxergar a tristeza por trás dos seus sorrisos —
insistiu, com ternura em sua voz. — Por que você não se abre
um pouco? Posso ser bruta na maioria das vezes, mas prometo
que vou ouvir e cuidar de você da melhor maneira possível se
você decidir compartilhar sua dor comigo.

Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios, apesar de


ela não poder vê-lo. Meu coração se encheu com um sentimento
novo, que vinha me sufocando nas últimas semanas, mesmo
que eu tenha resistido em reconhecê-lo. Confessar meu amor
por essa garota me trouxe uma sensação de leveza e alívio.

Suspirei, enquanto acariciava seus cabelos com carinho.

— Hoje é o aniversário da morte da minha mãe — contei,


desejando abrir meu coração para a única garota que conseguiu
penetrar em minha alma. — Já se passaram vinte e dois anos
desde que ela foi assassinada. — Apertei os dentes, sentindo
meu corpo se tensionar.

Aurora se reposicionou para encarar meu rosto, brincando


com os pelos do meu peito.

— Vocês conseguiram descobrir quem foi o culpado? —


perguntou, sua voz suave enquanto eu buscava conforto em
seus gestos afetuosos.

— Nunca descobrimos o que realmente aconteceu, mas


meu pai faleceu acreditando que alguém encomendou a morte
dela — expliquei, enquanto lembranças indesejadas invadiam
minha mente. — Eu estava com ela.
Aurora ficou chocada, seus olhos arregalados expressando
incredulidade diante da revelação. Meu coração começou a
bater mais rápido, a emoção transbordando em cada batida.

— O quê? — sussurrou, incapaz de acreditar no que estava


ouvindo.

Respirei fundo, sentindo a urgência de compartilhar a


verdade com ela.

— Eu estava com minha mãe no momento do acidente —


respondi, minha voz vacilante. — Nós dois... Eu ainda posso
ouvir os gritos dela, sabe? O desespero em sua voz quando
percebeu que o carro estava fora de controle. Lembro-me dela
soltando o cinto de segurança e vindo para o banco de trás,
desesperada para me proteger de alguma forma. Acredito que
ela queria me tirar do veículo em movimento..., mas não
conseguiu.

Aurora arfou.

— A cicatriz em sua perna... — sussurrou, conectando os


pontos.

Balancei a cabeça, confirmando suas suspeitas.

— Sim, foi causada pelo acidente — admiti, passando a


mão pelo rosto para enxugar as lágrimas indesejadas. — Minha
mente não guarda todos os detalhes, mas lembro de ter ficado
preso nas ferragens, com o corpo dela sobre o meu... — minha
voz se quebrou, as palavras escapando em meio à emoção
descontrolada. — Eu só não morri porque alguém me resgatou a
tempo.
— Alguém? — inquiriu, sua voz carregada de emoção.

Pisquei, vendo a imagem da tatuagem no braço do


desconhecido invadir meus pensamentos. Então, decidi
compartilhar com ela a suspeita de ter sido salvo pelo grão-
mestre e revelei que, antes de vir para a Itália, em uma missão,
conseguimos eliminar aquele maldito de uma vez por todas.

— Mas... Vocês mataram o bastardo sem obter respostas


para todas essas perguntas — murmurou, minutos depois, tão
frustrada quanto eu. — Nunca saberemos por que você foi salvo
no acidente, ou por que sua mãe morreu. Nem saberemos o
motivo por trás de todos os atentados recentes contra sua vida.

— Não saberemos — concordei, me sentindo derrotado. —


Infelizmente, esse desgraçado não pagou por toda a dor que
causou porque foi morto com um tiro acidental.

O silêncio pairou no ar por alguns instantes até que Aurora


o quebrou, tocando suavemente meu rosto com seus dedos
delicados.

— Sua fobia tem a ver com... o acidente?

Absorvi sua pergunta, sendo engolido por todas aquelas


malditas lembranças.

— Sim, — acabei por admitir. — Não sei quanto tempo


fiquei preso naquele carro, preso entre os destroços e o corpo da
minha mãe. De alguma forma, minha mente e meu corpo
desenvolveram esse mecanismo de autodefesa.

Ela respirou lentamente e soltou.


— Eu sinto muito, Liam — disse, segurando meu rosto e
apoiando nossas testas juntas. Seus lábios tocaram os meus de
leve. — Detesto não ter o poder de fazer aquele bastardo pagar
por todo o mal que lhe causou. Juro que acabaria com a raça
dele se tivesse a chance. Sabe disso, não é?

Acabei sorrindo, ciente de que esse era o jeito dela de


tentar me consolar e mostrar que se importava comigo.

— Eu sei — murmurei, beijando seus lábios com


intensidade. — Felizmente, me casei com uma garota louca e
possessiva.

Desta vez, ela riu enquanto continuava me beijando.

— A partir de agora, vou protegê-lo — afirmou, arrancando


mais risadas de mim, mesmo sabendo que ela estava falando
sério. Aurora já havia provado mais de uma vez que era leal aos
seus, mesmo que isso a colocasse em perigo. — Você não
precisa mais enfrentar essa dor, sozinho. Deixe-me compartilhá-
la com você.

Puxei sua cabeça para trás de modo a olhar em seus olhos


intensos, acariciando suas bochechas e lábios cheios.

— Eu permito, fedelha, eu permito — declarei.

— Argh! — resmungou, me mordendo. — Estou me


esforçando para ser legal e compreensiva aqui, caso você não
tenha notado.

Eu ri, puxando-a para mais perto de mim.


Enquanto estávamos lá, conversando e nos divertindo um
com o outro, começamos a ouvir um cachorro chorando. Fiquei
um pouco confuso.

Aurora ficou animada, se afastando dos meus braços e


inclinando-se para pegar algo do chão.

— Pronto, insolentezinho, não precisa mais chorar —


murmurou, colocando um cachorrinho no meio de nós.

Fiquei surpreso.

— Quem...? — perguntei, incrédulo, roubando sua atenção


mais uma vez. — Como você chamou ele?

Um sorriso diabólico se espalhou por seu rosto, ciente de


que tinha me atingido.

— Insolentezinho — repetiu, provocando um semicerrar de


meus olhos. — Acho que combina com ele porque, assim como
você, notei que ele também me irrita bastante.

— Sua fedelha do caralho!

Eu a cobri com meu corpo, enchendo-a de beijos e


mordidas, enquanto sua risada ecoava pelo quarto. O cachorro
começou a latir de repente.

— Está latindo para mim? — inquiri, incrédulo, enquanto


observava o filhote com uma expressão perplexa. Não podia
acreditar que aquele pequeno ser estava desafiando minha
autoridade. — Que audácia é essa?
Aurora soltou uma risada suave, seus olhos brilhando de
diversão ao segurar o filhote em seus braços.

— Tão insolente quanto você — zombou, provocando um


sorriso em meus lábios. — Mas admita, ele é irresistível.

Era difícil argumentar com aquilo. O filhote exalava fofura,


com seus olhinhos curiosos e orelhas desproporcionalmente
grandes. Minha resistência desmoronou e eu me aproximei,
acariciando seu pelo macio.

Enquanto o filhote brincava ao nosso redor, nós


permanecemos na cama, envolvidos em conversas animadas e
risadas contagiantes. Aquele momento, naquele dia em
particular, ganhou um novo significado para mim.

Não importava o quão caótico estivesse lá fora, naquele


quarto, éramos imbatíveis.
Duas semanas depois
— Vocês só sabem mimá-lo — ralhei assim que entrei na
mansão e vi os trigêmeos roubando meu precioso
insolentezinho. — E depois quem sofre sou eu — resmunguei,
embora secretamente adorasse ver como ele se tornara a
alegria de todos.

— Ah, mas ele é tão fofo, Aurora — comentou Madison, se


aproximando de Kael, que acariciava o pelo macio do
cachorrinho. — Olha só para essa carinha...
— Fofo? — Arqueei as sobrancelhas. — Meu insolentezinho
é um macho com 'M' maiúsculo, garota. Eu vou treiná-lo para se
tornar uma verdadeira máquina de matar, vocês vão ver.

— Que horror, Aurora! — exclamou Amy, também se


aproximando. — Ele é apenas um animalzinho indefeso.

— Indefeso agora — argumentou Carter, com um olhar


maquiavélico, parecido com o meu. — Vamos deixá-lo igual a
nós, não é mesmo, cunhada? — disse, me encarando com um
sorriso cúmplice.

— Vocês são tão agressivos, credo! — reclamou Madison. —


E depois reclamam quando os chamo de gigantes. — Bufou e
roubou o cachorro das mãos de Kael.

— Ei?! Volte aqui com o nosso cachorro...

Semicerrei os olhos.

— Nosso? — repeti, sentindo o ciúme aflorar em mim. — O


cachorro é meu, palhaço! — gritei enquanto eles se afastavam,
levando meu precioso animalzinho.

Sacudi a cabeça, encontrando o olhar amoroso de Amy.


Ainda não estava acostumada com essa demonstração de afeto.

— Você está diferente — observou, chegando mais perto e


acariciando meu rosto com suas mãos. Ela tinha quase a minha
altura.

Franzi o cenho, tentando entender suas palavras.


— Como assim? — indaguei, olhando para mim mesma,
buscando qualquer sinal de mudança. — Eu me sinto a mesma.

Amy estalou os lábios, me estudando minuciosamente.

— Não sei ao certo, querida — disse por fim. — Mas estou


percebendo algo diferente em você. Talvez seja apenas uma
impressão minha, mas... acredito que o tempo irá revelar.

Continuei com o cenho franzido, confusa sobre o que ela


estava tentando transmitir. No final das contas, dei de ombros.

— Você sabe onde posso encontrar o Liam? — Olhei ao


redor. — Ele estava demorando muito para voltar para casa,
então decidi vir procurá-lo.

Na verdade, não me orgulhava dessa atitude, pois sempre


detestei a ideia de me tornar aquela esposa que vai atrás do
marido. O problema é que eu estava ficando louca de tesão e
precisava da ajuda dele para aliviar o fogo que queimava em
mim.

— Ele está em um dos escritórios trabalhando —


respondeu, suspirando. — Você sabe que a vida deles agora é
essa, essa obsessão pela Igreja.

Trinquei o maxilar, me sentindo igualmente incomodada.


Após me despedir de Amy, comecei a circular pela mansão
gigantesca.

Desde que Liam e eu retornamos à Irlanda, depois que ele


foi me buscar na Itália, descobrimos que o homem assassinado
não era o grão-mestre, como inicialmente acreditávamos. Por
meio de uma autópsia realizada por Katherine, que estava
estudando para ser legista também, descobrimos que a
tatuagem no braço do sujeito era recente, uma armadilha para
nos enganar. Sendo assim, a verdadeira identidade do líder da
organização ainda era um mistério.

As investigações recomeçaram e estavam consumindo o


tempo de todos, inclusive de Liam. E, ultimamente, meu desejo
por ele estava fora de controle, algo que eu não conseguia
compreender. Talvez fosse por causa da sua declaração de amor.
Era excitante saber que ele me amava.

Após alguns minutos de busca, encontrei Liam em uma


sala, discutindo algo com Sophie. Aquela garota insuportável
não ia embora. Fiquei paralisada, perturbada com a cena,
mesmo que não houvesse nada demais. Nas últimas semanas,
eu e Sophie tínhamos desenvolvido uma relação amigável,
mas... inferno! Liam era meu.

Deixei o local sem ser percebida e, momentos depois,


retornei segurando duas adagas em minhas mãos. Lancei a
primeira como um aviso, fazendo-a roçar na cabeça de Sophie.

— Puta merda! — exclamou ela, visivelmente assustada.


Liam arregalou os olhos, alternando o olhar entre mim e a faca
cravada na parede atrás deles. — Você enlouqueceu?

Apertando os dentes, segurei a outra adaga, ameaçando


lançá-la na direção deles também.

— Prometo que na próxima vez não vou errar — proferi com


um sorriso maquiavélico. — Liam sabe que tenho uma ótima
pontaria.
Num salto, Sophie se afastou de Liam. Pelos indícios,
percebi que eles estavam discutindo algo, pois a mesa estava
repleta de documentos e mapas.

— Pensei que já tivéssemos superado essa fase de


desconfiança, garota — resmungou Sophie, claramente
incomodada com minha atitude.

Estreitei os olhos e adentrei o cômodo.

— Não é nada pessoal, querida, mas para o bem de todos é


melhor você se manter longe do meu homem — declarei,
ajustando a adaga em minha mão enquanto percorria o espaço.
— Considere isso como um aviso, ciúme, exagero,
possessividade, tanto faz! Liam é meu e não suporto a ideia de
compartilhar minhas coisas.

— O que você quer dizer com "suas coisas"? — questionou


ela, piscando os olhos. Olhou para Liam, que permanecia em
silêncio, embora um sorriso arrogante brincasse em seus lábios.
Cretino! Ele adorava quando eu demonstrava ciúmes. — Você
sabe que isso não é saudável, certo? Isso é tóxico! Vocês dois
são tóxicos.

Liam deu de ombros, exibindo tranquilidade.

— O caos sempre me fascinou, prima. — Ele sorriu


maliciosamente para mim, seus olhos ardendo com uma chama
que aquecia todas as partes do meu corpo, especialmente entre
minhas pernas.

Sophie saiu da sala resmungando, mas mal dei atenção,


pois estava completamente focada no meu homem e em toda a
sua beleza, que pertencia exclusivamente a mim.

Só a mim e a mais ninguém.

— Você é realmente um cretino, não é? — questionei,


deixando a faca na mesa enquanto observava seus movimentos.
— É isso que você tem feito nos últimos dias? Encontros
secretos com a priminha?

Ele riu, contornou a mesa e me puxou para seus braços


fortes. Sua boca faminta se lançou sobre a minha, e eu belisquei
sua barriga, fazendo-o se encolher de dor entre risadas.

— Não tente me distrair com carícias — resmunguei, sem


fôlego diante de seu toque abrasador. — Você não me engana...

— Adoro provocar seus ciúmes, sabia? É extremamente


excitante! — confessou, suas mãos indo para o cinto. Eu
observava seus movimentos com desejo insaciável. — Você veio
atrás do seu "leitinho", huh? Safada! Posso ver o desejo em seus
olhos.

Num impulso desesperado por mais contato, me aproximei


dele. Afundei minha língua em sua boca, gemendo com a
pressão de suas mãos experientes em meu corpo sensível.

— A culpa é sua por ser tão irresistível — murmurei, caindo


aos seus pés, com o rosto próximo à sua ereção. — Não consigo
pensar em mais nada além de você me fodendo ou eu te
chupando.

Minhas palavras provocaram um gemido sufocado dele,


que pressionou minha cabeça contra sua ereção quando o tomei
com vontade.

— Oh, droga! — exclamou, jogando a cabeça para trás,


dominado pelo mesmo tesão que eu. — Você é minha perdição,
fedelha...

De onde eu estava, pude perceber o impacto que eu


causava nele. Liam era um homem com uma aura tão poderosa,
mas que se tornava manso e sensível quando estávamos juntos.

— Liam, eu... Caralho! — Owen se calou quando percebeu o


que estávamos fazendo. — Isso é sério? Com tantos quartos
nesta casa, vocês precisavam fazer isso aqui?

Imediatamente, me levantei enquanto Liam também se


ajeitava. Fiquei de costas, segurando o riso que ameaçava
escapar pela garganta.

— Minha esposa estava precisando de mim, ora — Liam se


defendeu como se isso explicasse tudo. — Qual é o problema?

— Qual é o problema? — repetiu, incrédulo. — O problema


é que acabei de ver seu pau feio dentro da garganta da sua
esposa, porra! — revoltou-se. — Agora vou ter essa imagem
infernal na minha mente pelo resto do dia.

— Wou! Meu pau não é feio, cara — resmungou Liam,


enquanto Owen se afastava, pisando firme e resmungando.

Não pude resistir ao desejo de gargalhar enquanto Liam


fechava a porta, desta vez tendo o cuidado de trancá-la com a
chave.

— Ele ficou chateado — mencionei entre risos.


Liam se aproximou, envolvendo seus braços possessivos
em torno da minha cintura.

— Ele deve estar com uma má impressão de você agora —


murmurou, o que me fez franzir a testa.

— Má impressão de mim?

Em resposta, ele limpou a mesa, me colocando ali, com


minhas pernas entrelaçadas ao redor dele.

— Que você está corrompendo o irmão mais novo dele —


disse, o que me fez cair na gargalhada.

— Idiota! — Apertei suas bochechas, puxando seu rosto


para beijá-lo.

Como de costume, ele rasgou minha calcinha com um


movimento rápido e depois me penetrou, aproveitando minha
lubrificação.

— Estou sempre pronto para satisfazê-la — gemia contra


minha boca. — Eu pararia qualquer coisa por você.

— Hum... — gemi de volta, apertando minhas pernas a sua


volta, desejando senti-lo mais profundamente — que brega,
Liam.

Ele riu.

— Eu sei que você gosta — retrucou, puxando meus


cabelos e lambendo meu pescoço e queixo. — Você gosta de
ouvir que eu te amo, que sou louco por você.
Meu coração se aqueceu instantaneamente, e um sorriso
se espalhou pelo meu rosto.

— Gosto — admiti. — Me gusta mucho! — aproveitei para


atiçá-lo com o espanhol, porque sabia que ele gostava.

Seus movimentos se intensificaram, assim como seus


beijos. Quando atingi o ápice, tremendo em suas mãos, Liam se
libertou logo em seguida, sua boca na minha, murmurando o
quanto me amava e o quanto eu era gostosa.

Quase experimentei outro orgasmo.

Ainda ofegante, Liam saiu de dentro de mim e tirou um


lenço de papel do bolso para me limpar. Observei enquanto ele
me limpava com cuidado, seu foco totalmente na tarefa em
mãos. Ele era tão lindo. Eu poderia facilmente me apaixonar por
ele também...

— Conseguiram algum progresso nas investigações? —


perguntei, quebrando o silêncio. Mas, no fundo, eu queria
silenciar meus próprios pensamentos que estavam tomando um
rumo estranho.

Liam me encarou.

— Parece que temos uma pista sobre o paradeiro da garota


protegida pela Igreja — revelou, se afastando para abrir a porta.

— Aquela que acreditam ser a reencarnação da Virgem


Maria? — Levantei uma sobrancelha.

— Sim... — abriu a porta e então se voltou para mim. —


Aparentemente, ela está na Escócia, mas ainda não sabemos o
local exato.

Balancei a cabeça, absorvendo a informação.

— E o que farão quando a encontrarem?

Fez uma careta.

— Essa é uma decisão que cabe ao Owen — respondeu,


dando de ombros. — Não sei quais são os planos dele.

Envolvi meus braços ao redor do seu pescoço, ainda


sentada na mesa. Nossas testas se encontraram, e eu respirei o
seu cheiro.

— Vai demorar muito para você voltar para casa? —


perguntei.

Liam me beijou, acariciando o meu pescoço.

— Sim, — respondeu. — Mais tarde, temos uma reunião


com Christopher e Shadow, então não sei quando terminará. —
Continuou me beijando. — Por que você não treina com a
Sophie? Eu sei que vocês têm duelado em segredo. — Ele riu e
eu ri junto.

— Está certo! — exclamei, saindo da mesa, aproveitando


para me envolver ao redor dele. — Por enquanto, minha fome foi
saciada — sussurrei perto de sua boca — você pode voltar ao
trabalho agora. — Sorri.

— Diaba, ninfomaníaca. — Mordeu meu queixo enquanto


eu ria. Gritei com o tapa que ele deu na minha bunda.

Insolente!
Uma semana depois
Eu estava incrédula. Não conseguia aceitar o que estava
segurando em minhas mãos trêmulas. Pisquei várias vezes,
como se isso pudesse fazer aquilo desaparecer.

Era uma bomba.

De repente, a voz grave de Liam ecoou pelo corredor,


chamando meu nome. Então, dei alguns passos para trás,
saindo do banheiro e encontrando Liam entrando no quarto. Seu
sorriso caloroso desapareceu instantaneamente ao encontrar
meus olhos, captando a angústia e a agonia que eu tentava
esconder. A preocupação se espalhou por seu rosto.

— O que aconteceu? — Sua voz estava cheia de apreensão,


seus olhos claros fixos em mim. Lágrimas começaram a encher
meus olhos, aumentando ainda mais a tensão em seu
semblante.

— E-eu... — minha voz tremia, pressionei a mão contra o


rosto, tentando conter as emoções avassaladoras que me
dominavam. — A culpa é sua! — acusei com a voz embargada.

Vi seu rosto empalidecer, confuso e desconcertado. Ele


apontou para si mesmo, buscando desesperadamente entender
a razão da minha dor.
— Culpa minha? — murmurou, seus olhos buscando
respostas nos meus. — O que eu fiz agora? — A angústia em sua
voz era evidente.

Solucei, me sentindo perdida e incapaz de expressar


claramente minhas emoções.

— Não se aproxime! — Minha voz saiu num rugido


desesperado, interrompendo qualquer tentativa de ele se
aproximar. As lágrimas continuavam a escorrer pelo meu rosto
enquanto eu soluçava. — Idiota! Eu te odeio, Liam!

Ele piscou, expressando perplexidade em seu rosto. Tentou


dar um passo em minha direção, mas eu o impedi, desviando
para o lado e criando uma distância entre nós.

— Eu não entendo, eu... — começou a dizer, mas eu não


conseguia mais conter a explosão emocional dentro de mim.

— Ah, você não entende? — cortei-o, minha voz trêmula


enquanto enxugava as lágrimas com as costas da mão. Avancei
em sua direção com passos firmes, sentindo a raiva e o medo se
misturarem dentro de mim. — É isto aqui. — Esfreguei o teste de
gravidez em seu rosto, meus olhos fixos nos dele, transmitindo
toda a intensidade das minhas emoções. — Você colocou uma
criança chorona na minha barriga, seu cretino! — explodi,
liberando o turbilhão de sentimentos que me consumiam.

Liam suportou minha histeria, sem recuar ou tentar me


impedir, compreendendo que eu precisava liberar toda a
frustração e o medo que me engoliam. Eu o socava,
descontando toda a minha dor e revolta em seu peito e braços
fortes.
Quando finalmente meus golpes cessaram e minhas forças
se esvaíram, Liam me abraçou com ternura e segurança,
segurando-me em seus braços. Seus olhos, marejados de
lágrimas, encontraram os meus.

— Grávida? — soou como um sussurro, enquanto


caminhávamos juntos até a cama. Ele me fez sentar em seu
colo, apoiando-me de lado. Eu apenas assenti com a cabeça,
incapaz de pronunciar uma palavra sequer. — Nós vamos ter um
filho?

Irritação inundou meus sentidos.

— Qual parte você ainda não entendeu, seu idiota? Vou ter
que desenhar para você? — repreendi impaciente, minha voz
embargada por soluços. — Droga, Liam! Eu te disse que não te
perdoaria se...

Ele silenciou minhas palavras com um beijo, seus lábios


encontrando os meus e fazendo com que eu engolisse todos os
xingamentos que haviam se acumulado em minha garganta.
Quando finalmente nos separamos, ofegantes, Liam me olhou
com intensidade, seus olhos cheios de emoção.

— Eu vou ser pai! — afirmou, um sorriso iluminando seu


rosto. Aquele sorriso... Era como se eu pudesse emoldurá-lo e
guardá-lo para sempre.

— Sim... — murmurei, minha voz trêmula e fraca. — E sabe


o que mais me faz te odiar? — Fiz um beicinho de choro.

— O quê? — indagou, divertido, acariciando meu rosto com


ternura, segurando minha cabeça com suas mãos grandes.
— Eu não vou poder ter um parto de cesariana, porque
tenho medo de agulhas. Já pensou na ideia de uma criança
cabeçuda saindo da minha boceta? Porra, Liam! —
choraminguei, mesclando desespero e humor em minhas
palavras. — Eu te odeio e vou te matar. Já te disse isso, né?

O idiota continuou rindo, um riso cheio de alegria,


enquanto nos jogávamos juntos na cama, nossos lábios se
encontrando novamente em beijos apaixonados. Entre os beijos,
ele sussurrava palavras de amor, me assegurando de que eu o
fazia o homem mais feliz do mundo.

De alguma forma, isso me acalmou, trazendo uma


sensação de paz e felicidade misturada ao turbilhão de emoções
sufocando meu peito.
— Como você soube? — perguntei, enquanto acariciava
suavemente os cabelos da Aurora, que repousava a cabeça em
meu peito. Eu tinha certeza de que ela conseguia ouvir meus
batimentos acelerados. A revelação de que íamos ser pais ainda
me deixava atordoado.

— Amy — respondeu apenas.

Um sorriso se espalhou pelos meus lábios.

— Ela realmente é uma mulher observadora. — Continuei a


acariciar seus cabelos, percebendo a tensão em seu corpo. —
Você devia ter compartilhado suas suspeitas comigo.

Riu, mas era um riso carregado de ironia.

— Para eu te matar assim que o segundo risco brilhasse


naquela maldita haste do teste?

Contive a vontade de rir.

Não havia dúvidas de que Aurora estava nervosa, e eu


entendia completamente, considerando o turbilhão que nosso
relacionamento tinha se tornado. Pelo tempo que nós dois
estávamos casados, percebi que toda a agressividade dela era
apenas uma forma de se proteger, um escudo para resguardar
seu coração. Lá no fundo, eu sabia que ela estava apavorada.

Eu me ergui, sentando-me no colchão, e fiz com que Aurora


também se sentasse, segurando suas mãos.

— O que você está sentindo? — perguntei.

— Além da vontade de te matar? — respondeu, rolando os


olhos.

— Estou falando sério, Aurora! — exclamei, um pouco


impaciente.

Ouvi seu suspiro fraco. Ela baixou os olhos e começou a


encarar nossas mãos entrelaçadas. Sua postura demonstrava
fragilidade, revelando a confusão de suas emoções.

— Estou com medo — admitiu. — Sempre me senti


autossuficiente, sabe? Corajosa até demais. Mas agora... — seu
olhar encontrou o meu, revelando sua angústia. — Existe um
pequeno ser dentro de mim. O que faremos com essa criança,
Liam? — Seus olhos ficaram úmidos mais uma vez.

Odiava vê-la chorar. Odiava vê-la tão vulnerável.

A verdade era que a notícia de que eu seria pai ainda


ecoava em minha mente, mas eu precisava me controlar.
Precisava ser forte por ela, mostrar que eu estava ali para apoiá-
la.

— Vamos criar juntos — respondi, tocando seu rosto com


ternura. — Eu reconheço que no começo do nosso casamento,
eu disse coisas dolorosas sobre ter filhos com você, mas eu
estava errado.

Ela balançou a cabeça.

— Não, você estava certo! Olhe para mim — apontou para


si mesma. — Eu não nasci para ser a mocinha, Liam, pelo
contrário, nasci para ser a vilã. E não existem histórias onde a
vilã se torna mãe.

Segurei o riso.

— Existe a Malévola.

Piscou, arqueando as sobrancelhas.

— Ainda não me convenceu — disse, fungando o nariz no


final da frase. — Droga! Vou passar o resto da gravidez
chorando como uma condenada...

Levantei o olhar para ela, buscando sua atenção quando


chamei seu nome.
— Sabe o que eu sinto? — indaguei, querendo que ela
entendesse o quanto era importante para mim. — Você me
protege da mesma forma que eu protejo você. Você se
transforma em uma leoa quando alguém ameaça minha
segurança.

Um brilho de reconhecimento surgiu em seus olhos


enquanto concordava com a cabeça. Enxuguei as lágrimas de
seu rosto com carinho e me inclinei para beijá-la.

— Tenho certeza de que você vai fazer o mesmo pelo nosso


bebê — completei, convicto do amor e cuidado que ela era
capaz de oferecer.

— Você acha?

— Uhum... — arrastei a língua pelo seu maxilar, cobrindo


seu pescoço de beijos.

— Você vai confiar em mim para cuidar do nosso bebê?

Olhou para mim, seu olhar revelando uma mistura de


dúvida e esperança. Segurei seu rosto entre minhas mãos,
querendo transmitir toda a confiança que eu tinha nela.

— Eu confio minha vida a você, Aurora.

Seu rosto se contorceu com novas lágrimas, reflexo dos


hormônios em ebulição dentro dela. Voltei a beijá-la, dessa vez
de forma lenta e apaixonada, desejando que ela sentisse todo o
meu amor e apoio.

— Você está apenas tentando me persuadir com palavras


bonitas, porque sabe que meu argumento contra você acabou,
não é? — murmurou, divertida, embora sua voz soasse
embargada devido ao choro.

Fiz com que se deitasse novamente e comecei a beijar seu


corpo, descendo lentamente. Era evidente que sua libido havia
aumentado nos últimos dias, assim como sua sensibilidade, mas
jamais passou pela minha cabeça que ela poderia estar grávida,
já que ela estava tomando anticoncepcional.

— Você ainda acha que não estou sendo convincente? —


perguntei, continuando a explorar seu corpo, me concentrando
agora em sua barriga ainda plana.

Meu coração batia acelerado, cheio de emoção e certeza


de que ali estava nosso bebê, um novo coração pulsando.
Aurora se remexia sob meus toques, soltando gemidos de
prazer.

Enquanto retirava seu short junto com a calcinha, ela se


abriu completamente, revelando sua boceta lisa e molhada para
mim. Olhei para seu rosto, ainda avermelhado pelas lágrimas,
mas agora repleto de excitação.

Deixei minha boca explorar suas dobras, provocando


gemidos intensos.

— E agora? — indaguei, enquanto continuava a estimulá-la.

Sua respiração falhou e ela se engasgou antes de falar:

— Si-sim... você é extremamente convincente.

Ri, mergulhando ainda mais naquela delícia molhada,


enquanto suas mãos puxavam meus cabelos, guiando minha
cabeça. Pressionei meu polegar contra seu clitóris, sem parar de
chupar suas dobras.

Puta merda! Eu era completamente viciado nessa garota.


Me sentia perdidamente apaixonado por ela. E a ideia de ser pai
estava me deixando sem fôlego, totalmente sem fôlego.

Minutos depois, quando ela alcançou o orgasmo, me ergui


sobre seu corpo, sustentando meu peso para não a
sobrecarregar. Acariciei seu rosto, observando cada traço. Ela
era linda.

E ela era minha.

— Você será uma mãe incrível! — exclamei, desejando que


ela acreditasse nisso. Separei suas pernas com as minhas e, em
seguida, penetrei nela devagar. Sem pressa. Naquele momento,
eu não queria apenas fazer sexo, queria fazer amor com ela,
mesmo que a diaba achasse isso um pouco brega. No fundo, eu
sabia que ela gostava disso, só não queria admitir.

Suas mãos tocaram meu rosto, seus olhos intensos me


encarando.

— Você também está com medo, não é? — observou, seu


coração batendo forte no peito.

— Estou — admiti, me movendo lentamente dentro dela. —


Mas confio em nós dois. Sei do que somos capazes, juntos.

Minhas palavras a fizeram sorrir, mesmo que optasse pelo


silêncio. Continuei a nos mover, provocando gemidos cada vez
mais intensos de seus lábios deliciosos.
Éramos um só. Ou melhor, éramos três.

Na manhã seguinte, fiz questão de levar Aurora para a


mansão. Eu estava ansioso para espalhar a notícia de que
seríamos pais.

— Ah, eu sabia, meu filho! — exclamou Amy, se levantando


da mesa para me receber com um abraço caloroso. — Estou tão
feliz por vocês dois. Os filhos são verdadeiras bênçãos.

— Vocês me devem cem mil — disse Kael, olhando para


seus gêmeos.

— O quê? — indaguei, tentando entender. — Do que diabos


vocês estão falando?

— Eles apostaram sobre quanto tempo levaria para vocês


engravidarem do primeiro filho — explicou Madison, com um
sorriso acolhedor nos lábios, vindo em minha direção. Aceitei
seu abraço.

— Vocês são ridículos, sabiam? — ouvi Aurora reclamando,


impaciente.

— Não diria ridículos, mas sim visionários — defendeu-se


Kael. — Fui o único a apostar no amor e na paixão ardente entre
vocês dois, de que teriam o primeiro filho em menos de seis
meses de casados. — Piscou para mim. — Carter e Sean
apostaram que isso não aconteceria nos primeiros cinco anos.
Carter e Sean se aproximaram de Aurora, meio tensos
diante de seu olhar enraivecido.

— Não acredito que vocês não acreditaram no meu


potencial com o Liam. — Aurora balançou a cabeça, indignada.
— Se quiserem meu perdão, vão ter que me mimar muito. —
Apontou para eles com os olhos semicerrados.

Uma risada unânime encheu a sala. Minutos depois, todos


estávamos reunidos à mesa, conversando animadamente sobre
a mudança em minha vida com Aurora.

— Suponho que vocês estejam considerando se mudar para


um lugar maior — comentou Owen, com um sorriso contagiante
estampado no rosto. Sua alegria pela nossa nova fase era
palpável. — Acredito que aquele apartamento não será
suficiente quando a criança nascer.

— Lembrando que podem ser gêmeos, hein?! — Madison


aproveitou para brincar, provocando Aurora com um olhar
travesso. Os olhos da minha garota se arregalaram de surpresa
e ela se virou para encarar Madison, que corou, tentando
esconder o rubor nas bochechas. — O que foi? Você mesma tem
um gêmeo, Aurora. E nesta mesma mesa estamos diante de
trigêmeos, o que aumenta a probabilidade, não é? — Madison
argumentou e soltou uma risada divertida.

Aurora começou a respirar de forma irregular, e isso me


deixou inquieto e preocupado.

— O que houve? — Toquei suavemente seu rosto, buscando


seus olhos. Sua palidez me assustava.
— Preciso de um momento para respirar — avisou, se
levantando abruptamente. Ofereci-me para acompanhá-la, mas
seus olhos se tornaram ferozes ao me encarar. — Quero ficar
sozinha para processar a ideia da possibilidade de ter mais de
um bebê chorão aqui dentro — apontou para sua barriga — que
você colocou, seu idiota!

Fiquei perplexo, observando-a se afastar com passos


firmes. Infelizmente, eu não podia lutar contra seus hormônios e
emoções descompensadas.

— Não se preocupe com ela — afirmou Amy, atraindo


minha atenção para si, numa clara tentativa de acalmar minha
apreensão. — A gravidez mexe com nossas emoções, meu filho.

Um sorriso reconfortante brotou em meus lábios,


compreendendo a situação.

De repente, tio Aidan entrou na sala acompanhado por


Christopher e outro rapaz. Sophie os seguia, conversando
animadamente com seu irmão Michael.

— Perdi alguma coisa? — perguntou nosso tio, curioso. —


Encontrei Aurora na entrada e ela parecia zangada.

— E quando é que aquela garota não está zangada? —


resmungou Christopher, revirando os olhos, sem perder a
chance de fazer um comentário sarcástico.

— Ei, respeito com minha esposa e mãe do meu filho —


repreendi-o, irritado com sua audácia.
Sophie ficou surpresa com a notícia da gravidez, e sua
expressão alternava entre espanto e felicidade. Assenti com a
cabeça para confirmar suas suspeitas.

Levantei-me para receber seu abraço caloroso. Logo


depois, Michael se aproximou e me apertou com força.

— É ótimo revê-lo em um momento tão especial de sua


vida, primo — disse ele, dando uns tapinhas em meu rosto.

Meu tio também veio em minha direção, sorrindo radiante.

— Meu coração transborda de alegria por vocês, meu


sobrinho — declarou, me apertando com carinho em seu abraço.

Em seguida, Owen nos chamou para uma reunião no


escritório. Fui o último a entrar, curioso para saber o motivo da
convocação.

— Ainda não compreendo o motivo da reunião, Owen —


disse tio Aidan. — Fui buscá-los no aeroporto, mas nenhum
deles quis me contar nada. — Soltou uma risadinha divertida ao
se referir a Christopher, seu amigo, Michael e Sophie.

Owen se serviu de um copo de uísque, preparando-se para


revelar o que estava acontecendo.

— Chamei todos aqui porque tenho algo importante para


compartilhar — anunciou, capturando nossa atenção. — Antes
de tudo, por que não nos apresenta o seu amigo, caçador? —
Fez um gesto em direção a Christopher, que se sentou em um
dos sofás, enquanto nós e os demais observávamos
atentamente.
— Este é Dexter — apresentou, apontando para o rapaz
com tatuagens espalhadas pelo pescoço. Seus olhos escuros e
aura misteriosa revelavam um homem enigmático. — Ele é meu
parceiro em algumas missões de caça.

O prazer em conhecer Dexter foi compartilhado por todos,


enquanto ele saudava a todos com sua voz grave.

Owen suspirou e, sabendo que tínhamos sua total atenção,


prosseguiu com a revelação:

— Na semana passada, Christopher e Dexter estavam em


busca da garota protegida pela Igreja e encontraram um dos
padres responsáveis por ela.

— Onde está o padre agora? — indagou Carter, curioso. De


fato, todos nós estávamos interessados.

— Ele está em um local seguro — respondeu Owen, sem


entrar em muitos detalhes. — Não posso revelar seu paradeiro
neste momento, pois pretendo utilizá-lo em nosso próximo
evento.

Meus olhos se arregalaram de surpresa ao ouvir sobre um


evento, e tio Aidan verbalizou a pergunta que todos queríamos
fazer:

— Que tipo de evento será esse?

Owen explicou que estava planejando um baile de


máscaras organizado por Amy, com o objetivo de identificar os
traidores infiltrados em nossa organização. O plano consistia em
trazer o padre para que ele pudesse reconhecê-los.
— Por que você acredita que estamos lidando com
traidores? — perguntou tio Aidan.

— A cada avanço que fazemos, parece que damos dez


passos para trás, tio — desabafou Owen. — Parece que há
alguém fornecendo informações privilegiadas ao inimigo.

— Aquele impostor nos enganou, e eu ainda não superei


isso — concordou Sean, indignado com a farsa do falso grão-
mestre.

— Será que esse padre realmente revelará algo? —


perguntei, pensativo. — Sabemos o quão devotos esses
fanáticos são.

Owen soltou uma risada, mas foi Christopher quem


respondeu:

— Esse padre é diferente. Ele não quer morrer, então


podemos contar com sua colaboração.

— Se o baile será de máscaras, como o padre fará o


reconhecimento? — questionou Kael.

— Também fiquei curioso sobre isso — acrescentou tio


Aidan.

Owen explicou que durante o evento as portas dos salões


seriam fechadas de repente, obrigando todos os convidados a
removerem as máscaras. É claro que esse detalhe não seria
mencionado no convite, para que os traidores se sentissem à
vontade.
— Parece que será divertido! — exclamou Sophie,
entusiasmada com o plano.

— Adoro quando a diversão envolve se livrar dos traidores


— complementou Michael, tão empolgado quanto, esfregando
as mãos em antecipação.

Sophie e Michael, com apenas um ano de diferença entre


eles, compartilhavam o gosto por um pouco de ação e
adrenalina.

— Michael, você gosta de um pouco de sangue, não é


mesmo? — Tio Aidan dirigiu a pergunta a ele.

Michael continuou rindo, apontando para Dexter.

— Não mais do que o nosso amigo aqui. Ele é especialista


nisso.

Dexter apenas soltou um sorriso enigmático, revelando seu


lado sombrio, que combinava com a aura que cercava os
trigêmeos.

Respirei fundo e decidi compartilhar uma informação que


tinha recuperado recentemente. Todos direcionaram sua
atenção para mim, curiosos com o que eu tinha a dizer:

— Além do braço tatuado do homem que sabemos ser o


grão-mestre, também me lembrei da parte traseira de um carro
em uma das minhas memórias resgatadas — revelei, frustrado
por não conseguir recordar de mais detalhes. — Não consigo
identificar o modelo ou qualquer outra característica específica,
mas estou me esforçando para lembrar de mais.
Owen colocou a mão no meu braço, me confortando.

— Sabemos que você está fazendo o seu melhor, Liam.

Com isso, a atenção da reunião voltou para o planejamento


do evento de máscaras e a busca pela garota protegida pela
Igreja, que parecia estar mais próxima de ser encontrada do que
nunca.
Passaram-se duas semanas desde que descobri que estava
grávida, e minha vida mudou de maneiras que eu nunca poderia
imaginar. Ainda estava tentando processar todas essas
mudanças que aconteceram tão rapidamente. Era difícil
absorver tudo de uma vez.

Sacudi a cabeça para dispersar os pensamentos enquanto


me preparava para sair. No entanto, parei por um momento e
observei Liam fazendo o mesmo. De repente, senti uma onda de
frustração me dominar.
— Você percebe que está me irritando, não é? — indaguei
abruptamente, enquanto o via terminar de arrumar seus
cabelos.

Liam franziu a testa e me encarou de soslaio.

— Por quê? O que fiz agora? — perguntou confuso.

Coloquei um pouco de perfume no meu pescoço e dei


alguns passos para trás para me observar melhor no espelho.
Estava usando um vestido claro com um decote profundo e um
par de sandálias de salto fino. Optei por um conjunto de brincos
de diamantes e o bracelete que Liam me presenteou, o qual eu
usava diariamente.

— Ah, você não sabe o que fez? — rebati, ajeitando meu


cabelo. Em seguida, me virei para Liam quando ele se
aproximou. O bastardo estava tão incrível e cheiroso, droga.

— Na verdade, eu não faço ideia — respondeu, com uma


expressão adorável.

Sem conseguir resistir ao desejo, apertei suas bochechas e


o beijei. Suas mãos imediatamente foram para meu traseiro.

— Você está se exibindo para mim e minha gula —


resmunguei, fazendo-o rir. — E sabe muito bem que minha fome
por você nunca é saciada...

Rimos juntos e sua boca tomou a minha, enquanto sua mão


deslizava, erguendo meu vestido e explorando entre minhas
pernas.
— Ainda temos alguns minutos — afirmou contra meus
lábios, esfregando os dedos em meu ponto sensível.

Gemendo desesperadamente por mais, fomos


interrompidos pelo som da campainha, o que frustrou meu
humor.

Odiava ficar desejando Liam. E ele, como sempre, se


afastou das minhas mãos ansiosas, sem esconder sua zombaria,
pois ele me conhecia muito bem. Em resposta, lhe mostrei o
dedo do meio.

— Não seja tão malcriada! — repreendeu-me.

— E você deixe de ser cínico, porque sei que adora minhas


malcriações— revidei, arrancando uma risada dele.

Insolente gostoso!

Depois de pegar minha bolsa de mão, saí do quarto e


cheguei ao hall a tempo de ver meu irmão entrando no
apartamento. Obviamente, eles foram as primeiras pessoas com
quem compartilhei a notícia da gravidez, logo após contar a
Liam. Meu pai foi o único que quase teve um ataque. Tão
dramático!

— Ainda não entendo por que você está aqui —


resmunguei, sem me preocupar com a grosseria.

— Uau! Por que está falando comigo nesse tom? —


Giovanni ficou assustado, piscando rapidamente. — O que
aconteceu?
— Ela não gozou — Liam respondeu por mim, fazendo meu
irmão soltar um palavrão alto.

Sacudiu a cabeça.

— Vocês são tão nojentos! — Fez uma careta, expressando


toda a sua repulsa.

Com um gesto decidido, nós três saímos do apartamento.


Como sempre, Liam optou por descer pelas escadas, enquanto
Giovanni e eu fomos pelo elevador.

— Qual é o problema dele? — perguntou, tentando


entender a estranha aversão de Liam a elevadores.

— Ele não gosta de elevadores — respondi de forma vaga.


— Agora, para de enrolar e me conta por que veio até a Irlanda
atrás de mim? Tem algo a ver com papai, não é?

Giovanni riu suavemente, como se soubesse algo que eu


não sabia.

— Estou aqui para ser uma espécie de babá.

Fiquei ainda mais confusa, balançando a cabeça em


negação.

— Babá é o seu cu!

Sua risada se intensificou, o que só aumentou minha


irritação.

— Você precisa reduzir o uso de palavrões, pois descobri


em uma pesquisa que os bebês ouvem tudo o que dizemos
dentro do útero — murmurou, de forma divertida. — Imagino
que você não queira que meu sobrinho seja tão malcriado
quanto você.

Balancei a cabeça, incrédula.

— Isso é só o que me faltava! — exclamei, sentindo a raiva


se acumular em mim. — Já não basta o Liam ter medo de
machucar a cabeça do bebê durante o sexo, agora a criança
também ouve nossas conversas?

Ao olhar para Giovanni, percebi sua expressão de repulsa.


Ele parecia meio enjoado.

— Sério! Eu não precisava saber disso. — Gesticulou,


claramente desconfortável. — Eu realmente não tenho interesse
algum em saber sobre sua vida sexual com seu marido, droga!

Nesse momento, as portas do elevador se abriram e


Giovanni saiu pisando firme. Eu o segui, achando a situação
engraçada.

Liam já estava me esperando no térreo, e ao me ver, seus


olhos buscaram respostas.

— O que aconteceu com ele? — perguntou, preocupado,


apontando para meu irmão.

Dei de ombros, fingindo não entender.

— Não ligue para esse idiota. — Estalei os lábios. — Meu


irmão é um tanto bipolar.

— Parece alguém que eu conheço — ironizou, e eu estreitei


os olhos em sua direção.
— Não cutuque — resmunguei, fervendo de irritação. — A
menos que seja com aquele "instrumento" grande que você tem
entre as pernas... — sorri maliciosamente, o provocando.

Ele também riu, me puxando para perto de seu corpo


quente.

— Safadinha!

Quando o carro parou em frente a um prédio belíssimo,


alugado especialmente para o baile de máscaras, uma mistura
de emoções invadiu meu peito. A adrenalina começou a vibrar,
pois eu sabia que algo grande estava prestes a acontecer. Liam
havia me contado sobre o plano do Owen para capturar os
traidores nesta noite.

— É realmente necessário usar essa máscara? —


questionou Giovanni assim que saímos do carro.

Tanto ele quanto Liam estavam usando máscaras


venezianas que cobriam apenas os olhos e o nariz. Eu escolhi
uma máscara do mesmo estilo, mas rendada.

— Você não foi informado de que estávamos indo para um


baile de máscaras? — respondi, impaciente.

— Droga! A culpa desse mau humor aí é sua — reclamou


meu irmão, apontando para Liam, que piscou inocentemente,
fingindo não entender.
— Agora é uma conspiração contra mim? — insinuou Liam,
divertido. — Tua irmã é uma cadela raivosa e a culpa é minha?

Revirei os olhos, ignorando os dois e segui adiante. Estava


curiosa e ansiosa para descobrir como a noite se desenrolaria a
partir daquele momento.

Ao entrarmos no local, fomos recebidos por uma cena


deslumbrante. O salão estava decorado com cortinas de veludo
vermelho e lustres cintilantes, que iluminavam o ambiente com
uma luz suave e romântica. Flores exóticas e arranjos
imponentes preenchiam o espaço com uma fragrância sedutora.
Mesas cobertas com tecidos finos exibiam copos de cristal
brilhando sob a luz dos candelabros. Ao fundo, uma orquestra
tocava uma melodia suave, criando uma atmosfera única.

— Uau! Isso está incrível! — exclamei.

Liam colocou sua mão no centro das minhas costas, como


uma forma de proteção. Ele estava ainda mais insuportável
desde que descobriu que seria pai.

— Amy é uma profissional excepcional na organização de


festas e eventos — declarou, cheio de orgulho da madrasta.
Percebi que ele a chamava pelo nome, embora ela praticamente
o tenha criado.

As máscaras dos convidados eram diversas, com cores


vibrantes e detalhes elaborados, enfeitadas com penas, pedras
preciosas e plumas. Os homens usavam trajes formais e
elegantes, enquanto as mulheres deslumbravam com vestidos
longos e extravagantes.
— Você sabe onde estão seus irmãos e seu tio? —
perguntei em um sussurro.

— Sei — ele respondeu brevemente.

Inspirei fundo, tentando me acalmar.

— Você ainda insiste em não me contar os detalhes do


plano, né? Tem certeza disso? — indaguei, com raiva. — Você
não confia em mim?

Ele me puxou para perto, causando um arrepio em meu


corpo.

— Essa não é a questão, e você sabe disso — afirmou. —


Estou apenas preocupado com...

— Minha segurança, a segurança do nosso bebê e blá blá


blá... — resmunguei, completando seu argumento. — Tão cafona
e previsível, Liam. — Sacudi a cabeça, revirando os olhos de
tédio.

— Não é minha culpa se você é uma cadela fria e


insensível, que não consegue distinguir um marido preocupado
de um marido cafona.

Não consegui evitar rir diante de suas palavras.

Avistei Amy no centro do salão, irradiando beleza e


elegância em seu longo vestido vermelho, com uma máscara de
prata que realçava seus olhos. Ela se movia com graciosidade,
cumprimentando os convidados e fazendo com que todos se
sentissem bem-vindos.
Longos minutos depois, aproveitando que Liam havia se
afastado, peguei uma taça de bebida da bandeja de um dos
garçons. Prestes a levá-la aos lábios, infelizmente, ela foi
arrancada de minha mão.

— Ei?! — reclamei.

— Gestantes não devem consumir bebidas alcoólicas —


afirmou Giovanni, sério. — Eu li que o álcool é prejudicial para o
desenvolvimento do feto, especialmente para o sistema nervoso
central. Não quero que meu sobrinho enfrente problemas devido
à sua irresponsabilidade, irmã.

Enchi meus pulmões de ar.

— Por que você veio atrás de mim, afinal? — resmunguei,


irritada. — Tão chato!

Ele riu, não se abalando com minha grosseria.

— Chato que você ama, pode admitir.

Rolei os olhos, mas acabei sorrindo para ele. Era evidente


que o amava mais do que qualquer coisa em minha vida.

No final das contas, tive que me contentar com água e suco


à medida que a noite avançava e as coisas pareciam demorar a
acontecer. Essa demora estava começando a me irritar. Nunca
fui paciente, sempre preferi a praticidade.

Por sorte, meu irmão se envolveu em uma conversa com


alguém, o que me deu a chance de me afastar e respirar um
pouco, escapando da sensação de sufocamento.
Enquanto caminhava pelo salão, sentia os olhares curiosos
dos convidados sobre mim. A sensação de ser observada não
era nova, mas desta vez era diferente. Era como se houvesse
uma presença invisível me segurando de alguma forma. Tentei
disfarçar o incômodo, me concentrando no que acontecia ao
meu redor.

Foi então que percebi uma troca de olhares entre Madison e


Christopher. Mesmo com as máscaras cobrindo seus rostos,
pude reconhecê-los. Era intrigante, pois, apesar de sermos
amigas, Madison nunca me permitiu ver além do que ela queria
mostrar. Ela continuava sendo uma incógnita para mim.

Um sorriso escapou dos meus lábios ao perceber que


Christopher tinha um desejo por minha cunhada maior do que
ele tentava demonstrar. De maneira discreta, me aproximei
dele, fazendo-o desviar o olhar da encantadora garota.

— É melhor controlar sua atração por Madison, caçador —


brinquei, mexendo nas minhas unhas. — Ou os trigêmeos vão te
castrar antes mesmo desta noite acabar. — Ri gostosamente.

— Você é tão inconveniente, sabia? — resmungou ele antes


de se afastar, pisando firme.

Meu sorriso se ampliou.

De repente, quando voltei minha atenção ao redor, me


deparei com Liam me olhando intensamente de onde estava,
conversando com um grupo de homens. Seu olhar era tão
penetrante que me senti nua diante dele. Como ele podia me
enxergar tão profundamente mesmo com a máscara cobrindo
meu rosto? Era como se o idiota pudesse ler minha alma.
A música suave e os murmúrios das outras pessoas se
tornaram um borrão. Não precisávamos de palavras para nos
entender. Nossos olhares transmitiam tudo o que precisávamos
saber.

Insolente, gostoso da porra!

Imersa nessa atmosfera só nossa, continuei circulando pelo


salão, mas sempre ciente dos olhos de Liam fixos em mim. Ao
me aproximar da porta, respirei fundo, ansiando sentir o ar
fresco da noite. Meu estômago estava revirado devido aos
malditos sintomas da gravidez. Eram terríveis.

Na verdade, ainda não tinha tido tempo de me acostumar


com a ideia de ser mãe. Caramba! Eu nem tinha vinte anos e já
estava carregando um bebê chorão em meu ventre. Por que
permiti que isso acontecesse?

Suspirei baixinho e, instantes depois, decidi voltar ao


centro do salão, ansiando ficar perto de Liam quando a ação
finalmente começasse. Porém, de repente, algo aconteceu e o
lugar mergulhou na escuridão total.

Nesse momento, congelei, mantendo meus pés firmes no


lugar até entender o que estava acontecendo. Eu não fazia ideia
se aquilo estava dentro do plano. Foi então que senti um braço
envolvendo minha cintura, enquanto um corpo quente se
aconchegava ao meu. Minha garganta se fechou quando algo
pontiagudo pressionou minha barriga.

Automaticamente, meu coração começou a bater


acelerado, enchendo meu ser com um pavor absoluto. Não tive
coragem de me mover sequer um centímetro. O desconhecido
se afastou de mim devagar, sem remover a adaga de minha
barriga.

Apesar da pouca iluminação, consegui vislumbrar a


máscara que cobria todo o seu rosto. Era escura e me lembrou
aquelas usadas pelos médicos durante a época da Peste Negra
na Europa.

— Quem é você? — perguntei, mesmo tremendo por


completo.

Ele levantou a mão livre e colocou o dedo indicador na


altura da boca, em um gesto silencioso e claro para que eu não
fizesse perguntas. Ficou evidente que ele sabia exatamente
quem eu era, não havia dúvidas.

A ponta da adaga permaneceu no lugar, enquanto sua


outra mão se concentrou em meu pescoço com outra adaga, e
eu senti a lâmina cortando. Lágrimas inundaram meus olhos,
pois me sentia incapaz de reagir. Mesmo com todo meu
treinamento, a coragem parecia ter me abandonado, com o
medo pela vida do meu bebê dominando meus pensamentos.

Tremendo dos pés à cabeça, não percebi exatamente


quando ou como aconteceu, mas as luzes se acenderam
rapidamente e me vi sozinha. O desconhecido simplesmente
desapareceu, deixando apenas um bilhete em meu decote.

Logo em seguida, Liam estava ao meu lado, me segurando


enquanto minhas pernas ameaçavam ceder diante do impacto
causado por minhas emoções. Nada ao meu redor importava,
somente ele e seu semblante aterrorizado.
— O que aconteceu? — perguntou, tentando entender. —
Quem fez isso com você? — Tocou o ferimento em meu pescoço.

— U-um homem com uma máscara da peste — consegui


pronunciar, apesar da dificuldade

— É melhor você tirá-la daqui, irmão — reconheci a voz de


Carter.

Liam me pegou nos braços, e tudo o que fiz foi esconder


meu rosto na curva do seu pescoço, lutando para assimilar tudo
o que acabara de acontecer.

Em questão de segundos, nos encontramos em uma


pequena sala. Liam me colocou sentada e, em seguida, se
ajoelhou aos meus pés, mantendo suas mãos em mim o tempo
todo, como se quisesse ter certeza de que eu estava ali e bem.
Nossas máscaras estavam erguidas, permitindo que eu
vislumbrasse o pavor refletido em seus olhos, sem dúvida o
mesmo que transparecia nos meus.

Soluçando e com mãos trêmulas, entreguei-lhe o bilhete.

— O que é isso?

— E-ele me ameaçou — relatei, com a voz falha —, ou


melhor, ameaçou o nosso bebê. — Levei as mãos ao rosto,
sentindo o peso do medo me dominar novamente. — Antes de
sair, ele enfiou esse bilhete no meu decote.

Liam se levantou, desdobrando o papel com rapidez.


Eu estava sem ar. O mundo parecia ter desabado ao meu
redor. Inclinando-me ali mesmo, senti o vômito escapar.
Rapidamente, Liam se aproximou, segurando meus cabelos para
evitar que se sujassem. Percebi que ele também tremia, uma
mistura de raiva e medo, especialmente pelo bem-estar do
nosso bebê.

Funguei, limpando a boca com as costas da mão.

— Você está bem? — perguntou, tocando meu rosto. Seus


olhos brilhavam, embora não derramassem lágrimas.

Neguei com a cabeça.

— E-eu não consegui reagir, Liam — balbuciei, me sentindo


estúpida. — Mesmo com todo o meu treinamento, não consegui
me defender, porque... — fechei os olhos, desejando apagar
aquela lembrança de minha mente — o maldito tinha uma faca
pressionada contra minha barriga. E-ele ameaçou nosso bebê. —
Meu choro se intensificou.
Desesperado, ele voltou a me puxar para seus braços,
segurando-me com força enquanto beijava minha cabeça
repetidamente.

— Estou aqui agora — disse ele, com a voz embargada. —


Estou aqui agora, fedelha, e prometo que vou proteger você e
nosso bebê.

Apertei-o com mais força, incapaz de parar de chorar.

— Por que não consegui me defender, Liam? Por que fiquei


paralisada como uma tola?

Ele se afastou um pouco, segurando meu rosto molhado


entre suas mãos quentes. Percebi que estava tão emocionado
quanto eu.

— Você estava apenas sendo uma mãe, Aurora — declarou,


tocando nossos lábios num beijo casto. — Sua reação foi
proteger nosso bebê, entende?

Meu rosto se contorceu novamente com novas lágrimas,


pois naquele momento eu finalmente compreendi a conexão e a
intensidade do amor que sentia pela criança em meu ventre.

Meu filho. Meu bebê.

Entendi que seria capaz de qualquer coisa para mantê-lo


seguro.
— O que está acontecendo? — questionou Giovanni,
entrando na sala como um furacão. — Irmã!

Afastei-me de Aurora quando os dois se abraçaram,


observando suas lágrimas dolorosas que dilaceravam meu
coração aos poucos. As malditas palavras escritas naquele
bilhete ecoavam incessantemente em minha cabeça, como um
disco arranhado que se repetia sem parar. Sentia-me impotente
diante da situação, mas sabia que precisava encontrar forças
para ser o apoio que minha garota necessitava.
Logo em seguida, Kael se aproximou, acompanhado por
Sophie e seu irmão. A voz de Sophie me tirou de meus
pensamentos sombrios:

— Os convidados estão indo embora — anunciou, fazendo


com que meus olhos se arregalassem.

— Por quê? — indaguei, percebendo que minha voz soava


estranha. — Eles não podem ir!

Kael, percebendo meu tormento, tentou entender o que


estava acontecendo. Meus olhos se voltaram para Aurora, que
agora estava de pé. Seu olhar silencioso me suplicava por
consolo, mesmo que ela não pronunciasse uma palavra.

— Preciso que fique com ela, Giovanni — declarei, sentindo


o peso da responsabilidade em minhas palavras. — De
preferência, longe daqui.

Não esperei para ouvir mais nada. Deixei a sala e segui em


direção ao salão com os outros. A adrenalina corria em minhas
veias, enquanto minha mente buscava uma solução para
proteger minha família e acabar com o Grão-mestre de uma vez
por todas.

— Liam, por favor, nos diga o que está acontecendo — ouvi


a voz de Michael, que me seguia de perto. — Tem algo a ver
com o homem que atacou Aurora?

— Vocês conseguiram encontrá-lo? — perguntei, esperando


ouvir que o desgraçado tivesse sido capturado.
— Não — respondeu Sophie com uma ponta de frustração.
— Mas estamos procurando.

Encontramos Owen e os demais em uma sala adjacente do


prédio. Todos estavam reunidos ao redor de um homem, que
deduzi ser o tal Padre que Christopher e Dexter haviam
encontrado na Escócia.

— Como isso aconteceu? — murmurei ao parar para


observar o corpo do homem morto à nossa frente. Seu peito
estava desnudo, com a palavra "traidor" gravada com uma
lâmina. — Ele não estava sob vigilância?

— Os seguranças foram mortos também — Foi tio Aidan


quem respondeu, frustrado. — Estamos tentando recuperar as
imagens das câmeras de segurança. — Apontou para
Christopher, que estava concentrado mexendo em um laptop.

Inquieto, entreguei o bilhete a Owen, cuja fúria era visível.


Ele estava prestes a explodir.

— Foi ele — declarei, tremendo dos pés à cabeça. Todos


voltaram sua atenção para mim. — Aurora foi atacada pelo
próprio Grão-mestre. — Minha raiva estava à beira de
transbordar, difícil de controlar.

Um palavrão escapou de seus lábios quando ele abriu o


bilhete e leu seu conteúdo. No início, Owen permaneceu em
silêncio, mas depois de alguns instantes, amassou o papel,
soltando um rosnado feroz como um animal enfurecido.

— Aquele desgraçado teve a audácia de invadir nosso


território e ameaçar um dos meus — rugiu, seus olhos faiscando
de fúria, enquanto dava alguns passos para trás. A tensão em
seu corpo era palpável, seus músculos rígidos como aço. —
Sempre um passo à frente. Sempre sabotando minhas pistas e
progressos. Droga!

Desferiu socos violentos na parede, ignorando a dor em


seus punhos machucados, como se estivesse descarregando
toda a sua frustração e impotência ali mesmo.

— Eu sei que você está frustrado, mas não adianta perder o


controle agora — disse tio Aidan, tentando acalmar a situação.
— Precisamos agir com sangue-frio.

Owen o encarou com o maxilar trincado, sua respiração


ofegante denunciando sua raiva incontrolável.

— O senhor está vendo aquele homem morto ali? —


Apontou para o corpo do padre estendido na cadeira. — Ele era
minha última esperança de descobrir o motivo pelo qual nossas
informações estão sendo vazadas, porque está claro que temos
traidores entre nós. Então, com todo respeito, tio, não me peça
para ficar calmo.

De repente, a sala foi invadida por dois capangas,


carregando um homem com uma máscara da peste. Ao ser
brutalmente jogado no chão, Sean e Carter se aproximaram do
infeliz, arrancando aquela maldita máscara.

— Olhem o braço dele — pedi, nervoso. — Vejam a


tatuagem. Foi esse desgraçado que atacou a Aurora e deixou
aquele bilhete com ela.
— Não tem nada — declarou Carter, desapontado. —
Provavelmente tudo estava planejado para que ele assumisse o
lugar do chefe.

Owen se aproximou do prisioneiro com uma expressão


implacável.

— Onde ele está? — perguntou, se posicionando em frente


ao homem. — Quem o colocou aqui?

O prisioneiro começou a se debater quando Carter


pressionou o pé em seu pescoço, obstruindo suas vias
respiratórias.

— Precisa de algum incentivo? — insinuou Carter com um


olhar maquiavélico, antes de liberá-lo. O homem começou a
tossir.

— Não adianta resistir, cara! — disse Michael, visivelmente


irritado. — Vamos extrair as respostas de você, queira ou não.

O sujeito nos encarou com desdém, um sorriso sinistro nos


lábios. Era evidente que ele não tinha a intenção de colaborar.

— Vamos fazer isso da maneira fácil ou da maneira


dolorosa? — provocou Sean, apontando um bastão com uma
ponta de metal em direção ao sujeito.

Owen se abaixou diante do homem caído e sussurrou com


uma firmeza sombria:

— Se quiser evitar mais sofrimento, fale logo. Quem é o


Grão-mestre? Quem está por trás de tudo isso?
O filho da puta permaneceu calado. Não estávamos diante
de um simples capanga; era alguém determinado a não ceder.

— Não vamos conseguir nada com ele, Owen. — Dexter


balançou a cabeça, decepcionado. — O idiota se recusa a
cooperar e não parece ter medo das consequências.

Owen soltou um suspiro profundo e desalentado, seu rosto


contorcido em uma mistura de raiva e impotência.

— Maldito covarde! — praguejou. — Se não vai falar, então


não serve para nada!

Seus punhos cerraram, os nós dos dedos ficando brancos


com a tensão. A raiva pulsava em suas veias enquanto ele
lutava para conter a explosão de emoções.

— Podemos tentar outro método — sugeriu tio Aidan. —


Vocês sabem minha opinião sobre a tortura, não é? Não
funcionará com eles. — Fez um gesto em direção ao moribundo,
indicando que a violência não era a solução para aquele
problema.

Nesse momento, um arrepio percorreu minha espinha


quando percebi o prisioneiro segurando o pingente de sua
corrente com a boca. Um grito de advertência escapou de meus
lábios, mas foi tarde demais. O homem começou a se debater
no chão, convulsionando violentamente, enquanto o cianeto
fazia seu trabalho letal.

— Merda! O filho da puta se matou! — exclamei, dominado


pela raiva. — Por que diabos não revistaram o infeliz? Está claro
que todos eles têm essas malditas cápsulas de cianeto. Droga!
Minha indignação transbordava, e meu punho encontrou a
parede, descontando parte da frustração que me consumia. A
única coisa que ecoava em minha mente era a ameaça que
aquele maldito havia feito à minha família.

— Liam... — tio Aidan tentou interromper minha explosão


de raiva, mas fui implacável.

— Ele ameaçou minha esposa, tio — interrompi sua


tentativa de me acalmar — e meu filho, que ainda nem nasceu.
Eu quero a cabeça daquele desgraçado — rosnei, quase
espumando de raiva. O desejo de vingança pulsava em meu
interior, alimentando a chama da determinação.

— Juro que, por mais que eu pense, não consigo encontrar


nenhuma ligação entre o grão-mestre e o acidente que tirou a
vida de nossa mãe — comentou Kael, perplexo. — Não faz
sentido. — Ele balançou a cabeça, buscando desesperadamente
alguma conexão lógica.

— Talvez o alvo não fosse nossa mãe — disse Owen,


absorto em seus pensamentos.

— Por que acredita nisso? — indaguei, curioso com sua


teoria.

Ele deu de ombros.

— Papai sempre gostou de confrontar organizações rivais —


justificou, enquanto uma nuvem de nostalgia pairava em seu
olhar. — Ele nunca nos contou, mas... e se ele soubesse a
identidade do grão-mestre e tentou destruí-lo?
— Meu irmão era um homem tinhoso, e gostava de se
sentir um super-herói. Talvez tenha se envolvido em uma
batalha que desconhecemos — concordou tio Aidan com um
suspiro baixo.

Christopher soltou um palavrão de repente.

— Acessei as imagens das câmeras de segurança, mas não


encontrei nada de concreto que pudesse nos ajudar. Parece que
estamos presos em um emaranhado de informações
insuficientes. — Suspirou pesadamente, abandonando o laptop.

Um peso opressor se abateu sobre meus ombros, a derrota


estampada em minha expressão abatida.

— Como está sua esposa? — perguntou Owen, preocupado,


enquanto apertava meu ombro.

Balancei a cabeça negativamente, desejando apagar as


angustiantes lembranças do choro sofrido de Aurora ecoando
em minha mente.

— Assustada — respondi com um engasgo emocional. —


Nunca a vi tão vulnerável. Apenas as lembranças me deixam
sem ar, Owen.

— Pessoal, olhem isso! — exclamou Dexter, chamando a


atenção de todos para a tela brilhante de um celular.

— É do cadáver? — perguntou tio Aidan, curioso.

Dexter assentiu.
— Revirei os bolsos dele em busca de pistas. Estava
bloqueado, mas consegui desbloqueá-lo. Aqui há várias ligações
para um único número e um histórico detalhado de localizações.
E vejam só... um endereço que se repete diversas vezes.

Todos nos aproximamos para ver o que ele tinha


descoberto. As informações no celular apontavam claramente
para uma conexão entre o morto e um local específico. Era um
vislumbre de esperança em meio à escuridão total de
informações.

— Precisamos investigar esse endereço. Talvez


encontremos alguma pista sólida sobre o Grão-mestre e sua
rede de traição — sugeriu Christopher.

Owen suspirou enquanto absorvia a informação.

— Vou continuar aqui por enquanto, me certificando de que


não estamos deixando passar nada — afirmou, com os dentes
cerrados. — Pretendo interrogar todos os seguranças desta noite
para tentar descobrir algo. Estou cansado de ser enganado. A
morte deste homem — apontou para o padre — é inaceitável.
Além do mais, o ataque à minha cunhada ocorreu bem diante de
nossos olhos. — Respirou fundo na tentativa de se controlar.

— Posso ficar com você — ofereceu tio Aidan.

— Tudo bem — assentiu Owen, enchendo os pulmões de ar.


— Liam, Christopher e os trigêmeos podem investigar esse
endereço, então. O restante ficará aqui. Não tenho ideia do que
está acontecendo no salão, já que deixamos Amy e Madison
sozinhas com os convidados.
— Se preferir, posso levar as duas para casa — sugeriu
Christopher, pigarreando para disfarçar. Seu interesse por nossa
irmã era evidente.

— Não exagere, caçador — rosnou Carter em um tom


ameaçador.

Christopher sorriu, erguendo as mãos em sinal de rendição,


embora a frustração brilhasse em seus olhos.

Com isso, partimos em direção à saída.

Ao chegarmos ao endereço, nos deparamos com um galpão


abandonado de aspecto sombrio e decadente. A tensão pairava
no ar enquanto nos aproximávamos com cautela, armados e
preparados para qualquer eventualidade.

O ambiente era escuro e silencioso, apenas a luz fraca da


lua se infiltrava pelas janelas quebradas, projetando sombras
inquietas nas paredes deterioradas. Nossos sentidos estavam
aguçados, alertas a qualquer sinal de perigo iminente. Cada
passo cuidadoso ecoava pelo espaço vazio, como se o próprio
galpão nos observasse.

— É melhor ficarem atentos, porque duvido que estejamos


sozinhos aqui — sussurrou Kael, preparando sua pistola com
movimentos precisos e silenciosos.

— Espero que não tenham medo de encontrar o bicho-


papão, caçadores — zombou Sean, provocando Christopher e
Dexter com um toque de sarcasmo.

— De qualquer maneira, vocês estão em boas mãos —


decretou Carter, cheio de arrogância e confiança.

Revirei os olhos impacientemente, irritado com a


necessidade incessante deles de se afirmarem como superiores.
Um bando de tolos presunçosos.

— Por que não fecham a boca, droga?! — exclamou


Christopher, sua paciência esgotada diante das provocações.

De repente, o silêncio foi rompido pelo som metálico de


armas sendo engatilhadas, ecoando como um aviso sinistro no
ar carregado.

— Droga! — praguejamos em uníssono, nossos reflexos


aguçados nos impulsionando a nos jogar para os lados,
escapando da mira dos atiradores ocultos.

Em questão de momentos, o galpão se transformou em um


cenário caótico de tiros e explosões. O ar reverberava com o
estrondo ensurdecedor das armas, criando uma atmosfera
frenética e tensa. Respondemos de forma precisa, com rajadas
de metralhadora cortando o ar e Kael brandindo sua arma
preferida, uma lança-chamas que iluminava a escuridão com
línguas de fogo ardentes.

Aproveitando cada oportunidade, eu agarrava um dos


inimigos, permitindo que minha fúria fluísse pelos meus punhos,
quebrando ossos e desferindo golpes violentos contra aqueles
malditos que seguiam um líder determinado a arruinar minha
felicidade. Não podia aceitar isso. Jamais aceitaria perder Aurora
e nosso bebê.

Preferia enfrentar a morte.

Enquanto a batalha se desenrolava ao meu redor,


testemunhei o momento em que Carter, com um sorriso sádico,
agarrou um dos capangas pelo pescoço. Com uma frieza
calculada, pressionou a arma dentro da boca do desgraçado e
puxou o gatilho. O som do disparo ecoou pelo galpão, e o
sangue jorrou, manchando o ambiente com sua bagunça
vermelha. Ao jogar o cadáver no chão, Carter rasgou a camiseta
do morto e, com uma lâmina afiada, esculpiu a letra "T" em seu
peito, uma assinatura macabra que deixavam em cada vítima,
quase como um ritual sombrio.

Longos minutos se passaram e finalmente tivemos a


certeza de que a situação estava sob controle, começamos a
revistar as roupas de todos os mortos.

— Este aqui é do alto escalão, observem a tatuagem dele


— apontou Dexter, indicando o braço de um homem. — A cruz é
diferente. — Nos aproximamos quando ele encontrou um celular
e começou a buscar informações.

— Encontrou alguma coisa? — perguntei, ansioso.

— No histórico de localizações recentes, há um endereço


gravado.

— Onde? — indagou Christopher, tão curioso, quanto todos


nós.
Dexter franziu a testa, um tanto confuso.

— Parece ser em um local praticamente esquecido na


Escócia, quase medieval. Acredito que será bastante difícil
encontrá-lo com precisão.

— Será que é onde a garota santa está escondida? —


questionou Carter, soltando uma risadinha irônica.

— É uma possibilidade — respondeu Dexter, dando de


ombros.

Continuamos avançando, explorando o local


cautelosamente, passo a passo, mantendo nossas armas
prontas para qualquer emboscada.

— Não consigo entender por que o Grão-mestre está tão


interessado em você, Liam — ponderou Christopher, quebrando
o silêncio. — Nada parece se encaixar, droga! — Estalou os
lábios, demonstrando sua inquietação.

— Talvez seja hora de começarmos a investigar o passado


— mencionei, encolhendo os ombros. — Acredito que pode ser o
caminho para desvendar todo esse enigma.

De repente, nossa atenção foi capturada por um som


abafado vindo de uma área isolada. Nossos olhares se
encontraram, compartilhando o mesmo pressentimento sinistro.
Movendo-nos em silêncio, nos aproximamos da fonte do som,
nossas armas apontadas, prontos para enfrentar qualquer
ameaça que surgisse.
Finalmente, abrimos a porta de uma sala, trancada por uma
grade enferrujada, e nos deparamos com uma visão chocante:
várias crianças assustadas e encurraladas estavam aprisionadas
ali. Meu coração apertou no peito, e as lágrimas embaçaram
meus olhos diante daquela cena angustiante.

Christopher e Dexter agiram rapidamente, utilizando suas


habilidades para abrir a grade e libertar as crianças. Eram
meninos e meninas de diversas idades, com expressões de
alívio e medo misturados em seus rostinhos inocentes.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou Kael,


segurando uma das crianças nos braços, sua voz embargada
pela emoção. Não demorou muito para percebermos que todas
as crianças eram de origem russa.

Instintivamente, apontei para o braço de uma delas,


revelando uma tatuagem que parecia uma etiqueta.

— Mercadorias... — sibilou Dexter, os dentes cerrados de


raiva. — Malditos desgraçados!

Aquela situação nos revoltou e indignou profundamente,


mas percebi que para Dexter, a cena teve um impacto ainda
maior.

— Não há dúvidas de que essas crianças seriam vendidas


— afirmou Kael, sua voz carregada de tristeza e fúria. —
Precisamos chamar o delegado.

— Melhor ligar para o Owen primeiro — avisei, vendo Kael


concordar com um movimento de cabeça.
Enquanto aguardávamos uma resposta, senti um aperto no
peito e me aproximei cautelosamente de uma garotinha
encolhida no canto, segurando um ursinho rosa. Parecia ter
pouco mais de quatro anos, tão pequena e frágil. Meu coração
se partiu diante daquela visão desoladora. Como é possível que
o ser humano seja tão cruel?

Não ousei falar com ela, nem me aproximei demais, pois


seus olhos assustados transmitiam a falta de confiança em
estranhos. Fiquei ali, apenas observando-a, me questionando
sobre a situação de seus pais e imaginando o horror que aquelas
pobres crianças haviam enfrentado até chegarem àquele lugar.

— Owen disse que sim, podemos chamar o delegado, já


que estamos pagando uma fortuna para aquele porco limpar
nossas sujeiras — informou Kael, instantes depois, me trazendo
de volta à realidade. — E, depois do último susto, duvido que ele
queira nos trair novamente.

Logo após a emboscada traiçoeira que sofri naquela boate,


armada pelo delegado, onde a fúria de Kael foi contida apenas
pela intervenção de Owen, a vingança não tardou a chegar.
Owen, meticuloso como sempre, fez questão de visitar o
delegado no hospital dias depois da surra que levou do nosso
irmão, uma visita que serviu como uma cruel demonstração de
poder.

Aquele encontro foi marcado pelas provas incriminadoras


que Owen apresentou, esfregando na cara do delegado todas as
evidências que o ligavam a nós. Fotos e vídeos de sua amada
esposa e seus filhos foram exibidos, uma ameaça velada
pairando no ar. Claro que, em nosso íntimo, nenhum de nós
ousaria tocar em um fio de cabelo de sua família, mas o
delegado não precisava saber disso. Apenas o temor era
suficiente para mantê-lo em linha.

— Após resgatarmos todas as crianças, vamos incendiar


este lugar até o chão — afirmou Kael, sua voz firme e decidida.

— Uma explosão? — perguntou Sean, parecendo


entusiasmado com a ideia.

— Sim, uma explosão. Precisamos eliminar todos os


vestígios, deixar apenas cinzas para trás — confirmou. — E a
respeito da pista encontrada, ele pediu para vocês dois —
apontou para Christopher e Dexter — viajarem para Escócia
imediatamente. Sem perda de tempo.

Enquanto eles conversavam, minha atenção, no entanto, se


desviou para as crianças encurraladas, e um nó se formou em
meu peito, sufocando-me. A imagem do rosto choroso de Aurora
estava tatuada em minha memória, como uma dolorosa punição
que eu carregava constantemente, uma lembrança que me
castigava implacavelmente.

Recordar aquele momento em que a encontrei paralisada


pelo medo era como um soco no estômago. Sentia-me
impotente, frustrado por não ter sido capaz de protegê-la
quando ela mais precisava. O sentimento de culpa me corroía
por dentro, me fazendo questionar minhas habilidades, minha
força e meu propósito em tudo aquilo.

Eu sabia que seria difícil esquecer aquele olhar.


Infelizmente, percebi que minha fraqueza foi descoberta pelo
Grão-mestre.
O maldito descobriu exatamente onde me atingir.
— Quer conversar? — Meu irmão colocou a mão em meu
ombro, e uma onda de arrepios percorreu minha espinha.
Instintivamente, me encolhi um pouco, o que claramente o
deixou preocupado. — Você está com medo de mim? —
perguntou com voz suave, meio incrédulo.

Rapidamente, segurei sua mão e entrelacei nossos dedos,


negando com a cabeça. As emoções me sufocavam e as
palavras pareciam trancadas em minha garganta.

— Me perdoe... — sussurrei, lutando para conter o turbilhão


de sentimentos. — Eu... estou confusa, assustada. — Suspirei
baixinho, fazendo uma breve pausa. Estávamos sentados no
banco de trás do carro, a caminho do meu apartamento. — Meu
bebê foi ameaçado e eu nunca senti tanto medo em minha vida.
— Meu corpo tremia sob a intensidade das emoções.

— Tudo aconteceu tão rápido que eu demorei a processar


— explicou. — Fiquei desesperado quando percebi que você não
estava ao meu lado.

Funguei, enxugando as lágrimas que não cessavam.

— E-eu não conseguia me mover — sussurrei, aprisionada


nas garras daquelas malditas lembranças. — Era como se meus
pés estivessem colados no chão.

— Você só queria proteger seu bebê, irmã — Giovanni


declarou com convicção. — Não se torture por isso.

Não disse nada. Na verdade, desejava ficar em silêncio,


embora meus pensamentos se recusassem a se aquietar.

Após longos minutos, finalmente chegamos ao prédio onde


eu morava. No trajeto, Giovanni ligou para nossos pais,
relatando o ocorrido, mas sem entrar em muitos detalhes.
Obviamente, mamãe pediu para falar comigo, mas eu recusei.
Não estava em condições de conversar com ninguém.

— Vou preparar algo para você comer — avisou assim que


entramos no apartamento. — Está com fome?

— Não.

— Mas meu sobrinho está — rebateu, ignorando minha


resposta.
Deixei meus ombros tombarem de modo indiferente e
continuei caminhando em direção ao quarto. Arranquei minhas
sandálias, jogando-as descuidadamente em qualquer canto, e
segui direto para o banheiro, ansiando por um banho que
pudesse aliviar minhas emoções em turbilhão.

Minha mente insistia em reproduzir incessantemente


aquela maldita máscara que me assombrava. Eu não estava
acostumada a temer algo ou alguém. Sempre me orgulhei de
minha força e coragem. Mas naquele momento, tudo o que
sentia era medo.

Com um suspiro de alívio, tranquei a porta do banheiro,


finalmente encontrando um momento de privacidade. Os
eventos recentes tinham sido exaustivos e o peso da gravidez
começava a se fazer presente. Com cuidado, comecei a me
despir, sentindo-me vulnerável e exposta diante do espelho.
Meus olhos encontraram o reflexo do meu ventre, ainda plano,
mas com a certeza de que dentro dele meu "insolentezinho 2"
estava se desenvolvendo.

Lágrimas borbulharam em meus olhos, mas desta vez eram


diferentes. Eram lágrimas de amor incondicional, de um
sentimento tão profundo que me pegava desprevenida. Nunca
imaginei que pudesse experimentar um amor tão poderoso,
capaz de superar qualquer obstáculo. Meu coração transbordava
de alegria e gratidão.

Com mãos trêmulas, acariciei suavemente meu ventre,


sentindo a presença do meu bebê. Era como se estivéssemos
nos conectando, mãe e filho, através do toque.
— Não tinha ideia de que te amava tanto assim —
sussurrei, me sentindo tola e, ao mesmo tempo, maravilhada
por estar conversando com meu bebê. Funguei o nariz, tentando
conter a emoção. — Você terá pais incríveis, meu amor. Seu pai
e eu faremos tudo ao nosso alcance para manter você seguro.

Permaneci ali por mais alguns momentos, simplesmente


me permitindo desfrutar daquela conexão. Então, meus
pensamentos se voltaram para o corte em meu pescoço,
percebendo que não era tão grave quanto parecia. Era apenas
um ferimento superficial. Com um suspiro de alívio, segui em
direção ao chuveiro.

Liguei a água morna e entrei debaixo do chuveiro, sentindo


a tensão dos meus músculos relaxarem a cada gota que caía
sobre meu corpo. Fechei os olhos e inclinei a cabeça para trás,
permitindo que a água escorresse pelo meu rosto e cabelos. A
sensação era revigorante, como se estivesse lavando todas as
preocupações e medos.

Fiquei tanto tempo debaixo do chuveiro que me assustei


quando Giovanni bateu levemente na porta:

— Está tudo bem aí dentro? — Sua voz preocupada ecoou


pelo cômodo. Fiquei em silêncio por um momento, apenas
apreciando a sensação reconfortante da água. — Aurora, se
você não responder, vou ter que arrombar a porta, tá?

— Estou bem — finalmente respondi. — Já estou saindo.

Desliguei o chuveiro e saí do box, me envolvendo em um


roupão macio. Enrolei minha toalha nos cabelos molhados e me
dirigi ao quarto, onde encontrei Giovanni sentado na cama.
— Preparei uns sanduíches — avisou, enquanto eu
caminhava em direção ao closet para escolher uma roupa. —
Você precisa se alimentar.

— Vejo que você está levando esse negócio de ser minha


babá de forma literal, hein? — resmunguei, irritada, franzindo a
testa e cruzando os braços.

O idiota riu, deixando claro que estava se divertindo com


minha insatisfação.

— Pelo jeito, você está se sentindo melhor... — provocou,


erguendo uma sobrancelha de forma insinuante — seus
comentários ácidos estão de volta.

Revirei os olhos, um leve sorriso se formando nos cantos da


minha boca, enquanto voltava para o banheiro para me vestir. A
sensação de que algo estava errado continuava a me
acompanhar, mas eu precisava me recompor e seguir em frente.

— Você sabe onde o Liam está? — perguntei ao sair do


banheiro alguns minutos depois, já vestida. — Eu estava tão
abalada que não prestei atenção em nada. Eles conseguiram
capturar o homem que me atacou?

Meus olhos permaneciam fixos nele enquanto penteava


meus cabelos, esperando por uma resposta que pudesse aliviar
minhas preocupações.

— A Sophie me informou que Liam, Christopher, Dexter e


os trigêmeos saíram em uma missão.

Franzi a testa, demonstrando minha confusão e ansiedade.


— Que tipo de missão? — indaguei, buscando mais
detalhes — Então eles não conseguiram capturar o líder do
grupo?

Giovanni ficou pensativo por um momento, como se


escolhesse cuidadosamente as palavras que diria em seguida:

— Parece que não conseguiram — respondeu, soltando um


suspiro de frustração — Pelo que entendi, há muitos problemas
surgindo.

Terminei de pentear meu cabelo e me acomodei na cama,


recostando-me na cabeceira. Giovanni me serviu o sanduíche e
um suco de laranja, mas minha inquietação era tão intensa que
meu apetite estava completamente comprometido.

— Não gosto dessa situação — resmunguei, dando uma


mordida no pão, mas sentindo um nó no estômago.

— Que situação? Do que diabos você está falando?

— Essa missão em que o Liam está envolvido — murmurei,


preocupada. — Tenho um pressentimento ruim, Giovanni. Tenho
certeza de que foi o próprio grão-mestre que me atacou naquele
salão, senti isso em meus ossos. E se essa missão for uma
armadilha, assim como da última vez? O Liam pode ser
habilidoso, mas às vezes age com emoção e tem dificuldade em
enxergar as coisas claramente.

Giovanni soltou uma risada irônica, o que me fez arquear


uma sobrancelha em resposta.
— Você está chamando seu marido de burro? — perguntou
ele entre risos.

Uma risada escapou espontaneamente da minha garganta,


preenchendo o ambiente com uma sensação leve e contagiante.

— Claro que não! — exclamei, ainda rindo. — Só estou


dizendo que ele é sentimental, ora.

Continuamos rindo, permitindo que aquele momento


descontraído se estendesse por alguns instantes, envolvendo-
nos em uma atmosfera de cumplicidade e alegria.

— Brincadeiras à parte, Aurora, o Liam não está sozinho —


murmurou, seu tom de voz ficando sério. — Tenho certeza de
que eles sabem muito bem o que estão fazendo.

Apesar de suas palavras, não consegui me sentir


completamente convencida. No entanto, decidi engolir minhas
dúvidas por um momento, guardando-as para uma reflexão
posterior. Curiosa, abordei um assunto que me deixou intrigada:

— A propósito, por que a Sophie te ligou? — indaguei,


desconfiada. — Pensei que você estivesse envolvido em um
lance com a Lili.

Ao mencionar o nome de Liliana, a cunhada da Nina,


percebi uma sombra passar pelo rosto dele.

— Não fale besteiras! — exclamou, visivelmente


incomodado. — A Sophie me ligou porque estava preocupada
com você.
Semicerrei os olhos, fixando meu olhar em sua direção,
buscando sinais de sinceridade em suas palavras.

— Tem certeza? — perguntei, ainda desconfiada. — Você


sabe que Liliana é uma pessoa doce, não é? Se você não tem
interesse nela, então não a iluda. Vou ficar muito brava se você
partir o coração dela.

A reação dele foi imediata. Levantou-se de forma abrupta,


revelando sua raiva.

— Ah, quando é que a conversa virou sobre mim? —


questionou impaciente. Era evidente que ele não gostava de
falar sobre sua relação com Liliana, embora, na verdade, não
houvesse um relacionamento definido entre os dois.

Aquela situação peculiar despertou meu senso de humor e


comecei a rir, pegando meu copo de suco para me recompor. O
diálogo continuou fluindo nos próximos minutos, mas a
sensação de apreensão não me deixava.

Peguei meu celular e verifiquei o sinal do rastreador de


Liam. De repente, saltei da cama, assustando meu irmão com
minha reação repentina.

— O que houve? — perguntou ele, curioso.

— Vou sair — avisei, determinada, enquanto me dirigia ao


closet para pegar um casaco.

— Sair? Para onde? Você enlouqueceu? — indagou,


perplexo.
— Preciso ter certeza de que o Liam está bem — expliquei,
concentrada na tarefa de me preparar para sair.

Giovanni tentou me impedir, segurando firmemente meus


pulsos. Seus olhos buscaram os meus, transmitindo seriedade e
preocupação.

— Você não vai sair daqui! — declarou, com uma expressão


desafiadora.

Endureci minha mandíbula, preparada para enfrentar


qualquer obstáculo que surgisse em meu caminho.

— Então faça o seu melhor para me impedir — rosnei,


deixando claro que não iria recuar. Com um impulso firme, o
empurrei e segui em direção à porta.

— Aurora? — Sua voz ecoou pelo corredor enquanto eu me


distanciava. — O que você pretende fazer? Você está grávida,
teimosa! — Ignorei seus comentários enquanto avançava
impulsionada por minha preocupação. Ele segurou minha mão
para chamar minha atenção. — Você se acha tão superior ao seu
marido a ponto de precisar protegê-lo o tempo todo? —
Continuei minha caminhada, não cedendo às provocações. —
Você vai ofendê-lo, não percebe isso?

Nesse momento, parei, absorvendo suas palavras. Foi


então que meus olhos se encheram de lágrimas, a incerteza me
consumindo.

— E-eu só preciso saber se ele está bem, Giovanni — admiti


em um fio de voz. — Não entendo o motivo de estar tão
apreensiva, mas... não consigo evitar. Por favor — supliquei. —
Nem precisamos entrar no local, eu ficaria satisfeita em vê-lo de
longe.

Giovanni me observou em silêncio, pensativo. Até que, por


fim, ele suspirou, cedendo à minha angústia.

Emocionada, o abracei apertado.

— Só espero não me arrepender — sussurrou, transmitindo


sua preocupação.

Antes de partirmos, enfrentamos um contratempo: o


maldito GPS do Liam não estava funcionando, o que só
aumentou minha angústia. Por sorte, Giovanni conseguiu
persuadir Sophie a enviar o endereço do local da missão para o
celular dele e pedir a ela que mantivesse segredo.

— Se algo der errado, não vou levar toda a culpa, italiano


— resmungou ela.

— Fica tranquila — tranquilizou Giovanni.

Então finalmente saímos do prédio.

— Ainda não concordo com essa loucura — murmurou ele,


apertando os lábios, mostrando sua tensão. — Não deveríamos
nos arriscar assim. Precisamos pensar na sua segurança.

— Já disse que será algo rápido — insisti, desejando apenas


um vislumbre de Liam. — Eu só preciso ver o Liam. Só isso.
Giovanni permaneceu em silêncio durante os próximos
minutos da viagem. O clima tenso persistiu, evidente na forma
como ele segurava o volante.

— Você está apaixonada por ele — disse de repente,


quebrando o silêncio.

Pisquei, olhando para ele incrédula.

— O que você está dizendo?

Ele me olhou de soslaio, com convicção nos olhos.

— Você está apaixonada pelo Liam — repetiu, suas


palavras ecoando no interior do carro. Seu tom transmitia
tamanha certeza que meu coração começou a bater mais
rápido, ansioso para confirmar suas palavras. — O susto que
você teve hoje, junto com todas essas emoções conflitantes
dentro de você, está fazendo você refletir.

— Refletir? — balbuciei, ainda tentando processar a


intensidade de suas palavras.

Meu irmão suspirou, expressando uma mistura de


preocupação e compreensão. Seus olhos permaneceram fixos na
estrada, mas sua voz carregava um peso emocional
incontestável:

— Refletir sobre o que realmente importa, irmã. Começar a


enxergar além das aparências e notar as pessoas ao nosso
redor, perceber que a vida é fugaz e que devemos aproveitá-la
ao máximo.
Meus olhos se arregalaram, absorvendo cada palavra e
sentimento que meu irmão compartilhava comigo.

— Uau, Giovanni! — exclamei, desviando


momentaneamente minha atenção para o assunto sombrio que
ele abordava. — Que papo profundo.

Ele não conseguiu conter uma risada que preencheu o


carro, transmitindo uma energia reconfortante. No entanto,
minha ansiedade era palpável, e eu comecei a estalar os dedos
de forma inquieta, contando os segundos para chegarmos logo
ao nosso destino. O tempo parecia se arrastar e arrastar...

— Você não vai admitir que ama o seu irlandês, não é? —


provocou, seus olhos brilhando com curiosidade.

Revirei os olhos, tentando esconder as emoções que


fervilhavam dentro de mim.

— Fica quieto e continue dirigindo! — exclamei impaciente,


desviando o foco da minha mente para a distância que ainda
tínhamos que percorrer. — Aliás, falta muito para chegarmos?

— Apenas alguns minutos — respondeu ele, com um traço


de antecipação em sua voz.

Aflita, decidi abrir a janela do carro, fechando os olhos


quando o ar fresco da noite tocou suavemente meu rosto. Eu
ansiava desesperadamente por acabar com aquela sensação
sufocante em meu peito.

— Só preciso vê-lo — sussurrei, permitindo que minhas


palavras se perdessem no vento. — Apenas preciso vê-lo.
A imagem do rosto assustado de Liam persistia em ocupar
meus pensamentos, me tornando consciente do medo que ele
sentiu, da impotência que o invadiu. Lá no fundo, eu sabia que
ele se culpava pelo que aconteceu comigo. Não havia dúvidas
sobre isso.

Finalmente, chegamos ao endereço do galpão onde Liam e


os outros estavam. Meu coração batia descompassadamente no
peito, parecendo lutar para escapar a qualquer momento.
Giovanni estacionou o carro em frente ao local e me olhou com
uma expressão preocupada, como se soubesse o quão arriscado
era prosseguir.

— Aurora, realmente não acho que seja uma boa ideia.


Vamos esperar aqui no carro e...

— Não! — Interrompi-o, minha voz cheia de urgência. —


Preciso ver o Liam. Estou apreensiva e angustiada. Sei que pode
ser perigoso, mas... por favor, me deixe fazer isso. Não vou
entrar, só quero vê-lo, saber que ele está bem.

Ele suspirou, cedendo ao meu pedido, mas não sem antes


me advertir:

— Tudo bem, mas fique comigo. Nada de se aventurar


sozinha. Se algo parecer estranho, voltaremos imediatamente
para o carro, está bem?

Assenti, agradecendo em silêncio por seu apoio inabalável.


Juntos, saímos do carro e começamos a caminhar
cautelosamente em direção ao galpão. A tensão no ar era quase
palpável. A noite se estendia ao nosso redor, escura e
silenciosa, e tudo o que eu conseguia pensar era em Liam e em
como desejava vê-lo seguro novamente.

À medida que nos aproximávamos do galpão, os murmúrios


abafados e os sons de movimentação se tornavam mais
audíveis. Pareciam envolvidos em uma conversa. Fiquei na
ponta dos pés, tentando enxergar através das frestas das
portas, ansiosa por um vislumbre de Liam. Meu coração
disparou quando finalmente o avistei. Apesar da distância e da
pouca iluminação, reconheci seus traços. Era ele.

— Ali está ele... — sussurrei, sentindo uma mistura de alívio


e receio.

Giovanni se aproximou de mim, compartilhando meu olhar


furtivo.

— Viu? Ele parece estar bem. Agora, vamos embora —


sugeriu, com preocupação em sua voz.

Antes que pudéssemos sair do local, um estrondo


ensurdecedor irrompeu pelo ambiente. Uma explosão de luz e
fumaça tomou conta do lugar, prejudicando minha visão. Meus
olhos se arregalaram de terror ao presenciar a cena que se
desdobrava diante de mim.

— Não! — gritei, desesperada, sentindo uma tontura me


dominar.

Giovanni agarrou meu braço, puxando-nos para longe dos


destroços, evitando que fôssemos atingidos pelos escombros.
Lágrimas corriam pelo meu rosto, e minha respiração ficou
ofegante, abafada pelo zumbido em meus ouvidos. A visão à
minha frente era terrível. O galpão estava envolto em chamas, e
meu coração parecia arder em sintonia com ele.

— Liam! — Solucei, sentindo o desespero tomar conta de


mim, roubando-me o fôlego.

Giovanni me envolveu em um abraço apertado, tentando


me acalmar, mas a dor era avassaladora demais para ser
contida. Eu me afastei dele e de seus braços, sentindo-me
perdida nas lembranças de Liam.

— Aurora? — chamou Giovanni, apreensivo.

Meu coração estava despedaçado, e respirar se tornava


uma tarefa cada vez mais árdua.

— E-ele estava lá dentro — apontei, minha voz trêmula,


afogada nas sombras da minha angústia. — Liam estava lá
dentro...

Meu irmão se aproximou novamente, segurando meu rosto


entre as mãos. Seus olhos refletiam o mesmo desespero que
tomava conta de mim.

— Eu nem tive a chance de me declarar para aquele idiota,


irmão — sussurrei, com a voz embargada pelas lágrimas. —
Como... meu Deus! — Empurrei-o novamente, a dor se tornando
incontrolável. — LIAAAAAM? LIAAAAAM? — Comecei a correr em
direção aos destroços, mas meu irmão me segurou firmemente
pela cintura. — Ele não pode me deixar, Giovanni. Aquele
insolente não pode partir.
— Por favor, irmã, se acalme — sussurrou ele, sua voz
carregada de emoção, assim como a minha. — Não será bom
para o bebê.

— AAAAAAAAAAH! — gritei, desejando me libertar da dor


sufocante. — Eu me apaixonei por ele... me apaixonei por ele. —
Senti minhas pernas fraquejarem. — E-e... — minha visão
começou a se turvar — e... aquele idiota foi embora sem mim.

— AURORA?!

Infelizmente, o grito do meu irmão não foi suficiente para


me impedir de ser engolida pela escuridão que me cercava.
Um tempo antes...
— Sempre me surpreendo com a empolgação de vocês por
coisas tão sombrias — resmunguei, mostrando surpresa e
diversão em meu rosto enquanto observava Kael terminar de
posicionar o último explosivo no canto do galpão.

Já havia se passado bastante tempo desde que as crianças


foram levadas pelo delegado e sua equipe, restando apenas a
tarefa de explodir o local. Christopher e Dexter também já
haviam partido.
— Coisas sombrias? — repetiu Kael, se levantando e
limpando as mãos sujas de terra. Ele parecia confuso com o meu
comentário.

— O caos — expliquei, me sentindo cansado. Passei as


mãos pelo rosto, ansioso para voltar para casa e ficar com
Aurora.

— É emocionante! — exclamou Carter, com um sorriso


malicioso. — Não há nada mais fascinante do que o fogo. —
Seus olhos brilhavam intensamente.

Desde criança, Carter sempre foi fascinado pelas chamas.


Em certas ocasiões, ele quase incendiou a mansão.

— Controla essa obsessão, cara! — Sean deu um tapa nele,


se divertindo com a situação.

Após posicionarmos todos os explosivos, saímos do galpão,


embora permanecêssemos próximos para garantir que tudo
ocorresse conforme o planejado. Com os braços cruzados, me
apoiei no carro enquanto observava Carter apertar os botões.
Não demorou muito para que tudo explodisse. O estrondo
ensurdecedor dominou o ambiente.

Um clarão brilhante preencheu o céu noturno quando a


explosão aconteceu. Minha atenção foi instantaneamente
atraída para o galpão em chamas. Uma combinação de fogo e
fumaça se erguia no ar, obscurecendo a visão.

Mas então, no meio do caos, algo inesperado ocorreu...

"LIAAAAAM?"
Meus olhos se abriram amplamente de horror quando
pensei ter ouvido o chamado de Aurora. Meu coração começou a
bater mais rápido, e uma mistura de pânico e angústia se
apoderou do meu peito.

— O que houve? — perguntou Sean, percebendo minha


agitação.

Levantei um dedo em silêncio, pedindo para que ele se


calasse, enquanto me concentrava em tentar ouvir melhor,
apesar de todo o caos ao nosso redor.

— Não, não, não... — gemi, minha voz se misturando ao


estrondo das chamas. A angústia me dominou ao perceber que
Aurora estava ali. Ela não deveria estar ali. Não era para ela
estar ali.

"LIAAAAAM?"

— Aurora... — meu coração quase parou quando a certeza


de que era ela se fez presente em minha mente. — É ela!

Corri em direção ao galpão em chamas, ignorando os


perigos e as labaredas que ameaçavam consumir tudo ao redor.
Meu coração batia desesperadamente no peito, enquanto eu
procurava freneticamente por qualquer sinal da minha garota.
Seus gritos ecoavam em meus ouvidos, ressoando como um
chamado desesperado.

— Liam? O que está acontecendo? — Meus irmãos me


seguiram, mesmo sem entender nada.
Finalmente, a encontrei nos braços de Giovanni,
desacordada, em uma cena que parecia congelar o tempo ao
meu redor. Meu coração disparou, e minha visão ficou turva
instantaneamente. A sensação de que o chão se abria sob meus
pés foi avassaladora, trazendo consigo uma onda de culpa e
preocupação.

Meus irmãos, tão atônitos quanto eu, praguejaram atrás de


mim, sem conseguir encontrar palavras para descrever o que
estávamos presenciando.

— Aurora! — soltei em um murmúrio fraco assim que me


aproximei dela e ajoelhei-me ao seu lado, segurando seu rosto
delicado entre minhas mãos trêmulas. Ver seu estado
inconsciente doía profundamente em meu coração. — O que
diabos aconteceu? Por que ela está aqui? COMO MINHA ESPOSA
VEIO PARAR NESTE LUGAR DE MERDA?! — gritei desesperado e
com raiva, encarando seu irmão em busca de respostas.

Giovanni parecia estar em estado de choque.

— E-ela insistiu em vir... Minha irmã estava preocupada


com você e... — pausou para respirar, enxugando as lágrimas
que escorriam por seu rosto —, disse que viria de qualquer
maneira, com ou sem a minha companhia.

Balancei a cabeça, lutando para controlar minhas próprias


emoções, que ameaçavam me dominar.

— Droga, Giovanni! — exclamei, me levantando com Aurora


nos braços. — Por que ela desmaiou?
Começamos a caminhar em direção ao carro. Como ele
permaneceu em silêncio, me forcei a encará-lo. Seu semblante
indicava que eu não iria gostar da resposta.

— Ela pensou que você estivesse lá dentro na hora da


explosão —disse, encolhendo os ombros.

Uma onda de choque percorreu meu corpo, me deixando


sem palavras por um momento.

— Então ela... ela pensou que eu morri? — minha voz soou


estranha até para mim mesmo.

Confirmou com um gesto de cabeça, incapaz de encontrar


as palavras adequadas para aquela situação.

— Olha pelo lado positivo, irmão — insinuou Kael,


chamando minha atenção — Quando ela acordar, vocês dois vão
poder ter uma experiência sobrenatural. Já pensou?

Revirei os olhos, impaciente com sua tentativa de piada


inadequada.

— Cale a boca, seu idiota! — repreendi-o.

Giovanni entrou no carro e assumiu o volante, enquanto eu


me acomodava com Aurora nos braços no banco de trás.
Lágrimas enchiam meus olhos, e minha voz trêmula revelava a
tempestade de emoções que me dominava:

— Droga, fedelha. Me perdoe... Eu não deveria ter deixado


você passar por isso... — sussurrei, com a voz embargada. —
Vou protegê-la... sempre. Por favor, acorde...
O veículo começou a se mover, com Giovanni acelerando
desesperadamente. Em meio à nossa pressa, acabamos
colidindo com algo, quase como se estivéssemos em fuga.

— Desculpa — murmurou, com a voz embargada —, mas


estou louco para chegar logo ao hospital e garantir que minha
irmã seja atendida.

Sem desviar o olhar de Aurora, me inclinei e toquei a testa


dela com meus lábios.

— Não me importo com o carro — declarei. — Ele pode


virar sucata, contanto que sua irmã receba atendimento o mais
rápido possível.

Quando finalmente chegamos, saí do carro com Aurora nos


braços, determinado a derrubar qualquer um que ousasse ficar
em meu caminho. Giovanni, ainda mais selvagem,
simplesmente agarrou um dos médicos pelo colarinho, exigindo
que atendessem sua irmã.

— Sou Liam Sullivan — rosnei ao lado dele. — Minha família


é uma das principais colaboradoras desta instituição, então exijo
que minha esposa receba o melhor tratamento.

Apesar de visivelmente assustado com nosso tom e


postura, o médico prontamente chamou enfermeiros para
agilizar o atendimento. Recusei-me a soltar Aurora quando um
deles tentou tirá-la dos meus braços, então os acompanhei até
uma das salas.

— Ela está grávida — informei, me sentindo tremendo da


cabeça aos pés.

— Pode ficar tranquilo, senhor Sullivan — disse o médico,


gesticulando para que eu me afastasse. — Agora, por favor, me
deixe fazer meu trabalho.

Engoli todos os xingamentos que se acumularam em minha


garganta diante de sua ordem para que eu me afastasse, pois,
naquele momento, ele era o único que poderia ajudar minha
garota.

— Não posso acreditar que isso está acontecendo —


desabafei, me deixando cair na poltrona ao lado de Giovanni na
sala de espera. Apoiei meus cotovelos nos joelhos e cobri o rosto
com as mãos. — Por que essa teimosa teve que me seguir?
Droga!

— É da minha irmã que estamos falando, irlandês — soprou


ele, igualmente frustrado. — Aurora nunca ouviu ninguém além
da própria voz. Inconscientemente, ela pressentiu que algo
poderia acontecer com você. No final das contas, ela estava
certa.

Após absorver sua declaração, olhei para ele.

— A explosão foi causada por nós — relatei, percebendo


seu espanto. — Meus irmãos e eu fomos responsáveis por
explodir o galpão.
Nesse momento, meu telefone começou a tocar. Era Owen.

Afastei-me para ter privacidade.

— Acabei de saber — disse com voz angustiada assim que


atendi. — O que houve, afinal? Caramba! Tantas coisas
acontecendo ao mesmo tempo que, às vezes, sinto que vou
enlouquecer.

Expliquei brevemente, já que nem eu mesmo sabia ao


certo o que tinha acontecido, uma vez que Aurora ainda estava
desacordada.

— Então ela ficou preocupada — comentou depois de ouvir.


— A garota foi atrás do marido dela. — Soltou uma risadinha,
embora eu pudesse sentir o orgulho em seu tom de voz.

— De qualquer forma, ela foi imprudente, Owen — declarei,


cansado. — Não consigo nem imaginar o que poderia ter
acontecido. E se ela estivesse lá dentro na hora da explosão?
Caramba! — Arrepios percorreram meu corpo apenas com o
pensamento.

— Não se torture, irmão — pediu com uma voz


reconfortante. — O importante é que agora ela está recebendo
atendimento. Quero que você tire os próximos dias para
descansar e cuidar de sua esposa. Não se preocupe com os
negócios.

— E Christopher e Dexter...

— Eles já partiram para a Escócia — respondeu, me


interrompendo. — Aliás, Aidan decidiu ir atrás deles para ajudá-
los a ter mais acesso, já que ele possui muitos contatos naquela
região.

Franzi a testa, confuso.

— Isso é realmente necessário? — questionei, tentando


compreender a razão por trás disso. — Christopher é um dos
melhores caçadores que conhecemos, Owen, ele só perde para
o pai dele. Além disso, essa é uma missão sigilosa, algo que não
deve ser compartilhado com "contatos".

Owen suspirou do outro lado da linha, mostrando


compreensão.

— Nosso tio foi mais como um suporte mesmo — explicou,


tentando me tranquilizar.

Continuamos conversando por mais algum tempo até que


eu decidi encerrar a ligação. Voltei para perto de Giovanni e
ficamos lá pelos próximos longos minutos.

Depois de um longo tempo, finalmente pude ficar com


Aurora no quarto. O médico explicou que os exames mostraram
resultados positivos, que nosso bebê estava saudável e que
provavelmente o desmaio tinha sido causado pelas fortes
emoções que ela passou.

A culpa dentro de mim só aumentava.


— Vou até o apartamento de vocês buscar roupas e outros
itens que ela possa precisar, já que ainda não recebeu alta —
avisou Giovanni, enquanto meus olhos permaneciam fixos em
sua irmã.

— Está bem! — respondi brevemente. — Só saio daqui


quando minha mulher abrir os olhos.

Ouvi seu suspiro baixo, seguido pelo fechamento da porta,


indicando sua saída.

Segurei a mão de Aurora e a trouxe aos meus lábios. Era


angustiante vê-la naquele estado, tão vulnerável. Beijei seus
dedos repetidamente, desesperado para vê-la acordar.

— Aurora? — chamei em voz baixa. — Aurora?

De repente, ela começou a se mexer inquieta, murmurando


palavras incoerentes com uma expressão sofrida. Era evidente
que essas lembranças a perturbavam. Meu coração se apertou
ao testemunhar seu desconforto.

— Aurora? — chamei novamente, sentindo uma


preocupação aflitiva tomar conta de mim. — Acorde, fedelha,
estou aqui com você.

Então, seus lindos olhos se abriram, ainda atordoados. Seu


rosto estava avermelhado e inchado devido ao choro recente.
Quando seu olhar encontrou o meu, ela se sentou rapidamente,
me encarando como se visse um fantasma. Nesse momento,
meus próprios olhos se encheram de lágrimas.
— Liam?! — exclamou, emocionada, se lançando em meus
braços. Seu choro doloroso atravessava minha alma.

— Estou aqui com você! Estou aqui. — Beijei sua cabeça,


seu pescoço e finalmente seus lábios, expressando todo o amor
e alívio que sentia ao vê-la bem, segura e protegida.

Ela recuou um pouco, mas continuou segurando meu rosto


com as mãos, como se precisasse se certificar de que eu estava
realmente ali. O medo era evidente em seus olhos. De repente,
piscou e olhou para baixo, abraçando sua barriga.

Toquei seu queixo, desejando que seus olhos se


encontrassem com os meus novamente.

— Nosso bebê está bem! — assegurei, sentindo sua


preocupação. — Nada aconteceu com ele.

O medo em seus olhos amenizou com minhas palavras.

— Mas... como? — perguntou, piscando rapidamente. — Eu


vi a explosão... e-eu estava lá. Eu vi, Liam.

— Você se precipitou, Aurora — respondi, tentando acalmá-


la. — Houve de fato uma explosão, mas tanto eu quanto meus
irmãos não estávamos dentro do galpão.

Uma nova onda de lágrimas tomou seu rosto e ela me


abraçou novamente, me beijando repetidamente.

— Fiquei com tanto medo... — murmurou com a voz


embargada. — E-eu não queria acreditar que estava te
perdendo... — enxuguei suas lágrimas com carinho.
— Pensei que você ficaria feliz em se livrar de mim —
brinquei, tentando aliviar nossas emoções.

— Não diga bobagens! — exclamou, quase revoltada. —


Você não tinha o direito de partir desse mundo e me deixar com
o seu filho na barriga.

Soltei uma risada alta, jogando a cabeça para trás.

Aurora então estendeu as pernas para fora da maca e as


enlaçou em torno da minha cintura. Seus braços estavam
firmemente enrolados em volta do meu pescoço, como se
quisesse ter certeza de que eu estava realmente ali. Seu medo
era palpável.

— Estou aqui agora, fedelha. — Voltei a beijar sua cabeça,


inalando o seu perfume. — Eu te amo mais do que tudo,
garota...

— Não mais do que eu, insolente — admitiu, fazendo meu


coração acelerar ainda mais. Era a primeira vez que ela se
declarava dessa forma. Afastei seu rosto, ansioso para ouvir
aquilo novamente. Ela sorriu, mesmo entre as lágrimas. — Pare
de me olhar com essa expressão de bobo apaixonado, porque
me assusta.

Voltei a rir, o som contagiante ecoando pelo quarto. O amor


que sentíamos um pelo outro era palpável, e não havia espaço
para formalidades ou palavras melosas.

— O que me assusta é amar uma cadela como você, que


até na hora de se declarar consegue ser ogra — murmurei,
divertido, provocando uma risada irresistível nela. Nossos lábios
se encontraram em um beijo fervoroso, cheio de paixão e
desejo.

Quando nos separamos, segurei seu rosto entre minhas


mãos, olhando profundamente em seus olhos.

— Minha — sussurrei, sentindo a emoção transbordar em


minha voz. — Completamente, totalmente minha.

Ela puxou de leve meu cabelo para trás, mantendo seu


olhar fixo no meu, séria e determinada.

— Eu sou completamente apaixonada por você — declarou


com sinceridade, seus olhos marejados. — Talvez eu não tenha
facilidade em expressar meus sentimentos, mas preciso que
você saiba, Liam — sua voz vacilou por um momento. — Você e
nosso bebê são meu mundo. Descobri isso hoje...

Toquei seu rosto e seus cabelos, emocionado com sua


declaração genuína.

— Eu sei — sussurrei, aproximando nossos lábios


novamente em um beijo cheio de ternura. — Agora descanse —
pedi, suavemente, empurrando seu corpo levemente para trás.
— O médico ainda não deu alta para você.

— Deite comigo — suplicou ela.

— Acho que não vai caber nós dois, fedelha. Sou muito
grande — brinquei, sabendo que esse tipo de provocação a
divertia.

— Eu posso ficar em cima de você, se quiser — insinuou


com um sorriso travesso. — Confesso que não me importaria.
Ri enquanto tirava meus sapatos e me aconchegava ao seu
lado na maca. Aurora suspirou, aninhando-se nos meus braços.

— Da próxima vez que me chamar de fedelha, vou socar a


sua cara— ameaçou, brincalhona. — Posso estar apaixonada por
você, mas não confunda as coisas, insolente! Amar você não
significa que vou me tornar uma mulher tola que aceita tudo
com um sorriso no rosto.

— Na cama, você aceita, não é? — sussurrei próximo ao


seu ouvido, provocando um arrepio em sua pele sensível.

Senti seus tremores enquanto ela respondia com um tom


desafiador:

— É o único lugar onde aceito suas ordens.

Eu não disse mais nada, mas meu sorriso bobo já dizia


tudo.

Na manhã seguinte, finalmente voltamos para casa,


abandonando o hospital.

— Tem certeza de que não vai precisar de mim? Posso


preparar seus pratos preferidos, você sabe que sou bom na
cozinha — insistiu Giovanni, conforme caminhávamos pelo
apartamento.

Aurora parou e o abraçou, transmitindo-lhe segurança.


— Sei que deseja cuidar de mim, mas não se preocupe,
irmão — murmurou. — Tenho certeza de que Liam vai cuidar
muito bem da esposa dele.

— Mas aposto que não vai ser melhor do que eu — insistiu,


cheio de confiança.

Aurora suspirou, sorrindo com carinho.

— Infelizmente, você não tem o que ele tem.

— O quê? Posso conseguir, irmã, posso comprar — rebateu,


tentando encontrar uma solução.

— O pau do Liam não pode ser comprado, Giovanni —


provocou Aurora.

Giovanni praguejou, enquanto eu comecei a gargalhar de


onde eu estava. A risada foi tão espontânea que tive que me
inclinar para me recuperar.

— Puta que pariu! — exclamou ele, indignado. — Já vi que


está melhor mesmo, ao menos na safadeza.

Resmungando, ele seguiu pisando duro em direção à porta,


mas antes de sair, Aurora gritou:

— Mas não se esqueça que eu te amo, irmão.

Ele apenas mostrou o dedo do meio antes de sair, e eu me


aproximei de Aurora, que estava perto do sofá, com um sorriso
nos lábios.

— Enfim, a sós — falei, envolvendo sua cintura e colando


seu corpo ao meu. — Como seu enfermeiro, já prescrevi todo o
seu tratamento, senhora Sullivan... — acariciei seu rosto,
deixando meus dedos percorrerem seus contornos.

Ela apoiou os braços em meus ombros, se inclinando para


perto.

— Hmm... — gemeu, me provocando. — E como será esse


tratamento?

Estalei os lábios, fingindo ponderar a resposta.

— Infelizmente, terei que aplicar algumas injeções... —


comecei a dizer, vendo seus olhos se arregalarem, fingindo estar
assustada. — Mas não se preocupe, vou garantir que você não
escape delas.

Sua mão desceu atrevidamente, apalpando meu pau.

— Essa injeção é tão grande... tão dolorida... — provocou,


sua voz carregada de malícia.

Nesse momento, apertei suas bochechas, formando um


bico em seus lábios que fiz questão de morder.

— Mas é uma dor gostosa — garanti, sabendo que ela


adorava aquela dualidade de prazer e provocação. — Você vai
gostar e pedir por mais...

A diaba se lançou contra mim, fazendo com que eu a


segurasse em meus braços, suas pernas envolvendo minha
cintura.

— Então me mostre! — desafiou, seus lábios buscando os


meus. — Estou pronta para a primeira aplicação.
Sua língua mergulhou em minha boca, e eu a segui sem
hesitar, caminhando em direção ao quarto sem sequer colocá-la
no chão.

Ao chegarmos ao cômodo, a soltei, mas continuei a beijá-la.


Nossas mãos se entrelaçaram, ansiosas por despir nossas
roupas. Sem pensar duas vezes, seguimos diretamente para o
banheiro, considerando que havíamos acabado de sair do
hospital e precisávamos de um banho.

— Vai me foder gostoso? Ou vai continuar com essa


palhaçada de ter medo de machucar o bebê? — provocou, com
um sorriso malicioso nos lábios.

Dei risada, rasgando sua blusa com pressa.

— Ai! — resmungou, reclamando do vergão que deixei em


sua pele. — Cavalo.

Entramos no box do chuveiro, e eu a empurrei contra o piso


frio, ligando a água quente. Seu corpo se contorcia enquanto
rebolava sua bunda deliciosa contra meu pau, já rígido.

— Você gosta! — exclamei, dominando-a por trás. — É uma


diaba ninfomaníaca que adora ser fodida com força, não é?

Ela gemeu, rebolando ainda mais contra meu pau,


intensificando o contato e o prazer mútuo.

— Oh, sim... — balbuciou, entregue à luxúria.

Segurei uma de suas pernas, erguendo-a levemente. Com a


outra mão, segurei seus cabelos, revelando seu pescoço para os
meus lábios.
— Você está apaixonada por mim? — sussurrei em seu
ouvido, deixando minha voz rouca ressoar pelo banheiro.

Ela resmungou algo inaudível, mas seu desejo era


evidente.

Investi contra sua boceta, preenchendo-a com uma única


estocada. Ambos gememos com o contato, uma sensação
indescritível que só aumentava a nossa conexão.

— Quero ouvir, fedelha... — sussurrei, provocando-a com


minhas palavras enquanto nossos corpos se moviam em perfeita
harmonia.

— Fedelha é o seu... — começou a dizer, mas interrompi


sua fala com um beijo voraz.

Nossos movimentos se tornaram frenéticos e incansáveis,


com nossos corpos colidindo de modo selvagem.

— Diga que me ama... — implorei.

— Já disse — respondeu, ofegante.

— Mas quero ouvir de novo — insisti, não conseguindo


esconder o sorriso malicioso.

— Isso é problema seu!

Uma risada escapou de mim, sem que eu pudesse conter.

De repente, diminuí a velocidade dos meus movimentos,


arrancando um gemido frustrado dela.

— Droga! Eu estava quase lá...


— Isso é problema seu! — devolvi, e ela ameaçou me
morder, mas a segurei, rindo abertamente.

Levei a mão livre até seu clitóris, e comecei a brincar com


seu amontoado de nervos duro e inchado. Não havia dúvidas de
que ela estava muito mais sensível com a gravidez.

— Liam...

Aumentei o ritmo dos meus quadris, explorando um ponto


diferente dentro dela. Seus gemidos aumentaram, me deixando
ciente do poder que eu exercia sobre ela. Ao perceber seus
espasmos, diminuí novamente os movimentos.

— Ah! Droga!

— Basta dizer que me ama e eu te deixarei gozar —


sussurrei perto de sua orelha, deixando minha respiração
quente tocar sua pele. — Diga que é tão apaixonada por mim
quanto eu sou por você.

— Eu sou ainda mais — respondeu, sem fôlego, se


movendo em resposta aos meus movimentos.

Um sorriso satisfeito se formou em meus lábios, apreciando


a conexão única entre nós naquele momento.

— Agora é uma competição, é? — provoquei, divertido.

— Só se você quiser. — Ela riu, entregando-se à paixão que


nos consumia. — Insolente gostoso que eu amo.

Não resisti e saí de dentro dela, virando-a para que ficasse


de frente para mim. Investi com força, determinado a levá-la ao
clímax. Nossas bocas se encontraram em um beijo voraz,
enquanto continuava a me mover contra ela.

No momento em que ela atingiu o ápice, gemendo meu


nome, eu a segui, me derramando dentro da sua boceta e a
marcando como minha. Permanecemos entrelaçados,
recuperando o fôlego, desfrutando do êxtase que
compartilhamos.

— Eu te amo, Liam — sussurrou contra o meu peito. — Mais


do que tudo.

— Eu também te amo — respondi, acariciando seus cabelos


úmidos. — Mais do que palavras podem descrever.

Ficamos em silêncio, conscientes de que o amor que


compartilhávamos era genuíno e inabalável.
Três dias depois
De repente, despertei com um sobressalto, surpreendido
por um estranho barulho. Ao abrir os olhos, me deparei com
Aurora sentada sobre mim, suas pernas envolvendo minha
cintura, segurando um objeto vibrante.

Meu coração começou a bater mais rápido ao vislumbrar o


sorriso maquiavélico estampado em seu rosto. Era um sorriso
repleto de malícia e provocação.
— Ah, você acordou na hora certa! — exclamou,
aparentando se divertir com a situação.

Pisquei várias vezes, tentando me movimentar, mas


percebi que meus pulsos estavam algemados à cabeceira da
cama.

— O que está acontecendo, Aurora? — questionei,


enquanto forçava meus pulsos contra as algemas. — O que você
pensa que está fazendo?

Ela estava completamente nua, assim como eu, e a


sensação do calor de sua boceta contra minha barriga era
verdadeiramente torturante.

— Eu achei que você fosse apreciar um pouco de


diversão... — sussurrou, baixando aquele objeto estranho em
minha barriga, o que me fez estremecer com o contato.

— Mas eu não estou gostando dessa brincadeira... —


murmurei, sentindo o desespero me consumir ao perceber suas
intenções. — Caramba, Aurora! Pare com isso, garota! — Forcei
meus pulsos novamente contra as algemas, mas era difícil me
libertar. Ela havia prendido minhas mãos separadamente,
tornando difícil deslocar o polegar e me soltar.

Com um sorriso malicioso, ela mordeu o lábio inferior e se


afastou um pouco, ficando cara a cara com meu pau. Começou
a deslizar aquele vibrador repugnante pelo meu corpo.

— Aurora... — eu me contorcia como uma lagarta quente


na areia. — Tire esse caralho daí, porraaa!
Meu desespero parecia apenas aumentar o divertimento
dela. Maldita seja!

— Mas você me disse que queria comer meu cu — alegou,


com tranquilidade. — Isso me dá o direito de comer o seu!

Meu estômago se revirou de nervosismo.

— Puta que pariu! — exclamei, sentindo o ar me faltar. — O


único direito que você tem é de levar pau, seu projeto do
satanás! — rosnei, enfurecido. — Me solta, porra!

Nossos olhares se encontraram.

— Nossa! Você parece tão nervoso... — afastou aquele


objeto cor-de-rosa do meu corpo e finalmente consegui respirar
aliviado por um momento. — Eu pensei que você fosse mais
aberto, sabia? — Rastejou em minha direção, exalando sedução.
— Tenho lido que os homens estão cada vez mais explorando
sua sexualidade na cama. Eu já te falei que o ponto G masculino
fica na próstata, não é?

— Me solta e eu te mostrarei o quão aberto posso ser —


sibilei, observando seus movimentos com atenção.

Ela balançou a cabeça negativamente, mantendo o rosto


pairando acima do meu. Meus instintos me fizeram ameaçar
mordê-la, mas ela se afastou a tempo, soltando uma risada
maliciosa.

— Você não merece ser solto agora — murmurou, com


tranquilidade. — Você precisa relaxar um pouco...
Frustrado, continuei tentando me libertar, sentindo as
algemas marcando meus pulsos. A cabeceira da cama
balançava a cada tentativa, mas sem sucesso. Minha raiva e
impotência só aumentavam.

— Por que você está fazendo isso, sua fedelha do caralho?


— grunhi, misturando raiva e indignação.

Ela se deitou de forma provocante, com as pernas abertas


diante de mim, exibindo sua boceta deliciosa e molhada. Meus
instintos primitivos ansiavam por degustá-la, minha boca
salivava.

— Hmm... — gemeu, deslizando aquela coisa pelo seu


corpo até posicioná-lo em sua entrada. — Tão gostoso, Liam...

A dor intensa nos meus pulsos aumentava enquanto eu


lutava para me libertar.

— Desgraçada! — rugi com fúria. — ME SOLTA, SUA


MALDITA DEMÔNIA!

Ela simplesmente riu, se mostrando indiferente aos meus


gritos revoltados. Fiquei horrorizado ao testemunhar enquanto
ela inseria aquele objeto em si mesma, se excitando com aquele
pau de borracha. Eu não podia acreditar que ela estava me
submetendo àquela situação.

— Ahhhh... — começou a mover aquilo em sua boceta, de


forma lenta, mas rítmica.

— Por que está me torturando desse jeito? — perguntei em


tom choroso, tentando mudar minha abordagem para persuadi-
la.

— Porque eu gosto! — respondeu com prazer.

Apertei meu maxilar, rangendo os dentes de raiva.

— Droga! — exclamei, furioso. — Quando eu conseguir sair


daqui você vai se ver comigo — ameacei.

— Hmm... sério? — balbuciou entre gemidos. — E o que vai


fazer para me punir?

Maldita!

— Primeiro, vou fazer você me chupar até se engasgar, sua


cadela! — declarei. Ela riu, lambendo os lábios como se
estivesse ansiosa por isso. — Depois, farei você sair de casa
com esse objeto enfiado na sua boceta, mas eu ficarei com o
controle.

Ofegou, excitada demais para se conter.

Ainda mais desesperado, continuei tentando me soltar até


conseguir arrancar uma parte da madeira da cabeceira. Era o
que eu precisava para me libertar. Liberei um pulso e depois o
outro.

Aurora estava tão distraída com seu orgasmo que não


percebeu. Aproveitei a oportunidade e arranquei aquele objeto
da sua boceta, fazendo-a resmungar. Mas o resmungo logo se
transformou em gemidos quando substituí o objeto pelo meu
próprio pau.

Ambos gememos em êxtase.


— O único pau que pode estar na sua boceta é o meu —
rosnei, mergulhando dentro dela com intensidade, movendo os
quadris para que ela pudesse me sentir completamente.

— Li-liam...

Os gemidos fugiam de seus lábios, revelando o quão


imersa no momento ela estava. Apertei suas bochechas com
firmeza, intensificando nossa conexão.

— Saiba que você não irá deixar esta cama tão cedo, sua
desgraçada — ronronei, mordiscando seus lábios com desejo.

Ela respondeu com uma risada, sua entrega era uma


provocação deliciosa.

Mais tarde, naquele mesmo dia, eu e meus irmãos nos


reunimos para discutir os detalhes das últimas descobertas e
pistas que encontramos. Estávamos eliminando cada ponto de
coleta da Igreja que identificamos, libertando as garotas e
crianças que estavam presas.

— Nós também podemos...

Hesitei quando o telefone do Owen começou a tocar,


indicando uma chamada do Christopher.

Meu irmão atendeu e ativou o viva-voz:

— Espero que tenha boas notícias para mim, caçador.


— Depende do que você considera bom, meu amigo —
respondeu do outro lado da linha, sua voz carregada de
cansaço. — Dexter e eu encontramos a garota.

Uma onda de euforia percorreu todos nós.

— E onde vocês estão? — perguntou Owen, mal


conseguindo conter sua euforia. — Eu quero essa garota comigo,
Christopher, sob o meu controle.

— Ainda estamos na Escócia, mas em um local seguro —


informou ele. — A região aqui é complicada para ter sinal de
celular, por isso demorei para entrar em contato.

— Onde ela estava escondida? — perguntei, curioso.

Christopher suspirou mais uma vez.

— Era um lugar completamente esquecido, abandonado


por Deus — respondeu ele. — Não havia sequer eletricidade.
Nenhuma tecnologia, absolutamente nada. A garota vivia como
se estivesse na era medieval, não há explicação.

— Que estranho! — exclamou Kael. — E como ela se


chama? Imagino que saiba falar, não é mesmo? — provocou.

— Sim, ela sabe. Se chama Jasmine — confirmou


Christopher. — No entanto, aparentemente, não tem maldade
alguma. Para vocês terem uma ideia, ela acredita que Dexter e
eu estamos levando-a para encontrar o pai dela.

— Pai? — balbuciou Owen.

— Deve ser o grão-mestre — afirmou Christopher.


Todos nós xingamos em resposta.

— Bem, de qualquer forma, quero que vocês a tragam para


mim — disse Owen, limpando a garganta.

— Pode demorar um pouco, pois preciso providenciar os


documentos dela antes de levá-la para a Irlanda — explicou. —
A garota, tecnicamente, não existe para o resto do mundo.

Fiquei surpreso com essa informação.

— Está certo! — exclamou Owen, seus olhos brilhando com


raiva e determinação. — Só que, por favor, não confiem
totalmente nela. Essa garota pode ser pior que o próprio
papaizinho dela.

Continuamos conversando por mais alguns minutos,


trocando informações sobre a situação, até que a ligação foi
encerrada.

— O que você planeja fazer com essa garota quando ela


chegar aqui? Vai mantê-la presa como um animal na gaiola? —
perguntou Sean, curioso.

Owen deu de ombros, seu olhar cheio de intensidade.

— Não tenho certeza ainda — respondeu, mexendo no


celular. — Mas uma coisa é certa: quero tê-la sob meu controle.
Só assim poderei ter algum poder sobre aquele desgraçado. — A
raiva em sua voz era palpável, refletida em sua postura.

Em seguida, ligou para nosso tio, informando que ele


poderia voltar para casa, pois os caçadores já estavam com a
garota. Após encerrar a chamada, Owen foi até o armário no
canto para se servir de uma dose de conhaque, como se
buscasse aliviar a tensão que o consumia.

— Agora é apenas uma questão de tempo — sibilou, seus


olhos brilhando com uma intensidade sombria. O desejo de
derrotar o grão-mestre era evidente em cada fibra do seu ser. —
Nossa vingança está prestes a começar.

Chegou à noite e Amy insistiu que Aurora e eu jantássemos


na mansão. Minutos antes de nos sentarmos à mesa, puxei
Aurora para um canto e sussurrei em seu ouvido, entregando-
lhe algo que havia comprado mais cedo: um vibrador pequeno.

Ela abriu os olhos, fingindo surpresa.

— Vá ao banheiro e coloque isso. — Sorri, mantendo o tom


de repreensão. — Não faça essa cara dissimulada, pois você
ainda está de castigo pelo que me fez de manhã, sua
desgraçada.

Me ofereceu um sorriso malicioso, mordendo o lábio inferior


de maneira provocativa.

— Tão vingativo e insolente... — deslizou a mão pelo meu


peito, com um olhar cheio de malícia. — Do jeitinho que eu
gosto.

Dizendo isso, ela virou as costas e caminhou rebolando, me


deixando completamente excitado. Fedelha gostosa!
Quando entrei na sala de jantar, todos estavam
conversando e rindo animadamente. Parei ao lado de Amy e dei
um beijo carinhoso em sua cabeça e depois fiz o mesmo com
Madison, acariciando sua bochecha corada. Ela era tão linda.

Sophie, Michael e Giovanni também estavam presentes.

— Owen já mencionou que em breve teremos uma


hóspede, Amy? — perguntou Carter, enquanto servia uma
suculenta porção de carne em seu prato. O delicioso aroma se
espalhava pela sala de jantar, despertando ainda mais nossos
sentidos. — E ela ficará aqui por tempo indeterminado.

Amy olhou para Carter, confusa e perguntou:

— Quem será?

— Uma garota escocesa — respondeu Owen, seu rosto


carregado de desconforto. — Ela será uma poderosa arma
contra o nosso inimigo.

— Você pretende usar essa garota para fazer coisas ruins?


— questionou ela, expressando sua indignação. — Se for esse o
caso, desculpe-me, querido, mas não vou compactuar.

Carter soltou uma risadinha.

— Amy, querida, você e Madison são as únicas mulheres


que podem falar assim com Owen, você sabe, não é? — brincou,
divertido.

— Argh! Cale a boca, Carter! — resmungou Owen,


impaciente. Em seguida, suspirou e encarou Amy: — Não tenho
intenção de fazer nada de mal com essa garota. Você tem minha
palavra.

Amy assentiu, confiando em suas palavras.

— Tudo bem! — concordou com um sorriso gentil. — Vou


preparar um quarto. Quando ela chega?

— Ainda não temos certeza — fui eu quem respondeu. —


Aliás, notei que, apesar de ter se oferecido para ir, o tio Aidan
não reagiu muito bem à ideia da viagem à Escócia, não é? Na
ligação, percebi que ele estava um pouco desconfortável.

Nesse momento, Aurora entrou na sala de jantar e


cumprimentou a todos, mas seus olhos estavam fixos em mim.
Sinalizei para que ela ocupasse um dos assentos na minha
frente. Eu queria observar suas reações de perto.

— Bem, houve uma vez em que o pai de vocês mencionou


que a Escócia era um lugar que trazia sofrimento para o Aidan,
porque era onde seu único amor morava antes de falecer.

Fiquei surpreso com essa informação.

— Sério? — perguntou Aurora, tão incrédula quanto eu. —


Um homem?

Sophie e Michael riram da falta de filtro dessa garota.

— Tão sutil... — ironizou o irmão dela.

— O que foi? Falei algo errado? Todo mundo sabe que o


Aidan é homossexual. — Ela deu de ombros, sem se abalar.
A conversa continuou animada, e aproveitei a distração
para pegar o controle do vibrador que havia comprado
anteriormente. No momento certo, pressionei o botão e observei
Aurora quase se engasgar com o suco que estava bebendo.

— Ops! Está tudo bem, cunhada? — perguntou Sean, dando


uns tapinhas nas costas dela.

— Precisa de ajuda, querida? — ofereci, prontamente,


fingindo me levantar.

Seus olhos ferozes encontraram os meus, me deixando


duro de imediato. Ela tentou disfarçar, forçando um sorriso.

— Não é necessário, querido! — respondeu, evitando meu


olhar direto.

Contive o riso, pois ficou claro que ela lutava para conter a
excitação que o vibrador estava causando.

Os minutos se arrastaram enquanto eu desfrutava de sua


agonia, apertando o botão do vibrador periodicamente. Aurora
lutava para manter a compostura, mas estava se tornando cada
vez mais difícil para ela.

— Você está bem, Aurora? Vejo que está vermelha —


perguntou Amy, de repente.

— Será que está com dor, irmã? — perguntou Giovanni,


também preocupado.

— Acho que ela está com calor, olhem o suor escorrendo da


testa dela... — apontou Sophie.
Madison sugeriu que alguém trouxesse água para Aurora.
Aproveitei o momento e, antes de servir a água, mantive o
vibrador ligado.

— Aqui está sua água, querida — ofereci, entregando o


copo para ela.

Aurora pegou o copo de minha mão e, para surpresa de


todos, jogou a água em meu rosto, criando um momento de
tensão no ar. Fechei os olhos para enxugar minha pele molhada,
mas um sorriso brincava em meus lábios. Era evidente que ela
estava excitada e sem controle.

Já havia se passado alguns minutos desde que eu estava


brincando com seu orgasmo, prolongando sua agonia.

— O que foi isso? — Amy parecia incrédula.

Aurora, com as mãos no rosto, empurrou a cadeira para


trás e se levantou bruscamente.

— Isso, adorável Amy, sou eu querendo gozar — declarou


sem qualquer pudor.

Em seguida, ela saiu da sala pisando duro, deixando um


silêncio constrangedor no ar.

Logo depois, Carter começou a rir, seguido por Sean e Kael.


A risada deles se espalhou pela sala, e eu não resisti e me juntei
a eles.

Não tive outra opção senão me levantar.


— Bem... se vocês me dão licença, tenho um "monstrinho"
para alimentar — falei, entre risos.

— Por favor, poupe-nos dos detalhes sórdidos! —


resmungou Giovanni, visivelmente incomodado.

Deixei a sala e fui atrás de Aurora. Assim que abri a porta


do quarto, ela praticamente me atacou antes mesmo de eu
entrar.

— Seu idiota! — exclamou, me beijando de forma intensa.


— Você realmente não tem medo do perigo, não é?

Se jogou aos meus pés e abriu minha braguilha com


agilidade, colocando meu pau para fora e me abocanhando com
tanta fome que quase se engasgou. Eu gemi, enlouquecido pelo
seu desejo voraz. Os hormônios da gravidez estavam nos
levando à loucura.

— Parece que é uma coisa nossa, hein? Você também gosta


de brincar comigo... — murmurei em tom baixo.

Trinquei os dentes de prazer quando ela sugou a cabeça do


meu pau com vontade, seus lábios fazendo um pequeno estalo
com a sucção.

Decidi ligar o vibrador, fazendo Aurora estremecer um


pouco mais, entre gemidos.

— Vá para a cama e fique de quatro para mim, cadela! —


ordenei.

As pupilas dela dilataram com minhas palavras, e ela se


levantou imediatamente, avançando em minha boca antes de
obedecer às minhas ordens.

Me aproximei devagar da cama, observando enquanto ela


erguia o vestido, expondo sua boceta lisa. A diabinha estava
sem calcinha.

— Puta que pariu! Você está pingando... — soprei, tocando


a ponta do brinquedo preenchendo sua entrada, adorando ouvir
os gemidos escandalosos dela.

Afundei o rosto na sua boceta, tirando o vibrador com os


dentes enquanto Aurora se esfregava na minha cara de forma
desavergonhada.

— Liam... — implorou.

Eu poderia continuar torturando-a, mas também estava


desesperado para gozar. Substituí o brinquedo pelo meu pau,
que entrou deslizando facilmente devido à sua lubrificação.

Com a mão espalmada no meio de suas costas, forcei seu


rosto contra o colchão, deixando seu traseiro totalmente
empinado. A visão de meu pau entrando e saindo de sua boceta
era incrivelmente excitante.

— Ah, porra! — Joguei a cabeça para trás, me deliciando


com aquelas sensações intensas. — Boceta viciante do caralho!

Aurora gemia, respondendo aos meus movimentos,


enquanto eu estimulava seu clitóris com a outra mão. Quando o
orgasmo finalmente chegou, ela escondeu o rosto no colchão
para abafar seus gritos.
Não consegui mais segurar e soltei um urro animalesco ao
mesmo tempo em que me liberei.

Cansado, me joguei na cama ao lado dela. Afastei os


cabelos de seu rosto e me deparei com seu sorriso satisfeito.

— Insolente — sussurrou, sem fôlego.

Sorri também e me aproximei para lhe roubar um selinho.

— Fedelha.
Acordei com os latidos estridentes do meu pequeno
insolentezinho, que parecia sempre cheio de energia. Me
estiquei preguiçosamente na cama, em busca do calor
reconfortante de Liam, mas percebi que ele já havia saído para
trabalhar. Nossos dias estavam cada vez mais agitados,
especialmente agora que ele e seus irmãos estavam à frente do
grão-mestre.

Com um bocejo, ainda sonolenta, me inclinei na cama e


estendi a mão para pegar o cãozinho agitado, que não parava
de latir.
— O que está acontecendo, seu pequeno briguento? — falei
enquanto acariciava sua cabeça cheirosa. — Seu papai saiu sem
te alimentar, né? Fez isso comigo também, bebê... — fiz um
biquinho, chateada com a situação.

Minha vontade por aquele homem nunca diminuía. Droga!

De repente, meu celular começou a vibrar com várias


mensagens. Era o grupo das garotas.

Curiosa, li as mensagens recentes, sorrindo com o jeito


delas de fofocar sobre a vida alheia.

Soltei uma risada gostosa com essa observação.


Toquei meu ventre, ainda plano.
Dei risada, me divertindo com as provocações de Nina para
Giovanni.

Eu estava curiosa para descobrir o que Giovanni estava


escondendo, porque não tinha dúvidas de que algo estava
acontecendo com ele.

A conversa continuou por alguns minutos, até que decidi


deixar o celular de lado e sair da cama.
Um banho seria revigorante para relaxar meus músculos
tensos.

Algumas horas depois


Eu não tinha noção do horário ou da minha exata
localização, mas estava seguindo meu instinto. Caminhava
rapidamente, atenta a tudo ao meu redor. Tudo o que eu
desejava era saciar aquela ânsia que dominava cada célula do
meu corpo.

Acidentalmente, esbarrei em uma senhora idosa. Pedi


desculpas, tocando gentilmente seu braço.

— Me perdoe — falei, preocupada. — Eu não tive a


intenção. Machuquei a senhora?

Ela sorriu amavelmente.

— Imagina, minha querida. Você precisa de ajuda? —


indagou, estendendo a mão em um gesto de apoio.

Neguei com a cabeça, agradecendo silenciosamente o


gesto gentil antes de me afastar. A busca implacável prosseguiu,
e eu me sentia cada vez mais determinada. Meu coração batia
forte, as emoções à flor da pele, enquanto minha respiração se
tornava irregular devido ao esforço.

Entre a multidão aglomerada, minhas pernas doíam, e eu


precisava contornar as pessoas para seguir meu caminho. Às
vezes, questionava por que o mundo tinha que estar tão repleto
de gente naquele exato momento. Era irritante!

Finalmente, meus olhos avistaram o objeto do meu desejo,


e minha boca se encheu de água instantaneamente. A vontade
de comer aquele cachorro-quente era quase incontrolável. Ao
me aproximar da barraca, o dono pareceu assustado com a
expressão faminta em meus olhos, ao fitar a panela de
salsichas.

— Por favor, meu bom senhor, gostaria de um com


bastante molho e, se possível, duas salsichas — solicitei, quase
salivando de antecipação.

Fui surpreendida pela chegada repentina de Kael, que ria


ao telefone enquanto me observava. Ele estava acompanhado
por Carter e Sean.

— Encontramos ela, Liam — disse Kael ao telefone, ainda


sorrindo para mim. — A "diabinha" estava fugindo para comer!

Revirei os olhos, acostumada com as brincadeiras deles.

— Não me consta que eu seja prisioneira para ter que fugir


— resmunguei, pegando minha carteira para pagar ao vendedor
da barraca.

— A questão não é essa, e você sabe disso — advertiu


Sean, sério.

Respirei fundo, soltando o ar com um leve toque de


irritação.
— Será que é crime uma grávida desejar comer um maldito
cachorro-quente agora?

— Bastava ter avisado — apontou Kael, com os braços


cruzados, após ter encerrado a ligação. — Sabe que teríamos
prazer em comprar. Nosso sobrinho significa tudo para nós.

Meu coração se aqueceu com isso.

— Sobrinha — corrigiu Carter, de forma brincalhona.

— Sobrinho e sobrinha — argumentou Sean, apenas para


me provocar.

Encarei-o com os olhos semicerrados.

— É melhor guardar suas maldições para si mesmo! —


ameacei, apontando o dedo em tom de brincadeira, mas quase
tremendo com a ideia de ter gêmeos.

Finalmente, peguei meu cachorro-quente e mal conseguia


conter o desejo de devorá-lo imediatamente.

— Hmm... — gemi com os olhos fechados enquanto


saboreava uma boa mordida daquele pão com salsicha. Era algo
tão simples, mas estava me proporcionando uma sensação
incrível. — Onde está o idiota do irmão de vocês? — perguntei,
começando a andar, com eles me seguindo como meus
seguranças.

— Liam? — indagou Kael.

— Eu não seria tola o suficiente para chamar Owen de


idiota — murmurei, achando engraçado. — Eu respeito o meu
capo.

Os bobos começaram a rir, zombando da minha resposta.


Soquei o mais próximo que estava ao meu alcance, embora
também estivesse rindo.

— Ele está no apartamento de vocês — respondeu Carter


por fim, ainda rindo.

Continuei comendo, ou melhor, quase devorando o meu


cachorro-quente. Quando terminei, lambendo os dedos, olhei
para eles e mencionei que desejava beber um refrigerante.
Como estávamos em uma espécie de feira, foi fácil e rápido
para eles comprarem.

De repente, parei e olhei para um lindo gramado à nossa


frente.

— O que foi? — perguntou Kael. — O carro está logo ali,


minha pequena diabinha. — Apontou para adiante.

Tomei um generoso gole do refrigerante.

— Você está se sentindo mal? — Carter perguntou,


percebendo o meu silêncio.

Neguei com a cabeça.

— Eu quero comer um pouco de grama — falei, lambendo


os lábios. — Mas precisa estar temperada com sal e vinagre.

Como eles não disseram nada, me senti obrigada a encará-


los. Os tolos estavam com uma expressão atordoada.
— Isso é sério? — indagou Kael, chocado com o meu
pedido. No fundo, até eu mesma estava chocada com a
insanidade desse desejo repentino.

Revirei os olhos e cruzei os braços.

— Você acha que estou brincando?

— Bem, depois não reclame quando as piadas começarem


— declarou Carter, se dirigindo ao gramado ao som das risadas
de seus irmãos.

— Idiotas! — repreendi.

— Não posso acreditar que mandou seus irmãos atrás de


mim, Liam — exclamei furiosa assim que entrei no nosso
apartamento, vários minutos depois. — Eu estava bem!

Ele me seguiu até a cozinha.

— Como eu poderia saber? Você saiu sem avisar! —


exclamou. — Além disso, não é seguro sair sem os seguranças,
você sabe disso, porra!

Nesse momento, olhei para ele, esticando os lábios com a


grosseria do seu tom.

— Não comece a agir como o macho alfa que me excita,


você sabe. Depois não reclame se eu te agarrar — avisei,
ouvindo sua risada arrogante.
Fui direto para a pia e joguei a grama lá dentro para lavar.

— Que diabos é isso? — Espiou por cima dos meus ombros.

— Grama.

— O que pretende fazer?

— Comer — respondi simplesmente. — Estou com vontade.

Pior do que a reação dos seus irmãos, Liam ficou travado


por um momento, mas pude perceber que ele estava se
segurando para não rir.

Semicerrei os olhos e coloquei as mãos na pia.

— O que foi? — perguntei, esperando pela piada. — Solte


logo. — Gesticulei.

— Bem... ambos sabemos que você gosta de dar patadas


em todo mundo, então...

A insinuação não me passou despercebida. O bastardo


estava me chamando de égua na minha cara?

— LIAAAM! — gritei, indo atrás dele, pois o covarde soltou a


merda e saiu correndo, fugindo da minha fúria.

Cretino!

Ainda era madrugada quando despertei, procurando por


Liam na cama, mas só encontrei o vazio. Imediatamente, meu
coração começou a acelerar ao notar o silêncio e a escuridão no
quarto.

Com pressa, coloquei meus pés para fora da cama, calcei


meus chinelos e saí em busca de meu marido pelo apartamento.
Encontrei-o no chão da sala, rodeado por alguns papéis. Ele
ficou surpreso ao me ver acordada. Um sorriso se formou em
meus lábios ao notar o nosso pequeno pestinha aninhado em
seu colo.

— Oh, fedelha, eu te acordei? — perguntou.

Me aproximei e sentei-me no sofá. Liam fez um biquinho


com os lábios, pedindo um beijo, que prontamente dei.

— Não — respondi, nossos lábios ainda juntos. — Acontece


que acordei e não te encontrei na cama. — Suspirei e bocejei. —
Não gosto de dormir sozinha.

Liam acariciou meu rosto, mantendo nossas testas coladas.

— Por quê? Tem medo? — perguntou, com um tom curioso,


não zombeteiro.

Afastei meu rosto, querendo olhar em seus olhos. Decidi


me sentar ao seu lado no chão, pois queria sentir seu calor junto
ao meu. O calor de sua proteção.

— Não sei dizer se é medo — murmurei com um suspiro


suave. — Talvez seja mais um incômodo. É diferente da minha
fobia de agulhas.

— Seu irmão mencionou que você não consegue dormir


sozinha desde o incidente com a esposa do Benjamin.
Franzi a testa.

— Ele falou isso?

— Ele não entrou em detalhes — explicou. — Giovanni


nunca revelaria um segredo seu.

Balancei a cabeça, ciente de que ele estava certo. A


cumplicidade entre meu irmão e eu era única e inquebrantável.

— Isso aconteceu há algum tempo — comecei a relatar,


odiando reviver aquelas lembranças do passado, mas
entendendo que era importante compartilhar essa parte da
minha vida com Liam. — Quando Kira entrou para a família, ela
trouxe consigo uma guerra contra uma família russa.

— Os Petrova.

— Sim, — respondi, não surpresa que ele conhecesse o


nome dos malditos, já que um dos russos tinha negócios com a
Igreja, responsável pelo sequestro da Madison. — Benjamin[5]
havia roubado a garota de um dos russos, e esse desgraçado
não descansou até recuperá-la. No sequestro, eu acabei sendo
levada junto.

Ele praguejou.

— O que aconteceu? — seu tom soou trêmulo.

Desviei o olhar, aflita com as lembranças. Na verdade,


eram dolorosas.

— Nada grave aconteceu comigo, porque... Kira me salvou.


Sendo honesta, ela se sacrificou por mim. — Meus olhos se
encheram de lágrimas, mesmo lutando para me controlar. —
Quando aquele desgraçado ameaçou me violentar, ela gritou,
chamando a atenção dele para ela... — me calei, desejando
apagar aquelas imagens horríveis dela sendo espancada com
um cinto.

Liam me puxou para seus braços, encheu minha cabeça de


beijos.

— Aquele bastardo tem sorte de estar morto — rosnou,


tomado pela raiva.

— De alguma forma que não entendo, não consigo dormir


sozinha, porque sinto como se aquele russo estivesse me
assombrando... — murmurei, um pouco envergonhada. — É
ridículo, eu sei...

— Não, claro que não! — interrompeu-me, segurando meu


rosto com suas mãos quentes. — Sua dor não é ridícula. Seu
trauma não é ridículo. — Ele me beijou. — Todos nós temos
fraquezas, Aurora. Não existe alguém que seja forte o tempo
todo. — Sorriu. — Você é humana, mesmo agindo
constantemente como uma cadela.

Ri enquanto lágrimas escorriam, beliscando sua barriga.

— Você sempre tem que estragar tudo, não é? Idiota!

Também riu, voltando a me puxar para ele, encheu meu


rosto de beijos. Em seguida, tirou o nosso pequeno insolente do
colo e se levantou. Estendeu a mão para me ajudar a ficar de pé
também.
— Vem — pediu, em seguida, me pegou em seus braços. —
Vou te levar para a cama.

— Pretende ficar comigo?

— Uhum... — murmurou. — Se quiser, posso fazer um chá.

— Não estou doente.

Sua risada foi espontânea.

— Chá não é apenas para quem está doente — explicou,


achando graça. — Também pode melhorar nosso bem-estar.
Pode ajudar você a dormir melhor.

— Hmmm... — resmunguei novamente. — Desde quando


você se tornou esse marido fofo? Não sei se gosto dessa versão.

Chegamos ao quarto, e ele me deitou na cama.

— Ah, não se preocupe, minha querida... — rastejou até


mim —, porque a versão selvagem sempre prevalecerá.

A excitação tomou conta de mim.

— Ah, que delícia! — exclamei. — Acho que o único chá que


quero agora é o da sua pica, Liam.

Sua risada ecoou pelo quarto.

Era assim que éramos nós.

E não havia mais dúvidas em minha mente de que tomei a


decisão certa ao me casar com ele.
Três meses depois
— Tem certeza de que não posso ir junto? — Ouvi a
pergunta de Aurora, enquanto minhas mãos agarravam as
chaves do carro sobre o aparador. Seu olhar ansioso e suplicante
me fazia sorrir, conhecendo tão bem sua natureza insistente.

— Juro que vou ficar quietinha, você nem vai perceber que
estarei com você no carro. — Tentou me convencer, mas eu já
sabia que, com Aurora, silêncio era uma raridade.
Arqueei as sobrancelhas, lançando-lhe um olhar de canto.
Sua determinação me encantava.

— É meio difícil não perceber você no ambiente, fedelha —


brinquei, sabendo que ela não se ofenderia com o apelido.

— Porra, Liam! — exclamou, fazendo um biquinho


chateado. — Estou curiosa para conhecer a garota santa.

Sorri, me aproximando dela. Era impressionante como


Aurora conseguia despertar em mim um sorriso genuíno.

— E vai conhecer — sussurrei, beijando sua barriga saliente


e, em seguida, seus lábios. — Mas será na mansão, por favor,
não insista.

Encaminhei-me para a porta de saída, mas antes que


pudesse sair, a voz de Aurora chamou minha atenção
novamente:

— Me deixe informada — pediu, me fazendo parar com a


mão na maçaneta da porta.

— Preocupada com seu macho? — insinuei, provocando-a


com um sorriso travesso.

Se aproximou, o suficiente para que meus braços ansiosos


e possessivos a envolvessem por completo.

— Não seja tão emocionado! — insinuou, mordendo meu


pescoço de forma provocante. — Eu só quero garantir que meu
bebê tenha o pai presente quando nascer.
Gargalhei, retribuindo o prazer ao morder seu ombro,
adorando os gemidos que escapavam de seus lábios.

— Por que você não vai para a mansão? — Propus,


deixando beijos suaves em sua pele. — Posso mandar
seguranças com você.

Fez uma expressão entediada, mostrando desinteresse na


ideia.

— Combinei de fazer uma chamada de vídeo com meus


pais para mostrar as coisinhas do bebê — disse, sem muita
empolgação. Aurora amava nosso bebê, mas não tinha
paciência para essas formalidades. — Então prefiro resolver isso
primeiro. — Beijou meu peito e agarrou minha camisa. —
Promete que vai me ligar quando chegar no aeroporto? Ou
melhor, me manda uma foto.

— Um nudes? — sugeri com um sorriso.

Ela revirou os olhos com impaciência.

— É, idiota. Tire o pau para fora em público e me mande. —


sibilou com sarcasmo.

— Tão adorável... — murmurei, entre risos. — Agora, eu


realmente tenho que ir.

Beijei-a mais uma vez e finalmente saí. Owen havia me


ligado alguns minutos atrás, pedindo para que eu fosse ao
aeroporto receber Christopher e Dexter, pois eles estavam
trazendo a tão comentada "garota santa". Os trigêmeos não
estavam disponíveis e Owen estava ocupado com outras
questões, assim como nosso tio.

Portanto, a missão ficou por minha conta.

As últimas semanas foram marcadas por turbulências tanto


na minha vida com Aurora — com o avanço da gravidez —
quanto nos negócios da minha família. O sequestro de Jasmine
abalou profundamente o líder da Igreja, evidenciando cada vez
mais a importância da garota para ele. Não restavam mais
dúvidas sobre isso.

Christopher manteve todos nós informados durante o


processo de documentação da garota. Ele fazia questão de
ressaltar repetidamente que ela era diferente, algo que ele
nunca tinha visto antes. Isso nos deixava confusos, sem
compreender exatamente o que o caçador queria dizer com
aquilo.

Após descer as escadas, cheguei à garagem do prédio e


escolhi rapidamente um dos meus carros. Optei pelo meu
favorito, o Jetta. O plano era simples: buscar a garota e levá-la
diretamente para a mansão.

Assim que coloquei o carro em movimento, decidi fazer


uma chamada para Owen usando o bluetooth:

— Já estou a caminho! — avisei, mantendo meus olhos


fixos na estrada. — Você sabe se eles já chegaram ao
aeroporto?

— Não faço ideia — respondeu ele. — Mas Christopher


disse que eles chegariam em aproximadamente uma hora. E já
se passaram cerca de quarenta minutos.

— Entendido! — exclamei. — De qualquer forma, vou


esperar por eles.

— Liam?

— Hum?

— Tenha cuidado com a garota — pediu, com tensão na


voz. — Até onde sabemos, ela é nossa inimiga.

Respirei fundo.

— Fique tranquilo.

Continuamos conversando por mais alguns minutos, até


que decidi encerrar a ligação. Com minha atenção na estrada,
lutava para manter a calma apesar da enorme responsabilidade
que pesava sobre meus ombros. No entanto, fui abruptamente
interrompido por um estrondo ensurdecedor, um som metálico
que ecoou pelos meus ouvidos e fez meu coração acelerar.

O carro começou a tremer violentamente e uma sensação


avassaladora de pânico tomou conta de mim. Agarrei o volante
com força, mas já era tarde demais. O pneu do Jetta foi atingido
e o veículo perdeu o controle, iniciando uma dança desenfreada,
girando sem controle.

Era como se o tempo se distorcesse enquanto tudo ao meu


redor se transformava em um caos borrado. Uma sensação de
impotência invadiu meu peito, alimentando o medo que
começava a me dominar. Meu corpo foi lançado de um lado para
o outro conforme o carro capotava, desafiando a gravidade.
Felizmente, o airbag cumpriu seu papel de forma exemplar,
protegendo minha vida. No entanto, a colisão foi tão intensa
que, ao recuperar a clareza visual, pude perceber que o airbag
havia sido completamente destruído, revelando a força
avassaladora do impacto.

Cada impacto do veículo contra o chão era uma nova onda


de terror que percorria todo o meu ser. Minha mente, agora
obscurecida pelo medo, revivia o acidente traumático da minha
infância, que resultou na morte da minha mãe.

Enquanto o carro continuava a girar, as memórias daquele


momento afloravam em minha mente. A sensação de estar
aprisionado, a falta de ar, o desespero que tomou conta de mim
naquele dia. A lembrança desse trauma apenas intensificava o
meu pânico.

Finalmente, após um movimento frenético, o carro parou,


me deixando atordoado por alguns instantes, apesar de tentar
recuperar a consciência. A adrenalina pulsava pelo meu corpo,
misturada a uma pontada de dor. Com muito esforço, consegui
me libertar do cinto de segurança, mas antes que pudesse me
arrastar para fora do veículo, algo pisoteou meu braço
machucado, provocando uma onda intensa de dor.

— Porra! — Soltei um gemido, encarando o sapato


caríssimo que pressionava meu braço.

Minha respiração ofegante refletia o peso da situação,


enquanto a pessoa se afastava lentamente, permanecendo sob
os calcanhares, me encarando com um sorriso sádico. Seus
movimentos calculados indicavam que ele saboreava meu
desespero, se deleitando com minha fraqueza. Parecia se
alimentar da minha dor, nutrindo-se dela.

— Liam... — disse, com um tom de voz gélido. — Parece


que você está novamente em apuros. Tão fraco e indefeso,
assim como sempre foi.

Cada fibra do meu corpo tremia, enquanto minha mente


lutava para processar, mas as palavras pareciam ter sido
roubadas de mim. Busquei uma explicação em seu olhar,
procurando entender o motivo por trás de seus atos. No entanto,
tudo o que encontrei foi desdém, como se eu fosse um
brinquedo que ele se divertia em quebrar.

— Imagino que esteja tendo um déjà vu, não é mesmo? —


zombou, com aquele maldito sorriso ainda estampado no rosto.
— Ainda me lembro do seu choro insuportável quando o
encontrei debaixo do cadáver da vadia da sua mãe. Lugar, aliás,
que eu nunca deveria ter tirado você.

Naquele momento, tudo fez sentido, e um choque


percorreu meu corpo. Puta que pariu! Puta que pariu!

Perplexidade, dor e medo se entrelaçavam enquanto,


apesar da dificuldade, eu fitava aquele homem. Ele arregaçou
uma das mangas da camisa, exibindo a tatuagem da cruz de
caravaca em seu antebraço. O símbolo da marca do Grão-
Mestre, o inimigo que temíamos e perseguíamos.

E ali, diante de mim, estava meu próprio tio, alguém que


eu pensava conhecer, mas que agora se revelava como o maior
traidor que poderíamos ter.
As palavras ficaram entaladas em minha garganta, meu
corpo congelado, incapaz de reagir ao que estava acontecendo.
O homem que deveria ter sido meu protetor, meu apoio, estava
ali, sorrindo maliciosamente diante da minha angústia.

— P-por quê? — sibilei em um sussurro. — Por que fez tudo


isso?

Eu me encontrava perdido em pensamentos, incapaz de


processar a situação. O pânico tomava conta de minha mente e
corpo, aprisionado naquele terrível carro, lutando contra minha
própria fobia.

— Sim, Liam, tenho observado cada um de seus passos —


disse, com um sorriso maquiavélico estampado em seu rosto. —
Todos vocês acreditaram estar lutando contra o mal, mas, na
verdade, estavam apenas dançando ao som da minha música.

— Por isso nada dava certo... — murmurei, atordoado,


tentando assimilar suas palavras enquanto lutava para respirar.
— Você sempre estava um passo à frente, porque tinha todas as
informações em primeira mão.

— Não foi divertido? — indagou, seu sorriso se alargando.


— Ver todos vocês lutando em vão, enquanto eu observava de
camarote? Eram meus momentos favoritos, confesso.

De repente, meus olhos se fixaram em sua mão, segurando


uma arma. Um calafrio percorreu minha espinha, aumentando
minha sensação de desamparo, especialmente considerando
minha posição de cabeça para baixo dentro daquele maldito
carro.
— Vai concluir o serviço? — perguntei, apesar de minha voz
falhar. Memórias de minha infância me assombravam,
envolvendo-me em um véu de dor e confusão. — Por que me
salvou da outra vez?

Estalou os lábios, pensativo, brincando com o revólver em


suas mãos. Ficou próximo, como um predador aproveitando a
presa indefesa.

— Embora você possa não acreditar, não fui responsável


pelo acidente que tirou a vida da vadia da sua mãe — declarou
friamente. — Eu desejava a morte dela? Sim, desejava! Mas não
fui o causador da tragédia. — Respirou fundo, buscando
paciência para compartilhar a história. — Quando a encontrei
morta e você, tão pequeno, ainda vivo sob o cadáver dela, não
sei explicar, mas... senti pena. Eu, com pena! — Deu uma
risadinha como se isso fosse algo surreal, mas logo sua
expressão voltou a ser gélida, revelando sua verdadeira face
maligna. — No entanto, se soubesse que você começaria a
atormentar minha vida, resgatando essas memórias ridículas do
acidente e colocando em risco minha identidade com seus
irmãos, jamais teria permitido que você sobrevivesse!

— Foi aí que você passou a ameaçar minha vida... — não


era uma pergunta, estava claro. — O ataque na Jamaica,
naquela boate...

— Eu não podia correr o risco de você se lembrar do meu


rosto.

Eu estava em estado de choque, com inúmeras perguntas


confundindo meus pensamentos.
— A garota santa... — murmurei, lutando para respirar. — O
que ela significa para você?

Nesse momento, ouvi seus dentes rangendo.

— Jasmine é uma joia preciosa que jamais permitirei que o


idiota do seu irmão coloque as mãos — rugiu. — Owen se acha
tão esperto, mas eu sou mais... — balançou a cabeça, se
divertindo com algum segredo interno. — Vou ficar tão triste em
ser o portador dessa notícia trágica...

— Do que diabos você está falando?

— “Eu estava perto quando vi o acidente e mal pude


acreditar quando encontrei Liam imóvel — disse, imitando uma
voz falsa e sofrida. — Tentei capturar o responsável, mas não
consegui. Eu falhei, Owen... falhei em proteger meu sobrinho...
que tipo de tio sou eu que não consegue cuidar de sua própria
família?”

Seu choro falso começou a me deixar nauseado, e piorou


quando ele começou a rir.

— VOCÊ É UM MONSTRO, PORRA! — gritei, sentindo uma


explosão de emoções. — Eu confiei em você... meus irmãos
confiaram em você. TRAIDOR DESGRAÇADO!

Aidan permanecia inabalável, como se minha revolta o


alimentasse e aumentasse seu prazer em me ver sofrer.

— Eu não sou um monstro, mas sou uma vítima da injustiça


— murmurou calmamente. — Por direito, eu deveria ter
assumido a liderança da organização por ser mais velho que seu
pai. — Rangeu os dentes com raiva contida. — Mas o maldito
conselho descobriu meu envolvimento com outro homem, e isso
era inaceitável. Afinal, poderia manchar a reputação do clã. Na
mente dos idiotas, um líder homossexual não seria considerado
firme o suficiente, corajoso o suficiente, capaz de agir com frieza
para matar, roubar, aniquilar... fazer o que fosse necessário.

— Meu pai...? — consegui balbuciar. — Foi você quem...?

Aidan riu, seu riso ecoando ameaçadoramente no


ambiente.

— Ele teve o que merecia! — respondeu à minha pergunta


silenciosa, cheio de ódio. — Morreu porque estava tentando
roubar novamente o que era meu por direito. O idiota ousou
desafiar a organização que eu construí do zero, sem a ajuda de
ninguém. A Igreja é o meu império.

Meu coração disparou no peito, se misturando à dor física e


emocional que me consumia. Ouvir suas palavras frias e cruéis
era como ser golpeado repetidamente por socos invisíveis,
quebrando minha confiança e esperança. Papai perdeu a vida
durante uma viagem; foi alvejado com vários disparos quando
saía de um hotel, em Nova York.

— Seu império foi construído sobre mentiras, sujeira e


traição! — retruquei, minha voz embargada pelo rancor e pela
dor. — Você não é um líder, é apenas um monstro disfarçado de
pessoa!

O desgraçado riu novamente, parecendo se deliciar ainda


mais com meu sofrimento. Seu rosto demoníaco assumia uma
expressão sinistra, tornando-o ainda mais aterrorizante.
— Monstro? Talvez. Mas foi esse "monstro" que transformou
a Igreja na organização criminosa mais poderosa que já existiu
— afirmou, com arrogância.

— Isso não é motivo para se orgulhar! — gritei, lágrimas de


raiva escorrendo pelo meu rosto. — E eu juro que vou matá-lo
assim que sair daqui! Vou me vingar por todas as mentiras dos
últimos anos e por ter ameaçado minha esposa e meu filho.

Ele se aproximou, mantendo o revólver apontado para


minha cabeça.

Meu ar, já escasso devido ao desespero e dor, ficou preso


na garganta.

— Entre todos, você é o mais parecido com sua mãe — sua


voz soou baixa e ameaçadora. — Sempre insolente e
insuportável. Alguém totalmente dispensável... — engatilhou a
arma.

— Então faça logo! — desafiei, meus olhos ardendo de


determinação. — Se você vai me matar, faça isso de uma vez!

O maldito sorriu maliciosamente.

— Ah, Liam, talvez as coisas possam ser diferentes... —


murmurou, mantendo o revólver apontado para mim. — Eu
posso te oferecer uma chance. Uma oportunidade para provar
seu valor... ao meu lado.

A confusão tomou conta de mim.

— Não quero a sua "oportunidade". Enfie-a no seu traseiro


e vá para o inferno, seu traidor desprezível! — exclamei com
raiva, rejeitando sua proposta.

Deu de ombros, demonstrando não se importar com minha


recusa.

— Tanto faz. A escolha é sua.

Um breve silêncio preencheu o ar, enquanto Aidan parecia


saborear minhas palavras. Seu sorriso desapareceu
gradualmente, substituído por uma expressão sombria e
calculista.

— Não importa o que você pense, Liam — disse com uma


voz ameaçadora. — No fim das contas, sou eu quem detém o
poder. E agora é hora de eliminar a única ameaça restante.

Antes que pudesse reagir, um estrondo ecoou pelo local.


Um carro freou abruptamente a poucos metros de nós, fazendo
Aidan se virar em alerta. Os pneus chiaram no asfalto enquanto
a fumaça se dissipava lentamente.

Eu não sabia quem havia chegado, mas a pessoa começou


a trocar tiros com Aidan. Apesar de me esforçar para ver, não
conseguia distinguir claramente.

De repente, tudo ficou em silêncio, exceto pelo som dos


pneus cantando. Foi então que ouvi uma voz que reconheceria
em qualquer lugar.

— LIAM? LIAM?

Minha garota. Minha fedelha.


Não demorou muito para que seu rosto surgisse em meu
campo de visão, seus olhos marejados.

— Caramba! — Agachou-se, trêmula, parecendo um pouco


perdida. — Você está bem? — Deixou a arma de lado. — Oh,
meu Deus, Liam... — sua voz embargou enquanto avaliava meu
estado, tocando em meu rosto, ombros e braços.

Pisquei, percebendo que foi ela quem trocou tiros com


Aidan.

— O Aidan...

— Ele escapou — respondeu à minha pergunta não


verbalizada.

Mesmo barriguda, ela se abaixou sem hesitar para me


ajudar a sair dos destroços do carro.

— É ele, Aurora... — murmurei, ofegante, me arrastando


pelo asfalto. — Meu tio é o grão-mestre. — Meus olhos estavam
embaçados, e minha respiração era irregular. A impactante
revelação me deixou sem fôlego.

— Sempre desconfiei que tinha algo errado com ele, só


nunca comentei por achar que fosse coisa da minha cabeça —
exclamou, tão perturbada quanto eu.

Ela começou a me examinar, procurando avaliar meus


ferimentos. Notei que suas mãos tremiam. Tentei pegar meu
celular no bolso, mas logo percebi que estava danificado e
inutilizável.
— Me empreste seu celular para que eu possa ligar para
Owen e avisá-lo de que, provavelmente, o tio Aidan irá ao
aeroporto pegar a garota — pedi, passando a mão no rosto para
enxugar as lágrimas.

Me entregou o aparelho, quase o deixando cair no chão


devido aos seus tremores.

Foi nesse momento que a encarei, percebendo as lágrimas


em seus olhos. Meu coração se partiu ao ver o medo estampado
no rosto da minha garota e mãe do meu bebê.

Segurei sua nuca e a puxei em direção a mim, ignorando


todas as dores que sentia.

— Sinto muito... — sussurrei, chorando. — Sinto muito por


fazer você passar por tudo isso. — Soluços escaparam enquanto
eu acariciava sua barriga. — Como você descobriu? — Funguei,
meio atordoado. — Como... soube que eu estava correndo
perigo?

Ela me encarou, suas mãos tocando meu rosto,


percorrendo meus traços com os olhos marejados.

— Tive um pressentimento ruim sobre você — murmurou,


beijando meus lábios. — E decidi conferir com meus próprios
olhos. Nunca me perdoaria se não o protegesse. — Ela se
afastou um pouco, roçando o nariz no meu. — Foi por isso que
não hesitei quando vi aquele sujeito desprezível ameaçando
você; não pensei duas vezes em atirar no desgraçado para ele
aprender que ninguém mexe com o que me pertence.
Voltei a beijá-la repetidamente, me sentindo imensamente
sortudo por ter me casado com uma garota tão foda.

— Sempre sendo minha heroína — brinquei, mesmo com


lágrimas nos olhos.

— Apenas nas horas vagas... — respondeu, com o mesmo


tom brincalhão.

Finalmente, peguei o celular. Depois de hesitar por um


momento, meus dedos trêmulos deslizaram pela tela enquanto
eu discava o número de Owen. Cada toque ecoava as
revelações chocantes que eu acabara de descobrir.

O telefone continuava chamando, aumentando a ansiedade


que tomava conta de mim. Durante a espera, não pude evitar a
imagem de Aidan surgindo em minha mente, com seu rosto
diabólico e olhos frios.

Depois de longos segundos, a ligação foi atendida do outro


lado:

— Owen? — murmurei antes que ele tivesse a chance de


dizer qualquer coisa.

— Liam? O que está acontecendo? Por que está ligando do


telefone da Aurora e...

Interrompi-o, sentindo um nó na garganta enquanto as


palavras lutavam para sair:

— Owen, é o Aidan... Ele é o traidor, o grão-mestre que


estamos procurando. Ele está por trás de tudo.
Um silêncio tenso preencheu a linha, interrompido apenas
pelos batimentos acelerados do meu coração. Eu sabia que meu
irmão estava processando a revelação, assimilando a magnitude
das palavras que eu acabara de pronunciar.

— Liam, isso... isso não pode ser verdade... — sua voz soou
frágil, carregada de descrença. — O Aidan sempre foi um dos
nossos... Ele esteve ao nosso lado desde o início...

Eu esfreguei meu rosto.

— Eu sei que é difícil de aceitar, mas é a realidade. Esse


desgraçado tentou me matar a caminho do aeroporto — contei.
— Ele se revelou, admitiu sua participação na morte do nosso
pai, e na manipulação de tudo o que enfrentamos nos últimos
tempos. O Aidan é o responsável por todos os nossos fracassos,
irmão, por nos manter sob seu controle durante todo esse
tempo. — Trinquei os dentes de raiva. — Você precisa alertar o
Christopher, porque não há dúvidas de que nosso tio vai tentar
recuperar a garota.

Silêncio. Ele não disse nada.

— Owen? — chamei, angustiado com seu silêncio.

— Eu confiei nele... confiei nesse canalha... — sua resposta


me machucou, pois senti sua dor.

— Nós todos confiamos, Owen.

Ouvi sua respiração entrecortada do outro lado da linha.

— Onde você está? A Aurora está com você? Vocês estão


feridos?
Expliquei de forma breve, assegurando que nossos
ferimentos não eram graves.

— Vou enviar ajuda — afirmou, com a voz rouca, e eu não


soube ao certo se era de choro.

— Owen? — chamei, angustiado. — O que você vai fazer?

Consegui ouvir o ranger de seus dentes.

— Fazer aquele rato pagar por nos enganar durante todo


esse tempo. É uma promessa.

Com essas palavras, ele desligou.

Suspirei profundamente, ainda mais preocupado, pois sabia


que a sede de vingança poderia corroer meu irmão aos poucos.

Percebi que, apesar das descobertas recentes, essa maldita


guerra estava apenas começando.
Apesar de todos os meus esforços, o pânico continuava a
dominar meu peito após tudo o que aconteceu. Desde o
momento em que a ajuda chegou e Liam e eu fomos levados ao
hospital, eu me recusava a me afastar dele. A simples ideia de
tê-lo quase perdido me deixava sem fôlego e abalava minhas
entranhas.

A verdade é que, assim que Liam saiu de casa, um terrível


pressentimento me atingiu, causando-me náuseas. Eu me
conhecia o suficiente para saber que essas sensações não eram
boas. Então, sem hesitar, decidi segui-lo através do GPS.
— Senhora? — Uma enfermeira segurou meu braço, me
obrigando a dispersar meus pensamentos tumultuados. —
Precisamos examiná-la também.

Com um movimento brusco, me afastei de seu aperto,


recusando-me a sair de perto do Liam, que estava sendo
examinado. Pelo que entendi, não havia fraturas, apenas alguns
cortes superficiais e outros mais profundos em seu corpo. O
braço, que pensei estar em condição pior, apenas estava
deslocado.

— Estou bem! — exclamei, aflita. — Vocês precisam se


concentrar no meu marido. — Gesticulei nervosamente.

— Mas a senhora está grávida! — insistiu ela. — Precisamos


verificar sua pressão e ouvir os batimentos do bebê...

Apertei os dentes, sentindo meu coração apertado.

— Não quero sair de perto do meu marido! — declarei, de


forma ríspida.

Liam segurou minha mão, compartilhando a mesma


angústia que eu. Seus olhos refletiam as mesmas emoções que
atormentavam meu coração.

— Eu vou ficar bem! — assegurou, beijando suavemente


meus dedos. A visão de seus ferimentos causava uma dor
profunda em meu peito. — Por favor, seja gentil e facilite as
coisas. É preciso que você seja examinada para garantir a
segurança tanto sua quanto do nosso bebê. De nada adianta eu
ter sobrevivido se acabar perdendo vocês.
Contendo as lágrimas, odiando a sensação de ser
dominada por esse desejo constante de chorar, segurei seu
rosto com mãos trêmulas e o beijei longamente, inspirando seu
aroma reconfortante.

— Prometo que voltarei em breve — sussurrei, temendo a


ideia de me afastar dele. — Não se atreva a ter nenhum
piripaque enquanto eu estiver longe, porque sou capaz de
buscá-lo do outro lado pelo cabelo.

Seus lábios se curvaram em um sorriso divertido.

— Tão romântica... — brincou, me beijando mais uma vez.

Finalmente, me afastei, consciente de que eles estavam


certos. Era necessário cuidar da minha saúde e da saúde do
meu bebê.

Após uma série de exames, constataram que minha


pressão estava um pouco elevada, mas nada alarmante. Não foi
uma surpresa, considerando o susto que tive quando pensei que
havia perdido Liam. Porque, além do acidente, também tive que
enfrentar a ameaça do seu maldito tio.

Eu carregaria um peso de culpa insuperável se não tivesse


chegado a tempo para salvá-lo.

— Vocês já descobriram o sexo do bebê? — perguntou o


médico, pressionando suavemente o aparelho na minha barriga
para ouvir os batimentos do coraçãozinho do meu bebê.
Neguei com a cabeça, sentindo uma emoção fervilhante
dentro do meu peito.

— Decidimos deixar para descobrir no nascimento —


respondi com um sorriso, relembrando a primeira
ultrassonografia que fizemos quando eu estava com três meses
de gestação. Aquela experiência foi tão intensa que quase fez o
Liam desmaiar de emoção. Felizmente, ele se controlou e não
me fez passar por essa vergonha.

Logo, o som mágico dos batimentos cardíacos do meu bebê


preencheu o quarto, enchendo meu coração de amor
incondicional. A emoção que sentia a cada vez que ouvia aquele
som era sempre a mesma, uma mistura de alegria e gratidão.

— Ritmo perfeito — declarou o médico com um sorriso


gentil. — Aparentemente, a criança está bem, mas eu
recomendo que vocês façam uma ultrassonografia para ter
certeza.

Concordei com a cabeça, confiando nas palavras do


médico. Assim que ele saiu, me preparei para ir embora também
e voltar para perto de Liam, mas algo inesperado aconteceu.

— Liam? — Assustei-me ao vê-lo entrar cambaleando no


quarto. O idiota havia conseguido escapar dos cuidados
médicos. — Agora você se tornou um paciente fugitivo?

Recebi-o com um abraço apertado, sentindo seus lábios


buscando os meus com urgência.

— Eu não aguentava mais ficar longe — sussurrou contra


minha boca, suas mãos protegendo carinhosamente minha
barriga. — Como vocês estão? — Seus olhos estavam fixos em
meu ventre, cheios de amor e preocupação.

— Estamos bem — falei, me ajeitando na maca para que


ele pudesse se deitar ao meu lado. — Minha pressão subiu um
pouco, mas já tomei a medicação. — Bati no espaço ao meu
lado, convidando-o a se deitar comigo. — Agora só precisamos
descansar.

— Você foi muito corajosa — disse, gemendo um pouco de


dor ao se deitar. — Louca? Sim. Mas muito corajosa. — Começou
a acariciar meu rosto delicadamente. — Meu tio estava
determinado a me matar quando você chegou.

Uma onda de calafrios percorreu meu corpo, e meu coração


acelerou. Meus lábios buscaram os dele, aflitos com a ideia de
perdê-lo.

— Nunca! — exclamei, sufocada pelo medo. — No que


depender de mim, vocês serão eternos.

Ele se afastou um pouco, me olhando com confusão


estampada em seu rosto.

— Vocês? — perguntou, tentando entender.

Abri um sorriso malicioso, buscando aliviar a tensão.

— Você e seu pau.

Uma risada escapou de nossos lábios, contagiando-nos


instantaneamente.
— Safada. — Me olhou com um olhar cheio de desejo e me
puxou para um beijo apaixonado. Só paramos quando ele soltou
um gemido de dor e interrompeu o beijo. — Droga! —
resmungou, olhando para seu braço machucado.

Eu me acomodei com cuidado para não causar desconforto,


mesmo com minha barriga proeminente. Fiquei o encarando,
apreciando cada traço de seu rosto.

— Como você está? — perguntei com carinho, acariciando


seus cabelos. — Imagino que a traição de seu tio esteja doendo
mais do que a dor física.

Suspirou pesadamente.

— Nunca imaginei que Aidan fosse nosso maior inimigo —


disse, sua voz carregada de decepção. — Ele me disse coisas...
— calou-se, como se a lembrança fosse dolorosa demais. — O
homem que estava diante de mim, prestes a me matar, não era
meu tio.

— Pelo contrário, Liam, seu tio revelou sua verdadeira


natureza para você — declarei com tristeza. — Antes, ele agia
como um personagem idealizado apenas para enganar vocês. —
Respirei fundo, me sentindo tão magoada com a traição quanto
ele. — É difícil admitir, mas Aidan nunca amou vocês. Segundo o
que descobrimos do grão-mestre, ele só ama o poder.

Liam fungou e eu passei suavemente meus dedos em sua


bochecha, enxugando suas lágrimas persistentes.

— Em certo momento da conversa, ele mencionou a


Jasmine — disse com a voz rouca. — Acho que...
— Ele a ama? — interrompi, curiosa.

Assentiu afirmativamente.

— Talvez essa garota seja a única que ele realmente ama —


murmurou.

Suspirei, aproximando meu nariz do seu pescoço e


inspirando o seu cheiro.

— Owen vai tornar a vida dela um inferno, não é? —


sussurrei, consciente de que, entre todos, Owen seria o mais
afetado por essa traição. — Sinto que ele está cheio de raiva e,
infelizmente, Jasmine será o alvo mais próximo dele.

— Sim, — respondeu com tristeza. — Meu irmão está


sedento por vingança. E tenho medo de que isso o corrompa.

Eu abri a boca para responder, mas fui interrompida pela


chegada de todo o grupo. Owen, Giovanni, os trigêmeos e
Sophie entraram no quarto, enchendo-o por completo.

— Nem aqui vocês conseguem ficar separados? — brincou


Giovanni, se aproximando de mim. Eu me levantei para receber
seu abraço. — Ah, irmã, fiquei tão assustado quando soube. —
Beijou minha cabeça. — Você deveria parar de se envolver em
coisas perigosas.

Sorri para ele.

— Mas então não seria eu... — ironizei, beliscando seu


nariz, que se contraiu um pouco com a minha resposta.
Logo fui envolvida em abraços pelos meus cunhados, e por
último, Sophie.

— Admito que você está me superando, hein? — provocou


ela, com um sorriso brincalhão. — Grávida e ainda assim
radical? Arrasou, garota. — Piscou um olho de forma travessa.

— É mais uma questão de proteger o que me pertence —


comentei, apontando em direção ao Liam.

— O quê? — balbuciou ele, tentando entender sobre o que


sua prima e eu estávamos falando.

Sophie e eu rimos juntas.

A conversa continuou por alguns minutos, girando em torno


das explicações detalhadas do que havia acontecido e do que os
médicos haviam dito sobre nosso estado de saúde. Acreditava
que ambos seríamos liberados do hospital no mesmo dia, já que,
felizmente, nossos ferimentos não eram graves.

— Você conseguiu avisar o Christopher? — perguntou Liam,


ao final da conversa. A angústia era visível em seu rosto.

Owen cerrou os dentes.

— Sim, — respondeu. — Ele já suspeitava que algo estava


errado quando você demorou a chegar, então não esperou por
nós.

— Bem coisa de caçador — comentou Kael, estalando os


lábios. — Droga! Nosso próprio tio? — Parecia incrédulo com a
descoberta.
— Esse tempo todo, estávamos ao lado do nosso inimigo e
nem percebemos — complementou Carter, igualmente abalado.
Era uma mistura de raiva e tristeza.

— Onde ele está agora? — perguntei, buscando


informações.

— Desaparecido — respondeu Owen, com o rosto sombrio.


— E se ele ousar aparecer na mansão, posso garantir que não
sairá vivo de lá.

Seu ódio era palpável.

— Acredito que precisaremos reestruturar a segurança —


argumentou Sean, capturando a atenção dos irmãos. — Não
sabemos quantas outras pessoas estavam envolvidas com ele.

Owen assentiu.

— Sim, com certeza. Aquele rato deve ter corrompido


grande parte de nossa equipe — comentou, com raiva evidente.

— E a garota? — perguntou Liam, com preocupação.

— No momento, ela está em um local seguro — respondeu


Owen. — Não vou arriscar trazê-la até ter certeza de que o
Aidan não terá acesso a ela.

Liam suspirou, desolado.

— Acredite em mim, irmão — murmurou. — Nosso tio


nunca vai desistir de tentar recuperá-la.

Owen o encarou com fúria nos olhos, um ódio que não era
direcionado ao próprio irmão, é claro.
— Que ele tente! — sibilou entre dentes. — Se depender de
mim, Jasmine será minha prisioneira para sempre!

Ninguém disse mais nada.

Contrariando minhas expectativas, Liam e eu só recebemos


alta no dia seguinte. Amy fez questão de nos levar diretamente
para a mansão, pois ela queria cuidar de nós dois. No fundo,
apesar de tentar parecer indiferente, eu gostei disso. Era
reconfortante saber que, mesmo estando longe dos meus pais,
eu tinha o amor da minha nova família na Irlanda.

— Ah, eu estava tão ansiosa pela chegada de vocês! —


Amy veio nos receber, com lágrimas nos olhos. Abraçou Liam
primeiro e depois a mim, emocionada. — Mal consegui dormir na
noite passada, preocupada com vocês dois.

— Estamos bem, Amy, foi apenas um susto, graças a Deus!


— falei, tentando acalmá-la. — Liam não teve ferimentos
internos, apesar da gravidade do acidente.

— Ainda não entendi completamente o que aconteceu.

— Owen não te contou? — perguntou Liam, franzindo a


testa.

Ela negou.

— Ele apenas disse que você sofreu um acidente de carro e


que Aurora teve uma alteração na pressão arterial quando
soube.

Liam e eu nos encaramos, conscientes de que Owen não


teve coragem de revelar sobre a traição de Aidan.

Nesse momento, Madison apareceu, tão ansiosa quanto


sua mãe para nos receber. Os trigêmeos chegaram logo em
seguida, seguidos por Owen.

— Nossa convidada acabou de chegar! — anunciou Owen,


com a expressão tensa.

As portas da mansão se abriram e Christopher, Dexter e


uma garota de estatura pequena entraram. Ela parecia ter a
minha altura. Seus olhos eram azuis, e seus cabelos longos e
escuros realçavam sua pele alva como a neve.

Ela era linda. Tão linda que parecia um anjo. E mesmo eu,
sendo naturalmente desconfiada, pude sentir que a inocência
transbordava de cada poro dela.

Apesar da distância, pude perceber o constrangimento que


a garota sentia diante dos olhares curiosos sobre ela.

— Demorou mais do que gostaríamos, mas finalmente


chegamos com a caça — Christopher anunciou.

— Caça? — Jasmine indagou, seus olhos azuis piscando


assustados para Christopher.

— Foi apenas uma expressão, querida. — Dexter


tranquilizou-a, tocando suavemente seu ombro. — Lembra do
que conversamos sobre confiar nas pessoas que a receberiam?
Ela assentiu, embora ainda parecesse um pouco tensa.

Amy foi a primeira a se aproximar, tentando fazer a garota


se sentir mais à vontade.

— É um enorme prazer finalmente conhecer você, minha


querida — disse Amy, puxando a garota para um abraço. — Eu
sou a Amy. — Ela apontou para cada um de nós, apresentando
um por um. — Estes são o Liam e a Aurora, a Madison, o Kael, o
Carter, o Sean e o Owen.

Jasmine abriu um sorriso envergonhado ao ser apresentada


a cada um de nós. Parecia tímida, mas ao mesmo tempo curiosa
sobre a nova família que estava conhecendo.

— Imagino que esteja cansada e com fome — comentou


Madison, igualmente simpática, demonstrando empatia pela
situação da garota.

Jasmine assentiu suavemente.

— Um pouco — respondeu, sua voz suave e delicada. De


repente, nossos olhares se encontraram, e logo seu olhar
desceu para minha barriga. — Oh, uma criança? — exclamou,
seus olhos brilhando de alegria. Fiquei um pouco surpresa com
sua reação, mas permiti que ela se aproximasse. — Posso? —
perguntou, se referindo a tocar meu ventre. Hesitei por um
momento, mas não queria parecer rude, então apenas assenti
com a cabeça em consentimento.

Um sorriso radiante se espalhou por seu rosto enquanto ela


colocava delicadamente a mão em minha barriga.
— Estou com cinco meses — falei, sem entender por que
mencionar isso.

— Ah, que bênção! — exclamou, seu sorriso transbordando


de ternura. — "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam,
pois o Reino dos céus pertence aos que são como elas".

Confesso que fiquei um pouco confusa com sua citação


bíblica. Não éramos religiosos e eu não estava familiarizada com
a passagem que ela mencionou.

— O que é isso? — perguntei, curiosa.

— É um versículo bíblico. Você não conhece? — indagou,


me olhando, ainda com um sorriso amável nos lábios.

— Não somos religiosos, garota — provocou Liam, num tom


zombeteiro. Eu o cutuquei com o braço para silenciá-lo.

Jasmine ficou um tanto desconcertada.

— Oh, me desculpe — disse, retirando a mão do meu


ventre e dando um passo para trás. — Eu não sabia, eu... —
pigarreou, nervosa — não quis ser inconveniente.

— Não se preocupe, querida — declarou Carter, se


aproximando dela. Jasmine teve que erguer a cabeça para olhar
nos olhos dele, devido à diferença de altura entre eles. — Você
foi muito gentil.

Kael e Sean também se aproximaram, formando uma


espécie de círculo protetor ao redor da garota.
— Espero que você possa nos ensinar a ser pessoas
melhores — disse Kael com um sorriso. — Especialmente esses
dois aqui — apontou para os gêmeos —, que são um tanto sem
noção.

— Sem noção? — perguntou ela, confusa. — O que isso


significa? — Percebi que procurou ajuda com um olhar perdido
em direção a Dexter, como se estivesse pedindo orientação
sobre o significado da expressão.

— É quando alguém não entende o que está fazendo ou a


realidade ao seu redor — explicou Kael, percebendo a
estranheza dela.

Perguntei-me de onde essa garota tinha vindo e de como


poderia ser tão inocente em relação a certas expressões.

Notei que ela pareceu processar a explicação por um


momento antes de sorrir e responder:

— Ah, sim, agora entendi. — Olhou para os trigêmeos com


brilho nos olhos. — Vocês são gigantes, né?

Madison riu suavemente, apreciando a inocência da garota.

— Eu digo a mesma coisa para eles, Jasmine —


confidenciou, divertida.

No entanto, a atmosfera alegre foi abruptamente


interrompida quando os trigêmeos se afastaram, deixando
Jasmine exposta à tensão que pairava no ar. Owen permanecia
imóvel, tenso e com o semblante carregado. Até então, ele não
tinha dito uma palavra, mas era evidente que toda a situação o
incomodava profundamente.

Christopher e Dexter prontamente se aproximaram da


garota, temerosos. A expressão do capo se transformou em
incredulidade ao testemunhar a atitude protetora dos
caçadores.

— Isso é sério? — questionou, gesticulando em direção aos


caçadores. — Vocês realmente acham que sou algum tipo de
monstro?

Jasmine piscou, claramente confusa.

— Monstro? — repetiu, olhando para baixo, pensativa. —


Como os das fábulas?

Fiquei surpresa com a pergunta, mas antes que pudesse


falar, Liam tomou a palavra:

— De onde exatamente você é, querida? — perguntou,


curioso.

Ela o olhou, tentando entender a pergunta.

— Escócia — respondeu, feliz por estar recebendo atenção.


— Mas meu pai costumava dizer que o lugar não importava,
desde que estivéssemos juntos.

Nesse momento, Owen praguejou, demonstrando sua


frustração.

— Owen... — Liam o repreendeu.


— Espero apenas que vocês não se esqueçam de quem ela
era protegida — rosnou Owen, apontando para Jasmine. — Todo
esse jogo dela, essa voz suave e inocente, não me engana.

Tanto Christopher quanto Dexter tentaram intervir,


preocupados com a intensidade da reação de Owen. Eles se
posicionaram à frente de Jasmine, oferecendo-lhe proteção.

— É melhor você se acalmar — pediu Christopher, tenso.

— Não se preocupem, pois não sou como ele — assegurou


Owen, levantando as mãos em um gesto pacífico, referindo-se
ao seu tio. — Mas não me deixarei ser ludibriado novamente.
Nunca mais serei enganado, e não tenho dúvidas de que essa
garota — apontou para Jasmine outra vez — seja tão falsa
quanto seu pai.

Após isso, ele saiu pisando duro, deixando um silêncio


constrangedor no ar. Jasmine, com os olhos marejados, parecia
confusa e magoada.

— O-o que eu fiz de errado? — perguntou com a voz


embargada. — Foi algo que eu disse? Se foi, eu posso ir atrás
dele para me desculpar e...

Amy, percebendo a angústia da garota, se aproximou e


segurou sua mão com carinho.

— Não, minha querida — murmurou, acariciando o rosto


dela. — Owen está passando por problemas pessoais e,
infelizmente, descontou sua frustração em você. Peço que me
perdoe por isso. — Tentou confortá-la, transmitindo afeto e
empatia. — Agora venha, vou mostrar sua nova casa, onde você
ficará nos próximos dias ou meses.

Enquanto Amy conduzia Jasmine em direção à sala, os


demais se afastaram, deixando apenas Liam, eu e os trigêmeos
perplexos e preocupados com a situação.

— Aposto cem mil que Owen vai se apaixonar por ela —


comentei, rompendo o silêncio tenso. Um sorriso se formou em
meus lábios, pois sabia que o amor tinha uma maneira peculiar
de nos surpreender.

Liam me encarou com os olhos arregalados, mas logo seu


rosto se iluminou com um sorriso cúmplice.

— Também aposto cem! — entusiasmou-se Kael, rindo de


forma eufórica. — Depois de vocês dois — apontou para Liam e
eu —, não duvido de mais nada.

Rimos juntos, aliviados por ter desviado a atenção para um


assunto mais leve. Enquanto continuávamos a conversar e nos
dirigíamos à sala, sentia um profundo alívio sempre que olhava
para minha mão entrelaçada com a de Liam.

Sabia que se estivéssemos juntos, eu estaria completa e


confiante de que enfrentaríamos qualquer desafio que surgisse
em nosso caminho.
Meses depois
— Finalmente cheguei! — exclamei ao entrar no quarto de
hospital, meu coração batendo descompassado. Amy havia me
ligado assim que Aurora começou a sentir contrações, e eu
deixei tudo para trás para estar ao lado da minha garota nesse
momento tão importante para nós. No entanto, assim que
entrei, fui surpreendido por um objeto sendo lançado em minha
direção, e meus olhos se arregalaram ao ver Aurora com um
olhar furioso.
— É melhor você sair daqui — apontou para mim —, porque
tudo isso — gesticulou para si mesma — é culpa sua! Essa dor
infernal que estou sentindo é culpa sua. VOCÊ ME ENGRAVIDOU,
SEU DESGRAÇADO! AAAAAAAAH! — Curvou-se na cama,
contorcendo-se de dor.

— Aurora, minha filha, você não pode falar assim com seu
marido — minha sogra tentou intervir, visivelmente nervosa —,
é importante que o Liam esteja aqui para te apoiar nesse
momento.

— Que apoio esse idiota pode me dar, mãe? — retrucou,


chorando e gemendo alto. — Só se for para eu chutar o traseiro
dele.

— Aurora...

— SAAAAAAI! — gritou novamente, interrompendo minha


tentativa de argumento.

Sem opções, decidi sair do quarto pela minha própria


segurança. Dirigi-me à sala de espera, ainda mais nervoso do
que antes. Por que minha mulher tinha que ser tão
desequilibrada, vingativa e violenta? Puta que pariu!

— Ela te expulsou, não é? — meu sogro perguntou assim


que me viu. Ele e Giovanni estavam lá, junto com meus irmãos.
Owen ainda não havia chegado, mas disse que estava a
caminho.

Bufei, frustrado, enquanto me sentava.


— Ela quase me atacou — declarei, frustrado. — Eu queria
poder estar com ela agora, dando meu apoio emocional, mas...
— balancei a cabeça, incrédulo com a situação — droga!

Giovanni soltou uma risadinha.

— Devia ter imaginado que Aurora reagiria assim, irlandês


— ironizou. — Era óbvio que a dor do parto seria jogada nas
suas costas.

Levei as mãos ao rosto, esfregando-o com força. Estava tão


agitado para ficar sentado, então me levantei.

— Será que vai demorar muito? — perguntei, começando a


andar de um lado para o outro.

— Vai depender de vários fatores — respondeu Kael, me


oferecendo um copo de café. — Mas a dilatação é o mais
importante.

Olhei para ele, curioso.

— Como você sabe disso?

— Porque eu pesquisei. — Ele deu de ombros. — Não me


diga que você não pesquisou?

Pisquei, atordoado.

Carter e Sean bufaram.

— Droga! Aurora tem razão em ficar chateada com você —


rosnou Carter, me encarando com indignação.

— Que decepção, Liam! — complementou Sean.


Ainda atordoado, fui abordado por meu sogro, que capturou
minha atenção. Nos últimos tempos, aos poucos estávamos
construindo uma relação, apesar de tudo o que havia acontecido
recentemente.

— Quero aproveitar esse momento para expressar minha


gratidão por ter um genro como você — disse, me
surpreendendo. — Sei que a Aurora é uma pessoa difícil de lidar,
então compreendo as brigas e desentendimentos que vocês
tiveram ao longo do casamento.

Balancei a cabeça, absorvendo suas palavras.

— Eu amo Aurora mais do que tudo — declarei, sem hesitar.


— Ela e o bebê que ela está prestes a trazer ao mundo são
minha razão de viver. Não existe Liam sem Aurora.

— E acredite, não existe Aurora sem Liam — afirmou,


sorrindo. — Minha filha é completamente apaixonada por você.
— Meu coração se aqueceu com suas palavras. — Estou
orgulhoso do relacionamento maravilhoso que vocês têm, e não
poderia estar mais feliz por estar presente no nascimento do
meu primeiro neto ou neta.

Senti meus olhos se encherem de lágrimas, mas consegui


me controlar a tempo.

Aceitei quando ele me puxou para um rápido abraço, uma


formalidade para selar aquele breve momento. Fiquei satisfeito
com a conversa, pois era importante que as duas famílias
estivessem em harmonia.
Os minutos passaram e minha paciência se esgotava. Em
determinado momento, decidi entrar no quarto novamente.
Aurora estava fazendo agachamentos, enquanto suas primas,
Amy, Madison e minha sogra me olharam. Na verdade, elas
alternavam o olhar entre mim e Aurora, que continuava me
encarando com raiva.

— Alguém pode tirar esse indivíduo da minha frente, por


favor? — ela pediu, gesticulando para uma delas.

— Aurora, só quero saber se você precisa de alguma coisa,


eu...

— Eu preciso de paz de espírito, Liam — rugiu, me


cortando. — Eu preciso que essa maldita dor acabe.
AAAAAAAAH! — gritou de dor, me fazendo encolher. — Se você
ficar aqui, vai piorar tudo, porque vou querer te matar. Você
quer que eu te mate, marido?

— ¡Dios mío, Aurora! — exclamou sua mãe.

— Estou sendo sincera! — retrucou ela, voltando a me


olhar. — E se você me fizer te matar, eu vou te buscar do outro
lado só para te matar de novo por ter me obrigado a fazer algo
que não queria.

— Então você não quer me matar? Não entendi. — Pisquei,


confuso.

— SAAAAAAAAI!

Saí pela porta a tempo de evitar ser atingido por outro


objeto.
Mulher difícil do caralho!

Pouco mais de três horas depois, finalmente fui chamado


para conhecer meu bebê. Ao contrário de antes, dessa vez, eu
parei na porta, tomado por um turbilhão de emoções. Sentia
minhas pernas tremerem, incapaz de controlar as sensações.

Criando coragem, girei a maçaneta e entrei. No início,


fiquei parado na porta, sem saber ao certo o que fazer. Todos os
outros saíram, me deixando a sós com Aurora e o pequeno
pacotinho em seus braços.

Fiquei imóvel, sentindo meus olhos se encherem de


lágrimas diante daquela cena. Aurora segurava nosso bebê com
tanto amor e carinho que desejei eternizar aquela imagem na
minha mente.

— Vai ficar parado aí? — perguntou em tom manso,


rompendo o silêncio.

Passei uma das mãos no rosto, enxugando as lágrimas


persistentes.

— Estou com medo de você cumprir sua promessa de me


matar — murmurei, com um tom divertido. — Todo cuidado é
pouco com você, mulher.

Ela deu risada.


Em seguida, reuni coragem e me aproximei da cama,
beijando a testa de Aurora e inspirando seu aroma. A emoção
tomou conta de mim.

— Parabéns! — exclamei, emocionado, vendo a mesma


emoção refletida em seus olhos.

— Me perdoe pela explosão anterior — pediu, entre risos e


vergonha. — Aquela não era eu.

Franzi o cenho, confuso.

— Ainda bem que, na maior parte do tempo, você não é


assim, certo?! — ironizei.

— Paraaa! — Bateu no meu braço. — Sou uma mulher que


acabou de dar à luz, me respeita, insolente!

Dei risada, finalmente direcionando meu olhar para aquela


pequena criaturinha em seus braços. Aurora ajeitou o bebê para
que eu pudesse ver melhor.

— Quer segurar sua filha? — perguntou, com a voz


falhando devido ao choro emocionado.

— É uma menina? — Minha voz quase não saiu. — "Meu


Deus, espero que ela não tenha o temperamento da mãe,
amém!"

— Liam?! — exclamou, surpresa e divertida. — Palhaço!

Ri, deixando escapar algumas lágrimas enquanto me


inclinava para tocar meus lábios nos seus. Em seguida,
aproximei meu rosto da cabeça da nossa garotinha.
— Perfeita como a mãe — sussurrei, completamente
encantado e incapaz de articular qualquer pensamento lógico.
— Dara. Minha filha, minha princesa.

— Dara? — perguntou, desviando o olhar para mim, com


um brilho nos olhos úmidos.

Assenti, ainda hipnotizado pela beleza do nosso anjinho.

— Um dos significados desse nome é "estrela" — respondi,


acariciando os cabelinhos ralos da bebê.

— Liam? — chamou-me, interrompendo meu devaneio.

— Sim?

— Obrigada — disse, com a voz embargada. Foi nesse


momento que a encarei, confuso com sua expressão. —
Obrigada por me amar, por ser paciente comigo e por me
compreender durante os momentos difíceis. — Seu rosto se
contorceu com novas lágrimas. — E, o mais importante,
obrigada por me dar esse presente incrível que é nossa filha.

Um sorriso se espalhou em meu rosto, mais emocionado do


que nunca.

— Eu te amo, fedelha.

— Eu amo ainda mais — respondeu, se aproximando dos


meus lábios. — E não, não é uma competição, seu idiota!

Ambos rimos, envolvidos em um momento de cumplicidade


e afeto.

— Já voltamos às agressões e ofensas? — brinquei.


Dessa vez, foi ela quem riu.

— Nunca paramos com isso. É a parte mais divertida da


nossa história.

E ela estava absolutamente certa.

FIM
Alguns meses depois
“Volare, oh, oh!

Cantare, oh, oh, oh, oh!

Nel blu, dipinto di blu

Felice di stare lassù

E volavo, volavo felice più in alto del sole ed ancora più su

Mentre il mondo pian piano spariva lontano laggiù


Una música dolce suonava soltanto per me

Volare, oh, oh!

Cantare, oh, oh, oh, oh!

Nel blu, dipinto di blu

Felice di stare lassù

Nel biu, dipinto di blu

Felice di stare lassù”

— Vamos lá, tire os sapatos e levante a barra da calça —


pedi, com entusiasmo, elevando minha voz acima do animado
canto das pessoas ao redor.

Liam me encarou com olhos brilhantes, curioso para


descobrir o que eu tinha em mente.

— Você já esmagou uvas com os pés antes? — perguntei,


enquanto terminava de remover minhas sandálias. — Na minha
família, temos uma tradição em que cada casal participa da
produção do seu próprio vinho. — Entrelacei meus dedos nos
dele, puxando-o em direção ao tanque de granito conhecido
como lagar.

— Então, significa que teremos nosso próprio vinho? —


indagou, mal conseguindo conter sua empolgação.

— Sim, — respondi, lavando meus pés para poder entrar no


tanque. — E a garrafa será rotulada como "Insolente e Fedelha,
Safra 2023".

Soltou uma risada espontânea e, em um gesto impulsivo,


me puxou pela cintura, roubando um beijo meu.

— Sempre tão brincalhona... — murmurou, rindo. —


Acredito que nosso vinho será como nós dois, forte e suave ao
mesmo tempo.

Dessa vez, fui eu quem riu, um riso repleto de alegria.

Após lavarmos os pés, finalmente entramos no tanque.

— A pisa das uvas ocorre em duas etapas — expliquei,


enquanto começávamos a esmagar. — A primeira fase,
chamada de "corte", consiste em esmagar as uvas para separar
o suco das cascas. Os pisadores, dois para cada 750 quilos de
uva, formam uma linha e avançam lentamente pelo lagar,
pisando de forma ritmada por cerca de duas horas, garantindo o
esmagamento adequado das uvas.

— Duas horas? — espantou-se, surpreso com o tempo


necessário.

Eu assenti, sorrindo.

— Após essa etapa, passamos para a fase da "liberdade",


que dura cerca de três horas — declarei, pulando de um lado
para o outro. — E é exatamente essa fase em que estamos
agora. Os pisadores podem se mover livremente ao redor do
lagar, assegurando que as cascas das uvas sejam mantidas
submersas, garantindo a qualidade do vinho.
Segurei suas mãos, pulando e dançando, sem desviar meus
olhos dele. A felicidade em seu olhar correspondia à minha.

Estávamos nas terras da minha família, aproveitando um


momento de leveza e cumplicidade após tantas dificuldades. Ao
longe, avistei minha mãe, segurando nossa garotinha nos
braços. Dara era a minha luz, meu mundo inteiro. No entanto,
Liam era meu Norte.

Sem ele, eu me veria perdida.

A música continuava a tocar alto, enchendo o ambiente


com energia festiva. Era uma dança, uma celebração após
meses de colheita árdua.

— Eu sei que não sou a pessoa mais fácil de lidar — disse


Liam, enquanto continuávamos a pisotear as uvas. — Tenho
minhas manias, sou teimoso, chato e às vezes um pouco
emocionado...

Franzi o cenho.

— Do que diabos está falando?

— Fica quieta, caramba! Estou tentando renovar meus


votos com você.

Pisquei, sentindo uma mistura de incredulidade e diversão.


Meu coração começou a bater mais rápido no peito.

— A verdade é que... — continuou a falar, entre risos —


desde o momento em que te conheci, senti uma conexão
estranha, algo que não entendi de imediato, mas não havia
dúvidas de que era amor.
— Você queria me matar, Liam — retruquei, com um sorriso
brincalhão.

Ele riu novamente.

— Isso não vem ao caso agora — disse, ainda rindo. — O


que importa é que hoje não consigo imaginar minha vida sem
você, sua maluca. Simplesmente não dá. Você é a melhor
esposa que eu poderia ter. Mal-educada e louca? Sim. Vingativa
e sanguinária? Sim. Agressiva e possessiva? Sim.

— Caramba! Quando vai falar das minhas qualidades? —


perguntei, fingindo estar ofendida.

Sua risada ecoou pelo ambiente.

Ele me puxou, roubando um beijo. Estávamos suados e


exaustos, mas felizes.

— Mas você é a única que faz meu coração acelerar toda


vez que sorri — declarou, me deixando ainda mais emocionada.
— É a única que me deixa excitado quando assume o controle,
que me protege como uma super ninja, que me deixa
preocupado sempre que adoece ou ameaça me castigar... droga,
fedelha! Você é a mulher da minha vida. A mulher que eu amo
odiar, odeio amar, mas que me faz o homem mais feliz do
mundo. Amar você é a melhor coisa que já fiz na minha vida,
caramba.

Paramos de pular e fixamos nossos olhares um no outro.


Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu absorvia
todas as palavras bonitas que ele havia dito.
Me aproximei, envolvendo seu pescoço com os braços.

— Sempre com essas declarações cafonas, não é? —


brinquei, tentando disfarçar o quanto suas palavras tinham me
tocado profundamente.

— Não seja tão maldosa — sussurrou, mordiscando meu


pescoço. — Admita que eu arrasei e que você está derretida —
sua boca se aproximou do meu ouvido. — E que está com a
boceta molhada para mim. — Deu uma lambida na minha
orelha, arrancando um gemido dos meus lábios.

— Seu cretino! — exclamei, mordendo seu ombro, lutando


para me equilibrar em cima dele. Nossos olhares se
encontraram e Liam me beijou apaixonadamente. — Eu te amo
— sussurrei, nervosa. — Você sabe que não sou boa com
palavras ou em expressar meus sentimentos, mas... — a
emoção me sufocou — você e nossa filha são meu mundo.
Tenho muito orgulho do relacionamento que construímos juntos.
Obrigada por me amar, por me entender e por hacerme la mujer
más feliz del mundo. — Misturei os idiomas, porque sabia que
ele gostava do meu sotaque espanhol.

Como sempre, Liam se emocionou e lágrimas escorreram


por seu rosto.

Eu ri, beliscando sua barriga e brincando com sua


sensibilidade.

Logo, as pessoas ao nosso redor começaram a gritar,


alegando que não estávamos pulando com entusiasmo
suficiente, nos obrigando a retomar o ritmo.
De mãos dadas, continuamos a girar e a nos mover de
acordo com a música. Nossos olhares se encontravam
constantemente, reafirmando a certeza de que fomos feitos um
para o outro.

Ele e eu. Sempre seríamos nós dois.

FIM
Owen & Jasmine — livro 2 (máfia
irlandesa)

Owen
— Ah, finalmente te encontrei! — disse Jasmine ao entrar
abruptamente em meu escritório. O cãozinho da minha
cunhada, que passava mais tempo na mansão do que em seu
apartamento, brincava animado com uma bolinha de pelo
enquanto a garota se abaixava para pegá-lo, totalmente alheia a
minha presença.

Fiquei surpreso com sua chegada repentina, apesar de que


a porta estava aberta. Aproveitei aqueles poucos minutos em
que Jasmine estava distraída com o animal para observá-la. Não
podia negar sua beleza, como uma joia delicada e valiosa. Sua
pele era tão branca, quase pálida, destacando o azul intenso de
seus olhos, que pareciam penetrar minha alma. Seus cabelos
escuros eram levemente ondulados, chegando até o traseiro
empinado. Desde que ela chegara à mansão há pouco mais de
uma semana, eu a observava de longe, sempre desconfiado...
estudando seus movimentos e ações.

A vigiava enquanto ela caminhava pela minha casa, como


se fosse a dona, parecendo se esquecer de que, no fundo, era
minha prisioneira.

Sim, minha prisioneira.

— O que está fazendo aqui? — gritei, fazendo com que ela


desse um pulinho de susto e seus olhos azuis encontrassem os
meus. — Você não tem permissão para entrar no meu escritório!

Ela piscou rapidamente, segurando o cãozinho em seus


braços, que notei que tremia devido ao nervosismo dela.
Jasmine usava um vestido branco de alças que terminava na
metade de suas coxas, mas já era o suficiente para realçar suas
curvas pecaminosas.

Seria mais fácil se ela não fosse tão bonita. A garota


parecia uma serpente, tentando me enfeitiçar.

— Desculpe-me, eu... — pigarreou, visivelmente aflita — o


cãozinho escapou e...

— Já chega! — a interrompi, me levantando e saindo de


trás da minha mesa. — Poupe-me das suas desculpas falsas e
mentirosas!
Notei seus cílios piscando novamente, como se estivesse
processando minhas palavras.

— Mas... — ela se calou, lambendo os lábios carnudos e


vermelhos. — Eu não menti. — Fez uma careta adorável. —
Aliás, eu nunca minto. É errado mentir.

Sacudi a cabeça, rindo.

— Acha mesmo que pode me enganar com essas jogadas,


garota? — indaguei, chegando mais perto dela. Não entendia
por que sentia essa necessidade, mas minhas pernas pareciam
agir por conta própria.

— Jogadas? — perguntou confusa.

Não soube dizer se foi pelo meu olhar sombrio ou se pela


minha postura ameaçadora, mas Jasmine deu alguns passos
para trás, até encostar-se na minha mesa. Seus olhos
arregalados denunciavam medo.

— É isso que te ensinaram, não é? — questionei, levando a


mão até uma mecha de seu cabelo. Percebi-me apreciando a
textura e o perfume dele. Ela cheirava a jasmim, como seu
próprio nome. — Seu pai te ensinou a usar sua beleza e seduzir
homens, né? — Estiquei os lábios num sorriso de escárnio. A
mera lembrança daquele verme intensificou minha raiva, porque
ele continuava sumido.

E eu não descansaria enquanto não o fizesse pagar.

— Eu não... — ela começou a dizer.


— Pare de mentir, garota! — interrompi sua tentativa de
me convencer do contrário. — Não vai me enganar, pois eu te
conheço. E o pior, conheço o verme que te criou. — Aproximei
meu rosto do dela, deixando-a ver meu rancor. — Entenda uma
coisa: Fique longe de mim, não olhe para mim, não ouse respirar
o mesmo ar que eu, porque não tenho vontade de ser seu amigo
nem de te conhecer.

Seus lábios formaram um biquinho de choro, assim como


seus olhos ficaram marejados, mas as lágrimas não caíam.

— Por quê? — sua voz saiu num sussurro. — O que eu fiz?

Estendi os lábios num sorriso frio e sussurrei em seu


ouvido, observando seus pelos se arrepiarem.
Inconscientemente, fechei os olhos, inspirando seu maldito
cheiro viciante.

— Não é pelo que você fez, mas por quem você é.

— E... e quem eu sou?

— Você é a filha do meu inimigo.

Dizendo isso, me afastei num rompante e parei junto à


porta, apontando para que ela saísse do meu espaço. Meu olhar
irritado deixava claro que eu queria ficar sozinho e o mais longe
possível dela.

Ela saiu correndo em instantes, e pude ouvir seus gemidos


de choro. Falsos. Obviamente, eram lágrimas falsas.

Bati a porta com força.


— AAAAH! — berrei, liberando um pouco da minha
frustração. — Droga!
Quero expressar minha gratidão por você ter acompanhado
até o fim a história envolvente e intensa desse casal louco,
porém cativante, exatamente do jeitinho que eles são. Não
posso deixar de mencionar algumas pessoas especiais que me
ajudaram nessa jornada de escrita deles. Francine e Raquel,
minhas queridas e maravilhosas beta readers, que sempre
embarcam comigo em qualquer aventura literária, amo vocês!
Agradeço imensamente à Paula Domingues, por sua
contribuição com ideias, conselhos e todo o suporte nos meus
momentos de surtos, além de ter feito essa diagramação
incrível! Um agradecimento especial à minha assessora, Jaque.
Esse lançamento foi um sucesso graças a você e sua visão de
marketing, hahaha!

Enfim, estou imensamente feliz com o resultado de Liam e


Aurora, e quero que você saiba que pode me procurar (vou
adorar) nas minhas redes sociais para compartilhar seus surtos.
Não se esqueça de deixar sua maravilhosa avaliação, pois
acredito que nosso casal apocalíptico merece todo o
reconhecimento!

Um beijo e até a próxima:)


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TRÍADE IRLANDESA
[1]
Protagonistas do livro ANJO NEGRO, primeiro volume da série Máfia Fratelli

[2]
Protagonistas do livro ANJO INDOMADO, segundo volume da série Máfia
Fratelli

[3]
Série que ainda não foi lançada

[4]
O livro do Ryan já foi lançado, disponível na Amazon com o nome: CAÇADOR

[5]
Benjamin e Kira protagonizam o livro RESGATADA PELO ANJO, volume 1 da
série Herdeiros Fratelli

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