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Copyright © 2023 Thaiza Narro
Todos os direitos reservados. 

Revisão: Maria Julia


Capa: Lane Guedes
Diagramação: Thaiza Narro

É proibida a reprodução dessa obra por qualquer meio sem a


autorização da autora. Também fica proibida a distribuição de pdf’s ou
quaisquer outros meios.
Plágio é crime.
Sumário
 
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo final
Extra: Casamento
O amor é uma loucura que me deixa mais sã.
Espero amar e enlouquecer todas as manhãs.
E ao adormecer, espero encontrar paz em seus abraços.
Mesmo que eu seja feita de caos.
Emma Lancaster.
Capítulo 01

Não estava sendo um bom dia, definitivamente.


Nem mesmo o tempo lá fora contribuía para isso. A chuva caía forte
e barulhenta sobre o telhado, o vento forçava as janelas numa tentativa de
devastar tudo na enorme casa e a tempestade lá fora poderia facilmente se
equiparar à tempestade no coração de Emma.
 
A caçula da família Lancaster, Emma, a mais nova de duas irmãs, aos
dezoito anos ainda morava com os pais. Enquanto Charlotte, sua irmã mais
velha, havia se casado ainda muito nova e mudado-se com o marido.
 
Naquela noite, seu pai, John Lancaster, havia deixado claro que ela
deveria estar no jantar para conversarem. Emma sabia que, quando ele
convocava para uma conversa assim, não seriam boas notícias. Nunca eram.
 
Mesmo apreensiva, ela desceu no horário certo e sua mãe, Carmen
Lancaster, já a esperava com um sorriso carinhoso no rosto. Carmen, já com
seus cinquenta e quatro anos, idade essa, que ninguém lhe daria, ainda
conserva uma beleza incomparável. Seu cabelo é de um castanho médio,
olhos como o mel e um sorriso sempre acolhedor. As pessoas sempre
costumavam dizer que Emma puxou muito mais da mãe do que do pai, os
mesmos olhos doces, o mesmo cabelo ondulado. E, tal como ela, sem
paciência e mandona.
 
Não demorou até que John se sentasse à mesa e o jantar fosse
servido. Comeram em silêncio, não que Emma tivesse conseguido colocar
muita coisa no estômago, já que estava extremamente ansiosa com o que
quer que o pai fosse falar. Seu medo era de que ele a proibisse de ir para a
faculdade de medicina como sempre sonhou, ou ser obrigada a casar, como
Charlotte.
 
Nunca comentou sobre isso, mas, cerca de dois anos antes, havia
ouvido uma conversa entre sua irmã mais velha e a mãe, sobre o casamento
que, na verdade, era um contrato. Ela lhe dizia que tudo era uma farsa e que
queria poder se separar o mais breve possível, porém, anos depois ainda
estava casada.
 
Emma, de forma alguma, queria isso para si.
 
Mas, de todas as suas suposições, pensamentos estranhos e opções,
ali estava seu pai, lhe falando coisas que soavam absurdas aos seus ouvidos. 
 
— Preste bastante atenção! — A voz grave de John ressoou,
chamando a atenção da filha — Por trás de nossa empresa, nosso verdadeiro
negócio, o que nos mantém como uma das famílias mais ricas do país, é o
esquema bilionário de tráfico de drogas e armas.
 
Foi o bastante para Emma sentir o mundo girar ao contrário e as
palavras seguintes de seu pai parecerem distantes e sem nexo. Algo sobre
todos da família serem envolvidos e como pessoas poderosas, como políticos
e policiais, faziam parte disso. Talvez fossem informações que John
considerasse importantes que a filha soubesse, porém, naquele momento,
Emma nada escutava, só via a boca do pai mexendo como se estivesse no
mudo e, vez ou outra, saísse algum som.
 
Por baixo da mesa de jantar, Carmen segurava a mão da filha,
tentando lhe transmitir algum tipo de paz e confiança, ou somente para que
Emma não surtasse ali mesmo. Mas não estava adiantando muito, tudo que
Emma mais queria fazer era gritar, gritar muito.
 
Segurava as lágrimas e tentava usar o truque da língua no céu da
boca, respirava devagar.
 
Inspira, expira. Inspira, expira.
 
— … na próxima semana — O pai finalizou, mas Emma percebeu
que não tinha ideia do que ele havia falado.
 
Na próxima semana… O que teria na próxima semana? Droga!
 
Sabia que, no momento em que perguntasse isso para o pai, ele
brigaria, ou, no mínimo, a olharia irritado. John sempre odiou ter que repetir
algo que acabara de falar, devido à desatenção, e paciência não era bem seu
ponto forte. 
 
— Pai… desculpa, mas o que tem na próxima semana? — Perguntou
com a voz embargada e respirou fundo ao ver o olhar irritado do pai.
 
— Não ouviu nada do que acabei de falar? — Reclamou sério —
Então presta atenção agora, entendeu?
 
— Sim, senhor — Ela respondeu e olhou rapidamente para a mãe,
que tinha um olhar complacente sobre ela.
 
— Temos um acordo com a família O'Donnell, você vai morar com o
filho mais velho deles, Ryan, e em pouco tempo irão se casar — John repetiu
devagar.
 
Emma abriu a boca algumas vezes, mas a voz não saia. Casar? Riu
sem humor. Não queria se casar, queria estudar, queria, quem sabe, encontrar
um amor de verdade. Não queria isso e sequer podia acreditar no que
acabara de ouvir, era absurdo demais.
 
— Esse jantar foi algum tipo de piada? — Perguntou, dois tons mais
alto do que realmente gostaria. Não estava conseguindo controlar o que
sentia graças ao turbilhão de informações jogados sobre si.
 
— Tem algum palhaço aqui, para fazer piadas? — John perguntou
rude.
 
— O senhor não pode estar querendo que eu me case, aos dezoito
anos, com um cara que eu nunca vi na vida! — Respirou fundo — E minha
faculdade? E as minhas vontades? Por acaso sou a droga de um objeto para
ser negociado? 
 
— Você ainda vai fazer a faculdade que quiser, meu bem — Carmen
disse calmamente. — Vocês vão morar juntos antes da oficialização, para
poderem se conhecer melhor.
 
— E é para eu ficar grata? — Emma questionou debochada e John
bateu as mãos na mesa, emitindo um estrondo alto.
 
— É para você ser grata, sim! — exclamou se levantando — E saiba
que você não tem escolha. Comece a arrumar suas malas logo, pois segunda-
feira já virão te buscar. Agora, vá para seu quarto!
 
— Isso aqui é uma ditadura! — Ela levantou-se irritada — Vou
infernizar tanto a vida dele, que ele não vai querer me ver nem pintada de
ouro. E, independentemente do acordo que quer fazer, ele vai para o ralo.
 
— Vocês vão se casar por bem, ou por mal — John disse friamente,
— então é melhor que você coopere.
 
Eles se encaram por um momento e Emma sorriu de lado, irônica. 
 
— Vou cooperar, sim, papai, — concordou suavemente — no
inferno! Tenha uma boa noite.
 
Virou as costas marchando para o quarto, finalmente deixando as
lágrimas escorrerem, era muita coisa para processar, para aceitar.
 
Na sala de jantar, John sentou em seu lugar, ainda se sentindo
contrariado. Conhecia muito bem o temperamento de cada uma das filhas e
tinha certeza de que Emma não iria facilitar em nada, pois desde pequena ela
era assim: respondona, destemida e só fazia o que tinha vontade.
 
Porém, agora não tinha escolha, o casamento era fundamental para
que as duas famílias se unissem. E o que tivesse que fazer para isso
acontecer, John faria.
 
— Não se preocupe, meu bem, ela vai ceder — Carmen se
pronunciou. — Foi muita coisa de uma vez só para ela aceitar.
 
— Odeio quando as coisas fogem do meu controle — John reclamou.
 
— Amanhã, depois que Emma estiver calma, conversarei com ela
sobre tudo isso — garantiu.
 
— É bom que Emma aceite logo, será melhor até mesmo para ela! —
Respirou fundo — Com a Charlotte foi tão mais fácil.
 
— Cada filha um desafio — Carmen riu e John a acompanhou  —
Vamos dormir.
 
O casal seguiu para o quarto com John já um pouco mais calmo,
porém, ainda preocupado com o trabalho que Emma lhe causaria para aceitar
o casamento. Carmen não deixou de observar que, de tudo o que foi falado, a
única coisa que realmente incomodou sua filha, foi o casamento. De resto, as
drogas, armas, corrupção, etc., passaram em branco quando o assunto
tornou-se ela.
 
Em seu quarto, Emma repetia o processo de inspirar e expirar, para
se acalmar e conseguir pensar com clareza em tudo aquilo que ouviu. Teria
muito o que refletir e sabia que depois, com calma, teria que conversar com
seus pais sobre tudo aquilo, não poderia somente ignorar todas as novas
informações sobre quem é.
 
Capítulo 02

A noite foi um verdadeiro martírio para Emma, revirou-se na cama


incontáveis vezes, sentia-se presa a um pesadelo mesmo que sequer
conseguisse pregar os olhos para um sono decente. Sua mente estava um
caos, não podia aceitar como verdade aquilo que lhe disseram. Máfia? Que
tipo de piada sem graça era aquela que seu pai havia tentado contar? Pior
ainda, não conseguia acreditar que seria obrigada a casar.
Mas, isso, não mesmo! Não aceitaria nessa e nem em qualquer outra
vida.
 
Seu corpo implorava por, pelo menos, trinta minutos inteiros de sono,
quando Emma viu o sol nascendo através da janela. Odiava o sol da manhã e
a claridade que ele trazia consigo. Levantou, sentindo um calafrio subir pela
coluna ao pisar direto no chão frio e, sem se importar com o desconforto,
caminhou até a janela e observou o sol por um minuto inteiro, antes de puxar
as cortinas e voltar para cama, na tentativa de ter um sono de qualidade.
Acabou lembrando-se de mandar uma mensagem para sua melhor amiga,
Darah, marcando para se encontrarem no shopping mais tarde. Emma tinha
como hobby gastar dinheiro com coisas que não precisava, para se acalmar.
 
E, definitivamente, precisava muito se acalmar para decidir o que
faria.
 
Após rolar na cama mais um tempo, desistiu. Cogitou tomar um
calmante para relaxar e, assim, dormir, mas também desistiu dessa ideia. Se
tivesse pensando nisso, no meio da noite, talvez valesse a pena, mas o
relógio já marcava sete da manhã. Levantou-se de vez, foi para o banheiro,
pensou em entrar na banheira, mas não estava com paciência para esperar ela
encher, tirou a roupa devagar e entrou sob a água morna do chuveiro. E o
aperto desvaneceu-se em lágrimas de confusão sobre sua face.
 
Num dia, era só uma jovem comum que acabou de sair do ensino
médio, recém havia completado dezoito anos, porém, agora sabe que de
comum não tem nada. Não era toda adolescente que tinha um pai mafioso,
ou era obrigada a casar.
 
Queria tanto que, quando descesse as escadas para tomar café da
manhã, sua mãe estivesse por ali e lhe dissesse que foi tudo um trote, uma
pegadinha sem graça. Que durante o jantar da noite anterior uma câmera
estava ligada, filmando todas as reações dela para rirem no natal. Então
Emma se lembrou que a irmã casou-se sob contrato com um homem que o
pai escolheu e, agora, era a vez dela passar por essa tormenta também.
 
Não seria igual Charlotte, não seria infeliz em um casamento.
 
Finalizou o banho e saiu do banheiro em um roupão, secou os
cabelos com calma, fazia questão de deixá-lo ondulado na maioria das vezes.
Vestiu-se com uma roupa confortável e quente, adequada para o clima fora
de casa.
 
Na sala de jantar a mesa de café da manhã já estava posta, mas não
havia ninguém por ali, Emma sentou para comer alguma coisa, sentindo-se
tão chateada, que sequer pensou em dieta. Pegou uma torrada e começou a
passar uma geleia de morango.
 
— Bom dia, senhorita Emma! — a governanta, Marie, cumprimentou
— Deseja algo mais?
 
— Quero panquecas com mel e ovos com bacon — Emma
respondeu, após refletir um pouco — E, bom dia! Onde estão meus pais?
 
— Seus pais já saíram para trabalhar — ela informou e Emma apenas
assentiu. Não havia mais nada que pudesse ser feito, sua esperança de que
tudo fosse uma piada era poeira ao vento. — Volto em instantes com as
panquecas e os ovos.
 
— Com bacon! — Emma reforçou.
 
— Com bacon, não vou esquecer. Com licença — Marie afirmou e
então se afastou.
 
Emma gostava de Marie, a senhora de quase cinquenta anos que
coordenava a casa e todos os outros funcionários. A conhecia desde que se
entendia por gente e, se pudesse, levaria ela consigo para qualquer outra casa
em que fosse morar. Isso lhe fez pensar que, talvez, Marie soubesse algo
sobre os planos do pai, sobre mandá-la para outro lugar.
 
Enquanto esperava a senhora voltar com a comida que lhe foi pedida,
Emma serviu para si um copo de suco de laranja e comeu distraidamente sua
torrada. Somente quando dois pratos diferentes foram colocados diante de si,
é que voltou a prestar atenção ao seu redor.
 
— Marie, eu quero te perguntar uma coisa. — olhou para senhora,
que apenas assentiu. Conhecia a jovem o suficiente para saber que, quando
ela vinha com seus questionamentos, nunca era simples de resolver. — O
que meus pais falaram sobre eu sair de casa?
 
— Seus pais não conversam comigo sobre essas decisões. —
esquivou-se.
 
— Marie! — Emma resmungou — A senhora entendeu muito bem
minha pergunta! Hoje é quarta-feira e meus pais disseram que eles virão me
buscar na segunda. Isso significa que, com certeza, a senhora sabe de alguma
coisa.
 
— Tudo o que sei é que preciso deixar suas malas arrumadas para
mandar para sua casa nova. — Marie respondeu em um suspiro, já conhecia
aquela história. No fundo, até torceu para que isso não acontecesse com a
caçula Lancaster, afinal, se lembrava bem da tristeza que havia sido o
casamento para a mais velha.
 
— Não precisa arrumar muita coisa, não vou demorar a voltar. Isso,
se eu for. — determinou.
 
— Você é muito teimosa, às vezes isso é bom, mas, às vezes… —
Marie comentou, observando a garota.
 
— Se eles acham que vão conseguir me casar, não vão. Pode me
achar teimosa, Marie, mas é do meu futuro que estamos falando — Emma
bateu o pé.
 
— Você ainda nem viu o rapaz, talvez goste dele. — Marie tentou
amenizar um pouco a irritação que viu surgindo em Emma.
 
— Não me importo! Eu nunca vou gostar de alguém em uma
situação como essa! — remexeu os ovos no prato e suspirou. — Vou dar um
jeito nisso, a senhora vai ver.
 
— Eu acredito, mas deixe as coisas fluírem. — sorriu para a garota
em sua frente. — Agora, preciso trabalhar. Se precisar de algo, é só me
chamar.
 
— Claro. — Sorriu para a senhora e voltou sua atenção para o café
da manhã, mas já se sentiu tão irritada, que não tinha mais fome. Comeu um
pouco dos ovos com bacon e pequenos pedaços das panquecas com mel,
apenas para não fazer completo descaso da comida que lhe foi servida. 
 
Caminhou para a sala enquanto passeava por uma rede social e outra,
vendo as novidades, o que os amigos haviam publicado, e aproveitou para
conferir se já tinha alguma resposta da faculdade sobre sua inscrição. Então
lhe veio o pensamento de que não sabia com quem teria que morar, lembrava
que o pai havia dito o nome, mas não conseguia lembrar qual era, então
ficou apenas na vontade de pesquisar se o cara tinha, ou não, alguma rede
social. Iria morar com alguém e não sabia sequer se era novo ou velho,
bonito ou feio, nem o nome se lembrava.
 
Respirou fundo enquanto jogava o cabelo comprido para trás.
 
“Preciso pensar em uma forma de fazer meu pai mudar de ideia antes
de me tirar de casa”, refletiu. “Quando eu me encontrar com a Darah, ela vai
me ajudar a pensar em alguma coisa”
 
Emma saiu de casa quando faltava pouco para o horário em que
havia marcado para se encontrar com a amiga e, como sempre, levada pelo
motorista particular e acompanhada por um segurança. Sempre odiou isso,
achava que chamava muito mais a atenção com um “armário” andando ao
seu lado, do que se estivesse sozinha, e mesmo que já tivesse tentado
convencer os pais disso, nunca funcionou. E nas poucas vezes em que tentou
fugir do segurança, tudo que conseguiu, foram castigos.
 
Ao chegar no shopping, saiu do carro e foi para o seu ponto
tradicional de encontro com a Darah, em frente à loja favorita de ambas, e
não demorou até que a outra chegasse.
 
As garotas se conheciam desde os três anos, quando tiveram que
dividir a massinha de modelar na aula de alfabetização, porque a babá de
Emma havia esquecido de mandar a dela para a escola, o que acabou sendo
fundamental para o nascimento dessa amizade. Desde então estavam sempre
juntas, fosse no colégio, onde estudaram todas as classes juntas, ou fora dele,
lá se iam quinze anos sendo melhores amigas.
 
— Bom dia! — Darah cumprimentou com atenção as feições da
amiga — Você tá um caco hoje hein! Não dormiu?
 
— Não, eu não dormi nada. — Emma reclamou — Uma das piores
noites da minha vida!
 
— O que aconteceu? — Darah perguntou preocupada.
 
— Vamos sentar em algum lugar. Você precisa estar sentada para não
cair de costas. — Emma segurou na mão da amiga lhe guiando para o café
mais próximo.
 
— Você está me deixando preocupada! — Darah reclamou.
 
E quando Emma virou-se, ainda andando, para responder à amiga,
esbarrou em uma pessoa que saia do café, fazendo com que o copo na mão
da outra pessoa caísse, espalhando todo o conteúdo pelo chão.
 
— Sinto muito — Emma se desculpou, olhando a bagunça e sabendo
que ela havia sido a culpada, por não olhar para frente.
 
— Acho que deveria me pagar um café agora. — Ouviu, então
levantou o olhar para o rapaz a sua frente, que lhe encarava com um
sorrisinho de lado, e gostou muito do que viu: os olhos verdes, cabelo
escuro, tatuado, alto, um corpo definido. 
 
“Exatamente meu tipo! Com cara de quem acaba com o psicológico
da gente e vai embora”, Emma pensou, observando o rapaz em sua frente
sem qualquer cerimônia.  
 
— Claro, — respondeu com um sorriso — agora mesmo.
 
— Não, agora não. Acho que a gente devia se encontrar em outro
momento, só nós dois. — Ele falou se aproximando. E, no mesmo instante, o
segurança se posicionou entre os dois jovens — O que é isso?
 
— Meu segurança… — Emma revirou os olhos, irritada, e o garoto
apenas riu, achando divertido.
 
— Cancela o café, gatinha, — ele jogou um beijo em direção a
Emma, se despedindo — preciso ir. Mas, se a gente se encontrar de novo,
saiba que você tá me devendo uma.
 
Emma apenas se despediu, enquanto Darah tinha se afastado,
assistido ao joguinho de cantadas dos dois. Quando ele se afastou
completamente, Emma virou-se para o segurança extremamente irritada, já
que, apesar das várias regras, ela nunca havia sido proibida de se envolver
com alguém.
 
— Sabe que eu posso flertar, né? Ele não ia fazer nada, é só um cara
no meio de um shopping! — Reclamou para o segurança, que se mantinha
completamente inexpressivo.
 
— Seu pai deu ordens para impedir qualquer atitude dessa natureza,
devido ao seu noivado. — Foi a única resposta obtida por Emma, e logo o
segurança retornou a sua posição, afastado o suficiente para dar alguma
privacidade às garotas, mas perto o suficiente para agir rapidamente.
 
— Eu ouvi bem, ou tô ficando doida? — Darah perguntou, se
aproximando novamente.
 
— Você ouviu certo, mas eu tô prestes a enlouquecer! — reclamou
— Vamos conversar lá dentro.
 
No café, Emma e Darah sentaram-se em uma mesa qualquer,
enquanto o segurança ficou em pé, próximo a elas. Emma contou até trinta,
se preparando para repetir sua “tragédia particular” em voz alta.
 
— Então, meus pais fizeram um acordo aí, que incluí casar a filha —
começou, tentando disfarçar a mágoa com deboche, mas sabia que nunca
enganaria a melhor amiga.
 
Capítulo 03

A cada palavra que Emma falava sobre esse casamento arranjado, sentia
sua pele se arrepiar, a barriga revirar e uma angústia vestida de revolta
crescer em seu peito. Não queria casar, não queria ser um objeto negociável,
não queria ser uma peça em jogo onde o jogador era seu pai. Sentia-se
completamente injustiçada.
Sequer havia sido consultada e ainda queria gritar sobre isso o mais
alto que pudesse quando chegasse em casa. Não queria ser injustiçada como
a irmã foi e muito menos queria ser afastada da vida que sonhou e planejou
com todo cuidado para si.
 
Emma respirou fundo algumas vezes, evitando ficar com a voz
embargada. “Droga! Não quero chorar, não por isso” pensou, ainda que sua
amiga segurasse sua mão atenta a cada palavra.
 
— Eles não se preocuparam em conversar comigo sobre essa
decisão. É a droga da minha vida! Eles queriam o quê? Que eu me alegrasse
com isso e concordasse com enorme felicidade? — Falou com deboche, para
tentar disfarçar a mágoa.
 
— Isso parece tão… como posso dizer? — Darah pensou por um
momento — Século passado. Seus pais sabem que não podem te obrigar a
isso, não sabem?
 
— Vou fazer de tudo para que isso não aconteça, eu me recuso! —
reforçou — Mas eu não sei como.
 
— Deixa avisado que vai dizer não na cerimônia — Darah sugeriu e
Emma riu — Meu plano é bom, não ria de mim assim — brincou.
 
— Não estou rindo de você, é só que… — Emma suspirou chateada
— Eles não falaram, ainda, mas qual seria minha opção para não seguir o
que eles mandaram? Sair de casa? Trabalhar e me sustentar sozinha? E
minha faculdade de Medicina? Eu tô perdida, Darah, perdida!
 
— Calma, tem que ter outra solução. Pensaremos nela juntas. —
Darah apressou-se em dizer, não gostando de ver a amiga tão desamparada.
— Você pode viver comigo, na minha casa. Meus pais vão me dar um
apartamento e você mora comigo, pronto.
 
— Obrigada, você é a melhor amiga que eu poderia ter, — Emma
sorriu — mas, eu falei algo para o meu pai ontem, e talvez seja um bom
caminho.
 
— O quê? — Darah perguntou.
 
— Nós dois seremos obrigados a morar juntos, então, estava
pensando em fazer a vida dele insuportável durante esse tempo. Se ele
romper o acordo, eu fico livre. — explicou, da forma mais simples e clara
possível.
 
— Mas, Emma, e se ele fizer o mesmo com você? — Darah
perguntou realmente preocupada — Como vai ficar a convivência? E se ele
for agressivo, ou algo assim? Você não conhece nada dele, pode ser
perigoso.
 
— Meus pais podem estar me obrigando a cumprir esse acordo
ridículo, mas não acho que eles me abandonariam nas mãos de alguém
violento. Se ele fizer algo contra mim, consigo me livrar ainda mais rápido
— Emma ponderou, acreditando que essa era realmente a melhor ideia para
se ver longe do tal acordo.
 
— E se o tiro sair pela culatra? — Darah questionou arqueando uma
sobrancelha — E se ele for um cara novo e gostoso? 
 
— Não quero! Poderia ser o próprio Kim Taehyung, eu não vou ficar
com alguém com quem querem me obrigar a casar! — Bateu o pé,
emburrada, ignorando a amiga que ria do seu pequeno momento de birra.
 
— Mas, você entende que ele também vai estar se casando obrigado,
né? Quero dizer, ele tem o que, vinte e um, vinte e dois anos? Vocês dois
estão ferrados com essa história! Ele pode estar pensando como você nesse
exato momento — Darah argumentou, achando um pouco complicado o
plano da amiga.
 
— Sabe que você é minha amiga, né? Sabe, também, que você tem
que me dar apoio em qualquer que seja meu plano, certo? — Emma
perguntou sarcástica e Darah riu.
 
— Eu sei que sou sua amiga, e eu te apoio, larga de ser exagerada. —
Darah riu, negando com a cabeça. — Só estou te ajudando a pensar em todas
as possibilidades.
 
— Não tá fazendo isso bem, tem que me dar ideias de como ser
insuportável com ele — Emma disse fazendo bico.
 
— Acredito no seu potencial pra fazer isso — Darah brincou.
 
— Você está me chamando de insuportável? Com que moral? Eu sou
muito injustiçada mesmo! — Falou, fingindo indignação, então colocou as
mãos sobre a mesa e olhou para o teto — Pode me levar, Deus! Pode me
levar! Ninguém me dá o valor que eu mereço.
 
— Emma, por favor! — Darah disse rindo da encenação dramática
da amiga.
 
— Agora, falando sério, — Emma arrumou a postura e bebeu um
pouco de seu café — eu não sei o que vou fazer realmente, mas se tudo sair
do meu controle e eu casar, você vai ser a madrinha.
 
— Obrigada pelo convite, mas realmente espero que não aconteça.
— Darah agradeceu e bebeu um pouco do próprio café — O convite para
morar comigo ainda está de pé.
 
— Vou pensar nisso, pensar em todas as possibilidades. — suspirou e
sorriu de lado para a amiga — Quando que eu ia estar falando de casamento
aos dezoito anos? Cada coisa que meus pais me fazem passar.
 
— Acho que você merece uma despedida de solteira. — Darah falou
aleatoriamente e Emma riu, pensando na ideia — Olha, você vai morar com
o cara daqui a uns dias, nós devíamos ter uma noite das garotas.
 
— Onde? Numa loja de doces e contos de fadas? Aquele armário ali
estragaria completamente minha noite — Emma deu de ombros,
desinteressada.
 
— Não seria a primeira vez que você escapa deles — Darah lembrou
 
— Tudo bem, tudo bem. — Emma riu — Quando?
 
— Sábado. — Darah sorriu — Vou arrumar uma festa boa pra irmos.
 
Enquanto conversavam, o telefone de Emma tocou, interrompendo-
as, e o nome que surgiu na tela arrancou um suspiro chateado dela. Emma
estava muito irritada com o pai e sabia que isso não terminaria, enquanto
essa história de casamento estivesse de pé. John também sabia disso, mas
não mudaria sua decisão final. 
 
— Oi! — Emma cumprimentou ríspida ao atender depois do terceiro
toque.
 
— Onde você está, Emma? — Perguntou sendo direto.
 
— Fazendo compras. O que quer, pai? — Perguntou levemente
irritada.
 
— Escuta, eu e sua mãe estamos indo para outra cidade a negócios,
mas sábado estamos de volta. Haverá um jantar com a família do seu noivo,
aproveita que está fazendo compras e compre algo adequado — recomendou
autoritário, e Emma respirou fundo para manter a calma.
 
— Eu não vou a jantar nenhum! — Rebateu.
 
— Vai, vai sim! — John afirmou — Ou pode ter certeza de que
nenhum cartão seu funcionará na segunda-feira. Tenha um bom dia, filha —
despediu-se seco e desligou.
 
Emma olhou para o celular completamente indignada, sentiu vontade
de arremessar o celular contra o chão e gritar, mas sabia que nada disso
adiantaria, então sorriu para Darah, que a observava com uma expressão
confusa.
 
— Darah, aparentemente sábado tenho que participar de um jantar
com meu noivo, então, nossos planos vão ser um pouco mais tarde. Mas,
tudo bem, — Emma sorriu de lado — quem começa uma despedida de
solteiro às sete da noite, né?
 
— Emma, que cara é essa? O que você está planejando? Tá me
assustando — Darah perguntou, observando a expressão da amiga.
 
— Meu pai mandou que eu comprasse uma roupa decente para o
jantar. — Emma sorriu e se levantou — Hora de fazer compras, vamos.
 
Saiu do café, seguida por Darah e o segurança, e levando na cabeça
seu primeiro plano para cancelar o casamento.
 
Capítulo 04

Não via os pais desde a noite em que eles jogaram algumas bombas em seu
colo e, agora, os veria de novo somente no jantar de noivado. Nunca havia
reparado no quão pouco via os pais. E somente agora, que tanto queria falar
algumas coisas a eles, e gritar tantas outras, foi que se deu conta disso.
Recebeu uma mensagem pela manhã, informando que o jantar seria
em sua casa e que seu noivo e a família estariam presentes. Emma garantiria
que a noite fosse inesquecível, demonstraria como foi educada e o quanto
estava ansiosa para esse acontecimento.
 
O celular tocou e na tela apareceu o nome de sua melhor amiga,
Darah.
 
Darah (17:10)
 
Que horas vai ser o jantar e que horas passo aí?
 
Emma (17:12)
 
O jantar é às 19:30, pode vir me buscar às 20:30.
 
Não vou aguentar mais que uma hora nisso.
 
E quando sairmos vamos direto pra balada, eu preciso muito encher a
cara.
 

Darah (17:14)
 
Combinado.
 
Bom jantar com seu noivinho. kkkkkkkkk
 
Emma  (17:15)
 
Vai se ferrar kkkkkkkk
 
Emma bloqueou a tela quando ouviu as batidas na porta. Revirou os
olhos ao ver, pelo reflexo do espelho, a mãe entrando, mas não disse
nenhuma palavra. Por mais que tivesse coisas a dizer, não sabia exatamente
por onde começar.
 
— Oi, meu amor, como você está? — Carmen perguntou enquanto
adentrava o quarto.
 
— Depende. Como a senhora acha que uma pessoa fica quando está
prestes a conhecer o noivo? — Emma respondeu em um tom baixo, olhando
a mãe pelo espelho.
 
— Vou ignorar essa pergunta. — Carmem falou e Emma deu de
ombros.
 
— Tanto faz! — A garota falou fazendo bico.
 
— Está começando a se arrumar agora? — Sua mãe perguntou,
parando atrás da filha, que estava sentada diante da penteadeira com espelho
— Quero ver a roupa que escolheu.
 
— Não confia no meu senso de moda? — Emma retrucou ríspida.
 
— Confio, sim, o que eu não confio é na sua capacidade de obedecer.
— Carmen rebateu — Anda, levanta e pega o vestido.
 
— Mãe, isso é tão absurdo! — Emma reclamou virando-se de frente
para a mulher — E não estou falando sobre a senhora não confiar no meu
senso de moda, estou falando sobre me obrigar a casar. Eu só tenho dezoito
anos! Sou sua filha e você está me tratando como a droga de uma mercadoria
que tem que estar perfeita na hora da entrega.
 
— Você está tendo uma visão errada das coisas. — Carmen puxou
uma cadeira e sentou de frente para a filha. — Você não é um produto, nunca
pense isso. Você é minha caçulinha, meu bebê, e foi por isso que você
sempre foi poupada dos negócios da família.
 
— Eu sou seu bebê, mas vou servir como moeda de troca? Tô
impressionada com seu cuidado… — Emma respondeu em tom de deboche
e Carmen respirou fundo, entendia a revolta da filha, mas ainda achava
necessário que esse acordo acontecesse da melhor forma possível.
 
— Às vezes, a única forma confiável de se fechar um acordo, é com
o casamento, pois assim há uma união familiar entre as partes. Você não é
uma moeda de troca, mas precisa fazer isso. — Carmen explicou com calma.
 
— Foi assim com a Charlotte também? Simplesmente ignoraram o
que ela queria e a obrigaram a casar? — Perguntou irritada, olhando para a
mãe — Sabe o que eu acho? Que vocês tiveram poucas filhas. Deveriam ter
arrumado logo umas dez, assim poderiam fazer acordo com todo mundo. 
 
— Fale comigo com respeito, ou vou perder a paciência! — Carmen
exigiu.
 
— O mesmo respeito que tem por mim? Pode deixar, mamãe, —
debochou — mas tenho mais uma pergunta: agora que acabaram as filhas
pra casar, como serão feitos os próximos acordos?
 
— Emma, eu não vou ficar aqui ouvindo você falar besteira, porque
não será bom se isso acontecer. — Falou, levantando-se — Pega o vestido
agora, porque quero ver se ele está adequado para a ocasião.
 
— Claro, mamãe! — Respondeu sarcástica enquanto se levantava.
 
Emma caminhou até seu closet e voltou de lá com um vestido preto
longo, sem muitos detalhes, com as mangas caídas e um decote comportado.
Carmen o avaliou e sorriu.
 
— Está ótimo. E você, mocinha, desça no horário. — Carmen
orientou colocando o vestido sobre a cama com cuidado para não amassar.
 
— Claro, estarei lá no horário exato. Não se preocupe. — Emma
sorriu sem qualquer rastro de humor. — Como uma bela encomenda, que
chega no dia prometido.
 
— Um dia você entenderá que tudo que eu e seu pai fazemos é para o
bem da família. — Carmen justificou tentando se aproximar da filha.
 
— Com certeza eu não faço parte dessa família que você está
falando. Talvez, nem a Charlotte. — Retrucou — Quem é essa família que
vocês estão cuidando?
 
— Você é muito nova para entender, mas o erro foi meu. Eu deveria
ter escutado seu pai e deixado você saber de tudo desde pequena, assim
entenderia melhor nossas decisões. — Carmen tentou se aproximar da filha,
mas foi afastada novamente.
 
— Se era tudo o que tinha para fazer aqui, pode me dar licença?
Sabe, eu tenho que empacotar o produto para a entrega — Emma destilou,
irritada, sua mágoa.
 
Carmen olhou para a filha com os olhos pegando fogo, mas nada
disse, apenas respirou fundo e caminhou para fora do quarto. Sabia que ela
não cooperaria nenhum pouco, mas, no fundo, torcia para que também não
colocasse muitos obstáculos no caminho.
 
No quarto, Emma sorria, apesar da irritação, satisfeita por sua mãe
ter acreditado que aquele era o vestido que usaria.
 
Voltou sua atenção para o mais importante: terminar de se arrumar.
Queria estar linda para ver a cara dos pais e para, depois, arrasar em
qualquer que fosse a festa que ela, e a amiga, fossem. De qualquer forma,
seu objetivo da noite era: atrapalhar os planos dos pais e, depois, encher a
cara.
 
Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto, fez uma maquiagem
brilhosa e, nos lábios, um batom vermelho destacava bem a boca. Por fim,
colocou a estrela da noite: um vestido tubinho vermelho, com alças finas,
que deixava as costas parcialmente à mostra. Conferiu no espelho, e gostou
muito do resultado. 
 
“Hora do show” Emma pensou enquanto saía do quarto. 
 
Capítulo 05
Desceu as escadas devagar. Sabia que, naquele momento, seus pais
e os convidados estariam na sala principal, onde terminava a escada. Sabia,
ainda, que seu pai odiaria seu visual, mas se era para impressionar, ela estava
completamente pronta. 
 
Emma não gostava muito de jogos, mas quando jogava, recusava-se a
perder.
 
A primeira pessoa a vê-la foi sua mãe. Emma prestou bastante
atenção na forma com que sua mão apertou a taça de vinho com força e em
como, por trás do sorriso, havia raiva. E adorou ver isso, pois também se
sentia assim, com raiva. 
 
— Querida, finalmente você desceu. Estava quase indo te buscar. —
Carmen brincou, sua voz soando um tom mais agudo devido à irritação.
Notou a mulher ao lado da mãe, uma senhora de meia-idade, cabelo loiro e
olhos verdes, a olhando de cima a baixo, então sorriu de lado e caminhou até
as duas mulheres. — Deixe eu lhe apresentar, essa é a senhora Abigail
O'Donnell, será sua futura sogra. Abigail, esta é minha filha, Emma. Ela é
uma joia rara.
 
— É um prazer finalmente conhecê-la. — A senhora a
cumprimentou. Seus olhos estavam analisando Emma como se fosse um
produto, o que não passou despercebido pela garota. “Seria errado revirar os
olhos agora?”
Pensou — É tão linda quanto sua mãe fala.
 
— Obrigada, eu acho. — Emma deu de ombros, sem esconder o
quanto estava desinteressada com tudo aquilo. Seus olhos percorreram a
sala, não encontrando mais ninguém.
 
— Eles estão no escritório. — Escutou sua mãe falar — Está ansiosa,
meu bem?
 
— A senhora não imagina o quanto. — Respondeu em um tom
sarcástico. Se era para pôr fogo no parquinho, estava preparada para
incendiar tudo.
 
— Sua mãe disse que você é uma garota muito estudiosa e dedicada.
— Emma virou sua atenção para a senhora que falava consigo. — O que
pretende fazer na faculdade?
 
— Eu estava pensando em fazer medicina, mas, talvez eu deva fazer
direito. — Sorriu em falsa simpatia. — Nunca se sabe quando vou precisar
tirar meus pais, meu futuro marido, ou meus sogros, da cadeia. — Emma
baixou o tom de voz, como se fosse contar algum segredo — Eles cometem
muitos crimes, pelo que eu soube.
 
— Emma Lancaster! — Carmen falou entre dentes, chamando a
atenção da filha — Não dê importância para este tipo de besteira, Abigail.
Emma está passando por um curto momento de rebeldia, mas sei que logo
irá se comportar direito.
 
— Por momento de rebeldia, entenda: casar a filha à força. Mas acho
que a senhora entende isso, já que está fazendo o mesmo com seu filho. —
Falou em um desafiador e calmo, o que deixou as duas outras mulheres
desconfortáveis e irritadas — Com licença.
 
Caminhou até as bebidas do pai e serviu a si mesma com uma dose
de uísque e gelo. Odiava uísque, mas aquele jantar só desceria com uma
bebida forte. No momento em que levava o copo à boca, a porta do escritório
se abriu e três homens passaram por ela.
 
Era impossível não notar, logo de cara, Emma com seu mini vestido
vermelho no meio da sala, e um sorriso diabólico no rosto. Naquele
momento, John teve certeza de que seu coração era forte, pois o ódio que
sentiu ao ver a filha vestida daquela forma, em uma noite que considerava
importante para o acordo que pretendia fazer, com certeza lhe causaria um
infarto se fosse mais fraco. Ele contou até dez, não iria brigar ali, na frente
dos convidados, mas Emma receberia um castigo à altura do que estava
provocando. Garantiu a si mesmo que a atitude da filha não passaria em
branco. 
 
O outro homem mantinha uma expressão impassível, a qual Emma
não conseguia distinguir. Porém, quando seus olhos recaíram sobre o terceiro
homem ali, se arregalaram levemente, devido à surpresa. Era o mesmo
garoto do café. Ele carregava no rosto um sorriso de lado, observando Emma
como se estivesse se divertindo com a tensão instalada no ar.
 
— Olha só, então você é a minha noiva! — Ryan quebrou o silêncio
— Você me deve um café, mas aceito um copo desse uísque no lugar.
 
— Claro, acho que nós dois temos muito o que brindar, afinal,
estamos noivando essa noite. — Emma respondeu em falsa animação, indo
até à mesa de bebidas novamente, para servir outro copo de bebida.
 
— Vocês se conhecem? — Ouviu a voz de Carmen perguntar.
 
— Nos esbarramos por aí. — O garoto respondeu, e Emma se deu
conta de que não lembrava o nome dele. Tentou buscar na memória, mas não
vinha a mente, então se perguntava se deveria ter dado mais atenção a esse
detalhe. Por fim, deu de ombros e foi até o seu “noivo”.
 
— Se eu soubesse disso, aquele dia, poderíamos ter feito algo
divertido. Mas, sabe como é? — Emma bebeu um pouco — É difícil
combinar algo com o noivo quando nem se conhece ele.
 
— Entendo perfeitamente. — Ele respondeu com um sorriso,
entrando na brincadeira perigosa de Emma. — Aliás, meu nome é Ryan
O'Donnell, querida noiva.
 
— E o meu, é Emma Lancaster, querido noivo — Respondeu irônica.
 
— Acabaram com o showzinho? —  O pai do Ryan perguntou,
irritado com todo aquele teatro dos dois jovens, no meio da sala.
 
— Estou apenas começando, sogrinho — Emma respondeu e Ryan
riu.
 
— Com licença, preciso conversar em particular com Emma. — John
comunicou, caminhando até a filha e a pegando pelo braço, arrastando-a
porta afora, enquanto ignorava todas as reclamações da garota, até chegarem
à biblioteca da casa e ele jogá-la no sofá, extremamente irritado.
 
— Vai fazer o quê? Já me deu de presente, agora vai me bater? —
Ela desafiou, cruzando os braços — Eu não me surpreenderia.
 
— Você está mesmo precisando de uma lição! Se acha que essa sua
rebeldia vai ficar impune, não vai mesmo, Emma! — Olhou para filha se
controlando, devido à raiva — Você vai se comportar direito! Sem
provocações, sem ironia, com bastante respeito e educação.
 
— Ou quê? — Perguntou, se levantando do sofá e sustentando uma
sobrancelha arqueada no rosto em desafio.
 
— Você não vai gostar de saber, eu posso tomar medidas extremas!
— Ele ameaçou e ela deu de ombros em resposta. — E mais uma coisa, sobe
para o seu quarto e tira essa roupa de puta que está vestindo! Mandei que
você comprasse algo adequado, não essa roupa, que mais parece que está
indo direto para um bordel!
 
— Gostou? — Perguntou, irônica, com um sorriso. — Foi para
seduzir meu noivo direitinho. Acha que vai funcionar? Acho que, já que eu
sou um produto, tenho que, pelo menos, estar ao gosto do cliente.
 
Emma terminou de falar e sentiu o tapa arder na pele de seu rosto.
Começou a rir, apesar dos olhos se encherem de lágrimas.
 
— O senhor está me tratando como uma moeda de troca, não deveria
reclamar por eu agir assim. — A garota sorriu, apesar da dor emocional e
física. — A única forma de me manter quieta nesse jantar, é se eu não estiver
nele. Então, o que vai escolher, papai?
 
Antes que John respondesse, uma batida soou na porta da biblioteca,
e Carmen a abriu e entrou.
 
— O jantar vai ser servido agora, venham. — disse séria, notando o
rosto levemente inchado da filha, mas não comentou sobre.
 
— Claro, o show não pode parar! — Respondeu Emma, enquanto
saía dali, ignorando os pais.
 
Capítulo 06

Emma saiu da biblioteca, parando em frente a um espelho


decorativo que havia no corredor. Limpou o batom, borrado pelo tapa que
levou, e secou cuidadosamente os olhos, não deixaria que as lágrimas que os
umedeciam, borrassem a maquiagem, ou destruíssem a máscara que usava
para demonstrar sua raiva. Nunca tinha se comportado com rebeldia, mas
agora as circunstâncias eram outras, e não facilitaria a vida de ninguém que
não estivesse facilitando o lado dela também. O tapa só jogou mais lenha em
uma fogueira que já estava enorme.
 
Na Biblioteca, Carmen se dirigiu ao marido com o intuito de
entender o que havia acontecido ali, não chegou a ver o tapa, mas, do lado de
fora daquele cômodo, foi possível ouvir o estalo.
 
— O que aconteceu aqui? — Perguntou em um tom de voz ameno,
mesmo sabendo que a biblioteca era longe o suficiente para que seus
convidados não ouvissem nada do que pudesse acontecer ali, e agradeceu
silenciosamente por isso.
 
— Emma me tirou do sério. Ela está indo longe demais com essa
birra. — John bradou, irritado — Mas vou pensar em uma forma de cortar as
asinhas dela.
 
— Não se preocupe tanto, querido. — Carmen o confortou —
Segunda-feira ela já irá para a casa nova, tenho certeza de que a convivência
fará com que os dois se aproximem, ou se matem.
 
— Espero que seja a primeira opção, essa união trará grandes
benefícios para nós. — Respirou fundo — Vamos para junto de nossos
convidados, não confio no que a Emma possa falar, estando sozinha com
eles.
 
— Nem eu. — Carmen concordou.
 
Apressaram-se em voltar para a sala. John respirou fundo ao ver a
filha sentada na poltrona, com um copo de uísque na mão e um sorriso
debochado nos lábios.
 
— Pensei que demorariam mais, falando mal de mim por lá —
Emma alfinetou, se levantando.
 
— Emma, querida, comporte-se. Esse é o seu jantar de noivado. —
Carmen chamou a atenção da filha, que a ignorou completamente.
 
— Podemos remarcar, acho que vocês têm muito o que se resolver
ainda — Abigail declarou e Emma riu alto.
 
— Que é isso, sogrinha, fugindo da sua norinha? Não aceito! —
Sorriu, caminhando até o casal de “sogros forçados”. — Vieram para jantar,
então, vamos jantar. — Olhou para o homem que seria seu sogro com um
certo desprezo no olhar. — Não fomos devidamente apresentados, qual o seu
nome?
 
Emma sabia que a pergunta, feita naquele tom, poderia soar ofensiva.
E era exatamente isso o que queria, ofender. Sentia-se completamente
humilhada por ser tratada como um objeto de barganha, parte de um acordo.
Agora, até entendia por que a irmã mais velha evitava tanto os pais, a
sensação de não ter nenhuma importância doía muito.
 
Emma queria que doesse nos outros também. Não seria ferida
sozinha, não sangraria sozinha.
 
— Não esperava que sua filha fosse tão…
 
— Cuidado com o que vai falar, pai, — Ryan interrompeu —
estamos na casa deles, respeite.
 
— Olha que fofo, meu noivinho me defendendo. — Emma riu e
virou o copo de uísque. Já não sabia quantos havia bebido naquela noite,
mas não se importava, quanto mais bêbada, mais fácil seria para suportar
tudo aquilo. Era o que acreditava.
 
— Donald, ela é só uma garota jovem, não tem muita noção do que
está fazendo. — John argumentou, estava irritado e com raiva. Olhava para a
filha como se quisesse, e realmente queria, agredi-la ali mesmo. Queria
“ensinar-lhe uma lição”. 
 
— Exatamente, sou só uma garota jovem, que não quer
se casar —
Falou, enfatizando o não querer, e sentou no sofá novamente, cansada. —
Odeio todos vocês!
 
Antes que outra pessoa falasse algo, a governanta surgiu na sala,
avisando que o jantar seria servido, como Carmen havia solicitado. Os dois
casais mais velhos seguiram para a sala de jantar, enquanto os dois jovens
ficaram ali, sentados em silêncio.
 
— Se quer saber, eu também não quero me casar com você. — Ryan
quebrou o silêncio, olhando para Emma.
 
— Nada melhor que a reciprocidade. — Emma rebateu irônica. 
 
— O que você pretende, ficando bêbada e dando esse show? — Ele
perguntou. Apesar de estar achando muito divertido tudo aquilo, estava
curioso.
 
— Irritar meus pais. — deu de ombros — E, sobre beber, só assim
para aguentar essa porcaria de jantar. Não me leve a mal, mas a ideia de estar
sendo obrigada a morar com você, me irrita.
 
— Eu também não gosto. Já te falaram sobre os termos? — O garoto
perguntou, arqueando a sobrancelha, e riu quando viu a confusão no rosto de
Emma.
 
— Quais os termos? — Ela perguntou, confusa e receosa.
 
— Acho que, isso, você poderia perguntar para eles. — Ryan
respondeu, não perderia a reação da garota por nada. Pensou que odiaria
cada parte do jantar, mas estava adorando, e toda a ideia preconcebida de
Emma caiu por terra quando a conheceu. A garota não tinha nada da
patricinha meiga e delicada que ouviu a mãe falar, enquanto tentava
convencê-lo de que aquele casamento era uma boa ideia.
 
— É exatamente isso que vou fazer. — Assegurou, já se levantando e
caminhando firme em direção a sala de jantar. Queria saber quais eram esses
termos e como eles se aplicavam. Achava que não tinha como ficar pior,
mas, aparentemente, tinha sim.
 
Ao chegar na sala de jantar, sentou-se em seu lugar de costume,
ignorando que o lugar ao seu lado fora reservado para Ryan, e direcionou um
olhar irritado para os pais.
 
— Que história é essa de termos? Quais são esses termos? —
Perguntou, interrompendo Donald, que estava prestes a falar.
 
— Perdeu completamente a educação? — John perguntou irritado.
 
— Perdi, sim! Junto da capacidade de vocês dois em fazerem
negócios, sem enfiar os filhos no meio! — Emma rebateu irritada — Vão
responder a merda da minha pergunta, ou não?
 
— Esta situação está inaceitável, John. Controle sua filha direito. —
Donald exigiu irritado.
 
— Garota, eu te dou um corretivo aqui mesmo! — John falou,
batendo na mesa.
 
— Bate do outro lado do rosto, agora. Sabe, para igualar. —
Desafiou.
 
Antes que John levantasse a mão, Carmen o segurou, fazendo uma
negação com a cabeça.
 
— Os termos são poucos e simples, Emma. — Carmen começou,
tentando mudar o rumo que a discussão estava tomando. — A partir de
agora, não podem se envolver com outras pessoas. Vocês têm um
compromisso e precisam ser fiéis a ele. Vocês vão morar juntos por seis
meses, antes do casamento, para se acostumarem com a vida juntos. Durante
esse tempo, não podem viajar nem irem para festas separados, pois isso
também será considerado traição.
 
— O que acontece se eu for para uma festa sem ele? — Emma
perguntou, indicando Ryan ao seu lado, mesmo que fosse óbvio a quem ela
se referia.
 
— Traição é resolvida de uma única forma: com sangue — Donald
respondeu com um sorriso no rosto.
 
— Coisas do dia a dia, ainda vou poder fazer, ou agora estamos
colados? — Emma perguntou, sentindo sua mão tremer em nervosismo.
 
— Claro, acompanhada de um segurança. — Carmen respondeu.
 
— O mesmo que vale para mim, vale para ele, certo? — Perguntou
atônita.
 
— Claro. — John respondeu.
 
Emma ficou em silêncio, absorvendo a informação e se questionando
sobre como agiria e o que escolheria para si. Se perguntava se conseguiria
fugir disso em algum momento.
 
Capítulo 07
Emma ficou em silêncio por um tempo considerável, Carmen
conhecia a filha o suficiente para saber que aquele silêncio não era nada
bom. A caçula da família Lancaster respirou fundo algumas vezes, não
queria surtar descontroladamente, não ainda. 
 
— E se eu me recusar a casar?  — Perguntou, olhando para os pais.
 
— Não existirá acordo. E, sem acordo, haverá uma guerra. —
Donald respondeu tranquilo. — Isso significa que haverá ainda mais perigo
para você e sua família, sem contar as inúmeras mortes que acontecerão no
processo.
 
— Eu já disse que odeio todos vocês? — Emma perguntou enquanto
se levantava. — Espero que engasguem com a comida e explodam.
 
— Onde você pensa que vai? — John perguntou irritado.
 
— Vai se ferrar! Não fale mais comigo! — Emma respondeu irritada
e olhou para o Ryan — Levanta daí, vamos!
 
— Não vamos, não! — Ryan respondeu, contendo um sorriso — Por
que eu iria? 
 
— Só levanta dessa cadeira e me acompanha, caralho! — Emma
bateu o pé, lançando um olhar mortal para o noivo. — Vem logo, ou eu te
arrasto.
 
Ryan riu da ameaça, era mais alto e mais forte que a garota, mas não
discutiria nem pioraria a situação ali. Decidiu se levantar e acompanhar a
garota até fora da casa sem mais resistências e nenhum dos quatro que
ficaram na mesa de jantar quis impedir. Carmen agradecia por, finalmente,
Emma não estar mais ali, sendo completamente desrespeitosa. Agora só
havia restado o trabalho de acalmar os O'Donnells.
 
John se importava muito com o acordo que pretendia firmar, pois,
com essa aliança, ele seria praticamente inatingível. Eram duas máfias
americanas poderosas e com diversas ligações, se travassem uma guerra por
poder entre os dois lados, haveria muito sangue. Não queria correr riscos e
ter perdas desnecessárias. John poderia lidar com a irritação de sua filha
mais nova, isso não era importante quando havia tanto em jogo. Não quando
envolvia tanto dinheiro e poder.
 
— A senhorita não pode sair desacompanhada — Um segurança
falou, parando entre a Emma e o portão da frente.
 
— Não tô desacompanhada, tô com o meu noivo. — respondeu
nervosa — Sai da minha frente, ou vou passar por cima de você.
 
— Preciso da autorização do senhor Lancaster para liberar sua saída.
— O segurança declarou e Emma revirou os olhos.
 
— Eu quero que a autorização do senhor Lancaster se foda. Sai da
minha frente! — Emma mandou, mas foi ignorada pelo segurança, o que a
deixou ainda mais irritada.
 
— Eu resolvo isso. — Ryan declarou.
 
Em passos lentos e firmes, Ryan atravessou na frente dela e, sem que
ninguém esperasse, socou o rosto do segurança com força o suficiente para
fazer o homem cair. Então segurou a mão da garota, guiando-a para fora dos
muros da casa. Emma o acompanhou, ainda chocada com a ação dele, mas
não negaria para si, ficou satisfeita com aquela atitude.
 
Emma olhou para o celular que estava em sua mão, pronta para ligar
para Darah, mas não foi preciso, pois o carro esportivo vermelho da amiga
parou em sua frente e ela logo abaixou o vidro, olhando para Emma.
 
— Pronta para um pouco de diversão? — Darah perguntou, com um
sorriso animado, quando notou Ryan ao lado da amiga — Ele também vai? É
o cara do café?
 
— É ele e ele vai também. — Emma declarou — Te explico no
caminho.
 
— Para onde a gente vai? — Ryan perguntou.
 
— Só entrem no carro, tem gente vindo ali. — Darah declarou,
indicando alguns seguranças que vinham na direção deles.
 
Os dois entraram no carro e, assim que as portas fecharam, Darah
acelerou, saindo dali em uma velocidade absurda. A garota gostava de
dirigir, principalmente, dirigir perigosamente.
 
Emma sabia que havia saído facilmente porque os pais deixaram, ou
teria sido mais complicado. Já havia fugido algumas vezes, mas nunca pela
porta da frente, nunca sob o olhar de todos os seguranças, então atribuiu isso
ao fato de estar com Ryan. Olhou rapidamente para o banco de trás do carro,
onde ele estava. Ryan parecia legal, mas não queria se envolver com ele nem
ser sua amiga. Gostaria, preferivelmente, de ficar o mais longe possível. 
 
Naquele momento sentiu-se perdida.
 
— O que aconteceu e por que ele tá com a gente? — Darah
perguntou, quebrando o silêncio.
 
— Foi tudo pior do que pensei. É tudo pior. — Emma explicou, de
maneira curta — Eu só preciso beber e dançar muito, até esquecer quem eu
sou.
 
— Emma… — Darah começou, mas desistiu — Tudo bem, vamos
lá.
 
— Acho que eu também estou precisando de álcool, muito. — Ryan
comentou.
 
— Sério, essa situação é muito estranha, você é o noivo? Vocês
ficaram amigos? — Darah perguntou, olhando-o pelo retrovisor.
 
— Não ficamos amigos. — Emma se apressou em responder.
 
— E, sim, eu sou o noivo, mas eu quero tanto esse casamento, quanto
essa… quanto ela — Ryan explicou calmo. — Precisamos combinar como
vai ser a noite, Emma.
 
— Como assim? — Ela virou-se no banco para olhar diretamente
para ele.
 
— Não somos amigos, como você mesmo disse, e eu só saí daquela
casa com você, porque você estava completamente fora de si. O show já
tinha perdido a graça e não vamos curtir essa balada juntos, mas precisamos
chegar e sair juntos dela. — Declarou sério.
 
— O que tem em mente? — Emma perguntou. Darah ficou confusa
ouvindo, mas decidiu não interromper. Sabia que, em outro momento, Emma
contaria tudo. — Um liga para o outro na hora que quiser ir embora? 
 
— Acredito que seja uma boa solução, mas vai se lembrar disso
quando estiver bêbada? — O garoto perguntou, arqueando uma sobrancelha.
 
— Não entendi o conceito disso, mas vou lembrar ela, não se
preocupe — Darah assegurou, ao perceber que a amiga não responderia,
assim que estacionou o carro no subsolo da boate. — Troquem os telefones e
conversem o que precisarem, espero do lado de fora.
 
Darah saiu do carro e os dois ficaram em silêncio, se encarando, até
Emma esticar a mão e entregar o celular para que ele colocasse seu número
ali.
 
— Eu não te odeio. — Emma disse, em um tom baixo, e riu — E,
não sou surtada como sei que pareci, mas, Ryan, eu não vou facilitar o lado
de ninguém.
 
— Eu não me importo, desde que você não complique nada na minha
vida diretamente. — Ryan olhou nos olhos dela. — Eu sei que você só soube
agora, sobre a organização do seu pai, e sei que é um universo novo para
você, mas não é pra mim.
 
— Você… — Emma respirou fundo, sem saber o que falar.
 
— Sim, eu trabalho ativamente nos negócios da minha família.
Então, surte o quanto quiser, eu não me importo de ir a alguns lugares como
este, para que você fuja das coisas. Mas, se não facilitar para mim, eu
também não vou facilitar para você. — Declarou, devolvendo o telefone
dela. — Não esquece de ligar.
 
Ryan saiu do carro, caminhando em direção ao elevador que dava
direto na sala de recepção da boate de luxo, com um público seleto. Emma
ainda ficou um minuto inteiro no carro, respirando devagar, juntando
algumas peças. Ryan disse a ela que também não queria se casar, mas,
aparentemente, não se opôs porque seguia as regras do jogo que ela não
queria jogar.
 
— Vamos? — Darah chamou, batendo no vidro do carro e atraindo a
atenção de Emma.
 
— Vamos! — respondeu saindo do veículo — Hoje eu seco esse bar.
 
Capítulo 08
Emma dançava e bebia como se aquela fosse a última noite de sua
vida e precisasse aproveitar o que não teria nunca mais. E, no fundo, era
assim que se sentia, como se estivesse sendo jogada em uma cela escura e
fria, com grades que não se abrem, em uma vida onde não veria mais o sol
com a mesma tonalidade de antes. Seria tudo cinza.
 
Não se importava nem um pouco se estava sendo dramática,
exagerada, ou imatura, ela sentia-se no direito de agir assim. Aos dezoito
anos, queria curtir a faculdade, conhecer pessoas e viajar pelo mundo, não
ser obrigada a casar com a droga de um projeto de mafioso. Emma ria
enquanto o xingava mentalmente.
 
Darah olhava, preocupada, a amiga. Já havia cuidado dela algumas
vezes, mas nada se comparava àquela noite. Em menos de duas horas, Emma
já tinha bebido doses de uísque o suficiente para garantir que havia
esvaziado uma garrafa inteira, ainda combinado com doses de tequila, não
queria nem pensar na ressaca que ela sentiria pela manhã.
 
De longe, sentado sozinho em uma mesa, Ryan observava cada
movimento da noiva. Não iria beber o quanto gostaria, não ali, não naquela
noite. 
 
Estava tão insatisfeito em ser obrigado a casar, quanto Emma. Mas,
diferente dela, e da forma como a trataram, para ele, todo o processo
aconteceu completamente explícito. Talvez por isso sentiu-se incomodado
por esconderem tudo da garota, sabia que era uma situação injusta.
 
Ryan sempre soube de tudo, desde o começo, desde a primeira
conversa, mas nunca procurou saber como era sua futura noiva e não sabia
nada sobre ela, além do nome, até o jantar desastroso daquela noite.
Observava a garota dançar e beber, enquanto se lembrava de cada conversa
sobre o assunto, em que já esteve presente, e da forma com que a aliança
havia sido negociada.
 
Tinha dezoito anos quando conheceu John Lancaster, no escritório de
sua casa. Seu pai e o outro homem fechavam um acordo, mas não tinham
confiança o suficiente entre si e, como saída, viram o casamento dos filhos
como uma união segura para os negócios, assim conseguiriam fundir a máfia
e a empresa, se tornando gigantes.
 
Era só nisso que os magnatas pensavam: poder e dinheiro. Não que
Ryan se diferenciasse muito, amava o poder e o dinheiro, mas não gostava
de estar sendo uma peça também. Era confuso, mas aceitava bem a situação.
Talvez, se fosse há três anos e ainda tivesse dezoito anos, também estivesse
agindo de maneira rebelde.
 
Lembrou-se da mãe, contando que Emma era uma garota fina e
delicada e que o casamento seria fácil. Olhando para ela, agora, até riu da
fala de sua mãe, que ainda incluía o quando a garota era obediente.
 
— Me pergunto de onde minha mãe tirou essas informações? —
Comentou para si mesmo enquanto ria, para, em seguida, tomar mais um
gole da bebida em sua mão.
 
— Está muito sozinho aqui, gostaria de companhia? — Escutou uma
voz feminina falar ao seu lado, enquanto uma das mãos da garota deslizava
em seu braço. Ryan olhou para ela, sentada ao seu lado, completamente
desinteressado e afastou a mão dela de si.
 
— Não estou sozinho e você não foi convidada pra sentar aqui —
Ryan falou, um pouco mais ríspido do que queria, mas não se importava, de
qualquer forma.
 
— Eu só acho que podemos nos divertir juntos — Ela sorriu
maliciosa.
 
— Saia da minha mesa, ou vou chamar o segurança. Não quero ser
obrigado a fazer algo com minhas próprias mãos. — Ele ameaçou.
 
— Ridículo! — A garota se levantou, afastando-se dali.
 
Ryan revirou os olhos, voltando sua atenção para a pista, mas não viu
mais Emma. Respirou fundo, decidindo se deveria, ou não, procurar por ela.
Resolveu deixar para lá, acreditando que ela ligaria quando cansasse e
decidisse ir embora.
 
Queria que a convivência entre eles fosse fácil e estava disposto a
isso, mas convicto de que, se ela não colaborasse, devolveria na mesma
moeda. Ryan se considerava uma pessoa paciente, mas não era um santo. Por
mais que estivesse achando divertido o humor de Emma, não relevaria tudo.
Respirou fundo e bebeu o conteúdo do copo de uma vez.
 
Bufou ao ter que levantar para ir pegar mais uma dose, reclamando
consigo mesmo por não ter pegado uma garrafa, mesmo que sua intenção
fosse beber pouco naquela noite. Esbarrou em alguém, e estava pronto para
falar algo, quando notou se tratar de Darah, a amiga de Emma.
 
Os olhos castanhos escuros da garota estavam arregalados e seu
semblante era assustado e tenso, o que preocupou Ryan na mesma hora.
Darah olhava em volta, procurando por Emma e torcendo para que ela não
estivesse metida em alguma encrenca, ou em algo que a fizesse se
arrepender depois.
 
— Você… Onde está a Emma? — Perguntou, parando em frente a
garota. Darah mordeu a boca por dentro, sem saber o que responder e com
medo de dizer algo que pudesse comprometer a amiga. — Se não me
responder, vou considerar que ela foi embora sem me avisar, e ela sabe que
as consequências disso não são boas.
 
— Ela… é… — Começou, mas engoliu em seco diante do olhar do
Ryan — Eu não sei cadê ela, droga! Ela sumiu quando eu me distraí um
segundo.
 
— Como assim? — Perguntou, ficando preocupado.
 
— Sumiu sumindo! — Bufou — Não estou encontrando ela pela
boate. Ela não avisou nada.
 
— Vou procurar por ela fora da boate, se essa garota tiver fazendo
algo errado…
 
— Emma é impulsiva, mas não é burra. — Cortou a fala do outro. —
Tenho certeza de que ela não tá fazendo nada de errado.
 
— É bom mesmo! — Ryan declarou — Vou procurar ela também.
 
— Se encontrá-la, manda ela me ligar, avisando onde está — Darah
pediu.
 
— Faça o mesmo. — Ryan também pediu e Darah concordou com
um aceno.
 
Se afastaram, indo por caminhos opostos. Darah seguiu para o andar
de cima, enquanto Ryan foi para o estacionamento, conferindo se ela estava
por ali. Começou a caminhar entre os carros, chamando o nome de Emma,
mas não obteve nenhuma resposta. Estava prestes a desistir, quando ouviu
um fungar. Caminhou seguindo o som e encontrou Emma sentada na escada
de serviço, descalça e abraçada às próprias pernas.
 
— Emma, o que tá fazendo aqui? — Ryan perguntou com cuidado.
 
— O que você tá fazendo aqui? — Ela devolveu a pergunta, a voz
embargada e embolada — Achei que só nos veríamos na hora de ir embora,
não te liguei ainda.
 
— Acho que já deveríamos ir embora. — Ryan sugeriu, sentando ao
seu lado, mas sem encostar nela.
 
— Eu não quero ir pra casa, não quero ir pra Darah, mas não peguei
minha bolsa antes de sair, então eu quero ficar aqui… — Resmungou.
 
— Você pode ir para minha casa — Ryan argumentou e Emma riu
alto.
 
— Sua casa? Com seus pais lá? Só pode ser piada. — Emma falou,
finalmente levantando o rosto para olhar para Ryan.
 
— Não, meu apartamento, onde moro sozinho. — Explicou. — Você
pode ir pra lá com sua amiga e vai ficar tudo bem. Vamos?
 
— E você, vai ficar onde? — Perguntou desconfiada.
 
— Eu vou ficar lá, mas no meu quarto e vocês, no quarto de
hóspedes, tudo bem? — Ryan falava com uma calma que ele mesmo
desconhecia. Emma ficou em silêncio por alguns instantes, olhando para ele,
mas não conseguia pensar em nada, sua mente estava completamente
nublada pela bebida e pela mágoa.
 
— Onde está a Darah? — Perguntou com a voz enrolada.
 
— A gente vai ligar para ela e ela nos encontra no carro. — Informou
enquanto se levantava — Me dá sua mão, deixa eu te ajudar.
 
— Não precisa! — Emma exclamou e começou a se levantar
sozinha, apoiando-se na parede.
 
— Onde está seu calçado? E seu celular? — Ryan perguntou.
 
— O celular está ali. — Emma apontou para o aparelho caído na
escada, enquanto ficava encostada na parede, sem segurança para andar e
vendo tudo girar. Ryan rapidamente abaixou, pegando o aparelho.
 
— Vem, vamos lá — Sem esperar uma resposta, passou o braço pela
cintura dela, ajudando-a a caminhar até o carro em que vieram — Liga para
sua amiga.
 
Emma encostou-se no veículo, ainda que Ryan estivesse lhe
segurando, e ligou para Darah, falando tudo enrolado, mas conseguiu
explicar onde estava, encerrando a chamada em seguida. Ficou encarando o
garoto à sua frente em silêncio.
 
— No que está pensando? — Ryan perguntou.
 
— Você é bonito, se não fosse meu noivo forçado, eu ficaria com
você — Disse, totalmente sem pudores. O álcool em seu sistema não lhe
dava tempo para ponderar as palavras.
 
— E agora que sou seu noivo? — Perguntou, achando divertido a
falta de filtro.
 
— Eu nunca, entendeu, nunca vou ficar com você! — Emma falou e
começou a rir — Vamos nos casar, mas nunca mais vamos transar. E você
não pode me trair, viu? Se me trair, terá que pagar com sangue, foi aquele
velho quem disse.
 
Emma falou com deboche perceptível, apesar do quão alcoolizada
estava, e ainda ria, à medida que falava, se atrapalhando um pouco e
desequilibrando algumas vezes. Ryan apenas sorriu, não ia cair na
provocação de uma garota bêbada.
 
Darah apareceu correndo e entrou no banco de trás com a Emma,
enquanto Ryan dirigia e explicava o que aconteceu, e informava para onde
iriam, para ela, que apenas concordou. Não deixaria a melhor amiga sozinha
naquele estado, já estava se sentindo mal por tê-la perdido de vista na festa.
 
Emma abraçou Darah e ficou ali, quietinha, deixando algumas
lágrimas escorrerem, enquanto o silêncio preencheu o espaço livre no carro,
que corria em alta velocidade.
 
Capítulo 09
Emma acordou no outro dia devido à claridade do quarto
desconhecido. Sentou na cama, devagar, sentindo a cabeça latejar e
praguejou baixo. Não se lembrava muito da noite anterior, praticamente nada
após entrarem na boate, mas lembrava de cada detalhe do jantar e isso a fez
revirar os olhos, irritada.
 
Olhou o quarto, tendo a certeza de que nunca esteve naquele lugar, e
ficou ainda mais surpresa ao ver Darah ali. Suspirou, um pouco aliviada por
não estar sozinha em um lugar desconhecido.
 
Se aproximou da amiga, sacudindo devagar o ombro dela, para que
acordasse. Mesmo com resmungos, Emma insistia em acordar a amiga.
 
— Onde nós estamos? — perguntou, enquanto a observava.
 
— Na casa do seu noivo. — Darah respondeu simples — Imaginei
que você teria alguma perda de memória, estava muito bêbada.
 
— Como viemos parar aqui? — Perguntou em um tom baixo,
levando a mão direita à cabeça — Minha cabeça parece que vai explodir.
 
— Não me surpreende, você achou que toda a bebida do mundo
fosse acabar— Darah riu um pouco. — Aí você desapareceu, e quase me
matou de preocupação. Enquanto eu te procurava, esbarrei nele e ele me
ajudou a te encontrar.
 
— Mas isso não explica porque a gente tá aqui.
 
— Ele te encontrou. Você tava destruída, amiga, perdeu seu calçado,
tava chorando e rindo… — Darah continuou explicando enquanto Emma se
jogava na cama novamente, bufando — E você não queria ir pra sua casa,
não queria ir pra minha, então ele sugeriu que a gente viesse pra cá e você
concordou.
 
— Nunca mais me deixe beber esse tanto! — Emma reclamou — E
nunca mais vou beber!
 
— Nem você acredita nisso. — Darah riu — Vamos pra casa.
 
— Vamos pra sua casa. — Emma pontuou.
 
— Vamos, porque eu ainda preciso dormir. — Darah concordou, já se
levantando — E você tem que me contar o que aconteceu no jantar.
 
— Foi um desastre, te conto no caminho — Disse, se levantando
também.
 
— Você sai do quarto primeiro, porque o noivo é teu. — Darah deu
de ombros enrolando o cabelo cacheado em um coque.
 
— Sua lógica é péssima — Emma olhou para o chão, procurando o
calçado — Você falou sério sobre eu ter perdido meu salto?
 
— Sim! — Afirmou, ao mesmo tempo em que acenava concordando.
 
— Era uma edição limitada Christian Louboutin! — Emma
lamentou, caminhando devagar até a porta, acompanhada pela amiga.
 
— Não é como se você não pudesse comprar outro — Darah
comentou.
 
— Minha coleção vai ficar desfalcada! — Emma fez bico, enquanto
Darah ria.
 
Emma respirou fundo e abriu a porta, caminhando devagar pelo
corredor que ia até à sala. Não deixou de reparar na decoração elegante e no
quão espaçoso o apartamento era. Enquanto passavam pela sala, Darah
segurou a mão de Emma para chamar a atenção da amiga.
 
— Não vai avisar que está indo embora? — Darah perguntou
sussurrando.
 
— Não, só vamos embora logo! — Respondeu com outro sussurro.
 
— Isso é muito feio, sabia? — Emma respirou fundo ao ouvir aquela
voz, virando-se em direção a Ryan, que estava encostado ao lado de uma
porta no sentido contrário.
 
— Não sei do que está falando. — Ela deu de ombros.
 
— Não vão nem tomar café da manhã? Você precisa comer alguma
coisa depois de ter bebido tanto ontem — Ele falou em um tom indiferente,
mas, ao mesmo tempo preocupado.
 
— Não, eu como na casa da Darah. — Rebateu, um pouco ríspida.
 
— Tudo bem, não esquece de que, a partir de amanhã, a gente vai
morar junto. — Ryan falou, um sorriso pequeno enfeitando seus lábios.
 
— Não deveria estar sorrindo por isso — Emma falou irritada e
respirou fundo em seguida, ao sentir a cabeça latejar novamente. — Vou
torcer para que um raio caia e impeça que isso aconteça. E, se não acontecer,
você vai ter desejado esse raio. Tenha um bom dia!
 
Emma tornou a segurar a mão da amiga, puxando-a para saírem dali
e Darah a acompanhou calada, se pudesse, teria saído sozinha dali e ido
embora no mesmo instante em que começaram a discutir. Era um problema
entre eles, que precisavam resolver.
 
— Eu sei jogar também, Emma, sei como fazer um inferno na sua
vida se não cooperar. — Ameaçou quando Emma já segurava a maçaneta da
porta.
 
— Eu também sei as cores do inferno. Se acha que pode pintar um
quadro, eu completo a galeria. — Ela rebateu, saindo de vez do apartamento.
 
Do caminho entre o apartamento até a garagem, onde o carro de
Darah estava, Emma xingou Ryan usando todas as palavras de baixo calão
que conhecia. Sabia que não era culpa dele esse casamento, mas, ainda
assim, ele a irritava o suficiente para descontar sua frustração. E se ele
achava que ameaçá-la era o melhor caminho, Emma sentia o sangue ferver
apenas para pensar no que ela era capaz de fazer, e faria, sem ressentimento
algum.
 
No carro, enquanto Darah dirigia para sua casa, a fim de tomarem um
banho e descansar devidamente, Emma contou em detalhes tudo que
aconteceu no jantar, e Darah ouvia tudo, calada e atenta.
 
— E foi isso o que aconteceu. — Emma concluiu.
 
— Mano, que merda! — Darah falou, depois de tudo — Esses termos
são horríveis! E eu não acredito que seu pai te bateu.
 
— Eu não quero imaginar o que ela vai fazer quando eu pisar em
casa. — Emma suspirou.
 
— Acha que ele vai te bater? — Darah perguntou, preocupada,
enquanto entrava na garagem de sua casa. — Tem mensagem ou ligação
deles?
 
— Eu não sei… eu- — Emma olhou em volta e arregalou os olhos —
Puta merda!
 
— O que foi? — Darah olhou assustada para a amiga.
 
— Esqueci meu celular lá na casa do Ryan. Não tá aqui e eu não
lembrei de pegar! — Suspirou — E não vou voltar lá! Vou comprar outro e
vida que segue.
 
— Esquece isso, esquece seus pais. Vamos pro meu quarto, você
toma um remédio, um banho quente, a gente come e dorme um pouco. Mais
tarde a gente se preocupa com o resto. — Darah sugeriu — E depois eu
posso ir para sua casa, com você.
 
— Preciso enfrentar as feras sozinha. Afinal, fui eu que provoquei.
— Disse, saindo do carro. — Mas, vamos fazer o que você falou, também,
porque eu preciso muito de um banho e um remédio para essa dor de cabeça.
 
— Vou cuidar do meu neném “ressaqueado” — Darah falou com voz
de bebê e Emma revirou os olhos, enquanto caminhavam para subir até o
quarto.
 
Emma ainda se sentia perdida, com um pouco de medo e muita raiva.
Não queria casar, e sabia que recusar o casamento não era uma opção, mas
ainda tinha a esperança de que, dentro daqueles seis meses, tudo desse
errado e não houvesse casamento nenhum. Havia falado sério quando disse
que estava pronta para não facilitar a vida de ninguém.
 
E, quando amanhecesse, e sua nova vida começasse, Emma mostraria
uma versão inesquecível sua. 
 
Capítulo 10
Já era noite quando Emma entrou em casa. Passou o dia evitando a
dor de cabeça que viria ao voltar para lá e não se surpreendeu ao encontrar a
mãe na sala, com cara de poucos amigos. Seria mentira se dissesse que não
se importava realmente, pois estava muito magoada. Sempre teve a mãe
como seu porto seguro, mas se viu afundando em um mar desconhecido
quando toda sua vida virou de ponta cabeça.
 
Respirou fundo, só queria ir para o seu quarto, mas sabia que isso
não seria possível naquele momento, então caminhou até a sala e sentou no
sofá, com os braços cruzados e um bico enorme nos lábios. Estava a ponto
de explodir, só não sabia, ainda, se seria em lágrimas, ou gritos.
 
— Onde você estava, Emma? — Carmen perguntou, a voz soando
irritada e cansada.
 
— Por aí, aproveitando meu último dia de liberdade. — Respondeu
desinteressada.
 
— Eu te liguei várias vezes, por que não atendeu? Eu já estava
preocupada! — Falou séria encarando a filha.
 
— Isso é interessante, então se preocupa comigo? Achei que não
fosse o caso. — Soltou com cinismo — E eu perdi meu telefone.
 
— O quanto você bebeu ontem? Por que você tem que complicar
tanto as coisas assim? — Questionou se levantando. — Ryan é um garoto
bonito, inteligente, dedicado.
 
— Casa com ele então! — Rebateu com um sorriso divertido por
estar desafiando a mãe.
 
— É disso que estou falando! — Suspirou. — Tem sempre uma
resposta na ponta da língua, para tudo! Você não se comportava assim,
sempre foi tão doce, tão respeitosa.
 
— Eu ainda sei respeitar, mas só quem me respeita. Ou acha que eu
tenho que aceitar ser tratada dessa forma e sorrir, como se toda essa merda
não me afetasse? — Emma se levantou. — Vocês pensaram em mim em
algum momento? Não! Eu não consegui digerir nada ainda, nada! Nem essa
porcaria de casamento e nem o fato da nossa família ser um bando de
criminosos.
 
— Não é uma coisa tão ruim. Afinal, é isso o que nos mantém no
poder, com dinheiro. — Carmen falou calmamente — Você não precisa se
envolver, se não quiser.
 
— É óbvio que eu não quero! — Respondeu revirando os olhos. —
Eu queria continuar minha vida normalmente. Fazer minha faculdade,
trabalhar onde eu queria. Mas, não, vocês já decidiram toda a droga da
minha vida por mim. Eu odeio tanto vocês!
 
— Emma, para de ser tão infantil — Carmen exigiu, mas foi
ignorada pela filha, que seguia até a escada, para que pudesse ir para o
quarto. Porém, Emma parou no meio do caminho quando seu pai apareceu.
 
— Temos que conversar bem sério. — John ditou devagar.
 
— Nós não temos que fazer nada! — Emma respondeu com
indiferença.
 
— Acha que o que fez ontem vai ficar por aquilo mesmo? — Ele
perguntou sério caminhando em direção a filha.
 
— Acho! E sabe por quê? Porque eu pensei sobre tudo isso hoje.
Vocês precisam que eu aceite isso, vocês é que precisam de mim. Se eu não
aceitar, vai fazer o quê? Me expulsar de casa? Tirar meus cartões? Ok, vai
em frente! — Emma sorriu debochada. — Eu me viro pelo mundo. Arrumo
um emprego e vivo com menos dinheiro, ou, quem sabe, até arrume algum
sugar daddy para continuar no luxo. Mas, e o senhor? O que vai fazer sem
uma filha para casar?
 
— Emma, não me desafie, garota! Essa é uma luta que você não
pode vencer! — John falou, o rosto vermelho de irritação.
 
— Tarde demais pra isso. E, quer saber, cansei desse assunto e de
ficar batendo nessa tecla. Chega! — Desviou do pai e continuou
caminhando, sem olhar para trás. — Amanhã eu vou pra lá, mas vocês
podem esquecer que eu existo, não me liguem, não mandem mensagens e,
muito menos, apareçam pra me visitar — Emma parou de subir os degraus e
olhou para os pais — Pra mim, vocês não existem mais.
 
Continuou subindo as escadas, sem pressa. Na sala, Carmen passou a
mão nos cabelos, exasperada, e John ficou em pé, andando de um lado para
o outro.
 
— Não imaginei que as coisas seriam tão complicadas com ela. —
Carmen lamentou. 
 
— Essa garota está brincando com o fogo! Espero que ela cumpra
bem os termos, não podemos ter problemas com isso! — John disse nervoso.
 
— Ela pode estar agindo de maneira impulsiva, mas sabe ser
cuidadosa. Ontem, por exemplo, ela saiu, mas chamou o Ryan para
acompanhá-la, como exigem os termos desse acordo. — Relembrou,
olhando para o marido. — Não se preocupe, vai dar tudo certo.
 
— É melhor mesmo. Não quero mais estresse com isso. — Bufou. —
Quero só ver quanto tempo vai durar essa decisão de não falar mais com a
gente.
 
— Relaxa, meu bem, não durará muito. Sabe como a Emma tem o
coração mole. — Carmen sorriu. — E, sobre isso, acho que logo ela e Ryan
se darão muito bem. Eles ficam bonitos juntos, foi fácil visualizar isso
depois de ontem.
 
— Isso é bom. — Sentou ao lado da esposa. — Independente de
qualquer confusão, deu tudo certo, por enquanto. Ela vai se mudar amanhã e
logo a fusão acontecerá, e eu serei o homem mais poderoso de Boston.
 
— Exatamente, meu amor. — Carmen concordou com um sorriso no
rosto.
 
No andar superior, Emma ignorava as malas, arrumadas no canto do
quarto, deitada em sua cama, olhando para o teto branco e se distraindo,
enquanto pensava nas melhores formas de irritar Ryan para fazê-lo desistir
daquilo tudo, mesmo que já nem acreditasse que ele desistiria fácil assim.
 
Se levantou e foi arrumar algumas coisas que não haviam sido
guardadas ainda. Sem pressa, fazia uma mala com coisas dela onde Marie
não mexia. Separou as maquiagens e as joias, organizando tudo com muita
calma, enquanto cantarolava uma música qualquer. 
 
Emma sabia que, toda a raiva que demonstrava, era para suprimir a
mágoa, a dor e a sensação de estar quebrada. Mas, ali, sozinha no quarto,
ninguém a veria chorar. Então chorou silenciosamente, pois sabia que não
iria se curar da noite para o dia, mas, pelo menos, lavaria a alma. Estava
sozinha ali e, sozinha, juntaria seus pedaços e recomeçaria, nas
circunstâncias que lhe foram impostas. 
 
“Resiliência, Emma, resiliência. Vai dar tudo certo” pensava, como
um mantra para se manter sã.
 
Capítulo 11
Existem dias em que, sair da cama, é uma missão longa e
complicada. E, com certeza, esse era um desses dias para Emma que, apesar
de ter acordado cedo, mesmo sua noite tendo sido péssima e ter mais rolado
de um lado para o outro do que, de fato, dormindo, continuou deitada e
olhando para a parede, sem a menor disposição para levantar.
 
Não tinha pressa em se arrumar e, só naquele instante, percebeu,
também, que não fazia ideia de onde era sua nova casa e nem como ela era.
Não teve interesse em saber nada sobre o lugar, então seria uma novidade
completa e um bom passatempo, conhecer e redecorar o quarto novo. 
 
Ouviu batidas na porta do seu quarto, mas não quis responder, queria
seu celular para se distrair em uma rede social qualquer, mas também não
tinha essa opção. Bufou baixo quando viu a porta ser aberta, achando que
seria um de seus pais a entrar, mas sorriu ao ver Marie vindo em sua direção
com um sorriso gentil e um olhar acolhedor.
 
— Bom dia, princesa, como você está? — A governanta perguntou
gentil.
 
— Bom dia! Estou completamente destruída. — fez bico, enquanto
sentava na cama — Eles foram tão injustos comigo, Marie. E ainda acham
que eu que tô errada, em ficar chateada e com raiva, mas é tudo culpa deles!
 
— Eu sei, meu bem, não vou tentar defendê-los. E, que não me
escutem, mas não deviam ter feito dessa forma, não sem conversar com
você. — Sentou-se na cama, próxima à garota. — Mas, já que decidiu ir, por
que não tenta se livrar desse sentimento ruim que tá no seu coração e viver a
experiência?
 
— “Viver a experiência”? Sério, Marie? — Emma questionou,
indignada.
 
— Sim. E, se você não gostar, te ajudo a fugir antes do casamento.
Só não pode contar para os seus pais. — A mais velha respondeu com um
sorriso, dando de ombros enquanto Emma ria.
 
— Você é ótima, vou me lembrar disso. — Emma falou, ainda entre
risos.
 
— Eu sei. — Marie sorriu convencida — Agora, levanta e vai se
arrumar, daqui a pouco o motorista chega para te buscar.
 
— Ele que espere o tempo que eu precisar. — A garota disse
indiferente.
 
— Vou preparar seu café da manhã. — Marie avisou, enquanto se
levantava da cama — Vai já para o seu banho!
 
— Marie… — Emma começou, atraindo a atenção da senhora —
Você vai lá nessa casa me ver, né? Eu não quero ter que voltar aqui, mas
como vou viver sem a comida que a senhora faz? Viver sem a melhor
panqueca do mundo? Não mesmo!
 
— Quase achei que queria me ver porque gostava de mim, sua
interesseira! — Marie brincou, rindo. — Eu vou, sim. Alguém tem que
cuidar da criança.
 
— Exatamente! — Emma concordou sorrindo, sentindo-se um pouco
melhor depois da breve conversa.
 
Marie saiu do quarto e foi para a cozinha preparar o café da manhã
favorito de Emma. Seria o último dia da caçula da família naquela casa,
então queria fazer algo que a deixasse melhor, pois não gostava de ver a
garota mal. Ficou tão absorta em seu trabalho, que não percebeu a entrada de
outra pessoa na cozinha.
 
— Emma ainda não desceu? — Carmen perguntou, assustando a
senhora.
 
— Não. — Respondeu com a voz levemente aguda pelo susto. — Ela
já está quase descendo, senhora. Já a chamei para o café da manhã.
 
— Essa garota não tem jeito! — Reclamou.
 
— Ela está obedecendo, mesmo contrariada. Não deveriam forçar
mais do que isso. — Marie se pronunciou. — Ela é praticamente uma
adolescente, uma vida livre, de tudo foi tirado de uma vez. O mínimo que a
senhora deveria ter com ela, é compreensão. E, me desculpa por me
intrometer, mas parece que não está vendo o quão mal está deixando a
própria filha.
 
— Você está mesmo sendo intrometida. — Carmen reclamou,
lançando um olhar irritado para Marie. — Entendo que ela esteja brava, mas
tudo o que estamos fazendo é para o bem de todos, pelo bem da família.
 
— E, por família, a senhora quer dizer a máfia, ou as pessoas da sua
casa? — A senhora perguntou, encarando Carmen, que apenas fechou a
expressão.
 
— Vai trabalhar, Marie, tem muito serviço para ser feito nessa casa
ainda! — Carmen ordenou enquanto saia da cozinha, sendo completamente
ignorada por Emma, que estava entrando no ambiente com um sorriso
pequeno.
 
Emma entrou tentando parecer animada, como uma forma de
melhorar seu humor, mesmo que estivesse sendo algo completamente falho.
Sentou em seu lugar e esperou até Marie servir o café da manhã. Suco de
laranja, panquecas e bolo de chocolate, tudo do que mais gostava.
 
Enquanto estava sentada para comer, conversou com Marie sobre
vários assuntos aleatórios para fugir dos pensamentos ruins. Contou sobre a
festa em que havia ido com Darah e que perdeu o celular, bêbada, rindo
enquanto a mais velha lhe dava um sermão pelo uso excessivo de álcool.
 
Achava fofo como Marie se preocupava com ela, mas sua paz acabou
no momento em que ela viu o motorista entrando na cozinha.
 
— Já coloquei as malas no carro. — Ele informou.
 
— Obrigada, Luke, pode esperar mais um pouco. Eu te chamo
quando ela estiver pronta. — Marie avisou.
 
— Certo, com licença. — Luke falou e se retirou em seguida.
 
— Ainda não acredito que estou fazendo isso. — Emma falou
emburrada.
 
— Lembra do que falei lá no quarto? — Marie perguntou e Emma
acenou positivamente. — Então você vai se sair bem, se se permitir viver
isso.
 
— A segunda parte do que me falou era sério? Tô focada nessa parte.
— Emma brincou.
 
— É claro! — A senhora exclamou com um sorriso. 
 
— Acho que vou embora logo, não quero ver a Carmen, ou o John. O
dia já está ruim o suficiente! — Falou enquanto se levantava.
 
— Eles são seus pais, não fala assim! — Marie pediu.
 
— Eles não estão merecendo. Agora, eu realmente entendo a
Charlotte aparecer tão pouco aqui. — Deu de ombros. — Acho que eu
deveria ligar para ela.
 
— É uma ótima ideia, quando chegar na sua nova casa, fala com sua
irmã. — Marie incentivou.
 
— Vou fazer isso. — Emma suspirou mais uma vez e pegou sua
bolsa. — Tchau, Marie. Vai me visitar antes que eu morra de ódio naquela
casa, ou fuja.
 
— Já disse que você vai ficar bem. — Reforçou. — Tchau, minha
menina.
 
Emma saiu da casa e foi até à frente, onde Luke esperava, já no
carro, para levá-la até sua nova casa. Olhou magoada para a porta pela qual
saiu, e entrou no carro.
 
— Luke, eu preciso que você busque meu carro depois e deixe ele na
nova casa. — Emma falou enquanto colocava o cinto.
 
— Sim, senhora. — Ele respondeu, começando a dirigir.
 
Emma ficou todo o caminho olhando pela janela, imersa em seus
pensamentos e planos, mas sem saber realmente qual opção escolher. Por
agora, iria aceitar a imposição dos pais por não ser realmente um casamento,
mas pensaria em uma solução até que esse dia chegasse.
 
Já havia percebido que não ficava muito tempo no mesmo ambiente
com Ryan, sem que brigassem, e,“viver o momento”, como Marie havia
sugerido, não seria nada fácil. Com certeza brigariam muito ao longo dos
dias, e torcia para Ryan desistir daquilo, assim como ela também queria.
 
Reconheceu o trajeto que estavam fazendo, ele levava a um bairro
nobre, mais afastado, onde as mansões praticamente não tinham vizinhos,
devido ao grande espaço que cada residência ocupava, incluindo jardins,
piscina, quadras, etc.
 
— Por que, diabos, a gente vai morar em um lugar desses? — Se
questionou.
 
— Desculpa, disse alguma coisa? — O motorista perguntou.
 
— Eu… Luke, tem certeza de que esse é o endereço? — Perguntou.
 
— Sim, senhora. — Ele respondeu.
 
Emma revirou os olhos, estava acostumada com o Luxo, pois morava
em mansões desde que nasceu, mas ficou realmente surpresa ao ver onde a
estavam levando para viver. Acreditava que colocariam os dois para morar
em um apartamento, de forma que, de fato, os obrigasse a viver juntos,
convivendo e se vendo diariamente.
 
Luke estacionou na entrada da casa, desceu do carro e abriu a porta
para a Emma.
 
— Chegamos. Levarei suas malas para dentro. — Avisou para
Emma, que continuava sentada, respirando fundo. — A senhora está bem?
 
— Estou. Pode ir tirando as malas, já estou saindo daqui. —
Respondeu e o motorista se afastou em silêncio.
 
Emma contou até dez silenciosamente e saiu do carro, caminhando
até a entrada da casa. Entrou no local olhando ao redor, gostando da
decoração elegante que compunha a sala. E viu uma mulher uniformizada,
aparentando não mais que quarenta anos, vir em sua direção com um sorriso
simpático no rosto.
 
— Bom dia, senhorita! Sou Melissa, a governanta da casa e
responsável por todos os outros funcionários. Tudo o que precisar aqui, pode
falar diretamente comigo. Seja bem-vinda à sua nova casa. — Falou rápido,
enquanto Emma a encarava com os olhos arregalados após ser bombardeada
pelas informações.
 
— Oi! Obrigada, eu acho… — Respondeu confusa — Antes de
qualquer coisa, eu quero escolher meu quarto.
 
— Claro! Me acompanhe, por favor. — Melissa pediu.
 
Emma a acompanhou pela mansão, subindo as escadas em silêncio,
até chegarem onde ficavam os quartos. 
 
— Esse é o segundo maior quarto da casa, tem um closet… 
 
— Qual o maior quarto? — Emma perguntou, interrompendo-a.
 
— Fica no sentido contrário, mas o senhor Ryan já está lá. —
Melissa respondeu com receio.
 
— Tudo bem, coloca minhas coisas nesse quarto aqui mesmo. —
Emma falou irritada, olhando para a direção do quarto de Ryan. — Ele está
lá?
 
— Sim, senhora. — Melissa respondeu, engolindo seco ao ver a
expressão no rosto de Emma.
 
— Acho que preciso ir avisar que cheguei. — Emma falou, indo em
direção ao quarto e deixando Melissa para trás, sem saber como reagir.
 
Capítulo 12
Apesar de não ser filha única, Emma não podia reclamar do quanto
foi mimada, ou sobre como sempre teve tudo o que quis. Era sempre a
primeira a escolher e não gostava quando alguém passava na sua frente.
Marchou em passos firmes, até parar diante a porta do quarto de Ryan e
bater nela, abrindo-a antes de esperar uma autorização.
 
— Por que escolheu os quartos antes que eu chegasse? — Perguntou
com a expressão fechada, engolindo em seco ao ver que ele estava apenas de
cueca.
 
— Nunca te ensinaram que, para entrar no quarto de alguém, tem que
esperar a autorização? E, se não percebeu, esse é o meu quarto. — Ryan
respondeu com um sorriso debochado.
 
— Esse deveria ser o meu quarto! — Emma bateu o pé e ele riu
enquanto se vestia, sem se preocupar com o fato de estar sendo observado
por Emma.
 
— Quer esse quarto? Hmm… Vem dormir comigo. Caso contrário, é
meu quarto. — Respondeu, com um sorriso de lado, ao terminar de colocar a
calça de moletom.
 
— Dividir o quarto? Você só pode tá me zoando! — Emma revirou
os olhos — Achei que você também não quisesse essa relação.
 
— Não querer casar é uma coisa, agora, nós dois podemos concordar
em nos divertirmos muito juntos. — Ryan provocou com um sorriso
malicioso. — Você está aí, parada, brigando por nada, apenas para ficar me
olhando, tenho certeza.
 
— Você é ridículo! — Emma bufou irritada. — E saiba que nós não
vamos ter nada, nunca! Nada de beijos, toques ou sexo. Eu posso viver sem
isso, mas, e você, pode?
 
— Você é virgem? — Ryan perguntou direto, olhando para Emma.
 
— Por que isso seria da sua conta? — Ela rebateu a pergunta, um
pouco desconcertada.
 
— Se for, até acho que você aguenta sem sexo. — Ele sorriu de lado
e foi se aproximando — Mas, se você não for, você vai querer em algum
momento, e eu vou estar bem aqui, te esperando.
 
— Vai sonhando! — Emma respondeu — Espero que esteja
preparado para viver os piores seis meses da sua vida.
 
— É esse o caminho que vai escolher? Tem certeza? — Ele
perguntou, arqueando a sobrancelha assim que parou diante dela — Nós
temos a opção de viver em paz.
 
— O que você sugere, brincarmos de casinha enquanto esperamos
nosso casamento? — Perguntou irônica.
 
— E você acha que entrar em guerra comigo, vai deixar tudo
melhor? — Ele devolveu a pergunta.
 
— Você diz que é contra esse casamento, mas não parece. Isso é
completamente irritante! — Emma bufou, olhando Ryan com ódio.
 
— Não, eu disse que não gosto da ideia de me casar com você, não
que era contra o casamento. — Esclareceu. — Eu sempre soube que iríamos
nos casar, desde que o acordo foi feito e, na verdade, eu acreditava que você
também sabia. Talvez fosse até mais tranquilo se você soubesse desde
sempre, também. Eu gosto do poder e do dinheiro que esse acordo vai trazer
pra todos os lados envolvidos, então, não, eu não tenho nenhuma intenção de
ir contra esse casamento.
 
Emma respirou fundo, chocada. Havia criado uma certa esperança de
que, como Ryan não gostava da ideia de se casar, seria mais fácil para
desfazer tudo sem muita dor de cabeça, mas acabou percebendo que seria
muito mais difícil do que supôs.
 
— Você é tão horrível quanto eles. — Emma falou em um tom baixo,
acusatório. 
 
— Eu não te obriguei a nada. — Ryan se defendeu.
 
— Você concorda com eles, está tão envolvido nisso, quanto meu
pai, ou o seu. — Emma falou, magoada novamente por se sentir tão
abandonada em meio ao caos. — Eu sou a única pessoa que está perdendo
com tudo isso, qual a vantagem pra mim, ao casar com você? Eu não gosto
de você, não vou subir de cargo na porcaria de uma máfia, que eu nem sabia
que existia. Perco minha vida, meus planos de viajar pelo mundo, de ser
livre.
 
— Você não está, sequer, tentando ver o lado bom nisso tudo. —
Ryan tentou amenizar a situação. — Você vai ter ainda mais dinheiro, se
entrar para a má…
 
— Entrar pra a máfia? Você se escuta? Porque, não é possível que
esteja falando isso para mim! — Riu incrédula., não me importo.
 
— Emma, não aja assim. — Ryan pediu, mas foi ignorado. — Temos
que entrar em um consenso para vivermos bem.
 
— Aguarda aí. Sentado, de preferência. — Emma falou saindo do
quarto.
 
Ryan pensou em impedi-la, insistir para conversarem, mas viu que
aquele ainda não era o momento certo, Emma precisava se acalmar primeiro,
absorver a situação.
 

 
Ryan desceu as escadas, pronto para ir para trabalhar. Apesar de já
estar morando com Emma há quase uma semana, não a havia visto desde a
péssima conversa que tiveram, em seu quarto. Porém, apesar de, no fundo,
estar preocupado, acreditava que não aquilo passava de uma birra e que logo
ela apareceria com a intenção de estressá-lo, como já havia dito que faria.
 
Enquanto atravessava a sala para sair de casa, ouviu passos, e viu
Melissa surgir no cômodo com um semblante preocupado.
 
— Com licença. Desculpe atrapalhar, senhor, mas preciso falar sobre
a senhorita Emma. — Melissa começou, atraindo a atenção de Ryan.
 
— O que aconteceu? — Ele perguntou, colocando uma mão no bolso
na frente da calça.
 
— Desde que chegou ela não sai do quarto e mal mexe na comida
que mando. Já não sei o que fazer, estou começando a ficar preocupada com
a saúde dela. — Melissa explicou a situação e Ryan precisou respirar fundo.
 
— Vou resolver isso, obrigado por avisar. — Ryan falou, voltando
para as escadas.
 
Caminhou em passos firmes até o quarto de Emma e abriu a porta
sem esperar que ela o autorizasse a entrar, apenas foi caminhando quarto
adentro, procurando pela garota, até encontrá-la sentada sobre o carpete, no
chão, com uma tesoura na mão e picando algo que ele não compreendeu bem
o que era.
 
— O que você tá fazendo? — Perguntou olhando para Emma.
 
— Eu que deveria te perguntar isso. Por que invadiu meu quarto? —
Ela questionou, ainda no mesmo lugar.
 
— Melissa disse que não está comendo e que não sai desse quarto.
Você não tem uma vida para viver não? — Ryan perguntou, levemente
irritado. 
 
— Na verdade, não. — Emma deu de ombros enquanto se levantava.
Vestida apenas com um pijama e descalça — Mas, o que isso tem a ver com
você? 
 
— Você precisa se alimentar, ou vai ficar doente, e eu não vou cuidar
de ninguém. — Ryan alertou.
 
— Eu acho que é para isso que servem hospitais. — Emma rebateu
com um sorriso cínico no rosto.
 
— Emma, não me faz perder a paciência, — respirou fundo — eu
sou muito novo para isso. Puta merda, você parece uma criança!
 
— Você que veio aqui. — Se defendeu indignada.
 
— Eu sei que você não gosta desse acordo de casamento, sei que
odeia ter descoberto que seu pai é chefe da máfia, mas são coisas que não
vão mudar, não adianta você fazer birra. — Ryan falou sério, tentando
manter a calma.
 
— Está preocupado com o quê? Que eu morra e você perca o que vai
ganhar quando nos casarmos? Isso se nos casarmos, porque eu não estou
muito afim disso. — Emma revidou arqueando uma das sobrancelhas.
 
— Não, eu só quero que você volte a viver normalmente. —
Suspirou — Você não pode ficar trancada aqui, assim. O que você fazia
antes? Quais seus planos? Não é porque não está mais na casa dos seus pais
que não pode viver sua vida como antes.
 
— Sai do meu quarto! — Emma mandou — Eu não quero conversar.
 
— Você comeu hoje? — Ele perguntou, travando no lugar.
 
— Isso não é da sua conta. Fora daqui! — Emma começou a tentar
puxá-lo.
 
— Para você de agir como criança! — Ryan bateu o pé.
 
— De onde você tirou que manda em mim? — Ela perguntou,
colocando ambas as mãos na cintura.
 
— Se arruma, você vai comigo. — Ryan ordenou, o que fez Emma
ficar alguns segundos em silêncio e depois rir alto.
 
— Vou para onde? Enlouqueceu de vez? — Perguntou indo sentar na
cama. — Ninguém me tira daqui.
 
— Você vai por bem, ou por mal. — Ryan avisou — Por bem, eu
espero você se vestir; por mal, eu te levo do jeito que tá. Você escolhe.
 
— Quer me levar pra onde? — Emma perguntou, levando um pouco
mais a sério a ameaça de Ryan.
 
— Vamos sair para comer alguma coisa e dar uma volta por aí. —
Ele explicou sem detalhes.
 
— Você não pode me forçar a ir. — Emma argumentou enquanto
cruzava os braços.
 
— Quer mesmo testar? — Ryan perguntou arqueando a sobrancelha.
 
— Eu te odeio! — Emma levantou — Saí daqui!
 
— Vou te esperar lá embaixo. Se não descer em quarenta minutos, eu
venho te buscar. — Avisou, já saindo do quarto.
 
Emma respirou fundo e foi se arrumar para sair, completamente
contrariada com ele, e consigo mesma, por ceder tão fácil. Não via problema
em ficar no quarto por mais um mês, comendo o mínimo para viver. Só
queria ficar quieta no seu canto, até se sentir em paz com tudo.
 
Tomou um banho rápido e se vestiu com uma calça social solta, roxa
e com plissado, um cropped branco e amarrou o cabelo em um rabo de
cavalo. Procurou o celular, que o Ryan devolveu, pela cama, colocando-o na
bolsa assim que o encontrou. Olhou mais uma vez no espelho, gostando do
resultado, e saiu do quarto, indo encontrar com o noivo, que lhe esperava na
sala.
 
— Estou pronta. É bom você ter um bom plano em mente e não estar
me fazendo sair de casa pra morrer de tédio na rua. — Emma avisou,
parando no meio da sala.
 
— Você não vai morrer de tédio. Como você consegue ser tão… 
 
— Se for me ofender, eu volto pro quarto e você não vai conseguir
me tirar de lá nem na bala. — Emma o interrompeu e Ryan revirou os olhos
ao se levantar.
 
— Vamos logo, mimada! — Exclamou, caminhando em direção a
porta.
 
— Ridículo! — Rebateu ela, seguindo-o até o carro.
 
Ryan começou a dirigir e Emma colocou uma música para tocar,
tentando ocupar o lugar do silêncio desconfortável.
 
— Você não pode ficar só trancada no quarto. — Ryan iniciou,
olhando a rua enquanto dirigia.
 
— Vai começar com esse assunto de novo? — Emma perguntou
entediada.
 
— Como pode ser tão cabeça dura? — Ryan bufou — Só não acho
saudável. Você precisa fazer algo, sair, estudar, fazer compras, ir a um spa,
qualquer coisa.
 
— Não quero. — Deu de ombros — E também não quero falar disso.
Sinceramente, não sei mesmo por que está se fazendo de preocupado.
 
— Não estou me “fazendo”, estou realmente preocupado. — Falou e
ouviu a risada debochada de Emma — Caralho, garota! Vai ficar na
defensiva até quando?
 
— Eu não confio em você e nós não somos amigos. Moramos juntos
porque fomos obrigados. — Emma soltou e ficou em silêncio alguns
instantes. — Quer dizer, eu fui obrigada, já que você sempre esteve a par de
tudo. Você não entende, Ryan, porque, mesmo estando no mesmo barco que
eu, a impressão que tenho é a de que, enquanto eu estou enfrentando uma
puta de uma tempestade, você está tranquilo ao sol. E isso me irrita muito,
porque é injusto!
 
— Eu não posso fazer nada sobre o passado e o que não te falaram
antes. Você não pode descontar sua frustração em mim. — Contrapôs, já
entrando no estacionamento do shopping.
 
— Estou usando todo o meu autocontrole pra não fazer minhas malas
e sumir. Não peça muito mais que isso. — Emma esclareceu olhando para
ele.
 
— Não vamos chegar a lugar nenhum assim. Sinto que estamos
empurrando parede. — Ele suspirou. — Vamos entrar e comer alguma coisa,
ver um filme. Já que não vamos melhorar nossa relação, sugiro fazermos de
hoje, apenas uma trégua.
 
— Tudo bem, já tô aqui mesmo. — Deu de ombros saindo do carro.
 
Ryan respirou fundo antes de sair do carro, sabia que não seria fácil,
mas não pensou que seria tão complicado lidar com a garota. Emma já
caminhava em direção a entrada do shopping sem se preocupar em esperá-lo.
 
Ainda no mesmo lugar, Ryan pegou seu celular e avisou que não iria
trabalhar devido a um imprevisto, seguindo Emma para dentro do shopping
em seguida.
 
Capítulo 13
Emma estava no jardim, sentada na grama e olhando a casa do lado
de fora, não pensava em nada em específico, além de, como explicaria o fato
de ter incendiado a cozinha enquanto preparava uma receita que aprendeu na
internet. 
 
Quem se importava com a destruição de uma casa que custava
alguns milhões de dólares? Deu de ombros, vendo os vestígios de fumaça
saindo pela janela, e pegou o celular, se perguntando se deveria avisar Ryan,
ou esperar para que ele descobrisse quando chegasse em casa. Para sorte de
todos, o fogo foi contido rapidamente, danificando somente a cozinha.
 
Não precisou tomar nenhuma decisão, já que logo viu o carro dele
entrando e estacionando em frente a casa. Ryan desceu do veículo
despreocupado, até sentir o cheiro de fumaça. Olhou em volta e viu Emma
sentada na grama, com o braço enfaixado. Não conseguiria pôr em palavras
o que sentiu, mas caminhou em passos firmes em direção a garota, que
brincava despreocupada com o celular em sua mão.
 
— O que aconteceu aqui, Emma? Por que está com o braço
enfaixado? — Perguntou, olhando-a de cima.
 
— Me queimei. — Ela deu de ombros.
 
— Como você se queimou? Por que esse fedor no ar? — Perguntou
sério.
 
— A cozinha pegou fogo. — Respondeu simples — Sozinha,
acredita?
 
— Não. Me explica o que aconteceu. — Ryan pediu, respirando
fundo. Precisava manter a calma, começar a brigar agora seria uma enorme
perda de tempo e ele sabia que, se brigassem, ele não entenderia o que
aconteceu exatamente.
 
Mesmo que só fizesse três semanas que estavam morando juntos, e
que se vissem o mínimo possível, estava aprendendo a lidar com o humor
sempre ácido e na defensiva em que Emma sempre estava.
 
— Tudo bem. Eu fui fazer uma receita que aprendi na internet. Saí da
cozinha e deixei a panela com óleo, no fogo, por algumas horas. Hoje era a
folga da Melissa, ninguém viu a panela. — Deu de ombros. — O fogo
espalhou pela cozinha e, quando percebi, já era meio tarde. Eu tentei pegar o
extintor e apagar, mas acabei me queimando. Um segurança apareceu e, daí,
ligaram para o corpo de bombeiros enquanto tentavam manter o fogo
controlado. O corpo de bombeiros apareceu, apagaram o fogo e fizeram um
curativo no meu braço.
 
— Emma, eu não sei o que faço com você! — Passou a mão no
cabelo, nervoso — Tenho certeza de que você é uma criança.
 
— Sabe que criança não pode casar, né? — Emma respondeu com
um sorriso sapeca.
 
— Sinceramente… — Respirou fundo — Esse incêndio tem a ver
com você fazer birra contra o acordo?
 
— Se tivesse, eu não teria me queimado tentando conter ele. Teria
deixado tudo queimar, seria muito mais proveitoso. — Emma respondeu
revirando os olhos.
 
— Você tem razão. — Esticou a mão para ela — Vem, você precisa ir
ao hospital ver essa ferida direito, só esse curativo não é o suficiente. Está
sentindo dor?
 
— Eu não vou! — Emma tentou cruzar os braços, emburrada — Vou
ficar bem aqui.
 
— Até quando? — Ryan perguntou, sentando ao lado dela.
 
— Não sei, não importa. — Olhou para o garoto ao seu lado — Você
não tem nada melhor para fazer, não?
 
— Ficar olhando a destruição que minha noiva causou é mais
divertido — Rebateu, irônico.
 
O telefone de Emma começou a tocar e ela respirou fundo, lendo o
nome do pai na tela. Sabia que, se ele estava ligando naquele horário, era por
certamente já saber sobre o fogo na casa.
 
— Vou te mostrar porque odeio tudo que envolve esse casamento. —
Emma falou e atendeu no viva voz. Ryan apenas ficou em silêncio, ouvindo
o que viria a seguir.
 
— Emma, sua irresponsável, o que você tem na cabeça, para pôr
fogo na casa? Tem noção do prejuízo que essa sua brincadeira vai me custar?
— Ouviram John esbravejar pelo telefone.
 
— Foi um acidente. — Respondeu seca.
 
— Acidente? Presta bastante atenção, se acha que quebrar as coisas
mudará algo, saiba que não vai! — Quase gritou. — Você está passando de
todos os limites, se fizer mais uma coisinha desse tipo…
 
— Vai fazer o quê, me pôr de castigo? Tirar meus cartões? — Riu
sem humor — Suas ameaças já não surtem o mesmo efeito. Se era só isso
que tinha para falar, vou desligar.
 
— Emma, você fará o que tem que fazer, por bem, ou por mal.
Escolhe por bem, que será mais fácil para todo mundo. — Ameaçou e
desligou a chamada.
 
Emma soltou o celular na grama, respirando fundo para se manter
calma. Ryan olhou para a garota, calculando o que diria a seguir, precisaria
ter cuidado com as palavras.
 
— Emma, você não pode deixar…
 
— Deixar que ele fale assim comigo? — Riu — O que você acha que
eu posso fazer? Ele sequer perguntou se eu estava bem! Tudo o que importa
é essa droga de casamento, que você está de completo acordo.
 
— Porque faz parte dos negócios. — Se defendeu.
 
— Eu não deveria fazer parte dos negócios, eu não deveria ser usada
como moeda de garantia para um acordo. — Balançou a cabeça, negando —
Você não entende meu lado.
 
— E você não faz questão nenhuma de entender o lado de ninguém.
— Ryan respondeu.
 
— Eu já entendi, inferno! — Exclamou irritada. — A vida de todo
mundo continua igual, a vida de todos só vai melhorar com esse acordo. E
eu? Como eu fico? Como fica a minha vida e os meus sentimentos?
Ninguém nunca me perguntou nada.
 
— Então fala agora, me fala dos seus sentimentos e o que você quer
para sua vida! — Exigiu irritado. Seus olhos focaram nos olhos castanhos de
Emma, tentando desvendar o que eles escondiam, tentando enxergar além da
superfície. — Você gosta de alguém?
 
— Eu não disse isso. — Ela se defendeu.
 
— Eu acho que não é nada que precisa ser dito. — Ryan falou,
analisando-a — Por que você não se inscreveu na faculdade esse ano? Nada
te impedia de começar.
 
— Não posso tirar um ano sabático? — Perguntou arqueando a
sobrancelha.
 
— Pode, claro que pode. — Ryan olhou para Emma — Sabe que não
pode se envolver com ninguém enquanto o acordo estiver de pé, né?
 
— Eu não gosto de ninguém. — Falou firme, revirando os olhos —
Nem mesmo de você.
 
Ficaram em silêncio quando perceberam um homem se aproximando.
Ainda tinham coisas a dizer, mas sequer sabiam como falar. O homem parou
diante deles com uma caderneta em uma mão e o celular em outra.
 
— Boa noite! Eu estou fazendo a avaliação de danos, para os reparos.
A reforma levará cerca de quatro semanas, então vim recomendar que,
durante esse período, fiquem em outro lugar, pelo conforto de vocês. —
Explicou.
 
— Tudo bem, só precisamos entrar para pegar nossas coisas. — Ryan
falou se levantando.
 
— Certo, a única parte completamente interditada é a cozinha. — O
homem avisou, logo pedindo licença e se retirando.
 
— Para onde vamos agora? — Emma perguntou olhando para Ryan
— Um hotel?
 
— O que você acha do meu apartamento? — Perguntou.
 
— Tanto faz. — Deu de ombros e se levantou também — Vou pegar
algumas coisas básicas, depois peço para Melissa mandar mais coisas.
 
— Vou te esperar no carro, você não vai dirigir com o braço
machucado. — Ryan falou se levantando em seguida.
 
Emma apenas revirou os olhos e seguiu para dentro da casa. Ryan foi
esperá-la no carro, mas sua mente estava presa na dúvida entre acreditar, ou
não, na hipótese de Emma já gostar de alguém, ainda sem decidir se essa
ideia lhe incomodava.
 

 
No carro o silêncio preenchia o vazio, e nem mesmo o rádio estava
ligado. Emma olhava a cidade pela janela, os pensamentos se embaralhando,
tudo que queria era deitar em uma cama confortável e descansar. Dentro de
si, uma necessidade enorme de estar em casa a consumia enquanto, ao
mesmo tempo, se perguntava se ainda tinha uma casa para chamar de sua.
 
Em um lapso de atenção, Emma percebeu que aquele caminho que
seguiam não levava ao apartamento. Mesmo que não se lembrasse
exatamente do endereço, tinha uma vaga noção de onde ficava e sabia que
não era por ali.
 
— Para onde está me levando? — Perguntou assustada.
 
— Para o hospital, você precisa que alguém veja essa queimadura
com mais cuidado. — Respondeu simples, ignorando a surpresa e falta de
reação de Emma, que apenas o olhou, ficando travada no lugar por alguns
segundos.
 
— Eu disse que não precisava — Emma falou revirando os olhos.
 
— E eu não me importo. — Ryan deu de ombros. — Metade do seu
antebraço está enfaixado, alguém especializado precisa ver isso, ou você
quer uma enorme cicatriz aí?
 
— Você é ridículo! — Emma falou emburrada, sabia que o outro
estava certo, mas não queria dar o gostinho de falar isso para Ryan ouvir.
 
O atendimento no hospital foi rápido, trocaram o curativo e passaram
algumas recomendações, as quais Ryan ficou atento, enquanto Emma só
queria ir embora dali o mais rápido possível. No fundo, Emma achou fofo
ele se preocupar tanto, mas não admitiria para ninguém.
 

 
— Vai continuar me encarando até que hora? — Emma perguntou
irritada, já estavam no elevador para, finalmente, chegarem ao apartamento
de Ryan.
 
— Não toca na minha cozinha. Não coloca nem água para ferver. —
Ryan disse firme — Se sentir fome, você pede comida pelo aplicativo, não
coloca fogo na minha casa.
 
— Foi um acidente. — Emma falou emburrada.
 
— Não quero acidentes na minha casa. — Deu de ombros. — Eu tô
falando sério.
 
— Que saco, garoto, eu vou ter cuidado. — Emma mantinha a feição
anterior.
 
— Não adianta fazer bico, não me importo. — Ryan falou, fazendo
cara de desdém. — Quando for dormir, cuidado com esse braço, pode me
acordar se sentir dor e não souber o que fazer.
 
— Ryan, eu não sou uma criança, para de agir como se eu fosse uma
e você fosse meu cuidador. — Reclamou.
 
— Então para de agir como uma! — Ryan falou e as portas do
elevador abriram para que eles entrassem no apartamento — Você fica no
mesmo quarto daquele dia.
 
— Tudo bem, sei onde fica — Emma começou a caminhar,
arrumando a bolsa no ombro.
 
— Amanhã tem uma festa…
 
— Eu não vou. — Emma interrompeu.
 
— Emma, eu preciso que você vá. — Bufou. — É uma festa
importante.
 
— Estou com o braço queimado, não posso sair. — Ela falou olhando
para ele com um sorriso de lado.
 
— Você vai nem que eu tenha que te amarrar e te levar. — Ryan
falou irritado.
 
— Acha que tenho medo dessa sua ameaça? — Riu irônica — Quero
só ver.
 
— Emma, facilita para mim. Eu tô tentando ser um cara legal, pra
isso aqui dar certo — Bufou outra vez.
 
— Boa noite, Ryan. — Voltou a andar.
 
— Boa noite, Emma. — Respondeu — E você não perde por esperar.
 
— Espero mesmo que não. — Rebateu e sumiu das vistas de Ryan.
 
— Essa garota vai me deixar louco, e não é de um jeito bom! —
Pensou alto e foi para o seu quarto também.
 
Capítulo 14
Emma acordou cedo, mas não por vontade própria, estava agoniada,
com dor, sentindo uma imensa vontade de chorar e gritar. Poderia jurar que
nem no momento em que se feriu havia doído tanto, quanto agora.
 
Levantou e lavou o rosto rapidamente, indo para a cozinha com um
kit de primeiros socorros para trocar o curativo do braço. Suspirou, querendo
que Marie estivesse ali para ajudá-la. Vez e outra, olhava para o celular, na
intenção de ligar para que a senhora fosse ali cuidar dela.
 
Tirou as coisas da caixa e começou a cuidar da ferida, feliz por ser
apenas uma bola pequena no antebraço esquerdo. 
 
— O que você está fazendo? — Ouviu a voz de Ryan e levantou o
olhar, o encontrando próximo à porta.
 
— Construído um robô. — Emma revirou os olhos.
 
— Vai se transformar em um cyborg? — Ryan perguntou divertido e
sorriu ao ver Emma segurando um sorriso. — Deixa que eu faço isso para
você.
 
— Não precisa, eu tô de bem. — Emma afirmou voltando a cuidar do
ferimento.
 
— Por que você tem que ser tão difícil? — Perguntou e percebeu que
seria ignorado — Você poderia me dar apenas uma abertura.
 
— Não quero. — Emma deu de ombros.
 
— Vou fazer café da manhã. — Ryan declarou, desistindo de discutir.
— Pensou sobre a festa?
 
— Quero panquecas e suco de laranja, e eu não vou para festa
nenhuma. — Respondeu.
 
— Além de pirraça, qual sua justificativa? — Ele questionou.
 
— Eu tô machucada, Ryan, você é cego? — Perguntou retórica,
como se fosse óbvio demais para ter que explicar.
 
— É um machucado pequeno. Caralho, Emma! — Esbravejou.
 
— E continua sendo um machucado. — Rebateu — E não adianta
ficar bravinho comigo, não. Eu não escolhi nada disso.
 
— Quer saber, foda-se! Cansei de ser o cara legal. — Ryan reclamou,
voltando sua atenção para as panelas. — Não quer ir? Ok, não vamos!
 
— Ótimo! — Deu de ombros enquanto se levantava com a caixinha
na mão.
 
— Onde você está indo? Eu tô fazendo seu café da manhã. — Ryan
perguntou observando a garota.
 
— Eu sei que você não aguenta ficar um segundo longe de mim, mas
preciso ir guardar isso. — Respondeu com um sorriso provocativo,
recebendo um revirar de olhos como resposta.
 
— Anda logo com isso. — mandou.
 
— Acha que manda em algo, coitado. — Ela riu.
 
Foi até o quarto e entrou no banheiro, deixando a caixinha com o kit
de curativos na pia do banheiro, enquanto jogava o lixo fora. Ao voltar,
decidiu deitar na cama e enrolar um pouco, apenas porque Ryan a havia
apressado.
 
Pegou o celular no móvel ao lado da cama e conferiu as mensagens,
nenhuma de sua mãe, mas viu que tinha uma da sua irmã e sorriu, realmente
sentia que precisava muito conversar com ela.
 
Charlotte
 
Oi, maninha (7:01)
 
Soube que está enfiada em problemas (07:01)
 
Sinto muito que eles tenham feito isso com você. Vou arrumar
algumas coisas aqui em Nova Iorque e vou até aí para te ver (07:02)
 
Emma
 
Oi, vem mesmo, por favor :( (07:15)
 
Eu não quero casar (07:15)
 
Me ajuda (07:15)
 
Levantou da cama devagar e voltou para a cozinha, encontrando a
mesa posta e sendo servida. Analisou Ryan, mas não conseguiu decifrar
muito bem a expressão do outro.
 
— Achei que ia querer café na cama. — Ele alfinetou.
 
— Você ia levar? Que fofo! — Rebateu, sentando em seu lugar. —
Você é muito prendado.
 
— Eu me viro bem. E não coloco fogo na casa. — Respondeu e
Emma deu de ombros.
 
— Por que você decidiu aprender? Não é como se precisasse. 
 
— Realmente não precisava, mas eu gosto de ter independência,
viver sozinho. — explicou — E, apesar da segurança de ser quem sou, filho
de alguém poderoso, nunca se sabe quando vou precisar me virar por aí. O
nosso mundo é perigoso, a máfia é uma roda gigante.
 
— Não é o nosso mundo, eu não faço parte disso. — Emma
apressou-se em dizer, ainda não tinha se acostumado com a ideia e também
não queria — Mas você tem um ponto.
 
— Esse é o seu mundo e você sabe disso, não adianta ficar em
negação. Tudo bem que você só soube a pouco tempo, mas do que adianta
negar? Tudo o que você consome é comprado com o dinheiro de lá, você não
fica sem seu cartão black card, financiado pelo crime, mas quer se fingir de
boa samaritana? Seja menos hipócrita. — Ryan foi incisivo, não se
importando em como a expressão de Emma foi se fechando — Não aguenta
a verdade? Eu ainda posso continuar.
 
— Vai se ferrar! — Emma irritou-se e levantou de seu lugar — Perdi
a fome.
 
— Eu ainda nem falei tudo que tinha para falar e você já quer fugir?
Não é assim que se resolvem as coisas. — Ryan disse, sustentando uma
expressão que misturava diversão e irritação.
 
— Não temos nada para resolver. Vou para o meu quarto e vou sair
depois. — começou a caminhar.
 
— Não esquece que precisa levar um segurança junto. — Ryan
relembrou.
 
— Eu sei!
 
— Que horas você volta?
 
— A noite. — Emma virou, olhando para ele — Eu não te faço
interrogatório.
 
— Porque não quer. — Deu de ombros.
 
— Então, a partir de agora, vou querer relatório. — Emma cruzou os
braços.
 
— Tudo para minha noivinha. — Ryan sorriu de lado.
 
— Ridículo! — Emma o xingou e saiu batendo o pé, enquanto ele
ficou rindo.
 
Ryan pegou o celular e abriu o aplicativo de mensagens.
 
Ryan
 
Mudança de planos (07:40)
 
A festa agora vai ser aqui em casa (07:40)
 

 
Ryan chegou ao galpão com cara de poucos amigos e nenhum
soldado se atreveu a se aproximar. Quem o conhecia, já sabia bem que
aquela expressão era o alerta em neon escrito “fique longe”, mas isso não se
aplicava a seu melhor amigo, e braço direito, Derek.
 
Mal passou pela porta e já foi seguido por ele, que estava pronto para
irritá-lo um pouco mais.
 
— Você precisa transar, sério. Ninguém mais te aguenta! — Derek
provocou, se jogando confortavelmente no sofá. O garoto de olhos estreitos
e ombros largos não perdia, em momento algum, a oportunidade de
debochar um pouco do amigo — Ah, lembrei! Você só pode fazer isso com
sua noiva, mas ela não te quer.
 
— Cala a boca, Derek! — Ryan mandou, irritado — Aquela garota
me estressa mais do que qualquer problema aqui.
 
— Por isso que mudou a festa de lugar? — Perguntou — Ela sabe
que hoje é seu aniversário?
 
— Exatamente por isso. E, não, ela não sabe. — Respondeu.
 
— Achei que você não viria aqui hoje. — Derek comentou, mudando
um pouco o assunto.
 
— Preciso despachar aquela carga de armas hoje, não quero erros. —
Ryan explicou.
 
— Eu já resolvi isso. — Derek falou, mudando a postura. Sabia a
hora de brincar e a de falar sério — Mandei o Lucian como responsável.
 
— Eu ia mandar ele mesmo. Tem quanto tempo que eles saíram? —
Questionou.
 
— Uns quarenta minutos. Mandei a Kellie ficar rastreando até a
entrega ser feita. Pedi pra ela avisar, caso aconteça algo — Derek continuou
relatando.
 
— Ótimo, não tem nada para dar errado. Vou voltar para casa e
preparar minha festa. — Ryan falou, já se levantando. — Você vai comigo.
 
— Você avisou sua noiva que a festa vai ser lá? — Derek perguntou
enquanto se levantava também.
 
— Ela vai descobrir. — Respondeu dando de ombros e Derek deixou
escapar uma risada alta.
 
— Ainda bem que vou ver isso de perto. — Derek comentou ainda
rindo.
 

 
Emma entrou em casa com duas sacolas nas mãos, que caíram no
chão no momento que ela passou pela porta e surpreendeu-se com a
quantidade de pessoas no apartamento. Tirou os fones de ouvido, ouvindo a
música alta que tocava ali dentro, e respirou fundo, controlando a irritação
que sentia.
 
Abaixou-se devagar e começou a caminhar em direção ao próprio
quarto, procurando por Ryan no meio das pessoas. Sentia o sangue ferver,
não conseguia acreditar que ele tinha realmente trazido a festa para dentro da
casa. 
 
— Cuidado aí! — Ouviu de uma garota ruiva, ao esbarrar nela. —
Não sabe olhar por onde anda? — Questionou, olhando irritada para Emma.
 
— Achou ruim? — Emma perguntou baixo e irada — Pena que eu
não me importo. Da próxima vez, eu passo por cima.
 
— Tá achando que é quem, pirralha? — A ruiva perguntou, indo em
direção a Emma, que permanecia no mesmo lugar encarando a garota.
 
— Opa! Opa! — Derek apareceu segurando a ruiva — Fica de boa,
Vick, essa dai é a Emma.
 
— Ah… — Ela olhou para Emma, de cima embaixo — Eu deveria
ter imaginado.
 
— Eu não gosto de você! — Emma declarou, desviando dos dois e
seguindo seu caminho para o quarto, batendo a porta com força.
 
Jogou as sacolas na cama, completamente furiosa com a situação.
Não demorou a ouvir as batidas na porta, que logo foi aberta. Ryan entrou no
quarto com um sorriso debochado no rosto, olhando para Emma, que ainda
estava em pé no meio do quarto.
 
— Gostou da festa? — Perguntou, cínico — Fiz pensando em você.
 
— Amei! — Respondeu irônica — Já estou pensando na melhor
forma de me vestir para participar.
 
— Claro, sua presença é indispensável. — Respondeu no mesmo
tom.
 
— Você é ridículo. Eu não acredito que fez a festa aqui! — Emma
reclamou, passando a mão no cabelo.
 
— Você escolheu assim quando não quis ir comigo. — Ele deu de
ombros.
 
— Por que essa porcaria de festa é tão importante? — Perguntou,
com os olhos semicerrados e esbanjando indignação.
 
— Porque essa porcaria de festa é a minha festa de aniversário. —
Sorriu, principalmente ao ver Emma perdendo a resposta. — Se você quiser
vir e conhecer meus amigos e pessoas da minha confiança, fique à vontade.
Mas, se quiser ficar trancada no quarto, eu também não me importo.
 
— Só se for para eu matar aquela ruiva abusada. — Reclamou — Eu
só não vou dar um jeito de acabar com essa festa, porque é seu aniversário,
mas na próxima…
 
— Você fala demais. — Ele riu, se aproximando dela. — Quando
quiser prejudicar alguém, não avisa, apenas faça.
 
— Vou fazer isso, obrigada pelo conselho. — Falou com um falso
sorriso no rosto.
 
— Você poderia me dar um presente de aniversário. — Ryan sugeriu,
puxando-a pela cintura e inclinando-se até ficar com a boca próxima ao
ouvido dela — O que acha?
 
— Eu acho que você pode tirar suas mãos de cima de mim e dar o
fora do meu quarto. — Respondeu firme, por fora.
 
— Espero ansioso pelo dia em que você vai ceder e implorar por
mim. — Ele respondeu, beijando o pescoço da garota, antes de se afastar.
 
— Vai sonhando. E não coloca suas mãos em mim novamente. —
Emma determinou.
 
— Vou amar ouvir você implorando por mim, gemendo o meu nome,
pedindo por mais, até se perder no prazer que eu vou te proporcionar. —
Ryan falou baixo, com a voz rouca.
 
— SAI DAQUI! — Emma gritou, não queria demonstrar como
aquilo a afetou.
 
— Até depois, meu bem. Não esquece de passar pela festa. — Ele
saiu do quarto rindo e Emma arremessou uma pantufa na porta depois que
ela foi fechada.
 
— Ridículo! Ridículo! Ridículo! — Resmungou sozinha — Eu vou
causar! E quero só ver se essa festa não vai parar.
 
Do lado de fora do quarto, Ryan voltou para a festa com um sorriso
satisfeito no rosto. Provocar Emma lhe deixava estranhamente animado.
Sentou no sofá ao lado Derek, que logo lhe entregou uma long neck de
cerveja.
 
— Sua noiva vem? — Ele perguntou e riu ao ver o melhor amigo
negar com a cabeça — Ela te odeia.
 
— Ela não me odeia, só não aceita que me deseja. — Deu de ombros,
bebendo um pouco.
 
— Sua noiva é uma insuportável! — Ryan ouviu a voz de Vick
falando ao seu lado — Esse acordo é um saco.
 
— Quem vai casar é ele, não você. — Derek rebateu — Admite que
ta chateada porque perdeu a foda.
 
— Por que achou ela insuportável? — Ryan perguntou encarando a
ruiva, não gostando do tom usado.
 
— Qual é, Ryan? Um minuto de interação com ela e eu quase voei na
garota. Se o Derek não tivesse me segurado… — Ela balançou a cabeça.
 
— Se ele não tivesse te segurado, você já tinha uma bala no meio da
testa. Ela não é qualquer uma, espero que saiba disso. — Ryan falou firme.
 
— De quem estamos falando? — Uma garota falou ao sentar no colo
de Derek — Se a Vick não gosta, certeza que é gente boa.
 
— Calada, vadia! — Vick bufou.
 
— Estamos falando da noiva do Ryan — Derek explicou.
 
— Todo mundo sabe que a Victória só tá com ciúmes. Quando isso
passar, ela fica comportadinha de novo. — A garota constatou.
 
— Você é insuportável também, Helena! — Victória retrucou
cruzando os braços.
 
— Foda-se! — Helena deu de ombros e riu — Quando vamos
conhecer a chefinha?
 
— Chefinha? — Ryan perguntou, achando divertido.
 
— Claro! Se você é o chefinho e ela vai casar com você… — Helena
explicou, como se fosse óbvio.
 
— Você é péssima, Helena. — Ryan riu — Mas ela disse que não
vem aqui.
 
— Você tem certeza? — Victória falou. Na voz, uma mistura de
incredulidade e diversão. — Ok, talvez ela seja legal, ou louca, pelo menos.
 
— O que… — A voz de Ryan morreu ao ver Emma passando entre
os convidados, que se afastavam e paravam para olhá-la.
 
Emma agia como se não tivesse ninguém ali, como se a sala não
estivesse repleta de pessoas, e caminhou entre os convidados vestindo
apenas uma camisola vermelha de renda transparente e uma mini calcinha,
também vermelha. Foi para a cozinha, ignorando todos os olhares, mas
ninguém ousava falar uma palavra sequer.
 
— Meu deus, eu amei essa garota! — Helena declarou animada.
 
— Ela só pode estar tirando com a minha cara! — Ryan falou
irritado, se levantando para ir atrás dela.
 
— Ele realmente parece puto. Será que é ciúmes? — Derek
perguntou, achando divertido, e Helena apenas riu concordando.
 
— Que porra você acha que está fazendo? — Ryan perguntou
irritado ao falar com Emma.
 
— Pegando água e chocolate — Ela respondeu, com um falso ar de
inocência.
 
— Você… Você é absurda! — Ryan olhou feio para um cara que
entrou na cozinha, este que saiu rápido, e voltou a olhar para Emma —
Sério, no meio dos meus convidados e você tinha que passar com essa
roupa? — Apontou o que ela vestia.
 
— Eu só queria um chocolatinho. E eu estou na minha casa — que,
na verdade, é sua — mas eu nunca concordei com festa nenhuma. — Deu de
ombros — Pode sair da minha frente agora, quero voltar pro meu quarto.
 
— Eu não acredito! Você não vai passar lá assim, porra! Eu nunca
tinha te visto gostosa pra caralho desse jeito e agora… — Respirou fundo —
Você não vai voltar lá assim. 
 
— É? E vai fazer o que para impedir? — Arqueou a sobrancelha —
Tá com ciúmes?
 
— Você é minha noiva! — Falou firme — Coloca minha camiseta
por cima disso aí.
 
— Eu não vou fazer isso. — Emma tentou passar, mas Ryan parou na
frente dela, rindo nervoso.
 
— Você não vai assim, eu tô falando sério! — Ele disse com o olhar
pegando fogo. 
 
— É simples: tira as pessoas da sala. — Emma sugeriu com um
sorriso — É sua única opção, ou eu vou passar.
 
— Emma…
 
— Ryan…
 
Se encararam por mais alguns segundos e Ryan riu, ainda mais
irritado com a situação. Não deixaria Emma vencer assim, não sem
conseguir ganhar algo de volta.
 
— É meu aniversário. Já que você tá querendo dar fim a minha festa,
tem que, pelo menos, me dar algo em troca. — Ryan falou colocando Emma
contra a parede.
 
— Eu não estou querendo nada. — Emma falou, olhando nos olhos
dele.
 
— Está, sim. Ou não estaria aqui com essa roupa. — Ryan falou,
deslizando a mão por sobre a renda — Pronta para admitir?
 
— Eu não tenho que admitir nada. — Respirou fundo. — Me deixa ir
para o meu quarto.
 
— Admite que me quer. Você pode não gostar de mim, mas tá doida
para me sentir. — Ryan falou com a voz rouca, a mão apertando a cintura de
Emma.
 
— Ryan…
 
— Opa, desculpa! — Um cara interrompeu, o que deu tempo para
Emma respirar fundo. E ao receber o olhar irritado de Ryan, o garoto sentiu
até a pele se arrepiar de medo — Tô saindo, me desculpa. — E correu para
fora da cozinha.
 
— Você venceu, eu quis estragar sua festa. — Emma admitiu — Tira
sua camiseta, eu vou para quarto, é seu aniversário.
 
— Emma, não foge assim. — Ryan reclamou.
 
— Tira a camiseta, curte sua festa. — Emma falou, tentando se
afastar.
 
— Você é inacreditável, toda essa cena… — Ryan reclamou e Emma
apenas esticou a mão. 
 
Contrariado, Ryan retirou a camiseta e Emma a vestiu rapidamente,
pegando a água e o chocolate e saindo da cozinha, seguida por Ryan. Todos
apenas olhavam para os lados, evitando a todo custo olhar para Emma,
ninguém queria ver Ryan irritado.
 
Quando a porta de Emma fechou, Ryan socou a parede para
descontar a frustração. Não importava mais, a festa já tinha acabado.
 
Capítulo 15
Emma acordou com o barulho do celular tocando e se revirou na
cama até alcançar o aparelho. Sequer olhou quem ligava antes de atender.
 
— Emma? — Darah chamou, resmungando ao perceber que a amiga,
apesar de ter atendido, estava mais dormindo do que acordada — Acorda
logo, garota, o assunto é sério.
 
— Pode falar. — Emma pediu, ainda com os olhos fechados e a voz
rouca de sono.
 
— Você está acordada o suficiente? — Darah perguntou ouvindo um
“uhum” como resposta — Eu duvido, mas é rápido de qualquer forma.
 
— Fala logo! — Emma exclamou, já impaciente, queria voltar a
dormir logo.
 
— Eu já estou aqui, e quero ressaltar que isso é um pouco assustador,
mas, antes de entrar, eu preciso confirmar — Darah respirou fundo e Emma
entendeu o assunto, ficando desperta rápido — Tem certeza de que vai fazer
isso? Eu não consigo achar isso uma boa ideia.
 
— É uma excelente ideia, vai dar tudo certo — Emma respondeu —
É minha melhor opção.
 
— Tá sendo tão ruim assim? — Darah perguntou em um tom ameno
e preocupado.
 
Ruim… Emma não sabia dizer com exatidão se era isso, mas não
gostava nenhum pouco de como as coisas estavam e não acreditava que tinha
feito uma escolha que poderia ser considerada ir longe demais. Prezava
muito sua liberdade de escolha e terem tirado isso dela foi um golpe tão
baixo, que ela não conseguia relevar, e não queria tentar.
 
— Eu mereço ter o direito de fazer minhas próprias escolhas, decidir
o que quero para minha vida e como quero viver. — Respondeu segura.
 
— Se tem certeza que é isso o que quer, estou aqui para te apoiar.
Nos vemos depois — Darah falou, deixando o coração de Emma aquecido.
 
— Obrigada por ser a melhor amiga do mundo. — Emma agradeceu.
 
— Eu faço o meu melhor. Te amo, sua doida, preciso ir agora. —
Darah respondeu e desligou em seguida.
 
Emma deixou o telefone largado sobre a cama. Certeza não tinha, de
fato, mas não retrocederia em algo que escolheu por si mesma. Olhando para
teto branco, suspirou, de onde estava, o único caminho a se seguir era para
frente. 
 
Também mordeu o lábio inferior, de olhos fechados, recordando a
noite anterior e de como achou divertida toda a provocação. Respirou fundo,
sentindo o corpo se aquecer ao pensar nas provações, sorrindo ao lembrar da
mão de Ryan deslizando sobre seu corpo. Tinha certeza de que, se não fosse
a situação, já teria cedido há muito tempo.
 
— Você fica linda assim, com essa expressão de desejo e a mão
apertando os lençóis. — Emma se assustou ao ouvir a voz dele e o peso de
seu corpo afundando de uma vez na cama — Eu posso te ajudar com isso, se
quiser.
 
— O que está fazendo no meu quarto? — Emma perguntou irritada,
jogando a coberta sobre o corpo.
 
— Vim te acordar. Hoje você vai comigo para o galpão. — Ryan
explicou, fazendo a garota rir alto.
 
— Só pode ter bebido muito ontem e ainda tá bêbado, não é possível.
— Ela falou negando com a cabeça.
 
— Você estragou meu aniversário ontem, me deixou muito puto e
frustrado — Ele falou sério e ela o olhou incrédula — Você vai comigo hoje.
 
— Deixa eu ver se entendi: eu te irrito e, como castigo, tenho que
passar o dia com você? Qual a lógica disso? — Ela perguntou, aborrecida.
 
— Você precisa aprender algumas coisas, já ficou no escuro por
muito tempo. — Ryan falou firme — Se arruma e vamos. Vou esperar na
sala.
 
— E quem disse que eu tenho interesse em aprender alguma coisa?
Ryan, eu prefiro continuar fingindo que esse negócio de máfia não existe. —
Emma explicou, ficando sentada na cama.
 
— Quando estiver lá, vai se interessar — Ele deu de ombros — Se
não se arrumar, vou te levar desse jeito que está vestida. E eu tenho certeza
de que você não se importa, já que andou seminua pela festa ontem.
 
— Ainda com ciuminho? — Emma provocou e ele deu de ombros.
 
— Vinte minutos, Emma, vinte minutos. — Avisou, saindo do
quarto.
 
— Eu preciso aprender a trancar a porta do quarto. — Emma
reclamou sozinha, voltando a deitar.
 
Passou cerca de cinco minutos deitada, decidindo se iria, ou não com
ele. Não acreditava que ele realmente a obrigaria, caso decidisse não ir.
Porém, por fim acabou sendo vencida por uma curiosidade que brotou em
sua mente, de saber como era, de perto, esses lugares que havia visto
somente em filmes e em alguns livros que leu.
 
Por fim, levantou e foi se arrumar, colocou uma calça preta, uma
blusa vermelha e uma jaqueta, também preta, decidida a parecer uma bad
girl. Até riu um pouco do pensamento, enquanto se olhava no espelho,
deixando o cabelo amarrado em um rabo de cavalo.
 
Desceu as escadas devagar e com cara de tédio, não queria dar o
braço a torcer sobre a curiosidade que havia despertado em si. Ryan sorriu
de lado ao olhar para a garota, satisfeito dela ter concordado, pois não queria
ir por caminhos mais complicados.
 
— Viu, não doeu nada concordar. — Ryan falou.
 
— Você não sabe. — Emma deu de ombros — Eu queria comer antes
de sair de casa, mas isso aqui está um caos.
 
— A gente come pelo caminho, tenho que trabalhar. — Ryan disse,
indo em direção a porta — Mais tarde vem uma equipe limpar a casa.
 
— Ótimo, não gosto de bagunça. — Emma respondeu, também
seguindo em direção a porta — Ainda não sei porque me levar até lá.
 
— Vamos casar, você tem que saber o que eu faço. — Esclareceu e
Emma revirou os olhos.
 
— Claro, vamos casar. — Ela repetiu com um certo desdém, que não
passou despercebido.
 
O caminho até o carro foi silencioso. Ryan olhava para Emma,
analisando cada mínima expressão corporal dela, querendo descobrir
qualquer coisa que pudesse lhe ajudar a dobrar a resistência que ela insistia
em manter.
 
— Você vai continuar agindo assim por quanto tempo? — Perguntou
com uma expressão quase de desgosto.
 
— Do que está falando? — Ela quis saber.
 
— Toda essa sua resistência. Já passaram semanas desde que
começamos a morar juntos, você tem que parar de me tratar como se eu
fosse seu inimigo. — Ryan disse.
 
— Eu não te trato como meu inimigo, mas o que nós realmente
somos, fora desse acordo? Não somos amigos, não somos namorados e nem
gostamos um do outro — Emma listou, levemente exasperada — Se quer
saber, até admito que você é um baita gostoso, e que todas essas tatuagens te
deixam ainda mais gostoso, mas quando penso em quem você, é na minha
vida, eu não quero me aproximar. Não quero nada.
 
— Você não pode manter para sempre essa barreira, tô falando sério,
Emma — Ryan olhou rapidamente para ela.
 
— Eu sei que você está. E, é engraçado pensar que, talvez, se não
fosse a situação, eu já teria estado na sua cama antes. — Ela riu e ele revirou
os olhos — Eu não me sinto à vontade para sair do meu canto protegido. Eu
não te odeio mais, porque no começo eu te odiava, mas agora… agora você é
o colega de quarto com quem eu convivo bem.
 
— Vou considerar isso uma evolução. — Ele pontuou, parando o
carro em frente uma lanchonete — O que você quer? 
 
— Eu não como nada doce artificial pela manhã, pega algo salgado
que esteja com uma boa aparência e suco de laranja — Emma pediu.
 
— Entendido, já volto. — Ele saiu do carro e, no mesmo instante, o
telefone de Emma começou a tocar.
 
— Oi, Darah — Emma cumprimentou a amiga ao atender.
 
— Só estou ligando para avisar que a primeira parte foi feita, e que
ainda não acredito nisso. — Falou ela, em um suspiro.
 
— Já disse que essa é a melhor opção. — Emma justificou.
 
— Não vou mais discutir isso, já avisei o que tinha para avisar, tenho
mais o que fazer agora. — Darah falou resignada.
 
— Espera, eu tenho uma pergunta — falou, respirando fundo para
criar coragem — Acha que eu vou estar sendo fraca se eu ceder a tentação?
 
— Emma?
 
— O quê?
 
— Vai se ferrar! — Darah xingou, levemente irritada — Você não me
escuta nem para assunto sério, se você quer dar pra ele, vai em frente, que
diferença isso vai fazer em um mês? Doida.
 
— Isso foi muito agressivo, mas você tem razão — concordou rindo,
observando Ryan voltar para o carro.
 
— Tenha um bom dia — Darah se despediu e desligou em seguida.
 
— Quem sabe em outra vida… — Emma falou sozinha, suspirando
antes de Ryan entrar no carro.
 
Capítulo 16
O caminho, repleto de palavras não ditas e de um silêncio
ensurdecedor, foi feito em alguns minutos, mas sentiam como se ele tivesse
durado horas. Ryan estava irritado e Emma distante, calculando a melhor
rota para que seus planos dessem certo. Não havia nenhuma vontade ali, de
fazer com que alguma conversa fluísse, já que acabaria em briga de qualquer
forma.
 
— Você tinha razão, eu não deveria ter trazido você. — Ryan
quebrou o silêncio entre eles, assim que estacionou o carro na garagem do
galpão.
 
— Eu sempre estou certa, mas já estou aqui. — Deu de ombros
saindo do carro, acompanhada por Ryan em seguida.
 
— Tenta não brigar e gritar, ok? — Ryan pediu.
 
— Farei meu melhor. — Ela sorriu e ele revirou os olhos.
 
Ryan foi até a Emma e segurou sua mão, ignorando a interrogação
estampada no rosto da garota. Começou a caminhar, guiando-a para dentro
do local, sendo cumprimentado por todos que estavam ali, trabalhando e
fazendo a segurança do lugar. Emma olhava tudo, atenta e curiosa, sentindo
o coração acelerar ao ver homens armados andando de um lado para outro,
que sequer percebeu apertar a mão de Ryan em busca de alguma segurança.
 
Quando já chegavam em frente à sua sala, Ryan ouviu Derek lhe
chamar e ficou parado, esperando o amigo se aproximar. Emma ficou perto
do garoto, olhando o corredor um pouco assustada.
 
— Você sabe que ninguém vai fazer nada com você, né? — Ryan
falou baixo, para que apenas ela escutasse.
 
— Estou torcendo por isso. — Ela respondeu, também baixo. —
Podemos sair desse corredor? Por que tanta gente armada? 
 
— Entra na minha sala, eu já vou entrar e te explico. — Ele
respondeu, abrindo a porta e entregando uma sacola para ela. — Aproveita e
toma seu café da manhã.
 
— Eu vou ficar aqui sozinha? — Ela perguntou nervosa, segurando a
mão dele.
 
— Eu vou conversar com o Derek aqui na frente. — Explicou calmo,
indicando o outro, que esperava distante o suficiente para não interromper os
dois. Apesar de não estar demonstrando, Ryan estava surpreso, não esperava
que Emma ficasse assustada — Tudo bem?
 
— Não me deixa sozinha aqui. — Emma pediu e entrou na sala,
fechando a porta em seguida.
 
— Pronto. Pode falar, Derek — Ryan incentivou, assim que o outro
se aproximou.
 
— Eu não esperava encontrar a chefinha aqui. — Disse divertido,
enquanto Ryan revirava os olhos. — Nós estamos com um pequeno
problema hoje.
 
— O que aconteceu? — Ryan perguntou sério.
 
— Eu não sei como, mas Albert fugiu. — Contou, engolindo seco ao
ver a expressão de Ryan se fechando. — Nós mandamos muitos homens
atrás dele.
 
— E você foi junto? — Perguntou irritado, ficando ainda mais ao ver
a negação de Derek. — Eu me lembro muito bem de ter te deixado
encarregado disso.
 
— Eu sei, caralho! Eu sei! — Reclamou — A gente não deveria ter
essa conversa no corredor, a gente pode ir para outro lugar?
 
— Não! — Respondeu seco — Emma não quer ficar sozinha.
 
— Ryan, você sabe que o Albert pode dar trabalho. — Alertou.
 
— Ele já perdeu tudo e não tem mais ninguém que o apoie, além do
fato de que também já deve estar sem dinheiro, sem contatos, sem nada. —
Ryan falou sério — Ele não tem mais nada, não acho que vá te dar tanto
trabalho. Então, o encontre antes que ele faça alguma merda.
 
— Eu vou fazer isso. — Assegurou, com a expressão fechada no
rosto.
 
— Mais alguma coisa que eu deva saber? — Perguntou Ryan.
 
— A carga chegou inteira. Correu tudo certo e já estou preparando a
próxima. — Derek informou — Vick estava te procurando, ela deve passar
aqui depois.
 
— E o que ela quer? — Ryan questionou.
 
— Eu não sei. — Deu de ombros — Vou trabalhar.
 
— Qualquer coisa, me avisa. — Ryan disse e Derek acenou antes de
sair.
 
Ryan respirou fundo e entrou na sala, se deparando com a Emma
sentada no sofá com pernas de índio, um copo de suco em uma mão e o
lanche que havia comprado, na outra. Chegou a sorrir achando a cena fofa.
 
— Esse lugar é assustador. — Emma declarou — Pra que as paredes
escuras? Pra que tanta gente armada? Odiei esse clima tenso que tem por
aqui!
 
— É um galpão, o lugar onde acontece um monte de coisas ilegais.
Esperava o quê? — Ele perguntou, indo sentar em sua cadeira, atrás da
mesa.
 
— Eu não sei. O que acontece aqui? E o que aconteceu com o seu…
amigo? Funcionário? — Deu de ombros — Enfim, o que aconteceu que ele
estava com aquela cara de preocupado?
 
— Tivemos problema com um cara que fugiu. — Ryan explicou de
forma resumida. — E todo mundo aqui anda armado porque, se esse lugar
for invadido, temos como nos defender.
 
— Você está armado? — Questionou curiosa.
 
— Sim, todo mundo aqui está armado. — Ryan esclareceu, mas
repensou a resposta. — Na verdade, quase todo mundo. Existem algumas
pessoas que trabalham embalando, encaixotando… Essas não usam armas.
 
— Eu não gosto disso! — Emma declarou. — E…
 
Emma teve a fala interrompida pela porta, que foi aberta de uma vez,
e as duas vozes que discutiam. Direcionou sua atenção até a entrada do
escritório, sentido o coração bater acelerado e ficando em uma postura ereta
e tensa. Quase pulou do sofá quando Ryan bateu na mesa, causando um
estrondo e fazendo as duas garotas se calarem.
 
— Desde quando vocês podem entrar aqui sem bater? — Ele
perguntou, furioso, enquanto Emma colocou a mão sobre o peito, xingando
baixo pelo susto, após abandonar o lanche na mesa de centro — Que vocês
querem?
 
— Eu avisei pra gente bater! Ainda vou socar sua cara! — Helena
ameaçou Vick, e só então notou Emma no sofá — Ah, a chefinha tá aqui,
entendi!
 
— Chefinha? Quê? — Emma perguntou confusa.
 
— Você vai casar com o chefinho, — Helena indicou o Ryan —
então você é a chefinha. Já conheceu o prédio? Posso te levar.
 
— Eu tô bem aqui — Emma respondeu, dando de ombros.
 
— O que vocês querem? — Ryan perguntou, interrompendo ambas.
 
— Eu quero… Pode falar na frente dela? — Victória perguntou
olhando de canto para Emma.
 
— Se ela está aqui, é porque já sabe de tudo, e a resposta é óbvia —
Helena respondeu.
 
— Ryan? — Victoria perguntou esperando uma confirmação do
chefe.
 
— Pode falar. — Ryan autorizou, olhando para Emma, atento às suas
reações.
 
— Nós tivemos um probleminha essa noite. — A ruiva falou
nervosa.
 
— Outro probleminha? Qual? — Ryan perguntou, passando a mão
no cabelo.
 
— Essa noite foi todo mundo para o seu aniversário, todo mundo
bebeu muito e foi uma péssima noite. E, pelo visto, você já soube do Albert.
— Helena declarou — A questão é que tivemos uma carga interceptada,
temos que falar com seu pai.
 
— Não vamos, não! — Ryan esbravejou — Eles estão levando a
carga ainda? 
 
— Estão, mas está cheio de polícia. E, para ser sincera, eu acho que
tem dedo do Albert nisso. — Helena comunicou sua suspeita. — O que está
pensando em fazer?
 
— Vamos pegar de volta, a força. — Ele falou firme — Avisem ao
Derek que o foco, agora, é pegar essa carga de volta. Depois a gente dá um
jeito no Albert.
 
— Vamos falar com seu pai, Ryan. Ele sabe que você faz um bom
trabalho, mas você sabe que ele recupera tudo só com algumas ligações. —
Helena insistiu.
 
— Eu tô pronta pro combate. — Victória anunciou com um sorriso
maldoso.
 
— Sei disso, Helena, mas como você quer que eu prove que consigo
assumir tudo, se ainda pedir ajuda quando a coisa sai do controle? — Ryan
questionou irritado — Vão fazer o que eu mandei!
 
— Eu vou porque quem manda é você, mas, que tá tudo errado, isso
está! — Helena falou irritada e começou a sair da sala, mas parou, olhando
para Emma — O que você acha disso tudo?
 
— Eu? — Emma perguntou, apontando para si mesma e recebendo
um aceno positivo da outra garota — Eu não posso opinar, não entendi o que
tá acontecendo.
 
— Não tem que envolver ela nisso, Helena! — Ryan advertiu
irritado.
 
— Tem um cara que odeia o Ryan e está tentando destruir ele. A
gente acha que ele denunciou uma carga que ia chegar, para gente distribuir,
mas não chegou porque a polícia tá com ela. O cabeça dura, aí, não quer
ligar para o pai, que sabe o que fazer, e prefere começar um atrito
desnecessário com a polícia. O que você faria? — Helena perguntou, após
resumir bastante os fatos.
 
— Deixa eu pensar — Emma ficou em silêncio, analisando esse
cenário, até voltar a olhar para Helena, que aguardava. — Eu ligaria, um
conflito direto pode atrair atenção demais, mas eu achava que, quando a
polícia pegava algo do tráfico, ou da máfia, era só assumir o prejuízo, sem
volta.
 
— Depende em que lugar da pirâmide você está.
 
— Ou do armamento que você carrega. — Victória completou a fala
de Helena.
 
— Certo, agora saiam daqui! — Ryan ordenou, irritado.
 
— Vai ligar? — Helena perguntou mais uma vez.
 
— Vou, agora sai daqui!
 
— Certeza de que não quer dar uma volta pelo prédio? — Helena
perguntou novamente para Emma, ignorando a expressão séria de Ryan.
 
— Hmm… quero, mas… é… — Emma tentou falar, para explicar
seu medo de sair da sala, mas não conseguiu.
 
— Ela é de confiança — Ryan explicou e Emma respirou fundo.
 
— Ok, vamos lá. — Ela concordou, já se levantando.
 
— Isso vai ser divertido. — Helena falou animada e Emma quase
sorriu com a animação da garota.
 
Victória não saiu da sala com Emma e Helena, ficou no mesmo lugar,
esperando ficar sozinha com Ryan um pouco, e sentou na cadeira de frente
para ele assim que elas saíram.
 
— Por que trouxe ela para cá? — Victoria perguntou.
 
— Eu posso fazer o que eu quiser. Agora sai que eu tenho que fazer
uma ligação! — mandou.
 
— Você tá muito bem treinado por ela. — A ruiva falou saindo da
sala.
 
Ryan bufou, mas decidiu ignorar. Tinha outras ocupações, e grandes
problemas, para resolver. Respirou fundo e digitou o número do pai,
contando sobre o que aconteceu assim que ele atendeu.
 
Helena explicava para que servia cada sala e o que cada pessoa fazia
ali, tomando cuidado para não assustar mais ainda a garota, e tentando deixar
o clima mais leve possível.
 
— Helena, quem é esse Albert? Por que o Ryan não queria falar com
o pai dele? — Emma perguntou enquanto faziam o caminho de volta.
 
— Acho que é melhor o chefinho te explicar, eu não sei se ele ia
gostar que eu falasse demais. — Helena falou, parando em frente a porta do
escritório de Ryan — Até mais.
 
— Até mais. — Emma respondeu e entrou na sala sem bater.
 
— Estava te esperando. Vou te levar pra casa — ele anunciou, se
levantando assim que ela entrou — Preciso resolver algumas coisas
urgentes.
 
— Eu tenho várias perguntas. — Emma disse, parada próxima à
porta.
 
— Vou responder todas no caminho, pode ser?
 
— Claro. — Ela concordou.
 
Ryan segurou sua mão novamente e a guiou até o carro, não
demorando a saírem dali. Ele precisava se encontrar com o pai, que estava
bem irritado pelas falhas recentes. 
 
— Pode fazer suas perguntas. — Ryan falou assim que começou a
dirigir.
 
— Por que não queria ligar para o seu pai? — Emma começou.
 
— O que eu cuido não é nem metade do negócio da família, é mais
como uma espécie de treinamento. Se eu falho com tão pouco, como vou
cuidar de tudo? — Ryan respondeu, deixando uma pergunta no ar, enquanto
apertava o volante para aliviar o estresse.
 
— Minha família tem o mesmo tipo de negócio? — Ela sabia,
parcialmente, a resposta, mas buscava uma explicação mais clara.
 
— Sim, e por isso vivíamos em conflito por território, espaço e
poder, mesmo com os acordos de paz e as várias tréguas. — Ele respirou
fundo. — Por isso o acordo através de um casamento é uma garantia mais
séria. E, também, porque o controle passa a ser de uma única família.
 
— Eu ainda não concordo com isso. — Emma bufou — Quem é
Albert e por que ele te odeia?
 
— Albert trabalhava para mim, mas estava fazendo jogo duplo, o que
me prejudicou. Eu não poderia deixar isso passar em branco, então tirei tudo
que ele tinha e mandei pegarem ele, — respondeu — mas ele escapou e está
me dando mais dor de cabeça ainda.
 
— Eu tenho medo de perguntar o que tudo isso significa, nas
entrelinhas. — Emma falou baixo, se abraçando como se buscasse alguma
segurança.
 
— Então não pergunta, se não estiver pronta para ouvir a resposta. —
Ryan respondeu parando em frente ao prédio.
 
— Antes de descer, eu tenho outra pergunta. — Emma declarou
olhando para Ryan.
 
— O quê?
 
— Você já matou alguém? — Ela perguntou nervosa, olhando para
ele. Era outra pergunta que já sabia a resposta, mas, ainda assim, queria uma
confirmação.
 
— Já. Você não vai conhecer ninguém do nosso meio, que nunca
tenha feito isso. — Respondeu calmo.
 
— Tenha um bom dia. — Emma abriu a porta e saiu do carro sem
olhar para trás. 
 
Ryan, de dentro do carro, esperou até que ela entrasse no prédio, para
sair dali. Até queria poder ir atrás dela, para conversarem melhor, mas,
naquele momento, tinha que trabalhar, ou a situação ficaria ainda pior.
 

 
Emma andava de um lado a outro na cozinha, arrumando a mesa para
jantar, a comida, pedida por delivery, cheirava por todo ambiente. Ficou
parada diante da mesa, decidindo se deveria pôr um lugar para Ryan, ou não,
até ouvir a porta da frente sendo fechada.
 
Saiu da cozinha e o encontrou sentado no sofá, recostado nele e com
os olhos fechados. E foi impossível não notar o machucado em um de seus
olhos.
 
— O que aconteceu com você? — Ela perguntou baixo, se
aproximando.
 
— Não foi nada. — Ryan olhou para ela ao responder, sorrindo
pequeno.
 
— Tem um corte na sua sobrancelha. — Emma falou, averiguando-o
de perto — Tem que limpar, espera.
 
Ryan observou-a sumir pelo corredor e voltar com uma maleta de
primeiros socorros, achou fofo o cuidado e decidiu não falar nada, apenas
observar o que a garota faria.
 
Emma tirou o algodão e o soro fisiológico para limpar a ferida, tendo
o cuidado de passar uma pomada e colocar o curativo em seguida.
 
— Seu olho vai ficar roxo, mas acho que a pomada não vai deixar
inchar tanto. — Explicou se afastando — O que aconteceu?
 
— Problemas no trabalho. — Ryan respondeu simples — Obrigado
pelo curativo.
 
— Que tipo de problema no trabalho te causa um olho machucado?
— Emma insistiu, enquanto arrumava a maleta.
 
— Quando seu pai é seu chefe, e ele fica muito puto e te soca, é esse
tipo. — Ele respondeu com humor, recebendo o olhar surpreso de Emma.
 
— Seu pai fez isso?
 
— Tá tudo bem, não é nada novo, foi só um soco. — Sorriu, tentando
confortar a garota — Já passei por coisa pior.
 
— Isso é horrível, seu pai é ridículo! — Emma falou irritada e saiu,
levando suas coisas.
 
Ryan respirou fundo e foi atrás dela, sabia que Emma não entendia
nada do mundo em que ele cresceu, então tentava ao máximo ter paciência,
além de ter achado adorável o fato dela ter cuidado de si e ficado brava por
ele. Entrou no quarto, logo atrás dela, e a esperou sair do banheiro, onde
guardava a caixa.
 
— O que está fazendo no meu quarto? Você tem que parar de invadir
ele. — Emma reclamou.
 
— Emma… — Ryan falou, se aproximando e puxou-a para um
abraço, a pegando de surpresa — algumas coisas fazem parte do meu
mundo, como me machucar às vezes.
 
— Você é o chefe, não deveria se machucar. — Emma rebateu.
 
— Eu ainda estou treinando para ser o chefe de verdade. — Ele
explicou, apertando a garota em seus braços.
 
— Mas, ainda assim…
 
— É fofo ver você preocupada comigo. — Ryan falou, com um
sorriso de lado, levemente afastado para poder olhar no rosto dela.
 
— Eu não estou preocupada com ninguém, me larga! — Emma
teimou, tentando se afastar.
 
— Você é uma teimosa, mas eu até gosto. — Ryan sorriu e segurou
sua cintura com uma mão, levando a outra até os cabelos dela.
 
— Ryan… — Emma começou a falar, mas se perdeu olhando nos
olhos dele.
 
— Eu sei que você também quer isso… — Ryan falou baixo e cortou
a distância entre eles, colando ambos os lábios.
 
O beijo começou lento, as bocas e línguas se conhecendo, se
descobrindo, Emma sentia o corpo inteiro arrepiar, enquanto sentia o gosto
da tentação em sua boca. Ryan puxava e colava o corpo da garota ao seu,
intensificando o beijo, tomando o controle.
 
E Emma cedia, a cada segundo, um pouco mais.
 
Capítulo 17
Às vezes os desejos se misturam, e os muros caem. Emma se perdia
em seu próprio refúgio interno, estava percebendo que o coração e a mente
tinham vontades diferentes, queria mais do que tudo não ter cedido, mas
desejava ceder ainda mais. E como não chegava a uma conclusão sobre seu
conflito interno, sua solução era se esconder. 
 
Por um tempo indeterminado.
 
— Pronto, foi isso. — Emma concluiu, ao contar para a melhor
amiga sobre o beijo e sobre como expulsou Ryan do quarto no minuto
seguinte.
 
— Você realmente beijou ele? — Darah perguntou, encarando a
amiga.
 
— Se você morasse com um cara lindo, gostoso e que te tratasse
como uma princesinha, queria ver você não ceder. — Emma acusou e Darah
riu alto.
 
— Mas, você colocou ele pra fora depois de beijar. — Darah arqueou
a sobrancelha.
 
— Detalhes, meros detalhes. — Deu de ombros.
 
— Quanto tempo já estão morando juntos? — Darah perguntou.
 
— Quase dois meses, eu acho. — Emma respondeu. — Tem hora
que eu quero matar ele, tem hora que eu quero mamar, eu vou ficar louca!
 
— Fica com ele logo e para de fogo. — Darah sugeriu.
 
— Eu não posso me apegar, você sabe disso. — Emma se defendeu.
 
— É absurda sua ideia de fugir dessa forma. Me pedir para arrumar
documentos? O auge! — Darah falou baixo, para que o segurança não
escutasse. Tinham se encontrado no café favorito de ambas, para conversar.
 
— Se eu continuar usando meu nome, meu pai me acha. Você sabe
disso. — Reclamou.
 
— Você é absurda, não sei como ainda sou sua amiga. — Darah
resmungou com os olhos semicerrados, mas em um tom de brincadeira.
 
— É porque você me ama e é a melhor amiga do mundo. — Emma
sorriu, tentando parecer meiga, e Darah revirou os olhos rindo.
 
— Eu estava pensando… — Darah começou a falar, séria, e Emma
engoliu seco. Sabia que, quando Darah fechava a expressão, o assunto era
realmente sério — Você está me escondendo algo, sinto que tem uma parte
dessa história toda faltando. Quando vai me contar o que é?
 
— Não tinha muito a intenção de contar, não — Emma admitiu,
bebendo um pouco de café em seguida.
 
— Então realmente tem? Pode falar, Emma, estou esperando. —
Darah exigiu. Odiava ficar no escuro, principalmente por saber o ímã de
problemas que Emma era. Não conseguia evitar, se preocupava muito.
 
— É muito complicado — Emma suspirou, não sabia como contar
sobre a máfia, e o que realmente tinha por trás do acordo. No fundo, tinha
receio de que Darah ficasse com medo de ser sua amiga e se afastasse. Para
Emma, não importava a quantidade de pessoas que ela conhecia, Darah era
sua melhor amiga e isso, para ela, era algo insubstituível. 
 
— Nós temos tempo, pode falar. — Darah falou firme — Seja o que
for, eu ainda vou estar aqui, ao seu lado. 
 
— Darah… — Respirou fundo — Por favor, não surta.
 
— Eu não vou surtar. Pelo amor do universo, garota, eu fui arranjar
documentos falsos para você! — Darah sussurrou, mostrando uma mistura
de obviedade e indignação na voz.
 
— Não são falsos, são novos documentos originais. — Emma tentou
se defender.
 
— Não muda o assunto aqui, por favor! — Darah pediu. — Seja
direta, um corte só.
 
— Meu pai é meio que um… mafioso, e a família do Ryan também
é. — Emma falou baixo, nervosa. 
 
— Mafioso do tipo que trafica armas, drogas e tal? Tem uns contatos
fodas na polícia e na política? — Darah perguntou, realmente surpresa.
Apesar de saber que havia algo, não era isso que ela esperava, mesmo sem
saber exatamente o que esperava.
 
— Desse tipo mesmo. — Emma confirmou — E o casamento é um
acordo de paz e união entre as duas famílias, Lancaster e O'Donnell.
 
— Eu estou muito chocada, você sempre soube disso? Eles matam
pessoas? — Darah questionou.
 
— Eu soube no dia em que meu pai contou sobre o acordo de
casamento, e eu acho que não preciso responder a segunda pergunta. —
Emma respondeu.
 
— Isso é… Eu não sei uma palavra que explique. Mas como você se
sente sobre tudo isso? — Darah perguntou preocupada.
 
— Confusa e assustada. Eu achava que tinha uma família incrível e
perfeita, mas depois vi que não é bem assim. Eu só quero ir embora, sumir
daqui, entende? — Emma explicou, e Darah assentiu reflexiva.
 
— Emma, — Darah respirou fundo — como você acha que vai fugir
de duas famílias metidas com máfia? Só por curiosidade.
 
— Eu vou dar um jeito. — Se defendeu.
 
— Eu tô chocada demais para pensar agora. — Darah riu nervosa —
Quando sua irmã chega? 
 
— Amanhã, mas eu não vou contar meu plano. Ela também casou
por causa de um acordo, e está casada até hoje. Talvez ela não aceite bem a
ideia de eu fugir. — Emma falou baixo.
 
— Estou em processamento de informações, favor aguardar. —
Darah brincou e Emma riu.
 
— Pelo menos você não foi embora. — Emma falou, quase em tom
de gratidão.
 
— E por que eu faria isso? Não é como se você tivesse matado
alguém. — Darah respondeu, compreensiva.
 
— Obrigada. — Emma agradeceu sorrindo para Darah, que sorriu de
volta.
 
— Eu te amo e vou morrer de saudade quando você for embora. —
Darah fez bico.
 
— Eu vou te avisar, quando der o tempo certo, sobre onde eu estou e
tudo mais. — Emma riu — Para de drama.
 
— O homem disse que, na próxima semana, eu já posso ir buscar
tudo. — Darah falou em meio a um suspiro.
 
— Então, no máximo, em duas semanas eu vou embora. — Emma
falou decidida.
 

 
Ryan chegou em casa mais tarde, irritado. O dia não tinha corrido
sob seu controle e sua vontade era de sair e encher a cara, aliviar a tensão
com bastante sexo, mas estava preso àquele acordo e cumpriria exatamente
cada norma dele. E mesmo que não fosse nenhum mocinho, ou herói, muito
pelo contrário, aquilo não significava que forçaria qualquer coisa com
Emma.
 
Iria conquistá-la, queria vê-la implorar por seus toques, pedindo por
mais, enquanto gemia seu nome. Sentia até o corpo reagindo a sua
imaginação, que havia ficado ainda mais criativa depois do beijo, e de sentir
a textura aveludada da pele de Emma em suas mãos. 
 
Abriu a porta do seu quarto, travando no lugar ao notar haver uma
pessoa sentada no meio da sua cama, completamente distraída, mexendo no
celular.
 
— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou e Emma deixou o
aparelho cair sobre o colchão devido o susto, xingando o garoto em seguida.
— Você está no meu quarto e ainda me xinga? 
 
— Por que você é tão silencioso para aparecer? Credo! — Emma
reclamou.
 
— Esse é, literalmente, o meu quarto. — Se defendeu — O que está
fazendo aqui?
 
— Eu vou dormir aqui. — Emma respondeu simples.
 
— Acho que eu não entendi. — Ryan riu, achando aquilo realmente
engraçado.
 
— Eu vou dormir aqui. Você pode dormir comigo, ou dormir no sofá
da sala, a escolha é sua. — Emma esclareceu e Ryan arqueou as
sobrancelhas.
 
— Eu sou totalmente a favor. — Ele sorriu malicioso, se
aproximando, a surpresa já tendo passado.
 
— Sai! Sai! — Emma o enxotou, abanando as mãos. — Você acabou
de chegar, vai tomar um banho.
 
— Você manda demais, como que te aguenta? — Ryan perguntou,
revirando os olhos.
 
— Você me aguenta tem dois meses. E, outra, não vamos transar,
vamos dormir. Entendeu, Ryan? — Perguntou, observando o garoto se
afastar e ir em direção ao banheiro — Dormir!
 
— Eu acredito. — Ryan respondeu em um tom malicioso.
 
Emma revirou os olhos, pegando o celular novamente. Não queria se
apegar, mas, ainda assim, queria aproveitar um pouco antes de ir embora.
Não ia admitir em voz alta, mas, por dentro, tinha medo de acabar gostando
de verdade de Ryan e ficar ali, porém, ao mesmo tempo, odiava estar sendo
obrigada a algo e não conseguia se sentir confortável com os segredos da
família, então acreditava fielmente que a melhor das soluções era ir embora.
 
Ficou distraída em uma rede social qualquer, até notar Ryan
aparecendo novamente, usando só uma calça de moletom e deixando a
barriga definida completamente à mostra, os braços cheios de tatuagens.
Subiu o olhar, notando o sorriso malicioso nos lábios dele e seu olhar cheio
de desejo.
 
— Nós… Nós vamos só dormir — Emma reforçou, sem nenhuma
firmeza na voz.
 
— Claro. Se é isso que você quer… — Ryan respondeu, deitando do
lado da garota.
 
— É… É isso que eu quero! — Emma respondeu, engolindo seco e
deitando de costas para ele. — Boa noite.
 
— Mas, você sabe que tem muita coisa que podemos fazer antes de
“só dormir”, né? — Ryan provocou, falando no ouvido de Emma, sem tocá-
la.
 
— Sei, mas não quero. — Emma falou, mas precisou respirar fundo
para manter a postura.
 
— Emma, você sabe que não vai aguentar, então por que começa? —
Ryan perguntou, colocando a mão suavemente na cintura dela, observando
suas reações. — Você quer isso tanto quanto eu, por isso tá aqui.
 
— Você pode estar errado. — Ela respondeu, virando-se de frente
para Ryan sem reclamar da mão dele em seu corpo.
 
— Posso, mas nós dois sabemos que eu não estou. — Ryan a puxou
para perto de si, ficando sobre ela, enquanto sustentava o próprio peso com
um braço, olhando diretamente nos olhos da garota. — Você só precisa dizer
que quer, em alto e bom som. Eu não vou fazer nada sem sua autorização,
mesmo que seu corpo todo esteja gritando o quanto quer isso.
 
— Ryan… — Emma começou a falar, pronta para negar, mas a frase
morreu antes de começar, e ela sorriu de lado — Eu quero.
 
— Boa garota. — Ryan sorriu malicioso e beijou Emma com
intensidade.
 
Emma sentia Ryan pressionando o corpo dele contra o seu, e gostava.
Sentia seu coração acelerando à medida que a mão dele passeava pelo seu
corpo, e sua língua conhecia cada parte de sua boca. Ryan estava provando e
aprovando o sabor doce da garota embaixo de si. 
 
Segurou na cintura dela, apertando-a, e virou na cama, deixando-a
por cima, em seu colo, enquanto ficava sentado encostado na cabeceira.
Emma segurou nos ombros de Ryan, rebolando devagar sobre o volume
escondido na calça, enquanto seu corpo arrepiava com os beijos e mordidas
que ele deixava em seu pescoço.
 
Ryan puxou a camisola de renda azul de Emma para fora do seu
corpo, e parou alguns segundos, apenas admirando o corpo quase nu dela em
seu colo. Ele pressionou Emma sobre seu pau com uma mão, enquanto
enrolou a outra no cabelo dela, puxando para trás para ter acesso fácil ao seu
corpo. Emma gemeu baixo, o corpo repleto de sensações quentes que lhe
faziam perder o sentido. 
 
Ryan beijou e lambeu o pescoço de Emma, até chegar em seu seio, o
beijando, lambendo e mordendo, como se tentasse devorar cada parte dela,
enquanto Emma ainda rebolava contra o pau dele, que implorava para sair
do aperto do tecido e ter um pouco mais de atenção, e Emma arfava com
tantos estímulos.
 
— Ryan… — Ela gemeu baixo quando sentiu-o brincar com o cós de
sua calcinha.
 
— Pode falar, meu amor… — Ryan falou com a voz provocativa,
enquanto a deitava novamente na cama — Quer que eu pare?
 
— Não ouse fazer isso — Ela respondeu com a voz entrecortada.
 
— Só depois que eu acabar com você. — Ryan respondeu, descendo
os beijos pela barriga da garota, enquanto as mãos retiravam devagar o
último tecido que ainda restava nela.
 
As mãos de Emma apertavam os lençóis e seu corpo vibrava pela
antecipação do prazer, ela queria mais. E Ryan estava disposto a dar todo o
prazer que ela quisesse, mas o telefone dele tocou, atraindo a atenção dos
dois.
 
— Eu não vou atender. — Ryan falou rápido, notando a sutil
mudança em Emma, e o telefone tocou uma segunda vez.
 
— Pode atender. — Ela respondeu, respirando fundo.
 
— Não! — Ryan reforçou e voltou a beijar o corpo da garota, mas o
telefone continuou tocando. — Eu vou desligar essa porcaria.
 
— Atende. — Emma falou se afastando dele. — Se estão ligando
tanto, deve ser importante.
 
Contrariado, Ryan caminhou até o celular, que estava em cima da
mesa, enquanto Emma se enrolava no lençol chateada e já totalmente fora do
clima para qualquer coisa. 
 
— Espero que tenha alguém morrendo pra você estar me ligando
com tanta insistência, Derek. — Ryan atendeu o telefone completamente
irritado.
 
— Seu desejo foi atendido, Helena está ferida. — A voz, do outro
lado da linha, respondeu em um tom seco.
 
— Que porra aconteceu? — Ryan perguntou alarmado.
 
— Estou na frente do seu prédio, desce e vamos resolver isso. —
Derek falou. — Você é o chefe e a gente precisa de você agora.
 
— Estou indo, desço em cinco minutos. — Ryan respondeu — Não
importa o que tenha acontecido, ninguém machuca meu pessoal e sai ileso.
 
Ryan desligou a chamada e olhou para Emma, sobre a cama, e foi até
ela caminhando devagar. Estava com ódio pelo que tinha acontecido, e por
ser o chefe naquele momento.
 
— Alguém está machucado, e você tem que ir… — ela disse baixo
— Vai lá, eu vou dormir.
 
— Emma, atacaram meu pessoal, não posso ficar sem fazer nada,
espero que não fique chateada por eu estar saindo assim. — Ryan pediu.
 
— Não estou chateada — Mentiu.
 
— Eu estou vendo que você está. — Ele rebateu.
 
— Você disse, no telefone, que desceria em cinco minutos. Seu
tempo tá quase acabando. — Ela desviou o assunto.
 
— Eu volto assim que der — Ryan falou, enquanto se trocava o mais
rápido possível, e Emma o observava em silêncio.
 
— Cuidado! E volta vivo… e inteiro… — Emma falou, quando ele
já estava na porta.
 
— Eu vou voltar. — Ele garantiu.
 
Emma se enrolou nos lençóis, entendia que ele tinha que ir. Alguém
estava ferido, afinal. Mas, ao mesmo tempo, estava chateada. Chateada
porque havia se entregado, estava ali, completamente ao dispor dele, e ele
teve que sair. Respirou fundo, espantando qualquer pensando, não podia se
apegar.
 
Capítulo 18
Ryan chegou quando o dia já estava quase amanhecendo. Helena
havia sido atacada dentro de casa e ele sabia bem quem tinha feito aquilo.
Sentia ódio por ter tomado uma decisão errada a respeito de Albert, deveria
tê-lo matado logo de cara, mas queria destruir a vida dele primeiro, deixá-lo
sem nada. Porém, uma pessoa que não tem nada mais a perder, não tem
medo de nada. 
 
Cuidou para que Helena fosse tratada e deixou vários seguranças
para que ela ficasse protegida, providenciou para que a equipe médica
cuidasse dela no galpão, pois era mais seguro que um hospital. E, depois de
colocar Victória para procurar por qualquer pista sobre Albert, voltou para
casa.
 
Ryan ficou satisfeito ao encontrar Emma ainda em sua cama. Tomou
um banho rápido e quente, para relaxar os músculos, pois estava cansado e
irritado, a noite havia sido longa e frustrante. Deitou-se na cama, cobrindo-se
e puxando Emma devagar para que ela dormisse abraçada a si. E então não
demorou a cair no sono.
 
Emma acordou um tempo depois, não demorando a perceber que
estava colada em Ryan. Se virou na cama, para que pudesse observá-lo, em
um misto de pensamentos e sentimentos que não conseguia compreender
muito bem. Seus olhos percorreram por cada parte visível do garoto,
conferindo se ele estava bem. Não queria admitir para si mesma que estava
preocupada, mas queria garantir que estava tudo bem.
 
Observou como o rosto dele ficava sereno durante o sono e se odiou
um pouquinho por ter resolvido ceder. Não, Emma não queria mais usar a
palavra ceder, lhe dava uma sensação ruim, de estar sendo colocada contra a
parede e estivesse cedendo por não ter outra opção. Suspirou e então se
odiou um pouco mais, por só ter se permitido algo, por estar indo embora,
como uma forma silenciosa de dizer adeus.
 
Tentou se afastar para levantar da cama, mas Ryan a puxou de volta,
a segurando contra seu peito. Emma respirou fundo, mesmo que uma
pequena parte de si não quisesse sair dali, tinha combinado de se encontrar
com a irmã.
 
— Onde você vai? — Ryan perguntou, ainda de olhos fechados, a
voz rouca de sono.
 
— Bom dia para você também. — Emma respondeu, revirando os
olhos — Que horas você chegou? Você está bem?
 
— Uma hora atrás e estou bem. — Ryan quase riu, achando fofa
aquela preocupação, mas sabia que, se risse, deixaria Emma irritada, a
negação ainda corria em cada centímetro da garota. — Cansado, na verdade.
 
— Então dorme. — Emma respondeu como se fosse óbvio. — E me
solta, eu preciso sair.
 
— Eu vou dormir, mas onde você vai? — Ele se afastou o suficiente
para olhar nos olhos dela — Eu troquei seu segurança, agora é uma pessoa
da minha equipe. Eu quero ter certeza de que você está segura o tempo todo.
 
— Eu acho que não gostei disso. Por quê? O que aconteceu? —
Emma perguntou nervosa.
 
— Eu realmente vou te explicar tudo, mas, por favor, fique perto do
segurança. — Ryan pediu — E onde você está indo? 
 
— Vou me encontrar com minha irmã, é um saco você fiscalizando
para onde eu vou. — Emma reclamou.
 
— Sua irmã também tem segurança, acho que não é preciso que eu
coloque mais um com você — Ele falou e Emma bufou.
 
— Não quero dois seguranças. — Reclamou se afastando e Ryan não
a segurou.
 
— Se for para você ficar bem, até mais — Ele respondeu tranquilo,
se arrumando sobre a cama — Boa noite.
 
— Eu não preciso de mais seguranças. — Declarou saindo do quarto.
Quis bater a porta, mas não o fez, apenas seguiu para seu próprio quarto,
ainda mais irritada. E, só então, foi que bateu a porta. 
 
Se arrumou rapidamente, olhando as horas. Charlotte havia sugerido
que se encontrassem na casa dos pais mesmo, mas Emma se recusava a
entrar na residência da família, não queria ver os pais. Não importava o quão
bem estivesse indo sua relação com Ryan, ainda era um casamento forçado,
ainda não tinha sido algo que ela escolheu. Ainda...
 
Assim que entrou na garagem para pegar seu carro, foi abordada pelo
segurança que Ryan havia falado, até se sentiu um pouco nervosa, nunca
tinha visto aquele homem, mas o fato de seu segurança antigo ainda estar ali,
lhe deu uma certa confiança para entrar no carro com seu novo
“acompanhante”.
 
Fez uma nota mental sobre conversar com Ryan a respeito daquilo
depois. Ele não poderia trocar as pessoas que a acompanhariam, quando bem
entendesse. Mesmo que odiasse ter um segurança colado a si o tempo todo,
ainda preferia saber quem era essa pessoa, se era quem realmente dizia ser.
 
Chegou no shopping, onde havia marcado com a irmã, e foi direto
para o café que havia ali, o ponto de encontro onde elas haviam combinado.
Quando Emma chegou, Charlotte já a esperava, bebendo um cappuccino, e
não notou a irmã caçula se aproximando, o olhar estava perdido em um
ponto qualquer da mesa de madeira.
 
— Oi… — Emma cumprimentou, sentando diante da irmã.
 
— Oi, meu bebê. — Charlotte falou, sorrindo carinhosa.
 
— Como você está? — Emma perguntou, sentindo-se nervosa. Já
fazia dois anos desde que tinha visto a irmã pela última vez, e sempre se
sentia como uma criança pequena quando estava com ela. O dedo indicador
arranhava a mesa, num claro sinal do nervosismo que sentia.
 
— Eu estou bem, e você? — Ela perguntou enquanto estendia a mão
para segurar a da irmã — Desculpa por ter te deixado sozinha com aqueles
dois.
 
— Charlotte… — Emma começou a falar manhosa.
 
— Eu sei, meu amor, o casamento. — Charlotte falou e Emma
apenas acenou — Quando nós conversamos a alguns anos, e decidimos que
você não saberia sobre os negócios ilícitos da família, achei que você não
teria que passar por isso.
 
— Eu não quero passar por isso. — Emma reforçou.
 
— Eu sei que não, mas no nosso mundo…
 
— Eu ainda não considero, esse, o meu mundo. — Emma
interrompeu.
 
— Mas é, não tem o que fazer. — Charlotte falou firme, mesmo que
odiasse ver sua caçula passando por aquilo. — Ele te trata mal? Ele fez algo
com você?
 
— Não! O Ryan é legal, às vezes ele até fica bravo, mas mal levanta
a voz nesses casos. Mesmo quando eu provoco muito, porque eu quero que
ele desista disso. E, às vezes eu fico irritada, porque ele sempre soube do
acordo, e eu não. Mas ele sempre trata muito bem, ele até cozinha pra gente,
de vez em quando. Só tem dois meses que estamos morando juntos e ele é
lindo, um gostoso, pra ser sincera, e beija muito bem, — Emma falou com
um sorriso pequeno e contido, e Charlotte pôde ver o brilho nos olhos da
irmã — mas eu não quero casar com ele por causa de um acordo, e eu só
tenho dezoito anos.
 
— Você gosta dele…
 
— Não! Eu não gosto dele, a gente convive bem, só isso. — Emma
teimou — Eu não quero isso. Se fosse uma escolha minha, ainda, mas não é. 
 
— Esses acordos não têm saída, mas você não está sozinha. —
Charlotte respirou fundo — Você gosta dele, Emma, se permita. Se não fosse
esse acordo, vocês provavelmente nunca se aproximariam.
 
— A gente não sente falta daquilo que não conhece. — Emma
suspirou. — Tudo bem, eu já entendi, não tem o que fazer.
 
Antes que Charlotte pudesse responder, a atendente chegou para
pegar o pedido de Emma. Charlotte sempre foi uma irmã mais velha
cuidadosa e, talvez, a grande diferença de idade entre elas fosse um fator que
tivesse pesado nessa característica de tratar a irmã como um bebê, a fazendo
ir pessoalmente encontrar a irmã para ver como ela falaria do noivo. Tinha
certeza de que, se o garoto estivesse fazendo mal a Emma, não se importaria
em começar uma guerra, pois, ao contrário da caçula, sempre soube sobre os
negócios da família, aprendeu tudo nova, e agora trabalhava com eles,
mesmo morando em outra cidade.
 
Estava satisfeita em ver que Emma estava se apegando, gostava do
brilho que via no olhar da mais nova. Acreditava que logo tudo se acertaria.
 
Emma respirou fundo, não queria mais falar de casamento, ou sobre
a família, só queria aproveitar a irmã, pois, apenas com essa breve conversa,
pode perceber que não poderia contar seu plano para Charlotte.
 

 
Ryan acordou perto do meio-dia, com o telefone tocando ao seu lado.
Atendeu rápido, achando que poderiam ser mais problemas, sequer poderia
se descrever como desperto, porém, muitas vezes agia no automático.
 
— Alô? O que aconteceu? — Perguntou, sem conferir quem estava
ligando.
 
— Boa tarde, Senhor O'Donnell, eu sou responsável pela obra na
cozinha da mansão. — O homem explicou-se — O senhor tem um minuto
para conversar.
 
— Ah, tenho sim! — Ryan respondeu, um pouco mais aliviado,
sentando na cama — A obra está pronta?
 
— Está quase, mas tem algo que me intriga desde o começo dela.
 
— O que seria? — Ryan perguntou enquanto passava a mão pelo
rosto, tentando ficar mais desperto.
 
— Enquanto eu avaliava os estragos, tive certeza de uma coisa, mas
não consegui falar com o senhor antes, e sua noiva simplesmente ignora o
assunto. A questão é que o incêndio não foi acidental, eu tirei várias fotos e
fiz alguns vídeos que provam isso…
 
— Eu quero tudo que tiver. — Ryan falou sério — O que mais sabe
sobre isso?
 
— Conversei com a governanta e ela disse que todos os funcionários
foram dispensados naquele dia. — Ele respirou fundo — Achei importante
que o senhor soubesse.
 
— Eu deveria ter ficado sabendo disso antes. — Ryan declarou com
o tom de voz cortante e o homem engoliu seco.
 
— Vou enviar os arquivos. Quando a obra estiver completa, entro em
contato novamente. — O homem falou. — Boa tarde.
 
Ryan apenas desligou o celular, completamente irritado. Por que
Emma havia colocado fogo na cozinha de propósito? No fundo, até
agradeceu a garota não estar ali naquele momento, pois com certeza
brigariam. 
 
Respirou fundo e se levantou, esperaria até estar em casa com Emma,
para entender exatamente aquela história. 
 

 
Emma chegou em casa, no começo da noite, coberta de sacolas.
Precisou da ajuda do segurança para subir com tudo que havia comprado.
Admitia que era bom ter alguém para ajudar nas compras, e isso até fazia
com que ela odiasse um pouco menos, mas só um pouco, ter um segurança
na sua cola o tempo todo.
 
Deixou tudo em seu quarto, depois daria um jeito nas coisas. O
segurança saiu rapidamente de dentro do apartamento e Emma logo
percebeu que estava sozinha ali, então foi para cozinha, preparar algo para
comer antes de ir deitar. Não sentia vontade de nada elaborado e decidiu
preparar um lanche rápido.
 
— Planejando por fogo aqui também? — Ryan perguntou assustando
Emma, que deixou seu sanduíche natural cair no chão.
 
— Porra, Ryan, minha comida! — Reclamou — Do que você está
falando?
 
— Você colocou fogo na cozinha da mansão de propósito. — Ele
acusou.
 
— Não, eu não coloquei. — Emma garantiu.
 
— Vai continuar mentindo para mim? — Ryan perguntou irritado —
Por que, caralhos, você colocou fogo na cozinha?
 
— Ryan, eu me queimei naquela merda de incêndio, do que você está
falando? — Ela olhou para ele já ficando irritada também. 
 
— O responsável pela obra ligou e me mandou fotos de tudo, eu só
não consigo entender o porquê você fez isso. — Ryan reclamou.
 
— Ryan, tem um mês que as obras começaram. Só agora que vieram
falar disso com você? Eu não coloquei fogo na cozinha de propósito. Ou
você acha que eu, logo eu, teria problema em assumir algo assim? — Emma
riu, mas estava começando a se sentir preocupada.
 
— Por que dispensou os funcionários naquele dia?
 
— Tinha mais de trinta funcionários ali, pra que tanta gente todos os
dias? Dei folga, mas ainda tinham uns vinte seguranças, ou mais. — Emma
respondeu, enquanto abaixava para juntar seu jantar, que estava no chão. —
Qual o nome do homem que te ligou? 
 
— Eu não perguntei, — Ryan respondeu — mas tenho as fotos e os
vídeos.
 
— Jura que você é o futuro chefe? — Emma perguntou ironicamente
— Eu não coloquei fogo em nada de propósito, mas se o fogo foi causado
por alguém, e esse alguém apareceu agora…
 
— Está dizendo que era uma ameaça velada? — Ryan perguntou,
arqueando a sobrancelha.
 
— É exatamente o que eu estou dizendo. — Emma assegurou,
sentindo um arrepio lhe percorrer a espinha — Vamos dormir em um hotel.
 
— Eu não acredito que está tentando me enrolar com isso, custa
admitir? Vai doer? — Ryan perguntou, se irritando novamente.
 
— Eu não vou discutir e nem ficar aqui. — Emma declarou — E
você vem comigo.
 
— Emma…
 
— Emma o caralho, Ryan! — Ela virou-se, ficando de frente para
ele, com um dedo apontado em sua direção — Nesse tempo em que você me
conhece, acha mesmo que eu precisaria mentir sobre isso? Eu sei que você
não está tendo dias bons, mas pensar um pouco mais sobre isso não ia doer.
Eu não coloquei fogo de propósito, para de ser teimoso e me escuta, só hoje!
 
— Emma, se estiver mentindo para mim, você vai ter sérios
problemas! — Ryan ameaçou, com a voz fria e irritada.
 
Emma ignorou completamente a ameaça, alcançou o celular sobre a
mesa e foi até seu quarto pegando um casaco e sua bolsa. Ryan estava na
sala de braços cruzados e irritado.
 
— Acha que tem alguma coisa aqui? Isso é impossível! — Ryan
falou.
 
— Sinceramente, fica aí então. — Emma abanou as mãos — Eu tô
indo embora. Posso ser qualquer coisa, teimosa, maluca, birrenta… mas
ainda amo viver.
 
Emma começou a caminhar em direção a porta, para sair, seguida por
um Ryan ainda irritado e acreditando que ela estava inventando uma
desculpa, quando ouviu um estalo, quase como um pequeno estouro, que fez
Emma se assustar e gritar, quase caindo, mas foi segurada por Ryan a
tempo. 
 
Ryan e Emma puderam ver o fogo crescendo na cozinha, e ela até
queria jogar na cara dele que estava certa, mas não era o momento,
precisavam sair dali.
 
Capítulo 19
Ryan respirou fundo, não perdia o controle em situações tensas
como a que estava vivendo, o que não era o caso de Emma, que travou no
lugar. Já não importava mais se ela estava certa, ou não, estava dentro de um
apartamento em chamas e o sistema anti-incêndio não ligava. 
 
Ryan abriu a porta e fez com que ela saísse, indo para o corredor,
enquanto já tirava o celular do bolso e chamava o segurança que ficava do
lado de fora, pedindo para acionar o alarme de incêndio.
 
— Nós precisamos descer pela escada, o elevador não é seguro em
caso de incêndio. — Ryan explicou, guiando Emma para a escadaria — O
sistema anti-incêndio não está funcionando, ele foi desativado. Temos que
contar com o alarme do prédio para que os bombeiros venham conter o fogo.
Você precisa respirar fundo e caminhar.
 
— Não, a gente tá na cobertura, Ryan, na cobertura! — Emma falou
atordoada, parando na ponta da escada — Eu… mas… o fogo…
 
— Fica calma e olha pra mim — Ryan instruiu, fazendo ela olhar nos
olhos dele — Respira fundo, ficaram dois dos meus homens tentando conter
o fogo no apartamento e não sabemos se tem mais algum explosivo lá
dentro, muito menos como vai ficar a estrutura do prédio. O alarme tá
tocando, está ouvindo? Eu vou estar com você o tempo todo.
 
Emma não conseguia se expressar em voz alta, então apenas acenou
positivamente. Ryan segurou sua mão e começou a guiá-la pelas escadas,
enquanto ligava para Derek. Estava completamente em alerta para qualquer
som e atento aos movimentos de Emma, receoso de que o nervosismo dela a
atrapalhasse ao descer, principalmente pelo fato de que o alarme também
tiraria os outros moradores do prédio. Moradores estes, que começavam a
surgir assustados, descendo pelas escadas também. Pelo fato do prédio ser de
luxo, não havia tantas pessoas por ali, mas isso deixava Ryan ainda mais
alerta sobre ter alguém infiltrado ali.
 
— Alô, Ryan? — Derek falou ao atender.
 
— Vem me buscar, agora! — Ryan mandou. — No momento, você é
a pessoa em que eu mais confio.
 
— Estou saindo de casa, o que aconteceu? — Derek perguntou.
Sabia que, quando o outro falava assim, o problema era grave.
 
— Colocaram explosivos no meu apartamento, eu preciso garantir a
segurança da Emma e ir atrás de quem fez isso. — Ryan explicou e sentiu
Emma apertar levemente a sua mão.
 
— Que merda! Eu já estou no carro, chego em alguns minutos.
Tenham cuidado! — Derek aconselhou, preocupado. Ryan não era só seu
chefe, era também seu melhor amigo.
 
— Não se preocupe e vem logo — Ryan mandou, desligando a
chamada em seguida.
 
À medida que desciam as escadas, Emma conseguia se concentrar
em algo além do pânico momentâneo, seus pensamentos estavam focados
em descer a escada sem cair, nunca odiou tanto morar em uma cobertura,
como odiava agora. Sempre foi sedentária, e as poucas horas que passava em
uma academia não estavam servindo de nada. Vez e outra cogitava sentar no
meio das escadas e ficar ali esperando socorro, mas ainda faltavam dez
andares para descer.
 
— Você está bem? — Ryan perguntou e Emma respirou fundo.
 
— Não, eu estou cansada. Eu sou sedentária, só quero sentar aqui e
ficar esperando. Já estou em um ponto em que não me importo se o que vai
chegar vai ser fogo, ou o resgate — Emma reclamou.
 
— Eu te levo — Ryan falou parando e segurando ela — Sobe nas
minhas costas.
 
— Você não pode estar falando sério! — Emma disse, desconfiada.
 
— Estou falando sério, ou prefere que eu te carregue no colo? Ou no
ombro? — Ryan perguntou arqueando a sobrancelha.
 
— Não, eu consigo descer até o final! — Emma bateu o pé e Ryan
suspirou.
 
— Se é assim que deseja, mas a oferta ainda está de pé — Ryan falou
voltando a andar, enquanto Emma ficou no mesmo lugar.
 
— Ryan? — Chamou, fazendo o garoto parar e olhar para ela — Eu
quero.
 
— Vem, eu te levo. — Ele respondeu calmo, mesmo que parte de si
ainda quisesse provocar, ele não era uma criança e sabia que aquele não era
o momento, via nos olhos de Emma o quanto ela estava realmente cansada e
assustada.
 
Emma cresceu em uma casa segura, sem contato nenhum com os
negócios sujos da família, e sempre atribuiu a segurança reforçada, ao fato
de pertencer a uma família milionária, nunca sequer passou por alguma
situação de risco real. Ao contrário de Ryan, que sempre conheceu os
negócios do pai e, mais do que isso, sempre treinou para assumir o lugar de
chefe. Já havia visto a morte diante de si e sentido o perigo lhe rondando. O
sangue corria frio em suas veias.
 
Conseguiu ir um pouco mais rápido com Emma em suas costas,
sentia a garota segurando em si com força, sequer percebendo quando
chegaram ao térreo. Muitas pessoas estavam por ali, espalhadas, e uma
equipe de bombeiros também já estava no local para apagar as chamas. Ryan
olhou em volta e não demorou a encontrar Derek no meio das pessoas.
 
— Emma, nós chegamos no térreo. — Ryan avisou com sutileza,
ajudando-a voltar para o chão — Derek está aqui, eu preciso que você vá
com ele.
 
— E você? — Emma perguntou, parando em frente a ele.
 
— Eu preciso resolver isso, com ele você vai ficar segura. — Ryan
falou, vendo o amigo se aproximar — Ou, você pode ir para sua casa, eu sei
que você está chateada com seu pai, mas lá você estará segura, ou vá para a
casa dos meus pais.
 
— Sim, porque tudo que eu quero é ir para a casa dos meus sogros,
depois de um atentado — Emma reclamou, e Ryan notou que ela não usou as
aspas ao falar sogros.
 
— Então, para a casa dos seus pais, ou com o Derek? — Ele
perguntou.
 
— Você também sofreu um atentado! — Emma rebateu.
 
— Essa é a minha vida, você não faz parte dos negócios diretamente,
então eu tenho que cuidar para que você fique protegida. Você não tem a
opção de ficar onde eu estiver — Declarou e Emma fechou a expressão.
 
— Também não me importo — Ela deu de ombros — Eu vou para
casa dos meus pais.
 
— Ótimo, o Derek vai te levar — Ryan falou sério acenando para
amigo se aproximar 
 
— Tanto faz… — Desdenhou irritada, mas querendo parecer
indiferente.
 
— Leva a Emma para a casa dos pais dela. Eu vou ligar para
Victória, depois vou para o galpão, falar com a Helena — Instruiu Derek e
não notou o rápido revirar de olhos de Emma.
 
— Depois que eu a deixar em casa, vou para o galpão também.
Vamos resolver isso rápido. — Derek falou — Acha que seu pai vai
interferir?
 
— Provavelmente, chegou na minha segurança — Ryan respondeu,
ignorando Emma com os braços cruzados e um bico nos lábios —
Conversamos mais no galpão.
 
— Certo, até depois. — Derek se despediu e virou para a Emma —
Vamos?
 
— Vamos. — Respondeu, dando de ombros.
 
Derek guiou-a até o carro, e a garota entrou em silêncio. Ele
começou a dirigir e não demorou até Emma começar a observar o garoto
cheio de tatuagens e olhos estreitos. Desejava fazer perguntas, mas não
queria demonstrar estar preocupada depois de ter sido mandada para a casa
dos pais.
 
— Vai, Emma, pergunta logo. Não falta muito para chegarmos. —
Derek falou.
 
— Por que ele foi contra eu ficar junto? — Perguntou e se
arrependeu em seguida — Não quero saber, eu não me importo. Eu nem
queria estar com ele, mesmo.
 
— Sim, estou percebendo isso. — Derek respondeu rindo. — Mas,
sobre sua pergunta, Emma, mesmo que você seja muito esperta, você não
entende como as coisas funcionam. Não sabe, sequer, se defender sozinha.
E, mesmo que vocês sejam dois teimosos, que não falam sobre sentimentos,
Ryan está preocupado com sua segurança, ele não quer que você se arrisque.
 
— Por que ele vai ligar para Victória? Eu não gosto dela! — Emma
reclamou e Derek precisou respirar fundo para não rir de novo.
 
— Ela trabalha com a gente. Pensa no Ryan como chefe: eu sou o
segundo no comando, Helena e Victória, são gerentes, como uma hierarquia
mesmo. Se você trabalhasse com isso, você estaria ao lado do Ryan no
comando e, acima de vocês, por enquanto, os pais de vocês. — Derek
explicou.
 
— Como vocês começaram nesse ramo? — Emma perguntou
curiosa.
 
— Meu pai trabalha para o pai do Ryan. Sobre as meninas eu não
vou falar, porque é a vida delas e… nós chegamos na sua casa — Derek
informou, estacionando o carro em frente ao portão da mansão.
 
— Essa não é minha casa. — Emma murmurou baixo, enquanto saía
do carro, mas Derek escutou.
 
— E onde é sua casa, então? — Derek perguntou com um sorriso
pequeno no rosto — Não se preocupe, eu vou manter ele seguro e a salvo.
 
— Eu não me importo, quero mais que ele se exploda! — Falou alto,
mas dentro de si o sentimento que corria era o exato oposto.
 
Derek não respondeu, apenas riu baixo, enquanto observava a garota
entrar na mansão, logo sendo acompanhada por um segurança. Então ligou o
carro e dirigiu em alta velocidade indo para o galpão.
 

 
Ryan estava dentro de sua sala, sob o olhar enfurecido de seu pai, que
andava de um lado para o outro proferindo ofensas ao filho, que ouvia
calado, enquanto o rosto latejava pelo soco recebido.
 
— Foi para isso que eu te treinei, Ryan? — O homem perguntou
enfurecido. — Foi pra isso que você quis brincar de mafioso? Era melhor ter
ficado sob minha guarda.
 
— Pai…
 
— Não comece com desculpas, Ryan, você não tem mais idade para
isso! — Donald o interrompeu. — Entende que você poderia estar morto por
causa de um erro? 
 
— Sim, senhor. — Respondeu, olhando em direção ao pai. — Ele
com certeza não está agindo sozinho. Ele não tinha nada, mas conseguiu
atacar Helena e a minha casa, duas vezes.
 
— Quando você tiver que matar alguém, o faça na primeira
oportunidade. Você não deixa para depois porque, senão, quem morre é
você, entendeu? — Donald perguntou, olhando nos olhos do filho.
 
— Entendi, isso nunca mais vai se repetir, eu garanto. — Ryan tinha
firmeza na voz — Vou pegá-lo, e o matarei lentamente para fazer com que
pague por isso, e quem estiver com ele, vai morrer junto!
 
— É assim que se fala. Eu não vou me intrometer na sua caçada,
mas, Ryan, se você for a vítima mais uma vez, você perde seu galpão e volta
a trabalhar diretamente comigo. Terá que recomeçar! — O homem falou,
caminhando em direção a porta, parando um pouco antes, para olhar Ryan
— De acordo?
 
— Sim. Mas isso não vai acontecer — Ryan respondeu sério, ainda
mantendo a postura ereta.
 
— É o que eu espero. — Donald declarou e saiu da sala em seguida.
 
Ryan respirou fundo quando a porta fechou, mesmo ela tendo sido
aberta logo em seguida, pela entrada de Victória, que já esperava do lado de
fora.
 
— Nós vamos pegar ele, não vai passar dessa semana. — A ruiva
garantiu, se aproximando, mas Ryan a manteve longe e foi sentar em seu
lugar.
 
— Eu quero encontrar esse desgraçado em, no máximo, vinte quatro
horas. Não teremos descanso, vamos trabalhar até pegarmos ele. É isso, ou
acabou o galpão, acabou para mim. — Ryan anunciou e Victória respirou
fundo.
 
— Você tem os melhores ao seu lado, vai dar tudo certo. — Ela
respondeu na defensiva.
 
— Se fossem os melhores, já teríamos pegado ele e eu não estaria
passando por isso. — Ryan rebateu irritado — Some da minha frente e só
aparece de volta com alguma informação.
 
— Sim, senhor. — Victória respondeu, saindo da sala em seguida.
 
Ryan estava completamente irritado, e não teria dó quando pegasse o
responsável por todos aqueles ataques. Ele nunca havia cometido um erro
tão ridículo, quanto permitir que alguém escapasse de suas mãos dessa
forma, e não deixaria que isso se repetisse quando pegasse o Albert e seu
parceiro, pois tinha certeza de que ele tinha um, mesmo que ainda não
tivesse nenhuma informação adicional.
 
Capítulo 20
Emma entrou em casa consternada, ignorando completamente a mãe
e a irmã, sentadas no sofá. Não queria conversar com ninguém, queria
apenas tomar um banho e ligar para a Darah, pois acreditava que só sua
melhor amiga lhe entenderia naquele momento, já que nem ela entendia a si
mesma. Porém, não foi exatamente o que aconteceu, assim que começou a
subir as escadas, Charlotte foi atrás dela, preocupada com a irmã e sem
entender o que ela fazia ali.
 
Emma sequer fechou a porta e a irmã já estava ali, entrando no
quarto com ela. No andar debaixo da mansão, Carmen refletia se deveria
subir, ou não, já estava brigando com Charlotte na sala e sabia que, se
subisse, brigaria com as duas filhas. 
 
— O que aconteceu, Emma? — Charlotte perguntou preocupada.
 
— Eu quero ficar sozinha, pode sair do meu quarto? — Emma pediu,
ignorando a pergunta da irmã.
 
— Não, eu não posso! Você está com uma cara péssima, cabelo
desgrenhado, roupa amassada, você não é assim. O que aconteceu? —
Reforçou a pergunta.
 
— Charlotte, se eu quisesse conversar já estaria te contando as
coisas, mas o que eu estou fazendo, agora, é te pedindo para sair do meu
quarto, então, por favor, saí! — Emma pediu com uma falsa educação na
voz, estava nervosa demais e ainda se esforçava para se controlar.
 
— Você não precisa ficar na defensiva comigo, eu sempre vou estar
ao seu lado. — Charlotte falou em um suspiro — Tudo bem, se não quer
conversar agora, sabe onde é meu quarto.
 
— Charlotte eu só estou cansada, por favor — Falou em um tom
baixo, quase se sentindo culpada por ter sido grossa com a irmã.
 
— Tudo bem, quando estiver pronta para contar o que aconteceu, me
chama. Eu só quero seu bem — Charlotte falou doce.
 
— Vou fazer isso, não se preocupe. — Emma respondeu, sentindo-se
quase uma criança repreendida.
 
Charlotte sorriu carinhosa para a irmã caçula e se retirou do quarto.
Ela sabia o poder de influência que tinha sobre a irmã, e Emma também
sabia sofrer sob essa influência. Não sabia dizer se era a diferença de idade,
a admiração que criou pela irmã mais velha ao longo do tempo, ou um
combo de todas as coisas. Mas, de todas as pessoas, Emma sempre se sentia
mal por brigar com a Charlotte.
 
Fechou os olhos, respirando fundo, iria tomar um banho quente para
relaxar os músculos, colocar uma roupa confortável e se acalmar. Sentia-se
exausta, como se tivesse sido levada ao extremo, o que não deixava de ser
verdade. Caminhou até a porta do quarto e a trancou, não queria mais
invasões, apenas privacidade.
 
Depois do banho demorado, deitou-se na cama em que já não dormia
há meses, dois em uma conta mais exata. Se preocupava em saber como
Ryan estava, mas não ligaria, não mandaria mensagem. Se ia embora, não
poderia ampliar o apego que estava começando a sentir. Tudo bem ignorar o
desejo, mas não queria, e não podia, gostar, ou se apaixonar, iria embora.
 
Pegou o celular, pronta para ligar para Darah, quando uma batida
forte na porta, seguida de uma ordem para abrir, proferida por seu pai, a
assustou, fazendo com que deixasse o telefone cair.
 
Emma levantou contrariada, quase irritada. Abriu a porta em um
rompante, fechando a expressão ao ver o pai e o cunhado, parados na porta
do seu quarto.
 
— Nós vamos conversar. — John comunicou, entrando no quarto,
sendo seguido por Deniel.
 
— O que o senhor quer aqui? — Perguntou, colocando uma das
mãos na cintura — O que ele está fazendo aqui? 
 
— Por que não me informou sobre o incêndio no apartamento em
que vocês estavam morando? — John perguntou irritado, mas preocupado,
também.
 
— E desde quando se importa? O senhor…
 
— Eu já conheço esse discurso, Emma, chega! — John cortou a
frase. — Exijo saber o que aconteceu lá, porque sou seu pai e eu vou
proteger você. Não me importo se gosta das coisas que decido, ou não; dos
negócios que eu tenho, ou faço. Se sua integridade física foi ameaçada, não
vou ficar parado.
 
— Deniel, sai do meu quarto, o que você está fazendo aqui? —
Emma perguntou ao cunhado, ignorando o que pai disse. Se sentia
desconfortável sob o olhar do outro.
 
— Desculpe, mas o senhor John pediu que eu viesse, para caso você
soubesse de alguma coisa e eu pudesse ajudar a resolver. Eu também
trabalho na máfia. — Ele explicou com calma, apesar de manter a voz e o
olhar frios. 
 
— Eu não sei de nada. — Emma deu de ombros. — Se puderem sair
do meu quarto, ficarei agradecida.
 
— Nós temos que conversar sobre isso. — John falou firme e Emma
respirou fundo, estava exausta do dia, da noite, do incêndio e da bagunça
dentro de si.
 
— Eu vou conversar com o senhor, pai, amanhã. Me deixa quieta
agora, por favor — Emma pediu, olhando para John.
 
— Logo depois do café da manhã — Ele avisou.
 
— Tudo bem, eu só preciso descansar agora. — Emma concordou.
Só queria que os dois saíssem logo dali. Não tinha sequer forças para brigar.
 
— Boa noite! — John desejou, enquanto saia do quarto com uma
expressão nada boa em seu rosto, acompanhado por Daniel.
 
Emma respirou fundo e voltou para a cama, não pegou o celular
dessa vez. Apenas apagou as luzes e fechou os olhos, querendo descansar,
tentando não pensar muito, tentando não sentir nada.
 

 
Derek entrou na sala de Ryan, e sua expressão nada boa demonstrava
que não havia dormido ainda. Estava cansado, mas estava ainda mais
preocupado e trazia consigo notícias nada pouco boas. Ryan estava de pé,
olhando a janela, enquanto falava ao telefone. Sobre a mesa, vários copos de
cafés e, no canto da parede, alguns cacos de vidros espalhados.
 
— Bom dia! — Derek falou, atraindo a atenção de Ryan, que apenas
acenou para que ele se sentasse. 
 
Em poucos minutos, Ryan sentou em sua cadeira, colocou o celular
sobre a mesa e deu um gole grande no café. Os olhos vermelhos
demostravam que não teve sequer uma hora de descanso. Não estava
irritado, estava furioso.
 
— O que você descobriu? — Perguntou sendo direto.
 
— Eu fui até a Kellie, para podermos verificar as câmeras do prédio
de vocês. Ela hackeou o sistema e, realmente o Albert esteve por lá, e ele
estava conversando com o segurança da Emma. — Derek falou — O
segurança da família dela.
 
— Como ele conseguiu entrar? — Ryan perguntou, massageando as
têmporas.
 
— Com a ajuda do segurança. Eu conversei com nossos soldados,
que estavam fazendo a segurança, eles disseram que não viram o Albert, mas
existe uma falha nas câmeras. Alguns momentos estão claramente cortados.
— Derek explicou — Eu acredito que outra pessoa entrou lá, alguém que
entende de sistemas e computadores, já que também desativaram o sistema
anti-incêndio.
 
— O segurança da família dela? Será que o Albert comprou esse
segurança, ou ele está associado a alguém de lá? Se for esse o caso, Emma
não está segura ficando na casa da família dela. — Ryan constatou — Vou
levar ela para casa dos meus pais.
 
— E o que vai fazer a respeito do Albert?
 
— Primeiro, quero que ache o antigo segurança da Emma, e tire dele
todas as informações que puder. Use o método que achar melhor. — Ryan
falou e Derek sorriu sádico — Segundo, os soldados que estavam
responsáveis pela minha segurança, e falharam, coloque-os no porão.
Descubra se há algum traidor e, se tiver, mate-o. Aos outros, uma punição
basta, para ficarem mais espertos.
 
— Isso vai ser ótimo para me distrair, — Derek falou ainda sorrindo
— mas eu descobri mais uma coisa.
 
— O quê? — Ryan perguntou chocado.
 
— Eu pensei que, talvez, o Albert tivesse trocado de nome, ou algo
assim, para conseguir se hospedar e passar pelos lugares sem que lhe
reconhecessem, então fui no melhor fabricante de identidades da cidade, e o
que descobri não foi sobre o Albert, foi sobre a Emma. — Derek colocou
uma pasta sobre a mesa — Ela mandou fazer uma identidade nova. Todos os
documentos que ela precisa para sumir do mapa estão aí.
 
— Ela achou mesmo que fugir seria a solução? — Ryan perguntou,
irritado, e Derek ficou calado. Sabia que o questionamento era uma retórica
— Estive sendo legal esse tempo, mas, chega, vou ter uma conversa com a
Emma sobre isso! Como você descobriu sobre ela?
 
— Eu gentilmente entrei na casa do cara, procurando por alguma
coisa do Albert e, como eu estava com um pouco de pressa, educadamente
resolvi ajudá-lo a procurar entre as pastas, e achei essa da Emma —
respondeu sarcasticamente. A verdade é que havia arrombado a porta do
falsificador às três da manhã, posto uma arma na cara dele e revirado todos
os documentos, e Ryan sabia que havia sido assim, mas não se importava —
A amiga, Darah, fez tudo. Provavelmente por causa dos seguranças sempre
em volta da Emma. E ela ia buscar tudo hoje.
 
— Pode ir, eu vou resolver isso. — Ryan falou firme, dispensando o
amigo, e Derek se levantou.
 
— Dorme antes de ir falar com ela e, mais tarde eu volto, para trazer
mais notícias — Derek disse enquanto saía da sala, mas Ryan não respondeu
nada, apenas virou sua cadeira, voltando a olhar pela janela.
 

 
Emma acordou depois das nove da manhã, ficou olhando para o teto
enquanto tentava despertar completamente para levantar. Completamente
imersa em seus pensamentos, distraída. Até seu celular começar a tocar sem
parar.
 
— O que foi? — Emma atendeu, um pouco irritada por ter sido
obrigada a sair do seu ponto neutro.
 
— Presta atenção, que eu vou falar bem devagar! — Darah orientou,
em uma mistura de irritação e desespero — Um mafioso invadiu a casa do
falsificador e roubou sua pasta.
 
— Quê? Como assim, Darah? — Emma perguntou, sentando-se
rapidamente — Quem fez isso?
 
— Eu não sei, tá legal? Ele não disse. Só falou que não queria morrer
por entregar nome de gente perigosa. Fodeu Emma, ele falou meu nome para
um mafioso! — Darah alertou nervosa — E se for alguém que odeia sua
família, ou… eu não sei.
 
— Eu também não sei, mas vou pensar em algo, não saí de casa. —
Emma falou preocupada — Eu estou na casa dos meus pais.
 
— Por quê? — Darah questionou.
 
— Ontem colocaram fogo no apartamento do Ryan com a gente lá,
não sei como. E parece que aquele incêndio na mansão também não foi tão
acidente, como a gente achava — Emma explicou, e já estava em pé
andando de um lado para o outro tentando aliviar o nervosismo.
 
— E, se foi essa pessoa? — Darah perguntou nervosa — Escuta, ele
me entregou uma pasta com tudo, ele disse que sempre faz tudo dobrado,
mas você não pode mais usar o nome que o mafioso que roubou as coisas
sabe. Emma, o que a gente vai fazer? Meu Deus! A gente vai morrer.
 
— Cala a boca, Darah, ninguém vai morrer! — Emma rebateu — Eu
vou dar um jeito nisso.
 
— Como?
 
— Eu não sei, mas confia em mim! — Emma pediu e Darah respirou
fundo, mesmo que os olhos estivessem cheios de lágrimas prestes a cair.
 
— Eu só tenho essa opção, não deixa a gente morrer — Darah
respondeu e logo desligou.
 
Emma ficou olhando a tela do celular sentindo o coração doer, estava
enfiada em problemas e, pior, colocou sua melhor amiga nisso sem sequer
pensar nas consequências que poderiam chegar até ela. Sentiu os olhos
enchendo de água e o peito de dor. Quando estava prestes a bloquear o
celular uma mensagem brilhou na tela fazendo Emma gelar.
 
Capítulo 21
Leu pela terceira vez a mensagem e ainda não conseguia acreditar
no que via. O dia ficava cada vez pior e ainda estava só começando.
 
Desconhecido
 
Você não é o meu alvo, mas está ficando muito no caminho, então,
em troca de eu deixar você viva, vai me ajudar a destruir ele. (09:50)
 
Mais tarde vou te mandar um endereço, esteja lá (09:51)
 
Deixou o celular sobre a mesa e entrou no banheiro. Tomou um
banho longo tentando relaxar, mas sua mente estava uma bagunça, e o mais
difícil era saber em quem confiaria: nos pais? Na irmã? Ryan?
 
Emma quase chorou no banho, quase.
 
Saiu do banheiro e vestiu uma roupa confortável, flexível e prática.
Pegou o celular e colocou no bolso, não sabia ainda o que faria, mas pensaria
com calma até a próxima mensagem chegar, e desceu as escadas, indo em
direção a cozinha. Mesmo em meio ao caos do seu dia, queria comer um
pouco da comida da Marie, sentia saudade.
 
Entrou na cozinha e sentou-se à mesa, olhando Marie andar de um
lado para o outro, com um sorriso pequeno enfeitando o rosto.
 
— Bom dia, menina, o que está fazendo aqui? — A senhora
perguntou.
 
— Essa ainda é a minha casa — Emma contestou fazendo bico e
Marie riu.
 
— Estou falando sobre você estar na cozinha e não na sala de jantar
— Ela explicou.
 
— Aqui é mais difícil de eu ser encontrada pelas pessoas que vivem
nesta casa e eu quero comer em paz — explicou.
 
— Tudo bem, vou fazer seu café da manhã favorito — Marie
informou
 
Enquanto a senhora preparava a refeição ao gosto da garota, Emma
desbloqueou o celular e abriu novamente a mensagem, tinha certeza de que
ela havia sido enviada de um celular descartável, e batia o pé no chão,
nervosa, como se o ato fosse aliviar a tensão que estava sentindo.
 
— Se você achasse que não pode confiar em ninguém, mas está com
um problema que não pode resolver sozinha e teria que confiar em alguém,
como saberia com quem falar? Como saber em quem confiar? — Emma
quebrou o silêncio, atraindo a atenção de Marie, que já levava à mesa o suco
e uma panqueca.
 
— Eu sempre sigo meu coração, e confio naquilo que o deixa em
paz, então eu escolheria a pessoa que mais me tranquiliza, uma que não me
faça sentir culpa, dor ou mágoa. Alguém que eu teria a certeza de que não
me largaria em meio ao caos. — A senhora falou com suavidade — Às
vezes o medo faz com que enxerguemos as coisas de maneira distorcida,
completamente diferentes do que realmente são, mas não podemos deixar o
medo dominar. Você nunca vai saber se pode confiar em alguém de maneira
íntegra, ou não, mas também não pode deixar de confiar por esse motivo.
Pense da seguinte maneira: você é sempre cem por cento sincera com as
pessoas ao seu redor? Sem segredos, sem máscaras, sem omissões? Você não
pode cobrar aquilo que não oferece.
 
— Marie… — Emma começou a falar, mas desistiu, focando sua
atenção na comida sobre a mesa. Um pouco mais confusa que antes e mais
triste também. Cada rosto de sua família passava por sua mente, mas ela não
sentia que poderia falar sobre tudo abertamente com nenhum deles. 
 
— Toma seu café da manhã e pensa com calma sobre o que quer que
seja que você precisa fazer, mas não faça nada sem pensar. E nem sozinha.
— Marie passou a mão no cabelo de Emma em um gesto carinhoso — Você
não está sozinha.
 
— Obrigada, você sempre sabe o que falar. — Emma respondeu em
tom baixo.
 
— É a idade. Com o tempo aprendemos muitas coisas. — A senhora
respondeu enquanto se afastava.
 
Emma começou a comer devagar e, enquanto refletia sobre as
palavras de Marie, sentia-se estranha ao se ver dividida entre duas pessoas:
Charlotte e Ryan. Não queria contar seus planos para os dois, mas teria que
fazer. Desbloqueou a tela do celular e releu a mensagem. Você não é meu
alvo. Alvo… E com isso em mente, Emma decidiu que deveria falar com o
Ryan, a melhor pessoa para decidir o que fazer e como fazer. A pessoa na
mira era ele, então ele deveria ser informado.
 
Digitou o número e esperou chamar, mas a chamada caiu sem ser
atendida. Respirou fundo e estava começando a mandar uma mensagem
quando viu seu pai entrando na cozinha.
 
— Bom dia! Pronta para conversar? — John perguntou olhando para
a filha.
 
— Pronta, pode falar. — Emma respondeu cansada, abandonando de
vez a comida mal tocada no prato. Acreditava que o dia não poderia ficar
pior.
 
— O que aconteceu ontem? — Ele perguntou firme.
 
— Tudo que sei é que o apartamento do Ryan foi atacado. — Ela
respondeu simples — Eu não tenho envolvimento com nada, não tem como
eu saber de detalhes. 
 
— É realmente tudo o que sabe? Se estiver acontecendo algo que
ameace sua segurança, eu preciso saber! — John falou sério.
 
— O senhor é o chefe da máfia. Se estivesse acontecendo algo,
deveria saber por conta própria e não precisar que uma adolescente de
dezoito anos te contasse. — Rebateu, mas mordeu a bochecha por dentro.
Queria falar, mas, naquele momento, não queria pedir a ajuda do pai, sabia
que ele surtaria sobre os documentos e o pensamento sobre fugir.
 
— Emma, como você pode ser tão complicada assim? — Questionou
em um suspiro — Mas, você está certa. De qualquer forma, por enquanto
você tem que ficar sob minhas vistas, não quero você saindo de casa.
 
— Mas eu preciso sair. Tenho algumas coisas para resolver! —
Emma teimou, ficando de pé.
 
— Podem ficar para depois. Você não sai! — John ordenou. E, sem
dar tempo para que Emma respondesse, saiu da cozinha, a deixando sob o
olhar compadecido de Marie.
 
— Ninguém me pergunta o que eu quero, o que eu preciso ou que eu
sinto… — Emma falou baixo, em meio a uma risada de dor. — Eles, todos
eles, acham que não tenho capacidade nenhuma para escolher o que é
melhor para mim, só mandam e mandam. Eu tô cansada!
 
— Emma…
 
— Tá tudo bem, Marie, vou dar um jeito. — Emma falou com a voz
quebrada, triste.
 
Pegou seu celular sobre a mesa e saiu da cozinha, se deparando com
o cunhado na sala de jantar, que era ao lado. Sorriu pequeno em
cumprimento e caminhou direto para o seu quarto, ligaria para Ryan até ele
atender. 
 
“Já tá tudo dando errado, não tem como o dia piorar.” era o que
Emma pensava, mas sempre há um jeito.
 

 
Ryan acordou sentindo cada músculo do corpo doendo. Havia
dormido não mais que umas três horas, no sofá do escritório, e apenas
porque sua mente implorava por um momento de descanso. O celular sobre a
mesa de centro tocando incansavelmente.
 
Ryan sentou, passando a mão no rosto, e alcançou o celular.
Respirando fundo ao ver o nome da Emma na tela, não estava com nenhuma
paciência naquele momento.
 
— O que você quer? — Perguntou ao atender o celular.
 
— Achei que tava morto, tô tentando falar com você há horas! —
Emma reclamou.
 
— O que, pra você, não seria ruim, certo? — Perguntou irônico — O
que você quer, Emma?
 
— Ryan, não me estressa. Quando eu dei a entender que eu queria
você morto? 
 
— Me ligou pra quê? Tô sem tempo! — Ryan perguntou, ignorando
a fala de Emma.
 
— Preciso que você me tire da casa do meu pai. — Emma pediu —
Preciso falar com você e não pode ser por telefone.
 
— Vou repetir, estou sem tempo! — Ryan respondeu em um tom
seco.
 
— E eu disse que precisamos conversar, é importante. Será que pode
confiar em mim um pouco? — Emma perguntou exasperada.
 
— Não acha que está pedindo muito? Eu posso, mesmo, confiar em
você? — Ryan rebateu e Emma engoliu seco.
 
— É importante. Vem ou não? — Perguntou séria.
 
— Não, estou ocupado. — Respondeu firme.
 
— Depois não diz que não tentei…
 
— Emma? — Ryan escutou uma voz feminina interromper Emma,
que não desligou a chamada, então decidiu não desligar também — Está no
telefone com alguém?
 
— Não, acabei de desligar. Estava falando com o idiota do meu
noivo — Emma respondeu, enfatizando a palavra idiota, queria que ele
escutasse essa parte.
 
— Podemos conversar? — a segunda voz perguntou.
 
— O que você quer, Charlotte? Eu já contei tudo o que sei para o
papai. — Emma respondeu cansada.
 
— Eu quero conversar sobre um assunto que diz respeito a nós duas
e apenas nós duas — Charlotte falou incisiva.
 
— Pode falar…
 

 
— Pode falar. — Emma disse, indecisa se desligava, ou não, a
chamada, mas sentindo que não conseguia apertar o botão.
 
— Vou começar pelo principal: você gosta de verdade do Ryan? —
Charlotte perguntou diretamente.
 
— Como isso pode ser um assunto nosso? — Emma questionou
confusa.
 
— Emma, eu sou a mais velha, sempre estive a par dos negócios.
Casei, e continuo casada com um mafioso, mas sabe quem foi escolhida para
“herdar o trono”? Você! — Charlotte falou em um misto de indignação e
raiva — Não exatamente você, porque, sinceramente, você não sabe fazer
nada, ou comandar nada. Mas seu futuro marido…
 
— Eu nunca quis nada disso! — Emma se defendeu, um pouco
assustada. Nunca havia visto tanta raiva nos olhos da irmã. Ryan, do outro
lado da linha, ficou em estado de alerta.
 
— É ainda pior, porque se você quisesse, teria se esforçado. Mas não
é essa a questão. — Charlotte falou um pouco mais calma. — Eu nunca te
faria mal, Emma, você é minha caçulinha.
 
— Por que estamos tendo essa conversa? — Quis saber, se sentindo
acuada.
 
— Quero meu lugar como herdeira e quero provar meu valor
conquistando a cidade. — Charlotte explicou calma.
 
— Você me mandou a mensagem? — Emma perguntou, um pouco
chocada.
 
— Não, isso é coisa do Deniel. Ele acha que você vai se virar contra
a gente, mas, Emma, você não quer esse casamento. Se me ajudar…
 
— Isso não significa que eu queira que algo aconteça com ele. Não é
bem assim! — Respondeu nervosa. — Vocês tiveram envolvimento com o
incêndio na mansão e no apartamento?
 
— Você estar no segundo foi um acaso, um erro de cálculo. —
Charlotte respondeu friamente e Emma apertou o celular na mão, tentando
evitar tremer. 
 
— Era para eu ter morrido no primeiro? — Emma rebateu, ainda
mais nervosa.
 
— Não, claro que não! — a mais velha disse, tentando se aproximar,
mas Emma se afastou. — No começo era para o Ryan levar a culpa sobre o
primeiro incêndio e, você, do segundo. Para ocasionar brigas e deixar vocês
afastados. Emma, eu quero você bem. Quando eu tiver tudo, você poderá
viver como sempre quis.
 
— Você precisa de terapia, Charlotte. Tem outras formas de resolver
isso. — Emma tentou amenizar.
 
— Oh, meu bebê, você não sabe como as coisas funcionam. —
Charlotte falou em um tom meigo — Mas vou cuidar de tudo. E quando eu
precisar de você, venho aqui te buscar. 
 
— Precisar de mim, pra quê? — Emma perguntou, seu tom de voz
mostrando o desespero e o medo que estava sentindo.
 
— Foi fácil perceber que você pode ser uma boa isca para atrair o
Ryan. Depois que o filho cair, ficará fácil para derrubar o pai. — Charlotte
falou ardilosa. — Até depois, meu bebê.
 
Charlotte se aproximou de Emma e beijou a testa da irmã
carinhosamente, saindo do quarto logo após. Emma sentou na cama
acreditando que, se ficasse em pé um minuto a mais, cairia no chão. Levou o
celular até o ouvido.
 
— Oi… — Disse em um tom baixo, quebradiço.
 
— Eu escutei tudo! — Ryan falou — Você queria ter falado comigo
sobre a mensagem que citou?
 
— Sim. — Respondeu também baixo, com medo que Charlotte
escutasse ela ao telefone.
 
— Vou te tirar daí e pensaremos em uma solução juntos, tudo bem?
— Ryan falou suave — Tentar ficar calma e não contar para ninguém que
estou sabendo desse plano maluco da sua irmã. Agora, desliga a chamada e
me espera. E não desafia ela, não sabemos se seu pai está envolvido, ou não.
Sei que eles são sua família, mas chegaremos em um consenso.
 
— Ok! — Emma concordou e desligou a chamada, deixando seu
corpo cair de vez sobre a cama e uma lágrima escorreu pela face.
 
Se fosse desse mundo, saberia o que fazer? Deveria ter apoiado
Charlotte? Era sua família, mas, ao mesmo tempo, não conseguia ver como o
plano dela estava certo. Não queria ver Ryan ferido, mas também não queria
sua família machucada. Emma odiou fazer parte da Máfia e, como não era
algo do qual poderia escapar, odiou não saber nada.
 
Capítulo 22
Ryan respirou fundo várias vezes, não podia fazer nada de cabeça
quente, e ficou grato por Emma não ter desligado a chamada. Sabia que não
poderia ligar para o pai e pedir ajuda. Dessa vez não tinha nada a ver com
provar seu valor e sua capacidade de comando, mas, sim, com não fazer
disso uma guerra. E só não faria uma, por causa de Emma.
 
Ainda tinham questões pendentes, mas Ryan tinha, agora, urgência
em ajudar Emma a sair daquela casa. Não poderia simplesmente invadir o
lugar e levá-la embora, ou poderia? Respirou fundo novamente, enquanto
esperava por Derek e Victória, para lhes dar comandos e agir. Precisava de
Helena também, mas sabia que sua comandante ainda precisava de algum
descanso antes de ir trabalhar também. 
 
Derek entrou na sala, seguido por Victória e Helena, o que causou
uma pequena confusão em Ryan. O que Helena fazia ali? Puxou o ar com
força, pois já sabia a resposta. Não importava o quanto implicassem, ou
brigassem, um com o outro, os três eram fiéis a Ryan e seriam capazes de
morrer se isso significasse protegê-lo, conheciam suas posições na
hierarquia.
 
— Viemos o mais rápido que deu. — Derek falou com uma
expressão séria — O que precisa?
 
— Eu já descobri quem está por trás de tudo! — Ryan começou a
falar, atraindo a atenção completa dos três — Estava óbvio que o Albert não
era o cabeça. Ele encontrou alguém disposto a ser a pessoa por trás dos
ataques e financiar tudo. 
 
— E quem é o parceiro dele? — Victória perguntou. — Quem vamos
matar?
 
— Não vamos, ainda. Preciso pensar com calma em como resolver
isso…
 
— Calma, como assim, calma? — Derek perguntou em um tom
quase irritado — Eles já atentaram contra a Helena e contra você, Ryan.
 
— Eu sei. A questão é que quem está por trás do Albert são a irmã e
o cunhado da Emma. — Ryan explicou e o choque passou rapidamente pelo
rosto dos três presentes.
 
— E o acordo de paz? Estão quase unificando as famílias, isso não
faz sentido. — Helena falou, era a única sentada, mas isso era devido à
torção no pé, que já estava quase curada, mas preferia não forçar, só caso
fosse realmente preciso agir. Já as feridas que estavam espalhadas pelo
corpo, já estavam quase cicatrizadas.
 
— Aparentemente, Charlotte não se importa com o acordo. — Ryan
falou como se fosse óbvio — Presta atenção agora! Helena, você acha que
consegue trabalhar, ou precisa de mais tempo?
 
— Estou pronta para o que você mandar! — Ela respondeu firme.
 
— Certo! Derek e Helena vão procurar Albert no território dos
Lancasters. Eu e a Vick vamos para a casa da Emma, buscá-la. — Ryan
começou a explicar seu plano — Levem os melhores homens, não podemos
ir com uma quantidade grande para não parecer um ataque. Estarei na casa
do John e lá consigo a autorização para vocês entrarem. Com certeza o
Albert tá escondido por lá, por isso estava tão difícil achar esse rato-de-
esgoto.
 
— Como tem certeza que o Lancaster vai autorizar? — Victória
perguntou, arqueando uma sobrancelha.
 
— Eu não tenho certeza se o John está envolvido no plano louco da
Charlotte, ou não, mas ele não vai negar isso na minha cara. A situação
ficaria ainda pior, porque eu poderia acusá-lo de estar acobertando alguém
que atentou contra a família, e nós somos uma única família, agora. Sem
contar que Emma estava nos dois atentados e eu ainda não envolvi meu pai,
mas se for necessário para garantir a segurança de todos, eu farei — Ryan
esclareceu decidido.
 
— Tudo depende de como, e o quanto John está envolvido. Ou isso
vai acabar em uma guerra. — Helena falou constatando os possíveis
acontecimentos — E a Emma? Ela está, literalmente, no meio de tudo, mas
se a corda arrebentar, sabe qual lado ela vai escolher?
 
— Não, eu não sei. — Ryan respondeu sincero — Enquanto ela
estiver do meu lado, cuidarei para que ela fique bem, mas se ela escolher a
família dela, eu não posso fazer nada.
 
— Já falou sobre aquilo com ela? — Derek perguntou, atraindo o
olhar curioso de Helena e Victória.
 
— Ainda não tive tempo, mas quando eu a trouxer para cá, vou falar
sobre isso. — Ryan respondeu sério. — Agora, vão fazer o que mandei.
Victória, está pronta para ir?
 
— Estou. — A ruiva respondeu de imediato.
 
— Estamos indo. — Derek falou indo ajudar a Helena — Nos avise
assim que estiver com a autorização.
 
— Avisarei. — Ryan falou enquanto pegava sua arma na gaveta e
colocava em seu coldre de cinto — Vamos Victória.
 

 
Ryan tinha autorização para entrar na casa dos Lancasters, afinal, era
o noivo de Emma. Então, assim que parou o carro para se identificar, logo
teve seu acesso autorizado e os portões foram abertos. Entrou com o carro no
terreno da casa, estacionando em frente a entrada da mansão, e desceu do
carro, seguido por Victória, e ambos tinham uma expressão fechada no
rosto. 
 
Foram recebidos por Marie, que educadamente os convidou para
entrar e aguardar na sala. A senhora chamou primeiro por Emma, no quarto,
que se apressou em descer indo de encontro a Ryan, mas não gostando de
encontrar Victória ali.
 
— Você veio! — Emma falou com um sorriso pequeno.
 
— Já está tudo sob controle, arrumei outra casa para nós. — Ryan
falou de maneira leve, sorrindo para Emma. Victória sentiu vontade de
revirar os olhos, mas se manteve quieta e levemente afastada, como uma
segurança, apenas observando a pessoa a quem está cuidando.
 
— Ryan, não esperava que viesse aqui enquanto a pessoa que atacou
vocês está à solta. — John falou, entrando na sala seguido por Deniel —
Você não cuidou direito da segurança da minha filha.
 
— Sinto pelo que aconteceu, mas ela está bem justamente porque eu
estava lá. — Ryan respondeu sem vacilar a voz — E é justamente por isso
que estou aqui, já sei quem fez os ataques. É um homem que vem me dando
dor de cabeça há alguns dias, mas descobri que ele está se escondendo no
seu lado da cidade. Estou aqui para que você autorize meus homens a
entrarem lá para pegarem ele.
 
— No meu território? — John perguntou — Tem certeza?
 
— Sim, senhor! — Ryan respondeu olhando para John, mas sem
deixar passar despercebida a expressão fechada e irritada de Deniel.
 
— Tem minha autorização. Se precisar da ajuda dos meus homens,
eles estão a disposição. — John falou firme — E quando encontrar esse
desgraçado, me avise, quero ver a cara do filho da puta que achou que
machucaria minha filha e sairia impune.
 
— Victória, avise ao Derek que o senhor John deu a autorização. —
Ryan falou com um sorriso de lado. Emma se aproximou dele ao ver a irmã
parada na escada, sentindo seu coração acelerar, assustada com o olhar que
recebia da mais velha. — E Emma vai comigo para casa, ela é minha noiva e
deve ficar sob meus cuidados.
 
— Se ela quiser, pode ir com você, mas se algum outro atentado
acontecer, eu romperei esse acordo, já que nos termos discutidos por nós,
havia ficado claro que ela deveria ficar bem e segura o tempo todo! — John
declarou, deixando Emma completamente confusa — Vou ligar para avisar
meus homens. 
 
Emma não conseguia sequer se expressar, sentia-se completamente
acuada naquele ambiente e confusa sobre o pai. Primeiro ele a mandou casar,
sem ao menos perguntar o que ela queria; depois disse que iria romper o
acordo como se fosse nada. Realmente não entendia as decisões daquele
homem. Porém, além disso, sentia o olhar de Charlotte e Deniel sobre si,
queimando-a, e estava desesperada para sair dali.
 
Se tratando dos últimos acontecimentos, não seria uma briga, ou
gritos, que fariam alguma diferença. Dada a situação, sequer sabia como se
impor. Emma quase foi morta, ou no mínimo, gravemente ferida, por alguém
de dentro da família, e isso a perturbava ao ponto de abalar sua estrutura.
Algumas coisas eram ainda mais difíceis de lidar.
 
— Emma, podemos conversar um minuto, antes de você ir? —
Charlotte perguntou carinhosa, entrando de vez na sala quando John os
deixou ali.
 
— Não! Depois marcamos algo, quando tudo isso acabar. — Emma
respondeu com um sorriso falso.
 
— Tenho muitas coisas para fazer, não posso esperar. — Ryan falou,
segurando a mão de Emma.
 
— Deveria conversar com sua irmã, é importante ouvir o que a nossa
família tem a dizer. Nunca sabemos quando é nosso último momento. —
Deniel falou em um tom frio, e todos os presentes na sala entenderam a
ameaça velada.
 
— Não, não sabemos quando é, mas temos que tomar muito cuidado
com o que fazemos, e não queremos que ele se antecipe, certo? — Ryan
devolveu a ameaça — É sempre bom cuidar onde se está pisando. Às vezes,
você pode acabar pisando em falso.
 
— Vamos embora, por favor. — Emma pediu, interrompendo o que
quer que o cunhado fosse responder.
 
— Claro, meu bem— Ryan respondeu, guiando Emma para fora da
casa.
 
Ryan entendia o jogo perigoso em que estava e precisava ficar atento
a tudo, em todo momento. Não poderia fazer um ataque direto. E agora, ao
pegar Albert, não receberia ataques diretos, mas a disputa pelo controle
estava apenas começando. 
 
Capítulo 23
Ryan dirigiu de volta ao galpão, pois ainda não tinha, de fato,
providenciado um lugar para ficarem. Queria uma casa mais escondida e que
fosse mais segura. Ninguém havia dito nada durante todo o caminho, Emma
estava completamente imersa em seus pensamentos e sentimentos. 
 
Quando o carro parou na garagem, Victória foi a primeira a descer. O
clima estava tão pesado, que sabia que o mais seguro era não deixar
nenhuma provocação ali. Mas não foi longe, ainda manteve o olhar sobre o
veículo, distante o suficiente para não ouvir nada, e perto o bastante para
vigiar.
 
Emma não fez nenhuma menção em sair do carro, olhava para um
ponto fixo, ainda mergulhada no completo desespero, que borbulhava sua
mente com pensamentos confusos e preocupados. Sequer pensou em como
resolver o problema dos documentos quando sua irmã bateu na porta do
quarto, definitivamente não tinha como pedir ajuda em casa.
 
— Emma! — Ryan a chamou, não conseguindo atrair a atenção da
garota, então tocou suavemente em seu braço, o que foi o suficiente para lhe
causar um pequeno susto. — Ei, você está bem?
 
— Bem é muito forte— Ela respondeu enquanto respirava fundo —
Eu preciso de um minuto para processar tudo isso. Parece que minha vida
virou de cabeça pra baixo e agora virou do avesso, entende? 
 
— Entendo, mas você não pode travar e estagnar. Você tem que agir
como tem feito desde o momento que te conheci, batendo de frente. — Ryan
falou firme — Agora desce desse carro e vamos conversar lá dentro, temos
muitas coisas para resolver.
 
— A gente pode muito bem conversar aqui. — Emma respondeu
dando de ombros.
 
— Não, não podemos. — Ryan rebateu abrindo a porta — Se não
sair sozinha, vou te carregar lá pra dentro, não duvide disso.
 
— Isso é ridículo! — Ela respondeu, já abrindo a própria porta.
Então respirou fundo e baixou o tom de voz muitos tons — Mas o que não
está sendo ridículo hoje? 
 
Saiu do carro batendo a porta, com mais força do que realmente
queria, e Ryan apenas a olhou de canto e respirou fundo. O dia só estava na
metade, mas já parecia já ter passado muito mais horas.
 
— Victória, preciso que escolha uma casa que seja segura e passe
despercebida. Não pode estar no meu nome, ou no de alguém ligado a mim.
E quero isso em, no máximo, três horas — Ryan ordenou ao se aproximar da
ruiva.
 
— Sim, senhor! — Ela respondeu sem expressão alguma — Mais
alguma coisa? 
 
— Esteja com o celular ligado o tempo todo, e pronta. Se o Derek
precisar de algum reforço é você quem vai — Ele complementou. Emma
estava parada próxima a eles, esperando, mas não prestava atenção na
conversa, estava pensando em que ordem começaria a resolver os problemas
sua vida.
 
— Claro, estou indo então. — A ruiva falou, recebendo um aceno
positivo de Ryan, antes de começar a caminhar em direção ao próprio carro,
que também estava ali na garagem.
 
— Vamos para minha sala. — Ryan declarou, segurando no pulso de
Emma e a guiando prédio adentro. 
 
Emma estava tão aérea que sequer notou os homens armados, ou o
ambiente que, em outro momento, achou quase assustador. O atual momento
de sua vida era, para si, assustador o suficiente para que outras coisas não
fossem realmente assustadoras. E só quando entraram na sala, foi que Ryan a
soltou para encará-la, pois tinha muito o que lhe dizer.
 
— Eu acho que você tem uma coisa para me contar. — Ryan
declarou, deixando Emma confusa.
 
— Eu tenho? Achei que já tinha contado tudo. Eu entreguei o plano
maluco da minha irmã. — Emma fala confusa.
 
— E, ainda assim, não contou tudo. — Ryan acusou, fazendo com
que Emma arqueasse a sobrancelha e ficasse na defensiva — Eu gostaria de
entender, exatamente, o que se passa na sua cabeça. Porque não é possível,
Emma, não é!
 
— Do que você está falando, exatamente? — Perguntou, ficando
nervosa. Já tendo uma noção do que poderia estar acontecendo. Um mafioso
pegou os documentos… é isso que o Ryan é. Ele sabe, ele sabe, era tudo que
Emma conseguia pensar e, ainda assim, não conseguia, e não queria,
confessar. Ia esperar e ouvir a confirmação.
 
— Se é assim que você quer resolver esse assunto. — Ryan falou,
irritado e cansado, caminhando até sua mesa e pegando a pasta de Emma. A
garota sentia sua respiração ficando pesada, como se, de repente, o ar
estivesse rarefeito. Ryan voltou até ela com a pasta em mãos e a entregou —
Estão todos aí. Como você achou que conseguiria fugir?
 
Emma olhou para a pasta em silêncio, depois encarou os olhos verdes
de Ryan. Ao mesmo tempo em que se sentia aliviada por saber o paradeiro
daqueles documentos, estava tensa com a situação. Respirou fundo,
precisava se recompor e agir, não podia ficar mais parada vendo sua vida
ruir. 
 
— Achei mesmo que conseguiria e já estava tudo certo, eu não ia
demorar muito a ir embora. — Respondeu firme — E, não, eu não acho que
vocês iriam me encontrar depois disso.
 
— Você sabe que a gente ia, sim, né? — Ryan reforçou.
 
— Não é por nada não, mas você não pegou nem o cara que estava
na mesma cidade que você, Ryan. — Emma deu de ombros — Imagina eu,
que ia estar bem longe, em outro país.
 
— São situações completamente diferentes. E se você acha que é
essa é a primeira vez que eu tenho que lidar com alguém tentando fugir, está
enganada. — Ryan sorriu de lado — Se você pensa que eu iria mesmo te
procurar, preciso dizer que está errada em vários pontos. O primeiro é: isso
seria considerado traição ao acordo. E traição se paga com sangue…
 
— É uma ameaça, Ryan? — Emma o interrompeu, perguntando em
um tom frio.
 
— Não, é a constatação de um fato! Segundo: isso daria abertura
para o fim da trégua entre as duas famílias. Se você acha que agora está
ruim, com apenas sua irmã querendo o poder, imagina como estaria com
nossos pais empenhados em derrubarem um ao outro?! — Ryan falou firme
— Haveria um banho de sangue na cidade.
 
— Eu nunca quis casar e sempre deixei claro que daria um jeito
nisso. Esse era o meu jeito! — Emma reclamou.
 
— Terceiro: achei que você tivesse desistido disso. Você não se
esforçou o mínimo para que esse casamento fosse algo legal, ou para que
pudéssemos nos entender. Eu até tentei, mas já que esse é o seu
posicionamento, eu não vou tentar ser legal — Ryan declarou e olhou para a
garota — Se ia embora, por que decidiu dormir comigo?
 
— Porque você é gostoso. E uma coisa não tem nada a ver com a
outra! Ir para sua cama não significa estar apaixonada. — Emma respondeu
seca.
 
— Você tem razão, — Ryan respondeu com sorriso de lado, em um
tom frio — mas é melhor desistir desse seu plano de fugir. A situação já está
bem ruim para o lado da sua família, afinal, eles começaram um ataque em
meio a uma trégua. Você fugir só vai piorar as coisas.
 
— Eu não estou gostando desse tom de ameaça que você está
usando. Fala direito comigo! — Emma exigiu — Se começar a me tratar
como sua inimiga, eu vou fazer o mesmo.
 
— Então pensa bem em como você vai agir. — Ryan rebateu.
 
— Eu digo o mesmo. Posso até não entender como isso aqui
funciona, mas eu consigo aprender, e o farei, se for para me defender e
defender o que acredito. — Emma falou séria, mas antes que Ryan pudesse
responder, escutaram algumas batidas na porta.
 
Emma caminhou irritada até o sofá e ficou observando os cacos de
vidro no chão, em silêncio, enquanto Ryan falava em um tom alto para que a
pessoa lá fora entrasse. Helena abriu a porta devagar e entrou, com um
pouco de dificuldade, mas fingindo estar tudo bem.
 
— Desculpa interromper, mas Derek ligou para mim, já que o senhor
não atendeu. — Helena falou olhando diretamente para Ryan —
Encontraram o Albert, morto.
 
— Não posso sequer dizer que estou surpreso. — Ryan falou,
passando os dedos nos fios pretos do cabelo — Onde o Derek está?
 
— Ele já está voltando, o que vamos fazer? — Helena perguntou
preocupada.
 
— Por hoje, manter os soldados em que mais confiam como
seguranças e descansar. Estamos virando sem descanso e estou vendo que
você não está recuperada totalmente. — Ryan disse.
 
— Vai descansar também? — Helena perguntou arqueando a
sobrancelha.
 
— Assim que eu me instalar em uma casa nova. Mas, antes, preciso
resolver algumas coisas. — Ryan respondeu — Está dispensada até poder
andar direito. Entendeu, Helena?
 
— Entendi! Entendi! Estou indo! — Helena respondeu e se virou
para sair, sorrindo ao olhar para Emma sentada no sofá ali — Emma! Como
está?
 
— Bem, na medida do possível. — Ela respondeu simpática, gostava
de Helena.
 
— Deve ser bem chata essa situação. Mas você vai conseguir se sair
bem, chefinha. — Helena falou em um tom divertido e Emma sorriu.
 
— Se seu chefe não me matar de raiva antes, quem sabe. — Emma
deu de ombros e Helena riu.
 
— Relaxa, chefinha, ele é bruto às vezes, mas cuida bem de todo
mundo, sempre. — Helena falou com carinho sobre Ryan — Mas, de vez em
quando, precisa de cuidado, também! Coloca ele para descansar e comer
direito.
 
— Helena, fora da minha sala! — Ryan mandou e Helena riu,
revirando os olhos.
 
— Tô indo! Tô indo! — Helena respondeu, saindo da sala e dando
tchau em um aceno para Emma, que respondeu da mesma forma.
 
Assim que a porta foi fechada, Ryan sentou em sua cadeira, se
encostando no encosto e fechando os olhos. Como iria manter todo mundo
seguro? Qual era a melhor forma para devolver os ataques? Estava cheio de
questionamentos rondando os pensamentos.
 
— Foram eles que mandaram matar o Albert? — Emma perguntou,
atraindo sua atenção.
 
— Com certeza! Derek conseguiu arquivos que provam o
envolvimento do Albert com o incêndio. Pegando o Albert, teríamos como
alcançar provas de que sua irmã fez isso. — Ryan respondeu com calma.
 
— Mas, para que, exatamente, serviriam essas provas? — Emma
perguntou um pouco confusa.
 
— Eu posso só devolver o ataque. O que vai gerar outro e virar um
ciclo. Mas, tendo provas, eu poderia levar a uma “instância maior” e ela
seria punida sem uma guerra, pois temos um acordo vigente, entendeu? —
Ryan explicou.
 
— Eu acho que entendi. — Emma respondeu, fazendo uma breve
pausa — E agora? Quero dizer, Charlotte é minha irmã.
 
— Estou pensando sobre. — Ryan falou, massageando as têmporas
— Vou arrumar uma solução prática para isso, e rápido.
 
— Ryan? — Emma o chamou, atraindo sua atenção, e continuou
falando quando notou ele lhe ouvindo — Se foi você que descobriu sobre os
documentos, você sabe quem mandou fazer eles para mim. Ela está correndo
algum tipo de perigo?
 
— Não, sua amiga pode ficar tranquila. Para a sorte de vocês isso
está comigo. — Ryan esclareceu em um tom levemente cínico, mas Emma
ficou tão aliviada que sequer notou — Duas irresponsáveis.
 
— Ryan, não começa de novo! — Emma falou séria enquanto
pegava o celular para avisar Darah de que estava tudo bem.
 
— Não tem o que começar de novo, Emma. — Ryan respondeu em
um tom frio, enquanto se levantava — Eu preciso conferir algumas coisas,
me espera aqui até a hora de irmos embora.
 
Emma deu de ombros, sem responder nada para ele, se ocupando em
escrever sua mensagem para Darah. Ryan saiu da sala, precisava espairecer e
pensar um pouco longe de Emma. Tinha um imenso problema nas mãos para
resolver.
 
Capítulo 24
No momento em que Ryan e Emma saíram da casa, Deniel
caminhou em passos firmes até Charlotte, segurando o braço da esposa com
agressividade e força, praticamente a arrastando escada acima. Estava
irritado, mas não fora de si. Era um homem sádico e frio, capaz de medir
cada uma de suas ações.
 
Fechou a porta do quarto após empurrar a esposa para dentro,
conferindo se havia alguém pelo corredor antes de trancar a porta e ir até
Charlotte, acertando um tapa em seu rosto. Gostaria de fazer mais do que
aquilo, pois sentia que um tapa era pouco para descontar a raiva que sentia,
mas sabia que, por estar na casa de John, até mesmo o tapa era um risco para
si.
 
— Eu avisei que você deveria seguir o meu plano inicial, que não
deveríamos nos revelar para sua irmã! Mas você contou tudo e agora ela está
lá, do outro lado. Você é burra! — Deniel falou baixo e agressivo — Se
aquela puta da sua irmã me prejudicar, eu mesmo mato ela!
 
— Eu não achei que ela fosse escolher ele. Ela sempre me idolatrou e
fez tudo que eu queria. — Charlotte respondeu em um tom baixo, sem olhar
diretamente para Anthony, estava nervosa e seu rosto doía.
 
— Claro, porque você iria contar que quase matou ela duas vezes e
ela se sentiria muito segura perto de você!
 
— Nunca foi a intenção que ela se machucasse! — Charlotte se
defendeu.
 
— Não importa qual foi a intenção! Soube que ela se queimou na
primeira vez e estava no segundo incêndio também. Ela poderia ter morrido,
ou ficado gravemente ferida, eu não me importo! Na verdade, teria sido
melhor se ela tivesse morrido mesmo. — Deniel deu de ombros — Mas você
é irmã dela e contou que a colocou em risco duas vezes. Era óbvio que ela
sentiria medo de você, sua retardada! Eu avisei várias vezes!
 
— O que pretende fazer agora? — Charlotte perguntou se afastando,
não queria mais falar daquilo. O que sentia não era exatamente culpa, mas,
sim, frustração por nada ter saído como o planejado.
 
— Temos que nos livrar do Albert! Ele foi útil, mas agora não é
mais, além de ser um risco a minha identidade. — Deniel respondeu
pegando o celular.
 
— E depois? — Charlotte perguntou, indo para frente do espelho
passar uma pomada para que as marcas dos dedos de Deniel sumissem mais
rápido.
 
— Depois eu preciso pensar em uma maneira de virar o jogo ao meu
favor. Destruir os O’Donnell e assumir o poder dos Lancasters vai fazer de
mim um dos homens mais poderosos de Massachusetts. — Ele olhou para
Charlotte com desprezo — Me casei com você para isso, não para ouvir do
seu pai que ele escolheu a pirralha como herdeira.
 
— Sabe que não é ela que vai assumir e, sim, o marido dela. —
Charlotte lembrou.
 
— Eu sei. Por isso é importante matá-lo e acabar com o domínio
deles. — Deniel reforçou — Agora eu preciso dar algumas ordens.
 
Deniel se afastou já fazendo a ligação ordenando a morte do Albert,
instruindo para que deixassem o corpo próximo às divisas de território.
Enquanto Charlotte cuidava do rosto, observando cada movimento dele
dentro do quarto. O homem não notava o olhar sobre si e não sentia medo de
Charlotte, mas o excesso de segurança sempre seria um perigo.
 

 
John sempre foi um homem muito controlador e, por isso, sempre
manteve tudo ao alcance de suas mãos. Odiava quando algo saia do caminho
que ele havia decidido. Quando Emma se colocou em oposição ao
casamento, isso lhe despertou uma quase fúria, sentia que a filha lhe devia
obediência, mas, no fundo, mesmo que nunca admitisse aquilo em voz alta,
sentia orgulho por saber que ela era tão autossuficiente.
 
Quando marcou a reunião de decisão sobre quem assumiria seu
posto, levou isso em consideração para decidir e, mesmo que tenha visto o
olhar revoltado de Deniel, não se importou, pois o genro deveria seguir suas
ordens. No fim, ficou acordado com Donald que Emma assumiria o posto
junto a Ryan.
 
Ainda esperava chegar nessa parte da conversa com Emma, mas a
irredutibilidade da filha caçula estava fazendo com que esse assunto
atrasasse. Ainda deveria ser iniciado um treinamento para que ela tivesse
todas suas habilidades trabalhadas, mas conhecia a filha o suficiente para
saber que ela tinha a personalidade certa para o cargo.
 
John sentou em sua cadeira, discando o número de Donald. Iria
marcar uma reunião para resolver esse assunto o mais rápido. A segurança
de Emma já havia sido abalada duas vezes, não deixaria que uma terceira
vez acontecesse.
 
— Boa tarde, senhor Lancaster! — Disse Donald ao atender a
chamada
 
— Boa tarde, senhor O’Donnell! Serei bem direto sobre o assunto.
 
— Espero que seja mesmo, não tenho tempo a perder.
 
— Quando fizemos nosso acordo ficou garantido que minha filha
ficaria em segurança, afinal, ela estava saindo do meu território. Mas não é
isso o que tem acontecido, vou precisar relembrar dos nossos termos? — O
tom de John não era nada gentil, apesar de ainda soar baixo.
 
— Lembro bem dos nossos termos. E Ryan já está resolvendo isso.
— Donald respondeu seco. 
 
— Quero uma reunião para resolvermos esse assunto. Não vou
deixar isso na mão do Ryan. — John falou firme — Qualquer novo risco que
Emma correr, considere como findado o nosso acordo.
 
— Claro, no sábado. Em qual local? — Donald perguntou, com a
irritação presa dentro de si.
 
— No escritório do centro. — John decidiu — No fim da tarde, os
funcionários não estarão mais lá.
 
— Certo, até sábado. — Donald despediu-se.
 
— Até! — John respondeu, desligando a chamada.
 
Sempre cuidou de Emma, e continuaria cuidando, mesmo que ela o
julgasse por causa do casamento arranjado. Era a melhor decisão para todos
e sabia que, em algum momento, a filha entenderia. Respirou fundo e fez
uma nova chamada, dessa vez para seu braço direito, Dylan.
 
— Senhor? — O homem atendeu no primeiro toque.
 
— Eu quero que reúna todos os últimos seguranças que Emma teve.
— John ordenou.
 
— A segurança dela foi trocada recentemente por um dos homens do
O’Donnell. — Dylan informou.
 
— Por que não fui avisado disso? — John perguntou irritado.
 
— Eu achei que…
 
— Você não tem que achar nada! A segurança da minha família só
pode ser mudada com o meu aval, estamos entendidos? — John falou em um
tom agressivo, fazendo Dylan engolir seco.
 
— Sim, senhor!
 
— Ainda assim, reúna os últimos, mais tarde eu vou ter uma
conversinha com eles. — John avisou.
 
— Sim, senhor! Estou indo fazer isso agora mesmo! — Dylan
respondeu.
 
— Me avise quando estiver tudo pronto. — John falou e desligou a
chamada.
 
Bufou alto enquanto massageava as têmporas, se perguntando
quando tudo havia ficado daquele jeito, bem diante dos seus olhos. Mas
respirou fundo, iria resolver aquilo o mais breve possível.
 
Capítulo 25
Emma estava emburrada no carro, enquanto Ryan dirigia para a casa
dos pais. Preferia mil vezes ter ido para um hotel, mas acabou não vencendo
a discussão sobre onde passariam a noite, após Victória avisar que a nova
casa só estaria totalmente pronta no outro dia, pela manhã. Sentia vontade de
ir sozinha para o hotel, mas, ao mesmo tempo, tinha um certo receio de ficar
sozinha. Não sabia e, principalmente, não queria descobrir o quanto havia
irritado a irmã.
 
Ryan respirou fundo ao estacionar o carro na garagem dos pais e
olhou para Emma, que mantinha a expressão fechada e com vontade de
brigar. Ryan contou até dez mentalmente, não queria mais discutir, não sobre
aquilo, não aquele dia.
 
— Emma, a gente entra, você vai direto para o meu quarto, eu levo
algo para você jantar e, de manhã, vamos para nossa casa. — Respirou fundo
— Na teoria eles são seus sogros.
 
— Eu já entendi, não precisa repetir as coisas como se eu fosse
criança! — Emma respondeu irritada — Só vamos logo!
 
Emma abriu a porta e Ryan fez o mesmo, guiando para dentro da
casa em seguida, enquanto Emma repetia a frase “é só uma noite” como um
mantra. Enquanto Ryan se preparava para encarar seu pai, que o esperava
irritado. A conversa breve que tiveram ao celular minutos antes de sair do
galpão não deixou Ryan nenhum pouco animado. Ryan quase suspirou
aliviado ao entrar em casa e não encontrar logo seus pais por ali, guiou
Emma até o quarto, trancando a porta assim que entraram.
 
— Eu venho aqui esporadicamente, então tem tudo que vai precisar
para tomar banho. Pode vestir uma roupa minha, já que não tem nada seu
aqui. Eu preciso falar com meu pai, mas volto logo. — Ryan falou rápido
olhando para Emma.
 
— Não precisa ter pressa. Agradeceria se me desse um tempo de
privacidade. — Emma respondeu andando pelo quarto grande e de
decoração minimalista, já havia percebido que Ryan não gostava de nada
muito espalhafatoso. — Você e seu pai vão conversar, ou ele vai te agredir
de novo?
 
— Emma… — Respirou fundo — Um soco não é nada. Eu passei, e
ainda passo, por um treinamento. Está tudo bem.
 
— Ser socado no rosto enquanto tem uma reunião, ou conversa, faz
parte do treinamento? — Emma perguntou agora encarando o noivo.
 
— Eu não vou discutir sobre isso, preciso ir. — Ryan desconversou
— Quer que eu já traga algo para você comer quando eu voltar? 
 
— Sim, por favor. — Emma falou. Estava incomodada, sem saber
exatamente com o que, e não conseguiria explicar se era devido a tudo o que
estava acontecendo, ou algo mais específico, com nome e sobrenome.
 
— Certo, até daqui a pouco. — Ryan falou, saindo do quarto, e quase
voltou para pedir que Emma trancasse a porta, a fim de evitar que sua mãe
entrasse ali sem ser convidada, mas sabia que a garota conseguiria lidar com
a mais velha caso isso acontecesse.
 
Bateu duas vezes na porta do escritório antes de abri-la devagar e
entrar. Donald, que estava sentado em sua cadeira atrás da mesa enquanto lia
algum documento, levantou o olhar até Ryan assim que ele entrou. O mais
novo pôde enxergar raiva nos olhos frios de seu pai, e sabia que ele seria o
alvo dela. Ou achava que seria.
 
— Senta, nós temos muito o que conversar. — Donald falou firme e
autoritário.
 

 
Emma tomou um banho longo, deixando a água morna cair sobre seu
corpo e relaxando cada músculo, se forçou para não pensar nos problemas,
queria apenas um momento de paz. Quando terminou procurou entre as
roupas de Ryan por algo confortável, vestindo, por fim, uma calça de
moletom, sendo preciso puxar a cordinha o bastante para que não caísse, e
uma camiseta. Se olhou no espelho, achando o look, no mínimo, divertido.
Porém, quando estava prestes a se deitar a porta foi aberta com certa
indelicadeza.
 
— Olá, querida, Ryan está no banho? — Abigail perguntou,
enquanto Emma respirava fundo para ficar calma.
 
— Não, ele foi conversar com o pai. — Emma respondeu em um tom
baixo e controlado.
 
— Ótimo, porque eu queria mesmo falar com você em particular. —
Abigail falou com o sorriso simpático sumindo de seu rosto.
 
— O que quer? Seja direta! — Emma falou, deixando a simpatia se
esvair também.
 
— É melhor você falar direito comigo. Não gosto de você desde
aquele jantar, garotinha arrogante. Vim lhe avisar que, se você sair da linha,
eu vou saber. Você não é nada do que sua mãe falou. — Abigail ditou firme
e Emma ficou um segundo incrédula sobre o que ouviu, mas logo começou a
rir.
 
— A senhora é completamente doida! — Emma falou rindo — Não
me importo que não goste de mim. Acha que eu vou tentar agradar uma
sogra que eu nem queria ter? — Perguntou de maneira retórica — E eu acho
melhor não me ameaçar. Eu sei me cuidar e tenho quem cuide de mim.
 
— Não estou te ameaçando, estou te dando um aviso. — Ela falou
em um tom irritado, odiando o deboche de Emma — Você não é a mulher
certa para o meu filho.
 
— Então, já que estamos distribuindo avisos, vou te dar um também:
Se encostar em mim, ou mandar alguém fazer alguma coisa, vou responder a
altura! — Emma falou firme — E eu vou te lembrar de uma coisa já que,
talvez, a idade esteja afetando sua memória, mas foram vocês que fizeram
esse acordo, eu fui a última a saber. Para de ser louca!
 
Antes que Abigail respondesse algo, Ryan entrou no quarto, ficando
logo em frente a mãe. Sabia que isso iria acontecer desde que ouviu a mãe
reclamar que Emma não era a princesa delicada que Carmen havia pintado.
Abigail esperava uma nora mais “doméstica”, que se sujeitaria às vontades
de todos sem reclamar ou questionar, que fosse submissa ao filho e a família
dele.
 
— O que está fazendo aqui? — Ryan perguntou usando o resto de
calma que tinha.
 
— Estava apenas conversando com minha nora. — Sua mãe sorriu
gentil.
 
— Uma conversa supernormal entre nora e sogra. Devo ressaltar,
repleta de ameaças e ofensas. — Emma falou com uma voz meiga.
 
— Mãe, sai do meu quarto, por favor! — Ryan pediu com um tom
mais firme na voz.
 
— Não fique contra sua mãe por causa dessa garota! — Abigail falou
olhando para Ryan.
 
— Não estou contra a senhora, só quero privacidade com minha
noiva, por favor! — Ryan pediu já guiando a mãe para fora do quarto — Boa
noite.
 
Ryan fechou a porta trancando-a em seguida. Emma já estava sentada
na cama com o celular na mão, então foi até lá, sentando-se próximo a ela e
a fazendo olhar em seus olhos.
 
— Está tudo bem? — Perguntou.
 
— Estou ótima! Irritada, mas ótima. — Emma respondeu.
 
— Eu vou tomar um banho e venho deitar… — Ryan parou de falar
ao perceber que tinha esquecido algo — Esqueci de trazer algo para você
comer.
 
— Perdi a fome, de qualquer forma. Só quero dormir. — Emma
respondeu seca.
 
— Tem certeza? — Perguntou para garantir.
 
— Tenho. Como foi com seu pai? — Emma perguntou, tentando
disfarçar a preocupação.
 
— Foi melhor do que o esperado. Ele apenas avisou que seu pai vai
se envolver em descobrir quem está verdadeiramente por trás de tudo. —
Ryan falou — Vai ter uma reunião no sábado. Eu não falei nada sobre sua
irmã, mas acho que você deveria ir a essa reunião e contar.
 
— Então acha que meu pai não sabe de nada? — Emma perguntou,
levemente nervosa. A possibilidade de ter seu pai ao seu lado quase lhe dava
uma sensação de segurança, de não estar sozinha.
 
— Acho. E ele pode resolver esse “problema familiar” sem ferir sua
irmã, acredito que você não quer que ela se machuque. — Ryan fala com
calma.
 
— Você falou com seu pai sobre isso, sobre a Charlotte? — Emma
perguntou preocupada. 
 
— Ainda não, mas farei se você não falar nada. — Ryan esclareceu
— Temos que resolver isso logo.
 
— Já entendi. — Emma falou, desviando o rosto — Eu vou estar lá
no sábado.
 
— Ótimo! — Ryan falou enquanto se levantava.
 
— Boa noite! — Emma falou e largou o celular sobre a mesa de
cabeceira.
 
— Boa noite! — Ryan respondeu indo para o banho.
 
Quando Ryan se deitou, Emma já estava dormindo. Puxou a garota
carinhosamente para dormir em seus braços, mas antes que pegasse no sono,
pensou sobre um novo acordo para fazer com ela, esse tratado diretamente
com ela, e em como abordaria isso.
 
Capítulo 26
Pela manhã, Emma não aceitou tomar café na casa dos sogros,
saindo sem sequer falar com eles. Dentro do carro, ela olhava pela janela
completamente perdida em pensamentos, sentindo que precisava dividir
aquilo com alguém. Olhou para Ryan, que dirigia em silêncio, com uma
expressão impassível.
 
— Eu preciso falar com a Darah, acha arriscado dar o endereço para
ela? — Emma pergunta.
 
— Acho. Se sua irmã desconfiar que ela sabe nosso novo endereço,
pode fazer alguma coisa contra ela. — Ryan esclareceu — Ela já fez algo
contra você, imagina contra alguém que sequer é da família.
 
— Você está certo! — Emma exclamou assustada — Eu preciso tirar
ela de casa.
 
— Como assim? — Ryan perguntou olhando de canto para a garota.
 
— Mesmo que ela não saiba de nada, não significa que a Charlotte
não possa ir atrás dela. Isso quer dizer que a Darah vai passar uns dias
comigo. — Emma explicou enquanto discava o número da amiga.
 
— Vai envolver ainda mais a garota em problemas da máfia? —
Ryan perguntou incrédulo.
 
— Ela já sabe de tudo. Eu confio nela e não posso deixar que ela
corra qualquer risco. — Falou firme — Espero que tenha um quarto extra na
casa.
 
Emma colocou o telefone no ouvido, escutando chamar, estava
ansiosa e nervosa, no fundo sabia que era quase loucura fazer isso, mas não
ia se culpar por ser protetora.
 
— Espero que tenha um bom motivo pra tá me ligando tão cedo! —
Darah falou ao atender, enquanto se revirava na cama.
 
— Preciso que você passe alguns dias comigo, só até depois de
sábado. — Emma respondeu.
 
— Por que? Devo ficar preocupada, ou muito preocupada? — Ela
perguntou sentindo o corpo todo se agitar.
 
— Eu não sei te responder com precisão, só arruma suas coisas que
eu vou mandar alguém te buscar e aí eu te conto tudo.
 
— Ainda bem que meus pais estão viajando. — Darah falou já se
levantando — Me avisa quem vem, para eu liberar a entrada no condomínio.
 
— Eu aviso. — Emma concordou.
 
— Até depois. E é melhor me explicar tudo.
 
— Eu vou. — Emma respondeu, logo se despedindo de Darah e
guardando o celular.
 
Ryan parou em frente a uma mansão mais afastada da cidade.
Quando Emma saiu do carro, pôde notar várias pessoas fazendo a segurança
do lugar, e viu Victória, em frente a entrada principal. Sentiu vontade de
revirar os olhos, mas não o fez, não ia mostrar que, de alguma forma, ela a
afetava. Era melhor a completa indiferença.
 
— Vamos entrar. — Ryan falou parando próximo a Emma.
 
— Claro. — Concordou e caminhou até a entrada da casa, tendo a
porta aberta por Victória.
 
— Já deixei o café da manhã servido na mesa e os quartos já estão
arrumados. A segurança da casa foi escolhida por mim e pelo Derek, todos
são homens nossos, nenhum da família Lancaster. — A ruiva informou.
 
— Tem alguma coisa minha aqui? — Emma perguntou.
 
— Sim. Após entrar em contato com sua mãe, ela mandou uma tal
Marie preparar uma mala para você, e eu busquei na sua casa. — Victória
explicou em um tom formal — Apesar do quarto não ter sido incendiado,
tudo ficou com um cheiro forte de fumaça, e as roupas foram mandadas para
serem lavadas.
 
— Entendi. — Emma respondeu, desconfiada de toda aquela
formalidade, pois lembrava bem o quanto Victória era sempre irônica e
debochada.
 
— Precisam de mais alguma coisa? — Ela perguntou olhando de um
para o outro.
 
— Preciso que você busque uma amiga…
 
— Não! Ela não vai buscar a Darah! — Emma cortou a fala de Ryan.
 
— Pode ir, Victória. — Ryan dispensou a comandante, respirando
fundo.
 
— Com licença. — Victória falou e saiu silenciosamente.
 
— Victória é minha comandante e é de minha confiança, qual o
problema dela ir buscar a Darah? — Ryan perguntou virando-se para Emma.
 
— Eu não gosto dela, escolhe outra pessoa. A Helena, ou o Derek. —
Emma deu de ombros, indo em direção a porta que julgou ser a da cozinha.
 
— Isso é sério? Você tem que se acostumar com ela. — Ryan falou
seguindo-a.
 
— Eu não tenho nada, só não gosto dela e não confio, pronto —
Olhou para o Ryan assim que pisou na sala de jantar, vendo a mesa posta. —
E você vai experimentar tudo que eu quiser comer, para garantir que não está
envenenado.
 
— Primeiro, você manda demais. Segundo, isso é absurdo, para
Emma! — Ryan falou firme e Emma deu de ombros.
 
— Já escolheu quem vai? — Emma perguntou, sentando em uma
cadeira.
 
— Vou mandar uma mensagem para o Derek. — Respondeu se
dando por vencido.
 
— Vou avisar a Darah. — Emma declarou com um sorriso pequeno.
 

 
Emma estava sentada no sofá, já vestida com uma roupa própria,
quando Darah passou pela porta acompanhada por Derek. Ela se levantou
em um pulo, indo até a amiga e dando apenas um aceno para o amigo de
Ryan, enquanto segurava a mão de Darah para guiá-la até o quarto.
 
— Juro, Emma, eu preciso de uma boa explicação para saber por que
eu ainda sou sua amiga! — Darah falou enquanto subiam as escadas.
 
— Você é minha amiga porque me ama. — Emma respondeu rindo.
 
— Estou começando a duvidar. — Darah respondeu e recebeu um
revirar dos olhos.
 
Subiram até o quarto que Emma escolheu para ser o de Darah, e
entraram A garota deixou a mochila sobre a cama e encarou Emma,
esperando por explicações sobre o acontecido, enquanto a outra andava de
um lado para o outro para aliviar a tensão.
 
— Ok, vamos começar pelo simples! — Darah tomou a iniciativa —
Não estamos nos preocupando sobre o documento, porque foi o Ryan quem
descobriu ele, certo?
 
— Certo, mas esse é o menor dos problemas. — Emma engoliu seco
— O maior é que minha irmã é a responsável pelos atentados, sabe? Os dois
incêndios.
 
— A Charlotte? Tem certeza? — Darah perguntou chocada.
 
— Tenho, ela confessou tudo! — Emma confirmou chateada.
 
— Caralho! Por quê? — Darah perguntou enquanto fazia um coque
no cabelo cacheado, sentindo-se chocada e irritada.
 
— Poder. Aparentemente a decisão do meu pai era de que eu
ocupasse o cargo de chefe, mas não entendi direito. — Emma explicou —
Eu nem sabia da máfia até pouco tempo.
 
— Não sabia de nada e agora parece mais envolvida do que tudo. —
Darah constatou.
 
— Minha família é de mafiosos, o Ryan é, tudo a minha volta é sobre
isso. — Emma falou se jogando na cama.
 
— Eu não faço parte. — Darah comentou antes de sentar ao lado da
amiga — Agora só falta você ser.
 
— Eu estive pensando sobre isso, mas eu sinto que seria como se eu
tivesse sendo vencida. Entro para a máfia, caso com o Ryan, vou seguindo
tudo que eles programaram. — Emma falou, escondendo o rosto no
travesseiro.
 
— Vencida? Você não está em uma guerra, garota. — Darah falou —
E outra, se você não tem saída, toma o controle da situação.
 
— Como? — Emma perguntou virando o rosto para Darah.
 
— Podemos pensar nisso com calma, ainda faltam uns meses para o
casamento. — Darah tentou acalmar Emma — Seria bom resolver sobre sua
irmã também. 
 
— Sábado, se tudo der certo.
 
— Como? E apesar de você ter me explicado o que houve, por que
eu estou aqui? — Darah questionou e Emma respirou fundo, sentando na
cama.
 
— Pra que você não fique sem proteção, caso a Charlotte tente te
usar para me atingir. — Emma explicou.
 
— Sua irmã enlouqueceu! — Darah constatou.
 
— É, estou sabendo. — Emma falou em um suspiro cansado.
 

 
Deniel andava de um lado para o outro no quarto, Charlotte não
estava ali, e ele tinha acabado de ser informado sobre a reunião no sábado.
Tinha certeza de que sua máscara iria cair ali, mas não deixaria isso
acontecer sem derramar um pouco de sangue, ou muito.
 
— Alô! Chefe? — O homem falou ao atender a chamada.
 
— Presta atenção! Escolha alguns homens de confiança, sábado
haverá uma reunião e eu vou resolver um assunto. — Deniel falou firme.
 
— Eu soube da reunião, vou levar só os nossos. — Respondeu.
 
— Ótimo! E a vadia da minha cunhada, não quero ela morta no lugar.
Pra ela eu vou providenciar um tratamento especial. — Deniel falou com
ódio.
 
— Sim senhor. E sua esposa?
 
— Eu vou cuidar dessa puta também. — Respondeu frio. 
 
— Certo. Estarei ao seu lado, chefe. — O homem respondeu e Deniel
desligou a chamada.
 
Se indo sutilmente não daria certo, mostraria o quanto podia ser
violento para alcançar seus objetivos.
 
Capítulo 27
Faltava um dia para a reunião e Emma sentia-se angustiada e
ansiosa, mas não conseguia explicar exatamente o que a estava deixando
assim. Darah observava a amiga andar de um lado para o outro na sala de
estar, estavam ali desde que tomaram o café da manhã. A garota já tinha
prendido e soltado o cabelo algumas vezes, ligado e desligado a televisão,
mas nada resolvia a tensão que sentia.
 
— Você vai me deixar doida. Para com isso, garota! — Darah
reclamou ficando de pé.
 
— Darah, eu não sei o que fazer, ok! — Emma reclamou — Amanhã
eu vou falar para o meu pai sobre a Charlotte e não sei como essa situação
vai se desenrolar. Eu estive pensando e se…
 
— E se o caramba! Cansei! — Darah cortou a fala de Emma,
parando em sua frente para impedir que ela continuasse andando de um lado
para o outro — Reage direito, você está sendo controlada pela situação e não
controlando ela.
 
— E o que você quer que eu faça? — Emma perguntou colocando a
mão na cintura.
 
— Eu quero que você aja com a cabeça. Eu tô te apoiando em tudo
quanto é loucura que você pensa, então começa a pensar direito! — Darah
falou séria — Você já conversou com o Ryan sobre como vai agir amanhã?
 
— Só sobre irmos a reunião, e lá eu vou falar tudo. — Emma
respondeu simples. 
 
— Sua irmã vai estar nessa reunião? 
 
— Provavelmente. — Emma suspirou.
 
— E você já pensou sobre assumir? — Darah perguntou, olhando nos
olhos cor de mel de Emma, que pareceram perdidos por alguns segundos.
 
— Eu teria que fazer coisas que não sei se consigo. — Emma falou
em um tom baixo, sentindo as mãos esfriarem.
 
— É, tem uma parte muito ruim nesse negócio da sua família. —
Darah concordou enquanto acenava refletindo sobre aquilo.
 
— Você assumiria? — Emma perguntou, tinha esperança de que
Darah lhe desse uma resposta que confortasse seu coração e a ajudasse a
guiar por um caminho.
 
— Eu não sei. Nunca tive que pensar nem sobre assumir a empresa
dos meus pais porque meu irmão vai fazer isso. — Darah respondeu, vendo
os ombros da Emma caírem em desânimo — Mas você tem que decidir isso
por si mesma, afinal, você é quem vai viver com o peso das suas escolhas e
as consequências do caminho que optar. E, sendo sincera, não vejo muito
como você vai evitar estar na máfia, a não ser que você decida ser só a
esposa do mafioso.
 
— É uma droga tudo isso! — Emma bufou — O que eu faço?
 
— Já disse, tenha uma longa conversa com o Ryan sobre isso. Ele tá
nessa há tempo suficiente para te explicar qualquer coisa. E mesmo que seja
por um acordo, vocês estão juntos. — Darah falou, voltando a se sentar — E
tem mais, a tensão sexual entre vocês é quase palpável. Espera para transar
com ele quando eu tiver voltado para minha casa, não quero ouvir você
transando.
 
— Como nós chegamos nesse assunto? — Emma perguntou sentindo
as bochechas esquentarem e Darah riu.
 
— Até parece que você é tímida desse jeito. — Darah comentou
fazendo Emma revirar os olhos — Lembra que eu estava lá quando você
tinha rolo com o Scott, certo?
 
— Esquece o passado, Darah, vamos focar nos problemas atuais. —
Emma falou sentando ao lado da amiga — Acho que você tem razão sobre
isso, vou até o galpão falar com ele.
 
— Isso, vai lá, eu te apoio. — Darah falou, dando tapinhas no ombro
de Emma.
 
— Você vai junto! — Emma falou devolvendo os tapinhas.
 

 
O mesmo segurança que levou Emma e Darah até o galpão, as guiou
até a sala de Ryan. Apesar de Emma já ter ido lá algumas vezes, ainda não
sabia se guiar sozinha ali dentro e nem queria passar por tanta gente armada
e de expressão fechada sem se sentir minimamente protegida. Darah
apertava tanto o braço de Emma, sentindo-se assustada com o ambiente, que
o local com certeza ficaria vermelho.
 
Na sala de reunião, Ryan discutia com seus comandantes sobre como
seria feita a segurança da reunião no dia seguinte e os cuidados sobre
qualquer ataque que pudesse acontecer. Queria estar preparado para qualquer
que fosse o cenário, não cometeria mais erros. 
 
Emma bateu na porta duas vezes e esperou um pouco, quando estava
prestes a entrar, a porta foi aberta por Helena, que sorriu simpática.
 
— Bom dia, chefinha, entra. — Helena falou, lhe dando espaço. 
 
— Bom dia, Helena! — Emma respondeu enquanto entrava, puxando
Darah, que estava com um sorriso sem graça no rosto.
 
— O que está fazendo aqui? O que a Darah tá fazendo aqui? — Ryan
perguntou, encarando a noiva enquanto usava toda sua força interna para
ficar calmo.
 
— Nós precisamos conversar — Emma falou séria — Nesse exato
momento.
 
— Estou em reunião — Ryan respondeu, também sério.
 
— A reunião pode continuar depois. — Emma argumentou, dando de
ombros.
 
— É, chefinho, depois a gente continua. — Helena falou, querendo
sair dali logo para evitar a tensão que estava começando a se espalhar.
 
— Exatamente, vamos estar por aqui no galpão. — Derek concordou
já de pé.
 
— Eu acho que tínhamos que terminar isso logo, para nos
organizarmos. — Victória resolveu se pronunciar também.
 
— Eu acho que você não tem que dar palpite errado, Vick. — Helena
falou séria olhando para a ruiva e depois para Ryan — E então, chefe?
 
— Podem ir, eu aviso quando formos continuar a reunião. — Ele
respondeu.
 
— Certo, estaremos pelo galpão. — Derek falou já indo em direção a
porta, mas parou no caminho — Darah, vem também. 
 
— Vou, vou sim. — A garota concordou e foi acompanhando eles.
Victória foi a última a sair, deixando claro seu descontentamento pela
reunião ter sido interrompida. 
 
— Pronto, pode falar. O que quer conversar de tão urgente? — Ryan
perguntou encarando Emma.
 
— E quero conversar sobre assumir meu lugar como herdeira do meu
pai. — Emma falou baixo, quase sem firmeza.
 
— Você quer isso? — Ryan perguntou, arqueando a sobrancelha.
 
— Sendo sincera, eu não sei! — Emma deu de ombros — Mas não
sei o que fazer.
 
— Veio me pedir um conselho? — Ele perguntou com um meio
sorriso.
 
— Ryan, o assunto é sério. Foco, por favor.
 
— Ok, falando sério! — Ryan olhou para Emma e respirou fundo —
Eu estive pensando sobre algo e já que você veio falar sobre isso, acho que é
a oportunidade perfeita para propor.
 
— O quê? — Emma perguntou em um misto de curiosidade e
preocupação.
 
— Desde o momento em que eu soube que seu objetivo era fugir,
estive pensando em como acabar com o acordo, sem prejudicar nem um dos
lados. E tive uma ideia — Ryan falou devagar, analisando Emma.
 
— Qual ideia?
 
— Você não vai conseguir sumir ou não se envolver, de alguma
forma, nos negócios. Então você assume, treina, aprende sobre e herda o
lugar do seu pai. 
 
— Ainda não entendi qual o acordo aí. — Emma falou confusa.
 
— Eu vou assumir no lugar do meu pai em breve. Você assume o
lugar do seu e nós nos damos a garantia de que vamos manter a trégua e os
acordos profissionais, mas podemos romper. — Ele explicou com calma —
Se me garantir que vai assumir e manter sua palavra sobre os acordos
profissionais, amanhã, depois da reunião sobre sua irmã, já podemos
declarar o fim do noivado.
 
— Espera, eu estou um pouco surpresa. — Emma falou, sentindo a
boca secar e o peito apertar.
 
— Não tem dificuldade. Nós rompemos esse noivado e cada um
segue sua vida particular, mas mantemos o acordo sobre as máfias
trabalharem juntas. Só que, pra isso, você precisa assumir o cargo de chefe
lá. — Ryan deixou claro. — Se não quiser, vamos ter que manter o acordo e
provavelmente eu assumirei os dois lados. O que, para mim, seria muito
mais vantajoso em questão de poder.
 
— Então, por que está me dando essa abertura?
 
— Porque, mesmo eu tentando fazer isso… — apontou para si
próprio e para Emma — dar certo, você escolheu fugir, não quis tentar. Você
tem até amanhã para pensar.
 
— Ok! Eu vou pensar sobre isso e amanhã eu te dou uma resposta.
— Emma concordou.
 
— Agora eu preciso terminar a reunião. Amanhã todos tem que estar
preparados. — Ryan falou, já pegando o celular para avisar Derek para eles
voltarem.
 
— Eu acho que a reunião tinha que mudar de lugar no último minuto.
— Emma sugeriu — Assim, se o Deniel estiver planejando algo, vai ser para
o endereço que já foi decidido, não para um novo.
 
— Vou colocar isso na lista de coisas para amanhã.
 
— Certo. — Emma respondeu, sentindo-se um pouco chateada — Eu
quero participar da reunião.
 
— E a Darah? — Ryan perguntou sem tirar os olhos do aparelho.
 
— Ela também participa, não é um problema.
 
— Você vai acabar fazendo essa garota entrar para o crime. — Ryan
falou em tom de piada, mas fez brilhar uma ideia na mente de Emma.
 
Não demoraram a ouvir batidas na porta e, em questão de
pouquíssimos minutos, estavam todos sentados discutindo sobre o dia
seguinte. Emma, apesar de estar tentando se concentrar, sentia sua mente e
seu coração vacilando um pouquinho ao pensar no possível rompimento. Era
isso que ela queria, certo? Não teria muito o que pensar para responder. Ou
teria? 
 
Emma suspirou baixo, tentando esconder o quanto estava afetada,
aquele não era nem o lugar e nem o momento.
 
Capítulo 28
Emma e a Darah foram embora da reunião pouco antes do fim, mas
já tinham decidido tudo em detalhes, não tinha como nada sair errado. Assim
que a reunião acabou, Ryan dispensou os comandantes para que eles
preparassem tudo e fossem descansar adequadamente para o dia seguinte,
porém Derek ficou ali, enquanto Helena e Vick iam cumprir suas obrigações.
 
— Sua cara está péssima, conversou com ela sobre o acordo? Ainda
acho uma ideia ruim. — Derek falou, sentado na cadeira próxima a mesa de
Ryan e olhando bem as expressões corporais do amigo.
 
— Conversei. Disse que ela tem até amanhã para decidir. — Ryan
respondeu em um tom casando e fechou os olhos, se recostando no encosto
da sua cadeira. 
 
— Você não quer se separar dela, ainda não faz sentido romper. —
Derek, falou um pouco confuso com a decisão — E eu acho que ela gosta de
você.
 
— Ela ia fugir. — Rebateu — A questão aqui é que eu gosto dela.
Emma é mimada, mandona, até um pouco indecisa, e tem uma personalidade
forte e complicada, mas eu… Ok, talvez eu esteja apaixonado. E é
justamente por isso que eu estou dando a escolha para ela. 
 
— Você ainda não tinha falado que estava apaixonado. — Derek
respondeu um pouco chocado.
 
— Estou tão chocado, com isso, quanto você. — Ryan brincou —
Mas, eu gostar dela não faz com que seja recíproco. Eu não sei, talvez se o
noivado tivesse fluído de outra forma, ou se Emma tivesse reagido diferente,
eu não tentaria mudar isso. Mas ela odeia estar sendo obrigada a ficar
comigo por imposição e eu sei que ela nunca vai ser feliz se submetendo a
isso. Por gostar dela, quero deixá-la livre.
 
— Você parece outra pessoa. — Derek riu chocado — Estou bastante
surpreso por te ver assim, mas como vai ser quando vocês romperem?
 
— Nosso relacionamento chega ao fim, ela volta para casa dos pais,
ou para uma casa própria. Mas, antes disso, temos que resolver a questão da
irmã. Ela não sai da minha supervisão até isso estar acabado. — Ryan
explicou.
 
— Se essa é sua decisão, eu te apoio. — Derek falou e sorriu, na
tentativa de demonstrar algum apoio — Eu tenho uma dúvida, por que a
amiga dela estava aqui? E por que você não se importou?
 
— Foram duas dúvidas. — Ryan falou e riu ao ver Derek revirando
os olhos — Eu acho que ela vai aceitar assumir seu lugar de herdeira e penso
que ela vai levar a amiga pra trabalhar com ela, e não duvido nada que a
outra aceite.
 
— Darah é simpática, mas um pouco doida. Perguntei como ela
chegou no falsificador. — Derek comentou atraindo a atenção do Ryan, que
por não estar mais tão irritado sobre o acontecimento tinha curiosidade de
saber como as duas tinham ido tão longe — Segundo ela, foi só pedir ao ex
da Emma alguns contatos, pagar muito dinheiro e pronto. Dinheiro resolve
tudo.
 
— Ex da Emma? Quem? — Ryan perguntou com a expressão quase
fechada.
 
— Ela não deu nome e eu não me interessei. — Deu de ombros —
Enfim, seria legal se ela virasse comandante da Emma.
 
— Interessado? Helena sabe disso? — Ryan perguntou arqueando a
sobrancelha.
 
— Eu preciso ir trabalhar. — Derek desconversou enquanto se
levantava — E eu e a Helena não temos nenhum compromisso.
 
— Tá bom. — Respondeu com um sorriso cínico.
 
— Não passa o resto do dia sem comer nada. Nos vemos amanhã. Se
algo sair do eixo, eu te aviso. — Derek falou enquanto saia da sala.
 
— Não deixe nada sair do eixo. — Ryan respondeu.
 
— Essa é a minha especialidade. — Derek rebateu já saindo dali. 
 
Assim que a porta foi fechada, Ryan se levantou, olhando a rua pela
janela. Sabia exatamente o que queria, mas também sabia o que devia fazer.
Não se lembrava de nenhum momento da vida em que pudesse dizer, com
todas as letras, que estava apaixonado, mas sabia que agora estava.
 

 
— Você deveria estar feliz, não com essa cara. — Darah falou depois
de minutos olhando Emma, emburrada e jogada no sofá.
 
— Aí a gente separa e ele volta a ficar com a vagabunda da Victória.
— Emma reclamou, destacando o desprezo na voz ao falar o nome da ruiva.
 
— Mas não era você que não queria casar? — Perguntou, indignada
com a reação da amiga.
 
— E não quero casar, mas também não quero ele soltinho por aí! —
Emma sentou rapidamente, encarando Darah como se estivesse tendo algum
tipo de epifania — E se ele propôs isso só para poder pegar geral?
Vagabundo!
 
— Emma… — Darah tentou falar, mas não conseguia parar de rir —
Para de ser louca, continua com ele então.
 
— Não quero casar! — Emma falou, cruzando os braços.
 
— Você pode namorar com ele, assumir seu posto, treinar e ainda
fazer uma faculdade, acho o curso superior importante. — Darah falou séria
— Para de agir como se o mundo estivesse acabando, quando você tem tudo
nas mãos.
 
— Mas, assumindo, eu vou ter que matar, ser responsável pela morte
de outras pessoas, tortura e… haverá sangue em minhas mãos, — Emma
falou em um tom baixo, quase de desabafo.
 
— Não quero te assustar, mas, indiretamente já tem. — Darah falou,
se aproximando de Emma. — Eu sei que seu pai tem uma empresa grande,
mas agora a gente já sabe que é apenas fachada. Você vive do dinheiro do
crime, é a máfia que financia seu caro estilo de vida.
 
— Obrigada, Darah, foi ótimo ouvir isso! — Emma falou
ironicamente e Darah revirou os olhos — Não quer falar mais nada não?
 
— Quero. Você precisa transar para relaxar um pouco, tá muito tensa.
— Ela respondeu com um meio sorriso e arqueando a sobrancelha —
Aproveita que ele é seu noivo ainda e transa, para relaxar.
 
— Eu, sinceramente, não sei como ainda sou sua amiga! — Emma
reclamou se levantando.
 
— Está brava porque sabe que eu estou certa! — Darah falou rindo
da cara fechada dela.
 
— Eu não vou discutir. — Emma deu de ombros — Tem uma coisa
que eu quero te pedir. Talvez eu já estivesse pensando nisso, mas quando o
Ryan sugeriu, mesmo que brincando, foi como um clarão para minha mente.
 
— O que?
 
— Eu já reparei que eles têm sempre alguém de confiança junto,
como um braço direito. — Emma começou meio receosa — Eu assumo e
você entra para ser meu braço direito.
 
— O quê?! — Darah perguntou chocada.
 
— Só pensa nisso, por favor. — Emma pediu.
 
— Eu realmente vou precisar de um tempo. Emma eu te amo, mas…
 
— Não, não argumenta! Porque, qualquer coisa que você usar, pode
ser usado para mim também. Mesmo que soe hipócrita no meu caso, por
causa da minha família, mas quando for dar sua resposta, só diz sim ou não.
— Emma pediu.
 
— Se quer um braço direito, significa que você vai aceitar assumir.
— Darah concluiu.
 
— É a melhor decisão. E contratar uma psicóloga para me ajudar a
lidar com a parte complicada pro meu psicológico. — Emma falou em um
suspiro — Você mesma disse que eu tenho que tomar o controle da situação.
 
— Você vai fazer isso muito bem. — Darah apoiou — E sobre o
Ryan?
 
— Eu preciso de mais que uma tarde para decidir essa parte. —
Emma respondeu com um sorriso triste.
 
— Você é a pessoa mais confusa que eu conheço. — Darah falou,
puxando Emma para seu colo como se a amiga fosse um bebê precisando de
carinho e proteção — Mas tudo isso pode ficar para depois porque, primeiro
tem que falar com seu pai sobre sua irmã e seu cunhado, tem que ver como
ele vai reagir, como tudo vai se suceder.
 
— Saudades de quando eu só me preocupava com a escola, fazer
compras e curtir muito em festas… — Emma falou nostálgica.
 
— Você vai gostar da vida adulta quando decidir o caminho por onde
quer ir. — Darah falou.
 
— Como se você soubesse o que fazer. — Emma falou olhando para
a amiga.
 
— Não sei, mas aconselhar é muito mais fácil. — Darah deu de
ombros rindo.
 
Emma riu junto. Estava com o coração e a mente confusos e
assustados, e ainda tinha que tomar decisões que afetariam todo seu caminho
e toda sua vida, mas se esforçaria para que tudo desse certo. E fingia não
estar nervosa para o dia seguinte. Mesmo que estivesse uma pilha de nervos,
era um problema entre a família elevado a níveis altos de tensão.
 
Capítulo 29
Emma estava completamente tensa, se olhava no espelho depois de
colocar a terceira roupa e o relógio marcava que faltava pouco para o
horário. Não tinha ideia de como o dia iria acabar e a única convicção que
tinha era de que, com certeza, não seria nada bom. Ouviu batidas na porta e
respirou fundo, precisava manter a calma.
 
— Falou com seu pai? — Ryan perguntou ao abrir a porta.
 
— Ainda não. — Emma respondeu pegando o celular — Vou fazer
isso agora.
 
— Certo. Já mandei a Darah para um lugar seguro. Victória já está
pronta e a Helena também — Ryan informou — Vou te esperar lá embaixo,
meu pai já deve estar chegando.
 
— Assim que conversar com meu pai, eu desço. — Emma falou e
Ryan acenou e saiu, fechando a porta novamente. Emma discou o número do
pai e torceu para que ele confiasse nela, só assim o plano daria certo.
 
— Alô, Emma? está tudo bem? — John perguntou ao atender.
 
— Oi, pai, eu preciso falar com o senhor. Está sozinho? — Perguntou
enquanto sentia o nervosismo lhe corroendo.
 
— Estou saindo de casa para ir a uma reunião, precisa ser agora? 
 
— Precisa ser exatamente agora e que o senhor esteja sozinho. De
verdade, sozinho. — Emma reforçou ao pedir.
 
— Aconteceu algo?
 
— Aconteceu, mas o senhor vai ter que confiar em mim. — Falou —
Não estivemos tendo uma boa relação nos últimos meses, por culpa do
senhor, mas é detalhe. O que é realmente importante, agora, é que confie em
mim.
 
— Tudo bem, espera só um minuto… — Emma pode escutar John
avisando que precisaria de uns minutos sozinhos antes de ir e não demorou
até que escutasse a voz de seu pai novamente — Pronto.
 
— Eu preciso que o senhor venha para a minha casa, eu e o Ryan
mudamos o local da reunião do senhor e do Donald. Nós sabemos o que está
acontecendo, mas eu preciso que venha sozinho. — Respirou fundo — E
quando eu digo sozinho é sem o Deniel, ou a Charlotte. De preferência, que
deixe a Charlotte em casa e mande o Deniel para o endereço antigo. Eu sei
que é confuso, mas tem que ser assim.
 
— O Deniel fez alguma coisa? — Perguntou sério, mas não obteve
uma resposta — Entendi, vou lhe dar esse voto de confiança e vou mandar o
Dylan com o Deniel, assim tenho alguém de confiança de olho nele.
 
— Obrigada, pai, vou deixar o endereço por mensagem. — Emma
respondeu, um pouco mais aliviada. Tinha medo que, de alguma forma, a
péssima relação que vinham tendo influenciasse no pedido. — E, pai, eu não
queria que nada disso estivesse acontecendo.
 
— Quando eu chegar aí nós conversamos, tchau. — John falou e
desligou a chamada.
 
Emma olhou para a tela do celular e respirou fundo, então desceu
para a sala, onde Ryan esperava sentado em uma poltrona e com o olhar fixo
na porta. Emma, por mais que já estivesse acostumada a viver com ele,
nunca o viu sob a persona do mafioso. Se deu conta que também nunca
havia visto seu pai assim e, por último, percebeu que também seria assim em
algum momento.
 
Ficou parada no antepenúltimo degrau da escada, percebendo que sua
pressão caía à medida que sentia seu corpo esfriar. Estava em quase pânico.
Respirou fundo, inspirou e expirou devagar várias vezes, sequer notou o
rosto de Ryan em sua direção, ele avaliava cada pequena reação dela, mas
não se levantaria para socorrê-la, ela tinha de aprender a lidar com situações
tensas sem perder o controle de si.
 
Quando a campainha tocou, Emma apertou a mão fechada em punho
e nem mesmo sentiu quando a unha cortou-lhe a palma. Ryan levantou-se e
abriu a porta, encontrando seu pai acompanhado de um homem com uma
arma de grande porte pendurada em si.
 
— Por que meu soldado não pode entrar? — Donald perguntou quase
irritado.
 
— Medida de segurança. Quero que o senhor sente, ainda estamos
esperando o senhor O’Donnell para iniciarmos a reunião. — Ryan falou em
um tom calmo e autoritário.
 
— O que está acontecendo, Ryan? — Donald perguntou avaliando o
filho
 
— Quando John chegar eu falo. — Ryan reforçou, dando espaço para
o pai entrar.
 
— Espero que essa merda tenha uma boa explicação. — Donald
falou irritado entrando na casa. Parou próximo a Emma, olhando-a quase
preocupado — Emma, você está bem?
 
— Não! — Ela respondeu com dificuldade, o ar parecia não chegar
aos pulmões.
 
— Deixe-a quieta. — Ryan falou firme, olhando para o pai com a
expressão fechada. 
 
Donald apenas deu de ombros indo sentar-se. Ryan parou em frente a
Emma, o que fez um arrepio percorrer por toda sua espinha. Ryan tinha um
olhar inexpressivo, mas, ao mesmo tempo, frio. Emma engoliu seco. Mesmo
sabendo que ele não era uma ameaça para si, nunca tinha sentido uma aura
tão ameaçadora nele.
 
— Você precisa respirar se quiser resolver essa merda hoje. Então,
recomponha-se. Seu pai já deve estar chegando. — Ryan falou seco e Emma
apenas acenou, sem muita reação.
 
Respirou devagar, sentindo o ar chegar em seus pulmões. Não sabia
dizer o que exatamente a perturbava naquele momento, eram tantas coisas.
Tinha medo de que houvesse uma briga que saísse do controle, medo de que
seu pai não acreditasse em si, medo que Donald exigisse a cabeça de
Charlotte como uma forma de compensação por ela tentar matar Ryan. E
quando a campainha tocou, Emma sentiu seu coração parando por um
segundo inteiro. Ryan abriu a porta, John tinha uma expressão de poucos
amigos.
 
— Espero que tenham uma boa justificativa para me fazerem entrar
aqui sem um soldado sequer. — John falou muito irritado.
 
— Nós temos. — Ryan respondeu, dando espaço para que o homem
entrasse na casa.
 
Donald se levantou no momento em que John pisou na sala. Se
cumprimentaram brevemente, enquanto Ryan foi até a Emma, segurando em
sua mão e a guiando para a sala. Quase dava para sentir a tensão no ar, era
praticamente palpável.
 
— Começa logo com isso! — Donald falou impaciente.
 
— Achei que prefeririam conversar no escritório. — Ryan
respondeu.
 
— Não, apenas fala logo! — John respondeu — O problema não vai
mudar por causa do ambiente em que se está se falando sobre ele.
 
— Você vai contar, ou eu conto? — Ryan perguntou olhando para
Emma.
 
— Eu vou falar. — Emma respondeu em um tom baixo e respirou
fundo, soltando a mão dele — É sobre os ataques que o Ryan tem sofrido,
sobre os dois incêndios.
 
— Seja rápida e clara! — John ordenou.
 
— Há algum tempo o Ryan teve um problema com um homem
chamado Albert, que escapou quando o Ryan mandou capturá-lo. Esse
homem se associou a outra pessoa, que queria destruir os O'Donnells. Essa
outra pessoa foi responsável pelo incêndio na mansão, no apartamento e por
mais alguns problemas que o Ryan teve. — Emma explicou com um tom
médio, fazendo de tudo para não falhar ao falar. Precisava se manter firme
— A questão é que nós sabemos quem é a outra pessoa.
 
— Quem é essa pessoa? — John perguntou, mas em sua mente já
juntava as peças, Emma não queria Deniel ali…
 
— Nos dê o nome, que eu mesmo providencio o fim desse
desgraçado. Ele acha que pode sair impune depois disso? Vou mostrar como
se destrói alguém. — Donald falou muito irritado.
 
— Essa é a questão, não quero que o senhor interfira. — Emma falou
olhando para Donald.
 
— Como? É óbvio que eu vou! — Ele falou um tom mais alto, a voz
grave se impondo.
 
— Não exatamente, pai. — Ryan interferiu — Primeiro precisamos
saber como os Lancasters vão lidar com o problema.
 
— É o que eu estou pensando? — John perguntou, a voz era baixa,
ameaçadora e fria.
 
— Eu quero uma explicação! — Donald exigiu.
 
— É um problema familiar. Albert se associou ao Deniel e a
Charlotte, ela me confessou tudo na esperança de que eu a ajudasse. —
Emma soltou de uma vez, e viu a surpresa passar brevemente pelos olhos do
pai, logo sendo engolida pela persona mafiosa.
 
— Charlotte também sabia? — John perguntou e viu Emma acenar
devagar — Qual foi o motivo da mudança de endereço?
 
— Desconfiamos de que, talvez, Deniel pudesse estar planejando
algum ataque, por saber que Emma iria contar a verdade. Nesse momento eu
tenho uma equipe no local, preparada para matar, ou prender, qualquer um
que esteja lá. — Ryan explicou.
 
— Muito bem pensado. — John parabenizou.
 
— Charlotte e Deniel? Não se trata da sua outra filha e genro? —
Donald perguntou se virando para John — Eu devo considerar isso um
ataque da sua família a minha?
 
— Não. Nós temos um tratado e um acordo e eu sou um homem que
cumpre com a palavra. Eu mesmo resolverei isso a partir daqui. — John
falou firme.
 
— Nós temos mais uma coisa para falar. — Ryan disse atraindo a
atenção dos dois.
 
— Eu não acredito que tenha mais. — John falou quase
desacreditado, já tinha vivido muitas coisas sendo um homem da máfia,
incluindo traições, mas de dentro de casa, sangue do seu sangue, era a
primeira vez. 
 
— Eu e a Emma estabelecemos um novo acordo e estamos
rompendo. — Ryan declarou firme.
 
— E qual seria esse novo acordo? — Donald perguntou puxando o ar
com força.
 
— Eu passo a ser a sucessora do meu pai e, como Ryan já é o seu,
manteremos todos os acordos profissionais e todos os tratados.
Trabalharemos juntos no que for preciso, mas estamos solteiros e livres de
qualquer termo sobre o casamento. — Emma explicou.
 
— Eu não vou discutir isso agora, mas depois vamos falar disso. —
John falou firme enquanto tirava o telefone do bolso — Preciso fazer uma
ligação.
 
— Tem como saber como está a situação no escritório? — Donald
perguntou.
 
— Logo alguém virá com notícias, provavelmente a Victória ou a
Helena. — Ryan respondeu.
 
— E como pretende resolver sobre sua filha? — Donald virou
olhando para o John.
 
— Ela será castigada e os traidores mortos, como deve ser. — John
respondeu em um tom seco — Mas se espera que diga que eu vou matar
minha filha, aí teremos problemas.
 
— Está me ameaçando? — Donald perguntou em um tom de raiva
contida.
 
— Ninguém está fazendo ameaças aqui. — Emma interferiu.
 
— Eu preciso fazer uma ligação. — John repetiu e se afastou para
falar ao telefone com privacidade.
 
— Vou pegar informações sobre o que está acontecendo lá. — Ryan
disse se afastando também com o celular na mão.
 
Emma sentou no sofá, sentindo-se esmagada por tudo que estava
acontecendo, e fechou os olhos para ignorar o olhar cínico de Donald sobre
si. Estava a ponto de explodir, queria saber para quem o pai estava ligando,
queria saber como seria encarar Charlotte depois de entregá-la assim. Quase
suspirou, pensando na época em que era criança e via Charlotte como sua
heroína.
 
— Acha que tem pulso para a máfia? — Ouviu a voz de Donald
interromper seus pensamentos.
 
— Tenho certeza que sim. — Respondeu em um tom seco, olhando
para o homem.
 
— Percebo. — Ele respondeu com um sorriso sarcástico.
 
— Entendo que o senhor possa se sentir ameaçado por alguma razão,
ao ver uma mulher no poder, mas não se preocupe, Ryan sempre será meu
aliado. — Emma rebateu.
 
— Nada faz com que eu me sinta ameaçado. — Donald respondeu
com certo desprezo.
 
— Percebo. — Emma devolveu o sarcasmo.
 
— Tem mais alguma coisa que eu deva saber antes de sair daqui? —
John perguntou ao retornar à sala.
 
— Acho que não. — Emma respondeu — Mas, espera o Ryan voltar,
ele já deve ter informações sobre o escritório,
 
— Eu já soube de algumas coisas — John respondeu seco.
 
— Então? — Donald perguntou.
 
— Realmente, Deniel havia preparado uma armadilha. — John
confirmou.
 
— Voltei. — Ryan informou, atraindo a atenção dos três. — Acho
que podemos encerrar aqui.
 
— Ótimo! Depois que essa situação estiver resolvida, conversaremos
sobre o acordo. — John avisou.
 
— Certo, mas nossa decisão não vai mudar. — Emma respondeu.
 
— E, John, — Donald falou olhando para John — se não resolver
essa merda logo, eu irei
 
— Não vou me dar ao trabalho de te responder. — John falou, sem
direcionar um olhar sequer ao homem que lhe falava — Se me dão licença.
 
— Estou de saída também. — Donald declarou.
 
— John, — Ryan o chamou — meu braço direito, Derek, está lhe
esperando do lado de fora, para lhe informar sobre todos os movimentos que
fizemos. — Disse ao mais velho — Sei que o senhor tem seus próprios
homens, mas não sabe em quem vai poder confiar agora, com certeza há
aqueles que seguem ordens de Deniel.
 
— Certo, fico lhe devendo uma. — John falou e então saiu.
 
Donald saiu logo em seguida também, deixando o ex-casal sozinho.
Emma não se sentia nenhum pouco melhor com isso, só ficaria bem quando
tudo estivesse resolvido.
 
Capítulo 30
Victória chegou cedo ao escritório onde seria a reunião. Tratava-se
de um prédio pequeno dos Lancasters, um dos muitos que eles possuíam, e
normalmente era usado para o trabalho legalizado de John, porém algumas
vezes, quando era necessário, fazia algumas reuniões ali, achava mais seguro
do que levar as reuniões para a sede da empresa. Victória trocou alguns
funcionários do prédio por pessoas da sua equipe de maneira discreta, queria
pegar os traidores, e mataria quem fosse preciso, mas entregaria um trabalho
impecável, como sempre entregou.
 
Providenciou que os prédios ao redor fossem todos verificados à
procura de atiradores, nada poderia passar. Precisava pegar Deniel no
momento em que ele aparecesse e não poderia ter ninguém ali para protegê-
lo. 
 
Helena estava do lado de fora do prédio, esperando pela chegada de
Deniel, quando viu um corpo caindo de um prédio mais adiante, xingou
mentalmente quem quer que fosse o responsável, pois isso atrairia a polícia e
eles fechariam uma das ruas, apenas problemas. Mandou um soldado, uma
mulher que estava consigo, ir conferir se era alguém da equipe deles, ou do
Deniel, e que fosse atrás do sniper, caso o morto fosse um soldado dos seus.
Não tinha tempo, naquele momento, para resolver esse tipo de coisa.
 
Dentro do prédio, mais exatamente no andar onde aconteceria a
reunião, um homem atirou em uma funcionária, fazendo o caos se instalar
por todo o prédio e dando trabalho para que Victória conseguisse separar
funcionários de soldados inimigos. Logo a confusão se instaurou pelo
prédio, já que o tiroteio persistia, mas ela sabia que não ia perder
completamente o controle da situação e começou agir para reverter e
resolver a bagunça de tiros, gritos e sangue.
 
Quando o carro de Deniel parou em frente ao prédio, Helena sabia
que aquela seria a única chance de pegá-lo, então a primeira coisa que fez foi
atirar no pneu traseiro, não se importando se aquilo iria causar alvoroço.
Queriam pegar ele dentro do prédio, mas já sabia que seria impossível.
Apenas uma mão foi colocada para fora do carro, apertando o gatilho da
arma que segurava, acertando-a em cheio. Helena não conseguiu se mover,
Deniel conseguiu fugir.
 

 
Deniel entrou no carro contrariado. Sabia que tinha algo errado no
momento em que John atendeu a chamada de Emma, mas ainda fez algum
esforço para fingir até sair de dentro da mansão. Todos os planos estavam
dando errado. Sentia ódio, raiva e sede de sangue. Ligou para um dos seus
homens, avisando que era para eles começarem um tiroteio dentro do prédio,
não se importava com quem fosse morrer, mas que o caos fosse instaurado.
 
— Isso é exagerado, não precisa matar pessoas inocentes. — Dylan
falou indignado.
 
— Exagerado? Você entende a situação em que eu estou? Que nós
estamos? — Deniel perguntou, olhando indignado para seu comparsa.
 
— Nós não, você está! Até onde você me contou, Emma sabe apenas
do seu envolvimento e do envolvimento da Charlotte. — Dylan disse
enquanto dirigia — Eu ainda sou o homem de confiança do John.
 
— Acha mesmo que, quando começarem a investigar mais a fundo,
não vão chegar até você? — Deniel perguntou enquanto ria debochado —
Você não será só morto, vai ser torturado por horas e horas, para que sirva de
exemplo. John vai iniciar uma caça às bruxas e qualquer um que ficou do
nosso lado vai morrer.
 
— E o que você sugere? — Dylan perguntou, disfarçando o medo
que sentiu só de pensar no que John faria com ele, pois sabia que ele
realmente o torturaria muito.
 
— Primeiro, vingança. Acho que as vadias das irmãs Lancasters
precisam aprender que mulher nasceu para servir. Depois, vou matar as duas
e ir embora, trocar de nome e ninguém nunca vai me achar. — Deniel falou,
cheio de ódio e convicção.
 
— Charlotte é a sua esposa. — Dylan falou fazendo o outro revirar
os olhos.
 
— Só casei com essa vadia porque queria assumir o império
completo, mas não deu certo. Dez anos para aquele velho dizer que a caçula
tem maior potencial. — Bufou irritado — Se eu soubesse que seria assim,
tinha esperado a vadiazinha ficar mais velha para se casar com ela.
 
— Eu acho que só deveríamos ir embora. Quer saber, eu não sei o
que você vai fazer, mas eu vou pegar minha esposa e sumir. — Dylan falou,
diminuindo a velocidade ao ver a polícia fazendo um desvio, e parou quando
um policial bateu em sua janela abrindo o vidro — Tudo certo, senhor
policial?
 
— Preciso que façam um desvio, temos acidente nessa rua e
precisamos interditar — O policial respondeu indicando a direção com um
gesto.
 
— Claro, obrigado. — Dylan respondeu, seguiu o caminho indicado,
e quando estava longe o suficiente olhou de canto para Deniel — Tem
certeza de que quer ir até lá?
 
— Tenho. Quero ver como está o movimento, tenho certeza de que
tem gente por lá — Deniel respondeu firme.
 
— Exatamente por isso não deveríamos ir. — Dylan rebateu.
 
— Como alguém tão medroso pode ser um traidor? — Deniel
debochou achando engraçado.
 
— Como alguém tão burro achou que tomaria o poder? — Dylan
rebateu, ignorando o olhar completamente irritado do outro — Não se
preocupe, pois, mais burro que você, sou eu, que acreditei que você tinha
alguma capacidade, além de falar bem e ser convincente.
 
— Cala a porra da sua boca, ou eu te mato bem aqui! — Deniel
ameaçou, mas isso só causou algumas risadas no motorista.
 
— Estamos fudidos, Deniel. Apenas aceita e vamos fugir enquanto
temos tempo. — Dylan sugeriu, já chegando em frente ao prédio.
 
— Não, e você só vai depois que me ajudar a sequestrar a Emma.
Preciso matar a culpada pelo meu fracasso, depois dou um jeito na Charlotte
sozinho. — Deniel falou entre dentes, obcecado com a ideia de se vingar.
 
— Quero ver você me obrigar. — Respondeu rindo ao parar —
Observe o quanto quiser, vou fazer uma ligação.
 
— Está acontecendo, ouve os tiros? — Riu — Eles, pelo menos, vão
ter alguns problemas.
 
Sentiram o baque no momento em que os tiros de Helena atingiram o
carro, ficando assustados. Dylan deixou o celular cair, enquanto Deniel
pegava a arma em seu coldre de quadril.
 
— Atiraram nos pneus! — Dylan falou assustado.
 
— Eu vou atirar para fora e você dirige, vamos ter que fugir assim
mesmo. — Deniel mandou e outro só acenou ligando o carro novamente.
 
Deniel só colocou a mão para fora, atirando sem fazer uma mira
exata, não se importava com quem quer que levasse o tiro, só queria tempo
para poder sair dali, e ficou satisfeito quando conseguiu.
 

 
Ryan caminhou até Emma e beijou sua testa com carinho, precisava
ir atrás de seus soldados. Já sabia do tiroteio que aconteceu dentro do prédio,
pois Derek havia lhe avisado enquanto a reunião estava acontecendo. Ryan
não queria deixar Emma sozinha ali, mas precisava ir. Foi quando seu
telefone tocou e ele o atendeu rapidamente.
 
— Chefe, precisamos que venha até o hospital! — Escutou uma voz
masculina desconhecida dizer.
 
— O que aconteceu? — Perguntou preocupado.
 
— Perdemos um. — Ele respondeu, fazendo Ryan travar por um
segundo e depois correr em direção à porta.
 
Capítulo 31
Emma piscou confusa, mas demorou apenas um segundo para reagir
e ir atrás de Ryan. Não sabia o que havia acontecido e, por isso, não entendia
a reação do outro. Nem mesmo Ryan sabia exatamente o que estava
acontecendo, ou quem havia se ferido. Emma alcançou Ryan antes que ele
chegasse ao carro e o parou, impedindo-o de continuar.
 
— Emma, sai da frente! — Ele pediu nervoso — E fica em casa. Não
quero que você corra riscos saindo. Não sei exatamente o que está
acontecendo, ou se pegaram eles.
 
— Se você sequer sabe o que está acontecendo, por que está saindo
correndo? — Emma perguntou, colocando a mão na cintura.
 
— Alguém da minha equipe levou um tiro, ou vários, ainda não sei,
mas preciso ir conferir essa informação. — Ryan esclareceu com ansiedade.
 
— Eu acho que você não está raciocinando como deveria estar. —
Emma falou firme — Quem te ligou? Para onde levaram essa pessoa ferida?
Por que não ligou para seus comandantes para verificarem primeiro?
Entendo que você é chefe e tem que cuidar dos seus, mas também precisa
fazer isso centrado.
 
— Eu iria falar com eles enquanto ia até lá. — Ryan se defendeu —
Eu não preciso que você me ensine a fazer o meu trabalho.
 
— Pois tô achando que você precisa, sim. Por que não me responde
então, se está tão convicto de estar fazendo o certo? — Emma insistiu e
Ryan bufou audivelmente, estava odiando perceber que agiu sem pensar e
que estava levando uma bronca de Emma.
 
— Ok! Ok, você tá certa! — Ryan declarou, passando a mão no
cabelo e pegando o celular para ligar para Helena, enquanto ignorava o olhar
inquisidor de Emma. O telefone chamou até a ligação cair e somente na
segunda tentativa, depois da terceira chamada, é que o telefone foi atendido
— Helena? 
 
— Oi, chefe, estamos com problemas, não consegui ligar antes. —
Helena falou com a voz cansada — Mas já falei com o Derek, ele está lá no
escritório com o John, resolvendo a bagunça que ficou lá.
 
— O que aconteceu? E por que falou com o Derek ao invés de me
ligar? — Ryan perguntou irritado, mas tentando não gritar.
 
— Foi tudo muito rápido e ele estava me ligando na hora em que…
— Helena respirou fundo — Na hora em que a Victória levou o tiro. Um tiro
que ia ser em mim.
 
— Vick levou um tiro? Como ela está? Onde vocês estão? — Ryan
perguntou alarmado. Emma, que prestava atenção na conversa, apenas deu
espaço para que ele entrasse no carro, indo em direção a porta do passageiro.
 
— Estamos no hospital de sempre. Ela está fazendo cirurgia e eu
estou na sala de espera. — Helena explicou com a voz quebrada — Ela é
uma cretina, mas é minha melhor amiga. Eu sei que essa não deveria ser
minha postura e que eu não deveria me abalar com nada, mas ela tomou o
tiro para me salvar e… 
 
— Está tudo bem, respira fundo. — Ryan instruiu — Já avisou ao
hospital para não poupar recursos? 
 
— Sim.
 
— Estou indo aí. — Ryan falou entrando no carro — Ela vai ficar
bem.
 
— Espero que sim… — Helena falou angustiada, não conseguia
esconder o desespero que estava sentindo. Conhecia Victória desde criança,
quando eram vizinhas em um bairro pobre. Já eram amigas quando
conheceram Derek e Ryan e, juntas, aceitaram fazer parte da equipe dele.
Cuidaram uma da outra durante todo o treinamento físico e psicológico pelo
qual passaram. Implicavam e brigavam o tempo todo, mas ainda se amavam
quase como irmãs.
 
— Helena, foi você que mandou me ligar para falar que havíamos
perdido alguém no comando? — Ryan perguntou.
 
— Não. Eu não lembrei de muita coisa na hora, e também não acho
que o Derek teria feito algo assim, ele mesmo teria ligado. — Fez uma pausa
de alguns segundos — E não perdemos ninguém, não ainda, e espero que
não percamos.
 
— Está certo, em poucos minutos estarei aí. — Ryan avisou e, em
seguida, desligou a chamada.
 
Ryan começou a dirigir, conhecia muito bem o endereço do hospital,
afinal, o lugar tinha um acordo muito caro com a máfia para o atendimento
dos pacientes que fizessem parte da organização criminosa. As fichas eram
adulteradas, a polícia nunca era chamada e tudo ficava por ali mesmo,
qualquer tipo de prova era descartada como lixo hospitalar contagioso.
Ainda que tivessem um médico para atendimentos no galpão, às vezes
precisavam de todo o aparato que só encontrariam em um hospital bem
equipado.
 
— O que aconteceu? — Emma perguntou atraindo rapidamente a
atenção de Ryan.
 
— Você não deveria estar nesse carro! — Ryan falou sem olhar para
Emma, estava dirigindo muito rápido e não poderia se distrair demais —
Victória levou um tiro, estou indo para o hospital, e você estava certa sobre a
ligação.
 
— E qual é o estado dela? — Emma perguntou, não gostava da
garota, mas também não desejava a morte dela.
 
— Ela havia acabado de entrar em cirurgia, ainda não há nenhuma
notícia concreta. — Ryan respondeu — Eu preciso ligar para o Derek. Já que
está aqui, faz a chamada e conecta no carro.
 
— Tudo bem. — Emma falou, já pegando o celular de Ryan e
desbloqueando assim que ele lhe deu a senha, fazendo a ligação para Derek
em seguida.
 
— Ryan? Eu estava tentando te ligar e chamada não completava. —
Derek falou ao atender no primeiro toque.
 
— O que aconteceu? — Ryan pergunta preocupado.
 
— Já soube da Vick? — Derek pergunta e ouve um “sim” como
resposta — Helena ficou muito abalada. Aqui tá um caos e tá difícil conter a
polícia. Estamos cogitando arrumar pessoas para serem presas, perdemos
vários soldados e o Deniel escapou, mas descobrimos também que o Dylan,
braço direito do John, era parceiro do Deniel. Isso aqui está um verdadeiro
inferno.
 
— Consiga algumas pessoas para serem presas, isso vai acalmar os
jornais. A essa altura já deve estar cheio de jornalistas por aí, também.
Depois, descubra quem dos nossos morreu e se tinham famílias, não
deixaremos eles desamparados — Ryan instruiu.
 
— Sim, senhor. Qualquer outra informação eu te ligo. E fica atento,
duvido que esse Deniel vá deixar por isso mesmo. Agora eu vou trabalhar e,
por favor, me manda notícias da Vick.
 
— Espera! — Emma pediu, antes que Derek desligasse — Você está
com meu pai, certo? Tem notícias da minha irmã?
 
— Até o momento, o que eu soube é que ela ainda tá na casa dos
seus pais, Emma, mas não sei muito sobre a situação dela e acredito que seu
pai não vai espalhar. Você vai ter que conferir isso diretamente. — Derek
respondeu educadamente.
 
— Entendo, obrigada. — Emma agradeceu, prendendo um suspiro. 
 
Derek desligou a chamada, Ryan e Emma ficaram em silêncio até
chegar ao hospital. Não havia nada para ser dito naquele momento, nada que
quisessem compartilhar. Ambos estavam imersos nos seus próprios dilemas.
 
Capítulo 32
Não demoraram a chegar no hospital. Com algumas informações
rápidas chegaram à sala de espera em que Helena estava, ainda tinha sangue
em sua roupa, o cabelo estava bagunçado e preso de qualquer jeito. Ainda
tinha marcas das lágrimas que lhe molharam o rosto. Emma ficou um pouco
atrás, deixando que Ryan se aproximasse da garota primeiro. Não tinha
intimidade e nem nenhuma ligação direta com eles, então ficou só
observando.
 
Ryan se aproximou de Helena, sentando na cadeira ao seu lado. A
garota apenas encostou no ombro dele e chorou. Emma nunca havia
imaginado ver Helena tão fragilizada e, pelas provocações que presenciou,
não tinha noção do quão próxima era a relação das duas. Nunca questionou
nada sobre os comandantes de Ryan, não sabia nada além dos seus nomes, e
acabou por perceber a importância de saber quem são as pessoas ao redor e
qual o verdadeiro laço que as une. Sentou em uma cadeira um pouco mais
afastada, não tinha o que dizer, ou que fazer e, por um instante, se perguntou
se, de fato, deveria estar ali. 
 
Ryan esperou até que Helena respirasse e não chorasse mais para
poder falar, conhecia a comandante, e amiga, como a palma da mão. Sabia
que não estava sendo fácil para ela e não iria cobrar nada agora, nem faria
muitas perguntas sobre tudo até ali. Primeiro iria esperar tempo suficiente
para que baque passasse.
 
— Desculpa, chefe. — Helena falou com a voz quebrada — Essa não
é a postura que eu deveria ter, eu sei disso.
 
— Fica calma, Helena, Derek está cuidando de tudo. Assim que o
caos for apaziguado ele vem para cá e vou pedir para que ele traga outra
roupa para você.  — Ryan respondeu com voz mais tranquila que conseguiu.
Por dentro estava nervoso e irritado, mas não queria piorar o clima ali.
 
— Como está a situação?  — Helena perguntou enquanto limpava os
olhos.
 
— Não está boa, mas a uma hora dessas já deve estar quase tudo sob
controle. John também estava empenhado em resolver tudo logo. — Ryan
respondeu.
 
— E seu pai? Ele deve estar muito puto. No fim das contas, ele é
nosso chefe.  — Helena falou, enquanto se ajeitava, olhando em direção a
parede.
 
— E eu não vejo a hora de assumir tudo logo. Estou cansado dele
sendo o chefe!  — Ryan respondeu deixando a irritação transparecer.
 
— O que ele fez?  — Perguntou, virando seu rosto para olhar Ryan.
 
— Está assistindo tudo como se fosse um show. — Ryan respondeu
com certo desdém e respirou fundo — Já recebeu alguma notícia da Vick?
 
— Nada. Desde que ela entrou na cirurgia, nada! — Suspirou — Foi
tudo tão rápido, eu nem sei de onde ela surgiu para me proteger daquele
jeito. Juro, quando ela sair dessa, eu vou agredir essa vagabunda.
 
— O amor de vocês é fascinante. — Ryan brincou e Helena riu triste.
 
— Como a chefinha está? — Helena perguntou, queria mudar o
assunto.
 
— Você pode perguntar pra ela. — Ryan indicou a direção de Emma,
o que causou surpresa em Helena, que até então não havia notado a garota
ali, e acenou, recebendo outro aceno como resposta.
 
— Acho que vou ficar aqui mesmo. — Helena falou baixo.
 
— Vou atrás de informações e ligar para o Derek. — Ryan falou se
levantando.
 
— Tudo bem, eu vou esperar aqui. — Helena respondeu e Ryan saiu,
indo para a recepção do hospital. Tentaria primeiro de maneira calma, mas,
se precisasse, talvez não fosse gentil por muito tempo.
 
Emma ainda ficou em seu lugar um pouco, estava trocando
mensagens com Darah desde o momento em que sentou ali, mas resolveu se
aproximar de Helena quando Ryan se afastou. Foi em passos lentos até a
cadeira do lado dela e sentou onde, antes, Ryan estava.
 
— Victória vai ficar bem, vaso ruim não quebra. — Emma falou em
um tom leve e Helena quase riu. Talvez, se não estivesse tão abalada, a
risada teria saído.
 
— Não precisa agir assim, sei que você não gosta dela. — Helena
respondeu — Como você está?
 
— Realmente não gosto, mas não estava torcendo para que ela
morresse, não cultivo esse ódio por ela. — Emma respondeu, arrumando sua
postura — E acho que não tem ninguém bem hoje. Talvez não pelos mesmos
motivos, mas não é como se tivesse sido um grande dia.
 
— Você tem razão.
 
— Eu pedi pra Darah trazer algumas roupas para você. — Emma
comentou, fazendo Helena olhar em sua direção — Você ainda está toda suja
de sangue, sei que isso não deve ser algo que tá te ocupando a cabeça agora,
mas também sei que você não deve estar planejando ir embora só para se
trocar, então…
 
— Obrigada por se preocupar. — Helena interrompeu a explicação
— Eu já tinha me esquecido disso, vai ser bom colocar algo limpo.
 
— Ela não vai demorar a chegar. — Emma falou e Helena apenas
acenou.
 
O silêncio ocupou o espaço, não tinham mais nada para falar. Emma
não sabia como demonstrar apoio a Helena e Helena não queria falar para
Emma sobre como estava se sentindo. Ryan não demorou a voltar, mas não
sentou, tinha o celular em suas mãos e uma expressão fechada.
 
— O que aconteceu?  — Emma perguntou.
 
— Victória ainda está em cirurgia, mas, segundo o enfermeiro que
falou comigo, isso é bom, porque significa que ela ainda está viva para
continuarem tentando, porém, é ruim porque também significa que a
situação não é boa.  — Ryan explicou e Helena respirou fundo. — John
pegou o Dylan, mas não tem nem rastro do Deniel.
 
— Como pegaram o Dylan? — Emma perguntou realmente
interessada.
 
— John sabia onde a família dele vivia e mandou irem até lá, foi bem
fácil, na verdade. Ou ele é muito burro, ou estava muito confiante. Se
pretendia trair o chefe, deveria ter mantido a família longe do alcance. —
Ryan respondeu.
 
— Espero que você pegue o Deniel. — Helena falou, o tom de voz
frio, quase cortante — Porque assim poderei pôr as mãos nele e descontar o
que estou sentindo.
 
— Eu farei isso. Preciso acertar umas contas com esse desgraçado. 
— Ryan falou no mesmo tom. Emma prendeu o suspiro, não por Deniel,
pois o odiava, mas pensou em Charlotte. Ela era sua irmã, mas também era
parcialmente responsável por tudo — O Derek já está chegando.
 
Emma estava completamente perdida na confusão dentro de si, não
tinha ódio pela irmã, mas tinha medo, afinal, foram duas tentativas de
homicídio. Definitivamente não queria estar mais no convívio com ela e
sequer sabia como iria ficar a situação da mais velha. Precisava ir para casa,
mas não queria. Deixou o olhar recair sobre Ryan, estava satisfeita pelo fim
do acordo, ansiosa, porque agora iria entrar de vez nesse mundo de máfia e
crimes, mas, ao mesmo tempo, estava chateada por se afastar dele.
 
Derek chegou e foi direto até a Helena, que ficou de pé e o abraçou
apertado. Ele a envolveu nos braços, tentando passar o máximo de conforto
que poderia, e beijou suavemente o cabelo dela, enquanto ela escondia o
rosto em seu peito. Ryan mudou de lugar e sentou ao lado de Emma,
enquanto Derek sentava e mantinha Helena perto de si e os dois
conversavam baixo sobre Victoria.
 
O celular de Emma brilhou, atraindo sua atenção, e ela viu o nome de
Darah na tela, clicou nele, abrindo o aplicativo de mensagens.
 
Darah
 
Amiga, tô na recepção, não posso passar
 
porque não sou familiar ou amiga da paciente.
 
Estou te esperando aqui.
 
Emma sussurrou um “já volto” e foi até a recepção atrás de Darah,
que assim que a viu, a abraçou. Não estava sendo um bom dia para ninguém.
 
— Como você está? — Darah perguntou em um tom baixo.
 
— Não tenho nem resposta para isso. — Emma disse em meio a um
suspiro.
 
— Eu acho que a gente deveria deixar essas roupas para essa Helena
e ir para casa, você não é próxima dela, muito menos da Victória — Darah
sugeriu e justificou.
 
— Eu não quero ir para casa. O acordo acabou e não sei nem onde é
minha casa. — Emma falou em um tom quase triste.
 
— A casa em que você está morando com o Ryan. Você não tem
obrigação nenhuma de voltar pra casa dos seus pais hoje e sequer vai
conseguir relaxar lá. Eu fico contigo até o Ryan voltar, mas não faz sentido
você se desgastar assim. — Darah insistiu.
 
— Tudo bem, vamos lá deixar isso e vamos pra casa. — Emma
concordou. Entraram de volta na sala de espera onde os três estavam e Darah
ficou perto da porta, para não invadir o espaço de ninguém. Emma se
aproximou devagar deles — Helena, aqui, a bolsa com as roupas.
 
— Ah, obrigada! — Ela agradeceu, mas quem pegou a bolsa foi
Derek, meio confuso — Eu não quero sair daqui agora, mas a Emma
providenciou uma roupa limpa para mim.
 
— E come alguma coisa, vai te fazer bem. Toma um suco, pelo
menos — Emma sugeriu.
 
— Eu vou fazer ela se alimentar, nem que seja a força. — Derek
respondeu.
 
— Ela vai ficar bem. — Emma consolou-os novamente e tocou o
braço de Ryan para chamar a atenção dele. — Eu… Eu vou para casa, mas
se precisarem de mim, qualquer coisa, é só me ligar.
 
— Vai para casa do seu pai? — Ryan perguntou.
 
— Ainda não. Não estou pronta para ver a Charlotte. — Emma
respondeu e Helena respirou fundo.
 
— Ela tem sorte de ser sua irmã e estar sob proteção. — Helena falou
levemente irritada — Ela é tão culpada quanto o Deniel, que atirou.
 
— Eu sei. Ela tentou me matar, tentou matar o Ryan, não é como se
eu estivesse tranquila sobre isso. — Emma respondeu — Eu também não sei
o que fazer.
 
— Eu te vejo mais tarde então. — Ryan interrompeu — Não sei
quanto tempo vou ficar aqui no hospital e, depois, ainda quero conferir
algumas coisas. Não fique sem segurança e tem que ser um dos meus
homens, não confie em ninguém que trabalha para o seu pai.
 
— Certo, com licença. — Emma respondeu e se afastou, indo até
Darah, que a esperava para ir embora.
 
— Daqui a pouco a gente tá em casa, vai ficar tudo bem logo —
Darah falou tentando confortar a amiga.
 
Emma apenas sorriu em resposta, mas não falou nada. Estava
cansada e chateada, só queria deitar um pouco e fingir que aquele dia não
estava acontecendo. Mesmo que não pudesse evitar os problemas por muito
tempo, um momento em paz não iria piorar tudo.
 
Capítulo 33
Quando chegaram a casa, Darah convenceu Emma a ir tomar um
banho para se acalmar um pouco e, enquanto isso, preparou um lanche para
que ela comesse. Não gostava de ver a amiga tão fragilizada e, mesmo
buscando na memória, não tinha nada que pudesse se comparar àquilo. Eram
problemas que, até pouco tempo antes, sequer estariam discutindo, no
máximo comentariam a respeito do tiroteio noticiado no jornal.
 
— Você está tão concentrada. — Emma falou quando entrou na
cozinha.
 
— Preparar qualquer coisa de comer não é muito meu forte. —
Darah respondeu rindo — Mas pode confiar que seu sanduíche está muito
bom.
 
— No estado em que eu estou, não sei se vou sentir gosto de alguma
coisa. — Respondeu, sentando à mesa.
 
— Vai ficar tudo bem. Uma nova fase na sua vida vai começar e você
vai ver que tudo isso foi só um preparo. — Darah falou e colocou o prato
com o sanduíche em frente a Emma.
 
— Não estou muito animada sobre essa nova fase.
 
— Eu sei, nada do que planejamos para nossa vida está acontecendo.
Bom, sua vida está um caos e eu não vou te deixar sozinha nisso. — Darah
falou, servindo um copo de suco para Emma e outro para si.
 
— Está dizendo que vai aceitar? — Emma perguntou com um sorriso
nascendo em seu rosto.
 
— É, mas não sei como isso funciona. Não tenho ideia de nada —
Darah respondeu ao se sentar.
 
— Eu também não. Quando meu pai for iniciar o meu treinamento,
você vai começar junto comigo.
 
— E nós vamos fazer faculdade também. Mafiosa, sim. Formada
também — Darah brincou, provocando algumas risadas.
 
— Claro! Mas ainda tenho que resolver minha vida familiar
primeiro. — Emma se lamentou. Desde o momento em que Charlotte contou
tudo, pensar em sua casa lhe abalava, ao menos seu pai havia confiado nela.
Acabou se dando conta de que, até o momento, não havia falado com sua
mãe, não a procurou e nem foi procurada por ela.
 
— Por que você fez essa cara triste do nada? — Darah perguntou
preocupada.
 
— Não pensa na sua casa ainda, deixa para se preocupar quando
estiver lá. Já está tarde, come e vai deitar. Descansa, que amanhã é outro dia.
— Darah falou, apontando para a comida que ainda não tinha sido sequer
tocada.
 
— Tudo bem, estou comendo. — Mordeu o sanduíche.
 
— Boa garota. — Darah falou e bebeu um pouco do próprio suco —
Eu vou precisar voltar para casa.
 
— Por quê? — Emma perguntou e deu um gole em seu suco, não
tinha percebido estar com fome, até começar a comer.
 
— Meus pais voltaram de viagem e, de qualquer forma, não acho que
eu ainda possa estar, de alguma, forma em perigo. Na verdade, nunca achei.
— Deu de ombros.
 
— Eu estava apenas cuidando para que você não corresse perigo, sua
ingrata. — Emma acusou, fingindo estar brava, mas acabou rindo.
 
— Eu sei, eu sei, mas está tudo bem. — Darah falou tranquila. 
 
Continuaram conversando trivialidades, o que deixou Emma mais
calma, mas não o suficiente para conseguir dormir depois que Darah foi
embora. Se remexeu na cama por grande parte da noite, sem conseguir
pregar os olhos e, quando desistiu de tentar dormir, foi para a sala e ficou ali
por tanto tempo que acabou pegando no sono.
 
Ryan chegou quando já amanhecia e estranhou o fato de Emma estar
dormindo no sofá. Com cuidado para não acordá-la, pegou-a no colo e a
levou para o quarto, então seguiu para o seu próprio. Tomou um banho
quente e demorado, queria que todo o cansaço e estresse fossem lavados
com a água, mas não era assim que funcionava, saiu do banho e se jogou na
cama, dormindo em seguida.
 
Emma acordou perto do meio-dia e ficou confusa pelo fato de estar
no quarto, lembrava de ter ido para a sala, mas não se lembrava de voltar.
Desistiu de tentar se lembrar, não ia queimar a cabeça com isso. Tomou
banho e vestiu-se confortavelmente para passar o dia todo em casa, não
queria ver o mundo e estava torcendo para que nada acontecesse que a
obrigasse a sair dali. Desceu as escadas e, quando chegou à cozinha, desistiu
no mesmo instante de tentar cozinhar. Sentou em uma cadeira e começou a
vasculhar um aplicativo de comida, procurando algo que pudesse substituir o
almoço, estava tão imersa, que não notou a companhia.
 
— O que está procurando nesse celular? — Ryan perguntou,
causando um pequeno susto na garota. — Bom dia!
 
— Bom dia nada! — Emma reclamou, colocando a mão sobre o
peito e respirando devagar para se acalmar — Não chega sorrateiro assim
não.
 
— Desculpa. — Ele pediu prendendo o riso — Como você está?
 
— Bem, eu acho. Não tenho uma resposta exata. — Deu de ombros
— Como você está? E a cirurgia da Victória?
 
— Estou bem, e ela está em coma induzido. Deve permanecer apenas
pelas próximas horas ainda. Os médicos estão com uma expectativa boa,
mas ela ainda precisará ficar internada por alguns dias. — Explicou
enquanto se sentava ao lado de Emma.
 
— Espero que ela fique bem.
 
— Eu também espero. — Respondeu e respirou fundo — O que
estava fazendo antes de eu entrar? 
 
— Procurando algo para comer, quer que eu peça para você também?
— Emma perguntou sem tirar os olhos do celular.
 
— Quero, por favor. — Ryan respondeu — Preciso comer e dormir
mais.
 
— Por que chegou tão tarde? — Ela perguntou olhando Ryan pelo
canto dos olhos.
 
— Você nem viu a hora que cheguei. — Ele rebateu.
 
— Exatamente por isso sei que foi muito tarde. — Emma respondeu
enquanto revirava os olhos.
 
— Você tem um ponto. — Ryan brincou e se recostou na cadeira —
Precisei ver sobre quem eu perdi nesse confronto, quais foram os soldados
designados para serem presos pra dar uma segurada na polícia e na mídia. Eu
preciso mandar localizar a família de cada um para dar apoio financeiro a
eles, além das notícias.
 
— Você faz isso diretamente? 
 
— Não, normalmente quem cuida disso é o Derek, ou a Helena, mas
não quis tirá-los do hospital. — Ryan explicou calmo — Aqui vai um
conselho de alguém que está a mais tempo que você nisso: mesmo que ainda
seja aprendiz, tenha comandantes que tenham laços entre si e que tenham
extremo respeito por você. Medo, é bom que todos tenham, mas respeito é
fundamental. Te temer significa apenas que não vão fazer nada na sua cara,
mas respeito significa que, mesmo longe dos seus olhos, eles ainda farão
qualquer coisa por você.
 
— Vou anotar isso. — Emma respondeu atenta.
 
Antes que Ryan respondesse algo, o telefone de Emma tocou e o
nome de seu pai apareceu na tela, o que a fez travar no lugar. Somente
quando sentiu a mão de Ryan apertando suavemente seu ombro é que reagiu.
Respirou fundo e atendeu a chamada.
 
— Emma, quando você volta para casa? — John falou assim que
ouviu o “oi” de Emma.
 
— Eu ainda não decidi. — Ela respondeu sem qualquer segurança na
voz.
 
— Então eu estou decidindo por você, te quero em casa até amanhã!
— John falou autoritário.
 
— Tudo bem, amanhã eu vou. — Emma concordou sem discutir, não
tinha como fugir daquilo, de qualquer forma.
 
— Ótimo. Você tem muito o que fazer, agora que decidiu assumir seu
posto de herdeira. — Avisou e Emma respirou fundo, não queria pensar
sobre isso, não naquele dia.
 
— Eu sei. Amanhã a gente vê isso, pai, hoje não. — Emma pediu.
 
— Até amanhã. — John respondeu sem falar mais nada e desligou.
 
— Vamos pedir comida. Quero muito encher a barriga. — Emma
falou e Ryan apenas concordou, deixaria ela lidar com o que quer que
estivesse sentindo ao seu próprio modo.
 

 
Ryan não ficou muito em casa depois do almoço e Emma passou a
tarde sozinha, mal tocando no celular. Queria ter fingido que não estava
imersa em problemas e um lago de confusão sobre tudo o que vinha
sentindo, mas não conseguiu evitar. Viu a hora que Ryan chegou em casa
pela janela do quarto e sentiu uma enorme necessidade de estar com ele, pelo
menos um pouco e quando deu por si, já estava no meio do corredor.
 
Emma bateu na porta do quarto uma vez antes de entrar, era sua
última noite na casa, os últimos dias já haviam sido complicados e, ainda
assim, tinha tanta coisa para resolver. Mas seu coração pediu um pouco de
aconchego, não qualquer um, mas um muito específico. Encostou no portal
olhando para Ryan, que já estava sentado na cama, com o celular na mão,
mas largou o aparelho assim que a porta foi aberta.
 
— Está tudo bem?  — Perguntou preocupado.
 
— Está, sim. Posso dormir aqui? Eu sei que o acordo acabou, mas…
 
— Vem. — Ryan falou, já dando espaço para que ela pudesse se
juntar a ele.
 
Emma caminhou devagar até a cama, estava sentindo-se desolada,
triste e cansada, queria muito carinho e não sabia exatamente como pedir,
então só queria ficar ali. Mesmo que não tivesse admitido, gostou das noites
em que dormiu com os braços de Ryan ao seu redor. Assim que chegou à
cama, deitou-se e se enfiou embaixo das cobertas, ficando de frente para ele.
 
— No que está pensando?  — Ele perguntou. 
 
— Eu gosto de você. — Emma falou de uma vez, como quem tira o
curativo em uma única puxada — Mas eu ainda não quero ficar com você,
pois eu não sei o quanto desse sentimento é real. Não estou dizendo que te
amo, porque eu não te amo, mas não vou embora sem assumir que aprendi a
gostar de você. Eu sempre reparei que você tentou fazer as coisas fluírem
melhor, obrigada por isso. 
 
— Emma… — Ryan começou a falar, mas ela ergueu a mão,
gesticulando para que esperasse e ele apenas assentiu, lhe dando o tempo
que precisava.
 
— Eu não sei se você entende o que eu estou tentando dizer. Falar
abertamente assim nunca foi muito a minha praia. — Emma riu um pouco
nervosa — Eu gosto de você, mas quero aprender a lidar com esse
sentimento. Então amanhã, quando eu for embora, as coisas vão continuar
como no nosso acordo, você seguindo sua vida e eu, a minha. E você será
livre para se envolver com outras pessoas se quiser, quero deixar isso claro.
 
— Eu não quero me envolver com outra pessoa, eu gosto de você
também. Não precisamos ficar separados.   — Ryan sugeriu — Não juntos
como noivos, mas…
 
— Eu entendi sua sugestão. — Emma interrompeu — Mas ainda
acho que a melhor opção é aquela onde ficamos separados. Minha vida vai
mudar muito agora e eu preciso disso para aprender a entender, e lidar, com
tudo que sinto. Eu vou começar a treinar, me preparar para a faculdade, e
não estou dizendo que isso me impede de ser feliz em um relacionamento,
mas a maneira como o nosso começou não é saudável.
 
— Mas, e se durante esse tempo, o que sentimos se desfizer? Não
tivemos tempo pra viver nada — Ryan falou enquanto se sentava na cama,
sem tirar os olhos de Emma.
 
— Então é porque se desfaria em algum momento, de qualquer forma
— Emma deu de ombros, também sentando na cama.
 
— Acabou então. — Ryan falou em um tom baixo. Estava se
adaptando ao vazio que de repente ocupou um espaço dentro de si.
 
— Acabou. — Emma repetiu, ficando de joelhos na cama — Mas
tem algo que eu quero antes de ir embora.
 
— O quê? — Ryan perguntou, colocando as mãos na cintura de
Emma quando ela se aproximou o suficiente.
 
— Você, por essa noite. — Emma falou em um tom baixo e Ryan
sorriu antes de colar os próprios lábios aos dela.
 
Capítulo 34
Emma sentiu o corpo inteiro arrepiar, ao mesmo tempo, em que
sorria ao sentir a boca de Ryan na sua, se encaixando perfeitamente como
duas peças feitas para ficarem juntas, e isso a fez desejar por mais e mais,
porque apenas um beijo não seria suficiente para saciar o desejo que sentia.
 
As mãos de Ryan seguraram firmes na cintura de Emma, a marcando,
colando o corpo dela ao seu ao puxá-la para seu colo. Seria capaz de
incendiar tudo naquele momento. Deslizou as mãos pelo corpo de Emma,
sobre o tecido fino da camisola, até chegar a coxa, tocou a pele aveludada e
sorriu, subindo a mão por baixo do tecido e apreciando o suspirar da garota
ao se arrepiar.
 
— Hoje nós vamos até o final. Se alguém te ligar, eu vou jogar o
celular pela janela! — Emma falou ao se afastar milimetricamente de Ryan,
que riu baixo, acariciando o rosto de Emma suavemente, com a mão direita.
 
— Eu mesmo farei isso se acontecer. — Ele respondeu em um tom
baixo, e beijou o canto dos lábios da Emma, descendo os beijos pelo pescoço
— Nada vai atrapalhar essa noite.
 
Emma sorriu maliciosa, levou a mão até a nuca de Ryan e arranhou a
pele, subindo os dedos e prendendo no cabelo, puxando-o. Perdeu-se por
alguns segundos apenas olhando em seus olhos. Ryan não se sentia muito
diferente, o coração acelerado não era apenas excitação e o beijo
desesperado que se seguiu tinha o gosto doce da paixão, e o amargo de uma
despedida. Tudo que ainda não tinham aproveitado, queriam naquela noite.
 
Ryan se afastou um pouco e retirou a camisa, a jogando em um canto
qualquer do quarto. As mãos de Emma passearam pelo tronco bem definido
e, quando sentiu o volume do garoto crescendo embaixo de si, rebolou
devagar, suspirando baixo e fazendo Ryan se arrepiar. A temperatura apenas
subia mais, deixando-os ainda mais quentes e instigados.
 
Ryan puxou a camisola dela, a deixando apenas de calcinha, e deitou
o corpo da garota na cama ficando, por cima, e a beijou enquanto
pressionava o seu corpo contra o dela. Com uma mão sustentava o próprio
corpo, mas a outra subia lentamente até o seio de Emma, massageando-o,
apertando-o, enquanto a boca deslizava por seu pescoço e clavícula,
arrancando arfares e pequenos gemidos da dela. 
 
Ryan deslizou os dedos sobre a pele suave, chegando ao cós da
calcinha, e suavemente acariciou por cima do tecido de renda, para depois
afastá-la para o lado, tocando suavemente na intimidade de Emma, enquanto
sua boca chupava o seio da garota com desejo. Emma arqueava o corpo,
completamente arrepiada de desejo, prendendo os dedos no lençol, já estava
completamente entregue e pedindo por mais.
 
Ryan sorriu ao sentir Emma molhada e penetrou um dedo na garota,
o movendo devagar, então colocou o segundo e ficou satisfeito ao ouvir os
gemidos. Emma prendeu os dedos nos cabelos de Ryan, puxando os fios
para que ele olhasse para ela, mesmo assim ele continuou com o movimento
lento da mão.
 
— Ryan… Eu não quero seus dedos… — Ela falou com a voz
instável e a respiração pesada.
 
— E o que você quer? — Ele provocou com um sorriso malicioso.
 
— Eu quero você! — Emma respondeu e respirou fundo.
 
— Eu já estou aqui — Ryan falou e beijou suavemente o bico do seio
de Emma.
 
— Você sabe do que eu estou falando. — Emma disse, puxando os
cabelos dele novamente, fazendo ele olhar para ela outra vez — Eu quero
seu pau, não seus dedos!
 
— Tão desesperada por mim, é tão lindo de ver. — Ryan provocou,
tirando os dedos da garota, e sorriu ao ver como o corpo dela reagia tão bem
a cada toque e estímulo dele — Eu vou pegar um preservativo.
 
Ryan se afastou da cama, e pegou a camisinha em uma gaveta dentro
do closet, quando voltou, encontrou Emma sentada sobre as próprias pernas,
com o cabelo preso em um coque, e um sorriso nada inocente nos lábios, e
sente o pau reclamar pela falta de atenção, completamente duro sob as
roupas, ainda.
 
Quando ele se aproximou da cama, Emma o segurou ali beijando a
barriga definida enquanto puxava a calça de moletom e a cueca para baixo.
Ryan largou o preservativo sobre a cama e a ajudou a tirar o resto da própria
roupa, ficando de frente para Emma, que sorriu e segurou na base do
membro ereto dele, se curvando um pouco para colocá-lo na boca. Engoliu
primeiro só a cabeça, o tirando da boca para lamber toda a extensão, devagar
e provocante, adorando ouvir os gemidos de satisfação dele.
 
Sentiu ele segurar em seu cabelo quando engoliu tudo que conseguia,
até sentir a glande tocar sua garganta, quase engasgando, e o tirando da boca
para colocar de novo, o chupando. Tomando cuidado para não arranhar, ou o
machucar com dentes. Emma o deixou foder sua boca, ouvindo seus
gemidos e ficando ainda mais excitada.
 
Ryan se afastou apreciando a vista, Emma com os lábios inchados e
os bicos dos seios duros, o cabelo bagunçado, uma imagem completamente
erótica para si. Pegou o preservativo novamente, rasgando a embalagem com
o máximo de cuidado que a pressa permitia, e o colocou. Emma deitou sobre
a cama, sem quebrar o contato visual, e sentiu as mãos dele rasgando sua
calcinha, mas não se importou, apenas o queria.
 
Ele encaixou-se entre as pernas dela, penetrando-a lentamente,
enquanto Emma ofegava e arqueava as costas, sentindo-se preenchida.
Depois de colocar tudo, Ryan esperou um pouco, e começou a se mover,
investindo com intensidade contra Emma, que gemia cada vez mais alto,
pedindo por mais e para que ele não parasse. Sequer sentiu quando cravou as
unhas na costa de Ryan, arranhando-o, querendo aliviar a tensão e excitação
do corpo que estava lhe tirando completamente o fôlego.
 
O corpo de Emma tremia, completamente imersa no prazer que
percorria cada centímetro de si, completamente estimulada e prestes a atingir
o ápice de toda essa deliciosa tensão. Ryan estava exatamente igual.
Gozaram juntos, chamando um pelo outro.
 
Ryan se afastou, tirando o preservativo e dando um nó nele, antes de
jogá-lo no chão, e deitou na cama, puxando Emma para ficar ali, em seus
braços, enquanto o coração e a respiração se acalmavam e voltavam ao
normal. Emma ficou distraída, deslizando a ponta dos dedos pelo braço de
Ryan, imersa em sentimentos que borbulhavam em seu peito e perdida nos
pensamentos que invadiam sua mente, mas sentia-se completamente
confortável ali, nos braços dele.
 
Ryan pensou nas muitas coisas que queria dizer, que deveria dizer,
sobre como se sentia e o que ele queria, mas não falou, apenas deixou o
corpo e a mente relaxarem, sentindo o calor de Emma contra si. Sem
perceber, pegaram no sono em algum momento, não disseram uma palavra
sequer, mesmo sabendo que deveriam conversar. 
 
Era a última noite juntos assim e não sabiam até quando, mas, por
enquanto, já estava decidido assim.
 
Capítulo 35
Emma acordou primeiro e levantou muito devagar, não queria
acordar Ryan. Caminhou até o closet dele e tirou de lá duas camisetas, vestiu
uma e ficou com a outra na mão. Olhou mais uma vez em direção à cama e
sorriu pequeno, mesmo que sentisse o coração um pouco apertado, então
saiu do quarto indo em direção ao seu próprio.
 
Se perguntou se ainda deveria chamar aquele quarto de seu, afinal,
era seu último dia ali. Apenas arrumaria uma bolsa com suas coisas mais
essenciais e iria embora. Por um momento pensou em ir sem se despedir,
mas espantou o pensamento. Não era um adeus, ainda se falariam, teriam
contato, era só um até logo.
 
Ryan havia acordado no instante em que Emma saiu de seus braços,
mas preferiu ficar quieto, apenas a observando, e gostou muito de vê-la com
suas camisas. Assim que a garota saiu do quarto, já se colocou de pé, fez um
pedido para o café da manhã e entrou para o banheiro. 
 
Saiu do quarto vestido com uma calça de moletom e uma camiseta
branca e desceu para receber o pedido e o colocar na mesa, quando deixou
tudo pronto subiu para o outro andar e bateu duas vezes na porta de Emma, e
esperou que ela o autorizasse a entrar.
 
— Bom dia! Vem tomar café da manhã. — Ryan falou encostado no
portal.
 
— Bom dia! Ainda preciso terminar de arrumar minhas coisas e não
sei se quero comer. — Emma respondeu sem desviar os olhos da bolsa que
arrumava e não percebeu Ryan se aproximando.
 
— Você vai comer, sim! Aproveite enquanto ainda tem apetite. —
Falou enquanto abraçava Emma por trás e beijou o cabelo ainda úmido pelo
banho recente — Quando chegar na sua casa vai ter que se resolver com sua
irmã, vai começar a receber instruções do seu pai sobre seus treinos. E eu já
reparei que, por qualquer coisa, você deixa de comer.
 
— Eu não tenho problemas alimentares. — Emma falou, revirando
os olhos, mas sem fazer nenhuma menção de sair do abraço dele.
 
— Eu não disse isso. Disse que você perde o apetite muito fácil. —
Rebateu — Agora vem tomar café da manhã, depois eu peço pra uma
funcionária mandar suas coisas bem-organizadas.
 
— Tudo bem. — Emma concordou em meio a um suspiro e virou-se
ficando de frente para Ryan — É engraçado que só estamos carinhosos agora
que a gente não tem nada.
 
— Porque você não quer. — Ryan acusou e riu baixo, deslizando a
mão suavemente pela bochecha da garota — Mas eu entendo seus motivos.
 
— Obrigada por me entender. — Emma sorriu e beijou suavemente
os lábios dele, tentou se afastar em seguida, mas Ryan a prendeu no lugar,
firmando a mão em sua cintura, e a beijou.
 
Um beijo que começou lento, mas ganhou intensidade aos poucos, as
línguas já se conheciam, já se combinavam em um único ritmo. Apreciavam
o calor um do outro e o gosto doce do beijo, sequer dava para disfarçarem os
corações acelerados e, de qualquer forma, não queriam. Emma passou os
braços ao redor do pescoço de Ryan, colando ainda mais os corpos, e se
beijaram até que faltasse o ar.
 
— Agora podemos ir, mas eu preferia que você fosse meu café da
manhã. — Ryan brincou, sorrindo malicioso, e Emma riu se afastando.
 
— Melhor se contentar com o que tiver na mesa. — Emma
respondeu.
 
— Você me saciaria muito melhor. — Ryan rebateu, fazendo Emma
encarar ele e rir soprado, sem formular uma resposta concreta.
 
— É por isso que eu não te dava intimidade. — Emma falou em um
tom divertido, dando de ombros para Ryan enquanto ia em direção a porta.
 
— Para que você gostou muito. — Ryan respondeu rindo.
 
— Ridículo.
 
Emma saiu do quarto seguida por Ryan. O clima agradável entre eles,
as conversas bobas e divertidas duraram durante todo o café da manhã, até
Emma receber uma mensagem de John, avisando que já havia mandado
buscá-la. Repetiu para si mesma que aquilo não era um adeus, que não
amava Ryan e que era um tempo necessário. Conviveram só por alguns
meses e sobreviveram a alguns perigos, era só isso, repetia outra vez, como
um mantra. Ryan não gostava da situação, preferia ela consigo, mas não se
preocupava tanto. Entendia o motivo para tudo, a ida embora, o término, mas
iria fazer questão de não deixar Emma se esquecer dele.
 
— É muito estranho te dar tchau agora. — Emma falou se
aproximando dele, já haviam sidos avisados que o motorista estava à espera
de Emma.
 
— E o que te causa essa sensação? — Ryan perguntou, mesmo que
também sentisse esse estranho sentimento, e começou a fazer um carinho
sutil da bochecha de Emma quando ela parou em sua frente. 
 
— Eu odiei te ver na sala de estar da minha casa no dia daquele
jantar ridículo, eu odiei tudo desde o começo. — Suspirou — Eu não sei
dizer como e nem por que, e muito menos quando, mas a raiva virou atração,
a atração virou um desejo e, ao poucos, esse desejo virou um sentimento
confuso dentro de mim.
 
— Se te conforta, eu tenho esse mesmo sentimento por você. —
Ryan sorriu de lado e deixou um selinho nos lábios de Emma — Isso não é
um adeus.
 
— Não, mas ainda é um fim. — Emma respondeu em meio a um
suspiro — Eu tenho que ir.
 
— Eu sei, mas espero que saiba que sempre poderá voltar. — Ryan
falou no mesmo instante.
 
— Eu não vou me esquecer. — Emma respondeu com um sorriso que
não disfarçou muito bem seu desânimo.
 
— Eu não deixaria isso acontecer. — Ryan rebateu e beijou Emma,
puxando-a para perto do seu corpo, prendendo-a entre seus braços. E findou
o beijo com um selinho demorado — Nos vemos em breve.
 
— Então, até logo. — Emma respondeu com um meio sorriso.
 
— Até logo.
 
Ryan observou Emma saindo pela porta da frente. Não era um fim
definitivo, e mesmo que fosse, não poderia ficar sentado remoendo. Emma
entrou no carro pronta para encarar uma nova realidade, seu mundo não
parava de dar voltas e sentia que, mais uma vez, tudo tinha virado do avesso.
Mas, ao menos dessa vez, foi dona das próprias escolhas.
 
Capítulo 36
Emma entrou em sua antiga casa, mas não sentia como se ali ainda
fosse seu lar. Até considerou rapidamente a ideia de que seria bom ter um
apartamento para si, finalmente compreendendo porque Ryan tinha um. Casa
e lar eram completamente distintos e, agora, ela tinha noção disso na pele.
Foi recebida por Marie, que a cumprimentou com um belo sorriso, o único
verdadeiro que veria ao longo do dia. A senhora a acompanhou até o quarto
e, apesar de não comentar nada, ainda reparou no homem parado na porta do
quarto da Charlotte. 
 
Entrou sozinha no próprio quarto, largou a bolsa em cima da cama e
respirou fundo, não adiaria mais nada, de agora em diante, encararia todos os
problemas de frente, começando pelos que tinha dentro de casa. Saiu do
quarto em direção ao escritório do pai e precisou bater apenas uma vez para
ter sua entrada autorizada.
 
— Bom dia, pai! — Emma sorriu, mas não era verdadeiro — Voltei!
 
— É bom tê-la de volta. E eu gosto dessa expressão no seu rosto. —
John falou analisando a filha — Parece menos rebelde e mais controlada.
 
— Eu ainda sou a mesma Emma Lancaster. — Rebateu, revirando os
olhos e sentando na cadeira de frente para o pai — Antes que nossa conversa
chegue na Charlotte, porque vamos ter que resolver isso, quero saber sobre
como é o meu treinamento e quero colocar minhas condições, já que eu vou
fazer isso, vou escolher como quero. Não aceito mais ser controlada como
um fantoche no jogo de ninguém.
 
— Claro. E já que quer assim, não vai começar pelo jeito fácil. —
John sorriu em apreciação ao novo comportamento de Emma — Estamos
passando por uma reforma, fazendo um pente fino entre os nossos homens.
Havia muitos traidores entre os meus e cada um que apoiou Deniel pagará
com a própria vida. Consegue lidar com algumas mortes, certo?
 
— Certo. — Emma confirmou com firmeza, mas dentro de si, esse
ainda era um ponto delicado que tinha planejado trabalhar com calma, porém
respirou fundo, ainda não tinha sangue em suas mãos.
 
— Você será apresentada entre os mais próximos, por enquanto, já
que precisa treinar antes. Aprender o básico sobre o tráfico de armas, as
drogas, sobre as boates que controlamos, nossa equipe de assassinos. —
John esclareceu — Eu já escolhi uma pessoa de confiança para te
acompanhar. Ele tem estado ocupado, mas pretendo resolver isso logo.
 
— Suas pessoas de confiança não são muito confiáveis. — Emma
falou — Dylan, Deniel…
 
— Eu não vou discutir sobre isso, não vem ao caso agora…
 
— Vem ao caso, porque eu já escolhi quem eu quero como minha
pessoa de confiança, meu braço direito. — Emma o interrompeu, decida.
 
— Quem?
 
— A Darah. — Emma respondeu segura, era a melhor escolha.
 
— Darah, aquela sua amiguinha? — John questionou um pouco
chocado — Só pode ser alguma brincadeira.
 
— Estou falando muito sério. Quero que ela passe pelo treinamento
comigo. — Emma determinou — Eu confio cegamente nela e a Darah já
aceitou, não existe mais qualquer discussão sobre isso.
 
— Isso é completamente absurdo, não vai dar certo. — John alegou,
segurando os vestígios de irritação dentro de si. Não iria gritar com a Emma
como se ela fosse uma adolescente mimada, estava focado em tratá-la como
alguém parte dos negócios.
 
— Estamos falando sobre o meu comando, quando a coroa passar
para mim. E quando esse momento chegar, quero ao meu lado pessoas em
quem eu confio, e tão bem treinadas que eu possa ter certeza de que farão
um bom trabalho, que não vão me apunhalar pelas costas. — Emma declarou
em um tom firme, sem desviar os olhos do pai — No meu império, eu faço a
corte.
 
— Se está tão decidida, que assim seja. — John cedeu, não tinha
mais argumentos contra a decisão dela e, mesmo contrariado, cedeu.
 
— Não somos mais inimigos que precisam de trégua com os
O’Donnell. Ryan e eu já estabelecemos nosso acordo de paz. Claro que
precisamos ajustar alguns pontos, não era possível que tudo fosse decidido
sendo que eu, completamente leiga, mas não quero e não aceito que haja
algum tipo de ataque, ou guerra entre os nossos territórios. — Exigiu, sob o
olhar atento de John.
 
— Como pode ter tanta certeza de que pode confiar nele?
 
— Da mesma forma que o senhor teve ao me oferecer como uma
moeda de troca, ou talvez eu tenha um pouco mais de intimidade com ele. —
Emma sorriu de lado.
 
— Você deveria ter um pouco mais de respeito, ainda sou seu pai! —
John exigiu indignado.
 
— Claro, papai! O que mais temos que acertar hoje? — Perguntou.
 
— Você ainda vai fazer faculdade no próximo ano, medicina está
fora de cogitação devido à carga horária. — John falou — Você precisará
manter as aparências como alguém comum.
 
— Eu já havia decidido fazer isso, talvez eu curse direito, ou
administração. — Deu de ombros — Tenho um tempo para pensar nisso.
 
— Sobre a administração das empresas, você não assumirá o cargo
de presidente — John avisou e Emma arqueou as sobrancelhas, confusa —
Charlotte assumirá esse cargo.
 
— E agora nós viveremos como uma linda família, como se ela
nunca tivesse planejado por fogo em duas casas das quais, acredite se quiser,
eu estava dentro. — Emma falou em um misto de indignação e mágoa.
 
— Não, mas espera que eu a torture? Que a mate? — John
questionou enquanto Emma fechava a expressão — O que você quer?
 
— Eu não sei o que eu quero sobre a Charlotte, mas não acho que
tenha que passar em branco. — Respondeu ríspida.
 
— Se não sabe o que quer, não opine sobre as decisões tomadas. —
John cortou em um tom rude.
 
— Quem é aquele homem vigiando a porta dela? Por que ele está ali?
— Emma perguntou com os olhos semicerrados.
 
— Aquele é o Steven Collin, ele que será seu treinador. Ele está lá
para garantir que sua irmã não tome nenhuma atitude imprudente. — John
esclareceu e Emma sorriu com certo escárnio.
 
— Preocupado que ela fuja para os braços do amor da vida dela? —
Emma perguntou em um tom de desprezo.
 
— Emma, já conversamos tudo que tínhamos para conversar por
hora. Avise a Darah para se preparar para o treinamento. Eu aviso a data de
início. — John falou, ignorando a pergunta da filha.
 
— Eu quero um apartamento, não quero morar aqui. — Emma disse
— Não quero nenhuma cobertura gigante, quero um lugar aconchegante e
espaçoso o suficiente para eu viver com conforto. Não quero funcionários,
apenas soldados para fazerem a minha segurança.
 
— Por que quer sair de casa? 
 
— Porque esta não é a minha casa, vou ficar só até meu apartamento
ser comprado. O que eu espero que não demore, pai! — Emma declarou e
sorriu.
 
— Tudo bem, eu compro o apartamento, mas depois que o Deniel
aparecer.
 
— Eu não posso viver com medo dele, não faz sentido isso! —
Emma rebateu.
 
— Se você tivesse alguma noção sobre autodefesa, se soubesse atirar.
Melhor, se soubesse matar alguém, aí eu deixaria, mas não tem treinamento
para se cuidar sozinha. Então a resposta é não! — John falou firme —
Quando Deniel for capturado, já que isso vai acontecer mais rápido que seu
treinamento, você terá seu apartamento.
 
— Então realmente espero que isso aconteça logo, porque não quero
viver muito tempo aqui! — Emma falou enquanto se levantava — Aqui
deixou de ser minha casa no momento em que deixei de ser filha, para me
tornar um produto.
 
— Emma…
 
— Tenha um bom dia, papai. Nos vemos no… almoço? Jantar? —
Emma perguntou, mas sem interesse real.
 
— Jantar. E não se atrase para se juntar à mesa, pois ainda
precisamos resolver o assunto Charlotte. — John respondeu e Emma revirou
os olhos.
 
— Estarei sentada no meu lugar. — Afirmou enquanto saia do
escritório, e não se deu ao trabalho de se despedir.
 
Assim que fechou a porta, respirou fundo e voltou a caminhar em
direção ao quarto. Agora iria ter que se condicionar a ser mais forte, menos
emotiva, tinha tantos pontos a serem trabalhados, que nem sabia por onde
começar, mas tudo o que tinha para fazer, faria e muito bem feito.
 
Boston ainda conheceria seu nome e sua marca.
 
Capítulo 37
Emma desceu quase cinco minutos depois da hora em que fora
chamada para o jantar, não estava nada animada para a reunião familiar e,
por ela, passaria o mínimo de tempo possível em convívio com aquelas
pessoas. Não estava com paciência para ninguém, mas, de toda forma, era
melhor que resolvessem alguma coisa. Se teria que olhar para a irmã, que
fizesse isso logo, já que se encontrariam pelos corredores mais cedo, ou mais
tarde.
 
Quando entrou na sala de jantar já estavam todos ali e Charlotte
sequer olhou em sua direção. Carmen levantou- se levantou com um sorriso
enfeitando os lábios e caminhou em direção à filha, que a afastou no instante
em que percebeu que seria abraçada.
 
— O que acha que está fazendo?  — Emma perguntou indignada.
 
— Estou indo abraçar minha filha que voltou para casa. — Carmen
falou soando óbvio, o que provocou uma risada alta em Emma. 
 
— Não encosta em mim, por favor. Você me entregou para um
acordo e nunca me procurou para saber se eu estava bem. Não ligou, não me
visitou. Poderia ter feito essas coisas, mas não fez, não se importou! —
Emma falou séria — Ryan poderia ser um maluco abusivo que me batia, me
humilhava, ou sei lá, até abusasse de mim, e você não ia saber, porque não se
importou. Então, não se finja de boa mãe agora.
 
— Você está sendo injusta! — Carmen acusou, com a voz magoada.
 
— Ela não está sendo injusta. Na verdade, bem realista. — Charlotte
falou atraindo a atenção de todos ali — Ninguém aqui nunca se importou
com o que acontecia comigo depois que casei, ninguém.
 
— Claro. Porque eu com meus oito, ou nove anos, teria noção
suficiente para entender que você estava em um casamento forçado com um
maluco! — Emma rebateu irônica — Se bem que, maluca você também é.
 
— Você não sabe o que está falando! — Charlotte falou em um tom
irritado.
 
— E como você quer que eu julgue uma irmã que tenta matar a outra
por causa da porra de uma herança? Uma que… que eu nem queria antes! —
Emma perguntou, havia mágoa e raiva ali — Eu sou sua irmã e nem isso
valeu para sua ambição a qualquer custo.
 
— Você não entende nada, não entende! — Charlotte quase gritou,
ficando de pé.
 
— Então explica, tô esperando! — Emma cruzou os braços,
encarando a irmã.
 
— Eu não queria te machucar, nunca quis, mas você não escuta nada
que não quer escutar! Age como se soubesse de tudo e de todas as coisas! —
Charlotte se defendeu — Deniel alterou meus planos duas vezes, não era
para ser tão radical. Ele queria usar o nome daquele Albert para prejudicar os
O’Donnell e se você tivesse ficado ao meu lado, quando eu pedi, nada disso
teria acontecido.
 
— Charlotte, eu sei que só estou viva por causa dos erros que você e
seu marido cometeram. — Emma respondeu indignada — Admite que você
só queria se livrar da concorrência. E, convenhamos, eu sou muito melhor
que você. Fiquei ao lado do Ryan mesmo, e tenho certeza de que só estou
bem agora por causa dele, que se preocupou comigo muito mais do que
qualquer um aqui no meio desse caos.
 
— Ficou do lado dele, porque é uma vagabunda desesperada por pau!
— Charlotte respondeu em deboche.
 
— Ficou sem argumento e partiu para a ofensa? Eu tenho uns ótimos
aqui, vaca incompetente. — Emma sorriu cínica — Eu precisei só de alguns
meses para findar o noivado do acordo, sem quebrar nenhuma trégua. E
você? Não fez nada! Só aceitou o que te foi imposto, como uma boneca sem
atitude, e hoje em dia vive dentro de casa, trancada e vigiada.
 
— Chega! Vamos jantar como uma família! — John mandou,
batendo a mão na mesa.
 
— Família? — Emma riu debochada — Acha que isso aqui é uma
família? Sua concepção de família é completamente deturpada.
 
— Para de agir como uma adolescente mimada! — Charlotte falou
irritada enquanto revirava os olhos. 
 
Emma sorriu inclinando o pescoço, olhando com ódio para Charlotte,
e desviou do toque da mãe. Charlotte respirou fundo, tentando manter sua
pose intacta.
 
— Adolescente mimada? — Emma repetiu em um tom contido —
Não, meu bem. Você não estava aqui quando eu agia como uma adolescente
mimada. Porque, naqueles dias, eu ainda acreditava que tinha uma família,
torcia pelo dia em que minha irmã viria e me ajudaria a sobreviver a toda
essa loucura, que me acolheria. Você finge muito bem, maninha, parabéns
pelo teatro de irmã preocupada. E você, mamãe, nos primeiros dias eu senti
sua falta, achei que se preocuparia comigo o mínimo, mas nem isso eu tive
da senhora. Eu não tive nada, nem desprezo. Foi como se eu tivesse
simplesmente deixado de existir. E o papai… papai pelo menos me ligava
para brigar por coisas que eu não tive culpa, como o incêndio na mansão. 
 
— Você está sendo injusta! — Carmen voltou a repetir — Está
querendo resumir toda a relação dessa família, que sempre cuidou um do
outro, nos últimos meses em que as coisas estiveram um pouco fora do lugar.
 
— Eu posso listar esse “fora do lugar”. — Emma rebateu.
 
— Você é uma egoísta! — Charlotte acusou — Fica choramingando
por causa de uns meses ruins, mas eu passei dez anos com o Deniel. Sabe
tudo isso que você citou sobre o que o Ryan poderia ter sido? Então, Deniel
é! E muito pior!
 
— Por que você não matou ele? Por que não separou? — Emma
rebateu.
 
— Porque eu sei como isso respingaria no nome da família, da máfia,
então estava esperando o momento certo para que eu pudesse fazer, mas
você estragou um plano de anos! — Charlotte reclamou.
 
— Deixa eu ver se entendi, matar alguém sangue do seu sangue,
pode, mas o marido que te maltratava, não? Que caralho de lógica é essa,
Charlotte? Você é doida, ou burra? — Emma virou-se para o pai — É para
isso que vai entregar a administração das empresas, tem certeza?
 
— Emma, nós já falamos sobre isso! — John falou, irritado e
cansado do bate boca.
 
— Já falamos, mas eu não aceito! — Emma falou em um tom
exigente.
 
— Você não tem capacidade de fazer tudo sozinha! — Charlotte
falou dando de ombros.
 
— E você tem? Você? — Emma perguntou em tom de deboche —
Charlotte, pesinho inútil sobre a terra, você não toma conta nem da sua vida.
 
— A empresa já é minha. — Charlotte falou prepotente e arrogante
— Íamos esconder para que seu ego não se ferisse, mas foda-se.
 
— Do que ela está falando? — Emma perguntou, olhando para o pai.
 
— É verdade o que ela está falando. — John falou resignado.
 
— Como? Por quê? — Emma perguntou, sentindo dentro de si um
ódio e uma raiva borbulharem a um ponto que lhe fazia ter a sensação de que
iria explodir a qualquer momento.
 
— Eu a tomei. Não comecei pelo lado mais forte dos negócios, mas
fui onde minhas mãos alcançavam. — Charlotte sorriu sentindo-se superior e
semicerrou os olhos quando Emma bateu pequenas palmas com um sorriso
debochado.
 
— Parabéns! Acho que eu estou até emocionada. — Emma fingiu
limpar uma lágrima no canto do olho — Você conseguiu fazer algo, é
surpreendente. É tão difícil você ser competente. Acho até que vou comprar
um bolo e uns balões, não é todo dia que você consegue pensar.
 
— Emma, não provoque. — Carmen pediu.
 
— Charlotte que me aguente. Se eu fosse você, maninha, passava a
dormir com um olho aberto. — Emma falou com um sorriso de lado.
 
— Está me ameaçando? Não fala o que não pode cumprir. —
Charlotte falou fria.
 
— Vocês estão ultrapassando todos os limites! — John falou firme.
 
— Todos os limites já foram ultrapassados há muito tempo, John, só
o senhor não percebeu. — Emma falou fria — Não me importo mais se
perdoou, ou não, a Charlotte pelo que ela me fez. E, na verdade, agora até
entendo que ela está aqui pelo poder que assumiu na empresa, mas isso não
significa que vou aceitar tudo tranquilamente. Não morando sob mesmo teto
que a pessoa que tentou me matar.
 
— Você acabou de ameaçar sua irmã, não é tão diferente. — Carmen
falou.
 
— Vai ver que é porque, nessa família, somos todos podres. —
Emma rebateu.
 
— Emma, não importa o quanto você ache que eu sou incompetente.
Você ainda é só uma adolescente mimada. — Charlotte disse em um tom
superior.
 
— Claro, acredite disso. — Emma disse indiferente — Eu cansei de
todos vocês.
 
— Temos um jantar em família. — Carmen lembrou.
 
— Que família? — Emma perguntou — Eu vou para o meu quarto e
não esperem mais que eu interaja, ou tenha qualquer tipo de convívio
harmonioso, eu odeio todos vocês!
 
Emma respirou fundo e caminhou em direção ao próprio quarto, não
sentia vontade de chorar, não estava triste, sentia raiva. E quanto mais se
enchia de sentimentos ruins, como ódio pela própria família, mais seu
coração esfriava. Afinal, estava aprendendo que os piores tipos de pessoas
poderiam estar sob o mesmo teto.
 
Capítulo 38
Emma acordou cedo, não tinha mais tempo para ficar atoa. Vestiu
uma calça e não colocou saltos, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo,
pois achava mais prático, e fez uma maquiagem leve e saiu do quarto, não
queria ficar em casa nem mesmo para tomar café da manhã. Não tinha
dormido direito a noite, pensando em tudo e, apesar de ter tido uma ideia do
que fazer, precisava de instrução para muita coisa e só confiava em uma
pessoa.
 
Quando pisou no último degrau da escada ouviu seu nome ser
chamado, e sorriu carinhosamente quando viu que se tratava de Marie, então
caminhou até a senhora.
 
— Bom dia, minha menina! Quer que eu faça seu café da manhã? —
Marie perguntou carinhosa.
 
— Bom dia, Marie! Não precisa, não vou comer em casa hoje. Quero
resolver umas coisas agora pela manhã. — Emma respondeu educadamente.
 
— Tudo bem, entendo. — Marie respondeu — Seu pai pediu para
que fosse falar com ele quando estivesse acordada.
 
— Onde ele está? 
 
— No escritório.
 
— Obrigada, Marie, vou lá. — Emma respondeu já se virando.
 
— Emma, espera. — Marie pediu, um pouco nervosa, o que causou
uma certa confusão em Emma.
 
— O que foi, está tudo bem? — Emma perguntou preocupada.
 
— Eu vejo tudo o que acontece nessa casa, tudo. — Marie enfatizou
— Eu sei que sou uma velha que só cuida da casa, mas quero que você saiba
que você é a pessoa mais confiável aqui dentro. Não deixa a sua irmã tomar
o poder.
 
O tom de quase súplica deixou Emma ainda mais confusa. O que
Marie sabia para fazer esse tipo de pedido? Quando ia perguntar, ouviu sua
mãe se aproximando, falando ao celular, e Marie se afastou, voltando para
dentro da cozinha. Odiava esses mistérios, preferia tudo limpo e claro.
Ignorou sua mãe quando ouviu-a chamar por seu nome e caminhou para o
escritório do pai.
 
— O que quer comigo? —  Emma perguntou quando entrou no
escritório após abrir a porta.
 
— A partir de hoje você começa a andar com o Steven. Ele será seu
segurança particular e treinador. Responsável por seu preparo físico e da
Darah. — John explicou olhando para Emma.
 
— Steven? — Emma perguntou — Não é o segurança da Charlotte?
 
— Era, mas ele é o melhor que temos para te treinar. Então troquei
ele de função. — John falou e respirou fundo ao ver a expressão de Emma
fechando.
 
— Eu não vou discutir, mas estou de saída. Onde ele está para me
acompanhar? 
 
— Vou mandar uma mensagem para ele. Em alguns minutos ele
estará pronto. — John respondeu — E, Emma, estou tentando ser paciente
com você, assim como estou tentando ser com a Charlotte, mas para de agir
como se tivesse um poder que você não tem. Eu sou o chefe, eu mando.
 
— Mais alguma coisa importante, preciso sair? — Emma questionou
ignorando o que o pai falou.
 
— Por enquanto, nada, pode ir. — John encerrou a conversa e
observou a filha sair sem se despedir, nunca imaginou que seus negócios e
sua família estariam ruindo bem diante dos seus olhos.
 
Emma caminhou até o lado de fora da casa e não demorou até um
carro parar para que ela entrasse. Estava irritada, mas queria aprender a se
controlar, não poderia continuar agindo e falando tudo que viesse à mente,
mas estava achando uma tarefa muito difícil. Uma grande parte de si, queria
ter gritado com o pai, tentado convencê-lo a entender o ponto de vista dela,
mas o outro lado sabia que nada disso importava mais, não iria juntar cacos
de uma relação falida.
 
Steven perguntou o endereço e Emma respondeu rapidamente e,
apesar do olhar confuso que recebeu, apenas mandou que fosse. Steven sabia
que Emma tinha acabado de voltar para casa depois de findar um acordo
com os O’Donnell e por isso estranhou quando ela lhe deu o endereço e viu
que ia direto para uma área proibida para os Lancaster, mesmo com o acordo
de paz.
 
— Steven — Emma chamou atraindo a atenção do rapaz, que
respondeu apenas um “senhora”, para indicar que estava ouvindo —
Quantos anos você tem?
 
— Vinte e seis — Respondeu calmo enquanto dirigia.
 
— Há quanto tempo trabalha para o meu pai? 
 
— Oficialmente, há uns oito anos. — Steven respondeu, estava
curioso com a pauta da conversa.
 
— E não oficialmente? — Emma perguntou.
 
— Aumenta dois anos nesta conta. Comecei a treinar com dezesseis,
mas só dois anos depois comecei a, de fato, fazer alguns serviços. — Steven
explicou.
 
— Entendo. — Emma respondeu calma, com o tom de voz calculado
— Acho que nós dois vamos ter que ajustar uns pontos.
 
— Quais pontos, senhora? — Ele perguntou olhando para Emma
pelo retrovisor.
 
— Eu não gosto da ideia de que uma pessoa que vai ficar colada em
mim, tem sua fidelidade jurada para outra pessoa, entende? — Emma
recebeu um aceno como resposta — E eu entendo que me conhece há muito
pouco tempo, dias, na verdade, mas nós dois teremos problemas se meu pai
receber um relatório diário das minhas atividades.
 
— Eu não posso negar passar o relatório para ele. — Steven
respondeu.
 
— Eu sei que não, por isso quero que omita algumas coisas. E que,
antes de chegar na mão dele, passe por ela primeiro. — Emma explicou.
Sabia que aquele não era o jeito certo, mas não tinha tempo para conquistar a
confiança do outro — Eu garanto que não vai ter problemas, ele não vai ficar
sabendo.
 
— Mas… — Steven começou a falar, mas parou, refletindo um
pouco, e respirou fundo — Tudo bem, eu posso fazer isso.
 
— Ótimo, agradeço por isso. — Emma respondeu e Steven apenas
acenou.
 
— Mas a senhora está errada sobre uma coisa. — Steven resolveu
falar quando entravam na rua indicada por Emma.
 
— O quê? — Emma perguntou confusa e desconfiada.
 
— Não te conheço há apenas uns dias. Mesmo que você não me
conheça, eu já te conhecia antes. — Steven explicou, deixando Emma ainda
mais confusa — Eu sou filho da Marie.
 
Foi então que Emma compreendeu que ele não estava lhe dando uma
carta de confiança aleatória, não estava decidindo omitir coisas do seu atual
chefe por causa de um simples pedido, era por causa de Marie, a mãe dele. E
até mesmo a fala rápida de Marie mais cedo, sobre confiança, se encaixou
melhor na mente de Emma.
 
— Chegamos. — Steven falou parando o carro em frente ao galpão
de Ryan — Você tem autorização para vir aqui? 
 
— Não exatamente, mas eu já resolvo isso. — Emma respondeu
descendo do carro com o celular na mão.
 
Steven colocou uma arma no coldre da cintura e tampou com a
camisa, descendo do carro atrás da Emma, chegando a conclusão que todos
os Lancasters tinham um parafuso solto. Ficou logo atrás da garota, que foi
parada já no portão.
 
— Nome? O chefe não está esperando ninguém, quem é você? — O
homem perguntou com a expressão fechada e uma mão escondida atrás do
corpo, Steven sabia que ele estava armado e pronto para atirar.
 
— Emma Lancaster — Ela respondeu com calma e Steven revirou os
olhos, não acreditando que ela se entregava tão fácil — Preciso falar com o
Ryan, agora.
 
— Lancaster não faz exigências aqui, estão fora do território de
vocês. Volta pro seu carro e vai embora, antes que eu descarregue minha
arma em você. — O homem ameaçou.
 
— Chefe, liga para o O’Donnell, não teremos problemas assim. —
Steven falou calmo, mas sua mão já estava sobre o coldre e os olhos presos
no homem que nem escondia mais a arma.
 
— Vou fazer isso. — Emma respondeu, começando a digitar o
número de Ryan.
 
— Chefinha? — Escutou uma voz feminina e se deparou com Helena
se aproximando — O que faz aqui fora? 
 
— Fui barrada. — Emma deu de ombros e Helena olhou para o
segurança que ainda mantinha a postura e a arma de maneira ameaçadora.
 
— Tem gente que não tem medo da morte. — Helena falou, olhando
para o segurança — Ela tem passe livre aqui, é melhor não mexer com a
chefinha, ou terá problemas com o Chefe.
 
— Eu não sabia que ela era a mulher do chefe. — O homem
respondeu, olhando para Helena um pouco amedrontado.
 
— Falou seu nome, Emma? — Helena questionou e recebeu uma
resposta positiva — Então é melhor que tome mais cuidado com suas ações.
Vou deixar passar, mas se fosse o chefe vendo você ameaçá-la com uma
arma…
 
— Me desculpe, senhora. — O homem falou olhando para Emma e
liberou a passagem para os três.
 
— Helena, esse é o meu segurança particular, Steven. — Emma falou
e Helena olhou para o rapaz de cima a baixo — Ele agora me acompanhará
para todo lado, espero que não seja um problema ele aqui dentro também.
 
— E ele é de confiança? Sabe… os soldados do seu pai…
 
— É, eu sei, mas eu acho que dá para confiar nele. — Emma
respondeu. Steven até queria responder, mas sabia que aquele não era seu
momento de falar.
 
— Emma, eu tinha uma reunião com ele agora, mas pode entrar
primeiro, eu espero do lado de fora. — Helena falou enquanto caminhavam
pelos corredores.
 
— Obrigada, mas não sei se vai ser breve. — Emma avisou.
 
— Tudo bem, eu não me importo de esperar. — Helena concordou.
 
— Como ela está? — Emma perguntou em um tom baixo e ouviu
Helena suspirar.
 
— Muito melhor, mas ainda está em observação e fazendo vários
exames, logo estará cem por cento. Pelo menos já acordou. — Helena
respondeu.
 
— Ela vai ficar bem, vaso ruim não quebra não. — Emma falou
brincando e viu Helena revirar os olhos com um sorriso pequeno.
 
— Não vou me dar ao trabalho de responder isso. Esperamos aqui
fora, chefinha. — Helena avisou quando pararam em frente a sala de Ryan.
 
— Obrigada. — Emma respondeu e bateu duas vezes na porta antes
de entrar.
 
— Emma, o que faz aqui? — Ryan perguntou, surpreso ao ver a
garota atravessando a sala dele.
 
— Eu preciso da sua ajuda. — Emma falou enquanto se sentava.
 
— Para o que, exatamente? — Ryan perguntou desconfiado.
 
— Eu quero dar um golpe no meu pai e tomar o poder. — Emma
respondeu em um tom baixo e frio.
 
Capítulo 39
Ryan olhou surpreso para Emma, levando alguns segundos para
processar a informação recebida. Golpe? Do que Emma estava falando?
Teria que pedir explicações claras para tentar compreender o que se passava
na mente da garota.
 
— Você quer dar um golpe no seu pai, sendo que você é a herdeira?
— Ryan questionou, confuso.
 
— Herdeira do quê? Eu passei a noite pensando nisso. A gente nem
sabe em quem pode confiar. — Emma respondeu.
 
— Explica o que está passando na sua cabeça — Ryan pediu.
 
— Segue meu raciocínio. — Emma pediu e Ryan acenou
concordando — Eu estava assustada esses últimos dias e não estava
dormindo. O império do meu pai está trincado, seu braço direito o traiu, meu
cunhado o traiu e eu soube ontem que a Charlotte tomou as empresas dele.
Tenho certeza de que, entre os soldados, a estrutura está complicada.
Imagina como seus homens ficariam com tantas traições e sem saber se
pegaram todos os soldados que ficaram ao lado do traidor?
 
— Continua. — Ryan pediu, cruzando os braços e se recostando na
cadeira.
 
— Tudo que eu tenho é teoria baseada em um tempo curto de
observação, mas se você não tivesse um acordo comigo, tenho certeza de
que esse seria o momento para atacar meu pai. — Emma ficou de pé, estava
agitada — Sabe que nosso lado está fragilizado e, se ainda não pensou sobre
isso, seu pai deve ter pensado.
 
— Emma, não vamos te atacar, temos um acordo! — Ryan declarou
sério — Eu não te trairia.
 
— Eu sei, é por isso que estou aqui — Emma respondeu firme —
Mas sua resposta confirmou o que eu disse, a família Lancaster está
fragilizada.
 
— Como você chegou à conclusão de um golpe?
 
— Eu vou iniciar meu treinamento, conhecer as coisas, na prática,
quero conquistar meus próprios soldados, ter confiança de quem me cerca e
inteligência para lidar com as situações. Quero que os contatos, os
compradores e vendedores confiem em mim e, quando meu pai perceber, já
vai estar tudo na minha mão. Mas eu preciso do seu apoio. — Emma falou
olhando nos olhos de Ryan, que riu baixo.
 
— Você é completamente doida, mas está certa. — Ryan falou —
Você sabe que, para isso, vai ter que trair seu pai, cometer coisas como
roubos e assassinatos. Deixar sua família acreditar que faliu, certo?
 
— Eu sei, mas eu ainda quero isso. — Emma começou a caminhar
em direção a Ryan — Talvez eu surte no caminho, mas você vai estar aqui
para me apoiar.
 
— Emma, Emma, que tipo de pequeno demônio você está querendo
se tornar? — Ryan perguntou segurando na cintura dela, quando ela parou de
frente para ele.
 
— O tipo que me obrigaram a ser. — Emma deu de ombros e sorriu
quando sentiu as mãos dele entrando em sua blusa.
 
— Eu vou te apoiar e te ajudar no que precisar. — Ryan concordou
apertando a cintura da garota.
 
— Obrigada. — Emma falou sorrindo e inclinou, beijando os lábios
de Ryan. Ela sabia que não deveria fazer isso, afinal, tinham terminado, mas
sentia uma enorme necessidade de senti-lo, então ignorou a parte de si que
lhe mandava ficar longe.
 
Ryan mordeu o lábio inferior da Emma, intensificando o beijo logo
em seguida, as mãos guiando ela para que sentasse em seu colo e Emma
deixou-se ser guiada. Suspirou baixo entre os beijos e deu espaços para que
Ryan os descesse por seu pescoço.
 
Ryan deslizou as mãos pelo corpo de Emma, segurando na bunda
dela e a encaixando sobre si, apertou as mãos ali e ajudou a garota a se
movimentar sobre seu pau. Emma ofegou baixo. Ryan gostava de toda essa
liberdade que agora tinha. Se soubesse que precisava terminar para que o
relacionamento andasse, teria feito antes.
 
Uma batida forte na porta assustou o ex-casal, fazendo Emma rir e
esconder o rosto no pescoço de Ryan, enquanto a temperatura voltava ao
normal para poder levantar do colo dele e ir destrancar a porta que trancou
quando entrou.
 
— Derek. Não sei porque não estou surpresa. — Emma falou
olhando para o comandante.
 
— Eu posso estar. Desde quando você transa na sala do chefe? —
Derek provocou, fazendo Emma revirar os olhos.
 
— Infelizmente não estava transando. — Emma deu de ombros.
 
— O que você quer, Derek? — Ryan perguntou e o outro riu.
 
— Você que chamou para uma reunião! — Derek respondeu
entrando na sala.
 
— Eu falei para esse amargurado não bater na porta. — Helena falou
entrando logo atrás e foi nesse momento que Ryan viu Steven parado do lado
de fora.
 
— Quem é aquele? — Ryan perguntou sério.
 
— Meu segurança. — Emma respondeu olhando para o ex.
 
— E você confia nele? — Questionou e Helena riu.
 
— Por enquanto. — Emma deu de ombros — Estou indo, boa
reunião para vocês.
 
— Tchau, chefinha. — Helena falou, sentando em uma cadeira
próxima à mesa de Ryan.
 
— Tchau, nos vemos por aí. — Emma respondeu saindo da sala.
 
Emma fechou a porta ao passar e, enquanto caminhava sendo seguida
por Steven, se deu conta de que ainda não havia tomado café da manhã.
Quase se arrependeu por não ter aceitado quando Marie disse que faria.
Saíram do galpão sem problemas, nenhum outro soldado tentou atrapalhar o
caminho deles e Emma gostou disso.
 
Dentro do carro, Emma instruiu um novo endereço para Steven e
pegou o celular para ligar para Darah, tendo certeza de que a amiga ainda
estava dormindo quando a chamada caiu sem ser atendida, mas isso não era
um problema. Ligou novamente, se não fosse atendida, iria acordá-la
pessoalmente.
 
— O que você quer? — Darah perguntou com a voz rouca de sono.
 
— Estou indo te buscar. — Emma respondeu simples.
 
— Não quero, estou dormindo. — Darah bufou.
 
— Só escutei blá, blá, blá. — Emma falou e riu quando Darah a
xingou — Se arruma que eu não gosto de esperar.
 
— Te odeio! — Darah falou enquanto sentava em sua cama, irritada
por ter sido acordada.
 
— Te amo e estou chegando. — Emma respondeu e desligou.
 
Sabia que, daquele momento em diante, nada mais seria fácil, teria
que trabalhar muito para alcançar seus objetivos, mas não desistiria. Não
podia desistir. Entendia, na teoria, tudo que teria de fazer, mesmo que dentro
de si, evitasse pensar sobre como tudo poderia lhe afetar. Não tinha ideia de
como se sentiria se, ou quando matasse alguém, mas sabia que em algum
momento teria que fazer. Ser forte não era mais sobre querer ser, agora era
sobre sobreviver. Tinha a obrigação de ser forte.
 
Capítulo 40
Emma sentou no chão da academia sentindo o suor escorrendo pelo
corpo. Exausta, deu um gole em sua água enquanto observava Steven
auxiliar Darah no exercício, mas ela logo pediu um tempo e sentou-se ao
lado de Emma, no chão.
 
— Eu preciso descansar. — Darah anunciou sem fôlego, sentindo os
músculos das pernas arderem — Eu nunca imaginei que precisaria passar
por isso e até agora não entendi o porquê.
 
— Eu já odiei minha vida, mas igual essa semana, nunca. Eu sinto
que, em algum momento, eu vou perder um membro, do tanto que está
doendo tudo. — Emma reclamou e ouviram a risada de Steven, que olhava
para elas achando divertido toda a reclamação.
 
— Só tem uma semana que vocês começaram a treinar, uma semana.
E só estão aprimorando o preparo físico, eu não posso fazer nada se vocês
eram sedentárias — Steven disse, dando de ombros.
 
— Eu te odeio. Steven! — Darah falou fazendo o rapaz rir ainda
mais — Estou falando sério.
 
— Tenho certeza que sim. — Ele sorriu e piscou para a Darah, que
bufou baixo.
 
— Vou deixar vocês descansarem dez minutos. Depois, mais uma
sessão de perna e estão liberadas. — Steven avisou e Emma respirou fundo.
 
— Chega por hoje, não quero mais treinar. — Emma pediu, mas
queria mesmo era só dar uma ordem de fim de treino e ir embora.
 
— Você é minha chefe do lado de fora da academia. Aqui dentro, eu
mando. — Steven declarou e Emma revirou os olhos — Vocês não têm
preparo físico nenhum, não sabem segurar uma arma e as ordens são para
que vocês aprendam tudo, desde autodefesa até usar uma arma de longa
distância.
 
— A gente já entendeu. — Darah resmungou irritada, estava cansada
— Eu odeio a minha versão que disse sim para sua proposta. Eu podia estar
em casa comendo bolo a essa hora.
 
— Vocês não podem comer bolo. — Steven falou, estava sentado
próximo às garotas, pois mesmo estando dentro da academia, preferia manter
o olhar sobre elas, para garantir a segurança. — Espero que estejam
seguindo a dieta passada pela nutricionista.
 
— Vou te ignorar, você está acabando com a minha paciência. —
Darah reclamou e Emma riu.
 
— Eu me sinto assim também, exausta, com fome, queria uma pizza
com muito queijo e bolo. Odeio essa vida de malhar e malhar! — Emma
suspirou — Eu achei que só teria que mandar.
 
— Você vai chegar nessa fase, mas precisa passar por vários
processos antes, ou não terá capacidade nenhuma de fazer isso. — Steven
falou com calma.
 
— Em quanto tempo estaremos prontas para fazer algo? — Darah
perguntou.
 
— Uns seis meses, ou mais. — Steven deu de ombros — Depende da
evolução do treinamento geral de vocês.
 
— Odeio essa vida! — Darah falou, deitando no chão mesmo e
olhando para o teto.
 
— O tempo de descanso acabou, vamos! — Steven levantou.
 
— Emma, — Darah falou, enquanto as duas se levantavam, e
esperou que a amiga olhasse para ela — eu me demito!
 
— Cala a boca! — Emma respondeu rindo. 
 
E mesmo que estivessem sem vontade, voltaram a treinar.
Precisavam se tornar mais fortes e melhores.
 

 
Emma chegou em casa perto das sete da noite, desejando mais-que-
tudo, um banho relaxante e se jogar na cama, estava exausta. Steven não
tinha dó delas e ainda repetia várias vezes que se as garotas não tivessem
levado uma vida tão sedentária, não estariam tão mal. Assim que pisou o pé
na sala de estar, viu Marie, que foi lhe receber
 
— Seu pai quer falar com você. — Marie avisou.
 
— Ele está no escritório? — Emma perguntou respirando fundo, não
queria ver seu pai.
 
— Sim, mas se quiser subir primeiro…
 
— Vou ver o que ele quer logo, assim já posso me banhar e deitar —
Emma respondeu, interrompendo Marie.
 
— A senhorita tem que comer, não pode dormir de barriga vazia. Vou
preparar algo enquanto conversa com seu pai e depois toma seu banho. —
Marie falou em um tom de repreensão e, ao mesmo tempo, carinhoso.
 
— Obrigada. Ainda bem que você existe, Marie! — Emma
agradeceu com um sorriso gentil no rosto.
 
Emma caminhou sem muita vontade até o escritório de John,
torcendo para que o assunto não levasse muito tempo. No caminho sua
mente só focava em um banho na banheira, sentindo a água quente
relaxando seus músculos cansados. Estava ansiosa pelo momento em que o
treinamento pesado acabasse.
 
Bateu na porta uma vez e entrou, sentando-se na cadeira diante da
mesa.
 
— O que o senhor quer? — Emma perguntou em um tom
impaciente.
 
— Quero te ensinar algumas coisas. — Ele falou calmo e Emma
respirou fundo — Quero te ensinar sobre hierarquia.
 
— Pode começar. — Emma pediu.
 
— Existe o chefe e o conselheiro, que está ao lado do chefe; o
subchefe, que está
abaixo do chefe; depois os comandantes e, então, os
soldados. — Ele explicou sob o olhar atento de Emma — Você precisa
escolher bem quem serão seus comandantes e designar bem as funções,
quem será responsável pelas alianças com políticos, polícia, traficantes. E
esteja sempre no controle de tudo, pois precisará ser respeitada e temida por
todos os lados.
 
— Deniel era seu conselheiro? Dylan seu subchefe? — Emma
perguntou com os olhos semicerrados. 
 
— Eram. E eu estou pagando o preço por confiar nas pessoas erradas.
— John respondeu.
 
— Não se preocupe, não pretendo seguir seus passos. — Emma
declarou em um tom seco.
 
— Quem seria seu referencial, os O'Donnell? — John perguntou —
Você não sabe nem como eles são estruturados, eu sou seu professor e líder.
 
— Um exemplo a não ser seguido. — Emma falou com suavidade —
Tem mais alguma coisa para falar?
 
— Tenho. — John respondeu contrariado — Na próxima semana
terei uma reunião com um aliado importante, você irá participar comigo.
 
— Ok, estarei pronta para isso! — Emma respondeu com um sorriso
pequeno, era a primeira oportunidade para começar a conhecer quem eram
os aliados da sua família.
 
— Você vai se tornar a melhor e vai limpar nossa imagem. — Ele
declarou com um sorriso orgulhoso. Emma quis rir, mas manteve a
expressão impassível.
 
— Pode ter certeza de que serei a melhor, não jogo para perder. —
Emma falou enquanto se levantava — Mais alguma coisa?
 
— Não, pode ir. — John falou, voltando a olhar para alguns
documentos que estavam sobre a mesa.
 
Emma saiu do escritório em silêncio, passou pela irmã, que entrava
na sala sem lhe direcionar um olhar sequer. Odiava estar sob o mesmo teto
que a família e contava os minutos para ir embora dali.
 
— Emma? — Escutou a Charlotte falar, mas ignorou e continuou
subindo a escada — Sabe que não vai poder continuar me ignorando a vida
inteira, certo?
 
Emma sorriu, mas não parou. Em pensamento respondeu à irmã: Eu
posso te ignorar o resto da vida e até depois. Charlotte desistiu de seguir
Emma e voltou do meio da escada para trás.
 
Trancou a porta do quarto assim que a atravessou, não tinha a menor
curiosidade de saber o que a irmã queria consigo. Suspirou e foi direto para
o banheiro, colocou a banheira para encher. Iria relaxar um pouco, pois
sentia que merecia esse momento de paz.
 
Capítulo 41
Emma sentia a mão suar, nervosa e ansiosa. Em seu quarto, já estava
arrumada para sair com seu pai. Tinha que causar uma boa impressão,
demonstrar postura e a frieza necessária. E pulso. 
 
Respirou fundo e saiu do quarto, já fechando a expressão ao dar de
cara com Charlotte no corredor, mas a ignorou e seguiu seu caminho,
deixando-a para trás.
 
— Emma, você precisa parar de me ignorar e me tratar como
inimiga! — Charlotte falou e Emma respirou fundo e continuou andando,
sem olhar para trás — Já tem quase um mês que você está nesta casa.
Moramos juntas, somos irmãs e teremos que trabalhar juntas.
 
— Charlotte, — Emma falou em um tom calmo e frio — eu não te
trato como inimiga. Se você eu te tratasse assim, seria mais competente que
você. E mais, para de achar que vai recuperar algum laço entre nós, para de
tentar se aproximar. Para! 
 
— Eu não quero te tratar como uma pedra no meu sapato, quero que
as coisas fiquem bem entre nós. — Charlotte falou em um tom rude.
 
— Você está parecendo uma maluca insistente. Não quero que me
trate de forma nenhuma. Me deixa em paz e segue tua vida, Charlotte! —
Emma respirou fundo — Finge que eu não existo, é o que tenho feito sobre
você.
 
— Acho que você está sendo infantil. — Charlotte falou e Emma
contou até dez mentalmente.
 
— O que você quer? Sério, o que você quer? — Emma perguntou,
olhando para a irmã — Toda vez que me vê, vem falar comigo, tentando se
aproximar. Para quê? Charlotte, eu sinto raiva toda vez que eu te vejo, raiva!
Você tentou me matar e não recebeu nenhuma punição, conseguiu dar um
golpe no nosso pai e administrar os negócios legais. Você tá aqui, perto
demais… eu não confio em você e não vou confiar mais.
 
— Que droga de punição você quer que eu receba? Que eu seja
torturada e morta? Caralho! Sei que errei e me arrependo do que fiz. Que
droga, Emma! Eu só quero que voltemos a ser uma família! —  Charlotte
falou levemente alterada e Emma riu sem humor, com desprezo.
 
— Não, Charlotte, eu não quero que você seja torturada e morta.
Mesmo sabendo que essa é punição correta para um traidor e que você é o
pior tipo de traidor, pois você trai quem vive sob o mesmo teto, trai seu
sangue. — Emma começou a falar com um sorriso frio, irritado e repleto de
ódio. — E, família? Você está tentando mentir para quem? Para mim, ou pra
você mesma? Eu lembro bem quando você disse que queria provar seu valor,
tomando tudo e se provando como uma grande mafiosa, mas eu vou herdar a
organização. Acha mesmo que vou me aproximar? Eu ainda tô na sua mira,
sei disso. Mas dessa vez é diferente, saiba que tudo que vier, vai voltar.
 
— Está impossível tentar resolver qualquer coisa com você. —
Charlotte reclamou.
 
— Não temos nada para resolver. Fica ciente disso e me esquece —
Emma falou e virou, ignorando tudo que a irmã falava.
 
Respirou fundo, descendo as escadas para ir ao escritório do pai.
Estava treinando há um mês e estava fisicamente exausta. Steven pegava
pesado, com o argumento de que o processo dela e de Darah tinha que ser
mais puxado, já que era necessária uma redução no tempo. Emma já
conhecia alguns soldados e se dava bem com eles, aos poucos conseguiria
sua confiança. Mas estava especialmente ansiosa para a reunião em que John
a levaria, precisaria mostrar-se forte, fria e inteligente, pois conheceria um
aliado importante e precisava demonstrar ser alguém de confiança.
 
Bateu uma vez na porta do pai e entrou, mantinha a expressão
límpida, inabalável.
 
— Estou pronta. — Emma declarou — Quem vou conhecer?
 
— É a pessoa responsável por mandar as cargas para nós, de quem
importamos as armas, — Ele explicou se levantando — Marco Blanck. Ele
está de passagem na cidade e eu marquei o jantar para apresentar minha
sucessora.
 
— Certo, estou ansiosa por isso. — Emma sorriu falso.
 
— Vamos, não podemos nos atrasar. — John falou saindo do
escritório, seguido por Emma.
 
O motorista já esperava com o carro pronto. Entraram no veículo em
completo silêncio, Emma tentava manter a mente concentrada para ficar
calma, tinha medo de fazer algo errado e, mais do que isso, precisava
lembrar de que não poderia gritar e agir com sarcasmo. Pelo menos não
agressivamente — O que eu devo saber antes de chegarmos? — Emma
perguntou olhando para o pai.
 
— Marco é um homem antigo, autoritário e muito poderoso. Então
mantenha seus nervos controlados. — John advertiu — Entenda que, em
tudo, existe hierarquia. Mesmo que sejamos muito poderosos, sempre tem
alguém acima. 
 
— E não é possível subir? — Emma perguntou, arqueando a
sobrancelha.
 
— É, mas depende do que você está disposta para fazer nesse
processo. Não pode dar um passo maior que a perna. — Ele disse calmo —
Nós somos os maiores distribuidores do estado de Massachusetts, temos
muitos negócios, em muitas áreas. Eu não acho conveniente ser produtor de
algumas coisas, como as drogas e armas, por isso é importante sempre se
manter bem com eles. Assim como com os políticos e a polícia, mas não é
um trabalho fácil, não ache isso. Você está apenas começando.
 
— Estou apenas tentando entender como funciona. — Emma
respondeu, virando o rosto para poder olhar a rua, observando como tudo
parecia estar correndo, mesmo que soubesse que era ela que estava em
movimento.
 
— Aprecio isso, — John respondeu calmo — mas saiba que sempre
estarei por perto para te auxiliar.
 
Emma não respondeu, sequer olhou para o pai. Tudo o que queria era
apenas aprender o máximo de coisas possíveis, absorver o que fosse
necessário e poder controlar tudo da melhor maneira. E que seus pais fossem
para muito longe de si, assim como Charlotte, mas sabia que, para isso,
precisaria ser detentora de todo o poder e todos os contatos.
 
Sabia que isso não aconteceria do dia para a noite, mas agiria com a
calma necessária para executar tudo de maneira correta, não gostava de
falhas e não falharia.
 
Capítulo 42
Chegaram na casa onde o jantar aconteceria, sendo recebidos por
uma mulher bem vestida e séria que os guiou direto para a sala de estar onde
o tal Marco os esperava. O homem de idade ficou em pé para recepcioná-los,
um falso sorriso gentil no rosto. Emma não deixou de notar os dois
seguranças armados e em pontos estratégicos, assim como viu vários do lado
de fora e em todo o caminho até estar ali.
 
— Boa noite! É um prazer receber os Lancasters em minha
residência. — Marco falou em um tom gentil, mas Emma podia sentir que
havia algo por trás. Mesmo que não conseguisse identificar o quê,
exatamente, aquilo, ainda assim, lhe provocou um incômodo.
 
— Boa noite! O prazer é todo nosso de estar aqui. — John respondeu
em um tom educado — Marco, essa é a minha filha, Emma. Ela quem será
minha herdeira quando eu me aposentar.
 
— É um prazer conhecê-lo. — Emma falou educadamente, olhando-
o e analisando cada movimento do homem à sua frente.
 
— É um prazer conhecê-la. — Ele sorriu e indicou o sofá para que os
Lancasters sentassem — Por favor, sentem-se. Conversemos um pouco até o
jantar ser servido.
 
— Obrigada. — Emma agradeceu enquanto sentava no lugar
indicado, ao lado de seu pai.
 
— Não é muito comum mulheres no comando, tem certeza de que
consegue? — Marco perguntou e Emma sorriu, mas por dentro estava
revirando os olhos.
 
— Tenho certeza. Sei que é comum subestimarem a capacidade
feminina, mas podemos ser muito melhores do que muitos supõem. —
Respondeu educadamente, sem tirar o sorriso dos lábios.
 
— Eu não sei se “melhores” é a palavra. — Marco respondeu em um
tom divertido e rui, John o acompanhando na risada.
 
— Acredito que seja tudo uma questão de percepção. — Emma
falou, atraindo a atenção dos dois e no mesmo momento a mulher que os
recebeu, apareceu novamente na sala, servindo vinho aos visitantes —
Homens são muito mais agressivos diretamente, enquanto as mulheres agem
de maneira mais calculada e fria, mas nós também sabemos demonstrar
sentimentos com mais facilidade. Então, o senhor pode interpretar da
seguinte forma: nós mulheres somos ótimas quando queremos ser boas, mas
somos melhores ainda quando somos más.
 
— Gosto da sua maneira de pensar. E gosto da sua audácia em falar
isso para um homem que tem mais poder que você. — Marco elogiou, sem
deixar de lembrar que ele era o poderoso ali, mesmo já tendo percebido que
isso não abalava a estrutura de Emma.
 
— Ela é uma criança muito perspicaz. — John elogiou a filha, mas
por dentro estava com medo de que ela saísse ainda mais da linha esperada.
 
— Criança? — Marco perguntou olhando Emma de maneira
sugestiva, quase invasiva, e sorriu — Entendo que, para os pais, os filhos
sejam sempre crianças, mas esse não é o caso. Ela não parece uma criança
para mim.
 
Emma prendeu a respiração dentro de si, queria estourar bem ali, mas
sabia que qualquer movimento brusco resultaria em um tiro no meio de sua
testa, então se conteve. Sabia que teria que lidar com homens velhos e
nojentos, só não imaginou que isso aconteceria tão rápido. Odiou o homem
desde o momento em que pisou na sala da casa e o odiava ainda mais, mas
não disse nada. Não rebateu, não brigou, precisava focar em ser a nova
Emma, uma mais fria e calculista, então soltou o ar que estava preso dentro
de si.
 
— Fiz uma pesquisa sobre você, Emma. — Marco continuou a falar
depois do silêncio desconfortável que ele mesmo causou — É noiva do
O’Donnell. É uma boa aliança, gosto de saber que a cidade não ficará mais
dividida.
 
— Suas pesquisas estão atrasadas, não somos mais noivos — Emma
respondeu com um sorriso educado no rosto.
 
— Então está solteira? Deveria se envolver com alguém mais
poderoso então. — Ele falou com um sorriso e Emma respirou fundo, se
questionando se ele não se tocava de que tinha idade para ser seu avô.
 
— Não, eu e o Ryan não somos mais noivos, mas não disse que estou
solteira. — Emma sorriu — De qualquer forma, não estamos aqui para falar
sobre o meu estado civil, certo?
 
— Estamos aqui para nos conhecermos, afinal, no futuro os negócios
serão com você. — Marco respondeu, estava achando divertido provocar a
jovem, era um bom leitor comportamental e via quando a garota parecia
estar prestes a explodir.
 
— É verdade, mas com a idade que o senhor parece ter, deveria ter
chamado seu herdeiro também. — Emma falou sem pensar muito e seu pai
quase engasgou.
 
— Emma! — John tentou chamar sua atenção e olhou desconfiado
para Marco, mas ficou aliviado quando esse começou a rir.
 
— Você tem um bom ponto, mas eu não pretendo me aposentar tão
cedo. Sei que os Lancasters estão precisando de uma renovada, os últimos
acontecimento circularam bastante — Marco falou e deu um gole na própria
bebida.
 
— Imagino que tenha circulado mesmo, aparentemente mafioso
gosta de fofoca. — Emma rebateu e John sentiu que poderia ter um infarto a
qualquer momento.
 
— Informação é poder, — Marco falou, cada minuto achando aquilo
mais divertido — tenha isso em mente. Se você sabe de algo, pode usar a seu
favor. Todos temos teto de vidro nesse negócio, então que cada um proteja o
seu da melhor maneira.
 
— Vou guardar essa informação. — Emma respondeu dando de
ombros.
 
— Você está muito calado hoje, John. Me conta, já encontrou Deniel,
o traidor? — Ele perguntou encarando o homem, que respirou fundo.
 
— Estamos trabalhando nisso. — Respondeu tentando ao máximo
usar um tom educado.
 
— Então, pelo visto, ainda não acharam. — Marco afirmou e olhou
para Emma — Por que não prova que é melhor e encontra o Deniel? Ou essa
sua postura é só arrogância? Vejo pessoas como você o tempo todo. Se
acham incríveis, mas só falam. Possuem a língua afiada e desafiam quem
pode lhes arrancar a cabeça como se isso mostrasse coragem, mas me
permita deixar uma coisa bem clara, aqueles que tem poder gostam de um
único tipo de pessoa: quem mostra ao que veio com atitudes.
 
— Posso fazer isso. — Emma respondeu, odiava quando alguém
tentava ferir seu orgulho.
 
— Estarei na cidade por dois meses. Encontre-o nesse tempo e eu
terei certeza de que você é competente o suficiente para comandar alguma
coisa. — Falou com um sorriso cínico e Emma respirou fundo, ele estava
brincando com ela o tempo todo — Vamos jantar.
 
Marco ficou de pé, seguido por Emma e John, que o acompanharam.
Emma sabia que deveria ter seguido o protocolo de apenas sorrir e acenar,
mas era mais forte que ela, também viu nisso uma forma de provar que
conseguia fazer qualquer coisa, e precisava da confiança de todos os aliados,
e mais alguns. 
 
Se falou que conseguiria, então conseguiria. E encontrar Daniel
resolveria grande partes dos seus problemas e não precisaria mais morar na
casa de seus pais.
 
Encontraria um jeito e daria tudo certo, faria acontecer.
 
Capítulo 43
O jantar foi tranquilo, comparado as apresentações, Marco não tinha
mais a intenção de provocar, ou testar os limites da garota, já tinha feito seu
desafio e gostaria de ver até onde ela seria capaz de ir para resolver o
problema. Mas, ainda assim, Emma manteve o resto do seu autocontrole, se
não contasse as reviradas de olhos da garota ao ouvir comentários machistas.
 
— Foi um prazer recebê-los. — Marco começou a falar quando
Emma e John já estavam prestes a sair — E, Emma, estou ansioso para ver
como você se sairá em sua busca.
 
— Espero que aprecie a vista. — Emma respondeu em um tom
sarcástico.
 
— Com certeza aproveitarei. — O homem respondeu e olhou para o
Lancaster mais velho — Nosso combinado está de pé, as cargas chegarão no
dia acertado.
 
— Certo. Tenha uma boa noite, Marco — John se despediu.
 
— Espero que o próximo encontro não demore tanto. — Marco
falou, olhando para Emma e sorriu com superioridade — Boa noite!
 
— Boa noite, Marco! — Emma respondeu em um tom levemente
irritado. 
 
Não gostava de ser desafiada dessa forma, como se duvidassem da
sua capacidade, como Marco havia feito. Queria mostrar para o homem de
idade que era muito bem capaz de qualquer coisa, e faria isso. 
 
Caminharam para o carro em silêncio e o motorista começou a fazer
seu trabalho. Emma ficou em quieta por um tempo, não queria ir para casa,
mas não queria ficar sozinha, queria conversar com alguém em quem
confiasse e que lhe desse um pouco de conforto. 
 
— Eu não vou para casa. — Emma declarou atraindo a atenção do
pai — E isso não está aberto a debate.
 
— Para onde você acha que vai, Emma? — John perguntou irritado
— Temos que conversar sobre sua péssima postura hoje.
 
— Podemos fazer isso amanhã. — Emma respondeu não dando
muita atenção para o pai — Tenho certeza de que o assunto ainda vai estar
fresco na sua memória.
 
— Se acha que pode fazer o que quiser, está enganada! Serei
obrigado a começar a podar essa liberdade que você acha que tem. — John
ameaçou nervoso.
 
— Eu não vou me estressar com o senhor. Não me enche o saco! O
senhor vai para casa e eu vou para outro lugar, não adianta fazer escândalo.
Eu não quero ouvir e não vou ouvir. — Emma falou firme — Quer reclamar
de qualquer coisa? Ok, mas amanhã!
 
— Você está tão insolente! — Ele reclamou e Emma deu de ombros
— Acha que é só bater o pé e pronto, problema resolvido?
 
— Não, John, eu não acho isso. Só não estou com paciência para te
ouvir reclamar — Emma rebateu — Eu quero sair e vou. Não tenho mais
seis anos.
 
— Infelizmente, pois você era uma criança adorável. — John
resmungou.
 
— Com seis anos eu não havia sido trocada como uma mercadoria,
não tinha que participar de reuniões sobre tráfico de drogas e armas. Com
seis anos eu não havia sofrido uma tentativa de homicídio sequer. — Emma
despejou irritada — Então, com certeza eu era uma criança mais feliz do
que… a jovem adulta que sou.
 
— Você não tem nada de adulta! — John falou e Emma revirou os
olhos.
 
— Nem de adolescente, como eu deveria ter. Então, por favor, não
me desgasta mais! — Emma exigiu.
 
— Ao menos diga para onde você quer ir. — Ele pediu em um tom
cansado.
 
— Se tivesse perguntado com educação, antes desse show, eu falaria.
Agora não é mais da sua conta. — Emma falou irritada.
 
— Chegamos. — O motorista avisou, antes que John falasse alguma
coisa.
 
Emma saiu do carro sem olhar para trás e foi em direção ao seu
próprio carro, ignorando os berros de seu pai, respirando fundo enquanto
caminhava até a bancada onde ficavam as chaves dos carros. Sabia que seria
uma briga sair dali, afinal, ainda não conseguia passar pelo portão se ele não
estivesse aberto e sabia que o pai poderia proibir a passagem.
 
— Eu não quero mais me estressar, pai, chega de escândalo. Eu só
vou dar uma volta e pronto. — Emma falou, tentando se manter calma,
apesar da mão fechada em punho apertando a chave entre os dedos.
 
— Eu que não vou me estressar, mas você não sai daqui sem
segurança, entendeu? — John disse autoritário, as bochechas vermelhas
evidenciavam a raiva que sentia — Chame o Steven.
 
— Se é isso que preciso para poder sair daqui, eu faço, mas saiba que
é ridículo! — Emma rebateu irritada.
 
— Ridículo, ou não, eu faço as regras e dou as ordens. — John
começou a caminhar saindo dali e olhou para o segurança — O portão só
pode ser aberto se ela sair acompanhada pelo Steven.
 
— Sim, senhor! — O homem respondeu e John seguiu seu caminho.
 
Emma respirou fundo, discando um número, mas não o de Steven. Se
não poderia sair no próprio carro, sairia de outra forma.
 
— Estou realmente surpreso com sua ligação. — A voz grave
provocou arrepios em Emma — Aconteceu alguma coisa?
 
— Estou com vontade de te ver, tá ocupado? — Emma perguntou
baixo para que o soldado não a escutasse.
 
— Pra você? Nunca! — Respondeu em um tom divertido.
 
— Ryan, eu estou falando sério. — Emma protestou e ele riu.
 
— Eu também estou. Tem semanas desde a última vez que nos
vimos, também quero te ver. — Ryan falou em um tom mais sério, repleto de
sinceridade.
 
— Vem me buscar? — Emma perguntou em um tom quase manhoso
— Eu não posso sair sozinha, aparentemente.
 
— Estarei aí em vinte minutos. — Ryan respondeu quase de imediato
— Me espere na frente da sua casa, assim você só entra e nós vamos
embora.
 
— Acho esse um excelente plano. — Emma concordou.
 
— Nos vemos daqui a pouco. — Ryan se despediu e desligou a
chamada.
 
Emma suspirou e, após guardar a chave no lugar novamente, olhou
para o segurança que a observava o tempo todo.
 
— Preciso ir lá para fora, sem carro. — Emma falou e o segurança
ficou na dúvida.
 
— Mas o senhor deixou claro que você só poderia sair com o Steven.
— O segurança respondeu.
 
— Estou indo sem o carro, John sequer vai reparar em alguma coisa.
E ele logo passará todo o comando dos negócios para mim; — Emma falava
com a voz doce, quase sedutora — Pensa bem, não seria bom ter uns pontos
comigo?
 
— Senhorita… — Ele começou a falar, mas parou para refletir sobre
o assunto um instante. Emma demonstrava confiança e determinação, e o
burburinho que corria entre os soldados era que a expectativa era que Emma
seria uma líder melhor que o pai estava sendo — Tudo bem, mas terei que
ficar lhe acompanhando até que sua carona chegue. 
 
— Claro, obrigada. — Emma sorriu e agradeceu.
 
O segurança guiou Emma até o lado de fora da garagem, além do
portão que protegia a casa, ficando de guarda para evitar qualquer
imprevisto. Emma se encolheu quando uma brisa bateu, esqueceu que o lado
de fora era mais frio que dentro das residências, mas não tinha a menor
intenção de voltar para pegar um casaco.
 
Emma sorriu ao ver o carro do Ryan se aproximando, o coração
disparado no peito, sentiu mais falta do ex do que tinha percebido sentir. A
rotina pesada de treinos e aulas de Steven não lhe dava tempo para pensar,
ou sentir, muito. E quando a noite chegava, estava exausta demais para
procurar o responsável pela saudade em seu peito.
 
Ryan estacionou próximo à Emma e abriu a porta para que ela
entrasse, sem sair do carro e ela sorriu, entrando no veículo. Seus olhos
brilhavam, assim como os de Ryan. Dois corações apaixonados que não se
viam há algum tempo e, agora, estavam animados por estarem juntos.
 
— Você está muito bonita. Isso tudo para me ver? — Ryan
questionou olhando para Emma, que sorriu.
 
— Estava em uma reunião, por isso a roupa mais formal. Em uma
produção só para você, eu colocaria um vestido sexy e uma calcinha fio
dental. — Emma provocou e tremeu um pouquinho devido ao frio que
sentia.
 
— Toma, coloca isso. — Ryan tirou a jaqueta que vestia e colocou
sobre os ombros dela, que sorriu pequeno ao sentir o perfume na peça.
 
— Obrigada. — Emma agradeceu com um sorriso pequeno.
 
— Vamos, quero aproveitar a noite com você adequadamente. —
Ryan falou, começando a dirigir.
 
— Tudo que eu quero é uma noite relaxante. — Emma pediu com
um suspiro.
 
— Vou te ajudar com isso. — Ryan respondeu em um tom malicioso.
 
— Estou contando com isso — Emma respondeu.
 
Não tinha certeza se era certo fugir dos problemas indo até o Ryan,
mas não queria pensar sobre isso, porque se sentia acolhida de verdade nos
braços dele. Então era onde queria estar.
 
Capítulo 44
Emma sorriu ao entrar na casa de Ryan, ainda era a mesma em que
moraram por um curto espaço de tempo, mas se sentia em casa ali. Tinha ele
e não tinha sua família, isso fazia qualquer lugar perfeito para si, pois
conseguia respirar sem se sentir completamente sufocada. Perto dele se
sentia realmente acolhida.
 
— O que quer fazer? — Ryan perguntou enquanto envolvia Emma
em um abraço por trás, aspirando o cheiro floral que tinha no cabelo dela.
 
— Quero só ficar com você. — Emma respondeu sincera — Sem
conversar sobre problemas, meus pais, ou máfia. Apenas dois jovens que
gostam de estar juntos.
 
— Eu gosto dessa opção. — Ryan falou e mordeu o pescoço dela,
fazendo a garota se arrepiar por inteiro. Ele sentia falta dela, mais do que
imaginou que sentiria. Sentiu falta das conversas pela manhã, da
desorganização dela, do perfume dela. E do calor de seu corpo nas noites em
que passavam juntos, dormindo abraçados, como se não se desentendessem
durante todo o dia.
 
— Vamos para o seu quarto. — Emma sugeriu e suspirou ao ter o
corpo apertado um pouco mais contra de Ryan.
 
— Seu pedido é uma ordem. — Ryan falou em um tom divertido e
pegou Emma no colo como se ela fosse um bebê, o que gerou risadas altas.
 
Emma contestou a forma como estava sendo carregada, mas Ryan
não se importou, apenas continuou seu trajeto pelas escadas e o corredor em
direção ao quarto. Emma sentia o coração muito mais leve e tranquilo por
estar em um clima tão agradável e divertido, podendo relaxar
completamente. Quando em casa, ficava em estado de alerta o tempo todo,
não confiava nos pais e, principalmente, não confiava na irmã. Mas ali, com
Ryan, era completamente diferente.
 
Com ele sentia que podia ser todas as versões de si mesma. A
brigona que reclama de tudo, a adolescente rebelde, a que está aprendendo
sobre máfia… sentia que podia ser a Emma que ama e se entrega de verdade
ao sentimento, que se entrega a ele.
 
Ryan deitou Emma na cama e deitou-se sobre ela, beijando-a com
intensidade, deixando as línguas se reconhecerem e os lábios matarem a
saudade, enquanto os corações pulsavam dentro de seus peitos,
descompassados e estranhamente sincronizados, como somente o amor seria
capaz de fazer. 
 
E mesmo que ainda não tivessem dito, ou mesmo percebido, não era
possível enganar o coração. Escondido, ou disfarçado, o sentimento que
tinham era real. Não saberiam dizer se o amor nasceu do desejo, ou se se
desejavam porque, inconscientemente, sabiam que se amavam, mas não
importava, não enquanto se tocavam de maneira tão ousada e buscavam no
outro uma satisfação para o corpo e para a alma.
 
Ryan se afastou um pouco para olhar Emma, que sorria para ele,
deitada na cama. Devagar ele tirou peça por peça de roupa da garota,
admirando com devoção cada centímetro da pele, que ia ficando cada vez
mais despida, e só parou quando não sobrou mais nada para atrapalhar sua
visão.
 
— Eu dei muita sorte.  — Ryan falou apenas olhando para a Emma,
sem tocá-la — Tenho na minha cama a mulher mais bonita e gostosa do
mundo inteiro, ou mesmo do universo.
 
— E ela está completamente entregue a você. — Emma respondeu,
sorrindo maliciosa. Estava deitada de costas para o colchão e, devagar,
dobrou os joelhos, os deixando levantados e as pernas abertas, enquanto as
mãos massageavam lentamente os próprios seios.
 
— Porra! — Ryan exclamou, de pé à beira da cama, tendo Emma
como vista — Gostosa pra Caralho!
 
— Vem provar. — Emma provocou, enquanto uma mão deslizava
lentamente até sua intimidade — Eu quero você me fodendo com força,
Ryan. Quero me lembrar, amanhã quando eu acordar, que você me comeu
até me deixar completamente sem forças.
 
— Seu desejo é uma ordem. — Ryan respondeu com um sorriso e
retirou a camisa, deixando o peitoral malhado e trincado de fora.
 
Ajoelhou na cama, inclinando o corpo, e apoiou parte do peso em um
braço. Beijou Emma com intensidade, de uma maneira quase selvagem. A
mão livre deslizou suavemente na pele aveludada dela, até chegar em sua
intimidade, onde Ryan a tocou com maestria, fazendo Emma gemer entre os
beijos, enquanto sua língua dominava e controlava a boca dela.
 
Emma sentia as ondas de prazer invadindo seu corpo e desejava por
mais, queria tudo que Ryan podia oferecer e ansiava por isso. Estava
completamente entregue a todas as sensações que tinha. Enquanto uma de
suas mãos descontava a tensão gostosa que sentia nos lençóis, a outra fazia o
mesmo no braço dele, cravando as unhas, arranhando a pele do lugar. 
 
Emma sentiu a pele inteira se arrepiar quando a boca de Ryan desceu
para o seu pescoço e depois para seus seios, chupando um de cada vez,
mordendo o bico e a carne macia como se quisesse devorá-la. Então ele
parou os movimentos com a mão e desceu ainda mais os beijos, até chegar
na boceta.
 
Ryan lambeu os lábios, sorrindo como se estivesse prestes a provar a
fruta mais suculenta e doce que já viu. Deslizou a língua por toda a parte
interna e deixou vários beijos na parte externa, apreciando os gemidos de
Emma como se fossem uma linda e melodiosa sinfonia. Apreciou com gosto
o sabor da boceta dela enquanto a lambia e chupava e suas mãos apertavam
o quadril da garota, a mantendo ali, mesmo que seu corpo estivesse
estremecendo de prazer.
 
Emma pedia por mais, para que ele não parasse, sentia que estava
perto de gozar, pois sua visão já escurecia e sua sanidade já havia lhe dado
adeus. Sobrava em si apenas uma parte consciente o suficiente para se perder
no mar de prazer que lhe afogava a cada nova onda. E ela gostava de se
afogar, de gritar e de gemer. As mãos apertavam os lençóis até os nós dos
dedos ficarem brancos. Gostava que ele soubesse fazer tão bem.
 
E gritou quando seu corpo explodiu em prazer e liberou tudo em um
orgasmo que lhe deixou fraca e ofegante, mas sentia que ainda queria muito
mais daquela noite. Ryan sorriu vendo Emma tremer, gostava de vê-la
satisfeita. Tirou o pau para fora da roupa, vendo que ele pulsava de duro
enquanto apontava para cima, carente de alguma atenção, chegando a estar
dolorido. 
 
Ryan tirou o restante da roupa e se masturbou lentamente, enquanto
Emma recuperava o fôlego. O pré-gozo escorria, demonstrando a excitação
em que se encontrava. Bombeava o pau, se dando um pouco de prazer, mas o
que queria mesmo era a boca quente de Emma ali, para depois fodê-la com
força, em todas as posições possíveis.
 
— Emma, vem recuperar as energias mamando aqui. — Ryan falou
firme e Emma sorriu ao olhar para ele e ver o membro ereto em sua mão.
 
Ajoelhou na cama e depois ficou de quatro, engatinhando sobre o
colchão até chegar em Ryan, que estava de pé, colocando-o na boca e
sentindo o gosto salgado do pré-gozo espalhado ali. Emma passava a língua
em movimentos circulares na glande e o engoliu aos poucos, enquanto uma
mão segurava na base do pau, chupando como se estivesse provando de um
doce e se lambuzando.
 
Ryan gemia baixo, gostando da sensação da boca quente e macia dela
em seu pau, que estava tão necessitado de atenção. Segurou nos cabelos dela
para controlar a velocidade, para foder com mais intensidade sua boca.
Empurrou a cabeça da garota até sentir seu pau tocando a garganta e repetiu
mais uma vez, gemendo pelo prazer que se espalhava por seu corpo. Ryan
fechou os olhos enquanto ofegava e gemia, sentindo seu orgasmo.
 
— Eu vou gozar. — Anunciou e Emma sorriu, chupando-o ainda
mais, com mais intensidade, até sentir um jato de porra atingir o céu da boca
e engolir cada gota que jorrava.
 
Emma lambeu a extensão antes de se afastar, também lambendo os
lábios. Ryan segurou o rosto da morena com um pouco de força e a beijou,
não se importando de sentir o próprio gosto na boca dela. Se afastou para
sentar na cama e puxou a garota para o seu colo, deixando-a com as pernas
em volta de sua cintura. Beijou o pescoço dela, sugando a pele mesmo
sabendo que deixaria marcas no local. Emma teria muitas lembranças para o
dia seguinte.
 
Emma rebolava vagarosamente no colo de Ryan, sentindo o membro
dele ficando duro novamente e pulsando contra sua pele. Os braços em volta
do pescoço dele para sustentar seu corpo e a boca completamente ocupada
na boca do outro, perdidos em um beijo intenso, repleto de desejo, pecado e
paixão.
 
Ryan levantou sem tirar Emma do colo, e ela riu quando percebeu
que estava sendo carregada pelo quarto.
 
— O que vai fazer? — Emma questionou, achando divertido.
 
— Vou pegar um preservativo e depois te foder contra a parede. —
Ryan respondeu calmo e beijou suavemente os lábios da garota — Prende as
pernas no meu quadril.
 
— Sim, senhor! — Emma falou em um tom de brincadeira, mas isso
não impediu que ele se arrepiasse com a provocação.
 
Emma prendeu bem as pernas e Ryan lhe apoiou apenas com uma
mão, com a outra pegou um preservativo na gaveta e entregou para que ela
abrisse com cuidado, já que estava com as duas mãos livres. Com um
pouquinho de trabalho, nada que atrapalhasse realmente, vestiu a camisinha
e depois pressionou Emma contra a parede.
 
Ryan beijou a boca inchada de Emma enquanto a penetrava
vagarosamente, ambos gemendo baixo contra os lábios do outro, até entrar
tudo, então ele afastou o rosto, olhando para o rosto dela, que estava com
olhos castanhos claros bem abertos, em uma expressão particularmente
deliciosa de prazer para ele, que fazia um movimento de vai e vem rápido e
intenso. 
 
Ryan segurou Emma com força, afastando os dois da parede e a
levando de volta para a cama, colocando-a no colchão.
 
— Quero te foder de quatro, empina essa bunda gostosa para mim.
— Ryan pediu, mesmo que mais parecesse uma ordem, mas que não
incomodou em nada Emma, que imediatamente mudou a posição sem
contestar nada, ficando de quatro e com a bunda bem empinada, o rosto
tocando o colchão — Assim, que visão maravilhosa, que pele fodidamente
perfeita para ficar vermelha.
 
Ryan se abaixou, beijando uma banda de cada vez da bunda da
garota, que suspirou com o toque, então segurou em seu quadril, empurrando
o corpo contra o dela, a penetrando de uma só vez e lhe acertando um tapa, o
que gerou um grito de puro prazer. 
 
Investindo sem descanso, o quadril trabalhando em movimentos
precisos e intensos, enquanto ambos de perdiam em um prazer puro.
Determinado a deixar a pele clara da bunda de Emma avermelhada, Ryan
conciliava entre tapas estalados de cada lado, apreciando a mudança de cor,
e seu pau entrando e saindo da boceta dela.
 
Emma estava perdida na sensação de prazer, já havia sido
completamente levada pelas ondas dele e seu corpo tremia. De sua bocas
saíam gemidos e arfares e, ainda assim, pedia para que ele continuasse com
mais e mais. Surpreendeu-se ao ter o corpo virado de uma vez, agora ficando
de costas para cama, e sorriu ao sentir o corpo de Ryan pesar sobre o seu.
 
Ryan ficou sobre o corpo da garota, apoiando praticamente todo o
peso nos braços, e penetrou-a novamente. Emma cravou as unhas nas costas
dele, usando ali para descontar tudo que sentia ao mesmo tempo. E quando
seu corpo atingiu o ponto máximo da tensão, Emma fechou os olhos.
 
— Abra os olhos, quero que olhe pra mim enquanto goza. — Ryan
falou, mas era quase uma exigência.
 
— Ryan… — Emma gemeu, olhos abertos enquanto gozava com o
pau dele ainda dentro de si, entrando e saindo.
 
Ryan saiu de dentro da garota e se livrou do preservativo, gozando
sobre a barriga dela, que respirava fundo, recuperando o fôlego. Caiu ao lado
dela, com a respiração também desregulada.
 
— Nós precisamos de um banho. — Ryan comentou com a voz
falhada.
 
— Eu preciso de cinco minutos. — Emma pediu manhosa.
 
— Eu vou encher a banheira e nós podemos ficar lá, o que acha? —
Ryan sugeriu, aninhando Emma em seus braços sem se importar em se sujar
com a porra que espalhou sobre ela.
 
— Eu acho que quero dormir, não quero ficar na banheira — Emma
falou, escondendo o rosto no peito suado dele. Estavam uma bagunça, mas
completamente satisfeitos.
 
— Então vamos tomar um banho, eu troco os lençóis da cama e a
gente dorme, ok? — Ryan propôs.
 
— Vamos. — Emma falou se levantando. 
 
Emma seguiu primeiro para o banheiro, enquanto Ryan ficou para
trás, arrumando a bagunça. Após tomarem banho juntos, vestiram-se
confortavelmente para dormir. Emma estava em um estado de sono tão
grande, que Ryan precisou auxiliá-la o tempo todo e, quando deitaram, ela
dormiu quase que imediatamente, enquanto ele precisou de uns minutos
mais, pois se perdeu um pouco sentindo paz em apenas tê-la ali consigo.
 
Capítulo 45
Emma acordou e não viu Ryan pelo quarto, levantou-se
demoradamente e se arrumou para descer ainda mais devagar. Estava com o
corpo dolorido, mas não se arrependia nenhum pouco. Ainda haviam roupas
suas nas coisas de Ryan e ela gostou de ver que ele não havia tirado nada
dali. Quando desceu as escadas, sentiu o cheiro de comida sendo feita e o
seguiu, achando Ryan na cozinha preparando o café da manhã.
 
— Bom dia! — Emma falou sentando-se à mesa.
 
— Bom dia! — Ryan respondeu, sorrindo para a garota — Estou
fazendo ovos com bacon, mas tem torrada, geleia, pasta de amendoim e suco
de laranja.
 
— Ótimo, estou faminta! — Emma falou, pegando uma torrada, e
sorriu com malícia — Você me deixou exausta ontem.
 
— Com muito prazer, quando quiser de novo sabe onde me encontrar
— Ryan respondeu com um sorriso de lado e piscou, fazendo a morena rir.
 
— Vou me lembrar disso.
 
— Agora me conta, o que aconteceu ontem que você estava irritada?
— Ryan perguntou terminando de colocar à mesa.
 
— Meu pai acha que pode mandar em mim no grito. Estou saturada
dele e daquela casa. — Reclamou — E eu ainda preciso de mais algum
tempo para tirar meu pai do poder.
 
— O que pretende fazer? — Ryan questionou servindo suco em seu
copo.
 
— Preciso encontrar o Deniel dentro de dois meses, fui desafiada a
isso. — Emma respirou fundo — Eu não tenho ideia do que vou fazer.
 
— Tá, vamos com calma. — Ryan pediu, queria realmente entender
o que estava acontecendo — Me conta do começo. Que reunião foi essa em
que você foi ontem?
 
— Meu pai marcou uma reunião com um tal de Marco e, pelo que
entendi, ele é um fornecedor importante. E ele me desafiou a encontrar o
Deniel em dois meses, para provar que eu realmente tenho a competência
que declarei ter. — Explicou — E, talvez, eu tenha dado algumas respostas
mais secas ao velho, digo, ao Marco. E meu pai ficou puto e eu quis te ver.
 
— Agora estou entendendo. Marco é assim mesmo, ele sempre
desafia quem está prestes a assumir algo, ou alguma posição, e se a pessoa
não passa no teste dele, a aliança acaba, ou o herdeiro-barra-candidato deve
ser substituído. — Ryan esclareceu e Emma abriu a boca em uma
exclamação de surpresa.
 
— Isso é sério? — Questionou, ficando um pouco tensa e mais
nervosa ao receber um aceno positivo de Ryan — Que merda, como vou
achar o Deniel? Não posso perder o apoio do velho.
 
— Nós vamos dar um jeito, eu vou te ajudar. — Ryan falou — Mas,
estou curioso, ele sabe sobre a Darah?
 
— Eu não sei te responder isso, por quê? — Emma perguntou
confusa.
 
— Porque você a quer como conselheira, provavelmente ele daria
uma “missão” para ela também — Ryan explicou.
 
— Mas ele é tão poderoso assim, ao ponto da opinião dele ser
realmente tão relevante? — Emma questionou indignada, não deveriam ficar
tão à mercê de alguém.
 
— Ele é. — Ryan respondeu simples dando de ombros — Não tente
fazer nada sobre isso, você ainda nem assumiu seu lado da cidade.
 
— Eu não disse nada! — Emma exclamou na defensiva.
 
— Mas eu não duvido que tenha pensado em algo — Respondeu
olhando nos olhos claros da Emma — Conheço teu jeito impulsivo. E, se
concentra em uma coisa de cada vez.
 
— Eu não pensei em nada! — Emma respondeu fazendo bico, mas,
no fundo, realmente o pensamento de que deveria haver um equilíbrio de
poder lhe ocorreu.
 
— Ocupa sua cabecinha com outros pensamentos como, por
exemplo, por onde começar a procurar Deniel? — Ryan sugeriu para Emma,
que revirou os olhos.
 
— Qual a sua ideia sobre isso? — Ela Perguntou.
 
— O óbvio, sua irmã. — Ele deu de ombros — Mesmo que ela não
tenha mais nada com ele, deve saber de algo.
 
— É uma alternativa, mas se ela ainda estiver com ele é sinal de que
ela não desistiu de herdar o poder da máfia — Emma refletiu.
 
— Exatamente — Ryan concordou e olhou sério para Emma — E eu
quero que você esteja ciente de que eu e você temos um acordo, que eu vou
respeitar, auxiliar e te ajudar em todo o seu processo de crescer e assumir o
poder, mas se você perder para a sua irmã, não temos mais nenhum acordo
de paz vigente.
 
— Estou ciente. — Emma respondeu e respirou fundo — O que
aconteceria neste segundo caso?
 
— Eu te traria para o meu lado e derrubaria sua família. Não é como
se lá estivesse muito sólido. — Ryan respondeu simples e sorriu para a
Emma — Mas eu quero que você aprenda e construa seu nome, fico
orgulhoso de você estar tentando, e vou ficar ainda mais quando for rainha.
 
Emma prendeu a respiração sem perceber e as bochechas ficaram
coradas, sequer tinha uma explicação para se sentir afetada com palavras
dele, mas se sentiu e sorriu e pequeno. Respirou fundo quando o corpo
exigiu um pouco de ar e desviou o olhar para a comida diante de si.
 
— Vamos tomar o café da manhã, está esfriando. — Emma disse,
mudando de assunto bruscamente, provocando uma risada baixa em Ryan.
 
— Claro, vamos comer. — Ryan concordou — Vai passar o dia
comigo, ou vai para casa?
 
— Vamos passar o dia juntos como um casal fofinho, como dois
projetos de mafiosos falando sobre negócios, ou como dois pervertidos? —
Emma perguntou sorrindo.
 
— Como você preferir. — Ryan respondeu — Podemos fazer os três.
 
— Então eu fico — Emma declarou, queria mesmo uma folga.
 
— Ótimo, vou avisar o Derek que hoje eu não vou aparecer. — Ryan
falou pegando o celular.
 
— Eu preciso avisar ao Steven que não vou treinar hoje e marcar
uma reunião com ele e com a Darah amanhã. — Emma disse pegando seu
celular também.
 
Emma digitou uma mensagem sobre a falta e o aviso de reunião no
outro dia, Darah e Steven teriam que ajudá-la ativamente na busca por
Deniel. Concluiu a mensagem e enviou, não esperou por resposta, apenas
bloqueou o aparelho e olhou para Ryan com um sorriso mínimo.
 
— Ryan? — Chamou a atenção dele, que também bloqueou o celular
e o deixou de lado — Eu não vou te decepcionar, vou ser a melhor rainha
que Boston já viu.
 
— Estou ansioso por isso. — Ele levantou e foi até Emma, beijando
suavemente seus lábios — A minha rainha.
 
Capítulo 46
O dia com Ryan foi como uma dose de energia para Emma. Gostou
de, por um momento, ter sido apenas uma jovem normal, curtindo o dia com
o garoto que gosta. Chegou a se questionar se deveria estabelecer um rótulo,
um relacionamento fixo, mas ainda não sentia como se fosse o momento
para isso. Precisava se estabelecer primeiro, ou viveria à sombra de Ryan e
definitivamente não queria isso.
 
Emma andava de um lado para o outro na academia particular da
família Lancaster, onde sempre treinava com Steven e Darah, mas os dois
estavam atrasados, mesmo quando Steven era responsável pela segurança da
Lancaster e ele quem deveria ter levado-a até lá. Sentada em um banco,
Emma viu os dois entrando juntos, e arqueou uma sobrancelha e olhou no
relógio, que marcava que ainda eram oito da manhã.
 
— Bom dia! — Emma cumprimentou, dando um leve susto em
Darah — Tá muito assustada, coisa de quem tava fazendo algo errado.
 
— Bom dia! E eu não estava fazendo nada, você não avisou que já
tinha chegado. — Darah se defendeu, dando de ombros e indo sentar ao lado
da amiga.
 
— Avisei sim! — Emma rebateu e balançou o celular — No grupo.
 
— Tá! Tá! Isso não importa. — Steven interveio — Por que queria
uma reunião?
 
— Ah, sobre isso, — Emma respirou fundo — temos uma coisa
urgente para resolver.
 
— Sem mistério, Emma, só fala logo. — Darah pediu e Emma
revirou os olhos.
 
— Conheci um tal de Marco e ele é muito importante para que a
gente consiga nosso objetivo, mas ele passou uma missão e, de acordo com
Ryan, ele leva essa coisa de missão muito a sério. — Emma começou a
explicar atraindo a total atenção dos dois, principalmente de Steven, que já
conhecia o tal Marco. — Ele quer que capturemos Deniel em dois meses. E
temos que dar um fim nele.
 
— Dois meses? — Darah perguntou um pouco surpresa — Como
vamos fazer isso? Por onde vamos começar a procurar?
 
— Foi exatamente por isso que falei que queria uma reunião, para
pensarmos juntos — Emma falou — Vamos ter que começar pelo que temos,
Charlotte.
 
— Acha que sua irmã ainda está envolvida com ele? — Steven
perguntou.
 
— Espero que não, mas ainda acho que ela pode saber onde ele está,
ou onde ele pode ter ido. Ao menos uma noção de alguma coisa ela deve ter.
Ela foi casada com ele por anos. — Emma falou, soltando um suspiro — Eu
realmente espero que ela não esteja mais envolvida, ou…
 
— A gente entende. Apesar de tudo, ela é sua irmã. E eu sei como
você sempre admirou e amou ela, mas não se sinta culpada por isso, você só
precisa aceitar, dentro de você, que aquela imagem que tinha dela, nada mais
era que um teatro. A verdadeira Charlotte tentou te matar. — Darah falou
com cuidado, mas ainda assim firme. Conhecia Emma perfeitamente para
saber que era um assunto delicado, apesar da forma dura com a qual ela
sempre reagia. E com razão.
 
— Podemos interceptar as chamadas do celular dela, colocar uma
escuta no quarto dela e na sala da empresa e alguém para segui-lá, quem é o
segurança dela?
 
— Podemos ver sobre isso — Steven falou pensativo — Conheço a
pessoa perfeita para trabalhar para você, Emma, ele entende tudo de
computador. Às vezes faz alguns serviços para mim.
 
— Ótimo! Quem? — Emma perguntou olhando para Steven.
Qualquer pessoa confiável era uma ajuda a mais então, se ele confiava nessa
pessoa, ela também confiaria. Afinal, tinha que acreditar na sua equipe.
 
— Vou falar com ele primeiro e depois vemos isso. — Steven
declarou — E tem mais uma coisa, vamos ter que intensificar o treinamento
de vocês duas, acho que teremos que ir para o nível dois.
 
— Nível dois? O que seria? — Darah indagou, arqueando a
sobrancelha.
 
— Vocês vão ter que aprender a lidar com o sangue na mão. —
Steven falou friamente.
 
As duas prenderam a respiração e sequer perceberam que reagiram
assim. Elas sabiam que esse momento ia chegar, mas realmente não
contavam que fosse acontecer tão rápido. Emma estava com o coração
disparado e trocou um olhar assustado com a amiga, estavam na mesma
situação. Elas sabiam, elas sempre souberam que aceitar essa vida incluía o
sangue nas mãos e algumas, ou muitas, mortes no histórico, mas achavam
que teriam mais tempo para se preparar mentalmente.
 
— Não façam essas caras, o trabalho incluí isso. Vocês precisam
aprender a lidar com isso, ou acham que para chegar no Deniel, ou para se
livrarem dele, outra pessoa vai fazer o trabalho pesado? Como planejam
adquirir o respeito e medo dos seus soldados? — Steven perguntou sério e
Emma respirou fundo.
 
— Tudo bem, não estou contestando, mas não é um passo fácil, ok?
— Emma respondeu levemente irritada.
 
— Como você vai escolher as pessoas para a gente… sabe, né? —
Darah perguntou, receosa.
 
— Relaxa, não vou escolher pessoas inocentes para isso, se é a sua
preocupação. — Steven respondeu ainda em um tom firme — E você pode
falar, não vai mudar nada. As pessoas que vocês vão matar, tirar a vida,
entenderam?
 
— Entendemos, — Emma respondeu, ficando de pé — mas esse não
era o tópico da reunião.
 
— Você não pode fugir do que te incomoda, Emma. — Steven falou
em tom de aviso recebendo um olhar irritado.
 
— Não estou fugindo, de nada. — Deu de ombros — Mas temos que
pegar o Deniel, esse é o foco dessa reunião.
 
— E eu já disse que vamos, mas temos que organizar uma equipe. Já
sei por quem começar, mas preciso ver se ele topa primeiro. — Steven
respondeu.
 
— Sinceramente…
 
— Ok, um passo de cada vez! — Darah interrompeu antes que
virasse uma discussão — Podemos pensar sobre isso, criar rotas que ele
pode ter feito. Por exemplo, com que dinheiro ele está vivendo? Quando esse
hacker que o Steven falou, chegar, poderemos pensar nos detalhes.
 
— Certo. — Emma respondeu levemente contrariada — Vamos
treinar então, que tenho mais o que fazer hoje.
 
— Tipo o quê? — Darah perguntou.
 
— Vou ler os cadernos de anotações do meu pai, lá deve ter nomes
úteis, informações. — Emma respondeu simples.
 
— É realmente uma boa, quer ajuda? — Darah perguntou olhando
para Emma.
 
— Quero. — Respondeu e olhou para Steven — Podemos começar?
 
— Claro. Vamos começar por luta corporal, deixaremos as armas
para quando vocês estiverem mais calmas. — Declarou.
 
— Tô muito calma. — Emma respondeu dando de ombros.
 
— Estou vendo. — Steven respondeu — Agora foco.
 
Steven começou a instruir o alongamento para poderem, de fato,
começar com o treino do dia. E enquanto exercitavam o corpo, Emma
mantinha a mente trabalhando, pensando e calculando formas para alcançar
seus objetivos. 
 
Capítulo 47
Emma olhava os livros de John e todas as anotações sobre a máfia,
aproveitando-se do fato do pai não estar em casa. Enquanto ela estava
sentada em numa poltrona do escritório da casa, Darah estava deitada, lendo
outro livro de anotações, no pequeno sofá de dois lugares. Ambas
concentradas em suas leituras, ou concentradas o máximo que podiam. A
mente de Emma estava presa em como faria para achar Deniel, precisava
disso.
 
— Acho que a gente deveria copiar algumas anotações, pega umas
folhas em branco e uma caneta para mim.  — Darah pediu, mas não
conseguiu a atenção da amiga, que continuava imersa olhando para o livro
em sua mão — Emma, tá me escutando?
 
— O quê? Não! Disse alguma coisa? — Emma perguntou olhando
para Darah, realmente não havia ouvido uma palavra sequer.
 
— Papel e caneta, quero anotar algumas coisas. — Darah repetiu
com calma e olhou para a Emma, arqueando a sobrancelha — O que está
pensando?
 
— Tanta coisa. Minha mente está um caos. — Suspirou — Era para
eu estar surtando com as provas uma hora dessa, não com o fato de que vou
ter que matar pessoas, talvez torturar em algum momento. Tenho que achar o
Deniel, como se minha vida dependesse disso. Porque, de certa forma,
depende. — Fechou o livro e arrumou a postura — Pensa comigo, o Deniel
quer me matar, então eu realmente preciso saber onde ele está. E eu preciso
fazer meu nome no submundo, então preciso eu mesma fazer isso. É tão…
Eu não sei, complexo.
 
— Complexo é uma boa explicação. — Darah sorriu tentando
amenizar a tensão — A gente está no mesmo barco. Você, porque foi
colocada nele. E eu, porque escolhi fazer parte disso com você. Mas eu
também ainda não iniciei a faculdade, também vou ter que matar alguém e
também — Suspirou — Também não é fácil para mim. Eu não estou
tentando comparar, estou te dizendo que você não está sozinha. E não vai
ficar sozinha nunca. 
 
— Darah, acho que eu deveria me desculpar por te trazer para essa
loucura…
 
— Não, você me deu escolha, e eu escolhi estar aqui. — Darah
respirou fundo e sorriu — Você tem a aura para esse negócio, Emma, a
Rainha de Boston. Gosto de como soa. — Deu de ombros — Muito mais do
que Emma, a médica da emergência. E, seja sincera consigo mesma, essa
vida não te atrai nada. Apesar de o momento ser realmente complexo, como
você falou, não sente seu sangue correndo mais rápido? Emma, nós
nascemos para estar aqui! E eu sei que, quando essa confusão amenizar na
sua mente, você conseguirá pensar mais claramente em como acharemos o
Deniel. Porque você tem uma mente brilhante.
 
— Eu não poderia ter uma conselheira melhor que você, nunca! —
Emma falou sorrindo.
 
— Eu sei! — Darah piscou e riu — Agora, pega meu papel e caneta.
 
Emma revirou os olhos e se levantou, caminhando até a mesa do pai
em busca dos materiais que lhe foram pedidos. Abriu as gavetas, tirando
alguns papéis e uma caneta, e os levou de volta até a Darah, que sentou no
chão, próxima à mesa de centro e riu.
 
— Definitivamente, essa não é a postura de uma consigliere. —
Darah brincou fazendo Emma revirar os olhos rindo.
 
— Com certeza não é a postura de uma chefe também. — Emma deu
de ombros — Mas não é como se eu me importasse, de qualquer forma.
 
Darah sorriu e começou a fazer algumas anotações junto a Emma,
discutindo sobre as coisas que liam, mas pararam no mesmo instante em que
viram a porta ser aberta. Em um movimento rápido dobraram as folhas antes
que pudessem ser vistas.
 
— O que está fazendo aqui, Emma? — John perguntou, intercalando
o olhar entre as duas garotas que levantavam rapidamente.
 
— Estávamos apenas lendo para aprender um pouco mais. — Emma
respondeu simples, notando Steven parado na entrada também.
 
— Não pode mexer nas minhas coisas sem minha autorização.
Espero que isso não se repita. — John falou firme.
 
— Em breve isso aqui será meu, preciso saber como está a situação
das coisas. E a Darah é minha conselheira, tem o direito de ler tanto quanto
eu. — Emma rebateu. Ambas estavam com a postura reta, sem baixar o
olhar, sem se deixarem intimidar.
 
— Não discutirei com você, só sai da minha sala e deixa meus livros.
— John exigiu indo sentar em sua cadeira — Entra, Steven, precisamos
conversar.
 
Emma trocou um olhar com Darah, depois olharam para Steven e
saíram do escritório fechando a porta. Foram direto para o quarto de Emma
em silêncio, satisfeitas por não se encontrarem nem Carmen e muito menos
Charlotte. Elas sabiam que, esporadicamente, Steven tinha reuniões com
John e que depois ele passaria para elas o que lhe foi falado. 
 
— Sabe o que eu lembrei? — Emma comentou se sentando em sua
cama.
 
— O quê? — Darah perguntou despreocupada, olhando-se no
espelho da penteadeira.
 
— Por que você chegou junto do Steven, hoje, na academia? —
Emma perguntou com um sorriso pequeno — Não está esquecendo de me
contar nada?
 
— Não estou esquecendo nada. — Darah respondeu e riu ao ser
atingida por um travesseiro.
 
— Me alimente com essa fofoca, Darah! — Emma exigiu rindo.
 
— Não foi nada, apenas saímos juntos, bebemos um pouco e
passamos a noite juntos. — Darah falou, dando de ombros — Não é como se
tivéssemos alguma coisa de verdade.
 
— Mas você quer ter?
 
— Eu não sei, não tenho ideia de como vai ser meu futuro, não dá
para encaixar um relacionamento. — Deu de ombros — Só aproveitamos o
momento.
 
— Ok, não posso julgar. — Emma respondeu — Mas vocês ficam
bem juntos, eu aprovo.
 
— Não temos nada, não começa. — Darah falou jogando o
travesseiro de volta — E você e o Ryan?
 
— Não temos nada. — Emma repetiu a resposta da amiga — A gente
só fica, às vezes.
 
— Então ele está solteiro? E convivendo pertinho da Victória? Hm…
— Darah provocou e riu ao ouvir Emma bufar — Só disse os fatos.
 
— Não quero pensar sobre isso. — Emma declarou fechando a
expressão.
 
— Você fica um charme com ciúmes. — Darah riu.
 
— Quero só ver quando o Steven aparecer com alguém. — Emma
provocou e Darah deu de ombros.
 
— Tô nem aí. — Darah respondeu, mas não gostou do pensamento
— Tenho muita coisa para me preocupar agora, do que com um
relacionamento, ou homem.
 
— Eu também. — Emma respondeu, com um sorriso divertido.
 
Darah revirou os olhos e se deitou na cama, de frente para Emma,
com uma expressão séria, já pronta para mudar de assunto.
 
— Eu estive pensando, se sua irmã ainda estiver envolvida, o que
pretende fazer? — Perguntou.
 
— Eu não sei. E só quero pensar nisso se for confirmado alguma
coisa. — Emma falou, respirando fundo — Eu não sei se teria coragem de
fazer com ela, o mesmo que ela tentou fazer comigo.
 
— Você está certa, mas não se preocupe tanto com isso, nosso foco é
matar o Deniel, ela você pode trancar no porão. — Darah brincou e Emma
riu um pouco.
 
— Eu nem sei dizer se você está errada. — Emma respondeu.
 
— É porque eu não estou. — Deu de ombros.
 
Emma deitou ao lado da amiga e ficaram olhando o teto em silêncio.
Deixando o tempo passar, assimilando aos poucos tudo o que sentiam.
 
Capítulo 48
Emma terminou de se arrumar emburrada, havia acordado naquela
manhã completamente indisposta e queria, de preferência, passar o dia
inteiro na cama fazendo nada, sem sair do quarto sequer para ver o sol.
Inexistir. Mas sabia muito bem de suas responsabilidades e não poderia fugir
delas duas vezes na mesma semana. Suspirou, olhando as horas no celular, e
viu que já marcavam quase oito da manhã, horário em que havia combinado
de encontrar com o Steven e Darah na academia e a pessoa misteriosa que
seria apresentada.
 
Desceu as escadas e respirou fundo ao encontrar a mãe e a irmã na
sala, não queria ter que interagir. Tinha tanto ressentimento pela mãe agir
daquela maneira tão… superficial e cruel. Como ela poderia continuar
escolhendo sua irmã mais velha, independente do que ela fizesse? Como
podia simplesmente fingir que não havia feito nada de errado? Se perguntava
se realmente era uma integrante daquela família, se realmente… Realmente
era uma Lancaster? Talvez, fosse um engano, um triste engano que a obrigou
viver ali.
 
— Bom dia, meu amor! — Carmen cumprimentou com um sorriso
doce — Como você está?
 
— Bem, para a infelicidade de alguns. — Olhou para Charlotte, que
continuou mexendo no celular indiferente, e voltou a olhar para a mãe — E
ocupada, preciso ir.
 
— Seu pai falou sobre sua missão de achar o Deniel. — Carmen
comentou e o rápido olhar da Charlotte não passou despercebido.
 
— Sim, mas eu já falei com algumas pessoas. Temos uma pista muito
boa de onde ele está. Questão de dias e ele vai estar amarrado no galpão. —
Emma blefou com confiança, vendo Charlotte prestar atenção na conversa,
mesmo que tentasse ainda parecer indiferente.
 
— Isso é ótimo! — Carmen falou sorrindo e olhou para a Charlotte
— Quando ele morrer, você também terá um problema a menos.
 
— Claro, mãe, tudo que eu quero é me livrar desse peso. — Charlotte
falou, mas Emma notou que havia mais naquela voz e odiou ter um pouco
mais de certeza de que a mais velha ainda estava envolvida — Qual pista
você tem, Emma?
 
— Já sabemos a cidade em que ele está. Só ainda não temos a
localização exata, mas é questão de tempo, por isso que eu acho que são dias
para resolver esse assunto. — Emma falou com um sorriso confiante, vendo
a irmã vacilar por um segundo — Preciso ir, realmente quero dar fim nisso
logo.
 
— Espero que sua missão seja um sucesso, irmãzinha — Charlotte
falou com um sorriso, como se realmente estivesse torcendo por isso.
 
Era a sala de estar de uma casa, mas parecia muito mais com um
palco de teatro com atores amadores, que se amavam pouco e ressentiam
muito, atuando enquanto improvisavam um discurso convincente. Era para
ser uma família, mas eram apenas desconhecidos sob o mesmo teto.
 
— Vai ser, porque eu não falho. — Emma respondeu, sorrindo
provocativa e quase riu ao ver a mais velha revirar os olhos e voltar a mexer
no celular.
 
— É tão bom ver vocês conversando sem brigar. — A mãe comentou
e Emma riu um pouco.
 
— E eu acho que a senhora precisa de um oftalmologista e um
psicólogo. — Emma respondeu, parando brevemente na porta para falar, e
saiu da casa. 
 
O motorista já a esperava com o carro pronto, sob as ordens de
Steven, que já o havia deixado preparado para Emma, já que ele não iria
buscá-la. A garota entrou no veículo e precisou respirar fundo várias vezes,
inspirando o ar devagar para soltá-lo também devagar. Não havia planejado
uma conversa dessas, agiu de acordo com o momento e tinha uma
confirmação que não gostava nada. Charlotte ainda estava com o Deniel.
 
Se perguntava porque isso ainda a afetava tanto, duas vezes não
haviam sido o suficiente para entender que sua irmã nada sentia por si?
Precisava de mais? Realmente precisava de algo a mais?
 
Sua mente trabalhava rápido, pensando sobre o fato de que, agora,
teriam que correr contra o tempo. Se Charlotte caísse na isca, ela tentaria
convencer Deniel a mudar de esconderijo e seria nesse momento que
achariam eles. Resolveria seu principal problema e se veria livre de um peso
que lhe doía as costas e a alma.
 
— Senhorita, chegamos. — Ouviu o motorista falar, lhe tirando do
seu breve devaneio. E, só naquele, instante percebendo que a porta do carro
já estava até aberta para si.
 
— Obrigada. — Emma respondeu, saindo do veículo.
 
Entrou na academia cumprimentando o rapaz na recepção, porque
mesmo que fosse um espaço privado, ainda haviam pessoas que trabalhavam
ali, de modo a manter uma organização. Emma encontrou Darah sentada em
um banco com os pés no outro, completamente relaxada enquanto mexia no
celular, e sentou-se ao lado da amiga.
 
— Bom dia! Cadê o Steven? — Emma perguntou olhando ao redor.
 
— Bom dia! — Respondeu e bloqueou o celular para dar atenção a
amiga — Ele mandou mensagem avisando que já está quase chegando, ele
foi buscar a pessoa misteriosa.
 
— Ridículo isso de ele não falar quem é, logo. Que porra! — Emma
bufou e Darah arqueou a sobrancelha.
 
— Por que está irritada? — Darah questionou. Conhecia a melhor
amiga o suficiente para reconhecer qualquer variação de humor que a outra
tinha.
 
— Quando ele chegar eu explico, assim falo uma única vez. Mais
fácil — Reclamou e soltou o ar com a expressão levemente irritada — Ele
faz a gente chegar mais cedo e atrasa? Não gosto disso.
 
— Emma, respira fundo, calma. Ele já deve estar chegando. Tá muito
cedo para tanto mau-humor. — Darah ponderou e viu a amiga dar de
ombros.
 
Emma se recostou no encosto do banco, olhando para a entrada
enquanto batia o pé no chão. Darah revirou os olhos e voltou a mexer no
celular, achando melhor não levar a discussão adiante. Não demorou até elas
verem Steven entrando, acompanhado de um rapaz alto e de pele morena,
com algumas tatuagens nos braços muito bem definidos e que Emma
conhecia bem.
 
Enquanto Emma olhava os rapazes entrando, Darah sequer tentou
disfarçar alguma coisa, apenas começou rir.
 
— O que, caralho, você está fazendo aqui, Scott? — Emma
perguntou, ficando de pé. Não acreditando que a pessoa que Steven estava
levando até lá era o seu ex.
 
Capítulo 49
Emma olhava aquela situação completamente incrédula, enquanto
Scott tinha uma expressão completamente pacífica no rosto. Não que ela
odiasse o garoto, mas, ainda assim, de todas as pessoas do mundo, não
imaginou que logo o ex ficante seria a pessoa misteriosa, o hacker. Se
perguntava desde quando, exatamente, Scott era um exímio entendedor de
tecnologias e desde quando era envolvido com a máfia. Quase riu, seria
possível que todos a sua volta, tinham um pé na criminalidade e só ela não
sabia? 
 
— É sério, quem vai me dar uma explicação sobre que porra é essa?
— Emma exigiu.
 
— Você me disse que tinham terminado de boa, Scott. — Steven
falou olhando para o rapaz que deu de ombros.
 
— Mas a gente terminou de boa. Bom, a gente nem tinha nada sério
para considerar um término. — Scott se defendeu e olhou para Emma
arqueando a sobrancelha.
 
— Vai se foder, Scott! — Emma bufou.
 
— Emma, respira fundo, você está tão vermelha que eu acho que vai
explodir! — Falou tentando acalmar a amiga.
 
— Vai se foder também, Steven! — Emma exclamou irritada.
 
Darah respirou fundo e se levantou ficando perto de Emma e a
puxando para trás um pouco, ficando entre ela e os dois rapazes, com uma
expressão calma, a única que estava assim no ambiente.
 
— Se acalmem todos e vamos resolver isso por partes! — Darah
declarou, antes de Steven conseguir falar algo — Primeiro você, Scott, não
haja como se fosse o inocente! Você traiu a confiança da Emma. Estavam
juntos a tempo suficiente para você simplesmente beijar outra em uma festa
onde os dois estavam.
 
— Mas não estávamos namorando. E quando aconteceu, ela disse
que não se importava, porque não tínhamos nada mesmo.  — Se defendeu e
ouviu a risada sarcástica da Emma.
 
— E por isso vocês nem se falaram mais. Você não pode ser tão
burro! — Darah respondeu em um tom seco e olhar duro e encarou Steven
— E você foi completamente irresponsável. Se sabia que os dois tiveram
algo, não deveria ter falado só com um lado.
 
— Mas eu escolhi o Scott porque ele é o melhor. — Steven se
defendeu.
 
— Ainda assim, deveria ter me avisado. — Emma falou
completamente calma, como se em momento algum tivesse se irritado.
Apenas reprimiu tudo — Não vou aceitar mais surpresas, é você que se
reporta a mim, não o contrário. Não sou eu que tenho que esperar, ou ser a
última a saber. E não é porque está próximo a mim, que tem esse direito. —
Esclareceu, enquanto Darah dava um passo para trás.
 
— Sim… — Ele começou a falar, mas Emma ergueu a mão em um
gesto para que ele parasse de falar e virou o olhar para o moreno.
 
— Eu e Scott realmente não tínhamos nada e sua presença não me
afeta. Minha surpresa foi pelo simples fato de que eu não esperava você
aqui, mas já que está, espero que, ao menos, seja competente. E fique ciente
de que, aqui, mando eu! — Declarou firme — Tenho duas perguntas: você
sempre soube sobre minha família? E você é realmente hacker?
 
Steven respirou fundo, mas não disse nada, até gostou de ver Emma
assumindo uma postura de controle. Scott olhou para ela, arqueando a
sobrancelha, mas não teve coragem de responder de maneira afiada. Nunca
havia visto a garota com uma aura tão poderosa quanto a que emanou em
questão de segundos. Conhecia o universo das máfias, mas não sabia
exatamente tudo sobre Emma, então preferiu não contestar de maneira
insolente.
 
— Eu sempre fui muito nerd, ligado a tecnologia e tal, era assim que
eu conseguia dinheiro. Não tenho pais ricos, mas fiquei rico o suficiente para
me colocar no mesmo círculo social que jovens herdeiros milionários. E,
sim, eu sempre soube, sempre soube tudo. — Respondeu simples.
 
— Como vocês se conheceram? — Emma perguntou olhando de um
para o outro.
 
— Na escola, somos amigos há muito tempo. — Steven respondeu
— Confio nele, por isso o trouxe.
 
— Eu não vou brigar, mas não quero que esse tipo de coisa se repita.
E não temos muito tempo. — Emma respirou fundo, com os olhos
semicerrados — Mesmo que eu não faça com minhas próprias mãos, consigo
alguém muito fácil para me livrar de traidores. — Deu de ombros — Só
avisando.
 
— Então encerramos esse assunto? — Darah questionou olhando
para Emma, que assentiu — Ótimo! Então, por favor, fala o que aconteceu
na sua casa.
 
— Joguei alguns verdes para a Charlotte e, bom, colhi muito maduro.
Tenho certeza de que ela sabe sobre o Deniel, precisamos vigiar ela o mais
rápido possível! — Emma deu uma olhada com um pouco de desprezo para
Scott — Imagino que, como são amiguinhos, já saiba de toda a situação.
 
— Sei, sim. Steven me adiantou enquanto estávamos vindo. — Ele
respondeu.
 
— Isso que era confiança de que você ficaria no trabalho. — Emma
rebateu — Trouxe o que precisa, ou uma lista do que vai precisar para
hackear todos os aparelhos dela?
 
— Trouxe tudo já, só preciso de uma mesa. — Scott respondeu.
 
— Ali na outra sala tem, vem por aqui. — Steven explicou e
começou a guiar Scott para lá.
 
Emma respirou fundo, observando os dois se afastarem, e Darah
esperou até que eles entrassem, para ficar de frente a melhor amiga.
 
— Você está bem? — Perguntou em um tom baixo, preocupada.
 
— Estou, de verdade. — Falou sincera — Eu só não esperava que ele
aparecesse assim. Eu realmente não sinto nada por ele. Você sabe que,
mesmo que eu não admita com todas as letras, meu coração…
 
— Eu sei. — Darah falou com um sorriso pequeno — Mas?
 
— Não tem um “mas”, não assim. — Deu de ombros — Só que, é
tão frustrante, sabe? Parece que todo mundo sabe mais sobre a minha vida,
do que eu mesma. Como se, antes, todo mundo tivesse ideia do que ela seria,
e eu fosse a última a saber das coisas o tempo todo! — Reclamou, um
sentimento ruim invadindo-lhe o peito — Tenho medo de perguntar pra
você, se já sabia, e a resposta ser positiva.
 
— Então, eu tenho uma coisa para te contar… 
 
— Darah! — Emma exclamou alto, chocada, e a cacheada começou
a rir.
 
— Desculpa, eu sei que o momento é sério, mas você cogitar isso é
fora de base — Deu de ombros rindo, apesar do olhar reprovador de Emma,
e respirou fundo — Agora, sério, está tudo bem sobre o Scott?
 
— Se ele for bom no trabalho, está tudo ótimo. — Deu de ombros e
começou a caminhar, indo até a sala onde os outros estavam — Vamos
trabalhar.
 
— Ryan não vai gostar disso. — Darah comentou acompanhando
Emma.
 
— Ele trabalha com a Victória. E nós não temos nada. — Emma
respondeu tentando soar indiferente.
 
— Sabe que não faz dois minutos que você quase falou dos seus
sentimentos, né? — Darah questionou rindo.
 
— Sei, mas isso não é nenhum pouco relevante agora. — Deu de
ombros e abriu a porta.
 
As duas entraram na sala em silêncio. Darah caminhou devagar até
ficar atrás de Steven, abaixando e pedindo em um tom sussurrado para que
ele conversasse com ela em particular, enquanto Emma sentava em uma das
cadeiras que estavam ao redor da mesa e observava Scott trabalhando no
notebook que estava sobre o móvel. 
 
— Aonde vocês vão? — Emma perguntou, observando os dois
saindo.
 
— Preciso falar um minuto com o Steven. — Darah respondeu
simples e Emma acenou.
 
— Com licença. — Steven falou e saiu com a Darah, deixando-os
sozinhos por um momento.
 
— Emma. — Scott falou, chamando a atenção dela — Espero que
você não me odeie por aquilo.
 
— Eu não te odeio. Sendo bem sincera, não nutro nenhum
sentimento por você. — Emma respondeu dando de ombros
 
— Eu acho que isso pode ser ainda pior que o ódio.
 
— Eu acho que é irrelevante. — Emma respondeu indiferente —
Está no passado e deve ficar lá, é simples assim.
 
— Aceitei esse trabalho na esperança de que você pudesse me
perdoar e…
 
— Eu disse que estava tudo bem na época e repito agora, está tudo
bem. Não tínhamos nada e é isso. — Emma falou firme — Se sua intenção é
algum tipo de remember, então esquece, não vai acontecer, nunca.
 
Scott ficou em silêncio olhando para a garota, pensando sobre o que
realmente queria, e suspirou. Steven havia lhe avisado sobre a garota estar
comprometida, mas ainda assim queria falar tudo o que não falou antes. E
estava percebendo que não resolveria de nada.
 
— Eu só tenho mais uma coisa para dizer, uma última. — Ele
declarou.
 
— O quê?
 
— Eu era apaixonado por você. Fiz o que fiz para provar para mim
mesmo que não estava e acabei te perdendo, por isso preciso do seu perdão.
— Scott falou, deixando o notebook de lado — Não quero que você diga que
está tudo bem, quero que diga que me perdoa, com todas as letras.
 
Emma ficou em silêncio, definitivamente era uma manhã cheia de
surpresas. Respirou fundo, olhando para o rosto do Scott, o rapaz era bonito,
no auge dos seus vinte e um anos, dono de traços que o deixavam ainda mais
atraente. Emma avaliou tudo e sorriu pequeno.
 
— Eu te perdoo, Scott. Se você não tivesse feito isso, talvez teria
atrapalhado meu caminho para ficar com a pessoa que estou hoje. E, sendo
bem sincera, você definitivamente não me merecia. — Emma sorriu de lado
— Agora, foca no trabalho, é para isso que você está aqui.
 
— Claro! — Scott respondeu, talvez ainda quisesse falar mais uma
ou duas coisas, mas decidiu focar no que tinha que fazer.
 
Emma fechou os olhos por um instante, se recostando na cadeira.
Estava cansada e sua manhã tinha apenas começado, ainda teria um longo
dia pela frente, pois ainda não tinha nem começado a treinar. Quase suspirou
refletindo., mas mesmo que ainda não estivesse tudo bem, ela faria ficar.
 
Capítulo 50
Ryan olhou as horas no relógio de pulso e saiu de casa, entrando no
carro que já o esperava com o motor ligado. Estava indo para o galpão do
pai, onde teria uma reunião com ele. Tinha certeza de que não eram boas
notícias, mas não tinha como evitar. Achava melhor participar do que não
saber o que pai tinha em mente. Às vezes, nem o próprio conselheiro
conseguia tirar as ideias que passavam pela mente do mais velho.
 
— Seu pai te disse algo? — Ryan perguntou olhando para Derek.
 
— Não, só mandou que não nos atrasássemos. Conhece como eles
são com horários. — Derek respondeu concentrado no trânsito.
 
— Tenho certeza de que Donald está aprontando alguma coisa. —
Ryan declarou e o Derek riu baixo, como se tivesse ouvido uma piada ruim.
 
— Isso, com certeza é. Seu pai é um tanto quanto louco. — Derek
respondeu com um sorriso de desgosto — Mas, incrivelmente genial nos
negócios, não podemos negar isso.
 
— Nisso você tem razão, — Confirmou — mas estou ansioso para
assumir no lugar dele, eu já estou pronto pra isso. 
 
— Eu sei que está. — Derek respondeu enquanto entrava no pátio do
galpão do O’Donnell mais velho.
 
— Hora de saber o que os velhos querem. — Ryan falou saindo, do
carro e seguido por Derek.
 
O galpão era grande e o principal dos O’Donnell, a maioria dos
negócios da família eram feitos ali, já que o galpão que Ryan controlava
funcionava como uma “filial” para que ele pudesse aprender, de maneira
mais prática, a ser o chefe. Ryan fez a faculdade que o mais velho escolheu e
treinou desde criança. Donald queria fazer dele o líder perfeito para ficar em
seu lugar quando se aposentasse, o que não demoraria a fazer.
 
Derek bateu na porta da sala de reuniões e a abriu ao ouvir a
confirmação de que poderia entrar. Ryan passou, indo sentar-se em seu lugar
na grande mesa de vidro retangular que ocupava o espaço central, após
cumprimentar educadamente os mais velhos. Derek fez o mesmo.
 
— Qual a pauta dessa reunião? — Ryan perguntou sendo direto.
 
— Eu estive pensando, acho que esse é o momento ideal para
controlarmos a cidade. — Donald falou simples, mas foi o suficiente para
Ryan fechar a expressão.
 
— Como assim?
 
— Os Lancaster perderam completamente a mão do negócio. Eu
sabia que o John só queria casar a filha para não perder o poder, mas ele já
estava enfraquecido e, bom, a ruína veio. Vamos apenas nos aproveitar disso
para reduzi-los a pó. — Donald esclareceu, olhando para filho. O mais velho
tinha animação na voz e ambição no olhar — Não temos mais acordo com
eles. É o momento de sermos soberanos sobre Boston.
 
— Avaliamos os prós e contras sobre os aliados, fornecedores e
compradores. E é muito mais lucrativo, e até mesmo seguro, que façamos
isso antes que eles se reorganizem e resolvam nos atacar. — Hugo pontuou.
 
— Não, nós não vamos fazer isso! — Ryan falou em um tom
determinado e firme. Odiou a ideia apenas por ouvi-la.
 
— E qual seu argumento contra a minha decisão? — Donald
questionou, arqueando a sobrancelha.
 
— O senhor estava presente quando eu e Emma rompemos o seu
acordo, e fizemos um novo. — Ryan falou firme, mas em tom baixo —
Enquanto Emma estiver se dedicando a tomar o lugar dela, nós não faremos
nada contra eles.
 
— O que te faz confiar tanto nessa garota? — Hugo questionou.
 
— Conheço ela e nós temos as coisas muito bem esclarecidas entre
nós. Então minha palavra será mantida! — Respondeu, tentando não ficar
irritado.
 
— O amor cega as pessoas. É por isso que no nosso meio as pessoas
se casam por conveniência. — Hugo respondeu, revirando os olhos —
Talvez essa garota esteja apenas te usando.
 
— Ela não está fazendo isso. — Derek respondeu — Emma é
completamente apaixonada pelo Ryan, basta observá-los juntos um pouco.
Emma não é boa atriz o suficiente para isso, ela não tem muito controle
emocional, estoura fácil e não disfarça bem. Creio que ela esteja aprendendo
todas essas coisas agora, mas realmente acredito na relação deles, não
podem quebrar o acordo. — Falou firme — E, sejamos sinceros, todo mundo
já sabe que eles estão juntos, é como se o acordo inicial ainda estivesse
valendo. Vai voltar com sua palavra, senhor Donald?
 
— Eles findaram aquele acordo, não tem discussão acerca disso, não
tente me desafiar, garoto — Donald falou levemente irritado, odiava ser
colocado contra a parede — decidimos porque é melhor para os dois, para a
família, se estamos onde estamos é porque sabemos o que fazemos.
 
— E eu não tenho dúvidas disso — Ryan falou — Mas um ataque
aos Lancasters está fora de cogitação, eu já dei uma posição para a Emma e é
isso que vamos manter.
 
— Tudo bem Ryan, qual exatamente é sua ideia sobre isso? — Hugo
questionou com um olhar afiado sobre o mais novo, mas Ryan não se sentia
nenhum pouco intimidado.
 
— Enquanto a Emma for a herdeira e estiver treinando para assumir,
o acordo se mantém, em qualquer outra circunstância, não. — Explicou —
Ela já está ciente sobre isso e é bom que agora os senhores também. Porque
é o que vigorará.
 
O silêncio pairou no ambiente. Hugo e Donald trocaram um olhar
significativo, estavam pensando sobre o que fariam e se respeitariam a
decisão do Ryan. Era uma oportunidade de crescer sem tantas perdas,
estavam decididos. Donald respirou fundo com uma expressão impassível.
 
— Tudo bem, Ryan, mas não vamos esperar para sempre, é melhor
que ela resolva isso logo. — Donald declarou.
 
— Ela vai fazer no tempo dela, não se preocupa com isso — Ryan
respondeu — Temos mais algum assunto?
 
— Por enquanto, não. — Hugo respondeu.
 
Ryan e Derek se levantaram, despedindo-se educadamente antes de
sair. Mesmo irritados ainda respeitavam a hierarquia ali dentro. Nesse ponto
não tinha o que se falar, eram estruturados, organizados e a hierarquia era
funcional e respeitada. Os dois caminharam silenciosamente voltando para o
carro.
 
— No que está pensando? — Derek questionou começando a dirigir.
 
— Vou ter que ficar de olho no meu pai, garantir que ele cumpra com
o que falou. — Ryan respondeu.
 
— É uma boa coisa a se fazer, melhor evitar imprevistos. — Derek
concordou — Talvez devesse falar com Emma, ver como estão as coisas
com ela.
 
— Vou fazer isso. Vou falar com ela essa semana ainda, o mais breve
possível.
 
— Ótimo, não perca o controle das coisas. — Derek pediu, olhando
de canto para Ryan.
 
— Eu sei o que estou fazendo. — Ryan declarou. Estava convicto
das suas decisões, pois tinha certeza de que poderia confiar em Emma.
 
Capítulo 51
O dia já estava acabando e as garotas estavam exaustas do
treinamento. Emma poderia jurar que Steven pegou mais pesado de
propósito, mas ela não tinha a menor intenção de pensar demais sobre isso,
só queria ir para casa, tomar um bom banho, comer e descansar, apenas isso.
Estava divagando tanto que foi necessário que Darah lhe chamasse a atenção
para que ela ouvisse o celular, que já passava do terceiro toque.
 
— Onde você está? — Ryan perguntou assim que a chamada foi
atendida.
 
— Oi, eu estou bem, obrigada por perguntar. E você, como tem
estado? — Emma perguntou em um tom quase sarcástico e do outro lado da
linha Ryan revirava os olhos.
 
— Emma, onde você está?
 
— Por quê? Aconteceu alguma coisa? — Emma perguntou,
começando a ficar preocupada e atraindo a atenção de Darah, que ficou em
estado de alerta.
 
— Porque quero te ver. Aconteceu que, essa noite, vai passar
comigo. — Ryan respondeu e Emma soltou um suspiro aliviado, sua mente
já estava criando vários cenários que poderiam significar mais problemas.
 
— Eu estou cansada, muito cansada. — Emma começou a explicar e
Darah percebeu que não era nada, então se afastou para dar mais privacidade
— Eu não tenho disposição para nada além de comer e dormir. E um banho.
 
— Na minha casa tem roupa sua, mas você ainda poderia usar as
minhas se quisesse. — Ryan brincou — Tudo bem, a gente ainda pode
passar em um restaurante e comprar comida, não sei. Ou eu cozinho para
você. 
 
— Ryan…
 
— Não estou te chamando para correr uma maratona, Emma, estou
dizendo que quero que você passe a noite comigo, eu só quero te ver. —
Ryan falou firme. 
 
Emma abriu um pequeno sorriso e respirou fundo para responder, até
sentiu o coração acelerar um pouco mais, mas não se importou, sendo
sincera consigo mesma, até gostou.
 
— Vou te mandar uma mensagem com a localização, me avise
quando chegar. — Emma falou, se mantendo plena.
 
— Estarei aí em alguns minutos. — Ryan disse e desligou a
chamada.
 
Emma, no mesmo instante, mandou a localização e foi ao encontro
de Darah, que estava sentada na recepção com o celular na mão, levemente
distraída. Só não estava sozinha por causa do funcionário que estava por ali
também.
 
— Vou para a casa do Ryan — Emma falou ao se sentar do lado da
Darah, que a olhou de canto rapidinho.
 
— Ele deve ter sentido uma pontada no peito, alertando que tem um
macho querendo te cercar. — Darah brincou e Emma revirou os olhos,
tentando não rir.
 
— Para, não tem ninguém me cercando.
 
— Ainda, mas eu vi o jeito que ele te olhou. — Deu de ombros.
 
— A relação vai ser profissional, ele que não ouse. — Emma falou
firme.
 
Antes que Darah pudesse responder, Steven apareceu, acompanhado
por Scott, e Emma recebeu uma mensagem de Ryan, avisando que já estava
do lado de fora.
 
— Amanhã vamos começar com o treino nível dois. — Steven
avisou e Emma e Darah trocaram um breve olhar.
 
— Eu não sei se estou pronta. Sei que tenho que fazer isso, então me
dá… nos dê um dia para nos prepararmos. — Emma pediu, ficando de pé.
 
— Eu apoio a ideia da Emma. Um dia não vai afetar o calendário. —
Darah argumentou, também se sentia assustada com essa parte do
treinamento.
 
— Tudo bem, — Steven concordou a contragosto — mas não adiem
isso, melhor arrancar esse receio de uma única vez. E rápido.
 
— Tudo bem. — Emma respirou fundo e olhou para a saída — Estou
indo embora, vou com o Ryan.
 
— Certo, tenha uma boa noite. — Steven desejou e Emma acenou
para todos a sair dali.
 
— Vamos também, Steven. — Darah chamou, ansiosa para ir
descansar também.
 
— Claro. Vai precisar de carona, Scott? — Steven perguntou olhando
o hacker, que tinha os olhos presos na chefe.
 
— Não, eu vou atrás da Emma. Quero falar com ela. — Scott
respondeu seguindo rapidamente a garota, com medo de não ter tempo de
alcançá-la.
 
— Eu seria muito fofoqueira se fosse atrás pra ver a cena que vai
rolar? — Darah perguntou em um tom divertido.
 
— Meu bem… — Steven falou em um tom de advertência e ela deu
de ombros.
 
Emma já estava na calçada quando sentiu seu braço ser segurado por
Scott, que a soltou rapidamente quando ela se virou, ele sequer notou a outra
pessoa encostada no carro do outro lado da rua, que fechou a expressão ao
notar a cena. Scott respirou fundo enquanto Emma o olhava com a
sobrancelha arqueada, esperando uma explicação.
 
— Scott, eu não tenho a noite toda. — Falou em um tom quase
cansado, sem muita paciência.
 
— Desculpa, mas é que eu queria te fazer um convite. — Scott falou
e Emma o olhou quase confusa.
 
— Convite?
 
— Sim, pra gente sair junto, em nome dos velhos tempos e… —
Scott parou de falar ao notar uma figura alta, de braços cruzados e uma
expressão fechada.
 
— E o quê? — Ryan perguntou e Emma quase riu.
 
— Scott…
 
— E a gente pode conversar. Antes de tudo, fomos amigos. — Scott
completou, tentando não se intimidar, mas quase podia sentir a raiva
emanando de Ryan.
 
— Antes, Scott. Sai do passado e não arruma problema para você,
sério. Tenha uma boa noite. — Emma falou, mantendo a calma, e virou
ficando em frente a Ryan quando ele deu um passo — Vamos embora.
 
— Eu não gosto que tentem se aproximar do que é meu. Espero que
fique ciente disso! — Ryan falou em tom de ameaça.
 
— Não se garante? — Scott perguntou com deboche e Emma
respirou fundo, prevendo o que aconteceria no momento em que Ryan a
colocou para trás dele.
 
— Acha mesmo que sua vida vale uma provocação tosca dessas? —
Ryan perguntou, já estalando os dedos.
 
— Estou morrendo de medo. — Scott debochou e no mesmo instante
sentiu o primeiro soco de direita desferido por Ryan.
 
Antes que pudesse devolver, os soldados que já notavam a agitação
conseguiram afastar um do outro, com Steven se colocando entre os dois.
 
— Que porra está acontecendo aqui? — Steven perguntou irritado —
Ryan, você não pode atacar nossos homens. E, Scott, porra! Perdeu a noção
do perigo, caralho? Quer morrer?
 
— Tirem a porra das mãos de mim! — Ryan exigiu e foi solto no
mesmo instante — Eu acho que você não tem autoridade para falar nesse
tom comigo.
 
— Caralho, Emma, você ia deixar esses dois se matarem aqui? —
Steven questionou irritado, ignorando Ryan e olhando para a chefe, que
estava a alguns passos de distância. 
 
— Steven, olha para mim e olha para esses dois. Um tapa por
acidente, me quebra. Então me diz, qual o sentido de eu me enfiar no meio?
Mas de jeito nenhum! — Emma se defendeu — Eles que quiseram brigar,
eles que se virem. Scott, que começou a confusão, que aguente.
 
— Emma, ele é um dos seus agora. — Steven tentou defender o
amigo.
 
— E se ele precisasse de mim como a chefe dele, tudo bem, mas não
foi o caso. Eu já tinha deixado bem claro as coisas, — Emma falou firme —
não vou deixar ninguém passar por cima de mim, Steven. Eu sei muito bem
qual minha posição aqui e o que tenho que fazer.
 
— Vamos embora, Emma. — Ryan falou, passando a mão no cabelo,
irritado. Queria falar algumas coisas, mas ali a autoridade máxima deveria
ser dela.
 
— Emma… — Scott tentou falar, ainda sendo impedido de se
aproximar deles.
 
— Scott, Cala a porra da boca! — Emma falou irritada — Hoje foi só
seu primeiro dia aqui e eu estou de saco cheio de você. Comporte-se, porque
minha paciência já acabou.
 
— Emma, só vai embora. Eu cuido das coisas aqui. — Darah falou
intervindo, afinal, era a conselheira, seu braço direito — Você precisa
descansar.
 
Emma encarou a amiga por alguns segundos e respirou fundo, então
se virou, caminhando até o carro e entrando, irritada. Ryan se sentou no
banco do motorista em silêncio e começou a dirigir. Emma fechou os olhos,
tentando se acalmar, só queria ter ido embora sem stress, sem dor de cabeça. 
 
Mas as coisas não ficariam assim. Se Scott não entendia por bem, a
posição na qual estava, o faria entender nem que fosse por mal. E precisava
também ter uma conversa com o Steven, ele podia ser o professor, mas ela
ainda assim era a chefe. 
 
— Preciso de uma massagem. — Emma falou em um tom cansado.
 
— E eu quero saber quem exatamente é aquele cara. — Ryan exigiu.
 
— Hoje não. Amanhã eu te passo a ficha completa, mas hoje eu só
quero descansar. — Emma pediu — Você queria me ver, certo? Então vamos
só nos aproveitar um pouco.
 
— Você não vai escapar dessa conversa. — Ryan falou, pisando no
acelerador.
 
— Eu não estou fugindo para lugar nenhum. — Emma deu de
ombros — Só quero chegar em casa.
 
— Vou te fazer uma massagem. — Ryan falou e Emma sorriu para
ele.
 
— Obrigada.
 
Emma se recostou no banco, fechando os olhos para relaxar enquanto
iam para casa. Porque, mesmo sem perceber, para ela, o único lugar onde se
sentia verdadeiramente bem e confortável, era quando estava na casa de
Ryan, a qual, inconscientemente, considerava seu lar.
 
Capítulo 52
Emma acordou sentindo-se muito bem e isso com certeza se devia
ao fato de ter recebido uma massagem bem relaxante na noite anterior e ter
podido dormir tranquilamente, sentindo-se segura, o que não podia fazer na
casa que estava morando. Passou a mão pela cama e percebeu que estava
sozinha, suspirou sentando-se devagar e procurando por Ryan no quarto e, só
quando ouviu o barulho da água caindo, foi que o achou.
 
Se levantou devagar e caminhou até o banheiro, deixando as poucas
peças de roupa que vestia pelo caminho. Entrou no boxe do banheiro
devagar, parando para observar Ryan um pouco, apreciando o corpo bem
definido. Gostoso e meu, pensou, enquanto transbordava malícia.
 
— Bom dia! — Emma falou, entrando embaixo da água morna e
praticamente colando seu corpo ao de Ryan, que sorriu malicioso para ela.
 
— Bom dia! Está precisando de ajuda para o banho? — Perguntou
sugestivo.
 
— Ah, eu com certeza estou! — Emma respondeu tocando o peitoral
dele, arranhando devagar.
 
— Fico feliz de ver que acordou bem-disposta. — Ryan disse,
inclinando para beijar o pescoço de Emma, colando de vez os corpos.
 
Emma deslizou os dedos pelos braços dele, os olhares se
encontrando, entregues, cheios de sentimento e malícia. Ryan acariciou o
rosto de Emma com carinho e a beijou, as línguas se emaranhando. Se
conheciam bem, o que deixava tudo ainda mais íntimo e saboroso. A troca
de beijos foi ficando cada vez mais intensa, Emma sentia as mãos de Ryan
apertando sua cintura com possessividade e gostava. 
 
— Você é a minha garota. — Ryan declarou se afastando
minimamente, olhando nos olhos de Emma — Só minha.
 
— Não tenha dúvida quanto a isso. — Emma respondeu com um
meio sorriso e beijou suavemente os lábios dele.
 
Ryan sorriu, subindo os dedos pela coluna dela até chegar no cabelo,
segurando com força e beijando seus lábios com mais intensidade, como se
estivesse tentando devorá-la na mesma medida que a desejava. Emma
suspirou entre o beijo, sentindo o membro duro do Ryan contra si. Desceu os
beijos pelo pescoço dela, mordendo e sugando a pele devagar, ouvindo os
pequenos gemidos que ela deixava escapar pelos lábios entreabertos.
 
— Eu vou te foder contra a parede desse banheiro. — Ryan falou
baixo, rente ao ouvido dela. Então a segurou na cintura e a virou. Emma
espalmou as mãos na parede, empinando a bunda e sentindo o corpo queimar
de excitação. Os toques de Ryan a faziam apenas querer mais, desejar por
mais.
 
— É exatamente isso que eu quero que você faça. — Emma
respondeu, olhando para ele por sobre o ombro, com um sorriso malicioso
nos lábios.
 
Emma puxou o cabelo para frente quando começou a sentir a boca de
Ryan em seu ombro e gemeu baixo ao sentir o pau dele pressionando contra
si. Ryan suspirou baixo aproveitando a sensação, até levar a mão ao membro
e o encaixar em Emma, penetrando-a devagar. 
 
Deslizou uma mão pela barriga dela, até tocá-la, e começou a
acariciar enquanto se movimentava devagar, apreciando os sons dos gemidos
e suspiros que ela produzia, apreciando a sensação prazerosa que se
espalhava pelo próprio corpo. Eles sentiam como se, a qualquer momento,
fossem entrar em combustão total.
 
Emma sentiu Ryan segurar sua cintura e tinha certeza de que ficaria
marcada depois. Gemeu alto ao senti-lo investindo contra si com intensidade
e força. Quase sentia as pernas perderem a firmeza, à medida que seu corpo
recebia descargas de prazer, como se sentisse uma corrente atravessando-o a
cada vez que ele se enterrava em si. Corrente essa, que também passava pelo
corpo dele.
 
Estavam completamente entregues, excitados, imersos no prazer que
se proporcionavam, até sentirem o corpo explodir em uma única onda de
prazer, fazendo os dois se perderem juntos, gozarem juntos.
 
— Essa é uma ótima forma de começar o dia. — Ryan falou,
deixando um beijo suave no ombro de Emma, que riu cansada.
 
— Concordo plenamente.
 
E finalmente iniciaram o banho para começarem o dia, afinal, ele
ainda seria longo.
 

 
Emma passava a geleia de morango na torrada, com calma, enquanto
sentia o olhar do Ryan queimando sobre si, mas estava de tão bom humor
que não se importou. Uma parte de si esperava que ele estivesse de bom
humor também, afinal, não havia acontecido nada, ainda, para o estresse
reinar em casa.
 
— Vai, Ryan, pergunta logo. — Emma incentivou, no intuito de
acabar com o silêncio que, particularmente, estava gostando tanto.
 
— Temos um assunto para resolver ainda. — Ryan falou, colocando
sua xícara de volta à mesa — Quem é aquele de ontem?
 
— Scott, ele é o hacker de confiança do Steven. Mas, antes disso,
quando eu ainda era só uma jovem normal, eu ficava com ele. — Emma
respondeu e mordeu sua torrada.
 
— Então ele é seu ex? Você vai trabalhar com seu ex?
 
— Ex ficante, não chegamos a ter nada sério. — Emma deu de
ombros — E ele vai trabalhar para mim, mas é isso.
 
— Eu não gosto disso. — Ryan falou com a expressão se fechando.
 
— Você trabalha com a Victória, não é como se tivesse muita moral
para falar sobre. — Emma respondeu e olhou para Ryan — Não me estressa
com isso. Meu dia começou muito bem e eu estou de folga, não quero dor de
cabeça.
 
— Eu não gostei dele, você confia nele? 
 
— Ryan, não te dei nenhuma razão para você ter uma crise de ciúmes
às oito da manhã. — Emma reclamou — E eu confio no Steven, então, sim,
estou dando um voto de confiança para o Scott como alguém para trabalhar
para mim e não como um ex que eu quero de volta.
 
— Vou ficar de olho nele. — Ryan declarou e deu um gole em seu
café, enquanto Emma riu.
 
— Pelo menos agora você sabe como eu me sinto sobre a Victória.
— Emma riu e o Ryan revirou os olhos.
 
— Eu não vou discutir isso.
 
— Ótimo, porque nem eu vou. — Emma deu de ombros.
 
— Nós temos um assunto mais importante que isso para resolver. —
Ryan declarou, com um tom sério e uma postura mais firme, acabando de
vez com o clima bom de Emma, que bufou chateada.
 
— O que é?
 
— Meu pai quer atacar o seu. Ele acredita que é o momento ideal
para isso, então preciso que você fique um pouco mais atenta. — Ele
explicou e ela respirou fundo, fechando os olhos. Eram mais problemas logo
cedo. — Eu tentei barrar a ideia, mas não confio cem por cento nele, então
melhor que você fique sob aviso.
 
— Obrigada. — inspirou e expirou uma vez, vagarosamente — Acho
melhor eu apressar as coisas sobre a Charlotte e o Deniel, para poder focar
no controle da máfia, esse contratempo está me ocupando demais.
 
— Sabe que, se precisar de mim, eu estou ao seu lado. — Ryan falou
olhando nos olhos claros de Emma, que sorriu pequeno para ele.
 
— Eu sei e obrigada por isso. — Emma sorriu sincera, sentia seu
coração se aquecer a cada demonstração de Ryan.
 
— E por isso eu acho que você não precisa desse Scott na sua equipe.
— Ryan falou em um tom indiferente e Emma riu.
 
— Ryan! Saco, você acabou com o momento fofinho! — Emma
reclamou, mas estava rindo.
 
— Que momento fofinho, Emma? Eu sou um mafioso sanguinário.
— Ryan respondeu dando de ombros — Há sangue em minhas mãos.
 
— Eu não acredito no que eu estou ouvindo. — Emma respondeu
rindo — Vamos só tomar o café da manhã, por favor. 
 
Ryan deu de ombros, como se estivesse ignorando-a, e Emma riu,
sem perceber que sua chateação havia acabado e seu bom humor voltado
quase instantaneamente. Exatamente como ele queria que acontecesse ao
fazê-la rir.
 
Capítulo 53
Emma acordou sentindo o corpo pesado e, no mesmo instante, se
arrependeu de não ter passado mais uma noite na casa de Ryan. Por um
momento até cogitou se não seria melhor voltar a morar com ele, estava
cansada da tensão que viver na casa de seus pais a submetia. Levantou
devagar, mas já sentia a ansiedade invadindo seu peito e corroendo cada
parte de si.
 
Era o primeiro dia do treinamento nível dois e não se sentia
preparada para isso de verdade, mas também não sabia quando estaria
preparada para matar alguém. 
 
Se arrumou e parou em frente ao espelho, observando seu visual
completamente pronto, e quase riu da piadinha que surgiu em sua mente.
Afinal, estava literalmente vestida para matar. Revirou os olhos para si
mesma e pegou sua mochila sobre a cama, não tinha planos de tomar café da
manhã ali, era raro quando o fazia, pois usava toda e qualquer oportunidade
que tinha para ir para longe daquela casa.
 
Desceu as escadas devagar e respirou aliviada ao não cruzar com
ninguém. Já se sentia tensa o suficiente, não precisava ficar irritada também.
Saiu de casa e não viu o motorista lhe esperando, nem mesmo Steven, e
bufou baixo, não que estivesse realmente com pressa, mas odiava esperar.
Tirou o celular do bolso para ligar, mas se distraiu vendo sua foto com Ryan,
chegando a se perguntar se deveria ter falado sobre o treino do dia. Até
cogitou mandar uma mensagem, mas, antes que pudesse pensar um pouco
mais sobre aquilo, uma buzina atraiu sua atenção.
 
Emma caminhou até o carro e entrou no banco de trás, sorrindo
sugestiva ao ver Darah sentada no banco da frente com Steven.
 
— Não fala nada. — Darah disse antes de qualquer coisa — E bom
dia.
 
— Bom dia! — Emma respondeu sem perder o sorrisinho —
Passaram a noite juntos?
 
— Bom dia, Emma! — Steven falou ignorando a pergunta — Está
preparada para hoje? Não vou aceitar mais nenhuma desculpa.
 
— Steven, não seja chato. — Emma reclamou encostando no banco
do carro.
 
— E falar da minha vida íntima é legal? — Ele questionou enquanto
Emma ria e Darah revirava os olhos.
 
— Pronto, você acabou de responder à pergunta dela. — Darah
informou e Steven deu de ombros.
 
— Como se você não fosse contar pra ela de qualquer forma, né, meu
bem? 
 
— Meu bem? — Emma repetiu achando divertido e fofo — Quase
namoradinhos!
 
— Por favor, Emma, quantos anos você tem para estar agindo como
uma adolescente? — Steven perguntou e recebeu o olhar das duas garotas no
carro.
 
— Steven, você sabe que nós duas temos dezoito anos e que ambas
somos adolescentes, né? — Emma perguntou.
 
— Acho que esqueci disso por um momento. — Ele admitiu e Darah
revirou os olhos outra vez.
 
— É estranho pensar que alguém tão novo pode assumir algo tão
grande? — Emma perguntou, mas já não havia humor em sua voz.
 
— Sinceramente?
 
— Claro. — Darah respondeu, também atenta.
 
— Certo. Vocês sabem que estou muito mais perto da classe dos
soldados do que de qualquer outra, mas, ao mesmo tempo, estou em contato
direto com o chefe e com vocês, que serão as futuras chefes. — Falou
enquanto prestava atenção na estrada — Esses são os maiores cargos dentro
da organização. E não é assim que as coisas funcionam, vocês estão
treinando há apenas alguns meses, tem muita insegurança por trás, estão
todos observando. Existe uma expectativa sendo criada, há muita
insatisfação com o John e, provavelmente se você, Emma, não aguentar o
tranco, poderá haver alguma tentativa de golpe.
 
— Você disse que não é assim que funciona. E como é? — Emma
indagou.
 
— Seu pai deveria ter te preparado há mais tempo. Ou, ainda, levar
seu preparo por mais alguns anos, mas todos sabem que o John está por um
fio. — Steven falou calmo — Eu realmente espero que a gente ache logo o
Deniel e você acabe logo com isso para ter o apoio do Marco. Eu sei que
temos pequenas desavenças, mas acredite, Emma, sei meu lugar aqui. —
Afirmou enquanto entrava no estacionamento de um galpão — Eu não te
desafio porque não respeito sua autoridade, mas sim, porque estou o tempo
todo te treinando. Porque sei qual o seu papel aqui e quero que você faça o
melhor, por isso até esqueço que, sim, você é uma adolescente. 
 
Emma ficou em silêncio processando tudo o que havia ouvido, não
era algo que estava esperando ouvir tão cedo. Steven se movimentou para
sair do carro, mas foi segurado por Darah, que tinha uma expressão séria.
 
— Você mencionou uma tentativa de golpe, o que você sabe sobre
isso? — Questionou firme.
 
— Agora não é mais o momento para falarmos sobre isso. Vocês vão
entrar e fazer o que tem que ser feito, com o pulso firme. Entenderam? —
Steven perguntou, recebendo dois acenos como resposta.
 
Saíram do carro em silêncio. Emma estava com a mente cheia,
ansiosa, colocou as mãos nos bolsos para conseguir conter a ansiedade que
esmagava seu peito e quase lhe deixava tonta e Darah não estava muito
diferente, cada uma aproveitava aqueles últimos momentos antes de chegar a
hora de fazer o que haviam ido fazer.
 
— Eu tenho uma pergunta. — Emma falou enquanto caminhavam
pelo galpão — Duas, na verdade.
 
— Quais? — Steven indagou.
 
— A primeira é: Que lugar é esse, exatamente?
 
— Esse é um galpão mais afastado e seguro, principalmente para
quando o problema a ser resolvido for matar, torturar, ou arrancar
informações de alguém. — Explicou — Todos aqui são de confiança. Qual a
segunda pergunta?
 
— Quem são as pessoas escolhidas? Não quero ter que matar alguém
inocente. — Emma falou firme.
 
— Não faríamos isso, temos alguma ética. — Steven se defendeu —
São estupradores, os dois. Fizemos algumas investigações em casos que a
polícia simplesmente fechou os olhos. — Explicou — Eles seriam mortos
por nós de qualquer forma, mas os mantive aqui, para serem seus primeiros.
 
— Nesse caso, tudo bem. — Emma respondeu um pouco mais
aliviada, não teria a culpa de matar alguém que merecia continuar vivo.
 
Steven parou em frente a uma porta e segurou na maçaneta e Emma
teve certeza que aqueles eram seus últimos momentos sem nenhum sangue
em suas mãos. 
 
Capítulo 54
Emma e Darah sentiam-se apreensivas, mesmo que tivessem
consciência de que os homens atrás da porta já tinham perdido qualquer
direito à vida, ainda assim, precisavam lidar com o fato de que matariam. E
era “só isso” que pesavam em suas mentes. Steven abriu a porta
cautelosamente, dando espaço para que elas entrassem primeiro.
 
Emma caminhou devagar sendo seguida por Darah. Entraram em
uma sala espaçosa, com paredes cinzas e manchadas, vestígios de quem
morreu por ali. Contrastando com as paredes, o chão estava impecavelmente
limpo e dois homens estavam sentados e amarrados em cadeiras distintas.
Uma mesa no canto estava forrada de opções fatais e vigiada por dois
soldados, que não tinham nenhuma expressão sequer no rosto.
 
Um dos homens, o que aparentava ser mais velho, por causa do
cabelo grisalho, sorriu de lado, olhando para as duas.
 
— Os deuses devem ter atendido meu pedido e mandou umas vadias
gostosas pra eu foder aqui. — O homem falou, provocando uma expressão
de nojo em ambas.
 
— Uma diversão antes de irmos para o inferno? — O outro entrou na
provocação.
 
Emma trocou um breve olhar com Darah e, sem falar nada, caminhou
até a mesa, pegou um taco de beisebol e acertou o nariz do mais velho.
Darah arregalou os olhos, mas quase riu ouvindo o grito de dor do homem.
 
— Não somos uma diversão antes de vocês irem para o inferno, —
Emma falou em um tom frio, sentindo a adrenalina invadir seu corpo —
somos o próprio inferno! — Quase sussurrou e estendeu o taco em direção a
Darah — Sua vez.
 
Darah pegou o taco da melhor amiga e acertou o outro homem,
quebrando o nariz dele em um único movimento, sorrindo ao ouvir os gritos.
Não sabiam de onde estava brotando todo o sadismo que estava lhes
invadindo, mas não sentiam nenhuma necessidade de reprimir. Encostado na
porta, Steven as olhava com orgulho. 
 
— A vadia sabe bater com força, mas na hora que eu me soltar
daqui…
 
— Você só vai sair dessa cadeira morto! — Darah falou em um tom
frio, indo até a mesa — Não existe nada que você possa fazer para se livrar.
 
— Eu sou um homem rico e influente, garotinha. — O mais velho
falou, sem conseguir deixar o tom intimidante como gostaria — Será melhor
para a segurança de vocês nos soltar e nos recompensar do jeito certo.
 
— Darah, você acha que a gente deveria usar algo de longa distância,
como uma arma, ou talvez uma faca? — Emma perguntou, olhando as
opções na mesa.
 
— Eu, particularmente, achei essa espada tentadora. — Darah
respondeu, também ignorando o homem e entrando na brincadeira da Emma.
 
— Olha, o que temos aqui! Soa tão medieval — Emma sugeriu,
erguendo a arma que parecia uma bola cheia de espinhos pontiagudos com
uma barra para segurar — O que acha?
 
— Espera! Por favor, espera! — O mais novo pediu em pânico —
Nã-não faz isso com a gente, por favor. Eu não quero morrer assim.
 
— Enquanto você abusava da garota, você pensou no que ela queria?
— Darah rebateu.
 
— Mas ela está viva, foi um erro e…
 
— Eles agiam juntos, fizeram com várias garotas, incluindo menores
de baixa renda, porque seria ainda mais difícil da justiça fazer algo contra
eles. — Steven interrompeu, atraindo a atenção de todos ali.
 
— Bastava ser uma para me deixar irritada. — Emma declarou,
enojada, e olhou para os dois com ódio — já sei o que eu vou fazer e em
quem.
 
— Pode fazer as honras. — Darah falou, dando espaço para Emma
escolher e agir.
 
Emma deixou a adrenalina e a raiva a guiarem, pegou uma adaga de
tamanho médio e caminhou até o grisalho, que a olhava com raiva, mas isso
não a abalou. Ela chegou a sorrir de lado e, naquele momento, era possível
ver a frieza despertando dentro de si através de seus olhos cor de mel. Em
um só movimento, Emma enfiou a adaga na região íntima dele e, enquanto
ele gritava de dor, ela caminhava tranquilamente até a mesa para pegar outra
arma. Pegou uma pistola e a destravou, atirou duas vezes, uma no peito e
outra na testa.
 
O segundo homem chorava, desesperado por saber que seria o
próximo.
 
— Sua vez. — Emma falou olhando para a amiga.
 
— Eu quero acabar logo com isso. — Darah declarou.
 
Darah pegou outra pistola. Não era a primeira vez que tinha uma em
mãos, afinal, já tinha feito aulas de tiro, mas era a primeira vez que pegava
uma com a intenção de matar. Não achava justo que ele morresse rápido, não
era juíza, mas já o havia julgado e condenado. Apertou o gatilho uma vez,
atingindo o joelho, e uma segunda vez atingindo o peito. Por último, um tiro
na cabeça. 
 
— Pronto, já concluíram por hoje. Estou orgulhoso de vocês. —
Steven declarou com orgulho na voz, mas em um tom cuidadoso. — Vem,
vamos. Vou levar vocês embora.
 
Steven abriu a porta, guiando as duas para fora, enquanto deixava
uma ordem clara para os dois soldados que estavam lá dentro se livrarem dos
corpos e deixarem tudo limpo. Emma respirou fundo e sentou no chão, a
adrenalina lentamente saindo de sua corrente sanguínea e a deixando
levemente aturdida. Darah se abaixou ao seu lado, preocupada.
 
— Você está bem? Quer que eu ligue para o Ryan? — Darah
perguntou com a voz calma.
 
— Quero! — Emma respondeu simples olhando para o nada.
 
— O celular dela está no carro, pega pra mim. — Darah pediu,
olhando para Steven, que acenou e saiu.
 
— Eu não acredito que fizemos isso mesmo! — Emma exclamou.
 
— Nós fizemos, mas não deixa isso chegar na sua consciência. Eles
mereciam. — Darah falou em um tom baixo, mantendo Emma calma.
 
— Como você está se sentindo? — Emma perguntou quando a amiga
se sentou ao seu lado.
 
— Eu estou tentando não pensar nisso. Agora que a adrenalina
baixou, eu me sinto estranha. — Darah refletiu — Mas, culpada, não.
 
— Tem sangue na gente. — Emma observou e suspirou — É
estranho.
 
— Isso eu realmente concordo.
 
— Acha que eles vão voltar para atormentar a gente? — Emma
perguntou e Darah a olhou em silêncio por alguns segundos, começando a rir
em seguida.
 
— Obrigada por trazer um pouco de humor a essa conversa. —
Darah falou rindo.
 
— Eu estava falando sério. — Emma bufou.
 
Steven voltou trazendo o celular e duas garrafinhas de água, entregou
uma para cada e o celular nas mãos de Emma. Ele tinha o olhar preocupado,
estava esperando o momento em que as duas realmente surtariam com o que
haviam feito, ainda mais porque elas haviam reagido de uma forma
totalmente diferente do esperado. Ele acreditava que elas tremeriam, fariam
o mais rápido possível, mas realmente apreciou a crueldade aplicada por
elas, de maneira tão natural. Estava satisfeito em ver que suas pupilas
estavam evoluindo de uma maneira excelente.
 
— O que temos para fazer hoje? — Emma perguntou com o celular
na mão.
 
— Vocês não têm mais nada para fazer, precisam tirar o dia para lidar
com o que fizeram. — Steven respondeu seguro.
 
— E o Deniel? Scott tem alguma novidade? — Darah perguntou.
 
— Ele tem algumas suspeitas, mas nada concreto. Vamos trabalhar
isso amanhã. — Steven falou calmo — O que eu realmente preciso é que
vocês não estejam sob qualquer tensão. No momento vocês são duas bombas
relógio.
 
— Mas… — Emma começou, porém, realmente se sentia muito
estranha — Eu vou ficar off o dia todo. — Declarou e se levantou, ligando
para Ryan, se afastando um pouco enquanto esperava que ele atendesse.
 
— E você, o que quer fazer? — Steven perguntou preocupado,
olhando para Darah.
 
— Eu não sei. — Deu de ombros — Acho que vou para casa.
 
— Mas, nesse caso, você vai ficar sozinha. — Steven falou,
desgostoso da ideia.
 
— E o que você quer que eu faça? É a única opção que eu tenho, não
posso ir para os meus pais. — Respirou fundo, tentando se manter calma —
Se eu tiver alguma crise, não vou poder explicar nada para eles.
 
— Fica comigo. Vou tentar agilizar meus afazeres hoje, depois
vamos para o meu apartamento, ou para o seu, o que você se sentir melhor.
— Steven sugeriu — O que você acha? Vi que você trouxe uma mochila,
você toma um banho e fica aqui, até eu poder sair.
 
— Tudo bem, acho que gosto dessa opção. — Darah falou com um
sorriso pequeno.
 
Steven a ajudou a ficar de pé, e beijou suavemente nos lábios e
depois na testa.
 
— Eu vou cuidar de você.
 
Emma ligou duas vezes e em nenhuma delas teve a ligação atendida.
Se sentia frustrada por ter que passar esse dia em casa, cogitava em ir para
um hotel para ter um pouco de tranquilidade. De longe, observava Darah e
Steven conversando, apreciava o fato de ver algo surgindo entre os dois e
torcia para que a melhor amiga fosse feliz. Quando já estava voltando para
falar com o casal, que estava abraçado, seu telefone tocou e ela atendeu no
primeiro toque.
 
— Aconteceu alguma coisa? — Ryan perguntou preocupado, assim
que escutou o “alô” do outro lado da linha.
 
— Não, não aconteceu nada. — Emma respondeu e respirou fundo
— Você está muito ocupado?
 
— Um pouco, por quê?
 
— Posso ir para a sua casa? — Emma perguntou em um tom baixo, o
que deixou Ryan em estado de alerta. Somente com o jeito que Emma
falava, seu tom de voz fragilizado, ele tinha certeza de que havia acontecido
algo. 
 
— É nossa casa, você não precisa de autorização para isso. — Ele
respondeu, deixando o coração da Emma aquecido — E assim que eu
terminar aqui, ou o Derek chegar, eu vou até você, ok?
 
— Ok!
 
— Mas se algo acontecer, ou tiver acontecido, pode me falar e eu
largo tudo aqui e vou agora. — Ryan falou decidido.
 
— Não precisa, está tudo bem. Termina primeiro e me encontra lá.
— Emma o tranquilizou e o ouviu respirar fundo.
 
— Chegarei rápido, — Ryan disse — até daqui a pouco.
 
— Até. — respondeu e desligou a chamada.
 
Emma respirou fundo, tentando seguir o conselho de Darah e não
pensar muito sobre o que haviam feito, mas sabia que quando ficasse
sozinha, era só nisso que pensaria, e na sensação estranha que estava
sentindo. Mesmo que soubesse que não fez nada de errado, e que esse era
um dos ossos do seu ofício, não era algo tão fácil de digerir.
 
Mas o faria, porque era a rainha.
 
Capítulo 55
Emma foi direto para o banheiro, depois que Steven a deixou na
casa de Ryan, e tomou um longo banho, queria limpar cada gota do sangue
que estava no seu corpo. A sensação estranha apenas tomava cada vez mais
espaço dentro de si a fazia repassar a cena várias vezes em sua mente. Não
era culpa, exatamente, o que sentia, Emma classificava mais como um
choque. De repente estava pensando em sua vida antes de saber sobre a
máfia, em quando ainda sonhava ser médica, agora parecia tão distante.
 
Tudo que queria era ser uma boa pessoa, salvar vidas, vê-las se
recuperando e sendo felizes. Porém, como num virar de chaves, sua vida
mudou e, meses depois, era uma pessoa que tirava vidas indiretamente e
agora, diretamente. Sua mente estava uma bagunça completa e se perguntava
se, caso tivesse sabido da verdade antes, sobre sua família e sobre quem era,
ainda se sentiria assim, mas definitivamente nunca saberia, o passado já
estava escrito.
 
Terminou seu banho e se vestiu com uma calça de moletom, uma
blusa mais justa e colocou uma camiseta de Ryan por cima. Desceu a escada
devagar, para esperar pelo “ex” na sala. Sentou no sofá, com as pernas de
índio, e ficou olhando para a televisão, mesmo que ela estivesse desligada.
Isso não importava muito, porque não conseguiria se concentrar em nada,
sua mente estava longe, muito longe.
 
Quando Ryan chegou, quase uma hora depois, perdeu quase um
minuto parado observando Emma. Estava tentando juntar alguma peça para
compreender o que tinha acontecido e uma das coisas que mais o
impressionou naquele cenário, era como Emma estava quieta e distraída.
Conhecia bem a garota para saber o quão agitada ela era e que, em estado
normal, ela já o teria notado ali.
 
Caminhou devagar, não queria assustá-la. Deu a volta no sofá, para
que ela o visse antes dele tocar nela, e Emma levantou os olhos, encarando-
o. E o que Ryan viu foi um olhar perdido, um rosto manchado de lágrimas e
um sentimento de preocupação o inundou por completo. Ele sentou ao seu
lado a puxando para o seu colo.
 
— Eu já estou aqui. Se quiser falar o que aconteceu, estou aqui. —
Falou, a acolhendo nos braços de maneira protetora — Se alguém fez…
 
— Não… — disse com a voz fraca o interrompendo — ninguém fez
nada.
 
— Ok, não vou precisar socar ninguém. — Ele disse e Emma quase
riu.
 
— Eu fiz. — Falou em um suspiro.
 
— Você pode fazer qualquer coisa. Se alguém achar ruim, pode
mandar ir reclamar comigo. — Ryan falou em um tom de brincadeira, mas,
no fundo, era sério.
 
— Ryan, eu estou falando sério. — Falou, se afastando um pouco
para olhar no rosto do garoto, que arqueou uma sobrancelha.
 
— Eu também estou falando sério. — Respondeu e beijou a testa
dela — Quer falar o que te deixou assim?
 
— Matei uma pessoa. — Explicou. Falou devagar, como se fosse
difícil admitir em voz alta. 
 
Para Ryan não era nada grave, mas entendia que isso poderia ser
muito para Emma, estava claro que era. Abraçou ela com carinho e segurou
sua mão, entrelaçando os dedos.
 
— Quer contar como foi que aconteceu? — Perguntou com cuidado.
 
— Detalhes de como matei ele, ou como foi a sensação? — Emma
perguntou confusa.
 
— O que você quiser falar. Estou aqui apenas para te ouvir. — Ele
respondeu. 
 
Emma sorriu um pouco, ela sabia que ele já tinha matado várias
vezes e que sua reação poderia soar exagerada para ele, mas a calma e o
cuidado que ele estava tendo com ela a deixavam com o coração quente e
muito mais tranquila para se abrir. Gostava de poder confiar tanto sobre si e
nele.
 
— Steven queria que treinássemos nossa capacidade de matar. E hoje
foi o dia. Quando chegamos no galpão, ele passou a ficha dos dois. Senti
meu sangue ferver e, ao entrar na sala, eu não sei explicar, só sentia raiva e
nojo do homem ali. Era um abusador — explicou — mas, quando comecei,
eu não sei, apenas me deixei levar pela sensação e eu gostei, só que isso é
assustador! Eu matei uma pessoa e gostei! Como pode isso?
 
— Você fez um favor ao mundo matando uma pessoa assim. — Ryan
falou em um tom orgulhoso e beijou suavemente os lábios dela. — E,
realmente, entendo porque parece que foi tão natural quando estava lá. —
Ele olhou nos olhos cor de mel de Emma e sorriu um pouco — Está no seu
sangue, você nasceu para assumir essa posição. E, bom, matar é parte do
ofício. Tenho certeza de que você será a maior de Boston, conhecida em
todo país, porque você tem o talento natural para o submundo.
 
— E ninguém vai voltar para me assombrar depois? — Emma
perguntou, sem qualquer resquício de humor, mas, ainda assim, Ryan
precisou se esforçar para não rir.
 
— Não, amor, ninguém volta para te assombrar. — Respondeu,
respirando fundo, não queria que ela pensasse que ele estava desdenhando
dos receios dela — E é melhor que mate, porque quem fica vivo sempre
volta para dar trabalho.
 
— Como foi com você, a primeira vez que você matou alguém? —
Perguntou curiosa.
 
— Eu não senti nada, não fez diferença. Eu já havia visto mortes o
suficiente para não me abalar. — Deu de ombros — Mas isso porque meu
pai sempre me levou para todos os lugares possíveis, para que eu aprendesse
desde cedo minha função. São realidades diferentes.
 
— Tudo bem, eu entendo isso. — Emma falou, deitando a cabeça no
ombro dele.
 
— E, com o tempo, você vai ver que está tudo bem tirar uma vida, ou
outra, de vez em quando. — Ryan falou em um tom leve, o que fez Emma
rir.
 
— Você está falando como se fosse a coisa mais comum no mundo!
 
— Você vai ver que é, pensa pelo lado positivo. — Ryan falou em
um tom tranquilo e Emma o olhou curiosa — Estamos ajudando o planeta.
Ele está muito lotado, estamos esvaziando um pouco. Pode pensar na gente
como agentes em prol do planeta.
 
— Eu não acredito no que ouvi. — Emma falou rindo.
 
Ela respirou fundo e se encolheu no colo do Ryan, aproveitando o
carinho que estava recebendo.
 
— Obrigada. — Emma sussurrou.
 
— Não me agradeça por isso. — Ryan respondeu e beijou a testa
dela — Já disse que vou estar com você o tempo todo, mesmo quando você
não precisar mais do meu colo.
 
— Eu sempre vou querer estar no seu colo. — Emma falou maliciosa
e Ryan riu.
 
— Aprecio bastante essa decisão. — Ryan respondeu e beijou ela
rapidamente — Eu vou estar de prontidão sempre que quiser.
 
Emma riu e ficou ali, quieta, apenas aproveitando o momento em
paz, enquanto Ryan estava aliviado por vê-la muito mais calma e sem a
expressão perdida. 
 
— Eu estava querendo uma coisa. — Emma falou enquanto ficava de
pé.
 
— Claro, o que você quer? — Ryan perguntou atento.
 
— Voltar para o meu quarto. — Falou e Ryan ficou levemente
confuso — Meu quarto aqui, nessa casa. — Esclareceu, fazendo brotar um
sorriso pequeno nos lábios dele — Eu sempre tenho a sensação de que vou
acordar com alguém passando uma faca no meu pescoço dentro daquela
casa.
 
— Infelizmente, você não pode voltar para aquele quarto. — Ryan
negou, reprimindo um sorriso quando Emma o olhou boquiaberta — Agora,
você vai ficar no meu quarto! — Puxou ela para o seu colo apreciando a
risada da garota — Nosso quarto.
 
— Gosto muito mais dessa opção. Eu só preciso ir em casa buscar
minhas coisas.
 
— Por mim, compramos tudo novo, só para você não voltar mais lá.
— Ryan falou dando de ombros.
 
— Não é assim…
 
— Se a gente quiser, é assim, sim! — Bufou — Mas já que você quer
ir lá...
 
— Quero, mas não hoje. — Emma falou, alcançando o celular. —
Hoje eu só quero aproveitar o resto do dia fingindo que não tenho um milhão
de problemas para resolver.
 
— Hmm… Eu vou te ajudar a esquecer esses problemas por hoje. —
Ryan afirmou e beijou Emma, saboreando os lábios da garota que tanto
amava.
 
Capítulo 56
10 anos antes…
 

As batidas na porta do quarto foram altas o suficiente para que


Charlotte acordasse assustada. Colocou-se de pé e, enquanto vestia seu robe
sobre a camisola, caminhava em passos apressados para que pudesse abrir a
porta. Então se deparou com sua mãe a olhando friamente.
 
— Vista-se adequadamente, temos visitas. — Carmem falou em um
tom seco e autoritário.
 
— Mas…
 
— Você tem vinte minutos. Lembre-se, você é a herdeira e eu tenho
certeza da sua competência. Por isso você descerá e será muito gentil.
 
— Gentil com quem, mãe? — Charlotte perguntou confusa.
 
— Com seu futuro noivo. Porque você sabe que mulheres não
assumem o poder. Mas, se você casar com o cara certo, o poder estará nas
suas mãos, basta você ter o homem. — Carmem falou sorrindo e segurou no
rosto da filha — É melhor que você escute bem o que estou falando e me
obedeça, não quero ter que te castigar.
 
— Sim, senhora. — Charlotte respondeu acenando.
 
Assim que a mãe virou as costas, Charlotte soltou ar que nem
percebeu trancar e voltou para o quarto. Se arrumou com pressa, antes que
sua mãe voltasse irritada, ou pior, seu pai. Apesar de sentir vontade de
chorar, segurou bem. Fez uma maquiagem leve para uma manhã e não
queria borrar. Se olhou no espelho e se odiou, não queria estar indo sorrir
para alguém que nem conhecia, odiou estar indo se oferecer como um
produto.
 
Saiu do quarto e avistou sua irmã mais nova no corredor. Apressando
o passo para poder alcançá-la, segurou no braço da pequena Emma, que
tinha o cabelo completamente bagunçado e o rosto amassado. Quando a
garotinha se virou assustada, sorriu ao ver a irmã e a abraçou.
 
— Bom dia, maninha! — Emma falou manhosa.
 
— Bom dia, meu amor. Onde você está indo? —  Charlotte
perguntou, fazendo carinho nas costas da caçula.
 
— Estou com fome, vou pedir a Marie para fazer o café da manhã
para mim. — Respondeu para a mais velha, que tinha se abaixado para ficar
na mesma altura que a caçula.
 
— E o que você acha de tomar café da manhã no quarto, não seria
legal? — Charlotte falou, tentando arrumar o cabelo da irmã — Peço a
Marie para trazer o que você mais gostar.
 
— Mas, e se a mamãe ficar brava? — Emma perguntou um pouco
assustada.
 
— Eu lido com a mamãe, ela não vai falar nada para você. — Ergueu
a mão levantando o dedinho — Eu prometo.
 
— Tudo bem, eu confio em você. — Emma respondeu e colocou seu
dedinho junto ao da irmã, selando o acordo.
 
— Agora, vai para seu quarto, e pode assistir desenho. — Charlotte
falou ficando de pé.
 
— Obrigada maninha, você é a melhor. — Emma falou animada e
correu de volta para o próprio quarto.
 
Charlotte respirou aliviada, não sabia quem estava na sala e tinha
medo da mente perturbada de seus pais. Não duvidava de que eles pudessem
tentar negociar um casamento maluco para a caçula, mesmo que ela ainda
tivesse apenas oito anos. A garota arrumou a postura e sabia que estava
atrasada, mas não se importava porque o atraso tinha sido um momento leve
com sua irmãzinha. 
 
Desceu as escadas e teve um vislumbre da irritação nos olhos da
mãe, antes dela sorrir falsamente para a filha, que se aproximava. Charlotte
também notou, e seria impossível não notar, os dois homens na sala,
conversando com o seu pai. Um era bem mais velho, o rosto enrugado e os
cabelos brancos e, por um segundo, ela pediu aos céus, a qualquer deus que
a pudesse ouvir, que não fosse com aquele com quem a mãe estava querendo
lhe casar.
 
Então ela notou o rapaz ao lado, muito mais novo, mas visivelmente
mais velho do que ela, alguns anos. O achou bonito, não negaria isso, mas
também não iria admitir em voz alta. Queria estar longe dali, talvez
iniciando uma faculdade, ou mais fácil que isso, preferia estar assistindo
desenho com a irmã, enquanto tomavam leite com chocolate.
 
— Bom dia, meu bem. — Carmem falou em um tom doce.
 
— Bom dia! — Charlotte respondeu tímida e depois sorriu
educadamente para os convidados.
 
— Sua filha é realmente linda, — o homem mais velho falou e a
garota sentiu nojo — parece uma boneca. Se eu fosse alguns anos mais
novo, iria querer me casar com ela. — Ele riu da própria piada,
acompanhando pelos outros três, mas Charlotte sentiu o estômago revirar e
precisou se esforçar para não fazer careta.
 
— Ela é realmente muito bonita. — O mais novo falou e sorriu gentil
— Deixa eu me apresentar. Meu nome é Deniel e, esse aqui é o meu pai,
Alfred. É um prazer te conhecer.
 
— É um prazer lhes conhecer também. — Respondeu com um
sorriso doce, e falso, mas era tão boa em fingir sorrisos, que tinha certeza de
que ninguém notaria a diferença.
 
— Vamos comer, acho que qualquer conversa fica mais agradável
quando estamos comendo. — Carmen sugeriu, ficando de pé.
 
— Claro. E, comer olhando para esse rosto lindo é ainda melhor. —
Alfred brincou.
 
— Pai, se controle, não quero esse tipo de comentário sobre ela. —
Deniel falou firme.
 
— Se está defendendo ela assim é porque já fez sua escolha. — O
mais velho falou com um sorriso de lado e Deniel acenou um sim — Então é
isso, acordo fechado.
 
Charlotte não precisou de muito mais que isso para entender o que
aconteceu ali. Ela foi negociada e o acordo foi fechado e, pelos sorrisos
estampados nos rostos de seus pais, eles estavam muito satisfeitos com isso,
e ela tinha certeza de que seu futuro estaria arruinado dali em diante.
 

 
Alguns meses depois…
 
Charlotte chorava completamente inconsolável. Faltava um dia para
o casamento, pensou em fugir, mas tinha medo de ir contra as ordens que lhe
eram dadas. Ouviu uma batida na porta e respirou fundo, fungando um
pouco, e sentiu mais vontade de chorar quando viu a mãe.
 
— Por que está com essa cara de choro? — Carmen perguntou
entrando no quarto com uma caixa na mão.
 
— Eu não quero me casar, mãe, por favor! — Choramingou — Eu
não amo ele.
 
— Algumas coisas não são sobre o amor. — Deu de ombros.
 
— E quando vai ser sobre amor? Quando vai me amar como uma
mãe deveria amar um filho? Quando vai cuidar de mim? — Falou exaltada.
 
— Você não é mais criança, não aja assim! — Carmen falou firme —
Você irá se casar com um bom homem.
 
— Ele é muito mais velho que eu! 
 
— Alguns anos não significam nada, e você precisa pensar no seu
futuro. — Carmen falou, indo até ela e abrindo uma caixinha, revelando uma
joia — Ele é um homem de muitas fortunas e, quando assumir os negócios
da família, você será a rainha no meu lugar.
 
— Você é uma péssima rainha! — Charlotte falou magoada — Uma
verdadeira rainha cuida do seu povo e, principalmente, de seus filhos, mas
você é incapaz disso.
 
— Então me considere a vilã. — Carmen falou firme — É isso que
as mulheres fazem, se casam para que acordos maiores sejam feitos. E
acostume-se com isso, estou tentando te fazer olhar pelo lado bom, você será
a rainha.
 
— Você é completamente louca! — Charlotte reclamou e no mesmo
instante sentiu um tapa pinicar sua pele e depois arder.
 
— Me trate com respeito, eu sou sua mãe! — Carmen falou exigente,
mas antes que Charlotte pudesse responder, a porta foi aberta e Emma entrou
correndo para os braços da irmã.
 
— Maninha, eu trouxe minha coroa de princesa para você usar no
seu casamento. Porque assim você vai parecer uma rainha. — Emma falou
animada e Charlotte sorriu, um sorriso verdadeiro, e se abaixou para ficar na
altura da irmã.
 
— O que você acha de colocá-la em mim? Assim podemos ver como
fica. — Charlotte sugeriu e os olhos de Emma brilharam de animação, mas,
de repente ela semicerrou os olhos tocando o rosto da irmã.
 
— Por que você estava chorando? — Emma perguntou desconfiada.
 
— Noivas são muito emotivas, meu amor. — Carmen falou, com um
sorriso pequeno.
 
— Exatamente, estou muito emocionada porque vou me casar. —
Charlotte falou, mas Emma não compreendeu a ironia em sua fala e sorriu.
 
— Você ama ele?
 
— Claro. A gente tem que se casar por amor, ouviu? — Charlotte
falou e Emma acenou — Só se case quando você quiser e se você quiser.
 
— Eu vou fazer isso, só me casar por amor, igual você e o Deniel. —
Emma concordou alegre.
 
— Agora, me coloca essa tiara. — Charlotte pediu gentilmente,
querendo mudar de assunto.
 
— Siiiiiim! — Emma colocou a tiara na irmã com cuidado e sorriu
— Você ficou linda!
 
— Obrigada. Eu só poderia ficar linda com um presente seu,
pirralhinha — Charlotte falou e bagunçou um pouco os cabelos da mais
nova, que riu.
 
— Emma, eu e sua irmã estamos tendo uma conversa séria. Agora
que já deixou o presente, volta para o seu quarto. — Carmen mandou, não se
importando com o quanto deixou a mais nova desanimada.
 
— Depois você pode voltar e dormir comigo. — Charlotte falou e
Emma voltou a sorrir, saindo correndo e falando que ia colocar um pijama
de princesas — O que mais você quer?
 
— Te avisar que, se você não se casar, outra pessoa vai. — Carmen
sorriu e Charlotte levou apenas alguns segundos para entender.
 
— Ela é uma criança!
 
— Ela ficaria prometida até poder casar. Não acho que seria um
problema para eles. — Carmen insinuou.
 
— Por que está tão obcecada com isso? 
 
— Eu tenho meus motivos. — Deu de ombros e começou a sair do
quarto.
 
— Espera! — Charlotte pediu — Eu caso, mas a Emma vai ter que
ficar livre de tudo, não precisa sequer saber sobre a máfia, nada!
 
— Tudo bem. É o suficiente que você se case. — Carmen falou e
sorriu — Tenha uma boa noite, minha princesa, amanhã é um grande dia.
 
Carmen saiu do quarto e Charlotte sentou no chão, chorando. Sentia
tanta dor dentro de si, que não percebeu os sentimentos que brotavam em seu
coração. E que não eram bons.
 
Capítulo 57
Dois meses após o casamento…
 

Charlotte estava sentada no canto do quarto, sozinha e em lágrimas.


Sentia que havia sido condenada ao inferno e quem a havia mandado para lá
havia sido seus próprios pais, mas, ainda assim, não se sentia forte o
suficiente para sair dali. Ela só queria voltar para casa, mas não sentia como
se realmente tivesse um lar em algum lugar, enquanto outra parte de si
desejava mostrar que ela merecia amor de verdade.
 
Se encolheu um pouco mais quando viu a porta ser aberta, Deniel
olhou para ela com um certo desdém, respirando fundo enquanto caminhava
até a esposa, que quase tremia. Ele, já no primeiro dia, fez questão de
mostrar sua verdadeira face. Deniel a levantou, segurando em seus cabelos, e
beijou seus lábios suavidade, carregando um sorriso de lado. Sorriso esse
que Charlotte odiava.
 
— Arrume suas coisas, nós vamos nos mudar de Boston essa
semana. — Deniel a soltou.
 
— Para onde nós vamos? E por quê? — Charlotte perguntou,
abraçando o próprio corpo.
 
— Vamos nos mudar para Nova Iorque, devido aos negócios da
família. — Deniel sorriu de lado, tocando no rosto dela em um falso carinho
— Preciso trabalhar bastante para cuidar da minha linda esposa.
 
— Eu não quero me mudar. — Charlotte falou e viu Daniel respirar
fundo, instintivamente deu um passo para trás, se afastando do marido.
 
— Não me importo, porque eu preciso ir. E você irá comigo, porque
é minha esposa! — Deniel declarou, dando por encerrado o assunto. 
 
Charlotte respirou fundo, cansada de tudo que pensou que poderia ser
o casamento, de quão ruim poderia ser se casar da forma como se casou.
Deniel conseguiu surpreendê-la, sendo ainda pior do qualquer coisa
esperada. Quando o marido se afastou, saindo do quarto, respirou fundo e se
jogou na cama, não queria mais chorar, mas, ainda assim, as lágrimas
escorriam. Se perguntou porque ela estava naquela situação e se aquilo era
culpa dela.
 

 
Charlotte estava arrumando sua mala quando viu a porta ser aberta,
porém, quem entrou não foi Deniel, mas sim, sua mãe, seguida de Emma,
que correu para abraçar a irmã. Charlotte reparou que a caçula tinha uma
pequena mochila nas costas e um sorriso enorme no rosto.
 
— Maninha, mamãe disse que vamos para Nova Iorque com você. —
A pequena sorriu e sentou na cama, ao lado da mala que Charlotte
preparava.
 
— Vão? — Charlotte perguntou confusa, o olhar direcionado a mãe,
que sorria um pouco.
 
— Eu e a Emma iremos para te dar apoio na mudança. Ter sua
família com você nesse momento pode ser importante. — Carmen falou,
como se estivesse realmente preocupada com o bem-estar da filha, mas
Charlotte conhecia a falsidade da mãe.
 
— Você sequer se importa comigo. — Falou entre dentes, mas olhou
para a irmã, que as observava com olhos bem atentos aos movimentos das
duas — Mas, pela companhia da minha maninha, vale a pena.
 
— Mamãe disse que você tem que mudar, mas que vai vir sempre
nos ver. — Emma falou com a cabeça inclinada olhando para irmã, como se
ela fosse a pessoa mais importante da sua vida. Emma admirava a irmã, a
achava forte e corajosa, pois sempre impedia que sua mãe brigasse com ela e
a ajudava a sair do castigo que seu pai impunha.
 
Para a pequena Emma, de oito anos, a Charlotte, de dezoito, era sua
heroína.
 
— Farei o possível, meu amor. E você sempre pode me ligar, me
contando tudo, que farei o possível para te proteger, de qualquer um, —
Charlotte sentou ao lado da irmã, erguendo o dedo mindinho — é uma
promessa.
 
— É uma promessa! — Emma repetiu animada, colocando seu
dedinho junto ao de Charlotte.
 

 
Depois da primeira semana em Nova Iorque, Carmen foi embora
levando Emma e, para Charlotte, a única coisa boa daquele tempo havia sido
passar alguns momentos com a irmã. Queria ser mais forte para protegê-la,
mas, no fundo, sabia que não tinha sido forte nem por si mesma. Não tinha
se protegido, não tinha controle de nada e, se pensasse direito, não sabia nem
quem era, ou o que queria.
 
Sempre disse sim para todas as ordens de sua mãe e sempre se vestiu
como ela queria, aprendeu três idiomas diferentes e a tocar um instrumento,
tudo para que fosse perfeita, como seus pais desejavam. Por muitas vezes
sentia como se fosse apenas uma boneca e, naquele momento, só haviam
trocado seu dono.
 
Escondida em um dos quartos, Charlotte chorou.
 
Quanto mais o tempo passava, mais a relação entre ela e Deniel
ficava pior. E como daria certo, se tudo já estava errado? Charlotte tinha
certeza de que não poderia amar aquele homem, de forma alguma, e sempre
que queria se separar, não tinha apoio de ninguém.
 
— Recebi uma notícia interessante hoje. — Deniel falou ao entrar na
sala de jantar, mas foi completamente ignorado por Charlotte, que continuou
seu jantar como se estivesse sozinha — Estou falando com você, porra!
 
Deniel se aproximou ainda mais agressivo e Charlotte respirou
fundo, já sabendo que teria que usar seu kit de primeiros socorros, que não
adiantaria gritar e pedir ajuda, que estava sozinha. Ele então tomou o prato,
arremessando-o contra a parede, e o barulho de louça quebrando ecoou por
toda a sala. Charlotte bebeu calmamente seu suco, mesmo que o coração
estivesse disparado.
 
— A próxima coisa a quebrar, será você! — Deniel ameaçou.
 
— Fala, Deniel, o que você quer tanto me dizer? — Charlotte
perguntou ficando de pé — Você nem deveria estar aqui, não estava em
Boston?
 
— Eu estava, até receber uma notificação de pedido de divórcio. —
Ele jogou os papéis encaminhados pelo advogado da Charlotte — Eu vou te
ajudar a se separar de mim, mas do único jeito possível.
 
— Chega! — Charlotte gritou — A gente não quer estar junto. Eu sei
que você tem outra pessoa, fique com ela e me deixa em paz! — Pediu em
um tom alto — Estou farta, eu vou embora e você nunca mais ouvirá meu
nome, ou me verá.
 
— Se você estiver morta, isso também vai acontecer. — Deniel
respondeu e acertou-lhe um tapa no rosto — Você é minha propriedade.
 
— Não, eu sou uma pessoa e eu estou indo embora dessa casa! —
Charlotte falou com dor.
 
Tinha se preparado para sair no meio da noite, teria a ajuda de um
soldado, mas não contava que Deniel ficaria sabendo antes, não era esse o
combinado com o advogado. Porém, naquele momento não duvidava de que
o homem havia passado os documentos, não como aviso do pedido formal,
mas apenas para avisar a Deniel de que a esposa dele estava indo embora.
 
— Só se você sair morta. — Deniel respondeu.
 
Daniel então começou uma sequência de agressões descontroladas,
estava transtornado. Mesmo que tentasse se proteger, não tinha força alguma
para lutar contra alguém como o marido. E ele não parou, mesmo depois
dela estar no chão e cuspindo sangue. Deniel a chutou inúmeras vezes na
barriga, pois, apesar da raiva, não queria desfigurar o rosto da esposa, porque
ele ainda teria que apresentá-la quando saíssem.
 
— Você está assim por culpa sua! Espero que entenda que, na
próxima vez em que falar sobre divórcio, eu te mato! — Deniel falou irritado
e saiu, deixando-a no chão, tão quebrada quanto o prato. 
 
Chorando no chão da cozinha, o corpo inteiro doía, mas o motivo
real das lágrimas naquele momento não eram por causa do físico, era o
coração que doía. Charlotte levou a mão a sua barriga e segurou um grito na
garganta, Deniel havia matado quem havia lhe dado o mínimo de esperança
para sair dali. Seu filho, que crescia pequenino em seu ventre.
 
Charlotte passou a colecionar dias que lhe feriam, que destruíram sua
alma. Os piores dias de sua vida.
 

 
Dez anos se passaram e Charlotte não sentia mais nada. Havia se
tornado uma casca vazia, ou não tão vazia assim, já que dentro de si
existiam, sim, muitos sentimentos, mas nenhum deles era bom. Se algum dia
havia sido uma boa garota, não se lembrava mais. Seu meio de ter paz era
não desafiando mais.
 
Deniel conseguiu fazer dela sua perfeita boneca, controlável e
obediente, não brigava, não reclamava, sequer se importava com sua amante,
que frequentava a casa dos dois. Era trágico, triste e um pouco deplorável.
 
— Sua irmã vai se casar. — Carmen falou pela terceira vez e,
finalmente, Charlotte olhou para a mãe — Está me escutando?
 
— Com quem a Emma irá se casar? — Charlotte perguntou, cansada.
 
— Ryan O'Donnell — Carmen respondeu com um sorriso grande e
Charlotte levou alguns segundos para processar a informação.
 
— O’Donnell não é o sobrenome dos chefões rivais do papai? Como
isso aconteceu? — Charlotte perguntou confusa — Não imagino eles se
conhecendo em uma festa, ou sei lá, parece uma coisa tão distante.
 
— Claro que não, seu pai fez um acordo. — Carmen falou calma,
como se aquilo não fosse nada, e não viu o olhar de Charlotte queimar sobre
ela.
 
— Não! Não pode fazer isso com ela! Ela seria livre das
responsabilidades da máfia! Já vendeu uma filha e está vendendo outra?
Quer que Emma tenha a mesma vida que eu tive? — Os olhos encheram de
lágrimas — Vai fazer com ela o que fez comigo?
 
— Claro que não. Ela só será um caminho para que nossa família
seja ainda mais poderosa. Estou ansiosa para esse momento chegar. —
Carmen falou sorrindo.
 
— Você é a pior das mães, sabe disso, certo? — Charlotte falou
ficando de pé e respirando fundo — Tínhamos um acordo!
 
— Meu bem, quando entenderá que você não tem força o suficiente
para me impedir de nada? — Carmen perguntou com um sorriso.
 
— Emma não é igual a mim, ela vai rejeitar isso. — Charlotte falou
firme.
 
— Ela não perceberá nada. Enquanto ela está medindo forças com
seu pai, esquecerá que existo e tudo correrá como o planejado. — Carmen
falou tranquila ficando de pé também. Caminhou até a filha, segurando em
seu rosto delicadamente — E você sabe que não pode ficar no meu caminho.
 
— Louca! — Charlotte falou e Carmen sorriu como se tivesse
recebido um elogio.
 
— Você não imagina o quanto. — a mais velha respondeu se
afastando.
 
— Eu, mais do que ninguém, sei o quanto. — Charlotte sussurrou
para si mesma, observando a mãe se afastar.
 
Naquele exato segundo, Charlotte estipulou um novo objetivo para
sua vida: acabar com tudo.
 
Capítulo 58
Emma acordou com o telefone tocando sobre a mesa de cabeceira,
mas não tinha a menor vontade de atender, ainda sentia os braços de Ryan ao
seu redor e quase riu ao escutá-lo resmungar por causa do toque do celular.
Respirou fundo e alcançou o aparelho, atendendo enquanto se sentava,
pronta para reclamar por Steven estar ligando tão cedo. O que poderia ser tão
urgente? 
 
— O que aconteceu? Espero que, no mínimo, alguém esteja
morrendo. — Emma reclamou.
 
— Bom dia para você também! — Darah falou e Emma afastou o
celular, conferindo se tinha realmente visto o nome do Steven — Emma, são
quase dez horas da manhã, precisamos que você venha para a nossa
academia.
 
— Por que não está usando seu celular? E o que aconteceu? —
Emma questionou um pouco menos estressada e um pouco mais séria.
 
— Scott encontrou algumas pistas muito relevantes sobre o Deniel,
mas você precisa estar aqui para discutirmos sobre o que fazer. — Darah
esclareceu.
 
— Certo, só vou me arrumar e logo chego aí. No máximo uma hora
— Afirmou.
 
— Estamos te esperando, não enrola. — Darah pediu — E meu
celular está descarregado.
 
— Você não pode ficar incomunicável.
 
— Eu sei. E não estou, mas, de qualquer forma, já coloquei ele para
carregar. — Explicou — E quando vier, traz comida.
 
— Tá! Tá! Tchau, Darah! — Emma falou e desligou a chamada,
deitando novamente na cama.
 
— Aconteceu alguma coisa? — Ryan perguntou enquanto envolvia
os braços ao redor dela, a puxando para mais perto.
 
— Encontraram umas pistas do Deniel. Tenho que ir para lá, discutir
o que vamos fazer. — Emma respondeu e se arrepiou ao sentir os lábios de
Ryan em seu pescoço — Não temos tempo para isso.
 
— Um homem não pode mais dar amor para a mulher que gosta? —
Reclamou em um tom divertido, beijando o mesmo lugar.
 
— Infelizmente, essa mulher aqui precisa ir trabalhar. — Emma falou
se desvencilhando dos braços dele.
 
— Já que é assim, também vou. — Ryan falou ficando de pé e olhou
para Emma sorrindo de lado — Mas ainda prefiro a ideia de ficarmos na
cama por mais algumas horas.
 
— Não, eu vou tomar um banho e você vai esperar do lado de fora.
— Emma falou caminhando para o banheiro.
 
— Mas…
 
— Mas nada. Se você entrar, não vou terminar rápido. — Emma
contestou já na porta, impedindo a entrada de Ryan.
 
— Tudo bem, eu vou descer e arrumar o café da manhã. — Ryan
respondeu contrariado.
 
— Não precisa, Darah pediu para eu comprar comida e levar. Vou
tomar café da manhã com eles. — Emma avisou e fechou a porta, não vendo
Ryan bufar e se jogar na cama novamente.
 
Emma foi rápida, estava curiosa e ansiosa para saber o que o Scott
havia descoberto, deveria ser algo importante para fazer todos levantarem
tão cedo. Tudo bem, não era “tão cedo”, mas Emma sentia-se bastante
indisposta. Saiu do banheiro enrolada na toalha e riu ao ver o Ryan quase
dormindo abraçado ao travesseiro.
 
— Meu amor, você precisa levantar também. — Emma falou
colocando a mão no ombro dele.
 
— Não, eu não preciso. — Resmungou em resposta.
 
— Solidariedade. Se eu levantei e vou trabalhar, você tem que ir
também — brincou enquanto ia em direção ao closet para se vestir.
 
— Não sei se isso está muito justo. — Ryan respondeu rindo, a
caminho do banheiro.
 

 
— Eles falaram algo sobre o que esse Scott encontrou? — Ryan
questionou, começando a dirigir
 
— Apenas que encontraram pistas relevantes. — Emma deu de
ombros — Temos que passar em algum lugar pra comprar comida.
 
— O que você acha que pode ser? 
 
— Sobre o Deniel? — Ryan acenou — Eu não sei. Tudo indica que a
Charlotte pode estar envolvida e, sinceramente, quanto mais eu penso sobre
isso, mais mal eu fico. Eu sempre admirei a Charlotte, mas esse ano parece
que ela enlouqueceu. Ela tentou me matar!
 
— Eu vou deixar uma coisa bem clara, — Ryan começou a falar em
um tom firme, apertando o volante — para te proteger, eu mataria qualquer
pessoa, incluindo sua família. O que não é difícil, já que todos parecem
levemente perturbados.
 
— Eu gostaria de poder discutir sobre isso, mas como defendo eles?
É uma droga tudo isso! — Emma falou exagerada e triste.
 
— Estamos indo pelo extremo, talvez as coisas não cheguem a esse
ponto. — Ryan tentou confortar Emma, que apenas sorriu triste, ficando em
silêncio.
 
Ryan estacionou em frente a uma lanchonete e desceu para comprar a
comida, Emma ficou no carro, viajando em seus pensamentos. Odiava o fato
de que as pessoas que mais apresentavam risco à sua segurança, eram sua
própria família. Odiava sentir medo da irmã, insegurança com os pais. Se
perguntava quando que seu lar deixou de ser quente e passou a ser tão frio.
 
Não tinha muitas lembranças de quando sua irmã ainda morava
consigo, mas as que tinha eram quentes, alegres, lhe faziam bem. Quando
tudo mudou? Se perguntava se seus pais haviam sido sempre assim, mas
nunca havia percebido.
 
Olhou Ryan voltando com as sacolas e riu da ironia da vida. Há
meses atrás estava jurando que infernizaria a vida de seu noivo, que não
ficaria com ele nem mesmo se fosse o último homem na terra e, agora, ele
era seu lugar de proteção, carinho e amor.
 
— Está tudo bem? — Ryan perguntou, deixando as sacolas no banco
de trás e Emma começou a rir, deixando-o confuso — Devo ficar
preocupado?
 
— Não, eu estava lembrando do seu aniversário. — Emma
respondeu, limpando uma lágrima que escorreu de tanto rir, e Ryan levou
alguns segundos pra compreender do que ela estava falando.
 
— Aquilo foi de péssimo gosto! — Ryan reclamou, ligando o carro.
 
— Foi engraçado!
 
— Faz uma festa para eu passar só de cueca no meio dos seus
convidados, quero ver se você vai achar legal — Ele rebateu.
 
— Não, vamos ficar só com a lembrança desse magnífico dia
mesmo! — Emma respondeu, dando de ombros.
 
— Você está muito nostálgica.
 
— Estou assustada com tudo isso, mas eu sei que preciso ser forte e
encarar tudo de frente. — Emma disse respirando fundo.
 
— Eu vou estar logo atrás, te dando cobertura. — Ryan respondeu,
segurando a mão dela e entrelaçando os dedos.
 
Emma sorriu, sentindo-se segura com ele.
 
— Eu vou para sua casa quando sair daqui. — Emma falou quando
Ryan estacionou em frente à academia.
 
— Nossa casa. — Corrigiu — Nos…  — Ryan teve a fala
interrompida por batidas na janela e abaixou o vidro. 
 
— O que houve? — Emma perguntou, olhando para Darah.
 
— Primeiro, que vocês demoraram. E, segundo, o Steven acha que
seria bom o Ryan participar da conversa. — Darah respondeu.
 
— Por quê? — Ryan perguntou desconfiado.
 
— Porque, independentemente de qual seja o plano, todos aqui
estarão em risco. E o Steven acha que você não vai ficar de boa sem querer
saber como a Emma vai agir. — Darah explicou.
 
— Vamos logo pra essa reunião. — Ryan falou, pegando as sacolas
no banco de trás e Emma riu.
 
— A gente vai acabar com isso logo — Darah falou quando Emma
desceu do carro.
 
— Eu realmente espero que sim.
 
Capítulo 59
Após entrarem na academia, os cinco seguiram para a sala de
reunião. Scott contou tudo o que descobriu e, depois de um instante, Emma
sugeriu um plano. Foi nesse momento que o silêncio ocupou todo o
ambiente e a tensão pesou no ar. Por um segundo parecia que ninguém ali
sabia como reagir exatamente ao que tinha sido dito. Por mais que Emma
demonstrasse estar determinada, não eram todos que se sentiam seguros
assim. Até Ryan romper o silêncio com uma risada alta, completamente
incrédulo.
 
— Eu sou completamente contra! — Darah falou, cruzando os
braços.
 
— Eu também! — Ryan declarou — Você não vai fazer isso nem por
cima do meu cadáver.
 
— Vocês estão sendo exagerados! — Emma contestou — Eu acho
que pode dar certo.
 
— Isso vai colocar uma mira em cima de você. Não vou deixar que
faça isso. — Ryan respondeu firme, encarando Emma.
 
— Calma, vamos repassar a informação que temos, ok?! — Steven
tentou ponderar.
 
— Deniel está em Boston, não sabemos onde e não temos certeza de
que Charlotte é a pessoa que está ajudando ele. — Scott falou.
 
— Eles só trocaram aquelas mensagens, mais nada? Nenhuma
informação a mais? — Darah insistiu, não estava conformada com a ideia da
amiga.
 
— Nenhuma informação. Eu só descobri que ele está aqui por causa
daquelas mensagens. Ele pede ajuda para ela, ela fala que já fez por ele o
que tinha que fazer, que era muito mais do que ele merecia. Ele não
respondeu, mas eu descobri ser um telefone descartável, comprado e
descartado aqui em Boston. — Scott explicou novamente — Se ela estiver
ajudando ele, é um contato mais direto.
 
— Mas ela não pode sair sem segurança. — Steven lembrou.
 
— Mas isso não significa que ela não possa comprar o segurança. —
Darah sugeriu e Emma respirou fundo.
 
— É por isso que eu acho que meu plano é uma boa ideia. — Emma
insistiu.
 
— Não, Emma, você só vai voltar naquela casa para buscar as suas
coisas e vir para a nossa casa! Nós já conversamos sobre isso. — Ryan falou
firme — Não vou deixar você correr esse risco todo, quando se tem outros
métodos.
 
— Não, eu estou cansada disso tudo! — Emma exclamou alto —
Vamos fazer do meu jeito, é o caminho mais rápido para isso acabar.
 
— E se você for ferida? Ou… ou algo pior? — Darah questionou,
ficando de pé — Você é a chefe, mas isso aqui é uma equipe e eu não vou
aceitar, esquece.
 
— Estou do lado da Darah, não vai fazer isso. — Ryan falou
cruzando os braços.
 
— E vocês, Steven? Scott? — Emma perguntou olhando para os
outros dois.
 
— Eu acho muito arriscado. Acho que, com mais alguns dias,
podemos resolver isso de outra forma. — Steven falou e respirou fundo.
 
— Emma, você está contando com a sorte, entende? E eu não sei se
você já reparou, mas você não é a pessoa mais sortuda do mundo. — Darah
contestou.
 
Emma respirou fundo, ficando em silêncio e pensando sobre todas as
alternativas, analisando aquilo em que acreditava e o que haviam falado e
argumentado, mas não via outra solução, ou como findar isso logo. Seu
prazo estava acabando e, de qualquer forma, já tinha um alvo sobre si.
 
— Uma semana. — Emma finalmente falou — Eu vou ficar mais
uma semana na minha casa, uma semana saindo sem segurança e sozinha. 
 
— Emma…
 
— Não, Ryan, eu sei o que eu estou fazendo. — Emma falou firme
— Se a Charlotte estiver por trás, o Deniel vai aparecer tentando fazer
alguma coisa. Mas, se não, ele não vai ter como saber de alguma coisa. Se
ela ainda estiver ajudando ele, vou saber, porque vamos descobrir se ela está
me monitorando para ele.
 
— O problema é que você está contando que ele vai se aproximar,
mas não vai te matar no mesmo momento. Acha que ele vai te sequestrar?
Por que ele faria isso? — Darah questionou irritada, estava odiando o plano
com toda a sua alma.
 
— Eu já expliquei várias vezes. Ele precisa de alguém como refém,
faz sentido. — Emma respondeu — Não adianta ficarmos repassando o
mesmo assunto, é isso e acabou.
 
— Eu não aceito e sou contra. — Ryan falou novamente.
 
— Não vamos recomeçar esse assunto, estamos andando em círculos.
— Emma reclamou.
 
— Tudo bem, então. Acho que a gente tem que ir para o nível dois
desse plano, como vamos te monitorar? — Steven perguntou.
 
— Vamos ter que colocar um dispositivo de rastreio nela. Pode ser
um colar, anel, brincos, qualquer coisa nesse sentido. — Scott falou.
 
— Mas isso, com certeza vai ser tirado dela. Eu faria isso, se
sequestrasse alguém. — Darah falou — É meio óbvio, considerando quem é
a Emma.
 
— Então tem que ser algo que fique mais escondido. — Steven
completou.
 
— Um piercing? — Scott sugeriu.
 
— O quê? Acho que eu não gostei dessa sugestão. — Emma falou
com os olhos levemente arregalados.
 
— Ficar na mira de um sequestro, ok, mas fazer um furo é
assustador. — Darah zombou, ainda estava irritada com a amiga.
 
— Pode ser um subcutâneo. — Ryan sugeriu contrariado — Coloca
onde não fica muito exposto, na minha equipe eu tenho um médico, ele pode
fazer.
 
— Não gostei disso. — Emma reclamou.
 
— Desiste do plano. — Darah rebateu encarando a chefe.
 
— Pode marcar para hoje mesmo, se quiser, Ryan. — Emma
respondeu virando a cara para Darah.
 
— Se eu escolho o dia, não vou marcar nada. — Ryan deu de ombros
e bufou quando Emma o encarou séria — Vou marcar para amanhã.
 
— Obrigada. — Emma respondeu com um sorriso pequeno e depois
olhou para Scott — Prepara o rastreador.
 
— Acho que você vai ter que fazer uma reunião com os seus e deixar
todo mundo de sobreaviso para qualquer coisa que aconteça. Bom, isso
considerando que você está bem envolvido no plano. — Steven falou para
Ryan, que acenou.
 
— Vou providenciar isso. Se eu soubesse que ia ficar para participar,
tinha avisado o Derek. — Ryan falou e olhou para Emma — Tem certeza?
 
— Absoluta! Isso vai acabar, estou farta de ficar pensando sobre o
Deniel, em como achá-lo, como pegá-lo, como matar ele, ou se ele está me
vigiando. Tô cansada dessa agonia! — Emma falou firme.
 
— Tudo bem, estamos aqui para te dar apoio, mesmo sendo contra.
— Darah falou.
 
— Quando der certo…
 
— Essa loucura tem que, no mínimo, dar certo! — Darah
interrompeu Emma, que deu de ombros.
 
— Acho que acabamos por aqui. — Emma declarou ficando de pé.
 
— Agora, vamos treinar um pouco. — Steven avisou — Temos que
fazer algumas simulações de como você vai ter que agir.
 
— Eu vou ficar, ajudarei no treino. — Ryan informou, de braços
cruzados, e Emma sentou novamente.
 
— Ah, não! Não quero treinar com todo mundo bravo comigo! —
Emma resmungou fazendo bico.
 
— Pena, vamos logo. — Darah falou ficando de pé.
 
Darah caminhou até Emma, a puxando para irem se trocar, já
deixavam em seus armários roupas mais confortáveis para o treino, e Emma,
mesmo emburrada, foi. Não tinha como fugir mesmo e entendia todo mundo
contrariado consigo, mas era a melhor ideia. Talvez não a melhor, mas com
certeza a que traria resposta mais rápida. 
 
E ela estava disposta a qualquer risco para acabar com tudo logo.
 
Capítulo 60
— Eu, definitivamente, sou contra isso! — Ryan reclamou
novamente, fazendo Emma respirar fundo.
 
— Ryan, a gente já discutiu isso tantas vezes, desde ontem na
reunião. Não vou mudar de ideia. — Emma respondeu, mantendo calma que
nem sabia ainda ter.
 
— Vou mandar colocar a localização desse seu chip rastreador no
meu celular, pra saber onde você está em tempo real. — Ryan falou
emburrado, ainda contrariado com a decisão de Emma em ser uma isca.
 
— Amor, ontem decidimos. Já coloquei o chip, que por sinal foi bem
assustador colocar. — Estremeceu lembrando da pequena cirurgia que fez na
manhã daquele mesmo dia — Agora eu vou para casa e vamos começar a
contagem dos sete dias.
 
— Se algo acontecer, eu vou fazer igual Nero e colocar fogo na
cidade! — Ryan declarou em uma mistura de irritação e chateação e, ao
contrário do que sempre fazia, Ryan dirigia devagar, não queria chegar logo
na casa dos pais de Emma.
 
— Nero, Ryan, sério? — Emma riu alto — Vou tomar bastante
cuidado.
 
— Vai rindo mesmo. Quando estiver tudo em chamas, não ache ruim.
— Deu de ombros.
 
— Eu só tenho duas coisas para falar. — Emma disse séria, fazendo
Ryan a olhar de canto, enquanto prestava atenção no trânsito.
 
— Quais?
 
— A primeira, você está muito lento. Sinto que, se eu sair do carro e
ir andando para casa, chego mais rápido. — Reclamou.
 
— Está com tanta pressa assim de ir pra casa? — Ryan questionou
em um tom de deboche.
 
— Eu vou ignorar o sarcasmo. Você está indo devagar e ponto.
 
— Ok! Mas, e a segunda coisa? — Perguntou e uma vozinha em sua
cabeça já dizia que não vinha coisa boa.
 
— Eu estava aqui pensando, você deveria colocar um chip também,
sabe? Por segurança, eu também deveria ter a sua localização o tempo todo
— Emma falou em um tom doce.
 
Ryan levou um segundo para entender o que Emma queria, para
depois rir alto. 
 
— Não sabia que você era tão controladora. — acusou, ainda rindo.
 
— É cuidado! — Emma rebateu, cruzando os braços e fazendo bico.
 
— Claro, meu amor, mas não, melhor não.
 
— Eu não posso nem cuidar do meu… meu… — Emma parou de
falar e refletiu um pouco — O que você é meu?
 
— Ex? Lembra que você terminou comigo, né? — Ryan zombou em
um tom divertido.
 
— Eu estava prestes a morar com meu ex? Que decadência! —
Emma falou em um tom sério, mas de brincadeira, fazendo ele revirar os
olhos.
 
— Nós nem ficamos separados, mesmo. — Ryan refletiu, enquanto
estacionava em frente a casa dos pais de Emma.
 
— Mas nós não somos noivos e nem namorados. — Emma falou
sorrindo, virada no banco para ficar de frente para ele — Não lembro de
nenhum pedido.
 
— Quer namorar comigo? — Ryan perguntou com um sorriso de
lado, se aproximando para beijar os lábios dela.
 
Ela cortou o resto da distância, selando o beijo, que foi lento, apesar
dos corações acelerados. Emma tinha certeza de que nunca perderia essa
sensação avassaladora que sentia ao tocar Ryan e ele tinha a mesma certeza.
 
— Não. — Emma respondeu enquanto se afastavam — Me peça em
namoro de uma forma decente.
 
— Então quer dizer que eu sou um homem solteiro, livre e
desimpedido? — Questionou com um sorriso pequeno.
 
— E eu sou uma mulher solteira, livre e desimpedida? — Emma
rebateu com um sorriso provocador — A sua resposta é a minha resposta.
 
— Você não sabe brincar! — Ryan exclamou, fazendo ela rir — E
você não tem nada de livre e desimpedida, você está completamente
impedida e não solteira.
 
— Vale para você também. — Respondeu rindo.
 
Ryan se aproximou como pôde, dentro do carro, puxando Emma para
seus braços, mas tomando cuidado para não encostar no curativo em suas
costas, pouco acima do quadril. Ele tinha medo de que algo desse errado,
nunca se imaginou amando alguém, mas agora que amava e não queria
correr o risco de perder.
 
Não que Emma estivesse, realmente, tão segura, mas queria pôr um
fim a toda essa confusão que estava sua vida. Mais do que resolver o
problema que era Deniel, o que realmente tirava sua paz era saber que,
debaixo do mesmo teto que o seu, havia alguém que a odiava ao ponto de
querer matá-la. Alguém que tinha o seu sangue e que a viu crescer, que
deveria amá-la.
 
Ficou o tempo que pôde nos braços de Ryan, estava quente,
acolhedor, apreciava o carinho que recebia e, se tivesse que escolher um
lugar favorito no mundo, seria ali.
 
— Eu tenho que entrar. — Emma falou em um tom baixo.
 
— Ainda dá tempo de decidir voltar pra nossa casa. A gente só pega
uma mala de roupas suas e pronto. — Sugeriu, beijando de leve o pescoço
dela.
 
— Não vou demorar, é só uma semana. — Emma falou, se afastando
um pouco — Vai ficar tudo bem.
 
— Espero que sim. — Ryan respondeu e a beijou novamente.
 
— Eu te amo. Mais tarde te mando mensagem. — Emma falou ao se
afastar.
 
— Eu te amo! — Ryan respondeu sincero.
 
Emma respirou fundo e saiu do carro. Quando chegou dentro de casa
agradeceu por estar vazia, não estava com paciência para ninguém, algo que
raramente estava quando se tratava da sua família. Subiu as escadas devagar,
um pensamento martelando na sua mente.
 
Queria encontrar sentido onde não via nenhum.
 
Não parou na porta do seu quarto como deveria, mas se deixou levar
pelos sentimentos. Não deveria ser impulsiva, não deveria se deixar levar
pelas emoções e não deveria insistir no que estava mais do que quebrado. Os
heróis, às vezes, viram vilões, não é?, tinha que ser essa a explicação.
 
Respirou fundo, não sabia o que estava buscando ali, ou de que
adiantaria um pedido de desculpas, não acreditaria mesmo.
 
Emma continuava olhando a porta, como se seu dilema pudesse ser
resolvido em um passe de mágica. Era uma droga, só queria uma conversa
sincera, mesmo que nada fosse alterado. Era só bater na porta, era só…
 
Droga! Por que as coisas mudaram tanto? 
 
Era só bater na porta. E Emma bateu, três toques na porta de
Charlotte e, de repente, se sentiu pequena, como quando corria para se
esconder no quarto da irmã. Porém, dessa vez, acreditava que deveria se
esconder da irmã.
 
Mas, os heróis viram vilões, né? 
 
Capítulo 61
Charlotte abriu a porta de seu quarto e não conseguiu disfarçar a
expressão confusa ao ver Emma parada ali. Acreditou que seria sua mãe,
Marie, ou mesmo seu pai, mas, não, Emma. Ela seria a última das últimas
pessoas que pensaria, mas ali estava sua irmã, bem na sua frente.
 
Emma tinha o coração acelerado e sentia que precisava erguer todos
os seus muros, pois, em sua frente estava não só sua irmã, mas também sua
inimiga, afinal, um aliado não encomendaria a morte do outro. E Emma
sempre batia nessa tecla em sua lembrança, não podia esquecer como
chegaram àquele ponto, de não se olharem mais com amor, de trocarem
ofensas e planejarem o fim uma da outra. 
 
Emma sentiu o peito doer e os olhos arderem, mas se manteve firme.
 
— Não vai falar nada? — Charlotte perguntou, quase um minuto
após estarem se encarando dessa forma.
 
— Vou. A gente pode conversar? — Emma perguntou, pegando
Charlotte de surpresa.
 
— Conversar? — Charlotte riu desacreditada — Achei que estava
vindo contar como já conseguiu achar o Deniel.
 
— Charlotte, eu realmente vim aqui para conversar. Não sobre o
Deniel, não sobre a Máfia, ou a empresa. — Emma esclareceu — Vim aqui,
porque quero conversar sobre a Charlotte e a Emma, duas irmãs que, na
minha cabeça, um dia se amaram. Sobre eu e você, sabe? E sobre o porquê
de chegarmos no ponto em que estamos. 
 
— E você quer que eu acredite nisso? — Charlotte perguntou na
defensiva, com a sobrancelha arqueada.
 
— Foi você que começou a mentir para mim, não o contrário. Tenho
muitos mais motivos para estar desconfiada do que você. — Emma
respondeu, cruzando os braços — Eu realmente quero conversar, mas não
nesse corredor.
 
Emma estava impaciente, sentia vontade de chorar e gritar, mas não
faria isso ali. Não entendia o porquê de Charlotte estar complicando tanto
tudo, ela era a vítima ali, não a mais velha, então por que tinha que ser
assim, tão difícil?
 
Charlotte olhava para a irmã, ponderando tudo, e quase achava graça
da inocência que ela carregava. Respirou fundo, será que valeria realmente
abrir o jogo e falar toda a verdade? 
 
— Eu não tenho a noite inteira. — Emma falou cansada.
 
— Essa casa tem ouvidos demais, não poderíamos conversar aqui. —
Charlotte se deu por vencida.
 
— Dentro do meu quarto…
 
— Seu quarto continua fazendo parte dessa casa, você sabe disso,
né? — Charlotte perguntou com um sorriso zombeteiro.
 
— O que está sugerindo? Que eu saia por aí com você? — A mais
nova perguntou, arqueando a sobrancelha.
 
— Eu não estou sugerindo nada, mas você que veio aqui conversar.
Sua inocência sobre essa casa é quase engraçada, mas admito ser culpa
minha. — Charlotte falou, dando de ombros.
 
— Eu não gosto desse seu tom. — Emma reclamou — E você não
pode me culpar, você tentou me matar duas vezes.
 
— Eu… — Charlotte começou a falar e parou — Olha, eu vou voltar
para o meu quarto. Talvez um dia, longe daqui, quem sabe né?
 
— Não, a gente vai conversar, sim. — Emma falou segurando
Charlotte — Vou ligar pro Ryan.
 
— E você quer que eu confie em sair daqui com você e seu
namorado? — perguntou, puxando o braço. — De jeito nenhum!
 
— E eu iria com você para algum lugar? Por favor, né! — Emma
respondeu batendo o pé — Eu nunca tentei te matar, acho que sou a mais
confiável aqui.
 
— “Confiável aqui”. — Charlotte riu, repetindo enquanto fazia aspas
com a mão — Chega a ser engraçado vindo de alguém desta casa.
 
— Eu cansei, boa noite! — Emma falou suspirando e começou a se
afastar, mas parou e olhou para a Charlotte — Mas eu tentei. Quando tudo
chegar ao fim, quando tivermos que deixar a regra da boa convivência de
lado, quando essa… família se desfizer de vez, não esqueça de que tentei. E
de que eu estava realmente disposta, ok?
 
Charlotte não respondeu, apenas observou Emma caminhar até seu
quarto e entrar, sem dizer mais nada. Não entrou e nem saiu, continuou
parada na porta do próprio quarto, perdida em pensamentos, repleta de
dúvidas.
 
Emma sentia-se frustrada.
 
Mas como poderia se sentir diferente? Talvez Charlotte estivesse
certa em chamá-la de inocente, para não dizer outra coisa. Emma sentia que
poderia pintar uma cara de palhaço em seu rosto. Por que ainda insistiu? O
que ela estava querendo?
 
Entrou no quarto e se jogou na cama, sentia as lágrimas se formando
no canto dos seus olhos e dessa vez não as evitaria, não seguraria, deixaria
que elas rolassem por seu rosto. Ninguém dentro daquela casa se importaria
mesmo, não teria ninguém para ouvir, ou questionar, e muito menos para lhe
acolher. Sabia que, se ligasse para Ryan, ou Darah, provavelmente eles
invadiriam a casa e a tirariam dali.
 
Não negava que isso aquecia seu coração, era bom saber que não
estava completamente sozinha. Até sorriu, lembrando que havia declarado
seu amor a Ryan de maneira tão natural.
 
Por um momento se pegou imaginando como teria sido sua vida se
Ryan tivesse sido só um cara bonito que conheceu em um café. Sem acordos,
sem máfia, sem toda essa confusão. Se perguntou se estaria feliz em uma
faculdade de medicina. 
 
Sentiu as lágrimas escorrerem por sua face e puxou um travesseiro
para esconder seu rosto e abafar os sons dos gritos. Estava tão imersa em si,
que quase não ouviu as batidas na porta. Devolveu o travesseiro para cama e
ficou em silêncio, para ter certeza do que havia ouvido, e realmente alguém
batia ali.
 
Limpou o rosto e se levantou, torceu para ser Marie, a única pessoa
de quem gostava naquela casa. Porém, abriu a porta e se deparou com
Charlotte, que vestia uma roupa diferente da de minutos atrás.
 
— Concordo em ir conversar com você, desde que garanta minha
integridade física. — Charlotte falou em um tom resignado — Estava
chorando?
 
— Não. — bufou, mas o rosto inchado, o nariz vermelho e a voz
falha denunciavam a mentira — Vou ligar para o Ryan vir nos buscar, entra.
 
— Mesmo que me odeie, vai garantir minha segurança? — Charlotte
perguntou, queria se certificar dessa parte.
 
— Por hoje, sim. Depois eu não garanto nada. — Emma respondeu
sincera, dando espaço para a irmã.
 
— É o suficiente para mim. — Charlotte respondeu entrando no
quarto e, assim que a porta foi fechada, respirou fundo — Só tem um
problema.
 
— Qual? — Emma perguntou enquanto pegava o celular.
 
— O segurança que me acompanha em todo lugar. Ele não pode
saber para onde estou indo e nem com quem. — Charlotte explicou,
deixando a irmã confusa.
 
— Já pensou na possibilidade do seu quarto ter algum gravador de
voz? — Charlotte perguntou olhando em volta.
 
— Não… — Emma respondeu, ainda confusa com a pergunta e
assustada por nunca ter pensado na possibilidade — Puta merda!
 
— Pois é! — Charlotte respondeu.
 
— Espera um minuto. — Emma digitou o número de Ryan sem tirar
os olhos da irmã e só nesse instante notou como Charlotte parecia pálida. Os
olhos dela estavam um pouco mais fundos e se perguntou quando foi a
última vez que havia visto a irmã sem maquiagem e desde quando ela
parecia tão sem vida. A irmã de suas lembranças e a mulher em sua frente
não podiam ser a mesma pessoa.
 
— Emma! — Ryan quase gritou, já era a quarta vez chamando a
garota, que não o havia escutado, imersa nos próprios pensamentos — Vou
até aí se você não responder.
 
— Oi, é isso mesmo que quero! — Emma falou um pouco
desnorteada — Preciso que você venha aqui, preparado para surpresas e para
desacordar uma pessoa.
 
— Que porra tá acontecendo aí? — Ele perguntou preocupado, já
pegando a chave do carro.
 
— Muito complicado de explicar. Só vem, por favor. — Emma
pediu, vendo a irmã observando-a.
 
— Estou indo. Quinze minutos, no máximo! — Ryan respondeu —
Mas qualquer coisa, me liga.
 
— Está tudo bem, não se preocupe. — Emma respondeu com um
sorriso pequeno, amava que ele se preocupasse com ela.
 
— Estou indo! — Ele falou e desligou, tinha pressa.
 
Charlotte sentou em uma poltrona e seus olhos caíram direto em uma
foto sua com a irmã, quando ela ainda era uma pessoa minúscula, com
grandes cabelos ondulados e olhos bem redondos, o castanho-mel parecia até
brilhar. Quando as duas ainda eram unidas.
 
Quando Charlotte ainda era a grande heroína de Emma.
 
Capítulo 62
Emma olhava a irmã e sua mente tentava unir as duas versões que
conhecia da mais velha. A irmã boa de sua infância, que lhe fazia pipoca,
com quem assistia filme até tarde, mesmo que a mãe já tivesse mandado que
elas fossem dormir. A irmã que era sua “maninha”, com a irmã fria, ofensiva
e que, pior do que tudo isso, era uma homicida que havia tentado lhe matar
por duas vezes. Seu coração não aceitava, mesmo que sua mente já tivesse
compreendido, que não era mais a mesma coisa, e nunca mais seria. A
relação de amizade das irmãs estava morta.
 
— Vamos? — Emma perguntou após receber uma mensagem de
Ryan, que avisava já estar do lado de fora dos muros da mansão.
 
— Vamos. — Charlotte respondeu ficando de pé, estava tensa, mas
disfarçava bem.
 
Saíram do quarto e andaram lado a lado, saindo da casa, mas não
diziam nada, não sorriam e só restava um clima pesado e um completo
estado de alerta. 
 
Emma não confiava em Charlotte e estava achando tudo aquilo um
pouco de loucura, um pouco engraçado, e ainda considerava a ideia
impulsiva, irresponsável e bastante perigosa, mas precisava desse momento,
de uma conversa verdadeira. Queria acreditar que tinha um motivo para elas
passarem a ser inimigas. 
 
— Senhorita Lancaster! — Escutaram um segurança chamar, no
momento em que passaram pela porta da sala, saindo de dentro da casa.
Ambas pararam no lugar, olhando para o soldado que caminhava em direção
às irmãs — A senhora Charlotte não tem autorização para sair da casa
desacompanhada, um segurança precisa estar junto.
 
— Ela não está desacompanhada, eu estou com ela. — Emma falou
firme, séria — E isso é o suficiente. Não quero ninguém me enchendo o
saco, estou com pressa.
 
— Mas, o senhor John…
 
— Não me importo! — Emma interrompeu — Se estou falando que
ela vai sair daqui comigo, então ela vai comigo, e assunto encerrado! Se o
meu pai achar ruim, que reclame com as paredes. Tenho mais o que fazer e
não quero ser interrompida, entendeu?
 
— Sim, senhora! — O soldado respondeu um pouco receoso, mas
não ia se impor contra a chefe, mas iria se resguardar, avisando John assim
que elas se afastassem.
 
— Boa escolha. — Emma respondeu e voltou a caminhar — Vamos,
Charlotte.
 
Charlotte riu soprado, um pouco surpresa com postura da irmã, nunca
a havia visto em contato com os soldados, ou em qualquer função na máfia.
Sua garganta coçou para falar, mas não se permitiu, não tinha intimidade
para brincar com a irmã. E esse pensamento lhe causou um pequeno
estranhamento.
 
Quando chegaram ao lado de fora, encontraram Ryan e Derek
encostados no carro, olhando para a casa com a expressão fechada. Ryan
ficou confuso com a cena, mas, no mesmo instante, sua postura ficou
defensiva e sua vontade era afastar Emma da irmã.
 
— Ela é a pessoa que a gente tem que desacordar? — Derek
perguntou, arqueando a sobrancelha — Acho que só o Ryan bastava, eu
estava ocupado.
 
— Cala a boca. Você veio porque quis! — Ryan falou, revirando os
olhos, e puxou Emma para perto de si com cuidado — O que está
acontecendo? 
 
— Tenho que ter uma conversa com a Charlotte, mas ela não quis
conversar aqui. Nós vamos para outro lugar. — Emma explicou — Podemos
ir? 
 
— Para onde, exatamente? — Ryan perguntou, enquanto guiava a
Emma para a porta do passageiro.
 
— Eu não sei, estava pensando na academia. — Emma respondeu e
Ryan abriu a porta para ela, que antes de entrar se virou para a irmã — Entra
no carro, vamos.
 
— Ok! — Charlotte respondeu seca.
 
— Tenho uma ideia melhor. — Ryan respondeu e beijou suavemente
os lábios de Emma.
 
Trocaram um olhar breve e Ryan fechou a porta quando Emma
entrou no carro, dando volta e entrando no banco do motorista. Charlotte
sentou no banco de trás, ao lado do Derek, que a olhava desconfiado, e a
Lancaster mais velha olhava todas as interações, analisando cada detalhe e
buscando por algo que nem ela mesma saberia dizer o que era.
 
— Para onde vamos? — Emma perguntou, quebrando o silêncio no
carro.
 
— Para o meu galpão. Eu não confio nela e vou deixar você bem à
vista, onde eu possa te proteger de qualquer coisa que esteja passando na
cabeça dessa aí. — Ryan respondeu firme. Estava decidido sobre isso,
sempre faria o que fosse melhor para cuidar de Emma.
 
— Eu não acho isso seguro para mim. — Charlotte respondeu em um
tom levemente assustado.
 
— Não é como se você tivesse muita moral aqui. — O Ryan
respondeu seco — Você não tem direito nenhum e saiba que, por mim, você
estaria embaixo da roda do carro. Então, presta muita atenção no que está
planejando falar, ou fazer, durante essa conversa, porque se você tocar na
minha mulher, vai perder a mão. Entendeu, Charlotte? 
 
— Entendi. — Charlotte respondeu de imediato, sabia reconhecer o
perigo.
 
— Ótimo, porque eu não tenho nenhuma tolerância sobre isso e não
haverá ninguém para te proteger de mim! — Ryan falou.
 
Charlotte não respondeu, mas deixou um sorriso de escárnio muito
pequeno surgir em seus lábios, acompanhado de um pensamento cheio de
mágoas que não diria em voz alta.
 
Nunca houve ninguém para me proteger.
 
E todo o trajeto, até chegarem ao galpão, foi silencioso. Não sentiam
que algo a mais deveria ser dito ali. 
 
Enquanto caminhavam pelos corredores, Charlotte se sentia
completamente ameaçada, seu corpo se arrepiava inteiro de medo e uma voz
em sua cabeça dizia que ela deveria ir embora desde o momento em que
pisou ali. Mas havia pensado bem e tinha que fazer aquilo, tinha que contar
tudo o que sabia, o que guardava em sua mente e seu coração e, depois…
depois ela descobriria o que faria, já estava tudo quebrado de qualquer
forma.
 
— Podem conversar na minha sala, — Ryan falou abrindo a porta —
mas vou estar aqui na frente. Se eu achar que é necessário interferir, eu vou.
 
— Está tudo bem, nós vamos apenas conversar. — Emma falou, na
tentativa de acalmar Ryan — Mas eu te grito se for necessário.
 
— Certo. — Ryan concordou, contrariado, e deu um olhar de aviso
para Charlotte antes de se afastar.
 
Emma entrou primeiro, Charlotte a seguiu, e a mais nova fechou a
porta. E, paradas no meio do escritório, as irmãs se encaravam, tinham muito
para dizer, para ouvir. Só precisavam de coragem e que alguém finalmente
quebrasse o silêncio.
 
Capítulo 63
Charlotte respirou fundo, sabia que era ela quem deveria começar a
falar, sabia que deveria contar tudo, mas precisava de coragem para dizer o
que tinha passado e, o pior, dizer o porquê havia agido como agiu. Tinha que
ser sincera.
 
— Eu não sei como te contar tudo. Você não sabe um terço de como
nossa família realmente é, porque tudo o que você pensar sobre eles, saiba
que é muito pior. — Charlotte falou, estava tentando se manter estável, mas
estava difícil.
 
— Sei muito bem o tipo de família que a gente tem. — Emma
rebateu — Nossa mãe não cuida da gente, nos entrega como se fôssemos
mercadorias e nosso pai não se importa com nada. 
 
— De forma sucinta… — Deu de ombros.
 
— Seja clara, por favor. Você não é o mestre dos magos para jogar
enigma e eu não faço parte da turma do Scooby-Doo para resolver mistérios.
— Emma falou, colocando a mão na cintura — Você quem tem que se
explicar.
 
— Certo. — Charlotte falou, respirando fundo para não rir da
comparação feita pela irmã, e depois suspirou, se preparando para falar —
Vou começar pelo começo.
 
— Exatamente isso que espero. — Emma disse, cruzando os braços e
com o olhar sério.
 
— Sendo sincera, eu não sei exatamente onde é o começo. Não sei
posso considerar, como início, o fato de eu saber sobre os negócios da
família desde sempre, ou se seria desde quando casei, aos dezoito, porque
precisavam fechar uma aliança. — Charlotte disse em um tom indiferente,
tentando disfarçar a dor que sentia — Mas acho que você já percebeu que
nós duas fomos criadas completamente diferentes. Sabia que uma das
minhas exigências, quando casei, era que você não tivesse que seguir o
mesmo caminho que eu? 
 
— Não, eu não sabia. — Emma respondeu encarando a irmã —
Como eu poderia saber de algo, se ninguém me fala nada? Nem você, nem a
mamãe e o nosso pai muito menos.
 
— E ele não vão falar nada. Nosso pai é um tonto manipulável e
cego, sequer sei como ele manteve tudo, por tanto tempo. Mas já está tudo
desmoronando e eu não me surpreendo. — Ela deu de ombros — Sei que
você me vê como uma vilã, mas eu não sou.
 
— Você tentou me matar! — Emma exclamou alto, não se
conformava com aquilo, não fazia sentido sua própria irmã atentar contra sua
vida.
 
— Eu não tentei te matar, essa nunca foi a minha intenção! —
Charlotte se defendeu.
 
— Mas você sabia de tudo e, ainda assim, não fez nada! — Emma
acusou — Você não me defendeu!
 
— Fiz o que tinha que fazer, que saco! — Falou alto e respirou fundo
— Você não tem ideia do inferno que vivi a minha vida toda. No incêndio da
casa não era para você se machucar, ou muito menos morrer. Eu só soube
que você estaria lá, no apartamento, no mesmo dia, mas eu já estava tão
farta, que tudo que eu queria era que o mundo explodisse!
 
— Me incluindo junto? O que eu te fiz? Eu te amava! — Emma falou
com dor, sentindo os olhos se encherem d'água — Você era a minha
maninha… 
 
— Por um momento eu só queria que tudo que fosse referente a
nossa família acabasse. A máfia, os Lancasters, tudo! — Charlotte respirou
fundo — Queria que todos morressem, os nossos pais, o Deniel, eu…
 
— E eu. — Emma completou atordoada — Por quê? Isso não faz
sentido! Por quê?
 
— Porque fui criada para casar por acordo. Eu não queria, mas
quando a Carmen falou que te colocaria no meu lugar… Se imagina casando
com o Deniel? Passando dez anos sendo educada para isso? — Charlotte
perguntou e viu Emma estremecer com o pensamento — Meu casamento foi
um inferno e eu sofri tudo que poderia sofrer. Violência física, psicológica,
sexual, e a Carmen nunca deixou eu me separar. Eu tentei fugir uma vez,
quando estava grávida, mas não consegui. Deniel me espancou e eu perdi o
bebê. A Carmen sabia de tudo e, mais do que isso, ela se tornou amante dele.
 
— Acho que não estou conseguindo processar tudo isso. — Emma
falou atordoada.
 
— Mas não acabou, ela é amante dele até hoje. Eles transavam na
minha cama, comigo em casa. Eles estavam planejando tomar tudo e se
livrar dos pesos. Ao mesmo tempo que eu sabia, parcialmente, o que estava
acontecendo, eu tinha medo. Medo de fazer alguma coisa até que o
pensamento de acabar com tudo surgiu na minha mente. — Charlotte
respirou fundo — O John é um nada, ele não se importa com nada. Ele tem
amantes e não se importa que a Carmen tenha, desde que nada vaze, mesmo
que o homem que ela transe seja o marido da filha.
 
— Por que eu nunca vi isso? — Emma perguntou.
 
— Porque você estava ocupada vivendo a sua vida. — Charlotte
respondeu simples — Você acha que eu não tentei fazer nada, mas eu fiz. De
um jeito completamente errado, reconheço isso, mas fiz. Quando falei que o
Deniel era o responsável pelos incêndios, era verdade, mesmo que eu tenha
levado a culpa junto, o que mereço, por ser tão omissa. Mas eu tentei fazer
algo quando impliquei com você em todas as vezes que nossos pais
armavam algum circo, na intenção de unir família, porque eu tinha medo que
você os perdoasse, porque eles não merecem isso.
 
— É muita informação, eu preciso de um minuto para processar tudo.
Me sinto confusa. — Emma pediu, caminhando até a cadeira mais próxima
para se sentar, sua mente rodava com tantas informações. 
 
Sua mãe era amante do seu cunhado e não se importava que ela seria
morta? Poderia rir, achando que era algum tipo de piada ruim, mas olhando a
expressão da irmã viu que não era. Puxando um pouco mais na memória,
lembrou que sua mãe nunca lhe procurou para saber se estava bem, não se
importava com o que acontecia, ela nunca se importava. Seu pai, sempre
alheio a tudo, sua única preocupação era sempre manter os negócios
estáveis. 
 
A verdade era que John e Carmen não sabiam ser pais de verdade e
isso quebrou as duas filhas de maneiras diferentes. Mas, ao contrário de
Emma, Charlotte nunca encontrou um lugar para ser seu lar.
 
— Preciso repassar algumas coisas que você me falou, porque elas
parecem difíceis demais de serem digeridas. — Emma pediu.
 
— Pode começar. — Charlotte respondeu, sentando-se em frente a
irmã.
 
— Você casou para que eu ficasse fora da máfia e não tivesse que
casar por acordo? — Emma perguntou e Charlotte acenou positivamente —
Então, você viveu dez anos em um relacionamento completamente abusivo,
perdeu o filho que esperava, a mamãe se tornou amante do Deniel e o papai
sabe, porque também tem amante?
 
— Você está compreendendo direitinho. — Charlotte confirmou.
 
— Mamãe sempre soube dos incêndios e, inclusive, planejou o
segundo, que poderia ter me matado junto do Ryan, e você só soube no dia?
— Perguntou e seu tom de voz era quebrado. Novamente Charlotte
confirmou — Você deveria ter me falado tudo antes, da maneira certa. Você
me machucou tanto, não importa se você fez alguma coisa desse jeito
estranho, não importa! Você foi tão ruim quanto eles!
 
— Eu sei e sinto muito, mas eu não posso mudar o fato de ter sido
tão omissa com tudo, tão permissiva com tudo. — Charlotte respondeu e
respirou fundo — Por isso que pensei melhor, quando você bateu na porta do
meu quarto. Essa era a melhor forma de me redimir, contando a verdade. A
gente ainda tem muito o que conversar.
 
— Por que você fez isso comigo? — Emma perguntou deixando as
lágrimas escorrerem — Você poderia ter evitado tudo isso, tudo.
 
— Sinto muito por ter ficado quieta tanto tempo. Eu senti medo, senti
raiva, senti um misto de coisas, acho que eu até enlouqueci um pouco. — riu
soprado, sem humor, apenas para não chorar também — Sei que nada vai
fazer com que as coisas se consertem, mas me escuta, ainda temos que
conversar. O Deniel e a Carmen ainda estão soltos e você continua em
perigo. E eu sei da missão estúpida do Marco.
 
— Isso não é uma família, nunca foi… — Emma falou se
encolhendo um pouco.
 
— Nunca foi, mas você tem a chance de construir um futuro melhor.
Você está fazendo sua própria família, foi muito bom ter tido a oportunidade
de ver que o Ryan te ama e cuida de você, que faria qualquer coisa para te
proteger. — Charlotte falou com os olhos cheios d'água — Você vai ficar
bem depois dessa tempestade, não se preocupe.
 
— E você? — Emma perguntou, olhando para a irmã, que não
respondeu, apenas sorriu pequeno.
 
— Você sabe que o Marco não se importa com quem está à frente dos
negócios, desde que tudo esteja funcionando, certo? — Charlotte perguntou
e Emma negou — Ele não se importa e eu sei que a sua missão é matar o
Deniel, e a missão dele é tomar o poder dos Lancasters, independente dos
métodos. Ou seja, ele fará qualquer coisa para te matar.
 
— Eu não sabia que isso era permitido. — Emma falou limpando os
olhos.
 
— Marco é um velho nojento que gosta de ver o caos. — Charlotte
revirou os olhos — Você precisa saber que ele está na cidade, o Deniel. —
Charlotte tirou um cartão do bolso — Aqui tem o número da conta bancária
e cartão que ele tem usado. Por ela, se você tiver um bom hacker, conseguirá
localizar onde ele tem feito os últimos saques, hotéis onde tem ficado e fazer
uma linha de rastreio para pegar ele. O que vão fazer, não me importa.
Também pode tentar fazer uma linha com o dinheiro da Carmen, ela quem
mantém ele.
 
— Como você sabe disso? — Emma perguntou pegando o cartão.
 
— Convivi muito tempo com aqueles dois, eles sentem como se eu
fosse algum bichinho de estimação deles. — Charlotte disse e respirou fundo
— Não fica andando sozinha, se eles te pegarem não será para conversar.
 
— Mais alguma coisa que eu deva saber? — Emma perguntou e
prendeu o ar por alguns segundos, não queria mais chorar.
 
— Apesar de não parecer, e de um jeito muito torto, eu te amo e
estou torcendo para que você fique bem e feliz. Que sua relação com o Ryan
cresça e que vocês se tornem um casal forte, unido e que se ama. — Ela
disse sincera, ficando de pé — Acho que isso é tudo.
 
— E o que acontece agora? — Emma perguntou, engolindo o nó na
garganta.
 
— Agora vou voltar para casa. E você, por favor, não volte mais lá.
— Charlotte pediu — A gente sabe que você não precisa de mais nada que
tem lá, nem das coisas e nem das pessoas.
 
— Por que eu me sinto tão quebrada? Eu não quero me sentir assim!
— Emma falou, encolhida na cadeira.
 
— Desculpa por ter feito isso com você. Se eu tivesse sido um pouco
mais forte, se eu tivesse lutado um pouco mais, teria sido capaz de te
proteger, porém, eu não fiz nada, mas você ficará bem. — Charlotte se
abaixou e beijou o cabelo da irmã — Por favor, sempre se lembre de mim
como sua maninha, que comia doces escondido e que te abraçava nas noites
que você tinha pesadelos.
 
Charlotte começou a se afastar, indo em direção a porta, enquanto
Emma continuava encolhida na cadeira, abraçando as próprias pernas. As
lágrimas grossas escorriam por seu rosto, tão abalada, que não percebeu a
forma sutil com que a irmã disse adeus.
 
Charlotte abriu a porta e, no mesmo instante, Ryan surgiu em sua
frente. Ela respirou fundo, já tinha feito sua parte da forma correta, era o
momento de se retirar.
 
— Ela está bem. Quero dizer, ficará bem. Não deixa mais ela voltar
para lá, Carmen vai saber que contei tudo e não será bom. E, por favor,
continue cuidando dela, ela vai precisar de muito apoio ainda — Charlotte
pediu em um tom baixo.
 
— Não precisa me dizer como cuidar da minha mulher. — Ryan
disse em um tom seco — Se você tiver feito alguma coisa…
 
— Eu não fiz nada, apenas conversamos. — Charlotte interrompeu
— Preciso voltar para casa, pode mandar que alguém me leve? 
 
— Tudo bem. — Se virou para o melhor amigo, que também estava
ali — Pode cuidar disso?
 
— Claro. — Derek disse e olhou para Charlotte — Vem por aqui.
 
— Claro, só… — Respirou fundo — Obrigada por ser bom para
Emma, por cuidar tão bem dela e nunca deixá-la sozinha.
 
Charlotte saiu e seguiu Derek, sem deixar que Ryan respondesse,
mas ele não estava muito interessado em nada que ela tivesse para dizer, de
qualquer forma. Apenas entrou logo em sua sala e, no momento em que
parou em frente a Emma, ela se jogou em seus braços, escondendo o rosto
em seu pescoço.
 
— É tudo pior do que eu pensava. — disse com voz de choro, um
pouco abafada por estar contra o corpo dele.
 
— A gente dá um jeito. Você não está sozinha, eu estou aqui com
você…
Capítulo 64
Após chorar até perder as forças, Emma dormiu nos braços de
Ryan, que nada disse, apenas cuidou e acalentou a garota, que estava
completamente em pedaços à sua frente. Com muito jeito e carinho, ele a
tirou de sua sala, atravessando todo o galpão com ela no colo, colocando-a
com muito cuidado no carro.
 
Ryan não tinha ideia do que havia sido falado naquela sala, mas tinha
certeza de que, o que quer que fosse, era muito ruim, talvez pior do que tudo
que eles possam ter pensado. Porém, já era tarde da noite e tudo o que ele
queria era que ela descansasse. Quando amanhecesse, e se ela estivesse
pronta para falar, ele estaria lá, pronto para ouvi-la.
 
Emma acordou no carro, estava no banco de trás, mas não disse uma
palavra. Ficou olhando pela janela, imersa nos pensamentos e em toda a
confusão de sua mente, e estava encolhida, como se fosse uma bolinha. Ryan
a viu, mas não disse nada, não queria invadir o espaço dela. Esperaria. Focou
apenas em dirigir. Quando chegaram a casa, Ryan abriu a porta do carro para
ela, e até a quis levar no colo, mas ela preferiu ir para o quarto andando.
 
Se jogou na cama, respirando fundo e devagar, para que não chorasse
mais. Estava cansada de tudo e só queria voltar a dormir. Ryan trocou de
roupa rapidamente e deitou com ela, acolhendo-a em seus braços, e se
manteve acordado por mais alguns minutos, até dormir também. Imaginava
que a noite seria curta para descansar o quanto precisavam para enfrentar o
dia seguinte. O que Ryan não esperava é que ela fosse ainda mais curta.
 
Seu telefone começou a tocar tão cedo, que ele duvidava que o céu já
estivesse claro e, bufando, decidiu atender. Se estavam ligando naquele
horário, algum bom motivo, tinham. Estranhou completamente ao ver que o
número na tela era de Steven.
 
— Fala! — Ryan mandou, ao atender a chamada sem nenhuma
vontade.
 
— Preciso falar com a Emma, ela não atende as chamadas e eu sei
que ela está na sua casa devido ao rastreador. — Steven falou após revirar os
olhos. Ele realmente preferia lidar com sua chefe do que com Ryan — O
assunto é realmente sério.
 
— Me fala o que é. Emma teve um momento difícil e eu não vou
acordá-la a toa. — Ryan falou firme, fazendo Steven respirar fundo.
 
— Acho adorável que você seja tão protetor, — foi sarcástico — mas
acho que vou precisar te lembrar de que ela é minha chefe e ela tem
responsabilidades na máfia. Você não pode protegê-la do trabalho dela. E
mais, eu não tenho que te falar sobre os problemas daqui, simplesmente
porque você tem um relacionamento com ela.
 
— Eu não me importo com o que você acha, ou deixa de achar. Ou
você diz o que é, para eu filtrar antes de acordá-la, ou não vai falar com ela,
é simples assim. — Ryan afirmou sem dar importância ao que o Steven
havia dito — O que vai ser?
 
— É sobre a casa dos pais dela, aconteceram umas coisas lá. —
Disse, se sentindo vencido. Steven estava estressado e Ryan não estava
ajudando em nada — Pode passar o telefone para ela agora?
 
— Não, isso não é tão importante, espera ela acor…
 
— O pai dela tá morto, porra! — Steven falou estressado — Dá pra
acordar a Emma agora, ou vai esperar o velório?
 
— Ela vai te ligar logo. — Foi tudo o que Ryan disse, antes de
desligar o telefone, ignorando os xingamentos ditos por Steven.
 
Respirou fundo, olhando para Emma, que continuava dormindo
abraçada a um travesseiro. Não era uma notícia fácil de dar, mesmo sabendo
da péssima relação que ela tinha com a família. Se uma conversa sincera
com a irmã já a havia deixado tão mal, como ficaria ao saber da morte do
pai?
 
Ryan se aproximou dela, tocando seu rosto com carinho, e sorriu
pequeno quando ela começou a bater os cílios enquanto os olhos piscavam
em seu processo lento de acordar. Emma sorriu um pouco ao vê-lo ali, tão
perto dela, mas em seguida fechou os olhos para voltar a dormir.
 
— Bom dia! — Falou carinhoso — Você precisa acordar, meu amor.
 
— Eu não quero. — Emma resmungou com voz de sono, depois
abriu os olhos sentando de uma vez — Aconteceu alguma coisa?
 
— Aconteceu. — Ryan concordou — Preciso que você fique calma e
olhe para mim. Não esqueça que estarei sempre aqui com você.
 
— Eu sei, mas o que aconteceu? — Emma perguntou, sentindo a
angústia brotando dentro de seu peito.
 
— Eu não tenho nenhum detalhe, mas você precisará ligar para o
Steven. Depois disso, trocamos de roupas e vamos onde tivermos que ir,
tudo bem? — Perguntou, recebendo um aceno positivo dela como resposta
— Seu pai está morto.
 
Emma ficou em silêncio um minuto inteiro, olhando para Ryan
completamente sem expressão e sem reação, esperava que ele dissesse que
era uma brincadeira de mal gosto, ou algo assim. Esperava que ele falasse
que era um engano, ou mesmo que ele estivesse só ferido, mas morto? Morto
não. Era o melhor pai do mundo? Não, Emma tinha consciência disso, mas
ainda era o seu pai e ela tinha afeto por ele.
 
— Acho que não entendi. — Emma falou, rindo de nervosismo, e
uma pitada de desespero — O que você disse?
 
— Sinto muito, amor. — Ryan disse, abraçando a garota que já tinha
lágrimas nos olhos — Vamos ligar para o Steven e ele vai explicar tudo.
 
— Meu pai está morto, morto! — Emma falou em um tom triste, um
pouco quebrado — Eu não quero acreditar nisso! Sei tudo o que ele era, mas
ainda assim está doendo.
 
— Sei que sim. — Ryan disse baixo, apertando-a um pouco mais em
seus braços. 
 
Não tinha muita coisa que pudesse dizer, sabia que tinha que esperar
ela se recuperar do baque da notícia para agirem, e sabia que não seria nada
fácil para Emma, mas não a deixaria sozinha de forma alguma. Por isso,
apenas a acalentou quando sentiu as lágrimas molhando seu ombro.
 
Capítulo 65
Emma respirou fundo limpando os olhos alguns minutos depois,
estava confusa e sentia seu peito doer e chorava a morte de John. Mesmo
que ele não fosse um bom pai, ainda era difícil e não era assim que ela
desejava que as coisas acabassem, não queria que fosse dessa forma. Antes
de ligar para Steven, se levantou e decidiu se vestir, se conhecia o suficiente
para saber que, assim que tivesse alguma notícia, iria atrás, então era melhor
estar pronta.
 
De banho tomado e roupa vestida, escolheu propositalmente um
visual completamente preto, estava em luto. Prendeu o cabelo e pegou um
óculos escuro, ninguém precisava ver seus olhos vermelhos. Ryan se
arrumou junto dela, não a deixaria sozinha.
 
Emma se sentou na cama com seu celular na mão, vendo que havia
inúmeras chamadas e mensagens de Steven, e algumas de Darah.
Responderia à amiga depois.
 
— Finalmente! — Steven exclamou ao atender a chamada — Ele já
te contou o que aconteceu? 
 
— Eu já sei sobre o meu pai, mas só isso. O que aconteceu? —
Emma perguntou, seu tom de voz era monótono, quase sem vida.
 
— Eu não tenho muitas notícias, estou indo para sua casa agora.
Estava te esperando, mas como não tive mais notícias desde que liguei para
o Ryan, decidi agir por conta e…
 
— Se você nem sequer está na min… na casa dos meus pais, como
sabe sobre o John? — Emma perguntou, interrompendo-o.
 
— Minha mãe trabalha lá, Emma. Quero dizer, depois de hoje ela
não volta mais para aquela casa. — Steven falou sério — Ela estava lá
quando ouviu os disparos, algumas conversas e, quando tudo ficou
silencioso, ela saiu de onde se escondeu e viu seu pai caído no chão da sala.
Ela me ligou e eu mandei que ela saísse de lá o mais rápido possível.
 
— E a minha mãe? E a Charlotte? — Emma perguntou, se sentindo
atordoada, mas precisava respirar fundo, tinha que resolver a situação.
Depois choraria, deixaria até a raiva para depois.
 
— Eu não tenho tantas notícias assim, sinto muito. — Steven
respondeu — Estou chegando lá, te ligo em alguns minutos.
 
— Eu também estou indo. — Emma respondeu e desligou a
chamada.
 
Respirou fundo algumas vezes, precisava ficar calma e pensar em
tudo de maneira fria, para que nenhuma informação passasse batida. Agiria
assim, era sua obrigação como chefe.
 
— Ontem a Charlotte me disse que a casa tinha ouvidos e nos fez
conversar em outro lugar. Ela me contou tudo o que a Carmen fez. Minha
mãe tem um caso com meu cunhado, isso é tão… bizarro. — Emma
começou a falar, se sentindo um pouco anestesiada, e Ryan prestava total
atenção nela. — A Charlotte também agiu de um jeito muito estranho
quando estava indo embora, como se estivesse se despedindo. O que pode ter
acontecido? E se a Carmen matou o John e a Charlotte e, agora, vai vir atrás
de mim? Minha mãe…
 
— Calma! — Ryan pediu abraçando Emma apertado, queria que ela
se sentisse segura. Não disse nada, mas, pensando naquele momento,
Charlotte realmente parecia estar se despedindo com todos aqueles pedidos e
agradecimentos — Ninguém vai conseguir te tocar, ou te machucar, eu estou
aqui com você.
 
— Obrigada por isso. — Emma agradeceu sincera, enquanto tentava
reprimir suas emoções — Ela me contou tudo para evitar que algo
acontecesse comigo, mas, e se algo tiver acontecido com ela? 
 
— Nós vamos lá agora, vamos descobrir o que realmente aconteceu.
Não precisa ficar criando teorias assim, se torturando dessa forma. — Ryan
falou olhando nos olhos castanhos claros dela — Vamos dar fim nisso.
 
— Vamos. — Emma falou, ficando de pé.
 
Enquanto saiam do quarto, o telefone de Ryan tocou e ele estranhou
ao ver o nome de Derek tão cedo, esperava que não fosse nenhum problema,
porque não tinha a intenção de deixar Emma sozinha, deixaria qualquer
problema para depois, iria priorizar a garota que amava.
 
— O que aconteceu? — Ryan perguntou no momento em que
atendeu a chamada, atraindo a atenção de Emma, que já havia descido um
degrau.
 
— O John Lancaster está morto. — Derek falou e Ryan estranhou,
era muito cedo para a notícia já estar correndo.
 
— Como você sabe disso? — Ryan perguntou desconfiado.
 
— É uma história bem engraçada, sabe. — Derek desconversou e
respirou fundo — A irmã da Emma está aqui e ficou sabendo por um
funcionário da casa, que encontrou o corpo, e depois ela recebeu uma
ligação bem ruim.
 
— A Charlotte está na sua casa? — Ryan perguntou, ainda sem
acreditar no que estava ouvindo — Como isso aconteceu? Que ligação?
 
— Muitas perguntas. Você já estava sabendo sobre o John, né? —
Derek perguntou.
 
— Derek, responde direito. — Ryan exigiu. Emma olhava para ele
ainda confusa, como sua irmã havia ido parar na casa do Derek? — E, sim,
estamos indo para lá.
 
— Vocês estão indo lá? — Derek repetiu e Ryan pode ouvir uma voz
no fundo — Ela tá falando que isso é uma ideia muito ruim e que pediu,
ontem, para a Emma não voltar mais lá.
 
— Estamos indo para a sua casa então. — Ryan declarou firme e
desligou a chamada.
 
— Acho que não entendi direito, o que está acontecendo? — Emma
perguntou verdadeiramente confusa — Como a Charlotte está com o Derek?
Como assim vamos para a casa dele? Temos que ir à casa dos meus pais.
 
— Primeiro, vamos falar com sua irmã, ela está sabendo de alguma
coisa. Manda o Steven cuidar de tudo lá, inclusive sobre o corpo, mande-o
para uma necropsia. Eu sei que é sobre seu pai, mas você precisa investigar a
situação. — Ryan falou olhando para Emma — Depois nós cuidamos de um
velório para ele, tudo bem? 
 
— Tudo bem. — Emma concordou, chateada. Queria ir até lá, mas,
no fundo, se perguntava se estava realmente pronta para ver uma cena como
aquela.
 
Emma digitou o número de Steven quando entrou no carro, e
respirou fundo, era muita coisa em sua mente ao mesmo tempo, mas
precisava manter o foco.
 
— Já está na casa? — Emma perguntou quando a chamada foi
atendida, mas não foi a voz do Steven que ela ouviu.
 
— Estamos aqui, tivemos uns probleminhas, mas já entramos na
casa. Não tem mais ninguém por aqui. Sem soldados, sem funcionários,
nada. — Darah falou — E, eu sinto muito amiga, eu realmente sinto.
 
— Obrigada. — Emma respondeu, respirando fundo, contendo a
vontade de voltar a chorar — Mas precisamos focar em quem fez, e…
 
— E tá tudo bem você ficar triste, ok? Pode chorar, ninguém vai te
julgar por isso. Não importa o quanto vocês já brigaram, eu sei que você
tinha afeto por seu pai. É estranho até para mim, porque o conheço a minha
vida toda. Quando tudo estiver resolvido aqui, vou te ver. — Darah falou
compreensiva — Eu sei que você precisa ser forte por ser a chefe, mas
chorar não é fraqueza, ter sentimentos não é uma fraqueza. Eu te amo muito
e respeito muito a mulher forte que você está se tornando.
 
— Darah… — Emma começou a falar, mas a voz não saia, apenas
algumas lágrimas e ela precisou de um momento para se recuperar. Era bom
ouvir aquilo, lhe trazia o conforto que precisava — Obrigada por estar
comigo.
 
— Eu sempre estarei. — Darah respondeu sincera.
 
— Preciso que você faça algumas coisas. — Emma falou, voltando
ao foco principal da ligação — Primeiro, quais foram os problemas que
encontraram aí?
 
— Tinham alguns soldados, mas eles não eram dos nossos, tenho
certeza. Eles atiraram no nosso carro, mas acho que não éramos os alvos.
Não conseguimos capturar nenhum deles com vida, foram todos mortos.
Eram eles, ou nós. — Darah explicou.
 
— Melhor que tenha sido eles mesmo. — Emma concordou — Tá!
Então, segundo, manda o corpo do meu pai para a autópsia. E procura por
coisas da Carmen.
 
— A Charlotte também não está aqui. — Darah avisou.
 
— Eu sei, estou indo atrás dela. — Emma explicou — Ah! Manda o
Scott investigar todas as contas bancárias da Carmen. Vou mandar a foto de
uma, diga para ele começar por ela.
 
— Certo! Quando acabarmos aqui, onde posso te encontrar? —
Darah perguntou, e Emma pode ouvir a voz de Steven ao fundo.
 
— Te mando a localização por mensagem. — Emma respondeu.
 
— Ok! Eu vou resolver aqui. Fica bem. — Darah falou e Emma
suspirou, estava complicada a parte sobre ficar bem.
 
— Ok, obrigada. Até depois. — Emma se despediu e desligou, mas
antes de guardar o celular mandou os dados para Darah.
 
Ryan colocou a mão na perna dela, apertando o local com carinho,
como uma forma de demonstrar apoio. Emma sorriu pequeno para ele e
respirou fundo, seria um longo, longo dia, que estava apenas começando.
 
Capítulo 66
Charlotte respirou fundo quando a porta foi fechada. Derek a olhava
completamente sem expressão, não tinha certeza se odiava a mulher a sua
frente, mas com certeza não gostava dela, tudo o levava a acreditar que era
ela a responsável por diversos dos problemas que vinham tendo. Não tinha a
intenção de ser simpático, ou legal, faria o que seu chefe mandou e apenas
isso.
 
Derek guiou a Charlotte até o estacionamento. Ela estava quieta e
com um olhar distante, suas expressões corporais não diziam nada. Era uma
folha em branco. Quando entraram no carro, o silêncio preenchia
completamente o ambiente, até o telefone dela começar a tocar. 
 
E após respirar fundo algumas vezes, ela decidiu atender a ligação do
pai.
 
— Onde você está? — John perguntou, sem qualquer cumprimento
antes, sendo direto.
 
— Estou voltando para casa. — Charlotte respondeu seca.
 
— Não volte! — John falou e a filha riu de surpresa.
 
— Como assim “não volte”? — Charlotte perguntou repetindo a fala
do pai e não notou quando Derek a olhou de canto de olho.
 
— Você sabe do que estou falando. Estou farto da sua mãe e eu
resolverei isso hoje! — John falou, decidido — Emma não está aqui, com
certeza está com Ryan, então sei que ela vai ficar bem.
 
— O que eu faço? — Charlotte perguntou, sentindo-se perdida.
 
— Você arrumará um lugar para passar a noite e amanhã organizo
seguranças para você. Depois você mudará a sede da empresa para outro
lugar e viver lá, rodeada de seguranças. — John instruiu — Fizemos o que
fizemos para pôr a empresa no seu nome para que você pudesse viver, a
Emma já está encaminhada.
 
— Eu não entendo, por que está fazendo algo agora? — Charlotte
perguntou sentindo vontade de chorar.
 
— Porque eu só percebi que não estava agindo certo quando percebi
que não tinha mais uma família. Sei que alimentei a raiva da Emma contra
você, quando disse que tinha dado um golpe para ter posse da empresa, mas
isso era ainda mais fácil de explicar do que toda a sujeira que deixei por
baixo do tapete ao longo desses anos. Sei que sempre fui um péssimo pai,
mas virar as costas para o que a Carmen fazia foi o meu pior erro. — John se
explicou — Coloquei você em um casamento que afundou e ainda fiz isso
com a Emma. Só quero tentar me reparar de alguma forma.
 
— Pai… — Charlotte começou a falar e só então percebeu que já
estava chorando. Estava tão imersa no que seu pai falava, que não percebeu
quando Derek encostou o carro e ficou apenas observando.
 
— Eu não tenho muito tempo. Então, vai para o lugar que você
considere mais seguro e, de preferência, use dinheiro vivo em qualquer
transação que fizer, nada de cartão. Amanhã eu te acho para te mandar para
algum lugar seguro. — John reforçou as instruções — Você vai ficar bem e
eu darei um jeito na situação aqui em casa.
 
— Tudo bem, eu vou ver o que posso fazer. — Ela respondeu, atônita
e sem ter ideia do que fazer.
 
— Vai ficar tudo bem. — John falou e então desligou a chamada.
 
Charlotte respirou fundo e limpou os olhos, era hora de enfrentar o
mundo, mesmo que estivesse com muito medo de que sua mãe lhe achasse.
A Lancaster acreditava que não tinha mais medo de morrer, mas tinha muito
medo de como morreria e, conhecendo o sádico do ex marido, sabia que ele
faria isso da pior forma possível, ainda com o apoio de Carmen.
 
— O que está acontecendo? — Derek perguntou desconfiado e só
então Charlotte notou que o carro estava parado.
 
— Por que estamos parados? — Perguntou e respirou fundo,
balançando a cabeça como quem espanta alguns pensamentos — Não
importa, eu vou ficar aqui mesmo! — Respondeu colocando a mão na
maçaneta para abrir — Obrigada pela carona.
 
— Ainda não! — Derek respondeu, travando as portas — Por que
seu pai ligou mandando que você não voltasse para casa?
 
— É uma história muito complicada. — Charlotte respondeu dando
de ombros.
 
— Acredito que temos tempo, pode falar tudo. — Ele exigiu, fazendo
a mulher no banco dos passageiros suspirar exausta.
 
— Vou falar a versão resumida. Eu não sou o monstro que você
imagina e, não, não estou com o Daniel. E voltar para casa pode colocar
minha vida em risco. — Charlotte respondeu, ainda com a mão na maçaneta,
pronta para sair do carro.
 
— E para onde você vai? Eu te levo. — Derek decidiu, depois alguns
segundos pensando, e já ligou o carro.
 
— Eu não tenho para onde ir. — Charlotte respondeu, sincera e triste.
 
— E por que você queria ficar aqui, no meio do caminho? — Derek
questionou desconfiado.
 
— Porque eu não tenho amigos, não tenho namorado, ou marido, eu
não tenho uma família de verdade. Não falando da Emma, mas nós não
temos mais laços nenhum. — Charlotte deixou escapar uma risada soprada
de tristeza — Eu não tenho ninguém e nem para onde ir. Eu ia ficar aqui para
procurar algum lugar discreto onde o Deniel não pensaria em me procurar,
pelo menos até amanhecer.
 
Derek olhou para ela alguns segundos em silêncio, ponderando o que
falar e o que fazer, até tomar uma decisão.
 
— Eu não gosto de você, não confio em você e, definitivamente, não
teria problema nenhum em te matar, entende isso? — Derek perguntou
firme.
 
— Eu sei disso. — Ela afirmou um pouco confusa — Onde você está
tentando chegar?
 
— Eu vou te levar para a minha casa, mas com algumas condições.
 
— Quais?
 
— Primeiro, seu quarto vai ficar trancado durante a noite e eu vou
por um segurança na sua porta. — ele começou a explicar sua ideia —
Segundo, não vai ficar com o seu celular e não vai poder entrar em contato
com ninguém até de manhã.
 
— Por mim, tudo bem. Isso me parece muito seguro para mim. —
Charlotte respondeu no mesmo momento.
 
— Se você aprontar alguma coisa, eu vou te matar. — Derek avisou
enquanto Charlotte colocava o cinto novamente.
 
— Eu não vou fazer nada. — Ela garantiu.
 
Derek voltou a dirigir, mudando a rota dessa vez e indo em direção a
sua casa, mas não fez um caminho direto, deu muitas voltas pra deixar o
caminho até lá um pouco confuso, e voltaram ao silêncio inicial.
 
Ao chegar em casa, que se assemelhava bem a uma mansão, mas não
chegava ao porte de uma, Derek estacionou o carro na garagem, que tinha
mais outros veículos importados, e saiu do carro. Charlotte o seguiu em
silêncio até a sala de estar da casa.
 
— Finalmente você cheg… — Helena começou a falar, mas se
interrompeu ao ver Charlotte — Essa não é a irmã psicopata da chefinha?
 
— Sim, é ela mesma. — Derek respondeu e suspirou ao ver a
expressão de Helena — Eu vou te explicar tudo.
 
— Eu realmente espero que sim. — Helena falou, olhando
desconfiada para Charlotte.
 
— Vamos, Charlotte, vou te mostrar onde você vai ficar. Vou colocar
um soldado na sua porta. Se você sentir fome, ou algo assim, é só falar com
ele. — Derek falou e Helena cruzou os braços, o encarando — Minha deusa,
eu vou te explicar tudo.
 
— Vai fazer o que você tem que fazer e eu vou ficar aqui esperando.
— Falou e olhou pra Charlotte — E você…
 
— Eu já sei, você não gosta de mim, não confia e se eu fizer algo, vai
me matar. Eu sei — Charlotte falou, a interrompendo. Já tinha ouvido aquilo
incontáveis vezes, mas sabia que a culpa era totalmente sua.
 
— Ótimo! — Helena respondeu e se sentou no sofá — Vai logo,
Derek, porque temos muito o que conversar.
 
— Eu já volto. — Derek respondeu e beijou suavemente os lábios
dela, se afastando sutilmente e voltando a indicar o caminho para Charlotte.
 
Derek sabia que teria que enfrentar uma Helena brava, mas agiria da
maneira que achava correta. Se Charlotte fizesse algo errado, se livraria dela
sem peso na consciência, tinha planos de falar com Ryan logo cedo e tudo
ficaria resolvido.
 
Capítulo 67
Emma respirou fundo enquanto Ryan estacionava o carro em frente
a casa de Derek. Sua cabeça estava uma bagunça, mas se mantinha firme,
como sabia que deveria ser. Ela não era mais indefesa e, se tivesse que agir,
faria isso. Contou até dez mentalmente e saiu do carro, ao menos sentia
como se estivesse, finalmente, chegando ao fim desse problema que vinha
ocupando a maior parte da sua vida.
 
— Estou bem aqui, ao seu lado, para tudo que você precisar. — Ryan
falou baixo ao segurar a mão dela.
 
— Eu sei, e isso me deixa muito mais confiante para fazer qualquer
coisa. — Ela respondeu, enquanto suspirava.
 
Ryan apertou a mão de Emma um pouco, então começou a guiá-la
até a entrada da casa. Derek não morava em uma super mansão, mas, ainda
assim, era uma casa muito grande e com muito luxo, muito espaço e
vizinhos que ficavam muito longe. Haviam alguns seguranças por ali e
Emma podia vê-los em pontos estratégicos. Ryan tocou a companhia e a
porta logo foi aberta por Helena, que tinha uma expressão séria no rosto, que
logo amenizou ao ver o casal em sua frente.
 
— Chefinha! — Exclamou um pouco surpresa, pois, apesar de
Charlotte estar ali, achou que o casal demoraria um pouco mais para
aparecer — Chefe, entrem. O problema de vocês está na sala.
 
— O problema que você fala é a minha irmã? — Emma questionou
enquanto entrava com Ryan.
 
— Sim, ela mesma. — Helena falou, dando de ombros — Desculpa
chefinha, mas o histórico dela não é dos melhores.
 
— Eu não vou falar nada, você não está tão errada sobre isso. —
Emma respondeu enquanto caminhava.
 
Na sala, Derek estava sentado no sofá, mas se levantou no momento
em que os outros chegaram, e Charlotte continuou sentada na poltrona em
que estava, tinha o olhar perdido e distante, sequer se moveu.
 
— Está tudo bem? — Emma questionou, atraindo a atenção da irmã.
 
— Não, não tem nada bem! — Charlotte respondeu, olhando para
irmã mais nova e respirou fundo, o tom de voz era baixo, mas havia muito
desespero implícito nele — Você sabe que quem matou o John, foram nossa
mãe e o Deniel? E a próxima sou eu. Não que eu morrer seja injusto.
 
— Ontem, você sabia que ela ia fazer alguma coisa! — Emma
afirmou séria — Você não quis conversar lá, não me deixou voltar e quando
foi embora, estava se despedindo, eu demorei a perceber. Se você sabia, por
que voltou?
 
— Não sabia, mas conheço a Carmen e sabia que, se ela imaginasse
que o jogo estava começando a virar contra ela, ela começaria a agir de
maneira muito mais radical. — Charlotte explicou — E eu ia voltar
porque… porque eu não tenho para onde ir. E não importa onde eu passasse
o meu cartão, ela me acharia. Aceitei vir para cá porque sabia que ela não
me acharia aqui.
 
— E você sabe como achar ela? — Ryan perguntou sendo direto —
Se matarmos eles, vocês duas não precisarão mais ficar se escondendo.
 
— Tenho algumas sugestões, mas não acho que ela ficaria em
qualquer lugar que eu conheça, sabendo que posso contar para vocês. —
Charlotte respondeu dando de ombros, cansada — você investigou os dados
que eu te passei ontem? 
 
— Não, ainda não tive tempo, de ontem para hoje. — Emma
respondeu um pouco frustrada, sentindo que deveria ter lidado melhor com
as próprias emoções e focado no trabalho — Vou fazer isso agora.
 
— Vocês acreditam em tudo o que ela fala? — Helena indagou
confusa — Eu sei que estou caindo de paraquedas nisso tudo que está
acontecendo, mas, ainda assim, ela estava envolvida com eles esse tempo
todo e agora é uma mulher indefesa que todo mundo confia?
 
— Quem tem uma arma na mão é você, não eu, Helena. Estou apenas
contando o que sei, não obrigando ninguém a aceitar o que digo, ou acreditar
em mim. — Charlotte respondeu cansada — Fui ameaçada por todas as
pessoas nessa sala, não acho que alguém aqui confie em mim.
 
— Estamos cientes sobre isso e entendo a sua desconfiança também,
Helena, mas é por isso que usaremos o que ela falar, para investigar, e não ir
atrás como cães adestrados. — Emma respondeu firme, respirando fundo —
Acho que o lugar mais adequado para continuarmos essa reunião é no meu
galpão, já que esse é um problema meu e eu preciso falar com o meu
pessoal.
 
— Certo, nós vamos para lá agora ou… — Ryan começou a
perguntar, mas Emma interrompeu sua fala.
 
— Nós vamos agora. Acho que lá é mais adequado do que aqui.
Podemos levar a Charlotte e lá eu já falo com o Steven e o Scott, sobre
procurar a Carmen e o Deniel. Se a gente achar eles hoje, já quero dar fim
nisso, no mais tardar, amanhã. Chega, estou saturada desse problema! —
Emma falou decidida.
 
— Podemos ir para auxiliar, caso precisem de ajuda. — Helena
ofereceu.
 
— Não, vocês vão cuidar das obrigações de vocês. Se for necessário,
entrarei em contato. — Ryan respondeu sério e Helena apenas acenou
concordando.
 
— Tudo bem, mas nos avise de qualquer coisa. — Derek respondeu e
Ryan Apenas concordou.
 
— Vamos, Charlotte, estou com pressa para resolver isso. — Emma
falou e respirou fundo — Quanto antes acabarmos isso, mais rápido nos
libertamos.
 
— Eu realmente preciso ser livre. — Charlotte concordou ficando de
pé —  Vou cooperar com tudo que eu puder, e souber.
 
— Acho bom mesmo. — Emma respondeu.
 
Se despediram rapidamente, voltando para o carro. Charlotte, no
banco de trás, ficou em silêncio, olhando pela janela, enquanto Emma
avisava Darah de que estavam indo para o galpão em que treinavam, para
poderem fazer um plano final e efetivo.
 
Emma já se sentia exaurida, mas não ia parar até chegar ao final, até
vencer. Eram tantas as coisas dentro de sua cabeça, que lhe deixavam
parcialmente anestesiada. Seu pai estava morto e sua mãe era a assassina e
sua irmã, no banco de trás do carro, faria parte da reunião. 
 
Era como se o mundo tivesse virado de cabeça para baixo, mas
Emma olhou para o lado e sorriu pequeno, encarando Ryan, sentindo-se bem
em, pelo menos, não estar sozinha no meio do caos.
 
Capítulo 68
Entraram na academia, o local em que vinha fazendo seu
treinamento desde que havia começado e que já era de total controle de
Emma. Lá dentro, Darah andava de um lado para o outro com o telefone no
ouvido, enquanto Steven digitava em seu celular e Scott estava sentado,
próximo à mesa, com três telas em sua frente. Era perceptível como o clima
estava tenso e os soldados, que estavam por ali, estavam agitados. O que não
era nada surpreendente, pois seu chefe havia morrido e ainda não havia
explicações.
 
— Finalmente você chegou! — Darah exclamou no momento em que
viu a melhor amiga entrando.
 
— O que está acontecendo? — Emma perguntou olhando ao redor —
A notícia já se espalhou? 
 
— Sim, e estamos tendo problemas com fornecedores, clientes e os
soldados. — Steven falou, se aproximando — E por que a Charlotte está
aqui? 
 
— Ela vai nos ajudar a encontrar a Carmen e o Deniel. Certo,
Charlotte? — Emma perguntou incisiva, se virando para irmã, que estava
logo atrás dela.
 
— Sim, exatamente isso. — Respondeu, afirmando com um aceno.
 
— Ótimo! Vamos começar a resolver as coisas por isso. — Emma
falou e olhou para Scott — Você vai sentar com ele e passar todas as
informações que tiver, até acharem qualquer rastro, entendeu?
 
— Entendi sim. — Ela concordou no mesmo momento.
 
— Scott! — Emma chamou, atraindo a atenção do hacker — O que
você está fazendo? 
 
— Estou tentando rastrear o assassino do John pelas câmeras da casa.
— Scott respondeu de imediato. Sabia que o momento pedia seriedade e não
iria tentar provocar, ou agir de maneira não profissional.
 
— Você vai usar as informações que ela passar para rastrear. Quando
tiver informações consistentes, me avisem imediatamente! — Emma
demandou, firme e autoritária — Pode ir até lá, Charlotte, e não esqueça de
que essa é sua única chance de provar tudo o que me disse. Eu não vou te
perdoar duas vezes.
 
— Eu sei, não precisa se preocupar com isso. Com licença. —
Charlotte respondeu séria e respirou fundo, se afastando.
 
— Agora é com você. — Emma falou, indicando o Steven.
 
— Pode falar. — Steven respondeu rápido, todos tinham urgência em
resolver os problemas que surgiam aos montes.
 
— Quero que marque uma reunião com os comandantes do meu pai e
os soldados do galpão principal, para hoje a noite. Informe a eles que não
aceito faltas e o assunto é sério e que, por hoje, que apenas continuem o
trabalho normalmente. — Respondeu séria. Emma sabia que, mesmo que
dentro de si, tudo estivesse bagunçado, agora ela era oficialmente a chefe e
não estava com tempo para sofrer.
 
— Como vamos fazer sobre os fornecedores que estão alegando que
não vão continuar porque não confiam mais na situação dos Lancasters? —
Darah perguntou com o celular na mão, havia acabado de receber outra
mensagem de aviso.
 
— Temos produtos para quanto tempo sem o abastecimento? —
Emma questionou olhando Steven.
 
— Quatro dias, no máximo. — Steven respondeu — Temos uma
exportação para a próxima semana, então precisamos resolver isso agora.
 
— Então temos dois dias para resolver isso. Avise os clientes desses
dias que está tudo bem, não vamos mais enrolar sobre o Deniel, até porque o
nosso prazo com o Marco está no limite. Por mim, hoje mesmo
resolveríamos isso, mas precisamos achar eles.  — Respirou fundo —
Depois, é bom que o Marco cumpra a palavra dele, com o acordo a gente
restaura todo o fornecimento que precisamos.
 
— Marco é um cretino, mas leva muito a sério tudo o que propõem,
então ele cumprirá o que falou. — Ryan se pronunciou — Acho que essa é
uma boa decisão.
 
— Vou marcar a reunião para hoje. — Steven avisou, se afastando
com o telefone na mão.
 
— Como você está? — Darah perguntou, parando de frente para a
melhor amiga.
 
— Meu pai, mesmo sendo um cretino, morreu assassinado pela
minha mãe, que é amante do ex-marido da minha irmã e é a idealizadora de
todos os atentados contra a minha vida. — Emma respondeu, falando um
pouco rápido, e respirou fundo — Está tudo ótimo.
 
— Emma… — Darah começou a falar, mas a amiga negou com um
aceno.
 
— Eu sei o que você vai falar, mas não temos tempo agora. — Emma
puxou o ar mais uma vez — Agora temos que ser a chefe e a conselheira, ou
não vamos conseguir segurar nada no lugar.
 
— Tudo bem, você está certa. — Darah acenou — Você precisa
começar conversando com os soldados que trabalham aqui, só você vai saber
o que falar para acalmar os ânimos.
 
— Organiza eles, fala que vai ter uma reunião agora e que vai ser
rápida, apenas para esclarecimentos. — Emma explicou — Enquanto isso eu
vou pensando no que falar.
 
— Eu volto logo — Darah se afastou, indo fazer o que Emma havia
instruído.
 
— Você está indo bem. — Ryan falou baixo olhando para Emma —
Você nasceu para isso.
 
— Estou apenas fazendo o que acho que tem que ser feito, seguindo
o instinto e torcendo para dar certo — Emma respondeu suspirando.
 
— E está fazendo isso muito bem, você não está sozinha. — Ryan
falou sério — E eu não estou falando de mim, estou falando que, além de
mim, você criou uma rede firme, Steven, Darah, Scott, e vários outros
soldados, já te viam como a chefe, isso vai pesar muito agora. Vai dar tudo
certo.
 
— Eu vou fazer dar tudo certo. — Emma respondeu e o telefone de
Ryan tocou antes que ele respondesse — Eu vou falar com a Charlotte
enquanto você atende.
 
— Certo. — Ryan concordou vendo o nome do pai na tela.
 
Ele atendeu a chamada, saindo para um lugar mais vazio, e
acompanhou Emma com os olhos, se aproximando da irmã. Não confiava
em Charlotte, mas se Emma havia escolhido isso, apenas observaria para
agir quando, e se, fosse necessário. Estava orgulhoso de como Emma estava
lidando com tudo com muita maturidade e controle.
 
— Oi, pai! — Ryan falou baixo, com a voz séria.
 
— Onde você está? — Donald perguntou sério — Vim aqui no seu
escritório e encontrei só aquela ruivinha por aqui, você deveria estar
trabalhando.
 
— Estou ocupado, se o senhor puder ser mais direto. — Ryan pediu
em um tom seco, quase irritado — O que o senhor quer?
 
— Precisamos conversar sobre o que faremos agora que os
Lancasters estão fora do jogo. É o momento de tomarmos posse completa da
cidade. — Donald falou como se fosse óbvio.
 
— Eu não vou discutir isso por telefone, me espera aí que eu já estou
indo. — Ryan falou, se controlando o máximo que podia, mas estava muito
irritado com o pai.
 
— Você tem trinta minutos para chegar aqui, ou ponho meu plano em
prática sem te ouvir. — Donald decretou e desligou a chamada, deixando o
filho muito estressado. 
 
Ryan olhou para o celular e respirou fundo, não ia contar isso para
Emma, achava melhor poupar ela de mais um problema, um que ele poderia,
e iria, evitar. Guardou o celular e foi se despedir de Emma para que pudesse
voltar ao seu galpão e resolver aquilo. Apesar de não querer sair do lado dela
nesse momento, era o que ele deveria fazer, até porque estava vendo como
ela estava indo bem em fazer as escolhas e tomar suas decisões.
 
Capítulo 69
Ryan entrou no galpão em passos largos e duros, não tinha a menor
intenção de estender a conversa com o pai, não iria abaixar a cabeça, ou
deixar que ele agisse da maneira que quisesse. No fundo, tinha a sensação de
que o mais velho agia assim apenas com a intenção de provocar, mas não ia
se deixar levar dessa vez, era o momento de mostrar que já era independente
o suficiente para tomar decisões.
 
— Chefe, seu pai está aqui e… bom, ele está querendo organizar um
ataque aos pontos dos Lancasters — Victória falou com uma expressão séria
— Ele mandou eu preparar os soldados.
 
— Não vai preparar nada, quem manda aqui sou eu! — Ryan
mandou irritado e ela apenas acenou.
 
— O Hugo está aí também. — A ruiva avisou no momento em que
ele colocou a mão na maçaneta.
 
Ryan entrou na sala sem responder, estava sério e estressado e ainda
encontrou com seu pai sentado em seu lugar, enquanto Hugo estava em uma
poltrona, lendo algo em seu celular. Odiou os ver dentro do seu espaço como
se fossem donos de tudo, mas respirou fundo, não iria começar a brigar por
tão pouco. Precisava ouvir primeiro o que seu pai tinha para falar, para
depois dizer não.
 
— Finalmente você chegou, mas tudo bem, já comecei a organizar
tudo. — Donald falou ficando de pé — Vamos tomar a cidade e ela
finalmente estará apenas sob o nosso poder.
 
— O que acha que está fazendo? — Ryan perguntou sendo direto.
 
— Estou agindo como um homem de negócios e priorizando isso,
teremos tudo. — Donald falou prepotente, fazendo Ryan apertar as mãos
com os punhos fechados.
 
— Não, nós não vamos atacar eles, porque isso significa um ataque
direto à minha mulher!  A cidade, indiretamente, já é nossa! — Ryan falou
firme e sem esclarecer que, quando dizia “nossa”, se referia a ele mesmo e a
Emma — Então, o senhor vai voltar para casa e relaxar.
 
— Avaliamos a situação e, é muito melhor colocar tudo sob o nome
da família O’Donnell, mesmo que vocês já estejam juntos. Ela pode ser só
uma primeira dama da cidade. — Hugo falou, provocando uma risada alta no
mais novo ali.
 
— Serei muito claro com os senhores. — Ryan começou em um tom
frio e cortante — Não ousem fazer nada contra a minha mulher. Tenho muito
respeito por vocês, pois são excelentes chefes da máfia, foram meus
mentores e, bom, um é o meu pai,  mas se eu tiver que escolher um lado,
será o dela. Pai, não me teste, porque estou muito decidido sobre isso.
 
— Você não pode trocar de lado e deixar sua família! — Donald
gritou irritado.
 
— Estou escolhendo a mulher que amo e com quem pretendo formar
a minha família. Eu não vou trair a confiança dela e não vou jogar sujo com
o senhor, as cartas estão todas postas na mesa. — Ryan falou firme — Se o
senhor insistir, terei que ficar contra.
 
— Essa é sua decisão final? — Donald perguntou sério.
 
— Essa é a minha decisão final. Vou me manter fiel ao que acredito e
não pretendo trair Emma de maneira nenhuma. — Ryan respondeu sem
vacilar em nenhum momento.
 
— Certo, se é assim… — Donald falou com um sorriso pequeno,
deixando Ryan confuso. 
 
Antes que Donald pudesse continuar falando, uma batida na porta foi
ouvida e Derek entrou em seguida, com uma expressão séria.
 
— Demorou, mas ainda há tempo de tomar uma decisão importante
para sua vida. — Donald falou olhando para o homem que havia acabado de
entrar — Derek, de que lado você está?
 
— Como assim, senhor? — Derek questionou parando ao lado do
Ryan.
 
— Ryan escolheu se voltar contra nós por causa de uma mulher, vai
ficar ao lado dele, ou do nosso, seus verdadeiros chefes? — Donald
explicou, fazendo Ryan revirar os olhos.
 
— Ele quer atacar a Emma, aproveitando que o John está morto, mas
eu não vou permitir e vou ficar ao lado dela. — Ryan esclareceu para o
melhor amigo e conselheiro.
 
— Pensa bem na sua resposta, porque isso definirá seu futuro agora,
filho. — Hugo falou, olhando para o filho, que riu baixo.
 
— Acho que isso deveria ser óbvio, minha escolha é ficar ao lado do
Ryan. — Derek disse decidido — Mesmo tendo chegado com a conversa já
em andamento, escolho lutar pelo que o Ryan acredita e, nesse caso, também
é o que eu acredito. Ele não seria o homem que admiro e respeito como
chefe, se traísse a pessoa que ele diz amar.
 
— Mas você precisa entender que, com o Ryan desistindo de nos
obedecer, você passa para a condição de herdeiro do cargo de chefe. —
Hugo o lembrou e Derek ficou ainda mais sério.
 
— Estão supondo que eu passaria por cima do Ryan por causa de um
cargo? Acho que não me conhecem bem o suficiente. — Derek declarou
irritado, mesmo não sendo de perder o controle com facilidade — O Ryan é
o chefe e se ele está se opondo aos senhores, eu também estou.
 
— Está abrindo mão de ter o poder da cidade, pois tomando os
pontos dos Lancasters, a cidade passa a ser completamente nossa. — Donald
insistiu mais uma vez.
 
— Acho que o senhor precisará encontrar novos herdeiros. — Derek
avisou em um tom firme, sem vacilar nem por um milésimo de segundo a
voz.
 
— O senhor já está satisfeito? — Ryan questionou, fazendo o pai
arquear a sobrancelha — Pode ir embora da minha sala ciente de que, todos
que estão comigo, não vão trocar de lado.
 
— Isso é muito bom, estou orgulhoso de você meu filho. — Donald
falou, fazendo os mais novos se olharem rapidamente, confusos com a fala.
 
— Estivemos conversando e achamos que está na hora de vocês
assumirem tudo. — Hugo explicou calmo — Só queríamos ver como
reagiriam nessa situação e, é bom ver que os princípios que ensinamos a
vocês foram bem aprendidos.
 
— Que porra é essa que estão falando? — Ryan questionou, olhando
para o pai.
 
— Seria decepcionante se você me obedecesse cegamente, mesmo
que isso significasse trair a mulher com quem você dorme e diz amar. Mas
você se manteve firme, mesmo me conhecendo o suficiente para saber que
eu levaria isso adiante se fosse do meu interesse. — Donald esclareceu.
 
— Isso era um teste? — Derek perguntou, respirando fundo.
 
— Exatamente isso. — Hugo confirmou — E você foi muito bem,
seria bem ruim se você tivesse almejado muito mais o poder do que seu laço
com Ryan. Vocês representam o topo da organização e, se não forem leais
um ao outro, tudo será um caos.
 
— Exatamente. Mas está tudo bem, porque vocês agiram com base
em seus princípios, lealdade e decência. — Donald falou, saindo de perto da
mesa do filho — Essa semana vocês terão posse oficial dos novos cargos,
irão para o galpão principal e assumirão todas as responsabilidades.
 
— Tudo bem, eu não tenho problema nenhum com o trabalho. —
Ryan falou, dando de ombros.
 
— Ótimo! Porque depois eu e sua mãe tiraremos férias. — Donald
disse, sorrindo tranquilo, já que seu plano havia saído como o desejado, sem
mudar nada. Ryan nunca o decepcionou — Tenham um bom dia, crianças.
 
— Nós nos falamos ao longo da semana. — Hugo se despediu,
saindo da sala com Donald.
 
Ryan respirou fundo, buscando dentro de si o máximo de paciência
que poderia ter, enquanto Derek caiu na risada.
 
— Eu não acredito que eles fizeram um teste com a gente! — Ryan
reclamou, indo se sentar em seu lugar.
 
— Foi divertido. — Derek respondeu dando de ombros — Quero
dizer, divertido agora, porque eu fiquei muito irritado deles acharem que eu
poderia ser um traidor.
 
— Eu estava ocupado, mas é bom saber que, agora, o controle geral
será meu. — Ryan disse sorrindo.
 
— Você está pronto para o cargo, não há o que debater sobre isso. —
Derek falou convicto.
 
— É melhor que eu esteja mesmo, porque agora será para valer. —
Ryan disse, mas estava confiante de que seria um bom chefe e que, junto de
Emma, seriam o poder máximo de Boston.
 
Capítulo 70
Emma estava se sentindo ansiosa, o coração disparado no peito,
enquanto andava de um lado para o outro, apertando as mãos. Estava
encharcada de sentimentos e não tinha tempo para lidar com nenhum deles.
Observava os soldados que ficavam no prédio, se agrupando, tinha que falar
com eles e não fazia ideia de como começaria um discurso, apenas torcia
para que tudo fluísse bem. Era a chefe agora e tinha que agir como tal. Não
só por ela, mas por todos aqueles que trabalhavam na organização, tinha que
ser o alicerce de todos, porque era assim que as coisas funcionavam.
 
— Estão todos aqui. — Steven avisou e Emma respirou fundo,
ficando de frente aos soldados, que esperavam por um posicionamento.
 
— Bom dia a todos! Sei que essa manhã começou diferente das
outras e que está todo mundo sentindo o chão instável, mas não quero que se
preocupem. — Emma falou firme, com a voz estável — Podem continuar
trabalhando normalmente, o pagamento continuará caindo exatamente como
dever ser. Estou colocando as peças no lugar.
 
— Você fala bem e anda por aí como se estivesse tudo certo, mas até
ontem tínhamos o John ainda e agora ele está morto. Como você vai lidar
com essa perda? — Um soldado perguntou, encarando a nova chefe — Tem
certeza de que tudo vai continuar funcionando?
 
— Tenho! John não era só o meu chefe, era também o meu pai, e
mesmo assim estou aqui, trabalhando para que tudo continue no lugar e vai
continuar. Sei o que estou fazendo e, mesmo que eu seja muito nova, somos
uma organização grande e bem estruturada. Todos precisam continuar
trabalhando de maneira ativa. — Emma respondeu em um tom alto e claro,
para que todos escutassem bem — E eu sei que tivemos muitos problemas
durante o período de controle do meu pai, mas comigo as coisas vão ser
diferentes. Não aceitarei nada fora de ordem, então, quem quiser sair, por
qualquer motivo que seja, aproveite esse momento de transição de poder,
porque eu não perdoarei ninguém que andar fora da linha.
 
— Está nos ameaçando? — Um soldado perguntou com a expressão
fechada.
 
— Ela só está falando isso para o caso de você estar fazendo algo
errado. — Uma garota respondeu entre os soldados — Por mim está tudo
bem, chefinha, o que você mandar a gente faz.
 
— Eu não quero que ninguém se sinta ameaçado, não é essa a minha
intenção. Só quero que tudo fique esclarecido agora, para que depois não
tenhamos problema. — Emma explicou, mantendo a calma
 
— Alguém quer perguntar alguma coisa? — Steven perguntou em
um tom alto, mas todos ficaram em silêncio — Se é isso então, voltando ao
trabalho.
 
Houve um instante de hesitação entre os soldados presentes, que
pareceu incerto para todos, mas a única opção no momento era acreditar no
potencial da herdeira, mesmo que muitos já estivessem convictos, não seria
assim para todos. Alguns ainda precisariam de maior comprovação.
 
— Quem é a garota? — Emma perguntou em um tom baixo para
Steven.
 
— Mina, ela tem vinte anos e é coreana. Chegou aqui há uns cinco
anos, fugindo do tráfico de pessoas, de uma gangue que estava dando
problema, mas isso já foi resolvido na época. John nunca foi a favor desse
tipo de coisa e não gostava disso, no território dele. Quem recrutou ela foi o
Dylan — Steven explicou em um tom baixo — A gente treinou junto por um
tempo, porque eu também estava sendo treinado na época, agora ela faz
parte da equipe de assassinos profissionais.
 
— Quero que ela esteja na equipe que for atrás do Deniel e da
Carmen. — Emma avisou.
 
— Tem mais alguém em especial que queira na equipe? — Steven
perguntou olhando diretamente para a chefe.
 
— Não, pode escolher os outros. — Respondeu, dando de ombros.
 
— Você foi bem, mas não esquece que a noite tem outra reunião —
Darah falou e Emma suspirou.
 
— A outra vai ser ainda mais complicada, porque envolve todos os
membros, incluindo comandantes. — Emma comentou enquanto suspirava
audivelmente.
 
— Você vai se sair bem de novo, porque você sabe o que está
fazendo e nasceu para ser a herdeira do cargo. Vai dar tudo certo. — Darah
afirmou fazendo Emma sorrir um pouco.
 
Uma exclamação alta de comemoração chamou a atenção das duas e
fez com que Emma se virasse para ver quem, e o porquê, da agitação, vendo
Scott comemorando, enquanto Charlotte parecia ter uma expressão de alívio.
 
— Emma, pode vir aqui, por favor? — Scott chamou, olhando a
chefe.
 
Emma acenou um sim e trocou um olhar significativo com Darah.
Ambas sabiam que, se Scott estava comemorando, era porque tinha
conseguido completar sua missão, localizar Carmen e Deniel. 
 
Em passos firmes e rápidos, Emma e Darah caminharam até a mesa
que Scott estava usando. 
 
Emma estava nervosa e ansiosa, até mesmo um pouco assustada.
Sabia o que teria que fazer quando chegasse o momento, ainda mais se de
fato tivesse a localização, mas uma certeza que tinha era a de que ela mesma
não conseguiria matar a própria mãe.
 
— Encontramos a localização deles — Scott afirmou, jogando na tela
do meio a imagem de uma casa — Eles estão nessa casa. Isso são câmeras da
rua e eu tenho certeza de que eles vão sair daí logo, já é o segundo endereço
que eles estão hoje.
 
— Temos que agir rápido então. — Darah sugeriu.
 
— Darah, avisa o Steven que encontramos. — Emma mandou, mas
manteve os olhos na casa, até que viu a mãe surgindo na imagem — Como
acharam eles?
 
— Rastreei o último uso do cartão e horário, então hackeei as
câmeras do lugar e depois foi só acompanhar ela pelas câmeras. — Scott
explicou, sorrindo orgulhoso do próprio trabalho — Mas a Charlotte ajudou
bastante, falando de hábitos deles e os reconhecendo nas imagens.
 
— Certo, agora é só acabar com tudo isso. — Emma respondeu e o
seu olhar foi direto na irmã — Você vai comigo.
 
— O quê? Não! — Charlotte exclamou um pouco nervosa — Eu não
sei nem atirar.
 
— Você vai, sim, porque temos questões familiares a resolver. —
Emma reforçou firme — Melhor começar a se preparar agora, tenho uma
ligação para fazer.
 
Emma saiu sem dar tempo para Charlotte responder, porque, para ela,
não importava qual era o argumento, não seria útil, Emma estava decidida
sobre aquilo. Ia resolver esse problema em família.
 
Capítulo 71
Era um momento decisivo, importante e assustador. No banco de
trás do carro que Steven dirigia, as irmãs Lancaster se preparavam
mentalmente para o que estava por vir: encarar a mãe. 
 
Não era um sentimento comparável a nada, sua mãe não era só uma
mãe ruim, que as colocava de castigo, negava um doce, não era uma mãe
que proibia de sair no sábado à noite, ou, sendo um pouco pior, uma mãe que
as fazia chorar no almoço de domingo.
 
Carmen era uma mulher intragável, que manipulava as filhas as
ofertando a homens para casamentos como se fossem produtos, traía seu
marido com o marido da filha e planejava as mortes das próprias proles. Ela
não era uma mãe, era um demônio disfarçado. Carmen não se arrependia
nenhum pouco do que havia feito até ali e não tinha a intenção de parar.
 
Não era um jogo, era a vida delas, os sentimentos, os pensamentos.
Emma e Charlotte não tinham certeza do que estava por vir, mas sabiam que
seria um dos momentos mais difíceis de suas vidas.
 
— Darah, a reunião que seria no galpão, remarque para daqui a
quatro dias. — Emma falou em um tom sério, o rosto sem expressão.
 
— Certo, vou enviar uma mensagem avisando. — Ela concordou no
mesmo momento — Você precisa avisar ao Ryan o que está indo fazer, ou
ele vai surtar.
 
— Vou avisar agora. — Emma respondeu pegando seu celular.
 
— E, Emma, — Darah chamou, atraindo a atenção da amiga — você
não vai estar sozinha.
 
— Obrigada. — Ela respondeu com um sorriso pequeno e desviou
sua atenção para o aparelho em suas mãos.
 
Até pensou em fazer uma ligação, mas estava muito nervosa e
conhecia seu quase namorado o suficiente para saber que ele tentaria
convencê-la a esperá-lo, mas Emma sentia que não podia mais esperar, não
podia, mais uma vez, perder o rastro dos dois. Era o momento de colocar os
pontos finais.
 
Emma foi simples e direta na mensagem que enviou a ele, explicando
a situação e para onde estava indo. Não aguardou a resposta, apenas guardou
seu celular e olhou para a irmã, que estava sentada ao seu lado com o olhar
perdido.
 
— Você a mataria? — Emma perguntou, olhando diretamente para a
irmã.
 
— Eu não sei, nunca matei ninguém. Ela seria a primeira pessoa. —
Charlotte respondeu baixo.
 
— Mas, você disse que queria tomar os negócios e…
 
— E ser a melhor e provar meu valor. — Charlotte completou a frase
com certo desdém, se lembrava muito bem do que havia dito —  Eu nunca
treinei para assumir o cargo, eu nunca fui, sequer, cogitada para isso. E nem
sei se realmente quis isso algum dia. Tive medo, fiquei desesperada, mas
não… não nasci para isso, esse mundo. Porém, eu queria te manter longe,
porque achei que seria seguro assim. — Charlotte falou olhando a irmã — E,
sejamos sinceras, a quem eu provaria alguma coisa? A Carmen, que há anos
transava com meu marido dentro da minha casa? Ao Deniel? Que foi um
marido extremamente abusivo que… enfim, é inútil mencionar. Ou ao John,
que assistiu tudo o que me aconteceu e, ainda assim, te enfiou em um
acordo? Eu não tinha por que tentar provar alguma coisa a eles.
 
Emma e Charlotte se olhavam nos olhos, quando o silêncio no carro
foi quebrado pelo sussurro baixo de Steven exclamando um “porra!”, este
que logo foi silenciado pelo olhar duro de Darah. 
 
As pessoas não são feitas completamente de bem, ou mal, são vilões
e heróis, trevas e luz. Charlotte não era um monstro, assim como também
não era um anjo. Havia errado e tinha seus motivos, tentou fazer as coisas do
jeito que acreditava ser o certo, mas a forma com a qual ela via o mundo
tinha muitas distorções e sempre que ela tentava enquadrar seu mundo com o
da irmã, as coisas desalinhavam.
 
Emma havia deixado de ser sua irmãzinha, que se escondia atrás
dela, buscando proteção, e a verdade é que, em algum momento, Charlotte
havia perdido a capacidade de proteger até a si mesma. Se culpava, todas as
noites, por não ter conseguido proteger nem mesmo seu filho, essa era sua
maior dor e o maior segredo em seu coração.
 
— Isso vai acabar hoje. — Emma declarou.
 
— Estou ansiosa por isso. — Charlotte respondeu e respirou fundo
— E você, mataria ela?
 
— Eu não sei. — Emma respondeu insegura e suspirou.
 
— Tudo bem, gente, eu mato ela, não tem problema. — Steven falou
calmo atraindo a atenção das três mulheres no carro, e deu de ombros — Eu
não sou nenhum fã dela também, ou esqueceram que minha mãe trabalhou
pra ela por anos e anos? Eu não.
 
Emma riu ouvindo Steven, enquanto Darah negava em silêncio, o
clima pesado estava se extinguindo.
 
— Acho que o problema está resolvido então. — Emma falou com
um sorriso pequeno — Mas, antes de você colocar as mãos nela, nós
precisamos ter uma conversinha com nossa mãe.
 
— Não vejo problemas com isso. — Steven respondeu — Mandei
dois carros com os nossos na frente, para já limparem o caminho. Então,
quando chegarmos lá eles, provavelmente, já estarão em nossas mãos. Você
vai querer conversar com eles lá, ou só observá-los sendo levados para o
galpão?
 
— Os mantenha presos lá dentro. — Emma respondeu fria — Quero
agilizar isso.
 
— Certo! — Steven respondeu e, em seguida, falou com um
subordinado pelo ponto, mandando-o prender o casal na casa em que
estavam chegando.
 
— Coloquem isso aqui. — Darah esticou uma máscara preta e um
óculos escuro para a Emma, depois entregou um kit semelhante para
Charlotte — Dei uma pesquisada, apesar de a localização ser uma área
afastada, ainda é urbana e tem casas por perto, não queremos ninguém aqui
sendo reconhecido. E prendam o cabelo.
 
— Muito preparada. — A Emma comentou enquanto prendia o
cabelo — Por isso é meu braço direito.
 
— Lembro de levar vocês duas para tomar sorvete, buscar na escola
primária e agora vocês… — Charlotte não completou a frase, apenas fez
uma negação com a cabeça.
 
— Agora nós crescemos e matamos pessoas, tudo normal. — Darah
respondeu, dando de ombros.
 
Charlotte sorriu, negando, e voltou a olhar pela janela. Emma
respirava fundo, se preparando, queria permanecer impenetrável enquanto
estivesse diante da mãe, e dava um fim, merecido, em Deniel.
 
Estava ansiosa e, secretamente apavorada, com este momento.
 
Capítulo 72
Mesmo com o coração acelerado, Emma, sentindo-se enérgica e
agitada, desceu do carro, sendo rapidamente escoltada por dois soldados. Já
tinham limpado a área e prendido os dois na casa e aquele momento seria o
de dar fim em toda aquela história.
 
Charlotte, ao contrário da irmã, sentia-se letárgica, entorpecida. Sua
mente trabalhava em flashbacks, pensando em tudo o que sentiu, e teve que
passar, por causa das duas pessoas que estava prestes a encarar. 
 
Quando entraram na sala, tudo estava revirado, havia marcas de tiros
e dava para ver sangue pelo chão, mas o que Emma realmente olhava era
para Carmen, presa a uma cadeira no meio da sala, ao lado de Deniel,
enquanto os outros móveis estavam bagunçados, jogados e quebrados.
 
— Trouxemos os dois para a sala, mas não tivemos temos de
organizar direito para dar espaço. — Uma garota explicou, mas não obteve a
atenção de Emma.
 
— Faça a segurança da casa e avise se tiver alguma movimentação
estranha, ou de vizinhos. — Darah mandou e a garota acenou, se afastando.
 
A sala, que já era pequena, parecia minúscula com a intensidade dos
sentimentos que se fundiam, e se confundiam, no ambiente. Charlotte sentia
vontade de gritar, enquanto Emma ainda procurava as palavras. A família
Lancaster estava em pedaços.
 
— Vocês acham que vão conseguir vencer? É até engraçado ver as
duas juntas dessa forma! — Carmen disse com escárnio — Você…
 
— Você já perdeu, mãe. — Emma falou, interrompendo a mais velha
— Mas, admito que o baque de ver que, realmente você era a inimiga esse
tempo todo, foi forte. Caralho, você é a nossa mãe, porra!
 
— E quem disse que eu, em algum momento, quis isso? — Carmen
rebateu com um sorriso de nojo.
 
Emma respirou fundo, buscava calma para conversar, mas em três
frases já sentia sua mão tremendo. Charlotte continuava em silêncio,
entorpecida.
 
Steven e Darah também estavam na sala, mas cada um em uma
entrada, fazendo a segurança. Estavam quietos e em silêncio total, como se
não estivessem ali.
 
— Se vão nos matar, que façam logo, ninguém está interessado nesse
show! — Deniel se pronunciou e, finalmente, Charlotte reagiu. Ela riu alto
de puro ódio.
 
— Você acha que realmente merece uma morte rápida? Você
realmente acredita nisso, depois de tudo o que me fez? — Charlotte
perguntou com raiva.
 
— Você não é ninguém. Eu deveria ter te matado, vadia! — Deniel
falou e cuspiu em direção a ex-esposa, mas nem mesmo chegou perto dela.
— A única coisa boa desse casamento, foi a amante.
 
— Vocês são nojentos. — Emma declarou.
 
— Filhinha, você não sabe de nada. — Carmen falou, sorrindo com
uma arrogância inescrupulosa.
 
— Eu sei de tudo. — Charlotte falou, atraindo a atenção da mãe —
Mas tem algo que preciso perguntar. Quando eu tentei pedir o divórcio e
fugir, você… Carmen, você contou ao Deniel meu plano e o fez voltar, não
foi? Você sabia, eu tenho certeza que sim.
 
— Sabia do quê? Você tentou fugir? — Emma perguntou confusa e
ficou ainda mais ao ver a mãe rir como se estivesse se divertindo muito.
 
— Ah! Eu lembro disso. — Carmen falou sorrindo — Eu sabia, mas
não poderia deixar que você tivesse um filho do meu homem, por isso fiz
com que ele voltasse, sabendo de tudo, menos da gravidez. E garanti que ele
estivesse irritado o suficiente para que você perdesse o bebê.
 
Charlotte caminhou até Carmen e lhe acertou um tapa no rosto, com
força o suficiente para que todos os dedos ficassem marcados ali, mas, ainda
assim, a mulher riu como se fosse a encarnação de um demônio.
 
— Recebi fotos de você no chão, sangrando, e foi satisfatório ver que
você não teria o filho. — Carmen falou sorrindo.
 
— Você já esteve grávida? — Deniel perguntou, olhando para
Charlotte.
 
— Já, mas abortei quando você me espancou. Mas não tente lembrar,
você não vai se recordar de uma vez específica, no meio de tantas. —
Charlotte falou com raiva, completamente abalada.
 
— Por que você nos odeia tanto, Carmen? — Emma perguntou
desolada — Somos tuas filhas, sangue do teu sangue.
 
— Eu nunca quis ser mãe, nunca amei nenhuma das duas, muito
menos o John. Encontrei quem me completava quando conheci o Deniel,
então, só precisava me livrar de vocês. — Carmen falou com indiferença.
 
— Era só ter pedido o divórcio! — Emma exclamou indignada.
 
— A minha vida seria melhor se você tivesse feito isso. — Charlotte
completou, partilhando a indignação da irmã.
 
— Eu não me arrependo de nada do que fiz. Apenas de ter deixado
isso ir tão longe. Deveria ter me livrado antes do peso que vocês eram,
mesmo que eu me divertisse vendo o sofrimento de cada uma. — Falo com
um sorriso — Só achei uma pena que o noivo da Emma fosse tão bonzinho,
esperava que ela sofresse mais.
 
— Você é ainda pior do que eu me preparei para encontrar. — Emma
falou, caminhando até Carmen, e lhe acertou um tapa no rosto, do lado
oposto ao que Charlotte havia batido. Depois segurou o rosto da mais velha,
cravando as unhas na pele dela — Enquanto eu vinha para cá, me
questionava se teria coragem de te matar, mas, agora, eu só me pergunto
como vou fazer isso.
 
— Você é tola e fraca, não teria coragem. — Carmen falou
prepotente.
 
— Acho que deveríamos negociar. — Deniel falou, atraindo a
atenção de todos — Tenho família e eles não vão gostar nada se eu for
ferido.
 
— Não se preocupe, avisarei que te matei e que quem quiser brigar
comigo por causa disso, que venha pronto para enfrentar a rainha de Boston.
— Emma declarou, convicta.
 
— Desculpa interromper, — Darah diz atraindo a atenção — mas o
Ryan ligou, depois de não conseguir falar com você, Emma. Ele deve chegar
em minutos.
 
— Certo, obrigada por avisar. — Emma respondeu e Darah apenas
acenou voltando ao seu posto.
 
— Todos nós perdemos tanto. John está morto, você, Carmen, foi
infeliz, eu fui infeliz. — Charlotte falou, respirando fundo — Emma,
felizmente, se adaptou bem ao mundo em que foi jogada, e teve sorte, mas
nós três perdemos tudo. E a culpa é sua, Carmen, completamente sua.
 
— Engraçado, mas eu não sinto como se tivesse pedido. — Ela deu
de ombros.
 
— Você perdeu a chance de continuar viva. — Emma falou irritada.
 
Mas a verdade era que Carmen havia perdido muito mais que isso,
perdeu a chance de ter o amor verdadeiro das filhas, a chance de construir
sua própria vida. Presa na arrogância e no narcisismo, envolta de uma
maldade venenosa, ela destruiu o marido e tentou fazer o mesmo com as
filhas, e quase conseguiu, mas ela esqueceu que, tempos difíceis, obrigam as
pessoas a serem fortes, e Emma e Charlotte eram fortes.
 
A porta da sala foi aberta de uma vez e Steven quase atirou em Ryan,
que entrou de maneira abrupta no local e caminhou direto para Emma.
 
— Está tudo sob controle. — Emma avisou assim que ele se
aproximou — Não precisa se preocupar
 
— Eu sei, você é competente o suficiente para lidar com isso. Só não
queria te deixar sozinha. — Ryan respondeu com um sorriso pequeno e
beijou a testa da garota — Eu não vou te atrapalhar.
 
— Viu? Por isso é que eu deveria ter lidado com o problema que a
Emma era, logo que percebi que Ryan era esse cachorrinho adestrável. —
Carmen falou com nojo.
 
— Cala a boca, Carmen, você é uma vagabunda! Você, e esse lixo ao
seu lado, são os únicos problemas aqui! — Charlotte quase gritou — Você
matou o John hoje e teria me matado também, se eu estivesse lá. Eu sinto
tanto nojo e raiva de você.
 
— Sim, teria matado mesmo. — Carmen deu de ombros, se
remexendo na cadeira — No momento em que eu soube que você saiu de
casa acompanhada pela Emma, eu sabia que você contaria tudo. Sabia que
minha chantagem tinha perdido a força, mas eu sabia que você voltaria,
porque você não tem um lugar no mundo, Charlotte — ela debochou —
Você não tem amigos, não tem um marido e todo mundo via que sua relação
com a Emma estava quebrada. E sabe o que mais? Quando isso acabar, você
vai continuar sozinha. Porque a sua existência é a completude do nada.
 
— Pelo menos eu não teria mais vocês dois me cercando. —
Charlotte respondeu firme.
 
— Eu pensei que tinha muitas coisas a dizer, mas, te olhando assim,
você não é nada além de uma mulher monstruosa. Me sinto feliz em saber
que nunca mais vou ter que lidar com você. — Emma declarou, olhando
friamente para Carmen, enquanto Ryan ainda estava de pé, logo atrás dela,
determinado a não se envolver diretamente, era um momento de Emma
resolver suas pendências.
 
— Você é igual a mim, Emma, guarde bem essas palavras. —
Carmen sorriu de lado — Ou você acha que toda essa frieza, essa sua
capacidade de manipulação veio do seu pai? — Ela riu alto e encarou a filha
— E pode tentar negar a si mesma, mas você sempre vai me reconhecer em
suas ações, filha.
 
— Eu não vou negar que sou fria, má, e manipuladora, mas nós
somos diferentes, porque eu sou inteligente e tenho inteligência emocional,
sei separar as coisas. — Emma sorriu fria — Eu não sou uma vadia mal
resolvida como você, não estou tentando competir com ninguém, porque eu
sei muito bem quem eu sou, mas será que podemos dizer isso de você? —
Questionou cinicamente. — Vamos olhar os fatos como eles são, você odiou
a Charlotte porque ela é linda e tinha um potencial enorme para conseguir o
que quisesse, mas você invejou a própria filha e sentiu raiva por isso, então
começou a querer tudo o que era dela. Primeiro, o marido, e depois o filho,
mas você sabe que não tem nem mesmo o Deniel, porque ele te trocaria por
qualquer coisa. Depois me odiou porque seu plano de me jogar em um
relacionamento ruim deu errado. E odiou, mais ainda, que eu tenha
encontrado amor. Você odeia que nós sejamos felizes porque você é infeliz.
 
O silêncio se instalou no ambiente e tudo o que aconteceu em
seguida foi muito rápido. Carmen era como uma cobra escorregadia e, assim
escapou das cordas que lhe prendiam, motivada pela raiva que sentia naquele
momento, avançou em direção a Emma, que em um movimento rápido
sacou a arma que tinha em seu coldre e atirou contra a mãe. Não, ela não
podia mais chamar aquela mulher de mãe, então disparou duas vezes contra
Carmen, que caiu no chão antes mesmo de tocá-la.
 
No chão, Carmen tossia sangue e se afogava nele, sentindo a dor da
carne rasgada pelas balas. Ninguém falava nada, ninguém sentia nada.
Exceto pelas duas garotas, que sentiam tanto, que estavam completamente
entorpecidas.
 
Capítulo 73
Havia sangue no chão, tingindo-o de vermelho, e um silêncio
esmagador no ambiente. Emma sentia-se sufocada e paralisada, olhava o
corpo da mãe, já sem vida no chão, e sua mão cheirava a pólvora e morte.
Fez algo que achou que nunca seria capaz, matar alguém que tinha seu
sangue.
 
Não queria que as coisas tivessem chegado àquele ponto, mas
quando tudo começou, em um jantar e em um acordo, ela não imaginava a
podridão que existia por trás de tudo. Emma sequer sentia vontade de chorar,
mas queria gritar até que não sobrasse voz, até que sua energia cessasse.
Seus pais morreram no mesmo dia e ela teria para sempre a imagem da mãe,
caída no chão, depois de seus próprios disparos.
 
Sua mente se enchia de memórias da infância, dos momentos em que
mãe estava ao seu lado, mas, ao mesmo tempo, buscava reafirmar que tinha
feito o que deveria fazer. Carmen poderia ter sido, por vezes boa, antes de
tudo aquilo, mas não era mais, nunca havia sido de verdade. Emma
precisava lembrar que a mulher no chão a mataria sem remorsos, e que ela
tentou.
 
— Você não fez nada de errado, Emma, pode respirar. — Charlotte
falou calma, se aproximando lentamente da irmã — Ela avançou para cima
de você, porque tinha a intenção de te ferir, o que você fez foi apenas se
defender, está tudo bem.
 
— Você não sente nada vendo ela ali? — Emma perguntou, sem
desviar os olhos de Carmen, como se, em algum momento, ela fosse levantar
dali. Havia culpa em seu coração.
 
— Alívio. Olha para mim, Emma. — Charlotte pediu, conseguindo a
atenção da irmã — Ela não era uma boa mãe. E não como uma mãe que
proíbe as festas, ou corta a mesada, ou que coloca de joelhos, ou mesmo uma
mãe ruim que fala da sua aparência, ou da sua forma de ser, o que é ser uma
mãe ruim. Carmen era pior, ela nos venderia, e vendeu, ela gostava de ver a
situação degradante e humilhante com a qual eu era obrigada a viver. Ela
queria que nós estivéssemos mortas e tentou fazer com que isso acontecesse.
— A cada palavra dita, Emma ficava menos nervosa — Você nos libertou,
principalmente a mim, eu agradeço o que você fez.
 
— Eu posso lidar com isso. — Emma falou fechando os olhos e
respirando fundo. Depois lidaria com qualquer coisa, já sentia que o choque
do momento estava se dissipando.
 
— Eu sei que pode. — Charlotte respondeu em um tom baixo.
 
Quando Emma abriu os olhos novamente, toda a sua aura já tinha
mudado novamente. Olhou para Deniel com um olhar frio, ainda não havia
terminado tudo o que havia ido fazer ali e, dessa vez, faria questão de
demorar um pouco mais.
 
— Steven, quero que fotografe Deniel e mande direto para o Marco.
— Emma mandou, olhando para o ex-cunhado.
 
— Sim, senhora. — Steven respondeu pegando o celular.
 
— Charlotte, você vai querer resolver suas pendências com ele, ou eu
posso lidar com isso do meu jeito? — Emma perguntou enquanto Steven
tirava as fotos.
 
— Pode lidar da forma com a qual você preferir. — A Charlotte
declarou olhando para o ex-marido — Mas, antes eu quero fazer uma coisa.
 
— Fica a vontade. — Emma respondeu dando de ombros.
 
Deniel tinha a expressão fechada, ele já sabia o caminho que sua vida
seguiria desde o momento em que foi pego, mas também sabia que nada do
que dissesse, nenhum argumento que usasse, poderia salvá-lo. E, por isso,
mesmo ao ver sua companheira morrer, se manteve calado. Agora, ao ver a
ex-esposa caminhando em sua direção, Daniel sentiu a morte soprar em seu
ouvido como se mandasse uma mensagem sobre o fim.
 
Charlotte nunca havia matado, e não tinha a intenção de o fazer
naquele momento, mas queria revidar, mesmo que minimamente um pouco
da dor que ele havia lhe causado por tanto tempo, por isso fechou a mão em
punho e socou o rosto dele. A primeira vez acertando o olho, a segunda, o
nariz, e o impacto foi tão forte, que sentiu algo se quebrando, e teve que se
afastar um pouco, balançando a mão que doía, mas não tanto quanto o rosto
do Daniel.
 
— Vagabunda! — Deniel exclamou devido à dor, até se remexeu,
mas não conseguia se soltar.
 
— Steven, coloca ele de pé para mim e o segura, por favor. —
Charlotte pediu, e Steven acenou concordando. 
 
Quando Deniel estava de pé, e bem preso pelo comandante, Charlotte
se aproximou e chutou três vezes, com o máximo de força que podia, sua
virilha, ao que ele já gritava de dor desde o primeiro impacto. Quando
Steven percebeu que ela já havia terminado, o soltou, deixando que ele
caísse no chão sujo, enquanto rolava de dor.
 
— Pronto, agora eu já fiz o que queria. — Charlotte declarou com
um sorriso pequeno, olhando para a irmã, que estava nos braços de Ryan.
 
— Certo. — Emma concordou com um aceno — Steven, leve-o para
o galpão e, Darah, providencie que tudo fique limpo, como se nunca
tivéssemos passado por aqui.
 
— Sim, senhora. — O casal respondeu em uníssono.
 
— Emma, vai para casa e descansa. Amanhã você se livra do lixo. —
Darah pediu. Conhecia a amiga o suficiente para saber que ela estava
exausta.
 
— Eu acho que a Darah está certa, eu te levo para casa. — Ryan
falou baixo, segurando ela firme nos braços.
 
— Tudo bem. Mas pela manhã eu já vou para o galpão, e quero tudo
pronto! — Emma falou firme e todos ali concordaram, então ela olhou para
Charlotte, que estava quieta no canto — O que você vai fazer?
 
— Eu vou para um hotel e, amanhã, ou depois, nós duas precisamos
conversar. Temos alguns assuntos para acertarmos, antes que eu decida o que
vou fazer da minha vida. — Charlotte respondeu calma.
 
— Não some do nada, porque senão eu vou te achar e a situação não
vai ser boa. — Emma alertou séria, fazendo a Charlotte sorrir sem humor.
 
— Eu não vou a lugar nenhum sem nos resolvermos antes. —
Charlotte afirmou.
 
— Então é isso, acho que podemos ir. — Emma falou para Ryan, que
concordou de imediato — Falo com vocês depois.
 
— Não se preocupe, eu assumo daqui. — Darah falou com um
sorriso divertido no rosto.
 
— Até depois. — Emma respondeu e saiu, acompanhada por Ryan.
 
Ele a guiou direto para o seu carro e, quando entraram, já começou a
dirigir em alta velocidade, a levando para o mais longe dali. Emma precisava
de um momento para absorver de verdade tudo o que aconteceu naquele dia,
e Ryan estava determinado a ficar ao seu lado como seu apoio, e ela ia
precisar muito ainda.
 
Capítulo 74
Emma chegou em casa em completo silêncio, Ryan não tentou
conversar, apenas deixou que ela fizesse o que sentisse vontade. Sabia que
Emma precisava de espaço. Poderiam ter esse relacionamento indefinido,
mas o que sentiam um pelo outro era muito bem definido.
 
Emma tomou um banho quente sozinha, vestiu um pijama
confortável e se deitou. Ryan fez o mesmo, mas quando se deitou puxou-a
para seus braços e ficou acariciando suas costas, a consolando no silêncio.
Mesmo quando sentiu as lágrimas quentes dela pingando sobre o seu peito,
mesmo quando ela se afundou e se encolheu ainda mais sobre ele, dentro do
seu abraço.
 
Havia vivido muita coisa até ali e não tinha passado por tudo inteira,
foi perdendo partes e reconstruindo outras, mas sentia como se tivesse
perdido muito mais rápido do que conseguia se repor, sentia como se os
pedaços dentro de si rasgassem sua carne. E por isso queria gritar, como se
fosse aliviar toda a dor que sentia, mas não iria. Talvez o tempo ajudasse,
mas isso não era nenhuma garantia.
 
Ela se lembrava da infância e de como parecia que tudo era perfeito.
Tinha uma boa irmã, tinha pais que eram pais de verdade, tinha uma família
e um lugar que podia chamar de lar, e pessoas que acreditava amar, e até
mesmo durante sua adolescência, mas sua vida foi construída em um castelo
de areia que a soterrou. A verdade é que até conseguiu sair dos escombros,
mas não inteira.
 
Chorou tanto que dormiu completamente acolhida nos braços de
alguém que realmente a amava.
 
Ryan ficou ali o tempo todo, ao seu lado, cuidando dela como se
cuidasse da pessoa mais preciosa de sua vida, porque era isso que ela
representava para ele.
 
Enquanto isso, em outro ponto da cidade, Charlotte se hospedava em
um hotel, feliz por, pelo menos, ainda estar com um cartão e não precisar ter
que voltar na casa da família para pegar alguma coisa, o que a forçou
também comprar roupas novas para ter o que vestir. Ela subiu para o quarto
que reservou, tomou um banho demorado na banheira, depois se vestiu com
um pijama e pediu comida no serviço de quarto. Estava sozinha, mas sabia
que seria assim daquele momento em diante.
 
Mas Charlotte também sabia que estava em paz, não tinha mais
motivos para sentir dor. Mesmo que parte de si estivesse completamente
destruída, ela respirava como alguém que tinha esperança. Sozinha no
quarto, ela planejava seu futuro. Era como se estivesse acordando de um
longo pesadelo.
 

 
Quando Emma acordou já estava anoitecendo, tateou na cama,
percebendo estar sozinha, e abriu os olhos devagar no mesmo instante em
que Ryan entrava no quarto segurando uma bandeja.
 
— Boa noite! — Ryan falou carinhoso enquanto se sentava na cama
— Como está se sentindo?
 
— Boa noite! — Emma respondeu com a voz rouca e arranhada,
tinha o rosto inchado e os olhos marcados pelas lágrimas — Eu me sinto
estranha, mas melhor do que antes.
 
— Isso é bom, mas você precisa se alimentar. Te trouxe um remédio
para a cabeça e uma sopa com torradas. — Ryan falou suavemente.
 
— Eu sei que a Carmen merecia morrer, mas eu não tinha planejado
matar ela, não com as minhas mãos. Mas, me faria menos pior ser a
mandante? — Emma indagou, mas Ryan não respondeu, apenas ficou
observando ela se sentar na cama e lhe entregou um comprimido e um copo
de água — Meus pais morreram hoje, foi o fim definitivo da minha família.
É estranho pensar nisso, mas é mais estranho pensar que era a melhor coisa
que podia acontecer.
 
Emma parou de falar quando Ryan levou uma colherada de sopa até
a sua boca, o que a fez rir um pouco, se sentindo uma criança. 
 
— Era o que tinha que ser feito, amanhã você vai poder virar de vez
essa página, se livrando do Deniel. Então, finalmente, poderá andar sem
nada te segurando. — Ryan falou calmo.
 
— Isso é bom, sinto que preciso disso. — Emma falou e riu de novo,
aceitando mais uma colherada — Eu posso me alimentar sozinha.
 
— Eu sei que pode, mas quero cuidar de você. — Ryan respondeu
sorrindo — Como vai ser sobre a Charlotte? 
 
— Eu não sei. — Respondeu sincera, suspirando — Eu não sei
mesmo. Nós duas ainda temos que conversar sobre como vamos ficar e o
que ela vai fazer de agora em diante.
 
— Independentemente da sua decisão, seja se reaproximar dela, ou se
afastar, vou estar com você. — Ryan declarou firme — Eu sempre vou estar
com você.
 
— Eu sempre vou estar com você também. E, ainda bem que a sua
família é doida, mas não tanto quanto a minha. — Emma falou divertida,
fazendo ele rir.
 
— Já bastava um de nós com tantos problemas familiares. — Ryan
brincou, gostando de ver o bom humor dela voltando — Agora você vai
aceitar meu pedido de namoro?
 
— Que pedido? — Emma perguntou arqueando a sobrancelha e com
um sorrisinho cínico — Se for aquele que fez dentro do carro, nunca! Pode
fazer algo à minha altura.
 
— Eu vou te pedir é em casamento e vai ser quando você menos
esperar! — Ryan falou com um sorriso de lado e Emma riu com as
bochechas levemente coradas.
 
— E pensar que um dia eu achei que nunca iria querer me casar com
você. — Emma falou sorrindo.
 
— A gente mudou muito nos últimos meses. Nós dois evoluímos e,
principalmente, descobrimos o amor. — O Ryan falou baixo, colocando o
prato de volta na bandeja para segurar a mão de Emma — Quando a gente se
conheceu, aquela sua personalidade implicante e provocadora me fascinou.
E como você era teimosa, meu Deus! — Exclamou em exagero, fazendo a
Emma rir — Se bem que você ainda é muito teimosa. Mas, continuando,
você cresceu anos em meses, e me fez crescer também. Nós nos encaixamos
como se fossemos peças que se completam e eu percebi que podia amar algo
mais do que amava o poder, porque eu trocaria tudo que tenho, apenas para
poder ficar ao seu lado. — O Ryan segurou no rosto dela, se perdendo em
seus olhos claros — Eu te amo e quero que você sempre se lembre de que
você tem um lar, o nosso lar.
 
— Ryan, eu aceito namorar você. — Emma respondeu sorrindo — E
eu te amo, verdadeiramente, te amo.
 
Ryan colou seus lábios aos de Emma, iniciando um beijo lento e
suave, mas que, lentamente, foi se tornando intenso e os fazendo queimar
por dentro, ao ponto de esquecerem que havia uma bandeja com comida na
cama, e que virou, fazendo uma bagunça quando eles se deitaram.
 
Emma riu alto e, apesar de Ryan ter ficado um pouco frustrado, havia
valido a pena, porque ela estava rindo.
 
Capítulo 75
Emma entrou no galpão principal, onde mandara colocar Deniel,
com uma expressão séria. Ela ainda não havia falado com todos os soldados
e sabia que ainda havia um clima tenso, mas iria deixar isso para depois,
tinha uma última coisa para resolver.
 
— Bom dia! Como você está? — Darah perguntou ao encontrar com
a amiga no corredor.
 
— Bom dia! Estou bem. Ontem foi estranho, mas estou melhor. —
Emma respondeu e sorriu para a amiga — Isso não ficaria me corroendo
para sempre.
 
— Isso é bom. — Darah concordou — Deniel já está preso e
aguardando, mas antes temos algumas coisas para conversar.
 
— O quê? — Emma perguntou, parando na porta da sala de tortura.
 
— Quando você acabar aqui, terá de conversar com os soldados e, à
noite, terá um jantar com o Marco. Eu vou com você. — Darah avisou —
Vai querer conversar com a Charlotte hoje, ou amanhã? Preciso saber, para
organizar sua vida. Quase me sinto uma secretária.
 
— Pode falar para a Charlotte que eu me encontro com ela no
almoço e, quanto antes falarmos com o Marco, melhor — Emma respondeu
e sorriu — Então você deveria me arrumar uma secretária. E uma para você
também.
 
— Vou providenciar isso também. — Darah respondeu e sorriu —
Ah! Mandei nossos documentos para a faculdade, estou só esperando a
aprovação.
 
— Eu tinha esquecido disso. — Emma falou com os olhos
arregalados e Darah riu.
 
— Ainda bem que eu estou aqui para te lembrar de tudo o que tem
para fazer. — Darah falou convencida e deu de ombros — Agora, vai
trabalhar e faz ele assinar isso aqui.
 
— O que é isso? — Emma perguntou confusa, pegando a pasta.
 
— Ele passa todas as ações da empresa dele para a Charlotte. Bem,
quase todas, na verdade, mas quando descobrirem que ele morreu
tragicamente em um acidente, o restante vai para ela. — Darah explicou.
 
— E por que não deixa tudo para ela herdar? — Emma perguntou,
mais confusa ainda.
 
— Ele tem outros herdeiros, os pais. Dessa forma eles não vão ter
muita coisa. — Darah explicou — Estou protegendo o patrimônio da
Charlotte, nós conversamos um pouco ontem, acho que ela precisa disso.
 
— Tudo bem, obrigada. — Emma falou com um sorriso pequeno —
Agora vou ali, conseguir uma assinatura.
 
— Steven já está aí, aguardando. Divirta-se! — Darah desejou
sorrindo — Até depois.
 
— Até depois. — Emma respondeu abrindo a porta.
 

 
A sala era bem ampla e havia uma cadeira, onde Deniel estava
sentado e preso. Ele tinha um olho roxo e o nariz torto, Charlotte fizera
algum estrago. Havia também uma mesa repleta de armas e objetos para a
tortura, dois soldados estavam ali para fazer a segurança e Steven, que estava
sentado em outra cadeira, mexendo no celular, mas se levantou, guardando o
aparelho no momento em que notou Emma ali.
 
— Bom dia! — Steven a cumprimentou, sendo respondido rápido —
Está tudo pronto.
 
— Ótimo! — Respondeu séria e olhou para Deniel, que tinha a
expressão e os olhos fechados — Pronto para morrer, cunhado?
 
— Você é patética, Emma! — Deniel riu — Matou a própria mãe e
agora se acha a fodona do crime? Você não passa de uma criança que não
sabe o que fazer e que não vai durar um mês, de verdade.
 
— Claro! Inteligente foi você, que casou com uma adolescente, virou
amante e nunca, nem mesmo por um segundo, sentiu de fato o cheiro do
poder, o gosto do comando, porque meu pai estava sempre no controle. —
Emma respondeu com um sorriso debochado — Ele era o chefe da máfia, ele
era o marido. E você? Você nunca foi ninguém! E desde o momento em que
colocou suas asinhas para fora, só foi derrubado. — Emma estalou o pescoço
e sorriu — Quer me chamar de criança? Ok! Mas saiba que vai ser essa
criança aqui que vai dominar tudo. E que vai tirar a sua vida.
 
— Vadia! — Deniel gritou, mas só fez com que o sorriso de Emma
aumentasse mais — Você vai fracassar nessa sua vida. Vai morrer logo,
tenho certeza!
 
— Grita, pode gritar, mas deveria economizar suas cordas vocais
para quando você realmente for precisar. — Emma falou com um sorriso
sádico — Primeiro, você tem que assinar um documento para mim. Então,
sem enrolação.
 
— Eu, assinar algo? — Deniel riu alto — Nunca!
 
Emma olhou para o ex-cunhado completamente desinteressada e sem
paciência, se não resolveria do jeito simples, resolveria de outra forma.
 
— Steven, precisamos mesmo fazer isso? — Emma perguntou
olhando para o comandante — Você consegue alguém capaz de falsificar
assinaturas? 
 
— Claro! — Falou tranquilo — Conheço alguém que pode fazer isso
perfeitamente.
 
— Ótimo, leve isso para essa pessoa. — Emma respondeu
entregando para ele a pasta de documentos.
 
— Espera, podemos negociar isso! — Deniel falou, atraindo a
atenção de Emma — Eu assino e você não me tortura. Faz algo limpo, um
tiro só.
 
— Não, posso ficar com a falsificação. — Emma respondeu indo até
a mesa, escolhendo o que pegaria primeiro — Mas já que está disposto a um
acordo, eu tenho uma proposta.
 
— Qual? — Deniel perguntou assustado, ele já sentia como se
próprio anjo da morte estivesse sentado ao seu lado.
 
— Você assina e eu não passo dias e dias te torturando, resolvemos
isso hoje. — Emma falou com um sorriso sádico, enquanto olhava para
Deniel, segurando um chicote com pontas de metal.
 
— Eu assino! — Deniel exclamou alto.
 
— Steven… — Emma começou a falar e o comandante entendeu a
ordem.
 
Steven foi até Daniel, soltando um dos braços dele para que pudesse
assinar o documento, o que ele fez contrariado. Não queria assinar nada, mas
a ideia de passar dias e dias sendo torturado lhe atormentou a mente. Quando
terminou de assinar todos os documentos, foi preso novamente.
 
— O coloquem de pé. — Emma mandou e os dois soldados
obedeceram imediatamente — E você, Steven, leva isso para a Darah.
 
— Se eu te deixar sozinha nessa sala, Darah me coloca no lugar do
Deniel. — Steven respondeu negando, o que fez Emma rir.
 
— Eu sou sua chefe. Vai logo, Steven! — Emma respondeu rindo.
 
— Você é a chefe e ela a patroa. Eu vou, mas eu volto. — Steven deu
de ombros e olhou para os soldados — Garantam que ela não tenha nenhum
arranhão.
 
Os dois soldados acenaram e Steven saiu para fazer o que tinha sido
mandado, Emma sorriu revirando olhos, achava bom que a amiga estivesse
em uma boa relação e que estivesse bem. 
 
— Hora de resolver nossas pendências, Deniel. — Emma falou indo
até ele.
 
Emma caminhou até Deniel e chicoteou todo o corpo do ex-cunhado,
deixando sua pele coberta de furos, não se importava com os gritos de dor,
apenas continuava com o máximo de força que conseguia. Então voltou até a
mesa, pegou um alicate cortante e foi novamente até Deniel. Emma segurava
o alicate com firmeza e, aos poucos, ia cortando pequenas partes do corpo
dele, que gritava loucamente implorando para que ela parasse.
 
— Quando você espancava a minha irmã, e ela implorava para você
parar, você parava? — Emma perguntou, sabendo a resposta. Daniel não
disse nada e não precisava. — Foi o que pensei.
 
Emma voltou até a mesa e pegou um litro de álcool, que estava ali, e
foi novamente até o seu alvo, despejando o líquido pelo corpo dele, porque
sabia que arderia como se estivesse realmente colocando fogo, mas ainda
não faria isso.
 
— Voltei! — Steven avisou ao entrar na sala e sentiu o cheiro do
álcool — Darah pediu que não colocasse fogo nele, porque ela precisa do
cadáver para forjar o acidente.
 
— Escapou de ser queimado. — Emma falou olhando para Deniel,
como se estivesse chateada de não poder fazer isso — Mas ainda podemos
fazer muitas outras coisas.
 
Emma sorriu maldosamente, levaria a tortura o mais longe que
pudesse, por isso passou horas dentro da sala de tortura, até que Deniel não
tivesse mais voz para gritar e seu corpo estivesse completamente ferido. Não
ia demorar mais para que a mente e o corpo dele entrassem em colapso.
 
 
— Quero que o deixe vivo e sentindo dor por mais algumas horas,
até que ele perca completamente a consciência. A cada dez minutos deem
um banho de álcool nele. — Emma mandou, olhando para os dois soldados.
 
— Sim, senhora! — Um deles respondeu.
 
— Qualquer eventual problema, procure por mim, ou pela Darah. —
Emma avisou e eles confirmaram que entenderam no mesmo instante —
Vamos, Steven.
 
— Vamos, senhora! — Steven respondeu, já indo em direção a porta
para abri-la para a chefe.
 
— Onde a Darah está? — Emma perguntou enquanto caminhavam
pelo corredor.
 
— No escritório. — Steven respondeu guiando a Emma até lá.
 
Emma sentia-se leve, mesmo que estivesse suja de sangue. Daniel
estava praticamente morto e ainda sofreria mais um pouco até que
acontecesse. Era o fim da sua missão e, principalmente, o fim do tormento
que vivia desde que toda essa perseguição começou. Estava pronta para virar
a página e faria isso com maestria.
 
Steven abriu a porta do escritório para que Emma entrasse e entrou
em seguida. Dentro da sala, Darah trabalhava, concentrada, ao lado de um
homem de meia-idade, que também parecia concentrado, tanto que levaram
alguns segundos para perceberem que não estavam mais sozinhos.
 
— Como foi? — A Darah perguntou, tirando os olhos do notebook.
 
— Tudo bem para mim. — Emma deu de ombros — O que está
fazendo? 
 
— Trabalhando. — Darah respondeu simples — Esse aqui é o
Robert, ele é contador da máfia e está me auxiliando com algumas
documentações. A Kiara também estava aqui, ela é a advogada, eu não tenho
experiência o suficiente para arrumar tanto documento sozinha, ainda.
 
— Mas está aprendendo rápido. — Robert elogiou e Steven
semicerrou os olhos.
 
— Você precisa tomar um banho, tem um almoço em quarenta
minutos. — Darah falou, olhando para o relógio — Eu tenho algumas roupas
aqui.
 
— Eu preciso fazer aquela reunião antes. — Emma respondeu,
negando a oferta.
 
— Estou ansioso para o seu comando, Emma. Acredito que guiará
nossa organização para um sucesso ainda maior. — Robert falou e Emma
sorriu pequeno.
 
— Nós faremos isso. — A Lancaster respondeu tranquila — Vamos
até o salão principal?
 
— Vamos! — Darah respondeu — Robert, pode ficar aqui
terminando o faturamento.
 
— Certo. Meu apoio completo vocês já tem. — Ele respondeu com
um sorriso pequeno e Emma acenou, esperava que fosse fácil assim com
todos.
 
Emma, acompanhada do Steven e Darah, caminhou até o salão
principal e, aos poucos, os soldados foram se reunindo. Ela respirou fundo e,
em momento nenhum, perdeu a compostura, esperava todos se juntarem ali
para ter uma conversa só. Observava os comandantes à frente dos outros e
todos com expressões sérias, aguardando respostas.
 
— Serei muito direta, até porque acredito que todos já saibam. John
está morto, mas isso não significa que será o fim da nossa organização, eu
passo para o lugar dele e vou garantir que tudo continue funcionando ainda
melhor do que antes. — Emma falou, alto e firme, para que todos pudessem
ouvir.
 
— E você tem os contatos e a experiência necessária para isso? —
Uma pessoa entre os soldados perguntou em um tom curioso.
 
— Tenho! E estou completamente preparada para o cargo. —
Respondeu e sorriu pequeno, continuando em um tom calmo — Se alguém
não concordar, é livre para sair da máfia e ser livre, não haverá nenhum tipo
de represália sobre isso.
 
— Você pretende se aliar ao O’Donnell? — Outra pessoa perguntou.
 
— Sim! Não existe mais rivalidade entre nós, logo, trabalharemos
como uma só organização — Emma respondeu à pergunta.
 
— Eu acho que não temos muitas alternativas, além de confiar nela.
É por isso que eu estou tranquilo, até porque estou aqui há muitos anos e sei
que não tem ninguém que pode ocupar esse cargo. — Um comandante falou
calmo — Eu trabalhei muitos anos diretamente com o seu pai, sou
responsável pelas cargas que vão para o exterior, e ficarei muito feliz em
trabalhar com você, senhorita Lancaster.
 
— Fico grata pela confiança. — Emma disse com um sorriso
confiante — Quem não quiser ficar, não precisa se expor, basta passar seu
nome para Darah depois.
 
Houve um silêncio e, após vários e vários murmúrios pelo salão,
mais ninguém foi contra e, naquele momento, estabeleceu-se de vez que
Emma era a rainha, herdeira do trono dos Lancasters, e se sentia
completamente pronta para liderar.
 
Capítulo 76
Charlotte batia os dedos na mesa, ansiosa, não esperava ter um
longa e carinhosa conversa com a irmã mais nova, mas esperava que
resolvessem as coisas com, pelo menos, um pouco de amizade. E ela sabia
exatamente o que essa conversa representava, uma despedida.
 
Emma entrou no restaurante indo diretamente para a mesa reservada,
havia se atrasado porque precisou passar em casa, para se lavar e tirar
qualquer vestígio de sangue que poderia ter em si, já estava enojada. Avistou
a irmã sentada sozinha, batendo os dedos e olhando para o nada, e caminhou
até chegar à mesa, sentando-se de frente para a mais velha.
 
— Boa tarde! — Emma cumprimentou — Já pediu?
 
— Boa tarde! — Respondeu, voltando sua atenção para a irmã —
Ainda não, achei melhor te esperar.
 
— Então vamos pedir, estou faminta! — Emma falou, já chamando o
garçom.
 
Fizeram seus pedidos calmamente, não estavam fugindo da conversa,
mas precisavam de um pequeno momento de silêncio, antes que dessem
espaço para as vozes. Não seria uma conversa fácil, mas já tinham passado
por coisas muito mais complicadas.
 
— O que pretende fazer agora? — Emma perguntou, quebrando o
silêncio que havia se formando.
 
— Eu não sei ao certo. — Charlotte respondeu, dando de ombros —
Temos que resolver algumas coisas antes. Por exemplo, eu quem estou
administrando a empresa, vai ficar assim?
 
— Acha que deveria passar para mim? — Emma perguntou
arqueando a sobrancelha.
 
— Herdarei a empresa do Deniel, mas acredito que vou vender,
porque não quero nada que seja dele, assim como vou fazer com a casa em
Boston e o apartamento. Mas, sobre o que herdamos dos nossos pais, eu não
sei. — Charlotte disse e riu soprado uma vez — Bom, eu não quero nada que
tenha a ver com a máfia, isso não é para mim.
 
— Eu acho que devemos vender a casa em que vivíamos, ou colocar
fogo. — Emma opinou, fazendo Charlotte rir um pouco mais alto do que
gostaria.
 
— Vender é uma opção mais lucrativa. E temos que omitir que o
John foi morto lá dentro, isso diminui muito o valor do imóvel. — Charlotte
falou achando divertida a sugestão.
 
— Vou ficar à frente da máfia, e ainda vou começar uma faculdade
no próximo ano, acredito que ficar na administração da empresa seja muito,
para mim. Então, se não se importar, podemos manter como está, mas com
alguns adendos. — Emma exprimiu séria.
 
— E quais seriam? 
 
— A empresa vai continuar executando a função de fazer a lavagem
de dinheiro da máfia. Eu quero a porcentagem que me diz respeito, no meu
nome, vou apenas passar uma procuração para que te mantenham na
presidência, e qualquer coisa de grande porte, que afete a empresa, eu quero
receber um relatório. — Emma esclareceu e Charlotte prestava bastante
atenção — Eu sei que tudo ainda está no seu nome desde aqueles dias, mas
quero que fique tudo bem dividido e regularizado.
 
— Estou de acordo. Vou falar com a advogada da empresa e resolver
isso, depois mando os papéis que você terá que assinar. — Charlotte
concordou. A verdade é que aceitaria qualquer proposta.
 
O garçom voltou, trazendo os pedidos, e nenhuma das duas quis
bebidas alcoólicas, pois a conversa precisava ser limpa e sã. Começaram a
comer em silêncio, mesmo que ainda não tivessem dito tudo o que tinham
para dizer.
 
— Antes de assumir a empresa de maneira oficial, vou precisar tirar
um tempo para mim. Mas acompanharei tudo, mesmo de longe — Charlotte
avisou.
 
— Vai para onde? — Emma perguntou, tentando não parecer curiosa,
mas falhando.
 
— Só viajar por aí uns dias. Eu perdi muito de mim e preciso me
reencontrar, mas não se preocupe, não vou deixar as coisas sem supervisão.
— Respondeu e deu um gole em sua água — Acho que temos que falar o
mais importante.
 
— O quê?
 
— Como nos sentimos. — Charlotte respondeu, sendo direta —
Tudo isso nos quebrou e eu sei que te feri muito, mas espero que um dia
você me perdoe por tudo o que fiz. — Ela suspirou, fechando os olhos por
um segundo — Eu sei que você também vê um abismo entre nós duas.
 
— Eu já perdoei. — Emma respondeu sincera, e suspirou, também
abandonando a colher que ainda segurava — Mas eu… eu não sei o que
fazer e o que sentir sobre você. Tudo parece quebrado e estranho, eu não te
odeio, eu só…
 
— Eu entendo e está tudo bem. — Charlotte a tranquilizou — Não
temos que forçar os laços.
 
— Charlotte, me desculpa, mas eu não me sinto segura com você.
Não consigo visualizar você na minha vida. — Emma falou sincera, mas
havia um pouco de dor em sua voz — Eu acho que nosso laço nunca mais
será o mesmo.
 
— A gente pode lidar com isso, são consequências das minhas ações.
— Charlotte respondeu baixo, mas foi interrompida antes que pudesse
continuar.
 
— Foram consequências das ações da Carmen, ela nos quebrou. —
Emma falou firme — Nós vamos ter marcas para toda a vida e não é nossa
culpa.
 
— Eu não sou tão inocente quanto você. Eu deveria ter reagido antes,
deveria ter rompido o ciclo antes. — Charlotte suspirou — Me lamentar não
vai mudar o passado, mas saiba que eu torço para que você seja muito feliz,
que sua vida com o Ryan seja muito boa e com muito sucesso.
 
— Eu desejo que você encontre tudo o que está procurando e que se
reconstrua. — Emma desejou sincera — Não é um adeus.
 
— Não, não é um adeus. — Charlotte reforçou — Ainda somos
sócias em uma empresa.
 
— É. E, apesar de tudo, se precisar de mim, pode me procurar. —
Emma ofereceu, recebendo um sorriso de Charlotte em resposta.
 
— A recíproca é verdadeira. — Charlotte falou suavemente.
 
— Eu preciso ir agora… — Emma falou ficando de pé — Então, é
isso, até mais.
 
— Até mais. — Charlotte respondeu calma — Aproveita muito a
vida e seja muito feliz, Emma, você merece isso.
 
— Você também. Um dia você vai encontrar o seu lugar no mundo.
— Emma disse com um sorriso gentil — Tchau, eu tenho mesmo que ir.
 
— Tchau, Emma. — Charlotte respondeu em um tom suave e
observou a irmã se afastar.
 
Elas disseram que não era um adeus, mas era, as duas sabiam que
era, porém preferiam não admitir em voz alta, era melhor deixar que a vida
seguisse seu percurso. Se algum dia, em alguma volta do destino, em alguma
curva da estrada, se reaproximassem, que ficasse por conta do universo.
 
Naquele momento, tudo o que precisavam era curar as feridas
abertas.
 
 
Quando a noite chegou, Emma se arrumou, pois tinha um jantar
marcado com Marco, mas não tinha sequer saído de casa, ainda, e já queria
retornar. Depois de um dia tão atarefado, quanto o seu havia sido, tudo o que
queria era se jogar na cama e dormir agarrada ao seu namorado. E como ela
gostava de, agora, chamar Ryan pelo título de namorado.
 
— Por que você está se arrumado assim? — Emma perguntou
arqueando a sobrancelha.
 
— Porque eu vou com você e a Darah. — Ele respondeu como se
fosse óbvio — E não adianta ser teimosa, não vou voltar atrás, eu vou.
 
— Ryan… — Emma começou a falar, mas logo desistiu, sabia que
não ia conseguir impedir ele e, talvez fosse bom, porque o “velho” já ficaria
sabendo sobre os dois de vez — Esquece. Vamos que a Darah já chegou para
nos buscar.
 
— Vamos. — Ryan respondeu, segurando a mão de Emma.
 
Os dois caminharam até o carro, que os aguardava do lado de fora da
casa, Steven estava ao volante e Darah no banco do passageiro e, no
momento em que o casal entrou, Steven começou a dirigir.
 
— O jantar acontecerá em um restaurante com sala privativa, temos
vinte minutos para estarmos lá — Darah informou e olhou para a amiga pelo
retrovisor — Está tudo bem?
 
— Sim, só estava pensando sobre uma coisa aleatória. — Emma
confidenciou — Em exato um mês, será o meu aniversário de dezenove anos
e minha vida virou do avesso em um ano.
 
— A nossa vida. — Darah corrigiu rindo — Essa semana meu pai
perguntou o que eu tenho feito da vida, que tenho ficado sumida tanto
tempo.
 
— Você, como a minha melhor amiga, tinha a obrigação de estar
comigo nessa. — Emma falou rindo e deu de ombros — O que você disse
para ele?
 
— Disse que estou aproveitando um ano antes da faculdade, eles
querem que eu curse administração, por causa da empresa — Darah explicou
— E é o que eu vou fazer.
 
— Isso é bom. — Emma concordou sorrindo pequeno e, depois de
alguns segundos, lembrou de um assunto que deveria ter perguntado mais
cedo, mas estava enrolando.
 
— O que foi? Tô vendo você mudando a expressão. — Darah falou
atraindo a atenção da melhor amiga.
 
— O que aconteceu com eles, com os corpos dos dois, John e
Carmen? — Emma perguntou, estava dividida, mas optou ir pelo lado que
queria essa informação.
 
— Enterrados lados a lado, como se fossem um casal feliz que sofreu
um acidente de trânsito, paguei muito dinheiro para que a mídia não
explodisse essa notícia. — Darah explicou — Sua família enterra os entes no
mesmo cemitério, então foi fácil resolver isso.
 
— Bom. — Emma falou baixo e Ryan a envolveu em um abraço
protetor — E obrigada por lidar com isso para mim.
 
— Estou às ordens. — Darah respondeu e piscou para a amiga, que
riu baixo.
 
Emma se aconchegou nos braços de Ryan, fechando os olhos e
relaxando por um momento. O pior já havia passado e sabia que a reunião
era apenas uma constatação, sequer levaria muito tempo para acabar.
Quando o carro parou, Emma respirou fundo ao sair do seu lugar de conforto
e deixou o olhar frio, era hora de trabalhar.
 
Desceram do carro e, no momento em que Darah falou o nome, já
foram guiados rapidamente para a sala privativa onde Marco os aguardava.
Assim que entraram na sala, Marco ficou de pé, como um bom anfitrião.
Emma, Ryan e Darah se sentaram, enquanto Steven ficou próximo à porta,
como um segurança, tal como um dos homens de Marco, que estava ali.
 
— É um prazer imenso ver rostos tão jovens à frente dos negócios.
— Marco comentou após os cumprimentos — Soube que você assumiu no
lugar do seu pai, Ryan, meus parabéns.
 
— Obrigado. — Ryan respondeu simples e seco.
 
— Mas você, Emma, se provou muito forte e determinada. Apesar de
quase ter estourado o prazo que eu lhe dei, você se saiu muito bem. —
Elogiou, mas Emma não demonstrou nenhuma reação — E lamento
profundamente sua perda.
 
— Marco, eu respeito a sua posição, mas não acho que temos que
agir dentro desse teatro. Mesmo que eu saiba que é disso que você gosta, do
show, — Emma disse firme, mas não soando grossa — não sou meu pai e
não pretendo puxar saco, estou aqui para falarmos de negócios.
 
— É por isso que eu gosto de você! — Marco falou rindo, e achou
ainda mais divertido quando viu a expressão fechada de Ryan — Acredito
no seu potencial, assim como acredito no potencial dos três, por isso as
coisas vão continuar como sempre.
 
— É com isso que eu me importo. — Emma respondeu.
 
— Eu faço os acordos e fecho os contratos, houve uma reorganização
na administração. — Darah informou e o mais velho ali acenou.
 
— Amanhã mesmo mandarei que entrem em contato com vocês. —
Marco avisou — E bem-vindos ao submundo do crime.
 
— Não estamos entrando agora. — Ryan o lembrou.
 
— Estão, sim. Agora ocupam posições de poder, antes eram só
crianças com proteção. Porém, agora, são responsáveis por toda uma
organização, por todo o mercado e tudo que o envolve, incluindo as vidas
que se perdem. — Marco falou com um sorriso cínico e bebeu um gole do
seu vinho — Mas acredito que vão se sair bem.
 
— Eu sei que vamos. — Emma respondeu — Acho que já estamos
acertados.
 
— Claro! Eu, só, realmente queria lhes parabenizar pessoalmente. —
Marco disse e sorriu — Quando marcarem o casamento, Emma e Ryan, não
esqueçam do meu convite.
 
— Claro, o senhor com certeza estará na lista de convidados. —
Emma respondeu em um tom educado, mas carregado de uma ironia quase
divertida.
 
— É o que eu espero. — Marco declarou — Tenham uma boa noite,
crianças.
 
— Boa noite! — Responderam, quase em uníssono, e rapidamente
deixaram a sala.
 
— O senhor vai realmente apoiar pessoas tão jovens no poder? — O
secretário perguntou a Marco depois que os quatro saíram dali.
 
— Eles foram excelentes em resolver os problemas. A garota, Emma,
ainda está firme após perder os pais e Ryan já prova sua capacidade há anos,
temos que apostar nos mais novos. — Marco respondeu com um sorriso
confiante no rosto — Vou apadrinhar essas crianças mesmo de longe, sei que
eles têm muito potencial e isso é bom.
 
— Se o senhor está falando, eu concordo. — O secretário falou, mas
Marco não voltou a responder.
 

 
— O que vamos fazer agora? — Darah perguntou e Emma olhou
confusa para a amiga. Já estavam dentro do carro indo embora dali.
 
— Como assim?
 
— Agora, neste exato momento, sabe? Ir para casa? Uma festa? —
Darah perguntou explicando.
 
— Podíamos ir para casa, comer uma pizza e jogar conversa fora. —
Emma sugeriu — Desde que seja proibido falar de máfia, assassinato, crimes
e os últimos dias.
 
— Eu topo. — Steven concordou.
 
— Eu também! — Darah respondeu.
 
— Vou chamar os meus amigos. — Ryan avisou e Emma olhou para
ele arqueando a sobrancelha — Helena, Derek e a Victória.
 
— Eu já disse que não gosto da Victória? — Emma indagou e Ryan
suspirou.
 
— Já, mas ela é minha comandante e amiga — Ryan respondeu
enquanto se encaravam.
 
— Chama o Scott, Emma. — Darah sugeriu e riu alto ao ver o olhar
mortífero de Ryan em si.
 
— É uma boa ideia — Steven concordou — E então é só apresentar
ele para essa Victória e vocês resolvem o problema de vocês.
 
— Gostei da ideia. — Emma concordou rindo — Chama eles.
 
— Essa vai ser uma noite e tanto! — Darah falou rindo.
 
Emma sorriu no meio da conversa alta, era bom poder ser jovem de
novo, era bom viver sem medo. Era tudo muito recente e, se respirasse muito
fundo, ainda sentia o cheiro de pólvora e sangue, mas não iria se prender
nisso, iria apenas viver. 
 
Ainda se lembrava do jantar no qual soube da máfia e do casamento,
mas era muito distante. Agora era uma nova pessoa, uma mais forte, mais
determinada e capaz de tudo.
 
Não era mais a Emma que sonhava em cursar medicina, era a Rainha
de Boston e sabia disso.
 
Sorriu pequeno quando sentiu os lábios de Ryan nos seus, voltando a
prestar atenção no presente, e respondeu à brincadeira da melhor amiga
enquanto abraçava o namorado. Apesar de tudo, de todas as despedidas,
Emma sabia que seria feliz novamente.
 
Capítulo final
Os dias bons vieram como raios de sol que iluminam ao fim de uma
longa tempestade. Apenas um mês havia passado, mas Emma já se sentia
completamente leve e livre dos monstros que a perseguiram, já não perdia
noites de sono. Sua mente não estava mais atormentada. A verdade é que
estava feliz e nem mesmo se lamentava pelas perdas.
 
Emma sentiu as pontas dos dedos de Ryan deslizando vagarosamente
por suas costas, mas apenas se remexeu na cama, apesar de estar acordada,
ainda não queria abrir os olhos e se levantar, mas suspirou alto ao sentir os
lábios dele contra os seus ombros.
 
— Bom dia, aniversariante!  — Ryan falou baixo e tinha um sorriso
no rosto — Hora de levantar.
 
— Bom dia! — Respondeu com a voz rouca — E não existe hora de
levantar no dia do aniversário.
 
— Claro que existe. — Ryan falou rindo contra a pele de Emma, que
se arrepiou.
 
— Você tem um bom motivo para que eu me levante agora? —
Emma perguntou se virando para olhar para o rosto do namorado.
 
— Tenho, mas você precisa se levantar para descobrir. — Ryan falou,
ficando de pé.
 
— Achei que a gente ia transar. — Emma resmungou se levantando
— Me acordou para nada!
 
— Parece tão nova, mas o espírito já é de velha. — Ryan provocou e
riu ao ver a expressão zangada dela — Eu vou tomar banho com você.
 
— Agora eu também não quero! — Emma exclamou e olhou para
Ryan — Vamos passar uma semana sem sexo agora. Você vai conhecer
minha alma idosa.
 
Emma avisou e fechou a porta do banheiro, trancando-a para que ele
não tivesse chance de entrar. Caminhou até em frente a pia, se olhando no
espelho imenso que tinha ali, e sorriu. Sua vida havia mudado tanto em um
ano. Não via mais a garota ingênua de antes, agora via uma mulher forte e
competente, muito bem decidida e se reconhecia assim.
 
Lavou o rosto com calma e tomou um banho morno, deixando que a
água caísse por bastante tempo sobre o seu corpo até que se sentisse
completamente relaxada. Vestiu seu roupão e saiu tranquila do banheiro,
mas, de repente, sentiu seu corpo sendo preso contra a parede e levantou o
olhar, encarando Ryan, que tinha um sorriso malicioso nos lábios.
 
— Não vamos ficar uma semana sem sexo. — Ele falou com a voz
baixa.
 
— É? E como você pretende me convencer do contrário? — Emma
perguntou, desafiando-o.
 
— Você vai sentir. — Ryan respondeu, já tirando a garota do chão
para que ela ficasse com as pernas em volta do seu quadril, e voltou a
pressioná-la contra a parede.
 
— Estou ansiosa por isso. — Emma respondeu e sentiu os lábios dele
contra os seus.
 
O beijo era intenso e exigente, a língua de Ryan invadiu sua,
dominando-a, ditando o ritmo. As mãos apertavam a cintura com força, sabia
que ficaria marcada, mas não se importava, Ryan queria senti-la e queria que
ela o sentisse. 
 
Ryan se afastou da parede, levando Emma direto para a cama, e a
deitou, ficando sobre o seu corpo. Se afastou o suficiente para abrir o
roupão, enquanto se olhavam nos olhos, era inegável a conexão que tinham.
Ele olhava para ela com devoção, apreciava a beleza de seu corpo da mesma
forma com a qual admirava a personalidade forte. Se considerava sortudo
por ter aquela mulher só para si.
 
Ele começou beijando o pescoço e arranhando a pele com as pontas
dos dentes, fazendo Emma arfar arrepiada e, enquanto seus lábios desciam
em direção aos seios dela, sua mão ia direto para a intimidade, começando a
acariciar suavemente enquanto beijava seu corpo. Emma gemeu, e gemeu
mais quando ele começou a sugar o bico de seu peito e a penetrava com um
dedo.
 
— Ryan… — Emma gemeu, fazendo ele sorrir.
 
— Pronta para retirar a regra da uma semana sem sexo? — Ele
perguntou divertido, e a penetrou com mais um dedo fazendo um movimento
lento de vai e vem.
 
— Eu só quero que você me foda, de preferência com o seu pau! —
Emma falou, necessitada, com os olhos brilhando de excitação.
 
— Seu desejo é uma ordem. — Ryan respondeu e lambeu
vagarosamente sua barriga em direção a sua boceta — Mas antes vou te
enlouquecer de prazer.
 
Emma choramingou, gemendo baixo, mas ofegou alto quando sentiu
a língua quente e molhada em sua vulva. Ryan sabia o que fazer e tinha a
intenção de enlouquecer a namorada. Quanto mais ela gemia e se contorcia,
mais instigado ele ficava.
 
A mente de Emma já estava nublada e seu corpo inundado da
sensação de prazer. Ryan conhecia seus pontos fracos e a levava ao ápice e
ela amava isso. De sua garganta saíam sons de gemidos, enquanto suas mãos
apertavam o lençol e seu corpo tremia sob o toque dele. Então Emma sentiu
quando o orgasmo invadiu seu corpo e sua visão ficou borrada enquanto a
sensação do ápice do prazer tomava conta de si.
 
Ryan olhou para o corpo mole dela sentindo-se orgulhoso, se afastou
para que ela pudesse se recuperar e, enquanto isso, retirou a camisa e calça,
depois foi até o armário, pegou uma camisinha e caminhou de volta para a
cama.
 
— Tão linda com expressão de prazer enfeitando seu rosto. — Ryan
falou se inclinando para beijá-la — Espero que esteja pronta para mais.
 
— Sempre estou pronta para você. — Emma respondeu com a voz
fraca.
 
Ryan a beijou, e de novo e de novo, até que ficassem sem fôlego. Ele
sorriu ao ver os lábios dela vermelhos inchados e a beijou mais uma vez, e
então a virou, deixando sua bunda empinada para si, acariciando-a devagar,
e sorriu ao ouvir Emma suspirar.
 
Ryan a penetrou com força e gemeu, gostava da sensação quente que
era estar dentro dela. Então, devagar começou a se mover, sentindo o prazer
invadindo seu corpo, estava tão duro e excitado. Para ele, não havia ninguém
no mundo que lhe proporcionasse tanto prazer quanto Emma.
 
Ele fazia movimentos de vai e vem e Emma gemia baixo, adorava
ouvir que ele estava gostando tanto quanto ela. Ela se sentia completamente
preenchida enquanto ele a penetrava, mas aquele ritmo estava pouco, Emma
queria mais e pediu por mais.
 
Ryan apertou a cintura dela, se movendo com força e intensidade, e
acertou um tapa na bunda de Emma, a fazendo gritar e gemer. Então se
afastou e deitou na cama, colocando-a em seu colo, e apreciou a vista,
enquanto ela sentava em seu pau.
 
Emma deslizou suavemente para baixo, sentando devagar, e sorriu
em meio a um gemido, se apoiou nele e começou a subir e descer devagar,
até pegar o ritmo, e começou a cavalgar. Estavam imersos no prazer, gemiam
juntos, os corpos vibravam e juntos atingiram o orgasmo. 
 
O corpo de Emma caiu sobre o de Ryan, que a envolveu em um
abraço após retirar a camisinha e jogar no chão do quarto. Emma ficou
recuperando o ar, enquanto sentia o peito dele subir e descer, também de
maneira desregulada.
 
— Eu vou precisar de outro banho — Emma comentou rindo.
 
— É, eu acho que eu também, mas podemos ficar aqui mais um
pouco. — Ryan respondeu e ela concordou no mesmo instante.
 
 
— Por que você me acordou? — Emma perguntou enquanto saía do
quarto com Ryan — Não foi só pelo sexo, foi?
 
— Darah e Helena estão aqui para vocês saírem juntas. — Ryan
falou calmo, mas ela parou no meio do corredor com os olhos arregalados.
 
— O quê? Está brincando, né? — Emma perguntou, chocada e
receosa — Tem mais de duas horas que você me acordou, você não faria
isso.
 
— Tem certeza que não? — Ele questionou arqueando a sobrancelha
e Emma sentiu o rosto esquentar.
 
— Você deveria ter me avisado! 
 
— Elas também transam. Vem, ou vai fazer elas esperarem mais? —
Ryan perguntou, achando tudo divertido, e segurou na mão dela para que
voltassem a andar.
 
— E daí que elas transam? Não fazem isso enquanto eu espero na
sala de estar da casa delas. — Emma reclamou e Ryan riu alto.
 
Enquanto desciam as escadas, Emma pode ouvir a voz das amigas, e
respirou fundo, sentindo o rosto corar ainda mais, já se preparava para toda e
qualquer piadinha que sabia que ouviria,
 
— Só vou perdoar a demora porque é seu aniversário. — Darah falou
quando colocou os olhos na melhor amiga e riu ao ver ela vermelha.
 
— Viemos para o café da manhã e estamos indo para o almoço. —
Helena comentou com um sorriso divertido — Ainda bem que aquela
senhora que trabalha aqui nos deu comida.
 
— Nossa, sim! — Darah concordou — Eu teria morrido de fome.
 
— Não sei se cedo é horário de ir para a casa dos outros. — Emma
deu de ombros.
 
— Nunca imaginei que minha amiga já acordava na r…
 
— Darah! — Emma gritou, a interrompendo e fazendo Helena e
Darah rirem. Ryan até queria, mas segurou o riso para não chatear Emma —
O que vocês querem? 
 
— Nós vamos sair, nós três. — Darah explicou ficando de pé — Os
homens vão trabalhar.
 
— Os homens e a Victória. — Helena corrigiu — Eu tenho fé que
um dia a Emma e ela vão conviver sem problemas, sem brigas.
 
— Nunca! — Emma declarou firme.
 
— Teimosa. — Helena resmungou e ela deu de ombros.
 
— Vamos? — Darah chamou, pegando sua bolsa e ficando de pé.
 
— Vamos! — Emma concordou e se virou para Ryan — À noite, nós
dois comemoraremos o meu aniversário. A sós.
 
— Estarei aguardando ansioso. — Ryan respondeu e beijou os lábios
dela suavemente.
 
— Vocês dois são muito grudentos. — Darah alfinetou em um tom
divertido. Ela achava os dois fofos, mas gostava de provocar sempre que
podia — Vamos embora logo, depois vocês resolvem esse fogo.
 
— Vou perguntar pro Steven se ele não está dando conta, para você
estar tão chata — Emma avisou, se afastando do namorado, e Darah revirou
os olhos rindo — Tchau, amor.
 
— Tchau, amor. Divirta-se! — Ryan falou sorrindo, vendo a
namorada ser arrastada para fora de casa com as amigas.
 
Emma saiu rindo e trocando alfinetadas com Helena e,
principalmente, com Darah. Estava animada para comemorar seu aniversário
e se divertir um pouco.
 

 
O dia passou em um piscar de olhos, Emma só se deu conta de que o
dia já havia ido, quando viu que a noite já estava chegando. Havia
aproveitado bastante o dia, mas estava ansiosa para chegar em casa logo.
Gostava muito de passar seu tempo com Ryan, porque se sentia em casa com
ele, era o seu lar.
 
— Vamos ajudar com as sacolas. — Darah avisou quando
estacionaram o carro.
 
— Acho que eu realmente preciso de ajuda. — Emma concordou
rindo, tinha se esbaldado nas compras.
 
As três desceram do carro e caminharam tranquilamente até em casa,
mas assim que pisaram na sala, Emma arregalou os olhos, surpresa por
encontrar o ambiente parcialmente decorado e Ryan segurando um bolo, mas
ele não estava sozinho, Charlotte também estava ali, Steven, Derek e
Victória também.
 
— Feliz aniversário, meu amor. — Ryan falou com um sorriso
pequeno.
 
— Eu… Obrigada! — Emma disse surpresa, ainda parada no mesmo
lugar, mas Darah segurou em seu braço delicadamente e a guiou, lembrando-
a de andar.
 
— É algo simbólico, para não passar em branco — Ryan falou e
Emma acenou.
 
— Nós não vamos ficar aqui — Charlotte comentou, indo até a irmã
e lhe entregando uma sacola da Dior — Feliz aniversário, te desejo tudo de
bom.
 
— Obrigada. — Emma falou, aceitando o presente e o abraço — Por
que vocês não vão ficar? Podemos beber e comemorar…
 
— Tenho um encontro. — Charlotte confessou com um sorriso
pequeno, já se afastando — Nos conhecemos em Paris.
 
— Avisa que, se ele for um babaca, eu o mato! — Emma falou séria
e Charlotte riu.
 
— Eu aviso sim. — Charlotte concordou — Preciso ir. Mas, feliz
aniversário, e boa noite.
 
— Obrigada. — Emma agradeceu novamente a irmã e se abraçaram
mais uma vez antes de Charlotte sair.
 
— Feliz aniversário! Victória falou, entregando um presente, mas
sem tentar abraçar Emma — É meu e do Scott.
 
— Obrigada. — Emma respondeu com um sorriso educado, mas não
se forçou a abraçar a ruiva, não eram amigas e não seria um aniversário que
mudaria isso.
 
Derek também entregou seu presente e abraçou Emma, se afastando
meio segundo depois porque Ryan o puxou, fazendo todos rirem, e logo ele
saiu com a Helena. O último a entregar seu presente foi Steven, que levou
um presente de Marie para ela, que foi claramente o que ela mais gostou.
 
— Eu gostei desse pequeno momento, mesmo que ninguém tendo
ficado. — Emma comentou sorrindo e recebeu um selinho do namorado.
 
— Agora estamos sozinhos — Ryan falou sorrindo, puxando Emma
para os seus braços — Agora é a minha vez de te dar um presente.
 
— E o que é? — Emma perguntou curiosa.
 
— Vem, vou te mostrar. — Ryan falou segurando na mão dela.
 
Ele começou a guiá-la pela casa até que saíssem no jardim, Emma
sorriu ao ver um caminho, iluminado por pequenas lâmpadas, que dava em
uma cabana. O chão, forrado e repleto de travesseiros, havia também vinho,
chocolates, frutas e mais algumas comidinhas. Emma sorriu animada e,
quando se virou para abraçar Ryan, o encontrou de joelhos.
 
— Ryan? — Ela perguntou um pouco confusa.
 
— Eu te amo e faria tudo por você. O que eu mais quero é passar o
resto da minha vida com você! — Ryan começou a falar, demonstrando
sentimento em cada palavra dita — Eu quero muito me casar com você e
quero, principalmente, que você queira isso, porque nós nos amamos.
 
— Eu quero me casar com você! — Emma falou convicta — Eu te
amo e não me imagino longe de você.
 
Ryan sorriu, colocando a aliança no dedo de Emma, e se levantou,
beijando ela com carinho.
 
— Obrigado por me escolher. — Ryan sussurrou.
 
— Obrigada por não desistir de mim. — Emma respondeu.
 
Então se beijaram mais uma vez e entraram na cabana, tinham muito
o que comemorar. Encerraram um ciclo, mas começavam uma nova fase em
suas vidas.
 
Extra: Casamento
Os passos eram dados com firmeza, ela sabia onde estava indo e o
que tinha de fazer.
 
Emma entrou no escritório sem ser anunciada, não seria de qualquer
forma, já que a secretária não estava ali. Ninguém sabia que ela estaria ali.
As câmeras de segurança de todo o percurso que ela precisou fazer para
chegar à sala presidencial estavam sendo controladas por Scott, nenhuma
imagem da chefe passaria batido.
 
Seria como se ela nunca estivesse estado ali.
 
Emma sorriu maldosa ao entrar na sala, sequer se deu ao trabalho de
trancar a porta, era uma visita rápida. O homem ali ficou de pé no mesmo
instante que notou não estar sozinho. Ele tentava manter a postura, mas era
difícil quando estava diante da maior mafiosa de Boston.
 
Quem via por fora, julgava que Ryan era pior, mas quem realmente
conhecia o casal mais poderoso de Boston, sabia bem que Emma era
realmente brutal.
 
— Christian Taner, como vai o deputado mais bem falado da
atualidade? — Emma perguntou com um sorriso debochado no rosto. 
 
— Emma, o que está fazendo aqui? — Perguntou sendo direto, mas
Emma se deliciou com o tom de nervosismo na sua voz — Hoje é o seu
casamento, deveria estar se preparando.
 
— O casamento é meu, mas você estava bem ansioso para a festa,
não é mesmo? — Ela ironizou.
 
Christian respirou fundo, algumas gotas já se formavam em sua testa
e seu coração estava disparado dentro do peito, era medo. Ele sentia-se como
uma presa, enquanto a Emma se movia lentamente como uma fera, pronta
para dar o bote.
 
— O que você veio fazer aqui, vá direto ao ponto? — Christian
perguntou mudando a postura.
 
— Você não acha um pouco deselegante armar um ataque no meu
casamento? Sério, eu fiquei noiva por três anos e quando finalmente vou me
casar, você me aprontar uma dessa? — Emma perguntou com falsa lástima
— Não se envergonha?
 
— Eu jamais faria algo assim — Se defendeu, engolindo seco.
 
— Eu já tenho todas as provas, poupe o seu tempo — Emma falou
séria e sorriu — Gostaria de dizer suas palavras finais?
 
— Você não pode fazer isso! Eu sou um homem muito bem-visto no
meio popular, sou um empresário reconhecido, se me matar, terá muitos
problemas — Christian tentou se defender, estava realmente nervoso, quase
desesperado.
 
— Não se preocupe, eu já resolvi esse inconveniente, logo você terá
um substituto que irá trabalhar como eu mando — Emma falou sorrindo —
Você agora é dispensável. 
 
— Eu ainda sou um político influente e…
 
— E eu já cuidei disso — Emma sorriu maldosa — Até gostaria que
você pudesse ver o que eu fiz com sua boa fama, mas como você mesmo
falou, hoje é meu casamento e eu ainda nem comecei a maquiagem, ainda
bem que a noiva pode se atrasar um pouco.
 
— Emma acaba logo com isso, a gente só tem mais dez minutos —
Darah falou pelo ponto que estava no ouvido da Emma — E você tem que
começar a se arrumar, me ajuda a te ajudar.
 
— Estão me apressando, melhor eu resolver logo isso — Emma
sacou a arma e apontou para o político e atirou uma vez quando ele tentou se
aproximar da mesa — Foi um desprazer conhecer você, Christian Taner.
 
— Emma, espera eu tenho uma esposa, tenho um filho pequeno —
Implorou enquanto gemia de dor por causa do ombro atingido — Eu imploro
para você, faço qualquer coisa.
 
— Christian, Christian, quem você acha que te denunciou? Quem
você acha que vai herdar sua empresa? — Emma riu — Sua esposa.
 
— O que? — Ele perguntou completamente chocado.
 
— Você tinha que ter pensado nisso antes de transar com uma loira
na cama da sua esposa, ela ficou bem revoltada — Emma disse com falso
pesar.
 
— Oito minutos — Darah falou, lembrando a Emma do tempo mais
uma vez.
 
— Adeus, espero que queime no inferno — Emma falou e atirou uma
vez, direto na testa do Christian.
 
— Sai logo daí, estou chegando com o carro pela porta dos fundos,
você precisa se apressar — Darah avisou e Emma começou a sair da sala —
Scott disse que logo as câmeras voltam, não quero problemas com aquele
juiz de novo, foram milhões da última vez.
 
— Ainda bem que sou milionária — Emma respondeu e a Darah
revirou os olhos mesmo que a amiga não pudesse ver.
 
— Só anda logo — A Darah pediu com a voz cansada, mas se
divertia com as situações
 
Emma apressou o passo, tinha pouquíssimos minutos para sair do
prédio e estava no último andar. Felizmente conseguiu pegar o elevador a
tempo e descer até o térreo e sair do prédio no último segundo, entrando no
carro em que a Darah e o Steven estavam esperando.
 
— Satisfeita? — Darah perguntou olhando a melhor amiga no banco
de trás.
 
— Muito — Emma sorriu — Eu precisava de um pouco de
adrenalina hoje, nem acredito que eu vou casar.
 
— Pobre Ryan, esperou três anos — Steven brincou e a Emma
arqueou a sobrancelha.
 
— E ele ainda tá melhor que você, que segue sendo enrolado —
Emma rebateu.
 
— Tem gente que não sabe brincar — Steven reclamou e a Emma
deu de ombros.
 
— Podemos mudar de assunto? — Darah perguntou e a risada alta da
Emma pode ser ouvida.
 
— Fugindo do assunto — Acusou e a Darah semicerrou os olhos
para a melhor amiga — Tudo bem, vamos logo, eu tenho um casamento para
ir.
 

 
O casamento aconteceria no jardim de uma mansão comprada apenas
para esse propósito. Emma não tinha problemas em esbanjar dinheiro. O
imenso jardim foi completamente decorado por rosas brancas e tulipas
vermelhas. Haveria, o que a Emma chamava de uma quantidade moderada
de convidados. 
 
Ela considerava que não deveria estar repleto de desconhecidos
apenas para fazer média, mas ao mesmo tempo, algumas pessoas eram
importante manter-se próximo. E seus amigos mais íntimos, algumas
pessoas da faculdade, pois finalmente tinha conseguido iniciar seu sonho,
mas tinha desistido de medicina, apesar de ter considerado o curso, achou
muito longo para os seus novos objetivos. Resolveu fazer direito, assim
como o Ryan que já era formado no curso.
 
Emma olhou-se no espelho quando finalmente ficou pronta, o vestido
longo e volumoso a fazia parecer uma princesa, ou como o Ryan a chamava,
uma rainha. Ela sentia como se o mundo tivesse parado e ela estivesse em
um sonho, estava prestes a se casar com o homem que amava.
 
Iria se casar porque escolheu se casar.
 
— Você está incrivelmente linda, chefinha — Emma ouviu a voz de
Helena e se virou, olhando para amiga — Darah pediu para que eu viesse ver
se estava precisando de algo.
 
— Eu estou ótima, acabei de pedir para ficar sozinha para a equipe
que estava me ajudando a me arrumar, já que já estou pronta — Emma
respondeu e respirou fundo — Sinto como se estivesse perto de chorar a
qualquer momento.
 
— Espera dizer o sim, aí você chora — Helena disse em um tom
divertido e a Emma riu.
 
— É muita emoção — Se explicou.
 
— Matar alguém não ajudou a controlar isso? — Helena perguntou e
riu quando viu a Emma negando — Vou tirar isso dos meus planos quando
for a minha vez de se casar.
 
— Ah, mas foi bem divertido — Emma deu de ombros.
 
— Você é tão psicopata chefinha — Helena brincou e se aproximou
da Emma — Eu estou tão feliz por vocês hoje. Ryan não é só o meu chefe,
ele é um amigo muito importante, ele salvou a minha vida quando eu achava
que não tinha mais salvação, e ver o tanto que vocês são felizes juntos é
satisfatório. Eu sei que você ainda não gosta da Vick, mas ela está tão feliz
quanto eu por esse casamento, e por isso nós temos um presente para você.
 
— Helena, você não pode me falar essas coisas logo depois de me
dizer que eu não posso chorar — Emma falou respirando fundo e fazendo a
Helena rir.
 
— É uma coisa bem simples para a Rainha — Helena falou e esticou
a mão, entregando à ela uma caixinha similar a de um colar.
 
— Obrigada — Respondeu aceitando o presente.
 
Emma abriu a caixinha, se surpreendendo ao encontrar uma coroa
delicada, sua estrutura prateada abrigava pedras de diamante e rubis, era
linda e emanava poder.
 
— Você é a rainha de Boston, deve usar uma coroa em seu
casamento — Helena explicou estendendo a mão — me permite.
 
— Claro — Emma respondeu entregando a coroa.
 
Helena pegou a peça e cuidadosamente colocou sobre a cabeça da
Emma, que ficou ainda mais estonteante.  Emma se olhou no espelho,
impressionada consigo mesma, a coroa lhe deu um ar poderoso, e gostava
disso.
 
— Eu preciso voltar para o meu lugar, mas obrigada por tudo, rainha
— Helena agradeceu mais uma vez e saiu, após abraçar a Emma.
 
Mal a porta foi fechada, se abriu novamente, Darah entrou trazendo
consigo o buquê que Emma usaria, lindas tulipas vermelhas, que foram
pensadas cuidadosamente baseadas em seu significado. Amor eterno.
 
— Você está fabulosa — Darah elogiou — Como uma rainha.
 
— Eu tenho vinte e um anos, sou uma universitária e estou me
casando — Emma falou olhando para a melhor amiga.
 
— Você também uma excelente chefe da máfia, uma assassina de
sangue frio e uma mente bem perversa — Darah completou sorrindo — sabe
bem que essa coroa faz jus ao seu título.
 
— Tudo bem, eu sei — Emma respondeu sorrindo, estava
emocionada com tudo — Obrigada por ser tão louca quanto eu.
 
— É uma honra — Darah respondeu divertida, mas estava
emocionada também — Mas você precisa se preparar, o rei está à sua espera.
 
Emma sorriu e abraçou a melhor amiga, estavam sempre juntas, em
todos os momentos e agora não seria diferente. Emma era a noiva e ela a
madrinha, e não demorariam a ser o inverso.
 
— Uma organizadora logo virá para te guiar até o altar, eu vou agora
para ficar no meu lugar de madrinha — Darah explicou se afastando.
 
— Você pode me acompanhar até o altar — Emma pediu,
surpreendendo a melhor amiga.
 
— Quê?
 
— Eu não tenho pais, mesmo que minha relação com a Charlotte
tenha melhorado, ainda não somos próximas e você sempre esteve comigo,
eu confio em você de olhos fechados e eu sei que a recíproca é verdadeira,
está tudo bem em ser você — Emma esclareceu, fazendo a Darah respirar
fundo várias vezes para não chorar. — Eu amo você e tenho sorte de ter uma
amiga tão leal.
 
— Eu te amo tanto, Emma — Darah falou sincera segurando as mãos
da Emma — Eu te levo até o altar.
 
O novo abraço foi interrompido por uma funcionária da organização,
era o momento de ir até o altar, era o momento do casamento acontecer.
 

 
Ryan estava uma pilha de nervos sobre o altar, suas mãos suavam
frio, nem mesmo quando precisou cometer seu primeiro homicídio se sentiu
tão ansioso e nervoso, ele tentava respirar fundo para acalmar, mas nada
funcionava.
 
Já estavam todos em seus lugares, como no ensaio que tinham feito,
tudo estava no lugar. Para ele, só faltava a Emma ali ao seu lado para dizer o
sim.
 
Na prática, não mudaria tanta coisa, já moravam juntos, já
comandavam juntos, já viviam como marido e mulher, mas Ryan ansiava por
poder chamá-la de esposa. Apresentá-la assim. Se orgulhava muito da
mulher que amava e gritaria isso ao mundo se pudesse.
 
A marcha nupcial começou a ser tocada e o Ryan sentia como se o
seu coração fosse sair pelo peito de tão forte que batia, principalmente
quando colocou os olhos na Emma.
 
“Deslumbrante, linda e completamente minha”
 
Era só este o pensando do Ryan vendo Emma caminhar em sua
direção, seus olhos estavam conectados, mas ele reparou em cada detalhe, no
vestido que fazia ela parecer da realeza, a coroa que destacava isso. Era a sua
rainha vindo ao seu encontro.
 
— Eu desejo tudo de bom para vocês — Darah falou entregando a
mão da Emma para o Ryan e olhou bem para ele — Não importa o quão
poderoso você seja, se magoar ela, eu te caço.
 
— Eu prefiro a morte a quebrar o coração dela — Ryan respondeu
sincero.
 
E enquanto Emma sorria satisfeita pelo que tinha ouvido, Darah se
afastava indo para seu lugar de madrinha oficial.
 
O juiz de paz ministrou o casamento falando sobre amor, união e
lealdade. Três coisas que já se faziam presentes na vida do casal. Emma e
Ryan eram completamente compatíveis.
 
— Emma, espero que aceite essa aliança como prova do meu amor
— Ryan falou, colocando a aliança no dedo da noiva — Você é a mulher
mais incrível que eu já conheci, tão forte como se fosse uma força da
natureza, incontrolável e determinada. E isso só faz de ainda mais
interessante e eu te amo, mas é claro que eu não te amo apenas por isso, eu
também te amo quando você parece uma menina frágil, quando está cansada
de tudo ou até mesmo quando está estressada, porque eu temo por inteiro,
amo cada parte de você — Ryan sorriu emocionado, enquanto algumas
lágrimas já escorriam do rosto da Emma — Eu te amo nessa vida, e por toda
a eternidade.
 
— Ryan, espero que aceite essa aliança como prova do meu amor —
Emma falou, colocando a aliança no dedo do noivo — As vezes eu me
pergunto como nos encontraríamos caso tivéssemos começado de uma forma
diferente, porque para mim, é óbvio que nascemos para ficar juntos. Em
qualquer universo, em qualquer vida, ainda seremos nós, porque sentimos
amor da maneira mais pura e sincera. Sou grata por te ter em unha vida e eu
espero que a gente continue assim sempre — Emma falou respirando fundo
para contornar choro um pouco, mas não estava sendo efetivo — Eu te amo,
verdadeiramente e por toda a vida, eu te amo.
 
— Eu os declaro marido e mulher — o juiz exclamou alto e uma
salva de palmas pode ser ouvida — pode beijar a noiva.
 
Ryan sorriu para a Emma que retribuiu o gesto e puxou ela
cuidadosamente pela cintura. E colou os lábios aos da esposa, finalmente era
sua mulher. As línguas já se conheciam perfeitamente, os corações já
pareciam bater sincronizados. Eram peças que formam um só.
 
Eram feitos de caos e de amor e viveriam em perfeita sincronia
enquanto estivessem vivos, passariam juntos toda a eternidade, em todas as
vidas e versões que se encontrassem.
 
Findaram o beijo com um selinho e declarações sussurradas,
enquanto ouviam gritos dos convidados.
 
O rei e rainha estavam casados.
 

Fim.
 

 
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