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Nicolle Meyer

Copyright © 2022 Nicolle Meyer

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reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem consentimento e autorização por escrito da autora.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Sumário
Notas e Avisos
Sinopse
Playlist
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
Outras Obras
Sobre a Autora
Notas e Avisos
A Esposa do Meu Príncipe é um livro sobre um
relacionamento poliamoroso com cenas de sexo explícito, se você
não se sente confortável com esses temas, já está avisado.
O livro é ambientado no final do século XVIII, em um reino
TOTALMENTE FICTÍCIO. As leis, costumes e geografia NÃO
EXISTEM NA VIDA REAL. Uma grande pesquisa sobre a época foi
feita, mas não esqueça que o livro saiu da cabeça de uma escritora.
A linguagem do livro é simples. Não é uma linguagem atual,
mas não possui palavras e expressões da época. É de fácil
entendimento.
Espero que aproveitem o livro e se apaixonem pelos
personagens tanto quanto eu!
Sinopse
Casar era a última coisa na lista de prioridades de Pierre, o
Príncipe de Pommer. Nos seus 24 anos, precisava garantir o futuro
do reino o mais rápido possível, mas não queria abandonar seu
amor por Thomás, seu criado.
Thomás, um jovem de 20 anos, chegou ao castelo com um
só objetivo: encontrar sua irmã perdida, mas tudo começou a sair do
seu controle quando se apaixonou pelo Príncipe. Além de manterem
segredo sobre sua relação, também precisavam achar uma forma
de Pierre se livrar do casamento, mas tudo mudou quando
colocaram os olhos em Antonella.
Antonella, com seus 18 anos, era a sexta pretendente do
Príncipe de Pommer. Delicada, graciosa, tímida e intocada, foi
dessa forma que chegou no castelo e conquistou os corações de
Pierre e Thomás.
Se antes o plano era afasta-la, agora era não engravida-la
nas tórridas noites que tinham a três, e tentar conter o amor e
paixão que crescia mais a cada dia.
Playlist

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Capítulo 1
Dei uma olhada rápida no céu encoberto enquanto
caminhava apressado pelos corredores do castelo. Tive meu
momento de paz e sossego interrompido por um dos criados,
avisando que meus pais estavam à minha espera para mais uma
conversa que eu não estava nem um pouco interessado.
Tinha certeza de que meu casamento era o assunto, afinal,
não falavam de outra coisa há anos. O problema era: eu não tinha
uma noiva, e se dependesse de mim, eu nunca teria.
— Com licença — falei, aproximando-me de meus pais.
— Precisamos ter uma conversa, Pierre. — O semblante de
meu pai era sério, duro, como normalmente era, mas ele precisava
ser assim para garantir o respeito que um rei como ele merecia,
apesar de ser um pai amoroso.
— Algum problema?
— Não, nenhum. — Ao contrário de meu pai, minha mãe
estava serena, com a voz doce e gentil.
Olhei para ela e sorri, sabendo que por mais que o assunto
fosse sério, sempre a teria para amenizar a situação.
Ela entrelaçou suas mãos em frente à saia volumosa do
vestido. Amarelo, como quase todos os dias. O tom que destacava a
sua pele marrom escura, quase como a minha, e dava-lhe a
graciosidade e brilho que a faziam parecer tão radiante.
— Apenas queremos avisar que uma nova pretendente
chegará em breve no nosso castelo, e eu espero que dessa vez não
estrague tudo — avisou o Rei.
Respirei fundo e prendi a respiração por um segundo.
— Não entendo o motivo de insistirem se já perceberam que
isso não vai dar certo.
— Mas precisa dar, Pierre. Você já chegou nos vinte e quatro
anos, e como príncipe e herdeiro do trono, precisa se casar e ter
filhos. Eu esperava que à essa altura você já tivesse entendido a
necessidade do seu casamento.
— Você já dispensou quatro pretendentes, querido. Além do
que aconteceu com Diana. Sabemos o quanto é importante que
você escolha alguém com quem se sinta confortável, mas estamos
ficando sem opções. Precisa dar uma chance para conhecê-la —
disse minha mãe.
— E quem é ela?
— Antonella, filha mais nova do Grã-Duque da Toscana.
Recebemos uma pintura dela, se quiser, podemos mostrar-lhe.
— Não, não. Prefiro a surpresa.
— Antonella deve chegar amanhã para o jantar. Eu espero
que não nos decepcione mais uma vez, Pierre. — O tom de voz de
meu pai era tão duro quanto seu olhar.
Assenti, retirando-me do cômodo em seguida.
Casar-me era a última coisa que eu queria. Eu já tinha um
amor, e não queria que ele sentisse que está competindo por
espaço na minha vida. Thomás precisava me dividir com as
obrigações de um príncipe, e não tenho certeza se ele aguentaria
dividir-me com uma esposa e filhos.
Avistei Thomás no jardim, colhendo flores para colocar em
meu quarto, como fazia todos os dias.
Sendo meu criado de quarto, nossos encontros secretos
eram mais fáceis do que deveriam ser, mas isso não significava que
não precisávamos tomar cuidado com cada passo que dávamos.
Passei logo atrás dele, sem olhá-lo, chamando sua atenção e
seguindo para trás dos grandes arbustos que formavam um
pequeno labirinto.
— O que queriam com você? — ele perguntou.
— Falar sobre as pretendentes. Uma garota está vindo,
chega amanhã no final da tarde. Não sei se posso continuar
recusando-as.
— Então faça ela recusar você. Seus pais não poderão culpa-
lo se a pretendente não quiser casar com você.
— E como eu faço para isso acontecer? Convenhamos, todas
estão aqui querendo o título de rainha consorte, e dependendo do
nível de interesse dela, não há nada que eu faça que possa fazê-la
desistir do casamento.
— Seja desagradável, rabugento e irritante. Finja que você
não é assim só na presença dela, mas que você é assim com todos
o tempo inteiro. Não há mulher que queira viver o resto da vida ao
lado de um homem desses.
— Tentarei, mas não tenho certeza se surgirá efeito.
— Não se preocupe, pretendo ajudá-lo nessa missão. Como
seu criado de quarto, ninguém conhece você melhor do que eu, e eu
farei questão de contar para a moça o quanto você é desprezível. —
Thomás sorriu, confiante com o seu plano.
— Não exagere. Não quero ficar mal falado entre os reinos.
— Só o suficiente, deixe comigo.
Assenti, soltando um longo suspiro.
Seus olhos verdes me encararam com uma certa alegria.
Certamente Thomás não queria demonstrar o quanto estava
insatisfeito com a situação. Mais de uma vez ele deu a ideia de
fugirmos para conseguirmos viver nosso amor, mas eu recusei.
Também sugeriu que eu enfrentasse a corte e meus futuros súditos
e assumisse que estávamos apaixonados, mas eu não conseguiria
fazer algo do tipo, e sentia que podia ser deserdado por meu pai se
tentasse.
Dei um passo em sua direção. Aproximei meu rosto do seu
com rapidez, tentando beijar seus lábios, mas ele me empurrou.
— Não! Não podemos fazer isso aqui, e você sabe disso —
repreendeu.
— Ninguém está vendo, Thomás. Estamos no meio do
labirinto.
— Estamos quase na saída do labirinto. Se você quer tanto
guardar segredo sobre nós, é arriscado demais.
Eu dei um passo para trás, mudando a feição alegre na
mesma hora.
— Queria que fosse diferente — murmurei.
— Eu sinto muito.
Não dei tempo para que falasse mais alguma coisa. Saí de
trás dos arbustos com uma certa velocidade. Eu não queria encará-
lo sabendo que estava fazendo da vida dele um inferno por ser um
covarde.
— O que a Vossa Alteza estava fazendo no labirinto? — Ouvi
a voz de Amélie, a dama de companhia de minha mãe.
Virei-me em sua direção, cerrando os olhos.
— E o que a Senhora Baronesa estava fazendo me vigiando?
— Devo ajudar a zelar pelo futuro do reino, não é?
— É claro — afirmei, mas não convencido. — Estava
orientando Thomás a colher algumas flores que ficam no centro do
labirinto. Agora, se me der licença, estou atrasado.
Eu não estava atrasado. Na verdade, não tinha nada para
fazer naquele final de manhã, muito menos naquela tarde. Era um
dos dias que minha única preocupação era descansar.
A Baronesa Amélie costumava ser, como eu mesmo dizia,
uma das minhas pessoas favoritas no mundo quando eu era
criança, foi como uma segunda mãe para mim. Porém, nos últimos
tempos, sinto que estava me vigiando. Apesar de ainda ter um
carinho por ela, não era mais uma das minhas pessoas favoritas no
mundo, ao contrário de sua filha, Mariana. Amélie era muito
intrometida para o meu gosto. Mesmo sendo a dama de companhia
da minha mãe, insistia em meter-se em minha vida. Já Mariana era
apenas muito calada. Não se divertia, mal conversava, apenas
estava lá no palácio, existindo. A garota costumava ser mais
descontraída quando era mais jovem, mas acho que sua mãe a
estava enlouquecendo.
Segui meu rumo para meus aposentos. Queria terminar de ler
o livro que comecei na semana anterior.
Capítulo 2
Definitivamente eu não queria um casamento como aquele.
Eu nem ao menos vi uma pintura de Pierre, não sabia muito o que
esperar. Disseram-me que era um homem muito educado,
inteligente e divertido, mas eu sabia que falariam qualquer coisa
para que eu aceitasse. Também me disseram que eu estava indo
para seu castelo apenas para conhece-lo, mas eu sabia que não.
Sabia que aceitar ir até lá era como aceitar o casamento. Já
estávamos noivos, de certa forma, apenas não tinham nos
confirmado isso ainda.
Li muitos poemas e poesias que falavam sobre o amor, e
desde criança imaginava como era esse sentimento. Porém, quando
fui crescendo, vi meus irmãos e irmã casando com completos
desconhecidos, apenas pelo bem dos reinos, títulos e bens, e foi
quando entendi que aquele também era o meu destino.
— Anime-se, Vossa Alteza. Eu ouvi dizer que o príncipe é
muito bonito. — A voz de Nina, minha dama de companhia, ecoou
pela carruagem e me tirou do transe em que eu estava.
— Só de ele não ser um velho eu já estou no lucro — falei,
lembrando que minha irmã não teve a mesma sorte. Aos dezessete,
era a terceira esposa de um viúvo de cinquenta e cinco anos.
— Pois então pense que sempre poderia ser pior.
Soltei uma leve risada de desespero.
— Isso não é muito animador, Nina.
— Ah, vamos, Vossa Alteza. Estou tentando melhorar essa
sua carinha triste.
— Vou melhorá-la quando eu tiver certeza que não vou viver
uma vida infeliz ao lado de um marido que não escolhi.
Voltei a encarar a paisagem que passava lá fora.
Eu sabia que não deveria estar reclamando daquela forma.
Entre meus irmãos, fui a que se casou mais tarde. Meu irmão mais
velho casou-se aos quinze, e eu já estava com dezoito anos. Talvez
até um pouco passada para o padrão das famílias nobres que nos
cercavam.
A viagem não durou por muito mais tempo. Em poucas horas
chegamos no enorme palácio, de onde eu provavelmente não sairia
mais.
— Boa sorte — disse Nina, assim que a carruagem parou.
Tentei sorrir, mas eu ainda estava apavorada.
Fomos recebidas por alguns criados, inclusive a dama de
companhia da Rainha, que nos guiou até nossos quartos.
O castelo era definitivamente o mais luxuoso em que já
estive. Um de seus largos corredores era repleto de obras de arte,
uma mais encantadora que a outra. Isso me fez refletir sobre como
era a personalidade de Pierre. Será que era tão culto quanto
parecia, ou era tão leigo no assunto quanto uma porta?
— Penso que o vestido rosa seria o mais apropriado para o
jantar — sugeriu Nina.
— Aquele com a pedraria? — perguntei e ela assentiu. —
Veja se encontra naquele baú. — Apontei para uma das caixas de
madeiras que haviam acabado de deixar em meu quarto.
Com a ajuda de Nina, coloquei o vestido rosa. Era um de
meus favoritos, fazia-me sentir mais segura comigo mesma, e Nina
sabia disso, provavelmente por isso o sugeriu. Aquele não era o
trabalho dela. Ajudar-me com os vestidos e cabelo era tarefa da
minha criada de quarto, mas optei por levar apenas uma pessoa
comigo, e essa pessoa foi Nina, que aceitou de bom grado as
tarefas extras que precisaria fazer.
Depois de vestida, com um lindo penteado e com uma
maquiagem que me fazia parecer mais pálida do que eu já era,
ouvimos as batidas em minha porta, indicando que já estava na hora
de ir.
Sentia minhas pernas bambas enquanto era guiada até a
sala do trono. Não queria parecer nervosa na frente de Pierre. Sabia
que ele já havia passado por aquele momento algumas outras
vezes, mas era a primeira vez que eu era apresentada a alguém.
Esperei do lado de fora do cômodo até que eu fosse
anunciada, e quando ouvi meu nome, entrei.
O Rei Victor e a Rainha Ariane estavam sentados, e o
homem que julguei ser Pierre estava em pé ao lado do pai. Talvez
eu não estivesse esperando que o príncipe fosse um homem tão
bonito. Seus olhos castanhos escuros pareciam guardar um certo
mistério, eram penetrantes e pareciam enxergar minha alma. Sua
pele parecia ser a mistura exata do tom claro do seu pai com o tom
escuro da sua mãe, e as cores claras e quentes da sua roupa lhe
caiam muito bem.
— Vossas Majestades. — Fiz uma breve reverência.
— Você também deve se curvar para o príncipe. — Foi a
primeira coisa que Pierre disse.
— Ah, desculpe. Vossa Alteza. — Com rapidez, fiz uma
reverência.
— Não peça desculpas. — Seu tom não era leve, ou
divertido. Era sério. Não parecia estar brincando.
O Rei respirou fundo, sem olhar para o filho, mas
visivelmente incomodado.
— Como foi sua viagem até aqui? — perguntou,
provavelmente tentando aliviar a tensão do momento.
— O clima estava muito agradável durante toda a viagem. Foi
uma ótima experiência.
— Imagino que nunca tenha feito uma viagem tão longa
sozinha — disse a Rainha, pronunciando-se pela primeira vez. Sua
voz era tão calma e doce que me passou um certo conforto.
— Nunca fiz, mas Nina, minha dama de companhia, estava
comigo o tempo todo e me ajudou a manter a calma.
— Fico contente. Bom, o jantar será servido em alguns
minutos. Você e Pierre podem aproveitar para dar uma volta pela
sala. Tenho certeza que Pierre ficará encantado em mostrar os
quadros dos nossos ancestrais. — O Rei estava tentando ser
simpático, mas tenho certeza que Pierre não ficaria nem um pouco
encantado em fazer aquilo.
Sorri e assenti, seguindo Pierre até um dos muitos quadros
que estavam pendurados na sala do trono.
Era de um homem chamado Antonie.
— Era o seu avô? — perguntei, tentando não deixar o
silêncio constrangedor se estabelecer.
— Sim. O homem com mais filhos bastardos que já ouvi falar.
Podemos ser primos e você nem sabe.
— E o que aconteceu com os filhos dele?
— Dois deles foram criados por minha avó.
— O quê? Ela aceitou criar filhos que seu marido fez com
amantes?
— É claro! Ele exigiu. O papel da rainha consorte é criar os
príncipes e princesas, e não importa se são filhos das amantes.
— Fico surpresa com a naturalidade em que você fala sobre
seu avô, o Rei, ter desrespeitado a esposa dessa forma.
Ele soltou uma leve risada irônica.
— Fico surpreso em saber como você é ingênua. Com a sua
idade já deveria saber que é comum que homens da corte tenham
amantes, e que muitas vezes as tragam para morarem no castelo.
Neguei com a cabeça.
— Meu pai não tem amantes. Ele respeita minha mãe.
— Como eu disse, ingênua.
Pierre estava mesmo tentando dizer na minha cara de teria
amantes caso viéssemos a nos casar?
Abaixei a cabeça, alisando meu corpete, sem jeito para
começar um novo assunto.
— Será que o jantar demorará a ser servido? Estou faminta.
— Fiz uma última tentativa de salvar o clima daquela conversa.
Mais uma vez, Pietro soltou uma risadinha irônica.
— Eu ouvi dizer que sua família está passando por
problemas financeiros, mas não imaginei que não tivessem o que
comer.
— Não, nós... eu viajei por dias e não tinha jantares muito
bons, eu só...
— Vamos. Eles já devem estar prestes a servir.
Ele nem ao menos esperou uma resposta minha, seguiu
apressado para a porta da sala e eu apenas fui atrás dele.
Durante o jantar, Pierre não falou uma palavra, nem ao
menos olhou para mim. Perguntava-me se aquela humilhação toda
valia a pena. Tenho certeza que conseguiria encontrar um marido
melhor, mas não um marido tão importante e rico quanto o príncipe,
e como ele mesmo fez questão de relembrar, minha família não
estava nas melhores condições nos últimos tempos.
Aquela situação estava mais complicada do que eu imaginei.
Capítulo 3
Muitas vezes pensava que eu queria resolver aquela situação
mais do que Pierre. Eu não duvidava do seu amor por mim, mas
isso parecia não ser o suficiente para que ele tomasse uma atitude
definitiva. Eu sempre estive disposto a morrer por Pierre, mas ele
nunca esteve disposto nem ao menos a deixar a corte por mim.
Talvez eu estivesse pedindo demais, mas era a única chance que
tínhamos de viver nosso amor.
Avistei Antonella observando as flores. Não parecia muito
mais jovem que eu, mas seu olhar doce transbordava inocência, e
eu não consegui não sentir pena dela por ter caído no meio dessa
situação.
Eu ainda precisava manter o plano e fazê-la desistir do
casamento, então era isso que eu faria.
Aproximei-me dos arbustos, com uma cesta para colher
algumas flores.
— Bom dia — ela disse, simpática.
— Bom dia, Vossa Alteza. Espero que esteja confortável na
sua estadia no castelo.
— Está colhendo flores para a sala do trono? Percebi ontem
que havia muitas por lá.
— Não, estou colhendo para o Príncipe. Sou o criado de
quarto.
— Ah, sim. E como é o seu nome?
— Thomás.
— Então, Thomás, imagino que você conheça o Príncipe
como ninguém, não é?
— Com certeza, mas queria não conhecer.
— Qual o motivo? Ele é muito exigente? — perguntou, dando
um passo em minha direção para que o tom de voz diminuísse. —
Minha primeira impressão dele não foi muito boa, mas gostaria de
saber um pouco mais.
— Quem me dera se a exigência fosse o único problema do
Príncipe.
— E quais são os outros problemas?
— Para você ter uma ideia, todas as manhãs eu preciso
colher flores para um novo arranjo em seu quarto. Se for uma época
do ano sem flores aqui, preciso sair do castelo e procurar pelo reino
inteiro até que ache flores para colher. Já cometi o erro de levar
flores murchas, mas depois da sua reação, entendi que precisam
ser as flores mais bonitas que existem. Mas é pior ainda quando não
encontro flor alguma. O castelo inteiro ouve seus gritos.
Antonella arregalou os olhos, assustada.
— Tudo isso por causa de flores?
— Sim, e isso é só durante a manhã. O Príncipe só pensa em
si. Não importa o quão difícil seja fazer ou conseguir o que ele está
pedindo, quando ele quer, ele quer e é isso.
A garota respirou fundo e trancou a respiração.
— E como você acha o Príncipe seria como marido?
— Sempre que recebemos uma pretendente, fico com pena
dela. Não gosto de imaginar como será quando o Príncipe se casar.
Mas, bom, quem sou eu para estar falando da vida do meu patrão,
não é?
Voltei minha atenção para as flores, mas dei uma última
olhada em Antonella. A garota parecia desesperada.
Senti uma pontada no peito, um arrependimento. Talvez
tivéssemos ido longe demais. E se ela não tinha a opção de desistir
do casamento e agora precisasse casar-se com um homem que
teme? Ela não tinha culpa, afinal. Provavelmente também estava
nisso obrigada pela família.
Penso que Pierre e eu fomos inconsequentes quando
decidimos tal plano. Se alguém tinha que acabar com aquele
noivado, esse alguém era Pierre.
Antonella se afastou logo depois, desnorteada e cabisbaixa,
provavelmente com milhões de coisas ruins passando por sua
cabeça.
Terminei de colher as flores e fiz um arranjo, deixando-as no
quarto de Pierre, mas ele não estava lá. Precisávamos conversar,
mas eu não o encontrava de jeito algum.
— Você sabe onde está o Príncipe? — perguntei para
Amélie, assim que cruzei com ela no corredor.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— “Você?” — indagou. — Não sou do seu nível, garoto. Sou
uma Baronesa e você deve se referir a mim como tal.
— Nós trabalhamos para a mesma família, não é? Você não
é melhor que eu.
A mulher não mudou sua expressão, pelo contrário.
Permaneceu séria e ameaçadora.
— Você não vai muito longe com essa audácia. Deve ter mais
cuidados com as palavras que usa.
Amélie definitivamente não me ajudaria a encontrar Pierre,
então apenas dei as costas e voltei a caminhar, sentindo seu olhar
em mim até que eu sumisse da sua visão.
Não entendia como alguém tão doce como a Rainha poderia
ter uma dama de companhia tão assustadora e carrancuda como
Amélie. Eu não gostava de falar mal de outras pessoas, mas a
Baronesa era uma exceção.
Pierre estava no jardim, encenando uma luta de espada com
um dos criados, mas penso que, na verdade, o Príncipe estava o
ensinando a usar uma espada.
Aproximei-me, até que fosse visto e percebessem que eu
gostaria de falar com Pierre.
— Vossa Alteza deveria treinar com armas de fogo também
— comentei.
— Armas de fogo são para covardes que não têm coragem
de enfrentar seus inimigos cara a cara — respondeu. — Já
terminamos por hoje, Olivier — disse o Príncipe, guardando a
espada.
Olivier fez uma breve reverência e se retirou.
— Preciso falar com você — sussurrei.
— Sobre o quê?
Fiz sinal para que fossemos até o labirinto.
Com calma e sem levantar suspeitas, caminhamos até lá.
— Acho que devemos pensar em outra coisa. O plano de
fazer Antonella desistir não é o melhor — falei.
— Mas foi você quem deu a ideia. Por que quer desistir de
uma hora para outra?
— Ela não merece isso. Precisa ver como ficou assustada
enquanto eu falava de você. Ela não tem nada a ver com isso.
Estamos deixando uma garota inocente apavorada porque não
conseguimos lidar com nossos problemas.
— Mas se está tão assustada assim, desistirá facilmente.
— E se ela não puder, Pierre? E se ela se sente obrigada a
continuar com isso mesmo que vire o seu maior medo? Antonella é
tão... doce. Não merece estar passando por esse terror.
Pierre deu um passo em minha direção, segurando uma de
minhas mãos e acariciando.
— Está tudo bem. Ela vai desistir e achar alguém muito
melhor do que eu para ser seu marido, alguém que queira se casar
com ela.
— Ou achará alguém muito pior do que você.
— Não pense nisso. Acho que precisamos ser um pouquinho
egoístas agora.
Soltei um longo suspiro e assenti. Eu não estava gostando
muito da ideia de continuar o plano, mas Pierre estava certo. Era
impossível que todos saíssem felizes.
Subi minha mão até seu rosto e acariciei sua bochecha com
o polegar.
— Pensei que não pudéssemos fazer nada aqui fora — falou.
Eu olhei para os lados, certificando-me de que estávamos
sozinhos.
— Acho que posso abrir uma exceção. Sua boca está
implorando por um beijo meu.
Fechei os olhos, sentindo nossos lábios roçarem um no outro.
— Ela implora por isso todos os dias — sussurrou.
Com delicadeza, Pierre deu início a um beijo, tomando-me
em seus braços, pressionando nossos corpos um contra o outro, do
jeito que eu gostava.
— Minha cama está sentindo a sua falta — disse, antes de
sua boca ficar ocupada demais beijando meu pescoço.
Arfei, controlando-me para não arrancar a roupa ali mesmo.
— E quando vamos poder matar essa saudade?
Ele não respondeu, ao invés disso continuou distribuindo
beijos e leves chupões por minha pele.
Pierre desceu sua mão por meu abdômen lentamente,
tocando com delicadeza em meu pênis por cima da roupa,
acariciando.
— Eu adoro como você fica duro só com os meus beijos —
Pierre sussurrou em meu ouvido.
— E agora você precisa terminar o que começou — desafiei.
Ele sorriu, beijando-me uma última vez antes de se afastar.
— Eu vou, mas não agora. Precisamos ser cautelosos. Tenho
a impressão que a Baronesa desconfia de alguma coisa. Ela está
caçando um motivo para eu não ser rei.
— Então acho que beijos no jardim não são apropriados.
— Nada apropriados, mas eu precisava fazer isso antes que
eu enlouquecesse. Agora preciso me aprontar para um passeio
nada agradável com minha pretendente perto do lago.
— Tome cuidado com suas palavras, Pierre. Não queremos
magoá-la.
Ele apenas assentiu. Não tenho certeza se faria o que pedi,
mas eu esperava que sim.
Capítulo 4
Olhei pela janela de um dos corredores mais altos do castelo,
mal conseguindo observar ao longe o lago que ainda ficava dentro
dos muros do castelo. Em pouco tempo eu estaria caminhando em
volta dele com Antonella, mesmo que eu não quisesse.
— Você está planejando algo, não é? — Ouvi a voz de minha
mãe logo atrás de mim.
Olhei em sua direção e vi um sorriso se formando em seus
lábios, sempre tentando me confortar.
— Por que você acha que eu estou? — indaguei.
Ela caminhou até mim, parando-se ao meu lado e encarando
o lago.
— Eu conheço o meu filho. E também percebi que Antonella
está fazendo de tudo para não encontrar com você. Ela está
apavorada com o passeio de hoje.
Soltei todo o ar de meus pulmões, desapontado comigo
mesmo.
— Talvez eu queira que ela desista do casamento.
Minha mãe negou com a cabeça, desaprovando minha
atitude.
— Sabe que se não for com ela, será com outra. Seu pai não
vai desistir do seu casamento.
— E você está de acordo com isso? Também quer obrigar
seu filho a fazer algo que ele não quer?
Ela respirou fundo, virando-se para mim.
— Há coisas que precisam ser feitas, mesmo que não
queiramos. Eu também era uma menina assustada antes de casar-
me com seu pai, mas ele foi gentil comigo e isso foi melhor para nós
dois. Foi ótimo para as duas famílias, então fizemos ser algo bom
para nós também.
— Mas vocês não se amam. Quer dizer... desculpe.
— Não fomos o amor da vida um do outro, mas com
dedicação, respeito e carinho estamos tendo uma vida boa juntos.
— Eu não quero me contentar com o mínimo. Eu quero o
máximo de amor que eu puder ter durante a minha vida, mãe.
— Eu queria que você tivesse tudo o que quer, mas a vida
não é assim. Temos obrigações que precisam ser cumpridas, mas
não precisa ser algo ruim. Você pode tentar tirar o melhor disso,
mas precisa querer.
Algumas vezes eu cogitava a ideia de minha mãe saber
sobre mim e Thomás. Às vezes, alguns atos e frases suas davam a
entender que sabia, mas penso que ela não deixaria de entrar no
assunto se tivesse certeza.
— Eu vou tentar trabalhar nisso.
— Ótimo. Agora se apresse! Antonella deve estar à sua
espera perto do lago.
Assenti e tomei o caminho para fora do castelo.
Eu não queria decepcionar minha mãe mais uma vez. Sabia
o quanto ela estava contando com aquele casamento, o quanto era
importante para o reino que eu tivesse uma boa rainha ao meu lado,
mas eu não conseguia abrir mão da minha felicidade dessa forma.
Como eu poderia aceitar ficar separado da pessoa que amo pelo
resto da vida? Mesmo que nosso caso continuasse, sabia que a
situação poderia ser humilhante tanto para Thomás, quanto para
minha futura esposa.
Era impossível achar uma solução em que ninguém saísse
magoado.
Caminhei até o lago e avistei Antonella com sua dama de
companhia. Ela parecia nervosa, inquieta, e quando me viu respirou
fundo.
Lembrei do que Thomás falou. Talvez assustar uma garota
daquela forma não fosse a melhor estratégia que já criamos.
— Bom dia, Vossa Alteza — ela disse, fazendo uma pequena
reverência.
— Bom dia.
— O Rei pediu para que Nina preparasse um pequeno
piquenique para nós.
A dama de companhia estava com uma cesta na mão.
— Ótimo, mas antes podemos dar uma volta ao redor do
lago. Há flores lindas do outro lado que eu gostaria de lhe mostrar
— falei.
Antonella pareceu aliviada por eu não ter usado do meu
sarcasmo e ironia para a responder.
Lado a lado, caminhamos pela grama. Nina ficou para trás.
Perto o suficiente para nos observar, mas longe o suficiente para
não ouvir o que conversávamos.
— Vossa Alteza gosta muito de flores, não é? — perguntou,
em um tom de voz baixo, insegura.
— Eu gosto. Está muito na minha cara?
— Um pouco. Mas, na verdade, encontrei com seu criado de
quarto alguns dias atrás e ele falou sobre você gostar de ter flores
novas todos os dias em seu quarto.
— Thomás deve ter me pintado como um monstro para você,
não é? — indaguei, sabendo que sim.
— As palavras dele junto com suas atitudes no dia em que
cheguei, fizeram-me concluir isso.
— Sinto muito por isso. Eu estava um pouco perturbado
naquele dia.
— E em todos os dias que se seguiram, menos hoje.
— Eu ainda estou, mas você não tem nada a ver com isso e
não merece conviver com o meu mau-humor.
— Mas entendo, você não quer se casar. As notícias correm,
e sei que já recebeu quatro ou cinco pretendentes, e se livrou de
todas elas.
— Cinco, mas não me livrei de todas. Eu estava disposto a
casar em uma dessas vezes, mas minha noiva faleceu.
Antonella olhou para mim, com os olhos arregalados e a
respiração trancada.
— Eu sinto muito. Não esperava por isso.
— Foi uma morte bem trágica. Diana caiu da enorme
escadaria do castelo.
— Ela tinha algum problema de visão? Ou talvez de
mobilidade? — perguntou.
— Não. Não tinha nenhum problema. Suspeitaram que ela só
estava muito afoita pelo casamento, então tropeçou e rolou escada
abaixo. Quebrou o pescoço.
— E você não fica chateado em tocar no assunto. Ela era sua
noiva, não? Foi a única mulher que você aceitou.
— Não mais. Já faz alguns anos e eu consegui lidar com a
perda.
— Então você não a amava.... ou gostava? — Antonella
pareceu arrependida de perguntar aquilo na mesma hora em que as
palavras saíram de sua boca.
— Eu gostava dela. Dávamo-nos muito bem, e foi por isso
que eu aceitei me casar, mas não a amava. Eu só amei uma pessoa
na vida.
Eu tinha certeza de que Antonella estava morrendo de
curiosidade para perguntar quem era, mas preferiu não ultrapassar
o limite.
— Veja. São essas as flores? — questionou, mudando de
assunto e apontando para as pequenas flores roxas.
— Sim. Ninguém cuida delas aqui e mesmo assim elas
brotam todos os anos, cada vez mais saudáveis e bonitas. —
Arranquei uma delas e virei-me para Antonella. Encaixei a flor em
seu cabelo, perto da orelha. — Graciosa.
Ela me encarou com seus grandes olhos azuis por um
pequeno momento, mas logo desviou o olhar para o chão,
encabulada e com as bochechas coradas.
— Obrigada, Vossa Alteza.
Toquei seu queixo com o dedo indicador, levantando seu
rosto e fazendo-a olhar para mim novamente.
— Não precisa ficar com vergonha dos meus elogios.
Suas bochechas pareciam cada vez mais vermelhas,
principalmente por eu estar encarando-a e a fazendo me encarar.
Antonella tinha uma aparência encantadora. Seu cabelo
extremamente claro e sua pele quase da mesma cor se misturavam,
mas os lábios rosados e os olhos azuis davam o destaque
necessário para ela. Seus traços eram delicados, e, bom, graciosos.
— Desculpe. Foi... inevitável.
Tirei a mão de seu queixo e ela desviou o olhar na mesma
hora.
— Acho que está na hora do piquenique. Estou faminto.
— Espero que tenham feito torta de frutas. É meu favorito —
disse ela, enquanto fazia sinal para sua dama de companhia se
aproximar.
Antonella era adorável, e eu não sabia se isso era bom ou
ruim. Se fossemos, de fato, nos casar, não seria um casamento
horrível, mas por ela ser tão doce, sempre sentiria culpa por estar
enganando-a.
Capítulo 5
Eu estava mesmo em perigo ou era tudo uma história maluca
criada em minha cabeça?
Não conseguia parar de pensar em Diana, a noiva de Pierre
que caiu da escada. Foi mesmo um acidente, ou ela foi jogada? E
se foi um assassinato, eu poderia ser a próxima?
Todos sabíamos que Pierre não queria se casar de forma
alguma, mas ele seria capaz de matar suas pretendentes para se
livrar delas? Eu queria mais informações sobre aquela morte
misteriosa. Talvez ainda desse tempo de eu sair correndo desse
castelo e nunca mais voltar.
— Vossa Alteza está muito pensativa hoje. — Ouvi a voz de
Nina tirando-me de meus pensamentos.
— Eu? Ah, sim. Ontem eu soube que uma noiva do Príncipe
morreu ao cair da escada, e agora não consigo tirar isso da cabeça.
— Está pensando que o Príncipe pode ter a matado? —
perguntou em um quase sussurro.
— Viu! Você também pensou isso e eu nem falei sobre minha
desconfiança.
— Não acho que isso tenha acontecido. Ouvi alguns
comentários entre os criados e alguns cogitaram que o Príncipe
estava de acordo com alguém de fora para matar a noiva, mas
depois todos descartaram essa ideia e acreditam ter sido um
acidente.
— Eu vou dar uma investigada nisso. Falar com algumas
pessoas pelo castelo, vasculhar alguns lugares para ver se essa
ideia de acordo é verdadeira.
— Tome cuidado! Acho que não vão gostar de ter uma
estranha bisbilhotando pelos cantos.
Levantei em um pulo da cadeira que eu estava sentada.
— Eu tomarei cuidado.
Saí do cômodo e caminhei lentamente pelos corredores do
castelo. Não havia muitas pessoas por ali. Um criado ou outro, mas
não tinha certeza se eu deveria abordar um deles para perguntar
sobre a morte de alguém.
Segui para o jardim, onde eu esperava encontrar mais
pessoas, porém, o único que vi foi Thomás, o criado de quarto do
Príncipe. Ele estava saindo do pequeno labirinto, olhando para os
lados, talvez um pouco desconfiado, mas logo tomou o rumo dos
arbustos floridos.
Eu estava prestes a ir em sua direção, mas vi Pierre saindo
do labirinto segundos depois, tão desconfiado quanto o outro, e
arrumando suas calças.
Franzi o cenho, tentando pensar no que estariam fazendo lá
dentro. Algo passou por minha cabeça, mas não me lembro de já ter
ouvido falar que dois homens também poderiam fazer aquilo. Afinal,
que eu saiba, isso era feito para que a mulher engravidasse.
Todo caso, se eles não estavam arquitetando meu
assassinato, eu não tinha nada a ver com isso.
Achei melhor fingir que não vi nada e continuei com o que eu
já pretendia fazer. Caminhei até Thomás, que estava colhendo
algumas flores, de joelhos na grama.
— Bom dia — falei, animada.
— Bom dia, Vossa Alteza. Posso ajudar em alguma coisa?
— Sim. Eu fiquei sabendo que a primeira noiva do Príncipe
morreu caindo da escada, e talvez eu tenha ficado um pouco...
traumatizada.
— Foi um acidente trágico, mas eu ainda não estava
trabalhando aqui.
— Todos têm certeza de que foi um acidente?
Thomás olhou para mim, abrindo um leve sorriso de lado.
— Medo de ser a próxima? — perguntou.
— E você acha que eu posso ser?
Ele negou com a cabeça.
— Estou brincando com Vossa Alteza. Dizem que Diana
tropeçou no tapete no topo da escada e caiu. Os criados falam
muito sobre isso por aqui. Também dizem que ela estava com os
sapatos que usaria no casamento, e não estava acostumada com
eles, e por isso tropeçou.
— E você acredita nisso? Não acha que alguém pode tê-la
empurrado?
— Se é o que está querendo saber: não acho que o Príncipe
jogaria alguém da escada. Eu não morro de amores por ele, mas
matar alguém não é algo que ele faria, eu tenho certeza.
Ou ele estava simplesmente tentando encobrir algo que ele
também participou!
Eu tinha muitas ideias malucas em minha mente que
rondavam a morte de Diana, e não queria tomar nenhuma
conclusão precipitada.
— Bom, se você acha que meu possível futuro noivo não me
matará, eu vou confiar em você.
— Não se arrependerá.
Thomás voltou sua atenção para as flores, e eu o observei
por alguns instantes.
— Pode me ensinar?
— Ensinar o que?
— A colher as flores. Percebo que você tem muito cuidado e
que não é só arrancar e pronto.
— Essas aqui têm espinhos e uma haste grossa. Preciso
usar uma tesoura especial para cortá-las sem danificar.
— Eu posso tentar?
— É claro.
Fiquei de joelhos ao seu lado, com um pouco de dificuldade
por conta do vestido volumoso.
Ele colocou a tesoura em minha mão, mas eu não tinha ideia
do quê eu precisava fazer. Segurei uma das flores e posicionei a
tesoura.
— Assim? — perguntei.
Com delicadeza, Thomás colocou sua mão em cima da
minha, guiando-me.
— Um pouco mais para baixo, e na diagonal.
Ele se aproximou de mim em alguns centímetros, o suficiente
para me ajudar com a força na hora de cortar. Foi então que percebi
seus olhos verdes. Eram escuros, por isso eu não tinha notado
antes, mas era uma cor única. Jamais vi olhos como aqueles.
— Eu fiz certo? — perguntei, já com a flor em minhas mãos.
— Sim. Você tem jeito com as flores, Vossa Alteza.
— Posso tentar mais uma vez?
— É claro, mas tome cuidado com os espinhos.
Assenti, dando uma olhada nas flores que ainda estavam em
minha frente. Escolhi a maior delas e prontamente posicionei a
tesoura na haste. Cortei e dei uma boa olhada, mas finquei o dedo
em um espinho e a deixei cair em meu vestido.
— Acho que não tomei cuidado — resmunguei.
— Eu ajudo.
— Não, não. Pode deixar.
Vi uma gota de sangue saindo e levei o dedo à boca. Minha
mãe costumava falar que ajudava a cicatrização, mas não tenho
ideia se era verdade. Todo caso, eu tinha o costume de fazer isso.
Thomás me encarou. Seus olhos foram direto para a minha
boca, observando com atenção meus lábios em volta do meu dedo.
Sua respiração pareceu falhar, então ele desviou para a flor que
estava em meu colo.
— No começo, minhas mãos eram cheias de machucados
por conta dos espinhos.
— Eu deveria ter sido mais atenta. — Peguei a flor e me
levantei. Ele fez o mesmo. — Pode deixa-la no travesseiro de
Pierre? Se ele perguntar, diga que eu mandei.
Thomás riu leve e a pegou.
— Pode deixar. Farei agora mesmo.
Ele deu uma última olhada em minha direção antes de tomar
o rumo para o quanto do Príncipe.
Eu não tinha descoberto muita coisa sobre a morte de Diana,
mas pelo menos havia passado um bom tempo ao lado de Thomás.
Ele era um homem encantador, e preciso destacar que é muito
bonito e charmoso.
Tratei de tirar isso de minha cabeça e foquei novamente em
minha pequena investigação. É claro que o criado de quarto do
Príncipe defenderia a sua inocência, mas por que chegaram a
desconfiar dele assim que a tragédia aconteceu? O que ele tinha
que fez com que seus próprios criados desconfiassem dele? Talvez
já haviam visto provas, ou alguém leu as tais cartas em que
combinava o assassinato com alguém. Talvez ele ainda as tivesse.
Precisava escolher o melhor momento para entrar em seu
quarto e dar uma olhada em seus papéis. Era bem provável que eu
estivesse vendo coisas onde não existem, mas eu não ficaria
tranquila até ter certeza que Pierre não matou a sua noiva.
Capítulo 6
— Vossa Alteza tem certeza que essa é a melhor opção? —
Nina perguntou, enquanto eu olhava pela janela dos meus
aposentos.
— Eu tenho. Pierre está no jardim com Thomás. Estão
treinando com as espadas, e acho que não vão terminar tão cedo.
Eu conseguia vê-los da minha janela. Pareciam muito
empenhados no que estavam fazendo.
Fazia dois dias que eu não tirava da cabeça a ideia de entrar
no quarto do Príncipe para verificar se as cartas comprometedoras
estavam lá ou não. Nina achava uma péssima ideia, mas alguma
coisa dentro de mim dizia que eu deveria fazer isso.
— Penso que isso não vai funcionar. Mesmo que o Príncipe
seja o culpado, duvido muito que tenha alguma prova disso em seu
quarto — insistiu ela.
— Eu preciso tentar. Vai dar certo. Eu sinto.
Nina suspirou, preocupada com a confusão que eu podia
criar.
Verifiquei uma última vez se Pierre continuava no jardim
antes de correr até seus aposentos.
Com muita discrição e certificando-me de que não havia
ninguém no corredor, entrei em seu quarto com rapidez.
Meus olhos correram pelo cômodo à procura de alguma
coisa, e percebi alguns papéis saindo para fora de uma gaveta.
Tentando ser silenciosa, dei uma olhada neles, mas nenhum
parecia ser uma carta comprometedora.
Eu não deveria estar fazendo aquilo. Estava invadindo a
privacidade de alguém por conta de meus achismos, e eu podia ser
expulsa do reino por conta disso, mas eu não conseguia evitar.
Tinha algo que me puxava para aquele quarto. Era como se eu
precisasse estar lá naquele momento, procurando por uma prova
que provavelmente não existia.
Fui até a cômoda ao lado de sua cama, mas não havia nada
além de roupas lá. Eu não tinha mais ideia de onde poderia
procurar.
Abri um armário, onde encontrei mais roupas penduradas. E
foi nesse momento em que achei que tudo daria errado!
Ouvi passos apressados no corredor, caminhando em direção
ao quarto.
Ah, Deus! Será que eu seria decapitada por acharem que eu
estava tramando alguma coisa contra o Príncipe?
Eu não tinha saídas. Estava nervosa e não tinha mais de
cinco segundos para pensar em alguma coisa.
Entrei no armário que eu havia acabado de abrir e fechei a
porta o máximo que consegui. Uma fresta continuou aberta, meu
vestido não permitia que eu o fechasse por completo, mas era o
bastante para me esconder.
Respirei fundo uma última vez, e nesse momento vi a porta
se abrir.
Pierre entrou com rapidez, sendo seguido por Thomás. Eles
pareciam afoitos, como se estivessem correndo de algo.
Assim que entraram, olharam um para o outro e riram,
percebendo que haviam se safado de seja lá o que. Pensei que
iniciariam uma conversa aleatória, mas não. Pierre puxou Thomás
pelo pulso e colou seus corpos, subiu uma de suas mãos até a
bochecha de seu criado e acariciou, logo antes de beijá-lo.
Não era um beijinho superficial, como os que já vi, era algo
muito mais profundo, urgente e rápido.
Senti meu rosto pegando fogo. Eu estava morrendo de
vergonha por estar vendo aquilo, mesmo que não soubessem que
eu estava ali.
Pierre arrancou de Thomás a única peça de roupa que cobria
seu tronco. O Príncipe passou as mãos pelo abdômen do outro. Ele
não era tão forte, mas seus músculos eram muito bem definidos.
Por um momento, eu também quis tocar. Saber como era a textura
da sua pele, se estava tão quente quanto a minha.
O próprio Pierre se livrou das peças de roupa que o cobriam.
Um abdômen mais musculoso do que o de Thomás.
O criado empurrou o Príncipe até que ele deitasse na cama.
Thomás ficou em cima dele, beijando-o, acariciando seu corpo, até
o momento em que desceu a boca por seu pescoço e peito.
Distribuiu chupões e lambidas, até chegar na barra calça.
Eu não estava esperando por algo do tipo. Quer dizer, ver um
homem pelado assim? Apesar de eu querer aquilo, estar desejando
com todas as partes do meu corpo, não tinha certeza se era o certo.
Sendo a pessoa mais desastrada do mundo, esbarrei minha
mão em algo dentro do armário. Não foi um barulho alto, mas o
suficiente para Pierre e Thomás virarem sua atenção na minha
direção.
Eu definitivamente não tinha o que fazer.
Eles levantaram, caminhando devagar até o armário. Então
Thomás o abriu, e lá estava eu, mais vermelha que um tomate, sem
saber onde enfiar meu rosto para fugir daquela situação
vergonhosa.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Poderíamos saber o que está fazendo aí? — questionou.
— Eu vim... procurar uma coisa, mas eu não achei. Mas ouvi
vocês chegando e não quis que soubessem que eu estava
invadindo o quarto do Príncipe, então me esconder aqui pareceu a
melhor opção.
— E você ficou quieta nos observando? — Pierre perguntou,
abrindo um sorriso que eu consideraria bem malicioso.
— Eu...
Não terminei minha frase.
Os dois se entreolharam por um breve momento.
Pierre ofereceu a mão para mim e eu a segurei com
delicadeza, sendo guiada para o meio do cômodo.
— E você estava gostando do que estava vendo? — indagou.
— Nós queremos a verdade, por favor. Não é necessário ficar
constrangida.
Encarei o Príncipe bem na minha frente. Meus olhos
percorreram seu corpo seminu. Foi algo involuntário, uma vontade
mais forte do que eu.
— Eu... — Deixei a frase no ar novamente.
Thomás parou-se atrás mim.
— A verdade — sussurrou no meu ouvido.
— Eu gostei — admiti, fechando os olhos por um momento.
Pierre deu um passo em minha direção.
— E enquanto você nos olhava, o que queria fazer?
O Príncipe se aproximou ainda mais, como se estivesse me
convidando para tocá-lo, e foi isso que eu fiz. Com delicadeza,
deslizei meus dedos por seu peito e sua barriga.
— Eu queria participar.
— Seu desejo é uma ordem, Alteza — Thomás sussurrou
para mim mais uma vez.
Pierre tocou meu rosto e me beijou. Eu não tinha certeza de o
que fazer, mas sua língua guiava a minha com maestria. Senti as
mãos de Thomás abrindo as amarras do meu vestido, e, naquela
hora, era tudo o que eu queria.
Desejei que as camadas de roupas fossem muito menores, já
que tirar todas as minhas peças não foi um processo muito rápido.
Porém, quando eu estava apenas com o fino tecido do chemise me
cobrindo, sentia como se já estivesse nua.
Antes de vir para o castelo, fui orientada por minha mãe
sobre o que acontecia na lua de mel, e uma das regras era nunca
tirar o chemise na frente do seu marido. Não era de bom-tom que
alguém a visse sem nada a cobrindo. Mas, naquele momento, tudo
o que eu queria era exibir meu corpo para Pierre e Thomás. Queria
que eles o apreciassem, acariciassem e desejassem, mesmo eu
sabendo que era errado, eu queria.
— Você já se tocou, Antonella? Já deu prazer para si
mesma? — Thomás perguntou. E essa foi a primeira vez que ouvi
usa voz dizendo meu nome.
— Não. Nunca fiz nada do tipo.
O criado, com seu peito colado em minhas costas, subiu as
mãos por minha barriga, ainda por cima do tecido, até chegar em
meus seios e apertá-los de leve.
— Então faça agora. Queremos vê-la gemendo bem baixinho.
Seus dedos acariciaram meus mamilos, que estavam tão
enrijecidos quanto nos dias mais frios. Eu não tinha ideia de que
aquilo podia ser tão bom.
Pierre segurou minha mão mais uma vez e me guiou até a
cama. Thomás sentou nela, com as costas na cabeceira, e eu não
sabia se deveria segui-lo.
O Príncipe levantou meu chemise bem devagar, como se
estivesse esperando que eu o parasse, mas eu não fiz, pelo
contrário. Levantei os braços e deixei que tirasse minha última peça
de roupa.
Thomás me encarou dos pés à cabeça, fazendo um gesto
para que eu me aproximasse.
Eu ainda não havia o beijado, e era o que eu queria fazer.
Subi na cama, entre suas pernas, e beijei seus lábios. Ele segurou
minha cintura e colou nossos corpos. Meus seios roçavam na sua
pele enquanto nos beijávamos, e aquilo deixava o momento ainda
mais delicioso.
Senti os dedos de Pierre subindo por minhas pernas,
acariciando com leveza, passando por minha bunda, seguindo para
as costas.
— Eu quero que fique sentada aqui, com as pernas bem
abertas — Thomás pediu.
Não hesitei. Sentei-me entre suas pernas e escorei minhas
costas em seu peito.
Pierre segurou minha mão e a colocou no meio das minhas
pernas.
— Acaricie bem aqui e você entenderá do que estamos
falando.
— E use a sua outra mão para fazer o mesmo com Pierre. Dê
prazer aos dois ao mesmo tempo.
Com o dedo do meio, fiz movimentos para cima e para baixo
exatamente onde Pierre colocou minha mão, e na mesma hora a
sensação mais gostosa que eu poderia sentir me invadiu.
O Príncipe ficou de joelhos ao nosso lado, e seu criado o
ajudou a descer sua calça.
Seu pênis pulou para fora, bem perto do meu rosto, bem mais
enrijecido do que pensei que esse membro seria.
— Pode segurar, brincar, lamber, fazer o que quiser. Ele vai
gostar — Thomás sussurrou para mim.
Com um certo receio, segurei. Pierre colocou sua mão em
cima da minha e me guiou, e então eu soube a força que deveria
usar e o movimento que deveria fazer.
Usava uma mão para me dar prazer, e a outra para fazer o
mesmo com Pierre, enquanto Thomás brincava com meus mamilos
e beijava meu pescoço.
— Você gostou dele, Antonella? — Pierre perguntou.
— Sim. Eu gostei — respondi, baixinho, quase em um
gemido.
— E você quer que eu o enfie todinho em você?
— Pierre! Sabe que não deve — Thomás repreendeu.
— O que foi? Ela quer. Não quer?
— Isso vai me fazer sentir ainda mais prazer? — perguntei.
Ele se curvou em minha direção, beijando meus lábios
rapidamente.
— Por que não fazemos um teste? Eu coloco os meus dedos,
e você me diz se gosta. E se gostar... — Sua frase ficou no ar.
Eu assenti, sentindo seus dedos descendo por meu corpo e
acariciando onde antes minha mão estava, mas agora em
movimentos circulares. Ele desceu ainda mais, e com delicadeza
penetrou o dedo do meio. Fechei os olhos, concentrando toda a
minha atenção em senti-lo. Porém, logo em seguida, Pierre também
colocou o indicador, e então pude senti-lo com perfeição.
Ele tirava e colocava, primeiro devagar, depois com mais
velocidade. Fazia isso tão fácil, deslizava para dentro e para fora, e
eu tive certeza de que aquilo realmente só me daria mais prazer.
— Eu quero — pedi.
— O quê?
— Eu quero que você enfie o seu pênis em mim.
Pierre sorriu satisfeito.
Ele se colocou entre minhas pernas, beijando-me mais uma
vez, enquanto Thomás ainda dava suporte para meu corpo, e o
acariciava sem pudores.
— Pode doer um pouco, mas confie em mim — sussurrou o
Príncipe.
Concordei com a cabeça.
Ele tentou ser delicado no que estava fazendo, mas senti dor
da mesma forma. Não era como se eu não fosse aguentar, mas
também não era algo agradável.
— Eu prometo que vai ficar melhor e você vai implorar por
mais — disse Thomás.
— Só de estar no meio de você dois já é delicioso — falei,
arfando.
— Imagine só como seria gostoso se nós dois estivéssemos
dentro de você — comentou o Príncipe.
— Vá com calma, Pierre. Antes ela precisa ter o primeiro
ápice de prazer da vida dela.
Ele aumentou a velocidade. Entrava e saía de dentro de mim
cada vez mais rápido, e a dor diminuía ao passar do tempo. Porém,
foi quando a mão de Thomás desceu por entre minhas pernas e
passou a acariciar meu ponto mais sensível que eu fui à loucura.
A combinação das duas sensações era algo que não pensei
que fosse possível sentir. Era como se eu estivesse prestes a entrar
no paraíso.
Fechei os olhos com força. Minha respiração estava falhando
e meu corpo inteiro esquentando.
— Não, Thomás. Eu quero assistir Antonella tendo um
orgasmo com você.
O criado me puxou para cima e me fez sentar em seu colo.
Pierre ajudou Thomás a descer as calças, já que era impossível ele
fazer isso comigo em cima dele.
Antes de qualquer coisa, o Príncipe acariciou o pênis do
outro, com leves movimentos de vai e vem, mas não se prolongou
nisso. Ele logo o enfiou na boca, e, no momento, fiquei surpresa
com sua atitude. Parecia chupar com vontade, e Thomás parecia
estar adorando aquilo. Por um segundo me perguntei qual era o
gosto, se era tão gostoso fazer aquilo quanto parecia, mas não tive
muito tempo para refletir.
Pierre o encaixou na minha entrada e eu sentei
delicadamente. Ainda estava dolorida, mas eu estava tão extasiada
que não me importei com a dor.
Eu não precisei me mover, como achei que faria. Thomás
movia seu quadril com rapidez embaixo de mim, entrando e saindo.
Pierre voltou sua atenção para mim, subindo a mão por todo
o meu corpo, passando pelos seios e chegando em meu pescoço.
Ele me segurou por ali, e me puxou para mais um beijo. Ardente,
rápido e urgente.
Enquanto nossos lábios ainda estavam colados, ele dedilhou
minha pele e parou entre minhas pernas, mais uma vez, com
movimentos circulares como Thomás estava fazendo antes.
— Continue fazendo isso e você vai saber o que é prazer de
verdade — Pierre sussurrou em meu ouvido, mordiscando minha
orelha e levando minha mão até onde ele estava.
O Príncipe se afastou. Sentou do outro lado da cama,
encarando a mim e Thomás. Ele tocou o próprio pênis e passou a
acariciá-lo, começando com delicadeza, mas em pouco tempo já
estava com uma certa velocidade. Sua respiração era falhada,
assim como a minha, e vê-lo fazendo isso enquanto eu estava em
cima de Thomás era mais do que satisfatório.
Senti uma onda indescritível de prazer atingindo meu corpo,
junto com uma necessidade enorme de mexer minha mão e meu
quadril cada vez mais rápido.
Eu estremeci por completo, jogando a cabeça para trás e
soltando um gemido alto. Na verdade, alto demais.
Pierre também gemeu, e um líquido esbranquiçado saiu dele,
sujando todo seu abdômen.
Já Thomás se moveu mais algumas vezes dentro de mim,
apertando a minha cintura, mas logo saiu com rapidez, logo antes
de seu corpo inteiro tremer e ele sujar os lençóis.
Saí de cima dele, com as pernas bambas, mal conseguindo
puxar o ar, e mesmo assim ainda aproveitando a melhor sensação
que já tive na vida.
Porém, a sanidade bateu em minha porta, e eu me toquei que
estava fazendo a pior coisa que eu poderia fazer.
Minha passagem para o inferno já estava garantida!
— Eu preciso ir — falei, afobada.
Tentei colocar minhas peças de roupa de volta, mas estava
trêmula e não conseguia fazer isso sozinha.
— Quer que eu ajude você? — disse Pierre.
— Não, eu... eu estou bem. Está tudo bem — falei.
Tentei amarrar meu corpete, mas não estava conseguindo.
Minha coordenação não estava das melhores.
Thomás se levantou da cama, já vestido com a parte de baixo
das suas roupas.
— Deixe-me ajudar. — Sua voz era calma, doce.
Eu assenti, descendo o olhar para o chão e esperando
enquanto ele amarrava as cordas em minhas costas.
Não falei mais nada depois disso. Terminei de me vestir e saí
do cômodo, correndo para o meu.
Senti um aperto no peito, uma culpa indescritível. Um nó se
formou em minha garganta e a vontade de chorar estava
incontrolável.
Nina olhou para mim quando entrei nos meus aposentos,
preocupada.
— Eu fiz uma coisa horrível, Nina! Eu... eu cometi um pecado
sem perdão! — falei aos prantos, recebendo um abraço seu.
Eu sabia que fazer aquilo com um homem que não fosse meu
marido era pecado. Minha mãe sempre disse que Deus jamais
perdoaria tal ato, e agora eu estava implorando para que meu
destino não fosse o inferno. Porém, eu não sabia que isso dava
prazer daquela forma. Se Deus nos fez para sentir todas aquelas
sensações boas, por que seria pecado desfrutar disso?
— O que aconteceu, Alteza?
— Pierre e Thomás. Eu deixei que os dois... deixei que...
Eu não conseguia terminar a frase. Estava envergonhada.
— Eles fizeram algo com a senhorita? Algo que não
quisesse?
— Não! Eu quis. Eu pedi por isso, e isso só deixa o pecado
mais imperdoável!
— Não, não! Há pessoas que matam, que torturam, roubam e
mentem. Deus não puniria alguém que só quis sentir prazer da
mesma forma que puniria um assassino.
Desci o olhar para o chão, deixando que mais algumas
lágrimas rolassem para o meu rosto.
— Eu sou obrigada a casar com Pierre agora, não tenho
opção.
— Mas pelo visto, pelo menos o Príncipe sabe dar prazer
para Vossa Alteza, não é? — Ela usou um tom divertido.
Ri fraco.
— Sim, isso é verdade.
— Só isso já me dá mais certeza de que o casamento será
muito bem-sucedido. Não precisa ter medo.
Assenti, respirando fundo e limpando o rosto com as costas
das mãos.
Ninguém podia saber do que fiz, ou minha reputação estaria
no lixo.
Talvez Nina esteja certa. O casamento com Pierre não seria
tão ruim assim, bastava ele aceitar.
Capítulo 7
Não deveríamos ter feito aquilo. Não medimos as
consequências naquele momento. Mas agora, quando a excitação já
havia passado, eu conseguia ver que tínhamos tomado a pior
decisão possível.
Passei as últimas vinte e quatro horas me culpando pelo que
aconteceu, e precisava conversar com Antonella sobre muitas
coisas que estavam martelando em minha mente.
Caminhei pelo castelo à sua procura, mas não obtive
sucesso. Porém, logo a encontrei saindo da capela, ao lado de sua
dama de companhia.
— Alteza. Rezando logo pela manhã? — questionei, sabendo
que era algo que normalmente faziam durante a tarde, depois do
almoço.
— Acho que eu preciso rezar pelo próximo ano inteiro para
ser perdoada. — Ela parecia nervosa, mas tentou dar um pequeno
sorriso.
— Poderíamos conversar?
— É claro. Vou guardar meu véu e encontro você no jardim.
— Não. Acho melhor na biblioteca. Receberemos menos
olhares curiosos.
— Está bem.
Observei Antonella se afastando até que sumisse da minha
vista.
Odiava pensar em como estava sua mente naquele
momento, e odiava pensar que grande parte da culpa era minha.
Segui para a biblioteca e a esperei lá, folhando um livro
aleatório. Li algumas palavras, mas eu não era muito bom nisso,
então não fiz questão de continuar. Lembro-me de quando aprendi a
ler. Fui ensinado por um artesão que vendia suas peças na cidade.
Enquanto sua tenda estava aberta durante o dia, eu amontoava um
pouco de palha, sentava nela e pegava um livro que ele sempre
carregava. Ele me ensinou aos poucos, mas eu era muito
empenhado. Um belo dia ele parou de aparecer, e eu não sabia
onde morava, então nunca mais o vi.
— Thomás? — Ouvi a voz de Antonella logo atrás de mim.
Doce, como sempre.
— Vossa Alteza.
— Não precisa me tratar com tanta formalidade quando
estivermos sozinhos, por favor.
— Desculpe, mas eu preciso sim.
Ela suspirou.
— O que queria falar?
Olhei para os lados, certificando-me de que não havia
ninguém naquele cômodo.
— Primeiramente eu queria pedir desculpas. E também
queria pedir que, por favor, não conte para ninguém o que sabe
sobre mim e o Príncipe.
— Eu jamais contaria. O segredo de vocês está seguro
comigo.
— Obrigado. Eu... desculpe pelo que fizemos com você.
— Não! Vocês não fizeram nada que eu não tenha pedido.
Também tenho culpa, e muita.
Desci meu olhar para o chão, suspirando. Não tinha mais o
que falar.
— Desculpe, Alteza.
— Desculpe-me a indiscrição, mas você e Pierre são
apaixonados um pelo outro?
Olhei para ela de novo. Um sorriso se formou em meus lábios
quando lembrei do momento em que percebi que estava
apaixonado.
— Sim. Já faz alguns anos que vim trabalhar aqui, e em
pouco tempo fui promovido para criado de quarto do Príncipe, mas
acho que ele só fez isso porque já estava interessado em mim. Foi
quando começamos a ter contato mais direto que tudo aconteceu.
— E como você acabou aqui no castelo? Seus pais já
trabalhavam aqui?
No primeiro momento, hesitei em contar minha história para
ela, porém, Antonella estava me encarando com seus olhinhos azuis
e um sorriso curioso. Não pude evitar.
— Na verdade, eu vim trabalhar aqui para procurar minha
irmã. Eu não a conheci, mas quando minha mãe estava em seu leito
de morte, contou que eu tinha uma irmã, mas que ela foi roubada
quando éramos bebês. Penso que somos gêmeos, já que minha
mãe afirmou que nós dois éramos muito pequenos quando isso
aconteceu. Algumas pessoas disseram que viram uma mulher
desconhecida na cidade, com um bebê que chorava muito.
Disseram que ela foi em direção ao castelo, mas ninguém sabe
quem era ela.
— Então você está aqui para encontrar sua irmã?
— Esse era meu objetivo inicial. Porém, quando consegui um
trabalho aqui, procurei por ela em todos os cantos, perguntei para
todos os criados que pude, mas não havia ninguém. Descobri que
há alguns anos teve um surto de peste entre os criados do castelo,
e que muitos morreram, inclusive crianças. Pelo que me contaram
sobre uma das crianças mortas, a idade e descrição batiam
perfeitamente. Além disso, eu tenho uma marca de nascença no
braço, e imagino que minha irmã também tenha, e nunca encontrei
alguém que a tivesse.
— Eu sinto muito por tudo isso.
— Está tudo bem. Eu pretendia sair daqui logo depois de me
conformar com a morte dela, mas foi quando comecei a me
aproximar de Pierre, então descobri que eu tinha um novo proposito,
e era ser feliz ao lado dele.
— Mas você tem certeza que ela está morta? Pode ter saído
do castelo, ou você pode só não a ter encontrado. Acho que há,
pelo menos, cem criados nesse castelo. E se quem a roubou a criou
longe daqui? Há tantas possibilidades.
— Sim, há, mas não sei se ainda tenho ânimo para procura-
la. Se não morreu, já deve estar casada, com filhos. Como eu
poderia chegar e destruir tudo o que ela conhece até agora? E se
ela gostar muito da mulher que a criou? Como eu poderia falar que
essa mulher a roubou da mãe verdadeira?
O olhar de Antonella ficou cabisbaixo.
— Você tem razão. Fiquei tão empolgada com a ideia de
você ainda poder reencontrá-la que não pensei no lado dela.
— Está tudo bem, Alteza. Eu demorei algum tempo para
concluir isso. Espero que essa história não fique chateando você.
— Não, não. Bom, eu já fiquei pensativa demais com a
história da morte da noiva do Príncipe, então vou tentar não pensar
muito sobre essa.
Ri leve.
— Você estava achando mesmo que Pierre a jogou da
escada?
— Sim, eu estava. Ouvi tantas histórias sobre essa morte que
estava cogitando a ideia de ser verdade que ele estava de acordo
com alguém para matar Diana. Eu queria provas, e foi isso que fui
fazer nos aposentos de Pierre. — Ela parecia muito envergonhada
enquanto contava a verdade.
Arqueei uma sobrancelha.
— Então você estava lá tentando provar que ele era um
assassino e acabou... nossa!
— Eu sei, não precisa me lembrar disso!
— E você achou alguma coisa? — perguntei irônico.
— Claramente eu não achei prova alguma. Talvez eu já tenha
tirado essa ideia da minha cabeça.
— Fico aliviado. Bom, eu preciso ir. Se alguém me vê parado
conversando com Vossa Alteza eu posso ser mandado embora na
mesma hora.
— Está bem. Pode voltar ao trabalho. Vou dar uma olhada
nos livros que têm por aqui.
Eu sorri, vendo-a pegar o primeiro livro que apareceu em sua
frente e folhá-lo.
Saí do cômodo, pretendendo voltar para os aposentos de
Pierre para me certificar de que estava tudo em ordem, mas a
Baronesa apareceu em minha frente.
— Você não deveria acompanhar mais a Rainha e se
importar um pouco menos com onde estou? — questionei.
— E onde você estava? Conversando com Antonella na
biblioteca? Só Deus sabe o que você estava tentando fazer com ela
em um cômodo tão escondido. — Sua voz era rígida e fria, e
conseguia me irritar com facilidade.
— Eu não admito que fale dessa forma! — esbravejei. — A
Rainha sabe que você passa tanto tempo cuidando da vida dos
criados que não lhe dizem respeito? Eu sirvo ao Príncipe, e somente
a ele. Se alguém tem que se incomodar com onde estou e o que
estou fazendo, é ele.
— Realmente, você dá tudo de si para servi-lo da forma que
ele quer.
— Você está insinuando algo? Acho que não estou
entendendo.
— Longe de mim estar tentando insinuar algo contra o
Príncipe. Você deveria voltar ao trabalho.
— Se a Baronesa sair da minha frente, quem sabe eu possa
continuar o meu caminho.
Ela sorriu irônica, dando um passo para o lado e deixando
que eu passasse.
Ela sabia. Com certeza sabia. Afinal, tenho a impressão de
que o seu único propósito de vida é bisbilhotar cada canto do
castelo. Mas a pergunta era: por que a Baronesa não contava logo
para o Rei sobre mim e Pierre. O que ela pretendia ganhar com
isso?
Tentei não pensar muito nisso, ou eu iria enlouquecer.
Segui até os aposentos do Príncipe e verifiquei se tudo
estava em ordem. No caso, não estava. Havia roupas recém
lavadas que eu precisava guardar, e foi o que fiz.
— Bom dia! Eu não vi você hoje. — Ouvi a voz de Pierre
entrando no quarto.
— Acordei atrasado.
Ele riu leve.
— Também fiquei cansado depois de ontem, mas queria falar
com Antonella sobre isso. Quem sabe podemos repetir qualquer dia
desses.
Virei-me em sua direção, incrédulo.
— Você enlouqueceu? — esbravejei. — Já foi um erro fazer
isso com ela uma vez, não podemos fazer de novo.
— Você está muito exaltado. Não é o fim do mundo.
— Pode ser o fim do mundo para uma mulher, e você sabe
muito bem. E se ela não se casar com você? Como vai explicar para
o marido que não é mais pura? E se Antonella engravidar? O que
você acha que falariam dela se aparecesse grávida antes do
casamento?
Ele suspirou pesado.
— Acho que eu não tinha pensado nas consequências para
ela.
— É claro que não. Você já tem vinte e quatro anos, Pierre.
Já deveria pensar nas consequências dos seus atos, e
principalmente em como isso afeta as pessoas a sua volta.
— Agora eu sou infantil por querer fazer sexo? Está bem.
— Não. Você é infantil por querer continuar com isso sabendo
que pode acabar com a vida de alguém. Mas tudo bem, não é? Não
afetará a sua.
— Então eu sou um egoísta infantil?
— Entenda minhas palavras como quiser.
Voltei minha atenção para as roupas. Não queria continuar
aquela discussão. Pierre já havia entendido o que eu estava
querendo dizer.
— Separe minha melhor roupa para amanhã à noite. Não se
esqueça do baile. — Foi a última coisa que disse antes de sair do
cômodo.
Soltei todo o ar que estava prendendo nos pulmões.
O baile. Eu esqueci completamente. Em pouco tempo o
castelo estaria cheio de pessoas que nenhum de nós viu na vida, e
mal poderíamos chegar perto um do outro para não levantar
suspeitas.
Capítulo 8
Thomás estava tornando o problema maior do que realmente
era. As chances de um outro homem perceber que Antonella não
era mais virgem eram pequenas. Além disso, há mulheres que
passam anos, ou até décadas, tentando engravidar e não
conseguem. Não seríamos tão azarados ao ponto de isso acontecer
na primeira vez dela.
Thomás e eu mal trocamos duas palavras ao decorrer desses
dois dias. Mesmo nossa convivência sendo próxima, ele não estava
disposto a pedir desculpas pelas ofensas que me fez, e eu muito
menos.
Eu estava pronto para o baile. Podia ver da minha janela
todas as pessoas chegando em suas belíssimas carruagens. Pelo
menos eu sabia que não me empurrariam nenhuma outra mulher
que não fosse Antonella, e eu estava aliviado por não ter que dançar
com moças que eu mal lembrava o nome.
Ajustei os últimos detalhes de minha roupa com a ajuda de
Thomás, em silêncio. Logo depois seguimos para o grande salão do
castelo.
Havia uma mesa enorme com comidas, principalmente doces
de frutas, já que pelo que eu soube, Antonella ajudou a escolher o
cardápio. Os criados serviam vinho para quem quisesse tomar.
Não vi Thomás sair do meu lado, mas quando percebi, ele já
estava junto dos outros criados. Meus pais conversavam
tranquilamente com um grupo de pessoas que eu não sabia quem
eram, e algumas pessoas dançavam elegantemente a música que
estava tocando.
— Boa noite, Alteza. — A Baronesa parou em minha frente e
fez uma breve referência, ao lado de sua filha.
— Boa noite — respondi.
— Creio que Mariana gostaria de iniciar sua noite com uma
dança com o Príncipe.
Olhei para a jovem mulher em minha frente, mas ela mal me
encarava. Era totalmente submissa à mãe, e mesmo que não
quisesse dançar, não iria contrariá-la.
— É claro. — Estendi minha mão para ela, que a pegou
rapidamente.
Ela não gostava daquilo. Os olhares de todos estavam na
mulher que dançava com o Príncipe de Pommier, e ser o centro das
atenções não era o seu forte.
Dei uma breve olhada nas pessoas em volta da mesa de
doces, algumas parecendo desesperadas enquanto comiam.
— Quantas pessoas você acha que não vão chegar até o
final da festa por causa de uma dor de barriga? — perguntei,
tentando aliviar o clima e apontando com a cabeça para a mesa.
Mariana olhou na mesma direção e soltou uma leve risada.
— Metade deles vão sumir em vinte minutos — afirmou ela.
Nos conhecíamos desde crianças. Eu praticamente a vi
nascer. Tinha quatro anos quando isso aconteceu. Desde que se
entende por gente, sua mãe a empurrava para cima de mim, mas
Mariana não queria isso. Ela me via no máximo como um irmão
mais velho, mas jamais como um marido.
— E você experimentou os doces?
— Ainda não. Chegamos há poucos minutos.
— Eu também, mas eu quero saber mesmo é do vinho.
Soube que trouxeram algumas garrafas especiais.
— Se eu tomar mais de duas taças, posso esperar a bronca
da minha mãe.
— Você é adulta, Mariana. Ela não deve controlar quantas
taças de vinho você bebe.
— Eu sei, mas eu prefiro não a contrariar do que ouvir suas
reclamações por dias e dias.
Abri a boca para protestar, mas algo chamou minha atenção:
Antonella entrou no salão ao lado de sua dama de companhia. Ela
estava muito bonita com seu vestido rosa claro e uma leve
maquiagem que salientava suas maçãs do rosto. Ela estava
elegante e graciosa.
— Com licença, Mariana, mas acho que devo dançar com
Antonella agora.
Ela assentiu, suspirando aliviada. Retirou-se em seguida e foi
direto para a mesa com os doces.
Aproximei-me de Antonella. Ainda não tínhamos conversado
depois do acontecido.
— Boa noite — falei.
— Boa noite, Alteza.
Ofereci minha mão para ela.
— Que tal uma dança?
— É claro.
Seguimos para o meio do salão, recebendo olhares, mas
diferente de Mariana, Antonella não parecia se importar com isso.
— Eu queria pedir desculpas. Talvez eu não tenha pensado
muito nas consequências de induzir você a fazer aquilo — falei,
esperando que apenas ela ouvisse.
— Você não me induziu a fazer nada. Nem você, nem
Thomás. Eu fiz porque quis. Não vou tentar transferir minha culpa
para alguém. Eu cometi esse pecado, eu preciso arcar com as
consequências sozinha.
Foi nesse momento que eu percebi como Antonella estava se
sentindo mal com tudo aquilo.
— Não fale assim. Você não fez nada sozinha. Se você tem
culpa, Thomás e eu temos tanto quanto você.
— Mas com vocês dois não existe a possibilidade do cônjuge
te expulsar de casa na lua de mel por descobrir que você não é
mais pura. Eu gostei muito do que fizemos, muito mesmo. O meu
medo é o julgamento de outras pessoas, e até de Deus.
— Eu acho que existem pecados piores para Deus se
preocupar. Você não fez mal a ninguém, não deveria estar se
torturando tanto.
— Bom, eu vou superar.
— E eu espero que isso não demore. Agora, que tal uma taça
de vinho? Soube que trouxeram o melhor para hoje à noite.
Ofereci meu braço e ela entrelaçou sua mão nele.
Caminhamos lado a lado até um canto do salão, sendo servidos
com vinho por um dos criados logo em seguida.
Não tive nem tempo de me deliciar com a bebida. No
segundo seguinte, mais convidados chegaram, e entre eles Jorge, o
herdeiro do ducado de Porto. Ele estava acompanhado de seus pais
e sua esposa, a qual eu ainda não havia visto. Ela passou a mão na
barriga, e então percebi que estava grávida.
Virei-me de costas, na esperança de que não me vissem.
— Aconteceu alguma coisa? — Antonella perguntou. — O
Duque e a Duquesa estão olhando para cá.
A garota ao meu lado sorriu, e eu fui obrigado a me virar de
volta e sorrir também, mas Jorge não me cumprimentou, pelo
contrário, virou o rosto para o outro lado e eu respirei aliviado.
— Digamos que Jorge e eu não temos um passado muito
bom.
— O filho do Duque?
— Sim, esse mesmo.
— Mas por que ele... Ah! — Quando ela percebeu o que
estava acontecendo, ficou envergonhada. — Acho que entendi.
— A irmã de Jorge, que agora já está muito bem casada, foi
uma das minhas pretendentes. Sua família ficou aqui no castelo por
cerca de três semanas, e foi o suficiente para Jorge e eu nos
divertirmos algumas vezes. Ele ficou obcecado por mim, dizia que
estava pensando em como contar sobre “nosso amor” para os pais,
mas, sabe, a única coisa que eu sentia por ele era desejo, e agora
nem isso. Eu tive que ser bem claro e dizer que jamais ficaríamos
juntos, e isso o irritou. Esse ocorrido foi há anos, e ele ainda
ameaça contar sobre nosso caso para todos.
Antonella olhou para mim por um momento, em seguida para
as pessoas no salão, com os olhos arregalados.
— Você tem uma vida bastante agitada.
— Tinha. Desde que conheci Thomás, nunca mais desejei
algum homem ou mulher, até você chegar, é claro.
Suas bochechas ficaram vermelhas na mesma hora.
— Ah, sim.
— Desculpe! Eu não... não queria que você ficasse
desconfortável.
— Não, está tudo bem. Eu que sou uma boba e fico
envergonhada por tudo. Acho que depois do que fizemos, eu não
deveria mais ficar encabulada na sua presença, mas às vezes é
inevitável. Desculpe.
— E por que é tão inevitável assim? Quer dizer, você também
fica assim na frente de Thomás, ou é só comigo? Sabe, você nos
viu pelados, acho que é normal para uma mulher inexperiente ficar
com vergonha depois disso.
— É com os dois. É que... e eu não vi tão bem o Thomás
pelado, sabe, eu estava em cima dele, eu não consegui ver muita
coisa e... Ah, meu Deus!
Antonella colocou as mãos na bochecha, provavelmente para
sentir o quanto estavam quentes.
— Mas, então, é só você o chamar e pedir para ele tirar a
roupa para você ver melhor. Você não vai se arrepender, é sério.
Não sei se você percebeu, mas ele tem um membro bastante
avantajado e você vai gostar de verificar isso com mais atenção.
Eu não pude deixar de soltar uma risada ao ver o quanto
Antonella estava vermelha.
— Pierre! Agora você também está me fazendo pecar por
pensamento!
Aproximei-me dela, com um sorrisinho nos lábios.
— Então você está imaginando o Thomás pelado? —
perguntei.
Ela se abanou com as mãos, tentando fazer, pelo menos, um
pouquinho de vento em seu rosto.
— Está muito quente aqui dentro, abafado, não acha? Onde
está Nina? Nós precisamos tomar um ar lá fora.
Sim, ela estava imaginando o Thomás pelado.
Antonella saiu do meu lado, afobada e à procura de sua
dama de companhia. Soltei mais uma risada quando a vi respirando
fundo e ainda tentando se abanar.
Corri meus olhos pelo salão. Meus pais conversavam
animados com o Duque de Porto, enquanto seu filho, Jorge, provava
os doces com a sua esposa.
Meus olhos pararam em Thomás. Estávamos longe um do
outro, mas consegui ver um pequeno sorriso em seu rosto quando
nossos olhares se cruzaram. Ele fez um sinal com a cabeça em
direção à saída. Eu sabia que aquilo era um convite para ir até o
labirinto. Assenti e deixei que fosse primeiro. Seria melhor tomar
uma distância para que ninguém visse.
Cerca de dois minutos depois, saí do salão e tomei o
caminho para a porta do castelo.
O jardim estava vazio, mas muito bem iluminado pelas
tochas, como sempre.
— Ei, Príncipe! — Ouvi uma voz muito conhecida atrás de
mim, mas eu não estava nada contente com isso.
Virei-me, vendo Jorge tentando me alcançar.
— Não tenho certeza se deveria deixar sua esposa grávida
sozinha no salão — ironizei.
— Ela não está sozinha, mas eu não vim falar dela.
— Então sobre o que veio falar? Se não se importa, tenho
mais o que fazer.
— Tem alguém para encontrar, você quer dizer.
— Não tenho certeza se isso é da sua conta.
— Eu só queria dizer que minha família e eu ficaremos por
aqui alguns dias. Sabe, Porto é bem longe e precisamos de um
descanso antes de voltar.
Soltei uma risada irônica.
— Você não pode estar falando sério.
— Sim, eu estou. Na verdade, isso foi ideia dos seus pais, eu
não tenho nada a ver com isso. — Ele deu um passo em minha
direção. — Teremos muitas chances de relembrar os nossos bons
tempos.
— Não conte com isso. — Tentei voltar o meu caminho para o
labirinto, mas Jorge parou em minha frente.
— E você não conte com o meu silêncio.
— Você não teria coragem de falar nada! Você sabe que isso
não acabaria só comigo, mas com você também, com o seu
casamento, com a sua relação com seus pais. Não adianta me
ameaçar, eu sei que nada vai acontecer.
Ele sorriu.
— Eu não teria tanta certeza disso. Se eu não ter o que eu
quero, eu sou muito capaz de destruir a sua vida, mesmo que isso
me leve junto.
— Você está me ameaçando para fazer sexo com você? Ah,
pelo amor de Deus! Agora me dê licença. Eu já estou atrasado.
Jorge deu um passo para o lado, e eu pude passar.
— Espero que não se esqueça do que sou capaz.
Não me virei para o olhar novamente, apenas segui meu
caminho.
Jorge era louco! Suas decisões eram sempre muito radicais,
e eu não conseguia entender isso. Ele sabia o quanto isso podia
acabar com a vida dele?
Tentei tirar isso da cabeça e fui o mais rápido que pude para
o labirinto. Thomás já estava me esperando há tempo demais, e eu
queria mais do que tudo a nossa reconciliação.
Entrei entre os arbustos, mas Thomás não estava lá.
Caminhei pelo labirinto, mas não o encontrei. Ele não estava mais
lá. Provavelmente cansou de me esperar, ou achou que eu não viria.
Voltei para o salão com rapidez, queria o encontrar e dizer
para conversarmos melhor, mas ele não estava mais no baile.
Perguntei para uma das criadas se havia o visto e a resposta foi
negativa.
Suspirei pesado, lamentando por ter perdido a chance de
fazermos as pazes, mas ele deveria ter esperado por mais alguns
minutos. Talvez ele não me quisesse tanto assim.
Capítulo 9
Minha cabeça estava explodindo. Talvez eu tenha tomado
muito vinho depois que Thomás sumiu da festa. Porém, agora ele
estava bem na minha frente, no meu quarto, servindo meu desjejum
como todos os dias, mas em completo silêncio.
Ele não se deu ao trabalho de abrir a boca para explicar o
motivo de ter sumido na noite anterior. Nada. Apenas serviu minha
comida e arrumou a roupa que eu vestiria em poucos minutos. Se
ele não queria falar nada, eu também não falaria.
— Minha paciência tem limite! — disse meu pai, entrando no
quarto sem avisos.
— Você poderia bater na porta — falei.
— Eu sou o Rei e seu pai!
— Diga-me o motivo de sua paciência estar tão esgotada.
— Antonella está aqui há semanas e nada aconteceu. Você
vai sair daqui agora, ir até ela e convida-la para fazer alguma coisa
durante essa manhã. Você precisa se casar, Pierre. Entenda isso de
uma vez por todas!
— Está bem, pai. Eu vou pensar em alguma coisa.
Eu não estava com ânimo para discutir àquela hora da
manhã.
— Certo. Espero vê-los juntos daqui a uma hora.
Ele saiu do quarto, e eu apenas suspirei.
Terminei de comer e em seguida Thomás se prontificou a me
ajudar com a roupa.
— Aonde vai leva-la? — ele perguntou, finalmente falando
algo pela primeira vez no dia.
— Ainda não sei, talvez para colher flores. Por quê? Está
com ciúmes? — brinquei, tentando aliviar o clima.
— Eu não tenho ciúmes da Antonella. Só queria saber se era
algo que ela gostaria de fazer. — Thomás continuava sério. Nem ao
menos olhou para mim.
Não falei mais nada, antes que outra discussão se iniciasse.
Depois de vestido, pedi para que avisassem Antonella que eu
estava a esperando na porta do castelo para colhermos flores. Era
início de primavera e eu a levaria para o lado de fora dos muros.
Ela chegou animada, com uma cesta nas mãos e ao lado da
sua dama de companhia.
— Já podemos ir? Quero preparar alguns arranjos com as
flores que vamos colher — disse ela.
Ela estava tão contente e ansiosa com aquilo, que eu não
pude deixar de abrir um sorriso quando a vi.
— Já podemos ir. Há algumas flores bem perto daqui. Pensei
em irmos caminhando para aproveitar o sol e o vento fresco.
— Perfeito!
Seguimos o caminho lado a lado, com Nina atrás, também
com sua cesta para colher algumas flores.
— Você falou com Thomás ontem? Percebi que os dois
saíram do salão — perguntou.
— Não. Jorge me parou no meio do caminho, quando
cheguei no labirinto, Thomás não estava mais lá.
— Mas vocês conversaram hoje?
— Não. Ele ficou em silêncio o tempo inteiro, então eu
também. Até tentei descontrair o clima em um momento, mas não
deu certo.
— Você não tem que descontrair, tem que conversar sobre o
que está acontecendo entre vocês dois.
— Se ele quisesse resolver, teria me esperado no labirinto
ontem à noite. — Avistei o campo de flores e apontei. — Chegamos.
É bem perto do castelo, não acha?
— Está tentando mudar de assunto? — resmungou ela.
— Penso que devemos focar em ter uma manhã agradável e
deixar para resolver essa situação depois.
Antonella deu uma boa olhada nas flores no chão.
— São bem coloridas. Acho que devo fazer um arranjo com
cores iguais ou diversificadas? — questionou.
— Por quê? Está preparando o buquê do nosso casamento?
— brinquei.
— Isso é um pedido oficial?
— Hm — fingi pensar por um instante —, não.
— Então que bom que não era, senão eu o esfregaria na sua
cara depois dessa. Quero fazer um para colocar em meus
aposentos e um para dar à sua mãe.
— Ela gosta de coisas coloridas. Acho que pode diversificar.
Antonella colheu as maiores flores que conseguiu encontrar.
Dentro da sua cesta, havia um rolo de fita e uma tesoura. Ela veio
até mim, aproximando-se bem mais do que o normal.
— Sinta o cheiro dela — disse, levanto a flor até meu rosto e
tocando meu peito levemente com a outra mão.
— Um cheiro maravilhoso — concordei.
Ela ajoelhou-se no chão, bem na minha frente, e por um
momento eu fiquei nervoso por ter cogitado a ideia de Antonella
querer fazer algo a mais do que colher flores, mas então me toquei
que ela jamais faria algo do tipo naquele momento, com sua dama
de companhia há poucos metros de distância, à luz do dia.
Encarei Antonella, ainda ajoelhada. Ela olhou para mim com
seus olhinhos azuis e sorriu. Um sorriso e um olhar entre o meigo e
o malicioso.
— Meu Deus, Antonella!
Respirei fundo e me afastei em alguns centímetros.
— O que foi agora? — choramingou.
— Você com esse olharzinho, esse sorrisinho, de joelhos na
minha frente.
— Mas o que... — Ela refletiu por um momento, e quando
entendeu arregalou os olhos. — Aquilo que você fez no Thomás?
Eu não faria isso aqui!
— Onde, então? — brinquei, mas sabia que podia deixa-la
envergonhada.
— Na biblioteca — respondeu, no mesmo tom que eu, mas
com as bochechas vermelhas.
— Eu estou brincando, não precisa se envergonhar.
— Mas eu não.
Semicerrei os olhos.
— Você não o quê?
— Eu não estou brincando.
Eu estava acostumado a ser a pessoa que deixava Antonella
com vergonha com minhas brincadeiras, e não ao contrário. Fui
pego de surpresa e não sabia o que responder. Pensei que ela
ficaria encabulada demais para falar alguma coisa.
Ela sorriu para mim, mas logo desviou o olhar. Fez um
arranjo rapidamente. Não era nada muito elaborado e extravagante,
mas eu tinha certeza que minha mãe amaria só pelo fato de ter sido
feito com aquela simplicidade.
— O que você achou? — indagou.
— Eu achei muito bonito. Estou certo de que minha mãe vai
adorar.
Antonella colheu mais algumas flores para colocar em seu
quarto e logo depois voltamos para o castelo. Ela afirmou que iria à
procura de minha mãe, e eu segui para a biblioteca antes do
almoço.
Não tinha algo específico para ler, então folhei alguns livros
só para passar o tempo.
— Imaginei que estaria aqui. — Ouvi a voz de Jorge entrando
no cômodo e bufei.
— É claro que imaginou. Estava me seguindo?
— Não, mas vi quando entrou na biblioteca.
— Ótimo. Estava me seguindo.
— Achei que queria uma companhia.
— Não a sua.
— Você está querendo mesmo que eu conte para todos, não
é?
— Pelo amor de Deus! — resmunguei. — Há dezenas de
homens por aí que adorariam ter uma noite com você, por que
insiste em alguém que não quer?
— Porque eu quero, e quando eu quero uma coisa, eu
consigo.
Ele deu alguns passos na minha direção, o que só me fez
revirar os olhos.
— Você está sendo ridículo.
Jorge pretendia se aproximar ainda mais, e eu estava pronto
para deixar um soco em seu rosto, mas a porta da biblioteca se
abriu novamente, e sua esposa, Maria, entrou.
— Jorge! — exclamou, aproximando-se. — Isso não faz parte
do nosso acordo e você sabe. E se fosse outra pessoa entrando?
Como você iria explicar? — Maria falou baixo, mas eu estava perto
demais para não ouvir.
— O quê? Acordo? Do que estão falando? — questionei.
— Nada que interesse você — respondeu Jorge.
— Se eu estiver envolvido, é de meu interesse sim.
— Você não está envolvido, não precisa saber.
— Sim, ele precisa. Achei que o Príncipe fosse o principal
motivo desse acordo — disse sua esposa.
— Ótimo! Os dois se uniram contra mim! — resmungou,
retirando-se do cômodo.
— Ele é muito temperamental — comentei.
— Você não tem nem ideia. Conviver diariamente com Jorge
é estressante, ele age como um adolescente mimado.
— Eu imagino. Mas sobre o tal acordo, pode contar o que é
ou prefere manter em segredo?
— Jorge e eu temos um acordo no nosso casamento.
Quando ainda éramos noivos, vi ele com um homem. Tivemos uma
conversa e ele explicou para mim que não sentia atração por
mulheres, e apesar de não compreender, eu aceitei. Ele disse que
era apaixonado por alguém, por você, e eu também tinha um amor,
então não fiquei preocupada. Combinamos que cada um podia amar
e dormir com quem quisesse, desde que fosse em total segredo, e
em frente às pessoas fingiríamos um casamento perfeito. Não
dormimos juntos nem ao menos uma vez, e é assim que funciona.
— E o bebê?
Maria passou a mão pela barriga e sorriu.
— Eu sempre fui apaixonada por um dos meus criados. Ele
cuidava de meus cavalos como ninguém. Quando casei, o levei para
o castelo dos pais de Jorge alegando que apenas ele sabia cuidar
dos meus animais. Mantemos uma relação desde a adolescência.
— Eu... eu não esperava por isso.
— Está tudo bem. Cada pessoa tem seus segredos. Espero
que guarde o meu, e guardarei o seu.
— Com toda a certeza, mas Jorge não pretende fazer isso.
Se ele contar sobre mim, sobre ele, vai contar sobre você. Maria,
você precisa pará-lo, convencê-lo de que isso é uma loucura!
Imagine só tudo o que aconteceria se todos soubessem a verdade.
Ela respirou fundo, desapontada.
— Vou conversar com ele, mas não posso garantir que vai
funcionar.
Assenti. Maria forçou um pequeno sorriso, retirando-se em
seguida.
Estava rezando para que ela conseguisse mudar a cabeça de
Jorge. Eu não conseguia imaginar tudo de ruim que aconteceria
caso ele contasse para todos sobre o caso que tivemos. Eu não
sabia se conseguiria conviver com os olhares de julgamento.
Capítulo 10
A rainha adorou o arranjo que preparei para ela, e admito que
as flores também ficaram muito bonitas em meu quarto. Eu queria
preparar um com as rosas do jardim. Não precisava ser só de rosas,
mas queria que elas fossem o foco. Na verdade, ficaria até mais
bonito se eu misturasse com alguma outra flor.
Durante a manhã, caminhei pelo jardim, tentando visualizar
as melhores flores. Não tinha certeza se eu deveria ficar apenas ali,
ou sair do castelo como fiz no dia anterior com Pierre.
Avistei Thomás. Ele estava podando um arbusto, e parecia
cabisbaixo. Tinha certeza que ele e Pierre ainda não haviam se
resolvido.
— Bom dia — falei, aproximando-me. — Você também poda
os arbustos? Pensei que só trabalhava para o Príncipe.
— Esse arbusto é do Príncipe. Basicamente, ele pediu para
plantarem, afirmando que cuidaria. Não cuidou. Agora cá estou eu.
— Não sabia que entendia tanto assim de jardinagem. Quer
dizer, sei que sabe bastante sobre o assunto, mas não imaginei
tanto.
— Era com isso que eu trabalhava quando cheguei no
castelo, antes de virar o criado de Pierre.
— Vocês ainda não se resolveram, não é?
Thomás suspirou. Sentou-se na grama. Aproveitei que eu
não estava com um panier embaixo do vestido e também me sentei
sem grandes dificuldades, apesar no tecido da saia ser bem pesado.
— Mal trocamos uma palavra desde que brigamos. E quando
eu tentei resolver, ele não apareceu, e ainda o vi com Jorge na noite
do baile, sozinhos no jardim. Para completar, ontem mesmo vi Pierre
entrando na biblioteca, e Jorge entrou em seguida, olhando para os
lados, desconfiado. Eu sabia que ele era assim antes de ficarmos
juntos, mas nunca me preocupei porque o que ele fez da vida dele
antes de mim não é da minha conta, porém, admito ter ficado
inseguro depois do que eu vi.
— Não! Eu posso afirmar que os dois não fizeram nada.
Jorge provavelmente está ameaçando Pierre, dizendo que vai
contar para todos o caso que tiveram no passado. Ele já fez isso
antes, e deve estar fazendo de novo.
Thomás olhou para mim, perplexo.
— Eles tiveram um caso? — indagou, incrédulo.
— Você não sabia? Ah, Deus! Eu não sei se eu deveria ter
contado.
— Então é óbvio que estão tendo alguma coisa de novo!
— É claro que não! Pierre não faria isso. Eu tenho certeza
que ele odeia o Jorge e jamais chegaria perto dele de novo.
— É difícil acreditar nisso agora. Eu já estava tão inseguro, e
agora, sabendo que já tiveram algo.
Arrastei-me até que nossos braços se encostassem e eu
pudesse cutuca-lo com meu ombro.
— Você é bonito demais para ficar inseguro, Thomás.
Ele olhou para mim e sorriu. Um sorriso que fazia qualquer
pessoa querer se jogar em seus braços.
— Você me acha tão bonito assim? — questionou.
Olhei para ele por um momento, mas estávamos muito
próximos, e seus olhos não saíam de mim.
— Por que vocês dois adoram fazer isso comigo? —
resmunguei.
— Fazer o que?
— Me deixar encabulada e...
Parei a frase na metade. E com vontade de beijá-los, era o
que eu diria.
— E?
— E com as bochechas tão vermelhas. Olhe só isso!
Passei a mão no rosto, tentando disfarçar.
Thomás riu leve.
— Não tenho certeza se era isso que você pretendia dizer,
mas vou aceitar.
Olhei para ele mais uma vez com o canto dos olhos, mais
logo desviei. Ele ainda sorria, e isso tornava a sua boca ainda mais
convidativa.
Tratei de levantar logo. Não sabia se conseguiria manter o
controle por muito mais tempo, ou se eu atacaria seus lábios
naquele momento.

[...]
Olhei para as estrelas da janela dos meus aposentos,
suspirando por apenas um segundo, momentos antes de deitar na
cama.
Eu queria ter o beijado, assim como eu quis beijar Pierre no
dia anterior, e isso só me deixava mais confusa. Passei o resto do
dia refletindo sobre a confusão que estava em minha cabeça. Não
conseguia decidir sobre qual dos dois eu gostava mais, desejava
mais. Era como se eu estivesse dividida exatamente no meio.
Porém, nada disso importava de verdade. Eu não tinha muitas
opções. Ou casava com Pierre, ou com nenhum dos dois.
Fechei os olhos com força, e por um momento era como se
eu pudesse senti-los na cama comigo. Minha pele se lembrava de
cada toque, de cada carícia, e implorava para que isso se repetisse
o mais rápido possível.
Eu queria sentir a boca de Thomás na minha enquanto Pierre
se colocava dentro de mim. Queria que as mãos do Príncipe
passeassem por todo o meu corpo enquanto as de seu criado
brincassem com meus seios. Queria senti-los de todas as formas
humanamente possíveis.
Desci meus dedos por meu corpo, até chegar no meio das
minhas pernas. Acariciei o ponto que Pierre me indicou naquele dia,
parecia estar inchado, e tinha a impressão que isso era ainda mais
prazeroso.
Fiz movimentos sutis e circulares, usando minha outra mão
para apertar meus seios por cima da camisola.
Eu queria tanto que fosse Thomás e Pierre fazendo aquelas
coisas. Minha vontade era de chama-los agora mesmo e pedir para
que fizessem comigo tudo o que desejassem, que me usassem da
forma que quisessem, desde que me fizessem sentir aquela onda
insana de prazer de novo. Só de pensar em estar à disposição deles
daquela forma, eu sentia meu corpo inteiro queimando de desejo.
Aumentei a velocidade dos meus dedos, agora
movimentando-os para cima e para baixo.
Cada vez mais forte, cada vez mais rápido, com a
imaginação cada vez mais longe.
Foi quando eu senti aquela sensação de novo. Quando meu
corpo inteiro estremeceu, quando minha vontade era de gritar e
gemer o mais alto que eu podia.
Eu mal conseguia puxar o ar. Estava ofegante, com os olhos
ainda fechados e sem rumo.
Se eu senti tudo aquilo só de imaginar os dois ao meu lado, o
que será que eles conseguiriam fazer agora que não precisavam
mais ter o cuidado com a dor da primeira noite.
O problema era que eu não sabia se eles aceitariam isso de
novo. Provavelmente eu deveria decidir qual deles eu preferia, mas
isso era quase impossível de se fazer. Os dois faziam meu coração
acelerar na mesma proporção, e eu não sabia o que fazer com
aquele sentimento. Além disso, eu já estava precisando conviver
com a culpa de ter feito uma única vez, o que eu sentiria se fizesse
de novo? Eu poderia ser perdoada se pedisse perdão o suficiente
ou não?
Capítulo 11
Dei mais uma boa olhada no quadro em minha frente,
questionando-me se as histórias que Pierre me contou no dia que
nos conhecemos eram verdades ou foi só para me espantar.
— Pierre falou sobre seu avô ter filhos com as amantes e a
sua esposa ajudou a cria-los. Você acha que é verdade? —
perguntei para Nina, que estava ao meu lado.
— Acho que é sim. Ouvi algumas coisas sobre o assunto. Os
criados falam muito sobre as amantes dele, especulam sobre o Rei
ter ou não, esse tipo de coisa.
— E ele tem?
— Se tem, é muito bem escondido.
Seguimos olhando os outros quadros que estavam
pendurados, mas logo percebi outra pessoa entrando no cômodo.
Era Mariana, filha da Baronesa. Lembro de a ver durante o baile e
algumas vezes pelos corredores, mas nunca trocamos algumas
palavras.
— Boa tarde. Você é a Mariana, não é? — perguntei apenas
para puxar assunto.
Ela pareceu gostar da minha iniciativa. Sorriu e caminhou até
nós.
— Boa tarde, Alteza. Sim, sou Mariana.
— Eu a vi durante o baile. Você estava magnifica com aquele
vestido bordô.
— Ele era da minha mãe. Não tenho nenhum vestido tão
bonito quanto aquele. Inclusive, você estava muito bonita com
aquele rosa.
— Obrigada. Mas por que você não tem vestidos como
aquele? Você está na corte, deveria se vestir à altura, não?
— Minha mãe nunca mandou fazer um exclusivamente para
mim. Eu reclamava muito disso quando era mais nova, mas passei a
não me importar tanto.
— Então você usa as roupas dela em todos ou bailes e
sempre que vai conhecer um pretendente?
— Nos bailes sim, mas ainda não conheci nenhum
pretendente.
Franzi o cenho. Isso não era nada comum, principalmente
para a filha de uma Baronesa. Mariana parecia ser um pouco mais
velha do que eu, e era comum ver meninas ainda mais novas
casando.
— Deixe-me adivinhar: sua mãe? — questionei.
— Sim, mas está tudo bem. Poderia ser pior.
Suspirei, olhando para o quadro mais uma vez. Eu não tinha
mais o que falar depois disso. Eu sentia o quanto Mariana ficou
chateada ao relembrar como estava sua vida, e agora eu estava me
sentindo culpada por ter entrado nesse assunto.
— Acho que devemos nos despedir do Duque de Porto e sua
família. Soube que eles estavam de partida ainda nesta manhã —
falei, tentando mudar de assunto.
— Ah, sim, Vossa Alteza tem razão. Maria é uma mulher
adorável, espero ser convidada para o batizado do bebê — disse
Mariana, com uma expressão bem mais leve.
— Tenho certeza que irá. Vamos?
Ela assentiu.
Nós três seguimos para fora do castelo. As carruagens já
estavam prontas, e o Rei e a Rainha estavam se despedindo do
Duque e da Duquesa. Pierre também estava lá, mas não parecia
nada confortável em estar na presença de Jorge.
Parei ao lado do Príncipe.
— Está tudo certo? Sabe, em relação ao Jorge — perguntei,
tentando não aumentar o tom de voz para que ninguém além dele
ouvisse.
— Acho que está tudo certo. Maria afirmou que conversaria
com ele e o convenceria a mudar de ideia.
— A esposa dele sabe?
— Sabe, mas eu ainda não confio que ele vai ficar quieto. Ele
está há anos com essa ideia, não acho que uma simples conversa
vai fazê-lo mudar de ideia definitivamente.
Me despedi com apenas uma ou duas palavras, e logo todos
já estavam em suas carruagens, em uma longa viagem de volta
para Porto.
— Aconteceu algo enquanto estavam aqui? Jorge parecia
inquieto — perguntou a Rainha Ariane.
— Se aconteceu, não estou sabendo — respondeu Pierre.
— Também não ouvi falar sobre algo tê-lo aborrecido —
afirmei.
Ela pareceu convencida e se retirou, assim como todos
presentes.
Nina avisou que iria até à cozinha para pedir um lanche para
nós duas antes do jantar e eu concordei.
Pretendia voltar para meus aposentos quando avistei Thomás
indo até o jardim. Ele pareceu não me ver, mas eu lembrei na
mesma hora dos pensamentos que tive na noite anterior, de como
eu o queria me tocando, e de como eu queria tocá-lo.
Era bem provável que eu fosse me arrepender de qualquer
coisa que eu fizesse enquanto estava sentindo todo aquele desejo,
mas havia algo que esteve em minha mente durante toda a
madrugada, algo que eu queria experimentar mais do que tudo, e
mesmo que depois eu fosse direto para a capela, eu faria.
— Thomás. Eu posso conversar com você? — questionei.
Ele sorriu, simpático como sempre era comigo.
— É claro. O que deseja?
Você.
— É algo no meio labirinto. Pode me acompanhar?
Thomás assentiu e me seguiu.
Caminhamos em silêncio. Eu estava nervosa e ansiosa
demais para falar alguma coisa.
Quando chegamos no centro, Thomás olhou para os lados,
um pouco confuso já que não havia nada de diferente lá.
— Há algum problema? — ele perguntou.
— Na verdade, eu estou com um problema.
Dei alguns passos em sua direção, o suficiente para encostar
minha mão no seu peito, mas sem encará-lo. Estava com medo.
Ele deslizou seus dedos por meu braço, passando pelo
ombro e pescoço, até acariciar minha bochecha. Thomás sorriu,
entendendo o que eu queria fazer.
— E como eu posso ajuda-la? — sussurrou.
— Eu quero tentar uma coisa. Se você não quiser, é só me
parar.
Eu estava ofegante pelo nervosismo, e meu tom era baixo,
quase um sussurro.
— Eu não vou para-la.
Beijei seus lábios com rapidez, sem pensar muito, antes que
eu desistisse de tudo.
Thomás desceu suas mãos por meu corpo e segurou minha
cintura, puxando-me com força e deixando nossos corpos colados
um no outro. Seus lábios macios pressionados contra os meus
alimentavam a chama que só crescia dentro de mim.
Sua boca desceu para o meu pescoço, beijando-o e
chupando-o.
— Rosas? — questionou.
— Tomei um banho de imersão com pétalas de rosa hoje pela
manhã.
— Deveria usar as rosas mais vezes. — Ele roçou o nariz por
meu pescoço, parando perto do meu ouvido. — Vossa Alteza ficou
ainda mais deliciosa.
Fechei os olhos, sentindo sua espiração batendo contra
minha pele.
— Eu quero fazer mais uma coisa — falei, descendo minha
mão por seu abdômen.
— Faça o que quiser.
Toquei em seu pênis por cima da roupa e o senti enrijecido.
Fiquei de joelhos em sua frente, ainda nervosa por não saber o que
fazer. Thomás o colocou para fora, e eu percebi na mesma hora o
quanto era grande, como Pierre falou.
— O que você gostaria que eu fizesse? — questionei.
— Segure, acaricie, lamba, chupe, enfie-o todo na boca.
Delicie-se da forma que quiser.
Segurei e fiz movimentos de vai e vem, assim como fiz em
Pierre naquele dia, usando a mesma força que me foi ensinada.
Lambi a ponta, ainda com um certo receio, mas em seguido o
coloquei na boca e chupei. Eu jamais conseguiria enfia-lo inteiro.
Era muito grande para mim, mas tratei de fazer tudo o que consegui.
Thomás movia lentamente o seu quadril, tirando e colocando
em minha boca, olhando para baixo e encarando a cena. Coloquei a
língua para fora, sabendo que dessa forma ele conseguiria ir um
pouco mais fundo. E foi o que ele fez. Ainda não estava todo para
dentro, mas mais da metade.
Eu podia ver no rosto de Thomás o quanto aquilo estava
sendo prazeroso para ele. Por algum motivo, saber que eu estava
causando aquilo nele com seu pênis dentro da minha boca, fazia-me
latejar entre as pernas.
Aumentei a velocidade e intensidade do que eu estava
fazendo. Lambendo, chupando e acariciando com as mãos. Ele
parecia gostar ainda mais quando eu lambia a ponta, e foi isso que
eu tratei de fazer.
Thomás jogou a cabeça para trás e gemeu baixinho. Pensei
que o faria chegar no auge do prazer, como ele fez comigo, mas
não. Ele se afastou e me fez levantar.
— O que foi? — perguntei. — Eu machuquei você?
Ele sorriu, aproximando-se de mim novamente e beijando
meus lábios com delicadeza.
— Não, mas eu não quero sujar você.
Lembrei do outro dia quando Pierre estava nos assistindo e
se sujou todo quando chegou em seu ápice, então entendi o porquê
de Thomás ter parado.
Ele arrumou sua calça, e logo depois se aproximou de mim
de novo. Agarrou-me pela cintura e me beijou, com nossas línguas
dançando uma com a outra e nossos corpos colados.
— Eu queria que você o enfiasse em mim de novo —
sussurrei em seu ouvido, com os olhos fechados e imaginando a
cena.
— Não posso, Antonella. Não podemos arriscar que fique
grávida de mim. Pierre provavelmente será seu futuro marido, e
apesar dos julgamentos, no fim, as pessoas entenderão. Mas eu,
um simples criado?
Suspirei, dando um passo para trás.
— Eu entendo.
— Preciso voltar ao trabalho.
Assenti, vendo-o se afastar, até sumir da minha visão.
Eu o queria. Eu gostava dele. Fazer aquilo foi tão delicioso,
tão satisfatório. Eu queria mais e mais. Não tinha me contentado só
com aquilo. Além disso, minhas indecisões só aumentaram. Eu
ainda queria os dois. Queria fazer com Pierre a mesma coisa que
acabei de fazer com Thomás, eu só precisava do momento perfeito.
Capítulo 12
Nunca tive uma briga tão longa com Thomás. Normalmente
nos resolvíamos em poucas horas, mas dessa vez foi diferente.
Estávamos há dias sem termos uma conversa decente, mesmo
convivendo tão próximos. Era difícil para mim, e eu não sabia se era
difícil para ele.
Em breve seria o aniversário da minha mãe e teríamos um
jantar especial. Meu pai queria fazer um grande baile para tal
evento, mas ela não gostava disso. Seríamos apenas nós, em uma
noite com música, muita conversa e vinho, seguida de um jantar
com tudo o que a Rainha mais gostava.
Eu não tinha muito o que fazer naquela tarde. Passei a
manhã treinando com as espadas antes de ver Jorge indo embora,
mas já estava cansado demais para fazer isso até a hora do jantar.
Decidi que a melhor opção seria ler um livro na biblioteca, quem
sabe distraísse minha mente de tudo que estava acontecendo à
minha volta.
Peguei o primeiro livro que apareceu em minha frente e
sentei à mesa de madeira escura. Folhei as primeiras páginas, mas
não tive muito tempo para fazer isso. A porta do cômodo se abriu e
Antonella entrou. Animada e sorridente.
— Boa tarde, Alteza — disse ela.
— Boa tarde. Veio escolher algo para ler?
Ela se aproximou de uma das estantes, passando os dedos
pelos livros.
— Qual você me sugere? — perguntou.
Levantei, parando ao seu lado e pegando um livro de
poesias.
— Esse aqui, com certeza.
— Na verdade, eu vim aqui para falar com você, Pierre.
— Algo urgente?
Antonella deu um passo na minha direção, acabando com a
distância entre nós dois. Ela repousou suas mãos em meu peito,
sem tirar seus olhos azuis de mim, que pareciam transbordar
desejo. A garota parecia à beira de fazer uma loucura. Uma
deliciosa loucura.
— É urgente para mim.
Eu entendi exatamente o que ela estava querendo, e eu
também queria.
— Então acho que precisamos resolver isso logo.
Antonella ficou na ponta dos pés para alcançar meus lábios.
Começou como um beijo calmo, lento, mas em poucos segundos
ganhou velocidade e a vontade de toma-la já estava incontrolável.
— Qualquer pessoa pode entrar e nos ver aqui — falei, entre
um beijo e outro.
Ela afastou seu rosto em alguns centímetros.
— Deveríamos parar?
— Não. O perigo é tão excitante.
Empurrei Antonella até que ela tocasse na mesa atrás dela.
Desci minha boca por seu pescoço, chegando em seu decote e
lambendo a pequena parte à mostra de seus seios.
— Era isso que você queria? Me deixar louco para tê-la? —
perguntei, levantando lentamente a saia do seu vestido.
Antonella veio preparada para isso. Não estava com um
panier, ou com inúmeras camadas de anágua para dar volume à sua
roupa. Era apenas o grosso tecido de um vestido consideravelmente
simples, o chemise e as meias até os joelhos, presas com fitas.
Perfeito para que eu pudesse me deliciar.
Toquei em seu clitóris com delicadeza. Estava tão inchado,
ela estava tão molhada e eu mal havia encostado nela.
— Eu vim para bem mais do que isso — respondeu com a
voz trêmula.
— Veio para ter um orgasmo na minha frente? Com meus
dedos entrando em você?
Ela negou com a cabeça.
— Eu vim para fazer você ter um.
Antonella tocou em meu pênis por cima da roupa, e estava
pronta para o colocar para fora quando eu a parei. Não era o que eu
queria.
Fiz com que ela se sentasse na mesa e abri suas pernas.
— Tenho algo bem melhor para você.
Fiquei de joelhos na frente dela e a lambi de cima a baixo. No
primeiro contato que teve com minha língua, Antonella já soltou um
gemido.
Eu não tirava meus olhos dos seus. Queria que ela visse
tudo, que soubesse que meu único objetivo era satisfazê-la.
Chupei seu clitóris e a vi se contorcer em minha frente.
Apesar de nunca ter sentido uma boca entre suas pernas
antes, eu tinha certeza que aquilo era o que Antonella mais queria.
Ela estava fervendo, pedindo por mais com seus gemidos e olhares.
Enfiei dois dedos nela de uma só vez. Ela jogou sua cabeça
para trás e arfou. Movi meus dedos e minha língua em sincronia. Eu
a beijava como se fosse sua boca, deliciando-me como eu queria ter
feito no outro dia.
Segurei sua coxa com força com a mão que sobrou e
coloquei ainda mais intensidade nos meus movimentos.
Antonella se contorceu ainda mais e soltou um gemido alto,
quase um grito de prazer. Ela se desfez em minha frente, sem
folego, com a minha boca ainda nela.
Levantei, vendo-a extasiada em minha frente. Seu rosto tão
angelical, mas ao mesmo tempo malicioso, estava com as
bochechas vermelhas pelo recente orgasmo.
Avancei em seus lábios, puxando-a pelas pernas e fazendo-
as entrelaçar em meu quadril. Seu gosto ainda estava em minha
língua e ela o sentiu. Tão deliciosa.
Levei minha mão até meu pênis, pronto para o colocar para
fora e enfia-lo em Antonella, mas a voz de Thomás apareceu em
minha mente na mesma hora, e eu lembrei o motivo exato de
termos discutido.
Eu não podia fazer aquilo de novo.
Voltei com minhas mãos para sua cintura, sem quebrar o
beijo. Ela moveu seu quadril e roçou em mim. Mesmo com o tecido
da minha roupa nos deparando, meu pênis podia sentir
perfeitamente o quanto ela estava molhada, e isso só o deixou ainda
mais duro.
— Eu queria tanto que você o colocasse em mim — ela
sussurrou. — E queria que Thomás estivesse aqui para me beijar
enquanto você faz isso.
Eu o imaginei ali, beijando nós dois, acariciando-nos e
chupando-nos.
— Não fale isso. Vai me levar à loucura.
— É isso que eu quero fazer. Enlouquecer vocês dois de
tanto desejo.
— Você está fazendo isso com maestria, mas eu preciso
manter o controle.
— Está difícil, não é? Manter o controle com meu corpo tão
perto do seu, com minha pele macia e meu cheiro de rosas.
— Sim, Antonella. Está.
— Ótimo.
Ela se afastou, escorando-se para trás, em suas mãos.
Antonella não agia mais como a garota inocente que era
quando chegou aqui, mas depois que você conhece o prazer carnal,
fica difícil manter a inocência.
— Acho que eu vou continuar minha leitura — falei,
afastando-me.
Ela desceu da mesa.
— E eu vou dar uma volta por aí. Dar uma olhada nas flores
lá fora, quem sabe.
Sorriu para mim antes de sair da biblioteca.
Nunca tive tanto controle sobre minhas ações quanto tive
naquele momento. Tudo o que eu queria era penetra-la e vê-la
gemer comigo dentro dela, mas eu estava tentando ser um homem
mais responsável nos últimos tempos. Quem sabe uma leitura não
tirasse da minha mente a imagem de Antonella tendo um orgasmo
com a minha boca nela.
Capítulo 13
Mais um dia sem falar com Pierre se passou. Eu não estava
aguentando mais aquela situação. Poder vê-lo tão perto de mim
sem poder enchê-lo de beijos estava me matando.
Estava arrumando a cama dele logo depois do jantar. A cama
que eu já estive tantas e tantas vezes, a cama em que nos
amávamos sem preocupações, sem pudores.
— Está ótimo. Já pode se recolher — disse Pierre, assim que
terminei o que estava fazendo.
— Até quando, Pierre? — questionei, finalmente tomando
coragem para fazer alguma coisa.
— Até quando o quê?
— Até quando vai continuar sendo frio comigo? Até quando
vamos nos ignorar dessa forma? Estamos há tempo demais longe
um do outro.
Pierre levantou da cadeira que estava sentado, caminhando
em minha direção, mas não se aproximou o suficiente para eu tocá-
lo.
— Você decidiu assim. Você discutiu comigo, você decidiu ir
embora antes de eu chegar no labirinto naquele dia.
— O quê? Você demorou para chegar, eu fui atrás de você e
o vi com o Jorge. O que você esperava que eu fizesse? No dia
seguinte eu ainda tentei falar com você na biblioteca, mas Jorge
entrou lá antes de mim e eu achei melhor não atrapalhar o que quer
que fosse que estavam fazendo.
— Jorge e eu? É claro que não! Ele é obcecado por mim e
tudo o que eu fiz foi dizer não para ele. Jorge me ameaçou, disse
que contaria para todos que já tivemos um caso se não
dormíssemos juntos de novo, e mesmo assim eu disse não. Eu
nunca dormiria com ele novamente, porque agora você é o único
homem que eu quero, Thomás. O único homem que eu desejo, o
único homem que eu... que eu amo.
Senti minhas pernas bambas depois de ouvir suas palavras.
Pierre nunca tinha falado que me amava, apesar de deixar
subentendido em cada atitude sua.
Dei dois passos em sua direção e o puxei pela nuca. Sabia o
quanto ele gostava quando eu fazia isso. Beijei seus lábios com
fervor, com vontade, matando a sede que eu estava da sua boca por
todos esses dias.
— Eu amo você, Pierre — sussurrei.
Ele pretendia falar algo, mas não teve tempo. A porta do seu
quarto se abriu e eu senti meu coração saindo por minha boca por
alguns segundos. Então vi Antonella entrando com rapidez e
fechando a porta em seguida.
— Meu Deus! Você precisa dar algum aviso. Achei que
estávamos sendo pegos — falei.
— Desculpem-me. Eu estou atrapalhando? Posso voltar outra
hora.
— Não. Você nunca atrapalha. E se entrou aqui tão
desesperada, é porque deve ser algo urgente — disse Pierre.
— Urgente para mim, de novo.
— Se for a mesma urgência da outra vez, acho que posso
resolver seu problema.
— O que houve da outra vez? — questionei.
— Eu preciso falar com vocês dois. Eu estou há dois dias
tentando achar uma forma de falar isso.
— Diga.
— Vocês preferem que eu vá direto ao ponto?
— Eu prefiro — falei.
— Está bem. — Ela respirou fundo. — Eu gosto de vocês.
Dos dois. E eu não sei de quem eu gosto mais. Quando beijei o
Thomás, estava convencida de que eu o preferia, mas quando beijei
o Pierre, estava certa de que era ele.
Pierre olhou para mim e arqueou uma sobrancelha.
— Você a beijou e eu não estava sabendo?
— E você? Acabou de dizer que eu sou a única pessoa que
você deseja.
— Veja bem, eu disse o único homem que eu desejo.
Antonella é mulher. Achei que tivesse dito que não tem ciúmes dela.
— Eu não tenho! Você começou e eu só continuei.
— A culpa foi minha! Eu queria beijá-los, eu fui para cima dos
dois.
— Mas nós não paramos em um simples beijo. — Pierre
sorriu malicioso. — O que vocês dois fizeram?
— Algo que eu quero muito fazer de novo. — Ela caminhou
até nós. — Depois do que fizemos, eu só conseguia pensar em
vocês, em como me acariciavam com uma sincronia impecável. —
Antonella ficou de costas para Pierre e colou seu corpo no dele. Ele
subiu os dedos pelos braços dela, descendo a manga do vestido e
depositando um beijo em seu ombro. — Faz duas noites que eu
preciso me tocar para tentar conter o fogo que está me queimando
quando penso em vocês dois na cama comigo. Eu não me importo
com as consequências, eu só quero que me façam gritar de prazer.
Pierre já estava completamente rendido, beijando o pescoço
dela com urgência. Antonella ergueu a mão em minha direção,
chamando-me. Era difícil recusar aquilo, quase impossível. Eu não
devia, e sabia muito bem o quanto podia ser perigoso. Porém, ver a
língua de Pierre na pele dela enquanto ela arfava e lutava para
manter os olhos abertos era tentador demais.
Peguei sua mão e a garota me puxou para um beijo.
— Quero que mostre como fez quando se tocou pensando
em nós — disse Pierre.
— Eu sou de vocês essa noite. Façam o que quiserem
comigo.
Antonella puxou as amarras do seu vestido e eu a ajudei a
tirá-lo, fazendo a mesma coisa com seu corpete, deixando-a apenas
com o fino tecido do chemise. Porém, antes de qualquer coisa, ela o
tirou e ficou completamente nua na nossa frente.
Era impossível pensar em qualquer consequência com
Antonella encarando meus olhos e sem roupa alguma.
Beijei seus lábios com intensidade enquanto minhas mãos
passeavam por seu corpo, mas isso não durou muito. Ela segurou
nossas mãos e nos guiou até a cama, deitando. Suas mãos
acariciaram os próprios seios, mas logo uma delas desceu para o
meio das suas pernas.
Antonella não era mais a garota tímida que conhecemos. Ela
estava se tocando para dois homens, e eu jamais imaginei que faria
isso quando a conheci.
Enquanto a observávamos, Pierre esticou sua mão até meu
pênis, que já estava totalmente duro. Ele olhou para mim com o
canto dos olhos e sorriu. Estava prestes a se ajoelhar em minha
frente, mas eu fui mais rápido. Estava com saudades de sentir seu
gosto, e não perderia aquela chance.
Quando me viu abaixado na sua frente, Pierre se livrou da
sua roupa na mesma hora, e eu finalmente pude enfiar seu pênis
até minha garganta, como eu gostava de fazer. Ele alternava entre
olhar para mim e olhar para Antonella, que parecia estar gostando
de nos observar.
— Desde que conheci vocês, eu tenho curiosidade em saber
como dois homens fazem sexo. — Ouvi a voz doce e falhada de
Antonella.
— Acho que estamos dispostos a matar a sua curiosidade —
Pierre respondeu.
— Você não tem nem ideia de como isso acontece? —
questionei.
— Além de usar a boca, nenhuma ideia.
— Então você está perdendo uma das melhores coisas no
sexo — falei.
Virei-me para Pierre. Se Antonella queria saber o que
fazíamos, ela veria com os próprios olhos.
Ele me beijou sedento. Provavelmente morto de saudades da
minha boca. Afastei-me apenas por alguns segundos para tirar a
roupa, mas logo voltei a beijá-lo, com nossos corpos colados, com
seu pênis duro roçando no meu e suas mãos apertando minha
bunda com força.
Puxei sua mão até que deitássemos na cama, na frente de
Antonella.
Sua língua desceu por meu corpo, passando por meus
mamilos, chegando em minha barriga. Esperava que Pierre
descesse ainda mais e eu pudesse senti-lo me chupando, mas não.
Ele voltou para o meu pescoço.
— Vira de costas e empina bem a bunda para mim —
sussurrou em meu ouvido.
Eu não hesitei em obedecer. Normalmente variávamos sobre
quem tinha o controle da situação, e naquele dia era Pierre.
Senti a sua língua quente e bem molhada em minha entrada.
Suas mãos seguravam com firmeza minha bunda enquanto ele me
lambia.
Ele sabia exatamente o que eu gostava. Enfiava a pontinha,
depois lambia em volta e a enfiava de novo.
Antonella se aproximou, curiosa. Ela observava com atenção,
mas parecia estar gostando do que via.
Pierre ficou de joelhos, mas ao contrário do que eu pensava,
ele enfiou apenas um dedo em mim. Não era o que eu esperava,
mas só me fez ficar ainda mais ansioso pelo prato principal.
— Acho que eu vou dar para você o que você tanto queria
aquele dia, Antonella. — A voz de Pierre era tão maliciosa que me
causava arrepios. Olhei para trás e o vi segurando o próprio pênis
com sua mão livre. — Deixe-o bem molhado.
Antonella não pensou duas vezes antes de abocanhá-lo. Ela
parecia ter ansiado por aquilo durante algum tempo. Estava se
deliciando, chupando-o com vontade enquanto Pierre enfiava o
segundo dedo em mim. Ele tirava e colocava bem devagar, prestes
a me levar à loucura.
Pouco tempo depois, eu finalmente senti o pênis de Pierre
em minha entrada. Ele o empurrava para dentro com lentidão,
quase me torturando.
— E isso é mesmo tão bom? — perguntou Antonella.
— Você não imagina o quanto — respondeu Pierre. —
Thomás gosta que eu enfie tudo, mas eu posso dar um desconto
para você.
E ele realmente fez o que disse: enfiou tudo em mim.
— Eu gosto que ele vá bem fundo. Gosto que ele tenha seu
orgasmo assim e despeje tudo dentro de mim — falei, com a voz
falhada.
Pierre afundou os dedos em meus cabelos e puxou com
força, fazendo-me ficar de joelhos também, com minhas costas
grudada em seu peito. Sua mão segurou meu pescoço e ele colocou
velocidade no movimento que fazia.
— Chupe a bunda dela e a deixe prontinha para me receber
— ele exigiu, empurrando-me para que eu ficasse de quatro de
novo.
Antonella ouviu e também ficou de quatro em minha frente.
Ela não parecia nervosa com a nossa experiência, parecia ansiosa e
ainda mais excitada.
Coloquei minha língua para trabalhar, e os gemidos de
Antonella indicavam que ela havia adorado. Eu a lambia e enfiava
minha língua enquanto sentia Pierre cada vez mais rápido dentro de
mim.
— Eu quero que você enfie três dedos nela — disse Pierre.
— E você acha que ela aguenta? — perguntei.
— Se ela quer que eu entre nela, precisa aguentar e gostar.
— Eu aguento tudo o que quiserem me dar — disse ela.
Comecei com um dedo. Delicado, bem devagar. Tirei e
coloquei diversas vezes até Antonella parecer pronta para receber o
segundo. Quando fiz isso, ela gemeu e moveu o quadril, fazendo-os
entrar ainda mais nela, sem que eu fizesse nada. Permaneci com a
mão parada, e ela mesma se encarregou de fazer meus dedos
entrarem e sair.
— O terceiro — disse Pierre.
E foi o que fiz. Introduzi o terceiro com uma certa dificuldade,
mas Antonella não reclamou em nenhum momento, pelo contrário,
parecia gostar cada vez mais.
— Vocês estavam certos. Isso é uma delícia. — Suas
palavras saiam quase como gemidos.
— E vai ficar ainda melhor. — Pierre saiu de dentro de mim.
— Quero que se deite, Thomás. Eu quero entrar em Antonella com
ela em cima de você.
Soltei uma leve risada.
— Eu sei exatamente o que você quer — falei.
— E você não acha que ela vai gostar?
— Do quê? — Antonella perguntou, virando-se.
Deitei e a puxei para ficar em cima de mim, e foi o que ela
fez. Puxei-a para um beijo, levando minha boca para seu pescoço,
em seguida e subindo para sua orelha.
— De nós dois dentro de você ao mesmo tempo — sussurrei.
Ela arfou só de imaginar.
— Eu quero.
Pierre se posicionou atrás dela, e eu vi no rosto de Antonella
o exato momento em que ele começou a penetrá-la. Ela deitou a
cabeça em meu peito e fechou os olhos. Assim eu consegui ter uma
ótima visão de Pierre. Ele parecia estar sendo delicado, mas seu
pênis era grosso e isso podia incomodá-la no começo.
Ela gemia baixinho cada vez que ele se colocava dentro dela.
Eu sabia que Pierre estava se controlando para não ir rápido e forte,
como ele gostava de fazer.
— Está doendo? — perguntei.
— Um pouquinho, mas... está tão bom. Não pare, por favor.
— Antonella levantou seu tronco e me beijou. Eu sentia seus
mamilos roçando no meu peito a cada estocada que Pierre dava e
isso só deixava tudo mais excitante. — Eu quero você também —
sussurrou.
Desci minha mão entre nós dois e posicionei meu pênis em
sua entrada livre. Ela estava tão molhada, tão quente, parecia estar
implorando por mim. Não tive muita dificuldade para penetrá-la.
Antonella estava tão excitada que eu só deslizei para dentro dela.
Vê-la gemendo em cima de mim estava me levando à
loucura, e quando lembrava que nós dois estávamos dentro dela eu
quase ficava fora de mim.
Ela mesma movia seu quadril, rebolando e cavalgando,
sentindo-nos com todos os detalhes. Antonella escorou suas mãos
em meu peito e me arranhou de cima a baixo, em seguida
curvando-se novamente e passando a língua por cima da pele
vermelha. Sua boca parou em meu mamilo e o chupou, fazendo
meu corpo inteiro estremecer por um momento. Ela percebeu o
efeito que causou em mim e repetiu, lambendo e chupando
enquanto suas mãos subiam e desciam por meu peito.
Não era difícil perceber que os três estavam perto do
orgasmo. Os gemidos e nossas peles se chocando uma na outra
era tudo o que se ouvia no cômodo.
— Eu quero que despejem tudo dentro de mim. Quero sentir
— Antonella pediu, ou melhor, implorou.
— Eu não posso — lamentei.
— Mas eu posso. — Pierre a puxou pelos cabelos, assim
como fez comigo antes, e a fez ficar apenas de joelhos.
Eu estava prestes a chegar em meu ápice e saí de dentro
dela. Pierre segurava o corpo de Antonella grudado no seu
enquanto movia seu quadril ainda mais rápido. Uma de suas mãos
acariciavam os mamilos rosados dela, e a outra estava entre suas
pernas, tocando-a. Tudo isso bem em cima de mim.
Levei minha mão até meu pênis e o acariciei. Ainda estava
molhado por ter estado em Antonella, e isso fazia minha mão
deslizar com mais facilidade.
Pierre olhou para mim, com seu olhar transbordando malícia.
Ele segurou o rosto dela, fazendo-a me encarar também.
— Olhe para ele. Quero que Thomás veja seus olhos
enquanto tem um orgasmo — falou.
Antonella não hesitou. Mal conseguia ficar com os olhos
abertos, mas não os tirava de mim por nem um segundo sequer.
Pierre deu suas duas últimas fortes estocadas.
— Eu posso sentir tudo dentro de mim — ela sussurrou,
momentos antes do seu corpo inteiro tremer e seu orgasmo chegar.
Ela deitou-se na cama, ofegante e cansada demais para
fazer qualquer coisa, mas Pierre não. Ele se colocou entre minhas
pernas.
— Quero que despeje tudo na minha boca — falou,
segurando meu pênis e enfiando quase tudo para dentro.
Não conseguia chegar até o final por conta do tamanho, mas
a forma como chupava e movia sua língua e mãos compensavam
qualquer outra coisa.
Não precisei de muito tempo para atingir meu ápice e encher
a sua boca inteira.
Antonella nos observava, ainda tentando se recuperar.
Estendi a mão e ela entendeu que eu queria que se aproximasse.
Deitou em meu peito e Pierre a abraçou por trás, repousando a mão
em minha barriga.
Ficamos assim por longos minutos, em silêncio, apenas
acariciando um ao outro. Eu poderia ficar naquela posição por horas
e horas, aproveitando a presença dos dois, mas não podia.
— Eu preciso ir — lamentei. — Não podem me ver aqui de
forma alguma.
— Você tem razão. Eu preciso descansar um pouco e vou em
seguida — disse Antonella.
Eu assenti, beijando seus lábios uma última vez naquela
noite, e fazendo o mesmo com Pierre.
Vesti minha roupa com rapidez. Abri a porta com muito
cuidado, olhando para os lados para ter certeza que ninguém me
veria.
O castelo estava silencioso. Provavelmente todos já estavam
em seus aposentos.
Eu queria que dormíssemos juntos o resto da noite. Na
verdade, era o que eu mais queria. Nos dávamos tão bem juntos,
nos completávamos das melhores maneiras possíveis. Antonella
não apareceu em nossas vidas para atrapalhar o nosso amor, mas
sim para soma-lo. Queria que pudéssemos viver aquilo para o resto
de nossas vidas, e saber que não seria possível era como uma
facada em meu peito.
Capítulo 14
Naquela noite eu cometi um dos maiores erros da minha vida.
Eu deveria ter saído do quarto de Pierre assim que terminamos,
como Thomás fez, mas não. Eu estava tão cansada que acabei
dormindo. Um sono profundo que durou horas e horas, até uma voz
exaltada me acordar.
— Eu não posso acreditar no que estou vendo! — A voz
entrou em minha mente, mas eu ainda não estava entendendo
muito bem a situação.
Abri os olhos e levei o maior susto da minha vida.
Eu ainda estava nua ao lado de Perrie, apenas com um fino
lençol cobrindo meu corpo. O Rei estava parado na porta do
cômodo, olhando para nós dois com raiva.
Segurei o lençol para que meu corpo não ficasse à mostra e
senti meu coração acelerando.
— Pai? — Pierre perguntou, ainda sonolento. — O que está
fazendo aqui?
— Como vocês explicam essa situação? — Ele caminhou
para dentro do quarto com passos pesados. — Ou melhor, não há
explicação! Como podem ter sido tão irresponsáveis? Como pode
ter tido coragem de abusar da inocência da menina, Pierre? E você,
Antonella, como se deixou levar pela lábia dele?
Eu não conseguia falar nada. Minha garganta parecia estar
trancada, as palavras não saiam. Eu sentia as lágrimas quentes
descendo por meu rosto, mas não conseguia controla-las.
Vi criados passando no corredor, arrumando a decoração
para o aniversário da Rainha, tentando ver o que estava
acontecendo lá dentro sem parecerem bisbilhoteiros. Todos no
castelo já sabiam o que eu tinha feito.
— Podemos conversar mais tarde? Quando o senhor não
estiver tão nervoso? — Pierre perguntou.
— Não há conversa! Vocês vão marcar o casamento o mais
breve possível, e sem discussões. E quanto a você, Antonella,
mandarei uma carta para os seus pais imediatamente comunicando
sobre o casamento e sobre os pecados que você cometeu!
— Meus pais? — perguntei, com a voz falhada. — Não! Por
favor.
— Pensasse nas consequências antes de fazer o que fez.
Agora vista-se e saia logo daqui!
O Rei deu as costas e saiu do cômodo, batendo a porta com
força.
Eu não sabia o que fazer, não sabia o que pensar. Minha
reputação estava totalmente arruinada, minha mãe daria um belo
tapa na minha cara quando chegasse, e era provável que meu pai
não olhasse em meu rosto nunca mais.
Eu só conseguia chorar, desesperada e segurando meus
próprios joelhos. Pierre se aproximou de mim. Passou as mãos em
minhas costas e disse que tudo ficaria bem, mas eu estava em
choque demais para acreditar em suas palavras.
— O que aconteceu aqui? Eu ouvi os comentários, mas não
quis acreditar — disse Thomás, entrando no quarto. — O Rei já
dispersou todos que estavam no corredor, ninguém me viu.
— O que devem estar falando sobre mim? Devem estar
pensando que eu não valho mais nada!
— O valor de uma mulher não está na sua virgindade,
Antonella — disse Thomás, sentando na cama, bem ao meu lado.
— Nós vamos nos casar e todos esquecerão esse assunto,
eu prometo. — Pierre ainda acariciava minhas costas.
— Não irão esquecer, eu tenho certeza. Sempre lembrarão
disso. Sempre falarão que me enfiei em sua cama para conseguir
me casar com você.
Thomás se aproximou de mim e depositou um beijo em
minha testa.
— Quer que ajudemos você com sua roupa? — perguntou.
Assenti.
Pierre se vestiu rapidamente enquanto Thomás pegava
minhas peças de roupa. Em silêncio, ajudaram-me com as amarras
e o corpete.
Não falei mais nada. Saí do cômodo sem olhar para os lados,
não queria encarar ninguém. Com passos apressados, caminhei até
a capela vazia.
Ajoelhei-me em frente à imagem da Virgem, e mesmo sem
querer, desabei em lágrimas.
Não era só todos do castelo que estavam decepcionados
comigo, mas Deus também. Eu não sabia que o que fiz tinha
perdão, mas foi o que eu pedi naquele momento, que fosse
perdoada por me render à luxúria.
O pior de tudo aquilo era que eu não queria parar. A noite
anterior foi uma das melhores da minha vida, e como eu podia
prometer que não faria mais se tudo o que eu queria era continuar
passando a noite com Pierre e Thomás?
Eu continuava sem saber o que fazer, o que pensar, para
quem rezar, só sabia que eu não podia prometer nada, mas pedir
perdão a cada vez que eu me rendia também não era uma das
melhores opções.

[...]
Fazia dois dias que eu quase não saía do meu quarto. Tive
muito tempo para pensar em minhas ações, e para tentar imaginar
como era o inferno que eu estava destinada. Penso que continuar
remoendo e me crucificando não vá me livrar do meu destino ao
lado do Diabo. Eu sabia que qualquer pecado poderia ser perdoado
se a pessoa se arrependesse verdadeiramente, mas esse era o
problema: eu não me arrependia de nada do que fiz. Eu sentia a
culpa, mas não arrependimento.
— Nina, por favor. Pode pedir para que Pierre me encontre
no lago? Precisamos conversar sobre tudo o que aconteceu — falei.
Ela apenas assentiu, saindo dos meus aposentos.
Fui logo atrás, seguindo para o lago e esperando por Pierre.
Olhei para as flores. Estavam ainda mais bonitas agora, no
meio da primavera.
— As flores estão quase tão bonitas quanto você. — Ouvi a
voz de Pierre logo atrás de mim e sorri antes mesmo de me virar.
— Sempre muito cavalheiro — elogiei.
— Você está bem? Mal a vi durante os últimos dias.
— Eu estou bem, só envergonhada. Sinto que todos estão
olhando para mim.
— É claro que estão. Uma moça tão linda andando pelos
corredores atrai os olhares de todos.
Ri fraco, dando um passo em sua direção.
— Não tenho certeza se é isso que estão pensando.
Pierre olhou para mim com atenção por longos segundos. Um
sorriso discreto se formou em seus lábios.
— Eu estou feliz por me casar com você, Antonella. Eu não
poderia pensar em outra mulher para estar ao meu lado. Eu gosto
muito de você, de verdade, profundamente, mas quero que entenda
que também amo Thomás. Se eu pudesse me casar com os dois,
eu casaria.
— Eu também gosto de vocês dois, muito. A melhor coisa
que poderia acontecer seria nós três ficarmos juntos, formar uma
linda família e poder viver essa história sem empecilhos.
— Nós podemos conviver com essa situação. Os três juntos,
mas sem que ninguém saiba.
Suspirei.
— Isso é o máximo que vamos conseguir, não é? — lamentei.
— Sim. Precisamos manter nossa relação em segredo. É a
única forma de isso funcionar. Se meu pai descobrisse, mandaria
Thomás para longe, ou até coisa pior. Não podemos arriscar.
— Precisamos falar com Thomás, perguntar se também
aceita. Não acho que seja uma situação que qualquer um gostaria
de viver, principalmente estando na posição dele.
— Vamos agora mesmo. Ele estava no jardim.
Assenti, seguindo-o.
Thomás realmente estava no jardim, mas apenas apreciava
as flores, cheirando-as e tocando-as.
— Precisamos falar com você — falei, assim que me
aproximei.
— Aconteceu algo? — perguntou.
— Aconteceu algo muito sério. — Pierre fez um certo mistério
antes de concluir. — Percebemos que não queremos viver nosso
casamento sem você.
— Sabemos que precisaremos manter segredo absoluto e ter
muito cuidado com tudo que fazemos, mas eu sei que
conseguiremos. Acho melhor assim do que ficarmos separados.
— Iremos entender se você não aceitar ficar conosco, mas
queremos que saiba que ficaríamos imensamente tristes se isso
acontecesse.
Thomás pareceu pensar por um instante.
— Eu estava aflito com isso. Pensei que por estarem se
dando tão bem, com o casamento, me esqueceriam — disse ele.
— Eu jamais faria isso. — Pierre estava se controlando para
não o abraçar. — Eu nunca vou esquecer você, Thomás.
— Eu aceito. Também acho que é a melhor forma de
vivermos juntos. — Thomás suspirou. — Eu queria beijá-los aqui
mesmo.
— Nem mencione isso se não quiser que eu faça uma
loucura — disse Pierre.
Era difícil ter acabado de ter aquela conversa com os dois e
não poder me jogar em seus braços, mas precisávamos tomar ainda
mais cuidado, principalmente antes do casamento. Sentia que todos
estavam de olho em mim, esperando que eu fizesse qualquer coisa
imprópria novamente.
Capítulo 15
Faltava um dia para o noivado. Eu estava feliz, mas nervoso.
Uma parte de mim dizia que eu ficaria de lado, mas a outra sabia
que Pierre e Antonella jamais fariam algo do tipo comigo. Era
assustador estar vivendo um romance daqueles. Um amor entre
dois homens nunca era aceito, com dois homens e uma mulher a
história só piorava.
Todos estavam muito afoitos no castelo, deixando tudo
preparado para o jantar de noivado. Não teria muitos convidados,
apenas as pessoas mais próximas da corte, ou as pessoas mais
importantes dos reinos próximos. A comida seria totalmente
escolhida por Antonella, e ela estava quase enlouquecendo com
essa tarefa.
O corredor em que eu caminhava estava vazio. Eu pretendia
ir até os aposentos de Pierre e deixar preparada sua roupa para o
dia seguinte, mas ouvi passos desesperados atrás de mim. Virei-me
e vi Mariana correndo. Ela chorava sem parar, e parecia não saber
para onde ir.
— Aconteceu algo com a senhorita? Está tudo bem? —
perguntei.
— Minha mãe, ela... por favor me tire daqui. Ela está louca!
— pediu.
— Venha por aqui.
Fomos direto para o meu quarto, do outro lado do castelo,
junto com todos os criados. Eu duvidava muito que a Baronesa a
procurasse por lá.
Mariana, olhou para mim, ainda com seu olhar assustado,
mas a tranquilidade o tomava aos poucos.
— Obrigada, Thomás. Obrigada — ela disse, secando as
lágrimas com a manga do vestido. Seu rosto estava vermelho e
descabelada.
— Mas o que aconteceu? A Baronesa fez algo contra você?
— Ela fez. Minha mãe me bateu, deu tapas em meu rosto,
puxou meus cabelos e ainda rasgou o meu vestido. — Mariana
mostrou um pedaço da saia rasgada. — Era o vestido mais bonito
que eu tinha.
— Alguém no castelo deve saber costurar. Podemos pedir
para arrumarem.
A garota suspirou.
— Você tem razão.
— Por que sua mãe fez isso com você?
— Estava me culpando por não ser eu casando com Pierre.
Ela sempre teve essa ideia maluca, mesmo eu dizendo milhares de
vezes que não queria me casar com ele. Minha mãe chegou a dizer
que eu deveria ter passado uma noite com ele para o obrigar a
casar. Eu não achava que a obsessão dela com esse casamento
fosse maior do que a preocupação com minha honra.
Mariana se sentou na ponta da cama e eu me sentei ao seu
lado, tentando dar algum apoio.
— Eu sinto muito por isso. Imagino como deve estar se
sentindo.
— Péssima. Não entendo o porquê de tudo isso. Imagino que
seja o motivo de ela nunca ter me deixado conhecer alguém para
casar.
Ela olhou para mim, e por um momento seus olhos se
tornaram muito familiares. Era como se fossemos próximos, como
se eles me trouxessem calma, porém, nunca trocamos mais do que
cinco palavras no corredor.
— E se você se impor mais? Não ajudaria?
— Eu duvido muito. Se eu fizesse isso, tenho certeza que
apanharia incontáveis vezes.
De repente, uma ideia brotou em minha mente: e se ela fosse
a minha irmã? E se o bebê não tivesse sido roubado por uma
criada, e sim pela própria Baronesa?
— Você já é adulta, não é? Deveria só sair por essas portas e
nunca mais olhar para trás, buscar a sua felicidade.
— Estou beirando os vinte e um anos e já deveria estar com
a vida encaminhada, mas continuo presa aqui. Sinto que se eu
fugisse, minha mãe me caçaria por todos os cantos do mundo.
A idade batia, as características físicas também. Eu só
precisava confirmar se Mariana tinha a mesma marca de nascença
que eu, mas era impossível ver seus braços com as mangas
compridas que sempre usava.
— Você vai conseguir sair dessa situação. Tenho certeza que
encontrará uma forma. Pode ficar aqui até se acalmar, eu preciso ir,
tenho trabalho a fazer.
Ela agradeceu e sorriu. Seus olhos ainda estavam inchados,
mas já estavam secos.
Saí do quarto, com a cabeça cheia demais para conseguir
pensar no que eu faria agora.
E se eu estive esse tempo todo ao lado de minha irmã sem
saber? E se eu pudesse ter evitado todo o sofrimento que a
Baronesa causou?
Pierre estava no salão, opinando sobre a decoração. Porém,
se dependesse dele, teríamos rosas em todo canto, e nem tínhamos
flores o suficiente para isso.
— Com licença. Preciso falar com Vossa Alteza — falei,
fazendo uma breve referência.
Ele dispensou a pessoa que estava ao seu lado e me seguiu
para fora do cômodo. Havia pessoas passando, mas não podiam
ouvir nossa conversa.
— Aconteceu algo? — ele perguntou.
— Você conhece Mariana desde quando? Desde criança?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Está com ciúmes dela?
— É claro que não! Ela apanhou da Baronesa e eu a ajudei a
se esconder, mas eu senti algo enquanto conversávamos, algo
muito estranho, como se já nos conhecêssemos. Você acha que ela
pode ser a minha irmã?
Pierre negou com a cabeça na mesma hora.
— Impossível. Eu tenho vagas lembranças da Baronesa
grávida, e minha mãe sempre fala de como a ajudou durante a
gravidez. Lembro-me de Mariana bebê. Eu lamento, Thomás, mas
não é ela. Acho que deve tirar essa ideia da cabeça.
— Você tem razão, Pierre. Desculpe-me.
— Não precisa se desculpar. Eu entendo que queira a
encontrar, mas penso que sua irmã já não está mais aqui.
— Vou esquecer essa história, pelo menos por enquanto.
— É o melhor que tem a fazer.
Pierre sorriu, tocando meu ombro por um momento e logo
voltando para o salão.
Eu não estava convencido, mas não queria aborrecê-lo. Eu
precisava de alguém um pouco mais positivo e sonhador, alguém
que gostasse de teorias e de investigar. Alguém como Antonella.
Sabia que a encontraria na cozinha, então foi para lá que fui.
Ela estava lá, atordoada, mas conseguiu me seguir por um
momento até o jardim para que conversássemos.
— Então, diga-me, o que foi? — disse ela.
— Eu vou direto ao assunto: estou desconfiando que Mariana
seja minha irmã. Pierre disse para eu tirar da cabeça, que era
impossível, mas eu acho que pode ser.
Antonella semicerrou os olhos.
— Vocês são parecidos, é bem possível.
— Pierre disse que lembra de quando a Baronesa estava
grávida.
— Ela pode ter realmente ficado grávida, e pode ter
acontecido uma fatalidade com o bebê, então ela foi atrás de outro
para colocar no lugar. Há muitas possibilidades envolvendo esse
assunto.
— Eu preciso saber se Mariana tem a marca no braço. Se
tiver, teremos certeza que é ela.
— Eu vou ajuda-lo com isso, pode deixar tudo comigo.
Vamos descobrir se ela é mesmo a sua irmã.
Suspirei aliviado.
— Obrigado, Antonella. Eu sabia que você me escutaria.
— É claro que escutaria. Eu pensei muito sobre a sua irmã, e
lamentei várias vezes por você ter desistido de encontrá-la.
— Se não for Mariana, receio que desistirei de vez.
Antonella ergueu a mão para me tocar, mas recuou.
Estávamos no jardim e não havia possibilidade nenhuma de ter um
momento com qualquer troca de afeto.
Estava rezando para que fosse Mariana, mesmo que eu
jamais fosse contar a verdade para ela. Eu precisava colocar um fim
naquela história.
Capítulo 16
Eu pensei que estaria mais calma, mas não. Faltavam
poucas horas para Pierre e eu ficarmos oficialmente noivos e eu não
poderia estar mais nervosa.
Seria um pequeno jantar com pessoas que eu só vi uma vez
na vida, com uma simples comemoração e um brinde à nossa futura
felicidade.
— Você já chamou Mariana? — perguntei para Nina.
Eu estava nervosa, mas não havia esquecido do ótimo plano
que arquitetei para verificar se Mariana tinha a marca ou não.
— Sim, Alteza. Ela deve estar chegando.
Quando Nina terminou sua frase, ouvimos batidas em minha
porta. Ela não hesitou em atender. Era Mariana.
— Pediu para que me chamasse, Alteza? — perguntou ela.
— Sim, pedi. Que tal nos arrumarmos juntas para o jantar?
Podemos ajudar uma à outra com a roupa, penteado e maquiagem
— sugeri.
— Não, não. Eu não quero incomodar.
— Isso não será incomodo nenhum. Inclusive, eu separei um
vestido especial para você.
Meu vestido rosa já estava entendido em cima da cama e eu
o peguei, mostrando-o para Mariana.
— Eu não posso aceitar usar o vestido de Vossa Alteza. Ele
deve ser caro demais, não posso arriscar.
— Não é meu vestido, agora é seu vestido. Considere como
um presente de aniversário adiantado. Você faz aniversário em
algumas semanas, não é?
— Sim, mas ele é tão bonito, eu... obrigada. Não sei como
agradecer.
— Vai agradecer mostrando a todos como você ficará
magnifica nele. Quer ajuda para colocá-lo?
— Sim, obrigada.
Mariana tirou o vestido simples que estava, então pude
verificar na mesma hora que ela não tinha marca alguma no braço.
Ela tinha características parecidas com Thomás, como os cabelos
loiros e os olhos verdes, mas infelizmente não era sua irmã. Eu
precisava avisá-lo disso o quanto antes.
Também ofereci algumas joias para Mariana usar naquela
noite. Já havia percebido que ela não tinha muitas, e um vestido
como aquele pedia para ser muito bem acompanhado.
Seguimos nos arrumando para o jantar. Os penteados foram
por conta de Nina, a pessoa que sabia arrumar cabelos como
ninguém, e eu ajudei ambas com a maquiagem.
Mariana e Nina já estavam prontas, mas eu ainda estava
decidindo quais joias usar. Sentada na frente da penteadeira, olhei
para minhas mãos e as vi tremendo.
— Precisa de ajuda, Alteza? — Nina perguntou.
— Não. Podem ir para o salão. Quero ficar um pouco sozinha
antes de me tornar noiva de um príncipe — respondi, olhando-a pelo
espelho.
Ela assentiu, e ao lado de Mariana seguiu para fora do
cômodo.
Eu estava tão nervosa com o casamento. Em breve minha
mãe estaria no castelo, e só de pensar que ela provavelmente sabia
o que fiz, sentia um frio percorrer meu corpo. O que será que ela
estava pensando sobre mim naquele momento? Será que a notícia
do casamento anulou sua raiva pelo que fiz, ou ela estava tão
raivosa como eu temia que estava? Eu só saberia quando ela
chegasse, e isso podia ser mais cedo do que eu pensava.
Ouvi duas batidas sutis em minha porta, e a vi se abrir em
seguida. Era a Rainha.
— Estou aqui para verificar se a futura princesa ainda não
desmaiou de ansiedade. — Sua voz sempre tão calma me passava
um certo conforto.
— Ainda não, mas estou quase, Majestade — brinquei,
forçando um sorriso. — Acho que não é o noivado que está me
deixando tão nervosa, mas sim o que estão pensando de mim.
Tenho certeza de que todos naquele salão já devem saber o motivo
desse casamento.
Ela parou-se logo atrás de mim, tocando em meu ombro e
encarando seu reflexo no espelho.
— Eu garanto que ninguém está pensando nada de você.
Quase todos naquele salão já fizeram coisas muito piores. Além
disso, eu duvido muito que algum desses nobres tenha trocado mais
de duas palavras com algum de nossos criados para saber o que
aconteceu por aqui.
— Desculpe-me por ter feito toda essa confusão no dia do
seu aniversário.
A Rainha abriu uma das caixinhas em cima da penteadeira e
pegou o colar que estava lá dentro. Colocou-o em volta do meu
pescoço e o fechou.
— Está tudo bem. Não somos feitos de ferro, Antonella. Você
não deve se culpar pelo resto da vida por ter se rendido à tentação
uma vez antes do casamento.
Senti minhas bochechas corarem.
— Ah, Majestade, se tivesse sido só uma vez...
Ela riu leve.
— Seria um problema se vocês não fossem se casar, mas
como isso vai acontecer em breve, está tudo bem. Ninguém além de
nossos criados saberá, e depois do casamento eles também
esquecerão.
Virei-me para ela e sorri.
— Obrigada por isso.
— Não esqueça dos brincos. A noiva precisa brilhar no meio
do salão.
A Rainha saiu do cômodo e eu suspirei.
Eu esperava que ela estivesse certa e que ninguém
soubesse. Seria um enorme alívio saber que só teria que aguentar a
reprovação de meus pais, e não de todos.
Coloquei os brincos e saí do quarto. Os corredores estavam
vazios e silenciosos, todos estavam no salão ou preparando o jantar
na mesa de madeira gigantesca.
Quando me aproximei do salão, vi Thomás do lado de fora.
— Não deveria estar servindo Pierre? — brinquei.
— Eu queria parabenizá-la pelo noivado antes de qualquer
pessoa.
Estendi minha mão para que ele a beijasse, e foi o que fez,
sem tirar os olhos verdes dos meus.
— Não me olhe assim! Preciso manter a compostura para
entrar lá.
— Só para atiçá-la um pouquinho.
Sorri, mas assim que lembrei o que eu precisava falar para
Thomás, meu sorriso se desfez.
— Eu verifiquei o braço de Mariana. Eu sinto muito, Thomás,
mas ela não tem a marca.
Seu olhar ficou cabisbaixo. Percebi o quanto ficou triste,
apesar de ele não querer demonstrar.
— Está tudo bem. Pelo menos tiramos nossa dúvida.
Eu queria abraçá-lo e confortá-lo, mas não podia, não ali.
Então me limitei a apenas sorrir.
Entrei no salão e percebi que não havia tantas pessoas como
pensei que teria. Talvez três ou quatro famílias grandes, mas,
mesmo assim, eu só tinha os visto no baile, e não sabia o nome de
ninguém.
Avistei Mariana conversando com um homem. Muito bonito,
por sinal. Pelo seu sorriso, tinha certeza de que estavam flertando,
mas a Baronesa, que estava ao lado da Rainha, encarava a filha
com raiva no olhar. Ela definitivamente não queria que Mariana se
casasse.
— O colar ficou perfeito com esse vestido — disse Nina,
parando-se ao meu lado e me entregando uma taça de vinho.
— Obrigada. Foi a Rainha que escolheu. Ela é uma mulher
incrível! Eu espero ser tão calma e doce quanto ela quando eu me
tornar a rainha consorte.
— Já está pensando na morte do Rei? — Ouvi a voz de
Baronesa se aproximando de nós.
— O quê? Não! Só estávamos elogiando a Rainha.
— É bom tomar cuidado. Por ser noiva do Príncipe, muitas
pessoas podem querer a sua morte. — Ela sorriu, simpática demais.
— Mas é claro que está segura dentro do castelo. Com licença.
A Baronesa voltou para o lado da Rainha, mas não sem
antes plantar uma ideia em minha cabeça.
— Foi ela, Nina! Ela matou a Diana. — Tentei manter um tom
baixo, mas estava eufórica. — E agora vai tentar fazer o mesmo
comigo!
— Mas por que ela faria isso? Assassinar alguém parece um
pouco demais para mim.
— Porque ela quer que Mariana case com Pierre.
— Mas se esse casamento não aconteceu até hoje, como ela
espera conseguir isso matando as noivas do Príncipe?
— Eu não sei, não entendo a cabeça de uma assassina. Eu
preciso falar sobre isso com Pierre agora mesmo.
— Não, Alteza! O Príncipe não vai acreditar com tanta
facilidade. Precisa provar de alguma forma.
— E se até lá for tarde demais? E se ela me matar antes?
— Precisa ter cuidado. Também vou reparar em todos os
passos que a Baronesa dá. Ela não encostará um dedo em você.
Suspirei e assenti.
Eu sabia que aquela ideia parecia um pouco insana, mas
suas palavras foram uma verdadeira ameaça para mim. Eu
precisava tomar cuidado, antes que a próxima vítima fosse eu.
Capítulo 17
Meu estômago embrulhava toda vez que eu lembrava que
meus pais estavam prestes a chegar. Eu estava certa de que iria
vomitar a qualquer momento.
— Fique calma, Alteza. Talvez a reação da sua mãe não seja
tão ruim assim — disse Nina, observando-me enquanto eu
caminhava de um lado para o outro em meus aposentos.
— Impossível. Ela disse milhares de vezes que eu nem
deveria tirar a camisola durante a noite de núpcias.
— Talvez mude de ideia já que Vossa Alteza está noiva.
— Eu... — Olhei pela janela e vi uma carruagem se
aproximando. Eram eles. — Ah, Deus! Chegaram. Nina, acho que
vou desmaiar.
Senti uma forte tontura, mas minha dama de companhia
levantou rapidamente da sua cadeira e me deu apoio.
— Posso pedir para que venham até aqui, se preferir ficar
deitada.
— Não, vou até lá. Só preciso de alguns segundos.
Respirei fundo, tentando fazer a calma entrar em meu corpo,
mas estava sendo difícil.
Ao lado de Nina, segui para fora do castelo. Meus pais já
estavam lá, cumprimentando o Rei, a Rainha e Pierre.
— Antonella! — disse minha mãe, sorridente. — Estava com
saudades, querida. Estava contando os minutos para vê-la.
Ela me abraçou forte. Respirei aliviada por não ter falado
nada sobre o assunto na frente das outras pessoas.
— Os criados levarão suas coisas e mostrarão seus
aposentos — disse o Rei.
— Ótimo. Estou precisando conversar um pouco com minha
filha antes do casamento. Quero saber detalhes de como foi os
meses que ficamos separadas.
Engoli em seco, pensando no que me aguardava.
Abracei meu pai antes de seguirmos para os aposentos que
foram preparados para os dois. Ficariam separados, como a maioria
dos casais mais velhos ficavam.
— É bom ter a senhora aqui — falei, assim que a porta do
seu quarto foi fechada por um criado.
— É bom estar aqui, assim posso vigiá-la de perto antes do
casamento.
— O papai sabe? — perguntei, prendendo a respiração.
— Do quê?
— O que o Rei falou na carta. O papai sabe?
Ela virou-se para mim, soltando o vestido que estava tirando
do baú.
— Antonella, o que o Rei deveria ter me contado e não
contou?
Ela não sabia! Eu tinha acabado de me colocar sozinha na
pior situação possível.
— Nada. Só sobre o casamento.
Pretendia caminhar até a janela, mas minha mãe me segurou
pelo pulso e me fez encará-la.
— O que você fez, Antonella? — Sua voz era firme, mas não
alta. Eu apenas a encarei, com o desespero em meu olhar. — Você
dormiu com Pierre, não foi? Por isso o próprio Rei me enviou a
carta!
Ela soltou meu braço e eu pude dar um passo para trás.
Encarei os desenhos do tapete no chão antes de responder:
— Sim.
— Quantas vezes eu avisei você para tomar cuidado com
esse tipo de coisa? Quantas vezes alertei e orientei? Como você
tem a coragem de fazer isso, Antonella?
Eu queria protestar. Em nenhum momento ela me deu a
informação de que era prazeroso. Como esperava que eu não fosse
ficar curiosa quando descobrisse? Porém, eu não a contrariaria
naquele momento.
— Desculpe, mãe. — Foi tudo o que eu disse.
— E o Rei sabe? Todos no castelo sabem?
— Pierre e eu fomos pegos pelo Rei e muitos criados viram.
Ela passou a mão pelo rosto, incrédula, controlando-se para
não me dar uma boa bofetada.
— Eu não posso acreditar que você me proporcionou essa
decepção — disse, agora com a voz mais leve. — Você não tirou
seu chemise, não é?
— Eu... eu tirei, mãe.
A mulher respirou fundo, sentando-se em uma cadeira.
— Você jamais vai tocar neste assunto novamente. Eu vou
cuidá-la de perto para que não cometa deslizes até seu casamento,
ouviu bem?
Eu apenas assenti, ainda com a cabeça baixa, sem coragem
de encará-la.
Eu esperava uma reação pior. Só de não ter levado um tapa
na cara eu estava na vantagem.

[...]
Minha mãe ficou em meu quarto até que eu estivesse pronta
para dormir. Eu tinha certeza de que ela não sairia de perto de mim
até o dia do casamento, e ainda faltavam algumas semanas para
isso acontecer.
Estava penteando meus cabelos quando percebi um pequeno
papel passando por baixo da minha porta. No primeiro momento,
estranhei, mas não hesitei em pegá-lo.
“Estamos esperando por você na beira do lago para observar
a lua cheia.
Com amor, P & T.”
Essa era a chance que eu estava esperando para ficar
sozinha com eles de novo.
Eu estava com uma camisola de mangas compridas, e isso
seria o suficiente para ir lá fora naquela noite quente. Abri a porta e
olhei para os lados.
Silêncio.
Com passos delicados, caminhei pelos corredores até a porta
de saída. Quando coloquei o pé para fora, corri em direção ao lago
o mais rápido que consegui. Queria sair da vista das janelas
rapidamente.
Avistei Pierre e Thomás sentados na grama, de frente para a
água e observando a lua nascendo no horizonte.
— Guardamos um lugarzinho para você — disse Thomás,
apontando para o espaço entre os dois.
Sentei-me ali mesmo.
— A lua está linda! — comentei.
— Parece ainda mais brilhante, não é? — disse Pierre.
Joguei meu corpo para trás e me deitei na grama.
— Minha mãe não me deu um segundo de descanso desde
que chegou. Fico sob o seu olhar o tempo inteiro para que eu não
“ceda à tentação” de novo — resmunguei.
— Eu sou a tentação? — Pierre indagou.
— Sim, a tentação é você.
— Ela não vai aguentar fazer isso até o dia do seu
casamento. Ainda falta muito para isso. Creio que em alguns dias
ela deixe você em paz.
— Eu espero que você esteja certo.
— O trabalho de Nina não é esse? Ficar ao seu lado o tempo
todo? — Thomás questionou.
— É, mas você acha mesmo que uma mulher de 20 anos não
acobertaria sua amiga de 18? Minha mãe só confia nela para me
vigiar em momentos públicos, mas em meu quarto não. — Suspirei,
observando o céu bem em minha frente. — Olhe só quantas
estrelas — falei.
Os dois também se deitaram ao meu lado.
— Imagine só ir até lá. Observar a Terra do lado de fora.
Como será que ela é? — perguntou Thomás.
— Redonda — afirmou Pierre.
— Mas isso eu sei. Eu queria saber mais detalhes. Será que
um dia alguém vai conseguir fazer isso?
— Talvez algum dia.
— Será que cada estrela é sol de uma Terra? Será que tem
outras pessoas lá? — indaguei.
— O universo é gigantesco. Impossível sermos os únicos
seres vivos. Há tanta coisa para conhecer, para explorar. — Pierre
encarava as estrelas com um brilho no olhar.
— São tantas perguntas — falei.
— Um dia alguém responderá todas elas.
— Sim, mas eu já vou ter morrido e não saberei as respostas.
Pierre soltou uma leve risada.
— Isso é verdade, mas pelo menos todos saberão.
Entrelacei minha mão direita na de Pierre, e a esquerda na
de Thomás, observando as estrelas em silêncio, aproveitando a
brisa fresca que estava soprando.
Thomás virou a cabeça em minha direção e sorriu.
— O que foi? — perguntei, encarando-o.
— Eu só gostei de observá-la feliz e empolgada assim. Seu
sorriso fica ainda mais encantador.
Ele colocou a mão em meu rosto e eu o beijei. Um beijo
calmo e tranquilo, apenas para matar a saudade que eu estava dos
seus lábios.
Senti a mão de Pierre encostar em minha barriga e acariciá-
la.
— Querendo um beijo também? — brinquei, virando-me para
ele.
— Eu sempre quero — afirmou.
Então foi o que eu fiz: beijei Pierre sem hesitar.
Thomás acariciou meu corpo por cima da camisola, parando
em meu seio e o apertando com delicadeza. Ele passou o dedo por
meu mamilo, que pareceu enrijecer na mesma hora.
— Olha só como ele fica duro entre os meus dedos — disse
Thomás, descendo o decote da minha camisola e colocando meus
seios para fora.
— Acho que ele gosta de você — falei.
— Ele também gosta da minha língua?
— Adora.
Thomás o lambeu, mas logo colocou metade do meu peito na
boca e o chupou, movendo a língua e brincando com meu mamilo.
Pierre virou meu rosto em sua direção e me beijou, mais
feroz, com mais desejo, acariciando meu outro seio.
— Acho que deveríamos parar por aqui antes que fiquemos
excitados demais. É melhor só fazermos isso de novo depois do
casamento para evitarmos qualquer aborrecimento — disse Pierre,
forçando-se a cortar o beijo.
Sabia que ele falava de uma possível gravidez, e concordava,
mas era tão difícil parar na metade.
— Deveríamos, mas vocês me deixaram pegando fogo —
resmunguei.
O Príncipe subiu a mão por minha coxa, por dentro da saia,
parando em meu ponto mais sensível.
— Ah, você ficou tão molhada! — exclamou. — Mas eu sei de
algo perfeito para apagarmos o seu fogo.
— Lá vem mais uma ideia de Pierre. E, por sinal, eu adoro a
maioria — comentou Thomás.
— Sente no colo do Thomás e eu vou mostrar uma coisa que
você vai adorar — sussurrou em meu ouvido e eu assenti.
O criado do Príncipe nem precisou de algum incentivo para
livrar-se da parte de baixo da sua roupa. Ele estava tão animado
quanto eu, e seu pênis completamente duro mostrava isso.
— E como eu vou fazer isso sem enfiá-lo para dentro? —
perguntei.
— Você vai só se esfregar na extensão dele. Encaixe-o bem
direitinho no seu clitóris e se esfregue sem chegar na ponta —
Pierre explicou.
Aquela ideia era brilhante!
Subi minha saia, fiquei exatamente na posição que Pierre
indicou e movi meu quadril para frente e para trás. Estava
deslizando tão fácil por eu já estar molhada.
Thomás apertou minhas coxas com força, encarando-me com
seu olhar mais malicioso. Parece que também estava muito bom
para ele.
Aquilo era uma delícia, quase tão bom quanto senti-lo dentro
de mim. Inclusive, eu estava latejando de tanta vontade de isso
acontecer.
Segurando a saia da minha camisola, olhei para baixo e vi
como seu pênis estava perfeitamente encaixado em mim. Era tão
grande e estava tão duro. Esfregar-me nele estava sendo uma das
coisas mais excitantes que já fizemos.
Pierre se posicionou atrás de mim, totalmente vestido. Ele
colou nossos corpos e me segurou com seus braços fortes,
esfregando-se em minha bunda.
Suas mãos foram direto para meus seios, dando uma leve
puxadinha nos mamilos, em seguida os acariciando. Sua boca não
saía do meu pescoço, beijando e lambendo, aumentando ainda
mais o prazer que eu estava sentindo.
— Você queria os dois dentro de você de novo, não queria?
— Pierre perguntou no meu ouvido.
— Eu queria — respondi, com a voz falhada.
— E se nós mudássemos a posição da última vez? E se
fosse o Thomás atrás de você e eu na frente? — Sua voz era tão
maliciosa e sensual.
— Mas o Thomás é tão grande...
— E você não queria experimentar isso, Antonella? Bem
grande e duro fundo na sua bunda?
— Eu queria. Eu quero.
Movi meu quadril com ainda mais rapidez, e eu estava
sentindo que meu ápice de prazer estava quase chegando.
Eu esperava que meus gemidos não fossem altos o suficiente
para me ouvirem do castelo, mas era impossível manter o controle.
Joguei meu corpo para frente e beijei Thomás, com as pernas
bambas e o coração tão acelerado que parecia que sairia por minha
boca.
— Ah, Antonella. Eu queria tanto entrar em você a hora que
bem entendêssemos — disse ele, afastando-se apenas por um
seguro, e voltando a me beijar logo depois.
Thomás soltou um leve gemido, e quando eu olhei para trás,
vi Pierre chupando-o, enfiando mais da metade para dentro.
Voltei minha atenção para o homem deitado embaixo de mim.
Beijei seu pescoço, chupei e lambi. Sua pele parecia mais sensível
do que nunca. Ele arfava cada vez que minha boca entrava em
contato com seu pescoço.
— Acho que gostamos de ver você assim, apenas deitado,
dando e recebendo prazer — sussurrei em seu ouvido.
— Eu adoro fazer isso, mas na próxima vez será você.
— E eu deixo vocês dois fazerem o que quiserem comigo.
— Nós vamos.
Thomás estava nitidamente prestes a ter um orgasmo
proporcionado pela boca de Pierre. O loiro me puxou para um beijo
enquanto seu corpo todo estremecia. Um beijo tão selvagem e
árduo que eu quase podia sentir como seu recente ápice foi
prazeroso.
Deitei-me ao seu lado, e Pierre do outro. Ele beijou os lábios
do príncipe, com calma e delicadeza.
— Faltou você, Pierre — falei.
— Eu sei que vocês irã me compensar direitinho na noite de
núpcias.
— Onde aprenderam a fazer tudo isso? Quer dizer, não é
algo que aprendemos em livros — questionei.
— Pierre fez sexo com muitas pessoas para aprender as
melhores coisas.
— Homens e mulheres de muitos outros reinos. A experiência
leva à perfeição — respondeu o Príncipe.
— Eu já tinha feito sexo com mulheres antes, mas Pierre foi
meu primeiro homem e me ensinou tudo o que eu preciso saber
para dar e receber o melhor prazer do mundo.
— E eu agradeço por isso.
Abracei Thomás e fui correspondida. Pierre o abraçou por
trás, repousando a mão em meu braço e o acariciando.
— Acho que deveríamos entrar nesse lago. Esta noite está
pedindo para isso — sugeriu Pierre.
— Concordo. Está bem quente.
Levantei-me em um pulo. Tirei minha camisola com uma
certa facilidade, ficando totalmente nua?
— Vocês não vão vir? — indaguei.
— Espere um pouco. Estávamos apreciando a vista —
respondeu Thomás, também se levantando e tirando sua roupa.
— Se minha mãe só cogitar a ideia de eu estar fazendo isso,
ela provavelmente me levaria de volta para meus aposentos
arrastada pelos cabelos.
— Ela deve estar em um sono profundo. Não se preocupe
com isso. — Thomás caminhou até mim e beijou minha testa. Tentei
beijar seus lábios, mas ele desviou. — Eu não vou beijá-la enquanto
está nua na minha frente. Quer que eu fique excitado de novo?
— Não seria uma má ideia — brinquei.
— É uma má ideia. Sabe que não posso.
Sorri, aproximando-me dele e virando de costas, roçando-me
levemente em seu peito.
— Se for só na minha bunda, você pode.
Thomás segurou meus dois braços e seguiu me empurrando
até a água.
— É hora de entrar no lago — disse ele.
— Ei! Eu estava gostando da cena — Pierre protestou, ainda
deitado.
— Venha logo! Ou a água está muito fria para você? —
Thomás ironizou.
— É claro que não!
— Pois então venha — falei.
Quando a água tocou em meus pés pude perceber o quanto
estava fria, mas não dei tanta importância. Meu corpo estava tão
quente e eu estava com tanto calor que seria bom para mim.
Vi Pierre tirando sua roupa e nos seguindo para dentro do
lago. Assim que entrou, jogou água em nossa direção, molhando-
nos por completo.
— Você está querendo uma guerra, Príncipe? — Thomás
desafiou.
— Se você ousar.
— Eu tenho uma bela dama ao meu lado nesta batalha.
— E nós vamos acabar com você — falei.
Pierre sorriu e semicerrou os olhos antes de falar:
— Eu duvido.
Foi o suficiente para começarmos uma verdadeira guerra de
água. Na verdade, não tínhamos um objetivo definido, só estávamos
jogando água um no outro, como se nossas vidas dependessem
disso.
Era exatamente isso que eu gostava em Pierre e Thomás.
Poderíamos ir de um sexo maravilhoso à brincadeiras idiotas em
poucos minutos. Eu não trocaria aquilo por nada no mundo.
Capítulo 18
Minha mãe estava me dando nos nervos. Insistia em me
seguir para onde quer que eu fosse, e ainda perguntava aos criados
se haviam visto-me fazendo algo suspeito. Inclusive, perguntou para
Thomás se ele sabia se Pierre e eu estávamos nos encontrando às
escondidas. Ele negou, é claro.
— Estou surpresa que minha mãe não tenha pegado um
cavalo para nos seguir — resmunguei, acariciando o focinho do
cavalo que eu iria montar em instantes.
— Ela está deixando você louca, não é? — perguntou Pierre.
— Sim. Não me deixa em paz por nem um único segundo.
Achei que fosse estar aqui.
— Alteza, sua mãe pediu para que eu e Thomás os
acompanhassem durante o passeio. — Nina apareceu nos
estábulos ao lado do loiro.
Soltei uma risada pequena e involuntária.
Inocente da parte de minha mãe mandar Nina e Thomás para
nos vigiar, sem saber que Nina acobertava tudo o que eu fazia.
— Melhor do que tê-la atrás de mim. Você sabe cavalgar,
Nina?
— “Saber” não é exatamente a melhor palavra a ser usada.
— Então chegou sua hora de aprender.
Subi no cavalo sem maiores problemas. Eu costumava
cavalgar muito com meu pai quando era pequena, e não perdi a
prática. Já Nina precisou da ajuda de Thomás para se acomodar.
Quando todos já estávamos prontos, saímos do castelo e
cavalgamos pelos campos aos arredores do reino de Pommer. Era
um lugar muito bonito, e no mesmo instante eu me arrependi de não
ter feito um passeio como aquele antes.
— Eu aposto que chego do outro lado antes de você — falei
para Pierre quando paramos para observar a paisagem.
— Competição de cavalos? Gostei, mas não acho que
devemos. Nina ficará para trás.
— Ela está com o Thomás. Isso é uma desculpa por estar
com medo de perder?
Pierre riu.
— Olhe bem para a minha cara e diga se tenho medo de
alguma coisa.
— No três. Um... dois... três!
Consegui uma vantagem logo nos primeiros segundos, e teria
ganhado com toda certeza. Porém, sem avisos, algo aconteceu com
minha sela e eu caí no chão com brutalidade. Não lembro de muita
coisa depois disso, só da escuridão.

[...]
Parecia que alguém estava martelando minha cabeça. Com
certeza uma das piores dores que já senti. Antes mesmo de abrir os
olhos, pude perceber que eu estava deitada em minha cama. Eu
reconhecia a sedosidade daqueles lençóis.
— Mãe? — perguntei, assim que abri os olhos e tive a
impressão de vê-la. — Minha cabeça está doendo.
— Eu estou aqui, querida.
Ela estava ao lado de minha cama, junto com Nina, a Rainha
e o médico da corte.
Aquilo não foi por acaso. Eu já cavalguei muito em minha
vida para saber que acidentes como aquele não era comum. Uma
sela se soltar de uma hora para outra? Principalmente uma sela
real, feita com os melhores materiais que o mundo poderia
proporcionar.
E se foi uma tentativa de assassinato? E se essa foi a forma
que a Baronesa encontrou de se livrar de mim?
— Vossa Alteza está bem, algumas horas de repouso e uma
boa xícara de chá de camomila devem ajudar com a dor de cabeça.
Eu gostaria de falar a sós com a senhorita, se não se importam.
Gostaria de dar algumas recomendações — disse o médico.
— Eu ficarei aqui. Sou a mãe dela, nada mais justo do que eu
saber o que preciso fazer para que ela se sinta bem — minha mãe
se pronunciou.
Nina e a Rainha se retiraram, então o semblante do médico
mudou na mesma hora.
— Eu não quis falar na frente da Rainha e de sua dama de
companhia, mas tenho uma notícia que pode não ser muito
agradável para a ocasião.
— O que foi? Eu estou bem? Aconteceu algo comigo? —
questionei, assustada.
— Você está bem, e o bebê também. Você está grávida,
Alteza. Não há dúvidas. É possível que esteja na décima semana de
gestação.
O ar parecia que não entrava em meus pulmões, a voz não
saía de minha garganta.
Grávida? Eu estava grávida?
— Você tem certeza do que está falando? — perguntou
minha mãe.
— Sim, eu tenho. Aconselho repouso por alguns dias para se
recuperar da queda, mas em breve pode voltar a todas as suas
atividades.
A mulher ao meu lado manteve a postura. Não alterou a voz,
muito menos o olhar.
— Peço que mantenha essa informação em segredo.
Preferimos escolher quem saberá ou não. — Foi tudo o que ela
disse.
O médico concordou e se retirou em seguida.
Minha mãe virou em minha direção, agora sim mostrando
toda a raiva no seu rosto.
— Dez semanas, Antonella? Não faz mais de duas que
recebi a carta do Rei!
As lágrimas que desciam por meu rosto e encharcavam meus
olhos estavam me impedindo de enxergar com clareza, e o
desespero que eu sentia não me deixava formular uma frase.
— Desculpe, mãe. — Foi a única coisa que consegui falar.
— Isso é tudo o que você tem a dizer? Quantas vezes vocês
dormiram juntos? Quantas?
Eu não conseguia encarar no seu rosto. Não tinha coragem.
— Duas.
— Então você mal chegou aqui e já se enfiou na cama dele
como uma qualquer? Como esperava que Pierre aceitasse casar
com você se você se comportou como uma prostituta? Você não
notou que não sangrou durante três meses?
Ela não gritava, provavelmente estava com medo de que
alguém ouvisse, mas sua voz estava tão firme que me causava
arrepios.
— Sabe que, às vezes, fico meses sem sangrar, mãe. —
Suspirei. — Eu não queria que isso acontecesse.
— Vamos manter isso em segredo. Nem Pierre deve saber o
que está acontecendo com você. Tentarei adiantar o casamento
para o mais breve possível, antes que alguém perceba essa
tragédia.
Eu assenti, vendo-a sair do cômodo e ficando sozinha lá.
Isso não podia acontecer de forma alguma! Era inacreditável
o quanto fomos irresponsáveis. Sabíamos que não deveríamos,
sabíamos que isso podia acontecer, mas na hora do prazer,
esquecíamos totalmente de quantas consequências nossos atos
podiam nos trazer.

[...]
Eu mal me mexia na cama. Meu olhar estava perdido por
meus aposentos, sem saber o que fazer. Além da gravidez, a ideia
de ter tido minha sela cortada pela Baronesa não saía de minha
cabeça. Tantas coisas estavam acontecendo... minha cabeça quase
explodia quando eu decidia pensar em tudo.
Ouvi uma batida na porta e ela logo se abriu. Era Nina,
estava sendo acompanhada por Pierre.
— Só me deixaram ver como você estava se eu não viesse
sozinho — disse ele.
Olhei para Nina e ela entendeu que eu queria espaço. Minha
dama de companhia sentou-se em uma cadeira do outro lado do
quarto. Ela provavelmente ainda ouvia o que falávamos, mas era o
máximo de privacidade que eu conseguiria com Pierre.
— Eu tenho que conter algo a você — falei, tentando não
deixar as lágrimas caírem novamente, mas foi inútil.
Ele se sentou na cama, passando a mão por meu rosto e
tentando secá-lo.
— O que aconteceu? Você está bem?
Sabia que minha mãe pediu para não contar, mas eu não
podia fazer isso.
— Eu estou grávida.
— Mas, então, por que está chorando? Teremos um bebê!
Vamos nos casar em breve, ninguém saberá que foi antes do
casamento. Antonella, não há motivos para preocupações.
Olhei para ele, séria, com o rosto molhado.
— E se o bebê tiver olhos verdes? E se tiver cabelos loiros e
a pele mais clara do que a minha? E se ele tiver a marca de
nascença do Thomás? O problema não é eu estar grávida, o
problema é o filho não ser seu e eu ser crucificada por isso. Você é
negro, Pierre, e Thomás tem a pele tão branca quanto leite. Acha
que se o bebê nascer com a pele clara como a dele, as pessoas vão
deixar isso passar despercebido?
— Antonella, sua pele e seu cabelo são tão claros quanto os
de Thomás. Se o bebê nascer assim, é nítido que apenas se parece
mais com você do que comigo.
Neguei com a cabeça.
— Você sabe muito bem o que todos irão dizer. E se alguém
tentar ir a fundo na história e encontrar Thomás? Não seria difícil ver
as semelhanças, se o filho for dele.
— Está tudo bem. Nós vamos achar uma forma de superar
essa situação. Juntos.
Pierre segurou minha mão e a beijou.
— Isso não é tudo que está me preocupando no momento.
Acho que não sofri um acidente. Eu já estava cogitando há algum
tempo a Baronesa ter matado Diana, principalmente depois do
nosso noivado, quando ela pareceu me ameaçar. E agora eu caí do
cavalo de uma forma absurda. Uma sela não deveria fazer isso
sozinha, Pierre.
— A Baronesa pode ser uma mulher difícil, mas ela jamais
mataria alguém. Foi apenas um acidente. A sela arrebentou e fez
você cair.
— Eu não acho que ela tenha arrebentado sozinha. Acho que
foi cortada.
Ele suspirou, aproximando-se ainda mais.
— Eu vou até os estábulos e verificar o estado da sela que
você estava usando. Vou provar para você que tudo não passou de
um trágico acidente. Agora você precisa descansar. — Pierre
colocou a mão sobre minha barriga. — Precisa cuidar do nosso
bebê.
Respirei fundo e assenti. Ele estava certo. Eu precisava
descansar e me cuidar.
— É um segredo, por favor. Minha mãe não queria que eu
contasse nem para você sobre a gravidez, mas não podia deixar de
contar. E também quero que Thomás saiba.
— Eu manterei segredo.
— Obrigada.
Pierre segurou minha mão e a beijou, tentando me passar um
pouco da sua calma, mas eu não acho que vá funcionar.
Eu precisava tirar as preocupações de minha mente, seria
melhor tanto para o bebê quanto para mim.
Capítulo 19
Eu tinha certeza de que o que aconteceu com Antonella foi
apenas um acidente. Não fazia sentido para mim alguém querer
matá-la, principalmente a Baronesa, que ajudou a me criar. Ela era
uma mulher difícil e com certeza muito intrometida, mas não
assassina. Não podia ser. Caso essa história fosse verdade, talvez
fosse algum dos criados que eu mal conhecia. Não entrava na
minha cabeça que alguém próximo a nós poderia fazer isso.
Tirei alguns minutos da minha manhã para ir até os
estábulos. Não queria que ninguém visse que eu estava lá, afinal, se
foi mesmo uma tentativa de assassinato, o culpado não poderia nem
sonhar que estávamos desconfiados de alguma coisa.
A sela que Antonella usou ainda estava lá, separada das
outras para um concerto. Não precisei olhar muito para perceber em
que ponto ela havia se rompido. Porém, quando cheguei mais perto,
questionei todas as coisas que eu sabia até ali. Havia um corte
perfeito e apenas o finalzinho foi arrebentado. Com certeza foi feito
com uma tesoura muito afiada.
Por um momento, o ar sumiu de meus pulmões e minha
cabeça estava girando.
Alguém tentou mesmo matar minha noiva? Será que ela
estava certa e a Baronesa não era a mulher que eu sempre achei
que fosse? Era muita coisa para raciocinar no momento.
Saí dos estábulos sem rumo, desnorteado, então avistei
Thomás cuidando de meus arbustos e não hesitei em ir até ele.
— Eu preciso falar com você — falei, sem parar meus passos
e seguindo para o labirinto.
Thomás estava logo atrás de mim. Virei-me para ele quando
entramos.
— Aconteceu algo? — questionou.
— A sela de Antonella foi cortada. A queda dela não foi um
acidente. Alguém queria prejudicá-la, ou pior. Antonella acha que foi
a Baronesa, mas não vejo motivos para ela ter feito isso.
— Não vê motivos? Pierre, ela deu uma surra em Mariana
por não ter “conquistado o Príncipe” quando você e Antonella
anunciaram o casamento. Ela quer que a filha case com você a todo
custo, e é claro que para isso acontecer, você precisa estar solteiro.
Não duvido que ela tenha matado Diana, e muito menos que está
tentando matar Antonella.
Passei a mão pelo rosto, tentando assimilar tudo o que
estava ouvindo.
— Eu convivi com a Baronesa a minha vida inteira, como ela
teria coragem de fazer isso comigo?
— Eu sei que no seu coração só há bondade, mas isso não
quer dizer que as pessoas ao seu redor sejam assim, e você precisa
aprender a lidar com isso.
Suspirei profundamente, assentindo.
— Precisamos ter um cuidado redobrado com Antonella
agora que ela está grávida. Não podemos deixar a Baronesa chegar
perto dela.
Thomás olhou para mim, com os olhos brilhando. Um sorriso
de formou em seus lábios, mas logo se desfez.
— Grávida? Antonella está grávida? — perguntou, incrédulo.
— Sim, ela está!
— Ah, meu Deus! Isso é incrível, mas, ao mesmo tempo, é a
pior coisa que poderia acontecer. Um bebê!
— Um bebê! — exclamei.
— Mas isso pode ser uma verdadeira tragédia, Pierre.
— Eu sei. Antonella está em desespero total com isso. Tentei
acalmá-la para que ela não fique com esse nervosismo todo até o
final da gravidez, mas está sendo um trabalho difícil.
— Eu quero vê-la. Eu... preciso vê-la e falar que tudo vai dar
certo.
— Eu ajudo você. Mais tarde vamos até lá e eu fico na porta,
cuidando para que ninguém entre. Se alguém aparecer, dá tempo
de você ouvir as vozes e se esconder.
Thomás assentiu.
— Está bem.
Eu estava tentando definir o que ele estava sentindo. Parecia
contente pelo bebê, mas também muito preocupado com o rumo
que as coisas estavam tomando. Além disso, em nenhum momento
ele falou sobre a possibilidade de o filho ser seu, apesar de ter dado
a entender com a preocupação. Talvez ele estivesse sentindo que o
deixamos de lado, e que isso só pioraria quando casássemos e o
bebê nascesse.
Aproximei-me dele, segurando seu rosto em minhas mãos e
deixando um beijo leve em seus lábios.
— Sabe que as chances do filho ser seu são grandes, não é?
— Sim, eu sei, mas de qualquer forma, o filho é seu, Pierre.
Você será o marido dela, você criará a criança mesmo que o filho
seja meu, porque não podemos arriscar que alguém descubra o que
vivemos.
— E você vai conseguir viver assim? Vendo um filho seu
todos os dias sem poder contar a verdade para ele, sem poder dar o
amor e carinho de um pai?
— Vai ser difícil. Muito difícil, mas é o certo a se fazer.
Aquelas palavras acertaram meu peito como facas. Thomás
estava muito chateado com aquilo, era nítido em seus olhos, mas eu
não sabia como resolver a situação. Não sabia o que dizer a ele
para confortá-lo, muito menos como arranjar uma forma de ficarmos
todos juntos como uma família, sem ninguém para impedir.
Capítulo 20
Eu ainda não havia falado com Antonella depois que descobri
sobre sua gravidez. Eu não sabia o que falar, como agir. Ela estava
contente com a chegada de um bebê, ou apavorada? Apesar de ser
algo muito esperado pela maioria, já vi muitas mulheres temerem a
gravidez.
— Preste bastante atenção. Se alguém aparecer, tentarei
falar o mais alto possível para que você se esconda — disse Pierre
enquanto caminhávamos pelos corredores em direção aos
aposentos de Antonella.
— Está bem. Ficarei atento.
Encarei a porta em minha frente e respirei fundo antes de
girar a maçaneta, nervoso.
— Thomás? — Antonella parecia surpresa de me ver ali. —
Precisa tomar cuidado. Não podem ver você aqui.
— Pierre está vigiando para mim. Achou mesmo que eu não
viria ver você?
Ela sorriu.
— Eu esperava que viesse. Fiquei pensando o dia inteiro em
como eu iria vê-lo enquanto estou de repouso.
Em passos lentos, caminhei até sua cama e me sentei na
ponta, ao seu lado.
— Aqui estou eu. Não podia deixar de parabenizar a mais
nova mamãe da corte.
— Pierre contou? Lembre-me de xingá-lo mais tarde. Eu
queria ter contado.
— Finja que eu não sei e conte-me com suas palavras.
— Thomás, você não vai acreditar. Eu estou grávida!
Fingi surpresa.
— Não acredito! E como está sendo essa experiência?
— Não tenho nenhuma observação muito relevante, por
enquanto. Minha mãe disse que eu posso me sentir muito enjoada,
mas isso eu já estava há dias e pensei que era o nervosismo de tê-
la aqui.
— Sua barriga já está crescendo? — perguntei.
— Eu não percebi, mas acho que o médico sentiu algo. —
Ela passou a mão por sua barriga. — Fico curiosa pensando em
como ele será.
— Tenho certeza de que o filho de vocês será o mais bonito
do reino.
Antonella olhou para mim, séria.
— Ou nosso.
— Eu espero do fundo do meu coração que esse bebê seja
de Pierre.
— Você não quer ser pai? — Ela parecia decepcionada.
— Não! Uma das coisas que eu mais quero na vida é ter um
filho com você, mas eu não suportaria ouvir todos os criados
supondo que você traiu Pierre. O melhor para você e para ele é que
o filho seja do seu marido. E mesmo que seja meu, é melhor que
ninguém nunca saiba.
— Isso seria tão injusto!
— Seria, mas é o que precisamos fazer.
Antonella segurou minha mão, acariciando por alguns
segundos, em completo silêncio.
— Pierre também falou sobre minhas desconfianças em
relação à Baronesa? — questionou.
— Sim. Também contou que sua queda não foi um acidente.
Antonella, eu vou vigiar a Baronesa de perto. Vou proteger você e o
bebê. Ela jamais tentará algo contra você novamente.
Ela respirou fundo.
— Eu tenho medo, Thomás. Agora tenho certeza de que ela
matou a Diana, e não teria problemas em fazer o mesmo comigo.
— Ela não vai fazer, confie em mim. E se fizer, eu vou até o
fim do mundo para provar a culpa dela e fazê-la ser decapitada por
traição.
Passei a ponta dos meus dedos por sua testa, afastando uma
mecha do seu cabelo. Antonella segurou meu rosto e me puxou,
então eu entendi o que ela queria. Beijei seus lábios de forma
suave, lenta e carinhosa enquanto acariciava sua bochecha.
Quando nos separamos, ela grudou nossas testas, com os
olhos fechados.
— Queria que você ficasse aqui comigo, deitado o dia inteiro,
fazendo carinho em mim — sussurrou.
— Quem sabe possamos fazer isso quando você se tornar
rainha e mais ninguém ousar entrar em seus aposentos sem bater
antes.
Ela riu leve.
— Vou esperar ansiosamente por isso.
Beijei Antonella uma última vez antes de me levantar da
cama.
— Vejo você depois.
Sorri, recebendo um lindo sorriso de volta.
Abri a porta com cautela, e Pierre ainda estava lá, como
prometido.
— Ela parece bem mesmo com a queda e as notícias
recentes — falei, parando-me em sua frente.
— Antonella é muito forte. Vai conseguir passar por isso.
Olhei para os lados, certificando-me de que estávamos
sozinhos no corredor.
— Eu vou vigiar a Baronesa. Se ela estiver planejando
alguma outra coisa contra Antonella, eu vou saber.
— Ótimo. Se precisar de ajuda, não hesite em me procurar.
— Eu vou.
Durante um segundo de insensatez, dei um passo em sua
direção, mas voltei atrás em seguida.
— Não podemos aqui, Thomás — alertou.
Soltei um longo suspiro.
— Eu sei, me desculpe. Eu só queria poder me despedir de
você com um longo e delicioso beijo.
Pierre sorriu, negando com a cabeça.
— Não me deixe tentado dessa forma, por favor.
Seus olhos estavam em minha boca, e tenho certeza de que
estava louco para atacá-la.
— Quem sabe mais tarde você possa me encontrar no meio
do labirinto. Seria interessante, não acha? — sugeri.
— Eu estarei lá.
Sorri, caminhando para longe logo depois.
Depois de tirar a boca de Pierre dos meus pensamentos,
sabia que meu foco era a Baronesa. Precisava ficar de olho em
todos os seus movimentos, em tudo o que fazia e deixava de fazer.
Um descuido meu poderia custar a vida de Antonella.

[...]
Apressei meus passos, tentando ser o mais silencioso
possível. Não podia acreditar que perdi a Baronesa de vista!
Ela não fazia nada de muito interessante durante o dia. Na
maior parte do tempo estava ao lado da Rainha, jogando conversa
fora e a servindo. Porém, em um certo momento, a Baronesa se
afastou, e eu não perdi a chance de ir atrás dela. Quando virei em
um corredor, ela já não estava mais lá, o que me fez pensar que a
mulher entrou em algum cômodo aleatório.
Será que havia percebido que eu estava atrás dela? Será que
tinha um esconderijo em que guardava todos seus acessórios de
assassinato?
Estava sem esperanças de encontrá-la quando a vi saindo
por uma porta. Ela parecia eufórica, olhando para os lados, mas não
chegou a me ver. Um pequeno papel caiu da manga do seu vestido,
mas ela não pareceu perceber. Saiu em passos rápidos pelo
corredor, e então vi minha chance de tentar descobrir o que estava
fazendo.
Peguei o papel, achando que encontraria algo mirabolante lá,
talvez um plano detalhado para matar Antonella, mas não. Era uma
receita de um doce com maçãs.
— Imaginei que a Rainha gostaria de uma surpresa com seu
doce preferido. — A voz da Baronesa ecoou atrás de mim.
Virei-me em um pulo, sentindo meu coração quase saindo
pela boca.
— O que vai colocar no doce? Veneno? — ironizei,
entregando-lhe o papel.
— Por acaso, estava me vigiando?
— Você sabe que eu não perderia meu precioso tempo
fazendo isso. Vi um papel no chão e o peguei, foi isso.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Você não me engana, e nunca me enganou, garoto. Eu
vou ficar de olho em você, e se eu perceber que você está vigiando
meus passos, será demitido antes que possa implorar para ficar.
Permaneci imóvel mesmo com suas ameaças. Não mudei
minha expressão, não me deixei intimidar.
A Baronesa deu as costas, e voltou seu caminho pelo
corredor.
Eu não pararia. Na verdade, suas ameaças reforçaram a
ideia de que ela estava fazendo algo errado, algo grave. Eu só
precisava descobri com detalhes.
Capítulo 21
O dia do casamento chegou bem mais rápido do que o
previsto. A mãe de Antonella convenceu a todos a adiantar o grande
dia, afirmando que seu marido precisava voltar logo para casa, pois
estava cheio de afazeres. Ela nem imaginava que eu sabia o real
motivo de toda aquela pressa.
Olhei pela janela de meus aposentos e vi os convidados
chegando. Eu estava rezando para que Jorge não fosse um deles,
não queria estresse no dia do meu casamento.
— Você precisa se vestir logo, Pierre, ou vai se atrasar —
disse Thomás.
— Ainda tenho tempo. Acalme-se.
— Não quero que Antonella fique nervosa com a espera.
— Ela mal deve ter começado a se arrumar.
— E você precisa estar no altar a esperando.
— Inclusive, já que falou em esperar — aproximei-me de
Thomás, puxando-o pela cintura —, eu e Antonella estaremos aqui
esperando por você essa noite. Espero que não se atrase.
Ele me segurou com força pela nuca, parando sua boca há
centímetros da minha.
— Estarei aqui. Sinto falta de entrar em você, faz tempo que
não fazemos isso.
— Também estou com saudades de sentir você dentro de
mim. Tão grande, grosso e delicioso.
Rocei meus lábios nos seus, mas não o beijei.
— Está tentando me deixar louco antes de hoje à noite?
— Estou tentando. Quero vê-lo mais excitado do que nunca.
— Não vai ser difícil com você e Antonella.
Thomás me beijou, sedento, enfiando a língua em minha
boca e a explorando, tentando me puxar para ainda mais perto,
mesmo que fosse impossível, e com seu pênis roçando no meu,
deixando os dois enrijecidos.
— Espero que consiga aguentar até à noite sem se tocar —
falei.
— Não tenho certeza se aguento. Ou podemos fazer melhor
e você se ajoelha agora na minha frente.
Sorri e neguei com a cabeça.
— Só à noite.
Ameacei beijá-lo mais uma vez, mas não o fiz, apenas me
afastei.
— Já pode se vestir para o casamento agora, Alteza? —
Thomás ironizou.
— Já. Minha meta de deixá-lo duro já foi concluída.
Apressei-me em colocar minha roupa antes que eu realmente
me atrasasse.
O casamento seria na capela do castelo, com poucos
convidados, mas a festa seria no salão com o maior número de
pessoas possíveis.
Em pouco tempo eu estava no altar. Passei os olhos pelos
convidados e não pude acreditar em quem estava lá: Jorge! Com
seus pais e sua esposa ao lado, Jorge me encarava sem nem ao
menos piscar. Confesso que foi um pouco assustador, mas eu não
queria me estressar. Havia uma mulher com um bebê no colo ao
lado de Maria, então supus que o filho dela já havia nascido.
Pude ouvir comentários sobre ninguém acreditar que eu
estava me casando, já que recusei tantas pretendentes antes de
Antonella chegar. As pessoas não estavam sendo nada discretas e
eu podia ouvir quase tudo que duas mulheres da alta sociedade
estavam falando. “O Príncipe só deve ter aceitado se casar com ela
por tê-la engravidado”, uma delas disse. “Como uma qualquer”, a
outra completou.
Antonella estava certa por estar apavorada com a
possibilidade de acharem que o filho não era meu. As pessoas
podiam ser extremamente maldosas quando queriam, e eu tinha
certeza de que queriam fazer isso com ela.
Thomás estava lá, em um canto com os outros criados,
sorrindo para mim na tentativa de me deixar mais calmo, mas eu
estava com os nervos à flor da pele. Não pensei que o leve atraso
de Antonella fosse me deixar nervoso, mas deixou. Perguntei-me se
ela estava bem ou havia passado mal, ou se ela simplesmente
desistiu do casamento, ou talvez tenham descoberto sua gravidez e
a mandaram embora. Eram muitas possibilidades.
Quando eu estava começando a entrar em pânico, todos os
presentes se calaram, e então eu a vi. Eu podia afirmar com toda a
certeza do mundo que Antonella era a mulher mais bonita e
graciosa que vi durante toda a minha vida.
Seu vestido azul tinha uma saia enorme, bordado com o que
me parecia ser fios de ouro, mas eu não conhecia nada sobre
costura e nem sabia se isso era possível. Ele tinha um decote
profundo, mas estava quase inteiramente coberto por colares
brilhantes. Ela também usava uma tiara com uma linda pedraria.
Além disso, sua maquiagem marcava suas maçãs do rosto e lábios,
deixando-a ainda mais bonita.
Ela caminhou até mim, carregando as flores que vi Thomás
colhendo naquele dia pela manhã.
— Você está incrível! — sussurrei quando Antonella parou ao
meu lado.
— Obrigada.
Estava tímida. Provavelmente por ter uma porção de pessoas
sem tirar os olhos dela.
A cerimônia teve início e eu respirei aliviado.
Eu não precisaria mais me preocupar com meus pais
insistindo para que eu arrumasse uma esposa, ou com como eu
seguiria minha relação com Thomás mesmo estando casado. Tudo
se encaixou tão bem que eu não podia acreditar que estava
acontecendo.
Aquele casamento era, sem dúvidas, uma das melhores
coisas que aconteceu em minha vida.

[...]
A noite de núpcias era uma das mais importantes na vida do
casal. Era quando eles deveriam providenciar o próximo herdeiro do
trono. A mulher que não engravidasse logo seria pressionada até
quase enlouquecer. A parte boa é que esse problema já estava
resolvido.
Um cômodo foi especialmente preparado para nossa noite, e
esse seria nossos aposentos de agora em diante. Antonella estava
me esperando nele, e eu estava muito curioso para saber o quão
sensual ela estava vestindo uma camisola.
Quando abri a porta, a vi deitada na cama, envolta pela seda
rosa da camisola com bordados. Não era uma peça que revelava
muito, afinal, foi sua mãe que providenciou e ela era totalmente
contra expor o corpo para o marido. Porém, a forma como o tecido
caía sobre sua pele já fazia minha imaginação trabalhar.
— Estava esperando por você — ela disse, abrindo um
enorme sorriso. — Thomás está vindo?
— Ele deve chegar em alguns minutos. Está esperando que
todos se recolham.
— Ótimo. Eu não parei de pensar no quanto quero vocês dois
desde a nossa noite no lago.
Sorri, caminhando lentamente em direção à cama.
— E você se tocou pensando nisso?
Subi em cima de Antonella, entrei suas pernas, fazendo a
saía de sua camisola subir até a cintura.
— Três vezes. Todas gemendo o seu nome e o de Thomás.
— Eu quero que faça isso, bem perto do meu ouvido
enquanto entramos em você.
Ela não respondeu. Ao invés disso, puxou-me para um beijo.
Suas pernas se entrelaçaram ao redor do meu quadril e eu agarrei
sua coxa com força.
Antonella estava sedenta por aquilo. Ela se esfregava em
mim mesmo eu ainda estando vestido.
— Rosas? — questionei, sentindo o aroma em sua pele.
— Sim. Especialmente para vocês.
Antes que eu pudesse beijá-la de novo, a porta do quarto se
abriu e Thomás entrou. Ele sorriu quando nos viu.
— Estão se divertindo sem mim? — perguntou.
— Eu mal podia esperar pela sua chegada — disse
Antonella.
— Já estou aqui, pronto para proporcionar a melhor noite da
sua vida.
Saí de cima de Antonella, caminhando até Thomás. A garota
fez o mesmo.
O loiro alternou o olhar entre nós dois, como se estivesse
decidindo qual boca iria atacar primeiro. Porém, não teve muito
tempo para pensar. Antonella o beijou, passando as mãos pelo
corpo dele e tentando arrancar sua roupa, mas sem muito sucesso.
Ela se virou para mim, com um olhar repleto de luxúria, e também
me beijou.
Envolvi meus dedos em seus cabelos e os puxei com força,
fazendo-a jogar a cabeça para trás e fechar os olhos. Com
delicadeza, fiz Antonella ficar de joelhos no chão, entre nós dois.
— Quero que me usem da forma que quiserem, que façam o
que sempre desejaram, que tornem realidade seus sonhos mais
pervertidos. — Ela tirou as mangas da sua camisola e deixou que
caísse em seus joelhos.
Acariciou os próprios mamilos, que estavam completamente
enrijecidos, encarando-nos.
— Você sabe que jamais negaríamos um pedido seu —
respondeu Thomás, livrando-se de suas roupas, e eu fiz o mesmo.
Aproximamo-nos ainda mais de Antonella, que continuava de
joelhos, com nossos pênis duros bem perto de seu rosto. Ela
segurou os dois, fazendo leves movimentos de vai e vem.
Primeiro lambeu o de Thomás, colocando a pontinha na boca
e o chupando. Em seguida fez a mesma coisa comigo. Quando senti
sua língua quente e molhada passando por toda a extensão, todos
os pelos do meu corpo se arrepiaram.
Eu tinha certeza de que Antonella estava se sentindo no
paraíso podendo chupar nós dois, ao mesmo tempo e à vontade.
Olhei para Thomás. Ele estava tão concentrado no que a
garota estava fazendo que, quando percebeu, eu já o tinha puxado
para um beijo ardente.
Enquanto sentia a boca de veludo de Antonella me sugando,
eu enfiava minha língua na de Thomás, explorando-a por completo.
Observei a garota no momento em que ela estava tentando
colocar para dentro tudo o que conseguia de Thomás. Afinal,
sabemos que ele é grande demais para qualquer pessoa conseguir
isso, mas talvez ela precisasse de uma ajudinha para ir até o seu
limite.
Fiquei de joelhos ao lado de Antonella.
— Abra bem a boca e a garganta e coloque a língua para fora
— orientei. — E deixe as mãos para trás.
Ela obedeceu. Entrelaçou as mãos atrás do corpo e abriu a
boca, sem tirar os olhos de Thomás. Ele enfiou a ponta do seu
pênis, mas percebi que estava receoso.
Agarrei os cabelos dela e empurrei sua cabeça devagar. Em
certo ponto, vi seus olhos lacrimejarem e a puxei de volta. Aquele
era o seu limite, e ela parecia empolgada para fazer de novo.
Ainda segurando seus cabelos, a empurrei para engasgar-se
mais uma vez, mas agora não deixei que saísse tão rápido.
— Olhe nos olhos dele enquanto o engole — falei, momentos
antes de puxá-la de volta. — Você adorou, não é? Adorou se
engasgar com Thomás na sua garganta — sussurrei no seu ouvido.
— Eu... eu fiquei tão excitada com isso.
— Então agora você vai fazer a mesma coisa com Pierre, e
eu vou observar bem de perto. — Thomás se ajoelhou e eu me
levantei.
Antonella fez a mesma coisa que orientei da outra vez, e o
loiro segurou seus cabelos para controlar o que ela fazia.
Com um pouco mais de facilidade, ela me colocou para
dentro da boca por inteiro, engasgando-se e com os olhos
lacrimejando. Estar na sua garganta era quase tão delicioso quanto
estar na sua bunda.
Thomás puxou os cabelos dela e a afastou de mim,
controlando-a para que colocasse de volta apenas a cabecinha,
enquanto ele lambia a extensão.
Ter as duas pessoas que eu mais desejava no mundo
ajoelhadas na minha frente, chupando-me com tanto gosto era uma
das cenas mais excitantes que eu já vi.
Antonella passou a explorar com a língua também. Quando a
sua boca encontrou a de Thomás, eles se beijaram, com a ponta do
meu pênis no meio, e eu precisei manter o controle para não ter um
orgasmo.
Afastei os dois e o loiro sorriu para mim.
— Não ia nos aguentar por muito tempo? — provocou.
— E quem aguentaria? — Virei para Antonella e a fiz
levantar. — Espero que esteja bem molhada para o que virá.
A camisola caiu de seu corpo e ela finalmente ficou nua.
Suas mãos tocaram meu peito e ela fechou os olhos.
— Eu estou latejando de tanta vontade de tê-los dentro de
mim.
Thomás se parou atrás dela, colando seus corpos. A mão
dele passou lentamente pela barriga da garota, descendo devagar
até o meio de suas pernas. Ele a acariciou por alguns segundos, o
suficiente para fazê-la gemer. Seus dedos saíram de lá totalmente
encharcados, e ele os levou até minha boca para que eu a
provasse.
— Eu adoro o efeito que temos sobre seu corpo, como
deixamos você trêmula de tanta excitação — Thomás sussurrou.
— Eu não consigo controlar. Quando me tocam sinto que me
desfaço por completo.
Thomás a puxou para cama, fazendo-a deitar-se com
rapidez. Sabia que ele estava com saudades de estar dentro dela.
Sentei-me na cama, perto de Antonella, enquanto o loiro
posicionava-se entre as pernas dela e a penetrava. Segurei as mãos
da garota logo acima da sua cabeça para que ela se sentisse
totalmente à nossa disposição, como ela estava fantasiando há
semanas.
Thomás segurou as pernas de Antonella, abrindo-as e
subindo-as até que os joelhos quase encostassem nos seios. Essa
posição pareceu aumentar ainda mais o prazer dos dois, que não
tiravam os olhos um do outro.
Ele ficou de joelhos na cama, pelo que percebi, sem sair dela.
Segurou Antonella pelas coxas, fazendo seu quadril se erguer, e
voltou a penetrá-la devagar, porém, com tanta força que seus
pequenos seios saltavam a cada estocada.
Eu a soltei, parando-me ao seu lado, de joelhos, e colocando
sua mão em meu pênis. Mesmo estando quase em um transe com
Thomás dentro dela, ela me acariciou, roçando-me em seu mamilo
enquanto fazia movimentos de vai e vem.
Thomás precisou sair de Antonella por um momento,
provavelmente também para não ter um orgasmo.
— Não aguenta, Thomás? — provoquei, assim como ele fez.
— Deite-se e eu duvido você aguentar mais de dois minutos
comigo dentro de você enquanto Antonella te chupa.
Sorri.
— Essa foi uma de suas melhores ideias.
Deitei-me na cama, como ele disse, e esperei até que se
posicionasse entre minhas pernas. Seu pênis ainda estava molhado
com a lubrificação de Antonella, e foi o que ele usou para começar a
me penetrar. Thomás sabia que eu o aguentava perfeitamente,
então não usava muito da sua delicadeza.
Antonella não perdeu tempo e me abocanhou. Lembro-me do
dia em que ela estava curiosa para fazer aquilo, e agora parecia ser
uma de suas coisas favoritas.
Sentir a boca quente da garota subindo, descendo e sugando
enquanto Thomás estocava cada vez mais fundo em minha bunda
era a definição de paraíso. Antonella estava de quatro ao meu lado,
e eu não precisei esticar muito a mão para acariciá-la e ouvir um
gemido involuntário vindo dela.
Massageei seu clitóris com meu polegar, com movimentos
leves e circulares. Ela passou a mover seu quadril, provavelmente
querendo que eu fosse mais rápido, mas continuei na mesma
velocidade.
Ela estava tão molhada... espalhei sua excitação até meus
dedos chegarem em sua bunda, onde penetrei um dedo. Precisava
deixá-la preparada para quando Thomás entrasse ali em alguns
minutos.
O loiro não sabia se encarava meus olhos, o que eu estava
fazendo com Antonella, ou o que ela estava fazendo comigo. Tudo
parecia deixá-lo ainda mais sedento para enfiar tudo o que
conseguia em mim.
Thomás puxou a garota pelos cabelos, fazendo-a se
aproximar dele. Ele a beijou feroz.
— Quero nós dois dentro de você agora — disse.
— Só se os dois despejarem tudo o que puderem dentro de
mim.
— Proposta aceita.
Eu sabia exatamente a posição em que eu queria fazer
aquilo.
Levantei-me da cama e chamei Antonella para se juntar a
mim.
— Quero que pule em meu colo e se segure em mim — falei.
Ela assentiu.
Com seus braços ao redor de meu pescoço, ela tomou
impulso e entrelaçou suas pernas ao redor do meu corpo. A garota
era leve e pequena, não foi nenhum sacrifício segurá-la naquela
posição.
Olhei para Thomás e ele entendeu o que deveria fazer.
Colocou-se atrás dela. Com uma mão, ajudou a segurar o peso de
Antonella, e com a outra pegou em seu próprio pênis e começou a
penetrá-la.
Vi no rosto da garota o exato momento em que Thomás
entrou em sua bunda. Ela fechou os olhos com força e arfou.
— Está doendo? — perguntei.
— É a dor mais deliciosa que já senti — respondeu, com a
voz falhada.
Thomás passou a se mover lentamente, apertando com força
as coxas de Antonella, beijando o ombro dela com delicadeza.
Aproveitando que o loiro também a estava segurando, desci
uma de minhas mãos entre nós e me encaixei perfeitamente na sua
entrada. Coloquei-me para dentro dela com rapidez, fazendo-a
soltar um gemido alto.
Eu saía e entrava com facilidade. Ela estava tão molhada e
excitada... estava delirando em nossos braços, com os olhos
fechados e cabeça jogada para trás, escorada em Thomás.
Beijei e lambi seu pescoço, com seus seios roçando em meu
peito a cada estocada que dávamos.
— O quão fundo você me aguenta? — Thomás sussurrou em
seu ouvido, mas também escutei.
— Faça o teste. Enfie tudo o que conseguir — ela desafiou.
Acho que ele tentou, mas Antonella colocou uma de suas
mãos para trás, parando-o. Thomás sorriu malicioso.
— Talvez um dia você consiga colocá-lo todo para dentro —
disse.
— Precisamos treinar mais vezes. O que acha?
— Todos os dias, se você aguentar.
— Eu aguento e quero.
Ouvir suas vozes ofegantes, quase entre gemidos e colados
em mim era uma tentação.
Aumentei a velocidade do que eu estava fazendo, sem me
importar com meus músculos trabalhando até quase o limite.
Antonella continuava com os olhos fechados, com a boca
semiaberta, mas não soltava nenhum som.
— Ao mesmo tempo, por favor. Ao mesmo tempo — ela
sussurrou.
Olhei para Thomás e ele parecia estar chegando no seu
ápice, parei de me privar e me concentrei apenas em ter um dos
melhores orgasmos da minha vida.
O corpo do loiro estremeceu, e ele deu uma última forte
estocada para dentro de Antonella. Apesar de estar trêmulo,
continuou na mesma posição que estava.
A garota mexeu o quadril para frente e para trás, esfregando-
se em mim enquanto gemia alto. Vê-la tendo um orgasmo em meu
colo foi o limite para mim. Sentindo uma onda indescritível de
prazer, preenchi-a com tudo o que eu tinha para dar a ela.
Sem fôlego, Antonella firmou os pés no chão, mas ainda
totalmente tomada pela sensação que recém havia sentido.
Fui até meu armário e peguei um pano de linho para nos
limparmos. Quando virei de volta, Antonella estava beijando Thomás
da forma mais ardente possível, e ele correspondia mesmo
parecendo que não tinha mais forças para fazer nada.
Aproximei-me, então a garota se voltou para mim, beijando-
me também.
— Eu consigo sentir... escorrendo para fora de mim e é tão
delicioso — disse ela, baixinho.
— Garota, você é insaciável? — questionei.
Antonella riu leve.
— Eu estava há alguns dias imaginando vocês dois comigo e
sinto que agora eu só quero de novo, e de novo, e de novo.
— Desculpe-nos, mas precisamos de, pelo menos, algumas
horas para nos recompor — disse Thomás, sentando-se na beirada
na cama.
— Tudo bem. Temos a noite inteira — afirmou Antonella.
O loiro negou com a cabeça.
— Eu preciso ir. Não podem me ver saindo do quarto dos
recém-casados. E tenho certeza de que amanhã de manhã todos os
olhos estarão virados para cá. Talvez possamos dormir juntos daqui
algumas semanas, mas agora é perigoso.
Ele tinha razão. Mesmo que meu corpo e coração estivessem
implorando para Thomás passar a noite toda conosco, eu sabia que
a melhor coisa que ele podia fazer era voltar para seu quarto.
Antonella suspirou, cabisbaixa.
— Promete que ainda vai passar uma noite inteira ao nosso
lado e fazendo carinho em mim?
Thomás sorriu, levantando-se e caminhando até a garota,
depositando um beijo em sua testa.
— Eu prometo.
Peguei-me sorrindo também. A forma com que quinze
minutos atrás Antonella estava implorando para que dois homens
entrassem nela, e agora estava com cara de choro e pedindo para
que Thomás fizesse uma promessa aleatória era fofa e engraçada.
Ela o beijou uma última vez naquela noite.
O loiro virou-se para mim e eu sorri. Puxei ele pela cintura e
juntei nossos corpos.
— Espero que passe a madrugada inteira relembrando o que
acabamos de fazer — falei.
— Eu duvido muito que eu consiga dormir depois disso.
Sorri, beijando-o em seguida.
Observamos Thomás enquanto ele vestia sua roupa, em
silêncio. Em poucos minutos saiu pela porta, deixando uma
Antonella muito chateada para trás.
— Espero que ele cumpra a promessa que me fez — disse a
garota.
— Ele vai, não se preocupe. Agora acho que temos que
aproveitar esses lençóis extremamente macios que foram feitos
especialmente para essa noite.
Deitei-me na cama e sorri para a garota, tentando fazer com
que ela se animasse um pouquinho.
— Acho que é o melhor que podemos fazer já que você não
aguenta fazer sexo comigo a noite inteira.
Soltei uma risada.
— Tenho quase certeza de que nenhum homem aguentaria
fazer isso.
— Injusto!
— Acho que a gravidez deixou você ainda mais sedenta.
Ela pensou por alguns segundos.
— Faz sentido.
— Venha, deite-se.
Antonella deitou-se em meu peito e eu acariciei seus cabelos
por longos segundos.
Ela levantou a cabeça e me olhou, com os olhos
semicerrados.
— Mas mais uma vez você aguenta? — questionou, séria.
— E se nós dormirmos e eu acordá-la chupando e lambendo
entre suas pernas. O que você acha?
— Uma ideia genial!
A garota pareceu muito empolgada com a ideia, e não
reclamou mais enquanto eu tentava tomar minhas forças de volta.
Capítulo 22
Eu não estava nada confortável com a presença de Jorge no
castelo. Tinha certeza de que a ideia de aparecer no casamento foi
sua. Não acho que sua esposa tenha gostado da ideia, já que a sua
feição durante a festa não estava das melhores.
Avistei Maria no jardim, com seu bebê nos braços,
caminhando na luz do sol com a babá ao lado. Aproximei-me sem
pensar duas vezes.
— Bom dia, Maria. Espero que estejam aproveitando a
estadia em nosso castelo — falei, simpático.
— Com certeza estamos, Alteza. É sempre um prazer estar
aqui — respondeu.
— Poderíamos conversar por um momento? Em particular.
Ela assentiu, entregando seu bebê para a mulher ao seu
lado. Seguimos caminhando pelo jardim, até estarmos longe o
suficiente de todos.
— Eu sei o que vai falar. Sinto muito por estarmos aqui.
Tentei convencer Jorge a não vir, mas foi em vão — lamentou,
soltando um longo suspiro.
— Você deu à luz há pouco tempo, não pensei que viessem.
— Usei isso como argumento, mas ele não se importou.
Temos uma grande simpatia um pelo outro, mas não é sempre que
Jorge pensa no que é melhor para mim. Eu não queria fazer a
viagem com um bebê tão pequeno, e muito menos incomodar você
no seu casamento. Sinto muito.
— Não se desculpe. Sei que Jorge pode ser muito irritante e
insistente quando quer alguma coisa.
— Ele ficou revoltado com a possibilidade de não virmos.
— Onde ele está? Preciso dizer algumas palavras.
— Tome cuidado! — pediu. — Por favor.
— Eu tomarei. Tentarei não o aborrecer, mas espero que ele
colabore para isso.
— Jorge está na biblioteca. Estava com esperanças de você
aparecer lá, disse que lembra como você gosta de ler.
— Gostava, quando meus dias eram mais livres. Bom, vou
conversar com ele — avisei. — E parabéns pelo bebê. É um lindo
menino.
— Obrigada. Pensei em convidá-los para o batizado, mas
quis evitar frustrações. Espero que compreenda.
— Compreendo, com toda certeza.
Maria sorriu. Parecia estar tentando pedir desculpas em cada
gesto seu. Estava encabulada pelas atitudes de Jorge, mas eu
entendo, também estaria.
Em passos pesados, caminhei até à biblioteca, um tanto
revoltado com o que estava acontecendo. Jorge estava lá, sentado
em uma das cadeiras, escorado na mesa e com um livro nas mãos.
Ele subiu o olhar até mim, abrindo um sorriso.
— Sabia que me procuraria — falou.
— Sim, procurei você para o mandar embora. Quero que saia
do reino ainda hoje — exigi, sendo firme no meu tom de voz.
Jorge se levantou da sua cadeira, dando um passo em minha
direção.
— Duvido que seja isso que realmente queira.
— É exatamente o que eu quero. Eu me casei ontem, e quero
viver plenamente a felicidade dos meus primeiros dias de casado, e
a sua presença está me atrapalhando.
— Felicidade? Que felicidade, Pierre? Você não a ama.
— Quem você acha que é para dizer quem eu amo? Ponha-
se no seu lugar!
— A quem está tentando enganar? Eu sei do quanto gosta de
sentir uma barba roçando em você, de ver um homem ajoelhado na
sua frente, e sua esposa não pode proporcionar isso.
Ri irônico.
— Você não me conhece mesmo, não é? Acha que me ama,
mas nem tem ideia do que gosto ou deixo de gostar. Você deveria ir
para casa e parar de passar vergonha dessa forma. Sua esposa
recém deu à luz. Não basta Maria precisar suportar o peso de ser
mãe pela primeira vez, ainda precisa lidar com os caprichos do seu
marido mimado. Quero você fora daqui até amanhã, e ainda estou
sendo caridoso por deixar que durma aqui.
— Eu posso estar indo para casa amanhã, mas você não vai
estar vivendo a felicidade de um recém-casado.
Não quis mais ouvir suas ameaças. Não tinha mais paciência
para isso. Saí do cômodo ainda mais irritado do que quando
cheguei, com vontade de socar a sua cara até que implorasse
perdão por me tirar do sério.
Eu ainda tinha medo que contasse. Na verdade, tinha mais
medo agora do que antes.
— Ei, ei! — Thomás tentou me parar no corredor. — O que
houve? Está transtornado.
— Jorge está fazendo tudo para me irritar! Disse que vai
contar para todos que tivemos um caso. Ele está tão obcecado por
mim que tenho medo que cumpra o que está prometendo fazer.
— Ele não ousaria. Isso pode ser ruim para a vida dele
também.
— Eu sei, e ele também sabe, mas não se importa. Falei que
o queria longe até amanhã, mas tenho medo que faça algo durante
esse tempo.
— Não se preocupe, nós três vamos vigiá-lo e não
deixaremos que conte nada. Revezando, é claro. Talvez chamemos
muita atenção se andarmos juntos pelo castelo.
Arqueei uma sobrancelha.
— Nós três?
— Acha mesmo que a Antonella perderia a chance de vigiar e
investigar alguém?
— Com certeza não.
— Vou avisá-la. Você fique de olho nele, mas de longe, por
favor. Se Jorge perceber que você está o vigiando, vai pensar que
está loucamente apaixonado por ele.
Ri leve.
— E o pior é que isso não é uma piada.
— É sério, tenha cuidado!
— Eu terei.
Thomás seguiu pelo corredor, à procura de Antonella,
enquanto eu me certificada que Jorge não falaria com ninguém.
Eu me sentia tão impotente e covarde. Como eu poderia
comandar um reino se eu escondia de meus súditos uma parte tão
importante da minha vida? Queria que Thomás fosse apresentado
como meu marido, da mesma forma que Antonella foi conhecida
como minha esposa. Queria que os dois reinassem ao meu lado,
que um trono fosse acrescentado na sala, na igreja e em todos os
lugares que pretendiam receber-nos. Esperava um dia ter forças o
suficiente para contar a verdade a todos, mas hoje ainda não era
esse dia.

[...]
Bati o pé no chão freneticamente, impaciente enquanto
esperávamos Antonella aparecer no jardim.
— Onde ela foi seguir o Jorge? No centro da cidade? —
questionei Thomás.
— Acho que ele estava cavalgando. Estava afastado do
castelo — ele respondeu.
Estávamos o dia inteiro para lá e para cá, seguindo Jorge por
todos os cantos para nos certificar de que ele não falaria nada.
Estava perto de anoitecer e Antonella já deveria ter nos encontrado
com as informações.
Antes que eu pudesse reclamar de novo, vi a garota
saltitando em nossa direção.
— Por que a felicidade? — questionei.
— Vocês não vão acreditar no que eu vi.
— O que? Não nos deixe curiosos.
— Segui Jorge até o campo. Ele estava com seu cavalo e
seu criado. Fiquei escondidinha perto dos estábulos, e vocês
precisavam ver a forma que Jorge e seu criado se olhavam. Em um
momento, os dois quase se beijaram, mas Jorge recuou. Eu acho
que há outro homem na vida dele, e você pode usar isso para ele
esquecer você, Pierre.
Arqueei uma sobrancelha.
— Acha mesmo que isso vai funcionar? — indaguei.
— Eu acho que pode funcionar, você só precisa usar as
palavras certas, ser calmo e compreensivo.
Antonella respirou fundo, passando a mão pela testa.
— Você está bem? — Thomás perguntou.
— Eu estou. Estou com muito calor, acho que o sol da tarde
não ajudou muito.
— Você está ficando pálida. Mais pálida que o normal —
observei.
A garota parecia tonta. A cor sumiu de seus lábios e ela
puxava o ar com força para respirar.
— Eu só... — Ela tentou falar, mas seu corpo pendeu para o
lado e eu a segurei.
— Você não deveria ter passado a tarde toda correndo para
todo lado — falei.
— Eu queria ajudar — sussurrou.
Peguei Antonella no colo e segui para os bancos que ficavam
no jardim, embaixo das árvores. Thomás me seguiu até lá. Deixei-a
sentada, escorada em meus braços. Passei os dedos por sua testa
e bochecha, vendo a cor de seus lábios voltarem gradativamente.
— O que está sentindo? Quer que chamemos o médico? —
Thomás questionou.
— Não. Foi só uma tontura, um mal-estar — respondeu,
ainda com a voz fraca.
— Antonella? O que houve? — Ouvi a voz da mãe da garota
apressando-se para chegar até ela.
— Ela se sentiu mal por um instante, mas já está melhor —
expliquei.
— Provavelmente é o calor que está fazendo hoje. O sol está
quase se pondo e ainda parece forte, não é? Vou levá-la para
dentro.
O calor até podia ter um pouco de culpa, mas sabíamos que
a gravidez era o fator principal. A mãe de Antonella estava tentando
esconder a todo custo, até mesmo de mim. Não sabia até quando
faria aquilo, afinal, a gravidez de Antonella estava três meses na
frente do nosso casamento. Qualquer um que visse o bebê depois
dele nascer perceberia que aquela criança não nasceu antes do
tempo.
Todo caso, eu não queria arrumar discussão naquele
momento. Ajudei minha esposa a se levantar e sua mãe a levou
para dentro.
— O que fará agora? — Thomás perguntou.
— Vou falar com Jorge. Quem sabe Antonella está certa.
Ache-o e peça para que me encontre na biblioteca agora mesmo.
O loiro assentiu.
Não esperei mais nem um único segundo e segui para a
biblioteca. Esperava que Jorge não achasse que eu queria o
encontrar para fazermos sexo, mas eu tinha quase certeza que isso
aconteceria.
Apressei-me em chegar na biblioteca, mesmo não sabendo
quanto tempo Jorge demoraria para ser avisado. Sentei-me em uma
das cadeiras, pegando o livro que já estava em cima da veza e
folhando-o.
— Sabia que me chamaria. — Ouvi sua voz preenchendo o
cômodo.
Respirei fundo e levantei, tentando manter a calma. Antonella
pediu para que eu fosse gentil, e eu tentaria ser.
— Jorge, o que você sente por mim, afinal?
— Por que você está perguntando isso, Pierre? Sabe muito
bem. Amor, desejo, paixão.
— Você me ama de verdade, ou ama os momentos que viveu
comigo? Você sente minha falta, ou sente falta do que fazíamos?
— Eu não estou entendendo onde você quer chegar.
— Eu vi como você olha para o seu criado. Augusto, não é?
Não acha que a obsessão que você criou por mim está impedindo
que você encontre a felicidade com outra pessoa?
— Não, Pierre. Sabe que quero você.
— Mas e sua história com Augusto? Conte-me um pouco
sobre ela.
Sentei-me à mesa e fiz um sinal para que Jorge fizesse o
mesmo. Relutante, ele se sentou na minha frente.
— Nos conhecemos há alguns anos. Ele era um dos
jardineiros de meus pais.
— Até você colocá-lo como seu criado pessoal, imagino.
— Sim. Começamos a ter um caso e pedi para que o
colocassem como meu criado para facilitar.
— E vocês estão juntos há anos, não é? Por que você acha
que ama a mim, que só desprezo você, e não Augusto, que esteve
ao seu lado durante todo esse tempo?
— Eu não sei. É impossível explicar esse tipo de coisa.
— Mas você não me ama, Jorge. Você pode ter amado
nossas noites, pode amar um detalhe em mim, ou algo que só eu
faço. Você está me ameaçando por saber um segredo meu, está me
torturando, e isso não é amor.
Jorge passou as mãos pelo rosto e eu vi lágrimas se
formando em seus olhos. Ele desviou o olhar, encarou as prateleiras
perto de nós.
— Eu não contaria sobre o nosso caso para ninguém, eu só
queria que você pensasse que sim. As três semanas que passei
com você foram algumas das melhores de minha vida. Meus pais
estavam tão ocupados com a minha irmã, que nem se importavam
com o que eu estava fazendo. Você e eu podíamos fazer sexo a
noite inteira, se quiséssemos. Podíamos cavalgar juntos, observar
as estrelas, qualquer coisa que queríamos sem ninguém nos
interromper, mas agora não é assim. Minha irmã se casou e foi
embora, e eu sou o herdeiro do ducado de Porto. Augusto e eu
precisamos ter cuidado com cada passo que damos. Além disso,
tem meu casamento. Algo que eu fui obrigado a fazer, mas sinto que
só atrapalha ainda mais minha vida.
— Então essa é a resposta, Jorge. Você não me queria de
volta, você queria de volta a liberdade que costumava ter quando
ficamos juntos. Pense só: se você pudesse ter tudo isso de volta,
toda a liberdade que tanto deseja, você escolheria a mim ou a
Augusto para estar ao seu lado?
Ele parou para pensar por um instante, e só isso me deu a
confirmação de tudo o que eu disse.
— Augusto é um homem maravilhoso. Ele esteve ao meu
lado desde o segundo em que nos conhecemos. De alguma forma,
ele me entende e eu o entendo. Quando conseguimos passar mais
de 20 minutos juntos, são os melhores 20 minutos do meu dia.
— Olha, se eu fosse você, chamava o Augusto para passar
essa noite em um dos quartos vazios do lado leste do castelo, onde
quase ninguém vai, e aproveitaria sua companhia a noite inteira.
Mas, claro, não sou você.
Sorri para ele, tentando passar um pouco de confiança.
— Desculpe-me por todo o aborrecimento que causei, Pierre.
Eu não deveria ter despejado minhas frustrações em você — ele
disse.
— Eu desculpo, mas só se aproveitar a noite com Augusto.
Jorge riu leve.
— Eu vou, pode ter certeza — afirmou. — Também me
desculpe pelo que falei, sabe, sobre você não amar a sua esposa.
Ela parece ser uma mulher encantadora.
— É a mulher mais encantadora que você poderia conhecer.
— É possível ver nos seus olhos que você a ama. Eu não...
não tinha ideia que também se atraía por mulheres. Mais uma vez,
desculpe.
— Está tudo bem, Jorge. Vamos deixar tudo para trás. Acho
que já devem estar servindo o jantar.
Jorge assentiu, levantando-se na mesma hora.
Eu estava feliz por ter resolvido a situação, mas chateado por
saber que Jorge estava se sentindo tão preso. Eu o entendia, mas
imagino que seus pais sejam bem mais rigorosos do que os meus.
Seguimos lado a lado para a sala de jantar, com Jorge muito
aliviado, e também feliz por poder passar uma noite inteira com
Augusto.
Capítulo 23
As flores já estavam secando com a aproximação do outono.
Eram poucas as que ainda coloriam o jardim do castelo, porém,
algumas mudas de tulipas e crisântemos foram cultivadas e
estavam prontas para florescer nas próximas semanas. Eu estava
esperando ansiosamente por isso. Queria fazer um arranjo colorido
e perfumado para decorar meu novo quarto.
— Acha que essa flor está muito murcha? — perguntei para
Nina, apontando para uma rosa.
— Um pouco, mas todas estão, Alteza.
— Vou pegá-la. Estou sem opções e quero fazer dois
pequenos arranjos.
Pretendia dar uma para Pierre e outro para Thomás.
Ninguém podia perceber que eu estava dando flores para o criado,
mas era fácil inventar uma desculpa qualquer para isso.
Enquanto cortava a haste de uma das flores, senti uma dor
torturante em meu estômago, uma pontada que doía como uma faca
atravessando-me.
— Vossa Alteza está bem? — perguntou Nina, segurando
uma de minhas mãos.
Senti a dor mais uma vez, junto com um forte enjoo.
— Não. Sinto que meu estômago vai sair para fora.
— Vamos para o quarto. Talvez precise descansar.
Não tive tempo para nada, apenas para me curvar e vomitar
na grama tudo o que tinha comido naquela manhã. Nina segurou as
duas mechas de cabelo que emolduravam meu rosto.
— Não sei se consigo chegar em meus aposentos. Estou me
sentindo tão fraca.
Nina me deu apoio para que eu não caísse.
— Olivier! Ajude-me aqui. — Ouvi a voz de minha dama de
companhia chamando um dos criados que estava do lado de fora do
castelo.
Olivier era um homem forte e robusto, quase carregou-me até
minha cama, e eu nem tinha forças para agradecer. Nina pediu para
que ele encontrasse minha mãe e a chamasse imediatamente.
— Acho que preciso de uma bacia, Nina, um balde talvez.
Sinto que vou vomitar a qualquer momento — falei.
— Vou pedir para providenciarem agora mesmo!
A mulher seguiu até o corredor e pareceu parar a primeira
pessoa que passou em sua frente, pedindo um balde com urgência.
Ela voltou para o quarto, não queria que eu ficasse sozinha por nem
um único minuto.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou minha mãe,
entrando no cômodo.
— Meu estômago... acho que nunca senti uma dor tão forte.
E tudo o que eu quero fazer é vomitar — respondi.
— Ah, querida. Isso é normal na sua... no momento.
— Nina sabe.
Minha mãe respirou fundo, fechando os olhos por um
segundo.
— É claro que você não ficaria quieta, não é?
— Eu não quero discutir agora.
Ouvi batidas na porta e Nina atendeu na mesma hora. Era
um dos criados trazendo o balde. Ela o colocou ao meu lado.
— Volto a dizer que enjoos e vômitos são normais durante a
gravidez.
— Não pode ser. As dores estão fortes, e eu nunca vomitei
tanto quanto agora. E se tiver algo errado comigo, ou com o bebê?
— questionei, preocupada.
Eu sabia que enjoos eram normais durante a gravidez,
lembro-me de acompanhar a gravidez de duas de nossas criadas,
mas nada se parecia com aquilo.
— Descanse o resto do dia e eu pedirei comidas leves para
você. Se continuar amanhã, falaremos com o médico.
Assenti.
Minha mãe não pareceu dar muita importância para o que eu
estava sentindo. Ela saiu do quarto logo em seguida.
Pensei em mencionar para Nina o quanto aquela doença
repentina estava estranha, mas, de novo, não tive tempo de nada.
Vomitei mais uma vez no balde ao meu lado.
Levei a mão até minha barriga, acariciando.
— Você acha que isso é normal, Nina? Acha que há algo de
errado com o bebê? — indaguei.
— Eu não sei, Alteza. Nunca acompanhei uma gravidez de
perto.
Eu estava tão assustada! Sabia que perder a criança não era
nada raro, mas só de pensar nessa possibilidade, sentia calafrios.
Era uma parte de mim, um pedaço meu e de Pierre ou Thomás
crescendo em meu ventre, não podia perdê-lo de forma alguma.
Precisava segurá-lo e sentir junto ao meu corpo, ter certeza de que
era perfeitamente saudável e cresceria forte para um dia governar o
reino.
— Vou pedir um chá para ajudar na dor, o que acha? — Nina
perguntou.
— Não. Não acho que algo vá parar em meu estômago.
Quem sabe mais tarde.
— Está bem. Então podemos só permanecer aqui e falar
sobre os nomes que Vossa Alteza está cogitando para o bebê.
Pensei por um instante.
— Eu ainda não pensei nisso — confessei.
— Então vamos pensar. Que tal Otaviano?
Neguei com a cabeça.
— Parece nome de Imperador Romano.
Nina riu leve.
— Vossa Alteza tem razão.
Era nítido que o objetivo da minha dama de companhia era
falar sobre coisas aleatórias para conseguir me distrair das dores e
enjoos, e conseguiu por alguns momentos durante o dia.

[...]
Não comi quase nada, mas minha mãe insistia que eu
precisava fazer isso. Estava me sentindo melhor depois que a noite
caiu, e um caldo leve estava sendo preparado especialmente para
mim.
Nina estava comentando sobre o livro que ela leu durante a
hora em que dormi quando Pierre entrou no quarto.
— Desculpe-me por não ter aparecido antes. Meu pai quis
que eu o acompanhasse até o centro da cidade — disse ele.
— Está tudo bem, estou me sentindo melhor.
— Vim para cá assim que soube que estava se sentindo mal.
— Eu estava pior durante a manhã. Parei de vomitar e a dor
diminuiu.
Pierre aproximou-se de mim, sentando-se ao meu lado na
cama e beijando minha testa. Ele colocou a mão sobre minha
barriga.
— E está tudo bem com o bebê?
— Acho que sim. Não senti nada relacionado a ele, apenas
no estômago.
O Príncipe se virou para minha dama de companhia.
— Nina, sei que sabe sobre nosso segredo. Thomás está no
corredor, esperando para entrar. Poderia vigiar a porta enquanto ele
entra por alguns minutos?
— É claro, Alteza.
Ela se levantou na mesma hora, eufórica. Acho que não
esperava que Pierre mencionasse nosso segredo.
— Ele está muito preocupado com você. Disse que quis vê-la
o dia inteiro e não pôde.
A porta se abriu e Thomás entrou, visivelmente preocupado.
— Antonella! Eu estava tão preocupado com você e o bebê
— disse ele, aproximando-se com rapidez.
— Estamos bem, não se preocupe.
— Eu não tinha certeza se Nina sabia, então não quis vir até
aqui.
— Ela sabe, podia ter vindo e tenho certeza de que ela o
ajudaria.
Thomás se ajoelhou ao lado da cama, segurando minha mão.
— Fico feliz que esteja bem. Acha que foi por conta da
gravidez? — questionou.
Respirei fundo, tomando coragem para falar algo que brotou
em minha cabeça durante a tarde.
— E se isso não é algo da gravidez, e se a Baronesa tentou
me envenenar? Foi ela quem trouxe meu desjejum hoje, afirmando
que só queria ajudar Nina. Eu fui desatenta e não percebi que podia
haver algo em meu chá.
Pierre negou com a cabeça.
— Veneno? Não acho que a Baronesa possa ter feito isso.
— Ela fez a Antonella cair do cavalo, acha mesmo que ela
não teria coragem de usar veneno? — disse Thomás.
— Não temos certeza se foi ela. Você a vigiou e não
encontrou nada suspeito.
— Não encontrei, mas tenho certeza de que foi ela.
Antonella, acredito em você, e vou conseguir provar que a Baronesa
estava colocando veneno em sua comida. Faz sentido você estar se
sentindo melhor depois de não ter comido nada, não ingeriu mais
veneno.
— Eu ainda acho que essa loucura não faz sentido. Qualquer
pessoa pode tê-la feito cair do cavalo, qualquer pessoa na cozinha
pode tê-la envenenado, se isso aconteceu realmente. — Pierre não
acreditava em uma palavra só que falávamos.
— Não se preocupe, eu vou provar. — Thomás não gostava
da Baronesa tanto quanto eu.
— Agora você precisa ir. Minha mãe está para me trazer o
caldo — avisei.
Thomás assentiu, levantando e depositando um beijo
demorado no topo da minha cabeça, saindo do quarto em seguida.
— Ele vai conseguir provar — falei.
— E se ela for mesmo uma assassina e isso estiver só
colocando Thomás em perigo?
— Se a Baronesa for mesmo uma assassina, qualquer
pessoa que entrar em seu caminho está em perigo.
Pierre prendeu a respiração por um momento, preocupado.
Talvez ele estivesse começando a acreditar que era impossível ele
conhecer verdadeiramente todas as pessoas que trabalhavam em
sua volta.
Capítulo 24
Eu precisava provar a culpa da Baronesa antes que isso
custasse a vida de Antonella. Não sabia o que ela era capaz de
fazer se alguém descobrisse seus planos, mas eu precisava tomar
cuidado com cada passo que dava.
Sabia que ela estava acompanhando a Rainha no almoço, e
essa era a minha hora de agir. Se eu encontrasse o veneno, podia
acusá-la de estar envenenando Antonella. Não sei o que fariam com
ela, mas esperava que, no mínimo, mandassem-na para bem longe
do castelo, apesar de achar que seria condenada à morte por estar
traindo a futura rainha consorte.
Os corredores estavam vazios por ser a hora do almoço.
Muitos dos criados estavam servindo a família real, ou descansando
por uma hora. Segui até o quarto da Baronesa, que estava com a
porta destrancada, para a minha sorte.
Entrei sorrateiramente. Era um cômodo enorme,
definitivamente maior do que a casa em que eu morava com a
minha mãe. Não sabia onde procurar, mas precisava começar.
Abri as gavetas ao lado da cama, mas não encontrei nada de
muito comprometedor. Dei uma olhada embaixo da cama e na
penteadeira, mas não havia nada. Abri um dos armários, dando uma
boa olhada, tentando não tirar nada do lugar. Aparentemente
também não encontrei nada, porém, quando minha mão bateu no
fundo de madeira, percebi que era falso.
Puxei e apertei todos os cantos para descobrir como tirá-lo,
até que consegui. Embaixo dele, encontrei uma caixa com diversos
frascos com rótulo de “perigo”. Abri um deles e cheirei, mas não
senti nada fora do comum, e isso o tornava ainda mais perigoso.
Estava pronto para chamar Pierre para dar uma olhada no
que encontrei, mas não pude dar mais nenhum passo. Senti uma
pancada forte em minha cabeça, e depois disso, tudo escuro.

[...]
Minha cabeça latejava, parecendo que explodiria a qualquer
instante. Era difícil abrir os olhos, mesmo o local parecendo escuro.
Enquanto recobrava a consciência, percebi que estava sentado em
uma cadeira, com as mãos amarradas para trás. Foi isso que me fez
despertar na mesma hora.
Eu parecia estar em uma cabana, mas nunca estive ali antes.
Era escuro, como já havia percebido com os olhos fechados,
mesmo assim, avistei um homem no canto do cômodo. Ele era alto
e forte, e parecia ser muito familiar. O homem deu dois passos em
minha direção, e então eu pude ver que era um dos guardas do
castelo.
— O que você quer comigo? — perguntei.
— Não sou eu quem quer você aqui. — Foi tudo o que disse.
— Ele é o seu menor problema no momento. — Ouvi uma
voz muito conhecida por mim.
A Baronesa entrou no lugar, com seu tom de voz irônico.
— E o que você pretende me deixando preso aqui? Eu sei
que você estava tentando matar Antonella!
— Eu não estava só tentando, eu vou. Em pouco tempo o
jantar será servido, e ela comerá um bom prato de veneno. Fui
ingênua da última vez e não coloquei a quantidade necessária para
matar, mas hoje não.
Estiquei os dedos e consegui dar uma leve puxada nas
amarras. Não estavam tão fortes como deveriam. Com discrição,
passei a tentar me soltar.
— Eu não vou deixar que você a mate! — gritei.
— Você não tem opção, estará morto em poucos minutos, e
você será o principal suspeito da morte de Antonella. O criado que
era apaixonado pelo Príncipe que servia e não aguentou vê-lo
casado com outra pessoa. Colocou veneno na comida dela e depois
se matou. Romântico ou muito dramático? Quando acharem os
frascos de veneno no seu quarto, ninguém terá dúvidas.
— Como você tem coragem de fazer isso com uma garota
tão doce quanto Antonella? O que ela fez para você?
Eu precisava ganhar tempo enquanto soltava a corda de
meus pulsos.
A Baronesa sorriu. Um sorriso maléfico que foi iluminado pela
luz da lua cheia.
— Você é apaixonado por ela também, não é? — Ela riu
irônica. — Ah, Thomás. Sua vida parece estar complicada, será um
favor que farei acabando com ela.
— Você não vai sair impune disso.
A Baronesa caminhou até à porta, lentamente.
— A única coisa que Antonella fez de errado foi se intrometer
entre mim e o papel de ser mãe da rainha consorte.
Ela saiu do lugar, mesmo com meus gritos de “espere”
ecoando por toda a cabana.
Virei minha atenção para o homem. Ele estava com uma
espada na mão.
— Acha que uma espadada no coração é teatral o suficiente?
— perguntou sarcástico.
— Por que está fazendo isso? Não pensou que se for pego
ajudando a matar a Princesa você será condenado a morte?
— Não se preocupe com os meus motivos, se preocupe em
como será recebido pelo Diabo quando chegar no inferno.
— E por que, exatamente, eu vou para o inferno? Por ser o
melhor criado do castelo? — ironizei.
Ele riu maléfico.
— Por se deitar com outro homem, é claro.
— Bom, então nos encontramos no inferno.
— Eu não iria para o mesmo lugar que uma abominação
como você.
Soltei as cordas e não perdi tempo. Em um movimento
rápido, levantei-me, peguei a cadeira e bati na cabeça do guarda
com toda a força que eu consegui. Ele caiu no chão, desacordado.
— É claro que não vamos para o mesmo lugar. Um assassino
vai para um bem pior — concluí, mesmo que ele não estivesse me
ouvindo.
Corri para fora da cabana. Eu conseguia ver as tochas do
castelo ao longe e agradeci por isso.
Tomando todo o fôlego que eu conseguia, comecei minha
corrida até lá. Já era hora do jantar e a Baronesa colocaria sem
plano em ação a qualquer minuto.
Só de pensar na possibilidade de não conseguir salvar
Antonella, meus olhos enchiam d’água. Eu não conseguia mais me
ver sem ela. Eu não conseguiria viver sem ela. Eu a amava,
profunda e verdadeiramente. Não suportaria ver seu corpo sendo
enterrado e ficando longe do meu para o resto da eternidade.
Sequei meus olhos. Não podia chorar agora. Precisava focar
em chegar no castelo.
Meus pulmões ardiam, junto com os músculos das minhas
pernas, mas eu não me importava.
Entrei pela porta do castelo, afoito e desesperado. Parei por
apenas um segundo para respirar, e segui o mais rápido que eu
pude para a sala de jantar.
Senti meu coração parar por um instante. Todos estavam na
sala e algo estava acontecendo. Eu podia ouvir os gritos da Rainha,
mas não conseguia entender.
Alguns criados bloqueavam minha visão, mas consegui
passar por eles e vi o Rei no chão, aparentemente morto.
Eu não entendia o que estava acontecendo. A Rainha
chorava de joelhos ao lado do corpo do marido, ao contrário de
Pierre, que estava estático, provavelmente em choque.
— Como isso pôde acontecer? Ele estava tão saudável! —
disse a Rainha, entre soluços.
— Não faz sentido. Foi veneno! Alguém deve ter colocado na
comida do Rei. — A mãe de Antonella se pronunciou. Era a pessoa
mais calma no momento.
— Não. Não foi colocado na comida dele, foi colocado na
minha. — Antonella olhou para a mãe, com os olhos cheios d’água.
— Era o meu prato, mãe. Nós trocamos porque havia castanhas no
meu e eu não gosto. Era para mim, mãe. Era para eu ter morrido.
A mulher abraçou a filha, tentando ampará-la enquanto a
garota chorava em seus braços.
Vi a Baronesa no canto do cômodo, pronta para escapar, mas
eu não deixaria.
— Foi ela! — gritei, apontando para a mulher. — Ela queria
envenenar Antonella para que sua filha se casasse com o Príncipe.
Ela fez Antonella cair do cavalo, colocou veneno no seu desjejum no
outro dia, e agora tentou mais uma vez.
— Você enlouqueceu, garoto? Eu jamais trairia a família real
dessa forma! Pois acho que foi você quem estava tentando matá-la
para esconder sua paixão...
— Guardas! — gritou Pierre, voltando para si e a
interrompendo antes que a Baronesa contasse nosso segredo. —
Segurem-na.
— Minha mãe não é uma assassina! Não é uma mulher fácil,
mas matar alguém? — Mariana protestou, segurando as lágrimas,
quase em desespero completo.
— Eu vi os frascos de veneno! Estão embaixo do fundo falso
em seu armário. Quando achei, a Baronesa e um dos guardas
bateram em mim para que eu desmaiasse, prenderam-me em uma
cabana perto do castelo e queriam me matar para que eu não
falasse. Consegui bater no homem e fugir, ele está lá desmaiado.
— Você lembra onde é essa cabana? — perguntou a mãe de
Antonella.
— Sim. É a oeste, perto da mata fechada.
Pierre virou-se para dois guardas.
— Mandem alguns homens até lá imediatamente. E vocês —
virou-se para os que seguravam a Baronesa —, vamos até os
aposentos dela agora mesmo.
— Isso é uma calúnia! Vocês não têm o direto de entrar em
meus aposentos — ela protestava, mas em vão.
Pierre tomou a frente, sendo seguido por quase todos que
estavam na sala de jantar.
Ele entrou no quarto da Baronesa, abrindo a porta com raiva,
e seguiu até o armário. Não foi necessário mais de cinco segundos
para que encontrasse o fundo falso e os frascos embaixo dele.
Pierre respirou fundo antes de se pronunciar:
— Vamos pedir para analisarem o conteúdo dos frascos,
enquanto isso, Amélie esperará presa em nossas masmorras. Se for
comprovado que é veneno, acusarei a Baronesa de alta traição e
pedirei a sentença de morte.
— Eu não aceito! Não podem fazer isso comigo! Sou a dama
de companhia da Rainha e exijo mais respeito! — gritava a mulher,
debatendo-se.
— Levem-na agora — exigiu Pierre.
A Baronesa se recusava a ser presa. Tentava se soltar dos
guardas, mas sem sucesso. Em um momento, um dos guardas
puxou o braço da mulher com força, fazendo a manga do vestido e
do chemise descer. Senti uma pontada na boca do estômago
quando a vi.
Ela tinha uma marca de nascença no braço, exatamente igual
à minha, no mesmo lugar.
Minha cabeça girou, e eu sentia que o ar que eu puxava não
era o suficiente.
Por que a Baronesa e eu tínhamos a mesma marca? Qual
era nosso nível de parentesco e por qual motivo nenhum de nós
parecia ter ideia daquilo?
Não tive muito tempo para pensar. Eles a levaram embora,
para a prisão embaixo do castelo, e eu permaneci lá: confuso,
sentindo-me culpado pela morte do Rei, e querendo amparar Pierre
de alguma forma, mesmo não podendo.
Capítulo 25
Eu me sentia vazio. Era como se uma pare de mim tivesse
morrido junto com meu pai. Apesar das nossas discussões nos
últimos anos por conta do meu casamento, ele era uma das
pessoas mais amorosas que já conheci. Quando eu tinha seis anos
e não dormia com medo de tempestades, ele fazia questão de
dispensar a babá e ficar a noite inteira ao meu lado, contando
histórias que agora me questiono se eram verdadeiras, ou foram
inventadas para me tranquilizar.
Seu corpo estava ali, no meio do salão, em cima de uma
mesa que era trazida para momentos como aquele. O padre dizia
palavras que eu não estava prestando atenção, e duvido que
alguém estivesse.
Antonella estava ao meu lado, quieta e de cabeça baixa,
ainda muito assustada por quase ter sido ela no lugar dele. Já
minha mãe, não conseguia controlar as lágrimas. Ela tentava manter
a pose, mas não conseguia. Nada havia a abalado tanto quanto
aquilo.
Depois da missa, as pessoas começaram a se retirar. O
enterro seria em seguida, mas apenas a família estaria presente.
Quando o salão estava vazio, e só eu, minha mãe e os
homens que os transportariam estavam lá, ela caminhou até o corpo
sem vida de seu marido, encarando-o e acariciando seu rosto
gelado.
— Mãe, precisamos ir — falei, baixo, calmo, tentando não
demonstrar minha tristeza.
— Ele era meu melhor amigo. A única pessoa que sempre
me acolheu em todos os momentos da minha vida.
Com passos lentos, caminhei até seu lado, tocando em seu
ombro e tentando demonstrar um pouco de apoio.
— Ele era um dos melhores reis que já tivemos.
— Eu já lhe contei como nos casamos?
— Acho que não com detalhes.
— Eu havia acabado de viver uma aventura com um homem
que eu achava que amava. Tinha dezesseis anos e achava que
sabia algo da vida. Nós planejamos fugir juntos, mas ele não teve
coragem e me abandonou antes disso. Fiquei devastada, mas não
por tê-lo perdido, mas pelo sentimento de rejeição e por saber que
eu estava destinada a me casar com alguém muito pior. Minha
família me prometeu para um conde com idade para ser meu avô,
mas isso não era o pior. Ele já havia se casado duas vezes, e as
duas morreram. Os boatos eram que o conde bateu tanto nelas, que
elas faleceram, já que sempre estavam com muitos hematomas
quando apareciam em público, e mesmo assim meus pais queriam
que eu me casasse com ele por causa do dinheiro e posses. Um
dia, houve um baile, e foi nele que conheci seu pai. Viramos amigos
na mesma noite e eu contei que em algumas semanas seria meu
casamento com o tal duque violento. No dia seguinte, seu pai fez
um pedido oficial de casamento. É claro que meus pais aceitaram,
ele era príncipe. Conversei com seu pai e disse que não estava
apaixonada por ele, e perguntei se era um problema. “Eu sei”, ele
disse. “Eu também não estou apaixonado por você, mas não podia
deixar uma garota tão doce se casar com aquele homem”. Ele me
salvou de um destino trágico e me proporcionou anos incríveis e um
filho maravilhoso.
— Eu... eu não sabia que a história de vocês foi construída
em cima de uma amizade. Achava que, com o tempo, ela foi
construída.
Ela negou com a cabeça, passando a mão pelo rosto do meu
pai mais uma vez.
— O tempo só a fortificou.
Não saber a história verdadeira dos meus pais àquela altura
da minha vida era vergonhoso. Porém, de alguma forma, meu
coração se sentia confortado em saber que ele viveu uma vida de
cumplicidade, e que recebeu todo o amor do mundo, mesmo que
não fosse algo romântico.

[...]
Não importava o quanto eu dissesse que aquilo era um
absurdo, eu estava me aprontando para minha coroação.
— Amélie ainda não foi condenada pelo que fez, e já estão
coroando o próximo rei! Deveria ter, no mínimo, alguns meses entre
a morte do anterior e a coroação do seguinte — resmunguei para
Thomás, que me ajudava com a roupa pesada.
— Acho que ninguém se importa se você está sofrendo ou
não, só precisam logo de um novo rei — disse ele.
— E isso é revoltante. — Suspirei. — Você irá, não é?
— Bom, metade da cidade vai estar lá, pelo menos a metade
nobre, então penso que, como seu criado, eu não poderia faltar.
— E como o amor da minha vida também, é claro.
Thomás sorriu, repousando uma de suas mãos em meu rosto
e me beijando.
Ele estava estranho depois do dia em que meu pai morreu,
do dia em que a Baronesa foi presa. Eu cogitei a ideia de perguntar
o motivo, mas se Thomás não havia falado em duas semanas, era
porque eu não deveria saber.
— Estarei lá.
A porta do quarto se abriu e nós nos afastamos rapidamente,
em um pulo.
— Já está pronto? Estão esperando por você — disse
Antonella, entrando afobada do cômodo.
— Você nos assustou! — reclamei.
— Desculpe, mas sua mãe não para de falar o quanto você
está atrasado.
— Então vamos lá.
Saímos do cômodo e seguimos para as carruagens. Thomás
iria com os outros criados, minha mãe acompanharia Antonella e
Nina, já eu chegaria à igreja na carruagem folheada a ouro.
Estava nervoso. Eu não precisava fazer muita coisa,
sinceramente, mas estava com medo de fazer algo errado, por
menor que fosse.
Enquanto minha carruagem seguia pelas ruas da cidade, as
pessoas paravam para olhar, provavelmente admiradas com a
riqueza da carruagem.
Quando paramos em frente à igreja, respirei fundo e tentei
manter a calma.
E se eu tropeçasse? E se a coroa caísse de minha cabeça?
E se eu pegasse o cetro da forma errada? E se alguém morresse no
meio da coroação? Havia tantas coisas que poderiam dar errado.
Normalmente eu não era o tipo de pessoa que pensava no lado
ruim, mas estava sendo impossível desde a morte do meu pai.
Saí da carruagem e subi a escadaria da igreja. Todos lá
dentro se levantaram para me receber. Caminhei até o altar,
ajoelhando-me perante a imagem de Jesus e fazendo uma breve
oração. Na verdade, minha oração não fazia sentido nenhum, eu
estava nervoso demais para isso e espero que Jesus me perdoe.
Virei-me para o arcebispo, e foi nesse momento que o cetro
de ouro me foi entregue. Com as mãos trêmulas, peguei a peça e fui
saudado pelas pessoas presentes. Sentei-me no trono, logo abaixo
da imagem de Jesus e fiz os juramentos que eu decorei somente
uma hora antes. Depois disso, o arcebispo colocou a coroa real em
minha cabeça. Ela era bem mais pesada do que imaginei.
Olhei para Antonella, que sorriu para mim, tentando me
passar um pouco da sua tranquilidade. Thomás estava no fundo da
igreja, em pé, junto com os outros criados que só estavam lá porque
eu insisti.
Então, era isso. Eu era o novo Rei de Pommer, e estava com
medo de ser um dos piores reis que aquele reino já teve. Sentia-me
pressionado para ser ainda melhor que meu pai, mesmo que eu não
soubesse como fazer isso.
Capítulo 26
A Baronesa foi condenada à morte. O conteúdo dos frascos
era um veneno potente que fez o coração do Rei bater tão rápido
que, por fim, parou. A cidade estava em luto, e o castelo também,
mesmo já tendo coroado o novo rei, Pierre. A Rainha, mesmo sem
nunca ter sido verdadeiramente apaixonada por seu marido, não
parava de chorar um segundo sequer. O carinho e admiração que
existia entre os dois era o suficiente para aquela perda ser uma das
piores de sua vida.
Antonella demorou alguns dias para se recuperar da ideia de
quase ter sido assassinada. Estava assustada e ainda desconfiava
de tudo e todos. Talvez demore um tempo para que supere, já eu
não superei o que vi.
A execução da Baronesa e do guarda que a ajudou seria
junto com o pôr do sol, em poucas horas, e eu ainda não tinha
questionado o porquê de termos marcas iguais.
Eu estava caminhando apressado pelos corredores, em
direção às masmorras, quando Pierre me parou.
— Ei! Por que toda essa pressa? — questionou.
— Estou indo falar com a Baronesa. Preciso perguntar sobre
uma coisa. — Tentei voltar a caminhar, mas ele me parou.
— O que é? É o motivo de você estar tão estranho nas
últimas semanas?
Suspirei.
— Eu devia ter lhe contado antes, mas no dia em que ela foi
presa, eu vi uma marca de nascença no braço dela, exatamente
igual à minha. Quero saber o motivo disso, se temos algum
parentesco.
— Eu vou com você.
— Está bem, mas eu quero falar com ela sozinho.
Pierre assentiu, então caminhamos lado a lado até às
masmorras.
Tomei fôlego e coragem antes de aparecer na frente da sua
cela.
A mulher estava sentada na tábua que podia chamar de
cama. Ela olhou para mim com desprezo.
— Veio se gabar da sua vitória? — perguntou.
— Não. Os motivos que me trazem aqui são muito maiores
do que a vontade de ver você sofrendo.
— E o que o traz aqui?
Desci a manga da minha roupa, revelando minha marca de
nascença.
— Quem é você e por que temos marcas iguais?
Ela pareceu surpresa no primeiro momento, mas logo sua
feição mudou e ela sorriu. Na verdade, seu sorriso me dava medo.
Era maléfico, maldoso e irônico, mesmo ela estando há minutos da
sua execução.
A Baronesa se levantou, caminhando até às grades.
— Então é você. Eu já estava desconfiando há um tempo. A
melhor escolha da minha vida foi deixá-lo com aquela mulher.
— Do que você está falando?
— Você é meu filho, Thomás, inclusive é a cara do inútil do
seu pai, aquele homem desgraçado que deve estar tomando chá
com o Diabo. Você foi a criança que saiu de meu ventre quase 21
anos atrás, e não Mariana. Eu passei a gravidez inteira idealizando
o casamento da minha filha com o Príncipe, e quando o bebê
nasceu era um menino, era você. Tudo o que eu precisava fazer era
achar uma menina para colocar em seu lugar, e eu achei. Uma bebê
loira, de olhos tão verdes quanto os seus. Naquele dia, eu troquei
vocês dois. Peguei a menina e o deixei com a mulher que cuidava
dela, sem que ela visse. Foi tão fácil, tão rápido.
— Não! — gritei. — Minha irmã foi levada para o castelo, foi o
que minha mãe disse, ela...
— Ela mentiu. Você é meu filho, não dela. Não que eu me
orgulhe disso.
Então esse era o motivo de Mariana me parecer tão familiar.
Ela tinha os mesmos olhos da minha mãe, a mulher que me criou e
que amei e admirei a vida inteira.
— Você fez tudo isso para ter uma filha casada com o futuro
rei? — questionei, incrédulo.
— Sim. Peguei Mariana para que ela se casasse com Pierre,
e agora, quem diria, o Rei é apaixonado pelo menino que
abandonei. A ironia do destino, não é?
— Parece que seu plano foi a sua ruína.
— E como daria certo? Mariana não fazia o mínimo esforço
para conquistar Pierre. Precisei matar Diana para evitar que o
Príncipe se casasse, e mesmo assim Mariana continuou sem
conseguir um único cortejo!
Antonella estava certa em tudo que disse! A Baronesa já era
uma assassina muito antes de tentar matá-la.
Pierre apareceu ao meu lado. Ele estava ouvindo tudo de
longe, e ouviu perfeitamente o momento em que o assassinato de
Diana foi confessado.
— Você a matou? Como teve coragem? Eu confiava em
você. Quando era pequeno, tinha a senhora como uma segunda
mãe. Sabia que, até então, a Diana era o mais perto que cheguei de
gostar de alguém.
Ele estava sendo forte, apesar de ser nítido a vontade que
tinha de chorar.
A Baronesa segurou as barras de ferro, aproximando-se de
Pierre o máximo que conseguiu.
— Se tivesse se casado com Mariana desde o início, seu pai
e Diana estariam vivos — afirmou em um sussurro, provocativa.
— Estou ansioso para ver sua cabeça rolar e saber que você
vai arder no fogo do inferno por toda a eternidade.
Ela sorriu, sarcástica.
— E para onde você acha que vai depois de se deitar com
outros homens e dividir sua esposa com um deles? Você é tão
pecador quanto eu.
Perguntava-me como ela sabia sobre tudo o que fazíamos.
Talvez sempre estivesse à espreita, vendo todos que entravam e
saíam do quarto do Príncipe.
— Eu não sou como você, e se Deus é justo, nunca mais
precisarei olhar para a sua cara!
A Baronesa abriu a boca para respondê-lo, mas o sino tocou
antes, indicando que a hora da execução chegou.
— Espero que aproveite o machado cortando a sua garganta
— falei, tão sarcástico quanto ela.
— Desejando a morte da sua mãe, Thomás?
— Você não é minha mãe. Minha mãe se chamava Antônia e
foi a mulher mais forte e incrível que eu já conheci.
Os guardas se aproximaram para levar a Baronesa até à sua
execução, e essa foi minha deixa.
Processar todas aquelas informações estava sendo uma
missão difícil, mas nada mudaria na minha vida depois daquilo, e de
preferência, nem na de Mariana, já que eu não pretendia contar
nada. Minha mãe continuava sendo a mulher que me criou. Um laço
sanguíneo não significava nada para mim, o que realmente
importava era o amor que recebi durante toda a minha vida. Eu
ainda assistiria à execução de Amélie com gosto e sentimento de
justiça.
Capítulo 27
As últimas semanas foram um verdadeiro inferno! Além de
precisar lidar com a morte do meu pai, também estava carregando
as responsabilidades de ser o novo rei.
Eu não estava pronto para isso. Pela saúde de meu pai ser
tão boa, eu não esperava ser rei nos próximos quinze anos, mas
agora eu não o tinha mais ao meu lado para me orientar. Thomás e
Antonella estavam sendo cruciais para que eu não enlouquecesse.
Todos já sabiam da gravidez de Antonella. Fora do castelo fui
elogiado por minha virilidade, já que todos pensavam que Antonella
engravidou na noite de núpcias. Entre os criados, sabiam que era
impossível o bebê ter sido concebido no dia do casamento e
Antonella já estar com uma barriga considerável, apesar de tentar
disfarçar com os vestidos. Todo caso, se aquela informação não
saísse no castelo, eu não me importava.
Mariana mal saía de seus aposentos. Depois da morte da sua
mãe, ela sentia que estava incomodando ficando no castelo, o que
não era verdade.
Dei duas batidas em sua porta e aguardei. Mariana abriu
poucos segundos depois. Parecia tão cabisbaixa quanto no dia da
execução da Baronesa.
— Precisa de algo, Majestade? — ela perguntou.
— Sim. Preciso conversar um pouco com você, jogar
conversa fora. O que acha?
— Vossa Majestade está com tempo livre para isso? Eu não
quero atrapalhar.
— Estou com duas horas livres na tarde de hoje. E não
precisa me tratar com tanta formalidade quando estivermos
sozinhos. Somos amigos desde a infância.
— Está bem, Pierre.
Sorri.
— Venha, vamos dar uma volta no jardim.
Ela assentiu, fechando a porta de seu quarto e me seguindo
pelos corredores.
— Como você está? — perguntei.
— Bem, na medida do possível.
— Não, quero saber de verdade. Como está lidando com
tudo?
— Você me julgaria se eu dissesse que senti um certo alívio?
Não me entenda mal, por favor. Eu amava minha mãe e chorei
muito com a sua execução, mas não ter que passar o dia inteiro
tentando agradá-la é um alívio, assim como saber que eu nunca
mais vou sentir o peso da sua mão em meu rosto e ouvir sua voz
dizendo o quanto eu sou inútil.
Eu jamais imaginei que a Baronesa fosse tão cruel com
Mariana.
— Desculpe-me por nunca ter ajudado. Eu não fazia ideia
sobre tudo isso.
— Ela escondia muito bem. Minha mãe era carinhosa comigo
quando eu era criança. Conforme fui crescendo, as coisas foram
mudando. — Mariana suspirou profundo. — O problema é que
agora eu não sei o que fazer da minha vida, não sei para aonde ir
ou o que fazer.
— Você pode ir para onde quiser, mas também pode ficar
aqui, se preferir. Não vamos virar as costas para você por algo que
não é culpa sua. Continue morando no castelo. Se quiser, podemos
arranjar alguns pretendentes para você.
— Eu duvido muito que alguém queira se casar com uma
mulher sem família.
— Mas você tem família. Nós somos a sua família, Mariana.
E eu quero ver alguém recusar um casamento com a protegida do
Rei.
Mariana sorriu, desviando o olhar para a grama recém
cortada. Era a primeira vez que eu a via sorrindo desde a morte da
Baronesa.
— Quem sabe eu consiga achar alguém por quem me
apaixone, e viva um casamento tão amoroso quanto o seu com a
Antonella.
— Você seria a pessoa mais sortuda do mundo se vivesse
um casamento como o nosso. Eu espero do fundo do meu coração
que você consiga.
Mariana era uma mulher adorável que não merecia ter sofrido
tudo aquilo nas mãos da Baronesa. Era triste pensar que se Amélie
não tivesse a tirado das mãos de sua verdadeira mãe, ela teria
vivido recebendo todo o amor que merece. Também é engraçado
pensar que eu teria conhecido Thomás de qualquer forma, que
mesmo com essa troca de bebês nos encontramos e nos
apaixonados, da mesma forma que provavelmente teria sido se
tivéssemos crescido juntos.

[...]
Logo eu teria uma reunião com os Reis dos dois reinos
vizinhos para decidirmos como seria o festival daquele ano. Pommer
era conhecido por exportar os melhores e mais variados tipos de
maçãs, os outros dois eram famosos por suas uvas — e tudo que
derivava dela — e laranjas. Anualmente fazíamos o Festival das
Frutas. Era uma comemoração bem aleatória, mas ajudava muito os
comerciantes dos três reinos. Pessoas de longe faziam uma viagem
até Pommer para provar os sucos, vinhos e doces feitos com
nossas frutas, ouvir uma boa música, dançar pelas ruas e ver
apresentações gratuitas de artistas iniciantes. Todos saiam
ganhando.
Enquanto minha reunião não chegava, eu aproveitaria minha
última hora livre da tarde ao lado de Antonella e Thomás na
biblioteca.
— Achei que não viria — resmungou Antonella, que estava
acompanhada de Nina e Thomás.
— Estava conversando um pouco com Mariana.
— E como ela está? Não a vi muito depois do que aconteceu.
— Acho que essa foi a forma que ela encontrou de enfrentar
o luto.
— Bom, eu vi um livro muito interessante entre as prateleiras,
lá no fundo da biblioteca. Gostaria de mostrar às Vossas Majestades
— disse Thomás.
— Nós adoraríamos dar uma olhada nesse livro tão
maravilhoso — afirmou Antonella.
Nina sentou-se em uma das cadeiras ao redor da mesa, já
estava acostumada a nos acobertar, enquanto nós três seguimos
para o fundo da biblioteca, entre as prateleiras mais altas, onde
nenhum olhar poderia chegar.
— Eu estava com saudades de você — falei, puxando
Thomás pela cintura e deixando nossos corpos colados, como eu
adorava fazer.
— Parece que há sempre alguém com os olhos na porta dos
aposentos do Rei.
— Nós daremos um jeito nisso — afirmei, antes de beijá-lo
com vontade.
— Só Deus sabe o quanto estou com saudade dos seus
lábios — disse Antonella, aproximando-se.
Thomás a segurou em seus braços e a beijou, como
ansiavam.
— Você precisa ir até nosso quarto, Thomás. Faz semanas
que não temos uma noite a três — falei.
— Eu sei, desculpem-me. No começo eu estava um pouco
atordoado, e acho que não me fez tão bem ver a execução da
Baronesa. Depois eu comecei a reparar que a barriga de Antonella
estava crescendo e eu não sei o que ela pode ou não fazer.
A garota soltou uma leve risada.
— Posso ficar em qualquer posição que não aperte a minha
barriga. Podem me tocar o quanto quiser.
— Podemos, mas sabemos como deixá-la pegando fogo sem
nem a tocar — falei.
Ela se virou para mim, com uma sobrancelha arqueada.
— Eu duvido — desafiou.
Thomás e eu nos entreolhamos, abrindo um sorrisinho
malicioso.
— Aposto que conseguimos fazê-la pingar de excitação sem
encostar as mãos em você.
— Não sou mais a menininha virgem que se excitava com um
simples olhar.
— Está com medo de perder a aposta? — Thomás provocou.
— É claro que não. O que está em jogo?
— Se nós ganharmos, você chupará nós dois até
despejarmos tudo em sua boca — falei, aproximando-me dela, mas
com as mãos para trás.
Antonella mordeu o lábio inferior, provavelmente imaginando
a cena.
— E se eu ganhar?
— Nós dois vamos chupar você ao mesmo tempo — disse
Thomás, também aproximando-se dela, um de cada lado.
— Apostado.
— Não quer saber o que vamos fazer com você depois
disso? — questionei.
— Conte-me.
Aproximei-me ainda mais, no limite para não encostar nela,
curvando-me levemente para sussurrar em seu ouvido.
— Enquanto eu me delicio entre as suas pernas, chupando-a
e lambendo-a, vou enfiar dois dedinhos na sua bunda, bem devagar
para você senti-los entrando e saindo.
— Eu vou estar beijando seu corpo, passando a boca por
toda a sua pele até chegar em seus seios. Vou passar a pontinha da
língua em seu mamilo várias vezes, brincando com ele, antes de
colocá-lo para dentro da boca e chupá-lo. — Thomás também
sussurrava.
Antonella fechou os olhos, respirando fundo.
— E depois? — perguntou.
— Depois eu vou enfiar meu pênis na sua boca, fazê-la
engolir tudo o que consegue, fazê-la engasgar e lacrimejar quando
eu tocar na sua garganta. — O loiro sabia o quando Antonella havia
gostado de fazer isso. Ela se sentia totalmente dominada dessa
forma, e adorava.
— E eu vou estar penetrando-a, deslizando para dentro de
você com força, agarrado em suas coxas e vendo seus seios
pulando para mim.
Ela continuava com os olhos fechados, provavelmente
imaginando tudo o que estávamos falando. Sua respiração falhava
vez ou outra, como se pudesse sentir nossos toques.
— O que farão depois? — ela perguntou.
— Depois vou mudar e passar a penetrar sua bunda, tão forte
quanto antes. E você vai gemer para nós e tentar gritar de prazer,
mas ainda estará chupando Thomás e não vai conseguir.
— Eu só vou sair da sua boca quando minha língua for parar
em seu clitóris. Pierre vai estar entrando e saindo de você enquanto
eu a chupo.
— E por fim, vamos chegar em nossos orgasmos juntos, e eu
vou despejar tudo dentro de você enquanto seu corpo todo
estremece e você grita.
— E agora queremos saber o quanto você está molhada.
— Lamento dizer que não conseguiram — disse ela.
— Eu só vou acreditar quando eu verificar. — Thomás subiu
a saia de Antonella lentamente, dando-lhe a chance de pará-lo, mas
ela queria aquilo tanto quanto ele.
O loiro enfiou a mão por debaixo do pano, e eu vi Antonella
arfar quando ele a tocou.
— E então? — questionei.
— Está tão molhada que meus dedos deslizariam para dentro
com tanta facilidade.
— Então aproveite e enfie dois — ela pediu.
Vê-los juntos me deixava duro como uma rocha, e era nítido
que Thomás estava na mesma situação que eu. Porém, antes que
pudéssemos fazer qualquer coisa, ouvimos uma voz muito
conhecida por nós:
— Mas eu achei que Antonella estivesse aqui com você. —
Era a mãe dela, minha sogra. Ela estava conversando com Nina.
— Ah, Deus! Minha mãe — a garota sussurrou, arrumando
sua saia no lugar. — Eu preciso ir até lá.
Antonella pegou um livro qualquer na prateleira e apressou-
se em ir até sua mãe.
— Aqui está, Nina. O livro que eu falei. Não estava
conseguindo achar, acho que mudaram de lugar. — Ela disfarçou
muito bem.
Thomás e eu nos entreolhamos e seguramos a risada.
— Acho que o labirinto é mais seguro — comentou, baixinho.
— Nosso próximo encontro será lá — afirmei.
Logo Antonella deu um jeito de sair da biblioteca com a sua
mãe, e Thomás e eu pudemos sair do nosso esconderijo sem
enfrentar perguntas.
Capítulo 28
Eu não via a hora do bebê nascer. Eu sentia como se tivesse
engolido uma melancia e agora estava a levando para cima e para
baixo dentro de mim. Tudo doía, era pesado e incômodo.
— Quando será que vai nascer? Eu não aguento mais! —
resmunguei.
Eu estava deitada na cama. Na verdade, nos últimos dias, eu
não gostava de sair muito de lá. Pierre e Thomás estavam ao meu
lado, acariciando minha barriga.
Estava mais fácil para Thomás entrar em nossos aposentos.
Parecia que a euforia de ter um rei novo já tinha acabado.
— O médico disse que essa semana, não é? — relembrou
Pierre.
— Você já sente as dores do parto? Conversei com algumas
mulheres que já tiveram filhos e elas falaram que sentiram as dores
dias antes — disse Thomás.
— Eu não sei. Sinto tantas dores que não sei identificar qual
é qual.
— E o nome? Você já escolheu? — perguntou o loiro.
— Não. Eu estou um pouco sem ideias ultimamente. Quais
nomes vocês gostam?
— Para menina, eu gostava muito de Georgiana, mas depois
de acontecimentos do último ano, acho melhor não colocar nenhum
nome que remeta a pessoas indesejadas — disse Pierre.
Ri fraco.
— Você tem razão. Que tal Louise?
— Eu gosto desse nome — afirmou o Rei.
— É um nome muito bonito. E se for um menino?
— Sinto que é uma menina. — Passei a mão pela enorme
barriga mais uma vez.
— Se ela for parecida com você, será a garotinha mais bela e
doce do mundo. — Thomás depositou um beijo em minha barriga,
por cima do tecido da minha camisola.
Não falávamos sobre a paternidade da criança. Os dois já
amavam aquele bebê, como seria possível afastar um deles nesse
momento, ou relembrar que apenas um era o pai?
— E a rainha mais mandona que esse reino já viu —
acrescentou Pierre.
Ri fraco.
— Com certeza ela será — afirmei.
Thomás se levantou da cama, mas eu segurei a sua mão.
— Eu preciso ir. O jantar se aproxima e tenho certeza que em
poucos minutos sua mãe estará aqui para a acompanhar durante a
sua refeição, Antonella.
— Não. Fique mais um pouco. Ainda está cedo. Ela não
aparecerá na próxima uma hora — insiste, ainda segurando sua
mão.
Ele a beijou, mas em seguida a soltou.
— Volto amanhã.
— Promete?
— Prometo?
— A última promessa você ainda não cumpriu.
— Mas eu vou. Eu prometo... de novo.
Observei Thomás até que ele saísse pela porta.
— Você nem tentou pedir para ele ficar — resmunguei para
Pierre.
— Mas ele está certo. Não podemos arriscar que alguém
descubra, seria um verdadeiro escândalo.
— E qual o problema disso? Seria um escândalo na hora,
mas depois as pessoas esqueceriam, assim como os criados
esqueceram quando nos viram na cama.
— Não, Antonella. É diferente.
— É diferente porque dessa vez afeta você. Quando era eu
quem estava sendo falada, você me pediu calma e disse que não
era nada, que todos esqueceriam, mas você não pode nem cogitar a
ideia de passar por algo semelhante, mesmo que seja para a nossa
felicidade.
— Então você está dizendo que eu sou egoísta?
Virei o rosto e encarei a porta. Eu não queria iniciar uma
discussão. Estava exausta demais para isso.
— Eu não quero brigar com você. — Foi tudo que eu disse.
Pierre se levantou da cama.
— Ótimo. O egoísta vai deixá-la sozinha para que pense em
novas formas de me ofender — ele ironizou.
— Pierre, pare com isso! Agora você está sendo infantil.
— Não é a primeira pessoa que me chamam de egoísta
infantil. — Ele saiu do quarto, batendo a porta.
Bufei, indignada.
Não era esse rumo que eu queria que a conversa tomasse.
Respirei fundo três vezes. Eu não iria me estressar. Estava
quase parindo e a última coisa que eu queria era ficar irritada.
Senti-me mais calma, mas foi aí que percebi que estava sim
sentindo algumas dores. Meu parto estava próximo, mas eu não
sabia o quanto.

[...]
Era impossível dormir. Virava-me de um lado para o outro na
cama, tentando achar uma posição que deixasse minha barriga
confortável, mas era impossível.
Pierre dormia tranquilamente ao meu lado, e não sei como
não acordou com meus movimentos.
Estava com dores que iam e vinham. Eram fracas, mas mais
fortes do que estava durante a tarde.
Passei a mão pela barriga.
— Deixa a sua mãe dormir um pouco. Ela está exausta —
cochichei.
Ganhei mais um momento de dor como resposta.
Levantei-me da cama, caminhando lentamente pelo quarto
até chegar na janela. Era uma noite escura, sem a lua brilhando lá
em cima, e isso era até um pouco assustador de encarar, porém, a
brisa do inverno ajudou-me a respirar.
Foi então que eu senti uma das coisas que mais me
assombraram durante a gravidez: a bolsa estourando e o líquido
escorrendo por minhas pernas.
Eu estava em trabalho de parto!
— Pierre! Acorde — gritei. — Vamos logo, acorde!
— O que? — perguntou, atordoado. — O que está
acontecendo?
— Eu estou dando à luz! Chame logo a parteira!
— Dando à luz? — Ele ainda estava sonolento, com
dificuldade de assimilar o que eu estava dizendo. — Ah, meu Deus!
O bebê está nascendo?
— Sim, está nascendo!
— Eu vou... eu vou chamar a parteira. E sua mãe. E a Nina
também. Ah, Deus!
— Ande logo!
Voltei a deitar na cama enquanto esperava que alguém
chegasse.
Nina foi a primeira, já que seu quarto era ao lado do meu. Ela
parecia tão apavorada quanto eu. Nunca viu um parto na vida, e
sempre dizia o quanto isso parecia doloroso.
Logo depois chegou minha mãe, animada e festejando. Senti
um frio percorrer meu corpo por vê-la tão feliz. Se o bebê não fosse
de Pierre seria a maior decepção da vida dela.
— Isso demora muito, mãe? Eu não aguento mais! —
resmunguei, sentindo como se o bebê fosse me rasgar ao meio para
sair.
— Quando eu tive você, foi rápido. Em duas horas você já
estava em meus braços, mas quando foi a sua irmã, fiquei em
trabalho de parto por mais de vinte e quatro horas. Acharam que eu
não conseguiria, que ela não sairia, mas estavam errados.
— Então existe a possibilidade de o bebê ficar trancado lá
dentro? — questionei, incrédula.
— Em pouco tempo você estará com seu filho nos braços, só
pense nisso.
— Como eu vou pensar em alguma coisa boa se parece que
vou morrer de tanta dor?
A parteira era uma mulher idosa. Disse que foi ela quem
trouxe o Pierre ao mundo quando sua mãe, que também estava lá,
ficou horas achando que não conseguiria ter o bebê.
Sentei-me na cama, com os pés no chão, segurando a mão
de Nina enquanto a parteira massageava minhas costas com
alguma erva que eu não identifiquei no momento. Ela tentava
amenizar minhas dores, mas não tenho certeza se estava
funcionando.
— Nina, eu não vou conseguir, estou exausta — murmurei
para a mulher ao meu lado.
— Você vai conseguir. Tenha fé, Majestade.
— Daqui a pouco vou implorar para que me cortem e tirem o
bebê.
— Nem diga uma coisa dessas!
Eu resmungava o tempo inteiro sobre o quanto estava
doendo, mas depois de algumas horas eu tinha a impressão de que
ninguém estava me ouvindo.
Tentei tomar um caldo entre uma dor e outra, mas não
consegui engolir muita coisa. Sentia que eu vomitaria a qualquer
momento.
Caminhei pelo quarto, recebi mais massagem, panos quentes
em volta da barriga, chás, mas nada parecia o suficiente para mim.
Vi o dia amanhecer, o sol ficar alto no céu e depois começar
a descer de novo. Minha mãe, minha sogra e minha dama de
companhia precisaram sair por alguns minutos para comer alguma
coisa, mas a parteira estava se contentando com chás.
Pierre estava do lado de fora do quarto, sendo amparado por
Mariana e Thomás, apesar de o seu criado provavelmente estar tão
nervoso quanto ele.
O sol estava se pondo e minha vontade era de morrer.
— É agora — disse a parteira. — O bebê está tentando sair,
Majestade. Eu preciso que faça muita força.
Assenti.
Deitada na cama, com as pernas abertas e segurando a mão
de minha mãe, fiz toda a força que consegui. Com meus pulmões
ardendo de tanto gritar de dor, com a sensação de estar sendo
rasgada, com o desespero de pensar que eu provavelmente
passaria por isso de novo um dia, fiz mais e mais força.
— Continue assim, Majestade. Está quase nascendo — disse
Nina.
Para mim, pareceu uma eternidade, mas não acho que tenha
passado mais de três minutos.
Então, de uma hora para outra, senti um alívio. Uma pressão
saindo de mim, seguido do choro de um bebê. Do meu bebê.
— É uma menina! — avisou a parteira, que a enrolou em um
pano limpo na mesma hora.
Eu estava em um tipo de transe, todas as vozes pareciam
distantes de mim, e tudo o que eu ouvia era o choro da minha filha.
Senti o medo tomando conta do meu corpo. Eu não conseguia vê-la,
não sabia como ela era.
Sinceramente, não vi o que foi feito depois, só me importei
com o momento em que a colocaram em meus braços.
Senti as lágrimas descendo por meu rosto e um suspiro de
alívio sair de meus pulmões.
Ela era filha de Pierre. Sua pele era apenas um tom mais
clara do que a dele, seu nariz era largo e seu cabelo castanho
escuro e crespo.
— Ela é igualzinha ao Pierre — comentei, sem tirar meus
olhos dela.
— Você a carrega dentro de você por meses e ela nasce a
cara do pai — brincou minha mãe.
— Chamem Pierre, por favor — pedi.
Nina se prontificou na mesma hora. Ela abriu a porta eufórica
e anunciou “é uma menina”.
Meu marido entrou no quarto na mesma hora, e eu pude ver
Thomás tentando enxergar alguma coisa da porta. Isso partiu meu
coração de todas as formas possíveis.
— Então você acertou. É mesmo uma menina. — Ele se
aproximou de nós, tocando com a maior delicadeza do mundo na
testinha dela.
— Louise. E o pior é que ela é idêntica a você.
Pierre respirou fundo, piscando diversas vezes para secar as
lágrimas que se formaram ao olhar para a sua filha.
— Sim, ela é — afirmou.
Ele depositou um longo beijo em minha testa.
— Eu estou tão cansada — falei, baixinho.
— Você foi uma mulher muito forte nas últimas horas.
Descanse um pouco.
— Mostre-a para o Thomás... e para a Mariana também.
— Eu vou mostrar, não se preocupe.
Pierre pegou Louise de meu colo, e eu senti que dormiria na
mesma hora.
Olhei para o lado e vi o exato momento em que Thomás
colocou os olhos na pequena. Ele parecia tão feliz, mas consegui
ver em seu olhar um resquício de descontentamento por não ser o
pai.
Eu não queria que nenhum dos dois ficasse magoado, mas
era impossível.
Encarei o teto. A noite já havia caído, e tudo que eu queria
fazer era dormir pelas próximas doze horas.
Capítulo 29
Eu tentava me convencer de que eu estava feliz, mas não era
verdade. Que tipo de homem eu seria se não admitisse a mim
mesmo que eu estava com inveja?
Era o batizado de Louise. Havia tantas pessoas no jardim do
castelo que eu estava rezando para que nenhuma das plantas fosse
danificada. Pierre e Antonella eram o centro das atenções. Ela
segurava Louise e sorria para todos como se não estivesse exausta
das suas primeiras noites sendo mãe.
Segurei Louise apenas duas vezes. Uma logo após seu
nascimento, quando Pierre a levou para que Mariana e eu a
conhecêssemos, e depois em um momento perto da madrugada,
quando todos estavam dormindo e Antonella me chamou para
conhecê-la melhor. Ela era igual a Pierre.
Eu sabia que com um bebê recém-nascido eu ficaria um
pouco de lado na vida deles. Quer dizer, eles eram casados, o Rei e
a Rainha de Pommer. Tinham eventos, reuniões e viagens para
fazerem juntos, enquanto eu ficava no castelo, limpando o quarto
deles e cuidando das flores e arbustos. A culpa definitivamente não
era de Louise. Eu jamais poderia culpar um bebê tão especial como
ela. Essa situação já estava se estendendo há alguns meses, desde
um pouco depois do casamento.
— Você está bem, Thomás? — Ouvi a voz de Mariana me
tirar de meus pensamentos.
— Ah! Olá, senhorita. Eu estou bem. Por que não estaria?
— Sinto que está um pouco cabisbaixo durante o batizado.
— Problemas da vida. Acho que todos temos, não é?
— Com certeza. Amor?
— Pode se dizer que sim
— Eu sinto muito. Espero que tudo se resolva para você.
— Eu também espero, mas não tenho certeza se vai
acontecer. Mas e a senhorita? Percebi uma troca de olhares com o
filho do Marquês de Pommer.
Suas bochechas coraram por um instante.
— Eu já tinha o visto algumas vezes no castelo, em bailes
também, mas nunca notei o quanto ele é bonito.
— Futuro marquês, bonito e está vindo na nossa direção.
— O que?
Mariana não teve muito tempo para pensar. Quando menos
esperava, ele parou em sua frente.
— Com licença. Gostaria de saber se a senhorita quer me
acompanhar em um passeio pelo jardim. Disseram-me que as
tulipas estão extraordinárias — disse ele.
— Sim, é claro. Realmente, as tulipas estão lindas. Deram
um toque colorido ao jardim.
O tal homem ofereceu o braço para Mariana e ela aceitou. A
mulher sorriu para mim antes de segui-lo, e eu sorri de volta,
tentando encorajá-la.
Eu esperava muito que ela vivesse um casamento tranquilo e
cheio de amor. Esperava que Mariana nunca sentisse o que eu
estava sentindo naquele exato momento: insegurança.
Eu deveria imaginar que uma relação entre nós três não daria
certo. Eu amava Antonella e Pierre, e não tinha dúvidas de que eles
sentiam o mesmo por mim, mas era impossível manter uma relação
dessas em segredo, principalmente sendo o Rei, com todos a sua
volta prestando atenção em cada passo que você dava. Era só uma
questão de tempo até que viessem falar comigo sobre o fim do
nosso relacionamento.
Eu queria ser a pessoa que dava um basta, mas não
conseguia. Apesar de saber que chegaria ao final em breve, eu
queria aproveitar o tempo que me restava.
Passei a tarde inteira servindo os convidados, sem muito
ânimo para ficar jogando conversa fora. Estava cansado. O dia foi
exaustivo. Vi o momento em que o filho do Marquês deu um beijo na
mão de Mariana e ela ficou mais vermelha do que um tomate.
Peguei-me sorrindo quando vi essa cena.
Quando a festa estava perto do fim, Antonella já não
mantinha mais a pose de mãe e Rainha feliz. Na verdade, em um
canto, sentada em uma das cadeiras ao lado de Nina, ela parecia
estar prestes a entrar em desespero com Louise chorando sem
parar. Ninguém parou para ajudá-la. Pierre estava conversando do
outro lado do jardim, a sogra e a mãe de Antonella estavam indo em
direção às tulipas, e Nina não tinha ideia do que fazer com uma
criança.
Ignorando toda a minha lamentação daquele dia, fui até lá.
— Está tudo bem? — perguntei.
— Sim... não! A babá só chega amanhã, mas eu não consigo
fazer a Louise parar de chorar, e Nina muito menos. E ela chora, e
chora, e eu não sei o que fazer, eu não sei qual é o problema, eu já
dei de mamar, já limpei a fralda, mas eu não consigo fazer ela parar!
— Antonella começaria a chorar com a filha a qualquer momento.
— Eu posso tentar?
— Não sabia que lidava com crianças.
— Quando eu tinha uns doze anos e ia com minha mãe até
às vendas, eu ficava de olhos nos bebês e crianças menores para
as mães conseguirem trabalhar.
— Mas você era só uma criança, não deveria estar cuidando
de outras.
— Não havia muitas opções.
— Está bem.
Antonella olhou mais uma vez para sua filha antes de se
levantar da cadeira. Ela colocou Louise em meu colo.
— Já tentou cantar para ela? Ela pode só estar estressada
com toda essa movimentação. Minha mãe cantava para mim
quando eu estava irritado e parecia que tudo melhorava. Eu tentava
fazer isso com as crianças que eu cuidava e dava certo também.
— Não. Eu nem sei uma música para cantar a ela, mas tente,
por favor.
Olhei para a bebê em meus braços. Tão pequeninha,
provavelmente só querendo descansar sem todo aquele barulho em
sua volta.
Com delicadeza, balancei-a de um lado para o outro, bem
devagar. Com a voz leve, comecei a música que minha mãe
cantava. Era sobre flores, o sol e o céu. A letra nem ao menos fazia
sentido, mas a melodia tranquilizava qualquer um.
Quando Louise ouviu o som da minha voz, seu choro
diminuiu. Não gritava mais, apenas leves murmúrios.
Sentei-me em uma das cadeiras livres que estavam ali e
continuei com a cantoria.
Ela parecia um anjo. Apesar de ser muito parecida com
Pierre, eu também conseguia ver Antonella nela, e era essa
combinação que deixava ela tão graciosa.
Aos poucos, a bebê fechou os olhinhos castanhos e entrou
no sono que tanto queria.
— Acho melhor tirá-la daqui. Talvez o barulho estivesse a
incomodando — avisei.
— Obrigada, Thomás. Acho que vou chamá-lo mais vezes
para acalmá-la — brincou Antonella.
— Não seria incômodo nenhum ajudar com Louise quando
você precisar.
Coloquei a criança no colo de Antonella, que sorriu e foi para
dentro do castelo o mais rápido possível, antes que a filha
acordasse.
— Você é muito bom com crianças. — Nina se pronunciou.
— Bom, é preciso estar preparado para quando eu tiver meus
filhos.
— Ficou chateado, não é? Por Louise ser filha de Pierre.
— Admito que, no fundo, eu fiquei, mas foi a melhor coisa
que podia acontecer. Não teria como Antonella explicar um bebê
parecido comigo.
— Você tem razão.
Suspirei, tentando tirar toda a tensão do meu corpo.
Eu precisava superar o fato de Louise não ser minha filha, e
que provavelmente Antonella nunca teria um filho meu.
Capítulo 30
Eu não fazia ideia de como ter um bebê podia ser
estressante. Louise tinha uma babá que ficava ao seu lado quase o
tempo inteiro, mas ainda estava me enlouquecendo.
Minha mãe já havia voltado para Florença, mas eu tinha a
impressão de que suas dicas não funcionavam muito com minha
filha.
Louise chorava o tempo inteiro, e eu não sabia o que fazer.
Não sabia se era fome, dor, estresse ou sono. Não saber o que ela
queria muitas vezes me fazia chorar junto, e era isso que havia
acabado de acontecer.
Trêmula e com o rosto molhado pelas lágrimas, deixei Louise
com a babá e saí do castelo, seguindo para o jardim, tentando tomar
um pouco de ar.
Eu me sentia culpada por estar tão cansada e estressada.
Todos sempre falavam de como ser mãe era maravilhoso, uma
benção, mas não era o que eu sentia. Minha filha é a pessoa que eu
mais amo no mundo inteiro, mas as responsabilidades e pressão de
cuidar de um bebê estavam acabando comigo. Eu nem conseguia
imaginar como era a vida de uma mãe que não tinha toda a ajuda e
suporte que eu tinha.
— Antonella? Aconteceu alguma coisa? — Ouvi a voz de
Thomás logo atrás de mim.
Vire-me em sua direção e soltei todo o ar de meus pulmões.
— Não aconteceu nada. Eu só...
— Está se sentindo sobrecarregada? — ele perguntou e eu
assenti.
— Parece que preciso carregar o mundo em minhas costas,
mas só estou tentando lidar com minha bebê. Ainda não tive muitas
obrigações como rainha por causa da gravidez, mas em breve terei,
e não quero nem pensar nisso.
— Como assim “só” está tentando lidar com uma bebê
recém-nascida? Antonella, isso já é muita coisa. Você é tão jovem, a
mais nova entre os irmãos, nunca precisou interagir com um bebê
antes de tudo isso. Você está sendo uma mulher muito forte.
Vi Pierre se aproximando. Ele parecia preocupado, afoito.
— Antonella, está tudo bem? Fui até o quarto e a babá disse
que você saiu de lá aos prantos.
Eu suspirei.
— Venham. Eu quero um pouco de privacidade com vocês —
falei.
Os dois me seguiram pelo jardim, até entrarmos no labirinto,
onde nenhum olhar curioso podia nos alcançar.
— Você precisa de alguma coisa? Posso chamar mais uma
babá para ajudá-la — disse Pierre.
— Não! Eu já me sinto inútil o suficiente com uma só babá.
Eu deveria cuidar da minha filha, mas não consigo fazer isso
sozinha porque começo a chorar. E a culpa que eu sinto por estar
aqui, e não lá com ela, é torturante. Eu não tenho tempo para nada,
nem para vocês dois, muito menos para aqueles momentos
relaxantes com os banhos com rosas, mas eu deveria ter. Pagamos
uma mulher para me ajudar para que eu possa ter tempo de fazer
tudo isso, mas eu não consigo ficar longe da Louise. Ela já
completou dois meses, e tudo o que eu fiz nesse tempo todo foi ficar
preocupada e chorar.
Eu estava trêmula de novo e senti um nó se formando em
minha garganta, mas eu não queria mais chorar.
— Eu não sabia que você estava se sentindo assim — Pierre
sussurrou.
— Ninguém sabia, nem mesmo Nina. Apenas a babá me vê
aos prantos. Mary tenta me tranquilizar, sempre menciona que já
cuidou de muitos bebês, mas, de qualquer forma, eu fico com
receio.
— Antonella, nós sentimos muito por não estar apoiando
você como deveríamos. — Thomás parecia se sentir culpado.
— Está tudo bem. Eu deveria ter procurado por vocês, dito
que estava tão estressada.
— Nós ajudaríamos você a relaxar — disse Pierre.
Um leve sorriso se formou em meus lábios.
— Em qual sentido? — brinquei.
Os dois soltaram uma risada curta.
— Do jeito que você quiser.
Aproximei-me dos dois, repousando minhas mãos em suas
bochechas e acariciando.
Beijei os lábios de Thomás, lentamente e com delicadeza.
Depois fiz o mesmo com Pierre.
Guiei seus rostos para que encarassem um ao outro.
— Vocês também estão distantes um do outro nos últimos
tempos — falei.
— Desculpe-me, Thomás. Eu não queria me afastar de você.
— Tudo bem, eu entendo. Percebo como você está atarefado
sendo o novo rei. — Ele suspirou. — Além disso, eu já imaginava
que isso iria acontecer, que nos afastaríamos, principalmente depois
que vocês se casassem. É compreensível que, no final, afastem-se
de mim.
— Mas nós não queremos isso! — falei.
— Thomás! Nunca pretendemos nos afastar de você. Sei que
agora, pelo casamento, Antonella e eu parecemos muito mais
próximos e passamos mais tempo juntos sem você, mas não é
escolha nossa, entenda.
— É impossível mantermos nossa relação da mesma forma
que era antes. Não posso estar com vocês quando viajarem, ou se
Antonella tiver um filho meu, terei que fingir que não sou o pai.
Nosso relacionamento deu certo no começo, mas não acho que
funcione a longo prazo.
— Então você está dizendo que não nos quer mais? —
perguntei, sentindo um nó na garganta mais uma vez.
— Não! Eu amo vocês dois, e não quero ficar longe de vocês.
Sei que com o tempo isso vai desandar e eu não vou aguentar a
insegurança que me assombra, mas quero aproveitar cada segundo
até lá.
Pierre segurou o rosto de Thomás com as duas mãos e o fez
encará-lo.
— Entenda, Thomás, eu te amo com todo o meu coração
desde o primeiro momento em que coloquei meus olhos em você,
quando o vi ajudando o jardineiro a colher as rosas, e depois as
deixou em meu quarto. Eu amei você durante cada segundo dos
três últimos anos, e eu espero que saiba que vou continuar até o
momento em que eu deixar esse mundo.
O Rei o beijou. Não um beijo malicioso, mas um beijo
apaixonado, carregado de saudade por estarem há semanas sem
encostar um no outro.
Senti meus olhos lacrimejarem. Eu estava meio sentimental
nos últimos meses, e presenciar uma declaração de amor tão bonita
como aquela deixou meu coração transbordando de emoção.
Quando se separaram, Thomás olhou para mim e arqueou
uma sobrancelha.
— Você está chorando? — indagou.
— Foi tão fofinho, desculpem-me, eu estou ficando
emocionada muito fácil ultimamente.
— Venha cá. — Pierre segurou minha mão e me puxou para
perto deles, esmagando-me em um abraço entre os dois. — E eu
também amo você, Antonella. Tudo bem, eu admito que não foi à
primeira vista porque eu não achava que era possível amar duas
pessoas ao mesmo tempo. Mas quando eu conheci sua doçura, sua
graciosidade, foi impossível não morrer de amores.
— E você me fez querer sair correndo no primeiro momento
que nos conhecemos! — resmunguei.
— Eu sei, nosso plano foi horrível!
— Plano?
— Pierre e eu achamos que se ele fosse chato o suficiente
você desistiria do casamento, mas começamos a nos sentir
culpados na metade do caminho — Thomás explicou.
— Foi um plano horrível! — choraminguei.
— Eu sei, eu sei. Desculpe. — O loiro me puxou para um
abraço e acariciou minhas costas. — Eu também amo vocês. Muito,
por sinal.
— Bom, eu tenho que admitir que primeiro me apaixonei por
fazer sexo com vocês, e depois por vocês de fato, mas eu os amo
muito, está bem? Isso não muda meu sentimento.
— É claro que não.
Thomás acariciou minha bochecha, beijando meus lábios em
seguida. Desci minha mão por todo o seu corpo, até chegar em seu
pênis por cima da roupa.
— Não sei se podemos arriscar que tenha um filho meu —
ele sussurrou.
Encarei seus olhos.
— Louise também é sua filha.
— É assim que eu a considero.
Assenti diversas vezes seguidas.
— Ela é, mas eu também quero um filho com seus olhinhos
verdes.
Thomás voltou a me beijar, dessa vez mais sedento.
Senti o corpo de Pierre colando no meu. E era assim que eu
adorava estar: entre os dois.
O Rei passeou com suas mãos por meu corpo, chegando em
meus seios e os apertando com leveza, mas o suficiente para eu
soltar um gemido de dor.
— Estão doloridos — expliquei.
— Desculpe, eu não sabia.
— Está tudo bem, só evite tocar neles.
Pierre beijou meu ombro, roçando os lábios pela pele do meu
pescoço enquanto minha boca não saía da de Thomás. Ele levantou
meu vestido e meu chemise, deixando minha bunda à mostra e à
sua disposição. Uma de suas mãos segurava os tecidos da minha
roupa, já a outra passava por minha pele e deixava tapas fortes em
mim.
Thomás enfiou a mão por debaixo de minhas saias e me
acariciou. Primeiro leve e com delicadeza, mas conforme minha
respiração acelerou, seus movimentos fizeram a mesma coisa.
— Eu estava sentindo falta disso, de ter vocês dois — falei,
arfando.
Pierre ajoelhou-se atrás de mim, apertando-me.
— Eu também estava com saudades disso. Nós três juntos.
Ele segurou minha bunda com as duas mãos e lambeu bem
no meio dela. Meu corpo inteiro tremeu ao sentir a pontinha da sua
língua quente e molhada entrando em mim.
— Eu estava com tantas saudades de vê-la gemendo na
minha frente — disse Thomás.
O loiro enfiou dois dedos em mim de uma só vez enquanto
Pierre colocou um só. Quase ao mesmo tempo, sincronizados.
Parece que haviam combinado de me enlouquecer.
Eles entravam e saiam na mesma velocidade, um de cada
vez, fazendo minhas pernas tremerem.
Pierre voltou a ficar em pé atrás de mim, no mesmo momento
em que Thomás voltou a acariciar meu clitóris. Senti o pênis de
Pierre se esfregar em mim, espalhando minha excitação até minha
bunda e penetrando-a bem devagar.
— Se continuarem assim, eu não vou demorar muito para ter
um orgasmo — falei, fechando os olhos com força e sentindo cada
centímetro de Pierre entrando.
— Não queria que a ajudássemos a relaxar? Agora precisa
aguentar nós dois — disse Thomás.
Pierre puxou meus braços para trás e segurou meus pulsos,
impedindo que eu me movesse.
— Mais rápido, por favor — implorei.
— Você sabe o que está pedindo, Antonella? — Pierre
indagou.
— Eu sei muito bem.
Ele apertou suas mãos em volta dos meus pulsos e colocou
velocidade em suas estocadas. Era possível ouvir nossas peles se
chocando com violência.
Thomás parou de me tocar, mas agora me beijava ainda mais
intensamente. Pierre me penetrou uma última vez, forte e fundo,
antes de sair de dentro de mim. Talvez estivesse tentando se conter.
Foi a chance que vi para mudar as posições.
Puxei Thomás para o chão e fiz com que se sentasse na
terra, escorado nos arbustos que formavam o labirinto. Ele pareceu
gostar da minha iniciativa.
— Espero que esteja pronto para dar meu bebê de olhos
verdes — falei, subindo em cima dele.
— Estou mais do que pronto.
Ele mesmo colocou seu pênis para fora, e então o posicionei
em minha entrada e me sentei devagar. Suas mãos apertaram
minhas coxas com força enquanto eu movia meu quadril para frente
e para trás.
Pierre ficou em pé ao meu lado, e a primeira coisa que fiz foi
abocanhá-lo, mas isso não durou por muito tempo. Apesar de eu
adorar chupá-lo, Thomás parecia tão sedento quanto eu. Acenei
com a cabeça e Pierre entendeu o que era para fazer. Ele ficou ao
lado do loiro, que não pensou duas vezes antes de enfiar todo o seu
pênis na boca.
Eu alternava entre cavalgar e mover apenas meu quadril para
frente e para trás. Thomás alternava em encarar Pierre e a mim, já o
Rei não tirava os olhos de seu criado, puxando seus cabelos e
controlando a velocidade e profundidade.
Pierre não aguentou muito mais que isso. Soltou um gemido
e despejou tudo o que podia na boca de Thomás, que não hesitou
em se deliciar. Curvei-me e o beijei, sentindo o gosto do outro em
seus lábios, deixando-me ainda mais perto de chegar em meu
ápice.
As mãos de Thomás arrastaram-se por minha bunda e as
apertaram forte enquanto eu dava ainda mais intensidade para os
meus movimentos.
— Eu quero tudo dentro de mim — sussurrei, desgrudando
nossos lábios por apenas um momento.
Segundos depois, meu corpo foi atingido pela onda de prazer.
Tentei não gemer alto para não atrair nenhum tipo de atenção, mas
foi quase inevitável quando eu senti Thomás despejando-se em
mim, o mais fundo que eu aguentei.
Ofegante e exausta, demorei um momento para sair de cima
dele.
— Veja só! Meu vestido está todo sujo de terra —
resmunguei, retomando o fôlego.
— Eu não sei o porquê de termos pensado que fazer sexo
entre os arbustos seria uma boa ideia — disse Thomás.
— Ah, vamos, foi empolgante! Ao ar livre, sentindo uma brisa.
Podemos repetir. — Pierre parecia ter gostado muito do que
havíamos acabado de fazer.
— Bom, eu relaxei. Agradeço a ajudinha.
— Agora prometa que descansará a noite inteira, por favor —
pediu o loiro, levantando-se.
— Por que eu prometeria algo se você não cumpriu o que me
prometeu há meses? Não dormiu conosco uma noite sequer —
reclamei.
— Essa noite podia ser hoje — sugeriu Pierre.
— E se qualquer pessoa bater na porta por qualquer motivo?
— Thomás questionou.
— Ninguém vai, mas se acontecer, você se esconde
facilmente.
Ele parou para pensar por alguns segundos.
— Está bem, mas ainda acho que pode dar errado.
Abracei Thomás na mesma hora, forte. Desde o começo,
tudo o que eu sempre quis foi passar uma noite inteira ao lado dos
dois.

[...]
Era a primeira noite que eu pedia para Mary ficar com Louise
durante toda a madrugada. Por um momento, senti que eu era a pior
mãe do mundo, mas estava tentando me convencer de que era
apenas uma noite, e que qualquer pessoa merecia uma folga.
— Acha que ele virá? — perguntei para Pierre enquanto me
deitava ao seu lado na cama.
— Acho que sim. Ele precisa vir.
— Separei um travesseiro para ele, espero que ache
confortável.
— Você já reparou em como é os quartos dos criados? Tenho
certeza que ele achará confortável.
— É tão ruim assim? Deveria mudar isso.
— Eu vou. O mais rápido possível.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, a porta se
abriu e Thomás entrou.
— Espero que ninguém tenha me visto — disse ele,
sorridente.
— Tenho certeza que não. Venha, deite-se aqui — falei,
dando duas batidinhas no espaço ao meu lado.
Ainda receoso, ele se deitou. Aninhei-me em seus braços e
senti Pierre abraçando-me por trás.
— Eu sonhei muito com a noite em que dormiríamos assim,
juntos — falei, baixinho.
— Trate de aproveitar. Não sei quando poderemos fazer isso
de novo — o loiro respondeu.
— Espero que em breve.
Seus dedos acariciavam minha cabeça com leveza. Eu lutava
contra o sono. Queria aproveitar aquele momento o máximo que eu
pudesse. Por mim, aquilo nunca acabaria.
Capítulo 31
Eu estava há 48 horas pensando sobre o que seria melhor
para nós três. No momento em que acordei, olhei para o lado e vi
Antonella abraçada em mim, com Thomás abraçado nela, ambos
em um sono profundo, eu tive certeza de que era aquilo que eu
queria pelo resto da minha vida.
Nos últimos três anos, fugi de contar a verdade. Dava
desculpas o tempo inteiro, pensando apenas em mim. Fui egoísta e
covarde, e agora eu conseguia admitir isso, mas essa parte de mim
estava morta. Não vou sacrificar a felicidade das pessoas que eu
amo por estar com medo de julgamentos alheios. Meu amor é maior
do que isso.
Acordei naquela manhã já tendo plena certeza do que eu
faria. Era a abertura do Festival das Frutas, e eu precisaria fazer um
pequeno discurso, da mesma forma que meu pai costumava fazer.
Era meu primeiro festival sendo o Rei, e isso me deixou um pouco
nervoso no dia anterior. Porém, vi meu pai fazendo isso todos os
anos e não parecia ser a pior coisa do mundo.
— Coloque seu melhor e mais brilhante vestido. Quero vê-la
atraindo todos os olhares ao meu lado — falei, observando
Antonella enquanto ela escolhia o que vestir.
— E por acaso eu não atraio todos os olhares com a minha
beleza natural? — brincou.
— É claro que sim, mas quero vê-la literalmente brilhando
quando o sol bater em você.
— E tem algum motivo especial para você querer isso, ou
você só quer que eu... brilhe?
— Querer que todos comentem como minha esposa está
magnifica não é um bom motivo?
— Acho que aceito o seu motivo. — Ela voltou sua atenção
para os vestidos. — Mary está arrumando Louise. Eu queria arrumá-
la, mas o tempo ficaria muito apertado, e como você e Thomás
disseram, eu estou tentando relaxar.
— Exatamente, relaxe. Tenho certeza de que Mary a deixará
um encanto.
— Eu falei como eu queria que ela arrumasse. Espero que
siga minhas orientações.
— Mary vai seguir, tenho certeza.
Antonella estava um pouco insegura por estar afastada de
Louise. Seria apenas uma hora até que as duas estivessem prontas,
mas isso já era tempo demais para ela.
Minha roupa já estava preparada desde o dia anterior, e logo
depois Thomás apareceu em meus aposentos para me ajudar a
vesti-la.
— Você vai se sair bem lá, tenho certeza. — Ele percebeu
meu nervosismo.
— Acho que não há tantas formas de eu errar, não é?
Agradecer a presença, falar sobre as atrações. Não tem erro.
— Parece bem mais confiante do que estava ontem.
— E estou. Passei a noite inteira refletindo sobre o que vou
falar. Inclusive, quero que você vá conosco. Quero que me veja.
— Não tenho certeza sobre isso.
— Não aceito que recuse meu convite.
— Bom, se é uma ordem do Rei, como eu poderia dizer não?
— Ótimo.
Em um movimento inesperado por ele, segurei seu rosto e
depositei um beijo rápido em seus lábios.
Thomás sorriu, balançando a cabeça negativamente.
Em pouco tempo já estávamos nas carruagens, indo em
direção ao centro do nosso pequeno reino.
As ruas já estavam cheias, mesmo que o início oficial não
tenha sido anunciado. Os comerciantes dos dois reinos vizinhos já
montavam suas barracas para vender sua mercadoria, e parecia já
ter pessoas prontas para comprar.
Havia uma grande escadaria que levava para dentro da igreja
da cidade, e era lá que normalmente os anúncios eram feitos, para
que todos em volta pudessem ver e ouvir suas palavras.
Antonella e eu subimos os degraus lado a lado, parando-nos
no topo, perto dos outros dois reis e suas rainhas, que também
falariam algumas palavras. Minha mãe estava logo atrás. As
pessoas ainda tinham um grande carinho por ela. Ao lado, Mary,
com Louise no colo, Thomás e Nina, perto dos criados dos outros
reinos.
Eu estava tão nervoso que parecia que eu vomitaria a
qualquer momento. Minhas mãos tremiam e pareciam dois blocos
de gelo, mas eu estava rezando para que ninguém reparasse.
— Desejo boas-vindas a todos, e declaro o Festival das
Frutas oficialmente aberto. Temos diversos comerciantes com suas
especialidades, música, dança e peças de teatro para que todos
aproveitem o máximo da cultura local. — Minha voz saía alta e
firme, como eu havia planejado. Por um momento, pensei em voltar
atrás no que decidi, mas olhei rapidamente para Thomás e
Antonella, então tomei a coragem que eu precisava ter tomado há
muito tempo. — Gostaria de fazer um importante anúncio: podemos
começar dizendo que nos últimos anos, eu fui uma das pessoas
mais covardes que vocês poderiam conhecer. Porém, venho
percebendo que minha covardia não afetava só a mim, mas as
pessoas que eu amo também, e que direito eu tenho de fazê-las
sofrer dessa forma? Eu amo minha esposa, do fundo do meu
coração, mas ela não é a única pessoa em minha vida. O mais
engraçado é que os dois também se amam. Entendo que possa
parecer um pouco complicado no começo, mas não é. Antonella,
minha esposa, é a mulher da minha vida, e Thomás, meu criado, é o
homem da minha vida. — Olhei para o loiro, mas não entendia a
feição em seu rosto. Não entendia se estiva feliz, chocado ou triste
com a situação.
— Você está traindo a sua esposa com o seu criado? — Ouvi
uma voz se sobressair em meio às pessoas que nos assistiam, mas
não identifiquei de quem era.
— Não! Nós três nos amamos entre si e mantemos uma
relação. — Encarei Thomás mais uma vez e fiz um sinal para que se
aproximasse, mas ele estava receoso. Porém, Nina o empurrou e
quase o obrigou a caminhar em minha direção. — Eu espero que
entendam, e que aceitem Thomás e o recebam da mesma forma
calorosa que receberam Antonella.
Quando Thomás parou ao meu lado, todos ficaram em
silêncio por longos segundos. Talvez estivessem chocados demais
para reagirem. Já eu, estava sentindo que meu coração sairia pela
boca. Antonella era, literalmente, a única pessoa radiante durante
aquele silêncio. Estava sorridente e muito alegre.
Quando pensei que eu tinha acabado de jogar no lixo toda a
autoridade que eu tinha, uma mulher começou a aplaudir. Um pouco
tímida, mas suas palmas podiam ser ouvidas. Algumas pessoas a
seguiram, outras não. Alguns pareciam me olhar com pena, outros
com desprezo, um ou outro com felicidade.
Eu sabia que não teria o apoio de todos, que muitas pessoas
iriam me querer fora do trono, mas eu não me importava com nada,
não mais.
Eu passei a noite inteira lendo cada lei do reino de Pommer, e
não havia nada que proibisse o rei ou qualquer outro súdito de ser
casado com duas pessoas.
Voltamos para o castelo no final da manhã, com Antonella
quase saltitante dentro da carruagem, mas não conversamos até
que estivéssemos sozinhos na sala do trono.
— Você deveria ter me avisado! — resmungou a garota. —
Eu ficaria muito feliz em ajudar com um discurso tocante.
— Eu queria que fosse surpresa. Não sei, achei mais
romântico.
Thomás continuava em silêncio, incrédulo.
— Você não dirá nada? — Antonella questionou.
— Pierre, você é louco! Vão querer acabar com o seu
reinado. — Foi tudo o que ele disse.
Caminhei até ele, devagar. Seus olhos estavam lacrimejados,
provavelmente estava com muita vontade de chorar. Segurei seu
rosto com as duas mãos.
— Eu não me importo! Se para viver minha vida ao lado de
vocês dois eu preciso abdicar da coroa, que assim seja.
— Você é louco!
— Louco por você.
Ele soltou uma leve risada.
— Essa foi uma das suas piores cantadas.
— Eu sei.
Beijei seus lábios na mesma hora. Não precisávamos mais
nos esconder. Poderíamos demonstrar nosso amor um pelo outro a
qualquer hora, em qualquer lugar.
— Acho que você precisa falar com a sua mãe — disse
Thomás, assim que nos separamos.
Eu assenti.
Precisava explicar para ela minha decisão.
Depositei um beijo rápido na testa de Antonella e saí do
cômodo, seguindo para os aposentos de minha mãe. Não tinha
certeza se ela estava lá, mas tive a confirmação depois de bater na
porta e ouvir sua voz pedindo para que eu entrasse.
— Imaginei que apareceria aqui. — Ela estava sentada na
frente do espelho da sua penteadeira.
— Mãe, eu gostaria de me explicar...
— Eu já sabia. — Ela me interrompeu. — No fundo, eu
sempre soube. Sua proximidade com Thomás não era algo comum.
Isso sem contar a vez que os vi saindo do labirinto, olhando para os
lados.
— E por que a senhora não falou nada? Por que não
conversou comigo sobre isso?
— Porque isso não muda em nada, Pierre. Você continua
sendo meu filho, o Rei de Pommer, e posso arriscar dizer que um
dos melhores que já tivemos.
Suspirei, aliviado por sua aprovação.
— Você não se incomoda por nós três estarmos juntos? Quer
dizer, foram duas informações juntas.
Minha mãe virou-se para mim, levantou-se de sua cadeira e
caminhou na minha direção.
— Se estão felizes assim e fazem o relacionamento dar certo,
para mim está tudo bem.
Meu peito explodiu de alegria por ter o apoio de minha mãe.
Eu a abracei na mesma hora, recebendo seu carinho, sentindo o
seu cheiro que me confortou durante a vida inteira.
— Pergunto-me se meu pai me aceitaria. Algo me diz que
isso não aconteceria.
— Ele aceitaria, da mesma forma que me aceitou.
Por um momento, dei um pulo para trás, incrédulo.
— O quê?
— Eu não era apaixonada por seu pai, muito menos pelo
homem que quase fugi na adolescência, e todos nós sabemos
disso, mas eu fui apaixonada por alguém. Eu era uma criança, tinha
treze anos quando a filha de um barão passou o verão no castelo de
minha família. Nós nos tornamos amigas, mas eu me sentia nas
nuvens ao seu lado. Ela precisou ir embora logo depois, e meu
coração ficou partido por anos. Eu nunca a esqueci, e quando contei
isso para o seu pai, ele me abraçou e me confortou, jamais fui
julgada por ele.
— Mãe, eu... eu não fazia ideia.
— Está tudo bem, faz muito tempo, nem sei onde ela está
agora. Nunca tive um grande amor na minha vida, e você tem dois,
não pode desperdiçar uma benção como essa.
Mais uma vez, eu a abracei. Forte, querendo confortá-la
também. Era insano pensar que nós passamos por algo parecido,
mas, ao contrário da minha história, a sua não teve um final feliz.

[...]
— Podem deixar ali. — Apontei para um canto do quarto,
indicando onde os criados podiam deixar o baú com as roupas de
Thomás.
Ele estava oficialmente se mudando para os nossos
aposentos, e Antonella não podia estar mais feliz.
— Isso não é inacreditável? Nós vamos dormir juntinhos
todas as noites! — disse ela, alegre.
— Mas nós vamos revezar quem vai ficar no meio, não é? —
Thomás questionou.
— É claro que sim! Um dia para cada um — afirmei. — E
vamos providenciar roupas novas para você. O Duque de Pommer
precisa andar sempre muito bem-vestido.
— Eu ainda não sei sobre esse título. Acho que as pessoas
não gostarão disso, e eu nem sei o que um duque faz!
— E eu me importo se as pessoas vão gostar ou não? E não
se preocupe, vou ensinar tudo o que precisa saber.
Antonella bateu palminhas.
— Isso é tão empolgante! — ela exclamou.
— Muito empolgante! Imagine só o primeiro baile que
tivermos com os três tronos! — falei.
— E aceitaram colocar um terceiro trono? Não faz sentido um
duque ter um trono. — Thomás ainda estava receoso.
— Eu mandei e colocaram, mas só em eventos informais
como bailes. Você não gostou da ideia?
— Eu gostei! É claro que gostei. Eu só não estou acreditando
que é tudo real.
— Pois acredite, está acontecendo!
Aproximei-me de Thomás e puxei Antonella para nosso meio,
abraçando os dois com toda a força que eu pude.
Eu sentia que estava vivendo um sonho.
Capítulo 32
3 Anos Depois
Eu estava tão feliz com o batizado do primeiro filho de
Mariana com o futuro Marquês de Pommer. Ela já estava aflita por
não ter engravidado nos primeiros dois anos de casamento, mas
quando ela menos esperava, Charlotte brotou em seu ventre. Era
uma linda menininha que herdou seus olhos verdes.
Nossa carruagem parou em frente à igreja da cidade, onde
seria o batismo. Depois seguiríamos para a mansão de Jonathan e
Mariana para festejar.
Subimos a escadaria. Pierre tomava a frente, permanecendo
no meio entre mim e Thomás. Logo atrás de mim estava Nina, que
ainda era minha dama de companhia, minha sogra, e Mary, que
sempre acompanhava Louise nos eventos.
Foi difícil ignorar os olhares de reprovação ao longo desses
anos. Cada vez que nós três aparecíamos juntos publicamente,
ouvíamos comentários maldosos de todos os tipos, mas não
deixávamos que nos abalasse, pelo contrário. A reprovação de
algumas pessoas encorajava Pierre a ser um rei cada vez melhor.
O dia em que Pierre assumiu nosso relacionamento a três
para todos foi marcante. Aos poucos, os casais do mesmo sexo
estavam sendo aceitos no nosso reino, o que era muito bonito de se
ver, mas era só atravessarem para outro reino que as tragédias
começavam.
— Que bom que já estão aqui. Eu estava ficando muito
nervosa — disse Mariana, aproximando-se assim que entramos na
igreja.
— Não há necessidade de nervosismo. Tenho certeza de que
a cerimônia será muito bonita — falei.
— Já vamos começar? Onde preciso ficar? Desculpe, nunca
fiz isso antes — disse Pierre. Ele seria o padrinho de Charlotte.
— Acho que já vamos começar. Venha.
Pierre seguiu Mariana pela igreja. O restante de nós nos
sentamos nos lugares que nos foram reservados, separado das
outras pessoas.
— Isso não é incrível? Mariana finalmente conseguiu ser feliz
depois de 21 anos. É tão bom vê-la com uma família, com um
homem que ama e com uma filha recém-nascida — disse Thomás,
assim que nos acomodamos.
— Lembro-me de quando conversamos pela primeira vez. Ela
queria tanto se casar. Acho que queria viver um amor igual o que
lemos nos livros.
— E ela conseguiu! Mariana me lembra tanto ela.
— A sua mãe?
Thomás assentiu, piscando diversas vezes para secar os
olhos.
— Elas são iguais. Tanto na aparência, como na forma de ser
doce com todos.
— Você nunca vai contar a verdade a ela?
Ele negou com a cabeça.
— Não faria a menor diferença. Nossa mãe, Antônia, já
morreu há muito tempo. Eu só destruiria tudo que ela viveu até aqui.
— Mas não seria bom? Saber que, na verdade, a mulher
horrível que a Baronesa era não deu à luz a ela.
— Quem sabe um dia eu conte, mas não agora. Ela está tão
feliz. Eu não poderia interferir nisso.
Sempre achei que Thomás deveria contar a verdade para
Mariana, mas essa decisão não cabia a mim.
Logo o batismo começou. Pierre estava nitidamente nervoso
enquanto segurava Charlotte, mas estava dando o seu máximo para
parecer o mais relaxado possível.
Ver aquela cena era muito satisfatório. Charlotte estava tão
quietinha. Mariana tinha sorte de ter uma recém-nascida tão calma.
Eu esperava que meus próximos filhos fossem assim, apesar de
agora eu já saber como lidar com os choros incessantes.

[...]
Eu sabia que Louise seria muito mimada por nós três, mas
quando Thomás apareceu com um pônei, fiquei de queixo caído.
— Não posso acreditar que comprou um pônei! — falei,
observando Thomás arrumando a sela em cima do bichinho.
— Louise disse que queria aprender a cavalgar para ser uma
amazona, e ficou muito triste quando eu disse que um cavalo era
grande demais para ela montar — respondeu ele.
— Então você resolveu o problema comprando um pônei? —
Pierre indagou.
— Sim.
No mesmo momento, Mary apareceu com Louise. A
garotinha de três anos ficou incrédula quando viu o animal.
— Um cavalo pequenininho! — ela exclamou. — É meu?
Thomás a pegou no colo, enchendo sua bochecha de beijos.
— Eu comprei para você. Gostou?
— Eu gostei muito!
— E o que você diz quando alguém lhe dá algo que você
gostou muito? — perguntei.
— Obrigada, papai. — Ela o abraçou com seus bracinhos
pequenos.
— Vamos montar nele? — Pierre perguntou, animado.
— Vamos! — gritou a garotinha.
Thomás a colocou em cima da sela, mas o sorriso no rosto
de Louise sumiu na mesma hora.
— O que foi, querida? — questionei.
— É alto e ele tá se mexendo. — Ela agarrou as rédeas que
estavam em sua frente, assustada, mesmo com Thomás ainda com
as mãos em volta do seu corpo.
— Nós vamos estar aqui para segurar você — disse o loiro.
— E eu vou segurar o pônei o tempo inteiro — avisou Pierre.
— Você não queria ser uma amazona? Não pode ter medo
de andar a cavalo — falei.
— Tá bom — ela disse.
Pierre fez o cavalo dar os primeiros passos, bem lentamente.
Eu e Thomás estávamos o tempo inteiro ao lado de Louise para não
deixar que ela caísse.
O vento fresco batia em seu rosto e mexia seus cabelos
crespos, fazendo-a fechar os olhinhos e aproveitar por um instante.
— Viu? Não é tão assustador — observei.
— Faz ele ir mais rápido, papai! — Louise pediu.
— Eu acho que assim está bom para a sua primeira vez. —
Pierre era nitidamente o com mais medo de acontecer algo ruim ali.
— Amanhã vamos de novo, mamãe?
— É claro que vamos!
Olhei para minha filha. Ela estava tão feliz com a sua primeira
vez em um cavalo. Thomás também estava radiante, muito
orgulhoso de ter dado o presente que Louise mais amou na vida. Já
Pierre não estava com uma das melhores expressões, parecia
preocupado, mas assim que viu o sorriso no rosto da menina, ele
também sorriu.
Eu tinha a família perfeita. Havia discussões, brigas e
desentendimentos, mas ainda assim, para mim, era a família
perfeita.
Epílogo
5 anos depois.
Os minutos pareciam não passar. Antonella já estava há
horas trancada no quarto com a parteira, mas o bebê não nascia.
— Com Louise pareceu mais rápido, não acha? — Pierre
perguntou.
— Acho que não. Passaram-se quase vinte e quatro horas
até ela conseguir dar à luz da outra vez — respondi.
Estávamos andando de um lado para o outro no corredor, do
lado de fora do quarto. A única coisa que ouvíamos eram os gritos
de Antonella.
— Por que ela está gritando tanto? — Louise questionou.
— Eu acho que dói muito — Pierre respondeu.
A garotinha de oito anos arregalou os olhos.
— Dói tanto assim, pai Pierre? A mãe não para de gritar!
— Eu imagino que doa bastante.
Louise pensou por um momento, olhando para o além.
— Eu estudei sobre a Rainha Elizabeth semana passada e
ela não teve filhos. Eu vou ser igual a ela, não vou ter filhos.
— E você decidiu isso agora? — perguntei e ela assentiu,
certa do que estava falando. — E você vai tentar encontrar um
marido que não queira filhos?
— Eu não vou me casar, pai Thomás.
— E se você se apaixonar?
— Eu não vou me apaixonar. Nunca.
— Duvido — brinquei.
— É sério! Eu aposto duas moedas.
— E você tem duas moedas? — Pierre indagou.
— Não, mas quando eu for grande eu vou ter. Mas eu nem
preciso porque você que vai me dar duas moedas.
Estendi minha mão e ela a apertou.
— Apostado. Eu vou cobrar.
Antes que Louise abrisse a boca para falar mais alguma
coisa, ouvimos o choro de um bebê vindo do cômodo.
— Nasceu! — o Rei gritou.
— Ah, meu Deus! — exclamei.
Pierre caminhou até mim e me abraçou forte, beijando meus
lábios rapidamente em seguida.
— Nasceu! — gritou Louise, pulando de animação.
Eu queria ver o nosso filho! Queria acariciar suas bochechas
e segurá-lo em meus braços, mas precisávamos esperar até que
nos chamassem para entrar.
Para mim, pareceu horas até que a parteira abrisse a porta, e
eu já cogitei a ideia de algo ter dado errado.
— Podem entrar. Está tudo bem — disse a mulher.
Louise estava receosa. Escondeu-se atrás de nós dois
enquanto entrávamos.
Antonella estava na cama, com o recém-nascido nos braços.
Ela olhou para mim e sorriu.
— Finalmente você me deu um menino com os seus olhos —
disse.
Aproximei-me, dando uma boa olhada em nosso filho.
— Ele é igualzinho a você — observou Pierre, que já estava
com lágrimas nos olhos, assim como eu.
— Sim, ele é — afirmei, com a voz trêmula.
Antonella o colocou em meus braços e eu pude vê-lo com
ainda mais clareza.
— Ele tem a sua marca no braço — disse ela.
— Ele é definitivamente um mini Thomás — Pierre brincou,
parando ao meu lado e passando os dedos pela testa do bebê.
— Qual o nome dele, mamãe? — Louise perguntou.
— Antony.
Olhei para Antonella, sentindo as lágrimas se formarem em
meus olhos cada vez mais rápido.
— É um lindo nome — afirmei.
— O mais bonito que ele poderia ter — Pierre elogiou.
Estar ali com as duas pessoas que eu amava e com dois
filhos preenchia meu coração com uma felicidade que eu jamais
pensei que sentiria. Era algo mágico, e estava apenas no início.

FIM
Outras Obras

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Três Vezes Amor
Natália Lopes, no auge dos 25 anos, passou por uma das
piores coisas que uma noiva pode passar: pegou no flagra seu noivo
na cama com a sua melhor amiga. Meses depois, decidiu mudar de
vida radicalmente. Com o dinheiro da lua de mel, deixou para trás
toda a sua vida em uma cidadezinha do Rio Grande do Sul e foi
direto para Florença, na Itália. Com a ajuda da sua tia, conseguiu
um emprego em um importante escritório de advocacia.
Pietro Milani, com apenas 22 anos, vem conquistando seu
espaço no meio da advocacia com a ajuda de Enrico Bellini, um
poderoso CEO prestes a se aposentar, e que pretende deixar tudo o
que tem, inclusive seu escritório, para Pietro, seu protegido.
Francesco Bellini é um renomado advogado, filho de Enrico
e herdeiro do escritório por direito. Com 39 anos e uma extensa
bagagem profissional, mas com inúmeras desavenças com o pai,
não aceita que um garoto tome o seu lugar.
Natália caiu de paraquedas bem no meio da rivalidade entre
Pietro e Francesco, dois homens repletos de diferenças, mas
igualmente sedutores. Dormir com Pietro depois de uma festa e com
Francesco depois de um domingo agradável era apenas uma
diversão para ela. Porém, duas semanas depois, ela notou as
consequências daqueles encontros: uma gravidez. Mas isso não era
o pior: Natália não fazia ideia de qual dos dois era o pai. Agora os
advogados precisariam conviver em harmonia para apoia-la até ser
possível descobrir quem era o verdadeiro pai, mas essa seria uma
missão quase impossível. O que nenhum dos três contava, era com
a paixão e o amor que cresceria entre eles.
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O Pai da Minha Melhor Amiga
Diana Cooper, uma jovem universitária de 21 anos. Após
mais um ano cansativo na faculdade de jornalismo, decidiu passar
as férias de verão na casa de sua mãe. Na mesma noite de sua
chegada, Diana acompanha a mãe em um jantar na casa dos novos
vizinhos, Leslie, a mais nova universitária, e seu pai Jason. A
amizade entre Diana e Leslie cresce mais a cada dia, mas a nova
amiga não é a única coisa que atrai a estudante de jornalismo para
a casa ao lado.
Jason Miller, viúvo há 7 anos, CEO da empresa Cardiff
Cosmetics e um homem extremamente sedutor. Criou a sua filha da
melhor forma que pôde, apesar de a morte de Angelina, mãe e
esposa, não ter sido superada por nenhum dos dois.
A atração que Diana sente por Jason é imediata, e ela está
determinada a usar todo o seu charme e sensualidade para perder a
virgindade com este homem, mas ele não irá ignorar com facilidade
a diferença de idade entre os dois, além do fato da jovem mulher ser
a melhor amiga de sua filha.
Porém, ambos não contavam com os sentimentos que nasceriam a
partir do desejo.
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Amor Proibido
O rei de Ouvider, Alexander, decidiu que precisava
urgentemente de uma nova rainha anos depois da sua amada
Agnes falecer misteriosamente. Organizou um baile no seu
aniversário de cinquenta anos para escolher a mulher que reinaria
ao seu lado. A jovem Katherine foi a grande escolhida para ser a
nova esposa do rei.
Katherine achou que a parte mais difícil já havia passado.
Mas as aulas de etiqueta, leitura e o rei amargurado lhe tiravam do
sério todos os dias, além da descoberta de um terrível segredo real
que estava enterrado há anos.
Só quando começou a conviver com o filho mais velho do rei,
Heitor, que ela percebeu que tudo poderia piorar.
Heitor era charmoso e inteligente, duas das principais coisas que
Katherine não resistia em um homem.
Passar os dias perto de Heitor estava sendo cada vez mais
torturante. Ela podia vê-lo tão perto, mas sabia que não podia toca-
lo, mesmo que os corpos de ambos implorassem por isso.
O beijo de Heitor poderia, literalmente, matá-la. Eles sabiam muito
bem qual era a sentença para adultério: execução.

*Contém cenas de abuso sexual que podem servir como gatilho


para algumas pessoas.
Sobre a Autora
Nicolle Meyer nasceu em 14 de abril de 1999, em Porto
Alegre, atualmente mora em Alvorada, no Rio Grande do Sul.
Apaixonada por futebol, história e livros. Começou se interessar pela
escrita ainda muito pequena, mas foi com onze anos que realmente
começou a escrever. Postava suas fanfictions em comunidades do
Orkut, mas logo migrou para sites como Spirt e Wattpad. Com vinte
anos lançou o seu primeiro livro na Amazon, A Noite, um romance
adolescente sobre uma garota que descobre uma gravidez ainda no
ensino médio. Não demorou muito para lançar Amor Proibido,
romance medieval. Desde então não parou. Seus maiores sucessos
são O Pai da Minha Melhor Amiga, um romance erótico top 20 na
Amazon, e Proposta Indecente, um romance do mesmo gênero top
30 na Amazon.
Todos os seus livros podem ser encontrados em formato de
e-book na Amazon, e alguns em formatos físicos na loja virtual
UICLAP.
Instagram: @nicollemeyerautora
E-mail: nicollemmeyer@gmail.com
Facebook: /nicollemeyer.autora

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