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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright 2009© Katherine Smith


Copyright 2019© Cherish Books

____________________________________
Wildes, Emma
Uma proposta Indecente (An indecent Proposal) / Cherish
Books; Rio de Janeiro; 2019
Edição Digital

1.Romance de Época 2. Literatura Estrangeira 3.Ficção


Uma Proposta Indecente © Copyright 2019 — Cherish Books

______________________________________

Texto revisado segundo novo Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou
parcial desta obra, através de quaisquer meios, sem a prévia
autorização do autor.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes,
pessoas, locais ou fatos, terá sido mera coincidência.
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Preparação de Texto: Elimar Souza e Bianca Carvalho


Tradução: A.J Ventura
Revisão: Luciane Rangel
Capa: Letícia Kartalian
Diagramação: A.J Ventura

PERIGOSAS ACHERON
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SUMÁRIO

Capa
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
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Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Notas

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O s cavalos galoparam desenfreados,


atravessando o trecho em meio aos rugidos
da multidão até a linha final e, momentos depois,
Nicholas Manning, o sexto duque de Rothay,
vencia novamente com seu espetacular garanhão
negro. Os cavalos de seu estábulo, na verdade,
permaneciam invictos até aquele momento.
Não era uma surpresa.
Não havia dúvida sobre isso, o homem tinha um
toque mágico quando se tratava de cavalos, e os
rumores davam conta de que sua habilidade era
ainda maior quando se tratava de mulheres.
Era fácil acreditar, Caroline Wynn pensou,
observando-o caminhar pelas arquibancadas em
direção a seu camarote privado, com seu lendário
sorriso brilhando diante da admiração dos amigos.
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O duque tinha uma marca particular de beleza


evidente que combinava a masculinidade absoluta
de sua esplêndida estrutura óssea clássica com a
dramática coloração bronzeada de sua pele. Ele
também era alto, atleticamente constituído e se
movia com graça natural enquanto subia as
escadas, sem dúvida ansioso por comemorar suas
vitórias. Vestido com elegância casual em um
casaco de alfaiataria, calça de bainha alta e botas
polidas, seus cabelos, que mais pareciam seda
negra, contrastavam com o branco ofuscante de sua
gravata com um nó perfeito.
— Rothay certamente parece satisfeito consigo
mesmo — Melinda Cassat murmurou, abanando-se
vigorosamente contra o calor da tarde. Pequenos
cachos castanhos escuros se moviam ao redor de
seu rosto em sincronia com cada movimento de seu
pulso. A área onde estavam sentadas era sombreada
por um pequeno toldo listrado, mas não havia uma
brisa. O céu sem nuvens era de um claro e profundo
azul cobalto.
— Ele ganhou, então por que não estaria
satisfeito? — Caroline observou a forma alta do
duque desaparecer no camarote com um leve
tremor na boca do estômago.
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O que estou fazendo?


— Não é como se ele precisasse do dinheiro. O
homem é rico como Creso 1. — Melinda empurrou
uma mecha de cabelo rebelde do pescoço e franziu
a boca. — Claro, apostar em uma corrida de
cavalos é muito menos escandaloso do que o mais
recente rumor de suas escapadas. Você já ouviu
falar sobre isso?
Agradecida por ter o calor do sol para culpar
pelo rubor em suas faces, Caroline mentiu
descaradamente.
— Não. Do que você está falando?
Fofoqueira ávida, Melinda ficou encantada com
a pergunta. Ela se inclinou para frente, e seus olhos
castanhos se estreitaram conspiratóriamente. Seu
peito rechonchudo estufou-se quando ela inspirou
rápido.
— Bem, parece... ou então dizem por aí, você
sabe... que o belo duque e seu amigo lorde
Manderville que, como se ouviu dizer, herdou a
reputação de seu pai como um libertino de primeira
ordem, fizeram uma aposta ultrajante sobre qual
deles seria o melhor amante.
— Sério? — Caroline usava o que ela esperava
que fosse uma expressão muito branda.
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O rosto de sua amiga estava iluminado de


excitação e intriga.
— Você acredita nisso?
— Você tem certeza de que é verdade? Quer
dizer, minha querida, esta é Londres, e esta é a alta-
sociedade. Nem todo rumor é verdadeiro. Você
sabe tão bem quanto eu que a maioria deles é falso
ou, pelo menos, uma verdade exagerada.
— Sim, mas até onde eu sei eles não negaram.
A aposta está devidamente registrada nos livros da
White 2, e os palpites sobre quem vai ganhar estão
se acumulando em quantidade recorde. Aqueles
dois estão sempre protagonizando escândalos, mas
realmente se superaram desta vez.
Caroline observou os jóqueis se levantarem
para a última corrida.
— Como alguém poderia provar uma coisa tão
absurda? No mínimo, o resultado deve ser
subjetivo. Afinal, se estão apostando qual deles é o
melhor amante, quem será o juiz em tudo isso?
— Bem, minha querida, essa é a parte
verdadeiramente escandalosa. Eles precisam de um
crítico imparcial. Toda a sociedade está
especulando sobre quem será ela.
— Isso é um pouco bárbaro, não é? Ela teria
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que concordar em ter intimidade com... bem, os


dois, suponho. Deus do céu!
Melinda olhou para Caroline com uma evidente
expressão divertida.
— Eu esperaria que você dissesse isso, já que é
tão pudica. Não posso precisar se é bárbaro, mas
certamente está além dos limites, mesmo para esses
célebres libertinos. No entanto, ainda mais apostas
estão sendo feitas sobre a rapidez com que eles
conseguirão encontrar alguém adequado para
consentir em provar o que cada um tem a oferecer.
É loucamente perverso, mas dois dos homens mais
bonitos da Inglaterra farão o possível para dar
prazer à escolhida. Imagine o que está reservado
para a dama que concordar.
Bem, ela era bastante consciente de sua
reputação fria e impassível, mas, ainda assim, ser
chamada de pudica fazia Caroline se sentir na
defensiva.
— Eu não sou exatamente uma velha matrona
mimada. Posso entender por que uma mulher
sucumbiria a um homem bonito e encantador,
capaz de seduzir sem esforço. Certamente esses
dois se qualificariam, já que supostamente
praticaram o suficiente.
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— É verdade, mas eu nunca dei a entender que


você seja velha ou definhada, muito pelo contrário.
— Sua amiga suspirou com ênfase dramática. —
Mas você não é muito acessível, Caroline. Sei que
se protege desde o seu casamento e da morte de
Edward, mas, sendo honesta, você precisa se deixar
viver novamente. Se quisesse, metade de Londres
estaria prostrada a seus pés, querida. É jovem e
bonita.
— Obrigada.
— É verdade. Homens fariam filas com flores e
sonetos. Não há motivo para definhar em solidão
eterna.
— Eu não desejo me casar de novo. — Era
completamente verdade. Uma vez fora o bastante.
Uma vez fora mais do que suficiente.
— Nem todo homem é como Edward.
Tentando abstrair o assunto, Caroline observou
os cavalos se alinharem e ouviu a pistola responder
antes que eles se adiantassem. Certamente esperava
que nem todo homem fosse como seu falecido
marido — pensou, enquanto os animais magníficos
instintivamente disparavam para frente —, pois
logo o duque libertino estaria lendo seu bilhete.

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— I sso é interessante — Nicholas murmurou


as palavras e pegou o decantador de conhaque,
despejando uma grande quantidade no copo de
cristal à sua frente. Ele guardou a garrafa no
armário de baixo e observou novamente o pedaço
de pergaminho em sua mão. Um retorno a Londres,
depois de um dia exaustivo, mas triunfante, do
esporte dos reis o deixara de bom humor, animado
pela vitória e pela celebração resultante. Um retiro
para seu escritório parecia vir a calhar. Era, de
muitas maneiras, seu santuário, mesmo que ele
trabalhasse lá apenas esporadicamente. Isso o
lembrava de seu pai e talvez fosse um lado
sentimental que não admitiria para ninguém, mas
não fizera qualquer alteração no local. Um tapete
cobria o chão polido, desbotado de um lado pelo
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sol que se inclinava pela janela, e a escrivaninha


era igualmente gasta. Livros em prateleiras de
carvalho, dispostos ao lado da lareira, produziam o
familiar odor de mofo, couro suavemente decadente
e papel amarelado.
— O que é interessante? Algo a ver com as
corridas? — Em frente a ele, Derek Drake, o conde
de Manderville, ergueu uma sobrancelha loira e se
acomodou em seu assento de maneira confortável.
Como de costume, Derek estava vestido na última
moda, e as roupas feitas sob medida encaixavam
seu corpo esguio à perfeição; o tecido de juta polida
se enrugava enquanto ele descansava em sua
cadeira. Seu rosto de ossos finos refletia apenas
uma leve curiosidade. — Nick, seus cavalos se
superaram hoje. Certamente isso não é uma
surpresa. Não que eu me importe. Fiz uma boa
soma na última corrida acreditando em sua palavra
de que Satanás estava em forma. Obrigado pela
dica.
— Não há de quê, mas não é isso. — A atitude
desdenhosa não era por que Nicholas não se
importava com as corridas. Seus cavalos eram sua
paixão, e ele era competitivo a ponto de ser um
defeito, mas a caligrafia elegante no bilhete à sua
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frente o intrigava. Ergueu os olhos e estendeu o


pedaço de pergaminho usando dois dedos. — Veja
isto, Derek.
Seu companheiro pegou o papel dobrado, seu
interesse obviamente tornando-se mais aguçado
enquanto lia as palavras. Como Nicholas, Derek leu
duas vezes o bilhete e olhou para cima.
— Bem, isso parece promissor, não é?
— Não é a nossa primeira oferta. — Nicholas
tomou um gole, e o conhaque francês desceu como
seda aquecida em sua boca. Havia desembolsado
uma pequena fortuna pela garrafa, mas aquela
bebida só era encontrada por intermédio de
contrabando, e ele considerava que o custo valera a
pena. — Mas admito que gosto da abordagem
direta dessa senhora. Um desafio para um desafio.
Sim, muito criativo. Eu já a admiro. Seria bom, no
entanto, saber quem ela é.
A boca de Derek se curvou, e ele leu em voz
alta:
— Se os senhores prometerem total discrição e
desejarem um juiz imparcial para sua ridícula
aposta, eu irei ajudá-los. Estejam avisados de que
minha experiência até agora nos assuntos entre
homens e mulheres não me deixou impressionada.
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Se estiverem interessados em uma reunião para


discutir este assunto, tenho interesse em dar
prosseguimento.
Era inteligente, pensou Nicholas, usar uma
insinuação de decepção sexual anterior para
despertar seu interesse. A dama estava certa, se ele
se permitisse admitir; a aposta era ridícula, feita
quando ambos estavam mais do que um pouco
embriagados.
— Um pouco insultuoso, reparei — comentou
Nicholas, divertido. — Uma proposta com um
desafio. Nossa dama misteriosa tem coragem. Isso
me atrai.
Derek lançou-lhe um olhar especulativo.
Eles tendiam a ver as mulheres com o mesmo
interesse carnal, temperado por uma tendência ao
distanciamento emocional. A conquista sexual era
um jogo, e ambos eram jogadores experientes.
Nicholas não elaborou. A pressão para que se
casasse, tanto da sociedade quanto de sua família,
era constante. Era esperado, ele sempre soube
disso, mas admitir sua relutância em encontrar uma
esposa significava reconhecer algumas verdades
sobre si mesmo que ele ainda não estava pronto
para enfrentar.
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Todos os homens cometem erros. O mais


memorável dos seus era de natureza catastrófica,
mas, novamente, somente ele tinha ciência de tal
tragédia, causada por juventude e inexperiência, e
ele a compensara de todas as formas possíveis. Tais
compensações, aparentemente, incluíam apostas
selvagens do pior tipo. Ele observou o amigo com
casualidade estudada:
— Claro. Uma mulher aventureira é sempre
atraente na cama, não concorda?
— Eu concordo que, se continuarmos com isso,
nossas reputações dificilmente sofrerão mais do
que já sofreram, então, por que não?
A palavra “envergonhado” não existia no
vocabulário de Nicholas. Percebera há muito tempo
que a fofoca era uma parte inevitável da sociedade
de Londres e ficar fora do círculo de escândalos
custava muito esforço para pouco ganho. No
entanto, ele e Derek concordaram que teria sido
melhor se não tivessem de fato registrado a disputa
nem feito uma aposta tão grande no fim das contas.
Agora toda a sociedade estava atenta.
Ele lançou a Manderville um sorriso
preguiçoso.
— Não há como não mordermos a isca, não é?
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Até agora, as ofertas de candidatas à nossa aposta e


nossas camas foram feitas principalmente por
senhoras de reputação duvidosa, que desejam
compartilhar nossa notoriedade. Esta parece um
pouco diferente. Ela quer anonimato,
aparentemente.
— Eu não tenho objeção a uma mulher
experiente, mas concordo que o segredo que ela
pede é um diferencial. — Derek bateu no pedaço de
papel com um dedo, suas longas pernas estendidas.
— Ela pode ser perfeita, desde que não seja pouco
atraente ou uma jovem casadoura em busca de
fortuna e título.
— Deus me livre. — Pensar em uma jovem
ingênua se envolvendo na situação estava fora de
questão. A aposta fora apenas uma ideia divertida,
mas acabara saindo um pouco do controle. Em
retrospecto, a terceira garrafa de vinho tinto fora
uma má ideia naquela noite, mas Derek, em
especial, parecia inclinado a beber até ter amnésia.
Agora Nicholas considerava seu
comportamento muito ilógico. Ele não conseguia
definir por que, mas tinha a sensação de que algo
estava errado. O bom humor habitual de Derek
parecia forçado ultimamente. Seu charme
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descontraído e despreocupado era uma das razões


pelas quais as mulheres o achavam tão atraente,
mas parecera ao mesmo tempo subjugado e
distraído nos últimos meses.
— Nós não temos que fazer isso, você sabe —
Nicholas lembrou ao seu companheiro, observando
seu rosto para avaliar a reação, percebendo que o
conhaque lhe trouxera um brilho ao rosto que o
fazia parecer maduro e introspectivo. — Foi uma
brincadeira impulsiva entre dois amigos e nós
tendemos a ser um pouco competitivos um com o
outro, o que não é segredo.
— Estamos nos acovardando, Nick? — Derek
perguntou em reprovação sardônica. Loiro, alto,
com olhos da cor de um céu azul e de uma beleza
quase angelical, ele era a antítese da aparência mais
sombria de Nicholas. — Quem poderia culpá-lo, já
que você vai perder. — Lá estava de novo, a
inquietude tão pouco característica.
Funcionou. Nicholas bufou diante do olhar
presunçoso no rosto do amigo.
— O que te faz pensar isso? O bando de
senhoras insípidas que leva constantemente para
cama? Deixe-me lembrá-lo de que quantidade não
substitui qualidade, Manderville.
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— Se você está querendo fingir ser menos


promíscuo, Rothay, tente convencer outra pessoa.
— Ele não estava, e, na verdade, teve que reprimir
uma resposta irritada. Era promíscuo, de fato, e não
importavam quais fossem os rumores sobre sua
vida privada. Nicholas gostava de mulheres, mas,
apesar de sua reputação, ele era seletivo e tentava
ser discreto. Por falar nisso, sabia que as fofocas
sobre Derek também o pintavam de uma forma
mais severa, e suas inclinações eram as mesmas.
Fazia tempo que não ouvia sobre Derek
perseguindo alguém. Se ele não se tornara um
celibatário, certamente estava mantendo um
comportamento discreto sobre o assunto.
Talvez este tivesse sido o motivo para a aposta
impulsiva. O desafio de Derek e sua própria
resposta, ambas devidas a uma inquietação mútua
causada por... bem, ele não tinha certeza. Tantas
reflexões não era algo bom para a alma.
Não uma manchada como a dele.
Em sua defesa, pelo menos a maioria dos
assuntos íntimos e casuais baseava-se em um
entendimento agradável entre duas partes e não
envolviam sentimentos mais profundos. Embora
Nicholas duvidasse que a sociedade concordasse,
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achava que o casamento não deveria ter a ver


apenas com a linhagem de sangue de uma mulher e
em sua capacidade de ter um filho de estirpe
apropriada. O fato de ser romântico era algo que
guardava para si mesmo. Não por ser uma atitude
antiquada, embora realmente fosse, mas porque era
particular. Deus sabia que ele tivera pouca
privacidade em sua vida devido à sua educação
aristocrática e à proeminência de sua família e
título.
Então ele só piorou as coisas aceitando a aposta
estranha e se tornando ainda mais o foco de atenção
pública.
Nicholas esfregou o queixo.
— Eu devo estar mais entediado do que
pensava — admitiu — para considerar a ideia de
me deitar com uma mulher que vai ter um cartão de
pontuação na mão.
— Nós dois sofremos do mesmo mal, então. —
Manderville lançou lhe um olhar cínico. — Mas
nós embarcamos nisso. Vamos analisar desta
forma: se o bilhete for genuíno, podemos fazer um
favor a esta mulher, mudando sua opinião sobre o
prazer sexual.
— Como um ato de caridade? Esta é uma
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maneira interessante de justificar a situação.


— Lembre-se, nós não a contatamos, ela veio
até nós.
Bem, isso era verdade.
— Então eu acho que você deveria responder
afirmativamente e marcar a reunião que ela deseja.
— Ele gesticulou, erguendo o copo vazio.
Derek assentiu.
— Mal posso esperar para conhecer a moça.
— O que faz você pensar que ela é jovem?
Aliás, talvez precisemos decidir o que vamos dizer
se nenhum de nós a achar atraente. Isso pode ser
um ponto complicado.
O desejo era um componente necessário para
ser um amante competente, afinal.
— É verdade, meu caro. Eu duvido que
conseguisse me enredar com uma mulher velha e
feia. Se há uma coisa que um homem não pode
fingir é a excitação sexual.
Nicholas teve que concordar com esse ponto.
Embora não acreditasse que uma mulher precisava
ser uma beldade estonteante para atrair seu
interesse, parte da química sexual era atração
mútua.
A noite se estabeleceu em um padrão de
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estrelas brilhantes e algumas nuvens altas e vivas, e


o luar obscuro tornou-se visível do lado de fora da
janela. Em um movimento preguiçoso, ele
reabasteceu sua bebida e colocou o decantador
perto o suficiente para que seu convidado fizesse o
mesmo. Lentamente, disse:
— Acho que nossas preocupações com essa
questão são infundadas. Eu especulo que ela seja
linda, pois o tom do bilhete demonstra certa
confiança de que a aprovaremos.
Derek pegou a missiva mais uma vez e tornou a
olhá-la.
— Eu acho que você está certo. — Olhos azuis
mostraram o usual tom provocante de seu humor,
mas sua boca franziu-se. — Agora eu realmente
mal posso esperar para conhecê-la. Você vai
escrever a resposta ou eu escrevo? Precisamos
descobrir um lugar apropriado para encontrá-la
também, já que ela exige total sigilo.
— Vamos deixar a moça decidir. Ela é quem
quer impedir que sua identidade seja conhecida.
— Acho justo — Derek concordou com um
sorriso preguiçoso.
— Devemos ter regras, se ela provar ser a
pessoa certa.
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— Suponho que devamos, apesar de nossa


aposta nos ter elevado a um nível diferente de
libertinagem, como você deve perceber, Nick.
Sim, Nicholas percebia. O que estavam
fazendo? Ambos postulando, fingindo que a aposta
era séria. Em seu coração, imune ou não aos
sentimentos, como diziam os rumores, ele não
acreditava que nenhum dos dois fosse vaidoso ou
superficial o suficiente para entrar em uma
competição tão ridícula, mas por alguma razão
Derek estava decididamente mais despreocupado
com isso. Costumava tratar a sedução como tratava
de assuntos imobiliários, questões políticas e
situações sociais.
Com avaliação fria e calculista.
A emoção não tinha lugar nos negócios, na
política ou nos assuntos sexuais de um homem.
Certa parte dele desejava que fosse diferente, mas
esta já tinha sido escaldada uma vez pela dura
realidade.
Bem, é claro que havia certo encanto. Ele era
Rothay. Gostava de mulheres. Gostava da suave
anuência, de seus corpos fascinantes, a melodia do
riso feminino, as palavras acaloradas sussurradas,
trocadas na cama durante um interlúdio
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apaixonado, o resultado preguiçoso da culminação


carnal. Em sua opinião, não havia nada parecido
com aquele suspiro particular que uma mulher
liberava quando se estava dentro dela, sentindo a
força de suas unhas em seus ombros nus.
Mas amor, não. Satisfazer seu corpo era uma
coisa; seu coração, outra.
Ele simplesmente não era um homem capaz de
cometer o mesmo erro duas vezes. Destreza sexual
não era um problema. Desde a morte de seu pai,
quando tinha dezessete anos, começara a buscar
notoriedade e conseguira conquistá-la. Sem pensar,
murmurou:
— Tudo é efêmero. A fama e os famosos
também.
Derek lançou-lhe um olhar e o analisou.
— Estamos citando Marco Aurélio, agora?
Posso perguntar o porquê do humor introspectivo?
— Não — a resposta foi firme. Seu velho
amigo o conhecia muito bem. A última coisa que
queria era desenterrar fantasmas do passado.
Tomou um longo gole de seu copo, reclinou-se em
sua cadeira e emendou: — Estou ansioso para isso,
quaisquer que sejam nossos motivos.

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— E u repito a pergunta, por que a senhora


estava lá, Madame?
O questionamento frio fez a boca de Caroline se
franzir em aborrecimento. Para seu desalento, o
primo de seu falecido marido, o atual lorde Wynn,
a visitara e, embora tivesse evitado vê-lo durante
semanas, não parecia ter outra escolha a não ser
finalmente recebê-lo. Como a semelhança familiar
era forte, era sempre um pequeno choque ficar cara
a cara com Franklin, como se um fantasma se
materializasse diante dela.
Um espectro muito indesejado.
Eles estavam sentados em sua sala formal de
visitas, as altas janelas abertas para o ar quente da
manhã, a elegante combinação de móveis marfim e
dourados refletindo seu próprio gosto; uma
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redecoração que ela fizera depois da morte de


Edward. Canapés de brocado, duas cadeiras
graciosas — importadas da Itália —, próximas à
lareira, várias pinturas pitorescas de aquarela nas
paredes cobertas de seda. Uma urna preciosa e
muito cara que encomendara segurava um buquê de
várias flores do jardim dos fundos. O cheiro era
uma onda de prazer floral, especialmente em um
dia tão lindo. Erradicar qualquer coisa que a
lembrasse da presença de Edward fora um prazer.
Seu marido teria detestado a feminilidade dos
pequenos e delicados toques pessoais, mas, até
onde ela sabia, ele odiava muitas coisas que não
atendessem a seus gostos específicos.
Franklin absorveu a nova decoração com uma
torção de boca e um brilho frio em seus olhos
pálidos. Aquele olhar dizia que a casa deveria lhe
pertencer e que o custo da reforma viera da fortuna
que planejava herdar. Não que Caroline se
importasse, pois o dinheiro era dela, e se quisesse
modificar a casa cômodo por cômodo, livrando-se
do gosto do marido, ela o faria.
— Fui ver as corridas de cavalos, naturalmente,
meu senhor. Felizmente foi um dia adorável, que eu
apreciei muito — Caroline manteve o tom frio e
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distante, tentando desviar o interesse do homem por


suas atividades sociais. — Sinto muito por ter
estado fora quando o senhor veio na semana
passada. Ando bastante ocupada ultimamente,
receio.
— Na semana passada, na semana anterior, sim,
eu percebi. Espero que perceba que ir sem escolta
para um lugar como as corridas não é aconselhável.
Sempre há uma multidão dominada por homens.
Senhoras decentes não vagam por aí sem um
acompanhante. Da próxima vez que desejar
participar de um evento público, entre em contato
comigo e eu me programarei para acompanhá-la.
Santo Deus, ele parecia tanto com Edward, com
aqueles mesmos olhos azuis frios...
Ele tinha o rosto como o de um falcão, todos os
ângulos agudos, com um nariz em forma de
gancho, e seu cabelo era grosso e escuro. Maçãs do
rosto proeminentes, combinadas a uma boca de
lábios finos que raramente sorriam. Em seus trinta e
poucos anos, e agora intitulado, Franklin era
considerado muito elegível. Ela supunha que ele
era bonito, mas sua semelhança com Edward, tanto
física quanto em seu comportamento, era muito
perturbadora. Os olhos de pálpebras pesadas
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olhavam para ela com sua habitual avaliação fria.


Era como ser cobiçada por uma ave de rapina,
pensou com desgosto. Não, um abutre, pronto para
pegar a carne de seus ossos se ela não se
protegesse. Ela se empertigou ao ouvir seu tom de
posse e pela presunção de que ele poderia ditar
qualquer coisa sobre sua vida, quanto mais ensiná-
la sobre decoro.
— Fui com Melinda Cassat e seu marido, então,
não estava sozinha. O senhor não precisa se
preocupar com o meu bem-estar em nenhum caso.
Franklin inclinou-se um pouquinho para frente,
com roupas que pareciam mais adequadas a um
cortesão do que a um cavalheiro fazendo uma visita
matinal. Renda se amontoava em sua garganta e nas
bordas de suas mangas.
— Ah, mas não vamos esquecer que a senhora
é minha prima viúva, então, eu preciso me
preocupar.
— Por favor, não se preocupe. — Ela não
queria nada mais do que afastar definitivamente
qualquer associação com a família Wynn. Franklin
sempre a deixava desconfortável. Se pudesse
apostar, o interesse dele em seu bem-estar tinha
pouco a ver com sua pessoa e tudo a ver com
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quanto dinheiro Edward lhe deixara. Por sorte, o


testamento conseguiu resistir aos protestos. O caso
todo fora apenas mais uma lição de como sua
independência lhe custara caro.
— Sua reentrada na sociedade é de infinita
preocupação para mim. — Seu olhar sem emoção
parecia atravessá-la.
— Eu não consigo pensar nos motivos para
isso. Vivo uma vida tranquila na maior parte do
tempo. Estou gradualmente começando a aceitar
alguns convites, mas...
— Talvez eu deva ser consultado sobre quais
eventos participa.
O aborrecimento se aprofundou, tornando-se
algo mais.
— Eu sou uma viúva — ela lembrou a ele em
dura reprovação. Então, como fora ele quem a
visitara e insistia em fazer presunções, acrescentou
imprudentemente: — Com minha própria fortuna.
Era a vez dele de ficar irritado, com o assunto
incômodo. Levou um momento, mas visivelmente a
labareda da raiva fora acesa novamente.
— Eu percebo muito bem, minha cara, o estado
de suas finanças. Eu também sei que a senhora é
jovem e ainda muito casável. Homens
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inescrupulosos existem e é meu dever protegê-la.


O que quer que ela dissesse em seguida
provavelmente seria imprudente, mas por sorte foi
capaz de morder a língua. Em vez disso, Caroline
olhou em volta, para as paredes pálidas e tecidos
luxuriantes, indicativos de sua independência.
Queria não estar segurando a resposta de Rothay
em sua mão um tanto úmida. Poderia ter mantido
mais autocontrole na companhia de Franklin, se a
maldita peça de pergaminho não estivesse
queimando um buraco na palma da sua mão. Seu
mordomo a trouxera ao mesmo tempo em que
anunciara seu visitante indesejado, e Caroline
sentia-se desesperadamente curiosa para se livrar
de Franklin e ler a resposta de Rothay. Parecia um
carvão quente e brilhante que ela deveria jogar o
mais longe possível de sua pessoa.
Se Franklin soubesse o que era, ele com grande
prazer mancharia o seu nome, e ela não nutria
ilusões sobre o que seria capaz de fazer se tivesse a
chance.
— Melinda e seu marido eram acompanhantes
bastante adequados, e ninguém se aproximou de
mim. Não tendo participado das corridas antes, eu
não tinha certeza do que esperar. Achei tudo muito
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emocionante.
Realmente fora. Os aplausos exuberantes da
multidão bem vestida, a glória trovejante dos
cavalos elegantes, até o momento em que respirara
fundo ao ver o duque de Rothay e lorde
Manderville, um contraste entre as trevas. Uma
beleza satânica masculina e um Apollo dourado de
boa aparência. Parecidos, mas muito diferentes
fisicamente, tão à vontade com sua notoriedade, tão
confortavelmente indiferentes aos sussurros e
olhares furtivos, como se seguissem uma lei
particular e simplesmente não notassem o giro das
cabeças ou os sussurros furtivos por trás das mãos
enluvadas.
O que Melinda faria se soubesse que ela
recebera a resposta de Rothay, embora ainda não a
tivesse lido? Ou pior, o que ela diria se percebesse
que Caroline, de todas as pessoas, tinha se
aproximado do infame duque e seu igualmente
infame amigo?
Era uma pergunta fácil de responder. Melinda
não acreditaria. Ninguém acreditaria.
Não estava certa de que ela mesma acreditava
nisso.
— Estou feliz que a senhora tenha gostado,
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minha querida, mas saiba que estou sempre à sua


disposição. — Franklin se recostou na cadeira,
como se pretendesse ficar por ainda mais tempo,
cruzando as pernas — elegantemente vestidas —
sobre os tornozelos.
O ligeiro tom sugestivo de sua voz a fez
reprimir um arrepio. Disposição. Dificilmente uma
palavra sexual, mas algo no modo como a
enunciara concedeu-lhe uma insinuação obscena.
Era difícil não pensar se ele não era como Edward
em mais aspectos do que apenas na aparência
física. Não que ele se importasse em cortejá-la. Ela
não tinha ilusões naquela área. O homem queria o
controle da herança que achava que deveria ser sua,
e ela era um obstáculo ao seu objetivo, daí seu
interesse solícito.
Caroline assentiu, mas foi apenas uma
inclinação duvidosa de sua cabeça para cobrir sua
repulsa. Em sua experiência amarga, a família
Wynn tinha uma tenacidade que era difícil ignorar,
então, um confronto direto não era uma boa ideia.
— Eu agradeço a oferta.
— Ainda estou ansioso por uma estada sua na
casa de campo para que possamos discutir assuntos
como este em nosso tempo livre. Minha mãe vai
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me acompanhar, naturalmente.
Embora Franklin tivesse dito que ela poderia
usar a casa se quisesse, recusava-se a aceitar
qualquer coisa dele, até mesmo sua hospitalidade.
— Talvez um dia. — Ela estava bem ciente da
missiva posicionada ao seu lado, sobre o assento da
cadeira, tanto que usava sua mão, colocada de
maneira casual, para cobri-la o máximo possível.
O que será que está escrito?
Quão difícil era manter-se ali, composta, com
total calma e a serenidade que a fazia parecer tão
inacessível para os mais impiedosos senhores.
A imagem exterior estava bem.
A verdade interior era um pouco mais difícil de
enfrentar.
Franklin insistiu:
— Quanto a Londres, atrevo-me a dizer
modestamente que posso aconselhá-la sobre quais
convites aceitar ou recusar. Afinal, tenho mais
experiência.
O cômodo estava quente demais ou era apenas
ela? Caroline lutou contra o desejo de se abanar e
sorriu em vez de fazê-lo.
— Eu admiro muito seus conhecimentos sobre
nossa sociedade, meu senhor.
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— Outro casamento vantajoso também a


ajudaria. — Ele levantou uma sobrancelha pesada,
a arrogância de sua implicação como o espetar de
uma agulha.
Ele queria o dinheiro dela. Caroline tinha uma
sensação repugnante de que ele também desejava
seu corpo, mas, nem sob ameaça de morte ela
concordaria com essa ideia.
Ele não precisava saber da reticência que sentia
ao se apresentar em público e muito menos de suas
hesitações em relação a intimidades, mas isto era
algo que vinha tentando superar. Com a ajuda de
um duque muito bonito e um jovem conde
igualmente atraente.
Talvez.
Pareceu passar uma eternidade até que ele
olhasse para o relógio ormolu e se levantasse.
— Minhas desculpas, mas eu tenho um
compromisso. Venho visitá-la de novo na próxima
semana. Se o tempo estiver agradável, talvez
possamos planejar um pequeno passeio.
Ela preferia ser atropelada por uma manada de
elefantes em fuga, mas de alguma forma conseguiu
formar um sorriso banal.
— Possivelmente.
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Caroline esperou até ouvir o estrépito da


carruagem, para só então pegar cuidadosamente o
envelope entregue.
Até a caligrafia do duque era arrogante, ela
pensou, olhando para a missiva por um momento
antes de respirar fundo e abri-la. Tirou a única
folha de papel com dedos que tremiam de uma
forma traidora enquanto lia a resposta para sua
imprudente proposta.

E LE PROVAVELMENTE IRIA PERDER A INFAME


aposta, mas a melhor maneira de esconder um
coração partido era com bravatas masculinas tolas.
Ou, pelo menos, era assim que ele preferia lidar
com isso. A carruagem retumbou pela Upper Brook
Street, e Derek Drake olhou pela janela, sem ver a
vista, mas, ao invés disso, absorveu seus
pensamentos.
Não eram os mais agradáveis, infelizmente. A
maioria envolvia visões de Annabel – não, uma
correção era necessária: em breve Lady Hyatt –
com seu novo marido. Nua em seus braços, lábios
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nos lábios, seu cabelo dourado brilhando sobre os


lençóis enquanto eles se moviam juntos em um
ritmo cadenciado, suas pernas finas estendidas
enquanto seu amante penetrava seu corpo
disposto...
Bem, certamente era produtivo imaginar algo
assim, ele se repreendeu morosamente, afundando-
se contra as almofadas e deixando escapar uma
respiração frustrada. Torturar-se não estava
ajudando. Fora isso que o colocara em sua situação
atual. O fato de ter bebido tanto na noite em que ele
e Rothay começaram o debate imprudente não o
surpreendia, e talvez até mesmo a aposta pública
tivesse sido uma maneira de se vingar de Annie
pelo anúncio que aparecera no jornal.
O honorável Thomas Drake deseja anunciar o
compromisso formal da Srta. Annabel Reid com
Lord Alfred Hyatt. As núpcias acontecerão daqui a
quatro meses...
Derek não fora capaz de ler mais.
Doera. Diabos, ler isso em tinta impressa o
ferira. Mais do que ele esperava, embora seu tio
Thomas já tivesse lhe contado sobre a proposta de
casamento e sobre o sim, e também dera sua
opinião sobre o enlace, comentando que se tratava
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de uma união adequada.


Mesmo assim, a pontada de dor que acometera
Derek ao olhar para as letras em negrito do anúncio
público, enquanto sentia as implicações da situação
se instalarem em sua alma, abrira um ferimento em
carne viva que ainda sangrava.
Então, para melhorar as coisas, pensou com um
estremecimento interior, ele ficou completamente
louco e decidiu piorar a reputação que Annabel já
achava repugnante, fazendo um desafio que agora
tinha Londres fervilhando de especulação. Não
ajudava em nada que ele e Nicholas tivessem uma
história passada de competição em tudo, desde
assuntos acadêmicos até atletismo e, é claro,
mulheres. Parte disso era apenas um aspecto inato
de ambas as personalidades, parte do resultado de
origens semelhantes. Eles herdaram a riqueza e
seus títulos jovens e, juntamente com eles, a
liberdade e as restrições que acompanhavam os
legados. A amizade fora imediata e natural, como
dois irmãos se encontrando cara a cara pela
primeira vez e se reconhecendo.
Isso estimulou o debate absurdo da outra noite.
Nicholas tinha seus próprios demônios a rondá-lo.
Derek estava bem ciente de que seu amigo tivera
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uma experiência infeliz que fazia com que


mantivesse a guarda alta, por mais encantador que
tentasse parecer. Nick não falava sobre isso e ele
não fazia perguntas sobre o arremedo de romance
que se revelou como avareza calculada, em vez de
um sentimento profundo por parte da mulher com
quem Nicholas pensara que iria se casar. Era um
acordo tácito entre eles de não discutir o assunto,
não violado durante os dez anos de amizade.
Afinal, eles eram muito parecidos.
Agora, parecia ser a vez de Derek queimar no
inferno.
Sem dúvida, Annabel gostava menos dele agora
do que nunca. Se isso fosse possível. Por que ele
nunca percebeu que estava apaixonado por ela até
que fosse tarde demais?
Porque ele era um idiota, claro. A jovem amava
outra pessoa. Lorde Alfred Hyatt era um tipo
decente, até onde ele sabia, o que só piorava as
coisas. Se Annabel estivesse se casando com um
biltre, ele poderia razoavelmente expressar uma
objeção, mas o homem não era isso, então não
poderia objetar, e ela nunca ouviria seu conselho de
qualquer maneira.
Por que deveria? Ele era um especialista em
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fugacidade, não em casamento.


— Meu Senhor?
A voz despertou-o de sua abstração e ele
percebeu que o veículo havia parado e seu
motorista estava ali esperando, a porta entreaberta.
O jovem tossiu discretamente.
— Desculpe. — Derek saiu, com um sorriso
triste no rosto. — Bebi um pouco esta tarde —
disse ele desnecessariamente, perguntando-se por
que estava oferecendo explicação para um criado.
Provavelmente porque não tinha ideia de quanto
tempo poderia ter ficado sentado ali, em
contemplação sombria. Subiu os degraus até sua
casa, assentiu em agradecimento ao lacaio que
abriu a porta e foi direto para o escritório.
Ao contrário da sala desordenada da extensa
mansão Mayfair, que os duques de Rothay
chamavam de lar há vários séculos, o santuário de
Derek era limpo e organizado. Todos os seus papéis
estavam empilhados em um canto de sua mesa, a
nova correspondência no meio do mata-borrão, seu
uísque favorito em uma garrafa sobre uma bandeja
ao lado. A sala cheirava a cera de abelha e
levemente a tabaco, e normalmente ele encontrava
conforto nas paredes revestidas de painéis e na
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pintura a óleo do interior de Berkshire acima da


lareira, que era uma de suas favoritas. Em seu atual
estado de inquietação emocional, até mesmo a
impressão bucólica dos antepassados era incapaz de
fazer algo por seu espírito inquieto.
Ele afundou na cadeira atrás de sua mesa e
olhou suas cartas não abertas com um olhar
cansado.
No topo, havia um envelope simples sem selo,
apenas com seu nome escrito em uma caligrafia
precisa na frente.
Curioso, ele arrancou-o da pilha e abriu-a.
Meu senhor Manderville:
Encontre-me no Flower and Swine em Holborn
às dez da noite. O salão privado será reservado
para nossa discussão.
Ah, sim, a maldita aposta.
Nenhuma assinatura, mas ele reconheceu a
escrita do bilhete que havia lido antes. Bem, a
senhora fora rápida, ele precisava admitir. Era uma
suposição fácil adivinhar que Nicholas tinha
recebido uma missiva semelhante.
Pegou o abridor de cartas com o brasão de sua
família estampado na alça de metal e girou-o entre
os dedos.
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Tudo bem, pensou com resignação feroz. Por


que não comparecer, por que não fazer o melhor
para provar sua proeza sexual? No mínimo, teria
uma distração de seu estado atual de autopiedade
apática, além de poder se divertir com uma mulher
calorosa e disposta.
Se ele fechasse os olhos, talvez pudesse fingir
que estava fazendo amor com Annabel.
Com essa estratégia, ele podia ganhar, no fim
das contas.

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O estabelecimento era pequeno, escondido em


um bairro no extremo leste da cidade, região
que Caroline não tinha visitado antes. O desonroso
exterior a chocara a princípio, mas era perfeito para
os seus propósitos: os poucos débeis clientes da
taverna úmida e esfumaçada prestaram-lhe pouca
atenção. O estalajadeiro levara-a a uma sala de
estar que ficava a um passo do piso pegajoso e das
mesas bambas da área principal, e trouxe uma
garrafa de vinho que sem dúvida não era nada do
que o imponente duque de Rothay e o lorde
Manderville estavam acostumados a beber, mas
teria que servir.
Discrição era a ordem do dia.
As palmas das mãos dela estavam úmidas
debaixo das luvas enquanto ela afundava em uma
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cadeira, e o véu parecia sufocá-la. Caroline chegou


cedo — pois não tinha intenção de fazer uma
grande entrada caso os dois homens já estivessem
ali — e tentou ignorar alguns tremores internos.
Bela sedutora sensual que você é, ela zombou
de si mesma, nem um pouco certa de que, mesmo
que tivesse chegado tão longe, não quisesse sair
correndo da sala. As vigas enegrecidas no teto
baixo pareciam muito próximas, e uma risada
estridente de algum cliente bêbado ecoou com
clareza. O cheiro de cerveja velha derramada
pendia como um manto.
Eu deveria sair agora.
Não. Ela endureceu a coluna e ergueu o véu
para tomar um gole rápido do copo. Vivera até
aquele momento a sufocante existência de uma
mulher que nunca se arriscava. Nunca tivera a
oportunidade de fazê-lo. Era uma chance imoral e
escandalosa de realizar algo tão ousado e
completamente fora de suas características, que ela
simplesmente não conseguia deixar passar. Uma
oportunidade para mudar o dano irrevogável
causado à sua vida, se as coisas funcionassem como
esperava.
Isto é, a menos que o duque e o conde
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declinassem assim que percebessem quem ela era.


Supunha que isso era possível, mas, francamente,
achava que era a pessoa perfeita para resolver a
disputa masculina absurda. Avaliara o fato mais de
uma vez.
Era uma viúva, então, eles não estariam
roubando sua inocência.
Ela não queria nada deles, exceto a sensual
promessa implícita na própria natureza de sua
aposta, o que pretendia deixar claro.
Era a última pessoa que a sociedade imaginaria
que os ajudaria, então, certamente isso poderia
intrigá-los um pouco. A reputação de ser uma
mulher fria por si só deveria torná-los curiosos a
seu respeito e aumentar o desejo de provar suas
ideias arrogantes a respeito de competência sexual.
Não deveria?
Pronto. Esses pontos seriam seu argumento.
Ela teria que argumentar? Com dois libertinos
tão experientes, seu palpite era de que tudo que eles
exigissem fosse consentimento. Suas reputações já
estavam solidificadas.
— Minha senhora, você tem um convidado. —
O estalajadeiro obsequioso apareceu na porta
irregular e então correu para longe, para ser
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substituído por uma figura alta e sombria, um


homem que parou por um segundo antes de entrar
com sua graça predatória habitual.
Rothay.
O lendário duque usava roupas de noite escuras,
obviamente com a intenção de ir a algum lugar
muito mais elegante depois desse compromisso,
provavelmente o mesmo baile do qual ela iria
participar mais tarde. Nicholas Manning parecia,
como sempre, urbano, sofisticado e um pouco
arrogante.
Cabelos negros brilhantes com apenas um toque
cacheado enfatizavam a beleza esculpida de suas
feições; sobrancelhas arqueadas, um nariz reto, a
linha da mandíbula e queixo limpos e apenas
ligeiramente quadrado. Sua boca, infame por
aquele sorriso malicioso, curvou-se levemente ao
ver seu rosto velado. Olhos escuros examinaram
seu traje em avaliação aberta, e ela podia ver o
brilho de curiosidade ali.
Ele estava tão bonito como sempre, tão
imponente quanto cada sussurro, e o sedutor
levantar de sua boca era apenas parte de sua
persona célebre. Seu olhar inspecionou seu decote
e o sorriso se alargou lentamente.
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Bom, ele estava intrigado. Contanto que ela não


perdesse a coragem e recebesse as garantias de que
precisava, essa barganha seria selada em breve.
Caroline disse com uma entonação deliberada:
— Boa noite, Sua Graça.
Algo brilhou em seus olhos, talvez uma
percepção de que reconheceu sua voz. Ele se
curvou educadamente, o movimento fluido e
natural. Quando se reergueu, parecia que sua
cabeça estava menos de trinta centímetros abaixo
do teto afundado.
— Boa noite.
— Vamos esperar pelo Senhor Manderville?
Tomei a liberdade de pedir um pouco de vinho. Por
favor, sirva-se. Também pedi que não tenhamos um
servo. Pareceu... prudente.
Que escolha irônica de palavras. Nada sobre o
que ela estava fazendo era prudente.
— Claro. O que a senhora quiser. — Ele deu
um olhar superficial ao pequeno aposento e
escolheu uma cadeira, acomodando-se em um
suave movimento e estendendo suas longas pernas.
— Esta é uma excelente escolha para o nosso
pequeno encontro, com certeza. Acredito que não
encontraremos alguém que conhecemos neste
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lugar. Por favor, me diga que não veio aqui sem


escolta.
Ele estava perfeitamente certo. A vizinhança
era questionável, mas seu motorista era um jovem
corpulento, puro galês, grato por ter escapado do
destino de trabalhar nas minas como gerações de
sua família e, portanto, firmemente leal. Huw a
guiara em segurança até lá dentro, e iria levá-la de
volta para casa com o mesmo cuidado. Ela
balançou a cabeça, o véu movendo-se ligeiramente,
enquanto considerava aquela preocupação por sua
segurança um pouco inesperada.
— Eu não sou tola, Sua Graça.
— Eu nunca diria uma coisa dessas. Mas
admito livremente estar mais curioso sobre você. O
que a levou a nos contatar, se me é permitido
perguntar?
A garrafa de vinho estava na mesa junto com os
copos, e ele chegou a tomar um gole, mas ela tinha
a sensação de que estava intensamente interessado
em sua resposta, apesar da aparente indiferença de
seu gesto.
O que ele achava? Que ela era uma mulher
desesperada e solitária, tão carente de atenção
masculina que se deitaria com dois homens só para
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ter um pouco de carinho? Bem, provavelmente era


algo lógico, ela supunha, mas não o caso. Se
quisesse companhia masculina, poderia encontrá-la
facilmente. Mesmo com sua reputação de ser uma
mulher fria, cansara de afastar potenciais
pretendentes. Quanto à solidão, certamente preferia
ser viúva do que esposa, então, tudo vinha com um
preço.
Pagou o suficiente e era por isso que estava ali.
Sentia-se insatisfeita? Sim, porque havia algo
faltando em sua vida, como uma parte gritante de
um quebra-cabeça inacabado que arruinava a
imagem. Encontrar aquela peça e encaixá-la em seu
espaço era importante. Afetava todo o seu futuro de
todas as maneiras concebíveis.
A paixão física era um mistério elusivo. Ela não
via uma forma de permanecer respeitável e resolver
isto.
Exceto dessa forma.
Fora enganada pela inadequação de um
casamento que não queria, e a insensibilidade de
seu marido no quarto era apenas parte disso. Agora
que ele partira, não havia nada que ela pudesse
fazer sobre sua negligência de outras maneiras, mas
poderia descobrir se fora culpa sua que não
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gostasse de relações conjugais, como Edward


afirmara. Era uma suposição lógica que, se ela não
se satisfizesse nos braços dos dois amantes mais
celebrados de Londres, a culpa seria dela. Até onde
sabia, era improvável que se envolvesse com
qualquer homem novamente. Ser uma amarga
decepção para um marido já fora mais do que
suficiente. Não tinha certeza se sequer desejava um
relacionamento íntimo com qualquer homem
novamente, mas queria a chance de fazer a escolha
sem que as garras de seu passado se apertassem em
torno do seu presente.
— Eu suponho que seja natural para o senhor se
perguntar sobre a minha motivação em me oferecer
para dar opinião sobre a sua competição não
convencional — disse ela sem inflexão, olhando,
através do véu, para o homem à sua frente. — Eu
acho que está implícito na minha comunicação
inicial.
As sobrancelhas de ébano se ergueram
ligeiramente.
— Ah, sim, a implicação de que os amantes que
teve até agora a desapontaram. É uma pena que
qualquer mulher se sinta assim.
A carícia de sua voz rica era tangível, como se
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ele realmente a alcançasse e a tocasse. Havia algo


no modo como se comportava também. Não podia
estar alheio ao fato de que sua aparência afetava as
mulheres, mas não era a arma que usava para
conquistá-las. Não era de se admirar que se
apaixonassem por ele com a entrega de quem se
atira de um penhasco, ela pensou, olhando-o
através da mesa gasta e lascada. Se ele
personificava o pecado, era do tipo mais delicioso.
De alguma forma, cercado pelo ambiente insípido,
seu poder era potencializado.
Sobrepor-se à exibição de assoalhos estriados,
paredes manchadas e uma cadeira inadequada à sua
altura impressionante enfatizava como ele era
masculino e aristocrático em todos os aspectos.
— Amante — ela corrigiu. — Não há plural.
E o que aconteceu em seu leito conjugal
certamente não parecia ter nada a ver com amor,
então, ela não tinha certeza se o termo se aplicava.
Mas a compaixão não lhe interessava. Sua ajuda,
sim.
— Apenas um homem? Entendo.
Apenas um. Certamente um conceito estranho
para um homem como o duque libertino, que
contava dezenas de amantes em seu passado
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promíscuo.
Ele continuou com o mesmo sorriso
conquistador e devastador:
— Não julgue a todos nós com muita
severidade a partir dos fracassos de um único
exemplo de nosso gênero.
— Não deveria? — Seria bom se ela soasse
como quem está flertando, mas temia não
conseguir.
— Na verdade, não. — Seu olhar mais uma vez
voltou-se para o volume de carne pálida acima de
seu corpete. — Assim como toda mulher é única,
imagino que também sejamos todos diferentes. Por
natureza, acho que os homens são mais egoístas no
geral. Sinto muito pela sua experiência anterior,
mas, mais uma vez, nem todos nós somos iguais.
Caroline sentiu o calor tentador dos olhos dele
sobre ela como se tivesse passado um dedo pela sua
pele. Então, novamente, seu carisma não estava em
questão. Eles eram muito desiguais, mas ela não
tinha intenção de deixá-lo saber disso. Com
equilíbrio frio, disse:
— Talvez o senhor tenha a chance de provar
seu ponto de vista, Sua Graça.
— Eu tenho a impressão de que não vou ter
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objeções a isso, minha misteriosa senhora.


Beber o vinho era impossível sem levantar o
véu, então ela tocou a haste de seu copo,
hesitantemente, observando o homem do outro lado
do mesa com contemplação cautelosa.
— Desculpe, estou um pouco atrasado.
A chegada de Lorde Manderville a impediu de
ter que dizer mais alguma coisa. Ela não queria dar
muitas pistas quanto à sua identidade até que
ambos lhe dessem a palavra de cavalheiros de que
nunca a revelariam.
O conde entrou na sala e deu-lhe a mesma
avaliação que seu amigo fizera, um olhar que se
prolongou por um momento no decote de seu
vestido da moda e terminou no pano que escondia
suas feições. Um sorriso travesso revelava dentes
retos brancos.
— Eu vejo que estamos realmente jogando um
jogo de intrigas aqui. É um prazer conhecer-lhe.
— O senhor já me conhece — disse Caroline o
mais calmamente possível. Ter ambos na sala era
um pouco desconcertante, ela descobriu. Os dois
eram muito altos e tinham aquele formidável ar de
autoconfiança masculina que parecia preencher o
pequeno espaço. A boa aparência do louro Derek
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Drake lhe valera o epíteto de O Anjo. Rothay, em


contraste, foi batizado de uma maneira debochada
como o Duque Diabólico.
Eles formavam um par poderoso, embora
dicotômico, o Anjo e o Diabo, e ela sentiu o
estômago revirar-se com uma tensão nervosa.
Aquilo dificilmente daria certo. Ali estava ela,
corajosamente oferecendo-lhes uma proposta
sexual. Uma mulher que viajara para uma
hospedaria obscura, a fim de se encontrar com
libertinos da estirpe dos dois homens em sua
presença, não deveria sucumbir a um ataque de
nervos.
As costas de Derek se retesaram quando a
resolução ressurgiu.
— Conheço a senhora? — Manderville aceitou
o copo de vinho que o duque lhe servia, com um
aceno de agradecimento, o olhar ainda fixo no rosto
dela, e sentou-se em uma cadeira bamba, que
gemeu em protesto.
— Os dois conhecem.
— Ah, achei que sua voz parecia culta e talvez
familiar. Não podemos ser conhecidos próximos,
ou eu a teria reconhecido com mais certeza. Tenho
bons ouvidos para esse tipo de coisa. — Seu sorriso
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era tão angelical quanto o do duque era


maliciosamente atraente. Enquanto Nicholas
Manning exalava um ar quase perigoso de
intensidade, o conde era de uma graça masculina
preguiçosa e despreocupada.
Tão diferentes, mas com a mesma oferta de um
suposto paraíso em seus braços.
Em seguida vinha a parte complicada. Caroline
não podia culpá-los por quererem saber quem ela
era, nem por quererem contemplá-la antes de
concordarem com a proposta, mas tampouco
removeria o véu antes que tivesse a garantia de seu
silêncio. Se não recebesse, iria embora
imediatamente. Até mesmo os mensageiros que
contratara para entregar os bilhetes tiveram que
passar por um processo complicado para garantir
que não houvesse uma conexão direta entre ela e
eles.
Isso deveria salvá-la, não destruir sua
reputação.
Eles podiam ter fama de seduzirem e
desaparecerem no dia seguinte, dormindo com um
bando de beldades da sociedade, mas ela nunca
ouvira uma palavra contra a honra deles em relação
a qualquer outra coisa, então, estava preparada para
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aceitar sua palavra. Com sua vasta riqueza,


certamente Rothay precisava administrar grandes
propriedades financeiras com eficiência, e
Manderville também era um homem rico com as
mesmas responsabilidades. Eles ocupavam cadeiras
na Câmara dos Lordes e eram ativos, se o que ela
lia no jornal fosse verdade. Era quase cômico ver
os esforços de todas as mães tentando chamar a
atenção para suas filhas elegíveis, mas ambos
supostamente evitavam moças solteiras como se
carregassem uma terrível doença.
Em suma, eram honrosos à sua maneira, ou ela
certamente esperava que sim. Estava prestes a
arriscar sua reputação nessa suposição. O véu fora
uma medida de segurança, para o caso de se
recusarem por qualquer motivo.
Caroline disse com firmeza:
— Antes mesmo de discutirmos essa situação
incomum, preciso da sua palavra solene de que meu
nome nunca será ligado a isso de maneira alguma.
Mesmo que não cheguemos a um acordo esta noite,
quero que ninguém saiba que alguma vez sequer o
considerei. — Sem pensar, ela citou baixinho: — A
cada palavra, uma reputação morre.
— Alexander Pope, eu acredito — disse o
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duque, parecendo divertido com aquelas


sobrancelhas elevadas. — Estou curioso demais
para recusar. Não direi a ninguém.
— Dou minha palavra sobre isso também. —
Derek Drake acenou com a cabeça loira, e seus
olhos apenas se estreitaram um pouco, enquanto ele
olhava para o rosto protegido. — Seu segredo está
seguro aqui.
— Muito bem. — Caroline levantou o chapéu e
o véu e os colocou de lado, alisando os cabelos com
os dedos que tremiam levemente. Ela era a única
relaxada na sala quando viu o choque em ambos os
rostos. A sala ficou em silêncio.
Era um testemunho de sua reputação. Ela
deveria ser friamente formal e inatingível, não uma
mulher que organizava reuniões em tavernas de má
reputação.
Quantas vezes, ela se perguntou, algum deles
havia ficado sem palavras?
Raramente, se tivesse que adivinhar.
— Lady Wynn. — Foi Rothay quem se
recuperou primeiro, mas, ainda assim, ele a
encarou, seu copo de vinho pendendo de seus dedos
longos. — Eu admito que estou surpreso.
Ela sentiu um pequeno sorriso nervoso contrair
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seus lábios.
— De um jeito bom, Sua Graça, ou de uma
forma desagradável?

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I sso sim era um desenvolvimento inesperado.


De todos os rostos que ele esperava ver por
trás daquele véu, Caroline Wynn não era um deles.
Nicholas considerara demoradamente qual das
damas de seu conhecimento poderia contemplar a
participação em sua pequena rivalidade ultrajante,
mas a mulher sentada do outro lado da mesa nunca
lhe ocorreu.
No entanto, lá estava ela, com um leve arquear
de uma de suas sobrancelhas castanho-
avermelhadas em uma expressão de surpresa,
apenas uma sugestão de diversão naqueles
magníficos olhos prateados. O local decadente que
escolhera para o encontro provava que estava
levando o assunto a sério, mas ele ainda achava
difícil acreditar que fora ela a responsável por
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aquele bilhete provocativo.


A bela jovem viúva do falecido lorde Wynn
tinha a reputação de ser indiferente a ponto de
desencorajar até mesmo os mais determinados
pretendentes. Ele só a conhecia de passagem, mas,
sim, ela estava certa, tanto ele quanto Derek foram
apresentados a ela em algum momento. Seu frio
exterior reservado enviava uma mensagem óbvia a
qualquer homem predador de que não estava
interessada em um relacionamento, por isso,
Nicholas apenas admirara sua indiscutível beleza e
descartara qualquer ideia de maior familiaridade.
Além disso, ela era mais jovem do que as senhoras
sofisticadas que costumava levar para a cama e
ainda muito casável. Se não lhe falhava a memória,
estivera casada com o visconde durante vários anos
antes que este morresse de repente, e depois
permanecera de luto por mais tempo do que o
necessário, mas, ainda assim, provavelmente estava
com no máximo vinte e três anos, se não um pouco
mais nova.
Definitivamente, ainda casável. Além de
exuberantemente atraente. Porém, perigosa para
qualquer homem que valorizasse sua
independência.
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Este era exatamente o seu caso. Talvez


independência tivesse sido a escolha errada da
palavra. O que ele valorizava era um pouco mais
complexo.
Nicholas sentiu-se um pouco alarmado.
Procurou algo diplomático para dizer.
— Minha senhora, você é muito adorável, é
claro, então a surpresa não é ruim, mas isso parece
um pouco imprudente na sua situação.
Derek tinha a mesma expressão confusa no
rosto. Nicholas só podia imaginar os mesmos
pensamentos percorrendo a mente de seu amigo em
um ritmo igualmente rápido. Derek disse:
— Er… eu concordo. Não tenho objeção,
acredite em mim, mas a senhora não deveria...
— Desperdiçar a minha virtude? — ela
interrompeu, baixando demoradamente seus longos
cílios. Seus olhos eram realmente de uma cor
notável, não azul pálido, mas, na verdade, um cinza
puro. O cabelo ruivo, rico e brilhante, reluzia contra
a pele pálida e impecável. Sua beleza
impressionante fez o quarto esquálido parecer ainda
mais monótono, mais deplorável. Dedos finos
seguravam a haste de um copo de vinho. — Por
favor, lembrem-se, senhores, eu sou uma viúva.
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Minha virtude já foi desperdiçada.


Uma maneira interessante de descrever o
casamento de alguém, Nicholas não pôde deixar de
pensar. Ele bebeu de seu próprio copo e tentou
analisar como se sentia sobre essa reviravolta na
situação.
— Você é muito jovem. Provavelmente vai se
casar novamente. Duvido que seu futuro marido
aprovasse seu envolvimento nessa pequena aposta.
— Sua Graça, não tenho intenção de me casar
de novo. Eu não preciso, pois sou autossuficiente
financeiramente. E ainda que algum dia me case
novamente, não seria da conta de meu marido o que
fiz ou com quem fiz alguma coisa, de qualquer
maneira. — Ela deu a ambos um olhar desafiador.
Até parece que não seria, Nicholas pensou, mas
admirou a maneira como ela ergueu o queixo e os
desafiou a dizer o contrário. Eram dois pesos e duas
medidas, ele sabia disso.
Os homens gostavam de mulheres promíscuas,
mas raramente se casavam com elas.
Ela continuou em um tom razoável, como se
eles não estivessem sentados em um
estabelecimento de mau gosto discutindo um
encontro ilícito planejado com base em uma aposta
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de bêbados.
— Desde que fiquei viúva, tenho mais
liberdade. Ninguém jamais pensaria que eu faria
uma coisa dessas, de qualquer maneira.
— Eu não pensaria — Nicholas concordou
ironicamente, especulando sobre o quão ineficaz
seu falecido marido devia ter sido no desempenho
de seu dever marital. Ele conhecia o ex-lorde Wynn
apenas de passagem, e este parecia bastante
agradável como um conhecido. Mas, novamente,
como os homens tratavam seus amigos casuais e
como consideravam suas esposas eram
frequentemente dois assuntos diferentes.
— Talvez o senhor realmente não saiba nada
sobre mim, Sua Graça.
Ela poderia ter a aparência deliciosa de uma
Vênus encarnada, mas nunca lhe ocorrera que a
sensualidade pudesse ferver sob aquele exterior
tentador. Diziam as más línguas que as montanhas
de gelo do Norte eram mais calorosas que Lady
Wynn.
— Eu admito que não. — Seu olhar sustentou o
dela.
Seus olhos singulares refletiam um lampejo de
incerteza enquanto olhavam um para o outro, e o
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momento durou por um longo instante. E depois


outro.
Ah, sim, ele estava intrigado.
— Obrigado por reconhecer isso — disse ela
sem qualquer inflexão.
Mas aqueles olhos expressivos eram algo
completamente diferente. Ele sabia quando afetava
uma mulher, e aquela parecia ser uma daquelas
situações.
Com a reservada Lady Wynn? Isto era
incrivelmente interessante.
Derek interveio:
— Se decidirmos nunca revelar sua identidade,
minha senhora, me explique como vai resolver a
aposta.
Ela deu um pequeno aceno de cabeça, como se
esperasse a pergunta.
— Tenho tudo pensado. Com o seu apoio,
publicarei os resultados na coluna da sociedade do
jornal, sob o manto do anonimato, é claro. Já que
meu nome será deixado de fora, ficarei à vontade
escrevendo meus pensamentos francos.
Essa declaração foi o suficiente para evocar o
mesmo espírito de combatividade que os colocou
em apuros em um primeiro momento, mas já que
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Derek não piscou um único olho, Nicholas também


conseguiu parecer indiferente.
— Tudo bem — disseram em uníssono e depois
olharam um para o outro com aborrecimento
mútuo. Ela riu com espontaneidade deliciosa,
iluminando seu rosto já muito adorável e
adicionando animação àqueles olhos assombrosos.
Diabos, ela era uma perspectiva muito
tentadora. Se eles realmente iriam passar por isso,
Lady Wynn era uma candidata cativante. Era
opinião comum que ela tinha uma verdadeira
beleza, com aquele cabelo pesado e lustroso
emoldurando um rosto delicado com maçãs do
rosto altas, um nariz pequeno e reto, uma boca
rosada e macia e seus olhos incomuns, de cílios
longos e largos. O fato de ela ser de uma
graciosidade esbelta e ter um corpo curvilíneo e
esguio, era algo que muitos homens notavam e
comentavam. A plenitude de seus seios sob o
corpete de seu vestido elegante atraiu o olhar de
Nicholas.
Derek aparentemente não era cego também. Seu
amigo murmurou:
— Você parece ter decidido, Lady Wynn.
— Isso depende. — Ela ajustou uma dobra de
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sua saia de seda esmeralda, e aquela cor de vestido


tornava-se um complemento à sua coloração vívida.
— Como poderíamos fazer isso funcionar?
Teremos que ser extremamente discretos.
Ela realmente era sincera, Nicholas decidiu, e
sua resistência inicial à ideia desapareceu.
E ele estava muito interessado.
Já fazia um tempo desde se sentira desta forma,
mas Lady Wynn era uma jovem fascinante. Como
sua personalidade sempre fora distante e fria, algo
que jamais procurara em uma amante, nunca a
considerara em nenhum contexto, especialmente o
que estavam discutindo atualmente. Ele falou sem
pensar.
— Dê-nos a cada um uma semana do seu
tempo.
Derek se virou para olhá-lo, com um lampejo
de surpresa nos olhos pelo período sugerido.
Uma semana?
De onde vinha a sugestão impulsiva, Nicholas
não tinha certeza, mas sentia que uma noite com a
bela mulher sentada à sua frente não seria
suficiente. O mistério do porquê de ela ter feito
algo tão inesperado mexia com ele e o atraía ainda
mais.
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Nicholas deu de ombros e sorriu.


— Tenho certeza de que você concordará que
fazer amor é um mundo vasto. Conhecer o seu
parceiro também é benéfico. Uma semana na
companhia um do outro, dentro e fora da cama,
parece lógico para uma conclusão justa.
O que quer que Lady Wynn esperasse,
obviamente não era aquilo. Ela pareceu
desconcertada por um momento, mas depois
assentiu devagar. Um cacho solto de seus cabelos
acobreados roçou a coluna de marfim de seu
pescoço e ele observou-o deslizar ao longo de sua
pele macia com uma fascinação quase involuntária.
Ela disse:
— Suponho que, se cheguei até aqui, posso
concordar com isso. Vou dar uma desculpa para
desaparecer por esse tempo todo.
Excelente.
Uma explosão de uma pequena briga entre
alguns dos clientes extremamente questionáveis ​na
taverna ecoou pela sala, junto com algumas
palavras ásperas que não eram para os ouvidos de
uma senhora, mas ela sequer piscou.
Sim, seu porte era notável.
— Eu tenho uma pequena propriedade rural em
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Essex. — Nicholas tentou se lembrar da última vez


em que estivera lá e falhou. Quando se retirava para
o campo, ia para a sede familiar muito maior em
Kent. A propriedade menor era parte de sua
herança e ficava vazia, a não ser pela equipe
mínima para mantê-la. — Fica na zona rural, longe
de qualquer cidade em particular, mas bastante
bonita e tranquila, se bem me lembro, e perto o
suficiente de Londres, não teríamos que viajar por
dias. Deve ser perfeito para um retiro discreto.
Uma semana com uma mulher que ele nem
conhecia era mais do que impulsivo, era
absolutamente irracional. Normalmente, uma noite
aqui e ali era demais, em seu distanciamento
lendário, porque suas relações transitórias não
exigiam nada além de diversão passageira. Ele não
mantinha uma amante, porque não precisava de
uma. A maioria das damas costumava entediá-lo
em prazo muito curto e ele dava como certo que se
desejasse companhia feminina, poderia tê-la
sempre que quisesse.
No entanto, uma voz insidiosa sussurrou em sua
cabeça, dizendo que o status inexperiente de Lady
Wynn na arte do prazer sexual a tornava mais
cativante do que a maioria. Ele não estava
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interessado em deflorar uma virgem, mas ela não


era uma, e sua beleza deslumbrante e feminilidade
delicada anulavam seu senso de cautela sobre o
conhecimento de que ela ainda era jovem e muito
desejável no mercado de casamentos.
Ela afirmara claramente que não queria se casar
novamente, e ele acreditou, pois a convicção em
seu tom inconfundível.
Uma semana para iniciá-la nos prazeres da
carne parecia uma distração bastante agradável de
sua agenda lotada. O Parlamento estava em recesso,
e ele poderia deixar seu administrador ciente de
como encontrá-lo, caso fosse necessário...
Sim, ele pensou, estudando a sensual plenitude
de seu lábio inferior, a ondulação da carne marfim
acima do corpete de seu vestido de noite decotado,
a cor tênue em suas bochechas enquanto corava
com sua avaliação evidente. Uma semana
provavelmente seria fácil. O suficiente para manter-
se em sua companhia.
Ela corou. Que notável. Palavras grosseiras não
tinham o mesmo efeito de um olhar.
— Nós estamos de acordo? — Ele colocou de
lado seu copo de vinho e levantou uma sobrancelha
em questionamento.
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— Suponho que posso encontrar um lugar


semelhante. — Derek assentiu. Ele relaxou em sua
cadeira, também olhando para sua bela
companheira, como se a aprovasse por inteiro. —
Desde que Lady Wynn entenda as implicações do
que aconteceria com sua reputação, caso sejamos
descobertos. Nenhum de nós jamais dirá uma
palavra, mas a tentativa de discrição não é infalível.
Caroline Wynn desviou o olhar por um
momento, e sua boca se contraiu. Então ela olhou
para eles novamente e endireitou os ombros
delgados.
— Naturalmente, não estou ansiosa por um
escândalo, mas se acontecer, será de minha própria
responsabilidade e espero que o risco se prove…
Bem, espero que valha a pena.
Lá estava um tom de desafio, se ele não estava
enganado.
Nicholas sorriu preguiçosamente.
— Vai valer, minha senhora.
Ela não sorriu de volta, mas simplesmente
olhou para ele com aqueles olhos notáveis, a única
traição de qualquer emoção era demonstrada no
leve tremor de seus lábios.
— Você parece muito confiante, Sua Graça.
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Parecia? Talvez, mas esta confiança era


alimentada pelo pouco que sabia sobre ela. Talvez
tivesse sido por isso que sugerira uma semana
inteira. Ela era um enigma em um mundo que ele
considerava muito previsível.
— Nós dois estamos, tenho certeza, ou não
teríamos feito a aposta em primeiro lugar, não é
verdade?
— Eu acredito que isso esteja resolvido, então
— disse ela, ficando de pé. — Sinta-se à vontade
para entrar em contato comigo com as
especificidades dos arranjos. Podemos nos
comunicar da mesma maneira de antes. Envie o
bilhete para o mesmo endereço, que chegará até
mim. — Nicholas e Derek se levantaram
educadamente. — Meu motorista está na taverna,
esperando. Ele vai me acompanhar.
Nicholas sentiu um arremedo de protesto
avolumar-se, preocupado com a multidão rude no
outro cômodo.
— Eu vou acompanhá-la até a carruagem.
— Não, obrigada, Sua Graça. Mesmo aqui,
prefiro não ser vista com o senhor.
Aquela declaração calma e contida deixou-o em
silêncio. Durante a maior parte de sua vida adulta,
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ele esteve cercado por mulheres mais do que


ansiosas por serem vistas em seus braços. Isso era
novo. O incômodo provocado o surpreendeu um
pouco. Por que ele se importaria, de um jeito ou de
outro? Ela pegou o chapéu e colocou-o, ajustou o
véu sobre o rosto e partiu em um redemoinho de
verde esmeralda e um toque delicado de perfume
floral.

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— U ma festa tão linda, você não concorda,


meu senhor?
Distraidamente, Derek Drake olhou para a
mulher em seus braços. Bom Deus, por um
momento ele não conseguiu lembrar o nome dela.
Muito perturbador!
Amelia. Sim, irmã de um amigo, e era por isso
que estava dançando com ela em primeiro lugar.
Horace a empurrara para ele, que concordou em
levá-la para o salão, principalmente porque se
alguém comparecia a um baile, deveria pelo menos
fingir que estava se divertindo.
Não era o caso de Derek, mas, novamente, ele
também não esperava divertir-se.
O que ele queria não tinha nada a ver com
entretenimento. Seus motivos eram mais parecidos
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com autoflagelação.
Isso era muito produtivo, ele pensou em auto
zombaria, enquanto rodopiava pelo salão. Sua
parceira era muito baixa, e como Derek era um
homem alto, acreditava que parecessem um pouco
ridículos juntos. Em voz alta, ele disse:
— Sim, adorável.
Esse tipo de conversa banal certamente lhe
renderia a incrível fama de ser um amante
maravilhoso, não é verdade? Para sua sorte, Amélia
pareceu achar sua resposta gratificante, pois sorriu
como se ele tivesse dito algo inteligente.
— Bastante.
Como prosseguiria com a conversa? Nada
parecia se encaixar. Sua famosa língua ferina
estava revestida de chumbo esta noite. Ele sentiu
imensa gratidão quando a música terminou e ele a
conduziu para fora do salão, curvando-se sobre a
mão arredondada e fugindo em seguida.
O baile era um desastre anunciado, Derek
pensou enquanto atravessava a multidão. A sala
estava abarrotada de pessoas, as janelas abertas
proporcionando um pouco de alívio ao calor. O
murmúrio de vozes rivalizava com a orquestra por
proeminência. Felizmente, graças à sua altura, foi
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possível manter seu objetivo à vista. Finalmente


chegou a Nicholas. Seu amigo estava encostado em
um pilar de estilo grego e bebia champanhe.
Sem preâmbulo, Derek disse:
— Uma semana? Você está louco, Nick?
Eles estavam cercados de pessoas, mas entre a
música e a ressonância de centenas de vozes, a
conversa era relativamente privada, como se
estivessem isolados em algum lugar. O duque de
Rothay lançou-lhe um dos seus indecifráveis
olhares pelos quais era tão bem conhecido.
— Parece razoável.
Derek bufou com escárnio deselegante.
— Você nunca passou em sua vida uma
quantidade de tempo similar a essa com uma
mulher, além de, talvez, sua mãe.
A duquesa viúva era uma figura formidável,
apesar do fato de que mal chegava ao ombro do
filho. Uma beleza de renome no seu tempo, ela
ainda exercia uma grande quantidade de poder
social em todos os círculos certos. Sua
desaprovação à abordagem desapegada de seu filho
a qualquer jovem casadoura era de conhecimento
público.
Nicholas riu, divertindo-se abertamente com a
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referência.
— E nem mesmo ela, uma vez que passei a ter
idade suficiente para evitá-la. Eu gosto da minha
mãe, mas pensar em uma semana com seus
conselhos constantes me faz estremecer.
— Por isso fiquei surpreso com sua sugestão.
Você não conhece Lady Wynn. — Para Derek, era
muito mais fácil se concentrar na aposta frívola do
que em seu próprio estado miserável.
— Está me dizendo que se oporia a ter alguém
tão adorável em sua cama por tanto tempo?
— Ela é muito bonita. — Derek obliquamente
não respondeu à pergunta, olhando para onde
Caroline Wynn estava sentada em um canto, com
várias senhoras mais velhas, como de costume,
parecendo remota e inacessível. Ela raramente
aceitava um convite para dançar, mas os homens
ainda tentavam. Mesmo à distância, a pálida
perfeição de sua pele em constraste a cor brilhante
de seu cabelo ruivo era impressionante. Ela tinha
uma beleza inteiramente feminina, e ele deveria
estar ansioso pela a perspectiva de se deitar com
ela.
Por que não estava?
— Eu não sou mais propenso a complicações
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duradouras do que você — comentou Derek em


tom de voz baixa.
Exceto uma vez. Ele poderia estar propenso a
um determinado compromisso a longo prazo, mas
arruinara tudo.
Foi uma atitude idiota, mas ele examinou a sala
com um olhar inquieto e perscrutador.
E a encontrou.
Claro que Annabel estaria lá, droga! Derek
vislumbrou na multidão de cabelos e corpos bem
vestidos um certo tom de ouro, um lampejo de
perfil de porcelana que ele conhecia tão bem
quanto conhecia seu próprio rosto, e seu peito se
apertou.
Bem, ele lembrou a si mesmo com o máximo de
distanciamento pragmático possível, você esperava
vê-la. Não era surpresa que a protegida de seu tio
estivesse presente. Metade de Londres estava
espremida naquele salão de baile. Era natural que
Annabel comparecesse, e não era muito difícil
presumir que ela surgiria de braços dados com seu
noivo.
Maldito fosse aquele homem.
— Como vamos decidir quem terá o privilégio
de tê-la primeiro?
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A pergunta de Nicholas trouxe sua atenção de


volta ao assunto em questão e Derek se forçou a
desviar o olhar. Uma vez que a mera visão de
Annabel beirava a tortura, naquele momento,
concentrar-se em outra coisa tinha seu mérito. Um
interlúdio apaixonado com a deliciosa Lady Wynn,
por exemplo. Já havia perdido Annabel. Precisava
se transformar em monge por causa disso?
Não, claro que não.
Ainda assim, ele se protegeu.
— Suponho que depende de quão rápido a
dama pode se ausentar. Minha programação na
próxima semana inclui vários compromissos que
não posso perder e, além disso, preciso encontrar
um local isolado semelhante ao seu.
— Eu acho que posso resolver as coisas para
partir em um dia ou dois. Vamos dizer que está
resolvido? — Eles eram amigos há muito tempo.
Uma década, desde que se conheceram em
Cambridge em seu primeiro ano na universidade, e
havia uma nota desconhecida na voz de Nick.
Derek relembrou a versão mais jovem do duque de
Rothay, ainda sofrendo por sua malfadada primeira
incursão no que percebia como amor, determinado
de uma forma que só Nicholas poderia ficar para
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evitar a experiência. Derek gesticulou a um criado


que passava, tirou um copo da bandeja e lançou a
seu companheiro um olhar divertido.
— Ela o intriga.
— Um pouco.
Já era hora, com todas as mulheres que tinham
ido e voltado da vida de Nicholas, que alguém o
fizesse.
Derek riu.
— Muito. Talvez você possa enganar outra
pessoa, mas não a mim.
— Ela é muito atraente.
— Isso é verdade, mas todas as mulheres com
quem se enredou eram lindas.
— Eu gostaria que você não usasse o termo
enredar. Isso me faz pensar na armadilha de um
caçador ilegal e em um animal ferido.
Na avaliação de Derek, essa era uma descrição
adequada. Só Deus sabia que ele se sentia
dolorosamente pressionado contra uma limitação de
vocabulário por muito menos do que isso. Com
inflexão neutra, respondeu:
— Justo. Diga-me como você chamaria.
— Escapadas luxuriosas — Nicholas forneceu a
frase com um sorriso que mitigou a feição séria.
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— Eu suponho que se encaixa. Mas desde que


nossa adorável juíza obviamente não esteja
tentando prendê-lo, pelo menos você pode relaxar e
satisfazer seu interesse.
— Talvez. — Rothay tomou um gole de seu
copo e parecia sem graça. — Ela não o intriga? —
Com mil demônios, Annabel e Hyatt estavam no
salão agora, rodopiando entre os dançarinos ao som
de uma música popular. Seu rosto estava corado
como uma rosa, a luz brilhando em seu cabelo
pálido, e em um vestido de seda cor de rosa ela
parecia... Arrebatadora. Cativante. Tão bonita que o
peito dele doía. Hyatt também parecia feliz e,
infelizmente, embora não fosse particularmente
bom em julgar a aparência de outros homens,
Derek sabia que o homem era considerado atraente
pelas mulheres.
Sem dúvidas não era um pensamento
encorajador, mas ele de fato não conseguia se
lembrar de já ter estado tão desanimado em sua
vida, de qualquer maneira.
— Derek?
Oh, inferno, ele fez uma pergunta, não foi?
Removido abruptamente de sua abstração, Derek se
virou.
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— Eu sinto muito.
Nicholas deve ter notado algo estranho em seus
modos, mas felizmente não mencionou isso.
— Acabei de perguntar se a nossa inesperada
voluntária o intrigou.
— Claro — Derek respondeu rápido demais e
tomou um gole de champanhe para cobrir o erro.
Nicholas, precisava se lembrar, não era
facilmente enganado. Os olhos escuros estreitaram-
se ligeiramente enquanto o observavam.
O único consolo era que eles tinham uma regra
não oficial, mas inviolável entre eles: nada de
perguntas intrusivas. Um acordo de cavalheiros
entre dois homens que respeitavam a privacidade
um do outro.
O acordo foi respeitado mais uma vez. Depois
de um momento, Nicholas apenas disse:
— Então você não se importa que eu a tenha
primeiro.
Tê-la. Muito apropriado. Uma risada ficou
presa em sua garganta.
Derek realmente precisava recuperar a
compostura. O champanhe podia estar quente
demais, mas funcionou, pois tomou outro gole e
conseguiu esboçar o que esperava que parecesse
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um sorriso fácil.
— Não. Eu tenho certeza de que você vai se
sair muito bem também. Mas lembre-se, é de mim
que ela vai lembrar.
— Sinta-se livre para pensar assim,
Manderville. Eu planejo deixar uma impressão
indelével agora que nós três temos um acordo.
Duvido que teria escolhido a moça em questão, mas
já que ela deu um passo à frente, estou... ansioso.
Era curioso, pois o duque de Rothay sempre a
epítome da sedução descuidada. A impaciência era
mais do que incomum.
— A situação certamente tomou um rumo que
não esperávamos, não foi? — perguntou Derek,
mas como sabia que sua ânsia era temperada por
sua atual infelicidade pessoal, era difícil dizer se
Nicholas estava mais interessado do que o esperado
na oferta incomum de Lady Wynn de participar ou
se Derek sentia-se tão desequilibrado que isso
estava afetando seu julgamento. Como alguém que
não conseguia discernir seus próprios sentimentos,
talvez ele não devesse presumir entender os de
outras pessoas.
Se Nicholas ficou tão entusiasmado em
acompanhar a moça para a reclusão no campo, que
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ele a levasse para lá imediatamente e exercesse seu


infame encanto ao seduzi-la. No momento, o
coração de Derek simplesmente não estava voltado
para isso.
Ele disse em um tom ocioso:
— Avise-me quando vocês dois voltarem para a
cidade.

A S RA . H AROLDSON INCLINOU - SE PARA FRENTE COM


um ar conspiratório definido, seu considerável
busto fazendo parecer que ela poderia cair no chão.
— Não é — ela disse em um sussurro sibilante
— algo com que uma pessoa deveria se
surpreender, eu suponho.
Caroline se esforçou para parecer reservada e
fria quando, na verdade, o salão lotado estava
insuportavelmente abafado. Um fio de suor correu
de maneira deselegante entre seus seios.
— Surpreender com o quê?
— A maneira como Sua Graça e o conde estão
conversando sobre isso, orgulhosos como pavões,
os dois.
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Eles estavam discutindo a aposta? Pareciam, ao


menos, absortos na conversa. Como não se passou
mais de uma hora ou duas desde que os três
deixaram a hospedaria, era provável que pudessem
estar falando sobre isso.
Sobre ela.
Ela tinha feito isso. Ofereceu-se a dois patifes
desonrosos, concordou com uma aposta perversa
que a arruinaria aos olhos de toda a sociedade, se
fosse descoberta, e a colocaria diretamente no
caminho da desgraça e do escândalo.
Tudo por uma boa causa, uma pequena voz
interior lembrou a ela com inabalável praticidade.
Sua sanidade.
Sua vida, na verdade, se ela quisesse ser
melodramática a respeito.
— Tenho certeza de que eles conversam com
frequência. Eu os vi. — Ela fingiu seu melhor tom
desdenhoso, lançando um olhar desinteressado para
os dois homens altos do outro lado da sala. — Eles
não são amigos?
— Com certeza, Lady Wynn, você já ouviu
falar sobre a mais recente aventura deles.
— Você quer dizer aquela tediosa aposta?
Deus do céu, estava quente e não ajudava em
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nada ter uma falange de mulheres mais velhas e


matronas por todo lado, encurralando-a
figurativamente. Precisou reprimir a vontade de
pular e sair correndo da sala como se todos os
diabos do inferno estivessem em seus calcanhares.
Um diabo de cabelos escuros em particular,
equilibrado por um anjo dourado.
Debaixo da sombra de seus cílios, ela os
observou, finalmente recebendo permissão, pelo
curso da conversa, de fazer o que queria desde que
chegara. Nicholas Manning, tão gloriosamente
atraente, com o cabelo de alguma forma
conseguindo parecer elegante e ao mesmo tempo
um pouco desgrenhado e suas roupas de noite
adaptadas à sua compleição masculina. Manderville
também, como um deus grego, era tão bonito que
parecia aquecer a sala com sua presença, seus
brilhos mútuos fazendo deles o centro das atenções
com ou sem sua infâmia atual.
— Sim, na verdade a aposta. É mais do que
desnecessária, você não concorda?
Oito pares de olhos se fixaram nela. O círculo
das viúvas, a maioria delas pelo menos duas
décadas mais velhas do que Caroline, era seu
bastião atual contra qualquer homem que se
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aproximasse. Era seguro se acomodar em um canto


com elas em vez de aceitar qualquer oferta de
dança ou, ainda menos atraente, desfrutar de um
flerte.
Ela não tinha a menor ideia de como fazer o
último.
Caroline murmurou:
— Tenho certeza de que minha opinião não
importaria para nenhum deles. Sua impertinência
mútua é lendária. Acho o assunto totalmente
desagradável.
— Bem dito. — A condessa viúva Langtry
assentiu em concordância.
— Está além dos limites, sem dúvida. Você está
certa.
Outras vozes murmuraram, todas concordando
com ela. Mas, por mais que o grupo pudesse
protestar contra o comportamento dos dois
senhores em questão, elas certamente não pareciam
ter muita dificuldade em observá-los de longe.
Ela era, é claro, a inalcançável e distante Lady
Wynn. Era natural que desprezasse uma conversa
sobre algo tão discordante com sua própria
existência plácida e reclusa.
Se elas soubessem a verdade...
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Deus me livre, ela pensou com um pequeno


estremecimento.
No final das contas, não conseguia mais fingir
que o tópico do belo duque era monótono e a
entediava. Desculpou-se e saiu para os jardins atrás
da imponente mansão, respirando fundo como se
isso pudesse curá-la e consertar todas as coisas
quebradas em sua vida.
Não, só ela poderia fazer isso.
Havia alguns outros convidados no terraço,
então ela se esgueirou para onde os canteiros e
arbustos formais estavam dispostos. Vagando por
um caminho escuro, sob um punhado de estrelas
acima de um cobertor de diamantes no céu noturno,
ela tentou avaliar suas emoções agora agitadas.
Isso era realmente algo que ela poderia fazer?
Uma atribuição secreta para liquidar uma aposta
feita entre dois senhores que admitiram estar sob a
influência de uma grande quantidade de vinho na
época?
Seu rosto se aqueceu e ela ficou grata por não
haver ninguém para testemunhar. A avaliação
masculina descarada que o duque lhe reservara na
hospedaria não era algo pelo qual não tivesse
passado antes, mas sua própria reação foi muito
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inesperada.
Geralmente ela se sentia infundida por uma
indesejável mistura de constrangimento e
trepidação.
Por alguma razão, ele não a afetara dessa
maneira. Talvez sua parte na aposta tivesse
definido a dinâmica de sua interação desde o
começo. A reunião fora uma escolha sua. Que
conceito novo, ter uma escolha.
Sua saia roçou nas folhas lustrosas de algum
arbusto conforme ela passava, e uma flor branca
espalhou pétalas sobre o tecido em uma enxurrada,
como uma explosão em uma tempestade de neve. A
fragrância era doce, inocente e sedutora. Ela as
afastou distraidamente, virando o rosto na direção
de uma brisa muito bem-vinda.
Pelo menos seus pretensos amantes pareciam
capazes de honrar seu pedido para manter sua
identidade em segredo. Nenhum deles tinha sequer
olhado para ela no decorrer da noite.
Isso vai funcionar, ela se assegurou.
E rezou para que fosse verdade.

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N inguém em Londres tinha outra coisa para


conversar a não ser aquela aposta infernal? A
xícara tremulou no pires quando ela a colocou de
lado e uma pequena porção de chá derramou sobre
a borda. Annabel Reid rangeu os dentes e esperou
que ninguém notasse, fazendo o seu melhor para
parecer o mais composta possível.
Parte da atual onda de interesse surgira, ela
sabia, pelo aparecimento de ambas as partes
envolvidas no baile de Branscum na noite anterior.
Eles ficaram conversando por um bom tempo e,
como de costume, aparentemente indiferentes aos
sussurros crescentes. Juntos, eram como sempre
impressionantes; o duque com sua boa aparência
sombria e impressionante, além do ar natural de
poder que emanava dele tão facilmente, e Derek
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Drake, a quem ela conhecia desde que podia andar,


com sua devastadora beleza e charme sem esforço.
Só que ela não ficava encantada.
Ele poderia ser esmagadoramente atraente em
todos os sentidos que um homem podia ser, mas ela
o odiava. Aquele sorriso fácil e ar de superioridade
apenas encobriam as falhas sob a superfície.
Sim, ela o desprezava.
Profundamente.
Completamente.
— Sinto muito, minha querida senhorita Reid,
mas você não é parente de Manderville?
Annabel olhou para cima, percebendo com
pesar que o assunto era com ela. Um grupo de oito
senhoras a olhava com expectativa, entre elas sua
futura sogra. O resto eram tias e primas de Alfred.
Limpou a garganta, inexplicavelmente horrorizada
com a pergunta.
— Não, não. De modo algum. Seu tio é meu
guardião. Esta é a extensão do parentesco.
Era a verdade. Não havia laços de sangue.
Thomas Drake e seu pai tinham sido amigos
íntimos por toda a vida, e este vínculo fora
profundo o suficiente para que providências fossem
tomadas para no caso de o pior acontecer — e
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acontecera —, que seu cuidado fosse confiado a seu


velho amigo. Ela ficara completamente desnorteada
quando, aos oito anos, seus pais morreram em um
acidente de barco. Mas não importavam seus
pensamentos sobre o infame sobrinho dele, Derek,
porque Sir Thomas era um homem maravilhoso, e
ele e sua esposa Margaret a tinham tratado como
sua própria filha. De certa forma, uma vez que
nunca foram capazes de terem seus próprios filhos,
Annabel se perguntou se ela não fora uma bênção
para eles como eram para ela. De qualquer forma,
embora amasse Thomas e Margaret, Derek era
outra história completamente diferente.
— Mas você cresceu na propriedade da família,
correto? — Lady Henderson a olhou com discreta
curiosidade.
— Eu… bem… sim, eu cresci. Em... Berkshire.
Por que ela gaguejou a resposta, especialmente
com tantas pessoas a olhando? O assunto
indesejado era a última coisa que queria discutir.
Detestava fofoca. Se toda a questão escandalosa
fosse esquecida, ficaria mais do que feliz. Estava
sentada na sala de visitas da casa de Londres de seu
noivo, toda mobiliada de maneira formal e cheia
demais para o seu gosto, e isso já era ruim o
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bastante sem relembrar um assunto tão


desconfortável.
Annabel gostava de livros e solidão muito mais
do que reuniões extravagantes. Uma boa cópia de
Voltaire e um assento ensolarado sob a janela eram
mais do seu gosto do que a situação atual.
— Eu imagino que você o encontrasse com
bastante frequência. — Os olhos pálidos de Lady
Henderson continham curiosidade maliciosa.
Todas olharam para ela com expectativa. Claro,
porque estavam falando sobre Derek Drake e
quando seu nome era mencionado em uma sala
cheia de mulheres ele não passava despercebido.
Maldito fosse.
Sim, era um pouco irritante saber que ele
realmente possuía a casa que ela considerava como
seu lar. Seu guardião era o irmão mais novo do
conde falecido, pai de Derek. Sobre esse assunto,
ela tinha a desconfortável impressão de que fora
Derek a fornecer seu dote. Quando Annabel
perguntou a Margaret abertamente, ela foi evasiva
sobre o assunto e Margaret não era de mentir, então
isso fora resposta suficiente. Thomas ia bem
financeiramente, mas Derek detinha a verdadeira
riqueza da família.
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Isso era uma ironia. O homem que ela amara no


passado dando dinheiro como um incentivo para
outro homem se casar com ela.
— Ele é uma década mais velho — Annabel
apontou —, então não o via com tanta frequência.
Quando eu tinha oito anos, ele foi para Cambridge
e parece preferir Londres a Berkshire. Nós
raramente o vemos. Mesmo quando estamos na
cidade, ele tem sua própria casa.
Outra dama, ela tinha quase certeza de que seu
noivo a chamara de tia Ida, murmurou:
— Eu posso adivinhar o porquê. Londres é
muito mais… habitada.
O que significava mais mulheres disponíveis. A
implicação era clara, e embora a última coisa que
ela quisesse fazer fosse defender um libertino sem
esperança como o conde de Manderville, Annabel
inexplicavelmente o fez.
— Ele na verdade tem muitos interesses
comerciais e é mais fácil ter acesso a seus
advogados e administradores enquanto estiver na
cidade. Manderville Hall é um inconveniente. Ele é
um homem ocupado.
— Eu acho que sim. — Uma mulher diferente,
magra e com o cabelo estranhamente escuro para a
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idade, deu uma risada aguda. — Embora duvide


que os negócios sejam a primeira coisa em mente.
No entanto, é fácil perdoá-lo por suas indiscrições,
já que é um jovem tão bonito.
— Mais do que Rothay? — alguém perguntou.
— Impossível — outra protestou.
Sim, o coração traidor de Annabel respondeu.
Mais do que qualquer homem vivo.
Ela o adorara quando era criança. Com seu
sorriso travesso e humor fácil, ele fora um herói
para uma garota que de repente ficou órfã. Em
retrospecto, reconhecia sua gentileza em suportá-la,
uma vez que o seguia por toda parte. Que um
jovem de dezoito anos tivesse tido tempo para dar
um pônei a uma criança e ensiná-la a cavalgar era
um ponto a seu favor, mas ainda assim... o homem
era um patife desprezível. A aparência angelical
que a natureza lhe conferira era o pior tipo possível
de fraude. Ele deveria ter vários chifres e um rabo
bifurcado para combinar com seus olhos
hipnotizantes e aquelas feições bem esculpidas.
— Como na terra alguém poderia decidir qual
deles é mais bonito? — Uma das primas de Alfred
riu, seu rosto jovem mostrando um leve rubor. —
Ambos são divinos.
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— Silêncio, Eugenia — sua mãe disse em


reprovação.
— Ele está sempre cercado por escândalos —
disse a tia magra novamente, mas havia um brilho
malicioso em seus olhos. — Não foi há alguns
meses que Lorde Tanner ameaçou nomear
Manderville em seu processo de divórcio contra a
esposa por motivos de adultério?
Precisamente quatro meses desde que o rumor
desagradável emergiu, mas Annabel não fez
absolutamente nenhum comentário, sentindo-se mal
toda vez que pensava sobre o assunto. Era melhor
manter seus sentimentos pelo conde imoral em
segredo, para não ter que explicar o motivo de sua
intensa antipatia. Não achava possível, mas a
acusação pública de que Derek participara do
término de um casamento fizera com que sua
opinião sobre ele despencasse ainda mais.
— E agora essa competição indecente. Embora
seja indelicado pensar nisso, é preciso imaginar
como eles vão resolver sua pequena disputa. — A
matrona Ida, que acabara de declarar o assunto
como sendo indelicado, certamente parecia
determinada a discuti-lo.
— Ouvi dizer que a atriz russa, que interpretou
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Ophelia tão bem, mesmo com seu sotaque terrível,


vai declarar o vencedor. — Lady Henderson, que
não precisava aumentar a circunferência de sua
cintura já ampla, arrancou outro doce do carrinho.
— Mesmo? Bem, eu ouvi...
Annabel bloqueou os sons da conversa
concentrando-se nisso com desespero. Seus
esforços foram ineficazes, e ela provavelmente
passou a imagem de estar entediada e
excessivamente quieta, mas conseguiu decidir que
roupa usaria mais tarde naquela noite.
Então a tarde não foi uma perda completa de
tempo.
Depois que o interminável chá terminou, ela
ficou grata por ser entregue à carruagem que a
aguardava. Logo estaria casada e sua associação
com Derek Drake seria cortada de uma vez por
todas. Bem, não completamente, porque sua tia e
tio o tinham em alta conta, e considerava Thomas e
Margaret como seus pais, mas pelo menos não teria
mais que suportar sua companhia com muita
frequência. Além disso, quando o fizesse, Alfred
estaria ao seu lado e isso ajudaria.
Ajudar com o quê? A pergunta silenciosa a fez
olhar pela janela enquanto o veículo se movia.
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Era melhor não pensar sobre isso.


Sobre ele.

T ENTERDEN M ANOR NÃO ERA EXATAMENTE A IDEIA


que Caroline tinha de uma pequena propriedade
rural, pensou com um nervosismo, mas o duque
estava certo sobre uma coisa: era isolada.
Localizada em uma área arborizada, consistia
em uma suave estrutura de pedras banhada pelo sol
do fim da tarde. Uma elegante fachada mostrava
influência elisabetana nas alas abertas, deixando
óbvio que alguns detalhes tinham sido modificados
ao longo dos anos. Mesmo que o duque raramente
ficasse naquela casa, os terrenos intensamente
verdes eram tratados com esmero, e o limpo
cascalho da entrada se curvava em direção à porta
da frente. Fileiras de janelas reluzentes gradeadas
eram emolduradas por hera, dando à casa um efeito
encantador, quase de conto de fadas, apesar de seu
tamanho imponente. Árvores maduras estendiam
galhos frondosos sobre a maior parte do terreno,
deixando a luz do sol atravessar a grama cortada.
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Era linda e muito reservada. Exatamente o que


eles precisavam para o seu pequeno interlúdio.
Oh, Deus. O nervosismo reverberou em sua
garganta, tornando difícil engolir.
Não era muito tarde, lembrou a si mesma, para
pedir a Huw que desse a volta para levá-la de volta
a Londres e esquecer essa louca escapada. Além do
risco que estava assumindo, depois que as próximas
semanas terminassem, como se sentiria?
Como uma prostituta por oferecer-se a dois dos
mais célebres patifes da sociedade?
Possivelmente. Mas, novamente, talvez ela
finalmente se sentisse como uma mulher e seu
comportamento inadequado lhe trouxesse alguma
recompensa. O passo que estava dando para mudar
sua vida era realmente drástico, mas talvez fossem
necessárias medidas drásticas.
Quão humilhante seria, porém, caso se provasse
uma decepção para o notório duque de Rothay.
Pelo contrário, ela disse a si mesma com
firmeza quando o veículo parou e seu estômago
revirou, era parte da aposta entre ele e o conde que
ambos provassem suas habilidades no quarto. Ela
deveria meramente votar em qual deles tinha o
melhor desempenho.
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Parecia bem simples.


O corpulento Huw estava na porta da
carruagem, estendendo a mão para ajudá-la a
descer. Seu rosto largo não mostrava nenhuma
curiosidade ou censura, tão impassível como
quando a levara para a pequena hospedaria
decadente. Ela não podia deixar de imaginar o que
ele iria pensar quando descobrisse que o propósito
de sua jornada era um encontro amoroso.
Trabalhava para ela há vários anos e seu
relacionamento como servo e empregador era
muito confortável. Mais coisas poderiam mudar a
partir daquela empreitada imprudente do que
apenas sua percepção de si mesma como uma
mulher, ela percebeu, perguntando-se o quanto
deveria se preocupar com a opinião de um servo. A
maior parte da alta sociedade garantiria que não
deveria se importar, mas Caroline não tinha certeza
se poderia ser tão blasé.
— Obrigada — ela murmurou, saltando,
esperando que sua apreensão não fosse óbvia.
— O prazer é meu, minha senhora. — Huw
inclinou a cabeça com uma expressão neutra.
A porta da frente se abriu, e o próprio duque
apareceu conforme ela subia os degraus de tijolos
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incrustados. No breve bilhete que enviou com as


direções, Nicholas mencionou que haveria
pouquíssimos funcionários na casa, tendo em vista
que ele realmente não a usava, mas ela certamente
não esperava que alguém de sua posição fizesse
papel de lacaio. Foi surpreendente. Ele também
estava vestido muito informalmente, com uma
camisa branca de mangas soltas, calções pretos e
botas polidas. Isso o fazia parecer mais jovem, mas
não menos formidável, muito pelo contrário. A
roupa casual enfatizava sua altura, a impressionante
largura de seus ombros e definia o poder muscular
de suas longas pernas. O lustroso cabelo escuro
caía sobre seus ombros, brilhando ao sol da tarde e
emoldurando aquelas feições masculinas
pecaminosamente belas. Ela finalmente parecia
conseguir enxergar o homem, não apenas o
aristocrata rico e bonito com aquele sorriso de tirar
o fôlego e uma confiança cativante. O modo mais
casual de vestir também sinalizava uma intimidade
em seu relacionamento que evidenciava a situação
real: ela ia passar a próxima semana em sua cama.
Sentiu um leve arrepio quando ele estendeu a
mão educadamente para pegar a dela, inclinando-se
e deixando a boca roçar levemente sua pele.
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Ele se endireitou e murmurou:


— Bem-vinda, minha senhora.
— Olá, Sua Graça. — Caroline conseguiu
manter o tom de voz, embora seu pulso estivesse
acelerado. O duque se elevou sobre ela e seus
ombros pareciam assustadoramente largos.
Seus olhos escuros olhavam para ela com um
leve resquício de humor.
— Espero que você esteja preparada para uma
semana de vida rústica. Como eu avisei, há apenas
uma equipe mínima de criados. Minha chegada
deixou a governanta um tanto abalada. Venha,
vamos entrar. Vou pedir chá e podemos nos
familiarizar...
Tão rápido? Caroline não tinha certeza do que
ele quis dizer com essa observação e uma habitual
incerteza a dominou. Invocando cada grama de
bravura, murmurou em um tom frio.
— Isso seria aceitável, suponho.
Agora ele definitivamente parecia divertido, a
julgar pela forma como sua boca finamente
modelada se contorceu.
— Falou como a famosa e fria Lady Wynn. Por
favor, tenha em mente que só mencionei chá.
Ela estava bem ciente de sua reputação de ser
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distante e fria. Foi por isso que embarcara naquela


aventura.
— Nós dois sabemos por que estou aqui,
Rothay.
— Sim, nós sabemos. — Ele ainda segurava a
mão dela, seus longos dedos envolvendo-a de
forma leve. Era uma liberdade, mas dadas as
circunstâncias, como ela poderia objetar?
Ele se inclinou para frente, perto o suficiente
para que seu hálito quente roçasse a orelha de
Caroline.
— Não vai ser fácil descongelá-la, vai?
Aquelas palavras faladas com tanta suavidade a
fizeram recuar e observá-lo por um momento, sem
saber como responder e sentindo um formigamento
estranho na boca do estômago. Talvez a
honestidade fosse melhor.
— Não — ela admitiu finalmente.
Para seu alívio, ele não disse mais nada e soltou
sua mão.
— Vamos entrar?
Ela passou por ele e entrou na sala de estar,
mais do que um pouco abalada pela breve
intimidade de seu contato. Não importava o quanto
os arredores fossem campestres — ela notou,
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agradecendo pela distração bem-vinda —, com seus


painéis de madeira polida, belos pisos e tetos altos,
o lugar era cálido e agradável, com o ar de uma
beleza envelhecida. Havia uma aura de suavidade
em seu exterior, um sentimento de lar por conta do
ambiente bucólico, o cheiro de cera e pão no ar…
— Este lugar é agradável — ela conseguiu
dizer com desenvoltura, embora o fato de ele tê-la
chamado de fria houvesse trazido antigas e
persistentes inseguranças à tona.
E se ela realmente fosse uma mulher sem
paixão e incapaz de responder a um homem?
Nicholas Manning olhou ao redor. O corredor
levava a uma área aberta com uma lareira muito
grande, com cadeiras e sofás reunidos em círculos.
Do outro lado, uma escadaria esculpida e graciosa
se curvava para cima.
— Mais do que me lembrava — ele admitiu. —
Venho negligenciando minhas visitas a este lugar
há um bom tempo. Tenho oito casas espalhadas por
várias partes da Inglaterra graças aos meus ilustres
ancestrais. Parece que toda vez que um herdeiro
Rothay se casa, nós colecionamos propriedades
como crianças coletam doces. É impossível viver
em todas elas e, além disso, minha presença em
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Londres é requisitada com bastante frequência, o


que me impede de passar muito tempo no campo.
O tom seco de sua voz demonstrou a Caroline
que sua referência à herança era autodepreciativa, e
ela deu uma risadinha, apreciando sua falta de
presunção.
— Eu duvido que a maioria das pessoas sentiria
pena de você por causa de um excesso de riqueza,
Sua Graça.
— Talvez não. — Ele a segurou pelo cotovelo e
a guiou pelo corredor. — Mas, assim como
qualquer outra coisa, também possui suas
desvantagens. A Sra. Sims irá mostrar-lhe o seu
quarto e, quando estiver pronta, por favor, junte-se
a mim para um refresco.
A governanta era idosa. Sua voz suave exibia
um leve sotaque escocês, e ela escoltou Caroline
até um belo quarto com uma vista gloriosa do
jardins dos fundos, com janelas abertas que
deixavam entrar o doce aroma de rosas que
desabrochavam. Para uma casa de campo, os
móveis eram certamente ricos, embora datados, e a
cama grande era revestida de seda azul-claro; o
tapete luxuriante e estampado de marfim, rosa e
índigo. O efeito geral fazia com que ela se sentisse
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como uma convidada de honra, mas não podia


deixar de se perguntar se aquela suíte elegante não
deveria pertencer à dona da casa. Especialmente
quando notou a porta que obviamente levava a
outro conjunto de quartos.
Convidada de honra? Bem, ela supôs que sim.
Nicholas Manning queria que ela pensasse que ele
era um amante excelente.
No entanto, seria necessário mais do que um
belo quarto para atingir este objetivo. Ela olhou
para a porta ao lado e sentiu mais um tremor de
antecipação.

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S ombras longas e suaves caíam sobre a grama,


uma brisa perfumada percorria os jardins,
ondulando as folhas lustrosas, e parecia que todos
os pássaros da Inglaterra estavam reunidos para
cantar e encantar com seus sons. Um coelho saltou
por um dos caminhos de cascalho, mordiscou a
grama e levantou uma orelha, despreocupado com a
presença do homem e da mulher no terraço de
lajotas a poucos passos de distância. Era como um
daqueles cenários dos quais se lembrava dos livros
de infância, onde o mundo era feito de um sol
perpétuo e de um céu sem nuvens.
Ou talvez sua alma cansada já tivesse passado
muito tempo na cidade.
Um conto de fadas que se preze não estava
completo sem uma linda donzela.
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Nicholas, acomodado em uma cadeira


confortável, bebia conhaque, não chá, e observava
sua linda convidada com o que ele esperava que
parecesse uma atenção casual e não o interesse
voraz que realmente sentia.
A noite em que ele e Derek se embriagaram em
demasia estava embaçada em sua mente, e quando
percebera, à luz do dia seguinte, que fizera uma
aposta pública colocando-a no livro da White's, o
arrependimento o fez praguejar consigo mesmo. A
melhor maneira de lidar com o furor resultante de
sussurros e interesse pareceu ser o máximo de
senso de humor possível. No entanto, sentado agora
em frente à encantadora Lady Wynn, ele não tinha
certeza se fora um erro tão grande, no fim das
contas.
Até mesmo o jeito como ela tomava um gole de
chá, com um suave levantar das mãos, os lábios
mal tocando a borda da xícara, era reservada e
contida. Seu olhar parecia focado em algum objeto
distante não identificável, como se não quisesse
olhar diretamente para ele.
Embora Nicholas já a tivesse encontrado de
passagem uma ou duas vezes, primeiro por causa
do seu primeiro status de solteira, depois por sua
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posição como uma jovem esposa que não gerara


um herdeiro e, por fim, por seu afastamento da
sociedade após a morte do marido. Porém, ele
realmente não tinha prestado muita atenção. Sim,
achava que ela era deliciosa de uma maneira
exuberante e opulenta, com seu cabelo rico e a pele
impecável fazendo aqueles incríveis olhos
prateados se destacarem, mas ela simplesmente não
era alguém que teria perseguido. Era mais como
admirar uma pintura em um museu. Atraía os olhos
e agradava em um sentido estético, mas você sabia
que nunca poderia possuí-la, então, não perdia
tempo pensando muito sobre isso.
Só que tudo isso havia mudado.
Ele a possuiria de um modo muito carnal e
estava ansioso por isso em um grau que o
surpreendia. Talvez fosse a situação incomum,
talvez fosse aquela estúpida aposta arrogante, mas
não conseguia se lembrar da última vez em que
sentira um interesse tão intenso por uma mulher em
tão pouco tempo.
— Conte-me sobre você. — Ele segurou seu
copo de conhaque e observou-a saborear
novamente a delicada xícara de chá. A luz do sol
mostrava os gloriosos detalhes avermelhados de
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seu cabelo ruivo. Ela usava um vestido elegante


cinza, que combinava exatamente com seus olhos.
Em qualquer outra mulher a cor poderia parecer
desleixada, mas ela a carregava perfeitamente
porque enfatizava tanto sua coloração vibrante
quanto a delgada voluptuosidade de sua figura.
Ele mal podia esperar para arrancá-lo de seu
corpo, decidiu com impaciência incomum. O
volume sob o decote modesto atraía seu olhar,
provocando especulações nada cavalheirescas sobre
como seria tocar e saborear aqueles seios
tentadores.
Caroline pareceu um pouco surpresa.
— O que é que o senhor quer saber, Sua Graça?
— Chame-me de Nicholas.
— Se o senhor quiser.
Mas ela parecia insegura, especialmente quando
apressou-se em tomar outro gole do chá. A xícara
tremeu um pouco —mas o suficiente, ele notou —
contra sua boca.
Uma boca convidativa, aliás. Lábios rosados
suaves, o inferior um pouco mais cheio, com uma
curva sensual perfeita. Linda.
— De onde você é? — incentivou.
— York — ela respondeu prontamente,
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entretanto, sua expressão manteve aquele olhar


solene destacado que a fazia parecer tão distante.
— Minha mãe morreu quando eu era criança, e
meu pai era um homem ocupado, então, passei
muito tempo em Londres com minha tia, quando
não estava na escola. Foi ela quem providenciou
meu debut e meu casamento.
Duas frases não resumem exatamente a vida de
ninguém.
— Irmãos ou irmãs?
— Não.
Extrair conversa de uma mulher não costumava
ser uma tarefa tão difícil. Ele arqueou uma
sobrancelha e tentou novamente.
— Quais são seus interesses? Teatro, ópera,
moda?
Ela hesitou e então disse, simplesmente:
— Eu adoro ler. Toda e qualquer coisa.
Romances, a primeira página do jornal, até mesmo
trabalhos científicos, se eu puder encontrá-los.
Sempre foi uma paixão minha. Minha preceptora
era progressista. Ela encorajou minha curiosidade e
me emprestou livros que certamente minha tia teria
desaprovado. O pai de Miss Dunsworth era um
famoso antiquário e colecionava obras de todo o
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mundo. Ele a deixou empobrecida quando morreu,


mas poderia ser considerada rica em outros
aspectos, para quem valoriza o conhecimento. Tudo
teve que ser vendido, mas ela manteve sua
biblioteca.
Mulheres com intelecto não o incomodavam
como acontecia com alguns dos outros homens de
seu convívio. Ele também gostou da forma
apaixonada como ela lhe contou tudo isso.
— Diga-me seu autor favorito.
— Voltaire, se você me forçar a escolher um.
— Sua expressão tornou-se animada, o que
iluminou seu rosto adorável.
— Quem mais?
Ela gostava dos antigos gregos, de Shakespeare,
Pope, os trabalhos mais modernos de alguns dos
autores populares, alguns dos quais ele ainda não
tinha lido nada.
O sol o aquecia, o conhaque era suave e
delicioso, e ele estava... encantado. Ela tinha
tendências intelectuais? Era uma revelação. As
mulheres geralmente serviam apenas a um
propósito casual em sua vida, mas havia uma faísca
nos olhos de Caroline que o atraíra desde a ida à
hospedaria, e isto o deixara fascinado.
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Até que ele dirigiu a conversa de volta para sua


família. O entusiasmo desapareceu de sua
expressão e ela voltou a prestar mais atenção à sua
xícara de chá.
— Como disse antes, eu morava com minha tia.
Ela morreu apenas um mês depois de Edward.
Ele esperou. Não parecia haver mais
informações a serem compartilhadas, mas ele
estava realmente curioso sobre o casamento dela
depois do seu bilhete.
— Eu conheci seu marido, mas apenas
vagamente.
— Dê graças por isso.
Ele não pôde evitar que suas sobrancelhas se
arqueassem com o tom cortante que ela usou.
— Entendo.
Ela o olhou por cima da borda da xícara e
depois colocou-a de lado com o que parecia ser um
cuidado deliberado. Aqueles luminosos olhos
cinzentos, tão adoráveis, enquadrados por grossos
cílios que mais pareciam rendas, eram muito
diretos.
— Perdoe-me, mas, não, você não entende.
Nunca foi casado com um homem de quem não
gosta muito. Nunca foi subserviente aos caprichos
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de outra pessoa e, por favor, admita que percebe a


diferença entre os gêneros em nossa sociedade, que
permite que os cavalheiros com títulos façam
apostas extravagantes que enaltecem sua falta de
virtude, enquanto as mulheres são julgadas mais
severamente por manterem as suas.
Por um momento, Nicholas não soube o que
dizer. Lady Wynn não flertava, ele já havia
percebido isso, e aparentemente tinha a capacidade
de ir direto ao ponto e ser agradavelmente honesta.
Depois de uma pequena pausa, ele inclinou a
cabeça.
— Entendo seu ponto de vista. Abster-me-ei, a
partir de agora, de fazer suposições presunçosas.
Sua fácil aquiescência pareceu desconcertá-la.
Ela franziu a boca, atraindo a atenção de Nicholas
para os lábios macios novamente.
— Eu... me desculpe — disse ela com um
pequeno suspiro depois de um momento. — Sou
um pouco sensível com o assunto do meu
casamento. É por isso que não tenho intenção de
entrar em compromisso semelhante novamente.
— Não há necessidade de pedir desculpas por
expressar sua opinião, asseguro-lhe.
Um olhar irônico cintilou no rosto dela.
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— Acho que acabei de repreender o duque de


Rothay.
— Que, sem dúvida, merece isso de vez em
quando. — Ele sorriu. — Talvez até com mais
frequência.
— Você é muito — Ela pareceu procurar por
uma palavra e finalmente a encontrou — cortês. A
maioria dos homens quer que uma mulher concorde
com tudo o que eles dizem. Acho cansativo.
— Por isso a atitude desanimadora em relação a
todos aqueles cavalheiros ansiosos reunidos em
torno da senhora em eventos? — Nicholas se
espreguiçou na cadeira, desfrutando não só da brisa
amena do fim da tarde, mas também da atitude
alheia ao flerte. Ele estava acostumado a mulheres
bajulando-o, não repreendendo sua má
compreensão de sua posição no mundo.
— Vamos apenas dizer que eu valorizo ​minha
independência.
Eles podiam não se conhecer muito bem, mas
tinham isso em comum.
— Assim como eu. Pelo menos os rumores
dizem isso.
Seus lábios se curvaram em um sorriso
encantador que fez seu corpo, já em alerta total,
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ficar ainda mais atento.


A mudança era notável. Aquele gesto a
transformava de uma figura distante de mármore
em uma mulher suave e atraente.
Nicholas se mexeu na cadeira, sentindo-se
inchar por conta da excitação, de modo que o
tecido de suas calças se contraiu. Que estranho. A
moça não dissimulava, ela nem fingia, e ele gostava
da franqueza dela. Então, disse suavemente:
— Não acredite em todos os rumores sobre
mim, mas esse está correto.
— Há rumores suficientes. Sua reputação é
infame como nenhuma outra na sociedade londrina.
— Eu não consigo entender por quê.
— Não consegue? As histórias são abundantes.
— Imagino que sim. Mas a verdade e a fofoca
raramente andam de mãos dadas, minha senhora.
Ela o olhou gravemente.
— Está tentando me dizer que o senhor, e eu
quero lembrá-lo de que recentemente fez uma
aposta muito presunçosa sobre seus supostos
talentos na mesma área que estamos discutindo, é
mais virtuoso do que os rumores implicam?
Virtuoso? Nicholas tinha certeza de que o termo
nunca fora aplicado a ele, mas, de uma maneira
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abstrata, talvez fosse. Em sua defesa, ele não se


envolvera com ninguém que pudesse levar o jogo
da sedução de maneira séria. Ele sorriu com
indolente preguiça despreocupada.
— Possivelmente. Admito que parei de me
defender anos atrás.
— Mas você quer ter parceiras sem assumir um
compromisso?
— É claro que sim. — Desde Helena, ele
achava que os casos amorosos eram mais fáceis de
serem mantidos simples e puramente por prazer
físico.
Um tempo atrás — antes de entender que os
sonhos românticos eram nada mais do que isso —,
ele cometera um erro de proporções colossais. Um
que provavelmente nunca cometeria novamente. A
lição fora dura, mas ele era jovem, tolo e tinha
expectativas idealistas. A experiência pode ser uma
pílula amarga e deixar um sabor que não se esquece
facilmente.
Aparentemente, Caroline interpretou sua
expressão corretamente.
— Bem, ninguém sabe que estou aqui, Sua
Graça. Estamos sozinhos, anônimos e livres para
fazermos o que quisermos.
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— Nicholas — ele a lembrou com um sorriso


lento, observando a maneira como a luz brilhava
através das frágeis feições de seu rosto, ao longo
das curvas esbeltas de seus ombros,
proporcionando uma sombra deliciosa à fissura
tentadora entre seus seios fartos, apenas sugeridos
pelo decote de seu vestido.
— Você quer entrar?
Ela não entendeu mal a sugestão, e suas
bochechas assumiram um tom rosado.
— Agora? É de tarde.
Nicholas reprimiu uma risada com a ingênua
insinuação de que as pessoas só faziam amor
depois do pôr do sol. Para uma viúva, ela
certamente era reservada. Ele murmurou:
— Por que esperar? Nós poderíamos conversar
mais confortavelmente.
— Conversar?
— Entre outras coisas.
Suas bochechas assumiram um tom mais
profundo de rosa.
Na cama, ele quis dizer. Embora normalmente
não gostasse exatamente de falar naquele ambiente,
estava disposto a fazê-lo se isso a deixasse mais à
vontade. Nunca iniciara virgens. Criado como um
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herdeiro ducal, ele aprendera sobre as armadilhas


da inocência perdida desde a época em que tinha
idade suficiente para entender o conceito, mas, no
momento, tinha a impressão de que estava tão perto
de uma quanto chegaria até se casar. Era evidente
que, apesar de sua compostura, ela mostrava-se
muito nervosa, mas também consciente dele como
homem.
Isso aumentava seu interesse em um grau
surpreendente.
Nicholas levantou-se e estendeu a mão para
pegar a dela, puxando-a gentilmente para que
ficasse de pé. Ele olhou para o rosto erguido em sua
direção, concentrando-se em sua boca.
— Eu acho que você é muito bonita, Lady
Wynn.
Os olhos cinzentos brilhavam, e seu tom de voz
soou abafado quando ela respondeu:
— Você diria isso, é claro.
— Não, se eu não quisesse dizê-lo. — Ele era
sincero. Seduzir mulheres para levá-las para a cama
não incluía falsos elogios. Não precisava de
coerção, e se ela não concordava com seu
comentário, era mais inocente do que ele
imaginara. Certamente alguém com sua beleza
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extraordinária deveria ter recebido homenagens


poéticas suficientes para durarem por uma vida
inteira. — Já que não é a primeira vez que ouve
algo assim, por que não confiar na minha
sinceridade?
Com muita delicadeza, ele tocou o cabelo dela,
apenas um roçar das costas de seus dedos sobre
aqueles fios vibrantes e sedosos. A cor fazia com
que se lembrasse do outono pelo rico tom de
marrom com reflexos de vermelho. Algumas
mechas soltas emolduravam seu rosto oval e
brincavam ao redor da esbelta coluna de marfim de
seu pescoço. A cor quente combinava com ela,
apesar de sua reputação fria e distante.
Estava prestes a fazer outra aposta imprudente
de que ela não era fria de fato. Seu marido
obviamente fora um imbecil entre quatro paredes,
mas seria um deleite para Nicholas mostrar-lhe os
benefícios do prazer mútuo entre um homem e uma
mulher.
Caroline lançou-lhe um sorriso quixotesco.
— Eu mal o conheço, Nicholas.
Ele gostou do som de seu nome nos lábios dela.
— Certamente já sabia disso antes de me enviar
o bilhete. Que melhor maneira de se familiarizar?
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Qualquer resposta que ela pudesse lhe dar foi


silenciada quando ele inclinou-se e tomou seus
lábios. Suas mãos se posicionaram na cintura fina,
em um aperto firme, mas não insistente, conforme
ele suavemente moldava suas bocas juntas. Quando
se tratava de mulheres, costumava confiar em seus
instintos. Ele já havia percebido que, naquele caso,
a persuasão seria mais eficaz do que a paixão
impetuosa. Muitas mulheres gostavam de ser
arrastadas, queriam que seu amante não apenas as
possuísse, mas as dominasse, porém, ele soube que
Caroline não era uma delas antes mesmo de tocá-la.
Ela tinha um gosto doce, e a sensação de tê-la
em seus braços era incrível, com os seios macios
tocando seu peito suavemente. Mas quando tentou
introduzir a língua em sua boca, ela se sobressaltou,
no que só poderia ser o resultado de uma surpresa.
Que diabos?
Por um momento ele parou, preso por uma
percepção surpreendente.
Parecia impossível que uma mulher casada há
vários anos nunca tivesse sido beijada de maneira
íntima, mas ele pôde sentir uma reação hesitante à
exploração de sua língua, como se ela não tivesse a
menor ideia do que fazer.
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Aquela era uma reviravolta interessante em seu


arranjo. Nicholas continuou, mantendo o beijo
pouco exigente, mas sutilmente puxando-a para si,
para que seus corpos se tocassem ainda mais.
Normalmente ele teria considerado aquele grau
particular de inexperiência como algo desalentador,
mas talvez fosse a peculiaridade da situação, sua
beleza irresistível ou apenas a forma como ela
parecia se encaixar perfeitamente em seus braços
— ele não tinha certeza —, porém, descobriu-se
mais intrigado do que nunca.
Ele murmurou contra seus lábios:
— Posso mais uma vez te convidar para entrar?
Àquela altura, ela estava aninhada contra a
crescente ereção dele, de modo que não havia
dúvidas sobre o que sua sugestão implicava. Mas,
novamente, não era para isso que estava lá?
Caroline assentiu. Nicholas se afastou, pegou a mão
dela e sorriu.
Ela não sorriu de volta, mas olhou para ele por
um momento, com seus olhos incríveis arregalados
e suas bochechas coradas. Não era um mal sinal,
ele notou quando ela permitiu que ele a levasse
para dentro e subisse as escadas para o quarto. A
casa estava quieta no final da tarde, a Sra. Sims,
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sem dúvida, ocupada em organizar os preparativos


para a inesperada visita. Não havia tempo para
convocar mais funcionários, e já que sabia que
Caroline valorizava o anonimato, não levou
nenhum dos seus, exceto o motorista. Até mesmo
seu valete permanecera em Londres, então, o quarto
estava vazio e, quando fechou a porta, soube que
permaneceriam em total privacidade por quanto
tempo quisessem. A governanta tinha instruções
para não perturbá-los, a menos que fosse
convocada.
— Temos portas de conexão. — Caroline olhou
para a parede que separava seus quartos.
— Conveniente, não é?
Nicholas sorriu, seu olhar cálido admirando o
quanto ela parecia graciosa e feminina no ambiente
masculino de seu quarto. Os móveis eram
exagerados em tamanho, a cama grande estava em
um estrado, as proporções enormes e a madeira
esculpida escura tinham séculos de idade. Um de
seus augustos antepassados ​posava com roupas
aristocráticas em um retrato sobre a lareira.
Em contraste, ela estava ali, curvilínea, sedutora
e tão convenientemente disponível.
Sua ereção pulsava desde aquele beijo,
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forçando o material justo de suas calças.


— Vamos fazer isso do jeito certo.
Ela não resistiu quando ele soltou seu longo
cabelo para que caísse pelas costas. Parecia uma
seda quente enquanto se derramava sobre suas
mãos, e a fragrância veranil era doce e feminina.
Depois de desabotoar o vestido, ele a beijou
suavemente de forma tranquila, tomando cuidado
para não apressá-la ou alarmá-la. Levantando-a em
seus braços, levou-a para a cama e tirou os calçados
e as meias com a mesma habilidade, admirando sua
nudez com puro apreço masculino enquanto se
sentava para tirar as próprias botas.
Era surpreendente, mas ele estava realmente
com pressa.
Vestida apenas com seu chemise, ela era
perfeita, uma Vênus de cabelos castanho-
avermelhados sob o sol poente do fim da tarde que
entrava pelas janelas altas, com seus membros
macios e a pele pálida e impecável, emoldurada por
uma torrente de madeixas brilhantes. Os seios
fartos tremiam a cada respiração, e seus belos olhos
pareciam mais escuros, dilatados, a singular cor
prateada temperada pela paixão.
Ou medo.
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Nicholas reparou, em uma onda de


consternação, enquanto seus dedos pararam no ato
de desabotoar sua própria camisa.
Sim, ele pensou enquanto lutava contra a
descrença. Medo. O tremor da mulher em sua cama
não tinha nada a ver com desejo.
Em vez do rubor da excitação, seu rosto estava
agora um pouco pálido. Ele baixou as mãos, a
camisa aberta até a cintura, sem saber como lidar
com essa inesperada reviravolta.
— Nós não temos que fazer isso, você sabe. É
só dizer. Podemos beber vinho ao sol, e você pode
partir amanhã, se quiser.
Por um momento ela hesitou, e então sussurrou:
— É tão óbvio assim?
Ele não estava acostumado a nada menos do
que uma total ansiedade de suas parceiras, então, a
resposta era um retumbante sim. No entanto, agir
com diplomacia parecia a melhor opção. Nicholas
disse devagar:
— Acho bem óbvio que você não está
totalmente à vontade, minha senhora. A aposta foi
feita em um momento estúpido entre dois
cavalheiros que terminaram com ressacas pesadas
na manhã seguinte. Por mais que sua presença na
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minha cama seja atraente para mim, você não


precisa continuar com a sua oferta.
Deliciosamente seminua, sobreposta à fina
roupa de cama, Caroline deu a ele um leve sorriso.
— Não admira que o seu charme seja lendário,
Rothay, mas você acha que eu me voluntariei
levianamente? Das damas de seu conhecimento,
devo ser a menos provável de ser encontrada em
sua cama, mas estou aqui, e cabe a você me
seduzir, correto?
Ela tinha razão. Uma mulher temerosa e
nervosa não era o que ele ou Derek tinham em
mente, é claro, mas ela se apresentou, eles
concordaram, e Nicholas estava ansioso para ficar
sozinho com ela.
— Só se você quiser.
— Se eu não quisesse, não estaria aqui.
Por que diabos ela estava lá, se a ideia de
compartilhar sua cama a fazia ficar pálida e tremer
de medo?
Ela afirmou com apenas um toque de
desespero:
— É o que eu quero.
Seria verdade? Seu corpo indisciplinado o
incitava a continuar, mas ainda não se mexia. Todo
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caso amoroso tinha seus parâmetros e toda mulher


era diferente, mas aquela situação era especial. Ele
tinha a sensação de ela estava fazendo uma
quantidade enorme de esforço para continuar ali.
Era assustador.
Que diabos Wynn tinha feito — ou deixado de
fazer — com ela?
— Você é virgem? — ele fez a pergunta em
voz baixa, sem saber como agiria se ela dissesse
sim. Não iria fingir que não notara a reação dela ao
seu beijo. Aquilo não tinha mais nada a ver com a
aposta ridícula. Para ela, ele começava a perceber,
nunca fora, na verdade.
Ela desviou o olhar e engoliu em seco, os
músculos em sua garganta fina se movendo.
— Não.
Essa pequena palavra continha um enorme
significado.
Mais do que um pouco perdido, Nicholas
continuou parado ali. Ele sabia tudo sobre os jogos
sexuais que homens e mulheres jogavam juntos,
mas não era o caso. Aquilo não tinha nada a ver
com sedução despreocupada. Ele sentou-se e tocou-
a, apenas uma leve pressão no queixo, de modo a
fazer com que o rosto dela se virasse na direção
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dele. Lágrimas brilhavam em seus cílios, o que ele


percebeu com um pequeno choque de desânimo.
— Seduza-me — ela sussurrou no silêncio
pungente. — Por favor.

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S e as coisas continuassem como estavam, ela


seria a única mulher em todo o mundo que
ficaria quase nua na cama do perverso e sensual
Duque de Rothay e o faria recusar-se a fazer amor
com ela.
Ela praticamente teve que implorar.
Por mais humilhante que fosse, deixou-a
surpresa o fato de um libertino notável ter a
sensibilidade de perceber que estava com medo.
Ele parecia tão inquieto quanto ela se sentia, e isso
queria dizer alguma coisa.
Sob circunstâncias diferentes, ela poderia ter se
divertido.
— Eu quero, obviamente — ele finalmente
murmurou, um pequeno sorriso torto curvando sua
boca finamente modelada enquanto apontava para a
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impressionante protuberância em seus calções.


Santo Deus, ele parecia... enorme.
Mas as viúvas chorosas, frias e inexperientes
não eram suas vítimas habituais. Ele não precisava
explicar. Quem poderia culpá-lo? Não importava o
que ela pudesse parecer, sensualidade não era seu
forte.
Mas aqui estava ela, quase sem roupa, com os
cabelos soltos, na cama dele. Caso se acovardasse
agora, a oportunidade escaparia.
— Beije-me novamente — ela pediu, olhando
em seus olhos da cor da noite. Através da abertura
em sua camisa desabotoada, podia ver a rigidez
muscular de seu peito nu, e isso causou um
estranho nó na boca de seu estômago. O cabelo de
ébano, elegante e um pouco desgrenhado, roçava o
pescoço forte, na altura da abertura da camisa. Sua
beleza masculina era atraente, mas, novamente, seu
marido também era um homem bonito. Talvez não
tão magnífico como o infame Rothay, mas, ainda
assim...
Não. Ela não pensaria em Edward. Não agora.
Nicholas inclinou-se para frente e, para sua
surpresa, em vez de tomar sua boca em outro beijo
devastadoramente perverso, ele levou os lábios aos
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seus traidores cílios molhados. Beijou suas


lágrimas com suavidade e, ao mesmo tempo, alguns
de seus medos. Quando se deitou ao lado dela e a
puxou para si, ela fez o melhor que pôde para
relaxar, mesmo dentro do círculo forte de seus
braços.
Ele cheirava maravilhosamente bem, de um
modo peculiar e sedutor. Todos os homens tinham
aquele aroma picante e intrigante ou era só ele?
— Você é muito adorável — Nicholas
sussurrou, acariciando suas costas, avançando tão
sutilmente por baixo de seu chemise que ela quase
não percebeu o que ele estava fazendo até que seus
dedos alisaram sobre a curva de uma coxa nua.
Ela começou a se mostrar tensa, e ele
imediatamente retirou a mão.
— Relaxe — ele murmurou em seu ouvido, sua
respiração quente, sedutora.
— Estou me esforçando. — Um esforço
vergonhoso, ela pensou em uma autocrítica, de
modo incerto e amargo. Talvez Edward estivesse
certo o tempo todo, pois se estar ao lado de um dos
homens mais charmosos e bonitos da Inglaterra não
a ajudasse, talvez ela fosse irrevogavelmente falha.
Bem, talvez não fosse nada.
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A respiração calma e estável de Nicholas e a


batida constante de seu coração pareceram
amenizar a sensação do quanto o corpo dele,
enorme, fazia com que o dela parecesse muito
menor. Para sua surpresa, sentiu os seios apertarem,
e quando ele roçou os lábios em sua bochecha, ela
suspirou e virou a cabeça para oferecer sua boca.
— Talvez devêssemos começar devagar.
Ela desejava ter alguma ideia do que ele queria
dizer, mas não podia nem arriscar um palpite.
— O que você quiser.
Quão desesperadamente ela desejava poder
fazer jus a essa oferta.
Um sorriso hipnotizante curvou os lábios de
Nicholas.
— Beijar é uma arte. Você gostaria de alguma
instrução?
— Por que mais eu estaria aqui?
Em sua propriedade isolada, em sua cama,
presa em seus braços. Por que mais, de fato, exceto
pelos esclarecimentos que ela esperava que ele lhe
trouxesse?
— Então será um prazer, minha senhora.
Muito lentamente, ele inclinou a cabeça mais
uma vez. Seus lábios se tocaram, se uniram.
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Foi longo, luxuoso, tentador, proibido. Foi um


beijo de verdade.
Sua língua suavemente duelou com a dela,
provocando uma resposta enquanto explorava sua
boca, e Caroline começou a relaxar no beijo,
especialmente porque ele apenas a segurou e não
fez mais nada. Ele também estava ainda
completamente vestido, embora ela pudesse sentir o
calor de sua pele nua através da abertura em sua
camisa desabotoada. Seus lábios deixaram os dela,
desceram novamente, e desta vez ele desceu pelo
pescoço, demorando-se no vão de sua garganta.
A intempestividade de mandar aquele bilhete
— não, não fora intempestivo de verdade, já que
ela praticamente agonizara antes de decidir —, de
repente parecera que iria valer muito a pena.
Isso era exatamente o que ela esperava sentir.
Era agradável. Não, esta não era uma palavra
boa o suficiente. Era mais que agradável. A pressão
provocante de sua boca a fazia estremecer.
— Tudo o que vou fazer é provar você. — Sua
voz continha uma nota rouca e leve enquanto
sussurrava contra sua pele. — Nada mais. Posso?
Ela percebeu que os dedos dele seguravam a
fita que amarrava o corpete de seu chemise, e ele
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estava pedindo permissão para abri-la.


Pedindo permissão. Isso era certamente novo
em sua experiência. Pensar que sua vontade seria
considerada era reconfortante.
Mas a ideia de que ele queria vê-la nua era
decididamente inquietante. Era um dilema. Por
mais que a última coisa que quisesse fosse que
Nicholas simplesmente erguesse sua saia e seguisse
em frente, sentia-se constrangida com a ideia de
ficar nua diante dele, ou qualquer outra pessoa, à
luz do dia, ainda por cima. Sabia que nada seria
fácil, mas, enquanto ele esperava educadamente em
silêncio, sentiu um estranho lampejo de confiança.
Um bom começo, pelo menos.
Caroline assentiu e sentiu-o puxar o nó,
acompanhando por uma onda de calor que aqueceu
seu rosto, enquanto seu chemise se abria, expondo
seus seios. Nicholas olhou para a carne exposta e,
lentamente, estendeu a mão entre o pano
entreaberto para tocar levemente um dos mamilos
com a ponta de um dedo.
Ela deu um pequeno suspiro.
— Da cor de uma rosa de verão, delicada e
perfeita.
Caroline, de alguma forma, conseguiu falar.
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— Um elogio muito lisonjeiro, Sua Graça.


Uma sobrancelha escura se arqueou em uma
expressão divertida.
— Mas, neste caso, é a mais pura verdade.
Tenha em mente também, Caroline, que quando
você está na minha cama, eu sou um homem, e
você é a mulher que desejo. Use o meu nome.
Ela não pôde deixar de fechar os olhos ao sentir
o deslizar de seus dedos por sua pele sensível. A
palma quente acomodava completamente um de
seus seios e, para sua surpresa, o olhar cálido
aliviava algumas de suas apreensões.
Aqueles olhos. Escuros como a meia-noite,
sedutores como o pecado, emoldurados por cílios
longos e grossos em contraste com as linhas
cinzeladas de suas feições. Quando permitiu que
suas pálpebras se erguessem, Caroline o fitou,
percebendo de súbito que ele estava esperando,
parado, apoiado em um cotovelo e observando sua
expressão enquanto mantinha a mão em seu seio.
Esperando pelo quê? Caroline não fazia ideia.
Era humilhante, e ela desprezava Edward ainda
mais por sua ignorância.
— Eu deveria fazer alguma coisa?
Um sorriso quixotesco curvou a boca de
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Nicholas.
— Fazer alguma coisa?
Já que era óbvio que ele fora capaz de enxergar
através do disfarce de viúva equilibrada a partir do
momento em que a beijara no terraço, parecia inútil
disfarçar.
— Por favor, não ria de mim. Tenho certeza de
que já percebeu...
— Eu não estou rindo de você — a interrupção
foi suave e calma. — Estou admirando uma visão
agradável e também planejando minha estratégia.
Afinal, preciso me sair admiravelmente bem e,
certamente, a primeira vez é a mais crucial, não é?
— Você não está acostumado com mulheres
como eu — ela respondeu com o máximo de
dignidade possível, apesar das circunstâncias — e,
consequentemente, não está acostumado a perder.
Porque ela era um fracasso total na cama. Ele
estava acostumado com as senhoras urbanas e
sofisticadas que usualmente conquistava. A
distância entre aquelas senhoras habilidosas e sua
inépcia era imensa.
— A perder? — Ele sorriu, então, como um
menino, mas a conotação da curva inebriante de
seus lábios era puramente a de um homem adulto.
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Mesmo em sua situação delicada, ela sentiu a


promessa com um leve arrepio de antecipação. —
Definitivamente, não — Nicholas disse a ela, dando
à carne que segurava um aperto suave. — Estou
apenas tentando decidir por onde começar. Você é
como uma tela em branco, minha querida, e essa
primeira pincelada é a mais importante.
A referência poética era apenas parte de seu
charme irresistível, lembrou a si mesma.
— Tenho certeza de que você é o artista
supremo, Rothay.
— Supremo? Já ganhei tão facilmente?
— Isso foi sarcasmo a respeito de sua
arrogância. — Era um pouco difícil parecer
composta e fria quando seus dedos hábeis agora
massageavam seu formigante mamilo.
— Sinto escárnio?
Ela gostou de seu tom de provocação leve, e
isso começava a aliviar sua apreensão. Não era de
se admirar que dezenas de mulheres tivessem
sucumbido, ela pensou, conforme uma estranha
onda de calor se avolumava por entre suas coxas.
Apesar de sua altura impressionante e força óbvia,
ele lhe transmitia a impressão de poder sem
ameaça, de carisma masculino sem dominação. Até
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mesmo seu sorriso carregava uma promessa quente


e sensual.
Talvez sua ideia escandalosa e impulsiva não
tivesse sido tão ruim, afinal. Ah, sim, ela estaria
arruinada para sempre se alguém descobrisse, mas
podia valer a pena.
Quando ele abaixou a cabeça e levou o bico do
mamilo à boca, ela reprimiu um frágil suspiro com
esforço, embora tivesse a impressão de que ele o
havia sentido. A ideia de um homem adulto querer
sugar seus mamilos era surpreendente, mas
enquanto ele cuidava de um seio e depois do outro,
Caroline percebeu que era maravilhoso. Uma
luxuriosa sensação de prazer começou lentamente a
cativar seu corpo enquanto ele provava e
acariciava. Sua boca quente traçava os contornos
do vale entre eles, deslizando para baixo e
retornando para os bicos, agora rígidos e reluzentes.
Mas tudo o que ela fazia era ficar parada,
deitada, e tinha certeza de que deveria haver mais
do que isso.
Ou assim Edward lhe dissera, da maneira mais
contundente possível.
Uma das mãos de dedos longos do duque
deslizou pela lateral da perna de Caroline,
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acariciando a parte de baixo de seu joelho. De


alguma forma, era delicioso. Caroline nunca
pensara que aquele lugar fosse tão sensível.
Lentamente, ele ergueu a perna dela, deixando-a
inclinada e então colocou o pé de volta sobre a
cama. Quando ele tomou seus lábios em outro
daqueles beijos demorados e íntimos, sua boca se
demorou na dela, e ele fez o mesmo com a outra
perna, até que ela ficasse com as duas ligeiramente
separadas, e embora o chemise ainda cobrisse seu
sexo, a posição sugestiva fez a bainha deslizar para
o topo de suas coxas.
A percepção de sua situação foi como um
relâmpago. Ela estava na cama do infame Duque de
Rothay, quase nua, as pernas afastadas o suficiente
para lhe dar acesso, se ele quisesse.
E ele queria, ela descobriu um momento depois,
quando com a delicadeza de um toque tão leve que
era quase imperceptível, a mão de Nicholas
deslizou sob o tecido que a cobria e acariciou o
triângulo de pelos entre suas coxas. Caroline
estremeceu, e isso foi tudo o pôde fazer para não
juntar as pernas, o que prenderia a mão dele
exatamente onde ela queria que estivesse.
Respirou fundo e conseguiu ficar parada.
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Completamente imóvel. Imóvel demais, porque


ele disse:
— Isso deveria derretê-la, linda Caroline, não
transformá-la em pedra. Vejo que terei de ser muito
persuasivo, de fato. Seria deselegante da minha
parte não aceitar o desafio que você jogou diante de
mim e Manderville.
Ele já a havia chamado de fria, e isso não ficava
muito longe de frígida. Este fora o motivo do
desprezo de Edward, então, ela abriu a boca para se
defender, mas nenhuma palavra saiu.
Em vez disso, soltou algo entre um suspiro e
um grito de protesto indignado quando seu belo
amante mudou de posição, colocando as mãos
insistentes em suas coxas trêmulas para abri-las
ainda mais, e depois abaixou a cabeça.
Ela ficou rígida, em estado de choque total, tão
atordoada que nem se opôs à maneira como ele
ergueu sua camisa, expondo-a da cintura para
baixo. A boca de Nicholas roçou seu ponto mais
íntimo, acomodando-se nele por completo. A
sensação resultante, enquanto a língua mergulhava
entre suas dobras femininas era... uma revelação.
O diabólico duque tinha a boca entre suas
pernas, a seda escura de seu cabelo roçava a parte
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interna das coxas e sua língua atrevida começava a


fazer algumas coisas muito interessantes.
Pequenos choques de prazer inundaram seu
corpo, e ela torceu as mãos nos lençóis, como se a
ideia de segurar em algo pudesse impedi-la de voar
para longe. Suas sensibilidades afrontadas
dominaram sua mente por apenas um momento e a
levaram para longe em um delírio arrebatador.
Oh, Deus!
Nicholas riu, um som breve, que vibrou contra
o sexo latejante de Caroline, e ela percebeu que
dissera as palavras em voz alta. Em circunstâncias
normais, teria sido o suficiente para fazê-la corar,
mas nada daquilo era normal. Ele segurou seu
corpo, mantendo-a escrava de sua posse erótica, e
ela afastou ainda mais suas coxas, erguendo um
pouco os quadris enquanto uma estranha
antecipação se construía.
Era isso. Era por isso que as mulheres
sussurravam por trás de suas mãos, agitavam seus
leques e falavam do belo duque de cabelos escuros
com insinuações reverentes e astutas, além de
suspiros ardentes. Quando o prazer erótico tomou
conta dela, Caroline estremeceu em uma reação
involuntária.
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Não havia nenhuma maneira de silenciar um


gemido e uma vez que este escapou, descobriu que
nenhum outro som importava, apenas a misteriosa
necessidade que crescia dentro dela. Foi mágico,
indescritível, cativante. Seu sangue aqueceu, seu
pulso disparou e ela se arqueou em um movimento
involuntário para aumentar a pressão daquela boca
sedutora.
Parecia maravilhoso demais, algo entre a agonia
e a felicidade, como se o corpo rebelde ansiasse por
algo... alguma coisa...
Algo que encontrou ou talvez ela mesma tivesse
sido encontrada. Uma alegre explosão, como se
estivesse despencando de uma grande altura, tendo
o ar arrancado de seus pulmões, fazendo-a soltar
um pequeno grito quando a alegria física a
percorreu, fazendo-a arquear-se e estremecer.
Foi, para resumir em uma palavra, glorioso.
A realidade retornou em pedaços nebulosos. O
sol banhava a tradicional elegância do quarto ducal,
a descompostura de seu chemise desabotoado e do
tecido fino amontoado sobre seus quadris, e ele, o
homem que acabara de fazer com ela a coisa mais
escandalosa que poderia imaginar. Na verdade,
algo que ela sequer imaginara.
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Nicholas Manning estava deitado ao lado dela,


esguio e imponente, a protuberância em seus
calções proeminentes, embora ele não fizesse
nenhum movimento para tocá-la enquanto esperava
que se recuperasse. Exceto por suas botas e a
camisa desabotoada, ele permanecia
completamente vestido.
Uma parte dela queria arrancar o sorriso de
satisfação de seu rosto, mas outra, a parte que a
colocara naquela situação exatamente por aquele
motivo, queria agradecer-lhe do fundo do coração.
Ele disse, então, com o descarado erguer de
uma sobrancelha de ébano:
— E então?

A MULHER TÃO DELICIOSAMENTE ESPARRAMADA


sobre sua cama era um enigma. Exuberante, mas
formal; inexperiente, mas obviamente consciente
de uma sensualidade interior que queria descobrir;
reprimida, mas não ansiosa por permanecer assim.
Sua beleza, também, era gloriosa, o contraste entre
os impecáveis ​lençóis de linho branco e seu
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lustroso cabelo ruivo era atraente, os seios cheios e


perfeitamente moldados, as pernas delgadas e
pálidas. Aqueles lábios carnudos e macios que ele
beijara eram da mesma cor dos mamilos, ambos
escurecidos até um tom rosado por causa de seus
beijos. Tudo, desde o delicado arco de suas
sobrancelhas, à linha reta de seu nariz pequeno,
passando pelo formato de seu queixo, sustentava
uma feminilidade quase frágil. Ele tinha que
admitir, estava cativado por sua aparência física.
Havia algo muito intrigante em saber que tinha
acabado de dar-lhe o primeiro clímax sexual de sua
vida. O que quer que tivesse acontecido entre ela e
o falecido marido, não fora agradável, ele podia
apostar, porque a timidez certamente não era de sua
natureza. A raiva que sentia em relação a um
homem já morto era vã, mas, ainda assim, existia.
O que Wynn fizera com ela? A percepção de que
ela o temia era surpreendente, mas explicava
muitas coisas.
Se Lorde Wynn já não estivesse em seu túmulo,
acabaria dentro de um de qualquer maneira, pois a
violência contra mulheres ou crianças era algo que
particularmente lhe embrulhava o estômago e
instigava a precisão de seu tiro com uma pistola de
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duelo. Ele certamente se levantara bem cedo ao


amanhecer para lutar por causas menos dignas.
Isso mostrava que a oferta de Caroline para
julgar sua aposta imatura não era apenas o capricho
de uma viúva entediada, mas uma lição de
coragem. Ela dera um grande passo para libertar-se
daquele medo inato que a mantinha tão fria e
distante.
Caroline o olhou com aqueles olhos prateados
marcantes. Repetiu suas palavras como se ainda
estivesse um pouco aturdida:
— E então?
Ele ainda sentia o gosto dela, o resíduo doce do
gozo em seus lábios. Nicholas sorriu apesar de sua
ereção rígida e desconfortável.
— Acho que é injusto da minha parte perguntar
como estou indo até agora, então, vou me expressar
de outra maneira. Gostaria de se vestir e dar um
passeio nos jardins? Eles ficam muito bonitos nesta
época do ano. Eu tinha me esquecido disso, porque
faz muito tempo que não venho para cá, mas dei
um passeio enquanto a esperava chegar e foi um
momento adorável.
— Mas você não... isso é... — Um rubor vívido
inundou suas bochechas e sua mão deslizou para a
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bainha da chemise, mas não a puxou para baixo


para se cobrir, embora fosse fácil adivinhar que
queria fazê-lo... Seu olhar desviou-se para a
evidente excitação de Nicholas, visível através do
tecido.
— Eu posso esperar.
— Você não parece querer esperar, Sua Gra...
Nicholas.
Seu pênis ereto concordava com ela de todo o
coração, mas se quisesse conquistar sua confiança,
era melhor ir com calma. Ele estendeu a mão,
ajeitou o chemise por cima das coxas e segurou o
laço de seu corpete, arrependendo-se
imediatamente ao cobrir o que era, sem dúvida, o
melhor par de seios que ele já havia tocado e
provado.
— Temos toda a semana.
Sua testa suave franziu.
— Fiz algo de errado?
A pergunta divertiu-o e o deixou perplexo ao
mesmo tempo.
— O que faz você pensar assim, se é que posso
perguntar?
Enquanto fazia a pergunta, deu-se conta que ela
ainda não tinha feito uma coisa. Mesmo que a
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tivesse beijado, provado seus deliciosos seios e a


levado ao clímax com sua boca, Caroline não o
tocara, nem uma única vez. Nada dos dedos dela
em seu cabelo, nem aquele aperto revelador em
seus ombros, nem mesmo uma mão descansando
em suas costas.
Nicholas fez um voto silencioso de que antes
que aquela semana terminasse, conseguiria mudar
isso. Tinha a sensação de que ganhar sua confiança
em um nível intelectual era tão importante quanto
conquistar seu lindo corpo.
Este era um desafio inesperado.
Ela respondeu sua pergunta de maneira oblíqua.
— Eu não quero… desapontar você. — A ideia
era tão ridícula que ele sentiu sua boca se
contorcer.
Ele olhou nos olhos dela.
— Eu juro que não fez nada de errado. Estou
intrigado por você de muitas maneiras, minha
senhora. Agora, então, vamos dar um passeio no
jardim e talvez nos conheçamos um pouco melhor?
Os amantes devem ter mais em comum do que o
ato sexual, não acha? Apesar do que dizem, eu não
valorizo ​ uma mulher apenas pelo prazer físico que
ela pode me proporcionar.
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Era verdade, mas com uma pequena licença


poética. A proximidade emocional também não era
o objetivo de Nicholas. Esse era um caminho
desastroso que ele escolheu não trilhar. Gostava de
ser amigo de suas amantes, não mais do que isso.
Pelo menos abria caminho para uma separação
mais amigável.
Caroline sentou-se, fazendo seus lustrosos
cabelos ruivos ondularem, e um leve sorriso
enfeitou sua boca muito beijável.
— Vejo que você está determinado a ganhar
essa aposta. Quem poderia adivinhar que o duque
diabólico teria essa sensibilidade romântica?
— Qualquer um que me conheça bem — disse
ele em uma réplica suave. — Quando estou com
uma mulher bonita, quero conhecer tudo dela, não
apenas seu corpo.
— Quanto à última parte — ela disse
ironicamente —, eu acho que nós cuidamos disso
no meu caso. Pareço ser a única despida.
Ele mal começara a apresentá-la às alegrias da
carne. Nicholas sorriu.
— É um bom lugar para começar, devo admitir.
Não se preocupe, estarei despido mais tarde.

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S e ele socasse a parede com seus punhos,


alguém poderia notar, então talvez fosse
melhor que não o fizesse.
Mas, pelo diabo, era o que ele queria. Derek
consumiu meio copo de vinho em um único gole. A
ideia de suportar o resto da noite o fazia querer sair
correndo pela porta. No entanto, se fizesse isso, seu
segredo humilhante seria exposto ao mundo, e era
um que ele precisava guardar a todo custo. Se não
pudesse ter o que queria, pelo menos gostaria de
manter algum vestígio de orgulho masculino.
Mas, maldito inferno, por que Annabel tinha
que parecer tão bonita? Claro que sim, lembrou a si
mesmo com honestidade sardônica. Sem dúvida,
ela era a mulher mais adorável da sala e, usando um
vestido decotado de seda azul-claro, que destacava
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seus olhos e os cabelos dourados, bem... ela estava


deslumbrante. Embora ele fizesse o possível para se
mostrar indiferente em sua pose casual, com um
ombro encostado na parede, Derek a observava, seu
olhar pensativo acompanhando-a pela sala
enquanto ela se misturava com os convidados,
aceitava parabéns e, o pior de tudo, agraciava os
seus interlocutores com um daqueles sorrisos
deslumbrantes...
— Acho que tudo deu certo no final das contas,
não é?
Thomas Drake, o irmão mais novo de seu pai,
tomou um gole de sua taça de vinho enquanto se
juntava a Derek no canto da elegante sala de
visitas.
Derek assentiu educadamente.
— Esplêndida festa, tio.
— Annabel está muito bonita, você não acha?
Derek rangeu os dentes.
— Sim.
— Lorde Hyatt está claramente encantado.
Isso era um eufemismo. O maldito homem
estava babando em cima dela. Derek preferiu não
comentar. Hyatt não era o único idiota encantando
naquela sala.
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— Sua tia Margaret pensou que uma festa


familiar tranquila antes do grande baile de noivado
seria melhor. Eu concordo que é muito bom
estarmos todos juntos. Quando a celebração formal
acontecer, haverá uma grande comoção. Estou feliz
que tenha podido vir.
Já que ele preferia ser arrastado nu através de
um campo lamacento cheio de arbustos e pedras
por um cavalo fugitivo, Derek apenas conseguiu
abrir um sorriso frágil.
— Como eu poderia perder?
— A comida estava deliciosa, não estava?
Alto e magro, com um ar erudito, Thomas
arqueou levemente as sobrancelhas.
Derek mal conseguia discernir o que fora
servido, poderia até ter sido cola. Ele bebera muito
durante todo o jantar e não deu mais do que
algumas mordidas. Soltou um grunhido que poderia
ter significado qualquer coisa e procurou por mais
vinho. Era verdade que uma reunião familiar com
trinta pessoas da família era melhor do que um
salão de festas cheio de convidados, mas apenas
superficialmente. Ainda precisou apresentar uma
performance confiável de indiferença ou, pior
ainda, alegria pelo casal feliz, além de dedicar-se à
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conversinha apropriada com tias-avós e primos


distantes. Isso explicava sua posição em um canto
da sala, tão fora de vista quanto possível. Se
pudesse ter se escondido atrás de um dos sofás
elegantes ou escalado a chaminé de uma das várias
lareiras de mármore italiano, ele teria feito.
Mas ele era o conde, sua presença fora
solicitada por sua tia Margaret, a quem era
genuinamente afeiçoado, e o melhor que podia
fazer era aguentar com a maior imparcialidade
possível, dadas as circunstâncias.
— Em um primeiro momento eu não tive
certeza se Hyatt era o certo para Annabel. Ela pode
ser bem obstinada de vez em quando, e o homem é
um pouco manso. — Thomas riu. — Por que estou
lhe contando isso? Você a conhece desde pequena.
Viu sua evolução de uma criança curiosa e travessa
para uma jovem que conhece muito bem sua
própria mente. Acho que podemos concordar que
ela precisa de uma mão firme.
O que ela precisava, Derek pensou com uma
reflexão nada bem-vinda, era das mãos dele. Sobre
ela, tocando cada centímetro delicioso, causando
prazer inesquecível e intenso...
Ele limpou a garganta.
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— Tenho certeza de que Hyatt pode dominá-la.


— Ela vai dominá-lo, essa é a minha previsão.
Ter que participar do jantar já era ruim o
suficiente, mas discutir como a mulher que ele
amava lidaria com seu casamento com outra pessoa
era infinitamente pior. Derek olhou para o outro
lado da sala, notando a maneira como a luz da vela
proporcionava ricos reflexos dourados ao cabelo
pálido e empertigou-se. Ela era teimosa. Também
brilhante, bonita e estava perto demais, mesmo em
uma sala lotada. Ele disse:
— Eu preciso de mais vinho. Por favor, dê-me
licença.
— Sim, não posso deixar de notar que você
parece um pouco infeliz. Mas o vinho é a solução?
— a pergunta tranquila de Thomas impediu Derek
de fugir. Ele congelou e se virou.
Infeliz era um eufemismo, mas ele achara que
tinha feito um bom trabalho ao esconder como se
sentia.
Thomas continuou:
— Eu tentei ficar imparcial, mas decidi que não
farei bem a ninguém com isso. Já pensou em dizer
como se sente?
Derek sentiu-se desesperado por um momento,
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porque queria agir como se não tivesse entendido,


mas tio Thomas o conhecia bem demais. Ele estava
presente quando Derek assumiu suas
responsabilidades como Conde; fora como um pai
de muitas maneiras, desde que Derek havia perdido
o seu tão jovem. Então, soltou uma respiração
irregular, passou os dedos pelo cabelo e foi
honesto.
— Ela me despreza.
— Você acha? — Thomas indagou suavemente.
— Ela já deixou claro o suficiente. — Derek
ouviu a nota defensiva em sua voz e fez o melhor
que pôde para amenizá-la. — É minha culpa, e
estou sofrendo por isso, mas as coisas são o que
são.
— Importa-se em me dizer o que aconteceu? Eu
perguntei a Annabel sobre seu afastamento, e ela se
recusa a explicar.
Ele se importava? Inferno, sim, ele se
importava. Isso traria de volta a lembrança do rosto
de Annabel naquela noite infeliz. Derek fez o seu
melhor para parecer indiferente, mas seu estômago
se revirou.
— Receio que ela tenha me pegado em uma
indiscrição bastante escandalosa com Lady
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Bellvue. Tenho certeza de que você se lembra de


quando foi nossa hóspede em Manderville Hall no
ano passado.
Para seu crédito, Thomas não o olhou com
desaprovação. Nem surpresa.
— Supus que poderia ser algo assim. Lembro-
me que a senhora em questão o perseguiu durante
toda a sua estada. Não fico surpreso ao descobrir
que você acabou sucumbindo.
Não, ele não deveria ter sucumbido. Poderia ter
sido a maior fraqueza de sua vida. Derek disse de
forma explosiva:
— Diabos, tio, não me desculpe. Eu não deveria
ter tocado em Isabelle, e eu não teria, só que...
— Sim?
Só que ele entrou na biblioteca naquela tarde
fatídica. Ainda se lembrava da maneira como a luz
do sol caía em blocos sobre o tapete oriental, como
o ar estava pesado com o cheiro de papel e couro
amarelados, como ele não ficara surpreso ao
encontrar o quarto já ocupado, porque Annabel
frequentemente mantinha seu lindo nariz enterrado
em um livro. Ela estava lá, parecendo
invulgarmente adorável em um vestido de
musselina branca bordada com pequenas flores
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amarelas, seu cabelo brilhante preso simplesmente


por uma fita de cetim em sua nuca. Quando ele
entrou, ela olhou para cima e sorriu, e ele foi mais
do que um pouco pego de surpresa com a
profundidade de sua própria reação.
A um sorriso.
Sim, ele sabia que ela nutria uma paixonite por
ele. No começo, divertiu-se ao perceber isso,
porque estava bem acostumado com mulheres a
persegui-lo, e era um jogo do qual gostava, mas não
estava familiarizado com o fato de ser o objeto de
adoração de uma adolescente inocente. Depois,
passaram-se vários anos, e ela passou a não mais
parecer a criança cativante que costumava segui-lo
por toda parte, mas transformara-se em uma jovem
muito bonita. Mais do que apenas sua
transformação física de menina para mulher,
também era inteligente, articulada e, como seu tio
já havia indicado, mais do que capaz de expressar
sua opinião sobre a maioria dos assuntos. Mesmo
quando mais nova, era aventureira, ansiosa pela
vida e determinada a superar a horrenda tragédia de
perder os pais de uma só vez naquele terrível
acidente. Provavelmente, ter ficado órfã em tão
tenra idade fosse a explicação para sua natureza
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resiliente e autoconfiante, ou talvez este fosse


apenas um detalhe inato de sua personalidade, mas
o que quer que fosse, ele gostava de seu ar de
independência. Sempre gostara. Para a menina, fora
algo encantador. Para a mulher, era intrigante.
Para sua surpresa, ele passara a pensar nela
muitas vezes, mesmo quando estava em Londres, e
ela, em Berkshire. Analisando em retrospecto,
percebeu que visitara Manderville Hall com mais
frequência do que o necessário e Annabel era o
motivo. Sua risada, a tendência que ela tinha de se
inclinar para frente quando argumentava, a
inteligência antiquada, que ela não fazia nenhum
esforço para esconder... tudo isso o atraía. Como
era possível?
Ele, de todas as pessoas, interessado em uma
jovem que mal saíra da escola?
Não.
Ou estava?
Naquela tarde fatídica na biblioteca, depois de
fingir que procurava por um livro, teceu alguns
comentários provocativos para poder ouvir a
melodia de sua risada, então fez o imperdoável e a
beijou. Oh, foi uma manobra bem executada,
porque ele era bastante experiente na arte do flerte,
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e Annabel não fora sequer páreo para isso. Ele a


atraiu até a janela para admirar a vista do jardim de
rosas, aproximou-se um pouco mais por precaução,
pôs a mão nas costas dela, depois inclinou o corpo
e olhou-a. Ainda conseguia se lembrar vividamente
da ligeira ampliação de seus olhos quando
percebera suas intenções, e a suave sensação de tê-
la desejosa em seus braços.
O gosto doce de sua boca o remetia a morango,
calor e inocência, e o roçar hesitante dos dedos de
Annabel contra seu pescoço fez seu corpo inteiro se
revirar de desejo. Com o instinto infalível de uma
mulher, ela se inclinou para ele, entregando-lhe
tudo, e ele aceitou a oferta preciosa, por mais que o
condenasse direto ao inferno.
Fora o primeiro beijo dela, e ele fora o
escolhido.
Mais do que isso, ele quisera ser o primeiro.
No entanto, a realidade tinha o péssimo hábito
de se fazer presente, e assim foi, mesmo quando ele
ergueu a cabeça e olhou em seus olhos. Eram azuis,
um tom puro que ele podia comparar a um céu de
verão sem nuvens, e ela mantinha um olhar
sonhador de felicidade, enquanto um sorriso
radiante curvava seus lábios macios, ainda úmidos
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por causa do beijo.


Então ela disse: Não pare. Em um sussurro
inocente sem fôlego que o trouxe de volta à fria
realidade.
Não pare. Ela estava louca? Claro que ele tinha
que parar.
Que diabos acabara de fazer?
Ele tinha vinte e sete anos, e ela ainda não tinha
feito dezoito. Ele era um libertino com uma
formidável reputação de devassidão, uma que
talvez nem merecesse, e ela era a inocente
protegida de seu tio. A menos que desejasse
desposá-la, não deveria colocar um dedo nela,
muito menos encorajar sua paixão.
Na época, a palavra casamento o apavorava. Ele
não saberia dizer se ainda lhe causava o mesmo
efeito, mas era um tipo diferente de perspectiva.
Então, num ato ainda mais covarde do que
beijá-la, ele resmungou alguma desculpa, saiu do
cômodo abruptamente e a evitou o resto do dia
porque não tinha ideia de como lidar com os
tumultuosos sentimentos de culpa, confusão e algo
um pouco mais difícil de definir. Quando isso
acontecera? Quando a criança se transformara em
mulher e quando foi que percebeu a mudança?
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Além disso, em que momento começara a se


sentir atraído? Não apenas por sua recém-
descoberta maturidade, não apenas pela forma
como o olhava e se movia de maneira diferente,
mas por ela. O brilho de sua risada, sua sagacidade
vibrante, o olhar singular ao fitá-lo.
Ele seduziu, encantou e conquistou muitas
mulheres. Aquela jovem, pouco mais que uma
garota, não deveria ter efeito sobre sua vida ou suas
emoções.
Mas tinha.
Mais tarde naquela noite, quando Isabella
Bellvue o encurralou na estufa, ele não resistiu a
seus avanços. Faria qualquer coisa para tirar a
imagem do rosto de Annabel de sua mente. Por sua
má sorte, ou talvez destino, Annabel veio procurá-
lo.
O olhar desiludido em seu rosto antes de se
virar e fugir da sala ficaria gravado na memória de
Derek para sempre. No dia seguinte, ele fora ainda
mais burro ao agravar seu pecado, indo para
Londres sem lhe dizer nada. No ano que passou,
Annabel mal lhe dirigira a palavra, e ele não a
culpava. Duas vezes tentou oferecer algum tipo de
desculpa banal, mas em ambas ela apenas se
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afastou antes que conseguisse mais do um breve


diálogo. Depois da segunda vez, disse a si mesmo
para simplesmente deixar o incidente para trás e
esquecê-la, porque o mundo estava cheio de
mulheres bonitas que não o desprezavam.
Palavras inteligentes, mas o fantasma daquele
beijo permaneceu.
Ele chegou à conclusão de que não iria arrancá-
la tão facilmente de sua vida, mas isso pouco
importava agora. Ela o dispensara ficando noiva de
outro homem.
— Só que eu sou um maldito idiota — disse
Derek com certa dificuldade.
— Neste caso, eu concordo. — Thomas sorriu
de um jeito afável. — Mas, novamente, a maioria
de nós pode dizer a mesma coisa. A verdadeira
questão é o quanto você quer remediar o dano
causado. Na minha opinião, o desdém de Annabel é
um indicativo de suas emoções ocultas. Quando
criança, ela adorava você, e quando se transformou
em uma mulher, esse sentimento pareceu se
aprofundar. Encontrá-lo em uma situação
comprometedora com outra mulher provavelmente
foi doloroso. Talvez você devesse tentar consertar o
estrago.
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— Ela mal fala comigo e, além disso, caso


tenha escapado à sua atenção, está prometida a
outro.
Thomas olhou para onde ela estava, ao lado de
seu noivo, com uma expressão pensativa.
— O que eu notei, Derek, é que ela não está
feliz, não importa o tipo de fachada que apresente
em público. Eu acho que Hyatt é um homem
amável, e ela gosta dele o suficiente, mas não é um
caso de amor. Não da parte dela.
— A maioria dos casamentos não é — Derek
falou com a autoridade de um homem que sabia
que dizia a verdade. Fazia parte da vida na alta
sociedade. O amor não era requisito para uma união
vantajosa.
Thomas não pareceu dissuadido.
— Nós dois sabemos que Annabel merece a
felicidade, não um mero contentamento.
Uma conversa como aquela e um copo vazio?
Nenhum dos dois era atraente. Derek fez um gesto
impotente com a mão.
— Parece-me que ela escolheu seu caminho.
— Talvez uma opção diferente lhe desse outra
direção. Diga-me, se ela fosse livre e você pudesse
persuadi-la a lhe dar uma segunda chance, estaria
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disposto a se casar com ela?


— Sim.
Bom Deus, ele nem sequer hesitou. Precisava
de algo mais forte que vinho.
Tinha mesmo acabado de dizer que consideraria
casamento?
O tio Thomas lançou-lhe um sorriso radiante e
disse secamente:
— Viu? Você não age como um tolo o tempo
todo, exceto pela sua recente e ultrajante aposta
com Rothay...
— Não foi a minha melhor ideia — admitiu
Derek, sentindo-se estremecer por dentro. — Mas o
anúncio de noivado de Annabel surgiu no jornal
naquela manhã. Ficar bêbado pareceu a coisa certa
a fazer.
— Como agora?
— A insensibilidade tem seus méritos de vez
em quando.
— A coisa certa — informou Thomas — é
fazê-la mudar de ideia. Se Annabel não fala com
você, e tenho certeza de que é porque seus
sentimentos ainda existem, coloque esse talento
lendário em prática para convencê-la. Deus sabe
que você o aperfeiçoou passando por uma
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infinidade de camas ao longo dos anos. Não deixe


que toda essa prática seja desperdiçada quando algo
importante está em jogo.
Derek o olhou desconcertado, enquanto seu tio
se afastava para se misturar com os convidados.
Thomas realmente sugerira que ele seduzisse
Annabel?

O JANTAR FOI SIMPLES , MAS DELICIOSO DO JEITO


que apenas uma refeição campestre poderia ser. A
manteiga estava fresca, os legumes recém-colhidos
e cozidos até ficarem macios, a carne saborosa e
banhada em um rico molho marrom. Para
sobremesa, a Sra. Sims preparara uma torta de
frutas com peras dos jardins da propriedade, e
Caroline saboreara cada mordida.
Ela também, surpreendentemente, saboreou a
conversa. Eles se sentaram em uma sala pequena e
charmosa, geralmente usada para o café da manhã,
com teto baixo e janelas altas, a mesa intimista, o
espaço nada grandioso, mas ainda muito atraente.
Os candelabros de luz bruxuleavam sobre uma
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mesa que fora bastante usada ao longo dos anos,


mas, como todo o resto, cada detalhe era bem
cuidado, do piso de madeira escura polida ao mural
de um jardim de primavera na parede. Era delicioso
e informal, e nada do que ela esperara de um duque
com uma vasta fortuna na ponta dos dedos.
A falta de pretensão era bem-vinda e também a
surpreendeu.
Ele a surpreendeu.
Não que ainda não se sentisse nervosa por
causa da noite que os aguardava, mas Nicholas
Manning tinha uma habilidade singular de
conseguir carregar a maior parte da conversa sem
monopolizá-la, e ela já notara que ele pertencia a
uma espécime rara de homem que não desejava
falar mais sobre si mesmo do que qualquer outra
coisa.
Seus cavalos eram outra história. Ficou claro
que seu passatempo era como uma obsessão, e ela
vira em primeira mão em Ascot o quão bem
sucedido ele era.
— Norfolk ganhou naquele dia — ele disse a
ela, com um leve sorriso extravagante e nostálgico,
ao final de uma história, tocando seu copo de vinho
após o jantar. — Com um osso lacerado. Ele não
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queria sair do círculo dos vencedores. Nunca vi


tanta coragem. Meu treinador chorou. Admito que
também verti uma lágrima ou duas.
O duque diabólico chorando por um cavalo
ferido quando poderia comprar outro — ou
centenas de outros — com sua fortuna?
Caroline olhou para ele do outro lado da mesa.
— Você sempre foi louco por cavalos?
Ele riu em um lampejo de dentes brancos.
— Acho que sim. Quando menino, eu fugia do
meu tutor, mas ele sabia que poderia me encontrar
nos estábulos, se eu, misteriosamente, não
aparecesse para minhas aulas. Eu ainda considero o
livro de puro-sangues mais interessante do que o
latim e antigo Grego.
Imaginá-lo como criança a intrigou. O motivo,
ela não tinha certeza, talvez porque sua própria
infância tivesse sido tão sombria.
— Você tem irmãos e irmãs? — Caroline podia
sentir o cheiro fresco e limpo de grama e flores
cortadas na brisa que penetrava pelas janelas
abertas, a serenidade da noite reconfortante.
— Uma irmã mais velha — ele respondeu
prontamente. — Ela é casada com um barão e tem
três filhas. Charles trabalha para o Departamento de
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Guerra em uma área que ninguém realmente


menciona.
Tendo passado a infância desprovida de calor
familiar, Caroline sentiu uma pontada de inveja
pelo carinho em sua voz.
— E a sua mãe?
— Geralmente reside em Kent, em Rothay
House, mas ocasionalmente vem para Londres. —
Ele arqueou uma sobrancelha. — Ela possui uma
força formidável, e eu admito que faço o meu
melhor para evitar um exagero em nosso contato.
Eu a respeito e adoro, mas ela nunca para de tentar
arranjar minha vida ao seu gosto.
Seu pai e sua tia tinham organizado as coisas
em sua vida, e, definitivamente, nada saíra ao seu
gosto, então, Caroline podia simpatizar com aquele
tipo de cautela. Ela murmurou:
— Pelo menos você é o duque, e ninguém pode
forçá-lo a nada.
Nicholas a olhou com uma expressão
impassível.
— Eu entendo seu sentimento, mas não se
engane. Todos nós temos obrigações que não
apreciamos. Títulos não são uma carta branca para
fazermos o que quisermos, acredite em mim. — Ele
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se mexeu, apenas melhor acomodando seu corpo


esguio, como uma pantera se esticando depois de
uma soneca no calor de uma tarde quente. — Você
disse antes que sua tia faleceu. E o seu pai?
Era justo. Ela perguntara a ele sobre sua
família. Caroline balançou a cabeça.
— Ele ainda está em York e, sem discussões,
chegamos a um acordo mútuo para nos ignorarmos.
Não nasci homem.
— Ah. — Como herdeiro de um ducado, aquela
palavra demonstrava que ele provavelmente a
entendia muito bem.
A memória da recente visita de Franklin veio à
mente, e ela suprimiu um tremor de desconforto.
— O primo do meu marido, o atual lorde
Wynn, é tudo o que posso chamar de família e, no
caso dele, prefiro não fazer isso.
A expressão no rosto de Caroline deveria ser a
causa do cenho franzido de Nicholas. Esparramado
na cadeira, com toda sua insolência masculina,
havia uma arrogância inconsciente, mas definida,
em seu comportamento, como se ele fosse capaz de
mudar as coisas.
— Ele é inconveniente?
— Ele quer ser — ela admitiu.
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— Posso ajudar?
Ela era a dona de sua própria vida, e isto fora
algo duramente conquistado.
— Por que oferece? — ela desafiou. — E por
que eu aceitaria?
Depois de um momento em que eles apenas se
olharam, Nicholas sorriu.
— Eu não tenho resposta para nenhuma das
duas perguntas — ele acrescentou calmamente. —
Exceto que gosto de estar aqui com você. Isto —
Ele indicou a sala aconchegante, a mesa ainda cheia
de pratos — é bom.
Que declaração simples. Mesmo assim, tão
poderosa. Também não era parte do flerte, não de
uma maneira suave, como ela esperava, mas
infinitamente mais persuasivo porque evocava a
possibilidade de sinceridade e não apenas de
sedução.
— Bom? — Ela arqueou uma sobrancelha e
sorriu de volta.
O duque de Rothay recuou em seu assento, as
longas pernas estendidas, a taça de vinho na mão.
— Eu achei a palavra apropriada. Devo
corrigir?
— Não — a resposta foi dada antes que ela
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pensasse.
A lembrança da gloriosa explosão de prazer que
ele lhe proporcionou naquela tarde surgiu. Várias
vezes, pegou-se olhando-o do outro lado da mesa
pequena com uma sensação de descrença. Não
apenas por estar ali, em sua companhia, fazendo
uma das coisas mais chocantes de sua vida, mas por
Nicholas não ser nada parecido com o que
esperava. Parte da persona era verdadeira; o
carisma do aristocrata libertino estava lá, mas
apenas na superfície, pois o homem por baixo não
parecia nada calculista nem simplesmente
interessado em um prazer egoísta. Mais cedo, ele
soube que ela teria permitido que fosse mais longe
na cama, mas optou por não fazê-lo, mesmo que
estivesse mais do que pronto, algo que pôde
facilmente notar. O fato de ele ter sido capaz de
perceber tão facilmente que ela estava nervosa e
com medo poderia ter sido humilhante, mas a
sensibilidade demonstrada foi inesperada.
Um libertino perceptivo. Humm. Essa era uma
faceta interessante pela qual ela não esperava.
Mas, novamente, nunca soubera o que poderia
esperar.
Entre seu pai indiferente e seu marido cruel e
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dominador, ela não tinha uma opinião elevada


sobre os homens em geral. Talvez uma revelação
sexual não fosse tudo o que levaria daquela semana
luxuriosa.
— De manhã podemos cavalgar ao longo do
rio, se você quiser.
Caroline voltou-lhe a atenção, sentindo um leve
rubor nas bochechas por causa de sua introspecção.
— Estou à sua disposição.
Os olhos de Nicholas se enrugaram nos cantos,
de uma forma atraente, quando ele sorriu.
— Eu gosto de como isso soa, minha senhora.
A nota rouca em sua voz a inquietou.
— Eu quis dizer... — Caroline começou a falar,
bem lentamente, mas logo parou. Na verdade, ela
quis dizer exatamente o que havia dito. Nicholas
ergueu as sobrancelhas. Ele continuou sentado,
confortável e relaxado. — Tudo tem uma
conotação sexual para você, Rothay?
Ela recuperou sua postura fria como quem se
envolve em um manto. Com a intimidade da
refeição e a caminhada romântica no jardim mais
cedo — onde ele a presenteara com algumas rosas,
chegando a colocar uma atrás de sua orelha —,
deixar as palavras escaparem foi mais fácil do que
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ela imaginou.
— Quando eu estou com uma mulher tão bonita
quanto você, provavelmente, sim. — Um
movimento ergueu seus ombros largos, em uma
reação impenitente.
— Alguém resiste a você? — Ela teve que
admitir que estava curiosa. Sua reputação era
formidável, mas fofocas nem sempre eram
confiáveis.
Ele brincou com a haste de sua taça de vinho. A
luz bruxuleante das velas incidia sobre suas feições
refinadas, destacando a perfeição de sua elegante
estrutura óssea e fazendo seu cabelo negro brilhar.
— Sou cuidadoso nas minhas escolhas.
— Em outras palavras, uma vez que você
escolhe uma mulher em meio à sua multidão de
admiradoras ansiosas, ela se torna sua?
Ela ouvira os rumores, testemunhara o impacto
que ele causava quando entrava em um salão de
baile ou quando passava pelo Hyde Park.
A risada dele foi baixa e suave.
— Você faz com que isso soe muito ridículo.
Como escolher uma égua de uma cavalaria.
Ela não era boa com brincadeiras espirituosas.
Houve muito pouca prática em sua vida.
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— Às vezes sou honesta de mais — ela


admitiu. — Minha tia alertou-me, durante a maior
parte da minha vida, que isso é pouco atraente e
feminino, embora minha governanta encorajasse o
pensamento livre. Suponho que, até certo ponto,
seja por isso que fico tão quieta quando estou na
sociedade. Deus sabe que posso muito bem dizer
algo bastante direto. Deve ser porque passei tanto
tempo sozinha quando criança. Não havia
necessidade de mentir para mim mesma.
Nicholas reclinou-se em sua cadeira, com toda
a sua lânguida graça masculina. Sua expressão era
difícil de ler.
— Eu invejo isso, acredite ou não.
— Inveja o quê?
— A noção de que você tinha alguma
privacidade em sua juventude e sua capacidade de
ser franca com suas opiniões. Desde o berço,
sempre fui lembrado, a todo momento, do fato de
ser o herdeiro ducal e, acredite em mim, ensinaram-
me a ser político em meu discurso a partir do
instante em que pronunciei minha primeira palavra.
Um título vem com certo nível de responsabilidade
e inevitável crítica social.
— Nunca pensei por este lado. — Caroline
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inclinou a cabeça para um lado, estudando-o. — É


difícil sentir pena de alguém bonito, rico e com um
título, mas há desvantagens em tudo, suponho.
— É difícil sentir pena de uma mulher que é
primorosamente bonita, uma herdeira e que poderia
escolher qualquer homem em Londres, mas é
possível que ela ainda tenha seus demônios. — Sua
percepção era muito próxima da verdade.
Sim, Edward era um demônio, assombrando
sua capacidade de viver uma vida plena.
— Touché — ela disse friamente. — Espero
exorcizar um dos meus esta semana.
— Tendo experimentado o gosto da sua paixão,
posso dizer com toda a honestidade que será meu
prazer ajudá-la.
Ele respondeu com uma veemência tão suave
que ela lutou contra o vívido rubor que a ênfase na
palavra “prazer” lhe provocou, tentando, pelo
menos, reagir com igual sofisticação.
— E na próxima semana você terá esquecido de
mim, não é assim que funciona? Não se cansa de
relações passageiras?
As críticas implícitas não perturbaram a
autoconfiança de Nicholas.
— Eu pensei que você não estava interessada
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em permanência.
— Não estou — ela se apressou em concordar.
— Então estamos de acordo e podemos
desfrutar um do outro sem reservas. Acho que os
sete dias serão muito agradáveis. — Ele olhou para
a janela onde as estrelas eram visíveis no céu de
veludo negro, as cortinas e a janela abertas para
deixarem entrar a brisa deliciosa. — E noites.
Ela começava a concordar, embora ele não
tivesse respondido sua pergunta.
Caroline cruzou as mãos no colo.
— Eu não esperava gostar de você.
Nicholas riu.
— Você é certamente direta, minha cara. Por
favor, não me diga que tenho a reputação de ser um
sujeito desagradável.
— Não, você é considerado muito charmoso.
Só tive minhas dúvidas se o encanto era real.
— Ah, uma artimanha para atrair jovens
donzelas para a minha cama, é isso? — Algo
brilhou em seus olhos escuros.
Aborrecimento, talvez? Não, ela não o conhecia
bem o suficiente para julgar.
— Bem, sim.
— No entanto, você concordou em passar uma
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semana inteira na minha companhia.


— Nós dois sabemos que tenho minhas razões.
Nicholas olhou para ela, com seu corpo alto e
magro paralisado e uma expressão enigmática.
— Vejo que estamos sendo muito honestos um
com o outro. Acho refrescante dizer a verdade.
Muitas vezes os casos de amor são cheios de
intrigas e fingimentos. Já que estamos seguindo
este espírito, direi que geralmente não sou a favor
de mulheres com pouca experiência na cama, nem
durmo com jovens viúvas que obviamente foram
tratadas com rudeza no passado.
Talvez ela tivesse sido franca demais. Caroline
sentiu um lampejo de alarme de que a próxima
coisa que ele faria seria cancelar a aposta. Para seu
alívio, ele continuou:
— Mas você é muito tentadora, minha senhora,
e agora que entendo suas razões para estar aqui,
sinto-me mais do que honrado. — Ele acrescentou
em um tom quase informal: — Se o seu marido
desprezível ainda estivesse vivo, eu acabaria com
sua vida sem valor em um único segundo.
Caroline registrou sua sinceridade com
surpresa, porque a expressão sombria em seus
olhos desmentia o tom casual de sua voz.
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Ela nunca tivera um defensor. Quando criança,


fora protegida por sua tia solteira autocrática, e ela
mal tinha dezoito anos quando se casou. O arranjo
fora completamente negociado sem o seu
consentimento, mas não percebera a realidade
devastadora até a noite de núpcias. Quando
descobriu quão cruel e insensível era o homem com
quem fora forçada a se casar, ela o deixou e foi
para sua casa em York. Seu pai a enviou de volta, e
Deus foi testemunha do quanto sofrera por esse
lapso de julgamento. As contusões levaram
semanas para desaparecer.
— Eu o odiava. — Era difícil manter a voz
casual, mas ela fez o melhor que pôde. — A lógica
me faz supor que nem todos os homens são como
ele, mas a experiência às vezes supera o bom senso.
— Então, você precisa de algumas boas
experiências para compensar as ruins.
A leve nota de rouquidão da bela voz do duque
causou-lhe um arrepio na espinha.
— Concordo. É por isso que estou aqui. —
Caroline endireitou os ombros.
— Então talvez seja hora de nos retirarmos. —
Nicholas levantou-se em um movimento gracioso e
estendeu-lhe a mão.
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S EU CORPO INSATISFEITO QUERIA PRESSA , MAS SE


havia uma coisa que Nicholas aprendera nos
últimos anos, enquanto experimentava algumas das
mais belas damas da sociedade, era a contenção
sexual. As mulheres demoravam mais para
despertar, algumas eram aventureiras na cama,
outras recatadas, algumas francamente insaciáveis.
Obedecer suas amantes em qualquer uma de suas
necessidades nunca fora um problema, mas
Caroline era completamente diferente. Sob aquele
exterior primorosamente belo, ela estava
machucada e, embora tivessem estabelecido um
frágil vínculo de confiança, ainda era um grande
desafio.
Ele queria carregá-la pelas escadas em um gesto
romântico dramático, mas rejeitou a ideia, porque
iria lembrá-la de seu tamanho e força superiores.
Em vez disso, escoltou-a educadamente, segurando
a dobra de seu braço, como se a levasse a uma sala
formal ou a uma noite na ópera.
A verdade era que ele ainda estava muito
desconfortável.

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E ela também.
Por que isso o intrigava?
Talvez devesse estar entediado, mas realmente
não era o caso. Caroline era forte, sincera,
distante... e ainda vulnerável, completamente
feminina, e, em sua opinião, corajosa de uma
maneira singular.
Muito diferente de uma lembrança de seu
passado. Esta senhora em particular era tudo menos
indefesa, e fora ele quem perdera a cabeça. Desde
então, Nicholas fizera questão de ter a vantagem.
Sempre.
Quando chegaram ao corredor do andar de
cima, Nicholas decidiu pelo quarto dela, pensando
que, se usassem o dele novamente, Caroline se
sentiria mais uma vez dominada e em terreno
incerto.
— Aqui — ele murmurou, abrindo a porta. —
Peço desculpas pela falta de aia para uma dama,
mas eu esperava que você quisesse mais
privacidade do que conveniência.
— O quarto é lindo — ela murmurou, hesitando
apenas um momento antes de entrar. — E você está
certo. Eu posso viver sem uma aia.
Ele deu uma olhada superficial no mobiliário,
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não tendo certeza se já havia prestado atenção. Não


sendo casado, nunca se preocupara em observar o
quarto adjacente.
— Estou feliz que o quarto lhe agrade e que eu
possa ser gentil e servi-la. Deixe-me despir-te.
— Sua reputação de ser gentil é lendária.
Maldita fosse a sua reputação, Nicholas pensou
irritado, consciente do que as fofocas diziam sobre
ele e ainda admirado, aos vinte e oito anos, que
alguém estivesse tão interessado em sua vida.
Então, respondeu quase bruscamente:
— Eu só quis dizer que se você precisar de
alguma coisa durante a nossa estada, por favor,
peça-me.
— Acabei de ofendê-lo?
Ele pegou os ombros dela e a segurou com uma
suave pressão de suas mãos para que se virasse.
— O fato de eu ter uma reputação me ofende.
Eu preferiria que minha vida pessoal não servisse
de alimento para a fábrica de fofocas.
— Então talvez não devesse fazer apostas
públicas ultrajantes a respeito de suas proezas
sexuais. — Ela falou em um tom seco, mas
Nicholas sentiu uma leve apreensão em sua voz
quando ele afastou seu cabelo e começou a
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desabotoar seu pálido e reluzente vestido de noite


verde. Com uma facilidade de anos de prática, ele
abriu os botões, deslizou a peça de seus ombros
delgados e puxou os grampos de seu coque simples.
A massa de seda caiu em cascata por entre os dedos
e pelas costas graciosas, e ele sentiu o cheiro do
perfume dela, um aroma profundo de lírio do vale.
Sustentando o peso cálido de suas madeixas, ele
beijou sua nuca com uma pressão lenta e tentadora,
permitindo que sua boca se demorasse um pouco
mais quando sentiu que ela estremecia em resposta.
— Eu prestaria atenção ao seu conselho, linda
Caroline, mas se eu não aceitasse o desafio de
Manderville, você não estaria aqui, estaria? Talvez
eu deva fazer apostas deste tipo com mais
frequência. — Ele deslizou o braço ao redor de sua
cintura e começou a acariciar seu pescoço,
beijando, provando sua suave e exuberante pele até
que ela se inclinou contra ele, permitindo-o ver o
rápido erguer de seus seios cheios sob o laço do
chemise, seus mamilos contra o tecido puro.
— Você consegue sentir como eu a quero? —
Ele sabia que ela conseguia, pois seu braço a
segurava em frouxa mas insistente persuasão contra
sua já rígida ereção. — Faz alguma ideia de quanto
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controle uma mulher possui sobre um homem


quando ele a deseja?
— Não — o sussurro era pungente e suave.
Infelizmente, ele tinha certeza de que ela
acabara de contar a verdade. Não diminuiu em nada
seu ardor, mas amenizou seu comportamento.
— Você tem toda a minha atenção, acredite em
mim — ele prometeu. — Deixe-me mostrar-lhe.
Ele a ergueu nos braços, afinal, com cuidado,
como se ela fosse uma peça de vidro, e a levou para
a cama de dossel. Daquela vez, removeu tudo,
incluindo seu chemise, de modo que Caroline se
repousava nua e exuberante sob o brilho das velas,
acesas para sua conveniência ao se recolher.
Nicholas despiu-se deliberadamente, retirando o
paletó, a gravata, a camisa e as botas enquanto a
observava, dando-lhe todas as oportunidades para
dizer-lhe para parar ou pedir que cobrisse seu corpo
exposto.
Ela não fez nenhum dos dois.
Graças a Deus, pois ele estava em chamas.
Quando abriu as calças e as deslizou por seus
quadris, os adoráveis ​olhos cinzentos se
arregalaram, e ela não fez segredo ao estudar sua
ereção, enquanto os lábios macios se separavam em
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evidente surpresa.
O fato de ela nunca ter visto um homem
excitado era inquietante.
Inferno, outro obstáculo para superar.
Era fácil adivinhar que o marido a procurava à
noite, no escuro, para exercer seus direitos de uma
maneira que Nicholas imaginava que tinha mais a
ver com uma brutalidade egoísta do que qualquer
outra coisa. Todos concordavam que era impossível
que um homem violasse sua esposa, pois esta era
essencialmente sua propriedade, mas ele
discordava. Se uma mulher estivesse relutante e
despreparada, era um crime pegar o que não era
dado livremente.
Ele subiu na cama ao lado dela e não fez nada
mais do que tocar seu lábio inferior, traçando a
curva encantadora com um dedo exploratório.
— Eu mencionei que você é incrivelmente
linda?
— Você tem sido muito prolixo com seus
elogios, Nicholas. — Os cílios de Caroline
baixaram uma fração, mas ela não se afastou e
parecia muito menos tensa do que estivera no
encontro deles durante a tarde.
— Todo homem na Inglaterra me invejaria se
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soubesse onde estou agora.


— E sem dúvidas toda mulher sentiria o mesmo
por mim. Especialmente as legiões que me
precederam e sabem o que estão perdendo.
Discutir as amantes do passado ​nunca era
inteligente sob nenhuma circunstância, e ele não
pretendia começar agora, não com a necessidade
carnal que descaradamente controlava seus
sentidos. O que Nicholas cobiçava estava a poucos
centímetros de distância, com uma boca cálida e
convidativa, e um corpo voluptuoso que estava
pronto para lhe pertencer. Só precisava ter certeza
de que ela estava igualmente envolvida.
— Beije-me — disse ele com um forte
incentivo.
Deixe-a assumir a liderança. Parecia uma ideia
melhor, porque ele não queria assustá-la ou
apressá-la.
Por um momento, ela hesitou, mas depois se
inclinou e roçou os lábios contra os dele. Foi
preciso força de vontade para não puxá-la para si
com força e devorá-la, mas Nicholas ficou imóvel
enquanto Caroline timidamente pressionava sua
boca contra a dele, afastando-se quase que
imediatamente.
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Foi um começo singelo, mas promissor.


— Isso é um beijo? — Ele ergueu uma
sobrancelha provocativamente. — Esta tarde eu a
beijei, lembra? Gostaria de vê-la se esforçar um
pouco mais, Lady Wynn.
Por um momento, ela apenas o olhou, com o
cabelo vibrante derramando-se sobre os ombros
magros, os olhos em um tom desafiador. Então ela
se inclinou novamente, daquela vez pousando as
pequenas mãos em seus ombros e abrindo os lábios.
Nicholas inclinou um pouco a cabeça para
aprofundar o beijo e a tentativa dela de deslizar a
língua para dentro da sua boca fez com que
Nicholas sorrisse por dentro.
Apesar de seu passado, ele tinha a sensação de
que ela seria uma boa aluna.
Os seios nus e macios roçaram seu peito, e ele
reprimiu um gemido, sentindo o longo cabelo cair
sobre os dois. Sem fazer nada além de tocá-la nas
costas, ele traçou a curva de sua espinha, deixando-
a controlar o ato. Seus dedos se emaranharam em
suas madeixas, e um baixo som de aprovação
escapou da garganta de Caroline enquanto
continuava a beijá-lo com crescente confiança.
Ambos estavam sem fôlego quando ela
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finalmente se recostou.
— Melhor?
— Muito.
Sua ereção pulsava com cada batida de seu
coração, e Nicholas não podia esperar para estar
dentro de Caroline, mas se sentiu relutantemente
divertido quando o olhar dela foi direto para o
membro duro e inchado contra seu estômago. Ela
parecia cautelosa, mas ele foi encorajado por um
vislumbre de interesse em seus olhos.
Em um movimento deliberadamente lento,
Nicholas pegou a mão dela e a colocou sobre sua
ereção.
— Eu não quero ser um mistério para você, de
forma alguma.
Dedos finos timidamente envolveram a
circunferência, e ela mordeu o lábio inferior.
— Minha ignorância é mortificante.
Ele respirou fundo quando ela o apertou com
delicadeza.
— Fique tranquila, você pode me perguntar
qualquer coisa e eu responderei se puder. Nunca
entendi por que a sociedade prefere manter as
mulheres no escuro quando se trata de questões
sexuais. Os homens discutem isso à vontade. Tende
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a ser um tópico popular em conversas.


— Caso você não tenha notado, seu gênero tem
direitos que nos são negados.
Ela tinha um bom argumento, mas era difícil
falar enquanto seus dedos exploravam seu membro
rígido por inteiro.
— Eu notei — ele conseguiu admitir,
reprimindo um gemido quando ela limpou uma
gota de líquido da ponta de seu membro e olhou
para o dedo. — Mas tenha em mente que parte da
razão é possessividade. Como queremos manter
nossas filhas castas e nossas esposas apenas para
nós, acho que a ideia geral é que quanto menos
vocês souberem sobre o prazer que homens e
mulheres podem dar um ao outro, melhor.
— Vamos começar um debate intelectual sobre
este assunto? Acho que você não vai gostar das
minhas opiniões sobre ele. — Ela o acariciou,
olhando para baixo, entre as pernas dele, enquanto
segurava seus testículos. — Eles são pesados.
Para alguém com total falta de experiência, ela
certamente estava fazendo um bom trabalho em
despertá-lo para um estado quase febril. Pesado?
Ele estava prestes a explodir apenas pelo toque
inocente, e isso o assustava. Queria ir devagar, pelo
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menos até que ela entendesse o jogo que ele sabia


tão bem como jogar.
— Estou gostando da sua curiosidade — ele
explicou com um esforço monumental para parecer
relaxado enquanto ela o acariciava —, mas talvez
seja melhor se for a minha vez.
Toda deliciosa com cabelos lustrosos e pele
pálida, Caroline parecia um pouco confusa.
— De tocar em você. — Ele se mexeu para
tomá-la em seus braços e se moveu para colocá-la
costas e apoiar-se sobre ela, seu peso descansando
nos cotovelos. Eles deveriam simplesmente
começar, Nicholas decidiu, enquanto acariciava
primeiro seu quadril, passando para a parte interna
da coxa, e então encontrando o calor de seu sexo.
Seus dedos separaram as suaves dobras femininas,
e Caroline imediatamente desviou o olhar, ficando
tensa.
Maldição.
— Eu não vou te machucar — ele sussurrou,
traçando uma linha através de sua mandíbula com a
boca. — Quero que se sinta bem, linda Caroline. Se
estiver bem excitada, vai se divertir, dou a minha
palavra. Você já está um pouco molhada, o que
significa que seu corpo entende o que sua mente
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quer rejeitar. Relaxe, e eu vou provar para você.


Ele a tocou então. Em toda parte. Cada toque,
cada carícia, pontuada por doces beijos suaves e
palavras sussurradas. O ponto de pulsação logo
acima do mergulho da clavícula. A delicada
curvatura de seu cotovelo. Sua língua passando
rapidamente pelo punho. O seu dedo mindinho em
sua boca, tomado com ternura provocativa,
enquanto acariciava seu ombro nu e a segurava
contra si. Era uma exploração, uma jornada de
conhecimento e persuasão. Ambos nus, peles
quentes se tocando, conforme ele lhe fazia amor
sem realmente penetrá-la.
O primeiro suspiro ofegante fez com que
Nicholas compreendesse que sua paciência estava
sendo recompensada, o seguinte gemido o
encorajou ainda mais, e quando a mão dele
escorregou por entre suas coxas e ele a estimulou
com uma leve pressão, ela o agarrou com urgência.
Os dedos de Nicholas ficaram molhados, e a
reação do corpo dela ao seu toque não podia ser
questionada.
E ele considerou esta resposta muito poderosa,
porque sabia que envolvia risco, confiança e uma
dúzia de coisas que ele abandonara, quando se
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tratava de paixão, há pelo menos uma década.


O impacto foi extraordinário. Ela não confiava
facilmente. Bem, nem ele, então tinham isso em
comum, embora suas reservas fossem diferentes.
No entanto, se o erguer de seus quadris em súplica
significasse alguma coisa, era um sinal de que ela
estava superando esse problema. Nicholas, por sua
vez, pensou ter fechado a porta com firmeza na
cara dos seus fantasmas.
Talvez, no entanto, estivesse errado.
O passado se chocou com o presente, e embora
não entendesse completamente as motivações de
Caroline para estar ali, sentiu uma conexão com sua
adorável companheira de cama que era mais do que
incomum.
Era como a situação deles, tão original quanto o
próprio pecado.
Seu cuidado foi recompensado quando ele
finalmente a levou a um clímax estremecido. E
depois outro. Logo quando ela começou a relaxar,
ele repetiu, deslizando os dedos profundamente
pelo calor úmido e tentador, sentindo aquelas
contrações traidoras enquanto ela ofegava e
fechava os olhos.
A delicada estreiteza de sua passagem fez com
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que ele hesitasse por um momento em uma


vertiginosa onda de necessidade. Os músculos
internos do sexo de Caroline se apertaram ao redor
de seus dedos invasores enquanto tentava começar
a explorar a promessa do paraíso.
A expressão em seu rosto dizia tudo o que ele
precisava saber, e ele se sentiu aliviado, mesmo
quando o suor começou a fazer sua pele formigar
por conta do esforço para não se mover para
colocar entre aquelas adoráveis ​coxas − e possuí-la.
Caroline parecia saciada, até mesmo atordoada,
com a boca entreaberta, os olhos arregalados, um
leve rubor nas bochechas por causa da liberação
sexual.
— Nicholas — ela sussurrou maravilhada e
baixou os cílios.
Foi toda a permissão que ele precisava para se
mover. Para ajustar-se no lugar certo, usar seu novo
poder sobre ela para abrir ainda mais suas pernas e,
em seguida, alcançar o próprio prazer.
Ele não fez isso.
Uma vozinha — uma que ele queria banir para
o inferno —disse-lhe que não era a hora certa.
Ainda não.
Sentindo-a lânguida, ele a ajustou em seus
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braços, tentando acalmar a necessidade traiçoeira


de possuí-la. Ela não falou nada, mas ele pôde
sentir as batidas apressadas de seu coração, a
suavidade de sua pele sedosa, o movimento suave
em seu peito enquanto ela respirava e finalmente
levantava a cabeça.
— Eu... eu... — ela vacilou, e então engoliu em
seco audivelmente.
Ele estava deitado ao lado dela, sentindo uma
tensão sexual tão forte quanto resignada, por isso,
sorriu. Quando acontecesse, ele tentaria garantir
que chegassem ao clímax juntos.
— Você o quê?
— Eu gostei daquilo.
— Imaginei que gostaria. — Ele lutou contra
um sorriso que provavelmente a enfureceria e
acrescentou suavemente: — E fico feliz com isso.
Ela sacudiu o cabelo reluzente, e a visão de sua
nudez voluptuosa sob o brilho da luz baixa era um
desafio à sua decisão de esperar.
— Você não entende a profundidade desse
elogio, Nicholas.
— Ao contrário, querida, tenho a sensação de
que sim.
— Você disse antes que não faria presunções.
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A coragem em sua voz o fez rir.


— Você não pode ter as duas coisas. Ou eu
entendo de mulheres, e foi por isso que você
decidiu participar desta aposta em primeiro lugar,
ou eu não sei de nada. Qual dos dois?
— Você não me conhece. — Olhos magníficos
exibiram um tom prateado, mas era difícil para ela
se livrar da arrogante e distante Lady Wynn mesmo
quando estava em um delicioso momento
descontraído ao lado dele.
Sua ereção latejava quase dolorosamente. Jesus,
a restrição tinha um custo. Quando finalmente
fizessem amor, teria que valer a pena.
E talvez ele realmente fosse um pouco
convencido.
Ele capturou seus ombros delgados e puxou-a
para um beijo lento. Quando a sentiu derreter
contra seu corpo, sentiu um lampejo de triunfo.
Movendo a boca para o ouvido dela, Nicholas
disse, com um tom rouco:
— Tudo bem, eu admito que não a conheço tão
bem quanto gostaria. Temos toda a semana pela
frente e mal começamos a nos familiarizar. Melhor
assim?
Um suspiro resultante flutuou em sua garganta.
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— Sim.

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O som de uma voz profunda a deteve em uma


onda de desânimo.
Impregnando-se em cada poro, em cada
terminação nervosa, desde o couro cabeludo até a
ponta dos dedos dos pés. Por isso, Annabel ficou
parada de pé do lado de fora da porta da sala
informal e respirou fundo.
Ninguém lhe informara que Derek estaria lá
para o chá.
Ele nunca vinha para o chá. Nunca.
Deus no céu, vê-lo na noite anterior já não fora
ruim o suficiente? Seu rosto ainda doía pelo esforço
de sorrir durante a pequena festa que Margaret
organizara. A comemoração fora um gesto
carinhoso, e ela sabia que Thomas e Margaret não
queriam mais do que apoiar sua decisão de se casar
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com Alfred. Todos os Drake sempre a trataram


como parte da família e estavam maravilhosamente
entusiasmados com o casamento, mas,
infelizmente, era esperado que Derek fosse
convidado para tudo. Ele sempre fora, mas
geralmente recusava os entretenimentos mundanos.
Exceto pela noite anterior, quando apareceu
inesperadamente, pecaminosamente bonito e
extremamente entediado. Ele também saiu cedo,
escapando não muito depois do jantar. Annabel
conseguiu ser educada durante sua breve troca de
amabilidades, mas precisava mesmo passar por tal
provação novamente tão cedo?
— Esqueceu alguma coisa, criança?
Ela girou ao ouvir o som da voz de seu
guardião. Encontrou Thomas sorrindo para ela, seu
rosto bem-humorado enrugado com seu sorriso
habitual. Ele disse:
— Parece que estamos um pouco atrasados, não
estamos? Estou morrendo de sede, e um bolinho
não me cairia nada mal agora. Vamos entrar?
Que escolha havia? Ela deveria ter corrido para
o seu quarto e alegado uma dor de cabeça quando
tivera a chance, em vez de hesitar na porta. Poderia
ter mandado sua aia descer com a notícia de que
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não se juntaria a eles para o chá, porque estava


indisposta. Só não pensou rápido o suficiente.
— Sim — ela murmurou em uma mentira
descarada, porque seu estômago de repente se
contorceu em nós —, parece ótimo.
Eles entraram juntos, e embora ela desejasse
não ter que reconhecer a presença do Conde de
Manderville, quando ele educadamente se levantou,
rangeu os dentes e deu um firme meneio de cabeça.
Tudo era tão familiar; o movimento das cadeiras
azuis cobertas de brocado, o velho piano no canto,
o tapete creme e índigo em um padrão oriental, até
o carrinho de chá estacionado próximo à polida
mesa antiga, mas tudo parecia diferente com ele ali.
Sempre fora assim. Se ele estivesse no
ambiente, ela não notava mais nada e sentia um
feroz ressentimento pela própria aflição.
Margaret, corpulenta, bonita e elegante, sorria
serenamente, com a xícara na mão.
— Derek passou por aqui no momento certo, e
eu insisti que ficasse para o chá.
Annabel não disse nada, desviando o olhar,
sabendo que não havia possibilidade de Thomas e
Margaret não terem notado o estado atual de
animosidade entre o sobrinho e ela mesma. Uma
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vez, Thomas chegou a tentar investigar, mas ela


não pretendia contar a ninguém sobre o fatídico
beijo ou sobre o que tinha testemunhado pouco
depois.
Ainda estava vívido o bastante em sua
memória, queimando com clareza dolorosa. Derek
debruçado sobre Lady Bellvue — que por acaso
tinha a coragem de ser sofisticada e bonita —, cujo
corpete encontrava-se aberto, e a boca...
Naquele momento, as lágrimas embaçaram sua
visão, e Annabel correra para fora da estufa o mais
rápido possível, antes que desmoronasse em
soluços bem na frente de ambos. Não, ela guardou
esta reação para mais tarde. Quando chegou ao
quarto, chorou até não restarem mais lágrimas. Era
irônico que o terno beijo na biblioteca tivesse sido
o ápice de todas as suas fantasias românticas, mas
que, no mesmo dia, seus sonhos idealistas tivessem
sido destruídos.
Ela amadurecera naquele exato segundo ao
perceber que a aparência do jovem com o sorriso
fácil e a natureza generosa eram fachadas para
esconder sua superficialidade e indiferença aos
sentimentos dos outros. Ela sempre pensou em sua
inteligência bem-humorada inata como uma forma
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de analisá-lo como ser humano, mas agora entendia


que suas falhas excediam em muito suas virtudes.
Os rumores eram todos verdadeiros. Tudo o que ele
queria era uma voluntária inocente. Tamanha
insensibilidade revirava seu estômago. Quantos
corações ele tinha partido além do dela? O que ela
achava ser amor fora uma ilusão, nada mais do que
isso.
— …torta?
Annabel ergueu os olhos e piscou.
— O quê?
O objeto de seus pensamentos gesticulou em
direção ao prato no carrinho de chá. Seus vívidos
olhos azuis estavam velados, mas havia apenas um
leve lampejo de sorriso em sua boca bem feita.
— Posso comer uma?
— Eu tenho certeza de que você comeu muitas.
— As palavras sair sem querer, e para piorar a
situação, a doce malícia em sua própria voz era
uma traição à sua antipatia.
Deus do céu, ela realmente disse isso em voz
alta?
Margaret murmurou:
— Oh, querida.
As sobrancelhas escuras de Derek se ergueram.
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Sentado preguiçosamente em sua cadeira, suas


pernas infinitas estendidas e uma mão de dedos
longos segurando a xícara, ele parecia
irritantemente divertido. Estava, como de costume,
incrivelmente bonito em uma jaqueta azul escura,
calça marrom e botas polidas; sua gravata, como
sempre, atada à perfeição. A luz de uma das janelas
altas realçava os reflexos dourados de seu cabelo e
acentuava a linha perfeita de maxilar e suas
sobrancelhas. Ele disse pausadamente:
— Admito gostar de tortas de todos os tipos,
mas com chá, prefiro a de limão.
Envergonhada, porque se prometia a cada dia
que deixaria de se importar com o que acontecera
entre eles, Annabel pegou o prato de doces e
empurrou-o para ele. Os confeitos deslizaram
perigosamente em direção à borda, mas, felizmente,
nenhum deles caiu sobre o caro tapete floral
estampado. Já tinha feito papel de tola o suficiente
sem precisar fazer bagunça também.
Maldito fosse, pois ele demorou a escolher um,
fazendo-a segurar o prato como uma serviçal
submissa. Sem dúvidas deveria dormir com elas
também, refletiu calorosamente, sem ter certeza se
estava mais brava consigo mesma por perder seu
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autocontrole tão rápido ou com ele por achar a


situação cômica.
Sua confiança e elegância sempre pareciam
enfatizar a falta de sofisticação dela, mas Annabel
estava aprendendo. Evitá-lo tornou-se uma forma
de arte, desde aquela noite horrível, e se perguntou
mais de uma vez se ele não estaria fazendo um
esforço consciente para recusar convites para
eventos onde ela também estivesse presente.
Naturalmente, em ocasiões familiares, eles
precisavam interagir um pouco, mas nenhum dos
dois fazia mais do que reconhecer a presença um do
outro.
Derek nunca aparecia para o chá.
Especialmente quando sabia que ela estaria
presente.
— Obrigado. — Ele arrancou um doce da
bandeja e o colocou em seu prato. O movimento foi
gracioso e elegante de um modo completamente
masculino, assim como tudo em relação a ele,
inclusive aquele sorriso irritante em seu rosto.
— Por nada — ela disse, odiando o tom rouco
de sua voz.
— Creio que não tive ainda a chance de
parabenizá-la por seu compromisso formal, Annie.
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Ontem à noite você estava muito ocupada, e eu tive


que sair mais cedo.
Santo Deus, não me chame de Annie.
Ele era o único que usava o apelido. Sempre o
fizera, desde que ela era uma criança. Mas não era
mais uma menina, era uma mulher, e o som
familiar e a maneira suave como soou, provocou-
lhe memórias que seria melhor rejeitar.
Ela se empertigou, mas conseguiu assentir.
— Vou dizer a Alfred que você deseja o nosso
bem.
— Ele é um sujeito bastante agradável.
Ela sentiu um lampejo de irritação no tom de
voz dele. Apenas o menor indício de menosprezo,
como se agradável significasse maçante e
indigesto. Não, Alfred não era arrojado ou
excitante, mas era seguro. Em defensiva, ela
apontou:
— Ele é um verdadeiro cavalheiro.
A implicação de que Derek não pertencia a essa
categoria fora clara. Ou ela certamente esperava
que soasse assim, porque era exatamente o que
queria dizer.
— Eu concordo com Derek, Lorde Hyatt é
bastante amável. — Thomas parecia sem graça
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enquanto tomava um gole de seu chá. — Um bom


sujeito. Confiável e tudo o mais.
— Nada mal para um marido — disse Margaret
em acordo.
— Nem para um cavalo. — Derek afundou um
pouco mais em sua cadeira, a elegância musculosa
de seu corpo alto em contraste com o esquema de
cores em tons pastéis da sala. Se por acaso o
comentário fora insultuoso, ele, como de costume,
não demonstrou.
— Um cavalo? — Indignada com a comparação
de seu noivo a um equino, Annabel voltou-se para
Derek.
Ele parecia tão inocente quanto um libertino
depravado poderia parecer.
— Sim, de fato. Você não concorda? Qual
prefere montar, um animal plácido e confiável, que
vai te levar aonde quer ir de uma maneira segura,
ou uma fera mais intrépida?
Annabel podia ser muito menos experiente do
que ele, mas não perdeu a insinuação sexual. Para
sua completa e total mortificação, chegou a corar.
Apenas Derek poderia dizer uma coisa dessas e
sair impune. Estava acostumado a usar sua
aparência e facilidade de se desculpar por qualquer
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tipo de pecado. Funcionava com todas as outras


pessoas, maldito fosse. Mas não com ela. Não mais.
O problema era que ela o conhecia. Sabia da
sagacidade seca, do brilho provocador em seus
olhos, e, no passado, poderia até ter rido. No
entanto, eles estavam falando sobre seu casamento
com outro homem e o fato de ele ser capaz de
brincar sobre isso... bem, era doloroso.
Não, não era, ela argumentou internamente,
empertigando as costas. Derek não tinha mais esse
poder sobre ela. Abdicara disso no dia em que a
beijara e depois partira seu coração com uma
traição casual que zombara de seus sentimentos.
Annabel olhou-o nos olhos.
— Há muito a ser dito sobre confiança.
Seu sorriso desapareceu, e ele respondeu
suavemente:
— Até mesmo a mais selvagem das criaturas
pode ser domada quando feito da forma correta.
— Nem todos valem o esforço — ela disparou
de volta.
— É difícil dizer se alguém não tentar.
Margaret interrompeu com um esforço para
mudar de assunto:
— A festa correu bem ontem, não foi?
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Annabel assentiu, mas foi um gesto ausente,


sem emoção.
— Foi linda.
— Você estava muito bonita — Derek
murmurou como se comentasse sobre o tempo.
Não, ele não apenas falou. O elogio fora tão
suave, tão sincero na inflexão em seu tom, que ela
ficou momentaneamente surpresa. Olhou-a de um
jeito que somente ele conseguia olhá-la e, por um
único momento, ela esqueceu que Thomas e
Margaret estavam lá.
Como uma tola idiota.
Mesmo que tivesse sido sincero, o que
importava? Por que ela se preocupava com o que
um homem tão imoral e de má reputação pensava a
seu respeito? Por que escolhera o vestido com tanto
cuidado na noite anterior só porque sabia que ele
estaria lá?
Simplesmente não era possível ficar tão perto
dele por mais um minuto. A percepção a inundou e
fez um surto de pânico sufocá-la. Certamente era
mais confortável quando os dois se evitavam,
embora não estivesse convencida de que ele
chegara a este ponto. Um beijo insignificante não
seria tão importante para um libertino de seu status.
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Era ela quem estava dando muita ênfase ao assunto.


Mas ainda assim... aquele beijo. O toque suave,
mas firme de seus lábios, enquanto possuíam os
dela, o deslizar da língua, a sensação tentadora de
seus braços segurando-a com força. Seu perfume,
seu gosto, o suspiro baixo e ressonante em sua
boca, tão inebriante quanto qualquer bebida...
Não. Ela não devia se lembrar. Era irritante que
ainda estivesse gravado em sua mente.
— Por favor, me desculpem. — Annabel se
levantou e olhou para o relógio no canto, vendo que
os ponteiros de metal ornamentados estavam
empoleirados em algum ângulo, nem mesmo
registrando o tempo. — Eu tenho um monte de
cartas para escrever e estou com uma ligeira dor de
cabeça. Acho que vou me recolher até o jantar.

A TARDE ESTAVA TÃO QUENTE QUE C AROLINE


tirara a jaqueta de seu traje de montar e pairava
sobre o pomo de sua sela enquanto seu cavalo
passeava pelo estreito caminho ao longo da
margem de um rio. Acima, o céu estava limpo, de
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azul profundo, não marcado por uma única nuvem,


e o ar cheirava a prados perfumados enquanto a
mais leve brisa roçava seu rosto.
O dia idílico combinava perfeitamente com seu
humor.
Caroline estava bem ciente de que era alvo das
atenções e do charme de Rothay por uma razão
deliberada — a aposta escandalosa —, mas sentia-
se mais do que disposta a aceitar a fantasia.
Depois de uma noite de descobertas e de um
prazer abandonado em seus braços, eles dormiram
tarde, tomaram um leve café da manhã juntos e
passaram o resto do dia em companhia um do
outro, de forma casual e descontraída, exatamente
como estava acontecendo o passeio daquele final de
tarde.
Era uma mudança agradável em sua rotina
mundana e nem todo o seu prazer tinha a ver com
seu despertar sexual recém-descoberto. Um homem
atraente prestando atenção nela era algo ao qual
poderia se acostumar, especialmente porque se
sentia surpreendentemente confortável em sua
presença. Talvez fosse apenas a intimidade sexual,
mas talvez fosse outra coisa.
Embora eles ainda não tivessem consumado o
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ato sexual em si, sentia-se cada vez menos


apreensiva e mais curiosa. Até aquele momento ele
lhe concedera toda a atenção, o prazer luxuriante de
seu toque era esclarecedor, mas ele não exigira
nada para si mesmo.
Claro. Tudo porque queria ganhar a aposta.
Como se pudesse ler seus pensamentos,
Nicholas disse:
— Eu deveria fazer isso com mais frequência.
Ela o olhou de relance. Também não usava
paletó, o linho fino de sua camisa cobrindo os
ombros largos, a roupa aberta no pescoço,
revelando a pele bronzeada, sua postura na sela,
ereta e graciosa. Ele cavalgava todos os dias e
pedira que os cavalos fossem enviados com
antecedência, já que não mantinha nenhum em
Essex. Sua montaria era um garanhão magnífico
que combinava com seu cavaleiro, elegante e
poderoso, e a égua cinza malhada na qual ela
cavalgava era o animal mais bem-educado que já
havia montado.
— Fazer o quê com mais frequência? —
Caroline ergueu uma sobrancelha. — Levar uma
estranha para o campo como pupila sexual?
Sua risada fácil soou.
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— Bem, não. Não era exatamente isso o que eu


estava pensando, mas já que mencionou, até agora
as coisas correram muito bem.
Lembrando-se da revelação da noite anterior,
ela mal podia discordar. Pensava no prazer
pecaminoso, em cada toque, gosto e nos
movimentos singulares do homem experiente. A
reputação de Nicholas era bem merecida, se é que
ele era sempre tão altruísta com suas amantes. O
excesso de sensações a deixou tão exausta que ela,
de fato, adormeceu deitada em seus braços, e se
alguém tivesse previsto isso alguns dias atrás, ela
teria zombado da ideia.
Um prazer desenfreado e uma crescente
sensação de liberdade, mesmo que fosse uma
experiência nascida de uma disputa masculina
provocada pelo excesso de bebida alcoólica, era
exatamente o que procurava quando fez sua
proposta escandalosa. Quando tudo acabasse,
ficaria eternamente em dívida com ele, pois
Nicholas Manning, pelo menos, mostrara a ela
como as coisas poderiam ser.
— No que você estava pensando, então? — Ela
afastou uma mecha solta de cabelo de sua bochecha
e avaliou o rosto dele curiosamente.
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Nunca em sua vida perguntara a um homem o


que ele tinha em mente. Com Edward jamais teria
ousado. Nem ela provavelmente teria querido
saber. Com Nicholas, já sentia que poderia
perguntar qualquer coisa, livremente, com
impunidade.
— Passo muito tempo na cidade. Muito tempo
acordado até tarde nas festas e saraus, muito tempo
no meu clube, muito tempo no meu escritório e
com meus advogados. — Ele deu de ombros, seu
cabelo preto lustroso, quase azulado, como o de um
corvo com a asa inclinada ao sol. — Sempre digo a
mim mesmo que saberei quando for a hora de
amenizar a minha vida para um padrão menos
agitado.
Inevitavelmente, ele quis dizer encontrar uma
esposa e gerar um herdeiro. Ela sentiu uma
inesperada pontada de compreensão. Aquela aposta
tinha a ver apenas com uma conquista casual e suas
próprias descobertas. O que aconteceria depois que
aqueles dias terminassem dificilmente importava.
Ela se esforçou para parecer indiferente.
— Você ainda é jovem, embora eu imagine que
sua família espere que cumpra seu dever.
Seu semblante tornou-se aristocrático e um
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pouco austero. Por um momento, ele não pareceu


em nada com o libertino sofisticado, mas, ao invés
disso, mostrou-se quase sombrio. Sua voz até
pareceu mais seca.
— Realmente eles esperam.
Não era da sua conta, mas, de alguma forma,
ela se ouviu dizendo:
— Mas você está relutante?
— Eu estou claramente desinteressado em
escolher uma esposa simplesmente para procriar —
havia uma nota inquietante em seu tom.
Uma declaração curiosa, já que ele
provavelmente deveria saber, desde a infância, que
teria que fazer exatamente isso.
— Você tem uma alma romântica.
— Não.
— Se interpretei o que acabou de dizer
corretamente, você quer se apaixonar.
Sua boca se contorceu em um sorriso cínico.
— Receio que tenha interpretado mal o que eu
disse, minha querida. Apaixonar-se não é algo que
eu espero que aconteça comigo, nem iria querer
isso. Acho que nem acredito que seja possível.
Se ela sabia bem diferenciar um tom de
convicção em alguém, aquelas palavras ecoavam
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exatamente isso. A afirmação era um pouco


incongruente, especialmente vinda do mesmo
homem que ela agora sabia ser capaz de demonstrar
ternura infinita e altruísta.
— Todos nós queremos ser amados — ela se
aventurou, embora fosse provavelmente a última
pessoa na terra a ser considerada uma autoridade no
assunto.
— Ser amado não é o mesmo que amar alguém.
Seu cavalo desviou, andando em torno de um
pequeno arbusto, e ela distraidamente o guiou de
volta ao caminho.
— Imagino que seja verdade.
Caroline não sabia muito sobre os homens, mas
havia uma severidade atípica no tom de voz de
Nicholas que nem mesmo ela pôde ignorar.
Aquela discussão era íntima demais, em um
nível desconhecido para ela.
Ele sorriu novamente e, então, moveu
rapidamente a cabeça, dando-lhe um vislumbre de
seu charme convincente, atraente, que cativava toda
mulher em seu campo de visão.
— Se você contar a alguém que conversou
sobre questões sentimentais com o Duque
Diabólico, eu vou negar, minha querida, então, por
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favor, guarde o segredo.


Se ela contasse a alguém, ele seria mais
perseguido do que nunca por jovens ansiosas para
conquistarem não apenas seu título e sua fortuna,
mas seu coração. No entanto, não faria isso. Então,
Caroline apontou, com verdade infalível:
— Ninguém pode imaginar que eu o conheço, a
não ser de um modo mais casual e distante, lembra-
se? Eu dificilmente poderia reivindicar saber
qualquer coisa sobre seus sentimentos pessoais em
qualquer assunto, muito menos sobre casamento.
Ele a olhou, seus cavalos andando lentamente,
passando por um bosque de salgueiros delgados,
com longos galhos que se arrastavam em direção à
água límpida e vagarosa. O sol parecia muito
quente em suas costas.
— Eu tenho a sensação de que será um pouco
difícil fingir que não nos conhecemos depois que
esta semana acabar. Disseram-me que uma mulher
não esquece seu primeiro amante.
Não havia dúvida de que ele estava
absolutamente correto, porque o que Edward fizera
com ela o desqualificava para aquele rótulo.
Nicholas não poderia ser mais diferente, e
embora o corpo de Caroline não fosse virginal, ele
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estava certo sobre ser seu primeiro amante.


Era maravilhoso perceber, mas ela estava
perdendo seus medos, sentindo-se ansiosa por isso.
Talvez ansiosa demais.
Caroline pigarreou.
— Tenho certeza de que é verdade, pois você
está certo, não vou esquecer sua... bondade.
A boca de Nicholas curvou-se em puro
divertimento.
— Bondade? Uma palavra estranha para
descrever o desejo carnal, minha querida. Já que
está aqui como pupila sexual, como você mesma
proclamou, deixe-me continuar no meu papel de
instrutor, informando-a de que seu entusiasmo
quando estamos juntos será fundamental para mim.
Dar prazer a uma mulher é um poderoso
afrodisíaco para qualquer homem.
Infelizmente, ela sabia, por experiência própria,
que ele estava errado. Era como um banho de água
fria. Silenciosamente, disse:
— Nem todos eles, Nicholas. Eu gostaria de
poder dizer isso com menos segurança.
No silêncio constrangedor resultante entre eles,
o baque surdo dos cascos dos cavalos e o trinado de
um pássaro cantor eram os únicos sons ao redor.
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Ele disse finalmente:


— Agi com presunção novamente. Desculpe-
me.
Ela não queria pensar em seu casamento
sombrio, não em um dia tão glorioso, não quando
estava com o homem mais atraente da Inglaterra e
eles tinham o resto do que prometia ser uma
semana muito memorável pela frente. Lançou-lhe,
então, um sorriso travesso.
— Eu acredito, Sua Graça, que já nasceu
presunçoso. Felizmente para você, acho que isso é
parte do seu charme.
— Você me acha charmoso? Talvez tenha
causado uma impressão na noite passada, afinal de
contas. — Ele parecia mais do que disposto a fugir
da direção séria da conversa e voltar à provocação
despreocupada habitual. — Se importa em me dizer
qual parte você achou mais esclarecedora?
Isso não era difícil de responder, e ela devia
muito a ele.
— Tudo.
Era verdade. Aqueles beijos devastadoramente
suaves e persuasivos, a delicadeza de seu toque
íntimo, o presente de um prazer que ela não
imaginava existir.
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Quase instantaneamente, a expressão de


Nicholas mudou. Suavemente, ele disse:
— Acho que posso aprender com você, minha
fria Lady Wynn, tanto quanto aprenderá comigo
esta semana.

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A luz do sol filtrada pelas árvores caía sobre a


grama verde na pequena clareira; o som
tranquilo do rio proporcionava um efeito calmante.
Nicholas desmontou e virou-se para tirar Caroline
da sela, com as mãos demorando-se na cintura fina
enquanto a abaixava. Ele sorriu preguiçosamente
para o rosto erguido.
— Este é um local bastante agradável, não é?
Privado também.
Suas delicadas sobrancelhas se arquearam.
— Isso é importante?
Era muito importante, porque desde o momento
em que eles tinham saído da cama naquela manhã,
Nicholas passara a avaliar seu desejo irresistível de
possuí-la mais uma vez. No entanto, uma cama não
era necessária, não com um local romântico isolado
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disponível, e ele não queria esperar até que se


recolhessem para fazer amor com ela.
Conter-se era necessário, mas por quanto tempo
mais ele precisaria se segurar?
Infelizmente, a resposta era simples. Até que
Caroline estivesse pronta. Havia uma enorme
diferença entre o que permitia que ele fizesse e o
que queria que fizesse. A qualquer momento, desde
sua chegada, ela teria permitido. Mas certamente na
tarde e na noite anteriores ela não sentira o desejo
que ele imaginara que sentiria, apenas rendição.
Mas se as coisas fossem do jeito que ele queria
e pretendia, ela iria aprender.
Não sabia exatamente por que estava tão
fascinado pela adorável, mas inexperiente, Lady
Wynn, porém, era um fato. Parte disso tinha a ver
com a franqueza dela; parte, com sua beleza, e,
para sua surpresa, ele se perguntava se parte não
tinha também a ver com a sugestão de
vulnerabilidade quando ela o olhava com aqueles
gloriosos olhos prateados.
Normalmente, só isso o faria fugir o mais
rápido possível. Jovens damas vulneráveis ​faziam
sua guarda subir imediatamente.
— Eu pensei que nós poderíamos nos sentar um
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pouco à sombra. — Nicholas baixou os cílios, e seu


olhar recaiu em direção à boca de Caroline. — E
admirar a vista. Poderíamos discutir literatura, já
que é uma das suas paixões.
— De alguma forma, nunca imaginei o Duque
Diabólico como alguém que se empoleira em um
riacho e contempla a beleza da natureza ou a
estrutura de um poema. A sociedade acreditaria
ainda menos que ele fosse capaz de opinar sobre os
assuntos do amor.
— Você será capaz de atestar que eles estão
errados.
— Serei? — Uma sobrancelha arqueou, e ela
riu. — Estou tentando imaginar qual seria sua
opinião sobre Homero ou Rousseau.
Seu sorriso era muito raro e o fascinava. Assim
como a mulher, era uma mistura de reserva e
sensualidade subjacente, ele pensou, olhando para
ela. Preguiçosamente, falou devagar:
— Você está insinuando que sou um filisteu,
Lady Wynn?
— Prazeres mundanos parecem mais o seu
domínio, Sua Graça.
— Permita-me mudar a sua opinião sobre o
meu caráter.
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A resposta dela foi quase graciosa.


— Pode tentar.
Assim desafiado, como ele poderia recuar?
Nicholas escolheu um lugar calmo com vista para o
meandro do rio, a grama maleável e perfumada, a
terra nivelada. Eles se sentaram e conversaram
enquanto seus cavalos pastavam. Mais uma vez,
Nicholas se viu cativado pela maneira como os
olhos de Caroline se iluminaram quando ela se
fixou em um ponto importante para debater com
ele. As visões independentes de sua velha
governanta tinham sido variadas, descobriu,
enquanto discutiam tudo, desde arquitetura a
religião. Caroline disse que a Srta. Dunsworth, de
quem ela se lembrava com uma expressão
sentimental em seus olhos extraordinários,
encorajara sua educação de todas as maneiras
possíveis, não apenas os interesses comuns das
jovens damas refinadas.
— Ela morreu de uma infecção no pulmão —
disse ela, com um baixo tom de voz —, perto do
fim do meu décimo sexto ano de vida. Ainda sinto
falta dela.
Isso deu a Nicholas uma abertura para que
conduzisse o assunto, com intenção deliberada, de
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volta para sua família.


Ele enrolou uma longa folha de grama entre os
dedos, observando o rosto dela sob os cílios
ligeiramente abaixados.
— Você não tem vontade de voltar para York,
eu presumo.
Sem hesitar, Caroline balançou a cabeça.
Estava belíssima em uma blusa simples, saia de
montaria e botas de cano curto. Embora se sentasse
com um decoro elegante e feminino, com as pernas
dobradas para o lado, ainda conseguia parecer
adoravelmente desejável.
— Eu nunca mais vou voltar.
— Isso parece definitivo.
— E é. — Um breve lampejo de melancolia
cruzou o rosto dela. — Meu pai não me quer lá
também.
— Então ele é um tolo. — Nicholas estendeu a
mão e tocou a dela.
Suas restrições anteriores, ele descobriu,
estavam desaparecendo. A intimidade que
começava a ser construída aumentava seu nível de
interesse. Geralmente, sentar-se e conversar sobre
temas intelectuais com uma mulher não era algo
que lhe apetecesse, e certamente nunca esperava
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que isso causasse excitação sexual, mas com ela era


diferente. Que curioso.
Ela o olhou.
— Que bom que você tem uma irmã.
Nicholas raramente pensava nisso, mas o olhar
melancólico no rosto de Caroline deixava-o
consciente de sua sorte com sua própria família.
Queria consolá-la, prometer que ela encontraria
contentamento e aceitação, mas como diabos faria
isso?
O único tipo de consolo real que sabia como lhe
oferecer era físico, e seu corpo, no momento, o
instigava a prosseguir.
A sedução lhe era muito mais familiar do que a
indecisão emocional.
Inclinando-se para frente, Nicholas roçou a
boca contra a dela, ignorando o sobressalto de
surpresa. Além de tirá-la de seu cavalo, não fizera
nenhum movimento para tocá-la. Ele sussurrou:
— Há algo estimulante em fazer amor ao ar
livre. É mais primitivo.
— Aqui?
Ele a beijou em resposta àquela pergunta
arfante, divertindo-se com a reação chocada, as
mãos já ocupadas. Soltou o cabelo dela primeiro,
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porque queria sentir o peso dos fios de cetim


quando aquecidos pelo sol, sua fragrância tentadora
enquanto aprofundava o beijo. Para sua satisfação,
os braços de Caroline deslizaram ao redor de seu
pescoço e, mesmo não tendo se agarrado a ele, ela
descansou em obediência voluntária em seu abraço.
Aceitação novamente, ele percebeu com uma
máscara de resignação interior. Isso certamente
exigiria algum esforço. A parte estranha era que
estava gostando do desafio, apesar de sentir certo
nível compreensível de frustração.
O inchaço de sua ereção foi imediato, e seu
coração já batia mais rápido enquanto admirava a
glória elegante de sua beleza. Seu prazer era
reforçado pelo som do movimento suave da água,
quase inaudível acima de sua própria respiração
acelerada. Nicholas murmurou:
— Dispa-se para mim. Eu quero assistir. Não
há nada mais excitante do que o corpo de uma
mulher sendo revelado pouco a pouco.
Bem, isso não era exatamente verdade. Assistir
a uma mulher beijar seu corpo e tomar seu pênis
rígido em sua boca podia ser ainda melhor, mas
Caroline não estava pronta para tal. Aquela semana
deveria ser dedicada ao prazer dela, e não apenas
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por causa daquela maldita aposta. Nenhuma mulher


tão bonita e inatamente sensual deveria ter medo da
intimidade sexual.
Ele esperou, um braço apoiado sobre o joelho
dobrado, a pose propositalmente casual, exceto pela
protuberância de sua crescente ereção preenchendo
suas calças justas.
Houve apenas um momento de hesitação antes
de Caroline se levantar e começar a desabotoar sua
blusa. Através das pálpebras pesadas, Nicholas
observou cada botão ser aberto antes que a blusa
fosse puxada para fora da saia de montaria para
tirá-la. Botas, meias e saia saíram em seguida, suas
bochechas ficando cada vez mais rosadas enquanto
ela se despia. Finalmente, afrouxou o laço do
chemise e ergueu o queixo, mas não deixou o
tecido rendado escorregar por seus ombros.
— Não pare agora — ele disse
persuasivamente. — O melhor está por vir.
— Você está completamente vestido.
Lá estava ela, uma bela sedutora, usando a mão
para manter o corpete fechado.
— Você quer que eu me dispa? — Ele manteve
o olhar fixo no dela.
Queria ter certeza de que Caroline soubesse
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que, com ele, sempre teria escolha. Geralmente


preferia assumir a liderança em jogos sexuais, mas
estava disposto a fazer concessões para se certificar
de que ela nunca se sentisse oprimida.
— Tenho certeza de que você está ciente de que
é considerado muito bonito. Existe alguma razão
pela qual não posso admirá-lo da mesma maneira?
Sua resposta foi direta o suficiente. Mais uma
vez, não havia truques.
— Tudo o que minha dama desejar. — Ele
sorriu e puxou o calcanhar de uma bota, ainda
mantendo seu olhar fixo nela.
Com um sorriso astuto e trêmulo, ela soltou o
chemise, e este se acumulou em torno de seus pés.
Por um momento ele parou, com a bota na mão,
inebriado pela pura glória do corpo nu de Caroline,
sentindo sua admiração aumentar por saber que ela
era sua para ser possuída.
Não conseguia tirar as roupas rápido o
suficiente.
Havia algo sobre o cenário do bosque, a
maneira como a luz do sol tocava sua pele
acetinada com um brilho dourado, o som musical
dos pássaros nas árvores... tudo isso elevava a
excitação a um novo nível. Era primitivo, elementar
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e, quando conseguiu livrar-se de suas calças,


descobriu, surpreso, que suas mãos tremiam.
Isso nunca acontecera antes.
Teria que analisar a situação. Mais tarde.
Depois.
— Venha deitar-se comigo. — Nicholas
reclinou-se na grama, a sensação tátil em seu corpo
fazendo um contraste interessante com seu desejo
ardente. Acima do dossel de ramos, o céu era azul-
celeste.
— É o que eu quero. — As palavras
sussurradas foram ditas com um toque de surpresa
quando Caroline deu um passo em sua direção.
Nicholas com certeza esperava que sim, porque
estava mais do que pronto. Quando ela se ajoelhou
ao seu lado, ele segurou sua cintura e puxou-a para
cima de seu corpo faminto, desejando um beijo
cálido. Foi menos contido do que na noite anterior,
mas ela não pareceu se importar, respondendo de
forma não tão hesitante daquela vez. Ao senti-la
enroscar os dedos em seu cabelo, um lampejo de
triunfo manifestou-se através de sua excitação, e a
rigidez dos mamilos de Caroline contra seu peito
falava muito sobre o quão longe ela chegara em um
tempo muito curto.
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Se ele fosse um juiz − e sentia-se qualificado


para isso −, poderia apostar que ela se tornaria uma
amante muito apaixonada para algum homem de
sorte quando a semana acabasse.
Claro, então ela teria seu tempo com Derek.
Um tremor de insatisfação se agitou dentro de
Nicholas quando imaginou seu amigo segurando
aquele corpo delicioso como ele estava fazendo.
Reprimir tal pensamento era um reflexo
emocional. Ele não era um homem ciumento. Ou
nunca fora antes, pelo menos. Considerando sua
aposta ilícita, aquele parecia ser um mau momento
para adquirir o hábito.
Ele girou de lado para que o cabelo dela se
derramasse contra a grama em uma massa
luxuriante e reluzente. Roçou a boca em sua
mandíbula e lambeu um caminho ao longo de sua
clavícula, acariciando a elegante curva de sua
garganta. Caroline arqueou-se embaixo dele com a
respiração acelerando.
Nicholas acariciou seu quadril nu.
— Fale comigo.
Cílios rendados se ergueram, e sua boca se
abriu quando um leve franzir de cenho marcou sua
testa suave.
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— Já não conversamos muito?


— Sim, mas vamos mudar de assunto.
— Eu poderia jurar, Rothay, que você gostaria
de fazer outra coisa além de conversar, ou seu
corpo reage assim o tempo todo? — Ela se moveu
sugestivamente contra seu pênis rígido. — Parece
que sim.
Se seu sorriso não pareceu malicioso, ele
certamente pretendia que fosse.
— Oh, eu vou fazer amor com você,
eventualmente, isso não está em questão, mas há
uma grande variedade de maneiras para isso. Eu só
me pergunto se você percebe o quão excitante pode
ser quando os amantes dizem um ao outro como
estão se sentindo e, ainda mais importante, o que
querem.
Os cachos castanho avermelhados se moveram
quando ela balançou a cabeça, e seus olhos se
iluminaram enquanto o observavam.
— Eu não tenho ideia do que você quer dizer,
mas suspeito que já saiba disso, de qualquer
maneira.
Ele sabia. O jogo de sedução era tão estranho
para ela quanto um beijo romântico.
Seria um prazer mudar isso.
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— Posso começar. — Apoiado acima dela, seu


peso equilibrado em um cotovelo, ele moveu a boca
para seu ouvido enquanto acariciava um seio cheio
e glorioso. — Eu amo o jeito como você se molda a
mim; sua pele é como seda sob meus dedos. Você
tem os seios mais bonitos que já vi, cheios e firmes,
mas também macios e feitos para as minhas mãos.
Um pequeno tremor percorreu-a quando ele
apertou gentilmente o peso flexível da carne
amontoada e hesitou, enquanto seu polegar
preguiçosamente estimulava um mamilo rosado em
círculos lentos, sentindo-se gratificado por sua
reação física. Ele sabia que Caroline era sagaz,
ainda que um pouco tímida. Com um pouco de
instrução na arte do flerte, ela poderia escolher
qualquer homem da alta sociedade.
Havia alguns canalhas por aí, e ela não era
apenas bonita, mas uma herdeira. Nicholas
esperava que escolhesse sabiamente.
Perceber que se importava com o que
aconteceria com ela depois da semana designada o
surpreendeu. Talvez estivesse simplesmente
tentando redimir o sexo masculino aos olhos de
Caroline, pois desde o início da conversa percebera
que sua figura paterna não fora muito melhor do
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que o falecido Lorde Wynn. Ela não dissera isso


em tantas palavras, mas pôde perceber a dor
subjacente em sua voz.
Sim, era isso. Havia algum resquício de
cavalheirismo, apesar do que acontecera com
Helena.
Mas agora não era hora de pensar naquele erro
terrível.
— Sua vez — ele pediu, mordiscando o lóbulo
da orelha dela. — Confie em mim.
— Eu... eu — ela hesitou e então sussurrou: —
Estou começando a pensar que você é mais do que
apenas um amante competente, Nicholas, mas
também um homem muito bom.
Ele paralisou o ato de acariciar seu mamilo,
perplexo e confuso.
Não se tratava de uma insinuação sexual, nem
algo dito com um bater de cílios ou um sorriso
sedutor, mas Nicholas sentiu-se inesperadamente
tocado, não apenas pela simples afirmação, mas
pelo próprio sentimento. Era conhecido por ser um
monte de coisas, ele sabia bem disso, mas duvidava
que bondoso estivesse entre elas. As pessoas não se
importavam se ele era um ser humano decente.
Riqueza, aparência e uma abundância de charme
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superficial eram geralmente mais do que


suficientes. O homem real não era o foco da
maioria das mulheres que conhecia.
Descobriu que não sabia exatamente o que
dizer, e isso o deixou inquieto. Ela o colocara
naquela posição mais de uma vez. Finalmente,
murmurou:
— Obrigado.
O suspiro de Caroline roçou a bochecha de
Nicholas.
— Esse não era o tipo de coisa que você queria
ouvir, não é? Não sou boa nisso.
Ela estava encantadora e descontraída, ele
pensou, enquanto afastava um cacho de cabelo que
roçava seu ombro pálido e conforme se equilibrava
sobre ela com o membro rijo pressionado contra
sua coxa.
— Foi perfeito.
— Você nunca é deselegante? — Suaves lábios
rosados se curvaram em um sorriso quase
melancólico.
Ele sorriu.
— Só quando meus cavalos perdem.
— O que raramente acontece.
— Tenho um excelente treinador e os melhores
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jóqueis da Inglaterra… mas, querida Caroline, por


mais que eu ame o assunto das corridas, podemos
guardar o tópico para quando você não estiver nua
em meus braços?
A risada suave de Caroline roçou sua bochecha.
— Você é o especialista no que deve ser feito
neste tipo de situação, não eu.
Talvez ele realmente pudesse se gabar por
possuir algum modesto conhecimento no que dizia
respeito a ter damas nuas em seus braços. No
entanto, com relação a senhoras inexperientes e
medrosas... nesta categoria ele não era tão
habilidoso, mas estava aprendendo. Nicholas se
aninhou no pescoço dela.
— Nós faremos o que você quiser que façamos.
Nada mais.
— Beije-me.
Isso certamente não era uma dificuldade. Ele
reivindicou sua boca, imitando escandalosamente o
que adoraria fazer em seu corpo com pequenos
impulsos de sua língua. Ela respondeu lindamente,
com dedos entrelaçados em seus cabelos e o seu
calor sedutoramente insinuante contra ele.
— Agora me toque. — A ordem ofegante foi
dada em um exalar gentil contra seu rosto,
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enquanto um par de braços finos se entrelaçou ao


redor de seu pescoço. — Como ontem à noite.
Uma preguiçosa tarde de verão, árvores por
todos os lados e uma amante deitada sobre a grama
perfumada. Era como viver em um sonho passado
na antiguidade grega, e se ele fosse o sátiro, o papel
provavelmente se encaixaria. Apenas um
pouquinho depravado, mas essa experiência só
beneficiaria sua companheira. Nicholas
movimentou-se levemente, puxando-a para mais
perto.
— Tudo o que minha dama quiser.
Seus dedos vagaram, encontrando o que
procuravam, e ela estremeceu.
Quando arqueou o corpo o suficiente para
pressionar os seios tensos contra o peito dele,
Nicholas pensou, divertido, em todos aqueles
pretendentes desanimados que murmuravam sobre
a civilidade indiferente e o desprezo gélido de
Caroline.
Fria, aquela dama não era.

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P EQUENAS RAJADAS DE ALEGRIA VARRERAM SEU


corpo, e Caroline não pôde reprimir um som baixo,
sentindo o prazer ainda em guerra com uma sombra
de descrença por seu comportamento devasso.
Bem, ela estava nua nos braços do deliciosamente
malicioso Nicholas Manning. Que mulher não
agiria com sensualidade?
Ela realmente tinha pedido que ele a tocasse?
Sim, ela pedira.
Era empoderador, e por mais que a razão para
eles estarem juntos em primeiro lugar fosse, ao
mesmo tempo, frívola e um potencial caldeirão de
desgraças, com os braços de Nicholas ao redor dela
e seus hábeis dedos fazendo mágica, ela decidiu
que valia a pena.
Podia sentir a pressão quente de sua ereção, a
longa e rígida extensão entre eles enquanto
Nicholas a segurava e acariciava. Duas vezes antes
ele negara o prazer a si mesmo, e Caroline tinha a
sensação de que faria isso novamente se não fosse
ela a iniciar a consumação real.
Para sua surpresa, ela desejava que acontecesse.
Não para testar se as acusações de Edward,
suportadas com dentes cerrados e medo de
fracasso, eram ou não verdadeiras. Não, de forma
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alguma. Ela queria porque sofria, sentia-se


incompleta e sabia intuitivamente que o homem
que a segurava contra si tinha o poder de curá-la.
Seu toque era mágico. Como seria experimentar
uma parte mais potente dele?
Ela se mexeu. Não foi realmente consciente,
apenas um sinal sutil desse novo anseio. Nicholas
entendeu perfeitamente. Aqueles dedos
questionadores deslizaram de sua intimidade, e ele
murmurou em seu ouvido:
— Tem certeza?
Uma vez que não estava disposta a levar seu
atual estado de imprudência em consideração,
assentiu. Lá estava ela, no meio do dia, em um vale
isolado, sem uma roupa sequer, aninhada nos
braços de um notório libertino depois de concordar
em entregar seu corpo a dois homens que ela mal
conhecia... Então, sim, por que não apenas dar o
próximo passo, mas aproveitá-lo o máximo
possível?
— Eu quero que você…
Ele mordiscou o pescoço dela, enviando um
arrepio por sua espinha.
— Sim. Diga.
— Eu quero você.
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— Nós temos mais em comum, então, Lady


Wynn, além do que descobrimos anteriormente. Eu
também quero você.
Era neste ponto que o pesadelo poderia
ressurgir. Enquanto ele se movia acima dela e
afastava suas coxas com os joelhos, Caroline
esperou que o pavor a atingisse. A investida de seu
membro rígido entre suas pernas deveria ter lhe
causado um sobressalto de repulsa e resignação,
mas, em vez disso, o que a acometeu foi uma
surpreendente onda crescente de antecipação.
— Sim — ela sussurrou, olhando em seus olhos
escuros. — Sim, por favor.
— Como eu iria recusar? — Nicholas não
sorriu, mas em vez disso prendeu seu olhar
enquanto forçava apenas o suficiente para que a
ponta inchada de seu pênis a penetrasse.
E depois mais.
Muito mais. Profundamente, incrivelmente
fundo. Tudo dele.
Ela foi esticada, possuída, tomada. Os quadris
esguios de Nicholas descansavam contra a parte
interna de suas coxas, os braços foram apoiados por
seus ombros e sua boca roçou a dela em um leve
gesto de reafirmação. Era algo que Caroline nunca
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imaginara e certamente nada semelhante ao que


experimentara antes.
Dedos gentis tocaram seu rosto, e ele não se
moveu. Havia rubor da excitação em seu rosto, e
seus olhos escuros pareciam mais intensos.
— Caroline?
Ela sabia o que ele iria perguntar.
— Estou bem — ela sussurrou, incapaz de
esconder a nota de felicidade exultante de sua voz.
— Mais do que bem.
— Eu vou devagar.
— Não acho que seja necessário. — Ela usou o
pé para tocar a parte de trás da panturrilha dele,
esfregando-a sugestivamente. — Eu não sou frágil.
— Se você...
— Nicholas — ela interrompeu sem fôlego, as
unhas afundando levemente em seus braços.
A mensagem era aparentemente clara, pois ele
deslizou seu membro para fora, em uma fricção
tentadora, apenas para investir novamente, de tal
forma que a sensação provocou arrepios em cada
terminação nervosa de seu corpo.
Foi uma revelação perceber como um mesmo
ato poderia ser doloroso e degradante com um
homem e nada menos do que arrebatador com
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outro. Nicholas a tocava com uma persuasão tão


suave, encorajando-a a retribuir sua paixão em vez
de usá-la como um recipiente para saciar
rapidamente sua luxúria.
Seus dedos se flexionaram contra seus ombros
firmes. O tamanho e força de Nicholas não a
intimidavam, mas a inebriavam tanto quanto a
fricção de seu sexo contra o dela.
Era incrivelmente bom, e ela soltou outro
pequeno gemido.
Valia o risco... cada momento...
O cabelo escuro e sedoso roçou seu pescoço
enquanto ele se movia naquele ritmo erótico,
mantendo uma intensidade peculiar em seu rosto.
— Junte-se a mim, Caroline.
A maneira como ele disse seu nome, com uma
entonação rouca, enquanto se movia em ritmo
erótico dentro dela, aumentava o prazer sensual. O
calor da antecipação chamuscou sua pele,
acariciada pela brisa quente da tarde.
— Nicholas — ela respondeu em um suspiro,
arqueando sua pélvis, querendo-o ainda mais
fundo.
Era tudo impossível. Impossível desejar tanto
algo quanto ansiava pela deliciosa explosão de
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êxtase; impossível acreditar que estava ali, à


margem de um rio em uma tarde ensolarada, nua e
abandonada com seu amante; impossível sentir uma
alegria tão tumultuosa.
Nicholas colocou a mão entre eles, acariciando-
a, e, de repente, seu mundo explodiu em chamas.
Ela gritou, um som desenfreado, e a resposta a isso
foi o corpo dele tornando-se mais firme entre suas
coxas, a força de sua ejaculação a preenchendo.
Ambos ficaram parados naquele momento
devastador, até que ele se esvaiu e rolou para o
lado, mantendo-a perto. Sentindo-se completa,
confortável e tranquila, ela descansou a cabeça em
seu peito úmido e se perguntou em contemplação
quantas mulheres o duque havia atraído para o
paraíso com sua habilidade ao consumar o ato.
Muitas. Não era apenas um boato, pois ele
nunca negara.
O desempenho ao fazer amor não significava
amor de verdade, lembrou a si mesma, ouvindo a
forte batida de seu coração. O fato de ele ser quem
era, um dos libertinos mais perdulários de Londres,
confiante o suficiente para colocar seus talentos
como amante à prova em uma aposta pública,
tornava-o capaz de fazê-la sentir-se sensual e
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desejada em seus braços.


Era algo deliberado e impessoal, e ela precisava
lembrar-se disso para não ser atraída para uma falsa
percepção de suas intenções.
Ela não apenas parecia mais uma conquista
fácil, como pedira descaradamente por isso.
— Esta foi uma das minhas ideias mais
inspiradas. — Nicholas interrompeu seus
pensamentos com um de seus sorrisos desarmantes,
seus olhos escuros sombreados por pálpebras
semicerradas. A luz solar dourava os contornos de
seu corpo musculoso. Aquelas altas maçãs do rosto
aristocráticas sombreavam levemente suas
bochechas. — Devemos dar uma volta como esta
todas as tardes enquanto estivermos aqui.
— Você faz esse tipo de coisa com frequência?
— Caroline encontrou força suficiente para erguer
a cabeça e observar sua expressão. O doce aroma
da grama se elevava ao redor deles, misturado com
a fragrância ainda mais terrosa da relação sexual.
Havia uma sugestão de cautela em seus olhos
escuros.
— Você pode definir a verdadeira pergunta?
— Não percebi que não estava sendo clara. —
Ela tentou um sorriso. — Não é nada complicado.
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Eu quis dizer... de forma espontânea... e do lado de


fora...
— Fazer amor? Não. As manchas verdes nos
meus joelhos são únicas para você. — Ele roçou o
lábio inferior de Caroline com um leve toque de seu
dedo. — Eu não desejava esperar até mais tarde
para tocá-la novamente, e por que perder este lindo
dia neste lugar isolado?
Ele fora sincero? Ela não tinha certeza.
— É adorável — ela admitiu, com seus corpos
ainda entrelaçados e sentindo-se segura em seus
braços fortes. — Sempre gostei do campo muito
mais do que da cidade, mas nossa casa de campo
foi vinculada ao espólio, então, depois que Edward
morreu, foi seu primo quem a herdou. Felizmente,
tenho a casa na cidade livre e desimpedida.
A única coisa decente que Edward fizera fora
deixá-la bem o bastante para ser autossuficiente, e
ela suspeitava que isso fora feito para intimidar
deliberadamente Franklin, já que os dois nunca
gostaram um do outro. Ficou chocada quando
ouviu a quantia de sua herança, mas não tão
surpresa quanto o novo Lorde Wynn. Felizmente,
Edward fora tão implacável em seus negócios como
era em todos os outros aspectos, e amarrou tudo
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muito bem, de modo que contestar a herança se


mostrou infrutífero. No fim da disputa, Franklin a
tratou, como no outro dia em que a visitara após a
corrida, com uma condescendência irritante, e ela
não gostava da maneira calculada como a olhava.
Evitá-lo parecia melhor, então, fazia o máximo
possível para isso.
— Soube que seu marido morreu de febre.
Caroline olhou distraidamente para um galho
baixo de folhas verdes pouco acima da água. A
brisa acariciou sua pele aquecida.
— Não se sabe ao certo o que foi. Edward
começou a sentir dores no estômago e ficou
violentamente doente. Não melhorou. Em dois dias
ele se foi.
— Eu diria que sinto muito, mas, de alguma
forma, não acho que você deseje simpatia pela
perda.
— Seria hipócrita da minha parte aceitar
quaisquer condolências. Não queria que ele
estivesse morto, mas também não lamentei quando
isso aconteceu.
— Você percebe que, desta vez, se decidir se
casar novamente, pode ser à sua escolha.
O tom brando de sua voz a fez inclinar a cabeça
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para trás e olhar para o rosto dele.


— Eu tenho medo disso, não vou negar. Quem
pode dizer o que um homem se tornará depois que
os votos forem ditos? Edward pareceu encantador o
suficiente no primeiro contato, mas você está certo,
ele não era a minha escolha. Minha tia e meu pai
arranjaram o casamento, e eu não fui consultada.
O homem que a abraçava não teceu
comentários. Era uma prática bastante comum
organizar uma união sem a contribuição da noiva.
Caroline murmurou:
— Além disso... eu não concebi uma criança.
Por mais que tentasse soar imparcial e
pragmática, ela ainda se lembrava do desdém de
Edward por seu fracasso em lhe dar um herdeiro.
Sempre esperou um também. Alguém para amar e
que, por sua vez, pudesse amá-la. Também tinha a
esperança que seu marido fosse menos cruel caso
lhe desse um filho, tendo em vista que era algo que
queria tanto. Talvez a deixasse em paz, ao menos
enquanto estivesse grávida.
Os braços de Nicholas se estreitaram um pouco
ao redor dela.
— A fertilidade da mulher precisa ser levada
em consideração — ele reconheceu em uma voz
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calma, finalmente —, uma vez que gerar herdeiros


é o dever de alguns. Mas há muitos homens que
ignorariam isso por causa de sua beleza
extraordinária, Caroline.
Que maneira diplomática de dizer que um
homem como ele não poderia arriscar ter uma
esposa estéril. Não quando era sua responsabilidade
continuar a linhagem direta de sua família e
posição. Ela entendia. Desde o seu casamento,
passara a conhecer muito melhor como o mundo
funcionava.
Ainda assim, doía um pouco.
Mas a dor foi esquecida no momento seguinte,
quando Nicholas habilmente ajustou sua posição e
a beijou. Murmurou contra os lábios dela:
— Temos algumas horas antes de voltarmos e
nos vestirmos para o jantar.
Caroline passou os braços ao redor do pescoço
dele.
— Me parece maravilhoso.
Ele sorriu de uma maneira que fez algo derreter
dentro dela.
— Eu adoro seu entusiasmo, querida.
O carinho veio com tanta facilidade, e era usado
com a confiança fácil de um homem que sabia
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exatamente o que as mulheres queriam ouvir de


seus lábios.
Aqueles lábios gloriosamente talentosos. Por
impulso, Caroline inclinou-se o suficiente para
lamber a curva inferior de sua boca. De canto a
canto, lento e provocante. Um lampejo de
aprovação e surpresa surgiu nos olhos de Nicholas,
e ele riu, deixando sua respiração cálida roçar a
boca de Caroline.
— Vejo que a senhora aprende rápido.
Seria mesmo verdade? Talvez a tarde quente e
o cenário a fizessem se sentir tão ousada. Talvez
fosse a liberdade de saber que todos os comentários
desagradáveis ​e piadas cruéis recebidos quando
Edward terminava e vestia o roupão para sair de
seu quarto eram falsos. Talvez aquele duque, belo e
indiscutivelmente viril, fosse realmente irresistível,
não apenas para suas inúmeras amantes
experientes, mas até mesmo para alguém tão
sexualmente ignorante quanto ela.
Fosse como fosse, Caroline sabia que o
desejava novamente; queria sentir sua paixão, seu
toque cuidadoso, saber que o agradava como
mulher.
Mesmo que tudo fosse uma ilusão.
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— E ntão, como vai o plano? Eu diria que


vimos mais de você nos últimos dias do que em
vários anos.
Derek lançou ao seu tio um olhar cansado de
reprovação.
— O senhor está bem ciente de que não está
indo bem, porque tem sido testemunha da maior
parte. Hoje à noite, no jantar, foi um exemplo
perfeito. Acredito que ela não tenha dirigido mais
do que uma dúzia de palavras a mim e, em seguida,
alegou uma dor de cabeça novamente, deixando a
mesa mais cedo.
Jogado em uma cadeira no escritório, pousando
uma taça de vinho do porto na beirada de uma mesa
marroquina incrustada com pedras polidas
brilhantes, ele fez o que acreditava ser uma
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pergunta infrutífera:
— Ela falou alguma coisa?
— Para sua tia Margaret, você quer dizer? —
Thomas se inclinou para trás e balançou a cabeça.
— Não que eu saiba, mas descobri que há uma
conspiração feminina interessante que consiste em
manter silêncio sobre confissões românticas, o que
é incrível em criaturas que não concebem bem a
ideia de segredo, em nenhum outro aspecto.
Derek queria rir da observação seca, mas estava
um pouco frustrado e desanimado.
— Não posso acreditar que Annabel não tenha
comentado sobre a minha presença repentina aqui
tantas vezes.
Bom Deus, ele parecia um adolescente
apaixonado e patético. Sentia-se inquieto,
desapontado consigo mesmo e simplesmente
aborrecido em geral. A situação com Annabel já era
ruim o suficiente, mas a aposta fazia com que
julgamentos recaíssem sobre ele, especialmente
com Nicholas visivelmente ausente. A sociedade de
Londres notara seu desaparecimento. As perguntas
provocadoras a respeito de seu paradeiro eram um
aborrecimento do qual Derek não precisava.
— Eu ainda digo que você deve se esforçar para
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conversar com ela a sós.


— Eu tentei, em várias ocasiões. É muito óbvio
que ela não está interessada. — Ele fez um gesto
desesperado com a mão, lembrando-se daquelas
tentativas com um pesar que não era característico
nem desejado. — Sabe, o furor sobre Phoebe
Tanner coincidiu exatamente com a minha
percepção de que eu precisava tentar mudar a
opinião de Annabel sobre o meu caráter. Embora a
decisão radical do marido de Phoebe de pedir o
divórcio não tivesse nada a ver comigo, as fofocas
não ajudaram. Tenho certeza de que apenas
confirmaram a péssima opinião que Annabel
alimenta de mim sobre eu ser um canalha. Não há
nada pior do que estar envolvido em uma petição
de divórcio. Por sorte, eu não só sou totalmente
inocente das acusações de ter tocado na moça,
como Lorde Tanner, pelo menos, desistiu de suas
acusações. Muito tarde, no entanto, creio eu.
Thomas meramente lançou-lhe um olhar
divertido de empatia.
— A opinião que Annabel tem de mim faz o
fundo do mar parecer um topo de montanha.
Derek se remexeu na cadeira com um suspiro
frustrado.
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— Ah...
Bem, o que diabos aquilo significava? Mesmo
se Derek não tivesse sido mencionado no imbróglio
da adorável Sra. Tanner, o momento não poderia
ter sido pior. O escândalo do divórcio dos Tanner
acontecera quando ele finalmente admitiu sua
incapacidade de ignorar o incidente com Annabel e
continuar sua vida. Não poderia deixar Annabel de
lado. E ver seu nome ser mencionado como a
provável fonte da indignação do Lorde Tanner,
embora o rumor fosse falso, não ajudara em nada à
sua causa. Phoebe Tanner protegera seu verdadeiro
amante, que devia se assemelhar a Derek em altura
e cor, pois o infeliz cavalheiro escapara pela janela
quando foram descobertos por seu marido
enfurecido, daí o erro. Ter um sólido álibi para a
noite em questão ajudou a provar que suas
negações de culpabilidade eram verdadeiras, mas o
que ficava na mente das pessoas não era sua
inocência comprovada, mas o calor do escândalo.
Escrevera para Annabel há alguns meses,
esforçando-se na carta como um adolescente,
sentado à sua mesa por horas tentando pensar em
como explicar suas ações naquela fatídica tarde na
biblioteca, mas, para sua consternação, não obteve
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resposta alguma. Tinha bastante certeza de que


Annabel nem se dera ao trabalho de ler.
Derek disse:
— Uma sutil sedução é ​bem diferente… disto.
A boca do tio se curvou em diversão.
— Você pode tentar usar a palavra.
— Que palavra? — Ele resistiu servindo-se de
outra taça. Beber demais não iria resolver seus
problemas, embora tivesse testado severamente
aquele método.
— Amor — disse Thomas, suavemente. — Eu
acho que você vai ter que praticar proferi-la.
Acima da lareira havia uma pintura de um cão
com uma raposa sem vida aos seus pés, e Derek
concentrou sua atenção nela para se distrair. A
razão que levava um artista a escolher representar
animais mortos em uma pintura era um mistério
para ele.
Amor. Não, ele não tinha certeza se poderia
falar com eloquência sobre o assunto. A carta
continha um pedido de desculpas e a súplica por
uma chance de falar com ela, mas sem declarações
floridas. Sabia como agradar uma mulher com um
elogio bem feito, como sussurrar as palavras certas
em seu ouvido quando ela estava em sua cama,
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como fazê-la suspirar apenas com o toque correto,


mas não sabia nada sobre dizer aquelas três
palavras simples.
Eu te amo.
Thomas continuou.
— Você tem que dizer isso. As mulheres
precisam ouvir. Elas gostam de ouvir e é
importante construir um vínculo forte. Admitir de
má vontade que você se casaria com ela é muito
diferente de explicar como se sente.
— Não foi de má vontade — objetou Derek.
— Demorou um ano.
Bem, esse era um argumento sólido. Ele tomara
a decisão, mas atrasado em doze cruciais meses.
— Como me sinto? — ele murmurou. — Isso é
bem fácil. Sinto-me miserável.
Um sorriso benigno iluminou o rosto de seu tio.
— Seu estado atual de desconforto me diz que
você está sendo sincero, Derek. Mas não irá
progredir muito se simplesmente aparecer e encará-
la com fúria nos olhos cada vez que ela mencionar
o nome de Lorde Hyatt.
— Eu não a encaro com fúria nos olhos. —
Derek tentou conscientemente limpar a expressão
feroz do rosto.
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— Não. — Uma risada ecoou. — De modo


algum.
— Seu deboche pela minha atual aflição é um
pouco antiesportivo, não é? Achei que os homens
tinham um pacto tácito de tornar obrigatória a
compaixão por um camarada decadente. — Derek
se levantou e caminhou impaciente até a janela.
Estava completamente escuro lá fora, e sua imagem
refletida no vidro mostrava lábios franzidos em
uma expressão infeliz e tensa.
— Confie em mim, eu estou realmente
compadecido pelo seu dilema, Derek. Amo
Annabel como se fosse minha própria filha. Sou
seu pai desde que ela tinha oito anos de idade, e sua
felicidade é muito importante para mim. Também
gostaria de vê-lo resolvido e satisfeito com a
mulher certa, em vez de dividir seu tempo entre
obrigações de negócios maçantes e casos de amor
frívolos. Duvido que essas coisas te tornem um
homem realizado.
A observação foi muito pertinente. Derek fez
uma pequena careta e se virou.
— No ano passado, fiz o melhor que pude para
me convencer de que era uma paixonite que
passaria como qualquer outra.
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— Eu acredito que Annabel tem estado ocupada


fazendo a mesma coisa.
— E se você estiver errado? E se seus
sentimentos por Hyatt forem genuínos? Afinal, ela
concordou em ser sua esposa. — A última palavra
saiu um pouco embargada. Sua gravata pareceu, de
repente, muito apertada, então, ele a soltou com um
puxão descuidado.
Thomas cruzou as mãos e sacudiu a cabeça.
— Onde está agora o jovem confiante que só
precisa olhar para o lado para que as damas
aristocráticas desmaiem em seus braços?
Certamente você sabe muito mais sobre mulheres
do que eu. Tive uma existência bem mais sadia na
minha juventude, portanto, minha experiência é
limitada principalmente aos meus anos de vida de
casado. Mas posso dizer com confiança que a
maneira como Annabel age em sua presença é bem
diferente da pessoa mais submissa que vejo quando
você não está lá para testemunhar sua suposta
felicidade.
— O senhor acha que ela está tentando me
deixar com ciúmes? — Sentiu-se ridículo só de
perguntar, mas realmente queria saber.
— Na outra noite, na festa da família, ela
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certamente estava mais paqueradora e atenta ao seu


prometido do que de costume. Quando você saiu,
mostrou-se visivelmente mais deprimida. Para ser
honesto, acho que Hyatt percebeu e talvez até
mesmo tenha feito a conexão entre a sua partida e a
mudança de comportamento dela. Da parte de
Annabel, não acho que seja consciente, porque ela
não é uma pessoa vingativa. Mas creio que queira
que você acredite que não nutre mais sentimentos
em relação à sua pessoa.
— Ela está tendo sucesso. — Derek exalou de
forma irregular. — Sinto-me ciumento e inseguro, e
detesto ambos os estados, para sua informação.
— Sinto muito por isso, mas, francamente, eu
estava começando a me perguntar se você nunca
teria mais do que um interesse passageiro por
alguma mulher. — Thomas calmamente se serviu
de mais uma taça. — Você parecia muito
determinado a evitar qualquer envolvimento que
pudesse se tornar permanente. Suponho que seja
por isso que não me preocupei quando percebi os
sentimentos românticos da adolescente Annabel.
Seja o que for que as fofocas dizem, eu te conheço
bem e você tem honra demais para comprometê-la.
Percebo que algo aconteceu, mas não vou perguntar
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o quê. Confio em você.


Se Thomas conhecesse algumas das fantasias
menos que honradas que Derek tivera sobre sua
bela protegida, poderia não agir com tanta calma,
mas, no final das contas, Thomas estava certo, ele
nunca teria se aproveitado da paixão da moça.
Na época.
O jogo era um pouco diferente agora.
— Um único beijo — admitiu Derek.
— Ah.
— Um que me assustou até a morte. — Ainda
podia se lembrar com clareza vívida não apenas do
doce e sedutor sabor de sua boca, mas também do
brilho de esperança em seus lindos olhos que o
fizeram perceber que ele caíra de algum precipício
figurativo diretamente para um abismo.
Talvez o beijo o tivesse assustado não apenas
porque temia prender-se a uma única mulher, mas
por um medo interior de que não merecia confiança
e emoção.
As sobrancelhas de Thomas se arquearam, e ele
riu.
— Duvido que haja pessoas na sociedade
capazes de acreditarem que o escandaloso conde de
Manderville tenha ficado assustado com um
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simples beijo concedido a uma jovem inocente.


— Eles estariam errados. — A coisa toda era
difícil de articular de uma maneira que fizesse
sentido. Derek explicou lentamente: — Foi mais a
forma como ela me olhou depois. De repente,
percebi que era um ponto de virada na minha vida.
Eu poderia ir embora o mais rápido possível e
fingir que nunca havia acontecido ou poderia
considerar uma opção na qual nunca havia pensado
antes, que era o casamento. Optei pela primeira,
mas não deu certo. A última parece ser, agora, a
minha única escolha.
Como poderia propor casamento a uma mulher
comprometida, que mostrava de forma muito
convincente e intensa não gostar dele?
A realidade deprimente era que ele não fazia
ideia.

N ICHOLAS SORRIU AO CONTEMPLAR O OLHAR


satisfeito da mulher à sua frente.
— Pensei que isto seria mais agradável do que
jantar dentro da casa. Está uma noite linda, não
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acha?
Caroline aceitou a cadeira que lhe era oferecida,
acomodando-se com graça, as saias de seda
esvoaçando enquanto ela se sentava e as ajustava
com uma mão delicada. Sua expressão era um
pouco confusa enquanto olhava para os gigantescos
arranjos florais espalhados em vasos por toda parte,
enquanto o perfume das flores preenchia o ar. A
mesa também fora bem feita. Um pano branco
imaculado, coberto de porcelana e prata reluzente,
fora colocado sobre ela, que estava localizada na
borda do terraço, perto dos degraus, onde podiam
contemplar os jardins. Como se a natureza estivesse
em total cooperação com seu capricho, a lua
pairava baixa sobre o topo das árvores, o ar era
quente e a brisa não passava de um sussurro
agradável. As dezenas de velas em candelabros
estrategicamente posicionados mal tremeluziam.
A Sra. Sims − responsável por tudo, exceto a
lua e a perfeição estrelada da noite − merecia um
aumento considerável; ele decidiu enquanto
acomodava-se em uma cadeira e pegava uma
garrafa de vinho para servir uma taça a cada um.
Não visitava Essex com frequência, mas talvez,
depois daquele interlúdio, passasse a usar a
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propriedade com mais constância. Para sua


surpresa, gostou do silêncio. Quando jovem,
irritava-se por ver-se tão isolado. Como um homem
de quase trinta anos, sua perspectiva estava
mudando.
— Sim, está adorável. Que ideia maravilhosa.
— Caroline o olhou do outro lado da pequena mesa
íntima. — Estou muito impressionada com a sua
inspiração.
Ele era o mais impressionado. Ela costumava
preferir vestidos em tons de verde ou cinza, mas
naquela noite estava mais do que deslumbrante em
um vestido azul índigo, a pureza de sua pele
marcada pela cor escura, a massa pesada de seu
cabelo ruivo erguida em um coque de estilo simples
que se adequava à sua beleza clássica. Havia uma
única safira aninhada no tentador vale entre seus
seios deliciosos, com um tamanho de gema não
opulento, mas cortada em uma forma oval perfeita
e sustentada por uma fina corrente de ouro em volta
do pescoço delgado.
Nicholas se perguntou, com uma pontada de
emoção desconhecida, se o marido teria dado o
colar a ela. Por que diabos ele se importava, não
tinha certeza, mas sentia uma necessidade sem
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precedentes de dar-lhe algo ainda mais


deslumbrante. Talvez brincos de rubi, já que as
pedras enfatizariam os destaques sutis de seu lindo
cabelo. Quando voltassem para Londres, poderia
enviar como um presente. Afinal, estava se
divertindo plenamente. Ele disse:
— Você está deslumbrante. Gosto dessa cor em
você.
— Você está bastante bonito também, mas
obrigada. — Um sorriso enorme curvou sua boca.
— Lorde Manderville terá dificuldade de competir
com uma noite perfeita de luar, jantar e vinho no
terraço.
Se o colar o incomodava, pensar em Derek
ocupando seu lugar, em frente a ela em uma mesa,
proporcionava-lhe um inquietante lampejo de
desagrado. Tentou disfarçar o melhor que pôde e
sorriu.
— Se você está disposta a me dar crédito pelo
clima, eu aceito. Encomendei esta linda noite só
para você.
— Se alguém é capaz de forçar até mesmo a
natureza a conceder seus desejos, este alguém é
você, Rothay. — Caroline riu, aceitando uma taça
de vinho, posicionando seus dedos finos ao redor
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da haste. — Receio estar ficando mimada.


— É assim que tem que ser. Senhoras tão
adoráveis ​como você devem fazer pouco mais do
que decorar o mundo ao seu redor.
Ela o olhou, seus cílios ligeiramente abaixados,
o brilho da chama das velas competindo com a luz
das estrelas para iluminar seu rosto e graciosos
ombros nus.
— Você é muito galante.
— Com você é muito fácil. — Negligentemente
ele ergueu o copo à boca e tomou um gole de
vinho.
— Eu queria... — Ela parou e mordeu o lábio;
em seguida, desviou o olhar por um momento,
parecendo repentinamente distante.
Nicholas esperou, curioso com o que ela quase
disse, contando com a habitual falta de rodeios de
Caroline para descobrir do que se tratava. Quando
ela não prosseguiu, perguntou suavemente:
— Você queria o quê?
Ela apenas balançou a cabeça, mechas de
cabelo brilhante acariciando seu pescoço.
— Eu estava prestes a dizer algo que tenho
certeza de que você acharia alarmante e ingênuo,
então, não vou ser tão franca.
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Ele colocou o copo de volta sobre a mesa com


cuidado deliberado.
— Estou começando a descobrir que gosto da
sua falta de hipocrisia. Diga-me.
Ela o olhou do outro lado da mesa íntima, seus
lábios macios separando-se por uma fração de
milímetro.
Então ela disse calmamente:
— Eu ia dizer que gostaria que isso fosse real.
Ela estava certa. Uma onda de alarme o atingiu.
O problema não era o desejo de imediatamente
descartar qualquer sugestão de envolvimento
romântico, mas uma reação muito mais
perturbadora: uma pequena parte de Nicholas, uma
que ele julgava estar morta depois de sua
experiência com Helena, concordava com aquela
divagação.
Para piorar a situação, ela prosseguiu, baixando
os cílios suavemente.
— Quero dizer, se a ilusão é tão agradável,
quanto melhor seria se fôssemos realmente… —
Para seu alívio, a chegada da governanta escocesa
com o primeiro prato a impediu de terminar e o
dispensou de ter que fazer um comentário.
Enquanto provava a sopa, Nicholas deixou de lado
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o desconforto em compreender o que ela quisera


dizer. Afinal, fora o responsável por projetar o
ambiente romântico e o clima sedutor. Pensou que
estivesse imune, mas talvez o feitiço pudesse se
voltar contra ele.
Eles comeram, conversaram em voz baixa e
beberam vinho enquanto o céu se enchia de estrelas
e o som dos insetos se assentava em um padrão
narcótico sobre as árvores. A comida era, como de
costume, simples, mas tão fresca e bem preparada
que não importava que não fosse composta por
molhos extravagantes ou ingredientes invulgares.
Com a sobremesa, Nicholas encontrou-se, de
alguma forma, discutindo suas opiniões políticas,
sua família, seus cavalos novamente. Por ser tão
bem educada, Caroline tinha uma capacidade
fascinante de envolvê-lo em uma conversa que não
girava em torno de fofocas sem sentido ou algo
ainda mais tedioso.
O intelecto, na verdade, podia ser tão atraente
quanto todas as outras partes deliciosas de uma
mulher; ele decidiu, ainda sentado em frente a ela,
observando a luz do luar dourar seus cabelos.
Sua mãe a apreciaria.
Bom Deus, de onde veio tal pensamento?
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— Você realmente esteve em Roma? — ela


perguntou, trazendo-o de volta ao tópico atual de
conversa, que eram suas viagens depois de terminar
a universidade. — Viu o Coliseu, os aquedutos, as
grandes igrejas?
— Eu preferi Florença — ele respondeu,
apreciando a maneira como seu rosto se iluminou
com interesse, dando-lhe uma animação que era até
mais atraente do que seus traços perfeitos e
femininos. — Você deveria ir algum dia. E a
Grécia também é fascinante e incrivelmente
primitiva para um país com tal cultura e rica
história. Creta, em particular, tem uma atmosfera
selvagem, apesar de sua complexa civilização
antiga ter a fama de ter sido destruída. Além disso,
possivelmente foi o modelo para a Atlântida de
Platão.
Naquele momento, Caroline apoiou os
cotovelos na mesa e olhou para ele.
— Você acha que a teoria tem alguma
validade? Um artigo foi apresentado recentemente
à Royal Society, que sugeriu a mesma coisa. Na
época, achei a suposição intrigante. Acredita-se que
uma onda catastrófica de uma erupção vulcânica a
quilômetros de distância tenha engolido a grande
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cidade e a devastado.
Era ele quem estava devastado por seu interesse
sincero.
— Eu não sou um arqueólogo, de maneira
alguma, mas a hipótese é interessante, não é?
— Invejo intensamente suas experiências. —
Por um momento seu rosto se fechou, mas então ela
sorriu e sacudiu a cabeça tristemente. — Como se
você já não tivesse reparado... Eu não tenho muito
acesso a discussões como esta. A senhorita
Dunsmore e eu costumávamos nos sentar por horas,
e ela me contava as teorias de seu pai e suas
viagens. Sinceramente não acho que ela sequer se
importava por ele abandoná-la em troca das
histórias que contava e artefatos que trazia ao
voltar. Ela me proporcionou uma grande sede por
um mundo mais amplo. Temo que esteja lhe
fazendo perguntas como uma criança curiosa.
Não havia nada de infantil nela, ele pensou,
enquanto deixava o olhar vagar por sua forma
flexível e sedutora.
— Acredito que eu já lhe disse que responderia
a qualquer pergunta que fizesse.
Mas isso fora na cama, quando ele sentira sua
ignorância e incerteza. Ela se lembrou da mesma
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coisa, pois um olhar confuso atravessou seu rosto.


— Disse, de fato.
Ele ergueu uma sobrancelha em um arco
sugestivo e vagaroso.
— Há mais alguma coisa que você gostaria de
saber? — A conotação sexual da questão era
inconfundível. A boca de Caroline — aquela boca
deliciosamente beijável — curvou-se. Ela disse
asperamente:
— Tenho certeza de que, se houvesse, você
seria a pessoa a quem perguntar.
— Alguma objeção às minhas especialidades?
— Ele manteve a pergunta leve e provocante.
Uma expressão indefinível cruzou seu rosto,
quase melancólica.
— Não.
— Venha — disse ele, levantando-se e
estendendo a mão. — Dance comigo.
— Nós não temos música — ela se opôs, mas
levantou-se obedientemente, e seus dedos se
entrelaçaram aos dele. A seda do vestido roçou suas
pernas.
— Precisamos de uma? — Ele passou um braço
pela cintura dela e a aproximou, perto demais para
um salão lotado de Londres, mas adequado para
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uma valsa isolada em um terraço estrelado na


escuridão quente da bucólica zona rural.
Ela se movimentou conforme ele conduzia, os
seios roçando seu paletó, a sensação de seu corpo
tão inebriante quanto qualquer espírito.
— Só não me peça para cantar — disse ela de
maneira branda — ou tropeçaremos por todo lado.
Receio que meus talentos não sigam esta direção.
A risada dele atingiu os fios do cabelo de
Caroline.
— Vou imaginar a música na minha cabeça.
— Seria melhor, confie na minha palavra sobre
isso.
— Para uma mulher bonita, você tem uma
notável falta de presunção.
Ela o olhou com uma incerteza pungente, seus
olhos adquirindo uma cor luminosa impressionante.
— Acho que não tive muita prática com a
vaidade.
Ele concordou. Também não achava que ela
tivesse. Algo muito surpreendente quando se
considerava o quanto era fascinante, mas talvez um
pouco menos assombroso se fosse considerado seu
passado. Nicholas moveu-se devagar, em passos
curtos, enquanto se viravam, giravam, e ele
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apreciava a sensação suave e deliciosa de seu corpo


contra o dela.
A dança continuou, e o momento adquiriu uma
qualidade idílica que ele não tinha oportunidade de
experimentar com muita frequência em sua vida
atribulada. Mas que homem, ele filosofou, não iria
gostar de desfrutar de uma noite tão requintada,
tendo uma mulher desejável em seus braços e
sabendo que aquela valsa silenciosa e íntima era
apenas o prelúdio de outro tipo de dança que
aconteceria quando ele a levasse para sua cama.
Sua ereção já aumentava, enrijecendo-se
constrangedoramente contra o tecido das calças
justas.
Quando pararam de dançar, finalmente,
Nicholas se inclinou para sussurrar em seu ouvido:
— Eu quero você.
— Eu posso perceber — ela também sussurrou,
deixando uma risada ofegante escapar. — Você
está me segurando escandalosamente perto, sua
graça, e seu entusiasmo é bem evidente.
— Gostaria de estar ainda mais perto. — Ele a
ergueu em seus braços em um movimento teatral,
notando que suas faces estavam coradas e não
podia ser pelo movimento lento e oscilante de
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dançar pelo terraço. — Vamos ver se consigo


providenciar isso.
Em poucos passos ele cruzou as lajes e abriu
caminho através das portas francesas, abertas à
agradável noite. A Sra. Sims estava no corredor
principal e pareceu surpresa quando eles
apareceram, seu olhar preocupado fixando-se em
Caroline.
— Sua Graça... está tudo bem?
Caroline fez um pequeno som que Nicholas
interpretou como embaraço. Ele disse, então, em
serenidade tranquilizadora:
— Tudo ótimo. O jantar estava excelente. Por
favor, diga ao cozinheiro.
— Sim, claro. — Sra. Sims conseguiu
recompor sua expressão ligeiramente chocada.
— Minha senhora está cansada. Eu sugeri que
ela se recolhesse.
Era quase uma verdade. Ela poderia dormir
depois.

S UA MORTIFICAÇÃO POR TER A GOVERNANTA

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testemunhando a impulsividade impetuosa de seu


amante ao carregá-la pelas escadas foi temperada
pela excitação que fluía em suas veias como vinho
adocicado.
Seu amante.
Não importava como acontecera nem quão
curto seria seu tempo juntos, o carismático
Nicholas Manning era seu amante, mesmo que por
apenas uma semana.
O grande gesto que culminou na refeição
romântica era parte do que Caroline imaginaria
como algum tipo de sonho idealizado. Ser
carregada para o quarto dele foi a conclusão natural
de uma valsa lenta e sedutora.
— Ela não acreditou nem por um minuto que eu
esteja apenas cansada — ela murmurou,
descansando a cabeça em um ombro largo.
Caroline sabia que suas bochechas estavam
rosadas, mas não tinha certeza do quanto se
importava. Nicholas cheirava maravilhosamente
bem, de um jeito másculo, e isso lhe causava um
efeito intoxicante que fazia seus mamilos
formigarem e calor pulsar entre suas pernas.
— A opinião da governanta não me interessa,
embora eu planeje recompensá-la e fazer uma ou
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duas observações sobre o quanto eu apreciaria seu


silêncio durante a minha visita. — Ele parecia
carregá-la com tanta facilidade que sua respiração
sequer se alterava enquanto caminhava num ritmo
atlético e suave.
Ela desejou poder compartilhar sua indiferença
com a opinião dos outros, mas, novamente,
Nicholas já estava muito acostumado a ser
examinado a cada passo. O esplendor de sua boa
aparência sombria, a extensão de sua fortuna e a
posição exaltada de seu título o tornavam um alvo
natural de interesse. Se a sociedade descobrisse sua
participação na aposta perversa, ela ganharia uma
reputação tão duvidosa quanto a dele, e este era um
reconhecimento que preferia evitar.
Não, Caroline se assegurou rapidamente
enquanto ele empurrava a porta do quarto com o
pé. Ninguém iria descobrir.
Ele a colocou na cama e em seguida levou os
longos dedos à gravata.
— Eu preciso de você nua. — As palavras não
foram ditas com ternura, mas, sim, com uma
urgência convincente.
— Isso é uma sugestão ou uma ordem? — Era
incrível como as coisas tinham mudado em apenas
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alguns dias.
Se Edward lhe dissesse aquelas mesmas
palavras, sua vontade seria sair correndo do quarto.
Com o duque diabólico, ela apenas sentou-se e
descalçou os sapatos, levantando audaciosamente
as saias para tirar as meias. O olhar sombrio de
Nicholas observava cada um de seus movimentos,
enquanto ele tirava o próprio paletó.
— Depressa — ele disse suavemente.
E de alguma forma aquela palavra a excitou.
Caroline fechou os olhos num breve lampejo de
sensações e depois ergueu as saias, ajeitando-as
acima da cintura. Abriu as pernas descaradamente.
— Isso é rápido o suficiente?
Nicholas praguejou baixinho e quase
silenciosamente, deixando seus sentimentos claros
o suficiente sem precisar de palavras.
Ele abriu as próprias calças.
— Está perfeito.
Por que ela não estava com medo?
Porque ele não iria machucá-la. Sabia disso.
Medo era a última coisa em sua mente quando ele
puxou as calças pelos quadris magros e colocou-se
por cima dela. Não seria do feitio dele forçá-la a
algo, e ela definitivamente o queria de todas as
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formas possíveis. Sua investida foi impetuosa, mas,


mesmo durante o momento de urgência impaciente
e completa, ele fez uma pausa, interrompendo a
penetração na metade do ato carnal, perguntando
com voz rouca:
— Você está bem?
— Eu preciso de você.
Caroline podia sentir o calor do corpo poderoso
através do tecido de sua camisa. Seus dedos se
espalharam pelo peito dele, testando os contornos
musculares.
Em resposta ao protesto diante da hesitação de
Nicholas, ele a penetrou por completo, até o fundo,
para que ela pudesse sentir toda a extensão rígida
de seu desejo, a extensão de como ela o excitava.
Esta é a sensação de ser mulher.
Oh, Deus.
Seus quadris se ergueram a um comando que
ela nem sabia que dera quando Nicholas começou a
se mover. Ele deslizou para trás e, em seguida,
investiu em posse total novamente, com tanta força
que ela arfou. Uma sensação delirante saturou seus
sentidos, assumiu seu corpo faminto, e ela se
banhou em sua glória, no ostensivo apelo carnal
como uma droga. Sob o tecido fino da camisa, os
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músculos dele estavam rígidos de tensão.


Na primeira noite, ela ficara assustada, apesar
de sua determinação, mas ele se conteve e a
tranquilizou. Na tarde anterior, enquanto faziam
amor na clareira ensolarada, Caroline sentiu-se um
pouco mais livre, menos inibida pelo seu passado,
curiosa e ainda cautelosa.
Agora ela estava... ansiosa. Molhada.
Desejando.
Desejando a ele. Sua generosidade e habilidosa
entrega de prazer arrebatador. Cada estocada
proporcionava um gemido baixo e revelador, e ela
arqueava de volta em resposta às suas investidas.
De alguma forma, o fato de eles mal poderem
esperar para se despirem inflamava seus sentidos.
Ela se sentiu devassa. Era maravilhoso.
Nicholas a tornara uma devassa.
E ela se glorificava nisso.
O ritmo aumentou, o fluxo de seu corpo contra
o dela tornou-se mais frenético, mais selvagem, e
ela se agarrou a ele com crescente urgência.
Caroline deixou a cabeça cair para trás enquanto
gemia de prazer, e ele murmurou algo
incompreensível.
Então Nicholas chegou ao clímax. Ela registrou
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o enrijecimento de seu corpo alto, a erupção de ar


de seu peito, seus cílios escuros abaixando
abruptamente quando ele ficou completamente
paralisado, exceto pelo pulsar profundo de sua
libertação. A explosão contra seu útero foi forte e
tão arrojada quanto a maneira como ele a arrebatou
do terraço, carregando-a pelas escadas.
O calor da respiração de Nicholas roçou sua
bochecha quando, momentos depois, ele deu uma
risadinha.
— Desculpe-me. Dê-me um minuto ou dois e
prometo que vou compensá-la. Aparentemente,
danças ao luar com lindas damas de cabelos ruivos
despertam minhas paixões em um grau
embaraçoso. Não me lembro de já ter terminado tão
rápido.
Embora duvidasse que ele pudesse se dar conta
disso, a ideia de fazer o Duque de Rothay, seguro,
experiente e diabólico, perder o controle era
empoderadora, inebriante. Caroline fechou os olhos
para que ele não pudesse ver o brilho repentino de
suas lágrimas. Elas eram de alegria, uma suave
evidência de sua percepção de que todos os golpes
dolorosos e o escárnio que experimentara nas mãos
de seu marido estavam sendo apagados com cada
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toque carinhoso, cada sorriso verdadeiro e cada


beijo selvagem e luxurioso.
Ela desejou que aquela semana nunca
terminasse.
Nicholas saiu de dentro dela, e Caroline
reprimiu um suspiro de desapontamento por ele não
ter problema para interpretá-la. Seu sorriso era um
lampejo de dentes brancos. Deitado ao lado dela,
apoiado em um cotovelo, suas calças desabotoadas,
seu cabelo escuro um pouco desgrenhado, ele era a
imagem de uma promessa erótica interessante. Um
dedo traçou um caminho por seu rosto e por seu
lábio inferior.
— Não se preocupe. No meu atual estado de
mortificação masculina, estou determinado a me
redimir de todas as formas possíveis. Deixe-me te
despir e vamos começar de novo, minha querida
Caroline.
Ela gostou da ideia de ser querida por ele.
Um pequeno sorriso curvou seus lábios.
Desalinhada, com as saias ainda amontoadas ao
redor da cintura, sentia-se languidamente
insatisfeita, embora duvidasse que fosse durar.
— Você ainda não me desapontou.
— O voto de confiança é apreciado. — Seus
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dedos desabotoaram o vestido habilmente,


enquanto ele a tomava nos braços. — Eu lhe disse
que uma mulher tem um grande controle sobre um
homem quando ele a deseja da forma como eu a
desejo.
— Pena que é só por causa da competição entre
você e Manderville.
Ele fez uma pausa, ficando muito quieto.
Caroline, por sua vez, ficou horrorizada.
Lá estava ela, pela segunda vez em uma noite,
dizendo o que se passava por sua mente. O que
esperava? Uma declaração de afeto de um homem
que mal a conhecia? Ele poderia ter explorado cada
centímetro de seu corpo, mas poucos dias na
companhia um do outro dificilmente constituíam
um relacionamento profundo, e suas circunstâncias
incomuns tinham que ser levadas em consideração.
Suas faces se aqueceram diante da própria
audácia e da capacidade desajeitada de dizer a coisa
errada na hora errada. Era por isso que costumava
ficar tão quieta, tão rigidamente reprimida, quando
se tratava de conversas em público. Ela poderia,
como acabara de provar, deixar escapar algo
embaraçoso.
Felizmente, ele era muito mais experiente nas
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complexidades dos contatos casuais entre homens e


mulheres e deu de ombros, parecendo ignorar as
implicações de sua observação inoportuna. O
último botão de seu vestido se soltou, e ele sorriu
de maneira quixotesca.
— Essa aposta infernal nos uniu, então não vou
me arrepender. Neste momento, você está aqui... —
ele deslizou seu vestido para baixo e expôs seus
seios rijos sob a fina camisola — e tão carnalmente
disponível.
Beijou-a enquanto continuava a retirar
vagarosamente sua roupa. Beijos longos, lentos e
sensuais, que seduziam, enganavam e eram um
testemunho de sua merecida reputação. Nas horas
seguintes, ele mais do que compensou sua pequena
falha sexual, levando-a ao clímax uma e outra vez,
altruísta, provando que seu vigor lendário não era
um mito, mas baseado em fatos.
Mais tarde, satisfeita e sonolenta, ela ponderou
o futuro com uma sensação surreal de introspecção
fatalista. Aninhada em seus braços, era fácil sentir-
se desejada, sentindo sua presença imponente como
um símbolo da mudança monumental em sua vida.
Precisava, porém, se perguntar, embora pudesse
estar curada de sua insegurança incapacitante, se
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também poderia ser condenada. Com seu nível de


inexperiência, ela ingenuamente presumira que a
intimidade de fazer amor poderia ser
desconsiderada. Afinal, Nicholas e Derek Drake
tinham a reputação de serem capazes de seduzir e
abandonar com facilidade, sendo o prazer
transitório seu único objetivo.
E se ela não conseguisse ser tão desapegada?
Ao lado dela, Nicholas tinha adormecido, em
toda a gloriosa beleza masculina, sua respiração
regular erguendo seu peito em um ritmo constante.
Ele era o problema, ela percebeu, olhando para
onde a brisa da noite gentilmente erguia as cortinas.
Uma vez que tudo era tão novo, tão glorioso, ficava
difícil separar a realidade da fantasia.
Ele conversava com ela. Isto era mais atraente
do que sua inegável habilidade em despertar seu
corpo. Se tivesse simplesmente feito o que ela
esperava e a tivesse arrastado para o quarto durante
toda a semana, talvez ela não se sentisse tão
perturbada. Em vez disso, fora cuidadoso, gentil e
atencioso em todos os sentidos.
Agora ela sentia um medo angustiante de não
conseguir se afastar com facilidade.
Nicholas mudou de posição, puxando-a para
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mais perto, mesmo durante o sono profundo, como


se tivesse feito a mesma coisa mil vezes com outras
amantes.
Ele provavelmente tinha mesmo feito isso mil
vezes. O que não deveria incomodá-la.
Mas incomodava.

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A nnabel se virou obedientemente, o tecido de


seu elaborado vestido de noiva caindo em
camadas ao seu redor e alfinetes por toda parte,
enquanto a costureira se ajoelhava no chão e mexia
na bainha. Margaret observava com um olhar
crítico, ocasionalmente fazendo um comentário ou
dois.
Seria muito óbvio, Annabel se perguntou, o
quanto estava distraída e indiferente a algo que
deveria significar muito para ela?
Esperava que não, mas sentia medo de que a
verdade estivesse escrita em todo o seu rosto.
Esse medo foi confirmado quando elas
deixaram o estabelecimento da modista uma hora
depois e foram para casa. Margaret Drake ainda era
adorável, com cabelos castanhos suaves ficando
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grisalhos de uma forma graciosa, sua pele


mostrando linhas minúsculas que não diminuíam a
beleza da boa estrutura óssea. Seus lindos e
brilhantes olhos fitavam Annabel do outro lado do
assento da carruagem. A mais velha foi direto ao
ponto:
— Algo está errado?
Algo está certo?
Annabel tentou se fazer de desentendida.
— Eu não tenho certeza do que a senhora quer
dizer.
— Você parece cansada, minha filha querida,
quase apática, e não tem se alimentado bem. Agora
mesmo, ao provar seu vestido de noiva, mal
ofereceu uma opinião, mesmo quando lhe
perguntaram diretamente.
Era tudo verdade, e como Margaret era como
uma mãe para ela, Annabel achava difícil não
confessar o que realmente a incomodava. Exceto
que não podia. Se dissesse em voz alta, teria que
realmente pensar sobre o assunto, e isso estava fora
de questão.
— Eu nunca soube que planejar um casamento
era tão... exaustivo — explicou ela, com uma
verdadeira pontada de culpa. Não se tratava de uma
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mentira. Os detalhes eram realmente um pouco


esmagadores, mas também não representavam o
verdadeiro motivo de sua abstração.
Margaret inclinou a cabeça um pouco,
estudando-a, os olhos ligeiramente estreitados.
— Lorde Hyatt concordou com qualquer
tamanho de cerimônia que você desejasse. Não
precisa ser tão grande se você preferir algo um
pouco mais privado.
Isso também constituía parte do problema.
Alfred era um homem muito agradável e simpático.
Diferente da outra pessoa que ela não queria
nomear; um certo conde que na superfície parecia
muito educado e absolutamente encantador, mas
que por baixo do bonito exterior escondia egoísmo
e insensibilidade.
— Eu quero uma grande festa. — As palavras
saíram muito ríspidas, então, com esforço, ela
modificou seu tom. — O que quero dizer é que o
casamento é um grande passo, e quero compartilhar
minha felicidade com meus amigos e, é claro, com
minha família.
Margaret ergueu as sobrancelhas.
— Tudo bem, então, mas você pode mostrar
mais entusiasmo pelos detalhes. E, sim, o vestido
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de noiva é um desses detalhes.


Ela mordeu o lábio e suspirou.
— Sinto muito por ser uma companhia
desagradável esta tarde.
— Minha querida criança, não estou lhe
repreendendo, é apenas preocupação. Se você se
arrependeu desse compromisso, agora é a hora...
— Não — Annabel interrompeu rapidamente.
— Não me arrependo de nada.
Que mentira terrível para alguém que ela
amava.
Houve uma longa pausa, enquanto o único
ruído era o som das rodas sobre as pedras e o
chamado do vendedor ocasional vendendo
mercadorias em uma esquina. Então Margaret
assentiu com o rosto sério.
— Se tem certeza de que deseja continuar com
isso, sabe que farei o meu melhor para torná-lo um
evento maravilhoso do qual você lembrará para
sempre.
Annabel nunca duvidara disso e se sentia
duplamente culpada por estar mentindo.
— Alfred é carinhoso, generoso e gentil. Além
disso, é possível que seja fiel, que não é algo que a
maioria das esposas pode esperar. Por que eu não
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iria querer continuar com o compromisso?


— Você está realmente me fazendo uma
pergunta? Se assim for, tenha cuidado, eu posso
responder.
Foi a vez de Annabel estreitar os olhos e
encará-la.
— O que isso significa?
— Significa que estou preocupada. Acho que,
por qualquer motivo, você não está realmente feliz
com o casamento, tanto quanto finge o contrário.
Thomas até disse alguma coisa, e, minha querida,
quando um homem percebe e observa o que uma
mulher está sentindo, é porque é bem óbvio. Eles
não são as criaturas mais observadoras.
Ela não ficaria tão abalada, tão abertamente
infeliz, se Derek, de repente, não surgisse em todos
os lugares para onde olhava. No ano anterior, mal o
vira, mas nos últimos cinco dias ele fora jantar três
vezes, tomar chá duas vezes e até aparecera em
uma pequena apresentação musical da filha de um
dos amigos de Margaret. Seu comportamento sem
precedentes gerara mexericos por toda a sala, e a
pobre jovem ficara tão nervosa por ter o infame
conde na plateia que praticamente destruíra todas as
interpretações de Bach e Mozart de uma maneira
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que teria feito os dois compositores estremecerem.


Annabel suportara tudo com os dentes cerrados, e
não foram as notas dissonantes que a incomodaram,
mas a presença magnética de Derek em um evento
tão pouco importante. Os olhares cobiçosos que as
mulheres lançavam a ele eram inconfundíveis.
Trajando uma elegante roupa de noite, seu cabelo
loiro brilhando à luz das velas, ele mantinha uma
expressão inescrutável em seu rosto enquanto
escutava a música, parecendo ignorar a
incredulidade de todos na sala por causa de sua
presença.
Ninguém ficou tão surpreso ou desconfortável
quanto Annabel. Temia que até Alfred pudesse ter
notado.
A ausência de Derek em sua vida tornava tudo
mais fácil, mas o repentino ressurgimento abalara
seu mundo. Abalara também sua decisão de
esquecê-lo, e ela desprezava a si mesma e ainda
mais a ele por fazê-la nutrir uma dúvida sequer.
Em parte, era aquela maldita carta que ele lhe
escrevera. Estava guardada em uma gaveta no
fundo do armário, o conteúdo inviolado, um
símbolo de sua indiferença.
Mas todo dia, sem falta, ela se perguntava o que
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a carta poderia dizer e tornava-se mais tentador do


que nunca abri-la e lê-la.
— Certamente eu tenho direito a um pouco de
nervosismo por causa do casamento. — Ela
arrumou suas saias com uma mão, tendo o cuidado
de parecer indiferente. — Estou certa de que a
maioria das noivas em potencial tem algumas
dúvidas de vez em quando.
— Provavelmente, e eu concordarei com isso,
desde que seja tudo. Nós queremos que você seja
feliz.
Feliz? Quando fora a última vez que ela se
sentira feliz?
A carruagem virou uma esquina, e Annabel
agarrou a alça para se firmar contra o balanço do
veículo. Uma lembrança surgira em sua mente,
espontânea e indesejada, de uma tarde de verão
quente e gloriosa, a biblioteca silenciosa em
Manderville Hall, que ela quase considerava seu
próprio retiro privado, e um beijo mágico. Derek,
tão incrivelmente atraente com seu cabelo loiro
ligeiramente despenteado e um olhar em seus olhos
azuis que ela nunca vira antes, virando-se para ela,
olhando para baixo e abaixando a cabeça com uma
intenção inconfundível...
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E então o toque de seus lábios nos dela. Suave,


terno, cedendo e exigindo, roubando o ar de seus
pulmões.
Mas então outra memória a invadiu, uma do
mesmo homem que a tomara tão gentilmente em
seus braços abraçando outra mulher.
Annabel baniu ambas com uma determinação
implacável e disse a Margaret:
— Estou feliz.
Sua mãe adotiva apenas a olhou por um
momento e depois murmurou:
— Se você diz, vou acreditar.

A RUA ESTAVA LOTADA NO FIM DA TARDE , E D EREK


saiu de sua tabacaria favorita na Bond Street, quase
colidindo com um dos pedestres que passava pela
porta. Ele murmurou:
— Perdoe-me.
— Manderville. Que bom que nos esbarramos.
Não em um sentido literal, é claro. — A boca do
homem se contraiu em uma tentativa de leveza.
Bom Deus, pensou Derek com irônica
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compreensão, de todas as malditas pessoas a quem


ele poderia praticamente atropelar em uma calçada,
por que tinha que ser o homem que ele menos
queria ver em toda a cidade?
— Sim, de fato.
Alfred Hyatt também carregava um pacote.
— Venho do meu fornecedor de luvas. É um
negócio tedioso resolver esses assuntos, mas devo
fazê-lo de vez em quando, suponho.
— Não há como fugir — Derek concordou com
uma educação severa. — Bem, suponho que eu...
— Junte-se a mim para uma bebida. Há uma
pequena taverna no fim da rua que serve um uísque
decente.
Amigável e urbano, o noivo de Annabel o olhou
com expectativa. Pessoas e carruagens passavam
por ali, e talvez fosse o barulho e a distração, ou
talvez ele simplesmente se sentisse um idiota
naquele momento, diante da irônica ideia de tomar
uma bebida de forma amigável com seu adversário,
mas Derek não conseguiu inventar uma desculpa
rápida sem parecer rude.
Mas que inferno! Hyatt provavelmente nem
sabia que eles eram adversários.
— Um uísque me parece uma boa ideia — ele
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murmurou, e isso não era mentira. Talvez tomasse


uma garrafa inteira, pensou enquanto começavam a
andar.
A taberna mostrou-se apinhada. Os fregueses
eram uma mistura de homens bem vestidos como
eles, lojistas e comerciantes. Conseguiram
encontrar um canto sossegado, sentaram-se, e uma
garçonete eficiente, com um sotaque irlandês,
chegou para anotar o pedido.
Hyatt sorria da maneira habitual e agradável do
outro lado da superfície desgastada da mesa. Tudo
sobre o homem, maldito fosse, era agradável. Ele
era bonito, mas não de uma maneira
impressionante; vestia-se elegantemente, mas sem
afetação; seu comportamento não era carente nem
enfatuado, então os homens gostavam dele; e,
obviamente, se Annabel concordara em se casar
com o bastardo, ele era interessante para as
mulheres também.
Maldição.
— Na verdade, nosso encontro hoje é fortuito
— disse Hyatt, cruzando as mãos sobre a mesa
enquanto esperavam por suas bebidas. — Eu tenho
pensado em pedir seu conselho em um assunto
importante para mim.
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Isso não era o que ele esperava ouvir. Derek


ergueu uma sobrancelha.
— Sim?
— Em uma área em que você é um pouco mais
experiente do que eu. — Hyatt deu uma risada com
muita naturalidade. — Eu disse um pouco? Eu
deveria ter omitido este detalhe da minha sentença
anterior. Digamos que estou razoavelmente certo,
por várias razões, de que você poderá me ajudar
com esse dilema.
— Que dilema?
— Bem… tem a ver com mulheres, é claro. Eu
vou adivinhar que no curso de seus... er... muitos
relacionamentos do passado, você tenha descoberto
exatamente o que as agrada quando se trata de
presentes. Acrescente a isso o simples fato de você
conhecer bem Annabel, então, perguntei-me se
poderia me orientar sobre o que comprar para ela
como um presente de casamento.
Derek ficou observando-o, imaginando que ato
ruim poderia ter cometido para que o destino
desejasse puni-lo, colocando o próprio homem que
estava prometido à mulher que amava a pedir-lhe
conselhos sobre o que a agradaria para celebrar
suas núpcias. Relembrando rapidamente sua vida
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inteira, decidiu que, mesmo em seus momentos


menos angelicais, nada vinha à mente que fosse
ruim o suficiente para justificar essa tortura em
particular.
Quando ele não respondeu imediatamente,
Hyatt acrescentou:
— Estou perdido, mas quero acertar, e tenho
certeza de que você entende.
Onde diabos está aquele uísque?
Derek pigarreou.
— O que se compra para uma amante e para
uma esposa são duas coisas diferentes, tenho
certeza. Duvido que possa ajudar muito. Annabel
não é vaidosa o suficiente para cobiçar joias ou
perfumes caros, receio.
— Viu? Você a conhece — apontou Hyatt com
segurança. — Isso já é útil. Continue.
A garçonete chegou com suas bebidas como um
presente do céu. Mesmo que ela tivesse a pele
marcada e fosse provavelmente duas décadas mais
velha, Derek poderia tê-la beijado. Ele pegou o
copo e bebeu um bocado tão grande que quase
engasgou, saboreando a ardência da bebida
conforme esta descia.
Quanto mais rápido terminasse, mais rápido
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poderia dar uma desculpa plausível e sair.


— Eu a conhecia melhor quando criança — ele
disse, o que não era exatamente a verdade, mas
perto o suficiente. A criança aberta e inquisitiva
dera lugar a uma mulher, com os sonhos de uma
mulher e a capacidade de uma mulher de seduzir e
fascinar. Se ele tivesse entendido a transformação
dela um pouco melhor, talvez não tivesse estragado
tudo. — Nós realmente não nos falamos com
frequência.
— Sim, eu percebi isso. — Hyatt tomou um
gole razoável de seu próprio copo.
Pela primeira vez, Derek tomou nota da
vigilância nos olhos do outro homem.
Talvez uma reavaliação da situação estivesse
acontecendo, ele percebeu com um sobressalto.
Tio Thomas dissera que achara que lorde Hyatt
havia notado o comportamento de Annabel na
reunião de noivado. Talvez o homem fosse
perceptivo de outras maneiras também. Thomas
percebera, afinal. Talvez Hyatt também tivesse
identificado um rival.
Tão desprovido de emoção quanto possível,
Derek disse:
— Nós não nos vemos com frequência.
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— Ela mencionou isso para mim uma vez. —


Hyatt recostou-se um pouco em sua cadeira, com
um olhar atento, e, embora não fosse abertamente
hostil, uma nova expressão se estabeleceu. —
Preciso dizer que ela fica bastante tensa quando seu
nome surge.
Maravilhoso. O casal havia discutido sobre ele.
Embora Derek duvidasse que Annabel diria alguma
coisa sobre o beijo, estava certo de que ela teria
poucos elogios a fazer em relação à sua pessoa.
Não tinha certeza de como explicar seu escárnio,
mas deu o melhor de si.
— Acho que a partir do momento em ela teve
idade suficiente para entender todas as fofocas,
decidiu que eu era muito menos heroico do que
pensava quando mais nova. — Ele tomou outro
gole de seu copo. — Ela está absolutamente certa, é
claro.
— Entendo. — Hyatt parecia sem graça. —
Quem sabe como uma mulher vai reagir às coisas?
Era difícil saber como responder, então Derek
se recusou a fazê-lo. Em vez disso, terminou sua
bebida e pousou o copo fazendo um barulho agudo.
— Desculpe não poder ajudá-lo com uma ideia
brilhante para um presente.
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— Não. — Hyatt gesticulou com a mão de


forma descuidada, mas o escrutínio guardado em
seus olhos não vacilou. — Foi bom conversar,
mesmo assim. Afinal, em breve faremos parte da
mesma família e nos veremos com frequência.
E como diabos ele iria suportar isso, Derek não
tinha certeza. Pior do que imaginar aquele homem e
Annabel na cama, era imaginá-la grávida do filho
de outro. Isso o incomodava de uma maneira que
ele nunca pensara ser possível.
— Bem — continuou Hyatt no mesmo tom de
conversa leve que mal se elevava acima da
multidão barulhenta —, pensei em levá-la em uma
viagem depois do casamento. Itália, talvez. Você
acha que ela iria gostar?
Não. Ele não iria discutir sobre a viagem de lua
de mel. A palavra “gostar”, em particular, irritava
seus nervos. Derek se levantou, evocando um
sorriso falso.
— Annabel sempre teve um senso de aventura.
Tenho certeza de que ela vai adorar. Agora, se você
me der licença...
— Esse senso de aventura já se estendeu a
você, Manderville?
Derek ficou muito quieto. Ele estreitou os
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olhos.
— O quê?
— Qualquer homem perguntaria a mesma
coisa, a menos que fosse cego. Eu — o homem
acrescentou sucintamente — não sou. Ela reage a
você. Suponho que a maioria das mulheres o faça,
então, talvez não seja algo incomum. Mas talvez
signifique alguma coisa.
Este era o ponto em que Derek deveria ser
capaz de declarar que nunca a tocara. Mas ele a
tocara, provara-a, e por mais que um beijo
dificilmente significasse que ele a havia
comprometido, ainda não se sentia livre de culpa.
Olhando o outro homem nos olhos, Derek disse
secamente:
— Fique certo de que a honra de Annabel está
intacta. Obrigado pela bebida.
Ele deu a volta e saiu da taverna, abrindo
caminho entre os ocupantes, um leve resquício de
suor em sua testa.
Uma vez fora, andou pela rua com propósito
claro, fazendo as pessoas saírem de seu caminho.
Então, lorde Hyatt tinha suas dúvidas, não é?
Era um bom ou um mau sinal? Annabel poderia
odiá-lo ainda mais se ele fosse uma causa de
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disputa entre ela e seu futuro marido. Mas Hyatt


mencionara o comportamento dela, não o dele.
Ele precisava falar com Annabel. Não havia
uma única dúvida sobre isso.

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E ra surpreendente para Nicholas perceber que


gostava da suavidade da aurora. Não que
fosse preguiçoso − ele normalmente tinha muitas
coisas a fazer −, mas geralmente ficava acordado
até tarde e raramente se levantava assim que o sol
surgia no horizonte. Depois de algumas manhãs
deitado na cama e vendo o céu clarear, ele percebeu
que gostava disso.
É claro que não doía ter uma mulher
encantadora ao seu lado também, ele decidiu, e
talvez essa fosse a razão pela qual de repente
desenvolvera um apego sentimental pelo nascer do
sol depois de vinte e oito anos ignorando-o
completamente.
Caroline dormia como uma criança, de lado,
com uma mão sob a bochecha, a respiração suave e
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lenta. Contudo, ela certamente não era infantil de


nenhuma outra forma, com aquele corpo
voluptuoso nu, parcialmente coberto pelos lençóis
de seda, os seios cheios e rosados expostos e muito
tentadores. Seu cabelo rico caía sobre os ombros
pálidos e decorava o cobertor em um lustroso
conjunto de cachos desordenados. Em repouso, ela
se parecia com o que ele supunha ser o ideal da
mulher perfeita, toda sensualidade graciosa e o
charme evidente.
Além da vulnerabilidade feminina delicada,
juntamente com uma força interior admirável que o
comovia.
Nicholas se levantou e se apoiou nos
travesseiros, contemplando sua forma graciosa com
um leve franzido entre as sobrancelhas. Tratava-se
apenas de um arranjo sexual, nada mais do que
isso, lembrou-se bruscamente. Sempre fora um
homem prático nos assuntos do coração.
Mas ela acordava cedo, e ele descobriu que
gostava de acordar com ela.
Certamente, assim que a sala se iluminou o
suficiente para que a mobília não se parecesse
apenas com formas vagas, e para que a luz contra
as cortinas fechadas lançasse um brilho cálido ao
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tapete oriental, ela se mexeu. Tremulando os longos


cílios, suspirou, espreguiçou-se um pouco e abriu
os olhos.
— Bom dia.
Caroline sorriu e girou para lhe dar um sorriso
sonolento. Com uma modéstia um pouco tardia e
desnecessária, ela puxou o lençol por sobre os seios
nus enquanto piscava, despertando.
— Bom dia.
— Sempre é um bom dia quando eu acordo
com você.
— É muito cedo para me encantar com seu
charme, Rothay. — Ela riu e se alongou
preguiçosamente mais uma vez.
— E se eu estiver sendo sincero?
— Não nos conhecemos há tempo suficiente
para este tipo de sinceridade.
— É sempre uma possibilidade, de qualquer
maneira.
Deleitável e desgrenhada, Caroline era a
imagem da sedutora feminilidade. Íntima, quente e
atraente. Ele teve que fechar as mãos para impedir
a si mesmo de tocá-la.
Ele queria explicar que normalmente não
acordava ao lado de mulheres. Se bebesse mais do
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que o normal, ou se chovesse muito, ele às vezes


dormia na cama da moça com quem se divertia,
mas isso era mera praticidade, não porque queria
despertar ao lado de alguém.
Mas não disse nada. Articular seus verdadeiros
sentimentos era mais difícil do que imaginava.
Com isso, ele tinha pouca prática. Normalmente era
mais fácil simplesmente ir embora.
Seu caso com Helena lhe ensinara muitas
coisas. Manter o apego ao mínimo, porque isso não
poderia trazer nada além de tristeza em sua vida.
Confiança era algo frágil e facilmente quebrável.
Caroline sentou-se e jogou o cabelo para trás,
deslizando as longas pernas nuas para a lateral da
cama. Nicholas agarrou seu pulso.
— Não se levante ainda, minha querida.
Com uma risada, ela soltou-se dele.
— Perdoe-me, mas eu preciso...
Ele sorriu quando ela gesticulou para a tela que
discretamente escondia o sanitário do resto do
quarto.
— Claro. Quão deselegante da minha parte.
Volte depressa.
Caroline arqueou uma sobrancelha delicada.
— Você está em seu estado habitual, percebo.
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O nível atual de excitação de Nicholas era uma


declaração visível do porquê de ele querer que ela
retornasse o mais rápido possível. O contorno de
seu membro ereto erguia o lençol que pairava sobre
sua cintura. Sua boca se contraiu.
— É um elogio ao seu incomparável fascínio.
Ação e reação. No momento em que você acordou,
certa parte da minha anatomia também despertou.
Que sedutora!, ele pensou enquanto a
observava atravessar a sala para cuidar de uma
necessidade humana básica, com sua pálida pele
orvalhada e as curvas perfeitamente arredondadas.
Quando voltou alguns instantes depois, gozou do
privilégio de observar o balanço de seus seios a
cada passo, a carne luxuriante clamando por sua
boca e suas mãos.
Ela deitou-se de volta ao lado de Nicholas, um
olhar expectante em seu rosto adorável. Ele podia
sentir o cheiro característico de seu sabonete de
violetas. Nicholas apenas a observou e esperou,
vendo seus cílios baixarem por uma fração
enquanto ele descansava contra os travesseiros.
Conforme sua timidez e hesitação diminuíam a
cada dia que passava, Caroline começava a
explorar seu lado apaixonado. Era fascinante ver a
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evolução, e ele se sentia afortunado por participar


da jornada. Ela chegara a ele virgem em todos os
sentidos, exceto no físico, e cada vez que faziam
amor tornava-se um pouco mais ousada.
Quando tudo terminasse, ele se perguntava se
ela acabaria mudando de ideia sobre o casamento.
No mínimo, suspeitava que aceitaria um amante.
Tal ideia fez com que ele estreitasse os olhos,
sentindo uma onda de aborrecida possessividade
abrandar seu desejo por um momento. Caroline,
deitada de lado, com aqueles cachos ruivos e
sedosos se derramando sobre os ombros e costas,
mordeu o lábio inferior, arregalando um pouco os
olhos.
— Algo está errado?
Ele não podia ficar com Caroline. Deveria ser
luxúria passageira, nada mais. Sempre passara com
qualquer outra mulher e passaria com ela também.
Além disso, ela era muito jovem e casável para ser
sua amante, e a possibilidade de que fosse infértil
era um risco muito grande para considerar um tipo
diferente de arranjo.
Na verdade, ele mal podia acreditar que a opção
tivesse lhe ocorrido, mesmo de improviso.
O momento passou. Nicholas sorriu,
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imaginando se alguns dias no cenário rural tinham


perturbado o equilíbrio de duas decisões. Talvez
tivesse respirado muito ar fresco ou abusado da
manteiga caseira. Ou, quem sabe, sua impetuosa
libido estivesse no controle de seu cérebro, tendo
uma bela moça nua e disponível ao seu lado e nada
para fazer o dia todo, além de desfrutar de seu
corpo caloroso e disposto. Na semana seguinte o
Parlamento estaria em sessão, e ele voltaria à sua
rotina normal. Por enquanto, não devia complicar
as coisas e apenas viver o momento. Aqueles dias
de relaxamento em sua vida eram uma anomalia.
— Nada está errado, muito pelo contrário. —
Ele estendeu a mão e tocou primeiro seu rosto; em
seguida, deslizou seus dedos levemente pelo arco
de seu pescoço. — A manhã está gloriosa, e eu a
tenho nua ao meu lado. O que poderia estar errado,
minha querida?
— Eu não sei. Por um momento você pareceu
um pouco... feroz.
— A única coisa feroz ao meu respeito é o
quanto quero você.
O momento passou quando ele se inclinou para
frente e a beijou, provando seus lábios. Ela
respondeu como sempre, depois daquela breve
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hesitação que indicava que estava progredindo no


mundo do deleite carnal, mas ainda iniciando sua
jornada.
Sentia-se mais do que satisfeito em ser seu guia,
então, a ideia de passar uma manhã entre os lençóis
proporcionou um brilho rosado ao seu mundo,
banindo sua breve introspecção incomum sobre a
hipótese de permanência.

— A SSIM .
As palavras, murmuradas contra sua boca,
foram acompanhadas pelo impulso de suas mãos.
Caroline obedeceu. Era assustador admitir, mas
ela provavelmente faria qualquer coisa que ele
pedisse. Especialmente depois do beijo de derreter
ossos que tinham acabado de compartilhar. Tinha
vaga ciência dos pássaros cantando lá fora, o cheiro
agradável da brisa da manhã entrando pela janela
aberta, as elegantes cortinas de seda pendendo
sobre a cama e a luz que penetrava o quarto
conforme o dia ganhava vida...
Mas, naquele momento, ele era seu mundo
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inteiro.
E o que ele queria, ao que parecia, era que ela
se sentasse sobre seus quadris esguios.
Nicholas parecia um príncipe medieval
depravado, com o cabelo escuro desgrenhado
contra o travesseiro branco e suas feições clássicas
e marcantes. Havia apenas um leve rubor sobre sua
pele, e seu peito musculoso se erguia com um ritmo
ligeiramente acelerado.
— Pegue-o em sua mão e o guie.
Sua confusão deve ter sido aparente.
— Para dentro de você — ele esclareceu. Uma
pequena contração de sua boca traía a diversão dele
sobre sua ignorância. Mas seu sorriso era terno e
perversamente convincente. — O homem nem
sempre tem que ficar por cima.
A ideia de que pudesse haver mais de uma
posição era um pouco surpreendente. Até aquele
momento, fora completamente diferente, de todas
as maneiras possíveis — e ela agradecia
sinceramente a Deus por isso —, mas a mecânica
da questão fora exatamente como se lembrava com
Edward. Ela deitada de costas, pernas abertas,
Nicholas por cima.
— Algumas mulheres gostam muito. Vamos
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ver se você será uma delas. — Sua voz continha um


tom de rouquidão que ela já conseguia associar à
necessidade sexual.
Algumas mulheres. Claro − ela pensou com um
ressentimento involuntário e irracional − que ele
sabia muito bem disso. O duque diabólico
provavelmente poderia desenhar gráficos e escrever
dissertações sobre as preferências sexuais da
maioria das mulheres da alta sociedade, incluindo
suas posições preferidas.
Seu pênis ereto ergueu-se com força contra o
abdome plano, a ponta brilhando com evidências
líquidas de seu desejo. Caroline se balançou um
pouco para frente, enquanto as mãos dele ainda a
guiavam, e colocou os dedos ao redor da carne
inchada, conforme se levantava e posicionava o
membro em sua entrada feminina.
Ele fez um pequeno som inarticulado,
apertando os quadris de Caroline suavemente
conforme ela mergulhava, deixando que o membro
deslizasse lentamente até que a ponta repousasse
contra seu útero. Ela se viu mais uma vez na
habitual e frustrante posição de não saber
exatamente como proceder, mas Nicholas a ajudou,
com pequenas frases sussurradas e palavras de
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encorajamento para que começasse a se mover. Sob


as palmas de suas mãos, o peito másculo estava
quente e rijo, conforme ela subia e descia,
finalmente estabelecendo um ritmo, substituindo a
falta de jeito por prazer.
Ela só precisava inclinar um pouco o corpo para
que a sensação fosse divina ao ponto de fazê-la
estremecer em resposta. O atrito era deliciosamente
escorregadio e quente, e eles se observavam
enquanto seus corpos alcançavam o ápice ao
mesmo tempo. Para cima, para baixo, para cima de
novo... Santo Deus, ela não aguentou,
especialmente quando ele encaixou a mão entre
eles e fez algo muito perverso com o polegar no
lugar certo.
— Eu acho que agora seria um bom momento,
minha querida — as palavras foram ditas em um
silvo por entre seus dentes cerrados. Os quadris
dele se arquearam ao mesmo tempo em que ela
descia ainda mais.
O mundo de Caroline desmoronou. O mesmo
aconteceu com seu corpo trêmulo quando ela soltou
um pequeno grito e apertou os ombros dele,
pressionando o rosto contra seu pescoço largo
enquanto ondas de prazer explodiam até que ela foi
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deixada mole e relaxada, em destroços, após o


orgasmo.
Nicholas, segurando-a com força, gemeu e
ficou imóvel, empalando-a incrivelmente fundo, e
ela pôde sentir a onda de sua ejaculação, mesmo
ainda tão inebriada.
Ofegantes, lânguidos e em silêncio, eles se
aninharam em um momento preguiçoso pós-coito.
Finalmente, ele deu uma risada baixa.
— Acho que você gostou de ser um pouco mais
aventureira. Há mais para aprender, você sabe, e
ainda temos três dias.
Uma parte rebelde de seu cérebro traduzia isso.
Apenas três dias?
— Sinto-me confiante de que você sabe tudo o
que há para saber, Rothay. — Ela conseguiu erguer
a cabeça e esperou que sua expressão parecesse tão
suave quanto ela pretendia demonstrar. Queria soar
desapegada, indiferente, mais parecida com as
mulheres a quem ele estava acostumado, porque se
pudesse efetivamente personificar uma daquelas
sofisticadas beldades da sociedade, então talvez
pudesse assumir sua atitude blasé sobre relações
sexuais superficiais. Uma parte perversa de
Caroline era intensamente curiosa e a obrigou a
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fazer a pergunta que estava no fundo de sua mente


desde o momento em que o conhecera.
— Diga-me, depois de tantas mulheres, nunca
houve alguém especial?
Provavelmente era uma pergunta imprudente e,
apesar de sua relação íntima, não era algo da sua
conta, mas ela queria saber.
— Todas elas — o charme irreverente e
provocante em sua voz era familiar, mas um
músculo se contraiu em sua mandíbula.
Lá estava de novo, um flash de algo em seu
rosto; algo que ela não entendia muito bem.
Caroline lançou a ele um olhar tão cético
quanto era capaz em seu estado de felicidade
lânguida, seu corpo ainda cantarolando e o sexo de
Nicholas ainda dentro dela.
— Este não é o meu assunto favorito — ele
admitiu em tom morno um momento depois, suas
belas feições expressando o que ela interpretou
como uma sugestão de arrependimento. Era difícil
interpretar a expressão de seus olhos escuros.
Uma vez que ele já havia confessado que não
estava interessado em casamento, algo que ela
compreendia, Caroline precisava tentar ignorar o
lampejo irracional de tristeza por se sentir
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aparentemente incluída naqueles incontáveis ​


números de amantes do passado. Isso não deveria
importar, lembrou a si mesma com uma lógica
implacável, porque ela entendia o jogo ao qual se
juntara, e ele certamente cumprira sua parte no
trato.
Ele era gentil, ardente, habilidoso e generoso.
Aquela era a semana mais adorável de sua vida,
mas ele a esqueceria, e uma forte sensação de
tristeza a preencheu por conta de tal verdade
indiscutível. Ele não era um amante constante, e
certamente nunca prometera ser, então, ela não
tinha nenhum direito a expectativas de qualquer
tipo.
Havia uma pequena gota de suor na têmpora de
Nicholas, e Caroline limpou-a com a ponta do
dedo, num gesto brincalhão, determinada a
saborear cada segundo e afastar quaisquer
pensamentos que pudessem interferir.
— Você percebe, Sua Graça, que vai ser
duramente pressionado para superar o seu gesto
romântico da noite passada.
Mesmo que ela saísse daquele arranjo sem
nada, guardaria eternamente as memórias de
terraços iluminados pela lua e braços fortes ao seu
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redor enquanto se moviam em uma dança


silenciosa e bonita.
Uma sobrancelha de ébano se ergueu, e um
sorriso se formou, lento e infinitamente diabólico;
um verdadeiro tributo ao seu apelido.
— Isso é um desafio, Lady Wynn?
— Eu suponho que poderia ser interpretado
dessa maneira.
— Humm. — Os dedos dele traçaram sua
espinha, as curvas de uma nádega nua, que sua mão
apertou suavemente. — Vou ter que ser inventivo,
não vou?
— Para ser melhor que Lorde Manderville?
Você o conhece melhor do que eu, mas imagino
que, como ele faz parte da aposta, dará um braço
para superá-lo.
Lá estava novamente, para sua surpresa, certo
lampejo sombrio de uma expressão no rosto de
Nicholas que ela só pôde descrever como irritação.
Quando pensava sobre isso, percebia que só
mencionara o conde uma ou duas vezes e não nos
últimos dias. A aposta em si não era um tema de
conversa. Ele murmurou:
— Não é o braço dele que me preocupa.
Isso provocou uma gargalhada que ela não
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conseguiu reprimir, mas tinha a sensação de que


seu riso soava um pouco trêmulo.
— Não que eu queira alimentar sua arrogância,
mas duvido que precise se preocupar, de qualquer
forma.
— Eu te impressionei? — Seu dedo ergueu o
queixo dela suavemente, enquanto sua boca se
curvava de uma forma instigante e familiar.
Caroline tinha a sensação de que aquele sorriso iria
assombrar seus sonhos.
Teria sido melhor se ela fosse uma boa
mentirosa. Em vez disso, disse simplesmente:
— Sim.
Ele colocou-se sobre ela e a impressionou
novamente.

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O desespero era uma força poderosa quando se


tratava de métodos criativos, Derek decidiu
conforme içava seu corpo no parapeito e
recuperava o fôlego. O que ele estava fazendo era
indigno e imprudente, mas tinha esperança de que
demonstraria tanto sua determinação quanto a
profundidade de seus sentimentos.
Tudo o que ele queria era ter uma breve
conversa civilizada.
Bem, isso não era tudo o que queria, mas se
contentaria com a chance de se declarar.
A janela estava entreaberta por causa da noite
quente, e ele contara com isso. Empoleirou-se pela
fresta e ouviu o murmúrio de vozes lá dentro,
esperando a empregada de Annabel sair. Quando o
som suave da porta se fechou, preparou-se,
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esperando que o objeto de sua visita não gritasse


até acordar a casa inteira.
Para sua sorte, suas costas estavam viradas
enquanto ele afastava as cortinas e entrava no
quarto. Sentada à sua penteadeira, ela não notou
sua entrada precipitada até que o viu através do
espelho e seus olhos se arregalaram.
Rapidamente, ele disse:
— Não. Se você gritar, todos nesta casa saberão
que estou no seu quarto.
Sua boca, que estava aberta, se fechou. Annabel
se virou na cadeira com tanta violência que quase
caiu no chão. Ela recuperou seu equilíbrio e nivelou
um olhar indignado para ele. Suas bochechas
coraram em um tom rosado.
— Saia daqui.
Como Derek não esperava uma recepção
calorosa, não se incomodou.
— Não. Não até conversarmos por alguns
momentos.
— Você está louco? Acabou de se esgueirar
pela minha janela. Se quiser falar comigo, faça-o de
maneira convencional. — Ela acrescentou
rigidamente: — Meu senhor.
Ele quase riu da tentativa de tratamento formal.
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Desde que Annabel era uma criança, ela sempre o


chamara pelo primeiro nome, mas, em seu atual
estado de tristeza, Derek não conseguia achar nada
engraçado, então, simplesmente lançou a ela o que
esperava ser um olhar neutro.
— Eu tentei. Caso você não tenha notado, bebi
mais xícaras de chá insípido esta semana do que em
todo o ano passado. Fui a festas das quais nunca
consideraria participar quando estava perfeitamente
são e me convidei para jantar aqui em várias noites.
Com você, minha querida, é impossível ficar
sozinho por um minuto. Esta é minha solução. A
menos que queira um escândalo, é melhor não
anunciar minha presença.
Ela o olhou como se ele realmente fosse louco,
e Derek não poderia culpá-la. Maldição! Aquela era
a casa de seu tio, e ele podia entrar pela porta da
frente a qualquer hora, sendo muito bem-vindo. No
entanto, até mesmo Thomas, que era tão maleável,
não permitiria sua entrada no quarto de Annabel.
Ele expôs, então, com evidente cinismo e
amargura:
— Você esqueceu minha carta? Por favor, não
me diga que não a recebeu, Annie.
— Eu não li. Joguei fora.
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A confirmação das suspeitas só prejudicou sua


confiança. A voz de Derek adquiriu um toque
vazio.
— Entendo. Estou feliz por ter me dado ao
trabalho de escrevê-la.
— Por que escreveu? Por que está fazendo
isso? — Como se de repente ela notasse que não
usava nada mais do que uma camisola, ergueu a
mão até o corpete e a prendeu ali. — Alfred não
iria apreciar sua presença em meus aposentos.
— Eu não pedi a permissão dele, pedi?
Que Lorde Hyatt se danasse. Derek a amava.
— Peço-lhe mais uma vez que saia.
Com mil diabos, ela parecia deliciosa vestindo
nada além de algodão e renda branca, seus cabelos
dourados soltos em volta dos ombros, o rosto
desviado, permitindo que ele estudasse a perfeição
de seu perfil. Cílios longos desenhavam sombras
sobre suas bochechas.
— Não até eu dizer algumas coisas. — Derek
não se moveu de onde estava, perto da janela, mas
apoiou um ombro contra o parapeito. Se ele se
aproximasse, não tinha certeza se poderia prometer
uma conduta cavalheiresca. — Posso falar?
— Posso impedi-lo? — sua voz estava cheia de
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ressentimento. — Você já entrou e me ameaçou.


Não tenho escolha.
— Eu escalei a parede da casa do meu tio e
arrisquei quebrar meu pescoço. — Ele cruzou os
braços sobre o peito. — Não acha que o assunto é
de suma importância?
Annabel ergueu o queixo, ainda segurando a
camisola no pescoço, como se esta fosse um escudo
e pudesse protegê-la de Derek.
— Eu não posso imaginar o que temos a dizer
um ao outro. Estou noiva e você... é você.
Doeu, especialmente quando ela pronunciou a
constatação em um tom tão contundente.
Você é você.
Em uma voz letal, ele rebateu:
— Sim, eu sou eu. Um homem. Aquele que tem
as falhas normais de todos os outros homens.
— Normal? Nem todos os homens fornicam
indiscriminadamente com todas as mulheres nas
quais possam esbarrar. — Ela se levantou,
caminhando até o canto oposto do quarto, onde se
virou para encará-lo. Seus olhos, tão lindos e azuis,
estavam cheios de acusação e indignação. — Seja
lá o que veio procurar aqui, não vai encontrar. Perdi
toda a fé em você há um ano e percebo, para
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começar, que a fé era indevida. Agora sei o quão


ingênua e tola eu fui de me apaixonar por você,
mas não sou a mesma menina inocente que era.
Não é inocente?
Derek sentiu o peito se apertar, rejeitando
aquela ideia. Involuntariamente deu um passo à
frente.
— Ele comprometeu você?
Ela corou em um tom carmesim diante da
acusação em sua voz.
— Claro que não. Se está se referindo a Alfred,
ele nunca faria isso. Nem todo mundo é como você.
Havia aquela palavra novamente, lançada
contra ele como uma flecha farpada. Sentiu-se
aliviado, de qualquer maneira. Não, Hyatt não
tocara nela, o que explicava o ressentimento do
homem e sua interpelação no encontro nada
amigável na taberna. Derek não tinha perspectiva
quando se tratava dela, não tinha distanciamento.
O desprezo de Annabel o fez se encolher por
dentro, embora ele esperasse não demonstrar.
Respondeu por entre dentes:
— Não sou santo. Jamais reivindiquei ser um.
Mas também não sou irresponsável. É por isso que
estou aqui agora. Nunca tive a oportunidade de me
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desculpar pelo que aconteceu, exceto no papel, e


aparentemente não é o suficiente para você.
— O que aconteceu? — Ela ergueu as
sobrancelhas loiras.
— Na biblioteca — ele esclareceu de forma
brusca.
— Oh — a resposta de apenas uma palavra
soou fria como uma pedra no inverno.
Uma brisa suave agitava as cortinas atrás das
costas de Derek. Ele disse, com entonação de
sussurro:
— Eu a beijei. Você se lembra?
Ele sabia que ela lembrava. Ela sabia que ele
sabia disso. Os olhos de Annabel brilharam.
— De fato, eu me lembro daquele dia. De todo
ele.
— Eu te magoei — foi uma observação suave.
— Não se iluda, meu senhor.
Ela estaria mentindo se negasse. Da mesma
forma como percebera a felicidade em seus olhos
arregalados após o beijo, lembrava-se
perfeitamente da expressão horrorizada no rosto
pálido de Annabel quando esta saiu da estufa onde
o encontrara com Isabella. Realmente não
importava, ele supôs, que não tivesse feito nada
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naquele momento além de pedir desculpas à moça e


ir embora. O dano já havia sido causado. Não fora
uma noite auspiciosa. Isabella reclamara bastante,
demonstrando uma decepção fervorosa em sua
retirada depois que Annabel saíra correndo da sala
chorando. Se fosse possível se sentir mais como um
inútil, ele não sabia como. Levara uma garrafa de
conhaque para a cama naquela noite, mas não a
Lady Bellvue.
Lutando por uma calma que realmente não
sentia, ele disse:
— É isso que precisamos discutir, Annie. Tanto
o beijo como o que aconteceu depois, pois eles
estão diretamente relacionados entre si.
— Não posso ver como um simples beijo pode
estar relacionado ao seu comportamento sórdido e
repugnante.
O cabelo de Annabel brilhou sob a iluminação
de uma única lâmpada, os fios louros emoldurando
suas feições frágeis. Olhos azuis escuros olhavam
para ele com acusação evidente.
— Eu sei que te desiludi, mas não foi
intencional. Além disso, aquele beijo foi tudo,
menos simples, e nós dois sabemos disso.
Os lábios de Annabel tremeram levemente.
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— Apenas um em mil para você, tenho certeza.


Por favor, não tente me dizer que foi significativo
de alguma forma. Eu te vi com outra mulher logo
depois, Derek. E certamente você não viveu em
celibato desde então. Maridos irados por toda parte
poderiam corroborar com esta afirmação; Lorde
Tanner por exemplo. Quando essa história veio à
tona, admito que não fiquei surpresa.
— Eu nunca quis ser canonizado. Tudo o que
posso dizer é que o caso Tanner não me envolvia.
Não tive nada a ver com isso. Não sei o que mais
você ouviu, mas, acredite em mim, o que mais fiz
no ano passado foi pensar em você.
— Tudo por causa de um beijo? Perdoe meu
ceticismo, mas saiba que é difícil de acreditar.
Esperando que ela pudesse ouvir a sinceridade
em sua voz, ele disse a verdade.
— Esse beijo mudou a minha vida.

C OMO ELE PODERIA FAZER AQUILO COM ELA ? A


semana anterior fora uma tortura, porque Derek de
repente parecia estar em toda parte, impossível de
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ignorar, e agora aquilo? Ele estava certo. Annabel


deliberadamente o evitava o máximo possível,
porque a última coisa que queria era ser lembrada
de sua malfadada paixão pelo infame e notório
Conde de Manderville.
Mas certamente não havia mais como evitá-lo.
Não quando ele estava ali, em seu maldito quarto,
com toda a beleza masculina de seu rosto
parecendo sombria e esculpida sob a luz fraca, seu
cabelo loiro espesso roçando a gola de uma fina
camisa de linho que enfatizava a impressionante
largura de seus ombros. Calções pretos e botas
chamavam atenção para o longo comprimento de
suas pernas, mas ele não usara casaco nem gravata
para sua escalada arriscada.
O fato de ele ter feito isso era desconcertante, e
sua última declaração a deixou sem palavras. Derek
repetiu, no mesmo tom rouco:
— Aquele beijo que nunca deveria ter
acontecido mudou minha vida, Annie. Por minha
honra, juro que é verdade.
Ele tinha usado a palavra honra?
A memória era ainda muito dolorosa, como
uma ferida aberta que se recusava a sarar
adequadamente, então, ela disse, com amarga
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convicção:
— Tenho certeza de que você poderia dizer
qualquer tipo de inverdade usando sua honra como
prova de sua convicção, uma vez que ela não
existe.
Ele contraiu os lábios, e ela soube que tinha ido
longe demais.
— Confesso que não estou surpreso que você
tenha uma opinião baixa sobre mim, porque deixou
isso claro o suficiente. Mas nós também nos
conhecemos há muito tempo, então você não pode
me conceder a gentileza de me ouvir? — Seus
olhos, tão vividamente azuis, exibiam um olhar de
súplica que não lhe era característico. — Com
certeza está curiosa para saber o que pode haver de
tão importante a ser dito que me fez até arriscar
meu pescoço para podermos conversar.
Ela estava, mas admiti-lo seria sinal de
fraqueza. A capacidade dele de seduzir não deveria
ser posta em questão.
Além disso, ela mentira abertamente sobre a
carta.
Só não estava certa de que seria capaz de
resistir. Talvez não chegasse nem perto do grau de
sofisticação e experiência dele, mas pelo menos era
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inteligente o bastante para admitir e sabia que seria


imprudente baixar a guarda até mesmo por um
momento. Derek Drake era perigoso para seu grau
atual de insatisfação em relação ao seu casamento.
— Não — ela mentiu. — Eu não estou nem um
pouco curiosa.
Um músculo da mandíbula de Derek se
contraiu.
— Minha família e eu provemos para você
durante todos esses anos, e isso deve valer para
alguma coisa.
— Isso não é justo. — Ela se empertigou,
olhando para ele. — É minha culpa ter ficado órfã?
— Não, claro que não. — Sua expressão
implacável não mudou. — Mas acho que estou
sendo bastante razoável. Você pelo menos me deve
a chance de me defender. Podemos conversar?
Ele era o conde, seu título o tornava
responsável em termos financeiros pela propriedade
que ela considerava sua casa, e, sim, sua família era
mais do que generosa com ela, Annabel sabia disso.
Ela realmente lhe devia alguma coisa, nem que
fosse em respeito a Thomas e Margaret.
De forma pouco graciosa, ela inclinou a cabeça.
— Tudo bem.
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Uma expressão que era quase um fantasma do


lindo sorriso habitual de Derek pairou em sua boca.
— Primeiro eu fui reduzido a implorar e agora
venço por meio de chantagem.
— Apenas diga o que você acha que é tão
incrivelmente importante e saia. Se alguém te
encontrasse no meu quarto a qualquer hora, mesmo
completamente vestido, eu estaria arruinada.
Infelizmente, esta era a mais pura verdade. Por
mais complacente que Alfred fosse, ela duvidava
que até mesmo ele entendesse.
Embora tivesse recebido permissão, Derek
pareceu hesitar. Depois de um momento, disse
simplesmente:
— Nada do que aconteceu naquele dia foi
previsto. Eu não pretendia beijar você e, mais tarde,
não pretendia sequer tocar em Isabella Bellvue, e
não fui mais longe do que isso. Se você bem se
lembra, eu a evitei por dias.
Ela se lembrava da insistência da condessa,
porque assistira, de forma enciumada, como Lady
Bellvue perseguira Derek descaradamente, com um
propósito tão óbvio que mesmo uma ingênua garota
de dezessete anos conseguira compreender.
— Você certamente não a estava evitando
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naquela noite na estufa — disse ela acidamente.


— Isso foi porque te beijei mais cedo.
— Eu nunca ouvi nada tão absurdo na minha
vida.
— Não? Bem, escute. — Sua voz continha uma
espécie de diversão sombria. — Se você quer ouvir
algo absurdo, posso elucidar. Naquela tarde,
quando a segurei em meus braços, percebi que só
tinha uma escolha quando se tratava de você, e era
recuar ou prosseguir com intenções honradas. Não
vou negar que a segunda ideia me abalou
completamente. Quando Isabella se aproximou de
mim mais tarde, eu ainda estava tentando negar que
precisava tomar uma decisão. A noção de que
minha vida mudaria tão drasticamente não era fácil
de reconhecer. Não sou o primeiro homem a fugir
da ideia de amor, muito menos de casamento.
Ele — Derek Drake, famoso por jamais se
apaixonar — tinha realmente usado as palavras
amor e casamento na mesma frase?
Além disso, ela se lembrava bem da expressão
em seu rosto antes que ele deixasse a biblioteca tão
abruptamente. Havia a possibilidade de Derek estar
dizendo a verdade.
Ele continuou.
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— Suponho que pensei que um interlúdio com


uma mulher disposta poderia curar minha loucura
momentânea.
A percepção de que seu coração tinha
começado a bater mais rápido era irritante.
— E curou? — Annabel perguntou num tom
tão frio quanto possível, mas as palmas das mãos
estavam úmidas. Havia uma expressão no rosto de
Derek que ela nunca vira antes e embora ele ainda
parecesse imponente e muito masculino, existia
uma sugestão de vulnerabilidade para um homem
que ela sempre vira como invencível.
Era a última coisa de que precisava.
Ele confessou baixinho:
— Não. Como acabei de dizer, não aconteceu
nada além do que você viu. Quando saiu da sala, eu
também o fiz. Isabella ficou furiosa, acredite em
mim.
Annabel retrucou:
— Perdoe-me por não ter muita simpatia por
ela. Ainda assim, o que aconteceu já pareceu mais
do que suficiente para mim. Ela estava meio
despida e você estava... — Annabel parou,
envergonhada. Sem dúvida, Derek havia tocado
seios de tantas mulheres que o evento não tivera
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sequer significado.
Para sua decepção, ele entendeu exatamente o
significado da hesitação em seu discurso.
— Isso é porque você ainda é muito inocente, o
que faz parte do nosso problema. Confie em mim,
há muito mais.
— Confiar em você? Por favor. Além disso,
não temos um problema mútuo. Não há nada que
compartilhemos — ela cuspiu cada palavra
deliberadamente.
— Vamos lá, Annie, isso não é verdade. — A
expressão em seu rosto era dura, quase acusadora.
— Você me evita. Deus sabe que tentei ficar longe
de você. Não está funcionando. Para nenhum de
nós. Outras pessoas notaram. Seu noivo notou, pelo
amor de Deus.
— Deixe Alfred fora desta… desta discussão
ridícula. Não sei por que estamos debatendo, em
primeiro lugar. — Suas mãos se fecharam em
punhos, e seu estômago parecia estranho, como se
tivesse engolido algo indigesto. — Como você
poderia saber o que ele acha?
— Os homens têm uma maneira mais direta de
se comunicar do que as mulheres. — Seu sorriso
era fraco e irônico. — Normalmente, se há algo em
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nossas mentes, simplesmente perguntamos e


resolvemos o assunto. Se a resposta não é do nosso
agrado, às vezes usamos nossos punhos ou pistolas
ao amanhecer. Bárbaro, eu sei, mas a nossa
tendência é sermos mais diretos em nossos assuntos
e com o mundo ao nosso redor.
Annabel olhou para ele.
— Ele perguntou a você sobre mim? Sobre…
— Nós? — ele completou. — Receio que sim.
Sim, ela estava definitivamente enjoada.
— O que você disse para ele?
Derek ergueu uma sobrancelha em um arco
irritante.
— Nada. Eu sou um cavalheiro, apesar de você
não concordar com isso.
— Você realmente espera que eu acredite
nisso?
— O que mais posso oferecer senão a verdade?
É por isso que estou aqui.
Derek continuou parado, ainda incrivelmente
belo, mesmo sem seu charme notável em evidência.
Em vez disso, a expressão em seu rosto estava
exposta, aberta, nada como seu habitual fascínio
carismático e misterioso.
Os joelhos de Annabel começaram a tremer.
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Ela fez o seu melhor para parecer composta, mas,


na realidade, sua mente estava girando.
— Deixe-me ver se eu entendi o que veio de tão
longe para me dizer. Depois que me beijou naquela
tarde, você se preocupou que, se fôssemos mais
longe, isto o colocaria em perigo de ter que fazer o
impensável e se casar comigo, então, ao invés
disso, insensivelmente usou outra mulher para
aplacar a sua luxúria. Estou correta?
Derek suspirou e passou os dedos pelos cabelos
espessos. Ela não fazia ideia de como ele conseguia
se tornar ainda mais atraente quando despenteado,
mas, de alguma forma, era exatamente isso que
acontecia.
— Dito assim, certamente parece ruim o
suficiente. Você não vai facilitar para mim, vai? E
como eu disse, não aplaquei nada.
— Existe alguma razão pela qual eu facilitaria
as coisas para você?
— Eu me comportei de maneira abominável,
então, suponho que não.
Totalmente consciente de que estava
parcamente vestida, ela cruzou os braços sobre o
peito.
— Finalmente, eis um ponto no qual
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concordamos.
— Annie, eu te amo.
O que ele tinha acabado de dizer?
Ela perdeu o ar.
Maldito, ele não deveria ser capaz de provocar
aquele tipo de reação nela.
Mas era. Deus a ajudasse, ele era capaz.
— Eu te amo — ele repetiu suavemente. — É
tudo em que penso e, francamente, está me
enlouquecendo. Levei um ano e seu maldito
compromisso para perceber as profundezas do
sentimento, mas juro para você que é verdade.
Cambaleante, ela se aproximou da penteadeira e
sentou-se. Respirando profundamente, perguntou:
— Foi por isso que fez uma aposta na frente de
toda a alta sociedade para descobrir quem é o
amante mais talentoso da Inglaterra? Esse tipo de
ostentação não vem de um homem que seria fiel a
uma única mulher.
— Pelo contrário, é exatamente o tipo de
comportamento idiota produzido pela emoção
infame que acabei de declarar para você, minha
querida. — Seu sorriso foi pesaroso. — Este caso
em específico foi inspirado pelo anúncio do seu
compromisso no jornal. Por muito tempo tentei
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lidar não apenas com os meus sentimentos, mas


com a ideia de que a tinha afastado por completo, e
lá estava, no papel impresso, a prova de que nunca
teria a chance de resolver qualquer um dos
problemas. Junte a isso algumas boas doses de
vinho, e um homem pode simplesmente fazer algo
muito estúpido.
Ele não podia estar falando sério.
Por favor, eu não posso acreditar que ele está
falando sério.
— Foi estúpido — ela murmurou.
Ele deu um passo à frente.
— Assim como escalar uma parede no escuro e
subir por uma janela encarnando um personagem
de um conto romântico.
Mesmo rejeitando a ideia de que ele pudesse
tocá-la, uma parte traidora de Annabel desejava que
fizesse isso.
Mais três passos... talvez quatro, e ele poderia
tomá-la em seus braços novamente e...
Ela empertigou-se. Lembrou-se daquela terrível
traição um ano antes e do consequente sofrimento.
— Não chegue mais perto. Por favor, apenas...
saia.
Ele ficou imóvel, com os braços presos às
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laterais do corpo. Os ângulos de seu rosto pareciam


esculpidos sob a luz incerta.
— Annie...
Ignorar a súplica rouca em sua voz foi a coisa
mais difícil que ela fez em sua vida.
— Por favor.
Se ele a tocasse uma vez, apenas uma vez, ela
poderia desmoronar.
Para seu horror absoluto, uma lágrima correu
por sua face em um deslize lento e quente,
pingando em suas mãos que estavam fechadas com
tanta força em seu colo que as juntas doíam.
E pensar que prometera nunca derramar outra
lágrima por Derek. Como ele se atrevia a mentir
para ela depois de uma miríade de ofensas?
Por um momento ele apenas ficou ali, parado, e
então, para sua surpresa, assentiu e fez o que ela
pediu sem dizer mais uma palavra, saindo pela
janela e desaparecendo de vista.
Deixando-a sozinha.

SE ELE TIVESSE CAÍDO E QUEBRADO O PESCOÇO ,

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estaria, pelo menos, livre de seu desespero, Derek


decidiu enquanto andava os dois quarteirões até sua
própria casa, mas não acontecera. Além disso, seu
brilhante plano havia falhado por causa de uma
única lágrima.
Ele não suportava fazê-la chorar.
De suas falhas − tantas que mal conseguia
contar —, crueldade não era uma delas. A
expressão no rosto de Annabel lhe dissera tudo o
que precisava saber sobre o que já tinha feito e se
tivesse seguido em frente e tentado seduzi-la, teria
odiado a si mesmo.
Pior, ela podia odiá-lo também.
A única parte alegre da coisa toda, ele pensou
enquanto entrava e ia em direção ao seu escritório,
era que poderia tê-la seduzido. Podia ler em seus
olhos enquanto ela o olhava, na reação de pânico
depois do único passo que dera em sua direção, na
tensão de seu corpo tão desejável.
Então o jogo não estava perdido, ele só
precisava repensar sua estratégia.
Servindo-se de um copo de conhaque, sentou-se
atrás de sua escrivaninha e meditou diante da
lareira vazia.
Para começar, admitiria a derrota naquela
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aposta ridícula. Não iria passar uma semana com a


deliciosa Lady Wynn. Poderia aceitar isso. E se
houvesse a menor chance de Annabel mudar de
ideia e ele arruinasse todas as suas chances,
reforçando ainda mais sua reputação já não tão
pura? Esperava que Nicholas estivesse se
divertindo, mas Derek duvidava seriamente que
pudesse agir com igual entusiasmo. Não com toda a
sua felicidade futura pesando na balança.
A única mulher que ele queria era Annabel.
Com ou sem ela, tinha a sensação de que seus dias
de libertino tinham acabado.

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B ilhete pela segunda vez e depois colocou-o de


lado, pesando suas opções. Realmente havia
apenas uma.
— Más notícias? — Caroline o olhou do outro
lado da mesa, preocupada e franzindo a testa.
Ele estava ansioso por outro passeio ao longo
do rio e, talvez, persuadi-la a nadar no final da
tarde. Ela confessara que sempre quisera aprender.
Pensar em Caroline nua dentro d'água oferecia
algumas possibilidades tentadoras.
— Receio que precise retornar a Londres.
— Oh, entendo. — Por um momento, ela olhou
para longe, como se fascinada por algo fora da
janela, mas então virou-se, com uma expressão
resignada em seu rosto. — Espero que não seja
nenhum problema.
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Embora normalmente não se explicasse,


especialmente para as amantes casuais, ele se viu
reagindo à súbita distância nos olhos de Caroline.
— O primeiro-ministro quer se encontrar
comigo. Eu dirijo um comitê e aparentemente há
um problema que ele gostaria de abordar com os
outros membros antes de nos reunirmos na próxima
semana.
O sorriso dela adquiriu uma nota de melancolia.
— Imaginei que uma semana longe seria algo
bastante ambicioso de se conceder a outra pessoa,
sendo você um homem com tantas
responsabilidades. Começava a me perguntar como
iria administrar isto.
Ela realmente sentia que fora ele a lhe dar
alguma coisa? Nicholas a olhou, percebendo como
o quanto era confortável sentar-se e desfrutar de
algo tão mundano quanto um simples almoço
apenas porque gostava de sua companhia.
Deixando de lado a extravagância de sua beleza, ela
era incomum e não jogava os jogos femininos.
Tanto quanto ele poderia dizer depois de passar
cinco dias agradáveis em sua companhia, Caroline
Wynn era completamente despretensiosa. Sua
fortuna e título não a impressionavam demais, e,
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talvez, pela primeira vez, sentia que uma mulher


realmente não queria nada além do que já
compartilhavam.
— Volte comigo — ele sugeriu, estendendo a
mão para pegar a dela. — Este assunto é urgente,
mas deve demorar pouco mais do que algumas
horas. Você ainda me deve dois dias.
— E como é que vamos conseguir fazer isso
com alguma medida de discrição, Nicholas? —
Dedos finos repousavam frios contra a palma de
sua mão. — Não que eu não goste da ideia, mas
parece imprudente.
Lá estava outra vez aquela honestidade
refrescante que ele achava tão encantadora.
— Podemos dar um jeito. Nada é impossível.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Falou com a certeza de um duque. Lamento
discordar, mas algumas coisas são impossíveis. O
que você vai fazer, me contrabandear para seu
quarto dentro de seu bolso?
Ela estava certa, claro, criados costumavam
fofocar. Sua casa estava fora de questão.
— Nós poderíamos nos encontrar em algum
lugar.
— Não em Londres, não com discrição. Você
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tem muito pouco a perder se formos ligados de


maneira escandalosa. Eu tenho muito. Então, receio
que terei que recusar.
A luz do sol que entrava pela janela comprida
iluminava seu brilhante cabelo ruivo como se
aquecido pelo fogo. Ela usava um vestido de dia
amarelo pálido de musselina que a fazia parecer
muito jovem, como uma estudante inocente. Mas
Nicholas poderia atestar, depois dos recentes e
satisfatórios dias de edificação sexual, que havia
uma mulher apaixonada sob aquele exterior
recatado. Os homens iriam sentir isso, pois o que
antes era uma atitude indiferente agora fora
substituído por uma confiança feminina. Eles já se
aglomeravam em torno dela quando a
consideravam fria e distante. Agora eles a sitiariam.
Era irritante que qualquer homem pudesse se
aproximar dela, mas a própria natureza dos últimos
dias que passaram juntos e a infame aposta o
obrigariam a manter distância em público.
Inferno.
Um dilema, com certeza. Especialmente
levando-se em consideração que ela passaria a
mesma quantidade de tempo com Derek.
Maldição, aquela realidade começava a deixá-
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lo totalmente infeliz.
Talvez essa separação fosse benéfica. Ele
estava desapontado, mas ter seu interlúdio
interrompido poderia pelo menos abafar as
pontadas irracionais do que acabaria sendo
interpretado como ciúme. Quem era ele para pedir-
lhe que não seguisse com a segunda metade da
aposta? Não tinha nenhum direito sobre ela, e
Caroline simplesmente recusaria educadamente
qualquer outro tipo de envolvimento.
Não havia como negar a linha tênue sobre a
qual uma mulher precisava andar em uma
sociedade julgadora, não importando que lado ela
escolhesse, virtude ou não. Se preferisse manter a
fachada fria, que assim fosse. Ele certamente era
capaz, e mais experiente do que ela, de se
desprender dos envolvimentos sexuais.
Nicholas soltou a mão de Caroline e tirou o
relógio do bolso.
— Assim que meu motorista puder preparar a
carruagem, eu partirei. Por favor, sinta-se à vontade
para ficar mais alguns dias como minha convidada,
se desejar.
Ela assentiu com a cabeça, com uma expressão
ilegível naqueles olhos cinzentos de cílios longos.
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— Foram dias adoráveis. Acho que deveria me


sentir promíscua...
— Na verdade, não deveria — ele a
interrompeu. — Você é uma mulher linda e
sensual. Não há nada de errado com isso. Apenas o
oposto.
— Nós vivemos vidas muito diferentes, não é?
Um eufemismo. Ele tinha a liberdade de seu
título e riqueza, e embora ela também fosse da alta
classe, não havia similaridade em suas
circunstâncias.
— De muitas maneiras — ele admitiu,
pensando em como imediatamente argumentara que
queria ser o primeiro a cumprir sua parte na aposta,
a rapidez com que organizara seus negócios para
que isso fosse possível, e sentiu outro daqueles
vislumbres estranhos de discernimento.
Ele ia se arrepender de deixá-la.
O fascínio inesperado que ela exercia sobre ele
estava longe de acabar.
Era inquietante, agravado pelo fato de Caroline
se recusar a tentar um relacionamento clandestino
quando voltassem a Londres. Ele entendia suas
razões, porém. Especialmente se ela voltasse a
considerar o casamento, sua reputação era
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importante.
De repente, ele se levantou e curvou-se numa
pequena saudação, sabendo que precisava se afastar
imediatamente.
— Por favor, com sua licença.

C AROLINE OBSERVAVA O ESPAÇO VERDE AO REDOR


da casa através da janela. Já havia feito as malas e,
assim que Huw trouxesse a carruagem, ela partiria.
Fora uma boa decisão ir embora, porque no minuto
seguinte em que Nicholas, com sua vibrante
presença, partira, a casa parecera insuportavelmente
vazia. Percebeu, com um mísero passeio no jardim,
que não suportaria ficar. Provavelmente era um
pouco imprudente voltar a Londres logo após o
retorno de Nicholas, porque poderia chamar a
atenção para sua ausência mútua, mas
simplesmente não conseguia aceitar seu convite
para permanecer como hóspede.
Era uma questão de melancolia, algo que já
tivera muito em sua vida, e de prudência, o que era
bem melhor.
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O duque de Rothay exercera um profundo


efeito em seu bom senso.
De onde ela estava, podia ver o terraço onde
haviam se sentado e tomado chá − bem, na
verdade, ele bebera seu conhaque habitual −, e
onde depois valsaram ao som de uma melodia
silenciosa. Talvez ela devesse ter concordado em
encontrá-lo novamente. Será que se tivesse feito
isso não estaria se sentindo tão... desolada?
Sua mão apertou o tecido fino da cortina. A
complicação de se apaixonar pelo duque
diabolicamente bonito e sensualmente talentoso não
era algo que tivesse previsto. Não era a primeira, e
dificilmente poderia supor que seria a última, mas
não havia como negar que ele seria difícil de
esquecer.
Nada a respeito dele fora como ela esperava,
exceto por suas habilidades sexuais lendárias. O
homem justificara sua reputação no quesito com
facilidade. O que ela não previra fora o olhar
pensativo em seu rosto enquanto eles discutiam sua
visita às mesquitas bizantinas, sobre as quais ela
apenas lera, a indulgência às suas perguntas
incessantes, sua atitude agradável em relação à
abordagem mundana e cautelosa à sociedade de
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Caroline...
Ele não era esnobe, e com sua linhagem e
fortuna, certamente poderia ser. Ela até o pegara
um dia nos estábulos, conversando com seu
cocheiro, Huw, e sentado sobre um fardo de feno, a
camisa parcialmente desabotoada, o cano sujo de
suas botas mostrando que ele ajudara a limpar a
baia de seu garanhão. Nobre e criado riram ao
mesmo tempo, e Caroline sentiu algo pelo homem
que nada tinha a ver com sua persuasiva perícia
sexual.
Se fosse honesta consigo mesma, e não era algo
fácil, ela sabia muito pouco sobre o amor. Seu pai
frio certamente não inspirava essa emoção, sua tia
não era nem cálida nem maternal, e Edward fora
um pesadelo. Talvez o problema fosse que, pela
primeira vez em sua vida, alguém a tratara com
cortesia, ternura e, acima de tudo, como se fosse
uma pessoa com pensamentos e sentimentos
próprios. Dentro e fora da cama eles discutiram
tudo, desde política até História, e se ela
discordasse de sua opinião, ele se interessava em
saber o porquê. O conceito de uma discussão
amigável era novo, e Nicholas, com sua confiança
formidável e inteligência apurada, não era de modo
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algum o malandro egocêntrico que imaginara. Isso


a confundia, e ela sabia que era lamentavelmente
suscetível, o que não ajudava em nada. O jogo, no
qual Nicholas era tão experiente, era novo para ela,
e, sendo uma principiante, Caroline fez o
impensável e se apaixonou.
Pelo menos suspeitava que este era o verdadeiro
problema. Apaixonara-se em poucos dias. Mesmo
quando sabia que ele estava deliberadamente se
esforçando para cativá-la.
Isso a fez se sentir tola, desajeitada e nada
sofisticada. Mesmo que ele quisesse se envolver em
um caso, isso provavelmente significava que ela
não passaria de um desvio incomum de sua rotina
regular de amantes experientes, e Caroline era
suficientemente pragmática para saber disso.
— Minha senhora, acho que tudo está pronto.
Caroline se virou, assustada, saindo de seu
devaneio.
— Ah, sim. Obrigada, senhora Sims.
A empregada assentiu. Como de costume, ela
estava bem vestida, com um avental impecável
sobre o vestido escuro simples, o cabelo grisalho
em um coque severo.
— Foi muito bom ter Sua Graça por aqui, devo
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dizer.
Foi fácil responder com total honestidade.
— Ele é um homem muito charmoso.
— É sim, concordo. Sempre tão educado e
simpático, apesar de sua posição.
— Sim.
— Espero que tenha gostado da sua estada,
minha senhora.
Como a Sra. Sims administrava a casa,
certamente sabia que ela e Nicholas dormiam
juntos a cada noite, pois apenas uma cama fora
usada. Caroline lutou contra um rubor, sem muito
sucesso.
— Foi adorável, obrigada.
— Eu sempre quis que Sua Graça
desenvolvesse um gosto por este lugar. É muito
agradável aqui, embora eu suponha que não seja
muito emocionante para um homem jovem.
Lembro-me dele quando menino, e sempre foi um
pouco precoce, capaz de conseguir doces extras
com o cozinheiro e enganar seu professor. Puxou à
mãe, sem dúvidas, mas acabou se tornando um bom
homem, não importa o que digam sobre ele.
Não tinha certeza se estava mais surpresa pela
mulher ter ousado falar sobre isso com ela ou por
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saber tanto, mas Caroline não pôde deixar de


perguntar:
— Você o conhece desde que era criança? —
Ela conseguia imaginar um menino de cabelos
escuros, exuberante e brincalhão, e seu coração se
apertou um pouco.
— Ah, sim. Fiquei na Rothay House por anos.
— A empregada alisou seu já perfeito avental com
um maneirismo inconsciente. — Quando quis algo
menos cansativo, ele me ofereceu esta posição.
Minhas articulações doem terrivelmente às vezes e
é calmo o suficiente aqui.
Isso era verdade. Tinha a beleza pacífica que
Caroline preferia, e mais de uma vez ela pensara
em vender a casa em Londres e comprar um lugar
lindo e isolado como aquele.
— Sua Graça pediu que eu lhe dissesse que se a
senhora quiser usar a Tenterden Manor a qualquer
momento, será sempre bem-vinda.
Mais do que um pouco surpresa, Caroline não
soube o que dizer.
A Sra. Sims acenou suavemente com a cabeça.
— Disse-me que a senhora sente falta do campo
e que pode vir para cá sempre que lhe convier.
Espero que considere isso, quando a cidade lhe
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incomodar.
O gesto atencioso fez brotar lágrimas em seus
olhos. Se já não estivesse com vontade de chorar
estupidamente pela partida de Nicholas, isso
aconteceria naquele momento. Fora apenas uma
observação casual, mas ele se lembrara.
Deixando virtuosismo na cama de lado, aquilo
era o que verdadeiramente a desarmava. Se era
parte da aposta ou não, ele agia como se os
sentimentos dela fossem importantes.
Se não se sentia condenada antes, certamente
estava agora.
Caroline piscou e limpou a garganta.
— Obrigada, senhora Sims. Isso é muito
generoso do duque. Outra visita parece uma ideia
maravilhosa.

E LE TEVE UMA JORNADA INQUIETA PARA CASA . A


reunião à qual precisou participar foi a primeira
tarefa da manhã e, realmente, a última coisa da qual
precisava era a notícia de que sua mãe o esperava
em visita. Nicholas a adorava, mas ela também não
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tinha escrúpulos em tentar interferir em sua vida.


Cansado da viagem e um pouco descontente, entrou
na sala de estar informal e exibiu um sorriso.
— Boa noite, mãe.
— Nicholas. — Ela se levantou de um sofá
bordado e atravessou a sala para oferecer sua
bochecha com movimentos graciosos. Era um
cômodo ricamente mobiliado, com tapetes turcos,
uma série de cadeiras confortáveis ​no estilo Luís
XIV e algumas obras de arte que podiam agraciar
adequadamente uma parede de museu. Sua mãe se
adaptava ao ambiente, sempre nobre, polida e
perfeita, com o cabelo escuro penteado para cima,
capaz de chamar a atenção com sua beleza e seu
equilíbrio. Seu porte elegante continha uma mente
sagaz, e ela muitas vezes o surpreendia e
desconcertava com sua percepção. Ele já passara da
idade de precisar de orientação materna em certas
áreas de sua vida. Infelizmente, essas eram
exatamente as áreas pelas quais ela mais se
interessava.
Ela queria vê-lo casado e estabelecido, e,
embora eles não discutissem precisamente sobre
isso, o ponto surgia com frequência suficiente para
exasperá-lo.
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Com afeto obediente, ele a beijou e depois se


empertigou.
— Esta é uma agradável surpresa.
— Eu cheguei esta tarde. Althea está comigo.
As crianças ficaram em Kent com a babá. Ela está
lá em cima se arrumando para o jantar, e Charles
vai se juntar a nós. Ele chegou em Londres há três
semanas, e ela sentiu falta dele. É por isso que
estamos aqui.
Então, teria que lidar com sua mãe, sua irmã
mais velha e seu cunhado. Parecia que agora ele
teria que jantar em família. Olhou para o relógio,
com uma expressão que esperava que não fosse de
óbvio desalento. Uma noite calma, jantando em seu
clube, estava fora de questão agora.
— Parece ótimo.
— Sim, você parece entusiasmado, querido. —
A duquesa de Rothay inclinou a cabeça um pouco,
em divertida reprovação. — Creio que estamos
interferindo em seus planos. Você não precisa ficar
e comer conosco, se não quiser. Não informamos
sobre nossa chegada iminente.
A inquietação dele nada tinha a ver com
qualquer plano, mas, sim, com uma jovem muito
adorável que ocupara seus pensamentos durante
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todas as últimas horas. Será que Caroline teria


escolhido ficar? Seus sentimentos estavam
decididamente misturados. Ele podia claramente
imaginá-la dormindo na cama onde compartilharam
tantas horas de prazer, e isso o deixou inquieto.
Por quê? Ele não tinha certeza. Normalmente
costumava sair sem olhar para trás.
— Não tenho planos específicos, mas também
cheguei hoje. Estive fora da cidade.
— Compreendo. — Com perspicácia, sua mãe
lhe lançou um olhar interrogativo. — Quem é ela?
— O que lhe faz pensar que há uma mulher? Eu
tenho uma dúzia de razões para deixar a cidade e
faço isso com bastante frequência.
Silenciosamente, ela o observou com uma
inspeção cuidadosa.
Bom Deus, isso era exatamente o que ele não
precisava. Todas as mulheres eram tão perspicazes
ou apenas mães com seus filhos? Ele sorriu e
balançou a sua cabeça. Era um homem adulto e
pouco inclinado a discutir sobre tal assunto,
especialmente porque Caroline era o problema.
— Eu não vou comentar. Como foi sua viagem?
— Correu bem.
Pelo menos ela aceitou a dispensa, embora
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Nicholas sentisse que a discussão estava longe de


terminar. Trocaram apenas mais alguns gracejos.
— Terei prazer em jantar com duas das minhas
mulheres favoritas, e você sabe que eu gosto de
Charles. Apenas me deixe trocar de roupa. Estou
um pouco empoeirado. A carruagem não me atraiu
esta tarde, então, escolhi caminhar.
Ele se curvou educadamente e subiu as escadas,
acalmando-se dentro do confinamento familiar de
seu quarto. Seu criado, alertado de sua chegada,
agiu com sua usual eficiência e já o esperava,
dizendo:
— Boa noite, Sua Graça. A água quente subirá
em breve.
Nicholas assentiu.
— Obrigado, Thomas.
Tímido e sério, com cabelos ruivos e uma pele
sardenta, o jovem apressou-se em pegar cada peça
de roupa que era descartada.
— Espero que tenha feito uma viagem
agradável.
Mais do que agradável, na verdade.
— Foi... satisfatória.
Satisfatória. Parecia uma escolha de palavras
apropriada.
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A verdadeira questão era: estaria ele satisfeito?


Caroline claramente recusara novos encontros,
então, ele não tinha escolha.
Precisava admitir que não estava acostumado a
tal, e isso o irritava. No entanto, era um homem
experiente e percebeu que ela se enredara sob sua
pele de uma maneira incomum. A conclusão se
tornou clara como cristal quando ele se afastou de
Essex, e a imagem vívida de como ela o beijara
docemente antes de partir surgira em sua mente,
como os braços delgados envolveram seu pescoço,
como a boca macia e quente parecera receptiva.
Fora um beijo de despedida e tanto. Seria sua
imaginação ou ela tinha mesmo se agarrado a ele
por uma fração de segundo antes que se
separassem?
Afastando a memória, ele rapidamente se
banhou e se vestiu, descendo as escadas para
descobrir que seu cunhado já havia chegado.
Charles Peyton era dez anos mais velho, com uma
disposição afável e uma mente apurada. Nicholas
não sabia exatamente o que ele fazia para o
Ministério da Guerra, mas sabia que era altamente
respeitado em todos os círculos, e suspeitava que
seu trabalho tivesse algo a ver com inteligência
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militar.
— Nicholas... que bom ver você. — Peyton se
aproximou com um copo de Claret e lançou-lhe um
olhar agradável sobre a borda. — Fiquei sabendo
que esteve fora da cidade.
— Por um tempo — ele confirmou, já que
aparentemente era de conhecimento comum. Então,
enquanto a imagem sedutora de Caroline se elevava
em sua mente, ele murmurou: — Não o suficiente.
— Isso tem alguma coisa a ver com a sua
pequena competição com Manderville?
Não tinha muita certeza do porquê de ter ficado
tão surpreso que alguém tivesse conseguido
adivinhar tão facilmente. Ainda mais Charles, que
era tão afiado quanto um florete.
— As pessoas ainda estão discutindo esta
aposta idiota?
Charles riu, seus olhos azuis pálidos cheios de
humor simpático.
— Oh, de fato. Sua ausência precipitada, sem
explicação, não ajudou a conter os rumores.
— Eu me ausentei por cinco dias e não devo a
ninguém uma explicação, por Deus. — Muito
raramente sentia que seu status o tornava imune às
mesmas regras que governavam homens de posição
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menos privilegiada, mas aquele não era o caso. Por


que deveria explicar a alguém sobre o seu
paradeiro? A Inglaterra já exigia muito de seu
tempo.
— Eu não disse que é verdade. Mas todo
mundo quer conhecer o resultado.
— Estou feliz que você ache tudo muito
divertido.
— Até certo ponto — seu cunhado admitiu com
um torcer de lábios. — Permita que nós, homens
casados, vivamos por intermédio suas façanhas,
sim? Há mais especulações sobre quem pode julgar
sua contestação heterodoxa do que sobre o
resultado. Uma quantia razoável de dinheiro está
sendo apostada em sua pequena disputa.
— Mas que merda! — Nicholas murmurou,
com cuidado para se certificar de que sua mãe não
ouvisse o palavrão.
— Ah. Muita, sem dúvidas.
Com Charles, isso poderia significar qualquer
coisa, e a chegada de Althea, em um rodopiar de
seda violeta, pérolas brilhantes e perfume caro
interrompeu a conversa.
Nicholas fez uma prece silenciosa de
agradecimento pela interrupção, esperando que
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ninguém notasse que a ausência de Caroline


coincidira com sua própria viagem inexplicável e
suspeitasse da verdade. Eles não suspeitariam, ele
rapidamente se tranquilizou. Não da supostamente
fria e desdenhosa Lady Wynn.
Ela estava segura o suficiente.

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A nnabel contemplou a vista da rua através do


vidro molhado de chuva. O barulho
ocasional de um veículo passando sobrepunha-se
ao som persistente do aguaceiro. Um céu furioso se
manifestava logo acima dos telhados.
— Receio ter ficado mimada. Nosso tempo tem
estado tão bom que quase esqueci como ele pode
ficar horrível.
— Você parece mais quieta do que de costume
esta tarde, minha querida. — Alfred sorriu para ela.
— Fico feliz em saber que é o tempo e que nada
mais está errado.
Se ele soubesse. Tudo estava errado.
Tudo.
Segundo Derek, Alfred notara a tensão. Pior
ainda, ele havia confrontado Derek sobre isso.
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Ela olhou para o noivo e se perguntou o porquê


de tantas dúvidas. Parecia o mesmo de sempre,
elegantemente vestido na última moda, com as
botas polidas até brilharem, o cabelo castanho
penteado para trás de um rosto que, embora não
fosse precisamente bonito, era certamente muito
atraente. Os mesmos olhos castanhos, o mesmo
nariz, a mesma boca, mas em vez de se sentir
tranquilizada por sua presença, por alguma razão
insana, Annabel começava a duvidar se aquele
casamento era mesmo o que queria.
Era culpa de Derek. Ela o culpava inteiramente,
e quando pensava na outra noite, quando ele subira
em seu quarto pela janela, ficava completamente
furiosa.
Como ele se atrevia a arruinar sua felicidade?
Eu te amo.
Desnecessário seria dizer que ela não acreditou
nele, e mesmo se o fizesse, não importaria. Ele não
era o tipo de homem que seria fiel, e ela não era o
tipo de mulher que poderia se casar com alguém
que não fosse. Fim da discussão.
Não que ele tivesse proposto casamento, de
qualquer maneira. Derek Drake não era do tipo que
oferecia compromisso honesto a qualquer mulher.
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Tudo o que ele queria era o uso transitório de seus


corpos. A partir daquele beijo devastador de um
ano atrás, Annabel soube que ele estava atraído por
ela e suspeitava que sua invasão impetuosa ao seu
quarto e subsequente declaração se originava da
noção que não poderia tê-la.
Porque não havia nenhuma maneira de ela ser
tão tola a ponto de acreditar que seus sentimentos
eram sinceros.
— …mal atravessou a rua antes de tropeçar e
cair de cabeça aos pés dela. Quais são as chances
disso? — Alfred riu, o pesado anel de sinete no
dedo brilhando enquanto ele levava a xícara à boca.
Annabel piscou, percebendo que não estava
ouvindo a anedota, e um sentimento de culpa
agravou suas emoções já agitadas.
— Isso foi divertido — ela disse em uma
tentativa sombria de fingir que tinha ouvido o que
ele dissera.
— Realmente, foi engraçado na hora. — Alfred
pôs de lado seu chá e a observou com um olhar
firme que ela achou desconcertante. — Mas posso
dizer que você não está com humor para pequenas
histórias frívolas. Seria melhor se eu a visitasse em
outro momento?
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— Não — ela protestou. Então, depois de um


instante, suspirou. — Talvez, sim, meu senhor.
Posso pedir desculpas por ser uma companhia tão
pouco interessante?
— Não precisa, minha querida, você sabe disso.
Ficaremos casados por muitos, muitos anos, e eu
imagino que teremos nossos dias de humores
adversos.
Muitos, muitos anos. De alguma forma, isso
não ajudava em seu dilema. Lá estava ela, antes
mesmo de se casar, pensando em outro homem.
Droga, ela não queria que as coisas fossem assim.
Alfred se levantou.
— Venho visitá-la amanhã de manhã, e, se o
tempo melhorar, talvez possamos fazer um pequeno
passeio.
O clima sombrio correspondia exatamente ao
seu humor atual. Annabel assentiu.
Seu noivo se aproximou e pegou a mão dela,
levando-a aos lábios, apenas roçando as costas de
seus dedos com a boca antes de soltá-la. Ele disse:
— Até amanhã, minha querida, e espero que o
que quer que esteja entristecendo-a seja resolvido.
Se houver algo que eu possa fazer, você sabe que
tudo o que precisa é me pedir.
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Aquele momento muito fatídico na biblioteca


era certamente parte do problema. Então, uma ideia
se apoderou de Annabel. Ela levantou-se de
repente.
— Beije-me.
Alfred parecia inexplicavelmente surpreso.
— Annabel, estamos na sala de estar. Eu não
acredito que...
Ela inclinou o rosto para cima e perguntou, no
que esperava que fosse um tom suave e persuasivo:
— Você não quer?
— Sim... bem, sim, é claro, mas o único motivo
de estarmos relativamente a sós é porque Thomas
confia no fato de que continuarei sendo um
cavalheiro.
Ele estava certo, e a porta mantinha-se aberta,
assim qualquer criado poderia vê-los, além de
Margaret poder passar apressada a qualquer
momento, mas Annabel não se importava. Se
houvesse alguma coisa que pudesse fazer para
apagar aquela memória perturbadora, estava
disposta a assumir o risco. Além disso, eles iriam se
casar em poucos meses. Certamente ninguém
ficaria tão escandalizado.
— Um beijo dificilmente é uma violação
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horrível de conduta. Não quando a mulher vai ser


sua esposa. — Desde seu debut na sociedade, ela
aprendera um pouco sobre a arte do flerte e o olhou
sob o véu de seus cílios com o máximo de
provocação que podia convocar.
Por sua vez, ele olhou para sua boca e, em
seguida, colocou a mão levemente em sua cintura.
— Eu suponho que você esteja certa.
Beije-me. Faça-me esquecer daquele primeiro
beijo. Faça-me esquecer dele...
Quando ele abaixou a cabeça, ela fechou os
olhos e esperou, sentindo a respiração flutuar em
sua garganta.
Infelizmente, tudo acabou muito rapidamente.
Tudo o que ele fez foi pressionar os lábios fechados
contra os dela pelo espaço de dois, talvez três
batimentos cardíacos, e então recuou.
Daquela vez a terra não se despedaçou. Daquela
vez, com o homem com quem concordara em se
casar, o beijo fora uma experiência bastante
realista. Ele sorria da maneira habitual, parecendo
vagamente triunfante. Annabel fez o seu melhor
para esconder sua decepção esmagadora. Uma
coisa era pedir um beijo, outra bem diferente era
dizer que ele se saíra mal. Naturalmente, era um
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jovem muito apropriado, de modo que nunca iria


persuadi-la a abrir a boca com sua língua de uma
maneira pecaminosa e sedutora que a deixaria
debilitada. No que estava pensando?
Tão animada quanto possível, ela disse:
— Eu o verei amanhã de manhã, meu senhor.
Depois que ele se foi, ela sentou-se,
extremamente desanimada, e olhou para um vaso
de cristal com rosas de estufa que ficava em cima
de uma mesa polida de parquet do outro lado da
sala. Alfred as trouxera alguns dias antes e várias
das flores amarelas tinham começado a murchar,
ficando marrom nas bordas, as pétalas começando a
cair.
Ele era realmente um homem muito atencioso.
Atencioso, educado e muito qualificado. Daria um
bom marido obediente e a trataria com respeito e
afeição.
Estaria apaixonado? Nunca dissera isso, e
Annabel duvidava que houvesse verdadeiros
sentimentos por trás de sua proposta de casamento.
Ela era de uma boa família, com bom dote e sabia
que ele admirava sua aparência. Em suma, era
muito adequada, e era isso que ele procurava em
uma esposa.
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Bom Deus! Adequada. Ela repentinamente


passou a detestar esta palavra.

D EREK OUVIU O ZUMBIDO FAMILIAR DE VOZES


masculinas pontuadas por risadas ocasionais e
acenou para o mordomo.
— O duque está aqui, Frederick?
Tão imaculadamente vestido quanto qualquer
dos patronos do clube, o jovem inclinou a cabeça.
— Boa noite, meu senhor. Sim, de fato ele está.
Na mesa de sempre.
— Obrigado.
O ar recendia a tabaco misturado a um leve
cheiro de conhaque, e ele passou por várias mesas
de conhecidos que o saudaram, atrasando seu
progresso. Quando finalmente chegou ao canto da
sala, viu Nicholas esparramado em sua habitual
pose descuidada, uma leve carranca no rosto.
Encheu um copo de bebida, envolvendo a garrafa
com seus dedos longos.
Sem preâmbulos, Derek acomodou-se na
cadeira oposta e pegou um copo. O uísque que ele
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preferia já havia sido servido, um testemunho da


eficiência dos funcionários.
— Eu recebi seu bilhete. Você voltou cedo,
percebo.
— A pedido do primeiro-ministro.
— Ah. Sempre difícil de recusar. O Lorde
Liverpool chama, e nós respondemos.
— De fato.
Na verdade, o tom da missiva fora um pouco
brusco, e Derek estava compreensivelmente curioso
sobre a semana de seu amigo no campo e nos
braços de Lady Wynn.
— Diga-me, foi um alívio sair? Você estava
lá... há o quê? Cinco dias? Ainda digo que é muito
tempo na companhia de uma mulher.
— Depende da mulher.
Este era um sentimento novo para um notório
libertino.
— Ah, é?
Nicholas finalmente ergueu o copo e tomou um
gole antes de responder.
— Na verdade, fiquei desapontado por ter sido
interrompido.
Com um interesse aguçado, Derek disse:
— Acho que nossa deliciosa Caroline faz jus à
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sua beleza.
— Mais do que isso. — Nicholas deu a ele o
que só poderia ser descrito como um olhar
reprovador.
— Isso é um pouco surpreendente. Embora ela
seja muito atraente, é claro, eu não esperava que se
tornasse uma coisinha quente entre os lençóis.
— Não pense que vou lhe oferecer detalhes,
Derek.
O tom curto de aviso não era o que ele esperava
de um homem que levara uma mulher adorável
para uma semana de prazer sexual. Ele recostou-se
um pouco na cadeira.
— Eu não pedi detalhes, Nick. Está um pouco
sensível hoje, não é?
A resposta foi um pequeno grunhido que não
lhe ofereceu muita coisa em termos de informação,
mas fez Derek imaginar que algo incomum estava
acontecendo. Ele ficou surpreso o suficiente com a
ansiedade de seu amigo em conseguir que a dama
chegasse ao campo, e agora Nicholas parecia
francamente mal-humorado por estar de volta.
Derek também vinha agindo de forma intratável
nos últimos tempos, mas isso era devido à sua
situação insustentável com Annabel.
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Eles estavam bem acostumados a serem


honestos um com o outro, então, Derek disse sem
rodeios:
— Você está com um mau humor dos diabos.
— Olha quem está falando. Se eu recebesse
uma moeda para cada vez que você tem estado de
péssimo humor nos últimos meses, minha fortuna
aumentaria significativamente.
Bem, isso era difícil de negar; em vez disso,
Derek tomou uma boa golada de seu copo. Ainda
não estava pronto para contar ao amigo sobre o
desastre de um ano atrás e os erros que se seguiram,
que pareciam piorar tudo. Thomas sabia, e isso era
o suficiente.
Annabel sabia, e isso não era suficiente.
Com veemência desnecessária, Nicholas disse
subitamente:
— O marido dela deveria ter sido açoitado.
Derek piscou antes de perguntar,
cautelosamente:
— Lorde Wynn? O que ela disse a você?
— Ela não precisou me dizer nada. Digamos
apenas que a resposta de Caroline à nossa aposta
infantil envolveu alguma medida de coragem. Eu a
admiro por isso.
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Nos fundos, alguém riu com vontade, e o som


rouco sobrepôs-se à conversa murmurada. Derek se
sentiu confuso.
— Correndo o risco de parecer obtuso, embora
não seja a primeira fez que faço isso, você pode
elaborar?
— Ele era um bastardo cruel.
— Oh, entendo. — O tom do bilhete de Lady
Wynn assumiu um novo significado.
O que quer que tivesse acontecido em Essex,
fora mais que um simples arranjo sexual. Derek
tentou parecer descompromissado e terminou seu
primeiro copo de uísque enquanto assimilava esse
novo desenvolvimento. Fez um gesto para que a
dose fosse reabastecida.
— Suponho, agora que ela está de volta em
Londres, você... Bem, eu suponho que você vá
tomar providências.
Nicholas esfregou seu queixo esguio,
sustentando uma expressão irritada no rosto bonito
que tantas mulheres admiravam. Por conta de seu
encontro com o primeiro-ministro, ele usava uma
jaqueta de veludo verde ajustada; o bordado em seu
colete em um tom esmeralda, calças bege e botas
altamente polidas. Seu cabelo de ébano era um
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contraste com a gravata branca imaculada,


levemente rendada, mas a débil carranca
minimizava a aparência de um cortesão elegante.
Pelo diabo, o infame Rothay estava com
ciúmes! Derek percebeu isso com uma leve nota de
surpresa.
Mesmo que não tivesse mais a intenção de tocar
a dama em questão, não poderia deixar passar esta
oportunidade de verificar se estava certo.
— Mal posso esperar — ele gracejou,
inclinando-se em sua cadeira em um movimento
lânguido e tocando o copo enquanto o garçom se
afastava apressadamente. — Ando entediado
ultimamente, e uma boa foda viria a calhar.
Com certeza, algo brilhou nos olhos escuros de
seu amigo; algo como uma selvageria deliberada.
Nicholas rosnou:
— Recorra a este linguajar novamente, e eu
vou...
Derek esperou com uma sobrancelha levantada.
Ah, sim! Definitivamente possessivo com a
outrora reservada Lady Wynn.
Nicholas murmurou:
— Enviei-lhe o bilhete para que me
encontrasse, porque queria dizer-lhe para ter
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cuidado com ela. Isso é tudo.


— Cuidado?
— Sim, cuidado. Seja gentil. Não apresse as
coisas.
— Você está realmente me instruindo sobre
como tratá-la na cama? — Sua incredulidade foi
temperada por uma diversão simpática.
— Eu só estou dizendo... — Pela segunda vez
Nicholas parou, seus dedos apertando seu copo.
Então ele acrescentou ferozmente: — Maldito
inferno!
Ele se levantou de repente e saiu sem nem
mesmo dizer adeus.
Derek franziu os lábios em um assovio
silencioso enquanto observava a silhueta longilínea
do duque sair do recinto.
Uma vez que Derek cometera o imperdoável
pecado de resistir aos seus próprios sentimentos,
ele entendia muito bem como isso poderia afetar a
vida de um homem. Mas também sabia que velhos
hábitos demoravam a morrer. Talvez Nicholas não
estivesse pronto para admitir que estava, pelo
menos, encantado, possivelmente algo mais.
Bem, Derek podia não ser capaz de resolver seu
próprio problema com Annabel, mas talvez pudesse
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ajudar Nicholas. Enquanto permaneceu sentado


naquele local, o germe de uma ideia lhe ocorreu, e
ele refletiu, pairando sobre o copo de uísque, mas
sem bebê-lo.
As mulheres caíam aos pés de Nicholas como
folhas de outono flutuando de uma árvore. Se a
linda viúva vivera um casamento horrível, como
teria reagido aos poderes de sedução de um dos
amantes mais talentosos da Inglaterra? A julgar
pelo modo como o duque de Rothay acabara de
agir, algo importante devia ter acontecido.
Lá estava uma coisa realmente interessante.
Sim, talvez ele devesse fazer os preparativos
para seu encontro com a dama, mas não com o
propósito insinuado por Nicholas.

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J á era tarde, ela estava cansada e o visitante se


recusara a dar seu nome ao mordomo.
Caroline franziu a testa para as letras
enigmáticas rabiscadas no cartão simples, e então
percebeu quem devia ser com um lampejo de
consternação.
— Sim, Norman, vou ver o cavalheiro. Por
favor, leve-o ao escritório de Edward.
O homem mais velho, vestido com roupão,
inclinou a cabeça, não demonstrando curiosidade
pelo evento muito incomum em uma casa
normalmente tranquila, mas ela podia adivinhar o
que ele estava pensando. Sua recente ausência
também não fora algo comum.
As iniciais eram CdM. Elas só podiam
representar o conde de Manderville. Caroline havia
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pedido discrição e tinha certeza de que uma visita à


noite em sua casa não se qualificava como tal. O
homem devia ter ouvido de Nicholas que eles já
estavam de volta.
Ele certamente não perdera tempo em procurá-
la. Era difícil decidir se ficava lisonjeada ou
irritada. Por sorte, ainda se encontrava vestida,
porque tinha cochilado na sala enquanto lia depois
do jantar. Levar uma bandeja para seu quarto era
mais fácil do que passar pelo ritual formal na sala
de jantar sozinha. Os criados também não
esperavam que ela voltasse a fazê-lo, então, frango
frio, queijo e pão fresco podiam ser comidos
facilmente no andar de cima. Ela fazia isso com
bastante frequência. Sentar-se à mesa longa,
sozinha, era melhor do que jantar com Edward,
mas, ainda assim, fazia com que se sentisse
melancólica e enfatizava sua solidão.
Como se ela precisasse disso. Talvez o encontro
idílico com o belo Rothay tivesse tornado sua vida
mais difícil, em vez de funcionar como uma cura
para sua melancolia.
Caroline olhou-se no espelho, alisou o cabelo e
depois desceu para ver o que Derek Drake queria
discutir com ela que não podia esperar até uma hora
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mais civilizada.
À primeira vista, no escritório, ela ficou um
pouco surpresa, depois aliviada e depois divertida.
Entrou no cômodo e fechou a porta
silenciosamente.
— Boa noite, meu senhor.
Ele se virou, notou a risada estremecendo em
seus lábios, e um sorriso triste tocou sua boca bem
formada.
— Boa noite. Como a senhora deve perceber,
eu posso ser tão inventivo quanto vós, minha
senhora. Também vim caminhando, só para ter
certeza de que ninguém prestaria atenção em
cavalos ou carruagens.
Era verdade. Ele estava vestido como um
comerciante, em trajes simples, um casaco pesado
pendurado em seus ombros largos, calças folgadas
cobrindo suas longas pernas, e em algum lugar ele
havia encontrado velhas botas gastas. Um chapéu
surrado encontrava-se sobre uma cadeira. Estava
perto da janela, alto e imponente, apesar de suas
vestimentas, e, embora, à primeira vista, alguém
pudesse acreditar no disfarce, ela supôs que se
passassem muito tempo em sua companhia a
imagem plebeia seria desmentida. Ele se
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comportava com confiança de Nicholas, o que era


muito mais difícil de ocultar do que a aparência
física.
Ela murmurou:
— Fico feliz, naturalmente, que o senhor tenha
tomado o cuidado de se certificar de que ninguém
iria reconhecê-lo, mas estou um pouco confusa
sobre o motivo de sua visita, especialmente a esta
hora.
Ela não estava ansiosa para dizer a Derek Drake
que havia mudado de ideia sobre sua parte na
aposta. Ele iria querer saber o porquê. Um patife
sofisticado como o conde provavelmente se
divertiria com sua ingenuidade se ela lhe contasse a
verdade. Embora tivesse certeza de que não era a
primeira mulher a se apaixonar tão rapidamente
pelo Duque de Rothay, ainda tentava entender seus
sentimentos e ser o mais objetiva possível sobre a
situação. Outra parte infeliz de sua decisão era que,
se Derek e Nicholas decidissem que a aposta ainda
existia e ainda quisessem resolvê-la, isso
significaria que Nicholas entreteria outra mulher
com seu charme luxuoso e suas habilidades
gloriosas na cama.
Doeu pensar nisso, o que a tornava ainda mais
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tola.
O que ela esperava? Que depois dela ele se
tornaria um celibatário? Ele pedira para vê-la
novamente e ela negara. Aquilo era o fim.
— Eu poderia ter esperado até amanhã —
Derek disse abruptamente —, mas visitá-la à noite
faz com que ser reconhecido seja um problema a
menos, e o que eu preciso discutir com você será
muito melhor se estivermos cara a cara. Não pude
esperar. Demorei demais para fazer uma coisa e
não funcionou muito bem.
Um pouco confusa, Caroline escolheu uma
cadeira e sentou-se, cruzando as mãos no colo.
Apesar de sua vontade de ficar indiferente, ela
corou.
— Eu sei que precisamos planejar nossa…
bem, semana, mas...
— Desculpe a interrupção imperdoável, mas
não é sobre isso. — Ele fez um movimento inquieto
com a mão. — Bem, indiretamente, suponho. O
que aconteceu entre você e Nick?
Que pergunta. Ela o encarou, seu rosto
aquecendo ainda mais.
— Perdão?
Qualquer que fosse sua expressão, Derek
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conseguia lê-la. Claro que conseguia, ele era


experiente com as mulheres e estava familiarizado
com o seu humor em todos os aspectos. Ele deu
uma risada curta.
— Não estou pedindo detalhes, acredite em
mim. Entendo como tudo funciona. Não quero
saber o que aconteceu entre vocês no quarto, mas e
fora dele? Eu o encontrei mais cedo, e ele está
diferente. Agitado. Mais do que isso, acho que
queria... cancelar nosso desafio.
Ele queria?
O ambiente em torno dela, com seu cheiro vago
de couro e uísque, pareceu desvanecer-se. Caroline
olhou para o homem alto do outro lado da sala e
sentiu uma pontada de... O quê? Esperança?
Felicidade?
— Eu não posso continuar com isso, de
qualquer maneira — ela fez sua confissão em voz
baixa enquanto tentava compreender o que ele
queria lhe dizer. — Estava decidida a enviar um
recado ao senhor. Lamento a desistência, mas
devo...
Para sua surpresa, a expressão de Derek
pareceu transformar-se em alívio diante de suas
palavras murmuradas, mesmo que ela não tivesse
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respondido diretamente à sua pergunta.


— Por que a senhora cancelaria?
Não, se dissesse isso em voz alta, ela se
envolveria emocionalmente. Um reconhecimento
verbal tornaria tudo dolorosamente verdadeiro. Ele
poderia até contar a Nicholas que ela achava que
havia se apaixonado por ele.
Não.
— Razões pessoais — ela respondeu com o que
esperava que fosse uma rejeição sucinta do assunto.
— Mais uma vez, peço desculpas por recuar.
— Essas razões pessoais giram em torno de um
duque muito teimoso e independente?
Havia uma astúcia desconcertante em seus
olhos azuis.
Durante anos ela enganou a todos acreditando
ser fria e insensível. Agora parecia que havia
perdido essa habilidade. Caroline pigarreou.
— Por favor, não me pergunte isso.
— Isso me soa como um retumbante sim.
Excelente.
Foi um comentário desconcertante. Caroline se
sentiu mais perdida do que nunca com o propósito
de sua visita. Será que entendera mal ou ele acabara
de insinuar que aprovava o fato de ela ter se
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apaixonado perdidamente por um homem


conhecido por seu distanciamento emocional
quando se tratava de casos amorosos?
Ele continuou.
— Não se desculpe pela perda do nosso tempo
juntos, Lady Wynn. Isso não ia acontecer de
qualquer maneira, com ou sem o que quer que
exista entre a senhora e Nick. Desisti de ligações
sem sentido com mulheres que valorizam apenas
prazer passageiro. Deixe-me ser brutalmente
honesto com você. A aposta foi o resultado direto
de um momento frustrado devido ao anúncio de
que a mulher que amo com todo meu coração e
minha alma vai se casar com outro homem.
O relógio preso à parede sempre fizera tanto
barulho? Ela lidava com suas contas naquela sala e
nunca percebera isso antes. Era o único som a se
intrometer no silêncio mortal que se estabelecera
enquanto ela olhava para seu visitante com uma
surpresa indisfarçada.
Lorde Manderville acabara de dizer que estava
apaixonado? Espontâneo, o riso de Caroline se
espalhou, e uma alegria imensurável quebrou o
momento. Em parte tratava-se de diversão genuína,
em parte, a liberação de um estoque de apreensão
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que fora construída nos últimos dias.


As sobrancelhas loiras de Derek se arquearam.
— Acha divertido? Fico feliz que pense assim,
mas, da minha parte, sinto-me o homem mais
miserável de Londres.
Ela conseguiu balançar a cabeça e recuperar o
fôlego, usando a mão para pressionar o estômago.
— Não, meu senhor, não estou rindo dessa
parte infeliz do seu discurso. Mas deve admitir que
tudo isso é muito cômico de certa forma. Nicholas
essencialmente me disse, enquanto estávamos em
Essex, que ele só quer se casar por amor. E aqui
está você, me dizendo que seu coração
supostamente inviolado foi partido. Ninguém na
alta sociedade acreditaria.
O conde parecia desconcertado, mas teve a
bondade de sorrir.
— Eu suponho que a senhora esteja certa.
Caroline teve que admitir, ela estava curiosa.
— Quem é ela?
— Annabel Reid, protegida do meu tio.
Ela registrou a informação com descrença. Miss
Reid era muito jovem e completamente ingênua, de
rosto inocente. Fora ela a responsável por capturar
o coração do anjo perverso? Uma jovem mal saída
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da infância e protegida de seu tio, ainda por cima?


Não que a jovem não fosse muito bonita, mas ele
não se divertia com moças de família. Era de
conhecimento comum.
— Você está surpresa — disse ele,
interpretando corretamente sua expressão. — Bem,
eu também estou, mas é a verdade. Estou surpreso
com a reação de Nicholas à senhora também. No
entanto, talvez tudo isso estivesse destinado a
acontecer. Espero que possamos unir forças. Isso é,
se a senhora estiver tão interessada em Nicholas
como ele parece estar pela senhora.
Ela estava mais do que interessada, esse era o
problema, mas temia se equivocar.
— Eu não acho que o duque e eu nos
conheçamos há tempo suficiente para avaliar a
profundidade de nossos sentimentos.
Lorde Manderville bufou suavemente.
— Ele ficou com ciúmes esta tarde quando
falou comigo. Reconheço a emoção muito bem.
Estava preocupado com a senhora, inquieto, infeliz,
irritado consigo mesmo, confuso...
— Desta forma está fazendo soar como uma
doença terrível, meu senhor. — Caroline reprimiu
outra risada ao olhar para a expressão dolorosa de
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Derek e lutou contra um surto de otimismo


irracional.
— E é, escute o que eu digo. — Sua boca se
contorceu, e ele hesitou por um momento. — Veja
bem, minha senhora, eu conheço Nick há muito
tempo. Desde aquele primeiro momento na sala de
visitas da hospedaria houve uma faísca entre vocês
dois. Notei naquele dia, mas pensei que poderiam
ser apenas as circunstâncias incomuns que o
intrigavam. Agora eu me pergunto se não era mais
do que apenas isso.
Ele poderia estar certo? Era irracional esperar
que sim. Apesar disso, Caroline lançou-lhe um
olhar desamparado e confuso.
— Como podemos nos ajudar mutuamente?
— Talvez, se trabalharmos juntos, isso ajude a
ambos. Meu tio está convencido de que Annabel
sente o mesmo por mim, e eu rezo para que esteja
certo. No entanto, ela está noiva de Lorde Hyatt e
minha última tentativa de me explicar foi um
desastre. Comecei a me perguntar se você, pela
inclinação de sua própria experiência, poderia
persuadi-la a ver que um casamento sem amor é um
caminho para a infelicidade.
Ela realmente estava sentindo pena de um dos
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homens mais bonitos, ricos e charmosos da


Inglaterra?
Bem, sim. Ele parecia desesperadamente
sincero e, afinal de contas, vestira um disfarce
ridículo e fora vê-la no meio da noite. Sem
mencionar que declarara que não tinha intenção de
continuar com a aposta, mesmo que ela ainda
estivesse disposta a tal. Caroline disse:
— Eu só posso falar da minha própria
experiência. Conheço Lorde Hyatt e duvido que ele
pudesse vir a ser um marido cruel. Mas você tem
razão, meu senhor, eu acredito que um casamento
sem amor seja capaz de desperdiçar uma parte
preciosa da vida de alguém e é duplamente injusto
se uma das partes envolvidas estiver apaixonada
por outra pessoa. Suponho que estou disposta a
tentar.
— Excelente. — Seu sorriso foi genuíno pela
primeira vez; um hipnotizante curvar de sua boca
que, sem dúvida, deixava os joelhos de muitas
mulheres bambos como líquido. Ele arqueou uma
sobrancelha e o sorriso se transformou em algo
diabólico. — Eu, por outro lado, vou ter grande
prazer em fazer com que Nick reconheça para si
mesmo e para a senhora que o coração dele pode
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estar finalmente comprometido. Não quero que ele


cometa o mesmo erro que eu. Se achasse que uma
simples conversa funcionaria, ousaria tentar, mas
os homens são mais obtusos do que as mulheres.
— Se o senhor acha que vou questionar isso,
Lorde Manderville, está enganado.
— Duvidava que a senhora o fizesse — disse
ele secamente. — Minha ideia é que algo que mexa
com sua cabeça funcionará melhor do que a
sutileza. Eu tenho um plano.
Caroline começava a perceber por que Nicholas
era tão amigo de seu famigerado companheiro.
— Eu imagino que seja muito criativo, mas há
um problema muito grande. Se o senhor não tivesse
sido tão honesto, eu nunca discutiria tal coisa,
mas...
Mesmo tendo dito isso, sua voz falhou, e ela
tentou engolir o nó em sua garganta. Olhou para os
dedos entrelaçados no colo por um momento e
depois endireitou os ombros.
— Apesar de minha oferta para julgar a aposta
e os últimos dias que passei com o duque, não estou
interessada em um caso de amor casual. Como há
todas as chances de eu ser estéril, nada além disso
será possível entre nós. Ademais, ele e eu nos
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conhecemos há tão pouco tempo. Menos de uma


semana na companhia um do outro certamente não
é suficiente para julgar verdadeiros sentimentos.
Manderville encostou um ombro largo na
parede e cruzou os braços.
— Eu acho que senhora está completamente
errada, Lady Wynn. Conheço Annabel há mais de
uma década e demorei a entender o que acontecia
entre nós. Não há um padrão de tempo para medir a
chegada do amor. Acho que acontece com algumas
pessoas no instante em que elas se encontram, mas
pode levar anos para crescer gradualmente,
permitindo todos os tipos de cenários. Quanto à
possibilidade de nunca conceber um filho,
reconheço que ter um herdeiro seja uma
consideração importante para qualquer um que
tenha um título a repassar, mas mesmo que
Nicholas se casasse com alguma dama virginal, ele
ainda estaria assumindo o risco.
Isso era verdade. Ela certamente nunca pensou
que não seria capaz de conceber antes de se casar.
— Comigo, ele tem a evidência do meu
fracasso anterior.
— Então seu argumento é que seria melhor se
Nicholas se casasse com alguma jovem
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inexperiente e insípida? Pensei tê-la ouvido dizer


que ele quer se casar por amor.
Ela estava mesmo tendo uma discussão
profunda com um famoso libertino sobre o assunto
de romance e casamento?
Nicholas e Derek Drake eram homens muito
diferentes do que diziam os boatos. Caroline
salientou:
— Não sabemos se ele tem algum sentimento
por mim além da atração física.
— Pelo contrário, você não o viu esta tarde. —
Derek se empertigou. — Diga-me, minha senhora.
Se houvesse uma única palavra para descrever seu
tempo com ele em Essex, qual seria?
Uma palavra? Seria impossível resumir
clareiras ensolaradas, um prazer indescritível,
sorrisos de tirar o fôlego e valsas silenciosas com
uma palavra.
Mas ela poderia tentar.
Ela disse, finalmente, em uma voz quase
inaudível:
— Mágico.
Ele assentiu com a cabeça, com um brilho nos
olhos que dizia a Caroline que sua tentativa de
esconder seus sentimentos fora falha.
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— Então, gostaria de ouvir o que tenho em


mente?

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D ois dias. As palavras entoavam em sua


cabeça, mesmo enquanto ele exercia o
simples ato de passar marmelada em um pedaço de
torrada. Ao contrário da simples sala de café da
manhã ensolarada da propriedade em Essex, onde
ele jantara com Caroline, os altos tetos, a enorme
mesa reluzente e o bando de servos movendo-se
discretamente ao fundo em sua casa em Londres o
lembravam de que nada era feito em pequena
escala. Nicholas estava acostumado com isso −
embora fosse algo em que raramente pensara −,
mas a pompa ducal passara a se destacar por causa
de sua preocupação com uma viúva adorável e
inatingível.
Caroline preferira a torrada simples. Ela bebia
leite com seu chá, mas não o tomava com açúcar.
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Quando o sol batia em seu cabelo, a cor cintilante


tornava-se única, como…
— Você certamente está em outro mundo,
querido. O que tanto o distrai esta manhã?
Nicholas olhou para cima com um sobressalto,
a xícara a meio caminho da boca. Bom Deus, ele
estava sonhando como um idiota apaixonado.
O que deveria fazer? Dizer à sua mãe que
encontrava-se absorvido pela noção de que Lady
Wynn lhe devia mais dois dias de prazeres carnais
para liquidar sua aposta? Ele não tinha ilusões; sua
mãe devia ter ouvido falar sobre a aposta, mas até o
momento não dissera nada. Não que ele não
estivesse grato por ela não ter mencionado um
desafio masculino tão indelicado, pois tinha certeza
de que o desaprovava. Ela devia desaprová-lo, na
verdade. No entanto, o que aconteceu não podia ser
alterado. Não uma aposta devidamente listada nos
livros de Londres sobre a qual todos fofocavam,
muito menos aqueles cinco dias passados com
Caroline.
Aqueles que ele não mudaria, mas sete dias fora
o combinado.
Sim, Caroline lhe devia mais dois. Ela recusara,
mas talvez ele pudesse fazê-la mudar de ideia.
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Estava ficando obcecado com o pensamento.


— Tem sido uma semana agitada. — Ele
colocou sua xícara ao lado de seu prato com
cuidado exagerado e levou o guardanapo à boca. —
Sinto muito se estou ignorando a senhora. Por
favor, me perdoe.
— Eu te perdoo, querido, mas prefiro saber o
que colocou essa expressão em seu rosto.
Do outro lado da mesa, ela franziu a testa para
ele, mexendo ociosamente o chocolate na xícara.
— Que expressão?
Ele suspirou com resignação. No final das
contas, era sua culpa estar sentado ali, pensando em
Caroline. Se iam começar um interrogatório, ele só
podia responsabilizar a si mesmo.
Mas não conseguia tirá-la da cabeça.
Sua mãe graciosamente pegou o belo bule de
porcelana à sua frente e acrescentou um pouco mais
de bebida em sua xícara, mas sua atenção estava
toda voltada para ele.
— Você parecia estar se lembrando de algo
bastante agradável. Algo que te fez sorrir.
A Duquesa de Rothay sempre fora perspicaz.
Mas Nicholas não estava com vontade de responder
a perguntas e, mesmo que estivesse, duvidava que
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ela gostasse das respostas.


Talvez nem acreditasse. Ele nunca se
preocupara com as mulheres.
Até agora.
Ela continuou, e seus lindos olhos escuros
refletiam sua curiosidade.
— Parece que sua mente estava em outro local.
E você ficou quieto a semana toda, recusando-se a
nos acompanhar a qualquer lugar.
Ela estava certa. Ele parara de frequentar a
ronda habitual de saraus e vários tipos de
entretenimentos, principalmente porque queria
evitar Caroline.
E, ao mesmo tempo, ele tinha um desejo
perverso e desconfortável de vê-la. Geralmente
conhecia sua própria mente. Seu atual estado de
inquietação o incomodava da mesma forma como
se sentira em relação a Helena uma década atrás.
Só que naquela época o interesse fora estimulado
por uma paixão infantil, e ele não era mais um
menino.
— Ando extremamente ocupado — disse ele
com o mínimo de inflexão em sua voz.
Sua mãe não podia ser facilmente enganada.
Uma sobrancelha se arqueou, e suas feições
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aristocráticas tornaram-se uma caricatura de


ceticismo.
— Você está sempre terrivelmente ocupado,
Nicholas. Esse não pode ser o motivo. Althea
também notou. Você parece um pouco… não sei…
distante.
Era exatamente disso que um homem precisava
— ele pensou em resignado divertimento
sardônico: ser analisado por cada mulher de sua
casa.
— Se me distraí, culpo o estado atual do
conflito político. Estamos debatendo sobre tudo,
desde o pedido de Wellington por mais soldados a
sanções agrícolas.
— Isso faz com que você vá para a cama em
uma hora razoável e se levante ao amanhecer? —
Sua mãe olhou para ele com um escrutínio atento
que o fez sentir como se tivesse cinco anos de idade
novamente, sendo pego em uma mentira descarada.
— Você geralmente tem uma rotina bem diferente.
Os debates no Parlamento sempre aconteceram.
Com muita frequência, na verdade. Acho que você
está sendo evasivo e me pergunto por quê.
Desde seu retorno de Essex, ele não vinha
dormindo muito bem. Adaptara-se rapidamente à
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sua nova predileção por assistir ao amanhecer, mas


não era tão satisfatório como quando tinha Caroline
calorosa e disposta ao seu lado para celebrar a
chegada do sol da maneira mais prazerosa possível.
— Você está planejando comparecer ao baile
dos Harrison esta noite, não é? Acredito que
Charles e Althea irão para a ópera, e eu apreciaria
sua companhia.
Perguntado assim, como ele poderia recusar?
— Eu ficaria honrado em acompanhá-la. E, por
favor, pare de se preocupar comigo.
Ele se levantou da mesa do café da manhã,
beijou a bochecha da mãe com uma afeição que não
era de todo fingida, embora não estivesse
interessado em ficar para mais interrogatórios, e
saiu da sala.
Ele não mentira. Não de todo. Não havia nada
de errado, o problema era que algo não estava
certo. A preocupação ridícula não se limitava a
pensamentos errantes durante o café da manhã. Na
noite anterior, ele sonhara com uma pele macia e
acetinada ao lado da dele, cabelos ruivos lustrosos
se derramando sobre seios perfeitos e um prazer
incandescente misturado ao cheiro elusivo de lírios
do vale. Para a sua mortificação, acordou suado,
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enrolado nos lençóis, isso sem mencionar o


membro duro e ereto. Sonhos não o deixavam
naquele estado desde a adolescência.
A visão tinha um rosto delicado, belo e
intimamente familiar, emoldurado por aquela
massa sedosa de cabelos e dominado por grandes e
incríveis olhos prateados.
Ele lidou com sua excitação sozinho, pensando
nela. Não era algo que fizesse com frequência. Não
tinha necessidade. Quando se tratava de sexo, havia
mulheres dispostas a resolverem o problema por
ele.
Um ponto que poderia lembrar mais tarde. No
momento, porém, queria checar seus cavalos. Fazia
dias que não via seu garanhão, a semana seguinte
prometia ser cheia de reuniões, e a agitada agenda
não lhe concederia muito tempo para refletir sobre
o que a incomparável Lady Wynn era capaz de
fazer.
Com Derek.
Não, felizmente, não. Era perversamente
satisfatório saber que Derek não poderia
desaparecer imediatamente. Estaria ocupado com
questões políticas. Quaisquer arranjos que pudesse
fazer com Caroline teriam que ser adiados por um
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tempo curto.
Enquanto aguardava seu cavalo, Nicholas
descobriu que cerrava os dentes ao pensar nos
encontros entre aqueles dois, e uma ligeira dor em
sua mandíbula foi a consequência. Com uma
sacudidela de sua cabeça, ele conscientemente
dispensou o pensamento. A lembrança de como ela
o recusara ainda mantinha-se fresca em sua mente.
Não havia dúvida de que queria vê-lo. Nem ele
poderia culpá-la por não desejar um escândalo em
sua vida, então... tudo estava resolvido. Não
necessariamente para sua satisfação, mas resolvido.
Não era verdade?
O passeio até a periferia da cidade não foi tão
agradável por causa das ruas molhadas de toda a
chuva dos últimos dias, mas foi bom sair, no
entanto. Passara tempo suficiente em salas de
reuniões abafadas e confinado em seu escritório. O
responsável pelo estábulo cumprimentou-o com um
sorriso largo e um tapinha informal nas costas com
sua mão corpulenta. A posição que ele ocupava não
importava em nada, assim como sua linhagem de
sangue, pois, no estábulo, O'Brien era tratado como
um rei, suas decisões eram invioláveis, e Nicholas
— vencendo ou não — confiava nele
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implicitamente.
Os estábulos eram meticulosamente mantidos,
construídos de pedra e madeira polida, as barracas
ordenadas em longas filas, todas acentuadas pelo
cheiro de feno, aveia e pelo mais leve tom
inevitável de adubo. Era sofisticado para qualquer
padrão, digno de alguns dos melhores cavalos da
Grã-Bretanha, e Nicholas sempre sentia certa paz
entre os animais que tratava quase como se fossem
crianças.
— Como está a perna dianteira de Satanás? —
ele perguntou. Seu atual favorito sempre era o
primeiro sobre o qual queria saber.
— Aquele rapaz está em ponto de bala. Vamos
vê-lo, senhor?
Ruivo e barulhento, O’Brien era um bruxo com
seus animais preciosos.
— E Baikal?
Uma de suas aquisições mais jovens ainda não
tivera seus talentos postos a prova, mas o irlandês
insistira que ele deveria comprar o potro por um
preço exorbitante, e Nicholas não hesitou nem por
um minuto.
— Posso dizer honestamente que o senhor
ficará impressionado. Fez uma milha em dois
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minutos e é jovem ainda.


— É verdade?
A próxima hora foi passada vistoriando as
instalações, recebendo atualizações sobre o bem-
estar de cada animal, baia por baia. Foi agradável
esquecer a vida lá fora por um tempo e mergulhar
em sua paixão.
Ele quase − quase − se esqueceu, por um breve
momento, de sua outra paixão, até que foi
bruscamente lembrado quando algo pequeno,
peludo e extraordinariamente desajeitado galopou à
sua frente e quase tropeçou nele.
— Desculpe, sua graça. — Uma jovem mão
estável pegou o intruso ofensivo e segurou o animal
balançando-o na dobra de seu braço. — Este aqui é
o indisciplinado da matilha.
Nicholas olhou para o cachorrinho que se
contorcia, mas em vez de ver uma língua rosa
tentando lamber furiosamente o rosto do menino e
um canino peludo, imaginou um vale arborizado e
uma linda mulher nua em seus braços, deitada,
aproveitando a languidez proporcionada pelo
intenso prazer, enquanto tentava mais uma vez
extrair informações sobre a vida dela.
“Meu pai nunca se importou em ‘perder tempo’
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com qualquer coisa que considerasse um


incômodo. Quando criança, eu queria
desesperadamente um filhote, mas ele sempre dizia
não, e minha tia não podia nem ouvir falar disso...
Não importa agora, é claro...”
Mas mesmo assim − mesmo inebriado após
toda atividade carnal −, ele ouviu na voz de
Caroline que era importante. Ele também discerniu
outra coisa. O pai dela incluía sua única filha na
categoria de incômodo. Viajar até York e torcer o
pescoço do homem insensível poderia ser
fascinante.
Mas talvez Nicholas pudesse restaurar esse
sonho de infância.
Afinal, ela o desafiara a ser ainda mais
romântico do que um jantar improvisado no
terraço. Por impulso, perguntou:
— Há uma matilha, então?
O jovem assentiu.
— Seis deles.
— Idade suficiente para serem desmamados?
— Acabaram de desmamar, Sua Graça.
Agradavelmente, Nicholas disse:
— Eu gostaria de vê-los, se for possível. Tenho
um amigo que sempre quis um cachorro.
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No final, ele escolheu o selvagem que


literalmente atravessara o seu caminho e, embora
parecesse mais uma bola de pelo do que um cão de
verdade, tinha de admitir que a criatura era afetuosa
e entusiasta. Sabia disso, porque fora forçado a
caminhar por Londres segurando a maldita coisa, e
no momento em que ele urinou em calças
anteriormente imaculadas, Nicholas se perguntou
se não estaria agindo como um tolo sentimental.
Confirmou suas suspeitas quando sentiu o
desejo de poder estar presente para ver o rosto de
Caroline quando o presente fosse entregue. Mas
isso era impossível, e esta vontade o fez sentir-se
mais idiota do que o ato de carregar um vira-latas
ao outro lado da cidade. Precisava dar crédito ao
desafortunado lacaio que abrira a porta e mantivera
sua expressão educada enquanto Nicholas
depositava o cachorro em seus braços com gratidão
e dizia:
— Cuide para que seja alimentado e banhado, e
eu lhe darei um endereço para entregá-lo.
— Muito bem, Sua Graça.
Ele parou por um momento, pensando na
necessidade de Lady Wynn por discrição. O brasão
ducal ao lado de sua carruagem estava fora de
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questão.
— Pegue uma carruagem de aluguel, se quiser,
e deixe meu nome fora disso. A senhora vai
adivinhar que vem de mim.
— Claro.
Sorrindo, ele subiu para se banhar e trocar de
roupa. Podia sentir o cheiro de cavalos e urina de
cachorro, sentindo-se com humor sarcástico, mas
na verdade fora uma tarde satisfatória.

N ÃO HAVIA DÚVIDAS DE QUE ELE ESTAVA


esperando.
Não, ela poderia ajustar essa observação.
Espiando.
Caroline não teve escolha a não ser deixar que
Franklin a segurasse pelo braço enquanto subia os
degraus, pois ele chegara como uma aparição vinda
do nada. Se não tivesse certeza de que a ideia era
ridícula, poderia acusá-lo de ficar vagando no beco
perto da casa, antecipando seu retorno.
— Que fortuito termos chegado ao mesmo
tempo — Franklin murmurou, acompanhando-a até
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a porta. — Visitei-a em diversas ocasiões, mas


presumo que tenha estado de visita a algum amigo
no campo.
Visões daquele amigo vieram à mente. Cabelos
escuros embaraçados pelo vento, um sorriso
pecaminoso que tanto deslumbrava quanto
cativava, um corpo forte que cobria o dela enquanto
se moviam juntos na mais antiga comunhão
possível entre um homem e uma mulher. Nicholas
era um amigo? Na verdade, sim, ela o considerava
assim, sempre que conseguia deixar suas proezas
sexuais de lado. Poderia considerar que conversara
com ele naqueles cinco dias mais do que com
qualquer outra pessoa durante toda a vida. Só podia
culpá-lo, porque sempre parecia interessado no que
ela tinha a dizer.
— Sim, eu estava com um amigo.
Se o tom da resposta incomodou o novo
visconde, ele não demonstrou. Aquelas familiares
feições da família Wynn, angulosas e definidas, não
revelavam nada sobre seus sentimentos. Ela
associava a mesma característica ao seu falecido
marido. Depois que ela entendeu o que Edward
realmente era, sua aparência física perdeu todos os
atrativos.
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Um monstro era um monstro, não importava o


rosto que tivesse.
Embora a necessidade de oferecer polidez a
fizesse sentir um lampejo muito real de irritação,
ela disse:
— O senhor vai entrar?
— Eu não teria vindo se não tivesse esta
intenção.
A suave presunção em seu tom a incomodava
mais do que nunca, mas vários anos de casamento
com seu primo ainda mais arrogante haviam lhe
ensinado a nutrir uma grande dose de autocontrole.
Ela esperava que seu sorriso parecesse tão remoto
quanto gostaria que fosse.
— Claro. Por aqui, meu senhor.
— Eu conheço o caminho. Especialmente
porque imaginei que esta residência seria minha.
Suas palavras foram ditas em uma tentativa de
bom humor, mas Caroline lembrava-se bem da
quantia que precisara pagar aos advogados para que
estes provassem que seu legado era legítimo.
Não havia ilusões. Ele não era um amigo, mas
pelo menos sua capacidade de vingança era muito
menos evidente que a de Edward. Quando ela se
instalou em frente a ele na sala de visitas formal e
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pediu refrescos, ficou em silêncio, esperando que


ele declarasse o propósito de sua visita. Deveria
haver um, disso ela não tinha dúvida.
Franklin olhou para trás, com olhos pálidos e
ilegíveis.
— Você está linda, Caroline. A viagem lhe fez
bem.
— Obrigada.
— Eu sempre apreciei sua beleza, você sabe
disso.
Aquela demonstração de interesse não fez nada
além de arrepiar-lhe a pele. Seu tempo com Edward
lhe ensinara que um homem poderia desejar uma
mulher de uma forma carnal e não ter
absolutamente nenhum afeto ou bondade para com
ela.
Quando ela não respondeu ao comentário, um
leve sorriso curvou a boca de Franklin. Ele se
acomodou de forma casual, como de costume,
elegantemente vestido a ponto de parecer afetado
em um casaco azul-pavão, uma gravata imaculada
ostentando um alfinete de diamante, calças marrons
enfiadas em botas polidas.
— Vamos ser francos. Você desconfia de mim
depois do desacordo sobre a disposição da
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propriedade de meu primo. Acho que deixei claro


que gostaria de resolver isso entre nós.
— Nós não precisamos discutir isso novamente.
Era uma coisa neutra para dizer. A verdade era
que ela suspeitava que Edward não gostava de
Franklin porque eles eram um pouco parecidos
demais. O homem abriu as mãos em um gesto
suplicante.
— Realmente precisamos, se é uma fonte de
discórdia entre nós. Afinal, somos uma família e
não quero me esquivar de minhas responsabilidades
para com você. Como apontei antes, sou seu
parente masculino mais próximo e tenho o direito
de dar algumas opiniões em sua vida.
Este também não era um tema do qual ela
quisesse falar.
— Somos apenas primos pelo casamento. Não é
um laço próximo e não é de sangue. Além disso,
tenho meu pai.
— Eu falei com ele.
Ela o olhou, chocada com a presunção.
— O quê?
Franklin retribuiu o olhar, o rosto impassível.
— Claro. Você já sabe que estou preocupado
com você. Ele alega que desde o dia em que você
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se casou com Edward e se tornou uma Wynn, não


tem mais obrigações de pai.
Obrigações. Ficou chocada ao pensar que seu
pai havia colocado dessa forma, mas infelizmente
podia imaginá-lo dizendo exatamente isso. Caroline
cerrou as mãos no tecido do vestido, amassando a
seda frágil. Conscientemente tentou relaxá-las.
— Sou uma mulher adulta e uma viúva. Não
preciso de ajuda financeira nem da proteção de
ninguém.
Ele parecia divertido com seu jeito frio.
— Toda mulher precisa de proteção. Desde que
seu luto acabou, mais de um homem se aproximou
de mim oferecendo-lhe casamento.
Caroline sentia-se furiosa não apenas por
pensar que ele arrogantemente supunha que podia
interferir em seus assuntos matrimoniais, mas
porque outros faziam o mesmo.
— Que gentileza sua cuidar dos meus
pretendentes.
Ele nem sequer piscou diante do sarcasmo
evidente em seu tom.
— Seu futuro me preocupa. Você é jovem
demais para continuar solteira.
— Só na sua opinião, meu senhor. Na minha, a
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idade que tenho me dá a liberdade de esperar e


decidir se algum dia vou querer me casar de novo.
— Sua posição sobre o assunto é bastante
moderna, minha querida, mas...
— Minha senhora?
A interrupção da discussão crescente fez com
que ambos olhassem para a porta. Norman,
meticuloso e elegante, estava ali, parecendo
comicamente horrorizado. Em suas mãos, ele
segurava o que parecia ser uma bola de pelo
marrom.
— Perdoe-me, mas isso acabou de ser entregue.
O homem que o trouxe disse que não havia bilhete,
mas que a senhora reconheceria a fonte do... er...
presente. O que devo fazer com isso?
Por um momento, Caroline ficou sem palavras,
olhando para o filhote nas mãos do mordomo, o
corpinho peludo remexendo-se contra o colete. Mal
começou a se perguntar quem poderia lhe enviar
um presente tão incomum quando a verdade surgiu
num piscar de olhos, como um relâmpago numa
tempestade de verão.
Nicholas. Durante uma daquelas tardes
preguiçosas e divinas, com a cabeça apoiada no
ombro nu e musculoso, sentindo o aroma da água,
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da grama e da terra ao seu redor, ela se lembrara de


quando, ainda criança, pedira um cachorro, mas
fora recusada. Nunca gostara de falar do passado,
mas ele conseguira arrancar dela mais detalhes do
que já contara a alguém. Talvez fosse o seu charme
rebelde, talvez fosse a catarse de finalmente
conversar com alguém que demonstrava um
interesse genuíno, mas ela se viu confessando
pequenas coisas como o desejo frustrado de ter um
animal de estimação.
Ela queria rir com prazer por causa do gesto.
Ao mesmo tempo, queria chorar, porque se
sentia plenamente comovida.
Caroline se levantou e foi até Norman, pegando
a pequena criatura, que pareceu grata por isso. Dois
olhos escuros cheios de alma olharam para ela e o
que era uma cauda atarracada começou a balançar-
se freneticamente. Uma pequena língua rosa
começou a lamber sua mão.
Ela se apaixonou pela segunda vez em sua vida.
— Oh, meu Deus, ele não é adorável?
Norman, que gostava que a rotina da casa
corresse de uma maneira calma e organizada,
parecia duvidar da nova adição.
— Se é sua opinião, minha senhora.
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Franklin disse, em um tom impertinente:


— Quem diabos poderia enviar-lhe um vira-
lata?
Como a verdade não poderia ser dita, ela não
respondeu. Em vez disso, inclinou-se e colocou no
chão seu mais novo amigo, que rapidamente pulou
sobre um sofá bordado, pulando dele logo em
seguida, só para correr de volta para ela e pisar em
seus pés. Deu um latido curto, como se pedisse
aprovação por esse feito maravilhoso. Ela o fez,
curvando-se para acariciar uma orelha felpuda.
— Eu nunca tive um animal de estimação.
— Se me perguntasse, eu diria que é um
presente muito presunçoso.
Caroline riu da escolha apropriada de palavras.
Não pôde sequer evitar. O lindo e sensual Duque de
Rothay era presunçoso, de fato, mas, naquele caso,
o gesto tocara seu coração com inexplicável e
profunda emoção. Se ele tivesse enviado
diamantes, ela teria pensado que ele era generoso e
romântico, mas aquele era realmente um presente
esplêndido, pois significava que ele ouvira mais do
que apenas as palavras dela quando lhe contara
sobre sua decepção na infância. Ouvira o que
estava intrínseco à fala isolada e o pequeno
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encolher de ombros. Rezou para que Derek


estivesse certo, e se houvesse uma maneira de
persuadir Nicholas a pensar em um relacionamento
permanente, ela queria ao menos tentar.
Mesmo com o risco de ter seu coração partido
se não funcionasse.
— Se eu soubesse o que era necessário para
trazer um sorriso desses para os seus lábios, minha
querida, eu mesmo teria surrupiado um cachorro
sujo e de alguma sarjeta desagradável. Não consigo
ver uma mulher fazendo isso, então me pergunto
quem mais poderia inventar uma ideia não ortodoxa
para dar tal presente.
Seu tom suave e quase ameaçador a fez olhar
para cima e endireitar-se, um lampejo de alarme
fazendo seu estômago se contorcer. Nicholas não
poderia saber que Lorde Wynn estaria lá quando o
filhote fosse entregue, mas o momento fora terrível.
Franklin a olhava com os olhos apertados, a boca
franzida.
— É de Melinda, tenho certeza — ela
improvisou, sabendo que não era uma boa
mentirosa, esperando que ele não notasse o rubor
em suas bochechas. — Eu acredito que ela
mencionou que um dos spaniels de seu marido era
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uma cadela prestes a ter uma ninhada.


— Esse dificilmente é o filhote de um cão de
caça de raça pura.
Ele estava indubitavelmente certo. Ela
murmurou:
— Talvez seja uma mistura?
Franklin ficou de pé.
— Já que você parece ocupada, vou me
despedir. Pense no que eu disse.
A alegria foi substituída instantaneamente pelo
ressentimento.
— Se o senhor está se referindo ao casamento,
me desculpe, mas não está nos meus planos futuros
neste momento.
Com deliberada afetação, ele ajustou o punho
do paletó.
— Isso vai mudar.
Ela olhou para a porta depois que ele saiu,
imaginando o que poderia significar aquele
comentário enigmático. Isso a deixava inquieta,
porque enquanto jurava a si mesma que ele não
poderia forçá-la a fazer qualquer coisa que não
quisesse, Franklin parecia ter uma opinião
diferente.
Um puxão agudo na bainha de seu vestido
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atraiu sua atenção para baixo, e ela pegou o


presente de Nicholas, segurando a exuberante bola
de pelos contra o peito. Um pouco de amor
incondicional em sua vida seria bom, pensou ela,
incapaz de reprimir um sorriso ao afastar Lorde
Wynn de sua mente.

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A sala de jogos como sempre mantinha uma


aura de fumaça de tabaco encoberta pelo
cheiro de conhaque e Claret, e as janelas abertas
para a noite quente não eram capazes de purificar o
ar. As conversas eram ocasionalmente estridentes,
pontuadas por gargalhadas, mas à mesa deles a
atmosfera era contida. Derek assistiu em silêncio
quando o homem à sua frente jogou suas cartas e
recolheu os ganhos com outra mão.
Aparentemente, o duque de Rothay estava
tendo uma noite de sorte.
Só que, para um homem que tinha a fortuna do
diabo a sorrir para si, ele não parecia
particularmente feliz. Nicholas exibia uma curva
singular em seus lábios, e qualquer um que o
conhecesse além de um contato casual reconheceria
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como irritação. Derek supunha saber o motivo.


— Eu digo, Rothay — resmungou o jovem
Lorde Renquist —, é melhor que se afaste por uma
rodada ou duas para que o resto de nós tenha uma
chance.
Os olhos escuros de Nicholas exibiam um leve
brilho de embriaguez, e este não seria um palpite
infundado, se fosse julgado o número de vezes em
que enchera o próprio copo desde que se sentara.
Ele falou pausadamente:
— Não sou eu que estou dando as cartas. Você
está insinuando alguma coisa?
O jovem podia estar um pouco alcoolizado
também, mas não tanto a ponto de não reconhecer o
sinal de advertência na voz de Nicholas.
— Eu não estava insinuando nada. Foi só uma
piada.
— Foi?
O rosto de Renquist empalideceu um pouco.
— Não foi uma piada boa.
— Vamos jogar, certo?
Nicholas pegou as cartas, embaralhando-as
habilmente com os dedos longos, e sua expressão
exibia aquele indício incaracterístico de mau-humor
rabugento. Derek viu dois dos outros jogadores
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olharem um para o outro em um acordo implícito


de não irritar o sempre tranquilo e gentil Duque de
Rothay naquela noite. Se até mesmo uma
observação tão inócua o tinha ofendido, talvez
fosse melhor ficar quieto.
Depois de mais duas mãos desastrosas,
Renquist se desculpou com polidez e passou para
um jogo de dados. Derek nem se importou em
perder um pouco, já que estava determinado a
desempenhar o papel de cão de guarda naquela
noite. Em circunstâncias normais, confiava em
Nicholas para se comportar, mas a situação não era
comum.
Caroline estava presente no salão de baile
enquanto jogavam cartas. A conselho de Derek, ela
até dançava, algo que raramente fazia. Naquela
noite, parecia mais linda do que nunca, trajando um
vestido de renda creme com uma sobressaia em um
tom de verde que deixava seu cabelo brilhante e a
pele de marfim em destaque. Algo não identificável
mudara a respeito dela desde que voltara de sua
estada com Nicholas e, embora parecesse tão
serena, sustentava um ar diferente.
Os homens notaram. Não apenas a dança,
embora tivesse gerado comentários, mas a
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diferença mais sutil era a suavidade em seu habitual


comportamento indiferente.
Daí o mau humor instável do duque, porque
ninguém sabia melhor do que Derek como era estar
perto da mulher que você deseja e não conseguir se
aproximar dela. Caroline estava lá, Nicholas sabia
disso, e ele precisava ficar longe enquanto outros
homens valsavam e flertavam com ela. Uma
postura de contenção até então desconhecida para
um homem que normalmente poderia ter o que
queria, especialmente quando se tratava do sexo
mais justo.
Não que ele estivesse em uma situação melhor,
pensou Derek, pois Annabel também estava lá,
linda, vestida em tule rosa pálido, os cabelos claros
erguidos para mostrar a linha graciosa de seu
pescoço e os ombros de cetim. Ele poderia, é claro,
chamá-la para dançar, já que ninguém pensaria
muito sobre isso, dada a sua conexão familiar com
seu tutor, mas ele imaginava que ela iria negá-lo se
tentasse se aproximar. Ser desprezado em público
causaria fofoca, e, embora não se importasse tanto
consigo próprio, duvidava que ser alvo de sussurros
indiretos a deixaria feliz. Ele não tinha ilusões de
que ela não fosse culpá-lo.
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Então, como Nicholas, ele tinha que manter


distância.
Um de seus amigos pegou a cadeira vaga de
Renquist à mesa e pediu para entrar no jogo. Derek
disse em tom neutro:
— Só uma palavra de advertência, George, hoje
à noite Nick está com tanta sorte quanto o próprio
Satanás. Ele não pegou uma única mão ruim.
— Obrigado pelo aviso. Não vou apostar muito
alto, então.
George Winston, encorpado e sociável, sentou-
se e sorriu.
— Por falar em sorte, como vai a disputa entre
vocês dois? Quando ouviremos o grande anúncio?
Um músculo visivelmente cerrado surgiu no
maxilar de Nicholas, mas sua voz era bastante
agradável.
— Ainda não está resolvido.
— Deve acontecer nas próximas semanas —
disse Derek com um sorriso preguiçoso deliberado.
— Não queremos apressar o assunto.
Podia ser um erro incomodar Nicholas em seu
atual estado de ânimo, mas fazê-lo reconhecer seu
ciúme era parte do plano.
Bem-humorado, mas sempre muito falador,
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Winston deu uma piscadela.


— Não apressar a senhora, você quer dizer.
Saiba que todo mundo está interessado em tentar
descobrir quem ela é. Dê-nos uma dica agora.
Nicholas olhou para a mão como se fosse a
coisa mais fascinante do mundo.
— Não.
— Ela é linda?
George não estava interessado no adiamento do
assunto. De fato, todos os homens à mesa pareciam
ao mesmo tempo divertidos e curiosos.
— O que você acha? — Derek ergueu uma
sobrancelha.
— Presumo que sim. Grandes seios?
Nicholas levantou a cabeça como um lobo
farejando sua presa.
Se houvesse uma maneira discreta de dizer a
George que especulações como aquela poderiam
colocá-lo em perigo, Derek teria avisado. Do outro
lado da mesa, com uma voz enganosamente casual,
Nicholas disse secamente:
— Como cavalheiros, nos recusamos a discutir
isso.
Claramente um aviso.
O olhar frio em seus olhos escuros declarou que
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o assunto estava encerrado.


Então ele jogou suas cartas na mesa e se
levantou.
— Desculpem-me, senhores, mas estou fora.
Houve um breve silêncio após sua partida
abrupta. Ele saiu da sala com passos determinados,
como se tivesse um destino definido em mente. Um
dos outros jogadores murmurou:
— Eu digo, ele não se encontra em seu estado
normal esta noite, não é?
Um sinal muito promissor. Derek respondeu
apenas:
— Ele teve reuniões com o Primeiro-Ministro
todos os dias na semana passada e sua família está
na cidade. Pode ser que esteja apenas cansado.
George bufou.
— O duque diabólico? Já o vi ficar até o
amanhecer bebendo e não fazer nada mais do que
trocar de roupa, sair para uma corrida e fazer a
mesma coisa na noite seguinte. Nick não se cansa.
Derek apostaria as fichas empilhadas à sua
frente e mais algumas que George estava errado.
No momento, ele achava que o lendário Rothay
estava muito cansado de ficar tão perto de Lady
Wynn, mas não poder sequer tocar sua mão.
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A PORTA DA CARRUAGEM SE ABRIU , E N ICHOLAS


ficou imóvel, esperando que não tivesse acabado de
cometer o erro impulsivo de ouvir seu pênis
indisciplinado. Caroline começou a subir, mas
parou quando o viu, sua boca macia se abrindo em
choque.
Ele disse baixinho:
— Por favor, entre e eu vou explicar.
— Nicholas, o que você está fazendo? — Ela
ficou parada ali, sem entrar completamente na
carruagem, transformando a pergunta em um
sussurro ultrajado.
— Eu falei com o seu cocheiro. Ele nos levará
por um caminho mais longo até sua casa. Então,
por favor, entre antes que alguém comece a
especular.
Isso finalmente a fez entrar, e o jovem galês
que a levou até Essex fechou a porta. Ela se sentou
no banco com um gracioso farfalhar de saias de
seda e, um momento depois, o veículo começou a
se mover. Luminosos olhos prateados olhavam para
ele, mas estava escuro e ele não conseguia avaliar o

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quanto ela se opunha à sua presença. Caroline


finalmente disse:
— Eu certamente espero que ninguém tenha te
visto conversando com Huw ou, pior ainda,
entrando na minha carruagem.
— Fui cuidadoso.
Ele realmente sentia-se muito feliz por ter tido
tempo de falar com o jovem. Durante o período em
que Caroline ficara com ele em Essex, ele e seu
cocheiro discutiram sobre cavalos, um amor mútuo
natural. Ali, aristocrata e servo ficavam nivelados
com facilidade.
Além disso, Huw obviamente sabia exatamente
onde sua patroa passara as noites, então, ele não
hesitara quando Nicholas fez seu pedido.
— Eu não tenho certeza se você sabe ser
discreto, Rothay — ela comentou em um tom
ácido, mas um pequeno sorriso curvou sua boca.
— Por você, estou disposto a dar o meu melhor.
— Ele relaxou um pouco, familiarizado com aquela
expressão suave no rosto de uma mulher.
Não que saber que uma mulher desejava sua
companhia tivesse sido tão importante para ele
antes, mas com ela, era. Muito importante. Por
mais incrível que pudesse parecer, ele queria saber
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que ela sentira falta dele da mesma forma como ele


sentia a dela.
Ela ainda o repreendeu primorosamente.
— Se bem me lembro, eu te disse não. Percebo
que você não está familiarizado com a palavra,
mas, neste caso, receio ter sido sincera. Não quero
correr o risco de tentar um caso clandestino com
você. Há uma longa lista de pessoas que sabem
sobre a minha viagem e permanência em sua
propriedade, além dos motivos que me levaram até
lá. Além de Huw, há a senhora Sims, os outros
criados de lá, sem mencionar Lorde Manderville.
— Derek não dirá nada, ninguém em Essex foi
informado do seu sobrenome e só você pode falar
pelo seu cocheiro, mas ele parece ser leal o
suficiente. Nós não seremos descobertos.
Seus cílios rendados baixaram minuciosamente.
— Deve ser bom ter sempre essa garantia de
que a vida seguirá conforme seus desejos.
Nascer rico e com um título provavelmente
dava a alguém uma certa confiança que era não só
inata como imposta, mas ele realmente não queria
debater o assunto, não com ela tão deliciosamente
próxima. A leve fragrância do perfume dela
colocava seu corpo em alerta total, e ele podia ver
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as curvas deliciosas de seus seios emoldurados pelo


decote de seu vestido. Eram grandes, como George
perguntara? Não. Eram femininos, firmes,
perfeitos, que se encaixam em suas mãos e boca?
Sim. Quando Winston começou a especular sobre
sua aparência física, uma imagem muito vívida de
seu corpo nu embaixo do dele veio à sua mente, e,
naquele momento, tomou uma decisão, incapaz de
resistir, sobre a qual teria que pensar com mais
cuidado quando estivesse em um estado de espírito
mais calmo.
Ou quando não estivesse tão excitado, uma voz
irônica e mais civilizada em sua mente observou.
Sua crescente ereção apenas por estar perto dela era
uma prova irrefutável de que seu corpo concordava
com isso.
— Eu estou esperando que esta noite melhore,
na verdade. — Ele prendeu seu olhar e deu um
tapinha no assento ao lado dele. — Venha se sentar
aqui.
— Eu não deveria — sua resposta foi tranquila.
— Você não deveria estar aqui.
— Deveria, sim. Estamos sozinhos. Seu
motorista adiará nossa chegada até eu lhe dar um
sinal. Quero apresentar-lhe as alegrias de fazer
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amor em uma carruagem. É um pouco apertado,


tenho que admitir, mas pode ter resultados
deliciosos.
— De alguma forma, tenho certeza de que é
uma arte que você já praticou com frequência. —
Apesar de seu tom seco, ela fez o que ele pediu e
mudou-se para ocupar o assento oferecido. Um
suspiro suave escapou quando ele mudou de ideia e
a ergueu nos braços, colocando-a em seu colo. Seu
traseiro tentador aninhou-se contra sua virilha, e ele
endureceu ainda mais.
Nicholas se aninhou no pescoço dela.
— Você dançou esta noite. Não costuma fazer
isso.
— Você me observou? — Sua garganta
arqueou para trás para lhe dar maior acesso,
fazendo a pergunta soar suave como uma nuvem.
Admitir que ele não fora capaz de evitar parecia
tão imprudente quanto entrar em sua carruagem.
Sua ideia de retirar-se para a sala de jogos também
não ajudara em nada. Então, murmurou:
— Eu notei.
— Eu notei você também.
A admissão foi feita em voz baixa e seus olhos
brilhavam como joias sob a luz fraca.
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Então, eles tinham notado um ao outro.


Nicholas não queria pensar muito sobre isso.
Caroline estava se tornando uma distração em sua
vida e o que deveria fazer era ficar longe dela até
que a febre passasse. Mas, em vez disso, lá estava
ele, roubando alguns momentos de seu tempo como
um ladrão vagabundo que não tinha para onde
fugir.
Aquilo era ridículo. Ele tinha dezenas de
lugares para onde poderia fugir. Lady Whitmore
emitira um convite bastante óbvio enquanto
dançavam, mas ele só valsara porque queria estar
perto de Caroline.
Então, ele a recusou da maneira mais educada
possível.
E em vez disso passou quase uma hora sentado
em uma carruagem escura. Esperando.
Por ela.
— Você cheira a flores — ele disse, deixando a
boca traçar a cavidade sensível sob sua orelha,
tentando descartar seus pensamentos inquietantes.
— Humm.
— Nicholas...
— Shh...
Ele tomou sua boca em um beijo ardente,
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porque não queria conversar, nem analisar os


motivos de sua presença. Então, sua língua abriu
passagem, encontrando e roçando a dela. Os braços
de Caroline se entrelaçaram em seu pescoço, e ela
se inclinou para o abraço, apoiando seu peso
delicado e flexível à estrutura muito maior de
Nicholas. Pelo menos o medo desaparecera
completamente, ele pensou enquanto explorava sua
boca vagarosamente com um prazer incandescente,
e pelo modo como ela o beijava de volta, não havia
dúvidas de que estava muito disposta.
A carruagem sacudiu, balançando-se levemente
quando pegaram uma curva. Com corpos e bocas
unidos, eles se moveram contra o movimento.
Nicholas percebeu-se ofegante quando levantou a
cabeça, sentindo sua ereção mais parecer um
pedaço de ferro que protestava contra o
confinamento de suas calças.
Acalme-se.
Primeiro desamarrou o vestido, afastando-o de
um ombro magro e feminino, abaixando-o cada vez
mais até que um seio farto, firme e excitado se
libertou. Ele inclinou a cabeça e lambeu o bico
maduro, provando o mamilo, provocando-a,
fazendo Caroline mudar de posição em seus braços.
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— Oh... — um gemido rouco escapou.


Era um prazer secreto sentir os dedos suaves de
Caroline embolarem em seu cabelo e testemunhar o
arquear de sua coluna enquanto ele sugava seu seio,
proporcionando a si mesmo uma profunda e pura
satisfação masculina. Seria muito melhor se
estivessem em uma cama, ele pensou enquanto
sutilmente a excitava, enfiando uma mão sob seu
vestido e deslizando os dedos ao longo da parte
interna de uma coxa quente e macia para encontrá-
la quente e úmida, mas ele aceitaria aquela
condição, pois era tudo o que poderiam ter.
Talvez ela estivesse certa. Talvez ele estivesse
acostumado a encontros fortuitos ​com suas amantes
passadas, talvez ele assumisse o risco de ela ser
comprometida por causa de sua notoriedade
amaldiçoada.
E talvez ele não devesse tomá-la em uma
carruagem em movimento, simplesmente porque
não tinha autocontrole suficiente para aceitar uma
recusa.
Enquanto erguia as saias do vestido, segurando
o tecido macio agrupado em suas mãos e sentindo
seu corpo implorar para ir mais rápido, ele hesitou.
Era um péssimo momento para ter um ataque de
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consciência, mas parecia que era o que estava


acontecendo. Nicholas respirou profundamente.
— Quantas vezes em nosso conhecimento eu
vou ter que pedir perdão por minha arrogância?
Você quer isso, Caroline?
Ela soltou um suspiro, acompanhado de uma
suave risada, que soprou um ar quente contra sua
bochecha.
— Não pareço entusiasmada?
— Não estava quando subiu na carruagem.
— Isso foi uma objeção às implicações da sua
presença, não à sua pessoa. — Ela se inclinou mais
perto e beijou-o, seus lábios úmidos, seu corpo
meio nu se esfregando contra ele. Quando ela
recuou, sussurrou: — Já aceitei o risco, então, por
favor, não o desperdice. Pensei muito em você,
Nicholas.
— Eu sou um idiota egoísta. O risco é todo seu,
e eu não lhe dei uma escolha.
A mão dela deslizou para baixo e tocou a
protuberância entre as pernas dele.
— Podemos debater isso em alguns minutos,
por favor?
— Você tem certeza?
— Meu Deus, sim, Nicholas... Depressa.
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A AURA DE PODER QUE O HOMEM QUE A SEGURAVA


nos braços emanava poderia tê-la feito sentir-se
intimidada e vulnerável, mas agora Caroline se
deleitava com isso quando ele a ergueu facilmente,
colocando-a de pé para desabotoar as próprias
calças com destreza considerável, libertando seu
membro ereto, e a agarrou pela cintura.
— Levante suas saias. — O grunhido do
comando indicava sua necessidade, e ela se
vangloriava na ideia de que ele a queria, mesmo
que fosse apenas a um nível físico. Caroline
obedeceu, puxando-a acima de sua cintura e
abrindo as pernas enquanto ele novamente a erguia
para colocá-la posicionada acima de seus quadris
magros. Eles se uniram devagar, conforme a mão
dela guiava seu membro rígido enquanto ele a
abaixava, proporcionando a sensação espetacular e
pecaminosa, mesmo dentro de uma carruagem,
cercados pelas ruas da cidade.
Ela se sentia perversa, mas também sentia uma
liberdade estranha enquanto embainhava a ereção
dentro de seu corpo necessitado. Montada sobre o

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colo dele, começou a se mover ao ouvir os sons de


seus movimentos para cima e para baixo. Mãos
fortes seguravam seus quadris, e ele investia dentro
dela arqueando o corpo, obviamente impaciente,
mas ainda controlado, trocando olhares enquanto se
moviam em direção a um objetivo erótico comum.
O desejo atingiu novos patamares, saturando
seus sentidos, conforme o movimento do veículo
fazia parte do ritmo de seu amor. Nicholas a
segurava com uma combinação de força e
delicadeza, oferecendo-lhe o brilho do desejo feroz
em seus olhos escuros e sedutores. Seu perfume
masculino inebriante adicionava combustível ao
fogo familiar que já açoitava seu corpo, evocando
lembranças do mesmo prazer sedutor e
inesquecível.
Seus lábios se abriram quando ela começou a
ofegar, tentando abafar um gemido aberto, mas
alcançando um estado de êxtase onde já não mais
se importava se Huw os ouvia, ou mesmo se toda
Londres fosse testemunha de seu arrebatamento. O
clímax surgiu de súbito, forte, quente, brilhante e
pulsante. Ela se agarrou a ele quando as primeiras
ondulações orgásticas a tornaram prisioneira e a
seguraram em um aperto firme, obrigando-a a
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abafar um grito contra o fino casaco de veludo de


Nicholas.
Em contrapartida, as mãos dele se apertaram
quase dolorosamente em seus quadris, movendo-a
para cima com uma onda turbulenta, e ela pôde
sentir seu corpo estremecer. Uma vez, duas vezes, e
uma terceira mais forte quando ele ejaculou e
ficaram suspensos, fundidos em mútuo e
avassalador êxtase.
Meio insensível, Caroline se viu mole contra
ele, apenas parcialmente consciente de sua boca
contra seu cabelo e do suave aperto de seus braços.
Eles continuaram assim, ainda unidos, conforme a
respiração gradualmente desacelerava. Uma risada
baixa acabou saindo do peito dele e soou contra o
ouvido dela.
— Acho que eu gostaria de não fazer mais nada
além de andar de carruagem pelo resto da minha
vida.
— Sinta-se livre para me convidar a me juntar a
você — as palavras soaram como um murmúrio
baixo, seu corpo tão relaxado contra ele que ela se
sentia desossada.
— Não me tente. Como deve ter notado, o
autocontrole não é meu atributo mais forte quando
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se trata de você. Sugestões como esta apenas me


incentivarão.
Havia um nervosismo em seu tom suave, e ele
se movimentou, apenas um ligeiro remexer, mas ela
o sentiu de forma aguda.
Até aquele momento, ela tinha o pressentimento
de que a ideia de Derek de abalar as estruturas de
Nicholas com ciúme parecia estar funcionando,
mas e se fosse apenas luxúria? Um momento atrás
parecia que sim, mas a maneira como ele a
segurava, embalada contra ele, sugeria o contrário.
— Você conhece as minhas razões para querer
manter a sugestão de um romance passageiro em
segredo — disse ela, ouvindo o forte pulsar de seu
coração através das camadas de roupa.
— Sim.
— Mas você não concorda.
— Compreendo. Ainda que não fique feliz com
isso. Obviamente.
— Ou você não teria inventado de se esconder
na minha carruagem. — O fato de ele ter tomado
tal atitude a fazia sorrir, embora fosse algo
irresponsável e imprudente.
— Não é minha maneira habitual de me
aproximar de uma dama, eu admito.
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Ouvi-lo dizer “habitual” foi como uma lufada


de fria realidade. Lembrava-a de quem ele era, e ela
desejou ter força suficiente em seu corpo para sair
de seu colo. Ainda estava de pernas abertas sobre
Nicholas, com o sexo dele dentro dela, a
protuberância de suas saias ao redor de ambos.
Podia sentir o tecido das calças contra a parte
interna das suas coxas.
— Eu sou muito grata a você, mas... tenho
medo.
Na escuridão silenciosa, suas feições esculpidas
pareciam um pouco misteriosas e sua expressão
poderia significar qualquer coisa.
— De escândalo. Porque eu sou o Rothay.
Por que mentir?
— Sim.
— Eu também tenho muito medo de você,
minha fria Lady Wynn.
Caroline ergueu as sobrancelhas uma fração, a
esperança queimando, as palmas das mãos de
repente úmidas contra o casaco dele.
— Como assim?
Houve uma hesitação palpável.
— Bem, este meu impulso de me esconder em
carruagens sem ser convidado é um indício, para
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começar. — Seus dentes brilhavam brancos em um


sorriso lento e indolente. — Minha grande
reputação seria comprometida se alguém
descobrisse. Então, você vê, seu segredo está muito
seguro comigo.
E ela percebeu naquele momento que ele
descartava qualquer tom sério na conversa.
Ele era muito, muito, bom nisso também.
Caroline sufocou sua decepção, lembrando-se,
com uma praticidade firme, de que ele era o
homem mais improvável do mundo a cair de
joelhos e fazer declarações poéticas de amor com
facilidade. Ela dera a ele o que ele queria e fora
mais do que suficiente. Sua luxúria incipiente fora
aplacada, Nicholas estava contente, e ela era uma
distração que poderia ser esquecida. Seu ciúme
deveria ser algo passageiro, como uma criança que
vê alguém brincando com seu brinquedo favorito.
Caroline murmurou:
— Acredito que devo agradecer a você pelo
presente inusitado. Meu mordomo não está tão
encantado em ter um cachorrinho, mas devo
admitir que acho isso muito divertido.
— Por nada. Parecia uma criatura bastante
simpática e você mencionou que queria um.
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— Foi muito atencioso. — Ela tocou sua


bochecha, apenas um leve encostar de dedos. — Ou
um suborno calculado, para me manter em suas
boas graças, talvez. — O canto da boca de Nicholas
se contorceu em diversão.
Com a mesma facilidade atlética que ele usou
para colocá-la lá, Nicholas a ergueu de seu colo.
Galantemente, ofereceu-lhe o lenço para que
enxugasse as coxas, ajeitou as calças e bateu três
vezes no teto da carruagem. Em tom neutro, disse:
— Pedi ao seu motorista que me deixasse a
vários quarteirões da sua casa. Vou encontrar um
transporte para me levar de volta ao baile. Ninguém
jamais saberá que estivemos juntos.
Exceto que ela saberia, Caroline pensou em
desespero pragmático.
E seria melhor enfrentar a realidade de que
Lorde Manderville poderia estar terrivelmente
errado. Quando Nicholas chegara mais cedo, ele
conduzia uma linda mulher mais velha em seu
braço; a semelhança era tão forte que ela soube,
antes mesmo de serem anunciados, que eram mãe e
filho. A chegada da duquesa viúva abalou a
coragem de Caroline de prosseguir com o plano de
Derek. Melinda Cassat sempre fora uma fonte de
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fofoca e não fora preciso muito estímulo para que


sua amiga revelasse os detalhes da linhagem da
família Manning. Com Nicholas como filho único,
o próximo da linha de sucessão era um primo
distante que residia nas colônias. Era importante
para sua família que ele tivesse um herdeiro e, de
acordo com Melinda, quanto mais próximo ele
chegasse dos trinta anos, mais as esperançosas
mães e jovens debutantes se tornariam implacáveis,
e ele poderia fazer um casamento dinástico.
Uma viúva estéril provavelmente não era nada
do que a elegante duquesa tinha em mente para seu
lindo e extremamente qualificado filho.
Caroline terminou de ajustar a roupa e assentiu,
incapaz de falar.
Isso se ela pudesse levá-lo a considerar o
casamento em primeiro lugar. A aposta tinha
valores altos e grandes consequências. Mas quando
ele a beijou como uma despedida antes de sair da
carruagem, Caroline decidiu que, uma vez que seu
arranjo com o Duque Diabólico se saíra tão bem, o
resto também merecia uma tentativa.

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O nome no cartão a fez sentir uma surpresa


muito real. Annabel franziu a testa, sem
saber como interpretar a inesperada visita de uma
mulher que mal conhecia, mas assentiu, pois não
conseguia pensar em nenhuma razão na terra para
não receber Lady Wynn.
Por outro lado, não conseguia pensar em uma
única razão para a jovem viúva visitá-la. Ela disse
ao criado que trouxe o cartão:
— Por favor, leve-a para a sala de visitas. Já
estou indo para lá.
Thomas saíra em alguma missão e Margaret
fora à modista, então coube a ela ser a anfitriã. Ela
deixou de lado o livro que lia e levantou-se,
esperando que sua saia de musselina não estivesse
muito amassada porque ficara sentada por horas,
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imersa em um romance no qual os problemas de


outra pessoa a fizeram esquecer os seus próprios.
Alguns instantes depois, ela entrou na sala
formal, vendo sua hóspede sentada em uma das
cadeiras cobertas de seda verde-clara, que
contrastavam com o colorido de seu vestido
vibrante. Linda de uma forma extremamente
delicada, usando em um vestido de dia creme,
bordado com minúsculas flores azuis, seu cabelo
brilhante preso em um coque simples e pesado,
Lady Wynn a observava com aqueles olhos
cinzentos de cílios longos, que eram sua verdadeira
assinatura.
— Boa tarde, senhorita Reid.
— Boa tarde, minha senhora.
— Obrigada por me receber.
— Claro. Muito agradável de sua parte passar
por aqui.
Se Annabel pudesse se lembrar, elas tinham
sido apresentadas uma vez, mas em muitas outras
seus caminhos se cruzaram em eventos sociais. No
entanto, mal tinham se cumprimentado
formalmente, e Annabel ficou perplexa com o
propósito da visita de Lady Wynn.
— Eu não estava de passagem. Vim lhe ver
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com um propósito específico. Espero que não o


considere questionável.
Aquilo estava se tornando mais intrigante a
cada momento. Annabel sentou-se em frente à sua
convidada inesperada, alisando conscientemente a
saia amarrotada. Caroline Wynn era apenas alguns
anos mais velha, mas, mesmo assim, exalava uma
espécie de compostura suave e desinteressada que
fez Annabel se sentir uma colegial. Ela não pôde
deixar de perguntar:
— É questionável?
— Eu apreciaria se o que estamos prestes a
discutir permanecesse entre nós.
Aquela era uma declaração interessante.
— Se deseja compartilhar algo em segredo, vou
honrar o seu pedido — Annabel falou lentamente,
sem tentar esconder sua surpresa. — Embora,
admito, esteja intrigada. Não somos estranhas, mas
quase isso.
O que só poderia ser descrito como um sorriso
melancólico curvou a boca de sua visitante.
— Ninguém tem amigos suficiente, e às vezes
acho que tenho poucos. Quem pode dizer, talvez
nos surpreendamos. Acho que temos muito em
comum, afinal de contas.
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— Nós temos? Como assim?


— Bem, por um lado, não somos distantes em
idade. Além disso, ambas estamos virtualmente
sozinhas no mundo de algumas maneiras. Você,
devido à morte de seus pais, e eu, porque meu pai
ignora minha existência. Não vamos esquecer que
eu me casei com um homem a quem não amava, e
você, até onde sei, está prestes a fazer a mesma
coisa.
Colocado daquela forma soava horrível.
Annabel reagiu a tal observação contundente com
um enrijecer de coluna e um franzir de boca.
— Como pode saber o que sinto por Lorde
Hyatt?
Caroline Wynn parecia não se incomodar com a
acidez em seu tom.
— Eu não sei. Foi por isso que vim falar com
você.
Dizer que Annabel estava confusa era um
eufemismo.
— Peço desculpas, minha senhora, mas não
consigo entender por que se preocuparia.
Uma sobrancelha ruiva se arqueou.
— Eu vivi um casamento terrível. Não desejaria
o mesmo a ninguém.
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— Nada sobre Alfred é terrível.


Exceto aquele beijo sem paixão, é claro, uma
voz insidiosa sussurrou.
— Concordo. Ele é um homem correto, até
onde eu sei. — Lady Wynn deu um pequeno
suspiro, pouco mais que um respirar superficial. —
Mas você o ama?
Ninguém lhe perguntara isso. Ninguém. Nem
seu tutor, nem Margaret, nem o próprio Alfred. Isso
a afetou, e Annabel já se sentia bastante abalada
quando pensava em suas núpcias, graças a Derek.
Em sua vida, não conseguia pensar em como
responder à pergunta que nunca esperava que fosse
feita a ela.
Belos olhos prateados brilhavam com o que
parecia ser compreensão enquanto o silêncio se
prolongava. Finalmente, Lady Wynn murmurou:
— Entendo.
Annabel engoliu em seco.
— Ele é gentil.
— Parece ser mesmo.
Ela odiava perceber que a concordância fora
feita com um toque de simpatia.
— E generoso.
— Tenho certeza que sim.
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— E adequado.
Oh, diabos, ela estava realmente usando aquela
palavra horrível, arremessando-a na conversa como
se fosse algo admirável?
— Ele é. — Caroline Wynn sorriu sem emoção.
Por que aquilo estava acontecendo? Por que
uma mulher que ela nem conhecia de repente
surgia, respondendo às suas maiores dúvidas? Era o
pior momento possível.
Ou talvez o mais fortuito, considerando seu
dilema persistente.
Não havia como ela continuar sentada por mais
tempo. Annabel se levantou e atravessou a sala.
Apoiou o braço no piano e respirou longa e
calmamente.
— Por favor, me diga por que você acha que
isso é da sua conta?
Lady Wynn hesitou e depois endireitou os
ombros.
— Senhor Manderville me pediu para falar com
você em seu nome.
Derek.
Maldito fosse ele.
Annabel virou-se em um movimento lento,
como se fosse uma marionete de madeira, e olhou
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para a convidada. Claro. Lady Wynn podia parecer


requintada com todo aquele cabelo castanho-
avermelhado cintilante e sua voluptuosa figura
esbelta, mas curvilínea, mas devia ser uma tentação
para um homem lascivo como o conde de
Manderville. Ela cuspiu:
— Ele enviou você aqui para implorar
clemência em seu nome?
— Eu implorei?
Bem, Lady Wynn tinha razão, ela não
implorara, mas, ainda assim, Annabel se sentia
indignada. E com ciúme. Um ciúme que, de uma
forma, envolvia sua alma, sua mente e
definitivamente a boca do estômago. Neste havia
uma pequena bola preta, pesada como chumbo. Ela
se empertigou.
— Eu nunca ouvi nenhuma fofoca ligada ao seu
nome, Madame, mas só posso presumir que tipo de
amigo Derek Drake pode ser para a senhora. É
atraente e feminina, e isso diz tudo.
Composta e ainda olhando para ela daquele
enervante jeito empático, Lady Wynn sacudiu a
cabeça.
— Ele nunca tocou mais do que em minha mão.
Mais do que isso, nem tentou.
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A situação estava ficando mais desconcertante a


cada momento.
— Então, como poderia ser amiga dele?
Um ligeiro rubor tomou a face perfeita da
mulher do outro lado da sala.
— É uma história bastante complicada, mas a
versão curta é que eu acho que ele é realmente um
homem muito decente e, sem sombra de dúvida,
mais do que um pouco apaixonado por você. Daí
minha presença aqui. Sim, ele desejou que eu
falasse com você, porque, segundo ele mesmo, seu
charme habitual não tem efeito sobre a senhorita.
— A senhora está errada. Ele é um cafajeste
terrível com a moral de um gato vira-lata.
Mas o protesto não foi dito com convicção
suficiente. Annabel ainda podia vê-lo, ali em seu
quarto e ouvir aquela declaração pungente. Eu te
amo…
Ela queria acreditar, e era o céu e o inferno
sentir aquele lampejo de esperança de que pudesse
ser verdade. De qualquer maneira, suas dúvidas
sobre se casar com Alfred agora eram muito reais,
mesmo sem as observações de sua convidada
inesperada.
— Eu entendo que a reputação do conde lhe faz
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hesitar. Isso me diz que você não está apenas


interessada em sua aparência, título e riqueza. Ele
não é perfeito, mas às vezes esses são os libertinos
pelos quais nos apaixonamos.
Annabel perguntou em uma voz que não era
muito firme:
— Você fala por experiência, Lady Wynn?

A JOVEM DE PÉ A POUCOS PASSOS DE DISTÂNCIA


tinha um olhar quase acusador em seu rostinho
bonito, seus olhos azuis escuros e arregalados, suas
pequenas mãos cerradas em punhos ao lado do
corpo.
Foi preciso muita coragem para atravessar a
porta do sobrado dos Drake, e seria ainda mais
difícil admitir seu atual estado de paixão por
Nicholas Manning. No entanto, Caroline prometera
a Derek ajudá-lo e, pela expressão no rosto de
Annabel Reid, o conde estava completamente certo
sobre os sentimentos dela por ele. A postura de seu
corpo indicava certa vulnerabilidade, além de uma
angústia pungente, algo que ela transformara em
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raiva defensiva apenas com a menção do nome de


Lorde Manderville.
Ele estava certo. Miss Reid não era de todo
indiferente. A julgar pelo rubor em suas faces, ela
era exatamente o oposto.
— Falo sim. — Caroline fingiu uma indiferença
que não sentia. — Mas não vim aqui para falar
sobre a minha loucura, mas sobre a sua. Diga-me,
acha que pode se casar com Lorde Hyatt e não se
arrepender da decisão?
— Se eu não achasse que ele era uma escolha
sensata, não teria aceitado sua proposta.
— Perdoe-me, mas a palavra sensata não tem
qualquer semelhança com um ideal romântico.
Lábios fartos se comprimiram em uma linha
dura.
— Eu tive um ideal romântico uma vez, Lady
Wynn, e descobri que era baseado em uma fábula,
um mito que criei em minha própria mente tola. Já
que é óbvio que Derek falou com você sobre mim,
já deve saber que me apaixonei por ele no passado.
Sua aparência e charme viraram minha cabeça, e eu
ainda não tinha sido apresentada à sociedade, então,
estava particularmente suscetível. Sonhava que um
dia ele poderia retribuir meus sentimentos. Sabia de
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sua reputação, mas de alguma forma isso não


importava. Como uma tola, fantasiei que, por mim,
ele mudaria.
Caroline não pôde deixar de murmurar:
— Acredito que entendo perfeitamente.
Annabel balançou a cabeça, e alguma memória
distante fez seus olhos brilharem. Ela os piscou
rapidamente algumas vezes.
— Eu estava muito errada.
— Ele me contou sua versão da história e devo
admitir que acredito que seu pesar, tanto por
prejudicar você quanto por perder sua
consideração, é sincero.
Lorde Manderville não poupara a si mesmo no
breve recital, citando seu próprio comportamento
como insensível e egoísta. Caroline só podia
adivinhar o que custara ao seu orgulho masculino
ser tão franco sobre seus sentimentos para uma
quase estranha, mas ela sentira que ele fora sincero,
porque se encontrava realmente desesperado por
sua ajuda. O incidente na carruagem com Nicholas
parecia provar que o conde estava fazendo sua
parte, então, Caroline queria retribuir o favor.
Mesmo se não tivesse prometido nada, o olhar
sombrio no rosto de Annabel Reid teria mudado
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suas ideias. Sabia muito bem como Annabel se


sentia.
A jovem de pé junto ao piano polido alisou a
saia com a mão trêmula, num gesto inconsciente,
mantendo o olhar muito direto.
— Sim, ele me machucou, e, sim, ele perdeu o
meu respeito.
— E você acredita que Lorde Hyatt pode
consertar seu coração partido?
A pergunta pairou no silêncio da sala.
O silêncio foi a resposta.
Com dignidade, Annabel finalmente disse:
— Acredito que ele me tratará bem, teremos
filhos e nos daremos bem juntos. Ele não está
apaixonado por mim, tanto quanto eu posso dizer,
e, na verdade, é um alívio. Isso significa que
queremos exatamente a mesma coisa do nosso
casamento. Companheirismo e uma família.
— E paixão? E se não houver crianças? Eu
posso dizer com conhecimento de causa que não há
garantias. Então serão apenas vocês dois... para
sempre.
— Seremos amigos — a resposta foi rápida,
mas algo reluziu nos olhos da outra mulher.
Dúvida? Podia ser.
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— O que é agradável, eu concordo, mas


dificilmente o suficiente. — Ela não estava nada
acostumada a discutir seus sentimentos, muito
menos algo tão particular quanto o que
compartilhara com Nicholas, no entanto, Caroline
se preparou para ser franca. Afinal, chegara sem ser
convidada e começara discutir algo muito pessoal.
— Embora eu nunca tenha contado a ninguém a
verdade sobre meu próprio casamento, estou
disposta a fazê-lo com você. Sei que eu estava
lamentavelmente desinformada sobre o que esperar,
e os resultados foram desastrosos. Nossas
circunstâncias não são idênticas, mas há
semelhança suficiente para que eu sinta que posso
ajudá-la, independentemente da decisão que você
tome a respeito de Lorde Manderville. No entanto,
se a sua mente estiver decidida, vou me despedir.
Por um momento, Annabel pareceu ter um
debate interior, mas então virou-se e se sentou de
novo em frente a Caroline em um sofá de brocado.
— Eu não tenho certeza — ela confessou em
uma voz que continha uma leve oscilação —
exatamente de qual pode ser motivo pelo qual
quero ouvir o que você tem a dizer, mas eu quero.
Talvez fosse por covardia, mas Caroline meio
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que esperara ser rejeitada para não precisar falar


sobre algo que fizera o possível para esquecer.
Assentiu e desviou o olhar, tomando um momento
para recuperar a compostura. Pigarreando, olhou
para trás e sorriu em um reconhecimento irônico.
— Isso pode ser embaraçoso para nós duas, mas
farei o meu melhor. Deixe-me começar com a
simples afirmação de que a intimidade entre um
homem e uma mulher pode ser muitas coisas. O
homem errado pode proporcionar uma experiência
chocante e terrível, e o homem certo pode oferecer
mais prazer do que você jamais poderia imaginar.
Espero que não me julgue com muita severidade
quando eu lhe disser que vivi os dois, já que é de
conhecimento comum que fui casada apenas uma
vez.
Annabel a olhou com aqueles lindos olhos azuis
escuros.
— Se seu marido era o homem errado, eu
dificilmente a culparia por procurar consolo em
outro lugar, minha senhora.
— Meu marido, francamente, era um homem
terrível, e uma mulher se torna completamente
vulnerável quando se submete às necessidades
sexuais de um homem. Sim, sabemos que eles
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tendem a ser maiores do que nós e são construídos


de maneira diferente, mas, como moças protegidas,
não temos consciência de quão mais fortes eles são.
Nós também não estamos cientes, ao menos eu não
estava, da mecânica real do ato em si. Se você for
como eu era, já deve ter se perguntado, mas este
grande mistério é mantido em segredo de nós
porque é indelicado discutir.
Um rubor suave surgira nas bochechas lisas de
Annabel.
— Nem Margaret conversa muito sobre isso
comigo. Ela promete explicar antes do casamento.
Embora fosse apenas alguns anos mais velha,
Caroline se sentia muito mais sofisticada, embora o
custo de sua educação tivesse sido muito caro.
— Faça-a falar ou sinta-se à vontade para me
perguntar. Um pouco de conhecimento pode ajudar
bastante quando se trata de algo tão… pessoal. Meu
ponto agora não é explicar o processo em detalhes
anatômicos, mas ilustrar a confiança emocional
envolvida. É um enorme salto de fé. Você pode se
imaginar deitando-se nua ao lado do Senhor Hyatt
para o resto da vida? Pode imaginá-lo tocando-a em
todos os lugares, até mesmo nos mais íntimos?
Quer que ele a segure em seus braços, provar seu
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beijo, ou suas imaginações são sempre a respeito


dele comendo torradas na mesa do café da manhã?
— Já considerei o meus deveres de esposa, é
claro. — Annabel parecia mais corada a cada
momento que passava.
— Dever? — A habilidosa experiência do toque
de Nicholas veio à mente, além do poder que ele
evocava. O jeito que a fazia estremecer, a sensação
de tê-lo dentro dela, o prazer impetuoso de sua
boca contra sua pele. Caroline ergueu as
sobrancelhas. — Não pode pensar nisso como uma
obrigação ou estará se enganando.
De alguma forma, Caroline acertou um ponto
sensível, pois Annabel disse defensivamente:
— A maioria dos casamentos na sociedade não
é baseada no amor, mas na praticidade.
— De fato, eles são. E olhe os resultados.
Ambos, maridos e esposas, se perdem, tentando
encontrar o que não têm dentro das paredes do
quarto. Como você acha que o senhor Manderville
e o duque de Rothay construíram suas reputações
nada respeitáveis? Não foi seduzindo jovens
mulheres elegíveis. Isso é certo, ou eles teriam sido
arrastados para o altar há muito tempo. Eles foram
até capazes de criar uma aposta ultrajante e fazer
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com que a alta-sociedade a achasse divertida e


intrigante.
A mulher à sua frente baixou os olhos para o
tapete estampado, com uma expressão fechada.
— Derek afirma que a aposta foi feita em um
momento de embriaguez por causa do meu
noivado.
— Eu tenho a confirmação de que ele está
dizendo a verdade.
Quase imediatamente depois de dizer as
palavras, ela se arrependeu. Annabel não era boba e
seu olhar se aguçou quando olhou para cima.
— Pelo duque?
Sim, ela definitivamente dissera demais.
Esperava que a senhorita Reid fosse confiável, mas
Caroline acabara de se associar aos dois homens.
Sufocou a vontade de franzir o cenho e tentou
imitar sua melhor imagem da viúva fria e
inacessível.
— A fonte não importa. Eu acredito nele. A
questão é, você acredita? Derek Drake afirma amar
você, e com seu título e fortuna ele dificilmente
seria um homem inelegível, isso sem mencionar
que você acabou de me dizer que não tem
sentimentos profundos por Lorde Hyatt.
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Annabel fez um gesto impotente com a mão.


— Eu deveria romper meu noivado por causa
da remota chance de Derek estar falando sério?
Não esqueçamos minha convicção de que ele nunca
seria fiel, mesmo se estiver sendo sincero. O que
um homem como ele sabe sobre o amor?
— Eu acho — Caroline escolheu suas palavras
cuidadosamente, considerando sua própria
inquietação sobre o assunto — que ele
definitivamente sabe o que sente. Levando em
consideração seu desapego habitual e sua vasta
experiência, ele certamente saberia reconhecer que
tem sentimentos diferentes por você.
— A vasta experiência é verdadeira —
murmurou Annabel, embora seu rosto já não
estivesse exposto em uma expressão militante de
raiva e negação, porém, sustentava um olhar
pensativo de quase desespero. — Diga-me, Lady
Wynn, se você estivesse no meu lugar, acreditaria
nele? Arriscaria todo o seu futuro e jogaria fora
uma chance de um casamento seguro com um
homem correto para confiar suas esperanças a um
libertino conhecido? Recentemente, toda a cidade
de Londres ficou ciente de que o nome dele foi
citado junto ao de uma adúltera em um divórcio
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extremamente escandaloso. Sua reivindicação de


inocência pode ou não ser verdade.
Nicholas também desprezava sua reputação e
mencionara quantos boatos foram produzidos do
nada. Caroline balançou a cabeça.
— A fofoca não é confiável e não há provas de
que a alegação seja verdadeira.
Annabel parecia imóvel, exceto pelo tremor de
sua boca.
— Tudo bem, eu admito isso, mas mesmo que
ele esteja sendo sincero sobre seus sentimentos por
mim, quem pode dizer se vai durar?
O argumento era válido, Caroline não podia
negar.
Annabel continuou, quase como se estivesse
falando sozinha.
— Ele se sente culpado. Admitiu isso. Então
agora inventou uma maneira de consertar e se
desculpar pelo que aconteceu antes. Bem, não
tenho certeza se estou disposta a perdoar ou
esquecer, e sua capacidade de amar de forma
duradoura ainda é uma dúvida muito real em minha
mente.
Pelo menos havia um vislumbre de especulação
na voz encantadora da senhorita Reid.
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— Eu sei.
Caroline entendia muito bem. Ela tinha plena
consciência das implicações de estar apaixonada
por alguém com uma reputação como a de
Manderville. O duque de Rothay não tinha sequer
declarado sentimentos mais profundos por ela,
então, estava um passo atrás.
Por um momento, elas apenas olharam uma
para a outra no que parecia uma promessa comum
de irmandade.
Annabel sorriu, uma oferta hesitante.
— Embora eu não tenha certeza sobre como me
sinto a respeito de sua visita, Lady Wynn, gostaria
de um copo de xerez?
— Eu adoraria. E, por favor, chame-me de
Caroline.

Q UERIDA A NNIE :
Será que tenho o direito de lhe pedir que me
perdoe pelas minhas ações em Manderville Hall há
alguns meses? Ponderei a questão longamente e
não posso sequer responder a mim mesmo. Tudo o
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que sei é que gostaria de poder apagar a memória


de suas expressões quando saiu da estufa naquela
noite. Se eu pudesse erradicar o ato, tenha certeza
de que o faria. Eu assumo total responsabilidade.
Afinal de contas, sou mais velho, mas
aparentemente nenhuma sabedoria veio com esses
anos a mais.
Ainda mais convincente é a lembrança do nosso
beijo. Talvez eu deva pedir desculpas por isso, mas,
com toda honestidade, não posso. Não sinto pelo
que aconteceu, só peço perdão por minha conduta
não cavalheiresca depois. Por favor, aceite meu
mais profundo pesar.
Não posso te dizer como anseio por vê-la sorrir
para mim mais uma vez.
Sinceramente,
Derek Drake, o sexto conde de Manderville
Data deste dia, 21 de novembro de 1811
Annabel deixou o pedaço de pergaminho
escorregar por entre os dedos e as mãos trêmulas.
Observou a carta cair no chão e se acomodar
enquanto engolia o nó em sua garganta.
O que poderia ter acontecido se ela tivesse lido
isso quando lhe fora entregue? O ponto era
discutível, porque ainda estava chocada e
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desiludida, mas certamente fora significativo que


não a tivesse jogado fora. Poderia parte de tudo ser
culpa dela? Afinal, Derek não pedira para se tornar
seu cavaleiro mítico, o galante príncipe de seus
sonhos, o belo herói de suas fantasias de menina.
Ele era apenas um homem e, portanto, falível.
Ele não é perfeito, mas às vezes esses são os
libertinos pelos quais nos apaixonamos...
Annabel construíra uma imagem dele que não
era real, e quando esta não se confirmou, seu
mundo foi destruído. Ele não se eximira de culpa,
ela se lembrou, pensando na condessa em seus
braços, mas, novamente, talvez não fosse
inteiramente culpa dele também.
A diferença era que ele havia se desculpado.
Ela não.

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A sala de reuniões abafada não era a escolha


ideal. Derek sentiu-se inquieto e se remexeu
na cadeira. A sessão parecia interminável, e ele
começava a sentir dor de cabeça. Só quando os
bocejos na câmara assumiram proporções
epidêmicas, Lorde Norton pareceu perceber há
quanto tempo vinha falando e finalmente se calou,
sem nunca ter chegado a um argumento válido.
Se o entusiasmo com que os colegas saíram da
Câmara dos Lordes fosse uma indicação, Derek não
fora o único entediado até às lágrimas. Foi um
alívio sair sob o sol da tarde.
Recebera um pequeno bilhete de Lady Wynn a
respeito de sua conversa com Annabel há alguns
dias, expressando sua esperança de que tudo tivesse
corrido bem e alertando que fizera o melhor
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possível. Como um jovem inexperiente, Derek


ficara andando em círculos, em torno de seu
escritório naquela tarde, e, depois, sentou-se
impaciente para assistir a uma ópera muito terrível
na qual não tinha interesse. A única parte redentora
da noite fora que a mulher que amava não
aparecera de braços dados com seu noivo. Pelo
menos não fora forçado a evitar encará-los. Uma
pequena bênção em uma situação que parecia
totalmente contra ele.
Então agora restava a Derek duas escolhas. Ele
poderia vestir sua fantasia ridícula e visitar
Caroline na madrugada para pedir detalhes sobre a
conversa, ou poderia entrar no quarto de Annabel
novamente e perguntar a ela.
Nenhuma das duas parecia muito boa. Ambas
as ideias foram precipitadas nas primeiras ocasiões.
Derek nunca fora impulsivo. Isto é, a menos
que estivesse beijando jovens inocentes em
bibliotecas ou invadindo seus quartos para
declarações de amor indesejadas e não
correspondidas.
Bem, talvez ele fosse impulsivo de vez em
quando.
Droga.
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Estava claro que teria que presumir que tudo


correra bem. Mas por que deveria pensar que sim?
Não havia razão para isso. Annabel o dispensara de
forma completamente fria.
Bem, não exatamente. Não friamente. Ela o
dispensara com uma lágrima indesejada deslizando
por sua bochecha, e sua voz não continha o tom
usual. Isso lhe dava uma esperança que talvez fosse
falsa, mas ele não queria desistir. Se falhasse, se o
que Caroline dissera a Annabel não causasse
nenhuma impressão, seria porque ele arruinara as
coisas a um ponto sem volta, mas ainda pretendia
ajudar Nicholas.
Não podia andar sobre o fogo sem esperar se
queimar um pouco.
A Rothay House era uma impressionante
mansão em Mayfair, na Grosvenor Square, com
todas as galerias necessárias, portas palacianas e
uma fachada de pedra digna de uma residência real.
Instruíra seu cocheiro a esperar e subiu as escadas,
esperançoso de que Nicholas tivesse estado tão
ansioso para chegar em casa depois da palestra
quanto ele próprio. O duque estava lá dentro, ele foi
informado pelo mordomo rigidamente formal, e ele
foi instruído a esperar no escritório, como de
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costume...
Sim, Derek fez isso. Servira-se de uma bebida
também, antes de se acomodar na cadeira de
sempre junto à lareira. A sala cheirava familiar, a
uísque e livros antigos.
— Não que não seja sempre agradável ver você,
mas não passamos uma tarde excruciante juntos?
— Nicholas entrou e fechou a porta atrás de si. —
Se veio aqui para reclamar do argumento de Lorde
Norton, vou ter que confessar que parei de prestar
atenção na metade do seu discurso.
Derek riu e balançou a cabeça.
— Não, não vim por isso. Não me pergunte
também. Quando o primeiro-ministro se afastou e
começou a roncar, vamos ser francos, ele perdeu o
público.
— É verdade. — Nicholas se acomodou atrás
da escrivaninha, com as longas pernas estendidas
casualmente, seu rosto ilegível. — Então eu acho
que a política não desempenha um papel nesta
visita.
— Não. Caroline e eu vamos sair na segunda-
feira. Consegui um quarto em uma pousada isolada
perto de Aylesbury. Não muito longe, mas não
muito perto, perfeito para um encontro discreto.
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Tudo foi acertado.


Havia motivos para que o duque de Rothay
fosse considerado uma lenda. Ele permaneceu
relaxado em sua cadeira, mas seus olhos escuros
exibiram um certo brilho que Derek podia
reconhecer. Uma pequena pausa quase infinitesimal
foi feita.
— Então que vença o melhor.
— Essa é nossa intenção desde o princípio, não
é?
Derek ouviu o choque de uma espada
imaginária, o som de metal contra metal quase
audível no silêncio da sala venerável.
— Exatamente a nossa intenção. — Nicholas
parecia tão frio como sempre.
— Você não tem objeção?
— Por que teria, já que não possuo nenhum
compromisso com a dama?
Por que, de fato? Era a pergunta mais correta.
Derek não se deixaria enganar. Ou, pelo menos,
esperava que não.
— Você parecia um pouco envolvido após o
seu retorno.
Foi uma declaração neutra. Nicholas lançou um
olhar para a janela.
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— Como você sabe, o termo envolvimento é


ambíguo. Eu me senti um pouco envolvido. Passou.
Seria verdade? Não, não era. Se assim fosse,
seu amigo não se mostraria tão cuidadosamente
indiferente. A perfídia de Helena deixara algumas
cicatrizes permanentes. Derek entendia, mas
lembrou-se do olhar no rosto de Caroline quando
ele perguntou se seus sentimentos estavam
comprometidos. Também se recordou da instrução
lacônica de Nick naquela tarde no White's.
Tenha cuidado com ela...
— Quando isso acabar, pelo menos não teremos
mais que lidar com essa ridícula aposta — disse
Derek em uma voz introspectiva. — Para começar,
foi uma ideia estúpida, mas a atenção que
recebemos deixou a sociedade bastante
desconfortável.
— Creio que sim.
— Depois desta próxima semana, tudo estará
resolvido.
— Você vai achá-la encantadora. — Nicholas
mudou de posição novamente, como se não
conseguisse se sentir confortável.
Idiota teimoso.
— Eu imagino que sim. — Derek tomou um
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gole causal de seu copo.


Nicholas abriu a boca para dizer algo mais, mas
fechou-a e permaneceu em silêncio. Tamborilou os
dedos na mesa em um gesto inquieto, e depois
parou também, como se percebesse que o
movimento traía seus sentimentos.
Uma objeção? Um pedido para cancelar tudo?
Derek podia compreender a guerra interior que
Nicholas travava consigo mesmo. Era uma equação
simples. Se Nick cancelasse a aposta, seria uma
declaração de seus sentimentos mais profundos por
Caroline Wynn.
Satisfeito que tudo tivesse corrido de acordo
com o plano, Derek ficou de pé.
— Só pensei em aparecer e avisar que fizemos
nossos preparativos. Vocês dois voltaram há quase
duas semanas, certo?
— Onze dias. — Nicholas percebeu a precisão
de sua resposta. — Mais ou menos — emendou.
Derek mal conseguiu reprimir uma risada. Não
que gostasse da tortura que seu amigo estava
infligindo a si mesmo, mas sentia empatia por saber
que Nicholas nunca ficaria em paz até que chegasse
à conclusão sozinho.
— Então, suponho que veremos o que a moça
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terá a dizer quando tudo isso acabar.


A intenção era mergulhar a adaga mais
profundamente.
— Suponho que sim.
— É melhor tomar cuidado, Nick, ela vai se
esquecer de você na primeira noite.
Seu amigo nem sequer piscou. Mas também
não lançou suas rápidas réplicas habituais. Derek
saiu, refletindo que pelo menos as sementes tinham
sido plantadas. A questão era: dariam frutos?

A SALA ESTAVA CHEIA DE TECIDOS , CRIADOS


falantes e cheirava de forma irresistível como o
perfume de jasmim da modista. Uma garota de
cabelos escuros se ajoelhou a seus pés, ajustando a
bainha de seu vestido.
Annabel permaneceu rígida, as costas retas, as
mãos entrelaçadas, a tristeza pesando como um nó
na garganta.
— Está glorioso, Madame DuShane. —
Margaret lançou à mulher um sorriso de aprovação.
— Você vai parecer um anjo, Annabel.
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Ela precisava usar a palavra anjo? Evocava


imagens de um homem de cabelos dourados
escuros que fora batizado com esse apelido, embora
o motivo dificilmente fossem seus passatempos
angelicais. Um homem com olhos tão azuis que
olhar para eles era como admirar um mar cristalino,
e um sorriso tão hipnotizante que nenhuma dama
dentro de seu alcance seria imune ao seu poder.
Como poderia continuar provando seu vestido
de noiva enquanto pensasse em Derek Drake?
Mas que escolha ela tinha? Annabel finalmente
se forçou a virar e olhar no espelho comprido. Sim,
era uma criação adorável, a saia azul-gelo de cetim,
uma sobreposição de renda dando um efeito etéreo.
Era justo perto da cintura e depois se transformava
em um corpete modesto, mostrando apenas uma
sugestão da curva superior de seus seios. Pequenas
pérolas foram bordadas ao longo das mangas e do
decote, o brilho refletido na luz.
O vestido era deslumbrante.
Ela, no entanto, parecia horrível em
comparação. Estava pálida como um fantasma, com
indício de olheiras sob seus olhos por falta de sono
e sua boca tremia enquanto lutava contra um desejo
insuportável de explodir em lágrimas.
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Por que ela lera aquela carta?


Margaret surgiu atrás dela, refletida no vidro.
— Annabel?
— Eu não posso fazer isso.
As palavras saíram como um sussurro frágil. A
boca de Margaret se abriu, e um lampejo de alarme
cruzou seu rosto.
— Minha filha querida, eu...
— Eu não posso me casar com Alfred. —
Annabel virou-se. — Me desculpe... eu sinto
muito...
Madame DuShane era uma mulher de aparência
desgrenhada com um queixo afiado e pequenos
olhos negros. Suas mãos se agitaram em um gesto
dramático.
— É natural ficar nervosa, não? Todas as
noivas se sentem assim. Vai passar. Você está uma
visão neste vestido. Ele vai cair de joelhos, tomado
de amor.
A lógica equivocada de que uma peça de roupa
poderia inspirar uma emoção que ela tinha certeza
de que Alfred não sentia por ela deu a Annabel o
desejo macabro de rir, mas ela não o fez. Em vez
disso, suas mãos se fecharam nas laterais do corpo,
e ela sacudiu a cabeça.
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— Não é nervosismo, Madame. O vestido é


muito bonito, mas duvido que vá precisar dele.
Margaret, percebendo que elas estavam em um
local público, disse rapidamente:
— Querida, por que não pedimos que uma das
garotas te ajude a se trocar? Podemos discutir isso
em casa e depois voltarmos para uma última
adaptação em algum outro momento.
Com rápida eficiência, Annabel se despiu,
substituindo o vestido de noiva por um amarelo −
que escolhera porque esperava que a cor alegre
aliviasse seus ânimos −, e seguiu Margaret para
fora da loja até a carruagem que as aguardava. Elas
haviam planejado fazer várias outras paradas, mas
Margaret deu ao cocheiro instruções para levá-las
de volta para casa.
Annabel preparou-se para um sermão bem
merecido, dada a maneira discreta e elegante de
Margaret. Mas, em vez disso, a mulher que a criou
como se ela fosse uma filha simplesmente ergueu
as sobrancelhas assim que a carruagem se pôs em
movimento.
— Madame DuShane é uma costureira
maravilhosa, mas também uma fofoqueira terrível.
Eu acho que assim que chegarmos em casa você
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precisa falar com Thomas imediatamente, então


Lorde Hyatt pode ser informado antes de ouvir de
outra pessoa. Ele é um bom homem e está prestes a
ser abandonado. Quanto menos humilhante você
tornar isso para ele, melhor.
Margaret estava certa, claro. Deus, por que isso
tinha que ser tão complicado? Por que ela não
podia simplesmente amar a ele, ao invés de outra
pessoa?
— A senhora não está surpresa?
— Querida Annabel, tenho olhos. Não lhe
perguntei depois do último ajuste se você ainda
desejava continuar com o casamento?
— Sim — ela admitiu em um suspiro.
As lágrimas ainda estavam lá, ardendo atrás de
suas pálpebras. O que mais Margaret notara? A
bondosa simpatia nos olhos da mulher mais velha a
confundiu ainda mais.
— Além disso, quando o rosto de uma noiva
em potencial atinge certo tom de verde toda vez
que experimenta seu vestido de casamento, algo
está definitivamente errado.
— Eu sei.
— Estou muito feliz que você tenha chegado a
essa conclusão antes do casamento e não no dia
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seguinte.
— Graças a Lady Wynn.
Annabel podia recordar claramente a firme
convicção na voz da jovem viúva enquanto falava
da armadilha de um casamento sem amor. Podia ser
uma visão romântica, especialmente na classe alta,
onde os casamentos arranjados eram comuns, mas a
moça parecera falar de uma experiência amarga.
— Lady Wynn? Uma mentora estranha. Eu não
sabia que vocês eram amigas.
Se ela não estivesse tão desequilibrada devido à
sua indecisão e posterior decisão de romper seu
noivado, Annabel nunca teria deixado escapar, mas
ela disse:
— Nós não éramos particularmente próximas,
não até outro dia. Ela é amiga de Derek.
Elas moveram junto com a carruagem, e a
expressão de Margaret refletiu algum ceticismo.
— Eu normalmente não discutiria esse assunto
com você, mas duvido que seja verdade. Não ouvi
nenhuma fofoca a respeito.
— Não sua amante. — Annabel não estava nem
um pouco preocupada se o assunto era ou não
apropriado para seus ouvidos. Ela envelhecera uma
década nas últimas semanas. — Ela afirmou
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francamente que ele nunca se aproximou dela de


uma forma amorosa.
— Graças a Deus — murmurou Margaret. —
Que conversa interessante que deve ter sido. Estou
intrigada com suas motivações, ainda que também
seja grata. Tenho andado preocupada com você.
Thomas também.
Com as mãos cerradas no colo, Annabel olhou
para o chão.
— Vocês são, como sempre, bons demais para
mim.
— Bobagem. Em todos os sentidos da palavra,
exceto pelo seu nascimento real, você é nossa filha.
— Então Margaret acrescentou em um tom
hesitante: — Somos igualmente afeiçoados a
Derek. É sempre complicado julgar até quando
podemos interferir na vida dos outros. Tenho
tentado deixar vocês dois descobrirem isso por si
mesmos. Não foi fácil fazê-lo, devo admitir.
Então… eles sabiam. De sua paixão, de seus
supostos sentimentos e parecia lógico supor que
também estavam cientes da desilusão que sentia.
Eles sabiam de seu coração despedaçado. Como
ela julgava ter sido capaz de esconder isso?
— Como alguém confia em um homem com a
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reputação de Derek? — Annabel perguntou com


um horrível tremor em sua voz. — E eu rogo neste
momento para que não me dê um discurso usual
sobre libertinos, pois não poderei dar uma resposta
elegante. Este é o mesmo homem que recentemente
fez uma aposta ultrajante baseada em sua… bem…
Ela corou. Mesmo que pudesse ter algumas —
bem, uma quantidade embaraçosa, de fantasias
sobre como seria estar em seus braços − era uma
coisa bem diferente falar sobre isso.
Margaret pareceu entender.
— Rapazes, ou, no caso, homens, nem sempre
são as criaturas mais prudentes.
— Um eufemismo — Annabel resmungou.
Sua acompanhante lançou-lhe um olhar
aguçado.
— Assim como jovens mulheres precipitadas
que concordam em se casar com alguém por quem
não nutrem sentimentos profundos só para
provarem um ponto absurdo?
— Não é a mesma coisa.
— Diga-me a diferença.
Dado seu comportamento na modista, como ela
poderia argumentar? Annabel sussurrou:
— O que eu faço agora?
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Margaret se inclinou para frente e deu um


tapinha nas mãos, ainda entrelaçadas no colo de
Annabel.
— O amor é uma coisa milagrosa, minha filha
querida. Não subestime isso.

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U ma unha comprida percorreu seu peito nu,


fazendo-o abrir os olhos. Nicholas piscou,
começando a se sentar, depois gemeu e se jogou
para trás.
— Bom Deus, que horas são?
— Onze, querido.
— Maldição! Tem certeza?
Elaine Fields riu em um som baixo e melódico.
— Sim, com certeza. Diga-me, o quanto você
se lembra da noite passada?
Ele olhou para a mulher sentada na beira da
cama − na cama, pelo amor de Deus −, com os
olhos apertados. O quarto era de um rosa
resplandecente. Cortinas cor-de-rosa, papel de
parede cor-de-rosa e cheirava a rosas, se tal coisa
fosse possível. O dia devia estar ensolarado porque
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blocos quentes de luz incidiam sobre o tapete. Sua


cabeça doía, e sua boca parecia seca e
desagradável. Depois de um momento, ele admitiu:
— Não muito.
Elaine arqueou uma delicada sobrancelha. Ela
era uma ruiva luxuriosa com curvas opulentas, uma
década mais velha do que ele, e, embora tivessem
tido um caso breve e muito casual anos atrás,
conseguiram permanecer amigos. Quando seu
marido idoso morreu e a deixou em uma batalha
financeira com os credores, Nicholas usou sua
influência para ajudar a livrá-la de táticas
mesquinhas e ambiciosas. Ser o Duque de Rothay
tinha suas compensações de vez em quando.
Havia dificuldades também, se você
considerasse como Caroline nem sequer podia ser
vista falando com ele.
Elaine murmurou:
— Não estou surpresa. Eu raramente o vi tão
bêbado, Nicky. Deveria ter percebido quando você
chegou e me esqueci de lhe oferecer mais
aguardente. Suspeito que vá sentir as consequências
durante todo o dia.
Ele tinha a sensação sinistra de que ela estava
certa. O que diabos acontecera na noite anterior?
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Como acabara com sua ex-amante? Ele fora a uma


pequena reunião, ouvira uma fedelha terrível
profanar Bach ao piano, e então... fora Manderville
quem sugerira que jogassem um de seus jogos de
azar favoritos? Poderia ter sido, mas ele
simplesmente não conseguia se lembrar.
Já não tinha aprendido a não exagerar na
companhia de Derek?
— Eu só posso rezar para que esteja errada —
disse ele em cínica resignação. — Por favor, me
diga que eu não fui muito grosseiro.
— De modo algum. Eu nunca tive uma
conversa tão interessante na minha vida.
— Conversa? — Ao dizer isso, ele percebeu
duas coisas. A primeira era que estava sem camisa,
mas ainda usava as calças. Alguém atencioso havia
tirado suas botas, graças a Deus, já que ele
duvidava que tivesse sido sensato o suficiente para
fazê-lo. A segunda era que ela trouxera chá, e
Nicholas nunca se sentira tão grato por ver uma
bandeja e uma chaleira fumegante quanto com
qualquer outra coisa em sua vida.
Elaine percebeu para onde ele estava olhando e
moveu-se com um pequeno sorriso para lhe servir
uma xícara.
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— Você foi muito filosófico, querido.


Com esforço, ele se ergueu para uma posição
meio sentada e aceitou sua oferta com gratidão.
Depois de um gole feliz, ele murmurou:
— Tudo bem, vá em frente, o que eu disse?
Em um vestido de seda cor de bronze com
renda branca no corpete e nos punhos, com apenas
um punhado de sardas no nariz, Elaine sentou-se.
Recuou um pouco e olhou-o com uma clara
diversão que lhe provocou certa preocupação.
— Você queria ter uma discussão profunda e
significativa sobre um assunto que nunca pensei
que discutiríamos.
Amor.
Ela nem precisava dizê-lo.
— Eu estava bêbado. — Sua desculpa soou
como o protesto de uma criança petulante.
— Sim, de fato, você estava. Deve ter sido por
isso me disse o nome dela. Admito que tive muita
dificuldade em acreditar no início.
Com mil diabos, ele quebrara sua palavra para
Caroline. Sua cabeça doía mais do que nunca,
embora soubesse que podia confiar que Elaine seria
discreta.
Ela continuou com uma risada serena.
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— Você não precisa parecer tão alarmado. Não


vou dizer nada sobre o seu envolvimento incomum
com Lady Wynn.
Ele era um idiota. Um bêbado idiota que traía
confidências. Perceber isso não melhorou em nada
seu humor.
— Obrigado. E suponho que também devo
agradecê-la por tolerar minhas divagações
induzidas por bebidas alcoólicas. Desculpe-me.
— Não há necessidade. E foram mesmo? —
Elaine deu um tapinha no joelho dele.
— O quê?
Ele bebeu mais chá, sentindo-se um pouco
menos enjoado.
— Apenas as divagações de um homem que
exagerou na bebida? Você parecia chocantemente
sincero.
— Sincero de que maneira? — Sua pergunta foi
cautelosa. Quem poderia imaginar o que ele
dissera? Como acabara no infernal quarto cor de
rosa de Elaine ainda era um mistério.
— Que você acha que se apaixonou pela bela
viúva fria do falecido Lorde Wynn.
Ele realmente estava bêbado.
— Eu disse isso?
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Elaine assentiu com a cabeça, um leve sorriso


pairando em sua boca.
— Mais do que isso, você pareceu sincero.
— O álcool é um catalisador para a estupidez.
— Sim, de fato, mas também é um soro da
verdade. — Ela sentou-se um pouco mais para trás
e olhou para ele com evidente especulação. —
Realmente vai permitir que ela saia com
Manderville por uma semana se você é tão
contrário à ideia? Por que simplesmente não diz a
ela a verdade?
A perfídia estava completa. Ele não só revelara
a verdade sobre seu tempo juntos em Essex, mas
também sobre a aposta em si e a participação de
Caroline nela. Maldito inferno.
Mesmo que o chá estivesse escaldante, ele
tomou uma grande quantidade. Queimou a garganta
inteira até atingir seu estômago instável.
— Se eu pudesse descobrir a verdade, talvez
fizesse exatamente isso.
— A verdade? Esse é o seu problema, querido
Nicky. Você descobriu.
Antigas amantes convertidas em confidentes e
transformadas em filósofos não eram fáceis de
manipular quando sua cabeça parecia feita de
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chumbo. Ele bebeu mais do líquido fumegante de


sua xícara e lutou para reparar qualquer dano que já
tivesse causado.
— Por favor, Elaine, estou fora da minha
sanidade. Ela é diferente, eu admito. Capturou
minha atenção, para não mencionar que temos
compatibilidade na cama. No entanto, ela não quer
ser abertamente associada a mim e destruir sua
respeitabilidade, e quem pode culpá-la? A menos
que eu ofereça casamento, estamos terminados.
Silêncio.
Elaine simplesmente olhou para ele.
Ele realmente acabara de falar sobre
casamento?
Sim, ele falara.
Maldição.
Sua boca se contraiu.
— Ela não está interessada em se casar
novamente. Deixou isso bem claro.
— A mulher em questão é jovem e protegida.
Suas divagações sobre o marido me dizem que ela
teve uma experiência horrível, mas sua
concordância em acompanhá-lo até Essex, em
primeiro lugar, mostra que não pretende evitar os
homens para sempre. Pelo que me disse, você
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mudou os pensamentos dela de uma maneira que só


você poderia mudar, querido. Não disse que se
deram bem de uma forma... absurda?
— Será absurda se alguém descobrir. — Sua
têmpora latejava, e ele a esfregava.
— E quem sabe, talvez, ela também goste de
Derek.
Era uma tortura imaginá-los juntos, e ele pôde
sentir seu rosto se contrair numa carranca
involuntária.
Elaine não deixou passar. Perguntou
gentilmente:
— Gostaria de ouvir os conselhos que lhe dei
ontem à noite, agora que você está em condições de
lembrar?
O sorriso de Nicholas era triste e sincero.
— Desde que tive a descortesia de invadir sua
casa sem ser convidado, beber em um estupor e
dormir em sua cama, suponho que seria rude
recusar.
— Você precisa esquecer Helena de uma vez
por todas.
O sorriso desapareceu.
Aquele nome era algo que ele dificilmente
gostaria de ouvir enquanto sua cabeça estivesse
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latejando como um tambor de um pelotão francês.


— Você — ele disse com o que esperava soar
como calma — coloca muita ênfase em algo que eu
já esqueci.
— De alguma forma eu duvido disso. Fui
testemunha, lembra? Foi por isso que você acabou
na minha cama, por um curto tempo. Depois que
terminamos, de repente você se tornou o Duque
Diabólico, e a sedução casual tomou o lugar do que
sei de memória que era uma abordagem muito mais
aberta e menos cínica da vida.
— Eu fui idiota e, aparentemente, não melhorei
tanto assim.
Ele esvaziou a xícara e considerou comer um
dos bolinhos na bandeja, mas decidiu não o fazer.
Só a menção do nome de Helena já tinha esse efeito
sobre ele. A sensação de enjoo em seu estômago
não era inteiramente devida ao excesso da noite
anterior.
— Ela traiu você.
Sim, de fato, esta era a verdade. Helena
capturara sua paixão juvenil e depois destruíra sua
fé no amor. Ela também era uma viúva − muito
atraente − e atraiu-o com provocação sexual e por
sua situação como uma mulher indefesa e sozinha.
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Só que ela não estava sozinha. Ele descobriu


isso de uma maneira que abalou seu mundo.
Foi uma lição valiosa. Senhoras bonitas e
vulneráveis ​provavelmente lhe proporcionariam
apenas tristeza. Então… surgiu outra viúva
tentadora com um potencial inexplorado de paixão
e confiança ferida, e lá estava ele de novo, agindo
como um menino inocente, apesar de sua
experiência.
Não. Caroline não era nada como Helena. Ele
estava certo disso.
Quase.
— Não precisamos discutir isso. — Nicholas se
levantou e lançou as pernas para a lateral da cama.
— Onde diabos estão minhas botas?
— Talvez não precisemos discutir o assunto,
mas talvez você devesse conversar com ela.
— Eu a conheço há menos de um mês.
O fantasma de um sorriso tocou a boca de
Elaine. Com sua habitual graça lânguida, ela
moveu-se para recuperar os itens que ele procurava,
arrancando as botas descartadas do chão.
— Eu acho que é um bom sinal que tenha
levado tão pouco tempo para ter seus sentimentos
tão envolvidos. Ela parece perfeita para você, se
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quer minha opinião.


— Eu não quero — ele grunhiu e aceitou uma
bota.
Bom Deus, sua cabeça doía.
— Você quis ontem à noite.
Ele olhou para cima enquanto calçava a bota.
— Quando eu me casar, será estritamente por
dever. Dificilmente poderei escolher uma mulher
que não apenas deixou claro que não tem interesse
em um segundo arranjo como esse, mas que
também pode ser infértil. O que sinto é apenas um
obsessão luxuriosa, mas vai passar. Sempre passa.
Elaine olhou para ele com olhos preocupados e
uma expressão solene. Ela disse suavemente:
— Temo muito que você esteja deixando
Helena te fazer de bobo pela segunda vez.

A QUILO TINHA QUE FUNCIONAR .


Caroline desceu da carruagem e,
conscienciosamente, olhou ao redor, sem ver nada
além de uma rua longa e tranquila e telhados de
colmo, o ambiente doméstico contrastando com a
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natureza do local de encontro. Podia não ser a


reunião mais notória de toda a história da
Inglaterra, mas tinha a ver com a fofoca atual da
sociedade com certeza.
A hospedaria em si era pequena e
despretensiosa, com uma fachada simples e uma
placa um pouco torta, desbotada pela luz do sol e
pelo tempo. Não parecia o lugar onde um dos
amantes mais renomados da sociedade planejaria
uma sedução.
Huw, como de costume, não disse nada, apenas
a escoltou para o estabelecimento, com seu
comportamento reservado de sempre. Quando ele
se virou para sair, no entanto, parou e se virou de
novo.
— Minha senhora?
Caroline estivera examinando a modesta
taberna, nada além de pisos de madeira e mesas
simples. Era atraente, porque, embora fosse
simples, tinha uma qualidade singular e, felizmente,
estava limpa. Ela ergueu as sobrancelhas.
— Sim?
— Tem certeza de que deseja fazer isso?
Seu olhar tornou-se mais atento ao olhar para o
jovem. Sua pele tinha assumido uma cor mais
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escura.
Claro. Huw sabia sobre a aposta e sua
participação nela. Havia permanecido nos
aposentos dos criados em Tenterton Manor durante
seus cinco dias com Nicholas. Provavelmente tinha
adivinhado. E lá estava ele, com o chapéu na mão,
uma leve camada de poeira no uniforme devido ao
caminho que percorreram. Seu cabelo era escuro e
encaracolado, e emoldurava um rosto com uma
expressão que era uma mistura de constrangimento
e preocupação.
Era comovente.
Ainda assim, ela tentou prevaricar. Fracamente,
perguntou:
— Fazer o quê?
— Não estou em posição de me intrometer,
senhora, mas o Duque... bem, ele não ficaria
satisfeito, se me perguntar.
Como aquele era o mesmo jovem que os guiara
por Londres enquanto faziam amor em sua
carruagem, ela não pôde deixar de corar. Mas,
ainda assim, se irritou um pouco com a suposição
de que Rothay podia ter alguma opinião sobre o
que ela fazia ou deixava de fazer. Afinal, o homem
não se declarara para ela em nenhum momento.
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Ele a desejava, o que era outra coisa.


Ela queria mais. Sim, ela queria, ou não estaria
naquele momento se encontrando com Lorde
Manderville em uma hospedaria campestre pouco
atraente.
Os criados sabiam tudo. Era um detalhe do qual
muitas vezes se esquecia, porque, no passado,
nunca fizera nada de ultrajante.
Caroline sorriu com tristeza.
— Em primeiro lugar, por que acha que estou
aqui? Realmente espero que Vossa Graça não goste
do que vou fazer.
O rosto de Huw se abriu em um sorriso
hesitante.
— Entendo.
O homem pareceu aliviado. Lá estava o charme
irresistível de Rothay. Ela se lembrou dos dois
homens conversando sobre cavalos uma ou duas
vezes na propriedade rural. Impressionou-a o fato
de que Nicholas se dirigira ao rapaz galês com a
mesma camaradagem que nutria por qualquer outra
pessoa.
Huw gostava dele. Caroline também. Ela
gostava demais dele para sua própria paz de
espírito. Nicholas era infinitamente agradável. Isso
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não estava em questão. Muitas mulheres podiam


atestar seu fascínio magnético.
O que quer que ela pudesse dizer em seguida
foi silenciado pela entrada do homem por quem
esperava. Ou melhor, não era bem isso. Ela podia
estar esperando por Lorde Manderville. Mas suas
esperanças – e desejos − estavam em Nicholas.
Derek parecia arrojado como nunca. Vestia-se
menos formalmente do que seu estilo habitual, uma
gravata simples de linho branco, o casaco sobre o
braço em vez de cobrir os ombros. Seu cabelo
estava desgrenhado e seus olhos azuis brilhavam.
Um sorriso enfeitava suas feições aristocráticas. Ele
inclinou a cabeça educadamente para Huw e depois
fez o mesmo para ela.
— Minha senhora.
Ela acenou com a cabeça para seu jovem
cocheiro em despedida, verdadeiramente tocada por
contar com sua proteção.
— Obrigada, Huw.
Ele hesitou por um momento e depois saiu.
Ela se virou para o conde.
— Vejo que chegamos mais ou menos na
mesma hora, meu senhor.
O estalajadeiro não deixou passar o aspecto do
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cocheiro nem o modo como os dois se dirigiram um


ao outro. Era um homem rechonchudo, com uma
cabeça careca, rosto corado, e seu nariz era de um
tom avermelhado que indicava que ele próprio
bebera um pouco de cerveja. Apressou-se, então,
em recebê-los.
Derek pegou a mão dela e apertou-lhe os dedos
suavemente. Uma sobrancelha se ergueu em um
arco arrogante enquanto ele se dirigia ao
proprietário.
— Vamos ficar alguns dias. Minha
correspondência deve ter chegado a você na
semana passada.
— Nosso melhor quarto. Sim, milorde.
O homem enxugou o rosto suado com um
lenço, enfiou o pano no bolso e acompanhou-os a
um pequeno lance de escadas.
Eles o seguiram. Caroline consciente do aperto
da mão do conde na sua, ciente de que algo sobre
ele estava diferente. Não o conhecia bem, mas até
ela podia sentir a mudança.
Entraram em um atraente quarto com paredes
de madeira, uma cama grande com uma colcha
padronizada em vários tons de azul e verde, e duas
pequenas janelas que davam para um riacho
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cercado por uma campina cheia de ovelhas


pastando. Um pequeno quintal com uma horta que
parecia promissora, pelo menos, tanto quanto o
menu poderia oferecer.
Claro, esperava não ficar por muito tempo.
Será que Nicholas se importaria o suficiente
para surgir e impedir o que ele pensava que iria
acontecer?
A teoria de Derek era de que ele faria isso.
Caroline não tinha a mesma confiança, mas, ao
mesmo tempo, não conhecia Nicholas como seu
amigo conhecia. Mas queria conhecê-lo. Deus do
céu, como ela ansiava por outra dança sob o luar
ou, melhor ainda, acordar de forma preguiçosa ao
lado dele novamente, sentindo seus braços ao redor
dela, o sopro de sua respiração contra sua bochecha
enquanto ele dormia...
— Annie desfez o noivado.
Caroline, que olhava pela janela para uma
ovelha com dois cordeirinhos que a seguiam lado a
lado, virou-se e sorriu.
— Eu achei que você parecia despreocupado
quando chegou. Agora eu sei por quê.
— O que você precisa saber é que tem minha
gratidão eterna. Tudo o que disse a ela teve o efeito
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desejado.
Caroline sentou-se na cadeira junto à pequena
lareira.
— Eu simplesmente lhe disse a verdade. Que
seria um desserviço para ambos se ela se casasse
com Lorde Hyatt estando apaixonada por você.
Derek escolheu a cama, acomodando-se com
causalidade.
Caroline pensou em sua naturalidade com uma
pontada de observação irônica. Ele não era um
novato em dividir quartos pequenos em estalagens
com mulheres. Para ela, os riscos eram muito
maiores. Estava colocando sua reputação em perigo
tanto quanto quando fora para Essex. Mas daquela
vez não era por paixão, mas como um ardil.
Ela se sentia insegura, mas Derek jurara que
seria um sucesso.
— Ela admitiu que estava apaixonada por mim?
— Não.
O homem ficou desanimado. Sim, um libertino
de primeiro calibre com a reputação de fazer
qualquer donzela ruborizar, parecia uma criança de
quem acabaram de tirar o doce.
— Entendo. Eu esperava...
— Você honestamente acha que ela diria a
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mim, uma mera conhecida, algo tão pessoal? Eu


falei muito mais do que ela, mas, para ser sincera,
milorde, acho que a moça já estava inclinada a
romper com Lorde Hyatt. — Caroline levantou
uma sobrancelha. — Eu duvido, mesmo com o
noivado terminado, que vá ser fácil reconquistá-la.
O amor que sente por você não está em questão;
mas, sim, sua confiança. Esta é uma mercadoria
que, uma vez danificada, não é tão facilmente
substituída.
— Eu entendo. — Ele se mexeu um pouco
sobre a cama, fazendo suas botas rasparem o chão.
— Agonizo com isso, acredite em mim.
Ele agonizava. Annabel tinha sorte.
— As mulheres têm noções românticas sobre
como devemos ser cortejadas e conquistadas.
Havia um vislumbre de sorriso em seu rosto.
— Você vai me dar uma lição sobre mulheres,
minha senhora? Os rumores dizem que sou um
especialista, devo avisar-lhe.
Seu charme certamente era palpável. Não era de
admirar que Annabel Reid tivesse se apaixonado
por ele. Se Caroline não estivesse tão envolvida
com Nicholas Manning, provavelmente teria sido
suscetível. Ela sorriu.
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— Se não fosse pela sua reputação e a de


Nicholas, não estaríamos sentados aqui, não é?
Ele olhou para ela do outro lado da sala.
— Se não fosse pela aposta, você e Nick ainda
seriam apenas conhecidos que se cumprimentam
com um mero movimento de cabeça; Annabel
ainda estaria planejando o casamento dela e eu
ainda me consideraria impotente para mudar as
coisas. Acho que não posso me arrepender da
aposta agora.
— Ele virá? — sua pergunta saiu de forma
involuntária, e ela imediatamente desviou o olhar.
Derek riu.
— Ah, virá.
Sua confiança era reconfortante, mas ela não
tinha certeza se compartilhava da mesma opinião.
— Por que está tão certo?
— Por vários motivos, mas principalmente por
causa dos onze dias.
Caroline franziu a sobrancelha.
— Onze dias?
— Ele sabia exatamente quantos dias se
passaram desde que vocês dois retornaram de
Essex. Talvez eu não saiba muito sobre pessoas em
geral, mas sei sobre a espécie masculina, já que sou
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eu mesmo um representante. Ter noção exata de


uma contagem do tipo não é algo de nossa
natureza. Ele contou os dias. Isso diz tudo.
Caroline ainda era ingênua quando se tratava de
intrigas desse tipo.
— Isso significa alguma coisa?
— Sim. Acredite na minha palavra.
— Eu acredito, de muitas formas. Se não
tivesse fé em sua integridade, não estaria sentada
aqui agora.
— Suponho que não.
Olhos azuis a observaram com o que parecia
um humor resignado.
— Nicholas acha que suas opiniões sobre os
julgamentos da sociedade são um aborrecimento.
— Um aborrecimento para seus propósitos,
você quer dizer.
— Ele gosta de manter relações sem
compromisso, eu admito.
— E a maioria das mulheres se curva aos seus
caprichos. — Ela empertigou-se.
Derek lançou-lhe um olhar nivelado.
— O que você não fez. Veja como o deixou de
joelhos.
— Não tenho evidências disso.
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— Em se tratando de Nick, mostrar-se tão


distraído e irritado são evidências por si só. Sei
disso porque nunca o tinha visto assim. Bem — ele
parou e hesitou —, digamos que já vi, mas apenas
uma vez. E se mostrou desastroso na época. Ele
tem motivos para ser cauteloso.
Ela ficou intrigada e lembrou-se de quando
perguntou se alguma vez houvera alguém especial e
da reação de Nicholas à pergunta.
— Quem era ela?
— Se ele quiser te dizer, dirá.
Homens, Caroline pensou com irritação.
Quando queriam ser leais, era impossível coletar
informações.
Lorde Manderville sorriu, sua boca bem
formada era uma curva juvenil.
Era angelicamente contagiante. Caroline não
pôde evitar. Sorriu de volta.
— Então o que fazemos agora?
Ele disse sucintamente:
— Esperamos pela grande entrada.

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E le esperou muito tempo. Nicholas puxou o


cavalo e praguejou em voz baixa. Sim, ele
tinha se controlado e procrastinado, tentando negar
sua vontade esmagadora de seguir seus instintos,
mas finalmente sucumbiu.
Bom Deus. Ele os seguira.
Durante todo o caminho para Ayleshire. Depois
de fazer perguntas meramente informativas a vários
moradores locais, descobriu que havia localizado a
hospedaria correta.
Inferno, ele estava fazendo papel de bobo.
Era modesta e pequena, situada na periferia da
cidade, com um telhado inclinado e flores em

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caixas sob as janelas. Não era bem o que ele


escolheria, mas não era seu direito decidir nada.
Derek tentava ser discreto a pedido de Caroline,
sem dúvida.
Derek e Caroline. Juntos.
Desmontando, Nicholas jogou as rédeas para
um rapaz que saía dos estábulos e seguiu para a
porta. Por dentro, o lugar era adequado, de um jeito
modesto, para um encontro romântico.
O que poderia ser exatamente o que Caroline
queria, ele lembrou a si mesmo.
Ela nunca lhe dera indicações de que desejava
algo mais.
Na carruagem, na outra noite, quando ele foi
reduzido a pedir favores de servos e se esconder
como um ladrão só para vê-la, ele a desapontara.
Caroline não era conseguira esconder sua expressão
quando ele confessou ser cauteloso com ela, que
perguntara por quê.
A resposta fora clara, ele pensou com severa
auto repreensão: porque estava desconfiado de que
ela o obrigaria a fazer coisas ridículas como
cavalgar em alta velocidade por horas até uma
pequena hospedaria para impedi-la de resolver uma
aposta juvenil muito imprudente.
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Ele amava Derek como um irmão. Essa


interferência era tanto para salvar sua amizade
quanto qualquer outra coisa.
Não, não era, ele disse a si mesmo com
honestidade. Era egoísta, porque ele não podia
suportar pensar nos dois juntos.
Na cama. Se tocando, se beijando...
Ele esperava como o inferno que não fosse
tarde demais.
Um pequeno homem gorducho parou de limpar
uma das mesas em sua entrada, reagindo ao indício
de impaciência e propósito na expressão de
Nicholas, que disse em voz baixa:
— Estou procurando dois convidados. Uma
mulher bonita com cabelos ruivos e um homem alto
e loiro. Onde eles estão?
O proprietário olhou sua roupa cara e julgou
corretamente seu status social.
— Meu senhor, eu não posso...
— Você pode me chamar de sua Graça —
corrigiu Nicholas, com um tom letal em sua voz. Se
seu título tivesse peso para obter respostas mais
rápido, ele o usaria. — E, por favor, responda à
minha pergunta ou vou simplesmente bater em
todas as portas até descobrir onde estão.
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— Primeiro quarto à direita, no alto da escada.


O hospedeiro entendeu muito bem a
impaciência em seu tom. Uma toalha pendia frouxa
da mão gorducha.
Nicholas assentiu e se virou, mas depois se
virou de novo.
— Há quanto tempo eles estão aqui?
— Várias horas, sua Graça — a confissão
terminou em um gemido.
Com um suspiro, Nicholas murmurou um
xingamento. Por que diabos ele tinha esperado? Por
que ficara andando em círculos em seu maldito
escritório por tanto tempo? Já começava a
escurecer do lado de fora e...
Ele subiu as escadas de dois em dois degraus,
como se a pressa àquela hora tardia pudesse fazer a
diferença. Na porta correta, ele parou, rígido e
detido, quando ouviu uma pequena risada ofegante.
Feminina e familiar. Em Essex, ele a ouvira com
frequência, geralmente sussurrada em seu ouvido
enquanto eles estavam juntos na cama. Espontânea,
livre e tão adorável quanto o resto daquela mulher
quando não continha todo seu bom humor em uma
fachada gelada de desapego.
Nicholas ergueu a mão para bater e pausou,
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outra cena retornando à sua mente, como um


fantasma passando à luz fraca do corredor.
Helena havia desaparecido. Ele sabia, porque
tinha ciência de todos os seus movimentos, a graça
fluida de seu corpo enquanto ela dançava, a curva
de seu sorriso, o balanço de seus quadris enquanto
caminhava.
Onde ela estava?
Saíra para um pouco de ar fresco? Certamente
estava quente o suficiente, certamente a falta de
ventilação do salão era um bom motivo.
Por que fora procurá-la?
Porque sabia. Acontecera com ele, afinal de
contas. Aquele olhar sensual, a breve pressão em
seu braço, a delicada e sutil cena de sedução.
Sim, ele sabia.
Então, em vez de olhar para o terraço ou para
os jardins, foi silenciosamente para o andar de
cima. E ficou ali, do lado errado da porta de um
quarto fechado e ouviu-os.
Santo Deus, ele os ouviu. Ela dissera estar
apaixonada por ele, mas, ainda assim, vivia um
momento de paixão com outro homem. Ele nem
precisava entrar no quarto para saber que era
verdade.
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Reconhecia aquele leve suspirar de prazer...


então soube. Estava marcado em seu cérebro, em
suas terminações nervosas, em seu coração...
Sentindo-se duplamente amaldiçoado por ser
um idiota, ele abriu a porta, então, com mais força
do que pretendia, lançando-a contra a parede com
um estrondo alto.
Com o coração acelerado e a mandíbula
cerrada, esperando o pior cenário possível, ele
encontrou a mulher por quem estava obcecado,
sentada recatadamente numa cadeira perto de uma
lareira de tijolos, um copo de xerez próximo aos
lábios e os olhos arregalados com a chegada
abrupta.
Totalmente vestida, todos os ornamentos
femininos no lugar, o cabelo ainda penteado em um
coque simples. Derek, empoleirado na cama,
também estava completamente vestido, usando
inclusive o lenço de pescoço.
Não, não era a mesma cena que ele invadira há
uma década.
Deus fosse louvado.
O alívio o deixou sem palavras. Ou talvez fosse
outra coisa, algo parecido com mortificação. No
silêncio resultante, ele conseguiu dizer com
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brilhantismo:
— Olá.
Foi Derek quem respondeu. Seu velho amigo se
levantou em um movimento ágil, sustentando um
leve sorriso presunçoso em sua boca. Com precisão
meticulosa, puxou um relógio do bolso de seu
colete, olhou para ele e o colocou de volta.
— Você demorou mais do que eu pensava,
Nick.
O quê?
Nicholas queria fingir indiferença, mas não
conseguiu, mesmo depois de anos de prática no
controle de suas emoções. Ele disse friamente:
— Importa-se de explicar essa observação?
— Importa-se de explicar sua presença aqui? —
Derek dirigiu-se à porta. — Não para mim, claro,
uma vez que estou saindo. Tenho certeza de que
Lady Wynn gostaria de ouvir o que você tem a
dizer. Entre em contato comigo quando voltar para
Londres.
O que diabos está acontecendo?
Nicholas saiu do caminho quando seu amigo
passou por ele. Derek tinha um sorriso débil, mas
de inconfundível diversão, aberto no rosto.
Sim, como se Nicholas já não estivesse
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zombando de si mesmo. Era exatamente disto que


precisava: alguém rindo dele.
Mas era difícil ficar muito irritado ao ser
deixado sozinho com Caroline. Sozinho. Com ela.
Em uma hospedaria remota.
Um sonho tornado realidade. Não, era uma
fantasia masculina tornada realidade. Ou talvez
uma combinação de ambos.
Ela parecia encantadora trajando um vestido
simples de musselina rosa pálido, amarrotado de
sua jornada, aqueles olhos prateados luminosos
enquanto olhava para ele do outro lado do pequeno
quarto.
A cama, ele notou, parecia bastante confortável.
Ele agradeceria a Derek por sua escolha de
acomodações mais tarde.
— Você estava me esperando?
A voz dela soou sussurrada:
— Estava.
Ela estava. Santo Deus, Nicholas se sentia fora
de si.
— Eu não sei por que estou aqui, na verdade.
— Ele passou a mão pelos cabelos, nervoso, e
respirou irregularmente. — Exceto que eu
realmente não poderia aceitar a ideia de você seguir
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com a segunda parte desta aposta.


— Então veio para me salvar?
Caroline se manteve sentada, segurando um
copo pequeno entre os dedos, rosto ilegível.
Normalmente, ele entendia o que as mulheres
pensavam. Não, isso estava errado, ele podia
adivinhar o que as mulheres pensavam, mas
entender era outra coisa.
Agora, ele realmente não fazia ideia.
Nicholas entrou no quarto e fechou a porta atrás
dele.
Naquele momento, ele baniu o fantasma de
Helena não apenas para o corredor, mas para o
passado, para sempre.
— Eu vim por você — disse ele com simples
honestidade. — O que isso significa exatamente,
você será obrigada a me ajudar a entender.
— Obrigada? — Sobrancelhas ruivas se
arquearam, mas Caroline parecia corada. —
Rothay, você entende que não é só porque você é
um amante habilidoso, bonito em todos os sentidos
e poderia encantar uma cobra em uma cesta, que
sou necessariamente uma de suas conquistas.
— Não é? — Ele sorriu.
Por que ele hesitava?
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— Bem — ela disse com a mesma voz


pragmática, primitiva, típica de Lady Wynn,
embora a ansiedade em seus olhos desmentisse o
comportamento —, eu não estou convencida disso.
Ninguém sabia propor um desafio como ela.
Ninguém. Com um único bilhete, ela conseguira
virar sua vida de cabeça para baixo. Exatamente o
que fazia com ele naquele momento. Ela ainda se
encontrava do outro lado da sala, porém, ele podia
sentir sua ereção crescer, apenas pela promessa de
estar perto dela.
Não era simplesmente desejo. Desejo era algo
que ele conhecia bem. Já sentira muitas e muitas
vezes. Era o combustível que alimentava a fábrica
de fofocas e o que o impedira de pensar em Helena
no passado.
Aquilo era diferente. Fora diferente desde o
momento em que ele a beijou naquela tarde quente
no terraço em Essex e teve o primeiro sabor de sua
hesitante, mas ávida, paixão.
Ou talvez quando ela tirou o chapéu e se
revelou naquela pequena hospedaria...
Oh, inferno, quem diabos se importava quando?
Acontecera.
Apenas isso.
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E LE PARECIA MAGNÍFICO .
Surpreendentemente, um pouco desalinhado,
irritado, mas, ainda assim, o brilho em seus belos
olhos escuros era o que ela reconhecia com uma
clareza vívida.
Desejo.
O escandalosamente delicioso duque de Rothay
a queria.
Era demais esperar que este desejo não tivesse
sido a única coisa que o levara até ali?
A julgar pela protuberância em suas calças,
enquanto ele se livrava de seu paletó, era difícil ter
certeza. Mas, como Lorde Manderville havia
apontado, se o duque diabólico quisesse uma
mulher para fins mundanos, ele não precisaria ir tão
longe para encontrá-la.
Mas ele fora.
O risco valera a pena.
Ele propositadamente começou a avançar em
sua direção. Caroline tomou um gole compulsivo
de xerez, nunca tirando os olhos de sua silhueta
esguia. Ele era tão alto, tão masculino e poderoso

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quanto ela se lembrava, e tão intimidador quanto na


última vez em que trocaram olhares em um salão de
baile lotado.
Porém ele parou diante de sua cadeira e
estendeu a mão em vez de fazer algo mais
presunçoso como arrebatá-la em seus braços.
Só isso. Uma mão estendida.
Era um símbolo do que ela esperava que ele
oferecesse. Não apenas prazer passageiro, mas uma
união mais significativa. Nicholas fora de Londres
para impedi-la de cumprir sua oferta de julgamento,
e Lorde Manderville saíra, como planejado,
deixando-os em paz. Tudo estava indo bem até
aquele momento.
O firme pulsar de seu coração latejava em seu
pulso e garganta.
Caroline aceitou a mão, entrelaçando seus
dedos nos dele enquanto permitia que ele a puxasse
gentilmente, colocando-a de pé.
— Como disse, eu esperava...
Ela parou, vacilando, sem ter certeza do quanto
deveria oferecer. Nicholas tinha um leve sorriso no
rosto. Uma mecha escura de cabelo pairava sobre
uma sobrancelha. Suas calças e botas carregavam
poeira da estrada. Ele pegou o copo de xerez da
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mão dela e colocou-o de lado.


— Você esperava o quê?
Afinal, qual seria o problema de dizê-lo? Bem,
talvez fosse um risco, mas Nicholas viajara por
uma boa distância para interferir e, embora Derek
jurasse que isso aconteceria, ainda assim, a
surpreendera e a emocionara.
— Eu esperava que você viesse.
Uma sobrancelha de ébano se ergueu.
— Eu esperava que não — disse ele em um
murmúrio baixo antes de esmagar a boca na dela.
Foi um beijo nada gentil. Foi intenso, exigente,
mas, de alguma forma, generoso. Caroline se
inclinou para ele, deixando-o fazer o que queria
com a língua e os lábios, colocando as mãos na
lapela do paletó e encostando os contra o peito
dele. Uma vez que o tinha ali, ela podia perdoar até
mesmo aquele tom áspero de voz.
O duque diabólico não era apenas charme
naquele momento... e ela adorava isso. Amava a
necessidade ardente em seu abraço, amava a falta
de finesse. Ele era capaz de fascinar de forma
planejada e persuasiva, de seduzir tentadoramente,
mas o que acontecia ali era algo totalmente
diferente. Suas mãos percorreram seu corpo, e eles
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se entregaram.
Uma mecha de ébano roçou sua bochecha. Uma
boca quente e exigente possuía a dela, e Caroline
sentiu o comprimento rígido de sua ereção mesmo
através das camadas de suas roupas. Não importava
que estivessem em um quarto pequeno, o céu
escuro não tinha significado, todo o seu mundo era
um único homem.
Isso dizia tudo.
Um único homem.
— Nicholas — ela murmurou contra seus
lábios.
Ele sussurrou de volta:
— Estou aqui. Que Deus me ajude, mas não
pude me afastar.
Sim, ele estava lá. Isso deixava o corpo de
Caroline tenso e necessitado.
— Estou feliz.
— Deixe-me demonstrar o quanto quis estar
aqui.
Ele a guiou em direção à cama.
Suas mãos eram mágicas. Ela não tinha chance,
mas não queria uma. Seu vestido foi retirado e
afastado de seus ombros tão rapidamente que ela
mal percebeu que o tecido escorregava e se
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acumulava no chão. Chemise, meias e sapatos


foram descartados com a mesma rapidez, e ele a
ergueu, depositando seu corpo nu sobre a colcha.
— Isso sim faz valer a pena ter percorrido todo
o caminho de Londres até aqui — disse ele,
enquanto começava a se despir deliberadamente,
seu olhar vagando pelo corpo dela.
Como ela sentira falta daquilo. A evidente
audácia em seu olhar e a onda de excitação
profunda revirando seu estômago. Ele tirou a roupa
e, por um momento, ficou parado ali, como se
percebesse, com a mesma força frenética de
necessidade, quão importante era o momento para
os dois.
Então ele subiu na cama e a tomou em seus
braços, pairando totalmente em cima de Caroline,
sua boca reivindicando a dela novamente. Daquela
vez o beijo foi lento e perverso, seu membro ereto
entre eles. Caroline se esfregou naquele longo
comprimento, ganhando um pequeno grunhido de
aprovação do fundo do peito dele.
Caroline adorava o modo hábil com que as
mãos dele se moviam sobre seu corpo, a sensação
quente da boca em seu pescoço enquanto ela se
arqueava em seu abraço, o cheiro de sua pele. Já
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estava molhada e receptiva, ansiosa para senti-lo


dentro dela. Foi natural abrir as pernas, um convite
que ele não recusaria. Nicholas apoiou o peso em
seus antebraços e aceitou a oferta, seus joelhos
afastando suas coxas um pouco mais, enquanto se
preparava para penetrá-la.
Por um momento ele fez uma pausa, deixando
evidente sua hesitação por conta da tensão em sua
forma musculosa.
— Eu nunca sou possessivo.
Não era uma surpresa perceber que ele ainda
estivesse tendo problemas para compreender suas
próprias ações.
Caroline olhou para cima, conforme um prazer
lânguido assaltava seus sentidos enquanto a
antecipação zumbia através de todas as suas
terminações nervosas.
— Eu sei.
A ponta de sua ereção descansou contra a
abertura dela, mas ele não se mexeu.
— Imaginar você com Derek… Ah, inferno,
você com qualquer um... foi mais do que eu pude
suportar. Estava me torturando.
Mais do que quaisquer palavras sentimentais, o
olhar sombrio em seu rosto lindo a fez sorrir.
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Caroline tocou seu rosto.


— Eu não teria feito nada, de qualquer maneira.
— Por que não? Diga-me.
Ela captou o tom rouco e profundo de sua voz.
Que Nicholas Manning, o amante diabólico de
tantas mulheres, com seu carisma suave e
experiente, que era comentado em sussurros por
onde quer que ele fosse, estivesse incentivando-a a
fazer algum tipo de declaração primeiro, era
comovente e divertido. Ele era bom em todos os
aspectos de fazer amor, mas o amor em si parecia
ser algo que abalava sua serenidade.
Ela também não era boa nisso, mas tentou.
— Eu não posso imaginar estar com ninguém
além de você.
— Por que não se deitaria com Derek? Esse era
o acordo. As mulheres o acham infinitamente
atraente.
Será que Nicholas − Nicholas − estava
verdadeiramente inseguro sobre os sentimentos
dela?
Tal ideia a deixou eufórica.
— O acordo foi antes — ela disse a ele, com
um tom calmo e direto.
— Antes do quê? — Seus olhos se estreitaram
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apenas uma fração. Ela podia sentir o calor dele, a


evidência de seu desejo pressionando sua pele
arrepiada, o ligeiro tremor em seus braços
mostrando a quantidade de controle que lhe custava
não completar o ato que ambos queriam tão
desesperadamente.
— Antes de você, Nicholas.
— Continue — o tom inquietante exigia alguma
coisa. O olhar em seu rosto dizia que como ele fora
atrás dela, Caroline precisava de uma declaração
firme para apoiá-lo.
Caroline nunca dissera eu te amo a ninguém em
sua vida, mas também não achava que tivesse
amado alguém antes. Sua mãe, talvez, quando
criança, mas realmente não se lembrava dela. Seu
pai, frio, severo e distante, sua tia indiferente e
obediente, e muito menos Edward, que ela
detestava, nunca lhe inspiravam sentimentos
calorosos. Nicholas cortejara não apenas seu corpo,
mas também sua alma com seu toque gentil, hábil e
um sorriso irresistível.
Fora necessária apenas uma silenciosa dança ao
luar no terraço para que ela se perdesse.
Esforçou-se para dizer a coisa certa.
— Desde que você me tocou... Desde Essex...
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eu entendi que não poderia ir adiante. Eu disse a


Derek, assim que voltamos, que retirava minha
oferta.
— Então isso foi um truque?
A última coisa que queria era que ele se sentisse
assim. Ela estendeu a mão e tocou os lábios dele
com a ponta do dedo.
— Não. Eu não sei como chamar, mas não foi
assim. Derek especulou que poderia fazer você
rever seus sentimentos se pensasse que eu pretendia
ir adiante com minha parte na aposta.
— Ocorreu a ele que eu não desejava rever
meus sentimentos?
Ela não pôde deixar de rir do seu tom de
repulsa, mas ainda se sentia envergonhada quando
disse:
— Estou feliz que tenha acontecido, porque...
— os quadris dela se arquearam um pouco para
enfatizar o ponto — estamos aqui agora. Assim.
Você se importaria...?
Sua declaração ousada pareceu satisfazê-lo,
pois seu sorriso tinha uma qualidade lupina.
Ele rosnou:
— Eu não me importo de jeito nenhum.
Sua investida foi rápida, impetuosa, forte o
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suficiente para fazê-la ofegar. Ele embainhou seu


membro rígido inteiro profundamente, e a sensação
de felicidade a fez tremer. Seus olhos se fecharam.
— Sim.
Eles se moveram juntos, em sincronia, seus
corpos comunicando o que eles aparentemente não
podiam dizer com palavras. O ritmo era
descontrolado, selvagem, e Caroline se refestelou
nas sensações enquanto se elevava em direção
àquele paraíso erótico.
Não, ela não podia se imaginar fazendo algo tão
íntimo, tão maravilhoso, com ninguém além do
homem que se movia com ela naquele momento,
ambos buscando... encontrando...
A conclusão foi arrebatadora, o prazer tão
agudo que ela sentiu como se o mundo parasse e o
céu caísse. Eles estremeceram juntos, envoltos pela
sensação, exaustos e satisfeitos enquanto se
esparramavam em um emaranhado de braços e
pernas, ambos relutantes em falar até mesmo
quando suas respirações começaram a diminuir
para um ritmo normal.
Nicholas seguiu o ritmo dela. Mesmo nua em
seus braços, seu corpo úmido após a paixão
tempestuosa, uma parte dela ficou atônita com a
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descrença do que realmente havia acontecido. Um


longo dedo traçou um caminho desde sua
mandíbula e acariciou seu lábio inferior. Olhos
escuros a observavam sob o véu de cílios
semicerrados. Nicholas sorriu, mas não era o
habitual curvar calculado e preguiçoso de seus
lábios. Em vez disso, parecia quase melancólico,
que era uma palavra que ela jamais teria associado
ao duque de Rothay.
— Você ainda está com medo?
Caroline se mexeu, o que exigiu algum esforço,
porque ela se sentia maravilhosamente plena e
satisfeita.
— O quê?
— Naquela noite, em sua carruagem, você me
disse que estava receosa a meu respeito.
Ela balançou a cabeça, o cabelo se movendo
sobre seus ombros e costas nuas.
— Eu disse que tinha medo de um escândalo.
— Não tem mais?
Isso significava que ele nunca iria oferecer mais
do que o que eles tinham acabado de compartilhar?
Não sabendo como responder, Caroline se aninhou
contra ele, silenciosa, incerta, sentindo sua
felicidade desaparecer aos poucos.
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— Caroline?
Lentamente, ela admitiu:
— Se sua intenção é me convencer a entrar em
um caso com você, espero que não tenha sido este o
motivo que o fez vir até aqui. Aqueles dias que
passamos juntos foram uma revelação para mim.
Isso não é um segredo para você. Ao menos
sexualmente. Mas não estou falando apenas dos
esclarecimentos que encontrei em sua cama.
Lembra quando estávamos na clareira e fizemos
amor pela primeira vez? Percebo que não fiz o
comentário sugestivo que você desejava, mas lhe
contei a verdade. Você é um homem muito bom,
Nicholas. Deixando as armadilhas do título,
nascimento, riqueza e habilidade sexual à parte,
você é... você.
Suavemente, ele tocou o queixo dela, forçando
seu rosto a se inclinar para que eles olhassem um
para o outro.
— E o que isso significa?
Como ela desejou que pudesse ser indiferente.
Mas não podia. Sussurrou, então:
— Eu me apaixonei por você. Por aquele
homem, não pelo duque diabólico, mas pelo
verdadeiro.
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T rês dias. Fazia três dias desde que ele


retornara a Londres daquela pequena
hospedaria onde deixara Nicholas e Caroline se
divertindo imensamente. Derek, por outro lado, não
estava se divertindo nada. Ficar longe da casa do
tio fora uma tortura, mas ele dificilmente queria
surgir à sua porta como um abutre espreitando uma
corça logo depois que a dissolução do noivado de
Annabel se tornasse pública, então, ele esperou.
Três dias muito longos.
O crepúsculo surgiu com um propósito
insidioso, trazendo depois a escuridão, e ele
continuou sentado, sombrio e incerto. Sua mesa

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normalmente organizada, encontrava-se cheia de


papéis para os quais ele mal olhara por falta de
capacidade de se concentrar. Um sopro da brisa da
noite trazia aromas da rua e do jardim. O cheiro era
uma mistura eclética de fumaça de chaminé e rosas
exageradas.
Era tarde. Talvez ele devesse ir a White ou ao
Brook's, sentar-se num canto com uma garrafa de
uísque e…
E o quê? Ficar sentado lá, pensando nela ao
invés de fazer o mesmo em casa? Sim, seria muito
produtivo. Um leve som de algo raspando a parede
o despertou de sua abstração, e ele franziu a testa,
assustado quando se virou para olhar para a janela
aberta em seu escritório. O farfalhar de tecido lhe
avisou que não estava imaginando coisas, então ele
permaneceu sentado, mortificado ao ver uma perna
esbelta deslizar sobre o peitoril.
Ele poderia ter ficado alarmado, mas era muito
difícil, se tivesse que adivinhar, que invasores
tivessem pernas tão bem torneadas. Nem usavam
vestidos de noite de seda em tons de marfim.
Surpreendido, Derek congelou em sua cadeira.
Mas seu coração começou a bater mais forte.
Annabel pousou no chão, com uma respiração
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audivelmente agitada, e então se endireitou,


ajeitando as saias. As cortinas atrás dela se
moveram com fluidez, emoldurando seu corpo
esbelto. Como se fosse a coisa mais natural do
mundo que se esgueirasse pela janela de seu
escritório, ela disse apenas:
— Eu vi sua luz acesa.
Tardiamente — porque ainda se sentia
atordoado —, Derek levantou-se, quase tombando
novamente sobre a cadeira.
— Annie, o que você está fazendo?
Ela estava ali, com seus cabelos dourados e pele
de marfim, o queixo inclinado para cima em um
ângulo suave, um olhar desafiador em seus olhos
azuis.
— Não é este o nosso método atual de
visitarmos um ao outro?
Ele olhou para trás, perguntando se era algum
tipo de alucinação absurda.
— O diabo que é. Se você quiser me visitar —
embora senhoritas não visitem senhores —, venha
com um batalhão de acompanhantes e passe pela
porta da frente.
Seu queixo se ergueu um pouco mais.
— Entendo. Um conjunto de regras para você e
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outro inteiramente diferente para mim. É


perfeitamente aceitável que você rasteje pela janela
do meu quarto quando tiver algo a dizer, mas eu
não posso ter a mesma atitude?
Derek passou a mão pelos cabelos.
— Bom Deus, Annie, você sabe que não.
Thomas e Margaret sabem que está aqui?
— Claro que não.
Ele se sentiu empalidecer.
— Por favor, me diga que não veio
caminhando.
— Eu não poderia chamar uma carruagem,
poderia? Não é longe, e eu não sou aleijada.
Uma jovem sozinha nas ruas — ele olhou para
o relógio e viu que já passava da meia-noite —,
àquela hora, por mais que a vizinhança fosse
elegante e quieta, era imprudente o suficiente para
fazê-lo sentir-se fraco.
— Jesus — ele murmurou. — Sua tola.
— Eu preciso falar com você.
Decidida era um termo muito fraco para ela.
— Eu vou te levar em segurança para casa —
ele falou asperamente, porque ainda estava se
recuperando do medo pelo risco que ela tinha
corrido; não apenas por sua reputação, mas por sua
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segurança.
— Não. — Ela respirou, estremecendo, e
balançou a cabeça. — Estou sentindo coragem para
fazer isso agora. De manhã posso mudar de ideia.
Além disso, quero avançar e não gastar mais um
minuto imersa nessa batalha interna que parece
impossível de resolver. Você não está interessado
no que me trouxe aqui?
Foi a mesma pergunta que ele fez para ela na
noite em que se viu desesperado o suficiente para
invadir seu quarto.
Ela lhe dissera não.
Mas não era verdade. Ele pôde perceber pela
vulnerabilidade em seus olhos.
Houve bastante mal-entendido entre eles sem
acrescentar mais mentiras à mistura. Derek disse
simplesmente:
— Você deve imaginar que estou.
Assim, dada a permissão, ela hesitou, tão linda
sob o brilho fraco da lamparina, a cor marfim de
seu vestido fazendo-a parecer mais inocente e
jovem do que nunca. Exceto que era decotado o
suficiente para mostrar modestamente as curvas
superiores de seus seios fartos e não havia nada de
infantil a respeito dela. Era uma mulher sedutora
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em todos os sentidos, incluindo seu espírito


independente.
E era cativante, embora ele não precisasse
disso. Já era um cativo.
Ele ajudou-a dizendo:
— Fiquei sabendo.
Ela não tentou fingir que não sabia do que ele
estava falando.
— Sim, imagino que todo mundo já deva saber
que rompi meu compromisso com Alfred. Eu me
senti péssima fazendo isso, mas não tão terrível
quanto lhe teria feito se nos casássemos. Ele não
ficou particularmente surpreso, eu acho, assim
como você previu.
Derek apenas a olhou. Lentamente, ergueu uma
sobrancelha.
— Não seja presunçoso — ela alertou.
Teria sido mais eficaz se a voz dela não tivesse
falhado. Não muito, apenas um único engate em
seu discurso, mas foi o suficiente.
Para lhe dar esperança.
— Vou tentar não ser — ele murmurou. —
Nem estou certo se tenho algum motivo para ser
presunçoso. Tenho? Exceto, talvez, sua chegada e
presença não convencionais aqui a esta hora.
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— Eu ainda estou com raiva de você. — Ela


não respondeu à pergunta.
— Eu percebi — ele admitiu com humor
sombrio. — Nunca paguei tão caro por um erro.
Ela o olhou com olhos luminosos, a boca
tremendo um pouco.
— Eu nem sei por que deveria falar com você.
O ano passado tentei reconciliar o homem que eu
achava que conhecia com quem você realmente é, e
não gostei do exercício. Me dê uma razão lógica
para confiar em você.
Nenhuma parte dele pensou que seria fácil.
Havia certa vantagem, e uma desvantagem, em
conhecer alguém muito bem. Ela amava totalmente,
mas sofria pela traição com a mesma quantidade de
paixão. Derek hesitou um pouco e disse baixinho:
— Annie, entendo que fui insensível e idiota no
ano passado. Por favor, não faço objeção a nenhum
dos dois rótulos. Mas, colocando-se no meu lugar,
você não consegue entender que o que estava
acontecendo entre nós era proibido e estranho?
Você era tão jovem, e lá estava eu, com essa
reputação da qual não consigo me livrar e que
posso ter herdado do meu pai. Vamos adicionar um
interesse imprudente na protegida do meu tio.
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Senti-me muito pressionado sobre como agir.


— Então você caiu direto nos braços ansiosos
da condessa.
A acusação em seus olhos era inconfundível.
Ela ainda sentia raiva.
Mas também estava ali. Fora até ele.
— Eu expliquei por que e me desculpei. — Ele
procurou as palavras certas, algo para aliviar a
tensão visível em seus ombros delgados. —
Permanência não era algo que eu já tivesse
considerado antes.
— Antes?
A pergunta feita delicadamente o desafiou.
Muito bem. Ela precisava ouvir. Ele forneceu:
— Antes de você.
— Mas considera agora?
— Ajustar-me à ideia de permanência?
— Sim. — Ela engoliu em seco, os músculos
ondulando visivelmente em sua garganta. — Eu
preciso de provas.
Bem, aquele não era um requisito fácil de
preencher, mas ela merecia pelo menos o que Hyatt
lhe dera e ainda mais. Ele disse com voz rouca:
— Case-se comigo, Annie.
Ela deu um passo em direção a ele, a expressão
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em seu rosto difícil de interpretar.


— Você quer que eu me case com você?
— Foi o que acabei de pedir — Derek não
podia acreditar que tinha dito aquilo tão facilmente,
abandonando sua liberdade sem hesitação ou
arrependimento. — Sim, quero que você se case
comigo. Que seja minha esposa.
— Se está sendo sincero, vamos resolver isso.
— Seu rosto sustentava um olhar determinado, suas
sobrancelhas finas apenas ligeiramente arqueadas,
seus lábios fartos comprimidos. — Então, faça-me
sua.
Ele ficou imóvel, cada músculo em seu corpo
ficando tenso. Atordoado e abalado, ele olhou para
ela.
— O quê?
— Desenvolveu uma deficiência auditiva? —
Ela se aproximou, e ele não deixou de perceber o
balanço suave de seus quadris; era provocante,
embora ele não soubesse se Annabel tinha
consciência disso ou não. — Me leve para sua
cama. Temos até o amanhecer.
Sem palavras, ele sentiu seu corpo reagir,
embora emocionalmente fosse resistente à
sugestão. Depois de um momento, conseguiu falar:
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— Não tenho intenção de tratá-la com desonra.


O sorriso de Annabel era inesperadamente
provocativo para uma jovem inexperiente.
— Você é conhecido por ser um dos amantes
mais habilidosos da Inglaterra, correto? Até porque
foi o que você colocou à prova diante de toda a
sociedade. Até apostou o que é considerado como
uma pequena fortuna nesta reivindicação.
— Eu estava...
— Sim, eu sei — ela interrompeu, olhando para
ele, seu semblante coberto por delicadas sombras e
curvas sob a luz bruxuleante. — Você estava
embriagado na época, mas, ainda assim, a ideia
deve ter vindo de alguma forte convicção e quero
que prove isso. Para mim.
— Annabel — a reprovação perdeu seu efeito
quando seu olhar, contra a vontade, recaiu sobre os
lábios entreabertos. — Não me tente, por favor.
— Por que não?
— Thomas vai pedir a minha cabeça, para
começar.
— Não vamos contar a ele. — Ela chegou perto
o suficiente para colocar a mão em seu peito.
Através do linho fino de sua camisa, ele pôde sentir
a leve pressão. — Eu quero. Sem dúvidas, sem
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chance de você mudar de ideia, sem volta para


nenhum de nós. Se há uma coisa que eu sei sobre
você é que não seduz jovens mulheres inocentes.
Mesmo quando disse a mim mesma que odiava
você, não contava esse como um dos seus pecados.
Era a mais pura verdade.
— Então — ela continuou, como se o que
estava sugerindo fosse lógico e fizesse perfeito
sentido —, se você fizer isso... se você me
comprometer, saberei que suas intenções são
genuínas.
— São genuínas — ele protestou, sem saber
como proceder, porque receber uma proposta
sexual de uma jovem normalmente comportada
estava fora dos limites de suas experiências. Sua
dúvida era insultante até certo ponto, mas ele
também não lhe dera muitos motivos para confiar
nele.
— Então você concorda?
— Podemos esperar até a nossa noite de
núpcias. — O desespero de agir como um
cavalheiro competia com seu pênis inchado. Ela
estava tão perto, tão tentadora, o foco de todos os
seus desejos...
— Eu não quero esperar. Isso é importante para
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mim.
A convicção em sua voz o desfez. Maldito
inferno, o que ele deveria fazer? Candidatar-se à
santidade? A mulher que ele queria mais que tudo
na terra pedia que ele a levasse para cama. Além
disso, uma voz traidora sussurrava em seu cérebro
de que havia bastante fofoca sobre o rompimento
de seu noivado, então, não poderiam formalizar seu
relacionamento imediatamente sem que os
sussurros aumentassem em proporções
ensurdecedoras, por isso, um casamento rápido e
discreto estava fora de questão.
Derek tentou mais uma vez.
— Eu vou te levar para casa.
— Não. Você alega que me ama. Prove. — A
boca de Annabel estremeceu. Não muito, mas o
suficiente para que ele notasse.
Ele disse com a voz embargada:
— Não é uma alegação. Eu a amo.
— Então me beije.
Ele queria tocá-la, beijar aqueles lábios rosados ​
e suaves, segurá-la contra ele e fazê-la imaginar
tudo que poderia fazer com ela.
O que ele faria. Sabia como dar prazer a uma
mulher, como provocar aqueles suspiros e
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movimentos sutis, como levá-la à beira do êxtase e


lançá-la ao abismo no momento exato.
Annabel o olhou, tão bonita que fez sua
respiração ficar presa na garganta.
— Você entende o quanto isso é importante
para mim? — Sua voz estava baixa, seus olhos
embaçados.
— No ano passado — ele lhe informou, um
pouco à flor da pele — eu passei a entender muito
sobre amor platônico, Annie.
— Mostre-me. Acho que entendo também.
Ele não aguentou. O desejo de tocá-la era
intenso. Assim como o brilho azul nos olhos dela.
Derek a segurou contra ele. Deslizou os polegares
pelas laterais de suas faces, agora úmidas de
lágrimas traidoras, encostando seus lábios sobre as
sobrancelhas dela.
— Deixe-me definir para você. Podemos
comparar sentimentos. É tortura, mas também é a
maior felicidade. É mágoa, mas também alegria. É
maravilha e desespero ao mesmo tempo. Eu estou
perto?
Um aceno de cabeça, quase imperceptível,
moveu-se contra o calor de suas mãos.
— Annie.
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Ele baixou a boca.


— Sim.
Seus lábios se encontraram, tocaram,
separaram-se e encontraram-se novamente. Apesar
de todas as legiões de mulheres, através de todos os
relacionamentos despreocupados e momentos
roubados em quartos proibidos, ele nunca se sentira
daquela forma. Nunca experimentara tal ternura, tal
necessidade angustiante, tal desejo doloroso.
Normalmente, ele se orgulhava de sua
delicadeza, e isso era de conhecimento público,
mas quando Annabel se movimentou contra ele,
com seu corpo esguio e trêmulo, ele perdeu todo o
sentido real do que estava fazendo. Tudo no que
conseguia pensar era o quão quente e macia era sua
boca contra a dele, como o movimento tímido e
delicado de sua língua enviava uma onda de puro
desejo direto para sua virilha, em como ela tinha
gosto de céu.
O planeta poderia ter parado de girar em seu
eixo, cada pássaro na terra se calado, os oceanos se
esvaído, mas nada disso faria seu mundo mudar
tanto.
Ele prolongou o momento, provando,
provocando, sussurrando o nome dela em seu
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ouvido, segurando-a contra ele com a mão firme na


parte mais baixa de suas costas.
Mas, finalmente, não pôde mais se conter,
precisou levantar a cabeça e observá-la. Olhar nos
olhos dela, esperando, rezando para ver a mesma
luz brilhante que estivera lá há um ano, antes de
esta desaparecer e destruí-lo.

S EUS OLHOS ERAM DE UM AZUL TÃO VÍVIDO , COM


aqueles cílios absurdamente longos, o nariz reto, a
linha da mandíbula, masculina e perfeita. E sua
boca, capaz tanto daquele sorriso devastador, do
qual as mulheres fofocavam, quanto de beijos tão
ternos e persuasivos. Seus joelhos estavam fracos, e
ela nem podia começar a descrever a sensação.
No entanto, naquele momento, Derek não
estava sorrindo. Ele a olhava como se fizesse uma
pergunta silenciosa.
Eu te amo.
Quando ele disse isso daquela vez, não houve
hesitação. Nenhuma ideia de que ele se sentia como
se estivesse saltando de um precipício para uma
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morte dolorosa, não houve eco de incerteza.


Derek a amava. Quando ela refletia sobre todas
as fantasias infantis − e outras não tão infantis, de
quando ficou um pouco mais velha −, não pôde
evitar o sorriso que curvou seus lábios.
— Sempre achei que minha imaginação era
excelente, mas agora você me convenceu do
contrário.
O braço forte ao redor da cintura dela a
estreitou ainda mais, quase imperceptivelmente.
— Como assim?
— Esse foi um beijo muito romântico, e eu não
achei que você conseguiria superar o primeiro.
Quero mais.
— Desta vez não vai ser nada como o que
aconteceu no ano passado, eu prometo a você — o
tom alterado de sua voz fez com que ela sentisse
um arrepio de antecipação.
— Eu preciso dessa promessa. — Os dedos de
Annabel desceram pelo braço dele. Através da
camisa, ela podia sentir a tensão em seus músculos.
— Eu sei que precisa. — Ele a beijou
novamente, mas com suavidade daquela vez,
apenas um roçar de seus lábios nos dela. — Diga-
me o que mais você quer. Conte-me todos os seus
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sonhos.
O homem não pedia pouco. Queria sua
confiança, queria-a entregue aos seus braços e em
sua cama, mas também todos os seus sonhos?
Annabel hesitou até que ele disse com voz rouca:
— Ajude-me. Não estou interessado em
cometer mais erros que demorem um ano para
serem corrigidos.
Ela podia não ser experiente como as mulheres
com as quais ele geralmente se envolvia, mas
estava aninhada em seus braços e podia sentir a
protuberância na frente de suas calças. Um calor
aqueceu suas bochechas e ela pressionou o rosto
em chamas contra o peito dele.
Ele não permitiu. Longos dedos seguraram seu
queixo e o inclinaram para que seus olhares se
encontrassem.
— Annabel?
— Eu quero você — ela confessou.
— Oh, você me tem — ele respondeu, seu
abraço apertando-a, a respiração quente contra sua
têmpora.
O custo fora alto, mas como ela ansiara ouvi-lo
dizer aquelas palavras. Talvez até um ano de
desespero, negação e desilusão tivesse valido a
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pena para viver aquele momento.


Ele sorriu. Geralmente aquele sorriso fazia os
corações de todas as mulher flutuarem, mas,
daquela vez, era só para ela, e ela era a única a
contemplá-lo.
Ela queria tudo. Desejava-o.
— Não pare — pediu ela. Foram as mesmas
duas palavras que proferira um ano antes, mas
agora tinham muito mais significado.
— Não vou parar — ele assegurou. Seus olhos
estavam escurecidos, seus cílios abaixados. — Eu
não poderia nem se tentasse. Se você está sendo
sincera, venha comigo.
Derek gentilmente a puxou pela mão e levou-a
ao quarto, seguindo pelo corredor escuro até
chegarem a uma escada. O silêncio profundo da
casa alimentava o senso de proibido, mas,
novamente, o que ela estava fazendo era muito
proibido. Mesmo assim, era o que queria.
Nós podemos esperar até a nossa noite de
núpcias...
Seu marido.
Ela ia se casar com o perverso conde de
Manderville. O furor que aconteceria depois que a
sociedade soubesse do matrimônio era
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desanimador, mas não tão assustador quanto a


perspectiva de segurar sua mão e permitir que ele a
conduzisse até seu quarto.
Porque ela pedira isso como prova de fogo.
Não havia como voltar atrás, ela pensou
enquanto dava cada passo, sentindo o aperto firme
e quente de seus longos dedos ao redor dos dela.
Bem, isso não era exatamente verdade, porque
mesmo que sentisse o estado de excitação de Derek
quando a beijara, sabia que ele a deixaria partir se
sua coragem falhasse.
— Você ainda tem certeza? — ele perguntou
como se estivesse lendo seus pensamentos, com a
mão na maçaneta ornamentada da primeira porta no
corredor superior. — Eu ainda posso te levar para
casa e espero que possa entrar sem ser detectada,
mas, de qualquer forma...
Realmente não havia como voltar atrás. Ela
rompera o compromisso com Alfred, arriscara sua
reputação escapando da casa, despira sua alma e
fizera aquela oferta ultrajante.
— Derek, eu tenho certeza.
Ele a beijou então. Beijou-a enquanto a
conduzia para dentro, beijou-a enquanto a
empurrava em direção à cama, até que a parte de
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trás de seus joelhos atingiram a cama, e beijou-a


conforme começava a soltar seu vestido. Annabel
sentiu o tecido afrouxar sutilmente, e a única coisa
que importava no mundo era a urgência quente e
faminta de sua boca contra a dela. Enfiou os dedos
nos cabelos sedosos dele, sentiu o calor da pele
dele contra a palma da mão e se regozijou-se ao
perceber o quanto ele a queria. O forte pulsar de
seu coração fez as pontas de seus seios formigarem
e se enrijecerem. Cada baque reverberava através
de sua alma.
— Annie... Annie — ele murmurou contra sua
boca, suas mãos livrando-a de suas vestes,
movendo-se através de sua carne.
Não houve tempo para ficar envergonhada ou
tímida, pois ele apenas a despiu e a ergueu do chão,
colocando-a na cama. Era larga, macia e espaçosa o
suficiente para que, mesmo quando ele tirou a
camisa e as calças do corpo, juntando-se a ela, todo
másculo, grande, imponente e excitado, ainda
houvesse espaço.
Ele era magnífico. Firme, esculpido, lindo.
— Eu preciso de você. — Seu olhar a queimou,
e ela sabia que ele falava a verdade, sentindo o
calor latejante de sua ereção contra seu quadril.
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Braços fortes a puxaram para si, e, por mais que ela


devesse estar com medo, simplesmente... não
estava.
— Vou te dar prazer até você gritar. — Ele
prometeu, mordiscando ao longo de seu pescoço.
— Até você chamar meu nome.
Annabel arqueou, incrédula por estar prestes a
entregar-se a Derek, finalmente. Ela arfou:
— Faça isso.
— Porque você quer ser comprometida. Porque
você não quer voltar atrás.
A respiração dele fez cócegas em sua orelha.
— Sim.
— Porque você quer... a mim? — Sua língua
girou em um arco interessante ao longo de seu
pescoço. — O suficiente para entregar sua
virgindade como uma oferta para selar nosso pacto?
É uma estratégia eficaz, se me permite dizer, meu
amor.
Meu amor…
Ela poderia ter se oposto, em outras
circunstâncias, à implicação de ter planejado algo
quando, na verdade, andara de um lado para o outro
no quarto, pensara, ficara zangada, depois reflexiva
e depois zangada de novo. Só quando o relógio
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bateu meia-noite ela ganhou coragem e saiu de casa


como um ladrão durante a noite, descendo a escada
dos fundos e saindo pela entrada dos criados,
correndo pela rua para alcançá-lo. A luz na janela
do andar de baixo de sua residência fora uma
benção, um presente. Ela imaginou que teria que
bater e perguntar por ele, acordando metade da
casa.
Daquela forma era melhor.
Daquela forma, era como um sonho se tornando
realidade.
A boca de Derek encontrou um seio nu. Um
calor úmido se fechou sobre o mamilo, e ela
engasgou, arqueando de volta para a suavidade dos
travesseiros, sentindo seu corpo de repente em
chamas. Derek sugou suavemente, girando a língua
ao redor da ponta tensa até que ela sentiu como se
lhe faltasse o ar, e percebeu que isso realmente
acontecia. Eles estavam nus nos braços um do
outro, sua cabeça loira inclinada sobre ela, sua boca
fazendo coisas incríveis e mágicas.
— Oh. — Annabel agarrou-se a ele, seu corpo
tenso, sentindo os efeitos de suas sensações na boca
do estômago e profundamente entre suas pernas.
Era assim que acontecia? Era sobre isso que as
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mulheres sussurravam?
— Deus, Annie, eu te quero tanto. — Os pelos
ralos em seu rosto roçaram a pele dela. Suas mãos
agarraram a plenitude de um de seus seios,
apertando-o, e seu polegar roçou a ponta ereta do
seio oposto.
— Derek — sua voz soava tensa, desigual.
— Eu preciso provar cada centímetro de você.
O grunhido áspero na voz de Derek aumentou
sua reação trêmula ao toque sedutor. Ele explorou
vagarosamente o outro seio com os lábios e a
língua, e depois acariciou o vale entre a carne com
as mãos em concha.
Ela queria soltar um grito de prazer e mal
conseguiu sufocá-lo. Pegando o lábio inferior entre
os dentes, sufocou um gemido. Era para ser assim?
Ela se perguntou. Aqueles beijos alucinantes,
quentes e maliciosos, o toque da boca em sua pele,
a sensação de abandono e rendição.
Sim, ela decidiu um momento depois, quando
ele lambeu um caminho quente através de sua
clavícula e deixou escapar um som baixo vindo da
garganta. Era exatamente por isso que ele e o
pecador duque de Rothay haviam feito aquela
aposta. Porque ele sabia exatamente o que fazer.
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Devia saber, pois ela não fazia ideia, mas ali


estava, debaixo dele, seu corpo disponível para o
seu prazer carnal... ou seria uma impressão dela?
As bordas da sanidade estavam turvas, indistintas,
seus sentidos cativados. Quando ele se moveu mais
para baixo, depositando beijos em sua barriga, ela
não entendeu até...
Oh, Deus, até ela perceber que sua boca estava
em um lugar que ela nunca sonhou que alguém iria
querer provar, e ele realmente falara sério quando
prometeu que a beijaria em todos os lugares. O
arrebatamento incandescente produzido pelo beijo
escandaloso entre suas coxas abertas fez sua mente
girar. Derek afastou as pernas para ter melhor
acesso, abaixou a cabeça novamente e ganhou um
grito revelador que ela não pôde evitar.
— Perfeito — ele murmurou, sua boca ainda se
movendo contra sua carne sensível. — Relaxe,
Annie. Deixe acontecer. Nós vamos fazer isso da
maneira correta. Quero você ligada a mim para
sempre.
Deixar o quê acontecer? Oh, Deus, ela
estremeceu em resposta à invasão de sua língua,
choramingou com o movimento hábil no ponto
exato, e sua mão tremia quando agarrou a cabeça
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dele para afastá-lo.


Ou para puxá-lo para mais perto. Já não sabia
dizer ao certo, uma vez que seu corpo fora
completamente escravizado.
E então aconteceu. Como uma onda alta,
movendo-se para a frente, suspendendo-a e depois
fazendo-a mergulhar em um choque transbordante.
Ela se retorceu, lutou por ar e estremeceu quando o
prazer ondulou através dela em pulsações
arrebatadoras.
Foi incrível.
Tão esmagador que ela mal percebeu quando
ele a ajustou sobre a cama, colocando-se sobre ela,
investindo dentro de seu corpo. Seu sexo a
penetrou, a princípio apenas uma pressão brusca, e
depois mais plenamente, tomando posse real de seu
corpo.
— Se você quer que eu prove minha devoção,
certamente irá senti-la, Annie. — Ele a beijou, um
breve e firme contato de suas bocas e fechou os
olhos. Ele parecia mais bonito do que o David de
Michelangelo, todo musculoso e esculpido em
mármore, sua expressão indicando um controle
supremo. — Eu aceito o presente que me deu e
pretendo retribuir de todas as formas. Abra-se para
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mim um pouco mais. Serei tão gentil quanto


possível.
Ainda abalada pela profundidade do prazer que
ele lhe dera, Annabel não resistiu, ainda flutuando
no relaxamento pós-clímax, deixando-o separar as
coxas dela ainda mais
— Eu nunca fiz isso antes — ele sussurrou
contra seus lábios, afundando um pouco mais,
esticando sua passagem feminina com uma
investida inexorável. — Se eu cometer um erro, me
perdoe.
Annabel lutou contra o desejo de rir,
inadequado para o momento.
— Mas você... — Ela parou de falar com um
curto arfar, no momento em que sentiu a pressão
pungente de sua virgindade sendo tomada, e então
ele se acomodou totalmente dentro dela.
Ele inteiro. Ela inteira. Juntos. Era
desconfortável, mas a dor era insignificante
comparada à maravilha de estarem tão unidos, tão
perto.
— Sinto muito — ele sussurrou, beijando sua
bochecha, a ponta do nariz, o canto da boca. Então
ele murmurou contra os lábios dela: — Você é
minha agora... para sempre.
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— Eu sempre quis ser — ela disse a ele,


ferozmente triunfante, suas unhas marcando seus
ombros musculosos levemente. — Para sempre.
Ele ficou parado, dentro dela, mas sem se
mover. O rosto de Derek exibia uma expressão
intensa e atípica, em desacordo com seu habitual
charme preguiçoso.
— Você ainda não disse o que quero ouvir. Este
parece o momento perfeito. Sei que sou egoísta,
mas mesmo que você tenha me dado a coisa mais
preciosa que uma mulher pode dar a um homem, eu
quero mais do que sua inocência, Annie. Por favor,
diga.
Ela olhou em seus olhos azuis, movida pelo
apelo em sua voz.
— Eu te amo. Sempre amei. Isso era parte do
problema. Mesmo quando disse a mim mesma que
te odiava, sabia que no fundo ainda amava você.
— Neste momento — ele disse suavemente, e
seus olhos apresentavam um brilho suspeito e
estavam molhados. — Sinto-me como o homem
mais sortudo da terra. — Ele mudou seu peso para
um cotovelo e deslizou os dedos pelo rosto dela. —
Eu sou o homem mais sortudo da terra.
O notório Conde de Manderville estava
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chorando?
Ele estava, ela notou, erguendo a mão para
tocar o canto de seu olho, sentindo a umidade da
lágrima.
— Derek.
Os dedos longos de Derek deslizaram por seu
ombro em uma carícia persuasiva.
— Conversamos depois. De acordo?
Annabel ergueu os quadris um pouco, sem
pensar, feliz que o desconforto estivesse
diminuindo, enquanto seu corpo se ajustava à
sensação de plenitude e posse.
— Acabou? — ela perguntou, sua voz sem
fôlego por um motivo que ela não entendia muito
bem, uma estranha excitação substituindo qualquer
sensação de medo.
— Não. — Seu sorriso familiar surgiu, um do
qual ela sentira tanto falta, impudente e infantil, a
curva de seus lábios tão inebriante quanto o copo
de um bom vinho. — Agora que a declaração
mútua de nossos sentimentos está concluída, vamos
selar o compromisso como você pediu. Acredite,
nós não estamos perto de terminar. Deixe-me te
mostrar.
Derek começou a se mover, fluido, poderoso,
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contra ela, dentro dela. Seu membro deslizou para


trás e depois investiu novamente. Para a surpresa de
Annabel, a fricção foi, a princípio, uma sensação
interessante, mas logo se transformou em algo
totalmente diferente.
Maravilhosa, ela decidiu enquanto seu corpo
começava a aceitar e a responder ao ritmo dos
impulsos. A mão de Derek escorregou por entre
eles, tocando-a, esfregando-a enquanto ele
continuava a se mover, e ela sentiu lampejos de
prazer a cada toque, a cada golpe.
— Mais uma vez, Annie — insistiu ele, com os
olhos pesados. — Para mim. De novo.
O que ele poderia querer?, ela se perguntou
freneticamente até que sentiu aquela tensão
interessante que a levava a arquear a coluna. Suas
coxas se apertaram em torno dos quadris dela, que
emitiu um som muito pouco delicado, um gemido
rasgado vindo de sua garganta.
Era tão... bom. Muito bom.
Incrível.
Inacreditável.
Suas mãos se fecharam na colcha, ela parou de
respirar e o mundo desapareceu. Annabel
estremeceu e se agarrou a ele, pele úmida contra
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pele úmida, seu corpo tremendo de prazer. Derek


gemeu e ficou imóvel, com os músculos duros e
rígidos, e ela sentiu um fluido quente pulsar dentro
dela.
O quarto estava silencioso, exceto pela
respiração severa de ambos. Annabel, por qualquer
motivo, começou a rir, um som fraco, porque ainda
não tinha certeza se conseguia respirar. Apertou os
braços em volta do pescoço de Derek e murmurou
contra a garganta dele:
— Eu acredito em você agora. Você quer se
casar comigo.
Os lábios dele tocaram sua testa.
— Eu nunca fui tão sincero sobre qualquer
coisa na minha vida.

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T odo Éden deve possuir sua própria serpente.


O cartão de visitas chegou em uma
bandeja de prata, e Caroline o olhou com
desinteresse no início, mas quando reconheceu o
nome gravado, uma sensação de mau
pressentimento fez seu estômago se contorcer.
Embora normalmente pudesse tê-lo recusado,
naquele dia esta não parecia ser uma opção, de
acordo com seu mordomo.
— Ele é muito insistente, minha senhora, e
afirma saber em primeira mão que está em casa.
Como isso era possível, ela não tinha certeza,
mas na última vez em que eles haviam se falado,

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Franklin aparecera do nada no momento certo. Ou


errado, dependendo do ponto de vista.
Norman, longe da sua juventude, não tinha
força suficiente para expulsar Franklin Wynn, que
era duas décadas mais jovem e infinitamente mais
determinado. Caroline praguejou silenciosamente,
de forma muito pouco feminina, e murmurou:
— Muito bem, traga-o.
— Não é necessário. Bom dia, minha senhora.
Assustada com a audácia de Franklin de seguir
o mordomo sem esperar por uma resposta à sua
visita, Caroline olhou para o homem que passou
por um ultrajado Norman, surgindo na sala.
Seu primo – não que ela aceitasse o
relacionamento de bom grado – usava um tom de
ameixa daquela vez, algo que Caroline notou
enquanto ele entrava na sala. Era impossível não
vê-lo. Um casaco púrpura escuro, um colete
bordado mais claro, calça lavanda e até os sapatos
eram do mesmo tom sobre as meias brancas de
seda. Seus olhos pálidos brilhavam com o gelo
habitual, e sua boca se curvou de um jeito que a fez
prender a respiração em apreensão. O cabelo escuro
ondulou para longe de suas feições friamente
atraentes e um lábio se abriu levemente.
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Ela não gostava de absolutamente nada na


expressão dele.
— Você está de volta do campo, eu vejo. —
Sem convite ou mais do que uma breve e
insignificante reverência, ele tirou sua capa e
sentou-se. Muito confortavelmente. Como se a sala
pertencesse a ele, não a ela. — Essa é a segunda
viagem em um mês, não é? Incomum. Eu não sabia
que você viajava com tanta frequência.
Como diabos ele sabia para onde ela tinha ido?
— Sim — ela disse com muito pouca inflexão.
Suas próximas palavras a gelaram até os ossos.
— Como estão Rothay e Manderville?
Oh. Santo. Deus.
Sua mente tornou-se vazia por um momento.
Vazia.
Pense…
Ela estava repassando sua correspondência na
sala e cuidadosamente deixou de lado a carta que
lia para que ele não detectasse o tremor em sua
mão.
— O senhor pode repetir?
— Os dois libertinos lascivos que são o assunto
da cidade agora. Como estão?
Franklin recostou-se triunfalmente em uma das
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cadeiras, com um sorriso arrogante no rosto. Ele


realmente sabia de alguma coisa ou estava
blefando?
Caroline sentiu um calafrio, apesar do sol
quente da manhã que entrava pelas janelas e dava à
sala arejada um brilho suave.
— Estou confusa, meu senhor. Como eu
deveria saber?
— Minha especulação seria, é claro, que você,
apesar de todas as aparências que fariam qualquer
pessoa duvidar, é a juíza daquela aposta arrogante.
Por que outro motivo você os encontraria em uma
pequena pousada rústica e sombria?
Seu estômago revirou.
— Isso, senhor, é uma mentira.
Ele se inclinou para frente com as mãos nos
joelhos.
— É mesmo?
— Claro. De onde o senhor tirou uma ideia tão
absurda?
— Onde, de fato?
Seria muito difícil manter algum jogo de gato e
rato enquanto seu coração batia como os cascos de
um dos cavalos fabulosos de Nicholas no páreo.
— Parece uma pergunta muito simples.
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No entanto, ele não respondeu.


— Estou muito interessado em saber o
resultado. Diga-me, Manderville não conseguiu
executar adequadamente? Entendo que ele chegou
primeiro, mas não ficou muito tempo. Por outro
lado, você e o duque passaram várias noites juntos.
Posso supor que Rothay venceu?
Ela se sentiu fraca com a percepção horrível de
que ele realmente sabia. De todas as pessoas,
Franklin era a última que ela gostaria de ter como
adversário. Tentou desesperadamente manter a
compostura. Fora sua única defesa contra Edward,
e Caroline certamente precisava dela naquele
momento terrível.
Em uma voz controlada, ela disse:
— Você tem alguma razão para vir aqui e
lançar esta acusação escandalosa sobre mim?
Franklin estalou a língua.
— Querida, você parece pálida de repente.
Posso pegar algo para você?
Saia, sua mente gritou. Desapareça. Mas, por
outro lado, ela não queria que ele se fosse até que
entendesse o propósito de sua visita em primeiro
lugar.
— Estou bem, obrigada.
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— De fato. A senhora está adorável. Gosto


dessa cor, mas sua beleza é inegável, não importa o
que esteja usando. Ou quando não está usando
nada, tenho certeza. Suspeito que vou achá-la ainda
mais atraente quando estiver nua na minha cama,
com as pernas abertas como a bela prostituta que
provou ser.
A bile subiu em sua garganta. As mãos trêmulas
de Caroline estavam cerradas com tanta força que
suas juntas doíam. Por um momento, não pôde
fazer mais do que olhar para o sádico e alegre rosto
dele. A semelhança com Edward fazia com que
revivesse um pesadelo. Vira aquele mesmo brilho
lascivo naqueles mesmos olhos pálidos antes, e
experimentou o que isso significava.
— Não importa que coisas sujas você diga
sobre mim, não serei sua amante — afirmou ela
com total convicção.
— Nem eu quero que seja. — Seu tom continha
algo de zombaria, e ele sorriu de uma maneira que
faria um réptil parecer atraente. — Estou propondo
casamento. Sua moral duvidosa é algo que posso
ignorar quando considero a fortuna que ganharei.
Um segundo casamento com um homem que a
fazia lembrar tanto de seu marido brutal e
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insensível, e cuja mera visão a fazia sentir-se mal?


A ideia era tão repugnante que ela teve que abafar
uma risada histérica. A ruína social era preferível.
Caroline olhou-o nos olhos.
— Nunca.
Seus olhos pálidos se estreitaram e suas faces
assumiram um tom escarlate.
— Acho que não está compreendendo. Você
não tem escolha.
— Eu tenho toda a escolha. — Ela se levantou e
indicou a porta. — Por favor, saia da minha casa.
A ênfase teve o efeito desejado, e os lábios dele
se contraíram. Ele ficou de pé também, mas não fez
nenhum movimento em direção à porta. Em vez
disso, aproximou-se.
— Eu vou destruir você. Apagarei seu nome
para que nenhuma anfitriã lhe receba. Assim,
nenhum homem decente olhará na sua direção a
menos que queira um caso rápido com uma
prostituta infame.
— Ninguém acreditará em suas mentiras
maliciosas, meu senhor. Minha reputação virtuosa é
bem conhecida.
Era um blefe, mas ela não se importava. Tudo o
que queria era tê-lo longe.
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— Tenho a prova dos homens que contratei


para vigiarem você, minha querida Caroline. Além
de uma declaração por escrito do estalajadeiro. Ele
diz que você chegou com um homem e saiu com
outro. Achou que ninguém iria notar? Se isso faz
com que se sinta melhor, a esposa do estalajadeiro
achou a chegada dramática do duque bastante
romântica, mas, novamente, eu entendo que a
maioria das mulheres caia sob o feitiço de Rothay.
Ela foi capaz de descrever todos vocês três
perfeitamente.
— Por que você me seguiria? — A última coisa
que ela queria era continuar aquela conversa, mas
ele era claramente um inimigo, e lidar com Edward
lhe ensinara que era bom ser capaz de avaliar suas
táticas. Isso a ajudou a sobreviver com o mínimo
possível de danos, ou ela esperava que sim.
— Você tem algo que eu quero.
— O dinheiro.
Ela deveria comprá-lo? Por um momento,
perguntou-se se valeria a pena entregar a fortuna
que herdara para se livrar dele.
Então ele avaliou seu corpo de forma
deliberadamente insultante.
— Duas coisas que eu quero — ele corrigiu
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suavemente.
Isso estava fora de questão.
— Saia — ela ordenou, orgulhosa por sua voz
soar era firme e definitiva. — E seus protestos de
laço familiar não significam nada para mim, então,
por favor, sinta-se livre para nunca mais aparecer.
Ele deu outro passo à frente e ficou perto o
suficiente para tocá-la. Ameaça brilhava em seus
olhos.
— Esta casa deveria ser minha. Assim como
você. Tudo o que foi de Edward deve ser meu. O
título significa pouco sem a fortuna que ele deixou
para você. Estou determinado a ganhá-la de uma
forma ou de outra.
Seu tom frio enviou um arrepio por sua espinha.
Alarmada, ela ainda se recusou a recuar.
— Eu vou chamar alguém para acompanhá-lo,
meu senhor.
— Não, você não vai.
A investida repentina a pegou desprevenida.
Não que ela confiasse nele, mas senhores distintos
de calças cor de lavanda, com renda nos punhos e
cartões em relevo não costumavam agarrar suas
anfitriãs nem cobrir suas bocas com mãos
implacáveis.
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Indignada, ela começou a lutar, tendo a terrível


constatação de quão diferentes eram seus tamanhos,
e isto a inundava com lembranças horríveis de uma
situação muito similar, onde se sentia oprimida e
impotente. Quando ele a arrastou para um pequeno
sofá no canto e a forçou a se deitar, ela ficou quase
lânguida, seus membros congelados, sua mente
tomada pela inevitabilidade do que poderia
acontecer.
Franklin aproximou o rosto e sussurrou:
— Sua puta fria. O tempo todo olhando para
mim como se eu fosse um parasita, evitando
minhas visitas, fingindo não estar em casa quando
eu sabia muito bem que estava. Meu primo devia
gostar muito de você para lhe deixar toda a fortuna,
então também quero ter um gostinho. Vou insistir
nisso, não importa o quanto tente negar. Depois,
você será obrigada a me aceitar ou banir a ideia de
uma vida respeitável.
Não.
Não. Ela suportara muitas humilhações para
permitir que acontecesse novamente. A delicadeza
do toque de Nicholas, seu sorriso atraente e
perverso, a paixão em seus olhos escuros invadiram
sua memória. Ele não propusera casamento, mas
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com a extração de uma promessa de amor dela,


Caroline esperava que talvez — talvez — ele o
fizesse, apesar da incapacidade de seu corpo
defeituoso em produzir um filho.
Ela mordeu, conseguindo pegar a palma da mão
de seu agressor com os dentes até provar o amargor
do ferro de seu sangue. Por um momento, Franklin
afrouxou a pressão e proferiu uma maldição, e ela
soltou um pequeno grito abafado.
— Sua pequena bruxa. — O rosto de Franklin
estava contorcido de raiva, apenas alguns
centímetros acima do dela, e Caroline tinha certeza
de que ele teria batido nela se não estivesse mais
preocupado em mantê-la quieta. Ela se contorceu,
lutando contra o peso do seu corpo, tentando se
libertar. A mão acariciou sua coxa quando ele
ergueu sua saia.
Não, não isso. Isso não. Por favor.
Ele realmente a violaria em sua própria casa?
Na pequena e aconchegante sala que ela usava
como santuário para uma xícara de chá matinal e
alguma introspecção para verificar sua
correspondência diária?
Não.
De repente, ela ouviu um som estridente e
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Franklin gemeu, soltando-a, então ele ficou


relaxado, seu peso tornando-se um fardo sufocante,
sua cabeça pendendo para o lado. Para sua
surpresa, Caroline se viu encharcada de água e
pétalas de rosa.
O rosto de Annabel Reid apareceu à vista,
preocupado e sombrio, seus olhos azuis exibindo
um indício assassino de indignação. Ela disse de
forma sucinta:
— Desculpe pela bagunça, mas espero tê-lo
matado.

A NNABEL NÃO SENTIA REMORSO ENQUANTO OLHAVA


para o homem tombado no chão.
Caroline Wynn esforçou-se para afastá-lo de si.
A outra mulher sentou-se, trêmula. E pensar que
Annabel tinha hesitado em fazer uma visita
improvisada porque ainda estava cedo para
aparecer, mas sentira-se ansiosa para agradecer a
alguém que considerava uma amiga recém-
descoberta e compartilhar a notícia de seu futuro
casamento.
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Ela supôs, enquanto examinava os fragmentos


quebrados de vidro, as gotículas de água no carpete
floral e o sangue que escorria do corte na cabeça do
homem, que entrar em um rompante e atacar o
vilão constituiria um ato de amizade.
Então, talvez seus agradecimentos tivessem
sido ditos, embora de uma maneira bastante
violenta.
Lady Wynn estava horrivelmente pálida, seu
rosto geralmente adorável desenhado em uma
máscara fantasmagórica. Fios soltos e úmidos de
cabelos ruivos colados ao pescoço esguio e seu
vestido grudado ao corpo, graças ao impulso
impetuoso que Annabel tivera de usar um vaso para
golpear seu agressor na cabeça.
— Você está bem? — Annabel pegou um lenço
e entregou-o à outra mulher. O quadrado de renda
era ineficaz em tamanho, mas era melhor que nada.
— Minha senhora! — O mordomo idoso que
atendeu à porta surgiu espantado. — Aquele
homem! Aquele vil calhorda... Por Deus. Eu nunca
teria permitido que entrasse se soubesse...
— Definitivamente, não é sua culpa, Norman.
Caroline estremeceu e se movimentou para se
sentar em uma parte menos molhada do sofá, que
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estava mais distante da forma prostrada de


Franklin. Ela enxugou o rosto com o lenço de
Annabel. Era difícil dizer se a umidade vinha de
lágrimas ou da água que mantivera as rosas frescas
até ali. Ela olhou para Annabel com olhos
prateados que brilhavam.
— Obrigada.
— De modo nenhum.
Com os cílios cobertos de água, Lady Wynn
murmurou:
— Não. Estou falando sério, obrigada.
Sim, definitivamente eram lágrimas. Não que
Annabel a culpasse. Ela estaria chorando baldes em
circunstâncias semelhantes. Acomodou-se ao lado
de Caroline, ignorando o tecido úmido do sofá e
pegou a mão trêmula da outra mulher.
— Claro que eu ajudaria. Estava dizendo meu
nome ao seu mordomo quando a ouvi gritar.
Normalmente, eu nunca faria uma visita assim de
manhã cedo, mas agora estou feliz por ter chegado.
— Seu timing foi excelente. — A outra mulher
sorriu debilmente. — Suponho que isso seja
inegável. Quando percebi as intenções dele, era
tarde demais para pedir ajuda.
Ambas examinaram o homem deitado no chão
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como se ele fosse uma pilha desagradável de lixo.


— Suponho — disse Annabel com uma voz
questionadora — que precisaremos fazer algo com
ele.
— Eu suponho que sim. — Caroline deu uma
risada frágil. — Posso mencionar novamente como
estou feliz que tenha chegado?
— Eu imagino.
Um tremor sacudiu os ombros delgados de
Lady Wynn. Ela pareceu perceber que suas saias
estavam desgrenhadas e as ajustou com mais
firmeza.
— Minha senhora, o que quer que eu faça? —
O mordomo parecia mais do que apenas um pouco
envergonhado com o que quase acontecera com sua
senhora. — Deveríamos chamar um magistrado.
Caroline sacudiu a cabeça.
— Dê-me um momento para pensar. Temo que
agora esteja envolvida em um escândalo, não
importa que decisão tome.
Annabel disse com força:
— Por favor, não me diga que vai permitir que
ele escape impune. Sou uma testemunha se ele
tentar negar.
Um pequeno gemido anunciou a todos que ele
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já estava acordando.
— Eu o conheço. — Caroline parecia mais
pálida do que nunca. — Ele tornará tudo mais
desagradável do que já é se eu não tiver cuidado.
Vou ter que lidar com isso. — Caroline endireitou
os ombros, e seu tom crispado indicou que havia
tomado uma decisão. — Não procuro piorar a
situação sem tentar contornar o dano, mas posso
tentar. — Ela olhou para o mordomo que
aguardava. — Por favor, você pode mandar alguém
entrar para colocar Lorde Wynn em sua carruagem
e mandá-lo para casa?
— Certamente. Claro. — O homem saiu
apressado, parecendo feliz por receber uma tarefa.
Ele também foi eficiente, pois em instantes dois
jovens se apressaram, puxaram o homem
semiconsciente do chão e o levaram para fora do
cômodo. Annabel olhou curiosa para a mulher que
tinha surgido calmamente em sua porta menos de
uma semana antes e aproveitara seu tempo e o
diálogo para dissuadi-la a fazer o que, em
retrospectiva, seria um grande erro. Casar-se com
Alfred a deixaria infeliz e desolada, e talvez até
arruinasse a vida de ambos. Golpear o
aparentemente desprezível Lorde Wynn na cabeça
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com um vaso cheio de flores foi um bom começo


para o pagamento de uma dívida alta, mas ela
estava disposta a fazer mais.
Apesar de estar encharcada com água e parecer
quase devastada em seu próprio sofá, Lady Wynn
conseguiu vestir uma armadura ao seu redor.
Annabel disse claramente:
— Não vejo como você pode ficar tranquila se
o homem não pagar pela afronta. Concordo que a
acusação perante um magistrado é a melhor saída.
Você não me parece o tipo de mulher que o
deixaria escapar depois de fazer tão vil.
Caroline a olhou ela com aqueles notáveis ​olhos
prateados.
— Eu não posso me proteger de qualquer
eventualidade. Frank tentou me chantagear e,
quando não deu certo, me atacou. Acho que talvez
fosse melhor se eu lhe desse o dinheiro que ele
tanto deseja. Talvez me deixasse em paz.
— Ou talvez a deixaria ainda mais impotente
contra ele — apontou Annabel. — Contrate um
segurança. Ou vários. Torne público o jeito como
ele acabou de te tratar.
Lady Wynn sacudiu a cabeça.
— Eu gostaria que fosse assim tão simples.
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Por que não era? Annabel franziu a


sobrancelha. Depois de um momento, ela disse
devagar:
— Estou confusa. Você mencionou chantagem.
Como ele poderia...
— A aposta — Caroline a interrompeu,
parecendo resoluta, mas ainda pálida.
A aposta. Por um momento, Annabel não
entendeu e então ficou claro o que a outra mulher
poderia estar dizendo.
— Você? — Annabel estava atordoada, então
sentiu uma pontada de ciúmes. — Você disse que
Derek nunca a tocou...
— Ele não tocou. — Lady Wynn franziu os
lábios trêmulos. — Ele está apaixonado por você.
Confie em mim, jamais me tocaria. Acho que no
começo o conde pensava que conseguiria... mas as
coisas mudaram.
— Por que você faria uma coisa dessas? —
Considerando as circunstâncias, e porque Derek
estava envolvido, Annabel sentiu que tinha o
direito de perguntar. — Perdoe-me, mas parece um
pouco fora de seu comportamento normal.
O sorriso de Caroline era frágil.
— Eu tive minhas razões. Diga-me, se você
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quisesse saber se era realmente uma mulher sem


paixão e fria, quem melhor para recorrer do que
dois homens que afirmam serem amantes
excepcionais? Eu sabia dos riscos, suponho, então
fui eu que provoquei a atual situação. Ambos me
prometeram o anonimato, mas subestimei o
interesse de Franklin pela minha herança. Ele quer
se casar comigo para lucrar, e quando eu recusei
sua oferta encantadora, ele tentou me violentar. Ele
ficará mais vingativo do que nunca depois disso.
Annabel compreendia as implicações de ser
rotulada como a juíza na aposta comentada por
todos em uma sociedade inclinada a julgar as
mulheres com uma implacável exatidão.
Lorde Wynn, de alguma forma, descobrira a
participação secreta da viúva de seu primo. Mesmo
que ela e Derek nunca tivessem se relacionado, seu
envolvimento em qualquer pretexto serviria para
lhe garantir uma reputação tão ruim quanto as de
Derek e do duque, se não mais por ser mulher.
Annabel murmurou:
— Eu entendo seu dilema.
Caroline levou a mão trêmula à testa e respirou
audivelmente.
— Minha reputação estará em farrapos ao
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anoitecer. Eu poderia tentar refutá-lo, suponho, mas


não acho que seja forte o bastante para isso.
Quando Franklin começar a espalhar a notícia, todo
mundo vai lembrar que eu saí da cidade ao mesmo
tempo em que Nicholas há não muito tempo. A
negação seria inútil.
Annabel não pôde deixar de lembrar como a
mulher sentada ao lado dela explicara as diferenças
que poderiam haver entre dois amantes em seu
encontro anterior. Se seu ex-marido era um homem
horrível — e parecia ser algo genético —, isso
significava que o duque de Rothay era o homem
que... Como foi que Caroline se referira a ele?
Tornou o amor mais prazeroso do que se podia
imaginar? Como Annabel agora sabia muito bem o
que ela quisera dizer, começava a se perguntar
sobre o relacionamento amoroso de Lady Wynn
com o infame Rothay. Ela perguntou baixinho:
— E o duque? Certamente ele a ajudaria a
negar a acusação.
Com o que parecia ser um cansaço infinito,
Caroline deixou cair a mão no colo.
— Não. Eu sou uma mulher adulta e entrei no
acordo de livre e espontânea vontade. Não vou
pedir a ele que minta por mim, e, além disso, ele
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me deu mais do que você poderia imaginar.


A bela e geralmente distante Lady Wynn havia
se apaixonado pelo duque diabólico, Annabel
percebeu com um sobressalto. Isso estava óbvio na
expressão pungente no rosto de Caroline, gravada
no curvar de sua boca e na sugestão de tristeza em
seus olhos.
— Ele deu? — ela murmurou, com novas
compreensões da situação.
Caroline assentiu.
— Embora eu esperasse que seus sentimentos
fossem tão fortes quanto os meus, mas não parece
ser o caso. Para falar a verdade, pensei em me
mudar para o campo. Talvez tudo o que tenha
acontecido seja um sinal de que eu deveria seguir
com esse plano.
— Eu não acho que fugir vá resolver qualquer
coisa — disse Annabel em oposição, tentando
pensar em uma maneira de ajudar.
Com dignidade, tranquila, Caroline discordou:
— Não acho que tenha muita escolha. Eu
respondi à aposta de Lorde Manderville e do
Duque, porque queria mudar minha vida.
Funcionou, mas, como na maioria das coisas, não
exatamente como planejado. — Ela se levantou,
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graciosa, mas obviamente ainda pálida e abalada.


— Eu odeio ser uma anfitriã indelicada,
especialmente depois do que você fez por mim,
mas acho que vai entender que preciso começar a
tomar providências. Pode me dar licença?

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N icholas lutou contra uma sensação incomum


de inquietação e estudou o famoso mural na
parede oposta da sala de estar formal. Quem o
havia pintado? De cabeça, ele não conseguia se
lembrar do nome. A cena pacífica, representando a
água e uma floresta, apresentava um ideal
reconfortante, sendo completada por um cupido
brincalhão aparecendo por trás de uma coluna
grega, segurando seu arco.
A vida real não era tão simples assim. Não
havia ninfas, nem querubins com flechas bem
miradas... ou talvez houvesse. Difícil de dizer. Ele
fora atingido, isso era certo, e embora tivesse
chegado à conclusão de que não poderia se
recuperar da ferida, ainda precisava lidar com as
consequências.
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Levantou uma sobrancelha, ainda observando a


figura de aparência travessa com as folhas de louro
e uma auréola em sua pequena cabeça.
— Você queria falar comigo? — Sua mãe
entrou na sala, um olhar indagador em seu rosto,
tão adorável como sempre, vestida de seda rosa,
seu cabelo escuro penteado e perfeito. Diamantes
brilhavam em seu pescoço e pulso.
Ele se curvou.
— Mãe. Aprecio a sua vinda.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— Isso soou assustadoramente formal,
Nicholas. Assim como seu bilhete. Por que enviar
um lacaio quando você pode ir me ver a qualquer
momento? Querido, você se importaria de
esclarecer? Tem andado um pouco estranho desde
que retornou de viagem.
Quando fizesse o que tinha em mente − quando
contasse a ela −, seria oficial e o pensamento o
deixava inquieto. Ela estava certa, ele
provavelmente vinha agindo como um idiota. Não
conseguira fazer muitas coisas, exceto pensar na
situação. Pigarreou, preparando-se para
simplesmente lhe dizer, e então murmurou:
— Eu preciso de um conhaque. Gostaria de
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alguma coisa?
— Se eu gostaria de alguma coisa? — Ela
afundou em um sofá de cetim e encarou-o. — Devo
confessar que sua expressão está me deixando
desconfortável.
— Somos dois — respondeu ele sombriamente
e despejou um pouco de brandy em um copo,
tomando um gole significante e, em seguida,
colocando o copo de lado. A verdade era melhor.
Ele se virou, encontrou seu olhar e tomou
coragem.
— Tenho algo de importante para declarar.
Achei melhor que estivéssemos sozinhos e com
essa formalidade — ele apontou para o elegante
salão.
— Parece apropriado para o momento. — Ela
descansou as mãos no colo, as sobrancelhas escuras
levantadas. — Deve imaginar minha curiosidade. O
que foi?
— Eu estou... Bem... considerando me casar.
A boca de sua mãe se abriu ligeiramente, e seus
olhos se arregalaram. Depois de um longo
momento, ela disse:
— Entendo. Devo estar mal informada. Não
sabia que você estava cortejando alguém. De fato,
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tenho certeza de que teriam me contado se você


estivesse. A sociedade presta muita atenção a cada
movimento seu.
— Minha reputação exige discrição. Ela não
está interessada em ser associada a mim.
Sua mãe se arrepiou. Olhos escuros brilharam e
seu tom foi gelado.
— Na última vez em que verifiquei, tornar-se a
Duquesa de Rothay era uma das posições mais
cobiçadas da Inglaterra.
O espetáculo materno de defesa fez com que ele
sorrisse ironicamente.
— O início do nosso relacionamento
dificilmente correspondia às minhas intenções
atuais. Deixe-me reformular. A senhora tem uma
reputação impecável, e a minha é exatamente o
oposto. Sei que está ciente disso. Sou rotulado
como um libertino e, em parte, talvez seja
merecido.
Houve um breve silêncio e depois a mãe
suspirou.
— Eu não vou censurar você, embora nem
sempre tenha aprovado todas as fofocas. No
entanto, jovens bonitos com títulos e fortunas
tendem a ter mais tentações do que outros. Talvez
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seja apenas uma desculpa de mãe, mas eu sempre


descarto a maioria dos sussurros como exageros.
Ele sentiu uma pontada de diversão.
— Eu não vou confirmar nem negar nada
específico e deixamos assim, combinado? De
qualquer forma, pretendo propor casamento em
breve e queria contar-lhe.
Olhos escuros brilhavam com curiosidade.
— Estou muito feliz, naturalmente. O porquê de
terem mantido segredo ainda me deixa confusa, no
entanto. Qualquer família que conheço gostaria de
receber uma corte honesta sua. Há uma diferença
entre o que um homem faz em particular quando é
solteiro e quando decide escolher uma esposa. Eu
vi como as matronas da sociedade exibem suas
filhas na sua frente, apesar de sua reputação. Quem
é ela?
Essa era a parte complicada. Primeiro de tudo,
ele não tinha certeza se Caroline o aceitaria. Ela
disse que não queria se casar novamente, mas
também disse que o amava. Havia também o outro
problema a resolver.
Ele disse baixinho:
— Caroline Wynn.
— A jovem viúva do visconde? — Sua mãe
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ficou muito quieta, e havia surpresa em suas


feições.
— Ela mesma.
Ela digeriu.
— Ela é adorável... Bem, ela é mais do que
adorável, então eu posso entender a atração, mas…
— Mas? — ele perguntou quando ela hesitou.
— Eu não sei. Estou bastante surpresa com
isso, Nicholas.
— Não é um jogo vantajoso em alguns
aspectos, percebo isso. No entanto, antes de apontar
linhas de sangue, pedigrees e alianças sociais,
deixe-me dizer que nada disso nunca me atraiu de
qualquer maneira, e já me manifestei sobre o
assunto antes, creio eu. — Sua voz era ríspida,
então ele tentou moderar o tom. — Já pensei muito
nisso, acredite em mim.
Sua mãe balançou a cabeça, a luz do fim da
manhã destacando os fios grisalhos do cabelo dela.
— Eu não ia dizer nada disso.
— Não?
Nicholas levantou uma sobrancelha e se
preparou para a objeção. Sim, ele era Rothay,
poderia fazer o que quisesse e sua família pouco
poderia influenciar, mas, ainda assim, ele os amava
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e queria sua aprovação. Preocupava-se com


Caroline também e queria que eles os apoiassem.
Ela suportara negligência suficiente de sua própria
família, pelo que lhe contara. Ter seus parentes
contra ela a machucaria mais, e ele simplesmente
não poderia aceitar isso.
— Eu ia perguntar como você a conheceu. Não
ouvi uma única insinuação sobre um
relacionamento.
Aquela maldita aposta. Bem, ele não iria
confessar a verdade. Disse, em vez disso:
— Nós frequentamos os mesmos círculos
sociais. A senhora a conhece.
— Esse é o meu ponto. Eu a encontrei.
Conhecê-la é algo completamente diferente. Ela é
bem distante.
Nicholas balançou a cabeça, lembrando-se do
carinho e da franqueza de Caroline, isso sem
mencionar o lado apaixonado que ela escondia do
mundo com tanto cuidado.
— Ela é tudo menos distante quando você a
conhece. Além disso, é inteligente, estudada e
articulada. Não há nada de mercenário nela, então
minha fortuna não tem nada a ver com isso, e
duvido que meu título seja importante. — Ele
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passou a mão pelo rosto e suspirou: — Não tenho


nem certeza se ela vai me aceitar quando eu pedir.
— Por que diabos ela não aceitaria? — Sua mãe
parecia indignada.
— Sua primeira experiência com casamento foi
um desastre. Ela me disse que não pretende voltar a
se casar. — Ele parou por um momento e depois
acrescentou com uma voz calma: — O que me traz
outro problema que eu tenho certeza de que irá lhe
ocorrer, se já não tiver ocorrido. Há a possibilidade
de ela ser estéril. Durante o curso de vários anos de
casamento, ela nunca concebeu.
Não houve resposta, apenas silêncio, e Nicholas
tomou outro gole de conhaque. Ele continuou:
— Eu esperava que você aprovasse mesmo
assim. Althea vai gostar dela. A senhora vai gostar
dela, tenho certeza. Mais importante, eu gosto dela.
Não sou indiferente ao meu dever, mãe. Percebo
que o título e a propriedade iriam para um primo
distante, caso eu não consiga ter um filho. É um
diabo de um dilema ter que decidir se vale a pena
sacrificar a felicidade pessoal ao me casar com
alguma jovem que pode ou não me dar um filho do
sexo masculino. Nunca achei a ideia atraente, muito
menos agora. Eu só tenho essa vida.
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— E ela vai completá-la? — a pergunta foi feita


suavemente, o olhar da mãe fixo em seu rosto.
Nicholas não fizera nada além de ponderar
sobre o assunto desde seu retorno de Aylesbury.
— Acho que sim. Quando me vi contemplando
a ideia de poder vê-la todos os dias, comecei a
questionar meu nível de desapego. Nós
conversamos. Na primeira vez em que a encontrei,
ela citou Alexander Pope, e fiquei impressionado
com a falta de afetação e de flerte. Nós discutimos
as últimas mecanizações do departamento de
guerra, debatemos sobre as obras de Horace e
Virgil, e — ele não pôde evitar, sorriu lembrando a
discussão — nós dois gostamos da obra de Mozart,
mas ela acha que Hayden é o maior mestre.
— Eu... entendo. — foi uma declaração
tranquila.
Ela entendia? Ele queria que ela entendesse.
— Combinando isso ao nível de entusiasmo que
sinto por seu inegável apelo feminino, foi uma
espécie de revelação. Ela me interessa.
Sua mãe empertigou-se, um olhar aguçado no
rosto.
— Esse sorriso singular me diz que você fala
sério.
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— Eu acredito que sim — ele afirmou


deliberadamente. — Mas estou preocupado. Se eu
pedir, e tiver sorte o suficiente de ela concordar,
quero que ela seja aceita de maneira plena e
calorosa. Não posso sujeitá-la a mais indiferença ou
mágoa.
— E você é protetor. Que sinal promissor. — A
duquesa viúva abriu, para seu alívio, um sorriso
radiante, embora um pouco hesitante. — Querido,
estou muito feliz por você, é claro. Qual mãe não
quer que seu filho seja feliz?
— Você aprova?
Lá estava ele, um homem crescido, um
influente duque, desesperado pela aprovação de sua
mãe. Ainda assim, era importante para ele que sua
família abraçasse o compromisso sem reservas.
Ela ergueu as sobrancelhas de um modo
arrogante, como só ela conseguia fazer, decidida a
amenizar o clima da conversa.
— Se ela recusá-lo, deixe-me falar com ela. Ela
vai concordar, marque minha palavra. Quanto a
possibilidade de não terem filhos, podemos apenas
esperar e ver. Embora todos geralmente culpem a
mulher, pode ser que o marido dela tenha sido o
culpado. Talvez não seja um problema. Neste
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assunto, a fertilidade não é uma garantia, de


qualquer maneira. O conde de Wexton tem seis
filhas e nenhum filho, pobre homem. Só os
casamentos delas vão levá-lo à falência, tenho
certeza.
A ideia de seis mulheres jovens para
administrar era um pouco assustadora, e Nicholas
teria dito alguma coisa, se, por trás dele, alguém
não tivesse pigarreado alto. Ele se virou para ver
um dos lacaios ali, um olhar constrangido no rosto.
— Imploro seu perdão, sua Graça, mas há um
jovem lá fora que insiste em vê-lo imediatamente.
Ele se recusa a declarar qual é o assunto, mas pediu
para informar que o nome dele é Huw. Isso foi tudo
o que me disse. Eu o teria mandado embora, mas
ele jura que o senhor desejará falar com ele.
O jovem motorista de Caroline fora vê-lo? Isso
não era não convencional o suficiente para deixá-lo
alarmado, e a palavra imediatamente não ajudou
em nada. Nicholas assentiu.
— Por favor, leve-o ao meu escritório e diga
que o encontrarei lá.
— Sim, sua graça.
Nicholas lançou à sua mãe um olhar de
desculpas, um tipo diferente de ansiedade
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substituindo sua apreensão anterior por contar a ela


sobre essa nova reviravolta em sua vida. Ela fora
extraordinariamente favorável, então, suas dúvidas
foram amenizadas. Ele se aproximou rapidamente e
inclinou-se para beijá-la na bochecha.
— Perdoe-me, mas tenho a sensação de que é
importante. Vejo você no jantar.
— Há algo errado? — perguntou ela, lendo
corretamente a expressão dele, franzindo a testa em
preocupação.
— Eu espero que não — ele respondeu
sombriamente. — Desculpe.
Nicholas caminhou rapidamente pelo chão
polido do corredor, as botas tocando em staccato
agudo, a sensação de mau presságio. Não deveria
ser nada, ele se tranquilizou. Talvez Caroline
quisesse vê-lo, mas não quisesse enviar um pedido
por escrito, então, usou Huw como meio de
comunicação. Afinal de contas, a separação deles
depois de Aylesbury deixara caminho aberto. Ele
não propusera casamento, principalmente porque
não estava preparado. Não tinha um anel, nem
discurso preparado, nenhuma ideia, mesmo que
estivesse contemplando uma mudança tão
permanente em sua vida. Caroline não pedira a ele
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uma declaração similar de amor nem mesmo uma


promessa de uma união futura, e como seus
sentimentos estavam bem tumultuados, ele aceitou
com gratidão seu silêncio sobre o que aconteceria
no futuro.
Mas no caminho de volta para Londres, ele
percebeu a profundidade de suas emoções. Como
seria incapaz de vê-la em público e ficar longe?
Ansiava acordar todas as manhãs com ela ao seu
lado. Durante todos aqueles quilômetros ele
contemplou a palavra casamento com certeza
crescente. Com o problema da possível
desaprovação de sua mãe fora do caminho, tudo o
que precisava fazer era persuadir Caroline de que
poderia ser um marido adequado.
Como ele disse à sua mãe, Caroline não estava
interessada em seu status financeiro ou social, mas
ele sabia muito bem que não gostava de sua
reputação. Só isso − além de sua oposição a
abandonar o controle sobre sua própria vida − já
poderia fazê-la recusá-lo. Infidelidade era um dado
à parte, especialmente para os homens. Certamente
ele nunca considerara a lealdade, exceto nos termos
mais abstratos, mas, novamente, nunca a prometera
a qualquer mulher.
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Ele ofereceria a Caroline, se ela o aceitasse.


Seria amor?
Huw esperava à beira da lareira, segurando o
chapéu nervosamente nas mãos, o cabelo escuro
encaracolado despenteado, um olhar infeliz no
rosto. Nicholas entrou em seu escritório, fechou a
porta atrás de si e disse sem preâmbulo:
— O que há de errado?
— Minha... minha senhora não sabe que estou
aqui, Sua Graça — o jovem gaguejou. — Eu tomei
a decisão de vir.
Outra pontada de mau presságio o atingiu.
Nicholas foi até a escrivaninha e sentou-se atrás
dela, indicando uma cadeira com um movimento da
mão.
— Entendido. Isso é entre nós, então. Conte-
me.
Huw parecia desconfortável, olhando para a
poltrona de veludo coberta como se tivesse medo
de que ele a sujasse, mas então se empoleirou na
borda e limpou a garganta.
— É ele, senhor. Lorde Wynn, o bastardo.
Pensei que o senhor deveria saber.
Nicholas lembrou-se de como Caroline
mencionara o homem com desgosto. Ele disse
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secamente:
— O que tem Lorde Wynn?
— Ele está sempre se esgueirando. Ela não quer
vê-lo, então ele espera, ou manda um de seus
lacaios esperarem e verem se ela está em casa. —
As mãos do jovem esmagaram seu chapéu, as
juntas visivelmente embranquecendo. — E nesta
manhã, ele entrou, passando por Norman, e então
ele... ele... bem, sua graça, não há uma boa maneira
de dizer isso. Ele tentou fazer o que queria com ela,
e fez.
Nicholas sentiu uma chama de raiva explodir
em seu cérebro.
— Ela está ferida?
— Não, senhor. Uma jovem dama o atingiu
bem na cabeça. Jones e eu o jogamos em sua
carruagem e pedimos ao cocheiro que levasse o
lixo para casa. Imagino que ele esteja lá agora,
amargando uma terrível dor de cabeça. Mas logo
estará de volta para importuná-la, marque o que
digo. Em roupas extravagantes ou em trapos,
conheço sua espécie. Ele quer o dinheiro dela. Não
é segredo. Como minha senhora não tem interesse,
ele queria arruiná-la e forçá-la a se casar.
Nicholas mal percebeu que se colocara de pé.
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— Obrigado por me contar, Huw —


acrescentou com promessa letal em sua voz: —
Vou cuidar de Lorde Wynn.

M ARGARET OLHOU PARA D EREK COM CENSURA


resignada sobre a borda da xícara de chá.
— As palavras, quanto mais cedo melhor, me
levam a certa conclusão.
Ele ergueu as sobrancelhas, feliz demais para se
sentir devidamente castigado por sua implicação.
Até o dia refletia seu humor, ensolarado e quente, a
tarde tão agradável e a sala informal com um brilho
dourado. Ele disse de forma neutra:
— Esperei por Annabel por muito tempo. Você
me culpa por querer um casamento rápido agora
que ela concordou?
Sua tia suspirou.
— Suponho que não. Uma licença especial
pode ser providenciada. Ainda assim, seu
casamento apressado logo após o noivado rompido
vai causar uma onda de fofocas.
Thomas, que estava em silêncio até agora, riu.
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— Não tenho certeza de que Derek esteja


preocupado com o que as pessoas irão dizer, minha
querida. Além disso, a felicidade conquista as
opiniões das pessoas que logo verão que se trata de
um caso de amor, então, logo perderão o interesse.
As controvérsias mantém a sociedade em
polvorosa. Felicidade conjugal aborrece a todos.
Uma verdade cínica, mas precisa, pensou
Derek.
— Estou feliz que não haja objeção, então. Que
tal amanhã à tarde?
Margaret pareceu aturdida, e sua xícara de chá
chacoalhou no pires.
— Derek! Amanhã?
— Eu conversei com Annabel e ela concordou
que desde que eu pudesse garantir os arranjos, ela
queria prosseguir. Amanhã foi o mais cedo
possível.
— Quanto custou isso? — Thomas parecia
divertido.
— Uma pequena fortuna, aposto.
O preço da conveniência nunca fora pequeno,
mas Derek não se importava. Annabel valia a pena,
e ele descobriu que se sentia impaciente para tê-la
vinculada a ele em todos os sentidos, incluindo a
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legalidade do enlace.
— Eu não me importei — ele admitiu, sem se
preocupar em dissimular. — Quem poderia pensar
em algo tão mundano quanto o dinheiro em
comparação a tê-la como minha esposa?
Margaret e Thomas trocaram um olhar. Era
uma comunicação silenciosa, obviamente íntima.
Thomas estendeu a mão e pegou a de sua esposa,
elevando-a aos lábios por um momento.
— Eu acredito — ele disse —, porque sei
exatamente o que você quer dizer.
E depois dos muitos anos de casamento,
Margaret ainda corava.
— Você sempre foi irremediavelmente
sentimental.
— Suponho que sim — Thomas respondeu com
um pequeno encolher de ombros impenitente. Ele
se virou para Derek. — Você tem minha permissão
para se casar com Annabel, é claro, mas sempre a
teve. Era sua própria mente que precisava aceitar a
ideia.
A chegada do objeto de sua conversa, em uma
confusão de musselina, cabelos dourados e agitação
sem fôlego interrompeu a discussão, e Derek se
levantou imediatamente. Ele sorriu, mas Annabel
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não sorriu de volta.


Seu estômago se revirou. Será que ela havia
mudado de ideia? Depois da paixão doce e calorosa
que compartilharam...
— Olá — Ela lançou a Margaret e Thomas uma
saudação superficial. — Desculpem, estou atrasada.
Estava com uma... amiga. Eu... bem, Derek, posso
falar com você?
Ele fora surpreendido pela ausência dela, mas
Margaret dissera que ela saíra com sua aia para
resolver alguns assuntos, e sua tia não parecera
preocupada, então, ele não pensara muito sobre
isso.
— Claro — sua voz soou um pouco grossa.
Annabel agarrou sua mão.
— Um passeio pelo jardim, então?
Intrigado, ele assentiu, curvando-se para
Thomas e Margaret, que pareciam igualmente
surpresos, e permitiu-se ser conduzido para o
pequeno jardim cercado por muros, atrás do
sobrado. Sentindo-se abraçado pelo sol e pelas
árvores floridas, enquanto seguiam pelos caminhos
de pedra, reparou que a expressão da jovem que
segurava sua mão era incongruentemente sombria.
Mas era promissor que ainda mantinha seus
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dedos entrelaçados.
— Longe da casa — ela sugeriu. — Eu não
quero ser ouvida.
— O que você quiser, é claro.
— Eu vou explicar, apenas me dê um momento.
— Ela franziu o cenho.
Como ele seria capaz de andar de mãos dadas
com ela até a beira de um penhasco, não discutiu.
Depois de um momento, quando estavam perto dos
fundos, no canto mais afastado da casa, ela soltou a
mão dele e se virou em sua direção.
Seus olhos azuis, os que ele achava tão
adoráveis, com aqueles cílios dourados- escuros e o
profundo tom de cobalto, encaravam-no
acusadoramente.
— Precisa admitir que você começou com isso.
Precisa ajudá-la agora.
Não tinha sequer se casado, mas já se via em
apuros.
Místico, ele perguntou:
— Ajudar quem e começou o quê?
— Eu sei que Lady Wynn foi quem julgou sua
aposta.
Maldito inferno. Ele abriu a boca para dizer
algo que nem sabia o que era, mas Annabel o
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impediu.
— Ela me disse que nada aconteceu entre
vocês. Considerando seus sentimentos pelo Duque
e suas razões para entrar na disputa, acredito nela.
O problema é que o que você e Rothay propuseram
como um desafio lúdico agora ameaça destruí-la.
De certa forma, você é responsável e,
indiretamente, eu também sou.
Ele era culpado pela aposta, mas não tinha ideia
do que ela estava falando.
— Destruí-la como?
— Lorde Wynn sabe que ela se ofereceu para
ser sua juíza. Posso dizer em primeira mão que o
homem é um calhorda sem consciência. Ele
ameaçou arruiná-la socialmente, mas não antes de
violá-la. — Annabel fez uma pausa e depois
encolheu os ombros magros. — Receio que eu o
tenha deixado inconsciente.
— Pode repetir? — Derek olhou para sua noiva
em consternação. — Annabel, você se importa em
esclarecer o que está falando?
Sua história, contada em palavras rápidas e
concisas, fez com que sentisse uma onda de raiva
quando ouviu falar sobre o dilema de Caroline e as
intenções nefastas de Wynn. Quando Annabel
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terminou, Derek ficou furioso e só podia imaginar


como Nicholas se sentiria.
— Se ele seguir com esta ameaça, Wynn vai
cometer o último erro de sua vida miserável —
disse ele por entre os dentes. — Nick vai arrancar
cada membro dele. Mais do que isso, ele vai matá-
lo.
— Eu certamente espero que sim. — Entre os
jardins, com sua figura feminina cercada por folhas
verdes e flores delicadas, Annabel parecia não
apenas indignada, mas feroz. — Ela se recusa a
contar a ele, infelizmente. Sugeri isso, mas ela não
quis envolvê-lo.
— Por que não?
Derek entendia as mulheres quando se tratava
de seus corpos, sua suscetibilidade a gestos
românticos, sua sensibilidade a um olhar, mas ele
nunca pretendera entender seus pensamentos.
— Ela não quer atraí-lo para ela desse jeito.
Quando e se ele for procurá-la, ela prefere que não
seja porque sente a responsabilidade de salvá-la do
que ela chama de sua própria loucura, mas porque a
ama e a reconhece de livre e espontânea vontade.
Eu simpatizo com suas ideias.
Um sorriso irônico curvou seus lábios.
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— Ainda assim deseja que eu interfira, correto?


— Com certeza.

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— V ocê entendeu mal — disse Nicholas em


seu tom mais aristocrático, frio e implacável —,
não me importo se Lorde Wynn quer me receber ou
não. Eu vou vê-lo.
O criado registrou corretamente tanto o olhar
em seu rosto quanto a convicção em sua voz. Ele
era jovem e quinze centímetros mais baixo do que
Nicholas, e sua expressão consternada mostrava
que ele se sentia mal preparado para lidar com a
situação. O lacaio limpou a garganta e disse:
— Ele está indisposto, sua graça.
— Imagino que esteja e sei os motivos. No
entanto, anuncie-me e diga a ele que vou procurar
pela casa inteira até encontrá-lo, se ele for muito
covarde para descer.
Diante de tal determinação, o criado concordou,
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provavelmente porque, pensou Nicholas quando o


jovem recuou e segurou a porta para entrar no
vestíbulo, um homem como Wynn não inspirava
muita lealdade.
Ele foi levado para o que parecia ser uma sala
de visitas formal, com mobília sobressalente e não
muito pobre, mas bem desgastada. Por saber que
Caroline tinha herdado a casa de Wynn, o lugar
provavelmente era alugado. Nicholas não se sentou,
mas ficou em pé junto à lareira e olhou para o
relógio no canto. Disse a si mesmo que daria cinco
minutos a Wynn e controlou a vontade de andar de
um lado para o outro.
Muito raramente perdia a paciência. Seu
autocontrole era em parte inato, em parte
aprendido, porque sua posição e responsabilidades
exigiam isso, mas até elevar a voz não era uma
ocorrência comum. Claro, ele realmente não
conseguia se lembrar de quando se sentira tão cego
de raiva anteriormente.
O homem tocara em Caroline. Mais do que
isso, ele sem dúvida a assustara.
— Que diabos você quer, Rothay? — a
pergunta foi rosnada da porta. — Como se atreve a
forçar sua entrada na minha casa?
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Nicholas virou-se, focando o olhar no homem


que entrava na sala, notando com satisfação que sua
pele parecia um pouco branca ao redor da boca,
como se estivesse com dor.
Ele disse agradavelmente:
— Estou tentado a te matar.
A expressão de desprezo no rosto pálido do
outro homem desapareceu. Depois de um
momento, ele falou:
— Não faço ideia do porquê. Não sei o que
aquela puta fria disse a você, mas...
Nicholas se adiantou ao insulto.
— Eu ainda posso matá-lo — disse ele
reflexivamente, estreitando os olhos, sua postura
inegavelmente ameaçadora. —, considerando meu
atual estado de espírito, então, aconselho-o a ajustar
sua forma de tratamento quando se referir a Lady
Wynn. Seria um prazer rasgá-lo em pequenos
pedaços com minhas próprias mãos.
Wynn endureceu e cuspiu:
— Por causa de uma mulher? Você?
— Por causa desta mulher, sim.
— Ah, por favor, Rothay, ela não é apenas mais
uma das suas parceiras de cama casuais? Você as
muda como troca de camisas. Além disso, acho
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difícil acreditar que isso possa afetá-lo. Ela é uma


prostituta, oferecendo-se para abrir as pernas para
dois homens diferentes. Por que você se importaria
se ela me oferecesse os mesmos favores?
Nicholas sentiu as mãos se fecharem em
punhos, e uma neblina vermelha momentaneamente
obscureceu sua visão.
Ele respirou fundo, sabendo que se tocasse
Wynn naquele momento, poderia simplesmente
quebrar-lhe o pescoço.
Por entre dentes, ele disse:
— Se você tivesse a menor noção do quanto
estou tentado a desconsiderar o fato de que
assassinato é crime na Inglaterra, fecharia sua boca
neste momento. Porém, eu ainda posso visitá-lo e
matá-lo de madrugada amanhã de manhã sem mais
remorso do que se pisasse em um inseto. Agora vai
ficar quieto e ouvir o que tenho a dizer, entendeu?
Por um momento, ele se perguntou se o outro
homem, que não se sentara, viraria-se e fugiria.
Lorde Wynn parecia finalmente compreender o
perigo que corria, pois perdeu aquele ar de bravura
e adquiriu uma cor doentia.
— Bom, assim é melhor — Nicholas disse
suavemente. — Acho que nos entendemos. Aqui
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está a barganha. Você vai ficar longe dela. Bem


distante. Não olhe para ela, não entre em contato
com ela, se ela comparecer a um baile e você
estiver lá, saia imediatamente. Pelo menos nos
próximos meses, sugiro que passe alguns dias no
campo até que meu temperamento esfrie. Se estiver
na cidade e nos depararmos, posso não responder
pelo meu autocontrole. Acho que essa parte é
bastante clara.
Wynn abriu a boca como se objetasse, mas
sabiamente a fechou. Seus olhos pálidos haviam se
reduzido a fendas e suas mãos tremiam. Os homens
que aterrorizavam as mulheres raramente eram
qualquer coisa além de covardes, e Wynn não era
exceção.
— Deixe-me continuar. Se você disser uma
palavra vil sobre ela, eu vou te destruir.
Socialmente, financeiramente, de todas as maneiras
possíveis. A família Manning tem influência em
todos os cantos da Inglaterra e também no
Continente. O príncipe regente é meu amigo. Você
será evitado, destituído e banido. Se lhe agrada
testar minha palavra, espalhe o boato de que
Caroline estava envolvida de alguma forma com
essa aposta.
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— Se ele o fizer, vai responder a mim também.


A interjeição preguiçosa tinha um tom de aço, e
Wynn estremeceu ao som de outra voz, voltando-se
na direção dela.
— Manderville — ele sufocou, parecendo
positivamente doente. Havia gotas de suor em sua
testa.
Era Derek. Parado na porta, com um ombro
encostado no batente.
— Seu lacaio não parecia inclinado a recusar
minha entrada, com Nick já aqui. Vejo que tudo
parece muito civilizado, embora eu admita que,
quando ouvi o duque de Rothay chegar, esperava
derramamento de sangue.
— Isso ainda pode acontecer — disse Nicholas,
enunciando cada palavra cuidadosamente — se ele
insultar a dama novamente. O que te traz aqui,
Derek?
— Minha noiva — Derek fez o anúncio com
desenvoltura casual, olhando para Wynn. — Acho
que vocês se conheceram esta manhã, quando ela
lançou um vaso de flores contra sua cabeça dura,
Wynn. Foi-me ordenado que também desiludisse
este senhor de qualquer ideia de que poderia
incomodar Lady Wynn e não sofrer por isso. Vejo
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que você chegou antes.


— Eu poderia apresentar queixa contra sua
noiva por agressão — disse Wynn, mas foi uma
tentativa fraca de desafio, desmentida pelo olhar
em seus olhos. — O que a moça viu foi um
momento romântico e entendeu mal. Caroline me
seduziu e, quando fomos pegos, ela negou. Eu...
Nicholas moveu-se, então, em dois passos,
pegando o homem pela camisa e batendo-o contra a
parede com tanta força que a pintura acima da
lareira estremeceu.
— Acho que você está indo longe demais.
Wynn engasgou quando Nicholas ergueu o
antebraço. O rosto do homem ficou vermelho, e sua
respiração sibilou quando Nicholas aplicou pressão
suficiente em sua garganta para garantir que sua
sinceridade não fosse mal interpretada.
Depois de um momento, Derek disse:
— Eu sei que matá-lo tem um apelo definitivo,
mas se você pretende deixá-lo viver sua vida
miserável, é aconselhável que o solte agora, Nick.
Seu amigo estava certo, e Nicholas conseguiu
afrouxar o aperto com esforço, recuando. Wynn
caiu, sua mão massageando a traqueia, seus olhos
pálidos lacrimejando. Nicholas disse secamente:
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— Lembre-se de cada palavra que eu disse.


Caroline está sob minha proteção de todas as
maneiras, incluindo meu nome.
— Eu acho que você se fez entender —
observou Derek secamente.
Eles saíram juntos rapidamente da casa,
passando pelo lacaio nervoso. Na rua ensolarada,
do lado de fora, Nicholas olhou para o amigo.
— Obrigado por querer intervir em nome de
Caroline.
— Eu fui lhe contar sobre os eventos desta
manhã, mas aparentemente você já tinha sido
informado. — Derek sorriu. — Sinto-me um pouco
inútil, afinal, mas poderia tê-lo ajudado a se livrar
do corpo. Duvido que sentissem falta dele.
— O motorista dela foi me contar. Huw parece
ter uma afeição genuína por ela, e sou grato por
isso.
— Você também tem afeição por ela, se sua ida
a Aylesbury ou seu estado atual de afronta forem
indicações. — Derek fez uma pausa. — Quando
disse que ela estava sob a proteção do seu nome, eu
interpretei corretamente?
— Ela ainda não concordou, mas tenho
esperanças de que Caroline se case comigo. —
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Nicholas arqueou uma sobrancelha. — Falando


nisso, ouvi você falar sobre uma 'noiva'. Quando
isso aconteceu e quem diabos ela é?
— Isso aconteceu recentemente e é um
resultado direto da aposta, de várias maneiras.
Annabel me fez reexaminar algumas prioridades da
minha vida.
Nicholas registrou surpresa.
— A jovem protegida do seu tio?
— Ela mesma. — Derek hesitou e encolheu os
ombros. — Eu sou apaixonado por ela há algum
tempo, mas era teimoso demais para admitir isso.
Quase a perdi.
— Entendo. — Nicholas conhecera a srta. Reid,
é claro, mas, em vista do fato de que ela era uma
jovem elegível, ele evitara mais associações. Por
saber que ela ficara noiva recentemente, ele agora
entendia algumas das preocupações de Derek nos
últimos meses.
Olharam um para o outro enquanto uma
carruagem passava por eles na rua, o calor da tarde
tornando-se um casulo, mas havia diversão mútua
iluminando seus rostos. Nicholas disse:
— Estou feliz por você. Ela é uma garota
adorável.
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— Estou feliz por você também.


— Ainda não está resolvido — Nicholas
murmurou —, mas espero que em breve esteja.
Vou mantê-lo informado.
Ele entrou na carruagem e bateu no teto.

Q UE DESASTRE . N ÃO APENAS O DIA , MAS A VIDA


dela.
Caroline olhou no espelho, vendo o resto de
lágrimas em suas bochechas, o estado desordenado
de seu cabelo e o olhar vazio em seus olhos.
Começara a resolver algumas coisas, enviando uma
carta a um corretor para colocar a casa à venda.
Depois subira para se deitar e acabou caindo em um
sono inquieto.
Era difícil definir suas emoções agitadas, ela
pensou enquanto arrancava os grampos de seus
cabelos e pegava uma escova. A catástrofe havia
acontecido, lembrou-se disso enquanto estremecia
ante a lembrança das mãos contundentes de
Franklin sobre ela. Mas apesar de ter sido resgatada
pela desenvoltura de Annabel, não tinha ilusões de
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que o primo de seu marido manteria seu


conhecimento sobre seu papel na aposta em
segredo.
A inegável verdade sobre seu relacionamento
com o Duque Diabólico seria tornada pública e,
mesmo que Derek Drake negasse qualquer
envolvimento com ela, toda a alta-sociedade
saberia que ela se oferecera. Seu status passaria de
inatingível para promíscuo no momento em que o
rumor começasse, e ela duvidava que Franklin
fosse perder muito tempo.
Uma parte traidora e ilógica de sua mente não
se importava com as fofocas. Quando colocava na
balança a possibilidade de nunca se deitar nos
braços de Nicholas, nunca provar seus beijos
sedutores, nunca sentir o calor de seu sorriso...
Bem, o custo do ostracismo social era alto, mas ela
sabia que valia a pena. Ela deixara de simplesmente
existir para viver.
Ela murmurou em auto zombaria abstraída:
— Querida, maldita, eletrizante cidade, adeus!
Teus tolos não mais vou provocar: Este ano em
paz, ó críticos, cidadãos, ó prostitutas, durmam em
paz.
O “Adeus a Londres” de Pope assumiu um
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novo significado cínico, apesar de ser uma de suas


obras favoritas.
O som da batida em sua porta foi superficial,
porque esta se abriu antes que ela pudesse
responder. Ao se virar, Nicholas entrou no quarto,
parecendo alto e muito masculino no santuário de
cores pastéis e delicadas mobílias.
Ela não pôde evitar um pequeno suspiro de
surpresa por sua audácia, embora já o conhecesse o
suficiente para esperar atos tão imprudentes. A
situação tornava-se mais escandalosa a cada
instante. Agora o duque diabólico estava em seu
quarto. Toda a criadagem deveria estar curiosa.
E amanhã, sem dúvida, toda Londres estaria
falando sobre isso.
Perversamente, ela sentia-se feliz em vê-lo,
apesar da arrogância de sua chegada em seu quarto
sem ser convidado. Ele ficou ali parado, com o
cabelo de cor escura levemente embaraçado, os
olhos exibindo uma luz sombria. Como sempre, ela
ficou impressionada com o poder magnético de sua
presença. Se tivesse tentado falar, não teria ideia do
que dizer. Sua chegada imprudente e inesperada a
deixara completamente sem palavras.
Ele falou primeiro, dando uma explicação
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simples:
— Eu precisava ver você. Para ter certeza de
que estava ilesa.
Quando ela não disse nada, ele acrescentou:
— Huw me contou o que aconteceu.
Caroline encontrou coragem para falar, ainda
chocada pela invasão de seu quarto.
— Ocorreu a você que eu poderia descer se me
fosse enviada a notícia de que desejava me ver?
Nicholas apenas sorriu com a indignação em
seu tom de voz.
— Se tivesse pensado nisso, talvez. Eu não
queria esperar.
Por que ele tinha que fazer isso com ela? Logo
quando estava tão vulnerável e abalada.
— Você não deveria estar aqui — ela disse,
mas não foi com convicção. Sua mão começou a
tremer, e ela rapidamente soltou a escova. — Eu
nem estou vestida.
— Gosto mais de você despida — ele
respondeu com um olhar fascinante, e cálido.
Aproximou-se dela. — Aquele desgraçado te
machucou? Todo mundo diz que não, mas achei
que você poderia precisar de mim.
Ela precisava dele? Deus, sim. Mais do que
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imaginara, e todas as objeções por ele ter


simplesmente entrado em sua casa e invadido seu
quarto desapareceram. Se tudo já estava em
frangalhos, por que se importaria se todos
soubessem que Nicholas se achava no direito de
entrar sem ser anunciado enquanto ela vestia
apenas seu chemise? Independentemente de suas
ações, toda Londres ouviria sobre sua associação
em breve, então, o conforto de seus braços era
muito tentador.
— Eu... — ela começou, mas parou, sem ter
certeza do que dizer. Um pequeno soluço escapou.
Ela raramente chorava. Desde a primeira noite
de seu casamento, descartara as lágrimas,
considerando-as como inúteis.
— Meu amor — Nicholas estava lá, erguendo-a
no colo e acomodando-se no pequeno banco em
frente à sua penteadeira, embalando-a em seus
braços como se ela fosse algo precioso e quebrável.
— Acabou. Eu cuidei... dele. Você está segura.
Comigo.
Ele tinha acabado de chamá-la de seu amor? De
todas as palavras ternas que sempre fluíam tão
facilmente de seus lábios, Nicholas nunca usara
aquelas antes. Caroline encostou a cabeça no peito
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dele e se permitiu o luxo de pensar que ele falava


sério. Seu cheiro evocava memórias de interlúdios
idílicos e prazeres luxuriosos.
Um momento depois foi que registrou o resto
de sua fala.
— O que você quis dizer com ter cuidado dele?
Nicholas pressionou a boca na sua têmpora em
uma carícia suave.
— Há algumas vantagens em ter uma posição
social e ser rico. Eu visitei o senhor Wynn esta
tarde. Digamos que chegamos a um entendimento.
Ele ainda está vivo, por enquanto, de qualquer
maneira.
Chocada, ela se remexeu, levantando a cabeça
para poder olhar para o rosto dele.
— Nicholas...
Ele realmente quisera dizer o que tinha acabado
de dizer? Conseguia enxergar a raiva em seus
olhos, apesar do aperto terno de seus braços.
Seu sorriso não mostrava nenhum traço de
humor.
— Estou confiante de que ele foi convencido,
especialmente quando pus minhas mãos em sua
garganta. Suponho que minha reação foi bárbara,
mas justificável, considerando meus sentimentos
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por você. Eu o teria processado e punido, exceto


que tinha certeza de que você não iria querer
suportar a publicidade da provação. O mesmo
problema se daria ao expô-lo. Seu nome ainda seria
divulgado, e eu te prometi discrição.
O coração de Caroline iniciou um pulsar lento e
forte. As coxas de Nicholas pareciam feitas ferro
sob seu corpo, e os braços dele eram fortes e
seguros.
…meus sentimentos por você…
Nicholas sussurrou em seu ouvido, com uma
respiração cálida:
— Você não disse que me ama por causa de
quem eu sou, não do que sou? Não o duque, mas o
homem de verdade.
Ela podia sentir seus lábios tremerem enquanto
tentava sorrir.
— Você sabe que sim. — Ele a estreitou com
mais força, seus braços embalando-a. — Uma vez,
há muito tempo, acreditei nas palavras ‘eu te amo’
como sendo fruto de um interesse pelo meu
coração, não por meu título e fortuna. Eu era
jovem, impetuoso e estúpido, e ela era mais velha e
extremamente mercenária.
Caroline já havia se perguntado o que poderia
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tê-lo deixado tão desconfiado para qualquer


envolvimento emocional. Ela descansou em seu
abraço, silenciosamente desejando que ele lhe
contasse.
Sua boca se curvou naquele sorriso sem humor,
seus olhos escuros sombreados por aqueles longos
e grossos cílios.
— Descobri a verdadeira natureza de Helena da
maneira mais difícil, tendo o privilégio de
encontrá-la na cama com outro homem. Descobri
mais tarde que ela planejara tudo isso, desde o
nosso primeiro encontro. Ela contou a um de seus
outros amantes que bem antes de nos conhecermos
estava interessada em meu título, na fortuna e no
prestígio que vinham com ele. Por isso, ela
deliberadamente pediu a um amigo que me
apresentasse a ela, caiu em meus braços com
entusiasmo convincente, mas não interrompeu suas
outras associações. Você pode achar isso um pouco
difícil de acreditar, mas aos dezoito anos eu era
ingênuo e romântico.
Ela havia experimentado uma desilusão
semelhante na mesma idade, quando se casou.
— Compreendo.
— A humilhação quando percebi quantas
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pessoas sabiam exatamente o que ela estava


fazendo e quão facilmente eu fui enganado foi
difícil de esquecer. Então embarquei em uma
missão para destruir a imagem de Nicholas
Manning, o jovem duque suscetível.
Era difícil imaginá-lo diferente daquele homem
confiante e sofisticado em todos os sentidos. O
encanto despreocupado de Nicholas fora polido
como uma pedra preciosa.
Caroline sorriu e tocou sua mandíbula.
— Eu acho que você conseguiu.
Ele franziu a boca.
— Deus sabe que tentei. Durante a última
década, tive amor no sentido físico, mas mantive
minha distância de outra forma. Jurei que nunca
mais cometeria um erro assim. — Ele fez um
pequeno e incomum gesto de impotência com a
mão. — Mas, apesar de minha cautela, acredito que
você não esteja mentindo sobre seus sentimentos.
Eu não a machucaria para salvar minha própria
pele, e você deixou claro que ser minha amante está
fora de questão. Acho que não temos mais opções a
não ser o óbvio. Não ando pensando em mais nada
ultimamente, e isso virou minha vida de cabeça
para baixo.
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— Eu prometi nunca confiar em qualquer


homem o suficiente para me casar novamente. —
Caroline sentiu o horror do dia desaparecer. A
frustração e a perplexidade no tom de voz de
Nicholas mostrando-se mais persuasivos do que
qualquer palavra de amor.
— Não vê? Nós compartilhamos as mesmas
dúvidas.
Seus olhos mantinham um tom sério.
— E se nós dois quebrarmos nossas promessas?
É uma boa maneira de começar uma vida juntos?
Ela sentiu uma emoção profunda, tão poderosa
que mal conseguia falar.
— Eu acho que, considerando a natureza das
promessas e por que elas foram feitas, sim, acredito
que seria uma excelente maneira de recomeçar.
Finalmente, lá estava ele. Um erguer do canto
da boca primeiro e depois um brilho malicioso nos
olhos. O duque diabólico ressurgiu.
— Como se eu fosse lhe dar uma escolha. Até
minha mãe me disse que eu seria um idiota senão
insistisse em um casamento rápido. Ela sempre me
dá muitos conselhos, e eu os aceito com
parcimônia, mas neste caso singular, concordo com
ela.
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Ele havia discutido com sua família e eles


aprovaram?
— Ela sabe que sou estéril? — Doía dizer isso.
Deus, como doía.
— Ela comentou que você ainda é jovem, e não
há provas sobre o assunto. Além disso, acredito que
esteja aliviada ao extremo por me ver contemplar o
casamento, então, não sente nada além de
resignação e desapego. Ela acha que meus
sentimentos superam suas preocupações com o
legado de títulos e dinheiro.
Caroline sentiu uma tontura, mas naquele
momento era a felicidade que fazia sua cabeça
girar.
— O que ela vai pensar sobre o escândalo?
— Que escândalo?
Como ele não se preocupava com isso?
— Se Franklin...
— Eu te disse que cuidei disso. Ele não vai
dizer uma palavra, confie em mim.
— Eu confio em você.
As palavras saíram facilmente, porque eram
verdadeiras. Nicholas se moveu, ficando de pé e
acomodando-a no pequeno assento enquanto se
ajoelhava diante dela, seu belo rosto imóvel e sério.
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Ele pegou as mãos frias e as segurou em gentil


persuasão. Seu olhar a buscava, e ela sentiu as
profundezas de sua alma.
— Confia? O suficiente para dar uma chance a
um homem que tem uma reputação como a minha?
O duque de Rothay estava realmente ajoelhado
a seus pés, oferecendo casamento? Todas as
mulheres em Londres desmaiariam para estar em
sua posição. Talvez toda mulher na Inglaterra... ou
no continente inteiro...
— Nicholas... — sua voz não era nada além de
um tom rouco.
— Você poderia dizer um “sim” para aliviar um
pouco do meu nervosismo, Caroline.
Nicholas Manning nervoso? Ela podia sentir o
leve tremor em seus longos e bronzeados dedos
enquanto seguravam os dela, e havia uma tensão
em torno de sua boca que ela nunca vira antes. O
aristocrata arrogante desaparecera e em seu lugar
estava o homem por quem se apaixonara tão
facilmente, o amante gentil e atencioso que negava
a si mesmo para tranquilizar uma mulher temerosa,
o homem que se movimentava em noites de luar
oníricas com danças românticas em terraços e
oferecia passeios de carruagem sensuais e
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clandestinos.
— Sim.
A tensão diminuiu, seus dedos apertaram
momentaneamente, e o brilho de seu sorriso
demonstrou um triunfo imprudente. Ainda
ajoelhado, ele lhe disse:
— Venho atormentando meu débil cérebro
tentando pensar na maneira mais romântica
possível para fazer isso. Nenhuma das minhas
ideias incluía o fato de o calhorda do Wynn ser o
catalisador. — Ele fez uma pausa e disse com
inflexão irônica: — Receio nunca ter pedido
alguém em casamento antes.
— Nunca me pediram em casamento também
— admitiu Caroline, com a garganta cheia de
emoção. — Mas no meu julgamento você fez um
bom trabalho.
Nicholas levou uma de suas mãos à boca e deu
um beijo nas costas dos dedos. Uma sobrancelha
escura se arqueou.
— Perdoe-me por soar como um marido
autocrático mesmo antes de nossos votos , mas seus
dias de juíza estão acabados, meu amor.

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O xale de seda escorregou de seus ombros, e


Caroline engoliu o nó de nervosismo que
subitamente se instalou em sua garganta. O lacaio
se retirou, e ela sentiu a ligeira pressão da mão do
marido em suas costas.
Nicholas olhou para o rosto dela.
— Você tem certeza de que quer fazer isso?
Não se sentiu bem esta manhã. Posso chamar a
carruagem para voltarmos.
Ela sorriu, e esperava parecer sincera.
— Isso deve ser feito em algum momento.
Agora é um tão bom quanto qualquer outro.
Era melhor agora, embora ele ainda não
soubesse, do que em alguns meses. A suspeita de
que ela poderia estar grávida enchia-a de uma
alegria exultante na qual ainda não podia confiar.
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Suas regras sempre foram muito pontuais, mas


estava atrasada, e havia algumas outras coisas
apontando um dedo nessa direção, incluindo uma
indisposição. Ainda que esvaziar seu estômago em
uma bacia a cada manhã não fosse exatamente uma
felicidade, a ideia de estar esperando um filho dele
era o paraíso.
Naquela tarde, no campo em Essex. Fora
quando acontecera. De alguma forma, ela tinha
certeza disto.
— Concordo. Vamos acabar com isso o mais
rápido possível. Embora eu não esteja muito
ansiosa.
Ao lado dela, Annabel Drake, a nova condessa
de Manderville, sorriu nervosamente. Ela parecia
deslumbrante em um vestido cor de pêssego que
destacava sua bela coloração de maneira positiva;
seu cabelo dourado preso em um penteado
intrincado.
— Desde o anúncio do jornal, informando que,
devido a circunstâncias imprevistas, vocês dois
cancelaram a aposta, Margaret diz que toda a
sociedade londrina está tremendo para saber o
motivo. Imagino que esta noite será interessante,
para dizer o mínimo. Todo mundo vai estar falando
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sobre nós.
Ao lado dela, em um traje noturno marrom e
creme, o cabelo loiro emoldurando as feições que
deixavam o coração de tantas mulheres tremulando,
seu marido tinha uma expressão divertida no rosto.
Derek, então, falou:
— Garanto-lhe que a preocupação com isso é
inútil. Haverá alguns rumores iniciais e todos se
esquecerão de nós quatro.
— Exatamente. — Nicholas ajustou o punho e
pareceu sereno. — Tenho para mim que este é um
plano bastante brilhante, se me permitem dizer.
— Claro, porque foi ideia sua — Caroline
murmurou e lançou-lhe um olhar triste. — Pareceu
bom no momento em que você propôs, mas agora é
assustador.
Foi realmente uma ideia dele. Duas licenças
especiais, um casamento duplo discreto, já que
nenhum deles tinha interesse em uma grande
cerimônia ou mais escândalos, e nenhum anúncio
público de suas núpcias fora feito na seção da
sociedade do jornal. O subterfúgio poupara mais
drama para que pudessem desfrutar de apenas
alguns dias juntos, antes que a alta-sociedade
tomasse conhecimento das notícias excitantes de
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que os dois mais notórios libertinos de Londres


haviam se casado no mesmo dia.
Um deles com uma viúva que tinha a reputação
de ser inatingível, mas fora atraída para a cama de
Rothay, e o outro com uma jovem que terminara o
noivado para ceder aos encantos persuasivos de
Lorde Manderville. Ou versões semelhantes seriam
espalhadas, embelezadas por uma nuvem de
especulação, sem dúvida.
Era fácil imaginar os rumores que correriam.
Caroline respirou fundo e apertou o braço do
marido. A aposta também apareceria. Claro que
sim. Ter os quatro unidos parecia a melhor opção.
— Pronta? — Nicholas, mais elegante e bonito
do que qualquer homem tinha o direito de ser,
vestido com roupas pretas e brancas, lançou-lhe um
sorriso tranquilizador. — Apenas aja como se
fôssemos as únicas pessoas na sala.
— Eu vou tentar. — Ela levantou o queixo e
ensaiou sua expressão mais imparcial.
Derek e Annabel foram os primeiros a
descerem a escada. O salão de baile lá embaixo
estava apinhado e barulhento, mas quando o
mordomo anunciou em voz estupidamente alta o
conde e a condessa de Manderville, houve uma
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súbita calmaria nas centenas de conversas.


Caroline se preparou, enquanto seguiam.
— O duque e a duquesa de Rothay.
A sala ficou em silêncio. Até a orquestra parou
de tocar.
Ah, sim, completamente livre de qualquer
nervosismo, Caroline pensou com cinismo, na
esperança de parecer tão fechada e composta como
sempre, mas estava ruborizada. Ela podia sentir o
calor em seu rosto sob os olhares aturdidos de
várias centenas de pessoas.
Como se metade de Londres não estivesse
olhando boquiaberta para eles, Nicholas murmurou
em tom descompromissado:
— Espero que o champanhe não esteja muito
quente. Detesto beber qualquer coisa que não esteja
devidamente refrigerada.
Era com isso que ele estava preocupado? A
temperatura da bebida que poderia lhe ser servida?
Caroline não pôde evitar uma risada. O som flutuou
no silêncio contínuo e algo estalou, o silêncio
sobrenatural foi substituído por um murmúrio de
vozes.
Talvez não fosse um plano tão ruim, afinal. Se
Caroline pudesse suportar aquela noite, então, o
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pior teria passado.


A onda de convidados bem-vestidos, ansiosos
para dar os parabéns e, claro, à espera de algum
tipo de detalhe suculento sobre os romances
secretos, foi esmagadora, mas Nicholas
permaneceu ao seu lado, afastando as questões
óbvias com seu modo inimitável, geralmente com
pouco mais que uma sobrancelha erguida. Após a
exaustiva primeira hora, ele conseguiu puxá-la para
a pista de dança para uma valsa.
— Algumas respostas — disse ele —
funcionam melhor com ações do que com palavras.
No começo, ela não entendeu o que ele quis
dizer.
Até que notou o quão próximo ele a segurava.
Muito próximo. Parecia a noite no terraço de sua
propriedade em Essex quando estavam sozinhos.
Naquele dia ela achara escandaloso. Naquele
cenário, com os olhos de toda a sociedade sobre
eles, era ainda pior.
Eles não o chamavam de Duque Diabólico por
nada. Seu primeiro desejo foi colocar uma distância
decente entre eles. As pessoas já comentariam o
suficiente.
— Não. — Ele a segurou com mais força
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quando ela tentou se afastar. — Deixe-os ver.


— Ver o quê? — Caroline argumentou em um
assobio baixo de protesto. — Que ser o assunto de
todas as fofocas não lhe incomoda? Isso eles já
sabem. No entanto, incomoda a mim.
— Deixe-os ver que eu te amo.
Ela tropeçou na bainha do vestido azul que
usara a seu pedido, suas saias girando em torno de
suas pernas enquanto se moviam. Mas o braço dele
estava ao redor de sua cintura, mantendo-a ereta
com apoio inflexível, e seus olhos escuros
seguravam os dela, pungentes de emoção.
Enquanto a música tocava, ela perdeu a noção da
multidão, das fofocas, dos olhares ávidos. Uma
felicidade que ela não achava possível transformou
a noite de julgamento em triunfo.
Nicholas inclinou a cabeça para que sua boca
roçasse a têmpora dela, enquanto se moviam; o
gesto parecendo íntimo demais para quem estava
diante de centenas de testemunhas.
Ela não se importava.
Eu te amo.
Ele nunca dissera isso antes, e ela não exigira
também.
Talvez ele estivesse certo. Ela tinha certeza de
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que os fofoqueiros estavam se perguntando como a


distante Lady Wynn havia capturado o belo e
diabólico duque sem que a sociedade jamais tivesse
testemunhado mais do que uma troca de olhares.
Se não fosse por uma proposta muito indecente,
nada teria acontecido.
Seus pés ainda estavam no chão? Ela não sabia
dizer. Então, murmurou:
— Já mencionei antes como sou grata pela
existência das bebidas alcoólicas?
Ele riu, pegando sua referência àquela noite
fatídica, quando ele e Derek fizeram a aposta, mas
havia uma expressão séria em seus olhos.
— É tudo o que você tem a dizer?
— Não.
— Então? — ele graciosamente a girou em seus
braços.
Sem se importar com o público escandalizado,
ela sussurrou:
— Abrace-me com mais força.

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NOTAS

Prólogo

1 Creso, último rei da Lídia, foi famoso pela sua riqueza, a


qual foi atribuída à exploração das areias auríferas do Pactolo,
rio afluente do Hermo onde, segundo a lenda, se banhara
o Rei Midas.
2 Clube de cavalheiros mais exclusivo de Londres durante a
regência.

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