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Wildes, Emma
Uma proposta Indecente (An indecent Proposal) / Cherish Books; Rio de Janeiro; 2019
Edição Digital
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Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, locais ou fatos, terá sido mera
coincidência.
Capa
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Notas
O s cavalos galoparam desenfreados, atravessando o trecho em meio aos
rugidos da multidão até a linha final e, momentos depois, Nicholas
Manning, o sexto duque de Rothay, vencia novamente com seu espetacular
garanhão negro. Os cavalos de seu estábulo, na verdade, permaneciam invictos
até aquele momento.
Não era uma surpresa.
Não havia dúvida sobre isso, o homem tinha um toque mágico quando se
tratava de cavalos, e os rumores davam conta de que sua habilidade era ainda
maior quando se tratava de mulheres.
Era fácil acreditar, Caroline Wynn pensou, observando-o caminhar pelas
arquibancadas em direção a seu camarote privado, com seu lendário sorriso
brilhando diante da admiração dos amigos. O duque tinha uma marca particular
de beleza evidente que combinava a masculinidade absoluta de sua esplêndida
estrutura óssea clássica com a dramática coloração bronzeada de sua pele. Ele
também era alto, atleticamente constituído e se movia com graça natural
enquanto subia as escadas, sem dúvida ansioso por comemorar suas vitórias.
Vestido com elegância casual em um casaco de alfaiataria, calça de bainha alta e
botas polidas, seus cabelos, que mais pareciam seda negra, contrastavam com o
branco ofuscante de sua gravata com um nó perfeito.
— Rothay certamente parece satisfeito consigo mesmo — Melinda Cassat
murmurou, abanando-se vigorosamente contra o calor da tarde. Pequenos cachos
castanhos escuros se moviam ao redor de seu rosto em sincronia com cada
movimento de seu pulso. A área onde estavam sentadas era sombreada por um
pequeno toldo listrado, mas não havia uma brisa. O céu sem nuvens era de um
claro e profundo azul cobalto.
— Ele ganhou, então por que não estaria satisfeito? — Caroline observou a
forma alta do duque desaparecer no camarote com um leve tremor na boca do
estômago.
O que estou fazendo?
— Não é como se ele precisasse do dinheiro. O homem é rico como Creso 1.
— Melinda empurrou uma mecha de cabelo rebelde do pescoço e franziu a boca.
— Claro, apostar em uma corrida de cavalos é muito menos escandaloso do que
o mais recente rumor de suas escapadas. Você já ouviu falar sobre isso?
Agradecida por ter o calor do sol para culpar pelo rubor em suas faces,
Caroline mentiu descaradamente.
— Não. Do que você está falando?
Fofoqueira ávida, Melinda ficou encantada com a pergunta. Ela se inclinou
para frente, e seus olhos castanhos se estreitaram conspiratóriamente. Seu peito
rechonchudo estufou-se quando ela inspirou rápido.
— Bem, parece... ou então dizem por aí, você sabe... que o belo duque e seu
amigo lorde Manderville que, como se ouviu dizer, herdou a reputação de seu
pai como um libertino de primeira ordem, fizeram uma aposta ultrajante sobre
qual deles seria o melhor amante.
— Sério? — Caroline usava o que ela esperava que fosse uma expressão
muito branda.
O rosto de sua amiga estava iluminado de excitação e intriga.
— Você acredita nisso?
— Você tem certeza de que é verdade? Quer dizer, minha querida, esta é
Londres, e esta é a alta-sociedade. Nem todo rumor é verdadeiro. Você sabe tão
bem quanto eu que a maioria deles é falso ou, pelo menos, uma verdade
exagerada.
— Sim, mas até onde eu sei eles não negaram. A aposta está devidamente
registrada nos livros da White 2, e os palpites sobre quem vai ganhar estão se
acumulando em quantidade recorde. Aqueles dois estão sempre protagonizando
escândalos, mas realmente se superaram desta vez.
Caroline observou os jóqueis se levantarem para a última corrida.
— Como alguém poderia provar uma coisa tão absurda? No mínimo, o
resultado deve ser subjetivo. Afinal, se estão apostando qual deles é o melhor
amante, quem será o juiz em tudo isso?
— Bem, minha querida, essa é a parte verdadeiramente escandalosa. Eles
precisam de um crítico imparcial. Toda a sociedade está especulando sobre quem
será ela.
— Isso é um pouco bárbaro, não é? Ela teria que concordar em ter
intimidade com... bem, os dois, suponho. Deus do céu!
Melinda olhou para Caroline com uma evidente expressão divertida.
— Eu esperaria que você dissesse isso, já que é tão pudica. Não posso
precisar se é bárbaro, mas certamente está além dos limites, mesmo para esses
célebres libertinos. No entanto, ainda mais apostas estão sendo feitas sobre a
rapidez com que eles conseguirão encontrar alguém adequado para consentir em
provar o que cada um tem a oferecer. É loucamente perverso, mas dois dos
homens mais bonitos da Inglaterra farão o possível para dar prazer à escolhida.
Imagine o que está reservado para a dama que concordar.
Bem, ela era bastante consciente de sua reputação fria e impassível, mas,
ainda assim, ser chamada de pudica fazia Caroline se sentir na defensiva.
— Eu não sou exatamente uma velha matrona mimada. Posso entender por
que uma mulher sucumbiria a um homem bonito e encantador, capaz de seduzir
sem esforço. Certamente esses dois se qualificariam, já que supostamente
praticaram o suficiente.
— É verdade, mas eu nunca dei a entender que você seja velha ou definhada,
muito pelo contrário. — Sua amiga suspirou com ênfase dramática. — Mas você
não é muito acessível, Caroline. Sei que se protege desde o seu casamento e da
morte de Edward, mas, sendo honesta, você precisa se deixar viver novamente.
Se quisesse, metade de Londres estaria prostrada a seus pés, querida. É jovem e
bonita.
— Obrigada.
— É verdade. Homens fariam filas com flores e sonetos. Não há motivo para
definhar em solidão eterna.
— Eu não desejo me casar de novo. — Era completamente verdade. Uma
vez fora o bastante.
Uma vez fora mais do que suficiente.
— Nem todo homem é como Edward.
Tentando abstrair o assunto, Caroline observou os cavalos se alinharem e
ouviu a pistola responder antes que eles se adiantassem. Certamente esperava
que nem todo homem fosse como seu falecido marido — pensou, enquanto os
animais magníficos instintivamente disparavam para frente —, pois logo o
duque libertino estaria lendo seu bilhete.
— I sso é interessante — Nicholas murmurou as palavras e pegou o decantador
de conhaque, despejando uma grande quantidade no copo de cristal à sua frente.
Ele guardou a garrafa no armário de baixo e observou novamente o pedaço de
pergaminho em sua mão. Um retorno a Londres, depois de um dia exaustivo,
mas triunfante, do esporte dos reis o deixara de bom humor, animado pela vitória
e pela celebração resultante. Um retiro para seu escritório parecia vir a calhar.
Era, de muitas maneiras, seu santuário, mesmo que ele trabalhasse lá apenas
esporadicamente. Isso o lembrava de seu pai e talvez fosse um lado sentimental
que não admitiria para ninguém, mas não fizera qualquer alteração no local. Um
tapete cobria o chão polido, desbotado de um lado pelo sol que se inclinava pela
janela, e a escrivaninha era igualmente gasta. Livros em prateleiras de carvalho,
dispostos ao lado da lareira, produziam o familiar odor de mofo, couro
suavemente decadente e papel amarelado.
— O que é interessante? Algo a ver com as corridas? — Em frente a ele,
Derek Drake, o conde de Manderville, ergueu uma sobrancelha loira e se
acomodou em seu assento de maneira confortável. Como de costume, Derek
estava vestido na última moda, e as roupas feitas sob medida encaixavam seu
corpo esguio à perfeição; o tecido de juta polida se enrugava enquanto ele
descansava em sua cadeira. Seu rosto de ossos finos refletia apenas uma leve
curiosidade. — Nick, seus cavalos se superaram hoje. Certamente isso não é
uma surpresa. Não que eu me importe. Fiz uma boa soma na última corrida
acreditando em sua palavra de que Satanás estava em forma. Obrigado pela dica.
— Não há de quê, mas não é isso. — A atitude desdenhosa não era por que
Nicholas não se importava com as corridas. Seus cavalos eram sua paixão, e ele
era competitivo a ponto de ser um defeito, mas a caligrafia elegante no bilhete à
sua frente o intrigava. Ergueu os olhos e estendeu o pedaço de pergaminho
usando dois dedos. — Veja isto, Derek.
Seu companheiro pegou o papel dobrado, seu interesse obviamente tornando-
se mais aguçado enquanto lia as palavras. Como Nicholas, Derek leu duas vezes
o bilhete e olhou para cima.
— Bem, isso parece promissor, não é?
— Não é a nossa primeira oferta. — Nicholas tomou um gole, e o conhaque
francês desceu como seda aquecida em sua boca. Havia desembolsado uma
pequena fortuna pela garrafa, mas aquela bebida só era encontrada por
intermédio de contrabando, e ele considerava que o custo valera a pena. — Mas
admito que gosto da abordagem direta dessa senhora. Um desafio para um
desafio. Sim, muito criativo. Eu já a admiro. Seria bom, no entanto, saber quem
ela é.
A boca de Derek se curvou, e ele leu em voz alta:
— Se os senhores prometerem total discrição e desejarem um juiz imparcial
para sua ridícula aposta, eu irei ajudá-los. Estejam avisados de que minha
experiência até agora nos assuntos entre homens e mulheres não me deixou
impressionada. Se estiverem interessados em uma reunião para discutir este
assunto, tenho interesse em dar prosseguimento.
Era inteligente, pensou Nicholas, usar uma insinuação de decepção sexual
anterior para despertar seu interesse. A dama estava certa, se ele se permitisse
admitir; a aposta era ridícula, feita quando ambos estavam mais do que um
pouco embriagados.
— Um pouco insultuoso, reparei — comentou Nicholas, divertido. — Uma
proposta com um desafio. Nossa dama misteriosa tem coragem. Isso me atrai.
Derek lançou-lhe um olhar especulativo.
Eles tendiam a ver as mulheres com o mesmo interesse carnal, temperado
por uma tendência ao distanciamento emocional. A conquista sexual era um
jogo, e ambos eram jogadores experientes.
Nicholas não elaborou. A pressão para que se casasse, tanto da sociedade
quanto de sua família, era constante. Era esperado, ele sempre soube disso, mas
admitir sua relutância em encontrar uma esposa significava reconhecer algumas
verdades sobre si mesmo que ele ainda não estava pronto para enfrentar.
Todos os homens cometem erros. O mais memorável dos seus era de
natureza catastrófica, mas, novamente, somente ele tinha ciência de tal tragédia,
causada por juventude e inexperiência, e ele a compensara de todas as formas
possíveis. Tais compensações, aparentemente, incluíam apostas selvagens do
pior tipo. Ele observou o amigo com casualidade estudada:
— Claro. Uma mulher aventureira é sempre atraente na cama, não concorda?
— Eu concordo que, se continuarmos com isso, nossas reputações
dificilmente sofrerão mais do que já sofreram, então, por que não?
A palavra “envergonhado” não existia no vocabulário de Nicholas. Percebera
há muito tempo que a fofoca era uma parte inevitável da sociedade de Londres e
ficar fora do círculo de escândalos custava muito esforço para pouco ganho. No
entanto, ele e Derek concordaram que teria sido melhor se não tivessem de fato
registrado a disputa nem feito uma aposta tão grande no fim das contas. Agora
toda a sociedade estava atenta.
Ele lançou a Manderville um sorriso preguiçoso.
— Não há como não mordermos a isca, não é? Até agora, as ofertas de
candidatas à nossa aposta e nossas camas foram feitas principalmente por
senhoras de reputação duvidosa, que desejam compartilhar nossa notoriedade.
Esta parece um pouco diferente. Ela quer anonimato, aparentemente.
— Eu não tenho objeção a uma mulher experiente, mas concordo que o
segredo que ela pede é um diferencial. — Derek bateu no pedaço de papel com
um dedo, suas longas pernas estendidas. — Ela pode ser perfeita, desde que não
seja pouco atraente ou uma jovem casadoura em busca de fortuna e título.
— Deus me livre. — Pensar em uma jovem ingênua se envolvendo na
situação estava fora de questão. A aposta fora apenas uma ideia divertida, mas
acabara saindo um pouco do controle. Em retrospecto, a terceira garrafa de vinho
tinto fora uma má ideia naquela noite, mas Derek, em especial, parecia inclinado
a beber até ter amnésia.
Agora Nicholas considerava seu comportamento muito ilógico. Ele não
conseguia definir por que, mas tinha a sensação de que algo estava errado. O
bom humor habitual de Derek parecia forçado ultimamente. Seu charme
descontraído e despreocupado era uma das razões pelas quais as mulheres o
achavam tão atraente, mas parecera ao mesmo tempo subjugado e distraído nos
últimos meses.
— Nós não temos que fazer isso, você sabe — Nicholas lembrou ao seu
companheiro, observando seu rosto para avaliar a reação, percebendo que o
conhaque lhe trouxera um brilho ao rosto que o fazia parecer maduro e
introspectivo. — Foi uma brincadeira impulsiva entre dois amigos e nós
tendemos a ser um pouco competitivos um com o outro, o que não é segredo.
— Estamos nos acovardando, Nick? — Derek perguntou em reprovação
sardônica. Loiro, alto, com olhos da cor de um céu azul e de uma beleza quase
angelical, ele era a antítese da aparência mais sombria de Nicholas. — Quem
poderia culpá-lo, já que você vai perder. — Lá estava de novo, a inquietude tão
pouco característica.
Funcionou. Nicholas bufou diante do olhar presunçoso no rosto do amigo.
— O que te faz pensar isso? O bando de senhoras insípidas que leva
constantemente para cama? Deixe-me lembrá-lo de que quantidade não substitui
qualidade, Manderville.
— Se você está querendo fingir ser menos promíscuo, Rothay, tente
convencer outra pessoa. — Ele não estava, e, na verdade, teve que reprimir uma
resposta irritada. Era promíscuo, de fato, e não importavam quais fossem os
rumores sobre sua vida privada. Nicholas gostava de mulheres, mas, apesar de
sua reputação, ele era seletivo e tentava ser discreto. Por falar nisso, sabia que as
fofocas sobre Derek também o pintavam de uma forma mais severa, e suas
inclinações eram as mesmas. Fazia tempo que não ouvia sobre Derek
perseguindo alguém. Se ele não se tornara um celibatário, certamente estava
mantendo um comportamento discreto sobre o assunto.
Talvez este tivesse sido o motivo para a aposta impulsiva. O desafio de
Derek e sua própria resposta, ambas devidas a uma inquietação mútua causada
por... bem, ele não tinha certeza. Tantas reflexões não era algo bom para a alma.
Não uma manchada como a dele.
Em sua defesa, pelo menos a maioria dos assuntos íntimos e casuais baseava-
se em um entendimento agradável entre duas partes e não envolviam
sentimentos mais profundos. Embora Nicholas duvidasse que a sociedade
concordasse, achava que o casamento não deveria ter a ver apenas com a
linhagem de sangue de uma mulher e em sua capacidade de ter um filho de
estirpe apropriada. O fato de ser romântico era algo que guardava para si mesmo.
Não por ser uma atitude antiquada, embora realmente fosse, mas porque era
particular. Deus sabia que ele tivera pouca privacidade em sua vida devido à sua
educação aristocrática e à proeminência de sua família e título.
Então ele só piorou as coisas aceitando a aposta estranha e se tornando ainda
mais o foco de atenção pública.
Nicholas esfregou o queixo.
— Eu devo estar mais entediado do que pensava — admitiu — para
considerar a ideia de me deitar com uma mulher que vai ter um cartão de
pontuação na mão.
— Nós dois sofremos do mesmo mal, então. — Manderville lançou lhe um
olhar cínico. — Mas nós embarcamos nisso. Vamos analisar desta forma: se o
bilhete for genuíno, podemos fazer um favor a esta mulher, mudando sua opinião
sobre o prazer sexual.
— Como um ato de caridade? Esta é uma maneira interessante de justificar a
situação.
— Lembre-se, nós não a contatamos, ela veio até nós.
Bem, isso era verdade.
— Então eu acho que você deveria responder afirmativamente e marcar a
reunião que ela deseja. — Ele gesticulou, erguendo o copo vazio.
Derek assentiu.
— Mal posso esperar para conhecer a moça.
— O que faz você pensar que ela é jovem? Aliás, talvez precisemos decidir o
que vamos dizer se nenhum de nós a achar atraente. Isso pode ser um ponto
complicado.
O desejo era um componente necessário para ser um amante competente,
afinal.
— É verdade, meu caro. Eu duvido que conseguisse me enredar com uma
mulher velha e feia. Se há uma coisa que um homem não pode fingir é a
excitação sexual.
Nicholas teve que concordar com esse ponto. Embora não acreditasse que
uma mulher precisava ser uma beldade estonteante para atrair seu interesse, parte
da química sexual era atração mútua.
A noite se estabeleceu em um padrão de estrelas brilhantes e algumas nuvens
altas e vivas, e o luar obscuro tornou-se visível do lado de fora da janela. Em um
movimento preguiçoso, ele reabasteceu sua bebida e colocou o decantador perto
o suficiente para que seu convidado fizesse o mesmo. Lentamente, disse:
— Acho que nossas preocupações com essa questão são infundadas. Eu
especulo que ela seja linda, pois o tom do bilhete demonstra certa confiança de
que a aprovaremos.
Derek pegou a missiva mais uma vez e tornou a olhá-la.
— Eu acho que você está certo. — Olhos azuis mostraram o usual tom
provocante de seu humor, mas sua boca franziu-se. — Agora eu realmente mal
posso esperar para conhecê-la. Você vai escrever a resposta ou eu escrevo?
Precisamos descobrir um lugar apropriado para encontrá-la também, já que ela
exige total sigilo.
— Vamos deixar a moça decidir. Ela é quem quer impedir que sua identidade
seja conhecida.
— Acho justo — Derek concordou com um sorriso preguiçoso.
— Devemos ter regras, se ela provar ser a pessoa certa.
— Suponho que devamos, apesar de nossa aposta nos ter elevado a um nível
diferente de libertinagem, como você deve perceber, Nick.
Sim, Nicholas percebia. O que estavam fazendo? Ambos postulando,
fingindo que a aposta era séria. Em seu coração, imune ou não aos sentimentos,
como diziam os rumores, ele não acreditava que nenhum dos dois fosse vaidoso
ou superficial o suficiente para entrar em uma competição tão ridícula, mas por
alguma razão Derek estava decididamente mais despreocupado com isso.
Costumava tratar a sedução como tratava de assuntos imobiliários, questões
políticas e situações sociais.
Com avaliação fria e calculista.
A emoção não tinha lugar nos negócios, na política ou nos assuntos sexuais
de um homem. Certa parte dele desejava que fosse diferente, mas esta já tinha
sido escaldada uma vez pela dura realidade.
Bem, é claro que havia certo encanto. Ele era Rothay. Gostava de mulheres.
Gostava da suave anuência, de seus corpos fascinantes, a melodia do riso
feminino, as palavras acaloradas sussurradas, trocadas na cama durante um
interlúdio apaixonado, o resultado preguiçoso da culminação carnal. Em sua
opinião, não havia nada parecido com aquele suspiro particular que uma mulher
liberava quando se estava dentro dela, sentindo a força de suas unhas em seus
ombros nus.
Mas amor, não. Satisfazer seu corpo era uma coisa; seu coração, outra.
Ele simplesmente não era um homem capaz de cometer o mesmo erro duas
vezes. Destreza sexual não era um problema. Desde a morte de seu pai, quando
tinha dezessete anos, começara a buscar notoriedade e conseguira conquistá-la.
Sem pensar, murmurou:
— Tudo é efêmero. A fama e os famosos também.
Derek lançou-lhe um olhar e o analisou.
— Estamos citando Marco Aurélio, agora? Posso perguntar o porquê do
humor introspectivo?
— Não — a resposta foi firme. Seu velho amigo o conhecia muito bem. A
última coisa que queria era desenterrar fantasmas do passado. Tomou um longo
gole de seu copo, reclinou-se em sua cadeira e emendou: — Estou ansioso para
isso, quaisquer que sejam nossos motivos.
— E u repito a pergunta, por que a senhora estava lá, Madame?
O questionamento frio fez a boca de Caroline se franzir em aborrecimento.
Para seu desalento, o primo de seu falecido marido, o atual lorde Wynn, a
visitara e, embora tivesse evitado vê-lo durante semanas, não parecia ter outra
escolha a não ser finalmente recebê-lo. Como a semelhança familiar era forte,
era sempre um pequeno choque ficar cara a cara com Franklin, como se um
fantasma se materializasse diante dela.
Um espectro muito indesejado.
Eles estavam sentados em sua sala formal de visitas, as altas janelas abertas
para o ar quente da manhã, a elegante combinação de móveis marfim e dourados
refletindo seu próprio gosto; uma redecoração que ela fizera depois da morte de
Edward. Canapés de brocado, duas cadeiras graciosas — importadas da Itália —,
próximas à lareira, várias pinturas pitorescas de aquarela nas paredes cobertas de
seda. Uma urna preciosa e muito cara que encomendara segurava um buquê de
várias flores do jardim dos fundos. O cheiro era uma onda de prazer floral,
especialmente em um dia tão lindo. Erradicar qualquer coisa que a lembrasse da
presença de Edward fora um prazer. Seu marido teria detestado a feminilidade
dos pequenos e delicados toques pessoais, mas, até onde ela sabia, ele odiava
muitas coisas que não atendessem a seus gostos específicos.
Franklin absorveu a nova decoração com uma torção de boca e um brilho
frio em seus olhos pálidos. Aquele olhar dizia que a casa deveria lhe pertencer e
que o custo da reforma viera da fortuna que planejava herdar. Não que Caroline
se importasse, pois o dinheiro era dela, e se quisesse modificar a casa cômodo
por cômodo, livrando-se do gosto do marido, ela o faria.
— Fui ver as corridas de cavalos, naturalmente, meu senhor. Felizmente foi
um dia adorável, que eu apreciei muito — Caroline manteve o tom frio e
distante, tentando desviar o interesse do homem por suas atividades sociais. —
Sinto muito por ter estado fora quando o senhor veio na semana passada. Ando
bastante ocupada ultimamente, receio.
— Na semana passada, na semana anterior, sim, eu percebi. Espero que
perceba que ir sem escolta para um lugar como as corridas não é aconselhável.
Sempre há uma multidão dominada por homens. Senhoras decentes não vagam
por aí sem um acompanhante. Da próxima vez que desejar participar de um
evento público, entre em contato comigo e eu me programarei para acompanhá-
la.
Santo Deus, ele parecia tanto com Edward, com aqueles mesmos olhos azuis
frios...
Ele tinha o rosto como o de um falcão, todos os ângulos agudos, com um
nariz em forma de gancho, e seu cabelo era grosso e escuro. Maçãs do rosto
proeminentes, combinadas a uma boca de lábios finos que raramente sorriam.
Em seus trinta e poucos anos, e agora intitulado, Franklin era considerado muito
elegível. Ela supunha que ele era bonito, mas sua semelhança com Edward, tanto
física quanto em seu comportamento, era muito perturbadora. Os olhos de
pálpebras pesadas olhavam para ela com sua habitual avaliação fria.
Era como ser cobiçada por uma ave de rapina, pensou com desgosto. Não,
um abutre, pronto para pegar a carne de seus ossos se ela não se protegesse. Ela
se empertigou ao ouvir seu tom de posse e pela presunção de que ele poderia
ditar qualquer coisa sobre sua vida, quanto mais ensiná-la sobre decoro.
— Fui com Melinda Cassat e seu marido, então, não estava sozinha. O
senhor não precisa se preocupar com o meu bem-estar em nenhum caso.
Franklin inclinou-se um pouquinho para frente, com roupas que pareciam
mais adequadas a um cortesão do que a um cavalheiro fazendo uma visita
matinal. Renda se amontoava em sua garganta e nas bordas de suas mangas.
— Ah, mas não vamos esquecer que a senhora é minha prima viúva, então,
eu preciso me preocupar.
— Por favor, não se preocupe. — Ela não queria nada mais do que afastar
definitivamente qualquer associação com a família Wynn. Franklin sempre a
deixava desconfortável. Se pudesse apostar, o interesse dele em seu bem-estar
tinha pouco a ver com sua pessoa e tudo a ver com quanto dinheiro Edward lhe
deixara. Por sorte, o testamento conseguiu resistir aos protestos. O caso todo fora
apenas mais uma lição de como sua independência lhe custara caro.
— Sua reentrada na sociedade é de infinita preocupação para mim. — Seu
olhar sem emoção parecia atravessá-la.
— Eu não consigo pensar nos motivos para isso. Vivo uma vida tranquila na
maior parte do tempo. Estou gradualmente começando a aceitar alguns convites,
mas...
— Talvez eu deva ser consultado sobre quais eventos participa.
O aborrecimento se aprofundou, tornando-se algo mais.
— Eu sou uma viúva — ela lembrou a ele em dura reprovação. Então, como
fora ele quem a visitara e insistia em fazer presunções, acrescentou
imprudentemente: — Com minha própria fortuna.
Era a vez dele de ficar irritado, com o assunto incômodo. Levou um
momento, mas visivelmente a labareda da raiva fora acesa novamente.
— Eu percebo muito bem, minha cara, o estado de suas finanças. Eu também
sei que a senhora é jovem e ainda muito casável. Homens inescrupulosos
existem e é meu dever protegê-la.
O que quer que ela dissesse em seguida provavelmente seria imprudente,
mas por sorte foi capaz de morder a língua. Em vez disso, Caroline olhou em
volta, para as paredes pálidas e tecidos luxuriantes, indicativos de sua
independência. Queria não estar segurando a resposta de Rothay em sua mão um
tanto úmida. Poderia ter mantido mais autocontrole na companhia de Franklin,
se a maldita peça de pergaminho não estivesse queimando um buraco na palma
da sua mão. Seu mordomo a trouxera ao mesmo tempo em que anunciara seu
visitante indesejado, e Caroline sentia-se desesperadamente curiosa para se livrar
de Franklin e ler a resposta de Rothay. Parecia um carvão quente e brilhante que
ela deveria jogar o mais longe possível de sua pessoa.
Se Franklin soubesse o que era, ele com grande prazer mancharia o seu
nome, e ela não nutria ilusões sobre o que seria capaz de fazer se tivesse a
chance.
— Melinda e seu marido eram acompanhantes bastante adequados, e
ninguém se aproximou de mim. Não tendo participado das corridas antes, eu não
tinha certeza do que esperar. Achei tudo muito emocionante.
Realmente fora. Os aplausos exuberantes da multidão bem vestida, a glória
trovejante dos cavalos elegantes, até o momento em que respirara fundo ao ver o
duque de Rothay e lorde Manderville, um contraste entre as trevas. Uma beleza
satânica masculina e um Apollo dourado de boa aparência. Parecidos, mas muito
diferentes fisicamente, tão à vontade com sua notoriedade, tão confortavelmente
indiferentes aos sussurros e olhares furtivos, como se seguissem uma lei
particular e simplesmente não notassem o giro das cabeças ou os sussurros
furtivos por trás das mãos enluvadas.
O que Melinda faria se soubesse que ela recebera a resposta de Rothay,
embora ainda não a tivesse lido? Ou pior, o que ela diria se percebesse que
Caroline, de todas as pessoas, tinha se aproximado do infame duque e seu
igualmente infame amigo?
Era uma pergunta fácil de responder. Melinda não acreditaria. Ninguém
acreditaria.
Não estava certa de que ela mesma acreditava nisso.
— Estou feliz que a senhora tenha gostado, minha querida, mas saiba que
estou sempre à sua disposição. — Franklin se recostou na cadeira, como se
pretendesse ficar por ainda mais tempo, cruzando as pernas — elegantemente
vestidas — sobre os tornozelos.
O ligeiro tom sugestivo de sua voz a fez reprimir um arrepio. Disposição.
Dificilmente uma palavra sexual, mas algo no modo como a enunciara
concedeu-lhe uma insinuação obscena. Era difícil não pensar se ele não era
como Edward em mais aspectos do que apenas na aparência física. Não que ele
se importasse em cortejá-la. Ela não tinha ilusões naquela área. O homem queria
o controle da herança que achava que deveria ser sua, e ela era um obstáculo ao
seu objetivo, daí seu interesse solícito.
Caroline assentiu, mas foi apenas uma inclinação duvidosa de sua cabeça
para cobrir sua repulsa. Em sua experiência amarga, a família Wynn tinha uma
tenacidade que era difícil ignorar, então, um confronto direto não era uma boa
ideia.
— Eu agradeço a oferta.
— Ainda estou ansioso por uma estada sua na casa de campo para que
possamos discutir assuntos como este em nosso tempo livre. Minha mãe vai me
acompanhar, naturalmente.
Embora Franklin tivesse dito que ela poderia usar a casa se quisesse,
recusava-se a aceitar qualquer coisa dele, até mesmo sua hospitalidade.
— Talvez um dia. — Ela estava bem ciente da missiva posicionada ao seu
lado, sobre o assento da cadeira, tanto que usava sua mão, colocada de maneira
casual, para cobri-la o máximo possível.
O que será que está escrito?
Quão difícil era manter-se ali, composta, com total calma e a serenidade que
a fazia parecer tão inacessível para os mais impiedosos senhores.
A imagem exterior estava bem.
A verdade interior era um pouco mais difícil de enfrentar.
Franklin insistiu:
— Quanto a Londres, atrevo-me a dizer modestamente que posso aconselhá-
la sobre quais convites aceitar ou recusar. Afinal, tenho mais experiência.
O cômodo estava quente demais ou era apenas ela? Caroline lutou contra o
desejo de se abanar e sorriu em vez de fazê-lo.
— Eu admiro muito seus conhecimentos sobre nossa sociedade, meu senhor.
— Outro casamento vantajoso também a ajudaria. — Ele levantou uma
sobrancelha pesada, a arrogância de sua implicação como o espetar de uma
agulha.
Ele queria o dinheiro dela. Caroline tinha uma sensação repugnante de que
ele também desejava seu corpo, mas, nem sob ameaça de morte ela concordaria
com essa ideia.
Ele não precisava saber da reticência que sentia ao se apresentar em público
e muito menos de suas hesitações em relação a intimidades, mas isto era algo
que vinha tentando superar. Com a ajuda de um duque muito bonito e um jovem
conde igualmente atraente.
Talvez.
Pareceu passar uma eternidade até que ele olhasse para o relógio ormolu e se
levantasse.
— Minhas desculpas, mas eu tenho um compromisso. Venho visitá-la de
novo na próxima semana. Se o tempo estiver agradável, talvez possamos
planejar um pequeno passeio.
Ela preferia ser atropelada por uma manada de elefantes em fuga, mas de
alguma forma conseguiu formar um sorriso banal.
— Possivelmente.
Caroline esperou até ouvir o estrépito da carruagem, para só então pegar
cuidadosamente o envelope entregue.
Até a caligrafia do duque era arrogante, ela pensou, olhando para a missiva
por um momento antes de respirar fundo e abri-la. Tirou a única folha de papel
com dedos que tremiam de uma forma traidora enquanto lia a resposta para sua
imprudente proposta.
T ENTERDEN M ANOR NÃO ERA EXATAMENTE A IDEIA QUE C AROLINE TINHA DE UMA
pequena propriedade rural, pensou com um nervosismo, mas o duque estava
certo sobre uma coisa: era isolada.
Localizada em uma área arborizada, consistia em uma suave estrutura de
pedras banhada pelo sol do fim da tarde. Uma elegante fachada mostrava
influência elisabetana nas alas abertas, deixando óbvio que alguns detalhes
tinham sido modificados ao longo dos anos. Mesmo que o duque raramente
ficasse naquela casa, os terrenos intensamente verdes eram tratados com esmero,
e o limpo cascalho da entrada se curvava em direção à porta da frente. Fileiras de
janelas reluzentes gradeadas eram emolduradas por hera, dando à casa um efeito
encantador, quase de conto de fadas, apesar de seu tamanho imponente. Árvores
maduras estendiam galhos frondosos sobre a maior parte do terreno, deixando a
luz do sol atravessar a grama cortada.
Era linda e muito reservada. Exatamente o que eles precisavam para o seu
pequeno interlúdio.
Oh, Deus. O nervosismo reverberou em sua garganta, tornando difícil
engolir.
Não era muito tarde, lembrou a si mesma, para pedir a Huw que desse a volta
para levá-la de volta a Londres e esquecer essa louca escapada. Além do risco
que estava assumindo, depois que as próximas semanas terminassem, como se
sentiria?
Como uma prostituta por oferecer-se a dois dos mais célebres patifes da
sociedade?
Possivelmente. Mas, novamente, talvez ela finalmente se sentisse como uma
mulher e seu comportamento inadequado lhe trouxesse alguma recompensa. O
passo que estava dando para mudar sua vida era realmente drástico, mas talvez
fossem necessárias medidas drásticas.
Quão humilhante seria, porém, caso se provasse uma decepção para o
notório duque de Rothay.
Pelo contrário, ela disse a si mesma com firmeza quando o veículo parou e
seu estômago revirou, era parte da aposta entre ele e o conde que ambos
provassem suas habilidades no quarto. Ela deveria meramente votar em qual
deles tinha o melhor desempenho.
Parecia bem simples.
O corpulento Huw estava na porta da carruagem, estendendo a mão para
ajudá-la a descer. Seu rosto largo não mostrava nenhuma curiosidade ou censura,
tão impassível como quando a levara para a pequena hospedaria decadente. Ela
não podia deixar de imaginar o que ele iria pensar quando descobrisse que o
propósito de sua jornada era um encontro amoroso. Trabalhava para ela há vários
anos e seu relacionamento como servo e empregador era muito confortável. Mais
coisas poderiam mudar a partir daquela empreitada imprudente do que apenas
sua percepção de si mesma como uma mulher, ela percebeu, perguntando-se o
quanto deveria se preocupar com a opinião de um servo. A maior parte da alta
sociedade garantiria que não deveria se importar, mas Caroline não tinha certeza
se poderia ser tão blasé.
— Obrigada — ela murmurou, saltando, esperando que sua apreensão não
fosse óbvia.
— O prazer é meu, minha senhora. — Huw inclinou a cabeça com uma
expressão neutra.
A porta da frente se abriu, e o próprio duque apareceu conforme ela subia os
degraus de tijolos incrustados. No breve bilhete que enviou com as direções,
Nicholas mencionou que haveria pouquíssimos funcionários na casa, tendo em
vista que ele realmente não a usava, mas ela certamente não esperava que
alguém de sua posição fizesse papel de lacaio. Foi surpreendente. Ele também
estava vestido muito informalmente, com uma camisa branca de mangas soltas,
calções pretos e botas polidas. Isso o fazia parecer mais jovem, mas não menos
formidável, muito pelo contrário. A roupa casual enfatizava sua altura, a
impressionante largura de seus ombros e definia o poder muscular de suas longas
pernas. O lustroso cabelo escuro caía sobre seus ombros, brilhando ao sol da
tarde e emoldurando aquelas feições masculinas pecaminosamente belas. Ela
finalmente parecia conseguir enxergar o homem, não apenas o aristocrata rico e
bonito com aquele sorriso de tirar o fôlego e uma confiança cativante. O modo
mais casual de vestir também sinalizava uma intimidade em seu relacionamento
que evidenciava a situação real: ela ia passar a próxima semana em sua cama.
Sentiu um leve arrepio quando ele estendeu a mão educadamente para pegar
a dela, inclinando-se e deixando a boca roçar levemente sua pele.
Ele se endireitou e murmurou:
— Bem-vinda, minha senhora.
— Olá, Sua Graça. — Caroline conseguiu manter o tom de voz, embora seu
pulso estivesse acelerado. O duque se elevou sobre ela e seus ombros pareciam
assustadoramente largos.
Seus olhos escuros olhavam para ela com um leve resquício de humor.
— Espero que você esteja preparada para uma semana de vida rústica. Como
eu avisei, há apenas uma equipe mínima de criados. Minha chegada deixou a
governanta um tanto abalada. Venha, vamos entrar. Vou pedir chá e podemos nos
familiarizar...
Tão rápido? Caroline não tinha certeza do que ele quis dizer com essa
observação e uma habitual incerteza a dominou. Invocando cada grama de
bravura, murmurou em um tom frio.
— Isso seria aceitável, suponho.
Agora ele definitivamente parecia divertido, a julgar pela forma como sua
boca finamente modelada se contorceu.
— Falou como a famosa e fria Lady Wynn. Por favor, tenha em mente que só
mencionei chá.
Ela estava bem ciente de sua reputação de ser distante e fria. Foi por isso que
embarcara naquela aventura.
— Nós dois sabemos por que estou aqui, Rothay.
— Sim, nós sabemos. — Ele ainda segurava a mão dela, seus longos dedos
envolvendo-a de forma leve. Era uma liberdade, mas dadas as circunstâncias,
como ela poderia objetar?
Ele se inclinou para frente, perto o suficiente para que seu hálito quente
roçasse a orelha de Caroline.
— Não vai ser fácil descongelá-la, vai?
Aquelas palavras faladas com tanta suavidade a fizeram recuar e observá-lo
por um momento, sem saber como responder e sentindo um formigamento
estranho na boca do estômago. Talvez a honestidade fosse melhor.
— Não — ela admitiu finalmente.
Para seu alívio, ele não disse mais nada e soltou sua mão.
— Vamos entrar?
Ela passou por ele e entrou na sala de estar, mais do que um pouco abalada
pela breve intimidade de seu contato. Não importava o quanto os arredores
fossem campestres — ela notou, agradecendo pela distração bem-vinda —, com
seus painéis de madeira polida, belos pisos e tetos altos, o lugar era cálido e
agradável, com o ar de uma beleza envelhecida. Havia uma aura de suavidade
em seu exterior, um sentimento de lar por conta do ambiente bucólico, o cheiro
de cera e pão no ar…
— Este lugar é agradável — ela conseguiu dizer com desenvoltura, embora o
fato de ele tê-la chamado de fria houvesse trazido antigas e persistentes
inseguranças à tona.
E se ela realmente fosse uma mulher sem paixão e incapaz de responder a
um homem?
Nicholas Manning olhou ao redor. O corredor levava a uma área aberta com
uma lareira muito grande, com cadeiras e sofás reunidos em círculos. Do outro
lado, uma escadaria esculpida e graciosa se curvava para cima.
— Mais do que me lembrava — ele admitiu. — Venho negligenciando
minhas visitas a este lugar há um bom tempo. Tenho oito casas espalhadas por
várias partes da Inglaterra graças aos meus ilustres ancestrais. Parece que toda
vez que um herdeiro Rothay se casa, nós colecionamos propriedades como
crianças coletam doces. É impossível viver em todas elas e, além disso, minha
presença em Londres é requisitada com bastante frequência, o que me impede de
passar muito tempo no campo.
O tom seco de sua voz demonstrou a Caroline que sua referência à herança
era autodepreciativa, e ela deu uma risadinha, apreciando sua falta de presunção.
— Eu duvido que a maioria das pessoas sentiria pena de você por causa de
um excesso de riqueza, Sua Graça.
— Talvez não. — Ele a segurou pelo cotovelo e a guiou pelo corredor. —
Mas, assim como qualquer outra coisa, também possui suas desvantagens. A Sra.
Sims irá mostrar-lhe o seu quarto e, quando estiver pronta, por favor, junte-se a
mim para um refresco.
A governanta era idosa. Sua voz suave exibia um leve sotaque escocês, e ela
escoltou Caroline até um belo quarto com uma vista gloriosa do jardins dos
fundos, com janelas abertas que deixavam entrar o doce aroma de rosas que
desabrochavam. Para uma casa de campo, os móveis eram certamente ricos,
embora datados, e a cama grande era revestida de seda azul-claro; o tapete
luxuriante e estampado de marfim, rosa e índigo. O efeito geral fazia com que
ela se sentisse como uma convidada de honra, mas não podia deixar de se
perguntar se aquela suíte elegante não deveria pertencer à dona da casa.
Especialmente quando notou a porta que obviamente levava a outro conjunto de
quartos.
Convidada de honra? Bem, ela supôs que sim. Nicholas Manning queria que
ela pensasse que ele era um amante excelente.
No entanto, seria necessário mais do que um belo quarto para atingir este
objetivo. Ela olhou para a porta ao lado e sentiu mais um tremor de antecipação.
S ombras longas e suaves caíam sobre a grama, uma brisa perfumada
percorria os jardins, ondulando as folhas lustrosas, e parecia que todos os
pássaros da Inglaterra estavam reunidos para cantar e encantar com seus sons.
Um coelho saltou por um dos caminhos de cascalho, mordiscou a grama e
levantou uma orelha, despreocupado com a presença do homem e da mulher no
terraço de lajotas a poucos passos de distância. Era como um daqueles cenários
dos quais se lembrava dos livros de infância, onde o mundo era feito de um sol
perpétuo e de um céu sem nuvens.
Ou talvez sua alma cansada já tivesse passado muito tempo na cidade.
Um conto de fadas que se preze não estava completo sem uma linda donzela.
Nicholas, acomodado em uma cadeira confortável, bebia conhaque, não chá,
e observava sua linda convidada com o que ele esperava que parecesse uma
atenção casual e não o interesse voraz que realmente sentia.
A noite em que ele e Derek se embriagaram em demasia estava embaçada em
sua mente, e quando percebera, à luz do dia seguinte, que fizera uma aposta
pública colocando-a no livro da White's, o arrependimento o fez praguejar
consigo mesmo. A melhor maneira de lidar com o furor resultante de sussurros e
interesse pareceu ser o máximo de senso de humor possível. No entanto, sentado
agora em frente à encantadora Lady Wynn, ele não tinha certeza se fora um erro
tão grande, no fim das contas.
Até mesmo o jeito como ela tomava um gole de chá, com um suave levantar
das mãos, os lábios mal tocando a borda da xícara, era reservada e contida. Seu
olhar parecia focado em algum objeto distante não identificável, como se não
quisesse olhar diretamente para ele.
Embora Nicholas já a tivesse encontrado de passagem uma ou duas vezes,
primeiro por causa do seu primeiro status de solteira, depois por sua posição
como uma jovem esposa que não gerara um herdeiro e, por fim, por seu
afastamento da sociedade após a morte do marido. Porém, ele realmente não
tinha prestado muita atenção. Sim, achava que ela era deliciosa de uma maneira
exuberante e opulenta, com seu cabelo rico e a pele impecável fazendo aqueles
incríveis olhos prateados se destacarem, mas ela simplesmente não era alguém
que teria perseguido. Era mais como admirar uma pintura em um museu. Atraía
os olhos e agradava em um sentido estético, mas você sabia que nunca poderia
possuí-la, então, não perdia tempo pensando muito sobre isso.
Só que tudo isso havia mudado.
Ele a possuiria de um modo muito carnal e estava ansioso por isso em um
grau que o surpreendia. Talvez fosse a situação incomum, talvez fosse aquela
estúpida aposta arrogante, mas não conseguia se lembrar da última vez em que
sentira um interesse tão intenso por uma mulher em tão pouco tempo.
— Conte-me sobre você. — Ele segurou seu copo de conhaque e observou-a
saborear novamente a delicada xícara de chá. A luz do sol mostrava os gloriosos
detalhes avermelhados de seu cabelo ruivo. Ela usava um vestido elegante cinza,
que combinava exatamente com seus olhos. Em qualquer outra mulher a cor
poderia parecer desleixada, mas ela a carregava perfeitamente porque enfatizava
tanto sua coloração vibrante quanto a delgada voluptuosidade de sua figura.
Ele mal podia esperar para arrancá-lo de seu corpo, decidiu com impaciência
incomum. O volume sob o decote modesto atraía seu olhar, provocando
especulações nada cavalheirescas sobre como seria tocar e saborear aqueles seios
tentadores.
Caroline pareceu um pouco surpresa.
— O que é que o senhor quer saber, Sua Graça?
— Chame-me de Nicholas.
— Se o senhor quiser.
Mas ela parecia insegura, especialmente quando apressou-se em tomar outro
gole do chá. A xícara tremeu um pouco —mas o suficiente, ele notou — contra
sua boca.
Uma boca convidativa, aliás. Lábios rosados suaves, o inferior um pouco
mais cheio, com uma curva sensual perfeita. Linda.
— De onde você é? — incentivou.
— York — ela respondeu prontamente, entretanto, sua expressão manteve
aquele olhar solene destacado que a fazia parecer tão distante. — Minha mãe
morreu quando eu era criança, e meu pai era um homem ocupado, então, passei
muito tempo em Londres com minha tia, quando não estava na escola. Foi ela
quem providenciou meu debut e meu casamento.
Duas frases não resumem exatamente a vida de ninguém.
— Irmãos ou irmãs?
— Não.
Extrair conversa de uma mulher não costumava ser uma tarefa tão difícil. Ele
arqueou uma sobrancelha e tentou novamente.
— Quais são seus interesses? Teatro, ópera, moda?
Ela hesitou e então disse, simplesmente:
— Eu adoro ler. Toda e qualquer coisa. Romances, a primeira página do
jornal, até mesmo trabalhos científicos, se eu puder encontrá-los. Sempre foi
uma paixão minha. Minha preceptora era progressista. Ela encorajou minha
curiosidade e me emprestou livros que certamente minha tia teria desaprovado.
O pai de Miss Dunsworth era um famoso antiquário e colecionava obras de todo
o mundo. Ele a deixou empobrecida quando morreu, mas poderia ser
considerada rica em outros aspectos, para quem valoriza o conhecimento. Tudo
teve que ser vendido, mas ela manteve sua biblioteca.
Mulheres com intelecto não o incomodavam como acontecia com alguns dos
outros homens de seu convívio. Ele também gostou da forma apaixonada como
ela lhe contou tudo isso.
— Diga-me seu autor favorito.
— Voltaire, se você me forçar a escolher um. — Sua expressão tornou-se
animada, o que iluminou seu rosto adorável.
— Quem mais?
Ela gostava dos antigos gregos, de Shakespeare, Pope, os trabalhos mais
modernos de alguns dos autores populares, alguns dos quais ele ainda não tinha
lido nada.
O sol o aquecia, o conhaque era suave e delicioso, e ele estava... encantado.
Ela tinha tendências intelectuais? Era uma revelação. As mulheres geralmente
serviam apenas a um propósito casual em sua vida, mas havia uma faísca nos
olhos de Caroline que o atraíra desde a ida à hospedaria, e isto o deixara
fascinado.
Até que ele dirigiu a conversa de volta para sua família. O entusiasmo
desapareceu de sua expressão e ela voltou a prestar mais atenção à sua xícara de
chá.
— Como disse antes, eu morava com minha tia. Ela morreu apenas um mês
depois de Edward.
Ele esperou. Não parecia haver mais informações a serem compartilhadas,
mas ele estava realmente curioso sobre o casamento dela depois do seu bilhete.
— Eu conheci seu marido, mas apenas vagamente.
— Dê graças por isso.
Ele não pôde evitar que suas sobrancelhas se arqueassem com o tom cortante
que ela usou.
— Entendo.
Ela o olhou por cima da borda da xícara e depois colocou-a de lado com o
que parecia ser um cuidado deliberado. Aqueles luminosos olhos cinzentos, tão
adoráveis, enquadrados por grossos cílios que mais pareciam rendas, eram muito
diretos.
— Perdoe-me, mas, não, você não entende. Nunca foi casado com um
homem de quem não gosta muito. Nunca foi subserviente aos caprichos de outra
pessoa e, por favor, admita que percebe a diferença entre os gêneros em nossa
sociedade, que permite que os cavalheiros com títulos façam apostas
extravagantes que enaltecem sua falta de virtude, enquanto as mulheres são
julgadas mais severamente por manterem as suas.
Por um momento, Nicholas não soube o que dizer. Lady Wynn não flertava,
ele já havia percebido isso, e aparentemente tinha a capacidade de ir direto ao
ponto e ser agradavelmente honesta. Depois de uma pequena pausa, ele inclinou
a cabeça.
— Entendo seu ponto de vista. Abster-me-ei, a partir de agora, de fazer
suposições presunçosas.
Sua fácil aquiescência pareceu desconcertá-la. Ela franziu a boca, atraindo a
atenção de Nicholas para os lábios macios novamente.
— Eu... me desculpe — disse ela com um pequeno suspiro depois de um
momento. — Sou um pouco sensível com o assunto do meu casamento. É por
isso que não tenho intenção de entrar em compromisso semelhante novamente.
— Não há necessidade de pedir desculpas por expressar sua opinião,
asseguro-lhe.
Um olhar irônico cintilou no rosto dela.
— Acho que acabei de repreender o duque de Rothay.
— Que, sem dúvida, merece isso de vez em quando. — Ele sorriu. — Talvez
até com mais frequência.
— Você é muito — Ela pareceu procurar por uma palavra e finalmente a
encontrou — cortês. A maioria dos homens quer que uma mulher concorde com
tudo o que eles dizem. Acho cansativo.
— Por isso a atitude desanimadora em relação a todos aqueles cavalheiros
ansiosos reunidos em torno da senhora em eventos? — Nicholas se espreguiçou
na cadeira, desfrutando não só da brisa amena do fim da tarde, mas também da
atitude alheia ao flerte. Ele estava acostumado a mulheres bajulando-o, não
repreendendo sua má compreensão de sua posição no mundo.
— Vamos apenas dizer que eu valorizo minha independência.
Eles podiam não se conhecer muito bem, mas tinham isso em comum.
— Assim como eu. Pelo menos os rumores dizem isso.
Seus lábios se curvaram em um sorriso encantador que fez seu corpo, já em
alerta total, ficar ainda mais atento.
A mudança era notável. Aquele gesto a transformava de uma figura distante
de mármore em uma mulher suave e atraente.
Nicholas se mexeu na cadeira, sentindo-se inchar por conta da excitação, de
modo que o tecido de suas calças se contraiu. Que estranho. A moça não
dissimulava, ela nem fingia, e ele gostava da franqueza dela. Então, disse
suavemente:
— Não acredite em todos os rumores sobre mim, mas esse está correto.
— Há rumores suficientes. Sua reputação é infame como nenhuma outra na
sociedade londrina.
— Eu não consigo entender por quê.
— Não consegue? As histórias são abundantes.
— Imagino que sim. Mas a verdade e a fofoca raramente andam de mãos
dadas, minha senhora.
Ela o olhou gravemente.
— Está tentando me dizer que o senhor, e eu quero lembrá-lo de que
recentemente fez uma aposta muito presunçosa sobre seus supostos talentos na
mesma área que estamos discutindo, é mais virtuoso do que os rumores
implicam?
Virtuoso? Nicholas tinha certeza de que o termo nunca fora aplicado a ele,
mas, de uma maneira abstrata, talvez fosse. Em sua defesa, ele não se envolvera
com ninguém que pudesse levar o jogo da sedução de maneira séria. Ele sorriu
com indolente preguiça despreocupada.
— Possivelmente. Admito que parei de me defender anos atrás.
— Mas você quer ter parceiras sem assumir um compromisso?
— É claro que sim. — Desde Helena, ele achava que os casos amorosos
eram mais fáceis de serem mantidos simples e puramente por prazer físico.
Um tempo atrás — antes de entender que os sonhos românticos eram nada
mais do que isso —, ele cometera um erro de proporções colossais. Um que
provavelmente nunca cometeria novamente. A lição fora dura, mas ele era
jovem, tolo e tinha expectativas idealistas. A experiência pode ser uma pílula
amarga e deixar um sabor que não se esquece facilmente.
Aparentemente, Caroline interpretou sua expressão corretamente.
— Bem, ninguém sabe que estou aqui, Sua Graça. Estamos sozinhos,
anônimos e livres para fazermos o que quisermos.
— Nicholas — ele a lembrou com um sorriso lento, observando a maneira
como a luz brilhava através das frágeis feições de seu rosto, ao longo das curvas
esbeltas de seus ombros, proporcionando uma sombra deliciosa à fissura
tentadora entre seus seios fartos, apenas sugeridos pelo decote de seu vestido.
— Você quer entrar?
Ela não entendeu mal a sugestão, e suas bochechas assumiram um tom
rosado.
— Agora? É de tarde.
Nicholas reprimiu uma risada com a ingênua insinuação de que as pessoas só
faziam amor depois do pôr do sol. Para uma viúva, ela certamente era reservada.
Ele murmurou:
— Por que esperar? Nós poderíamos conversar mais confortavelmente.
— Conversar?
— Entre outras coisas.
Suas bochechas assumiram um tom mais profundo de rosa.
Na cama, ele quis dizer. Embora normalmente não gostasse exatamente de
falar naquele ambiente, estava disposto a fazê-lo se isso a deixasse mais à
vontade. Nunca iniciara virgens. Criado como um herdeiro ducal, ele aprendera
sobre as armadilhas da inocência perdida desde a época em que tinha idade
suficiente para entender o conceito, mas, no momento, tinha a impressão de que
estava tão perto de uma quanto chegaria até se casar. Era evidente que, apesar de
sua compostura, ela mostrava-se muito nervosa, mas também consciente dele
como homem.
Isso aumentava seu interesse em um grau surpreendente.
Nicholas levantou-se e estendeu a mão para pegar a dela, puxando-a
gentilmente para que ficasse de pé. Ele olhou para o rosto erguido em sua
direção, concentrando-se em sua boca.
— Eu acho que você é muito bonita, Lady Wynn.
Os olhos cinzentos brilhavam, e seu tom de voz soou abafado quando ela
respondeu:
— Você diria isso, é claro.
— Não, se eu não quisesse dizê-lo. — Ele era sincero. Seduzir mulheres para
levá-las para a cama não incluía falsos elogios. Não precisava de coerção, e se
ela não concordava com seu comentário, era mais inocente do que ele imaginara.
Certamente alguém com sua beleza extraordinária deveria ter recebido
homenagens poéticas suficientes para durarem por uma vida inteira. — Já que
não é a primeira vez que ouve algo assim, por que não confiar na minha
sinceridade?
Com muita delicadeza, ele tocou o cabelo dela, apenas um roçar das costas
de seus dedos sobre aqueles fios vibrantes e sedosos. A cor fazia com que se
lembrasse do outono pelo rico tom de marrom com reflexos de vermelho.
Algumas mechas soltas emolduravam seu rosto oval e brincavam ao redor da
esbelta coluna de marfim de seu pescoço. A cor quente combinava com ela,
apesar de sua reputação fria e distante.
Estava prestes a fazer outra aposta imprudente de que ela não era fria de fato.
Seu marido obviamente fora um imbecil entre quatro paredes, mas seria um
deleite para Nicholas mostrar-lhe os benefícios do prazer mútuo entre um
homem e uma mulher.
Caroline lançou-lhe um sorriso quixotesco.
— Eu mal o conheço, Nicholas.
Ele gostou do som de seu nome nos lábios dela.
— Certamente já sabia disso antes de me enviar o bilhete. Que melhor
maneira de se familiarizar?
Qualquer resposta que ela pudesse lhe dar foi silenciada quando ele inclinou-
se e tomou seus lábios. Suas mãos se posicionaram na cintura fina, em um aperto
firme, mas não insistente, conforme ele suavemente moldava suas bocas juntas.
Quando se tratava de mulheres, costumava confiar em seus instintos. Ele já havia
percebido que, naquele caso, a persuasão seria mais eficaz do que a paixão
impetuosa. Muitas mulheres gostavam de ser arrastadas, queriam que seu amante
não apenas as possuísse, mas as dominasse, porém, ele soube que Caroline não
era uma delas antes mesmo de tocá-la.
Ela tinha um gosto doce, e a sensação de tê-la em seus braços era incrível,
com os seios macios tocando seu peito suavemente. Mas quando tentou
introduzir a língua em sua boca, ela se sobressaltou, no que só poderia ser o
resultado de uma surpresa.
Que diabos?
Por um momento ele parou, preso por uma percepção surpreendente.
Parecia impossível que uma mulher casada há vários anos nunca tivesse sido
beijada de maneira íntima, mas ele pôde sentir uma reação hesitante à
exploração de sua língua, como se ela não tivesse a menor ideia do que fazer.
Aquela era uma reviravolta interessante em seu arranjo. Nicholas continuou,
mantendo o beijo pouco exigente, mas sutilmente puxando-a para si, para que
seus corpos se tocassem ainda mais. Normalmente ele teria considerado aquele
grau particular de inexperiência como algo desalentador, mas talvez fosse a
peculiaridade da situação, sua beleza irresistível ou apenas a forma como ela
parecia se encaixar perfeitamente em seus braços — ele não tinha certeza —,
porém, descobriu-se mais intrigado do que nunca.
Ele murmurou contra seus lábios:
— Posso mais uma vez te convidar para entrar?
Àquela altura, ela estava aninhada contra a crescente ereção dele, de modo
que não havia dúvidas sobre o que sua sugestão implicava. Mas, novamente, não
era para isso que estava lá? Caroline assentiu. Nicholas se afastou, pegou a mão
dela e sorriu.
Ela não sorriu de volta, mas olhou para ele por um momento, com seus olhos
incríveis arregalados e suas bochechas coradas. Não era um mal sinal, ele notou
quando ela permitiu que ele a levasse para dentro e subisse as escadas para o
quarto. A casa estava quieta no final da tarde, a Sra. Sims, sem dúvida, ocupada
em organizar os preparativos para a inesperada visita. Não havia tempo para
convocar mais funcionários, e já que sabia que Caroline valorizava o anonimato,
não levou nenhum dos seus, exceto o motorista. Até mesmo seu valete
permanecera em Londres, então, o quarto estava vazio e, quando fechou a porta,
soube que permaneceriam em total privacidade por quanto tempo quisessem. A
governanta tinha instruções para não perturbá-los, a menos que fosse convocada.
— Temos portas de conexão. — Caroline olhou para a parede que separava
seus quartos.
— Conveniente, não é?
Nicholas sorriu, seu olhar cálido admirando o quanto ela parecia graciosa e
feminina no ambiente masculino de seu quarto. Os móveis eram exagerados em
tamanho, a cama grande estava em um estrado, as proporções enormes e a
madeira esculpida escura tinham séculos de idade. Um de seus augustos
antepassados posava com roupas aristocráticas em um retrato sobre a lareira.
Em contraste, ela estava ali, curvilínea, sedutora e tão convenientemente
disponível.
Sua ereção pulsava desde aquele beijo, forçando o material justo de suas
calças.
— Vamos fazer isso do jeito certo.
Ela não resistiu quando ele soltou seu longo cabelo para que caísse pelas
costas. Parecia uma seda quente enquanto se derramava sobre suas mãos, e a
fragrância veranil era doce e feminina. Depois de desabotoar o vestido, ele a
beijou suavemente de forma tranquila, tomando cuidado para não apressá-la ou
alarmá-la. Levantando-a em seus braços, levou-a para a cama e tirou os calçados
e as meias com a mesma habilidade, admirando sua nudez com puro apreço
masculino enquanto se sentava para tirar as próprias botas.
Era surpreendente, mas ele estava realmente com pressa.
Vestida apenas com seu chemise, ela era perfeita, uma Vênus de cabelos
castanho-avermelhados sob o sol poente do fim da tarde que entrava pelas
janelas altas, com seus membros macios e a pele pálida e impecável, emoldurada
por uma torrente de madeixas brilhantes. Os seios fartos tremiam a cada
respiração, e seus belos olhos pareciam mais escuros, dilatados, a singular cor
prateada temperada pela paixão.
Ou medo.
Nicholas reparou, em uma onda de consternação, enquanto seus dedos
pararam no ato de desabotoar sua própria camisa.
Sim, ele pensou enquanto lutava contra a descrença. Medo. O tremor da
mulher em sua cama não tinha nada a ver com desejo.
Em vez do rubor da excitação, seu rosto estava agora um pouco pálido. Ele
baixou as mãos, a camisa aberta até a cintura, sem saber como lidar com essa
inesperada reviravolta.
— Nós não temos que fazer isso, você sabe. É só dizer. Podemos beber vinho
ao sol, e você pode partir amanhã, se quiser.
Por um momento ela hesitou, e então sussurrou:
— É tão óbvio assim?
Ele não estava acostumado a nada menos do que uma total ansiedade de suas
parceiras, então, a resposta era um retumbante sim. No entanto, agir com
diplomacia parecia a melhor opção. Nicholas disse devagar:
— Acho bem óbvio que você não está totalmente à vontade, minha senhora.
A aposta foi feita em um momento estúpido entre dois cavalheiros que
terminaram com ressacas pesadas na manhã seguinte. Por mais que sua presença
na minha cama seja atraente para mim, você não precisa continuar com a sua
oferta.
Deliciosamente seminua, sobreposta à fina roupa de cama, Caroline deu a ele
um leve sorriso.
— Não admira que o seu charme seja lendário, Rothay, mas você acha que
eu me voluntariei levianamente? Das damas de seu conhecimento, devo ser a
menos provável de ser encontrada em sua cama, mas estou aqui, e cabe a você
me seduzir, correto?
Ela tinha razão. Uma mulher temerosa e nervosa não era o que ele ou Derek
tinham em mente, é claro, mas ela se apresentou, eles concordaram, e Nicholas
estava ansioso para ficar sozinho com ela.
— Só se você quiser.
— Se eu não quisesse, não estaria aqui.
Por que diabos ela estava lá, se a ideia de compartilhar sua cama a fazia ficar
pálida e tremer de medo?
Ela afirmou com apenas um toque de desespero:
— É o que eu quero.
Seria verdade? Seu corpo indisciplinado o incitava a continuar, mas ainda
não se mexia. Todo caso amoroso tinha seus parâmetros e toda mulher era
diferente, mas aquela situação era especial. Ele tinha a sensação de ela estava
fazendo uma quantidade enorme de esforço para continuar ali.
Era assustador.
Que diabos Wynn tinha feito — ou deixado de fazer — com ela?
— Você é virgem? — ele fez a pergunta em voz baixa, sem saber como
agiria se ela dissesse sim. Não iria fingir que não notara a reação dela ao seu
beijo. Aquilo não tinha mais nada a ver com a aposta ridícula. Para ela, ele
começava a perceber, nunca fora, na verdade.
Ela desviou o olhar e engoliu em seco, os músculos em sua garganta fina se
movendo.
— Não.
Essa pequena palavra continha um enorme significado.
Mais do que um pouco perdido, Nicholas continuou parado ali. Ele sabia
tudo sobre os jogos sexuais que homens e mulheres jogavam juntos, mas não era
o caso. Aquilo não tinha nada a ver com sedução despreocupada. Ele sentou-se e
tocou-a, apenas uma leve pressão no queixo, de modo a fazer com que o rosto
dela se virasse na direção dele. Lágrimas brilhavam em seus cílios, o que ele
percebeu com um pequeno choque de desânimo.
— Seduza-me — ela sussurrou no silêncio pungente. — Por favor.
S e as coisas continuassem como estavam, ela seria a única mulher em todo o
mundo que ficaria quase nua na cama do perverso e sensual Duque de
Rothay e o faria recusar-se a fazer amor com ela.
Ela praticamente teve que implorar.
Por mais humilhante que fosse, deixou-a surpresa o fato de um libertino
notável ter a sensibilidade de perceber que estava com medo. Ele parecia tão
inquieto quanto ela se sentia, e isso queria dizer alguma coisa.
Sob circunstâncias diferentes, ela poderia ter se divertido.
— Eu quero, obviamente — ele finalmente murmurou, um pequeno sorriso
torto curvando sua boca finamente modelada enquanto apontava para a
impressionante protuberância em seus calções.
Santo Deus, ele parecia... enorme.
Mas as viúvas chorosas, frias e inexperientes não eram suas vítimas
habituais. Ele não precisava explicar. Quem poderia culpá-lo? Não importava o
que ela pudesse parecer, sensualidade não era seu forte.
Mas aqui estava ela, quase sem roupa, com os cabelos soltos, na cama dele.
Caso se acovardasse agora, a oportunidade escaparia.
— Beije-me novamente — ela pediu, olhando em seus olhos da cor da noite.
Através da abertura em sua camisa desabotoada, podia ver a rigidez muscular de
seu peito nu, e isso causou um estranho nó na boca de seu estômago. O cabelo de
ébano, elegante e um pouco desgrenhado, roçava o pescoço forte, na altura da
abertura da camisa. Sua beleza masculina era atraente, mas, novamente, seu
marido também era um homem bonito. Talvez não tão magnífico como o infame
Rothay, mas, ainda assim...
Não. Ela não pensaria em Edward. Não agora.
Nicholas inclinou-se para frente e, para sua surpresa, em vez de tomar sua
boca em outro beijo devastadoramente perverso, ele levou os lábios aos seus
traidores cílios molhados. Beijou suas lágrimas com suavidade e, ao mesmo
tempo, alguns de seus medos. Quando se deitou ao lado dela e a puxou para si,
ela fez o melhor que pôde para relaxar, mesmo dentro do círculo forte de seus
braços.
Ele cheirava maravilhosamente bem, de um modo peculiar e sedutor. Todos
os homens tinham aquele aroma picante e intrigante ou era só ele?
— Você é muito adorável — Nicholas sussurrou, acariciando suas costas,
avançando tão sutilmente por baixo de seu chemise que ela quase não percebeu o
que ele estava fazendo até que seus dedos alisaram sobre a curva de uma coxa
nua.
Ela começou a se mostrar tensa, e ele imediatamente retirou a mão.
— Relaxe — ele murmurou em seu ouvido, sua respiração quente, sedutora.
— Estou me esforçando. — Um esforço vergonhoso, ela pensou em uma
autocrítica, de modo incerto e amargo. Talvez Edward estivesse certo o tempo
todo, pois se estar ao lado de um dos homens mais charmosos e bonitos da
Inglaterra não a ajudasse, talvez ela fosse irrevogavelmente falha.
Bem, talvez não fosse nada.
A respiração calma e estável de Nicholas e a batida constante de seu coração
pareceram amenizar a sensação do quanto o corpo dele, enorme, fazia com que o
dela parecesse muito menor. Para sua surpresa, sentiu os seios apertarem, e
quando ele roçou os lábios em sua bochecha, ela suspirou e virou a cabeça para
oferecer sua boca.
— Talvez devêssemos começar devagar.
Ela desejava ter alguma ideia do que ele queria dizer, mas não podia nem
arriscar um palpite.
— O que você quiser.
Quão desesperadamente ela desejava poder fazer jus a essa oferta.
Um sorriso hipnotizante curvou os lábios de Nicholas.
— Beijar é uma arte. Você gostaria de alguma instrução?
— Por que mais eu estaria aqui?
Em sua propriedade isolada, em sua cama, presa em seus braços. Por que
mais, de fato, exceto pelos esclarecimentos que ela esperava que ele lhe
trouxesse?
— Então será um prazer, minha senhora.
Muito lentamente, ele inclinou a cabeça mais uma vez. Seus lábios se
tocaram, se uniram.
Foi longo, luxuoso, tentador, proibido. Foi um beijo de verdade.
Sua língua suavemente duelou com a dela, provocando uma resposta
enquanto explorava sua boca, e Caroline começou a relaxar no beijo,
especialmente porque ele apenas a segurou e não fez mais nada. Ele também
estava ainda completamente vestido, embora ela pudesse sentir o calor de sua
pele nua através da abertura em sua camisa desabotoada. Seus lábios deixaram
os dela, desceram novamente, e desta vez ele desceu pelo pescoço, demorando-
se no vão de sua garganta.
A intempestividade de mandar aquele bilhete — não, não fora intempestivo
de verdade, já que ela praticamente agonizara antes de decidir —, de repente
parecera que iria valer muito a pena.
Isso era exatamente o que ela esperava sentir.
Era agradável. Não, esta não era uma palavra boa o suficiente. Era mais que
agradável. A pressão provocante de sua boca a fazia estremecer.
— Tudo o que vou fazer é provar você. — Sua voz continha uma nota rouca
e leve enquanto sussurrava contra sua pele. — Nada mais. Posso?
Ela percebeu que os dedos dele seguravam a fita que amarrava o corpete de
seu chemise, e ele estava pedindo permissão para abri-la.
Pedindo permissão. Isso era certamente novo em sua experiência. Pensar que
sua vontade seria considerada era reconfortante.
Mas a ideia de que ele queria vê-la nua era decididamente inquietante. Era
um dilema. Por mais que a última coisa que quisesse fosse que Nicholas
simplesmente erguesse sua saia e seguisse em frente, sentia-se constrangida com
a ideia de ficar nua diante dele, ou qualquer outra pessoa, à luz do dia, ainda por
cima. Sabia que nada seria fácil, mas, enquanto ele esperava educadamente em
silêncio, sentiu um estranho lampejo de confiança.
Um bom começo, pelo menos.
Caroline assentiu e sentiu-o puxar o nó, acompanhando por uma onda de
calor que aqueceu seu rosto, enquanto seu chemise se abria, expondo seus seios.
Nicholas olhou para a carne exposta e, lentamente, estendeu a mão entre o pano
entreaberto para tocar levemente um dos mamilos com a ponta de um dedo.
Ela deu um pequeno suspiro.
— Da cor de uma rosa de verão, delicada e perfeita.
Caroline, de alguma forma, conseguiu falar.
— Um elogio muito lisonjeiro, Sua Graça.
Uma sobrancelha escura se arqueou em uma expressão divertida.
— Mas, neste caso, é a mais pura verdade. Tenha em mente também,
Caroline, que quando você está na minha cama, eu sou um homem, e você é a
mulher que desejo. Use o meu nome.
Ela não pôde deixar de fechar os olhos ao sentir o deslizar de seus dedos por
sua pele sensível. A palma quente acomodava completamente um de seus seios
e, para sua surpresa, o olhar cálido aliviava algumas de suas apreensões.
Aqueles olhos. Escuros como a meia-noite, sedutores como o pecado,
emoldurados por cílios longos e grossos em contraste com as linhas cinzeladas
de suas feições. Quando permitiu que suas pálpebras se erguessem, Caroline o
fitou, percebendo de súbito que ele estava esperando, parado, apoiado em um
cotovelo e observando sua expressão enquanto mantinha a mão em seu seio.
Esperando pelo quê? Caroline não fazia ideia. Era humilhante, e ela
desprezava Edward ainda mais por sua ignorância.
— Eu deveria fazer alguma coisa?
Um sorriso quixotesco curvou a boca de Nicholas.
— Fazer alguma coisa?
Já que era óbvio que ele fora capaz de enxergar através do disfarce de viúva
equilibrada a partir do momento em que a beijara no terraço, parecia inútil
disfarçar.
— Por favor, não ria de mim. Tenho certeza de que já percebeu...
— Eu não estou rindo de você — a interrupção foi suave e calma. — Estou
admirando uma visão agradável e também planejando minha estratégia. Afinal,
preciso me sair admiravelmente bem e, certamente, a primeira vez é a mais
crucial, não é?
— Você não está acostumado com mulheres como eu — ela respondeu com
o máximo de dignidade possível, apesar das circunstâncias — e,
consequentemente, não está acostumado a perder.
Porque ela era um fracasso total na cama. Ele estava acostumado com as
senhoras urbanas e sofisticadas que usualmente conquistava. A distância entre
aquelas senhoras habilidosas e sua inépcia era imensa.
— A perder? — Ele sorriu, então, como um menino, mas a conotação da
curva inebriante de seus lábios era puramente a de um homem adulto. Mesmo
em sua situação delicada, ela sentiu a promessa com um leve arrepio de
antecipação. — Definitivamente, não — Nicholas disse a ela, dando à carne que
segurava um aperto suave. — Estou apenas tentando decidir por onde começar.
Você é como uma tela em branco, minha querida, e essa primeira pincelada é a
mais importante.
A referência poética era apenas parte de seu charme irresistível, lembrou a si
mesma.
— Tenho certeza de que você é o artista supremo, Rothay.
— Supremo? Já ganhei tão facilmente?
— Isso foi sarcasmo a respeito de sua arrogância. — Era um pouco difícil
parecer composta e fria quando seus dedos hábeis agora massageavam seu
formigante mamilo.
— Sinto escárnio?
Ela gostou de seu tom de provocação leve, e isso começava a aliviar sua
apreensão. Não era de se admirar que dezenas de mulheres tivessem sucumbido,
ela pensou, conforme uma estranha onda de calor se avolumava por entre suas
coxas. Apesar de sua altura impressionante e força óbvia, ele lhe transmitia a
impressão de poder sem ameaça, de carisma masculino sem dominação. Até
mesmo seu sorriso carregava uma promessa quente e sensual.
Talvez sua ideia escandalosa e impulsiva não tivesse sido tão ruim, afinal.
Ah, sim, ela estaria arruinada para sempre se alguém descobrisse, mas podia
valer a pena.
Quando ele abaixou a cabeça e levou o bico do mamilo à boca, ela reprimiu
um frágil suspiro com esforço, embora tivesse a impressão de que ele o havia
sentido. A ideia de um homem adulto querer sugar seus mamilos era
surpreendente, mas enquanto ele cuidava de um seio e depois do outro, Caroline
percebeu que era maravilhoso. Uma luxuriosa sensação de prazer começou
lentamente a cativar seu corpo enquanto ele provava e acariciava. Sua boca
quente traçava os contornos do vale entre eles, deslizando para baixo e
retornando para os bicos, agora rígidos e reluzentes.
Mas tudo o que ela fazia era ficar parada, deitada, e tinha certeza de que
deveria haver mais do que isso.
Ou assim Edward lhe dissera, da maneira mais contundente possível.
Uma das mãos de dedos longos do duque deslizou pela lateral da perna de
Caroline, acariciando a parte de baixo de seu joelho. De alguma forma, era
delicioso. Caroline nunca pensara que aquele lugar fosse tão sensível.
Lentamente, ele ergueu a perna dela, deixando-a inclinada e então colocou o pé
de volta sobre a cama. Quando ele tomou seus lábios em outro daqueles beijos
demorados e íntimos, sua boca se demorou na dela, e ele fez o mesmo com a
outra perna, até que ela ficasse com as duas ligeiramente separadas, e embora o
chemise ainda cobrisse seu sexo, a posição sugestiva fez a bainha deslizar para o
topo de suas coxas.
A percepção de sua situação foi como um relâmpago. Ela estava na cama do
infame Duque de Rothay, quase nua, as pernas afastadas o suficiente para lhe dar
acesso, se ele quisesse.
E ele queria, ela descobriu um momento depois, quando com a delicadeza de
um toque tão leve que era quase imperceptível, a mão de Nicholas deslizou sob o
tecido que a cobria e acariciou o triângulo de pelos entre suas coxas. Caroline
estremeceu, e isso foi tudo o pôde fazer para não juntar as pernas, o que
prenderia a mão dele exatamente onde ela queria que estivesse.
Respirou fundo e conseguiu ficar parada.
Completamente imóvel. Imóvel demais, porque ele disse:
— Isso deveria derretê-la, linda Caroline, não transformá-la em pedra. Vejo
que terei de ser muito persuasivo, de fato. Seria deselegante da minha parte não
aceitar o desafio que você jogou diante de mim e Manderville.
Ele já a havia chamado de fria, e isso não ficava muito longe de frígida. Este
fora o motivo do desprezo de Edward, então, ela abriu a boca para se defender,
mas nenhuma palavra saiu.
Em vez disso, soltou algo entre um suspiro e um grito de protesto indignado
quando seu belo amante mudou de posição, colocando as mãos insistentes em
suas coxas trêmulas para abri-las ainda mais, e depois abaixou a cabeça.
Ela ficou rígida, em estado de choque total, tão atordoada que nem se opôs à
maneira como ele ergueu sua camisa, expondo-a da cintura para baixo. A boca
de Nicholas roçou seu ponto mais íntimo, acomodando-se nele por completo. A
sensação resultante, enquanto a língua mergulhava entre suas dobras femininas
era... uma revelação.
O diabólico duque tinha a boca entre suas pernas, a seda escura de seu cabelo
roçava a parte interna das coxas e sua língua atrevida começava a fazer algumas
coisas muito interessantes.
Pequenos choques de prazer inundaram seu corpo, e ela torceu as mãos nos
lençóis, como se a ideia de segurar em algo pudesse impedi-la de voar para
longe. Suas sensibilidades afrontadas dominaram sua mente por apenas um
momento e a levaram para longe em um delírio arrebatador.
Oh, Deus!
Nicholas riu, um som breve, que vibrou contra o sexo latejante de Caroline, e
ela percebeu que dissera as palavras em voz alta. Em circunstâncias normais,
teria sido o suficiente para fazê-la corar, mas nada daquilo era normal. Ele
segurou seu corpo, mantendo-a escrava de sua posse erótica, e ela afastou ainda
mais suas coxas, erguendo um pouco os quadris enquanto uma estranha
antecipação se construía.
Era isso. Era por isso que as mulheres sussurravam por trás de suas mãos,
agitavam seus leques e falavam do belo duque de cabelos escuros com
insinuações reverentes e astutas, além de suspiros ardentes. Quando o prazer
erótico tomou conta dela, Caroline estremeceu em uma reação involuntária.
Não havia nenhuma maneira de silenciar um gemido e uma vez que este
escapou, descobriu que nenhum outro som importava, apenas a misteriosa
necessidade que crescia dentro dela. Foi mágico, indescritível, cativante. Seu
sangue aqueceu, seu pulso disparou e ela se arqueou em um movimento
involuntário para aumentar a pressão daquela boca sedutora.
Parecia maravilhoso demais, algo entre a agonia e a felicidade, como se o
corpo rebelde ansiasse por algo... alguma coisa...
Algo que encontrou ou talvez ela mesma tivesse sido encontrada. Uma alegre
explosão, como se estivesse despencando de uma grande altura, tendo o ar
arrancado de seus pulmões, fazendo-a soltar um pequeno grito quando a alegria
física a percorreu, fazendo-a arquear-se e estremecer.
Foi, para resumir em uma palavra, glorioso.
A realidade retornou em pedaços nebulosos. O sol banhava a tradicional
elegância do quarto ducal, a descompostura de seu chemise desabotoado e do
tecido fino amontoado sobre seus quadris, e ele, o homem que acabara de fazer
com ela a coisa mais escandalosa que poderia imaginar. Na verdade, algo que ela
sequer imaginara.
Nicholas Manning estava deitado ao lado dela, esguio e imponente, a
protuberância em seus calções proeminentes, embora ele não fizesse nenhum
movimento para tocá-la enquanto esperava que se recuperasse. Exceto por suas
botas e a camisa desabotoada, ele permanecia completamente vestido.
Uma parte dela queria arrancar o sorriso de satisfação de seu rosto, mas
outra, a parte que a colocara naquela situação exatamente por aquele motivo,
queria agradecer-lhe do fundo do coração.
Ele disse, então, com o descarado erguer de uma sobrancelha de ébano:
— E então?
O JANTAR FOI SIMPLES , MAS DELICIOSO DO JEITO QUE APENAS UMA REFEIÇÃO
campestre poderia ser. A manteiga estava fresca, os legumes recém-colhidos e
cozidos até ficarem macios, a carne saborosa e banhada em um rico molho
marrom. Para sobremesa, a Sra. Sims preparara uma torta de frutas com peras
dos jardins da propriedade, e Caroline saboreara cada mordida.
Ela também, surpreendentemente, saboreou a conversa. Eles se sentaram em
uma sala pequena e charmosa, geralmente usada para o café da manhã, com teto
baixo e janelas altas, a mesa intimista, o espaço nada grandioso, mas ainda muito
atraente. Os candelabros de luz bruxuleavam sobre uma mesa que fora bastante
usada ao longo dos anos, mas, como todo o resto, cada detalhe era bem cuidado,
do piso de madeira escura polida ao mural de um jardim de primavera na parede.
Era delicioso e informal, e nada do que ela esperara de um duque com uma vasta
fortuna na ponta dos dedos.
A falta de pretensão era bem-vinda e também a surpreendeu.
Ele a surpreendeu.
Não que ainda não se sentisse nervosa por causa da noite que os aguardava,
mas Nicholas Manning tinha uma habilidade singular de conseguir carregar a
maior parte da conversa sem monopolizá-la, e ela já notara que ele pertencia a
uma espécime rara de homem que não desejava falar mais sobre si mesmo do
que qualquer outra coisa.
Seus cavalos eram outra história. Ficou claro que seu passatempo era como
uma obsessão, e ela vira em primeira mão em Ascot o quão bem sucedido ele
era.
— Norfolk ganhou naquele dia — ele disse a ela, com um leve sorriso
extravagante e nostálgico, ao final de uma história, tocando seu copo de vinho
após o jantar. — Com um osso lacerado. Ele não queria sair do círculo dos
vencedores. Nunca vi tanta coragem. Meu treinador chorou. Admito que também
verti uma lágrima ou duas.
O duque diabólico chorando por um cavalo ferido quando poderia comprar
outro — ou centenas de outros — com sua fortuna?
Caroline olhou para ele do outro lado da mesa.
— Você sempre foi louco por cavalos?
Ele riu em um lampejo de dentes brancos.
— Acho que sim. Quando menino, eu fugia do meu tutor, mas ele sabia que
poderia me encontrar nos estábulos, se eu, misteriosamente, não aparecesse para
minhas aulas. Eu ainda considero o livro de puro-sangues mais interessante do
que o latim e antigo Grego.
Imaginá-lo como criança a intrigou. O motivo, ela não tinha certeza, talvez
porque sua própria infância tivesse sido tão sombria.
— Você tem irmãos e irmãs? — Caroline podia sentir o cheiro fresco e limpo
de grama e flores cortadas na brisa que penetrava pelas janelas abertas, a
serenidade da noite reconfortante.
— Uma irmã mais velha — ele respondeu prontamente. — Ela é casada com
um barão e tem três filhas. Charles trabalha para o Departamento de Guerra em
uma área que ninguém realmente menciona.
Tendo passado a infância desprovida de calor familiar, Caroline sentiu uma
pontada de inveja pelo carinho em sua voz.
— E a sua mãe?
— Geralmente reside em Kent, em Rothay House, mas ocasionalmente vem
para Londres. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Ela possui uma força
formidável, e eu admito que faço o meu melhor para evitar um exagero em nosso
contato. Eu a respeito e adoro, mas ela nunca para de tentar arranjar minha vida
ao seu gosto.
Seu pai e sua tia tinham organizado as coisas em sua vida, e, definitivamente,
nada saíra ao seu gosto, então, Caroline podia simpatizar com aquele tipo de
cautela. Ela murmurou:
— Pelo menos você é o duque, e ninguém pode forçá-lo a nada.
Nicholas a olhou com uma expressão impassível.
— Eu entendo seu sentimento, mas não se engane. Todos nós temos
obrigações que não apreciamos. Títulos não são uma carta branca para fazermos
o que quisermos, acredite em mim. — Ele se mexeu, apenas melhor
acomodando seu corpo esguio, como uma pantera se esticando depois de uma
soneca no calor de uma tarde quente. — Você disse antes que sua tia faleceu. E o
seu pai?
Era justo. Ela perguntara a ele sobre sua família. Caroline balançou a cabeça.
— Ele ainda está em York e, sem discussões, chegamos a um acordo mútuo
para nos ignorarmos. Não nasci homem.
— Ah. — Como herdeiro de um ducado, aquela palavra demonstrava que ele
provavelmente a entendia muito bem.
A memória da recente visita de Franklin veio à mente, e ela suprimiu um
tremor de desconforto.
— O primo do meu marido, o atual lorde Wynn, é tudo o que posso chamar
de família e, no caso dele, prefiro não fazer isso.
A expressão no rosto de Caroline deveria ser a causa do cenho franzido de
Nicholas. Esparramado na cadeira, com toda sua insolência masculina, havia
uma arrogância inconsciente, mas definida, em seu comportamento, como se ele
fosse capaz de mudar as coisas.
— Ele é inconveniente?
— Ele quer ser — ela admitiu.
— Posso ajudar?
Ela era a dona de sua própria vida, e isto fora algo duramente conquistado.
— Por que oferece? — ela desafiou. — E por que eu aceitaria?
Depois de um momento em que eles apenas se olharam, Nicholas sorriu.
— Eu não tenho resposta para nenhuma das duas perguntas — ele
acrescentou calmamente. — Exceto que gosto de estar aqui com você. Isto —
Ele indicou a sala aconchegante, a mesa ainda cheia de pratos — é bom.
Que declaração simples. Mesmo assim, tão poderosa. Também não era parte
do flerte, não de uma maneira suave, como ela esperava, mas infinitamente mais
persuasivo porque evocava a possibilidade de sinceridade e não apenas de
sedução.
— Bom? — Ela arqueou uma sobrancelha e sorriu de volta.
O duque de Rothay recuou em seu assento, as longas pernas estendidas, a
taça de vinho na mão.
— Eu achei a palavra apropriada. Devo corrigir?
— Não — a resposta foi dada antes que ela pensasse.
A lembrança da gloriosa explosão de prazer que ele lhe proporcionou
naquela tarde surgiu. Várias vezes, pegou-se olhando-o do outro lado da mesa
pequena com uma sensação de descrença. Não apenas por estar ali, em sua
companhia, fazendo uma das coisas mais chocantes de sua vida, mas por
Nicholas não ser nada parecido com o que esperava. Parte da persona era
verdadeira; o carisma do aristocrata libertino estava lá, mas apenas na superfície,
pois o homem por baixo não parecia nada calculista nem simplesmente
interessado em um prazer egoísta. Mais cedo, ele soube que ela teria permitido
que fosse mais longe na cama, mas optou por não fazê-lo, mesmo que estivesse
mais do que pronto, algo que pôde facilmente notar. O fato de ele ter sido capaz
de perceber tão facilmente que ela estava nervosa e com medo poderia ter sido
humilhante, mas a sensibilidade demonstrada foi inesperada.
Um libertino perceptivo. Humm. Essa era uma faceta interessante pela qual
ela não esperava.
Mas, novamente, nunca soubera o que poderia esperar.
Entre seu pai indiferente e seu marido cruel e dominador, ela não tinha uma
opinião elevada sobre os homens em geral. Talvez uma revelação sexual não
fosse tudo o que levaria daquela semana luxuriosa.
— De manhã podemos cavalgar ao longo do rio, se você quiser.
Caroline voltou-lhe a atenção, sentindo um leve rubor nas bochechas por
causa de sua introspecção.
— Estou à sua disposição.
Os olhos de Nicholas se enrugaram nos cantos, de uma forma atraente,
quando ele sorriu.
— Eu gosto de como isso soa, minha senhora.
A nota rouca em sua voz a inquietou.
— Eu quis dizer... — Caroline começou a falar, bem lentamente, mas logo
parou. Na verdade, ela quis dizer exatamente o que havia dito. Nicholas ergueu
as sobrancelhas. Ele continuou sentado, confortável e relaxado. — Tudo tem
uma conotação sexual para você, Rothay?
Ela recuperou sua postura fria como quem se envolve em um manto. Com a
intimidade da refeição e a caminhada romântica no jardim mais cedo — onde ele
a presenteara com algumas rosas, chegando a colocar uma atrás de sua orelha —,
deixar as palavras escaparem foi mais fácil do que ela imaginou.
— Quando eu estou com uma mulher tão bonita quanto você,
provavelmente, sim. — Um movimento ergueu seus ombros largos, em uma
reação impenitente.
— Alguém resiste a você? — Ela teve que admitir que estava curiosa. Sua
reputação era formidável, mas fofocas nem sempre eram confiáveis.
Ele brincou com a haste de sua taça de vinho. A luz bruxuleante das velas
incidia sobre suas feições refinadas, destacando a perfeição de sua elegante
estrutura óssea e fazendo seu cabelo negro brilhar.
— Sou cuidadoso nas minhas escolhas.
— Em outras palavras, uma vez que você escolhe uma mulher em meio à sua
multidão de admiradoras ansiosas, ela se torna sua?
Ela ouvira os rumores, testemunhara o impacto que ele causava quando
entrava em um salão de baile ou quando passava pelo Hyde Park.
A risada dele foi baixa e suave.
— Você faz com que isso soe muito ridículo. Como escolher uma égua de
uma cavalaria.
Ela não era boa com brincadeiras espirituosas. Houve muito pouca prática
em sua vida.
— Às vezes sou honesta de mais — ela admitiu. — Minha tia alertou-me,
durante a maior parte da minha vida, que isso é pouco atraente e feminino,
embora minha governanta encorajasse o pensamento livre. Suponho que, até
certo ponto, seja por isso que fico tão quieta quando estou na sociedade. Deus
sabe que posso muito bem dizer algo bastante direto. Deve ser porque passei
tanto tempo sozinha quando criança. Não havia necessidade de mentir para mim
mesma.
Nicholas reclinou-se em sua cadeira, com toda a sua lânguida graça
masculina. Sua expressão era difícil de ler.
— Eu invejo isso, acredite ou não.
— Inveja o quê?
— A noção de que você tinha alguma privacidade em sua juventude e sua
capacidade de ser franca com suas opiniões. Desde o berço, sempre fui
lembrado, a todo momento, do fato de ser o herdeiro ducal e, acredite em mim,
ensinaram-me a ser político em meu discurso a partir do instante em que
pronunciei minha primeira palavra. Um título vem com certo nível de
responsabilidade e inevitável crítica social.
— Nunca pensei por este lado. — Caroline inclinou a cabeça para um lado,
estudando-o. — É difícil sentir pena de alguém bonito, rico e com um título, mas
há desvantagens em tudo, suponho.
— É difícil sentir pena de uma mulher que é primorosamente bonita, uma
herdeira e que poderia escolher qualquer homem em Londres, mas é possível
que ela ainda tenha seus demônios. — Sua percepção era muito próxima da
verdade.
Sim, Edward era um demônio, assombrando sua capacidade de viver uma
vida plena.
— Touché — ela disse friamente. — Espero exorcizar um dos meus esta
semana.
— Tendo experimentado o gosto da sua paixão, posso dizer com toda a
honestidade que será meu prazer ajudá-la.
Ele respondeu com uma veemência tão suave que ela lutou contra o vívido
rubor que a ênfase na palavra “prazer” lhe provocou, tentando, pelo menos,
reagir com igual sofisticação.
— E na próxima semana você terá esquecido de mim, não é assim que
funciona? Não se cansa de relações passageiras?
As críticas implícitas não perturbaram a autoconfiança de Nicholas.
— Eu pensei que você não estava interessada em permanência.
— Não estou — ela se apressou em concordar.
— Então estamos de acordo e podemos desfrutar um do outro sem reservas.
Acho que os sete dias serão muito agradáveis. — Ele olhou para a janela onde as
estrelas eram visíveis no céu de veludo negro, as cortinas e a janela abertas para
deixarem entrar a brisa deliciosa. — E noites.
Ela começava a concordar, embora ele não tivesse respondido sua pergunta.
Caroline cruzou as mãos no colo.
— Eu não esperava gostar de você.
Nicholas riu.
— Você é certamente direta, minha cara. Por favor, não me diga que tenho a
reputação de ser um sujeito desagradável.
— Não, você é considerado muito charmoso. Só tive minhas dúvidas se o
encanto era real.
— Ah, uma artimanha para atrair jovens donzelas para a minha cama, é isso?
— Algo brilhou em seus olhos escuros.
Aborrecimento, talvez? Não, ela não o conhecia bem o suficiente para julgar.
— Bem, sim.
— No entanto, você concordou em passar uma semana inteira na minha
companhia.
— Nós dois sabemos que tenho minhas razões.
Nicholas olhou para ela, com seu corpo alto e magro paralisado e uma
expressão enigmática.
— Vejo que estamos sendo muito honestos um com o outro. Acho
refrescante dizer a verdade. Muitas vezes os casos de amor são cheios de intrigas
e fingimentos. Já que estamos seguindo este espírito, direi que geralmente não
sou a favor de mulheres com pouca experiência na cama, nem durmo com jovens
viúvas que obviamente foram tratadas com rudeza no passado.
Talvez ela tivesse sido franca demais. Caroline sentiu um lampejo de alarme
de que a próxima coisa que ele faria seria cancelar a aposta. Para seu alívio, ele
continuou:
— Mas você é muito tentadora, minha senhora, e agora que entendo suas
razões para estar aqui, sinto-me mais do que honrado. — Ele acrescentou em um
tom quase informal: — Se o seu marido desprezível ainda estivesse vivo, eu
acabaria com sua vida sem valor em um único segundo.
Caroline registrou sua sinceridade com surpresa, porque a expressão sombria
em seus olhos desmentia o tom casual de sua voz.
Ela nunca tivera um defensor. Quando criança, fora protegida por sua tia
solteira autocrática, e ela mal tinha dezoito anos quando se casou. O arranjo fora
completamente negociado sem o seu consentimento, mas não percebera a
realidade devastadora até a noite de núpcias. Quando descobriu quão cruel e
insensível era o homem com quem fora forçada a se casar, ela o deixou e foi para
sua casa em York. Seu pai a enviou de volta, e Deus foi testemunha do quanto
sofrera por esse lapso de julgamento. As contusões levaram semanas para
desaparecer.
— Eu o odiava. — Era difícil manter a voz casual, mas ela fez o melhor que
pôde. — A lógica me faz supor que nem todos os homens são como ele, mas a
experiência às vezes supera o bom senso.
— Então, você precisa de algumas boas experiências para compensar as
ruins.
A leve nota de rouquidão da bela voz do duque causou-lhe um arrepio na
espinha.
— Concordo. É por isso que estou aqui. — Caroline endireitou os ombros.
— Então talvez seja hora de nos retirarmos. — Nicholas levantou-se em um
movimento gracioso e estendeu-lhe a mão.
A TARDE ESTAVA TÃO QUENTE QUE C AROLINE TIRARA A JAQUETA DE SEU TRAJE DE
montar e pairava sobre o pomo de sua sela enquanto seu cavalo passeava pelo
estreito caminho ao longo da margem de um rio. Acima, o céu estava limpo, de
azul profundo, não marcado por uma única nuvem, e o ar cheirava a prados
perfumados enquanto a mais leve brisa roçava seu rosto.
O dia idílico combinava perfeitamente com seu humor.
Caroline estava bem ciente de que era alvo das atenções e do charme de
Rothay por uma razão deliberada — a aposta escandalosa —, mas sentia-se mais
do que disposta a aceitar a fantasia.
Depois de uma noite de descobertas e de um prazer abandonado em seus
braços, eles dormiram tarde, tomaram um leve café da manhã juntos e passaram
o resto do dia em companhia um do outro, de forma casual e descontraída,
exatamente como estava acontecendo o passeio daquele final de tarde.
Era uma mudança agradável em sua rotina mundana e nem todo o seu prazer
tinha a ver com seu despertar sexual recém-descoberto. Um homem atraente
prestando atenção nela era algo ao qual poderia se acostumar, especialmente
porque se sentia surpreendentemente confortável em sua presença. Talvez fosse
apenas a intimidade sexual, mas talvez fosse outra coisa.
Embora eles ainda não tivessem consumado o ato sexual em si, sentia-se
cada vez menos apreensiva e mais curiosa. Até aquele momento ele lhe
concedera toda a atenção, o prazer luxuriante de seu toque era esclarecedor, mas
ele não exigira nada para si mesmo.
Claro. Tudo porque queria ganhar a aposta.
Como se pudesse ler seus pensamentos, Nicholas disse:
— Eu deveria fazer isso com mais frequência.
Ela o olhou de relance. Também não usava paletó, o linho fino de sua camisa
cobrindo os ombros largos, a roupa aberta no pescoço, revelando a pele
bronzeada, sua postura na sela, ereta e graciosa. Ele cavalgava todos os dias e
pedira que os cavalos fossem enviados com antecedência, já que não mantinha
nenhum em Essex. Sua montaria era um garanhão magnífico que combinava
com seu cavaleiro, elegante e poderoso, e a égua cinza malhada na qual ela
cavalgava era o animal mais bem-educado que já havia montado.
— Fazer o quê com mais frequência? — Caroline ergueu uma sobrancelha.
— Levar uma estranha para o campo como pupila sexual?
Sua risada fácil soou.
— Bem, não. Não era exatamente isso o que eu estava pensando, mas já que
mencionou, até agora as coisas correram muito bem.
Lembrando-se da revelação da noite anterior, ela mal podia discordar.
Pensava no prazer pecaminoso, em cada toque, gosto e nos movimentos
singulares do homem experiente. A reputação de Nicholas era bem merecida, se
é que ele era sempre tão altruísta com suas amantes. O excesso de sensações a
deixou tão exausta que ela, de fato, adormeceu deitada em seus braços, e se
alguém tivesse previsto isso alguns dias atrás, ela teria zombado da ideia.
Um prazer desenfreado e uma crescente sensação de liberdade, mesmo que
fosse uma experiência nascida de uma disputa masculina provocada pelo excesso
de bebida alcoólica, era exatamente o que procurava quando fez sua proposta
escandalosa. Quando tudo acabasse, ficaria eternamente em dívida com ele, pois
Nicholas Manning, pelo menos, mostrara a ela como as coisas poderiam ser.
— No que você estava pensando, então? — Ela afastou uma mecha solta de
cabelo de sua bochecha e avaliou o rosto dele curiosamente.
Nunca em sua vida perguntara a um homem o que ele tinha em mente. Com
Edward jamais teria ousado. Nem ela provavelmente teria querido saber. Com
Nicholas, já sentia que poderia perguntar qualquer coisa, livremente, com
impunidade.
— Passo muito tempo na cidade. Muito tempo acordado até tarde nas festas e
saraus, muito tempo no meu clube, muito tempo no meu escritório e com meus
advogados. — Ele deu de ombros, seu cabelo preto lustroso, quase azulado,
como o de um corvo com a asa inclinada ao sol. — Sempre digo a mim mesmo
que saberei quando for a hora de amenizar a minha vida para um padrão menos
agitado.
Inevitavelmente, ele quis dizer encontrar uma esposa e gerar um herdeiro.
Ela sentiu uma inesperada pontada de compreensão. Aquela aposta tinha a ver
apenas com uma conquista casual e suas próprias descobertas. O que aconteceria
depois que aqueles dias terminassem dificilmente importava.
Ela se esforçou para parecer indiferente.
— Você ainda é jovem, embora eu imagine que sua família espere que
cumpra seu dever.
Seu semblante tornou-se aristocrático e um pouco austero. Por um momento,
ele não pareceu em nada com o libertino sofisticado, mas, ao invés disso,
mostrou-se quase sombrio. Sua voz até pareceu mais seca.
— Realmente eles esperam.
Não era da sua conta, mas, de alguma forma, ela se ouviu dizendo:
— Mas você está relutante?
— Eu estou claramente desinteressado em escolher uma esposa
simplesmente para procriar — havia uma nota inquietante em seu tom.
Uma declaração curiosa, já que ele provavelmente deveria saber, desde a
infância, que teria que fazer exatamente isso.
— Você tem uma alma romântica.
— Não.
— Se interpretei o que acabou de dizer corretamente, você quer se apaixonar.
Sua boca se contorceu em um sorriso cínico.
— Receio que tenha interpretado mal o que eu disse, minha querida.
Apaixonar-se não é algo que eu espero que aconteça comigo, nem iria querer
isso. Acho que nem acredito que seja possível.
Se ela sabia bem diferenciar um tom de convicção em alguém, aquelas
palavras ecoavam exatamente isso. A afirmação era um pouco incongruente,
especialmente vinda do mesmo homem que ela agora sabia ser capaz de
demonstrar ternura infinita e altruísta.
— Todos nós queremos ser amados — ela se aventurou, embora fosse
provavelmente a última pessoa na terra a ser considerada uma autoridade no
assunto.
— Ser amado não é o mesmo que amar alguém.
Seu cavalo desviou, andando em torno de um pequeno arbusto, e ela
distraidamente o guiou de volta ao caminho.
— Imagino que seja verdade.
Caroline não sabia muito sobre os homens, mas havia uma severidade atípica
no tom de voz de Nicholas que nem mesmo ela pôde ignorar.
Aquela discussão era íntima demais, em um nível desconhecido para ela.
Ele sorriu novamente e, então, moveu rapidamente a cabeça, dando-lhe um
vislumbre de seu charme convincente, atraente, que cativava toda mulher em seu
campo de visão.
— Se você contar a alguém que conversou sobre questões sentimentais com
o Duque Diabólico, eu vou negar, minha querida, então, por favor, guarde o
segredo.
Se ela contasse a alguém, ele seria mais perseguido do que nunca por jovens
ansiosas para conquistarem não apenas seu título e sua fortuna, mas seu coração.
No entanto, não faria isso. Então, Caroline apontou, com verdade infalível:
— Ninguém pode imaginar que eu o conheço, a não ser de um modo mais
casual e distante, lembra-se? Eu dificilmente poderia reivindicar saber qualquer
coisa sobre seus sentimentos pessoais em qualquer assunto, muito menos sobre
casamento.
Ele a olhou, seus cavalos andando lentamente, passando por um bosque de
salgueiros delgados, com longos galhos que se arrastavam em direção à água
límpida e vagarosa. O sol parecia muito quente em suas costas.
— Eu tenho a sensação de que será um pouco difícil fingir que não nos
conhecemos depois que esta semana acabar. Disseram-me que uma mulher não
esquece seu primeiro amante.
Não havia dúvida de que ele estava absolutamente correto, porque o que
Edward fizera com ela o desqualificava para aquele rótulo.
Nicholas não poderia ser mais diferente, e embora o corpo de Caroline não
fosse virginal, ele estava certo sobre ser seu primeiro amante.
Era maravilhoso perceber, mas ela estava perdendo seus medos, sentindo-se
ansiosa por isso.
Talvez ansiosa demais.
Caroline pigarreou.
— Tenho certeza de que é verdade, pois você está certo, não vou esquecer
sua... bondade.
A boca de Nicholas curvou-se em puro divertimento.
— Bondade? Uma palavra estranha para descrever o desejo carnal, minha
querida. Já que está aqui como pupila sexual, como você mesma proclamou,
deixe-me continuar no meu papel de instrutor, informando-a de que seu
entusiasmo quando estamos juntos será fundamental para mim. Dar prazer a uma
mulher é um poderoso afrodisíaco para qualquer homem.
Infelizmente, ela sabia, por experiência própria, que ele estava errado. Era
como um banho de água fria. Silenciosamente, disse:
— Nem todos eles, Nicholas. Eu gostaria de poder dizer isso com menos
segurança.
No silêncio constrangedor resultante entre eles, o baque surdo dos cascos dos
cavalos e o trinado de um pássaro cantor eram os únicos sons ao redor. Ele disse
finalmente:
— Agi com presunção novamente. Desculpe-me.
Ela não queria pensar em seu casamento sombrio, não em um dia tão
glorioso, não quando estava com o homem mais atraente da Inglaterra e eles
tinham o resto do que prometia ser uma semana muito memorável pela frente.
Lançou-lhe, então, um sorriso travesso.
— Eu acredito, Sua Graça, que já nasceu presunçoso. Felizmente para você,
acho que isso é parte do seu charme.
— Você me acha charmoso? Talvez tenha causado uma impressão na noite
passada, afinal de contas. — Ele parecia mais do que disposto a fugir da direção
séria da conversa e voltar à provocação despreocupada habitual. — Se importa
em me dizer qual parte você achou mais esclarecedora?
Isso não era difícil de responder, e ela devia muito a ele.
— Tudo.
Era verdade. Aqueles beijos devastadoramente suaves e persuasivos, a
delicadeza de seu toque íntimo, o presente de um prazer que ela não imaginava
existir.
Quase instantaneamente, a expressão de Nicholas mudou. Suavemente, ele
disse:
— Acho que posso aprender com você, minha fria Lady Wynn, tanto quanto
aprenderá comigo esta semana.
A luz do sol filtrada pelas árvores caía sobre a grama verde na pequena
clareira; o som tranquilo do rio proporcionava um efeito calmante.
Nicholas desmontou e virou-se para tirar Caroline da sela, com as mãos
demorando-se na cintura fina enquanto a abaixava. Ele sorriu preguiçosamente
para o rosto erguido.
— Este é um local bastante agradável, não é? Privado também.
Suas delicadas sobrancelhas se arquearam.
— Isso é importante?
Era muito importante, porque desde o momento em que eles tinham saído da
cama naquela manhã, Nicholas passara a avaliar seu desejo irresistível de possuí-
la mais uma vez. No entanto, uma cama não era necessária, não com um local
romântico isolado disponível, e ele não queria esperar até que se recolhessem
para fazer amor com ela.
Conter-se era necessário, mas por quanto tempo mais ele precisaria se
segurar?
Infelizmente, a resposta era simples. Até que Caroline estivesse pronta.
Havia uma enorme diferença entre o que permitia que ele fizesse e o que queria
que fizesse. A qualquer momento, desde sua chegada, ela teria permitido. Mas
certamente na tarde e na noite anteriores ela não sentira o desejo que ele
imaginara que sentiria, apenas rendição.
Mas se as coisas fossem do jeito que ele queria e pretendia, ela iria aprender.
Não sabia exatamente por que estava tão fascinado pela adorável, mas
inexperiente, Lady Wynn, porém, era um fato. Parte disso tinha a ver com a
franqueza dela; parte, com sua beleza, e, para sua surpresa, ele se perguntava se
parte não tinha também a ver com a sugestão de vulnerabilidade quando ela o
olhava com aqueles gloriosos olhos prateados.
Normalmente, só isso o faria fugir o mais rápido possível. Jovens damas
vulneráveis faziam sua guarda subir imediatamente.
— Eu pensei que nós poderíamos nos sentar um pouco à sombra. —
Nicholas baixou os cílios, e seu olhar recaiu em direção à boca de Caroline. — E
admirar a vista. Poderíamos discutir literatura, já que é uma das suas paixões.
— De alguma forma, nunca imaginei o Duque Diabólico como alguém que
se empoleira em um riacho e contempla a beleza da natureza ou a estrutura de
um poema. A sociedade acreditaria ainda menos que ele fosse capaz de opinar
sobre os assuntos do amor.
— Você será capaz de atestar que eles estão errados.
— Serei? — Uma sobrancelha arqueou, e ela riu. — Estou tentando imaginar
qual seria sua opinião sobre Homero ou Rousseau.
Seu sorriso era muito raro e o fascinava. Assim como a mulher, era uma
mistura de reserva e sensualidade subjacente, ele pensou, olhando para ela.
Preguiçosamente, falou devagar:
— Você está insinuando que sou um filisteu, Lady Wynn?
— Prazeres mundanos parecem mais o seu domínio, Sua Graça.
— Permita-me mudar a sua opinião sobre o meu caráter.
A resposta dela foi quase graciosa.
— Pode tentar.
Assim desafiado, como ele poderia recuar? Nicholas escolheu um lugar
calmo com vista para o meandro do rio, a grama maleável e perfumada, a terra
nivelada. Eles se sentaram e conversaram enquanto seus cavalos pastavam. Mais
uma vez, Nicholas se viu cativado pela maneira como os olhos de Caroline se
iluminaram quando ela se fixou em um ponto importante para debater com ele.
As visões independentes de sua velha governanta tinham sido variadas,
descobriu, enquanto discutiam tudo, desde arquitetura a religião. Caroline disse
que a Srta. Dunsworth, de quem ela se lembrava com uma expressão sentimental
em seus olhos extraordinários, encorajara sua educação de todas as maneiras
possíveis, não apenas os interesses comuns das jovens damas refinadas.
— Ela morreu de uma infecção no pulmão — disse ela, com um baixo tom
de voz —, perto do fim do meu décimo sexto ano de vida. Ainda sinto falta dela.
Isso deu a Nicholas uma abertura para que conduzisse o assunto, com
intenção deliberada, de volta para sua família.
Ele enrolou uma longa folha de grama entre os dedos, observando o rosto
dela sob os cílios ligeiramente abaixados.
— Você não tem vontade de voltar para York, eu presumo.
Sem hesitar, Caroline balançou a cabeça. Estava belíssima em uma blusa
simples, saia de montaria e botas de cano curto. Embora se sentasse com um
decoro elegante e feminino, com as pernas dobradas para o lado, ainda conseguia
parecer adoravelmente desejável.
— Eu nunca mais vou voltar.
— Isso parece definitivo.
— E é. — Um breve lampejo de melancolia cruzou o rosto dela. — Meu pai
não me quer lá também.
— Então ele é um tolo. — Nicholas estendeu a mão e tocou a dela.
Suas restrições anteriores, ele descobriu, estavam desaparecendo. A
intimidade que começava a ser construída aumentava seu nível de interesse.
Geralmente, sentar-se e conversar sobre temas intelectuais com uma mulher não
era algo que lhe apetecesse, e certamente nunca esperava que isso causasse
excitação sexual, mas com ela era diferente. Que curioso.
Ela o olhou.
— Que bom que você tem uma irmã.
Nicholas raramente pensava nisso, mas o olhar melancólico no rosto de
Caroline deixava-o consciente de sua sorte com sua própria família. Queria
consolá-la, prometer que ela encontraria contentamento e aceitação, mas como
diabos faria isso?
O único tipo de consolo real que sabia como lhe oferecer era físico, e seu
corpo, no momento, o instigava a prosseguir.
A sedução lhe era muito mais familiar do que a indecisão emocional.
Inclinando-se para frente, Nicholas roçou a boca contra a dela, ignorando o
sobressalto de surpresa. Além de tirá-la de seu cavalo, não fizera nenhum
movimento para tocá-la. Ele sussurrou:
— Há algo estimulante em fazer amor ao ar livre. É mais primitivo.
— Aqui?
Ele a beijou em resposta àquela pergunta arfante, divertindo-se com a reação
chocada, as mãos já ocupadas. Soltou o cabelo dela primeiro, porque queria
sentir o peso dos fios de cetim quando aquecidos pelo sol, sua fragrância
tentadora enquanto aprofundava o beijo. Para sua satisfação, os braços de
Caroline deslizaram ao redor de seu pescoço e, mesmo não tendo se agarrado a
ele, ela descansou em obediência voluntária em seu abraço.
Aceitação novamente, ele percebeu com uma máscara de resignação interior.
Isso certamente exigiria algum esforço. A parte estranha era que estava gostando
do desafio, apesar de sentir certo nível compreensível de frustração.
O inchaço de sua ereção foi imediato, e seu coração já batia mais rápido
enquanto admirava a glória elegante de sua beleza. Seu prazer era reforçado pelo
som do movimento suave da água, quase inaudível acima de sua própria
respiração acelerada. Nicholas murmurou:
— Dispa-se para mim. Eu quero assistir. Não há nada mais excitante do que
o corpo de uma mulher sendo revelado pouco a pouco.
Bem, isso não era exatamente verdade. Assistir a uma mulher beijar seu
corpo e tomar seu pênis rígido em sua boca podia ser ainda melhor, mas Caroline
não estava pronta para tal. Aquela semana deveria ser dedicada ao prazer dela, e
não apenas por causa daquela maldita aposta. Nenhuma mulher tão bonita e
inatamente sensual deveria ter medo da intimidade sexual.
Ele esperou, um braço apoiado sobre o joelho dobrado, a pose
propositalmente casual, exceto pela protuberância de sua crescente ereção
preenchendo suas calças justas.
Houve apenas um momento de hesitação antes de Caroline se levantar e
começar a desabotoar sua blusa. Através das pálpebras pesadas, Nicholas
observou cada botão ser aberto antes que a blusa fosse puxada para fora da saia
de montaria para tirá-la. Botas, meias e saia saíram em seguida, suas bochechas
ficando cada vez mais rosadas enquanto ela se despia. Finalmente, afrouxou o
laço do chemise e ergueu o queixo, mas não deixou o tecido rendado escorregar
por seus ombros.
— Não pare agora — ele disse persuasivamente. — O melhor está por vir.
— Você está completamente vestido.
Lá estava ela, uma bela sedutora, usando a mão para manter o corpete
fechado.
— Você quer que eu me dispa? — Ele manteve o olhar fixo no dela.
Queria ter certeza de que Caroline soubesse que, com ele, sempre teria
escolha. Geralmente preferia assumir a liderança em jogos sexuais, mas estava
disposto a fazer concessões para se certificar de que ela nunca se sentisse
oprimida.
— Tenho certeza de que você está ciente de que é considerado muito bonito.
Existe alguma razão pela qual não posso admirá-lo da mesma maneira?
Sua resposta foi direta o suficiente. Mais uma vez, não havia truques.
— Tudo o que minha dama desejar. — Ele sorriu e puxou o calcanhar de
uma bota, ainda mantendo seu olhar fixo nela.
Com um sorriso astuto e trêmulo, ela soltou o chemise, e este se acumulou
em torno de seus pés.
Por um momento ele parou, com a bota na mão, inebriado pela pura glória do
corpo nu de Caroline, sentindo sua admiração aumentar por saber que ela era sua
para ser possuída.
Não conseguia tirar as roupas rápido o suficiente.
Havia algo sobre o cenário do bosque, a maneira como a luz do sol tocava
sua pele acetinada com um brilho dourado, o som musical dos pássaros nas
árvores... tudo isso elevava a excitação a um novo nível. Era primitivo,
elementar e, quando conseguiu livrar-se de suas calças, descobriu, surpreso, que
suas mãos tremiam.
Isso nunca acontecera antes.
Teria que analisar a situação. Mais tarde. Depois.
— Venha deitar-se comigo. — Nicholas reclinou-se na grama, a sensação
tátil em seu corpo fazendo um contraste interessante com seu desejo ardente.
Acima do dossel de ramos, o céu era azul-celeste.
— É o que eu quero. — As palavras sussurradas foram ditas com um toque
de surpresa quando Caroline deu um passo em sua direção.
Nicholas com certeza esperava que sim, porque estava mais do que pronto.
Quando ela se ajoelhou ao seu lado, ele segurou sua cintura e puxou-a para cima
de seu corpo faminto, desejando um beijo cálido. Foi menos contido do que na
noite anterior, mas ela não pareceu se importar, respondendo de forma não tão
hesitante daquela vez. Ao senti-la enroscar os dedos em seu cabelo, um lampejo
de triunfo manifestou-se através de sua excitação, e a rigidez dos mamilos de
Caroline contra seu peito falava muito sobre o quão longe ela chegara em um
tempo muito curto.
Se ele fosse um juiz − e sentia-se qualificado para isso −, poderia apostar que
ela se tornaria uma amante muito apaixonada para algum homem de sorte
quando a semana acabasse.
Claro, então ela teria seu tempo com Derek. Um tremor de insatisfação se
agitou dentro de Nicholas quando imaginou seu amigo segurando aquele corpo
delicioso como ele estava fazendo.
Reprimir tal pensamento era um reflexo emocional. Ele não era um homem
ciumento. Ou nunca fora antes, pelo menos. Considerando sua aposta ilícita,
aquele parecia ser um mau momento para adquirir o hábito.
Ele girou de lado para que o cabelo dela se derramasse contra a grama em
uma massa luxuriante e reluzente. Roçou a boca em sua mandíbula e lambeu um
caminho ao longo de sua clavícula, acariciando a elegante curva de sua garganta.
Caroline arqueou-se embaixo dele com a respiração acelerando.
Nicholas acariciou seu quadril nu.
— Fale comigo.
Cílios rendados se ergueram, e sua boca se abriu quando um leve franzir de
cenho marcou sua testa suave.
— Já não conversamos muito?
— Sim, mas vamos mudar de assunto.
— Eu poderia jurar, Rothay, que você gostaria de fazer outra coisa além de
conversar, ou seu corpo reage assim o tempo todo? — Ela se moveu
sugestivamente contra seu pênis rígido. — Parece que sim.
Se seu sorriso não pareceu malicioso, ele certamente pretendia que fosse.
— Oh, eu vou fazer amor com você, eventualmente, isso não está em
questão, mas há uma grande variedade de maneiras para isso. Eu só me pergunto
se você percebe o quão excitante pode ser quando os amantes dizem um ao outro
como estão se sentindo e, ainda mais importante, o que querem.
Os cachos castanho avermelhados se moveram quando ela balançou a
cabeça, e seus olhos se iluminaram enquanto o observavam.
— Eu não tenho ideia do que você quer dizer, mas suspeito que já saiba
disso, de qualquer maneira.
Ele sabia. O jogo de sedução era tão estranho para ela quanto um beijo
romântico.
Seria um prazer mudar isso.
— Posso começar. — Apoiado acima dela, seu peso equilibrado em um
cotovelo, ele moveu a boca para seu ouvido enquanto acariciava um seio cheio e
glorioso. — Eu amo o jeito como você se molda a mim; sua pele é como seda
sob meus dedos. Você tem os seios mais bonitos que já vi, cheios e firmes, mas
também macios e feitos para as minhas mãos.
Um pequeno tremor percorreu-a quando ele apertou gentilmente o peso
flexível da carne amontoada e hesitou, enquanto seu polegar preguiçosamente
estimulava um mamilo rosado em círculos lentos, sentindo-se gratificado por sua
reação física. Ele sabia que Caroline era sagaz, ainda que um pouco tímida. Com
um pouco de instrução na arte do flerte, ela poderia escolher qualquer homem da
alta sociedade.
Havia alguns canalhas por aí, e ela não era apenas bonita, mas uma herdeira.
Nicholas esperava que escolhesse sabiamente.
Perceber que se importava com o que aconteceria com ela depois da semana
designada o surpreendeu. Talvez estivesse simplesmente tentando redimir o sexo
masculino aos olhos de Caroline, pois desde o início da conversa percebera que
sua figura paterna não fora muito melhor do que o falecido Lorde Wynn. Ela não
dissera isso em tantas palavras, mas pôde perceber a dor subjacente em sua voz.
Sim, era isso. Havia algum resquício de cavalheirismo, apesar do que
acontecera com Helena.
Mas agora não era hora de pensar naquele erro terrível.
— Sua vez — ele pediu, mordiscando o lóbulo da orelha dela. — Confie em
mim.
— Eu... eu — ela hesitou e então sussurrou: — Estou começando a pensar
que você é mais do que apenas um amante competente, Nicholas, mas também
um homem muito bom.
Ele paralisou o ato de acariciar seu mamilo, perplexo e confuso.
Não se tratava de uma insinuação sexual, nem algo dito com um bater de
cílios ou um sorriso sedutor, mas Nicholas sentiu-se inesperadamente tocado,
não apenas pela simples afirmação, mas pelo próprio sentimento. Era conhecido
por ser um monte de coisas, ele sabia bem disso, mas duvidava que bondoso
estivesse entre elas. As pessoas não se importavam se ele era um ser humano
decente. Riqueza, aparência e uma abundância de charme superficial eram
geralmente mais do que suficientes. O homem real não era o foco da maioria das
mulheres que conhecia.
Descobriu que não sabia exatamente o que dizer, e isso o deixou inquieto.
Ela o colocara naquela posição mais de uma vez. Finalmente, murmurou:
— Obrigado.
O suspiro de Caroline roçou a bochecha de Nicholas.
— Esse não era o tipo de coisa que você queria ouvir, não é? Não sou boa
nisso.
Ela estava encantadora e descontraída, ele pensou, enquanto afastava um
cacho de cabelo que roçava seu ombro pálido e conforme se equilibrava sobre
ela com o membro rijo pressionado contra sua coxa.
— Foi perfeito.
— Você nunca é deselegante? — Suaves lábios rosados se curvaram em um
sorriso quase melancólico.
Ele sorriu.
— Só quando meus cavalos perdem.
— O que raramente acontece.
— Tenho um excelente treinador e os melhores jóqueis da Inglaterra… mas,
querida Caroline, por mais que eu ame o assunto das corridas, podemos guardar
o tópico para quando você não estiver nua em meus braços?
A risada suave de Caroline roçou sua bochecha.
— Você é o especialista no que deve ser feito neste tipo de situação, não eu.
Talvez ele realmente pudesse se gabar por possuir algum modesto
conhecimento no que dizia respeito a ter damas nuas em seus braços. No
entanto, com relação a senhoras inexperientes e medrosas... nesta categoria ele
não era tão habilidoso, mas estava aprendendo. Nicholas se aninhou no pescoço
dela.
— Nós faremos o que você quiser que façamos. Nada mais.
— Beije-me.
Isso certamente não era uma dificuldade. Ele reivindicou sua boca, imitando
escandalosamente o que adoraria fazer em seu corpo com pequenos impulsos de
sua língua. Ela respondeu lindamente, com dedos entrelaçados em seus cabelos e
o seu calor sedutoramente insinuante contra ele.
— Agora me toque. — A ordem ofegante foi dada em um exalar gentil
contra seu rosto, enquanto um par de braços finos se entrelaçou ao redor de seu
pescoço. — Como ontem à noite.
Uma preguiçosa tarde de verão, árvores por todos os lados e uma amante
deitada sobre a grama perfumada. Era como viver em um sonho passado na
antiguidade grega, e se ele fosse o sátiro, o papel provavelmente se encaixaria.
Apenas um pouquinho depravado, mas essa experiência só beneficiaria sua
companheira. Nicholas movimentou-se levemente, puxando-a para mais perto.
— Tudo o que minha dama quiser.
Seus dedos vagaram, encontrando o que procuravam, e ela estremeceu.
Quando arqueou o corpo o suficiente para pressionar os seios tensos contra o
peito dele, Nicholas pensou, divertido, em todos aqueles pretendentes
desanimados que murmuravam sobre a civilidade indiferente e o desprezo gélido
de Caroline.
Fria, aquela dama não era.
— A SSIM .
As palavras, murmuradas contra sua boca, foram acompanhadas pelo
impulso de suas mãos.
Caroline obedeceu. Era assustador admitir, mas ela provavelmente faria
qualquer coisa que ele pedisse. Especialmente depois do beijo de derreter ossos
que tinham acabado de compartilhar. Tinha vaga ciência dos pássaros cantando
lá fora, o cheiro agradável da brisa da manhã entrando pela janela aberta, as
elegantes cortinas de seda pendendo sobre a cama e a luz que penetrava o quarto
conforme o dia ganhava vida...
Mas, naquele momento, ele era seu mundo inteiro.
E o que ele queria, ao que parecia, era que ela se sentasse sobre seus quadris
esguios.
Nicholas parecia um príncipe medieval depravado, com o cabelo escuro
desgrenhado contra o travesseiro branco e suas feições clássicas e marcantes.
Havia apenas um leve rubor sobre sua pele, e seu peito musculoso se erguia com
um ritmo ligeiramente acelerado.
— Pegue-o em sua mão e o guie.
Sua confusão deve ter sido aparente.
— Para dentro de você — ele esclareceu. Uma pequena contração de sua
boca traía a diversão dele sobre sua ignorância. Mas seu sorriso era terno e
perversamente convincente. — O homem nem sempre tem que ficar por cima.
A ideia de que pudesse haver mais de uma posição era um pouco
surpreendente. Até aquele momento, fora completamente diferente, de todas as
maneiras possíveis — e ela agradecia sinceramente a Deus por isso —, mas a
mecânica da questão fora exatamente como se lembrava com Edward. Ela
deitada de costas, pernas abertas, Nicholas por cima.
— Algumas mulheres gostam muito. Vamos ver se você será uma delas. —
Sua voz continha um tom de rouquidão que ela já conseguia associar à
necessidade sexual.
Algumas mulheres. Claro − ela pensou com um ressentimento involuntário e
irracional − que ele sabia muito bem disso. O duque diabólico provavelmente
poderia desenhar gráficos e escrever dissertações sobre as preferências sexuais
da maioria das mulheres da alta sociedade, incluindo suas posições preferidas.
Seu pênis ereto ergueu-se com força contra o abdome plano, a ponta
brilhando com evidências líquidas de seu desejo. Caroline se balançou um pouco
para frente, enquanto as mãos dele ainda a guiavam, e colocou os dedos ao redor
da carne inchada, conforme se levantava e posicionava o membro em sua
entrada feminina.
Ele fez um pequeno som inarticulado, apertando os quadris de Caroline
suavemente conforme ela mergulhava, deixando que o membro deslizasse
lentamente até que a ponta repousasse contra seu útero. Ela se viu mais uma vez
na habitual e frustrante posição de não saber exatamente como proceder, mas
Nicholas a ajudou, com pequenas frases sussurradas e palavras de encorajamento
para que começasse a se mover. Sob as palmas de suas mãos, o peito másculo
estava quente e rijo, conforme ela subia e descia, finalmente estabelecendo um
ritmo, substituindo a falta de jeito por prazer.
Ela só precisava inclinar um pouco o corpo para que a sensação fosse divina
ao ponto de fazê-la estremecer em resposta. O atrito era deliciosamente
escorregadio e quente, e eles se observavam enquanto seus corpos alcançavam o
ápice ao mesmo tempo. Para cima, para baixo, para cima de novo... Santo Deus,
ela não aguentou, especialmente quando ele encaixou a mão entre eles e fez algo
muito perverso com o polegar no lugar certo.
— Eu acho que agora seria um bom momento, minha querida — as palavras
foram ditas em um silvo por entre seus dentes cerrados. Os quadris dele se
arquearam ao mesmo tempo em que ela descia ainda mais.
O mundo de Caroline desmoronou. O mesmo aconteceu com seu corpo
trêmulo quando ela soltou um pequeno grito e apertou os ombros dele,
pressionando o rosto contra seu pescoço largo enquanto ondas de prazer
explodiam até que ela foi deixada mole e relaxada, em destroços, após o
orgasmo.
Nicholas, segurando-a com força, gemeu e ficou imóvel, empalando-a
incrivelmente fundo, e ela pôde sentir a onda de sua ejaculação, mesmo ainda
tão inebriada.
Ofegantes, lânguidos e em silêncio, eles se aninharam em um momento
preguiçoso pós-coito. Finalmente, ele deu uma risada baixa.
— Acho que você gostou de ser um pouco mais aventureira. Há mais para
aprender, você sabe, e ainda temos três dias.
Uma parte rebelde de seu cérebro traduzia isso. Apenas três dias?
— Sinto-me confiante de que você sabe tudo o que há para saber, Rothay. —
Ela conseguiu erguer a cabeça e esperou que sua expressão parecesse tão suave
quanto ela pretendia demonstrar. Queria soar desapegada, indiferente, mais
parecida com as mulheres a quem ele estava acostumado, porque se pudesse
efetivamente personificar uma daquelas sofisticadas beldades da sociedade,
então talvez pudesse assumir sua atitude blasé sobre relações sexuais
superficiais. Uma parte perversa de Caroline era intensamente curiosa e a
obrigou a fazer a pergunta que estava no fundo de sua mente desde o momento
em que o conhecera.
— Diga-me, depois de tantas mulheres, nunca houve alguém especial?
Provavelmente era uma pergunta imprudente e, apesar de sua relação íntima,
não era algo da sua conta, mas ela queria saber.
— Todas elas — o charme irreverente e provocante em sua voz era familiar,
mas um músculo se contraiu em sua mandíbula.
Lá estava de novo, um flash de algo em seu rosto; algo que ela não entendia
muito bem.
Caroline lançou a ele um olhar tão cético quanto era capaz em seu estado de
felicidade lânguida, seu corpo ainda cantarolando e o sexo de Nicholas ainda
dentro dela.
— Este não é o meu assunto favorito — ele admitiu em tom morno um
momento depois, suas belas feições expressando o que ela interpretou como uma
sugestão de arrependimento. Era difícil interpretar a expressão de seus olhos
escuros.
Uma vez que ele já havia confessado que não estava interessado em
casamento, algo que ela compreendia, Caroline precisava tentar ignorar o
lampejo irracional de tristeza por se sentir aparentemente incluída naqueles
incontáveis números de amantes do passado. Isso não deveria importar, lembrou
a si mesma com uma lógica implacável, porque ela entendia o jogo ao qual se
juntara, e ele certamente cumprira sua parte no trato.
Ele era gentil, ardente, habilidoso e generoso.
Aquela era a semana mais adorável de sua vida, mas ele a esqueceria, e uma
forte sensação de tristeza a preencheu por conta de tal verdade indiscutível. Ele
não era um amante constante, e certamente nunca prometera ser, então, ela não
tinha nenhum direito a expectativas de qualquer tipo.
Havia uma pequena gota de suor na têmpora de Nicholas, e Caroline limpou-
a com a ponta do dedo, num gesto brincalhão, determinada a saborear cada
segundo e afastar quaisquer pensamentos que pudessem interferir.
— Você percebe, Sua Graça, que vai ser duramente pressionado para superar
o seu gesto romântico da noite passada.
Mesmo que ela saísse daquele arranjo sem nada, guardaria eternamente as
memórias de terraços iluminados pela lua e braços fortes ao seu redor enquanto
se moviam em uma dança silenciosa e bonita.
Uma sobrancelha de ébano se ergueu, e um sorriso se formou, lento e
infinitamente diabólico; um verdadeiro tributo ao seu apelido.
— Isso é um desafio, Lady Wynn?
— Eu suponho que poderia ser interpretado dessa maneira.
— Humm. — Os dedos dele traçaram sua espinha, as curvas de uma nádega
nua, que sua mão apertou suavemente. — Vou ter que ser inventivo, não vou?
— Para ser melhor que Lorde Manderville? Você o conhece melhor do que
eu, mas imagino que, como ele faz parte da aposta, dará um braço para superá-
lo.
Lá estava novamente, para sua surpresa, certo lampejo sombrio de uma
expressão no rosto de Nicholas que ela só pôde descrever como irritação.
Quando pensava sobre isso, percebia que só mencionara o conde uma ou duas
vezes e não nos últimos dias. A aposta em si não era um tema de conversa. Ele
murmurou:
— Não é o braço dele que me preocupa.
Isso provocou uma gargalhada que ela não conseguiu reprimir, mas tinha a
sensação de que seu riso soava um pouco trêmulo.
— Não que eu queira alimentar sua arrogância, mas duvido que precise se
preocupar, de qualquer forma.
— Eu te impressionei? — Seu dedo ergueu o queixo dela suavemente,
enquanto sua boca se curvava de uma forma instigante e familiar. Caroline tinha
a sensação de que aquele sorriso iria assombrar seus sonhos.
Teria sido melhor se ela fosse uma boa mentirosa. Em vez disso, disse
simplesmente:
— Sim.
Ele colocou-se sobre ela e a impressionou novamente.
O desespero era uma força poderosa quando se tratava de métodos criativos,
Derek decidiu conforme içava seu corpo no parapeito e recuperava o
fôlego. O que ele estava fazendo era indigno e imprudente, mas tinha esperança
de que demonstraria tanto sua determinação quanto a profundidade de seus
sentimentos.
Tudo o que ele queria era ter uma breve conversa civilizada.
Bem, isso não era tudo o que queria, mas se contentaria com a chance de se
declarar.
A janela estava entreaberta por causa da noite quente, e ele contara com isso.
Empoleirou-se pela fresta e ouviu o murmúrio de vozes lá dentro, esperando a
empregada de Annabel sair. Quando o som suave da porta se fechou, preparou-
se, esperando que o objeto de sua visita não gritasse até acordar a casa inteira.
Para sua sorte, suas costas estavam viradas enquanto ele afastava as cortinas
e entrava no quarto. Sentada à sua penteadeira, ela não notou sua entrada
precipitada até que o viu através do espelho e seus olhos se arregalaram.
Rapidamente, ele disse:
— Não. Se você gritar, todos nesta casa saberão que estou no seu quarto.
Sua boca, que estava aberta, se fechou. Annabel se virou na cadeira com
tanta violência que quase caiu no chão. Ela recuperou seu equilíbrio e nivelou
um olhar indignado para ele. Suas bochechas coraram em um tom rosado.
— Saia daqui.
Como Derek não esperava uma recepção calorosa, não se incomodou.
— Não. Não até conversarmos por alguns momentos.
— Você está louco? Acabou de se esgueirar pela minha janela. Se quiser
falar comigo, faça-o de maneira convencional. — Ela acrescentou rigidamente:
— Meu senhor.
Ele quase riu da tentativa de tratamento formal. Desde que Annabel era uma
criança, ela sempre o chamara pelo primeiro nome, mas, em seu atual estado de
tristeza, Derek não conseguia achar nada engraçado, então, simplesmente lançou
a ela o que esperava ser um olhar neutro.
— Eu tentei. Caso você não tenha notado, bebi mais xícaras de chá insípido
esta semana do que em todo o ano passado. Fui a festas das quais nunca
consideraria participar quando estava perfeitamente são e me convidei para
jantar aqui em várias noites. Com você, minha querida, é impossível ficar
sozinho por um minuto. Esta é minha solução. A menos que queira um
escândalo, é melhor não anunciar minha presença.
Ela o olhou como se ele realmente fosse louco, e Derek não poderia culpá-la.
Maldição! Aquela era a casa de seu tio, e ele podia entrar pela porta da frente a
qualquer hora, sendo muito bem-vindo. No entanto, até mesmo Thomas, que era
tão maleável, não permitiria sua entrada no quarto de Annabel.
Ele expôs, então, com evidente cinismo e amargura:
— Você esqueceu minha carta? Por favor, não me diga que não a recebeu,
Annie.
— Eu não li. Joguei fora.
A confirmação das suspeitas só prejudicou sua confiança. A voz de Derek
adquiriu um toque vazio.
— Entendo. Estou feliz por ter me dado ao trabalho de escrevê-la.
— Por que escreveu? Por que está fazendo isso? — Como se de repente ela
notasse que não usava nada mais do que uma camisola, ergueu a mão até o
corpete e a prendeu ali. — Alfred não iria apreciar sua presença em meus
aposentos.
— Eu não pedi a permissão dele, pedi?
Que Lorde Hyatt se danasse. Derek a amava.
— Peço-lhe mais uma vez que saia.
Com mil diabos, ela parecia deliciosa vestindo nada além de algodão e renda
branca, seus cabelos dourados soltos em volta dos ombros, o rosto desviado,
permitindo que ele estudasse a perfeição de seu perfil. Cílios longos desenhavam
sombras sobre suas bochechas.
— Não até eu dizer algumas coisas. — Derek não se moveu de onde estava,
perto da janela, mas apoiou um ombro contra o parapeito. Se ele se aproximasse,
não tinha certeza se poderia prometer uma conduta cavalheiresca. — Posso
falar?
— Posso impedi-lo? — sua voz estava cheia de ressentimento. — Você já
entrou e me ameaçou. Não tenho escolha.
— Eu escalei a parede da casa do meu tio e arrisquei quebrar meu pescoço.
— Ele cruzou os braços sobre o peito. — Não acha que o assunto é de suma
importância?
Annabel ergueu o queixo, ainda segurando a camisola no pescoço, como se
esta fosse um escudo e pudesse protegê-la de Derek.
— Eu não posso imaginar o que temos a dizer um ao outro. Estou noiva e
você... é você.
Doeu, especialmente quando ela pronunciou a constatação em um tom tão
contundente.
Você é você.
Em uma voz letal, ele rebateu:
— Sim, eu sou eu. Um homem. Aquele que tem as falhas normais de todos
os outros homens.
— Normal? Nem todos os homens fornicam indiscriminadamente com todas
as mulheres nas quais possam esbarrar. — Ela se levantou, caminhando até o
canto oposto do quarto, onde se virou para encará-lo. Seus olhos, tão lindos e
azuis, estavam cheios de acusação e indignação. — Seja lá o que veio procurar
aqui, não vai encontrar. Perdi toda a fé em você há um ano e percebo, para
começar, que a fé era indevida. Agora sei o quão ingênua e tola eu fui de me
apaixonar por você, mas não sou a mesma menina inocente que era.
Não é inocente?
Derek sentiu o peito se apertar, rejeitando aquela ideia. Involuntariamente
deu um passo à frente.
— Ele comprometeu você?
Ela corou em um tom carmesim diante da acusação em sua voz.
— Claro que não. Se está se referindo a Alfred, ele nunca faria isso. Nem
todo mundo é como você.
Havia aquela palavra novamente, lançada contra ele como uma flecha
farpada. Sentiu-se aliviado, de qualquer maneira. Não, Hyatt não tocara nela, o
que explicava o ressentimento do homem e sua interpelação no encontro nada
amigável na taberna. Derek não tinha perspectiva quando se tratava dela, não
tinha distanciamento.
O desprezo de Annabel o fez se encolher por dentro, embora ele esperasse
não demonstrar. Respondeu por entre dentes:
— Não sou santo. Jamais reivindiquei ser um. Mas também não sou
irresponsável. É por isso que estou aqui agora. Nunca tive a oportunidade de me
desculpar pelo que aconteceu, exceto no papel, e aparentemente não é o
suficiente para você.
— O que aconteceu? — Ela ergueu as sobrancelhas loiras.
— Na biblioteca — ele esclareceu de forma brusca.
— Oh — a resposta de apenas uma palavra soou fria como uma pedra no
inverno.
Uma brisa suave agitava as cortinas atrás das costas de Derek. Ele disse, com
entonação de sussurro:
— Eu a beijei. Você se lembra?
Ele sabia que ela lembrava. Ela sabia que ele sabia disso. Os olhos de
Annabel brilharam.
— De fato, eu me lembro daquele dia. De todo ele.
— Eu te magoei — foi uma observação suave.
— Não se iluda, meu senhor.
Ela estaria mentindo se negasse. Da mesma forma como percebera a
felicidade em seus olhos arregalados após o beijo, lembrava-se perfeitamente da
expressão horrorizada no rosto pálido de Annabel quando esta saiu da estufa
onde o encontrara com Isabella. Realmente não importava, ele supôs, que não
tivesse feito nada naquele momento além de pedir desculpas à moça e ir embora.
O dano já havia sido causado. Não fora uma noite auspiciosa. Isabella reclamara
bastante, demonstrando uma decepção fervorosa em sua retirada depois que
Annabel saíra correndo da sala chorando. Se fosse possível se sentir mais como
um inútil, ele não sabia como. Levara uma garrafa de conhaque para a cama
naquela noite, mas não a Lady Bellvue.
Lutando por uma calma que realmente não sentia, ele disse:
— É isso que precisamos discutir, Annie. Tanto o beijo como o que
aconteceu depois, pois eles estão diretamente relacionados entre si.
— Não posso ver como um simples beijo pode estar relacionado ao seu
comportamento sórdido e repugnante.
O cabelo de Annabel brilhou sob a iluminação de uma única lâmpada, os fios
louros emoldurando suas feições frágeis. Olhos azuis escuros olhavam para ele
com acusação evidente.
— Eu sei que te desiludi, mas não foi intencional. Além disso, aquele beijo
foi tudo, menos simples, e nós dois sabemos disso.
Os lábios de Annabel tremeram levemente.
— Apenas um em mil para você, tenho certeza. Por favor, não tente me dizer
que foi significativo de alguma forma. Eu te vi com outra mulher logo depois,
Derek. E certamente você não viveu em celibato desde então. Maridos irados por
toda parte poderiam corroborar com esta afirmação; Lorde Tanner por exemplo.
Quando essa história veio à tona, admito que não fiquei surpresa.
— Eu nunca quis ser canonizado. Tudo o que posso dizer é que o caso
Tanner não me envolvia. Não tive nada a ver com isso. Não sei o que mais você
ouviu, mas, acredite em mim, o que mais fiz no ano passado foi pensar em você.
— Tudo por causa de um beijo? Perdoe meu ceticismo, mas saiba que é
difícil de acreditar.
Esperando que ela pudesse ouvir a sinceridade em sua voz, ele disse a
verdade.
— Esse beijo mudou a minha vida.
C OMO ELE PODERIA FAZER AQUILO COM ELA ? A SEMANA ANTERIOR FORA UMA
tortura, porque Derek de repente parecia estar em toda parte, impossível de
ignorar, e agora aquilo? Ele estava certo. Annabel deliberadamente o evitava o
máximo possível, porque a última coisa que queria era ser lembrada de sua
malfadada paixão pelo infame e notório Conde de Manderville.
Mas certamente não havia mais como evitá-lo. Não quando ele estava ali, em
seu maldito quarto, com toda a beleza masculina de seu rosto parecendo sombria
e esculpida sob a luz fraca, seu cabelo loiro espesso roçando a gola de uma fina
camisa de linho que enfatizava a impressionante largura de seus ombros. Calções
pretos e botas chamavam atenção para o longo comprimento de suas pernas, mas
ele não usara casaco nem gravata para sua escalada arriscada.
O fato de ele ter feito isso era desconcertante, e sua última declaração a
deixou sem palavras. Derek repetiu, no mesmo tom rouco:
— Aquele beijo que nunca deveria ter acontecido mudou minha vida, Annie.
Por minha honra, juro que é verdade.
Ele tinha usado a palavra honra?
A memória era ainda muito dolorosa, como uma ferida aberta que se
recusava a sarar adequadamente, então, ela disse, com amarga convicção:
— Tenho certeza de que você poderia dizer qualquer tipo de inverdade
usando sua honra como prova de sua convicção, uma vez que ela não existe.
Ele contraiu os lábios, e ela soube que tinha ido longe demais.
— Confesso que não estou surpreso que você tenha uma opinião baixa sobre
mim, porque deixou isso claro o suficiente. Mas nós também nos conhecemos há
muito tempo, então você não pode me conceder a gentileza de me ouvir? —
Seus olhos, tão vividamente azuis, exibiam um olhar de súplica que não lhe era
característico. — Com certeza está curiosa para saber o que pode haver de tão
importante a ser dito que me fez até arriscar meu pescoço para podermos
conversar.
Ela estava, mas admiti-lo seria sinal de fraqueza. A capacidade dele de
seduzir não deveria ser posta em questão.
Além disso, ela mentira abertamente sobre a carta.
Só não estava certa de que seria capaz de resistir. Talvez não chegasse nem
perto do grau de sofisticação e experiência dele, mas pelo menos era inteligente
o bastante para admitir e sabia que seria imprudente baixar a guarda até mesmo
por um momento. Derek Drake era perigoso para seu grau atual de insatisfação
em relação ao seu casamento.
— Não — ela mentiu. — Eu não estou nem um pouco curiosa.
Um músculo da mandíbula de Derek se contraiu.
— Minha família e eu provemos para você durante todos esses anos, e isso
deve valer para alguma coisa.
— Isso não é justo. — Ela se empertigou, olhando para ele. — É minha
culpa ter ficado órfã?
— Não, claro que não. — Sua expressão implacável não mudou. — Mas
acho que estou sendo bastante razoável. Você pelo menos me deve a chance de
me defender. Podemos conversar?
Ele era o conde, seu título o tornava responsável em termos financeiros pela
propriedade que ela considerava sua casa, e, sim, sua família era mais do que
generosa com ela, Annabel sabia disso. Ela realmente lhe devia alguma coisa,
nem que fosse em respeito a Thomas e Margaret.
De forma pouco graciosa, ela inclinou a cabeça.
— Tudo bem.
Uma expressão que era quase um fantasma do lindo sorriso habitual de
Derek pairou em sua boca.
— Primeiro eu fui reduzido a implorar e agora venço por meio de
chantagem.
— Apenas diga o que você acha que é tão incrivelmente importante e saia.
Se alguém te encontrasse no meu quarto a qualquer hora, mesmo completamente
vestido, eu estaria arruinada.
Infelizmente, esta era a mais pura verdade. Por mais complacente que Alfred
fosse, ela duvidava que até mesmo ele entendesse.
Embora tivesse recebido permissão, Derek pareceu hesitar. Depois de um
momento, disse simplesmente:
— Nada do que aconteceu naquele dia foi previsto. Eu não pretendia beijar
você e, mais tarde, não pretendia sequer tocar em Isabella Bellvue, e não fui
mais longe do que isso. Se você bem se lembra, eu a evitei por dias.
Ela se lembrava da insistência da condessa, porque assistira, de forma
enciumada, como Lady Bellvue perseguira Derek descaradamente, com um
propósito tão óbvio que mesmo uma ingênua garota de dezessete anos
conseguira compreender.
— Você certamente não a estava evitando naquela noite na estufa — disse
ela acidamente.
— Isso foi porque te beijei mais cedo.
— Eu nunca ouvi nada tão absurdo na minha vida.
— Não? Bem, escute. — Sua voz continha uma espécie de diversão sombria.
— Se você quer ouvir algo absurdo, posso elucidar. Naquela tarde, quando a
segurei em meus braços, percebi que só tinha uma escolha quando se tratava de
você, e era recuar ou prosseguir com intenções honradas. Não vou negar que a
segunda ideia me abalou completamente. Quando Isabella se aproximou de mim
mais tarde, eu ainda estava tentando negar que precisava tomar uma decisão. A
noção de que minha vida mudaria tão drasticamente não era fácil de reconhecer.
Não sou o primeiro homem a fugir da ideia de amor, muito menos de casamento.
Ele — Derek Drake, famoso por jamais se apaixonar — tinha realmente
usado as palavras amor e casamento na mesma frase?
Além disso, ela se lembrava bem da expressão em seu rosto antes que ele
deixasse a biblioteca tão abruptamente. Havia a possibilidade de Derek estar
dizendo a verdade.
Ele continuou.
— Suponho que pensei que um interlúdio com uma mulher disposta poderia
curar minha loucura momentânea.
A percepção de que seu coração tinha começado a bater mais rápido era
irritante.
— E curou? — Annabel perguntou num tom tão frio quanto possível, mas as
palmas das mãos estavam úmidas. Havia uma expressão no rosto de Derek que
ela nunca vira antes e embora ele ainda parecesse imponente e muito masculino,
existia uma sugestão de vulnerabilidade para um homem que ela sempre vira
como invencível.
Era a última coisa de que precisava.
Ele confessou baixinho:
— Não. Como acabei de dizer, não aconteceu nada além do que você viu.
Quando saiu da sala, eu também o fiz. Isabella ficou furiosa, acredite em mim.
Annabel retrucou:
— Perdoe-me por não ter muita simpatia por ela. Ainda assim, o que
aconteceu já pareceu mais do que suficiente para mim. Ela estava meio despida e
você estava... — Annabel parou, envergonhada. Sem dúvida, Derek havia tocado
seios de tantas mulheres que o evento não tivera sequer significado.
Para sua decepção, ele entendeu exatamente o significado da hesitação em
seu discurso.
— Isso é porque você ainda é muito inocente, o que faz parte do nosso
problema. Confie em mim, há muito mais.
— Confiar em você? Por favor. Além disso, não temos um problema mútuo.
Não há nada que compartilhemos — ela cuspiu cada palavra deliberadamente.
— Vamos lá, Annie, isso não é verdade. — A expressão em seu rosto era
dura, quase acusadora. — Você me evita. Deus sabe que tentei ficar longe de
você. Não está funcionando. Para nenhum de nós. Outras pessoas notaram. Seu
noivo notou, pelo amor de Deus.
— Deixe Alfred fora desta… desta discussão ridícula. Não sei por que
estamos debatendo, em primeiro lugar. — Suas mãos se fecharam em punhos, e
seu estômago parecia estranho, como se tivesse engolido algo indigesto. —
Como você poderia saber o que ele acha?
— Os homens têm uma maneira mais direta de se comunicar do que as
mulheres. — Seu sorriso era fraco e irônico. — Normalmente, se há algo em
nossas mentes, simplesmente perguntamos e resolvemos o assunto. Se a resposta
não é do nosso agrado, às vezes usamos nossos punhos ou pistolas ao
amanhecer. Bárbaro, eu sei, mas a nossa tendência é sermos mais diretos em
nossos assuntos e com o mundo ao nosso redor.
Annabel olhou para ele.
— Ele perguntou a você sobre mim? Sobre…
— Nós? — ele completou. — Receio que sim.
Sim, ela estava definitivamente enjoada.
— O que você disse para ele?
Derek ergueu uma sobrancelha em um arco irritante.
— Nada. Eu sou um cavalheiro, apesar de você não concordar com isso.
— Você realmente espera que eu acredite nisso?
— O que mais posso oferecer senão a verdade? É por isso que estou aqui.
Derek continuou parado, ainda incrivelmente belo, mesmo sem seu charme
notável em evidência. Em vez disso, a expressão em seu rosto estava exposta,
aberta, nada como seu habitual fascínio carismático e misterioso.
Os joelhos de Annabel começaram a tremer. Ela fez o seu melhor para
parecer composta, mas, na realidade, sua mente estava girando.
— Deixe-me ver se eu entendi o que veio de tão longe para me dizer. Depois
que me beijou naquela tarde, você se preocupou que, se fôssemos mais longe,
isto o colocaria em perigo de ter que fazer o impensável e se casar comigo,
então, ao invés disso, insensivelmente usou outra mulher para aplacar a sua
luxúria. Estou correta?
Derek suspirou e passou os dedos pelos cabelos espessos. Ela não fazia ideia
de como ele conseguia se tornar ainda mais atraente quando despenteado, mas,
de alguma forma, era exatamente isso que acontecia.
— Dito assim, certamente parece ruim o suficiente. Você não vai facilitar
para mim, vai? E como eu disse, não aplaquei nada.
— Existe alguma razão pela qual eu facilitaria as coisas para você?
— Eu me comportei de maneira abominável, então, suponho que não.
Totalmente consciente de que estava parcamente vestida, ela cruzou os
braços sobre o peito.
— Finalmente, eis um ponto no qual concordamos.
— Annie, eu te amo.
O que ele tinha acabado de dizer?
Ela perdeu o ar.
Maldito, ele não deveria ser capaz de provocar aquele tipo de reação nela.
Mas era. Deus a ajudasse, ele era capaz.
— Eu te amo — ele repetiu suavemente. — É tudo em que penso e,
francamente, está me enlouquecendo. Levei um ano e seu maldito compromisso
para perceber as profundezas do sentimento, mas juro para você que é verdade.
Cambaleante, ela se aproximou da penteadeira e sentou-se. Respirando
profundamente, perguntou:
— Foi por isso que fez uma aposta na frente de toda a alta sociedade para
descobrir quem é o amante mais talentoso da Inglaterra? Esse tipo de ostentação
não vem de um homem que seria fiel a uma única mulher.
— Pelo contrário, é exatamente o tipo de comportamento idiota produzido
pela emoção infame que acabei de declarar para você, minha querida. — Seu
sorriso foi pesaroso. — Este caso em específico foi inspirado pelo anúncio do
seu compromisso no jornal. Por muito tempo tentei lidar não apenas com os
meus sentimentos, mas com a ideia de que a tinha afastado por completo, e lá
estava, no papel impresso, a prova de que nunca teria a chance de resolver
qualquer um dos problemas. Junte a isso algumas boas doses de vinho, e um
homem pode simplesmente fazer algo muito estúpido.
Ele não podia estar falando sério.
Por favor, eu não posso acreditar que ele está falando sério.
— Foi estúpido — ela murmurou.
Ele deu um passo à frente.
— Assim como escalar uma parede no escuro e subir por uma janela
encarnando um personagem de um conto romântico.
Mesmo rejeitando a ideia de que ele pudesse tocá-la, uma parte traidora de
Annabel desejava que fizesse isso.
Mais três passos... talvez quatro, e ele poderia tomá-la em seus braços
novamente e...
Ela empertigou-se. Lembrou-se daquela terrível traição um ano antes e do
consequente sofrimento.
— Não chegue mais perto. Por favor, apenas... saia.
Ele ficou imóvel, com os braços presos às laterais do corpo. Os ângulos de
seu rosto pareciam esculpidos sob a luz incerta.
— Annie...
Ignorar a súplica rouca em sua voz foi a coisa mais difícil que ela fez em sua
vida.
— Por favor.
Se ele a tocasse uma vez, apenas uma vez, ela poderia desmoronar.
Para seu horror absoluto, uma lágrima correu por sua face em um deslize
lento e quente, pingando em suas mãos que estavam fechadas com tanta força
em seu colo que as juntas doíam.
E pensar que prometera nunca derramar outra lágrima por Derek. Como ele
se atrevia a mentir para ela depois de uma miríade de ofensas?
Por um momento ele apenas ficou ali, parado, e então, para sua surpresa,
assentiu e fez o que ela pediu sem dizer mais uma palavra, saindo pela janela e
desaparecendo de vista.
Deixando-a sozinha.
S E ELE TIVESSE CAÍDO E QUEBRADO O PESCOÇO , ESTARIA , PELO MENOS , LIVRE DE
seu desespero, Derek decidiu enquanto andava os dois quarteirões até sua
própria casa, mas não acontecera. Além disso, seu brilhante plano havia falhado
por causa de uma única lágrima.
Ele não suportava fazê-la chorar.
De suas falhas − tantas que mal conseguia contar —, crueldade não era uma
delas. A expressão no rosto de Annabel lhe dissera tudo o que precisava saber
sobre o que já tinha feito e se tivesse seguido em frente e tentado seduzi-la, teria
odiado a si mesmo.
Pior, ela podia odiá-lo também.
A única parte alegre da coisa toda, ele pensou enquanto entrava e ia em
direção ao seu escritório, era que poderia tê-la seduzido. Podia ler em seus olhos
enquanto ela o olhava, na reação de pânico depois do único passo que dera em
sua direção, na tensão de seu corpo tão desejável.
Então o jogo não estava perdido, ele só precisava repensar sua estratégia.
Servindo-se de um copo de conhaque, sentou-se atrás de sua escrivaninha e
meditou diante da lareira vazia.
Para começar, admitiria a derrota naquela aposta ridícula. Não iria passar
uma semana com a deliciosa Lady Wynn. Poderia aceitar isso. E se houvesse a
menor chance de Annabel mudar de ideia e ele arruinasse todas as suas chances,
reforçando ainda mais sua reputação já não tão pura? Esperava que Nicholas
estivesse se divertindo, mas Derek duvidava seriamente que pudesse agir com
igual entusiasmo. Não com toda a sua felicidade futura pesando na balança.
A única mulher que ele queria era Annabel. Com ou sem ela, tinha a
sensação de que seus dias de libertino tinham acabado.
B ilhete pela segunda vez e depois colocou-o de lado, pesando suas opções.
Realmente havia apenas uma.
— Más notícias? — Caroline o olhou do outro lado da mesa, preocupada e
franzindo a testa.
Ele estava ansioso por outro passeio ao longo do rio e, talvez, persuadi-la a
nadar no final da tarde. Ela confessara que sempre quisera aprender. Pensar em
Caroline nua dentro d'água oferecia algumas possibilidades tentadoras.
— Receio que precise retornar a Londres.
— Oh, entendo. — Por um momento, ela olhou para longe, como se
fascinada por algo fora da janela, mas então virou-se, com uma expressão
resignada em seu rosto. — Espero que não seja nenhum problema.
Embora normalmente não se explicasse, especialmente para as amantes
casuais, ele se viu reagindo à súbita distância nos olhos de Caroline.
— O primeiro-ministro quer se encontrar comigo. Eu dirijo um comitê e
aparentemente há um problema que ele gostaria de abordar com os outros
membros antes de nos reunirmos na próxima semana.
O sorriso dela adquiriu uma nota de melancolia.
— Imaginei que uma semana longe seria algo bastante ambicioso de se
conceder a outra pessoa, sendo você um homem com tantas responsabilidades.
Começava a me perguntar como iria administrar isto.
Ela realmente sentia que fora ele a lhe dar alguma coisa? Nicholas a olhou,
percebendo como o quanto era confortável sentar-se e desfrutar de algo tão
mundano quanto um simples almoço apenas porque gostava de sua companhia.
Deixando de lado a extravagância de sua beleza, ela era incomum e não jogava
os jogos femininos. Tanto quanto ele poderia dizer depois de passar cinco dias
agradáveis em sua companhia, Caroline Wynn era completamente
despretensiosa. Sua fortuna e título não a impressionavam demais, e, talvez, pela
primeira vez, sentia que uma mulher realmente não queria nada além do que já
compartilhavam.
— Volte comigo — ele sugeriu, estendendo a mão para pegar a dela. — Este
assunto é urgente, mas deve demorar pouco mais do que algumas horas. Você
ainda me deve dois dias.
— E como é que vamos conseguir fazer isso com alguma medida de
discrição, Nicholas? — Dedos finos repousavam frios contra a palma de sua
mão. — Não que eu não goste da ideia, mas parece imprudente.
Lá estava outra vez aquela honestidade refrescante que ele achava tão
encantadora.
— Podemos dar um jeito. Nada é impossível.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Falou com a certeza de um duque. Lamento discordar, mas algumas
coisas são impossíveis. O que você vai fazer, me contrabandear para seu quarto
dentro de seu bolso?
Ela estava certa, claro, criados costumavam fofocar. Sua casa estava fora de
questão.
— Nós poderíamos nos encontrar em algum lugar.
— Não em Londres, não com discrição. Você tem muito pouco a perder se
formos ligados de maneira escandalosa. Eu tenho muito. Então, receio que terei
que recusar.
A luz do sol que entrava pela janela comprida iluminava seu brilhante cabelo
ruivo como se aquecido pelo fogo. Ela usava um vestido de dia amarelo pálido
de musselina que a fazia parecer muito jovem, como uma estudante inocente.
Mas Nicholas poderia atestar, depois dos recentes e satisfatórios dias de
edificação sexual, que havia uma mulher apaixonada sob aquele exterior
recatado. Os homens iriam sentir isso, pois o que antes era uma atitude
indiferente agora fora substituído por uma confiança feminina. Eles já se
aglomeravam em torno dela quando a consideravam fria e distante. Agora eles a
sitiariam.
Era irritante que qualquer homem pudesse se aproximar dela, mas a própria
natureza dos últimos dias que passaram juntos e a infame aposta o obrigariam a
manter distância em público.
Inferno.
Um dilema, com certeza. Especialmente levando-se em consideração que ela
passaria a mesma quantidade de tempo com Derek.
Maldição, aquela realidade começava a deixá-lo totalmente infeliz.
Talvez essa separação fosse benéfica. Ele estava desapontado, mas ter seu
interlúdio interrompido poderia pelo menos abafar as pontadas irracionais do que
acabaria sendo interpretado como ciúme. Quem era ele para pedir-lhe que não
seguisse com a segunda metade da aposta? Não tinha nenhum direito sobre ela, e
Caroline simplesmente recusaria educadamente qualquer outro tipo de
envolvimento.
Não havia como negar a linha tênue sobre a qual uma mulher precisava
andar em uma sociedade julgadora, não importando que lado ela escolhesse,
virtude ou não. Se preferisse manter a fachada fria, que assim fosse. Ele
certamente era capaz, e mais experiente do que ela, de se desprender dos
envolvimentos sexuais.
Nicholas soltou a mão de Caroline e tirou o relógio do bolso.
— Assim que meu motorista puder preparar a carruagem, eu partirei. Por
favor, sinta-se à vontade para ficar mais alguns dias como minha convidada, se
desejar.
Ela assentiu com a cabeça, com uma expressão ilegível naqueles olhos
cinzentos de cílios longos.
— Foram dias adoráveis. Acho que deveria me sentir promíscua...
— Na verdade, não deveria — ele a interrompeu. — Você é uma mulher
linda e sensual. Não há nada de errado com isso. Apenas o oposto.
— Nós vivemos vidas muito diferentes, não é?
Um eufemismo. Ele tinha a liberdade de seu título e riqueza, e embora ela
também fosse da alta classe, não havia similaridade em suas circunstâncias.
— De muitas maneiras — ele admitiu, pensando em como imediatamente
argumentara que queria ser o primeiro a cumprir sua parte na aposta, a rapidez
com que organizara seus negócios para que isso fosse possível, e sentiu outro
daqueles vislumbres estranhos de discernimento.
Ele ia se arrepender de deixá-la.
O fascínio inesperado que ela exercia sobre ele estava longe de acabar.
Era inquietante, agravado pelo fato de Caroline se recusar a tentar um
relacionamento clandestino quando voltassem a Londres. Ele entendia suas
razões, porém. Especialmente se ela voltasse a considerar o casamento, sua
reputação era importante.
De repente, ele se levantou e curvou-se numa pequena saudação, sabendo
que precisava se afastar imediatamente.
— Por favor, com sua licença.
Q UERIDA A NNIE :
Será que tenho o direito de lhe pedir que me perdoe pelas minhas ações em
Manderville Hall há alguns meses? Ponderei a questão longamente e não posso
sequer responder a mim mesmo. Tudo o que sei é que gostaria de poder apagar
a memória de suas expressões quando saiu da estufa naquela noite. Se eu
pudesse erradicar o ato, tenha certeza de que o faria. Eu assumo total
responsabilidade. Afinal de contas, sou mais velho, mas aparentemente nenhuma
sabedoria veio com esses anos a mais.
Ainda mais convincente é a lembrança do nosso beijo. Talvez eu deva pedir
desculpas por isso, mas, com toda honestidade, não posso. Não sinto pelo que
aconteceu, só peço perdão por minha conduta não cavalheiresca depois. Por
favor, aceite meu mais profundo pesar.
Não posso te dizer como anseio por vê-la sorrir para mim mais uma vez.
Sinceramente,
Derek Drake, o sexto conde de Manderville
Data deste dia, 21 de novembro de 1811
Annabel deixou o pedaço de pergaminho escorregar por entre os dedos e as
mãos trêmulas. Observou a carta cair no chão e se acomodar enquanto engolia o
nó em sua garganta.
O que poderia ter acontecido se ela tivesse lido isso quando lhe fora
entregue? O ponto era discutível, porque ainda estava chocada e desiludida, mas
certamente fora significativo que não a tivesse jogado fora. Poderia parte de tudo
ser culpa dela? Afinal, Derek não pedira para se tornar seu cavaleiro mítico, o
galante príncipe de seus sonhos, o belo herói de suas fantasias de menina. Ele era
apenas um homem e, portanto, falível.
Ele não é perfeito, mas às vezes esses são os libertinos pelos quais nos
apaixonamos...
Annabel construíra uma imagem dele que não era real, e quando esta não se
confirmou, seu mundo foi destruído. Ele não se eximira de culpa, ela se lembrou,
pensando na condessa em seus braços, mas, novamente, talvez não fosse
inteiramente culpa dele também.
A diferença era que ele havia se desculpado.
Ela não.
A sala de reuniões abafada não era a escolha ideal. Derek sentiu-se inquieto
e se remexeu na cadeira. A sessão parecia interminável, e ele começava a
sentir dor de cabeça. Só quando os bocejos na câmara assumiram proporções
epidêmicas, Lorde Norton pareceu perceber há quanto tempo vinha falando e
finalmente se calou, sem nunca ter chegado a um argumento válido.
Se o entusiasmo com que os colegas saíram da Câmara dos Lordes fosse uma
indicação, Derek não fora o único entediado até às lágrimas. Foi um alívio sair
sob o sol da tarde.
Recebera um pequeno bilhete de Lady Wynn a respeito de sua conversa com
Annabel há alguns dias, expressando sua esperança de que tudo tivesse corrido
bem e alertando que fizera o melhor possível. Como um jovem inexperiente,
Derek ficara andando em círculos, em torno de seu escritório naquela tarde, e,
depois, sentou-se impaciente para assistir a uma ópera muito terrível na qual não
tinha interesse. A única parte redentora da noite fora que a mulher que amava
não aparecera de braços dados com seu noivo. Pelo menos não fora forçado a
evitar encará-los. Uma pequena bênção em uma situação que parecia totalmente
contra ele.
Então agora restava a Derek duas escolhas. Ele poderia vestir sua fantasia
ridícula e visitar Caroline na madrugada para pedir detalhes sobre a conversa, ou
poderia entrar no quarto de Annabel novamente e perguntar a ela.
Nenhuma das duas parecia muito boa. Ambas as ideias foram precipitadas
nas primeiras ocasiões.
Derek nunca fora impulsivo. Isto é, a menos que estivesse beijando jovens
inocentes em bibliotecas ou invadindo seus quartos para declarações de amor
indesejadas e não correspondidas.
Bem, talvez ele fosse impulsivo de vez em quando.
Droga.
Estava claro que teria que presumir que tudo correra bem. Mas por que
deveria pensar que sim? Não havia razão para isso. Annabel o dispensara de
forma completamente fria.
Bem, não exatamente. Não friamente. Ela o dispensara com uma lágrima
indesejada deslizando por sua bochecha, e sua voz não continha o tom usual.
Isso lhe dava uma esperança que talvez fosse falsa, mas ele não queria desistir.
Se falhasse, se o que Caroline dissera a Annabel não causasse nenhuma
impressão, seria porque ele arruinara as coisas a um ponto sem volta, mas ainda
pretendia ajudar Nicholas.
Não podia andar sobre o fogo sem esperar se queimar um pouco.
A Rothay House era uma impressionante mansão em Mayfair, na Grosvenor
Square, com todas as galerias necessárias, portas palacianas e uma fachada de
pedra digna de uma residência real. Instruíra seu cocheiro a esperar e subiu as
escadas, esperançoso de que Nicholas tivesse estado tão ansioso para chegar em
casa depois da palestra quanto ele próprio. O duque estava lá dentro, ele foi
informado pelo mordomo rigidamente formal, e ele foi instruído a esperar no
escritório, como de costume...
Sim, Derek fez isso. Servira-se de uma bebida também, antes de se acomodar
na cadeira de sempre junto à lareira. A sala cheirava familiar, a uísque e livros
antigos.
— Não que não seja sempre agradável ver você, mas não passamos uma
tarde excruciante juntos? — Nicholas entrou e fechou a porta atrás de si. — Se
veio aqui para reclamar do argumento de Lorde Norton, vou ter que confessar
que parei de prestar atenção na metade do seu discurso.
Derek riu e balançou a cabeça.
— Não, não vim por isso. Não me pergunte também. Quando o primeiro-
ministro se afastou e começou a roncar, vamos ser francos, ele perdeu o público.
— É verdade. — Nicholas se acomodou atrás da escrivaninha, com as longas
pernas estendidas casualmente, seu rosto ilegível. — Então eu acho que a
política não desempenha um papel nesta visita.
— Não. Caroline e eu vamos sair na segunda-feira. Consegui um quarto em
uma pousada isolada perto de Aylesbury. Não muito longe, mas não muito perto,
perfeito para um encontro discreto. Tudo foi acertado.
Havia motivos para que o duque de Rothay fosse considerado uma lenda. Ele
permaneceu relaxado em sua cadeira, mas seus olhos escuros exibiram um certo
brilho que Derek podia reconhecer. Uma pequena pausa quase infinitesimal foi
feita.
— Então que vença o melhor.
— Essa é nossa intenção desde o princípio, não é?
Derek ouviu o choque de uma espada imaginária, o som de metal contra
metal quase audível no silêncio da sala venerável.
— Exatamente a nossa intenção. — Nicholas parecia tão frio como sempre.
— Você não tem objeção?
— Por que teria, já que não possuo nenhum compromisso com a dama?
Por que, de fato? Era a pergunta mais correta. Derek não se deixaria enganar.
Ou, pelo menos, esperava que não.
— Você parecia um pouco envolvido após o seu retorno.
Foi uma declaração neutra. Nicholas lançou um olhar para a janela.
— Como você sabe, o termo envolvimento é ambíguo. Eu me senti um pouco
envolvido. Passou.
Seria verdade? Não, não era. Se assim fosse, seu amigo não se mostraria tão
cuidadosamente indiferente. A perfídia de Helena deixara algumas cicatrizes
permanentes. Derek entendia, mas lembrou-se do olhar no rosto de Caroline
quando ele perguntou se seus sentimentos estavam comprometidos. Também se
recordou da instrução lacônica de Nick naquela tarde no White's.
Tenha cuidado com ela...
— Quando isso acabar, pelo menos não teremos mais que lidar com essa
ridícula aposta — disse Derek em uma voz introspectiva. — Para começar, foi
uma ideia estúpida, mas a atenção que recebemos deixou a sociedade bastante
desconfortável.
— Creio que sim.
— Depois desta próxima semana, tudo estará resolvido.
— Você vai achá-la encantadora. — Nicholas mudou de posição novamente,
como se não conseguisse se sentir confortável.
Idiota teimoso.
— Eu imagino que sim. — Derek tomou um gole causal de seu copo.
Nicholas abriu a boca para dizer algo mais, mas fechou-a e permaneceu em
silêncio. Tamborilou os dedos na mesa em um gesto inquieto, e depois parou
também, como se percebesse que o movimento traía seus sentimentos.
Uma objeção? Um pedido para cancelar tudo? Derek podia compreender a
guerra interior que Nicholas travava consigo mesmo. Era uma equação simples.
Se Nick cancelasse a aposta, seria uma declaração de seus sentimentos mais
profundos por Caroline Wynn.
Satisfeito que tudo tivesse corrido de acordo com o plano, Derek ficou de pé.
— Só pensei em aparecer e avisar que fizemos nossos preparativos. Vocês
dois voltaram há quase duas semanas, certo?
— Onze dias. — Nicholas percebeu a precisão de sua resposta. — Mais ou
menos — emendou.
Derek mal conseguiu reprimir uma risada. Não que gostasse da tortura que
seu amigo estava infligindo a si mesmo, mas sentia empatia por saber que
Nicholas nunca ficaria em paz até que chegasse à conclusão sozinho.
— Então, suponho que veremos o que a moça terá a dizer quando tudo isso
acabar.
A intenção era mergulhar a adaga mais profundamente.
— Suponho que sim.
— É melhor tomar cuidado, Nick, ela vai se esquecer de você na primeira
noite.
Seu amigo nem sequer piscou. Mas também não lançou suas rápidas réplicas
habituais. Derek saiu, refletindo que pelo menos as sementes tinham sido
plantadas. A questão era: dariam frutos?
E LE PARECIA MAGNÍFICO .
Surpreendentemente, um pouco desalinhado, irritado, mas, ainda assim, o
brilho em seus belos olhos escuros era o que ela reconhecia com uma clareza
vívida.
Desejo.
O escandalosamente delicioso duque de Rothay a queria.
Era demais esperar que este desejo não tivesse sido a única coisa que o
levara até ali?
A julgar pela protuberância em suas calças, enquanto ele se livrava de seu
paletó, era difícil ter certeza. Mas, como Lorde Manderville havia apontado, se o
duque diabólico quisesse uma mulher para fins mundanos, ele não precisaria ir
tão longe para encontrá-la.
Mas ele fora.
O risco valera a pena.
Ele propositadamente começou a avançar em sua direção. Caroline tomou
um gole compulsivo de xerez, nunca tirando os olhos de sua silhueta esguia. Ele
era tão alto, tão masculino e poderoso quanto ela se lembrava, e tão intimidador
quanto na última vez em que trocaram olhares em um salão de baile lotado.
Porém ele parou diante de sua cadeira e estendeu a mão em vez de fazer algo
mais presunçoso como arrebatá-la em seus braços.
Só isso. Uma mão estendida.
Era um símbolo do que ela esperava que ele oferecesse. Não apenas prazer
passageiro, mas uma união mais significativa. Nicholas fora de Londres para
impedi-la de cumprir sua oferta de julgamento, e Lorde Manderville saíra, como
planejado, deixando-os em paz. Tudo estava indo bem até aquele momento.
O firme pulsar de seu coração latejava em seu pulso e garganta.
Caroline aceitou a mão, entrelaçando seus dedos nos dele enquanto permitia
que ele a puxasse gentilmente, colocando-a de pé.
— Como disse, eu esperava...
Ela parou, vacilando, sem ter certeza do quanto deveria oferecer. Nicholas
tinha um leve sorriso no rosto. Uma mecha escura de cabelo pairava sobre uma
sobrancelha. Suas calças e botas carregavam poeira da estrada. Ele pegou o copo
de xerez da mão dela e colocou-o de lado.
— Você esperava o quê?
Afinal, qual seria o problema de dizê-lo? Bem, talvez fosse um risco, mas
Nicholas viajara por uma boa distância para interferir e, embora Derek jurasse
que isso aconteceria, ainda assim, a surpreendera e a emocionara.
— Eu esperava que você viesse.
Uma sobrancelha de ébano se ergueu.
— Eu esperava que não — disse ele em um murmúrio baixo antes de
esmagar a boca na dela.
Foi um beijo nada gentil. Foi intenso, exigente, mas, de alguma forma,
generoso. Caroline se inclinou para ele, deixando-o fazer o que queria com a
língua e os lábios, colocando as mãos na lapela do paletó e encostando os contra
o peito dele. Uma vez que o tinha ali, ela podia perdoar até mesmo aquele tom
áspero de voz.
O duque diabólico não era apenas charme naquele momento... e ela adorava
isso. Amava a necessidade ardente em seu abraço, amava a falta de finesse. Ele
era capaz de fascinar de forma planejada e persuasiva, de seduzir
tentadoramente, mas o que acontecia ali era algo totalmente diferente. Suas mãos
percorreram seu corpo, e eles se entregaram.
Uma mecha de ébano roçou sua bochecha. Uma boca quente e exigente
possuía a dela, e Caroline sentiu o comprimento rígido de sua ereção mesmo
através das camadas de suas roupas. Não importava que estivessem em um
quarto pequeno, o céu escuro não tinha significado, todo o seu mundo era um
único homem.
Isso dizia tudo.
Um único homem.
— Nicholas — ela murmurou contra seus lábios.
Ele sussurrou de volta:
— Estou aqui. Que Deus me ajude, mas não pude me afastar.
Sim, ele estava lá. Isso deixava o corpo de Caroline tenso e necessitado.
— Estou feliz.
— Deixe-me demonstrar o quanto quis estar aqui.
Ele a guiou em direção à cama.
Suas mãos eram mágicas. Ela não tinha chance, mas não queria uma. Seu
vestido foi retirado e afastado de seus ombros tão rapidamente que ela mal
percebeu que o tecido escorregava e se acumulava no chão. Chemise, meias e
sapatos foram descartados com a mesma rapidez, e ele a ergueu, depositando seu
corpo nu sobre a colcha.
— Isso sim faz valer a pena ter percorrido todo o caminho de Londres até
aqui — disse ele, enquanto começava a se despir deliberadamente, seu olhar
vagando pelo corpo dela.
Como ela sentira falta daquilo. A evidente audácia em seu olhar e a onda de
excitação profunda revirando seu estômago. Ele tirou a roupa e, por um
momento, ficou parado ali, como se percebesse, com a mesma força frenética de
necessidade, quão importante era o momento para os dois.
Então ele subiu na cama e a tomou em seus braços, pairando totalmente em
cima de Caroline, sua boca reivindicando a dela novamente. Daquela vez o beijo
foi lento e perverso, seu membro ereto entre eles. Caroline se esfregou naquele
longo comprimento, ganhando um pequeno grunhido de aprovação do fundo do
peito dele.
Caroline adorava o modo hábil com que as mãos dele se moviam sobre seu
corpo, a sensação quente da boca em seu pescoço enquanto ela se arqueava em
seu abraço, o cheiro de sua pele. Já estava molhada e receptiva, ansiosa para
senti-lo dentro dela. Foi natural abrir as pernas, um convite que ele não
recusaria. Nicholas apoiou o peso em seus antebraços e aceitou a oferta, seus
joelhos afastando suas coxas um pouco mais, enquanto se preparava para
penetrá-la.
Por um momento ele fez uma pausa, deixando evidente sua hesitação por
conta da tensão em sua forma musculosa.
— Eu nunca sou possessivo.
Não era uma surpresa perceber que ele ainda estivesse tendo problemas para
compreender suas próprias ações.
Caroline olhou para cima, conforme um prazer lânguido assaltava seus
sentidos enquanto a antecipação zumbia através de todas as suas terminações
nervosas.
— Eu sei.
A ponta de sua ereção descansou contra a abertura dela, mas ele não se
mexeu.
— Imaginar você com Derek… Ah, inferno, você com qualquer um... foi
mais do que eu pude suportar. Estava me torturando.
Mais do que quaisquer palavras sentimentais, o olhar sombrio em seu rosto
lindo a fez sorrir. Caroline tocou seu rosto.
— Eu não teria feito nada, de qualquer maneira.
— Por que não? Diga-me.
Ela captou o tom rouco e profundo de sua voz. Que Nicholas Manning, o
amante diabólico de tantas mulheres, com seu carisma suave e experiente, que
era comentado em sussurros por onde quer que ele fosse, estivesse incentivando-
a a fazer algum tipo de declaração primeiro, era comovente e divertido. Ele era
bom em todos os aspectos de fazer amor, mas o amor em si parecia ser algo que
abalava sua serenidade.
Ela também não era boa nisso, mas tentou.
— Eu não posso imaginar estar com ninguém além de você.
— Por que não se deitaria com Derek? Esse era o acordo. As mulheres o
acham infinitamente atraente.
Será que Nicholas − Nicholas − estava verdadeiramente inseguro sobre os
sentimentos dela?
Tal ideia a deixou eufórica.
— O acordo foi antes — ela disse a ele, com um tom calmo e direto.
— Antes do quê? — Seus olhos se estreitaram apenas uma fração. Ela podia
sentir o calor dele, a evidência de seu desejo pressionando sua pele arrepiada, o
ligeiro tremor em seus braços mostrando a quantidade de controle que lhe
custava não completar o ato que ambos queriam tão desesperadamente.
— Antes de você, Nicholas.
— Continue — o tom inquietante exigia alguma coisa. O olhar em seu rosto
dizia que como ele fora atrás dela, Caroline precisava de uma declaração firme
para apoiá-lo.
Caroline nunca dissera eu te amo a ninguém em sua vida, mas também não
achava que tivesse amado alguém antes. Sua mãe, talvez, quando criança, mas
realmente não se lembrava dela. Seu pai, frio, severo e distante, sua tia
indiferente e obediente, e muito menos Edward, que ela detestava, nunca lhe
inspiravam sentimentos calorosos. Nicholas cortejara não apenas seu corpo, mas
também sua alma com seu toque gentil, hábil e um sorriso irresistível.
Fora necessária apenas uma silenciosa dança ao luar no terraço para que ela
se perdesse.
Esforçou-se para dizer a coisa certa.
— Desde que você me tocou... Desde Essex... eu entendi que não poderia ir
adiante. Eu disse a Derek, assim que voltamos, que retirava minha oferta.
— Então isso foi um truque?
A última coisa que queria era que ele se sentisse assim. Ela estendeu a mão e
tocou os lábios dele com a ponta do dedo.
— Não. Eu não sei como chamar, mas não foi assim. Derek especulou que
poderia fazer você rever seus sentimentos se pensasse que eu pretendia ir adiante
com minha parte na aposta.
— Ocorreu a ele que eu não desejava rever meus sentimentos?
Ela não pôde deixar de rir do seu tom de repulsa, mas ainda se sentia
envergonhada quando disse:
— Estou feliz que tenha acontecido, porque... — os quadris dela se
arquearam um pouco para enfatizar o ponto — estamos aqui agora. Assim. Você
se importaria...?
Sua declaração ousada pareceu satisfazê-lo, pois seu sorriso tinha uma
qualidade lupina.
Ele rosnou:
— Eu não me importo de jeito nenhum.
Sua investida foi rápida, impetuosa, forte o suficiente para fazê-la ofegar. Ele
embainhou seu membro rígido inteiro profundamente, e a sensação de felicidade
a fez tremer. Seus olhos se fecharam.
— Sim.
Eles se moveram juntos, em sincronia, seus corpos comunicando o que eles
aparentemente não podiam dizer com palavras. O ritmo era descontrolado,
selvagem, e Caroline se refestelou nas sensações enquanto se elevava em direção
àquele paraíso erótico.
Não, ela não podia se imaginar fazendo algo tão íntimo, tão maravilhoso,
com ninguém além do homem que se movia com ela naquele momento, ambos
buscando... encontrando...
A conclusão foi arrebatadora, o prazer tão agudo que ela sentiu como se o
mundo parasse e o céu caísse. Eles estremeceram juntos, envoltos pela sensação,
exaustos e satisfeitos enquanto se esparramavam em um emaranhado de braços e
pernas, ambos relutantes em falar até mesmo quando suas respirações
começaram a diminuir para um ritmo normal.
Nicholas seguiu o ritmo dela. Mesmo nua em seus braços, seu corpo úmido
após a paixão tempestuosa, uma parte dela ficou atônita com a descrença do que
realmente havia acontecido. Um longo dedo traçou um caminho desde sua
mandíbula e acariciou seu lábio inferior. Olhos escuros a observavam sob o véu
de cílios semicerrados. Nicholas sorriu, mas não era o habitual curvar calculado
e preguiçoso de seus lábios. Em vez disso, parecia quase melancólico, que era
uma palavra que ela jamais teria associado ao duque de Rothay.
— Você ainda está com medo?
Caroline se mexeu, o que exigiu algum esforço, porque ela se sentia
maravilhosamente plena e satisfeita.
— O quê?
— Naquela noite, em sua carruagem, você me disse que estava receosa a
meu respeito.
Ela balançou a cabeça, o cabelo se movendo sobre seus ombros e costas
nuas.
— Eu disse que tinha medo de um escândalo.
— Não tem mais?
Isso significava que ele nunca iria oferecer mais do que o que eles tinham
acabado de compartilhar? Não sabendo como responder, Caroline se aninhou
contra ele, silenciosa, incerta, sentindo sua felicidade desaparecer aos poucos.
— Caroline?
Lentamente, ela admitiu:
— Se sua intenção é me convencer a entrar em um caso com você, espero
que não tenha sido este o motivo que o fez vir até aqui. Aqueles dias que
passamos juntos foram uma revelação para mim. Isso não é um segredo para
você. Ao menos sexualmente. Mas não estou falando apenas dos esclarecimentos
que encontrei em sua cama. Lembra quando estávamos na clareira e fizemos
amor pela primeira vez? Percebo que não fiz o comentário sugestivo que você
desejava, mas lhe contei a verdade. Você é um homem muito bom, Nicholas.
Deixando as armadilhas do título, nascimento, riqueza e habilidade sexual à
parte, você é... você.
Suavemente, ele tocou o queixo dela, forçando seu rosto a se inclinar para
que eles olhassem um para o outro.
— E o que isso significa?
Como ela desejou que pudesse ser indiferente. Mas não podia. Sussurrou,
então:
— Eu me apaixonei por você. Por aquele homem, não pelo duque diabólico,
mas pelo verdadeiro.
T rês dias. Fazia três dias desde que ele retornara a Londres daquela pequena
hospedaria onde deixara Nicholas e Caroline se divertindo imensamente.
Derek, por outro lado, não estava se divertindo nada. Ficar longe da casa do tio
fora uma tortura, mas ele dificilmente queria surgir à sua porta como um abutre
espreitando uma corça logo depois que a dissolução do noivado de Annabel se
tornasse pública, então, ele esperou.
Três dias muito longos.
O crepúsculo surgiu com um propósito insidioso, trazendo depois a
escuridão, e ele continuou sentado, sombrio e incerto. Sua mesa normalmente
organizada, encontrava-se cheia de papéis para os quais ele mal olhara por falta
de capacidade de se concentrar. Um sopro da brisa da noite trazia aromas da rua
e do jardim. O cheiro era uma mistura eclética de fumaça de chaminé e rosas
exageradas.
Era tarde. Talvez ele devesse ir a White ou ao Brook's, sentar-se num canto
com uma garrafa de uísque e…
E o quê? Ficar sentado lá, pensando nela ao invés de fazer o mesmo em
casa? Sim, seria muito produtivo. Um leve som de algo raspando a parede o
despertou de sua abstração, e ele franziu a testa, assustado quando se virou para
olhar para a janela aberta em seu escritório. O farfalhar de tecido lhe avisou que
não estava imaginando coisas, então ele permaneceu sentado, mortificado ao ver
uma perna esbelta deslizar sobre o peitoril.
Ele poderia ter ficado alarmado, mas era muito difícil, se tivesse que
adivinhar, que invasores tivessem pernas tão bem torneadas. Nem usavam
vestidos de noite de seda em tons de marfim. Surpreendido, Derek congelou em
sua cadeira.
Mas seu coração começou a bater mais forte.
Annabel pousou no chão, com uma respiração audivelmente agitada, e então
se endireitou, ajeitando as saias. As cortinas atrás dela se moveram com fluidez,
emoldurando seu corpo esbelto. Como se fosse a coisa mais natural do mundo
que se esgueirasse pela janela de seu escritório, ela disse apenas:
— Eu vi sua luz acesa.
Tardiamente — porque ainda se sentia atordoado —, Derek levantou-se,
quase tombando novamente sobre a cadeira.
— Annie, o que você está fazendo?
Ela estava ali, com seus cabelos dourados e pele de marfim, o queixo
inclinado para cima em um ângulo suave, um olhar desafiador em seus olhos
azuis.
— Não é este o nosso método atual de visitarmos um ao outro?
Ele olhou para trás, perguntando se era algum tipo de alucinação absurda.
— O diabo que é. Se você quiser me visitar — embora senhoritas não
visitem senhores —, venha com um batalhão de acompanhantes e passe pela
porta da frente.
Seu queixo se ergueu um pouco mais.
— Entendo. Um conjunto de regras para você e outro inteiramente diferente
para mim. É perfeitamente aceitável que você rasteje pela janela do meu quarto
quando tiver algo a dizer, mas eu não posso ter a mesma atitude?
Derek passou a mão pelos cabelos.
— Bom Deus, Annie, você sabe que não. Thomas e Margaret sabem que está
aqui?
— Claro que não.
Ele se sentiu empalidecer.
— Por favor, me diga que não veio caminhando.
— Eu não poderia chamar uma carruagem, poderia? Não é longe, e eu não
sou aleijada.
Uma jovem sozinha nas ruas — ele olhou para o relógio e viu que já passava
da meia-noite —, àquela hora, por mais que a vizinhança fosse elegante e quieta,
era imprudente o suficiente para fazê-lo sentir-se fraco.
— Jesus — ele murmurou. — Sua tola.
— Eu preciso falar com você.
Decidida era um termo muito fraco para ela.
— Eu vou te levar em segurança para casa — ele falou asperamente, porque
ainda estava se recuperando do medo pelo risco que ela tinha corrido; não
apenas por sua reputação, mas por sua segurança.
— Não. — Ela respirou, estremecendo, e balançou a cabeça. — Estou
sentindo coragem para fazer isso agora. De manhã posso mudar de ideia. Além
disso, quero avançar e não gastar mais um minuto imersa nessa batalha interna
que parece impossível de resolver. Você não está interessado no que me trouxe
aqui?
Foi a mesma pergunta que ele fez para ela na noite em que se viu
desesperado o suficiente para invadir seu quarto.
Ela lhe dissera não.
Mas não era verdade. Ele pôde perceber pela vulnerabilidade em seus olhos.
Houve bastante mal-entendido entre eles sem acrescentar mais mentiras à
mistura. Derek disse simplesmente:
— Você deve imaginar que estou.
Assim, dada a permissão, ela hesitou, tão linda sob o brilho fraco da
lamparina, a cor marfim de seu vestido fazendo-a parecer mais inocente e jovem
do que nunca. Exceto que era decotado o suficiente para mostrar modestamente
as curvas superiores de seus seios fartos e não havia nada de infantil a respeito
dela. Era uma mulher sedutora em todos os sentidos, incluindo seu espírito
independente.
E era cativante, embora ele não precisasse disso. Já era um cativo.
Ele ajudou-a dizendo:
— Fiquei sabendo.
Ela não tentou fingir que não sabia do que ele estava falando.
— Sim, imagino que todo mundo já deva saber que rompi meu compromisso
com Alfred. Eu me senti péssima fazendo isso, mas não tão terrível quanto lhe
teria feito se nos casássemos. Ele não ficou particularmente surpreso, eu acho,
assim como você previu.
Derek apenas a olhou. Lentamente, ergueu uma sobrancelha.
— Não seja presunçoso — ela alertou.
Teria sido mais eficaz se a voz dela não tivesse falhado. Não muito, apenas
um único engate em seu discurso, mas foi o suficiente.
Para lhe dar esperança.
— Vou tentar não ser — ele murmurou. — Nem estou certo se tenho algum
motivo para ser presunçoso. Tenho? Exceto, talvez, sua chegada e presença não
convencionais aqui a esta hora.
— Eu ainda estou com raiva de você. — Ela não respondeu à pergunta.
— Eu percebi — ele admitiu com humor sombrio. — Nunca paguei tão caro
por um erro.
Ela o olhou com olhos luminosos, a boca tremendo um pouco.
— Eu nem sei por que deveria falar com você. O ano passado tentei
reconciliar o homem que eu achava que conhecia com quem você realmente é, e
não gostei do exercício. Me dê uma razão lógica para confiar em você.
Nenhuma parte dele pensou que seria fácil. Havia certa vantagem, e uma
desvantagem, em conhecer alguém muito bem. Ela amava totalmente, mas sofria
pela traição com a mesma quantidade de paixão. Derek hesitou um pouco e disse
baixinho:
— Annie, entendo que fui insensível e idiota no ano passado. Por favor, não
faço objeção a nenhum dos dois rótulos. Mas, colocando-se no meu lugar, você
não consegue entender que o que estava acontecendo entre nós era proibido e
estranho? Você era tão jovem, e lá estava eu, com essa reputação da qual não
consigo me livrar e que posso ter herdado do meu pai. Vamos adicionar um
interesse imprudente na protegida do meu tio. Senti-me muito pressionado sobre
como agir.
— Então você caiu direto nos braços ansiosos da condessa.
A acusação em seus olhos era inconfundível. Ela ainda sentia raiva.
Mas também estava ali. Fora até ele.
— Eu expliquei por que e me desculpei. — Ele procurou as palavras certas,
algo para aliviar a tensão visível em seus ombros delgados. — Permanência não
era algo que eu já tivesse considerado antes.
— Antes?
A pergunta feita delicadamente o desafiou. Muito bem. Ela precisava ouvir.
Ele forneceu:
— Antes de você.
— Mas considera agora?
— Ajustar-me à ideia de permanência?
— Sim. — Ela engoliu em seco, os músculos ondulando visivelmente em sua
garganta. — Eu preciso de provas.
Bem, aquele não era um requisito fácil de preencher, mas ela merecia pelo
menos o que Hyatt lhe dera e ainda mais. Ele disse com voz rouca:
— Case-se comigo, Annie.
Ela deu um passo em direção a ele, a expressão em seu rosto difícil de
interpretar.
— Você quer que eu me case com você?
— Foi o que acabei de pedir — Derek não podia acreditar que tinha dito
aquilo tão facilmente, abandonando sua liberdade sem hesitação ou
arrependimento. — Sim, quero que você se case comigo. Que seja minha esposa.
— Se está sendo sincero, vamos resolver isso. — Seu rosto sustentava um
olhar determinado, suas sobrancelhas finas apenas ligeiramente arqueadas, seus
lábios fartos comprimidos. — Então, faça-me sua.
Ele ficou imóvel, cada músculo em seu corpo ficando tenso. Atordoado e
abalado, ele olhou para ela.
— O quê?
— Desenvolveu uma deficiência auditiva? — Ela se aproximou, e ele não
deixou de perceber o balanço suave de seus quadris; era provocante, embora ele
não soubesse se Annabel tinha consciência disso ou não. — Me leve para sua
cama. Temos até o amanhecer.
Sem palavras, ele sentiu seu corpo reagir, embora emocionalmente fosse
resistente à sugestão. Depois de um momento, conseguiu falar:
— Não tenho intenção de tratá-la com desonra.
O sorriso de Annabel era inesperadamente provocativo para uma jovem
inexperiente.
— Você é conhecido por ser um dos amantes mais habilidosos da Inglaterra,
correto? Até porque foi o que você colocou à prova diante de toda a sociedade.
Até apostou o que é considerado como uma pequena fortuna nesta reivindicação.
— Eu estava...
— Sim, eu sei — ela interrompeu, olhando para ele, seu semblante coberto
por delicadas sombras e curvas sob a luz bruxuleante. — Você estava
embriagado na época, mas, ainda assim, a ideia deve ter vindo de alguma forte
convicção e quero que prove isso. Para mim.
— Annabel — a reprovação perdeu seu efeito quando seu olhar, contra a
vontade, recaiu sobre os lábios entreabertos. — Não me tente, por favor.
— Por que não?
— Thomas vai pedir a minha cabeça, para começar.
— Não vamos contar a ele. — Ela chegou perto o suficiente para colocar a
mão em seu peito. Através do linho fino de sua camisa, ele pôde sentir a leve
pressão. — Eu quero. Sem dúvidas, sem chance de você mudar de ideia, sem
volta para nenhum de nós. Se há uma coisa que eu sei sobre você é que não
seduz jovens mulheres inocentes. Mesmo quando disse a mim mesma que odiava
você, não contava esse como um dos seus pecados.
Era a mais pura verdade.
— Então — ela continuou, como se o que estava sugerindo fosse lógico e
fizesse perfeito sentido —, se você fizer isso... se você me comprometer, saberei
que suas intenções são genuínas.
— São genuínas — ele protestou, sem saber como proceder, porque receber
uma proposta sexual de uma jovem normalmente comportada estava fora dos
limites de suas experiências. Sua dúvida era insultante até certo ponto, mas ele
também não lhe dera muitos motivos para confiar nele.
— Então você concorda?
— Podemos esperar até a nossa noite de núpcias. — O desespero de agir
como um cavalheiro competia com seu pênis inchado. Ela estava tão perto, tão
tentadora, o foco de todos os seus desejos...
— Eu não quero esperar. Isso é importante para mim.
A convicção em sua voz o desfez. Maldito inferno, o que ele deveria fazer?
Candidatar-se à santidade? A mulher que ele queria mais que tudo na terra pedia
que ele a levasse para cama. Além disso, uma voz traidora sussurrava em seu
cérebro de que havia bastante fofoca sobre o rompimento de seu noivado, então,
não poderiam formalizar seu relacionamento imediatamente sem que os
sussurros aumentassem em proporções ensurdecedoras, por isso, um casamento
rápido e discreto estava fora de questão.
Derek tentou mais uma vez.
— Eu vou te levar para casa.
— Não. Você alega que me ama. Prove. — A boca de Annabel estremeceu.
Não muito, mas o suficiente para que ele notasse.
Ele disse com a voz embargada:
— Não é uma alegação. Eu a amo.
— Então me beije.
Ele queria tocá-la, beijar aqueles lábios rosados e suaves, segurá-la contra ele
e fazê-la imaginar tudo que poderia fazer com ela.
O que ele faria. Sabia como dar prazer a uma mulher, como provocar aqueles
suspiros e movimentos sutis, como levá-la à beira do êxtase e lançá-la ao abismo
no momento exato.
Annabel o olhou, tão bonita que fez sua respiração ficar presa na garganta.
— Você entende o quanto isso é importante para mim? — Sua voz estava
baixa, seus olhos embaçados.
— No ano passado — ele lhe informou, um pouco à flor da pele — eu passei
a entender muito sobre amor platônico, Annie.
— Mostre-me. Acho que entendo também.
Ele não aguentou. O desejo de tocá-la era intenso. Assim como o brilho azul
nos olhos dela. Derek a segurou contra ele. Deslizou os polegares pelas laterais
de suas faces, agora úmidas de lágrimas traidoras, encostando seus lábios sobre
as sobrancelhas dela.
— Deixe-me definir para você. Podemos comparar sentimentos. É tortura,
mas também é a maior felicidade. É mágoa, mas também alegria. É maravilha e
desespero ao mesmo tempo. Eu estou perto?
Um aceno de cabeça, quase imperceptível, moveu-se contra o calor de suas
mãos.
— Annie.
Ele baixou a boca.
— Sim.
Seus lábios se encontraram, tocaram, separaram-se e encontraram-se
novamente. Apesar de todas as legiões de mulheres, através de todos os
relacionamentos despreocupados e momentos roubados em quartos proibidos,
ele nunca se sentira daquela forma. Nunca experimentara tal ternura, tal
necessidade angustiante, tal desejo doloroso.
Normalmente, ele se orgulhava de sua delicadeza, e isso era de conhecimento
público, mas quando Annabel se movimentou contra ele, com seu corpo esguio e
trêmulo, ele perdeu todo o sentido real do que estava fazendo. Tudo no que
conseguia pensar era o quão quente e macia era sua boca contra a dele, como o
movimento tímido e delicado de sua língua enviava uma onda de puro desejo
direto para sua virilha, em como ela tinha gosto de céu.
O planeta poderia ter parado de girar em seu eixo, cada pássaro na terra se
calado, os oceanos se esvaído, mas nada disso faria seu mundo mudar tanto.
Ele prolongou o momento, provando, provocando, sussurrando o nome dela
em seu ouvido, segurando-a contra ele com a mão firme na parte mais baixa de
suas costas.
Mas, finalmente, não pôde mais se conter, precisou levantar a cabeça e
observá-la. Olhar nos olhos dela, esperando, rezando para ver a mesma luz
brilhante que estivera lá há um ano, antes de esta desaparecer e destruí-lo.
Prólogo
1 Creso, último rei da Lídia, foi famoso pela sua riqueza, a qual foi atribuída à exploração das areias
auríferas do Pactolo, rio afluente do Hermo onde, segundo a lenda, se banhara o Rei Midas.
2 Clube de cavalheiros mais exclusivo de Londres durante a regência.