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©MADISON DAVIS
A falsa prometida do Duque
Título original: La falsa prometida del duque
Tradução: Vanessa Rodrigues Thiago
Revisão de tradução: Rosângela Mazurok Vieira
Publicaciones Ricardo, 2023
 
Todos os direitos reservados.
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SINOPSE

Realizarias os teus sonhos se para isso tivesses que partir

o coração da tua irmã gémea?

Evelyn esteve secretamente apaixonada pelo Duque de


Stanford durante anos. Quando ele termina o compromisso com sua
irmã gêmea Elizabeth, mais elegante e prestativa, Evelyn deve

deixar de lado seus sentimentos e anseios e aceitar a decisão de


sua família.

No entanto, mesmo antes do início da cerimónia do

casamento, Elizabeth muda de ideias e é Evelyn que termina


casada com o duque.

Lorde James Harley, Duque de Stanford, aceita um casamento

imposto pela mãe, mesmo que não seja forjado no amor. Para sua
surpresa, logo começará a sentir um profundo sentimento por sua

esposa, ao descobrir sua vitalidade e seu espírito apaixonado.

 
Poderá Evelyn manter em segredo sua verdadeira

identidade quando a paixão começar a florescer entre eles?

 
Índice
 
 

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

Próximo livro da autora

Extrato

Capítulo 1

Capítulo 2
Capítulo 3

Capítulo 4
 
Capítulo 1
 

Centenas de velas iluminavam o magnífico salão de baile, dando a

sensação de um céu repleto de estrelas que brilhavam só para eles.


A espiral da música parecia tão distante que, se houvesse outras
pessoas ao redor, ela não poderia vê-las por causa da beleza do
homem que a abraçava.

Sua risada fez sua pele arrepiar e cortar sua respiração. A

emoção de seus calorosos olhos castanhos sobre ela fez seu pulso
disparar em seus ouvidos.

Podia sentir a pressão de suas mãos em sua cintura mesmo

através de seu vestido. O calor de seu toque era abrasador,

deixando-a formigando onde quer que suas mãos a roçassem. Seus


lábios se separaram e ela tentou dizer uma palavra, mas não

conseguiu.

Sua Graça, o Duque de Stanford, lhe sorriu enquanto

dançavam. Evelyn podia sentir o calor emitido pelas velas na sala


fechada. Mas acima de tudo, podia sentir o calor emanando de seu

interior, queimando cada fibra de seu corpo.

Fazia tanto tempo que queria ficar perto do duque, sempre o

observando de longe, mas nunca falando com ele, que não podia

acreditar que agora estava em seus braços. Quantas vezes ela o


tinha visto em eventos sociais e nunca havia se aproximado dele?

Sua respiração finalmente escapou de seus lábios, as palavras se

libertaram e ela foi capaz de falar.

— Eu pensei que o senhor não me conhecesse.

O duque se voltou ligeiramente para ela, seu corpo alto e

musculoso se inclinando para que ela, em sua altura delicada,


pudesse ouvir o sussurro de sua voz.

— Eu sempre a notei.

Cheirava a segredos, que ela faria qualquer coisa para

descobrir. Evelyn se aproximou dele com abandono impotente.

Tinha certeza de que iria beijá-la, mas seus olhos piscaram um

momento depois, quebrando o feitiço.

Evelyn gemeu com a sensação de perda. A batida na porta

que a acordou cessou quando Agnes entrou no quarto.


— Está acordada? Sua mãe e seu pai estão esperando para o
café da manhã. Eles têm um anúncio a fazer e insistem para que

chegue na hora.

Os lábios de Agnes se franziram em uma linha enquanto ela


olhava para Evelyn. Por um momento, pensou em fingir que estava

morta, mas as chances disso funcionar eram mínimas. Com um

suspiro, sentou-se.

— Estou acordada. Estou acordada.

Espreguiçou-se como se isso a fizesse perder o sono. Agnes

foi até as roupas de Evelyn, que haviam sido arrumadas na noite

anterior.

— Vá se lavar e tente não demorar muito. Sabe como seu pai

fica impaciente pela manhã.

Evelyn deslizou para fora da cama e foi até a bacia de água

quente, recém preparada por Agnes, que a esperava. O sono fazia

suas pernas parecerem inúteis e seu corpo pesado. O primeiro

respingo de água em seu rosto a fez se sentir muito melhor.

— Você sabe sobre o que querem falar, Agnes?

Agnes encolheu os ombros como se não estivesse tão

preocupada com o que seus senhores estavam fazendo.


— Sabe que não, senhorita.

Evelyn suspirou e caminhou até onde Agnes, a jovem criada,

estava esperando.

O vestido azul marinho estava coberto por um avental branco

que Evelyn sabia que muitas vezes continha doces que a avó de
Agnes fazia. A garota estava a serviço de Evelyn desde que ela

tinha idade suficiente para ter uma criada. As duas praticamente


cresceram juntas, fazendo de Agnes uma das melhores amigas de

Evelyn.

Agnes colocou as mãos nos quadris enquanto esperava que


sua senhora se acalmasse e parasse de se mover. Enquanto isso,

Evelyn olhava para os cabelos loiros da jovem criada, que sem


dúvida eram mais bonitos para Evelyn do que seus próprios fios
castanhos. Era uma pena que Agnes tinha que cobrir aqueles

cachos com a touca de babados que fazia parte de seu uniforme na


propriedade.

Evelyn se entregou aos cuidados de Agnes, que rapidamente a

vestiu. Os dedos ágeis dela amarraram e domaram a silhueta de


Evelyn nos limites do espartilho. As amplas curvas nem sempre

eram as mais fáceis de controlar, e seu cabelo era mais uma


batalha, mas Agnes sempre insistia que o cabelo ruivo de Evelyn

era adorável.

Quando Agnes terminou seu trabalho, ela recuou para admirar


o que havia realizado.

— Pronto —  sorriu para Evelyn. — Tente não demorar, Evie.

Evelyn sorriu de volta com o apelido de infância.

— Eu prometo que vou descer logo. Só preciso encontrar

minhas maneiras. Acho que as deixei aqui em algum lugar.

Agnes reprimiu uma risada enquanto deixava Evelyn organizar


seus pensamentos. Quando a criada saiu, o quarto se encheu de

um silêncio que tomou conta de Evelyn. Seu sonho flutuava nas


bordas de sua mente.

Evelyn admirou-se no espelho pendurado acima de sua


cômoda. Jogou os ombros para trás e endireitou a coluna. Imitando
a voz de sua mãe, Evelyn entoou:

— Não dobre as costas como um fazendeiro sem educação.


Você é filha do conde Barney de Southaven.

Deixou caírem os ombros. Ela mostrou a língua para seu


reflexo para deixá-lo saber que lady Evelyn Barney não recebia
ordens de ninguém, incluindo ela mesma. Passando uma mão
cautelosa por suas mechas ruivas, Evelyn suspirou quando as
ondas de seu cabelo escaparam dos grampos que Agnes havia

colocado para conter sua espessura.

Evelyn deixou seus cabelos caírem soltos. Admirou sua


tenacidade. Suspirando, levantou-se, pois não havia necessidade de

adiar a tortura que a esperava.

Na sala de jantar, sua família já a esperava. Estavam todos lá,

na hora certa e sem dúvida julgando Evelyn por fazê-los esperar.


Evelyn acenou com a cabeça para a mãe e o pai enquanto se

sentava ao lado da irmã.

Embora Evelyn e Elizabeth fossem gêmeas idênticas, não


poderiam ser mais diferentes. Sua constituição, cor e altura eram
enganos flagrantes porque, no fundo, Evelyn sabia que eram como

fogo e água. Elizabeth deu a Evelyn um pequeno sorriso, uma


torção sutil em sua boca que a fazia parecer tão recatada.

Elizabeth era a boa filha. Sempre estudou bem suas lições e

lembrava-se de se comportar adequadamente. Sempre havia um


sorriso pacífico nos lábios da irmã que Evelyn não conseguia

entender.
Evelyn acreditava em diversão e costumava pregar peças em
sua irmã educada. Elizabeth poderia ser obediente o quanto
quisesse, mas Evelyn escolheu viver. Sempre parecia que Elizabeth

estava apenas esperando permissão para respirar.

Seu pai, o conde Barney de Southaven, uma figura imponente


com um temperamento explosivo, observava suas filhas enquanto

tomava sua xícara de chá matinal. Evelyn suspeitava que seu pai

adicionava uma boa dose de seu uísque favorito à bebida, mas ela
nunca o viu fazer isso. A voz do conde ecoou pela sala de jantar.

  — Minhas queridas filhas, sua mãe e eu temos boas notícias!

Apesar disso, Evelyn viu-se ligeiramente inclinada para a


frente, pela emoção. O que seus pais planejaram para elas? Seria

finalmente esta viagem à casa ancestral de sua mãe que Evelyn

tanto insistira?

O conde olhou para sua esposa com um calor que Evelyn não

dava valor. Todos os pais não eram assim? Lady Barney retribuiu o
sorriso de seu marido antes de gesticular para que ele continuasse.

O conde Barney bateu palmas com as mãos do tamanho de

um urso enquanto olhava para as filhas.


— Como vocês duas sabem, estão em idade de casar.

Elizabeth sendo a mais velha...

— Por apenas alguns minutos — Evelyn interrompeu, batendo


a palma da mão contra a mesa.

O peito de lady Barney arfou com um suspiro ao som de


Evelyn.

— Essa sua impetuosidade é exatamente o motivo pelo qual

escolhemos um bom par para Elizabeth em primeiro lugar.

Evelyn quis protestar, mas se conteve. O olhar de sua mãe

dizia exatamente o que aconteceria se ela não cuidasse de suas

maneiras. Elizabeth, por sua vez, permaneceu muito quieta, como


se estivesse prendendo a respiração novamente, esperando

permissão para expirar.

O pai pigarreou enquanto ajustava o colete.

— Como eu estava dizendo, Elizabeth, sua mãe e eu

acreditamos que encontramos o marido perfeito para você. É o lorde

Harley, o duque de Stanford.

Evelyn abriu a boca e tornou a fechá-la, como um peixe


lutando para engolir água. Queria gritar. Em sua mente, ela jogou o

guardanapo no chão, respingando no azulejo delicado, gritando


como aquela escolha parecia injusta. Na verdade, ela apenas ficou

sentada ali, impotente.

Elizabeth, por sua vez, não disse nada que Evelyn pudesse

ouvir. Ela só viu a cabeça de sua irmã balançar para cima e para

baixo em sinal de aceitação pelas palavras que seu pai havia falado.
Por que Elizabeth não estava feliz? Não sabia que o duque era o

homem mais bonito de Londres, ou melhor, de toda a Inglaterra?

Seu pai e sua mãe olharam para Evelyn com expectativa. Ela

se virou para a irmã. Só então Evelyn se sentiu culpada. Não

deveria estar feliz por sua irmã?

— Isso é maravilhoso para você, Elizabeth. Farei tudo o que


puder para ajudar nos preparativos. — As palavras eram difíceis de

dizer, mas Evelyn se sentiu melhor depois falar.

Elizabeth deu-lhe outro pequeno sorriso.

— Obrigada, Eve. Agradeço a sua ajuda.

Evelyn ficou em silêncio enquanto Elizabeth e sua mãe


discutiam o casamento arranjado. Olhando para o prato de frutas

diante dela, sua mente voltou para a última vez que vira o duque.

Ela e Elizabeth foram a um baile na propriedade de um senhor cujo


nome Evelyn mal conseguia pronunciar.
Ela se lembrava muito bem, porque tinha visto o duque a

poucos metros de distância. Ele era tão bonito... Ingenuamente, ela


deu seu coração a ele.

Lady Foreman, filha do conde de Mowbray, estava com ele

naquela noite. Evelyn ainda podia sentir o fogo dentro dela pelo

modo como lady Foreman se inclinara para o duque. Passou as

mãos pelo braço dele da maneira mais obscena, com os lábios


entreabertos e fazendo gestos convidativos.

Evelyn observou com grande alegria como o duque rejeitou

seus avanços. Era dela, e como lady Foreman se atrevia a tentar tal

coisa com seu duque? Suas palavras para a mulher alcançaram

Evelyn enquanto ela tentava parecer interessada na bainha de seu


vestido.

— Lady Foreman, acho que devo lhe dizer que não estou, e

nunca estarei, interessado em um casamento entre nós.

Se as palavras do homem foram frias, a maneira como ele se

afastou de lady Foreman foi de desprezo selvagem. Evelyn teria se

voltado contra um homem tão bruto se não fosse pelo que ela ouviu
o duque conversando com seu amigo após o incidente com lady

Foreman naquela noite.


Ela se aproximou para ouvir enquanto tomava uma limonada

como refresco.

— Eu não gosto de ter que fazer isso, Harry, mas acho que é

necessário. A honestidade está acima de qualquer reprovação. —A

voz do duque era profunda e suave como o mel que levava seu
nome.

O Harry com quem ele estava falando era Harry Steel, conde
de Ranson. Evelyn foi brevemente apresentada ao homem e o

achou uma pessoa adorável. Lorde Steel enfiou os polegares no

casaco e continuou falando.

— Não é a honestidade que está em questão, amigo. Mas seu

comportamento deplorável com uma dama.

— A verdade é que me perdoe por ser muito duro com ela,


mas prefiro isso a deixar uma pitada de incerteza sobre o assunto.

— O duque respirou fundo como se estivesse pesando sua própria

culpa.

Evelyn soube mais tarde que lady Foreman estava com o


coração tão partido que desistiu dos dois bailes seguintes por causa

da dor que ele lhe causou. Por mais que tentasse, Evelyn não
conseguia sentir muita simpatia pela mulher que considerava uma

rival.

No entanto, ali estava ela agora. Sua própria irmã não era
apenas sua rival, mas a vencedora das afeições do duque. Claro,

Evelyn sabia por que ela acabou nessa posição. Elizabeth podia se

parecer com ela, mas era uma dama impecável, enquanto Evelyn

correria de camisola se sua mãe permitisse.

Todas aquelas lições que Evelyn falhou em aprender voltaram

para assombrá-la, como sua mãe e as governantas costumavam


fazer. Ela não sabia a maneira correta de se curvar se o homem

fosse um conde menor ou um primo do próprio rei. No entanto,

Elizabeth sabia. Elizabeth sabia como se comportar, como falar, e


Evelyn era apenas uma selvagem comparada a ela.

Harry apareceu diante da mesa de James Harley, duque de


Stanford, furtivamente e sem nem mesmo bater na porta.

Felizmente para o intrépido Harry, James era seu melhor amigo

desde a infância então só recebeu uma pequena repreensão.


— Pelo amor de Deus, Harry, tem que se aproximar de mim
tão silenciosamente?

— Não proteste, amigo, bati na porta, mas você devia estar tão

absorto em seus papéis que não me ouviu.

Harry se deixou cair em uma das poltronas de couro em frente

à mesa de James. Ele se sentia confortável em sua presença,

vendo-o mais como um irmão do que como um duque. Um sorriso


se espalhou no rosto de Harry, que o conhecia bem e sabia que

estava sendo importunado.

James não precisava ouvir as palavras para saber o que Harry

estava prestes a dizer. O conhecia muito bem e era uma das poucas

pessoas que conseguiam chamá-lo pelo nome, esquecendo-se do


título.

— Vá em frente, então, e me diga que idiota eu sou.

— Idiota? Não. Não o considero um tolo, por isso vim assim

que soube da notícia. O que eu espero é que você não tenha


enlouquecido. — Harry arqueou uma sobrancelha, esperando que
James se defendesse.

James deixou a pena sobre a mesa e olhou para o amigo com


firme tolerância.
— Meu cérebro é bastante saudável. Eu simplesmente cansei
de tudo isso.

— Meu amigo, que vive para o romance, acabou de dizer que


está cansado de tudo isso? Não acredito. — Harry se inclinou como

se estivesse ansioso e sussurrou: — Foi sua mãe?

A suposição de Harry não estava errada, pois na verdade sua

mãe estava insistindo ultimamente. O ducado precisava de


herdeiros e, no final, os casamentos arranjados eram seguros. Ou
pelo menos era o que lhe repetiram dia após dia, até que James

finalmente desistiu e se deixou convencer.

— Não me atrevo a repetir tudo o que minha mãe


repetidamente me reiterou, porque suponho que a sua tenha feito o
mesmo. O casamento é um meio para um fim, Harry.

— Se acreditasse nisso, então teria compartilhado essa

felicidade conjugal com lady Foreman — Harry o lembrou.

James soltou um suspiro como se pudesse afastar o nome da


dama.

— Eu quero uma esposa, não uma amante. Lady Foreman se


comporta mais como uma concubina do que como uma nobre

aspirante a duquesa. Estou dizendo, não só pelo comportamento


inadequado dela comigo, mas pela certeza dos homens que
estiveram a sós com ela durante alguma festa.

O rosto de Harry se contorceu em desaprovação.

— Eu não sabia isso dela.

— Nem você nem quase ninguém do nosso meio social, mas


posso garantir que ela parece mais uma gata no cio do que uma

dama.

Depois de ouvi-lo, Harry tentou conter o riso. Para fazer isso,


ele mordeu a língua e ficou vermelho, até que James, olhando para
ele e vendo sua cara engraçada, riu com vontade. Isso finalmente

fez seu amigo também cair na gargalhada, batendo no braço da


cadeira de couro.

— O que está feito está feito, Harry.

James estava em paz com sua decisão na maior parte do


tempo. Ele tinha visto Elizabeth Barney, e a mulher era uma grande
beleza. Ela se comportava com a graça de uma rainha. Embora

tivessem tido uma apresentação formal muito breve, ele a conhecia


o suficiente para não franzir a testa ante a graciosa sugestão de
casamento de sua mãe.
Harry fez um barulho com a garganta como se estivesse
engasgando.

— Espero que não se arrependa da sua decisão.

— Falando em decisões, e você, amigo? — James ficou feliz


em desviar a conversa de seu casamento iminente para que suas

reservas não viessem à tona.

Harry estremeceu com as palavras dele e passou as mãos


pelos cabelos rebeldes. O cabelo de Harry sempre parecia ter

vontade própria, o que combinava muito bem com a personalidade


de seu dono.

— Gostaria de não pensar em casamento, porque isso


significa que não alcançarei meus objetivos de ver o mundo

primeiro. Sabe que vai ser impossível para mim viajar quando as
crianças aparecerem e tudo mais.

— Crianças não passam pelo altar, Harry — James lembrou


seu amigo com um sorriso. — Talvez você deva procurar uma dama

que também tenha seus fascínios.

Os olhos de Harry rolaram de tal forma que James pensou que

ele estava prestes a cair no chão.

— As jovens só falam de filhos e da família.


— Bem, isso é o que a maioria quer. Não é culpa delas se

aprenderam desde muito jovens que esse deve ser seu único
objetivo na vida. — James franziu a testa para suas próprias
palavras. — Eu só quero uma esposa que me ame, ou tente me

amar. Alguém cheio de vida e risos. Meu maior medo é que


Elizabeth não seja nenhuma dessas coisas.

A simpatia floresceu no rosto de Harry.

— Acho normal você ter essas reservas quando mal conhece


sua noiva e a data do casamento está tão próxima. Ainda assim, é
como um poema épico, não é? Você só viu a jovem lady de longe.

— Se acha que trazer lorde Byron para isso vai me fazer sentir
melhor, então está errado. — James puxou a gravata que de
repente parecia estar o sufocando.

Harry abriu um sorriso.

— Fico feliz em ver que você não é tão complacente com todo

esse negócio de casamento quanto parece. Isso mostra que tem o


cérebro no crânio.

James soltou um grande suspiro. Era inútil tentar fingir na


frente de Harry. Seu amigo acabaria descobrindo, e já era cansativo
o suficiente ter que fazer isso por todos os outros.
— Barney, você disse? — A testa de Harry franziu. — Fui
apresentado, ainda que brevemente, a lady Evelyn Barney.

James riu.

— É a irmã dela. Parece que são gêmeas.

— Oh, meu Deus — Harry riu. — Espero que não as confunda,


querido amigo. — Ele olhou para o amigo de lado. Por que me
preocupo em lhe dizer alguma coisa?

— Provavelmente porque eu sou o único que tolera suas

bobagens — Harry respondeu. — Vamos tomar uma bebida


enquanto discutimos esses assuntos terríveis?

James guardou o papel no qual estava trabalhando.

— Talvez a água seja mais adequada para você.

Harry gaguejou.

— Você é um patife vil para dizer uma coisa dessas para mim.
— Ele sorriu e se levantou para servir as bebidas. — Então, quando

você e a sortuda vão se casar?

Ele ouviu o tilintar de copos quando Harry os trouxe para sua

mesa. A mão de Harry segurando um copo de conhaque apareceu


na frente de seu rosto. James pegou o conhaque com um suspiro.
— Um mês e uma semana foi o combinado. Aparentemente,
as senhoras têm que se preparar muito mais arduamente para o

casamento do que os homens.

— Elas têm que costurar o vestido e tudo mais que usam por
baixo — Harry sugeriu. Ele girou seu copo de conhaque enquanto
se movia para o lado da mesa de James.

Ele olhou para o amigo.

— A propósito, como está sua mãe?

— Está deixando a criadagem louca. — Harry sorriu. — Ouso


dizer que ela expulsou meu padrasto de casa.

James bufou, divertido.

— Está falando sério? Com certeza não é tão ruim. O que o


médico disse?

— Oh, ela apenas torceu o tornozelo. No entanto, aposto que

vai tirar o máximo proveito disso.

Harry assentiu lentamente, seus olhos se estreitando como se


estivesse pensando profundamente sobre isso.

Harry apontou um dedo para James como se fosse acusá-lo


de algum grande erro.
— Então, quando posso conhecer formalmente essa sua
garota?

— Depois do casamento — James respondeu com humor. —


Eu tenho que providenciar a licença de casamento amanhã. Está
livre para me encontrar no clube para almoçar?

A promessa de uma bebida no clube aguçou os ouvidos de


Harry, embora o homem já estivesse bebendo um conhaque.

— Nunca desprezei uma bebida e um assado, e não quero

começar agora. — A cabeça de Harry se inclinou para frente e ele


ergueu o copo como se estivesse abençoando James com um
brinde.

— Oh, sente-se, antes de derramar o conhaque como você fez

uma vez. As empregadas tiveram um trabalho terrível para limpar.


— James fez um gesto para que seu amigo tomasse seu assento
original, para o qual o homem se virou com um sorriso no rosto.

— Eu não quis fazer as garotas trabalharem tanto. O copo

estava molhado e escorregou dos meus dedos.

— Acho que era mais porque seus dedos estavam

desajeitados por causa da bebida — rebateu James.


Harry fez uma pausa, considerando as palavras, e examinou o

copo que estava segurando agora como se fosse aquele copo


ofensivo.

— Isso também pode ser verdade. Vamos deixar no campo do


mistério e não nos aprofundar nele.

James pegou a pena novamente com um sorriso. Harry


sempre gostou de beber, mas na maioria das vezes era um homem

sensato que sabia como manter o gosto pela bebida sob controle.

Cresceram juntos como amigos, mas se tornaram verdadeiros


aliados no internato. Harry era um cara legal e dava bons conselhos,

a menos que fosse uma questão de amor.

— Você está escrevendo para aquele fanfarrão do George? —


Harry tinha uma forte antipatia por lorde George Hyrst, conde de
Salisbar, decorrente principalmente de uma rivalidade infantil entre

eles.

James assentiu enquanto escrevia.

— Sim. Sério, Harry, ele amadureceu e você também deveria.

Acho que está na hora de deixar sua animosidade por aquele


homem para trás.
— Crescer e esquecer que aquele canalha tentou explodir
minha cabeça é outra coisa, amigo — Harry zombou.

Os lábios de James se contraíram, embora ele tentasse se


conter contra a linguagem obscena de Harry.

— Vamos, Harry, fomos todos cúmplices nessa batalha. Era


um jogo, e não tinha muita mira.

— Ele mirou bem o suficiente para me assustar — Harry

reclamou, esfregando a pequena marca quase invisível em seu


couro cabeludo.

James terminou a carta e dobrou-a cuidadosamente.

— Cicatrizes criam boas histórias e bravos heróis. Você

deveria ser grato por não ter que ir para a guerra para vencer uma.

James podia ver pelo olhar de Harry enquanto ele levava o

copo aos lábios que nenhuma palavra iria fazê-lo mudar de ideia.
Com um encolher de ombros, James pegou um envelope da gaveta
de sua escrivaninha e um pouco de lacre.

— O fato é que o homem tem boa reputação e preciso de seus

navios.

— Acordos com o diabo... — Harry murmurou.


Seus ombros se ergueram em um encolher de ombros
impotente.

— Ele tem sido honesto em seus negócios comigo, e isso é

tudo que eu realmente peço.


Capítulo 2
 

A semana que se seguiu ao anúncio de seu noivado e de seu

iminente casamento com o duque de Stanford não passou de uma


massa de emoções com as quais Elizabeth não conseguiu lidar e
manter a compostura. Evelyn cumpriu sua promessa e ficou ao seu
lado, sempre pronta para ajudar ou dar uma palavra de conforto. No

entanto, Elizabeth achou que o melhor era calar todas as dúvidas


que tinha.

De que adiantaria dizê-las em voz alta? Só daria um nome ao

medo. Queria que Evelyn visse como era importante ser fiel e
adequada à sua criação, mas gostaria de poder ser como ela.

Ser livre para ser ela mesma e realmente explorar o mundo era
tudo o que Elizabeth queria. Havia sido obediente e aprendido tudo

o que lhe foi dito, mas casar com um completo estranho a estava

levando longe demais. No entanto, tinha que fazer o que seus pais
lhe pediam.
— Devemos levar nossas criadas e dar uma olhada nos

tecidos — disse Evelyn com voz emocionada.

Elizabeth olhou para a irmã. Não esperava que Evelyn

estivesse tão envolvida no casamento e realmente animada por ela.

— Acho que deveríamos. Leva tempo para escolher as coisas

e para que as embalem, mas não sinto que posso fazer isso hoje.
Nos últimos dias, pedimos as flores e provamos os bolos. Oh, Evie,

não aguento mais nada hoje.

Sentaram-se no jardim, o sol atravessando o teto do mirante

onde descansavam preguiçosamente. Evelyn franziu a testa.

— Normalmente, o que mais empolga a noiva é o vestido.

— Não sou como a maioria das noivas e estou cansada. —


Elizabeth deu de ombros ligeiramente. Relaxou contra os assentos

de madeira, as almofadas macias que as empregadas colocaram ao

seu redor para conforto, tornando o lugar muito agradável.

Evelyn balançou os pés no ar enquanto olhava para Elizabeth.

— Você acha que o duque virá visitá-la?

Elizabeth balançou a cabeça, seus cabelos cuidadosamente

domados balançando em ondas contra sua testa.


— É possível, mas não espero. Mamãe disse que ele é um
homem ocupado.

— Imagino que um homem em sua posição tenha muito o que

fazer. —Evelyn não parecia tão preocupada com isso.

Elizabeth olhou seus próprios pés, tão parecidos com os de


Evelyn, mas vestidos com suaves botas, em lugar das sapatilhas

com as que Evie era tão propensa a brincar como se fosse um

espírito da natureza que só pretendia estar enjaulada em forma

humana.

— Acho que você está certa.

— Você está desapontada por não ter conversado muito com

ele antes do casamento? — Evelyn se inclinou para a frente

enquanto falava, com as mãos no assento de madeira ao lado dela,

como se esperasse para se lançar no ar.

Elizabeth franziu o cenho.

— Eu não acho que realmente importa se eu o conheço ou

não. Ele vai ser meu marido mesmo assim.

— Você deveria parecer mais feliz. Está se deixando levar

pelos seus nervos, Elizabeth. — Evelyn sorriu para a irmã. — Em


breve você estará nos braços do duque, e tenho certeza de que isso

a fará sorrir novamente.

Apesar de suas dúvidas, Elizabeth sorriu para sua irmã.

— Você faz parecer um daqueles romances de que nossa

preceptora, tanto gostava, Evie.

Evelyn sorriu.

— Você se lembra dos galantes malandros daqueles

romances?

Elizabeth negou com a cabeça.

— Lembro que tivemos problemas por ler esses romances

quando mamãe descobriu. Ela repreendeu severamente a Srta.


Peterson por isso.

— O romance vale todos os riscos — Evelyn assegurou a

Elizabeth com um sorriso ousado. — Honestamente, você deveria


saber.

Elizabeth zombou, abanando-se enquanto o calor do dia

deixava seu vestido de cetim um pouco desconfortável.

— Besteira. Você sempre teve que ser mantida longe dos


livros de poesia. Uma dama deve ser prática, foi uma das primeiras
coisas que nos ensinaram.

— E aqui estamos. — Evelyn sorriu. — Damas práticas,


razoáveis ​e encantadoras... discutindo seu casamento. O amor não
precisa ser proibido nessa conversa.

Com um aceno de mão para afastar a conversa iminente sobre


o amor romântico de Evelyn, Elizabeth respondeu:

— Existem muitas variedades de amor, querida irmã. Só

espero alcançar a calidez do respeito e da adoração.

— Você mira muito baixo, irmã. —Evelyn cruzou os braços


com um olhar de desaprovação. —Vai se casar com o duque de

Stanford e só quer isso?

Elizabeth revirou os olhos. Ela tinha ouvido todas as histórias


sobre a boa aparência do duque, sobre sua fortuna e sobre todas as

damas que queriam ocupar seu lugar.

— E se for um monstro? E se for o próprio Hades?

— Perséfone não encontrou amor com Hades? — Evelyn deu


um sorriso que Elizabeth não pôde deixar de retribuir.

— É verdade. — Elizabeth levantou-se. — Realmente está um


calor incomum para a estação, não é?
— Acho que é mais porque você escolhe se vestir com muitas
camadas quando estamos no jardim — Evelyn respondeu enquanto
se afastava, levantando-se também.

Elizabeth riu enquanto jogava uma mecha do cabelo rebelde

de Evelyn atrás da orelha. O mesmo cabelo, os mesmos olhos, e


ainda assim eram diferentes, não eram?

— Não sei o que faria sem você, Evie.

— Você não terá que se preocupar com isso. — Evelyn


colocou os braços em volta dela.

— Oh, está muito quente para abraços! — Elizabeth riu


enquanto se esquivava de Evelyn, que viu uma brincadeira e
rapidamente foi atrás dela. — Evie! — Elizabeth levantou as saias e

correu o mais rápido que pôde para longe de sua irmã que a
perseguia.

— É uma pena que você não tenha colocado suas sandálias e

musselina hoje, irmã! — Evelyn lançou-se ao longo das fileiras de


flores.

A voz estrondosa de seu pai soou pelo jardim fazendo Evelyn


gritar.

— Venham aqui agora!


As duas voltaram para o pátio de pedra onde estava o pai.
Elizabeth olhou para baixo quando ele olhou para ela, mas Evelyn
não parecia nem um pouco envergonhada.

— Sinto muito, pai. — Elizabeth não ofereceu nenhuma


desculpa para suas ações. Nenhuma lhe ocorreu.

A voz de Evelyn veio ao lado dela.

— Estávamos apenas nos divertindo um pouco. É estressante

casar, e pensei que Elizabeth poderia relaxar assim.

— Boas intenções à parte, e se alguma de vocês se machucar


em brincadeiras para as quais estão muito velha, Evelyn? —

Elizabeth olhou para cima para encontrar o olhar severo de seu pai.

Ele olhou para as duas novamente antes de se virar e voltar para


dentro.

Elas seguiram seu rastro, sua alegria momentânea se


transformando em pesar solene. Ele informaria sua mãe, e viria

outra repreensão que teriam que suportar. Elizabeth olhou para

Evelyn, que pareceu concordar com isso.

Elizabeth certamente desejava não se importar em ser

repreendida tanto quanto Evelyn parecia subestimar. Não havia


nada no mundo que Evelyn não pudesse conquistar com uma
mandíbula cerrada? Elizabeth endireitou os ombros e se dirigiu para

seu destino com sua irmã.

— Gostei muito da igreja. — Era algo óbvio, mas Evelyn sentiu que

precisava dizer alguma coisa. Estiveram no local do casamento com


a mãe dela, que insistiu em opinar sobre onde as flores seriam

colocadas e esses detalhes. Sua irmã permaneceu em silêncio na

carruagem enquanto voltavam para a propriedade para almoçar

antes de voltar para as lojas.

— Sim. — A resposta de Elizabeth  em uma palavra era


padrão. Na maioria das vezes, assentia com a cabeça para a mãe

enquanto os planos do casamento eram traçados.

Evelyn revirou os olhos para a irmã.

— O que aconteceu?

— O que quer dizer? — Elizabeth passou os dedos finos pelo

tecido sedoso do vestido, como se estivesse alisando rugas onde

não havia.
Evelyn se arriscou a sofrer uma lesão para entrar no assento

da carruagem ao lado dela. Sua mãe viajou sozinha em uma

carruagem porque tinha que comparecer a um almoço com algumas


damas da sociedade. Pelo menos foi o que Evelyn pensou que

havia lhe dito. Ela mal ouvia, já que a vida social de sua mãe não a

interessava.

— Você quase não disse nada, e nós conversamos sobre seu

casamento o dia todo. — Evelyn cutucou a irmã com o cotovelo. —


Vamos lá, o que a está incomodando tanto?

Elizabeth cruzou as mãos sobre os joelhos. Foi um movimento


tão delicado, mas tão irritante que Evelyn sabia que sua irmã estava

muito desconfortável com a pergunta.

— Não tenho nada. É o meu casamento e eu entendo. Eu sei o

que dizer e quando dizer. Só quero falar sobre algo... sobre qualquer

outra coisa.

— Podemos falar sobre o duque? — Evelyn fez a oferta com


um sorriso, mas foi recebida com a linha fortemente pressionada

dos lábios de Elizabeth.

Evelyn recostou-se no assento com grande frustração.

— Por que você não quer falar sobre seu futuro marido?
A cabeça de Elizabeth foi de um lado para o outro com um

movimento que certamente deveria ter envergonhado Evelyn, mas


isso não aconteceu.

— São meras especulações. Sabemos pouco mais sobre ele

do que sua figura marcante e os rumores.

— Oh, para o inferno com os rumores, vamos falar sobre o

homem — Evelyn zombou enquanto cutucava sua irmã novamente.

Os cantos da boca de Elizabeth se ergueram em um sorriso

relutante.

— Você pode falar sobre todos os belos traços do duque, se

desejar. Estou cansada de ser arrastada de um lado para o outro


para levar cutucão.

— Ainda não experimentou seu vestido de noiva. — Evelyn

sorriu para a irmã. —Isso vai fazer você se sentir como se estivesse

em uma almofada de alfinetes, eu diria.

Elizabeth estreitou os olhos para Evelyn.

— Isso não ajuda, irmã.

— Estou brincando! — Evelyn pegou a mão de Elizabeth,

apertando-a como se embalasse uma criança. — Minha doce


Elizabeth, você não sabe que é a mulher mais sortuda do mundo?

Com uma leve risada, Elizabeth soltou o aperto de Evelyn.

— Eu trocaria com você se pudesse.

Evelyn olhou para a irmã, surpresa com suas palavras.

— Você não quis dizer isso. É que você está com medo do

grande passo que está prestes a dar, querida Elizabeth.

Os ombros de Elizabeth apresentavam uma queda que Evelyn


não tinha visto antes e que a perturbou muito. Sua irmã olhou para

Evelyn, seus olhos verdes coincidiam com os dela.

— Tem razão. Sou uma tonta. Acho que são todos esses anos

priorizando as aulas.

— Por que está se atormentando tanto? Isso lhe rendeu uma

vida maravilhosa. Receio me arrepender de meu comportamento. —

Evelyn detestava admitir que talvez sua irmã estivesse certa o


tempo todo, mas se isso ajudasse Elizabeth a superar seu

nervosismo, então valeria a pena.

Elizabeth agarrou a mão de Evelyn e a apertou.

— A verdade é que temo que todo o mundo que possa ver

sejam as paredes de uma casa ou um salão dourado.


— Pensei que você tivesse desistido do sonho de ser uma

brava exploradora. — Evelyn lembrou quando eram bem pequenas


como Elizabeth falava em navegar pelos mares, em encontrar novos

lugares. Não pensava nisso há anos, mas podia ver por que algo

assim surgiria com a perspectiva de casamento.

Elizabeth assentiu.

— Desisti. É o mais responsável a se fazer.

— Suponho que seja natural que agora tenha arrependimentos

ou dúvidas sobre essas coisas. — Evelyn franziu a testa. Podia

entender o ponto de vista de Elizabeth sobre o assunto, mas havia


conseguido um partido e tanto. — Certamente, você poderia

convencer o duque a viajar.

Elizabeth abriu o leque em seu pulso e se abanou.

— Não foi você quem falou como era ocupado um homem

como o duque?  Ele dificilmente viajaria.

— O amor tem um jeito de fazer as coisas funcionarem, irmã.

— As palavras de Evelyn foram recebidas com uma risada brilhante

de Elizabeth. Ela olhou para a irmã com espanto. —Não fazia ideia
de que você tinha tanto senso de humor.

Elizabeth a repreendeu.
— Oh, Evie, o amor é um conto de fadas. Ambas sabemos que
o objetivo de uma mulher neste mundo é simplesmente obter

segurança para si e para seus filhos. Eu não tenho nem o poder de

escolher meu próprio marido.

Evelyn queria lutar pelo amor, mas à luz da verdade, as


palavras de sua irmã eram mais puras.

— Suponho que ainda tenho esperança de que o amor e o


dever possam coexistir.

— Não é inédito — Elizabeth admitiu, seu leque ainda

soprando ar sobre seu pescoço, levantando as ondulações

vermelhas que caíam em seu rosto para cima.

O ar do leque de Elizabeth também atingiu Evelyn e ela ficou

grata. Ter que usar todas as camadas apropriadas de roupa hoje a


lembrou de como a temperatura estava quente. Evelyn sempre

desprezou o fato de como custava caro ser uma dama decente,


tendo que suportar tanto desconforto por causa da modéstia.

As irmãs ficaram em silêncio. Evelyn olhou pelas janelas da


carruagem e ponderou sobre as próximas núpcias. Ela estava

animada por sua irmã e um pouco invejosa.


Evelyn estava apenas irritada com o quão desafiadora
Elizabeth parecia estar sobre tudo isso. Nunca tinha visto sua irmã
desistir de seu dever de casa, mas Elizabeth parecia ter dificuldade

em engolir seu nervosismo.

— Você vai superar isso, sabia? Tenho certeza de que, uma


vez na igreja, se sentirá dominada pela alegria.

Elizabeth virou a cabeça para Evelyn. A única resposta que lhe


deu foi um sorriso tenso que falava mais de cortesia forçada do que
de qualquer crença real em suas palavras. Evelyn suspirou para a

irmã.

As coisas seriam melhores. Comeriam um pouco e iriam


buscar os tecidos perfeitos para o vestido. Talvez Elizabeth
estivesse simplesmente fora de si porque tinha acabado de tomar o

café da manhã.

As esperanças de Evelyn de que o humor de Elizabeth


melhoraria com um pouco de comida logo se mostraram vazias.

Elizabeth estava estranhamente mal-humorada e ficou quieta


durante a refeição na propriedade. Enquanto se preparavam para ir
às lojas mais uma vez, Elizabeth parecia não ter pressa, mesmo

quando Evelyn a acompanhou até a carruagem.


Ajudar a irmã certamente era mais difícil do que Evelyn
esperava. Na loja, fez um grande alarde olhando para todos os
belos tecidos.

— Esse não é maravilhoso? Olha como é suave. —Evelyn


praticamente enfiou o pano na mão de Elizabeth.

Elizabeth obedientemente passou os dedos pelo material.

— Fica bem bonito na pele, mas não gosto da cor.

— É de cor creme. Como pode se opor a uma cor creme? —


Evelyn riu. — Irmã, acho que você gritaria com o próprio sol por
brilhar hoje.

Com um encolher de ombros, Elizabeth suspirou.

— Talvez devêssemos esperar até amanhã para escolher o


tecido do meu vestido...

— Já adiamos três vezes. Mamãe disse que se não voltarmos

hoje com o tecido, ela cortará nossas gargantas. — Evelyn colocou


as mãos nos quadris. — Sério, Elizabeth!

Elizabeth franziu a testa e se virou para olhar outro rolo de


tecido. Evelyn estava prestes a seguir sua irmã quando notou duas
damas, paradas perto das vitrines. Ela reconheceu lady Foreman, e
Evelyn fez o possível para ignorar as duas mulheres.

— Você acha que esse pode servir? — disse lady Foreman. —

Quero impressionar alguém e preciso de um vestido especial, Alice.

— Eu acho que você poderia encantar uma cobra com esse

vestido, Rachel — Alice respondeu com um sorriso malicioso. —


Quem é o cavalheiro que tanto te fascina? — Lady Foreman apenas
deu a Alice um sorriso torto, como se a mulher já soubesse a

resposta.

Embora Evelyn não tivesse nenhuma razão para pensar que


as mulheres estavam falando sobre o duque de Stanford, seus

instintos sussurravam que a conspiração estava realmente centrada


em seu duque. Evelyn se corrigiu: era o duque de sua irmã. Ela
estava grata por as duas mulheres não terem notado ela e

Elizabeth.

Afastou-se rapidamente das mulheres e dirigiu-se para onde


Elizabeth virara um corredor entre uma grande exposição de tecidos
e vestidos. Evelyn não achou certo estressar Elizabeth ainda mais

por causa de um pressentimento, então guardou o que ouviu para si


mesma.
— Você encontrou alguma coisa?

Os ombros de Elizabeth caíram quando ela se virou para

encontrar o olhar de Evelyn.

— Se casar com alguém deveria trazer tanta alegria, então por

que eu sinto que é tão errado? Não consigo superar isso, Evie. Isto
está errado.

— É só nervosismo — Evelyn assegurou à irmã. Pegou as


mãos de Elizabeth nas suas. — Por favor, não se desespere. Só sei

que o duque será um marido maravilhoso para você. — O olhar de


Elizabeth quebrou a última resistência de Evelyn à ideia de que sua

irmã pudesse estar certa. Talvez um casamento que estava lhe


deixando tão perturbada não devesse acontecer.

Evelyn confortou Elizabeth o melhor que pôde. Escolheu o


tecido para salvá-las da ira de sua mãe, e foram embora deixando

certo que a costureira iria a sua casa para fazer os ajustes, pois
Elizabeth não estava se sentindo bem. Enquanto caminhavam para
a carruagem, Evelyn sussurrou para Elizabeth:

— Vou dizer à mamãe que você está doente e que foi para a

cama para que tenha um pouco de paz.


— Obrigada. — A voz de Elizabeth era suave e abafada em
comparação com seu tom animado habitual. Evelyn deixou a irmã
ficar em silêncio.

Em casa, Elizabeth retirou-se apressadamente e Evelyn foi

relatar à mãe o que haviam feito. Bateu na porta da sala e anunciou:

— Mãe, sou eu, Evelyn.

— Entre — respondeu lady Barney.

Evelyn entrou na sala de estar. Ela sorriu quando encontrou os

olhos de sua mãe.

— Já escolhemos o tecido, e a costureira vem aqui amanhã


para fazer todos os ajustes.

— Por que não hoje? — lady Barney levantou uma


sobrancelha enquanto olhava para Evelyn com olhos penetrantes.

Ela deu de ombros.

— Elizabeth estava se sentindo um pouco sobrecarregada com

tudo, e achei melhor ela descansar. A costureira nos garantiu que


estaria aqui pontualmente amanhã de manhã, então não perdemos
muito tempo.
Lady Barney assentiu enquanto se aproximava para colocar
mais chá em sua xícara.

— Você me surpreende, Evelyn. Realmente viveu para ser a

dama de honra de sua irmã.

Evelyn sorriu com o elogio de sua mãe. Ela raramente recebia

algum, lhe provocou um rubor quente para suas bochechas.

— Obrigada, mãe.

— Estou certamente aliviada em saber que está tudo resolvido


agora —continuou lady Barney. — Mantenha-me informada sobre o
andamento.

Evelyn fez uma reverência.

— Claro, mãe. — Ela conhecia um adeus quando ouvia um, e


ela se foi.

Ela quase subiu as escadas correndo. Evelyn não prestou

atenção nos murais representando o interior da França pintados nos


revestimentos das paredes. Ela os vira tantas vezes que haviam
perdido o encanto para ela.

Entrando em seu quarto, Agnes olhou para cima.

— Ah, já voltou.
— Sim, aqui estou eu. Já escolhemos o tecido, ou acho que
devo dizer que escolhi. — Evelyn jogou o xale na cama. — Tire-me

do pesadelo deste vestido de lã.

Agnes estendeu a mão para Evelyn para ajudar a resgatar sua


senhora da monstruosidade. Evelyn já estava tentando se livrar do

vestido, e os dedos hábeis de Agnes fizeram um trabalho rápido nos


laços que o prendiam. Em pouco tempo, Evelyn estava livre e Agnes
foi procurar um dos vestidos de musselina do dia a dia, que Evelyn

preferia.

— Você não tem falado muito sobre seu duque ultimamente. —

As palavras de Agnes atraíram o olhar de Evelyn para a criada. —


Desde que foi anunciado que sua irmã se casaria com o duque de
Stanford, não disse uma palavra. Eu estava curiosa para saber

como estava.

Evelyn suspirou pesadamente e se deixou cair na cama, seu


vestido de musselina enrolado ao redor dela.

— Fui uma tola por investir tanto em um homem que nem


conheço. Talvez a história que teci dele seja o que realmente amei.

Ele não podia ser nada disso.


— Então você está realmente feliz por sua irmã? — Agnes

sentou-se ao lado de Evelyn.

Evie franziu a testa pensativamente.

— Há pouco a fazer, exceto tentar se concentrar na felicidade

de Elizabeth.

— Estou feliz que se sinta assim. Odiaria que ansiasse por um


homem que é casado com sua irmã.

Evelyn assentiu com as palavras de Agnes. Ela estava certa, é

claro. Nada de bom poderia vir de ter essa fixação. Agnes deu um
tapinha na perna de Evelyn.

— Tenho certeza de que o cavalheiro perfeito para você ainda


está por aí.

— Claro que sim — Evelyn concordou com um sorriso.

Agnes levantou-se e alisou a saia.

— Precisa de mais alguma coisa, senhorita?

Evelyn respirou fundo.

— Não. Estou bem. Eu poderia descansar até o jantar.

— Muito bem. Vou me certificar de que não a incomodem. —


Agnes lhe deu um último sorriso antes de deixá-la sozinha.
No silêncio do quarto vazio, Evelyn olhou para a janela. Essa
dava para os jardins dos quais sua mãe tanto se orgulhava. Lady
Barney costumava dizer que uma casa sem jardim não era um lar

de verdade.

Evelyn olhou para as rosas desabrochando, mas não viu as


flores. Viu o maxilar forte do duque de Stanford e seus profundos
olhos castanhos. Repreendendo a si mesma, Evelyn franziu a testa.

O duque de Stanford era um conto de fadas que ela havia criado.

Preocupava-se com sua irmã e desejava que pudesse ver o

duque como ela via. Se Elizabeth pudesse ter um vislumbre da


visão de Evelyn do duque, todos os seus medos desapareceriam.

Claro, era difícil ver algo que poderia não existir.

— Você é uma miragem, meu duque, construída por meus


sonhos febris? — O coração de Evelyn doía ao pensar em como era
bom chamá-lo de seu duque, embora ele não fosse dela. Nunca

tinha sido.
Capítulo 3
 

James olhou para sua mãe com um olhar entediado. A mulher

caminhava calmamente para cima e para baixo no gramado do


jardim. Estavam fora da casa com o pretexto de jogar críquete, mas
era só uma desculpa, na melhor das hipóteses.

Apenas o padrasto de James parecia interessado no jogo.


James estava participando, mas seu coração não estava na

atividade. Isso era mais do que poderia ser dito sobre a mãe de
James, que se contentava em divagar enquanto segurava o bastão.

— Você não falou muito sobre suas próximas núpcias, James.

Realmente não é apropriado para um homem ser tão impassível.

Sua esposa não é adorável? — Os olhos de sua mãe se fixaram


nele, exigindo uma resposta.

James colocou o bastão no ombro.

— Ela é bastante atraente e parece uma jovem encantadora.


Não tivemos o cortejo habitual, então temo que meu conhecimento
de suas virtudes seja limitado, mãe.

— Oh, o que há para saber? — O padrasto de James

comentou, mesmo que ninguém estivesse falando com ele. — É

bem-educada e adequada o suficiente para ser sua esposa.

James lutou contra a vontade de revirar os olhos.

— Sim — ele disse e limpou a garganta. — Acho que você

ganhou, pai. Boa partida.

O sorriso no rosto do padrasto era tão largo quanto o de um


colegial no último dia de aula. Nem importava que seus oponentes

não tivessem realmente tentado. A vitória era sua própria

recompensa.

— Acho que praticar esportes é um bom exercício para o


corpo, mas cansa muito. — A mãe de James virou-se na direção da

casa e bateu palmas para chamar os criados que estavam

esperando. Estes correram com bandejas de bebidas. — Perfeito —

a mãe de James disse como se suas orações tivessem sido

respondidas por um milagre, ao invés de seu próprio planejamento.

— De fato — James concordou, deixando seu bastão de lado.

— Perdoe-me por sair correndo, mas tenho que visitar Harry esta

tarde.
A mãe de James sorriu.

— Oh, envie nossos cumprimentos.

— Serão dados. — James inclinou a cabeça para a mãe

enquanto pegava o casaco nas costas de uma cadeira de jardim. —

Pai, vai me acompanhar?

Ele negou com a cabeça.

— Não, não. Acho que vou até o clube para ver se há algum

conhecido lá. — Ele olhou para a mãe de James. — Tudo bem,

querida?

Ela, deitada em uma das cadeiras brancas dispostas no

gramado, ria levemente enquanto tomava um gole da bebida que a

criada lhe trouxera.

— Eu não me importo, querido. Vá se divertir com seus

amigos. Lady Easton está vindo para me mostrar alguns moldes


adoráveis ​para minhas costuras.

James negou com a cabeça.

— Bem, então se planejaram a tarde, eu cuido da minha. —

Com um aceno final para seus pais, James se dirigiu para a casa.
A residência londrina do ducado de Stanford era magnífica,

mas James preferia a propriedade rural. Se tudo desse certo, suas


visitas a Londres seriam menos frequentes uma vez que o

casamento e todas aquelas bobagens da temporada estivessem


para trás. Seria bom voltar apenas para cumprir seus deveres na
Câmara dos Lordes ou para supervisionar alguns negócios.

James foi buscar seu cavalo enquanto tentava decidir se a


ideia de ser um duque solitário era possível com as expectativas
sociais de sua mãe sobre ele. Sua esposa provavelmente teria uma

necessidade semelhante de socializar. Ele respirou insatisfeito.

O cavalariço deve ter visto James chegando, porque trouxe o

cavalo já selado para ele.

— Obrigado, Adam — James disse com um sorriso malicioso.


O menino sorriu quando James jogou uma moeda para ele pelo bom

serviço.

Londres durante a temporada parecia muito diferente para


James. As ruas estavam cheias de damas e cavalheiros ricamente

vestidos, pois todos procuravam ser vistos ou fazer contatos para


seus filhos. James preferia os meses restantes do ano em Londres,
em que as ruas ficavam menos congestionadas com as carruagens

dos ricos, embora fosse um deles.

Sua viagem até a propriedade de Harry não foi longa,


felizmente. James tirou o chapéu para o criado enquanto subia os

degraus. Finlay era um funcionário fixo na recepção da casa do


conde nos últimos anos, e James gostava do homem mais velho.

— Boa tarde, Sua Graça — Finlay disse enquanto afastava a


porta do caminho de James.

— Igualmente, Finlay — James respondeu. — O conde está

em seu escritório?

— Não, Sua Graça. O conde está com lady Parris, na estufa.

James assentiu e seguiu para lá.

James bateu no batente da porta, já que havia apenas um arco


aberto para a estufa. Harry, sentado perto de sua mãe, olhou ao
redor.

— Oh! James! Entre — disse Harry com talvez um pouco de


entusiasmo demais.

Atravessando o arco, James deu à senhora um sorriso e uma


reverência.
— Lady Parris, ouvi dizer que não se sentia bem, mas não
sabia que era tanto  assim.

Lady Parris estava em uma cadeira acolchoada com a perna


direita apoiada em uma mesa baixa. Almofadas amorteciam o

tornozelo da mulher, que estava envolto em linho como se quebrado


e não apenas torcido. Lady Parris franziu a testa e suspirou.

— Lamento que tenha que me ver assim, Sua Graça. O


médico diz que é só uma entorse, mas dói tanto que acho que é um

charlatão.

James deu à mulher um sorriso cortês.

— Tenho certeza de que com o descanso ficará bem muito em


breve. Espero que sim, ou poderá perder meu casamento.

— Eu me arrastaria até lá se necessário, Sua Graça — Lady


Parris assegurou, tão sinceramente que James não teve dúvidas de
que o faria.

Com uma risada, James se aventurou a dizer:

— Posso pegar seu filho emprestado por um tempo? Queria


conversar sobre algumas ideias.
— Mas é claro. — Lady Parris olhou para Harry. — Bem, vá
logo, Harry. Não deixe o duque esperando.

Harry, concordando em fazer o que sua mãe pediu, deu a

James um olhar agradecido. Assim que saíram da estufa e dos


olhos de sua mãe, Harry sussurrou:

— Obrigado por se lembrar de vir.

— Você está aqui há muito tempo, não é? — James sorriu

para Harry enquanto caminhavam em direção ao escritório do


homem.

Harry balançou a cabeça.

— Não tem nem ideia.

Deram risada quando chegaram ao escritório de Harry. Uma


vez lá dentro, os dois se jogaram nas poltronas de couro marrom e

deram um suspiro de alívio por terem escapado.

— Bem, por que você queria que eu viesse? Ou era só para ter

certeza de que não ficaria trancado com sua mãe a tarde toda?

—  Admito que tinha uma leve suspeita de que meu pai

poderia me deixar por conta própria, mas, acima de tudo, queria ver
se poderia convencê-lo a fazer uma pequena viagem antes de seu
casamento. — Harry se inclinou para frente e juntou os dedos como

se estivesse pensando em algum plano malicioso.

James riu.

— Na verdade, tenho que fazer uma viagem de negócios antes

do casamento. — Ele pensou na sugestão de Harry. — Vejo que


está ansioso para sair um pouco de casa, e ninguém está dizendo

que não posso ter companhia nas minhas viagens. Se quiser vir

comigo, ficarei encantado.

— Que tipo de viagem de negócios? — Harry se recostou,


olhando para James com a cautela de um coelho no campo.

James encolheu os ombros.

— Eu só quero planejar algumas reformas na propriedade.


Quero que estejam funcionando antes do casamento, para que

minha nova esposa possa ver o progresso.

— Eu gostaria de ficar fora de Londres por um tempo — disse

Harry. Seus lábios franziram, e James observou a mente de seu

amigo funcionar. — Muito bem, vou acompanhá-lo. Que tipo de


reforma você quer fazer na propriedade?

— Quero projetar uma nova ala unida à casa principal e

também uma nova ponte sobre o rio que corre ao longo dos campos
— disse James com um encolher de ombros. — Isso deve dar muito

trabalho aos artesãos da região por alguns meses.

Harry assentiu.

— Você vai colocar seus pais na nova ala, certo?

— Só se eles insistirem. — James riu. — É sobretudo para nos

ajudar a dividir à medida que crescem as gerações, embora creio

que a minha mãe quererá ficar em Londres a maior parte do ano.

Ela adora festas.

— Minha mãe diz que o ar do campo é bom para a dor dela —


respondeu Harry. — Isso geralmente significa que fico em Londres

mais do que o necessário, só para não ter que escutá-la.

James sorriu.

— Cuidado, ela pode ouvir.

— Você teve notícias de sua futura esposa? — Harry olhou

para James com um brilho curioso nos olhos.

James assentiu lentamente.

— Enviei-lhe uma carta e ela respondeu. Isso é tudo o que


posso dizer. Parece uma jovem doce e encantadora.

— Isso é tudo que você tem a dizer? — Harry reclamou.


Com um suspiro, James perguntou:

— O que mais posso dizer? Com essa pequena viagem ao

interior e ela ocupada com os preparativos, não nos encontraremos


realmente até depois do casamento.

— É uma pena, mas não dá para ajudar muito. Assim são os


casamentos arranjados. — Harry franziu a testa. — Tenho pensado

no assunto e se realmente seria melhor casar. Mamãe insiste que o

casamento torna o mundo mais fácil de administrar, mas acho que a


perspectiva dela pode ser diferente da de meu pai.

James concordou que lady Parris podia não ver o casamento


da mesma forma que eles. As mulheres precisavam de um marido

por segurança, e essa não era realmente a razão pela qual um

homem escolhia se casar.

— Apesar de todas as razões e lógicas do casamento, Harry,


eu acreditava que um homem com a sua sensibilidade ao menos se

interessaria pelo amor.

Harry bufou.

— Até recentemente, eu poderia dizer o mesmo sobre você,

mas agora, olhe para si mesmo. Você renunciou ao coração e

colocou a racionalidade em seu lugar.


— Você diz isso como se racionalidade e amor não pudessem

coexistir. — James não gostou da ideia de que tinha que ser

desprovido de emoção para ganhar respeitabilidade. Isso era nada

menos que uma blasfêmia.

As sobrancelhas de Harry se ergueram quando ele olhou para


James.

— Não sou eu quem se casa por outros motivos que não o


amor, James.

— Ainda tenho esperança de que calor e respeito possam

florescer em amor — respondeu James. — Talvez não

imediatamente, mas olhe para seus pais. Eles se casaram depois de

um cortejo, e você não parece convencido de seu amor duradouro,


Harry.

Ficaram em silêncio por um momento antes de Harry bater no

braço de sua cadeira.

— Para o inferno com toda essa conversa, ou vou acabar em

depressão profunda. Vamos beber.

— Eu vejo como será a vida de sua futura esposa — James

brincou. — Tenho pena da pobre mulher.

Harry riu e apontou o dedo para James.


— Você pode estar certo. Melhor ser prudente e não se casar.

— Acho que sua mãe não concorda. — James olhou para seu

amigo enquanto Harry servia duas generosas doses de conhaque


em copos de cristal verde.

James não resistiu ao conhaque que Harry lhe entregou. Ele


aceitou o copo com gratidão e tomou um gole tentador.

— Então você realmente não pensou em nenhuma das jovens

que conheceu nesta temporada?

Harry deu de ombros e tomou um longo gole de sua taça antes

de olhar diretamente para James.

— A irmã de sua noiva é uma jovem muito bonita.

— Já que ela parece idêntica à minha futura esposa, suponho

que sim — James respondeu divertido.

Harry piscou para James.

— Ainda assim, pelo menos ela não parece muito chata.

— Você disse que só falou com ela por um momento — James

lembrou a seu amigo.

Harry sorriu.
— De fato, mas foi um momento bem menos chato que os
outros.

— Seus padrões devem estar terrivelmente baixos agora, se

esse é o seu critério para escolher uma pretendente — James

repreendeu com uma risada.

Harry assentiu.

— Provavelmente sim. Quando viajaremos?

James acenou com a mão com desdém.

— Não estou com pressa, mas podemos partir amanhã se

você estiver ansioso para ir.

— Você é um rei entre os homens, James — Harry declarou

enquanto levantava sua taça em um brinde a James. — Amanhã

seria esplêndido. Tem certeza de que pode partir tão rápido?

James colocou seu copo na mesa de Harry.

— Sim. Venho planejando esta viagem desde que lady Barney


e eu ficamos noivos. Só tenho que informar meu padrasto e minha

mãe sobre meu itinerário.

— Então eu o encontrarei na propriedade logo pela manhã. —

Harry colocou seu copo ao lado do de James.


James deu um tapinha no ombro de Harry.

— Não tenho dúvidas de que você estará lá antes que os


pássaros comecem a cantar.

— Não me tente, ou posso ir dormir em sua propriedade esta


noite. — Harry foi até a porta do escritório para abri-la e então os
dois caminharam em direção à entrada principal.

James não duvidou que Harry provavelmente poderia fazer o

que disse.

— Dê lembranças minhas à sua mãe e ao seu padrasto —


disse James a Harry, como sempre fazia quando saía de casa.

— Serão dadas — Harry o assegurou. — Boa sorte, James.


Capítulo 4
 

—  Não acredito que finalmente chegou o dia —  disse Evelyn com

um sorriso ao olhar para a irmã. Por fim, foram deixadas sozinhas


para esperar até serem chamadas ao altar.

O rosto de Elizabeth estava um pouco verde e Evelyn franziu a


testa para a irmã.

—  Você está doente, Elizabeth? Parece que andou comendo

aqueles vegetais que tanto odeia no jantar.

—  Eu não posso fazer isso —  Elizabeth sussurrou. —  Evie,

não posso me casar com alguém que nem conheço.

Evelyn negou com a cabeça.

—  Mas ele lhe enviou uma bela carta.

— Que você respondeu porque eu não me atrevi — respondeu


Elizabeth. — Você é quem deveria estar usando este vestido, não
eu. Você olhou para o Duque de Stanford com adoração desde o

início da temporada. Ele é seu duque, não meu.

Evelyn apertou seu pequeno buquê de flores contra o peito.

Não podia acreditar nas palavras de Elizabeth. A qualquer momento

teriam que passar por aquelas portas e enfrentar o duque.

— Elizabeth, você não pode cancelar o casamento!

— Eu não quero me casar — disse Elizabeth, com o rosto

contorcido de dor. —Eu quero que você faça isso por mim.

O queixo de Evelyn caiu.

— Você ficou louca. Sei que estava sob muito estresse, mas

perder a cabeça assim...

— Eu não estou louca, Evie — Elizabeth sussurrou. Sua voz

era urgente com o tempo premente. — Por favor, ouça-me. Você


sabe em seu coração que isso não está certo. Eu também sei.

Evelyn abriu e fechou a boca, sem saber o que dizer ou fazer.

Não havia lições para momentos como este.

— Mas o que acontece se nos descobrirem?

— Quem vai saber? Somos idênticas. — Elizabeth se virou. —

Apresse-se e desabotoe meu vestido. Temos pouco tempo.


Evelyn obedeceu às ordens da irmã sem ter certeza do que
realmente estava fazendo. Estavam em uma sala na enorme igreja

onde a noiva supostamente estava terminando de se arrumar.

Sua mãe já havia saído para ocupar seu lugar para que não
perdesse a caminhada de sua filha até o altar. Ao fundo ouvia-se o

ruído das múltiplas conversas dos convidados.

Foi só quando Evelyn vestiu o vestido de noiva de Elizabeth

que a situação a atingiu totalmente. Estavam prestes a fazer uma

loucura, mas Elizabeth não parecia ciente disso, em vez disso,

trabalhando para deixá-la com a sua aparência e para colocar o

vestido verde de Evelyn.

Assustada, ela encarou sua irmã gêmea.

— Você tem certeza disso?

Em resposta, Elizabeth assentiu e lhe deu o sorriso que não

aparecia há semanas.

— Você está linda — Elizabeth sussurrou.

— Elizabeth...

A irmã negou com a cabeça, querendo deixar suas dúvidas

para trás.
— Não temos tempo. Apenas vá encontrar o seu duque.

O órgão começou a marcha nupcial e Evelyn sabia que seu

tempo havia acabado. Agora tudo o que restava a fazer era seguir
em frente e rezar para que ninguém notasse.

  Elizabeth colocou o grande buquê em suas mãos e foi


conduzida porta adentro. Seu coração acelerou enquanto ela

mantinha os olhos baixos. Não queria pensar no que aconteceria


quando o marido descobrisse o engano. Só lhe ocorreu que, se

quisesse ser feliz com o homem que amava, não tinha escolha a
não ser fingir ser alguém que não era e rezar para que aquilo nunca
fosse descoberto.

Evelyn tentou se imaginar como Elizabeth. Ela endireitou as


costas e caminhou como tinha visto sua irmã fazer tantas vezes.
Podia ver Elizabeth à frente, fingindo ser ela. Quando parou no altar,

ela deu um sorriso encorajador para Evelyn.

A surpresa de ter chegado sem que a mãe interrompesse a


cerimônia deu confiança a Evelyn. Algo assim seria um escândalo, e

sua mãe não toleraria.

Foi um momento depois que Evelyn permitiu que seus olhos se


erguessem pela primeira vez e olhassem na direção do duque. Ele
havia descido da plataforma elevada em frente ao altar. Seu coração

parou de bater e ficou preso na garganta.

Como ela não desmaiou ao vê-lo estava além de sua


compreensão. A mão dele se estendeu em sua direção, e Evelyn

devolveu o gesto, embora não tivesse decidido conscientemente.


Ele lhe deu um sorriso enquanto a ajudava a subir na plataforma

diante do clérigo.

Estou mentindo. Estou mentindo diante de Deus e do clero.

Estou mentindo para o duque, pensou consigo mesma. Seus


pensamentos eram um emaranhado confuso. Abriu a boca, mas a
fechou. Olhou para Elizabeth, que lhe deu um pequeno aceno de

cabeça.

A cerimônia começou e Evelyn repetiu os votos como se


esperava. Ela ajudou Elizabeth a se preparar e conhecia a

cerimônia tão bem quanto a futura noiva. A voz do duque, cálida e


profunda, ecoou seus votos.

Era como se o tempo tivesse desacelerado e acelerado ao

mesmo tempo. Evelyn engoliu em seco quando suas mãos se


juntaram. As palavras do clérigo foram altas para todos ouvirem.
— É uma grande honra apresentar o duque e a duquesa de
Stanford. Pode beijar a sua noiva, Sua Graça.

A boca de Evelyn se moveu como se fosse protestar, mas


então o duque a olhou com um sorriso aberto. Havia algo divertido

na maneira como ele se inclinou para ela. Evelyn sentiu o calor dos
lábios dele contra os dela e fechou os olhos.

Seus lábios pareciam muito melhores do que em seus sonhos.


Era real e sólido sob seus dedos. Seu duque, ela sussurrou em sua

mente.

Então o duque se afastou e os olhos de Evelyn se


arregalaram. Havia uma expressão divertida no rosto do duque.

— Feliz por finalmente conhecê-la — disse ele em um

sussurro.

— Eu também. — Foi tudo o que Evelyn conseguiu dizer com


a voz embargada.

Só quando o duque a virou para a multidão ela percebeu que


os convidados estavam aplaudindo e seu rosto ficou vermelho. O

barulho não a incomodava antes, mas agora parecia demais. Ela


agarrou seu buquê de flores contra o peito defensivamente.

Elizabeth foi até ela.


— Parabéns, Elizabeth — sua irmã disse a ela.

Evelyn agradeceu sem jeito. A profundidade da trama em que


se envolveram se materializou na frente de Evelyn. Ela havia

trocado de vida com sua irmã. Ela era Elizabeth, e Elizabeth era ela.

— Você está muito bonita — disse a mãe. Os olhos da mulher


moveram-se para Elizabeth, depois de volta para Evelyn. Por uma
fração de segundo, Evelyn viu o reconhecimento no rosto de sua

mãe. Ela sabia. Evelyn prendeu a respiração até que o olhar da

mulher se voltou para o duque.

— Parabéns, Sua Graça. É uma honra recebê-lo em nossa

família.

O duque fez uma reverência à mãe de Evelyn.

— Obrigado pela gentil recepção, lady Barney.

A pressão da mão do duque em seu cotovelo fez Evelyn olhar

para cima para encontrar o olhar do homem. Os convidados os


cercavam, mas ela se sentiu a um milhão de quilômetros de

distância quando olhou em seus olhos. Ela só desviou o olhar dos

cálidos olhos castanhos do duque quando uma voz estridente

chamou sua atenção.


— Sua Graça, permita-me ser a primeira a recebê-la em nossa

família. Eu sou a mãe de James — a mulher na frente de Evelyn


disse enquanto colocava a mão ao redor de Evelyn em um abraço

caloroso. — Você é tão adorável quanto eu me lembrava de ter visto

no baile de Templeton.

Evelyn não sabia o que dizer, mas sorriu mesmo assim. Ela
queria agradecer à mulher adequadamente, mas hesitou. Evelyn

sussurrou:

— Perdoe-me, mas não sei como chamá-la.

A mãe de James riu alegremente.

— Que gentileza sua considerar isso — ela ronronou para


Evelyn. — Por enquanto pode me chamar de Eleanor.

— Eu sempre gostei desse nome — disse Evelyn

honestamente. Eleanor sorriu e deu um tapinha no braço de James.

— Gostei muito.

— Estou muito contente, mãe — disse o duque, com evidente

divertimento.

Logo a pressão das felicitações fez até a mãe do duque fugir, e

Evelyn foi dominada pelo ataque de parabéns. A maioria das


pessoas que lhe ofereciam abraços ou sorrisos ela nem conhecia.

Supôs que estavam lá como convidados do duque.

Evelyn sabia que haveria uma festa em sua residência após o

casamento, mas não esperava ser uma das convidadas de honra.

Foi escoltada até uma carruagem e perdeu sua família de vista.


Evelyn sabia que estava finalmente sozinha; agora era sua vida.

O braço forte do duque se flexionou sob seus dedos e ela


olhou para o homem. Sua atenção estava no lacaio enquanto

baixava o banquinho para que Evelyn pudesse subir na carruagem.

— Cuidado com a bainha do vestido — sussurrou o duque

enquanto a ajudava a subir.

Evelyn se acomodou no assento da carruagem e olhou para o

duque quando ele também estava lá dentro. Quando a porta se


fechou, o mundo encolheu e eles ficaram sozinhos.

— Você realmente está deslumbrante com esse vestido —

disse o duque. Havia um tremor profundo em sua voz que fez

Evelyn estremecer.

— Obrigada — sussurrou. — Seu nome de batismo é James...

—Era estranho dizer isso a alguém que acabara de se casar, mas


era tudo em que conseguia pensar.
— Sim — disse o duque, divertido. — Decepcionada?

Evelyn negou com a cabeça.

— Nunca. Eu sou Eve...Elizabeth

Ele deu a ela um olhar curioso.

— Você costuma esquecer seu próprio nome?

Com uma risada nervosa, Evelyn deu de ombros, impotente.

— Minha irmã Evelyn me ajudou muito com o casamento; acho


que estava pensando nela.

Ele lhe deu um sorriso e Evelyn se esqueceu de respirar.

Sentiu-se tonta com a falta de ar, mas então ele se inclinou em sua

direção e Evelyn decidiu que respirar não era tão necessário. Seus

lábios nos dela a fizeram exalar a respiração que estava segurando.

James riu, as vibrações fazendo cócegas nos lábios de Evelyn.

— Foi um suspiro de agrado ou desagrado?

Evelyn franziu os lábios, que formigaram.

— Foi agradável.

As pontas de seus dedos traçaram seu queixo como se

testassem para ver se era sólido.


— Você não é o que eu esperava.

— Não? — O medo percorreu Evelyn, seguido pela culpa. Ela


era uma farsa e sabia disso. talvez até o duque tenha percebido que

ela estava apenas brincando de ser uma dama.

O momento passou, e sua apreensão desapareceu quando os

lábios dele estavam nos dela novamente. Era como se tivessem

concordado silenciosamente em se beijar, mesmo quando estavam


no meio de uma conversa. Evelyn decidiu que beijar era uma ideia

muito melhor do que falar.

Com angústia, Evelyn percebeu que o passeio de carruagem

já havia terminado. Como foi tão curto? Ela deve ter gemido, porque

James riu.

A ponta do dedo dele tocou o nariz dela, e ela riu do gesto


estranhamente cativante.

— Hora de dar um espetáculo para todas as pessoas boas da

sociedade — disse ele sem entusiasmo. Apesar de suas palavras,

ela lhe dirigiu um sorriso brilhante e lhe ofereceu o braço. —


Preparada, Sua Graça?

 
 

Elizabeth sentiu uma onda de emoções ao ver sua irmã e o duque

deixarem a igreja juntos. De todas as coisas que ela sentiu, o alívio

veio primeiro. Ela viu sua mãe caminhando em sua direção e se


virou rapidamente para escapar na multidão.

Colidiu com outra pessoa e se desculpou.

— Perdoe-me por minha falta de jeito.

— Foi totalmente minha culpa — disse uma voz masculina


amigável.

Elizabeth olhou para o rosto da pessoa com quem havia

colidido e viu um homem que parecia vagamente familiar. Seu

cabelo era encaracolado e desgrenhado sobre seu rosto liso. Ele

tinha o rosto de um poeta, concluiu Elizabeth. Sabia que ele era


amigo do duque, já que o homem estivera ao seu lado enquanto ela

estivera com Evelyn, mas o nome dele escapou.

— É um prazer vê-la novamente, lady Barney. — Elizabeth

deve ter parecido confusa com suas palavras, porque o homem

tentou esclarecer. — Fomos apresentados por lorde Chesterton,


mas talvez tenha se esquecido de todas as apresentações desta
temporada. Lorde Steel, o Conde de Ranson. — Ele disse seu nome

e título enquanto colocava a mão no peito.

Elizabeth assentiu e riu nervosamente. Este era um dos

cavalheiros a quem Evelyn foi apresentada, e ela estava fazendo


papel de boba.

— Perdoe-me, lorde Steel. Minha mente ainda estava em


minha irmã.

— Oh, foi uma cerimônia adorável. — Para alívio de Elizabeth,

Lorde Steel pareceu considerar sua desculpa razoável.

Ela teve que concordar com isso. Evelyn parecia tão fascinada

pelo duque quanto ele por ela. Agora, se pudesse impedir sua mãe

de encurralá-la e perceber as coisas cedo demais, então realmente


teriam uma chance de fazer essa mudança impossível. Elizabeth

olhou em volta, mas sua mãe parecia distraída por um grupo de


damas.

— Parece que a senhorita está evitando alguém — comentou


lorde Steel.

Elizabeth deu-lhe um sorriso tímido.

— É realmente tão óbvio?


— Fico com esse olhar quando tento fugir de minha mãe e de
seus planos — disse ele com uma piscadela que fez Elizabeth rir.

Ela abriu o leque. O ar fresco que fornecia era divino no ar


quente da tarde, ainda mais quente pela multidão que enchia a

igreja.

— Conhece bem Sua Graça?

— Lorde Harley é meu amigo. Sobrevivemos à infância juntos.

— Lorde Steel manteve um bom humor que Elizabeth achou


reconfortante.

Elizabeth arriscou-se a dizer:

— Quer me acompanhar até a saída, lorde Steel? Receio ter


perdido meu grupo  no meio da multidão.

Ele estendeu o braço de bom grado, que Elizabeth pegou com


um suspiro de alívio. Ela ficaria longe de sua mãe, mas ainda seria

decente estar perto de pessoas.

— Viaja com frequência, lorde Steel?

Ele a olhou um pouco surpreso com a pergunta.

— Não tanto quanto eu gostaria, para ser honesto. Não sabia

que estava interessada em explorar o mundo, lady Barney.


Elizabeth pensou em Evelyn, que o conde pensava ser ela.
Sim, ela podia ver por que o homem pensaria isso. Evelyn, apesar
de toda a sua audácia, nunca quis muito mais do que ter uma

família e um lar. Na verdade, Evie era mais a filha que seus pais 
amavam, mesmo que nunca demonstrassem isso.

— Eu ouso dizer que mudei de ideia ultimamente. Decidi não

deixar a sociedade ditar o que faço com meu tempo — disse


Elizabeth, dando ao homem o sorriso mais ousado que conseguiu.
Suas palavras eram audaciosas e ela pretendia mantê-las.

O rosto de lorde Steel exibia uma expressão de admiração. Ela


baixou os olhos, constrangida, para o chão. Ele a conduziu pela

multidão até a frente.

Quando saíram, Elizabeth viu seu pai.

— Ah, lá está meu pai. Me salvou, lorde Steel.

Ele deu a ela um sorriso que era ao mesmo tempo doce e


travesso, e ela não pôde deixar de retribuir.

— Espero vê-la na celebração, Lady Barney.

Seu pai já havia se aproximado.

— Evie, aí está você! Sua mãe foi te procurar.


— Fui engolida pela multidão, mas para minha sorte, lorde
Steel me encontrou e me ajudou a escapar. — Elizabeth fez uma

reverência ao rapaz por sua cortesia para com ela.

Lorde Barney estendeu a mão para lorde Steel. Os dois


homens se cumprimentaram firmemente antes de lorde Barney

dizer:

— Obrigado por trazer minha filha de volta com segurança.

Lorde Steel ignorou os agradecimentos.

— Eu que sou grato por estar no lugar certo na hora certa pela

primeira vez.

Elizabeth chamou a atenção do rapaz e deu-lhe um sorriso


antes que ele se despedisse deles para encontrar sua carruagem.

— Pensei que tinha dito que ele era muito chato — o pai
zombou.

Elizabeth deu de ombros.

— Eu tenho o direito de rever minhas opiniões.


Capítulo 5
 

James se recusou a aceitar mais saudações e parabéns. Ao fazer

isso, seu olhar foi capturado por Evelyn enquanto ela sorria para um
dos convidados. Os olhos da jovem pousaram sobre ele e James viu
uma profundidade neles que não havia imaginado. Era diferente da
mulher que pensava que fosse.

Elizabeth era animada, espirituosa e cheia de surpresas. Ela

era uma mulher com quem ele poderia compartilhar uma vida
inteira, talvez. Não era difícil ver que se apaixonaria por ela, e esse

era seu maior medo.

Evelyn desviou o olhar com a mesma rapidez. O fato de

George ter se aproximado dele para cumprimentá-lo fez com que


sua atenção também fosse desviada de sua esposa.

— Bom para você — George disse com um sorriso. — Fico

feliz em ver que deixou seu celibato para se juntar a nós. Agora, se

pudesse convencer Harry a fazer o mesmo...


— Eu não acho que a própria Afrodite poderia persuadir Harry

a se entregar à felicidade conjugal. — James olhou em volta para


tentar encontrar seu amigo, mas não conseguiu localizá-lo no meio

das pessoas. — Você pode tentar, George, mas temo que seja uma

causa perdida.

George negou com a cabeça e riu.

— Eu ouso dizer que já o incomodo com muitas coisas.

James desistiu e deu um tapinha no ombro dele. George


estava certo, supôs. Certamente Harry não aceitaria melhor o

conselho de seu antigo inimigo do que o de James.

George pediu licença para encontrar sua própria esposa.


James sentiu um leve toque em seu braço e se virou para ver

Evelyn, que o olhava com curiosidade.

— Estava falando sobre lorde Steel?

James assentiu.

— Sim. Não sabia que tinham sido apresentados antes do


casamento.

— Oh, Evelyn me contou sobre ele. Disse que era um

cavalheiro muito simpático. — O olhar envergonhado em seu rosto


fez James rir. — Acho que isso soou estranho.

— De jeito nenhum — James assegurou. — Meu amigo me

disse que foi apresentado à sua irmã e que também a achou

encantadora.

— Isso foi muito doce da parte dele; é um homem gentil —


Evelyn disse com um sorriso.

Ele riu.

— Não acha que sua irmã é adorável?

A mão de Evelyn tocou levemente seu braço.

— Isso não foi o que eu quis dizer. Embora minha irmã seja

muito peculiar.

— Como assim? — James ficou genuinamente intrigado, mas

a conversa foi interrompida mais uma vez quando outro casal se

aproximou deles, com a intenção de fazer com que seus votos

fossem ouvidos. Agradecendo os cumprimentos, James voltou-se

para sua esposa. — Estava dizendo que sua irmã...

Evelyn escondeu uma risada por trás da mão. Seu cabelo ruivo

refletia a luz das velas enquanto seus olhos brilhavam divertidos.


— Acho que está mais interessado na minha irmã do que em

mim.

— Nunca! — James rebateu a acusação com um sorriso nos


lábios. — É que me parece provável que os gêmeos sejam

parecidos. Portanto, se posso conhecer melhor sua irmã, posso


saber mais sobre você.

Evelyn balançou o dedo enluvado para ele.

— Então, esse é o seu plano diabólico...

— Você está me frustrando ou me ajudando? — James


realmente gostou de como era fácil provocar a mulher, os pequenos

toques que ela lhe dava alimentando seu desejo de se aproximar


dela. No entanto, a única coisa que eles podiam fazer na celebração

era flertar.

Evelyn considerou suas palavras enquanto batia no queixo


com o mesmo dedo acusador.

— Eu suponho que poderia ser de ajuda. — Aproximou-se um


pouco mais e sussurrou: — Evelyn não queria se casar. Ela prefere

viajar pelo mundo a ficar presa em uma sala de estar.

— Ela se parece muito com meu amigo — comentou James.


— Ele está mais interessado em viajar.
Os olhos de Evelyn encontraram os dele, e James não pôde

deixar de encarar os olhos verdes dela.

— E você? Você quer viajar?

— Eu mal tive tempo para pensar sobre isso — James


respondeu honestamente. — Com todas as minhas obrigações, eu
só esperava ter tempo para ficar no campo. Sei que pode não

parecer empolgante, mas esse era o meu objetivo.

Evelyn colocou o braço em volta dele.

— Acho maravilhoso. Também nunca pensei muito sobre as


coisas. Acho que devo parecer chata.

Chato não foi a palavra que veio à mente de Evelyn quando


James olhou para ela e lhe deu um sorriso brilhante.

— Adorável — ele corrigiu.

Ela deu aquela risada tímida e ofegante que dava quando ele a
envergonhava. Foi tão divertido trazer à tona o lado tímido da

mulher que James se viu procurando maneiras de trazer cor às


bochechas dela.

— Sua Graça — disse uma doce e melosa voz feminina.


James relutantemente desviou o olhar de sua nova esposa para se
concentrar na recém-chegada. Lady Parris estava sendo empurrada
em uma daquelas cadeiras de rodas que os médicos geralmente
prescrevem para pacientes que não conseguem se mover sozinhos.

— Lady Parris, ouvi dizer que seu tornozelo piorou. Não está 

realmente melhor? — James virou-se para sua esposa. —


Elizabeth, permita-me apresentar Lady Parris, a mãe de meu bom

amigo Harry.

Evelyn fez uma reverência para a mulher mais velha.

— É um prazer conhecê-la. Sinto que tenho que me

familiarizar com tudo, depois da correria do nosso casamento.

— Oh, você é adorável — disse Lady Parris, sorrindo para


James. — Deve levá-la para a minha casa algum dia. Você disse

que ela tem uma irmã?

Evelyn parecia muito divertida quando Lady Parris se


aproximou de James e sussurrou bem alto:

— Você acha que a irmã dela gostaria de Harry?

James limpou a garganta.

— Isso é entre Harry e Lady Barney. De qualquer forma,

certamente iremos passar assim que nos instalarmos.


— Esplêndido — disse Lady Parris grandiosamente, acenando
com o leque como se estivesse diante de um público apaixonado.
James conteve o suspiro enquanto o criado que empurrava Lady

Parris a levou.

— Ela parece adorável — disse Evelyn, mas James podia ver


o riso que ela estava tentando suprimir.

James bufou.

— Você é uma mentirosa.

Depois que os convidados partiram, já a noite, os corredores se

encheram com os murmúrios silenciosos dos criados e o farfalhar


das vassouras conforme a limpeza começava. Evelyn respirou fundo

e esperou perto da escada que James voltasse.

Tinha realmente feito isso. Ela havia se casado com o duque

de Stanford. Evelyn se viu no reflexo de uma janela e olhou para a

estranha mulher que viu refletida nela.


Elizabeth tinha razão. Ninguém sabia, pelo menos na casa dos

Harley. Sua mente foi para James então, e a culpa penetrou em


seus pensamentos.

Era com isso que ela havia sonhado, mas agora que estava ali,

sentia como se estivesse em algum tipo de pesadelo. Mais cedo ou

mais tarde, a fachada desabaria e ela se sentiria humilhada. Evelyn


praticamente pulou quando James dobrou o corredor.

Ele riu.

— Eu não sabia que ia assustá-la. — Sua expressão era de


diversão para preocupação quando seus olhos foram para o jeito

que ela estava segurando seu peito. Realmente tinha se assustado.

Toda essa empolgação e estar em um novo lugar a perturbou.

Sua voz era reconfortante, e Evelyn não teve dificuldade em

concordar com o que ele dizia enquanto a conduzia escada acima,


com a mão nas costas dela. Seu duque podia tornar mágicas

algumas palavras simples. Ele poderia lançar um feitiço para roubar

seu fôlego com apenas um olhar de seus olhos castanhos.

Caminharam em silêncio, mas era um silêncio confortável. A

mão dele embalou seu cotovelo enquanto a outra descansava na


parte inferior de suas costas, como se a protegesse. Evelyn se

inclinou para ele tanto quanto ousou.

Sentiu-se entorpecida por sua proximidade até que ele se

afastou para abrir a porta quando eles pararam, então estendeu a

mão para conduzi-la ao quarto.

— Espero que você ache confortável.

Evelyn passou cautelosamente por ele e entrou no quarto. Deu

uma olhada. Ficou claro que este era um espaço que antes era
ocupado por um único homem.

— Está muito escuro — observou Evelyn.

James riu.

— Eu acho que não faria mal uma nova camada de tinta.

Evelyn virou a cabeça para ele com um sorriso.

— Você é muito fácil de persuadir.

— Marido e mulher não deveriam ser generosos um com o

outro? — James puxou sua gravata e Evelyn olhou para ele

divertida. Uma vez que ele desfez o nó, jogou-a em uma cadeira. —
Eu estava sufocando.
Evelyn assentiu e foi olhar pela janela. A lua estava pequenina

e a pouca luz entrava pelas janelas do primeiro andar da casa.

— O que dá para ver pela janela?

— Parte do jardim — James respondeu enquanto se

aproximava dela. — Poderá vê-lo melhor pela manhã.

Suas palavras causaram arrepios em Evelyn. Pela manhã,


depois de terem passado a primeira noite juntos. Evelyn sentiu a

ponta do dedo dele afastar uma mecha de cabelo de sua bochecha.

Seus olhos encontraram os dele, mas o medo que sentiu

desapareceu quando os olhares se encontraram. Sentiu que

precisava dizer alguma coisa, mas sua boca estava seca e seus
lábios grossos e desajeitados. Talvez tivesse bebido muito vinho

quente, ou talvez fosse apenas porque o duque estava

insuportavelmente perto.

Ele estendeu a mão com curiosidade e passou os dedos por

seus cabelos, libertando os fios castanhos e escuros do laço que os


prendia.

Logo, Evelyn estava com os cabelos compridos soltos.

— É difícil acreditar que esta é a sua cor natural, mas eu sei


que é.
— Seria difícil deixar minha irmã igual espremendo suco de

beterraba em nossas cabeças — Evelyn respondeu com um sorriso.

James aceitou com um aceno de cabeça. No momento

seguinte, ele a estava beijando. Não foi apressado ou forçado,

apenas se inclinou para ela e ela permitiu.

A sensação de seus lábios contra os dela, de suas mãos 

deslizando em torno de sua cintura, fez Evelyn flutuar como em uma


nuvem. Ela sonhou com esse momento uma dúzia de vezes, mas

nunca o beijo foi tão doce. As carícias imaginárias de um amante de

sonho não eram algo que se pudesse comparar com a sensação


real.

Evelyn nunca sentiu tais sentimentos porque ela simplesmente


nunca tinha feito isso antes. Ela foi levada pelas emoções da

experiência, assim que o duque pegou seu corpo em seus braços.

Quando seus lábios se separaram, ela sussurrou:

— Eu sempre soube disso.

— Talvez em mil vidas — James sussurrou para ela. Evelyn


não esperava tal resposta, mas dissera a coisa certa.

Evelyn sorriu.

— Estou sonhando?
— Eu certamente espero que não. — James se inclinou para

frente, e ela se juntou a ele em um beijo alegremente atrevido,


mesmo quando o homem a segurou em seus braços. Era sua

esposa. Era mais que natural, era perfeito.

Ele fechou os olhos para deleitar-se com a sensação de tudo

isso. Seus lábios se separaram dos dela e ele sussurrou:

— Elizabeth...

Foi nesse momento que a realidade atingiu Evelyn. Nem sabia

o nome dela. Ele pensava que era outra pessoa.

— O que está acontecendo? — James parecia preocupado. —

Você parece triste.

Evelyn empurrou seu peito e ele a deixou se afastar.

— Quase esqueci — sussurrou.

James ergueu as sobrancelhas.

— Quase esqueceu o quê?

Ela piscou para ele.

— Eu quase esqueci onde eu estava.

— Bem, agora você se lembra — James disse com um sorriso


enquanto a puxava para ele. Evelyn colocou as mãos no peito dele
e James a beijou novamente.

Evelyn ficou com vergonha de retribuir. Ela ansiava por ir para


a cama com ele, mas mesmo sendo casados, ela hesitava.

— Não posso. — Suas palavras eram um escudo que ela


jogou desesperadamente para ele quando ele quebrou o beijo por

um momento.

— Algo está errado — James concluiu, olhando para ela com

preocupação. — Apenas me diga o que é, e prometo que farei tudo


o que puder para consertá-lo.

Evelyn pôs a mão na bochecha dele e sorriu ao olhar para ele.

— Não há nada para consertar. Só não estou acostumada a


estar em uma nova casa.

— Eu realmente não fiz nada para lhe causar desconforto? —


James colocou a mão sobre a mão que ela havia colocado em sua
bochecha.

Evelyn negou com a cabeça.

— O único problema que você causou é meu coração


acelerado. Querido James, você não fez nada de errado.

Ele parecia interpretar as palavras dela literalmente.


— Acho que a primeira noite em uma casa nova deve ser um
pouco perturbadora. Não tem pressa. Afinal, temos uma vida inteira.

Ela poderia ter chorado com a doçura de sua calma e


compreensão.

— Obrigada — ela sussurrou.

Ele a colocou de volta na cama.

— Você vai me deixar te abraçar?

Evelyn assentiu enquanto se deitava ao lado dele.


Aconchegada contra ele e aninhada em seus braços, Evelyn pensou

que nunca conseguiria dormir com o coração batendo tão forte no


peito. No entanto, o sono finalmente a venceu e ela adormeceu pela
primeira vez nos braços de seu duque.
Capítulo 6
 

— Harriet, o que isso significa? — Lorde Barney estava sentado

atrás de sua mesa, o rosto inchado com uma expressão de


indignação.

Lady Barney endireitou os ombros e ignorou o aborrecimento


de seu marido por ter invadido seu escritório.

— Thomas, o assunto é importante. Tenho que te dizer algo.

Sua testa enrugou do jeito que fazia quando sabia que más

notícias estavam chegando.

— Deixe-me beber este conhaque. Qualquer coisa que você


queira me dizer no dia do casamento de nossa filha não pode ser

feito sem conhaque.

Lady Barney franziu a testa para o marido e cruzou os braços

sobre o peito. Assim que ele bebeu o último gole do copo, ela

perguntou:
— Posso continuar?

— Claro — disse lorde Barney, e respirou fundo enquanto

colocava as mãos na mesa.

Ela olhou para ele com uma boa dose de tolerância,

acumulada ao longo de mais anos do que ela gostaria de contar.

— Como você obviamente não disse nada, só posso deduzir

que não percebeu o que suas filhas fizeram.

Os olhos de Thomas se estreitaram para ela. Lady Barney


suspirou e colocou as mãos nos quadris.

— Thomas, não foi Elizabeth quem se casou com o duque

hoje. Como você pode não diferenciar suas filhas?

— Bem, Harriet, elas se parecem um pouco. — A bravata bem-

humorada de Thomas durou apenas uma fração de segundo, foi


todo o tempo que levou para que a implicação do que sua esposa

havia dito chegasse ao seu cérebro. — Que o Senhor tenha

misericórdia de nós. E se o duque descobrir?

Lady Barney estendeu a mão para acalmar o marido quando

ele começou a torcer as mãos.


— Tenho certeza de que as meninas tinham um motivo para
fazer o que fizeram. Não consigo descobrir o que poderia ser, mas

pretendo chegar ao fundo disso.

— Você não pode querer trazer isso à tona... — O queixo de


lorde Barney caiu. — O escândalo pode prejudicar irreparavelmente

nossa reputação.

Lady Barney caminhou até o marido e colocou as mãos em

seus ombros.

— Calma, Thomas. Devemos manter as aparências, ou as

pessoas podem suspeitar. Seja qual for o motivo das meninas para

inventar essa armação, elas fizeram a cama e terão que dormir nela.

— Não podemos trocá-las novamente?

Lady Barney revirou os olhos.

— Thomas, você acha que o duque não perceberia que a


mulher que ele já levou para sua cama de repente é virgem de

novo?

Lorde Barney cobriu o rosto com as mãos grandes. Lady


Barney se encolheu quando ele bateu na mesa em seguida.
— Como Elizabeth e Evelyn ousam fazer isso? — Sua voz saiu

tão alta que lady Barney o silenciou na hora.

— Querido, fale baixo.  Os criados têm ouvidos e boca. —


Lady Barney esfregou os ombros do marido. —Vamos resolver isso

em ordem, primeiro Elizabeth e depois sua irmã.

Os recém-casados costumavam fazer visitas de bom grado. O


problema não estava com eles, mas com o próprio James.

Descobriu que não conseguia se concentrar no que o homem


estava dizendo, embora normalmente estivesse interessado.

Não, tudo em que James conseguia pensar era em sua nova

esposa, que estava sentada ao seu lado. Não ajudou que Elizabeth
roçasse nele com seus dedos leves, acariciando seus pulsos
enquanto tentava chamar sua atenção para que prestasse atenção.

Ele não sabia se ela fazia isso de forma deliberada ou


ingenuamente. Só sabia que iria enlouquecer se ela não parasse de
tocá-lo. Tinha sido uma tortura dormir com ela todas as noites desde

o casamento e não o consumar.

James sabia que os casais tinham que consumar o casamento


na primeira noite, mas não queria forçar Elizabeth a fazê-lo. Sabia

de casos em que suas esposas se afastavam depois de tais


experiências, e não queria que isso acontecesse. Só queria que a

esposa viesse até ele por vontade própria.

Deu a ela um sorriso. Ela o devolveu antes que a esposa do

conde perguntasse a Evelyn:

— A senhora costura, Sua Graça?

— Não a encoraje a discutir sua costura — o conde advertiu


com uma risada calorosa.

A esposa do conde ignorou seu comentário.

— Ele só está chateado porque preferia estar no jardim


correndo como um cervo.

— O médico diz que é bom para minha saúde. Não concorda,


Sua Graça? — O conde olhou para James, lembrando-o de fingir
interesse novamente.

James deu de ombros.


— Eu gosto de um bom jogo tanto quanto qualquer um.

Conversaram brevemente sobre jogos, até mesmo as damas,


mas eventualmente a conversa morreu. James estava prestes a
encerrar a visita quando o conde derramou um pouco de chá em si

mesmo. Sua esposa se desculpou rapidamente e conduziu o conde


para fora da sala.

James virou-se para sua esposa.

— Acho que esta é a parte mais agradável da visita até agora.

Elizabeth suspirou e apoiou os cotovelos na mesa.

— Isso não é nada educado, Sua Graça.

— E ainda assim você não pode negá-lo. — James deu a ela


um pequeno brinde com sua delicada xícara de chá. — Esta não é a

menor xícara que você já viu?

O bufo de Elizabeth foi o mais divertido para James. Ela riu


quando ele a pegou pela cintura e a puxou para perto dele. Tanto foi

pega de surpresa que nem protestou quando James a beijou.

Elizabeth olhou para ele atentamente depois de se virar.

— Você está certo — sussurrou. — Esta é a melhor parte da

visita.
— Eu posso derramar chá nele novamente quando voltarem.

— Não se atreva — Elizabeth repreendeu, mas seu sorriso


disse a James que ela não estava realmente ofendida com a ideia.

Ela levantou a cabeça e pressionou os lábios contra os dele.

James estava prestes a responder quando ouviu passos. Tanto


ele quanto Elizabeth voltaram rapidamente para suas respectivas
cadeiras. Elizabeth pigarreou quando o conde e a condessa

retornaram.

Foi preciso muito esforço para James não honrar sua oferta de

derrubar o chá no conde, e mal conseguiram sobreviver ao resto da

visita. Com grande alívio, foram acompanhados até a carruagem.


Elizabeth também parecia muito feliz em ir.

James se perguntou se ela estaria mais disposta a ficar com

ele agora, mas não queria abusar muito da sorte. Na carruagem, se

sentaram separados, mas os olhos de Elizabeth foram para ele. A

volta para casa seria curta, então manteve um comportamento


respeitável ficando onde estava.

Quando chegaram em casa, James conduziu Elizabeth escada

acima com o braço em volta da cintura dela.

— Estou tão feliz por estar em casa... — James sussurrou.


Seu objetivo era levar a esposa para cima, mas um criado

bloqueou seu caminho.

— Sua Graça, tem um visitante em seu escritório.

James impediu de gemer alto e limpou a garganta.

— Ele tem um nome?

— É lorde Peterson, Sua Graça. Ele diz que precisa conversar

com o senhor sobre um assunto importante.

James revirou os olhos. Lorde Peterson provavelmente queria


saber em que James votaria na próxima sessão da Câmara dos

Lordes. Não era um assunto tão importante para vir sem avisar, mas

tinha que cuidar disso.

— Receio que lorde Peterson seja um pouco prolixo às vezes.

Você pode ter que se distrair sozinha esta tarde — James disse a

Elizabeth com consternação.

Ela deu a ele um sorriso doce e um beijo no queixo.

— Vou encontrar algo para me entreter. Você tem suas tarefas,


afinal.

—É verdade, mas isso não quer dizer que eu tenha que gostar
sempre delas. — James a beijou na testa. — É melhor eu ir.
Peterson tem tendência a ficar de mau humor quando fica

esperando.

Deixou Elizabeth ao pé da escada enquanto se dirigia para seu

escritório. Seu rosto se transformou em uma carranca enquanto

caminhava determinado em direção ao homem que havia frustrado


seus planos. James estava bem ciente de seus deveres, mas

definitivamente não precisava gostar deles sempre.

Para desgosto de Evelyn, a visita de James não foi um evento

isolado. O homem parecia ser constantemente requisitado em

lugares que muitas vezes ela não podia acompanhá-lo, então

começou a preencher seu tempo explorando sua nova casa,


principalmente para evitar ter que se sentar com a mãe de James na

sala de estar. Ela gostava da sogra, mas estava acostumada a ter

tempo para si mesma. Ainda podia passar as refeições conversando


com a mãe de James, o que parecia contentar a mulher o suficiente.

Naquele dia, Evelyn iria revisitar a biblioteca que havia

descoberto alguns dias antes. Queria encontrar algo para ler para
passar o tempo. Prendeu a respiração enquanto olhava a biblioteca

e só a soltou quando a encontrou vazia.

O cômodo tinha estantes de livros que iam até o teto alto e


uma escada que circundava a sala para permitir que qualquer

pessoa alcançasse os que estavam acima. Evelyn olhou para os

livros mais próximos da porta e achou-os chatos e científicos.

Franziu a testa e atravessou a sala em busca de um grande livro de


contos de fadas.

Talvez encontrasse uma leitura mais leve se procurasse entre

as histórias infantis. Estava absorta em sua busca quando de

repente ouviu uma voz profunda.

— Procurando alguma inspiração?

Evelyn agarrou o livro que estava segurando contra o peito e

soltou um gritinho.

James riu enquanto caminhava em sua direção. Parecia que

ele tinha acabado de chegar.

— Eu não queria te assustar. O mordomo me disse que a viu


entrando aqui.

— Fico feliz em te ver. — Ela deu a ele um sorriso caloroso. O


casaco cinza que ele usava quando saía emoldurava seu corpo
perfeitamente enquanto andava. — Fico feliz em ver que voltou são

e salvo de sua visita.

James assentiu e suspirou.

— Eu também. O que você tem aí?

Evelyn riu.

— Acabei de pegar, então não tenho certeza.

— Ah, poesia — James deduziu quando viu o nome de lorde


Byron na encadernação do livro.

Evelyn sentiu-se corar.

— Eu não tinha percebido o que era...

— Não fique envergonhada; ele tem uma maneira magistral de


se expressar — disse James com um sorriso.

Evelyn encostou-se na estante atrás dela e olhou para o


marido com curiosidade.

— Você gosta de lorde Byron, não é?

— Eu li algumas de suas obras — James admitiu com um


encolher de ombros. — Parecem interessantes, embora eu nunca

tenha tido muito com o que compará-las até agora.


Ela negou com a cabeça.

— Você quer me envergonhar.

— Quero roubar um beijo de seus lábios. — James descansou

a mão na prateleira ao lado de sua cabeça. O sorriso em seu rosto

era brincalhão e, embora Evelyn tivesse certeza de que ele estava


cansado da viagem, não demonstrou.

Prendeu a respiração quando ele se inclinou para roçar sua

boca com os lábios fechados. Ela não pôde deixar de separar os

dela para pedir que ele a beijasse novamente. Mas James não o

fez.

Em vez disso, ele a beijou no queixo. Ela ofegou quando seus


lábios encontraram seu pescoço. Suas pálpebras se fecharam ao

sentir seus beijos em seu pescoço sensível.

— Elizabeth — ele sussurrou para ela.

O nome era como se água fria tivesse sido jogada nela. Ela

balançou a cabeça e empurrou seu peito. A princípio, ele não se

mexeu, mas aos poucos foi se afastando.

— Você deveria comer e descansar, James. Não quer ficar

doente...
— Não consigo pensar em muitas coisas que me fariam sentir
mais saudável do que apreciar a luz em seus olhos — respondeu

James.

Evelyn rejeitou suas palavras, mas ele a agarrou pela cintura e

a puxou para perto. Podia sentir sua dureza mesmo através de suas
saias e calça dele. James capturou sua boca em um beijo

esmagador que era forte e glorioso.

Evelyn ofegou quando ele se afastou.

— James — ela sussurrou.

— Você me ama, não é? — James perguntou, como se


implorasse por uma resposta.

Evelyn suspirou para se libertar.

— Eu te amo — ela admitiu em voz alta pela primeira vez.

— Então você tem que saber que eu sinto o mesmo. Casar


com você foi a melhor coisa que já me aconteceu. —James

acariciou seu rosto com ternura. —Quero que seja feliz.

Evelyn desejou limpar a incerteza de seu rosto, mas ela baixou


o olhar. Estava mentindo para ele, não sobre seus sentimentos, mas
sobre algo muito mais importante. Como ele poderia amá-la, se
realmente não a conhecia?

A mão dele deixou seu rosto, e Evelyn percebeu seus dedos


traçando as linhas de seu pescoço e ombros antes que ele se

movesse para explorar seus seios. Sua respiração ficou presa na


garganta quando ele segurou seu seio, acariciando e massageando.

Evelyn fechou os olhos para não cair em seus quentes olhos


castanhos. Era a única defesa que tinha contra se perder
completamente no momento. Se ela se entregasse agora, seria ela

ou a imagem de sua irmã compartilhando sua cama?

A mão de James encontrou os laços de seu vestido de


musselina simples, e ela gemeu quando afastou a mão dele.

— James, estamos na biblioteca.

— Você está certa — James respirou contra sua pele enquanto


se inclinava para beijar seu pescoço. Ela não sabia se ele a beijou

para acalmá-la, mas funcionou. Ficou sem forças sob seu efeito.

James passou as mãos pela cintura dela, por baixo da saia.

Ela não teve coragem de resistir e apenas o deixou fazer o que


queria.
Ela ofegou quando sentiu a mão dele deslizar sob sua saia, ao
longo da parte interna de sua perna.

— James — ela respirou freneticamente. Apesar de suas

dúvidas, ela se viu esperando que seus dedos encontrassem.

Um barulho vindo do corredor interrompeu o momento. James

endireitou-se rapidamente e puxou a saia dela para baixo. Evelyn


respirou suavemente enquanto passava a mão pelo cabelo para se
certificar de que ainda estava preso.

O padrasto de James entrou alguns momentos depois.

— Ah, aí está você, James. — Então ele notou Evelyn e deu-

lhe um sorriso. — Desculpe interromper, Evelyn, mas preciso que


James revise alguns papéis que acabaram de chegar.

Evelyn limpou a garganta.

— Claro. — Ficou surpresa que sua voz soasse de alguma


forma normal com a forma como seu coração batia contra sua caixa
torácica.

Por sorte, seu sogro não pareceu notar e saiu rapidamente da

sala assim que James lhe disse que iria em breve. Então ele se
virou para ela com um suspiro.
— Deveríamos ir para o campo.

— Como? — Evelyn perguntou com um sorriso diante de sua


piada.

Ele riu e balançou um dedo.

— Não me tente, lady Harley. Eu poderia sequestrá-la e levá-la


para alguma ilha onde nunca nos encontrariam.

Evelyn negou com a cabeça para o marido.

— E quanto a seus deveres?

James a puxou para perto dele e ela se inclinou para frente de

bom grado. James sussurrou:

— Para o inferno com os deveres, Elizabeth. Só quero que


fiquemos juntos sem interrupções.

A pontada de culpa por ser chamada pelo nome de sua irmã


não impediu Evelyn de sorrir de volta.

— Então, quando vamos para o campo?

— Assim que eu puder ficar uma ou duas semanas sem


precisar aparecer em algum lugar para as pessoas verem. — James

suspirou pesadamente. — É provável que seja perto do Natal a este


ritmo.
— Mas então temos festas para ir — ela o lembrou.

— É difícil conseguir herdeiros se nunca ficamos sozinhos —

James riu.

Evelyn corou, mas teve que concordar.

— Vá até seu padrasto e veja por que esses papéis são tão

importantes. Estarei aqui.

James lhe deu um leve beijo e saiu para tratar dos negócios
que seu pai tinha para ele. Evelyn encostou-se na estante e
suspirou. Por mais que quisesse aproveitar as afeições de James,

hesitava em se permitir ceder a elas. Era a ela ou Elizabeth que ele


realmente amava?
Capítulo 7
 

Phoebe ficou muito satisfeita consigo mesma por ter recebido um

convite para o piquenique de lorde Penton e sua esposa. A


temporada já estava no final e a maioria dos casais já estava
formado, mas isso não importava para Phoebe.

Havia sido deixada em uma posição um pouco escandalosa,


mas estava ali por um único motivo: reconquistar o duque de

Stanford. Tinha ouvido que ele tinha ido embora depois da sua
exposição pública, na qual lhe tinha dito que não estava interessado

nela.

Poderia não parecer tão estranho, mas Phoebe entendeu que

talvez o duque se sentisse mal pela forma como a havia tratado. Ele
a havia entendido mal, quando jogou seus sentimentos em seu

rosto. Podia ser rancorosa, mas não era isso que o amor fazia.

O amor perdoava. Ela respirou fundo quando o nome de Sua

Graça, o Duque de Stanford, foi anunciado. Seu queixo caiu


quando, junto com o duque, o nome de sua esposa também foi

anunciado. Enquanto ela estava fora da sociedade consertando seu


coração, o homem havia se casado?

Como ousava? Alice apareceu ao seu lado.

— Eles acabaram de anunciar uma duquesa? — Alice

perguntou.

— Ele me despreza e depois se casa com outra? — Phoebe

franziu o cenho para o casal. — Quem é essa?

— Não sei. Eu posso perguntar por aí. — Alice olhou para

Phoebe, e assim que ela assentiu, saiu em busca da fofoca.

— Ela é apenas uma garota — Phoebe resmungou baixinho.

Alice reapareceu depois de uns quinze minutos.

— O nome dela é Elizabeth Barney, e parece que ela e o

duque estão casados ​há apenas uma semana.

— Bem, eu espero que aproveite a sua estadia na minha

cama. Em breve reivindicarei meu lugar de direito. — Phoebe olhou

para eles enquanto saíam para a pista de dança. A maneira como o

duque segurava sua esposa fez o coração de Phoebe afundar. Ela

deveria ser a única a dançar com ele.


— Lady Foreman — disse lorde Steel enquanto Phoebe se
aproximava deles.

Isso colocou um sorriso em seu rosto. Lorde Steel estava lá na

noite em que o duque a rejeitou. Ela não tinha dúvidas de que ele a
estava abordando para impedi-la de interferir entre seu amigo e sua

nova esposa.

— Lorde Steel. — Phoebe fez uma reverência ao conde de

Ranson.

Ele deu a ela um sorriso caloroso.

— Eu só queria vir lhe dizer que estou tão feliz por vê-la de
volta à sociedade. Eu sei que meu amigo se sentiu muito mal sobre

como as coisas terminaram.

— Ele parece bastante recuperado — observou Phoebe


enquanto observava Lorde Harley dançar com Evelyn.

Lorde Steel virou-se para seguir o olhar dela.

— Ele encontrou a felicidade, e desejo o melhor para ele e sua

esposa. Esperava que a senhorita pudesse fazer o mesmo.

— Claro — assegurou Phoebe. — Eu nunca faria nada para

prejudicar Lorde Harley. Eu ainda o amo muito. — Suas palavras


eram verdadeiras. Se ele entendeu com isso que ela deixaria o

duque em paz, não era problema dela.

Lorde Steel assentiu.

— Me alegra escutar isso. Espero que tenham uma ótima

noite, lady Foreman, lady Mayer.

Alice fez uma reverência. Depois que lorde Steel se foi, ela
sussurrou:

— Foi ousado.

— Sim, bem, o problema com pessoas como lorde Steel e meu


querido duque é que eles assumem que podem fazer o que

quiserem. — Phoebe suspirou. Seu lindo vestido verde não lhe


serviria de nada esta noite.

— O que vai fazer agora? — Alice parecia curiosa. Ela podia

se dar ao luxo de se interessar apenas levemente por todas as


bobagens da temporada de Londres. O pai de Alice já havia

arranjado um casamento para ela, pelo que agradecia, já que ela


não gostava muito de aparecer nesses eventos.

Phoebe mordeu o lábio enquanto olhava para o casal.


— Vou ouvir — disse por fim. — Todo mundo tem segredos,

Alice. Vou descobrir o desta garota, e então vou mostrar ao duque o


erro de suas ações.

As semanas após o casamento se desenrolaram em um sem-fim de

bailes, eventos sociais e visitas a vários parentes ou membros


proeminentes da sociedade. Evelyn estava ficando cansada dos
compromissos constantes, mas, ao mesmo tempo, seu mundo

parecia se abrir. Ela e James estavam ficando mais próximos, e se


ela pudesse parar de sofrer a agonia de sua culpa, as coisas seriam

perfeitas.

Inspirou fundo enquanto assistia a outra dança. Evelyn nem se


lembrava de quem era o anfitrião, para ser sincera, e achou melhor

assim. Estaria em outro igual no dia seguinte, sem dúvida.

— Elizabeth! — A voz estrondosa de seu pai fez Evelyn olhar


em volta.
Ela sorriu e recebeu o abraço avassalador do homem com
uma aceitação que só vem de ter um pai.

— Pai, estou tão feliz em vê-lo. A mamãe e a Evelyn também


estão aqui? — Parecia muito estranho perguntar sobre si mesma,

mas ela tinha que manter a aparência de normalidade.

— Sim. — Ele assentiu enquanto dava um passo para trás. 

Havia algo na maneira como ele a olhava que fez Evelyn sentir que
algo estava errado.

Franziu a testa.

— O que foi?

— Posso falar com você por um momento? — A voz do pai


assumiu um tom sigiloso que Evelyn nem sabia que ele podia ter.

Ela assentiu lentamente.

— Claro.

Seu pai mal a deixou terminar suas palavras antes de


empurrá-la em direção a uma porta. Não parou até que estivessem

em um pequeno corredor com vista para os jardins.

Quando ele parou, passou a mão pelo cabelo.

— Não há necessidade de fingir, Evelyn. Eu sei a verdade.


Ela olhou para ele por um momento antes de rir com energia
nervosa.

— Que tipo de brincadeira é essa? Alguém falou algo?

Lorde Barney negou com a cabeça.

— Isso não é uma brincadeira. Não sei por que você decidiu
fazer isso, mas como disse à sua irmã, tomou sua decisão e agora

deve segui-la para o bem de todos nós.

Evelyn balançou a cabeça.

— Como soube?

— Por sua mãe, ela sempre soube distingui-las melhor do que

eu — admitiu o pai.

Ela suspirou.

— Estou preocupada, pai. Não sei se posso continuar

mentindo para James. — Evelyn recuou um pouco e olhou para as


estrelas. — E quanto a Elizabeth? É justo que tenha que fingir ser

eu pelo resto da vida por um momento de pânico?

— Ela fez sua escolha, Evie. — Ele a olhou severamente. —

Vocês duas tomaram a decisão de fazer uma coisa muito tola e

agora devem viver com isso pelo bem de sua família.


Evelyn sabia que o escândalo seria perigoso para sua família,

mas pensou que talvez uma vida inteira fingindo ser outra pessoa
pudesse ser uma punição grande demais para seus crimes.

— Não sei se consigo — admitiu Evelyn.

— Você não tem escolha. — Lorde Barney, apesar de suas


palavras duras, deu um aperto no ombro de Evelyn. — Fico feliz que

você se preocupe com seu marido, mas acha justo arrastá-lo para

um escândalo que ele não procurou?

Phoebe estava conversando com um cavalheiro quando os viu

desaparecer no jardim. Era exatamente a coisa suspeita que


Phoebe esperava que acontecesse. Precisava de algo que a

levasse para ver o duque.

Claro, ela não tinha ideia de que quando seguiu os dois para o

jardim, em vez de ter um caso, ela caiu em um escândalo ainda

mais estranho. A esposa do duque era na verdade sua irmã, se


passando por Elizabeth. Phoebe mal podia acreditar em sua sorte.
O duque poderia ter ignorado seus avanços durante a

temporada, chegando até a partir seu coração, mas não havia como

o homem ignorar isso. Phoebe se escondeu atrás de uma porta


enquanto lady Harley e seu pai emergiam do jardim. E sorriu.

Phoebe sabia como garotas como lady Barney pensavam. Ela


devotaria sua lealdade à sua família antes de sua lealdade para com

o duque. O duque de Stanford valorizava a honestidade acima de

tudo, o que tornava a traição de sua nova esposa ainda mais


gratificante.

Mas ele não acreditaria nela se contasse. Precisaria de provas


claras, e ela sabia como obtê-las. Phoebe esfregou as mãos. Havia

trabalho a fazer, mas ia valer a pena.

Ficaria feliz em lembrá-lo de como ele era ruim em julgar o

coração das mulheres. Claro, não seria cruel sobre isso. Phoebe

queria que o duque a olhasse com novos olhos e visse que ela
sempre fora leal.

 
Elizabeth finalmente viu Evelyn e foi falar com ela quando a viu

sozinha.

— Elizabeth — disse enquanto se aproximava de Evelyn. —


Estou tão feliz por ter te encontrado...

Evelyn olhou ao redor e fez sinal para que Elizabeth fosse com
ela, então a levou para os jardins.

— Acho que você está aqui pelo pai.

— Na verdade, estou aqui porque queria dizer o quanto estou

feliz por você. Você parece realmente esplendidamente feliz, Evie.

— Elizabeth abraçou a irmã. — Não se preocupe comigo. Estou

pronta para continuar com a mentira. O que é um nome senão uma


bobagem? Eu te amo, Evie.

Evelyn sentiu lágrimas brotarem em seus olhos e as enxugou

com um lenço que guardava na bolsinha presa ao pulso.

— Elizabeth, isso não é justo com você. Além do mais, não é

justo com o duque.

Elizabeth negou com a cabeça.

Não quero que perca seu sonho. Isso é o que você sempre

quis. Agnes e eu tivemos algumas conversas interessantes,


especialmente antes de ela perceber que eu não era você.

Evelyn riu e corou.

— Espero que você não a tenha assustado muito com a


revelação.

— Na verdade, eu estava muito tonta. — Elizabeth deu de


ombros com um sorriso. — Estamos todos felizes que você

finalmente encontrou seu lugar.

A culpa tomou conta de Evelyn.

— Aprecio sua vontade de fazer isso, Elizabeth, mas como

meus sentimentos pelo duque cresceram, percebi que nem tudo é

paixão e romance. Ele merece minha honestidade, irmã.

Elizabeth estendeu a mão para Evelyn.

— Eu estarei com você, não importa o que decidir. Não acho

que mamãe e papai se sintam confortáveis ​com isso, mas digo para
fazer o que achar melhor, Evie.

Agarrou a mão da irmã. Elizabeth foi a primeira pessoa que lhe

dizia para fazer o que sentia em seu coração. Pelo menos uma

pessoa a entendia, e Evelyn agarrou-se a essa linha de vida.

Elas compartilharam um sorriso. Elizabeth sussurrou:


— Está linda. O casamento combina muito bem com você.

— É maravilhoso — concordou Evelyn. — Achei que acabaria

sendo muito diferente da visão que eu tinha dele. De certa forma,


estava certa. É muito melhor.

Elizabeth sorriu para ela.

— Você me faz querer esse tipo de conexão.

— Sempre há o lorde Steel — Evelyn sugeriu com outro

sorriso.

Elizabeth pareceu pensar um pouco.

— Talvez. Ele é um homem adorável, mesmo que eu tenha

feito papel de boba quando o conheci. Ou devo dizer, você fez.

Evelyn mostrou a língua para Elizabeth como costumava fazer


quando criança.

— Eu gostaria que você pudesse se casar com ele como você

mesma. Realmente torna as coisas muito complicadas fingir ser

alguém que você não é.

— Entendo — admitiu Elizabeth. — No entanto, não estou

pronta para me casar com ninguém. Eu só quero essa conexão.

Seria bom saber que alguém está lá para você.


Evelyn abraçou a irmã.

— Tenho certeza de que você vai encontrar. Eu creio nisso de


todo o meu coração.

Elizabeth deu-lhe um aperto enquanto se abraçavam.

— Seu coração está cheio de romances e poesias, e não sei


se isso faz sentido no mundo em que vivemos.

Evelyn não se ofendeu com as palavras de Elizabeth. Talvez

fosse verdade que Evelyn não era a mais lúcida com seu amor pelo

duque colorindo o mundo ao seu redor de rosa.

— Você vai encontrar.

— Jura? — Elizabeth perguntou, ecoando um antigo

sentimento de infância.

Evelyn sorriu.

— Eu juro.
Capítulo 8
 

Harry estava ocupado quebrando a crosta de um bolo de carne em

seu clube de cavalheiros favorito.

— Tem certeza de que algo não está o incomodando?

James brincou com seu bolo e suspirou.

— Eu realmente não sei, Harry. — Inclinou-se para a frente e


baixou a voz para que não chegasse às mesas vizinhas. — Eu disse
que Elizabeth estava indecisa.

— Ela ainda o está afastando? — Harry parou a meio caminho

de sua boca com uma garfada de bolo.

James negou com a cabeça.

— Ela parece disposta, mas algo a preocupa. Não consigo

identificar a expressão em seu rosto. É como se ela se sentisse mal.

— Talvez isso seja normal para as mulheres. São tão

pressionadas  para não gostar dessas coisas que talvez seja um


bom sinal que ela se sinta assim. — Harry deu de ombros. — O que

você planeja fazer sobre isso?

James colocou o garfo no prato enquanto descartava a ideia

de comer.

— Assim que o próximo baile terminar, pretendo levá-la para o

campo. Acho que estar longe de todas essas distrações pode


facilitar sua transição. Afinal, não tivemos uma lua de mel de

verdade.

— É verdade. Talvez ela esteja esperando pela lua que lhe

prometeram — Harry disse, balançando a cabeça.

Com outro suspiro, James teve que concordar.

— É possível. Eu deveria ter planejado uma mudança mais


silenciosa nesta nova vida. Em vez disso, ela recebeu muita

agitação e acho que isso a faz resistir.

— Então uma semana no campo deve ser suficiente. — Harry

sorriu para James. — Relaxe, amigo. Você terá uma casa cheia de

crianças ruivas, disso não tenho dúvidas.

James desejava ter a confiança de Harry no futuro. Ele

adorava Elizabeth, mas não podia deixar de sentir que ela não
permitia que ele realmente a conhecesse. Sempre parecia
reservada, como se estivesse prendendo a respiração e esperando.

— Você acha que a irmã dela irá ao próximo baile? — Harry

perguntou com a boca cheia de bolo, e James fez uma careta para o
amigo.

— Eu posso te dizer se você prometer não comer assim na

frente dela — James zombou.

— Desculpe — Harry disse com uma risada enquanto limpava


a boca com um guardanapo.

James balançou a cabeça.

— Eu acho que Elizabeth disse que sua irmã estaria no baile

amanhã à noite. Está interessado nela?

— Ela apenas parece uma boa companhia. — Harry colocou o

guardanapo sobre a mesa e olhou para James com irritação. — Eu


posso ser amigo de uma mulher.

— Sim, você pode — James concordou — mas você

raramente fala com elas, então é uma raridade.

Harry pegou o garfo e acenou para James.


— Não comece com suas teorias. Somos apenas duas

pessoas que se gostam.

— Ah, agora ela gosta da sua companhia, certo? — James riu


do olhar que Harry deu a ele. — Paz, amigo. Não quero ser

golpeado com um garfo. Só estou brincando.

Harry resmungou.

— Você brinca do mesmo jeito que minha mãe faz.

— Ela já se recuperou? — James achou a aventura da mulher


com seu tornozelo divertida com o passar das semanas, mas podia
ver que Harry claramente não.

Ele balançou a cabeça, fazendo seu cabelo rebelde se agitar.

— Sim, ela não está feliz, mas o médico disse que ela perderia
a circulação no pé se não o exercitasse.

— Eu não sei se isso é um conselho médico, mas se isso a


colocou de pé, então eu concordo com ele — James respondeu com
um sorriso.

Harry rosnou.

— Sim. Os servos também estão felizes por não terem que


empurrá-la para todos os lados.
 

Evelyn estava sentada em frente a sua escrivaninha. Estava

escrevendo para Agnes, ou tentando, por uma hora. Não sabia o


que fazer e não tinha ninguém em quem confiar.

Sua família precisava que ela fosse uma filha leal e queria

protegê-los, mas seu amor por James crescia a cada dia. Ela
poderia se contentar com um amor construído sobre uma mentira?

O coração de Evelyn estava dividido entre o amor de sua

família e o de seu marido. Por que as duas lealdades tinham que


estar em desacordo? Evelyn colocou a cabeça entre as mãos.

Em qualquer momento durante a cerimônia, Evelyn poderia ter

dito a verdade. No entanto, ela permaneceu em silêncio porque, de


forma egoísta, queria tanto estar com o duque que isso a impediu de
ver o quanto tudo poderia dar terrivelmente errado. Agora que ela

tinha que viver como sua irmã ou prejudicar sua família, Evelyn não
sabia para que lado o vento estava soprando.
Agnes sempre foi uma boa amiga e uma sábia conselheira. Ela
poderia lhe trazer sabedoria de uma perspectiva prática, e Evelyn
precisava desesperadamente ver a situação sob uma nova luz.

Olhou para sua carta. Era incoerente e angustiante, mas

resumia tudo o que havia acontecido e pedia conselhos. Ela a


enviaria o mais rápido que pudesse e, esperançosamente, quando o

último baile chegasse, ela teria a resposta de Agnes.

Evelyn dobrou a carta e a colocou em um envelope. Ela a

entregaria a uma criada para enviar com as cartas do duque. Evelyn


respirou um pouco mais fácil enquanto endereçava o envelope para

sua irmã, tendo o cuidado de escrever Evelyn em vez de Elizabeth.

Puxou a corda de seu quarto para chamar alguém para enviá-


las. Alguns minutos depois, uma criada estava em sua porta.

— Chamou, Sua Graça?

Evelyn sorriu para a mulher, cujo nome ela ainda não sabia.

— Sim. Eu gostaria de enviar uma carta. — Entregou o


envelope para a criada, que o pegou com um aceno quase nervoso.

— Muito obrigada.

A criada fez uma reverência e desapareceu pela porta antes


que Evelyn pudesse dizer qualquer outra coisa. Evelyn balançou a
cabeça. E pensou que ela estava nervosa...

Sentou-se à escrivaninha e abriu o livro que ali havia colocado


quando decidiu começar a escrever. Evelyn se sentiu mais calma,

pelo menos por enquanto. Suspirou enquanto se acomodava em


sua mesa.

Tinha seu próprio conjunto de aposentos para onde poderia se


retirar quando precisasse de um tempo sozinha. E embora se

esperasse que ela dormisse em sua cama de casal à noite, ainda

tinha seu próprio quarto e sala de estar. Evelyn levou uma ou duas

semanas para se sentir confortável o suficiente para estar em seus


aposentos sem se perguntar se estava sendo rude.

A verdade é que a maior parte da casa estava ocupada o

suficiente durante o dia para que ninguém notasse seu paradeiro.

Até a sogra dela saía quase todos os dias para socializar. Evelyn
agradeceu que a mulher ainda não tivesse se acostumado com a

ideia de levá-la nessas visitas.

 
Phoebe recebeu notícias da criada que havia subornado na

propriedade de Stanford. O pequeno café onde estava a lembrava


muito da vez que sua mãe a levara a Paris. Gostava de vir sentar-se

nas mesas que o dono havia montado do lado de fora, sob um toldo.

Olhou para cima ao som de passos. A empregada era uma

coisinha pequena, mas mais esperta do que parecia. Tinha colocado


um casaco por cima do uniforme para não chamar a atenção.

Phoebe olhou para cima e sorriu para a mulher.

— Annie, você está com uma boa aparência. Acredito que me


fez vir aqui para dar uma boa notícia.

Annie sentou-se e olhou em volta nervosamente antes de


pegar um envelope.

— Fiz o que a senhorita pediu e tenho estado atenta a

qualquer correspondência enviada por Sua Graça. Esta é a primeira

que vejo.

— Você fez bem — disse Phoebe com um sorriso malicioso.

Pegou o envelope da garota nervosa. Quebrou o selo de cera com


sua faca de manteiga e tirou a carta.

Phoebe só precisou olhar para saber que era exatamente o

que ela precisava.


— Perfeito —sussurrou. A criada ainda esperava, e Phoebe

tirou algumas moedas de sua bolsa e as deslizou sobre a mesa. —

Minha mais profunda gratidão, Annie. Mantenha-me informada se


descobrir mais alguma coisa.

— Sim, senhorita. Obrigada, senhorita. — Annie rapidamente


embolsou as moedas e desceu a rua. Phoebe não se ofendeu com

a despedida precipitada da mulher. Certamente tinha que voltar a

seus deveres na Stanford House.

Phoebe olhou para a carta relatando as dúvidas da nova

duquesa de Stanford.

— Eu a peguei, duquesa — murmurou Phoebe com um


sorriso.

Haveria um baile na noite seguinte e ela pretendia ir ver o


duque de Stanford, agora que tinha provas e não apenas a sua

palavra de que a duquesa mentia sobre quem era. Os dias de

Elizabeth, ou Evelyn, como duquesa estavam contados, mesmo que


ela não soubesse disso. Logo, Phoebe estaria no lugar da duquesa

mentirosa.

 
 

— Gostaria que pudéssemos ir juntos, mas infelizmente o dever

chama pela última vez — disse James, sorrindo para Evelyn.

Esta suspirou.

— Bem, acho que não há nada que eu possa fazer sobre isso.

Vou ter que me distrair até você chegar.

— Não me deixe com ciúmes — James brincou enquanto a


puxava para perto dele. Embora se beijassem e se tocassem, ele

ainda não tinha conseguido que a esposa se submetesse totalmente

a ser sua.

Evelyn riu.

— Você é ciumento?

— Normalmente não — James confessou. — No entanto, você

parece trazer à tona todos os tipos de sentimentos em mim que eu

não fazia ideia de que existiam.

Evelyn deu um doce beijo na bochecha de seu marido.

— Eu poderia dizer o mesmo.

— Por favor, não comece, querida esposa, ou podemos nos

atrasar  em nossos deveres. — A voz de James era suave e cheia


de malícia.

Evelyn confiou em seu autocontrole e respondeu


maliciosamente.

— Você nunca desistiria de nossos deveres, Sua Graça,

mesmo que eu implorasse.

— Poderia ver um lado muito diferente de mim se realmente

quisesse — disse James com uma risada.

Evelyn sentiu o rosto corar, mas não se importou. James

parecia realmente gostar de fazê-la corar. O que fazia seu marido


feliz não podia ser tão ruim assim.

— Apenas prometa que você estará lá em algum momento do


baile — disse Evelyn enquanto ajustava o laço no pescoço do

marido.

James assentiu.

— Ah, estarei lá.

— Eu apenas torço para poder decidir o que vestir — disse

Evelyn com um sorriso.

James deu de ombros.


— Qualquer coisa que você vestir ficará bem. Agora, é melhor

eu ir se quiser voltar para o baile.

— Vá em frente, então —disse Evelyn com um sorriso. — Não


tenho vontade de suportar uma festa sem você.

— É bom ser necessário — James respondeu. Ele a beijou e


se afastou. A esposa lhe deu um pequeno aceno de mão, e James

piscou de volta.

Evelyn levou as mãos ao peito quando ele saiu e suspirou

satisfeita. Ela poderia ter dúvidas se deveria contar a verdade, mas

nunca duvidou de como se sentia em relação a ele. Agora, se


pudesse ter a certeza de que o que ele sentia era só por ela...

O baile estava a todo vapor enquanto Elizabeth conversava com o


pai. Ele parecia nunca se separar dela, e isso a frustrava muito.

Seus pais estavam cada vez mais restritivos com ela como punição

pelo que consideravam seu pecado.


— Se desse uma chance ao homem, talvez o encontrasse
amigável. — Lorde Barney se mantinha altivo, com as mãos atrás

das costas, enquanto inspecionava a pista de dança.

Elizabeth bufou. Não demorou muito para seus pais pressioná-

la a conhecer seus pretendentes escolhidos. Eles se consideravam


generosos em consultá-la, mas só levavam em conta a própria

opinião.

Parecia a Elizabeth que seus pensamentos não importavam.

— Eu acho que não é relevante se eu o acho atraente ou não.

— Você esgotou suas opções quando armou aquela trama


com sua irmã — Lorde Barney respondeu, mantendo sua voz baixa.

Elizabeth se aproximou de seu pai, com as mãos nos quadris.

— Essa é a sua resposta para tudo? Não lhe ocorre que o


senhor e mamãe não me perguntaram se eu queria me casar com o
duque?

Lorde Barney lhe deu um olhar de repreensão.

— Cuidado com seu tom de voz.

Elizabeth cerrou os dentes e sussurrou:

— Eu não vou me casar com ele.


— Bom. Vou encontrar outro candidato. — O rosto de lorde
Barney parecia impassível com as palavras de sua filha.

Elizabeth levantou as mãos no ar.

— O que eu tenho que fazer para que entenda? Eu quero


viajar, pai. Um ano não é tanto tempo.

— Um ano? Melhor o resto de sua vida — disse lorde Barney.


— Você fez a cama, Elizabeth, e deve se deitar nela.

Elizabeth ficou furiosa. Ela não se importava onde estava ou

quem a estava ouvindo.

— Eu não queria me casar! Eu não o conhecia, como poderia


desejar isso? Como eu poderia amá-lo?

O pai lhe lançou um olhar de advertência.

— Cuidado com o que você diz, Elizabeth.

Ela fechou a boca. Não precisava causar mais danos, mas


controlar suas emoções era difícil quando as manteve reprimidas
por tanto tempo. Cruzou os braços e desviou o olhar do pai.

 
 

James tinha acabado de entrar quando viu seu sogro conversando


com uma das gêmeas. Ele começou a se aproximar quando suas

vozes estavam altas o suficiente para que pudesse ouvir a garota


dizendo que não queria se casar. Foi só quando seu sogro a alertou
para ter cuidado que ele percebeu que estava falando com

Elizabeth.

Parecia que o ar havia escapado de seus pulmões. Elizabeth

não queria se casar com ele? Ela poderia realmente ter agido como
se o amasse?

James se virou cegamente, sem saber para onde ir, mas certo
de que não queria falar com sua esposa agora. Talvez esse fosse

seu castigo por ferir lady Foreman, por ter entendido mal as
intenções da mulher. Agora tinha que sentir esse sentimento de
traição em primeira mão.

Foi então que lady Foreman se aproximou dele.

— Sua Graça, posso ter um momento do seu tempo?

Meio sem rumo, James olhou para a mulher.

— O que quer, Lady Foreman? — Parecia apropriado que a


mulher aparecesse enquanto ele estava no fundo do poço para
humilhá-lo.

— Sua Graça, apesar de tudo o que aconteceu entre nós, senti


que deveria avisá-lo. — Ela ergueu um envelope. — Tenho provas

de que sua esposa não é quem diz ser. Eu não podia deixar essa
traição continuar.

James olhou para o envelope e para a mulher que o segurava.

— Não quero ler isso nem ouvir mais nada. Deixe-me em paz.

— Sua Graça... — Lady Foreman começou a dizer, mas James


a cortou com um aceno de mão.

Se virou cegamente em direção à entrada e saiu. James não

aguentava mais isso. Talvez merecesse, mas não era forte o


suficiente para enfrentar a situação em público.
Capítulo 9
 

Evelyn chegou ao baile e viu James. Ela estendeu a mão, mas ele

passou por ela sem perceber. Evelyn o chamou, sem que James se
virasse.

Confusa, ela viu Elizabeth e correu para sua irmã.

— O que há de errado com meu marido? O que você fez?

O rosto de Elizabeth manteve uma expressão de confusão


com as palavras de Evelyn, que logo foi substituída por uma de

horror.

— Oh, não. Ele deve ter nos ouvido.

Evelyn olhou para a irmã.

— Ouvido o quê?

A expressão mortificada de Elizabeth não fez nada para

acalmar os medos de Evelyn.


— Papai estava me pressionando para conhecer esse

pretendente que encontrou para mim.

— E? — Evelyn nunca tinha visto Elizabeth com esses rodeios.

Ela puxou a manga do vestido de Evelyn e rapidamente

seguiram por um corredor longe da multidão, e ela lhe contou sobre

sua conversa com seu pai.

— Sinto muito. Eu nem vi James.

— Se papai chamou você de Elizabeth, ele provavelmente


pensa que era eu quem estava falando — disse Evelyn, cobrindo o

rosto. — Não é à toa que saiu sem olhar para mim. Ele pensou que

eu era você.

Lágrimas encheram os olhos de Elizabeth. Evelyn balançou a


cabeça.

— O que eu estava pensando quando entrei nessa confusão?

— Você estava pensando em amor — Elizabeth lembrou a

Evelyn. — Além disso, a culpa é minha, não sua.

— Eu poderia ter recusado, Elizabeth. A culpa não é só sua. —

Evelyn não suportava a irmã carregando tudo isso em seus ombros,

já que ambas eram responsáveis.


Elizabeth enxugou uma lágrima e suspirou.

— O que fazemos agora? Teremos que contar ao papai.

Evelyn sentiu um entorpecimento invadi-la. O que importava o

que fariam agora?

— Eu o perdi para sempre.

— Não diga isso — Elizabeth advertiu.

Evelyn riu dessa loucura.

— Porque não? É a verdade. Você acha que ele vai me amar


agora?

— O amor não é racional, você me ensinou isso — Elizabeth a

lembrou.

Seja como for, Evelyn não podia sentir nenhuma esperança

para a situação. Agora, ele estava ferido, mas quando a verdade


viesse à tona, e sem dúvida iria, sobre toda a extensão da situação,

ele não apenas ficaria furioso, mas também enojado.

— Terei que viver com as consequências disso, Elizabeth.

Prefiro me acostumar com isso do que viver uma mentira.

— Devíamos ter sido honestas desde o início. Você deveria ter

feito par com o duque, não eu. Foram feitos um para o outro. —
Elizabeth balançou a cabeça. — A partir deste momento, agiremos

honestamente.

Evelyn assentiu lentamente.

— Nós iremos — Evelyn prometeu a sua irmã. — Aconteça o

que acontecer, eu não a culpo.

— Nem eu a você — respondeu Elizabeth.

Elas se abraçaram e choraram um pouco por causa da tolice

mútua. Quando se separaram, Evelyn sussurrou:

— Sinto muito por ter roubado seu marido.

— Sinto muito por tê-lo perdido para você — Elizabeth

sussurrou. Bateu o pé. — Não. Você não pode desistir.

— O que posso fazer? — Evelyn ergueu as mãos, impotente.


— Não consigo pensar em nada.

Elizabeth endireitou os ombros e inclinou a cabeça corada

para trás.

— Talvez não haja nada que você possa fazer, mas juntas

podemos falar com seu duque.

— E fazer o que? Aumentar a humilhação de tudo isso?

Elizabeth balançou a cabeça.


— Você o ama, não é?

— Com todo o meu coração — Evelyn sussurrou.

Elizabeth pegou a mão dela.

— Então, o que estamos esperando? Vamos atrás dele.

Vamos lutar pelo seu amor. Se perdermos, que seja, mas não
vamos simplesmente nos submeter à derrota. Não foi assim que
fomos criadas.

Evelyn sorriu para a irmã.

— Não sei se vai fazer muito bem, mas piorar não vai.

Elizabeth passou o braço pelo de Evelyn.

— Então vamos juntas.

— Juntas — Evelyn repetiu.

Evelyn e Elizabeth saíram apressadamente da carruagem. O servo

da propriedade cumprimentou-as com as sobrancelhas erguidas.


— Thomas — Evelyn disse familiarmente. — Onde está meu
marido? Ele saiu com pressa e eu me preocupei de que ele
estivesse doente.

Thomas assentiu.

— Sim, Sua Graça. Ele está em seu escritório.

Elizabeth seguiu Evelyn e achou que o título de duquesa lhe

caía muito bem. Sua irmã selvagem definitivamente floresceu no


papel de esposa. Elas se dirigiram para o escritório, mas em frente à
porta do escritório, Evelyn hesitou.

Olhou para Elizabeth com medo em seus olhos. Elizabeth


assentiu encorajadoramente.

— Vá em frente — sussurrou. — É melhor fazer isso rápido,

como tirar espinhos do cabelo.

— Espinhos machucam — Evelyn a lembrou.

Elizabeth pôs a mão no ombro de Evelyn.

— O amor nunca está livre do risco de dor. — Ela se

aproximou e bateu na porta, pois estava claro que Evelyn não queria
ou não podia.
Uma voz masculina que não soava como a do duque
respondeu:

— O duque não quer ser incomodado!

Elizabeth respirou fundo e girou a maçaneta. Entrou primeiro.


Ela viu Lorde Steel e o duque olharem para ela surpresos. A dor nos
olhos do duque quase a fez chorar.

— Eu acho que houve um mal-entendido — Elizabeth disse

suavemente. — Eu trouxe sua esposa. — Elizabeth abriu mais a


porta e puxou Evelyn. — As sobrancelhas do duque se juntaram

enquanto ele negava com a cabeça.

— Ouvi seu pai chamá-la de Elizabeth.

Elizabeth assentiu.

— É verdade. — Virando-se, ela fechou a porta atrás dela e de

Evelyn para manter a conversa privada. Eu sou Elizabeth. Esta

outra Elizabeth — disse, acenando para sua irmã — é Evelyn.

Lorde Steel e o duque se entreolharam por um momento.

— Nós sabemos disso — Lorde Steel disse finalmente.

— Não, não é bem assim. — Elizabeth negou com a cabeça.

— Eu fui apresentada ao senhor no casamento pela primeira vez,


lorde Steel. Por isso não me lembrei do senhor.

O conde de Ranson pigarreou, mas foi o duque quem falou em

seguida.

— O que tudo isso significa? É uma brincadeira de vocês

duas?

Evelyn levou as mãos ao peito.

— Não. Claro que não. — Ela abaixou a cabeça e falou


baixinho. — No dia em que Elizabeth ia se casar com você, ela

descobriu que não podia. Me implorou para tomar seu lugar.

— Você é minha esposa — Lorde Harley sussurrou. — Mas

você não é Elizabeth?

Elizabeth assentiu.

— Agora você começa a entender. Foi tudo tão rápido que não

pensamos direito.

Lorde Steel abriu a boca e tornou a fechá-la. Ele estreitou os

olhos para as duas.

— Agora estou confuso sobre quem eu realmente conheço.

— O senhor foi primeiro apresentado a Evelyn, mas sou eu

que o senhor veio a encontrar depois. Eu juro, além de nossos


nomes, somos a mesma pessoa. — Elizabeth olhou para Lorde

Steel suplicante.

Estendeu a mão ao duque como se lhe pedisse que

esperasse.

— Acho que agora entendo — disse ele a Elizabeth. — Você

não queria se casar, então providenciou para que sua irmã se

casasse com o duque.

O duque de Stanford soltou um suspiro ao se levantar e se


afastar.

— Então você não queria se casar comigo? Você forçou sua

irmã a fazer isso? Não é de admirar que ela esteja tão infeliz.

— Não — Evelyn negou, levantando a voz. — Isso não é

verdade. Eu não tenho sido infeliz. Como pode pensar isso?

O duque olhou para Evelyn.

— Como posso pensar de outra forma?

Evelyn negou com a cabeça.

— Se você pensar bem pela nossa falta de intimidade, juro que


meu remorso pela situação me afastou de você, nada mais.

Lamento muito ter mentido.


— Você poderia ter me contado — respondeu o duque, dando

um passo em direção a Evelyn enquanto ela caminhava em direção


a ele. Elizabeth caminhou até a mesa enquanto Harry fazia o

mesmo, querendo deixar o casal descobrir as coisas por conta

própria.

Evelyn enxugou o rosto enquanto uma lágrima escorria por sua

bochecha.

— Não teríamos chegado a isso de qualquer maneira?

O duque encolheu os ombros, impotente.

— Eu não sei como consertar isso. Não sei o que fazer.

— Eu te amo, infinitamente, possivelmente em várias vidas. —

Evelyn abriu um sorriso em meio às lágrimas.

James estendeu a mão e acariciou sua bochecha.

— Como posso ter certeza de quem é você?

— Eu nunca fui ninguém além de mim — sussurrou Evelyn. —

Eu nunca tive certeza se você me queria ou era a imagem de


Elizabeth que tinha em mente.

Ele balançou a cabeça para ela.

— Eu nunca conheci Elizabeth. Eu só conheci você.


— E eu só amei você. Por isso aceitei a troca.

Quando James olhou para Evelyn, ele realmente a viu pela primeira

vez. Havia pensado que a relutância dela em estar totalmente com


ele era porque seus sentimentos não eram tão profundos quanto os

dele. Na verdade, tinha sido exatamente o oposto, e descobriu que

não podia culpá-la por isso.

No entanto, ela havia mentido. Ela o deixara com um grande

problema.

— Vocês duas me colocaram em uma grande confusão.

Evelyn abaixou a cabeça.

— Sinto muito. Eu gostaria de ter falado antes.

— Nós duas queríamos — acrescentou Elizabeth.

James suspirou quando a porta do escritório foi escancarada.

Lady Foreman entrou como se fosse a dona do lugar, seguida por

Thomas, que parecia agitado. A mulher havia entrado


sorrateiramente sem lhe dar chance de detê-la. Ele temia que ela

estivesse apenas tentando fazer um escândalo.

— Sinto muito, Sua Graça. Eu não pude impedi-la.

— Não se preocupe Thomas. Pode ir.

Diante da intrusa, todos se calaram e a observaram. Depois de

alguns momentos de confusão, James falou suas primeiras


palavras.

— Lady Foreman, o que está fazendo aqui sem um convite?


Achei que tinha lhe deixado claro que não estava interessado no

que queria me dizer.

— Eu vim porque senti que precisava — disse Lady Foreman,

seus olhos indo para James e Evelyn. — O senhor não sabe que
escolheu a mulher errada e eu tenho provas sobre o que falo.

James olhou para o envelope na mão da mulher.

— Estava tentando me contar sobre Evelyn e sua irmã no


baile?

— Sim — concordou Lady Foreman. — Encontrei evidências


depois de perceber que algo estava errado. Não poderia deixar as

coisas como estão.


James olhou para Evelyn. Phoebe chegara tarde demais,
principalmente porque vira o amor que Evelyn sentia por ele.

— Está errada, Lady Foreman. Não escolhi a mulher errada.

Casar com Evelyn foi a coisa mais certa que já fiz.

Lady Foreman ofegou e juntou as mãos.

— Mas ela mentiu para você!

James olhou com compaixão para Lady Foreman.

— Espero que um dia possa me perdoar por te machucar

tanto. Agora entendo que simplesmente interpretei mal suas

intenções. — James respirou fundo ao sentir o cansaço de todas as

emoções que haviam sido arrancadas dele nas últimas horas.

Lady Foreman franziu a testa com raiva.

— Você é um tolo.

— Provavelmente sim, mas isso é amor. Espero que supere o

dano que lhe causei e encontre o amor verdadeiro, como encontrei


com Evelyn. — James desviou o olhar de Lady Foreman e voltou-se

para sua esposa.

Evelyn sussurrou:

— Fala sério?
— Sim — James concordou com um sorriso. — Custou-lhe
muito ser honesta comigo e agora eu quero ser. Eu te amo, e a
única coisa que realmente me assustava era que você não me

amasse.

— Então você não tem nada com que se preocupar.

Lady Foreman observou a maneira como eles se entreolharam

e soube que havia perdido. Saiu furiosa, mas James não prestou
muita atenção nela. Em vez disso, ele se aproximou de sua esposa,
vendo em seus olhos a mulher que estava ao seu lado desde o dia

do casamento.

Do outro lado da sala, Harry olhou para Elizabeth.

— Acho que não fomos apresentados.

Elizabeth riu e estendeu a mão para o conde.

— Lady Elizabeth Barney, e o senhor é?

— Lorde Steel, Conde de Ranson — Harry respondeu com

uma reverência exagerada. — Agora que impedimos que esses dois


cometessem um erro terrível, vamos dar um passeio para
comemorar?

Elizabeth passou o braço pelo braço estendido de Harry.


— Eu acho que é uma excelente ideia —  ela disse a James e
Evelyn enquanto Harry a levava para fora da sala.

James olhou para sua esposa.

— Acho que esses dois podem acabar casados.

— Eu não me oporia a isso, contanto que você não nos


confunda. — Evelyn sorriu para o marido.

James apontou um dedo para ela.

— Isso não é engraçado.

Evelyn ficou na ponta dos pés e pressionou os lábios contra os


dele. Deixou-se levar pelo beijo, sentindo-se afogado no amor que

brotava dentro dele. Ele se afastou e segurou seu rosto suavemente


em suas mãos.

— Eu pensei que tinha perdido você.

— Eu também pensei. — Lágrimas, quentes e molhadas,


deslizaram por suas bochechas até que colidiram com as mãos

dele. James as secou e deu um beijo em Evelyn.

Ele levantou sua esposa, e ela riu com prazer quando ele fez

isso.
— Agora, o que devemos fazer para celebrar nossa primeira
noite juntos de verdade?

— Eu não sei, mas como não somos casados, provavelmente

deveríamos dormir em quartos separados. — Evelyn riu quando viu


o rosto dele.

James não tinha pensado nisso.

— É verdade. Não somos casados, somos?

Evelyn sorriu.

— Não estamos, mas ninguém mais sabe.

Ele a deixou de pé no chão com uma risada.

— É apenas um descuido que podemos corrigir rapidamente.


Afinal, nunca consumei o casamento com sua irmã.

Com uma gargalhada bufada, Evelyn disse:

— Viu? Então mantive os problemas longe.

James revirou os olhos.

— Eu teria preferido problemas.

— Eu posso ajudar com isso também — Evelyn o assegurou


enquanto fazia sinal para que ele a seguisse.
James ficou intrigado com esse lado de Evelyn e a seguiu para

fora da porta do escritório e escada acima. Quando chegaram ao


quarto que dividiam, James a convidou para entrar como se
estivessem tendo um encontro secreto.

Assim que ela entrou, James a puxou para ele. Desta vez não

houve resistência. Evelyn se jogou de bom grado em seus braços e


deixou que ele tirasse sua roupa como quisesse. Ela parecia tão
ansiosa para despi-lo quanto ele para libertá-la de suas camadas de

roupa.

Quando ela já estava nua, James fez uma pausa longa o

suficiente para remover sua própria camisa devido ao puxão


insistente de Evelyn no tecido. Ele fechou os olhos enquanto ela

corria os dedos sobre seu peito. Depois de tanta rejeição, sua


necessidade por ela era dolorosa, mas podia esperar um pouco
mais.

Brincou com Evelyn e beijou seu pescoço enquanto ela

acariciava seu peito languidamente. Agora eles realmente tinham


todo o tempo do mundo. Não havia razão para continuar negando a
si mesmos, mas diminuir o ritmo era bom.
Recostou-a na cama e ela voluntariamente abriu as pernas.
Ele acariciou o interior de suas coxas, deixando-a um pouco
inquieta.

James sentiu e ouviu seu suspiro enquanto roçava a ponta dos

dedos sobre sua abertura. Ele deslizou os dedos dentro dela,


querendo ter certeza de que estava pronta para ele. A última coisa
que ele queria era assustá-la.

Ela se acalmou enquanto se ajustava à sensação. James a


observou sorrir. Era o que ele estava esperando. Deu um passo

para trás e se despiu completamente.

Ela parecia encantada com o tamanho de seu membro, e ele


se perguntou o que faria se lhe desse a chance de acariciar sua
ereção, mas agora não era o momento. Ele se posicionou e

empurrou a ponta de sua masculinidade contra sua abertura.

A boca de Evelyn se abriu em um gemido.

— Oh!

James se inclinou sobre o corpo dela e lhe deu um beijo


suave.

— Respire, amor — ele sussurrou para ela. — Eu vou fazer


você ter  prazer.
Evelyn ergueu os olhos.

Ela se moveu em direção a ele, e James a olhou enquanto


gentilmente avançava para dentro. Ela cerrou os dentes e o marido

parou  dentro dela. Ficaram assim por um longo tempo até que,
finalmente, Evelyn começou a se contorcer sob ele.

Ele a penetrou tão moderadamente quanto pôde. Sua


respiração rápida e a forma como suas unhas cravaram em suas
costas o fizeram acelerar o ritmo. Evelyn envolveu as pernas ao

redor dele para impedi-lo de sair totalmente.

Ela o incitava com fome e suspirava.

— Eu não sei o que eu sinto — ofegou.

— Tudo que eu sinto é você — James sussurrou com a voz


rouca.

Evelyn moveu os quadris para receber suas estocadas. A


sensação que isso produziu em James o levou ao limite, e não
conseguiu mais se conter. Quando ele se afastou dela, Evelyn deu-

lhe um sorriso cansado.

— Está bem? — James perguntou enquanto se deitava ao


lado dela e a abraçava. — Eu a machuquei?
Evelyn se aconchegou nele.

— Estou bem — sussurrou.

James beijou seu cabelo ruivo. Estava cansado e feliz.


Amanhã resolveriam os emaranhados dos casamentos e tudo o
mais, esta noite ele só precisava dela em seus braços.
Capítulo 10
 

Uma batida na porta de seu quarto despertou Evelyn. Ela estava

tirando uma soneca e caminhou até a porta com dificuldade.

— Quem é?

— Bem, sou eu, é claro — disse uma voz familiar.

Evelyn sorriu e abriu a porta para encontrar Agnes.

—  Você está aqui! — Evelyn abraçou a amiga, e a garota a


abraçou de volta com a mesma força.

Agnes sorriu quando finalmente se separaram.

— Estou tão feliz em vê-la novamente, senhorita... Agora que

tudo foi resolvido, o duque me convidou para ser sua criada pessoal
novamente.

Evelyn balançou a cabeça.

— Eu pensei que ele tinha esquecido disso.


— Acho que ele só queria surpreendê-la. Você conseguiu? —

Os olhos de Agnes brilharam com malícia.

Evelyn assentiu e acompanhou a criada até seu quarto.

— Estou tão feliz por finalmente ter você aqui! — Ela afundou

na cama e Agnes sentou-se ao lado dela. — A equipe aqui tem sido

maravilhosa, mas eu não me sentia bem sem você.

— Eu conheço o sentimento. Quando sua irmã voltou do

casamento, pensei que havia enlouquecido de dor e por isso estava


se comportando de maneira tão estranha — disse Agnes,

balançando a cabeça.

— Tentei escrever, mas alguém roubou a carta. Sinto muito,


Agnes. Deve ter sido como se eu tivesse esquecido de você. — O

coração de Evelyn doía ao pensar que sua amiga havia se

perguntado por que ela a deixara para trás.

Agnes ignorou a preocupação de Evelyn.

— Depois que descobri o que havia acontecido, entendi por

que as coisas tinham que ser do jeito que foram. Teria sido um

pouco estranho para a criada de Evelyn acompanhar Elizabeth em

sua vida de casada.


— É verdade — Evelyn concordou com um sorriso. — Não
acredito que tudo foi resolvido tão rápido. Este meu marido faz

milagres.

— Ou quase, pelo que sei. — Agnes olhou ao redor da sala. —


Isso é muito aconchegante. Estes são os seus aposentos privados?

Evelyn assentiu.

— Agora, para começar meus deveres aqui, você gostaria de

um pouco de chá? — Agnes levantou-se e alisou a saia preta e o


avental.

Evelyn sussurrou:

— Na verdade, você tem algum daqueles doces que sua avó

faz?

Agnes enfiou a mão no avental e tirou um doce embrulhado

em papel.

— Eu nunca vou a lugar nenhum sem eles. A vovó começou a

me ensinar a fazê-los para que, quando ela se for, eu ainda possa

ter meus doces favoritos.

— Ela não está doente, está? — Evelyn franziu a testa com o

pensamento enquanto desembrulhava a guloseima cremosa.


Agnes negou com a cabeça.

— Oh, não, ela está perfeitamente bem. É só por precaução.

Eu vou pegar o chá. Devo trazê-lo aqui?

Evelyn negou com a cabeça enquanto se levantava e se

olhava no espelho da penteadeira.

— Eu estarei lá embaixo na biblioteca.

— Muito bem — disse Agnes com um sorriso antes de ir

buscar o chá.

Evelyn achou que estava pronta e correu para a biblioteca.


Tinha acabado de encontrar um bom livro quando Agnes entrou.

— Você encontrou a biblioteca — disse Evelyn. — Parabéns.

— Não foi nada difícil de encontrar — disse Agnes. — Se isso


é tudo que você precisa, acho que vou fazer algumas explorações

para me familiarizar com a casa e os arredores.

— Está bem. Vá e divirta-se. Há um rapaz muito bonito nos


estábulos. Desconfiei que você gostaria dele desde o primeiro

momento em que o vi. Deveria ir dar uma olhada. — Evelyn fez um


pequeno e sugestivo movimento de sobrancelhas para a amiga.

Agnes deu uma risadinha.


— Então quando alguém se casa, instantaneamente tenta

fazer com que todos se casem também? — brincou.

— Não estou dizendo que tem que se casar com ele, mas que
ele é bonito. Ele se parece um pouco com aquele lacaio por quem

você tinha uma queda em Londres. — Evelyn deu de ombros.

Agnes fez uma pausa enquanto parecia ponderar a ideia.

— Talvez eu decida dar uma olhada nos cavalos.

Evelyn sorriu e cumprimentou a amiga. Observou Agnes sair


da sala, então pegou sua xícara de chá. Seu marido a surpreendeu
mais uma vez, como fazia todos os dias.

Parecia tão estranho ser ela mesma, seu verdadeiro eu... A


família do duque foi facilmente persuadida a seguir os desejos de
James no assunto. Ela pensou que seria muito mais constrangedor

e que haveria um escândalo, mas quase não houve comentários a


respeito.

Mesmo Lady Foreman não se revelou um problema. Ele


pensou que a dama voltaria para assombrá-los, mas aparentemente

ela tinha sua própria reputação a defender. Evelyn soube alguns


meses depois que Lady Foreman havia viajado para o exterior com
um parente.
Então, finalmente, se casou com o duque como Evelyn e não
como Elizabeth. Houve um pouco de conversa sobre o que
aconteceu, mas no final as pessoas passaram para outros

escândalos quando ficou claro que eles eram apenas um casal feliz.

James entrou na biblioteca da propriedade. Evelyn estava


cercada por uma pilha de livros empilhados no chão.

— Ah, aí está você — disse ele. — Deveria ter ido cavalgar.


Está um dia maravilhoso.

— Isso parece. Onde você perdeu seu casaco desta vez? —

Evelyn notou que as mangas da camisa de James estavam


arregaçadas.

Ele riu.

— Tive que ajudar a levarem um pouco de madeira para a


casa. Está muito quente lá fora para usar um casaco.

— Então você o perdeu? —  Evelyn leu nas entrelinhas.

James encolheu os ombros.

— Provavelmente. Alguém vai encontrá-lo e trazê-lo para o


meu quarto.
— As pessoas vão falar se você continuar perdendo suas
roupas —Evelyn zombou.

Ele sorriu.

— Falando em perder roupas…

— Afaste-se, malandro! — Evelyn já estava rindo quando se


levantou.

Ela não fez muito para escapar. James rapidamente a agarrou

pela cintura e a puxou contra ele. O traseiro de Evelyn estava

aninhado contra seu membro duro, e ela prendeu a respiração


quando James se esfregou contra ela.

— Vamos subir para o nosso quarto? — Evelyn perguntou por

cima do ombro.

James deslizou sua mão livre pelo vestido de musselina, o

tecido fino não deixando nada para a imaginação. A mão dele subiu

pela perna dela novamente e pela saia. Ela então soube de sua
intenção e não pôde se defender.

Evelyn sussurrou para ele:

— Devíamos ser um pouco mais compostos.


— Vou pensar nisso — James sussurrou enquanto beijava a

nuca dela.

Mais tarde, Evelyn abriu os olhos e se espreguiçou. James a

carregou para sua cama depois de fazerem amor. Ela deve ter
adormecido. Evelyn virou-se para encontrar seu marido dormindo ao

lado dela.

Seu cabelo loiro estava espalhado no travesseiro, e Evelyn

passou a mão por suas mechas macias.

— O que está fazendo? A voz de James estava grossa com o

sono.

Evelyn apoiou o queixo nas mãos enquanto estava deitada de

bruços.

— Observando você.

— Eu sou tão fascinante? — James abriu um olho para olhar


para ela.

Ela sorriu para ele.


— Sim.

James esticou as mãos sobre a cabeça.

— Eu tenho que ver os trabalhadores.

— Não teria necessidade de comprovar, se não tivesse de


repente o impulso de dormir comigo. — Evelyn jogou um travesseiro

em sua cabeça, que ele o afastou.

James assentiu com uma risada.

— É verdade. Como vou me responsabilizar com esse calor e

sua predileção por usar vestidos tão finos?

— Devo cozinhar para não causar estresse indevido? —

Evelyn bufou. — Acho que você deveria aprender a tomar banho no

riacho se seu sangue ferve com tanta frequência, querido.

James suspirou.

— Um banho soa bem. Achei que seria bom abrir um espaço

ao longo do riacho. Tornou-se um lugar com muita vegetação desde


que eu era menino.

— Você quer um lugar para piqueniques em família? — Evelyn


sabia que seu marido sonhava com uma família tanto quanto ela.

Talvez um dia a formassem.


Ele assentiu.

— Acho que seria uma boa ideia. Seria ótimo ter um espaço

para os pequenos brincarem sem a preocupação de algum animal à


espreita no mato.
Capítulo 11
 

Um ano depois

A família Barney organizou um churrasco sob o sol quente da

primavera. Evelyn gostou da sensação da brisa quente depois dos


dias frios de inverno. Olhou para James, e ele deu uma piscadela
que a fez sorrir.

— Evelyn me contou sobre a reforma que o senhor fez em sua

propriedade, Sua Graça. — Lorde Barney pegou seu copo de

limonada e tomou um gole. — É uma boa limonada.

Lady Barney sorriu para o marido.

— Acho que a cozinheira se superou hoje — ela concordou.

James concordou com um aceno de cabeça.

— Sim, comecei a trabalhar na propriedade antes do

casamento.
— E ainda não terminaram? — Lorde Barney parecia um

pouco confuso, já que quase um ano havia se passado desde o


casamento entre Evelyn e o duque.

James riu.

— Sim, completaram o projeto inicial, mas Evelyn queria fazer

algumas alterações para quando o senhor e sua esposa nos


visitarem.

Lady Barney colocou a mão sobre o coração.

— É muito bom que pense em nós, mas não queremos ser

uma imposição.

— Nunca poderiam ser — Evelyn assegurou a sua mãe. — Só

queríamos ter certeza de que cada um tivesse seu próprio quarto


para que ter um lugar para onde se refugiar quando precisar

descansar.

Lady Barney pareceu pensar sobre isso.

— É uma boa ideia. Seus pais nos acompanharão quando


visitarmos a fazenda? — perguntou a James.

— Meus pais gostam do estilo de vida londrino, mas gostam de

vir no Natal para aproveitar as festividades. — James respondeu


enquanto colocava o garfo no prato. — Devo dizer que estou
bastante satisfeito.

Lorde Steel juntou-se a seu comentário.

— Talvez eu tenha que rolar de volta para a carruagem.

Elizabeth deu uma risadinha.

— Bem — disse ela. — Antes disso, gostaria de fazer um

anúncio. — Ela encontrou os olhos de Evelyn. — Minha mãe e meu

pai finalmente concordaram em permitir que eu perseguisse meus

sonhos de viajar, com a condição de que eu continuasse meus

estudos ao fazê-lo. Vou estudar em Paris.

Evelyn sorriu e levantou-se rapidamente. Ela praticamente deu

a volta na mesa para dar um abraço na irmã.

— Isto é maravilhoso! Por que você não me disse que eles

concordaram?

— Eu queria que fosse uma surpresa — disse Elizabeth, como

se isso fosse óbvio.

Evelyn lançou um olhar malicioso para James, que assentiu.

— Falando em surpresas — Evelyn disse sombriamente

enquanto colocava o braço em volta dos ombros de sua irmã. —


Lorde Harley e eu temos outro anúncio a fazer.

— Ah, isso não é verdade! — Elizabeth já a estava abraçando.

— Ah, Evie, estou tão feliz!

Lorde Barney resmungou.

— O que não é verdade? O que está acontecendo?

Evelyn olhou para o pai.

— Estou grávida, pai.

Lady Barney deu um grito de alegria.

— Vou ser avó! Você ouviu isso, Thomas? — Lady Barney

levantou-se com os braços estendidos para Evelyn enquanto essa


ria entre sua irmã e sua mãe.

— Eu ouvi, eu ouvi — disse Lorde Barney. — Acho que nunca

mais vou ouvir nada com toda essa gritaria.

James riu e lorde Barney estendeu a mão, que James apertou

com força. O sogro deu a ele um largo sorriso.

— Parabéns, Sua Graça. Eu suspeito que será um bom


menino.

— Ou menina — Evelyn acrescentou em seu abraço.


James assentiu.

— Qualquer uma dessas opções me deixará orgulhoso.

Depois que Evelyn finalmente escapou de sua mãe e irmã, ela

foi ao encontro de James e suspirou feliz.

Lorde Steel balançou a cabeça.

— Todas essas surpresas, e não tenho nenhuma para


oferecer.

— Você já sabia da nossa surpresa — James o lembrou.

Lorde Steel reconheceu com um aceno de cabeça.

— Verdade.

— Você sabia e não me contou? — Elizabeth perguntou

quando se sentou ao lado de Lorde Steel.

Ele encolheu os ombros.

— Sou bom em guardar segredos e, aparentemente, você

também.

— Bom. Estamos quites — admitiu Elizabeth com um sorriso.


— Não está feliz por mim?
— Claro que sim — ele lhe assegurou. — Nós dois estaremos
fora tendo nossas aventuras.

Elizabeth encostou-se à mesa.

— Sim. Você vai navegar para ver o mundo.

— Estou muito animado. Eu gosto de navegar. — Lorde Steel


enfiou os polegares no casaco e parecia bastante orgulhoso de si

mesmo.

Evelyn riu.

— Você só navegou uma vez.

— Mas foi por uma semana — James o lembrou.

— Em águas calmas — Evelyn o lembrou.

— Você está me desejando uma viagem ruim? — Lorde Steel


riu enquanto batia na mesa. — Sua esposa me deseja mau tempo.

— Apenas tente moderar as expectativas de suas proezas na


navegação. — James cutucou o amigo nas costelas.

Lorde Steel esfregou as costelas doloridas.

— De qualquer forma, agora vou ter que encontrar alguns

amuletos de boa sorte para levar comigo.


Elizabeth deu uma risadinha.

— Tenho certeza de que vai ficar bem. Deveríamos escrever


um para o outro.

— Parece uma ideia esplêndida — concordou ele.

James e Evelyn compartilharam um sorriso, mas não disseram


nada enquanto os outros faziam seus planos. Depois do jantar,

Lorde Steel e Elizabeth deram um passeio, e James começou a

conversar sobre negócios com o sogro.

Evelyn veio sentar-se ao lado da mãe em um banco com vista


para o jardim.

— Você parece bem, mãe.

— Assim como você, Evelyn — respondeu lady Barney. Ela


olhou para a filha, e isso deixou Evelyn nervosa. — Você realmente

se transformou em uma duquesa. Eu nunca teria pensado nisso

quando a via perseguindo sua irmã por estes jardins.

Evelyn riu.

— Acho que entendo o que você quer dizer.

— Olhe para você, uma bela duquesa com um filho a caminho.

Eu não poderia estar mais orgulhosa, minha filha.


As palavras de sua mãe tocaram Evelyn e ela balançou a

cabeça.

— Há um ano, casei-me com o marido da minha irmã.

— E graças a Deus você o fez. Ele é um bom homem e,

apesar da bagunça que vocês duas fizeram, se saiu bem. — Lady


Barney gargalhou. — Aposto que você gostaria que seus filhos não

fizessem tais travessuras.

Sua mãe estava certa. Evelyn sorriu.

— Já estou rezando todas as noites para pedir perdão.

Lady Barney sorriu também.

— Acho que será uma boa mãe. Você certamente ouvirá seus

filhos melhor do que eu.

— Oh, mãe, deveríamos ter vindo até você e dado a opção de

nos ouvir. — Evelyn colocou a mão sobre a de sua mãe no banco.

— Acho que será uma avó maravilhosa, assim como foi como mãe.
Epílogo
 

A volta para a Inglaterra foi um tanto abrupta, mas Elizabeth estava

tão ansiosa para ver sua família e amigos que deixou tudo de lado.
Tinha histórias para contar e pessoas para abraçar. Sua mãe e seu
pai estavam sendo extraordinariamente tolerantes com ela e
permitiram que Harry a acompanhasse para visitar Evelyn e sua

família.

Ao longo de sua correspondência, Elizabeth passou a pensar


nele como Harry, e não apenas lorde Steel. Era difícil pensar em

alguém que conhecesse tantos de seus pensamentos íntimos com


qualquer título. Não, ele se tornou Harry para ela, e ela se tornou

Elizabeth para ele.

A mudança de opinião de Elizabeth marcou uma

transformação em seu relacionamento. A única coisa que ainda a

incomodava era que Harry nunca havia proposto formalmente ou


pedido a sua mão a seu pai. A maioria das pessoas parecia
presumir que estavam noivos, já que homens e mulheres não se

correspondiam como eles, a menos que estivessem prestes a se


casar. Mas esse não era o caso.

Durante a viagem para a propriedade do duque em Londres,

Harry teve uma conversa agradável, mas neutra, sobre conhecidos


e acontecimentos comuns. A maior parte do que ele lhe contou ela

poderia saber por outras pessoas, mas se tratava de Harry, então

ela apenas assentia.

Ao chegar na propriedade, ele foi cortês, mas não exagerado.


Ajudou-a    a descer da carruagem e lhe ofereceu o braço. Ela

aceitou e agarrou-se a ele com força para lhe dar a ideia de que

talvez ela quisesse algo mais íntimo dele.

Elizabeth suspirou quando Harry não pareceu entender. O


criado os conduziu e disse que a família os esperava no jardim.

Elizabeth parou de pensar na idiotice de Harry assim que lembrou

que poderia brincar com os sobrinhos. Ela raramente conseguia vê-

los, pois seus estudos a mantinham longe deles, então ela estava

ansiosa para ver os meninos.

Evelyn os viu primeiro e os cumprimentou alegremente.

— Elizabeth!
— Evie! — Elizabeth e Evelyn deram um passo à frente e se
abraçaram com tanta força que Elizabeth mal conseguia respirar. —

Como senti sua falta!

— Também senti a sua! Oh, venha ver as crianças! — Evelyn


puxou Elizabeth para guiá-la até onde o duque e os filhos gêmeos

do casal estavam esperando.

Elizabeth bateu palmas enquanto se inclinava para sorrir para

as crianças, cujos cabelos ruivos brilhavam à luz do sol.

— Aposto que nem se lembram de mim.

— O que há para lembrar? Você se parece comigo. — Evelyn


sorriu e se sentou ao lado de seus filhos. — Olha, William, Mowbray,

é a tia Elizabeth. Lembram-se que a mamãe lhes disse que também

tinha uma irmã gêmea.

As crianças mal tinham idade para andar trêmulas enquanto se

aventuravam pela grama macia do jardim.

— Oh, Deus os abençoe —  murmurou Elizabeth, levantando

William, que a alcançou primeiro. — É verdade. Eu pareço sua mãe.

— Espero que não estejam muito confusos — disse o duque.

— Havia um sorriso em seu rosto, então Elizabeth não se ofendeu.


— Bem, eu cortei o cabelo, então talvez pareçamos diferentes

o suficiente para que isso não seja um problema. — Elizabeth


levantou o chapéu para mostrar seu cabelo a Evelyn.

— Ah, que adorável. Eu adorei. — Evelyn sorriu para

Elizabeth.

Harry interveio.

— Contanto que você não copie o corte de cabelo...

Elizabeth mostrou a língua para Harry, que apenas sorriu.


Sentou-se na grama e deixou William brincar com o irmão. As
crianças logo estavam dando cambalhotas umas sobre as outras.

— Eu não posso acreditar que você ainda acabou com


gêmeos — declarou Lorde Steel.

— É de família — disse o duque com uma risada.

Evelyn o cutucou.

— Você deveria ter me avisado sobre isso.

O duque cutucou o nariz da esposa com a ponta do dedo.

Elizabeth sorriu para o casal brincalhão. Seus olhos foram para


Harry. Talvez um dia pudesse tê-lo, mas definitivamente não neste
século.
— Pedi para a cozinheira fazer alguns sanduíches. Achei que

uma refeição leve seria melhor para brincar com as crianças. —


Evelyn apontou para a mesa que havia perto com algumas

bandejas.

Elizabeth esfregou as mãos.

— Estou morrendo de fome.

— Ela não foi alimentada por todo o caminho desde Paris —

disse Harry ao duque.

Os dois homens riram enquanto Evelyn revirava os olhos.

— Aposto que ela está louca por uma boa refeição inglesa.

Como era a comida em Paris?

— Era maravilhosa, mas sinto falta de um bom assado de

domingo — disse Elizabeth com um sorriso.

— Eu vou ter um assado preparado com toda a guarnição da


próxima vez que vier nos visitar — Evelyn assegurou.

— Você é maravilhosa. — Elizabeth sentou-se à mesa e

serviu-se de um sanduíche e uma xícara de chá. — Por favor, diga-


me que outra pessoa vai comer.

O duque se aproximou.
— Conte comigo. Evelyn me impediu de comer para que meu
apetite não desapareça.

Elizabeth riu.

— Ela aprendeu com nossa mãe.

— Foi o que ouvi — o duque concordou com um sorriso para


Evelyn.

Ela deu um tapinha no braço dele.

— Você deveria ser gentil se quiser mais filhos um dia.

O duque o beijou na bochecha.

— Nesta e em qualquer outra vida.

— Isso é tão doce... — Elizabeth disse com um sorriso. — Isso

faz com que me sinta solitária só de olhar para vocês.

Harry se sentou ao lado dela.

— Me ofende que possa se sentir sozinha comigo aqui.

— Você sabe muito bem o que quero dizer, Harry. — Elizabeth

tomou um gole de seu chá. — Oh, o verdadeiro chá é uma delícia. O


chá de frutas está na moda em Paris no momento.

Evelyn lhe lançou um olhar de comiseração.


— Tive que tomar chá de frutas quando estava grávida dos
gêmeos — explicou ela. — A parteira chamava de tônicos. Eles
eram bons o suficiente no começo, mas tudo que eu queria era uma

boa xícara de chá forte. Assim que nasceram, pedi à cozinheira que
me trouxesse um.

O duque concordou.

— É  verdade.

— Isso é um absurdo — disse Elizabeth. — Todo mundo sabe


que o chá é um bom remédio para todos os tipos de problemas.

Evelyn bateu na mesa.

— Foi o que disse a ela, mas tive um problema terrível com

meu estômago e isso ajudou um pouco.

Elizabeth franziu o cenho.

— Você acha que eu vou ter gêmeos também?

— Você não deveria encontrar um marido primeiro? — Evelyn

riu. — Não acho que ser casada só de nome conte para alguma

coisa.

Elizabeth franziu a testa para Evelyn, o que provocou uma

risada de sua irmã.


— Estou falando sério, Evie.

— Suponho que seria uma possibilidade, já que há gêmeos em

sua família — acrescentou Harry.

Evelyn acenou com a cabeça ao lado de Harry.

— Minha parteira disse que não há como saber até que você

engravide.

— Isso soa um pouco assustador — disse Elizabeth com uma


risada.

O duque pareceu concordar pela expressão em seu rosto.

Evelyn colocou a mão sobre a do marido.

— Você está deixando James nervoso.

Elizabeth sorriu para o cunhado.

— A probabilidade pode diminuir a cada nascimento.

— Acho que sim — concordou Evelyn.

Harry riu.

— Bem, neste momento estranho... eu realmente queria fazer

isso com Evelyn e James presentes. — Harry se levantou e


Elizabeth olhou para ele com curiosidade.
Ele se ajoelhou na grama perto da mesa.

— Eu trouxe um pequeno presente para você. ——Harry

ofereceu uma pequena caixa para Elizabeth.

Ela abriu e encontrou um pequeno medalhão dentro.

— Oh, é lindo, Harry.

— Falei com seu pai em particular, mas quero perguntar


pessoalmente — Harry disse calmamente. Ele pegou a mão de

Elizabeth na sua. — Lady Elizabeth Barney, me daria a honra de se

casar comigo?

Elizabeth sentou-se por um momento. Evelyn inclinou-se sobre


a mesa e sussurrou:

— Diga algo.

Elizabeth começou a rir.

— Eu tinha desistido de esperar que me pedisse.

— Você voltou recentemente para a Inglaterra — Harry

respondeu com um sorriso.

Elizabeth teve que admitir que era verdade. Ele sorriu para ela.

— Eu adoraria me casar com você, Harry.


Harry passou os braços em volta dela e deu-lhe o mais breve

dos beijos, talvez pela presença do duque, que assoviou com a


cena.

— Ah, pare com isso, James — disse Harry.

O duque riu. Os gêmeos se aproximaram da mesa e o duque e


Evelyn os levaram para sentar no banco. Não demorou muito para

que as crianças pegassem os sanduíches, que amassavam com os

dedos e enfiavam na boca com os punhos rechonchudos.

Depois que Harry se sentou ao lado dela novamente, Elizabeth

se virou para Harry.

— Por que quis propor aqui, na frente de Evelyn e seu marido?

Harry sorriu para ele.

— Para ter certeza de que era realmente você.

— Harry Steel! — Elizabeth gritou enquanto jogava um

sanduíche nele.

Evelyn e o duque riram quando Harry parou o ataque de


Elizabeth, fazendo os gêmeos rirem também. Elizabeth suspirou e

balançou a cabeça para seu futuro marido.

— Você tem sorte de eu te amar, Harry — disse Elizabeth.


Ele deu a ela um sorriso. Elizabeth não podia ficar brava com

ele por causa de sua piada. Por um lado, havia um precedente.

Resolveu rir junto com os outros.

Evelyn a puxou para o lado quando estavam prestes a partir.

— Estou tão feliz por você, Elizabeth.

Ela abraçou a irmã de volta.

— Um dia teremos um encontro em que você virá brincar com

meus filhos.

— Mal posso esperar para que isso aconteça — Evelyn

sussurrou enquanto se abraçavam. Elizabeth virou-se e despediu-se

do duque e dos meninos. Harry estava esperando por ela na porta.

Apesar de tudo o que aconteceu, as coisas aconteceram como

deveriam. Talvez os contos de fadas, às vezes, sejam reais.


Próximo livro da autora
Ela seria sua luz, depois de tanta dor e escuridão.

Após a morte de sua amada esposa, o sombrio e terrivelmente


bem apessoado Sr. Samuel Jones luta para manter sua família em
pé. Seus quatro filhos significam tudo para ele, mas continuam se

metendo em problemas, complicando sua vida.

Por culpa desse estresse ele acaba ficando cego, precisando


mais do que nunca da ajuda de alguém.

Margaret Graham é a filha mais nova de uma família pobre e

sem amor. Quando seu pai morre, a mãe de Margaret não hesita em
se livrar da filha, encontrando para ela um emprego como

governanta na propriedade do Sr. Jones.

Margaret logo descobrirá uma família que precisa de uma mão


amorosa, mas acima de tudo um homem que lhe dá frio na barriga.
Segredos, uma mulher maliciosa que se mete em seu

caminho, um negócio à beira da falência e o coração duro do Sr.


Jones, são algumas das pedras no caminho que ambos terão de

enfrentar. Mas, eles conseguirão quebrar as barreiras que os

separam? O Sr. Jones saberá apreciar a nova oportunidade que


Margaret lhe oferece de amar novamente?
 

Extrato
Capítulo 1
 

A luz do sol atravessava os pântanos distantes, brilhando através

das pontas das copas das árvores. O Sr. Samuel Jones estava de
pé, olhando para o parapeito da janela, com o violino apoiado no
pescoço. Mais uma vez, passou uma noite caótica, sem dormir,
tocando seu violino até que sua emoção o fez ir rápido demais,

fazendo as notas soarem estridentes. Quando ele terminava uma ou


outra peça de quinze ou vinte minutos, sempre fazia uma pausa e
descobria que suas bochechas estavam molhadas, embora não se

lembrasse de ter chorado.

— Hum…

Ele se sentia alheio àquele exagero: chorar. Era algo que


outros homens faziam. Certamente não ele, que passou quase duas

décadas como soldado, sem medo de enfrentar os exércitos

franceses com um rosto severo, narinas dilatadas e uma figura


altiva.
Mas isso não garantia que coisas horríveis não aconteceriam

em sua vida. Sua esposa, seu amor nos últimos quinze anos,
morrera nove meses antes. Foram nove meses de dolorosa solidão.

Nove meses de noites sem dormir, sem sentir o calor do corpo dela

ao seu lado na cama; sabendo que uma pá havia cavado seu leito
no solo e depois o coberto com terra. Ela não voltaria.

Assim, outra onda de emoção bateu em seu peito e ele

abaixou a cabeça. Deslizou o arco sobre as cordas do violino,


fazendo-o guinchar loucamente. Em sua grande propriedade, ouviu

a criadagem apressando-se para começar suas tarefas. Pareciam

pequenas formigas tentando escapar de seu caminho furioso. Se


passasse por cima deles, os esmagaria. E sabia que não sentiria

nada.

Eram quase seis e meia da manhã, o que significava que as

crianças logo estariam de pé e a agitação de outro dia sombrio de

setembro começaria. Colocou o violino de volta no estojo, fechou-o

e esfregou os dedos enquanto piscava.

Sabia que a coceira nos olhos era devido a ter ficado acordado

a noite toda, e agora sua visão estava embaçada. Era como se ele
não pudesse ver as linhas finas dos objetos, como se eles se
misturassem com todo o resto.

— Você deveria dormir mais — Talbot, seu médico desde a

morte de sua esposa, lhe disse várias vezes. — O corpo sofre


quando não descansa o suficiente. E como é que ele vai cuidar dos

seus filhos...?

Ao ouvir isso, Samuel lançou um olhar cruel para o médico,

olhando por cima do nariz para o homem baixo e parecido com um

rato. Sua língua queimou com o desejo de dizer algo mesquinho e

cruel para ele, o que acontecia quando Samuel ficava furioso. Não

precisava de mais ninguém para criar seus filhos. Ele só precisava


de si mesmo.

Tinha prometido à esposa que cuidaria deles pessoalmente.

Que não teriam babás estranhas entrando e saindo da fazenda, o


que extinguiria a ligação que as crianças tinham com a mãe...

Samuel considerava que as crianças deveriam se lembrar dela

através de seus ensinamentos, de suas histórias. Embora já

tivessem se passado nove meses e ele ainda tivesse dificuldade em

falar dela. De sua querida Priscila.


Eles se conheceram quando ele tinha trinta e poucos anos. Era

um ex-soldado de cabeça quente que havia sido ferido


recentemente em uma batalha na França. A lesão o levou de volta à

Inglaterra para se recuperar. Lutou com uma perna manca,


claudicando pela floresta perto da propriedade de seu pai em Leeds.
E um dia, enquanto a névoa se esgueirava por entre as árvores,

fazendo com que cada respiração parecesse quase gelada,


espessa, ele tropeçou em uma bela jovem: uma garota com olhos

verdes brilhantes, cabelos loiros que estavam soltos, se enroscava


no peito, já que ela certamente não imaginava que encontraria

alguém nas profundezas da floresta. Imediatamente, ela se sentiu


ansiosa e passou os dedos pelos cabelos.

Mas Samuel, o soldado aleijado, fez uma brincadeira gentil

com ela, fazendo-a rir como se fosse seu segredo pessoal.

Priscila e Samuel saíram juntos da floresta, movendo-se


lentamente de um caminho para outro. Os dedos de Priscilla

roçaram os dele. Uma corrente elétrica passou seus corpos. Mas,


na orla da floresta, Priscila apontou para o cume distante da colina,

onde disse que seu pai a esperava. Seus olhos queimaram os de


Samuel, quase expectantes. No entanto, seus lábios não ousaram
dizer as palavras que ele tanto queria que ela dissesse: “Venha me

encontrar. Venha estar comigo. Faça com que eu seja sua".

Samuel não esperou muito para encontrá-la. Em poucas


semanas, ele a estava cortejando: faziam longas caminhadas na

orla da floresta, jantavam juntos com os pais dela e os dele. Samuel


estava se preparando para assumir a loja de instrumentos musicais

de seu pai, um grande negócio de dois séculos que frequentemente


fornecia instrumentos para o rei e a rainha, bem como para outros

membros da realeza. Samuel sentiu que os pais de Priscila ficaram


encantados com a união. Mas apesar de tudo, ele estava atordoado,
era um homem que ardia de amor.

Não tinha imaginado que acabaria assim. Ninguém deveria


presumir que a morte assombraria suas memórias mais bonitas.

Mesmo depois de ter quatro filhos e depois de anos prósperos na


fazenda onde viveram juntos, a mesma onde ele agora assombrava

todas as noites, tocando seu violino.

Ouviu Williams primeiro. Era o mais selvagem do bando,


correndo pelos corredores, seus pés batendo forte demais para seu

peso aos oito anos de idade. Samuel se apoiou no parapeito da


janela, imaginando se teria forças para se sentar à mesa do café da
manhã com os quatro naquela manhã. Frequentemente, enquanto
os observava, vendo-os mordiscar seus biscoitos e as migalhas que
caíam em seus pratos, ele tinha uma certeza insuportável de que

nunca seria o suficiente para eles.

Nunca poderia lhes dar o amor que mereciam. O amor que


perderam quando sua mãe faleceu. Ela tinha sido a mais feliz, a

mais apta a acariciar suas bochechas, cacarejando enquanto os


provocava. "Williams, se você fizer esse barulho de novo, eu juro

que vou enlouquecer!" Ela sempre os repreendia com a sensação


de que nada realmente importava. Como se os cinco pudessem
enfrentar o resto do mundo.

Nathalia era igual. A linda Nathalia, com quase doze anos de


idade, com aquelas madeixas douradas que lhe caíam pelas costas,

tão parecidas com as da mãe, corria pelo corredor atrás de Williams.

—Williams — ela chamou—,  você tem que se acalmar! Jesus,


você vai acordar o pai.

Ela estava sempre preocupada com Samuel, tentando garantir

que ele não caísse em um de seus humores "irritantes", como ela


descrevia para os outros, quando pensava que estava fora do

alcance da voz do pai. Nathalia era, para dizer a verdade,


provavelmente a menos favorita, a que mais culpava quando as
coisas davam errado. Como a mais velha, ela deveria manter Emily,
Williams, Jack e garantir que eles estivessem seguros e felizes. E

geralmente quando ele a culpava por sua derrota, ela se sentia mais
ansiosa. Sabia que era irresponsável dar a ela a sensação de que

havia feito algo errado.

Sabia que era assim. Que Samuel era a razão pela qual ela se

sentia insegura, que sentia que era seu dever para seus irmãos
serem felizes, contentes, e não chorar no meio da noite ou não

dormir, como o pai deles.

Mas, claro, muito do seu tempo era gasto tentando manter o

sorriso do pai. Contar piadas suaves, com aquela voz de menina;

certificando-se de que seu quarto fosse mantido limpo e seu violino


brilhante. Tudo isso. No entanto, Samuel ainda se sentia não

amado, sombrio, volátil, quase à beira de um colapso nervoso.

Samuel foi até a pequena bacia ao lado do quarto e jogou

água no rosto. Esfregou as bochechas, cravando as unhas na pele,

e piscou para a parede distante. Lá estava Emily, chamando o nome


de Nathalia. Pedindo atenção. Mas, aos quatro anos, isso não se

justificava? Ela era a menor, uma morena com outro par de olhos
como os da mãe. Emily era muito diferente dos outros três, travessa

e mimada. Desde que sua mãe faleceu quando ela tinha apenas
três anos, já estava claro que sua memória estava desaparecendo.

Nunca teve tempo de florescer completamente.

Então havia Jack. Ele era o segundo mais novo, um menino

calmo e ansioso, em quem Samuel se via. Isso costumava ser a


coisa mais cruel de ter filhos: ver neles algo que odeia em si

mesmo. Como ele próprio ficava nervoso na mesma idade. Como o

peso do mundo o assustava. Agora Jack olhava para tudo com

grandes olhos negros, imaginando como tudo seria terrivelmente


difícil para ele. E Samuel queria afirmar esse conhecimento. Sim:

seria difícil. Sim: Jack não se sentiria seguro na maior parte do

tempo. Ele teria que se acostumar com isso. Principalmente depois


da morte de sua mãe.

Samuel vestiu a calça e a camisa, querendo garantir que seus


filhos não soubessem que ele estava acordado desde a noite

anterior. Parou no espelho, passando os dedos pelas sobrancelhas.

— Não sei que diabos você está fazendo — disse a si mesmo.

— Tem que improvisar à medida que avança.


Samuel saiu para o corredor enquanto vestia o casaco.

Agarrou o corrimão da escada e seus pés bateram com força na

madeira, fazendo-a ranger. Abaixo, o piso de mármore estendia-se


do vestíbulo até o distante salão de baile. Ele não entrava lá desde

que sua esposa faleceu, pois os dois passaram muitas noites

girando no chão, seus pés balançando ao som de qualquer música

que estivesse ao seu alcance. Geralmente essa música vinha de um


criado ou criada com uma leve afinidade por violino ou violão. Às

vezes, o próprio senhor apenas tocava violino ou piano, observando

com um largo sorriso sua esposa dar voltas e mais voltas.

Tinham tanta liberdade naquela época...

Três das quatro crianças estavam sentadas à mesa do café da

manhã, vestidas de preto. Os pés de Emily deslizavam para frente e


para trás sob a mesa, enquanto os olhos de Jack se fixavam no

prato vazio e brilhante à sua frente. Nathalia estava olhando para

ele com expectativa, seus lábios curvados para baixo.

Apenas Williams estava ausente.

— Então, Nathália. Quer me dizer onde está seu irmão? —

Samuel perguntou. Sua voz era muito mais áspera do que ele
esperava. Aquele som reverberou em Nathalia, deixando seu rosto

tenso.

— Sinto muito, pai — disse ela. Levantou-se da cadeira e


dirigiu-se à cozinha. Enquanto corria, Samuel pôde ouvir um

pequeno gemido em sua garganta. Ele já havia feito a filha mais

velha chorar. Que tipo de monstro era?

— Williams! Venha agora. Papai está aqui, e você não pode...

— Nathalia disse da cozinha.

— Williams! Tire a mão desse pote agora mesmo! — disse

Heather Fields, a agora governanta da casa, sua voz ecoando pelo


corredor.

Samuel, sentado na ponta da mesa, cruzou os braços firmes

sobre o peito. Suas têmporas começaram a latejar, sinal de uma

terrível dor de cabeça.

  Enquanto esperava, Heather entrou na sala, com o estômago

revirando sob o vestido rosa claro e o avental branco. O rosto da


mulher, em seus quarenta e poucos anos, parecia mais o de um

sapo, rechonchudo, e estremeceu quando ela começou a falar. Em

sua mão segurava o bracinho de Williams, com uma ferocidade que


Samuel diria ser grande demais, se tivesse forças para protestar

contra o que estava acontecendo em sua casa naquele momento.

— Você deveria tê-lo visto, senhor. Com a mão na panela, já

remexendo no café da manhã... — disse Heather, resmungando. —

Eu sei que o senhor não criou essas crianças para serem assim.
Mas acho que talvez eles devessem ir para algum tipo de internato...

— Isso é ridículo, Heather, e você sabe disso — disse Samuel.


Sua voz foi um choque de realidade. Os olhos de Jack caíram para

o prato à sua frente, aparentemente com muito medo de olhar para

o pai. Mas Samuel não teve paciência para esconder sua raiva.

O lábio inferior de Heather tremeu ligeiramente. Mas ela

endireitou o queixo, tirando os dedos do braço de Williams.

— Bem, então, eu suspeito que também pode arranjar uma


nova governanta. Aquela que contratou na semana passada partiu

no meio da noite. — Ela estalou a língua novamente. — É a

segunda vez que acontece, sabe.

Samuel olhou para Williams, forçando-o a dar pequenos


passos em direção à mesa e em sua cadeira.

— Alguém pode me dizer por que a preceptora decidiu partir


assim? Nathália? — Samuel rosnou. — Não imagino que aquela
garota eficiente e entusiasmada que contratei há algumas semanas

pudesse mudar de ideia tão rapidamente sobre seu desejo de nos


ajudar. Não sem que algo importante acontecesse.

Enquanto falava, a cozinheira, uma mulher chamada Hester

Wells, entrou na sala de jantar com uma panela cor de pedra

reluzente. Colocou-o no centro da mesa e começou a servir o

mingau, fervido com maçãs e canela. Encheu cada um dos pratos


das crianças, com o olhar fixo neles. Williams pegou sua colher,

preparando-se para colocá-la na boca assim que recebesse sinal

verde. Era como uma pequena força da natureza.

— Williams? Alguma ideia de por que sua governanta decidiu

partir no meio da noite? — Samuel perguntou, sua voz seca.

— Não, senhor — disse o menino.

— Nathalia? Alguma pista?

Os olhos de Nathalia varreram o rosto de Williams, antes de

pousar na mesa. Ela sabia que era melhor não colocar seu irmão
em apuros, apenas para se livrar.

— Talvez tenha havido alguns problemas ontem enquanto o


senhor estava no trabalho. — Natália suspirou. — Mas não

imaginava que era o suficiente para que fosse embora.


Samuel pegou o garfo, enfiando-o no topo do mingau, que
espirrou no rosto dele.

— Não gostaram dela? Era uma boa mulher.

— Ela era um pouco velha — disse Jack.

Samuel inclinou a cabeça para ele, surpreso por ele ter dito
alguma coisa. Jack se inclinou para seu mingau de aveia,

claramente constrangido. Colocou algumas colheradas na boca,

mastigando rápido demais, como um roedor.

— Um pouco velha? —Samuel perguntou. — O que diabos

isso tem a ver?

— Ela não podia brincar conosco — disse Emily então. — Pai,


ela era muito velha. Ela tinha um milhão de anos.

Samuel sentiu o estômago revirar de apreensão. Agora, sem


outra governanta, ela teria que arrastar seus filhos para a loja de
instrumentos musicais durante o dia. Talvez pudessem correr pelos

fundos, brincar com jogos bobos... qualquer coisa para mantê-los


longe dos instrumentos caros e dos artesãos que trabalhavam

neles. As crianças olharam para ele com expectativa, seus olhos


quase brilhando de ansiedade. Eles sabiam, acima de tudo, que se
conseguissem que a governanta partisse,  poderiam ir com o pai
trabalhar. Isso acontecia com frequência. E sempre os enchia de
promessas: saber que poderiam acompanhá-lo, seu último elo com
a mãe. Mas então havia o estresse aparentemente interminável de

Samuel. Em poucos meses, teria uma grande remessa de


instrumentos que deveriam ser levados aos reis, a Londres. Seria a
primeira grande remessa desde a morte de sua esposa. Não

poderia estragar tudo. Se o fizesse, significaria que estava louco,


uma "causa perdida" após a morte de Priscila. Seria apenas mais
um viúvo que não soubera lidar com a solidão.
Capítulo 2
 

A carruagem parou em frente à mansão da propriedade, com o

cocheiro, Solomon, empoleirado no topo, chicote na mão. O homem


olhou para seu mestre com os olhos fixos nas quatro crianças, que
esperavam impacientes. À sua frente, dois garanhões poderosos
bufavam, agitando suas narinas.

— Acho que isso significa que perdeu outra governanta? —

Solomon perguntou.

— Não acho que seja algo que estejamos muito dispostos a


discutir, Solomon — disse Samuel, quase rindo. Mas se conteve,

levando seus filhos para seu lugar na parte de trás da carruagem.

Samuel os seguiu e sentou ao lado de Nathalia. Enquanto isso, ele


observava Williams puxando o cabelo da pequena Emily.

— Williams! — Samuel gritou.

O rosto do menino empalideceu de repente. Mas antes que


Samuel pudesse fazer outro movimento, o cavalariço estalou o
chicote nos cavalos e seguiram em direção ao centro da cidade. A

viagem durou mais de vinte minutos, depois de deixar a estrada no


campo e entrar em Leeds: uma cidade de paralelepípedos, com

gente agitada e cavalos e charretes indo e voltando. Ao chegar, os

filhos de Samuel colocaram o nariz para fora das janelas da


carruagem, com os olhos cheios de promessas. Adoravam o caos, a

cor da cidade…

Samuel se perguntou se eles teriam afastado a governanta


para outro dia de prazer em Leeds.

— Pai, olha! — Emily apontou pelo vidro para uma mulher de

vestido marrom e capa preta. Ela tinha o queixo erguido e o cabelo

preso em um penteado magnífico e moderno.

Na verdade, Samuel reconheceu a mulher como alguém que


ele havia cortejado por um curto período de tempo antes de

conhecer Priscila. Quando olhou em sua direção, seus olhos

escuros encontraram os dela ao virar da esquina. Ela levantou a

cabeça e eles trocaram um cumprimento suave, apesar do tempo

que havia passado. Samuel imaginou que a mulher agora teria

marido e provavelmente muitos filhos. Ela parecia bonita e


majestosa, como se seu marido fosse um grande homem de
negócios. Como sua mãe ansiava que ela se casasse com Samuel!

Porém, quando conheceu Priscila, não tinha olhos para outra.

— Ela é muito bonita — disse Nathalia.

— Acho que é uma velha conhecida — disse Samuel. Ele

piscou várias vezes, imaginando que tipo de vida ele e essa mulher

teriam se não tivesse conhecido a esposa. Seus filhos, esses quatro

demônios caóticos, a quem ele amava de todo o coração, poderiam


nunca ter existido.

Solomon incitou os cavalos e seguiram em frente. As rodas da


carruagem estalavam nos paralelepípedos. Emily se recostou,

descansando a bochecha no peito de Samuel.

— Papai, estou feliz que ela se foi — Emily sussurrou,


provavelmente falando sobre a governanta.

Samuel tinha certeza de que nunca chegaria à raiz do que

havia acontecido entre seus filhos e a governanta. Tudo o que sabia

era que precisava seguir em frente e encontrar outra, já que não era

do seu interesse levar os filhos para o trabalho todos os dias. Não

com a data da grande entrega chegando. Não enquanto sua


empresa aparentemente estivesse perdendo dinheiro após a morte

de sua esposa.

Quando Samuel chegou ao trabalho, as crianças saíram


correndo da carruagem. Ele caminhou atrás deles, suas botas

afundando na lama, arrastando-o pelos paralelepípedos. Zachary,


seu assistente, apareceu na porta. Era um homem corpulento, com

uma barba grisalha e branca em volta do pescoço grosso. Ele tinha


um livro-razão nos braços e olhou  carrancudo para as quatro
crianças que corriam em sua direção. Seus olhos procuraram os de

Samuel por um momento, pesarosos.

— Sabe que não vai conseguir trabalhar com as crianças aqui

— disse Zachary, quase repreendendo Samuel.

Ele arqueou as costas e ergueu o queixo. Olhou para Zachary.


Na parte de trás de sua cabeça, a dor era uma sombra constante.

Era uma daquelas dores que tinha certeza de que não poderia
escapar com um simples descanso.

Ele decidiu não repreender Zachary, pois era muito difícil ter

que  inventar qualquer tipo de punição. Em vez disso, decidiu


ignorá-lo, para garantir que soubesse que, sem Samuel, ele estaria

desempregado. Um homem sem perspectivas, descartado. Zachary


nunca fora casado e trabalhava como assistente de Samuel havia

três ou quatro anos. Ele tinha sido devidamente leal. No entanto,


Samuel notou que Zachary estava ficando cada vez mais

descuidado ao fazer um balanço dos negócios da empresa, o que


levou a algumas pequenas perdas de dinheiro.

Samuel pegou o livro-caixa. Seus filhos correram pelo centro

da loja de instrumentos musicais, suas risadas ecoando de parede a


parede. Emily quase caiu em uma enorme harpa antes de Nathalia

pegar sua pequena mão e empurrá-la para trás. Samuel piscou com
o tornado louco antes de olhar de volta para o livro. Era hora de
focar no trabalho. Este era o seu sustento.

Entrou em seu escritório particular, com Zachary caminhando


atrás dele. Seu dedo percorreu as transações no livro-caixa,

espantado com o fato de terem perdido quase duzentas libras


naquele mês. Como era possível? Fizeram um bom negócio com

um internato que comprou algumas harpas para sua orquestra.


Também foram contatados pelo conde de Harley, bem como por
vários senhores ricos de Midlands, que encomendaram vários

instrumentos.
Mas quando Samuel leu o livro, reconheceu que o próprio
Zachary havia calculado mal em suas negociações com o conde de
Harley. Parecia que Zachary havia cobrado uma quantia

incrivelmente irresponsável de dinheiro, resultando em uma perda


de quase cento e cinquenta libras.

— Zachary. Como é possível? — Samuel perguntou, sua voz

rouca.

— O quê? — Zachary perguntou. Suas bochechas tremiam

enquanto ele falava, fazendo-o parecer infantil. — Do que está


falando?

— Zachary, está claro para mim que você cometeu um grande

erro ao lidar com o conde de Harley. Custou muito dinheiro à


empresa...

As bochechas de Zachary ficaram rosadas. Ele gaguejou

novamente, tentando articular uma palavra. Mas Samuel se levantou


de sua cadeira, elevando-se sobre ele. Sentiu outra onda de raiva.
Era impossível ver através dessa raiva. Era de um vermelho

profundo, que fazia seus olhos brilharem.

— Zachary, se você pensa por um momento que eu não vou te


jogar na rua, agora mesmo...
— Senhor, eu suponho que não pense que eu fiz isso de
propósito, não é? — disse Zachary. Ele esticou os dedos sobre suas
bochechas, arrastando-os para baixo. — O senhor não vai

acreditar...

Um estrondo incrível ecoou do outro lado da porta, fazendo as


paredes tremerem. Samuel saiu correndo para a coleção de harpas,

pianos, violoncelos e violinos no fundo da loja. Houve outro clamor,

com um eco selvagem. Era o guincho das cordas caindo nas teclas.
Samuel piscou, e seus olhos se encheram de mais e mais vermelho

e preto. Era a cor da fúria.

Atrás dele, Zachary saltou, tentando segurá-lo.

— Meu Deus, senhor. É horrível o que seus filhos fazem

quando vêm para cá — declarou, colocando toda a culpa nas únicas

pessoas que Samuel amava no mundo.

Diante disso, Samuel cerrou os punhos. Ele se perguntou que

tipo de homem ele teria que ser para se voltar e dar com aqueles
punhos direto no crânio de Zachary.

Samuel não ficou surpreso ao encontrar Williams no centro do

caos: violinos e violoncelos e até metade de um piano quebrado ao

seu redor, seu corpo caído no chão, seus olhos arregalados.


Nathalia ainda estava ao seu lado, com a mão na boca. Emily não

estava em lugar nenhum. Nem Jack.

— O que diabos aconteceu aqui?! — Samuel gritou. Ele sentiu


a raiva subir em seu estômago, como ácido. Poderia vomitar.

Williams tentou sair de entre os instrumentos quebrados, mas


Samuel correu para frente, colocando a mão em seu ombro. Se ele

fosse cuidadoso, poderia evitar que mais instrumentos se

quebrassem. Samuel rosnou para o filho, aquela criança agitada


que ele não entendia direito.

— Por que você nunca deixa as coisas como estão, Williams?

— Pai, foi minha culpa... — Nathalia disse, com grandes


lágrimas escorrendo pelo rosto. Ela estendeu a mão para o outro

ombro de Williams como se pudesse tirá-lo de onde estava.

Mas Samuel afastou a mão dela. Seu cérebro rugia de raiva.

Ele se virou para Zachary, que olhava com despreza para Williams.

— Agora você cometeu um erro — disse a ele. — Vão mandá-

lo para um internato.

Isso foi algo que Samuel mencionou a Zachary em particular: a


ideia de mandar os filhos embora, já que tinha dificuldade em

manter os quatro com ele, pulando de governanta em governanta,


além de administrar a loja de instrumentos musicais. Mas o fato do

funcionário  trazer isso à tona, como uma espécie de ameaça ao

filho, o enfureceu. Samuel se levantou e se preparou para gritar com


Zachary.

Mas quando estava prestes a falar, piscou e piscou


novamente, sentindo o mundo girando ao seu redor. Parecia que

estava empoleirado na borda dele, incapaz de se segurar. E de

repente, caiu de joelhos, batendo em uma parte do piano quebrado.


Seu corpo se curvou para trás e ele perdeu a consciência. Ele só viu

a escuridão; ouviu nada mais do que outro estrondo e um barulho

de instrumentos enquanto Nathalia, Williams e Zachary corriam

ajuda-lo.
Capítulo 3
 

Quando Samuel acordou, o mundo estava escuro.

Ele podia sentir seus cílios piscando, podia sentir seus olhos

abrindo e fechando. Porém, quando os sentiu abrirem-se


completamente e, embora tentasse acomodar os olhos, não
conseguia ver nada. Gaguejou, sua língua roçando seus dentes.

— Alguém pode acender a luz, por favor? — ele perguntou,

surpreso com o quão fraco ele parecia.

— Senhor. Há luz. É apenas meio-dia. — Era a voz de seu

médico, uma voz grossa, que lembrou a Samuel a semana que sua
esposa passara de cama antes de morrer. Lembrou-se daquela

mesma voz dizendo que não tinha certeza se Priscila sobreviveria.

Isso parecia ter acontecido há uma vida inteira.

Samuel não tinha resposta para o que o médico estava lhe

dizendo naquele momento, não mais do que tinha então. Franziu os


lábios, esperando. Ouviu outra voz desta vez, a de Zachary.

— Doutor, o que há de errado? — perguntou. — Eu estava de

pé, e de repente...

— Senhor, dormiu o suficiente? — perguntou o médico a

Samuel, uma pergunta para a qual Samuel certamente sabia a

resposta. Havia confessado que vinha sofrendo de insônia nos


últimos meses. Que, desde a morte de sua esposa, não passava

uma única noite na cama. Normalmente, mal passava mais de uma

ou duas horas deitado.

Samuel sentiu-se petrificado. Negou com a cabeça, piscando

loucamente como se pudesse encontrar a luz. Imaginou que ao


piscar abriria as persianas de uma janela, tentando iluminar o quarto

em um dia de inverno.

— Eu realmente não consigo ver — ele se ouviu dizer. Levou a

mão à garganta, sentindo as cordas vocais vibrarem.

— Meu Deus. Ele ficou cego — Zachary gaguejou. — Doutor, o

que pode ter causado algo assim?

Samuel respirou fundo, tentando acalmar seus pensamentos

acelerados. Colocou as mãos em concha sobre as orelhas para criar

uma espécie de cone, tentando descobrir onde estava, o que estava


acontecendo. À distância, podia ouvir seus filhos: Williams, gritando
que era tudo culpa dele. Nathalia, tentando acalmá-lo.

— Não foi você. Não foi você...

— Eu o deixei terrivelmente zangado, Nathalia. É como se eu

não pudesse evitar. Só eu...

— Shh…

O cheiro de café, de ensopado, da lavanda que Priscila havia

espalhado no fundo do armário, garantiu a Samuel que ele havia

chegado são e salvo em casa após a queda. Imaginou Hester no

fogão da cozinha, fazendo goulash, uma receita que aprendera com


seus ancestrais alemães e costumava fazer para ele e para as

crianças. Priscila não gostava muito; costumava empurrar a tigela

para longe para que Williams e Jack pudessem devorá-la.

Talvez ele devesse tê-la forçado a comer mais. Talvez ela não

tivesse ficado tão doente. Ela ficou tão magra...

— Tenho certeza de que vou recuperar minha visão — disse

Samuel, com as narinas dilatadas. — Tenho certeza de que é

apenas um lapso momentâneo. Esse tipo de coisa acontece o

tempo todo...
A porta foi escancarada, conhecia o som da porta enferrujada

de seu quarto. Ele reconheceu os passos de Heather, a governanta.

— Doutor, o que foi? —  ela perguntou. — Voltei do mercado


assim que soube...

— Ainda não sabemos — disse o médico, com voz firme e


determinada. — Atualmente, assumimos que nosso querido Sr.

Jones não está cuidando adequadamente de si mesmo, após a


morte de sua esposa. Como era de se esperar, visto que ele tem se

preocupado com os filhos, negócios... — O médico parou. Samuel


podia ouvi-lo rabiscando algo com um lápis, talvez fazendo
anotações para que pudesse se lembrar do que aconteceu depois.

— Seus filhos têm sido absolutamente insuportáveis, verdade


seja dita — disse Heather, com a voz estridente. Isso fez com que
outra dor de cabeça começasse a se formar no fundo do cérebro de

Samuel. Ele sentia como se fosse um grão ou uma semente.


Gemeu e enterrou a cabeça ainda mais no travesseiro.

— Vai precisar de ajuda, Sr. Jones — disse o médico,

colocando a mão no ombro de Samuel. Parecia pesado, mas


estranhamente afirmativo. Samuel percebeu que ninguém o tocava

há muito tempo. Claro, ele pensou que alguém provavelmente teve


que carregá-lo na carruagem, levá-lo de volta para a propriedade,

colocá-lo em sua cama...

Mas ele não queria imaginar isso. Isso o fez se sentir muito
impotente, sabendo que seus filhos o viram tão fraco.

— Vou contratar outra governanta — disse Samuel com um


suspiro. — Vou dar mais uma chance às crianças. É necessário

agora, pois estou muito... doente.

— É um problema temporário, Sr. Jones. Definitivamente


temporário — disse Zachary. Ele parecia ansioso, sua voz muito

aguda, como a de uma criança. — Acho que não vai ficar deitado
por muito mais tempo. Certo, doutor?

— É difícil dizer. Vou recomendar que fique na cama pelo resto

do dia. Dê ao seu corpo o que ele realmente precisa, que, como já


sabe, é descanso. E depois disso, bem. Nós controlaremos a

situação. De acordo?

— Quero falar com meus filhos — disse Samuel. Esticou as


mãos sobre o estômago, apertando-as. — Quero falar com eles, a

sós. Heather, poderia procurá-los? E doutor, obrigado por tudo que


fez. Zachary... — Parou, esperando que Zachary entendesse que
não havia esquecido aquele erro e do fato de que Zachary os fizera
perder duzentas libras. O fato de Samuel estar cego de ambos os
olhos e acamado não significava que não continuasse
administrando o negócio.

Não estava morto. Ainda não.

Ouviu os passos leves de seus filhos enquanto eles se


aproximavam, liderados por Heather. Heather deslizou pela porta

com eles, seus passos muito mais fortes. Mas Samuel protestou
com um aceno de mão.

— Heather, por favor. Ouviu o que eu te disse. Porque insiste?

— Sim, senhor — Heather disse, saindo do quarto. Ela fechou


a porta atrás de si e deixou os quatro filhos de frente para o pai,
agora cego.

O silêncio parecia pesado no peito de Samuel. Ele ouviu um


bufo e não conseguiu identificá-lo: era de Emily? Jack? De Williams,
que culpava a si mesmo?

— Papai, o que o médico disse? — exigiu Nathalia, tomando a


iniciativa. Por sua voz, Samuel sentiu que estava muito à esquerda.

Imaginou que estava com o braço em volta de Emily, talvez


esfregando seus ombros. Certificando-se de que ela não perdesse a

cabeça de medo.
— O médico diz que estou cego. Temporariamente — Samuel
disse a eles.

Williams soltou um pequeno gemido antes de cobrir a boca

com a mão. Samuel tentou virar a cabeça diretamente para aquele


barulho, mas poderia estar errado; não tinha certeza.

— Williams, não quero que você faça isso —  disse ele. — É


um caminho difícil o suficiente para você envolver este quarto em

culpa sobre si mesmo.

— Sim, senhor — disse Williams.

Com um choque horrível, Samuel teve medo de nunca mais

ver o rosto de seus filhos. E se eles se tornassem adultos e ele

nunca os visse? E se suas filhas se parecessem com a mãe e ele


não pudesse estar por perto para vê-las florescer?

— Enquanto isso, contratarei outra governanta — continuou


Samuel. — E quero que vocês quatro prometam se comportar da

melhor maneira desta vez. Não podemos deixá-la fugir à noite

novamente, pois estou cego e incapacitado e simplesmente incapaz


de lidar com vocês. Não consigo dormir há semanas.

— Ouvi dizer que você toca violino à noite — sussurrou


Nathalia.
— Então você entende como é essencial que eu descanse

para ficar bem novamente.

— Sim, papai. — Os quatro disseram isso juntos. Suas vozes


criaram uma espécie de acorde. Samuel virou o rosto para a janela,

sentindo o calor de setembro entrando pelo vidro. Lembrou que um

ano atrás, quando Priscila ainda era viva, ela carregava a pequena
Emily no colo, chamando-o para fazer um piquenique juntos. Ele

não queria acompanhá-los?

Naquele dia, ele não o fez. Ficara dentro de casa com o

violino, pensando que poderia ter algumas horas longe das crianças,

do caos. Agora, queria mais que tudo ficar juntos assim: os seis, se

preparando para conquistar o mundo. De alguma forma, ele se


sentia assim quando sua esposa estava por perto.

— Não pode imaginar o quanto lamentamos — foi o refrão dos

habitantes da cidade de Leeds e das propriedades vizinhas

espalhadas pelo campo. Mas agora ele estava cego, inválido. E


seus filhos eram tão insuportáveis ​que as governantas fugiam no

meio da noite em busca de uma vida melhor em outro lugar.

Eles não eram assim antes. Ou melhor, eram um tanto

cômicos: seus truques e birras tinham elementos de humor, fazendo


com que ele e Priscilla caíssem na gargalhada.

O que seria de sua pequena família? Aquela eletricidade que

disparou entre seus dedos e os de Priscila quando se encontraram

pela primeira vez na floresta: não significava que grandes coisas

estavam por vir? Isso não significava que haviam sido "escolhidos"
para outra coisa?

Talvez não significasse nada. Talvez fosse tolice pensar que a


vida era um terreno fértil para o amor eterno. Agora tinha que focar

sua mente, focar nos fatos: que seus filhos precisavam ser criados e

educados, e que ele precisava reconstruir a loja de instrumentos


musicais para protegê-la da ruína...

E claro, precisava enxergar de novo.

— Vão agora — disse ele a seus filhos. — Tenho muito em que


pensar e muito o que fazer. Por favor, não façam barulho. E me

deixem dormir.

As crianças saíram correndo e uma delas, provavelmente

Nathalia, embora não pudesse dizer ao certo, fechou a porta atrás


delas.

Samuel sentiu o vazio do grande quarto ecoar ao seu redor,


consciente de que se sentia muito maior, como um peso no peito,
quando tinha que ficar ali sozinho.

Talvez fosse exatamente por isso que ele não conseguiu

dormir todo esse tempo. Não podia simplesmente ficar ali deitado,
sabendo que, quando acordasse, Priscila também não estaria lá.

Era mais seguro viver consciente.

E agora, de certa forma, era mais seguro viver cego. Pelo

menos não podia ver a devastação nos rostos de seus filhos. Pelo

menos agora não conseguia ver os olhos verdes escuros de


Nathalia e Emily, tão parecidos com os de sua esposa.

A cegueira era uma casca protetora.


Capítulo 4
 

A mãe de Margaret, Sophie, era uma mulher mal-humorada que

teve a filha quando já estava cansada demais dos filhos para se


preocupar com o futuro deles, sua educação ou qualquer coisa
relacionada à sua educação. E desde aquele fatídico dia de outubro
em que Margaret nascera, naquele mesmo dia, vinte anos antes,

Margaret sentia o peso desse conhecimento. Que não era amada,


que ela era a última de oito filhos, em um mundo onde o dinheiro
nunca era suficiente. E agora, ela era a última que restava em casa.

Sophie bateu com a vassoura na parede mais distante,


recolhendo as migalhas do pão que havia feito para o jantar fúnebre

em sua casa. Ela grunhiu e despejou as migalhas em uma bacia.


Margaret estava cuidando dos pratos, os ombros caídos para a

frente.

— Endireite-se, Margareth. Você não pode esperar que um


homem a note se parece um ponto de interrogação — Sophie disse,
franzindo a testa.

Margaret não tinha pensado que sua mãe lhe daria um

momento de descanso. Não hoje, no dia do funeral de seu marido, o

pai de Margaret. Ele havia desmaiado em um campo na semana

anterior, no meio de uma expedição de caça. Foi seu coração, disse


o médico. Sempre tivera um mal-estar que muitas vezes o deixava

sem fôlego, com a mão estendida sobre o peito. Agora, isso

finalmente o levou embora. E ninguém estava preparado. Muito


menos Margaret, a única garota da casa.

— Sim, mãe — disse Margaret, tentando encontrar forças para

se levantar. Mas as muitas horas de choro da noite passada a

deixaram exausta, com os músculos doloridos. Foi preciso muito


esforço para lavar os pratos e empilhá-los nos armários. Foi preciso

muito controle para não se jogar ao chão e gritar.

Nesses momentos, ela ansiava por conversar com a mãe

sobre a morte de uma forma que ambas pudessem lidar. Mas, em

vez disso, sua mãe estava muito mais empenhada em seguir em

frente: fazendo suas tarefas, falando de forma realista sobre

finanças e se perguntando se deveriam considerar o corte de


pessoal.
— Com seus irmãos casados ​e com seus próprios filhos, não
adianta ficarmos aqui — dizia ela. — Todos esses quartos vazios...

Tanta poeira para limpar, Margaret....

O irmão mais velho de Margaret, Harry, estava no andar de


cima com suas duas filhas gêmeas adormecidas e sua esposa.

Estavam fazendo as malas para voltar para a vizinha Leeds em uma

ou duas horas. Assim, evitavam limpar e guardar sobras. Sophie

havia expulsado a esposa da sala, dizendo: Não seja boba. Você

tem que cuidar de seus próprios filhos.

Ela era uma daquelas mulheres que “carregam a própria cruz”.

Isso era algo que Margaret respeitava em sua mãe, mesmo que não
entendesse completamente.

Harry desceu os degraus como se fosse uma deixa, suas

botas deixando marcas no chão recém-lavado da cozinha. Ele


parou, cerrando os punhos de cada lado de sua barriga

protuberante. Era o mais próspero de todos os filhos, um banqueiro

de Leeds, e Sophie falava dele como um bem valioso.

Harry olhou para sua irmã com pesar, quase como um

professor olharia para seu aluno problemático.


— Margaret — disse ele com uma sobrancelha levantada. —

Acho que você não pode continuar assim, não é? — perguntou.

Ela parou, um prato ainda em suas mãos. Virou-o várias


vezes, manchando-o com mais impressões digitais. Todos os seus

instintos a levaram a bufar, mas ela se conteve. Na frente de Harry e


Sophie tinha que ficar calada e respeitosa. Eles tinham boas

intenções em seus corações.

— Precisa encontrar algo para fazer, se não vai se casar —

disse Sophie. — Não ficaria surpresa se fosse esse fato que causou
o estresse que matou meu Thomas. Sempre tão preocupado com
sua filha mais nova... Sobre como representava a família.

Margaret abriu e fechou a boca, querendo declarar que isso


era injusto. Que sempre fora obediente com as tarefas domésticas.
Que  sempre se esforçou para ir à igreja com a mãe, fazer suas

orações, ser o tipo de menina e mulher que seus pais queriam criar.
Mas é claro, com quase todos os homens colocados na frente dela,

esperando que se casasse... e ela notavelmente desinteressada.


Muito distante. E sabia que isso deixava sua mãe com raiva.

— É pertinente que consiga algum tipo de trabalho — disse

Harry, sua voz ecoando pela cozinha.


— Tenho certeza de que ela não é adequada para a maioria

das posições. Mas se ouvir alguma coisa na cidade... — disse


Sophie.

— Talvez pudesse trabalhar com você no banco? — Margaret

perguntou com um leve encolher de ombros.

— A postura, Margaret! — Sophie gritou. — Nunca receberá

uma proposta de noivado dessa maneira. Nenhum homem vai olhar


para você duas vezes. E agora que já tem dezenove anos...

Margaret franziu os lábios, voltando-se para seus pratos. Não

queria gritar que hoje era seu aniversário. Que a partir das dez da
manhã teria vinte anos. Parecia infantil lembrá-los naquele

momento, agora que seu pai acabara de ser enterrado. Que


pensamento horrível era aquele: seu caixão sendo salpicado de
terra. Seu corpo, rígido para sempre...

— Ouvi falar de uma posição na casa do Sr. Jones — disse


Harry. — Lido frequentemente com seu contador e, desde a morte
de sua esposa, ao que parece, tem sido terrivelmente difícil

encontrar uma governanta que atenda às suas necessidades. Ele


tem quatro filhos.
As orelhas de Margaret se levantaram com a menção do Sr.
Jones. Sabia que Samuel era o dono de uma próspera loja de
instrumentos musicais em Leeds, um lugar que a deixara

maravilhada quando criança, quando estava apenas começando a


aprender a tocar violino, a única tarefa de que realmente gostava.

Ela passou horas andando pela loja, seus dedos dançando sobre as
teclas. Uma vez ela viu o Sr. Jones, que era realmente bonito: seu
cabelo escuro encaracolado até os ombros, seu rosto volátil e sério.

E, com apenas treze anos, sentiu algo. Era atração? Curiosidade?


Não sabia. Mas enquanto o observava, ele tirou um violino do

estojo, colocou-o contra o pescoço e começou a tocar. Nunca tinha


visto nada mais bonito.

— E você acha que ele está disposto a aceitá-la? — Sophie

perguntou, levantando uma sobrancelha. Pareceu dar uma boa


olhada em Margaret, e depois outra. Sua filha era realmente

"suficiente" para alguém como os filhos de Samuel? Mesmo


Margaret não tinha certeza.

— Se pudesse me conseguir uma entrevista com Samuel... —

Margaret disse, pensando apenas naqueles corredores cheios de


instrumentos. — Eu adoraria tentar.
Harry colocou um cigarro entre os lábios e parou para olhar
pela janela. Ele parecia agir como se tudo isso fosse muito difícil.
Como se ele não tivesse tocado no assunto antes. Margaret voltou

para os pratos, suas bochechas ficando rosadas. Por que supôs que
sua família poderia ajudá-la?

— Claro que posso tentar — disse Harry, parecendo em

dúvida. — Na verdade, por que não? Vou escrever para o contador

amanhã e informá-la imediatamente se a resposta for sim. Não


consigo imaginar que não seria. Como eu disse, ele tem dificuldade

em encontrar alguém...

Margaret ouviu enquanto seu irmão e sua mãe falavam,

aparentemente espantada com o motivo de ela ainda não ter sido

"escolhida" por ninguém, por que parecia que viveria sua vida
sozinha.

— Bem, talvez possa servir aos filhos de outra pessoa. —

Sophie suspirou, largando a vassoura contra a parede oposta e

colocando as mãos nos quadris. — Agora que meu Thomas está no

subsolo, é hora de seguirmos em frente. Tal é o mandamento do


Senhor.
Margaret ficou acordada até tarde da noite, esperando que sua

mãe parasse de se mexer no quarto. Desde que seu pai havia caído
de joelhos naquele campo, Sophie mal dormia, deixando Margaret

dolorida, com as orelhas grudadas na porta, esperando por ela.

Normalmente, nos últimos cinco anos — desde que se supunha que


Margaret estava destinada a encontrar um companheiro — Margaret

passou muitas noites no celeiro na colina, com o violino no ombro,

compondo uma bela melodia. Ela era uma amante da música, uma

"sonhadora", como dizia sua mãe. E permitir que vissem a


profundidade daquele sonho era perigoso para Margaret. Tinha que

mantê-lo para si mesma.

Pouco depois de uma da manhã, sua mãe parou de andar.

Margaret ficou parada por um longo momento, esperando, antes de


sair correndo pela porta do quarto, enfiar os pés nas botas e correr

pela grama cinza em direção ao celeiro. Seu rosto estava corado,

suas bochechas frescas pela sensação do ar de outono. Era a noite

de seu aniversário e queria comemorar com uma música. De certa


forma, ela também estava celebrando a vida do pai: tocando uma

melodia magnífica, de suas cordas para o céu. Talvez, em algum

lugar, seu pai se lembrasse de que eles já haviam sido próximos.


Certa vez, ele lhe disse que amava quando tocava para ele. “Seu
talento é impressionante, minha querida”, ele disse a ela antes de

girá-la no ar, fazendo com que sua saia se erguesse pelo

movimento. Aquele havia sido um dos momentos mais felizes de


sua vida.

— Papai — Margaret suspirou, voltando os olhos para as


estrelas cintilantes. Apontou seu arco para as cordas do violino,

esperando. — Pai, quero que saiba que te amei quando você estava

aqui e que ainda te amo. Não te esquecerei.

Enquanto tocava, a mente de Margaret viajou para todos os

seus irmãos, lembrando que enquanto ela guardava a memória de


seu pai, eles tinham que criar suas próprias memórias. Eles

mesmos eram pais e mães. Era assim que a vida deveria ser?

Construir memórias para superar as que já não importavam? Nesse


caso, não tinha certeza se queria aceitá-lo.

Talvez essa posição de governanta fosse perfeita para ela,


pois permitiria que ela mergulhasse na vida de outra pessoa, sem

lidar com a sua. Talvez isto significava que ela nunca seria mãe, no

sentido tradicional. Talvez significasse que ela nunca encontraria o


amor, como tantas vezes sonhara.
Mas se isso significasse que poderia tocar violino, mesmo na

calada da noite... Talvez fosse o suficiente. Tinha que escolher suas


batalhas nesta vida. E isso também significava escolher as coisas

que valiam a pena.

No final da semana, Margaret e sua mãe receberam notícias

de Harry sobre a entrevista na casa de Samuel. Dias se passaram

desde o aniversário de Margaret e ninguém percebeu. Ela sentiu


que caminhava com uma sombra perpétua, sentindo que seu tempo

na casa de seus pais estava se esgotando. Na última manhã, horas

antes de ir para a entrevista, caminhou pelo mercadinho da cidade,


tentando memorizar cada uma das barracas. Parou diante do Sr.

Wilson, que vendia baldes de maçãs vermelho-rubi, todas brilhantes

apesar das nuvens cinzentas. Esticou os dedos sobre a maciez dos


cachecóis recém-tricotados de madame Odette enquanto Margaret

a ouvia tagarelar sobre os negócios do marido (aparentemente o

senhor Odette nunca estava disposto a nada). Margaret conhecia

muitas pessoas em sua pequena cidade e sabia que muitos se


sentiam à vontade com ela, mesmo que nunca pudessem verbalizar

o porquê. Sempre, depois de terminarem sua conversa diária,

paravam, piscavam para ela e suspiravam.


— Sabe, querida? É verdade que não é tão bonita quanto suas

irmãs — disse certa vez madame Odette. — Mas há uma luz em

você. Esses olhos verdes brilhantes, minha querida. Algum homem

em algum lugar virá procurá-la. Eu sei que isso vai acontecer.

Mas Margaret tinha certeza de que isso não aconteceria.

— Vou fazer uma entrevista para ser a governanta em Leeds

— dissera ela a madame Odette, enrolando uma de suas echarpes


finas no pescoço e tentando conter as lágrimas que brilhavam em

seus olhos. — Não sei se voltarei.

Madame Odette assentiu, com movimentos rigorosos.

— É apropriado, suponho, já que você pode não se casar tão

cedo. E com a morte de seu pai, sei que sua mãe precisará de

ajuda. — Ela olhou de nariz empinado para Margaret como se


estivesse muito acima dela. — É uma coisa boa e piedosa que está

fazendo, minha querida.

Margaret vestiu um vestido marrom simples e enfiou o resto de

seus pertences, apenas seis vestidos, um ursinho de pelúcia que


seu pai lhe dera quando criança, vários cadernos e muitos livros, em

uma mala e prendeu o cabelo. Esperou na entrada da casa de sua

mãe, sabendo que seu irmão chegaria dez ou quinze minutos


atrasado. Independentemente de seu atraso, se não estivesse lá

quando trouxesse sua carruagem, ele iria repreendê-la.

Harry e Margaret não se falaram a caminho da grande


propriedade de Samuel, e por isso Margaret ficou grata. Ela nunca

gostou de conversar, principalmente com os irmãos, que a

consideravam um estorvo. Quando era mais nova, era mimada, ria e

corria pelo quintal como um "ouriço", diziam. E nunca tinha perdido


essa aparência, a seus olhos..

— Oh, minha querida Margaret. O que vamos fazer com você,


se Samuel não te aceitar? — Harry suspirou. Ele passou a língua

sobre os dentes ruins, avaliando Margaret com um olhar severo. —

Não consigo imaginar mamãe a deixando ficar na casa dela por


muito mais tempo. Vamos recebê-la em casa nos próximos anos,

como é nosso dever. E você...

Margaret pressionou as palmas das mãos nas coxas,

desejando poder se encolher mais. Ela já estava bem magra, como

um pau, sem interesse em comida. E isso, de certa forma, a tornava


irreconhecível e certamente pouco atraente aos olhos de muitos

homens. Certa vez, Harry veio até a mesa em um jantar em família,


apertou sua bochecha e se espantou: “É como se você não
existisse.”

Quando era mais jovem, Margaret sentia que, quando tivesse

essa idade, vinte anos, conheceria mais do mundo. Que entenderia

seu propósito. Mas quando os cavalos alcançaram a grande


mansão, o prédio escuro e sombrio com suas muitas alas, suas

janelas do chão ao teto refletindo apenas o ambiente cinza e a

floresta que margeava o terreno limpo, ela se sentiu pequena

demais para ter qualquer tipo de objetivo. Saiu da carruagem e


então passou o braço pelo de Harry, como planejado. Juntos,

caminharam em direção à enorme porta de madeira. Margaret

sentiu um nó na garganta. Talvez, durante a entrevista, nem tivesse


energia ou força para falar. Isso seria sua ruína.

Harry acompanhou Margaret até a porta em um silêncio tenso,


seus sapatos rangendo no cascalho. Chegando lá, uma mulher

barriguda e de óculos grossos atendeu a porta. Seu avental estava


manchado, talvez com o que foi servido no almoço. A mancha era
vermelha e marrom, um ensopado? Margaret voltou o olhar para o

rosto da mulher, rosado e quase bulboso, certamente cruel. Embora


várias pessoas tivessem dito a Margaret que talvez seu julgamento
de caráter fosse muito imediato. Ela forçou um sorriso e tentou fingir
que era real.

— Olá — disse Margaret, fazendo uma leve reverência. — Sou


Margaret. Margaret Graham. Estou aqui para a entrevista sobre o...

A mulher a interrompeu, abrindo mais a porta.

— Margaret. Margaret Graham — ela disse quase


zombeteiramente. — Suponho que não esteja aqui para o cargo de

governanta, como centenas de outras mulheres como você —


declarou, com os olhos percorrendo o torso de Margaret. — Fina
como um palito. E não muito bonita. Embora, devo lhe dizer que o

cavalheiro não dará a mínima para sua aparência. Ele está


temporariamente cego.

Por alguma razão, essas palavras atingiram Margaret em cheio


no peito. Sentiu seus lábios tremerem para baixo. Mas deu um

passo à frente, seguindo a mulher no vasto salão. Seus passos


batiam contra o mármore e ecoavam na parede oposta. Em algum

lugar no corredor, ela sentiu um espaço aberto que só poderia ser


um enorme salão de baile. Em um piscar de olhos, Margaret
mergulhou em um mundo de fantasia: um mundo de grandes bailes

e festas, de mulheres com vestidos azuis, vermelhos e verdes.


Nunca tinha conhecido um mundo como este. Imaginou a música
vindo do salão de baile, ecoando neste mesmo salão...

— Meu nome é Heather. Heather Fields. E eu sou a

governanta desta casa — Heather disse, parecendo desaprovadora.


Colocou a mão no ombro de Margaret, forçando-a a desviar o olhar
do salão de baile e olhar em seus olhos. —  Você com certeza é

uma sonhadora, certo?

Margaret sentiu como se tivesse levado um soco no estômago.

Harry deu um passo à frente, rindo. Parecia que tinha alguma


confiança com Heather.

— Não se preocupe por ela, senhorita Fields. Está um pouco


nervosa, com certeza. Sabe como essas garotas lidam com

mudanças.

— Sim, bom. Está bem. Se o senhor diz. — Heather endireitou


sua postura, mantendo um olhar furioso para Margaret. — Venha
comigo. Por  aqui.

Margaret e Harry seguiram Heather por outro longo corredor,

com parede de tijolos. Os olhos de Margaret dispararam de uma


porta fechada para outra. A cada passo, procurava qualquer sinal

das crianças que supostamente estariam perambulando pela casa.


Estariam brincando em algum lugar, longe de seu pai cego?
Quantos anos tinham? Como poderia suportar que todos eles

tivessem menos de cinco anos, todos infinitamente carentes e


sozinhos, sem o amor de sua mãe? Margaret estremeceu de medo,
perguntando-se se ela realmente poderia lidar com isso.

— Samuel vive nesta casa desde que foi liberado do exército,


depois que foi ferido — Heather explicou enquanto caminhavam. —
Ele foi incapaz de continuar seu dever, o que foi realmente trágico

para ele na época. Mas voltou para Leeds, onde cresceu, para
manter a fábrica de instrumentos musicais de seu pai.
Provavelmente já ouviu falar dela. Eles fornecem alguns dos mais

belos instrumentos para Sua Majestade, o Rei. — Ao ouvir isso,


Heather virou a cabeça para Margaret, buscando algum tipo de
reconhecimento.

A garota olhou para ela com os olhos arregalados.

— Bem, não fique tão surpresa, querida. Não quer parecer


uma idiota na frente do assistente de Samuel, o Sr. Pinkman. Ele

também estará presente na entrevista. Mesmo que Samuel não


possa vê-la, ele ouvirá qualquer hesitação e medo em sua voz.
Fique atenta a isso.
Finalmente, Heather abriu a porta da direita, levando Margaret

e Harry para o escritório. Este estava cheio de fumaça espessa de


charuto. Margaret forçou os lábios a se apertarem para não tossir.
Diante dela havia uma mesa velha e grossa, com dois homens do

outro lado. Eles estavam sentados em cadeiras maciças, com


costas ornamentadas, suas mãos segurando os braços. À esquerda
estava um homem rechonchudo com bigode grande e olhos

minúsculos de roedor.

E à direita estava um homem majestoso, com longos cabelos


negros enrolados até os ombros, uma barba espessa e olhos

grandes e sinceros que pareciam espiar de algum lugar atrás dos


ombros de Margaret. Sua respiração falhou quando ela olhou para
ele. Nunca tinha visto um retrato de Samuel. Nunca achou que

pudesse ser tão bonito. Conhecendo seu passado como um herói


de guerra ferido, sua cabeça girava com sua história romântica.
Agora ele estava cego; sua vida devastada pela morte de sua

esposa. No entanto, ele não parecia derrotado.

— Senhor, esta é a Srta. Margaret Graham e seu irmão, o Sr.

Harry Graham. Ambos são da periferia de Leeds — Heather Fields


disse, caminhando até Samuel e sentando em um banquinho ao
lado dele. Continuou olhando para Margaret, seus olhos parecendo
perfurar os dela.

— Prazer em conhecê-lo, Sr. Jones — disse Harry, soando tão


pomposo que fez o estômago de Margaret revirar.

— Margaret Graham — repetiu o homem rechonchudo com a


língua deslizando sobre os dentes. — Obrigado por vir à entrevista.

Como pode ver, o Sr. Jones se deparou com algumas dificuldades


inesperadas...

— Por favor, Zachary. Não fale por mim — Samuel


interrompeu.

A garganta de Margaret apertou ainda mais. Colocou a mão

em volta dela, tentando respirar. Harry deu uma cotovelada em suas


costas, empurrando-a para a cadeira em frente à mesa. Margaret

sentou-se na beirada, esperando que seu medo não a fizesse cair


no chão.

— Senhorita Graham, bem-vinda à minha casa —  disse


Samuel. Seus olhos, porém, permaneceram longe dela, na direção

da porta. — Como sabe, minha esposa ficou doente e deixou este


mundo há cerca de dez meses. E um mês antes do nosso encontro
de hoje, eu também adoeci. O médico declarou que a cegueira não
será para sempre. No entanto, estou à espera, imaginando quando
verei novamente.

— Sinto muito, Sr. Jones — disse Margaret. Piscou várias

vezes, ciente de que Heather e o Sr. Pinkman estavam observando


cada movimento dela.

— Não estou reclamando. Eu conto a história de fundo, para


que eu possa avaliar se a senhorita é a pessoa certa para meus
filhos — continuou Samuel.

Sim, era verdade. Essa era a razão pela qual ela estava lá.

Margaret passou os dedos pela testa, colocando um cacho rebelde


atrás da orelha.

— Meus filhos têm onze, nove, sete e quatro anos. São


terrivelmente maravilhosos, vivos e às vezes muito selvagens. Vou

precisar que cuide deles, se for designada para esta tarefa — 


Samuel continuou. — Eu os amo muito, de verdade. Mas, neste
ponto da minha vida, o médico afirmou que, se eu não descansar,

talvez nunca mais recupere a visão. Além disso, estou muito


ocupado com negócios.

Margaret mudou de posição, imaginando o que dizer. Ansiava

por expressar o quanto adorava pensar em seus instrumentos


musicais, o quanto daria para percorrer os corredores de sua loja.
Mas se conteve, sabendo que não poderia parecer tola.

— É muito mais jovem do que a maioria das governantas que


contratei — continuou Samuel, parecendo duvidoso. — Quase todas
elas criaram seus próprios filhos, ou pelo menos já tiveram trabalhos

como esse antes.

Margaret esperou, imaginando se essa seria sua chance de

falar, de declarar por que ela poderia fazer o trabalho melhor do que
os outros. Mas não tinha a resposta. Ela não tinha feito nada na vida
a não ser cuidar do pai e da mãe, cuidar da casa, sonhar acordada

e tocar violino. Nenhuma dessas coisas estava particularmente em


sintonia com o que ele estava procurando, e sabia disso.

— Mas, tendo dito isso, nenhuma dessas governantas ficou


conosco — continuou ele, erguendo as grossas sobrancelhas

negras. — E agora, a senhorita está aqui. Sinto que, de certa forma,


é minha última chance. Se não funcionar, posso ser forçado a
mandar as crianças para um internato.

— Ainda afirmo que é a melhor opção — disse Pinkman,

resmungando e cruzando os braços sobre o peito. Ele olhou de


nariz empinado para Margaret, como se ela fosse um pedaço de

carne mofada.

Margaret sabia que era sua chance de falar. Gaguejou,


odiando o quão jovem parecia.

— Sr... Sr. Jones. Eu entendo que este é um momento


terrivelmente difícil para o senhor. Mas adoro crianças. Amo ensinar
e aprender com elas. Defenderei todos os ensinamentos de sua

esposa e os seus e garantirei que  senhor o tenha o tempo e o


espaço necessários para descansar. Tem sido meu dever, em casa,

manter um lar de paz. E eu vou conseguir o mesmo para o senhor.

Mais uma vez, o Sr. Pinkman sorriu ironicamente. Mas o rosto


de Samuel ficou quase flácido, as sobrancelhas caídas e os olhos
voltados para o chão.

— Você parece muito jovem, muito sonhadora — Samuel

suspirou. Ele virou a cabeça para Heather Fields, aparentemente


buscando a opinião dela. Mas quando ela começou a se levantar,
ele falou. — Embora acredite que não temos escolha a não ser

colocá-la à prova. Por favor. Que a Sra. Fields lhe mostre o seu
quarto. Encontrará as crianças em uma hora e começará seu
trabalho.
Harry juntou as mãos em um aplauso silencioso. Margaret
estremeceu de apreensão. Levantou-se da cadeira, deu alguns
pequenos passos à frente e estendeu a mão. Queria sacudir a dele,

confirmar o acordo. Mas em resposta a esse ato "viril", Heather


Fields zombou.

— Minha querida, vá até a porta. Estarei contigo em breve —


disse.

Margaret caminhou até a porta, segurando-se no batente.


Harry correu para encontrá-la, rosnando.

— Não deve apertar a mão do seu empregador. Deveria saber.

Mamãe e papai não te educaram?

Harry correu de volta para a carruagem para pegar a mala e


carregá-la escada acima, acompanhando as duas mulheres.

Margaret esperou ao lado de Heather, mudando o peso de um pé


para o outro enquanto a governanta explicava as regras da casa.

— O que deve entender, acima de tudo, é que o Sr. Jones


precisa descansar. Precisa de tempo para cuidar do negócio de

instrumentos musicais. E, muitas vezes, ele viaja até o palácio para


fazer vendas. Terá que manter as crianças longe dele. No meio da
troca de tantas governantas, ele perdeu o sono. Perdeu negócios.
Tem sido, bem, já pode imaginar.

— O que aconteceu com as outras? — Margaret perguntou,

sentindo que estava fazendo uma daquelas perguntas que se deve


guardar para si mesma. Mas já estava no ar, flutuando entre suas
cabeças.

— Realmente não é da sua conta o que aconteceu. — Heather


bufou. — Mas se quiser saber, elas simplesmente não conseguiriam

lidar com o tipo de mundo que estamos tentando construir aqui. As


crianças são monstros inteligentes. Basta dizer que ficaria surpresa
se pudesse lidar com eles sozinha. Acho que veremos. A maioria

das outras governantas não durava mais do que uma ou duas


semanas.

Harry deixou a mala cair aos pés de Margaret, apertou a mão

de Heather Fields e virou o rosto para dar um beijo forçado na


bochecha da irmã. Ela respirou o cheiro de seus dentes cariados e
se forçou a não torcer o nariz. Não podia se permitir reagir às

coisas. Não mais.

— Obrigada, Harry — disse Margaret. — Obrigada por me


trazer aqui.
— Certifique-se de escrever para nossa mãe — disse ele.

Então se virou para a escada e se despediu. — Sra. Fields, não se


incomode, sairei sozinho.

Margaret ficou grata por seu irmão ter ido embora e observou
enquanto ele descia os degraus e sumia de vista. Quando a porta se

fechou atrás dele, ela deu um suspiro de alívio. Mas quando se virou
para Heather Fields, para seu nariz pontudo e olhos desconfiados,
soube que havia sido jogada de um covil de leão para outro.

— Siga-me, Margaret. Vou levá-la para o seu quarto. Já saiba


que não é o tipo de lugar que leu em seus livros de contos de fadas.

Coisas simples, uma cama... Espero que não espere mais nada.

— De forma alguma — disse Margaret, sentindo o coração


encolhia enquanto caminhava atrás da aparentemente sombria e
quase malvada mulher, desejando a cada passo voltar a seu refúgio

secreto no celeiro, com seu violino em seu ombro e seu arco se


movendo de um lado para o outro. Voltaria a ter esse tipo de

liberdade? Ou essa espécie de armadilha era o começo do resto de


sua vida?

 
 

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