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Para Sempre Recordar

Para meus pais, Lily Elizabeth e Curtis Raybum Heath


O amor de vocês me deu a coragem de acreditar nos meus sonhos.
Sinopse
Depois de se recusar a lutar pela Confederação, Clayton foi desprezado por
todos em sua cidade natal, Cedar Grove.

Para Meg, que perdeu seu marido e irmãos na guerra, a presença de Clay
era uma ofensa constante. Como punição, Meg encomendou a Clayton a criação
de um memorial para os heróis de guerra da cidade, mas conforme os meses
passam e ela o observa, os sentimentos de Meg começam a mudar.
Prólogo
Outono, 1862.

Além dos muros de pedra, os dias derretiam no crepúsculo.

Mas dentro do vazio escuro que as paredes criavam, Clayton Holland


conhecia apenas o negrume de uma noite sem estrelas. Os dias não continham nem
amanhecer nem anoitecer, mas em vez disso estavam cheios com a lenta passagem
do tempo, enquanto esperava, sua consciência era a sua única companheira.

Ajoelhado ao lado de sua cama, ele pressionou a testa contra as mãos e


apoiou os cotovelos no colchão fino. O mau cheiro dos homens que tinham vindo
antes dele flutuava ao seu redor. Em uma voz rouca, ele ordenou que seu tremor
cessasse. A coragem e, acima de tudo, a força o mantinham firme por suas
convicções nestas horas finais.

Depois de tantas repetições, as orações deveriam ter vindo com facilidade,


mas cada oração era diferente das que vieram antes dessa.

A cada momento que passava, as dúvidas remanescentes vinham à tona,


assumindo formas diferentes: o amor nos olhos de sua mãe se voltando para a
tristeza devastadora; as mãos orientadoras de seu pai se afastando e deixando-o
para trilhar seu próprio caminho.

Sua última oração foi interrompida, seu corpo involuntariamente repuxado


quando alguém prendeu a chave na fechadura da porta de sua cela. Quando a porta
rangeu aberta, uma lasca de luz se derramou no abismo enegrecido.
Levantando a mão para proteger os olhos da luz pálida, Clayton lutou para
ficar de pé. A porta se fechou, um rangido de chave, mas a luz permaneceu.
Lentamente, enquanto seus olhos se ajustavam, ele abaixou a mão, e um homem
corpulento que levava uma lamparina entrou em foco.

— Dr. Martin? — ele murmurou.

O homem limpou a garganta, o som áspero enchendo o silêncio lúgubre.

— Sim, sou eu, Clay.

— Está na hora?

— Não, ainda não. Eu só achei que você poderia ter um pouco de companhia
por um momento. — Agarrando o cós da calça de lã surrada com uma mão, Clay
estendeu a outra em direção ao homem que o havia trazido e a maioria dos meninos
de Cedar Grove, Texas, para o mundo.

Ele quase chorou quando a mão do médico aqueceu a dele.

— Obrigado por ter vindo, senhor. Você quer sentar? Não é chique. — Ele
lançou o que ele esperava que fosse uma risada e não um soluço. — Eu nem sei se
está limpo.

— Vai estar muito bem — Dr. Martin disse quando ele se sentou vacilante
na cama e situou a lamparina no chão.

Clay sentou na cama, se encostou na parede, e estudou o visitante. Mesmo na


escuridão das sombras Clay conseguia ver as rugas de sorrisos que o médico tinha
gentilmente esculpidas em seu rosto ao longo dos anos.
Quando menino, Clay sempre que estava doente, sentia-se melhor depois que
ouvia que o Dr. Martin estava indo vê-lo. Ele encontrou conforto na presença do
homem agora, mesmo sabendo que o médico não podia fazer nada por ele.

— Você acha que vai ser uma manhã clara?

— Parece que será.

— Você sabe se eu vou estar voltado para o leste? Eu com certeza gostaria
de ver o nascer do sol antes de...

— Eu não sei.

— Por que você acha que eles executam pessoas na madrugada, de qualquer
maneira?

O encolher de ombros do Dr. Martin foi perdido nas sombras — Eu


realmente não sei.

Um riso estrangulado escapou dos lábios de Clay e ecoou pela cela fria. — O
inferno de uma maneira de começar o dia. — Ele coçou o queixo barbudo. —
Senhor, você sabe o que aconteceu com Will Herkimer?

— Ele... — Dr. Martin respirou fundo. — Ele morreu. De pneumonia, logo


depois que eles te trouxeram aqui. Eu sinto muito.

Clay assentiu, incapaz de falar pelas emoções entupindo sua garganta. Ele
abaixou a cabeça em um momento de silêncio, de recordação. — Ele tinha uma
esposa — disse em voz baixa. — E dois garotos. Eu sempre quis ter um filho. —
Um sorriso triste rastejou em seu rosto. — E uma filha. — Ele procurou na
escuridão por qualquer coisa para tirar sua mente dos sonhos que nunca viriam a
acontecer. — Dr. Martin, como é que você nunca se casou?
— Nunca pude encontrar uma mulher disposta a colocar-se com a vida que
eu tinha para oferecer, se divertir ao redor do campo, cuidar de pessoas doentes no
meio da noite. Isso é difícil para uma mulher.

— Você... você esteve com uma mulher... durante a noite?

Conscientemente, Dr. Martin pigarreou, ele nunca revelava informações


pessoais sobre a vida de seus pacientes que ele involuntariamente descobria no
curso de seu tratamento. Até agora ele sempre aplicou a prática para si mesmo
também. — Sim, sim, eu estive com uma mulher.

— Do que ela cheirava?

Dr. Martin ouviu o profundo desejo espelhado em uma voz que devia ter
refletido a vitalidade da juventude. — Lavanda — respondeu ele.

— Lavanda. Não me lembro de alguma vez cheirar lavanda. — Um forte


senso de perda sussurrou em frente à pequena extensão que separava o velho do
jovem.

Dr. Martin sentiu a perda como se tivesse experimentado isso ele mesmo. Ele
queria perguntar a Clay o que diabos ele tinha cheirado para que ele pudesse mentir
e dizer-lhe que a mulher cheirava àquilo. — Madressilva — disse ele depois de um
tempo. — Uma vez eu dormi com uma mulher que cheirava à madressilva.

— Madressilva — Clay repetiu em reverência, alívio correndo em suas veias.


— Eu posso imaginar uma mulher com cheiro de madressilva. Ela era suave?

— Muito.

— E quente?
— Tão quente como o verão do Texas.

Silêncio caiu em torno deles, e o Dr. Martin ficou muito triste pensando que
nos momentos finais desse jovem, ele estava pensando em uma mulher que ele
nunca conheceu e nunca conheceria. Ele enfiou a mão no bolso fundo do casaco,
retirou uma maçã, e deu-a a Clay.

Envolvendo as duas mãos em torno dela, Clay saboreou a pele lisa da fruta
contra seus dedos anormalmente frios. Trazendo a maçã perto de seu rosto, ele
colocou as mãos sobre seu nariz e boca, bloqueando os odores se misturando na
cela, conforme ele respirou fundo. A maçã cheirava tão doce, tão deliciosamente
doce. Tão doce quanto a vida.

Ele engoliu o choro e aterrou a palma da mão no canto do olho. Ele se


recusava a sair desta cela com lágrimas caindo pelo seu rosto.

Inclinando-se para frente, Dr. Martin plantou os cotovelos nas coxas. — Clay,
tudo que você tem a fazer é segurar o maldito rifle. Você não tem sequer que
dispará-lo. Eles vão lutar contra esses malditos ianques a qualquer momento. Não
seria mais honroso morrer em um campo de batalha? Eu poderia falar com o
capitão Roberts, ter sua sentença revogada...

Lentamente, Clay balançou a cabeça. Durante meses o Capitão Roberts tinha


insistido que ele devia seguir as ordens e levar um rifle. Durante meses, Clay se
recusou. — Eu não vou tomar as armas contra meus compatriotas.

— O que eu direi para o seu pai?

— Que eu morri com honra, lutando por aquilo que eu acreditava.


Dr. Martin suspirou profundamente. Ele não podia negar que o menino tinha
lutado. Seu corpo levava as feridas de suas batalhas. — Você está com muita dor?
Eu poderia te dar algum láudano.

— Meu sofrimento vai acabar em breve. É melhor guardar o seu


medicamento para os meninos cuja miséria vai estar apenas começando. — Ele
estendeu a maçã para o médico. — Não acho que eu seria capaz de manter isso.
Imagino que você vai ser capaz de encontrar alguém que possa apreciá-la um pouco
mais do que eu.

A moagem da chave na fechadura fez o coração do Dr. Martin bater contra as


costelas como se ele fosse a pessoa que ia ser colocada diante de um pelotão de
fuzilamento. Ele pegou de volta a maçã, porque ele não sabia mais o que fazer com
as mãos. Suas maneiras notáveis o tinham abandonado.

A porta se abriu e um sargento, com dois soldados vigilantes, entraram no


quarto. A voz profunda do sargento ricocheteou nas paredes de pedra. — Está na
hora.

De pé, Clay estendeu a mão em direção ao médico. — Obrigado, senhor, por


ter vindo.

Apertando a mão do jovem, ele tomou nota do ligeiro tremor. Dr. Martin
desejou que ele pudesse oferecer mais do que um aperto de mão. Clay andou em
direção à porta aberta.

Uma corda pendurada no seu lado, um indivíduo moveu-se para bloquear


seu caminho. — Você precisa colocar as mãos atrás das costas.

Desespero inundou o rosto de Clay. — Eu perdi peso — ele gaguejou. —


Minhas calças...
O indivíduo se voltou para o sargento que já estava balançando a cabeça. —
Ele tem que estar amarrado.

— Eu não vou correr — Clay assegurou.

O sargento pareceu à beira de ceder quando de repente gritou — Ordens são


ordens! Amarre-o.

— Espere um minuto — Dr. Martin disse, tirando o casaco. O jovem tinha se


agarrado tenazmente à sua dignidade ao longo de sua provação, e agora eles tinham
o poder de tirá-la. Quase não tinham o alimentado, além de pão e água por tanto
tempo que Clay era pouco mais que uma sombra do homem robusto que uma vez
tinha cultivado a terra no Texas. — Ele pode usar os meus suspensórios.

Pela primeira vez em sua vida, Dr. Martin lutou contra um forte desejo de
atacar alguém, qualquer um, vendo a gratidão encher os olhos de Clay ao prender
os suspensórios. Clay colocou as mãos atrás das costas, lutando contra o desamparo
que o consumia como uma ferida quando o indivíduo prendeu a corda ao redor de
seus pulsos. Desejou que lhe dessem a oportunidade de tomar banho, fazer-se
apresentável. Cheirou o alto céu e não se lembrou mais da sensação de roupas
recém-lavadas contra sua pele.

Ele seguiu o sargento para fora do aposento e ao longo do corredor escuro.


Apertando os olhos quando chegou à luz do sol, respirou fundo o ar exterior.
Cheirava a cavalos, couro e pólvora. O mundo tinha virado marrom, laranja e ouro.
O outono tinha vindo sem o seu conhecimento.

Os homens estavam reunidos em um lado do pátio. Ele podia sentir seus


olhos aborrecidos nele. Eles sabiam que ele era um homem que se recusou a se
tornar um soldado, que se recusou a levar um rifle. Eles pensavam que ele era um
covarde. Tinham-lhe marcado como um desertor.

A pequena procissão se aproximou da parede. Clay sorriu. Ele enfrentaria o


leste. Não olhou para os rostos dos seis homens que estavam diante do muro, mas
moveu-se para a posição silenciosamente.

Capitão Roberts, um graduado de West Point que poderia traçar a história


militar de sua família de uma centena de anos até a Guerra Revolucionária, se
adiantou. — Você tem um último pedido?

— Uma oração — ele resmungou. — Eu gostaria de dizer uma oração.

Roberts acenou com a aprovação do pedido quando Clay abaixou a cabeça,


sua voz tornou-se clara, forte e determinada. — Pai Celestial, por favor, perdoe
aqueles que estão diante de você hoje por que eles não sabem o que fazem. Amém.

Ele ergueu o olhar marrom para o céu azul.

— Sinto muito, filho — disse o sargento calmamente, antes de se afastar


para ficar ao lado do Capitão Roberts e emitir sua primeira ordem. — Apontem
seus rifles!

A boca de Clay ficou seca.

— Alvo!

Ele sentiu o vento acariciar seu rosto, ouviu o sussurro da autorização...

— Fogo!
Capítulo 1
Primavera, 1866

Clayton Holland se sacudiu acordando. Tremendo e banhado de suor, ele


correu uma mão trêmula pelo cabelo.

O trovão ressoou novamente e ele respirou profundamente, estremecendo. Os


pesadelos sempre vinham durante as tempestades, quando o estrondo no céu tecia
através de seus sonhos.

Ele jogou as cobertas para trás, saiu da cama, e caminhou até a janela.
Destravando o fecho e abrindo-a, respirou fundo, inalando o cheiro de chuva.
Estendendo a mão, apreciou as gotas de chuva que picavam conforme caíam em
sua palma. Relâmpagos e trovões gritavam contra a escuridão.

Trovões sempre o lembravam da saraivada de tiros de rifle, a saraivada que


nunca veio. Mesmo agora, anos depois, ele ainda esperava a explosão do rifle
perturbar aquela madrugada tranquila tanto tempo atrás.

O sargento tinha gritado seu comando final. Clay tinha dado seu último
suspiro e segurado o precioso ar profundamente dentro de seus pulmões, esperando
que as balas batessem contra a parede, para arrancarem a vida de seu corpo.
Esperou o que pareceu uma vida... e mais além. Baixou o olhar para os soldados em
pé diante dele, se perguntando se estavam esperando que os olhasse antes que
realizassem suas ordens. Mas quando encontrou o olhar perturbado de cada homem,
cada um deles baixou o rifle e estudou suas botas.

Estranhamente, ele podia se lembrar claramente da cor dos olhos de cada


homem: marrom, marrom, azul, marrom, verde, azul.

O sargento dialogou com o Capitão Roberts. Então ele escoltou Clay de volta
à sua cela.

Mais tarde, Clay soube que sua oração, sua preocupação por suas almas e
não pela sua própria, havia tocado o coração dos soldados e oficiais em serviço.

Uma simples oração tinha salvado sua vida e prolongado sua miséria. Ele
passou nove meses acorrentado, cumprindo pena por sua recusa a carregar um rifle.

Após sua libertação, tinha encontrado uma razão após outra para não voltar
para Cedar Grove. Até o fim da guerra.

Ele chegou em casa no Natal e descobriu que a única paz dentro de sua vida
residia dentro de sua consciência. Além disso, a guerra tinha o seguido até sua casa.

Ele assistiu uma luz pálida flutuar. Um raio de luz delineou seus dois irmãos
mais jovens conforme eles se arrastavam em direção às suas tarefas antes do
amanhecer. Vindo ao mundo no mesmo dia, Joseph e Joshua eram inseparáveis, e
poucas pessoas conseguiam distingui-los. Eles tinham apenas cinco anos quando o
exército confederado tinha vindo por Clay. Estavam com quase dez agora. Clay às
vezes se perguntava se não teria sido melhor ficar longe, como seu outro irmão,
Lucian, muitas vezes sugeria.

Ele fechou as persianas e remexeu a chama da lamparina na mesa de


cabeceira. Conscientemente, ele esfregou seu peito nu quando pegou suas roupas da
cadeira e jogou-se na cama. Como era seu hábito, se vestia com cuidado, tendo
tempo para cada botão. Calçou as meias antes de empurrar seus pés em suas botas.
Levantando-se, pisou os pés no chão.

Virou o espelho de corpo inteiro para a parede, salvando-se da agonia de


confrontar o seu reflexo.

Ganhara pouco peso nos três meses desde o seu retorno. Não podia obter
crédito no mercado, de modo que as refeições que fornecia à sua família dependiam
da caça selvagem nas montanhas próximas e dos poucos legumes variados que
cresciam em seu pequeno jardim. Disse a seus irmãos que as coisas iriam melhorar,
uma vez colhidas as plantações nos campos. Ele tinha que acreditar naquelas
palavras a fim de sobreviver ao dia seguinte.

Tinha aprendido aquele pequeno truque durante a guerra. Não pense no


amanhã ou nos horrores que ele pode trazer, agarre-se apenas ao hoje.

Pegou a lamparina e destrancou a porta de seu quarto. Atravessou a pequena


sala de estar, onde sua família tinha há muito tempo compartilhado refeições
abundantes e conversas, onde um fogo havia queimado na lareira, enquanto sua
mãe, coberta com uma manta, contava contos que encantavam seus filhos. Seu pai
teria, ocasionalmente, interrompido para adicionar seu próprio pedaço para a
história. Risos e sorrisos enchendo a sala tinham sido tão abundantes quanto a
comida.

Agora, a sala servia como pouco além de um lugar para comer uma refeição
sombria em silêncio. Ele puxou a capa impermeável para fora do gancho ao lado da
porta e entrou na tempestade.
Com a cabeça baixa, marchou em direção ao celeiro dilapidado. Toda a
fazenda necessitava de reparos. Seus pais tinham falecido antes do fim da guerra.
Lucian tinha conseguido dirigir a fazenda e impedir os gêmeos de se tornarem
selvagens. Como um jovem de dezesseis anos, ele havia abraçado a
responsabilidade sem reclamar.

As queixas de Lucian só tinham aparecido quando Clay voltou para casa para
aliviar o fardo dos ombros de seu irmão. Seus pais haviam dito que eles queriam
que a fazenda passasse para seu sobrevivente filho mais velho. Clay era o mais
velho, e ele sobreviveu.

Caminhando para o celeiro, inalou o cheiro familiar de feno e bovinos,


juntamente com o cheiro decepcionante de madeira podre. Não podia obter crédito
na serraria também.

Ouviu o eco metálico quando o leite atingiu o balde galvanizado. O som não
teve tempo de desaparecer antes que outro tomasse seu lugar. Ele sabia que seus
irmãos haviam sentado um de cada lado da vaca, trabalhando juntos como um só.

Notou que o fato de serem gêmeos havia criado um certo vínculo. Às vezes
parecia que os irmãos não tinham que sequer expressar seus pensamentos um ao
outro.

— Eu sei o que você está pensando, e isso não vai dar certo.

Clay desacelerou seus passos ao som da voz de Josh.

— Pode dar — Joe retrucou desafiadoramente. — Daria, com certeza, se


você fingisse estar doente, também.
— Eu não quero passar o dia inteiro na cama. Se essa chuva asfixiante parar,
pretendo ir pescar.

— Nós iremos estar doentes só até a igreja terminar.

— Não, Clay iria nos fazer ficar na cama o dia inteiro só para ter certeza de
que não estaremos doente amanhã. Não vale a pena, Joe.

— Mas eu odeio ir à igreja! Eu odeio a maneira como todo mundo olha para
nós.

— Eles não olham para nós. Eles olham para Clay. Além disso, se você
pegá-los olhando para você, só tem que encará-los e eles vão olhar para longe.

— É isso o que você faz? — Joe perguntou, com uma retumbante descrença
em sua voz jovem.

— Inferno, sim! Às vezes, é até divertido. Fiz uma vez para a velha
Pruneface1, e ela começou a balançar a cabeça como um galo que estava tentando
decidir se queria ou não cantar.

— E a viúva Prudence cantou? — Clay perguntou em voz baixa.

Assustados, ambos os meninos recuaram em uníssono, caindo de seus


respectivos bancos, as pernas voando para fora, chutando o balde e derramando o
leite sobre a palha.

— Oh, diabos! — Josh gritou enquanto pegava o balde tarde demais para
salvar grande parte do seu esforço.

1
N. T.: No sentido literal ele fez um jogo de palavras, chamou a viúva Prudence de Pruneface que significa que ele a
chamou de cara de ameixa por ela ser enrugada.
Clay pegou o banquinho que o menino tinha desocupado, moveu-se para o
canto, sentou-se e levantou as pernas para que pudesse cruzar os braços sobre suas
coxas. — Joe, Josh, venham aqui e sentem-se.

Com seus olhos castanhos focados nele, os meninos sentaram diante dele.
Ele resistiu ao impulso de bagunçar o cabelo vermelho deles. Viver com sua
família, muitas vezes o fazia se sentir como se morasse com estranhos. Os meninos
o aceitavam porque ele era seu irmão. Havia equivocadamente pensado que era o
suficiente.

Continuou a vê-los como eram no dia em que partiu, segurando o avental da


mãe e chorando. Eles não tinham feito nenhuma pergunta naquele dia porque eram
muito jovens para entender quais perguntas necessitavam ser feitas. Eram mais
velhos agora, mas mantiveram suas questões e suas dúvidas para si mesmos.
Perguntou-se se eles temiam as respostas. Antes dele ter partido, eles o amavam.
Queria desesperadamente que eles o amassem novamente.

— Eu quero que me digam a verdade, porque a verdade nunca machuca tanto


quanto uma mentira. — Encontrou o olhar de olhos arregalados de cada menino e
esperou até que os dois assentissem. — Vocês se envergonham de serem vistos
comigo na igreja?

Os meninos deslizaram seus olhares um para o outro, comunicando


silenciosamente o que cada um sentia em seu coração. Josh voltou seu olhar para
Clay. — Não nos envergonha sermos vistos com você. Nós apenas não gostamos
da maneira como as pessoas olham para nós.

— Vocês sabem por que elas olham?

— Porque você é um covarde — disse Joe sem hesitação.


Clay sentiu como se todos os seis rifles tivessem acabado de disparar em seu
coração. Abaixou a cabeça, apertando as mãos até que doessem, os dedos ficando
brancos. — É isso que vocês acham? — ele perguntou solenemente. — Que sou
um covarde? Ou é apenas o que vocês ouviram falar?

— É o que eles dizem na escola — Josh disse a ele.

— E é o que Lucian diz — Joe acrescentou.

— É isso o que vocês dizem? — perguntou Clay.

— Eu digo a eles que não é assim — disse Josh.

Clay levantou a cabeça, seu olhar não refletindo a esperança cautelosamente


subindo dentro de seu coração. — Você realmente diz isso?

Lentamente, balançando a cabeça, Josh apertou sua boca. — Eu não digo


nada a eles. Apenas os deixo pensarem o que quiserem.

Uma bala batendo em seu peito não poderia doer mais. — Vocês sabem o
que é um covarde? — ele perguntou.

— Alguém que foge.

— Eu fugi?

Os rapazes trocaram olhares conturbados. — Você fez? — perguntou Josh.


— Fugiu?

— Não.

— Então como é que eles acham que você é um covarde?

— Porque eu não lutei contra ninguém.


— Por quê?

Clay soltou um suspiro. Saber que um dia eles iriam fazer esta pergunta não
tornava mais fácil de responder agora. — É difícil de explicar, mas a minha
consciência não me deixou.

— O que é a consciência?

— É um ponto de encontro para as coisas que seu coração sente e as coisas


que sua mente sabe. Então, ela decide no que você deve acreditar e como você deve
viver a fim de ser feliz.

— Mas você nunca parece feliz Clay — disse Joe.

Ele ofereceu a seus irmãos um sorriso sombrio e colocou a mão sobre o seu
coração. — Estou feliz aqui porque acredito, eu sei, que o que fiz foi o certo para
mim. Eu não acreditava na escravidão. Não acreditava que o Texas tinha o direito
de se separar. Não acreditava que nós devíamos lutar contra os Estados do Norte e,
ainda assim, eu não poderia, em sã consciência carregar armas contra o Sul, a
minha casa e meus amigos. Mas mais do que isso, eu não lutei porque acredito que
é um pecado contra Deus matar um outro homem.

— Eles não dizem que é um pecado na igreja. Eles não pensam que todos
aqueles soldados estavam pecando.

— Diferentes igrejas acreditam em coisas diferentes. Nós só temos uma


igreja em Cedar Grove, e acho que é melhor assistir à uma igreja que não acredite
em tudo que eu acredito do que não ir à uma igreja afinal.

— Você era o único que acreditava em tudo isso? — perguntou Joe.


Clay balançou a cabeça. — Não, houve outros. Um outro homem teve mais
coragem do que qualquer homem que já conheci. Nós conversamos sobre o que
acreditávamos, e prometemos um ao outro que estaríamos de pé por nossas
convicções, não importando o que acontecesse.

— O que aconteceu com ele?

Clay engoliu o nó na garganta que sempre formava quando ele pensava em


Will. — Ele ficou doente e morreu.

— Você deveria dizer às pessoas que você não é nenhum covarde — Josh
sugeriu.

— Não é o tipo de coisa que você possa dizer às pessoas. Elas acreditam
somente no que você mostra a elas. É por isso que, mesmo que eu odeie a maneira
como as pessoas me olham quando vou à igreja no domingo de manhã, ainda vou.
Não estou fazendo qualquer coisa pela qual eu deveria ter vergonha, e não fugirei
de suas opiniões. Algum dia talvez eles entendam.

— E se eles nunca entenderem? — os gêmeos perguntaram em uníssono.

Clay suspirou. Ele teria uma vida malditamente solitária, mas a solidão
deveria pertencer a ele, não a eles. Um homem vivia ou morria de acordo com suas
decisões na vida e Clay havia tomado sua decisão. Os gêmeos tinham idade
suficiente agora para tomar suas próprias decisões. — Vocês não têm que ir à igreja
comigo esta manhã e, quando a chuva parar, podem ir pescar.

Os meninos se entreolharam, o alívio inicial deles dando rapidamente lugar


ao compromisso familiar. — Não, nós vamos. — Josh disse. — Não vamos, Joe?

Enquadrando seu queixo pequeno, Joe deu um aceno rápido.


Ousando arrepiar seus cabelos, ele esperou que eles repudiassem seu toque.
Em vez disso, sorriram. — Então, acho que é melhor praticarem o cruzar de olhos
antes de partirmos.

Os gêmeos riram como só as crianças podem, com inocência e alegria,


quando anteciparam o aprimoramento de suas habilidades.

Desdobrando seu corpo. Clay saiu da tenda, fora do celeiro e de volta à


tempestade.

***

Sentada sobre uma plataforma elevada de um lado do púlpito, Meg Warner


pressionou o teclado. A melodia assombrosa do órgão tocou o teto da igreja, valsou
ao longo das janelas de vidro colorido, onde a luz do sol expressava uma miríade
de arco-íris, e sussurrou por toda a congregação.

Meg conhecia cada face. Os velhos e resistidos rostos dos homens, os rostos
amadurecidos das mulheres.

Visivelmente ausentes estavam os rostos dos rapazes com quem ela tinha
crescido. Com orgulho, eles tinham partido para a guerra. Sem nunca perder a
coragem, eles tinham sido derrotados. Eles haviam marchado lado a lado para a
batalha e as armas dos ianques haviam nivelado-os como se fossem pouco mais do
que o trigo crescendo em um campo.
Meg assistiu Lucian Holland vagar pelo corredor e sentar na beira de um
banco. Um constrangimento tinha se estabelecido em torno de Lucian quando seu
irmão voltou, como se já não soubesse aonde pertencia.

Ela levantou as mãos para fora das teclas e dobrou-as no colo. Um silêncio
reverente se instalou através da igreja quando o Reverendo Baxter subiu ao púlpito.

Meg olhou para seu irmão, Daniel. Como Lucian, ele era muito jovem para
se alistar quando a guerra começou.

Com quase dezessete anos agora, ele trabalhava duro para preencher as botas
de seus irmãos, todos os três pares. Ela podia ver seus irmãos mais velhos refletidos
na mandíbula forte de Daniel, no cabelo negro grosso, e em seus olhos azuis
profundos. Sua mandíbula ficou tensa quando a porta da igreja se abriu.

Formando as mãos em punhos, Meg deslizou seu olhar em direção à parte de


trás da igreja. Dois rapazes vestindo a mesma expressão cautelosa sentaram no
último banco. O coração de Meg se abriu para os meninos, vestidos com calças que
eram muito curtas. Em seguida, a porta foi fechada e seu irmão mais velho tomou o
seu lugar ao lado deles.

Se Meg tivesse sido atingida pela cegueira naquele momento, ela ainda
poderia ter contado ao mundo o que Clayton Holland faria, pois ele tinha feito isso
todos os domingos desde que voltou a Cedar Grove. Ele iria curvar a cabeça como
se estivesse rezando. Em seguida, iria levantar o olhar para o reverendo. Seus olhos
se afastariam somente quando os gêmeos se mexessem. Ele nunca tirava os olhos
do reverendo e Meg nunca tirava os olhos de cima dele.

Alimentava sua raiva e ódio ao vê-lo, ao ser lembrada uma vez por semana
que ele vivia e respirava enquanto seu querido marido e seus três irmãos estavam
sozinhos e frios em seus túmulos. Eles lutaram e morreram bravamente defendendo
a honra da Confederação enquanto Clayton Holland tinha descoberto como fugir.
Ela sabia que era infantil pensar que mais um homem no campo de batalha teria
feito á diferença; se ressentia de Clay por ele ter virado as costas para o Sul e ser
recompensado com sua vida.

As palavras do Reverendo Baxter zumbiram com Meg prestando pouca


atenção ao seu significado. Seus pensamentos escureceram até que se
assemelhavam à tempestade que tinha soprado nas primeiras horas antes do
amanhecer. Os pesadelos sempre vinham com as tempestades e permaneciam por
dias, como as poças após uma chuva.

Com seus sonhos reverberando com o rugido das armas de fogo e dos gritos
agonizantes de Kirk, ela acordava banhada em suor. Ela imaginou que a última
coisa que Kirk tinha ouvido antes de morrer foi o som de tiros de rifle ou da
explosão de um canhão, quando ele deveria ter ouvido sua voz reafirmando seu
amor. A última coisa que ele sentiu foi o chão duro, quando ele deveria ter sentido
seu toque suave confortando-o. Centenas de homens o haviam cercado, mas sem
ela ao seu lado, ele enfrentou a morte sozinho.

— Meg?

Ela desviou o olhar até o Reverendo Baxter. Ele concedeu-lhe um sorriso


simpático e acenou com a cabeça na direção do órgão. Ela transferiu todo o seu
coração para a música quando a congregação levantou a voz na canção.

Pelo canto do olho, vislumbrou Clayton Holland e seus irmãos quando eles
calmamente se levantaram e saíram da igreja. Ela pôs sua energia no teclado,
permitindo que a força da música caísse sobre ela, purificando-a de maneiras que o
sermão do Reverendo Baxter nunca poderia.

Conforme a nota final morreu, ela inclinou a cabeça para a oração de


encerramento. Quando a voz do Reverendo Baxter parou, as pessoas saíram da
igreja e Meg fechou o livro de música.

— Isso foi adorável, Meg.

Ela inclinou a cabeça para trás para olhar aos olhos cor de âmbar do
Reverendo Baxter. Ele era um homem muito alto. Um bigode escasso pendia de seu
sorriso caloroso. Lhe devolveu o sorriso. — Obrigada.

Começou a levantar e encontrou a mão dele sob seu cotovelo, ajudando-a.

— Acho que você tem uma boa refeição prevista para esta tarde. Terá sua
torta de maçã na mesa? — ele perguntou.

— Claro! Adoraríamos ter você se juntando a nós.

Seu sorriso se alargou. — Maravilhoso! Vou passar por lá depois que visitar
meus paroquianos. Em uma hora ou algo assim. Tudo bem?

— Tudo bem. — Ela contornou-o e saiu do púlpito. Seus passos ecoavam


pela igreja quando continuou ao longo do corredor. Entrou no calor sufocante,
evitando as poças espalhadas pelo chão.

Parou diversas vezes para prosear brevemente com velhos amigos, as


meninas com quem ela tinha crescido, esposas e mães de homens que nunca
chegaram em casa. Elas se enlaçaram em um vínculo que a guerra tinha forjado.
Ela caminhou através da congregação até que finalmente chegou à carroça do pai.
— Demorou, menina — disse seu pai quando ela se aproximou. — Pensei
que ia ter que ir para a igreja e trazê-la eu mesmo.

— Convidei o Reverendo Baxter para se juntar a nós para o jantar — disse


ela enquanto ele a ajudava a subir sobre o assento da carroça.

— Você o convidou? Ou será que ele convidou a si mesmo? — seu irmão


perguntou da parte de trás da carroça.

Virando um pouco, ela deu um tapa no seu braço. — Daniel Crawford, você
tem as maneiras de um ianque. Convidei-o, tal como eu disse.

— Aposto que ele fez alguma insinuação, porém — Daniel brincou, seus
olhos azuis brilhando. — Acho que ele é doce com você, Meg.

— Não seja ridículo. Ele é duas vezes mais velho que eu. Além disso, não
penso em me casar novamente. Nunca poderia amar alguém como amei Kirk.

O pai olhou para ela, as sobrancelhas brancas espessas deslocando-se sobre


os olhos azuis que favoreceram os dela.

— Você não pode passar a vida em luto.

— Por que não? Você o faz.

Thomas Crawford levantou o chapéu da testa. — É diferente comigo. Eu e


sua mãe tivemos quinze anos para criar memórias e cinco filhos. Essas lembranças
ficarão comigo até eu me juntar a ela. Você foi deixada com muito menos do que
isso, menina.

— Não é o número de memórias que uma pessoa tem, mas o quão


maravilhosas elas foram. Minhas memórias de Kirk vão me sustentar.
Ele balançou a cabeça. — Ainda assim, você pode considerar o Reverendo.
Você tem um bom coração, Meg. Daria uma exemplar esposa de pastor e não seria
uma vida tão ruim.

Ela não poderia imaginar que seria uma vida boa também. Não tinha essa
sensação de fusão quente dentro dela sempre que olhava para o Reverendo Baxter.
— Estou pensando em plantar petúnias em torno da sepultura dos meninos — disse
ela para mudar de assunto.

— Droga, Meg! Eles não eram meninos! — Daniel guinchou.

Thomas olhou por cima do ombro. — Não use palavrões perto de sua irmã.

— Mas ela continua chamando-os de meninos. Eles eram soldados.

— Você está certo, Daniel — disse ela gentilmente, tentando aliviar a culpa
que sabia ainda encher seu coração — Mas em minha mente, ainda os vejo como
eram no dia em que partiram. Lembra-se de como Kirk e eu viemos para o café da
manhã e todos tivemos que ir para a cozinha assistir Michael se barbear pela
primeira vez naquela manhã?

— Eu gostaria de ter tido idade suficiente para lutar com eles. Se ao menos
eu tivesse nascido mais cedo... — Melancolicamente, sua voz foi sumindo.

— Você queria ir — disse Thomas rispidamente. — Isso conta muito.

— Querer ir não conta para nada, pai. Eu deveria ter mentido sobre a minha
idade. Eu deveria ter ido...

— Nós deveríamos ter ido! — Thomas gritou apontando um dedo em


direção ao horizonte distante e a uma carroça rolando para longe. — Por Deus, ele
deveria ter ido.
Meg ouviu o tom amargo em sua voz, incomum no homem que a segurou no
colo quando ela era uma criança e ria até que seu corpo imenso balançava. Ela não
conseguia se lembrar de quando o tinha ouvido rir, e sabia que não iria ouvi-lo rir
hoje.

A guerra tinha deixado feridas profundas nos corações de sua família e de


toda a cidade de Cedar Grove. Todos os domingos, Clayton Holland reabria as
feridas quando pisava no interior da igreja.

Suspirando na noite, Meg se enterrou debaixo das mantas. Após o Reverendo


Baxter terminar sua refeição e partir, o pai pegou sua garrafa de uísque e se dirigiu
para o celeiro. Ela sabia exatamente quanto tempo ele levava para beber-se no
esquecimento, porque ele fazia isso todas as noites. No momento certo ela
caminhou até a última tenda no celeiro e colocou um cobertor sobre o homem que
já tinha colocado cobertores ao redor dela.

Daniel estava longe de ser encontrado e estava certa de que ele tinha fugido
para se encontrar com os amigos e falar sobre uma guerra que tinha terminado
muito antes que eles estivessem prontos para que isso acabasse.

Meg desejava que ela nunca tivesse começado. Ansiava pelos dias antes da
guerra, pelo pai que a segurava em seu colo, pelos irmãos que haviam brincado
com ela. Queria o homem que amava. Tocando seu peito, se lembrou das carícias
de Kirk. Quando se tornaram marido e mulher, ela tinha dezessete anos, ele
dezenove, mais velho e mais sábio. Por menos de um ano eles compartilharam os
prazeres do casamento.
Amava Kirk com todo seu coração e alma. Queria envelhecer segurando sua
mão. Queria trazer seus filhos para o mundo, mas não tinha sido abençoada com
crianças. Agora, sozinha em sua cama à noite, o vazio era muitas vezes uma dor
lancinante que tomava conta dela.

Deixou sua mão vagar através de seu estômago como fez por tantas noites,
mas ousou ir mais longe. Sua mão não era a dele, áspera e calejada de trabalhar na
fazenda. Sua mão não era a sua, gentil e paciente, com amor.

— Sempre use o cabelo solto para mim, querida Meg — ele sussurrava
enquanto desatava seus botões em seu peito. Então sua boca tomava posse da dela,
e ela enfiava os dedos pela pele quente cobrindo seu peito.

— Toque-me, amor, toque-me — ele murmurava. Lentamente, ele deslizava


a mão mais para baixo ao longo de seu estômago, mais baixo ainda, até que ele
gemia — Deus, eu te amo, Meg. — Em seguida, mostrava a ela, em todos os
aspectos que um homem poderia, o quanto a amava.

Suas lágrimas caíram sobre o travesseiro. Ela tinha medo sempre que aqueles
ao seu redor falavam em voz baixa sobre a possibilidade de guerra. A pequena
palavra evocava imagens austeras de sangue e morte. Kirk consolava-a, acalmava
seus temores. Então, tão rapidamente como relâmpagos através do céu, as pessoas
já não mencionavam a palavra em sussurros, mas gritavam-na em toda a terra.

Nunca lhes ocorreu que eles não iriam se alistar. Quando o Sul pediu ao seu
povo para dar seus filhos, Meg deu seu marido. De bom grado. Orgulhosamente.

E três de seus irmãos.

Naquela última manhã, quando eles se reuniram na cidade, os homens


tinham parecido arrojados em seus uniformes cinza costurados à mão. Cheios de
confiança. Cheios de vida. Talvez a morte tenha chegado a eles, porque se
atreveram a rir na sua cara e acreditaram que eram invencíveis. Estavam certos de
que sua presença, por si só, venceria o inimigo.

Com orgulho, ela tinha apresentado uma grande bandeira confederada para
eles, uma bandeira que ela e as outras senhoras de Cedar Grove tinham trabalhado
durante dia e noite para concluir a tempo da partida dos soldados. Os homens
aceitaram a oferta com um grito rebelde que ainda ecoava por todo o país.

O coração de Meg se encheu de devoção quando eles se elevaram em seus


cavalos, galopando antes de enfrentar o amargo inimigo.

Seu coração se partiu com suas mortes.

Rolando para o lado, estudou a estatueta de granito que enfeitava sua mesa
de cabeceira. Uma corça protetora protegia seu filhote embaixo de um arbusto
esculpido. Kirk havia lhe dado á estatueta porque tinham visto os veados no dia que
ele pediu a ela para se tornar sua esposa.

Mas Clayton Holland a tinha esculpido.

Clay e seu pai haviam gravado as palavras na maioria das lápides do


cemitério ao lado da igreja.

Algumas vezes eles esculpiam estátuas pequenas, especialmente para os


lugares de descanso das crianças. Ela tinha estado tentada a pedir a Clay para
esculpir marcadores de granito para Kirk e seus irmãos, mas não teve coragem de
pedir qualquer coisa ao covarde da cidade.

O exército da União enterrou Kirk e seus irmãos onde eles tinham caído,
juntos com tantos outros. Quando os meses se transformaram em anos, ela se
lembrava deles através de uma névoa cinza enevoada, suas características veladas
pela passagem do tempo. Não conseguia mais se lembrar do tom exato dos olhos de
Kirk. Eram do azul de um céu ao amanhecer ou do pôr do sol?

Grosseiramente, ela gravou o nome de Kirk e os nomes de seus irmãos em


madeira e situou os marcadores no jazigo da família. Sua ação constituiu uma vã
tentativa de prendê-los, uma necessidade desesperada de ter algo pelo qual se
lembrar deles. Mas seu memorial improvisado não impediu suas imagens de
escapulirem ou aliviaram sua dor.

Com os dedos trêmulos, ela tocou a estatueta. Como poderia Clay ter voltado?
Como poderia manter sua cabeça erguida sabendo que era um covarde? Ele devia
aos jovens de Cedar Grove, lhes devia algo por não ficar ao lado deles. Ela queria
que ele sofresse tanto quanto eles tinham sofrido antes da morte, tanto como ela
sofria agora na vida.

Daniel disse muitas vezes que queria o corpo de Clay no solo, mas Meg
queria mais. Com o tempo, a dor de uma surra física iria recuar, curar e cicatrizar,
mas as feridas infligidas ao coração deixariam cicatrizes que nunca parariam de
doer.

Ela queria que Clayton Holland experimentasse o tipo de dor invisível que
corta completamente. Queria, precisava que ele enfrentasse sua covardia, para tê-la
esculpida em seu coração tão profundamente que iria sentir isso a cada respiração
que tomasse durante o tempo que vivesse.
Capítulo 2
Meg parou sua égua sob a sombra de uma nogueira que beirava a
propriedade Holland.

Com suas costas nuas bronzeadas brilhando com o suor do seu trabalho,
Lucian trabalhava no campo, utilizando uma enxada para mover o solo sobre as
sementes. Clay, com manchas úmidas que circundavam a parte de trás e as mangas
de sua camisa, estava guiando o arado através do campo com a mula arrastando. De
alguma forma, ela não estava surpresa de que Clay usasse uma camisa enquanto
trabalhava. Ela não tinha esquecido como calmo e de fala mansa ele tinha sido em
sua juventude.

Quando ela incitou seu cavalo pelo campo, Lucian a viu. Ele se endireitou,
apoiou o cotovelo na enxada, e sorriu. — Bom dia, Sra. Warner!

Irritada que Clay continuasse a lavrar o campo como se não tivesse chegado
visita, ela fez seu cavalo parar ao lado de Lucian. — Como você está, Sr. Holland?

— Com calor. E você?

— Um pouco quente. Eu preciso falar com o seu irmão.

Ele ergueu as sobrancelhas em descrença. — Você está aqui para ver Clay?

— Eu tenho alguns negócios para discutir com ele.

— Negócios? — ele riu. — A última pessoa a discutir negócios com Clay


fez isso com o punho. Deve ser isso que você está planejando!

— Não, não é.
— Que pena. — Ele deu um sorriso tímido. — Acho que é melhor eu deixar
que ele saiba que você está aqui. Ele sonha enquanto ara o campo. — Girou sobre
os calcanhares. — Clay! — Lucian olhou para ela quando seu irmão não respondeu.

— Vê o que eu disse? Vou trazê-lo para você.

Ele correu por todo o campo, encontrou-se com Clay e falou palavras que
Meg não podia ouvir. Clay fez a mula parar e olhou por cima do ombro. A aba do
chapéu sombreava seu rosto para que ela não tivesse ideia do que ele estava
pensando. Ele caminhou em direção a ela, enquanto Lucian educadamente ficava
com a mula.

Ao se aproximar, ele tirou o chapéu e apertou os olhos contra a dureza do sol.


Ela não tinha visto Clay de perto desde o seu retorno. Os abundantes fios brancos
através do cabelo castanho nas têmporas a surpreendeu. Ele e Kirk tinham sido da
mesma idade e, ainda assim, ele parecia bem mais velho do que ela imaginava que
Kirk teria parecido aos vinte e cinco.

— Eu sinto muito pela sua perda.

Suas palavras faladas solenemente a fizeram perceber que ela estava olhando
para ele por algum tempo. Erguendo o queixo, ela estreitou os olhos. — Você sente?

— Sim, senhora, eu sinto. O seu marido e seus irmãos eram bons homens.

— Eles morreram com coragem e honra.

— Sim, senhora, eles o fizeram. Kirk veio...

— Como você ousa! — ela sussurrou, seus dedos apertando as rédeas. —


Como você ousa falar o nome dele!
Desespero brilhou através de seus olhos. — Eu não quis ser desrespeitoso.

— Desrespeitoso! Sua presença aqui é uma falta de respeito.

Lentamente, ele balançou a cabeça e deslizou seu olhar por ela. — Devo
recolher as pedras?

— Como é que é?

— Nada. Basta dizer o que veio dizer e pronto.

Ele encontrou seu olhar e ela se perguntou quando seus olhos castanhos
tinham envelhecido tanto.

— Eu não vim aqui para lutar. — Preparando-se para desmontar, ela


balançou a perna sobre a sela. Ele deu um passo para frente para ajudá-la. Ela parou
seus movimentos com um olhar frio de desdém. Suspirando, ele recuou.

Ela colocou seus pés no chão, segurando as rédeas vagamente através de seus
dedos.

Na manhã anterior, durante o culto na igreja enquanto assistia Clay se sentar


no último banco, ela plantou as sementes da vingança em sua mente. Uma ideia
floresceu até o final do dia e a manteve acordada na maior parte da noite. Quando
tinha tomado a decisão final nas horas antes do amanhecer para vir para cá, decidiu
que não iria se dirigir a ele como "Sr. Holland". Afinal, mostrava uma medida de
respeito para o qual ela não sentia nada, e "Clay" indicava uma intimidade, uma
amizade que ela nunca iria compartilhar com este homem.

Gentilmente, ela bateu as rédeas contra sua coxa. — Você se lembra da


pequena estatueta que fez para o meu marido?
A memória de um tempo mais feliz cruzou por seu rosto e acendeu seus
olhos. — O desejado veado?

— Sim. Houve momentos em que eu queria esmagá-lo contra a parede e vê-


lo se desintegrar em mil pedaços, porque suas mãos o tocaram. Eu não fiz isso
porque foi um presente do meu marido. Digo isso porque não quero que você tenha
alguma dúvida sobre meus sentimentos por você. Você entende?

Suas palavras efetivamente apagaram a luz em seus olhos. — Perfeitamente.

Meg engoliu, se perguntando se tinha sido muito dura. Tinha a intenção de


insultá-lo, mas agora que o tinha feito, sentiu pouca satisfação. Vincos profundos
marcavam seu rosto resistido. No início pensou que eles vieram à tona porque ele
estava apertando os olhos para o sol, mas mesmo agora, quando seus olhos se
adaptaram à luz solar e ele já não estava vesgo, os sulcos permaneciam.

Soltou um suspiro de frustração, precisando de sua ajuda, mas enojada com a


ideia de pedir a ele. Decidiu que sua melhor abordagem seria ignorar a aversão a
este homem e simplesmente dizer a razão de estar ali. — Eu quero um memorial
construído para homenagear os belos jovens de Cedar Grove que deram suas vidas
com coragem durante a guerra e você é a única pessoa que conheço com as
habilidades para fazê-lo.

— Um memorial?

— Sim, uma estátua de algum tipo que poderíamos colocar no centro da


cidade.

— E você quer que eu faça isso?

— Sim. Eu percebi...
Apresentando suas costas magras para ela, ele lentamente passou os dedos
pelo cabelo. Ela pensou que ele estava indo embora, mas ele se virou, olhando para
algo que ela não podia ver. Ele virou de volta, a preocupação e a concentração
gravadas em suas feições. — Eu não cortei qualquer pedra em um longo tempo.

— Você está com medo desta tarefa como esteve da guerra?

Estreitando os olhos, ele examinou-a. Ela inclinou o queixo.

— Que tipo de material você deseja usar? — ele perguntou.

— Eu não sei.

— O que você tem em mente? Como quer que se pareça?

— Eu não tenho certeza. A única coisa que sei é que, sobre a base, quero que
você esculpa o nome de cada homem que morreu.

— Isso seriam vinte e dois nomes.

Assustada, ela piscou os olhos, os dedos apertando as rédeas. — Você sabe


quantos homens morreram?

— Eu posso recitar seus nomes para você, se quiser.

— Todos eles?

— Todos eles.

— Oh... eu vejo — ela murmurou.

— Você parece desapontada.

— Não, eu... eu só não esperava, isso é tudo.


— O que você esperava?

Seu conhecimento a pegou desprevenida. Ela mesma não sabia o número


exato de homens jovens que tinham perecido. Lamentou-os como um todo, focando
a sua mais profunda tristeza sobre a perda de Kirk e de seus irmãos. Puxando os
ombros para trás, recuperou a compostura. — Eu não esperava que você estivesse
tão disposto a ajudar. Quanto ao custo...

— Eu não quero o pagamento.

Meg sentiu seus ombros caírem. Ela queria a satisfação de dizer que ele iria
fazê-lo porque lhes devia muito, que não ia pagar nada a ele. Ele mudou sua
postura, como se, de repente, estivesse desconfortável e estudou o chão.

— Há a questão dos materiais. — Ele ergueu o olhar para o dela. — Eu não


tenho os meios para comprá-los.

Sentindo seu controle escorregar de suas mãos, ela ergueu o queixo. — Eu


tenho.

Ele balançou a cabeça e algo semelhante à esperança mergulhou nas


profundezas escuras de seus olhos. — Eu poderia esboçar algumas ideias hoje à
noite.

— Vou querer olhá-las, é claro. Para ser franca, enquanto você estiver
trabalhando neste projeto, vou estar olhando por cima do seu ombro. Quero que
seja feito pelas minhas especificações.

— Com uma condição.

Em descrença, ela olhou-o como se ele tivesse, de repente, vestido um


uniforme azul. — Perdão?
— Eu tenho uma condição.

— Impossível. Eu estou oferecendo os materiais...

— Eu estou fornecendo o trabalho.

Ela cruzou os braços sob os seios, o pé embalando a sujeira da terra. — Qual


é a sua condição?

— A base vai ser um bloco com quatro lados. Três lados levarão os nomes
daqueles que caíram em batalha sete nomes de cada lado, oito na parte dianteira.
No quarto lado, vou pôr o que eu quiser.

— Não, isso é impossível, completamente fora de questão. Você pode


colocar algo inteiramente inadequado.

— Então eu não vou fazê-lo. Foi um prazer ter sua visita, Sra. Warner, mas
agora, se me der licença, preciso voltar para meus afazeres.

Meg assistiu com espanto quando ele deixou cair o chapéu em sua cabeça,
girou e começou a caminhar em direção ao seu arado.

— Espere! Você não pode recusar!

— Da última vez que ouvi, este era um país livre! — ele gritou, sem se
preocupar em olhar para ela.

Ela correu atrás dele, incapaz de chegar até seus passos largos. — Pare!

Ele apressou o passo.

— Pare! Por favor! — ela gritou.


Parando abruptamente, ele virou-se lentamente para encará-la. Sem ar, ela
estava com raiva no momento em que chegou a ele, mas ele tinha habilidades nesta
área que nenhum outro homem possuía. — O que você quer colocar no quarto lado?

— Ainda não sei.

— Posso, pelo menos, ter uma palavra a dizer no que for colocar lá?

— Não, senhora.

Ela pisou o chão. — Dane-se! Você deve...

— Eu não devo nada. Eles fizeram a sua escolha e eu fiz a minha. Eles
pagaram o seu preço, mas eu ainda estou pagando o meu e ficando muito
malditamente cansado disso. Se você deseja esse memorial, eu vou fazê-lo, mas
não vou derramar meu suor, meu coração e minha alma nesse trabalho e não
reivindicar um canto dele como meu. — Uma profunda tristeza encheu seus olhos.
— Eu lhe dou minha palavra de que quando eu terminar, nada gravado no
memorial vai prejudicar o seu significado.

— E o que você percebe como o seu significado?

— Homenagear aqueles que lutaram e morreram por suas convicções.

Ela encontrou seu olhar, estudando-o, surpresa com as palavras dele. Como
ele poderia entender o que nunca tinha experimentado? Ela lutou contra as lágrimas
brilhando dentro de seus olhos. — Isso é importante para mim — ela sussurrou
com voz rouca.

— Eu sei disso.
Ela se virou, lutando para recuperar suas emoções. Precisava de algo mais do
que os marcadores de madeira lançando sombras sobre túmulos vazios para impedir
a memória daqueles que amava de enfraquecerem. Queria que ele fizesse o
memorial para que pudesse ser constantemente lembrado de sua própria covardia.
Antes do amanhecer, parecia o castigo perfeito para ele, mais duradouro do que
qualquer um que seu irmão pudesse lhe dar.

No entanto, nada tinha sido como ela esperava desde que tinha desmontado.
Cada frase que ela praticou tinha sido alterada por sua resposta. Virou-se, cerrando
as mãos em seus lados, empurrando o queixo para cima, e encontrou seu olhar. —
Tudo bem. Você pode ter o seu lado da base para fazer o que quiser, mas eu tenho
duas condições próprias.

— E elas são?

— Você não dirá a ninguém no que está trabalhando. Permanecerá em


segredo até que seja exibido.

— E a outra condição?

— Sob nenhuma circunstância você pensará que esta parceria nos obriga a
sermos amigos. Se nossos caminhos se cruzarem na cidade, vou ignorar sua
presença, e agradeceria muito se você ignorasse a minha.

— Em outras palavras, não quer que ninguém saiba que você tem qualquer
associação com alguém como eu.

— Precisamente. Estamos de acordo?


Ele balançou a cabeça quando o silêncio os envolveu. Ela não iria agradecê-
lo por fazer o que ela considerava seu dever. Ele não iria agradecê-la por medo de
que ela rescindisse o oferecimento.

— Eu vou pedir a Lucian que ajude você a montar — disse ele depois de um
longo momento.

Balançando a cabeça, ela se virou e caminhou para a égua, não tão confiante
com este plano como tinha estado antes. Talvez tudo parecesse se encaixar na
madrugada porque não estava completamente acordada.

Olhou por cima do ombro. Lucian estava caminhando em direção a ela,


enquanto Clay ficou no meio do campo, de costas, segurando seu chapéu em uma
das mãos, a cabeça escura curvada.

***

Sentado à mesa. Clay trabalhava diligentemente para capturar a


imagem no papel. Queria que Meg visse o monumento como ele via.

Meg.

Suas mãos se acalmaram quando pensamentos sobre ela encheram sua mente.
Prezado Senhor, havia esquecido quão bonito seus olhos eram. Como bonito os
olhos de qualquer mulher eram. Fazia tanto tempo desde que olhara atentamente
para os olhos de uma mulher. Se perguntou o que fazia os olhos de uma mulher
parecerem muito mais bonitos do que os de um homem, mesmo quando eles eram
da mesma cor.
Os olhos de Meg Warner eram um corredor azul flor-de-milho que
seguraram a sua alma torturada. Teria alguma vez visto tanto sofrimento nos olhos
de alguém? Tinha, mas nenhum dos sofrimentos que ele tinha visto no hospital do
exército o tocou como o dela o tinha feito hoje.

Quantos anos mais nova ela era, dois ou três? Não conseguia se lembrar. Não
que isso importasse. Sua juventude tinha morrido no campo de batalha com o
marido. Ela enterrou seus sorrisos e sua risada com Kirk.

Essa foi uma das maiores tragédias da guerra, que ele não tinha conhecido
até que voltou para casa.

Para aqueles que se sentavam nas lareiras de suas casas, experimentarem o


não saber era pior do que qualquer coisa que os soldados sentiam. Soldados sabiam
se eles estavam vivos ou mortos, mas os que estavam longe da batalha poderiam
fazer pouco mais do que se preocupar e tomar luto por eles.

Não achava que o memorial daria à Meg sua juventude de volta, mas
esperava que fosse ajudar a colocar a guerra longe dela. Ela era muito jovem e
bonita para passar sua vida de luto. Ela precisava soltar o coque apertado que
mantinha preso seu cabelo para que seus fios de ébano gloriosos pudessem balançar
livremente no vento. Imaginou que o cabelo de uma mulher se sentiria mais suave
do que o de um homem. Ele não conseguia se lembrar de tocar o cabelo de sua mãe,
mas ele se lembrou do aspecto quando ela vinha agasalhar a ele e seus irmãos na
cama, e seu cabelo não estava trançado. Nessas noites, seu pai estava na porta do
seu quarto esperando por ela. Como um menino, não tinha pensado muito sobre
isso; como homem, pensava muito sobre isso, imaginando como seria a sensação
de esperar por uma mulher, vendo seu cabelo fluindo ao redor dela e saber que ela
tentava agradá-lo.
Pouco antes dele ter ido buscar Lucian, a brisa tinha tocado Meg, em seguida,
se movido para tocá-lo, trazendo o cheiro dela com ele.

Madressilva. Ela cheirava à madressilva. Pensou no narizinho atrevido dela.


Queria sorrir cada vez que ela o inclinou para demonstrar seu desprezo para com
ele. Se seu ódio óbvio por ele não tivesse sido tão grande, não machucasse tanto,
ele poderia ter sorrido.

A lamparina na mesa lançava um brilho amarelo sobre o seu trabalho. A casa


estava em silêncio, exceto por uma tábua ocasional rangendo e um silvo
infrequente da lamparina.

Não se importava com o silêncio. O que encontrava difícil era ouvir as


pessoas falarem e saber que nenhuma das palavras seriam direcionadas a ele. Esta
tarde, ter alguém falando com ele tinha sido o puro céu.

A raiva em sua voz, o desprezo de seu tom de voz não o tinha incomodado
tanto quanto teria se não tivesse estado faminto por uma conversa.

Amanhã iria receber um pouco mais de conversa, quando ela voltasse. Para
prolongar a sua estadia, talvez ele pudesse explicar os esboços. Nunca desenhou
esboços tão finamente quanto seu pai. Clay via as imagens na sua mente e suas
mãos poderiam esculpir o que sua mente via, mas elas eram muito grandes e
desajeitadas para desenhar o que via.

Estudou o desenho, vislumbrando a estátua de frente. As linhas deram-lhe


todas as informações que precisava, e esperava que Meg fosse entender o que o
monumento refletiria quando ele terminasse. Moveu a folha de papel para o lado e
inclinou-se sobre o papel branco que permanecia imaculado.
Dois lados do memorial seriam igualmente importantes. Começou a trabalhar
desenhando o que estava certo que seria a sua parte favorita do monumento.

Ao ouvir a porta do quarto de seus irmãos se abrir, ergueu o olhar. Coçando


o traseiro, Lucian estava na porta tão nu como no dia em que nasceu.

— Você ainda está acordado? — Lucian perguntou através de um bocejo de


boca aberta. — Deve ser depois da meia-noite.

— Eu queria terminar esses desenhos.

Lucian sacudiu a cabeça. — Acha que ela dará a você alguma honra? —
bufou. — Deus, você é tão ingênuo. Ela estava testando você hoje. Ela não vai
deixar você fazer um monumento. Por que ela iria pedir ao covarde da cidade para
fazer uma homenagem aos seus heróis caídos?

Clay deslizou seus dedos entre os botões de sua camisa e esfregou seu peito
— Não sei por que ela pediu. Não percebi isso ainda. Nem tenho certeza se me
importo. Vou estar esculpindo de novo e, desta vez, vou criar algo que não estará
aparecendo em um cemitério.

Lucian caminhou até o aparador, mergulhou a concha no balde de água,


levantou-a, e derramou a água sobre sua cabeça escura. A água caiu sobre seus
ombros, então deslizou sobre seu corpo para criar uma pequena piscina no chão. —
Está tão malditamente quente hoje à noite. Não sei como você pode sentar-se aí
com todas as suas roupas.

Ele passeou para a porta do quarto, parou e olhou por cima do ombro. —
Você está desperdiçando seu tempo. Ela não virá amanhã.
Ela não veio.

Com os dedos envolvidos em torno do papel que tinha enrolado como um


pergaminho, Clay estava sentado na varanda. O sol tinha há muito tempo
desaparecido no horizonte. As estrelas do céu enegrecido pontilhavam como
diamantes minúsculos jogados a esmo em veludo. O calor do dia desapareceu no
calor da noite.

Ela não ia vir.

Ele desdobrou seu corpo e bateu o papel contra sua coxa. Respirou fundo,
querendo sentir o cheiro de madressilva. Ouviu os grilos, desejando que a sua
cadência se assemelhasse a uma voz de mulher.

Entrou na casa em silêncio. Seus irmãos tinham ido para a cama mais cedo,
deixando a lamparina solitária na mesa, ao lado da refeição que Clay não tinha
comido. Pegou a lamparina e foi para o quarto que pertenceu a seus pais, o quarto
onde Lucian tinha dormido até Clay retornar.

Fechando a porta, jogou o inventário na cama, então ajoelhou-se diante da


cômoda de carvalho e colocou a lamparina no chão. Puxou a gaveta inferior. O
cheiro de pólvora de há muito tempo flutuava para fora através da abertura. Tirou
uma bolsa de lona gasta e puída e levou-a para a cama.

Sentado na cama, cuidadosamente desamarrou os nós de corda fina que


seguravam as abas fechadas. Levantando a bolsa, jogou as cartas na colcha
vermelha-e-branca que a sua mãe tinha feito. Reverentemente, pegou uma carta,
segurou-a debaixo de seu nariz, e inalou.

Madressilva.
Lentamente, arrastou seus dedos sobre a escrita delicada. Durante o tempo
que o exército lhe tinha mantido como prisioneiro, quando a solidão lhe tinha
consumido até que fosse como uma fome roendo em seu intestino, essas cartas o
tinham sustentado. Ele as tirou, juntou e as tocou.

Fingiu que a mulher que as enviou tinha escrito seu nome, em vez do nome
de uma outra pessoa em todas as cartas.

Embora nunca lesse as letras escritas nas cartas, sabia que continham
palavras de amor e saudade, talvez um pouco de solidão, e uma grande dose de
orgulho. A carta de uma esposa ao seu marido iria refletir todas essas coisas... e
muito mais.

Uma por uma, colocou as cartas de volta na bolsa. Chegando ao outro lado
da cama, pegou os esboços e deslizou-os dentro da bolsa antes de laçar as cordas
trançadas.

Estendendo-se sobre a cama, olhou para o teto e se perguntou se Meg


Warner tinha adormecido com as memórias de seu marido.

***

O balanço do banco guinchou quando Meg pressionou um braço contra a


varanda e deu um empurrão preguiçoso.

O balanço suave a confortou e enfiou o pé embaixo dela.


No final da tarde o Reverendo Baxter tinha vindo inesperadamente, se
insinuando e recebendo um convite para jantar. Tentou convencer-se de que era a
sua presença que a tinha impedido de voltar para a fazenda dos Holland como tinha
prometido. Mas se essa fosse á única razão pela qual não tinha ido, iria à fazenda
amanhã para olhar os desenhos.

E já sabia em seu coração que não quereria ir amanhã também. Não foi o
Reverendo Baxter que a deteve. Foi Clayton Holland. Não conseguia entender a
diferença entre o homem que Clay era antes da guerra e do homem que ele era
agora.

O vento sussurrou como um amante por entre as árvores, levando-a de volta


há um tempo quando o amor e a alegria enchiam o seu coração... um momento em
que o riso e sorrisos se enrolavam na confiança.

O dia de seu casamento.

Todos vieram para compartilhar sua alegria, mesmo Clay. Ele ficou de pé ao
lado de Kirk quando este comprometeu-se com Meg até a morte. Ela prestou pouca
atenção a Clay ou à qualquer outra pessoa naquele dia. Só tinha olhos para Kirk,
com seus cabelos loiros, olhos azuis e um sorriso que prometia uma vida de
felicidade.

Após a cerimônia. Kirk brincou com Clay e disse que ele tinha que dançar
com a noiva. Clay balançou a cabeça, o rosto queimando com um vermelho
brilhante, até que finalmente cedeu e pediu-lhe uma dança. Eles dançaram, mas
Meg não conseguia se lembrar de mais nada. Distraída, procurava sobre o ombro de
Clay por Kirk entre os convidados, querendo estar de volta em seus braços.
Escorregou o pé por baixo dela agora e o encostou na varanda novamente.
Preguiçosamente balançando, sua mente vagou para o dia que Kirk partiu. Ele tinha
falado com Clay na periferia da cidade. Ela achou estranho porque todos sabiam
que Clay não tinha se alistado. Eles apertaram as mãos e, em seguida, Kirk o
abraçou. Um abraço viril. Dois homens. Um saindo, cercado pela família e amigos.
O outro sozinho na orla da cidade.

Não tinha entendido como Kirk tolerou estar tão perto de Clay, mas tinha
permanecido sem fazer perguntas irrelevantes. Seus momentos finais vieram muito
rapidamente, cheios de promessas de amor eterno e lembranças, a promessa de
escrever e a de voltar para casa em breve. Ela manteve a promessa de escrever.

Ele foi incapaz de manter sua promessa de voltar para casa.

Junto com seus vizinhos, se alegrou quando o exército veio por Clay,
contente que finalmente ele serviria à Confederação. Rumores de que ele ainda se
recusava a participar da empreitada no campo de batalha eram sussurradas ao vento
e refrigeradas no coração de Meg. Clay e Kirk tinham sido amigos. Clay não só
tinha traído à Confederação, tinha traído Kirk.

Mas, pela primeira vez, se perguntou sobre o preço que ele pagou por voltar
para casa. Será que ele acordava à noite ouvindo os gritos dos moribundos como
ela tantas vezes fez? A profundidade do desespero em seus olhos castanhos parecia
indicar que sim.

O seu pedido de um monumento tinha colocado uma centelha de esperança


em seus olhos, que era a última coisa que ela esperou.

Como ele tinha conseguido encontrar em seu pedido uma honra?


O memorial foi concebido para ser o castigo de Clay tanto como uma
homenagem aos heróis de Cedar Grove.

Quanto mais cedo ele começasse a trabalhar, mais cedo iria terminar e mais
cedo o seu castigo acabaria.

Bem devagar. Deveria avançar lentamente. Faria com que a esperança em


seus olhos morresse antes de ir à sua fazenda para olhar os desenhos. Suspirando,
tirou as pernas sob ela no balanço. Não tinha mais nada a fazer com o seu tempo.
Capítulo 3
Meg terminou de tocar o hino, cruzou as mãos no colo, e tentou concentrar
sua atenção nas palavras do Reverendo Baxter.

A porta da igreja se abriu e passos distantes ressoaram. Ela prendeu a


respiração até que eles caíram em silêncio.

Lentamente, quase imperceptivelmente, permitiu que seu olhar vagasse em


direção à parte de trás da igreja. Seu coração bateu contra as costelas quando
descobriu o olhar intenso de Clayton Holland cravado nela.

Ele sentou-se sozinho, com o rosto solene. Levantou algum tipo de bolsa
para que ela pudesse vê-la sobre a congregação. Então a abaixou, levantou-se e
caminhou para fora da igreja de mãos vazias.

Meg fechou as mãos no colo, recusando-se a se sentir culpada por não ter
retornado à sua fazenda, como tinha prometido. Clay era um homem sem honra, e
como tal, não merecia respeito.

A bolsa, no entanto, era outra questão. Não podia mais vê-lo, mas saber que
ele tinha trazido para ela e deixado, o que quer que tivesse levado, no último banco,
a fez se sentir como se estivesse sentada em um cacto.

Nunca tinha se contorcido tanto em sua vida.

Quando o Reverendo Baxter finalmente sinalizou para ela começar o hino


final, suas mãos coçaram para tocar a bolsa de lona, em vez das notas do órgão. Ela
nunca tinha percebido o quão lentamente as pessoas caminhavam da igreja. Será
que sempre tocava aquele hino três vezes antes da igreja estar vazia?

Quando os únicos movimentos no interior do santuário foram às partículas


de poeira na luz do sol, Meg se levantou do banco, desceu os degraus do púlpito,
caminhou tão calma quanto podia para a última fileira e deslizou para o banco de
madeira.

Com toques suaves, acariciou os fios de seda que tinha bordado para formar
as iniciais de Kirk na bolsa. Levantando a borda suja, olhou para dentro da bolsa de
lona e, em seguida, despejou o conteúdo sobre o banco.

O cheiro de pólvora prevalecia ao cheiro de madressilva.

Ignorando o papel enrolado, reuniu as cartas juntas, apertou-as contra o peito


e chorou.

Uma imensa tristeza tomou conta dela, rasgando as feridas do seu coração,
feridas que ela pensou que tinham começado a cicatrizar.

Às vezes, sentia como se todo aquele armamento que tinha atingido Kirk
tivesse enviado essa sentença de morte através das milhas para o Texas e
incorporado essa angústia em seu coração.

Segurando a bolsa de lona, as palmas das mãos suando, Meg guiou a égua
castanha através das árvores que beiravam o rio. Dentro de seu coração, raiva
chiava porque Clay tinha a posse da bolsa de Kirk e de suas cartas durante estes
meses e não havia devolvido a ela. Seu ódio intensificou quando considerou a
possibilidade de que ele pudesse ter lido as cartas, lido as palavras íntimas que ela
quis compartilhar apenas com o marido.

Determinada a obter respostas, guiou seu cavalo em direção à curva do rio


onde Lucian tinha dito que ela iria encontrar Clay. Abaixou-se sob um galho baixo,
o suor em suas palmas aumentando.

Freou seu cavalo sob os galhos de uma outra árvore. Escondida nas sombras,
esqueceu sua raiva quando observou a cena que se desenrolava à sua frente.

Profundo e vibrante. O riso de Clay retumbou enquanto ele estava no rio, a


água fluindo suavemente, lambendo seus quadris. Estava de costas para ela, mas
com as roupas encharcadas e coladas ao seu corpo. Podia ver que ele estava
extremamente magro, poderia até mesmo detectar a ondulação de seus músculos
por baixo da camisa, conforme ele pegava a água e jogava-a em direção a seus
irmãos. Os gêmeos haviam descartado suas camisas e os seus ombros nus exibiam
uma série de sardas.

Sem aviso, eles gritaram e se lançaram para Clay. A força de seu ataque
combinado levou-o sob a água. Os gêmeos surgiram pela primeira vez, segurando
seus estômagos e jogando a cabeça para trás, enviando suas gargalhadas ao céu
azul acima. Clay veio, precipitadamente, balançando a cabeça e enviando um jato
de água para seus irmãos. Em seguida, movendo-se rapidamente, arrancou um
menino para fora da água.

Meg engasgou. A criança estava nua como uma gralha azul. Sabia que
deveria evitar olhar, mas não tinha visto alguém aproveitar tanto assim a vida nos
últimos anos.
Clay jogou o menino na água. Depois, rindo, ele se virou para seu outro
irmão. Zombando do menino, tentou puxá-lo para mais perto. Quando o menino se
recusou a se aproximar, Clay mergulhou. O menino gritou quando saiu da água,
nos braços do irmão. Então gritou mais alto e lutou com mais força. — Ponha-me
para baixo!

— Não até que você diga que eu ganhei! — Clay gritou.

— Jesus todo poderoso! Ela está nos observando!

Clay girou, o menino nu pendurado em seus braços e chutando. Seu largo


sorriso desapareceu como o sol desaparece quando uma nuvem escura passa ante
ele. Seu peito arfando de seus esforços. Soltou a criança, que espirrou na água.

Ela desmontou e foi até a beira do rio. — Eu preciso falar com você.

— Meninos, fiquem aqui — ele ordenou quando saiu do rio.

— Inferno! Nós não temos outra escolha! — um gêmeo gritou.

— Você nada com roupas? — ela perguntou enquanto se aproximava da


margem lamacenta.

O sorriso que ele ofereceu-lhe foi incerto. — Eles inesperadamente me


fisgaram. — Ele pisou na grama.

— Você nem sequer tirou as meias?

— Eu não gosto do jeito que a lama fica entre os meus dedos. —


Distraidamente, ele passou os dedos pelo cabelo molhado, levantando-o da testa. —
Você queria falar comigo?

Ela levantou a bolsa. — Sobre isso.


Ele balançou a cabeça como se suas palavras não fossem nenhuma surpresa,
então sacudiu a cabeça para o lado. — Nós podemos nos sentar no seixo para que
eu possa secar ao sol e manter um olho sobre os gêmeos?

— Tudo bem.

Ela o seguiu conforme suas longas pernas cortaram a curta distância. Ele
ergueu-se com facilidade para a grande pedra na beira do rio. Então, estendeu a
mão para ajudá-la.

Ignorando a mão, ela esperou até que ele retirou-a e fugiu para a borda mais
distante da pedra. Dificultada por sua saia, ela desajeitadamente se mexeu até que
se assentou. Não se preocupara em colocar roupas de montaria adequadas. Ela só
queria encontrá-lo o mais rápido que podia e ter este temido confronto terminado.

Ela mexeu sua parte inferior sobre a superfície áspera, quente, até que esteve
tão confortável como imaginou ser possível.

Em seguida, voltou sua atenção para Clay. Enquanto olhava para o rio, seu
rosto se assemelhava à pedra, duro e implacável. Ela limpou a garganta. Ele não lhe
deu a cortesia de um reconhecimento, e ela recusou-se a chamá-lo pelo nome.

— Esta é a bolsa de Kirk — ela finalmente disse, não disfarçando a irritação


em sua voz.

— Eu sei disso.

— Eu quero saber como você chegou a tê-la! — ela cuspiu, sua raiva
subindo à superfície.
Ele virou a cabeça, os olhos castanhos escuros e tempestuosos. — Eu tentei
te dizer no outro dia quando você veio à fazenda, mas você me deu um sermão
infernal porque eu me atrevi a mencionar o nome de seu precioso marido.

Pareceu surpreendê-lo tanto quanto a ela ouvir o estalo de sua palma contra
sua bochecha. Em seguida, o espanto se transformou em uma profunda tristeza,
antes que ele virasse o rosto para longe dela.

— Seu marido trouxe isto para mim alguns meses antes de ser morto — disse
ele em voz baixa.

Ela enrolou a mão que ainda pulsava com o golpe que tinha dado. — Por que?

— Ele disse que teve uma premonição, não achou que iria voltar para casa.
Estava com medo de que, no caos, as cartas se perdessem. Pensou que elas estariam
a salvo comigo.

— Porque não havia uma chance no inferno de você ser morto? — ela
perguntou, desprezo adicionando uma borda afiada às suas palavras. — Você pode
até mesmo começar a entender quanta coragem eles tiveram para marchar naquele
campo de batalha, sabendo que poderiam ser mortos? Como você pôde não estar ao
lado deles?

— Se tem que perguntar, então não há qualquer explicação no mundo que eu


possa dar-lhe que iria satisfazê-la.

Sacudindo a cabeça, ela agarrou a bolsa contra o peito. — Eu não entendo


por que ele não estava revoltado com o pensamento de suas mãos tocando essas
cartas preciosas.

— Porque ele entendeu.


Girando a cabeça, ela examinou seu perfil forte contra o céu azul. — Ele
entendeu o quê?

Lentamente, ele virou seu olhar intenso sobre ela. — Por que eu não lutei.

— Eu não acredito em você.

Ele revirou os ombros delgados em um encolher descuidado. — Acredite no


que quiser. Isso é o que todo mundo por aqui faz, de qualquer maneira.

Ela abaixou a bolsa em seu colo e olhou para ele, temendo sua resposta. —
Será que você as tocou? — Observou quando a verdade guerreou contra a mentira,
e sabia a resposta antes mesmo de seus olhos se encherem de pesar.

— Sim.

Ela fechou os olhos quando a dor consumiu seu coração até se tornar uma
dor física e as lágrimas desciam pelo rosto.

— Eu sinto muito — disse ele com a voz rouca.

Lentamente, ela balançou a cabeça. Nenhuma desculpa na terra poderia


extinguir o que ele tinha feito. Ela sentia-se totalmente e completamente violada.

— Eu... eu nunca tirei as cartas. Só toquei os envelopes. Estava tão


malditamente sozinho, tão malditamente só... às vezes eu só precisava ter algum
tipo de...

Abrindo os olhos cheios de lágrimas, ela olhou para ele. — Você não leu as
cartas?

Ele balançou a cabeça. — Você poderia guardar as cartas, queimar os


envelopes...
— Você só tocou os envelopes!

O remorso tomou conta de seu rosto. — E cheirei-os. Eles sempre cheiraram


tão doces... como madressilva.

Levantando uma carta, ela se perguntou como ele conseguiu notar a


madressilva quando o cheiro acre da pólvora praticamente a afogava. Tinha estado
desapontada quando abriu a bolsa e descobriu o quão distante estava o cheiro de
madressilva. Um sorriso de lembrança enfeitou seus lábios enquanto trazia uma
carta para seu nariz e cheirava. — Kirk gostava do cheiro de madressilva — disse
ela em voz baixa. — Eu sempre escorregava algumas pétalas de madressilva entre
as dobras das cartas.

— Isso provavelmente o lembrava de você.

Corando, ela virou o rosto. Nenhuma conversa com este homem ia da


maneira como ela planejava. Seus olhos tristes, sua honestidade, sempre a
desarmavam. Limpou qualquer vestígio de lágrimas e retirou toda a suavidade de
seus olhos antes que ousasse olhar para ele de novo. — Por que você não tocou em
seus próprios envelopes? Será que sua família não lhe escreveu?

— Minha mãe me escreveu.

— Então por que você não leu essas cartas? — Ela retrucou.

— Porque eles não as deram para mim.

Sua resposta a surpreendeu. Ela assumiu que um código não escrito garantia
de que uma carta fosse entregue à pessoa para quem era dirigida. Estremeceu com o
pensamento de Kirk não receber suas cartas. — Se eles não as deram a você, como
pode ter certeza de que ela as enviou?
— Porque eles mostraram-nas para mim antes que as queimassem. Eles... —
Aflição contorceu seu rosto quando ele fechou os olhos.

A mão de Meg estava quase descansando no topo da dele antes que ela
percebesse que estava prestes a oferecer conforto a este homem, a última coisa que
queria lhe dar. Puxou a mão de volta, mas a curiosidade foi aguçada. — O que eles
fizeram?

Abrindo os olhos, ele olhou para o rio, passou os dedos entre os botões de
sua camisa, e no seu peito — Não importa agora.

— Mas por que eles queimaram suas cartas?

— Porque eles me odiavam tanto quanto você e não estavam interessados em


ver-me feliz. — Ele deu um suspiro profundo. — Então mamãe e papai morreram
enquanto eu estava fora.

Ela viu sua garganta estridente, como se estivesse lutando para manter suas
emoções sufocadas.

— Eu não sei mesmo o que ela escreveu em todas aquelas cartas que enviou
— disse ele com a voz rouca, devastada. — Eu não sei se ela entendeu ou se estava
preocupada. Eu nunca vou saber.

Meg se conteve antes que expressasse sua tristeza pela perda das palavras de
sua mãe. Podia imaginar a devastação que sentiria se descobrisse que cada palavra
que ela tinha escrito para Kirk tivesse sido queimada sem ele as ler.

Como se tivesse revelado muito, ele correu um dedo ao longo de uma


pequena fissura no seixo, os olhos vagueando em direção ao horizonte distante. —
Você leu a carta que ele escreveu para você? — ele perguntou.
— A carta que ele me escreveu?

— Seu marido. Você leu a carta que ele escreveu para você?

— Ele me escreveu mais de uma e, sim, eu li todas. Muitas vezes, na verdade.

Ele desviou o olhar para ela, dando-lhe o sorriso triste que ela veio a
reconhecer. Era quase como se ele pensasse que ela iria odiá-lo ainda mais se
desse-lhe o tipo de sorriso que tinha dado para os meninos no rio. — Eu estava me
referindo à carta que ele deixou para você na bolsa.

Os olhos de Meg se arregalaram quando suas mãos começaram a tremer. Na


igreja, ela reuniu as cartas juntas, mas não tinha olhado para elas individualmente.
— Ele me deixou uma carta?

Ele acenou com a cabeça, e a tristeza momentaneamente foi tirada de seus


olhos. Ela jogou para trás a aba da bolsa e derramou as cartas em seu colo. Deixou
cair á bolsa ao lado e vasculhou os envelopes até que ela viu um que não tinha a
letra dela sobre ele. Pegou-o, lágrimas enchendo seus olhos quando tocou as
palavras rabiscadas: o nome dela, compartilhando seu nome. Mesmo não lida, a
carta final de Kirk era uma lembrança agridoce de tudo que uma vez possuiu, de
tudo o que tinha perdido.

— Não sei se eu posso lê-la. Não agora. Não depois de todo esse tempo. Não
entendo por que você não a trouxe para mim mais cedo, antes de eu vir até você.

— Eu tentei. No dia que eu cheguei em casa, fui à sua fazenda. Seu irmão,
Daniel, não é?

Ela assentiu com a cabeça.


— Ele jurou que iria me matar se eu não saísse. A partir do olhar em seus
olhos, percebi que estava falando sério. Não me atrevi a enviá-la com um dos meus
irmãos, porque não sabia o quão profundo o seu ódio corria. Não queria que um
deles recebesse uma bala que deveria ter sido para mim.

Lentamente, Meg colocou todas as cartas na bolsa. Se lesse a carta de Kirk,


seria quando estivesse sozinha.

Não teve coragem de agradecer a Clay, embora soubesse que devia a ele por
ter trazido a carta de Kirk para ela. Pegou o papel enrolado. — Quero falar com
você sobre o memorial.

— Essa foi apenas a primeira coisa que me veio à cabeça. Você não tem que
gostar, eu posso esboçar algumas outras ideias.

Ela deu-lhe uma careta culpada. — Para ser honesta, eu não olhei porque
estava muito chateada sobre as cartas.

— Você provavelmente deve olhar antes de tomar uma decisão. É difícil. Eu


não tenho muito talento para o desenho.

Desenrolando o papel, ela colocou-o sobre a rocha, ancorando uma ponta


debaixo de seu tornozelo, um lado estando livre para tocar o desenho carbonizado.
Esperava ver homens indo para a batalha, mas não. Nunca tinha esperado por isso.

O desenho continha apenas um homem. Dentro dos tons de cinza que


compunham o seu rosto, podia-se ver um orgulho feroz. Ele sentava-se com
confiança em seu cavalo, que tinha suas patas dianteiras levantadas quando recuava
sobre suas ancas. Uma mão segurava as rédeas e a outra se estendia para uma
jovem mulher segurando uma bandeira que balançava ao vento.
Ela levou os dedos trêmulos aos lábios. — É Kirk — sussurrou.

— Vai ser quando eu terminar.

Com lágrimas transbordando em seus olhos, ela olhou para ele. — E a


mulher?

Cuidando para não tocá-la, ele puxou a primeira folha de papel para revelar a
estátua como seria vista de um ângulo diferente.

O rosto da mulher refletia o orgulho misturado com a angústia que as


mulheres tinham sentido quando enviaram seus homens para a guerra. Seu rosto
espelhava amor, coragem e conhecimento. Eloquentemente, em silêncio, a mulher
sabia que estava contemplando o homem que amava pela última vez.

Meg não percebeu que estava chorando abertamente até que viu o papel
murchar onde suas lágrimas caíram.

— A mulher — disse ele em voz baixa — será você.


Capítulo 4
Xingando, Clay removeu seu chapéu e limpou o suor pingando de sua testa.
Meg tinha prometido encontrá-lo na estrada que conduzia para longe da cidade, na
estrada para Austin.

Movendo seu traseiro no banco da carroça, se perguntou quantas vezes iria


deixar aquela mulher fazê-lo de bobo. Ela disse amanhecer. Ele chegou uma hora
antes do sol espreitar por cima do horizonte. Bem, o sol olhava para ele agora.

Enfiou o chapéu amassado em sua cabeça, soltou o freio e levantou as rédeas.


Inferno, iria sem ela. Não tinha certeza se Schultz teria algo disponível na pedreira
que tinha próximo à Austin, mas Clay queria olhar. Então, quando Meg Warner
mostrasse seu rosto em uma semana, ou um mês, ou um ano, ele poderia dizer a ela
o que tinha visto.

Sacudindo as rédeas, sabia que a perspectiva de julgar a qualidade das pedras


o tinha mantido acordado a maior parte da noite. Sua incapacidade de dormir tinha
residido na promessa perfumada de madressilva em torno dele conforme viajasse
para Austin.

Era malditamente louco por antecipar algo tão simples como o perfume de
uma mulher. Talvez tivesse perdido a cabeça enquanto era um prisioneiro. Após a
execução, que nunca veio, o haviam condenado a trabalhos forçados. Nos dias em
que não conseguiram encontrar nada de útil para ele fazer, fizeram-no empilhar
rochas, sem qualquer boa razão além de que aquilo causasse dor em suas costas e
fizesse bolhas em suas mãos. Tinha certeza de que seus carcereiros nunca
perceberam o quão difícil foi para ele ver o potencial dentro de uma rocha pouco
antes de ter que transformá-la em pó branco.

Agora Meg estava dando a ele a oportunidade de moldar um pedaço de rocha


em algo de valor.

E isso o apavorou.

Ele estava cortando madeira, pedra e os próprios dedos, desde que era um
menino. Obteve sua educação informal no colo de seu pai, sempre que este
encontrava tempo para mostrar-lhe o ofício que tinha aprendido e seu pai antes dele.
Mas a tutela de seu pai nunca tinha satisfeito a fome de Clay. Ele sempre desejou
mais conhecimento, ansiando criar as imagens que enchiam sua mente.

Ele tinha descoberto sua própria técnica através de tentativas e erros,


alimentando sua habilidade inata, aprendendo com seus fracassos, deleitando-se em
seus poucos sucessos. Sabia que tinha desenhado algo no papel que provavelmente
não poderia criar com as mãos, mas, caramba, queria criá-lo por todas as razões que
Meg havia afirmado... e muito mais.

Ouviu os cascos galopando e olhou por cima do ombro para ver a poeira
subindo e circulando em torno do cavalo e cavaleiro, abaixo na estrada.

Sem um pedido de desculpas ou explicação, Meg desacelerou seu cavalo até


que estava caminhando ao lado da carroça. Estava vestindo uma camisa de flanela
desbotada de Kirk, calças de lã e chapéu marrom amassado. Abaixo da aba larga do
chapéu, o pequeno nariz petulante de Meg se torceu ao sentir o pó. Ele se
perguntou se tinha imaginado a gentileza de suas lágrimas no dia anterior quando
ela tinha estudado seus esboços, maravilhado por que tinha pensado que as
lágrimas eram fortes o suficiente para derreter o seu ódio. Com o polegar, ele
inclinou o chapéu da testa. — Bom dia.

Ela deslizou seu olhar para ele como se tivesse acabado de ver uma cobra
rastejando sob uma rocha. Seu nariz subiu uma fração a mais, e desta vez ele não se
conteve. Sorriu.

Seus olhos se arregalaram pouco antes dela desviar o olhar e mexer com algo
do outro lado da sela. — Não estou aqui para lhe fornecer companhia.
Simplesmente quero ter certeza de que você faça a melhor escolha.

— Conhece muito sobre rochas, não é?

Ela virou seu olhar de volta para o seu. — Eu sei do que eu gosto.

Ele retirou o sorriso do seu rosto. — E do que você não gosta.

Ela deu um aceno brusco. — Especialmente do que eu não gosto.

Com um suspiro, ele olhou para frente na estrada de terra pela qual tinha
viajado uma dúzia de vezes com o pai. Tinha um sentimento de que esta viagem
seria a mais longa que já tinha feito e, com certeza, não podia sentir o cheiro de
qualquer madressilva. — Você trouxe o dinheiro?

— Certamente.

Contra sua vontade, ele encontrou seu olhar voltando à forma esbelta de Meg.
Ela sentava-se no cavalo com uma medida de graça e de confiança que vinha das
tempestades da vida e dobrava tão naturalmente com a força do vento. Ele nunca
poderia conquistá-la. Talvez devesse ter esboçado ela e não Kirk, montada no
cavalo.
Só que queria capturá-la como ela era antes da guerra ter destruído sua
inocência e esperança. Queria captar seu espírito resistente, um espírito que tinha
sobrevivido, mesmo quando a guerra arrebatou os sonhos que ela dividia com outro.
— É o dinheiro que seu marido estava economizando para comprar sua fazenda?

Seus olhos azuis se arregalaram até que ele pensou que rivalizavam com o
céu em beleza. — Ele lhe disse sobre a fazenda que queria?

— Nós éramos amigos. Ele me disse um monte de coisas. — Ela mexeu seu
traseiro na sela e Clay estava tentado a atirar um cobertor sobre o colo. Eles
estavam provavelmente mais seguros com ela viajando vestida com as roupas do
marido, mas ela parecia decididamente diferente de como Kirk tinha parecido com
aquelas calças. Sem dúvida, no entanto, ela tinha feito alterações à roupa para que
se encaixasse. Kirk tinha sido reto como uma tábua de seus ombros até os dedos
dos pés; ele nunca tinha possuído essas curvas. Mas as roupas não pareciam se
incomodar nem um pouco. De fato, as calças estavam abraçando-a como se
tivessem sido feitas para ela.

— O que ele disse a você? — ela perguntou.

Ele arrastou seus olhos para seu rosto, onde deveriam ter estado o tempo
todo. Não tinha nenhum direito de deixar o olhar vagar para seus quadris. Desde
que ela não havia lhe dado um tapa, ele imaginou que o chapéu estava protegendo
seu rosto para que não pudesse ver exatamente onde ele estava olhando. — Como é
que é?

— O que exatamente Kirk lhe disse?

— Muitas coisas.

— Como o que?
Ele deu de ombros. — Me disse que se eu cavasse um buraco quando a lua
estivesse cheia eu teria areia o suficiente para enchê-lo de volta.

— Por que você cavaria um buraco à noite?

— Eu não cavaria.

— Então por que ele te disse isso?

— Por alguma razão, quando você cava um buraco você nunca parece ter
areia o suficiente para enchê-lo. Ele disse que cavar durante a lua cheia iria fazer a
diferença.

— Eu não vejo por que deveria.

Ele esfregou o lado do nariz. — Não deveria.

Ela inclinou-se ligeiramente. — Será que você cavou um buraco quando a


lua estava cheia?

Seus olhos carregavam uma centelha de interesse, e ele estava feliz porque
poderia lhe dar a resposta que estava certo de que ela queria. — Sim, senhora. Ele
sempre parecia saber tudo, então eu tentei.

— E descobriu que ele estava tirando uma com você — ela disse
presunçosamente.

Ele balançou a cabeça, espantado que ela ainda levasse um enorme orgulho
nas brincadeiras de seu marido.

— Então, ele apenas lhe disse coisas bobas — disse ela.

Levantando o chapéu mais longe da testa, ele sorriu preguiçosamente. — Em


sua maioria.
Olhando para frente, ela novamente mexeu com alguma coisa do outro lado
da sela. Ele não podia ver o que estava acontecendo dentro da camisa solta que ela
usava, mas ondas pequenas ondulavam sobre o peito com seus movimentos
agitados. Um dia, ele iria esculpir essas ondulações, mas no momento tudo o que
ele queria era olhar para aqueles olhos azuis. — Mas, às vezes, nós discutíamos
coisas de natureza pessoal.

Ela virou a cabeça, as sobrancelhas arqueadas finamente juntas em


consternação. — Como o que?

Um canto de sua boca se inclinou para cima quando ele olhou para o céu azul.
O céu devia ter tomado a sua tonalidade a partir dos olhos dela. — Coisas.

— Que tipo de coisas?

Ele apertou os olhos como se pensando muito. — Todos os tipos de coisas.

Ela arrancou o chapéu da cabeça, e a trança grossa que ela tinha feito caiu ao
longo de suas costas estreitas.

Ele se perguntou qual seria a sensação de desmanchar aquela trança e pentear


os dedos por essas vertentes de ébano.

— Chegamos à conclusão de que vocês discutiram coisas — disse ela


secamente. — Dê-me um exemplo de algo específico.

Ele fez uma careta. — Não posso.

— Por quê? Porque foi tão trivial que você não se lembra de nada do que ele
disse?
— Me lembro de tudo. É só que eu dei-lhe a minha palavra que nunca diria a
você.

Ela bateu seu pequeno punho em sua coxa, mas ele tinha uma sensação de
que ela teria preferido esmagá-lo contra o seu nariz. — Fez você prometer que não
iria me dizer algo que ele disse?

Balançando a cabeça, Clay lutou para impedir sua boca de formar um sorriso.
— Sim, senhora.

— O que foi?

Erguendo um ombro, ele fingiu inocência.

Seus olhos azuis escureceram. — Foi algo sobre mim? Será que ele falou
sobre mim?

— Claro que sim. Ele a amava.

Ela balançou a cabeça vigorosamente e inclinou para cima o nariz. — Eu não


acredito que ele já falou com você sobre mim. Você está apenas tentando me deixar
com raiva.

— Eu sabia antes que você que ele iria se casar com você.

Ele não soube como ela conseguiu, mas ela olhou para baixo, para ele, apesar
de suas respectivas posições sobre o cavalo e na carroça fazerem suas alturas as
mesmas.

— Eu tinha quatorze anos quando eu soube que ele ia se casar comigo —


disse ela com altivez. — Eu pus meus olhos sobre ele e, então, o capturei.

Clay riu. — Ele voltou suas atenções para você muito antes disso.
— Eu não acredito em você.

Ele deu de ombros. — Acredite no que quiser.

Ela empurrou o chapéu sobre a cabeça, sombreando seu rosto para que tudo
o que ele pudesse ver fosse sua mandíbula rígida. Ele supôs que, se a mulher queria
acreditar que ela era a pessoa responsável por seu casamento com Kirk, nenhum
mal viria disso. Considerando que ele suspeitava que o dano poderia vir se ela
soubesse a verdade.

Ele e Kirk estavam no limiar da adolescência. As meninas não eram mais as


irritantes que uma vez tinham parecido, mas estavam começando a ter um apelo
que ambos estavam ainda muito jovens para entender completamente.

Eles baseavam o valor de uma menina em coisas sem importância, tais como
a cor dos olhos e do comprimento de sua trança.

— Eu acho que Meg Crawford tem os olhos mais franzinos que eu já vi —


Clay disse a Kirk uma tarde enquanto eles observavam as nuvens. — Eu estou
pensando que eu poderia me casar com ela.

— Você não pode — disse Kirk. — Eu irei me casar com ela.

— Eu disse isso primeiro.

Kirk cavou uma moeda de prata de seu bolso. — Vamos virar. Águia você se
casa com ela, liberdade eu me caso. E o perdedor promete que não vai reclamá-la.

Balançando a cabeça, Clay desenhou um X sobre o seu coração com o dedo.


Kirk atirou a moeda, a pegou e deu um tapa para baixo em seu antebraço. O destino
dela gravado na moeda. Senhora Liberdade brilhou à luz do sol. Kirk pegou a
moeda e empurrou-a no bolso. — Concluo que eu ganhei.

Nos anos seguintes, Clay honrou o juramento que tinha feito naquele dia.
Manteve-se a distância, observando de longe como Meg florescia na mulher que
iria segurar o coração de Kirk.

E agora ele iria continuar a manter distância. Seu ódio, muito maior do que
qualquer outro, iria mantê-lo amarrado ao juramento infantil. Mesmo quando se
sentava no último banco, podia sentir os olhos de desprezo sobre ele. Não gostava
de ficar sentado durante o culto na igreja tanto quanto Joe. Talvez devesse seguir o
conselho de Josh e cruzar os olhos da próxima vez que ela olhasse para ele.

Mas quando ela finalmente tirou a atenção da estrada e encontrou seu olhar,
ele não conseguiu ter certeza de seus sentimentos em relação a ele.

— O que Kirk disse sobre mim? — ela perguntou. — Ele deve ter dito algo
que você possa me contar.

Ele puxou a aba de seu chapéu para baixo sobre a testa. Não poderia dizer-
lhe que Kirk lhe contara sobre os pequenos sons suaves que ela fez na noite de
núpcias. Desejou que tivesse mantido a boca fechada e não houvesse tentado irritá-
la, mas ela ficava tão bonita quando a fúria atravessava seu rosto e acendia seus
olhos para que eles não parecessem sem vida. — Bem, ele falou muito sobre a
fazenda, é claro, e como queria que você tivesse seu próprio lugar.

Ela relaxou os ombros, e ele se perguntou se ela tinha uma vaga ideia sobre o
que Kirk poderia ter lhe dito.
— Ele te disse por que queria que nós tivéssemos nosso próprio lugar?

Ele balançou a cabeça lentamente.

— Sua mãe não gostava de mim — disse ela, como se ele não tivesse
reconhecido sua pergunta.

— Eu não levaria seus sentimentos para o coração. Ela não gosta de ninguém.

Ela revirou os olhos para o céu.

— É verdade — continuou ele. — Nós achávamos que ela nem sequer


gostou do Sr. Warner, razão pela qual o seu marido nunca teve irmãos ou irmãs.

Ela inclinou-se para ele, com os olhos arregalados, sua voz quase um
sussurro, embora ninguém estivesse por perto para ouvir. — Você realmente fala
sobre ela desse jeito?

— Seu humor azedo o incomodava, e isso o incomodou mais quando você se


casou com ele e ela não a tratou gentilmente.

— Ele disse-lhe como ela me tratou?

— Nós conversamos sobre...

Impaciente, ela acenou com a mão. — Eu sei. Vocês falaram sobre um


monte de coisas.

Ele ofereceu-lhe um sorriso triste. — Sim, senhora, nós fizemos.

— Vocês discutiram a ideia dele sobre nós vivermos com sua avó?

Na verdade, no dia em que ele descobriu quanto tempo levaria para Kirk
economizar dinheiro suficiente para ter uma herdade, Clay tinha sugerido que
morassem com Mama Warner. Hesitante, ele assentiu. — Ele queria que você fosse
feliz.

— Eu fui, depois que fomos morar com Mama Warner. Ela me fez sentir
bem-vinda.

— Ela faz todo mundo se sentir assim. Você a vê muito? — Clay perguntou,
sabendo que ela voltara para a casa de seu pai depois de Kirk partir para a guerra.

Meg sorriu, o primeiro sorriso genuíno que ele tinha visto em seu rosto desde
que a guerra começou. Ele queria gravá-lo em pedra ali mesmo, para que pudesse
mantê-lo para sempre. Tinha certeza de que ela tinha dado aquilo a ele por engano.

— De fato, eu fui à casa dela esta manhã. É por isso que eu estava atrasada.
Pedi a ela que se alguém perguntasse, dissesse que eu estava passando uns dias com
ela, mas ela não sabe onde estou no momento. Ela esticará a verdade e nunca me
perguntará por que precisa fazer isso.

Clay se perguntara como ela planejou viajar com ele sem seu pai vir para
linchá-lo. — Portanto, seu pai acha que você está passando alguns dias com Mama
Warner?

— Sim, só que eu vou passar o tempo com você.

Como se apenas percebendo que condenou-se a ser sua companhia, ela parou
de sorrir, endureceu o seu olhar, e voltou sua atenção para a estrada à frente.

Suspirando profundamente, ele olhou para a estreita faixa de terra que rodas
de carroça tinham cortado da terra ao longo dos anos. A estrada parecia estender-se
para a eternidade.
***

Ao crepúsculo, Clay freou a carroça fora da estrada e guiou a mula para uma
clareira próxima.

Meg desmontou, pressionou a testa contra a sela, fechou os olhos, e suspirou


profundamente. A presença de Clay a irritava mais do que ela tinha imaginado, de
maneiras que nunca esperou. O sorriso suave, secreto que aliviou seu rosto quando
ele achou algo divertido, lhe causou dor por todos os sorrisos do passado, a chorar
por todos os sorrisos que nunca estariam em seu futuro.

E, aparentemente, ele a encontrou bastante divertida quando falou sobre Kirk


naquela manhã. O que Kirk tinha dito a ele?

— Quer que eu veja depois seu cavalo? — perguntou Clay.

Abrindo um olho, ela olhou para ele. Ele parecia tão cansado quanto ela —
Não.

Ele colocou um balde de água ao alcance da égua. — Há alimentos na


carroça — disse ele antes de ir embora.

Ela aproximou-se da égua, removendo a sela, as rédeas e amarrando-a.


Alimentou-se na grande carroça. Supôs que os Hollands a tinham construído
especificamente para transportar pedra.

Clay, sem dificuldade, prendeu a mula, embora Meg não achasse que a mula
iria se afastar. Em toda a sua vida, nunca tinha visto um animal se movimentando
tão lentamente como aquela mula. Supôs que o exército havia confiscado os
cavalos dos Holland. Sua família tinha dado tantos homens à causa que o exército
não tinha pedido o seu gado, embora Meg teria dado com prazer.

— Vou buscar alguma ceia — disse Clay quando puxou seu rifle de debaixo
do banco da carroça.

A primeira reação de Meg foi dizer que ela cuidaria de si mesma, mas se
sentia muito cansada. Se comprometeria um pouco esta noite: enquanto ele caçava,
ela faria o fogo. Quando andava longe do acampamento, ele apareceu atrás dela.
Ela parou de repente, virou-se e olhou para ele. — Onde você pensa que está indo?
— ela perguntou.

— Acho que você não deveria estar perambulando por essas árvores sozinha.

Ela bateu na arma visível acima da cintura de suas calças. — Só vou


encontrar um pouco de madeira seca. Posso cuidar de mim mesma.

— Tenho certeza que você pode. É só...

— Já tive o suficiente de sua companhia hoje. Não quero que me siga.

— Você vai gritar se precisar de mim?

— Não. Eu não tenho nenhuma razão para acreditar que você viria. Você não
foi quando a Confederação gritou por mais homens.

Ele estreitou os olhos para pequenas fendas e sua mandíbula ficou tão rígida
que ela não soube como ele conseguiu forçar a palavra "Bem" a sair por sua boca.

Ela pegou o fim de uma maldição conforme ele caminhou até o outro lado da
clareira e desapareceu na floresta espessa. Estava feliz em vê-lo ir. Realmente
estava. Com alguma sorte, ele se perderia, vagando pela escuridão, e não voltaria
para o acampamento até de manhã.

Serpenteando por um caminho imaculado através da área arborizada, ela


reunia galhos caídos quando seus pensamentos se foram para a manhã. Estremeceu
com a memória. Não só tinha falado com um homem que ela detestava, mas quase
gostou da conversa. E sorrira para ele. Um covarde. Um homem que tinha traído
àqueles que ele chamou de amigos. Pelo amor de Deus, o que ela estava pensando?

Ele a atraíra para falar de um tempo mais feliz, quando Kirk ficara ao lado
dela. Os olhos castanhos de Clay brilharam com algo semelhante à alegria quando
ele a tinha olhado. Ele e Kirk haviam discutido coisas. Tinham discutido muitas
coisas. Coisas bobas. Coisas de natureza pessoal.

Emitiu um bufo muito pouco feminino. Eles provavelmente não discutiram


nada.

Pegou um galho caído e o balançou através do ar como se fosse um porrete.


Poderia usá-lo para bater em Clay e derrubá-lo se ele tentasse falar com ela
novamente. Sorrindo, acrescentou aquele à madeira situada na dobra do braço.

Estendeu a mão para outro e o rápido vislumbre de uma cascavel vibrou


através do ar. Movendo apenas os olhos, Meg procurou na vegetação rasteira até
que seu olhar travou com olhos negros que detinham vida, mas prometiam morte
certa.

Como num sonho, viu a cobra enrolada espalhar sua boca larga, expondo
suas presas salientes e se lançando em direção a ela. Sempre tinha imaginado que a
morte viria rapidamente, não lentamente, dando-lhe tempo para gritar contra a
injustiça. Um estrondo ecoou e a cascavel desapareceu.
— Você está bem? — Clay perguntou quando agarrou seu braço. Ela olhou-
o em silêncio e ele balançou-a, sua voz cada vez mais alta. — Você está bem?

O conhecimento de que estava viva surgiu através dela simultaneamente à


percepção de que ele a estava tocando. Ela se livrou de seu toque. — Nunca mais
toque em mim.

Ele balançou a cabeça. — Não sei por que estava preocupado. Seu ódio
provavelmente teria envenenado a cascavel se ela tivesse tido a infelicidade de
cravar suas presas em você.

Chegando ao mato, ele recuperou a cascavel sem vida. — Se a minha


explosão de rifle não limpou a área, seu grito o fez. Acho que vamos comer
cascavel no jantar.

Meg olhou para o comprimento longo, grosso, de marrom escuro e cinza.


Clay segurou a cobra mutilada no peito, e sua cauda ainda tocava o chão. Mesmo
na morte, o corpo maciço da cobra pareceu poderoso e mortal, e ela tinha sido a
presa. Ela balançou violentamente quando seu estômago embrulhou.

— Você vai ficar doente? — perguntou Clay.

O formigamento embaixo de suas mandíbulas aumentou de intensidade. Ela


sentiu o sangue de seu rosto fugir e um suor frio aparecer na sua testa. Agarrou a
madeira contra seu peito, procurando alguma coisa para parar as árvores que
giravam. Ele tirou a madeira de seus braços.

— Agarre seus joelhos — ele ordenou. — Respire fundo.


Ela tentou respirar profundamente, mas o ar estava além do alcance e tinha
se iludido tão facilmente com a calma que lutou para manter. A queimação em seu
estômago subiu-lhe à garganta e começou a vomitar.

Clay foi embora e ela estava grata por ele deixá-la sofrer essa vergonha
sozinha. Estava mais grata ainda por ele ter arrastado a cobra para longe com ele.

Levantou longo tempo depois, quando seu estômago estava vazio. Ao ouvir
passos se aproximando, apertou seu punho fechado contra sua barriga dolorida e,
lentamente, ajeitou o corpo que tremia. Apesar do calor persistente do dia, sentiu
um calafrio.

— Aqui — disse Clay quando empurrou um copo cheio de água sob seu
nariz. — Vá em frente. Pegue. Eu não bebi.

Ela pegou o copo, encheu a boca e rodou o líquido morno antes de cuspi-lo.
Repetiu o processo, enquanto Clay juntava lenha.

— Vou fazer o fogo — disse ele pouco antes de se afastar.

O sol tinha caído para além do horizonte no momento em que ela encontrou
a força e o desejo de regressar ao seu pequeno acampamento.

Agachado ante o fogo crepitante, Clay removeu seu jantar do espeto. Sentada
em frente a ele, Meg encostou-se à árvore. Ela não tinha percebido o quão escuro
tinha ficado até que viu as chamas se contorcendo, criando sombras dançantes pelas
feições de Clay. Ele tirou o chapéu e a luz do fogo valsou por todo o cabelo branco
em suas têmporas.

— Eu pensei que ia morrer — disse ela calmamente com uma voz trêmula.
— Não consigo parar de tremer.
— Você só precisa pensar em outra coisa. Pode tentar olhar para o céu e
contar as estrelas.

Ela olhou para os céus sem nuvens negras onde a lua cheia brilhava
intensamente. Além dela, as estrelas piscavam.

— Quantas estrelas você acha que tem lá?

— Um par de milhões, eu acho.

Dobrando suas pernas, ela colocou os braços firmemente em torno delas, em


um esforço para parar de tremer. Apertou o queixo nos joelhos. — Eu não sabia
que você era perito com um rifle.

— Não perdi um alvo desde que tinha doze anos.

— Basta pensar em quantos ianques você poderia ter matado se não tivesse
sido um covarde.

Seu olhar sombrio encontrou o dela. — Pensei sobre isso, Sra. Warner.
Pensei nisso longa e duramente.

Pegando um prato, ele parou. — Sirva-se do que restou. — Ele caminhou até
a carroça, sentou no chão, e pressionou suas costas contra a roda. Rolando sobre
um quadril, pegou uma pequena pedra debaixo dele e a atirou através da clareira.

Meg saltou quando a rocha bateu em uma árvore e um estalo encheu o ar da


noite. Tirou o chapéu e o achatou contra o rosto dela, inalando profundamente para
que não tivesse que sentir o aroma de cascavel cozida. O chapéu mantinha o
perfume desvanecendo de Kirk, e ela sabia que viria um tempo quando o chapéu
cheiraria mais a ela do que a ele. Até essa altura, serviria como um lembrete do
conforto que ele sempre tinha trazido. Quando ele partiu, ela tinha dormido com
seu chapéu pressionado sob sua bochecha.

— Você quer que eu tente encontrar outra coisa para comer?

Meg empurrou o chapéu longe de seu rosto. Clay estava agachado à sua
frente, seu olhar fixo no fogo.

— Não, eu não acho que alguma coisa iria se manter ainda.

— Seu estômago vai melhorar, na manhã. Vou procurar algo bom para o
vômito, então. — Ele jogou a lenha no fogo, e as faíscas laranja dispararam. —
Você pode dormir na carroça hoje à noite.

Usando a árvore como apoio, ela levantou. Agarrou a casca e forçou as


palavras odiadas por seus lábios. — Obrigada.

Ele olhou para cima e ela podia ver a confusão em seus olhos. — Por matar a
cobra cascavel — explicou ela.

Ele acenou com a cabeça ligeiramente e atiçou o fogo. Com as pernas


bambas, ela caminhou para a carroça e subiu na traseira. Clay espalhou vários
cobertores sobre a cama. Ela colocou um cobertor amassado debaixo de sua cabeça
enquanto se esticava e trazia outro sobre seu corpo dolorido.

O céu noturno estava tão claro, que ela sentiu como se devesse ser capaz de
tocar as pedras cintilantes que enfeitavam os céus e lavrá-las com tranquilidade.
Gostaria de poder encontrar um pouco daquela paz dentro de si mesma.

Ela se perguntou se Kirk tinha a esperança de convencer Clay a ir com os


outros homens naquele dia em Cedar Grove. Foi por isso que ele tinha se juntado a
Clay na orla da cidade? Se assim fosse, a decepção tinha montado ao lado dele, não
seu amigo.

Se perguntou se ele se arrependeu de todos os anos que passou sendo amigo


de um homem que um dia iria traí-lo, um homem muito covarde para marchar onde
a honra ditava.

Estava certa de que o orgulho lhe tinha feito apertar a mão de Clay naquela
manhã. Ele tinha abraçado Clay não para dizer adeus a um amigo, mas para
sussurrar adeus a uma amizade.

Um arranhar delicado e macio a distraiu dos pensamentos de vingança. Ela


imaginou um pequeno animal correndo ao longo do chão, em busca de alimento,
parando para cheirar o ar, em seguida, pulando em cima de uma noz ou movendo as
folhas secas de lado para procurar um pedaço saboroso.

Se apoiou nos cotovelos. Podia ouvir o arranhar de forma mais clara.


Calmamente, sentou-se e olhou para o lado da carroça. Não podia ver qualquer
criatura, mas o arranhar ficou mais alto. Olhou para o fogo.

Sentado com as costas contra a árvore, joelho erguido, uma perna esticada
ante ele, Clay raspava um pedaço de madeira com uma pequena faca. O vento
brincou delicadamente com os cabelos marrons cobrindo sua cabeça baixa.

O rifle descansava ao seu lado.

— O que você está fazendo? — ela perguntou.

— Droga! — Colocando o dedo entre os lábios, Clay olhou para ela. Ele
tirou o dedo da boca e apertou-o contra sua coxa. — Nunca mais faça isso quando
eu tiver as ferramentas em minhas mãos.
— Nunca mais faça o quê? — ela perguntou inocentemente.

— Me assustar assim.

— Sinto muito. Tinha esquecido que você se assusta facilmente.

— E eu tinha esquecido que você tem uma língua tão afiada. — Ele passou a
outra mão pelo cabelo. — Não sei por que diabos eu concordei com isso.

— Eu não quis dar-lhe uma escolha.

— Um homem tem sempre uma escolha, Sra. Warner.

— E você escolheu ser um covarde.

— Eu escolhi seguir a minha consciência.

— Mesma coisa.

— Não penso assim. Nem seu marido.

— Não é justo manchar sua pessoa quando ele não está aqui para se defender.
Você não acha que ele teria me dito se não achasse que você era um covarde?

— Da forma como os ventos da guerra chicotearam através do Texas, eu não


imagino que ele gastou o pouco tempo que lhe restava com você falando.

Meg sabia que seu rosto se inflamara do vermelho da vergonha quando


imagens do passado subiram à sua mente. — Como passamos os nossos momentos
finais juntos não concerne a você, mas vou dizer-lhe. Você é um maldito! Nós não
passamos uma única respiração falando de você. Nós dois sabíamos que ele poderia
não voltar e acumulamos uma vida inteira no pouco tempo que lhe restava. Ele
sacrificou tudo pela Confederação, enquanto você, seu amigo, nada sacrificou. Não
se atreva a me falar sobre ele novamente. Você perdeu esse direito quando o
assistiu ir embora.

Ela caiu sobre a cama da carroça e se enrolou em uma bola apertada, lutando
contra as lágrimas que fizeram subitamente seus olhos arderem. Certamente, Kirk
teria dito a ela se achava que Clay não era um covarde.

Então, novamente, ele havia evitado discutir a guerra ou o seu alistamento


porque sabia que a preocupava pensar em sua partida.

Fechou os olhos e sentiu as lágrimas trilharem pelo seu rosto. Mesmo em


suas cartas, ele nunca tinha escrito sobre a guerra. Ele descrevia a paisagem, ou o
tempo, ou a comida. Disse a ela o quanto a amava e o quanto sentia falta dela.

Mas ele nunca tinha compartilhado com ela seus pensamentos como um
soldado.

Alcançando o cós da calça, tirou a carta amassada de Kirk. Ela ainda não
tinha lido-a.

Sabia que seu último adeus residia na carta. Até que lesse, sua própria
despedida final permaneceria em seu coração.

Agarrando a carta, apertou-a contra o peito, tentando segurar um amor que


estava se afastando em uma névoa de memórias.
Capítulo 5
O sol do fim da tarde refletiu no monte de granito tal como se apresentava,
com orgulho majestoso contra o céu azul do Texas. Como se fossem gigantes
dormindo, enormes rochas se colocavam a esmo ao longo do caminho de pedra que
levava à colina. Cuidadosamente Meg guiou sua égua por todo o entulho rochoso
conforme Clay retumbava junto à carroça.

Ele parou a carroça perto de uma casa de pedra. Alguém já havia cortado a
árvore solitária que poderia ter fornecido sombra. Como se fossem dedos
desesperados, os galhos secos da árvore abatida estavam assustadoramente em
direção ao sol. Ninguém se moveu; ninguém criou um som. Até o vento cessou de
sussurrar.

Clay desceu da carroça. A aba do chapéu sombreava seu rosto, não revelando
nenhum de seus pensamentos, mas desde o amanhecer ele não tinha compartilhado
quaisquer pensamentos com ela. Ela despertou para encontrar a refeição prometida
a esperando. O silêncio, tão pesado como aquele em torno deles agora, tinha
permeado o ar enquanto viajavam. Para seu espanto, ela descobriu que sentia falta
de suas brincadeiras provocativas.

Quando Meg desmontou, pisou em uma rocha. Tropeçou antes de conseguir


se equilibrar. Com a mão estendida, Clay deu um passo rápido em direção a ela.

Seus olhos se encontraram.


Ele enfiou a mão no bolso. — Você precisa ser cuidadosa.

— Eu percebi isso. — Ela olhou ao redor da área. — Parece não haver


ninguém aqui.

Ele tirou o chapéu e enxugou a testa. — Eu não sabia o que iria encontrar. O
Sr. Schultz vende pedra para os alemães que se instalam na região. Eles gostam de
construir casas de pedra.

— Mas você não está construindo uma casa.

— Não, mas o granito é de boa qualidade. Eu estava esperando que pudesse


encontrar um pedaço de rocha que o Sr. Schultz não tenha começado a cortar em
pedaços menores.

A porta da casa se abriu. Um homem que parecia como se tivesse sido


esculpido desde o terreno circundante entrou na luz solar. Apertou os olhos e, em
seguida, rapidamente veio para cumprimentá-los. — Jovem Holland. — Ele pegou
a mão de Clay e balançou-a vigorosamente. — Seu pai me disse tinha retornado.
Estou feliz que você está seguro. Meu menino, meu Franz. Eles o mataram.

Uma lágrima solitária, fora de lugar entre suas feições escarpadas, seguiu
pelo seu rosto. Meg sentiu uma afinidade imediata com o homem, entendendo a
devastação de sua perda. Em um gesto de conforto, ela colocou a mão em seu
ombro enorme. Uma dor dolorosa centrou em seu peito quando ela sentiu seu
tremor. — Meu coração está com você. Os ianques mataram tantas pessoas.

Ele olhou para ela, com os olhos endurecendo. — Eu não falo sobre Ianques.
Falo sobre Texanos. Eles vieram por ele no meio da noite, as pessoas que ele achou
que eram seus amigos. O arrastaram da cama e o enforcaram. Quebrou o coração
de sua mãe ver o nosso bom menino morrer daquele jeito. Nós viemos da
Alemanha para encontrar a paz. Não é a nossa guerra. Eu disse a ele: 'Vá para o
México. Venha para casa quando esta guerra acabar.' — Ele balançou a cabeça e
enxugou os olhos. — Mas ele não ouviu. Então eles vieram e o enforcaram.

— Sr. Schultz, eu sinto muito — disse Clay com pesar.

O velho deu um tapinha no seu ombro. — Não é sua culpa. Eu sei disso, e
você não está aqui para ouvir as minhas tristezas. Você veio aqui para obter rocha.
— Ele acenou com a mão em um círculo. — Não há muito aqui. Eu não tenho
coração para trabalhar na pedreira. Se você não encontrar o que você precisa, lhe
digo onde tem outra pedreira. — Ele se afastou, dobrado como se estivesse
carregando uma de suas pedras sobre os seus ombros.

Clay arrancou o chapéu da cabeça e passou os dedos pelo cabelo. — Droga!


Seu filho era apenas um pouco mais velho do que eu. — Ele olhou para Meg. —
Acho que você pensa que foi apenas um enforcamento.

— Toda história tem mais de um lado nela.

— Pena que não podemos ter Franz nos dizendo seu lado.

— Não use esse tom comigo. Não fui eu quem o enforcou.

— Não, mas você teria feito. Afinal de contas, ele não ficou ao lado da sua
preciosa Confederação.

Ela empalideceu com suas palavras. — Eu nunca fui a favor de linchamento.


Tinha ouvido histórias... elas me adoeceram tanto quanto eu estou certo que
adoeceram você. — Apertou seu punho acima do seu coração — Mas eu sei que se
você vive em um estado e colhe suas recompensas, você responde quando ele o
chama.
— Infelizmente, Senhora Warner, para muitos de nós, a resposta não foi tão
simples ou fácil de dar. — Colocando seu chapéu na cabeça, lançou um longo
suspiro. — Chegamos aqui mais tarde do que eu pensava. Vamos apenas olhar ao
redor e ver se podemos encontrar o que queremos. Então, vamos pernoitar em
Austin e voltar na parte da manhã para pegar a pedra.

Antes que Meg pudesse responder, ele começou a caminhar com passos
longos. Ela o seguiu, escolhendo cuidadosamente o seu caminho através das rochas
espalhadas que cobriam o chão. — Acho que você precisa de um grande pedaço —
ela falou.

— Sim, senhora. Eu gostaria de fazer do tamanho natural a estátua.

Ele parou de andar e tirou o chapéu, como se de repente entrasse em um


lugar para se reverenciar.

Meg apressou o passo, parando quando chegou ao seu lado.

Lentamente, quase carinhosamente, ele roçou os dedos abertos ao longo de


um pedaço de pedra. Ela tentou imaginar aquilo esculpido em um cavalo, cavaleiro,
e uma mulher. Ela não conseguia ver nada além do que era: uma rocha, pura e
simplesmente.

Enorme. Imensa. Rosa com manchas pretas.

Para ela, parecia apenas como todas as outras rochas que estavam ali como
sentinelas silenciosas. Áspera e dura, não era nada do que tinha em mente quando
pensou sobre o monumento.
Ela olhou ao redor do terreno rochoso e um vislumbre de branco chamou sua
atenção. Cautelosamente, caminhou para a periferia da pedreira e colocou a mão
sobre a pedra que brilhava no sol.

Sorrindo, caminhou de volta para onde Clay estava de joelhos, olhando para
o topo do granito de um ângulo diferente. — Encontrei a peça que você pode usar
— disse ela.

Franzindo a testa, ele voltou sua atenção para ela. — Como?

Ela apontou para a pedra branca. — Eu encontrei um belo pedaço ali.

Desdobrando seu corpo esguio ele a seguiu.

— É mármore — disse ele ao se aproximar. — Não deveria estar aqui. Esta é


uma pedreira de granito.

— Bem, então, isso encerra o assunto. O destino deve tê-lo trazido aqui.
Acho que a estátua ficaria linda esculpida nisso.

Seu rosto perturbado, ele passou a mão sobre a superfície áspera. — Eu


nunca esculpi em mármore antes. Não sei como ele iria responder ao meu toque.

Meg baixou o olhar para suas mãos. Longos dias ao sol tinha as tornado de
um marrom rico. Minúsculas cicatrizes finas marcavam seus longos dedos. Ele
enfiou as mãos nos bolsos. Ela levantou os olhos para ele. — Quero o mármore.

Removendo a mão do bolso, ele enrolou-a na cabeça de um martelo que era


pouco visível acima da cintura de suas calças. Ele puxou o martelo e apertou-o
ainda mais em torno do punho.

— O que você vai fazer? — ela perguntou.


Ele tirou o chapéu. — Preciso saber se existem rachaduras dentro da pedra.

— Como pode saber?

— Ponha seu ouvido contra o mármore.

Ela fez o que ele disse. Pressionando o ouvido na pedra, ele gentilmente
bateu o martelo contra a superfície dura. Ela ouviu um toque macio. — Soa como
um sino.

Ele assentiu com a cabeça. — Esse som é bom. Não tem qualquer rachadura
dentro.

— Você testou o granito?

— Sim, senhora. Ouvi um som agradável. — Ele deu um passo para trás e
caminhou ao redor do mármore, tocando-o, estudando-o como tinha feito com o
granito, mas seu rosto não mostrou nenhuma emoção, nenhuma reverência. —
Acho que o granito nos serviria melhor.

— Eu não gosto do granito. É quase rosa...

— Mais para vermelho quando o sol atinge apenas à direita.

— Então ele não serve. O mármore é perfeito. É puro e branco como a


gloriosa Causa.

— Você não pode sempre dizer o que está dentro de uma rocha, olhando para
o lado de fora.

— Então, elas são muito parecidas com as pessoas, não são? — ela
perguntou.

Sua mandíbula se apertou, e ele bateu na rocha. — Podem ser bastante duras.
— É o meu dinheiro. Estou comprando esta peça.

— Ele pode até não estar à venda. Como eu disse...

— Sr. Schultz! — Meg acenou com a mão no ar, chamando a atenção do


homem. — Sr. Schultz, esta peça está à venda?

Ele caminhou até eles. — Você quer isso, você terá isso. Meu irmão trouxe
de Marble Falls. Achou um homem aqui que queria, mas o homem disse não.

— Nós queremos esse — disse Meg, surpresa com a emoção que crescia
dentro dela. — Nós vamos voltar na parte da manhã para buscá-lo.

— Tenho alguns homens aqui para carregá-lo em sua carroça.

— Você vê — Meg disse triunfante quando Schultz afastou-se — foi o


destino que trouxe o mármore aqui.

Balançando a cabeça. Clay olhou para o granito. — Eu não posso explicar


isso, mas sei que posso esculpir naquele granito o que eu esbocei para você. Isto —
ele tocou o mármore — não é para ser uma estátua. Ficaria bem como parte de uma
construção, eu acho que você vai ficar desapontada se me pedir para transformá-lo
em algo que nunca foi concebido para ser.

— Então você só tem que trabalhar duplamente para ter certeza de que eu
não estarei decepcionada. — Ela começou a se afastar, tropeçou e amaldiçoou sob
sua respiração.

— Você não dá a mínima para a estátua, não é?

De repente, ela se virou. — Claro que eu dou.

— Se você se importasse, me deixaria escolher a melhor peça.


— Eu expliquei por que eu quero o mármore.

Ele andou até que ficou frente a frente com ela, forçando-a a inclinar a
cabeça para trás para olhar nos olhos dele.

— Você quer que este pequeno projeto seja o mais difícil para mim, tanto
quanto você possa fazer com que isso seja. Tudo bem. Pegue o mármore. Eu vou
esculpi-lo, mas se você está pensando em me torturar com a sua obstinação, seu
pequeno nariz atrevido levantado e sua atitude 'vamos fazer do meu jeito', pense
novamente. Eu posso aguentar qualquer tortura que me for imputada.

***

Tortura.

Deitada na cama macia, Meg se perguntou porque Clay tinha escolhido essa
palavra. Ela queria puni-lo, mas tortura soava muito mais duro do que o que
pretendia.

Eles chegaram a Austin perto do crepúsculo. Clay garantiu um quarto de


hotel para ela. Então, bruscamente disse-lhe para dormir com sua decisão, que ele
iria vê-la na parte da manhã.

Sua saída abrupta lhe convinha muito bem. Ela não se importava com onde
ele estaria ou dormiria. Por tudo o que importava, ele poderia dormir com aquele
pedaço de granito para o qual fora tão parcial.
Batendo o punho no travesseiro, se recusou a seguir suas ordens e repensar a
decisão. Desde que ela o havia contratado para fazer o monumento, ele deveria
fazê-lo para agradá-la, não a si mesmo. O mármore era a melhor escolha. Se ele
não entendesse aquilo à luz de um novo dia, entenderia quando completasse a
estátua.

Quando ele terminasse de esculpi-la.

Quando ele respondesse a seu toque.

Apertar os olhos fechados não tirou o lembrete assombroso das mãos de Clay
acariciando o granito.

Sua mente encheu com as lembranças dos esboços, entrelaçando-as com o


granito até que as linhas desapareceram e não podia mais ver o monumento.

O monumento estava dentro da pedra e queria desesperadamente vê-lo.


Imaginou Clay cortando a pedra para revelar o monumento. Viu-o moldar a mulher,
esculpindo o rosto... esculpindo sua garganta... os ombros... seus seios...

Afastando os cobertores, pulou para fora da cama e quase tropeçou na bainha


de sua camisola. Arrastou-se até a janela e se inclinou para frente, respirando
profundamente, saboreando o ar exterior acariciar suas bochechas.

Movendo-se rapidamente de volta para o quarto, olhou com cautela para o


beco. Um homem, delineado pela lanterna pendurada do lado de fora do hotel,
sentava-se com as costas contra o mercado. A faca que ele ia metodicamente
empunhando sobre um objeto em sua mão refletiu o brilho da lamparina.

Ela se perguntou se aquele objeto respondia ao seu toque do jeito que ele
queria. Seus olhos foram novamente atraídos para suas mãos, entrando e saindo das
sombras enquanto trabalhava. Não precisava ver as mãos para saber que estavam
marcadas. Não queria vê-lo colocar a faca de lado e tocar seus longos dedos na
escultura como se sua carne e não os olhos poderia dizer-lhe se tinha conseguido a
forma que ele pretendia.

Será que ele tocaria na pedra da mesma maneira depois de esculpi-la? Será
que ele deslizaria os dedos ao longo de sua garganta, depois que a esculpisse?

Ela pressionou os dedos contra sua garganta e pensou sobre vê-lo trabalhar.
Ele sempre acariciava o que esculpia.

Lembrou-se da primeira vez que o vira esculpir algo em uma pedra. Os nós
dos dedos eram grandes demais para seus dedos, mas adorava assistir suas mãos
trabalharem.

Até aquele dia, nunca tinha conhecido o desespero. Clay e suas mãos hábeis
tinham encaixotado sua dor.

Por que ela tinha esquecido?

Ela tinha dez anos quando foi com seu pai para a fazenda dos Holland.
Estava na porta de um grande galpão, sem se atrever a entrar no interior onde eles
faziam coisas associadas com a morte.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou uma voz jovem.

Ela se virou para ver Clay encostado na pilastra, às mãos enfiadas nos bolsos.
— Minha mãe morreu.

Compaixão encheu seus olhos. Só agora, anos mais tarde, ela percebeu como
ele estava acostumado às pessoas estarem em sua terra com lágrimas nos olhos. —
Sinto muito.
Ela ergueu o queixo trêmulo porque seu pai tinha dito que se mantivesse o
queixo para cima, tudo estaria bem, mas o simples ato nunca pareceu fazer nada —
Meu pai foi procurar pelo seu. Ele vai pedir-lhe para fazer uma lápide para a
Mamãe. — Ela enrugou seu nariz. — Ele quer um cordeiro e alguma coisa da
Bíblia sobre ela.

— O que você quer nela?

Ela encolheu os ombros pequenos. — Mamãe gostava de aves, e só parece


que temos de dizer algo nele sobre Mamãe para que as pessoas saibam que nós a
amávamos fortemente.

Ele se afastou da pilastra e entrou no galpão. — Venha.

— Aonde nós vamos?

— Fazer a lápide da sua mãe.

Ela balançou a cabeça. — Supostamente seu pai o fará.

— Ele não gosta de fazer a inscrição. Estive fazendo isso desde que tinha
oito anos e nunca fiz aves antes. Então, vou fazer alguma para praticar em primeiro
lugar, e você me diz se é o que quer.

Ela se sentou em um banquinho ao lado dele durante toda à tarde,


observando-o trabalhar. Quando cada projeto que criava a agradava, ele gravava-o
na lápide. Ele esculpiu todas as pequenas coisas que sua mãe tinha amado. Esculpiu
seus sentimentos de criança - Nós a amamos fortemente - porque pensou que era
bonito.

Nos anos seguintes, Meg nunca tinha visto uma lápide com um maior
número de gravuras sobre ela como o marcador de sua mãe. Aquilo ainda trazia
lágrimas aos seus olhos quando visitava o lugar de descanso de sua mãe. Dentro da
pedra, Clay tinha capturado o amor inocente de uma criança pela mãe.

E ele era só um menino.

Ela percebeu aquilo quando ele era jovem. Com os olhos de um homem
velho ele teria uma capacidade muito maior para trazer o granito para a vida.

O pensamento a apavorou.

***

Maldita mulher tola!

Clay sabia que deveria amaldiçoar a si mesmo, não a ela. Tinha sido atraído
por madressilva no inferno.

O que ele sabia sobre o mármore?

Nada, exceto que, talvez, debaixo de sua roupa Meg Warner se assemelhava
ao mármore que havia sido pacientemente polido.

Pressionou a cabeça contra a parede e viu a segunda janela, no terceiro andar


do hotel. A janela dava para o quarto em que ela dormia.

Se perguntou se ela dormia de bruços. Na noite passada ele tinha estado


tentado a rastejar pelo acampamento e espreitar sobre o lado da carroça para ter um
vislumbre de seu sono. Ansiava por vê-la sem o ódio distorcendo suas feições.
Ficaria feliz em dar sua vida por apenas um pingo da compaixão que tinha
visto refletido em seus olhos quando ela pensou que os ianques tinham matado
Franz Schultz.

Mas ela nunca lhe daria compaixão ou compreensão. Irritação, porém, era
outro assunto. Ela parecia ter a intenção de dar-lhe aquilo em abundância. Se ele
não a tivesse conhecido antes da guerra, não continuaria a controlar seu
temperamento.

Porém, tinha-a conhecido. Nada bem. Certamente, não tão bem como ele
teria gostado, mas suficientemente bem para saber que seus ferimentos estavam
purulentos.

Se pudesse encontrar um comprador, apostaria sua fazenda que ela não tinha
lido a carta final de Kirk.

Orou para que Kirk não tivesse inscrito a data de quando escreveu aquela
carta. Clay tinha tomado posse das cartas meses depois de Kirk lhe ter dado a bolsa.
Se Meg percebesse aquilo, ela, sem dúvida, faria perguntas que Clay não queria
responder.

Pegou a faca e começou a entalhar novamente. Concentrou-se nas linhas e


planos da madeira para impedir sua mente de vaguear longe demais no passado.

Tinha suas próprias feridas que se recusavam a curar.


Capítulo 6
Caminhando para o calçadão, Meg achou a carroça de Clay em frente ao
mercado. Sua égua, selada e esperando, relinchou. Meg caminhou até a mula e
esfregou seu nariz. — Você dormiu tão mal como eu ontem à noite? — ela sorriu.
— Aposto que os mesmos pensamentos não nos mantiveram acordadas.

Caminhando para o mercado, viu Clay em pé no balcão. O homem rotundo


atrás do balcão estava inspecionando um relógio de bolso de ouro.

— Não é possível dar-lhe muito por isso — Ele acenou os dedos


rechonchudos em direção a uma caixa de vidro. — Todo mundo está trocando suas
joias desde o fim da guerra.

— Vou levar o que quer que você esteja disposto a negociar — disse Clay,
seus olhos focados em algo além do ombro do homem.

O homem agarrou o relógio fechado e colocou-o no bolso. — Eu posso dar


um pouco de farinha, um pouco de açúcar, talvez meia dúzia de produtos enlatados,
mas é só isso.

— E duas barras de salsaparrilha2 — disse Clay.

— Você tem filhos? — perguntou o homem.

— Sim senhor.

— Bem, então tome os doces e mais um par de enlatados, mas não vai contar
a ninguém que eu tenho um coração mole.

2
N. T.: guloseima da época
Os lábios de Clay se levantaram um pouco conforme prometeu. — Não vou.

Meg ficou em silêncio enquanto ele embalava seus suprimentos e colocava


as barras de salsaparrilha no bolso da camisa.

Levantando a caixa para fora do balcão, ele se virou e congelou, seu olhar
encontrando o dela. Seu rosto queimou em um escarlate profundo antes que
passasse por ela. — Suponho que você não deseja abrir a porta para mim.

Andando em torno dele, ela abriu a porta. Uma vez que ele a atravessou, ela
o seguiu. — Ele enganou você.

— Como você sabe disso? — ele perguntou quando colocou a caixa no


banco da carroça.

— Aquele relógio valia muito mais do que essa quantidade insignificante de


alimentos.

— Ele só vale o que eu poderia obter por ele e isso é tudo o que eu consegui.

— O Sr. Tucker na loja geral em Cedar Grove teria lhe dado mais. Você
deveria ter negociado com ele.

— Eu tentei, Sra. Warner, mas ele só vai lidar comigo se eu puder pagar com
dinheiro. No momento, eu não posso.

— Aquele foi o relógio de seu pai?

Ele empurrou a caixa, mesmo já tendo a empurrado para trás, tanto quanto
ela poderia ir. — Do meu avô. Precisaremos alugar alguns bois para puxar a
carroça. A pedra irá torná-la muito pesada para a mula. Fora da cidade há um
fazendeiro que nos fará um preço justo.
Meg desejou não ter notado como ele se precipitou, como se ele não quisesse
reconhecer o que tinha sacrificado por sua família. Brevemente se perguntou o que
mais ele poderia ter sacrificado. — Eu vi você no beco na noite passada. Foi lá que
você dormiu?

— Não dormi.

— Por que não?

— Não gosto da aparência de alguns dos homens que estão ao redor do hotel.
Queria ter certeza que você estava a salvo. — Ele esfregou a mão ao longo de sua
mandíbula. — Mesmo com os bois, vai ser uma viagem lenta. É melhor nós irmos
conseguir aquele mármore que você quer. — Ele começou a subir na carroça.

— Eu... — Ela parou de falar quando ele caiu de volta ao chão e a olhou. Ela
lambeu os lábios. — Ontem à noite, eu não pensei sobre o mármore.

Ele lhe deu um meio sorriso. — Não estou surpreso. Eu te deixei ver o
quanto eu queria aquele granito. Erro meu.

Ela ergueu o queixo. — Pensei sobre o marcador que você fez para a minha
mãe. Você se lembra dele?

— Me lembro de tudo que eu já esculpi. Como se quando eu esculpisse algo


em madeira ou pedra, eu dividisse isso com minha memória ao mesmo tempo.

— De que foi feito o marcador?

— Granito. Isso é o que eu e meu pai sempre usamos.

— Isso é o que eu pensava. Você honestamente acha que o granito é a


melhor opção?
— Não, senhora.

Sua resposta a surpreendeu. Talvez ele tenha pensado nas coisas ontem à
noite e chegado à conclusão de que ela realmente sabia que pedra era a mais
adequada para o monumento. — Você não acha?

— Não, senhora. Se quer um memorial para homenagear em silêncio aqueles


que morreram, então o granito seria a rocha para comprar. Mas isso não é o que
quer. Eu não sei o que é que você quer, mas não vai conseguir com o mármore.

— Eu fiz minha pergunta com toda a seriedade.

Ele tirou o chapéu, passou os longos dedos pelo cabelo grosso, e suspirou
profundamente. — Sinto muito. A minha opinião sobre o assunto não mudou desde
ontem.

Ela baixou os olhos e fingiu estudar suas botas gastas para que ele não visse
que os argumentos fizeram estragos em seu coração. Ela preferia o mármore. Clay
não estava familiarizado com a pedra. Ele seria forçado a questionar e duvidar de
cada corte que fizesse na pedra assim como ela queria que ele se questionasse e
duvidasse das escolhas que fez durante a guerra. Mas se ele cometesse um erro de
julgamento tão grande como o que fez quando não se alistou, todos os seus esforços
seriam em vão.

Um monumento inacabado iria para sempre ficar na memória daqueles que


mereciam mais.

Relutante, ela admitiu que o granito era a melhor escolha... não apenas para o
seu propósito, mas para o dela. Ela levantou os olhos para ele e deu um suspiro
profundo e claro. — Pode comprar o granito.
Cautelosamente, ele a estudou. — Não o mármore?

Ela balançou a cabeça vigorosamente. — Não, decidi em favor do granito.

— Você não vai se arrepender.

Ela assentiu com a cabeça, esperando que ele estivesse certo e que ela não
tivesse cometido um erro. — Você vai precisar do dinheiro. — Ela tirou um saco
que tinha escondido atrás da cintura de suas calças. Abriu a bolsa e derramou o
conteúdo na palma da mão cheia de cicatrizes. — Isso será o suficiente? —
perguntou.

Ele moveu as moedas com seu dedo. — Deve ser.

— Oh espere. — Ela pegou uma moeda de prata de sua palma. — A moeda


de tirar a sorte de Kirk. Eu não quero me desfazer disso.

Ele olhou para ela, suas sobrancelhas escuras juntas. — Sua moeda de tirar a
sorte?

Segurando-a para cima, ela moveu-a para que ele pudesse ver um lado,
depois o outro. — Tem a Senhora Liberdade em ambos os lados.

— O que? — ele se ergueu completamente conforme arrancou-a de seus


dedos e examinou-a.

— Ele sempre usou para ganhar apostas contra meus irmãos.

Seus olhos mostraram descrença. — Aquele filho da...

Conscientemente, ela sorriu. — Não me diga que ele a usou com você
também?
— Uma vez ou duas. — Entregando a moeda de volta para ela, ele sorriu
tristemente. — Mas tudo funcionou melhor.

***

Hipnotizada, Meg circulava ao redor da carroça, vendo a rocha de todos os


lados. O brilho das chamas do fogo tomou conta de um dos lados do granito,
trazendo a tonalidade vermelha. O luar se derramou pelo outro lado, criando uma
qualidade etérea.

Clay haveria imaginado como se pareceria à pedra cercada pelas sombras da


noite, com a luz da lua sussurrando através dela?

Desejou que ele tivesse trazido suas ferramentas para que pudesse começar a
trabalhar esta noite. — Onde você vai colocar Kirk? — ela perguntou quando tocou
um lado da pedra. — Aqui?

Clay levantou a cabeça. Qual mulher era ela agora? Desde que deixaram a
pedreira de Schultz, ela tinha estado conversando com seu cavalo, os bois, a pedra
maldita e agora ele. Ela estava se movimentando em torno da carroça como se
alguém tivesse colocado brasas sob seus pés.

— De que lado você acha que Kirk vai estar? — ela repetiu.

Lentamente, ele desdobrou o corpo cansado e se dirigiu para a carroça.


Tocou o lado da rocha na extremidade da carroça. — Provavelmente vou fazer
disso a base, então... acho que vou esculpir o cavalo e cavaleiro aqui.
Meg correu para o lado da carroça, para longe do fogo. — Eu não posso vê-
los.

— Vai ver quando eu terminar.

Ele começou a se afastar. Ela correu para o outro lado. — E eu vou estar aqui?

— Acho que sim. — Ele esfregou a mão para cima e para baixo de sua
bochecha áspera. — Se não quiser dormir no chão, é bastante pequena para ser
capaz de se enroscar no banco da carroça.

— Vai dormir agora? — ela perguntou.

— Não, senhora, pretendo manter a vigília.

Meg assistiu conforme Clay serpenteou de volta para a árvore. Ele sentou no
chão e pressionou as costas contra o tronco. Não parecia nem um pouco interessado
no granito agora que o tinham adquirido. Ela deveria ter comprado o mármore. Pelo
menos a conversa deles carregava uma faísca quando estavam em desacordo.

Ela subiu na carroça e organizou os cobertores no banco. Acalmando suas


mãos, olhou para o granito. Era apenas um pedaço de pedra e, ainda assim, ela era
atraída para ele. — Que sentido...

Ela parou de falar quando Clay jogou a cabeça para trás. Ele olhou em volta.
— O que?

— Você está bem? — ela perguntou.

— Estou bem.
Vendo como ele esfregou os ombros contra a árvore antes de olhar
vagamente para o fogo, duvidou de suas palavras. Ela estava tão emocionada com a
pedra, que tinha dado pouca atenção a qualquer outra coisa.

Pouco depois que eles montaram o acampamento, ele foi em busca de caça.
Ela ouviu o tiro de seu rifle encher o ar três vezes, mas ele retornou ao
acampamento de mãos vazias. Ela mergulhou em seus suprimentos escassos,
preparou alguns biscoitos e aqueceu uma lata de feijão. Lembrando-se da maneira
como ele devorou a refeição simples, sem gosto, teve a sensação de que o sono não
foi a única coisa que ele tinha ficado sem na noite anterior.

Ela pensou em voltar para a primeira noite que eles acamparam. Será que ele
tinha dormido, então? Lembrou-se de que algum tempo tinha passado depois de sua
explosão, antes que ela ouvisse novamente a faca raspar a madeira. Ela ouviu o
som em seus sonhos. Teria o som ficado com ela à noite toda? — Você dormiu
desde que começamos esta viagem?

— Não preciso dormir muito.

Meg reuniu os cobertores e pulou para fora da carroça. Ela marchou por todo
o espaço estreito que os separava e deixou cair os cobertores em seu colo. — Vá
dormir. Eu vou manter a vigília.

Balançando a cabeça, ele empurrou os cobertores. — Você não vai chamar


se precisar de mim.

Pela primeira vez, ela notou as sombras escuras sob os olhos que estavam
lutando uma batalha perdida para permanecerem abertos. — É por isso que você
ficou no beco em frente ao hotel na noite passada?
Deslizando os dedos entre os botões de sua camisa, ele esfregou seu peito. —
Acho que você tem motivos para pensar que tem como se defender, mas eu
morreria antes de deixar você sofrer qualquer dano.

Desconcertada por suas palavras e um pouco atrapalhada, Meg agasalhou um


cobertor. — Aqui, deite-se e durma antes de ficar doente.

— Cuidado, Sra. Warner. Pode me fazer pensar que se importa.

— Com você? Nem um pouco, mas eu dei apenas as economias da vida de


Kirk para esse pedaço de rocha que você queria desesperadamente, de modo que é
bem melhor cuidar de si mesmo até que o transforme no monumento que me
prometeu. Depois disso, não me importo se você cair morto.

— Verdade seja dita, você provavelmente preferiria que eu caísse morto.

— Absolutamente.

Ele deu um sorriso cansado. — Eu não vou usar isso contra você, se você
não for tão honesta comigo.

Ela parou a agitação com os cobertores. Por que acelerava seu coração
quando ele brincava com ela assim? — Eu nunca quero que você duvide de onde
está comigo. — Ela deu um tapinha no cobertor. — Agora, durma um pouco.

— Eu posso ficar quatro dias sem dormir. — Ele estendeu-se no chão e ela
empurrou o cobertor dobrado sob sua cabeça. Ele bocejou. — Fiquei cinco dias
uma vez.

— Porque você deveria necessitar fazer isso? — ela perguntou em voz baixa,
mas duvidava que ele tivesse ouvido a pergunta.
Seu rosto estava relaxado, seus cílios escuros tocando suas bochechas. Seu
longo cabelo castanho tinha caído na testa.

Ele não tinha se barbeado recentemente, e sua barba parecia lançar uma
sombra sobre seu rosto.

O cabelo facial no rosto de Kirk nunca tinha sido tão grosso, mas, então,
Kirk nunca fora tão velho, nunca chegara a esta fase da masculinidade. Estudando
Clay enquanto dormia, ela se sentiu como se tivesse sido casada com um menino
em vez de um homem.

A última vez que ela olhou para o marido, este estava preenchido com a
exuberância da juventude. Em sua mente, o homem que havia caído com as armas
da União era o mesmo homem que a beijou profundamente e riu com a perspectiva
da derrota.

Em seu coração, ele seria sempre o jovem confiante de vinte anos de idade,
que adorava pregar peças.

Mas, além das colinas, ele tinha envelhecido... por dois anos.

Ele teria mudado tanto quanto o homem que agora dormia no chão?

Como um mapa antigo, o rosto de Clay estava bem cansado e forrado com
caminhos percorridos pela tristeza e dor. E talvez de arrependimentos.

Timidamente, Meg afastou o cabelo longe de seus olhos. Perguntou-se sobre


as circunstâncias que moldaram esses sulcos profundos.

Contra sua vontade, ela ficou intrigada. Se Clay, que não tinha lutado
batalhas, tinha mudado a tal ponto nos anos que esteve longe de Cedar Grove,
como Kirk deveria ter mudado. Seu rosto teria mantido mais linhas, mostrado a sua
profunda convicção à Causa, refletido seu verdadeiro caráter.

Com uma profunda tristeza, ela percebeu que o homem a quem ela entregou
a bandeira confederada provavelmente não era o mesmo homem que morreu em
Gettysburg.

***

Lentamente, laboriosamente, Clay abriu os olhos. Ela estava dormindo ao


lado dele. Bem, ela não estava exatamente ao lado dele. Se estendesse a mão, não
achava que ele seria capaz de tocá-la, mas estava perto o suficiente para ouvir sua
respiração e até mesmo ver o fraco brilho do fogo refletido em seu rosto de marfim.

E ela roncava, assim como Kirk lhe dissera. Era um ronco suave que lhe
lembrava da forma como um gatinho ronronava, contente após a sua barriga estar
cheia de leite morno.

Ela riu suavemente, e seus ombros tremeram ligeiramente. Ele levantou-se


em um cotovelo e olhou para ela. Em sua boca se formou um sorriso doce.

Kirk não tinha contado a ele sobre isso. O riso veio novamente, derramando-
se sobre ele com sua inocência. O sorriso abrandou seu rosto, e ele supôs que o
sonho, ou o que quer que lhe dera um breve momento de felicidade, tinha passado.

Sentando-se, ele desenrolou o cobertor que havia servido como seu


travesseiro e espalhou-o sobre ela. Ela era uma péssima guarda noturna. Se ela
dormia apesar de seu próprio riso, provavelmente dormiria com alguém vagando
pelo acampamento.

Estendendo-se ao seu lado, ele olhou para o horizonte. O amanhecer em


breve iria expulsar a escuridão. Sabia que deveria levantar-se e encontrar algo para
comerem, mas nunca tinha visto uma mulher dormindo. Ele supôs que deveria
achar chato. Afinal, ela não estava fazendo nada. Mas, mesmo enquanto dormia,
Meg o fascinava. Lentamente, ela abriu os olhos e sorriu suavemente. Clay sofreu
por todos os sorrisos suaves que tinham sido negados a ele com o passar dos anos, e
se preparou para o momento em que ela percebesse exatamente para quem estava
sorrindo. — Bom dia — disse ela em voz baixa.

A voz de Clay apertou-se em seu pescoço e ameaçou estrangulá-lo. Ela


estava, sem dúvida, ainda sonhando e pensando que Kirk estava deitado no chão ao
lado dela. Todo o inferno ia se soltar quando ela despertasse completamente.

Rolando para ficar de costas, ela se arqueou. A boca de Clay estava tão seca
como um deserto.

Virando de lado, ela deslizou a palma da mão sob sua bochecha. — Esta
costumava ser minha época favorita do dia, pouco antes do amanhecer, sabendo
que teria um dia inteiro para desfrutar. —Suspirou melancolicamente. — Agora eu
não me importo se o sol nunca aparecer.

Senhor, ele desejava que ele fosse Kirk. Ele não queria ver o retorno do ódio
aos seus olhos.

Ela virou-se sobre seu estômago e descansou o rosto em seu antebraço. Seu
sorriso cresceu. — Kirk me disse algo sobre você — disse ela.
Ele prendeu a respiração. Ela estava falando com ele, com o amanhecer
vindo ao longo do horizonte, banhando a Terra em um novo dia. Meu Deus, o que
aconteceu enquanto ele dormia? Ficou nervoso ao pensar nisso. — O que ele te
disse? — ele resmungou.

Ele não achava que seu sorriso poderia crescer ainda mais, mas cresceu. —
Eu adoraria dizer-lhe, mas prometi a ele que não faria isso.

— Ele me disse que você fazia isso — disse ele.

— Fazia o que?

— Começar a falar sobre tal coisa dias depois dele ter finalizado o assunto
sobre a tal coisa.

— Kirk realmente disse-lhe um monte de coisas sobre mim, não foi?

Ele assentiu com a cabeça.

— Eu sonhei com ele na noite passada — disse ela, com a saudade atada
através de sua voz.

— Eu percebi que você sonhou.

O sorriso dela se afastou.

— Você riu em seu sono — apressou-se a explicar, querendo agarrar esses


momentos antes dela se lembrar que o odiava.

— Eu ri enquanto estava dormindo?

— Não alto. Suave, como se estivesse desfrutando de alguma coisa.


Seu rosto assumiu um tom mais amável que a alvorada e Clay percebeu que
ela provavelmente estava sonhando com algo que não era absolutamente da sua
maldita conta. Ele pegou sua espingarda e ficou de pé. — Vou encontrar algo para
comermos.

Caminhando para a floresta, pensou sobre o desejo em seus olhos azuis


quando ela mencionou o sonho.

Parou de andar, colocou seu braço ao redor de uma árvore, e pressionou a


testa contra a casca áspera.

Ele gostaria de poder encontrar uma mulher disposta a sonhar com ele.

***

Eles chegaram à fazenda Holland ao crepúsculo. Clay parou a carroça na


frente da casa, a porta se abriu e os gêmeos correram para fora, Lucian andando
atrás deles.

— Deus todo poderoso! — um gêmeo gritou. — Você foi fazer o que para a
Senhora Warner?

Clay desceu da carroça e bagunçou o cabelo do menino. — Meu objetivo é


tentar, mas lembre-se, Josh, que se supõe ser um segredo.

— Nós não temos ninguém para contar —disse Joe quando subiu na roda e
olhou para dentro da carroça.

— Nossa, Sra. Warner, Clay deve gostar muito de você para fazer-te uma
coisa tão grande — disse Josh enquanto se arrastava sobre a outra roda.
Meg sentiu seu rosto quente quando Clay a olhou rapidamente antes de
mover a caixa sobre o banco.

— Trouxe alguns suprimentos — disse Clay quando colocou a caixa para


baixo.

— O que você trocou? — perguntou Lucian. — O relógio do vovô?

— Era meu para fazer o que eu achasse melhor.

— Não teria sido se não tivesse sido um covarde. Se tivesse ido lutar como
os outros homens por aqui, deveria ter sido morto e o relógio, assim como a
fazenda, teriam sido meus. — Ele bateu na caixa. — Eu, com certeza, não o teria
negociado por um saco de farinha.

Afastou-se, acertando tudo no caminho que ele passou até que esteve fora de
vista.

Josh pulou da roda da carroça. — Eu aposto que a caixa não é muito pesada
para eu e Joe levarmos para a casa.

— Eu também aposto que não — disse Clay conforme entregava a caixa para
os meninos. — Abram a boca. — Ele pegou as barras de salsaparrilhas do bolso e
colocou uma na boca de cada menino. Seus olhos se arregalaram quando apertaram
os lábios em torno do doce, murmurando seus agradecimentos antes de irem para a
casa. — Você ganhou isso de todos os lados, não é? — Meg perguntou em voz
baixa.

Clay colocou a mão sobre o granito. — Eu dificilmente noto.

— Por que você fica?


— É a minha casa. Não acho que tudo o que fiz tirou o meu direito de viver
aqui.

Meg discordou. Todos na região discordavam. Se seu plano funcionasse,


Clay acabaria por perceber que tinha de fato perdido o direito de viver ali. —
Quando você vai começar a trabalhar no monumento?

— Preciso levar os bois de volta para Austin. Depois tenho algumas tarefas
por aqui para cuidar. Acho que começarei em uma semana a partir de segunda-feira.

— Vou estar aqui bem cedo.

— Não há muito para ver em um primeiro momento. Tudo o que vou fazer é
lascar o que não preciso.

— Independentemente... vou estar aqui.


Capítulo 7
Envolta na escuridão da madrugada, Meg correu através da propriedade
Holland.

Apenas três dias haviam se passado desde que tinha olhado para o granito
vermelho do Texas, mas não conseguia tirá-lo de sua mente. Em casa, estava
apática e distraída. Queimou o jantar duas noites consecutivas.

Estava tentada a dizer ao pai e a Daniel sobre o monumento, mas temia a


reação deles.

Normalmente, se um pai descobrisse que sua filha estava sozinha com um


homem, ele apontaria a arma para o homem e lhe ordenaria que casasse com sua
filha. Se o pai dela descobrisse que ela tinha viajado sozinha para Austin com Clay,
ele apontaria seu rifle em Clay e atiraria.

Quando Clay terminasse o monumento, ela poderia explicar tudo para que
eles entendessem quão sábio seu plano tinha sido. Até aquele momento, no entanto,
o monumento e tudo associado a ele teria que permanecer em segredo.

Enquanto se aproximava do galpão, a emoção correu por suas veias com a


atração do proibido. Prendendo a respiração, pressionou seu ouvido contra a porta.
Não conseguia ouvir nenhum movimento do outro lado, mas, então, esperava ouvir
o silêncio.
Tinha planejado essa excursão com extremo cuidado. Argumentou que Clay
precisaria de um dia para descarregar a pedra e outro para retornar os bois para
Austin. Talvez dois. Ele precisaria de pelo menos dois dias para montar de volta
para casa na mula e não estaria de volta até esta noite ou amanhã de manhã.

Estava segura.

Empurrou a porta que rangeu em protesto contra a intrusão prematura. Parou


e olhou por cima do ombro, seu olhar correndo entre a casa e o celeiro.

Nada se movia.

Escorregou para dentro do local.

E não pôde ver nada.

Fazendo caretas quando as dobradiças guincharam mais alto, ela abriu mais a
porta. Lentamente, seus olhos se acostumaram à escuridão ainda pairando no
galpão. Como se fossem cobertores de inverno, sombras cobriam tudo. Ela mal
conseguia discernir a forma do grande objeto no centro do galpão, mas era a única
coisa que importava. Parecia maior, com quatro paredes cercando-o. Ela queria
desesperadamente ver nele o que Clay viu debaixo da superfície.

Caminhou em direção a ele, bateu contra algo duro e gritou quando a dor
ricocheteou através de sua canela.

— Ajuda se abrir as janelas — uma voz profunda soou atrás dela.

Meg gritou, tropeçou no objeto e caiu de cara no chão. Respirando


pesadamente, ela se virou e olhou para o homem na porta, delineado contra o
amanhecer que se aproximava. Ouviu-o engolir o riso. — Maldito! O que você está
fazendo aqui?
Preguiçosamente cruzando os braços sobre o peito, Clay encostou-se no
batente da porta — Eu moro aqui.

Meg ficou de pé, tocou sua parte traseira, e inclinou o queixo. — Você disse
que levaria os bois de volta para Austin. Não há nenhuma maneira daquela mula
velha de vocês poder ter chegado de volta aqui tão rapidamente.

— Você está certa sobre isso. Lucian se ofereceu para levar os bois de volta
para Austin.

— Quão generoso ele foi. Eu não esperava que ele fizesse um favor a você.

— Não acho que ele tenha considerado isso como me fazer um favor. Acho
que viu uma oportunidade de sair da fazenda por alguns dias. — Ele descruzou os
braços. — Ajuda se você abrir as janelas.

Ele desapareceu da porta. Ouviu-o dizer a alguém para ajudá-lo a levantar as


persianas. Ela gemeu. Obviamente, os gêmeos estavam esperando por perto para
descobrir quem estava dentro do galpão. Como se ela fosse uma criança pequena,
Meg queria correr para casa e esconder o rosto debaixo do travesseiro. Gemidos e
rangidos encheram o galpão quando ranhuras de luz apareceram na parede.
Lentamente, a luz da manhã filtrou através da fenda alargada.

Puxando uma corda, Clay tornou-se visível de um lado da janela. Xingando


do outro lado, os gêmeos se esticaram para aumentar a abertura da janela.

Quando a abriram totalmente, colocaram a corda do lado de fora. Em seguida,


os gêmeos se inclinaram através da grande janela aberta. Ela perguntou-se se todos
os meninos tinham sorrisos que chegavam de uma orelha à outra.
— Nós certamente estamos contentes em saber que foi você que vimos, Sra.
Warner. Pensamos que fosse um fantasma. Quase nos matou de susto.

Meg desejou ser um fantasma, para que pudesse transformar-se em névoa e


desaparecer.

Clay afagou os meninos sobre os ombros. — Vamos lá, vamos para o outro
lado.

Eles levantaram as persianas que cobriam as janelas sobre os dois lados


restantes. Uma brisa soprou através do local e o sol afugentou as sombras.

Ao longo de uma parede, a pedra aparecia por debaixo de cobertores


esfarrapados. Prateleiras cobriam as paredes inferiores do outro lado do local. Ela
podia ver agora que tinha tropeçado em um banquinho extremamente curto, com
quatro pernas amplas ligadas a um topo quadrado, que não chegava nem ao seu
joelho. Podia imaginar que não era de muita utilidade.

— Isso ajuda? — Clay perguntou da porta.

Ela se perguntou se ele era educado com todos os invasores ou apenas com
aqueles que o divertiam. Desejou que ele soltasse aquele sorriso que estava lutando
para segurar e acabasse com isso.

— Isso ajuda muito. — Andando na ponta dos pés, ela girou lentamente,
com os braços estendidos. — Eu quase me sinto como se estivesse do lado de fora.

— Papai o construiu para termos um lugar onde trabalhar. Parece que as


pessoas sempre morrem quando chove e mamãe não gostava de toda a poeira que o
corte na rocha trazia. — Ele se virou para ir embora.

— Onde você está indo? — ela perguntou.


Ele olhou por cima do ombro. — Terminar as nossas tarefas e deixá-la fazer
o que quer que te trouxe na ponta dos pés até aqui para fazer.

— Só vim olhar o granito.

O sorriso dele se soltou. — Sim, senhora, eu percebi.

Ele saiu, com os gêmeos seguindo de perto em seus calcanhares.

Meg sentou-se no banquinho curto e ficou olhando para eles. Clay tinha o
sorriso mais bonito que ela já vira.

Seus pequenos sorrisos de diversões tinham sido uma distração. Seu sorriso
de pura alegria era devastador. Teria que prestar mais atenção às suas ações para ter
certeza de que não lhe daria ainda mais motivos para sorrir.

Com essa resolução escondida, levantou-se do banco e olhou para a rocha.


Nada havia mudado.

Já não estava certa do por que veio ou o que exatamente esperava ver.
Estreitou os olhos. O monumento estava enterrado em algum lugar dentro dessa
pedra.

Tocou a superfície áspera, ansiosa para ver Kirk novamente. Talvez Clay
estivesse tão ansioso quanto ela para ver o monumento concluído e disposto a
começar a trabalhar hoje, em vez de esperar pela segunda-feira. Afinal, os dois
estavam aqui.

Caminhou até a casa, entrou na varanda, e, sem ser notada, espiou pela porta
aberta. Clay estava agachado diante da lareira. Como se fossem suportes de livros
correspondentes, os gêmeos se agachavam em cada lado dele.
— Será que o marido da Sra. Warner matou pessoas? — perguntou um dos
gêmeos.

Clay respirou fundo. — Sim ele matou.

— Você acha que ele gostou de matar pessoas? — perguntou o outro gêmeo.

— Ele não gostou nada disso.

— Ele te disse isso? — Meg perguntou da porta.

Clay se levantou batendo com a cabeça em cima da lareira de pedra, virou-se,


tirou o avental que estava usando e acenou o atiçador para ela. — Eu tenho uma
ferramenta na minha mão!

Os gêmeos rolaram no chão, como se fossem pequenos besouros que se


enrolavam em uma bola sempre que fossem tocados. Suas gargalhadas ecoaram
pela casa.

— Eu não conseguia ver nada além de suas costas. Não sabia que você tinha
alguma coisa em sua mão. Além disso, pensei que você estava referindo-se a
ferramentas de escultura. Não sabia que precisaria ter certeza de que não teria
absolutamente nada em suas mãos antes de falar com você.

Um gêmeo parou de rir. — Hey, Clay, você está sangrando.

O sangue escorria lentamente ao longo da têmpora de Clay. Ele tocou a


cabeça e fez uma careta. — Estou bem.

Meg entrou na casa. — Deixe-me ver.

Ele amassou o avental e apertou-o contra a cabeça. — Eu estou bem.


Ambos os gêmeos olharam, a preocupação claramente refletida em seus
rostos jovens. — A deixe olhar, Clay. Não queremos que você morra diante de nós.

— Eu não vou morrer. — Carrancudo, ele moveu o avental para longe de sua
cabeça.

— Você é muito alto. Vai ter que se abaixar para que eu possa ver — disse
Meg.

— Talvez você é que seja baixa.

— Ninguém nunca reclamou do meu tamanho.

— Ninguém reclamou sobre minha altura.

— Quantas pessoas falaram com você?

Ele abaixou a cabeça, mas não antes de Meg ver que sua provocação tinha
cortado mais profundo do que pretendia. Ela assumiu que ele não estava
incomodado pelas pessoas na área evitarem-no. Ele continuou a frequentar a igreja,
exceto que se guardava tanto quanto o tinha feito antes da guerra.

A mãe de Kirk sempre tinha usado o silêncio como sua arma quando estava
com raiva de alguém. Meg lembrava o quanto doeu à primeira vez que a mulher se
recusou a falar com ela. Teria preferido gritos ao invés do silêncio sinistro. Tinha
assumido que a dor era mais profunda porque envolvia a família.

Talvez Daniel estivesse errado. Clay não precisava ter seus punhos batendo
em seu rosto para sentir seu ódio.

Seu silêncio punia com a mesma eficácia.


Gentilmente, Meg separou seu cabelo até que pudesse ver a ferida. — Isso é
um corte profundo. Você tem uma agulha e linha? Eu poderia costurá-lo.

Ele se endireitou. — Não necessita ser costurado.

— Você poderia usar a agulha e linha que Clay estava usando para concertar
o buraco na minha camisa — um dos gêmeos ofereceu.

— Este corte precisa de pontos — ela insistiu.

Ele apertou sua mandíbula. — Bem. — Ele atravessou a sala, caiu em uma
cadeira de frente para a mesa, cruzou os braços sobre o peito, e sentou-se imóvel
como se tivesse se tornado uma das suas estátuas.

O gêmeo correu às pressas para uma cesta de costura ao lado de uma cadeira
e orgulhosamente pegou a agulha e linha.

— Qual de vocês, você é? — perguntou Meg.

— Josh — disse ele, com o rosto radiante.

— Eu nunca vou ser capaz de distinguir.

— É fácil. Joe tem mais sardas.

— Eu não — Joe disse quando subiu na mesa.

— O que você está fazendo? — perguntou Clay.

— Eu nunca vi alguém ser costurado antes.

— Não é diferente de costurar pano, então, saia daqui.

Josh se mexeu sobre a mesa. — Ah, Clay, deixe a gente dar uma olhada.
— Você pode fazer a Sra. Warner ficar nervosa, e ela vai acabar costurando
a ponta da minha orelha na minha cabeça.

Rindo, os gêmeos socaram um ao outro no braço. Em seguida, ficaram sérios.


— Será que vamos deixá-la nervosa, Sra. Warner? — perguntou Joe.

Ela sorriu. — Não. Você tem algum uísque?

— Não, senhora — disse Clay.

Cautelosamente, Meg levantou os fios de seu cabelo para o lado. — Bem, o


sangue provavelmente irá umedecer a ferida.

— Provavelmente.

— Isso pode doer — disse ela em voz baixa.

— Isso deve te fazer feliz — disse ele.

Ele estava certo. Ela podia espetar a agulha um pouco mais profundo do que
o necessário, passá-la mais lento do que o habitual e prolongar seu sofrimento.
Respirou profundamente para firmar os dedos e enfiou a agulha através de sua
carne.

Ele não vacilou. Se Meg não o conhecesse, pensaria que ele tinha se
transformado em pedra.

— Deus todo poderoso! Ela enfiou a agulha diretamente em sua cabeça Clay.
Olha, Joe, todo esse sangue parece um rio vermelho que escoa através de uma
floresta de cabelo. Isso não é legal?

Joe sentou e deixou as pernas balançarem ao longo da beira da mesa. — Eu


acho que vou vomitar.
— Faça-o do lado de fora — ordenou Clay com os dentes cerrados.

Então, ele não tinha se transformado em pedra, afinal.

— Isso não dói, Clay? — perguntou Josh. — Eu estaria gritando...

— Então vou me certificar de nunca abaixar a cornija sobre a lareira.

O menino sorriu. — Sra. Warner, você vai tomar café da manhã com a gente?
Nós teremos biscoitos de novo. — Seus olhos se encheram de alegria com a
perspectiva. — Você pode comer o do Clay.

— Ou talvez eu só vá roubar o seu — disse ela, enquanto seus dedos


agilmente trabalhavam para fechar a ferida.

— Ele não pegará um.

— Por que não? — perguntou Meg.

— Ele nunca come muito, a menos que pegue um pouco de dinheiro ou cace
algo grande. Então, ele come como se tivesse dois ventres para preencher.

— A Sra. Warner não está interessada em meus hábitos alimentares — disse


Clay acentuadamente, mas seu tom não tirou o sorriso do rosto de Josh.

Meg tinha uma sensação de saber por que ele comia bem, quando a comida
era abundante. O homem provavelmente não comia nada quando pouco enfeitava
sua mesa. Ela teve um impulso irracional de golpear-lhe na cabeça.

— Tudo pronto — ela disse enquanto cortava o fio.

— Eu agradeço.
— Eu não poderia ver você sangrar até a morte diante de mim. Quem iria
fazer o meu monumento?

Ele olhou para ela e sorriu levemente. — Certo.

— O que é esse cheiro horrível? — perguntou Josh. — Você vomitou, Joe?

— Não, eu não vomitei. Eu engoli de volta.

Clay saiu da cadeira e correu para a lareira. — Droga. — Pegando um pano,


puxou a panela de biscoitos de uma prateleira situada na parede da lareira.

— Eles parecem piores do que os que comemos ontem — disse Josh.

Clay bateu na carga enegrecida. — Eles estão piores.

— Acho que a culpa é minha — disse Meg.

— Não é culpa de ninguém — disse Clay. — Simplesmente aconteceu.

— Ainda assim, me sinto responsável. Vou fazer uma outra fornada.

— Aposto que ela pode fazer bons biscoitos, Clay. Vai deixá-la fazer?

— Eu suponho que sim. — Ele colocou a panela em cima da mesa e se


dirigiu para a porta. — Eu já comi, então apenas faça algo para os gêmeos.

— Onde você está indo? — perguntou Meg.

— Tenho tarefas para terminar. — Ele saiu da casa.

Meg sorriu para os gêmeos. — Não tenho certeza se me lembro como fazer
apenas dois biscoitos.
***

Clay nunca tinha conhecido uma tortura que pudesse ser tão doce.

Os dedos de Meg tocando levemente seu couro cabeludo tinha enviado calor
que fluiu através de seu corpo, descendo até suas botas.

Desejou que ela tivesse levado mais tempo em vez de se apressar com o
trabalho, mas sabia que ela não queria tocá-lo por mais tempo do que o necessário.

Parte dele queria que ela nunca o tocasse.

A maior parte dele desejava que ela nunca tivesse parado.

Colocou a mão contra o granito. Estava acostumado com a sensação de pedra


bruta ralando contra as palmas de suas mãos. Imaginou que cada centímetro de
Meg seria diferente de tudo o que ele já tinha tocado. Ela provavelmente era macia,
suave e tão quente como o verão do Texas.

Um par de vezes, enquanto estava costurando-o, o peito dela havia chegado


perto de encostar-se a sua bochecha. Ele tinha prendido a respiração, não certo do
que faria se ela realmente encostasse contra ele. O momento nunca veio, então só
poderia imaginar o que poderia ter sentido.

Ele bateu na pedra. Ele deveria ter prestado atenção em Josh, não nas curvas
de Meg. O menino tinha uma tendência a falar demais, contando seus pensamentos
e o de todos os outros. Como resultado, dissera a Meg muito mais do que Clay teria
gostado. Quantos biscoitos ele cozinhava não era da sua maldita conta.

Ele caminhou ao redor da pedra, arrastando os dedos sobre a superfície


arenosa. Todas as manhãs, vinha para o galpão e abria as janelas para deixar entrar
os primeiros raios de sol. Então, tocava o granito, tendo a sensação da textura
áspera sob suas mãos ásperas. Passara horas imaginando onde iria primeiro colocar
seu cinzel, o quanto ia bater o martelo. Pensou sobre o som do crack inicial e
quanto cortar antes que, na verdade, começasse a moldar as figuras.

Uma dúzia de vezes pegou suas ferramentas com as mãos firmes. Tocou o
cinzel, então a rocha, estudando o ângulo, determinando como a pedra iria reagir ao
assalto. Podia ver cada movimento em sua mente e ficara tentado a começar a
desbastar as partes indesejadas da pedra.

Mas se absteve porque Meg queria assistir.

E agora as palmas de suas mãos suavam tanto que ele não achava que seria
capaz de obter uma boa aderência em suas ferramentas.

Caminhou até a mesa baixa onde as guardava. Passou a mão em torno de um


cinzel e sentiu-o deslizar através de sua palma. Fechou os olhos. Não queria
decepcioná-la. Queria que este monumento fosse tudo o que ela achava que poderia
ser... e muito mais.

Abrindo os olhos, olhou através dos campos. Que ela situasse seu julgamento
nele não o incomodava. Que ela pudesse situar seu julgamento nos seus esforços
dentro do galpão incomodava-o.

Baixou o olhar e viu como dedos delicados empurravam um prato sobre a


mesa. Deslizou seu olhar sobre Meg. — Eu disse que já tinha comido.

Ela encolheu os ombros inocentemente. — Estou acostumada a cozinhar para


três. Além disso, a julgar pelo peso de seus biscoitos, eu diria que você usou muito
mais coisas do que eu. Escrevi a minha receita em um pedaço de papel e deixei-a
na mesa da sala. — Ela bateu no prato. — Kirk sempre gostou de biscoitos com
mel. Então, coma. Você não pode se dar ao luxo de desperdiçar nada por aqui.
Ele inclinou seu quadril contra a mesa e pegou o prato. Mordeu o biscoito
encharcado de mel quente e quase gemeu. — Isto é melhor do que o que você
cozinhou no caminho de volta de Austin.

— Ajuda ter bicarbonato e leite.

— Bicarbonato?

Ela assentiu com a cabeça rapidamente e os cantos de sua boca se levantaram


ligeiramente.

Ele enfiou o resto do biscoito na boca. Não contando o que mais ele não
tinha colocado na massa, que supunha que deveria ter feito.

— Imagino que você não vai começar a trabalhar no monumento hoje? —


ela perguntou.

Ele colocou o prato de lado. — Estava pensando sobre isso, já que você está
aqui. — Dispersou uma pilha de papéis sobre a mesa. — Tenho estudado a rocha
desde que a trouxe para casa, tentando vê-la de todos os lados, a partir dos cantos, a
partir do topo, o fundo.

Ela pegou um pedaço de papel. — E você acha que isso é como se parece no
interior?

— É o que preciso fazer parecer do lado de dentro.

Ela levantou os olhos do desenho e Clay capturou seu olhar. — Você


entende? — ele perguntou.
— Você olha para as coisas tão intensamente — disse ela com espanto. —
Toda vez que você olha para algo, qualquer coisa, a rocha, os gêmeos, eu... olha de
forma tão intensa que é quase assustador.

— Sinto muito. Não sabia que fazia isso.

— Eu sei. Kirk me disse que você não olha para o mundo como todo mundo.
Ele disse que quando olhou para mim, viu uma menina bonita, mas quando você
olhou para mim, viu linhas, curvas e ângulos que eram bonitos. Você olha para as
coisas tão intensamente, porque você tenta descobrir exatamente o que é que as faz
parecer da maneira que são.

Ele balançou a cabeça em concordância. — Olho muito.

— Quando estávamos crescendo, odiava quando você olhava para mim.

Ele baixou o olhar para o chão. — Não tive a intenção de ofendê-la assim...
ou de qualquer outra forma.

— Já não me incomoda que você olhe as coisas tão intensamente.

Ele se atreveu a levantar o olhar para o dela. — Não?

Ela balançou a cabeça e pegou o primeiro desenho que ele tinha esboçado
para ela. — Você se lembra de tudo porque os estuda. Assim é exatamente como
Kirk me pareceu da última vez que o vi. — Ela sustentou seu olhar.

— Como ele parecia da última vez que você o viu?

Clay sentiu como se um cinzel tivesse atravessado seu coração. Viu seu
queixo tremer e ele não podia lhe contar a verdade.
— Você o viu quando ele lhe entregou as cartas? Como é que ele se parecia,
então?

Ele passou os dedos pelos cabelos, fazendo uma careta quando bateu no corte
que ela tinha reparado. — Cansado. Ele parecia cansado.

— Estava magro?

— Todo mundo estava magro. Eles estavam tendo dificuldades em obter


suprimentos. — Ela parecia tão malditamente frágil tentando fingir que não estava
doendo. Ele nunca tinha esperado que Meg parecesse frágil. — Tinha crescido uma
barba nele.

— Uma barba? Eu não posso imaginar Kirk com uma barba.

Ele ofereceu-lhe um pequeno sorriso. — Bem, não era muita barba.

— Era tão loira como o seu cabelo?

— Um pouco mais escura.

— Isso o fez parecer mais velho?

— Consideravelmente — disse ele, embora soubesse que era a guerra que


tinha envelhecido seu amigo.

Suas mãos apertaram seu projeto sobre o papel até os nós dos dedos ficarem
brancos. — Será que ele... ele ainda acreditava na Causa?

Clay assentiu. Ele não queria machucar Meg, mas as palavras de Kirk
ecoavam em sua mente.
Você estava certo. Não há nenhuma glória em estar na guerra. Eu só quero
ir para casa, mas os malditos ianques não nos deixam.

— Você acha que ele estava com medo de morrer? Quero dizer, quando a
morte chegou, você acha que ele teve arrependimentos?

— Ele acreditava no direito de um Estado se separar para governar a si


próprio. Isso é pelo que ele estava lutando. Ele sentiu que valia a pena morrer por
suas crenças, por isso eu não acho que ele se arrependeu de dar a sua vida como fez,
mas eu imagino que se arrependeu de não ser capaz de abraçá-la novamente.

Lágrimas correram de seus olhos e Clay se perguntou como ele poderia ter
dito algo tão estúpido. Ele quis tranquilizá-la, mas não sabia nada sobre o tipo de
palavras que as mulheres queriam ouvir. As lágrimas se derramaram sobre suas
bochechas e ele pensou que iria se afogar nelas. Deu um passo em direção a ela,
hesitou, depois saiu do local.

Em descrença, Meg viu-o sair. Ela caminhou até o banquinho, sentou, e


escondeu o rosto entre as mãos.

Chorou com uma força que causou dor a seu peito e ombros. Havia crescido
barba em Kirk e ela nunca tinha visto.

Sentiu um leve toque em cada ombro e levantou o rosto coberto de lágrimas.


Os gêmeos olhavam para ela com preocupação refletida em seus olhos.

— Clay disse que você estava precisando de conforto — disse um deles.


Apertou-lhe o ombro. — Disse que era para dar isso a você.
O outro gêmeo tirou um pedaço de pano sujo do bolso e estendeu-o para ela.
— Só soprei meu nariz nele uma vez, e foi há muito tempo atrás. Você está
convidada a usá-lo. Eu não me importo.

Meg aceitou a oferta e usou a parte mais limpa para enxugar as lágrimas do
rosto. Ela forçou um sorriso trêmulo quando entregou o pano de volta para ele.

— Obrigada.

Balançando a cabeça, ele enfiou a mão no bolso — Nós não temos muita
experiência em dar conforto, mas quando eu estou me sentindo triste por não ter
mãe, Clay me faz fechar os olhos e pensar um pouco sobre ela. Ele diz que há um
toque do céu em nossos corações, então nossa mãe sempre está com a gente,
mesmo que não possamos vê-la.

— Seu irmão diz algumas coisas inteligentes, não é?

— Sim, senhora, mas ele não pode fazer biscoitos que valham a pena.

***

Sentado em um velho toco de árvore ao lado da casa, Clay lutava contra a


vontade de voltar para o galpão. Queria envolver seus braços em torno de Meg,
deitar sua cabeça em seu peito e confortá-la. Em vez disso, enviou os gêmeos para
ela.
Talvez ele fosse um covarde depois de tudo, pois fora o medo que o fizera
sair, temendo que, se a tocasse, ela o esbofetearia novamente, e ele desmoronaria
em milhares de pedaços de nada.

Parou de esculpir sua madeira.

Ele tinha as mais feias malditas mãos de todo o Estado. Quando era um
menino, elas tinham sido grandes demais para seus braços magros e ele sempre se
sentira como um cachorro vira-lata esperando que crescessem suas patas grandes.
Sempre que possível, ele as manteve socadas profundamente em seus bolsos.

Agora, tinha crescido, mas suas mãos ainda pareciam muito grandes. As
palmas calejadas pelos anos de trabalho sobre a rocha abrasiva. Quando ele as
relaxava, as veias e músculos continuavam a manter-se como uma cadeia de
montanhas sem graça.

Mas elas eram mais feias quando ele esculpia. Quando segurava ferramentas
e as apertava ainda mais, tudo em suas mãos e antebraços se tencionavam
visivelmente com seu esforço.

Não podia imaginar qualquer mulher gostando de mãos tão grandes ou tão
ásperas como as suas tocando-as. Sabia que suas mãos repeliam Meg, não só por
causa da maneira como pareciam, mas por causa do que elas não tinham feito.

Suas mãos nunca tinham matado um homem.

Viu seus pequenos pés entrarem e levantou o olhar para o dela. — Você está
bem?

Ela assentiu com a cabeça. — Obrigada por enviar os gêmeos para mim.

— Eles sempre parecem saber a coisa certa a dizer.


— Eles sabiam exatamente o que dizer.

— Eu acho que é porque as crianças não pesam suas palavras antes de dizê-
las. — Ele colocou a faca no toco e se levantou. — Acho que seria melhor se eu
esperasse até amanhã para começar a trabalhar no monumento.

Ela enxugou uma lágrima do rosto. — Tudo bem, vou voltar amanhã.

— Abrirei o galpão cedo, então não terá de se esgueirar.

Ela forçou um sorriso trêmulo. — Não estava pensando em esgueirar-me.


Vejo você na parte da manhã. — Ela virou-se para sair.

Parando, olhou para ele.

Ele estendeu a escultura de madeira em direção a ela. — Assim foi como seu
marido parecia no dia em que me disse que ia se casar com você. Pensei que
poderia querer isso.

Ela tomou a oferta e a estudou. — Ele não poderia ter mais do que doze.

— Isso soa certo.

— Por que você está me dando um presente?

— Não é um presente. É apenas algo que esculpi e agora não tenho nenhum
uso para ele. Se você não quiser, pode jogá-lo fora. Não faz diferença para mim.

— É nisso que você estava trabalhando quando viajamos para Austin?

— Sim, senhora.

Ela deslizou seus dedos sobre as pequenas feições que ele tinha esculpido.
Então estendeu-o em direção a ele. — Eu não posso tê-lo.
— Por que não?

— Porque não somos amigos. Nunca seremos amigos. Se eu aceitar isso, eu...
— Ela balançou a cabeça. — Eu não sei. Eu só sei que não posso tê-lo.

— Considere-o como o pagamento pela costura da minha cabeça. Eu sei que


não é muito, considerando que eu quase sangrei até a morte, mas é tudo o que tenho
para negociar. A escultura pela minha vida. Considerando o valor que você coloca
sobre a minha vida, é provavelmente um negócio justo.

— Será que não te incomoda que eu odeie você?

Enfiou as mãos nos bolsos e, encontrando seu frio olhar azul, ele disse
baixinho: — Isso me incomoda muito.

***

Meg olhou para a terra onde os filhos e filhas de Mama Warner outrora
trabalharam e cultivos tinham florescido. Um por um, seus filhos tinham partido
para construir suas próprias casas e colher os seus próprios sonhos. Em abundância,
as flores silvestres tinham recuperado os campos parados.

Pouco depois de seu retorno de Austin, com uma forte necessidade de contar
a alguém sobre o granito e o monumento, confidenciara à Mama Warner. Sabia que
a avó de Kirk não julgaria suas ações e iria entender seus motivos.

Ela viera ali hoje para saborear e partilhar a sua primeira vitória, mas só
compartilhara a escultura de Kirk que Clay lhe dera. Não sabia por que, mas não
podia se gabar sobre a dor que tinha visto refletida nos olhos de Clay quando ele
respondeu à sua pergunta.
Baixando o olhar, tocou a pétala de uma flor delicada que Mama Warner
tinha plantada em uma caixa de madeira. Kirk tinha feito a caixa para sua avó
quando tinha dez anos. Clay tinha esculpido as flores nos galhos, modelado a
madeira e pintado elas de azul.

Em todo lugar que Meg olhava, topava com suas vidas, entrelaçadas.

— Você gosta de minha grama de búfalo? — perguntou Mama Warner.

Enxugando as lágrimas de suas bochechas, Meg virou e sorriu para a avó de


Kirk. Ela se tornara frágil desde a guerra. Seus netos e dois de seus filhos haviam
virado cinzas. Apenas um neto havia retornado, mas foi à morte de Kirk que quase
tinha quebrado o espírito da mulher. Ela sempre fora mais próxima de Kirk.

— Elas se parecem com bluebonnets3 — disse Meg.

— Anos atrás, quando eu era jovem e cheia de sonhos, assisti a pilhagem de


búfalo sobre as ervas daninhas azuis que revestiam as colinas. Eu não vejo um
búfalo há um bom tempo, mas sempre tenho a minha grama de búfalo.

Ela apertou a escultura de madeira contra o peito. — E agora, quase tenho o


meu neto de novo.

Rapidamente, Meg atravessou a sala e se ajoelhou ao lado da cadeira de


balanço. — Eu não queria incomodá-la com a escultura.

A mulher mais velha tocou um dedo nodoso no rosto de Meg. — Ah, criança,
lembranças não me chateiam. Elas são tudo o que tenho em meus anos de inverno
para me manter aquecida. — Ela arrastou o dedo ao longo da escultura de Kirk. —
Eu quase posso ver suas sardas. Kirk as odiava e Clayton sabia disso, mas ainda

3
N.T.: Planta com flores azuis.
colocou a sombra delas aqui. Ele sempre esculpe o que ele vê. Honestidade é uma
falha naquele menino. Você notou as sardas?

Meg sorriu. — Não, senhora, eu acho que eu não olhei tão de perto.

— É apenas uma pequena diferença no sombreamento. Ao longo dos anos,


Clayton tornou-se hábil em esculpir. Quando ele era criança, me trazia coisas e me
pedia para adivinhar o que eram. Eu disse uma nuvem, uma vez, e era um porco.
Quase quebrou seu coração. Não que ele me deixasse saber disso, é claro, mas seus
olhos não apenas veem mais do que a maioria. Eles também dizem mais do que a
maioria. Mas você tem que olhar de perto. Você já olhou de perto, Meg?

— Eu tento não olhar para ele. Eu o odeio e tudo o que ele representa.

— Você disse com muita força.

— Porque o meu ódio por ele é forte.

— Ou não é forte o suficiente? Você aceitou seu presente...

— Eu só aceitei porque ele não o queria e achei que você gostaria de tê-lo.
Eu certamente não quero.

— Mas é igual à Kirk quando era um menino.

De pé, Meg levantou as mãos para enfatizar seu ponto — Ele fez isso. Eu
não posso tê-lo.

Mama Warner recostou-se na cadeira de balanço. — Mas você pediu a ele


para fazer-lhe um monumento.

Meg foi até a janela e olhou para as flores que a natureza havia criado,
tentando ignorar as flores que um menino tinha feito. — Isso é diferente. O
monumento não é para mim especificamente. É para servir como punição para ele,
e vai servir como um memorial para os outros.

Ela ouviu o rangido suave da cadeira de balanço. Às vezes, desejava que


fosse pequena o suficiente para rastejar no colo de Mama Warner enquanto ela a
embalava. Olhou por cima do ombro e viu a mulher mais velha tocar lentamente
cada linha e curva da escultura.

— Eu diria que Kirk tinha uns doze anos, quando era assim — Mama
Warner disse.

Retornando ao lado da mulher, Meg colocou a mão sobre a dela, desfigurada


por sobreviver a anos de luta.

— Isso é o que ele disse.

— Ele? Será que nem mesmo pode dizer o nome dele para mim?

— Falar o nome dele me enjoa.

— E ainda assim você pretende passar os próximos dias em sua companhia.

— Então, eu poderei testemunhar seu sofrimento.

— A vingança tem uma maneira de se modificar, doce Meg. — Mama


Warner tocou suavemente a ponta do seu dedo em uma lágrima que se agarrava
tenazmente à pestana de Meg. — Você não é a única que vai sofrer?

De maus modos, Meg bateu na lágrima. — Eu cometi o erro de perguntar a


ele sobre Kirk. No futuro, não vou falar com ele.

— Vai vê-lo trabalhar em silêncio? Às vezes, o silêncio pode ser tão alto.
Lembra-se de como chorou quando a mãe de Kirk não quis falar com você?
— É por isso que eu sei que vai ser um castigo adicional para ele.

— Você sente fortemente sobre isso, não é?

— Sim, senhora. Eram todos tão jovens, tão corajosos, cheios de convicção.
Eles foram homens de honra. Ele os traiu quando não os apoiou.

— E você acha que ele vai reconhecer suas falhas quando trabalhar sobre
este monumento?

— Se ele não o fizer, sofrerá no momento em que ele esculpir cada nome na
pedra. Ele terá que enfrentar a memória de cada homem de novo.

— E quando ele acabar?

— Então faremos uma homenagem a todos aqueles que deram suas vidas
pela Causa.

— Um tributo feito por vingança. Vai ser interessante ver se este monumento
se tornará o que você imagina; ver o quão profundamente sua punição será cortada
em sua alma. Você vai me trazer a minha caixa?

Meg sabia da caixa. Ela ficava em um canto ao lado da janela. Kirk a tinha
feito, usando cedro. O cheiro circulou Meg quando empurrou a caixa pelo chão até
a cadeira de balanço.

Inclinando-se para frente. Mama Warner esfregou os dedos sobre os


bluebonnets que Clay tinha esculpido na tampa.

Seus ralos cabelos brancos caíram sobre seu rosto e ao longo de seus ombros
como se fossem rendas delicadas. Ela levantou a tampa e cuidadosamente colocou
a escultura de Kirk dentro da caixa. — Chegará um dia em que te direi que leve
essa caixa para casa com você. Você fará isso sem me questionar. Esta caixa e as
coisas dentro dela são para você.

— Não quero a escultura que ele fez.

— Virá um dia em que você vai querê-la. Quando se é jovem, se deseja as


coisas no futuro, mas, quando se é velho... se deseja as coisas do passado.

— Esta caixa deveria ir para os seus filhos.

— Se Kirk não tivesse morrido, esta caixa teria ido para ele. Ele a amava.
Ele quer que você a tenha. Eu quero que você a tenha e vou pedir-lhe para levá-la
antes que eu morra, para que meus filhos não se preocupem em brigar por isso. Vou
estar deixando-os por aqui para lutar. Eles são Texanos e Texanos certamente
desfrutam de suas lutas.

— Nem todos os Texanos.

— Não podemos orientar a conversa para longe de Clayton. Por que isso? O
que ele disse para fazer você chorar?

Meg sentiu as lágrimas frescas bem dentro de seus olhos. — Ele me disse
que tinha crescido uma barba em Kirk. — Ela encostou o rosto contra o joelho de
Mama Warner. — Isso doeu. Doeu saber que ele viu Kirk depois de mim e sabe
coisas sobre Kirk que eu não sei.

Mama Warner passou suavemente os dedos pelo cabelo de Meg. — Eu sei,


filha.

— Eu o odeio ainda mais porque suas memórias de Kirk são mais frescas do
que as minhas.
— Memórias não envelhecem, Meg.

Levantando o rosto, Meg encontrou o olhar azul da mulher mais velha, um


olhar que muito se assemelhava ao de Kirk. — Não, mas elas desaparecem.
Capítulo 8
Meg colocou o prato de bacon em cima da mesa e sentou-se. Seu pai sentou-
se à cabeceira da mesa. À sua esquerda, duas cadeiras permaneciam vazias. À sua
direita, estava outra cadeira vazia. Cada uma servia como um lembrete dos jovens
que outrora trabalhavam nos campos ao lado de Thomas Crawford.

Meg estava sentada diante de Daniel no final da mesa, mais próxima de onde
sua mãe tinha se sentado, nos treze anos desde a morte de sua mãe, apenas a poeira
e a carícia suave de um pano tinham tocado a cadeira de sua mãe.

Esperando tranquilamente enquanto seu pai e Daniel colocavam a comida em


seus pratos, lembrou-se das brincadeiras que tinham sido tão abundantes quanto à
comida. As conversas agradáveis durante as refeições tinham partido com seus
irmãos.

Daniel moveu o bacon pelo prato antes de levantar seu olhar azul ao dela. —
Um pouco queimado, não é, Meg?

Ela inclinou o nariz. — Eu gosto dele enrolado.

— Pensei ter ouvido você se movimentar no meio da noite — disse o pai.

Ela começou a mexer em seu prato. Tinha levantado uma hora mais cedo e
pensava ter sido silenciosa enquanto se movia pela casa. — Eu queria terminar
minhas tarefas cedo. Pensei em ir visitar Mama Warner hoje.
Seu pai se inclinou para trás, mastigando seu alimento tão intensamente
quanto ele parecia estar estudando-a. — Você tem gastado um monte de tempo
com Mama Warner à tarde.

— Ela está envelhecendo. Não estou certa de que ela vai ficar com a gente
por muito mais tempo e eu quero recolher um pouco de sua sabedoria.

Balançando a cabeça, seu pai voltou para a sua refeição. Com dedos trêmulos,
Meg pegou o garfo. Não gostava de mentir para o pai, mas temia que ele fosse
pegar seu rifle, se lhe dissesse que estava planejando passar o dia na companhia de
Clay.

— Vamos trabalhar nos campos de Sam Johnson esta semana, se você


precisar de nós.

A escassez de homens capazes para trabalhar nos campos era uma


dificuldade que as famílias locais haviam superado através de cada um trabalhar
nos campos do outro. Com seu pai e Daniel trabalhando em outras fazendas, eles
raramente chegavam em casa antes do anoitecer.

Como esposa de Kirk, ela tinha se acostumado à sua independência. Tinha


sido um ajuste quando ela se mudou de volta para casa, mas agora seu pai não
esperava mais dela do que uma refeição pela manhã, uma refeição ao pôr do sol,
roupas limpas e uma casa arrumada. Embora, sem dúvida, estava certa de que
poderia manter todos os seus afazeres e ainda gastar uma boa parte do dia
assistindo ao trabalho de Clay.

— Você precisa de um marido.

Meg levantou a cabeça e olhou para seu pai.


— Você precisa de um marido e filhos para ocupar o seu dia, não uma velha
— disse ele.

— Quem iria se casar com ela? — Daniel perguntou. — Ela não quer se
casar com o Reverendo Baxter. Ele nem sequer se preocupou mais em convidar-se
para o jantar. Todos os outros homens por aqui são ou anos mais velho ou anos
mais jovem, exceto pelo covarde e, caramba, eu sei que Meg não está interessada
nele, não do jeito que ela olha para ele durante o culto na igreja. Estou surpreso que
ele não explodiu em chamas.

A mesa balançou quando Thomas bateu com o punho sobre ela. — Por Deus,
eu não quero falar daquele homem na minha casa. — Ele olhou para as cadeiras
vazias em cada lado dele, os maxilares cerrados. — Ele virou as costas para os
meus filhos. Por Deus, deveria tê-lo enforcado no dia que nossos filhos partiram.
— Levantando-se de sua cadeira, ele saiu da casa, a porta batendo em seu rastro.

Acostumado às explosões de seu pai, Daniel simplesmente empurrou o prato


para frente e colocou os braços sobre a mesa, inclinando-se ligeiramente. —
Alguns de nós estão pensando que talvez deveríamos por alcatrão e penas no
covarde.

— O que isso deveria fazer? — Meg perguntou, arrancando os olhos da porta


que vibrava.

— Poderia fazê-lo sair desta área. Toda vez que há um bom vento, traz o
cheiro do seu medo soprando através dos campos.

— Isso não é o suficiente — disse Meg calmamente. — Daniel, você se


lembra quando você tomou a gaita de Michael sem pedir?
Daniel baixou o olhar para a mesa e acenou com a cabeça. — Sim, e eu a
perdi.

— Será que ele pôs alcatrão e penas em você quando ele descobriu?

— Não, ele só me deu aquele olhar de cachorro dele e fez eu me sentir


culpado como o inferno por perder seu bem mais precioso.

— E você ainda se sente culpado por isso, porque entendeu o que tirou de
Michael. O covarde da cidade precisa entender que ele traiu o meu marido e nossos
irmãos para que possa ter o conhecimento e a dor com ele para o resto de sua vida.

— Como podemos fazê-lo entender isso? Eu, com certeza, não vou dar-lhe
um olhar de filhote de cachorro.

Olhando para o seu rosto sério, ela estava tentada a dizer-lhe sobre o
monumento, mas Daniel ainda não tinha adquirido a paciência que vinha com a
idade. Não achava que ele iria entender os motivos por trás do monumento. Não
queria correr o risco de que ele ou seu pai fossem tentar impedi-la de assistir ao
trabalho de Clay. — Eu não sei — disse ela em voz baixa. — Mas tenho certeza de
que há um jeito.

***

Meg sentiu a dor familiar em seu coração quando assistiu à corrida dos
gêmeos em direção a ela, cada um tentando se distanciar do outro. Ela não sabia
como poderia perder algo que nunca tinha tido, mas perdeu ter seus próprios filhos.
Desmontando, sorriu e esperou por eles chegarem até ela.
— Bom dia, Sra. Warner! — clamaram enquanto corriam atrás dela, a
circulavam e galopavam de volta, sem fôlego de seus esforços.

Ela bagunçou o cabelo vermelho de ambos. — Bom dia.

— Quer nos dar o seu cavalo? — um deles perguntou.

— Vocês sabem como cuidar de um cavalo?

— Sim, senhora. — Os olhos dos meninos brilharam. — Clay nos ensinou


ontem à noite. Não é muito diferente de cuidar da mula. Clay disse que cuidar do
cavalo de uma senhora era a coisa cavalheiresca a se fazer, e ele quer que a gente
cresça e nos tornemos cavalheiros. Disse que é importante saber como tratar uma
mulher. — Ela entregou as rédeas para os gêmeos e eles começaram a caminhar em
direção ao galpão.

— Tivemos biscoitos novamente esta manhã — um dos gêmeos continuou.


— Clay deve ter usado sua receita porque ficaram melhores do que os que ele
cozinhou antes. Claro, eles ainda não ficaram tão bons quanto os seus, mas
chegaram muito perto.

— Ele fez três?

— Sim, senhora. Ele certamente o fez. Claro, ele provavelmente vai deixar
de comer um se Lucian chegar em casa.

— Quando Lucian estará em casa?

— Talvez amanhã. Talvez nunca. Antes de sair, ele golpeou Clay.

Meg olhou para a criança. — Bateu nele?

— Sim, senhora. Você sabe o que Clay fez? — Ela balançou a cabeça.
— Apenas se levantou do chão, limpou o sangue de sua boca e perguntou a
Lucian se ele se sentia melhor.

— Ele se sentiu melhor?

— Não, senhora. Achamos que ele se sentiu pior. Ele andou ao redor do
celeiro durante todo o dia. Então Clay perguntou se ele queria ficar longe por
alguns dias. Lucian saltou sobre essa ideia como uma mosca em um estrume de
vaca e lá foi ele com os bois. — Ele deu de ombros. — Mas não sei se ele voltará.

— Tenho certeza que ele vai voltar — disse ela, tentando incutir convicção
em suas palavras quando não estava nada certa.

O ódio de Lucian por Clay rivalizava com o dela.

— Nós certamente esperamos que sim porque vamos precisar dele na hora da
colheita. Nós plantamos uma quantidade para render este ano. Lucian plantava o
suficiente para nós comermos porque não temos nenhuma ajuda com os campos.
Mas Clay disse que se todos nós trabalharmos um pouco mais, poderíamos ter
algum dinheiro extra vendendo o excedente. Então, nós plantamos alguns hectares
extras. Quando colhermos, vamos ficar quase ricos e teremos biscoitos todas as
manhãs.

Meg olhou por sobre os campos sulcados. A área cultivada dos Holland
sempre fora pequena em comparação com a de todos os outros. O pai de Clay tinha
mais interesse em pedra do que no solo.

O gêmeo falante parou de andar e a comitiva parou. Ele inclinou o rosto para
trás para que pudesse encontrar o olhar interrogativo de Meg. — Você não vai dizer
a Clay que eu praguejei ontem, quando eu estava falando sobre seus biscoitos, não
é? Ele diz que não podemos praguejar até que tenhamos dezesseis anos. Se nós
praguejarmos antes, ele vai lavar nossas bocas com sabão. E nunca deveríamos
praguejar na frente de uma senhora. Ontem, aquele 'maldito' apenas saiu da minha
boca e, então, eu não poderia engoli-lo de volta.

— Acho que não vou dizer-lhe sobre isso.

— Bem, se você decidir que tem que dizer a ele, basta lembrar que eu sou
Joe.

— Claro que não é! — o outro gêmeo gritou, expressando seus pensamentos


pela primeira vez.

— Eu sou. Você pode até mesmo contar minhas sardas. Você vai ver que eu
tenho mais.

Ele se esticou para que ficasse na ponta dos dedos dos pés descalços e ela
pôde ver as sardas mais claramente. A partir do canto do olho, ela assistiu o outro
gêmeo lutar com seu dilema: provar que ele era Joe sem confessar ter a maioria das
sardas.

— Eu não vou dizer a ele — disse ela.

— Jura de coração?

Meg desenhou uma cruz sobre seu coração. — Juro de coração.

— Veja, Joe. Eu sabia que ela não gostaria que sua boca fosse lavada com
sabão.

— E se você estivesse errado? Você foi o único que disse 'maldito', não eu.
— o gêmeo mais silencioso afirmou.
— Mas eu não estava errado. Vamos, Sra. Warner. Clay está te esperando no
galpão. Ele está lá desde o amanhecer. Acho que pensou que você viria cedo
novamente esta manhã.

Ela queria estar aqui de madrugada, mas esperou até que seu pai e irmão
tivessem partido para os campos.

Eles raramente voltavam para casa antes do anoitecer, portanto ela não
estava preocupada com eles perceberem sua ausência durante o dia. — Ele
começou a cinzelar a pedra?

— Não, minha senhora, mas eu acho que ele esteve tentado. Ele continua
pegando suas ferramentas, mas, em seguida, apenas as coloca de volta para baixo.

Eles se aproximaram do galpão, e os gêmeos se afastaram dela. — Não se


preocupe com o seu cavalo — disse Josh, sorrindo.

Ela observou os gêmeos e o cavalo desaparecerem. Respirando fundo, entrou


no galpão.

Clay estava ao lado da mesa baixa. O vento bagunçou seu cabelo, arrastando-
o ao outro lado da gola de sua camisa de flanela gasta. Ele limpou as mãos em suas
calças. — Bom dia.

Apertando os lábios, segurando sua saudação, ela inclinou a cabeça


ligeiramente.

— Pensei em começar esta manhã — disse ele.

— É por isso que estou aqui.


Balançando a cabeça, ele voltou sua atenção para a mesa, pegou uma
ferramenta e abaixou-a.

Ele olhou para fora da janela.

Tocou as ferramentas.

Olhou para fora da janela novamente.

Meg não estava familiarizada com os implementos. Ferramentas que se


chocavam com pedra eram um pouco diferentes daquelas que se chocavam com a
terra, mas ela sabia que, para Clay usá-las de forma eficaz, ele tinha que segurá-las
por mais tempo do que levava para espirrar.

Ela cruzou os braços sob os seios. O homem deve ter tido aulas na sua mula
em movimento.

Ele caminhou lentamente ao redor do granito, estudando-o como se só agora


o tivesse visto. Parou e olhou para ela de pé na soleira da porta. — Vou pegar uma
cadeira para você.

Com passos largos, ele deixou rapidamente o galpão. Estupefata, Meg olhou
ao redor. Ela poderia ter sentado no banquinho vazio situado no canto.

Ele retornou momentos depois e posicionou uma cadeira de madeira dura,


apoiada por baixo da soleira. Meg pegou-a, levou-a para mais perto da pedra e
sentou.

— Seria melhor se você se sentasse ao lado da porta — disse Clay.

— Por quê?

— Porque quando eu começar a trabalhar, pó e pedra voarão por toda parte.


— Eu vou me arriscar.

— Bem.

Ele foi para fora de novo, deixando Meg a olhar para a porta. Ela enxugou as
palmas das mãos suadas ao longo de sua saia.

Clay entrou carregando um pedaço de pano vermelho. — Este foi do meu pai.
Está limpo. Você pode amarrá-lo em torno de seu rosto. Cubra seu nariz e boca,
para que não respire toda a poeira.

— Você tem um?

Balançando a cabeça, ele puxou um pano semelhante de seu bolso.

— Então eu acho que estamos prontos — disse ela.

— Sim, senhora. — Ele caminhou até a mesa e pegou um instrumento com


uma extremidade partida.

— O que é isso? — perguntou Meg.

— Um cinzel. — Ele levantou uma ferramenta que se parecia com um prego


grande. — Este é um ponto.

Meg amaldiçoou sua curiosidade, mas não conseguiu resistir a ela; se


levantou da cadeira e caminhou até a mesa. — Por que você os tem em tamanhos
diferentes?

— Eu uso os maiores no início, quando eu estou desbastando partes da pedra


que não preciso. — Ele tocou as ferramentas menores que tinham pontas mais
delicadas ou menores extremidades partidas. — Uso estes quando estou
trabalhando nos detalhes.
— Você também tem diferentes martelos.

Ele segurou um martelo com entalhes pontiagudos em ambas as


extremidades. — Uso este para bater o cinzel no granito. — Baixou-o e acenou
com a mão sobre os martelos restantes que tinham extremidades planas. — Uso os
martelos mais pesados no início, então vou usando os martelos mais leves.

— Como é que você aprendeu quando usar cada ferramenta?

— Ao cometer erros. — Ele limpou as mãos na calça. — Você está com sede?
Posso pegar-lhe um pouco de água do poço.

Ela balançou a cabeça. — Não, estou bem.

— Avise-me se quiser um pouco de água.

— Avisarei.

Ele tocou o cinzel maior. — Acho que vou beber um copo de água antes de
começar.

Clay saiu do galpão e atravessou o pátio. Com movimentos rápidos que


lembravam os disparos de uma arma Gatlin, girou a manivela e trouxe o balde do
fundo do poço. Colocou-o sobre a borda de pedra e mergulhou sua cabeça na água
fria.

Durante toda a noite, tinha planejado o momento em que desbastaria seu


primeiro pedaço de pedra e certamente não esperava ser distraído por madressilva.
A condenada fragrância flutuava em torno de Meg como uma nuvem baixa em uma
manhã enevoada. Sabia que ela não usava o perfume para ele. Era apenas o hábito
de tomar banho naquilo ou jogá-lo em seu corpo ou o que diabos ela fizesse para
provocar as narinas de um homem.

Manteve sua cabeça submersa até que achou que seus pulmões explodiriam
por falta de ar. Sacudiu a cabeça para fora, respirou fundo e jogou a cabeça para
trás, passando os dedos pelo cabelo, cuidando de evitar o local que ela havia
costurado no dia anterior. Passou as mãos sobre o rosto, se perguntando quanto
tempo levaria para o cabelo secar para que não se parecesse com um gato afogado.
Ainda não tinha considerado que teria que explicar...

— Você está nervoso? — ela perguntou silenciosamente atrás dele.

Clay quase pulou sobre o poço. Se virou.

Ela levantou um dedo para silenciar o seu protesto. — Você não tem
nenhuma ferramenta em suas mãos.

Com um sorriso triste, ele suspirou e sentou-se na beira do poço. — Eu


nunca fiz nada grande antes, ou algo que fosse tão importante.

— Eu discordo. A lápide da minha mãe foi importante.

— Foi um pouco diferente e muito menor.

— Mas você está acostumado a esculpir granito. Você sabe como a rocha vai
responder ao seu toque.

Ela olhou para suas mãos e ele lutou contra enfiá-las nos bolsos. Ele não
poderia trabalhar com as mãos nos bolsos e nem usando luvas. Ela passaria muito
tempo olhando para suas feias mãos grandes. Quanto mais cedo aceitasse isso,
melhor.
Ela levantou os olhos para ele. — Como você sabe por onde começar?

— Você já fez uma colcha? — ele perguntou.

— Claro que sim. Que mulher não fez?

— Bem, sabe quando você pega todos os pequenos pedaços e os costura


juntos? É como se você estivesse construindo algo. Eu faço o oposto. Eu pego algo
que está acabado, como a rocha, e raspo sua superfície para revelar o que há dentro.
— Ele passou as mãos pelos cabelos. — Isso não faz sentido.

— Sim, faz. Você está tentando definir como começar.

Ele sorriu. — Sim, acho que sim, embora isso não soe muito excitante.

— Que figura você vai trabalhar em primeiro lugar?

— No começo, vou trabalhar em todo o monumento.

— Eu não entendo como você pode trabalhar em toda a coisa quando é tão
grande. Eu pensei que você fosse trabalhar com ele em partes.

— Eu trabalho em camadas. Vê a sua sombra? — Ela olhou para a silhueta


que se esticava atrás dela. — Não é sua verdadeira forma, mas é o suficiente para
que uma pessoa possa dizer, olhando para a sua sombra, que você é uma mulher.
Eu tento imaginar que a sombra do monumento será semelhante de todos os lados,
e concentro-me nas imagens. Em seguida, uso os formões e pontos de maior
dimensão para criar a sombra do monumento na pedra. Quando eu tiver tudo em
forma de modo que se assemelhe a uma sombra, vou mudar para as ferramentas
menores e trabalhar nos detalhes.

— Como você sabe se está fazendo certo?


Ele baixou o olhar para o chão. Ele não sabia; não saberia até que o
monumento fosse concluído. — Eu cometi uma porção de falhas. — Ele levantou
os olhos para ela. — Quer vê-las?

Os olhos dela se arregalaram de espanto. — Os seus fracassos?

Ele assentiu com a cabeça.

— Você os manteve?

— A maioria deles, para que eu pudesse descobrir o que fiz de errado.

— Onde estão?

Ele sorriu. — No cemitério.

— Não é um cemitério típico — disse ele, enquanto caminhavam à frente da


casa, a uma área onde nogueiras forneciam uma sombra fresca da manhã. — É
apenas um lugar onde as minhas ideias morreram.

Meg andou cuidadosamente em torno de formas estranhas de pedra que


apareciam através das flores silvestres.

— Papai o usava para descartar as pedras quando terminava com elas, então,
dessa forma, não comecei com as de melhor qualidade. — Ele se ajoelhou na
grama alta e moveu as ervas daninhas para o lado. — Esta foi à primeira coisa que
eu já tentei esculpir. Acho que eu tinha uns oito anos — Olhou para ela. — O que
você acha que é?

Ela esperava que um menino de oito anos de idade não estivesse cravado
dentro dele esperando que ela adivinhasse o que ele havia criado. Não se importava
se feriria o homem, mas não queria machucar a criança. Fez uma careta. — Uma
nuvem?

Ele abriu um largo sorriso. — Uma tartaruga. Foi uma ideia boa para
começar porque é plana e ficaria no chão, então eu não tinha que me preocupar
com apoiar qualquer peso.

— O que você aprendeu com sua tartaruga?

Ele arrastou o dedo ao longo de uma fissura na rocha. — Quando comecei a


cortar as linhas em seu exterior, defini um ponto estreito. Então fui para cima e para
baixo e sua ponta tocou a rocha. Quando eu bati a extremidade plana do ponto com
o martelo, o metal rachou a costa da tartaruga. Aprendi a trabalhar sempre em um
ângulo que não quebre a pedra. — Inclinando-se, ele puxou uma outra rocha em
uma posição ereta. — Este...

— Um coelho! — Meg sorriu triunfante quando ela se ajoelhou ao lado dele.

Ele soltou o coelho que caiu, enterrado novamente na grama alta. — O


coelho não vai sentar-se porque o seu peso não está uniformemente distribuído.

— Poderia ter ajudado se você tivesse lhe dado duas orelhas.

— Eu tentei. — Ele enfiou a mão na grama e pegou um pedaço quebrado de


pedra. — Eu fiz o topo de sua orelha pontiaguda, e daí eu a alarguei para fora.
Assim pareceria como se ele estivesse ouvindo. Depois voltei para onde seu ouvido
iria se juntar a cabeça.

Ele descreveu a orelha com os dedos enquanto falava. Mesmo quando não
tinha ferramentas em suas mãos, esculpia as imagens com as mãos. Ela poderia
imaginar um coelho alerta sentado no campo, ouvindo o som de um predador.
Ele fechou o polegar e o dedo indicador em um círculo ao redor da base da
orelha. — Mas eu me empolguei com a escultura e fiz esta parte muito estreita. Não
poderia suportar o peso da orelha acima dela. É um som ensurdecedor quando você
ouve o estalo da pedra e não está segurando ferramentas.

— Como é que vai evitar que isso aconteça com o monumento?

— Eu não vou dar orelhas a ninguém.

Meg não soube por que riu. Talvez tenha sido a imagem de duas pessoas e
um cavalo sem orelhas, ou talvez fosse o jeito de Clay lutar para parecer sério. Ele
sorriu, e ela balançou a cabeça. — Estou falando sério. Parece que o monumento
poderia desmoronar muito facilmente. Mas como o seu marido não tinha orelhas
grandes, acho que nós faremos dar tudo certo.

— O que vai parar as pernas do cavalo de estalarem com o seu peso?

Um sorriso de agradecimento iluminou seu rosto e Meg sentiu um fluxo de


prazer a percorrer.

— Você está certa. As pernas são o problema. — Com as duas mãos, ele
juntou as pontas de seus dedos para formar um campanário e espalhar as palmas. —
Não vai ser aparente, mas o monumento será parecido com uma pirâmide de todos
os lados. Vai ser estreito e mais detalhado no topo. Quando chegar perto da base,
vou deixar mais pedra no lugar. Não planejo escavar a área entre as patas traseiras
do cavalo. Vou manter a pedra lá para que ela possa atuar como apoio para o peso
acima.

— Não vai parecer estranho?


— Não penso assim. Felizmente, o cavaleiro e a mulher irão capturar a
atenção de todos, e ninguém vai se importar com o cavalo. Vou esculpir o flanco do
cavalo e o lado de fora de suas pernas. Esculpirei os detalhes na cauda, mas vai
servir como apoio, também. Vou fazê-la a partir da base, de modo que vai parecer
como se o cavalo estivesse saindo da pedra. Farei a mesma coisa com a bandeira.
Seus braços estarão levantados, mas a bandeira ficará pendurada até a base, então
você não estará realmente segurando a bandeira. A bandeira estará apoiada em seus
braços levantados.

— Você prevê algum problema em me esculpir?

— Nenhum, desde que você não tenha grandes... — seu olhar esvoaçou aos
seus seios pouco antes dele desviar os olhos e ficar vermelho — orelhas.

Ele pegou a orelha do coelho e jogou-a para o lado. Ela esfregou a tartaruga.

Assistindo as bochechas de Clay ficarem carmesim, Meg sentiu uma


maldade crescer dentro dela. — É por isso que você está me usando no monumento?
Porque eu tenho pequenas... orelhas?

Ela pensou que ele ia saltar algumas pedras. Ele passeou ao redor até que
localizou uma pequena pedra. Jogou-a na direção das árvores. — Suas orelhas são
perfeitas. Sua forma...

Ela o viu lutar para falar sem desenhar imagens dela no ar com as mãos.

— É perfeita. É por isso que eu estou te usando como modelo.

— Você não acha que as minhas orelhas... são pequenas demais?

Suas bochechas ficaram tão vermelhas, que Meg se surpreendeu por elas não
se acenderem em chamas.
— Não, eu não acho que elas são muito pequenas.

— Então, você não vai ter nenhum problema para entalhar minhas... orelhas?

— Não, eu não vou ter nenhum problema para entalhá-las.

— Eu não gostaria de acabar aqui.

Ele encontrou seu olhar. — Eu vou fazer de tudo ao meu alcance para
garantir que isso não aconteça.

Ela estudou a abundância de pedra. Cada peça era imperfeita: um perfil caído
sem nariz, um cachorro sem rabo. No entanto, cada uma estabelecia uma
homenagem silenciosa à determinação. Cada uma tinha fornecido uma lição, de
modo que nenhuma era verdadeiramente falha.

— Parece que teria sido menos trabalhoso ir à escola e aprender a ser um


escultor — disse ela.

— Não há escolas na área.

— Kirk me disse que você queria ir para a Europa.

Ele estudou as mãos. — Este foi o sonho de um menino.

— O homem não tem o mesmo sonho? Por que você não foi?

— O momento não era certo. A guerra estava no ar. — Ele deu de ombros.
— Eu tive essa ideia estúpida de que, se eu partisse, as pessoas iriam pensar que eu
tinha ido para evitar a guerra. Pensando que não iriam me receber de volta quando
eu estivesse pronto para voltar. Pensando que se eu ficasse, eles teriam, pelo menos,
respeitado a decisão que eu tomei. — Ele soltou uma risada sem alegria. — Acho
que os últimos anos não saíram da maneira como qualquer um de nós pensava que
seria. — Ele parou. — Vamos ver se eu posso, pelo menos, fazer justiça a este
monumento que você quer.

Conforme ela se levantou e seguiu-o para fora do campo, Meg percebeu que
ele tinha mostrado a ela mais do que um cemitério de pedras quebradas e um lugar
onde suas ideias tinham morrido. Ele havia mostrado a ela um lugar de sonhos
desfeitos.

Ela observou como Clay andava com mais confiança para o galpão. Seu
cemitério de pedra não era muito diferente de outros cemitérios. Ela sempre
ganhava força de suas visitas ao local de descanso de sua mãe.

Talvez ele ganhasse força das suas esculturas passadas.

Ele amarrou o lenço sobre o nariz e a boca, caminhou até a mesa, passou os
dedos em torno de um grande cinzel, e ergueu um martelo. — Acho que vou
começar. Melhor você cobrir o nariz e a boca.

Sentada na cadeira, Meg esticou o lenço em volta do rosto e deu um nó atrás


de sua cabeça. Ela sentiu a excitação se elevar até que era quase uma presença
física. Ele empurrou o banquinho que ela tropeçou no dia anterior para um lado do
granito e subiu nele, nivelando seus olhos com o topo da rocha.

Ele passou a mão sobre o canto. Então, pousou seu olhar sobre ela. — Agora
é quando você tem que ficar quieta.

Balançando a cabeça em compreensão, Meg moveu seu traseiro na cadeira.


Queria ficar naquele banco com ele para que pudesse ver a pedra da perspectiva
dele. Infelizmente, não achava que o banco era grande o suficiente para os dois. Ela
teria de envolver os braços em volta dele para se apoiar. Relutante, admitiu que ela
teria que se contentar com seu atual ponto de vista. Ele colocou o cinzel para que
tocasse a pedra em um ângulo. Em seguida, balançou o martelo para que batesse
contra a extremidade plana do cinzel. Um estrondo de uma rachadura ressoou em
torno dela. Ele moveu o cinzel um pouco e bateu novamente. Meg ouviu outro som
de rachadura. Ela prendeu a respiração. Ele balançou o martelo com outro
movimento fluido e o som do granito rachando abafou o zunido do metal. Ela
observou o lado da pedra lascada atravessar o ar e aterrissar perto de seus pés.

Clay puxou a bandana para baixo, pulou fora do banco, ajoelhou-se,


recuperou a pedra caída e estendeu-a na direção dela. — Você pode guardar a
primeira parte como uma lembrança.

Meg baixou o lenço e estudou a rocha que mal cobria a palma de sua mão. —
É tão pequeno. Eu esperava que você tirasse pedaços enormes.

— Uma vez que eu o tiro, não posso colocá-lo novamente, então só tiro um
pouco de cada vez.

Ela olhou para o enorme pedaço de granito assentado no meio do galpão.


Depois, olhou para o pequeno pedaço de pedra repousando em sua palma. — Vai
levar uma eternidade para terminar o monumento.

— Não. Acho que um par de anos.

— Anos!

Ele franziu a testa. — Quanto tempo você achou que seria necessário?

— Dois ou três meses.


Encostado na rocha, ele cruzou os braços sobre o peito. — Por que a
quantidade de tempo faz diferença para você?

Meg se levantou e começou a andar entre a cadeira e a porta. — Não


esperava que fosse demorar tanto tempo. Estou ansiosa para as pessoas verem o
monumento.

— Você poderia contar-lhes sobre ele.

— Não! — Ela soltou abruptamente. — As pessoas não entenderiam.

— Elas não entenderiam você querer um monumento para homenagear seus


filhos mortos?

— Elas não entenderiam eu falando com você, a minha presença neste


galpão, colocando meu pé em sua terra. Eles pensariam que eu o perdoei por sua
covardia, e eu certamente não fiz isso. — Ela foi até a cadeira e sentou-se. —
Apenas volte ao trabalho.

— Você quer me dizer o motivo real pelo qual você pediu para fazer este
monumento?

Agarrando o granito, Meg o sentiu queimando em sua palma. — Por favor,


basta voltar ao trabalho.

Ele colocou suas ferramentas no banquinho, caminhou até a cadeira, e


ajoelhou-se diante dela. — Apenas me diga o que é que você quer, Meg, e eu te
darei. Vou trabalhar até minhas mãos sangrarem, até minha alma sangrar, mas não
vai trazê-lo de volta. Não posso dar-lhe a vida que você tinha antes da guerra.
Meg fechou os olhos para evitar seu olhar intenso. Ela não queria olhar nos
olhos castanhos que diziam que ele já tinha sofrido. Ela não queria saber sobre seus
sonhos, ou seus fracassos, ou coelhos com apenas uma orelha.

— A guerra enfraqueceu o Sul — disse ele em voz baixa. — Não deixe que
ela enfraqueça você.

Abrindo os olhos, ela ergueu o queixo. — Eu dificilmente estou fraca. Só


não esperava passar os próximos dois anos da minha vida em sua companhia, mas
se esse é o preço que tenho que pagar para ter o monumento, vou pagá-lo.

Um canto de sua boca se inclinou para cima, e ela pensou que,


provavelmente, iria acertá-lo se ele sorrisse de novo.

— Ah, então estar na minha companhia por um tempo tão longo é o que está
incomodando você. — Ele levantou seu corpo e caminhou até a pedra. — É um
pedaço de pedra terrivelmente grande. Espero que possa terminar em dois anos. —
Olhou para ela.

— Pode levar três. — Ele pegou suas ferramentas. — Talvez quatro.

— Se você disser cinco...

O brilho provocante deixou seus olhos. O meio sorriso se foi. — Para você,
Sra. Warner, eu vou terminá-lo em um ano.

***

Clay afundou na água quente. O vapor subiu e aspergiu em seu rosto. Ele era
um idiota.
A rigidez já estava se instalando em seu pescoço e ombros, e temia que
pioraria quando acordasse de manhã.

Forçara-se mais do que pretendia, certamente mais do que estava acostumado.


Não tinha balançado um martelo em um ritmo tão constante há um longo tempo, e
amanhã pagaria por isso. Não trabalhara mais rápido, mas trabalhara mais tempo.

Fechando os olhos, ouviu o crepitar do fogo na lareira. Um banho ante um


fogo ardente era um luxo que não havia praticado desde seu retorno para casa.
Quando se banhava, fazia-o em seu quarto, atrás de uma porta trancada, porque
muitas pessoas viviam nesta casa.

Esta noite era uma exceção. Cuidar do cavalo de Meg tinha levado os
gêmeos para fora e eles dormiram cedo. Lucian não havia retornado de Austin.
Clay decidiu cuidar de si mesmo. Além disso, precisava comemorar. Meg Warner
lhe provocou.

Senhor, estava tão envergonhado com o que quase dissera, que quase perdera
o fato de que ela estava brincando com ele. Achou que nunca seria capaz de olhar
para suas orelhas ou suas curvas perfeitamente em forma novamente sem ficar
vermelho.

Supôs que, desde que ela tinha sido casada, sabia como a mente de um
homem funcionava. Supôs que, desde que ela tinha sido casada com Kirk, estaria
confortável com a forma como a mente de um homem funcionava.

Ele desejou entender como a mente de uma mulher funcionava. Em um


minuto ela brincava com ele e no outro se preocupava porque estava indo passar o
tempo com ele.
Erguendo o pé da água, arranhou a lembrança dos grilhões que tinha usado
como um prisioneiro. Ele manteve suas cicatrizes para si mesmo, especialmente
aquelas que não eram visíveis mesmo quando se despia.

Deslizando o pé de volta na água, descansou a cabeça contra a banheira de


madeira e assistiu ao jogo do fogo contra a parede. O que Meg queria?

Ela queria mais do que o monumento dele. Daquilo, estava certo. Supôs que
ela diria a ele quando estivesse bem e pronta. Até então, aproveitaria os poucos
momentos de felicidade que roubava dela, chamando-a de Meg quando ela estava
muito chateada para perceber; provocá-la até que ela brincasse de volta; estar perto
o suficiente para tocá-la.

As dobradiças da porta da frente rangeram quando a trava foi agitada. Clay


parou no meio do caminho para fora da banheira quando a porta se abriu.
Momentaneamente, ele congelou. Em seguida, caiu na água até que as ondas
geradas por suas ações criaram bolhas em seu queixo. — O que você está fazendo
aqui?

Lucian fechou a porta. — Eu moro aqui.

— Quero dizer, você está fazendo o quê de volta aqui hoje à noite?

Ele deu de ombros. — Nenhum dinheiro. Não há nada a fazer em Austin.


Não vejo qualquer sentido em ficar quando aqui, pelo menos, tenho uma cama. —
Ele pegou uma cadeira, puxou-a por toda a sala e sentou-se ao lado da banheira. —
Não percebi que tinha partido há tanto tempo. É sábado já?

— Comecei a trabalhar com a pedra hoje. Estava coberto de poeira. Senti a


necessidade de um banho.
— Você não vai tomar banho a cada noite, não é?

— É assunto seu?

Lucian encolheu os ombros. — Basta saber. Eu nunca ouvi falar de um


homem que tomasse tantos banhos como você tem feito desde que chegou em casa.
É uma maravilha termos água sobrando no poço. — Ele molhou o dedo na água. —
Porra, que água quente.

Clay deu um tapa na mão dele. — Eu gosto dela quente.

— Isso poderia escaldar um homem.

— Por que você não vai para a cama e me deixa em paz?

Lucian esticou as longas pernas à sua frente e cruzou um pé sobre o


tornozelo. — Não estou cansado.

— Então por que não sai para que eu possa lavar-me e sair da água?

— Não estou te impedindo de se lavar. Além disso, já vi sua bunda. — Ele


jogou a água em direção ao rosto de Clay. — Quando você ficou tão malditamente
modesto?

— Eu não tive qualquer privacidade enquanto estive fora. Gostaria de ter


alguma agora que estou em casa.

Lucian raspou suas botas no chão, plantou os pés firmemente em ambos os


lados da cadeira, inclinou-se e apoiou os antebraços nas coxas. — Você nunca fala
sobre o que aconteceu enquanto esteve fora.

— Não há nada para falar.


— O que você fez enquanto esteve fora? Não se sentou em um toco de
árvore e talhou.

— Não, eu não talhei.

— Você não lutou.

— Eu não peguei um rifle e matei homens se é isso que você quer dizer.

— Então o que você fez?

Clay suspirou profundamente. Desde seu retorno, ninguém havia perguntado


o que tinha feito durante todos os anos em que esteve afastado.

Tanta coisa havia acontecido, e ele queria esquecer a maior parte delas —
Eles me mantiveram prisioneiro em um forte, por algum tempo, fazendo qualquer
coisa que os oficiais consideravam "trabalho duro" para encher os dias e as noites.

Lucian estudou o chão entre seus pés. — Você acha que eles teriam deixado
você voltar para casa mais cedo se eu tivesse escrito a eles que mamãe e papai
tinham morrido?

— Provavelmente não.

Lucian olhou para cima, em seguida, baixou o olhar. — Eu pensei em


escrever...

— Não acho que teria feito diferença.

Lentamente, ele balançou a cabeça como se estivesse dando a si mesmo


tempo para contemplar suas próximas palavras. Ele falou com cautela em uma voz
que lembrava a Clay de uma criança, que tenta desesperadamente evitar uma surra
merecida. — Eu não estava com medo. Eu teria lutado, mas eu tinha coisas para
cuidar aqui. Eu não poderia deixar os gêmeos e eu não tinha tempo para escrever...

— Você ficou onde era mais necessário. Ninguém questiona isso.

Lucian saiu da cadeira. — Eu nem mesmo sou como você. Não sou um
covarde. — Ele balançou um braço no ar, como se estivesse perdido em uma
caverna escura e não conseguisse encontrar o seu caminho para a luz do sol. —
Inferno, você nem mesmo se defendeu! Você poderia pelo menos ter me atingido.

— Eu penso que atingi.

— Claro que não. Você não tocou um dedo em mim.

— Então por que você está sofrendo?

Passando as mãos pelos cabelos, Lucian foi em direção à porta. — Cristo, eu


não sei. Dormirei no celeiro hoje — Ele bateu a porta atrás de si.

Clay gemeu quando os gêmeos abriram a porta do quarto e olharam para fora.

— O que diabos está acontecendo? — perguntou Josh.

— Lucian está em casa. Vão para a cama.

Os meninos saíram do quarto para a banheira. — Por que diabos você está
tomando banho? — perguntou Josh. — Não é sábado.

— Me senti sujo depois de trabalhar com a pedra durante todo o dia.

— Nós nos sentimos sujos o tempo todo. Não há nenhuma razão para se
banhar. As pessoas se banham quando elas querem parecer bem para alguém. Está
se refrescando pela Sra. Warner?
— Disse que estava se sentindo sujo? — perguntou Clay.

Os rapazes trocaram olhares.

— Porque se você estiver, vou te colocar nessa água assim que eu sair.

— Não, não estou me sentindo sujo. Não nesta noite.

— Está se sentindo sonolento? Porque se você não estiver, vou colocá-lo


nesta água de qualquer maneira.

Ambos os meninos abriram a boca e bocejaram.

— Vão para a cama — disse Clay.

Os meninos se arrastaram de volta para o quarto e fecharam a porta.

Clay pegou o sabão de soda cáustica e esfregou-se energicamente.


Inclinando-se para o lado, estendeu a mão para a toalha. A porta da frente se abriu e
Clay deslizou de volta para a água.

— Vim para casa para dormir na minha cama — Lucian rosnou. — Por Deus,
eu vou dormir lá.

Bateu a porta da frente e, em seguida, bateu a do quarto que dividia com os


gêmeos.

Clay esperou até que o silêncio enchesse a casa. A água esfriara e o fogo
morrera na lareira antes que ele se aventurasse a sair da banheira.

Comemorar era um empreendimento arriscado nesta casa.


Capítulo 9
Era uma tortura sentar-se em silêncio enquanto Clay trabalhava.

Mil perguntas surgiam na mente de Meg enquanto o observava desbastar a


pedra, pedaço por pedaço. Segurou sua curiosidade e língua porque sabia que, se
interrompesse sua concentração, ele poderia mover o cinzel em um ângulo
incorreto, atingindo mais forte do que deveria, ou bater o martelo onde não deveria.

Mas era um tormento sentar-se perfeitamente imóvel enquanto ele se movia


com aquele ritmo constante, fluido, que nunca vacilava.

Seu corpo magro emanava uma força controlada quando ele repetidamente
balançava o martelo e ajustava o ângulo do cinzel.

Ele tinha arregaçado as mangas, expondo seus antebraços. Meg observou


fascinada como seus músculos se apertavam até que seus braços pareciam tão duros
como a pedra que ele cortava. Suas grandes mãos seguravam o cinzel e o martelo
com um aperto de morte.

Apenas seus olhos castanhos eram visíveis acima do lenço vermelho. Seu
olhar nunca se desviava do cinzel. Suas sobrancelhas grossas, escuras, se uniam
acima da ponta do nariz para formar um sulco profundo em sua testa.

Ele ignorava o suor escorrendo ao longo de sua têmpora. Sua atenção estava
focada exclusivamente na pedra e nas ferramentas que ele manejava com a perícia
de um atirador.
Assim como o orvalho da manhã se reunia no trevo, gotas de umidade
revestiam a parte de trás do seu pescoço. Ela imaginou que cobriria a garganta
também, mas o lenço a impedia de ver se o suor se reunia na base de sua garganta.
Ela observou como manchas molhadas apareciam em sua camisa.

Calor permeava o galpão. Mesmo com as janelas abertas e uma leve brisa
soprando, o ar ainda estava quente. Meg pressionou sua bandana contra o lábio
superior para enxugar a umidade que fazia cócegas em seu rosto.

Todos os dias ela se sentava no calor sufocante vendo-o trabalhar. Todos os


dias esperava que ele tirasse sua camisa e desse a seu corpo algum alívio do calor.
Em uma ocasião, pensara sugerir aquilo a ele. Não queria que ele entrasse em
colapso.

Mas, além disso, queria ver todo o seu corpo tenso, tomado pela força que
era tão evidente em suas mãos e antebraços. Teve a impressão de que seu ofício
tinha cuidadosamente moldado todo o seu corpo ao longo dos anos, até que ele
esteve tão finamente temperado como suas ferramentas.

Sua camisa pendia de seus ombros, as calças eram muito curtas. Ele se
tornara mais alto e magro desde o dia em que ele ficara na periferia da cidade,
observando seus amigos irem embora. No entanto, suas roupas não conseguiam
esconder a intensidade com a qual trabalhava. Dos cabelos brancos nas têmporas
até as solas gastas em suas botas, ele entregava-se ao que estava fazendo: era
apenas uma extensão de suas ferramentas, usando sua mente, sua imaginação, e
todos os músculos que possuía para levar sua arte até a natureza e moldá-la com
seu feito.
Às vezes, ela pensava que poderia ter a sensação de perda quando ele
finalmente completasse a estátua. Não estava completamente certa de que o
monumento acabado poderia fazer com que as emoções que sentia, quando assistia
a superfície da pedra se revelar, acabassem.

Clay era um mestre desvendando a natureza em uma escultura. Meg muitas


vezes desejava que o povo da cidade pudesse vê-lo fazendo o monumento, porque a
sua criação parecia tão significativa quanto a sua conclusão.

O som de metal contra metal cessou. Os sulcos em sua testa diminuíram e ele
puxou para baixo a bandana. Ele respirou fundo e tocou seus dedos na parte que
permaneceu depois de seus últimos esforços.

Ela nunca poderia dizer se ele estava satisfeito com o progresso que estava
fazendo. Ele desceu do banquinho e caminhou até a mesa baixa onde mantinha um
balde de água.

Cada pergunta que Meg pensou em fazer, escapou de sua mente. Ela puxou a
bandana para baixo, levantou-se da cadeira e subiu ao banco para que pudesse olhar
atentamente a silhueta. — Esta será a cabeça de Kirk, não é? — Virou a cabeça
para encontrar o olhar de Clay. — Se você estiver fazendo dessa silhueta o cavalo,
este tem a intenção de ser Kirk. Estou certa?

Um sorriso de apreciação calmamente apareceu em seu rosto. — Sim,


senhora.

Ela voltou sua atenção para a pedra, e Clay viu seus dedos tocarem a pedra
com reverência.

Ele se perguntou quantas vezes ela tocou o marido da mesma maneira.


— A cabeça dele não era tão grande — disse ela.

— Não vai ser tão grande quando eu terminar. Eu gosto de deixar muita
pedra para trabalhar.

Ela assentiu com a cabeça em compreensão. Clay levantou a tampa de


madeira do balde e levou a concha à boca, deixando a água escorrer lentamente por
de sua garganta.

A cada dia que passava, ele parava de trabalhar mais vezes apenas para que
pudesse vê-la saltar dessa cadeira, subir naquele banco e tocar a pedra.

Devolveu a concha ao balde e cobriu-o, de modo que o pó e a pedra não


pudessem entrar na água.

Então, inclinou um quadril contra a mesa e cruzou os braços sobre o peito.

Gostava de assistir à sua excitação. Mal podia esperar para começar a


trabalhar sobre os detalhes.

— Vai começar a esculpir seu rosto? — ela perguntou.

— Não, senhora.

— Por que não?

— Porque quero esperar até ter todas as formas cortadas.

Ela não gostou de sua resposta. Ele podia dizer pela rápida batida de seu pé,
que Kirk o tinha advertido 'Quando seu pé começa a bater, vou para as montanhas
até que ela esfrie.'
Não achou que ela estivesse com raiva, apenas frustrada. Nos últimos dois
meses, desde que ela começara o projeto, soube que sua paciência excedia em
muito a dela.

Ela parou de bater o pé e ergueu o queixo. — Não vejo por que você não
pode trabalhar em seu rosto. Você sabe que este é o seu rosto. Seria bom ir em
frente e concluí-lo.

Lentamente, ele balançou a cabeça. — Eu admito que estou tentado, mas sei
que preciso obter todas as sombras em forma antes de começar a trabalhar nos
detalhes. Quando estou trabalhando as formas, tenho que manter todo o
monumento na minha cabeça, à relação de cada peça com a outra. Não quero
perder esse sentimento antes que eu tenha tudo cortado.

— Não acho que iria prejudicar fazer uma exceção.

— Quando você está fazendo uma colcha de retalhos, você começa a bordar
assim que você termina de costurar o primeiro bloco?

Ela mostrou a língua, e Clay riu. A ação a fez parecer tão jovem, quase como
a menina que ela tinha sido uma vez.

— Quer fazer algo útil? — ele perguntou.

Franzindo o nariz, ela olhou para os restos da pedra jogados no chão. —


Você precisa da área limpa?

— Não, senhora. Os gêmeos transportam os restos para fora todas as noites.


Preciso de você para algo mais importante.

Pegando suas ferramentas, ele caminhou até a pedra. — Tenho que criar o
cavalo e cavaleiro da memória, mas a mulher... — Ele olhou para ela e sorriu —
Será muito mais fácil esculpi-la porque eu tenho uma modelo. Se você estiver
disposta.

Seu rosto se ruborizou. — Vai começar a trabalhar em mim? Mas você não
terminou o cavalo e cavaleiro.

— Eu disse que eu trabalho em todo o monumento. Começo na parte


superior e vou descendo. Agora, gostaria de obter o tamanho e a forma da mulher e
marcar sua distância do cavaleiro.

— O que eu tenho que fazer?

— Fique onde eu possa vê-la e finja que está segurando uma bandeira.

Ela saltou do banco. — Onde devo ficar? Aqui?

Ele pisou no banco e inclinou a cabeça. — Mova-se um pouco para a sua


direita.

Ela deu um passo tão pequeno quanto um pedaço de pedra lascada.

— Um pouco mais — disse ele.

Ela avançou mais e Clay esfregou os olhos. Eles ficariam nisso até a noite.
Ele desceu do banquinho e desenhou um X no chão perto de seus pés — Fique aqui.

Pisou no banco e olhou para ela. — Agora, levante os braços para que suas
mãos estejam um pouco abaixo de seu queixo.

— Não deveria colocá-las acima da minha cabeça? Eu estaria entregando a


bandeira a Kirk. Não quereria que ele tivesse que se abaixar muito para pegá-la.

— Não quero nada bloqueando a visão do seu rosto. É mais importante do


que a bandeira.
Corando, ela começou a se mexer.

— Você vai ter que ficar parada.

Ela parou de se contorcer, mas parecia tão nervosa quanto demonstrara no


primeiro domingo em que tocou o órgão na igreja.

— Tudo bem, eu preciso que você vire um pouco para a esquerda. Um pouco
mais. Um pouco mais. Perfeito.

— Isso é para que possa ver melhor os meus braços?

Ele apontou para a silhueta que ela tinha identificado como a cabeça de Kirk.
— É para que ele possa ver melhor as suas orelhas.

Ela sorriu. — Ajudaria se eu trouxesse um pouco de chita de casa para que


eu pudesse armar e fingir ser a bandeira?

— É possível. Se seus braços se cansarem, pode baixá-los. Não estou


fazendo nada agora me cause problemas se você se mover, mas é mais fácil se ficar
quieta.

— Estou pronta.

Clay sempre tinha gostado da aparência natural da pedra. Plana e sem


adornos, possuía uma beleza simples. Neste momento, porém, ele desejava que
tivesse um material que pudesse reter o azul dos olhos de Meg e o brilho rosado de
suas bochechas. Independente do quanto ele trabalhasse, nunca seria capaz de
capturar sua beleza no granito.

— Pode piscar — disse ele.


— Oh. — Ela soltou uma leve risada. — Acho que eu nem estava respirando.
Não sei por que estou tão nervosa.

— Talvez por eu ter que observá-la. — Ele bateu na silhueta da cabeça de


Kirk. — Basta olhar para isso e me ignorar.

— Ignorar você é o que eu faço de melhor. — Ela ergueu o queixo e focou o


seu olhar sobre a pedra. Clay usou seu próprio tempo em não a ignorar. Permitiu
que seu olhar viajasse livremente a partir do topo de sua cabeça até a ponta dos
dedos dos pés. Estudou cada curva e linha, e se perguntou como se concentraria na
criação da silhueta de Meg quando não podia manter a mente focada na tarefa.
Manter-se cortando a imagem em pedra dura, ao invés de imaginar seu corpo suave
contra as palmas das mãos.

Se Deus lhe tivesse dado um pedaço de carne e lhe dissesse para esculpi-lo
em qualquer forma que ele quisesse, teria esculpido-o para que se parecesse
exatamente como Meg: com sua cintura fina, os quadris estreitos e as pequenas...
orelhas.

Limpou as palmas das mãos suadas na calça. — Você vai lascar a pedra? —
Ela perguntou quando pousou seu olhar sobre ele.

Ele assentiu com a cabeça. — Só estou ajustando meu pensamento, já que


não preciso confiar na minha memória.

— Seu pensamento parece ser um pouco mais lento do que a sua memória.

— Verei se consigo resolver isso. — Ele colocou o cinzel contra a pedra e


pegou o martelo de volta.

— Oh meu Deus! — Meg gritou.


Ele tirou a atenção da pedra e olhou-a. Ela deslizou para o outro lado do
banquinho e pressionou as costas contra a pedra. — É Tom Graham.

Clay olhou através da porta aberta e viu um homem caminhando em direção


ao galpão.

— Não posso deixá-lo me encontrar aqui — ela sussurrou asperamente.

Ele pulou para fora do banco e colocou suas ferramentas de lado. — Vou me
certificar de que ele não entre. — Passou por ela, resistindo à vontade de sacudi-la
e perguntar que diferença faria se as pessoas descobrissem que ela falava com ele.
Inferno, ela fazia mais do que falar com ele. Às vezes, suspeitava que ela realmente
gostava de sua companhia. Ele era um idiota.

Ele deu um passo para fora e apertou os olhos contra a luz do sol. — Boa
tarde.

Tom Graham apenas balançou a cabeça. Um pouco mais velho do que


Lucian, ele tinha um proeminente pomo de adão que se moveu conforme evitou o
olhar de Clay. Os pelos cor de pêssego cobrindo o seu queixo pareciam que não
tinham sido raspados. Segurando um grande pedaço de madeira pressionado contra
seu lado, ele passou o dedo sobre a borda curva que se estendia além de seu braço.
— Lucian está fora nos campos — Clay informou.

— Não vim para ver Lucian.

Clay mudou sua postura. — Bem, os gêmeos não estão.

— Não vim para vê-los também.


Clay estava prestes a dizer a Tom que a mula estava no campo, mas estreitou
os olhos e estudou a madeira mais de perto. Tom tinha cortado-a na forma que Clay
não gostava. — O que posso fazer por você, então? — perguntou em voz baixa.

Tom enxugou os olhos. — Nosso bebê morreu. O Dr. Martin disse que ela
tinha nascido cedo demais. Não houve nada que ele pudesse fazer por ela. Sally não
parou de chorar desde então. Ela quer uma lápide adequada, mas seu pai disse que
se eu pedisse a você, ele iria quebrá-la. É um inferno quando o ódio de um homem
por outro é maior do que o seu amor por seu neto. — Ele enxugou os olhos
novamente. — De qualquer forma, eu estava tentando fazer uma lápide, mas Sally
quer palavras especiais sobre ela, senão nada de ficar em nosso quarto. Pensei que
talvez você pudesse me mostrar como entalhar as palavras neste pedaço aqui, para
que eu não ficasse sem quarto.

— Que palavras você estava querendo? — perguntou Clay.

Com a mão trêmula, Tom enfiou a mão no bolso e tirou um pedaço de papel
amassado. — Ela quer 'Aqui jaz o broto mais doce de esperança que nunca nos foi
dado.' — O rosto do jovem ficou vermelho quando ele encontrou o olhar de Clay.
— Eu não sei de onde Sally tirou isso, mas é o que ela quer.

Clay assentiu solenemente. — Meu pai esculpiu algumas lápides antes de


morrer. Acho que há uma com essas palavras sobre ela.

A descrença cobriu o rosto de Tom. — Ele fez? — Em seguida, uma outra


verdade sombria o acertou. — Mas não vai ter o nome de nossa pequena menina
nele. Sally a nomeou, quer seu nome na lápide.

— Eu posso pedir a Lucian para esculpir o nome e as datas.

— Não sabia que Lucian fazia esculturas.


— Ele pode esculpir letras.

Tom coçou o queixo desgrenhado. — O pai de Sally não poderia opor-se a


isso, poderia?

— Penso que não — disse Clay.

— Quanto eu lhe devo?

— Meu pai não recebeu dinheiro pelas lápides que fez para crianças. Nós
não vamos cobrar. Quando é que ela deve ser enterrada?

— Amanhã de manhã. Naquele pequeno cemitério ao lado da igreja.

— Vou colocar a lápide na porta da igreja de madrugada.

Tom estendeu o papel amassado para Clay. — Aqui estão todas as


informações que Lucian vai precisar. — Clay pegou o papel e se virou para voltar
ao galpão. — Eu estou grato — disse Tom. — Você não tinha que me dizer sobre
as lápides que seu pai fez.

Clay olhou por cima do ombro. — Não seria um vizinho muito bom se eu
não tivesse dito, não é? — Entrando no galpão, ele enfiou o papel no bolso.

— Seu pai fez algumas lápides antes de morrer? — Meg perguntou.

Ele deu-lhe um olhar insatisfeito quando ela apareceu encolhida atrás da


porta. — O que você estava fazendo? Escutando?

Encontrando seu olhar, ela endireitou sua postura e angulou o queixo


desafiadoramente. — Bem, eu queria ter certeza de que ele não entraria aqui.

— Eu disse que ia me certificar de que ele não viria aqui.


— E você é um homem de palavra.

— Eu morreria antes de faltar com a minha palavra. — Afastando-se dela,


ele caminhou até sua mesa e tocou os instrumentos menores. — Não vou trabalhar
mais no memorial hoje, então você pode ir para casa.

— Onde estão as lápides? Eu não me lembro de ter visto nenhuma.

— Eu as vi e vou encontrá-las — disse ele, enquanto olhava para fora da


janela.

— Tudo está uma bagunça aqui dentro. Você quer minha ajuda para
encontrá-las?

Ele se virou. — Eu quero que você vá para casa.

Ela inclinou o nariz. — Talvez eu não queira ir para casa.

— Você não tem escolha. Sua condição era que você tinha que olhar por
cima do meu ombro enquanto eu trabalhasse no memorial. Agora, não estou
trabalhando nisso e não estou convidando você para ficar.

— Eu não sabia que a minha companhia ofendia.

Seus olhos capturaram os dela e os aprisionaram com a verdade. — Não fui


eu quem estava com medo de Tom poder me ver aqui.

Suas bochechas se inflamaram de vermelho conforme ela baixou o olhar.

— Tem que entender que o ódio que as pessoas sentem por você vai além de
sua sombra tocando àqueles ao seu redor.

— Na realidade, entendo isso muito bem.


— Então, não pode me culpar por não querer ser vista em sua companhia.

Ele voltou sua atenção para os campos além da janela. — Não, eu não a
culpo.

— Quer que eu avise Lucian que precisa dele?

— Não, vou cuidar disso.

— Eles vão precisar de mim para tocar o órgão no serviço memorial. Você
pode trabalhar no monumento amanhã sem mim. Vou tentar vir à noite para
verificar seu progresso.

— Faça isso, Sra. Warner.

***

Seu pai nunca recebera dinheiro pelas lápides das crianças. Meg balançou a
cabeça. Não era de admirar que eles ainda morassem em uma casa feita de troncos
lavrados, enquanto outras pessoas haviam comprado madeira serrada e reconstruído
suas casas, uma vez que a serraria tinha sido aberta.

Ela afastou o olhar da grama de búfalo para o céu escuro. — Uma


tempestade está chegando — ela disse calmamente. — Ele disse que sempre chove
quando alguém morre. Eu nunca percebi. Ele percebe tudo.

— Nós realmente precisamos dar a Clayton um nome — Mama Warner disse


conforme se balançou lentamente em sua cadeira. — Esse meu velho cérebro leva
muito tempo para descobrir de quem você está falando, às vezes.

Suspirando, Meg se afastou da janela. — O bebê de Sally Graham morreu.


Mama Warner deixou seu balanço. — Uma coisa triste perder um filho.
Perdi quatro meus. Você acha que não faria mal perder um pequeno, mas a dor é
tão grande como se tivesse estado com você durante toda a sua vida. Você não
consegue se lembrar de como era antes deles tocarem seu coração. E você nunca
pode esquecê-los.

Meg atravessou a sala, ajoelhou-se e tomou as mãos envelhecidas nas suas.


— Você quer ouvir algo incrivelmente maravilhoso? — ela sorriu. — Antes de
morrer, seu pai esculpiu uma lápide para uma criança e inscreveu as palavras exatas
que Sally queria para sua filha. Você pode acreditar nisso?

Mama Warner libertou uma mão do aperto de Meg e envolveu o queixo dela
dentro de sua palma. — Você acredita nisso, filha?

— É claro.

A mulher mais velha sorriu. — Então, isso é tudo que importa.

O conhecimento refletido nos olhos de Mama Warner levou Meg a montar


pela noite sem lua com a chuva forte nas costas. Ela freou sua égua perto da
propriedade Holland.

A escuridão envolvia a casa. Ela esperava que parecesse dessa forma, como
se todos dentro estivessem dormindo.

As lápides não eram feitas na casa.

Guiou a égua para o galpão. Alguém tinha fechado as janelas contra a força
do vento e da chuva. A porta estava parcialmente aberta, derramando uma luz
pálida na noite.
Meg desmontou debaixo de uma árvore para dar a seu cavalo alguma
proteção contra a chuva. Saltou através das poças até que chegou ao galpão. De pé
na porta, com a chuva pingando da aba do chapéu de Kirk, entendeu o que Mama
Warner já tinha suposto.

O pai de Clay não tinha feito nenhuma lápide antes de morrer.

Debruçado, quase paralelo à pedra, Clay estava sentado em seu banquinho de


trabalho.

Como se fosse um fantasma, Meg se moveu silenciosamente em direção a


ele. Um trovão ressoou. Clay parou momentaneamente e depois continuou com sua
tarefa.

Com as janelas fechadas, o local estava quente. Nenhuma brisa soprava para
refrescar. O suor encharcava a parte de trás de sua camisa e ele enxugou a testa. Ele
trabalhava através da chama de uma lamparina solitária.

Parando à margem das sombras, Meg assistiu quando ele usou o pequeno
cinzel e o martelo para criar uma abundância de detalhes delicados na pequena
lápide. Com uma exalação suave, ele soprava o pó do seu trabalho longe de cada
letra e desenho que completava.

Uma eternidade pareceu passar antes de ele colocar suas ferramentas de lado,
relaxar seus ombros e baixar a cabeça.

— É lindo — disse Meg calmamente.

— Cristo! — Ele saltou do banco e olhou para ela. — Há quanto tempo você
está aqui?
— Tempo suficiente para saber que Lucian não esculpiu as letras. — Ela
arrastou seus dedos trêmulos sobre as letras perfeitamente esculpidas — Você criou
uma bela lápide para uma criança e está dando o crédito a seu pai e irmão.

— Então por que não diz a todos amanhã, para que eles possam transformá-
la em pó e a esposa de Tom poder ter algo mais para se lamentar?

Ele se afastou dela. Sem pensar, ela agarrou seu braço. Ele parou, mas não
olhou para ela.

— Acredita realmente que eles destruiriam a lápide de uma criança se


soubessem que você a fez?

— Sim, senhora.

A inflexível falta de vida em sua voz fez com que ela o soltasse. Ele
atravessou o salão para um canto onde mantinha uma variedade de materiais. Pegou
um cobertor e rasgou-o em dois. Trouxe um pedaço de volta para a mesa e
envolveu-o em torno da lápide com a mesma gentileza que uma pessoa poderia ter
usado para embrulhar um cobertor em torno de uma criança.

Meg caminhou até o pedaço de granito e colocou a mão sobre a pedra bruta.
Ela quase podia ver Kirk nas sombras, podia ouvir o relinchar de seu cavalo, suas
promessas e seu grito corajoso. — Acha que eles vão destruir este monumento? —
ela perguntou.

— Não, senhora.

Por cima do ombro, ela o observou suavizar as rugas no cobertor como se


importasse como ele entregaria a lápide na igreja. — Por que você acha que eles
não vão destruir este monumento?
— Porque não vamos dizer-lhes que eu fiz isso.

Ela afastou-se do granito. — O quê?

Ele virou-se de sua tarefa e encontrou seu olhar. — Não pensei nisso ainda,
mas vamos encontrar uma maneira de levá-lo para a cidade sem ninguém saber.
Você pode dizer às pessoas que algum companheiro que voltou fez isso.

— Você não vai colocar o seu nome na parte de trás?

— Pensei que tínhamos concordado que este memorial refletiria os nomes


daqueles que morreram lutando por suas convicções.

— Nós concordamos.

— Bem, eu não morri, não é?

— E você não lutou, tampouco — ela o lembrou.

— Você acha que as únicas batalhas travadas são feitas com rifles e os
únicos ferimentos que matam tiram sangue. Você acha que a coragem é forte,
violenta e orgulhosa. Sra. Warner, eu não acho que você tem uma ideia do que esse
memorial representa verdadeiramente.
Capítulo 10
Sentada no balanço da varanda, Meg assistiu as nuvens se arrastarem através
da lua quando seus pensamentos lentamente vagaram para Clay.

Com seu olhar sempre cravado na pedra de granito que estava lentamente se
materializando em três formas distintas, ele trabalhou desde o amanhecer até o
anoitecer com a firme determinação de um homem que queria se livrar de um fardo
desprezado. Seus raros sorrisos e provocações ocasionais não vieram à tona.
Raramente parava de esculpir para descansar e, quando o fazia, ele saía do galpão.

Meg suspeitava que ele mergulhava sua cabeça em um balde de água retirado
do poço porque sempre voltava com o cabelo gotejando e o colarinho da camisa
encharcado, como se apenas ele tivesse estado em uma tempestade.

Cada dia ele reconhecia sua presença com um — Bom dia — quando ela
entrava no galpão. No final do dia, ele descia do banco, ia até sua mesa baixa,
depositava suas ferramentas nela, olhava pela janela e falava com ela mais uma vez.
— Eu acabei por hoje.

Meg odiava os dias que se arrastavam, mais do que ela odiou os dias em que
esperou com temor por notícias de Kirk. Sentia como se residisse em uma prisão,
uma prisão que ela mesma havia construído, utilizando o ódio e a vingança como
tijolos de argamassa. Queria punir Clay, mas também acabou sofrendo.
Não queria se sentar naquele galpão onde vozes silenciosas apareciam e o
tilintar constante do martelar do cinzel ecoava, mas não poderia ficar de fora.

Todos os dias suas mãos revelavam mais das sombras. Os músculos ao longo
de seu pescoço, costas e braços se tencionavam com seus esforços. Em seguida,
eles gradualmente relaxavam. Ele tocava a pedra como se pedindo desculpas por
seu tratamento duro e prometendo que iria valer a pena.

Ele batia na pedra com força suficiente para enviar o som de uma rachadura
a ricochetear ao redor do galpão. Então ele deslizava a mão sobre o granito criando
um sussurro rouco.

O sussurro ficava com ela por muito tempo depois que ela saía do galpão.
Assombrava seus sonhos juntamente com a memória de suas mãos criando formas
fascinantes da simples pedra.

Às vezes, ela sentia um volume de desculpas em sua garganta e apertava os


lábios para impedi-las de encher o galpão com remorso e arrependimento. Ela não
era a única que ele tinha machucado. Era a sua covardia e sua incapacidade de
reconhecer isso que causou sua dor. Ele achava que ela deveria estar ao seu lado,
apesar de ele ter se recusado a ficar ao lado de Kirk.

Ela riria com a ironia se não doesse tanto.

Observou um movimento de uma silhueta durante a noite.

— O que você está fazendo aqui fora, Meg? — Daniel perguntou quando
pisou na varanda.

— Só pensando. Onde você estava?


Dando de ombros, ele passou os dedos pelo cabelo escuro e entrou na
varanda, pressionando as costas contra uma viga. — Eu e Sam Johnson tivemos
uma conversa. Onde está papai?

Ele lhe deu um sorriso irônico na escuridão. — Você acha que Stick
aprovaria Caroline se casar com John?

Todo mundo chamava o primeiro marido de Caroline de Stick, porque ele


tinha sido tão alto e magro, como um palito. Eles brincaram com ele sobre isso,
alegando que, enquanto marchasse para a batalha, as balas zuniriam diretamente
através dele. Mas as balas não o tinham perdido.

John Wright passou dois anos em uma prisão da União. Em um uniforme


cinza esfarrapado, ele ia para casa por uma pequena bifurcação na estrada a oeste
de Cedar Grove. Cansado de sua jornada, parou debaixo da sombra de uma árvore
na propriedade de Caroline. Ele nunca chegou à bifurcação na estrada.

Ele havia se casado com Caroline, há duas semanas, e agora a comunidade


tinha um motivo para comemorar e um celeiro para fazer.

Meg manteve as boas lembranças de Stick, memórias que nunca tinha


compartilhado com Kirk. — Sim, eu acho que ele teria aprovado.

Pouco depois do amanhecer varrer o orvalho da terra, Meg chegou à


propriedade Wright com seu pai e irmão. Helen Barton, assumia o comando de
qualquer coisa que precisava ser feita. À Meg foi atribuída a tarefa importante de
manter as crianças longe das sobremesas.
Tendo ido muito antes do amanhecer para fazer muitas das tortas e bolos que
agora adornavam a mesa, Meg acolheu a tarefa que exigia nada mais do que tirar a
onda minúscula de dedos sujos de bolos e biscoitos.

Apesar disso, ela descobriu que a tarefa deixava as mãos com pouco a fazer e
sua mente com menos do que isso. Tentou aproveitar a brisa suave flutuando entre
as árvores ao redor da casa de Caroline, mas encontrou-se imaginando aquela
mesma brisa soprando através de três grandes janelas de um galpão. Se perguntou
se ela teria mexido no cabelo de Clay antes que viajasse para se entrelaçar em seus
próprios fios soltos.

Tinha prendido seu cabelo em um coque delicado em vez de envolvê-lo em


um coque apertado. Não estava acostumada com o peso de seu cabelo se
esfregando ao longo de seu pescoço e ombros.

Os martelos ecoavam na distância enquanto os homens trabalhavam para


construir o celeiro e ela comparou o ritmo interrupto ao ritmo constante que Clay
usava para martelar a pedra. Sabia que deveria apreciar o som de homens
trabalhando juntos em um projeto comum, mas ansiava por ouvir os acordes
solitários que um homem produzia quando trabalhava sozinho, sem esperar elogios
por seus esforços.

Olhou para a longa mesa de sobremesas. Observar sobremesas não tinha


nenhum encanto. Ela preferia observar Clay.

Na noite anterior, quando ela lhe disse que planejava passar o dia na fazenda
dos Wrights, ele apenas balançou a cabeça e enfiou as mãos nos bolsos. Ambos
sabiam que a necessidade de mãos dispostas a construir um celeiro não incluía as
dele.
Ela se perguntou se ele tinha começado o corte da pedra ao amanhecer ou
tinha esperado. Os ombros de Kirk eram uma silhueta visível na pedra agora. Ela se
perguntou se ele iria trabalhar abaixo da cintura de Kirk primeiro ou esculpir seus
ombros.

As sobremesas não iriam a lugar nenhum. Poderia se esgueirar por algumas


horas e ninguém notaria.

Iria apenas espiar o interior do galpão e ver quanto progresso ele fez...

— Olá, Meg — uma solene voz masculina disse, vibrando atrás dela.

Girando, ela olhou para Kirk, seu coração batendo tão alto que ela não ouvia
os martelos à distância. Ele tinha o mesmo cabelo loiro, mas fendas profundas, que
lembravam campos sulcados, tocavam os cantos de seus olhos azuis. Ele parecia
muito mais velho e mais maduro. Sua barba, mais escura do que o seu cabelo, era
grossa. De nenhum jeito ela teria imaginado isso.

— Eu não sei se você se lembra de mim — disse ele. — Eu sou o primo de


Kirk, Robert.

Ela sentiu sua respiração se apressar para fora e apertou a mão na garganta.
— Claro. Nós nos conhecemos no casamento.

Contra sua vontade, seu olhar passou rapidamente pela manga vazia.

— Deixei meu braço em Shiloh — disse ele com um sorriso triste que
implorava a ela para não ter pena dele.

Com lágrimas nos olhos, ela ergueu o queixo e lhe devolveu o sorriso. —
Mas você está seguro agora e isso é tudo que importa. — Colocou os braços em
volta do pescoço dele e sentiu seu braço ao redor de sua cintura. — Você me fez
lembrar de Kirk — ela sussurrou em uma voz rouca.

— Eu sinto muito por ele não ter voltado para casa.

Soltando seu abraço, ela enxugou as lágrimas. — Muitos não voltaram.


Nenhum dos jovens que foram com Kirk voltou. Deixaram tantos pais sem filhos,
esposas sem maridos e crianças sem pais. Estamos extremamente gratos por
aqueles que voltaram.

— Sim, bem, nada é o mesmo. Isso é uma maldição, com certeza. — Ele
corou. — Perdoe a minha língua.

— Como está sua fazenda? Era em algum lugar ao norte de Austin, não era?

— Era, mas eu não tinha o dinheiro para pagar os impostos sobre ela, então
tive que dá-la. Vim aqui para ajudar meu tio com sua fazenda.

— Você está vivendo com os pais de Kirk, então?

— Com aquela mãe mesquinha de Kirk? Não, senhora. Eu preferiria estar em


uma prisão da União do que dentro das paredes de sua casa. É o mesmo que uma
abelha entrar em seu chapéu. Eu estou vivendo com Mama Warner.

— Visitei-a recentemente. Ela não me disse que você estava lá.

— Só estou aqui há alguns dias e ela não sabia que eu estava chegando até
aparecer em sua porta. Ela me disse que você costumava ir lá. Eu estava
procurando por você.

Ele expressou suas palavras com tanta sinceridade que Meg quase chorou.
— Espero que eu não vá impedi-la de ir ver Mama Warner — disse ele. —
Ela gosta de sua companhia.

Meg sabia que Mama Warner adorava qualquer companhia desde que suas
pernas tinham ficado fracas e ela estava confinada em sua casa. — É claro que vou
continuar a visitá-la. Eu a amo muito. Ela parece entender as pessoas tão bem.

— Creio que é porque ela conheceu uma variedade tão estranha de pessoas
durante a sua vida. Eu não ia vir aqui hoje. Descobri que um homem sem um braço
não pode fazer muito para ajudar a construir um celeiro, mas, então, ela sussurrou
umas coisas...

— Sussurrou? — ela perguntou.

Ele abriu os lábios em um sorriso tão parecido com o de Kirk que Meg quis
tocar os dedos em cada canto de sua boca.

— Sim, quando quer transmitir alguma sabedoria para você refletir, ela
sussurra, então você tem que se esforçar para ouvi-la. Acho que ela imagina que
esse é o jeito de você prestar atenção.

— Deve ter funcionado. Você está aqui.

— Sim, mas não descobri o que posso fazer para ajudar.

— Bem, se quer emoção, pode me ajudar a observar as sobremesas.

Ele riu e Meg percebeu que não tinha ouvido um homem rir desde o dia em
que viu Clay brincar com os gêmeos no rio. O som de pés correndo ganhou a
atenção de Meg.
Sem fôlego, Helen parou e agarrou o braço de Meg para apoiar — Eu não
posso acreditar que ele veio.

Meg não teve que perguntar quem ele era. O tom vermelho cobrindo o rosto
de Helen e o fogo em seus olhos azuis falavam de um ódio que se estendia até onde
seu marido tinha viajado.

Meg seguiu o olhar de Helen e assistiu Clay descer da carroça quando os


gêmeos pularam para fora da parte traseira.

— Lucian não veio? — perguntou Meg.

— Está aqui desde o amanhecer. Ele ajudou o pai de Taffy a trazer a madeira
da oficina.

Brevemente, Meg se perguntou se Lucian estava atrás da irmã mais nova de


Stick. Ela se lembrou do verão passado quando Mary Lang, de repente ficara tão
alta quanto seu irmão e mais alta do que qualquer um dos meninos de sua idade.

Provocativamente, Lucian disse que ela parecia como se tivesse sido esticada
como um caramelo. Logo todos a estavam chamando de Taffy.

Helen bufou e pisou o chão como se pudesse fazer com que a terra se abrisse
e engolisse Clay. — Eu simplesmente não posso acreditar que ele teve a coragem
de vir aqui.

— Talvez ele só queira ajudar.

— Nós podemos ficar sem a sua ajuda, muito obrigada.

Meg assistiu Clay caminhar em direção ao celeiro. Os homens já haviam


levantado à base. O martelar parou, e um pesado silêncio pairou sobre a multidão.
Ela desejou que ele não tivesse vindo, mas seus motivos estavam muito longe dos
de Helen ou de qualquer outra pessoa.

Ela não queria que ele se machucasse.

***

Clay descobriu que, por algum motivo ímpio, tinha sido mais fácil ir a pé
para sua própria execução do que caminhar na direção dos homens que se reuniram
ao lado do celeiro inacabado. Podia sentir os homens olhando para ele. Desejou ter
deixado os gêmeos em casa. Não queria que eles vissem a surra que percebia estar
prestes a receber. Ouviu alguém berrar: — Este não é o momento nem o lugar! —
Ele pensou que a voz comandando pertencia ao pai de Kirk. Lentamente, os
homens viraram as costas para Clay e foram embora. Essa ação poderia ter
diminuído sua ansiedade, mas não aconteceu. Até o momento em que chegou ao
lado do celeiro, Lucian foi o único que permaneceu.

E o ódio que seu irmão lhe dirigia era palpável.

— Que diabos você está fazendo aqui? — perguntou Lucian.

— Ouvi que eram necessárias costas fortes. Tenho as costas fortes.

— Forte o suficiente para apoiar uma faixa amarela, mas isso não é
exatamente o que precisamos aqui.

— Os Wrights pediram à comunidade para ajudá-los a construir um celeiro, e


eu sou parte da comunidade.

— Mas nós não queremos você.


Clay encontrou o olhar duro de seu irmão. Como seria simples se virar e ir
para casa. — Eu vou ajudar a construir o celeiro.

— E o que é que você vai provar?

— Para você, provavelmente nada. Para mim, tudo.

Lucian sacudiu a cabeça. — Fique se quiser, mas não espere que eu fique ao
seu lado. — Girando nos calcanhares, ele se afastou.

Clay olhou para baixo, para os rostos ansiosos dos gêmeos. Ele lhes deu um
sorriso que ele imaginou que, provavelmente, parecia tão vazio quanto ele se sentia.
— Bem, acho que este é o nosso lado para terminar.

— Tudo por nossa conta? — perguntou Joe.

— Creio que sim.

— Lucian não vai nos ajudar?

— Acho que não.

— Você já se perguntou se, talvez, Lucian não seja da família? — Josh


perguntou. — Estou pensando que alguém possa tê-lo deixado no degrau da porta
porque ele era tão genioso que não o quiseram.

— Pensei que todos os bebês fossem deixados na soleira da porta — disse


Joe.

— Inferno, não! Há algum pássaro meio mágico que deixa cair bebês pela
chaminé. Não é assim, Clay?
Clay tinha uma pequena dúvida sobre Joe acreditar que bebês eram deixados
na porta, mas estava certo de que Josh, com seu sorriso desafiador, sabia a verdade.
— Acho que seria melhor terminarmos o nosso lado do celeiro.

Quando os meninos caminharam em direção à pilha de madeira, Clay ouviu


Joe perguntar como o pássaro se parecia. Josh parou de andar e agitou os braços,
provavelmente descrevendo detalhadamente cada pena desta ave imaginária. Clay
suspirou. Sem dúvida, acabava de perder seus ajudantes.

***

— Olá, Sra. Warner.

Meg olhou para os rostos idênticos, sabendo que Clay conseguia distingui-
los, se perguntando como ele fazia isso. — Olá.

Com as mãos atrás dos seus macacões, os meninos se balançaram sobre seus
calcanhares. — Bela exposição de doces você colocou aqui fora — disse um dos
gêmeos. — Clay disse que poderíamos olhar, mas não pedir nada. Então, nós
estamos apenas olhando.

Sorrindo, Meg brincou: — Bem, os legumes estão naquela mesa ali.

— Sim, senhora, mas eu e Joe gostamos de olhar para os bolos e tortas. Faz
muito tempo desde que comemos um pedaço de bolo ou torta. Naturalmente, nós
não pedimos. Nós estamos apenas olhando.

Helen lançou um pano sobre a mesa para espantar as moscas. Ela correu o
olhar por Robert com a mesma facilidade que ela e Meg tiveram para fofocar
quando tinham sido jovens garotas tentando decidir para quem deveriam dirigir
seus sorrisos mais calorosos. Meg estava grata por Helen ter evitado falar mais
sobre a chegada de Clay. Em vez disso, elas haviam discutido o namoro
aparentemente florescendo entre o Dr. Martin e a Viúva Prudence.

Sorrindo, Helen inclinou-se sobre a mesa. — Meninos, querem um pedaço


de bolo?

— Obrigado, senhora — Joe disse quando ele pegou um pedaço de bolo com
cobertura de chocolate.

— Podemos ter um pedaço para Clay? — Josh perguntou.

O sorriso caiu do rosto de Helen. — Não, eu não acho que seria apropriado.

Josh assentiu com um entendimento que desmentia sua idade. — Então eu


acho que vou recusar a oferta.

Joe congelou, o bolo quase tocando seus lábios. Ele deslizou seu olhar para o
seu irmão. — Certamente cheira bem.

Josh pôs a mão no ombro do irmão. — Você tem que ficar com a família.

— Lucian não.

— Estou dizendo: alguém deixou Lucian no degrau da porta. Ele não é


realmente da família. Você come o bolo e vou começar a pensar que alguém te
deixou no degrau da porta, também.

Lentamente, Joe colocou o bolo em cima da mesa. Com os olhos miseráveis,


ele olhou para Meg. — Aprecio a oferta, acho que eu não tive uma melhor. — Os
meninos foram para longe da mesa.

— Isso é lamentável — disse Helen.


— Não teria feito mal deixá-los ter um pedaço extra.

Os olhos de Helen quase saltaram para fora de sua cabeça. — Teria sido
como dar uma oferta de paz, e eu não estou prestes a perdoar aquele homem pelo
que ele não fez. Nem agora, nem nunca.

— Houve um tempo em que você guardou seus sorrisos mais calorosos para
ele.

O rosto de Helen queimou em um vermelho profundo. — Graças a Deus, ele


era tímido demais para perceber. Eu não posso imaginar nada mais humilhante do
que ter aquele homem como marido. — Ela estremeceu visivelmente. — Me deixa
doente só de pensar em todas as vezes que eu sorri para ele.

— Ainda assim, parece uma vergonha seus irmãos sofrerem por algo que não
tiveram culpa. — Meg olhou para a abundância de alimentos e esperou que suas
próximas palavras não a traíssem. — Suponho que eles seriam afortunados se seu
pai lhes concedesse crédito no mercado.

Helen olhou para Meg, como se ela não tivesse mais sentido do que a mula
dos Holland. — Ele não concedeu crédito a eles. Meu pai disse que se ele pusesse
os pés no mercado, o mataria como um ladrão. Disse que ele roubou a honra desta
cidade.

— Isso não parece justo para Lucian e os gêmeos — disse Meg.

— Então, eles devem botá-lo para correr.

— Acho que ele é dono da fazenda. O que eles podem fazer? E aqueles
gêmeos parecem tão magros.
Helen levantou um dedo. — Não faça isso. Não me faça sentir culpa sobre a
decisão do meu pai.

— Não quero que você se sinta culpada, mas certamente seu pai poderia
tentar um acordo com Lucian sobre dar-lhes crédito, desde que seu irmão mais
velho não participe das negociações.

— Por que você se importa? — perguntou Helen.

— Porque eles são crianças e, se eu tivesse sido abençoada com crianças, iria
quebrar meu coração pensar nelas indo para a cama com fome.

Helen pegou um biscoito de gengibre e deu uma mordida. — Eu vou pensar


sobre isso.

— Os gêmeos têm uns grandes olhos marrom...

— Tudo bem eu vou falar com ele. Ele simplesmente odeia Clay — Ela
parou com um gemido. Não dizer o nome de Clay era um jogo que teve início
quando a guerra começou, porque as mulheres não deveriam se preocupar com
política ou falar sobre a guerra. — Ele simplesmente o odeia tanto, que tomou sua
decisão sem pensar em como isso afetaria os outros.

— Tenho certeza de que Lucian estaria disposto a um acordo. Ele parece não
gostar de seu irmão, tanto quanto nós.

— Eu não posso dizer que o culpo. — Helen empurrou o resto do biscoito


em sua boca. — Os homens pararam de trabalhar. Acho que seria melhor voltar a
encher seus pratos.

Olhando em direção ao celeiro, Meg observou os homens vagarem em


direção às mesas improvisadas, que haviam sido colocadas sob a sombra das
árvores para fornecer algum alívio do calor. Eles comeriam. Então descansariam ou
iriam ao rio, à espera do calor do dia passar. Terminariam o celeiro no final da
tarde.

Do canto do olho, ela observou Clay caminhar para sua carroça, onde iria
encontrar alguma sombra.

Isolado.

Sozinho.

Como seria simples preparar-lhe um prato e caminhar até a carroça para dar a
ele.

Como era difícil entrar em seu mundo de solidão.

***

Clay gostava de bluebonnets porque eram bem adequadas para esculpir.


Qualquer galho grosso, com a aplicação suave de sua faca, poderia tornar-se o talo
delicado com as pétalas delicadas.

— Hoje está malditamente quente! — Dr. Martin falou.

Saindo de trás da carroça, Clay pressionou sua mão no peito, tentando


acalmar o rápido bater de seu coração.

— Onde você estava, menino? — perguntou o Dr. Martin.

Clay sorriu. — Perdido em meus pensamentos, eu acho. — Ele estendeu a


mão. — Obrigado por caminhar até aqui.
Dr. Martin apertou sua mão antes de sentar na parte de trás da carroça. Clay
sentou ao lado dele. — As pessoas não vão gostar de você estar aqui falando
comigo.

O doutor retirou uma maçã do bolso e ofereceu a Clay. — Você mantém as


pessoas à distância e elas não se importam com o que você faz. Tenho mantido a
maioria dessas pessoas longe.

Clay tomou a maçã e trouxe-a para o seu nariz, inalando profundamente. Tão
doce. Ele e os gêmeos já tinham comido o alimento que tinham trazido de casa,
mas a refeição não tinha incluído aquele doce. Com sua faca, cortou a maçã em
duas. — Josh! Joe!

Os garotos pararam o jogo de saltar e correram. — Dr. Martin trouxe uma


maçã.

Sorrisos largos preencheram seus rostos quando tomaram a oferta. —


Obrigado, Dr. Martin — disseram antes de correr.

— Eles são bons rapazes — disse o Dr. Martin.

— Sim, senhor, eles são.

— O que você estava pensando antes de eu perturbá-lo?

Pegando o pequeno ramo, Clay começou a talhar novamente. — Tentando


descobrir quando caminhar sem correr.

— Pensando em ir para casa antes de terminar o celeiro?

Clay olhou acima para o médico. — Não, senhor. Pensando em ir um pouco


mais longe do que isso.
— Longe de Cedar Grove?

— Sim, senhor. Estou começando a ver que Lucian estava certo. Eu não
sabia que o ódio era tão profundo. Não gosto disso tocando os gêmeos. É uma coisa
as pessoas me evitarem. Fiz a minha escolha e estava disposto a aceitar as
consequências. Meus irmãos não deveriam ter que sofrer por causa disso.

Dr. Martin suspirou. — Eu nunca concordei com o ódio, nunca entendi a


forma como ele flui ou como represá-lo.

Clay estendeu a flor que terminou de talhar. — Pode dar esta à sua garota.

— Minha garota? — Dr. Martin ficou vermelho como um pôr do sol — É tão
óbvio assim?

Levantando as sobrancelhas, Clay assentiu com a cabeça e sorriu. Ele notara


o Dr. Martin se arrastando atrás da Viúva Prudence pela maior parte da manhã.

Dr. Martin tirou o chapéu e passou a mão na cabeça careca. — Estou firme
no meu rumo, nunca imaginei ter uma esposa, mas Pru... bem, ela tem três meninos
e um mais velho que precisa de uma mão firme aplicada em seu traseiro. E vai
levar mais do que uma aplicação.

— Estou feliz por você. Doutor.

O doutor empurrou o chapéu sobre a testa e deslizou para fora da parte de


trás da carroça. — Bem, tenho que perguntar a ela primeiro. Ainda não descobri
como fazer isso.

***
— Por Deus, nós ainda podemos enforcá-lo. Tem uma abundância de árvores
fortes por aqui — disse Thomas Crawford.

Meg deixou cair à concha na panela de feijão que segurava e olhou para seu
pai quando ele passou as mãos pelo cabelo que uma vez tinha sido tão negro como
o dela e agora estava branco como a neve recém-caída. As mulheres estavam
amontoando porções de comida nos pratos dos homens, mas eles não pareciam
notar.

Os homens mais jovens estavam olhando para seu pai. Os mais velhos
tinham voltado a sua atenção para o pai de Kirk. Ele se sentara na ponta da mesa,
de frente para o pai de Meg. Como filho mais velho de um dos fundadores, o Sr.
Warner e sua opinião eram tidas na mais alta conta. Seu cabelo loiro tinha caído ao
longo dos anos, mas os olhos azuis e a intensidade de seu olhar ainda não haviam
desaparecido.

— Quatro anos atrás, todos estabelecemos um comum acordo — começou


ele.

O pai de Meg bateu a mão na mesa. — Nós concordamos em esperar e ver o


que o exército iria fazer. Bem, já vimos que o exército não fez nada. Eu digo que o
enforquemos agora.

O Sr. Warner negou com a cabeça. — Eu dei ao meu filho minha palavra de
que não seria parte do linchamento. Não vou voltar com a minha palavra agora.

Meg sentiu os joelhos tremerem com a percepção de que o pai e os outros


homens tinham planejado pendurar Clay há quatro anos. Ninguém tinha dito a ela,
então, o que tinham planejado. Será que os homens pensavam que a guerra e tudo
sobre ela era exclusivamente de domínio deles? Perguntou-se por todas as coisas
que Kirk poderia não ter dito a ela. Daniel encolheu os ombros que tinham
começado a alargar quando sua voz tinha começado a ficar mais profunda. — Se
você não se sentir bem sobre pendurá-lo, então nós poderíamos apenas matá-lo. —
Daniel ficou de pé a gritar: — Deus, Meg, você deveria colocar o feijão no meu
prato não no meu colo.

— Eu sinto muito. Você está crescendo tanto que eu mal posso ver ao seu
redor — ela mentiu, desejando poder mudar o curso da conversa.

Carrancudo, ele sentou-se novamente, então se inclinou para frente, se


dirigindo ao homem sentado em frente a ele. — O que você acha, Robert? Você é
um herói de guerra.

Brevemente, Robert ergueu o olhar para Meg antes de estudar a comida em


seu prato. — Estou longe de ser um herói de guerra.

— Mas você lutou. Você tem que ter algum sentimento sobre este assunto.
Não coalha seu intestino saber que temos um covarde vivendo entre nós?

Robert olhou para os rostos que o cercavam. — A maioria dos texanos


ignorou as leis de recrutamento...

O pai de Meg deu um tapa com a palma aberta sobre a mesa. — Por Deus,
nós não estamos falando sobre as leis de recrutamento. Eu era contra as malditas
leis, eu mesmo. Não diga a um texano que ele tem que lutar. — Ele bateu com a
mão sobre a mesa novamente. — Você apenas lhe diz onde será travada a batalha e,
por Deus, ele vai. Nossos filhos não esperaram por nenhuma lei para dizer-lhes que
tinham que ir. Assim que a chamada às armas soou, eles se alistaram. Todos,
menos aquele lá! — Ele sacudiu o punho no ar. — Nossos filhos eram homens de
honra e pagaram o preço final. Não me sinto bem comigo mesmo por ver que ele
ainda está respirando.

Os homens tinham convidado Lucian para sentar com eles, mas ele estava
olhando para sua comida, movendo seu traseiro no banco. Ele apertou a mandíbula
com tanta força que Meg achou que ele não seria capaz de comer se tentasse.

— O que você acha, John? — perguntou o pai de Meg. — Esta é a sua terra,
agora que está casado com Caroline.

John sacudiu a cabeça. — Eu vi homens suficientes morrerem na prisão por


uma vida. Não quero ver sangue derramado na minha terra.

— Parece-me — disse Robert calmamente — que vocês perderam homens


suficientes. Não vejo o que vocês vão ganhar por perder mais um.

— Paz de espírito — o pai de Meg disse quando empurrou seu prato para
frente. — Por Deus, isso me daria paz de espírito.

— De qualquer forma, eu pensei que quando o exército veio pelo Holland,


ele tinha ido com eles — disse Robert.

— Ele foi, mas não lutou. Nem sequer sente vergonha desse fato — disse o
pai de Meg. — Ele vai dizer se você perguntar a ele.

— Tinha um companheiro em minha companhia que não queria lutar —


disse Robert. — Eles marcaram-no como desertor e o fizeram sentar-se na borda de
seu caixão. Em seguida, atiraram nele.

— Eu poderia construir um caixão — disse Daniel.


Meg deixou cair o pote em cima da mesa e o feijão salpicou cada homem ao
redor. Com as mãos nos quadris, ela bateu o pé e olhou para suas expressões
surpresas. — Eu pensei que hoje vocês deveriam ajudar John e Caroline a
celebrarem um novo começo. Se eu soubesse que vocês estavam vindo passar o dia
de luto pelo passado, teria ficado em casa.

Ela marchou em direção à mesa de sobremesa. — Joshua e Joseph Holland!


Eu preciso de vocês!

Ela chegou à mesa, pegou três colheres, e enterrou-as em um pedaço de uma


de suas tortas de maçã.

Engolindo em seco o ar, os gêmeos chegaram correndo ao seu lado. Suas


sobrancelhas estavam vincadas com preocupação. — Do que você precisa, Sra.
Warner? — eles perguntaram ao mesmo tempo.

— Preciso que vocês comam este pedaço — ela disse quando entregou o
prato a eles. — E podem compartilhá-lo com quem vocês quiserem.

— Mesmo Clay? — perguntou um dos gêmeos.

— Qualquer um — ela repetiu com um aceno rápido.

— Obrigado, Sra. Warner — disseram antes de se afastarem, segurando o


prato entre eles e dando pequenos passos que a fez estar certa de que eles não
chegariam ao seu destino antes do anoitecer.

Ela cruzou os braços sob os seios. Não era muito. Provavelmente não era o
suficiente. Observando como os gêmeos se aproximavam da grande carroça onde
um homem estava sentado sozinho, de repente se sentiu como se nada jamais seria
suficiente.
Meg assistiu Helen derramar água sobre a sujeira na filha dela, de quatro
anos de idade, Melissa, que se estatelou no chão.

— Dê-lhe uma poça de lama, e ela fica feliz — disse Helen quando se sentou
ao lado de Meg e Sally Graham sob a sombra da árvore.

— O Dr. Martin disse que não há nenhuma razão para Tom e eu não
podermos ter muitos filhos — disse Sally calmamente.

Tranquilizando, Meg pegou a mão dela. — Tenho certeza de que você vai ter
mais filhos.

Sally corou. — Tom é tão bom para mim. Eu não sei o que eu faria sem ele.
Eu não sei como todas vocês viúvas sobreviveram. Vocês são apenas um pouco
mais velhas do que eu, mas todas perderam seus maridos.

Tom apareceu com um copo na mão e se ajoelhou ao lado de sua cadeira. —


Aqui está, Sally, querida. Eu trouxe um pouco de limonada.

A terna expressão de Tom fez com que a solidão cercasse Meg. Apenas
alguns anos de diferença de idades tinha esculpido vidas diferentes para as
mulheres na área. Enquanto Daniel lamentava o fato de ter nascido demasiado tarde,
ela desejou que Kirk não tivesse nascido tão cedo.

Como se seus pensamentos o conjurassem, Daniel caminhou em direção a


eles. — Tom! — ele gritou.

Com fogo intenso em seus olhos azuis, ele olhou rapidamente para Meg
antes de voltar sua atenção para Tom. — Holland levou os gêmeos para o rio.
Enquanto ele está fora, vamos derrubar as tábuas pregadas por ele. Quer ajudar?

— Por que você vai fazer isso? — Tom perguntou.


— Assim ele vai saber que não é querido e vai partir.

— Acho que ele provavelmente descobriu que não era desejado quando
todos nós caminhamos para longe dele esta manhã. Ele não é estúpido.

— Não, mas é um covarde de barriga amarela. Inferno, Tom, você se alistou


logo que teve idade suficiente.

— Sim, mas meu regimento nunca saiu do estado. Nós apenas sentamos na
fronteira da Louisiana à espera dos ianques. Eles nunca vieram. Eu nem mesmo
atirei em um homem com meu rifle.

— Esse não é o ponto — disse Daniel. — O ponto é que você estava


disposto a fazer sua parte. Ele não.

— Tom está certo, Daniel — disse Meg. — Basta deixá-lo terminar o seu
lado e ele vai voltar para casa.

— Droga, Meg, eu acho que você está ficando mole. Você está esquecendo
que foi seu marido e nossos irmãos que ele não apoiou? Não posso acreditar que
você deu a ele sua torta.

— Eu não dei a ele. Eu dei a seus irmãos.

— Sabendo muito bem que iriam partilhá-la com ele. Eu lhe disse ontem à
noite que queria fazer alguma coisa para preservar a memória dos meus irmãos.
Bem, é isso. Você vem, Tom?

— Não, eu não vou ajuda-lo, mas não vou desfazer o seu trabalho.

— Então nós vamos fazer isso sem você.


Meg assistiu seu irmão voltar para o celeiro. Ela sabia que ele nutria um
sentimento de culpa por não ter idade suficiente para se alistar ao lado de seus
irmãos, mas até hoje ela não tinha percebido a extensão do ódio de sua família. Se
eles descobrissem que ela passava um tempo com Clay...

Ela fechou os olhos, não querendo pensar sobre o que eles poderiam fazer.
Esta terra tinha muitas árvores nela.

Alguém pegou a mão dela. Abrindo os olhos, ela sorriu para Robert quando
ele se ajoelhou ao lado dela.

— Eu queria pedir um favor — disse ele. — Eu me sinto bastante inútil


agora que as sobremesas se foram e já não tenho de ficar de guarda sobre elas.
Ocorreu-me que se tivesse alguém para segurar o prego, eu poderia martelá-lo no
lugar. Queria saber se você estaria disposta a ser esse alguém.
Capítulo 11
— Jesus todo poderoso! — Josh gritou. — O que aconteceu com nosso muro?

Clay parou abruptamente como se tivesse acabado de bater contra a parede


que ele tinha erguido naquela manhã. O lado do celeiro pelo qual eles estavam
andando parecia como se ninguém tivesse tocado durante todo o dia.

Ele empurrou o chapéu para cima e passou os dedos pelo cabelo. Levar os
gêmeos para o rio, para que pudessem se refrescar, não tinha sido uma boa ideia,
afinal.

— Nós vamos para casa agora? — perguntou Joe.

Clay colocou o chapéu na cabeça e estreitou os olhos. — Não. Nós vamos


terminar o nosso muro.

Ambos os meninos lançaram suspiros funestos.

— Vocês podem trabalhar com Lucian se quiserem — disse Clay.

— Não, vamos trabalhar com você — disse Josh.

— Nesse caso... — Clay ajoelhou-se e colocou a mão no ombro de cada


menino. — Lembram-se de que temos a regra de nada de palavrões até que tenham
dezesseis anos?

Os gêmeos trocaram olhares suspeitos e acenaram com a cabeça.


— Hoje é uma exceção. Até que o sol se ponha, vocês podem dizer qualquer
palavrão que quiserem, quantas vezes quiserem.

— Nós podemos? — Josh perguntou, o entusiasmo com a perspectiva


refletido em seus olhos.

— Sim.

— Mas nós só conhecemos um — disse Joe.

— Fiquem ao meu lado — disse Clay — e eu vou ensinar a vocês um pouco


mais.

***

Meg olhou através do campo para o espaço em que uma vez tinha estado
uma parede oposta parcialmente concluída.

Ela olhou além daquilo, para onde Clay e os gêmeos tinham parado
abruptamente. Em torno dela, os martelos caíram em silêncio enquanto todos
observavam para ver como Clay reagiria. A ladainha de vá para casa correu através
de sua mente. Ele tinha que virar e ir para sua carroça. Leve os gêmeos para casa,
ela pensou. Por favor, leve os gêmeos para casa.

Ele se ajoelhou no campo. A próxima coisa que ela soube foi que os gêmeos
estavam gritando, gritando e correndo em direção à parede que era pouco mais do
que o ar.
Com um largo sorriso. Clay se pavoneou para a fresca pilha de madeira
serrada, levantou uma tábua, e levou-a para o local onde os gêmeos esperavam.

De todas as coisas que Clay poderia ter feito, a última coisa que ela esperava
que ele fizesse era sorrir. Ele dirigiu o primeiro prego na tábua com tal força que
Meg sentiu vibrar o local onde seus dedos estavam tocando.

Tom começou a assobiar e colocou o martelo em ação. Um por um, outros


martelos pegaram a batida.

— Bem, eu vou ser amaldiçoado — disse Robert calmamente.

— Eu suponho que nós poderíamos construir aquela parede — disse Meg,


inclinando a cabeça em direção à parede onde Clay trabalhava.

Robert deu um sorriso triste. — Eu estaria na pequena Shiloh novamente


tendo o ódio desta cidade dirigindo meu caminho. Tenho esperanças de me
estabelecer aqui, Meg, e ter uma família. Não quero que meus filhos brinquem
sozinhos.

Uma esperança tácita tocou seus olhos e Meg sabia que ele a queria incluída
em sua família. Ele era jovem, forte, e se assemelhava muito a Kirk, de tal forma
que ela queria manter sua promessa em seu coração.

Ele bateu a tábua que pegara contra a estrutura. — Quer ver se trabalhamos
bem juntos?

Balançando a cabeça, Meg se ajoelhou e colocou a palma da mão contra a


tábua para mantê-la no lugar. Em seguida, posicionou a unha. Virando a cabeça
ligeiramente, viu Clay se estabelecendo no outro lado do campo. Sua aba do chapéu
protegia os olhos, mas ela podia sentir seu olhar penetrante cravado nela. Ela queria
dizer-lhe que não era responsável pelo que eles tinham feito a seu lado do celeiro.
Ela queria dizer a ele...

Ela gritou quando uma dor aguda atravessou-lhe a mão e correu até seu braço.
Viu Clay se endireitar e passar através da abertura em sua estrutura. Fechou os
olhos, desejando que ele não viesse até ela. Se alguém sabia como lidar com um
polegar que tinha sido atingido com um martelo, era Clay, mas ela não podia
explicar às pessoas em torno dela por que queria a ajuda de Clay, em vez da deles.
Ela não conseguia nem explicar isso para si mesma.

Abriu os olhos e suspirou de alívio. Clay voltara para o seu lado do celeiro.
Ela podia ver seu joelho que se projetava para além da tábua que ele tinha pregado
no lugar. Sabia que ele estava de cócoras, com as costas contra a tábua, com a
cabeça abaixada enquanto, sem dúvida, lutava para não vir ajudá-la. Como ela tinha
chegado a conhecê-lo tão bem em tão pouco tempo?

— Meg, eu sinto muito — Robert gaguejou. — Pensei que eu estava vendo.

Embalando a mão, Meg forçou um sorriso. — Está tudo bem. Não machucou
tanto.

— Vamos encontrar o Dr. Martin e nos certificar de que não quebrei nada.
— Ele enfiou a mão sob seu cotovelo e a ajudou a se levantar.

— Tenho certeza de que nada está quebrado — disse ela, embora não
estivesse certa.

— Alguém viu o Dr. Martin? — Robert perguntou enquanto eles se


aproximavam da casa.
— A última vez que o vi, ele estava na varanda de trás — disse Helen.
Robert guiou Meg à parte de trás da casa. Prudence estava pisando a terra enquanto
o Dr. Martin olhava para ela com perplexidade.

— Por que eu iria querer algo que ele fez? — ela gritou. Ela apertou o dedo
contra o peito do Dr. Martin — Eu só queria morrer de vergonha quando vi você
falando com aquele covarde.

— Eu conversei com um monte de homens hoje, Pru. Não me lembro de


falar com qualquer covarde.

— Aquele Clayton Holland. Você foi diretamente para a sua carroça...

— Se você vê um covarde quando olha para aquele jovem, então passe no


meu escritório amanhã e lhe darei um novo par de óculos. Eu não iria participar do
ódio das pessoas nesta cidade, mesmo se elas prometessem fazer de mim um
homem rico. E eles estão lhe dando um inferno por muito menos que isso.

Ela empurrou os óculos até a ponta do nariz e levantou o queixo. — Você


não precisa se preocupar em me chamar mais. Não vou responder à sua batida.

Ela desfilou como se fosse uma galinha enfurecida. O Dr. Martin pegou um
galho mutilado. — Acho que não há nenhuma chance de pedir-lhe para casar
comigo agora.

— Dê-lhe um par de dias — disse Meg. — Todo mundo parece estar de


pavio curto hoje.

— Com certeza não é como nos velhos tempos. Quando nos reuníamos,
passávamos um bom tempo e ficávamos contentes de ver um ao outro. — Ele
sorriu alegremente e colocou o galho no bolso do casaco — Vocês estavam
procurando por mim?

— Sim, Doutor. Eu bati um martelo contra a mão de Meg — disse Robert.

— Agora, por que fez isso? — Dr. Martin perguntou quando gentilmente
pegou a mão de Meg e examinou-a.

— Eu fui estúpido o suficiente para pensar que poderia ajudar a construir o


celeiro se tivesse alguém para segurar os pregos para mim.

— Isso não soa tão estúpido para mim, mas vou confessar que posso pensar
em mais coisas que eu prefiro fazer com uma menina bonita do que construir um
celeiro. — Ele piscou para Meg. — Você terá uma pequena contusão, mas isso não
deve impedi-la de dançar esta noite.

***

Enquanto o crepúsculo se aproximava, Clay ouviu os martelos pararem, um


por um, em silêncio. Não precisava olhar para saber que estava sendo deixado para
colocar as tábuas finais no lugar. Teve a esperança irreal de que, talvez, terminasse
primeiro. Ele certamente teve o incentivo. Acabar sua parte e ir embora. Mas ele
não queria sair antes de terminar o que tinha começado. Mesmo que levasse até à
meia-noite.

Ele colocou a tábua contra a estrutura. Como tinha feito na maior parte da
tarde, virou-se ligeiramente, pressionou seu traseiro contra a tábua, estendeu a mão
e colocou o primeiro prego na posição. Endireitando-se, moveu-se cerca de uma
fração de polegada, tendo certeza de que estava nivelada com as outras tábuas.
Com o canto do olho, viu Lucian caminhando em direção a ele.

— No ritmo que está trabalhando, vai estar aqui até a meia-noite — disse
Lucian pouco antes de bater com o martelo contra o prego que Clay tinha usado
para colocar a tábua no lugar.

Ambos os homens ouviram o rachar da madeira e viram como uma fissura


vincada corria até o centro da tábua. Levantando uma sobrancelha, Clay olhou para
o irmão. — Estarei aqui até o amanhecer, se você me ajudar.

Lucian envolveu sua mão ao redor da cabeça de seu martelo. — Eles fizeram
apostas sobre se você ficaria ou não o dia inteiro.

— Quanto você perdeu?

Lucian baixou o olhar. — Por que você não foi embora?

— Suponho que é o que um homem corajoso teria feito.

Lucian levantou a cabeça. Clay encontrou seu olhar e disse: — Mas um


covarde poderia ter ficado esperando que, se ele construísse um muro, poderia
destruir o outro.

— Lucian? — perguntou uma voz feminina suave.

Lucian virou. Clay nunca tinha visto um chapéu sair de uma cabeça tão
rápido em sua vida.

— Você não deveria estar aqui, Taffy — disse Lucian tranquilamente.

Sorrindo suavemente, ela estendeu uma concha de água. — Achei que você
poderia estar com sede.
Lucian sorriu. — Como eu poderia estar com sede quando você ficou me
trazendo água o dia todo?

Ela encolheu os ombros ligeiramente, suas bochechas ficaram rosa. — Você


só parece com sede.

— Então eu acho que estou.

Lucian tomou a concha e bebeu a água, seus olhos nunca deixando Taffy.
Entregou a concha vazia de volta para ela. — Eu aprecio a consideração.

Na distância, a afinação de um violino soou. — Você vai ficar para a dança?


— perguntou Taffy.

— Não decidi ainda.

— Eu esperava que você ficasse. Pensei que, talvez, me pedisse para dançar.

Lucian suspirou profundamente. — Eu falei com seu pai. — Ele trocou o


chapéu para a mão que segurava o martelo e tocou o polegar em sua bochecha. —
Taffy, querida, ele não quer que eu fale com você.

Ela estudou o chão, depois cutucou o pé de Lucian com a ponta do seu antes
de encontrar seu olhar. — Eu não vejo como isso pode ser decisão dele. Estou com
quase dezessete anos, quase totalmente crescida, e ele não sabe o que eu procuro
em um homem.

Lucian riu. — Menina, você vai me fazer levar uma boa surra com esse
pensamento.

— Eu valho a pena — ela prometeu antes que se afastasse.


— Só entre você e eu — disse Clay — se eu tivesse que escolher entre uma
menina bonita querendo uma dança e bater pregos em tábuas, eu escolheria a
menina bonita.

Um sorriso apreciativo enfeitou o rosto de Lucian. — Ela é bonita, não é? —


Ele cruzou os braços sobre o peito e se inclinou para trás antes de Clay conseguir
lembrar-lhe que a parede não estava terminada. Caiu e bateu no chão.

Clay jogou a cabeça para trás e riu até ficar sem fôlego.

***

Das sombras do crepúsculo, Meg ouviu o estrondo do riso profundo, o


primeiro som de puro prazer inesperado que tinha ouvido durante todo o dia.

Observou Clay estender a mão e puxar Lucian para se levantar. Lucian se


afastou e Clay bateu os pregos na parede do celeiro que ainda não tinha sido
concluída.

Ela ouviu as tensões agridoces do violino envolvido em torno dos ecos do


martelo solitário.

Por que ele ficou?

Por que ele havia ficado para sofrer a ira e desprezo de pessoas que
prefeririam deitar-se entre cobras do que falar com ele?

E por que ela se sentia tão culpada por não reconhecer a sua presença? Eles
tinham um pacto, um acordo de cavalheiros, que ele tinha honrado hoje.
Por que ela gostaria que ele não tivesse feito isso?

Ele não silenciou seu martelo até que a noite caiu. No escuro, ela observou
sua silhueta caminhar até a carroça, para onde os gêmeos tinham ido perto do
anoitecer.

Ele passara todo seu dia dando ao seu vizinho a parede de um celeiro e
ninguém lhe agradecera. Passara uma noite tempestuosa esculpindo a lápide de
uma criança para que ninguém jamais iria agradecê-lo. Em nome da honra ele
sacrificara seu sonho de ir para a Europa.

Ela perguntou-se quantas outras coisas ele poderia ter feito em sua vida sem
ter recebido nenhum elogio ou apreciação.

As notas suaves de "Greensleeves" encheu a noite. Fechando os olhos, ela


permitiu à melodia trazer lembranças de dançar dentro dos braços de Kirk.

— Meg?

Ela abriu os olhos. — Olá, Lucian.

— Você me honraria com esta dança?

Eles caminharam para uma área onde lamparinas estavam penduradas em


galhos de árvores. — Obrigada por me convidar para dançar. Esta é a minha canção
favorita.

Eles começaram a dançar. — Clay me pediu para dançar com você se eles
tocassem essa música e você não estivesse dançando.

— Sinto muito por tudo o que meu pai e Daniel disseram durante a refeição
de hoje...
Lucian sacudiu a cabeça. — Na maior parte, eu me sinto da mesma maneira
que eles, ou pensei que sentisse. Não o entendo, Meg. Por que ele ficou?

— Eu não sei. E não sei porque ele ficou se para ele é doloroso, mas ele
ficou.

Eles perderam o ritmo da música, seus passos tornando-se pouco mais do


que os de duas pessoas balançando no local conforme as pessoas dançavam em
torno deles.

— Quando éramos mais jovens — Lucian começou — ele costumava me dar


a sua sobremesa à hora da ceia se eu prometesse ficar parado para ele no dia
seguinte, para que pudesse esculpir meu rosto.

— Ele me mostrou o cemitério dele — disse Meg. — Eu vi um anjo que


parecia familiar.

Lucian sorriu. — Isso era para ser eu. Você tem que ficar quieto quando ele
está esculpindo porque ele se concentra tanto que se esquece das outras pessoas que
estão ao redor. Se ele tem um martelo e cinzel em suas mãos... — Ele balançou a
cabeça em uma memória. — Eu estava sentado e ele estava trabalhando para
esculpir meu rosto. Vi um cervo escorregar por entre as árvores. Disse algo a Clay
sobre isso e meu nariz saiu voando daquele pedaço de pedra. Ele ficou tão chateado
que jogou suas ferramentas e correu para a casa. Não sei o que ele disse a mamãe,
mas a próxima coisa que eu soube, foi que ela veio correndo para fora, gritando
para papai ir buscar o Dr. Martin porque Clay tinha cortado o meu nariz.

Ela riu da imagem que suas palavras criaram. Ela podia imaginar Clay
dizendo que tinha cortado o nariz de Lucian. Para ele, a pedra era tão importante
quanto uma pessoa.
— Por que você pediu a ele para fazer o monumento? — Lucian perguntou
em voz baixa.

A música caiu em silêncio e Meg respondeu com a verdade. — Eu não sei


mais.

***

Sentado na varanda, Clay sentiu o vento da noite despentear seu cabelo.


Tanto quanto os dias de sua vida eram miseráveis, hoje certamente se posicionava
bem perto do topo.

Ele tinha ido ao galpão na madrugada e olhado para o granito. Ele lascara um
pedaço aqui e ali, mas não encontrara nenhuma alegria em suas ações. Ele não
tinha gostado de trabalhar no monumento desde que fizera a lápide para a bebê de
Tom. A estátua era apenas algo que ele queria terminar agora. Terminar e dar
acabamento.

E seguir em frente.

Queria viver em algum lugar que não tivesse o cheiro de madressilva no ar.
Queria viver em um lugar onde as mulheres não tivessem olhos azuis.

Esticando as pernas, recostou-se nos cotovelos. Provavelmente seria melhor


se vivesse em algum lugar que não tivesse mulheres, afinal.

Tinha ido à fazenda dos Wrights, porque tanto quanto ele odiava a forma
como Meg o assistia trabalhar, odiava ainda mais o pensamento de um dia a mais
sem ela.
Do seu ponto de vista distante, pensou que ela tinha sido a mulher mais
bonita lá. Queria caminhar até ela só para ver se seu vestido azul fazia seus olhos
parecerem tão azuis como ele pensou que poderia. Ouviu sua risada no vento e
segurou-a para aliviar sua solidão, uma solidão que se aprofundou quando percebeu
quanta atenção Robert Warner lhe dava, quanta atenção ela dava a Robert. Uma
sombra atravessou a noite. Ele sentou-se quando Lucian apareceu. — Não estava
esperando você em casa tão cedo.

Lucian encolheu os ombros. — Dancei um par de danças com Taffy, então


pensei que seria melhor voltar para casa e não abusar da minha sorte.

— Você dançou com Meg?

— Sim.

— Aprecio isso.

Lucian se inclinou contra a viga que corria da varanda para o beiral. —


Tucker, do mercado, se ofereceu para me estender o crédito. — Ele mudou sua
postura. — Quando eu lhe dei a minha palavra de que você não vai comer qualquer
dos fornecimentos que eu pegar.

Lentamente, Clay assentiu. — Será que ele quer isso escrito? Eu poderia
assinar uma confirmação...

— Puta que pariu! — Lucian tirou o seu chapéu da cabeça, afastou-se da


varanda, e olhou para Clay.

— Por que diabos você não vai lutar?

— O que você quer que eu faça? Vá para a cidade e espanque-o? O que


ganharíamos com isso?
— Algum respeito.

— Se eu fosse para a cidade e batesse em um homem com mais do dobro da


minha idade, as pessoas me respeitariam? Posso ficar sem esse tipo de respeito.

— Pelo menos eles parariam de pensar que você é um covarde, e eu e os


gêmeos poderíamos começar a andar com a cabeça erguida.

— A única pessoa que parou de andar com a cabeça erguida foi você. O que
eu faço com a minha vida não deve afetar seu orgulho.

— Você é meu irmão. Se as pessoas pensam que você é um covarde, então


eles vão pensar que eu herdei a mesma raia podre. Por que diabos você não poderia
ter apanhado alguma doença e morrido como tantos outros fizeram? Com certeza
teria feito a minha vida mais simples.

Clay estudou as sombras entre seus pés. Ele era só um pouco mais velho do
que Lucian era agora, quando tomou sua decisão de não ir junto com seus amigos.
Supôs que na idade de Lucian, cada jovem achava que as decisões que tomavam
não afetavam o mundo. — Você pensa que o pai de Taffy iria deixá-lo visitá-la se
eu não tivesse voltado para casa?

— Ele poderia.

Ele olhou para o irmão. — Quer que eu vá falar com ele?

— Claro que não! Eu não quero que você fale com ele.

— Então o que você vai fazer sobre Taffy?


Lucian passou os dedos pelo cabelo. — Inferno, ainda não decidi. Se ela
puder se esgueirar amanhã, nós iremos a um piquenique. Vou falar com ela sobre
isso.

— Se você começar a se esgueirar agora, sempre vai estar se esgueirando.

— Essas são belas palavras de sabedoria provenientes de um covarde.

— Eu nunca andei furtivamente por aí. Todo mundo sabia exatamente onde
eu estava.

Lucian se inclinou para baixo para que seu olhar estivesse no mesmo nível
com o de Clay. — Você teria se esgueirado se soubesse que eles tinham planos
para pendurá-lo no dia em que seus filhos se foram.

— Eu sabia — disse Clay calmamente. — Kirk me disse antes de partir.


Capítulo 12
— Se você vai fazer isso, é melhor fazê-lo direito.

Lucian virou a cabeça e olhou para Clay. — Isso é fácil de dizer. Você não
sabe como parece. Inferno, eu sinto como se fosse caminhar até a minha própria
execução.

Clay desembrulhou as rédeas das mãos. — Basta respirar fundo, olhar para
frente e começar a andar.

Lucian voltou sua atenção para as pessoas que perambulavam na igreja. —


Uma respiração profunda?

— Uma respiração muito profunda.

Lucian estava no meio da igreja antes de perceber que não tinha respirado.
Respirou fundo, mas suas pernas ainda tremiam como se caminhasse em terreno
instável. Aproximando-se da família Lang, tirou o chapéu. — Taffy?

Ela se virou, seus olhos cinzentos se alargando. Ele imaginou que o Sul tinha
vestido seus homens de cinza por causa dos olhos de Taffy.

— Taffy, sobre aquele piquenique que estávamos planejando... Sei de um


lugar muito legal, mas é muito longe para ir caminhando até lá. Pensei em ir buscá-
la na carroça em cerca de uma hora.
Um sorriso iluminou seu rosto e Lucian imaginou que os golpes que seu pai
estava prestes a lhe dar iriam valer a pena. — Sr. Lang, pode esmurrar minha cara
agora, porque meu objetivo é sair com sua filha.

— Oh, papai não irá bater em você. Vai, papai?

Quando Taffy tocou no braço de seu pai, Lucian pensou que poderia
realmente ver derreter o coração do homem. — Eu acho que não.

O sorriso de Taffy cresceu e ela apertou a mão de Lucian. — Eu estarei


esperando.

Lucian assentiu com a cabeça e esperou que seu sorriso não parecesse tão
bobo como ele sentia que era. Colocando seu chapéu na cabeça, andou para trás e
bateu contra alguém. — Desculpe, Robert.

Apressando o passo, se dirigiu para a carroça. Clay sacudiu as rédeas e


Lucian se pôs a correr.

Os gêmeos estavam rindo e gritando quando ele mergulhou na parte traseira


da carroça.

— Bem? — Clay perguntou por cima do ombro.

Lucian olhou para o céu azul. — Vou passar o dia perto do paraíso.

***

Meg não tinha ficado louca.


A noite anterior, enquanto seu pai guiava a carroça para casa, ela tinha ficado
na parte de trás olhando para as estrelas. Em algum lugar ao longo da estrada
esburacada, seu bom senso tinha ido para longe.

Depois que seu pai e Daniel foram dormir, foi na ponta dos pés até a cozinha
e cozinhou até o amanhecer. Com cuidado, arrumou tudo, e mais um bolo em uma
cesta de vime. O bolo era seu álibi para que sua família não se perguntasse por que
a cozinha quente cheirava a canela, açúcar e manteiga de madrugada.

Ela escondeu a cesta em seu quarto. Quando voltaram da igreja, ela fingiu
uma dor de cabeça, foi para o quarto, saltou da janela e selou seu cavalo. A cesta de
piquenique estava amarrada precariamente atrás dela. Foi em direção ao riacho
onde esperava que Clay voltasse a passar à tarde com seus irmãos.

Sabia que estava cortejando o perigo, mas a lealdade dos gêmeos a Clay
havia tocado-a profundamente. Desmontou dentro de um bosque de árvores perto
da margem do rio. Não ouviu nenhuma alegria ou riso. Ouviu apenas os pássaros e
o vento sussurrando através dos ramos, provocando as folhas. Ouviu um pequeno
respingo, o som de um peixe voltando para a água antes de estar pronto.

Clay tinha deixado Cedar Grove antes de estar pronto; retornou para o
povoado de Cedar Grove achando que eles estavam dispostos a aceitá-lo.

Silenciosamente, ela andou através das árvores até que viu a margem do rio
claramente. À sua frente não haviam meninos nus brincando. Nenhum homem
adulto totalmente vestido, molhado até os ossos, fazendo ameaças e, então
começando a cumpri-las.

Suspirou profundamente. Se não estavam aqui, onde poderiam estar?

— Olá, Sra. Warner!


Meg pulou, virou-se, e pressionou a palma da mão contra o peito, agradecida
por encontrar seu coração ainda podendo bater. — Você me assustou — disse ela
ao gêmeo, sorrindo.

Seu sorriso se alargou. — Sim, senhora, eu posso ver. Você de perto parecia
um pássaro tentando 'proteger seu ninho'.

Ele olhou ao redor. — Você tem um ninho aqui?

Ela colocou as mãos nos quadris. — Qual gêmeo é você?

Ele estudou o terreno por um momento, então olhou para ela, a suspeita se
mostrando claramente em seus olhos castanhos.

— Joe.

— Bem, Josh, você está sozinho aqui fora?

— Eu disse que eu era Joe.

— E eu acho que você está com medo de que eu vá dizer como você me
assustou, por isso me deu o nome de seu irmão.

Ele franziu o rosto. — Você vai dizer? Clay disse que sempre era para tratar
as senhoras gentilmente, mesmo quando fosse enfadonho. Ter assustado você não
foi tratá-la gentilmente. Vai dizer a ele?

— Você é Josh?

Lentamente, ele acenou com a cabeça.

— Devo dizer a ele?


Ele balançou a cabeça. — Não, eu mesmo vou dizer a ele. Ele diz que temos
que assumir as coisas que fazemos, boas ou ruins.

— Bem, não acho que é realmente necessário dizer-lhe qualquer coisa. Ele
está aqui?

— Sim, senhora. Estamos pescando lá embaixo, mas o peixe não está


mordendo a isca. Daí eu vim procurar algumas nozes. — Ele retirou a mão do bolso
para apresentar seus achados. — Não trouxemos nada com a gente, imaginando que
teríamos peixe para a refeição do meio-dia e minha barriga começou a roncar. Clay
disse que estava tão alto que estava assustando os peixes.

— Na verdade, eu estava à procura de um lugar para fazer um piquenique.

— Você pode compartilhar o nosso local se você não se importar em


descascar suas próprias nozes.

***

— Tenho certeza de que Josh voltará com um monte de nozes — Joe disse
enquanto brincava com sua linha de pesca. Seu estômago roncou e ele olhou para
Clay. — Eles não podem ouvir isso.

— Você ficaria surpreso com o que eles podem ouvir. — Deitado de costas,
as mãos cruzadas sob a cabeça, Clay observava as nuvens rolarem. Como Josh,
antes dele ir em busca de nozes. Clay tinha enfiado sua vara de pesca na margem
lamacenta.

— Acho que Josh está certo — disse Joe. — Eu não acho que Lucian é da
família. Ele deveria ter nos convidado para seu piquenique com Taffy.
— Lucian é da família. É só que ele não quer seus irmãos se intrometendo
enquanto está cortejando.

— Ele está verdadeiramente cortejando-a?

— Penso que sim.

— Será que ele vai se casar com ela?

Clay deu de ombros.

Joe enfiou a vara dentro da lama, se deitou de costas, e rolou sobre o


estômago, os cotovelos empoleirados para que pudesse descansar o queixo em suas
mãos. — Você nunca vai se casar?

Clay apontou para um amontoado de nuvens. — Olhe, um búfalo.

Joe virou a cabeça e apertou os olhos contra a luz solar. — Eu não o vejo.

— Logo à esquerda daquela nuvem que é um pouco mais escura.

— Você acha que lá em cima o papai está esculpindo nuvens?

— Eu não ficaria surpreso. Parece ser uma boa coisa a se fazer. Acho que eu
poderia fazer isso quando chegar a hora.

— Aposto que você vai esculpir algumas nuvens extravagantes.

Clay sorriu. — Sim, imagino que eu vou.

Joe deixou cair os cotovelos, juntou as palmas planas sobre a terra, e apoiou
a bochecha em suas mãos. — Então, você vai?

— O quê?
— Vai se casar algum dia?

O vazio tomou conta de Clay. Ele respeitava a honestidade e estava tentando


ensinar os gêmeos a serem honestos nas suas relações com as pessoas. Só desejava
não está-los ensinado a falar tanto sobre o que passava em suas mentes. — Não, eu
não acho que eu vou.

— Por que você não lutou na guerra?

— Isso tem algo a ver.

Joe se arrastou até que seu braço batesse no ombro de Clay. Ergueu-se nos
cotovelos e olhou para o rosto de Clay, bloqueando seus olhos castanhos nos de
Clay. — Se tivesse que fazer tudo de novo, você lutaria?

— Não.

Joe sorriu. — Estou feliz. — Ele caiu de costas e olhou para o céu.

Clay rolou para o lado dele e levantou-se em um cotovelo. — Por que você
está feliz?

— Porque se você fizesse diferente agora, significaria que fez a escolha


errada na primeira vez. E você não fez.

Balançando a cabeça, Clay deu a seu irmão um sorriso triste. — Acho que
você e Josh pensam nas coisas de forma demasiadamente velha para suas idades.

Ouviram uma comoção atrás deles e olharam por cima dos ombros.

— Encontrei algo melhor do que nozes! — Josh gritou enquanto se desviava


das árvores. — A Sra. Warner estava procurando por um lugar para fazer um
piquenique. Disse-lhe que podia compartilhar o nosso lugar. E adivinha o que? Ela
disse que poderíamos chamá-la de Sra. Meg.

Clay ficou de pé quando Meg emergiu das árvores. Doce senhor, mas seu
vestido azul aprofundava o tom de seus olhos. Ela prendera seu cabelo em algum
tipo de coisa rendada que fez com que parecesse grosso e pesado. Ele se perguntou
por que razão o cabelo não se libertava e fluía livre pelas suas costas.

Ela deu a Joe um daqueles raros sorrisos que precisavam ser esculpidos para
a posteridade. — Você se importa se eu fizer o meu piquenique aqui?

— Não, senhora — respondeu Joe, com um sorriso que poderia ter cegado o
dela, se o sol o refletisse.

Seu sorriso diminuiu quando olhou para Clay. — Está tudo certo com você?

Ele balançou a cabeça, desejando não ter trocado suas roupas da igreja. Elas
não eram sofisticadas, mas ela o via em suas gastas roupas de trabalho todos os dias.

— Eu trouxe uma colcha de retalhos — disse ela.

— Os meninos podem colocá-la para você.

— Por que precisamos de uma colcha de retalhos? — Josh perguntou.

— Porque senhoras não se sentam no chão — disse Clay.

— Nós nunca tivemos um piquenique com uma senhora antes — disse Joe.
— O que mais as senhoras fazem?

Aquele belo sorriso voltou ao seu rosto. — Elas trazem muita comida.

Agarrando as mãos dela, os garotos puxaram-na de seu cavalo. Sua risada


filtrou através do ar conforme Clay puxou sua vara de pesca da lama. Seu orgulho
queria dizer a ela que eles não precisavam de sua caridade, mas seu amor pelos
gêmeos foi maior do que o seu orgulho. Ele ouviu tudo sobre as sobremesas que
enfeitavam a mesa no dia anterior. Os gêmeos mergulharam em sua torta de maçã
com tal entusiasmo que ele apenas tinha sentado e assistido. Ele esperara que Meg
tivesse pensado em embalar um pequeno pedaço de bolo para eles hoje.

— Deus todo poderoso!

Clay virou e desejou ter um coração de pedra. Inclinando-se contra a árvore,


viu o prazer no rosto de Meg quando ela espalhou seu piquenique sobre a colcha.
Não sabia como ela tinha conseguido embalar todos os alimentos naquela cesta
pequena. E ela já tinha tirado três bolos e uma torta de maçã. Os olhos dos meninos
ficaram tão grandes quanto às duas tortas que ela tirava agora da cesta.

Em seguida, ela tirou frango frito e Clay sentiu a saliva fluir como um rio
caudaloso dentro de sua boca.

Ela esfregou as mãos, e dobrou-as no colo. — É isso aí.

— Deus todo poderoso! Podemos comer um pedaço de bolo primeiro? —


Josh perguntou.

— Isso é com seu irmão — ela disse suavemente.

Josh virou-se para Joe. — Podemos comer um pedaço de bolo primeiro?

Rindo, ela bateu no ombro de Josh. — Seu irmão mais velho.

— Clay, podemos comer um pedaço de bolo primeiro?

— Eu acho que sim.


Ela sentou-se sobre os calcanhares e pegou uma faca. — Eu tenho bolo de
manteiga, bolo de especiarias e bolo de chocolate. O que vocês querem?

Os meninos se entreolharam, depois olharam para os bolos e voltaram a se


olhar. Clay revirou os olhos. Eles estariam aqui o dia todo.

— Que tal um pequeno pedaço de cada um? — Meg sugeriu.

— Sim, senhora!

Se a mulher chamava aqueles pedaços que ela estava cortando de pequenos,


Clay achou que não queria ver o que ela chamava de grande. Ela entregou os pratos
para os meninos e eles encheram suas bocas com o bolo antes de o obrigado ter
escapado completamente.

Meg espalhou um guardanapo sobre sua saia. Nunca teria ocorrido a Clay
trazer um guardanapo para um piquenique.

Ela pegou um prato e, com os dedos delicados, arrancou um pedaço de


frango para fora do pote colocando-o em seu prato. Enxugando os dedos no
guardanapo, ela olhou para ele. — Eu fiz o suficiente para todos.

— Vamos lá, Clay — disse Josh. — Aposto que você nunca teve nada tão
bom antes.

Se ele tivesse tido, isso fora há muito tempo atrás para poder se lembrar.
Clay afastou-se da árvore, caminhou lentamente e sentou-se no chão ao lado da
colcha.

Ela lhe entregou um prato. — Apenas considere a si próprio.


Como os gêmeos, ele encontrou escolhas demais. A decisão sobre por onde
começar impossível de ser feita. Ele supôs que ele estava velho demais para
começar a sua refeição com um pedaço de bolo, então ele puxou uma coxa de
frango da panela e mordeu a carne suculenta. Ele mastigou-a lentamente,
saboreando. Engolindo em seco, olhou para ela.

— Como está a sua mão?

Meg esfregou a área logo abaixo de seu polegar. — Está apenas um pouco
machucada.

— Eu acertei minha mão suficiente vezes para saber que posso ser mais
inteligente. Você tem sorte de não ter quebrado alguma coisa.

— Eu acho que o orgulho de Robert se feriu mais do que ele me machucou.

Ele fez uma careta. — Se ele for como a maior parte de sua família, acho que
ontem foi duro para ele. Eles estão acostumados a fazer tudo por si mesmos.

Meg queria salientar que o dia anterior tinha provavelmente sido difícil para
Clay também, ou ele não tinha notado?

Ele colocou o prato sobre a colcha e ela viu seu olhar se mover sobre as
sobremesas. Ela desejou saber qual era a sua favorita, para que pudesse apenas
cortar um pedaço e colocá-lo em seu prato.

— Posso comer um outro pedaço de seu bolo de frutas? — Josh perguntou.


— É a melhor coisa que eu já comi na minha vida.

— Certamente — disse ela enquanto cortava um pedaço generoso.

— Você nunca vai se casar novamente? — Josh perguntou.


— Não é da sua conta — disse Clay.

— Por quê? — Josh perguntou.

— Com quem vocês acham que eu deveria casar? — ela perguntou, com a
intenção de aborrecer Clay, mas em vez disso, lamentou as palavras no momento
em que passaram por seus lábios. Sabia quem os gêmeos mais admiravam, sabia
que eles pensariam que ela tinha a mesma admiração por ele.

Josh franziu o rosto. — Eu e Joe teremos que colocar nossas cabeças para
pensar sobre isso. Nós vamos deixar você saber quando descobrirmos quem.

Clay pegou seu prato e caminhou até o rio. Ajoelhou-se na margem e Meg
viu sua mão sobre o prato quando ele mergulhou-o na água. Ele carregou o prato de
volta para a colcha e colocou-o para baixo. — Eu apreciei a refeição. Vocês,
rapazes, certifiquem-se de limpar tudo quando acabarem.

Meg assistiu-o ir embora. Toda essa comida e ele apenas tinha comido uma
perna de frango. O homem era impossível de entender.

— Não lhe dê atenção — disse Joe. — Nós estávamos falando sobre ele se
casar antes de você chegar. Reconheço que o incomoda falar sobre isso novamente.

— Com quem é que ele vai se casar? — ela perguntou.

— Ninguém.

Meg colocou seu prato para baixo. — Comam o quanto vocês quiserem
enquanto eu estiver fora. — Ela levantou-se e afastou-se da área de piquenique.

Esperava que Clay tivesse andado em linha reta, não se afastando da trilha.
Não tinha ideia de como seguir uma trilha. Pensou que os gêmeos provavelmente
poderiam ajudá-la a encontrá-lo, mas ela estava no clima 'para sussurrar' de Mama
Warner, e não achava que os gêmeos poderiam falar em voz baixa mesmo se ela
amordaçasse-os.

Viu Clay agachado em uma pequena clareira, tão imóvel quanto qualquer
estátua que ele já esculpira. Silenciosamente, lentamente, ela passou pelas árvores
até que obteve uma visão mais clara dele. Ele estava inclinado um pouco, seu
cotovelo apoiado na coxa, com a mão aberta perto do chão.

Ela viu uma cauda espessa atirar-se através da grama alta e, em seguida, um
esquilo estava sentado sobre suas ancas, fungando. Ele avançou em direção a Clay,
parou, estudou seu entorno e logo correu novamente. Deu uma parada rápida,
levantando o olhar para os suaves olhos castanhos do homem e deixando cair seu
olhar para a noz situada dentro de sua palma.

O esquilo arrebatou a noz e saiu correndo. Um lento sorriso satisfeito


apareceu no rosto de Clay antes que enfiasse a mão no bolso de sua camisa e
retirasse outra noz. Deslizou a noz na mão até que ficou aninhada entre o polegar e
o indicador, seus olhos nunca deixando a área em que o esquilo tinha desaparecido.

— Quer tentar? — ele perguntou. Torceu-se ligeiramente e olhou para ela.


Ele jogou a noz no ar e pegou-a sem tirar os olhos dela.

Meg entrou na clareira, ajoelhou-se na grama alta e estendeu a mão com a


palma para cima. — Não tenho certeza de que ele vai vir para mim.

Clay virou a palma da mão para que a noz rolasse para a dela. — Basta fingir
que é uma estátua e ficar quieta. Ele virá.

Inclinando-se, Meg descansou o cotovelo em sua coxa, assim como ele.


Ocorreu-lhe que poderia ser mais fácil alimentar o esquilo do que alimentar Clay.
— Será que Kirk lhe disse que 'Greensleeves' era a minha melodia favorita?
— ela perguntou em voz baixa.

— Ele pode ter mencionado isso.

Ela olhou para ele. Ele olhava para frente como se pudesse forçar o esquilo a
voltar e tomar a noz de sua palma. — Você se lembra de tudo o que ele lhe disse
sobre mim?

— Eu imagino ter esquecido uma coisa ou duas.

— Eu me lembro muito pouco do que ele me contou sobre você. No entanto,


você provavelmente sabe quais daqueles bolos é o meu favorito.

Um fantasma de um sorriso apareceu em seu rosto quando ele puxou um talo


de grama fora do chão e colocou-o entre os lábios. Ele cobria a boca quando
trabalhava para que ela nunca tivesse a oportunidade de estudar seus lábios como
estudava suas mãos, mas ela imaginou que sua boca poderia criar sussurros
assombrosos tão ternamente como suas mãos criavam formas.

— Especiarias — disse ele calmamente.

Incrédula, Meg piscou. — Ele disse a você tudo sobre mim?

Seu sorriso se alargou quando ele virou seu olhar para ela. — Ele não me
disse qual era o seu bolo favorito, mas quando você estava cortando os pedaços,
não foi tão generosa com o bolo de especiarias. Achei que queria ter a certeza que
sobraria um pedaço para si mesma.

Balançando a cabeça, Meg sorriu. — Você está certo. O de especiarias é o


meu favorito e eu fui mesquinha com o pedaço.
— Eu dificilmente chamaria você de mesquinha. Não com a festa que você
trouxe hoje. — Ele removeu a grama de sua boca e a jogou para o lado. Ela viu sua
garganta trabalhar como se ele lutasse pelas palavras. — Agradeço por você trazer
um piquenique para os gêmeos. Quando fiz os planos para ontem, não considerei
que eles ficariam sem...

— Isso não pareceu incomodá-los.

— Bem, isso me incomodou.

— Acho que não há muito que você possa fazer sobre isso, enquanto eles se
atiram para seu lado da maneira como fazem.

— Deve melhorar, uma vez que nós tenhamos a colheita e eu termine o


monumento.

— Por que ficará melhor, então?

— Porque vou seguir em frente.

Meg sentiu como se ele tivesse acabado de bater no peito dela com seu
martelo. — Onde você vai?

— Não sei, mas acho que estar no topo de uma montanha, para mim, seria
melhor do que estar aqui.

Passando as mãos pelos cabelos, ele suspirou profundamente. — Deus, eu


me sinto tão solitário.

O coração de Meg balançou. Ele era solitário, infeliz e miserável. Todas as


coisas que ela desejava que ele fosse. E ele era, mesmo sem concluir o monumento.
Ele não tinha admitido que ele era um covarde, mas ela estava certa de que
admitiria antes de terminar de esculpir os nomes na base.

Ela devia se sentir alegre. Em vez disso, ela tinha um forte desejo de lhe
perguntar que tipo de bolo era o seu favorito.

Ele apontou para o centro da clareira. — Você precisa ficar quieta agora. Ele
está vindo.

Cautelosamente, Meg deslizou seu olhar para frente e viu o esquilo correr em
sua direção. O esquilo parou tímido diante da mão de Meg e sentou-se sobre suas
ancas.

— Ele não vai levá-la — ela sussurrou.

— Shh. Ele levará.

Ela prendeu a respiração. Seu nariz coçava. Ela enrugou o nariz e a coceira
aumentou.

O esquilo caiu sob suas patas dianteiras e esticou-se, farejando o ar em torno


de sua mão. Em seguida, ele pegou a noz de sua mão e correu para longe.

Fechando a mão, Meg a embalou contra seu peito e riu. — Não posso
acreditar que ele a levou.

Ela ouviu um barulho e olhou por cima do ombro para ver os gêmeos
passeando em direção a ela, esfregando a barriga. Eles caíram no chão à frente dela.

— Eu nunca comi tanto em toda a minha vida — disse Josh.

Inclinando-se para frente, Meg riscou seus estômagos. — Estou feliz que
vocês tenham gostado.
— Clay, parece que não é suficiente dizer que a Sra. Meg cozinha a melhor
comida em todo o estado. Nós estávamos imaginando se poderíamos compartilhar
os morcegos com ela.

— Tenho certeza de que a Sra. Warner já viu os morcegos — disse Clay.

— Os morcegos? — perguntou Meg.

— Sim, senhora — disse Josh. — Eles se parecem com fumaça saindo das
colinas quando o sol se põe.

Meg olhou para Clay. — Será que Kirk sabia sobre os morcegos?

— Sim, senhora. Nós os encontramos quando tínhamos uns doze anos.

— Ele nunca mostrou-os para mim — disse ela, com uma sensação de perda.

— Há um ponto em particular, temos de ir lá para vê-los — disse ele


enquanto suas mãos formaram a forma de uma montanha. — Não é fácil chegar e
ele provavelmente não achou que você iria desfrutar dos morcegos.

— Eu gostaria de ver os morcegos — disse ela.

— Sra. Meg — disse Joe solenemente — nós provavelmente devemos dizer-


lhe que temos uma regra quando se trata de ir ao lugar dos morcegos. Se você
decidir vir com a gente, você tem que seguir essa regra.

— E qual é a regra?

— Não importa o quão assustada esteja, você não pode voltar atrás.

O medo, como Meg logo descobriu, podia galopar ao lado dela como dois
meninos gêmeos assobiando. Ela pulava cada vez que trombava em um galho,
quebrava um pequeno ramo de uma árvore no caminho, ou eles gritavam,
"Cuidado!".

Mas ela se recusou a voltar. Quando as sombras cresceram mais e eles


viajaram para mais longe, ela caminhou com sua saia levantada e marchou junto
com eles.

Clay seguia em uma marcha fácil, levando seu cavalo.

Os gêmeos pararam. — É isso aí, Sra. Meg.

Meg procurou no céu crepuscular. — Onde? Como se parece um morcego?


Eu não sei se já vi um antes.

— Não os morcegos — disse Josh. — Isso é o que nós temos que subir para
ver os morcegos.

Meg baixou o olhar e seguiu o rastro de seu dedo indicador. A montanha


assomava à sua frente.

Clay podia chamá-lo de um monte, mas era uma montanha.

— O sol está se pondo, por isso temos que nos apressar! — Josh gritou,
enquanto ele e Joe corriam em direção à montanha.

— Você não tem que fazer isso — disse Clay silenciosamente atrás dela.

Ela inclinou o queixo. — Claro que sim. Essa é a regra. — Inclinando-se


entre seus pés, segurou a parte de trás de sua saia, puxou-a e colocou-a em sua
cintura para que tivesse um tipo improvisado de calças. Não sabia por que não tinha
pegado a roupa de Kirk antes de se arrastar para fora da janela do quarto.
Provavelmente porque não tinha percebido que estaria procurando por morcegos.
Ela caminhou até o pé da montanha e olhou para os gêmeos subindo. Agarrar
os arbustos como eles, parecia ser o segredo. Ela respirou fundo.

— Sei que não gosta de meu toque — disse Clay — então acho que é melhor
avisá-la. Se você começar a cair, vou ter de te pegar.

Ela olhou por cima do ombro. — Então seria melhor eu não cair.

Ela flexionou os dedos antes de envolvê-los em torno do galho baixo de um


arbusto. Ela pisou na encosta.

— Teste o seu peso sobre esse ponto antes de ir mais longe — disse Clay.

— Eu posso fazer isso sem a sua ajuda — disse ela enquanto olhava para o
alto rochedo de onde os gêmeos já estavam olhando para baixo, para ela. Tentou
testar o seu peso sobre o local sem deixar que Clay visse que ela estava seguindo
seu conselho. Ouviu-o se movendo por detrás dela. — Você não vem comigo, não é?

— Não, senhora, vou seguir atrás de você, a uma boa distância.

Meg soltou o galho que segurava e se lançou para outro. Puxou polegada por
polegada. Estaria, pelo menos, um ano mais velha antes que visse os morcegos.

Os gêmeos incitaram-na. Ela estendeu a mão para outro ramo e deslizou mais
para cima no lado da colina. Não tinha nada a temer.

Olhou para baixo. Clay ainda estava no chão. Ele tinha levantado um pé para
que ele descansasse na colina, mas os braços se penduravam ao seu lado, como se
estivesse esperando que ela subisse mais longe antes de segui-la.
Ela moveu o pé para uma grande rocha saliente. Sabia quão fortes as rochas
poderiam ser, então moveu seu peso para esse lado. A rocha se soltou da terra e
caiu pelo lado da colina.

Perdendo o equilíbrio, ela pendurou-se no ramo.

Em seguida, ouviu um estalo. Clay estava certo. O som de uma rachadura


quando você não estava querendo, era ensurdecedor. Quase tão ensurdecedor como
seu grito, quando ela deslizou para baixo do morro.

Ela parou de repente, com o lado espinhoso e duro da colina pressionado


contra seu estômago, e um homem forte, firme, pressionado contra suas costas.

Ele manteve um pé firmemente plantado no chão e colocou o outro no lado


da colina. Ela estava praticamente sentada em sua coxa dura, com seu corpo
aninhado contra ele e a cabeça deitada firmemente contra seu ombro.

— Você está bem? — ele perguntou em voz baixa, seu hálito sussurrando ao
longo de sua nuca.

Ela virou o rosto para lhe dizer que estava bem e que ele não precisava
segurá-la. Ele franziu a testa e a tristeza encheu seus olhos.

— Ah, você arranhou seu rosto — disse ele em voz baixa enquanto
gentilmente tocava as pontas dos dedos em sua bochecha.

Ele fitou seu rosto e Meg se perguntou o quanto ela fora cortada. Sua
bochecha ardia, mas não foi à pequena dor que trouxe lágrimas aos seus olhos. Foi
à expressão de espanto no rosto de Clay.

— Querido Deus, mas você é suave — ele disse em uma voz rouca.
Ele retirou os dedos de seu rosto e deu um passo para trás. Meg tropeçou
antes de se equilibrar.

Desviando o olhar, ele enfiou as mãos nos bolsos, lembrando-a um garotinho


perdido. Ele parecia como se tivesse acabado de descobrir algo que teria sido
melhor não saber.

Ele limpou a garganta e arrastou a ponta da bota contra o solo, ao redor das
raízes na grama e ervas daninhas. — Você vai tentar de novo?

Meg esfregou suas mãos esfoladas. — É esse o único caminho para cima?

Ele balançou a cabeça solenemente. — Eu poderia ir bem atrás de você.


Parar você mais cedo se você perder seu apoio.

— Não há uma chance de que nós dois apenas rolemos para baixo da
montanha?

Ele lhe deu um sorriso torto. — Sim, mas eu seria mais suave do que a terra.

Ela não estava completamente certa sobre isso. Pelo que tinha acabado de
sentir, seu corpo era como uma rocha dura, como as pedras que ele cortava. Ela
respirou fundo. — Tudo bem. Eu não quero decepcionar os gêmeos.

Ela agarrou o mato que lhe tinha servido bem durante a sua primeira
tentativa de subir o morro e colocou seu pé sobre um pouco de terra. Clay se moveu
atrás dela e ela pressionou seu corpo contra a terra.

Ela caminhou para cima. Ele girou o braço sobre ela e agarrou um arbusto
acima de sua cabeça. Seu corpo roçou contra o dela. Kirk sempre cheirava a rum.
Clay era revestido da terra, forte e almiscarada.
Ele não tentava cobrir seu cheiro masculino. Ele era tão natural quanto suas
rochas.

Ela pegou o próximo arbusto. Tão perto como sua sombra, ele ficou com ela.
Ela imaginou que o posicionamento de seu corpo sobre o dela dava a aparência de
uma situação comprometedora, o que a levou a se mover um pouco mais
rapidamente.

— Não se apresse — disse ele.

— Eu gostaria de chegar ao topo antes que eu seja uma mulher velha.

Seu pé escorregou. Sua mão apertou ao redor de sua cintura — Devagar e


facilmente você vai chegar lá — disse ele.

— A paciência não é um dos meus pontos fortes.

Ele riu. — Eu sei.

Ela voltou à cabeça. — O que fez Kirk informá-lo sobre a minha paciência?

— Nada. Agora alcance as raízes dessa árvore.

Meg fez como instruído, mais e mais, estendendo a mão para os galhos e
raízes que ele indicava, puxando-se para cima, ganhando terreno mais lento do que
ela teria gostado, mas perdendo muito pouco com isso. Ele começou a deslizar o pé
por baixo dela, dando-lhe apoio adicional. Na maioria das vezes, ele só usava uma
mão para se apoiar no lado da colina.

Com a outra mão, ele segurava sua cintura ou estendia os dedos em toda
parte baixa de suas costas. Ela pensou que ele provavelmente tinha as maiores
mãos de todo o estado. Talvez as mais fortes. E, de um estranho jeito, gentis.
Também ocorreu-lhe que ele parecia extremamente hábil em ajudar alguém a
subir o morro. Ela se perguntou com quantas outras senhoras ele poderia ter
compartilhado os morcegos.

— Só mais um pouco, Sra. Meg! — Josh gritou.

Meg deslizou para cima e sentiu pequenas mãos agarrarem seus pulsos.

— É isso aí, Sra. Meg — disse Joe. — Nós não vamos te deixar cair.

Ela sorriu quando se encostou sobre a beira da colina. Em seguida, gritou


quando Clay empurrou seu traseiro e enviou-lhe para cima.

Ela ficou de pé e olhou para o homem conforme ele trilhava seu caminho ao
longo da beira. Estava tentada a colocar o pé no ombro dele e mandá-lo de volta
para baixo do morro.

Esfregando as mãos sobre as coxas, ele ficou vermelho como o horizonte


pelo sol. — Eu sinto muito. Parecia a melhor maneira de chegar à beira.

Meg tirou o pó de sua saia e jogou as mãos sobre seu traseiro. — Nenhum
dano feito, mas acho que eu poderia ter feito isso sem assistência.

— Vamos, Sra. Meg — disse Josh. — Está quase na hora.

Os rapazes agarraram suas mãos e puxaram-na para o outro lado do platô.


Quando chegaram ali eles soltaram suas mãos, deitaram, e espiaram por cima da
beira.

— Oh, não façam isso — disse ela. — Vocês vão cair.

— Não, não vamos — Josh assegurou.


— Incomoda à Sra. Warner vocês estarem tão perto da beira — disse Clay.
— Vocês não vão perder nada se afastarem-se um pouco.

Joe olhou por cima do ombro. — Como é que podemos chamá-la de Sra.
Meg e você não pode?

— Porque ela e eu temos um acordo de negócios. Não seria apropriado.

— Ela o chama de Sr. Holland?

— Não. Você precisa prestar atenção aos morcegos agora.

Meg estava agradecida de os meninos voltarem sua atenção para paisagem


diante deles. Não queria explicar por que ela não dizia o nome de seu irmão.
Cuidadosamente, caminhou até a beira e deitou de bruços ao lado de Joe. Clay se
estendeu ao lado de Josh e ela estava feliz de que eles tivessem a barreira dos
gêmeos entre eles.

— Deus todo poderoso! Olhem para o céu — disse Josh.

— Sim, é lindo — disse Clay.

O céu de um azul profundo se derretia em fios de tecelagem rosa entre as


raias de lavanda e laranja. Meg não conseguia se lembrar da última vez que
observara o sol e apreciara sua majestosa despedida.

A lua já era um brilho fraco, como se ansiosa para trazer a noite. — Vocês
vêm sempre aqui? — ela perguntou.

— Sim, senhora — disse Josh. — Todas as vezes que podemos. É um bom


lugar para estar contente por todas as coisas que temos.
Por todas as coisas que tinham: um biscoito ocasional, um irmão que era
evitado pela comunidade. Ela não sabia se sua inocência era uma bênção ou uma
maldição. — Olha, Sra. Meg. Lá estão eles. — Ela olhou por cima da beira para as
colinas que ventilavam sobre o campo. Ela viu uma pequena espiral de preto
subindo para o céu, desvanecendo-se. — De onde eles vêm? — ela perguntou.

— Nós não sabemos — disse Josh. — Achamos que há uma caverna ou


alguma coisa lá em baixo, mas é uma daquelas coisas em que o não saber torna
especial.

Josh se arrastou pelas costas de Clay. Rapidamente, Joe o seguiu. Josh


estendeu a mão sobre Clay e deu uma tapinha no local que ele tinha desocupado. —
Se mova para cá, Sra. Meg, para que possa ver melhor. — Ela queria dizer a eles
que podia ver muito bem de onde estava, mas poderia dizer, por suas expressões,
que os gêmeos pensavam estar lhe oferecendo o presente mais maravilhoso do
mundo. Como poderia enfrentá-los amanhã se machucasse seus sentimentos agora?

Ela se aproximou mais até que estava tão perto de Clay como poderia estar,
sem realmente tocá-lo. Os gêmeos se situaram ao lado de Clay como se
estabelecendo-se para uma longa noite de sono. A espiral de preto cresceu e ficou
mais elevada. A agitação da atividade enegreceu o céu. Meg sentiu os gritos agudos
e o farfalhar de asas. Ela nunca tinha experimentado nada parecido. Momentos se
passavam e ninguém falava, como se cada um estivesse encantado com o incrível
número de asinhas subindo em direção ao horizonte distante.

— Onde eles vão? — Meg sussurrou.

— Não tenho ideia — disse Clay.

— Quando eles voltam?


— Perto do amanhecer.

— Como você sabe?

— Nós ficamos aqui a noite toda uma vez, esperando para ver quando eles
voltariam.

— Você e os gêmeos?

— Não, eu e seu marido. Só que ele não era seu marido na época.

Meg entrelaçou os dedos. — Não vou ficar chateada se você disser o nome
dele.

Ele deslizou seu olhar sobre o dela. — Não quero que você pense que eu
estou sendo desrespeitoso.

— Não vou pensar isso.

Sabiamente, ele acenou com a cabeça antes de voltar sua atenção para as
criaturas voadoras.

— Acho que você compartilhou os morcegos com um monte de gente —


disse ela, desejando que não a incomodasse pensar em todas as mulheres com quem
ele poderia ter compartilhado este lugar único.

— Só você e os gêmeos. Lucian foi convidado uma vez, mas não se


interessou.

A névoa preta de morcegos desapareceu, deixando um silêncio audível em


seu rastro. Meg queria poder ficar ali para sempre, longe das palavras amargas e do
ódio que enchia o mundo abaixo.

— Ele não sabe o que está perdendo — disse ela calmamente.


Capítulo 13
— Sra. Meg!

Na manhã seguinte, Meg desmontou e abraçou cada gêmeo antes de


entregar-lhes as rédeas. — Obrigada por ontem à noite — disse ela.

— O prazer foi todo nosso, minha senhora — disse Josh. — E adivinhe?


Descobrimos com quem você deve se casar.

Meg parou de andar, não certa de querer ouvir este anúncio. Como poderia
explicar que ela nunca iria... nunca poderia casar com o irmão deles?

— Nós decidimos que você deveria se casar com Robert Warner.

— Robert?

— Sim, senhora. Ele parece bom o suficiente e você não teria que mudar seu
nome.

Meg riu timidamente. — Eu pensei que você iria dizer que eu deveria me
casar com seu irmão.

— Clay?

Ela assentiu com a cabeça.

— Ah, não, senhora. — Josh disse. — Não seria nada bom você se casar
com Clay. Se você se casasse com ele, sem a menor dúvida ele iria querer beijá-la
de tempos em tempos. E nós concluímos que beijar já é desagradável o suficiente
quando você gosta da pessoa que você está beijando. Seria miserável beijar alguém
que você odeia.

Meg sentiu seu coração a abandonar. Incomodava-a que os gêmeos


percebessem que ela odiava seu irmão. As palavras vindas de suas bocas inocentes
pareciam tão feias.

Eles caminharam em direção ao galpão. Clay estava na porta, esperando por


ela. A noite anterior tinha mudado algo entre eles e ela teve a sensação de que os
dias seguintes seriam mais parecidos com os dias que haviam compartilhado antes
de Tom precisar de uma lápide para a sua filha.

Quando se aproximaram do galpão, os gêmeos conduziram o cavalo para


longe. Clay deu um sorriso cauteloso. — Bom dia.

Ela entrelaçou os dedos. — Bom dia.

— Eu gosto do jeito que você está usando seu cabelo agora — disse ele.

Meg tocou o coque. — Isso causa menos problemas do que tentar prendê-lo
em um nó na parte de trás.

— Parece mais bonita, também. — Ele deu um passo para trás. — Faz um
par de dias desde que eu fiz qualquer corte. Espero me lembrar de como fazer.

— Eu acho que não é algo que você facilmente esquece.

Amarrando sua bandana sobre o rosto, ele caminhou até sua mesa. Meg
pegou o lenço da cadeira. — Será que vamos precisar usá-los quando você estiver
cortando os detalhes?
— Não — ele disse, sua respiração fazendo com que sua bandana ondeasse
para longe de sua boca.

Ela lembrou-se da sensação daquela respiração quente na noite passada em


sua carne. Estremecendo, colocou o lenço em volta do rosto. Estava tão ansiosa
agora para assistir ao trabalho de Clay desmascarado, como para ver as feições de
Kirk tomarem forma na pedra.

Clay começou a trabalhar e nuvens de poeira se materializaram. Antes que


fosse para casa, todas as noites ela parava ao longo do rio para lavar o pó da pedra
revestindo sua pele. Supôs que Clay se sentia ainda mais sujo do que ela no final do
dia. Mesmo agora, seu cabelo estava polvilhado com as partículas finas.

Seus pensamentos se foram para Robert. Ele seria um marido excepcional,


mas a imagem não recorreu a ela tanto quanto a dois dias atrás. Sua promessa tácita
pesava em seu coração.

Clay desceu do banquinho e caminhou até a mesa. Ele já não sentia a


necessidade de sair de casa e enterrar a cabeça em um balde de água quando o
cheiro de madressilva tornava-se muito forte.

Tinha levado para o lado pessoal quando ela não quis que Tom a visse ali,
mas nos últimos dias, aprendeu que preferia tê-la aqui a não ter. — Vou parar por
algum tempo.

— Oh, sim, é claro. — Ela se levantou da cadeira, foi até a pedra, e colocou
a mão sobre o granito.

— Eu esculpi do outro lado — disse ele.

— Claro. — Ela se moveu para o outro lado e tocou a pedra raspada.


— Há algo incomodando você hoje? — ele perguntou.

Ela suspirou. — Você disse aos gêmeos que eu odeio você?

— Não, mas eles tendem a perceber muito mais do que deveriam e, às vezes,
soam como homens de oitenta anos de idade pensando na vida.

Ela sorriu fracamente. — Eles acham que eu deveria me casar com Robert.

— Ele é um bom homem.

— Ele lutou em Shiloh.

— Então, eu diria que ele está perto de ser perfeito.

Ela pressionou a testa contra a pedra. — Eu amei Kirk tanto. Não posso
imaginar alguém tomando o seu lugar.

— E ninguém vai, mas ele era o tipo de homem que se afastaria e abriria
espaço para outra pessoa. Ele gostaria que você encontrasse a felicidade.

— Às vezes, parece impossível. Observar os morcegos foi o mais próximo


que eu vim a estar de ser feliz em anos. Os gêmeos olham para o mundo do jeito
que eu costumava fazer, do jeito que eu sempre pensei que faria.

A dor surda pulsava em seu peito por tudo que ela tinha perdido. Corajosa
Meg. Ela tinha visto o homem que amava ir embora, para nunca mais voltar para o
seu lado. Ele pegou um pequeno cinzel e martelo. — Quer lascar um pedaço da
pedra?

Ela puxou a cabeça para trás com tanta força que ele se surpreendeu por ela
não desencaixar seu pescoço. — O quê?
Ele estendeu as ferramentas. — Pensei que você gostaria de cortar a rocha
um pouco.

— Eu poderia arruiná-la. Então, todos os seus esforços seriam em vão.

— Não acho que vá arruiná-la. Você pode lascar um pequeno pedaço deste
canto que ainda não toquei.

Seus olhos se iluminaram enquanto ela caminhava para o canto e examinava


a pedra, correndo os dedos ao longo da borda.

— Eu provavelmente não sou forte o suficiente.

— Você não vai saber a menos que tente.

Ela limpou as mãos na saia. — Tudo certo. — Ela começou a colocar o lenço
sobre o rosto.

— Você não tem que usar isso. Não acho que vá criar poeira suficiente para
nos incomodar. — Ele entregou-lhe as ferramentas.

— Oh, eles são mais pesados do que eu pensava — disse ela enquanto movia
as mãos para cima e para baixo, testando o peso.

Ele colocou o dedo na pedra. — Segure o cinzel na mão esquerda e coloque


a ponta cega bem aqui. — Ela fez o que ele disse. — Agora você tem que ter um
controle firme sobre o cinzel, porque não quer que ele saia voando quando atingi-lo.

Ela assentiu com a cabeça.

— Relaxe o braço segurando o martelo. Você quer que o martelo faça o


trabalho. E nunca tire os olhos do cinzel.

Ela deslizou seu olhar para ele. — Nunca?


Ele não percebeu o quão próximo ele estava dela até que ela virou a cabeça.
Um homem poderia se afogar na piscina azul de seus olhos. Ele passou a maior
parte da noite pensando em quão macia e suave sua pele era.

Seus lábios pareciam ainda mais suaves.

— Nunca — ele disse em uma voz rouca. — Senão, você vai se distrair e
começar a pensar em coisas que você não deveria.

— Como o quê? — ela perguntou.

Tinha sido um erro dizer a ela para não cobrir o rosto. Seu rosto era um oval
perfeito, seus olhos um azul perfeito. Seu lábio inferior estava tão cheio que dava a
aparência de que ela estava fazendo beicinho, quando não estava. A ponta de sua
língua umedeceu os lábios, e ele se perguntou como seria a sensação de ter essas
brilhantes gotas tocando seus próprios lábios.

— Você quer saber... — ele abaixou a cabeça lentamente — me pergunto se...


— Ele roçou os lábios levemente sobre os dela.

Ela virou a cabeça para trás.

Clay se endireitou e engoliu o nó que se formou em sua garganta. — Sinto


muito. Vou ficar parado se quiser me bater.

— Não quero te dar um tapa, mas acho que preciso ir embora.

Ele sentiu o tremor em suas mãos quando ela lhe deu as ferramentas. —
Acho que não foi uma boa ideia.
Ela desamarrou o lenço do pescoço e jogou-o na cadeira antes de sair do
galpão. Clay lutou contra a vontade de pegá-lo e amarrá-lo em volta do pescoço,
para que ainda tivesse o cheiro de madressilva com ele.

— O que você fez para fazer a Sra. Meg chorar? — Josh perguntou.

Clay olhou ao redor da pedra para os rostos preocupados dos gêmeos. — Ela
está chorando?

— Não como no dia em que tivemos que confortá-la, mas seus olhos
estavam cheios de lágrimas.

— Puta que pariu! — Clay bateu com a mão contra o granito e bateu a testa
contra a pedra. Os berros de dor em sua cabeça não eram altos o suficiente para
abafar a dor do corte em seu coração.

— O que você fez?

— Beijei-a.

— Por que diabos você fez uma coisa idiota como essa?

Clay moveu a cabeça de um lado a outro, sentindo a rocha abrasiva irritar sua
pele.

— Você acha que ela vai voltar? — perguntou Joe.

Clay deu um suspiro profundo. — Não.

— Então, quem é que vai nos fazer sorrir?

Clay fechou os olhos. Quem lhe daria uma razão para antecipar o amanhecer?

***
O mundo a abrangeu, calmo, quente e sedoso. As vibrações sensuais deram à
Meg uma liberdade que ela não tinha experimentado em quase cinco anos, mas a
liberdade foi fugaz, perdida no momento em que ela rompeu a superfície da água
brilhante pela luz da lua.

Pouco tempo depois deles se casarem, Kirk a trouxe aqui. Era o seu lugar
privado especial. A lagoa era um círculo de águas profundas, com grandes
pedregulhos ao longo de uma borda e terra e árvores que enfeitavam as bordas
restantes.

Ela não tinha ideia de onde a água vinha. Supunha-se que, de alguma forma,
atravessava a terra e passava por fendas nas rochas. Realmente não se importava.
Só importava que a lagoa estava esperando por ela hoje à noite, quando precisava
tanto.

Tinha vindo aqui com a esperança de trazer de volta a sensação dos lábios de
Kirk sobre os dela, mas a tentativa se provou ser fútil. Só podia sentir os lábios de
Clay sobre os dela, apenas um toque de sua boca sobre a dela e, ainda assim, o
calor tinha disparado através dela. Sentiu o desejo de inclinar-se para ele,
pressionar-se contra o seu corpo, entrelaçar os braços ao redor de seu pescoço,
devolver o beijo com um fervor que excederia em muito o dele.

Ela se afundou nas profundezas da lagoa. Havia soltado seu cabelo porque
gostava da forma como a água parecia transformá-lo em mechas de nuvens que
flutuavam livremente através de um céu preto. Mas mesmo aqui, onde a água
cortava os sons da noite, não pôde exortar suas memórias de Clay. Ele assombrava
seus pensamentos e, ela temia que, se dormisse, ele assombraria seus sonhos.
Quando seus pulmões pareceram perto de rebentar, ela subiu para a
superfície da lagoa. Os sons da noite tinham mudado.

Os insetos haviam se refugiado, o silêncio era palpável na noite. Parecia que


mesmo a água tinha cessado seu vai-e-vem contra a costa.

As cepas tristes de uma canção sussurradas de uma gaita, encheram a noite.


Ela passou do centro da lagoa para uma área onde os galhos das árvores a
protegiam do luar. Olhou para a pedra. Uma figura solitária estava sentada sobre a
rocha, os ombros curvados, as mãos perto de seu rosto. As sombras da lua
escondiam a gaita que ela estava certa de que ele segurava. Também escondiam a
expressão em seu rosto. No entanto, o som que ele criou disse tudo o que precisava
ser conhecido sobre seus sentimentos e pensamentos.

Um gemido solitário, uma alma chorando no meio da noite.

Ela queria gritar que ele não estava sozinho, mas o chão pelo qual caminhava,
estava trêmulo. Já tinha lhe oferecido muito mais amizade do que pretendia.

A música parou e ela viu, com espanto, que ele tirou suas roupas. Ele se
levantou, uma miríade de sombras e luar sobre seu corpo. Ela só teve tempo de
perceber quão alto e magro ele parecia, antes que ele pulasse da pedra.

Ela gritou.

***
Clay ouviu o grito estridente de uma mulher rasgar o silêncio da noite pouco
antes de mergulhar abaixo da superfície da água. Se não fosse por isso, poderia ter
pensado que seu pé tinha atingido um peixe invulgarmente longo e sedoso. Como
não era o caso, ele teve a sensação de que sua perna tinha aprisionado o
comprimento da perna de uma mulher.

Ele disparou em linha reta até a superfície, sua respiração ofegante quando
afastou o cabelo de seus olhos. — Cristo! O que está fazendo aqui?

Mesmo enquanto Meg lutava para se manter à tona na água, ela inclinou o
queixo. — Eu? O que você está fazendo aqui? Este foi o nosso santuário privado.

— Nosso? Será que Kirk lhe disse sobre esse lugar?

— E se ele disse?

— Maldito seja seu couro sem valor. Nós todos fizemos um juramento de
que iríamos manter este lugar em segredo.

— Quem é nós?

— Kirk, Stick, seus irmãos. Inferno, todos aqueles em torno de nossa idade.

— Eu não sei porque você está tão irritado.

Clay não sabia. Seu pé quente, nu, tocou-lhe, e ele deslizou para longe dela.
Ela estava, sem dúvida, vestida tanto como ele... que não era nada. Ele pensou que
a água ao seu redor poderia ferver se ele pensasse sobre isso por muito tempo. —
Eu vou sair.

Ele nadou até a margem, onde as sombras se colocavam mais densamente


sobre a água. — Você pode me ver?
— Não!

— Bom. — Ele subiu à margem e se dirigiu para a pedra.

— Eu vou sair também!

Ele parou de andar e se perguntou onde tinha deixado à roupa. Pelo bem da
estátua ele deveria olhar por cima do ombro e checar se suas curvas eram tudo o
que ele pensou que fossem. Cerrou os punhos e foi para a pedra. Ver essas curvas
em seus sonhos era ruim o suficiente. Não precisava vê-las na carne.

Ele pegou suas roupas. Droga Kirk! O homem estava transformando-se mais
em um inimigo do que em um amigo.

Clay vestiu as calças e empurrou seus braços em sua camisa. Ela não poderia
ter conseguido uma boa olhada em seu corpo, não na escuridão.

Um botão em sua camisa voou para a noite. Ele amaldiçoou e tomou mais
cuidado com os outros botões.

Não precisava de um buraco expondo seu peito. Calçou as meias e empurrou


seus pés em suas botas.

Passou as mãos pelo cabelo molhado. Pelo menos estava coberto do ombro
aos pés. Senhor, quão perto ele chegou...

— Você está decente? — Meg perguntou com uma voz suave atrás dele.

Ele quase pulou de volta na água. — Estou vestido — gritou.

Ela saiu das sombras e se sentou no chão ao lado da pedra. Colocou seus
sapatos ao lado dela e ele podia ver o contorno fraco de seus dedos dos pés
aparecendo por baixo de sua saia. Ela inclinou a cabeça, envolvendo seu cabelo
sobre o rosto de modo que os fios grossos se reunissem no colo, e começou a
escová-los.

Seu cabelo de ébano, brilhando a luz da lua, o lembrou da seda. Seus dedos
doíam para deslizar nele. Ele tinha cometido um erro ao trabalhar com pedra por
toda a sua vida.

— Por que você e os outros precisavam manter este lugar em segredo? — ela
perguntou.

Ele se inclinou contra a rocha. — Queríamos um lugar onde se pudesse


discutir as coisas em privado.

— Que tipo de coisas?

— Coisas de homens.

Ela separou seu cabelo ao meio e olhou através da fenda de seda para ele. —
Coisas de homens? Como a guerra?

Ele esfregou seu peito. — Não exatamente.

Ela lhe deu um sorriso travesso. — Mulheres?

Ele tinha uma sensação de que ela sabia exatamente sobre o que eles tinham
discutido. Inferno, Kirk provavelmente tinha dito a ela sobre todas as conversas,
palavra por palavra. — Nós discutíamos as coisas que nos concernia.

Ela riu. — Mulheres! — Ela bateu no chão. — Por que você não se senta?

Ela voltou a escovar os cabelos e Clay sentou calmamente no chão. Ele se


perguntou se poderia encontrar uma maneira de tocar o cabelo dela sem que ela
percebesse.
Ela jogou a cabeça para trás e os cabelos caíram em cascata ao redor dela.
Ela não foi gentil o suficiente quando escovou os cabelos. Ele queria mostrar-lhe
como ela devia escová-los. Ela puxou o cabelo sobre o ombro e começou a amarrar
dos lados.

— Quem foi à primeira garota que você beijou? — ela perguntou.

Clay olhou para ela. Ela parou de escovar os cabelos e olhou para ele. —
Será que você prometeu a ela que não iria dizer?

Ele baixou o olhar e segurou a sola gasta de sua bota.

— Stick foi o primeiro garoto que eu beijei.

Clay levantou a cabeça. — Stick? Será que ele a levou para a serraria?

— O que você sabe sobre a serraria?

— Ele nos disse que levava as meninas em uma excursão na serraria depois
que todos partiam. Tinha três tipos de passeio: o passeio do beijo, o passeio do
toque, e o... — ele limpou a garganta.

— O passeio cheio-de-toques? — ela perguntou.

— Foi por isso que você passou?

Ela balançou a cabeça. — Na primeira vez ele me beijou atrás da escola, mal
tocando meus lábios. Um par de anos mais tarde, me levou para a serraria e
surpreendeu-me enfiando a língua na minha boca quando me beijou.

— Ele colocou a língua em sua boca?

Ela assentiu com a cabeça. — Eu tinha cerca de treze anos. Não estava
esperando isso. Eu o mordi.
Clay riu. — Eu me lembro quando ele não pôde falar por uma semana. Ele
não nos disse o que aconteceu.

— Então, quem foi à primeira garota que você beijou?

Sua risada morreu abruptamente. Ele esfregou as mãos sobre as coxas. —


Você — ele sussurrou.

— Eu não me lembro de te beijar. Foi durante um dos passeios de feno que


tivemos na época da colheita? Eu beijei alguns meninos na época, mas não lembro...

— Não. — Ele estudou o pequeno pedaço de terra entre seus joelhos e os


dele. Droga de honestidade. — Hoje.

— Você nunca beijou uma garota antes de hoje? Você não beija as mulheres
quando faz amor...

— Eu preciso ir. — Ele começou a se levantar e congelou quando ela


agarrou seu tornozelo.

— Por favor, fique. Não é da minha conta.

Relutantemente, ele caiu de volta para o chão. Antes da guerra ele não tivera
um alguém especial em sua vida. E uma mulher comprada não tinha esse apelo para
ele. Agora, ele não tinha o dinheiro para as únicas mulheres que deveriam sofrer
com seu toque.

— Qual é o seu tipo favorito de bolo? — ela perguntou conforme separava


seu cabelo em três partes e começava a trançá-lo.

— Eu gosto de tortas.

— De que tipo?
— Nozes.

— Eu odeio descascar nozes.

Ele deu de ombros. — Eu não me importo de descasca-las.

Ela jogou a trança grossa por cima do ombro. — Dê-me uma tigela de nozes
em algum momento e vou fazer-lhe uma torta.

— Você não tem que fazer isso.

— Dê-me duas tigelas de nozes para que eu possa ficar com uma torta. Isso
vai torná-lo justo.

O silêncio encaixou-se em torno deles como um cobertor reconfortante. Clay


olhou em torno do lugar que uma vez tinha apreciado.

— Deus, eu sinto falta deles — disse ele com uma voz áspera. — Kirk, Stick,
todos os meus amigos. Dói pensar sobre eles às vezes.

— Mas você não ficou ao lado deles.

— A guerra não foi sobre estarmos juntos. Ela fez cada um de nós se
posicionar pelo que acreditávamos. Kirk não acreditava na escravidão, mas ele
acreditava que um Estado devia ter o direito de se separar.

— E você não acreditava que deveria ser separado.

— Não, senhora, eu não. Nem o Governador Sam Houston, mas ninguém o


pendurou por seus polegares quando ele se opôs à secessão.

— Será que alguém o pendurou por seus polegares?

— Não, eu fui poupado dessa indignidade, mas eu sei que muitos não foram.
Ela pegou o sapato e ele achou que ela o jogaria nele. Ela o deixou cair. —
Na manhã que Kirk partiu... o que ele disse para você?

— Ele me pediu para ir com ele.

Ela baixou a cabeça e cerrou os punhos. — Eu sabia. Eu sabia que ele queria
você ao seu lado. Dane-se. Maldito seja você, por ter traído a sua amizade.

Clay riu.

Ela levantou a cabeça, a raiva brilhando em seus olhos. — O que é tão


malditamente engraçado?

— É apenas estranho que a coisa que eu mais admiro em você é a mesma


coisa que faz com que você me odeie tanto.

— O que é?

— Sua lealdade. Para com Kirk. Para com os homens que lutaram com ele.
Você nunca questionou seus motivos. Alguns dos homens que foram com Kirk
poderiam ter explicado a você pelo que eles estavam lutando. Alguns acreditavam
na escravidão. A maioria só queria participar de uma boa briga. Mas você está por
trás deles, apoiando-os, você quer um memorial para homenageá-los.

— E eu acho que você deveria ter montado ao lado deles.

— Ele só queria que eu fosse até a fronteira.

— O quê?

— Ele tinha ouvido que alguns dos homens mais velhos planejavam esticar o
meu pescoço, porque eu não me alistei. Ele queria me dar uma escolta armada para
o México, mas eu não estava interessado em partir.
— O que ele falou quando você disse a ele?

— A maior parte do que ele disse eu não posso repetir à uma senhora.
Basicamente, ele me chamou de idiota e disse que eu ia acabar morrendo por
minhas crenças. Perguntei-lhe se ele estava disposto a dar menos do que a sua vida
pelo que ele acreditava.

— Ele não estava — ela sussurrou.

Dentro das sombras criadas pela lua, ele segurou seu olhar. — A única
diferença entre nós era que seu marido estava disposto a matar por aquilo em que
acreditava. Eu não estava.

***

As flores dormiam, suas pétalas dobradas no sono, mas seu perfume


permanecia no ar. Meg não tinha notado isso enquanto caminhava para a lagoa,
mas percebeu agora, enquanto caminhava para casa.

Por cima do ombro, a lua cheia emprestava sua luz, criando sombras suaves
na noite. Sua sombra estendeu a mão e se atreveu a tocar o que ela não tocaria: o
homem caminhando ao seu lado. Suas sombras se juntaram até que ela já não podia
dizer onde cada uma começava.

Assim como ela não conseguia mais distinguir seus sentimentos por Clay.
No início, eles tinham sido como a rocha que ele agora esculpia, claramente
definidos, duros, implacáveis. De algum modo, os dias que se passaram, lascaram
seu ódio tão facilmente quanto ele parecia lascar o granito. Por momentos, ela se
sentia como se ele estivesse moldando-a em alguém diferente. Ela queria saber se
alguém em Cedar Grove iria olhar para o monumento que Clayton Holland criava...
e permaneceria o mesmo.

Quando chegaram à beira da terra de sua família, onde os campos sulcados


começavam, ele parou. Sua casa era visível à distância, uma lamparina solitária se
pendurava na varanda para orientar os viajantes cansados a um lugar de descanso.

— Vou esperar aqui até que eu veja você abrir a porta.

— Eu rastejarei pela janela.

— Ah — ele disse, dando um aceno de cabeça longo e lento. — Qual janela?

Quando ela apontou, ele se inclinou para o lado. — Eu vou ser capaz de ver
você entrar. — ele sorriu. — Deve ser interessante de ver.

Estudando-o enquanto ele estava diante dela, banhado pelo luar, ela se
lembrou de um momento em que ele teria sido bem-vindo à sua terra, uma época
em que ele não teria parado nos campos, mas ido até sua porta. Seu cabelo tinha
secado e as mechas escuras caíam sobre a testa. Ela resistiu ao impulso de tocá-las.

— Existem... — ele esfregou o peito — existem noites exclusivas que você


vai para a lagoa? Quero dizer, se houver, vou me certificar de não ir nessas noites.

— Na verdade, esta noite é a primeira vez que fui desde que Kirk partiu. E
você? Quais noites você vai?

— Esta noite foi à primeira vez para mim, também. Você quer escolher um
par de noites para que eu não a incomode mais lá?

Lentamente, ela balançou a cabeça. — Eu vou me arriscar.


Ele balançou a cabeça. — Bem, então, é melhor você ir. Vou ficar aqui para
me certificar de que você chegue lá em segurança.

Seus olhos se encontraram e seguraram os dela à luz do luar. A última coisa


que ela queria era rastejar em uma cama vazia sozinha. Como uma mariposa atraída
por uma chama, ela deu um passo para mais perto dele. — Não vou golpeá-lo se
você me beijar de novo.

— E se eu lhe beijar do jeito que Stick fez?

— Não vou morder sua língua.

Erguendo a mão, ele foi tocar seu rosto antes de deixar cair à mão ao lado
como um sussurro. Estendendo a mão, Meg colocou os dedos em torno de sua mão
áspera e apertou-a contra seu rosto.

Ele desenhou pequenos círculos em sua bochecha com o polegar, então


arrastou o polegar para baixo para tocar no canto de sua boca. Ela separou os lábios
em um convite silencioso.

Como se oferecendo a ela a oportunidade de mudar sua decisão e parar, ele


se moveu lentamente em direção a ela, com os olhos em busca dos dela. Ela ergueu
o rosto para ele.

Gemendo profundamente dentro de sua garganta, ele fechou os olhos e


estabeleceu sua boca sobre a dela.

O beijo foi hesitante, inexperiente, fazendo com que Meg se doesse por todos
os beijos roubados que ele deveria ter tido em sua vida.
Ele passou a língua sobre seu lábio inferior. Ela colocou a mão na parte de
trás do seu pescoço, enfiando os dedos pelo seu cabelo. Então, ela tocou com a
língua a dele e puxou-a.

Gemendo, ele apertou a mão livre na cintura dela e puxou-a contra o seu
corpo, enquanto a mão que segurava seu rosto continuou a acariciá-la. Sua língua
se moveu lentamente através de sua boca como se saboreando o gosto.

Ele explorou sua boca com a mesma precaução com que esculpia a pedra,
pouco a pouco, tocando cada canto e recanto, deixando sua marca antes de
prosseguir. Ela não conseguia se lembrar de uma época em que alguém tinha sido
tão carinhoso, tão aparentemente capaz de apreciar o que ela tinha para oferecer.
Mesmo Kirk, por toda a sua bondade, nunca tinha sido tão delicado.

Encerrando o beijo, ele arrastou o polegar sobre seu lábio inferior. — Eu fiz
isso certo? — ele perguntou em voz baixa.

Meg moveu as mãos para longe de seu pescoço e deslizou-as ao longo de seu
peito. — Eu tenho que ir agora — disse ela em um sussurro rouco.

Ela correu para casa, mantendo a resposta à sua pergunta trancada dentro de
seu coração.
Capítulo 14
Antes do amanhecer, Clay estava de pé na porta do galpão, esperando.

Ela não veio.

Durante todo o dia, lascou a pedra, bateu no polegar mais vezes do que no
cinzel, olhou para fora das janelas, caminhou até a porta, olhou na direção de sua
fazenda e soltou um suspiro mais forte do que o vento.

Enquanto o crepúsculo filtrava-se através das janelas, sentou-se na cadeira,


sua esperança de que ela viesse diminuindo até uma dolorosa solidão. Segurando a
bandana que ela normalmente usava, ele inalou o cheiro de madressilva doce e
estudou o granito.

As sombras pareciam como se estivessem subindo de um mar de pedra. Se


fosse generoso, poderia ter dito que cortou, pelo menos, metade da pedra que
precisava.

O que estava contemplando estava errado, e ele sabia disso. Sabia que seria
um erro trabalhar sobre os detalhes do rosto de Kirk antes que esculpisse
completamente as silhuetas.

Mas queria Meg de volta ao galpão, vendo-o trabalhar.

Kirk era o único com o poder para trazê-la de volta.


Domingo de manhã Clay acordou incapaz de se lembrar de uma vez em sua
vida quando se sentiu mais sozinho. Se soubesse que beijar Meg significaria que
nunca a veria novamente, exceto na igreja, não estava certo de que a teria beijado.

Inferno, ele a teria beijado. Teria a beijado mais e com mais ternura, até que
ela fizesse aqueles pequenos sons que Kirk lhe contara.

Beijou-a errado. Por isso que ela não tinha voltado. Talvez ele tivesse
segurado sua cintura com muita força, machucando-a. Talvez tivesse arranhado seu
rosto com a mão áspera. Deveria ter impedido seus dedos de tocarem cada
polegada de seu rosto que puderam alcançar.

E não tinha feito a barba antes de ir para a lagoa. Talvez um dia de


crescimento da barba tenha irritado sua pele delicada.

Em retrospecto, poderia pensar em uma centena de coisas que tinha feito de


errado quando a beijou.

Não conseguia pensar em uma única coisa que tinha feito direito.

Sentado na parte de trás da igreja, sabia que os dias, desde que tinha visto
Meg na lagoa, tinham sido igualmente longos para ela. Ela sentou-se no órgão,
olhando para o teclado, com os olhos fechados, derivantes de vez em quando, os
ombros caídos. Ela nem sequer pareceu retornar à vida quando tocou.

Será que ela se arrependera de deixá-lo tocá-la, deixá-lo beijá-la? Será que
seus arrependimentos a mantiveram acordada à noite? Será que o seu beijo dera a
ela pesadelos?
Queria dizer a ela que tinha começado a trabalhar nas feições de Kirk. Queria
dizer a ela que nunca iria beijá-la novamente, ou tocá-la. Nem sequer falaria com
ela se ela voltasse para vê-lo trabalhar.

O reverendo fez o chamado para uma oração. Normalmente Clay inclinaria a


cabeça, mas hoje manteve os olhos abertos e focados em Meg. Se ele a veria um
dia por semana, precisava reunir o máximo dela em sua memória como podia.

Quando a oração terminou, Robert se levantou e se dirigiu à congregação. —


Como vocês sabem, Mama Warner ficou doente. Nossa querida Meg está ao seu
lado quase constantemente. Meu tio está com Mama Warner agora, mas quando
vocês continuarem com suas vidas, espero que vocês mantenham à minha avó em
suas orações.

Clay abaixou a cabeça e orou. Ele era o homem mais egoísta que conhecia.
Durante toda a semana, só tinha pensado sobre o quanto ele queria Meg. Nunca lhe
ocorrera que talvez alguém precisasse mais dela.

Ela começou a tocar o órgão e ele ergueu o olhar. Ele desejou que ela olhasse
para ele apenas uma vez, mas ela não o fez. Ele se levantou e caminhou para fora
da igreja.

— Se você vai fazer isso, é melhor fazê-lo.

Clay olhou para Lucian conforme as pessoas vagavam para fora da igreja. —
Isso é fácil para você dizer.

Lucian riu. — Sim é.


Clay voltou sua atenção para a igreja. Segurando o braço de Robert, Meg
caminhava em direção à carroça, com as pessoas pululando ao redor deles como
abelhas ao mel.

Clay respirou fundo. Ela iria odiá-lo ainda mais pelo que ele estava prestes a
fazer, mas seu coração não lhe deu escolha. Ele focou seu olhar sobre ela e
começou a andar.

Ignorou os suspiros, maldições e olhares punitivos, conforme as pessoas


mudavam de lado. Não gostou da forma como Robert segurou Meg enquanto Clay
se aproximava da carroça, mas, então, não havia muito que pudesse fazer.

Tirou seu chapéu de sua cabeça e seu olhar acariciou seu rosto enquanto ela
olhava para um botão em sua camisa. Ela parecia tão cansada que tudo o que ele
queria fazer era levá-la para casa e balançá-la em seus braços até que ela
adormecesse.

— Fiquei triste ao ouvir que Mama Warner ficou doente. Espero que você
diga a ela que ela está em minhas orações.

Meg assentiu levemente, uma lágrima brilhando nos olhos. — Eu irei.

Não era muito. Não foi o suficiente, mas foi tudo o que ele se atreveu sob as
circunstâncias. Ele balançou a cabeça em direção a Robert, devolveu o chapéu para
a cabeça, e afastou-se, amaldiçoando-se pelo covarde que era.

***
De pé na porta do galpão, Meg não conseguia tirar os olhos do homem que
estava cuidadosamente desbastando pequenos pedaços de pedra. Ele parecia tão
cansado quanto ela. Se perguntou se ele tinha dormido tão pouco quanto ela esta
semana.

Ela atendia às necessidades de Mama Warner durante todo o dia. À noite,


quando Robert a levava para casa, ela estava exausta demais para fazer qualquer
coisa, além de cair na cama, mas mesmo assim ela raramente dormia. Seu corpo
doía e se sentia tão pesado como pedra.

Em seus sonhos, Clay lascava a pedra e deslizava suas mãos sobre seu corpo.
Enquanto sonhava, ansiava por seu toque. Enquanto estava acordada, ansiava pela
segurança de seus sonhos, onde podia ter o que queria, sem sofrimento através do
desprezo de sua família ou vizinhos.

Robert tinha estado extraordinariamente tranquilo na viagem de volta para


Mama Warner e Meg se perguntou o que seu rosto tinha revelado quando Clay
andou até ela. Ela tentara manter sua expressão impassível, mas tudo o que ela
queria era cair em seus braços.

Clay parou de esculpir e enxugou a testa. Então, seu olhar caiu sobre ela e ele
tornou-se tão imóvel quanto à pedra.

Meg caminhou até o banco e olhou para ele. — Eu pensei que você não iria
trabalhar sobre os detalhes até que você cortasse toda a pedra.

— Eu senti a necessidade de esculpir o rosto de Kirk. Você quer tocá-lo?

Ela assentiu com a cabeça e Clay deu um passo para fora do banco. Ele
transferiu o cinzel para a mão que segurava o martelo.
Então, estendeu a mão vazia para ela.

Ela enfiou a mão na sua e sentiu os dedos fortes em torno dos dela quando a
ajudou a subir no banquinho. Quando ele começou a soltar sua mão, ela o deteve,
agarrando seus dedos. Lentamente, ela arrastou os dedos da outra mão sobre a
borda de um triângulo que um dia seria o nariz de Kirk.

— Eu ainda tenho muito trabalho a fazer — disse Clay.

— Eu sei. Eu achei que eu nunca iria vê-lo novamente.

— Eu espero que na outra semana, ou algo assim, eu tenha seu rosto como
ele deve ser.

Balançando a cabeça, ela apertou sua mão e desceu do banquinho. — Robert


foi ver seu tio. Mama Warner gostaria de vê-lo enquanto ele está fora.

— Eu vou me limpar.

***

Silenciosamente, Clay entrou no quarto de Mama Warner e estudou o corpo


murcho. O pedido de Mama Warner não foi uma surpresa. Sabia que a morte se
aproximava e ela iria querer discutir sua lápide com ele. Ela não deixaria os outros
lidarem com seus assuntos.

Meg sentou em cima da cama e pegou a mão de Mama Warner. — Mama


Warner? — Gentilmente, ela sacudiu o ombro da mulher mais velha. — Mama
Warner? Eu o trouxe. Lembra-se que você pediu para vê-lo?
— Ele. Ele. Ele. — Ela abriu os olhos. — Antes de eu passar para o outro
mundo, quero que você diga o nome dele. — Ela acenou com a mão. — Vamos
Clayton sente-se aqui.

Levantando-se da cama, Meg sorriu incerta para Clay antes de passar para as
sombras. Clay se sentou na cama e pegou a mão frágil dentro da sua, maior e
grosseira. Ele desejou ter colocado luvas.

A mulher idosa sorriu e afagou sua mão. — Você não veio me ver quando
chegou em casa.

— Pensei que seria melhor.

— Você nunca foi inteligente. — Ela tocou-lhe o cabelo. — Você ficou mais
velho... mais velho do que é. Eu me lembro da última vez que te vi. Você estava
com o exército. Eles pararam aqui para um pouco de água. Lembra-se?

— Sim, senhora.

— Eu perguntei àquele agradável jovem tenente se você poderia entrar em


minha casa e pendurar um quadro sobre a minha lareira. — ela riu. — Eu não tinha
um quadro para você pendurar. Eu te trouxe para dentro e o levei para a porta da
minha cozinha. Você e Kirk costumavam brincar na floresta atrás de minha casa.
Ninguém teria sido capaz de encontrá-lo se você se escondesse na mata, mas você
me disse que não iria correr. Um covarde teria corrido. Já desejou fugir, Clayton?

— Não, senhora.

— Eles te trataram gentilmente, não é?

Ele não queria falar sobre seu passado, especialmente com Meg de pé no
quarto. Ela parecia à beira de esquecer o passado. Ele não queria que o fogo do
ódio fosse reavivado. — Está tudo no passado. Não é bom permanecer pensando
nisso.

— Você não pode porque é jovem. Eu sou velha. Eu ganhei o direito de me


debruçar sobre o que eu quiser. O meu neto, Robert, me contou sobre Gettysburg.
Disse-me que o exército da União cavou alguns buracos grandes e soltou nossos
meninos neles.

Meg engasgou das sombras e Clay se perguntou se a guerra nunca iria deixar
essas pessoas em paz.

— Uma vala comum para os nossos homens que lutaram com honra. Você
sabe se isso é verdade? — Mama Warner sussurrou com voz rouca, com lágrimas
nos olhos.

Clay envolveu as mãos em torno da dela. — Na maior parte, sim.

— Não há tal coisa como a maior parte. É verdadeiro ou não é.

Ele suspirou profundamente. — Uma vala comum foi cavada, mas os


homens de Cedar Grove não foram enterrados lá. — Ele fechou os olhos contra a
memória. O ódio de Meg iria crescer. As pessoas da cidade, provavelmente, o
enforcariam ao amanhecer e essa querida velha desejaria que ela nunca o tivesse
recebido em sua casa. Abrindo os olhos, ele limpou a garganta. — Porque não lutei,
passei algum tempo como prisioneiro em um forte. Quando eles me libertaram, fui
encontrar Kirk, para ver se ele queria que eu levasse algumas mensagens na volta.
Eu cheguei lá tarde demais. Eles tinham lutado na batalha. Seus corpos estavam
espalhados pelo chão. — Ele balançou a cabeça. — Tantos corpos.

— Meu neto morreu ali.


Ele apertou suas mãos. — Sim, senhora, mas eu achei esta pequena clareira
longe do campo de batalha. Era muito verde. Era como se nunca tivesse sido tocada
pela guerra, como se nunca fosse ser. Cavei as sepulturas e fiz os marcadores.
Enterrei Kirk e os outros sob a sombra das árvores. — Ele não viu qualquer razão
para mencionar que fora incapaz de localizar todos. Tinha dado a eles marcadores e
um lugar, de qualquer maneira.

— Então, meu neto tem um lugar de descanso adequado?

— Sim, senhora.

Ela fechou os olhos como se cansada demais para mantê-los abertos.

— Me desculpe — ele resmungou.

Ela abriu os olhos. — Desculpar?

— Sim, senhora. Me desculpe por eu não os trazer para casa. Eu não tinha
uma carroça. Não tive um cavalo. Não sabia como voltaria para casa. Sei que eu
deveria ter encontrado uma maneira de trazê-los para casa. Não deveria ter deixado
Kirk lá. Ele não teria me deixado.

— Você sabe, Clayton? Será que qualquer um de nós sabe o que fazer
quando chegar a hora?

— Eu deveria tê-los trazido para casa.

— Você cavou-lhes uma sepultura. Você fez um marcador. Você disse uma
oração para eles?

— Sim, senhora. Vinte e duas orações.


— Todos nós pagamos um preço quando a guerra chama. Você pagou mais
do que sua parte. Como eu. Meu querido marido morreu em Álamo assim que nós
estivemos livres para aderir à União. Seu neto morreu para que pudéssemos ser
separados da União. Qual deles morreu em vão?

— Nenhum — disse ele sem hesitação. — Ambos morreram lutando por


aquilo em que acreditavam.

Ela lhe deu um sorriso caloroso. — Talvez você seja inteligente, afinal. —
Acariciou seu rosto. — Eu tenho um favor a pedir.

— Eu faria qualquer coisa por você.

— Eu sei. Meg, traga-me a minha Bíblia.

Quando Meg inclinou-se sobre a cama, a chama da lamparina lançou um


brilho amarelo sobre o seu rosto e Clay viu o rastro de suas lágrimas. Sem olhar
para ele, ela gentilmente colocou o livro gasto nas mãos de Mama Warner.

— Eu quero um marcador de pedra — Mama Warner disse. — Eu quero que


as palavras sejam entalhadas profundamente, assim a chuva e o vento não poderão
levá-las a desaparecer tão cedo. — Ela abriu a Bíblia, e um pequeno pedaço de
papel escorregou para a colcha. — Essas são as palavras que eu quero.

Clay pegou o papel e leu as palavras inscritas. — Eu vivi uma vida cheia de
lágrimas e sol do Texas e nunca me arrependi de nada, em nenhum momento.

— Você vai fazer isso por mim?

— Sim, senhora.
Ela colocou a mão sobre a dele, e Clay pensou que ela iria apertá-la, mas seu
toque parecia mais a passagem de uma sombra no meio da noite. — Você fará meu
filho pagar por isso.

Clay sentiu as lágrimas arderem nos olhos e queimarem na garganta. — Não,


senhora. Você sempre me tratou como um dos seus. Considero uma honra... — Ele
fechou os olhos para segurar as lágrimas. — Eu não vou fazer isso por dinheiro.

Seus dedos deslizaram de sua mão. — Estou cansada agora. Meg, dê a este
menino alguma torta antes dele ir.

— Sim, senhora.

Clay pegou a Bíblia e colocou-a sobre a mesa ao lado da cama. Ele se


levantou, inclinou-se e deu um beijo na testa enrugada. — Eu te amo, Mama
Warner.

— Eu também te amo, Clayton — ela sussurrou sem abrir os olhos.

Endireitando-se, ele assistiu ela derivar no sono.

Meg levantou a lamparina para fora da mesa. — Vamos lá — disse ela em


voz baixa.

Clay seguiu-a até a cozinha, uma cozinha que tinha visitado muitas vezes em
sua juventude. Cheirava à farinha, canela e açúcar. Cheirava a Mama Warner,
embora ela provavelmente não tenha entrado no local há um bom tempo. Ele
pensou que ela tinha passado tantos anos nesta sala, que ela sempre levaria uma
parte dela. Assim como na sua vida. Ela sempre estaria lá, em seu coração, mesmo
depois que ela deixasse este mundo.
Meg caminhou até a mesa. Clay caminhou até a porta e parou, virando o
chapéu nas mãos. — Eu não vou ficar.

Ela virou a cabeça rapidamente, a faca que ela tinha pegado pairando sobre a
torta. — Mas Mama Warner queria que você comesse alguma torta.

— Você pode dizer a ela que eu comi. Diga que eu gostei. — Ele colocou o
chapéu na cabeça e estendeu a mão para a porta.

— Mas ela queria que você ficasse por um tempo.

Ele estudou a maçaneta da porta de vidro, lembrando o dia em que várias


dessas maçanetas tinham chegado. Ele e Kirk tinham ajudado o Sr. Warner a
colocá-las nas portas. Eles haviam dado uma para Clay, e ele tinha dado à sua mãe,
como algo fantasioso para a casa dela. Ela iria colocá-la em sua porta da frente para
que pudesse cumprimentar seus convidados. Ele envolveu sua mão ao redor da
maçaneta. — Não posso lidar com seu ódio esta noite, Meg.

— Por favor, fique — ela sussurrou, um leve tremor em sua voz. — É de noz.

Ele olhou por cima do ombro. Ela parecia vulnerável e tão malditamente
cansada. Ela tinha sido honesta no início sobre seus sentimentos e como iria tratá-lo
na cidade. Era irracional pensar que um par de beijos poderia destruir uma parede
construída sobre uma base de ódio. Relutantemente, ele acenou com a cabeça. —
Um pedaço.

Ela voltou sua atenção para sua tarefa. — Você gostaria de um pouco de café?

Colocando o chapéu em cima da mesa, ele sentou-se na cadeira. — Leite, se


você tiver.

Ela colocou o prato e copo diante dele.


— Você vai se juntar a mim? — ele perguntou.

— Eu prefiro apenas observar.

— Não gosto de ser observado. Obtenho o suficiente disso na cidade. —


Ignorando o garfo que ela tinha colocado ante ele, pegou o pedaço de torta e deu
uma mordida saudável. Enquanto mastigava, ela apertou o dedo no prato, pegou
uma migalha, e levou-a a boca. Com muita dificuldade, ele engoliu. Estava com
ciúmes de uma maldita migalha, pois havia tocado seus lábios.

Ele limpou a garganta. — Eu, uh, eu estava preocupado quando você não
veio me ver trabalhar. Eu pensei... não sei... só pensei...

— O que você pensou? — ela perguntou baixinho, segurando seu olhar.

Ele voltou à torta para o prato antes que o suor em seus dedos fizesse
qualquer estrago. — Pensei que talvez o beijo tivesse incomodado você.

Ele levou o copo aos lábios, bebendo profundamente. Em seguida, passou as


costas da mão na boca.

Lentamente, ela colocou o dedo contra o canto de sua boca. — Você perdeu
algo.

Incrédulo, ele observou seu dedo retirar o líquido branco em sua boca, e ele
se perguntou se ela tinha qualquer noção do que suas ações faziam com suas
entranhas.

Sorrindo suavemente, ela colocou a mão sobre a dele. — Eu nunca gostei


muito de leite antes.
Ele virou a palma para cima e entrelaçou os dedos com os dela. — Na
verdade, eu senti falta de ter você me vendo trabalhar esta semana. — Tocou em
sua bochecha com a outra mão. — Pensei muito sobre você, sobre aquele beijo. Eu
desejei a Deus que você tivesse me dado um tapa.

— Eu desejei ter lhe dado um tapa, também.

— Por que não deu?

— Não sei.

— Você nem sequer olhou para mim hoje.

— Eu estava com medo. Se eu fizesse, as pessoas iriam ver como eu estava


feliz por você caminhar até mim.

— Isso teria sido tão ruim assim?

Ela apertou os dedos. — Eu não explicarei ao povo desta cidade ou para


minha família o que eu sinto por você. Não posso nem explicar isso para mim
mesma.

A porta da cozinha se abriu, e Meg saltou para seus pés — Robert.

— O que diabos está acontecendo aqui, Meg?

Clay se afastou da mesa e se levantou.

— Mama Warner queria vê-lo para falar sobre seu marcador.

— Ela o viu?

Ela inclinou o queixo. — Sim. Ela queria que ele comesse um pedaço de
torta pelo seu tempo.
Clay se sentiu como se fosse um maldito cão sentado debaixo da mesa,
esperando por um pedaço da conversa ser jogado em sua direção. Colocou o
chapéu na cabeça e puxou a borda para baixo. — Vou sair agora. — Caminhou até
a porta. — É bom ver você, Robert.

Robert deu um passo para o lado. — Meu tio preferiria não ver sua sombra
cruzar esse limiar.

— Tenho certeza de que isso é verdade, mas se a sua avó pedir para me ver
novamente, só uma bala vai me impedir de entrar nesta casa.

Talvez fosse loucura um homem solitário querer ficar sozinho, mas Clay não
queria a companhia de seus irmãos depois de visitar Mama Warner.

Ele olhou para a lagoa. Nenhum movimento perturbava a água escura, que se
assemelhava a um espelho refletindo a luz pálida da lua. Durante momentos como
este, Clay desejava ser um pintor.

A pedra sustentava uma força que não esteve sempre lá. A pedra não
continha suavidade. Ao longo dos anos, ele passou a ter as mãos ásperas. Ele queria
que seu coração estivesse áspero também.

— Pensei que iria encontrá-lo aqui — uma voz tão suave como seda
sussurrou através da noite e Clay virou, inclinando-se contra a rocha. Pressionando
o calcanhar da bota contra um local gasto na rocha, fazendo com que seu joelho se
projetasse para fora, ele lutou para parecer calmo.

Meg caminhou até a pedra e olhou para a lagoa. — Ocorreu-me que você
mentiu para mim — disse ela baixinho.
— Quando?

— Quando eu lhe perguntei como Kirk se parecia na última vez que você o
viu.

— Essa não foi à pergunta que eu respondi. Você mudou a pergunta e


perguntou como ele estava quando ele me trouxe as cartas. Eu disse a você.

Ela colocou a mão sobre a dele, onde ela repousava sobre a pedra. — Como
ele parecia da última vez que o viu?

Virando a palma para cima, ele apertou a mão dela. — Não faça isso.

Ela inclinou o rosto para ele, seus olhos se encheram de lágrimas, o que os
fez parecer tão profundos como a água do outro lado da pedra. — Ah, Meg.

Movendo-se em torno de seu joelho até que ela estava aninhada entre suas
coxas, ela colocou sua bochecha contra seu peito.

— Como ele estava?

Clay colocou seus braços em volta dela. Ela era tão pequena. Ele achou que
nunca tinha percebido como ela era pequena. — Ele parecia... — fechando seus
olhos, ele engoliu em seco, engoliu a verdade: — ele apenas parecia como se
tivesse caído no sono.

Ela levantou o olhar para ele, o luar refletido em suas lágrimas. — Eu


esperava que alguém tivesse cometido um erro, que, de alguma forma, ele houvesse
sido poupado. E, em uma manhã, eu olharia para fora da janela e o veria andando
para casa. Mas ele não vai voltar para casa, não é?
Clay balançou a cabeça. — Me desculpe por não ter trazido Kirk para casa.
Eu deveria, mesmo que isso significasse carregá-lo nas minhas costas.

— Eles eram seus amigos, seus homens. Ele organizou-os e todos se


alistaram juntos para que pudessem lutar juntos. Ele era o líder deles. Eles lutaram
e morreram ao seu lado. Ele não queria deixá-los. Por que você não nos disse que
tinha enterrado eles?

— Eu imaginei que ninguém por aqui apreciaria o fato de que eu tinha


tocado em seus filhos honrados. Você não pode levar um homem para fora de um
campo de batalha sem tocá-lo. Você não pode enterrá-lo sem tocá-lo. Eu fiz o que
fiz, porque aqueles homens tinham sido meus amigos e mereciam mais do que uma
vala comum. Não fiz isso para agradar seus pais. No dia que você veio me ver para
falar sobre fazer o monumento, você nem sequer quis que eu dissesse o nome de
Kirk. Como você se sentiria em seguida, se você soubesse que eu o segurei em
meus braços e chorei sobre ele?

— Eu o teria odiado mais. — Tocando seus dedos nos cabelos brancos das
têmporas, Meg se perguntou se sua busca em Gettysburg o tinha envelhecido.
Tentou imaginar o horror que ele enfrentou, vaguear através de um campo coberto
de corpos, procurando por aqueles que ele conhecia, sentindo o cheiro forte que
deve ter aumentado mais e mais a cada dia que passava e transportando corpos
mutilados para um lugar onde eles poderiam descansar em paz.

Apesar das palavras de Clay, que Kirk parecia como se tivesse adormecido,
Meg não poderia imaginar a morte vindo silenciosamente durante a guerra. Kirk
teria lutado contra a morte tão diligentemente quanto lutou contra os soldados da
União. Pressionando o rosto contra o peito de Clay, ela lançou a agonia de sua dor,
não mais certa de que suas lágrimas derramadas eram por Kirk... ou por Clay.
***

Clay sentiu o pequeno tremor viajar ao longo das costas de Meg. Ele apertou
seu abraço. — Meg?

Seu tremor aumentou de intensidade. Onde estavam os gêmeos quando ele


precisava deles? O que eles diriam a ela? O que ele poderia dizer a ela para aliviar
sua dor?

Ela chorou soluços tristes que se erguiam do poço profundo de seu coração.
Ele olhou para as estrelas. Supôs que se ela precisasse ou quisesse mais dele do que
seus braços em torno dela, ela diria a ele.

Ela fungou deselegantemente. — Você tem um lenço?

— Não, senhora.

Ela levantou a saia e assuou o nariz antes de limpar as lágrimas do rosto. Ele
teve um vislumbre de algodão branco e fechou os olhos contra a visão. Ele nunca
percebeu o quão sedutor um algodão branco poderia ser.

— Dói chorar — disse ela, com a voz rouca.

— Dói mais não fazer.

— Você chorou?

— Durante quatro dias seguidos.

— Foi o tempo que você levou para enterrá-los?


— Sim, senhora — disse ele com uma voz que soava como uma pedra indo
de encontro à outra.

Ela olhou para os céus. — A lua está bonita esta noite.

Ele queria dizer que ela estava bonita esta noite, mas não sabia como
expressar as palavras sem que soasse como se ele fosse um pequeno colegial doente
de amor.

Ela apertou o dedo em seus lábios. — Você disse que gastou muito tempo
pensando sobre o nosso beijo. Eu pensei sobre isso também. — Ela colocou a mão
em torno da curva de seu pescoço e enfiou os dedos para cima em seu cabelo.

— Meg — Ele não estava certo do que tinha planejado dizer, mas sabia que
não poderia ter sido importante, porque as palavras sumiram de sua mente assim
que seus lábios tocaram os dele. Sua boca estava tão quente como uma sombra em
agosto e tão suave como um pedaço de veludo que sua mãe tinha costurado em uma
de suas colchas.

Ela tocou a ponta da língua em um canto de sua boca, depois no outro.


Mordiscou seu lábio inferior e ele sentiu como se ela estivesse puxando-o pelo
buraco da fechadura, do inferno para o céu.

Ele embalou seu rosto entre as mãos, inclinou sua boca sobre a dela e
congratulou-se com a bem-aventurança que ela ofereceu.

Corajosamente, ela deu à língua a liberdade para vaguear dentro de sua boca.
Ela suspirou. Ele gemeu.

Ele pensou que um homem poderia estragar-se tocando uma mulher. Ele
poderia nunca querer tocar na pedra novamente.
A pedra não era quente. Ele não alterava sua forma com a mais delicada das
pressões. A pedra não respirava para que ele pudesse sentir sua umidade em seu
rosto. Pedras não faziam sons suaves que levaria com ele até o dia que morresse.

Ela retraiu sua boca para longe da sua, e ele se obrigou a não se aproximar e
recuperar o que queria.

Seus olhos estavam escuros dentro das sombras da noite, mas ele sentiu a
intensidade do seu olhar tão fortemente como sentiu os dedos apertando pelo
controle sobre seu pescoço.

— Eu odeio você — ela sussurrou com voz rouca.

Ele baixou as mãos de seu rosto. — Eu sei.

— Então por que estou aqui? — Ela arrastou seus dedos sobre seu rosto,
tocando cada linha, vinco e fenda.

— Robert me beijou hoje à noite. — Ela esfregou o polegar sobre seu lábio
inferior. — E tudo em que eu conseguia pensar era sobre beijar você.

Ela voltou à boca para a dele. Se isto fosse ódio, ele provavelmente morreria
se a mulher o amasse. Seu coração batia tão forte que ele estava certo de que ela
podia senti-lo vibrando através de sua camisa. Cada vez que ele respirava trazia
consigo o cheiro de madressilva. Suas mãos, tão pequenas, deslizaram por baixo do
colarinho de sua camisa. Seus dedos magros se moveram suavemente, criando
pequenos círculos em seu pescoço, que viajaram para baixo, até seus dedos do pé.
Então ela abriu os lábios e lhe deu o maior tesouro de todos: sua quente, úmida, e
sedosa boca convidando-o para casa.
***

Meg sentiu a hesitação de Clay para seguir seu exemplo. Ela brincou com
sua língua, sugou-a, em seguida, convidou-a em sua boca. Ele gemeu e ela sentiu
um arrepio correr ao longo de seu corpo. Ela achou sua incerteza cativante. Quando
se tratava de assuntos do coração, ele mantinha uma inocência que ela raramente
tinha visto desde a guerra.

Sabia que Kirk havia beijado uma abundância de meninas antes que ele a
beijasse. Sabia que ele tinha estado em outras camas antes que ele a tomasse como
sua esposa. Ele lhe ensinara os prazeres encontrados com um homem, tinha dado
muito mais do que ele tinha tomado. Tinha sido um professor qualificado e ela uma
estudante apta.

No entanto, agora, ela encontrou a falta de experiência de Clay inebriante,


como ela tinha encontrado o conhecimento abundante de Kirk.

Ele moveu suas mãos de volta para seu rosto, seus dedos traçando
cuidadosamente as curvas do seu rosto, as linhas de sua testa, e a saliência do
queixo. Ele tocou-a como se ela fosse tão delicada quanto o vidro. Ele tocou-a
como se ela fosse mais preciosa que o ouro.

Afastando-se do beijo, ela colocou as mãos sobre as dele. — Você está


tentando memorizar minhas feições para que você possa esculpir a pedra com
precisão?

Lentamente, ele moveu a cabeça de um lado para o outro. — Eu poderia


esculpir suas feições em pedra mesmo se eu fosse cego. Só nunca toquei algo tão
macio ou tão suave como você. Não posso me conter sobre como você parece
incrível. — Suas mãos caíram de seu rosto.
— O que está errado?

À luz da lua, ela podia ver o mais triste dos sorrisos tocar seus lábios. — Eu
gostaria de ter mãos diferentes. As minhas são tão feias, que não devem tocar-lhe.

Envolvendo seus dedos em torno de suas mãos, ela levantou-as aos lábios e
deu um beijo em seus dedos.

Soltando uma das mãos, ela virou a outra para cima e passou os dedos sobre
a superfície rugosa, uma palma que era tão áspera como as pedras que ela tinha
acariciado ao longo dos anos. Ela deu um beijo no centro da palma da mão. — Eu
gosto de suas mãos.

— Por quê? — Ele perguntou e ela ouviu a descrença espelhada em sua voz.
— Elas são tão grandes. Elas parecem e são ásperas como a pedra.

Ela esfregou o rosto ao longo de sua mão. — Mas elas não tocam como uma
pedra. Eu vejo a forma como você lasca a pedra, e então você a toca como se
estivesse se desculpando por tratá-la tão duramente, como se você não percebesse
que você está fazendo um favor ao transformá-la em algo belo. Eu senti falta de ver
você trabalhar esta semana até o ponto em que reclamava de cada vizinho que
parou para visitar Mama Warner, porque tive que bancar a anfitriã e não poderia
esgueirar-me por alguns minutos. Eu não me importo de cuidar de Mama Warner,
mas me desgasta cuidar de todas as pessoas que vêm para vê-la.

— Eu nunca me senti mais solitário na minha vida do que no dia depois que
vim aqui e você não veio me ver trabalhar. Comecei a esculpir as feições de Kirk
porque pensei que iria trazer você de volta para mim.

— Você vai parar de trabalhar em seu rosto, agora que você sabe por que eu
não fui?
Ele balançou a cabeça. — Não, eu vou em frente e terminarei agora que já
comecei. Posso esculpir suas feições, também, apenas para que eu não me sinta tão
malditamente sozinho.

— Eu veria você trabalhar se eu pudesse, mas Mama Warner esteve sempre


lá quando eu precisei dela. Eu não posso deixar...

— Eu sei.

Ela pressionou sua mão contra seu peito. — Não pare de trabalhar no
monumento.

— Eu não vou — ele prometeu.


Capítulo 15
Por acordo tácito, eles se reuniram na lagoa a cada noite depois daquilo.
Deitada em uma colcha, Meg olhava para as estrelas. Estendido ao lado dela, Clay
olhava para ela.

Ela dizia a ele sobre o seu dia, cuidando de Mama Warner. Ela nunca falava
o suficiente para satisfazê-lo. Ele poderia ter ouvido a sua voz suave durante toda a
noite, também no início da manhã, se ela ficasse com ele por muito tempo, mas ele
sempre a acompanhava para casa por volta da meia-noite, observando enquanto ela
subia pela janela, desejando que pudesse acompanhá-la corajosamente até a porta
da frente.

Os dias eram mais curtos quando ele tinha as noites para ansiar, mas as
noites não eram longas o suficiente.

Debruçado sobre um cotovelo, ele levantou a ponta de sua trança.

— O que você está pensando? — ela perguntou.

— Desejando que eu fosse um pintor. Eu usaria sua trança como meu pincel,
a mergulharia nas cores, e criaria as pinturas mais bonitas do mundo.

— E o que você faria se eu não estivesse perto de você?

— Ah, aí está o segredo. Eu teria que mantê-la perto de mim.


Ela colocou a mão em seu pescoço e puxou-o para sua boca à espera. Sem
dúvidas, ela iniciou a sua parte favorita da noite.

Rolando sobre seu estômago, ele apoiou os cotovelos em ambos os lados


dela para manter seu peso sobre ela, roçou os dedos ao longo de suas bochechas, e
baixou a boca para a dela.

Palavras que ele não se atrevia a falar derivavam por sua mente. Perguntas
com respostas que ele preferiria não ouvir, se perguntasse. Se ela o odiava, por que
o encontrava aqui todas as noites? Se ela o odiava, por que acolhia o seu toque? Se
ela o amava, por que o encontrava secretamente?

Se ele a amava, por que não a deixava sozinha em vez de atraí-la a seu
mundo, um mundo ofuscado de amor, com batalhas ainda sendo travadas sobre
uma guerra acabada?

Gemendo baixinho, ela pressionou a cabeça contra a colcha, arqueando sua


garganta. Clay soube que ela gostava quando ele usava a boca para abrir o caminho
ao longo da coluna de marfim de sua garganta. A cada noite ele aprendia mais do
que ela gostava, porque a cada noite ela dava um pouco mais de si mesma para ele.

Deslizando as mãos ao longo de seus ombros, ela amassou seus músculos. —


Você está tão tenso, você deve ter trabalhado demais hoje.

— Um longo trabalho. — Ele levantou seu rosto, seu olhar segurando o dela.
— Eu quero que você venha e veja o que eu fiz, antes de ir para casa hoje à noite.

— Eu gostaria que você pudesse trabalhar à noite.

— Lamparinas não me dão luz suficiente. Eu preciso do sol.

— Você esculpiu uma lápide durante uma tempestade à noite.


— Isso foi diferente. Ela é menor. Eu tenho que manter todo o monumento
na vista e as sombras da noite iriam distorcer a pedra. Sem dizer o que eu acabaria
esculpindo.

Ela enfiou os dedos no cabelo dele e esfregou seus polegares em círculos


sobre suas têmporas. — Você fez o marcador de Mama Warner?

— Fiz isso um dia depois que a vi.

— É isso que você quer me mostrar?

— Não, fazer marcadores nunca me traz alegria.

— O que você fez hoje...

— Eu acho que vai lhe trazer alegria.

Andando pela noite sem lua, com a mão enrolada firmemente dentro da dele,
Meg queria dizer a Clay que ele já tinha trazido alegria a ela.

Assistir Mama Warner ficar mais fraca a cada dia que passava, sabendo que
ela não podia fazer nada além de oferecer conforto e companhia, fazia Meg voltar
para casa esgotada todas as noites. Apenas o conhecimento de que ela veria Clay
levava-a através das longas horas do dia.

Ela não sabia por que tinha negado a si mesma o prazer de sua companhia na
primeira semana ou por que ela pensou que estava cansada demais para rastejar
para fora da janela e correr para a lagoa escurecida.

Ela gostava de ouvir sua voz quando ele falava sobre o seu dia. Entalhar, ela
descobriu, era muito parecido com arar um campo, com apenas as ideias esperando
para serem colhidas a partir de sementes plantadas em sonhos. Hipnotizada, assistia
suas mãos criarem formas no ar, como estava certa de que tinham criado formas na
pedra. Ele falava baixo, sua voz era uma carícia na noite. Ela ouvia o som de sua
voz, sentia a sensação de seu beijo em seus sonhos, ganhava força da pequena
quantidade de tempo que eles tinham a cada noite.

Eles se aproximaram do galpão, e ele agarrou sua mão com mais força
conforme desacelerou seus passos. Ele abriu a porta do galpão.

— Você oleou a tranca — ela sussurrou.

— Sim, às vezes eu venho aqui e sento-me, muito antes do amanhecer. Eu


prefiro não acordar os gêmeos quando faço isso.

Eles entraram no galpão e ele soltou sua mão. Ela ouviu-o caminhar e, então,
uma chama queimou quando ele acendeu uma lamparina. Levantando-a, ele
caminhou em direção à estátua.

Meg se aproximou dele e ergueu o olhar. — Oh meu...

Ele estendeu a mão. Deslizando sua mão na dele, ela deu um passo para o
banco. Com os dedos trêmulos, ela tocou o rosto de pedra.

— O que você acha? — Ele perguntou em voz baixa.

— Parece com ele — disse ela com admiração. Ela retirou a outra mão do
aperto de Clay e tocou ambas as palmas nas bochechas de Kirk. Ela correu os
dedos sobre a testa de pedra, junto aos olhos, e para baixo do nariz. — Está perfeito.

— Está quase perfeito.

— Você capturou tão bem o homem que ele era antes da guerra. Olhe para o
orgulho refletido em seu rosto. Ele não tem dúvidas. Ele acredita no que ele está
fazendo. — Ela suspirou melancolicamente. — Eu queria que Mama Warner
pudesse ver isso.

— Por que não pode?

— Ela está tão fraca, não pode sequer sair da cama, e você certamente não
pode arrastar o monumento até ela.

— Eu poderia trazê-la aqui.

— Ela está muito frágil. Não acho que ela poderia viajar para tão longe.

— Ela poderia, se usássemos a carroça. Vou colocar um par de almofadas e


vários cobertores na parte de trás. Iremos devagar. Vou carrega-la até a carroça.
Então, vou trazê-la aqui.

— Quando nós faríamos isso?

— Amanhã?

Meg sabia que era improvável que Mama Warner vivesse o suficiente para
ver o monumento concluído, mas Clay tinha acabado de esculpir o que ela mais iria
se importar. — As pessoas perambulam dentro e fora de sua casa durante todo o dia.
Tudo que precisamos é de uma delas para contar a Robert ou ao Sr. Warner e,
depois do que você se atreveu, Robert atiraria em você. O que restou da família,
provavelmente, viria atrás de você com todas as armas carregadas.

— Nós poderíamos fazer isso à noite.

Meg colocou as mãos nos quadris. — Então, Robert não te procuraria? Ele
poderia simplesmente atirar em você quando cruzar a soleira da porta.
— Não se ele não souber que estou cruzando a soleira. O homem tem que
dormir um pouco.

— Você quer dizer, vir tarde da noite?

— Por que não? Ela nunca colocou fechaduras em suas portas.

— E se formos apanhados?

— Eu estou disposto a arriscar.

***

Na noite seguinte, Meg estava sentada na carroça, esperando que não se


arrependesse do que ela e Clay estavam prestes a fazer. Suas boas intenções
poderiam facilmente trazer danos a Clay se fossem descobertos.

— Tire suas botas — Meg sussurrou enquanto ela lutava para tirar seus
sapatos.

— Por quê? — perguntou Clay.

— Assim, não acordaremos Robert quando estivermos andando pela casa.

— Ele acorda facilmente?

Meg girou a cabeça ao redor. — Eu não sei, mas Kirk sim. Eu assumi que
desde que eles são primos...

— Queria ter sabido... — ele murmurou enquanto tirava sua bota.


A lamparina descansando ao pé de Meg na carroça lançou sua luz sobre seu
grande dedo do pé, conforme ele apareceu por um buraco na sua meia. Ele puxou o
fundo da sua meia para cima do buraco e encavou o buraco entre seus dedos do pé.
Meg conteve o sorriso. Ela nunca tinha conhecido em sua vida, um homem tão
modesto como este.

Ele pulou para fora da carroça e caminhou ao redor da mula. A lua era
apenas um pedaço de prata no céu, as estrelas cintilavam como mil diamantes. Ela
não sabia se eles poderiam ter escolhido uma noite melhor para sua aventura
clandestina.

Depois de ajudá-la a sair da carroça, ele estendeu a mão para a lamparina.


Ela colocou a mão no braço dele, e ele se deteve.

— Prometa-me que se nós acordarmos Robert você vai sair pela porta.

— E deixá-la enfrentar a sua ira?

— Ele não vai ficar com raiva de mim. Com toda a probabilidade, ele vai
atirar em você.

Ele riu baixo. — Eu não vou fugir, Meg.

— Eu não estou pedindo para você fugir. Eu só estou pedindo para você
partir se nós acordarmos Robert.

— Como você vai explicar o que está fazendo na casa?

— Vou dizer que eu não conseguia dormir e vim olhar Mama Warner.

Inclinando a cabeça, ele estudou o chão. — Você acha que eu sou um


covarde?
— Eu só não quero que você leve um tiro no meio de um ato de bondade.

Ele baixou a chama na lamparina até que ela era pouco mais que um sussurro
de luz no escuro. — Tudo bem, vamos tentar não acordá-lo.

Conforme eles se arrastaram em direção à casa, Meg percebeu pela primeira


vez em sua vida, como era alto o som da grama triturando sob seus pés. Ela temia
que eles acordassem todo o estado. Clay entrou com certeiros passos, como se
tivesse esquecido que sua visita era um segredo, como se quisesse tentar o pai de
Kirk a apontar uma arma para ele.

Ela correu para pegá-lo e envolveu a mão em seu braço oscilante quando se
aproximavam da casa. — Deixe-me ir primeiro — ela sussurrou.

Clay, com relutância, reconheceu a sabedoria de suas palavras.

Se Robert acordasse, ele ficaria menos alarmado se visse Meg andando pela
casa. Clay deu um aceno brusco. Meg pegou a lamparina e lentamente abriu a porta.
Ela olhou para a cozinha escurecida e ouviu atentamente.

Deslizando a lamparina pela abertura, procurou nas sombras, em seguida, na


ponta dos pés foi para dentro da casa.

Clay entrou atrás dela, e Meg podia jurar que ele pisou no chão. Com o dedo
pressionado em sua boca, ela se virou e olhou para ele. Ele deu de ombros.

— Caminhe em seus dedos — disse ela em voz baixa.

Ele fez uma careta.

— Faça isso ou eu não vou mais longe — ela ameaçou.


Ela viu seu aumento de altura e baixou a lamparina para uma inspeção mais
próxima de seus pés. Seu grande dedo do pé havia escapado pelo buraco na sua
meia.

Ela se arrastou até a cozinha e parou no corredor. Um caminho levava para o


quarto que ela compartilhou com Kirk, o quarto onde Robert agora dormia. O
quarto principal da casa estava além dele. Na direção oposta, a poucos passos pelo
corredor, a porta do quarto de Mama Warner estava entreaberta.

Respirando fundo, ela cautelosamente andou nas pontas dos pés pelo
corredor. Ela espiou pela porta entreaberta.

Sorrindo, Mama Warner estava na cama, sua mão levantada ligeiramente e


seus dedos balançando no ar. Meg correu pelo quarto, balançando a lamparina e
afugentando as sombras.

— Eu estava começando a me preocupar com você — Mama Warner


sussurrou.

Meg pressionou seu dedo nos lábios da mulher mais velha. — Temos que
ficar quietos.

Mama Warner acenou com a mão como se espantando uma mosca irritante.
Então ela estendeu seus dedos nodosos para Clay. Sua mão maior engoliu a dela.
— Meg disse que você me levará a uma aventura.

Para surpresa de Meg o brilho do sorriso de Clay brilhou através da


penumbra do quarto.

— Sim, senhora. Eu vou ser tão gentil quanto eu puder, mas me diga se eu te
machucar.
Meg se esqueceu de alertar para ele ficar quieto. Ela esqueceu sobre tudo,
além de ver o cuidado com que ele envolveu um cobertor em torno de Mama
Warner antes de, cautelosamente, levantá-la em seus braços e embalá-la contra seu
peito.

— Confortável? — ele perguntou.

— Você sabe como segurar uma mulher para que ela se sinta preciosa. Me
faz desejar ser 60 anos mais jovem.

Clay riu, e Meg bateu em seu ombro. — Shh.

Ele revirou os olhos. — Ela me mantém em uma linha apertada.

— Não apertada o suficiente pelo que ouvi.

— Vocês dois fiquem quietos! — Meg sussurrou bruscamente. — Vocês vão


acordar Robert e depois nós vamos ter todo o inferno para lidar. — Ela cutucou
Clay. — Mova-se.

— Seria bom se a pessoa com a lamparina liderasse o caminho — disse ele


em voz baixa.

Meg assumiu a liderança, e os sussurros atrás dela aumentaram. Estes dois


eram piores do que tias solteironas em uma festa social. Ela correu pelo corredor e
se esgueirou até a cozinha.

Esperou enquanto Clay tomava seu próprio tempo seguindo-a suavemente.


Ela se sentia como se estivesse em pé à beira de um abismo profundo pelo tempo
que ele levou para chegar à cozinha. Poderia dizer que ele e a mulher em seus
braços estavam lutando para segurar o riso. Ela se arrastou pela porta. Segurá-la
aberta foi uma eternidade.
— Você deve ter treinado sua mula — ela sussurrou quando Clay finalmente
caminhou para a varanda. — Você se move mais lento do que ela. Tente se apressar.
Eu gostaria que nós estivéssemos de volta antes do nascer do sol.

— Ela sempre manda em você desse jeito? — perguntou Mama Warner.

— Ela é geralmente pior.

Meg fechou a porta. — Como você pode andar tão lento quando suas pernas
são tão longas? Normalmente eu não posso manter-me com você. Hoje à noite,
quando importa, você é mais lento que uma tartaruga.

— Eu não quero andar imprudentemente e soltar o meu pacote precioso aqui.

Quando se aproximaram do galpão, Meg sentiu seu coração palpitar. Ela


estava com medo de que Mama Warner não gostasse da estátua; talvez tenha sido
um erro mostrar a alguém antes de estar concluída.

Eles entraram no galpão e Meg aumentou a chama na lamparina. Quando


Clay passou, ela levantou a lamparina mais alto e viu as mesmas dúvidas refletidas
em seu rosto. Ela não sabia por que doía saber que ele estava nervoso sobre
compartilhar seu trabalho. Ele tinha um dom raro e, de repente, desejou que ele
tivesse ido para a Europa, que ele tivesse desenvolvido a sua arte e aprimorado suas
habilidades.

Meg se aproximou do granito e as sombras se deslocaram da pedra. Mama


Warner engasgou. Com lágrimas enchendo seus olhos, ela cobriu a boca com os
dedos nodosos. — Eu quero tocá-lo — ela disse asperamente.
Clay jogou seu olhar sobre Meg. Ela viu em seus olhos que ele não esperava
o pedido de Mama Warner. Ela também viu que ele não estava disposto a
decepcionar a mulher. Ele olhou para o banco, em seguida, olhou para ela.

— Vá chamar Lucian. Ele deve estar em casa.

Meg colocou a lamparina na mesa.

— Eu sou um monte de problemas — ela ouviu Mama Warner dizer.

Ela olhou por cima do ombro. No meio das tênues sombras, Clay se sentou
no banquinho, segurando a avó de Kirk em seu colo e balançando a cabeça, um
sorriso terno em seu rosto. — Não, senhora. Você não é nenhum problema.

Ela acariciou seu rosto. — Você deveria ter partido há anos atrás pela minha
porta traseira quando teve a chance. Você teria muito menos rugas em seu rosto.

— Se tivesse saído por sua porta traseira naquele dia, eu nunca teria sido
capaz de voltar por causa disso.

Ele baixou a cabeça. Um nó atou-se na garganta de Meg quando ela detectou


um movimento sutil de seus braços; ela achou que ele estava segurando Mama
Warner mais apertado. Eles não pareceram perceber que ela ainda não tinha partido,
mas ela se sentia como se estivesse se intrometendo em um momento íntimo que
pertencia apenas aos dois.

Rastejando para fora do galpão, ela se dirigiu para a casa. Ela bateu
levemente e esperou alguns instantes antes de empurrar lentamente a porta aberta.
O brilho âmbar de um fogo morrendo na lareira e a baixa chama em uma lamparina
em cima da mesa jogavam uma luz pálida sobre a sala. Ela entrou na casa e pegou a
lamparina. A parede à sua direita continha uma porta fechada, como a parede à sua
esquerda. Ela escolheu a porta à sua direita. Ela atravessou a sala e bateu os dedos
na porta. — Lucian?

Cuidadosamente, ela abriu a porta e olhou para dentro do quarto. Um cheiro


familiar a cumprimentou. Clay.

Entrando, ela olhou para o mobiliário nu. Um espelho de corpo inteiro


enfrentava a parede e ela se perguntou por que ele não queria olhar para o seu
reflexo no espelho. Ele via um covarde quando encontrava seu olhar?

Um espelho menor se pendurava na parede acima de um lavatório. Ela ficou


nas pontas dos dedos dos pés. Supôs que ele olhava no espelho quando se barbeava,
embora ela não achava que ele podia ver muito de seu rosto ao mesmo tempo.

Imaginou Clay segurando a navalha na mão grande, dobrando seu queixo, e


olhando para o espelho enquanto roçava a borda afiada sobre o rosto, removendo o
crescimento de uma noite de barba espessa.

Ela tocou a ponta do cabelo com a qual ele tentou fazer ser um pincel. Ele
não tinha as habilidades com o pincel como tinha com um cinzel e martelo. Ele
poderia moldar pedra, mas não poderia fazer seu cabelo fazer nada, além de cair
sobre a testa.

Ela enfiou as colchas ordenadamente no lugar em sua cama. Ela se perguntou


quão baixo ele afundava no colchão. Se perguntou se ele achava o fato de dormir
sozinho tão solitário como ela.

Virando-se para sair, notou um objeto sobre a cômoda quando a luz da


lamparina balançou. Ela caminhou até a cômoda e tocou a pedra.
Ele tinha esculpido uma pequena menina sentada com os cotovelos sobre a
mesa e o queixo nas mãos. A menina parecia incrivelmente triste, como se tivesse
acabado de perder algo precioso. Um dos lados da rocha era irregular, como se o
que Clay tivesse esculpido tivesse caído ou quebrado. Arrastou seus dedos sobre a
trança ao longo da cabeça da moça. Sabia por que a garota estava triste; ela era a
garota.

— O que você está fazendo? — uma voz profunda perguntou.

Meg se virou, sua mão apertou a garganta dela — Oh, Lucian. Eu estava
procurando por você.

— Você não vai me encontrar no quarto de Clay.

— Eu não sabia que este era o quarto dele... não num primeiro momento, de
qualquer maneira. Ele precisa de você no galpão.

Ele passou as mãos pelo cabelo. — Deixe-me pegar uma camisa.

Ele desapareceu na escuridão. Ela caminhou rapidamente para fora do quarto


e fechou a porta silenciosamente. Lucian saiu através de uma porta do outro lado da
sala. — Estou pronto.

— Sinto muito — disse enquanto colocava a lamparina sobre a mesa e


caminhava até a porta. — Eu não sabia onde você dormia.

— Eu durmo com os gêmeos, e os pequenos patifes roncam.

Ele segurou a porta aberta para ela e voltaram para a noite. Eles caminharam
em silêncio até o galpão.
Meg cruzou para o outro lado do galpão e Clay levantou a cabeça, a testa
franzida. — Mama Warner adormeceu enquanto estávamos esperando por você.

Ajoelhando, Meg balançou suavemente o ombro de Mama Warner. — Mama


Warner, você precisa acordar agora.

Mama Warner apertou os olhos. — Eu vi Kirk.

— Não, senhora. Você viu seu rosto esculpido na pedra.

— Ah, sim. O monumento. Não vai ser o que você queria, Meg.

— Eu acho que vai ser exatamente o que eu queria. Você queria tocar Kirk,
lembra?

— É claro que eu me lembro. Eu sou velha, não sou esquecida.

— Lucian, segure Mama Warner — disse Clay. — Vou ficar no banco e


você pode entregá-la para mim.

De pé, Meg se moveu para o lado, e Lucian tomou Mama Warner de Clay.
Clay subiu no banquinho e apoiou suas pernas. Ele levantou Mama Warner em seus
braços e segurou-a em direção à estátua.

Mama Warner correu os dedos nodosos sobre as feições esculpidas de Kirk.


Em seguida, ela caiu contra o ombro de Clay. — Você fez bem, Clayton. Você fez
bem.

***
Inclinando-se contra a rocha, Meg assistiu como Clay espalhava a colcha no
chão. Eles haviam levado Mama Warner para casa e depois tinham vindo para a
lagoa. Com tão pouca lua, a escuridão escondia a maior parte das ações de Clay.

Ela tentou manter um muro de ódio, mas ele tinha lascado o muro pouco a
pouco. Ele tinha começado inocentemente no dia em que ela o viu brincando com
os gêmeos nus no rio. Ela se lembrava de todos os atos altruístas que havia servido
como seu cinzel, cada bondade como seu martelo.

Agora ela viu sua silhueta estirar-se e ele puxar os cantos da colcha pela
grama. Ele ajoelhou-se sobre a colcha e apoiou as mãos sobre as coxas. — Você
está estranhamente quieta. Prefere que eu te leve para casa?

Meg atravessou o pequeno espaço que os separava, caiu de joelhos, e


envolveu sua mão ao redor da parte de trás do seu pescoço. — Eu não estou certa
de que quero que você me leve para casa esta noite.

Ela pressionou a boca na dele, e ele ergueu as mãos ao seu rosto, o único
lugar que ele já tocara nela. Ela deslizou a mão ao redor e começou a desabotoar
sua camisa. Ele retirou a boca da dela com uma velocidade relâmpago.

— O que você está fazendo? — ele perguntou.

— Eu quero remover sua camisa.

— Por quê?

Ela passou a mão ao longo de sua camisa. — Porque eu quero tocar seu peito,
e as costas nuas.

Clay olhou para a mão dele tocando seu rosto. Ele podia ver o contorno de
seu rosto, mas não conseguia distinguir a superfície suave. Esperava que as
sombras escondessem suas imperfeições tão facilmente como escondiam sua
perfeição. Ele roçou os lábios nos dela, esperando que ela encontrasse a permissão
de que precisava.

Ela encontrou.

Ela libertou os botões de sua camisa enquanto ele gemia e aprofundava o


beijo. Retirando a camisa das calças, ela levantou as extremidades.

Clay não queria afastar-se do beijo, não queria dar-lhe uma visão clara do
seu peito, mas ela puxou sua camisa, não lhe dando escolha. Ele tomou um último
gosto dela antes de se inclinar para longe e levantar os braços. Ele sentiu o toque
quente do ar noturno em cada polegada de seu peito e costas enquanto ela tirava
lentamente a camisa sobre sua cabeça. Ele se perguntou se ela estava pensando, se
ela estava considerando cobri-lo de novo. A camisa tinha se levantado para
esconder seu rosto para que ele não pudesse mais ver Meg, e ela não sabia se isso
era uma bênção ou uma maldição.

Ele sentiu suas curvas deslizarem contra seu peito enquanto ela tirava a
camisa de seus braços. Ele nunca tinha percebido como malditamente longo seus
braços eram. Suas mãos ganharam sua liberdade, e ele deixou-as cair para o lado.
Então ela puxou a camisa fora de sua cabeça, e ele se viu olhando para seu rosto na
escuridão. Ele não podia imaginar o que ela estava pensando. Ele amaldiçoou a
escuridão abençoada. Desejou que ele pudesse vê-la claramente, sem ela vê-lo.

Com os dedos trêmulos, ela delineou seus ombros. — Eu sinto você como eu
pensei que iria — ela disse suavemente. — Fica tão quente no galpão. Eu me
mantive esperando que você tirasse sua camisa para que eu pudesse vê-lo trabalhar.
É como se quando você molda a pedra, ela moldasse você.
Ela arrastou as mãos ao longo de suas costas e pressionou os dedos contra
cada músculo e osso que ele tinha, enquanto ele estava sentado como uma estátua.
Ela tinha mãos tão pequenas, tão gentis. Nunca em sua vida alguém o tocara com
tanta ternura. Ele queria retribuir o favor, mas estava com medo de que ela parasse
se ele se movesse.

— Eu nunca percebi o quão incrivelmente forte você tem que ser para lascar
a pedra. Você se move com tanta graça, mostrando tão pouco esforço, mas eu posso
ver a força em suas mãos, senti-la em seus ombros e costas. Eu poderia facilmente
passar o resto da minha vida assistindo você cortar pedras.

Ele poderia facilmente ter passado o resto de sua vida olhando para ela
assistindo-o, tê-la sentada naquela cadeira, enchendo o galpão com o perfume de
madressilvas. Se ele diminuísse o ritmo no monumento, talvez ele pudesse mantê-la
com ele por três anos, mas sabia que uma vez que ele o terminasse, a cadeira ficaria
vazia, a madressilva iria desaparecer, e tudo que ele teria seriam lembranças de
uma mulher que tinha tocado nele uma noite, como se ela já não o odiasse.

Ela passou as mãos para trás até seus ombros antes de mover lentamente seus
dedos abertos em direção ao seu peito.

Ele passou as mãos em volta das dela para parar a exploração. Temia que,
mesmo na escuridão, ela fosse descobrir coisas sobre ele, que preferia que ela não
soubesse. — Eu gosto quando você toca em minhas costas — disse ele enquanto
guiava suas mãos em torno de seus lados.

Inclinando-se para frente, ela arrastou beijinhos ansiosos por sua garganta,
marcando-o com a cura de sua boca. — Você pode me tocar, também — ela
sussurrou pouco antes de mordiscar sua orelha.
Ele flexionou os dedos e os tocou levemente em suas bochechas. Ele
inclinou a cabeça longe de seu ouvido e cobriu a boca dela com a sua. Ela suspirou
baixinho, e ele conteve um gemido de contentamento. Ela provavelmente pensaria
que ele estava com dor, se continuasse a soar como um animal cada vez que ela o
tocava.

Ela moveu seu corpo e ele sentiu seus seios sussurrarem ao longo de seu
peito. Ela moveu as mãos fora de sua carne e ele sentiu-as moverem-se entre seus
corpos. Ele jogou a cabeça para trás. — O que você está fazendo?

Ela abaixou a cabeça, como se envergonhada. — Eu estou com calor.

Ele assistiu com espanto como o material de sua blusa se separava e sua
garganta ficava à vista.

Ela olhou para ele. — Você gostaria de fazer isso?

— Eu... eu nunca desabotoei a blusa de uma senhora antes.

— Não é muito diferente de desabotoar sua camisa. Você só desliza o botão


através do buraco. — Ele podia ouvir o riso em sua voz quando ela demonstrou
com facilidade e expôs um pouco mais de sua carne.

Clay sentiu como se alguém tivesse acabado de pôr algodão em sua boca.
Esfregando as mãos ao longo de suas coxas, ele tentou acalmar seu tremor. Ele
estendeu a mão para o botão e seus dedos roçaram as ondas de seus seios. Ele
empurrou as mãos para trás. — Talvez seja melhor você desabotoar esse.

Ela balançou a cabeça ligeiramente. — Quero que você desabotoe.

Ele respirou fundo e voltou seus dedos ao botão. Suas mãos não queriam
cooperar. Elas não queriam apertar um botão através de um buraco. Elas queriam
abrir e ter seus seios. Ele tentou forçá-las a esquecer que elas estavam aninhadas
entre o exuberante vale de seus seios. Seu botão saiu voando para a noite.

— Droga! — Ele moveu suas mãos para longe de sua blusa. — Se eu


encontrá-lo, posso costurá-lo novamente.

Ela colocou as mãos em torno das dele. — Eu não estou preocupada com o
meu botão. Estou preocupada que talvez você não queira o que estou oferecendo.

Ele engoliu em seco. — O que você está oferecendo?

— Tudo de mim.

— Oh senhor. — Ele baixou a cabeça. — Eu te quero tanto, Meg, que dói.


Eu te amei por tanto tempo que não me lembro de quando eu não amei. — Ele
ergueu o olhar para o dela. — Você nem mesmo vai dizer o meu nome.

— Eu irei. — Ela pressionou um beijo no canto de sua boca. — Eu prometo


que direi.

— Quando?

— Quando ele significar mais.

— Você ainda me odeia?

Ela balançou a cabeça. — Não, eu não odeio você há muito tempo. Eu tentei
te odiar. Eu fingi que eu odiava porque assustou-me ter todos estes sentimentos de
novo. Eu amei Kirk. Eu queria morrer quando ele morreu. Eu achei que não me
apaixonaria por mais ninguém. — Ela colocou a palma da mão contra sua bochecha
e sorriu com ternura, com lágrimas nos olhos. — Mas eu me apaixonei.
Tomando-lhe a mão, ele deu um beijo no centro de sua palma. — Eu não sei
como te mostrar o que eu sinto sem estragar tudo sobre mim... e você.

— Então eu vou lhe mostrar — disse ela em uma voz tão sensual como a
noite.

Ele não sabia se iria sobreviver com ela se mostrando a ele, mas estava
disposto a arriscar. Ela presenteou-o com seu perfil enquanto tirava seus sapatos.
Ele puxou as botas e jogou-as de lado. Ele se preocuparia em encontrá-las mais
tarde. Ela tocou seu joelho e podia muito bem ter tocado o seu coração, tão leve foi
a sua carícia.

— Eu vou terminar de me despir em um minuto — disse ela.

Ela subiu a saia sobre seu joelho. E ele viu como ela deslizou lentamente sua
meia para baixo, sobre seu tornozelo e passou-a pelos dedos dos pés. Onde estava
uma lua cheia, quando ele precisava de uma? Uma que iria brilhar sobre ela e não
sobre ele.

De repente, ela virou-se e colocou o pé coberto com a meia em seu colo. —


Você pode tirar esta.

Ele envolveu sua mão ao redor de sua panturrilha. — Você é tão suave, tão
suave. — Ele rolou a meia para baixo, tirou-a, e cobriu seu pé com a mão. — Você
tem pés pequenos.

— E orelhas pequenas.

Ele levantou o olhar para seu peito, onde seus dedos estavam ocupados
dando liberdade para seus botões. O vale aumentou. — Eu não acho que eles são
tão pequenos quanto eu pensava.
Ela tirou a blusa, expondo seus ombros para a noite. Ele espiou a fita
segurando a chemise. A fita desapareceu, e o material se separou.

Ela pôs-se de joelhos e deslizou as alças de seus ombros. — Você faz o resto.

Ele se atrapalhou com os botões, fitas, rendas e algodão, mas ela não pareceu
se importar. Ela moveu-se ligeiramente para se acomodar às suas necessidades,
dando-lhe um acesso mais fácil para suas roupas. Ele não sabia como suas mãos
trêmulas conseguiram tirar as roupas e empilhá-las ao seu lado, mas elas fizeram.

Sem prender seu cabelo e abanando-o sobre os ombros nus, ela riu levemente.
— Eu nunca fui tão ousada.

— Eu nunca me senti tão tímido. Eu queria que você não tivesse nenhuma
experiência com isso.

Ela apertou seus ombros até suas costas bateram na colcha — Você não está
competindo com ninguém esta noite. Somos só você e eu. — Ela passou a mão
sobre a frente de suas calças. — Não há fantasmas do meu passado — Ela
desabotoou suas calças. Ele levantou os quadris, e ela habilmente tirou as roupas
restantes.

Clay estava respirando como se tivesse acabado de correr para o topo de uma
montanha, e ela estava sentada lá tão calma como o amanhecer, arrastando os dedos
para cima e para baixo de sua coxa, tocando seu joelho e movendo os dedos mais
perto de sua virilha com cada deslizada. A mulher era uma especialista em tortura.

— Alguma mulher já tocou em você? — ela perguntou quando ela espalmou


os dedos sobre sua coxa.

— Não.
— Você quer uma mulher tocando em você?

— Não.

Ela parou, e Clay se levantou. Ele embalou sua bochecha na palma da mão.
— Eu quero que você me toque. — Ele beijou-a profundamente, com mais
urgência do que jamais experimentou. A curva do seu seio roçou seu peito, e ele
queria esmagá-la contra ele, sentir seu peso em cima dele.

Sua mão acariciou lentamente a parte superior de sua coxa, circulando para
cima. Sua respiração agitada. Seus dedos viajaram pelo seu estômago, arrastaram
ao longo de sua outra coxa, em seguida, tocaram em toda a passagem, e
acariciaram-no com uma intimidade que causou a seu corpo uma explosão com
uma série de espasmos quase violentos. Perdido nas sensações de fogo, ele enterrou
o rosto em seu cabelo até que seu corpo esteve calmo, e sua respiração desacelerada.
— Sinto muito — ele murmurou.

Embalando seu rosto, ela moveu seu rosto de seu pescoço. — É o que eu
queria.

Lentamente, quando seus sentidos retornaram, ele percebeu que a outra mão
dela ainda estava acariciando-o. Se ela tivesse sido repelida pela reação de seu
corpo ao seu toque, ela tinha uma forma estranha de demonstrá-lo.

— Eu sou a única com a experiência. — Ela beijou-o levemente. — Se você


nunca esteve com uma mulher, eu não achei que você seria capaz de resistir por
muito tempo. Meu corpo não reage tão rapidamente, então eu estava esperando
igualar-nos.

— Você poderia ter me avisado.


— Que eu sou uma descarada petulante que gosta do toque de um homem?

— Que você iria me levar direto para o céu. — Ele deu-lhe o que esperava
ser um sorriso diabólico. — Agora é a minha vez de levá-la para o céu.

Seus olhos se arregalaram. — Eu acho que você não teve experiência.

— Eu sou um aprendiz rápido.

— Você pode começar fingindo que acabou de me esculpir na pedra. Gosto


de ver suas mãos se moverem sobre a pedra depois que você a esculpe.

Usando seus dedos, ele afastou seus cabelos de seus ombros para que suas
curvas fossem uma silhueta visível no meio da noite.

Lentamente, ele deslizou as mãos ao longo dos seus ombros, por seu lado até
que pôde sentir o peso de seus seios aninhado em suas palmas. — Você não é nada
como a pedra, Meg. A pedra é dura e áspera. Inúmeras vezes fizeram minhas
palmas sangrarem. Temperou minhas mãos para que eu muitas vezes esquecesse
que há coisas suaves neste mundo. Você me faz desejar nunca ter corrido minhas
mãos sobre a pedra, que eu tivesse segurado coisas macias para você.

— Eu já lhe disse antes que eu gosto de suas mãos. Gosto da maneira como
eu as sinto sobre a minha pele. Eu sinto que elas estão sussurrando segredos.

Ele deitou-a na colcha. — Há algo especial que eu deva fazer?

Meg estudou as sombras de seu rosto. Mesmo no escuro, ele parecia mais
velho do que ele era; até mesmo sua inocência tinha sido manchada pela guerra. —
Apenas me toque... com as mãos... com a boca... com o seu corpo.
Ele colocou seu corpo parcialmente sobre o dela. — Eu quero que você goste
de estar comigo.

— Então me beije.

Ele aproximou sua boca para cobrir a dela. Meg acolheu-o com um
desespero que a inquietou.

Ele passou a língua dentro de sua boca enquanto passava o dedo ao longo da
parte inferior de seu seio. Ela sentiu os seios incharem e o calor viajar através de
seu corpo. Rolando um pouco, ela apertou-se contra sua coxa nua.

Ele era incrivelmente sólido, seus músculos firmes e apertados. Ela passou
suas mãos ao longo de suas costas e se perguntou como ele poderia parecer tão
magro e ser tão forte. Seu toque continha uma força temperada com gentileza.

Ele arrastou a boca ao longo de sua garganta e mergulhou sua língua na


cavidade da garganta. Em seguida, moveu-se para baixo e sua língua girou em
torno de seu mamilo. O toque de sua mão o tinha endurecido, a promessa da sua
boca fazendo com que ele se franzisse. Ele fechou a boca em torno da ponta e
sugou suavemente. Gemendo baixinho, Meg arqueou as costas e virou-se para ele.

— Você tem um gosto bom — disse ele sem mover a boca de seu seio.

— Assim como você quando você não está sendo mesquinho com sua boca.

Ele riu e moveu seu peso para que estivesse aninhado entre suas coxas. Ele
arrastou a boca de um seio para o outro, em seguida, deslizou-a ao longo de seu
estômago enquanto ele se sentava em seus calcanhares. Lentamente, deslizou suas
mãos sobre seu corpo. — Você é perfeita, Meg. Você sabia disso? Se eu fosse um
escultor verdadeiro, eu sempre usaria você como minha modelo.
— Você é um escultor verdadeiro.

— Não, Meg. Eu sonhava em ser um escultor, pensei que poderia ser um,
mas não sou. Já cometi alguns erros no monumento. Eles são pequenos, quase
imperceptíveis, mas sei que eles existem. Penso que você deve saber disso antes de
tornarmos a ir mais longe.

— O monumento não tem nada a ver com o que está acontecendo entre nós
esta noite. Eu te amo, Clay.

Seu nome sussurrado por seus lábios foi algo que Clay tinha ansiado tanto
quanto ansiava por seu amor, seu toque, seus olhos segurando os seus como se ela
não visse nada do que se envergonhar sobre ele.

Sentando-se, ela espalmou sua bochecha e sussurrou seu nome mais uma vez
antes de beijá-lo com ternura.

Ele deu o seu coração para ela guardar.

Meg beijou sua bochecha, o queixo, o oco na base de sua garganta, onde ela
estava certa de que o suor se reunia quando ele trabalhava. Passando as mãos ao
longo de seus ombros e braços, ela deitou de volta na colcha. — Venha até mim,
Clay.

Ele colocou seu corpo sobre o dela. Deslizando a mão entre seus corpos,
Meg abriu-se para ele e guiou-o para casa. Ele estremeceu e parou. — Oh, Deus,
como me sinto bem. Eu não esperava sentir você assim.

Apoiado nos cotovelos, ele abaixou a boca para a dela, aceitando sua oferta.

O instinto assumiu e ele balançou seus quadris contra os dela, lentamente no


início, timidamente, até que sua confiança cresceu e eles encontraram o seu ritmo.
Nenhum cabelo cobria seu peito e seu corpo esfregando sobre o dela parecia como
seda sobre seda.

Meg sentiu o calor entre suas coxas acender e inflamar em um fogo furioso.
Contorcendo-se debaixo dele, ela encontrou seus impulsos e enterrou os dedos em
suas costas.

Clay escutou como seus gemidos suaves enchiam a noite. Ele nunca tinha
ouvido nada mais bonito em sua vida. Ela engasgou e ele queria perguntar a ela o
que ela precisava dele. Ele aumentou o ritmo de suas estocadas e mergulhou mais
profundamente. Ela arqueou as costas e chamou o seu nome para os céus. Foi tudo
o que precisava para enviá-lo em espiral sobre a borda.

Quando a tempestade passou, ele ainda podia sentir o leve pulsar de seu
corpo em torno dele. Ele beijou seu pescoço, queixo, sua bochecha, os lábios, antes
de enterrar o rosto em seu cabelo. Ele apertou seu abraço. — Eu achei que ninguém
jamais iria me querer — ele sussurrou.

Ela arrastou seus dedos ao longo das suas costas, sobre seus ombros, e tomou
seu rosto entre as mãos, virando-o para que seus olhares pudessem se encontrar na
escuridão.

— Você estava errado.


Capítulo 16
De pé ao lado da carroça. Clay observava de perto como a congregação se
derramava para fora da igreja. O pai e irmão de Meg caminharam em direção à sua
carroça.

Então ele viu o que estava esperando quando Robert saiu da igreja sozinho.
Sua partida deixou apenas uma pessoa lá dentro. Clay puxou a aba do chapéu sobre
a testa. — Voltarei em um minuto — ele falou por cima do ombro para seus irmãos,
antes que começasse a caminhar de volta para a igreja.

Para sua surpresa, Meg tinha parecido radiante tocando o órgão, embora ele
não a tivesse levado para casa até o amanhecer. Ele bocejou durante a maior parte
do serviço e teria caído no sono, se não fosse pelo fato de que teria sido privado do
prazer de olhar ela.

Ele tentou ser discreto enquanto caminhava para a igreja, mas os murmúrios
das pessoas em pé no adro da igreja subiram como gafanhotos descendo para
devorar as culturas. Tirando o chapéu, entrou pela porta aberta no santuário. O
edifício ecoou seus passos enquanto ele caminhava pelo corredor.

Parando, ele sorriu quando Meg caminhou em sua direção. — Bom dia.

Seu passo era hesitante e ela olhou rapidamente ao redor da igreja vazia.

— Pensei que eu poderia levá-la para casa ou para Mama Warner... onde
quer que seja que você esteja indo.
Ela empalideceu. — Por favor, não fale comigo aqui. Tínhamos um acordo
para ignorar o outro na cidade.

Ela começou a passar por ele, e ele agarrou seu braço, girando-a para ele. —
Eu pensei que o que se passou entre nós na noite passada enviou esse acordo para o
inferno.

— Meu pai vai matá-lo se ele vê que você está falando comigo.

— Eu estou disposto a arriscar.

— Eu não.

— Tira a mão de cima dela, seu covarde de barriga amarela. — A jovem voz
masculina reverberou pelas paredes da igreja.

Clay olhou por cima do ombro de Meg para ver seu irmão em pé na porta,
com as pernas separadas, mãos fechadas em punhos apertados.

— Por favor — Meg sussurrou. — Eu não quero nenhum problema aqui.

Ele soltou-a. Como se fosse dizer algo mais, ela abriu os lábios ligeiramente.
Então caminhou para fora da igreja.

— Toque-a novamente e eu vou te matar — disse Daniel.

Clay questionou se deveria dizer a seu irmão que ele estaria fazendo um
favor a ele se o matasse... porque seu coração tinha acabado de morrer.

***
A escuridão envolvia Meg. Antes ela sempre encontrava conforto na noite;
agora era como se ela tivesse caído em um poço de solidão.

Ela esperara por horas na lagoa, mas Clay não havia chegado. Ela olhou para
sua casa. Tudo parecia sereno. Certamente, se ele tivesse sido ferido ou adoecido,
ela teria visto algum sinal.

Correndo em direção ao lado da casa onde ela sabia que seu quarto estaria,
ela tropeçou e caiu. Sentando-se, ela esfregou sua canela raspada. Na escuridão, ela
mal conseguia distinguir a forma de um coelho com uma orelha solitária.

Ela ficou de pé e caminhou com cuidado através do cemitério de pedra até


chegar à casa.

A luz pálida derramava através das rachaduras irregulares nas persianas. Ela
bateu na janela. — Clay?

Pressionando a orelha na janela, ela ouviu um movimento dentro do quarto.


— Clay?

Alguém bloqueou a luz escapando através das rachaduras. — Vá para casa,


Meg.

— Eu preciso falar com você. Por favor, deixe-me entrar.

Abrindo as persianas, Clay era uma silhueta escura contra o pano de fundo
da lamparina. — Você disse tudo o que precisava ser dito na igreja.

— Por favor, deixe-me explicar.

Soltando um suspiro profundo, ele a puxou pela janela e fechou as persianas.


Encostado na parede, ele cruzou os braços sobre o peito. — Explique.
Ela tirou a sujeira de sua saia e alisou os fios soltos de cabelo para longe de
seu rosto. — Você não me encontrou na lagoa.

— Eu não vi nenhum motivo para ir.

— Eu sei que você está com raiva...

— Eu não estou com raiva.

Se ele não estava com raiva, certamente fazia uma boa imitação disso. Sua
voz era cortante e tão dura como pedra. Ela apertou as mãos. — Eu te amo, Clay.

— Não.

Meg sentiu como se ele tivesse a esbofeteado. — Sim, eu amo. Quando você
deixar esta cidade, eu vou com você.

Estreitando os olhos, ele a estudou. — Você quer se casar comigo?

— Sim.

— Você vai me dar filhos?

— Se eu puder. Kirk e eu nunca fomos capazes de conceber, mas se eu tiver


filhos, quero que sejam seus.

— Passando pela cidade, onde quer que seja, você vai andar na rua comigo?

— Claro.

— Segurando minha mão?

— Sim.

— E as mãos de meus filhos?


— Sim.

Ele descruzou os braços e deu um passo em direção a ela. Ela queria jogar-se
em seus braços, mas algo duro em seus olhos a deteve.

— E o que acontecerá, Sra. Warner, quando alguém que você conheça


passeie pela cidade, aponte para mim e me chame de covarde de barriga amarela?
O que você vai fazer então? Você vai deixar de segurar a minha mão e levará meus
filhos para o outro lado da rua? Vai fingir que você não me beijou, que não ficou
comigo sob as estrelas? — Com desgosto em seu rosto, ele se virou. — Você acha
que eu sou um covarde. Vá para casa.

— Eu não acho isso. Eu te amo.

Ele se virou. — Você não acredita nesse amor, não acredita em mim.

— Sim, eu acredito.

Ele andou em direção a ela. Ela recuou para o canto e inclinou a cabeça para
encontrar seu olhar furioso.

— Quão fortemente você acredita em nosso amor? — ele perguntou, sua voz
ameaçadoramente baixa. — Se eles ameaçassem retirar suas roupas a menos que
você negasse o nosso amor, você negaria?

Ele não lhe deu chance de responder, mas continuou, sua voz cada vez mais
profunda e mais irregular, como se estivesse trazendo à tona os eventos do passado.

— Se eles não a deixassem dormir até que você negasse o nosso amor, você
negaria para que pudesse colocar sua cabeça sobre um travesseiro?
"Se eles esfaqueassem uma baioneta em sua parte traseira toda vez que seus
olhos se fechassem, você negaria o nosso amor para que sua carne não fosse
traspassada? "

"Se eles aplicassem uma marca quente em sua carne até que você gritasse em
agonia, você negaria o nosso amor para que eles tirassem o ferro? "

"Se eles te colocassem diante de um pelotão de fuzilamento, você diria que


não me ama para que não atirassem em você?

Ele deu um passo para trás e passou as mãos pelos cabelos. — Você acha
que eu sou um covarde. Você não acha que eu tenho a coragem de ficar ao seu lado
e arriscar à ira de seu pai. Eu morreria antes de me afastar de qualquer um ou de
qualquer coisa que acredito. Você nem mesmo ficará de pé ao meu lado.

Ele a olhou do jeito que ela imaginou que soldados que haviam perdido uma
batalha provavelmente pareceriam: cansados, cansados da luta, desiludidos.

— Você não acredita em mim — ele disse calmamente. — Como pode


acreditar no nosso amor?

Um tiro ecoou através da noite, seguido rapidamente por um outro e as


batidas dos cascos.

Clay empurrou a porta do quarto e invadiu a sala da frente. Meg se apressou


atrás dele. Lucian e os gêmeos estavam olhando através das ripas nas persianas que
cobriam a janela à direita da porta da frente. Clay moveu-se para a janela do outro
lado, espiou pela brecha, e baixou a cabeça.

— Saia daí, seu covarde de barriga amarela! — Outro tiro ecoou na


escuridão.
Clay capturou os olhares de seus irmãos. — Me dê à palavra de vocês de que,
não importa o que ouvirem, vocês não virão para fora.

Todo mundo ficou imóvel como estátuas.

— A palavra de vocês! — Clay latiu.

Lucian deu um profundo aceno rápido. — Você a tem.

Clay passou seu olhar sobre os gêmeos, e eles rapidamente cruzaram os


dedos sobre seus corações.

— Mantenham-na aqui dentro — disse Clay com uma indicação rápida de


sua cabeça na direção de Meg antes de sair pela porta.

— Não — ela engasgou enquanto corria atrás dele. Antes de chegar à porta,
Lucian serpenteou seu braço em volta da sua cintura, levantou-a do chão, e bateu
com a mão sobre sua boca. Ela lutou, lutou, o arranhou e o chutou, mas ele não
liberou seu aperto.

Alguém disparou outro tiro. A bala estilhaçou a madeira de uma ripa na


janela e o zumbido dela ricocheteou pela casa.

— Deus todo poderoso! — os gêmeos gritaram.

— Debaixo da mesa! — Lucian ordenou.

Meg sentiu sua respiração sair de seu corpo quando ele a jogou no chão e
colocou seu corpo sobre o dela. Os gêmeos, tremendo violentamente, enrolaram-se
ao seu lado.
Ela ouviu cavalos relincharem e mais armas de fogo. Ela podia ver uma
dança estranha de sombras e chamas através das rachaduras nas persianas, como se
as pessoas do lado de fora estivessem carregando tochas.

— Se prometer ficar quieta, vou tirar a minha mão de sua boca — sussurrou
Lucian.

Ela assentiu com a cabeça. Cautelosamente, ele retirou a mão.

— Por favor, deixe-me ir lá fora — ela implorou.

— Apenas iria piorar para ele se eles soubessem que você está aqui.

— Quem é? Quem está aí?

— Eu não sei. Estão usando sacos de farinha sobre suas cabeças.

Eles ouviram um gemido de agonia que soou como se surgisse das entranhas
do inferno. Meg deu uma cotovelada nas costelas de Lucian e conseguiu se libertar
do seu abraço. Ela arrastou-se por debaixo da mesa. Ele veio atrás dela, agarrou
suas pernas, e a trouxe de volta para o chão.

Ela chutou e bateu os punhos em seus ombros: — Por favor, deixe-me ir.
Eles o machucaram!

— Eu não posso, Meg. Eu dei-lhe a minha palavra.

Os gritos dos homens, o canto de balas, e as batidas dos cascos


desapareceram na noite. Lucian a soltou. Ela ficou de pé, abriu a porta e correu
para fora a tempo de ver o último dos cavaleiros encapuzados desaparecer na
escuridão.

Mas ela não viu Clay.


Ela se virou conforme Lucian e os gêmeos vieram para fora. — Onde ele está?

Lucian levantou a lamparina, mas tudo o que podiam ver era o vazio. — Será
que eles o levaram? — ele perguntou.

Um gemido baixo, como o de um animal ferido, sem esperança, soou através


da escuridão. Em passos largos, Lucian deu a volta para o lado da casa, com Meg e
os gêmeos em seu encalço. Ele parou de repente. — Meu Deus!

A lamparina lançava um brilho sobre o rosto machucado de Clay, conforme


olhou para seu irmão. Ajoelhado ao lado do toco de uma árvore, ele envolveu sua
mão direita em torno do cabo da faca que alguém tinha introduzido através de sua
palma esquerda contra o toco. — Ajude-me.

Meg engoliu a bile subindo na garganta e tomou a lamparina de Lucian. —


Ajude-o.

Com incerteza, Lucian se aproximou de Clay. — Talvez eu deva trazer o Dr.


Martin.

Clay balançou a cabeça. — Apenas me ajude com a faca.

Lucian colocou o pé sobre o tronco e envolveu sua mão ao redor do cabo da


faca. — Vai doer como o diabo.

Balançando a cabeça, Clay pressionou sua mão livre contra o pulso de sua
mão presa. Lucian olhou por cima do ombro para Meg, e ela viu a angústia refletida
em seu rosto. Ele fechou os olhos e puxou a faca.

Clay lançou um gemido estrangulado quando Lucian retirou a faca. Lucian


cambaleou para trás, a faca ensanguentada na mão. Clay caiu no chão, enrolou a
ponta de sua camisa em torno de sua mão ferida e embalou-a contra seu peito. Meg
colocou a lamparina no toco e a luz brilhou ao lado da piscina preta de sangue. Ela
se ajoelhou ao lado de Clay. — Deixe-me ver sua mão.

— Vá para casa, Meg. Isto não lhe diz respeito. — Ele colocou a mão boa no
toco e lutou para ficar de pé.

— Eu quero ajudar...

Ele cambaleou para a casa e encostou-se à parede. — Você acha que eu sou
um covarde. Seu irmão me chamou de covarde na igreja e você deixou passar em
branco as palavras. Eu nunca... — Fechando os olhos, ele respirou instavelmente.
Abrindo os olhos, ele empalou-a com seu olhar, de forma tão eficaz como a faca
que tinha perfurado sua mão. — Eu nunca fiz nada na minha vida em que tive de
cobrir o rosto para fazer. Vá para casa, para seus homens valentes.

Ele deu um passo instável em direção à porta, vacilou e desmaiou. Meg


correu para o seu lado e colocou sua cabeça em seu colo. Seus olhos estavam
fechados e sua cabeça pendia em qualquer direção que ela a virasse. Ela ergueu o
olhar para Lucian. — Ajude-me a levá-lo para dentro da casa.

Ele moveu-se rapidamente e colocou as mãos sob os ombros de Clay. — Joe,


carregue a lamparina. Josh, você e Meg peguem seus pés.

— Ele não vai morrer, não é? — Josh disse enquanto pegava sua carga.

— Não, acho que isso tudo é só por causa de toda emoção — disse Lucian
enquanto levantava Clay e andava de costas para a casa.

O olhar de Meg foi atraído para o rastro de sangue enquanto carregavam


Clay para sua cama. Quem tinha feito isso? Por quê?

Como eles poderiam ter feito isso?


Clay gemeu quando eles o deitaram na cama, mas não acordou.

— Você tem um trapo que eu possa usar para enrolar em torno de sua mão?
— perguntou Meg.

Lucian saiu do quarto e voltou com um pano branco. Ele entregou a ela, que
o envolveu em torno da ferida medonha. — Joe e Josh, eu preciso da ajuda de
vocês. — Eles vieram para o lado dela e ficaram em posição de sentido, como se
fossem pequenos soldados. — Ele tem uma mão tão grande que eu preciso de
ambos para pressionar sobre ela assim, para parar o sangramento. — Ela pegou
suas mãos e posicionou-as em torno da mão de Clay.

Pisando de lado, ela olhou para Lucian. — Vamos tirar suas roupas e ver o
quanto ele está machucado.

Lucian levantou as sobrancelhas. — Eu não deveria tirar suas roupas


enquanto você espera no outro quarto?

— Eu sou viúva. Eu já vi o corpo de um homem. Provavelmente não vou


desmaiar por ver o de outro. — Ela moveu-se para o pé da cama e começou a tirar
os sapatos de Clay. Ela deixou-os cair no chão antes de Lucian caminhar até a
cabeceira da cama e começar a desabotoar a camisa. Meg tirou a meia de Clay e
olhou para a grande cicatriz rosa que circulava seu tornozelo.

— Querido Deus — Lucian sussurrou.

Ela ergueu a cabeça. Lucian tinha a camisa de Clay desabotoada e os lados se


separaram para revelar pela luz da lamparina o que ela tinha sido incapaz de ver
pela luz pálida da lua crescente. Outra cicatriz.

Alguém tinha queimado um D no centro do seu peito.


Ela se sentou na beira da cama e tocou levemente os dedos pela cicatriz.

Ela se lembrava de como Clay impediu seus dedos de correrem sobre seu
peito enquanto faziam amor.

Agora, ela entendeu por que ele tinha guiado suas mãos às costas. Ele não
queria que ela sentisse a cicatriz, soubesse que o exército o tinha marcado como um
desertor.

— Vá buscar o Dr. Martin — disse ela.

— Sim, senhora — Lucian disse antes de sair rapidamente da sala. Ela


desejou poder se livrar dos gêmeos com a mesma facilidade, mas precisava deles
para manter a pressão sobre a ferida.

— Eles o machucaram muito, não foi, Sra. Meg? — Josh perguntou.

— Esta é uma antiga cicatriz. Não dói mais. — Ela colocou as mãos sobre o
ombro de cada menino. — Poderia ser melhor se vocês olhassem para longe e
estudassem a parede ali, enquanto eu vejo o quanto ele está machucado.

— Sim, senhora. — Assistindo seus queixos tremerem quando eles se


viraram, ela sentiu as lágrimas surgirem em seus próprios olhos.

Ela levantou a ponta sangrenta da camisa de Clay, uma fina cicatriz irregular
marcava seu quadril. Ela desabotoou suas calças, puxou-as passando por seus
quadris, e viu o que ela esperava que ela não fosse ver: mais cicatrizes cruzavam
seu traseiro. Suas palavras passadas correram por sua mente como uma chuva
torrencial:

— Eu posso resistir a qualquer tortura que me for entregue...


— ... Quatro dias sem dormir...

— ... Baioneta...

— ... A única diferença entre nós é que seu marido estava disposto a matar
por suas crenças. Eu não estava...

Gentilmente, ela tirou suas roupas. Novas contusões foram surgindo e


cobrindo as cicatrizes antigas. Ela levou a colcha até seu queixo e enfiou-a em
torno de seus lados, como se pudesse, de alguma forma, protegê-lo.

Saiu do quarto e voltou com uma bacia de água morna. Usando um pano
limpo, ela limpou o sangue da boca de Clay. Quantas vezes eles o tinham acertado?
Um olho inchado estava quase fechado. Seu pescoço fora atingido de raspão e
sangrava.

Ela deixou cair o pano manchado dentro da bacia e colocou-a sobre uma
mesa ao lado da cama.

Sentada na beira da cama, tomou as mãos dos gêmeos, colocou-as no colo, e


pressionou as próprias palmas contra a ferida. — Vocês podem ir para a cama
agora. Não há nada mais para vocês fazerem. Vou acordá-los se ele precisar de
vocês.

Balançando a cabeça, os gêmeos saíram do quarto e fecharam a porta


silenciosamente.

Meg abaixou a cabeça e chorou.


Algum tempo depois, o Dr. Martin irrompeu pela porta como um ciclone. —
Maldição! O que fizeram com ele?

Ele andou pelo quarto e puxou a colcha até os quadris de Clay.

— Ele tem cica... — Meg começou, não certa do por que ela queria explicar
a este homem. Que as cicatrizes eram merecidas medalhas de honra.

— Eu estou familiarizado com suas cicatrizes — Dr. Martin disse, cutucando


seus dedos ao longo das costelas de Clay. — Algum soldado maldito o golpeou
com sua baioneta, e eles não puderam parar o sangramento, portanto o enviaram
para mim. — Ele soltou uma risada sem alegria. — Eles estavam com medo de que
ele sangrasse até a morte antes que eles tivessem a chance de executá-lo. Malditos
idiotas.

Meg ouviu passos. Ela olhou por cima do ombro para ver Lucian de pé na
porta, seu olhar perturbado piscando com culpa sobre seu irmão. Ele parecia como
se tivesse sido preso em uma tempestade. Seu cabelo úmido agarrava-se à sua face
tão tenazmente como sua camisa suada abraçava seu corpo. Meg não tinha pensado
em dizer-lhe onde poderia encontrar seu cavalo, e ela percebeu, com pesar, que ele
tinha corrido para a cidade para encontrar o médico.

Clay engasgou e seus olhos se abriram.

— Isso doeu, não é? — Dr. Martin disse.

Clay assentiu levemente. — Sim senhor. — Ele olhou para seu peito nu, se
encolheu, e se esforçou para puxar a colcha até o queixo com a mão boa. Virando o
rosto para Meg, disse em uma voz rouca — Faça-a ir embora, Doutor.
Meg sentiu uma forte necessidade de tranquilizar Clay de que seus
sentimentos por ele eram genuínos. Ela encontrou o olhar intenso do Dr. Martin. —
Eu quero ajudar. A mão dele ainda está sangrando.

Dr. Martin envolveu as mãos em torno da ferida enfaixada. — Eu vou cuidar


do sangramento. Acho que você pode ajudar mais deixando o quarto.

Ela abriu a boca para protestar, mas a expressão no rosto do Dr. Martin
disse-lhe que ele não iria tolerar argumentos. — Eu preciso de um pouco de água
aquecida e um café — disse ele.

— Nós não temos nenhum café — disse Lucian.

— Bem, então, torne-se útil e arranje-me alguma coisa para comer. Eu


sempre fico com fome no meio da noite após atender pessoas feridas. Agora, vá em
frente. Eu dei-lhe algo para fazer, comece a fazê-lo.

Meg saiu da cama e inclinou-se perto do rosto de Clay. — Clay?

— Vá para casa — ele falou com os dentes cerrados.

— Eu te amo — disse ela baixinho. Ele fechou os olhos, como se suas


palavras lhe causassem mais dor. Ela olhou para o Dr. Martin. — Chame se
precisar de mim.

Com um último olhar para o homem deitado na cama, ela caminhou para
fora do quarto.

Os minutos passaram tão lentamente quanto horas. Meg tinha se sentado à


mesa com as mãos apertadas em seu colo. Lucian se sentou em frente a ela, com os
cotovelos sobre a mesa, o queixo pressionado contra os punhos.
A porta se abriu e os gêmeos saíram de seu quarto. — Não podemos dormir
— disse Josh enquanto se aproximavam da mesa.

— O Dr. Martin está aqui — disse Lucian. — Clay vai ficar bem agora.

— Não é por isso que não conseguimos dormir — disse Joe.

Os gêmeos se entreolharam, seus olhos se encheram de tanta tristeza que,


naquele momento, Meg desejou mais do que qualquer outra coisa, tê-los poupado
dessa dor.

Josh limpou a pequena garganta. — Lucian, nós fomos covardes hoje à noite?

Lucian rompeu seu olhar sobre Meg. Lentamente, ele baixou os punhos para
a mesa e olhou para os gêmeos.

— Não. Clay nos disse para ficar dentro de casa e estávamos fazendo o que
ele nos disse para fazer.

— Então, como é que você diz que ele é um covarde quando ele estava
apenas fazendo o que seu coração lhe disse para fazer quando não foi lutar na
guerra?

Lucian pulou para fora da cadeira. — Como diabos eu vou saber? Vocês dois
fazem as perguntas mais estúpidas que já ouvi em toda a minha vida, e então vocês
dão as respostas mais inteligentes. Por que vocês fazem as perguntas, se vocês têm
as respostas? Inferno, vou dar uma volta. — Ele saiu pela porta da frente.

Com lágrimas nos olhos, Joe disse: — Sra. Meg, nós ainda não sabemos se
fomos covardes. Mesmo se Clay disser que estava tudo bem, não sabemos se nós
deveríamos ter ido lá fora.
Meg se afastou da mesa e deu uma tapinha no seu colo. Os rapazes
aproximaram-se dela, e ela colocou os braços ao redor deles, atraindo-os para perto.
Eles eram muito magros, muito pequenos, muito novos para o que tinham
testemunhado esta noite — Eu acho que esta noite foi uma batalha para Clay lutar.

— Mas ele perdeu.

— Não, eu não acho que ele perdeu. Ele é do tipo de homem que nunca vai
perder, porque ele nunca se desvia do que ele acredita. Ele é raro, tão raro que,
mesmo eu não reconheci quanta coragem ele tem.

A porta do quarto de Clay foi aberta e o Dr. Martin caminhou para fora. Ele
deixou cair sua bolsa preta em cima da mesa e balançou a cabeça lentamente. —
Ele tem um par de costelas quebradas e sua mão está uma bagunça.

— Será que ele vai ainda ser capaz de usá-la? — perguntou Meg.

O Dr. Martin deu de ombros. — Eu não sei. Eu costurei-a o melhor que pude.
Felizmente, a faca ficou entre os ossos para que nada em sua mão esteja quebrado.
Só o tempo dirá quanto dano permanente foi feito. Mas ele tem uma determinação
tranquila, ao contrário de qualquer outro que eu já vi. Ele está dormindo agora,
então eu acho que eu vou para casa. Quer que eu a acompanhe para casa?

Meg balançou a cabeça. — Não, eu vou ficar aqui por um tempo.

— Suponho que o seu pai não sabe que você está aqui.

— Não, ele não sabe.

Dr. Martin pegou sua bolsa. — Bem, ele não vai ouvir isso de mim.
— Você sabia como eles trataram Clay — disse Meg baixinho: — por que
você não nos disse?

— Porque eu sou médico, não um fofoqueiro. As pessoas têm que saber que
elas podem confiar em mim para não repetir o que eu descubro quando estou
tratando-as. Além disso, o ódio por aqui é tão espesso, que eu não acho que isso
faria qualquer diferença. — Ele bagunçou o cabelo dos gêmeos. — Clay me disse
que nunca viu pessoas tão corajosas quanto vocês meninos, nesta noite.

Os olhos dos gêmeos se arregalaram. — Ele disse?

— Sim. Suponho que ele dirá por si mesmo na parte da manhã. — Sorrindo
tristemente, ele inclinou a cabeça para Meg. — Boa noite.

Meg segurou os gêmeos perto até que ela ouviu a porta se fechar. — Eu não
sei se eu já conheci uma noite tão longa. Preciso colocá-los na cama.

— Podemos ter uma lamparina no nosso quarto? — perguntou Joe. —


Lucian não gosta de ter uma lamparina no quarto, mas já que ele não está aqui...

— Vou deixar a lamparina em seu quarto — ela prometeu.

— E você poderia deixar a porta aberta? — Josh perguntou quando deslizou


para longe dela.

— Isso soa como uma boa ideia.

Bocejando, os meninos foram para o seu quarto, seus pés descalços


arrastando-se pelo chão. Josh parou na porta.

— Espere aqui, Sra. Meg, e nós vamos gritar quando estivermos vestidos e
debaixo das cobertas. Sabemos que não a incomodaria ver nossas costas já que
você é uma viúva e tudo mais, mas tenha certeza de que nos incomodaria... mesmo
que você já tenha visto isso antes. Nós meio que gostamos de manter essas coisas
para nós mesmos.

Meg conteve o sorriso. Na pior das hipóteses, esses meninos tinham uma
visão do mundo que a encantava. — Você pega a lamparina e eu vou esperar aqui.

Tomando a lamparina. Josh se foi para o quarto. Ela ouviu a briga, os


sussurros, e uma pequena risada.

— Estamos prontos, Sra. Meg!

Ela entrou no quarto. Josh tinha colocado a lamparina sobre a mesa ao lado
da sua cama. Com rostos angelicais, eles olharam para ela. Ela puxou a colcha até
seus queixos. Ela queria desesperadamente inclinar-se e beijar cada um e cada
sarda pontilhando suas bochechas e nariz, mas eles não estavam acostumados a ter
uma mulher em sua vida, e ela não sabia se eles dariam boas-vindas à afeição que
queria conceder a eles.

Hoje à noite, eles tinham crescido mais do que qualquer criança de dez anos
deveria.

— Sra. Meg?

— O que, Josh? — ela perguntou.

— Como você sabia que era eu falando? — Josh perguntou.

— Eu não sei. Acho que eu fiquei em torno de vocês por tanto tempo, que
vocês não parecem o mesmo para mim.

Ele fez uma careta. — Eu tenho a maioria das sardas.


Ela sorriu. — Eu sei, e eu amo cada uma delas.

— Sra. Meg, você se importaria terrivelmente se lhe déssemos um abraço?

Sentada na beira de sua cama, ela balançou a cabeça e estendeu os braços.


Eles deram um salto e atiraram-se em seu abraço. Ela segurou-os perto, inalando o
cheiro de terra, folhas e morcegos ao crepúsculo.

— Nós te amamos, Sra. Meg — um dos gêmeos disse suavemente.

Ela não sabia qual tinha falado, mas ela sabia que não importava. — Eu
também os amo.

Eles se contorceram para saírem de seu abraço. — Você vai voltar para sua
casa agora? — perguntou Joe.

Ela embalou seus queixos em suas mãos; seus rostos, seus olhos eram tão
fáceis de ler como as páginas favoritas de um livro. — Eu vou ficar aqui até vocês
caírem no sono. Então eu vou me sentar ao lado de Clay até que ele acorde.

— Aposto que poderíamos cair no sono mais rápido se você cantar para nós
— disse Josh.

Ela beliscou o nariz e cruzou as mãos no colo. — Vocês sabem por que eu
toco o órgão na igreja?

Eles furtivamente se entreolharam antes de balançarem a cabeça.

— Porque eu não posso cantar. Eu pareço uma mula que teve sua parte
traseira chutada.

Rindo, os meninos caíram para trás contra seus travesseiros. Ela trouxe a
colcha sobre seus ombros trêmulos e eles se aconchegaram no centro da cama.
— Não digam a ninguém — ela sussurrou. — É o meu segredo.

— Não vamos — eles prometeram.

Se alguém tivesse prometido a ela algo com muitos risinhos, ela não teria
acreditado, mas sabia que os gêmeos compreendiam o valor da sua palavra.

Eles rolaram sobre seus estômagos, e ela esfregou suas costas.

— Eu gosto mais disto do que de escutar alguém cantando — disse Josh. —


Você não, Joe?

Joe respondeu com um ronco leve. Josh lutou para manter os olhos abertos,
mas logo se rendeu à luta e se juntou ao seu irmão no sono.

Tantas batalhas para lutar. Ela afastou o cabelo vermelho fora de suas
sobrancelhas. Tantas batalhas a perder. Ela baixou a chama na lamparina. Tantas
batalhas para vencer.

Olhou para a cama desarrumada onde Lucian, sem dúvida, estava dormindo
antes dos cavaleiros encapuzados invadirem seu mundo. Ela se perguntou onde ele
tinha ido e se ele tinha suas próprias batalhas para lutar.

***

Na distância, os soluços angustiados encheram o ar da noite. Com o orvalho


escoando através de sua camisola, Taffy embalava o homem enrolado contra ela
como se fosse um bebê recém-nascido.
— Eu preciso de você, Taffy — foi tudo o que ele sussurrou através de sua
janela e tudo o que ela tinha precisado ouvir para sair para a noite.

Lucian arrastou suas mãos pelo seu rosto encharcado de lágrimas e respirou
fundo. — Ele nem sequer hesitou, Taffy. Ele só foi lá fora. Eu já o chamei de
covarde por trás das costas, o chamei de covarde em seu rosto. Eu não teria ido lá
fora.

— Você não pode dizer isso, Lucian. Uma pessoa nunca sabe o que vai fazer
até que as coisas aconteçam. Se eles tivessem chamado você para fora, você
poderia ter ido.

Afastando-se dela, ele bateu a mão sob seu nariz. — Não, Taffy, eu não teria
ido. Eu disse a Clay que ele era um covarde para que ele não pudesse ver que eu era
o covarde. Fiquei feliz quando mamãe e papai morreram. Agradeci ao Senhor por
suas mortes me deixarem como o mais velho na fazenda. Eu não escrevi para dizer
a Clay que eles tinham morrido, porque eu não queria que ele voltasse para casa.
Eu não queria sair e lutar. Eu sou o covarde, não ele. Ele nunca foi um covarde. O
dia em que o exército chegou para ele, ele não fugiu. Ele só ficou no campo e
esperou. Eu sabia que ele não era um covarde. Quando mamãe e papai morreram,
eu me escondi atrás de suas mortes. Clay nunca teria feito isso.

— Você não pode ter certeza — disse ela calmamente.

— Sim, eu posso e eu não vou me esconder disso mais, Taffy. Ele é meu
irmão e eu vou ficar ao lado dele como deveria ter feito desde o começo. Eu queria
que você soubesse porque vai fazer com que eu não seja bem-vindo na maioria das
casas ao redor daqui.
Ela entrelaçou os dedos nos dele. — Você sempre será bem-vindo em meus
braços.

Ele a deitou na terra úmida e beijou-a tão ternamente como só um homem


que tinha acabado de conquistar o inimigo interno podia. Vitória, ele descobriu, era
mais doce quando compartilhada.

***

Doía respirar. Doía se mover. Doía pensar.

Doía amar.

Clay estudou a pequena mão e os dedos delicados enrolados em seu peito.


Lembravam-lhe um pequeno gatinho confiante cochilando na sombra em uma tarde
quente.

Tinha sido errado se apaixonar por Meg, esperar que ela ficasse ao seu lado e
enfrentasse o vendaval de uma tempestade que ele já não estava disposto que nem
mesmo seus irmãos suportassem.

Sua evasão na igreja havia cortado seu coração tão facilmente como uma
baioneta através de sua carne. Ele se sentiu traído e, como um animal ferido, tinha
afastado quem ele amava acima de tudo.

No entanto, ela permaneceu aqui, como se fosse uma boneca de pano jogada
em uma cadeira. Não sendo possível sentar-se ereta, ela tinha caído para frente, em
cima da cama, com o rosto aninhado no colchão ao lado de seu quadril, os cílios
tocando sua pele, sua respiração esvoaçando em seu quadril cheio de cicatrizes,
onde a colcha tinha saído.

Cautelosamente, ele levantou a mão e tocou as mechas de ébano do cabelo


que tinham se soltado de sua trança.

Suas palavras após o ataque tinham apenas aprofundado a ferida penetrante


em seu orgulho. A dor emocional acabaria por diminuir e seu orgulho ferido seria
cicatrizado, mas ele preferia levar a cicatriz auto infligida do que novamente
testemunhar a agonia e o medo que ele tinha visto nos olhos de Meg.

Ele tinha um forte desejo, uma necessidade mais forte de acordar Meg, puxá-
la em sua cama, pedir desculpas por suas palavras duras e amá-la uma última vez.

Em vez disso, ele gentilmente moveu a mão de seu peito e saiu da cama,
segurando a respiração contra as pontadas de dor viajando através de seu braço,
peito e cabeça.

Se vestir não foi tarefa fácil e contentou-se com ter suas calças abotoadas
sobre seus quadris. Nunca tinha compartilhado com qualquer pessoa sobre quão
duramente tinha sido tratado. Algumas pessoas na área teriam se deleitado com o
conhecimento disto. Alguns teriam pena dele, outros teriam agonizado com a
maneira como ele tinha sido tratado. Não queria nenhuma dessas emoções dirigidas
a ele, então aceitou tudo de bom grado e deixou por isso mesmo.

Mas gentis e carinhosas mãos tinham exposto as cicatrizes. Erguer os braços


quase o levou a desmaiar com mais dor, então ele soube que seria impossível puxar
a camisa sobre a cabeça. Sua camisa permaneceu como ela tinha deixado, envolta
ordenadamente sobre uma cadeira, o sangue removido, as pontas úmidas tocando o
chão.
Calmamente ele caminhou ao redor da cadeira onde dormia Meg. Ele
provavelmente nunca mais acordaria para encontrar uma mulher dormindo perto
dele. Ele colocou um leve beijo em sua bochecha antes de sair do quarto.

***

Quando acordou, Meg arqueou sua coluna para soltar os nós e a tensão de
suas costas e ombros. Deveria ter agido por seus instintos e se arrastado para a
cama com Clay, mas ela tinha medo de causar-lhe mais dor se rolasse contra ele em
seu sono.

Se esticando na cadeira, esfregou seu pescoço, abriu os olhos e olhou para a


cama vazia. Pulou da cadeira e procurou freneticamente pelo quarto. Tendo
acabado de acordar, precisava de um minuto antes de perceber que o quarto não
dava a um homem nenhum lugar para se esconder.

Ela correu para a sala de estar. Nada se movia. Ela foi para o outro quarto e
olhou para dentro. Os gêmeos estavam dormindo. Em algum momento durante a
noite, Lucian tinha retornado, pois ele estava deitado sobre sua cama, suas roupas e
botas ainda sobre ele.

Ela correu para fora. Com dedos vagarosos, o amanhecer estava rastejando
sobre a terra. A porta do galpão estava aberta.

Correndo para o galpão, Meg tropeçou em seus pés desajeitados.


Levantando-se do chão, ela limpou a sujeira de suas mãos e continuou. Seu coração
batendo, sua respiração ofegante, ela chegou à porta e chegou a um ponto morto.
Clay estava caído contra o granito, os olhos fechados, a boca voltada para baixo.
Na penumbra através da porta, ele parecia como se algo tão pesado quanto o
monumento pesasse sobre seu coração.

Ela entrou no galpão e se ajoelhou ao lado dele. Ele embalava a mão ferida.
A bandagem branca e imaculada que o Dr. Martin tinha enrolado em volta de sua
mão agora estava amassada, sangrenta, e solta como se Clay tivesse descartado-a e
recuperado-a sem cuidado.

Ele deu um suspiro melancólico que soou tão lúgubre como o vento que
precedia a primeira tempestade de inverno. — Eu não era o único que não queria
carregar um rifle.

Ele abriu os olhos, e Meg caiu nas profundezas do marrom escuro, que
tinham envelhecido consideravelmente desde ontem. Tocando levemente os tufos
de cabelos brancos nas têmporas, ela entendeu finalmente que foi a dureza de
outros homens que tinha envelhecido Clay, não o passar dos anos.

— Eles penduraram alguns homens por seus polegares para convencê-los de


que carregar um rifle era o que eles deveriam fazer — disse ele com voz rouca. —
Eu ouvi aqueles homens gritarem e eu rezava para que não fossem me pendurar por
meus dedos. Eu estava com medo de que meus polegares fossem puxados das
minhas mãos e eu não fosse capaz de segurar minhas ferramentas. Não seria capaz
de esculpir quando chegasse em casa. Uma coisa malditamente egoísta para se orar,
mas eles nunca me penduraram pelos meus polegares.

Ela passou seus dedos ao longo de sua bochecha áspera. Ela queria fazer a
barba dele, cortar o cabelo, preparar-lhe um bom banho quente e nunca deixar que
algo áspero o tocasse novamente. — Eles te machucaram de outras maneiras —
disse ela calmamente.
Ela assistiu o pomo-de-adão se movimentar lentamente para cima e para
baixo. — Eles me privaram de sono, me privaram das cartas de minha mãe e me
marcaram como um desertor.

— O Dr. Martin disse que tinham planejado executar você.

— Mudaram de ideia. Eles envolveram pesadas correntes ao redor dos meus


tornozelos e me mantiveram prisioneiro em uma fortaleza em vez disso.

— Foi onde Kirk visitou você?

Ele balançou a cabeça ligeiramente. — Você tinha escrito para ele contando
que a minha mãe e meu pai tinham morrido. Ele pensou que se mostrasse sua carta
para o oficial encarregado, ele me mandaria para casa.

Ela sentiu a raiva inchar dentro dela com a injustiça. — Mas ele não libertou
você.

— Pedi-lhe para não mostrar a carta.

Atordoada, Meg se sentou sobre os calcanhares. — Por quê?

— Sua carta foi datada de quatro meses desde o ocorrido. Lucian estava
chegando na idade em que teria que se alistar. Imaginei que desde que eu não tinha
ouvido falar dele, que talvez ele se contentasse onde estava. As mortes de nossos
pais deram-lhe uma razão honrosa para não se alistar.

— Também lhe dava uma razão honrosa para voltar para casa.

Ele balançou a cabeça. — Eu não tinha certeza de como Lucian se sentia


sobre a guerra, mas tomei o seu silêncio como um certificado para não voltar para
casa. Talvez fosse errado da minha parte, mas eles já tinham feito tudo o que eles
podiam fazer comigo. Depois de Gettysburg, eu fiquei com o Dr. Martin e o ajudei
a cuidar dos feridos até o fim da guerra.

— Por que você não me contou tudo isso antes?

— Que diferença isso faz? Você não é diferente daqueles oficiais


confederados. Você quer um homem que está disposto a matar. Eu não sou esse
homem. Eu disse a eles que eu atenderia aos feridos, mas o capitão Roberts tinha
ido para West Point com o filho de Robert E. Lee e, por Deus, cada homem sob seu
comando deveria carregar um rifle.

— Mas você não carregou.

— Não, senhora. Imaginei que se eu segurasse um rifle, chegaria o dia em


que eles me pediriam para usá-lo, então nunca lhes dei a oportunidade.

Ela tocou seus dedos na cicatriz que o marcou como um desertor. — Eu sinto
muito por eles terem feito tudo isso com você.

— Você sente Meg?

Ela sentiu como se um rio congelado tivesse acabado de viajar ao longo de


sua espinha. — Claro que eu sinto.

— Eu não tenho tanta certeza. Acho que descobri por que você me queria
para fazer o monumento.

— Do que você está falando?

— Por que você me pediu para fazer o memorial?

As razões correram através de sua mente: suas razões no início eram muito
diferentes das suas razões agora. Ela havia plantado as sementes para retribuição, e
elas tinham florescido, mas a colheita em nada se assemelhava aos frutos amargos
que ela esperava. Ela sabia que esperara muito tempo para responder à sua pergunta,
quando seus olhos se embotaram e um canto de sua boca se elevou ironicamente.

— Você coloca o sonho de um homem ao seu alcance e então faz tudo em


seu poder para ver que ele nunca o toque. É por isso que você queria o mármore em
vez do granito, por que você veio aqui todos os dias. Você não queria me ver
esculpir o monumento, você queria me ver falhar.

— Talvez no princípio...

— E quando você percebeu que eu não iria falhar, você decidiu fazer-me
sofrer.

— Não!

— Apenas aconteceu de você estar aqui ontem à noite...

— Eu estava aqui porque você não me encontrou na lagoa.

— Se eu estivesse na lagoa, eles teriam se vingado sobre meus irmãos?

— Eu não sei.

Ele olhou para ela. — É por isso que você fez amor comigo na outra noite?
Então, eu saberia exatamente o que nunca teria?

— Não!

— Eu poderia ter feito isso, você sabe. Eu poderia ter-lhe dado um


monumento para homenagear Kirk, Stick, seus irmãos, e todos os outros homens
que sacrificaram tudo em nome da honra.

— Você ainda pode. Você pode terminar o monumento...


Ele balançou a cabeça, as sobrancelhas escuras se franzindo em conjunto
sobre o seu nariz quando ele apertou os olhos com mais força. — Eu não posso
fechar a minha mão.

— Porque está enfaixada.

— Eu tirei o curativo.

— A dor...

— Lutei contra a dor. Eu não posso fechar a minha mão.

— Uma vez que estiver sarada...

— Não vai fazer diferença. — Ele lutou para ficar de pé. — Eles dizem que
você colhe o que planta. Bem, dê uma boa olhada no seu monumento, Sra. Warner.
Tiraram a minha capacidade de terminá-lo e eles te deixaram com nada além de
sombras para honrar aqueles que você amou.
Capítulo 17
Meg rastejou através da janela do seu quarto. Ela caminhou até a pia e jogou
água fria em seu rosto, mas não podia lavar as olheiras sob seus olhos ou o peso
que se instalara em sua garganta.

Ela precisava cozinhar o café da manhã, mas tudo o que ela queria fazer era
rastejar na cama e chorar, longa e duramente, até que estivesse tão exausta que
dormiria sem sonhar com Clay.

Letargicamente, ela caminhou até a cozinha e pegou um pote da parede. O


pai e o irmão teriam que se contentar com mingau, porque ela não tinha energia
para fazer qualquer outra coisa.

Ela ouviu Daniel vindo pelo corredor assobiando "Dixie". Talvez seu ódio
em direção a Clay seria menor se seu pai tivesse deixado ele partir e ser o garoto do
tambor para a Confederação que ele queria ser.

Infelizmente, os garotos do tambor tinham morrido também.

— Bom dia Meg. — Ele veio por trás dela e colocou as mãos em seus
ombros. — O que você está fazendo?

— Mingau.

— Soa bem.
Sorrindo, ela olhou para ele por cima do ombro. Mingau era sua refeição
menos favorita. — Você parece muito feliz esta manhã.

— Sim, senhora. Você não tem que se preocupar com aquele covarde de
barriga amarela tocando você, não mais.

O coração de Meg apertou com tanta força que ela pensou que ele poderia
parar de bater. — O quê?

Ele a soltou, arrastou uma cadeira para fora da mesa e deixou cair seu corpo
no assento. — Nós cuidamos dele ontem à noite. Não foi, pai?

Meg se virou. Seu pai desviou o olhar quando ele tomou sua cadeira. — É
isso mesmo — disse ele calmamente.

Daniel plantou os cotovelos sobre a mesa. — Ele não vai tocar em qualquer
uma de nossas mulheres, isso é malditamente certo. Meus irmãos teriam ficado
orgulhosos de nós.

Meg pensou que ia ficar doente do estômago. A sala começou a girar e


inclinar.

Um duro golpe soou na porta e Meg respirou fundo, tentando endireitar o


mundo dela, perguntando-se se jamais iria se sentir bem novamente.

Robert entrou na cozinha e Meg soube pela tristeza em seus olhos o que
estava por vir antes dele falar.

— Mama Warner está pior.

***
Flexibilizando-se na cama, Meg afastou os tufos de cabelo prata longe da
testa enrugada. — Você estava aqui com Mama Warner durante toda a noite?

— Onde mais eu poderia ter estado? — Robert perguntou.

Ela ergueu o olhar para o homem de pé ao lado dela. — Meu pai, meu irmão,
e alguns outros homens atacaram Clay na noite passada. Eles colocaram uma faca
através de sua mão. Eu acho que eles fizeram isso porque ele me tocou depois da
igreja ontem.

Robert ajoelhou-se ao lado dela. — O que o Holland é para você, Meg?

Ela sentiu as lágrimas em seus olhos.

Estendendo a mão com o polegar, ele capturou uma lágrima caída. — Então
é desse jeito com ele, não é? — Ele sorriu com tristeza. — Acho que eu estaria
desperdiçando meu tempo se lhe pedisse para se casar comigo.

— Eu o amo, Robert. Eu não queria. As coisas certamente seriam mais


simples se eu tivesse me apaixonado por você.

— Teria feito alguma diferença se eu tivesse dois braços?

Ela embalou sua bochecha. — Não.

Ele colocou sua mão sobre a dela. — Eu não acho que a minha perda seria
importante para você. Você é uma dama especial, Meg. Você não parece estar
ciente disto esta manhã, mas você é. — Ele se levantou. — Uma vez que a notícia
sair sobre Mama Warner, vamos ter tanta companhia que nem poderemos agitar
uma vara aqui. Vou tentar impedir muitos de virem quando eu sair, porque você,
com certeza, não parece precisar de companhia hoje.

— Obrigada, Robert.

Ele saiu do quarto e Meg pegou a mão frágil em sua própria. Ela se inclinou
sobre Mama Warner.

— Você pode me ouvir, ou você está muito perto do céu para nos ouvir? Eu
sinto que estou no inferno.

Ela estudou as feições pálidas que o tempo tinha forrado com sabedoria. —
Você sabia que Clay não era um covarde. Se você tivesse me dito, eu não teria
acreditado em você, mas ele me mostrou, de muitas formas. A ironia é que ele é o
único entre nós que não é um covarde. Eu acho que é por isso que todos nós o
odiamos tanto. Ele é exatamente o que nós acreditamos ser.

***

Lucian tinha um forte desejo de bater na mandíbula de Clay. Não por ódio,
mas por amor. Ele queria colocar algum juízo em seu irmão.

Nos dias após o ataque, Clay fazia suas refeições na varanda, sozinho e
passava seu tempo andando pelos campos de milho, arrancando ervas daninhas.

Ele nunca levantava as janelas no galpão. Não falava sobre seu passado ou
futuro. Não falava nada, a menos que os gêmeos lhe fizessem uma pergunta, e
então ele desencorajava-os, dando-lhes uma resposta abrupta.
Às vezes, Lucian o via olhando na direção da fazenda Warner. Por longos
momentos, ele não se movia. Então ele olhava para o galpão, enfiava as mãos nos
bolsos, abaixava a cabeça e começava a andar pelos campos de cultivo de milho.

Lucian caminhou ao longo da fileira de milho até sua sombra cair sobre Clay,
que estava ajoelhado ao lado de um pé de milho. — Eu estava pensando, no
próximo ano, poderíamos alugar bois para nos ajudar a arar os campos, talvez
plantar um acre extra ou dois.

Clay puxou uma erva daninha fora do solo. — Tudo o que você achar que é
melhor. — De pé, ele tirou o chapéu e apertou os olhos contra a luz solar. — Uma
vez que forem feitas as colheitas, vou seguir em frente, portanto, em qualquer
momento que você quiser, podemos ir para a cidade e passar a escritura da fazenda
para o seu nome.

— E o monumento?

— Serviu ao seu propósito.

— O que diabos isso significa?

Clay olhou para o galpão. — Ele nunca foi concebido para ser mais do que
sombras de um sonho.

— Que diabos você está falando?

Clay olhava para a distância. — Você vê isso?

Lucian seguiu seu olhar. Nuvens negras ondulavam acima da terra. — Parece
fumaça.

— Joe, Josh! — Clay gritou.


Os garotos pararam e correram para seu lado. — Vão para o celeiro e
obtenham alguns cobertores. Parece que o campo de Sam Johnson está em chamas.
Depressa.

— Você não vai lá, não é? — perguntou Lucian.

— Como ele vai ficar no inverno, se perder sua colheita?

Lucian sacudiu o chapéu da cabeça. — Deus bendito! Nenhum deles viria


aqui e pisaria em nossas colheitas se elas estivessem em chamas.

— Eu não posso mudar o jeito que eles são, mas vou ser condenado antes de
me tornar como eles.

Clay começou a correr pelo campo. Lucian o seguiu. Ele estava começando a
pensar que seu irmão mais velho era o homem mais exasperante que conhecia.

Os gêmeos voltaram com os cobertores, seus rostos cheios de ansiedade.


Clay puxou um cobertor de Josh.

— Não fiquem muito perto do fogo e não respirem a fumaça.

Contra seu melhor julgamento, Lucian tomou o cobertor que Joe lhe ofereceu.

No momento em que eles chegaram, os vizinhos já estavam agrupados e


batendo no fogo. Lucian tomou seu lugar ao lado de seus irmãos, batendo o
cobertor contra as chamas alaranjadas brilhantes. Em sua ânsia, os gêmeos foram
ficando muito perto do fogo, e ele e Clay continuamente arrastavam-nos de volta
para a segurança.

Lucian olhou para o rosto suado e enegrecido de Clay. Provavelmente


parecia tão sujo quanto ele, mas ele se sentia bem. Fazia muito tempo desde que
sentiu como se fossem uma família, unidos em uma causa. Desejou agora que
tivesse ajudado Clay com seu lado do celeiro. Seus arrependimentos passados eram
muitos. Estava determinado a ter menos no futuro.

As chamas ante eles tiveram uma morte tranquila e Clay esfregou a cabeça
de cada menino. — Bom trabalho.

Eles começaram a caminhar sobre o campo carbonizado. Sam Johnson estava


apertando as mãos de seus vizinhos e agradecendo-lhes pela sua ajuda. Ele parou
abruptamente quando seus olhos caíram sobre Clay. Clay encontrou seu olhar.

— Clay, sua mão está sangrando — disse Josh.

Clay olhou para o sangue escorrendo através do curativo. — Vai ficar tudo
bem. Vamos lá, temos de chegar em casa agora.

Em passos largos, Lucian se propôs a acompanhar seus irmãos.

— Lucian?

Parando e virando, ele olhou para Sam. Sam estendeu a mão. — Eu queria te
agradecer por me ajudar aqui.

Lucian ignorou sua mão. — Não me agradeça. Se tivesse sido por mim, não
teria vindo, mas Clay é o chefe da família e ele estava preocupado que você
pudesse ter um inverno difícil se perdesse suas colheitas.

Sam abaixou a cabeça, o rosto ficando vermelho beterraba. — Olha, as


coisas ficaram fora de controle na outra noite. Ele não deveria se machucar. Iríamos
só assustá-lo.

— Você não fez nada para impedi-los de machucá-lo, porém, não é?


Sam levantou a cabeça. — Eu não vi você lá fora, impedindo qualquer um.

Lucian deu um passo ameaçador para frente e Sam se encolheu. — Não,


você não viu, mas eu não vou cometer esse erro novamente. Você e seus amigos
apareçam em nossa terra novamente com sacos de farinha sobre suas cabeças e
terão que colocar facas através de nós quatro.

***

Meg estava grata que Mama Warner estava mais perto do céu e não tinha
conhecimento de tudo o que tinha acontecido na última noite que vira Clay. O
conhecimento teria quebrado o coração da mulher mais velha.

Quase quebrou o de Meg.

Cada dia ela se sentava na cadeira de balanço ao lado da cama e lia A Letra
Escarlate em voz alta. Ela não conseguia ler as palavras sem pensar na cicatriz rosa
enrugada de Clay em cima de seu peito. O exército o tinha ferido.

As pessoas nas redondezas tinham-no machucado. No entanto, ela sabia que


ela o tinha machucado mais do que tudo.

— Meg?

Ela olhou para cima e deu a Robert um sorriso caloroso.

— Você tem visita. Os gêmeos Holland.


Levantando-se da cadeira de balanço, ela colocou o livro na mesa e passou
por Robert. Ela correu para a cozinha. Ela nunca esteve tão feliz em ver alguém em
sua vida quando colocou os braços em torno de ambos os meninos.

— Eu senti falta de vocês — disse Meg enquanto dava um beijo na testa de


cada menino.

— Sim, senhora, nós estávamos sentindo falta de você, também — disse


Josh.

— Vocês querem um pedaço de bolo? Eu fiz um esta manhã.

— Não, senhora, nós não viemos aqui por nossa causa. Nós viemos aqui por
causa de Clay.

— Como está a mão dele?

— Não está mais enfaixada, mas ele nunca a usa, ela continua enterrada no
bolso como se ele se envergonhasse dela ou algo assim. Pensei que talvez você
pudesse vir falar com ele...

Balançando a cabeça, ela deu um passo atrás. — Eu não posso.

— Mas, Sra. Meg, ele só anda através de um pé de milho para outro durante
todo o dia. Sabemos que ele disse algumas palavras feias na noite em que foi ferido,
mas ele não planejou isso, Sra. Meg. Não Clay. Ele não diz nada disso. Queríamos
que você voltasse e deixasse ele se desculpar.

Colocando as mãos em seus ombros, ela sentiu as lágrimas surgirem na parte


de trás de seus olhos. Eles tinham rostos tão sérios. — Eu gostaria que fosse assim
tão simples, mas não é. Nada poderia ser resolvido se eu fosse à sua fazenda. As
coisas só iriam piorar.
Os meninos lançaram suspiros funestos quando os seus ombros caíram. —
Suponho que vamos sair de fininho então — disse Josh.

Os meninos foram para a porta.

— Gostariam de levar um pedaço de bolo com vocês? — perguntou Meg.

— Não, minha senhora, mas obrigado. As pessoas de nossa casa


simplesmente não estão comendo muito nos dias de hoje.

Quando eles desapareceram pela porta, Meg caiu em uma cadeira, cobriu o
rosto com as mãos e lutou contra as lágrimas. Ela ouviu os passos de Robert
ecoarem pela sala. Por que ele não estava nos campos onde ele pertencia?

— Meg, eu sei que isso não é da minha conta..

Ela baixou as mãos e encontrou-o ajoelhado ao lado dela. — Você está certo,
Robert. Isso não é da sua conta.

Ele deu um sorriso angustiante. — Acho que você precisa de alguma fala
baixa, menina. Por que você não foi com esses meninos?

— Mama Warner precisa de mim.

— Meg, você e eu sabemos que ela nem mesmo está ciente de que você está
aqui. Por que você não foi com aqueles meninos?

Ela entrelaçou seus dedos e apertou as mãos até que doessem. — Porque eu
estou com medo. Meu irmão colocou a faca na mão de Clay. Tenho certeza disso,
embora ele não tenha dito isso exatamente. Se o meu pai descobrir que eu passo
meu tempo com Clay, acho que ele vai matá-lo.

— Então você acha que é melhor se ficar longe?


— Ele queria que eu saísse da igreja com ele e eu não pude fazê-lo porque
estava com medo do que poderia acontecer. Durante todos esses meses, eu o
chamei de covarde, mas eu sou a covarde.

— Ter medo não faz de você uma covarde, Meg.

— Certamente me faz sentir como uma.

Ele envolveu sua mão ao redor da dela. — Quando Kirk partiu, você teve
medo que os soldados da União pudessem matá-lo?

— Eu estava apavorada. Eu não dormi durante semanas me preocupando


com ele.

— Então, na manhã que ele partiu, você ficou na cama debaixo das cobertas.

— Não, senhor, eu não. Eu fui à cidade com ele e fiquei orgulhosa... — Ela
procurou o rosto sério de Robert. — Eu estava ao seu lado.

— E eles o mataram, de qualquer maneira.

Lágrimas brotaram nos olhos dela. — E eles o mataram — ela sussurrou,


trazendo a mão aos lábios.

— Como você se sentiria, Meg, se ele tivesse morrido e você tivesse ficado
em casa naquela manhã?

***
Sentada de pernas cruzadas sobre o pé de sua cama, Meg olhava para a caixa
de madeira. A caixa de madeira de Mama Warner.

Meg a tinha trazido para casa um dia depois de Mama Warner pedir a Clay
para fazer seu marcador.

Mas não tinha olhado dentro dela.

Por que Mama Warner queria que ela a tivesse?

Saindo da cama, se ajoelhou ao lado da caixa. Com os dedos trêmulos, a


abriu. A escultura de Kirk descansava no topo. Gentilmente, ela tirou-a, colocou-a
no colo e passou os dedos sobre suas feições juvenis. Mama Warner estava certa.
Ela queria a escultura. Agora que sabia que Clay não era um covarde, queria tudo
que ele já tinha tocado.

Olhou para dentro da caixa, se perguntando que outros tesouros ela detinha.
Sua respiração ficou presa ao olhar um envelope rabiscado com a letra de Kirk.

Não tinha percebido que ele tinha escrito para outros enquanto esteve fora.
Se perguntou por que Mama Warner não tinha compartilhado as cartas. Pegou a
carta e moveu-a lentamente em suas mãos. Devia ter significado algo para Mama
Warner ao lê-las, ou ela não a teria deixado na caixa.

Meg abriu o envelope e retirou a única folha de papel. Queria capturar cada
memória de Kirk que existia, mesmo aquelas que não eram dela. Lentamente, leu
as palavras rabiscadas que seu marido tinha escrito.

03 de Março, 1863
Querida Mama Warner,

Demorou algum tempo, mas eu finalmente localizei Clay. Ele parece à morte
requentada. Você conhece Clay e seu jeito tranquilo. Ele sofre suas punições sem
reclamar.

Acho que isso só os deixa mais irritados e faz com que eles o tratem mais
asperamente.

Eu escrevi a Jefferson Davis novamente pedindo que ele isentasse Clay com
base em suas crenças. Cada homem na minha companhia aplicou sua assinatura
ao pé da carta. Ouvimos que o presidente Davis não é tão simpático para os
objetores de consciência como Abraham Lincoln. Portanto, temos pouca esperança
para Clay, especialmente agora que o Sul está na extrema necessidade de homens.

Claro, Clay se oporia às nossas boas intenções. Ele acredita que deve lutar
suas próprias batalhas e devemos lutar contra a nossa.

Antes de eu partir de Cedar Grove, ele me pediu para não me envolver em


sua luta e eu honrei seu pedido. E, no entanto, muitas vezes eu me pergunto se,
com o meu silêncio, eu o traí.

Envio-lhe o amor de Clay, bem como o meu próprio, e dos homens na minha
companhia. Mantenha todos nós em suas orações.

Kirk
Meg esmagou a carta em seu peito. Talvez apenas aqueles que enfrentavam a
morte diariamente eram capazes de reconhecer que a coragem pode ser tão
tranquila como os pensamentos de um homem.

E com o seu silêncio, ela havia traído Clay também.

***

— Hoowee! Aquela mulher parece louca o suficiente para cuspir! — Lucian


disse quando saiu à varanda.

Travando na porta, Clay seguiu o olhar de seu irmão e viu Meg marchando
em direção à sua casa. Seu estômago se apertou e ele estava grato por não ter
comido muito do café da manhã.

Os gêmeos passaram por ele e pularam da varanda. — Bom dia, Sra. Meg.
Nós não esperávamos vê-la esta manhã.

— Eu preciso de alguém para abrir as janelas no galpão.

— Não, você não fará isso — disse Clay. — O galpão vai ficar fechado.

Ela arqueou uma fina sobrancelha escura. — Minha pedra está lá, e eu quero
olhar para ela.

— Sua pedra?

— Certamente. Eu a comprei. Ela pertence a mim.


— Mas está no meu galpão e eu não quero que você vá lá.

— Infelizmente, não podemos ter sempre as coisas ocorrendo como


queremos que elas ocorram. Se você não vai puxar as janelas, eu vou fazer isso
sozinha.

— Nós vamos puxá-las para você — os gêmeos gritaram antes de se


lançarem em direção ao galpão.

— Eu vou dar-lhes uma mão — disse Lucian quando tirou o chapéu para
Meg e se afastou.

Ela sorriu triunfante, e Clay sentiu como se tivesse acabado de marchar em


uma batalha que não podia ganhar. Deu de ombros. — Faça como quiser.

— Eu pretendo.

Sua mão coçava e não tinha nada a ver com a cicatrização das feridas. Ele
desejava estender a mão e tocar seu rosto, pressionar seus lábios contra os dela, e
trazer sua suavidade de volta à sua vida. Ele balançou a cabeça em direção ao
galpão. — Eles levantaram as janelas.

— Você vai vir comigo?

— Não, senhora.

Ela inclinou o nariz. — Faça como quiser.

— Eu pretendo, Sra. Warner.

Girando nos calcanhares, ela caminhou em direção ao galpão. Clay viu como
ela bagunçou o cabelo dos gêmeos, de passagem.
A julgar pelo sorriso largo no rosto de Lucian, Clay decidiu que ela sorrira
para ele ao longo do caminho.

Saindo da varanda, Clay a observou entrar no galpão. Às vezes, tarde da


noite, ele entrava no galpão e observava as sombras. Elas mudavam com o
posicionamento da lua, mas elas já não mudavam com o toque de sua mão.

— O que você acha que ela está procurando? — Josh perguntou quando se
esgueirou para encontrar Clay.

— Eu não sei. O que você disse a ela para procurar?

Os olhos de Josh se arregalaram. — Não disse a ela para procurar por nada.

— Mmm-uh.

— Honestamente.

— Depois de todo esse tempo, ela aparece esta manhã, depois de vocês dois
desaparecerem como por mágica ontem. Acho que isso é uma poderosa
coincidência.

— Clayton Holland! — ela gritou da porta. — Venha aqui.

Clay encostou-se no alpendre. Joe pisou na varanda. — Nós fomos vê-la.


Nossos corações e mentes tiveram uma reunião e decidiram que era o melhor.
Penso que se você deixar seu coração e mente terem uma reunião, você vai ver o
que ela quer.

Ele sabia o que a mulher queria: problemas. Afastando-se do alpendre,


caminhou em direção ao galpão. Se não olhasse nos olhos dela, talvez pudesse
evitar de dar a ela o que ela queria.
Tinha problemas suficientes para durar uma vida. Tudo o que queria agora
era viver sozinho. Não tinha ido à igreja desde a noite do ataque e não pretendia ir a
qualquer momento no futuro. Ele havia abandonado a esperança de provar que não
era um covarde. Meg via um covarde quando olhava para ele, e se ela o olhava
assim, assim seria o resto do mundo.

Já não se importava com o resto do mundo, e estava lutando a batalha mais


difícil de sua vida tentando não se preocupar com isso.

Entrou no galpão. Ela estava batendo o pé com impaciência e tinha plantado


a mão na cintura. Ele ergueu o olhar para o dela para que não fosse tentado a
colocar as mãos nos seus quadris.

Uma fogueira azul cumprimentou-o.

— Ela não parece diferente de quando eu a vi da última vez — disse ela


secamente.

— Suponho que é porque ela não está.

— E por que não?

Rindo, ele tirou a mão do bolso. — Porque, Sra. Warner, eu não posso
segurar ferramentas.

Meg estremeceu com raiva da cicatriz vermelha que parecia ser um reflexo
do homem enfurecido diante dela. — Ainda dói?

Ele mudou sua postura. — Está um pouco sensível.

— Você já tentou segurar o cinzel desde que tirou as bandagens?


— Eu tento todos os dias. — Ele fechou a mão e segurou o ar. — Isto é até
onde ela vai fechar. Mesmo se fechasse ela toda, não tenho nenhuma aderência.
Não posso martelar em um cinzel, quando eu não tenho a força para segurá-lo no
lugar.

— Eu poderia segurar o cinzel.

Ele a olhou como se ela tivesse acabado de lhe dar um tapa. — O quê?

— Eu poderia segurar o cinzel. Você tem uma boa mão e é a mão que você
usa para segurar o martelo. Eu serei sua mão esquerda.

— Você ficou louca?

Respirando fundo, ela caminhou até a mesa e estudou suas ferramentas. Ele
usava o cinzel maior quando começava. Eles teriam que ir mais devagar, com mais
cuidado. Ela pegou um cinzel menor. — Você pode posicionar o cinzel, e eu vou
segurá-lo no lugar.

Ele passou sua boa mão pelo cabelo. — Você tem alguma ideia do quão duro
eu tenho que bater nesse cinzel para quebrar a pedra?

— Se o som que o martelo faz quando atinge o cinzel é qualquer indicação,


então eu diria que tem que bater bem forte.

Ele deu um passo ameaçador em direção a ela. — Eu tenho que bater muito
forte.

— Eu sei que não sou tão forte quanto você, mas se eu segurar o cinzel com
ambas às mãos, e nós lascarmos fora pedaços menores de pedra...

Ele pegou um martelo e bateu contra a mesa. Meg se encolheu.


— Isso é o quão duro eu vou bater no cinzel. Isso é o quão duro eu vou
acertar a sua mão se eu errar o cinzel.

Ela respirou fundo. — Então não erre o cinzel.

— Você não aprendeu nada quando Robert acertou a sua mão com o martelo?

— Isso dói.

— E eu vou deixar um inferno com muito mais do que uma contusão. — Ele
bateu na mesa de novo, e Meg ouviu a divisão da madeira.

— Eu vou quebrar os seus ossos! Eu vou esmagar sua mão!

Ela elevou o queixo. — Eu estou disposta a arriscar.

Ele atirou o martelo para um canto distante. — Bem, eu não estou.

Ele começou a sair.

— Eu li a carta de Kirk na noite passada.

Ele parou de repente.

— Você me disse que ele lhe deu a bolsa de cartas poucos meses antes de
morrer.

— Está certo.

— Ele datou sua carta em 30 de Junho, véspera da batalha de Gettysburg.

Ele baixou a cabeça. — Eu procurei nos bolsos dele antes de o sepultar. Isso
foi tudo que eu peguei.
Hesitante, ela atravessou o galpão e colocou a mão em suas costas. Ela sentiu
ele endurecer. — A carta não é muito longa. — Ela retirou a carta do bolso e
estendeu-a em sua direção. — Eu gostaria que você a lesse.

Ele balançou a cabeça. — Não é minha para ler.

— Eu estou te dando permissão para ler seus pensamentos antes que ele
fosse tirado de nós.

Sua mandíbula ficou tensa e ela o viu engolir. Ela tirou a carta do envelope e
desdobrou-a.

— Por favor — disse ela calmamente.

Lentamente, ele tomou a carta dela. Respirando profundamente, baixou o


olhar para a carta. Meg não tinha que ver as palavras para saber o que ele lia. Ela
tinha memorizado a carta durante a noite.

30 de Junho, 1863

Minha querida Meg,

Eu deveria estar dormindo, mas o céu noturno acena para mim. Eu olho
para ele e penso em você como você estava no dia em que parti. Como eu estava
orgulhoso, Meg, por saber que a bela mulher me acenando bravamente era meu
amor.

Falei com Clay recentemente. Eu disse a ele que ele deveria esculpir
novamente, esculpir minha amada como ela parecia na última vez que eu olhei
para ela.
Vou levá-la comigo agora em meus sonhos. Durma bem, meu amor e sei que
a felicidade que você me trouxe não conhece limites.

Carinhosamente seu.

Kirk

Deixando sua mão cair para o lado. Clay fechou os olhos. Ela viu sua
garganta se mover e sabia que ele estava lutando com as mesmas emoções que ela
tinha lutado durante a noite.

Ela esperava que a carta fosse diferente, escrita como se Kirk soubesse que
era a última vez que ele teria a oportunidade de escrever, mas ele tinha escrito
como quem ia escrever outra carta, como se ele fosse voltar a olhar para o céu
noturno e levar as lembranças dela em seus sonhos.

— Você escolheu capturar o momento em que ele partiu porque ele pediu-
lhe para me esculpir. Você não está fazendo um monumento para homenagear
aqueles que partiram. Você está fazendo um monumento para homenagear aqueles
que o assistiram ir.

— A coragem é mostrada de maneiras diferentes. Isso é o que eu estava


esperando mostrar.

— E é o que você está mostrando. O monumento será em memória daqueles


que morreram e ele vai honrar tantos mais. Você tem que terminá-lo.

Ele se virou e olhou para ela, levantando a mão como se fosse uma garra. —
Eu não posso!
— Tínhamos um acordo, um entendimento. Você me deu sua palavra de que
faria o monumento se eu comprasse a pedra. Eu comprei a pedra. Agora, você está
dando para trás em sua palavra quando me disse que morreria antes de fazer isso.

— Eu não tenho escolha — ele sussurrou com os dentes cerrados.

— Sim, você tem. — Ela caminhou até a mesa e pegou o cinzel menor. —
Eu estive pensando sobre o monumento. Presumo que esta parte que você ainda
não tocou vai ser meu traseiro quando você acabar.

Ele franziu a testa e deu um passo mais perto. — Sim — ele admitiu
cautelosamente.

— Bem, eu acho que vai levar um tempo para nos acostumarmos a trabalhar
em conjunto, de modo que este é o lugar onde vamos começar. A pior coisa que
pode acontecer é desbastarmos muito e eu teria uma parte traseira menor. Eu não
me importaria com isso.

— Não há nada de errado com o seu traseiro.

— Você não acha que é muito grande? — perguntou ela, com a voz mais
luminosa.

Desviando o olhar, ele corou. — Não, eu não acho que é muito grande — ele
rosnou. — Mas você está errada sobre a pior coisa que pode acontecer. Inferno, eu
poderia esmagar sua mão.

Ela colocou a mão em torno da dele. — Se você quebrar minha mão, vamos
parar... até que se cure.

Ele deixou cair o queixo no peito e balançou a cabeça lentamente. — Meg,


eu não quero dar-lhe mãos tão feias quanto as minhas.
— Como elas podem ser feias, se você dá a elas a oportunidade de criar algo
que vai significar tanto para tantas pessoas?

Ela pegou seu martelo do canto e o entregou a ele. — Vamos devagar e


pegaremos o jeito, um pouco de cada vez. Só me mostre como você deseja que o
cinzel seja posicionado contra a pedra.

Ele deu um sorriso fraco. — Você é louca. Vai levar anos para terminarmos.

— Eu não tenho mais nada que prefira fazer.

— Certo. Fique aqui — disse ele, como se resignado com sua determinação.

Ele colocou o martelo no chão e, com a mão boa, ajudou-a a posicionar o


cinzel. Ela colocou as duas mãos em torno do cinzel.

— Você pode segurá-lo estavelmente? — ele perguntou.

Ela assentiu com a cabeça, embora não estivesse de todo certa. Ela não
queria desiludir Kirk, mas mais do que isso, não queria decepcionar Clay, agora
que tinha colocado o seu sonho de volta ao seu alcance.

Ele levantou o martelo e colocou a mão ferida sobre a dela. — Eu não posso
segurar o cinzel, mas posso, pelo menos, proteger suas mãos. Isto vai ser um pouco
estranho.

Ele bateu o martelo contra o cinzel um par de vezes como se estivesse


tentando se orientar. Respirou fundo e girou o braço. Meg fechou os olhos.

Ela ouviu o eco e sentiu a vibração viajar para baixo por seu braço quando o
martelo bateu no cinzel. Ela abriu os olhos e se deliciou com a doce vitória. —
Funcionou! Nós podemos fazê-lo!
Clay caminhou até a mesa. Ele deixou cair o martelo sobre a superfície de
madeira e olhou para a janela.

— Começaremos amanhã.
Capítulo 18
Embora Mama Warner não estivesse ciente de seu entorno, Robert,
abençoado seja seu coração, disse ao povo da cidade que era demais para ela ter
visitantes passeando dentro e fora da casa durante todo o dia, restringindo suas
visitas à tarde. Seu aviso deixou Meg livre para gastar as manhãs trabalhando com
Clay.

Seu progresso foi lento porque Clay levava longos momentos para estudar a
rocha depois que eles tiravam cada pequeno pedaço.

Ele disse a ela que era porque achava estranho não segurar o cinzel ele
mesmo, e não se sentia tão perto da pedra, mas ela suspeitava que a verdadeira
razão era a sua ansiedade sobre suas mãos.

E ele tinha razão para isso.

Meg não tinha vivido uma vida suave, mas suas mãos nunca tinham
trabalhado tão duro. Ela não estava acostumada a agarrar um pedaço pesado de
metal e segurá-lo, quanto mais duro o metal batia contra ela. Às vezes, ela pensava
que seus dentes se soltariam com o abalo do impacto.

Então ela olhava para a mão de Clay cobrindo a dela, e ela mantinha suas
queixas para si mesma. A ferida ainda estava enrugada e vermelha conforme se
curava e cheia de cicatrizes. Ela tinha um forte desejo de colocar um beijo na
cicatriz, que corria em toda a palma e viajava ao longo do dorso.
Ela imaginou que seu choro de agonia naquela noite tinha vindo não tanto
por causa da dor, mas da percepção de que eles tinham matado seu sonho.

Mas havia momentos em que ela sentia a mão dele se fechar um pouco mais
sobre a dela, quando batia o martelo contra o cinzel e a mão dela que ele cobria,
reagiria por instinto e apertaria de volta.

Ela adorava aqueles momentos, mantinha-os profundamente dentro dela, e


ansiava pelo dia em que suas mãos poderiam segurar o cinzel e retornar ao seu
lugar, onde pertencia.

— Por que suas mãos estão tremendo? — perguntou Clay.

— Eu não sabia que elas estavam.

Ele estreitou os olhos. — Deixe-me ver suas mãos.

— Não há nada de errado com minhas mãos.

Ele se afastou do granito e ela afrouxou seu aperto no cinzel. Tão rápido
como um raio de luz, ele deixou cair o martelo, arrancou o cinzel de sua mão, e
atirou-o para baixo. Ele agarrou a mão dela antes que ela pudesse reagir.

— Droga, Meg, por que você não me contou sobre suas mãos?

— Elas não estão assim tão más e nós não temos muito tempo para lidar com
isto. Nós não podemos parar cada vez que eu estou tendo um pouco de desconforto.

— Um pouco de desconforto? Suas mãos estão esfoladas.

— Sua mão também não está machucada? — ela perguntou.

— Sente-se naquela cadeira e não se mexa até eu voltar.


Ele saiu do galpão, e ela deixou-se cair na cadeira. Ele era tão distante como
a tempestade que rolava sobre as colinas. Ela podia ouvir o trovão, podia ver o
relâmpago; mas não podia tocar neles. Não podia alcançar a essência da tempestade.

Clay nunca sorria. Nunca brincava. Raramente olhava para ela. Já não ia à
igreja. Os cavaleiros mascarados da noite tinham reduzido sua vida à casa, ao
galpão, e à uma caminhada ocasional através dos campos. Ela estava aqui com ele
todas as manhãs e nunca se sentira mais longe dele.

Ele entrou e se ajoelhou diante dela. Colocou um frasco dentro da dobra do


cotovelo e virou a tampa com a mão boa.

— O que é isso? — ela perguntou.

— Uma pomada que minha mãe fez. Vai fazer suas mãos ficarem melhor.
Nós não trabalharemos amanhã. — Ele colocou o frasco no chão e enfiou os dedos
na pomada espessa. — Coloque as mãos em seu colo para que as palmas das mãos
estejam abertas. Diga-me se eu te machucar.

Gentilmente, ele alisou a pomada sobre a palma e esfregou-a no local


esfolado. Em seguida, trabalhou com o polegar e os dedos sobre sua mão,
misturando a pomada em sua carne. — Se sente melhor? — ele perguntou.

— Muito.

— Eu vou fazer no outro lado agora. — Mergulhou seus dedos dentro do


frasco, pegando mais pomada e massageou sua outra mão.

— Você me odeia? — ela perguntou em voz baixa.

Ele parou os dedos, mas não levantou o olhar. — Não — ele disse em voz
baixa. Ele começou a massagear a mão dela novamente.
— Você sabe quem colocou a faca em sua mão?

Seus dedos vacilaram, então ele esfregou a palma da mão com mais
intensidade.

— Foi Daniel, não foi? — ela perguntou.

— Eu não posso ter certeza.

Virando a mão dela, ela conseguiu aninhar a dele entre as dela antes que ele
pudesse se afastar. Ela apertou seus dedos sobre a palma de sua mão. — Alguém já
colocou esta pomada em suas mãos?

— Eu usei-a uma vez ou duas.

— Você colocou-a em si mesmo?

— Claro. Basta colocá-la na mão, esfregando-a. Não há nenhum segredo


nisso.

Alcançando dentro do frasco, ela revestiu seus dedos com a pomada e, em


seguida, arrastou-os para o centro da palma de sua mão. — O segredo é ter alguém
colocando isso em você — disse ela enquanto passava seu polegar entre seus dedos.
— Suas mãos são tão fortes. Mesmo quando elas não estão trabalhando, dá para
sentir a força delas.

— Elas são tão malditamente grandes.

— Melhor para me segurar.

Ele deslizou a mão da dela. — Elas não vão segurar você.

— E a sua mão ferida? Você não acha que a pomada irá fazê-la ficar melhor?
Ele hesitou e ela sabia que ele estava lutando com sua consciência. Tudo
para este homem era uma batalha.

— Eu vou ser gentil — ela prometeu.

Ele fechou os olhos e um gemido baixo escapou de sua garganta.


Cautelosamente, ela levantou a mão fora de sua coxa e colocou-a no colo.
Levemente, ela arrastou seus dedos sobre a cicatriz na palma da mão. — Ainda dói?

Cautelosamente, ele olhou para ela. — Não tanto.

Criando pequenos círculos, ela esfregou a pomada sobre a palma de sua mão.
— Eu vou para a lagoa toda noite — disse ela baixinho. Ela sentiu a mão se
tencionar e encontrou seu olhar. — Eu continuo esperando te ver lá.

— É melhor se eu não for.

— Por quê? Porque eu não saí da igreja com você? Eu estava errada...

— Não! — Ele tirou a mão de seu alcance. — Você estava certa. Nós não
temos futuro. Eu estava errado em pensar o contrário. Estava planejando seguir em
frente, porque não gosto do ódio tocando meus irmãos. Não sei porque pensei que
não iria tocar você.

— Eu sei que você não é um covarde...

— Isso não importa mais. Os gêmeos estavam certos. Você deve se casar
com Robert.

— Eu não amo Robert.


Ele levantou. — Suas mãos precisam de algum tempo para curar. Você
provavelmente deve ficar afastada por uma semana ou algo assim. — Ele caminhou
até a porta.

Ela se levantou da cadeira e juntou as mãos diante dela. — Eu amo você,


Clay.

Com um sorriso triste, ele olhou para ela por cima do ombro. — Eu sinto
muito, Meg, mas eu estou cansado de lutar.

Seu protesto caiu em ouvidos surdos conforme ele se afastou.

***

Deitado na cama, ele estudou as mãos nas sombras da meia-noite. Elas não
pareciam diferentes, mas com certeza ele as sentia diferentes.

Um homem podia ficar estragado tendo uma mulher em sua vida, sorrindo
com o amanhecer, cantarolando enquanto ela cozinhava o café da manhã, franzindo
a testa enquanto ela segurava o cinzel, esfregando pomada sobre suas mãos. Todos
os dias ele odiava ver o nascer do sol acima das janelas do galpão. O final da
manhã daria lugar ao meio-dia e seria a hora dela partir.

Ela preparava então outra refeição e sempre deixava uma torta de nozes em
cima da mesa antes de ir para Mama Warner.

Então Clay sentaria e assistiria à tarde cair, contando os minutos até o


amanhecer. Sabia que chegaria o tempo quando ele começaria a contar os anos
desde que a viu pela última vez. Ele temia quando esse dia chegasse, quando ele
saberia que o dia seguinte não iria trazê-la de volta.

Ela podia não amar Robert, mas a solidão não era para ela. Ela parecia gostar
de Robert o suficiente, e Clay imaginou que chegaria o dia em que ela se
contentaria com a companhia sem amor.

Esperava estar muito longe até então.

Ouviu uma batida na janela. Ele saiu da cama e se arrastou pelo quarto.

— Clay?

Gemendo com a doce voz do outro lado, ele abriu a janela ligeiramente. — O
quê?

— Encontre-me no galpão.

Antes que ele pudesse responder, ela saiu correndo. Xingando baixinho,
então xingando em voz alta, vestiu suas roupas e se dirigiu tão silenciosamente
quanto pôde em direção ao galpão.

As cortinas estavam para baixo e a porta fechada quando ele chegou. Ele
abriu a porta e olhou para dentro do local. Uma lanterna solitária descansava em
sua mesa.

Ele entrou no galpão e fechou a porta. — Meg?

Ela saiu de trás do granito, vestindo sua saia e segurando a blusa contra o
peito. A luz pálida refletia seus ombros nus.
Clay se esqueceu de como respirar, esqueceu-se de como se mover,
esqueceu-se de como pensar. — O que... — Ele engoliu em seco. — O que você
acha que está fazendo?

— Meus ombros se feriram. Você ficou tão zangado esta manhã quando
descobriu que eu tinha as mãos feridas que eu pensei que eu deveria dizer-lhe sobre
os meus ombros e deixá-lo esfregar um pouco de pomada sobre eles.

Seu olhar se lançou para a mesa. O frasco estava pousado lá, com a tampa
removida. Ele enfiou as mãos nos bolsos, balançou a cabeça, deu um passo para
trás, e bateu contra a porta. — Eu não posso.

Ela moveu a mão longe de sua blusa para que ela pudesse esfregar seu
pescoço. A blusa escorregou um pouco para revelar uma fração de uma curva. Ele
não tinha visto nenhuma curva naquela noite na lagoa. Ele sentiu-as, mas não as
tinha visto. A visão delas provavelmente poderia deixar um homem de joelhos.

— Pensei em pedir ao meu pai para esfregar meus ombros, mas ele não sabe
que eu venho aqui, então não sei como explicaria por que eu estou sofrendo. — Ela
encolheu os ombros levemente e um pouco mais de curva surgiu à vista. — Robert
sabe. Acho que poderia pedir a ele...

— Não!

Ela baixou a mão e agarrou a blusa. A curva desapareceu.

— Quero dizer — Ele passou a mão pelo cabelo. — Quanto você se


machucou?

— Eu não consigo dormir.


Se ele a tocasse, achou que ele não seria capaz de dormir, mas ele não estava
dormindo de qualquer maneira. — Tudo certo.

Em sua excitação, ela levantou-se nas pontas dos pés. Senhor, seus pés
estavam descalços.

— Você vai espalhar a colcha? — ela perguntou.

— A colcha?

Ela assentiu com a cabeça rapidamente. — Eu coloquei-a na cadeira.

Ele caminhou até a cadeira no canto, agarrou a colcha, e estendeu-a no chão.


Quanto mais cedo ele terminasse com isso, melhor. Ele andou até a mesa e pegou o
frasco de pomada. — Tudo bem. Vamos terminar com isso para que você possa ir
para casa.

Ela ficou de um tom rosado que viajou de suas bochechas para o vale
escondido por sua blusa.

Recatadamente, ela apresentou-lhe as costas e se ajoelhou sobre a colcha. Ele


podia jurar ter ouvido o frasco estalar em sua mão.

Ela jogou sua trança por cima do ombro. Senhor, ela tinha mais curvas do
que ele imaginava: a curva de sua cintura, a curva de seus ombros, a curva de sua
espinha, e nuca. E tudo aquilo junto tirou o fôlego dele. Ele nunca seria capaz de
esculpir qualquer coisa que parecesse tão bonita como ela estava agora.

Ele caiu de joelhos e colocou o frasco ao lado dele na colcha. — Onde


exatamente você se machucou?
— Em todos os lugares. Meu pescoço, os ombros, as costas. É por isso que
eu tirei minha blusa. Eu pensei que seria mais fácil para você se não tivesse que
lutar contra o pano.

Lutar contra o pano? Agora ele estava lutando uma batalha feroz com a sua
própria carne.

Cavando no frasco, ele revestiu os dedos, esperando que se ele usasse


pomada suficiente, ele poderia proteger a mão da suavidade de sua pele sedosa. Ela
inclinou a cabeça, e a curva da nuca alongou-se. Ele estava grato por não poder
usar a outra mão. Respirou fundo. — Diga-me se eu te machucar.

Timidamente, ele colocou a mão em seu ombro. Ela suspirou, e ele puxou
sua mão de volta. — Machuquei você?

— Claro que não.

Ele voltou a colocar a mão em seu ombro e descobriu que a pomada não
servia como um amortecedor contra o calor de sua carne. Lentamente, ele trabalhou
os dedos sobre seus ombros e pescoço. Esculpiu suas curvas em sua memória
enquanto esfregava a pomada em sua pele. Tinha cometido um erro. Não devia ter
feito amor com ela na escuridão da meia-noite. Deveria ter esperado até o meio-dia,
quando poderia ter se deleitado com a luz do sol e ter apreciado toda a sua beleza.

Suas costas estreitas se afilavam para baixo de sua cintura fina. Ele pensou
que saberia tudo o que devia saber para esculpir se tivesse sido capaz de estudar
suas curvas ao longo dos anos.

Limpou a mão na calça. — Pronto. Isso deve dar conta de sua dor — disse
ele mais rispidamente do que pretendia.
Ela olhou por cima do ombro. — Você está com dor?

Ele estava, mas em um lugar que ele não poderia convidá-la a esfregar. —
Não, eu estou bem.

Ela virou-se ligeiramente. — De qualquer maneira, tire sua camisa e eu vou


esfregar suas costas. Imagino que ninguém tenha esfregado suas costas para você.

Ele balançou a cabeça vigorosamente. — Eu não gosto de tirar a minha


camisa na luz.

Para seu espanto, ela levantou-se, pegou a lamparina da mesa, pôs ao pé da


colcha e esmaeceu sua chama até que ela lançava mais sombras do que luz.

— Pronto. Agora você não está na luz — ela disse calmamente.

Mas ele se sentia como se estivesse sentado no meio do sol. Virou-se e


puxou a camisa sobre a cabeça. Acreditava que suas costas não tinham nenhuma
cicatriz acima da cintura. Seus quadris e coxas eram outra questão. De costas para
ela, ela não teria que olhar para o D que eles queimaram em seu peito. Era a cicatriz
que ele mais odiava. — Se vai fazê-lo, faça-o — ele demandou.

— Eu sinto muito. Eu estava apenas admirando suas costas. Mesmo nas


sombras eu gosto do jeito que ela parece.

Ela começou a amassar seus ombros. Ele parou de respirar. Ela estava
usando as duas mãos. Como ela estava segurando a blusa? Talvez ela estivesse
usando sua boca...

— Sente dor? — ela perguntou.


Não. Ela não estava usando sua boca. — Está bom, mas você não está
usando a pomada.

— Eu não gosto do gosto dela.

A mulher estava louca? — Gosto?

— Gosto — ela disse em uma voz rouca antes dela colocar a boca entre seus
ombros.

Ela arrastou sua boca e língua ao longo de sua espinha, e ele desejou que sua
coluna vertebral fosse três vezes mais larga do que era. Sua boca viajou de volta
para seu pescoço. Mais uma vez, ele se perguntou como ela estava segurando a
blusa no lugar.

Em seguida, ela pressionou os seios nus contra as costas dele, e ele esqueceu
tudo sobre sua maldita blusa. Ele sentia seus mamilos como se fossem minúsculas
pedrinhas enterradas em suas costas. Ele sorriu para si mesmo ao pensar que não se
importaria em enterrá-los em sua boca. Ela mordiscou seu pescoço, então
mordiscou sua orelha.

— Não estou usando nada por baixo da minha saia — ela sussurrou.

— Querido senhor! — disse ele com voz rouca.

Ela encaixou suas mãos ao redor de sua cintura e agilmente desfez o primeiro
botão da calça. — Você está usando algo por baixo de suas calças?

— Não.

Ela soltou outro botão.

— Eu não sabia...
Ela deu a outro botão sua liberdade.

— Quão urgente era sua necessidade...

— Muito urgente —assegurou-lhe quando colocou os dedos em torno dele.

Ele baixou a cabeça. — Droga.

Ela acalmou os dedos. — O que foi?

— Eu estava errado — disse ele com a voz estrangulada. — Não posso


resistir a qualquer tortura que me for imposta. — Ele virou-se. — Maldita seja,
Meg. — Ele baixou-a para a colcha e cobriu o corpo dela com o seu. Embalando o
rosto com sua palma boa, acariciou seu rosto com os dedos de sua mão ferida. —
Dane-se. Mesmo sabendo que o inferno está do outro lado, não posso resistir a
tocar o céu.

Ele a beijou longamente e bebeu-a profundamente como se tivesse


atravessado um deserto e ela fosse o poço que continha todas as coisas que ele tinha
sonhado enquanto viajava sozinho. Ela era a água, a fruta suculenta, o calor em
uma noite fria, a sombra que o protegia do forte sol.

Ele passou a mão em torno de suas costas e lutou contra os botões de sua saia
enquanto ela lutava para tirá-lo de suas calças. A solução era simples. Tomar um
momento e parar de beijar, mas ela não parecia querer liberar sua boca mais do que
ele queria liberar a dela.

Em seguida, eles eram calor contra calor, pele contra pele, de seus dedos até
suas bocas. Puxando-se para trás, Clay inclinou-se e aumentou a chama na
lamparina.

— Eu achei que você não gostava da luz — disse ela.


— Eu não gosto de estar na luz, mas fiz amor com você no escuro e não
sabia o que estava perdendo. Eu gostaria de poder fazer amor com você na luz do
sol.

Reverentemente, ele deslizou a mão ao longo de cada curva que ela possuía.
— Você é tão bonita. Cada linha é perfeita.

Ela apertou sua mão no centro do seu peito. Lágrimas brotaram nos olhos
dela. — Eu sinto muito por ter te machucado. Eu sinto muito porque te machuquei.

Balançando a cabeça, ele colocou a mão sobre a dela e levou-a aos lábios. —
Nenhum passado, Meg. Nenhum futuro. Tudo o que temos é o agora.

— Então vamos fazer mais do mesmo. Meus ombros não vão se machucar
mais — Ela pegou a mão dele e colocou-a na junção celestial de suas coxas. —
Mas outros lugares esperam há muito tempo pelo seu toque.

Ele não tinha que dizer a ela que ele ansiava por seu toque. Ter uma mulher
com experiência, definitivamente tinha suas vantagens. Ela sabia quando lhe tocar,
onde tocá-lo, como tocá-lo de maneiras que ele não ousaria imaginar. Ela ensinou-
lhe como tocá-la. Seus gemidos, suspiros e pequenos espasmos lhe agradavam
tanto quanto suas mãos e boca que viajavam sobre seu corpo.

— Venha para mim, Clay — ela sussurrou, e ele mergulhou em suas


profundezas quentes.

Todo o toque que tinham feito antes havia moldado as sombras do desejo.
Agora, elas se moviam em um ritmo que revelava os detalhes e esculpia um
cumprimento requintado que os deixou sem fôlego e se fundiram dentro dos braços
um do outro.
Ela suspirou seu nome como o sussurro do vento enquanto tremia em seus
braços. Ele beijou o orvalho de sua garganta. — Como estão seus ombros agora?
— ele perguntou em voz baixa.

Rindo baixinho, ela disse: — Melhor, muito melhor. Como está se sentindo?

Ele levantou a cabeça, olhou em seus olhos azuis e sorriu com ternura. — Eu
nunca me senti tão bem em toda a minha vida.

***

Com uma apreciação que não tinha sentido em um longo tempo, Clay
observou calmamente o amanhecer no horizonte. O céu nunca pareceu tão azul, os
campos tão verdes.

Apenas um par de horas da noite tinham permanecido após ele encaminhar


Meg para casa, mas tinha dormido profundamente. Ele pensou que, se tivesse
sonhado enquanto dormia, os pesadelos tinham ficado longe.

Ele ouviu o barulho das rodas da carroça e olhou por cima do ombro. O belo
amanhecer deu lugar às nuvens escuras da realidade. Com uma respiração profunda,
ele deu um passo para fora da varanda para cumprimentar o pai de Kirk.

O homem puxou a carroça a uma parada e desceu como um homem muito


mais jovem. Ele tirou o chapéu.

Seu cabelo tinha ficado louro-claro desde que Clay o vira pela última vez.
Supôs que a perda de um filho poderia fazer isso com um homem. O Sr. Warner
estudou o chapéu que ele estava movendo em suas mãos antes de encontrar os
olhos de Clay. — Minha mãe faleceu durante o sono na noite passada.

Clay desejou que o homem tivesse lhe dado um soco no estômago. Teria
doído menos do que ouvir as palavras lançadas contra ele como se ele não desse a
mínima. — Sinto muito.

— Eu dei-lhe a minha palavra de que eu marcaria o seu lugar com a lápide


que você fez para ela.

— Eu não posso... — Clay estremeceu quando ele enfiou a mão ferida em


seu bolso — Eu não posso esculpir a data, mas todo o resto está feito do jeito que
ela queria. Está no galpão. Eu vou buscá-lo para você.

Ele passou pelo homem que uma vez tinha o acolhido em sua casa como
podia acolher seu filho. Ao entrar no galpão, ele caminhou até a mesa onde havia
esculpido o marcador de Mama Warner. Ele arrastou os dedos sobre as letras que
tinha entalhado tão profundamente quanto podia. As pessoas ainda seriam capazes
de ler suas palavras muito tempo depois de Clay ter ido embora.

Ele baixou a cabeça. A angústia era insuportável quando alguém passava por
isso sozinho.

— Querido senhor! — uma voz sussurrou em reverência profunda atrás dele.

Girando, Clay olhou para o pai de Kirk quando ele se aproximou lentamente
do granito.

— Esse é o meu filho — disse ele em uma voz rouca.

— Sim, senhor. A Sra. Warner pediu-me para fazer um memorial em honra


daqueles que deram sua vida...
— Minha esposa? — Seu rosto mostrava incredulidade.

— Não, senhor. Meg.

Com reverência, ele deu um passo para cima do banquinho e tocou o rosto de
seu filho, esculpido na pedra. — Não me diga que foi sobre isso que você estava
falando com ela na igreja.

— Não, senhor. Eu tinha entendido mal algo. Ela estava me orientando na


direção certa.

O pai de Kirk assentiu lentamente com a cabeça. — Meu filho e eu brigamos


na manhã que ele foi embora. Você sabia disso?

— Não, senhor.

— Bem, nós brigamos. Nós, pais, estávamos tão orgulhosos de nossos


meninos, com a forma como eles se alistaram. Você era uma chaga em nossa honra.
Tínhamos planejado enforcar você naquela noite se você não fosse com eles. Kirk
descobriu. Me disse que se ele ouvisse que você tinha sido enforcado, ele desertaria.
Eu disse a ele que se desertasse, eu o caçaria e o mataria por ser um covarde.

Ele deixou cair o queixo ao peito. — Ele me disse que eu não teria que caçá-
lo porque ele iria vir direto para minha porta. Meu menino estava indo enfrentar a
morte e as minhas palavras finais para ele foram ditas com raiva. Eu não disse a ele
que o amava, não lhe disse como eu estava orgulhoso dele. Todas as palavras que
um pai deve dizer a seu filho, eu deixei passar. Agora, não posso dizer-lhe qualquer
coisa.

Enxugando os olhos, ele desceu do banquinho. — Eu falei a eles para não


enforcarem você porque eu não podia suportar a ideia de matar meu próprio filho.
O homem ficou com os ombros caídos e uma cabeça baixa. Clay não sabia se
o pai de Kirk esperava que ele caísse de joelhos e lhe agradecesse por ter poupado
sua vida. Ele não sabia o que dizer, não conseguia pensar em nada apropriado para
dizer. — Aqui está o marcador.

O pai de Kirk ergueu-o para fora da mesa. — Agradeço isso — Ele foi para a
porta e parou. — Eu estava aqui naquela noite.

Na maior parte de sua vida, Clay tinha dedicado uma grande dose de atenção
às silhuetas e formas. Os sacos de farinha tinham escondido seus rostos na noite do
ataque, mas as sombras da meia-noite tinham revelado suas identidades. — Sim,
senhor, eu sei.

— Kirk me disse que você não era um covarde e eu o chamei de idiota. Eu


estava errado. Significaria muito para minha mãe se você fosse ao seu funeral
amanhã.

***

A chuva constante começou ao pôr do sol. Os ramos grossos carregados com


suas folhas de outono blindaram Clay da força da tempestade. Tudo o que ele sentia
era um pingo de chuva ocasional, pois ela viajava ao longo de uma folha e caia na
terra.

Seus braços seguravam Meg conforme ela pressionou suas costas contra seu
peito. Ela não tinha vindo vê-lo hoje, mas ele não esperava isso. Sabia que ela
estaria ajudando os Warners com sua perda, estaria lamentando-se. Ela tinha sido
tão próxima de Mama Warner como ele.
Mas ele também sabia que iria encontrá-la aqui esta noite, esperando por ele.
Eles tinham compartilhado suas emoções mais profundas na lagoa. Apesar da
chuva, ele sentiu a necessidade de vir aqui para se lamentar. Eles choraram, se
abraçaram e agora eles assistiam a chuva cair.

— Ela se foi pacificamente? — ele perguntou em voz baixa.

— Sim. Foi como se ela só tivesse adormecido.

— Estou contente, mas tenho certeza de que sentiremos sua falta.

— O Sr. Warner me mostrou o marcador. É lindo, com a grama de búfalo


esculpido nele, tão simples e da terra, como ela era.

— Eu não pude esculpir a data.

— Talvez com o tempo...

— Talvez.

Os relâmpagos e seu brilho revelaram o lugar onde tinham feito amor pela
primeira vez.

— Você irá ao funeral dela? — perguntou Meg.

— Ainda não decidi. Ela não merece ter ódio em torno dela quando está
sendo colocada para descansar.

— Ela quer você lá.

— Eu não sei, Meg.

Virando em seus braços, ela deitou a cabeça contra seu peito. — Nós
poderíamos ir juntos.
— Não — ele disse, rispidamente.

— Eu pensei que depois de ontem à noite...

— A noite passada, não mudou nada, Meg. Assim como a noite que
passamos juntos aqui não mudou nada. Eu ainda sou o covarde de Cedar Grove.
Isso é tudo que essas pessoas vão ver. Venho lutando contra suas opiniões e ódio
durante anos. Isso não fez nenhuma maldita diferença, e não vai fazer diferença
amanhã. É melhor apenas se render. Dói menos dessa forma. Fere aqueles que eu
amo muito também. Quando terminar o monumento, eu vou partir... sozinho. Se
você for inteligente, vai começar a gastar suas manhãs com Robert.

— Você me ama? — ela perguntou em voz baixa.

— Mais do que a minha vida.


Capítulo 19
As mãos de Meg tremeram quando tocou o órgão. Ela pensou que tinha
lançado todas as suas lágrimas à noite anterior enquanto estava entre os braços de
Clay. Mas ela estava errada.

Agora, ela ansiava por seu abraço compassivo mais do que ansiava pelas
palavras de consolo do Reverendo Baxter.

Suas lágrimas aumentaram quando ela inesperadamente apertou as teclas


erradas. Os acordes ressonantes se assemelhavam mais ao gemido de uma criança
perdida, que de repente percebe que está sozinha, do que as notas de consolo de
"Amazing Grace", que ela deveria estar tocando em memória de Mama Warner.

As últimas notas permaneceram quando ela cruzou as mãos no colo e baixou


a cabeça. Lágrimas se agarraram a seus cílios. Ela se lembrou do toque dos dedos
nodosos de Mama Warner enquanto recolhia as lágrimas de Meg, no dia em que ela
chorou porque descobriu que Kirk tinha tido uma barba. Lembrou-se do sorriso da
mulher quando Clay a ergueu em seus braços e a paz que irradiou por ela enquanto
arrastava as mãos sobre as feições de Kirk esculpidas na pedra. Ela guardou a
lembrança de Mama Warner ainda mais perto de seu coração, porque elas teciam
ao longo das lembranças que foram momentos compartilhados com Clay.

Silenciosamente, o Reverendo elogiou uma mulher que tinha tocado o


coração de muitos e ajudou a moldar o destino do Texas.
Olhando em direção à parte de trás da igreja, Meg viu a porta ligeiramente
aberta. Clay avançou tão silenciosamente como um floco de neve caindo ao chão.
Com o chapéu na mão, ele deslizou para o último banco e inclinou a cabeça até que
seu cabelo caiu para frente e obscureceu seus olhos.

Ela tinha poucas dúvidas de que ele tinha fechado os olhos e lutava contra as
lágrimas e a tristeza, tão forte como ela.

Quando as palavras finais do reverendo derivaram em silêncio, Meg recebeu


o conforto do pai de Kirk e Robert, de seu pai e Daniel, de Helen e Sally e todas as
outras pessoas a quem ela já tinha dado conforto.

Quem poderia confortar Clay?

Com suas grandes mãos cheias de cicatrizes, ele tinha cortado os nomes de
seus filhos, seus pais e seus entes queridos em madeira ou pedra para que eles
fossem lembrados. Ele tinha salvado seus filhos mortos de uma vala comum e os
enterrado com dignidade.

O monumento que ela tinha lhe pedido para esculpir era nada em
comparação com o testemunho do amor que ele tinha dado a eles, que ele
continuava a dar a eles. Ele tinha tocado as pessoas desta cidade de uma forma
mais profunda do que a escultura de qualquer monumento e ainda assim nenhum
deles sabia de suas ações. E, se tivessem sabido, seu ódio não teria permitido que
eles reconhecessem o presente.

Assim como seu ódio tinha a impedido de se atrever a ir além da parede de


desespero para agarrar uma outra chance de felicidade.
Ela sabia que Clay partiria após a oração de encerramento, antes dela
interpretar o hino final. Ele segurava dentro do peito um profundo respeito pelas
pessoas, um respeito que tinha sido negado a ele.

Observando os rostos tristes da congregação, ela se perguntou quantos


homens acreditavam em algo tão fortemente como Clay acreditava em suas
convicções. Quantos ficaram sozinhos?

Quantas mulheres acreditavam fortemente o suficiente no homem sentado ao


seu lado para ficar ao lado dele quando a cidade inteira ficasse contra ele?

Estas mulheres tinham-na cercado, seus dedos trabalhando como os dela, a


costurar uniformes cinzas para seus maridos e filhos. Elas haviam rasgado as
costuras dos vestidos de seda que tinham usado em ocasiões felizes para fazer uma
bandeira homenageando o dia mais terrível de suas vidas. À luz da lamparina, elas
olharam nos olhos umas das outras e souberam que nenhuma delas queria que seus
homens fossem embora.

Com pontos meticulosos e costuras perfeitas elas tinham costurado suas


dúvidas no pano, de modo que quando se encontraram com os olhares de seus
soldados naquela manhã final, nada seria visível, além de seu amor e sua crença
naquele amor.

Clay estava certo. Meg não sabia o que tinha conduzido Kirk a se alistar. Só
sabia que ele acreditava no que ele estava fazendo e sua crença era tudo que ela
precisou para ficar ao seu lado. O banco raspou pelo chão enquanto ela se moveu
para trás. O reverendo parou de falar e virou a cabeça para olhar para ela.

Meg respirou fundo, deu-lhe um sorriso trêmulo e se levantou do banco de


madeira. Se possível, a congregação tornara-se mais calma e ela sentiu seu silêncio
envolvê-la como uma mortalha sufocante e pesada. Suas pernas tremiam e seus
joelhos pareciam como se tivessem se transformado no fundo de areia da lagoa que
ela nadava à meia-noite.

Contornando o banco, de alguma forma ela conseguiu descer as escadas sem


tropeçar. Cada passo que dava ecoava pelas vigas e vibrava contra os vitrais
enquanto caminhava pelo corredor central. Ela parou ao lado do último banco, e
podia jurar que ouviu pescoços estalarem quando as pessoas se esforçaram para ver
o que estava fazendo.

Clay encarou uma rachadura na parte de trás do banco na frente dele.

— Eu ficaria honrada em sentar com você — disse Meg com uma voz que
ecoou por todo o edifício.

As profundidades marrons de seus olhos imploravam a ela tão


eloquentemente como suas palavras. — Não — ele respondeu asperamente com
emoção crua. — Não faça isso, Meg. Não aqui. Não agora.

— Eu disse essas mesmas palavras para você uma vez. Eu estava errada em
dizê-las então. Você está errado em dizê-las agora. Eu te amo, Clayton Holland.

Suspiros soaram, hinários bateram no chão, gemidos e gemidos, e suspiros


levantaram-se da multidão como um salmo jogado em direção ao céu.

Clay pôs-se de pé — Você está de luto hoje. Você não sabe o que está
dizendo. — Ele passou por ela até a porta.

— Eu sei exatamente o que estou dizendo — ela gritou, mas ele fechou a
porta em suas palavras finais. Ela correu pela porta atrás dele, com a descrença da
congregação ecoando em seus ouvidos.
Ela cambaleou pelo alpendre conforme alguém passou por ela. Ela olhou por
cima do ombro. — Daniel!

— Eu vou cuidar dele, Meg! — ele gritou quando caminhou para as carroças
à espera.

Meg sentiu um momento de pânico e então relaxou. Eles nunca traziam rifles
ou pistolas com eles quando iam à igreja. Clay estava andando a passos largos em
direção à estrada lamacenta que passava pela igreja e atravessava o centro da
cidade.

Meg pisou fora do alpendre. Com uma força que fez com que ela mordesse a
língua, foi pega e se encontrou presa na couraçada roupa de seu pai.

— O que diabos está acontecendo aqui, garota? — ele gritou conforme as


pessoas se reuniram em torno deles.

Ela torceu, mas não conseguiu se libertar do aperto do pai.

— Meg, você está louca? — perguntou Helen. — O covarde da cidade..

— Ele não é um covarde. — Esticando o pescoço dela, ela olhou por cima do
ombro de seu pai para a estrada. Estava com medo de que fosse ver Daniel atacar
Clay, mas Daniel não estava à vista. Clay estava marchando para longe... mais uma
vez.

— Clay! Você nunca fugiu de qualquer coisa em sua vida! Não fuja de mim
agora! Não fuja do nosso amor!

Ele chegou a um impasse no meio da estrada e baixou a cabeça.


— Eu não vou deixar você correr atrás de um covarde — seu pai rosnou,
apertando seu aperto em seu braço e dando-lhe uma pequena sacudida como se ele
pudesse apertar algum bom senso dentro dela.

As vozes e as palavras se juntaram ao redor de Meg quando as pessoas a


rodearam, bloqueando sua visão. — Ele não lutou...

— Covarde é o que ele é...

— Por que ela está perseguindo-o?

— Aquele barriga amarela...

— Não se alistou...

— Covarde...

Através das lacunas ásperas entre cotovelos e ombros, ela viu Clay levantar a
mão, e embora ele estivesse de costas, ela sabia que ele passara os dedos entre os
botões de sua camisa esfregara o "D" que tinham queimado em seu peito.

— Eu te amo! — Ela gritou durante os lembretes de sua covardia que as


pessoas continuaram a jogar nela.

Ele se virou. Sua voz, profunda com a dor, levou suas palavras à toda a igreja,
embora não tenha gritado. — Não tenho nada para lhe oferecer, Meg, além de
solidão. E eu te amo demais para te dar isso.

Suas palavras efetivamente penetraram na multidão e Meg teve uma visão


clara dele de pé na estrada. Ela queria desesperadamente estar ao seu lado. — Eu
prefiro passar minha vida com um homem cercada de amor do que cercada com a
ignorância e o ódio que me rodeia agora.
Lentamente, ele balançou a cabeça. — Você não pode imaginar o quanto dói
ser ignorado por pessoas... que você respeita. Você não sabe o quão alto é o
silêncio ou quão profundamente ele corta. É ruim o suficiente ver o ódio tocar meus
irmãos. Eu prefiro morrer a vê-lo tocando você.

Um trovão soou à distância. As pessoas voltaram sua atenção para o som. De


pé na carroça, Daniel impelia os cavalos através da estrada lamacenta em direção a
Clay.

— Daniel, não! — Meg gritou quando ela se livrou do aperto de seu pai
apenas para ser pega por alguém.

Por um breve momento, a indecisão atravessou o rosto de Clay, e então ele


começou a correr em direção à fila de carroças, em direção à filha de Helen,
Melissa, enquanto ela brincava na estrada enlameada, alheia ao perigo que se
aproximava.

Meg ouviu um grito e não sabia se era dela ou de outra pessoa. Clay atirou-se
sobre a criança enquanto a carroça se aproximava.

Ela ouviu gritos e lamentos de outros quando Clay e Melissa desapareceram


sob os cascos dos cavalos e das rodas da carroça. Quando a carroça passou, tudo o
que podia ser visto era Clay deitado de bruços na lama.

O medo lhe deu a força para se libertar do homem que a segurava.

O medo a levou a correr para o lado de Clay e cair na lama ao lado dele.

— Não o mova! — O Dr. Martin gritou enquanto ele abria caminho através
da multidão silenciosa para o centro da estrada.

Helen se ajoelhou ao lado de Meg. — Oh, Deus, meu bebê.


Dr. Martin caminhou até o chão. Cautelosamente, ele rolou Clay para revelar
o minúsculo corpo coberto de lama de Melissa.

Ela começou a piscar os olhos e virou a boca para baixo antes de lançar seu
primeiro gemido. Helen ergueu-a da lama e apertou-a contra o peito, balançando e
arrulhando sua filha.

Usando sua saia, Meg limpou delicadamente a lama do rosto de Clay. — Ele
está sangrando — ela sussurrou enquanto observava o sangue se misturar com a
lama.

— Parece que a lama o blindou um pouco para que nada quebrasse, mas ele
levou uma pancada na cabeça — o Dr. Martin disse, com as mãos ocupadas
procurando sinais de lesão.

— Quão ruim? — perguntou Meg.

— Eu não sei.

— Será que eu o matei? — Daniel gritou enquanto corria em direção à


multidão. — Eu matei o barriga amarela...

Meg levantou-se, deu a volta, e bateu no rosto de Daniel com força


suficiente para mandá-lo cambaleando para trás.

— Como você ousa! — ela assobiou. — Como você ousa julgar este homem
e condená-lo à morte!

Daniel recuperou o equilíbrio, levantou o queixo, e deu um passo em direção


a ela, seus olhos azuis em chamas. — Como você se atreve a defendê-lo!

Ela inclinou o queixo. — Quem melhor do que a mulher que o ama?


Ele cambaleou como se ela tivesse batido nele novamente. — Você não quer
dizer isso, Meg. Você não pode se apaixonar por um homem olhando para ele se
sentar na parte de trás da igreja.

— Não, não posso — ela admitiu baixinho. Seu estômago apertou-se, e sua
boca ficou seca. Quantas vezes tinha Clay sentido este ligeiro tremor de nervos e
continuado firme? — Eu me apaixonei por ele por passar meus dias em sua
companhia. Pedi-lhe para esculpir um monumento para homenagear nossos heróis.
Pensei que a tarefa poderia servir como uma punição para ele. Pensei que iria fazê-
lo enfrentar sua covardia. Em vez disso, me fez enfrentar a minha. Todos os dias,
fui à sua fazenda e o assisti trabalhar, esperando por aquele momento em que ele ia
cair de joelhos e pedir perdão. — Suspirando profundamente, ela olhou para a
figura ainda deitada na lama. — Eventualmente, eu percebi que não havia nada a
perdoar.

— Meus irmãos estão se revirando em suas tumbas — disse Daniel com


veemência.

— Não, eles não estão e não nos túmulos que Clay fez para eles. Ele foi para
Gettysburg depois da batalha. Os ianques estavam jogando os soldados do Sul em
valas comuns. Clay enterrou cada homem de Cedar Grove em uma sepultura
separada, longe do campo de batalha.

— Eu juro, Meg, se você está dizendo a verdade, se ele tocou meus irmãos,
eu vou matá-lo antes do sol se pôr.

— Por quê? — ela perguntou em voz baixa.


— Por quê? — Ele deu um passo em direção a ela. — Por quê? Porque ele é
um covarde e eu sei que eles prefeririam estar em uma vala comum do que ter as
mãos dele tocando-os.

— Eu não penso assim, Daniel. — Ela colocou a mão em seu braço e ele se
afastou. Tanta amargura, tanta raiva, tanto ódio. — Mama Warner me deixou uma
carta que Kirk escreveu a ela. Disse-lhe que ele escreveu para Jefferson Davis
pedindo que ele isentasse Clay de servir à Confederação. Ele disse que todos os
homens em sua companhia assinaram a carta. Todos os homens, Daniel. Isso inclui
nossos irmãos. Eles sabiam que Clay não era um covarde.

— Isso é uma mentira maldita! Ele não lutou!

— Ele lutou, mas lutou por aquilo em que acreditava, não pelo que eles
acreditavam. E ele lutou bravamente como eles fizeram.

Meg varreu seu olhar sobre as pessoas reunidas. — Quando foi a última vez
que qualquer um de vocês conversou com Clay? Quem entre nós perguntou a ele
por que ele não se alistou? Eu sei que eu não fiz. Eu pensei que ele era um covarde,
porque ele não seguiu o meu marido e os meus irmãos. Como seus filhos, eles eram
soldados, mas eles viram a honra onde não vimos. Clay daria sua vida por qualquer
um de nós. Ele só não vai matar por nós.

Meg não achou que era possível a multidão se tornar mais sombria. Pessoas
moviam seus olhares, como se não soubessem quem ou o que olhar.

— Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem — disse o Dr.
Martin em reverência. Ele torceu-se na lama e plantou seu braço sobre sua coxa e
encostou seu olhar sobre a multidão silenciosa. — Essas foram as palavras que
Clay falou enquanto ele estava à espera de sua execução. A coisa engraçada,
entretanto, foi que depois que ele disse essa oração, eles não puderam encontrar um
soldado disposto a matá-lo.

Meg se ajoelhou na lama quando os olhos de Clay se abriram. Dr. Martin


levantou dois dedos. — O que você vê Clay?

Clay balançou a cabeça ligeiramente. — Nada. Está muito escuro, mas eu


quero agradecer-lhe por ter vindo, Doutor.

O olhar preocupado do Dr. Martin encontrou o de Meg antes de voltar sua


atenção para Clay. — É sempre um prazer tratar você, você sabe disso.

— Eu não quero morrer — disse Clay calmamente.

— Eu não acho que você vá morrer.

— Um poderia fazer falta, talvez dois, mas não todos os seis. Não todos os
seis meninos do Sul com rifles. — Ele fechou os olhos. Seu rosto ficou pálido e
Meg sentiu os dedos gelados da morte vagarem lentamente ao longo de sua espinha.

Saindo da lama, o Dr. Martin ficou de pé. — Eu preciso de alguém para levá-
lo para o meu escritório.

— Vou levá-lo — disse Robert.

— Ele sempre foi como um filho para mim. Eu vou te ajudar — disse o pai
de Kirk.

Meg assistiu Robert deslizar seu braço sob os joelhos de Clay quando o pai
de Kirk tomou seus ombros. Juntos, eles cuidadosamente o levantaram da lama.

Ela olhou uma última vez para os rostos sombrios em torno dela, em seguida,
seguiu Clay em silêncio... sozinha.
***

Sentada ao lado da cama no escritório do Dr. Martin, Meg afrouxou seu


aperto na mão de Clay. Ele perderia o uso dela também, se ela continuasse a
segurá-la com tanta força.

— Meg? — uma voz calma perguntou atrás dela.

Ela virou e olhou para a porta. — Olá, Tom.

Hesitante, ele entrou no local, segurando um pacote. — Sally me enviou com


algumas roupas. Nós pensamos que você poderia colocar Clay fora dessas roupas
enlameadas.

Levantando-se, Meg pegou as roupas dele. — Obrigada. Isso foi muito bem
pensado.

Corando, Tom limpou a garganta.

— Desde que você disse que estava assistindo o trabalho de Clay, eu queria
saber se você sabe alguma coisa sobre a lápide da nossa menina... seu pai não a fez,
não é?

Meg hesitou, imaginando como se sentiria Clay sobre ele ter conhecimento
da verdade. Ela esperava que, se essas pessoas viessem a conhecê-lo como ela
conhecia, talvez o ódio fosse derreter. — Não, seu pai não fez a lápide.
— Pensei que não. Eu estava andando pelo cemitério, olhando para os
marcadores que seu pai fez e os que ele fez. Os de Clay pareciam diferentes. Eu
não posso explicar isso, mas é como se ele colocasse sua alma neles.

— Esculpir é muito especial para ele.

Balançando a cabeça solenemente, ele colocou o chapéu na cabeça. — Diga


a Clay que quando for a hora de fazer as colheitas, vou ajudá-lo com seus campos.
É o mínimo que posso fazer para pagá-lo pela lápide.

— Você poderia me fazer um favor? — perguntou Meg.

— Claro.

— Você poderia correr para a fazenda Holland e contar a Lucian o que


aconteceu?

— Eu ficaria feliz de ir, mas John e Caroline Wright já foram. Caroline disse
que ia ver se os gêmeos e Lucian queriam vir aqui. — Ele sorriu e deu de ombros.
— Suponho que alguns de nós estão começando a ver as coisas um pouco
diferentes.

Ele saiu e Meg voltou para o lado de Clay. Ela tirou o cabelo da testa. O nó
sangrento e a ferida perto de sua têmpora a assustavam. Tinha a sensação de que
assustavam o Dr. Martin também.

Inclinando-se, Meg passou os dedos pelo cabelo de Clay novamente e


novamente. — Por favor, Clay, sei que você está cansado de lutar, mas por favor,
lute mais uma vez por mim. Acorde para que possamos ir para casa.
***

O bater na cabeça de Clay aumentou quando ele abriu os olhos. O ontem


estava embaçado. Lembrou-se de Meg cutucando-o para acordar. Toda vez que ele
acordava, ela beijava-o e dizia-lhe para voltar a dormir.

Suas ações não faziam sentido.

Quando o Dr. Martin o acordava, ele perguntava a Clay quantos dedos ele
estava segurando. Clay percebia que, como médico, o homem seria inteligente o
suficiente para saber quantos dedos ele estava empurrando na cara de Clay.

Preferia a forma como Meg o acordava.

Jogou as pernas para fora da cama e apertou as mãos às têmporas. Ele não se
lembrava de voltar para casa, mas estava em casa.

Levantou-se e caminhou até a cadeira onde alguém tinha deixado suas roupas
cuidadosamente dobradas. Caminhou até elas, lutando contra a dor lancinante em
sua cabeça.

Ele abriu a porta de seu quarto e olhou para a sala de estar. Um pequeno
sorriso apareceu em seu rosto. Meg estava curvada diante da lareira, cantarolando.

Ele pensou que poderia desfrutar de acordar para vê-la todos os dias pelo
resto de sua vida. A dor de cabeça aumentou. Ele precisava falar com ela sobre isso.
Ele tinha razões pelas quais não podia se casar com ela, mas ele não conseguia
lembrar quais.
Virando-se, ela o viu. Um sorriso bonito surgiu em seu rosto. Nenhuma das
razões que tinha poderiam ter sido fortes o suficiente para lutar contra a atração
daquele sorriso.

Ela atravessou a sala, colocou os braços em volta de seu pescoço e beijou-o


ternamente.

— Como está se sentindo nesta manhã? — ela perguntou.

— Minha cabeça dói um pouco.

— Você deve sentar-se. — Tomando sua mão, ela o levou para a mesa e
puxou uma cadeira.

Ele sentou-se. — Algo cheira bem.

— O Sr. Tucker da loja geral trouxe uma caixa de suprimentos esta manhã.
Ele disse que quando você se sentir bem para ir vê-lo, ele vai oferecer-lhe crédito.

A dor de cabeça aumentou quando ele franziu a testa. — Por que ele faria
isso?

Ela se sentou em uma cadeira e cruzou as mãos em frente a ela. — Talvez


porque você tenha salvado a vida de sua neta ontem.

— Sua neta?

— A menina que você se jogou por cima ontem era a filha de Helen, sua neta.

— Eu não sabia que Helen tinha uma filha.

— Eu imagino que há muito sobre essas pessoas que você não conhece, e
algumas delas estão ansiosas para mudar isso.
Clay esfregou a testa. — O que é esse bater infernal? Eu pensei que era na
minha cabeça...

Rindo, Meg se levantou da cadeira e puxou-o de pé. — Venha aqui fora e eu


vou lhe mostrar.

Eles pisaram na varanda, e Clay olhou para uma visão que ele nunca tinha
esperado ver novamente. As pessoas estavam trabalhando em sua terra.

Seu velho celeiro tinha sido demolido. Uma nova base já havia sido colocada.
Ele reconheceu Sam Johnson, Tom Graham e John Wright conforme eles batiam
tábuas no lugar.

Viu Robert Warner. E então ouviu o pai de Kirk emitindo ordens, e ele sentiu
um nó se formar na garganta.

As mulheres tinham colocado comida em uma mesa sob a sombra de uma


árvore. As crianças estavam rindo, brincando e transportando água para os homens
que estavam trabalhando.

Ele se perguntou brevemente se eles achavam que ele tinha morrido e tinham
ido lá comemorar. — Por que eles estão aqui? — ele perguntou.

— Para recebê-lo em casa. O Sr. Lang trouxe um pouco de madeira da


fábrica, esta manhã e eles vieram para ajudar a construir um novo celeiro — disse
ela.

— Eu não posso pagar a madeira.

— O Sr. Lang disse que você não se preocupasse com isso, pois seu crédito o
cobriria. Além disso, ele acha que não levará muito mais tempo até que você seja
da família de qualquer maneira.
Ele virou a cabeça e olhou para ela. Sua cabeça se rebelou contra o
movimento. — O que ele quer dizer com isso?

Ela sorriu e a dor em sua cabeça aliviou. — Ele deu a Lucian sua bênção
para se casar com Taffy.

Clay pressionou o dorso da mão contra a testa. — Meg, o que aconteceu


ontem? Ou eu estive dormindo por mais tempo do que isso?

Seu sorriso aumentou. — Não. Apenas um dia.

O Dr. Martin caminhou e segurou dois dedos na frente do rosto de Clay. —


Quantos dedos você vê?

— Dois. Doutor, o que está acontecendo?

O médico enfiou as mãos no bolso e olhou em direção ao celeiro. — Incrível,


não é? Meg disse algumas coisas ontem que fez estas boas pessoas pensarem. Você
proteger aquela menina os fez compreenderem ainda mais. — O Dr. Martin
colocou a mão no ombro de Clay. — Entre nós Clay, você não era o único que
poderia ter chegado a ela a tempo, mas você foi o único que tentou. — Ele baixou a
cabeça. — Suponho que é melhor eu ir procurar Pru. Parece que ela descobriu
como o fogo no campo de Johnson começou e que o menino selvagem dela estava
por trás disso. Ela decidiu que precisa de mim, depois de tudo. Espero que eu possa
me ajustar à vida de casado.

Clay o assistiu ir embora. Tudo acontecera depressa demais para ser verdade.
Não podia acreditar. Ele ouviu o minúsculo bater de passos do outro lado da
varanda. Olhou para baixo para encontrar uma menina pequena envolvendo suas
pequenas mãos em torno da sua grande. Ela olhou para ele e sorriu. — Você é meu
herói.
Clay balançou a cabeça. — Eu não sou um herói.

— Você salvou a vida de Melissa — disse Helen calmamente enquanto ela


vinha por trás de sua filha. — Isso faz de você um herói.

— Estou descascando nozes, a Sra. Meg disse que poderia fazer uma torta
com elas — disse Melissa.

— Não, ela não está descascando — disse Josh. — Ela as está comendo. Eu
e Joe que é que estamos descascando.

— Eu não me importo se ela comer as que eu descasco — disse Joe. — Eu


acho que ela tem os olhos mais bonitos que eu já vi. — Ele pegou a mão dela. —
Vamos lá, Melissa. Você pode terminar de me ajudar com as nozes.

— Você será meu herói, também? — ela perguntou enquanto seguia Joe.

— Sim, senhora, se você quiser.

Clay olhou para o celeiro e estudou toda a atividade. — O seu pai está aqui,
Meg?

— Não, mas isso não importa.

— Importa sim.

— Não para mim. Você é tudo que importa para mim agora.

Segurando a mão de Taffy, Lucian foi até a varanda. Clay não sabia que seu
irmão poderia produzir um sorriso tão grande.

— Grande momento, não é? — Lucian disse quando chegou com Taffy ao


seu lado.
— Quem levantou as janelas do galpão? — perguntou Clay.

Lucian ficou vermelho. — O pai de Kirk perguntou se podia levantar as


janelas para que as pessoas pudessem ver o monumento que Meg disse que iria ser
concluído.

Meg passou os braços ao redor da cintura de Clay. — Você pode muito bem
se acostumar com isso. As pessoas vão olhar para o seu monumento por um longo
tempo.

— Ele nunca foi concebido para ser meu, Meg. Seu, deles, mas não meu.

— Puta que pariu! — Lucian grunhiu. — Eu não posso acreditar que ele teve
a coragem de aparecer aqui!

Clay seguiu a direção do olhar de Lucian. Daniel puxou seu cavalo a uma
parada ao lado do celeiro. Meg reforçou seu aperto sobre a cintura de Clay.

Daniel caminhou em direção ao celeiro. Todos os homens trabalhando


pararam de bater seus martelos e caminharam até o outro lado do celeiro, deixando-
o sozinho, de frente para uma parede parcialmente concluída.

Meg suspirou. — Eu acho que é verdade. Você colhe o que planta.

— Eu poderia amarrar uma corda em volta dele e arrastá-lo para fora —


disse Lucian.

— Por que você faria isso? — perguntou Clay.

Lucian soltou Taffy e empurrou o chapéu na cabeça. — Ele quase te matou


ontem. Ele derrubou seu muro do celeiro dos Wrights. Inferno, ele provavelmente
estava aqui na noite que atacaram você.
— Isso é verdade? — Josh perguntou quando se aproximou de Clay. —
Porque se for, eu e Joe temos um plano.

— Qual é o plano? — perguntou Lucian.

— Vamos esperar até que ele construa o seu lado do celeiro, então nós
desfaremos seu trabalho.

Clay tirou os braços de Meg de sua cintura. — Não — disse Clay. — Vocês
não vão fazer isso.

— Por quê? — perguntou Joe.

— Porque este assunto precisa ser discutido agora mesmo.

— O que você vai fazer? — perguntou Meg.

Ele tocou os dedos em sua bochecha. — Ver se eu posso construir um muro,


enquanto derrubo outro.

Andando a pé em direção ao celeiro, ele podia sentir o cheiro de madeira


recém-cortada. Ela correu para seu lado e deslizou sua mão na dele. — Eu vou com
você.

— Você não tem que vir — disse ele.

— Sim, eu tenho. Eu preciso que você, meu irmão, e todos na cidade saibam
que o que quer que... o que você decidir a respeito de Daniel... eu estarei de pé ao
seu lado.

Lentamente, ele acenou com a cabeça. — Tudo bem.

Daniel tinha acabado de carregar um pedaço de madeira para o lado do


celeiro quando Clay chegou com Meg ao lado dele. Daniel colocou a tábua contra a
estrutura antes de encontrar o olhar de Clay. — Ouvi dizer que eles iam construir
um celeiro — disse ele calmamente. — Pensei que eu deveria ajudar.

— Eu gostaria de ajudar, também, mas eu não posso segurar um prego. —


Clay empurrou o martelo de Daniel para fora de seu alcance. — Mas eu posso
segurar um martelo. Eu só preciso encontrar alguém disposto a segurar o prego
para mim.

O olhar de Daniel lançou-se sobre Meg e, em seguida, voltou para Clay. —


Acho que eu poderia segurar o prego para você.

— Eu estava esperando você dizer isso — disse Clay. — Você percebe, é


claro, que os anos de bater nas rochas me deu uma força poderosa. Se eu errar o
prego, vou quebrar sua mão.

O pomo de adão de Daniel deslizou lentamente para cima e para baixo. —


Acho que você sabe que eu fui o único que colocou a faca na sua mão, por isso não
vou jogar isso contra você, se você acabar batendo em minha mão — disse ele em
uma voz trêmula.

Clay sorriu. — Fico feliz em ouvir isso. — Ele inclinou a cabeça em direção
ao celeiro inacabado. — Vamos?

Daniel pegou um prego do bolso, ajoelhou-se ao lado da tábua, e posicionou


o dedo.

— Segure apertado e não mova sua mão — disse Clay.

— Clay — Meg disse calmamente.


Ele olhou para ela. — Não me distraia, Meg. Eu preciso manter minha
atenção focada em minha tarefa porque eu sei exatamente quanta coragem custou
ao seu irmão vir aqui hoje.

Clay trouxe o braço para trás. Daniel respirou fundo, virou a cabeça na
direção da tábua e fechou os olhos. Meg fechou os punhos e apertou os lábios com
força para não gritar. Clay balançou o martelo, e a madeira foi aberta enquanto
acolhia o prego.

Daniel olhou para o prego que estava agora a meio caminho embutido na
madeira. Em descrença, ele olhou para Clay. — Eu pensei...

— Você pensou o quê? — perguntou Clay.

— Eu pensei que você ia bater em minha mão.

— Por que eu faria isso? Eu amo Meg. Eu gostaria de casar com ela, mas não
vou, a menos que você e seu pai nos deem a bênção. Você poderia falar com o seu
pai para ele nos dar a sua bênção?

Balançando a cabeça, Daniel passou as costas de sua mão sobre os olhos


úmidos.

Afastando-se da parede, Clay cambaleou. Meg e Daniel estenderam a mão


para ele, ao mesmo tempo, agarrando seus braços para firmá-lo.

— Você derrubou seu muro — disse Meg com lágrimas nos olhos. — Agora,
Daniel vai terminar de construir este. Você precisa descansar.

— Ainda não. Eu tenho mais uma coisa a fazer — disse Clay.


Daniel soltou Clay, mas Meg manteve seus dedos enrolados em torno do seu
braço. Clay levantou os olhos marrons para o céu azul. Em seguida, ele baixou o
olhar para os olhos azuis da mulher que amava.

— Você quer se casar comigo? — ele perguntou.

Ela sorriu com ternura. — Eu vou me casar com você no centro da cidade,
com todo mundo olhando.

Envolvendo os braços em volta do seu pescoço, ela o beijou longa e


profundamente.

Na frente de seu irmão.

Na frente de seus amigos.

Sua boca estava quente e úmida, e ele bebeu de sua doçura.

Ele sentiu sua respiração, tão gentil como o vento, acariciar seu rosto.

Ele ouviu seu suspiro suave como as folhas farfalhando nas árvores próximas.

E a promessa de uma noite cheia com o cheiro de madressilva flutuando em


torno dele.
Epílogo
Verão, 1870

Sentado no chão. Clay estudava o monumento.

O luar filtrava-se através das folhas abundantes e dançava ao longo da pedra.

Ele recuperou a plena utilização de sua mão com o tempo e estava pronto
para esculpir os detalhes de acabamento. Às vezes, sua mão doía, se ele trabalhasse
muito tempo, mas a dor valia a pena.

Ele tinha dado a Kirk o que ele tinha pedido, Meg como ela tinha estado da
última vez que ele a viu... eternamente.

Ele ouviu a dispersão das folhas e o estalar de galhos conforme alguém se


aproximava.

— Eu pensei que iria encontrá-lo aqui — disse Meg suavemente quando se


sentou ao lado dele.

Ele passou o braço em volta dela e puxou-a pelo seu ombro. — Eu gosto
mais de olhar à noite. Não posso ver todos os erros.

— Você é o único que vê os erros. As pessoas aqui acham que está perfeito.
É por isso que eles queriam o monumento em um lugar especial, onde eles
poderiam vir e refletir sobre o passado e lembrar os seus filhos.

— Então você sugeriu o terreno que circunda a nossa lagoa.


— Pareceu apropriado, já que seus filhos vinham aqui para discutir as coisas
de 'homens'. Além disso, nós não vamos usá-lo mais.

Ele beijou sua bochecha. — Poderíamos voltar a usar.

— Será que vamos voltar? — ela perguntou em voz baixa.

— Eu não sei, Meg. Eu tinha o hábito, alguns anos atrás, de não pensar no
futuro, mas vou precisar de um lugar para trabalhar, uma vez que eu aprenda tudo o
que posso na universidade na Alemanha. Além disso, eu gosto do granito do Texas.

Ela esfregou seu pescoço. — Eu fiquei bastante apaixonada por ele.

— E por mim? — ele perguntou.

— Especialmente por você. — Ela beijou-o lenta e vagarosamente para


provar suas palavras. Então ela mordiscou sua orelha. — Por que não vamos
terminar isso em casa? Meus ombros estão começando a doer.

Ele riu. — Eu também tenho uma dor.

— Vou ficar feliz em curá-la.

Dando-lhe um sorriso que prometia o céu quando chegassem em casa, ela se


levantou do banco e caminhou até o monumento. — Venha, Kirk. É hora de ir para
casa agora.

O menino se agachou diante do monumento balançou a cabeça


vigorosamente e passou a mão sobre as letras entalhadas. Ele tinha apenas dois
anos de idade, mas suas mãos já estavam se tornando tão rudes como as de seu pai.

Ele adorava a sensação da pedra e levava pedaços nos bolsos.


— Weed4 — disse ele.

— O seu pai não leu para você quando te trouxe aqui?

Ele balançou a cabeça, e Meg olhou para Clay. Ele deu de ombros. —
Sabíamos que viria, eventualmente, e ele gosta mais de sua voz do que da minha.

Ela estendeu a mão. — Tudo bem, então. Vamos começar pelo começo.

Ela levou seu filho para frente do monumento, e Clay ouviu sua voz infantil
dizer — Meu nome.

— Isso é certo. Kirk. Kirk Warner é o homem sobre o cavalo.

Clay ouviu quando ela encheu a noite com os nomes das pessoas com quem
ele brincou quando menino. Saltando para a coragem em uma idade adulta. A
guerra tendo lhes negado as recompensas doces de uma vida longa.

Clay se levantou e caminhou para o monumento quando Meg e Kirk


caminharam para um canto. Ele se ajoelhou ao lado do filho e juntos eles
arrastaram seus dedos sobre as letras. Clay pigarreou como fazia todas as noites
antes de ler estas palavras a seu filho. — Dentro das sombras da honra, a coragem,
muitas vezes caminha em silêncio.

Abaixo das palavras, ele tinha inscrito os nomes de Will Herkimer, o homem
que tinha sido torturado junto com ele, e Franz Schultz, a quem eles haviam
enforcado porque queria trabalhar em uma pedreira e não acreditava na guerra.
Cada nome no monumento representava um homem que tinha dado sua vida por
aquilo em que acreditava.

4
N. T.: ele quis dizer read, ou seja, ele disse 'leia' de forma distorcida, por ele ainda não saber falar direito.
Levantando seu filho em seus braços. Clay desdobrou seu corpo e envolveu
sua mão ao redor da de Meg. Lentamente, eles se afastaram do monumento. Ele
sentiu a cabeça do filho ficar pesada no ombro e sabia que ele tinha adormecido,
como fazia todas as noites. Clay não estava ainda certo se o garoto sabia como cair
no sono na cama. Ele sempre dormia no ombro de Clay, que o colocava na cama no
quarto que ele dividia com os gêmeos.

Amanhã, Joe e Josh iriam com eles. Lucian e Taffy ficariam para trás para
gerir a fazenda e aumentar a sua própria família.

Parando, ele abrigou Meg ao seu lado. Eles se viraram para olhar uma última
vez o monumento que tinham criado juntos. Como seu amor, ele iria sobreviver às
tempestades que varreriam sobre ele.

— Nós vamos voltar, Meg.

Estendendo a mão, ela acariciou seu rosto. — Onde quer que seus sonhos o
levem Clay, é onde eu vou estar.

— Eles vão nos trazer de volta aqui.

Com seu braço ao redor dela, ele a levou para as sombras onde seus sonhos
esperavam.

FIM

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