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Para Meg, que perdeu seu marido e irmãos na guerra, a presença de Clay
era uma ofensa constante. Como punição, Meg encomendou a Clayton a criação
de um memorial para os heróis de guerra da cidade, mas conforme os meses
passam e ela o observa, os sentimentos de Meg começam a mudar.
Prólogo
Outono, 1862.
— Está na hora?
— Não, ainda não. Eu só achei que você poderia ter um pouco de companhia
por um momento. — Agarrando o cós da calça de lã surrada com uma mão, Clay
estendeu a outra em direção ao homem que o havia trazido e a maioria dos meninos
de Cedar Grove, Texas, para o mundo.
— Obrigado por ter vindo, senhor. Você quer sentar? Não é chique. — Ele
lançou o que ele esperava que fosse uma risada e não um soluço. — Eu nem sei se
está limpo.
— Vai estar muito bem — Dr. Martin disse quando ele se sentou vacilante
na cama e situou a lamparina no chão.
— Você sabe se eu vou estar voltado para o leste? Eu com certeza gostaria
de ver o nascer do sol antes de...
— Eu não sei.
— Por que você acha que eles executam pessoas na madrugada, de qualquer
maneira?
Um riso estrangulado escapou dos lábios de Clay e ecoou pela cela fria. — O
inferno de uma maneira de começar o dia. — Ele coçou o queixo barbudo. —
Senhor, você sabe o que aconteceu com Will Herkimer?
Clay assentiu, incapaz de falar pelas emoções entupindo sua garganta. Ele
abaixou a cabeça em um momento de silêncio, de recordação. — Ele tinha uma
esposa — disse em voz baixa. — E dois garotos. Eu sempre quis ter um filho. —
Um sorriso triste rastejou em seu rosto. — E uma filha. — Ele procurou na
escuridão por qualquer coisa para tirar sua mente dos sonhos que nunca viriam a
acontecer. — Dr. Martin, como é que você nunca se casou?
— Nunca pude encontrar uma mulher disposta a colocar-se com a vida que
eu tinha para oferecer, se divertir ao redor do campo, cuidar de pessoas doentes no
meio da noite. Isso é difícil para uma mulher.
Dr. Martin ouviu o profundo desejo espelhado em uma voz que devia ter
refletido a vitalidade da juventude. — Lavanda — respondeu ele.
Dr. Martin sentiu a perda como se tivesse experimentado isso ele mesmo. Ele
queria perguntar a Clay o que diabos ele tinha cheirado para que ele pudesse mentir
e dizer-lhe que a mulher cheirava àquilo. — Madressilva — disse ele depois de um
tempo. — Uma vez eu dormi com uma mulher que cheirava à madressilva.
— Muito.
— E quente?
— Tão quente como o verão do Texas.
Silêncio caiu em torno deles, e o Dr. Martin ficou muito triste pensando que
nos momentos finais desse jovem, ele estava pensando em uma mulher que ele
nunca conheceu e nunca conheceria. Ele enfiou a mão no bolso fundo do casaco,
retirou uma maçã, e deu-a a Clay.
Envolvendo as duas mãos em torno dela, Clay saboreou a pele lisa da fruta
contra seus dedos anormalmente frios. Trazendo a maçã perto de seu rosto, ele
colocou as mãos sobre seu nariz e boca, bloqueando os odores se misturando na
cela, conforme ele respirou fundo. A maçã cheirava tão doce, tão deliciosamente
doce. Tão doce quanto a vida.
Inclinando-se para frente, Dr. Martin plantou os cotovelos nas coxas. — Clay,
tudo que você tem a fazer é segurar o maldito rifle. Você não tem sequer que
dispará-lo. Eles vão lutar contra esses malditos ianques a qualquer momento. Não
seria mais honroso morrer em um campo de batalha? Eu poderia falar com o
capitão Roberts, ter sua sentença revogada...
Apertando a mão do jovem, ele tomou nota do ligeiro tremor. Dr. Martin
desejou que ele pudesse oferecer mais do que um aperto de mão. Clay andou em
direção à porta aberta.
Pela primeira vez em sua vida, Dr. Martin lutou contra um forte desejo de
atacar alguém, qualquer um, vendo a gratidão encher os olhos de Clay ao prender
os suspensórios. Clay colocou as mãos atrás das costas, lutando contra o desamparo
que o consumia como uma ferida quando o indivíduo prendeu a corda ao redor de
seus pulsos. Desejou que lhe dessem a oportunidade de tomar banho, fazer-se
apresentável. Cheirou o alto céu e não se lembrou mais da sensação de roupas
recém-lavadas contra sua pele.
— Alvo!
— Fogo!
Capítulo 1
Primavera, 1866
Ele jogou as cobertas para trás, saiu da cama, e caminhou até a janela.
Destravando o fecho e abrindo-a, respirou fundo, inalando o cheiro de chuva.
Estendendo a mão, apreciou as gotas de chuva que picavam conforme caíam em
sua palma. Relâmpagos e trovões gritavam contra a escuridão.
O sargento tinha gritado seu comando final. Clay tinha dado seu último
suspiro e segurado o precioso ar profundamente dentro de seus pulmões, esperando
que as balas batessem contra a parede, para arrancarem a vida de seu corpo.
Esperou o que pareceu uma vida... e mais além. Baixou o olhar para os soldados em
pé diante dele, se perguntando se estavam esperando que os olhasse antes que
realizassem suas ordens. Mas quando encontrou o olhar perturbado de cada homem,
cada um deles baixou o rifle e estudou suas botas.
O sargento dialogou com o Capitão Roberts. Então ele escoltou Clay de volta
à sua cela.
Mais tarde, Clay soube que sua oração, sua preocupação por suas almas e
não pela sua própria, havia tocado o coração dos soldados e oficiais em serviço.
Uma simples oração tinha salvado sua vida e prolongado sua miséria. Ele
passou nove meses acorrentado, cumprindo pena por sua recusa a carregar um rifle.
Após sua libertação, tinha encontrado uma razão após outra para não voltar
para Cedar Grove. Até o fim da guerra.
Ele chegou em casa no Natal e descobriu que a única paz dentro de sua vida
residia dentro de sua consciência. Além disso, a guerra tinha o seguido até sua casa.
Ele assistiu uma luz pálida flutuar. Um raio de luz delineou seus dois irmãos
mais jovens conforme eles se arrastavam em direção às suas tarefas antes do
amanhecer. Vindo ao mundo no mesmo dia, Joseph e Joshua eram inseparáveis, e
poucas pessoas conseguiam distingui-los. Eles tinham apenas cinco anos quando o
exército confederado tinha vindo por Clay. Estavam com quase dez agora. Clay às
vezes se perguntava se não teria sido melhor ficar longe, como seu outro irmão,
Lucian, muitas vezes sugeria.
Ganhara pouco peso nos três meses desde o seu retorno. Não podia obter
crédito no mercado, de modo que as refeições que fornecia à sua família dependiam
da caça selvagem nas montanhas próximas e dos poucos legumes variados que
cresciam em seu pequeno jardim. Disse a seus irmãos que as coisas iriam melhorar,
uma vez colhidas as plantações nos campos. Ele tinha que acreditar naquelas
palavras a fim de sobreviver ao dia seguinte.
Agora, a sala servia como pouco além de um lugar para comer uma refeição
sombria em silêncio. Ele puxou a capa impermeável para fora do gancho ao lado da
porta e entrou na tempestade.
Com a cabeça baixa, marchou em direção ao celeiro dilapidado. Toda a
fazenda necessitava de reparos. Seus pais tinham falecido antes do fim da guerra.
Lucian tinha conseguido dirigir a fazenda e impedir os gêmeos de se tornarem
selvagens. Como um jovem de dezesseis anos, ele havia abraçado a
responsabilidade sem reclamar.
As queixas de Lucian só tinham aparecido quando Clay voltou para casa para
aliviar o fardo dos ombros de seu irmão. Seus pais haviam dito que eles queriam
que a fazenda passasse para seu sobrevivente filho mais velho. Clay era o mais
velho, e ele sobreviveu.
Ouviu o eco metálico quando o leite atingiu o balde galvanizado. O som não
teve tempo de desaparecer antes que outro tomasse seu lugar. Ele sabia que seus
irmãos haviam sentado um de cada lado da vaca, trabalhando juntos como um só.
Notou que o fato de serem gêmeos havia criado um certo vínculo. Às vezes
parecia que os irmãos não tinham que sequer expressar seus pensamentos um ao
outro.
— Eu sei o que você está pensando, e isso não vai dar certo.
— Não, Clay iria nos fazer ficar na cama o dia inteiro só para ter certeza de
que não estaremos doente amanhã. Não vale a pena, Joe.
— Mas eu odeio ir à igreja! Eu odeio a maneira como todo mundo olha para
nós.
— Eles não olham para nós. Eles olham para Clay. Além disso, se você
pegá-los olhando para você, só tem que encará-los e eles vão olhar para longe.
— É isso o que você faz? — Joe perguntou, com uma retumbante descrença
em sua voz jovem.
— Inferno, sim! Às vezes, é até divertido. Fiz uma vez para a velha
Pruneface1, e ela começou a balançar a cabeça como um galo que estava tentando
decidir se queria ou não cantar.
— Oh, diabos! — Josh gritou enquanto pegava o balde tarde demais para
salvar grande parte do seu esforço.
1
N. T.: No sentido literal ele fez um jogo de palavras, chamou a viúva Prudence de Pruneface que significa que ele a
chamou de cara de ameixa por ela ser enrugada.
Clay pegou o banquinho que o menino tinha desocupado, moveu-se para o
canto, sentou-se e levantou as pernas para que pudesse cruzar os braços sobre suas
coxas. — Joe, Josh, venham aqui e sentem-se.
Com seus olhos castanhos focados nele, os meninos sentaram diante dele.
Ele resistiu ao impulso de bagunçar o cabelo vermelho deles. Viver com sua
família, muitas vezes o fazia se sentir como se morasse com estranhos. Os meninos
o aceitavam porque ele era seu irmão. Havia equivocadamente pensado que era o
suficiente.
Uma bala batendo em seu peito não poderia doer mais. — Vocês sabem o
que é um covarde? — ele perguntou.
— Eu fugi?
— Não.
Clay soltou um suspiro. Saber que um dia eles iriam fazer esta pergunta não
tornava mais fácil de responder agora. — É difícil de explicar, mas a minha
consciência não me deixou.
— O que é a consciência?
Ele ofereceu a seus irmãos um sorriso sombrio e colocou a mão sobre o seu
coração. — Estou feliz aqui porque acredito, eu sei, que o que fiz foi o certo para
mim. Eu não acreditava na escravidão. Não acreditava que o Texas tinha o direito
de se separar. Não acreditava que nós devíamos lutar contra os Estados do Norte e,
ainda assim, eu não poderia, em sã consciência carregar armas contra o Sul, a
minha casa e meus amigos. Mas mais do que isso, eu não lutei porque acredito que
é um pecado contra Deus matar um outro homem.
— Eles não dizem que é um pecado na igreja. Eles não pensam que todos
aqueles soldados estavam pecando.
— Você deveria dizer às pessoas que você não é nenhum covarde — Josh
sugeriu.
— Não é o tipo de coisa que você possa dizer às pessoas. Elas acreditam
somente no que você mostra a elas. É por isso que, mesmo que eu odeie a maneira
como as pessoas me olham quando vou à igreja no domingo de manhã, ainda vou.
Não estou fazendo qualquer coisa pela qual eu deveria ter vergonha, e não fugirei
de suas opiniões. Algum dia talvez eles entendam.
Clay suspirou. Ele teria uma vida malditamente solitária, mas a solidão
deveria pertencer a ele, não a eles. Um homem vivia ou morria de acordo com suas
decisões na vida e Clay havia tomado sua decisão. Os gêmeos tinham idade
suficiente agora para tomar suas próprias decisões. — Vocês não têm que ir à igreja
comigo esta manhã e, quando a chuva parar, podem ir pescar.
***
Meg conhecia cada face. Os velhos e resistidos rostos dos homens, os rostos
amadurecidos das mulheres.
Visivelmente ausentes estavam os rostos dos rapazes com quem ela tinha
crescido. Com orgulho, eles tinham partido para a guerra. Sem nunca perder a
coragem, eles tinham sido derrotados. Eles haviam marchado lado a lado para a
batalha e as armas dos ianques haviam nivelado-os como se fossem pouco mais do
que o trigo crescendo em um campo.
Meg assistiu Lucian Holland vagar pelo corredor e sentar na beira de um
banco. Um constrangimento tinha se estabelecido em torno de Lucian quando seu
irmão voltou, como se já não soubesse aonde pertencia.
Ela levantou as mãos para fora das teclas e dobrou-as no colo. Um silêncio
reverente se instalou através da igreja quando o Reverendo Baxter subiu ao púlpito.
Meg olhou para seu irmão, Daniel. Como Lucian, ele era muito jovem para
se alistar quando a guerra começou.
Com quase dezessete anos agora, ele trabalhava duro para preencher as botas
de seus irmãos, todos os três pares. Ela podia ver seus irmãos mais velhos refletidos
na mandíbula forte de Daniel, no cabelo negro grosso, e em seus olhos azuis
profundos. Sua mandíbula ficou tensa quando a porta da igreja se abriu.
Se Meg tivesse sido atingida pela cegueira naquele momento, ela ainda
poderia ter contado ao mundo o que Clayton Holland faria, pois ele tinha feito isso
todos os domingos desde que voltou a Cedar Grove. Ele iria curvar a cabeça como
se estivesse rezando. Em seguida, iria levantar o olhar para o reverendo. Seus olhos
se afastariam somente quando os gêmeos se mexessem. Ele nunca tirava os olhos
do reverendo e Meg nunca tirava os olhos de cima dele.
Alimentava sua raiva e ódio ao vê-lo, ao ser lembrada uma vez por semana
que ele vivia e respirava enquanto seu querido marido e seus três irmãos estavam
sozinhos e frios em seus túmulos. Eles lutaram e morreram bravamente defendendo
a honra da Confederação enquanto Clayton Holland tinha descoberto como fugir.
Ela sabia que era infantil pensar que mais um homem no campo de batalha teria
feito á diferença; se ressentia de Clay por ele ter virado as costas para o Sul e ser
recompensado com sua vida.
Com seus sonhos reverberando com o rugido das armas de fogo e dos gritos
agonizantes de Kirk, ela acordava banhada em suor. Ela imaginou que a última
coisa que Kirk tinha ouvido antes de morrer foi o som de tiros de rifle ou da
explosão de um canhão, quando ele deveria ter ouvido sua voz reafirmando seu
amor. A última coisa que ele sentiu foi o chão duro, quando ele deveria ter sentido
seu toque suave confortando-o. Centenas de homens o haviam cercado, mas sem
ela ao seu lado, ele enfrentou a morte sozinho.
— Meg?
Pelo canto do olho, vislumbrou Clayton Holland e seus irmãos quando eles
calmamente se levantaram e saíram da igreja. Ela pôs sua energia no teclado,
permitindo que a força da música caísse sobre ela, purificando-a de maneiras que o
sermão do Reverendo Baxter nunca poderia.
Ela inclinou a cabeça para trás para olhar aos olhos cor de âmbar do
Reverendo Baxter. Ele era um homem muito alto. Um bigode escasso pendia de seu
sorriso caloroso. Lhe devolveu o sorriso. — Obrigada.
— Acho que você tem uma boa refeição prevista para esta tarde. Terá sua
torta de maçã na mesa? — ele perguntou.
Seu sorriso se alargou. — Maravilhoso! Vou passar por lá depois que visitar
meus paroquianos. Em uma hora ou algo assim. Tudo bem?
Virando um pouco, ela deu um tapa no seu braço. — Daniel Crawford, você
tem as maneiras de um ianque. Convidei-o, tal como eu disse.
— Aposto que ele fez alguma insinuação, porém — Daniel brincou, seus
olhos azuis brilhando. — Acho que ele é doce com você, Meg.
— Não seja ridículo. Ele é duas vezes mais velho que eu. Além disso, não
penso em me casar novamente. Nunca poderia amar alguém como amei Kirk.
Ela não poderia imaginar que seria uma vida boa também. Não tinha essa
sensação de fusão quente dentro dela sempre que olhava para o Reverendo Baxter.
— Estou pensando em plantar petúnias em torno da sepultura dos meninos — disse
ela para mudar de assunto.
Thomas olhou por cima do ombro. — Não use palavrões perto de sua irmã.
— Você está certo, Daniel — disse ela gentilmente, tentando aliviar a culpa
que sabia ainda encher seu coração — Mas em minha mente, ainda os vejo como
eram no dia em que partiram. Lembra-se de como Kirk e eu viemos para o café da
manhã e todos tivemos que ir para a cozinha assistir Michael se barbear pela
primeira vez naquela manhã?
— Eu gostaria de ter tido idade suficiente para lutar com eles. Se ao menos
eu tivesse nascido mais cedo... — Melancolicamente, sua voz foi sumindo.
— Querer ir não conta para nada, pai. Eu deveria ter mentido sobre a minha
idade. Eu deveria ter ido...
Daniel estava longe de ser encontrado e estava certa de que ele tinha fugido
para se encontrar com os amigos e falar sobre uma guerra que tinha terminado
muito antes que eles estivessem prontos para que isso acabasse.
Meg desejava que ela nunca tivesse começado. Ansiava pelos dias antes da
guerra, pelo pai que a segurava em seu colo, pelos irmãos que haviam brincado
com ela. Queria o homem que amava. Tocando seu peito, se lembrou das carícias
de Kirk. Quando se tornaram marido e mulher, ela tinha dezessete anos, ele
dezenove, mais velho e mais sábio. Por menos de um ano eles compartilharam os
prazeres do casamento.
Amava Kirk com todo seu coração e alma. Queria envelhecer segurando sua
mão. Queria trazer seus filhos para o mundo, mas não tinha sido abençoada com
crianças. Agora, sozinha em sua cama à noite, o vazio era muitas vezes uma dor
lancinante que tomava conta dela.
Deixou sua mão vagar através de seu estômago como fez por tantas noites,
mas ousou ir mais longe. Sua mão não era a dele, áspera e calejada de trabalhar na
fazenda. Sua mão não era a sua, gentil e paciente, com amor.
— Sempre use o cabelo solto para mim, querida Meg — ele sussurrava
enquanto desatava seus botões em seu peito. Então sua boca tomava posse da dela,
e ela enfiava os dedos pela pele quente cobrindo seu peito.
Suas lágrimas caíram sobre o travesseiro. Ela tinha medo sempre que aqueles
ao seu redor falavam em voz baixa sobre a possibilidade de guerra. A pequena
palavra evocava imagens austeras de sangue e morte. Kirk consolava-a, acalmava
seus temores. Então, tão rapidamente como relâmpagos através do céu, as pessoas
já não mencionavam a palavra em sussurros, mas gritavam-na em toda a terra.
Nunca lhes ocorreu que eles não iriam se alistar. Quando o Sul pediu ao seu
povo para dar seus filhos, Meg deu seu marido. De bom grado. Orgulhosamente.
Com orgulho, ela tinha apresentado uma grande bandeira confederada para
eles, uma bandeira que ela e as outras senhoras de Cedar Grove tinham trabalhado
durante dia e noite para concluir a tempo da partida dos soldados. Os homens
aceitaram a oferta com um grito rebelde que ainda ecoava por todo o país.
Rolando para o lado, estudou a estatueta de granito que enfeitava sua mesa
de cabeceira. Uma corça protetora protegia seu filhote embaixo de um arbusto
esculpido. Kirk havia lhe dado á estatueta porque tinham visto os veados no dia que
ele pediu a ela para se tornar sua esposa.
O exército da União enterrou Kirk e seus irmãos onde eles tinham caído,
juntos com tantos outros. Quando os meses se transformaram em anos, ela se
lembrava deles através de uma névoa cinza enevoada, suas características veladas
pela passagem do tempo. Não conseguia mais se lembrar do tom exato dos olhos de
Kirk. Eram do azul de um céu ao amanhecer ou do pôr do sol?
Com os dedos trêmulos, ela tocou a estatueta. Como poderia Clay ter voltado?
Como poderia manter sua cabeça erguida sabendo que era um covarde? Ele devia
aos jovens de Cedar Grove, lhes devia algo por não ficar ao lado deles. Ela queria
que ele sofresse tanto quanto eles tinham sofrido antes da morte, tanto como ela
sofria agora na vida.
Daniel disse muitas vezes que queria o corpo de Clay no solo, mas Meg
queria mais. Com o tempo, a dor de uma surra física iria recuar, curar e cicatrizar,
mas as feridas infligidas ao coração deixariam cicatrizes que nunca parariam de
doer.
Ela queria que Clayton Holland experimentasse o tipo de dor invisível que
corta completamente. Queria, precisava que ele enfrentasse sua covardia, para tê-la
esculpida em seu coração tão profundamente que iria sentir isso a cada respiração
que tomasse durante o tempo que vivesse.
Capítulo 2
Meg parou sua égua sob a sombra de uma nogueira que beirava a
propriedade Holland.
Com suas costas nuas bronzeadas brilhando com o suor do seu trabalho,
Lucian trabalhava no campo, utilizando uma enxada para mover o solo sobre as
sementes. Clay, com manchas úmidas que circundavam a parte de trás e as mangas
de sua camisa, estava guiando o arado através do campo com a mula arrastando. De
alguma forma, ela não estava surpresa de que Clay usasse uma camisa enquanto
trabalhava. Ela não tinha esquecido como calmo e de fala mansa ele tinha sido em
sua juventude.
Quando ela incitou seu cavalo pelo campo, Lucian a viu. Ele se endireitou,
apoiou o cotovelo na enxada, e sorriu. — Bom dia, Sra. Warner!
Irritada que Clay continuasse a lavrar o campo como se não tivesse chegado
visita, ela fez seu cavalo parar ao lado de Lucian. — Como você está, Sr. Holland?
Ele ergueu as sobrancelhas em descrença. — Você está aqui para ver Clay?
— Não, não é.
— Que pena. — Ele deu um sorriso tímido. — Acho que é melhor eu deixar
que ele saiba que você está aqui. Ele sonha enquanto ara o campo. — Girou sobre
os calcanhares. — Clay! — Lucian olhou para ela quando seu irmão não respondeu.
Ele correu por todo o campo, encontrou-se com Clay e falou palavras que
Meg não podia ouvir. Clay fez a mula parar e olhou por cima do ombro. A aba do
chapéu sombreava seu rosto para que ela não tivesse ideia do que ele estava
pensando. Ele caminhou em direção a ela, enquanto Lucian educadamente ficava
com a mula.
Suas palavras faladas solenemente a fizeram perceber que ela estava olhando
para ele por algum tempo. Erguendo o queixo, ela estreitou os olhos. — Você sente?
— Sim, senhora, eu sinto. O seu marido e seus irmãos eram bons homens.
Lentamente, ele balançou a cabeça e deslizou seu olhar por ela. — Devo
recolher as pedras?
— Como é que é?
Ele encontrou seu olhar e ela se perguntou quando seus olhos castanhos
tinham envelhecido tanto.
Ela colocou seus pés no chão, segurando as rédeas vagamente através de seus
dedos.
— Um memorial?
— Sim. Eu percebi...
Apresentando suas costas magras para ela, ele lentamente passou os dedos
pelo cabelo. Ela pensou que ele estava indo embora, mas ele se virou, olhando para
algo que ela não podia ver. Ele virou de volta, a preocupação e a concentração
gravadas em suas feições. — Eu não cortei qualquer pedra em um longo tempo.
— Eu não sei.
— Eu não tenho certeza. A única coisa que sei é que, sobre a base, quero que
você esculpa o nome de cada homem que morreu.
— Todos eles?
— Todos eles.
Meg sentiu seus ombros caírem. Ela queria a satisfação de dizer que ele iria
fazê-lo porque lhes devia muito, que não ia pagar nada a ele. Ele mudou sua
postura, como se, de repente, estivesse desconfortável e estudou o chão.
— Vou querer olhá-las, é claro. Para ser franca, enquanto você estiver
trabalhando neste projeto, vou estar olhando por cima do seu ombro. Quero que
seja feito pelas minhas especificações.
— A base vai ser um bloco com quatro lados. Três lados levarão os nomes
daqueles que caíram em batalha sete nomes de cada lado, oito na parte dianteira.
No quarto lado, vou pôr o que eu quiser.
— Então eu não vou fazê-lo. Foi um prazer ter sua visita, Sra. Warner, mas
agora, se me der licença, preciso voltar para meus afazeres.
Meg assistiu com espanto quando ele deixou cair o chapéu em sua cabeça,
girou e começou a caminhar em direção ao seu arado.
— Da última vez que ouvi, este era um país livre! — ele gritou, sem se
preocupar em olhar para ela.
Ela correu atrás dele, incapaz de chegar até seus passos largos. — Pare!
— Posso, pelo menos, ter uma palavra a dizer no que for colocar lá?
— Não, senhora.
— Eu não devo nada. Eles fizeram a sua escolha e eu fiz a minha. Eles
pagaram o seu preço, mas eu ainda estou pagando o meu e ficando muito
malditamente cansado disso. Se você deseja esse memorial, eu vou fazê-lo, mas
não vou derramar meu suor, meu coração e minha alma nesse trabalho e não
reivindicar um canto dele como meu. — Uma profunda tristeza encheu seus olhos.
— Eu lhe dou minha palavra de que quando eu terminar, nada gravado no
memorial vai prejudicar o seu significado.
Ela encontrou seu olhar, estudando-o, surpresa com as palavras dele. Como
ele poderia entender o que nunca tinha experimentado? Ela lutou contra as lágrimas
brilhando dentro de seus olhos. — Isso é importante para mim — ela sussurrou
com voz rouca.
— Eu sei disso.
Ela se virou, lutando para recuperar suas emoções. Precisava de algo mais do
que os marcadores de madeira lançando sombras sobre túmulos vazios para impedir
a memória daqueles que amava de enfraquecerem. Queria que ele fizesse o
memorial para que pudesse ser constantemente lembrado de sua própria covardia.
Antes do amanhecer, parecia o castigo perfeito para ele, mais duradouro do que
qualquer um que seu irmão pudesse lhe dar.
No entanto, nada tinha sido como ela esperava desde que tinha desmontado.
Cada frase que ela praticou tinha sido alterada por sua resposta. Virou-se, cerrando
as mãos em seus lados, empurrando o queixo para cima, e encontrou seu olhar. —
Tudo bem. Você pode ter o seu lado da base para fazer o que quiser, mas eu tenho
duas condições próprias.
— E elas são?
— E a outra condição?
— Sob nenhuma circunstância você pensará que esta parceria nos obriga a
sermos amigos. Se nossos caminhos se cruzarem na cidade, vou ignorar sua
presença, e agradeceria muito se você ignorasse a minha.
— Em outras palavras, não quer que ninguém saiba que você tem qualquer
associação com alguém como eu.
— Eu vou pedir a Lucian que ajude você a montar — disse ele depois de um
longo momento.
Balançando a cabeça, ela se virou e caminhou para a égua, não tão confiante
com este plano como tinha estado antes. Talvez tudo parecesse se encaixar na
madrugada porque não estava completamente acordada.
***
Meg.
Suas mãos se acalmaram quando pensamentos sobre ela encheram sua mente.
Prezado Senhor, havia esquecido quão bonito seus olhos eram. Como bonito os
olhos de qualquer mulher eram. Fazia tanto tempo desde que olhara atentamente
para os olhos de uma mulher. Se perguntou o que fazia os olhos de uma mulher
parecerem muito mais bonitos do que os de um homem, mesmo quando eles eram
da mesma cor.
Os olhos de Meg Warner eram um corredor azul flor-de-milho que
seguraram a sua alma torturada. Teria alguma vez visto tanto sofrimento nos olhos
de alguém? Tinha, mas nenhum dos sofrimentos que ele tinha visto no hospital do
exército o tocou como o dela o tinha feito hoje.
Quantos anos mais nova ela era, dois ou três? Não conseguia se lembrar. Não
que isso importasse. Sua juventude tinha morrido no campo de batalha com o
marido. Ela enterrou seus sorrisos e sua risada com Kirk.
Essa foi uma das maiores tragédias da guerra, que ele não tinha conhecido
até que voltou para casa.
Não achava que o memorial daria à Meg sua juventude de volta, mas
esperava que fosse ajudar a colocar a guerra longe dela. Ela era muito jovem e
bonita para passar sua vida de luto. Ela precisava soltar o coque apertado que
mantinha preso seu cabelo para que seus fios de ébano gloriosos pudessem balançar
livremente no vento. Imaginou que o cabelo de uma mulher se sentiria mais suave
do que o de um homem. Ele não conseguia se lembrar de tocar o cabelo de sua mãe,
mas ele se lembrou do aspecto quando ela vinha agasalhar a ele e seus irmãos na
cama, e seu cabelo não estava trançado. Nessas noites, seu pai estava na porta do
seu quarto esperando por ela. Como um menino, não tinha pensado muito sobre
isso; como homem, pensava muito sobre isso, imaginando como seria a sensação
de esperar por uma mulher, vendo seu cabelo fluindo ao redor dela e saber que ela
tentava agradá-lo.
Pouco antes dele ter ido buscar Lucian, a brisa tinha tocado Meg, em seguida,
se movido para tocá-lo, trazendo o cheiro dela com ele.
A raiva em sua voz, o desprezo de seu tom de voz não o tinha incomodado
tanto quanto teria se não tivesse estado faminto por uma conversa.
Amanhã iria receber um pouco mais de conversa, quando ela voltasse. Para
prolongar a sua estadia, talvez ele pudesse explicar os esboços. Nunca desenhou
esboços tão finamente quanto seu pai. Clay via as imagens na sua mente e suas
mãos poderiam esculpir o que sua mente via, mas elas eram muito grandes e
desajeitadas para desenhar o que via.
Lucian sacudiu a cabeça. — Acha que ela dará a você alguma honra? —
bufou. — Deus, você é tão ingênuo. Ela estava testando você hoje. Ela não vai
deixar você fazer um monumento. Por que ela iria pedir ao covarde da cidade para
fazer uma homenagem aos seus heróis caídos?
Clay deslizou seus dedos entre os botões de sua camisa e esfregou seu peito
— Não sei por que ela pediu. Não percebi isso ainda. Nem tenho certeza se me
importo. Vou estar esculpindo de novo e, desta vez, vou criar algo que não estará
aparecendo em um cemitério.
Ele passeou para a porta do quarto, parou e olhou por cima do ombro. —
Você está desperdiçando seu tempo. Ela não virá amanhã.
Ela não veio.
Ele desdobrou seu corpo e bateu o papel contra sua coxa. Respirou fundo,
querendo sentir o cheiro de madressilva. Ouviu os grilos, desejando que a sua
cadência se assemelhasse a uma voz de mulher.
Entrou na casa em silêncio. Seus irmãos tinham ido para a cama mais cedo,
deixando a lamparina solitária na mesa, ao lado da refeição que Clay não tinha
comido. Pegou a lamparina e foi para o quarto que pertenceu a seus pais, o quarto
onde Lucian tinha dormido até Clay retornar.
Madressilva.
Lentamente, arrastou seus dedos sobre a escrita delicada. Durante o tempo
que o exército lhe tinha mantido como prisioneiro, quando a solidão lhe tinha
consumido até que fosse como uma fome roendo em seu intestino, essas cartas o
tinham sustentado. Ele as tirou, juntou e as tocou.
Fingiu que a mulher que as enviou tinha escrito seu nome, em vez do nome
de uma outra pessoa em todas as cartas.
Embora nunca lesse as letras escritas nas cartas, sabia que continham
palavras de amor e saudade, talvez um pouco de solidão, e uma grande dose de
orgulho. A carta de uma esposa ao seu marido iria refletir todas essas coisas... e
muito mais.
Uma por uma, colocou as cartas de volta na bolsa. Chegando ao outro lado
da cama, pegou os esboços e deslizou-os dentro da bolsa antes de laçar as cordas
trançadas.
***
E já sabia em seu coração que não quereria ir amanhã também. Não foi o
Reverendo Baxter que a deteve. Foi Clayton Holland. Não conseguia entender a
diferença entre o homem que Clay era antes da guerra e do homem que ele era
agora.
Todos vieram para compartilhar sua alegria, mesmo Clay. Ele ficou de pé ao
lado de Kirk quando este comprometeu-se com Meg até a morte. Ela prestou pouca
atenção a Clay ou à qualquer outra pessoa naquele dia. Só tinha olhos para Kirk,
com seus cabelos loiros, olhos azuis e um sorriso que prometia uma vida de
felicidade.
Após a cerimônia. Kirk brincou com Clay e disse que ele tinha que dançar
com a noiva. Clay balançou a cabeça, o rosto queimando com um vermelho
brilhante, até que finalmente cedeu e pediu-lhe uma dança. Eles dançaram, mas
Meg não conseguia se lembrar de mais nada. Distraída, procurava sobre o ombro de
Clay por Kirk entre os convidados, querendo estar de volta em seus braços.
Escorregou o pé por baixo dela agora e o encostou na varanda novamente.
Preguiçosamente balançando, sua mente vagou para o dia que Kirk partiu. Ele tinha
falado com Clay na periferia da cidade. Ela achou estranho porque todos sabiam
que Clay não tinha se alistado. Eles apertaram as mãos e, em seguida, Kirk o
abraçou. Um abraço viril. Dois homens. Um saindo, cercado pela família e amigos.
O outro sozinho na orla da cidade.
Não tinha entendido como Kirk tolerou estar tão perto de Clay, mas tinha
permanecido sem fazer perguntas irrelevantes. Seus momentos finais vieram muito
rapidamente, cheios de promessas de amor eterno e lembranças, a promessa de
escrever e a de voltar para casa em breve. Ela manteve a promessa de escrever.
Junto com seus vizinhos, se alegrou quando o exército veio por Clay,
contente que finalmente ele serviria à Confederação. Rumores de que ele ainda se
recusava a participar da empreitada no campo de batalha eram sussurradas ao vento
e refrigeradas no coração de Meg. Clay e Kirk tinham sido amigos. Clay não só
tinha traído à Confederação, tinha traído Kirk.
Mas, pela primeira vez, se perguntou sobre o preço que ele pagou por voltar
para casa. Será que ele acordava à noite ouvindo os gritos dos moribundos como
ela tantas vezes fez? A profundidade do desespero em seus olhos castanhos parecia
indicar que sim.
Quanto mais cedo ele começasse a trabalhar, mais cedo iria terminar e mais
cedo o seu castigo acabaria.
Ele sentou-se sozinho, com o rosto solene. Levantou algum tipo de bolsa
para que ela pudesse vê-la sobre a congregação. Então a abaixou, levantou-se e
caminhou para fora da igreja de mãos vazias.
Meg fechou as mãos no colo, recusando-se a se sentir culpada por não ter
retornado à sua fazenda, como tinha prometido. Clay era um homem sem honra, e
como tal, não merecia respeito.
A bolsa, no entanto, era outra questão. Não podia mais vê-lo, mas saber que
ele tinha trazido para ela e deixado, o que quer que tivesse levado, no último banco,
a fez se sentir como se estivesse sentada em um cacto.
Com toques suaves, acariciou os fios de seda que tinha bordado para formar
as iniciais de Kirk na bolsa. Levantando a borda suja, olhou para dentro da bolsa de
lona e, em seguida, despejou o conteúdo sobre o banco.
Uma imensa tristeza tomou conta dela, rasgando as feridas do seu coração,
feridas que ela pensou que tinham começado a cicatrizar.
Às vezes, sentia como se todo aquele armamento que tinha atingido Kirk
tivesse enviado essa sentença de morte através das milhas para o Texas e
incorporado essa angústia em seu coração.
Segurando a bolsa de lona, as palmas das mãos suando, Meg guiou a égua
castanha através das árvores que beiravam o rio. Dentro de seu coração, raiva
chiava porque Clay tinha a posse da bolsa de Kirk e de suas cartas durante estes
meses e não havia devolvido a ela. Seu ódio intensificou quando considerou a
possibilidade de que ele pudesse ter lido as cartas, lido as palavras íntimas que ela
quis compartilhar apenas com o marido.
Freou seu cavalo sob os galhos de uma outra árvore. Escondida nas sombras,
esqueceu sua raiva quando observou a cena que se desenrolava à sua frente.
Sem aviso, eles gritaram e se lançaram para Clay. A força de seu ataque
combinado levou-o sob a água. Os gêmeos surgiram pela primeira vez, segurando
seus estômagos e jogando a cabeça para trás, enviando suas gargalhadas ao céu
azul acima. Clay veio, precipitadamente, balançando a cabeça e enviando um jato
de água para seus irmãos. Em seguida, movendo-se rapidamente, arrancou um
menino para fora da água.
Meg engasgou. A criança estava nua como uma gralha azul. Sabia que
deveria evitar olhar, mas não tinha visto alguém aproveitar tanto assim a vida nos
últimos anos.
Clay jogou o menino na água. Depois, rindo, ele se virou para seu outro
irmão. Zombando do menino, tentou puxá-lo para mais perto. Quando o menino se
recusou a se aproximar, Clay mergulhou. O menino gritou quando saiu da água,
nos braços do irmão. Então gritou mais alto e lutou com mais força. — Ponha-me
para baixo!
Ela desmontou e foi até a beira do rio. — Eu preciso falar com você.
— Tudo bem.
Ela o seguiu conforme suas longas pernas cortaram a curta distância. Ele
ergueu-se com facilidade para a grande pedra na beira do rio. Então, estendeu a
mão para ajudá-la.
Ignorando a mão, ela esperou até que ele retirou-a e fugiu para a borda mais
distante da pedra. Dificultada por sua saia, ela desajeitadamente se mexeu até que
se assentou. Não se preocupara em colocar roupas de montaria adequadas. Ela só
queria encontrá-lo o mais rápido que podia e ter este temido confronto terminado.
Ela mexeu sua parte inferior sobre a superfície áspera, quente, até que esteve
tão confortável como imaginou ser possível.
Em seguida, voltou sua atenção para Clay. Enquanto olhava para o rio, seu
rosto se assemelhava à pedra, duro e implacável. Ela limpou a garganta. Ele não lhe
deu a cortesia de um reconhecimento, e ela recusou-se a chamá-lo pelo nome.
— Eu sei disso.
— Eu quero saber como você chegou a tê-la! — ela cuspiu, sua raiva
subindo à superfície.
Ele virou a cabeça, os olhos castanhos escuros e tempestuosos. — Eu tentei
te dizer no outro dia quando você veio à fazenda, mas você me deu um sermão
infernal porque eu me atrevi a mencionar o nome de seu precioso marido.
Pareceu surpreendê-lo tanto quanto a ela ouvir o estalo de sua palma contra
sua bochecha. Em seguida, o espanto se transformou em uma profunda tristeza,
antes que ele virasse o rosto para longe dela.
— Seu marido trouxe isto para mim alguns meses antes de ser morto — disse
ele em voz baixa.
Ela enrolou a mão que ainda pulsava com o golpe que tinha dado. — Por que?
— Ele disse que teve uma premonição, não achou que iria voltar para casa.
Estava com medo de que, no caos, as cartas se perdessem. Pensou que elas estariam
a salvo comigo.
— Porque não havia uma chance no inferno de você ser morto? — ela
perguntou, desprezo adicionando uma borda afiada às suas palavras. — Você pode
até mesmo começar a entender quanta coragem eles tiveram para marchar naquele
campo de batalha, sabendo que poderiam ser mortos? Como você pôde não estar ao
lado deles?
Lentamente, ele virou seu olhar intenso sobre ela. — Por que eu não lutei.
Ela abaixou a bolsa em seu colo e olhou para ele, temendo sua resposta. —
Será que você as tocou? — Observou quando a verdade guerreou contra a mentira,
e sabia a resposta antes mesmo de seus olhos se encherem de pesar.
— Sim.
Ela fechou os olhos quando a dor consumiu seu coração até se tornar uma
dor física e as lágrimas desciam pelo rosto.
Abrindo os olhos cheios de lágrimas, ela olhou para ele. — Você não leu as
cartas?
— Então por que você não leu essas cartas? — Ela retrucou.
Sua resposta a surpreendeu. Ela assumiu que um código não escrito garantia
de que uma carta fosse entregue à pessoa para quem era dirigida. Estremeceu com o
pensamento de Kirk não receber suas cartas. — Se eles não as deram a você, como
pode ter certeza de que ela as enviou?
— Porque eles mostraram-nas para mim antes que as queimassem. Eles... —
Aflição contorceu seu rosto quando ele fechou os olhos.
A mão de Meg estava quase descansando no topo da dele antes que ela
percebesse que estava prestes a oferecer conforto a este homem, a última coisa que
queria lhe dar. Puxou a mão de volta, mas a curiosidade foi aguçada. — O que eles
fizeram?
Abrindo os olhos, ele olhou para o rio, passou os dedos entre os botões de
sua camisa, e no seu peito — Não importa agora.
Ela viu sua garganta estridente, como se estivesse lutando para manter suas
emoções sufocadas.
— Eu não sei mesmo o que ela escreveu em todas aquelas cartas que enviou
— disse ele com a voz rouca, devastada. — Eu não sei se ela entendeu ou se estava
preocupada. Eu nunca vou saber.
Meg se conteve antes que expressasse sua tristeza pela perda das palavras de
sua mãe. Podia imaginar a devastação que sentiria se descobrisse que cada palavra
que ela tinha escrito para Kirk tivesse sido queimada sem ele as ler.
— Seu marido. Você leu a carta que ele escreveu para você?
Ele desviou o olhar para ela, dando-lhe o sorriso triste que ela veio a
reconhecer. Era quase como se ele pensasse que ela iria odiá-lo ainda mais se
desse-lhe o tipo de sorriso que tinha dado para os meninos no rio. — Eu estava me
referindo à carta que ele deixou para você na bolsa.
— Não sei se eu posso lê-la. Não agora. Não depois de todo esse tempo. Não
entendo por que você não a trouxe para mim mais cedo, antes de eu vir até você.
— Eu tentei. No dia que eu cheguei em casa, fui à sua fazenda. Seu irmão,
Daniel, não é?
Não teve coragem de agradecer a Clay, embora soubesse que devia a ele por
ter trazido a carta de Kirk para ela. Pegou o papel enrolado. — Quero falar com
você sobre o memorial.
— Essa foi apenas a primeira coisa que me veio à cabeça. Você não tem que
gostar, eu posso esboçar algumas outras ideias.
Ela deu-lhe uma careta culpada. — Para ser honesta, eu não olhei porque
estava muito chateada sobre as cartas.
Cuidando para não tocá-la, ele puxou a primeira folha de papel para revelar a
estátua como seria vista de um ângulo diferente.
Meg não percebeu que estava chorando abertamente até que viu o papel
murchar onde suas lágrimas caíram.
Era malditamente louco por antecipar algo tão simples como o perfume de
uma mulher. Talvez tivesse perdido a cabeça enquanto era um prisioneiro. Após a
execução, que nunca veio, o haviam condenado a trabalhos forçados. Nos dias em
que não conseguiram encontrar nada de útil para ele fazer, fizeram-no empilhar
rochas, sem qualquer boa razão além de que aquilo causasse dor em suas costas e
fizesse bolhas em suas mãos. Tinha certeza de que seus carcereiros nunca
perceberam o quão difícil foi para ele ver o potencial dentro de uma rocha pouco
antes de ter que transformá-la em pó branco.
E isso o apavorou.
Ele estava cortando madeira, pedra e os próprios dedos, desde que era um
menino. Obteve sua educação informal no colo de seu pai, sempre que este
encontrava tempo para mostrar-lhe o ofício que tinha aprendido e seu pai antes dele.
Mas a tutela de seu pai nunca tinha satisfeito a fome de Clay. Ele sempre desejou
mais conhecimento, ansiando criar as imagens que enchiam sua mente.
Ouviu os cascos galopando e olhou por cima do ombro para ver a poeira
subindo e circulando em torno do cavalo e cavaleiro, abaixo na estrada.
Ela deslizou seu olhar para ele como se tivesse acabado de ver uma cobra
rastejando sob uma rocha. Seu nariz subiu uma fração a mais, e desta vez ele não se
conteve. Sorriu.
Seus olhos se arregalaram pouco antes dela desviar o olhar e mexer com algo
do outro lado da sela. — Não estou aqui para lhe fornecer companhia.
Simplesmente quero ter certeza de que você faça a melhor escolha.
Ela virou seu olhar de volta para o seu. — Eu sei do que eu gosto.
Com um suspiro, ele olhou para frente na estrada de terra pela qual tinha
viajado uma dúzia de vezes com o pai. Tinha um sentimento de que esta viagem
seria a mais longa que já tinha feito e, com certeza, não podia sentir o cheiro de
qualquer madressilva. — Você trouxe o dinheiro?
— Certamente.
Contra sua vontade, ele encontrou seu olhar voltando à forma esbelta de Meg.
Ela sentava-se no cavalo com uma medida de graça e de confiança que vinha das
tempestades da vida e dobrava tão naturalmente com a força do vento. Ele nunca
poderia conquistá-la. Talvez devesse ter esboçado ela e não Kirk, montada no
cavalo.
Só que queria capturá-la como ela era antes da guerra ter destruído sua
inocência e esperança. Queria captar seu espírito resistente, um espírito que tinha
sobrevivido, mesmo quando a guerra arrebatou os sonhos que ela dividia com outro.
— É o dinheiro que seu marido estava economizando para comprar sua fazenda?
Seus olhos azuis se arregalaram até que ele pensou que rivalizavam com o
céu em beleza. — Ele lhe disse sobre a fazenda que queria?
— Nós éramos amigos. Ele me disse um monte de coisas. — Ela mexeu seu
traseiro na sela e Clay estava tentado a atirar um cobertor sobre o colo. Eles
estavam provavelmente mais seguros com ela viajando vestida com as roupas do
marido, mas ela parecia decididamente diferente de como Kirk tinha parecido com
aquelas calças. Sem dúvida, no entanto, ela tinha feito alterações à roupa para que
se encaixasse. Kirk tinha sido reto como uma tábua de seus ombros até os dedos
dos pés; ele nunca tinha possuído essas curvas. Mas as roupas não pareciam se
incomodar nem um pouco. De fato, as calças estavam abraçando-a como se
tivessem sido feitas para ela.
Ele arrastou seus olhos para seu rosto, onde deveriam ter estado o tempo
todo. Não tinha nenhum direito de deixar o olhar vagar para seus quadris. Desde
que ela não havia lhe dado um tapa, ele imaginou que o chapéu estava protegendo
seu rosto para que não pudesse ver exatamente onde ele estava olhando. — Como é
que é?
— Muitas coisas.
— Como o que?
Ele deu de ombros. — Me disse que se eu cavasse um buraco quando a lua
estivesse cheia eu teria areia o suficiente para enchê-lo de volta.
— Eu não cavaria.
— Por alguma razão, quando você cava um buraco você nunca parece ter
areia o suficiente para enchê-lo. Ele disse que cavar durante a lua cheia iria fazer a
diferença.
Seus olhos carregavam uma centelha de interesse, e ele estava feliz porque
poderia lhe dar a resposta que estava certo de que ela queria. — Sim, senhora. Ele
sempre parecia saber tudo, então eu tentei.
— E descobriu que ele estava tirando uma com você — ela disse
presunçosamente.
Ele balançou a cabeça, espantado que ela ainda levasse um enorme orgulho
nas brincadeiras de seu marido.
Um canto de sua boca se inclinou para cima quando ele olhou para o céu azul.
O céu devia ter tomado a sua tonalidade a partir dos olhos dela. — Coisas.
Ela arrancou o chapéu da cabeça, e a trança grossa que ela tinha feito caiu ao
longo de suas costas estreitas.
— Por quê? Porque foi tão trivial que você não se lembra de nada do que ele
disse?
— Me lembro de tudo. É só que eu dei-lhe a minha palavra que nunca diria a
você.
Ela bateu seu pequeno punho em sua coxa, mas ele tinha uma sensação de
que ela teria preferido esmagá-lo contra o seu nariz. — Fez você prometer que não
iria me dizer algo que ele disse?
Balançando a cabeça, Clay lutou para impedir sua boca de formar um sorriso.
— Sim, senhora.
— O que foi?
Seus olhos azuis escureceram. — Foi algo sobre mim? Será que ele falou
sobre mim?
— Eu sabia antes que você que ele iria se casar com você.
Ele não soube como ela conseguiu, mas ela olhou para baixo, para ele, apesar
de suas respectivas posições sobre o cavalo e na carroça fazerem suas alturas as
mesmas.
Clay riu. — Ele voltou suas atenções para você muito antes disso.
— Eu não acredito em você.
Ela empurrou o chapéu sobre a cabeça, sombreando seu rosto para que tudo
o que ele pudesse ver fosse sua mandíbula rígida. Ele supôs que, se a mulher queria
acreditar que ela era a pessoa responsável por seu casamento com Kirk, nenhum
mal viria disso. Considerando que ele suspeitava que o dano poderia vir se ela
soubesse a verdade.
Eles baseavam o valor de uma menina em coisas sem importância, tais como
a cor dos olhos e do comprimento de sua trança.
Kirk cavou uma moeda de prata de seu bolso. — Vamos virar. Águia você se
casa com ela, liberdade eu me caso. E o perdedor promete que não vai reclamá-la.
Nos anos seguintes, Clay honrou o juramento que tinha feito naquele dia.
Manteve-se a distância, observando de longe como Meg florescia na mulher que
iria segurar o coração de Kirk.
E agora ele iria continuar a manter distância. Seu ódio, muito maior do que
qualquer outro, iria mantê-lo amarrado ao juramento infantil. Mesmo quando se
sentava no último banco, podia sentir os olhos de desprezo sobre ele. Não gostava
de ficar sentado durante o culto na igreja tanto quanto Joe. Talvez devesse seguir o
conselho de Josh e cruzar os olhos da próxima vez que ela olhasse para ele.
Mas quando ela finalmente tirou a atenção da estrada e encontrou seu olhar,
ele não conseguiu ter certeza de seus sentimentos em relação a ele.
— O que Kirk disse sobre mim? — ela perguntou. — Ele deve ter dito algo
que você possa me contar.
Ele puxou a aba de seu chapéu para baixo sobre a testa. Não poderia dizer-
lhe que Kirk lhe contara sobre os pequenos sons suaves que ela fez na noite de
núpcias. Desejou que tivesse mantido a boca fechada e não houvesse tentado irritá-
la, mas ela ficava tão bonita quando a fúria atravessava seu rosto e acendia seus
olhos para que eles não parecessem sem vida. — Bem, ele falou muito sobre a
fazenda, é claro, e como queria que você tivesse seu próprio lugar.
Ela relaxou os ombros, e ele se perguntou se ela tinha uma vaga ideia sobre o
que Kirk poderia ter lhe dito.
— Ele te disse por que queria que nós tivéssemos nosso próprio lugar?
— Sua mãe não gostava de mim — disse ela, como se ele não tivesse
reconhecido sua pergunta.
— Eu não levaria seus sentimentos para o coração. Ela não gosta de ninguém.
Ela inclinou-se para ele, com os olhos arregalados, sua voz quase um
sussurro, embora ninguém estivesse por perto para ouvir. — Você realmente fala
sobre ela desse jeito?
— Vocês discutiram a ideia dele sobre nós vivermos com sua avó?
Na verdade, no dia em que ele descobriu quanto tempo levaria para Kirk
economizar dinheiro suficiente para ter uma herdade, Clay tinha sugerido que
morassem com Mama Warner. Hesitante, ele assentiu. — Ele queria que você fosse
feliz.
— Eu fui, depois que fomos morar com Mama Warner. Ela me fez sentir
bem-vinda.
— Ela faz todo mundo se sentir assim. Você a vê muito? — Clay perguntou,
sabendo que ela voltara para a casa de seu pai depois de Kirk partir para a guerra.
Meg sorriu, o primeiro sorriso genuíno que ele tinha visto em seu rosto desde
que a guerra começou. Ele queria gravá-lo em pedra ali mesmo, para que pudesse
mantê-lo para sempre. Tinha certeza de que ela tinha dado aquilo a ele por engano.
— De fato, eu fui à casa dela esta manhã. É por isso que eu estava atrasada.
Pedi a ela que se alguém perguntasse, dissesse que eu estava passando uns dias com
ela, mas ela não sabe onde estou no momento. Ela esticará a verdade e nunca me
perguntará por que precisa fazer isso.
Clay se perguntara como ela planejou viajar com ele sem seu pai vir para
linchá-lo. — Portanto, seu pai acha que você está passando alguns dias com Mama
Warner?
Como se apenas percebendo que condenou-se a ser sua companhia, ela parou
de sorrir, endureceu o seu olhar, e voltou sua atenção para a estrada à frente.
Suspirando profundamente, ele olhou para a estreita faixa de terra que rodas
de carroça tinham cortado da terra ao longo dos anos. A estrada parecia estender-se
para a eternidade.
***
Ao crepúsculo, Clay freou a carroça fora da estrada e guiou a mula para uma
clareira próxima.
Abrindo um olho, ela olhou para ele. Ele parecia tão cansado quanto ela —
Não.
Clay, sem dificuldade, prendeu a mula, embora Meg não achasse que a mula
iria se afastar. Em toda a sua vida, nunca tinha visto um animal se movimentando
tão lentamente como aquela mula. Supôs que o exército havia confiscado os
cavalos dos Holland. Sua família tinha dado tantos homens à causa que o exército
não tinha pedido o seu gado, embora Meg teria dado com prazer.
— Vou buscar alguma ceia — disse Clay quando puxou seu rifle de debaixo
do banco da carroça.
A primeira reação de Meg foi dizer que ela cuidaria de si mesma, mas se
sentia muito cansada. Se comprometeria um pouco esta noite: enquanto ele caçava,
ela faria o fogo. Quando andava longe do acampamento, ele apareceu atrás dela.
Ela parou de repente, virou-se e olhou para ele. — Onde você pensa que está indo?
— ela perguntou.
— Acho que você não deveria estar perambulando por essas árvores sozinha.
— Não. Eu não tenho nenhuma razão para acreditar que você viria. Você não
foi quando a Confederação gritou por mais homens.
Ele estreitou os olhos para pequenas fendas e sua mandíbula ficou tão rígida
que ela não soube como ele conseguiu forçar a palavra "Bem" a sair por sua boca.
Ela pegou o fim de uma maldição conforme ele caminhou até o outro lado da
clareira e desapareceu na floresta espessa. Estava feliz em vê-lo ir. Realmente
estava. Com alguma sorte, ele se perderia, vagando pela escuridão, e não voltaria
para o acampamento até de manhã.
Ele a atraíra para falar de um tempo mais feliz, quando Kirk ficara ao lado
dela. Os olhos castanhos de Clay brilharam com algo semelhante à alegria quando
ele a tinha olhado. Ele e Kirk haviam discutido coisas. Tinham discutido muitas
coisas. Coisas bobas. Coisas de natureza pessoal.
Como num sonho, viu a cobra enrolada espalhar sua boca larga, expondo
suas presas salientes e se lançando em direção a ela. Sempre tinha imaginado que a
morte viria rapidamente, não lentamente, dando-lhe tempo para gritar contra a
injustiça. Um estrondo ecoou e a cascavel desapareceu.
— Você está bem? — Clay perguntou quando agarrou seu braço. Ela olhou-
o em silêncio e ele balançou-a, sua voz cada vez mais alta. — Você está bem?
Ele balançou a cabeça. — Não sei por que estava preocupado. Seu ódio
provavelmente teria envenenado a cascavel se ela tivesse tido a infelicidade de
cravar suas presas em você.
Clay foi embora e ela estava grata por ele deixá-la sofrer essa vergonha
sozinha. Estava mais grata ainda por ele ter arrastado a cobra para longe com ele.
Levantou longo tempo depois, quando seu estômago estava vazio. Ao ouvir
passos se aproximando, apertou seu punho fechado contra sua barriga dolorida e,
lentamente, ajeitou o corpo que tremia. Apesar do calor persistente do dia, sentiu
um calafrio.
— Aqui — disse Clay quando empurrou um copo cheio de água sob seu
nariz. — Vá em frente. Pegue. Eu não bebi.
Ela pegou o copo, encheu a boca e rodou o líquido morno antes de cuspi-lo.
Repetiu o processo, enquanto Clay juntava lenha.
O sol tinha caído para além do horizonte no momento em que ela encontrou
a força e o desejo de regressar ao seu pequeno acampamento.
Agachado ante o fogo crepitante, Clay removeu seu jantar do espeto. Sentada
em frente a ele, Meg encostou-se à árvore. Ela não tinha percebido o quão escuro
tinha ficado até que viu as chamas se contorcendo, criando sombras dançantes pelas
feições de Clay. Ele tirou o chapéu e a luz do fogo valsou por todo o cabelo branco
em suas têmporas.
— Eu pensei que ia morrer — disse ela calmamente com uma voz trêmula.
— Não consigo parar de tremer.
— Você só precisa pensar em outra coisa. Pode tentar olhar para o céu e
contar as estrelas.
Ela olhou para os céus sem nuvens negras onde a lua cheia brilhava
intensamente. Além dela, as estrelas piscavam.
— Basta pensar em quantos ianques você poderia ter matado se não tivesse
sido um covarde.
Seu olhar sombrio encontrou o dela. — Pensei sobre isso, Sra. Warner.
Pensei nisso longa e duramente.
Pegando um prato, ele parou. — Sirva-se do que restou. — Ele caminhou até
a carroça, sentou no chão, e pressionou suas costas contra a roda. Rolando sobre
um quadril, pegou uma pequena pedra debaixo dele e a atirou através da clareira.
Meg empurrou o chapéu longe de seu rosto. Clay estava agachado à sua
frente, seu olhar fixo no fogo.
— Seu estômago vai melhorar, na manhã. Vou procurar algo bom para o
vômito, então. — Ele jogou a lenha no fogo, e as faíscas laranja dispararam. —
Você pode dormir na carroça hoje à noite.
Ele olhou para cima e ela podia ver a confusão em seus olhos. — Por matar a
cobra cascavel — explicou ela.
O céu noturno estava tão claro, que ela sentiu como se devesse ser capaz de
tocar as pedras cintilantes que enfeitavam os céus e lavrá-las com tranquilidade.
Gostaria de poder encontrar um pouco daquela paz dentro de si mesma.
Estava certa de que o orgulho lhe tinha feito apertar a mão de Clay naquela
manhã. Ele tinha abraçado Clay não para dizer adeus a um amigo, mas para
sussurrar adeus a uma amizade.
Sentado com as costas contra a árvore, joelho erguido, uma perna esticada
ante ele, Clay raspava um pedaço de madeira com uma pequena faca. O vento
brincou delicadamente com os cabelos marrons cobrindo sua cabeça baixa.
— Droga! — Colocando o dedo entre os lábios, Clay olhou para ela. Ele
tirou o dedo da boca e apertou-o contra sua coxa. — Nunca mais faça isso quando
eu tiver as ferramentas em minhas mãos.
— Nunca mais faça o quê? — ela perguntou inocentemente.
— Me assustar assim.
— E eu tinha esquecido que você tem uma língua tão afiada. — Ele passou a
outra mão pelo cabelo. — Não sei por que diabos eu concordei com isso.
— Mesma coisa.
— Não é justo manchar sua pessoa quando ele não está aqui para se defender.
Você não acha que ele teria me dito se não achasse que você era um covarde?
Ela caiu sobre a cama da carroça e se enrolou em uma bola apertada, lutando
contra as lágrimas que fizeram subitamente seus olhos arderem. Certamente, Kirk
teria dito a ela se achava que Clay não era um covarde.
Mas ele nunca tinha compartilhado com ela seus pensamentos como um
soldado.
Alcançando o cós da calça, tirou a carta amassada de Kirk. Ela ainda não
tinha lido-a.
Sabia que seu último adeus residia na carta. Até que lesse, sua própria
despedida final permaneceria em seu coração.
Ele parou a carroça perto de uma casa de pedra. Alguém já havia cortado a
árvore solitária que poderia ter fornecido sombra. Como se fossem dedos
desesperados, os galhos secos da árvore abatida estavam assustadoramente em
direção ao sol. Ninguém se moveu; ninguém criou um som. Até o vento cessou de
sussurrar.
Clay desceu da carroça. A aba do chapéu sombreava seu rosto, não revelando
nenhum de seus pensamentos, mas desde o amanhecer ele não tinha compartilhado
quaisquer pensamentos com ela. Ela despertou para encontrar a refeição prometida
a esperando. O silêncio, tão pesado como aquele em torno deles agora, tinha
permeado o ar enquanto viajavam. Para seu espanto, ela descobriu que sentia falta
de suas brincadeiras provocativas.
Ele tirou o chapéu e enxugou a testa. — Eu não sabia o que iria encontrar. O
Sr. Schultz vende pedra para os alemães que se instalam na região. Eles gostam de
construir casas de pedra.
Uma lágrima solitária, fora de lugar entre suas feições escarpadas, seguiu
pelo seu rosto. Meg sentiu uma afinidade imediata com o homem, entendendo a
devastação de sua perda. Em um gesto de conforto, ela colocou a mão em seu
ombro enorme. Uma dor dolorosa centrou em seu peito quando ela sentiu seu
tremor. — Meu coração está com você. Os ianques mataram tantas pessoas.
Ele olhou para ela, com os olhos endurecendo. — Eu não falo sobre Ianques.
Falo sobre Texanos. Eles vieram por ele no meio da noite, as pessoas que ele achou
que eram seus amigos. O arrastaram da cama e o enforcaram. Quebrou o coração
de sua mãe ver o nosso bom menino morrer daquele jeito. Nós viemos da
Alemanha para encontrar a paz. Não é a nossa guerra. Eu disse a ele: 'Vá para o
México. Venha para casa quando esta guerra acabar.' — Ele balançou a cabeça e
enxugou os olhos. — Mas ele não ouviu. Então eles vieram e o enforcaram.
O velho deu um tapinha no seu ombro. — Não é sua culpa. Eu sei disso, e
você não está aqui para ouvir as minhas tristezas. Você veio aqui para obter rocha.
— Ele acenou com a mão em um círculo. — Não há muito aqui. Eu não tenho
coração para trabalhar na pedreira. Se você não encontrar o que você precisa, lhe
digo onde tem outra pedreira. — Ele se afastou, dobrado como se estivesse
carregando uma de suas pedras sobre os seus ombros.
— Pena que não podemos ter Franz nos dizendo seu lado.
— Não, mas você teria feito. Afinal de contas, ele não ficou ao lado da sua
preciosa Confederação.
Antes que Meg pudesse responder, ele começou a caminhar com passos
longos. Ela o seguiu, escolhendo cuidadosamente o seu caminho através das rochas
espalhadas que cobriam o chão. — Acho que você precisa de um grande pedaço —
ela falou.
Para ela, parecia apenas como todas as outras rochas que estavam ali como
sentinelas silenciosas. Áspera e dura, não era nada do que tinha em mente quando
pensou sobre o monumento.
Ela olhou ao redor do terreno rochoso e um vislumbre de branco chamou sua
atenção. Cautelosamente, caminhou para a periferia da pedreira e colocou a mão
sobre a pedra que brilhava no sol.
Sorrindo, caminhou de volta para onde Clay estava de joelhos, olhando para
o topo do granito de um ângulo diferente. — Encontrei a peça que você pode usar
— disse ela.
— Bem, então, isso encerra o assunto. O destino deve tê-lo trazido aqui.
Acho que a estátua ficaria linda esculpida nisso.
Meg baixou o olhar para suas mãos. Longos dias ao sol tinha as tornado de
um marrom rico. Minúsculas cicatrizes finas marcavam seus longos dedos. Ele
enfiou as mãos nos bolsos. Ela levantou os olhos para ele. — Quero o mármore.
Ela fez o que ele disse. Pressionando o ouvido na pedra, ele gentilmente
bateu o martelo contra a superfície dura. Ela ouviu um toque macio. — Soa como
um sino.
Ele assentiu com a cabeça. — Esse som é bom. Não tem qualquer rachadura
dentro.
— Sim, senhora. Ouvi um som agradável. — Ele deu um passo para trás e
caminhou ao redor do mármore, tocando-o, estudando-o como tinha feito com o
granito, mas seu rosto não mostrou nenhuma emoção, nenhuma reverência. —
Acho que o granito nos serviria melhor.
— Você não pode sempre dizer o que está dentro de uma rocha, olhando para
o lado de fora.
— Então, elas são muito parecidas com as pessoas, não são? — ela
perguntou.
Sua mandíbula se apertou, e ele bateu na rocha. — Podem ser bastante duras.
— É o meu dinheiro. Estou comprando esta peça.
Ele caminhou até eles. — Você quer isso, você terá isso. Meu irmão trouxe
de Marble Falls. Achou um homem aqui que queria, mas o homem disse não.
— Nós queremos esse — disse Meg, surpresa com a emoção que crescia
dentro dela. — Nós vamos voltar na parte da manhã para buscá-lo.
— Então você só tem que trabalhar duplamente para ter certeza de que eu
não estarei decepcionada. — Ela começou a se afastar, tropeçou e amaldiçoou sob
sua respiração.
Ele andou até que ficou frente a frente com ela, forçando-a a inclinar a
cabeça para trás para olhar nos olhos dele.
— Você quer que este pequeno projeto seja o mais difícil para mim, tanto
quanto você possa fazer com que isso seja. Tudo bem. Pegue o mármore. Eu vou
esculpi-lo, mas se você está pensando em me torturar com a sua obstinação, seu
pequeno nariz atrevido levantado e sua atitude 'vamos fazer do meu jeito', pense
novamente. Eu posso aguentar qualquer tortura que me for imputada.
***
Tortura.
Deitada na cama macia, Meg se perguntou porque Clay tinha escolhido essa
palavra. Ela queria puni-lo, mas tortura soava muito mais duro do que o que
pretendia.
Sua saída abrupta lhe convinha muito bem. Ela não se importava com onde
ele estaria ou dormiria. Por tudo o que importava, ele poderia dormir com aquele
pedaço de granito para o qual fora tão parcial.
Batendo o punho no travesseiro, se recusou a seguir suas ordens e repensar a
decisão. Desde que ela o havia contratado para fazer o monumento, ele deveria
fazê-lo para agradá-la, não a si mesmo. O mármore era a melhor escolha. Se ele
não entendesse aquilo à luz de um novo dia, entenderia quando completasse a
estátua.
Apertar os olhos fechados não tirou o lembrete assombroso das mãos de Clay
acariciando o granito.
Ela se perguntou se aquele objeto respondia ao seu toque do jeito que ele
queria. Seus olhos foram novamente atraídos para suas mãos, entrando e saindo das
sombras enquanto trabalhava. Não precisava ver as mãos para saber que estavam
marcadas. Não queria vê-lo colocar a faca de lado e tocar seus longos dedos na
escultura como se sua carne e não os olhos poderia dizer-lhe se tinha conseguido a
forma que ele pretendia.
Será que ele tocaria na pedra da mesma maneira depois de esculpi-la? Será
que ele deslizaria os dedos ao longo de sua garganta, depois que a esculpisse?
Ela pressionou os dedos contra sua garganta e pensou sobre vê-lo trabalhar.
Ele sempre acariciava o que esculpia.
Lembrou-se da primeira vez que o vira esculpir algo em uma pedra. Os nós
dos dedos eram grandes demais para seus dedos, mas adorava assistir suas mãos
trabalharem.
Até aquele dia, nunca tinha conhecido o desespero. Clay e suas mãos hábeis
tinham encaixotado sua dor.
Ela tinha dez anos quando foi com seu pai para a fazenda dos Holland.
Estava na porta de um grande galpão, sem se atrever a entrar no interior onde eles
faziam coisas associadas com a morte.
Ela se virou para ver Clay encostado na pilastra, às mãos enfiadas nos bolsos.
— Minha mãe morreu.
Compaixão encheu seus olhos. Só agora, anos mais tarde, ela percebeu como
ele estava acostumado às pessoas estarem em sua terra com lágrimas nos olhos. —
Sinto muito.
Ela ergueu o queixo trêmulo porque seu pai tinha dito que se mantivesse o
queixo para cima, tudo estaria bem, mas o simples ato nunca pareceu fazer nada —
Meu pai foi procurar pelo seu. Ele vai pedir-lhe para fazer uma lápide para a
Mamãe. — Ela enrugou seu nariz. — Ele quer um cordeiro e alguma coisa da
Bíblia sobre ela.
— Ele não gosta de fazer a inscrição. Estive fazendo isso desde que tinha
oito anos e nunca fiz aves antes. Então, vou fazer alguma para praticar em primeiro
lugar, e você me diz se é o que quer.
Nos anos seguintes, Meg nunca tinha visto uma lápide com um maior
número de gravuras sobre ela como o marcador de sua mãe. Aquilo ainda trazia
lágrimas aos seus olhos quando visitava o lugar de descanso de sua mãe. Dentro da
pedra, Clay tinha capturado o amor inocente de uma criança pela mãe.
Ela percebeu aquilo quando ele era jovem. Com os olhos de um homem
velho ele teria uma capacidade muito maior para trazer o granito para a vida.
O pensamento a apavorou.
***
Clay sabia que deveria amaldiçoar a si mesmo, não a ela. Tinha sido atraído
por madressilva no inferno.
Nada, exceto que, talvez, debaixo de sua roupa Meg Warner se assemelhava
ao mármore que havia sido pacientemente polido.
Mas ela nunca lhe daria compaixão ou compreensão. Irritação, porém, era
outro assunto. Ela parecia ter a intenção de dar-lhe aquilo em abundância. Se ele
não a tivesse conhecido antes da guerra, não continuaria a controlar seu
temperamento.
Porém, tinha-a conhecido. Nada bem. Certamente, não tão bem como ele
teria gostado, mas suficientemente bem para saber que seus ferimentos estavam
purulentos.
Se pudesse encontrar um comprador, apostaria sua fazenda que ela não tinha
lido a carta final de Kirk.
Orou para que Kirk não tivesse inscrito a data de quando escreveu aquela
carta. Clay tinha tomado posse das cartas meses depois de Kirk lhe ter dado a bolsa.
Se Meg percebesse aquilo, ela, sem dúvida, faria perguntas que Clay não queria
responder.
— Vou levar o que quer que você esteja disposto a negociar — disse Clay,
seus olhos focados em algo além do ombro do homem.
— Sim senhor.
— Bem, então tome os doces e mais um par de enlatados, mas não vai contar
a ninguém que eu tenho um coração mole.
2
N. T.: guloseima da época
Os lábios de Clay se levantaram um pouco conforme prometeu. — Não vou.
Levantando a caixa para fora do balcão, ele se virou e congelou, seu olhar
encontrando o dela. Seu rosto queimou em um escarlate profundo antes que
passasse por ela. — Suponho que você não deseja abrir a porta para mim.
Andando em torno dele, ela abriu a porta. Uma vez que ele a atravessou, ela
o seguiu. — Ele enganou você.
— Ele só vale o que eu poderia obter por ele e isso é tudo o que eu consegui.
— O Sr. Tucker na loja geral em Cedar Grove teria lhe dado mais. Você
deveria ter negociado com ele.
— Eu tentei, Sra. Warner, mas ele só vai lidar comigo se eu puder pagar com
dinheiro. No momento, eu não posso.
Ele empurrou a caixa, mesmo já tendo a empurrado para trás, tanto quanto
ela poderia ir. — Do meu avô. Precisaremos alugar alguns bois para puxar a
carroça. A pedra irá torná-la muito pesada para a mula. Fora da cidade há um
fazendeiro que nos fará um preço justo.
Meg desejou não ter notado como ele se precipitou, como se ele não quisesse
reconhecer o que tinha sacrificado por sua família. Brevemente se perguntou o que
mais ele poderia ter sacrificado. — Eu vi você no beco na noite passada. Foi lá que
você dormiu?
— Não dormi.
— Não gosto da aparência de alguns dos homens que estão ao redor do hotel.
Queria ter certeza que você estava a salvo. — Ele esfregou a mão ao longo de sua
mandíbula. — Mesmo com os bois, vai ser uma viagem lenta. É melhor nós irmos
conseguir aquele mármore que você quer. — Ele começou a subir na carroça.
— Eu... — Ela parou de falar quando ele caiu de volta ao chão e a olhou. Ela
lambeu os lábios. — Ontem à noite, eu não pensei sobre o mármore.
Ele lhe deu um meio sorriso. — Não estou surpreso. Eu te deixei ver o
quanto eu queria aquele granito. Erro meu.
Ela ergueu o queixo. — Pensei sobre o marcador que você fez para a minha
mãe. Você se lembra dele?
Sua resposta a surpreendeu. Talvez ele tenha pensado nas coisas ontem à
noite e chegado à conclusão de que ela realmente sabia que pedra era a mais
adequada para o monumento. — Você não acha?
Ele tirou o chapéu, passou os longos dedos pelo cabelo grosso, e suspirou
profundamente. — Sinto muito. A minha opinião sobre o assunto não mudou desde
ontem.
Ela baixou os olhos e fingiu estudar suas botas gastas para que ele não visse
que os argumentos fizeram estragos em seu coração. Ela preferia o mármore. Clay
não estava familiarizado com a pedra. Ele seria forçado a questionar e duvidar de
cada corte que fizesse na pedra assim como ela queria que ele se questionasse e
duvidasse das escolhas que fez durante a guerra. Mas se ele cometesse um erro de
julgamento tão grande como o que fez quando não se alistou, todos os seus esforços
seriam em vão.
Relutante, ela admitiu que o granito era a melhor escolha... não apenas para o
seu propósito, mas para o dela. Ela levantou os olhos para ele e deu um suspiro
profundo e claro. — Pode comprar o granito.
Cautelosamente, ele a estudou. — Não o mármore?
Ela assentiu com a cabeça, esperando que ele estivesse certo e que ela não
tivesse cometido um erro. — Você vai precisar do dinheiro. — Ela tirou um saco
que tinha escondido atrás da cintura de suas calças. Abriu a bolsa e derramou o
conteúdo na palma da mão cheia de cicatrizes. — Isso será o suficiente? —
perguntou.
Ele olhou para ela, suas sobrancelhas escuras juntas. — Sua moeda de tirar a
sorte?
Segurando-a para cima, ela moveu-a para que ele pudesse ver um lado,
depois o outro. — Tem a Senhora Liberdade em ambos os lados.
Conscientemente, ela sorriu. — Não me diga que ele a usou com você
também?
— Uma vez ou duas. — Entregando a moeda de volta para ela, ele sorriu
tristemente. — Mas tudo funcionou melhor.
***
Desejou que ele tivesse trazido suas ferramentas para que pudesse começar a
trabalhar esta noite. — Onde você vai colocar Kirk? — ela perguntou quando tocou
um lado da pedra. — Aqui?
Clay levantou a cabeça. Qual mulher era ela agora? Desde que deixaram a
pedreira de Schultz, ela tinha estado conversando com seu cavalo, os bois, a pedra
maldita e agora ele. Ela estava se movimentando em torno da carroça como se
alguém tivesse colocado brasas sob seus pés.
— De que lado você acha que Kirk vai estar? — ela repetiu.
Ele começou a se afastar. Ela correu para o outro lado. — E eu vou estar aqui?
— Acho que sim. — Ele esfregou a mão para cima e para baixo de sua
bochecha áspera. — Se não quiser dormir no chão, é bastante pequena para ser
capaz de se enroscar no banco da carroça.
Meg assistiu conforme Clay serpenteou de volta para a árvore. Ele sentou no
chão e pressionou as costas contra o tronco. Não parecia nem um pouco interessado
no granito agora que o tinham adquirido. Ela deveria ter comprado o mármore. Pelo
menos a conversa deles carregava uma faísca quando estavam em desacordo.
Ela parou de falar quando Clay jogou a cabeça para trás. Ele olhou em volta.
— O que?
— Estou bem.
Vendo como ele esfregou os ombros contra a árvore antes de olhar
vagamente para o fogo, duvidou de suas palavras. Ela estava tão emocionada com a
pedra, que tinha dado pouca atenção a qualquer outra coisa.
Pouco depois que eles montaram o acampamento, ele foi em busca de caça.
Ela ouviu o tiro de seu rifle encher o ar três vezes, mas ele retornou ao
acampamento de mãos vazias. Ela mergulhou em seus suprimentos escassos,
preparou alguns biscoitos e aqueceu uma lata de feijão. Lembrando-se da maneira
como ele devorou a refeição simples, sem gosto, teve a sensação de que o sono não
foi a única coisa que ele tinha ficado sem na noite anterior.
Ela pensou em voltar para a primeira noite que eles acamparam. Será que ele
tinha dormido, então? Lembrou-se de que algum tempo tinha passado depois de sua
explosão, antes que ela ouvisse novamente a faca raspar a madeira. Ela ouviu o
som em seus sonhos. Teria o som ficado com ela à noite toda? — Você dormiu
desde que começamos esta viagem?
Meg reuniu os cobertores e pulou para fora da carroça. Ela marchou por todo
o espaço estreito que os separava e deixou cair os cobertores em seu colo. — Vá
dormir. Eu vou manter a vigília.
Pela primeira vez, ela notou as sombras escuras sob os olhos que estavam
lutando uma batalha perdida para permanecerem abertos. — É por isso que você
ficou no beco em frente ao hotel na noite passada?
Deslizando os dedos entre os botões de sua camisa, ele esfregou seu peito. —
Acho que você tem motivos para pensar que tem como se defender, mas eu
morreria antes de deixar você sofrer qualquer dano.
— Absolutamente.
Ele deu um sorriso cansado. — Eu não vou usar isso contra você, se você
não for tão honesta comigo.
Ela parou a agitação com os cobertores. Por que acelerava seu coração
quando ele brincava com ela assim? — Eu nunca quero que você duvide de onde
está comigo. — Ela deu um tapinha no cobertor. — Agora, durma um pouco.
— Eu posso ficar quatro dias sem dormir. — Ele estendeu-se no chão e ela
empurrou o cobertor dobrado sob sua cabeça. Ele bocejou. — Fiquei cinco dias
uma vez.
— Porque você deveria necessitar fazer isso? — ela perguntou em voz baixa,
mas duvidava que ele tivesse ouvido a pergunta.
Seu rosto estava relaxado, seus cílios escuros tocando suas bochechas. Seu
longo cabelo castanho tinha caído na testa.
Ele não tinha se barbeado recentemente, e sua barba parecia lançar uma
sombra sobre seu rosto.
O cabelo facial no rosto de Kirk nunca tinha sido tão grosso, mas, então,
Kirk nunca fora tão velho, nunca chegara a esta fase da masculinidade. Estudando
Clay enquanto dormia, ela se sentiu como se tivesse sido casada com um menino
em vez de um homem.
A última vez que ela olhou para o marido, este estava preenchido com a
exuberância da juventude. Em sua mente, o homem que havia caído com as armas
da União era o mesmo homem que a beijou profundamente e riu com a perspectiva
da derrota.
Em seu coração, ele seria sempre o jovem confiante de vinte anos de idade,
que adorava pregar peças.
Mas, além das colinas, ele tinha envelhecido... por dois anos.
Ele teria mudado tanto quanto o homem que agora dormia no chão?
Como um mapa antigo, o rosto de Clay estava bem cansado e forrado com
caminhos percorridos pela tristeza e dor. E talvez de arrependimentos.
Contra sua vontade, ela ficou intrigada. Se Clay, que não tinha lutado
batalhas, tinha mudado a tal ponto nos anos que esteve longe de Cedar Grove,
como Kirk deveria ter mudado. Seu rosto teria mantido mais linhas, mostrado a sua
profunda convicção à Causa, refletido seu verdadeiro caráter.
Com uma profunda tristeza, ela percebeu que o homem a quem ela entregou
a bandeira confederada provavelmente não era o mesmo homem que morreu em
Gettysburg.
***
E ela roncava, assim como Kirk lhe dissera. Era um ronco suave que lhe
lembrava da forma como um gatinho ronronava, contente após a sua barriga estar
cheia de leite morno.
Kirk não tinha contado a ele sobre isso. O riso veio novamente, derramando-
se sobre ele com sua inocência. O sorriso abrandou seu rosto, e ele supôs que o
sonho, ou o que quer que lhe dera um breve momento de felicidade, tinha passado.
Rolando para ficar de costas, ela se arqueou. A boca de Clay estava tão seca
como um deserto.
Virando de lado, ela deslizou a palma da mão sob sua bochecha. — Esta
costumava ser minha época favorita do dia, pouco antes do amanhecer, sabendo
que teria um dia inteiro para desfrutar. —Suspirou melancolicamente. — Agora eu
não me importo se o sol nunca aparecer.
Senhor, ele desejava que ele fosse Kirk. Ele não queria ver o retorno do ódio
aos seus olhos.
Ela virou-se sobre seu estômago e descansou o rosto em seu antebraço. Seu
sorriso cresceu. — Kirk me disse algo sobre você — disse ela.
Ele prendeu a respiração. Ela estava falando com ele, com o amanhecer
vindo ao longo do horizonte, banhando a Terra em um novo dia. Meu Deus, o que
aconteceu enquanto ele dormia? Ficou nervoso ao pensar nisso. — O que ele te
disse? — ele resmungou.
Ele não achava que seu sorriso poderia crescer ainda mais, mas cresceu. —
Eu adoraria dizer-lhe, mas prometi a ele que não faria isso.
— Fazia o que?
— Começar a falar sobre tal coisa dias depois dele ter finalizado o assunto
sobre a tal coisa.
— Eu sonhei com ele na noite passada — disse ela, com a saudade atada
através de sua voz.
Ele gostaria de poder encontrar uma mulher disposta a sonhar com ele.
***
— Deus todo poderoso! — um gêmeo gritou. — Você foi fazer o que para a
Senhora Warner?
— Nós não temos ninguém para contar —disse Joe quando subiu na roda e
olhou para dentro da carroça.
— Nossa, Sra. Warner, Clay deve gostar muito de você para fazer-te uma
coisa tão grande — disse Josh enquanto se arrastava sobre a outra roda.
Meg sentiu seu rosto quente quando Clay a olhou rapidamente antes de
mover a caixa sobre o banco.
— Não teria sido se não tivesse sido um covarde. Se tivesse ido lutar como
os outros homens por aqui, deveria ter sido morto e o relógio, assim como a
fazenda, teriam sido meus. — Ele bateu na caixa. — Eu, com certeza, não o teria
negociado por um saco de farinha.
Afastou-se, acertando tudo no caminho que ele passou até que esteve fora de
vista.
Josh pulou da roda da carroça. — Eu aposto que a caixa não é muito pesada
para eu e Joe levarmos para a casa.
— Eu também aposto que não — disse Clay conforme entregava a caixa para
os meninos. — Abram a boca. — Ele pegou as barras de salsaparrilhas do bolso e
colocou uma na boca de cada menino. Seus olhos se arregalaram quando apertaram
os lábios em torno do doce, murmurando seus agradecimentos antes de irem para a
casa. — Você ganhou isso de todos os lados, não é? — Meg perguntou em voz
baixa.
— Preciso levar os bois de volta para Austin. Depois tenho algumas tarefas
por aqui para cuidar. Acho que começarei em uma semana a partir de segunda-feira.
— Não há muito para ver em um primeiro momento. Tudo o que vou fazer é
lascar o que não preciso.
Apenas três dias haviam se passado desde que tinha olhado para o granito
vermelho do Texas, mas não conseguia tirá-lo de sua mente. Em casa, estava
apática e distraída. Queimou o jantar duas noites consecutivas.
Quando Clay terminasse o monumento, ela poderia explicar tudo para que
eles entendessem quão sábio seu plano tinha sido. Até aquele momento, no entanto,
o monumento e tudo associado a ele teria que permanecer em segredo.
Estava segura.
Nada se movia.
Fazendo caretas quando as dobradiças guincharam mais alto, ela abriu mais a
porta. Lentamente, seus olhos se acostumaram à escuridão ainda pairando no
galpão. Como se fossem cobertores de inverno, sombras cobriam tudo. Ela mal
conseguia discernir a forma do grande objeto no centro do galpão, mas era a única
coisa que importava. Parecia maior, com quatro paredes cercando-o. Ela queria
desesperadamente ver nele o que Clay viu debaixo da superfície.
Caminhou em direção a ele, bateu contra algo duro e gritou quando a dor
ricocheteou através de sua canela.
Meg ficou de pé, tocou sua parte traseira, e inclinou o queixo. — Você disse
que levaria os bois de volta para Austin. Não há nenhuma maneira daquela mula
velha de vocês poder ter chegado de volta aqui tão rapidamente.
— Você está certa sobre isso. Lucian se ofereceu para levar os bois de volta
para Austin.
— Quão generoso ele foi. Eu não esperava que ele fizesse um favor a você.
— Não acho que ele tenha considerado isso como me fazer um favor. Acho
que viu uma oportunidade de sair da fazenda por alguns dias. — Ele descruzou os
braços. — Ajuda se você abrir as janelas.
Clay afagou os meninos sobre os ombros. — Vamos lá, vamos para o outro
lado.
Ela se perguntou se ele era educado com todos os invasores ou apenas com
aqueles que o divertiam. Desejou que ele soltasse aquele sorriso que estava lutando
para segurar e acabasse com isso.
— Isso ajuda muito. — Andando na ponta dos pés, ela girou lentamente,
com os braços estendidos. — Eu quase me sinto como se estivesse do lado de fora.
Meg sentou-se no banquinho curto e ficou olhando para eles. Clay tinha o
sorriso mais bonito que ela já vira.
Seus pequenos sorrisos de diversões tinham sido uma distração. Seu sorriso
de pura alegria era devastador. Teria que prestar mais atenção às suas ações para ter
certeza de que não lhe daria ainda mais motivos para sorrir.
Já não estava certa do por que veio ou o que exatamente esperava ver.
Estreitou os olhos. O monumento estava enterrado em algum lugar dentro dessa
pedra.
Tocou a superfície áspera, ansiosa para ver Kirk novamente. Talvez Clay
estivesse tão ansioso quanto ela para ver o monumento concluído e disposto a
começar a trabalhar hoje, em vez de esperar pela segunda-feira. Afinal, os dois
estavam aqui.
Caminhou até a casa, entrou na varanda, e, sem ser notada, espiou pela porta
aberta. Clay estava agachado diante da lareira. Como se fossem suportes de livros
correspondentes, os gêmeos se agachavam em cada lado dele.
— Será que o marido da Sra. Warner matou pessoas? — perguntou um dos
gêmeos.
— Você acha que ele gostou de matar pessoas? — perguntou o outro gêmeo.
— Eu não conseguia ver nada além de suas costas. Não sabia que você tinha
alguma coisa em sua mão. Além disso, pensei que você estava referindo-se a
ferramentas de escultura. Não sabia que precisaria ter certeza de que não teria
absolutamente nada em suas mãos antes de falar com você.
— Eu não vou morrer. — Carrancudo, ele moveu o avental para longe de sua
cabeça.
— Você é muito alto. Vai ter que se abaixar para que eu possa ver — disse
Meg.
Ele abaixou a cabeça, mas não antes de Meg ver que sua provocação tinha
cortado mais profundo do que pretendia. Ela assumiu que ele não estava
incomodado pelas pessoas na área evitarem-no. Ele continuou a frequentar a igreja,
exceto que se guardava tanto quanto o tinha feito antes da guerra.
A mãe de Kirk sempre tinha usado o silêncio como sua arma quando estava
com raiva de alguém. Meg lembrava o quanto doeu à primeira vez que a mulher se
recusou a falar com ela. Teria preferido gritos ao invés do silêncio sinistro. Tinha
assumido que a dor era mais profunda porque envolvia a família.
Talvez Daniel estivesse errado. Clay não precisava ter seus punhos batendo
em seu rosto para sentir seu ódio.
— Você poderia usar a agulha e linha que Clay estava usando para concertar
o buraco na minha camisa — um dos gêmeos ofereceu.
Ele apertou sua mandíbula. — Bem. — Ele atravessou a sala, caiu em uma
cadeira de frente para a mesa, cruzou os braços sobre o peito, e sentou-se imóvel
como se tivesse se tornado uma das suas estátuas.
O gêmeo correu às pressas para uma cesta de costura ao lado de uma cadeira
e orgulhosamente pegou a agulha e linha.
Josh se mexeu sobre a mesa. — Ah, Clay, deixe a gente dar uma olhada.
— Você pode fazer a Sra. Warner ficar nervosa, e ela vai acabar costurando
a ponta da minha orelha na minha cabeça.
— Provavelmente.
Ele estava certo. Ela podia espetar a agulha um pouco mais profundo do que
o necessário, passá-la mais lento do que o habitual e prolongar seu sofrimento.
Respirou profundamente para firmar os dedos e enfiou a agulha através de sua
carne.
Ele não vacilou. Se Meg não o conhecesse, pensaria que ele tinha se
transformado em pedra.
— Deus todo poderoso! Ela enfiou a agulha diretamente em sua cabeça Clay.
Olha, Joe, todo esse sangue parece um rio vermelho que escoa através de uma
floresta de cabelo. Isso não é legal?
O menino sorriu. — Sra. Warner, você vai tomar café da manhã com a gente?
Nós teremos biscoitos de novo. — Seus olhos se encheram de alegria com a
perspectiva. — Você pode comer o do Clay.
— Ele nunca come muito, a menos que pegue um pouco de dinheiro ou cace
algo grande. Então, ele come como se tivesse dois ventres para preencher.
Meg tinha uma sensação de saber por que ele comia bem, quando a comida
era abundante. O homem provavelmente não comia nada quando pouco enfeitava
sua mesa. Ela teve um impulso irracional de golpear-lhe na cabeça.
— Eu agradeço.
— Eu não poderia ver você sangrar até a morte diante de mim. Quem iria
fazer o meu monumento?
— Aposto que ela pode fazer bons biscoitos, Clay. Vai deixá-la fazer?
Meg sorriu para os gêmeos. — Não tenho certeza se me lembro como fazer
apenas dois biscoitos.
***
Clay nunca tinha conhecido uma tortura que pudesse ser tão doce.
Os dedos de Meg tocando levemente seu couro cabeludo tinha enviado calor
que fluiu através de seu corpo, descendo até suas botas.
Desejou que ela tivesse levado mais tempo em vez de se apressar com o
trabalho, mas sabia que ela não queria tocá-lo por mais tempo do que o necessário.
Ele bateu na pedra. Ele deveria ter prestado atenção em Josh, não nas curvas
de Meg. O menino tinha uma tendência a falar demais, contando seus pensamentos
e o de todos os outros. Como resultado, dissera a Meg muito mais do que Clay teria
gostado. Quantos biscoitos ele cozinhava não era da sua maldita conta.
Uma dúzia de vezes pegou suas ferramentas com as mãos firmes. Tocou o
cinzel, então a rocha, estudando o ângulo, determinando como a pedra iria reagir ao
assalto. Podia ver cada movimento em sua mente e ficara tentado a começar a
desbastar as partes indesejadas da pedra.
E agora as palmas de suas mãos suavam tanto que ele não achava que seria
capaz de obter uma boa aderência em suas ferramentas.
Abrindo os olhos, olhou através dos campos. Que ela situasse seu julgamento
nele não o incomodava. Que ela pudesse situar seu julgamento nos seus esforços
dentro do galpão incomodava-o.
— Bicarbonato?
Ele enfiou o resto do biscoito na boca. Não contando o que mais ele não
tinha colocado na massa, que supunha que deveria ter feito.
Ele colocou o prato de lado. — Estava pensando sobre isso, já que você está
aqui. — Dispersou uma pilha de papéis sobre a mesa. — Tenho estudado a rocha
desde que a trouxe para casa, tentando vê-la de todos os lados, a partir dos cantos, a
partir do topo, o fundo.
Ela pegou um pedaço de papel. — E você acha que isso é como se parece no
interior?
— Eu sei. Kirk me disse que você não olha para o mundo como todo mundo.
Ele disse que quando olhou para mim, viu uma menina bonita, mas quando você
olhou para mim, viu linhas, curvas e ângulos que eram bonitos. Você olha para as
coisas tão intensamente, porque você tenta descobrir exatamente o que é que as faz
parecer da maneira que são.
Ele baixou o olhar para o chão. — Não tive a intenção de ofendê-la assim...
ou de qualquer outra forma.
Ela balançou a cabeça e pegou o primeiro desenho que ele tinha esboçado
para ela. — Você se lembra de tudo porque os estuda. Assim é exatamente como
Kirk me pareceu da última vez que o vi. — Ela sustentou seu olhar.
Clay sentiu como se um cinzel tivesse atravessado seu coração. Viu seu
queixo tremer e ele não podia lhe contar a verdade.
— Você o viu quando ele lhe entregou as cartas? Como é que ele se parecia,
então?
Ele passou os dedos pelos cabelos, fazendo uma careta quando bateu no corte
que ela tinha reparado. — Cansado. Ele parecia cansado.
— Estava magro?
Suas mãos apertaram seu projeto sobre o papel até os nós dos dedos ficarem
brancos. — Será que ele... ele ainda acreditava na Causa?
Clay assentiu. Ele não queria machucar Meg, mas as palavras de Kirk
ecoavam em sua mente.
Você estava certo. Não há nenhuma glória em estar na guerra. Eu só quero
ir para casa, mas os malditos ianques não nos deixam.
— Você acha que ele estava com medo de morrer? Quero dizer, quando a
morte chegou, você acha que ele teve arrependimentos?
Lágrimas correram de seus olhos e Clay se perguntou como ele poderia ter
dito algo tão estúpido. Ele quis tranquilizá-la, mas não sabia nada sobre o tipo de
palavras que as mulheres queriam ouvir. As lágrimas se derramaram sobre suas
bochechas e ele pensou que iria se afogar nelas. Deu um passo em direção a ela,
hesitou, depois saiu do local.
Chorou com uma força que causou dor a seu peito e ombros. Havia crescido
barba em Kirk e ela nunca tinha visto.
Meg aceitou a oferta e usou a parte mais limpa para enxugar as lágrimas do
rosto. Ela forçou um sorriso trêmulo quando entregou o pano de volta para ele.
— Obrigada.
Balançando a cabeça, ele enfiou a mão no bolso — Nós não temos muita
experiência em dar conforto, mas quando eu estou me sentindo triste por não ter
mãe, Clay me faz fechar os olhos e pensar um pouco sobre ela. Ele diz que há um
toque do céu em nossos corações, então nossa mãe sempre está com a gente,
mesmo que não possamos vê-la.
— Sim, senhora, mas ele não pode fazer biscoitos que valham a pena.
***
Ele tinha as mais feias malditas mãos de todo o Estado. Quando era um
menino, elas tinham sido grandes demais para seus braços magros e ele sempre se
sentira como um cachorro vira-lata esperando que crescessem suas patas grandes.
Sempre que possível, ele as manteve socadas profundamente em seus bolsos.
Agora, tinha crescido, mas suas mãos ainda pareciam muito grandes. As
palmas calejadas pelos anos de trabalho sobre a rocha abrasiva. Quando ele as
relaxava, as veias e músculos continuavam a manter-se como uma cadeia de
montanhas sem graça.
Mas elas eram mais feias quando ele esculpia. Quando segurava ferramentas
e as apertava ainda mais, tudo em suas mãos e antebraços se tencionavam
visivelmente com seu esforço.
Não podia imaginar qualquer mulher gostando de mãos tão grandes ou tão
ásperas como as suas tocando-as. Sabia que suas mãos repeliam Meg, não só por
causa da maneira como pareciam, mas por causa do que elas não tinham feito.
Viu seus pequenos pés entrarem e levantou o olhar para o dela. — Você está
bem?
Ela assentiu com a cabeça. — Obrigada por enviar os gêmeos para mim.
— Eu acho que é porque as crianças não pesam suas palavras antes de dizê-
las. — Ele colocou a faca no toco e se levantou. — Acho que seria melhor se eu
esperasse até amanhã para começar a trabalhar no monumento.
Ela enxugou uma lágrima do rosto. — Tudo bem, vou voltar amanhã.
Ele estendeu a escultura de madeira em direção a ela. — Assim foi como seu
marido parecia no dia em que me disse que ia se casar com você. Pensei que
poderia querer isso.
Ela tomou a oferta e a estudou. — Ele não poderia ter mais do que doze.
— Não é um presente. É apenas algo que esculpi e agora não tenho nenhum
uso para ele. Se você não quiser, pode jogá-lo fora. Não faz diferença para mim.
— Sim, senhora.
Ela deslizou seus dedos sobre as pequenas feições que ele tinha esculpido.
Então estendeu-o em direção a ele. — Eu não posso tê-lo.
— Por que não?
— Porque não somos amigos. Nunca seremos amigos. Se eu aceitar isso, eu...
— Ela balançou a cabeça. — Eu não sei. Eu só sei que não posso tê-lo.
Enfiou as mãos nos bolsos e, encontrando seu frio olhar azul, ele disse
baixinho: — Isso me incomoda muito.
***
Meg olhou para a terra onde os filhos e filhas de Mama Warner outrora
trabalharam e cultivos tinham florescido. Um por um, seus filhos tinham partido
para construir suas próprias casas e colher os seus próprios sonhos. Em abundância,
as flores silvestres tinham recuperado os campos parados.
Pouco depois de seu retorno de Austin, com uma forte necessidade de contar
a alguém sobre o granito e o monumento, confidenciara à Mama Warner. Sabia que
a avó de Kirk não julgaria suas ações e iria entender seus motivos.
Ela viera ali hoje para saborear e partilhar a sua primeira vitória, mas só
compartilhara a escultura de Kirk que Clay lhe dera. Não sabia por que, mas não
podia se gabar sobre a dor que tinha visto refletida nos olhos de Clay quando ele
respondeu à sua pergunta.
Baixando o olhar, tocou a pétala de uma flor delicada que Mama Warner
tinha plantada em uma caixa de madeira. Kirk tinha feito a caixa para sua avó
quando tinha dez anos. Clay tinha esculpido as flores nos galhos, modelado a
madeira e pintado elas de azul.
Em todo lugar que Meg olhava, topava com suas vidas, entrelaçadas.
A mulher mais velha tocou um dedo nodoso no rosto de Meg. — Ah, criança,
lembranças não me chateiam. Elas são tudo o que tenho em meus anos de inverno
para me manter aquecida. — Ela arrastou o dedo ao longo da escultura de Kirk. —
Eu quase posso ver suas sardas. Kirk as odiava e Clayton sabia disso, mas ainda
3
N.T.: Planta com flores azuis.
colocou a sombra delas aqui. Ele sempre esculpe o que ele vê. Honestidade é uma
falha naquele menino. Você notou as sardas?
Meg sorriu. — Não, senhora, eu acho que eu não olhei tão de perto.
— Eu tento não olhar para ele. Eu o odeio e tudo o que ele representa.
— Eu só aceitei porque ele não o queria e achei que você gostaria de tê-lo.
Eu certamente não quero.
De pé, Meg levantou as mãos para enfatizar seu ponto — Ele fez isso. Eu
não posso tê-lo.
Meg foi até a janela e olhou para as flores que a natureza havia criado,
tentando ignorar as flores que um menino tinha feito. — Isso é diferente. O
monumento não é para mim especificamente. É para servir como punição para ele,
e vai servir como um memorial para os outros.
— Eu diria que Kirk tinha uns doze anos, quando era assim — Mama
Warner disse.
— Ele? Será que nem mesmo pode dizer o nome dele para mim?
— Vai vê-lo trabalhar em silêncio? Às vezes, o silêncio pode ser tão alto.
Lembra-se de como chorou quando a mãe de Kirk não quis falar com você?
— É por isso que eu sei que vai ser um castigo adicional para ele.
— Sim, senhora. Eram todos tão jovens, tão corajosos, cheios de convicção.
Eles foram homens de honra. Ele os traiu quando não os apoiou.
— E você acha que ele vai reconhecer suas falhas quando trabalhar sobre
este monumento?
— Se ele não o fizer, sofrerá no momento em que ele esculpir cada nome na
pedra. Ele terá que enfrentar a memória de cada homem de novo.
— Então faremos uma homenagem a todos aqueles que deram suas vidas
pela Causa.
— Um tributo feito por vingança. Vai ser interessante ver se este monumento
se tornará o que você imagina; ver o quão profundamente sua punição será cortada
em sua alma. Você vai me trazer a minha caixa?
Meg sabia da caixa. Ela ficava em um canto ao lado da janela. Kirk a tinha
feito, usando cedro. O cheiro circulou Meg quando empurrou a caixa pelo chão até
a cadeira de balanço.
Seus ralos cabelos brancos caíram sobre seu rosto e ao longo de seus ombros
como se fossem rendas delicadas. Ela levantou a tampa e cuidadosamente colocou
a escultura de Kirk dentro da caixa. — Chegará um dia em que te direi que leve
essa caixa para casa com você. Você fará isso sem me questionar. Esta caixa e as
coisas dentro dela são para você.
— Se Kirk não tivesse morrido, esta caixa teria ido para ele. Ele a amava.
Ele quer que você a tenha. Eu quero que você a tenha e vou pedir-lhe para levá-la
antes que eu morra, para que meus filhos não se preocupem em brigar por isso. Vou
estar deixando-os por aqui para lutar. Eles são Texanos e Texanos certamente
desfrutam de suas lutas.
— Não podemos orientar a conversa para longe de Clayton. Por que isso? O
que ele disse para fazer você chorar?
Meg sentiu as lágrimas frescas bem dentro de seus olhos. — Ele me disse
que tinha crescido uma barba em Kirk. — Ela encostou o rosto contra o joelho de
Mama Warner. — Isso doeu. Doeu saber que ele viu Kirk depois de mim e sabe
coisas sobre Kirk que eu não sei.
— Eu o odeio ainda mais porque suas memórias de Kirk são mais frescas do
que as minhas.
— Memórias não envelhecem, Meg.
Meg estava sentada diante de Daniel no final da mesa, mais próxima de onde
sua mãe tinha se sentado, nos treze anos desde a morte de sua mãe, apenas a poeira
e a carícia suave de um pano tinham tocado a cadeira de sua mãe.
Daniel moveu o bacon pelo prato antes de levantar seu olhar azul ao dela. —
Um pouco queimado, não é, Meg?
Ela começou a mexer em seu prato. Tinha levantado uma hora mais cedo e
pensava ter sido silenciosa enquanto se movia pela casa. — Eu queria terminar
minhas tarefas cedo. Pensei em ir visitar Mama Warner hoje.
Seu pai se inclinou para trás, mastigando seu alimento tão intensamente
quanto ele parecia estar estudando-a. — Você tem gastado um monte de tempo
com Mama Warner à tarde.
— Ela está envelhecendo. Não estou certa de que ela vai ficar com a gente
por muito mais tempo e eu quero recolher um pouco de sua sabedoria.
Balançando a cabeça, seu pai voltou para a sua refeição. Com dedos trêmulos,
Meg pegou o garfo. Não gostava de mentir para o pai, mas temia que ele fosse
pegar seu rifle, se lhe dissesse que estava planejando passar o dia na companhia de
Clay.
— Quem iria se casar com ela? — Daniel perguntou. — Ela não quer se
casar com o Reverendo Baxter. Ele nem sequer se preocupou mais em convidar-se
para o jantar. Todos os outros homens por aqui são ou anos mais velho ou anos
mais jovem, exceto pelo covarde e, caramba, eu sei que Meg não está interessada
nele, não do jeito que ela olha para ele durante o culto na igreja. Estou surpreso que
ele não explodiu em chamas.
A mesa balançou quando Thomas bateu com o punho sobre ela. — Por Deus,
eu não quero falar daquele homem na minha casa. — Ele olhou para as cadeiras
vazias em cada lado dele, os maxilares cerrados. — Ele virou as costas para os
meus filhos. Por Deus, deveria tê-lo enforcado no dia que nossos filhos partiram.
— Levantando-se de sua cadeira, ele saiu da casa, a porta batendo em seu rastro.
— Poderia fazê-lo sair desta área. Toda vez que há um bom vento, traz o
cheiro do seu medo soprando através dos campos.
— Será que ele pôs alcatrão e penas em você quando ele descobriu?
— E você ainda se sente culpado por isso, porque entendeu o que tirou de
Michael. O covarde da cidade precisa entender que ele traiu o meu marido e nossos
irmãos para que possa ter o conhecimento e a dor com ele para o resto de sua vida.
— Como podemos fazê-lo entender isso? Eu, com certeza, não vou dar-lhe
um olhar de filhote de cachorro.
Olhando para o seu rosto sério, ela estava tentada a dizer-lhe sobre o
monumento, mas Daniel ainda não tinha adquirido a paciência que vinha com a
idade. Não achava que ele iria entender os motivos por trás do monumento. Não
queria correr o risco de que ele ou seu pai fossem tentar impedi-la de assistir ao
trabalho de Clay. — Eu não sei — disse ela em voz baixa. — Mas tenho certeza de
que há um jeito.
***
Meg sentiu a dor familiar em seu coração quando assistiu à corrida dos
gêmeos em direção a ela, cada um tentando se distanciar do outro. Ela não sabia
como poderia perder algo que nunca tinha tido, mas perdeu ter seus próprios filhos.
Desmontando, sorriu e esperou por eles chegarem até ela.
— Bom dia, Sra. Warner! — clamaram enquanto corriam atrás dela, a
circulavam e galopavam de volta, sem fôlego de seus esforços.
— Sim, senhora. Ele certamente o fez. Claro, ele provavelmente vai deixar
de comer um se Lucian chegar em casa.
— Sim, senhora. Você sabe o que Clay fez? — Ela balançou a cabeça.
— Apenas se levantou do chão, limpou o sangue de sua boca e perguntou a
Lucian se ele se sentia melhor.
— Não, senhora. Achamos que ele se sentiu pior. Ele andou ao redor do
celeiro durante todo o dia. Então Clay perguntou se ele queria ficar longe por
alguns dias. Lucian saltou sobre essa ideia como uma mosca em um estrume de
vaca e lá foi ele com os bois. — Ele deu de ombros. — Mas não sei se ele voltará.
— Tenho certeza que ele vai voltar — disse ela, tentando incutir convicção
em suas palavras quando não estava nada certa.
— Nós certamente esperamos que sim porque vamos precisar dele na hora da
colheita. Nós plantamos uma quantidade para render este ano. Lucian plantava o
suficiente para nós comermos porque não temos nenhuma ajuda com os campos.
Mas Clay disse que se todos nós trabalharmos um pouco mais, poderíamos ter
algum dinheiro extra vendendo o excedente. Então, nós plantamos alguns hectares
extras. Quando colhermos, vamos ficar quase ricos e teremos biscoitos todas as
manhãs.
Meg olhou por sobre os campos sulcados. A área cultivada dos Holland
sempre fora pequena em comparação com a de todos os outros. O pai de Clay tinha
mais interesse em pedra do que no solo.
O gêmeo falante parou de andar e a comitiva parou. Ele inclinou o rosto para
trás para que pudesse encontrar o olhar interrogativo de Meg. — Você não vai dizer
a Clay que eu praguejei ontem, quando eu estava falando sobre seus biscoitos, não
é? Ele diz que não podemos praguejar até que tenhamos dezesseis anos. Se nós
praguejarmos antes, ele vai lavar nossas bocas com sabão. E nunca deveríamos
praguejar na frente de uma senhora. Ontem, aquele 'maldito' apenas saiu da minha
boca e, então, eu não poderia engoli-lo de volta.
— Bem, se você decidir que tem que dizer a ele, basta lembrar que eu sou
Joe.
— Eu sou. Você pode até mesmo contar minhas sardas. Você vai ver que eu
tenho mais.
Ele se esticou para que ficasse na ponta dos dedos dos pés descalços e ela
pôde ver as sardas mais claramente. A partir do canto do olho, ela assistiu o outro
gêmeo lutar com seu dilema: provar que ele era Joe sem confessar ter a maioria das
sardas.
— Jura de coração?
— Veja, Joe. Eu sabia que ela não gostaria que sua boca fosse lavada com
sabão.
— E se você estivesse errado? Você foi o único que disse 'maldito', não eu.
— o gêmeo mais silencioso afirmou.
— Mas eu não estava errado. Vamos, Sra. Warner. Clay está te esperando no
galpão. Ele está lá desde o amanhecer. Acho que pensou que você viria cedo
novamente esta manhã.
Ela queria estar aqui de madrugada, mas esperou até que seu pai e irmão
tivessem partido para os campos.
Eles raramente voltavam para casa antes do anoitecer, portanto ela não
estava preocupada com eles perceberem sua ausência durante o dia. — Ele
começou a cinzelar a pedra?
— Não, minha senhora, mas eu acho que ele esteve tentado. Ele continua
pegando suas ferramentas, mas, em seguida, apenas as coloca de volta para baixo.
Clay estava ao lado da mesa baixa. O vento bagunçou seu cabelo, arrastando-
o ao outro lado da gola de sua camisa de flanela gasta. Ele limpou as mãos em suas
calças. — Bom dia.
Tocou as ferramentas.
Ela cruzou os braços sob os seios. O homem deve ter tido aulas na sua mula
em movimento.
Com passos largos, ele deixou rapidamente o galpão. Estupefata, Meg olhou
ao redor. Ela poderia ter sentado no banquinho vazio situado no canto.
— Por quê?
— Bem.
Ele foi para fora de novo, deixando Meg a olhar para a porta. Ela enxugou as
palmas das mãos suadas ao longo de sua saia.
Clay entrou carregando um pedaço de pano vermelho. — Este foi do meu pai.
Está limpo. Você pode amarrá-lo em torno de seu rosto. Cubra seu nariz e boca,
para que não respire toda a poeira.
— Ao cometer erros. — Ele limpou as mãos na calça. — Você está com sede?
Posso pegar-lhe um pouco de água do poço.
— Avisarei.
Ele tocou o cinzel maior. — Acho que vou beber um copo de água antes de
começar.
Manteve sua cabeça submersa até que achou que seus pulmões explodiriam
por falta de ar. Sacudiu a cabeça para fora, respirou fundo e jogou a cabeça para
trás, passando os dedos pelo cabelo, cuidando de evitar o local que ela havia
costurado no dia anterior. Passou as mãos sobre o rosto, se perguntando quanto
tempo levaria para o cabelo secar para que não se parecesse com um gato afogado.
Ainda não tinha considerado que teria que explicar...
Ela levantou um dedo para silenciar o seu protesto. — Você não tem
nenhuma ferramenta em suas mãos.
— Mas você está acostumado a esculpir granito. Você sabe como a rocha vai
responder ao seu toque.
Ela olhou para suas mãos e ele lutou contra enfiá-las nos bolsos. Ele não
poderia trabalhar com as mãos nos bolsos e nem usando luvas. Ela passaria muito
tempo olhando para suas feias mãos grandes. Quanto mais cedo aceitasse isso,
melhor.
Ela levantou os olhos para ele. — Como você sabe por onde começar?
Ele sorriu. — Sim, acho que sim, embora isso não soe muito excitante.
— Eu não entendo como você pode trabalhar em toda a coisa quando é tão
grande. Eu pensei que você fosse trabalhar com ele em partes.
— Você os manteve?
— Onde estão?
— Papai o usava para descartar as pedras quando terminava com elas, então,
dessa forma, não comecei com as de melhor qualidade. — Ele se ajoelhou na
grama alta e moveu as ervas daninhas para o lado. — Esta foi à primeira coisa que
eu já tentei esculpir. Acho que eu tinha uns oito anos — Olhou para ela. — O que
você acha que é?
Ela esperava que um menino de oito anos de idade não estivesse cravado
dentro dele esperando que ela adivinhasse o que ele havia criado. Não se importava
se feriria o homem, mas não queria machucar a criança. Fez uma careta. — Uma
nuvem?
Ele abriu um largo sorriso. — Uma tartaruga. Foi uma ideia boa para
começar porque é plana e ficaria no chão, então eu não tinha que me preocupar
com apoiar qualquer peso.
Ele descreveu a orelha com os dedos enquanto falava. Mesmo quando não
tinha ferramentas em suas mãos, esculpia as imagens com as mãos. Ela poderia
imaginar um coelho alerta sentado no campo, ouvindo o som de um predador.
Ele fechou o polegar e o dedo indicador em um círculo ao redor da base da
orelha. — Mas eu me empolguei com a escultura e fiz esta parte muito estreita. Não
poderia suportar o peso da orelha acima dela. É um som ensurdecedor quando você
ouve o estalo da pedra e não está segurando ferramentas.
Meg não soube por que riu. Talvez tenha sido a imagem de duas pessoas e
um cavalo sem orelhas, ou talvez fosse o jeito de Clay lutar para parecer sério. Ele
sorriu, e ela balançou a cabeça. — Estou falando sério. Parece que o monumento
poderia desmoronar muito facilmente. Mas como o seu marido não tinha orelhas
grandes, acho que nós faremos dar tudo certo.
— Você está certa. As pernas são o problema. — Com as duas mãos, ele
juntou as pontas de seus dedos para formar um campanário e espalhar as palmas. —
Não vai ser aparente, mas o monumento será parecido com uma pirâmide de todos
os lados. Vai ser estreito e mais detalhado no topo. Quando chegar perto da base,
vou deixar mais pedra no lugar. Não planejo escavar a área entre as patas traseiras
do cavalo. Vou manter a pedra lá para que ela possa atuar como apoio para o peso
acima.
— Nenhum, desde que você não tenha grandes... — seu olhar esvoaçou aos
seus seios pouco antes dele desviar os olhos e ficar vermelho — orelhas.
Ele pegou a orelha do coelho e jogou-a para o lado. Ela esfregou a tartaruga.
Ela pensou que ele ia saltar algumas pedras. Ele passeou ao redor até que
localizou uma pequena pedra. Jogou-a na direção das árvores. — Suas orelhas são
perfeitas. Sua forma...
Ela o viu lutar para falar sem desenhar imagens dela no ar com as mãos.
Suas bochechas ficaram tão vermelhas, que Meg se surpreendeu por elas não
se acenderem em chamas.
— Não, eu não acho que elas são muito pequenas.
— Então, você não vai ter nenhum problema para entalhar minhas... orelhas?
Ele encontrou seu olhar. — Eu vou fazer de tudo ao meu alcance para
garantir que isso não aconteça.
Ela estudou a abundância de pedra. Cada peça era imperfeita: um perfil caído
sem nariz, um cachorro sem rabo. No entanto, cada uma estabelecia uma
homenagem silenciosa à determinação. Cada uma tinha fornecido uma lição, de
modo que nenhuma era verdadeiramente falha.
— O homem não tem o mesmo sonho? Por que você não foi?
— O momento não era certo. A guerra estava no ar. — Ele deu de ombros.
— Eu tive essa ideia estúpida de que, se eu partisse, as pessoas iriam pensar que eu
tinha ido para evitar a guerra. Pensando que não iriam me receber de volta quando
eu estivesse pronto para voltar. Pensando que se eu ficasse, eles teriam, pelo menos,
respeitado a decisão que eu tomei. — Ele soltou uma risada sem alegria. — Acho
que os últimos anos não saíram da maneira como qualquer um de nós pensava que
seria. — Ele parou. — Vamos ver se eu posso, pelo menos, fazer justiça a este
monumento que você quer.
Conforme ela se levantou e seguiu-o para fora do campo, Meg percebeu que
ele tinha mostrado a ela mais do que um cemitério de pedras quebradas e um lugar
onde suas ideias tinham morrido. Ele havia mostrado a ela um lugar de sonhos
desfeitos.
Ela observou como Clay andava com mais confiança para o galpão. Seu
cemitério de pedra não era muito diferente de outros cemitérios. Ela sempre
ganhava força de suas visitas ao local de descanso de sua mãe.
Ele amarrou o lenço sobre o nariz e a boca, caminhou até a mesa, passou os
dedos em torno de um grande cinzel, e ergueu um martelo. — Acho que vou
começar. Melhor você cobrir o nariz e a boca.
Ele passou a mão sobre o canto. Então, pousou seu olhar sobre ela. — Agora
é quando você tem que ficar quieta.
Meg baixou o lenço e estudou a rocha que mal cobria a palma de sua mão. —
É tão pequeno. Eu esperava que você tirasse pedaços enormes.
— Uma vez que eu o tiro, não posso colocá-lo novamente, então só tiro um
pouco de cada vez.
— Anos!
Ele franziu a testa. — Quanto tempo você achou que seria necessário?
— Você quer me dizer o motivo real pelo qual você pediu para fazer este
monumento?
— A guerra enfraqueceu o Sul — disse ele em voz baixa. — Não deixe que
ela enfraqueça você.
— Ah, então estar na minha companhia por um tempo tão longo é o que está
incomodando você. — Ele levantou seu corpo e caminhou até a pedra. — É um
pedaço de pedra terrivelmente grande. Espero que possa terminar em dois anos. —
Olhou para ela.
O brilho provocante deixou seus olhos. O meio sorriso se foi. — Para você,
Sra. Warner, eu vou terminá-lo em um ano.
***
Clay afundou na água quente. O vapor subiu e aspergiu em seu rosto. Ele era
um idiota.
A rigidez já estava se instalando em seu pescoço e ombros, e temia que
pioraria quando acordasse de manhã.
Esta noite era uma exceção. Cuidar do cavalo de Meg tinha levado os
gêmeos para fora e eles dormiram cedo. Lucian não havia retornado de Austin.
Clay decidiu cuidar de si mesmo. Além disso, precisava comemorar. Meg Warner
lhe provocou.
Senhor, estava tão envergonhado com o que quase dissera, que quase perdera
o fato de que ela estava brincando com ele. Achou que nunca seria capaz de olhar
para suas orelhas ou suas curvas perfeitamente em forma novamente sem ficar
vermelho.
Supôs que, desde que ela tinha sido casada, sabia como a mente de um
homem funcionava. Supôs que, desde que ela tinha sido casada com Kirk, estaria
confortável com a forma como a mente de um homem funcionava.
Ela queria mais do que o monumento dele. Daquilo, estava certo. Supôs que
ela diria a ele quando estivesse bem e pronta. Até então, aproveitaria os poucos
momentos de felicidade que roubava dela, chamando-a de Meg quando ela estava
muito chateada para perceber; provocá-la até que ela brincasse de volta; estar perto
o suficiente para tocá-la.
— Quero dizer, você está fazendo o quê de volta aqui hoje à noite?
— É assunto seu?
— Então por que não sai para que eu possa lavar-me e sair da água?
— Eu não peguei um rifle e matei homens se é isso que você quer dizer.
Tanta coisa havia acontecido, e ele queria esquecer a maior parte delas —
Eles me mantiveram prisioneiro em um forte, por algum tempo, fazendo qualquer
coisa que os oficiais consideravam "trabalho duro" para encher os dias e as noites.
Lucian estudou o chão entre seus pés. — Você acha que eles teriam deixado
você voltar para casa mais cedo se eu tivesse escrito a eles que mamãe e papai
tinham morrido?
— Provavelmente não.
Lucian saiu da cadeira. — Eu nem mesmo sou como você. Não sou um
covarde. — Ele balançou um braço no ar, como se estivesse perdido em uma
caverna escura e não conseguisse encontrar o seu caminho para a luz do sol. —
Inferno, você nem mesmo se defendeu! Você poderia pelo menos ter me atingido.
Clay gemeu quando os gêmeos abriram a porta do quarto e olharam para fora.
Os meninos saíram do quarto para a banheira. — Por que diabos você está
tomando banho? — perguntou Josh. — Não é sábado.
— Nós nos sentimos sujos o tempo todo. Não há nenhuma razão para se
banhar. As pessoas se banham quando elas querem parecer bem para alguém. Está
se refrescando pela Sra. Warner?
— Disse que estava se sentindo sujo? — perguntou Clay.
— Porque se você estiver, vou te colocar nessa água assim que eu sair.
— Vim para casa para dormir na minha cama — Lucian rosnou. — Por Deus,
eu vou dormir lá.
Clay esperou até que o silêncio enchesse a casa. A água esfriara e o fogo
morrera na lareira antes que ele se aventurasse a sair da banheira.
Seu corpo magro emanava uma força controlada quando ele repetidamente
balançava o martelo e ajustava o ângulo do cinzel.
Apenas seus olhos castanhos eram visíveis acima do lenço vermelho. Seu
olhar nunca se desviava do cinzel. Suas sobrancelhas grossas, escuras, se uniam
acima da ponta do nariz para formar um sulco profundo em sua testa.
Ele ignorava o suor escorrendo ao longo de sua têmpora. Sua atenção estava
focada exclusivamente na pedra e nas ferramentas que ele manejava com a perícia
de um atirador.
Assim como o orvalho da manhã se reunia no trevo, gotas de umidade
revestiam a parte de trás do seu pescoço. Ela imaginou que cobriria a garganta
também, mas o lenço a impedia de ver se o suor se reunia na base de sua garganta.
Ela observou como manchas molhadas apareciam em sua camisa.
Calor permeava o galpão. Mesmo com as janelas abertas e uma leve brisa
soprando, o ar ainda estava quente. Meg pressionou sua bandana contra o lábio
superior para enxugar a umidade que fazia cócegas em seu rosto.
Mas, além disso, queria ver todo o seu corpo tenso, tomado pela força que
era tão evidente em suas mãos e antebraços. Teve a impressão de que seu ofício
tinha cuidadosamente moldado todo o seu corpo ao longo dos anos, até que ele
esteve tão finamente temperado como suas ferramentas.
Sua camisa pendia de seus ombros, as calças eram muito curtas. Ele se
tornara mais alto e magro desde o dia em que ele ficara na periferia da cidade,
observando seus amigos irem embora. No entanto, suas roupas não conseguiam
esconder a intensidade com a qual trabalhava. Dos cabelos brancos nas têmporas
até as solas gastas em suas botas, ele entregava-se ao que estava fazendo: era
apenas uma extensão de suas ferramentas, usando sua mente, sua imaginação, e
todos os músculos que possuía para levar sua arte até a natureza e moldá-la com
seu feito.
Às vezes, ela pensava que poderia ter a sensação de perda quando ele
finalmente completasse a estátua. Não estava completamente certa de que o
monumento acabado poderia fazer com que as emoções que sentia, quando assistia
a superfície da pedra se revelar, acabassem.
O som de metal contra metal cessou. Os sulcos em sua testa diminuíram e ele
puxou para baixo a bandana. Ele respirou fundo e tocou seus dedos na parte que
permaneceu depois de seus últimos esforços.
Ela nunca poderia dizer se ele estava satisfeito com o progresso que estava
fazendo. Ele desceu do banquinho e caminhou até a mesa baixa onde mantinha um
balde de água.
Cada pergunta que Meg pensou em fazer, escapou de sua mente. Ela puxou a
bandana para baixo, levantou-se da cadeira e subiu ao banco para que pudesse olhar
atentamente a silhueta. — Esta será a cabeça de Kirk, não é? — Virou a cabeça
para encontrar o olhar de Clay. — Se você estiver fazendo dessa silhueta o cavalo,
este tem a intenção de ser Kirk. Estou certa?
Ela voltou sua atenção para a pedra, e Clay viu seus dedos tocarem a pedra
com reverência.
— Não vai ser tão grande quando eu terminar. Eu gosto de deixar muita
pedra para trabalhar.
A cada dia que passava, ele parava de trabalhar mais vezes apenas para que
pudesse vê-la saltar dessa cadeira, subir naquele banco e tocar a pedra.
— Não, senhora.
Ela não gostou de sua resposta. Ele podia dizer pela rápida batida de seu pé,
que Kirk o tinha advertido 'Quando seu pé começa a bater, vou para as montanhas
até que ela esfrie.'
Não achou que ela estivesse com raiva, apenas frustrada. Nos últimos dois
meses, desde que ela começara o projeto, soube que sua paciência excedia em
muito a dela.
Ela parou de bater o pé e ergueu o queixo. — Não vejo por que você não
pode trabalhar em seu rosto. Você sabe que este é o seu rosto. Seria bom ir em
frente e concluí-lo.
Lentamente, ele balançou a cabeça. — Eu admito que estou tentado, mas sei
que preciso obter todas as sombras em forma antes de começar a trabalhar nos
detalhes. Quando estou trabalhando as formas, tenho que manter todo o
monumento na minha cabeça, à relação de cada peça com a outra. Não quero
perder esse sentimento antes que eu tenha tudo cortado.
— Quando você está fazendo uma colcha de retalhos, você começa a bordar
assim que você termina de costurar o primeiro bloco?
Ela mostrou a língua, e Clay riu. A ação a fez parecer tão jovem, quase como
a menina que ela tinha sido uma vez.
Pegando suas ferramentas, ele caminhou até a pedra. — Tenho que criar o
cavalo e cavaleiro da memória, mas a mulher... — Ele olhou para ela e sorriu —
Será muito mais fácil esculpi-la porque eu tenho uma modelo. Se você estiver
disposta.
Seu rosto se ruborizou. — Vai começar a trabalhar em mim? Mas você não
terminou o cavalo e cavaleiro.
— Fique onde eu possa vê-la e finja que está segurando uma bandeira.
Ela avançou mais e Clay esfregou os olhos. Eles ficariam nisso até a noite.
Ele desceu do banquinho e desenhou um X no chão perto de seus pés — Fique aqui.
Pisou no banco e olhou para ela. — Agora, levante os braços para que suas
mãos estejam um pouco abaixo de seu queixo.
— Tudo bem, eu preciso que você vire um pouco para a esquerda. Um pouco
mais. Um pouco mais. Perfeito.
Ele apontou para a silhueta que ela tinha identificado como a cabeça de Kirk.
— É para que ele possa ver melhor as suas orelhas.
— Estou pronta.
Se Deus lhe tivesse dado um pedaço de carne e lhe dissesse para esculpi-lo
em qualquer forma que ele quisesse, teria esculpido-o para que se parecesse
exatamente como Meg: com sua cintura fina, os quadris estreitos e as pequenas...
orelhas.
Limpou as palmas das mãos suadas na calça. — Você vai lascar a pedra? —
Ela perguntou quando pousou seu olhar sobre ele.
— Seu pensamento parece ser um pouco mais lento do que a sua memória.
Ele pulou para fora do banco e colocou suas ferramentas de lado. — Vou me
certificar de que ele não entre. — Passou por ela, resistindo à vontade de sacudi-la
e perguntar que diferença faria se as pessoas descobrissem que ela falava com ele.
Inferno, ela fazia mais do que falar com ele. Às vezes, suspeitava que ela realmente
gostava de sua companhia. Ele era um idiota.
Ele deu um passo para fora e apertou os olhos contra a luz do sol. — Boa
tarde.
Tom enxugou os olhos. — Nosso bebê morreu. O Dr. Martin disse que ela
tinha nascido cedo demais. Não houve nada que ele pudesse fazer por ela. Sally não
parou de chorar desde então. Ela quer uma lápide adequada, mas seu pai disse que
se eu pedisse a você, ele iria quebrá-la. É um inferno quando o ódio de um homem
por outro é maior do que o seu amor por seu neto. — Ele enxugou os olhos
novamente. — De qualquer forma, eu estava tentando fazer uma lápide, mas Sally
quer palavras especiais sobre ela, senão nada de ficar em nosso quarto. Pensei que
talvez você pudesse me mostrar como entalhar as palavras neste pedaço aqui, para
que eu não ficasse sem quarto.
Com a mão trêmula, Tom enfiou a mão no bolso e tirou um pedaço de papel
amassado. — Ela quer 'Aqui jaz o broto mais doce de esperança que nunca nos foi
dado.' — O rosto do jovem ficou vermelho quando ele encontrou o olhar de Clay.
— Eu não sei de onde Sally tirou isso, mas é o que ela quer.
— Meu pai não recebeu dinheiro pelas lápides que fez para crianças. Nós
não vamos cobrar. Quando é que ela deve ser enterrada?
Clay olhou por cima do ombro. — Não seria um vizinho muito bom se eu
não tivesse dito, não é? — Entrando no galpão, ele enfiou o papel no bolso.
— Tudo está uma bagunça aqui dentro. Você quer minha ajuda para
encontrá-las?
— Você não tem escolha. Sua condição era que você tinha que olhar por
cima do meu ombro enquanto eu trabalhasse no memorial. Agora, não estou
trabalhando nisso e não estou convidando você para ficar.
— Tem que entender que o ódio que as pessoas sentem por você vai além de
sua sombra tocando àqueles ao seu redor.
Ele voltou sua atenção para os campos além da janela. — Não, eu não a
culpo.
— Eles vão precisar de mim para tocar o órgão no serviço memorial. Você
pode trabalhar no monumento amanhã sem mim. Vou tentar vir à noite para
verificar seu progresso.
***
Seu pai nunca recebera dinheiro pelas lápides das crianças. Meg balançou a
cabeça. Não era de admirar que eles ainda morassem em uma casa feita de troncos
lavrados, enquanto outras pessoas haviam comprado madeira serrada e reconstruído
suas casas, uma vez que a serraria tinha sido aberta.
Mama Warner libertou uma mão do aperto de Meg e envolveu o queixo dela
dentro de sua palma. — Você acredita nisso, filha?
— É claro.
A escuridão envolvia a casa. Ela esperava que parecesse dessa forma, como
se todos dentro estivessem dormindo.
Guiou a égua para o galpão. Alguém tinha fechado as janelas contra a força
do vento e da chuva. A porta estava parcialmente aberta, derramando uma luz
pálida na noite.
Meg desmontou debaixo de uma árvore para dar a seu cavalo alguma
proteção contra a chuva. Saltou através das poças até que chegou ao galpão. De pé
na porta, com a chuva pingando da aba do chapéu de Kirk, entendeu o que Mama
Warner já tinha suposto.
Com as janelas fechadas, o local estava quente. Nenhuma brisa soprava para
refrescar. O suor encharcava a parte de trás de sua camisa e ele enxugou a testa. Ele
trabalhava através da chama de uma lamparina solitária.
Parando à margem das sombras, Meg assistiu quando ele usou o pequeno
cinzel e o martelo para criar uma abundância de detalhes delicados na pequena
lápide. Com uma exalação suave, ele soprava o pó do seu trabalho longe de cada
letra e desenho que completava.
Uma eternidade pareceu passar antes de ele colocar suas ferramentas de lado,
relaxar seus ombros e baixar a cabeça.
— Cristo! — Ele saltou do banco e olhou para ela. — Há quanto tempo você
está aqui?
— Tempo suficiente para saber que Lucian não esculpiu as letras. — Ela
arrastou seus dedos trêmulos sobre as letras perfeitamente esculpidas — Você criou
uma bela lápide para uma criança e está dando o crédito a seu pai e irmão.
— Então por que não diz a todos amanhã, para que eles possam transformá-
la em pó e a esposa de Tom poder ter algo mais para se lamentar?
Ele se afastou dela. Sem pensar, ela agarrou seu braço. Ele parou, mas não
olhou para ela.
— Sim, senhora.
A inflexível falta de vida em sua voz fez com que ela o soltasse. Ele
atravessou o salão para um canto onde mantinha uma variedade de materiais. Pegou
um cobertor e rasgou-o em dois. Trouxe um pedaço de volta para a mesa e
envolveu-o em torno da lápide com a mesma gentileza que uma pessoa poderia ter
usado para embrulhar um cobertor em torno de uma criança.
Meg caminhou até o pedaço de granito e colocou a mão sobre a pedra bruta.
Ela quase podia ver Kirk nas sombras, podia ouvir o relinchar de seu cavalo, suas
promessas e seu grito corajoso. — Acha que eles vão destruir este monumento? —
ela perguntou.
— Não, senhora.
Ele virou-se de sua tarefa e encontrou seu olhar. — Não pensei nisso ainda,
mas vamos encontrar uma maneira de levá-lo para a cidade sem ninguém saber.
Você pode dizer às pessoas que algum companheiro que voltou fez isso.
— Nós concordamos.
— Você acha que as únicas batalhas travadas são feitas com rifles e os
únicos ferimentos que matam tiram sangue. Você acha que a coragem é forte,
violenta e orgulhosa. Sra. Warner, eu não acho que você tem uma ideia do que esse
memorial representa verdadeiramente.
Capítulo 10
Sentada no balanço da varanda, Meg assistiu as nuvens se arrastarem através
da lua quando seus pensamentos lentamente vagaram para Clay.
Com seu olhar sempre cravado na pedra de granito que estava lentamente se
materializando em três formas distintas, ele trabalhou desde o amanhecer até o
anoitecer com a firme determinação de um homem que queria se livrar de um fardo
desprezado. Seus raros sorrisos e provocações ocasionais não vieram à tona.
Raramente parava de esculpir para descansar e, quando o fazia, ele saía do galpão.
Meg suspeitava que ele mergulhava sua cabeça em um balde de água retirado
do poço porque sempre voltava com o cabelo gotejando e o colarinho da camisa
encharcado, como se apenas ele tivesse estado em uma tempestade.
Cada dia ele reconhecia sua presença com um — Bom dia — quando ela
entrava no galpão. No final do dia, ele descia do banco, ia até sua mesa baixa,
depositava suas ferramentas nela, olhava pela janela e falava com ela mais uma vez.
— Eu acabei por hoje.
Meg odiava os dias que se arrastavam, mais do que ela odiou os dias em que
esperou com temor por notícias de Kirk. Sentia como se residisse em uma prisão,
uma prisão que ela mesma havia construído, utilizando o ódio e a vingança como
tijolos de argamassa. Queria punir Clay, mas também acabou sofrendo.
Não queria se sentar naquele galpão onde vozes silenciosas apareciam e o
tilintar constante do martelar do cinzel ecoava, mas não poderia ficar de fora.
Todos os dias suas mãos revelavam mais das sombras. Os músculos ao longo
de seu pescoço, costas e braços se tencionavam com seus esforços. Em seguida,
eles gradualmente relaxavam. Ele tocava a pedra como se pedindo desculpas por
seu tratamento duro e prometendo que iria valer a pena.
Ele batia na pedra com força suficiente para enviar o som de uma rachadura
a ricochetear ao redor do galpão. Então ele deslizava a mão sobre o granito criando
um sussurro rouco.
O sussurro ficava com ela por muito tempo depois que ela saía do galpão.
Assombrava seus sonhos juntamente com a memória de suas mãos criando formas
fascinantes da simples pedra.
— O que você está fazendo aqui fora, Meg? — Daniel perguntou quando
pisou na varanda.
Ele lhe deu um sorriso irônico na escuridão. — Você acha que Stick
aprovaria Caroline se casar com John?
Apesar disso, ela descobriu que a tarefa deixava as mãos com pouco a fazer e
sua mente com menos do que isso. Tentou aproveitar a brisa suave flutuando entre
as árvores ao redor da casa de Caroline, mas encontrou-se imaginando aquela
mesma brisa soprando através de três grandes janelas de um galpão. Se perguntou
se ela teria mexido no cabelo de Clay antes que viajasse para se entrelaçar em seus
próprios fios soltos.
Na noite anterior, quando ela lhe disse que planejava passar o dia na fazenda
dos Wrights, ele apenas balançou a cabeça e enfiou as mãos nos bolsos. Ambos
sabiam que a necessidade de mãos dispostas a construir um celeiro não incluía as
dele.
Ela se perguntou se ele tinha começado o corte da pedra ao amanhecer ou
tinha esperado. Os ombros de Kirk eram uma silhueta visível na pedra agora. Ela se
perguntou se ele iria trabalhar abaixo da cintura de Kirk primeiro ou esculpir seus
ombros.
Iria apenas espiar o interior do galpão e ver quanto progresso ele fez...
— Olá, Meg — uma solene voz masculina disse, vibrando atrás dela.
Girando, ela olhou para Kirk, seu coração batendo tão alto que ela não ouvia
os martelos à distância. Ele tinha o mesmo cabelo loiro, mas fendas profundas, que
lembravam campos sulcados, tocavam os cantos de seus olhos azuis. Ele parecia
muito mais velho e mais maduro. Sua barba, mais escura do que o seu cabelo, era
grossa. De nenhum jeito ela teria imaginado isso.
Ela sentiu sua respiração se apressar para fora e apertou a mão na garganta.
— Claro. Nós nos conhecemos no casamento.
Contra sua vontade, seu olhar passou rapidamente pela manga vazia.
— Deixei meu braço em Shiloh — disse ele com um sorriso triste que
implorava a ela para não ter pena dele.
Com lágrimas nos olhos, ela ergueu o queixo e lhe devolveu o sorriso. —
Mas você está seguro agora e isso é tudo que importa. — Colocou os braços em
volta do pescoço dele e sentiu seu braço ao redor de sua cintura. — Você me fez
lembrar de Kirk — ela sussurrou em uma voz rouca.
— Sim, bem, nada é o mesmo. Isso é uma maldição, com certeza. — Ele
corou. — Perdoe a minha língua.
— Como está sua fazenda? Era em algum lugar ao norte de Austin, não era?
— Era, mas eu não tinha o dinheiro para pagar os impostos sobre ela, então
tive que dá-la. Vim aqui para ajudar meu tio com sua fazenda.
— Só estou aqui há alguns dias e ela não sabia que eu estava chegando até
aparecer em sua porta. Ela me disse que você costumava ir lá. Eu estava
procurando por você.
Ele expressou suas palavras com tanta sinceridade que Meg quase chorou.
— Espero que eu não vá impedi-la de ir ver Mama Warner — disse ele. —
Ela gosta de sua companhia.
Meg sabia que Mama Warner adorava qualquer companhia desde que suas
pernas tinham ficado fracas e ela estava confinada em sua casa. — É claro que vou
continuar a visitá-la. Eu a amo muito. Ela parece entender as pessoas tão bem.
— Creio que é porque ela conheceu uma variedade tão estranha de pessoas
durante a sua vida. Eu não ia vir aqui hoje. Descobri que um homem sem um braço
não pode fazer muito para ajudar a construir um celeiro, mas, então, ela sussurrou
umas coisas...
Ele abriu os lábios em um sorriso tão parecido com o de Kirk que Meg quis
tocar os dedos em cada canto de sua boca.
— Sim, quando quer transmitir alguma sabedoria para você refletir, ela
sussurra, então você tem que se esforçar para ouvi-la. Acho que ela imagina que
esse é o jeito de você prestar atenção.
Ele riu e Meg percebeu que não tinha ouvido um homem rir desde o dia em
que viu Clay brincar com os gêmeos no rio. O som de pés correndo ganhou a
atenção de Meg.
Sem fôlego, Helen parou e agarrou o braço de Meg para apoiar — Eu não
posso acreditar que ele veio.
Meg não teve que perguntar quem ele era. O tom vermelho cobrindo o rosto
de Helen e o fogo em seus olhos azuis falavam de um ódio que se estendia até onde
seu marido tinha viajado.
— Está aqui desde o amanhecer. Ele ajudou o pai de Taffy a trazer a madeira
da oficina.
Provocativamente, Lucian disse que ela parecia como se tivesse sido esticada
como um caramelo. Logo todos a estavam chamando de Taffy.
Helen bufou e pisou o chão como se pudesse fazer com que a terra se abrisse
e engolisse Clay. — Eu simplesmente não posso acreditar que ele teve a coragem
de vir aqui.
***
Clay descobriu que, por algum motivo ímpio, tinha sido mais fácil ir a pé
para sua própria execução do que caminhar na direção dos homens que se reuniram
ao lado do celeiro inacabado. Podia sentir os homens olhando para ele. Desejou ter
deixado os gêmeos em casa. Não queria que eles vissem a surra que percebia estar
prestes a receber. Ouviu alguém berrar: — Este não é o momento nem o lugar! —
Ele pensou que a voz comandando pertencia ao pai de Kirk. Lentamente, os
homens viraram as costas para Clay e foram embora. Essa ação poderia ter
diminuído sua ansiedade, mas não aconteceu. Até o momento em que chegou ao
lado do celeiro, Lucian foi o único que permaneceu.
— Forte o suficiente para apoiar uma faixa amarela, mas isso não é
exatamente o que precisamos aqui.
Lucian sacudiu a cabeça. — Fique se quiser, mas não espere que eu fique ao
seu lado. — Girando nos calcanhares, ele se afastou.
Clay olhou para baixo, para os rostos ansiosos dos gêmeos. Ele lhes deu um
sorriso que ele imaginou que, provavelmente, parecia tão vazio quanto ele se sentia.
— Bem, acho que este é o nosso lado para terminar.
— Inferno, não! Há algum pássaro meio mágico que deixa cair bebês pela
chaminé. Não é assim, Clay?
Clay tinha uma pequena dúvida sobre Joe acreditar que bebês eram deixados
na porta, mas estava certo de que Josh, com seu sorriso desafiador, sabia a verdade.
— Acho que seria melhor terminarmos o nosso lado do celeiro.
***
Meg olhou para os rostos idênticos, sabendo que Clay conseguia distingui-
los, se perguntando como ele fazia isso. — Olá.
Com as mãos atrás dos seus macacões, os meninos se balançaram sobre seus
calcanhares. — Bela exposição de doces você colocou aqui fora — disse um dos
gêmeos. — Clay disse que poderíamos olhar, mas não pedir nada. Então, nós
estamos apenas olhando.
— Sim, senhora, mas eu e Joe gostamos de olhar para os bolos e tortas. Faz
muito tempo desde que comemos um pedaço de bolo ou torta. Naturalmente, nós
não pedimos. Nós estamos apenas olhando.
Helen lançou um pano sobre a mesa para espantar as moscas. Ela correu o
olhar por Robert com a mesma facilidade que ela e Meg tiveram para fofocar
quando tinham sido jovens garotas tentando decidir para quem deveriam dirigir
seus sorrisos mais calorosos. Meg estava grata por Helen ter evitado falar mais
sobre a chegada de Clay. Em vez disso, elas haviam discutido o namoro
aparentemente florescendo entre o Dr. Martin e a Viúva Prudence.
— Obrigado, senhora — Joe disse quando ele pegou um pedaço de bolo com
cobertura de chocolate.
O sorriso caiu do rosto de Helen. — Não, eu não acho que seria apropriado.
Joe congelou, o bolo quase tocando seus lábios. Ele deslizou seu olhar para o
seu irmão. — Certamente cheira bem.
Josh pôs a mão no ombro do irmão. — Você tem que ficar com a família.
— Lucian não.
Os olhos de Helen quase saltaram para fora de sua cabeça. — Teria sido
como dar uma oferta de paz, e eu não estou prestes a perdoar aquele homem pelo
que ele não fez. Nem agora, nem nunca.
— Houve um tempo em que você guardou seus sorrisos mais calorosos para
ele.
— Ainda assim, parece uma vergonha seus irmãos sofrerem por algo que não
tiveram culpa. — Meg olhou para a abundância de alimentos e esperou que suas
próximas palavras não a traíssem. — Suponho que eles seriam afortunados se seu
pai lhes concedesse crédito no mercado.
Helen olhou para Meg, como se ela não tivesse mais sentido do que a mula
dos Holland. — Ele não concedeu crédito a eles. Meu pai disse que se ele pusesse
os pés no mercado, o mataria como um ladrão. Disse que ele roubou a honra desta
cidade.
— Acho que ele é dono da fazenda. O que eles podem fazer? E aqueles
gêmeos parecem tão magros.
Helen levantou um dedo. — Não faça isso. Não me faça sentir culpa sobre a
decisão do meu pai.
— Não quero que você se sinta culpada, mas certamente seu pai poderia
tentar um acordo com Lucian sobre dar-lhes crédito, desde que seu irmão mais
velho não participe das negociações.
— Porque eles são crianças e, se eu tivesse sido abençoada com crianças, iria
quebrar meu coração pensar nelas indo para a cama com fome.
— Tudo bem eu vou falar com ele. Ele simplesmente odeia Clay — Ela
parou com um gemido. Não dizer o nome de Clay era um jogo que teve início
quando a guerra começou, porque as mulheres não deveriam se preocupar com
política ou falar sobre a guerra. — Ele simplesmente o odeia tanto, que tomou sua
decisão sem pensar em como isso afetaria os outros.
— Tenho certeza de que Lucian estaria disposto a um acordo. Ele parece não
gostar de seu irmão, tanto quanto nós.
Do canto do olho, ela observou Clay caminhar para sua carroça, onde iria
encontrar alguma sombra.
Isolado.
Sozinho.
Como seria simples preparar-lhe um prato e caminhar até a carroça para dar a
ele.
***
Clay tomou a maçã e trouxe-a para o seu nariz, inalando profundamente. Tão
doce. Ele e os gêmeos já tinham comido o alimento que tinham trazido de casa,
mas a refeição não tinha incluído aquele doce. Com sua faca, cortou a maçã em
duas. — Josh! Joe!
— Sim, senhor. Estou começando a ver que Lucian estava certo. Eu não
sabia que o ódio era tão profundo. Não gosto disso tocando os gêmeos. É uma coisa
as pessoas me evitarem. Fiz a minha escolha e estava disposto a aceitar as
consequências. Meus irmãos não deveriam ter que sofrer por causa disso.
Clay estendeu a flor que terminou de talhar. — Pode dar esta à sua garota.
— Minha garota? — Dr. Martin ficou vermelho como um pôr do sol — É tão
óbvio assim?
Dr. Martin tirou o chapéu e passou a mão na cabeça careca. — Estou firme
no meu rumo, nunca imaginei ter uma esposa, mas Pru... bem, ela tem três meninos
e um mais velho que precisa de uma mão firme aplicada em seu traseiro. E vai
levar mais do que uma aplicação.
***
— Por Deus, nós ainda podemos enforcá-lo. Tem uma abundância de árvores
fortes por aqui — disse Thomas Crawford.
Meg deixou cair à concha na panela de feijão que segurava e olhou para seu
pai quando ele passou as mãos pelo cabelo que uma vez tinha sido tão negro como
o dela e agora estava branco como a neve recém-caída. As mulheres estavam
amontoando porções de comida nos pratos dos homens, mas eles não pareciam
notar.
Os homens mais jovens estavam olhando para seu pai. Os mais velhos
tinham voltado a sua atenção para o pai de Kirk. Ele se sentara na ponta da mesa,
de frente para o pai de Meg. Como filho mais velho de um dos fundadores, o Sr.
Warner e sua opinião eram tidas na mais alta conta. Seu cabelo loiro tinha caído ao
longo dos anos, mas os olhos azuis e a intensidade de seu olhar ainda não haviam
desaparecido.
O Sr. Warner negou com a cabeça. — Eu dei ao meu filho minha palavra de
que não seria parte do linchamento. Não vou voltar com a minha palavra agora.
— Eu sinto muito. Você está crescendo tanto que eu mal posso ver ao seu
redor — ela mentiu, desejando poder mudar o curso da conversa.
— Mas você lutou. Você tem que ter algum sentimento sobre este assunto.
Não coalha seu intestino saber que temos um covarde vivendo entre nós?
O pai de Meg deu um tapa com a palma aberta sobre a mesa. — Por Deus,
nós não estamos falando sobre as leis de recrutamento. Eu era contra as malditas
leis, eu mesmo. Não diga a um texano que ele tem que lutar. — Ele bateu com a
mão sobre a mesa novamente. — Você apenas lhe diz onde será travada a batalha e,
por Deus, ele vai. Nossos filhos não esperaram por nenhuma lei para dizer-lhes que
tinham que ir. Assim que a chamada às armas soou, eles se alistaram. Todos,
menos aquele lá! — Ele sacudiu o punho no ar. — Nossos filhos eram homens de
honra e pagaram o preço final. Não me sinto bem comigo mesmo por ver que ele
ainda está respirando.
Os homens tinham convidado Lucian para sentar com eles, mas ele estava
olhando para sua comida, movendo seu traseiro no banco. Ele apertou a mandíbula
com tanta força que Meg achou que ele não seria capaz de comer se tentasse.
— O que você acha, John? — perguntou o pai de Meg. — Esta é a sua terra,
agora que está casado com Caroline.
— Paz de espírito — o pai de Meg disse quando empurrou seu prato para
frente. — Por Deus, isso me daria paz de espírito.
— Ele foi, mas não lutou. Nem sequer sente vergonha desse fato — disse o
pai de Meg. — Ele vai dizer se você perguntar a ele.
— Preciso que vocês comam este pedaço — ela disse quando entregou o
prato a eles. — E podem compartilhá-lo com quem vocês quiserem.
Ela cruzou os braços sob os seios. Não era muito. Provavelmente não era o
suficiente. Observando como os gêmeos se aproximavam da grande carroça onde
um homem estava sentado sozinho, de repente se sentiu como se nada jamais seria
suficiente.
Meg assistiu Helen derramar água sobre a sujeira na filha dela, de quatro
anos de idade, Melissa, que se estatelou no chão.
— Dê-lhe uma poça de lama, e ela fica feliz — disse Helen quando se sentou
ao lado de Meg e Sally Graham sob a sombra da árvore.
— O Dr. Martin disse que não há nenhuma razão para Tom e eu não
podermos ter muitos filhos — disse Sally calmamente.
Tranquilizando, Meg pegou a mão dela. — Tenho certeza de que você vai ter
mais filhos.
Sally corou. — Tom é tão bom para mim. Eu não sei o que eu faria sem ele.
Eu não sei como todas vocês viúvas sobreviveram. Vocês são apenas um pouco
mais velhas do que eu, mas todas perderam seus maridos.
A terna expressão de Tom fez com que a solidão cercasse Meg. Apenas
alguns anos de diferença de idades tinha esculpido vidas diferentes para as
mulheres na área. Enquanto Daniel lamentava o fato de ter nascido demasiado tarde,
ela desejou que Kirk não tivesse nascido tão cedo.
Com fogo intenso em seus olhos azuis, ele olhou rapidamente para Meg
antes de voltar sua atenção para Tom. — Holland levou os gêmeos para o rio.
Enquanto ele está fora, vamos derrubar as tábuas pregadas por ele. Quer ajudar?
— Acho que ele provavelmente descobriu que não era desejado quando
todos nós caminhamos para longe dele esta manhã. Ele não é estúpido.
— Sim, mas meu regimento nunca saiu do estado. Nós apenas sentamos na
fronteira da Louisiana à espera dos ianques. Eles nunca vieram. Eu nem mesmo
atirei em um homem com meu rifle.
— Tom está certo, Daniel — disse Meg. — Basta deixá-lo terminar o seu
lado e ele vai voltar para casa.
— Droga, Meg, eu acho que você está ficando mole. Você está esquecendo
que foi seu marido e nossos irmãos que ele não apoiou? Não posso acreditar que
você deu a ele sua torta.
— Sabendo muito bem que iriam partilhá-la com ele. Eu lhe disse ontem à
noite que queria fazer alguma coisa para preservar a memória dos meus irmãos.
Bem, é isso. Você vem, Tom?
— Não, eu não vou ajuda-lo, mas não vou desfazer o seu trabalho.
Ela fechou os olhos, não querendo pensar sobre o que eles poderiam fazer.
Esta terra tinha muitas árvores nela.
Alguém pegou a mão dela. Abrindo os olhos, ela sorriu para Robert quando
ele se ajoelhou ao lado dela.
Ele empurrou o chapéu para cima e passou os dedos pelo cabelo. Levar os
gêmeos para o rio, para que pudessem se refrescar, não tinha sido uma boa ideia,
afinal.
— Sim.
***
Meg olhou através do campo para o espaço em que uma vez tinha estado
uma parede oposta parcialmente concluída.
Ela olhou além daquilo, para onde Clay e os gêmeos tinham parado
abruptamente. Em torno dela, os martelos caíram em silêncio enquanto todos
observavam para ver como Clay reagiria. A ladainha de vá para casa correu através
de sua mente. Ele tinha que virar e ir para sua carroça. Leve os gêmeos para casa,
ela pensou. Por favor, leve os gêmeos para casa.
Ele se ajoelhou no campo. A próxima coisa que ela soube foi que os gêmeos
estavam gritando, gritando e correndo em direção à parede que era pouco mais do
que o ar.
Com um largo sorriso. Clay se pavoneou para a fresca pilha de madeira
serrada, levantou uma tábua, e levou-a para o local onde os gêmeos esperavam.
De todas as coisas que Clay poderia ter feito, a última coisa que ela esperava
que ele fizesse era sorrir. Ele dirigiu o primeiro prego na tábua com tal força que
Meg sentiu vibrar o local onde seus dedos estavam tocando.
Uma esperança tácita tocou seus olhos e Meg sabia que ele a queria incluída
em sua família. Ele era jovem, forte, e se assemelhava muito a Kirk, de tal forma
que ela queria manter sua promessa em seu coração.
Ele bateu a tábua que pegara contra a estrutura. — Quer ver se trabalhamos
bem juntos?
Ela gritou quando uma dor aguda atravessou-lhe a mão e correu até seu braço.
Viu Clay se endireitar e passar através da abertura em sua estrutura. Fechou os
olhos, desejando que ele não viesse até ela. Se alguém sabia como lidar com um
polegar que tinha sido atingido com um martelo, era Clay, mas ela não podia
explicar às pessoas em torno dela por que queria a ajuda de Clay, em vez da deles.
Ela não conseguia nem explicar isso para si mesma.
Abriu os olhos e suspirou de alívio. Clay voltara para o seu lado do celeiro.
Ela podia ver seu joelho que se projetava para além da tábua que ele tinha pregado
no lugar. Sabia que ele estava de cócoras, com as costas contra a tábua, com a
cabeça abaixada enquanto, sem dúvida, lutava para não vir ajudá-la. Como ela tinha
chegado a conhecê-lo tão bem em tão pouco tempo?
Embalando a mão, Meg forçou um sorriso. — Está tudo bem. Não machucou
tanto.
— Vamos encontrar o Dr. Martin e nos certificar de que não quebrei nada.
— Ele enfiou a mão sob seu cotovelo e a ajudou a se levantar.
— Tenho certeza de que nada está quebrado — disse ela, embora não
estivesse certa.
— Por que eu iria querer algo que ele fez? — ela gritou. Ela apertou o dedo
contra o peito do Dr. Martin — Eu só queria morrer de vergonha quando vi você
falando com aquele covarde.
Ela desfilou como se fosse uma galinha enfurecida. O Dr. Martin pegou um
galho mutilado. — Acho que não há nenhuma chance de pedir-lhe para casar
comigo agora.
— Com certeza não é como nos velhos tempos. Quando nos reuníamos,
passávamos um bom tempo e ficávamos contentes de ver um ao outro. — Ele
sorriu alegremente e colocou o galho no bolso do casaco — Vocês estavam
procurando por mim?
— Agora, por que fez isso? — Dr. Martin perguntou quando gentilmente
pegou a mão de Meg e examinou-a.
— Isso não soa tão estúpido para mim, mas vou confessar que posso pensar
em mais coisas que eu prefiro fazer com uma menina bonita do que construir um
celeiro. — Ele piscou para Meg. — Você terá uma pequena contusão, mas isso não
deve impedi-la de dançar esta noite.
***
Ele colocou a tábua contra a estrutura. Como tinha feito na maior parte da
tarde, virou-se ligeiramente, pressionou seu traseiro contra a tábua, estendeu a mão
e colocou o primeiro prego na posição. Endireitando-se, moveu-se cerca de uma
fração de polegada, tendo certeza de que estava nivelada com as outras tábuas.
Com o canto do olho, viu Lucian caminhando em direção a ele.
— No ritmo que está trabalhando, vai estar aqui até a meia-noite — disse
Lucian pouco antes de bater com o martelo contra o prego que Clay tinha usado
para colocar a tábua no lugar.
Lucian envolveu sua mão ao redor da cabeça de seu martelo. — Eles fizeram
apostas sobre se você ficaria ou não o dia inteiro.
Lucian virou. Clay nunca tinha visto um chapéu sair de uma cabeça tão
rápido em sua vida.
Sorrindo suavemente, ela estendeu uma concha de água. — Achei que você
poderia estar com sede.
Lucian sorriu. — Como eu poderia estar com sede quando você ficou me
trazendo água o dia todo?
Lucian tomou a concha e bebeu a água, seus olhos nunca deixando Taffy.
Entregou a concha vazia de volta para ela. — Eu aprecio a consideração.
— Eu esperava que você ficasse. Pensei que, talvez, me pedisse para dançar.
Ela estudou o chão, depois cutucou o pé de Lucian com a ponta do seu antes
de encontrar seu olhar. — Eu não vejo como isso pode ser decisão dele. Estou com
quase dezessete anos, quase totalmente crescida, e ele não sabe o que eu procuro
em um homem.
Lucian riu. — Menina, você vai me fazer levar uma boa surra com esse
pensamento.
Clay jogou a cabeça para trás e riu até ficar sem fôlego.
***
Por que ele havia ficado para sofrer a ira e desprezo de pessoas que
prefeririam deitar-se entre cobras do que falar com ele?
E por que ela se sentia tão culpada por não reconhecer a sua presença? Eles
tinham um pacto, um acordo de cavalheiros, que ele tinha honrado hoje.
Por que ela gostaria que ele não tivesse feito isso?
Ele não silenciou seu martelo até que a noite caiu. No escuro, ela observou
sua silhueta caminhar até a carroça, para onde os gêmeos tinham ido perto do
anoitecer.
Ele passara todo seu dia dando ao seu vizinho a parede de um celeiro e
ninguém lhe agradecera. Passara uma noite tempestuosa esculpindo a lápide de
uma criança para que ninguém jamais iria agradecê-lo. Em nome da honra ele
sacrificara seu sonho de ir para a Europa.
Ela perguntou-se quantas outras coisas ele poderia ter feito em sua vida sem
ter recebido nenhum elogio ou apreciação.
— Meg?
Eles começaram a dançar. — Clay me pediu para dançar com você se eles
tocassem essa música e você não estivesse dançando.
— Sinto muito por tudo o que meu pai e Daniel disseram durante a refeição
de hoje...
Lucian sacudiu a cabeça. — Na maior parte, eu me sinto da mesma maneira
que eles, ou pensei que sentisse. Não o entendo, Meg. Por que ele ficou?
— Eu não sei. E não sei porque ele ficou se para ele é doloroso, mas ele
ficou.
Lucian sorriu. — Isso era para ser eu. Você tem que ficar quieto quando ele
está esculpindo porque ele se concentra tanto que se esquece das outras pessoas que
estão ao redor. Se ele tem um martelo e cinzel em suas mãos... — Ele balançou a
cabeça em uma memória. — Eu estava sentado e ele estava trabalhando para
esculpir meu rosto. Vi um cervo escorregar por entre as árvores. Disse algo a Clay
sobre isso e meu nariz saiu voando daquele pedaço de pedra. Ele ficou tão chateado
que jogou suas ferramentas e correu para a casa. Não sei o que ele disse a mamãe,
mas a próxima coisa que eu soube, foi que ela veio correndo para fora, gritando
para papai ir buscar o Dr. Martin porque Clay tinha cortado o meu nariz.
Ela riu da imagem que suas palavras criaram. Ela podia imaginar Clay
dizendo que tinha cortado o nariz de Lucian. Para ele, a pedra era tão importante
quanto uma pessoa.
— Por que você pediu a ele para fazer o monumento? — Lucian perguntou
em voz baixa.
***
Ele tinha ido ao galpão na madrugada e olhado para o granito. Ele lascara um
pedaço aqui e ali, mas não encontrara nenhuma alegria em suas ações. Ele não
tinha gostado de trabalhar no monumento desde que fizera a lápide para a bebê de
Tom. A estátua era apenas algo que ele queria terminar agora. Terminar e dar
acabamento.
E seguir em frente.
Queria viver em algum lugar que não tivesse o cheiro de madressilva no ar.
Queria viver em um lugar onde as mulheres não tivessem olhos azuis.
Tinha ido à fazenda dos Wrights, porque tanto quanto ele odiava a forma
como Meg o assistia trabalhar, odiava ainda mais o pensamento de um dia a mais
sem ela.
Do seu ponto de vista distante, pensou que ela tinha sido a mulher mais
bonita lá. Queria caminhar até ela só para ver se seu vestido azul fazia seus olhos
parecerem tão azuis como ele pensou que poderia. Ouviu sua risada no vento e
segurou-a para aliviar sua solidão, uma solidão que se aprofundou quando percebeu
quanta atenção Robert Warner lhe dava, quanta atenção ela dava a Robert. Uma
sombra atravessou a noite. Ele sentou-se quando Lucian apareceu. — Não estava
esperando você em casa tão cedo.
— Sim.
— Aprecio isso.
Lentamente, Clay assentiu. — Será que ele quer isso escrito? Eu poderia
assinar uma confirmação...
— A única pessoa que parou de andar com a cabeça erguida foi você. O que
eu faço com a minha vida não deve afetar seu orgulho.
Clay estudou as sombras entre seus pés. Ele era só um pouco mais velho do
que Lucian era agora, quando tomou sua decisão de não ir junto com seus amigos.
Supôs que na idade de Lucian, cada jovem achava que as decisões que tomavam
não afetavam o mundo. — Você pensa que o pai de Taffy iria deixá-lo visitá-la se
eu não tivesse voltado para casa?
— Ele poderia.
— Claro que não! Eu não quero que você fale com ele.
— Eu nunca andei furtivamente por aí. Todo mundo sabia exatamente onde
eu estava.
Lucian se inclinou para baixo para que seu olhar estivesse no mesmo nível
com o de Clay. — Você teria se esgueirado se soubesse que eles tinham planos
para pendurá-lo no dia em que seus filhos se foram.
Lucian virou a cabeça e olhou para Clay. — Isso é fácil de dizer. Você não
sabe como parece. Inferno, eu sinto como se fosse caminhar até a minha própria
execução.
Clay desembrulhou as rédeas das mãos. — Basta respirar fundo, olhar para
frente e começar a andar.
Lucian estava no meio da igreja antes de perceber que não tinha respirado.
Respirou fundo, mas suas pernas ainda tremiam como se caminhasse em terreno
instável. Aproximando-se da família Lang, tirou o chapéu. — Taffy?
Ela se virou, seus olhos cinzentos se alargando. Ele imaginou que o Sul tinha
vestido seus homens de cinza por causa dos olhos de Taffy.
Quando Taffy tocou no braço de seu pai, Lucian pensou que poderia
realmente ver derreter o coração do homem. — Eu acho que não.
Lucian assentiu com a cabeça e esperou que seu sorriso não parecesse tão
bobo como ele sentia que era. Colocando seu chapéu na cabeça, andou para trás e
bateu contra alguém. — Desculpe, Robert.
Lucian olhou para o céu azul. — Vou passar o dia perto do paraíso.
***
Depois que seu pai e Daniel foram dormir, foi na ponta dos pés até a cozinha
e cozinhou até o amanhecer. Com cuidado, arrumou tudo, e mais um bolo em uma
cesta de vime. O bolo era seu álibi para que sua família não se perguntasse por que
a cozinha quente cheirava a canela, açúcar e manteiga de madrugada.
Ela escondeu a cesta em seu quarto. Quando voltaram da igreja, ela fingiu
uma dor de cabeça, foi para o quarto, saltou da janela e selou seu cavalo. A cesta de
piquenique estava amarrada precariamente atrás dela. Foi em direção ao riacho
onde esperava que Clay voltasse a passar à tarde com seus irmãos.
Sabia que estava cortejando o perigo, mas a lealdade dos gêmeos a Clay
havia tocado-a profundamente. Desmontou dentro de um bosque de árvores perto
da margem do rio. Não ouviu nenhuma alegria ou riso. Ouviu apenas os pássaros e
o vento sussurrando através dos ramos, provocando as folhas. Ouviu um pequeno
respingo, o som de um peixe voltando para a água antes de estar pronto.
Clay tinha deixado Cedar Grove antes de estar pronto; retornou para o
povoado de Cedar Grove achando que eles estavam dispostos a aceitá-lo.
Silenciosamente, ela andou através das árvores até que viu a margem do rio
claramente. À sua frente não haviam meninos nus brincando. Nenhum homem
adulto totalmente vestido, molhado até os ossos, fazendo ameaças e, então
começando a cumpri-las.
Seu sorriso se alargou. — Sim, senhora, eu posso ver. Você de perto parecia
um pássaro tentando 'proteger seu ninho'.
Ele estudou o terreno por um momento, então olhou para ela, a suspeita se
mostrando claramente em seus olhos castanhos.
— Joe.
— E eu acho que você está com medo de que eu vá dizer como você me
assustou, por isso me deu o nome de seu irmão.
Ele franziu o rosto. — Você vai dizer? Clay disse que sempre era para tratar
as senhoras gentilmente, mesmo quando fosse enfadonho. Ter assustado você não
foi tratá-la gentilmente. Vai dizer a ele?
— Você é Josh?
— Bem, não acho que é realmente necessário dizer-lhe qualquer coisa. Ele
está aqui?
***
— Tenho certeza de que Josh voltará com um monte de nozes — Joe disse
enquanto brincava com sua linha de pesca. Seu estômago roncou e ele olhou para
Clay. — Eles não podem ouvir isso.
— Você ficaria surpreso com o que eles podem ouvir. — Deitado de costas,
as mãos cruzadas sob a cabeça, Clay observava as nuvens rolarem. Como Josh,
antes dele ir em busca de nozes. Clay tinha enfiado sua vara de pesca na margem
lamacenta.
— Acho que Josh está certo — disse Joe. — Eu não acho que Lucian é da
família. Ele deveria ter nos convidado para seu piquenique com Taffy.
— Lucian é da família. É só que ele não quer seus irmãos se intrometendo
enquanto está cortejando.
Joe virou a cabeça e apertou os olhos contra a luz solar. — Eu não o vejo.
— Eu não ficaria surpreso. Parece ser uma boa coisa a se fazer. Acho que eu
poderia fazer isso quando chegar a hora.
Joe deixou cair os cotovelos, juntou as palmas planas sobre a terra, e apoiou
a bochecha em suas mãos. — Então, você vai?
— O quê?
— Vai se casar algum dia?
Joe se arrastou até que seu braço batesse no ombro de Clay. Ergueu-se nos
cotovelos e olhou para o rosto de Clay, bloqueando seus olhos castanhos nos de
Clay. — Se tivesse que fazer tudo de novo, você lutaria?
— Não.
Joe sorriu. — Estou feliz. — Ele caiu de costas e olhou para o céu.
Clay rolou para o lado dele e levantou-se em um cotovelo. — Por que você
está feliz?
Balançando a cabeça, Clay deu a seu irmão um sorriso triste. — Acho que
você e Josh pensam nas coisas de forma demasiadamente velha para suas idades.
Ouviram uma comoção atrás deles e olharam por cima dos ombros.
Clay ficou de pé quando Meg emergiu das árvores. Doce senhor, mas seu
vestido azul aprofundava o tom de seus olhos. Ela prendera seu cabelo em algum
tipo de coisa rendada que fez com que parecesse grosso e pesado. Ele se perguntou
por que razão o cabelo não se libertava e fluía livre pelas suas costas.
Ela deu a Joe um daqueles raros sorrisos que precisavam ser esculpidos para
a posteridade. — Você se importa se eu fizer o meu piquenique aqui?
— Não, senhora — respondeu Joe, com um sorriso que poderia ter cegado o
dela, se o sol o refletisse.
Seu sorriso diminuiu quando olhou para Clay. — Está tudo certo com você?
Ele balançou a cabeça, desejando não ter trocado suas roupas da igreja. Elas
não eram sofisticadas, mas ela o via em suas gastas roupas de trabalho todos os dias.
— Nós nunca tivemos um piquenique com uma senhora antes — disse Joe.
— O que mais as senhoras fazem?
Aquele belo sorriso voltou ao seu rosto. — Elas trazem muita comida.
Em seguida, ela tirou frango frito e Clay sentiu a saliva fluir como um rio
caudaloso dentro de sua boca.
— Sim, senhora!
Meg espalhou um guardanapo sobre sua saia. Nunca teria ocorrido a Clay
trazer um guardanapo para um piquenique.
— Vamos lá, Clay — disse Josh. — Aposto que você nunca teve nada tão
bom antes.
Se ele tivesse tido, isso fora há muito tempo atrás para poder se lembrar.
Clay afastou-se da árvore, caminhou lentamente e sentou-se no chão ao lado da
colcha.
Meg esfregou a área logo abaixo de seu polegar. — Está apenas um pouco
machucada.
— Eu acertei minha mão suficiente vezes para saber que posso ser mais
inteligente. Você tem sorte de não ter quebrado alguma coisa.
Ele fez uma careta. — Se ele for como a maior parte de sua família, acho que
ontem foi duro para ele. Eles estão acostumados a fazer tudo por si mesmos.
Meg queria salientar que o dia anterior tinha provavelmente sido difícil para
Clay também, ou ele não tinha notado?
Ele colocou o prato sobre a colcha e ela viu seu olhar se mover sobre as
sobremesas. Ela desejou saber qual era a sua favorita, para que pudesse apenas
cortar um pedaço e colocá-lo em seu prato.
— Com quem vocês acham que eu deveria casar? — ela perguntou, com a
intenção de aborrecer Clay, mas em vez disso, lamentou as palavras no momento
em que passaram por seus lábios. Sabia quem os gêmeos mais admiravam, sabia
que eles pensariam que ela tinha a mesma admiração por ele.
Josh franziu o rosto. — Eu e Joe teremos que colocar nossas cabeças para
pensar sobre isso. Nós vamos deixar você saber quando descobrirmos quem.
Clay pegou seu prato e caminhou até o rio. Ajoelhou-se na margem e Meg
viu sua mão sobre o prato quando ele mergulhou-o na água. Ele carregou o prato de
volta para a colcha e colocou-o para baixo. — Eu apreciei a refeição. Vocês,
rapazes, certifiquem-se de limpar tudo quando acabarem.
Meg assistiu-o ir embora. Toda essa comida e ele apenas tinha comido uma
perna de frango. O homem era impossível de entender.
— Não lhe dê atenção — disse Joe. — Nós estávamos falando sobre ele se
casar antes de você chegar. Reconheço que o incomoda falar sobre isso novamente.
— Ninguém.
Meg colocou seu prato para baixo. — Comam o quanto vocês quiserem
enquanto eu estiver fora. — Ela levantou-se e afastou-se da área de piquenique.
Esperava que Clay tivesse andado em linha reta, não se afastando da trilha.
Não tinha ideia de como seguir uma trilha. Pensou que os gêmeos provavelmente
poderiam ajudá-la a encontrá-lo, mas ela estava no clima 'para sussurrar' de Mama
Warner, e não achava que os gêmeos poderiam falar em voz baixa mesmo se ela
amordaçasse-os.
Viu Clay agachado em uma pequena clareira, tão imóvel quanto qualquer
estátua que ele já esculpira. Silenciosamente, lentamente, ela passou pelas árvores
até que obteve uma visão mais clara dele. Ele estava inclinado um pouco, seu
cotovelo apoiado na coxa, com a mão aberta perto do chão.
Ela viu uma cauda espessa atirar-se através da grama alta e, em seguida, um
esquilo estava sentado sobre suas ancas, fungando. Ele avançou em direção a Clay,
parou, estudou seu entorno e logo correu novamente. Deu uma parada rápida,
levantando o olhar para os suaves olhos castanhos do homem e deixando cair seu
olhar para a noz situada dentro de sua palma.
Clay virou a palma da mão para que a noz rolasse para a dela. — Basta fingir
que é uma estátua e ficar quieta. Ele virá.
Ela olhou para ele. Ele olhava para frente como se pudesse forçar o esquilo a
voltar e tomar a noz de sua palma. — Você se lembra de tudo o que ele lhe disse
sobre mim?
Seu sorriso se alargou quando ele virou seu olhar para ela. — Ele não me
disse qual era o seu bolo favorito, mas quando você estava cortando os pedaços,
não foi tão generosa com o bolo de especiarias. Achei que queria ter a certeza que
sobraria um pedaço para si mesma.
— Acho que não há muito que você possa fazer sobre isso, enquanto eles se
atiram para seu lado da maneira como fazem.
Meg sentiu como se ele tivesse acabado de bater no peito dela com seu
martelo. — Onde você vai?
— Não sei, mas acho que estar no topo de uma montanha, para mim, seria
melhor do que estar aqui.
Ela devia se sentir alegre. Em vez disso, ela tinha um forte desejo de lhe
perguntar que tipo de bolo era o seu favorito.
Ele apontou para o centro da clareira. — Você precisa ficar quieta agora. Ele
está vindo.
Cautelosamente, Meg deslizou seu olhar para frente e viu o esquilo correr em
sua direção. O esquilo parou tímido diante da mão de Meg e sentou-se sobre suas
ancas.
Ela prendeu a respiração. Seu nariz coçava. Ela enrugou o nariz e a coceira
aumentou.
Fechando a mão, Meg a embalou contra seu peito e riu. — Não posso
acreditar que ele a levou.
Ela ouviu um barulho e olhou por cima do ombro para ver os gêmeos
passeando em direção a ela, esfregando a barriga. Eles caíram no chão à frente dela.
Inclinando-se para frente, Meg riscou seus estômagos. — Estou feliz que
vocês tenham gostado.
— Clay, parece que não é suficiente dizer que a Sra. Meg cozinha a melhor
comida em todo o estado. Nós estávamos imaginando se poderíamos compartilhar
os morcegos com ela.
— Sim, senhora — disse Josh. — Eles se parecem com fumaça saindo das
colinas quando o sol se põe.
Meg olhou para Clay. — Será que Kirk sabia sobre os morcegos?
— Ele nunca mostrou-os para mim — disse ela, com uma sensação de perda.
— E qual é a regra?
— Não importa o quão assustada esteja, você não pode voltar atrás.
O medo, como Meg logo descobriu, podia galopar ao lado dela como dois
meninos gêmeos assobiando. Ela pulava cada vez que trombava em um galho,
quebrava um pequeno ramo de uma árvore no caminho, ou eles gritavam,
"Cuidado!".
— Não os morcegos — disse Josh. — Isso é o que nós temos que subir para
ver os morcegos.
— O sol está se pondo, por isso temos que nos apressar! — Josh gritou,
enquanto ele e Joe corriam em direção à montanha.
— Você não tem que fazer isso — disse Clay silenciosamente atrás dela.
— Sei que não gosta de meu toque — disse Clay — então acho que é melhor
avisá-la. Se você começar a cair, vou ter de te pegar.
Ela olhou por cima do ombro. — Então seria melhor eu não cair.
— Teste o seu peso sobre esse ponto antes de ir mais longe — disse Clay.
— Eu posso fazer isso sem a sua ajuda — disse ela enquanto olhava para o
alto rochedo de onde os gêmeos já estavam olhando para baixo, para ela. Tentou
testar o seu peso sobre o local sem deixar que Clay visse que ela estava seguindo
seu conselho. Ouviu-o se movendo por detrás dela. — Você não vem comigo, não é?
Meg soltou o galho que segurava e se lançou para outro. Puxou polegada por
polegada. Estaria, pelo menos, um ano mais velha antes que visse os morcegos.
Os gêmeos incitaram-na. Ela estendeu a mão para outro ramo e deslizou mais
para cima no lado da colina. Não tinha nada a temer.
Olhou para baixo. Clay ainda estava no chão. Ele tinha levantado um pé para
que ele descansasse na colina, mas os braços se penduravam ao seu lado, como se
estivesse esperando que ela subisse mais longe antes de segui-la.
Ela moveu o pé para uma grande rocha saliente. Sabia quão fortes as rochas
poderiam ser, então moveu seu peso para esse lado. A rocha se soltou da terra e
caiu pelo lado da colina.
— Você está bem? — ele perguntou em voz baixa, seu hálito sussurrando ao
longo de sua nuca.
Ela virou o rosto para lhe dizer que estava bem e que ele não precisava
segurá-la. Ele franziu a testa e a tristeza encheu seus olhos.
— Ah, você arranhou seu rosto — disse ele em voz baixa enquanto
gentilmente tocava as pontas dos dedos em sua bochecha.
Ele fitou seu rosto e Meg se perguntou o quanto ela fora cortada. Sua
bochecha ardia, mas não foi à pequena dor que trouxe lágrimas aos seus olhos. Foi
à expressão de espanto no rosto de Clay.
— Querido Deus, mas você é suave — ele disse em uma voz rouca.
Ele retirou os dedos de seu rosto e deu um passo para trás. Meg tropeçou
antes de se equilibrar.
Ele limpou a garganta e arrastou a ponta da bota contra o solo, ao redor das
raízes na grama e ervas daninhas. — Você vai tentar de novo?
Meg esfregou suas mãos esfoladas. — É esse o único caminho para cima?
— Não há uma chance de que nós dois apenas rolemos para baixo da
montanha?
Ele lhe deu um sorriso torto. — Sim, mas eu seria mais suave do que a terra.
Ela não estava completamente certa sobre isso. Pelo que tinha acabado de
sentir, seu corpo era como uma rocha dura, como as pedras que ele cortava. Ela
respirou fundo. — Tudo bem. Eu não quero decepcionar os gêmeos.
Ela agarrou o mato que lhe tinha servido bem durante a sua primeira
tentativa de subir o morro e colocou seu pé sobre um pouco de terra. Clay se moveu
atrás dela e ela pressionou seu corpo contra a terra.
Ela caminhou para cima. Ele girou o braço sobre ela e agarrou um arbusto
acima de sua cabeça. Seu corpo roçou contra o dela. Kirk sempre cheirava a rum.
Clay era revestido da terra, forte e almiscarada.
Ele não tentava cobrir seu cheiro masculino. Ele era tão natural quanto suas
rochas.
Ela pegou o próximo arbusto. Tão perto como sua sombra, ele ficou com ela.
Ela imaginou que o posicionamento de seu corpo sobre o dela dava a aparência de
uma situação comprometedora, o que a levou a se mover um pouco mais
rapidamente.
Ela voltou à cabeça. — O que fez Kirk informá-lo sobre a minha paciência?
Meg fez como instruído, mais e mais, estendendo a mão para os galhos e
raízes que ele indicava, puxando-se para cima, ganhando terreno mais lento do que
ela teria gostado, mas perdendo muito pouco com isso. Ele começou a deslizar o pé
por baixo dela, dando-lhe apoio adicional. Na maioria das vezes, ele só usava uma
mão para se apoiar no lado da colina.
Com a outra mão, ele segurava sua cintura ou estendia os dedos em toda
parte baixa de suas costas. Ela pensou que ele provavelmente tinha as maiores
mãos de todo o estado. Talvez as mais fortes. E, de um estranho jeito, gentis.
Também ocorreu-lhe que ele parecia extremamente hábil em ajudar alguém a
subir o morro. Ela se perguntou com quantas outras senhoras ele poderia ter
compartilhado os morcegos.
Meg deslizou para cima e sentiu pequenas mãos agarrarem seus pulsos.
— É isso aí, Sra. Meg — disse Joe. — Nós não vamos te deixar cair.
Ela ficou de pé e olhou para o homem conforme ele trilhava seu caminho ao
longo da beira. Estava tentada a colocar o pé no ombro dele e mandá-lo de volta
para baixo do morro.
Meg tirou o pó de sua saia e jogou as mãos sobre seu traseiro. — Nenhum
dano feito, mas acho que eu poderia ter feito isso sem assistência.
Joe olhou por cima do ombro. — Como é que podemos chamá-la de Sra.
Meg e você não pode?
A lua já era um brilho fraco, como se ansiosa para trazer a noite. — Vocês
vêm sempre aqui? — ela perguntou.
Ela se aproximou mais até que estava tão perto de Clay como poderia estar,
sem realmente tocá-lo. Os gêmeos se situaram ao lado de Clay como se
estabelecendo-se para uma longa noite de sono. A espiral de preto cresceu e ficou
mais elevada. A agitação da atividade enegreceu o céu. Meg sentiu os gritos agudos
e o farfalhar de asas. Ela nunca tinha experimentado nada parecido. Momentos se
passavam e ninguém falava, como se cada um estivesse encantado com o incrível
número de asinhas subindo em direção ao horizonte distante.
— Nós ficamos aqui a noite toda uma vez, esperando para ver quando eles
voltariam.
— Você e os gêmeos?
— Não, eu e seu marido. Só que ele não era seu marido na época.
Meg entrelaçou os dedos. — Não vou ficar chateada se você disser o nome
dele.
Ele deslizou seu olhar sobre o dela. — Não quero que você pense que eu
estou sendo desrespeitoso.
Sabiamente, ele acenou com a cabeça antes de voltar sua atenção para as
criaturas voadoras.
Meg parou de andar, não certa de querer ouvir este anúncio. Como poderia
explicar que ela nunca iria... nunca poderia casar com o irmão deles?
— Robert?
— Sim, senhora. Ele parece bom o suficiente e você não teria que mudar seu
nome.
Meg riu timidamente. — Eu pensei que você iria dizer que eu deveria me
casar com seu irmão.
— Clay?
— Ah, não, senhora. — Josh disse. — Não seria nada bom você se casar
com Clay. Se você se casasse com ele, sem a menor dúvida ele iria querer beijá-la
de tempos em tempos. E nós concluímos que beijar já é desagradável o suficiente
quando você gosta da pessoa que você está beijando. Seria miserável beijar alguém
que você odeia.
— Eu gosto do jeito que você está usando seu cabelo agora — disse ele.
Meg tocou o coque. — Isso causa menos problemas do que tentar prendê-lo
em um nó na parte de trás.
— Parece mais bonita, também. — Ele deu um passo para trás. — Faz um
par de dias desde que eu fiz qualquer corte. Espero me lembrar de como fazer.
Amarrando sua bandana sobre o rosto, ele caminhou até sua mesa. Meg
pegou o lenço da cadeira. — Será que vamos precisar usá-los quando você estiver
cortando os detalhes?
— Não — ele disse, sua respiração fazendo com que sua bandana ondeasse
para longe de sua boca.
Tinha levado para o lado pessoal quando ela não quis que Tom a visse ali,
mas nos últimos dias, aprendeu que preferia tê-la aqui a não ter. — Vou parar por
algum tempo.
— Oh, sim, é claro. — Ela se levantou da cadeira, foi até a pedra, e colocou
a mão sobre o granito.
— Não, mas eles tendem a perceber muito mais do que deveriam e, às vezes,
soam como homens de oitenta anos de idade pensando na vida.
Ela sorriu fracamente. — Eles acham que eu deveria me casar com Robert.
Ela pressionou a testa contra a pedra. — Eu amei Kirk tanto. Não posso
imaginar alguém tomando o seu lugar.
— E ninguém vai, mas ele era o tipo de homem que se afastaria e abriria
espaço para outra pessoa. Ele gostaria que você encontrasse a felicidade.
A dor surda pulsava em seu peito por tudo que ela tinha perdido. Corajosa
Meg. Ela tinha visto o homem que amava ir embora, para nunca mais voltar para o
seu lado. Ele pegou um pequeno cinzel e martelo. — Quer lascar um pedaço da
pedra?
Ela puxou a cabeça para trás com tanta força que ele se surpreendeu por ela
não desencaixar seu pescoço. — O quê?
Ele estendeu as ferramentas. — Pensei que você gostaria de cortar a rocha
um pouco.
— Não acho que vá arruiná-la. Você pode lascar um pequeno pedaço deste
canto que ainda não toquei.
Ela limpou as mãos na saia. — Tudo certo. — Ela começou a colocar o lenço
sobre o rosto.
— Você não tem que usar isso. Não acho que vá criar poeira suficiente para
nos incomodar. — Ele entregou-lhe as ferramentas.
— Oh, eles são mais pesados do que eu pensava — disse ela enquanto movia
as mãos para cima e para baixo, testando o peso.
— Nunca — ele disse em uma voz rouca. — Senão, você vai se distrair e
começar a pensar em coisas que você não deveria.
Tinha sido um erro dizer a ela para não cobrir o rosto. Seu rosto era um oval
perfeito, seus olhos um azul perfeito. Seu lábio inferior estava tão cheio que dava a
aparência de que ela estava fazendo beicinho, quando não estava. A ponta de sua
língua umedeceu os lábios, e ele se perguntou como seria a sensação de ter essas
brilhantes gotas tocando seus próprios lábios.
Ele sentiu o tremor em suas mãos quando ela lhe deu as ferramentas. —
Acho que não foi uma boa ideia.
Ela desamarrou o lenço do pescoço e jogou-o na cadeira antes de sair do
galpão. Clay lutou contra a vontade de pegá-lo e amarrá-lo em volta do pescoço,
para que ainda tivesse o cheiro de madressilva com ele.
— O que você fez para fazer a Sra. Meg chorar? — Josh perguntou.
Clay olhou ao redor da pedra para os rostos preocupados dos gêmeos. — Ela
está chorando?
— Não como no dia em que tivemos que confortá-la, mas seus olhos
estavam cheios de lágrimas.
— Puta que pariu! — Clay bateu com a mão contra o granito e bateu a testa
contra a pedra. Os berros de dor em sua cabeça não eram altos o suficiente para
abafar a dor do corte em seu coração.
— Beijei-a.
— Por que diabos você fez uma coisa idiota como essa?
Clay moveu a cabeça de um lado a outro, sentindo a rocha abrasiva irritar sua
pele.
Clay fechou os olhos. Quem lhe daria uma razão para antecipar o amanhecer?
***
O mundo a abrangeu, calmo, quente e sedoso. As vibrações sensuais deram à
Meg uma liberdade que ela não tinha experimentado em quase cinco anos, mas a
liberdade foi fugaz, perdida no momento em que ela rompeu a superfície da água
brilhante pela luz da lua.
Pouco tempo depois deles se casarem, Kirk a trouxe aqui. Era o seu lugar
privado especial. A lagoa era um círculo de águas profundas, com grandes
pedregulhos ao longo de uma borda e terra e árvores que enfeitavam as bordas
restantes.
Ela não tinha ideia de onde a água vinha. Supunha-se que, de alguma forma,
atravessava a terra e passava por fendas nas rochas. Realmente não se importava.
Só importava que a lagoa estava esperando por ela hoje à noite, quando precisava
tanto.
Tinha vindo aqui com a esperança de trazer de volta a sensação dos lábios de
Kirk sobre os dela, mas a tentativa se provou ser fútil. Só podia sentir os lábios de
Clay sobre os dela, apenas um toque de sua boca sobre a dela e, ainda assim, o
calor tinha disparado através dela. Sentiu o desejo de inclinar-se para ele,
pressionar-se contra o seu corpo, entrelaçar os braços ao redor de seu pescoço,
devolver o beijo com um fervor que excederia em muito o dele.
Ela se afundou nas profundezas da lagoa. Havia soltado seu cabelo porque
gostava da forma como a água parecia transformá-lo em mechas de nuvens que
flutuavam livremente através de um céu preto. Mas mesmo aqui, onde a água
cortava os sons da noite, não pôde exortar suas memórias de Clay. Ele assombrava
seus pensamentos e, ela temia que, se dormisse, ele assombraria seus sonhos.
Quando seus pulmões pareceram perto de rebentar, ela subiu para a
superfície da lagoa. Os sons da noite tinham mudado.
Ela queria gritar que ele não estava sozinho, mas o chão pelo qual caminhava,
estava trêmulo. Já tinha lhe oferecido muito mais amizade do que pretendia.
A música parou e ela viu, com espanto, que ele tirou suas roupas. Ele se
levantou, uma miríade de sombras e luar sobre seu corpo. Ela só teve tempo de
perceber quão alto e magro ele parecia, antes que ele pulasse da pedra.
Ela gritou.
***
Clay ouviu o grito estridente de uma mulher rasgar o silêncio da noite pouco
antes de mergulhar abaixo da superfície da água. Se não fosse por isso, poderia ter
pensado que seu pé tinha atingido um peixe invulgarmente longo e sedoso. Como
não era o caso, ele teve a sensação de que sua perna tinha aprisionado o
comprimento da perna de uma mulher.
Ele disparou em linha reta até a superfície, sua respiração ofegante quando
afastou o cabelo de seus olhos. — Cristo! O que está fazendo aqui?
Mesmo enquanto Meg lutava para se manter à tona na água, ela inclinou o
queixo. — Eu? O que você está fazendo aqui? Este foi o nosso santuário privado.
— E se ele disse?
— Maldito seja seu couro sem valor. Nós todos fizemos um juramento de
que iríamos manter este lugar em segredo.
— Quem é nós?
— Kirk, Stick, seus irmãos. Inferno, todos aqueles em torno de nossa idade.
Clay não sabia. Seu pé quente, nu, tocou-lhe, e ele deslizou para longe dela.
Ela estava, sem dúvida, vestida tanto como ele... que não era nada. Ele pensou que
a água ao seu redor poderia ferver se ele pensasse sobre isso por muito tempo. —
Eu vou sair.
Ele parou de andar e se perguntou onde tinha deixado à roupa. Pelo bem da
estátua ele deveria olhar por cima do ombro e checar se suas curvas eram tudo o
que ele pensou que fossem. Cerrou os punhos e foi para a pedra. Ver essas curvas
em seus sonhos era ruim o suficiente. Não precisava vê-las na carne.
Ele pegou suas roupas. Droga Kirk! O homem estava transformando-se mais
em um inimigo do que em um amigo.
Clay vestiu as calças e empurrou seus braços em sua camisa. Ela não poderia
ter conseguido uma boa olhada em seu corpo, não na escuridão.
Um botão em sua camisa voou para a noite. Ele amaldiçoou e tomou mais
cuidado com os outros botões.
Passou as mãos pelo cabelo molhado. Pelo menos estava coberto do ombro
aos pés. Senhor, quão perto ele chegou...
— Você está decente? — Meg perguntou com uma voz suave atrás dele.
Ela saiu das sombras e se sentou no chão ao lado da pedra. Colocou seus
sapatos ao lado dela e ele podia ver o contorno fraco de seus dedos dos pés
aparecendo por baixo de sua saia. Ela inclinou a cabeça, envolvendo seu cabelo
sobre o rosto de modo que os fios grossos se reunissem no colo, e começou a
escová-los.
Seu cabelo de ébano, brilhando a luz da lua, o lembrou da seda. Seus dedos
doíam para deslizar nele. Ele tinha cometido um erro ao trabalhar com pedra por
toda a sua vida.
— Por que você e os outros precisavam manter este lugar em segredo? — ela
perguntou.
— Coisas de homens.
Ela separou seu cabelo ao meio e olhou através da fenda de seda para ele. —
Coisas de homens? Como a guerra?
Ele tinha uma sensação de que ela sabia exatamente sobre o que eles tinham
discutido. Inferno, Kirk provavelmente tinha dito a ela sobre todas as conversas,
palavra por palavra. — Nós discutíamos as coisas que nos concernia.
Ela riu. — Mulheres! — Ela bateu no chão. — Por que você não se senta?
Clay olhou para ela. Ela parou de escovar os cabelos e olhou para ele. —
Será que você prometeu a ela que não iria dizer?
Clay levantou a cabeça. — Stick? Será que ele a levou para a serraria?
— Ele nos disse que levava as meninas em uma excursão na serraria depois
que todos partiam. Tinha três tipos de passeio: o passeio do beijo, o passeio do
toque, e o... — ele limpou a garganta.
Ela balançou a cabeça. — Na primeira vez ele me beijou atrás da escola, mal
tocando meus lábios. Um par de anos mais tarde, me levou para a serraria e
surpreendeu-me enfiando a língua na minha boca quando me beijou.
Ela assentiu com a cabeça. — Eu tinha cerca de treze anos. Não estava
esperando isso. Eu o mordi.
Clay riu. — Eu me lembro quando ele não pôde falar por uma semana. Ele
não nos disse o que aconteceu.
— Você nunca beijou uma garota antes de hoje? Você não beija as mulheres
quando faz amor...
Relutantemente, ele caiu de volta para o chão. Antes da guerra ele não tivera
um alguém especial em sua vida. E uma mulher comprada não tinha esse apelo para
ele. Agora, ele não tinha o dinheiro para as únicas mulheres que deveriam sofrer
com seu toque.
— Eu gosto de tortas.
— De que tipo?
— Nozes.
Ela jogou a trança grossa por cima do ombro. — Dê-me uma tigela de nozes
em algum momento e vou fazer-lhe uma torta.
— Dê-me duas tigelas de nozes para que eu possa ficar com uma torta. Isso
vai torná-lo justo.
— Deus, eu sinto falta deles — disse ele com uma voz áspera. — Kirk, Stick,
todos os meus amigos. Dói pensar sobre eles às vezes.
— A guerra não foi sobre estarmos juntos. Ela fez cada um de nós se
posicionar pelo que acreditávamos. Kirk não acreditava na escravidão, mas ele
acreditava que um Estado devia ter o direito de se separar.
— Não, eu fui poupado dessa indignidade, mas eu sei que muitos não foram.
Ela pegou o sapato e ele achou que ela o jogaria nele. Ela o deixou cair. —
Na manhã que Kirk partiu... o que ele disse para você?
Ela baixou a cabeça e cerrou os punhos. — Eu sabia. Eu sabia que ele queria
você ao seu lado. Dane-se. Maldito seja você, por ter traído a sua amizade.
Clay riu.
— O que é?
— Sua lealdade. Para com Kirk. Para com os homens que lutaram com ele.
Você nunca questionou seus motivos. Alguns dos homens que foram com Kirk
poderiam ter explicado a você pelo que eles estavam lutando. Alguns acreditavam
na escravidão. A maioria só queria participar de uma boa briga. Mas você está por
trás deles, apoiando-os, você quer um memorial para homenageá-los.
— O quê?
— Ele tinha ouvido que alguns dos homens mais velhos planejavam esticar o
meu pescoço, porque eu não me alistei. Ele queria me dar uma escolta armada para
o México, mas eu não estava interessado em partir.
— O que ele falou quando você disse a ele?
— A maior parte do que ele disse eu não posso repetir à uma senhora.
Basicamente, ele me chamou de idiota e disse que eu ia acabar morrendo por
minhas crenças. Perguntei-lhe se ele estava disposto a dar menos do que a sua vida
pelo que ele acreditava.
Dentro das sombras criadas pela lua, ele segurou seu olhar. — A única
diferença entre nós era que seu marido estava disposto a matar por aquilo em que
acreditava. Eu não estava.
***
Por cima do ombro, a lua cheia emprestava sua luz, criando sombras suaves
na noite. Sua sombra estendeu a mão e se atreveu a tocar o que ela não tocaria: o
homem caminhando ao seu lado. Suas sombras se juntaram até que ela já não podia
dizer onde cada uma começava.
Assim como ela não conseguia mais distinguir seus sentimentos por Clay.
No início, eles tinham sido como a rocha que ele agora esculpia, claramente
definidos, duros, implacáveis. De algum modo, os dias que se passaram, lascaram
seu ódio tão facilmente quanto ele parecia lascar o granito. Por momentos, ela se
sentia como se ele estivesse moldando-a em alguém diferente. Ela queria saber se
alguém em Cedar Grove iria olhar para o monumento que Clayton Holland criava...
e permaneceria o mesmo.
Quando ela apontou, ele se inclinou para o lado. — Eu vou ser capaz de ver
você entrar. — ele sorriu. — Deve ser interessante de ver.
Estudando-o enquanto ele estava diante dela, banhado pelo luar, ela se
lembrou de um momento em que ele teria sido bem-vindo à sua terra, uma época
em que ele não teria parado nos campos, mas ido até sua porta. Seu cabelo tinha
secado e as mechas escuras caíam sobre a testa. Ela resistiu ao impulso de tocá-las.
— Na verdade, esta noite é a primeira vez que fui desde que Kirk partiu. E
você? Quais noites você vai?
— Esta noite foi à primeira vez para mim, também. Você quer escolher um
par de noites para que eu não a incomode mais lá?
Erguendo a mão, ele foi tocar seu rosto antes de deixar cair à mão ao lado
como um sussurro. Estendendo a mão, Meg colocou os dedos em torno de sua mão
áspera e apertou-a contra seu rosto.
O beijo foi hesitante, inexperiente, fazendo com que Meg se doesse por todos
os beijos roubados que ele deveria ter tido em sua vida.
Ele passou a língua sobre seu lábio inferior. Ela colocou a mão na parte de
trás do seu pescoço, enfiando os dedos pelo seu cabelo. Então, ela tocou com a
língua a dele e puxou-a.
Gemendo, ele apertou a mão livre na cintura dela e puxou-a contra o seu
corpo, enquanto a mão que segurava seu rosto continuou a acariciá-la. Sua língua
se moveu lentamente através de sua boca como se saboreando o gosto.
Ele explorou sua boca com a mesma precaução com que esculpia a pedra,
pouco a pouco, tocando cada canto e recanto, deixando sua marca antes de
prosseguir. Ela não conseguia se lembrar de uma época em que alguém tinha sido
tão carinhoso, tão aparentemente capaz de apreciar o que ela tinha para oferecer.
Mesmo Kirk, por toda a sua bondade, nunca tinha sido tão delicado.
Encerrando o beijo, ele arrastou o polegar sobre seu lábio inferior. — Eu fiz
isso certo? — ele perguntou em voz baixa.
Meg moveu as mãos para longe de seu pescoço e deslizou-as ao longo de seu
peito. — Eu tenho que ir agora — disse ela em um sussurro rouco.
Ela correu para casa, mantendo a resposta à sua pergunta trancada dentro de
seu coração.
Capítulo 14
Antes do amanhecer, Clay estava de pé na porta do galpão, esperando.
Durante todo o dia, lascou a pedra, bateu no polegar mais vezes do que no
cinzel, olhou para fora das janelas, caminhou até a porta, olhou na direção de sua
fazenda e soltou um suspiro mais forte do que o vento.
O que estava contemplando estava errado, e ele sabia disso. Sabia que seria
um erro trabalhar sobre os detalhes do rosto de Kirk antes que esculpisse
completamente as silhuetas.
Inferno, ele a teria beijado. Teria a beijado mais e com mais ternura, até que
ela fizesse aqueles pequenos sons que Kirk lhe contara.
Beijou-a errado. Por isso que ela não tinha voltado. Talvez ele tivesse
segurado sua cintura com muita força, machucando-a. Talvez tivesse arranhado seu
rosto com a mão áspera. Deveria ter impedido seus dedos de tocarem cada
polegada de seu rosto que puderam alcançar.
Não conseguia pensar em uma única coisa que tinha feito direito.
Sentado na parte de trás da igreja, sabia que os dias, desde que tinha visto
Meg na lagoa, tinham sido igualmente longos para ela. Ela sentou-se no órgão,
olhando para o teclado, com os olhos fechados, derivantes de vez em quando, os
ombros caídos. Ela nem sequer pareceu retornar à vida quando tocou.
Será que ela se arrependera de deixá-lo tocá-la, deixá-lo beijá-la? Será que
seus arrependimentos a mantiveram acordada à noite? Será que o seu beijo dera a
ela pesadelos?
Queria dizer a ela que tinha começado a trabalhar nas feições de Kirk. Queria
dizer a ela que nunca iria beijá-la novamente, ou tocá-la. Nem sequer falaria com
ela se ela voltasse para vê-lo trabalhar.
Clay abaixou a cabeça e orou. Ele era o homem mais egoísta que conhecia.
Durante toda a semana, só tinha pensado sobre o quanto ele queria Meg. Nunca lhe
ocorrera que talvez alguém precisasse mais dela.
Ela começou a tocar o órgão e ele ergueu o olhar. Ele desejou que ela olhasse
para ele apenas uma vez, mas ela não o fez. Ele se levantou e caminhou para fora
da igreja.
Clay olhou para Lucian conforme as pessoas vagavam para fora da igreja. —
Isso é fácil para você dizer.
Clay respirou fundo. Ela iria odiá-lo ainda mais pelo que ele estava prestes a
fazer, mas seu coração não lhe deu escolha. Ele focou seu olhar sobre ela e
começou a andar.
Tirou seu chapéu de sua cabeça e seu olhar acariciou seu rosto enquanto ela
olhava para um botão em sua camisa. Ela parecia tão cansada que tudo o que ele
queria fazer era levá-la para casa e balançá-la em seus braços até que ela
adormecesse.
— Fiquei triste ao ouvir que Mama Warner ficou doente. Espero que você
diga a ela que ela está em minhas orações.
Não era muito. Não foi o suficiente, mas foi tudo o que ele se atreveu sob as
circunstâncias. Ele balançou a cabeça em direção a Robert, devolveu o chapéu para
a cabeça, e afastou-se, amaldiçoando-se pelo covarde que era.
***
De pé na porta do galpão, Meg não conseguia tirar os olhos do homem que
estava cuidadosamente desbastando pequenos pedaços de pedra. Ele parecia tão
cansado quanto ela. Se perguntou se ele tinha dormido tão pouco quanto ela esta
semana.
Em seus sonhos, Clay lascava a pedra e deslizava suas mãos sobre seu corpo.
Enquanto sonhava, ansiava por seu toque. Enquanto estava acordada, ansiava pela
segurança de seus sonhos, onde podia ter o que queria, sem sofrimento através do
desprezo de sua família ou vizinhos.
Clay parou de esculpir e enxugou a testa. Então, seu olhar caiu sobre ela e ele
tornou-se tão imóvel quanto à pedra.
Meg caminhou até o banco e olhou para ele. — Eu pensei que você não iria
trabalhar sobre os detalhes até que você cortasse toda a pedra.
Ela assentiu com a cabeça e Clay deu um passo para fora do banco. Ele
transferiu o cinzel para a mão que segurava o martelo.
Então, estendeu a mão vazia para ela.
Ela enfiou a mão na sua e sentiu os dedos fortes em torno dos dela quando a
ajudou a subir no banquinho. Quando ele começou a soltar sua mão, ela o deteve,
agarrando seus dedos. Lentamente, ela arrastou os dedos da outra mão sobre a
borda de um triângulo que um dia seria o nariz de Kirk.
— Eu espero que na outra semana, ou algo assim, eu tenha seu rosto como
ele deve ser.
— Eu vou me limpar.
***
Levantando-se da cama, Meg sorriu incerta para Clay antes de passar para as
sombras. Clay se sentou na cama e pegou a mão frágil dentro da sua, maior e
grosseira. Ele desejou ter colocado luvas.
A mulher idosa sorriu e afagou sua mão. — Você não veio me ver quando
chegou em casa.
— Você nunca foi inteligente. — Ela tocou-lhe o cabelo. — Você ficou mais
velho... mais velho do que é. Eu me lembro da última vez que te vi. Você estava
com o exército. Eles pararam aqui para um pouco de água. Lembra-se?
— Sim, senhora.
— Não, senhora.
Ele não queria falar sobre seu passado, especialmente com Meg de pé no
quarto. Ela parecia à beira de esquecer o passado. Ele não queria que o fogo do
ódio fosse reavivado. — Está tudo no passado. Não é bom permanecer pensando
nisso.
Meg engasgou das sombras e Clay se perguntou se a guerra nunca iria deixar
essas pessoas em paz.
— Uma vala comum para os nossos homens que lutaram com honra. Você
sabe se isso é verdade? — Mama Warner sussurrou com voz rouca, com lágrimas
nos olhos.
— Sim, senhora.
— Sim, senhora. Me desculpe por eu não os trazer para casa. Eu não tinha
uma carroça. Não tive um cavalo. Não sabia como voltaria para casa. Sei que eu
deveria ter encontrado uma maneira de trazê-los para casa. Não deveria ter deixado
Kirk lá. Ele não teria me deixado.
— Você sabe, Clayton? Será que qualquer um de nós sabe o que fazer
quando chegar a hora?
— Você cavou-lhes uma sepultura. Você fez um marcador. Você disse uma
oração para eles?
Ela lhe deu um sorriso caloroso. — Talvez você seja inteligente, afinal. —
Acariciou seu rosto. — Eu tenho um favor a pedir.
Clay pegou o papel e leu as palavras inscritas. — Eu vivi uma vida cheia de
lágrimas e sol do Texas e nunca me arrependi de nada, em nenhum momento.
— Sim, senhora.
Ela colocou a mão sobre a dele, e Clay pensou que ela iria apertá-la, mas seu
toque parecia mais a passagem de uma sombra no meio da noite. — Você fará meu
filho pagar por isso.
Seus dedos deslizaram de sua mão. — Estou cansada agora. Meg, dê a este
menino alguma torta antes dele ir.
— Sim, senhora.
Clay seguiu-a até a cozinha, uma cozinha que tinha visitado muitas vezes em
sua juventude. Cheirava à farinha, canela e açúcar. Cheirava a Mama Warner,
embora ela provavelmente não tenha entrado no local há um bom tempo. Ele
pensou que ela tinha passado tantos anos nesta sala, que ela sempre levaria uma
parte dela. Assim como na sua vida. Ela sempre estaria lá, em seu coração, mesmo
depois que ela deixasse este mundo.
Meg caminhou até a mesa. Clay caminhou até a porta e parou, virando o
chapéu nas mãos. — Eu não vou ficar.
Ela virou a cabeça rapidamente, a faca que ela tinha pegado pairando sobre a
torta. — Mas Mama Warner queria que você comesse alguma torta.
— Você pode dizer a ela que eu comi. Diga que eu gostei. — Ele colocou o
chapéu na cabeça e estendeu a mão para a porta.
— Por favor, fique — ela sussurrou, um leve tremor em sua voz. — É de noz.
Ele olhou por cima do ombro. Ela parecia vulnerável e tão malditamente
cansada. Ela tinha sido honesta no início sobre seus sentimentos e como iria tratá-lo
na cidade. Era irracional pensar que um par de beijos poderia destruir uma parede
construída sobre uma base de ódio. Relutantemente, ele acenou com a cabeça. —
Um pedaço.
Ela voltou sua atenção para sua tarefa. — Você gostaria de um pouco de café?
Ele limpou a garganta. — Eu, uh, eu estava preocupado quando você não
veio me ver trabalhar. Eu pensei... não sei... só pensei...
Ele voltou à torta para o prato antes que o suor em seus dedos fizesse
qualquer estrago. — Pensei que talvez o beijo tivesse incomodado você.
Lentamente, ela colocou o dedo contra o canto de sua boca. — Você perdeu
algo.
Incrédulo, ele observou seu dedo retirar o líquido branco em sua boca, e ele
se perguntou se ela tinha qualquer noção do que suas ações faziam com suas
entranhas.
— Não sei.
— Ela o viu?
Ela inclinou o queixo. — Sim. Ela queria que ele comesse um pedaço de
torta pelo seu tempo.
Clay se sentiu como se fosse um maldito cão sentado debaixo da mesa,
esperando por um pedaço da conversa ser jogado em sua direção. Colocou o
chapéu na cabeça e puxou a borda para baixo. — Vou sair agora. — Caminhou até
a porta. — É bom ver você, Robert.
Robert deu um passo para o lado. — Meu tio preferiria não ver sua sombra
cruzar esse limiar.
— Tenho certeza de que isso é verdade, mas se a sua avó pedir para me ver
novamente, só uma bala vai me impedir de entrar nesta casa.
Talvez fosse loucura um homem solitário querer ficar sozinho, mas Clay não
queria a companhia de seus irmãos depois de visitar Mama Warner.
Ele olhou para a lagoa. Nenhum movimento perturbava a água escura, que se
assemelhava a um espelho refletindo a luz pálida da lua. Durante momentos como
este, Clay desejava ser um pintor.
A pedra sustentava uma força que não esteve sempre lá. A pedra não
continha suavidade. Ao longo dos anos, ele passou a ter as mãos ásperas. Ele queria
que seu coração estivesse áspero também.
— Pensei que iria encontrá-lo aqui — uma voz tão suave como seda
sussurrou através da noite e Clay virou, inclinando-se contra a rocha. Pressionando
o calcanhar da bota contra um local gasto na rocha, fazendo com que seu joelho se
projetasse para fora, ele lutou para parecer calmo.
Meg caminhou até a pedra e olhou para a lagoa. — Ocorreu-me que você
mentiu para mim — disse ela baixinho.
— Quando?
— Quando eu lhe perguntei como Kirk se parecia na última vez que você o
viu.
Ela colocou a mão sobre a dele, onde ela repousava sobre a pedra. — Como
ele parecia da última vez que o viu?
Virando a palma para cima, ele apertou a mão dela. — Não faça isso.
Ela inclinou o rosto para ele, seus olhos se encheram de lágrimas, o que os
fez parecer tão profundos como a água do outro lado da pedra. — Ah, Meg.
Movendo-se em torno de seu joelho até que ela estava aninhada entre suas
coxas, ela colocou sua bochecha contra seu peito.
Clay colocou seus braços em volta dela. Ela era tão pequena. Ele achou que
nunca tinha percebido como ela era pequena. — Ele parecia... — fechando seus
olhos, ele engoliu em seco, engoliu a verdade: — ele apenas parecia como se
tivesse caído no sono.
— Eu o teria odiado mais. — Tocando seus dedos nos cabelos brancos das
têmporas, Meg se perguntou se sua busca em Gettysburg o tinha envelhecido.
Tentou imaginar o horror que ele enfrentou, vaguear através de um campo coberto
de corpos, procurando por aqueles que ele conhecia, sentindo o cheiro forte que
deve ter aumentado mais e mais a cada dia que passava e transportando corpos
mutilados para um lugar onde eles poderiam descansar em paz.
Apesar das palavras de Clay, que Kirk parecia como se tivesse adormecido,
Meg não poderia imaginar a morte vindo silenciosamente durante a guerra. Kirk
teria lutado contra a morte tão diligentemente quanto lutou contra os soldados da
União. Pressionando o rosto contra o peito de Clay, ela lançou a agonia de sua dor,
não mais certa de que suas lágrimas derramadas eram por Kirk... ou por Clay.
***
Clay sentiu o pequeno tremor viajar ao longo das costas de Meg. Ele apertou
seu abraço. — Meg?
Ela chorou soluços tristes que se erguiam do poço profundo de seu coração.
Ele olhou para as estrelas. Supôs que se ela precisasse ou quisesse mais dele do que
seus braços em torno dela, ela diria a ele.
— Não, senhora.
Ela levantou a saia e assuou o nariz antes de limpar as lágrimas do rosto. Ele
teve um vislumbre de algodão branco e fechou os olhos contra a visão. Ele nunca
percebeu o quão sedutor um algodão branco poderia ser.
— Você chorou?
Ele queria dizer que ela estava bonita esta noite, mas não sabia como
expressar as palavras sem que soasse como se ele fosse um pequeno colegial doente
de amor.
Ela apertou o dedo em seus lábios. — Você disse que gastou muito tempo
pensando sobre o nosso beijo. Eu pensei sobre isso também. — Ela colocou a mão
em torno da curva de seu pescoço e enfiou os dedos para cima em seu cabelo.
— Meg — Ele não estava certo do que tinha planejado dizer, mas sabia que
não poderia ter sido importante, porque as palavras sumiram de sua mente assim
que seus lábios tocaram os dele. Sua boca estava tão quente como uma sombra em
agosto e tão suave como um pedaço de veludo que sua mãe tinha costurado em uma
de suas colchas.
Ele embalou seu rosto entre as mãos, inclinou sua boca sobre a dela e
congratulou-se com a bem-aventurança que ela ofereceu.
Corajosamente, ela deu à língua a liberdade para vaguear dentro de sua boca.
Ela suspirou. Ele gemeu.
Ele pensou que um homem poderia estragar-se tocando uma mulher. Ele
poderia nunca querer tocar na pedra novamente.
A pedra não era quente. Ele não alterava sua forma com a mais delicada das
pressões. A pedra não respirava para que ele pudesse sentir sua umidade em seu
rosto. Pedras não faziam sons suaves que levaria com ele até o dia que morresse.
Ela retraiu sua boca para longe da sua, e ele se obrigou a não se aproximar e
recuperar o que queria.
Seus olhos estavam escuros dentro das sombras da noite, mas ele sentiu a
intensidade do seu olhar tão fortemente como sentiu os dedos apertando pelo
controle sobre seu pescoço.
— Então por que estou aqui? — Ela arrastou seus dedos sobre seu rosto,
tocando cada linha, vinco e fenda.
— Robert me beijou hoje à noite. — Ela esfregou o polegar sobre seu lábio
inferior. — E tudo em que eu conseguia pensar era sobre beijar você.
Ela voltou à boca para a dele. Se isto fosse ódio, ele provavelmente morreria
se a mulher o amasse. Seu coração batia tão forte que ele estava certo de que ela
podia senti-lo vibrando através de sua camisa. Cada vez que ele respirava trazia
consigo o cheiro de madressilva. Suas mãos, tão pequenas, deslizaram por baixo do
colarinho de sua camisa. Seus dedos magros se moveram suavemente, criando
pequenos círculos em seu pescoço, que viajaram para baixo, até seus dedos do pé.
Então ela abriu os lábios e lhe deu o maior tesouro de todos: sua quente, úmida, e
sedosa boca convidando-o para casa.
***
Meg sentiu a hesitação de Clay para seguir seu exemplo. Ela brincou com
sua língua, sugou-a, em seguida, convidou-a em sua boca. Ele gemeu e ela sentiu
um arrepio correr ao longo de seu corpo. Ela achou sua incerteza cativante. Quando
se tratava de assuntos do coração, ele mantinha uma inocência que ela raramente
tinha visto desde a guerra.
Sabia que Kirk havia beijado uma abundância de meninas antes que ele a
beijasse. Sabia que ele tinha estado em outras camas antes que ele a tomasse como
sua esposa. Ele lhe ensinara os prazeres encontrados com um homem, tinha dado
muito mais do que ele tinha tomado. Tinha sido um professor qualificado e ela uma
estudante apta.
Ele moveu suas mãos de volta para seu rosto, seus dedos traçando
cuidadosamente as curvas do seu rosto, as linhas de sua testa, e a saliência do
queixo. Ele tocou-a como se ela fosse tão delicada quanto o vidro. Ele tocou-a
como se ela fosse mais preciosa que o ouro.
À luz da lua, ela podia ver o mais triste dos sorrisos tocar seus lábios. — Eu
gostaria de ter mãos diferentes. As minhas são tão feias, que não devem tocar-lhe.
Envolvendo seus dedos em torno de suas mãos, ela levantou-as aos lábios e
deu um beijo em seus dedos.
Soltando uma das mãos, ela virou a outra para cima e passou os dedos sobre
a superfície rugosa, uma palma que era tão áspera como as pedras que ela tinha
acariciado ao longo dos anos. Ela deu um beijo no centro da palma da mão. — Eu
gosto de suas mãos.
— Por quê? — Ele perguntou e ela ouviu a descrença espelhada em sua voz.
— Elas são tão grandes. Elas parecem e são ásperas como a pedra.
Ela esfregou o rosto ao longo de sua mão. — Mas elas não tocam como uma
pedra. Eu vejo a forma como você lasca a pedra, e então você a toca como se
estivesse se desculpando por tratá-la tão duramente, como se você não percebesse
que você está fazendo um favor ao transformá-la em algo belo. Eu senti falta de ver
você trabalhar esta semana até o ponto em que reclamava de cada vizinho que
parou para visitar Mama Warner, porque tive que bancar a anfitriã e não poderia
esgueirar-me por alguns minutos. Eu não me importo de cuidar de Mama Warner,
mas me desgasta cuidar de todas as pessoas que vêm para vê-la.
— Eu nunca me senti mais solitário na minha vida do que no dia depois que
vim aqui e você não veio me ver trabalhar. Comecei a esculpir as feições de Kirk
porque pensei que iria trazer você de volta para mim.
— Você vai parar de trabalhar em seu rosto, agora que você sabe por que eu
não fui?
Ele balançou a cabeça. — Não, eu vou em frente e terminarei agora que já
comecei. Posso esculpir suas feições, também, apenas para que eu não me sinta tão
malditamente sozinho.
— Eu sei.
Ela pressionou sua mão contra seu peito. — Não pare de trabalhar no
monumento.
Ela dizia a ele sobre o seu dia, cuidando de Mama Warner. Ela nunca falava
o suficiente para satisfazê-lo. Ele poderia ter ouvido a sua voz suave durante toda a
noite, também no início da manhã, se ela ficasse com ele por muito tempo, mas ele
sempre a acompanhava para casa por volta da meia-noite, observando enquanto ela
subia pela janela, desejando que pudesse acompanhá-la corajosamente até a porta
da frente.
Os dias eram mais curtos quando ele tinha as noites para ansiar, mas as
noites não eram longas o suficiente.
— Desejando que eu fosse um pintor. Eu usaria sua trança como meu pincel,
a mergulharia nas cores, e criaria as pinturas mais bonitas do mundo.
Palavras que ele não se atrevia a falar derivavam por sua mente. Perguntas
com respostas que ele preferiria não ouvir, se perguntasse. Se ela o odiava, por que
o encontrava aqui todas as noites? Se ela o odiava, por que acolhia o seu toque? Se
ela o amava, por que o encontrava secretamente?
Se ele a amava, por que não a deixava sozinha em vez de atraí-la a seu
mundo, um mundo ofuscado de amor, com batalhas ainda sendo travadas sobre
uma guerra acabada?
— Um longo trabalho. — Ele levantou seu rosto, seu olhar segurando o dela.
— Eu quero que você venha e veja o que eu fiz, antes de ir para casa hoje à noite.
Andando pela noite sem lua, com a mão enrolada firmemente dentro da dele,
Meg queria dizer a Clay que ele já tinha trazido alegria a ela.
Assistir Mama Warner ficar mais fraca a cada dia que passava, sabendo que
ela não podia fazer nada além de oferecer conforto e companhia, fazia Meg voltar
para casa esgotada todas as noites. Apenas o conhecimento de que ela veria Clay
levava-a através das longas horas do dia.
Ela não sabia por que tinha negado a si mesma o prazer de sua companhia na
primeira semana ou por que ela pensou que estava cansada demais para rastejar
para fora da janela e correr para a lagoa escurecida.
Ela gostava de ouvir sua voz quando ele falava sobre o seu dia. Entalhar, ela
descobriu, era muito parecido com arar um campo, com apenas as ideias esperando
para serem colhidas a partir de sementes plantadas em sonhos. Hipnotizada, assistia
suas mãos criarem formas no ar, como estava certa de que tinham criado formas na
pedra. Ele falava baixo, sua voz era uma carícia na noite. Ela ouvia o som de sua
voz, sentia a sensação de seu beijo em seus sonhos, ganhava força da pequena
quantidade de tempo que eles tinham a cada noite.
Eles se aproximaram do galpão, e ele agarrou sua mão com mais força
conforme desacelerou seus passos. Ele abriu a porta do galpão.
Eles entraram no galpão e ele soltou sua mão. Ela ouviu-o caminhar e, então,
uma chama queimou quando ele acendeu uma lamparina. Levantando-a, ele
caminhou em direção à estátua.
Ele estendeu a mão. Deslizando sua mão na dele, ela deu um passo para o
banco. Com os dedos trêmulos, ela tocou o rosto de pedra.
— Parece com ele — disse ela com admiração. Ela retirou a outra mão do
aperto de Clay e tocou ambas as palmas nas bochechas de Kirk. Ela correu os
dedos sobre a testa de pedra, junto aos olhos, e para baixo do nariz. — Está perfeito.
— Você capturou tão bem o homem que ele era antes da guerra. Olhe para o
orgulho refletido em seu rosto. Ele não tem dúvidas. Ele acredita no que ele está
fazendo. — Ela suspirou melancolicamente. — Eu queria que Mama Warner
pudesse ver isso.
— Ela está tão fraca, não pode sequer sair da cama, e você certamente não
pode arrastar o monumento até ela.
— Ela está muito frágil. Não acho que ela poderia viajar para tão longe.
— Amanhã?
Meg sabia que era improvável que Mama Warner vivesse o suficiente para
ver o monumento concluído, mas Clay tinha acabado de esculpir o que ela mais iria
se importar. — As pessoas perambulam dentro e fora de sua casa durante todo o dia.
Tudo que precisamos é de uma delas para contar a Robert ou ao Sr. Warner e,
depois do que você se atreveu, Robert atiraria em você. O que restou da família,
provavelmente, viria atrás de você com todas as armas carregadas.
Meg colocou as mãos nos quadris. — Então, Robert não te procuraria? Ele
poderia simplesmente atirar em você quando cruzar a soleira da porta.
— Não se ele não souber que estou cruzando a soleira. O homem tem que
dormir um pouco.
— E se formos apanhados?
***
— Tire suas botas — Meg sussurrou enquanto ela lutava para tirar seus
sapatos.
Meg girou a cabeça ao redor. — Eu não sei, mas Kirk sim. Eu assumi que
desde que eles são primos...
Ele pulou para fora da carroça e caminhou ao redor da mula. A lua era
apenas um pedaço de prata no céu, as estrelas cintilavam como mil diamantes. Ela
não sabia se eles poderiam ter escolhido uma noite melhor para sua aventura
clandestina.
— Prometa-me que se nós acordarmos Robert você vai sair pela porta.
— Ele não vai ficar com raiva de mim. Com toda a probabilidade, ele vai
atirar em você.
— Eu não estou pedindo para você fugir. Eu só estou pedindo para você
partir se nós acordarmos Robert.
— Vou dizer que eu não conseguia dormir e vim olhar Mama Warner.
Ele baixou a chama na lamparina até que ela era pouco mais que um sussurro
de luz no escuro. — Tudo bem, vamos tentar não acordá-lo.
Ela correu para pegá-lo e envolveu a mão em seu braço oscilante quando se
aproximavam da casa. — Deixe-me ir primeiro — ela sussurrou.
Se Robert acordasse, ele ficaria menos alarmado se visse Meg andando pela
casa. Clay deu um aceno brusco. Meg pegou a lamparina e lentamente abriu a porta.
Ela olhou para a cozinha escurecida e ouviu atentamente.
Clay entrou atrás dela, e Meg podia jurar que ele pisou no chão. Com o dedo
pressionado em sua boca, ela se virou e olhou para ele. Ele deu de ombros.
Respirando fundo, ela cautelosamente andou nas pontas dos pés pelo
corredor. Ela espiou pela porta entreaberta.
Meg pressionou seu dedo nos lábios da mulher mais velha. — Temos que
ficar quietos.
Mama Warner acenou com a mão como se espantando uma mosca irritante.
Então ela estendeu seus dedos nodosos para Clay. Sua mão maior engoliu a dela.
— Meg disse que você me levará a uma aventura.
— Sim, senhora. Eu vou ser tão gentil quanto eu puder, mas me diga se eu te
machucar.
Meg se esqueceu de alertar para ele ficar quieto. Ela esqueceu sobre tudo,
além de ver o cuidado com que ele envolveu um cobertor em torno de Mama
Warner antes de, cautelosamente, levantá-la em seus braços e embalá-la contra seu
peito.
— Você sabe como segurar uma mulher para que ela se sinta preciosa. Me
faz desejar ser 60 anos mais jovem.
Meg fechou a porta. — Como você pode andar tão lento quando suas pernas
são tão longas? Normalmente eu não posso manter-me com você. Hoje à noite,
quando importa, você é mais lento que uma tartaruga.
Ela olhou por cima do ombro. No meio das tênues sombras, Clay se sentou
no banquinho, segurando a avó de Kirk em seu colo e balançando a cabeça, um
sorriso terno em seu rosto. — Não, senhora. Você não é nenhum problema.
Ela acariciou seu rosto. — Você deveria ter partido há anos atrás pela minha
porta traseira quando teve a chance. Você teria muito menos rugas em seu rosto.
— Se tivesse saído por sua porta traseira naquele dia, eu nunca teria sido
capaz de voltar por causa disso.
Rastejando para fora do galpão, ela se dirigiu para a casa. Ela bateu
levemente e esperou alguns instantes antes de empurrar lentamente a porta aberta.
O brilho âmbar de um fogo morrendo na lareira e a baixa chama em uma lamparina
em cima da mesa jogavam uma luz pálida sobre a sala. Ela entrou na casa e pegou a
lamparina. A parede à sua direita continha uma porta fechada, como a parede à sua
esquerda. Ela escolheu a porta à sua direita. Ela atravessou a sala e bateu os dedos
na porta. — Lucian?
Ela tocou a ponta do cabelo com a qual ele tentou fazer ser um pincel. Ele
não tinha as habilidades com o pincel como tinha com um cinzel e martelo. Ele
poderia moldar pedra, mas não poderia fazer seu cabelo fazer nada, além de cair
sobre a testa.
Meg se virou, sua mão apertou a garganta dela — Oh, Lucian. Eu estava
procurando por você.
— Eu não sabia que este era o quarto dele... não num primeiro momento, de
qualquer maneira. Ele precisa de você no galpão.
Ele segurou a porta aberta para ela e voltaram para a noite. Eles caminharam
em silêncio até o galpão.
Meg cruzou para o outro lado do galpão e Clay levantou a cabeça, a testa
franzida. — Mama Warner adormeceu enquanto estávamos esperando por você.
— Ah, sim. O monumento. Não vai ser o que você queria, Meg.
— Eu acho que vai ser exatamente o que eu queria. Você queria tocar Kirk,
lembra?
De pé, Meg se moveu para o lado, e Lucian tomou Mama Warner de Clay.
Clay subiu no banquinho e apoiou suas pernas. Ele levantou Mama Warner em seus
braços e segurou-a em direção à estátua.
***
Inclinando-se contra a rocha, Meg assistiu como Clay espalhava a colcha no
chão. Eles haviam levado Mama Warner para casa e depois tinham vindo para a
lagoa. Com tão pouca lua, a escuridão escondia a maior parte das ações de Clay.
Ela tentou manter um muro de ódio, mas ele tinha lascado o muro pouco a
pouco. Ele tinha começado inocentemente no dia em que ela o viu brincando com
os gêmeos nus no rio. Ela se lembrava de todos os atos altruístas que havia servido
como seu cinzel, cada bondade como seu martelo.
Agora ela viu sua silhueta estirar-se e ele puxar os cantos da colcha pela
grama. Ele ajoelhou-se sobre a colcha e apoiou as mãos sobre as coxas. — Você
está estranhamente quieta. Prefere que eu te leve para casa?
Ela pressionou a boca na dele, e ele ergueu as mãos ao seu rosto, o único
lugar que ele já tocara nela. Ela deslizou a mão ao redor e começou a desabotoar
sua camisa. Ele retirou a boca da dela com uma velocidade relâmpago.
— Por quê?
Ela passou a mão ao longo de sua camisa. — Porque eu quero tocar seu peito,
e as costas nuas.
Clay olhou para a mão dele tocando seu rosto. Ele podia ver o contorno de
seu rosto, mas não conseguia distinguir a superfície suave. Esperava que as
sombras escondessem suas imperfeições tão facilmente como escondiam sua
perfeição. Ele roçou os lábios nos dela, esperando que ela encontrasse a permissão
de que precisava.
Ela encontrou.
Clay não queria afastar-se do beijo, não queria dar-lhe uma visão clara do
seu peito, mas ela puxou sua camisa, não lhe dando escolha. Ele tomou um último
gosto dela antes de se inclinar para longe e levantar os braços. Ele sentiu o toque
quente do ar noturno em cada polegada de seu peito e costas enquanto ela tirava
lentamente a camisa sobre sua cabeça. Ele se perguntou se ela estava pensando, se
ela estava considerando cobri-lo de novo. A camisa tinha se levantado para
esconder seu rosto para que ele não pudesse mais ver Meg, e ela não sabia se isso
era uma bênção ou uma maldição.
Ele sentiu suas curvas deslizarem contra seu peito enquanto ela tirava a
camisa de seus braços. Ele nunca tinha percebido como malditamente longo seus
braços eram. Suas mãos ganharam sua liberdade, e ele deixou-as cair para o lado.
Então ela puxou a camisa fora de sua cabeça, e ele se viu olhando para seu rosto na
escuridão. Ele não podia imaginar o que ela estava pensando. Ele amaldiçoou a
escuridão abençoada. Desejou que ele pudesse vê-la claramente, sem ela vê-lo.
Com os dedos trêmulos, ela delineou seus ombros. — Eu sinto você como eu
pensei que iria — ela disse suavemente. — Fica tão quente no galpão. Eu me
mantive esperando que você tirasse sua camisa para que eu pudesse vê-lo trabalhar.
É como se quando você molda a pedra, ela moldasse você.
Ela arrastou as mãos ao longo de suas costas e pressionou os dedos contra
cada músculo e osso que ele tinha, enquanto ele estava sentado como uma estátua.
Ela tinha mãos tão pequenas, tão gentis. Nunca em sua vida alguém o tocara com
tanta ternura. Ele queria retribuir o favor, mas estava com medo de que ela parasse
se ele se movesse.
— Eu nunca percebi o quão incrivelmente forte você tem que ser para lascar
a pedra. Você se move com tanta graça, mostrando tão pouco esforço, mas eu posso
ver a força em suas mãos, senti-la em seus ombros e costas. Eu poderia facilmente
passar o resto da minha vida assistindo você cortar pedras.
Ele poderia facilmente ter passado o resto de sua vida olhando para ela
assistindo-o, tê-la sentada naquela cadeira, enchendo o galpão com o perfume de
madressilvas. Se ele diminuísse o ritmo no monumento, talvez ele pudesse mantê-la
com ele por três anos, mas sabia que uma vez que ele o terminasse, a cadeira ficaria
vazia, a madressilva iria desaparecer, e tudo que ele teria seriam lembranças de
uma mulher que tinha tocado nele uma noite, como se ela já não o odiasse.
Ela passou as mãos para trás até seus ombros antes de mover lentamente seus
dedos abertos em direção ao seu peito.
Ele passou as mãos em volta das dela para parar a exploração. Temia que,
mesmo na escuridão, ela fosse descobrir coisas sobre ele, que preferia que ela não
soubesse. — Eu gosto quando você toca em minhas costas — disse ele enquanto
guiava suas mãos em torno de seus lados.
Inclinando-se para frente, ela arrastou beijinhos ansiosos por sua garganta,
marcando-o com a cura de sua boca. — Você pode me tocar, também — ela
sussurrou pouco antes de mordiscar sua orelha.
Ele flexionou os dedos e os tocou levemente em suas bochechas. Ele
inclinou a cabeça longe de seu ouvido e cobriu a boca dela com a sua. Ela suspirou
baixinho, e ele conteve um gemido de contentamento. Ela provavelmente pensaria
que ele estava com dor, se continuasse a soar como um animal cada vez que ela o
tocava.
Ela moveu seu corpo e ele sentiu seus seios sussurrarem ao longo de seu
peito. Ela moveu as mãos fora de sua carne e ele sentiu-as moverem-se entre seus
corpos. Ele jogou a cabeça para trás. — O que você está fazendo?
Ele assistiu com espanto como o material de sua blusa se separava e sua
garganta ficava à vista.
Clay sentiu como se alguém tivesse acabado de pôr algodão em sua boca.
Esfregando as mãos ao longo de suas coxas, ele tentou acalmar seu tremor. Ele
estendeu a mão para o botão e seus dedos roçaram as ondas de seus seios. Ele
empurrou as mãos para trás. — Talvez seja melhor você desabotoar esse.
Ele respirou fundo e voltou seus dedos ao botão. Suas mãos não queriam
cooperar. Elas não queriam apertar um botão através de um buraco. Elas queriam
abrir e ter seus seios. Ele tentou forçá-las a esquecer que elas estavam aninhadas
entre o exuberante vale de seus seios. Seu botão saiu voando para a noite.
Ela colocou as mãos em torno das dele. — Eu não estou preocupada com o
meu botão. Estou preocupada que talvez você não queira o que estou oferecendo.
— Tudo de mim.
— Quando?
Ela balançou a cabeça. — Não, eu não odeio você há muito tempo. Eu tentei
te odiar. Eu fingi que eu odiava porque assustou-me ter todos estes sentimentos de
novo. Eu amei Kirk. Eu queria morrer quando ele morreu. Eu achei que não me
apaixonaria por mais ninguém. — Ela colocou a palma da mão contra sua bochecha
e sorriu com ternura, com lágrimas nos olhos. — Mas eu me apaixonei.
Tomando-lhe a mão, ele deu um beijo no centro de sua palma. — Eu não sei
como te mostrar o que eu sinto sem estragar tudo sobre mim... e você.
— Então eu vou lhe mostrar — disse ela em uma voz tão sensual como a
noite.
Ele não sabia se iria sobreviver com ela se mostrando a ele, mas estava
disposto a arriscar. Ela presenteou-o com seu perfil enquanto tirava seus sapatos.
Ele puxou as botas e jogou-as de lado. Ele se preocuparia em encontrá-las mais
tarde. Ela tocou seu joelho e podia muito bem ter tocado o seu coração, tão leve foi
a sua carícia.
Ela subiu a saia sobre seu joelho. E ele viu como ela deslizou lentamente sua
meia para baixo, sobre seu tornozelo e passou-a pelos dedos dos pés. Onde estava
uma lua cheia, quando ele precisava de uma? Uma que iria brilhar sobre ela e não
sobre ele.
Ele envolveu sua mão ao redor de sua panturrilha. — Você é tão suave, tão
suave. — Ele rolou a meia para baixo, tirou-a, e cobriu seu pé com a mão. — Você
tem pés pequenos.
— E orelhas pequenas.
Ele levantou o olhar para seu peito, onde seus dedos estavam ocupados
dando liberdade para seus botões. O vale aumentou. — Eu não acho que eles são
tão pequenos quanto eu pensava.
Ela tirou a blusa, expondo seus ombros para a noite. Ele espiou a fita
segurando a chemise. A fita desapareceu, e o material se separou.
Ela pôs-se de joelhos e deslizou as alças de seus ombros. — Você faz o resto.
Ele se atrapalhou com os botões, fitas, rendas e algodão, mas ela não pareceu
se importar. Ela moveu-se ligeiramente para se acomodar às suas necessidades,
dando-lhe um acesso mais fácil para suas roupas. Ele não sabia como suas mãos
trêmulas conseguiram tirar as roupas e empilhá-las ao seu lado, mas elas fizeram.
Sem prender seu cabelo e abanando-o sobre os ombros nus, ela riu levemente.
— Eu nunca fui tão ousada.
— Eu nunca me senti tão tímido. Eu queria que você não tivesse nenhuma
experiência com isso.
Ela apertou seus ombros até suas costas bateram na colcha — Você não está
competindo com ninguém esta noite. Somos só você e eu. — Ela passou a mão
sobre a frente de suas calças. — Não há fantasmas do meu passado — Ela
desabotoou suas calças. Ele levantou os quadris, e ela habilmente tirou as roupas
restantes.
Clay estava respirando como se tivesse acabado de correr para o topo de uma
montanha, e ela estava sentada lá tão calma como o amanhecer, arrastando os dedos
para cima e para baixo de sua coxa, tocando seu joelho e movendo os dedos mais
perto de sua virilha com cada deslizada. A mulher era uma especialista em tortura.
— Não.
— Você quer uma mulher tocando em você?
— Não.
Ela parou, e Clay se levantou. Ele embalou sua bochecha na palma da mão.
— Eu quero que você me toque. — Ele beijou-a profundamente, com mais
urgência do que jamais experimentou. A curva do seu seio roçou seu peito, e ele
queria esmagá-la contra ele, sentir seu peso em cima dele.
Sua mão acariciou lentamente a parte superior de sua coxa, circulando para
cima. Sua respiração agitada. Seus dedos viajaram pelo seu estômago, arrastaram
ao longo de sua outra coxa, em seguida, tocaram em toda a passagem, e
acariciaram-no com uma intimidade que causou a seu corpo uma explosão com
uma série de espasmos quase violentos. Perdido nas sensações de fogo, ele enterrou
o rosto em seu cabelo até que seu corpo esteve calmo, e sua respiração desacelerada.
— Sinto muito — ele murmurou.
Embalando seu rosto, ela moveu seu rosto de seu pescoço. — É o que eu
queria.
Lentamente, quando seus sentidos retornaram, ele percebeu que a outra mão
dela ainda estava acariciando-o. Se ela tivesse sido repelida pela reação de seu
corpo ao seu toque, ela tinha uma forma estranha de demonstrá-lo.
— Que você iria me levar direto para o céu. — Ele deu-lhe o que esperava
ser um sorriso diabólico. — Agora é a minha vez de levá-la para o céu.
Usando seus dedos, ele afastou seus cabelos de seus ombros para que suas
curvas fossem uma silhueta visível no meio da noite.
Lentamente, ele deslizou as mãos ao longo dos seus ombros, por seu lado até
que pôde sentir o peso de seus seios aninhado em suas palmas. — Você não é nada
como a pedra, Meg. A pedra é dura e áspera. Inúmeras vezes fizeram minhas
palmas sangrarem. Temperou minhas mãos para que eu muitas vezes esquecesse
que há coisas suaves neste mundo. Você me faz desejar nunca ter corrido minhas
mãos sobre a pedra, que eu tivesse segurado coisas macias para você.
— Eu já lhe disse antes que eu gosto de suas mãos. Gosto da maneira como
eu as sinto sobre a minha pele. Eu sinto que elas estão sussurrando segredos.
Meg estudou as sombras de seu rosto. Mesmo no escuro, ele parecia mais
velho do que ele era; até mesmo sua inocência tinha sido manchada pela guerra. —
Apenas me toque... com as mãos... com a boca... com o seu corpo.
Ele colocou seu corpo parcialmente sobre o dela. — Eu quero que você goste
de estar comigo.
— Então me beije.
Ele aproximou sua boca para cobrir a dela. Meg acolheu-o com um
desespero que a inquietou.
Ele passou a língua dentro de sua boca enquanto passava o dedo ao longo da
parte inferior de seu seio. Ela sentiu os seios incharem e o calor viajar através de
seu corpo. Rolando um pouco, ela apertou-se contra sua coxa nua.
Ele era incrivelmente sólido, seus músculos firmes e apertados. Ela passou
suas mãos ao longo de suas costas e se perguntou como ele poderia parecer tão
magro e ser tão forte. Seu toque continha uma força temperada com gentileza.
— Você tem um gosto bom — disse ele sem mover a boca de seu seio.
— Assim como você quando você não está sendo mesquinho com sua boca.
Ele riu e moveu seu peso para que estivesse aninhado entre suas coxas. Ele
arrastou a boca de um seio para o outro, em seguida, deslizou-a ao longo de seu
estômago enquanto ele se sentava em seus calcanhares. Lentamente, deslizou suas
mãos sobre seu corpo. — Você é perfeita, Meg. Você sabia disso? Se eu fosse um
escultor verdadeiro, eu sempre usaria você como minha modelo.
— Você é um escultor verdadeiro.
— Não, Meg. Eu sonhava em ser um escultor, pensei que poderia ser um,
mas não sou. Já cometi alguns erros no monumento. Eles são pequenos, quase
imperceptíveis, mas sei que eles existem. Penso que você deve saber disso antes de
tornarmos a ir mais longe.
— O monumento não tem nada a ver com o que está acontecendo entre nós
esta noite. Eu te amo, Clay.
Seu nome sussurrado por seus lábios foi algo que Clay tinha ansiado tanto
quanto ansiava por seu amor, seu toque, seus olhos segurando os seus como se ela
não visse nada do que se envergonhar sobre ele.
Sentando-se, ela espalmou sua bochecha e sussurrou seu nome mais uma vez
antes de beijá-lo com ternura.
Meg beijou sua bochecha, o queixo, o oco na base de sua garganta, onde ela
estava certa de que o suor se reunia quando ele trabalhava. Passando as mãos ao
longo de seus ombros e braços, ela deitou de volta na colcha. — Venha até mim,
Clay.
Ele colocou seu corpo sobre o dela. Deslizando a mão entre seus corpos,
Meg abriu-se para ele e guiou-o para casa. Ele estremeceu e parou. — Oh, Deus,
como me sinto bem. Eu não esperava sentir você assim.
Apoiado nos cotovelos, ele abaixou a boca para a dela, aceitando sua oferta.
Meg sentiu o calor entre suas coxas acender e inflamar em um fogo furioso.
Contorcendo-se debaixo dele, ela encontrou seus impulsos e enterrou os dedos em
suas costas.
Clay escutou como seus gemidos suaves enchiam a noite. Ele nunca tinha
ouvido nada mais bonito em sua vida. Ela engasgou e ele queria perguntar a ela o
que ela precisava dele. Ele aumentou o ritmo de suas estocadas e mergulhou mais
profundamente. Ela arqueou as costas e chamou o seu nome para os céus. Foi tudo
o que precisava para enviá-lo em espiral sobre a borda.
Quando a tempestade passou, ele ainda podia sentir o leve pulsar de seu
corpo em torno dele. Ele beijou seu pescoço, queixo, sua bochecha, os lábios, antes
de enterrar o rosto em seu cabelo. Ele apertou seu abraço. — Eu achei que ninguém
jamais iria me querer — ele sussurrou.
Ela arrastou seus dedos ao longo das suas costas, sobre seus ombros, e tomou
seu rosto entre as mãos, virando-o para que seus olhares pudessem se encontrar na
escuridão.
Então ele viu o que estava esperando quando Robert saiu da igreja sozinho.
Sua partida deixou apenas uma pessoa lá dentro. Clay puxou a aba do chapéu sobre
a testa. — Voltarei em um minuto — ele falou por cima do ombro para seus irmãos,
antes que começasse a caminhar de volta para a igreja.
Para sua surpresa, Meg tinha parecido radiante tocando o órgão, embora ele
não a tivesse levado para casa até o amanhecer. Ele bocejou durante a maior parte
do serviço e teria caído no sono, se não fosse pelo fato de que teria sido privado do
prazer de olhar ela.
Ele tentou ser discreto enquanto caminhava para a igreja, mas os murmúrios
das pessoas em pé no adro da igreja subiram como gafanhotos descendo para
devorar as culturas. Tirando o chapéu, entrou pela porta aberta no santuário. O
edifício ecoou seus passos enquanto ele caminhava pelo corredor.
Parando, ele sorriu quando Meg caminhou em sua direção. — Bom dia.
Seu passo era hesitante e ela olhou rapidamente ao redor da igreja vazia.
— Pensei que eu poderia levá-la para casa ou para Mama Warner... onde
quer que seja que você esteja indo.
Ela empalideceu. — Por favor, não fale comigo aqui. Tínhamos um acordo
para ignorar o outro na cidade.
Ela começou a passar por ele, e ele agarrou seu braço, girando-a para ele. —
Eu pensei que o que se passou entre nós na noite passada enviou esse acordo para o
inferno.
— Meu pai vai matá-lo se ele vê que você está falando comigo.
— Eu não.
— Tira a mão de cima dela, seu covarde de barriga amarela. — A jovem voz
masculina reverberou pelas paredes da igreja.
Clay olhou por cima do ombro de Meg para ver seu irmão em pé na porta,
com as pernas separadas, mãos fechadas em punhos apertados.
Ele soltou-a. Como se fosse dizer algo mais, ela abriu os lábios ligeiramente.
Então caminhou para fora da igreja.
Clay questionou se deveria dizer a seu irmão que ele estaria fazendo um
favor a ele se o matasse... porque seu coração tinha acabado de morrer.
***
A escuridão envolvia Meg. Antes ela sempre encontrava conforto na noite;
agora era como se ela tivesse caído em um poço de solidão.
Ela esperara por horas na lagoa, mas Clay não havia chegado. Ela olhou para
sua casa. Tudo parecia sereno. Certamente, se ele tivesse sido ferido ou adoecido,
ela teria visto algum sinal.
Correndo em direção ao lado da casa onde ela sabia que seu quarto estaria,
ela tropeçou e caiu. Sentando-se, ela esfregou sua canela raspada. Na escuridão, ela
mal conseguia distinguir a forma de um coelho com uma orelha solitária.
A luz pálida derramava através das rachaduras irregulares nas persianas. Ela
bateu na janela. — Clay?
Abrindo as persianas, Clay era uma silhueta escura contra o pano de fundo
da lamparina. — Você disse tudo o que precisava ser dito na igreja.
Se ele não estava com raiva, certamente fazia uma boa imitação disso. Sua
voz era cortante e tão dura como pedra. Ela apertou as mãos. — Eu te amo, Clay.
— Não.
Meg sentiu como se ele tivesse a esbofeteado. — Sim, eu amo. Quando você
deixar esta cidade, eu vou com você.
— Sim.
— Passando pela cidade, onde quer que seja, você vai andar na rua comigo?
— Claro.
— Sim.
Ele descruzou os braços e deu um passo em direção a ela. Ela queria jogar-se
em seus braços, mas algo duro em seus olhos a deteve.
Ele se virou. — Você não acredita nesse amor, não acredita em mim.
— Sim, eu acredito.
Ele andou em direção a ela. Ela recuou para o canto e inclinou a cabeça para
encontrar seu olhar furioso.
— Quão fortemente você acredita em nosso amor? — ele perguntou, sua voz
ameaçadoramente baixa. — Se eles ameaçassem retirar suas roupas a menos que
você negasse o nosso amor, você negaria?
Ele não lhe deu chance de responder, mas continuou, sua voz cada vez mais
profunda e mais irregular, como se estivesse trazendo à tona os eventos do passado.
— Se eles não a deixassem dormir até que você negasse o nosso amor, você
negaria para que pudesse colocar sua cabeça sobre um travesseiro?
"Se eles esfaqueassem uma baioneta em sua parte traseira toda vez que seus
olhos se fechassem, você negaria o nosso amor para que sua carne não fosse
traspassada? "
"Se eles aplicassem uma marca quente em sua carne até que você gritasse em
agonia, você negaria o nosso amor para que eles tirassem o ferro? "
Ele deu um passo para trás e passou as mãos pelos cabelos. — Você acha
que eu sou um covarde. Você não acha que eu tenho a coragem de ficar ao seu lado
e arriscar à ira de seu pai. Eu morreria antes de me afastar de qualquer um ou de
qualquer coisa que acredito. Você nem mesmo ficará de pé ao meu lado.
Ele a olhou do jeito que ela imaginou que soldados que haviam perdido uma
batalha provavelmente pareceriam: cansados, cansados da luta, desiludidos.
— Não — ela engasgou enquanto corria atrás dele. Antes de chegar à porta,
Lucian serpenteou seu braço em volta da sua cintura, levantou-a do chão, e bateu
com a mão sobre sua boca. Ela lutou, lutou, o arranhou e o chutou, mas ele não
liberou seu aperto.
Meg sentiu sua respiração sair de seu corpo quando ele a jogou no chão e
colocou seu corpo sobre o dela. Os gêmeos, tremendo violentamente, enrolaram-se
ao seu lado.
Ela ouviu cavalos relincharem e mais armas de fogo. Ela podia ver uma
dança estranha de sombras e chamas através das rachaduras nas persianas, como se
as pessoas do lado de fora estivessem carregando tochas.
— Se prometer ficar quieta, vou tirar a minha mão de sua boca — sussurrou
Lucian.
— Apenas iria piorar para ele se eles soubessem que você está aqui.
Eles ouviram um gemido de agonia que soou como se surgisse das entranhas
do inferno. Meg deu uma cotovelada nas costelas de Lucian e conseguiu se libertar
do seu abraço. Ela arrastou-se por debaixo da mesa. Ele veio atrás dela, agarrou
suas pernas, e a trouxe de volta para o chão.
Ela chutou e bateu os punhos em seus ombros: — Por favor, deixe-me ir.
Eles o machucaram!
Lucian levantou a lamparina, mas tudo o que podiam ver era o vazio. — Será
que eles o levaram? — ele perguntou.
Balançando a cabeça, Clay pressionou sua mão livre contra o pulso de sua
mão presa. Lucian olhou por cima do ombro para Meg, e ela viu a angústia refletida
em seu rosto. Ele fechou os olhos e puxou a faca.
— Vá para casa, Meg. Isto não lhe diz respeito. — Ele colocou a mão boa no
toco e lutou para ficar de pé.
— Eu quero ajudar...
Ele cambaleou para a casa e encostou-se à parede. — Você acha que eu sou
um covarde. Seu irmão me chamou de covarde na igreja e você deixou passar em
branco as palavras. Eu nunca... — Fechando os olhos, ele respirou instavelmente.
Abrindo os olhos, ele empalou-a com seu olhar, de forma tão eficaz como a faca
que tinha perfurado sua mão. — Eu nunca fiz nada na minha vida em que tive de
cobrir o rosto para fazer. Vá para casa, para seus homens valentes.
— Ele não vai morrer, não é? — Josh disse enquanto pegava sua carga.
— Não, acho que isso tudo é só por causa de toda emoção — disse Lucian
enquanto levantava Clay e andava de costas para a casa.
— Você tem um trapo que eu possa usar para enrolar em torno de sua mão?
— perguntou Meg.
Lucian saiu do quarto e voltou com um pano branco. Ele entregou a ela, que
o envolveu em torno da ferida medonha. — Joe e Josh, eu preciso da ajuda de
vocês. — Eles vieram para o lado dela e ficaram em posição de sentido, como se
fossem pequenos soldados. — Ele tem uma mão tão grande que eu preciso de
ambos para pressionar sobre ela assim, para parar o sangramento. — Ela pegou
suas mãos e posicionou-as em torno da mão de Clay.
Pisando de lado, ela olhou para Lucian. — Vamos tirar suas roupas e ver o
quanto ele está machucado.
Ela se lembrava de como Clay impediu seus dedos de correrem sobre seu
peito enquanto faziam amor.
Agora, ela entendeu por que ele tinha guiado suas mãos às costas. Ele não
queria que ela sentisse a cicatriz, soubesse que o exército o tinha marcado como um
desertor.
— Esta é uma antiga cicatriz. Não dói mais. — Ela colocou as mãos sobre o
ombro de cada menino. — Poderia ser melhor se vocês olhassem para longe e
estudassem a parede ali, enquanto eu vejo o quanto ele está machucado.
Ela levantou a ponta sangrenta da camisa de Clay, uma fina cicatriz irregular
marcava seu quadril. Ela desabotoou suas calças, puxou-as passando por seus
quadris, e viu o que ela esperava que ela não fosse ver: mais cicatrizes cruzavam
seu traseiro. Suas palavras passadas correram por sua mente como uma chuva
torrencial:
— ... Baioneta...
— ... A única diferença entre nós é que seu marido estava disposto a matar
por suas crenças. Eu não estava...
Saiu do quarto e voltou com uma bacia de água morna. Usando um pano
limpo, ela limpou o sangue da boca de Clay. Quantas vezes eles o tinham acertado?
Um olho inchado estava quase fechado. Seu pescoço fora atingido de raspão e
sangrava.
Ela deixou cair o pano manchado dentro da bacia e colocou-a sobre uma
mesa ao lado da cama.
— Ele tem cica... — Meg começou, não certa do por que ela queria explicar
a este homem. Que as cicatrizes eram merecidas medalhas de honra.
Meg ouviu passos. Ela olhou por cima do ombro para ver Lucian de pé na
porta, seu olhar perturbado piscando com culpa sobre seu irmão. Ele parecia como
se tivesse sido preso em uma tempestade. Seu cabelo úmido agarrava-se à sua face
tão tenazmente como sua camisa suada abraçava seu corpo. Meg não tinha pensado
em dizer-lhe onde poderia encontrar seu cavalo, e ela percebeu, com pesar, que ele
tinha corrido para a cidade para encontrar o médico.
Clay assentiu levemente. — Sim senhor. — Ele olhou para seu peito nu, se
encolheu, e se esforçou para puxar a colcha até o queixo com a mão boa. Virando o
rosto para Meg, disse em uma voz rouca — Faça-a ir embora, Doutor.
Meg sentiu uma forte necessidade de tranquilizar Clay de que seus
sentimentos por ele eram genuínos. Ela encontrou o olhar intenso do Dr. Martin. —
Eu quero ajudar. A mão dele ainda está sangrando.
Ela abriu a boca para protestar, mas a expressão no rosto do Dr. Martin
disse-lhe que ele não iria tolerar argumentos. — Eu preciso de um pouco de água
aquecida e um café — disse ele.
Com um último olhar para o homem deitado na cama, ela caminhou para
fora do quarto.
— O Dr. Martin está aqui — disse Lucian. — Clay vai ficar bem agora.
Josh limpou a pequena garganta. — Lucian, nós fomos covardes hoje à noite?
Lucian rompeu seu olhar sobre Meg. Lentamente, ele baixou os punhos para
a mesa e olhou para os gêmeos.
— Não. Clay nos disse para ficar dentro de casa e estávamos fazendo o que
ele nos disse para fazer.
— Então, como é que você diz que ele é um covarde quando ele estava
apenas fazendo o que seu coração lhe disse para fazer quando não foi lutar na
guerra?
Lucian pulou para fora da cadeira. — Como diabos eu vou saber? Vocês dois
fazem as perguntas mais estúpidas que já ouvi em toda a minha vida, e então vocês
dão as respostas mais inteligentes. Por que vocês fazem as perguntas, se vocês têm
as respostas? Inferno, vou dar uma volta. — Ele saiu pela porta da frente.
Com lágrimas nos olhos, Joe disse: — Sra. Meg, nós ainda não sabemos se
fomos covardes. Mesmo se Clay disser que estava tudo bem, não sabemos se nós
deveríamos ter ido lá fora.
Meg se afastou da mesa e deu uma tapinha no seu colo. Os rapazes
aproximaram-se dela, e ela colocou os braços ao redor deles, atraindo-os para perto.
Eles eram muito magros, muito pequenos, muito novos para o que tinham
testemunhado esta noite — Eu acho que esta noite foi uma batalha para Clay lutar.
— Não, eu não acho que ele perdeu. Ele é do tipo de homem que nunca vai
perder, porque ele nunca se desvia do que ele acredita. Ele é raro, tão raro que,
mesmo eu não reconheci quanta coragem ele tem.
A porta do quarto de Clay foi aberta e o Dr. Martin caminhou para fora. Ele
deixou cair sua bolsa preta em cima da mesa e balançou a cabeça lentamente. —
Ele tem um par de costelas quebradas e sua mão está uma bagunça.
— Será que ele vai ainda ser capaz de usá-la? — perguntou Meg.
O Dr. Martin deu de ombros. — Eu não sei. Eu costurei-a o melhor que pude.
Felizmente, a faca ficou entre os ossos para que nada em sua mão esteja quebrado.
Só o tempo dirá quanto dano permanente foi feito. Mas ele tem uma determinação
tranquila, ao contrário de qualquer outro que eu já vi. Ele está dormindo agora,
então eu acho que eu vou para casa. Quer que eu a acompanhe para casa?
— Suponho que o seu pai não sabe que você está aqui.
Dr. Martin pegou sua bolsa. — Bem, ele não vai ouvir isso de mim.
— Você sabia como eles trataram Clay — disse Meg baixinho: — por que
você não nos disse?
— Porque eu sou médico, não um fofoqueiro. As pessoas têm que saber que
elas podem confiar em mim para não repetir o que eu descubro quando estou
tratando-as. Além disso, o ódio por aqui é tão espesso, que eu não acho que isso
faria qualquer diferença. — Ele bagunçou o cabelo dos gêmeos. — Clay me disse
que nunca viu pessoas tão corajosas quanto vocês meninos, nesta noite.
— Sim. Suponho que ele dirá por si mesmo na parte da manhã. — Sorrindo
tristemente, ele inclinou a cabeça para Meg. — Boa noite.
Meg segurou os gêmeos perto até que ela ouviu a porta se fechar. — Eu não
sei se eu já conheci uma noite tão longa. Preciso colocá-los na cama.
— Espere aqui, Sra. Meg, e nós vamos gritar quando estivermos vestidos e
debaixo das cobertas. Sabemos que não a incomodaria ver nossas costas já que
você é uma viúva e tudo mais, mas tenha certeza de que nos incomodaria... mesmo
que você já tenha visto isso antes. Nós meio que gostamos de manter essas coisas
para nós mesmos.
Meg conteve o sorriso. Na pior das hipóteses, esses meninos tinham uma
visão do mundo que a encantava. — Você pega a lamparina e eu vou esperar aqui.
Ela entrou no quarto. Josh tinha colocado a lamparina sobre a mesa ao lado
da sua cama. Com rostos angelicais, eles olharam para ela. Ela puxou a colcha até
seus queixos. Ela queria desesperadamente inclinar-se e beijar cada um e cada
sarda pontilhando suas bochechas e nariz, mas eles não estavam acostumados a ter
uma mulher em sua vida, e ela não sabia se eles dariam boas-vindas à afeição que
queria conceder a eles.
Hoje à noite, eles tinham crescido mais do que qualquer criança de dez anos
deveria.
— Sra. Meg?
— Eu não sei. Acho que eu fiquei em torno de vocês por tanto tempo, que
vocês não parecem o mesmo para mim.
Ela não sabia qual tinha falado, mas ela sabia que não importava. — Eu
também os amo.
Eles se contorceram para saírem de seu abraço. — Você vai voltar para sua
casa agora? — perguntou Joe.
Ela embalou seus queixos em suas mãos; seus rostos, seus olhos eram tão
fáceis de ler como as páginas favoritas de um livro. — Eu vou ficar aqui até vocês
caírem no sono. Então eu vou me sentar ao lado de Clay até que ele acorde.
— Aposto que poderíamos cair no sono mais rápido se você cantar para nós
— disse Josh.
Ela beliscou o nariz e cruzou as mãos no colo. — Vocês sabem por que eu
toco o órgão na igreja?
— Porque eu não posso cantar. Eu pareço uma mula que teve sua parte
traseira chutada.
Rindo, os meninos caíram para trás contra seus travesseiros. Ela trouxe a
colcha sobre seus ombros trêmulos e eles se aconchegaram no centro da cama.
— Não digam a ninguém — ela sussurrou. — É o meu segredo.
Se alguém tivesse prometido a ela algo com muitos risinhos, ela não teria
acreditado, mas sabia que os gêmeos compreendiam o valor da sua palavra.
Joe respondeu com um ronco leve. Josh lutou para manter os olhos abertos,
mas logo se rendeu à luta e se juntou ao seu irmão no sono.
Tantas batalhas para lutar. Ela afastou o cabelo vermelho fora de suas
sobrancelhas. Tantas batalhas a perder. Ela baixou a chama na lamparina. Tantas
batalhas para vencer.
Olhou para a cama desarrumada onde Lucian, sem dúvida, estava dormindo
antes dos cavaleiros encapuzados invadirem seu mundo. Ela se perguntou onde ele
tinha ido e se ele tinha suas próprias batalhas para lutar.
***
Lucian arrastou suas mãos pelo seu rosto encharcado de lágrimas e respirou
fundo. — Ele nem sequer hesitou, Taffy. Ele só foi lá fora. Eu já o chamei de
covarde por trás das costas, o chamei de covarde em seu rosto. Eu não teria ido lá
fora.
— Você não pode dizer isso, Lucian. Uma pessoa nunca sabe o que vai fazer
até que as coisas aconteçam. Se eles tivessem chamado você para fora, você
poderia ter ido.
Afastando-se dela, ele bateu a mão sob seu nariz. — Não, Taffy, eu não teria
ido. Eu disse a Clay que ele era um covarde para que ele não pudesse ver que eu era
o covarde. Fiquei feliz quando mamãe e papai morreram. Agradeci ao Senhor por
suas mortes me deixarem como o mais velho na fazenda. Eu não escrevi para dizer
a Clay que eles tinham morrido, porque eu não queria que ele voltasse para casa.
Eu não queria sair e lutar. Eu sou o covarde, não ele. Ele nunca foi um covarde. O
dia em que o exército chegou para ele, ele não fugiu. Ele só ficou no campo e
esperou. Eu sabia que ele não era um covarde. Quando mamãe e papai morreram,
eu me escondi atrás de suas mortes. Clay nunca teria feito isso.
— Sim, eu posso e eu não vou me esconder disso mais, Taffy. Ele é meu
irmão e eu vou ficar ao lado dele como deveria ter feito desde o começo. Eu queria
que você soubesse porque vai fazer com que eu não seja bem-vindo na maioria das
casas ao redor daqui.
Ela entrelaçou os dedos nos dele. — Você sempre será bem-vindo em meus
braços.
***
Doía amar.
Tinha sido errado se apaixonar por Meg, esperar que ela ficasse ao seu lado e
enfrentasse o vendaval de uma tempestade que ele já não estava disposto que nem
mesmo seus irmãos suportassem.
Sua evasão na igreja havia cortado seu coração tão facilmente como uma
baioneta através de sua carne. Ele se sentiu traído e, como um animal ferido, tinha
afastado quem ele amava acima de tudo.
No entanto, ela permaneceu aqui, como se fosse uma boneca de pano jogada
em uma cadeira. Não sendo possível sentar-se ereta, ela tinha caído para frente, em
cima da cama, com o rosto aninhado no colchão ao lado de seu quadril, os cílios
tocando sua pele, sua respiração esvoaçando em seu quadril cheio de cicatrizes,
onde a colcha tinha saído.
Ele tinha um forte desejo, uma necessidade mais forte de acordar Meg, puxá-
la em sua cama, pedir desculpas por suas palavras duras e amá-la uma última vez.
Em vez disso, ele gentilmente moveu a mão de seu peito e saiu da cama,
segurando a respiração contra as pontadas de dor viajando através de seu braço,
peito e cabeça.
Se vestir não foi tarefa fácil e contentou-se com ter suas calças abotoadas
sobre seus quadris. Nunca tinha compartilhado com qualquer pessoa sobre quão
duramente tinha sido tratado. Algumas pessoas na área teriam se deleitado com o
conhecimento disto. Alguns teriam pena dele, outros teriam agonizado com a
maneira como ele tinha sido tratado. Não queria nenhuma dessas emoções dirigidas
a ele, então aceitou tudo de bom grado e deixou por isso mesmo.
***
Quando acordou, Meg arqueou sua coluna para soltar os nós e a tensão de
suas costas e ombros. Deveria ter agido por seus instintos e se arrastado para a
cama com Clay, mas ela tinha medo de causar-lhe mais dor se rolasse contra ele em
seu sono.
Ela correu para a sala de estar. Nada se movia. Ela foi para o outro quarto e
olhou para dentro. Os gêmeos estavam dormindo. Em algum momento durante a
noite, Lucian tinha retornado, pois ele estava deitado sobre sua cama, suas roupas e
botas ainda sobre ele.
Ela correu para fora. Com dedos vagarosos, o amanhecer estava rastejando
sobre a terra. A porta do galpão estava aberta.
Ela entrou no galpão e se ajoelhou ao lado dele. Ele embalava a mão ferida.
A bandagem branca e imaculada que o Dr. Martin tinha enrolado em volta de sua
mão agora estava amassada, sangrenta, e solta como se Clay tivesse descartado-a e
recuperado-a sem cuidado.
Ele deu um suspiro melancólico que soou tão lúgubre como o vento que
precedia a primeira tempestade de inverno. — Eu não era o único que não queria
carregar um rifle.
Ele abriu os olhos, e Meg caiu nas profundezas do marrom escuro, que
tinham envelhecido consideravelmente desde ontem. Tocando levemente os tufos
de cabelos brancos nas têmporas, ela entendeu finalmente que foi a dureza de
outros homens que tinha envelhecido Clay, não o passar dos anos.
Ela passou seus dedos ao longo de sua bochecha áspera. Ela queria fazer a
barba dele, cortar o cabelo, preparar-lhe um bom banho quente e nunca deixar que
algo áspero o tocasse novamente. — Eles te machucaram de outras maneiras —
disse ela calmamente.
Ela assistiu o pomo-de-adão se movimentar lentamente para cima e para
baixo. — Eles me privaram de sono, me privaram das cartas de minha mãe e me
marcaram como um desertor.
Ele balançou a cabeça ligeiramente. — Você tinha escrito para ele contando
que a minha mãe e meu pai tinham morrido. Ele pensou que se mostrasse sua carta
para o oficial encarregado, ele me mandaria para casa.
Ela sentiu a raiva inchar dentro dela com a injustiça. — Mas ele não libertou
você.
— Sua carta foi datada de quatro meses desde o ocorrido. Lucian estava
chegando na idade em que teria que se alistar. Imaginei que desde que eu não tinha
ouvido falar dele, que talvez ele se contentasse onde estava. As mortes de nossos
pais deram-lhe uma razão honrosa para não se alistar.
— Também lhe dava uma razão honrosa para voltar para casa.
Ela tocou seus dedos na cicatriz que o marcou como um desertor. — Eu sinto
muito por eles terem feito tudo isso com você.
— Eu não tenho tanta certeza. Acho que descobri por que você me queria
para fazer o monumento.
As razões correram através de sua mente: suas razões no início eram muito
diferentes das suas razões agora. Ela havia plantado as sementes para retribuição, e
elas tinham florescido, mas a colheita em nada se assemelhava aos frutos amargos
que ela esperava. Ela sabia que esperara muito tempo para responder à sua pergunta,
quando seus olhos se embotaram e um canto de sua boca se elevou ironicamente.
— Talvez no princípio...
— E quando você percebeu que eu não iria falhar, você decidiu fazer-me
sofrer.
— Não!
— Eu não sei.
Ele olhou para ela. — É por isso que você fez amor comigo na outra noite?
Então, eu saberia exatamente o que nunca teria?
— Não!
— Eu tirei o curativo.
— A dor...
— Não vai fazer diferença. — Ele lutou para ficar de pé. — Eles dizem que
você colhe o que planta. Bem, dê uma boa olhada no seu monumento, Sra. Warner.
Tiraram a minha capacidade de terminá-lo e eles te deixaram com nada além de
sombras para honrar aqueles que você amou.
Capítulo 17
Meg rastejou através da janela do seu quarto. Ela caminhou até a pia e jogou
água fria em seu rosto, mas não podia lavar as olheiras sob seus olhos ou o peso
que se instalara em sua garganta.
Ela precisava cozinhar o café da manhã, mas tudo o que ela queria fazer era
rastejar na cama e chorar, longa e duramente, até que estivesse tão exausta que
dormiria sem sonhar com Clay.
Ela ouviu Daniel vindo pelo corredor assobiando "Dixie". Talvez seu ódio
em direção a Clay seria menor se seu pai tivesse deixado ele partir e ser o garoto do
tambor para a Confederação que ele queria ser.
— Bom dia Meg. — Ele veio por trás dela e colocou as mãos em seus
ombros. — O que você está fazendo?
— Mingau.
— Soa bem.
Sorrindo, ela olhou para ele por cima do ombro. Mingau era sua refeição
menos favorita. — Você parece muito feliz esta manhã.
— Sim, senhora. Você não tem que se preocupar com aquele covarde de
barriga amarela tocando você, não mais.
O coração de Meg apertou com tanta força que ela pensou que ele poderia
parar de bater. — O quê?
Ele a soltou, arrastou uma cadeira para fora da mesa e deixou cair seu corpo
no assento. — Nós cuidamos dele ontem à noite. Não foi, pai?
Meg se virou. Seu pai desviou o olhar quando ele tomou sua cadeira. — É
isso mesmo — disse ele calmamente.
Daniel plantou os cotovelos sobre a mesa. — Ele não vai tocar em qualquer
uma de nossas mulheres, isso é malditamente certo. Meus irmãos teriam ficado
orgulhosos de nós.
Robert entrou na cozinha e Meg soube pela tristeza em seus olhos o que
estava por vir antes dele falar.
***
Flexibilizando-se na cama, Meg afastou os tufos de cabelo prata longe da
testa enrugada. — Você estava aqui com Mama Warner durante toda a noite?
Ela ergueu o olhar para o homem de pé ao lado dela. — Meu pai, meu irmão,
e alguns outros homens atacaram Clay na noite passada. Eles colocaram uma faca
através de sua mão. Eu acho que eles fizeram isso porque ele me tocou depois da
igreja ontem.
Estendendo a mão com o polegar, ele capturou uma lágrima caída. — Então
é desse jeito com ele, não é? — Ele sorriu com tristeza. — Acho que eu estaria
desperdiçando meu tempo se lhe pedisse para se casar comigo.
Ele colocou sua mão sobre a dela. — Eu não acho que a minha perda seria
importante para você. Você é uma dama especial, Meg. Você não parece estar
ciente disto esta manhã, mas você é. — Ele se levantou. — Uma vez que a notícia
sair sobre Mama Warner, vamos ter tanta companhia que nem poderemos agitar
uma vara aqui. Vou tentar impedir muitos de virem quando eu sair, porque você,
com certeza, não parece precisar de companhia hoje.
— Obrigada, Robert.
Ele saiu do quarto e Meg pegou a mão frágil em sua própria. Ela se inclinou
sobre Mama Warner.
— Você pode me ouvir, ou você está muito perto do céu para nos ouvir? Eu
sinto que estou no inferno.
Ela estudou as feições pálidas que o tempo tinha forrado com sabedoria. —
Você sabia que Clay não era um covarde. Se você tivesse me dito, eu não teria
acreditado em você, mas ele me mostrou, de muitas formas. A ironia é que ele é o
único entre nós que não é um covarde. Eu acho que é por isso que todos nós o
odiamos tanto. Ele é exatamente o que nós acreditamos ser.
***
Lucian tinha um forte desejo de bater na mandíbula de Clay. Não por ódio,
mas por amor. Ele queria colocar algum juízo em seu irmão.
Nos dias após o ataque, Clay fazia suas refeições na varanda, sozinho e
passava seu tempo andando pelos campos de milho, arrancando ervas daninhas.
Ele nunca levantava as janelas no galpão. Não falava sobre seu passado ou
futuro. Não falava nada, a menos que os gêmeos lhe fizessem uma pergunta, e
então ele desencorajava-os, dando-lhes uma resposta abrupta.
Às vezes, Lucian o via olhando na direção da fazenda Warner. Por longos
momentos, ele não se movia. Então ele olhava para o galpão, enfiava as mãos nos
bolsos, abaixava a cabeça e começava a andar pelos campos de cultivo de milho.
Lucian caminhou ao longo da fileira de milho até sua sombra cair sobre Clay,
que estava ajoelhado ao lado de um pé de milho. — Eu estava pensando, no
próximo ano, poderíamos alugar bois para nos ajudar a arar os campos, talvez
plantar um acre extra ou dois.
Clay puxou uma erva daninha fora do solo. — Tudo o que você achar que é
melhor. — De pé, ele tirou o chapéu e apertou os olhos contra a luz solar. — Uma
vez que forem feitas as colheitas, vou seguir em frente, portanto, em qualquer
momento que você quiser, podemos ir para a cidade e passar a escritura da fazenda
para o seu nome.
— E o monumento?
Clay olhou para o galpão. — Ele nunca foi concebido para ser mais do que
sombras de um sonho.
Lucian seguiu seu olhar. Nuvens negras ondulavam acima da terra. — Parece
fumaça.
— Eu não posso mudar o jeito que eles são, mas vou ser condenado antes de
me tornar como eles.
Clay começou a correr pelo campo. Lucian o seguiu. Ele estava começando a
pensar que seu irmão mais velho era o homem mais exasperante que conhecia.
Contra seu melhor julgamento, Lucian tomou o cobertor que Joe lhe ofereceu.
As chamas ante eles tiveram uma morte tranquila e Clay esfregou a cabeça
de cada menino. — Bom trabalho.
Clay olhou para o sangue escorrendo através do curativo. — Vai ficar tudo
bem. Vamos lá, temos de chegar em casa agora.
— Lucian?
Parando e virando, ele olhou para Sam. Sam estendeu a mão. — Eu queria te
agradecer por me ajudar aqui.
Lucian ignorou sua mão. — Não me agradeça. Se tivesse sido por mim, não
teria vindo, mas Clay é o chefe da família e ele estava preocupado que você
pudesse ter um inverno difícil se perdesse suas colheitas.
***
Meg estava grata que Mama Warner estava mais perto do céu e não tinha
conhecimento de tudo o que tinha acontecido na última noite que vira Clay. O
conhecimento teria quebrado o coração da mulher mais velha.
Cada dia ela se sentava na cadeira de balanço ao lado da cama e lia A Letra
Escarlate em voz alta. Ela não conseguia ler as palavras sem pensar na cicatriz rosa
enrugada de Clay em cima de seu peito. O exército o tinha ferido.
— Meg?
— Não, senhora, nós não viemos aqui por nossa causa. Nós viemos aqui por
causa de Clay.
— Não está mais enfaixada, mas ele nunca a usa, ela continua enterrada no
bolso como se ele se envergonhasse dela ou algo assim. Pensei que talvez você
pudesse vir falar com ele...
— Mas, Sra. Meg, ele só anda através de um pé de milho para outro durante
todo o dia. Sabemos que ele disse algumas palavras feias na noite em que foi ferido,
mas ele não planejou isso, Sra. Meg. Não Clay. Ele não diz nada disso. Queríamos
que você voltasse e deixasse ele se desculpar.
Quando eles desapareceram pela porta, Meg caiu em uma cadeira, cobriu o
rosto com as mãos e lutou contra as lágrimas. Ela ouviu os passos de Robert
ecoarem pela sala. Por que ele não estava nos campos onde ele pertencia?
Ela baixou as mãos e encontrou-o ajoelhado ao lado dela. — Você está certo,
Robert. Isso não é da sua conta.
Ele deu um sorriso angustiante. — Acho que você precisa de alguma fala
baixa, menina. Por que você não foi com esses meninos?
— Meg, você e eu sabemos que ela nem mesmo está ciente de que você está
aqui. Por que você não foi com aqueles meninos?
Ela entrelaçou seus dedos e apertou as mãos até que doessem. — Porque eu
estou com medo. Meu irmão colocou a faca na mão de Clay. Tenho certeza disso,
embora ele não tenha dito isso exatamente. Se o meu pai descobrir que eu passo
meu tempo com Clay, acho que ele vai matá-lo.
Ele envolveu sua mão ao redor da dela. — Quando Kirk partiu, você teve
medo que os soldados da União pudessem matá-lo?
— Então, na manhã que ele partiu, você ficou na cama debaixo das cobertas.
— Não, senhor, eu não. Eu fui à cidade com ele e fiquei orgulhosa... — Ela
procurou o rosto sério de Robert. — Eu estava ao seu lado.
— Como você se sentiria, Meg, se ele tivesse morrido e você tivesse ficado
em casa naquela manhã?
***
Sentada de pernas cruzadas sobre o pé de sua cama, Meg olhava para a caixa
de madeira. A caixa de madeira de Mama Warner.
Meg a tinha trazido para casa um dia depois de Mama Warner pedir a Clay
para fazer seu marcador.
Olhou para dentro da caixa, se perguntando que outros tesouros ela detinha.
Sua respiração ficou presa ao olhar um envelope rabiscado com a letra de Kirk.
Não tinha percebido que ele tinha escrito para outros enquanto esteve fora.
Se perguntou por que Mama Warner não tinha compartilhado as cartas. Pegou a
carta e moveu-a lentamente em suas mãos. Devia ter significado algo para Mama
Warner ao lê-las, ou ela não a teria deixado na caixa.
Meg abriu o envelope e retirou a única folha de papel. Queria capturar cada
memória de Kirk que existia, mesmo aquelas que não eram dela. Lentamente, leu
as palavras rabiscadas que seu marido tinha escrito.
03 de Março, 1863
Querida Mama Warner,
Demorou algum tempo, mas eu finalmente localizei Clay. Ele parece à morte
requentada. Você conhece Clay e seu jeito tranquilo. Ele sofre suas punições sem
reclamar.
Acho que isso só os deixa mais irritados e faz com que eles o tratem mais
asperamente.
Eu escrevi a Jefferson Davis novamente pedindo que ele isentasse Clay com
base em suas crenças. Cada homem na minha companhia aplicou sua assinatura
ao pé da carta. Ouvimos que o presidente Davis não é tão simpático para os
objetores de consciência como Abraham Lincoln. Portanto, temos pouca esperança
para Clay, especialmente agora que o Sul está na extrema necessidade de homens.
Claro, Clay se oporia às nossas boas intenções. Ele acredita que deve lutar
suas próprias batalhas e devemos lutar contra a nossa.
Envio-lhe o amor de Clay, bem como o meu próprio, e dos homens na minha
companhia. Mantenha todos nós em suas orações.
Kirk
Meg esmagou a carta em seu peito. Talvez apenas aqueles que enfrentavam a
morte diariamente eram capazes de reconhecer que a coragem pode ser tão
tranquila como os pensamentos de um homem.
***
Travando na porta, Clay seguiu o olhar de seu irmão e viu Meg marchando
em direção à sua casa. Seu estômago se apertou e ele estava grato por não ter
comido muito do café da manhã.
Os gêmeos passaram por ele e pularam da varanda. — Bom dia, Sra. Meg.
Nós não esperávamos vê-la esta manhã.
— Não, você não fará isso — disse Clay. — O galpão vai ficar fechado.
Ela arqueou uma fina sobrancelha escura. — Minha pedra está lá, e eu quero
olhar para ela.
— Sua pedra?
— Eu vou dar-lhes uma mão — disse Lucian quando tirou o chapéu para
Meg e se afastou.
— Eu pretendo.
Sua mão coçava e não tinha nada a ver com a cicatrização das feridas. Ele
desejava estender a mão e tocar seu rosto, pressionar seus lábios contra os dela, e
trazer sua suavidade de volta à sua vida. Ele balançou a cabeça em direção ao
galpão. — Eles levantaram as janelas.
— Não, senhora.
Girando nos calcanhares, ela caminhou em direção ao galpão. Clay viu como
ela bagunçou o cabelo dos gêmeos, de passagem.
A julgar pelo sorriso largo no rosto de Lucian, Clay decidiu que ela sorrira
para ele ao longo do caminho.
— O que você acha que ela está procurando? — Josh perguntou quando se
esgueirou para encontrar Clay.
Os olhos de Josh se arregalaram. — Não disse a ela para procurar por nada.
— Mmm-uh.
— Honestamente.
— Depois de todo esse tempo, ela aparece esta manhã, depois de vocês dois
desaparecerem como por mágica ontem. Acho que isso é uma poderosa
coincidência.
Rindo, ele tirou a mão do bolso. — Porque, Sra. Warner, eu não posso
segurar ferramentas.
Meg estremeceu com raiva da cicatriz vermelha que parecia ser um reflexo
do homem enfurecido diante dela. — Ainda dói?
Ele a olhou como se ela tivesse acabado de lhe dar um tapa. — O quê?
— Eu poderia segurar o cinzel. Você tem uma boa mão e é a mão que você
usa para segurar o martelo. Eu serei sua mão esquerda.
Respirando fundo, ela caminhou até a mesa e estudou suas ferramentas. Ele
usava o cinzel maior quando começava. Eles teriam que ir mais devagar, com mais
cuidado. Ela pegou um cinzel menor. — Você pode posicionar o cinzel, e eu vou
segurá-lo no lugar.
Ele passou sua boa mão pelo cabelo. — Você tem alguma ideia do quão duro
eu tenho que bater nesse cinzel para quebrar a pedra?
Ele deu um passo ameaçador em direção a ela. — Eu tenho que bater muito
forte.
— Eu sei que não sou tão forte quanto você, mas se eu segurar o cinzel com
ambas às mãos, e nós lascarmos fora pedaços menores de pedra...
— Você não aprendeu nada quando Robert acertou a sua mão com o martelo?
— Isso dói.
— E eu vou deixar um inferno com muito mais do que uma contusão. — Ele
bateu na mesa de novo, e Meg ouviu a divisão da madeira.
— Você me disse que ele lhe deu a bolsa de cartas poucos meses antes de
morrer.
— Está certo.
Ele baixou a cabeça. — Eu procurei nos bolsos dele antes de o sepultar. Isso
foi tudo que eu peguei.
Hesitante, ela atravessou o galpão e colocou a mão em suas costas. Ela sentiu
ele endurecer. — A carta não é muito longa. — Ela retirou a carta do bolso e
estendeu-a em sua direção. — Eu gostaria que você a lesse.
— Eu estou te dando permissão para ler seus pensamentos antes que ele
fosse tirado de nós.
Sua mandíbula ficou tensa e ela o viu engolir. Ela tirou a carta do envelope e
desdobrou-a.
30 de Junho, 1863
Eu deveria estar dormindo, mas o céu noturno acena para mim. Eu olho
para ele e penso em você como você estava no dia em que parti. Como eu estava
orgulhoso, Meg, por saber que a bela mulher me acenando bravamente era meu
amor.
Falei com Clay recentemente. Eu disse a ele que ele deveria esculpir
novamente, esculpir minha amada como ela parecia na última vez que eu olhei
para ela.
Vou levá-la comigo agora em meus sonhos. Durma bem, meu amor e sei que
a felicidade que você me trouxe não conhece limites.
Carinhosamente seu.
Kirk
Deixando sua mão cair para o lado. Clay fechou os olhos. Ela viu sua
garganta se mover e sabia que ele estava lutando com as mesmas emoções que ela
tinha lutado durante a noite.
Ela esperava que a carta fosse diferente, escrita como se Kirk soubesse que
era a última vez que ele teria a oportunidade de escrever, mas ele tinha escrito
como quem ia escrever outra carta, como se ele fosse voltar a olhar para o céu
noturno e levar as lembranças dela em seus sonhos.
— Você escolheu capturar o momento em que ele partiu porque ele pediu-
lhe para me esculpir. Você não está fazendo um monumento para homenagear
aqueles que partiram. Você está fazendo um monumento para homenagear aqueles
que o assistiram ir.
Ele se virou e olhou para ela, levantando a mão como se fosse uma garra. —
Eu não posso!
— Tínhamos um acordo, um entendimento. Você me deu sua palavra de que
faria o monumento se eu comprasse a pedra. Eu comprei a pedra. Agora, você está
dando para trás em sua palavra quando me disse que morreria antes de fazer isso.
— Sim, você tem. — Ela caminhou até a mesa e pegou o cinzel menor. —
Eu estive pensando sobre o monumento. Presumo que esta parte que você ainda
não tocou vai ser meu traseiro quando você acabar.
Ele franziu a testa e deu um passo mais perto. — Sim — ele admitiu
cautelosamente.
— Bem, eu acho que vai levar um tempo para nos acostumarmos a trabalhar
em conjunto, de modo que este é o lugar onde vamos começar. A pior coisa que
pode acontecer é desbastarmos muito e eu teria uma parte traseira menor. Eu não
me importaria com isso.
— Você não acha que é muito grande? — perguntou ela, com a voz mais
luminosa.
Desviando o olhar, ele corou. — Não, eu não acho que é muito grande — ele
rosnou. — Mas você está errada sobre a pior coisa que pode acontecer. Inferno, eu
poderia esmagar sua mão.
Ela colocou a mão em torno da dele. — Se você quebrar minha mão, vamos
parar... até que se cure.
Ele deu um sorriso fraco. — Você é louca. Vai levar anos para terminarmos.
— Certo. Fique aqui — disse ele, como se resignado com sua determinação.
Ela assentiu com a cabeça, embora não estivesse de todo certa. Ela não
queria desiludir Kirk, mas mais do que isso, não queria decepcionar Clay, agora
que tinha colocado o seu sonho de volta ao seu alcance.
Ele levantou o martelo e colocou a mão ferida sobre a dela. — Eu não posso
segurar o cinzel, mas posso, pelo menos, proteger suas mãos. Isto vai ser um pouco
estranho.
Ela ouviu o eco e sentiu a vibração viajar para baixo por seu braço quando o
martelo bateu no cinzel. Ela abriu os olhos e se deliciou com a doce vitória. —
Funcionou! Nós podemos fazê-lo!
Clay caminhou até a mesa. Ele deixou cair o martelo sobre a superfície de
madeira e olhou para a janela.
— Começaremos amanhã.
Capítulo 18
Embora Mama Warner não estivesse ciente de seu entorno, Robert,
abençoado seja seu coração, disse ao povo da cidade que era demais para ela ter
visitantes passeando dentro e fora da casa durante todo o dia, restringindo suas
visitas à tarde. Seu aviso deixou Meg livre para gastar as manhãs trabalhando com
Clay.
Seu progresso foi lento porque Clay levava longos momentos para estudar a
rocha depois que eles tiravam cada pequeno pedaço.
Ele disse a ela que era porque achava estranho não segurar o cinzel ele
mesmo, e não se sentia tão perto da pedra, mas ela suspeitava que a verdadeira
razão era a sua ansiedade sobre suas mãos.
Meg não tinha vivido uma vida suave, mas suas mãos nunca tinham
trabalhado tão duro. Ela não estava acostumada a agarrar um pedaço pesado de
metal e segurá-lo, quanto mais duro o metal batia contra ela. Às vezes, ela pensava
que seus dentes se soltariam com o abalo do impacto.
Então ela olhava para a mão de Clay cobrindo a dela, e ela mantinha suas
queixas para si mesma. A ferida ainda estava enrugada e vermelha conforme se
curava e cheia de cicatrizes. Ela tinha um forte desejo de colocar um beijo na
cicatriz, que corria em toda a palma e viajava ao longo do dorso.
Ela imaginou que seu choro de agonia naquela noite tinha vindo não tanto
por causa da dor, mas da percepção de que eles tinham matado seu sonho.
Mas havia momentos em que ela sentia a mão dele se fechar um pouco mais
sobre a dela, quando batia o martelo contra o cinzel e a mão dela que ele cobria,
reagiria por instinto e apertaria de volta.
Ele se afastou do granito e ela afrouxou seu aperto no cinzel. Tão rápido
como um raio de luz, ele deixou cair o martelo, arrancou o cinzel de sua mão, e
atirou-o para baixo. Ele agarrou a mão dela antes que ela pudesse reagir.
— Droga, Meg, por que você não me contou sobre suas mãos?
— Elas não estão assim tão más e nós não temos muito tempo para lidar com
isto. Nós não podemos parar cada vez que eu estou tendo um pouco de desconforto.
Clay nunca sorria. Nunca brincava. Raramente olhava para ela. Já não ia à
igreja. Os cavaleiros mascarados da noite tinham reduzido sua vida à casa, ao
galpão, e à uma caminhada ocasional através dos campos. Ela estava aqui com ele
todas as manhãs e nunca se sentira mais longe dele.
— Uma pomada que minha mãe fez. Vai fazer suas mãos ficarem melhor.
Nós não trabalharemos amanhã. — Ele colocou o frasco no chão e enfiou os dedos
na pomada espessa. — Coloque as mãos em seu colo para que as palmas das mãos
estejam abertas. Diga-me se eu te machucar.
— Muito.
Ele parou os dedos, mas não levantou o olhar. — Não — ele disse em voz
baixa. Ele começou a massagear a mão dela novamente.
— Você sabe quem colocou a faca em sua mão?
Seus dedos vacilaram, então ele esfregou a palma da mão com mais
intensidade.
Virando a mão dela, ela conseguiu aninhar a dele entre as dela antes que ele
pudesse se afastar. Ela apertou seus dedos sobre a palma de sua mão. — Alguém já
colocou esta pomada em suas mãos?
— E a sua mão ferida? Você não acha que a pomada irá fazê-la ficar melhor?
Ele hesitou e ela sabia que ele estava lutando com sua consciência. Tudo
para este homem era uma batalha.
Criando pequenos círculos, ela esfregou a pomada sobre a palma de sua mão.
— Eu vou para a lagoa toda noite — disse ela baixinho. Ela sentiu a mão se
tencionar e encontrou seu olhar. — Eu continuo esperando te ver lá.
— Por quê? Porque eu não saí da igreja com você? Eu estava errada...
— Não! — Ele tirou a mão de seu alcance. — Você estava certa. Nós não
temos futuro. Eu estava errado em pensar o contrário. Estava planejando seguir em
frente, porque não gosto do ódio tocando meus irmãos. Não sei porque pensei que
não iria tocar você.
— Isso não importa mais. Os gêmeos estavam certos. Você deve se casar
com Robert.
Com um sorriso triste, ele olhou para ela por cima do ombro. — Eu sinto
muito, Meg, mas eu estou cansado de lutar.
***
Deitado na cama, ele estudou as mãos nas sombras da meia-noite. Elas não
pareciam diferentes, mas com certeza ele as sentia diferentes.
Um homem podia ficar estragado tendo uma mulher em sua vida, sorrindo
com o amanhecer, cantarolando enquanto ela cozinhava o café da manhã, franzindo
a testa enquanto ela segurava o cinzel, esfregando pomada sobre suas mãos. Todos
os dias ele odiava ver o nascer do sol acima das janelas do galpão. O final da
manhã daria lugar ao meio-dia e seria a hora dela partir.
Ela preparava então outra refeição e sempre deixava uma torta de nozes em
cima da mesa antes de ir para Mama Warner.
Ela podia não amar Robert, mas a solidão não era para ela. Ela parecia gostar
de Robert o suficiente, e Clay imaginou que chegaria o dia em que ela se
contentaria com a companhia sem amor.
Ouviu uma batida na janela. Ele saiu da cama e se arrastou pelo quarto.
— Clay?
Gemendo com a doce voz do outro lado, ele abriu a janela ligeiramente. — O
quê?
— Encontre-me no galpão.
Antes que ele pudesse responder, ela saiu correndo. Xingando baixinho,
então xingando em voz alta, vestiu suas roupas e se dirigiu tão silenciosamente
quanto pôde em direção ao galpão.
As cortinas estavam para baixo e a porta fechada quando ele chegou. Ele
abriu a porta e olhou para dentro do local. Uma lanterna solitária descansava em
sua mesa.
Ela saiu de trás do granito, vestindo sua saia e segurando a blusa contra o
peito. A luz pálida refletia seus ombros nus.
Clay se esqueceu de como respirar, esqueceu-se de como se mover,
esqueceu-se de como pensar. — O que... — Ele engoliu em seco. — O que você
acha que está fazendo?
— Meus ombros se feriram. Você ficou tão zangado esta manhã quando
descobriu que eu tinha as mãos feridas que eu pensei que eu deveria dizer-lhe sobre
os meus ombros e deixá-lo esfregar um pouco de pomada sobre eles.
Seu olhar se lançou para a mesa. O frasco estava pousado lá, com a tampa
removida. Ele enfiou as mãos nos bolsos, balançou a cabeça, deu um passo para
trás, e bateu contra a porta. — Eu não posso.
Ela moveu a mão longe de sua blusa para que ela pudesse esfregar seu
pescoço. A blusa escorregou um pouco para revelar uma fração de uma curva. Ele
não tinha visto nenhuma curva naquela noite na lagoa. Ele sentiu-as, mas não as
tinha visto. A visão delas provavelmente poderia deixar um homem de joelhos.
— Pensei em pedir ao meu pai para esfregar meus ombros, mas ele não sabe
que eu venho aqui, então não sei como explicaria por que eu estou sofrendo. — Ela
encolheu os ombros levemente e um pouco mais de curva surgiu à vista. — Robert
sabe. Acho que poderia pedir a ele...
— Não!
Em sua excitação, ela levantou-se nas pontas dos pés. Senhor, seus pés
estavam descalços.
— A colcha?
Ela ficou de um tom rosado que viajou de suas bochechas para o vale
escondido por sua blusa.
Ela jogou sua trança por cima do ombro. Senhor, ela tinha mais curvas do
que ele imaginava: a curva de sua cintura, a curva de seus ombros, a curva de sua
espinha, e nuca. E tudo aquilo junto tirou o fôlego dele. Ele nunca seria capaz de
esculpir qualquer coisa que parecesse tão bonita como ela estava agora.
Lutar contra o pano? Agora ele estava lutando uma batalha feroz com a sua
própria carne.
Timidamente, ele colocou a mão em seu ombro. Ela suspirou, e ele puxou
sua mão de volta. — Machuquei você?
Ele voltou a colocar a mão em seu ombro e descobriu que a pomada não
servia como um amortecedor contra o calor de sua carne. Lentamente, ele trabalhou
os dedos sobre seus ombros e pescoço. Esculpiu suas curvas em sua memória
enquanto esfregava a pomada em sua pele. Tinha cometido um erro. Não devia ter
feito amor com ela na escuridão da meia-noite. Deveria ter esperado até o meio-dia,
quando poderia ter se deleitado com a luz do sol e ter apreciado toda a sua beleza.
Suas costas estreitas se afilavam para baixo de sua cintura fina. Ele pensou
que saberia tudo o que devia saber para esculpir se tivesse sido capaz de estudar
suas curvas ao longo dos anos.
Limpou a mão na calça. — Pronto. Isso deve dar conta de sua dor — disse
ele mais rispidamente do que pretendia.
Ela olhou por cima do ombro. — Você está com dor?
Ele estava, mas em um lugar que ele não poderia convidá-la a esfregar. —
Não, eu estou bem.
Ela começou a amassar seus ombros. Ele parou de respirar. Ela estava
usando as duas mãos. Como ela estava segurando a blusa? Talvez ela estivesse
usando sua boca...
— Gosto — ela disse em uma voz rouca antes dela colocar a boca entre seus
ombros.
Ela arrastou sua boca e língua ao longo de sua espinha, e ele desejou que sua
coluna vertebral fosse três vezes mais larga do que era. Sua boca viajou de volta
para seu pescoço. Mais uma vez, ele se perguntou como ela estava segurando a
blusa no lugar.
Em seguida, ela pressionou os seios nus contra as costas dele, e ele esqueceu
tudo sobre sua maldita blusa. Ele sentia seus mamilos como se fossem minúsculas
pedrinhas enterradas em suas costas. Ele sorriu para si mesmo ao pensar que não se
importaria em enterrá-los em sua boca. Ela mordiscou seu pescoço, então
mordiscou sua orelha.
— Não estou usando nada por baixo da minha saia — ela sussurrou.
Ela encaixou suas mãos ao redor de sua cintura e agilmente desfez o primeiro
botão da calça. — Você está usando algo por baixo de suas calças?
— Não.
— Eu não sabia...
Ela deu a outro botão sua liberdade.
Ele passou a mão em torno de suas costas e lutou contra os botões de sua saia
enquanto ela lutava para tirá-lo de suas calças. A solução era simples. Tomar um
momento e parar de beijar, mas ela não parecia querer liberar sua boca mais do que
ele queria liberar a dela.
Em seguida, eles eram calor contra calor, pele contra pele, de seus dedos até
suas bocas. Puxando-se para trás, Clay inclinou-se e aumentou a chama na
lamparina.
Reverentemente, ele deslizou a mão ao longo de cada curva que ela possuía.
— Você é tão bonita. Cada linha é perfeita.
Ela apertou sua mão no centro do seu peito. Lágrimas brotaram nos olhos
dela. — Eu sinto muito por ter te machucado. Eu sinto muito porque te machuquei.
Balançando a cabeça, ele colocou a mão sobre a dela e levou-a aos lábios. —
Nenhum passado, Meg. Nenhum futuro. Tudo o que temos é o agora.
— Então vamos fazer mais do mesmo. Meus ombros não vão se machucar
mais — Ela pegou a mão dele e colocou-a na junção celestial de suas coxas. —
Mas outros lugares esperam há muito tempo pelo seu toque.
Ele não tinha que dizer a ela que ele ansiava por seu toque. Ter uma mulher
com experiência, definitivamente tinha suas vantagens. Ela sabia quando lhe tocar,
onde tocá-lo, como tocá-lo de maneiras que ele não ousaria imaginar. Ela ensinou-
lhe como tocá-la. Seus gemidos, suspiros e pequenos espasmos lhe agradavam
tanto quanto suas mãos e boca que viajavam sobre seu corpo.
Todo o toque que tinham feito antes havia moldado as sombras do desejo.
Agora, elas se moviam em um ritmo que revelava os detalhes e esculpia um
cumprimento requintado que os deixou sem fôlego e se fundiram dentro dos braços
um do outro.
Ela suspirou seu nome como o sussurro do vento enquanto tremia em seus
braços. Ele beijou o orvalho de sua garganta. — Como estão seus ombros agora?
— ele perguntou em voz baixa.
Rindo baixinho, ela disse: — Melhor, muito melhor. Como está se sentindo?
Ele levantou a cabeça, olhou em seus olhos azuis e sorriu com ternura. — Eu
nunca me senti tão bem em toda a minha vida.
***
Com uma apreciação que não tinha sentido em um longo tempo, Clay
observou calmamente o amanhecer no horizonte. O céu nunca pareceu tão azul, os
campos tão verdes.
Ele ouviu o barulho das rodas da carroça e olhou por cima do ombro. O belo
amanhecer deu lugar às nuvens escuras da realidade. Com uma respiração profunda,
ele deu um passo para fora da varanda para cumprimentar o pai de Kirk.
Seu cabelo tinha ficado louro-claro desde que Clay o vira pela última vez.
Supôs que a perda de um filho poderia fazer isso com um homem. O Sr. Warner
estudou o chapéu que ele estava movendo em suas mãos antes de encontrar os
olhos de Clay. — Minha mãe faleceu durante o sono na noite passada.
Clay desejou que o homem tivesse lhe dado um soco no estômago. Teria
doído menos do que ouvir as palavras lançadas contra ele como se ele não desse a
mínima. — Sinto muito.
Ele passou pelo homem que uma vez tinha o acolhido em sua casa como
podia acolher seu filho. Ao entrar no galpão, ele caminhou até a mesa onde havia
esculpido o marcador de Mama Warner. Ele arrastou os dedos sobre as letras que
tinha entalhado tão profundamente quanto podia. As pessoas ainda seriam capazes
de ler suas palavras muito tempo depois de Clay ter ido embora.
Ele baixou a cabeça. A angústia era insuportável quando alguém passava por
isso sozinho.
Girando, Clay olhou para o pai de Kirk quando ele se aproximou lentamente
do granito.
Com reverência, ele deu um passo para cima do banquinho e tocou o rosto de
seu filho, esculpido na pedra. — Não me diga que foi sobre isso que você estava
falando com ela na igreja.
— Não, senhor.
Ele deixou cair o queixo ao peito. — Ele me disse que eu não teria que caçá-
lo porque ele iria vir direto para minha porta. Meu menino estava indo enfrentar a
morte e as minhas palavras finais para ele foram ditas com raiva. Eu não disse a ele
que o amava, não lhe disse como eu estava orgulhoso dele. Todas as palavras que
um pai deve dizer a seu filho, eu deixei passar. Agora, não posso dizer-lhe qualquer
coisa.
O pai de Kirk ergueu-o para fora da mesa. — Agradeço isso — Ele foi para a
porta e parou. — Eu estava aqui naquela noite.
Na maior parte de sua vida, Clay tinha dedicado uma grande dose de atenção
às silhuetas e formas. Os sacos de farinha tinham escondido seus rostos na noite do
ataque, mas as sombras da meia-noite tinham revelado suas identidades. — Sim,
senhor, eu sei.
***
Seus braços seguravam Meg conforme ela pressionou suas costas contra seu
peito. Ela não tinha vindo vê-lo hoje, mas ele não esperava isso. Sabia que ela
estaria ajudando os Warners com sua perda, estaria lamentando-se. Ela tinha sido
tão próxima de Mama Warner como ele.
Mas ele também sabia que iria encontrá-la aqui esta noite, esperando por ele.
Eles tinham compartilhado suas emoções mais profundas na lagoa. Apesar da
chuva, ele sentiu a necessidade de vir aqui para se lamentar. Eles choraram, se
abraçaram e agora eles assistiam a chuva cair.
— Talvez.
Os relâmpagos e seu brilho revelaram o lugar onde tinham feito amor pela
primeira vez.
— Ainda não decidi. Ela não merece ter ódio em torno dela quando está
sendo colocada para descansar.
Virando em seus braços, ela deitou a cabeça contra seu peito. — Nós
poderíamos ir juntos.
— Não — ele disse, rispidamente.
— A noite passada, não mudou nada, Meg. Assim como a noite que
passamos juntos aqui não mudou nada. Eu ainda sou o covarde de Cedar Grove.
Isso é tudo que essas pessoas vão ver. Venho lutando contra suas opiniões e ódio
durante anos. Isso não fez nenhuma maldita diferença, e não vai fazer diferença
amanhã. É melhor apenas se render. Dói menos dessa forma. Fere aqueles que eu
amo muito também. Quando terminar o monumento, eu vou partir... sozinho. Se
você for inteligente, vai começar a gastar suas manhãs com Robert.
Agora, ela ansiava por seu abraço compassivo mais do que ansiava pelas
palavras de consolo do Reverendo Baxter.
Ela tinha poucas dúvidas de que ele tinha fechado os olhos e lutava contra as
lágrimas e a tristeza, tão forte como ela.
Com suas grandes mãos cheias de cicatrizes, ele tinha cortado os nomes de
seus filhos, seus pais e seus entes queridos em madeira ou pedra para que eles
fossem lembrados. Ele tinha salvado seus filhos mortos de uma vala comum e os
enterrado com dignidade.
O monumento que ela tinha lhe pedido para esculpir era nada em
comparação com o testemunho do amor que ele tinha dado a eles, que ele
continuava a dar a eles. Ele tinha tocado as pessoas desta cidade de uma forma
mais profunda do que a escultura de qualquer monumento e ainda assim nenhum
deles sabia de suas ações. E, se tivessem sabido, seu ódio não teria permitido que
eles reconhecessem o presente.
Clay estava certo. Meg não sabia o que tinha conduzido Kirk a se alistar. Só
sabia que ele acreditava no que ele estava fazendo e sua crença era tudo que ela
precisou para ficar ao seu lado. O banco raspou pelo chão enquanto ela se moveu
para trás. O reverendo parou de falar e virou a cabeça para olhar para ela.
— Eu ficaria honrada em sentar com você — disse Meg com uma voz que
ecoou por todo o edifício.
— Eu disse essas mesmas palavras para você uma vez. Eu estava errada em
dizê-las então. Você está errado em dizê-las agora. Eu te amo, Clayton Holland.
Clay pôs-se de pé — Você está de luto hoje. Você não sabe o que está
dizendo. — Ele passou por ela até a porta.
— Eu sei exatamente o que estou dizendo — ela gritou, mas ele fechou a
porta em suas palavras finais. Ela correu pela porta atrás dele, com a descrença da
congregação ecoando em seus ouvidos.
Ela cambaleou pelo alpendre conforme alguém passou por ela. Ela olhou por
cima do ombro. — Daniel!
— Eu vou cuidar dele, Meg! — ele gritou quando caminhou para as carroças
à espera.
Meg sentiu um momento de pânico e então relaxou. Eles nunca traziam rifles
ou pistolas com eles quando iam à igreja. Clay estava andando a passos largos em
direção à estrada lamacenta que passava pela igreja e atravessava o centro da
cidade.
Meg pisou fora do alpendre. Com uma força que fez com que ela mordesse a
língua, foi pega e se encontrou presa na couraçada roupa de seu pai.
— Ele não é um covarde. — Esticando o pescoço dela, ela olhou por cima do
ombro de seu pai para a estrada. Estava com medo de que fosse ver Daniel atacar
Clay, mas Daniel não estava à vista. Clay estava marchando para longe... mais uma
vez.
— Clay! Você nunca fugiu de qualquer coisa em sua vida! Não fuja de mim
agora! Não fuja do nosso amor!
— Não se alistou...
— Covarde...
Através das lacunas ásperas entre cotovelos e ombros, ela viu Clay levantar a
mão, e embora ele estivesse de costas, ela sabia que ele passara os dedos entre os
botões de sua camisa esfregara o "D" que tinham queimado em seu peito.
Ele se virou. Sua voz, profunda com a dor, levou suas palavras à toda a igreja,
embora não tenha gritado. — Não tenho nada para lhe oferecer, Meg, além de
solidão. E eu te amo demais para te dar isso.
— Daniel, não! — Meg gritou quando ela se livrou do aperto de seu pai
apenas para ser pega por alguém.
Meg ouviu um grito e não sabia se era dela ou de outra pessoa. Clay atirou-se
sobre a criança enquanto a carroça se aproximava.
O medo a levou a correr para o lado de Clay e cair na lama ao lado dele.
— Não o mova! — O Dr. Martin gritou enquanto ele abria caminho através
da multidão silenciosa para o centro da estrada.
Ela começou a piscar os olhos e virou a boca para baixo antes de lançar seu
primeiro gemido. Helen ergueu-a da lama e apertou-a contra o peito, balançando e
arrulhando sua filha.
Usando sua saia, Meg limpou delicadamente a lama do rosto de Clay. — Ele
está sangrando — ela sussurrou enquanto observava o sangue se misturar com a
lama.
— Parece que a lama o blindou um pouco para que nada quebrasse, mas ele
levou uma pancada na cabeça — o Dr. Martin disse, com as mãos ocupadas
procurando sinais de lesão.
— Eu não sei.
— Como você ousa! — ela assobiou. — Como você ousa julgar este homem
e condená-lo à morte!
— Não, não posso — ela admitiu baixinho. Seu estômago apertou-se, e sua
boca ficou seca. Quantas vezes tinha Clay sentido este ligeiro tremor de nervos e
continuado firme? — Eu me apaixonei por ele por passar meus dias em sua
companhia. Pedi-lhe para esculpir um monumento para homenagear nossos heróis.
Pensei que a tarefa poderia servir como uma punição para ele. Pensei que iria fazê-
lo enfrentar sua covardia. Em vez disso, me fez enfrentar a minha. Todos os dias,
fui à sua fazenda e o assisti trabalhar, esperando por aquele momento em que ele ia
cair de joelhos e pedir perdão. — Suspirando profundamente, ela olhou para a
figura ainda deitada na lama. — Eventualmente, eu percebi que não havia nada a
perdoar.
— Não, eles não estão e não nos túmulos que Clay fez para eles. Ele foi para
Gettysburg depois da batalha. Os ianques estavam jogando os soldados do Sul em
valas comuns. Clay enterrou cada homem de Cedar Grove em uma sepultura
separada, longe do campo de batalha.
— Eu juro, Meg, se você está dizendo a verdade, se ele tocou meus irmãos,
eu vou matá-lo antes do sol se pôr.
— Eu não penso assim, Daniel. — Ela colocou a mão em seu braço e ele se
afastou. Tanta amargura, tanta raiva, tanto ódio. — Mama Warner me deixou uma
carta que Kirk escreveu a ela. Disse-lhe que ele escreveu para Jefferson Davis
pedindo que ele isentasse Clay de servir à Confederação. Ele disse que todos os
homens em sua companhia assinaram a carta. Todos os homens, Daniel. Isso inclui
nossos irmãos. Eles sabiam que Clay não era um covarde.
— Ele lutou, mas lutou por aquilo em que acreditava, não pelo que eles
acreditavam. E ele lutou bravamente como eles fizeram.
Meg varreu seu olhar sobre as pessoas reunidas. — Quando foi a última vez
que qualquer um de vocês conversou com Clay? Quem entre nós perguntou a ele
por que ele não se alistou? Eu sei que eu não fiz. Eu pensei que ele era um covarde,
porque ele não seguiu o meu marido e os meus irmãos. Como seus filhos, eles eram
soldados, mas eles viram a honra onde não vimos. Clay daria sua vida por qualquer
um de nós. Ele só não vai matar por nós.
Meg não achou que era possível a multidão se tornar mais sombria. Pessoas
moviam seus olhares, como se não soubessem quem ou o que olhar.
— Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem — disse o Dr.
Martin em reverência. Ele torceu-se na lama e plantou seu braço sobre sua coxa e
encostou seu olhar sobre a multidão silenciosa. — Essas foram as palavras que
Clay falou enquanto ele estava à espera de sua execução. A coisa engraçada,
entretanto, foi que depois que ele disse essa oração, eles não puderam encontrar um
soldado disposto a matá-lo.
— Um poderia fazer falta, talvez dois, mas não todos os seis. Não todos os
seis meninos do Sul com rifles. — Ele fechou os olhos. Seu rosto ficou pálido e
Meg sentiu os dedos gelados da morte vagarem lentamente ao longo de sua espinha.
Saindo da lama, o Dr. Martin ficou de pé. — Eu preciso de alguém para levá-
lo para o meu escritório.
— Ele sempre foi como um filho para mim. Eu vou te ajudar — disse o pai
de Kirk.
Meg assistiu Robert deslizar seu braço sob os joelhos de Clay quando o pai
de Kirk tomou seus ombros. Juntos, eles cuidadosamente o levantaram da lama.
Ela olhou uma última vez para os rostos sombrios em torno dela, em seguida,
seguiu Clay em silêncio... sozinha.
***
Levantando-se, Meg pegou as roupas dele. — Obrigada. Isso foi muito bem
pensado.
— Desde que você disse que estava assistindo o trabalho de Clay, eu queria
saber se você sabe alguma coisa sobre a lápide da nossa menina... seu pai não a fez,
não é?
Meg hesitou, imaginando como se sentiria Clay sobre ele ter conhecimento
da verdade. Ela esperava que, se essas pessoas viessem a conhecê-lo como ela
conhecia, talvez o ódio fosse derreter. — Não, seu pai não fez a lápide.
— Pensei que não. Eu estava andando pelo cemitério, olhando para os
marcadores que seu pai fez e os que ele fez. Os de Clay pareciam diferentes. Eu
não posso explicar isso, mas é como se ele colocasse sua alma neles.
— Claro.
— Eu ficaria feliz de ir, mas John e Caroline Wright já foram. Caroline disse
que ia ver se os gêmeos e Lucian queriam vir aqui. — Ele sorriu e deu de ombros.
— Suponho que alguns de nós estão começando a ver as coisas um pouco
diferentes.
Ele saiu e Meg voltou para o lado de Clay. Ela tirou o cabelo da testa. O nó
sangrento e a ferida perto de sua têmpora a assustavam. Tinha a sensação de que
assustavam o Dr. Martin também.
Quando o Dr. Martin o acordava, ele perguntava a Clay quantos dedos ele
estava segurando. Clay percebia que, como médico, o homem seria inteligente o
suficiente para saber quantos dedos ele estava empurrando na cara de Clay.
Jogou as pernas para fora da cama e apertou as mãos às têmporas. Ele não se
lembrava de voltar para casa, mas estava em casa.
Levantou-se e caminhou até a cadeira onde alguém tinha deixado suas roupas
cuidadosamente dobradas. Caminhou até elas, lutando contra a dor lancinante em
sua cabeça.
Ele abriu a porta de seu quarto e olhou para a sala de estar. Um pequeno
sorriso apareceu em seu rosto. Meg estava curvada diante da lareira, cantarolando.
Ele pensou que poderia desfrutar de acordar para vê-la todos os dias pelo
resto de sua vida. A dor de cabeça aumentou. Ele precisava falar com ela sobre isso.
Ele tinha razões pelas quais não podia se casar com ela, mas ele não conseguia
lembrar quais.
Virando-se, ela o viu. Um sorriso bonito surgiu em seu rosto. Nenhuma das
razões que tinha poderiam ter sido fortes o suficiente para lutar contra a atração
daquele sorriso.
— Você deve sentar-se. — Tomando sua mão, ela o levou para a mesa e
puxou uma cadeira.
— O Sr. Tucker da loja geral trouxe uma caixa de suprimentos esta manhã.
Ele disse que quando você se sentir bem para ir vê-lo, ele vai oferecer-lhe crédito.
A dor de cabeça aumentou quando ele franziu a testa. — Por que ele faria
isso?
— Sua neta?
— A menina que você se jogou por cima ontem era a filha de Helen, sua neta.
— Eu imagino que há muito sobre essas pessoas que você não conhece, e
algumas delas estão ansiosas para mudar isso.
Clay esfregou a testa. — O que é esse bater infernal? Eu pensei que era na
minha cabeça...
Eles pisaram na varanda, e Clay olhou para uma visão que ele nunca tinha
esperado ver novamente. As pessoas estavam trabalhando em sua terra.
Seu velho celeiro tinha sido demolido. Uma nova base já havia sido colocada.
Ele reconheceu Sam Johnson, Tom Graham e John Wright conforme eles batiam
tábuas no lugar.
Viu Robert Warner. E então ouviu o pai de Kirk emitindo ordens, e ele sentiu
um nó se formar na garganta.
Ele se perguntou brevemente se eles achavam que ele tinha morrido e tinham
ido lá comemorar. — Por que eles estão aqui? — ele perguntou.
— O Sr. Lang disse que você não se preocupasse com isso, pois seu crédito o
cobriria. Além disso, ele acha que não levará muito mais tempo até que você seja
da família de qualquer maneira.
Ele virou a cabeça e olhou para ela. Sua cabeça se rebelou contra o
movimento. — O que ele quer dizer com isso?
Ela sorriu e a dor em sua cabeça aliviou. — Ele deu a Lucian sua bênção
para se casar com Taffy.
Clay o assistiu ir embora. Tudo acontecera depressa demais para ser verdade.
Não podia acreditar. Ele ouviu o minúsculo bater de passos do outro lado da
varanda. Olhou para baixo para encontrar uma menina pequena envolvendo suas
pequenas mãos em torno da sua grande. Ela olhou para ele e sorriu. — Você é meu
herói.
Clay balançou a cabeça. — Eu não sou um herói.
— Estou descascando nozes, a Sra. Meg disse que poderia fazer uma torta
com elas — disse Melissa.
— Não, ela não está descascando — disse Josh. — Ela as está comendo. Eu
e Joe que é que estamos descascando.
— Você será meu herói, também? — ela perguntou enquanto seguia Joe.
Clay olhou para o celeiro e estudou toda a atividade. — O seu pai está aqui,
Meg?
— Importa sim.
— Não para mim. Você é tudo que importa para mim agora.
Segurando a mão de Taffy, Lucian foi até a varanda. Clay não sabia que seu
irmão poderia produzir um sorriso tão grande.
Meg passou os braços ao redor da cintura de Clay. — Você pode muito bem
se acostumar com isso. As pessoas vão olhar para o seu monumento por um longo
tempo.
— Ele nunca foi concebido para ser meu, Meg. Seu, deles, mas não meu.
— Puta que pariu! — Lucian grunhiu. — Eu não posso acreditar que ele teve
a coragem de aparecer aqui!
Clay seguiu a direção do olhar de Lucian. Daniel puxou seu cavalo a uma
parada ao lado do celeiro. Meg reforçou seu aperto sobre a cintura de Clay.
— Vamos esperar até que ele construa o seu lado do celeiro, então nós
desfaremos seu trabalho.
Clay tirou os braços de Meg de sua cintura. — Não — disse Clay. — Vocês
não vão fazer isso.
— Sim, eu tenho. Eu preciso que você, meu irmão, e todos na cidade saibam
que o que quer que... o que você decidir a respeito de Daniel... eu estarei de pé ao
seu lado.
Clay sorriu. — Fico feliz em ouvir isso. — Ele inclinou a cabeça em direção
ao celeiro inacabado. — Vamos?
Clay trouxe o braço para trás. Daniel respirou fundo, virou a cabeça na
direção da tábua e fechou os olhos. Meg fechou os punhos e apertou os lábios com
força para não gritar. Clay balançou o martelo, e a madeira foi aberta enquanto
acolhia o prego.
Daniel olhou para o prego que estava agora a meio caminho embutido na
madeira. Em descrença, ele olhou para Clay. — Eu pensei...
— Por que eu faria isso? Eu amo Meg. Eu gostaria de casar com ela, mas não
vou, a menos que você e seu pai nos deem a bênção. Você poderia falar com o seu
pai para ele nos dar a sua bênção?
— Você derrubou seu muro — disse Meg com lágrimas nos olhos. — Agora,
Daniel vai terminar de construir este. Você precisa descansar.
Ela sorriu com ternura. — Eu vou me casar com você no centro da cidade,
com todo mundo olhando.
Ele sentiu sua respiração, tão gentil como o vento, acariciar seu rosto.
Ele ouviu seu suspiro suave como as folhas farfalhando nas árvores próximas.
Ele recuperou a plena utilização de sua mão com o tempo e estava pronto
para esculpir os detalhes de acabamento. Às vezes, sua mão doía, se ele trabalhasse
muito tempo, mas a dor valia a pena.
Ele tinha dado a Kirk o que ele tinha pedido, Meg como ela tinha estado da
última vez que ele a viu... eternamente.
Ele passou o braço em volta dela e puxou-a pelo seu ombro. — Eu gosto
mais de olhar à noite. Não posso ver todos os erros.
— Você é o único que vê os erros. As pessoas aqui acham que está perfeito.
É por isso que eles queriam o monumento em um lugar especial, onde eles
poderiam vir e refletir sobre o passado e lembrar os seus filhos.
— Eu não sei, Meg. Eu tinha o hábito, alguns anos atrás, de não pensar no
futuro, mas vou precisar de um lugar para trabalhar, uma vez que eu aprenda tudo o
que posso na universidade na Alemanha. Além disso, eu gosto do granito do Texas.
Ele balançou a cabeça, e Meg olhou para Clay. Ele deu de ombros. —
Sabíamos que viria, eventualmente, e ele gosta mais de sua voz do que da minha.
Ela estendeu a mão. — Tudo bem, então. Vamos começar pelo começo.
Ela levou seu filho para frente do monumento, e Clay ouviu sua voz infantil
dizer — Meu nome.
Clay ouviu quando ela encheu a noite com os nomes das pessoas com quem
ele brincou quando menino. Saltando para a coragem em uma idade adulta. A
guerra tendo lhes negado as recompensas doces de uma vida longa.
Abaixo das palavras, ele tinha inscrito os nomes de Will Herkimer, o homem
que tinha sido torturado junto com ele, e Franz Schultz, a quem eles haviam
enforcado porque queria trabalhar em uma pedreira e não acreditava na guerra.
Cada nome no monumento representava um homem que tinha dado sua vida por
aquilo em que acreditava.
4
N. T.: ele quis dizer read, ou seja, ele disse 'leia' de forma distorcida, por ele ainda não saber falar direito.
Levantando seu filho em seus braços. Clay desdobrou seu corpo e envolveu
sua mão ao redor da de Meg. Lentamente, eles se afastaram do monumento. Ele
sentiu a cabeça do filho ficar pesada no ombro e sabia que ele tinha adormecido,
como fazia todas as noites. Clay não estava ainda certo se o garoto sabia como cair
no sono na cama. Ele sempre dormia no ombro de Clay, que o colocava na cama no
quarto que ele dividia com os gêmeos.
Amanhã, Joe e Josh iriam com eles. Lucian e Taffy ficariam para trás para
gerir a fazenda e aumentar a sua própria família.
Parando, ele abrigou Meg ao seu lado. Eles se viraram para olhar uma última
vez o monumento que tinham criado juntos. Como seu amor, ele iria sobreviver às
tempestades que varreriam sobre ele.
Estendendo a mão, ela acariciou seu rosto. — Onde quer que seus sonhos o
levem Clay, é onde eu vou estar.
Com seu braço ao redor dela, ele a levou para as sombras onde seus sonhos
esperavam.
FIM