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Fonte: Hulko, W., Brotman, S., Stren, L., & Ferrer, I. (2020). Gerontological social work in
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1.1. A Política Social
no âmbito das
Políticas Públicas
1 . I N T R O D U Ç Ã O : A S P E TO S
C O N C E P T UA I S E M E TO D O LÓ G I C O S
A situação actual..
Face à crise social e de saúde decorrente da pandemia Covid-19, as pessoas idosas estiveram no centro
da discussão e apresentaram os maiores índices de mortalidade em todo o mundo, pelas limitações
fisiológicas do organismo, pelas comorbidades, pela dificuldade de acesso aos serviços de saúde, às
ações de prevenção, à dificuldade de manter o isolamento social, entre outros aspectos…
… situação agravada pelo estatuto socioeconómico, raça, etnia, género, local de residência, etc.
Face a este cenário, o tema não poderia ser outro que não as Políticas Sociais, fundamentais para
atender às necessidades sociais da população - não apenas no contexto da Covid-19, mas para
garantir cidadania e direitos sociais fundamentais (especialmente para um grupo populacional marcado
por estereótipos negativos - “idadismo”, “ageísmo”, etc).
Discutir as políticas sociais é, por isso, extremamente relevante - seja em contexto nacional ou
internacional.
Políticas sociais:
(1) de protecção social
(2) de saúde
(3) de habitação
(4) programas e projetos dirigidos às pessoas idosas que visam atender às suas múltiplas necessidades sociais -
de rendimento, de saúde (prevenção, promoção, reabilitação, tratamentos, medicamentos, próteses, entre outros), de cuidados de
longa duração
(5) gestão de situações de violência e maus-tratos
Mas também trazem à tona discussões mais gerais sobre as velhices,
(6) acções de lazer, recreativas e de socialização concepções de envelhecimento, direitos das pessoas idosas,
(7) de articulação com as redes de apoio desafios do envelhecimento na sociedade contemporânea, questões
relacionadas com a experiência de vida nesta etapa, entre outras..
(8) entre outras..
O envelhecimento e a velhice são marcados pelas desigualdades que se associam às trajectórias de vida dos
indivíduos que hoje são idosos, gerando diferentes formas de viver e experimentar a velhice - a gestão desta
experiência é responsabilidade de todos, pois o financiamento é solidário!!
(i.e., todos contribuem para constituir um fundo, que tem o Estado como gestor e que deve suprir as necessidades sociais, criando
políticas sociais como direitos de cidadania).
Continuam a ser necessárias Políticas preventivas das situações que geram incapacidades. É fundamental que sejam
fortalecidas e melhoradas. Mas também as que lidam com os que já perderam capacidade funcional, cognitiva, etc.
É importante pensar no financiamento das instituições, nas normas reguladoras (ex., portarias), na monitorização e
fiscalização.
São necessárias respostas alternativas, que funcionem em período diurno e/ou nocturno, que sejam interdisciplinares
e de base comunitária – que permitam que as pessoas possam continuar no seu domicílio e com os seus familiares.
Nesta perspectiva, as políticas sociais devem ser as organizadoras desta rede de cuidados, garantindo respostas
diferenciadas e de qualidade.
Significado e origem do termo política
Vocábulo latino política, originário do grego politika, traduzido literalmente por
“coisas políticas”
Vocábulo politeia, que pode definir-se como “regime político” e que durante a
Idade Média passou a designar-se de politia.
A esfera pública abriga toda a pluralidade (diferenças, divergências, conflitos e contradições) da ação humana.
Nela surge o corpus político formado pelos diferentes grupos que se juntam para discutir e defender interesses,
bem como acordar as decisões sobre os desafios que emergem da realidade do convívio em sociedade, sendo,
portanto, neste espaço que as decisões ganham legitimidade e passam a integrar as agendas do Governo.
Além de se qualificar como o lócus da política, também lhe atribui significado, pois com afirma Colliot Thèléne
(1999), o termo “política” tem caráter subjetivo e polissémico.
Assim, a política é indissociável da esfera pública, já que é nela que se formam as forças sociais que
determinam tanto os conflitos como os consensos em torno das decisões políticas.
Estas relações da esfera pública podem pressionar a estrutura política (Estado/governo) a agir e
negociar com os diferentes segmentos sociais, que geralmente são os principais envolvidos na política
pública.
Isso indica que a esfera pública é o lócus privilegiado da relação entre o Estado e a sociedade.
Com a ascensão do capitalismo, alguns factos levaram a
mudanças na posição do Estado relativamente à população
O conceito de política e ao sistema económico.
pública Para Dallari (2013), esses factos foram:
A ideia de política pública é algo complexo; há vários conceitos que formam o que pode ser traduzido como
política pública. Globalmente, as políticas públicas estão diretamente associadas ao Estado (Frey, 2000).
O conceito de política pública
A partir dessas constatações, pode considerar-se que as políticas públicas são espaços (ou campos) (Souza, 2006) que contemplam
conhecimentos teóricos – da parte da academia – e empíricos – emanados mediante discursos de cidadãos que procuram promover
a ação governamental ou recomendar possíveis alterações nessas ações.
Por isso, as políticas públicas ocorrem quando as autoridades modificam a realidade, constroem novas interpretações do real,
definem modelos e normas daquela ação (Muller, 2000).
• As políticas públicas são, então, as intenções governamentais que produzirão transformações profundas ou artificiais no mundo real.
Assim, as políticas públicas e sociais “[...] são campos multidisciplinares e seu foco está nas explicações sobre a natureza da política
pública e seus processos.” (Souza, 2006, p. 25).
Teixeira (2002, p. 2) sustenta que as políticas públicas se constituem em distintas [...] diretrizes, princípios norteadores de ação do
poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre actores da sociedade e
do Estado. São, nesse caso, explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamento),
orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos.
O conceito de política pública
De definição pouco consensual, têm no seu contexto histórico, uma relação com a actividade administrativa do
Estado e com o aprofundamento da sua acção burocrática, principalmente face ao desenvolvimento do Estado-
Providência.
“Um conjunto de ações interrelacionadas entre si, tomadas por um actor ou conjunto de actores políticos,
respeitantes à escolha de objetivos e meios para os alcançar no contexto de uma situação específica, devendo
estas decisões, em princípio, situar-se no âmbito do poder que estes actores têm para os alcançar” (Jenkins,
1978).
As políticas Públicas rementem-nos para a intervenção do Estado em prol de um objetivo público.
Podem ser entendidas como o resultado da actividade de uma autoridade provida de poder público e de
legitimidade institucional (Caeiro, 2008).
O conceito de política pública
Existem três aspectos fundamentais que caracterizam qualquer política pública:
2. Envolver actores políticos nessas decisões, isto é, o facto de estas decisões serem
tomadas por agentes com poder legitimado para as tomarem;
Políticas distributivas: decisões tomadas pelo Governo, gerando impactos mais individuais do que universais, ao
privilegiar certos grupos sociais ou regiões; distribuem recursos para parcelas específicas da sociedade.
Políticas regulatórias: mais visíveis ao público e envolvem burocracia, políticos e grupos de interesse; visam administrar
e regulamentar os espaços e serviços públicos a fim de manter ou estabelecer uma ordem.
Políticas redistributivas: atingem um maior número de pessoas e impõem perdas concretas a curto prazo para
determinados grupos e ganhos incertos para outros. No geral são as políticas Sociais Universais; redirecionam os
recursos de uma parcela da sociedade detentora de melhores condições para a parcela da sociedade que é vulnerável e
que possui menos recursos.
Políticas Constitutivas: lidam com procedimentos e dizem respeito à formulação de normas reguladoras da criação e do
funcionamento das estruturas de autoridade e das próprias autoridades (ex., determinação do sistema eleitoral); estão
ligadas à estruturação do sistema político e normalmente não contam com o envolvimento da população.
Distinguir Políticas Públicas
(Pereirinha, 2008)
Para que qualquer situação passe de um assunto privado para agenda pública impõe-se o cumprimento
de um conjunto de condições. Tais condições estão sempre dependentes da acção dos grupos de
pressão, dos governos, das burocracias e partidos políticos:
-Alcançada proporção de crise;
-Adquirida uma dada particularidade;
-Contenha aspetos emotivos:
-Apresente um elevado impacto;
-Apresente ligação a assuntos relacionados com o poder e com a sua legitimidade, com elevado conteúdo
simbólico;
-Constitua um tema da “moda”.
“Agenda sistémica” – Conjunto de temas que a sociedade considera merecedores da atenção
dos poderes públicos.
“Agenda institucional” –Temas que de forma regular são tratados pelos governos, através da
acção permanente das suas instituições políticas e administrativas.
◦ March and Olsen entendem que a racionalidade na decisão é irreal, salientando a importância
da introdução do fator causalidade no processo de decisão.
◦ O processo de decisão não é então mais do que um conjunto de soluções, atores políticos e
uma escolha de oportunidades. É o modelo que se designa por “caixote do lixo” (garbage can).
4) Implementação
A questão da implementação das Políticas Públicas, durante muito tempo, foi considerada secundária na
análise das fases das Políticas Públicas.
Entendia-se que, uma vez decidida, se tornava fácil a sua aplicação.
A preocupação com esta fase teve origem nos EUA nos anos 70, face à disparidade entre aquilo que era
prometido e a realidade/aquilo que era alcançado, apesar da boa vontade e grandeza dos recursos.
A implementação de Políticas Publicas não pode ser entendida como um mero processo em que uns
decidem e outros aplicam.
Modelo top-down: Segundo este modelo, o processo de decisão inicia-se no topo da pirâmide
hierárquica (nível político), descendo até às bases (nível técnico). É um modelo mais teórico do
que prático.
Modelo bottom-up: Implementação de uma Política Pública das bases para o topo da
hierarquia, colocando a ênfase nos atores, nas suas relações, objetivos, negociações e força. Os
interesses locais adquirem aqui importância maior e a capacidade de determinados agentes que
estão diretamente integrados no processo.
5) Avaliação
O interesse pela investigação de políticas públicas, área também designada como “policy
science” começou na década de 1950 nos EUA e, a partir dos anos 1970, difundiu-se
também pela Europa, em particular na Alemanha e nos países escandinavos.
◦ Embora hoje seja mais comum a sua interpretação como um dos mecanismos capazes de garantir proteção social à maioria
da população, na década de 30/40 Hitler chamou de política social a perseguição e morte de judeus e outros “seres
inferiores”, as experiencias médicas e as condenações às câmaras de gás de grupos populacionais considerados inferiores
pela Alemanha nazi (Richard Titmuss, s.d.).
Assim sendo, temos que partir, em primeiro lugar, de uma definição que se afaste da ideia binária de que a
política social é boa ou má, somente um resultado do capital ou somente uma conquista do trabalho.
- se a considerarmos apenas má, ela é indefensável e, portanto, deve ser extinta.
- se a tomarmos como sempre benéfica, não reconheceremos as possíveis armadilhas e desvantagens
que pode ter associadas e não compreenderemos a contínua tentativa do capital em “ajustá-la”.
O conceito de política social
Em segundo lugar, a política social não se configura como um processo espontâneo ou natural das relações
humanas; é produzida e reproduzida socialmente com o objetivo de responder a exigências específicas de
diferentes sujeitos e em diferentes fases históricas.
◦ Assim, dependendo das pessoas com poder e do contexto no qual elas se encontram, a política social pode
ser utilizada, com mais ênfase, em benefício das classes dominadas e da satisfação de necessidades sociais
ou em benefício das classes dominantes, satisfazendo as necessidades do capital. No capitalismo é esta a
modalidade que tem prevalecido, em especial desde a década de 1970.
Em terceiro lugar, a política social nasce da relação dialeticamente contraditória entre classes e entre Estado e
Sociedade, e situa-se numa arena de disputa de interesses na qual estão em choque estas várias instâncias:
◦ É no capitalismo que a política social se torna: a) uma disciplina académica, com saber próprio; b) um
campo de atuação profissional para diferentes categorias e c) uma ação pública, geralmente estatal, com
método, técnicas e estratégias voltadas para o atingir de objetivos, distanciando-se das indiferenciadas
noções anteriores de regulação da pobreza ou de distribuição de recursos.
O conceito de política social
A política social pode ser definida como uma política pública, gerida pelo Estado e controlada pela
sociedade, que dá resposta a necessidades sociais.
Trata-se de uma ação governamental dotada de intencionalidade e planeamento e que tem potencial para
influenciar positivamente as condições de vida, trabalho e saúde do seu público-alvo.
A política social no capitalismo desenvolveu-se sob diferentes modelos políticos e económicos e precisou
lidar com acontecimentos históricos que exigiram intervenção governamental específica.
- presente na Revolução Industrial, nas Grandes Guerras Mundiais, no nazismo e no fascismo, no II pós Guerra, nas graves
crises económicas dos séculos XX e XXI, na pandemia de Covid-19, a política social foi-se ajustando, avançando e alcançando
níveis de universalidade em determinados momentos, e regredindo, tornando-se focalizada, condicional e residual em
outros.
Embora intrinsecamente contraditória, o adjetivo social que nomeia esse tipo de política, só tem sentido se
esta for controlada pela classe trabalhadora e funcionar para a satisfação de necessidades sociais e para a
concretização de direitos sociais.
O conceito de política social
Nem todas as políticas públicas são políticas sociais, pois as primeiras desenvolvem-se
num contexto muito mais lato (Caeiro, 2008).