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Instituto Politécnico de Viana do Castelo

Escola Superior de Educação

Mestrado em Gerontologia Social


2022/2023

POLÍTICAS SOCIAIS EM GERONTOLOGIA


Raquel Gonçalves
raquelg@ese.ipvc.pt
Objectivos da UC
1. Desenvolver conhecimento específico sobre as dimensões sociais e políticas do
envelhecimento da população;
2. Desenvolver capacidades de análise, síntese e avaliação crítica que permitam
lidar com a diversidade e complexidade dos problemas políticos e programáticos
em Gerontologia Social;
3. Usar o julgamento crítico-reflexivo face às evidências da investigação científica
e às questões levantadas via exercício da prática profissional;
4. Utilizar as evidências da investigação para lidar com problemas complexos e
tomar decisões no domínio da Gerontologia Social.
Conteúdos Programáticos
1. Introdução: Aspetos conceptuais e 3. Temas aprofundados
metodológicos 3.1. Políticas Sociais para sociedades envelhecidas: perspectivas a partir da
1.1. A Política Social no âmbito das Políticas Europa
Públicas 3.2. Globalização, Política Social e envelhecimento: uma perspectiva norte-
1.2. Políticas sociais, políticas públicas e americana
envelhecimento: a construção e reconstrução da 3.3. Políticas Sociais para sociedades envelhecidas: perspectiva australiana
velhice 3.4. Tendências transnacionais no âmbito do Trabalho e Reforma face ao
1.3. Como se investiga em Política Social envelhecimento da população: O Envelhecimento Activo
3.5. Cuidados Continuados e de Longa Duração: perspectivas europeias
2. Políticas Sociais Europeias
3.6. Envelhecimento e Qualidade de Vida na Europa
2.1. Os Países do Sul da Europa
3.7. Envelhecimento e sociedade urbana: envelhecer no “século da cidade”
2.2. Proteção Social em Portugal
3.8. Aspectos relacionados com o fim de vida
3.9. Ética e velhice: a segunda geração
3.10. Políticas de envelhecimento
Metodologia de avaliação
MODALIDADE DE AVALIAÇÃO DISTRIBUÍDA I. Tarefas realizadas ao longo das aulas (em pequeno grupo).
1. Uma prova de avaliação (50%) - 11 de Janeiro (20%)
II. Elaboração de uma Análise Crítica (30%; Apresentação oral,
em pares), devidamente sustentada, acerca de um dos
seguintes tópicos:
2. Atividades associadas a tópicos específicos do - Idade/idadismo: a idade como categoria
programa para aprofundamento do estudo no domínio - As teorias no âmbito do envelhecimento e da gerontologia
- Contextos de prática no âmbito da saúde e (gerontologia) social
(50%) - Risco e fragilidade
- Aspectos morais, legais e éticos
- Cuidados formais e informais
- Demência e cidadania
MODALIDADE DE AVALIAÇÃO FINAL - Trauma: eventos traumáticos ao longo do curso de vida
- Saúde mental, bem-estar mental e (ab)uso de substâncias
Exame (prova escrita) - Maus-tratos, violência e negligência
Integra todos os conteúdos programáticos abordados ao - Construção de comunidades inclusivas/age-friendly
longo do semestre - Formulação de políticas sociais no âmbito do envelhecimento

Fonte: Hulko, W., Brotman, S., Stren, L., & Ferrer, I. (2020). Gerontological social work in
action: anti-oppressive practice with older adults, their families, and communities. New York:
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Bibliografia principal
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Caeiro, J. (2008). Políticas públicas, política social e estado providência. Lisboa: Universidade Lusíada Editora.
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Buckingham: Open University Press.
1.1. A Política Social
no âmbito das
Políticas Públicas
1 . I N T R O D U Ç Ã O : A S P E TO S
C O N C E P T UA I S E M E TO D O LÓ G I C O S
A situação actual..

Face à crise social e de saúde decorrente da pandemia Covid-19, as pessoas idosas estiveram no centro
da discussão e apresentaram os maiores índices de mortalidade em todo o mundo, pelas limitações
fisiológicas do organismo, pelas comorbidades, pela dificuldade de acesso aos serviços de saúde, às
ações de prevenção, à dificuldade de manter o isolamento social, entre outros aspectos…

… situação agravada pelo estatuto socioeconómico, raça, etnia, género, local de residência, etc.
Face a este cenário, o tema não poderia ser outro que não as Políticas Sociais, fundamentais para
atender às necessidades sociais da população - não apenas no contexto da Covid-19, mas para
garantir cidadania e direitos sociais fundamentais (especialmente para um grupo populacional marcado
por estereótipos negativos - “idadismo”, “ageísmo”, etc).

Discutir as políticas sociais é, por isso, extremamente relevante - seja em contexto nacional ou
internacional.
Políticas sociais:
(1) de protecção social
(2) de saúde
(3) de habitação
(4) programas e projetos dirigidos às pessoas idosas que visam atender às suas múltiplas necessidades sociais -
de rendimento, de saúde (prevenção, promoção, reabilitação, tratamentos, medicamentos, próteses, entre outros), de cuidados de
longa duração
(5) gestão de situações de violência e maus-tratos
Mas também trazem à tona discussões mais gerais sobre as velhices,
(6) acções de lazer, recreativas e de socialização concepções de envelhecimento, direitos das pessoas idosas,
(7) de articulação com as redes de apoio desafios do envelhecimento na sociedade contemporânea, questões
relacionadas com a experiência de vida nesta etapa, entre outras..
(8) entre outras..
O envelhecimento e a velhice são marcados pelas desigualdades que se associam às trajectórias de vida dos
indivíduos que hoje são idosos, gerando diferentes formas de viver e experimentar a velhice - a gestão desta
experiência é responsabilidade de todos, pois o financiamento é solidário!!
(i.e., todos contribuem para constituir um fundo, que tem o Estado como gestor e que deve suprir as necessidades sociais, criando
políticas sociais como direitos de cidadania).

Continuam a ser necessárias Políticas preventivas das situações que geram incapacidades. É fundamental que sejam
fortalecidas e melhoradas. Mas também as que lidam com os que já perderam capacidade funcional, cognitiva, etc.
É importante pensar no financiamento das instituições, nas normas reguladoras (ex., portarias), na monitorização e
fiscalização.
São necessárias respostas alternativas, que funcionem em período diurno e/ou nocturno, que sejam interdisciplinares
e de base comunitária – que permitam que as pessoas possam continuar no seu domicílio e com os seus familiares.

Nesta perspectiva, as políticas sociais devem ser as organizadoras desta rede de cuidados, garantindo respostas
diferenciadas e de qualidade.
Significado e origem do termo política
Vocábulo latino política, originário do grego politika, traduzido literalmente por
“coisas políticas”

Vocábulo politeia, que pode definir-se como “regime político” e que durante a
Idade Média passou a designar-se de politia.

Expressão è politikè, significando arte política e que da associação de polis e


tekné, se traduzira por “arte da cidade”

- conceito de polís - ética – direito – teologia -


O conceito de política
Política como Pólis - conjunto
O significado e origem do No entender de Caeiro dos negócios referente à
termo “política” não é (2008) pode assumir quatro sociedade política, quer em
consensual. formas distintas: termos internos quer externos
(economia, justiça, culto religioso, etc)

Política como Actividade –


Política como Princípio - o Política como Estilo de associada à actividade dos
conjunto de princípios Governo – uma determinada políticos enquanto
relativos à organização forma ou estilo de dirigir o profissionais de uma
interna da sociedade política Governo (política liberal, actividade cívica, ou seja, a
socialista, autoritária).
vida política.
Alguns autores sugerem não ser possível definir política a não ser pelo facto de ter como finalidade melhorar o equilíbrio
entre as actividades humanas e melhorar o Homem.
Poder + Ideologia = Política

Para Giddens (2001, p.424)

o conceito “a política diz respeito aos meios pelos quais o


poder é utilizado para influenciar as intenções e o
conteúdo das actividades governamentais”
de política
o conceito de política

A esfera pública abriga toda a pluralidade (diferenças, divergências, conflitos e contradições) da ação humana.
Nela surge o corpus político formado pelos diferentes grupos que se juntam para discutir e defender interesses,
bem como acordar as decisões sobre os desafios que emergem da realidade do convívio em sociedade, sendo,
portanto, neste espaço que as decisões ganham legitimidade e passam a integrar as agendas do Governo.

Além de se qualificar como o lócus da política, também lhe atribui significado, pois com afirma Colliot Thèléne
(1999), o termo “política” tem caráter subjetivo e polissémico.
Assim, a política é indissociável da esfera pública, já que é nela que se formam as forças sociais que
determinam tanto os conflitos como os consensos em torno das decisões políticas.

Estas relações da esfera pública podem pressionar a estrutura política (Estado/governo) a agir e
negociar com os diferentes segmentos sociais, que geralmente são os principais envolvidos na política
pública.

Isso indica que a esfera pública é o lócus privilegiado da relação entre o Estado e a sociedade.
Com a ascensão do capitalismo, alguns factos levaram a
mudanças na posição do Estado relativamente à população
O conceito de política e ao sistema económico.
pública Para Dallari (2013), esses factos foram:

A política é inerente à vida em ◦ a revolução industrial, que trouxe a urbanização, mudança


sociedade e ao Estado. nas condições de trabalho e degradação ambiental;
Este constituiu-se para satisfazer as ◦ a I Guerra Mundial, que começou a romper com o
necessidades dos vários grupos liberalismo económico;
sociais. ◦ o crash de 1929, que trouxe a necessidade de uma
economia interventiva, com a aliança entre Estado e a
Na perspectiva de Dallari (2013), o
Estado é formado por contratos/regras iniciativa privada;
que regulam a sociedade, tendo ◦ a II Guerra Mundial, que deixou o Estado mais
origem na vontade humana. Tem intervencionista, tanto pelas necessidades trazidas pela
como finalidade a promoção do bem guerra, como para a reconstrução após o seu término;
comum, ou seja, o Homem define ◦ as crises cíclicas que afetam o regime capitalista;
regras/contratos com vista ao
interesse público surgindo assim as ◦ os movimentos sociais que possuíam incompatibilidades
ações sociais. com a livre concorrência;
◦…
O conceito de política pública
Na sequência de todas as mudanças decorrentes destes factos, o Estado foi progressivamente tornando-se
mais assistencialista o que, segundo Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 417), traz consigo a
consolidação do Welfare State:
“[...] independentemente do seu rendimento, todos os cidadãos têm direito de ser protegidos –
com pagamento de dinheiro ou com serviços – contra situações de dependência de longa (velhice,
invalidez...) ou de curta duração (doença, desemprego, maternidade...)”.

A ideia de política pública é algo complexo; há vários conceitos que formam o que pode ser traduzido como
política pública. Globalmente, as políticas públicas estão diretamente associadas ao Estado (Frey, 2000).
O conceito de política pública
A partir dessas constatações, pode considerar-se que as políticas públicas são espaços (ou campos) (Souza, 2006) que contemplam
conhecimentos teóricos – da parte da academia – e empíricos – emanados mediante discursos de cidadãos que procuram promover
a ação governamental ou recomendar possíveis alterações nessas ações.

Por isso, as políticas públicas ocorrem quando as autoridades modificam a realidade, constroem novas interpretações do real,
definem modelos e normas daquela ação (Muller, 2000).

• As políticas públicas são, então, as intenções governamentais que produzirão transformações profundas ou artificiais no mundo real.

Assim, as políticas públicas e sociais “[...] são campos multidisciplinares e seu foco está nas explicações sobre a natureza da política
pública e seus processos.” (Souza, 2006, p. 25).

Teixeira (2002, p. 2) sustenta que as políticas públicas se constituem em distintas [...] diretrizes, princípios norteadores de ação do
poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre actores da sociedade e
do Estado. São, nesse caso, explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamento),
orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos.
O conceito de política pública
De definição pouco consensual, têm no seu contexto histórico, uma relação com a actividade administrativa do
Estado e com o aprofundamento da sua acção burocrática, principalmente face ao desenvolvimento do Estado-
Providência.

“Um conjunto de ações interrelacionadas entre si, tomadas por um actor ou conjunto de actores políticos,
respeitantes à escolha de objetivos e meios para os alcançar no contexto de uma situação específica, devendo
estas decisões, em princípio, situar-se no âmbito do poder que estes actores têm para os alcançar” (Jenkins,
1978).
As políticas Públicas rementem-nos para a intervenção do Estado em prol de um objetivo público.

Podem ser entendidas como o resultado da actividade de uma autoridade provida de poder público e de
legitimidade institucional (Caeiro, 2008).
O conceito de política pública
Existem três aspectos fundamentais que caracterizam qualquer política pública:

1. Ser um conjunto de decisões e não uma decisão isolada, descontextualizada de um


conjunto mais alargado e consistente de decisões;

2. Envolver actores políticos nessas decisões, isto é, o facto de estas decisões serem
tomadas por agentes com poder legitimado para as tomarem;

3. O facto de essas decisões consistirem em identificar objectivos a alcançar e em


escolher os meios que, no âmbito do poder que têm, podem ser utilizados tendo em
vista alcançar esses objectivos.
Nos EUA, as políticas públicas são geralmente divididas
em três categorias: Política Social, Política Económica e
Política Internacional
- são recorrentes os estudos que apresentam as políticas
públicas como instrumento para a transformação de
determinadas realidades (Anderson, Gentile & Buckley, 2007).

No Canadá, país com um dos melhores indicadores


socioeconómicos do mundo, a temática das políticas
públicas é abordada sob vários aspectos práticos em
instituições de estudo e investigação (Figura 1).
Figura 1. Exemplo de subtemas de estudos das políticas públicas no
Canadá
O conceito de política pública
A TIPOLOGIA DE LOWI (1972)

Políticas distributivas: decisões tomadas pelo Governo, gerando impactos mais individuais do que universais, ao
privilegiar certos grupos sociais ou regiões; distribuem recursos para parcelas específicas da sociedade.

Políticas regulatórias: mais visíveis ao público e envolvem burocracia, políticos e grupos de interesse; visam administrar
e regulamentar os espaços e serviços públicos a fim de manter ou estabelecer uma ordem.

Políticas redistributivas: atingem um maior número de pessoas e impõem perdas concretas a curto prazo para
determinados grupos e ganhos incertos para outros. No geral são as políticas Sociais Universais; redirecionam os
recursos de uma parcela da sociedade detentora de melhores condições para a parcela da sociedade que é vulnerável e
que possui menos recursos.

Políticas Constitutivas: lidam com procedimentos e dizem respeito à formulação de normas reguladoras da criação e do
funcionamento das estruturas de autoridade e das próprias autoridades (ex., determinação do sistema eleitoral); estão
ligadas à estruturação do sistema político e normalmente não contam com o envolvimento da população.
Distinguir Políticas Públicas
(Pereirinha, 2008)

Identificadores de uma política pública

A Substância (o que a política faz) O Processo (como a política é feita)


• Identificação das finalidades • Atores intervenientes
• Objetivos a prosseguir • Como o fazem na sua conceção
• Valor fixado para as metas • Como é executada a política
• Conhecer os instrumentos (meios utilizados)
Processos e fases das Políticas Públicas
Segundo Caeiro (2008), as Políticas Públicas podem também ser entendidas como
um conjunto de ações do governo no sentido de alcançar um objetivo em relação a
um problema ou conflito social.

Desta noção resulta a consideração das políticas públicas integradas em etapas


sequenciais, que se podem considerar como uma sequência de atividades
estruturadas em cinco fases distintas:
1. Identificação do problema e inclusão na agenda governamental
2. Formulação de uma solução ou procura de soluções para o problema ou objetivos a
alcançar
3. Tomada de decisão
4. Aplicação da ação
5. Avaliação dos resultados
Fases do processo Tipo de Análise
1-Identificação do problema e Estruturação do problema ou
entrada na agenda definição
2-Formulação de alternativas Antecipação dos efeitos das
diferentes alternativas
3-Decisão Recomendação
4-Implementação Monotorização
5-Avaliação Avaliação
Fonte: Caeiro (2008)
1) Identificação do problema e entrada na agenda
Fase marcada pelo processo de recolha de dados, pela previsão e pela planificação. A identificação do
problema adquire uma importância determinante e podem iniciar-se estudos prévios com o intuito de
planear a melhor forma de abordagem.

Para que qualquer situação passe de um assunto privado para agenda pública impõe-se o cumprimento
de um conjunto de condições. Tais condições estão sempre dependentes da acção dos grupos de
pressão, dos governos, das burocracias e partidos políticos:
-Alcançada proporção de crise;
-Adquirida uma dada particularidade;
-Contenha aspetos emotivos:
-Apresente um elevado impacto;
-Apresente ligação a assuntos relacionados com o poder e com a sua legitimidade, com elevado conteúdo
simbólico;
-Constitua um tema da “moda”.
“Agenda sistémica” – Conjunto de temas que a sociedade considera merecedores da atenção
dos poderes públicos.
“Agenda institucional” –Temas que de forma regular são tratados pelos governos, através da
acção permanente das suas instituições políticas e administrativas.

No âmbito da identificação do problema e integração na agenda, a ação dos meios de


comunicação pode ser muito importante.
2) Formulação de alternativas
Depois da problemática se inserir na agenda política, torna-se importante saber como se
elaboram as propostas e como se determina a seleção de umas em detrimento de outras.
- O estudo das diferentes alternativas e a avaliação das suas consequências é o mais relevante
nesta fase.
- Os peritos, assessores, analistas e investigadores esforçam-se na identificação de perspetivas
futuras: projeções, predições e conjeturas.
3) Decisão
Tomar uma decisão significa escolher a melhor solução de entre todas as possíveis. O mesmo se
pretende nas Políticas Públicas.
Decisão racional: o decisor assenta a sua decisão numa lógica objetiva à alternativa mais
adequada face aos objetivos, às alternativas e às vantagens e inconvenientes de cada uma.
Porém, a objetividade não é tão evidente como se pretende. E, isto fica a dever-se entre outras,
às seguintes situações:
• Limitações psicológicas que impedem os indivíduos da realização de todas as operações possíveis exigidas
• Insuficiência da informação
• Custos excessivos (temporais e económicos)
• Limitações valorativas
• Peso das situações em que se decide
Decisão não racional: Assenta na proposta de C. Lindblom segundo a qual os modelos racionais
não têm exequibilidade, assumindo que as decisões são o produto de processos de negociação e
intercâmbio entre as várias partes implicadas na política. Trata-se assim de uma tomada de
decisão assente em pequenos avanços.

◦ March and Olsen entendem que a racionalidade na decisão é irreal, salientando a importância
da introdução do fator causalidade no processo de decisão.

◦ O processo de decisão não é então mais do que um conjunto de soluções, atores políticos e
uma escolha de oportunidades. É o modelo que se designa por “caixote do lixo” (garbage can).
4) Implementação

A questão da implementação das Políticas Públicas, durante muito tempo, foi considerada secundária na
análise das fases das Políticas Públicas.
Entendia-se que, uma vez decidida, se tornava fácil a sua aplicação.

A preocupação com esta fase teve origem nos EUA nos anos 70, face à disparidade entre aquilo que era
prometido e a realidade/aquilo que era alcançado, apesar da boa vontade e grandeza dos recursos.

A implementação de Políticas Publicas não pode ser entendida como um mero processo em que uns
decidem e outros aplicam.
Modelo top-down: Segundo este modelo, o processo de decisão inicia-se no topo da pirâmide
hierárquica (nível político), descendo até às bases (nível técnico). É um modelo mais teórico do
que prático.

Modelo bottom-up: Implementação de uma Política Pública das bases para o topo da
hierarquia, colocando a ênfase nos atores, nas suas relações, objetivos, negociações e força. Os
interesses locais adquirem aqui importância maior e a capacidade de determinados agentes que
estão diretamente integrados no processo.
5) Avaliação

O interesse pela investigação de políticas públicas, área também designada como “policy
science” começou na década de 1950 nos EUA e, a partir dos anos 1970, difundiu-se
também pela Europa, em particular na Alemanha e nos países escandinavos.

Hoje em dia existe uma multiplicidade de abordagens avaliativas e diversas controvérsias


entre estudiosos que se baseiam em diferentes perspetivas conceptuais e
epistemológicas.

Perspectiva do Curso de Vida (Elder, 1974)


Compreender o papel Refletir sobre a complexidade de um sistema que dá voz à
do Estado como um diversidade de necessidades da população, sejam elas sobre
agente fomentador, educação, saúde, género, velhice, desenvolvimento local,
emprego, questões ambientais, etc.
implementador e de
preservação de
Implica compreender a importância de um conjunto de
políticas de bem políticas que ampliem os direitos e garantam ações tendo em
comum que tenham vista o desenvolvimento social.
como objetivo o
interesse social implica: Reconhecer um processo em que primeiro se define o
problema e, a partir daí, se realiza um planeamento, se
implementa uma ação política, se acompanha a mesma através
da observação e avaliação e se faz um (re)planeamento, caso
necessário.
O conceito de política social
Para começar a entender a política social, é importante ter em mente que defini-la é uma tarefa difícil, uma vez
que é um conceito polissémico e que tendo vindo a disputado por correntes teóricas e ideológicas de filiações
políticas distintas, e até mesmo rivais.

◦ Embora hoje seja mais comum a sua interpretação como um dos mecanismos capazes de garantir proteção social à maioria
da população, na década de 30/40 Hitler chamou de política social a perseguição e morte de judeus e outros “seres
inferiores”, as experiencias médicas e as condenações às câmaras de gás de grupos populacionais considerados inferiores
pela Alemanha nazi (Richard Titmuss, s.d.).

Assim sendo, temos que partir, em primeiro lugar, de uma definição que se afaste da ideia binária de que a
política social é boa ou má, somente um resultado do capital ou somente uma conquista do trabalho.
- se a considerarmos apenas má, ela é indefensável e, portanto, deve ser extinta.
- se a tomarmos como sempre benéfica, não reconheceremos as possíveis armadilhas e desvantagens
que pode ter associadas e não compreenderemos a contínua tentativa do capital em “ajustá-la”.
O conceito de política social
Em segundo lugar, a política social não se configura como um processo espontâneo ou natural das relações
humanas; é produzida e reproduzida socialmente com o objetivo de responder a exigências específicas de
diferentes sujeitos e em diferentes fases históricas.
◦ Assim, dependendo das pessoas com poder e do contexto no qual elas se encontram, a política social pode
ser utilizada, com mais ênfase, em benefício das classes dominadas e da satisfação de necessidades sociais
ou em benefício das classes dominantes, satisfazendo as necessidades do capital. No capitalismo é esta a
modalidade que tem prevalecido, em especial desde a década de 1970.

Em terceiro lugar, a política social nasce da relação dialeticamente contraditória entre classes e entre Estado e
Sociedade, e situa-se numa arena de disputa de interesses na qual estão em choque estas várias instâncias:
◦ É no capitalismo que a política social se torna: a) uma disciplina académica, com saber próprio; b) um
campo de atuação profissional para diferentes categorias e c) uma ação pública, geralmente estatal, com
método, técnicas e estratégias voltadas para o atingir de objetivos, distanciando-se das indiferenciadas
noções anteriores de regulação da pobreza ou de distribuição de recursos.
O conceito de política social
A política social pode ser definida como uma política pública, gerida pelo Estado e controlada pela
sociedade, que dá resposta a necessidades sociais.
Trata-se de uma ação governamental dotada de intencionalidade e planeamento e que tem potencial para
influenciar positivamente as condições de vida, trabalho e saúde do seu público-alvo.

A política social no capitalismo desenvolveu-se sob diferentes modelos políticos e económicos e precisou
lidar com acontecimentos históricos que exigiram intervenção governamental específica.
- presente na Revolução Industrial, nas Grandes Guerras Mundiais, no nazismo e no fascismo, no II pós Guerra, nas graves
crises económicas dos séculos XX e XXI, na pandemia de Covid-19, a política social foi-se ajustando, avançando e alcançando
níveis de universalidade em determinados momentos, e regredindo, tornando-se focalizada, condicional e residual em
outros.

Embora intrinsecamente contraditória, o adjetivo social que nomeia esse tipo de política, só tem sentido se
esta for controlada pela classe trabalhadora e funcionar para a satisfação de necessidades sociais e para a
concretização de direitos sociais.
O conceito de política social
Nem todas as políticas públicas são políticas sociais, pois as primeiras desenvolvem-se
num contexto muito mais lato (Caeiro, 2008).

O que distingue a política social de outras áreas de atuação de políticas públicas é o


facto desta prosseguir a promoção do bem-estar (welfare) na sociedade.
Trata-se de um conceito complexo, de natureza normativa e, como tal, susceptível de
diferentes entendimentos por diferentes entidades na sociedade (Pereirinha, 2008).

Rege-se por um conjunto de princípios (teóricos e normativos) em que assenta a


intervenção do Estado na promoção e garantia dos direitos sociais, que constitui a
característica fundamental dos modernos Estados-Providência.
O conceito de política social
“política relativa à administração pública da assistência, ou seja, ao
desenvolvimento e direção dos serviços específicos do Estado e dos serviços locais
em aspetos tais como a saúde, a educação, o trabalho, a habitação, a assistência e
os serviços sociais”

“a política social pretende prosseguir objetivos como a resolução de determinados


problemas sociais ou alcançar objetivos que de certo modo se aceitam como
respostas àqueles problemas“

(Caeiro, 2008, p.21)


O conceito de política social
“Política Social é um conceito utilizado para descrever actuações dirigidas à
promoção do bem-estar; mas é também o termo usado para designar o estudo,
em termos académicos, dessas actuações (Alcock, 1998).

O conceito de Política Social está intrinsecamente ligado ao conceito de Estado


Providência, de tal modo que, vulgarmente, se fala de um ou de outro
indiscriminadamente (Caeiro, 2008).

O objecto central da Política Social é a promoção do bem-estar social.


O conceito de política social
Caeiro (2008) distingue as finalidades de política social de acordo com:

1. Os objectivos 3. As áreas de intervenção


1. Promoção da redistribuição do
1. Emprego e rendimento mínimo
rendimento e da riqueza
2. Protecção das condições de trabalho
2. Gestão dos riscos sociais
3. Promoção da inclusão social 3. Educação, formação e cultura
4. Higiene pública e saúde
2. Os instrumentos 5. Assistência e promoção social
1. Regulação 6. Urbanismo e habitação
2. Provisão de bens e serviços 7. Tempo livre e recreio
3. Provisão de benefícios monetários 8. Cobertura das necessidades e redução
das tensões sociais
Pereirinha (2008). Política Social no Contexto das Políticas Públicas
Ler e analisar o capítulo procurando responder posteriormente às seguintes
questões:

1. Por que razão o conceito de “Política Social” é tao frequentemente discutido,


não havendo unanimidade quanto ao seu conteúdo?

2. Tendo em consideração a natureza nacional das políticas sociais nos Estados da


UE, qual o âmbito que deve ser dado à expressão “Política Social Europeia”?
Alcock, P. (1998). Understanding poverty. London: MacMillan Press.
Caeiro, J. (2008). Políticas públicas, política social e estado providência. Lisboa: Universidade Lusíada Editora.
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