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Áreas de atuação

em Psicologia
Comunitária
Prof.ª Flaviany Ribeiro da Silva

Descrição

Os contextos e áreas de atuação em Psicologia Comunitária como


ferramentas para potencialização de processos interventivos na área
socioassistencial.

Propósito

A compreensão dos contextos e áreas de atuação em Psicologia


Comunitária é fundamental no campo da Psicologia, especialmente por
possibilitar práticas interventivas em espaços da Psicologia Social.
Objetivos

Módulo 1

Vulnerabilidade social e Sistema Único de


Assistência Social
Reconhecer os processos teóricos envolvidos na compreensão do
conceito de vulnerabilidade social e do Sistema Único de Assistência
Social.

Módulo 2

Imersão local, atendimento psicossocial e


trabalho em grupo
Analisar a intervenção a partir da imersão local, do atendimento
psicossocial e do trabalho em grupo.

Módulo 3

Favela e comunidades rural, ribeirinha e


quilombola
Identificar processos de intervenção em favela e comunidades rural,
ribeirinha e quilombola urbana.

Módulo 4

Segurança pública e as diversas formas de


violência
Identificar processos teóricos e práticos relacionados às
intervenções a partir da segurança pública e das diversas formas de
violência.


Introdução
A Psicologia Comunitária é um campo em crescente expansão na
área da Psicologia Social. A compreensão dos contextos e áreas
de atuação em Psicologia Comunitária, assim como dos
conceitos relacionados, por exemplo, o conceito de
vulnerabilidade social e as diretrizes do Sistema Único de
Assistência Social, se torna ferramenta valiosa para possibilitar a
intervenção nos espaços socioassistenciais. A intervenção em
Psicologia Comunitária deve ocorrer a partir da imersão local,
com atendimento psicossocial e trabalhos em grupo.

Para potencializar intervenções na área social, é necessário


compreender os processos de intervenção em diferentes
espaços, tais como favelas e comunidades rural, ribeirinha e
quilombola urbana. Do mesmo modo, deve-se compreender os
processos envolvidos na atuação da segurança pública e as
diversas formas de violência.

1 - Vulnerabilidade social e Sistema Único de Assistência Social


Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os processos teóricos envolvidos na
compreensão do conceito de vulnerabilidade social e do Sistema Único de Assistência Social.

O que é vulnerabilidade social?


Na crescente aproximação da Psicologia, como ciência e profissão, das
problemáticas relativas às políticas públicas e sociais do nosso país,
torna-se fundamental que os psicólogos compreendam e se aproximem
de conceitos relativos à saúde pública, à assistência social e às políticas
públicas, tais como: vulnerabilidades, pobreza, desigualdades e
exclusão.

O conceito de vulnerabilidade social apresenta diferentes definições, ou


seja, ao que parece, ainda não há um consenso na literatura ou uma
única definição para o termo. Em pesquisa de revisão da literatura
recente sobre as publicações científicas em Psicologia que abordam o
tema da vulnerabilidade social, foi possível reconhecer três categorias
temáticas relacionadas ao termo vulnerabilidade social:

• A vulnerabilidade social como exposição a riscos.


• A vulnerabilidade social a partir de aspectos demográficos e
socioeconômicos.
• A vulnerabilidade social a partir de uma noção multidimensional.

A definição de vulnerabilidade social como exposição a riscos associa o


conceito de vulnerabilidade social a fatores que tendem a afetar
negativamente as pessoas e seu cotidiano. Em geral, são considerados
fatores de risco as condições ou variáveis que podem provocar efeitos
não desejáveis e até mesmo comportamentos que comprometam a
saúde e o bem-estar de indivíduos, tais como: exposição a doenças
infectocontagiosas e situações desfavoráveis, tanto sociais como
políticas (MORAIS; COLS, 2012).

Já a vulnerabilidade associada a aspectos demográficos e


socioeconômicos leva em consideração as condições de acesso à
estrutura de oportunidades sociais, econômicas e culturais oriundas do
Estado, do mercado e da sociedade.

Por fim, a perspectiva de vulnerabilidade a partir de uma noção


multidimensional compreende a inserção do indivíduo no mercado de
trabalho, a qualidade de suas relações sociais, os serviços a que tem
acesso ou dispõe e as formas de proteção proporcionadas pelo Estado
que interferem na sua qualidade de vida e bem-estar biopsicossocial.

A aproximação de estudos e pesquisas sobre vulnerabilidades, pobreza,


desigualdades e exclusão social visa assegurar o compromisso ético e
político da Psicologia Social com a população. Esse compromisso deve
ser balizado pela crítica à suposta neutralidade das práticas
psicológicas e pela aposta no pluralismo teórico e na apropriação de
saberes que produzam transformações sociais.

A Psicologia e o Sistema Único de


Assistência Social
A política de assistência social se constitui a partir das matrizes do
Sistema Único de Assistência Social (Suas). Entre os principais marcos
legais que possibilitaram a constituição desse campo estão: a
Constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica de Assistência Social
(Loas) em 1993 e a Política Nacional de Assistência Social (Pnas)
promulgada em 1995.

Vale ressaltar que é a partir da constituição da Loas


que a assistência social é legitimada como política
pública, garantindo os direitos de cidadania da
população e descaracterizando a compreensão
equivocada da assistência social como caridade e
benevolência.

Entre as diversas conquistas e avanços da implementação do Suas em


2005 estão o fato de ele regular e delimitar serviços socioassistenciais
em todo o território nacional, elegendo a família como unidade de
intervenção; a superação de práticas assistencialistas; a inserção de
diferentes categorias profissionais nas políticas sociais, como os
profissionais psicólogos; e o surgimento de equipamentos como
serviços de proteção social: o Centro de Referência de Assistência
Social (Cras) e o Centro de Referência Especializado de Assistência
Social (Creas).

Atenção!

A depender das especificidades dos territórios, os psicólogos passam a


compor as equipes desses diferentes equipamentos da assistência
social. Como trabalhador do Cras e do Creas, a atuação do psicólogo
deve ter como principal objetivo o fortalecimento dos usuários na
qualidade de sujeitos de direitos e o fortalecimento das políticas
públicas.

Quanto aos equipamentos, vale pontuar que o:

Cras
Consiste em um equipamento e serviço de proteção social básica e,
desse modo, funciona como a porta de entrada para o sistema.

Creas
É um equipamento de referência da proteção social especial de média e
alta complexidade, responsável pelo atendimento das famílias que se
encontram em situações de direitos ameaçados e/ou violados por
omissão ou ação de pessoas e/ou instituições.

Com relação à caracterização da proteção nos níveis de média ou de


alta complexidade, veja mais a seguir.

Média complexidade
Oferecem cuidados às famílias e indivíduos com seus direitos violados,
mas cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos.

Alta complexidade
Garantem proteção integral de moradia, alimentação, higiene e trabalho,
protegendo os que se encontram em situação de rua, sem referência
e/ou em situação de ameaça que torna necessária a saída de seu
núcleo familiar e/ou comunitário.

Com essa crescente entrada de psicólogos compondo as equipes nos


equipamentos da assistência social, ressalta-se que os psicólogos
necessitam revisitar e ressignificar sua prática profissional, com a
inclusão de reflexões sobre temáticas como vulnerabilidade social,
exclusão, pobreza e desigualdade, bem como de práticas de
atendimentos coletivos e visitas domiciliares, visando à transformação
social.

Questões relacionadas com a subjetividade e a intersubjetividade devem


atravessar o trabalho de um psicólogo na política de Assistência Social.
Para isso, é necessário romper com técnicas e teorias direcionadas a
um indivíduo abstrato, universal e não histórico.

É preciso compreender que as intervenções psicológicas não devem


contribuir para patologizar e objetificar as pessoas atendidas, e sim
compreender, intervir e problematizar os processos e recursos
psicossociais.
Vale destacar que os processos de subjetivação devem ser
compreendidos como construídos, fabricados e modelados no encontro
com o sistema social. A intervenção da Psicologia deve ser balizada
pelo sujeito social, e não por usuários passivos dos serviços. Desse
modo, o psicólogo nos equipamentos da assistência social deve ter por
finalidade fazer com que os sujeitos sociais sejam sujeitos de direitos,
além de fortalecer o acesso às políticas públicas. E para esse sujeito
social deve ser oportunizada uma escuta ampliada que possibilite seu
desenvolvimento humano em diferentes aspectos, evitando-se excluir,
segregar e marginalizar aqueles que já são considerados diferentes.


A política de assistência social a
partir do Sistema Único de
Assistência Social (Suas)
Neste vídeo, a especialista reconhece os diferentes marcos legais na
política de assistência social a partir do Sistema Único de Assistência
Social, destacando conquistas e avanços da implementação do Suas e a
atuação do psicólogo, como trabalhador nos equipamentos da
assistência social.

Os desa�os da formação em
Psicologia e a atuação no Suas
Não é incomum ouvir que os cursos de graduação em Psicologia
oferecem uma formação que não investe teórica e metodologicamente
na possibilidade de atuação no campo das políticas sociais.
Geralmente, tais cursos estão capturados pela lógica psicopatológica
do adoecimento psíquico com ênfase no atendimento clínico individual,
que parecem reproduzir o modelo hegemônico elitizado de intervenção
psicológica.

Saiba mais

Vale pontuar que os documentos e as referências técnicas, produzidas


pelo Conselho Federal de Psicologia e conselhos regionais, apontam
que a atuação do psicólogo na política de assistência social não seja
balizada por práticas psicoterápicas individuais. Isso se dá porque a
compreensão das questões estruturais como sendo de cunho individual
e a partir de relações causais contribui para a não compreensão dos
cidadãos em busca de um direito.
Ao colocar em análise uma formação em Psicologia, devemos enfatizar
que esta possibilite atuações criativas, inventivas, que produza saberes
e práticas contextualizadas com as questões sociais, econômicas e
culturais. Portanto, é preciso repensar as disciplinas e o modo como são
ofertadas nos cursos de graduação, assim como a prática dos estágios
supervisionados.

Esse aumento de reflexões e discussões sobre a formação em


Psicologia e o descompasso com a sua atuação no Suas vem
apontando para a necessidade de inclusão de referencial social e crítico
na graduação, a partir de uma revisão cuidadosa do lugar do psicólogo
no campo das políticas públicas. Tal movimento aponta para desafios
teóricos, metodológicos, éticos e políticos que precisam ser superados
para que possamos deselitizar formas de intervenção no atendimento à
população, em especial àquela que historicamente foi excluída da
possibilidade de acesso aos serviços psicológicos.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O Sistema Único de Assistência Social (Suas) foi implantado em


2005 no território brasileiro como uma política pública de Estado
que propõe um novo modelo de gestão da assistência social,
pautado em um olhar que busca entender as necessidades
humanas de forma global e particular, contextualizando o sujeito
integral. A respeito do Suas, marque a alternativa correta.
Assegura uma política pública social que garante o
A assistencialismo e oportuniza aos indivíduos
intervenções abstratas e universalizantes.

Implantou e regulamentou serviços substitutivos


B
como os centros de atenção psicossocial (Caps).

Regula um novo modelo de gestão da assistência


C social pautado nos adolescentes em cumprimento
de medidas socioeducativas.

Inseriu diferentes categorias profissionais nas


D políticas sociais, tais como animador sociocultural e
pedagogos sociais.

Regula e delimita serviços socioassistenciais em


E todo o território nacional, elegendo a família como
unidade de intervenção

Parabéns! A alternativa E está correta.

O Suas foi implantado no Brasil em 2005. É um modelo de gestão


da assistência social que tem por objetivo garantir a segurança
social do indivíduo mediante a intervenção familiar. Esse sistema
foi responsável também pela inserção de diferentes categorias
profissionais nas políticas sociais e pelo surgimento de
equipamentos como serviços de proteção social: o Centro de
Referência de Assistência Social (Cras) e o Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (Creas).

Questão 2

A proteção social, prevista na Política de Assistência Social, busca


prevenir situações de vulnerabilidade ao desenvolver
potencialidades dos sujeitos e dos vínculos familiares e
comunitários. O Centro de Referência Especializada de Assistência
Social (Creas) é um equipamento de referência da proteção social
especial. A respeito do Creas, marque a alternativa correta.
É responsável pela proteção social básica e
A funciona como a porta de entrada para o sistema
socioassistencial.

É responsável pelo atendimento das famílias que se


encontram em situações de direitos ameaçados
B
e/ou violados por omissão ou ação de pessoas e/ou
instituições.

Assegura uma prática clínico-assistencial à


C população e oferta atendimento específico para
crianças e jovens em conflito com a lei.

É dedicado ao atendimento psicossocial de base


D comunitária e familiar aos antigos usuários dos
hospitais psiquiátricos.

Regulamenta práticas assistencialistas e médicas


E em todo o território nacional, elegendo a infância em
vulnerabilidade como unidade de intervenção.

Parabéns! A alternativa B está correta.

O Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e o Centro de


Referência Especializado de Assistência Social (Creas) são
equipamentos do Sistema Único de Assistência Social (Suas). O
Cras oferece serviço de proteção social básica, enquanto o Creas é
um equipamento de referência que visa à proteção social especial
de média e alta complexidade. É o equipamento responsável pelo
atendimento das famílias que se encontram em situações de risco
social ou tiveram seus direitos ameaçados ou violados.

2 - Imersão local, atendimento psicossocial e trabalho em


grupo
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar a intervenção a partir da imersão local,
atendimento psicossocial e trabalho em grupo.

A imersão local: a aposta do


diagnóstico institucional
A intervenção psicossocial tende a ocorrer a partir de um diagnóstico
institucional. Esse diagnóstico consiste na imersão do profissional no
território geográfico e existencial para a realização de coleta de dados
com o objetivo de identificar características, limites e possibilidades de
atuação do psicólogo dentro das instituições.

Em outras palavras, quando um psicólogo se destina a


realizar intervenção psicossocial em instituições, é
necessária a imersão local para a realização de
levantamento e análise sobre o funcionamento da
instituição e das atividades que os indivíduos realizam.

Assim, para que o diagnóstico seja realizado de modo adequado, é


necessário que, em um primeiro momento, o profissional responsável
recolha informações relevantes sobre a instituição a ser investigada. Por
exemplo: a história, a cultura e o objetivo da instituição; informações
sobre estrutura e instalações, quantitativo de pessoas e procedimentos
de trabalho (tarefas, avaliações e recompensas); a localização
geográfica, as relações com a comunidade e a relação com outras
instituições.

Para o psicólogo José Bleger (2011), a intervenção em espaços sociais


é realizada de modo potente quando o profissional responsável pelo
diagnóstico se torna atento não apenas às atividades concretas e
objetivas que os indivíduos realizam, mas sobretudo aos efeitos dessas
atividades para os integrantes da instituição e, especialmente, os efeitos
para si mesmos.
Ou seja, é preciso fazer imersão no território existencial da instituição, e
não somente no território geográfico e físico.
O atendimento psicossocial
Ao considerar o termo atendimento psicossocial, vale pontuar que a
compreensão dessa terminologia pode ser atravessada por pelo menos
duas diferentes acepções:

1. A junção da atuação da Psicologia e do serviço social como campo


interdisciplinar.

2. Uma fundamentação teórico-metodológica difundida por meio do


campo da Psicologia Social e Comunitária.

A compreensão de atendimento psicossocial como a atuação


interdisciplinar entre a Psicologia e o Serviço Social tende a ser
reproduzida no campo da Assistência Social, mas vale pontuar que a
atividade conjunta da psicóloga com a assistente social não
necessariamente caracterizaria uma intervenção interdisciplinar.O
exercício da interdisciplinaridade deve ser compreendido a partir das
complexidades e multidimensões pelas quais as situações de
vulnerabilidade e riscos sociais são compostas e do reconhecimento de
que questões complexas exigem respostas complexas. A resolutividade
das problemáticas não deve ser dividida em categorias, em que haveria
um especialista para cada situação.

Já o enfoque do atendimento psicossocial como uma fundamentação


teórico-metodológica apresenta seus preceitos tal como na definição
preconizada por Vasconcelos (2008, p. 15), que afirma que a abordagem
psicossocial consiste em “um campo caracterizado por uma
perspectiva pluralista, multidimensional e interdisciplinar, e marcado por
um engajamento ético e político nas lutas dos vários movimentos
sociais populares e seus projetos históricos”.

Seja como for, a potência da intervenção no campo psicossocial está


em quando o psicólogo se permite acolher questões subjetivas e
concretas relacionadas ao contexto dos indivíduos, tanto a partir das
vulnerabilidades sociais quanto das potencialidades. Isto é, o
atendimento psicossocial deve ser compreendido como um instrumento
teórico-metodológico e ético-político fundamental na prática do
psicólogo no campo socioassistencial.

Processos grupais
O grupo faz parte do nosso processo de desenvolvimento humano.
Todos nós passamos a maior parte das nossas vidas convivendo em
grupos: seja a nossa família, o grupo de amigos ou a turma do trabalho,
estamos sempre compartilhando nosso cotidiano com outras pessoas.
A preocupação da Psicologia com o estudo dos grupos começa com os
estudos da chamada Psicologia das Massas, que tentava compreender
fenômenos coletivos.

Saiba mais

Na verdade, o início dessas preocupações ocorreu quando os


psicólogos, ao se debruçarem sobre a Revolução Francesa, se
perguntavam como era possível uma multidão de pessoas ser levada
por um líder a comportamentos que muitas vezes colocavam em risco
as suas próprias vidas. Assim, buscavam saber que fenômeno era
aquele capaz de possibilitar a um enorme grupo agir com tamanha
coesão.
De acordo com Zimerman (2000), um grupo, para ser caracterizado
como tal, deve preencher algumas condições básicas, tais como:

• Não ser um mero somatório de indivíduos, pelo contrário, se


constituir como uma nova entidade, com leis e mecanismos
próprios e específicos.

• Possuir tamanho que não exceda o limite que ponha em risco a


indispensável preservação da comunicação, tanto a visual como a
auditiva, a verbal e a conceitual.

• Formar um campo grupal dinâmico, em que gravitam fantasias,


ansiedades, identificações, papéis.

• Reunir todos os integrantes de um grupo em torno de uma tarefa e


de um objetivo comum.

Alguns autores costumam classificar os grupos de acordo com a


técnica empregada pelo coordenador e segundo o tipo de vínculo que
ele estabelece com os indivíduos que os integram. Ao considerar essa
classificação, as intervenções grupais do condutor do grupo podem ser
caracterizadas em cinco tipos:

“Pelo grupo”

O grupo funciona gravitando em torno do líder, mediante


recurso de sugestão ou de identificação com esse líder.

“Em grupo”

Os participantes estão reunidos em um grupo, porém os


assinalamentos e interpretações do condutor são dirigidos
separadamente a cada participante em particular. Trata-se de
uma intervenção individual realizada na presença dos demais.

“Do grupo”

O enfoque interpretativo do condutor está sempre dirigido ao


grupo como uma totalidade, como se essa totalidade
constituísse uma nova individualidade.

“De grupo”

O interesse do condutor pelos relatos de cada um e a sua


atividade interpretativa privilegiam tanto as individualidades
dos participantes quanto a generalidade do grupo.

“Com o grupo”

Os participantes do grupo devem interagir ativamente entre


eles e com o condutor.

Grupos operativos e grupos


terapêuticos
De acordo com a finalidade dos grupos é possível realizar a divisão
entre grupos operativos e grupos terapêuticos (ZIMERMAN, 2000).
O psiquiatra Pichon Rivière desenvolveu os grupos operativos que, para
ele, correspondem a conjuntos de pessoas que têm um objetivo comum
(Bleger, 2011). Para se intitular grupo operativo, não basta que haja um
objetivo comum ou que tenha como finalidade uma tarefa, é preciso que
as pessoas estabeleçam vínculos entre si. Os grupos operativos podem
ser de diferentes tipos:
Ensino-aprendizagem
Por meio da técnica de grupos de reflexão.

Institucionais
Empresas, escolas, igreja, exército, associações etc.

Comunitários
Programas de saúde mental.

Os grupos terapêuticos ou grupoterapias podem ser divididas como de


autoajuda ou psicoterápico. Esses grupos podem funcionar por um
período longo ou curto, ter finalidade de insight destinado a mudanças
caracterológicas ou podem se limitar a benefícios terapêuticos menos
pretensiosos, como a remoção de sintomas; podem objetivar à
manutenção de um estado ou podem limitar-se à busca de uma melhor
adaptabilidade nas inter-relações humanas em geral.

Com relação às especificidades dos grupos psicoterápicos, é possível


sinalizar ao menos quatro abordagens teóricas: a psicanalítica, a
psicodramática, a teoria sistêmica e a corrente cognitivo-
comportamentalista. Cada uma delas apresenta visões diferentes e
destaca processos psicológicos diferentes.

O trabalho em grupo na Psicologia
Comunitária
Neste vídeo, a especialista reconhece as diferentes características de
um grupo, destacando os grupos operativos e grupos terapêuticos.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O atendimento psicossocial pode ser caracterizado de diferentes


modos. Uma compreensão possível é a de atuação conjunta e
interdisciplinar entre a Psicologia e o Serviço Social, geralmente
caracterizada e reproduzida pelo campo da assistência social.
Marque a alternativa que apresenta uma outra acepção possível
para o termo “atendimento psicossocial”.
Prática oriunda da Psicopedagogia Clínica e
A
Institucional.

Processo psicoterápico realizado com comunidades


B
urbanas.

Grupos terapêuticos com moradores de áreas


C
sociais.

Prática clínica assistencial das clínicas escolas em


D
Psicologia.

Fundamentação teórico-metodológica da Psicologia


E
Social e Comunitária.

Parabéns! A alternativa E está correta.

O atendimento psicossocial pode ser tanto a junção da atuação da


Psicologia e do Serviço Social como campo interdisciplinar como
uma fundamentação teórico-metodológica difundida no campo da
Psicologia Social e Comunitária.

Questão 2

O estudo do grupo e suas modalidades é um campo importante de


estudo para a Psicologia Social. Um grupo não se trata de uma
simples reunião de indivíduos isolados, mas sim de pessoas que
apresentam objetivos comuns. A partir do estudo das modalidades
do grupo, vamos imaginar a realização de um grupo com
moradores de uma comunidade da Zona Sul do Rio de Janeiro, em
que o condutor do grupo busca ouvir, de forma igualitária, todas as
posições e opiniões dos demais membros quanto às estratégias de
práticas de prevenção à violência desenvolvidas na comunidade. A
partir do estudo das modalidades grupais e considerando as
características do grupo com esses moradores, marque a
alternativa que apresenta a modalidade correta.

A Pelo grupo

B Em grupo

C Do grupo

D De grupo

E Com o grupo

Parabéns! A alternativa D está correta.

Na tomada de decisão, há interesse pelas opiniões e posições de


cada participante do grupo, por isso corresponde à modalidade “de
grupo”. As discussões e decisões são tomadas em conjunto e a
palavra circula entre todos e cada um dos participantes.
3 - Favela e comunidades rural, ribeirinha e quilombola
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car processos de intervenção em favela e
comunidades rural, ribeirinha e quilombola urbana.

As especi�cidades da intervenção
psicossocial
A intervenção psicossocial em comunidades, seja em uma comunidade
rural, ribeirinha, quilombola ou em favelas, deve apresentar como
característica de base o caráter reflexivo, crítico e participativo do
psicólogo. Nesses territórios, o fazer deve ser balizado por uma escuta
ampliada, atenta e ativa de modo a contribuir para desmontar o
esquema ideológico de conformismo social tão presente na realidade
cotidiana.
A intervenção psicossocial, caracterizada por se
balizar por diferentes saberes e escolas teóricas, tem
sido um campo cada vez mais difundido na Psicologia.
Essa área apresenta fundamentação teórico-
metodológica na Psicologia Social e Comunitária.
Nesse lugar teórico, o fazer do profissional pode ser
compreendido como um modo de fazer Psicologia que
difere do tradicional modelo de Psicologia Clínica e
Individual.

A Psicologia Social e Comunitária, diferentemente da Psicologia


Individual, não compreende indivíduos isoladamente, ela se realiza a
partir dos grupos em que o indivíduo está inserido, como uma
possibilidade de superação de concepções a-históricas e associais. Os
indivíduos são compreendidos como seres ativos, sociais e
historicamente constituídos (BOCK, 2002).

Para tentar compreender os modos de existência das diferentes


comunidades, torna-se necessário entender que esses territórios não
estão isolados do momento histórico, político, social e cultural de
determinada sociedade.
Por esse motivo, uma intervenção essencialmente clínica e individual
dos indivíduos ou questões consideradas como “patológicas”, não
levando em consideração a perspectiva relacional e a compreensão
social das dificuldades sociais e existenciais, pode se caracterizar como
fator preocupante.
Ao buscar compreender as especificidades da intervenção psicossocial
nesses espaços, o psicólogo deve se apropriar de teorias que
possibilitem a leitura da realidade de modo crítico, ético e político.

Resumindo

Em outras palavras, é necessária, além de balizas teórico-metodológicas


adequadas, a apropriação de, ao menos, dois elementos essenciais: o
respeito à diversidade social e o respeito às práticas cotidianas das
comunidades.

Comunidade rural e ribeirinha


Historicamente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
apresentava como definição de população rural a localização do espaço
de moradia, ou seja, era considerado população rural o que está fora do
perímetro urbano. Posteriormente, a diferenciação entre espaços
urbanos e rurais passou a ser a análise do contingente demográfico,
sendo o rural caracterizado pela baixa densidade demográfica e pela
dispersão populacional.

Densidade demográfica do Brasil por estados em 2019.

É a partir da década de 1990 que o reconhecimento do que é urbano e


rural passa a não se limitar à localização e à perspectiva demográfica.
As concepções atuais tendem a englobar os processos sociais,
econômicos e culturais das comunidades rurais, colocando em análise
os agricultores familiares rurais como atores sociais importantes,
desmistificando o fato do rural ser considerado como ultrapassado e
rudimentar.

Vale pontuar que, em geral, a prática psicológica sempre foi


eminentemente urbana, sendo ofertada em larga escala nos grandes
centros urbanos. Segundo apontado por Moura (2019), somente a partir
dos anos 2000 a Psicologia passa a ter por objetivo a interiorização de
suas práticas, balizada pelas novas perspectivas nas políticas públicas
de saúde e assistência social e pelo processo de interiorização dos
centros universitários.

Nas comunidades rurais ou ribeirinhas, a intervenção de um psicólogo


social comunitário é geralmente atravessado pelas dificuldades de
acesso e instabilidades de comunicação. Em alguns casos, as
distâncias extensas, as oscilações ambientais e o alto custo de
deslocamento e acomodação são desafios a serem enfrentados. Além
desses aspectos, o psicólogo se depara com uma cultura bastante
peculiar, cujos sinais e signos podem não ser facilmente reconhecidos e
compreensíveis.

É o que apontam os psicólogos Calegare, Higuchi e Forsberg (2013, p.


571), em pesquisa sobre o estudo de comunidades ribeirinhas no
Amazonas: “Embrenhar-se nessa realidade é enfrentar um longo
caminho antes de propriamente iniciar a pesquisa seguindo os
procedimentos metodológicos específicos”.
Comunidades quilombolas e favelas
Ao refletir sobre a atuação do psicólogo social em comunidades
quilombolas, é necessário compreender que o termo quilombo passou a
assumir um significado importante a partir da Constituição Federal de
1988 (BRASIL, 1988). Na Constituição, foi reconhecida a propriedade
definitiva aos remanescentes dos quilombos que estivessem ocupando
suas terras, devendo o Estado emitir e garantir os respectivos títulos,
fato que ainda não se efetivou por completo em muitas regiões do país.

Vale ressaltar que a intervenção do psicólogo, nesses


territórios, não deve desconsiderar que entre as
principais lutas das comunidades quilombolas estão: a
garantia de suas terras; o acesso a programas sociais
e serviços de saúde; a evasão escolar; e a violência
sexual contra as mulheres quilombolas.

Ao colocar em análise a intervenção em favelas, vale pontuar que, para


alguns autores, tais como Junior e Ribeiro (2011), favela e comunidade
não podem ser compreendidas como sinônimos. Veja a seguir.

Favelas
São comunidades caracterizadas pela desorganização e pelas
construções precárias, com reduzidas condições de higiene.

Comunidades
Podem ser compreendidas como grupos coesos, organizados e
balizados pelo consenso dos indivíduos.
É preciso sinalizar que, embora favelas e comunidades possam ser
caracterizadas por escassez ou vulnerabilidades, as comunidades
tenderiam a se organizar política e socialmente por meio de sua
associação de moradores ou movimentos sociais.

A intervenção de um psicólogo social comunitário nesses espaços deve


possibilitar o engajamento e a participação dos sujeitos a partir de uma
escuta atenta e qualificada, a fim de implicá-los a problematizar seus
modos de ser e estar no mundo. Inclusive, com o objetivo de contribuir
para que os membros de uma favela possam se organizar,
transformando-a em uma comunidade.

Destaca-se que todas as comunidades são marcadas por


representações sociais diversas e que a presença de psicólogos ou
demais profissionais oriundos de outros espaços sociais podem
disparar resistências e reações de defesa quando esses profissionais
desconsideram “o saber da comunidade”. Ao mesmo tempo, essas
comunidades também tendem a se apresentar receptivas àqueles que
desejam ouvi-las, que constroem encontros dialógicos e que são
capazes de se questionar e se descentrar da perspectiva em que estão
situados. A intervenção nesses territórios é sempre desafiadora, pois se
despir dos seus modos de ser e estar no mundo para habitar o território
existencial do outro nem sempre é tarefa fácil.


O trabalho do psicólogo em
comunidades quilombolas e favelas
Neste vídeo, a especialista reflete sobre as diferentes características de
comunidades quilombolas e favelas e apresenta as possibilidades de
ação do psicólogo em cada uma.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A intervenção psicossocial tem sido uma prática cada vez mais


difundida na Psicologia. É caracterizada por diferentes saberes e
escolas teóricas. Essa prática interventiva apresenta
fundamentação teórico-metodológica na Psicologia Social e
Comunitária. A respeito dessa prática, marque a alternativa correta.
Deve ser balizada por uma escuta ampliada, atenta
A
e ativa.

Caracteriza-se por um processo psicoterápico


B
tradicional.

É uma intervenção guiada por grupos terapêuticos


C
com técnicos sociais.

Corresponde a uma prática clínica individual em


D
Psicologia Comunitária.

É uma intervenção com grupos operativos de


E
aprendizagem.

Parabéns! A alternativa A está correta.

A intervenção psicossocial em comunidades tende a apresentar


como característica a capacidade reflexiva e a perspectiva crítica e
participativa do psicólogo. O fazer do psicólogo nesses espaços
deve ser balizado por uma escuta ampliada, atenta e ativa a partir
da fundamentação teórico-metodológica na Psicologia Social e
Comunitária.

Questão 2
A atuação do psicólogo social comunitário em comunidade
quilombola deve ser balizada pela compreensão das
especificidades desse território. O termo “quilombo” passou a
assumir um significado importante a partir da Constituição Federal
de 1988. Marque a alternativa correta sobre o que determina a
Constituição acerca dos quilombos.

São asseguradas práticas de militâncias e a


A constituição de líderes políticos na região do
quilombo.

Define o reconhecimento da propriedade definitiva


B aos remanescentes dos quilombos que estivessem
ocupando suas terras.

É garantido o atendimento socioassistencial e


C médico a todos os grupos remanescentes das
terras de quilombos.

São constituídas intervenções e práticas de saúde


D
mental e discussão de temas sobre relações raciais.

É regulamentada a lei sobre educação e práticas


E
antirracistas nos quilombos e regiões do entorno.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Ao refletir sobre a atuação do psicólogo social em comunidades


quilombolas, compreendemos que o termo quilombo garantiu um
significado valioso a partir da promulgação da Constituição Federal,
em 1988, quando se admitiu a propriedade definitiva aos
remanescentes dos quilombos que estivessem ocupando suas
terras, devendo o Estado emitir e garantir os respectivos títulos.

4 - Segurança pública e as diversas formas de violência


Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car processos teóricos e práticos
relacionados às intervenções a partir da segurança pública e das diversas formas de
violência.

Re�exões sobre as violências


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a definição de
violência se refere ao uso intencional da força física ou do poder, real ou
em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo
ou comunidade, que resulte ou tenha grandes possibilidades de resultar
em lesão, morte, dano psicológico ou privação de alguma ordem (KRUG;
COLS, 2002).

Tal definição necessita ser articulada, em seus meandros, com as


especificidades sociais, históricas e culturais de cada sociedade, já que
a violência, assim como as demais manifestações sociais, se constitui
por um conjunto de disposições que refletem as condições socio-
históricas da estrutura social de um contexto e uma época.
Saiba mais

O conceito de violência precisa ser entendido segundo o contexto socio-


histórico e cultural, pois o que é violência num determinado momento ou
lugar pode não ser em outro contexto.

Portanto, pode-se considerar a violência um fenômeno que possui


relação direta com o contexto histórico, social e econômico na qual está
inserida e pode ser interpretada de diferentes maneiras. Isso significa
que o que é violência para uma sociedade pode não ser para outra,
principalmente quando se trata de regiões com diferenças culturais,
morais e regimentais capazes de legitimar ou não a prática de violência
em uma sociedade.

As violências estão presentes, em maior ou menor grau, em todas as


regiões do país e nos diferentes segmentos sociais.

Todos os indivíduos de uma forma ou outra “são afetados pela fonte


comum de uma estrutura social desigual e injusta, que alimenta e
mantém ativos os focos específicos de violência, os quais se expressam
nas relações domésticas, de gênero, de classes e no interior das
instituições” (MINAYO; SOUZA, 1993, p. 66).
A violência geralmente é o resultado da complexa interação de fatores
individuais, comunitários e sociais, sendo fundamental considerar as
interseções e conexões existentes entre suas diferentes classificações
e categorizações. A violência pode ser classificada segundo diferentes
aspectos, por exemplo:

Organização social em nível macro


Violência estrutural, violência simbólica e de Estado.

Contexto
Institucional, familiar e comunitário.

Foco
Autoinfligida, interpessoal e coletiva.

Natureza
Violência física, psicológica, sexual e negligência ou abandono.

Considerando a classificação da violência em nível macro, é possível


ressaltar que:
Violência estrutural

É aquela que diz respeito às diferentes formas de manutenção


das desigualdades sociais, culturais, de gênero, etárias e
étnicas que produzem as várias formas de submissão e
exploração de algumas pessoas pelas outras.

Violência simbólica

Geralmente é exercida pelas instituições e seus agentes,


quando há dissimulação das relações de poder.

Violência de Estado

É caracterizada por abuso de poder — legitimamente conferido


pelo Estado — e violações de direitos da população por parte
de agências públicas e seus profissionais.

Segundo o contexto em que se situa, a violência pode ser compreendida


como:
Violência institucional

Quando ocorre dentro das instituições, sobretudo por meio de


regras, normas de funcionamento e relações burocráticas e
políticas que reproduzem estruturas sociais injustas,
preconceitos e discriminações.

Violência familiar ou doméstica

Quando ocorre no contexto, nas inter-relações e na


comunicação da família.

Violência comunitária

Quando caracterizada por formas de violências interpessoais


que não são perpetradas por um familiar e que podem variar
desde presenciar eventos violentos até ser vítima direta deles
no território em que vive.

De acordo com o foco da violência, ela se divide em autoinfligida,


interpessoal e coletiva. Veja a seguir.
Violência autoin�igida

Pode se manifestar de duas formas: comportamento suicida e


atos de violência contra si próprio, como os casos das
automutilações e autoflagelações.

Violência interpessoal

É aquela de uma pessoa contra a outra.

Violência coletiva

Pode ser cometida por grupos ou pelo Estado.

Segundo a sua natureza, a violência pode ser classificada como:

Violência física

Quando é utilizada a força para produzir lesões, traumas, dores


ou incapacidades.

Violência psicológica

Quando se faz uso de agressões verbais ou gestuais com o


objetivo de aterrorizar, rejeitar, humilhar, restringir liberdade ou
isolar do convívio social.
Violência sexual

Caracterizada como todo ato ou jogo sexual com intenção de


estimular ou obter satisfação sexual, em que os autores da
violência estão em estágio de desenvolvimento psicossexual
mais avançado que a vítima.

Negligência ou abandono

Consiste na ausência, recusa ou a deserção da atenção


necessária a alguém que deveria receber cuidados.

Psicologia e segurança pública


Ao considerar o contexto de inseguranças e incerteza que nos
atravessa, em especial, as diversas formas de violência, é possível
sinalizar que cada vez mais o psicólogo é convocado a atuar nos
espaços de manutenção da ordem e promoção da segurança. Para
constituir uma prática ética e reflexiva nesse campo, é necessário
compreender que as violências se apresentam disseminadas em
diferentes países e com diferentes níveis de gravidade, chamando
atenção de profissionais e pesquisadores de diversas áreas.

A violência tende a ocorrer de forma cotidiana e tem


muitas faces, talvez uma de suas principais
características seja o fato de ser um fenômeno social.
Por esse motivo, com frequência se torna difícil distinguir as diferentes
manifestações da violência, o que reforça a tendência a reduzir
situações complexas, que envolvem várias forças, motivos e intenções,
a um mero entendimento pontual.

Para tentar compreender as normas e os modos de funcionamento dos


espaços sociais, deve-se entender que uma sociedade não está isolada
do momento histórico, político, social e cultural de determinada época.
Por isso, uma intervenção essencialmente clínica e individual em
situações de violência, que não considera a perspectiva relacional e a
compreensão social do fenômeno, pode ser um fator preocupante.
Desse modo, é necessário buscar um modo de fazer Psicologia que seja
diferente do tradicional modelo de Psicologia Clínica Individual, a
exemplo da Psicologia Social Comunitária.

A Psicologia Social Comunitária pode ser compreendida como reflexo


do Movimento Institucionalista, que se estendeu para além do campo da
Psicologia e passou a ser reconhecido e validado como uma busca de
compreensão das relações entre os indivíduos e o seu meio. Ao buscar
inspiração em uma vertente do Movimento Institucionalista denominada
Análise Institucional para colocar em análise a atuação do psicólogo em
situações que envolvem segurança pública e violência, é importante
considerar dois conceitos que podem ser potentes nesse campo:
autoanálise e autogestão. Veja mais sobre elas a seguir.

Autoanálise
Corresponde ao processo em que as comunidades são vistas "como
protagonistas de seus problemas, de suas necessidades, de suas
demandas, [e] possam enunciar, compreender, adquirir, ou readquirir um
vocabulário que lhes permita saber acerca de sua vida" (BAREMBLITT,
1994, p. 17).

Autogestão
Ocorre quando "a comunidade se articula, se institucionaliza, se
organiza para construir os dispositivos necessários para produzir, ela
mesma, ou para conseguir, os recursos de que precisa para o
melhoramento de sua vida sobre a terra" (BAREMBLITT, 1994, p. 18).

Fundamentada nos conceitos de autoanálise e autogestão, a


intervenção do psicólogo social comunitário deve ser atravessada por
uma perspectiva teórica e prática à serviço do questionamento da
neutralidade, da objetividade e da normalização das condutas. E, desse
modo, fortalecer e enfatizar a escuta das diferenças e das
multiplicidades dos diversos modos dos indivíduos serem e estarem no
mundo.


A atuação do psicólogo em situações
de segurança pública e violência
Neste vídeo, a especialista reflete sobre a importância dos conceitos de
autoanálise e autogestão na atuação do psicólogo em situações de
segurança pública e violência.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

As violências estão presentes em todas as regiões do país e nos


diferentes segmentos sociais. Podem ser compreendidas como o
resultado da interação de fatores individuais, comunitários e
sociais, sendo fundamental considerar as interseções e conexões
existentes entre suas diferentes classificações e categorizações.
Ao considerar a classificação da violência segundo o contexto em
que se situa, marque a alternativa correta.
É caracterizada pela violência estrutural, pela
A
violência simbólica e pela de Estado.

Relaciona-se às violências física, psicológica e


B
sexual.

É compreendida como a violência patrimonial, a


C
negligência e abandono.

Refere-se às violências institucional, familiar e


D
comunitária.

Caracteriza-se por violências autoinfligida,


E
interpessoal e coletiva.

Parabéns! A alternativa D está correta.

Entende-se a violência a partir da interação de fatores individuais,


comunitários e sociais e os seus resultados, em que as interseções
e conexões existentes, entre suas diferentes classificações e
categorizações, devem ser consideradas. Dentro dos diferentes
modos de violência, podemos classificar a violência como
estrutural, violência simbólica e de Estado, que seria a organização
social da violência em nível macro; em violência institucional,
familiar e comunitária, que seria o contexto individual em que se
situa; em autoinfligida, interpessoal e coletiva, de acordo com o
foco da violência; e em violência física, psicológica, sexual e
negligência ou abandono, segundo a natureza.
Questão 2

A violência é uma manifestação social que se constitui por um


conjunto de disposições que refletem as condições socio-históricas
da estrutura social de um contexto e uma época. Considerando a
classificação da violência em nível macro, é possível compreender
a violência estrutural como
caracterizada pela violência física e psicológica que
A
se direciona especialmente ao gênero feminino.

a violência urbana que produz violência física e


interpessoal de vários modos, especialmente
B
mediante formas de submissão e exploração nas
relações laborais.

as diferentes formas de manutenção das


desigualdades que produzem as várias formas de
C
submissão e exploração de umas pessoas pelas
outras.

caracterizada pelo abuso de poder legitimamente


conferido pelo Estado e violações de direitos da
D
população por parte de agências públicas e seus
profissionais.

caracterizada pelas instituições e seus agentes,


E
quando há dissimulação das relações de poder.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A violência estrutural, classificada com uma violência de nível


macro, diz respeito às diferentes formas de manutenção das
desigualdades sociais, culturais, de gênero, etárias e étnicas. Essa
realidade produz várias formas de submissão e exploração de umas
pessoas pelas outras.
Considerações �nais
Como vimos, a compreensão dos marcos conceituais em Psicologia
Social Comunitária se torna questão fundamental para a Psicologia,
devido ao crescente número de demandas oriundas do campo da
Assistência Social envolvendo vulnerabilidade social, pobreza e
desigualdades.O aprofundamento e a discussão de conceitos de
vulnerabilidade e risco social, assim como a compreensão das matrizes
do Sistema Único de Assistência Social, se tornam ferramentas valiosas
para possibilitar a intervenção nos espaços socioassistenciais. Vale
ressaltar que a intervenção em Psicologia Social Comunitária deve
ocorrer a partir da imersão local, com atendimento psicossocial por
meio do trabalho com grupos.

Para potencializar intervenções em Psicologia Social Comunitária, é


necessário compreender processos de intervenção em diferentes
espaços sociais, tais como favelas e comunidades rurais, ribeirinhas e
quilombolas. Ainda, é preciso entender os processos envolvidos na
atuação da segurança pública e se aprofundar nas questões que
envolvem e categorizam as diversas formas de violência.


Podcast
Neste podcast, a especialista apresenta as principais áreas de atuação
em Psicologia Social Comunitária para lidar com o crescente número de
demandas oriundas do campo da Assistência Social envolvendo
vulnerabilidade social, pobreza, violência e desigualdades, destacando
processos de intervenção em diferentes espaços sociais.

Referências
BAREMBLITT, G. Compêndio de análise institucional e outras correntes:
teoria e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1994.

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MINAYO, M. C. S.; SOUZA, E. R. Violência para todos. Cadernos de Saúde


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ROSO, A. et al. Minorias étnicas e representações sociais: notas sobre a


entrada do psicólogo social em uma comunidade quilombola. Psico, v.
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VASCONCELOS, E. M. de. Abordagens psicossociais: história, teoria e


trabalho no campo. São Paulo: Hucitec, 2008. 209 p.

ZIMERMAN, D. E. Fundamentos básicos das grupoterapias. São Paulo:


Artmed, 2000.

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Pesquise o artigo Das essências às multiplicidades: especialismo psi e
produções de subjetividades e veja como a psicóloga Cecília Coimbra
apresenta reflexões críticas sobre os especialismos em Psicologia.
Publicado no periódico Psicologia & Sociedade, v. 15, n. 2, 2003. Você
pode encontrá-lo no portal SciELO.

Pesquise o artigo O papel do Psicólogo e veja como o psicólogo Ignácio


Martín Baró, o precursor da Psicologia Comunitária latino-americana,
apresenta reflexões críticas sobre o papel do psicólogo. Publicado no
periódico Estudos de Psicologia, v. 2, n. 1, 1997, também está disponível
no portal SciELO.

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