Objetivo do Texto: O texto visa promover reflexões sobre a atuação de profissionais da
psicologia nos serviços voltados para a população LGBTQIA+, destacando a importância de considerar as nuances dos espaços cisheteronormativos.
Observação Direcionada:
Exercício Proposto: Observar o cotidiano e refletir sobre a presença (ou
ausência) de pessoas trans e travestis em diferentes espaços, como escolas, universidades e locais de trabalho. Questões Chave: Quantidade de estudantes e professores trans, perfil demográfico das universidades, experiências de trabalho com homens trans, e a visibilidade de casais heterossexuais versus LGBTQIA+ em espaços públicos.
Reflexão sobre Espaços Formais:
Foco: Analisar como espaços de trabalho, educação e cultura são
predominantemente ocupados por pessoas cisgêneras e heterossexuais. Consequência: A lógica cisheteronormativa cria barreiras para a inclusão e participação da população LGBTQIA+ nesses espaços.
Invisibilidade e Falta de Dados:
Problema: Ausência de dados oficiais sobre a população LGBTQIA+ que
detalhem violências sofridas, qualidade de vida, trabalho e educação. Exemplo: Censos do IBGE e outros levantamentos não incluem marcadores de identidade de gênero e orientação sexual, resultando em invisibilidade em políticas públicas.
Importância para a Psicologia:
Perspectiva Profissional: A psicologia, como ciência e profissão, deve abordar
fenômenos psicológicos considerando as relações sociais e históricas. Atuação Profissional: Profissionais da psicologia devem ir além da compreensão individual do sujeito, integrando a realidade social e material vivida pelos indivíduos, especialmente da população LGBTQIA+.
Diretrizes para a atuação com as pessoas LGBTQIA+
1. Acolhimento e Escuta Ativa:
o Importância do Acolhimento: O texto ressalta a necessidade de um acolhimento que reconheça e valorize a singularidade de cada pessoa LGBTQIA+, incluindo sua identidade de gênero e orientação sexual. o Escuta Sensível: A escuta ativa e empática é fundamental para entender as experiências e sofrimentos individuais, promovendo um ambiente de confiança e segurança. 2. Desafios Enfrentados pela População LGBTQIA+: o Internalização do Estigma: Muitas pessoas LGBTQIA+ podem internalizar estigmas negativos associados à sua identidade, afetando sua autoestima. o Ansiedade e Medo de Rejeição: O medo de ser rejeitado por sua identidade pode causar ansiedade significativa. o Saúde Mental: Problemas como depressão, tentativas de suicídio e transtornos alimentares são mencionados, especialmente entre pessoas trans e travestis, devido ao não pertencimento ao gênero atribuído no nascimento e vulnerabilidades sociais. o Violência e Discriminação: A exposição a diferentes formas de violência, incluindo psicológica, física e sexual, é uma realidade para muitos na comunidade LGBTQIA+. 3. Atendimento Psicológico: o Atendimento Individual: Oferece um espaço seguro para discussão de questões pessoais, sem o risco de exposição em um ambiente coletivo. o Atendimento em Grupo: Cria oportunidades para compartilhar experiências, desenvolver empatia e construir uma rede de apoio. o Atendimento Espontâneo/Emergencial: Aborda necessidades imediatas e situações de crise, fornecendo suporte psicológico pontual. 4. Não Patologização e Conhecimento Específico: o Evitar Patologização: É crucial que os profissionais evitem tratar as questões LGBTQIA+ como patológicas ou anormais. o Conhecimento das Especificidades: Profissionais devem estar informados sobre as particularidades e desafios enfrentados pela população LGBTQIA+. 5. Trabalho Multidisciplinar: o Integração de Saberes: A colaboração entre diferentes áreas do conhecimento é essencial para abordar as questões de forma holística e eficaz. o Abordagem Completa: O objetivo é oferecer um cuidado que considere todas as facetas da vida do indivíduo, incluindo aspectos sociais, emocionais e físicos. 6. Diálogo com a População Atendida: o Respeito às Demandas Individuais: O trabalho deve ser guiado pelas necessidades e experiências relatadas pela própria população LGBTQIA+. o Evitar Generalizações: Cada indivíduo tem suas próprias experiências e desafios, que devem ser abordados de maneira personalizada. 7. Intervenções Realistas e Contextualizadas: o Conexão com a Realidade: As intervenções devem ser relevantes e aplicáveis à realidade vivida pela população LGBTQIA+. o Foco na Individualidade: As estratégias de intervenção devem ser adaptadas para refletir as circunstâncias e necessidades específicas de cada pessoa.
O papel da Psicologia no Processo Transexualizador
1. Regulamentação e Normativas:
O Processo Transexualizador é regulamentado no Brasil pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) através das Portarias nº 457/2008 e nº 2.803/2013. Estas portarias garantem acesso a serviços de saúde, cirurgias de modificação corporal, hormonização e acompanhamento multidisciplinar para pessoas transexuais e travestis. O Conselho Federal de Medicina (CFM) também possui um protocolo, atualizado pela Resolução nº 2.265/2019, que inclui procedimentos médicos e protocolos de hormonioterapia.
2. Papel da Psicologia:
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) emitiu uma Nota Técnica em 2016,
orientando a participação dos psicólogos no processo transexualizador. A Resolução nº 01/2018 do CFP estabelece diretrizes éticas para o cuidado com pessoas transexuais e travestis, impactando diretamente nas práticas relacionadas ao processo transexualizador.
3. Aspectos Históricos e Políticos:
Há uma intersecção entre as normas técnicas e portarias do Ministério da Saúde e
do CFM, formando um protocolo que muitas vezes submete profissionais não médicos à lógica médica, reforçando uma visão biologizante da identidade de gênero. Estudos indicam uma tendência de visão patologizadora e biologizante por parte de profissionais de Psicologia no processo transexualizador.
4. Desafios e Propostas para a Psicologia:
A Psicologia é desafiada a ir além da avaliação psicológica para cirurgias,
propondo novas formas de atuação que promovam autoconhecimento, reflexão social, e discussões sobre sexualidade, direitos e saúde mental. É importante que a Psicologia contribua para a desconstrução de visões patologizantes e apoie a autonomia das pessoas transgênero.
5. Atuação Prática e Ética:
A Psicologia deve focar em entender as demandas individuais e sociais das
pessoas trans, evitando reforçar estigmas e destacando a capacidade de decisão autônoma dos indivíduos. A atuação deve ser interdisciplinar, envolvendo intervenções em grupo e coordenação com uma equipe multidisciplinar. 6. Direitos e Políticas Públicas:
A Portaria nº 1.820/2009 assegura o uso do nome social para a população
transexual e travesti. A Portaria nº 2.836/2011 institui a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, reconhecendo a discriminação por orientação sexual e/ou identidade de gênero como fatores de saúde.
Interseccionalidade e Intersetorialidade
1. Exclusão no Sistema de Saúde: O texto destaca a exclusão da população de
transexuais e travestis do Sistema Único de Saúde (SUS) e de outras instituições sociais, evidenciando uma marginalização sistemática. 2. Importância da Interseccionalidade e Intersetorialidade: Ao abordar o atendimento à população LGBTQIA+, ressalta-se a necessidade de considerar a interseccionalidade (cruzamento de diferentes identidades sociais como gênero, orientação sexual, raça/etnia, classe e território) e a intersetorialidade (integração de diferentes setores como saúde, educação e segurança). 3. Acesso Desigual aos Serviços: Questiona-se qual perfil da população LGBTQIA+ consegue acessar os serviços da rede, apontando para as disparidades de acesso entre indivíduos de diferentes classes sociais, raças e níveis de educação. 4. Desafios de Acesso e Discriminação: O texto discute os desafios enfrentados por pessoas LGBTQIA+, especialmente aquelas que são negras e moradoras da periferia, no acesso a serviços de saúde. Estes desafios incluem barreiras financeiras, transfobia, racismo institucional e a necessidade de conformidade com padrões de gênero. 5. Reflexão Crítica na Psicologia: Enfatiza-se a necessidade de psicólogas, psicólogos e psicólogues refletirem sobre seus próprios privilégios e estarem atentos à interseccionalidade para oferecer um atendimento livre de discriminação. 6. Articulação de Políticas Públicas: Destaca-se a importância da articulação entre diferentes políticas públicas para abordar de forma eficaz a diversidade sexual e de gênero, superando a desarticulação existente entre os setores. 7. Violência Institucional e Discriminação: O texto aborda como a população LGBTQIA+ enfrenta violências e discriminação não apenas nas ruas, mas também em instituições que deveriam oferecer cuidado, como a falta de respeito ao nome social e a perpetuação de preconceitos. 8. Papel do Profissional de Psicologia: Ressalta-se a relevância do profissional de Psicologia na articulação de redes de apoio, indo além de encaminhamentos formais e buscando uma atuação que realmente contribua para a implementação efetiva de políticas públicas inclusivas.
Sensibilização e Capacitação: Promoção de Saúde e combate à
invisibilidade
1. Discriminação Institucional e LGBTQIA+fobia: O texto aborda como a
discriminação institucional, muitas vezes inconsciente, se manifesta em práticas e comportamentos que marginalizam grupos específicos, como a população LGBTQIA+. Esta discriminação pode estar relacionada a raça, etnia, religião, orientação sexual, identidade de gênero, entre outros. 2. Papel dos Profissionais de Psicologia: Enfatiza-se que o combate à LGBTQIA+fobia não é responsabilidade exclusiva de psicólogas, psicólogos e psicólogues, mas de toda a sociedade. Estes profissionais, no entanto, têm um papel crucial nas instituições, promovendo diálogo e enfrentamento à discriminação e ao preconceito, e respeitando a diversidade. 3. Estratégias de Ação: O texto sugere a realização de diagnósticos institucionais para avaliar a inclusão da diversidade sexual e de gênero nas práticas e políticas organizacionais. Perguntas como a inclusão de temas LGBTQIA+ em materiais informativos e a diversidade no quadro de funcionários são exemplos de como iniciar essa avaliação. 4. Sensibilização e Capacitação: Ressalta-se a importância de processos contínuos de sensibilização e capacitação em serviços especializados e não especializados. Estes processos devem abordar preconceitos e discriminações enraizados culturalmente, promovendo a inclusão e o respeito à diversidade. 5. Exemplos Práticos de Transfobia: O texto ilustra como a transfobia pode se manifestar em diferentes etapas de um serviço, como na segurança, recepção e atendimento médico, causando sofrimento psíquico e exclusão. 6. Desafios e Abordagens Multidisciplinares: Reconhece-se que o combate à LGBTQIA+fobia envolve desafios e deve ser um esforço coletivo de toda a equipe multidisciplinar. A sensibilização deve ser constante e não se limitar a ações pontuais. 7. Temas de Discussão: Sugere-se a discussão de temas como a diferença entre sexo, identidade de gênero, expressão de gênero e orientação sexual, a problematização do uso de termos incorretos e a visibilidade de diferentes identidades e orientações sexuais. 8. Promoção de Saúde e Combate à Invisibilidade: Finalmente, o texto destaca a necessidade de os profissionais estarem atentos às demandas não explícitas da comunidade LGBTQIA+, rompendo barreiras institucionais e combatendo respostas padronizadas que perpetuam a violência e a discriminação.
Nação tarja preta: O que há por trás da conduta dos médicos, da dependência dos pacientes e da atuação da indústria farmacêutica (leia também Nação dopamina)