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Unidade I

Vídeo aula 1
- Tratar da especificidade da atuação do psicólogo junto às instituições por meio do
compromisso social da prática profissional, além dos desafios da inclusão em diferentes
políticas públicas, setores e condições de trabalho que dão voz às possibilidades de
atuação profissional.
- Este se dá a partir deste três vórtices:
- Teórico: área da Psicologia;
- Situacional: a realidade brasileira;
- Temático: processos institucionais, relativos à ação profissional em meio às
políticas públicas destinadas à promoção e à defesa de direitos sociais
- Esta forma de atuação se dá de uma maneira interdisciplinar e intersetorial (saúde,
educação, assistência social e saúde mental, dando um reconhecimento às relações de
trabalho com os diferentes profissionais e as práticas devem estar baseadas no cuidado e
acolhimento)
Uma história de compromisso com as elites
- Compromisso social da psicologia: historicamente a psicologia teve uma presença
importante dos interesses da elite, tendo como objetivo no período de colônia o controle
do comportamento, lidar com os aspectos morais tanto em mulheres e crianças quanto nas
populações indígenas no Brasil com uma grande influência da igreja, já no período do
império a higiene, diferenciação e categorização da população (classificavam como imorais
os que eram pobres e a população negra) eram o enfoque.
- No Brasil no período de república, a partir do desenvolvimento econômico se foca no
âmbito do trabalho, onde se desenvolvem testes psicológicos para seleção de mão de obra.
Uma idealização de comportamentos que são ajustados aos interesses do negócio ou do
trabalho.
Uma história de compromisso com as elites
- Com a regulamentação da profissão em 1962, este movimento ainda não se dissipa, ainda
existe uma força muito importante da psicologia relacionada a este ímpeto do controle e
localização do que é desviante na sociedade. Na sua fundação a psicologia ainda é
associada aos interesses da elite brasileira.
- Pouca diversidade na atuação e uma grande limitação com relação aos campos de atuação
da profissão, a feminilização da profissão também é muito presente neste início.
- Há uma preocupação da naturalização do desenvolvimento psíquico (afastamento de um
projeto de ser humano e de sociedade), o que explica que as questões de atuação no
âmbito social só surgem a partir dos anos 80.
- A Psicologia Comunitária começa a colocar suas ideias à mostra a partir dos anos 1970, não
muito longe do reconhecimento da atuação social do psicólogo em 1980.
Alguns elementos ideológicos da profissão
1. Caráter ideológico da Psicologia: na origem os elementos ideológicos presentes na
profissão eram como o processo de ocultamento da base material e social das ideias.
2. Naturalização do fenômeno psicológico: desconsiderando completamente os aspectos
sociais, culturais e cotidianos das explicações psicológicas colocando o sujeito (verdadeiro
eu) no centro das preocupações da nossa ciência e prática profissional, a partir desta
perspectiva a atuação é voltada para a “correção de patologias e desvios”.
- Por outro lado, como uma forma de criticar esta visão e forma de atuação diversas ideias
surgem para a mudança da atuação como:
- O conceito de subjetividade que se associa ao mundo objetivo (o que acontece na
realidade/sociedade);
- O mundo psicológico é um mundo construído;
- Ao falar do mundo psíquico, também estamos falando do mundo social, e a
transformação do sujeito nos remete a pensar naquilo que precisa ser
transformado na sociedade/realidade.
- Este movimento da psicologia constrói um movimento conservador inicial, que foca no
controle e submissão, da cura e como este pensamento é contrariado de forma conflituosa
(debates/pensamento/reflexão) a psicologia ganha ares de uma prática transformadora
não de manutenção do estado das coisas.
3. Os psicólogos não têm concebido as suas intervenções como trabalho: a prática psicológica
não é trabalho, o senso comum coloca a psicologia no campo da ajuda, da cura. Esta visão
precisa estar em uma posição de superá-la, nossa prática não é naturalizante, curativa e
nem de ajuda, é uma prática profissional.
- É necessário que o profissional sempre busque a forma mais ética deste compromisso
social a fim de evitar esta visão conservadora, para que este compromisso se mantenha.
4. A Psicologia entende os sujeitos como responsáveis e capazes de promover o seu próprio
desenvolvimento: Ana Bock se utiliza da história do Barão de Munchhausen, um sujeito
mentiroso que conta diversas histórias onde a dificuldade de entendermos que os sujeitos
são responsáveis e capazes de resolver situações que estão no âmbito da sociedade. A
compreensão do que se passa na realidade é que permite a superação das dificuldades
individuais e coletivas.
- Traz a visão de que o homem é um ser capaz de, através de seu próprio esforço, se
autodeterminar.
Fechando a reflexão
- Há uma crítica de que a nossa profissão vem gradativamente buscando um projeto social, o
psicólogo está incluído nas discussões que dizem respeito a cultura e a forma como
podemos atuar, a importância da superação da ideologia conservadora da psicologia e ir
em busca da atuação de uma prática psicológica transformadora da realidade.
Compromisso social e o contexto do desenvolvimento da profissão
- Yamamoto também apresenta a visão crítica da psicologia condenando as visões
tradicionais e conservadores com relação ao indivíduo (abordagens tradicionais centradas
no indivíduo, sem a consideração dos determinantes sociais da conduta humana).
- Todos estes conhecimentos também eram restritos a um grupo específico de indivíduos, o
que também se mostra como um problema e é necessário que as condições que organizam
a nossa prática tenham uma discussão onde mais pessoas participam destas.
- As discussões têm que acontecer tanto no âmbito acadêmico quanto no âmbito do
trabalho, uma vez que as discussões acadêmicas influenciam na forma de atuação e
vice-versa.
- O contexto do desenvolvimento da profissão: a partir dos anos 80, com a redemocratização
brasileira há uma mudança importante de direcionamento, com este movimento tem
efeitos importantes no debate que pode ser conduzido sobre o desenvolvimento da nossa
profissão.
- Neste momento onde se repensa a psicologia, a discussão das práticas e políticas sociais
ganha uma relevância muito importante uma vez que falamos sobre as diferentes
perspectivas acerca de qual o papel que o estado deve cumprir e desempenhar para a
sociedade. O estado deveria atender a elite ou a questão social, aos problemas causados
pela emergência da classe operária ou pela forma do funcionamento econômico da
sociedade e a forma como ressoa nos indivíduos?
As políticas sociais (públicas) e as parcerias com o Terceiro Setor
- Quando a psicologia entra no campo deste debate (a partir dos anos 80), vemos como a
profissão exige mais do que simplesmente disposição e interesse, exige um aparato de
conhecimento e reflexão que possibilitasse a localização do que os psicólogos pretendem
realizar para sociedade e os desafios desta prática.
- Como os psicólogos conseguem entender os desafios dos grupos mais vulneráveis e quais
são as dificuldades que temos em contrariar interesses que não são os nossos. Estes são
elementos importantes e fundamentais para entendermos o lugar que a psicologia busca
ocupar a partir da redemocratização brasileira.
- Além disso as políticas públicas sociais também sofrem reveses importantes, o
pensamento neoliberal que se apresenta como modelo e referência ao longo dos anos 90,
pois caracteriza a emergência do 3º setor (organizações não governamentais e sociais)
como sendo o responsável por produzir soluções para as nossas dificuldades. O 3º setor é
colocado como linha de frente para as soluções que deveriam ser soluções de estados mas
são transferidas para elas.
- Características do pensamento neoliberal: precarização das políticas públicas e
privatização, seguindo a lógica de aquilo que é estatal e gratuito é precário e ruim, mesmo
o filantrópico a qualidade é questionável colocando que ações sociais ou ações que
atendem as questões sociais deveriam ser de domínio do mercado.
Políticas sociais, Terceiro Setor e os limites do compromisso social
- Quando o serviço de psicologia ocupa um local mais importante e é mais demandado pela
população que se coloque no campo do bem estar social, há um crescimento do 3º setor
como sendo o local onde recruta o profissional de psicologia para que possa atuar.
- O mercado de trabalho que vai ser marcado não para a entrada dos trabalhadores pelo
estado, mas sim pelo 3º setor. Nos traz uma situação desafiadora a partir dos anos 90, que
nos indica que o trabalho profissional que precisa ser feito de acordo com o compromisso
social, saindo das asas do estado para entrar no âmbito em que traz a marca da mercadoria
como qualificadora daquele trabalho (politicamente).

Vídeo aula 2
Desafios da Psicologia na saúde mental: Política de saúde mental no Brasil: as mudanças em curso
- Os desafios da psicologia em diferentes âmbitos, como na saúde/saúde mental, no
contexto atual estes conjuntos de dificuldades caracterizam cada vez mais um confronto de
interesses inclusive econômicos.
- Nos anos 80 o Brasil propôs a política de saúde mental, mais progressista e bem elaborada
que existe atualmente. É uma Política Nacional de Saúde Mental, a partir da Lei Paulo
Delgado aprovada em 1989 que contraria os interesses dos donos de hospitais
psiquiátricos.
- Do ponto de vista da atuação psicológica indica a importância da atuação de uma prática
comunitária na saúde mental (lei dos CAPs). Com o fortalecimento da política de saúde
mental foi possível uma melhoria em diversos âmbitos da saúde mental como:
- A prevenção dos transtornos mentais;
- A atenção à saúde mental de crianças e adolescentes;
- Estratégias inovadoras e desafiadoras contra as dependências de álcool e outras
drogas.
A política de saúde mental iniciada nos anos 1980: origens e evolução
- Contraria o modelo manicomial existente até os anos 70, que era grandemente presente no
sistema psiquiátrico brasileiro, por meio de diversas iniciativas que mostram novas
possibilidades na atuação da saúde mental.
- A partir da redemocratização Brasileira nos anos 80 propostas que são formalizadas e
garantidas por leis que garantem a desinstitucionalização dos serviços de atendimento
psiquiátrico por todo o país.
- Os principais pontos de evolução foi a substituição progressiva dos hospitais psiquiátricos
por uma rede de serviços comunitários, tendo como núcleo os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPs).
Política de saúde mental e o SUS
- A instalação dos CAPs dialoga muito com o desenvolvimento da política do Sistema Único
de Saúde (SUS), que visa a descentralização da administração da saúde no país, à
mobilização de profissionais e às mudanças sociais e culturais da sociedade brasileira.
- O SUS e a Política Nacional de Saúde Mental (PNSM), tem conexões mais importantes, pela
questão da base territorial, participação da população, construção de uma ideia preventiva
e não hospitalocêntrica (tirar o âmbito da grande instituição, que está distante da realidade
das pessoas que precisam de cuidado).
- A conversa entre SUS e PNSM, acontece ao se pensar nos princípios da Atenção Primária à
Saúde que é para uma resposta de forma regionalizada, contínua e sistematizada a maior
parte das necessidades de saúde de uma população, integrando as ações preventivas e
curativas, bem como a atenção aos indivíduos e às comunidades.
Progressos, fragilidades e desafios
- Como consequência desta reorganização, observa-se que entre 2001 e 2014 houve uma
drástica redução do número de leitos em hospitais psiquiátricos: de 53.962 para 25.988.
- A partir da instituição da Lei da Reforma Psiquiátrica (2001) houve o desenvolvimento de
serviços residenciais terapêuticos dirigidos à melhoria da atenção aos pacientes de longa
permanência, acolhendo, até, oito pacientes. Também se observou a diminuição de
hospitais psiquiátricos com mais de 400 leitos e o aumento dos hospitais menores, com
menos de 160 leitos.
- Programa “De Volta para Casa” (2003): uma proposta inovadora que promove e sugere as
possibilidades criativas no atendimento da saúde mental. Política que oferece apoio
financeiro aos pacientes desinstitucionalizados; acesso ao programa de gerenciamento de
casos (apoio) através do CAPS de sua área residencial.
Fragilidades e desafios
Fragilidades
- Financiamento insuficiente para a implementação de diversos componentes da reforma;
desenvolvimento de recursos humanos; qualidade da informação produzida pelos serviços;
integração da saúde mental na Atenção Primária e Sustentabilidade das associações de
usuários.
Desafios
- A ampliação do acesso; integração da saúde mental com a Atenção Primária;
desenvolvimento de respostas de internação de agudos no hospital geral e articulação
entre os vários componentes do sistema.
Mudanças após 2016
- Há um retrocesso importante em relação à política antimanicomial, que a reforma
psiquiátrica produziu no Brasil, uma vez que o hospital psiquiátrico começa a ser escolhido
como estratégia específica no tratamento de pessoas com transtorno ou sofrimento mental.
- Além disso, a valorização das comunidades terapêuticas nos drogados como estratégicos e
centrais no atendimento em saúde mental na política pública. Este movimento de criação
de Unidades Psiquiátricas Especializadas em hospitais gerais, Unidades Ambulatoriais
Especializadas e serviços de internação para as crianças e os adolescentes acaba por
fragmentar o sistema.
- Essa ideia de unidades especializadas criam a impressão de que todo o processo irá
acontecer dentro de um único centro, sendo que na verdade o cuidado e tratamento de
saúde mental ocorre de diversas frentes e conta com o auxílio de equipes
multidisciplinares, sendo o CAPs um organizador deste cuidado.
Desafios da Psicologia na saúde - entrando no tema: história e sociedade
- Existem diversos âmbitos desafiadores no contexto da saúde, aqui abordaremos somente o
que diz respeito ao atendimento, trato, cuidado e atenção a condição do suicido presente
na nossa sociedade.
- Cerca de oitocentas mil pessoas cometem suicídio por ano; é a 15º causa de morte no
mundo e a 2º mais frequente em indivíduos de 15 a 20 anos de idade, de ambos os sexos, o
que corresponde a uma morte a cada quarenta segundos e uma tentativa a cada quatro
segundos.
- Em 1621, passou a ser tratado pela Psiquiatria; no séc. XIX, pela Sociologia; e, depois, pela
Psicologia e saúde pública.
- Consideramos que o suicidio é um fenômeno com múltiplos fatores, sendo um resultado
multifacetado de vários fatores inter relacionados: culturais, sociais, psicológicos,
psiquiátricos, biológicos, filosóficos, econômicos, religiosos, entre outros.
- Muitas vezes este fenômeno é visto como um sinal de fraqueza ou como um sinal de
coragem, (mitologia, religião). Ainda sim apresenta uma conotação negativa sempre
associado à culpa, à covardia, à debilidade e à loucura, se distancia completamente do
campo científico, da reflexão e da intervenção.
Comportamento suicida
- Todo ato pelo qual o indivíduo causa lesão em si mesmo, qualquer que seja o grau de
intenção letal e de conhecimento do verdadeiro motivo desse ato. O comportamento
suicida aparece ao longo de um continuum, a partir de pensamentos de autodestruição,
passando por ameaças, gestos e tentativas de suicídio, e finalmente, o suicídio.
- Este comportamento engloba a ideação; os planos; o ato, propriamente, como questão de
saúde pública. O suicídio não é um transtorno mental mas sim é um comportamento
resultado pelo transtorno mental.
- Devemos compreender que:
- Comportamentos de auto agressão podem ou não ter a intenção ou um desfecho
fatal; este é um momento importante a ser tratado e cuidado, devemos olhar com
carinho e empatia para esta situação.
- A ideação é caracterizada como sendo pensamentos de morte e podem ser
acompanhadas de planos estruturados ou não, imediatos ou não, sendo uma
situação que requer intervenção de saúde imediata.
Prevenção
- A prevenção envolve melhores condições de vida, passando pelo tratamento eficaz de
transtornos mentais, até o controle de fatores de risco. Além de informação e a mobilização
da comunidade para as ações de prevenção, a identificação de pessoas em situação de
vulnerabilidade de comportamento suicida, a partir destas ações se elaboram estratégias
de intervenção eficazes.
- Fatores de proteção: diminuem a probabilidade de levar adiante o suicídio, mesmo quando
vários fatores de risco estão presentes.
Luto por suicídio
- Segundo a OMS para cada morte por suicídio, há uma média de cinco a dez pessoas que
serão, severamente, afetadas pelo evento, na maioria das vezes, com laços consanguíneos.
- Os sobreviventes são pessoas que perderam alguém significativo por suicídio ou qualquer
pessoa que teve a sua vida afetada ou mudada por causa dessa morte. Também é
importante o estabelecimento de estratégias e acompanhamentos que garanta que
continuem na vida.

Unidade II

Vídeo aula 1
Desafios da Psicologia na Assistência Social: Contexto, história, recursos na Assistência Social
- Um dos campos de maior interesse atualmente é o da assistência social e quais os desafios
da prática da psicologia a partir de dois tempos, o primeiro sendo na prática da psicologia
na assistência social considerando o trabalho com crianças, como as atendemos.
- Historicamente a atuação era marcada pelo paradigma da carência, jeito de nomear a
população em situação de miséria ou pobreza. Atualmente se trata do estudo de processos
de exclusão, relações sociais além da condição socioeconômica.
- Vulnerabilidade: uma concepção de quebra de vínculos, falta de acesso a trabalho e a lazer,
violência e uso de drogas. É neste âmbito que o trabalho do assistente social/psicólogo
social deve atuar.
- Os atuadores sociais devem trabalhar e investigar o movimento entre o cenário social e os
sujeitos (subjetividades) que nele circulam para que assim a ação possa ser realizada. O
conhecer é o que garante que intervenções sejam feitas para a melhoria da realidade.
O conto
- O uso da contação de histórias é utilizada da intervenção com as crianças. O conto é uma
forma organizada com começo, meio e fim, tema, desenvolvimento e desfecho. É uma
narrativa curta e precisa ter um impacto, este pode ser realizado por meio da leitura em voz
alta, com a utilização de composição de letras, imagens e percepções.
O conto Infantil
- É uma apresentação específica do conto, que historicamente tiveram a função pedagógica
higienista educativo (ouçam e aprendam como algo disciplinar). além desta perspectiva, há
uma potência no conto que permite uma Potência de expressão, elaboração e
transformação da realidade.
- É um processo de reinvenção, quem escuta pode reinventar e contar o conto da forma como
desejar, transgressivo, pretende que se vá além da mera leitura com a incentivação da
improvisação, imaginação etc.
- A contação de histórias solicita do contato uma preocupação com a voz, ritmo, entonação
da voz, imaginação e respostas dos ouvintes. É um processo que implica aprendizagem de
todos estes detalhes. Ele deve produzir uma espécie de encantamento pelo que está sendo
trazido.
Oficinas de contos com crianças em vulnerabilidade social
- É uma estratégia de intervenção no campo da Assistência Social, que pretende ser realizada
no campo da subjetivação, procurando “produzir desvios” sobre o processo de
vulnerabilização (buscar possibilidades que não estavam postas no trabalho com as
crianças e de como tratar sua própria realidade).
- Acontece por meio da leitura de um conto escolhido pelas crianças e pelos oficineiros.
Outros momentos de expressão também podem estar presentes nestas oficinas.
- Há uma passagem do real ao imaginário e vice-versa. Visa reviver a experiência pelo faz de
conta. Falar de algo vivido/sofrido com alguém com quem se tem vínculo. Entende-se que
através da arte e do lúdico, em cenário coletivo, é possível atravessar movimentos e
“processos paralisantes”.
Processos paralisantes
- Aqueles que implicam o sofrimento do outro – e do trabalhador – para os quais o trabalho
cotidiano exige mais do que apenas “conhecimento” e “técnica”, e no qual todos precisam
de cuidados.
- A oficina promove saúde, aprendizagem, assistência e cuidado, valoriza o paradigma da
brincadeira, da alegria, entende-se que há um preconceito contra aquilo que é alegre “isso
é coisa de criança, não é profundo”. Ao contrário desta concepção, aqui entendemos a
importância destas estratégias até no manejo de adultos também.
Cen
- É possível transportar a relação violência para o plano do BRINCAR, para o plano do faz de
conta: a brincadeira de violência será diferente da ação violenta. Não só a violência mas
todos os outros sentimentos e acontecimentos envolvidos na vida da criança.
Desafio do trabalho no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)
- O psicólogo é o chefe/responsável no equipamento de assistência social, isto implica na
preocupação da promoção da cidadania; convivência com a comunidade; relações com
outros profissionais; trabalho administrativo (formulários e relatórios).
- Neste lugar, a psicóloga é uma profissional obrigatória, de acordo com a Norma
Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
- O psicólogo pode ser coordenador do CRAs, como é possível acolher e fazer o apoio
psicológico e ao mesmo tempo fiscalizar, determinar as regras e o que se realiza dentro
desta instituição.
Responsabilidade
- Quando se trata de somar ao trabalho de psicóloga a função de coordenação, a
responsabilidade duplica (aumenta qualitativamente). A responsabilidade da psicóloga não
é mais apenas sobre seu próprio fazer, mas também pelo fazer de suas colegas, as outras
trabalhadoras do serviço, essas duas funções não podem ser contrapostas, elas podem e
vão coexistir.
- A graduação de psicologia não prepara o psicólogo para esta coordenação e atuação dentro
dos equipamentos de assistência social, é necessário entender quais os conhecimentos,
necessidades para esta atuação. Entende-se que a Coordenação e Psicologia estão mais
entrelaçadas do que se poderia pensar.
- A política pública e a psicologia pertencente a política pública tem algo a dizer sobre as
funções da condução dos grupos, das equipes e de como trabalhar buscando a solução de
problemas que são coletivos.
Uma nova profissional – uma nova Psicologia
- CRAS: a psicóloga não faz a clínica tradicional, mas a clínica ampliada. Ampliação estaria
para a capacidade de análise, compreensão e intervenção sobre si mesmo. Organização das
relações no meio em que vive.
- Preocupação: tornar-se outro. Outra psicóloga, outra profissional. Outra que vai se inserir
numa política pública. Que promove autonomia. Não só da própria comunidade, mas
também da própria profissional da Psicologia. E de seus saberes.
- Ação: promover e produzir ferramentas de acompanhamento e acolhimento, considerando
a diversidade de propostas e as especificidades da comunidade que atende.
- Desafio: também realizar sua própria autonomia profissional.
O estrangeiro e a cartografia
- O trabalho da psicologia é um trabalho de cartografia, um trabalho de perceber o que se
passa com os outros (O estrangeiro), com o qual vai se atuar. Se diz respeito a ação
profissional junto à população e junto a própria equipe (organização).
- Reconhecer-se como outro neste lugar é solicitar a função de inventora desta posição,
entender que a cada momento os princípios são postos a serviço da invenção desta prática,
da novidade que é ocupar um lugar ao qual não havia ocupado antes.

Vídeo aula 2
Acolhimento e processos institucionais na saúde: O que se entende por acolhimento?
- Dentro da atuação da psicologia na contemporaneidade, falamos de dois temas muito
importantes: acolhimento e cuidado. São práticas que orientam a ação profissional em
diferentes políticas públicas.
- Acolher: é dar acolhida, admitir, aceitar, dar ouvidos, dar crédito a, agasalhar, receber,
atender, admitir;; ação de aproximação; “estar com” e “estar perto de”. Se faz na ação
profissional utilizando do seu corpo, é através dele que o acolhimento é possível de ser
realizado.
- O acolhimento é uma das condições necessárias para o atendimento que exige que o
profissional entenda o outro que está buscando a ajuda. Também é uma das diretrizes da
Política Nacional de Humanização do SUS e apresenta três diferentes dimensões
importantes para a atuação do psicólogo.
1. Ética: compromisso com o reconhecimento do outro, na atitude de acolhê-lo em
suas diferenças, suas dores, suas alegrias, seus modos de viver, sentir e estar na
vida;
2. Estética: traz para as relações e os encontros do dia a dia a invenção de estratégias
que contribuem para a dignificação da vida e do viver e, assim, para a construção
de nossa própria humanidade; é preciso criar as condições nos encontros do dia a
dia para esta ação de saúde adequada poder acontecer;
3. Política: implica o compromisso coletivo de envolver-se neste “estar com”,
potencializando protagonismos e vida nos diferentes encontros. Colocar-se a si
mesmo como parte do processo, que exige o “estar com o outro”, onde o outro deve
ter valor e suas razões e interesses respeitados por mim.
Como o acolhimento deve chegar no SUS (e para quê)
- É identificada com duas dimensões:
- Espacial: recepção administrativa e ambiente confortável; aqui é o setor de
acolhimento, aquela cadeira é o local de acolhimento;
- Serviço de triagem administrativa: e repasse de encaminhamentos para serviços
especializados, classificação das necessidades do que é urgente ou não no
tratamento daquela pessoa.
- Entretanto é necessário que esta noção de acolhimento seja percebida por meio de outras
perspectivas, como:
- Acolhimento nos processos de produção de saúde; diretriz ética/estética/política
constitutiva dos modos de se produzir saúde;
- Ferramenta tecnológica de intervenção (encontro): qualificação de escuta;
construção de vínculo; garantia do acesso com responsabilização/resolutividade
nos serviços.
- O acolhimento não é espaço/local, mas uma postura ética. Não é um momento,
mas o que caracteriza todo o trabalho. É atenção à diversidade: cultura, etnia,
gênero e religião.
O que o acolhimento implica
- No protagonismo dos sujeitos envolvidos no processo; valorização e a abertura para o
encontro entre o profissional de saúde, o usuário e sua rede social no processo de
produção de saúde.
- Solicita a partir desta concepção uma reorganização dos processos de trabalho que não
podem mais ser caracterizados como “estanques”, mas que exigem um continuum no
acompanhamento e interlocução entre o profissional e o usuário mas também entre o
profissional e todo o processo de atenção.
- Ao identificar o sujeito e as condições concretas em que este vive, as coletivas também
propiciam a elaboração de projetos e planos de atenção específicos para esta pessoa e
para as que apresentam características parecidas, dentro da condição de diversidade.
- A partir da promoção da atenção às necessidades, espaço democratico de debate
entendimento e do que se passa há a construção coletiva daquilo que é saúde. O
acolhimento é um aparato tecnológico para o funcionamento do sistema de saúde.
Onde o acolhimento de apoia
- Na mudança de objeto (da doença para o sujeito); abordagem integral do sujeito; escolha
da solidariedade e da cidadania como parâmetros (dimensão política); trabalho em equipe
(interdisciplinaridade).
- Acolhimento significa trazer para o serviço de saúde uma postura que possibilita receber,
escutar e dar respostas adequadas aos usuários do serviço de saúde.
Desafios do cuidar em Serviço Social: uma perspectiva crítica
- O cuidado é entendido na perspectiva emancipadora de empoderamento (promoção da
autonomia), como mudanças das relações de poder. Contribui para o protagonismo do
sujeito.
- Historicamente, tinha uma perspectiva funcionalista e adaptativa, em que o profissional era
percebido como aquele que ajuda, buscando maximizar as potencialidades e o melhor
funcionamento social do indivíduo.
- Nova perspectiva de atuação: rompendo com a centralidade do indivíduo e com as práticas
de ajuda ou de benefícios, compreende um olhar crítico e de práticas complexas (implicam
diferentes dimensões que estão sendo atendidas quando se fala em cuidado).
Instituições e cuidado
- Nas condições institucionais há um poder (violência do poder) presente que permitem e/ou
garante abusos dos profissionais envolvidos nesta ação, quando falamos de cuidado
buscamos ultrapassar esta condição de abuso, de desrespeito, humilhação,
desconsideração da fragilidade da pessoa, infantilização, sonegação da informação, falta de
escuta e negação da autonomia.
- Buscamos evitar esta condição de dominação, submissão do outro e colocar o outro como
alguém que exige a garantia de direitos. Produzir ações de cuidado é produzir ações que
considere que este sujeito alcance a garantia dos seus direitos, isto contraria também as
práticas assistencialistas (vou te dar uma coisa, isto é um presente, uma caridade, eu que
suporto sua posição, sua função)
Visões críticas
- A ação de cuidado muitas vezes está ligada a condição de gênero, o cuidado é produzido
pela mulher como uma função feminina. Quando esta acontece tratamos de uma condição
na qual o gênero dispõe do cuidado, vamos contra esta concepção uma vez que está
diretamente ligado a uma função técnica, do trabalho e sempre associada a uma prática.
- O cuidado é sempre colocado no campo da interação e da intervenção prática e técnica, no
âmbito da preservação e na garantia dos direitos, nos nossos compromissos com a justiça e
com a redução das desigualdades.
Cuidado e relação política de responsabilidade
- Conduz o sujeito a poder se emancipar, buscar uma condição de atender suas necessidades
históricas, considerando o sujeito que é cidadão, deve ser detentor da garantia dos seus
direitos e que a partir da ação de cuidado vai ter suportada suas garantias e seus
interesses.
- O ser humano é considerado como um ser de necessidades que devem ser satisfeitas
socialmente e que se estabelece no próprio intercâmbio social relativo à vida como pessoa
e como trabalhador.
Cuidado e relação profissional
- Para que o cuidado aconteça é preciso o acolhimento, uma vez que faz parte de uma
relação de escuta e reconhecimento, acolhimento e qualidade. Se fundamente em uma
condição em que o sujeito cuidado precisa ser compreendido nas condições concretas em
que ele vive, e a partir daí esta possibilidade de mudança e transformação pode ser
realizada.
- “O cuidado político e crítico inscreve-se numa perspectiva de ressignificação do sujeito e
da estrutura na co-construção da relação democrática e cidadã entre profissional e público
atendido”

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