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UNIVERSIDADE CEUMA

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO
CAMPUS IMPERATRIZ

Disciplina: Sociologia Geral e Jurídica – turma: GPDIRM


Profª Ma. Claudia Meira de Andrade Avelar
Nome: ____________________________________________________

Apostila I
O Surgimento da Sociologia
O surgimento da Sociologia ocorre no século XIX, a princípio, por influência da teoria positivista de
Auguste Comte, porém, muitos acontecimentos anteriores e concomitantes ao surgimento dessa
nova ciência humana contribuíram para a sua formação.
Podemos retomar os primeiros indícios de transformação da sociedade europeia que influenciaram
a Sociologia ainda no Renascimento. O Iluminismo também contribuiu para uma desestabilização
social e uma completa mudança da configuração urbana e política que tornaram a sociedade
europeia altamente complexa e carente de fontes de explicações teóricas rigorosas.
Já a consolidação da Sociologia enquanto ciência ocorreu com o trabalho desenvolvido pelo jurista
e sociólogo francês Émile Durkheim, que formulou o primeiro método preciso e exclusivo para a
nova ciência e a introduziu na universidade como disciplina autônoma.
Auguste Comte é um dos autores mais importantes da escola positivista e é considerado o fundador
da Sociologia.
Auguste Comte é um dos autores mais importantes da escola positivista e é considerado o fundador
da Sociologia.

Contexto histórico do surgimento da Sociologia


Entre os séculos XV e XIX, sucessivos acontecimentos alteraram significativamente a vida, a
política e a economia europeias. Podemos pensar que a economia e a política feudal não
precisavam de grandes explicações, pois havia uma lógica interna justificada pelo clero e uma
organização social rural e simplista, baseada em estamentos (a nobreza, o clero, os servos e os
camponeses).
A sociedade estamental apoiada pela Igreja Católica simplesmente impunha que cada um nascia
predestinado a levar um tipo de vida e que isso era escolha de Deus sendo, quase sempre, vedada
a alteração dessa ordem. Se um indivíduo era servo, ele deveria servir, porque Deus quis assim.
Se ele era nobre, era uma recompensa divina, porque o seu espírito era mais nobre.
O século XIX encontra-se em meio a uma crise devido ao alto desenvolvimento promovido pela
industrialização, o que refletiu na formação de uma complexa crise de valores e conflito de
interesses. Podemos listar como fatores históricos que contribuíram para o surgimento da
Sociologia os seguintes:
Renascentismo
Com o Renascimento, a burguesia passa a crescer e aquela concepção de sociedade estamental
medieval passa a ser alterada, visto que os burgueses não eram nobres, mas tinham tanto ou mais
dinheiro quanto os nobres. A reivindicação da classe burguesa por seus direitos políticos ocorreu
gradativamente de acordo com o crescimento dessa classe.
Essas alterações na configuração social europeia causaram uma alteração tão grande na ordem
política e social do continente que, em partes, contribuíram até para a Revolução Francesa e para
os ideais de igualdade e liberdade propostos pelo Iluminismo.
Encontramos no Renascimento europeu um período de transição do Medievo para a Modernidade.
A retomada de valores filosóficos, científicos e estéticos da cultura greco-romana mudaram a
concepção de conhecimento do ser humano, permitindo uma nova visão que inauguraria a
Modernidade.

Capitalismo mercantilista
O surgimento do capitalismo em sua primeira forma, o mercantilismo, desencadeou a expansão
marítima e comercial europeia, fator que possibilitou o desenvolvimento financeiro de potências por
meio do comércio e da exploração voraz das colônias situadas nas Américas e, mais tarde, na
África e na Ásia. Isso fez com que, em um primeiro momento (século XVI), o europeu buscasse
entender as diferentes culturas das colônias.
Em um segundo momento (século XIX), o europeu precisava justificar a exploração sanguinária
dos países africanos e asiáticos. No século XVI, começou, de forma embrionária, o
desenvolvimento de uma atitude de estudo das diferentes culturas. No século XIX, aquele estudo
tornou-se uma área científica das Ciências Sociais, a Antropologia. Em seu começo, por volta dos
anos de 1870, a Antropologia era extremamente elitista e etnocentrista, além disso criava teorias
para justificar a exploração das novas colônias, apesar de já estar em curso, no mesmo período, o
capitalismo industrial.

Iluminismo
Os ideais iluministas projetaram um novo cenário intelectual e político ideal, baseado na justificação
jurídica e política dos poderes e na separação entre Estado e Igreja. A partir disso, as pessoas
passaram a buscar, pouco a pouco, os seus direitos e a exigir do Estado a legalidade em suas
ações.
Isso não só provocou a Revolução Francesa, como fez com que houvesse uma gradativa alteração
na concepção de política, o que se expressou como fator marcante para o estabelecimento de uma
ciência capaz de compreender essa nova forma de sociedade e de política, baseada na legalidade
e nos direitos fundamentais.

Revolução Industrial
A consolidação da burguesia enquanto classe dominante e a formação do capitalismo industrial
firmaram-se com a mudança da economia, antes baseada na manufatura e agora baseada na
produção industrial, que gerou a divisão acirrada de classes sociais. Isso ocasionou uma intensa
explosão demográfica nos centros urbanos que se industrializaram, como Londres e Paris, pois as
pessoas migraram do campo para as cidades em busca de melhores condições de vida.
A falta de emprego para todo mundo resultou em miséria, fome, aumento significativo da violência
e alastramento de doenças. O caos desse novo cenário europeu era, para Auguste Comte, mais
um atestado de que era necessária uma ciência capaz de estudar e reordenar a sociedade, a fim
de colocar a humanidade novamente no rumo do progresso.
Como a Revolução Francesa contribuiu para o surgimento da Sociologia?
A Revolução Francesa marcou profundamente a história europeia e, como não poderia ser
diferente, foi um fator decisivo para o surgimento da Sociologia. O objetivo final alcançado da
Revolução Francesa era acabar com o Antigo Regime.
A lógica monárquica, herdeira do medievalismo, foi derrubada, e o pensamento republicano
começou a nascer na Europa. Forma de políticas menos excludentes, laicas e baseadas no Estado
de direitos começaram a florescer na França, o que alterou a configuração social do país. Apesar
dos fatores positivos que tornaram a revolução necessária, a França viveu anos de instabilidade
política por conta do caos deixado no cenário pós-revolucionário, pois a grande Revolução
Francesa, de inspiração burguesa e iluminista, ocasionou uma ruptura política dentro da Europa.
Segundo Comte, a Revolução Francesa foi necessária para o desenvolvimento de um novo
pensamento político, laico, republicano e juridicamente amparado, mas o caos deixado pela ruptura
abrupta impediu o crescimento social francês, fator que precisava ser alterado no século XIX. Como
solução, Comte apontou que a Sociologia devia entrar em cena para entender a nova sociedade e
reorganizá-la.
Diante da insegurança, que segundo Comte, era um empecilho para o crescimento, para a evolução
e para o progresso, o filósofo propôs a criação de uma ciência que, tal como as ciências naturais,
observasse e formulasse, metodologicamente, a sociedade a fim de propor rumos para a retomada
do progresso social, científico e moral. Diante disso, o filósofo formulou a sua Lei dos Três Estados
e inaugurou o positivismo.

O surgimento da Sociologia como ciência


Comte deu o primeiro passo para a criação da Sociologia. Porém, Émile Durkheim formulou uma
crítica ao pensamento comtiano que, na visão de Durkheim, era demasiado metafísico e não
atingia, de fato, o estágio positivo capaz de criar uma ciência rigorosa para a sociedade, pois era
baseado em abstrações.
Para Durkheim, uma ciência da sociedade deveria ter o seu próprio método de análise capaz de
operar autonomamente, pois as leis das ciências naturais não seriam suficientes para compreender
o todo complexo que eram as sociedades capitalistas industriais.
Durkheim formulou o método comparativo de análise social baseado no que ele chamou de fatos
sociais. Segundo o sociólogo francês, existem traços comuns que se repetem em todas as
sociedades, os fatos sociais, e o papel do sociólogo seria identificar esses fatos e comparar os
dados obtidos das diferentes sociedades.

Émile Durkheim, o fundador do método sociológico.


Um bom exemplo de fato social analisado por Durkheim foi o suicídio. Segundo as análises do
sociólogo, publicadas no livro O Suicídio, há uma ocorrência comum desse fenômeno em todas as
sociedades, sendo motivado sempre pelos mesmos fatores:
Isolamento social e falta de perspectiva de vida social, o que Durkheim classificou como suicídio
egoísta, não no sentido de não se pensar nos outros, mas no sentido de projetar o próprio ego e a
sua existência para fora da sociedade e não enxergar vínculos entre si mesmo e o mundo .
Tirar a própria vida por uma causa maior, o que Durkheim chamou de suicídio altruísta, que é
enxergar em algo uma maior importância que a própria existência, fazendo com que o sujeito se
mate em nome daquilo que está em questão. Tirar a própria vida por conta de uma instabilidade
caótica no âmbito social ou econômico, o que leva as pessoas a tomarem medidas drásticas.
Durkheim chamou essa forma de suicídio anômico.
Durkheim constatou que o suicídio é um fato social por ocorrer em todos os lugares, mas que os
números de casos de suicídio variam. Isso se deve a fatores externos expressos por outros fatos
sociais que fazem com que as pessoas cometam mais ou menos suicídios.
Durkheim também foi pioneiro ao introduzir a Sociologia no ensino superior francês, inaugurando a
cadeira de Sociologia em cursos de Direito e cursos voltados para a docência, além de torná-la
uma ciência autônoma e rigorosa.

O surgimento da Sociologia no Brasil


O escritor, crítico literário e sociólogo brasileiro Antonio Candido escreveu um artigo que retoma os
primeiros passos da Sociologia brasileira, intitulado como A Sociologia no Brasil |1|. Segundo o
escritor, o início da Sociologia no Brasil passou por dois momentos distintos separados pela década
de 1930. Antes desse período, a Sociologia Brasileira era feita, sobretudo, por juristas a partir de
1890.
Além de juristas, historiadores, filósofos e intelectuais em geral tentaram entender a sociedade
brasileira, escrevendo tratados importantes sobre a nossa formação, mas sem o rigor acadêmico
necessário à pesquisa sociológica. Entre os nomes importantes de sociólogos diletantes que
arriscaram à formulação de tratados sobre a formação do Brasil, podemos destacar Gilberto Freyre,
Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior.
Em 1933, São Paulo inaugurou o primeiro curso superior de Sociologia no Brasil, pela Escola Livre
de Sociologia e Política de São Paulo. Em 1934, foi inaugurada a Universidade de São Paulo (USP)
e dada a necessidade de contratações especializadas, a universidade convidou diversos
professores e pesquisadores de Sociologia, sobretudo franceses, para integrarem o corpo docente
da universidade.
A USP incorporou em seu quadro a Escola Livre de Sociologia e Política e deu continuidade à
pesquisa e ao ensino em Sociologia. Os primeiros sociólogos especialistas brasileiros começaram
a se graduar por volta de 1936, dando origem a uma nova leva de intelectuais da Sociologia,
altamente especializados no assunto, o que impulsionou a pesquisa metódica e rigorosa sobre a
sociedade em nosso país. Entre os nomes de destaque que começam a surgir depois de 1930,
podemos mencionar Florestan Fernandes. É um dos grandes nomes da Sociologia Nacional.

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