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Desafios do sistema de segurança pública no Brasil

Os desafios do novo governo na área de


segurança pública
10 de janeiro de 2023, 15h1

Por Bartira Macedo de Miranda

A segurança pública, no Brasil, é a área com os mais sérios problemas e as


mais difíceis soluções. É nela que se concentram as raízes mais aprofundadas
da desigualdade, do autoritarismo, do populismo, do racismo, da exclusão e da
negação de direitos. É a área mais impermeável aos direitos humanos e de mais
difícil efetividade das regras democráticas e das garantias fundamentais
constitucionalmente asseguradas a toda pessoa humana. Não é circunstancial
o fato de que o bolsonarismo tenha forte sustentação nas ideologias ainda
predominantes no setor da segurança, polícias e Forças Armadas.

O novo governo Lula está se colocando no desafio de reconstruir o Brasil


e a área mais difícil de ser "reconstruída" é justamente a da segurança. O
primeiro problema é que não temos o que "reconstruir" nessa área; o segundo
é saber se o novo governo sabe o que "construir" em termos de segurança
pública; por fim, o terceiro problema é saber se, além de saber e de ter vontade
política, o governo terá força política para implementar as mudanças desejadas
na segurança pública.

Desde a redemocratização, um novo paradigma democrático de segurança vem


andando a passos lentos e curtos, enquanto a concepção autoritária já corre há
mais tempo e com mais força e velocidade. Vigoram no país dois paradigmas
opostos, que disputam o predomínio das políticas de segurança: de um lado,
uma concepção de segurança pública fundada na ideia de guerra e eliminação
do inimigo, de violação de direitos a pretexto de defender a sociedade; por
outro, a concepção de segurança como direito de todos, prestação de serviço
público e preservação de direitos. Podemos dizer que essa disputa
paradigmática se traduz, de um lado, em uma concepção de "política de
segurança pública" e, de outro, em "política pública de segurança".
Essa passagem de uma "política de segurança pública" (que já vigora no País
desde as primeiras décadas do século XX), para "políticas públicas de
segurança" (que começaram a ser pensadas no século XXI), tem se deparado
com desafios muito difíceis de serem enfrentados. A ascensão do bolsonarismo
parece nos mostrar o quanto realmente foi — e é — difícil adotar uma política
de segurança pública civil, democrática e republicana.

Mudanças na área da segurança pública são sempre muito difíceis para


qualquer governo, por uma série de questões institucionais, estruturais,
ideológicas, econômicas e jurídicas. Para piorar, o Brasil, enquanto nação, não
tem clareza para onde deve ir em termos de segurança pública, pois não tem
planejamento de médio e longo prazo. Os políticos não sabem o rumo que
devem dar à segurança pública, a fim de construir uma sociedade democrática
e justa. Assim, a segurança costuma ser tratada como questão de governo, e
não como questão de Estado. Governos de direita costumam aprofundar os
problemas de segurança pública com políticas de apoio a ações antijurídicas,
enquanto governos mais à esquerda tem medo ou não têm força para interferir
na área. Eis que a segurança não é uma questão de vontade política apenas,
mas, principalmente, de força política.

Se o governo Lula tiver disposição para implementar mudanças estruturais na


área da segurança deve começar por entender que a segurança é a área mais
atrasada em termos de política pública. Deve também reconhecer que, em
termos de produção de conhecimento, há especialistas e pesquisadores que
deveriam ser consultados e ouvidos, ou seja, é preciso abandonar os achismos
e passar a pautar as escolhas e decisões em evidências científicas. Esse tipo de
conhecimento existe e ele não está na área do Direito. Não são os juristas que
estudam como se reduz a violência. Pesquisas empíricas dessa natureza estão
em diversas outras áreas do conhecimento. Fazer segurança pública em
consonância com as regras jurídicas mínimas que se espera serem respeitadas
é um grande desafio, porém, o campo da segurança é muito mais amplo do que
os juristas alcançam. Daí um ministério específico da segurança pública ser
um primeiro passo importante.

Outro grande desafio para o novo governo é a questão das polícias. Temos
muitas polícias, é verdade, mas nem por isso eu diria que temos polícias
demais, pois há uma lógica de pesos e contrapesos que faz bem ao sistema
processual acusatório. É certo que a segurança pública não pode ser vista
apenas como um problema de polícia, mas não se faz segurança pública sem
polícia, e o grande problema é a qualidade da polícia. Não estou falando da
qualidade técnica. O problema não é apenas o desenho constitucional, a divisão
de atribuições, o preparo técnico, a inteligência, a tecnologia, os instrumentos
de trabalho, o treinamento, a educação e tampouco a remuneração.

O que desafia a democracia no Brasil é a qualidade das polícias pelo seu grande
déficit democrático. A cultura autoritária, antidemocrática, antipovo, violadora
dos direitos humanos e truculenta são os verdadeiros problemas, que se aliam
à falta de planejamento em médio e longo prazo. A falta de políticas públicas
de segurança não é a causa do problema, mas, sim, ao contrário, o seu sintoma.
Não é possível fazer planejamento em segurança pública com as diretrizes
democráticas impostas pela Constituição em um país cujos governantes
apoiam, aplaudem e incentivam a violência policial. As forças de segurança se
sentem impermeáveis aos comandos constitucionais. O controle dessa polícia
é o grande desafio do Brasil, que talvez seja um sonho ainda distante demais
para ser vencido em quatro anos.

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min de leitura

O problema da
(in)segurança pública no
Brasil
POLÍTICA
BRASIL
12 de junho de 2023
Os dados de segurança pública no Brasil são alarmantes. Os números
de assassinatos anuais superam os registros de guerras como a Guerra
do Vietnã. O brasileiro médio vive constantemente com medo e receio.
Das 50 cidades mais perigosas do mundo, 10 estão no Brasil. Até a
Venezuela perde para o Brasil neste ranking.
Como entender este problema? E quais as possíveis soluções? Está
longe de ser um exagero dizer que os cidadãos vivem Entre Lobos.BER

O que é segurança pública e como ela


funciona no Brasil?
A segurança pública é a garantia da proteção aos direitos
individuais de cada cidadão. Esta garantia permite que cada pessoa
possa conviver socialmente com segurança e tranquilidade, exercendo
seus direitos de:

• ir e vir;
• lazer;
• estudar;
• trabalhar.
Cabe ao Estado brasileiro zelar pela segurança pública. Por isto, o
Estado detém o monopólio do uso da força, para a preservação do
tecido social.

A Segurança Pública no Brasil é promovida pelos seguintes órgãos


responsáveis:

• polícia federal;
• polícia rodoviária federal;
• polícia ferroviária federal;
• polícia militar;
• polícia civil;
• corpo de bombeiros;
• Secretaria de Segurança Pública.
Todos estes órgãos são responsáveis por zelar pela integridade do
cidadão, implementando políticas públicas, fazendo o policiamento e
acompanhando os dados relacionados à segurança pública no Brasil.
Dados da Segurança Pública no Brasil
Como dito no início, os dados sobre a segurança pública no Brasil
são alarmantes. Para organizar a análise dos números, os dados serão
apresentados em quatro categorias:

1. Problema da insegurança;
2. Número de Assassinatos no Brasil;
3. Fracasso do sistema penal;
4. Crime organizado.

Problema da insegurança

O sentimento de insegurança que paira constantemente sobre


todos os brasileiros é um resultado de um conjunto de fatores.
Altos índices de homicídios, violência, furtos, sequestros, estupros.
Diversos fatores compõem os dados dessa seção.

Cerca de 25% dos roubos de celulares que acontecem no mundo


são no Brasil. Segundo dados apresentados pela Câmara dos
Deputados, no dia 05 de agosto de 2015. Cerca 3,35 roubos acontecem
por minuto no Brasil.

Em 2016, foram registrados 1 milhão e 850 mil roubos em um ano,


apenas nas 27 capitais brasileiras. Segundo dados da Secretaria de
Segurança Pública.
O Brasil é um dos países mais violentos do mundo. 10 das 30 cidades
mais violentas do mundo são brasileiras. Apenas o México está a
frente do Brasil neste índice, com 19 cidades.

Fonte: Boletin Ranking de las 50 ciudades más violentas del mundo


(Consejo Ciudadano para la Seguridad Pública y la Justicia Penal -
México)

O Brasil está à frente até da Venezuela, que tem 6 cidades entre as mais
perigosas do mundo.

• Para saber mais sobre a situação da segurança pública do Brasil,


baixe gratuitamente o e-book 10 cidades brasileiras estão entra as
mais perigosas do Mundo. Você terá acesso a muitos dos principais
índices chocantes de criminalidade no Brasil.
Um dos fatores que explica tanta violência e insegurança, são os
recursos dos criminosos. Os bandidos no Brasil portam armas com
calibres de guerra. Em muitos casos, armas superiores às que portam
os órgãos de Segurança Pública.

Todas as embaixadas e consulados estrangeiros possuem em suas


páginas recomendações para seus cidadãos quando eles vão viajar.
Alertas, cuidados e recomendações para uma viagem segura.

Quando se acessa as informações que fornecem sobre o Brasil, elas


são semelhantes às recomendações dadas para países em estado
de guerra.
Número de Assassinatos no Brasil

Imagens de assalto que ocorreu na cidade de São Paulo.


As altas taxas de homicídio se tornaram algo tão banal que as
frequentes notícias de mortes não parecem mais chocar a
população brasileira. Retrato de um problema grave de Segurança
Pública no Brasil.

Os dados mais atuais são:

• 60.000 homicídios por ano;


• 1 brasileiro morto a cada 9 minutos;
• a taxa de homicídios é de 27,5% ao ano, a cada 100 mil habitantes.
Os dados são de 2018, do Instituto Igarapé. Estas estatísticas são fruto
de uma crise de criminalidade que não possui similar no mundo.

A título de comparação:

• na 1ª Guerra Mundial, 2,45% do exército americano foi morto;


• na 2ª Guerra Mundial, foram 2,52%;
• na Guerra do Vietnã, foram 0,98%;
• na retomada do Kuwait, 0,02%;
• a porcentagem de PMs mortos no Rio de Janeiro é de 3,22%.
Fontes: PMERJ/EMG/EQG, PMERJ/EMG/PM1, PMERJ/EMG/EI, USA
Congressional Research Service CRS Report RL 32492 e US Veteran
Statistics
O Brasil vive um verdadeiro estado de guerra. O sistema penal é
um dos favorecedores desta situação alarmante.

Fracasso do sistema penal

O sistema penal é incapaz de atender às demandas do crime no


Brasil. Além disso, muitas vezes a lei do código penal abranda a
situação do criminoso. Alguns dados podem ilustrar essa realidade:

• segundo a Revista Veja, o “Brasil tem 564 mil mandados de prisão


em aberto”, 27 de janeiro de 2017;
• fora os mandados em aberto, os índices de elucidação de crimes
de homicídio no Brasil são baixos, segundo estimativas da
Associação Brasileira de Criminalística, feita em 2011, a resolução
dos assassinatos investigados é de 5 a 8%. Enquanto nos EUA é de
65%, no Reino Unido de 90% e na França de 80%;
• os criminosos chegam ainda a ter benesses do sistema penal:
“Após ´Saídão de Natal´, 522 presos não voltam para cadeias do RJ,
incluindo assassinos condenados” - “de 1.240 beneficiados, 42% não
retornaram às cadeias”. Por Felipe Freire e Carlos de Lannoy, RJ2
03/01/2022 19h43.
• Leitura recomendada: audiências de custódia.
O crime no Brasil é algo cada vez mais organizado.

Crime organizado

Seguem alguns dados para contextualizar o impacto do crime


organizado no Brasil:
• o PCC lucra 1 bilhão e meio por ano com o tráfico de cocaína;
• “Comando Vermelho constrói filial no Amazonas e lava 126 milhões
em 1 ano e meio” - Letícia Graziely DM.com.br, 18/06/2021;
• "Coaf aponta que lavagem de dinheiro do PCC girou 700 milhões”,
Istoé 03/05/2021.

Bônus: Dados alarmantes


Cerca de 56.600 criminosos do Rio de Janeiro atuam portando
fuzis, rifles, granadas ou armamentos anti-tanque. Estes números
correspondem verdadeiramente a um exército. O exército de Portugal
conta com 25.580 soldados na ativa, segundo dados de 2019.

Já o da Alemanha, segundo dados de 2018, conta com um efetivo de


61.721. O número que contempla apenas criminosos com
armamento pesado no Rio de Janeiro é quase igual ao do exército
da Alemanha.

Não é à toa que os índices brasileiros de criminalidade, violência e


insegurança apresentam dados tão preocupantes.

Segundo uma pesquisa do World Justice Project - Rule of Law Index:

• o Brasil está em 112º dos 139 países do ranking no quesito Justiça


Criminal;
• no quesito Controle Efetivo do Crime, 129º/139;
• no quesito Eficiência na Investigação Criminal, 117º/139;
• no quesito Rapidez e Eficiência do Sistema Jurídico, 133º/139.
Após tantos dados negativos, é impossível negar que há uma
grande crise de Segurança Pública no Brasil.

O problema da Segurança Pública no


Brasil
A Segurança Pública no Brasil é um assunto delicado. O crime está
cada vez mais organizado e profissionalizado, o sistema de justiça,
em contrapartida, cada vez menos organizado.

As leis restringem e inibem cada vez mais a ação policial. O que gera
uma grande sensação de impunidade. Diversos bandidos agem com a
certeza de que nunca serão punidos por seus atos.

• Leitura recomendada: ADPF 635.


Entre benefícios e riscos, a balança do crime parece sempre
pender para benefícios. Até a segunda metade dos anos 80, as cidades
do interior mal sabiam o que eram crimes, homicídios. Hoje muitas são
rotas de tráfico, enfrentam frequentes roubos e são vítimas do novo
cangaço.

É comum ver bandidos partindo para cima da polícia que, incapaz de


reagir, se acua e vai recuando diante daquilo que deveriam combater.

O crime tem a vantagem das armas, a vantagem numérica e, em


muitos casos, a glamourização da mídia.
É possível apontar alguns problemas centrais da crise de
segurança pública no Brasil:

• organização do crime;
• porte de armamentos de guerra, por parte dos criminosos;
• leis que restringem a ação policial;
• sensação de impunidade;
• corrupção das instituições;
• regras brandas para combater o crime.
O Brasil vive um estado de insegurança pública. O cidadão passa a
viver esperando pelo pior. O brasileiro se acostumou a viver assim,
com casas que parecem presídios, com sistemas de segurança
complexos.

Existem ao redor do país locais que são considerados Blackspots. Um


Blackspot é um local onde o Estado não detém o controle, ele é incapaz
de aplicar a lei nesta região.

No Rio de Janeiro, todas as favelas são consideradas Blackspots. 3,5


milhões de habitantes do Rio de Janeiro vivem em áreas
dominadas por milícias. Metade da população da cidade maravilhosa
está sob a lei de gangues e facções.

Fonte Fogo Cruzado, GENI-UFF, NEV-USP, Pista News.

Não bastasse essa realidade, o STF proibiu a ação da polícia nas


favelas com a ADPF 635, em 2020. Os dados preocupam e fazem
muitos se questionarem se há alguma solução possível.
Como podemos melhorar a segurança
pública no Brasil?
O problema que vivemos une todos os brasileiros, é uma crise sem
precedentes. Em 2022, a Brasil Paralelo decidiu investigar o maior
problema de nosso país.

Falaremos sobre a crise de segurança pública que atinge a todos


os brasileiros em nosso projeto mais ambicioso dos últimos anos.
Um filme inédito: Entre Lobos.

Viajamos o Brasil de Norte a Sul e Leste a Oeste para entrevistar as


maiores autoridades do assunto. São mais de 50 entrevistados entre
policiais, juízes, advogados, políticos, professores, intelectuais e
jornalistas.

O filme revela pela primeira vez as verdadeiras causas da


insegurança que afeta todos os brasileiros.

Ele também irá mostrar o mundo real do combate ao crime, com o dia
a dia e as dificuldades das polícias no Brasil.

E apresentará um olhar científico amparado em dados e uma longa


pesquisa livre de ideologias e desinformação.

No dia 20 de junho de 2022, estreia Entre Lobos, uma trilogia


inédita sobre a maior crise da história recente do Brasil. Clique no
link e cadastre-se para ter acesso exclusivo à pré-venda do Entre Lobos
e acesso ao evento de lançamento.

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Imagem: Fernando Frasão/Agência Brasi

A Segurança Pública no Brasil

Na última década, a questão da segurança pública passou a ser considerada problema


fundamental e principal desafio ao estado de direito no Brasil. A segurança ganhou
enorme visibilidade pública e jamais, em nossa história recente, esteve tão presente
nos debates tanto de especialistas como do público em geral.
Os problemas relacionados com o aumento das taxas de criminalidade, o aumento da
sensação de insegurança, sobretudo nos grandes centros urbanos, a degradação do
espaço público, as dificuldades relacionadas à reforma das instituições da
administração da justiça criminal, a violência policial, a ineficiência preventiva de
nossas instituições, a superpopulação nos presídios, rebeliões, fugas, degradação das
condições de internação de jovens em conflito com a lei, corrupção, aumento dos
custos operacionais do sistema, problema relacionados à eficiência da investigação
criminal e das perícias policiais e morosidade judicial, entre tantos outros,
representam desafios para o sucesso do processo de consolidação política da
democracia no Brasil.
A amplitude dos temas e problemas afetos à segurança pública alerta para a
necessidade de qualificação do debate sobre segurança e para a incorporação de
novos atores, cenários e paradigmas às políticas públicas.
O problema da segurança, portanto, não pode mais estar apenas adstrito ao repertório
tradicional do direito e das instituições da justiça, particularmente, da justiça criminal,
presídios e polícia. Evidentemente, as soluções devem passar pelo fortalecimento da
capacidade do Estado em gerir a violência, pela retomada da capacidade gerencial no
âmbito das políticas públicas de segurança, mas também devem passar pelo
alongamento dos pontos de contato das instituições públicas com a sociedade civil e
com a produção acadêmica mais relevante à área.
Em síntese, os novos gestores da segurança pública (não apenas policiais,
promotores, juízes e burocratas da administração pública) devem enfrentar estes
desafios além de fazer com que o amplo debate nacional sobre o tema transforme-se
em real controle sobre as políticas de segurança pública e, mais ainda, estimule a
parceria entre órgãos do poder público e sociedade civil na luta por segurança e
qualidade de vida dos cidadãos brasileiros.
Trata-se na verdade de ampliar a sensibilidade de todo o complexo sistema da
segurança aos influxos de novas idéias e energias provenientes da sociedade e de
criar um novo referencial que veja na segurança espaço importante para a
consolidação democrática e para o exercício de um controle social da segurança.

Veja abaixo relatório do Ministério da Justiça sobre o perfil das instituições policiais no
Brasil
Anexo Tamanho
Relatório Descritivo – Perfil das
1.17 MB
Organizações de Segurança Pública.pdf
Relatorio das Delegacias da Mulher
290.53 KB
2005.pdf

• Políticas de Segurança Pública


• Políticas Locais de Segurança Pública
• Acompanhamento Legislativo em Segurança Pública

Planos de combate à violência


A segurança pública é um dos temas mais debatidos e pesquisados nos últimos anos
no Brasil, particularmente, em São Paulo.
Entretanto, as discussões e a visibilidade pública do problema ainda não tiveram
impacto definitivo na produção de conhecimento acadêmico na área. Evidentemente,
muitos pesquisadores vêm se debruçando sobre o assunto e a bibliografia nacional
sobre segurança não pára de ampliar-se e de se aprofundar. Mas as políticas públicas
voltadas para a segurança ainda carecem de uma reflexão mais sistemática e a
produção acadêmica necessita conversar com a produção que emerge dentro das
instituições voltadas para segurança.
A dificuldade reside em grande medida à tradição jurídica e policial brasileira que
coloca a segurança como um problema afeto mais a juristas e a profissionais. A
segurança pública continua sendo uma área de pouca penetração para outras áreas
do conhecimento como as Ciências Sociais, a Psicologia, a Administração, a Economia,
a História e a Geografia.
O predomínio do Direito (bem como a formação policial em academias insuladas do
contexto universitário mais amplo) tornam a segurança pública basicamente um
problema de lei e ordem, sujos efeitos se traduzem numa discussão estéril sobre
mecanismos mais apropriados para aumentar o grau de punitividade de nossas
instituições, particularmente aquelas ligadas tradicionalmente ao direito penal e à
administração da justiça criminal.A própria composição profissional das instituições da
segurança pública refletem essa tradição. Em grande parte, delegacias de policia,
instituições correcionais, fóruns e unidades de cumprimento de medidas sócio-
educativas são concebidas, geridas e controladas por profissionais da área do direito
e com formação técnica específica, proporcionada pelas instituições elas mesmas.
Em vários lugares do mundo, particularmente no contexto anglo-saxão, os
profissionais da área da justiça criminal têm procurado formação complementar em
universidades e encontrado espaço e abertura para construir seu conhecimento de
forma trans-disciplinar. Nas universidades, centros de pesquisa (que recebem
recursos públicos e privados) têm se tornado espaço importante para formação
complementar e para a realização de pesquisas acadêmicas ou aplicadas em
decorrência dos problemas e questões que interferem na qualidade do serviço das
instituições.
A segurança pública, nesse contexto, têm passado por uma mudança importante de
referencial. Tem deixado de ser vista como um problema restrito do Estado, das
instituições criminais e do direito. O novo referencial têm apontado para uma nova
visão da segurança como espaço de participação comunitária (pública mas não apenas
estatal), como afeta a outras áreas de governo (social e não apenas criminal), como
ligada a uma abordagem que concilia diversas disciplina (particularmente das Ciências
Humanas) e como problema de ordem regional ou global. Além disso, a segurança
pública tem sido vista como espaço de experimentações sobre a questão fundamental
da garantia da ordem social num contexto de globalização que aporta problemas
novos que demandam soluções novas.
Por exemplo, a internacionalização do crime, a nova configuração do crime eletrônico,
a desestruturação do mercado de trabalho interno, a nova fluidez das fronteiras e
novos marcos do crime como empreendimento lucrativo são problemas que exigem
uma nova configuração da segurança pública que desafia nossa tradição criminal,
essencialmente inquisitorial.
Em grande parte, a morosidade do processo, uma policial ainda fortemente cartorial,
a falta de comunicação entre as instituições da segurança, a formação pouco flexível
dos profissionais, a baixa capacitação, a incitação ao crime e à violência policial como
forma de controle social, o baixo arejamento das estruturas estatais, a dificuldade
com que a informação é produzida e circula no contexto institucional, e mesmo uma
concepção militar da segurança dificultam a assimilação das experiências
internacionais e impedem a presença de pesquisadores no cotidiano das instituições.
Espera-se, no cenário da segurança pública, nesse começo de milênio, que os desafios
sejam enfrentados e que novos espaços de participação e de transparência na
administração pública sejam enfrentados. Não se trata apenas de aprimorar os
mecanismos de detecção do crime e de apreensão de criminosos. No novo cenário das
politicas de segurança, trata-se de aprimorar as estratégias preventivas e ampliar o
controle social sobre as instituições públicas. Estamos apenas no começo dessa nova
realidade. Para mudarmos o quadro limitado da segurança, legado por uma visão
estatizante e populista em que o crime é alvo de politicas repressivas padronizadas e
de baixo impacto, é preciso conceber que os chamados crimes sem vítimas devem ser
o desafio para superar o abismo entre segurança e cidadania, entre segurança e
defesa dos direitos humanos.
Nessa página, o OSP pretende indicar as politicas de segurança pública no Estado de
São Paulo, acompanhando seu desenvolvimento e dado aos leitores elementos para
sua compreensão crítica. Nesse sentido, o site reconhece a importância, nos últimos
anos, do surgimento de planos de segurança pública que procuravam alterar um pouco
a concepção restrita de segurança.
Leia mais sobre o PRONASCI
Os arquivos abaixo apresentados são exemplos de Politicas de Segurança Pública que
sinalizam novas tendências

Acesse alguns planos ou debates em torno de planos de segurança:


Anexo Tamanho

Planos de combate à violência do


672.93 KB
governo de Estado de São Paulo

Plano Nacional de Segurnaça Pública 945.24 KB

Avaliação do Plano Nacional de


199.71 KB
Segurança Pública

Sistema Único de Segurança Pública 1.03 MB

Rede Infoseg 296.18 KB

Plano Estadual de Segurança Pública 199.59 KB

Programa Nacional de Segurança com


316.5 KB
Cidadania

Cadernos do Fórum de Segurança da


608 KB
ALSP 1998
The new security equation in the
Americas, Gordon Mace & Catherine 8.29 MB
Durepos

Revista do Conselho Nacional de Politica


3.25 MB
Penitenciária número 20 2007
Efetivo Policial Brasil 2008.pdf 153.94 KB

Paradoxos da consolidação democrática no Brasil

Redemocratização e paradoxos da segurança


pública
Assembélia Legislativa de São Paulo
Num breve olhar sobre a história do país, é difícil discernir o que é parte de uma
política deliberada de segurança ou o que é decorrência de práticas sociais e
institucionais tradicionais. Durante o período colonial, os crimes atentavam contra a
vontade do soberano e eram considerados faltas morais ou religiosas. As atribuições
policiais e judiciais estavam concentradas em poucos cargos da hierarquia da
administração colonial da justiça, havendo considerável dispersão de mecanismos de
vigilância e punição, muitos dos quais eram religiosos e/ou privados. A administração
colonial contava com ampla participação dos senhores da terra e a justiça era exercida
à distância. As práticas de punição eram, em regra, o degredo (para pessoas de maior
condição) e o açoite (para os escravos). As práticas de investigação eram baseadas na
suspeita sistemática e as provas eram obtidas mediante tortura judicial. Essas práticas
generalizaram-se quando o Santo Ofício desembarcou em terras brasileiras. O
município era o centro das preocupações da administração da justiça na colônia
portuguesa e base de toda a estrutura colonial. Nesse sentido, as cidades eram
símbolos do poder da metrópole e da igreja e nelas havia os locais para a detenção e
punição dos criminosos. As cidades foram construídas em decorrência das
necessidades imediatas da exploração econômica e, embora fossem o centro do
controle político, gozavam de ampla autonomia e independência.
Depois de três séculos de vida colonial, vivendo à sombra das instituições e da
legislação portuguesa, o Brasil passou a ter uma Constituição, em 1824, um Código
Criminal, em 1830, e um Código de Processo Criminal, em 1832. A legislação penal
passou a entender o crime como infração à regra penal, para a qual penalidades
específicas foram prescritas. O sofrimento físico começou a ceder espaço às punições
tecnicamente frias, como o degredo ou a privação da liberdade. As punições passaram
a estar relacionadas à retribuição, à recomposição da infração de uma lei anterior e o
criminoso passou a ser visto como aquele que rompeu um pacto social. A escravidão
permanecia como problema político, moral, econômico e social. Durante o Império,
embora o Brasil tivesse um governo acentuadamente centralizado, as províncias
mantiveram-se isoladas e com autonomia em relação à aplicação da lei e ao uso das
instituições judiciais. O espetáculo punitivo foi praticado contra escravos, durante
quase todo o século XIX. Embora muitos dos castigos aplicados em escravos ainda
permanecessem subordinados à esfera da fazenda, portanto, à esfera privada, nas
cidades os castigos davam-se em praça pública e eram executados por “funcionários
públicos”. Os castigos atraíam enorme atenção popular. O sistema punitivo do Brasil
imperial manteve a pena de prisão com trabalho forçado, as multas e os suplícios
públicos. O sentido profundo dessa disparidade ainda está por ser desvelado. Esse
sistema perdeu espaço na medida em que a crise do escravismo se acentuava. As
reformas legais liberais, ocorridas durante a década de 1870, apontavam nessa
direção.
Na República, com a promulgação de uma nova Constituição, em 1891, e de um novo
Código Penal, um ano antes, o federalismo e a pena de prisão celular tornaram-se
regra. Os interesses dos plantadores de café fizeram-se representar tanto na política
como na administração da justiça. É claro que a economia agro-exportadora,
sustentada pelo latifúndio e pela empresa cafeeira, deu impulso ao desenvolvimento
das cidades. As condições para isso foram o trabalho livre e a importação de mão de
obra européia. Os trabalhadores importados, assimilados pelo primeiro surto
industrial, organizaram associações para reivindicar melhores condições de vida e
trabalho. O acesso restrito à política e as baixas concessões feitas pelos industriais à
demanda dos trabalhadores permitiram a ampliação da luta política no espaço da rua,
na forma de greves e manifestações. O cenário da luta dos trabalhadores foi a cidade
de São Paulo. Além de suas funções públicas, comerciais, bancárias e industriais, a
cidade era local de moradia das elites políticas e econômicas. O espaço urbano,
dividido entre bairros das elites e de trabalhadores, funcionou como lente de aumento
das novas tensões sociais e como laboratório para inúmeras estratégias de controle e
segregação. Polícia, prisões e outras instituições, nesse sentido, receberam atenção
especial das elites.
Mudanças importantes somente ocorreram com as Constituições de 1934, de 1937, de
1946, com o Código Penal de 1940 e com o Código do Processo Penal de 1941. Foram
mudanças contraditórias, pois as instituições de segurança pública – polícia, prisões,
ministério público, magistrados e júri – não mudaram muito em relação à configuração
legada pela Primeira República, embora, sob o Estado Novo, tenha havido uma
centralização e uma racionalização da administração pública sem precedentes na
história do país. Vários relatos indicam até mesmo uma degradação acelerada dessas
instituições durante o Estado Novo e, mais adiante, durante a Ditadura Militar. Nos
períodos de exceção, as violações de direitos, as prisões ilegais, a violência policial, as
condições iníquas de cárceres e instituições de repressão tornaram-se moeda corrente.
O acesso à justiça e a distribuição de renda agravaram-se, sobretudo diante do
adensamento populacional nas principais capitais e em suas regiões metropolitanas.
O período de 1945 a 1964, do ponto de vista constitucional, foi uma exceção a essa
regra. Mas não se sabe o quanto nossa primeira experiência democrática promoveu
mudanças no tratamento dispensado àqueles que estavam submetidos à justiça e à
lei. Notícias veiculadas na imprensa sugerem que as garantias constitucionais nada
significavam para os detidos e investigados pela polícia, nem para os indivíduos que
cumpriam pena ou que estavam em manicômios, e não traziam ônus adicionais aos
homens da lei. A tortura, a corrupção, as atividades de justiceiros e as rebeliões em
presídios parecem ter uma história mais longa e um destino mais persistente do que
imagina nossa credulidade democrática.

Momento Histórico da Aprovação da Constituição Federal de 1988.


Ulisses Guimarães, no destaque
O processo de democratização do Brasil, iniciado em 1985, teve seu apogeu com a
promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988, a chamada
Constituição Cidadã, que abrangeu um considerável elenco de direitos civis, políticos
e sociais. O controle da violência do Estado, até a transição política, era tão rarefeito
que qualquer referência aos instrumentos internacionais era meramente retórica, haja
vista a distância entre as práticas dos agentes do Estado e as exigências de vários
textos legais nacionais e internacionais.
Os governos civis, além de terem promovido o ingresso do Brasil na legalidade do
sistema internacional de proteção dos direitos humanos, puseram em prática
iniciativas, mesmo algumas vezes intermitentes e interrompidas, de uma nova
abordagem oficial em relação aos direitos e garantias constitucionais e às violações
dos direitos humanos. Apesar da nova configuração político-institucional, baseada no
reconhecimento e na garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos, isto é, da
democracia formal, os institutos jurídicos tradicionais do direito brasileiro e as práticas
institucionais baseadas no Estado não sofreram mudança imediata; ao contrário,
durante os últimos quinze anos de exercício democrático, subsistiram práticas ilegais,
corrupção, violência, promovidas pelos próprios agentes do Estado, bem como toda
uma cultura autoritária, dispersa em nossa sociedade (Pinheiro, 1996). A criminalidade
violenta agravou-se, particularmente os homicídios que incidem sobre os jovens,
algumas vezes tendo como agentes os membros das próprias corporações estatais
responsáveis pela segurança pública (Paixão, 1988).
Porém o Estado, diferentemente da época do regime de exceção, não era mais o
coordenador direto das ações de violência ilegal, embora, em parte, tenha enorme
responsabilidade no problema ao não promover a integração do repertório
constitucional às práticas policiais, judiciais e punitivas. As duas últimas décadas foram
marcadas pela crescente insegurança social diante da expansão da criminalidade e da
ampliação de esferas privadas e segregadas (condomínios fechados, bolsões
residenciais, grades e muros), cada vez mais marcada pelos espaços não propícios para
a manifestação pública desinteressada (Soares, 2000). A segurança passou, nos últimos
surveys, a ocupar o segundo lugar nas preocupações dos cidadãos brasileiros,
somente abaixo do desemprego. Os efeitos disso são preocupantes, pois assinalam o
aumento dos gastos do poder público (armas e equipamentos), da comunidade
(dispositivos eletrônicos e condomínios fechados) e dos indivíduos (veículos
blindados, seguros, armas) com segurança (Caldeira, 2001).
No mesmo momento em que houve a explosão da violência e do conseqüente
aumento de sua percepção pública, as políticas de segurança passaram a ser alvo de
discussões, debates e propostas (Adorno, 1998). A expectativa generalizada era que
essa onda pudesse ter interferido positivamente nas práticas de nossas instituições e,
no limite, melhorado a prestação dos serviços de segurança à população. Mas a
realidade tem se mostrado, por enquanto, imune a essa tendência (Chevigny, 1995).
Apenas para ressaltar um ponto, embora a sensação de medo seja mais ou menos
generalizada, na cidade de São Paulo, por exemplo, a distribuição de crimes é desigual
e tende a acompanhar o mapa sócio-econômico. A possibilidade de uma pessoa ser
vítima de homicídio é muito maior nos distritos censitários localizados nas regiões
periféricas do que nos distritos do chamado centro expandido ou nos distritos que
apresentam Índice de Desenvolvimento Humano considerado elevado. Em
contrapartida, os crimes contra o patrimônio ocorrem em maior número nos distritos
do centro ou do centro expandido do que nos limites extremos da cidade (Pinheiro,
1999). O poder público, muitas vezes, não acompanha, em suas prioridades, essa
lógica elementar. O poder público tem insistido em considerar os crimes contra o
patrimônio (e os seqüestros) como prioridade e parte importante dos recursos
públicos de segurança não é destinada às áreas periféricas. Sabe-se, no entanto, que
essa estratégia não tem resultados inequívocos, pois as taxas de crimes contra o
patrimônio (furto, roubo, furto e roubo de veículos) permanecem elevadas ou
continuam em acentuada elevação (Adorno, 1998).

Imagem de www.geocities.com
Referências:
ADORNO, Sérgio. “Consolidação Democrática e políticas de segurança pública no
Brasil: rupturas e continuidades.” In Zaverucha, Jorge (org.) Democracia e instituições
políticas Brasileiras no final do século XX. Recife. Bagaço. 1998.
CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros. Crime, segregação e cidadania em
São Paulo. São Paulo. Edusp/Editora 34. 2001.
CHEVIGNY, Paul. Edge of the Knife. Police violence in the Americas. New York: The New
Press. 1995.
PAIXÃO, Antonio Luiz. “Crime, controle social e consolidação da Democracia” in REIS,
Fábio Wanderley & O’DONNEL, Guilhermo. A Democracia no Brasil. Dilemas e
perspectivas. São Paulo. Vértice/Revista dos Tribunais. 1988.
PINHEIRO, Paulo S. “O passado não está morto: nem passado é ainda” In Dimenstein,
G. Democracia em pedaços – Direitos Humanos no Brasil, São Paulo, Companhia das
Letras. 1996.
PINHEIRO, Paulo Sérgio. “The rule of Law and the Underprivileged in Latin America:
introduction.” In MÉNDEZ, Juan E., O’DONNELL, Guillermo,
PINHEIRO, Paulo Sérgio (eds) (1999) The (Un) Rule of Law & the Underprivileged in
Latin America. Indiana. University of Notre Dame Press. 1999.
SOARES, Luiz Eduardo. Meu casaco de general. Quinhentos dias no front da Segurança
Pública do Rio de Janeiro. São Paulo. Cia. Das Letras. 2000.
Segurança pública e comunidades vulneráveis

Comunidade, segurança e sentimento de


insegurança
Nos últimos anos, os municípios emergiram como atores importantes no desenho,
implementação e acompanhamento de políticas de segurança pública. Essa posição
dos municípios é nova e seguiu de perto o envolvimento das capitais e das cidades
das regiões metropolitanas em seu esforço por conter a escalada da violência urbana
e mais particularmente a escalada da criminalidade, sobretudo em suas grandes e
problemáticas periferias.
O quadro era, por volta do começo da década de 1990, complicado pois assinalava o
incremento do domínio territorial de quadrilhas de criminosos, em estreita relação
com o tráfico de drogas, com o contrabando de armas, com o desemprego de jovens
e com as deficiências históricas dos serviços públicos nessas regiões. Para tornar a
situação ainda mais preocupante, as forças policiais, implantadas de forma já profunda
no interior do tecido urbano, não pareciam capazes de conter o crime e, em algumas
circunstâncias, como os relatos de imprensa mostram à exaustão, os próprios policiais
mantinham envolvimento com o crime ou com atos de ilegalidades.

Cenas do cotidiano de comunidades em São Paulo, marcado pelo conflito entre policia
e criminosos.
A presença do município na segurança também esteve diretamente ligada às idéias de
governo local, de cidadania participativa e, mais especificamente, de policiamento
comunitário. De toda forma, esse processo ainda é muito recente mas já tem feito com
que o governo municipal comece a ter uma outra idéia de seu papel e das
possibilidades novas de emprego das guardas municipais. Mesmo que ainda seja cedo
para uma avaliação adequada desse movimento, é possível, através da literatura
especializada, observar alguns parâmetros para a implementação de políticas locais de
segurança.

Em linhas muito gerais, essas iniciativas trilham alguns marcos:


1) identificação de parceiros, incluindo sociedade civil;
2) fazer um diagnóstico do problema, incluindo informações estatísticas; detalhadas
cobrindo um período razoavelmente longo (sócio-demográficas, criminais e judiciais);
3) discutir esse diagnóstico com os parceiros;
4) estipular responsabilidade compartilhadas;
5) definir prioridades e estratégias para atingi-las;
6) definir detalhadamente formas de atuação e resultados esperados.

As políticas locais, mais do que as políticas estaduais, embora é preciso afirmar que o
esforço para a introdução de um referencial novo da segurança passa necessariamente
pela integração dos esforços tendo a área do município como foco, são propícias para
a disseminação das idéias que circulam no município e mesmo numa determinada
área da cidade.
Os parceiros das políticas públicas locais devem ter informações para poder tomar
posição diante das co-responsabilidades assumidas. Por exemplo, é importante que a
PM implante policiamento comunitário; é importante que as questões sociais tenham
um melhor encaminhamento na cidade, através de programas de transferência de
renda e de apoio às faixas da população mais vulneráveis.
Nesse sentido, os municípios estão sendo estimulados a implementar versões locais,
com o auxílio da Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania, de Centros
Integrados de Cidadania (busca de documentos, de emprego, do acesso à justiça e de
cursos de formação profissional, sobretudo para jovens). No âmbito dos municípios, o
acesso à justiça é fundamental e os Juizados Especiais Cíveis e Criminais precisam ser
dinamizados.

Para a consecução de políticas locais de segurança, algumas questões sencíveis


precisam ser abordadas e verificadas:
a) como anda a questão das drogas no município;
b) como andam as áreas de exclusão social (foram mapeadas?);
c) qual é o engajamento da comunidade da cidade em projetos sociais;
d) os dados sociais, demográficos e criminais do município, bem como a anatomia dos
crimes recentemente ocorridos estão disponíveis para os atores?

Essas questões e outras mais específicas dependem da amplitude dos projetos e da


força do engajamento social na resolução dos conflitos no interior dos municípios.
E, claro, a presença dos enclaves fortificados (na definição extraordinária de Tereza
Caldeira pode ser entrave para a consecução de uma recuperação da fluidez dos
contatos no cenário das cidades do interior, cada vez mais marcadas por diferentes
territorialidades contrafeitas à abertura e à circulação de pessoas, idéias e identidades.
Em termos mais concretos, a existência de locais segregados propicia a penetração de
sociabilidades diferenciais e a manutenção das “ditaduras locais”. Locais segregados
precisam sofrer forte intervenção do poder público com o apoio indispensável das
lideranças democráticas e de outras iniciativas. Mais especificamente, as políticas
locais de segurança e justiça têm sido conscientes da necessidade de conhecimento
sobre os dados policiais (uma espécie de mapa do crime) que contemplem não apenas
os crimes, mas também as brigas, desinteligências e violência doméstica.
Mas é preciso pensar de forma mais sistemática sobre condições de empregabilidade,
de salário e a situação da exploração do trabalho infantil. Algumas ações envolvem
responsabilidades públicas, outras envolvem compromisso com a cidade e com a
cidadania.
O prefeito, a Câmara Municipal e outros responsáveis precisam ser envolvidos com o
processo e devem estar dispostos a assumir os riscos de atitudes e decisões
inovadoras. Nesse sentido, a mobilização popular é importante forma para chamar
atenção para o problema e para aumentar a consciência das pessoas em relação ao
mesmo.

Guarda Municipais em Ilha Solteira/SP. As guardas devem desempenhar papéis


específicos.
Proposta de obrigatoriedade de guardas municipais no Brasil
O que fazem as guardas municipais
Têm-se falado muito sobre fechamento noturno e conseqüente fiscalização dos bares.
É uma medida bem-vinda porque é preciso controlar o uso e a comercialização de
bebidas, sobretudo, em relação aos jovens. Mas os efeitos dessas medidas não devem
ser superestimados. Quanto às drogas, é preciso que a polícia passe a fazer um
mapeamento dos pontos, para não só realizar a repressão, mas também fazer um
trabalho, junto com outros atores, de conscientização dos pais e jovens quanto ao
problema.
É preciso lembrar sempre, e as pesquisas que abordam os novos referenciais das
políticas locais apontam para isso, que o modelo de policiamento repressivo não traz
efeitos duradouros. Mesmo que o policiamento repressivo seja indispensável em
situações de áreas conflagradas, ele deve ser o mais brevemente possível ser
substituído por formas mais sutis de policiamento, como o policiamento comunitário.
Outro tema que tem motivado a inquietação das cidades no interior do Estado de São
Paulo e apontado para a adoção de medidas às vezes drásticas é questão da migração
interna, do afluxo de pessoas de regiões economicamente estagnadas para regiões de
economia mais dinâmica (migrações dentro do Estado ou mesmo entre Estados).
O tema é controverso, mas deve ser explorado na perspectiva da inclusão e dos
direitos de cidadania. As pessoas têm o direito de procurar oportunidades melhores
onde elas existam. Não se deve medidas de expulsão velada de migrantes das cidades.
É preciso criar um sistema de recepção de migrantes, garantindo seus direitos,
prestando informações e apoio. As cidade não devem se fechar à realidade social do
país e da região. Essa questão passa também pela gestão junto às autoridades do
Estado para que sejam pensadas políticas amplas para todo um determinado território.
Os municípios e o Estado de S. Paulo precisam, juntamente com a União, implementar
programas de renda mínima e de formação profissional para as pessoas em trânsito,
garantindo direitos. De toda forma, a informação é sempre um ótimo meio de acessar
a realidade social, para isso, as políticas locais devem se voltar para o mapeamento da
cidade, para a identificação do número de migrantes, de mendigos e de moradores
de rua que circulam ou moram na cidade. Ainda em relação às informações, é preciso,
no âmbito das políticas locais, buscar conhecer melhor o crime, a criminalidade e o
criminoso. Em geral, os programas de georeferenciamento não dão conta das
características do crime nas cidades, eles colocam pontos no mapa. Portanto, é preciso
saber quem é o responsável pelos crimes. Muitos crimes podem ser resultados das
relações inter-pessoais. Há alguma possibilidade de que os crimes não sejam
cometidos pelas pessoas que procuram a cidade por melhores condições de vida.
Os atores, as organizações, os Consebs, os Consegs devem ser acompanhados,
avaliados e envolvidos nas estratégias locais de segurança. Alguns bairros da cidade
de São Paulo, nos últimos anos vêm recebendo ações de diversos órgãos públicos e
da sociedade civil, usando os espaços disponíveis como a escola para montar uma
ação coordenada: os CIC, local onde as pessoas podem procurar indicação para
emprego, ajuda para tirar documentos, regularizar situação junto aos órgãos públicos,
atividades profissionalizantes e educativas, espaço para troca de experiências,
aumento de vagas nas escolas, creches, profissionalização de jovens, reurbanização de
bairro, construção de postos de saúde, em síntese, política de ocupação os espaços
deixados vazios.
A presença do município nas políticas pública é um constante lembrete de que o novo
referencial de segurança cidadã inclui um grande repertório de idéias, pois carecemos
no âmbito das políticas públicas exatamente disso. As políticas no Brasil são mecânicas
e apostam sempre em atividades de baixo impacto e alto custo, sem pesquisa, sem
prioridades, sem plano e sem acompanhamento.
Evidentemente os maiores obstáculos são o corporativismo, a instransparência e o
“coronelismo high-tech” que ainda vigora na grande maioria de nossos municípios. As
administrações municipais precisam ser profissionalizadas. Paralelamente a tudo isso,
às vezes um bom começo de mudança é atrair as pessoas, música tem essa facilidade,
e a partir daí começar a organizar as pessoas para projetos mais amplos, envolvendo
cursos, oficinas e projetos de geração de renda. Todas essas iniciativas artesanais de
segurança local têm impacto também na auto-estima das pessoas e colocam toda a
sinergia na direção correta, da participação, da transformação com responsabilidade
política. São ações de baixíssimo custo e que em grande parte precisam apenas de
redirecionamento dos recursos já previstos nos orçamentos.
Fatos que precisam ser observados com cautela:

O país conta com um verdadeiro exército de seguranças privadas. As estimativas giram


em torno de 500 mil a três milhões de seguranças no país, todos armados e nem todos
preparados para desempenhar essa função. Estima-se que em cada quatro vigilantes
apenas um trabalha em empresa legalizada. O controle das empresas de segurança
privada é de responsabilidade da Polícia Federal, mas esta não tem estrutura nem
motivação necessárias para fazer tal controle.
Estima-se também que parcela significativa dos empregados em empresas de
segurança seja proveniente da própria polícia, que assumem esse trabalho como
emprego extra, o chamado bico. Os vigilantes que fazem segurança dentro de
empresas, no transporte de valores, na segurança bancária e na escolta especializada
tem permissão para porte de arma de fogo. No Estado de São Paulo, há legislação em
fase de aprovação que habilitaria todos os vigilantes a terem porte, o que representaria
mais uma fonte segura para o fornecimento de armas para o crime. Sabe-se que a
fiscalização é um problema sério para o qual não há solução em vista o que obrigaria
as polícias a desviar ainda mais policiais para atividades burocráticas.
Nos últimos anos, vem crescendo o efetivo das guardas municipais. Antes restritas às
capitais, as guardas estão se disseminando para cidades médias e pequenas. Elas são
formadas por policiais fardados e armados que tem como responsabilidade precípua
a preservação do patrimônio público e o auxílio em situações de emergência. Elas
também fazem a segurança de prefeitos e seus secretários e auxiliam os municípios
no controle de atividades essencialmente urbanas, tais como a fiscalização de
transporte coletivo, de comércio ambulante e uso ilegal do solo urbano. Muitas vezes,
não obstante restrição constitucional, desempenham papel de polícia, realizando
detenções e encaminhando suspeitos às delegacias.
Há denúncias contra as guardas municipais e a experiência recente tem mostrado que
é difícil controlar as atividades desses homens fardados. Há casos de conflitos abertos
entre as guardas e a Policia Militar. Vários municípios, sobretudo aqueles pertencentes
à região metropolitana de São Paulo, reunidos no Fórum Metropolitano de Segurança,
clamam para que suas guardas possam ter função de polícia e há projeto de lei no
Congresso Nacional que caminha nesse sentido. Não basta atribuir a esses homens
poder de polícia, sem antes articular uma ampla estratégia de segurança local que
inclui, entre outros, alternativas de policiamento de baixo impacto, policiamento
comunitário, estratégias de integração com as demais polícias, controle sobre o uso
da força e da arma, controle externo e acompanhamento de efetividade.
Ou seja, não basta transformar um grupo de guardas, acostumado a manter uma
postura reativa, para uma postura de enfrentamento do crime, sem antes passar por
um longo processo de profissionalização do efetivo e amadurecimento dos controles
democráticos dos municípios. Os números apresentados abaixo ainda mostram que
municípios considerados preocupantes do ponto de vista da penetração do crime,
possuem um efetivo policial abaixo do esperado; ou seja, as autoridades estaduais
devem ser sensíveis, na distribuição de recursos escassos e na montagem de
estratégias de segurança, às características de cada região e aos anseios da
administração municipal e dos munícipes.

Para conhecer mais:


ALVITO, Marcos. “Um bicho-de-sete-cabeças” in Zaluar, Alba e Alvito, Marcos. (orgs)
Um século de favela. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1999, 2a. edição.
CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. A política dos outros: o cotidiano dos moradores da
periferia e o que pensam do poder e dos poderosos. São Paulo: Brasiliense, 1984.
FERNANDES, Maria Esther. Relatório de Pesquisa referente ao Projeto “Bairros
Periféricos: integração ou marginalidade?” Ribeirão Preto: mímeo, 1999.
IBASE. Com a palavra, os moradores! Pesquisa qualitativa em comunidades e bairros
da Grande Tijuca. Agenda Social, Ibase e Fundação Heinrich Boll. Dezembro de 2000.
MONTES, Maria Lúcia. “Violência, cultura popular e organizações comunitárias” in
Velho, Gilberto e Alvito, Marcos (orgs) Cidadania e Violência. Rio de Janeiro: Editora
da FGV, 1996.
SHIRLEY, Robert. “Atitudes com relação à polícia em uma favela no sul do Brasil.”
Tempo Social. S. Paulo, 9 (1): 215-231, maio de 1997.
SOARES, Luiz Eduardo. Meu casaco de general. Quinhentos dias no front da segurança
pública do Rio de Janeiro. São Paulo: Cia. Das Letras, 2000.
VELHO, Gilberto. “Violência, reciprocidade e desigualdade: uma perspectiva
antropológica” in Velho, Gilberto e Alvito, Marcos (orgs) Cidadania e Violência. Rio de
Janeiro: Editora da FGV, 1996.
ZALUAR, Alba. A máquina e a revolta. As organizações populares e o significado da
pobreza. São Paulo: Brasiliense, 1985.
ZALUAR, Alba. “Crime, medo e política” in Zaluar, Alba e Alvito, Marcos. (orgs) Um
século de favela. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1999, 2a. edição.
ZALUAR, Alba. O Condomínio do diabo. Rio de Janeiro: Revan, 1994.
Anexo Tamanho
Projeto comunitário bem-sucedido 695.66 KB
Relatório Perfil das Guardas Municipais _2003_ 1.pdf 303.12 KB
Políticas policiais no contexto democrático

O que funciona em termos de policiamento


democrático
Cada vez mais, o tema da segurança pública tem atraído a de especialistas e do público
em geral.
Um dos problemas mais importantes dentro das politicas públicas de segurança é o
papel desempenhado pelas políciaas. As policiais representam a parte mais visível,
importante e problemática das políticas de segurança.
Como podemos constatar através das diferentes análises e dados disponíveis no
presente site, um dos problemas da policia tem a ver com seu tamanho e gigantismo.
É de fato uma organização complexa e suas dinâmicas internas não são tão visívies
quanto suas explicitamente voltadas para a segurança pública.
Todos sabemos que as organizações complexas demandam muito trabalho de gestão
e as politicas desenvolvidas dentro dessas organizações não são facilmente
implantadas, mesmo porque nosso modelo de politica pública continua baseado no
princípio top-down e inside-out. Todas as tomadas de decisão ocorrem na parte
superior da estrutura e da hierarquia e de dentro para fora.
Assim, não obstante o clamor constante por maior transparência, accountanbility e
participação popular nas decisões e definições de prioridades, as instituições policiais
permanecem relativamente fechadas às dinâmicas externas.
Mas o tema do policiamento no contexto democrático tem produzido novas dinâmicas
no interior das organizações policiais, obrigando policiais, dirigentes, staff e sociedade
civil a caminhar em novas direções em termos de politicas policiais.
Essa tendência ainda é recente e pode, sempre que a pressão popular por segurança
e a privatização dos serviços de vigilância assumem proporções maiores, regredir para
o modelo tradicional do law and order em que a medida da eficiência policial não é a
ampliação da segurança mas o aumento das taxas de prisões em flagrante.
Por essa razão, as experiências internacionais em policia (divulgadas amplamente pela
bibliografia especializada) são um alento em termos de uma ampliação de nossa
capacidade de reflexão e de intervenção na conjuntura atual em que há uma crescente
sensação de corrosão das instituições da esfera pública, que corre paralela à ampliação
dos espaços das instituições que pretendem defender a ordem pública, nem que essa
defesa emerja num contexto de aumento de violações de direitos e da ineficiência
policial.
Veja abaixo artigos e relatórios importantes para um referencial de policiamento
democrático, produzidos por alguns especialistas internacionais mais renomados na
matéria:

Anexo Tamanho

Democratizing Police Abroad, David Bayley 738.31 KB

The New Structure of Policing, David Bayley e Clifford Shearing 375.5 KB


Measuring What Matters, org Robert Langworth 359 KB

Politicas de segurança e juventude

Juventude e Segurança
Sem dúvida, os jovens representam o grupo social mais vulnerável tanto em termos
de dificuldades de acesso ao emprego e à cidadania, quanto em termos de vitimização
à violência.
Os jovens tem uma presença significativa nas estatísticas de mortalidade por causas
externas, particularmente morte provocada pela violência. Eles compõem um grupo
muito vulnerável em relação ao contato prematuro com organizações criminosas, com
o cigarro, a bebida alcoólica e as drogas. Os jovens também têm uma importante
participação em situação que envolvem acidentes de trânsito e parcela importante
deles está fora do ensino público.
Não bastasse esse quadro, os jovens, sobretudo os moradores das periferias das
nossas cidades, são eleitos como alvo preferencial para a ação policial, sendo assim,
vítimas da violência policial e de maus-tratos dentro do sistema sócio-educativo.
Nesse sentido, é urgente que as políticas de segurança pública concebam projetos e
ações voltados para a inclusão dos jovens. Essa inclusão pode ser contemplada através
de inúmeras iniciativas, muitas das quais já estão sendo colocadas em prática.
Entretanto, essas politicas precisam ser integradas e expandidas para que o poder
público e a sociedade civil tenham condições de dar aos jovens a esperança de um
futuro melhor.
Nessa página, o OSP pretende observar as politicas públicas voltadas para a juventude
e indicar em que medida essas politicas contribuem para a melhora das condições de
cidadania e direitos humanos dos jovens.

“Fatores de risco, evoluções e desfechos observados em jovens liberados de unidades


de internação da Febem”
Esse é o título da pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP,
em parceria com a Universidade McMaster do Canadá e técnicos da FEBEM (hoje
Fundação CASA).
A pesquisa foi divulgada em agosto de 2006.
Conforme a Fundação, a proposta da pesquisa consistiu em analisar a trajetória dos
adolescentes que cumpriram a medida sócio-educativa de privação de liberdade, de
modo a verificar, se esses adolescentes, que na desinternação não tiveram um
acompanhamento para ajudá-los na reintegração, estariam sujeitos a maior risco e
piores evoluções, como a reincidência e nova internação na instituição.
A divulgação da pesquisa ocorreu no dia 31 de agosto de 2006. Os pesquisadores
envolvidos organizaram uma conferência e worshop, que reuniu os funcionários da
Fundação CASA, membros do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente – CONANDA e a imprensa.
O objetivo foi a recomendação de programas de políticas públicas, divulgação dos
relatórios técnicos – dados estatísticas da pesquisa – e a exibição do vídeo: Exilados
do Mundão, produzidos por um grupo de adolescentes que cumpriram medida sócio-
educativa de privação de liberdade.
Em 03 de setembro de 2006, houve a divulgação dos dados da pesquisa em rede
nacional, no programa Fantástico, da Rede Globo, cujo destaque foi “30% dos
adolescentes da FEBEM são da classe média”.
A reportagem ressaltava que tais dados indicavam uma nova população na instituição.
No jornal O globo, edição de setembro de 2006, os dados foram sobre as trajetórias
dos adolescentes, destacando que, dos 325 adolescentes participantes da pesquisa
apenas 125 deles foram localizados. Dos jovens localizados, a pesquisa destacou que
20,4% retornaram para a Fundação e os outros 39% dos pesquisados estavam
estudando e trabalhando informalmente. A reportagem é concluída com a seguinte
apreciação da presidente da Fundação, Berenice Gianella: “A Febem não é uma
máquina de recuperar pessoas. Os internos que vêm aqui já são infratores. O problema
é o ato infracional. O que fazemos é dar exemplos, mostrar limites que muitos não
têm. Mas a recuperação depende mais deles”
Além dos dados sobre os adolescentes, a pesquisa apresenta informações sobre o
perfil dos servidores públicos da Fundação CASA.

Para conhecer mais veja as indicações bibliográficas e baixe os arquivos

Referências:
ASSIS, S. G.; MINAYO, M. C. S.; CONSTANTINO, P. Cumprindo medida socioeducativa
de privação de liberdade: perspectiva de jovens do Rio de Janeiro e seus familiares.
Rio de Janeiro: Claves/Ensp/Fiocruz/Ipea, novembro de 2002.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei no 8.069/90). BRASIL/MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA/MINISTÉRIO DA SAÚDE. Por uma política nacional de saúde para os
adolescentes que cumprem medidas socioeducativas de internação, internação
provisória e semiliberdade. Brasília, novembro de 2002 (documento referencial).
COSTA, A. C. G. da. De menor a cidadão. In: MENDEZ, E. G.; COSTA, A. C. G. Das
necessidades aos direitos. São Paulo: Malheiros Editores, 1994 (Série Direitos das
Crianças, n. 4).
JACCOUD, L. B.; BEGHIN, N. Desigualdade racial no Brasil: um balanço da intervenção
governamental. Brasília: Ipea, 2002.
MENDEZ, E. G. História da criança como história de seu controle. In: MENDEZ, E. G.;
COSTA, A. C. G. Das necessidades aos direitos. São Paulo: Malheiros Editores, 1994a
(Série Direitos das Crianças n. 4).
_____. A doutrina de proteção integral da infância das Nações Unidas. In: MENDEZ, E.
G.; COSTA, A. C. G. Das necessidades aos direitos. São Paulo: Malheiros, 1994b (Série
Direitos das Crianças n. 4).
_____. Legislação de “menores” na América Latina: uma doutrina em situação
irregular. In: MENDEZ, E. G.; COSTA, A. C. G. Das necessidades aos direitos. São Paulo:
Malheiros, 1994c (Série Direitos das Crianças n. 4).
_____. Infância e adolescência: a privação da liberdade nas normas internacionais. In:
MENDEZ, E. G.; COSTA, A. C. G. Das necessidades aos direitos. São Paulo: Malheiros,
1994d (Série Direitos das Crianças n. 4).
_____. O novo estatuto da criança e do adolescente no Brasil: da situação irregular à
proteção integral. In: MENDEZ, E. G.; COSTA, A. C. G. Das necessidades aos direitos.
São Paulo: Malheiros, 1994e (Série Direitos das Crianças n. 4).
OLIVEIRA, C. S. Sobrevivendo no inferno. Porto Alegre: Sulina, 2001. ONU.
Regras das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade, 1990.
TEIXEIRA, M. de L. T.; VICENTIN, M. C. G. O futuro do Brasil não merece cadeia: os
argumentos contra a redução da idade penal. Ciência Hoje, v. 30, n. 177, 2001.
UNICEF. A voz dos adolescentes. Brasília, 2002.

Anexo Tamanho

Ibase Relatorio da juventude 1.85 MB

Relatorio de desenvolvimento juvenil 2007 2.35 MB

Pesquisa Liberdade Assistida e Semi Aberto FEBEM,2006 602.2 KB

Pesquisa Internos da FEBEM, 2006 459.43 KB

Relatório Preliminar da Comissão da Juventude, 2003 714.11 KB

Conferencia Nacional da Juventude, 2004 154.4 KB

Perfil das Delegacias Espec. Crianças e Adolescentes 2004 249.37 KB

Vigilância eletrônica
A era da vigilância

Eduardo Knapp Folha Marcelo Barabani Folha


Flávio Florido Folha Imagem
Imagem Imagem
Crianças brincando num Tela do computador mostra Câmeras no estádio do
berçário imagem do berçário Pacaembu
Embora não haja dados disponíveis, estamos observando nos últimos anos uma forte
disseminação das tecnologias de vigilância eletrônica no mundo inteiro. O Brasil, e
particularmente, o Estado de São Paulo, não foge à regra de um sistema de vigilância
que confunde as esferas da segurança pública com a privada. Cada vez mais, na
verdade, os gastos privados (de empresas e de particulares) vem se ampliando,
fazendo face ao também crescente gasto público com segurança.
As câmeras de vigilância já eram realidade em várias cidades do mundo, mas foi após
os ataques de 11 de setembro que a vigilância eletrônica tornou-se uma verdadeira
febre mundial, em parte pelas possibilidades quase ilimitadas das tecnologias digitais.
O jornal Folha de São Paulo, de 11/09/2002, mostrou essa disseminação nos EUA, com
câmeras de vídeo sendo instaladas em Washington e Nova York para “deter terror’.
Nesse mesmo momento, ocorria um aperto na filtragem dos turistas que passam pelos
aeroportos, os funcionários do Banco Interamericano de Desenvolvimento são
controlados por leitura eletrônica de digitais. Todos os funcionários de empresas
públicas ou que prestam serviços públicos estão sendo obrigados a renovar seus
cadastros pessoais e, ao mesmo tempo, estão sendo instruídos a denunciar qualquer
situação que saia do normal. Nos primeiros meses após o 11 de setembro, mais de
400 câmeras de TV foram instaladas nas ruas de Washington. Em Nova York, foram
instaladas 6.000 câmeras de segurança. O ápice da sociedade vigiada norte-americana
é o projeto de construção de muro virtual contra imigrantes, formado por sensores,
câmeras e outros equipamentos eletrônicos, com o objetivo de aumentar a vigilância
nos seus 12 mil km de fronteira comum com o México e o Canadá. O governo
americano não divulga cifras, mas as estimativas giram em torno de US$ 2,1 bilhões
os custos do projeto.

Foram instaladas 104 câmeras de vigilância em Salvador durante o carnaval de 2008.


Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr. www.agenciabrasil.gov.br

Em matéria de 10/07/2007, a Folha de São Paulo afirma que a cidade de Londres é


uma das mais vigiadas do mundo, pois conta com cerca de 4,2 milhão de câmeras nas
ruas. Em todo o Reino Unido há uma câmera para cada 14 habitantes. Em matéria
anterior, de novembro de 2006, a Folha informava que um estudo do Escritório do
Comissariado de Informação mostrou que cada britânico está sendo filmado, em
média, por 300 câmeras diariamente, em áreas públicas ou privadas. Não apenas o
governo está vigiando seus cidadãos como também as empresas privadas, que estão
tendendo a criar bancos de dados e de imagens para futuras comparações e
investigações. Um dos responsáveis pelo estudo, Richard Thomas, afirma que “Não
são apenas câmeras nas ruas, é a tecnologia vigiando nossos movimentos e atividades.
Cada vez que usamos um celular ou nossos cartões de crédito, quando fazemos buscas
ou compras na internet, mais e mais informações vão sendo coletadas”.
No Brasil, as estatísticas nesse setor são pouco confiáveis. Por exemplo, o IBGE calcula,
para o ano de 2005, a existência de 400 mil pessoas empregadas em empresas
legalizadas de segurança privada: escolta armada, segurança patrimonial, transporte
de valores, segurança pessoal e cursos de formação. Calcula-se que a cada trabalhador
de segurança empregado em empresas legais há em torno de 3 em empresas não
registradas. Calculando por cima, isso pode representar algo em torno de 2 milhões
de pessoas empregadas no setor.
Se calcularmos o número de policiais que atuam no Brasil, segundo dados do
Ministério da Justiça, que gira em torno de 483 mil profissionais e de guardas
municipais que é em torno de 38 mil profissionais, teríamos, num dado evidentemente
subestimado, mais de 3 milhões de pessoas empregadas em serviços de segurança,
ou seja, uma pessoa armada para cada grupo de 63 brasileiros. Por baixo isso significa
que, apenas nas mãos de pessoas ligadas diretamente com a segurança, sem contar
os guardas de presídio, os promotores públicos, juízes e militares, existem 3 milhões
de armas de fogo, cujo controle está longe de ser efetivo.
Em matéria de 21/05/2006, a Folha de São Paulo revela que as classes médias estão
gastando 113 dias de trabalho apenas para pagar despesas com saúde, educação,
previdência privada, segurança e pedágio, segundo estudo do IBPT (Instituto Brasileiro
de Planejamento Tributário). Esses gastos representavam nos anos 1970 algo em torno
de 7% da renda familiar. Em 2006, comprometem 31% do total do orçamento. Na
média da população brasileira, o gasto com segurança compromete 10 dias de
trabalho por ano, ou 2,69% da renda bruta. Na classe pobre são 7 dias, ou 1,95% da
renda; na média, 16 dias, ou 4,31%; e na alta, 27 dias, ou 7,28%. Os gastos com
segurança pública e privada superaram os com educação e saúde. Em 2005, o Brasil
gastou com segurança pública R$ 60 bilhões. No mesmo ano, foram gastos com
segurança privada R$ 70 bilhões. A soma de R$ 130 bilhões supera o gasto do Estado
com educação e saúde.
Voltando para o problema da vigilância eletrônica, observa-se uma aceleração dos
gastos com câmeras e outros dispositivos em SP em decorrência dos ataques do PCC
de 2006. A demanda por estes dispositivos cresceu entre 15% e 20%. Esse dado é
informado pela Belfort Segurança. Segundo a Folha de São Paulo de agosto de 2006,
as empresas de segurança privada faturaram R$ 11,8 bilhões -R$ 1,3 bilhão a mais do
que em 2004 e R$ 3,5 bilhões a mais do que em 2003, conforme dados da Fenavist
(Federação das Empresas Brasileiras de Segurança Privada).<!–[if
!supportLineBreakNewLine]–> <!–[endif]–>
Há a intenção de implantar 12 mil câmeras na cidade de São Paulo, conforme matéria
da Folha de São de 25/01/2008, sendo que parte não especificada dos custos de
implantação do sistema viria da iniciativa privada! O projeto inclui o monitoramento
de 309 escolas públicas, vias de grande tráfego, locais de concentração pública, como
o parque do Ibirapuera, e eventos importantes que ocorrem na cidade, como a parada
Gay. O monitoramento envolve câmeras, alarmes, sensores de presença, botões de
pânico e vigilantes dês armados, representando algo em torno de R$ 37 milhões por
ano em gastos diretos. O projeto é uma ampliação de um programa implantado em
junho de 2006 na região da Sé, da República e da avenida Paulista. O monitoramento
será feito por centrais a serem implantadas em vários pontos da cidade, em conjunto
com a Guarda Metropolitana Municipal e a Policia Militar. No ano de 2007, a Prefeitura
de São Paulo havia anunciado a implantação de 1300 câmeras de vigilância nas escolas
municipais que apresentavam índices altos de violência, inclusive com a contratação
de 300 seguranças privadas. Não se sabe o resultado desse projeto e também não
obtivemos informações sobre o programa do governo de Estado de São Paulo, que
desde 2002, pretendia implantar 2000 câmeras nas escolas estaduais. Os projetos de
disseminação de vigilância eletrônica estão se disseminando sem que uma avaliação
adequada de seu impacto e custo tenha sido feita. Durante o ano de 2007, várias
notícias da imprensa relatavam as queixas de moradores da baixada santista, cujas
cidades formam as primeiras a adotarem câmeras de vigilância como política de
acolhimento dos turistas.
Em 15/11/2006, a Folha publica matéria afirmando que a Rua Augusta, uma das ruas
mais famosas de São Paulo, em sua área de prostituição, será monitorada 24 horas por
duas câmeras instaladas em cada quarteirão. As ruas adjacentes, de comércio e
residência elegante, também estão adotando a iniciativa. A iniciativa é da Samorcc
(Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro de Cerqueira César), que prevê o
funcionamento do serviço tão logo sejam entregues as obras de recuperação das
calçadas, que foi feita também com o apoio da iniciativa privada. O Jockey Club,
famoso local de frequentação elegante da cidade, também instalou em 2006, 30
câmeras para monitorar seu entorno, também ponto de prostituição. Na Vila Olímpia,
o Movimento Colméia, implantou 500 câmeras de vigilância em espaços internos e
externos dos edifícios.
Em matéria de 13/01/2008, a mesma Folha de São Paulo, informou que os pais estão
adotando a tecnologia de GPS para monitorar seus filhos em berçários, nas escolas
infantis, em casa e no carro. Enquanto isso, as empresas do setor comemoram um
aumento de 250% de instalações de câmeras no interior de casas entre 2006 e 2007.
Em matéria de 23/12/2007, percebe-se que não apenas os preços das engenhocas de
segurança estão caindo vertiginosamente, tornando o monitoramento eletrônico um
item básico na cesta de comprar das classes médias, como também tem aumentado o
repertório de produtos disponíveis para a vigilância e controle de acesso. As empresas
estão oferecendo monitoramento por celular ou pela webcam do computador. Um
projeto sofisticado de segurança pode custar em torno de R$ 100 mil. Mas, pode-se
comprar um pouco de tranqüilidade por apenas R$ 1.000,00, implantando um sistema
de alarme ou cerca elétrica. Dependendo dos recursos do cliente, pode-se pagar uma
tarifa mensal para contar com serviço de vigilantes ou de chamada direta à central em
caso de violação das residências.
Em 2007, o governo federal gastou R$ 161 milhões com a implantação de 1.200
câmeras de vigilância e com a central de monitoramento para garantir a segurança do
Panamericano na cidade do Rio de Janeiro. As câmeras foram distribuídas na vila do
Pan e nas demais instalações esportivas em que ocorreram as competições. A central
de monitoramento possuía um complexo sistema de telas que mostrava as imagens
dos locais e localizava via GPS as imagens de suspeitos. O aparato de segurança incluía
ainda 18 mil agentes, 1.800 veículos e 14 helicópteros, representando o maior
esquema de segurança já montado pela polícia no Brasil. O orçamento total da
segurança do evento girou em torno de R$ 562 milhões.
As universidades federais também estão aumentando drasticamente seus gastos com
segurança. Em 08/08/2004, matéria da Folha indica que câmeras de vigilância nos
estacionamentos, sensores nas bibliotecas e unidades administrativas, guardas
motorizados e PMs armados a cavalo têm-se tornado rotina nas universidades do país.
O que representa a segunda maior despesa dessas instituições. Por exemplo, em 2004,
as 55 instituições de ensino superior, incluindo as 44 universidades federais, iriam
gastar R$ 81 milhões, ou seja, 13% de seu orçamento de custeio (sem incluir a folha
de pagamento), segundo dados da Andifes (associação dos reitores das federais).
Em 01/11/2008, matéria da Folha de São Paulo mostra que traficantes ligados à facção
criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) monitoravam a ação da polícia numa
área de 500 m2 em uma favela na zona leste de São Paulo. Usando dez televisores
dentro de um barraco, os criminosos podiam conectar microcâmeras instaladas nos
postes de energia elétrica.
Choque/Folha Imagem
Documentário: Cada passo que você dá
(2007) Direção e roteiro Nino Leitner.
Austria/Espanha
Com um total estimado de 4 milhões de câmeras de vigilância, a Inglaterra é de longe
a nação mais controlada do mundo. Como isso pôde acontecer no país de George
Orwell, o autor do clássico romance “1984”? Quais foram os motivos que iniciaram
esse processo? Por que outros países não copiaram o mesmo sistema? Isso tem um
real efeito na redução da criminalidade? Na tentativa de responder a perguntas como
essas, Cada Passo que Você Dá vai fundo num fenômeno absolutamente britânico:
uma vigilância em vídeo de proporções nacionais. Com uma pesquisa investigativa,
esse documentário revela segredos que farão todo cidadão responsável ficar
preocupado.

www2.uol.com.br
Matéria do Folha Informática de 22/01/2003
Tecnologias atuais já permitem vigilância
JOHN MARKOFF e JOHN SCHWARTZ DO “THE NEW YORK TIMES”
Dentro do quadro da pesquisa que o Pentágono (comando militar dos EUA) está
fazendo para deter o terrorismo por meio do monitoramento eletrônico da população
civil, o detalhe mais notável talvez seja o fato de que a maior parte das peças que
compõem o sistema já está instalada.
Devido à presença cada vez maior da internet e de outras tecnologias digitais no
cotidiano das pessoas nos últimos dez anos, está cada vez mais possível reunir poderes
de vigilância dignos de um “grande irmão” empregando meios próprios de um
“pequeno irmão”.
Os componentes básicos incluem tecnologias digitais como o e-mail, as compras e
reservas de passagens on-line, os sistemas de caixa eletrônico, as redes de telefonia
celular, os sistemas de pagamento eletrônico de pedágio e os terminais de pagamento
de cartões de crédito.
O trabalho principal que o Pentágono ainda teria consistiria em criar softwares capazes
de interligar essas fontes de dados numa imensa malha eletrônica.
Os tecnólogos dizem que os tipos de filtragem computadorizada de dados e
comparação eletrônica de padrões que poderiam alertar os órgãos do governo para
atividades suspeitas e coordenar sua vigilância não diferem em muito de programas
que já são usados por empresas privadas.
Tais programas identificam atividade incomum de cartões de crédito, por exemplo, ou
permitem que várias pessoas possam colaborar num projeto, mesmo estando em
lugares diferentes.
Em outras palavras, a população civil já aderiu de bom grado aos pré-requisitos
técnicos para o sistema nacional de vigilância a que os planejadores do Pentágono
deram o nome de Total Information Awareness, ou Tia (Consciência de Informação
Total). A novidade possui uma certa ressonância histórica porque foi a agência de
pesquisas do Pentágono que, nos anos 1960, financiou a tecnologia que levou
diretamente ao surgimento da internet moderna. Hoje, a mesma agência -a Agência
de Projetos Avançados de Pesquisa em Defesa, ou Darpa, devido a suas iniciais em
inglês- está usando tecnologia comercial que evoluiu a partir da rede introduzida por
ela própria.
Conhecida como Arpanet, a primeira geração da internet era feita de correio eletrônico
e softwares de transferência de arquivos, ligando pessoas a pessoas. A segunda
geração ligou pessoas a bancos de dados e a outras informações, por meio da World
Wide Web (ambiente gráfico com links entre sites). Agora, uma nova geração de
software liga computadores diretamente a outros computadores.
E é essa a chave do projeto Tia, que é supervisionado por John M. Poindexter, que foi
assessor de segurança nacional dos EUA durante o governo de Ronald Reagan. Em
1990, Poindexter foi considerado culpado de crime por sua participação no caso Irã-
Contras, mas a condenação foi revogada por um tribunal federal de apelações -
Poindexter tinha recebido imunidade em troca de seu depoimento ao Congresso.
Embora o sistema proposto por Poindexter tenha sido largamente criticado pelo
Congresso norte-americano e por grupos de defesa das liberdades civis, um protótipo
dele já foi implantado e vem sendo testado por organizações de inteligência militar.
O Tia pode, pela primeira vez, fazer a conexão entre fontes eletrônicas diferentes,
como as imagens de vídeo registradas por câmeras de vigilância instaladas em
aeroportos, transações realizadas com cartões de crédito, reservas de passagens
aéreas e registros de telefonemas.
Os dados seriam filtrados por um software que ficaria constantemente à procura de
padrões de comportamento suspeito.
A idéia é que as polícias ou os órgãos de inteligência sejam alertados imediatamente
para padrões -observados em conjuntos de dados que, de outro modo, seriam
comuns- capazes de indicar ameaças.
Os alertas imediatos permitiriam a revisão rápida dos dados por analistas humanos.
Por exemplo: o fato de muitos estrangeiros estarem tendo aulas de pilotagem de
aviões em diferentes partes do país poderia não chamar a atenção de ninguém. O fato
de todas essas pessoas reservarem passagens de avião para o mesmo dia tampouco.
Mas um sistema capaz de detectar as duas coisas seria capaz de dar um sinal de
alarme.
Tradução de Clara Allain
Veja matéria sobre chips que vão substituir radares para fiscalização de veículos
Acesse o blog do Núcleo de pesquisa em tecnologias da comunicação, cultura e
subjetividade, sobre vigilância inteligente.
Veja vídeo Big Brother State no You Tube
Veja matéria da Folha de São Paulo sobre Pedofilia na Internet
Veja abaixo textos do Correio da Unesco que refletem a onda da vigilância virtual,
texto do Depen que discute o controle eletrônico de presos em liberdade vigiada e
análise sobre a politica de vigilância eletrônica dos EUA no contexto pós-11 de
setembro.
Anexo Tamanho

Le courrier Unesco 2001 3.06 MB

Monitoramento Eletrônico de Presos 315.31 KB

Electronic Privacy Information Center 28.66 KB

Aclu report. Bigger monster weaker chains,


539.48 KB
2003

Map of Surveillance Societies around the


134.81 KB
world, 2007
31 KB

A era da
vigilância

Marcelo Flávio
Eduardo
Barabani Florido
Knapp Folha
Folha Folha
Imagem
Imagem Imagem
Tela do
Crianças
computador Câmeras no
brincando
mostra estádio do
num
imagem do Pacaembu
berçário
berçário
Embora não haja dados disponíveis,
estamos observando nos últimos anos uma
forte disseminação das tecnologias de
vigilância eletrônica no mundo inteiro. O
Grampos telefônicos.doc
Brasil, e particularmente, o Estado de São
Paulo, não foge à regra de um sistema de
vigilância que confunde as esferas da
segurança pública com a privada. Cada vez
mais, na verdade, os gastos privados (de
empresas e de particulares) vem se
ampliando, fazendo face ao também
crescente gasto público com segurança.
As câmeras de vigilância já eram realidade
em várias cidades do mundo, mas foi após
os ataques de 11 de setembro que a
vigilância eletrônica tornou-se uma
verdadeira febre mundial, em parte pelas
possibilidades quase ilimitadas das
tecnologias digitais. O jornal Folha de São
Paulo, de 11/09/2002, mostrou essa
disseminação nos EUA, com câmeras de
vídeo sendo instaladas em Washington e
Nova York para “deter terror’. Nesse
mesmo momento, ocorria um aperto na
filtragem dos turistas que passam pelos
aeroportos, os funcionários do Banco
Interamericano de Desenvolvimento são
controlados por leitura eletrônica de
digitais. Todos os funcionários de empresas
públicas ou que prestam serviços públicos
estão sendo obrigados a renovar seus
cadastros pessoais e, ao mesmo tempo,
estão sendo instruídos a denunciar
qualquer situação que saia do normal. Nos
primeiros meses após o 11 de setembro,
mais de 400 câmeras de TV foram
instaladas nas ruas de Washington. Em
Nova York, foram instaladas 6.000 câmeras
de segurança. O ápice da sociedade vigiada
norte-americana é o projeto de construção
de muro virtual contra imigrantes, formado
por sensores, câmeras e outros
equipamentos eletrônicos, com o objetivo
de aumentar a vigilância nos seus 12 mil km
de fronteira comum com o México e o
Canadá. O governo americano não divulga
cifras, mas as estimativas giram em torno
de US$ 2,1 bilhões os custos do projeto.

Foram instaladas 104 câmeras de vigilância


em Salvador durante o carnaval de 2008.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr.
www.agenciabrasil.gov.br

Em matéria de 10/07/2007, a Folha de São


Paulo afirma que a cidade de Londres é
uma das mais vigiadas do mundo, pois
conta com cerca de 4,2 milhão de câmeras
nas ruas. Em todo o Reino Unido há uma
câmera para cada 14 habitantes. Em
matéria anterior, de novembro de 2006, a
Folha informava que um estudo do
Escritório do Comissariado de Informação
mostrou que cada britânico está sendo
filmado, em média, por 300 câmeras
diariamente, em áreas públicas ou privadas.
Não apenas o governo está vigiando seus
cidadãos como também as empresas
privadas, que estão tendendo a criar
bancos de dados e de imagens para futuras
comparações e investigações. Um dos
responsáveis pelo estudo, Richard Thomas,
afirma que “Não são apenas câmeras nas
ruas, é a tecnologia vigiando nossos
movimentos e atividades. Cada vez que
usamos um celular ou nossos cartões de
crédito, quando fazemos buscas ou
compras na internet, mais e mais
informações vão sendo coletadas”.
<!–[endif]–>
No Brasil, as estatísticas nesse setor são
pouco confiáveis. Por exemplo, o IBGE
calcula, para o ano de 2005, a existência de
400 mil pessoas empregadas em empresas
legalizadas de segurança privada: escolta
armada, segurança patrimonial, transporte
de valores, segurança pessoal e cursos de
formação. Calcula-se que a cada
trabalhador de segurança empregado em
empresas legais há em torno de 3 em
empresas não registradas. Calculando por
cima, isso pode representar algo em torno
de 2 milhões de pessoas empregadas no
setor.
Se calcularmos o número de policiais que
atuam no Brasil, segundo dados do
Ministério da Justiça, que gira em torno de
483 mil profissionais e de guardas
municipais que é em torno de 38 mil
profissionais, teríamos, num dado
evidentemente subestimado, mais de 3
milhões de pessoas empregadas em
serviços de segurança, ou seja, uma pessoa
armada para cada grupo de 63 brasileiros.
Por baixo isso significa que, apenas nas
mãos de pessoas ligadas diretamente com a
segurança, sem contar os guardas de
presídio, os promotores públicos, juízes e
militares, existem 3 milhões de armas de
fogo, cujo controle está longe de ser
efetivo.
Em matéria de 21/05/2006, a Folha de São
Paulo revela que as classes médias estão
gastando 113 dias de trabalho apenas para
pagar despesas com saúde, educação,
previdência privada, segurança e pedágio,
segundo estudo do IBPT (Instituto Brasileiro
de Planejamento Tributário). Esses gastos
representavam nos anos 1970 algo em
torno de 7% da renda familiar. Em 2006,
comprometem 31% do total do orçamento.
Na média da população brasileira, o gasto
com segurança compromete 10 dias de
trabalho por ano, ou 2,69% da renda bruta.
Na classe pobre são 7 dias, ou 1,95% da
renda; na média, 16 dias, ou 4,31%; e na
alta, 27 dias, ou 7,28%. Os gastos com
segurança pública e privada superaram os
com educação e saúde. Em 2005, o Brasil
gastou com segurança pública R$ 60
bilhões. No mesmo ano, foram gastos com
segurança privada R$ 70 bilhões. A soma de
R$ 130 bilhões supera o gasto do Estado
com educação e saúde.
Voltando para o problema da vigilância
eletrônica, observa-se uma aceleração dos
gastos com câmeras e outros dispositivos
em SP em decorrência dos ataques do PCC
de 2006. A demanda por estes dispositivos
cresceu entre 15% e 20%. Esse dado é
informado pela Belfort Segurança. Segundo
a Folha de São Paulo de agosto de 2006, as
empresas de segurança privada faturaram
R$ 11,8 bilhões -R$ 1,3 bilhão a mais do
que em 2004 e R$ 3,5 bilhões a mais do que
em 2003, conforme dados da Fenavist
(Federação das Empresas Brasileiras de
Segurança Privada).<!–[if
!supportLineBreakNewLine]–> <!–[endif]–>
Há a intenção de implantar 12 mil câmeras
na cidade de São Paulo, conforme matéria
da Folha de São de 25/01/2008, sendo que
parte não especificada dos custos de
implantação do sistema viria da iniciativa
privada! O projeto inclui o monitoramento
de 309 escolas públicas, vias de grande
tráfego, locais de concentração pública,
como o parque do Ibirapuera, e eventos
importantes que ocorrem na cidade, como
a parada Gay. O monitoramento envolve
câmeras, alarmes, sensores de presença,
botões de pânico e vigilantes dês armados,
representando algo em torno de R$ 37
milhões por ano em gastos diretos. O
projeto é uma ampliação de um programa
implantado em junho de 2006 na região da
Sé, da República e da avenida Paulista. O
monitoramento será feito por centrais a
serem implantadas em vários pontos da
cidade, em conjunto com a Guarda
Metropolitana Municipal e a Policia Militar.
No ano de 2007, a Prefeitura de São Paulo
havia anunciado a implantação de 1300
câmeras de vigilância nas escolas
municipais que apresentavam índices altos
de violência, inclusive com a contratação de
300 seguranças privadas. Não se sabe o
resultado desse projeto e também não
obtivemos informações sobre o programa
do governo de Estado de São Paulo, que
desde 2002, pretendia implantar 2000
câmeras nas escolas estaduais. Os projetos
de disseminação de vigilância eletrônica
estão se disseminando sem que uma
avaliação adequada de seu impacto e custo
tenha sido feita. Durante o ano de 2007,
várias notícias da imprensa relatavam as
queixas de moradores da baixada santista,
cujas cidades formam as primeiras a
adotarem câmeras de vigilância como
política de acolhimento dos turistas.
Em 15/11/2006, a Folha publica matéria
afirmando que a Rua Augusta, uma das ruas
mais famosas de São Paulo, em sua área de
prostituição, será monitorada 24 horas por
duas câmeras instaladas em cada
quarteirão. As ruas adjacentes, de comércio
e residência elegante, também estão
adotando a iniciativa. A iniciativa é da
Samorcc (Sociedade dos Amigos e
Moradores do Bairro de Cerqueira César),
que prevê o funcionamento do serviço tão
logo sejam entregues as obras de
recuperação das calçadas, que foi feita
também com o apoio da iniciativa privada.
O Jockey Club, famoso local de
frequentação elegante da cidade, também
instalou em 2006, 30 câmeras para
monitorar seu entorno, também ponto de
prostituição. Na Vila Olímpia, o Movimento
Colméia, implantou 500 câmeras de
vigilância em espaços internos e externos
dos edifícios.
Em matéria de 13/01/2008, a mesma Folha
de São Paulo, informou que os pais estão
adotando a tecnologia de GPS para
monitorar seus filhos em berçários, nas
escolas infantis, em casa e no carro.
Enquanto isso, as empresas do setor
comemoram um aumento de 250% de
instalações de câmeras no interior de casas
entre 2006 e 2007. Em matéria de
23/12/2007, percebe-se que não apenas os
preços das engenhocas de segurança estão
caindo vertiginosamente, tornando o
monitoramento eletrônico um item básico
na cesta de comprar das classes médias,
como também tem aumentado o repertório
de produtos disponíveis para a vigilância e
controle de acesso. As empresas estão
oferecendo monitoramento por celular ou
pela webcam do computador. Um projeto
sofisticado de segurança pode custar em
torno de R$ 100 mil. Mas, pode-se comprar
um pouco de tranqüilidade por apenas R$
1.000,00, implantando um sistema de
alarme ou cerca elétrica. Dependendo dos
recursos do cliente, pode-se pagar uma
tarifa mensal para contar com serviço de
vigilantes ou de chamada direta à central
em caso de violação das residências.
Em 2007, o governo federal gastou R$ 161
milhões com a implantação de 1.200
câmeras de vigilância e com a central de
monitoramento para garantir a segurança
do Panamericano na cidade do Rio de
Janeiro. As câmeras foram distribuídas na
vila do Pan e nas demais instalações
esportivas em que ocorreram as
competições. A central de monitoramento
possuía um complexo sistema de telas que
mostrava as imagens dos locais e localizava
via GPS as imagens de suspeitos. O aparato
de segurança incluía ainda 18 mil agentes,
1.800 veículos e 14 helicópteros,
representando o maior esquema de
segurança já montado pela polícia no Brasil.
O orçamento total da segurança do evento
girou em torno de R$ 562 milhões.
As universidades federais também estão
aumentando drasticamente seus gastos
com segurança. Em 08/08/2004, matéria da
Folha indica que câmeras de vigilância nos
estacionamentos, sensores nas bibliotecas
e unidades administrativas, guardas
motorizados e PMs armados a cavalo têm-
se tornado rotina nas universidades do
país. O que representa a segunda maior
despesa dessas instituições. Por exemplo,
em 2004, as 55 instituições de ensino
superior, incluindo as 44 universidades
federais, iriam gastar R$ 81 milhões, ou
seja, 13% de seu orçamento de custeio
(sem incluir a folha de pagamento),
segundo dados da Andifes (associação dos
reitores das federais).
Em 01/11/2008, matéria da Folha de São
Paulo mostra que traficantes ligados à
facção criminosa PCC (Primeiro Comando
da Capital) monitoravam a ação da polícia
numa área de 500 m2 em uma favela na
zona leste de São Paulo. Usando dez
televisores dentro de um barraco, os
criminosos podiam conectar microcâmeras
instaladas nos postes de energia elétrica.
Choque/Folha Imagem
Documentário: Cada
passo que você dá
(2007) Direção e
roteiro Nino Leitner.
Austria/Espanha
Com um total estimado de 4 milhões de
câmeras de vigilância, a Inglaterra é de
longe a nação mais controlada do mundo.
Como isso pôde acontecer no país de
George Orwell, o autor do clássico romance
“1984”? Quais foram os motivos que
iniciaram esse processo? Por que outros
países não copiaram o mesmo sistema?
Isso tem um real efeito na redução da
criminalidade? Na tentativa de responder a
perguntas como essas, Cada Passo que
Você Dá vai fundo num fenômeno
absolutamente britânico: uma vigilância em
vídeo de proporções nacionais. Com uma
pesquisa investigativa, esse documentário
revela segredos que farão todo cidadão
responsável ficar preocupado.

www2.uol.com.br
Matéria do Folha Informática de
22/01/2003
Tecnologias atuais já permitem vigilância
JOHN MARKOFF e JOHN SCHWARTZ DO
“THE NEW YORK TIMES”
Dentro do quadro da pesquisa que o
Pentágono (comando militar dos EUA) está
fazendo para deter o terrorismo por meio
do monitoramento eletrônico da população
civil, o detalhe mais notável talvez seja o
fato de que a maior parte das peças que
compõem o sistema já está instalada.
Devido à presença cada vez maior da
internet e de outras tecnologias digitais no
cotidiano das pessoas nos últimos dez anos,
está cada vez mais possível reunir poderes
de vigilância dignos de um “grande irmão”
empregando meios próprios de um
“pequeno irmão”.
Os componentes básicos incluem
tecnologias digitais como o e-mail, as
compras e reservas de passagens on-line,
os sistemas de caixa eletrônico, as redes de
telefonia celular, os sistemas de pagamento
eletrônico de pedágio e os terminais de
pagamento de cartões de crédito.
O trabalho principal que o Pentágono ainda
teria consistiria em criar softwares capazes
de interligar essas fontes de dados numa
imensa malha eletrônica.
Os tecnólogos dizem que os tipos de
filtragem computadorizada de dados e
comparação eletrônica de padrões que
poderiam alertar os órgãos do governo
para atividades suspeitas e coordenar sua
vigilância não diferem em muito de
programas que já são usados por empresas
privadas.
Tais programas identificam atividade
incomum de cartões de crédito, por
exemplo, ou permitem que várias pessoas
possam colaborar num projeto, mesmo
estando em lugares diferentes.
Em outras palavras, a população civil já
aderiu de bom grado aos pré-requisitos
técnicos para o sistema nacional de
vigilância a que os planejadores do
Pentágono deram o nome de Total
Information Awareness, ou Tia (Consciência
de Informação Total). A novidade possui
uma certa ressonância histórica porque foi
a agência de pesquisas do Pentágono que,
nos anos 1960, financiou a tecnologia que
levou diretamente ao surgimento da
internet moderna. Hoje, a mesma agência -
a Agência de Projetos Avançados de
Pesquisa em Defesa, ou Darpa, devido a
suas iniciais em inglês- está usando
tecnologia comercial que evoluiu a partir da
rede introduzida por ela própria.
Conhecida como Arpanet, a primeira
geração da internet era feita de correio
eletrônico e softwares de transferência de
arquivos, ligando pessoas a pessoas. A
segunda geração ligou pessoas a bancos de
dados e a outras informações, por meio da
World Wide Web (ambiente gráfico com
links entre sites). Agora, uma nova geração
de software liga computadores
diretamente a outros computadores.
E é essa a chave do projeto Tia, que é
supervisionado por John M. Poindexter,
que foi assessor de segurança nacional dos
EUA durante o governo de Ronald Reagan.
Em 1990, Poindexter foi considerado
culpado de crime por sua participação no
caso Irã-Contras, mas a condenação foi
revogada por um tribunal federal de
apelações -Poindexter tinha recebido
imunidade em troca de seu depoimento ao
Congresso.
Embora o sistema proposto por Poindexter
tenha sido largamente criticado pelo
Congresso norte-americano e por grupos
de defesa das liberdades civis, um
protótipo dele já foi implantado e vem
sendo testado por organizações de
inteligência militar.
O Tia pode, pela primeira vez, fazer a
conexão entre fontes eletrônicas
diferentes, como as imagens de vídeo
registradas por câmeras de vigilância
instaladas em aeroportos, transações
realizadas com cartões de crédito, reservas
de passagens aéreas e registros de
telefonemas.
Os dados seriam filtrados por um software
que ficaria constantemente à procura de
padrões de comportamento suspeito.
A idéia é que as polícias ou os órgãos de
inteligência sejam alertados imediatamente
para padrões -observados em conjuntos de
dados que, de outro modo, seriam comuns-
capazes de indicar ameaças.
Os alertas imediatos permitiriam a revisão
rápida dos dados por analistas humanos.
Por exemplo: o fato de muitos estrangeiros
estarem tendo aulas de pilotagem de
aviões em diferentes partes do país poderia
não chamar a atenção de ninguém. O fato
de todas essas pessoas reservarem
passagens de avião para o mesmo dia
tampouco. Mas um sistema capaz de
detectar as duas coisas seria capaz de dar
um sinal de alarme.
Tradução de Clara Allain
Veja matéria sobre chips que vão substituir
radares para fiscalização de veículos
Acesse o blog do Núcleo de pesquisa em
tecnologias da comunicação, cultura e
subjetividade, sobre vigilância inteligente.
Veja vídeo Big Brother State no You Tube
Veja matéria da Folha de São Paulo sobre
Pedofilia na Internet
Veja abaixo textos do Correio da Unesco
que refletem a onda da vigilância virtual,
texto do Depen que discute o controle
eletrônico de presos em liberdade vigiada e
análise sobre a politica de vigilância
eletrônica dos EUA no contexto pós-11 de
setembro.
Anexo Tamanho
Le courrier Unesco
3.06 MB
2001
Monitoramento
Eletrônico de 315.31 KB
Presos
Electronic Privacy
28.66 KB
Information Center
Aclu report. Bigger
monster weaker 539.48 KB
chains, 2003
Map of Surveillance
Societies around 134.81 KB
the world, 2007
Grampos
31 KB
telefônicos.doc

Da reforma do setor público à avaliação de desempenho das organizações policiais.

Da reforma do setor público à avaliação de


desempenho das organizações policiais

por Bruno Zavataro


Mestrando em Criminologia pela ULB – Université Libre de Bruxelles/Bélgica;
Especialista em Sociologia Política pela UFPR – Universidade Federal do
Paraná; Bacharel em Direito e em Ciências Sociais pela UFPR – Universidade
Federal do Paraná; Investigador de Polícia Civil e Professor da Escola Superior
de Polícia Civil do Estado do Paraná.
O presente artigo visa a desenvolver um balanço em torno do surgimento de um
sistema de indicadores de avaliação das organizações policiais e de gestão em
segurança pública. Através de pesquisa internacional de indicadores de desempenho
policial e de modelos adotados em diversos países e que já apresentam resultados
satisfatórios, ao menos em termos de gestão pública, este artigo tem por objetivo
essencial a discussão em torno de alguns limites e desafios da formulação de
indicadores nacionais de avaliação das ações das organizações policiais, com o fim
precípuo de orientar a construção de um modelo racional diante das dificuldades
enfrentadas pelo Brasil contemporâneo.
Anexo Tamanho
Artigo Reforma do Setor Público e Indicadores de Avaliação Policial.pdf 201.91 KB
Polícia e Gênero
Polícia e Gênero: Mulheres na Policia Ostensiva
Márcia Esteves de Calazans*

Venho debruçando meu olhar sobre Policia e Gênero, como pesquisadora, este tema
é o foco de meus estudos, desde 2000, para mestrado e doutorado na UFRGS. Assim,
me atenho de forma mais minuciosa, a analisar o impacto da presença das mulheres
nas policias militares, e como a lógica, a dinâmica, das instituições policiais absorveram
a presença da mulher nas Policias Ostensivas.
O fato é que a inserção de mulheres nas Polícias traz a marca da busca de uma polícia
de aproximação, de ampliação e especialização, levando a inferência de uma suposta
passagem, da evolução de um modelo de Polícia, o que, no campo empírico de
pesquisa, não parece ter correspondido, até agora, a um processo de modificação ou
de reforma da instituição policial.
Em contrapartida, podemos dizer que os conceitos de segurança pública e de
atividade policial sugerem que as mulheres parecem estar se beneficiando da lógica
institucional, uma vez que ingressam na organização através de habilidades
construídas no seu processo de socialização na família, na escola e nos mais diversos
grupos e instituições. Passam a atender ao “novo perfil” do policial, articulado na busca
de uma polícia de aproximação. Contudo, a ausência de políticas afirmativas, de
inclusão de mulheres nas polícias militares vem determinando o espaço que elas têm
reconhecido na instituição policial militar. A inserção feminina nas Polícias Militares
sugere estar ligada à busca de credibilidade com a população, a uma imagem pós-
ditadura.
A presença de mulheres nas polícias ostensivas é o encontro do desejo de tornarem-
se donas de seus destinos, buscando estabilidade no mundo do trabalho, o qual se
encontrava em franca precarização, associado a um momento de crise e buscas de
transformações no ofício de polícia, pois as “novas” concepções de segurança pública
mostravam-se orientadas para os cuidados, prevenções, de mudança de imagem junto
à população, e mais burocratizada, encontrando nas mulheres condições necessárias
a essa implementação. Essa combinação compôs um modo de inserção, mas que não
se definiu enquanto política de segurança pública.
Contudo, há uma associação entre a profissionalização do trabalho policial e o
ingresso de mulheres no aparelho policial militar, uma polícia menos voltada para o
uso da força, direcionada para a capacidade estratégica, exigências advindas das
transformações pelas quais vem passando o modelo de polícia e o próprio mundo do
trabalho.
É importante reconhecermos que as mulheres, mesmo como minorias simbólicas, em
uma instituição pautada pelo paradigma da masculinidade, introduziram a lógica da
diferença, uma vez que produziram desacomodação, desestabilização e
desorganização interna nessas instituições, colocando possibilidades de pensar o
medo, o risco do oficio de polícia e um questionamento a respeito da ordem
estabelecida.
Desse ponto, parece este ser o maior impacto da inserção feminina na instituição, a
introdução da lógica da diferença, no que confere um possível aproveitamento para
se pensar em uma nova Polícia, no sentido da incorporação da ética da diferença nos
currículos e na formação da cultura policial. Ao mesmo tempo, na carreira de oficiais,
os conflitos das promoções de homens e mulheres e suas alocações mostram uma
barreira informal à efetiva inclusão.
Aqui no RS a ausência de percentuais de vagas por gênero para o ingresso na
instituição, é sustentada como uma não-descriminação à inserção feminina, uma vez
que, no círculo de Oficiais, no último concurso, o ingresso foi caracterizado por um
significativo número de mulheres, sobrepondo-se aos índices de cotas dos projetos
de ações afirmativas.
Em contrapartida, as políticas de integração não sustentam tal argumento, que passa
a ser refutado no campo empírico, e mostram-se como políticas restritivas deste ponto
de vista, pois, não raro, as promoções de mulheres oficiais se dão por decisões
judiciais. Já no círculo de Praças, o conflito vivenciado pelas mulheres aparece pautado
pela subordinação ao círculo de Oficiais e caracterizado pela valoração do trabalho
prescrito, assim como pelas garantias dos regimentos disciplinares, e um conflito mais
explícito à militarização do ofício de polícia, sobretudo nas relações internas.
Sabemos que esses círculos, notadamente o de Praças, têm no cumprimento de tais
prescrições, garantias, através de uma série de regulações disciplinares, que objetivam
punir atitudes de não-cumprimento das atribuições previstas ou de execuções de
serviços fora da competência policial, e essa lógica também pesa sobre as mulheres.
Portanto podemos afirmar que, no Rio Grande do Sul, apesar de não haver barreiras
formais ao ingresso de mulheres na Polícia Militar, existem políticas restritivas de
integração e ascensão à carreira.Não há como reconhecer a passagem de um modelo
de polícia, no ingresso feminino nas polícias ostensivas, tampouco observamos a
abolição de paradigmas institucionais dessas corporações, o que vemos é que a
perspectiva da diferença é tratada como uma divisão que não apenas diferencia, mas
subordina e desiguala a mulher em relação ao homem.
Ao mesmo tempo, existe, também, a possibilidade da não diferenciação que passa a
ter sentido de igual, no qual o referencial é masculino, o que remete à possibilidade
da conversão a uma masculinidade subordinada – ainda que as mulheres incorporem
o ethos guerreiro – da masculinidade, violência e virilidade – tais aspectos, quando
incorporados por elas, passam a ser reconhecidos como a possibilidade da
“masculinidade subordinada”.
Assim, parte-se da identificação e não da diferença, não há interlocução à lei da
diferença, enquanto respeito ao desejo do próximo, em uma distância simbólica que
permita tratar o outro como próximo e não como semelhante feito à imagem do eu –
que parta da diferença e não da identificação.
Portanto, a inserção feminina parece não ter sido ainda plenamente explorada pela
própria corporação, tampouco pelas entidades responsáveis pela gestão da segurança
pública, apesar dessa presença trazer novas possibilidades para pensar a ação de
polícia. Na perspectiva da cidadania, dá visibilidade às questões de gênero e traz a
perspectiva de introduzir a ética da diferença nos currículos de formação e na ação
policial , e pensar possíveis ações – não fundadas em algum altruísmo narcísico ou em
uma identificação imaginária do sofrimento alheio – viabilizada pela verificação de
uma distância do eu e a si mesmo e do eu ao outro – o princípio da alteridade.
*Psicóloga-Pesquisadora: GP Violência e Cidadania – UFRGS. Mestre em Psicologia
Social e Institucional – UFRGS. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em
Sociologia – UFRGS.

Leia mais sobre o assunto:


A constituição de Mulheres em Policiais.pdf
Polícia-Gênero-Reforma.pdf
Mulheres no Policiamento Ostensivo.pdf
O controle público da segurança privada

O controle público da segurança privada

Cleber da Silva Lopes é mestre em ciência política pela Unicamp. Atualmente faz
doutorado na USP, onde estuda o controle da segurança privada. clopes@usp.br
A tramitação no Congresso Nacional de um projeto de lei que estabelece novas regras
para a segurança privada e o assassinato de um cliente das lojas Casas Bahias por um
vigilantede uma empresa de segurança, ocorrido na cidade de São Paulo em
novembro de 2008, trouxeram recentemente para o noticiário o problema do controle
público da segurança privada.
O problema interessa não apenas ao setor de segurança privada, tomadores de serviço
e órgãos de controle, mas também à sociedade. Mais da metade dos vigilantes
regularizados e em atuaçãono Brasil promove a segurança de espaços freqüentados
pelos cidadãos comuns (shoppings centers, instituições financeiras, repartições
públicas, etc), o que faz da segurança privada umacorresponsável pela gestão da
segurança pública.
Atenta a esse fato, a sociedade brasileira, principalmente através dos meios de
comunicação, tem cobrado controle da segurança privada demodo que episódios
como o ocorrido nas Casas Bahias não se repitam.
Normalmente, essa cobrança recai sobre o Estado, mais especificamente sobre a
Polícia Federal, como se o controleda segurança privada fosse única e exclusivamente
o resultado da ação dos órgãos públicos de controle.
Subjacente a esse ponto de vista está uma concepção equivocada do que é o controle
dasegurança privada e de como ele é obtido.Em termos genéricos, o controle pode
ser definido como a probabilidade de que um ator A obtenha as condutas desejadas
de um ator B através do uso de incentivos, restrições epenalidades.
Esses atores podem ser organizações ou indivíduos. É possível então falar em duas
dimensões do controle: a dimensão organizacional, quando o controle recai sobre
osprocedimentos de uma organização de modo a afetar a sua ação coletiva; e a
dimensão individual, quanto o controle é direcionado para os membros de uma
organização com o objetivode afetar o seu comportamento individual. Normalmente,
essas duas dimensões do controle são interdependentes e complementares.
O controle de uma organização não existe se ocomportamento de seus membros não
é afetado, afinal, organizações são constituídas por indivíduos que cooperam para a
consecução de determinados objetivos.
Paralelamente, ocontrole também pode ser dividido em interno e externo, conforme
os mecanismos que o promovam estejam localizados dentro ou fora da organização.
Geralmente, os mecanismos decontrole externo visam controlar as organizações, ao
passo que os mecanismos de controle interno estão voltados para o controle da
conduta de seus membros.
A segurança privada está sujeita a várias formas e mecanismos de controle.
Internamente, empresas de segurança privada podem estipular critérios de
recrutamento e treinamento, definircódigos de conduta e utilizar supervisão, punições
e premiações para direcionar o comportamento de seus funcionários de acordo com
os seus interesses.
A segurança privadatambém pode ser controlada externamente pelos tomadores de
serviços (quando a segurança é terceirizada); pelas suas associações de classe; pela
sociedade através da supervisão da imprensaou de denúncias de indivíduos
descontentes com serviços prestados; e pelo Estado por meio de processos civis,
criminais e trabalhistas na Justiça, bem como por meio da regulação efiscalização da
Polícia Federal.
Assim, não é verdade que empresas e profissionais de segurança privada estão
submetidos a pouco controle. Grande parte do setor de segurança privada estásujeito
a mais formas de controle do que o setor de segurança pública, que não dispõe do
controle dos clientes e dos sindicatos tal como dispõe a segurança privada.
Uma organizaçãocuja segurança é garantida privadamente pode facilmente destituir
sua equipe de vigilantes ou contratar outra empresa se os serviços prestados não
corresponderem às suas expectativas. Umpaís, os Estados e as municipalidades não
podem fazer o mesmo com suas forças policiais.
Além disso, sindicatos e associações profissionais podem exercer algum tipo de
controle sobre o setorde segurança privada através da certificação de empresas e
profissionais que prestam serviços de acordo com padrões de qualidade estipulados,
mecanismo de controle que não se aplica às forçaspoliciais.
Contudo, afirmar que a segurança privada está sujeita a mais formas de controle do
que a segurança pública nada diz a respeito da natureza do controle.
O controle é um meio para aobtenção de fins que podem ser os mais diversos.
Empresas de segurança privada, tomadores de serviços e associações de classe podem
buscar controle para atingir objetivos que nãonecessariamente coincidem com o
interesse público.
Para que o interesse público seja resguardado, o controle deve garantir (i) que
empresas de segurança privada não se envolverão em atividades ilícitas, contrárias,
nocivas ou perigosas à segurança e a ordem pública; e (ii) que os profissionais de
segurança privada se comportarão de acordo com as regras e expectativaspúblicas
associadas ao exercício de suas funções.
A primeira forma de controle público é organizacional e diz respeito basicamente ao
controle que o Estado exerce sobre as empresas desegurança privada por meio da
Polícia Federal, que executa suas funções através das prerrogativas de normatizar,
autorizar/cancelar e fiscalizar atividades de segurança privada emtodo o território
nacional.
Já o controle público da conduta dos vigilantes é uma questão complexa que não
depende apenas do Estado, mas também das empresas do setor de segurançaprivada.
Ao Estado cabe definir os parâmetros segundo os quais os profissionais de segurança
privada devem atuar, bem como exigir e incentivar que as empresas controlem os
seusfuncionários para que eles atuem de acordo com esses parâmetros.
Ao setor de segurança privada cabe obedecer às exigências e responder aos incentivos
provenientes do Estado, o que na práticarequer que as empresas mantenham
mecanismos e procedimentos efetivamente capazes de moldar o comportamento dos
seus funcionários na direção dos parâmetros definidos legalmente.
O controle público da segurança privada ocorre quando o Estado controla
adequadamente as empresas e as empresas controlam adequadamente os seus
funcionários tendo em vista ointeresse público.
Um exemplo ajuda a entender a complexa dinâmica que envolve o controle público
da segurança privada ao nível individual. As regras públicas que disciplinam a
segurança privada(Portaria n° 387/06-DG-DPF) estabelecem princípios e valores
fundamentais para a prestação de serviços de segurança privada em conformidade
não apenas aos interesses daqueles quedemandam esse tipo de serviço, mas também
aos interesses da sociedade como um todo.
Dentre esses princípios estão os da dignidade da pessoa humana, o de relações
públicas, satisfação dousuário final, prevenção e ostensividade, proatividade,
aprimoramento técnico-profissional e observância das disposições que regulam as
relações de trabalho.
As normas públicas tambémdefinem as qualidades e os atributos exigidos dos
vigilantes para que esses princípios possam se concretizar. Mas a existência de uma
norma pública que consagre esses princípios e atributosnão é suficiente para se obter
condutas adequadas dos profissionais de segurança privada.
É necessário que esses princípios e atributos sejam incorporados à ação dos vigilantes.
Para queisso ocorra, o setor de segurança privada deve ser capaz de traduzir os
princípios e atributos que envolvem o trabalho de segurança privada em técnicas,
manuais de treinamento, códigos deconduta, práticas de supervisão, reforços ou
punições a determinadas formas de comportamento e outros mecanismos que
possam assegurar que os vigilantes se comportarão de acordo com osditames da
Portaria n° 387/06-DG-DPF.
A realização do controle público da segurança privada depende, portanto, não apenas
da ação do Estado. Depende também de as empresas do setor de segurança privada
secomprometerem com o propósito de controlar os seus funcionários de acordo com
as expectativas e regras públicas, lançando mão de mecanismos de controle efetivos
para aconsecução desse objetivo.
Somente na medida em que isso ocorre é que podemos falar em controle público da
segurança privada.

Políticas Locais de Segurança


Nessa página, apresentamos as principais politicas públicas voltadas para a dimensão
local (municípios, regiões, comarcas, distritos, bairros) no sentido de indicar a
importância para a proximidade entre as estruturas, instituições e ações da segurança
com a comunidade, principal beneficiária de uma segurança efetiva.

As políticas de segurança pública são parte integrante do contexto político, social,


econômico, cultural em que são formuladas, apresentadas e implantadas por meio da
elaboração de planos nacionais, estaduais e municipais.Na implementação de políticas
públicas são realizados projetos e ações através da articulação entre a sociedade civil,
polícias, instituições públicas e privadas na esfera da segurança pública.
De acordo com o aumento da proporção da visibilidade do papel dos municípios e da
dimensão local na segurança pública, partimos para as especificidades da atuação do
crime e suas políticas em cidades do interior do Estado de São Paulo, na qual podemos
encontrar vários estudos que tratam das dinâmicas próprias que envolvem a
segurança pública.
As cidades do interior do ESP, como é o caso de Marília, podem aparentar ao habitante
local e de outras cidades um ambiente agradável, com boa qualidade de vida, e boas
referências em saúde e educação. Não obstante, várias dificuldades emergem quando
o assunto é o crime, a criminalidade e a prestação de serviços de segurança. Essas
cidades, ademais, estão se tornando áreas de interesse para a disseminação da
segurança privada e de condomínios fechados, mostrando, assim, que a segurança é
um dos problemas crucias que afligem as comunidades locais.
A pesquisa sobre as ações relativas às políticas de segurança pública, especificamente
na região de Marília, está sendo realizada através de informações divulgadas pela
internet, jornais locais, livros, revistas e participação em alguns eventos que tratam do
assunto. Através desse levantamento apresentamos um balanço sobre a atuação das
Políticas de Segurança Pública no interior do ESP, dando destaque para Marília e
região.
Veja aqui palestra dada no Conseg de Assis e solicite também para seu município

Anexo Tamanho
Ranking da criminalidade nos maiores municípios paulistas 1.17 MB
Papel dos municípios na Segurança Pública 1.54 MB
Plano de Segurança da cidade de Diadema, SP 117.91 KB
Situação das Propostas de Emenda à Constituição sobre Guardas
244.79 KB
Municipais
Municipalização da segurança pública 44.21 KB
Relatório Segurança Pública e os Municípios 116.55 KB
Relatorio de Seguranca Publica em Diadema.pdf 92.38 KB
Folha de S. Paulo DNA paulistano extremo sul distritos 165.37 KB
Relatorio de Atividades da Coordenadoria dos Consegs 2007 5.57 MB

Instituições e Entidades que Atuam em Marília e Região

O que funciona em Marília e Região

Foto do site www.citybrazil.com.br

CASA DO PEQUENO CIDADÃO


Esse projeto municipal começa a realizar seu atendimento no ano de 1997. Nessas
casas, as crianças e adolescentes são atendidas em horários que não estejam na escola,
desenvolvendo atividades como: reforço escolar, esporte (principalmente futebol),
artesanato com sucata, pintura em tecido, bordado, coral, dança, fanfarra; e atividades
profissionalizantes para os maiores de 14 anos, como marcenaria, mecânica de autos,
instalações elétricas, etc. No início de 2003 começou a funcionar a sétima unidade da
Casa do Pequeno Cidadão, e a Prefeitura contabilizou o total de 1.100 crianças e
adolescentes atendidos.
Mais informações clique aqui

CENTRO INTEGRADO DE APOIO À CRIANÇA (CIAC)


Em 1992 foi criado o CIAC em Tupã. Trata-se de um projeto federal que disponibilizou
serviço a população como ginásio de esporte, oficinas de teatro, artes cênicas e
plásticas e outros.
Consulte mais informações aqui

CONSELHO DE DEFESA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Começou a funcionar em Marília no ano de 1992.
Mais informações consulte aqui

Projeto CORUJINHA
O 9° Batalhão de Polícia Militar do Interior (9° BPM/I) desenvolveu em sua sede a
Escola de Futebol Corujinha, com o intuito da realização da prática do esporte a
crianças e adolescentes, os policiais militares voluntários participam como instrutores.
Esse projeto é divulgado como um programa de prevenção primária, sendo fornecido
para a população de baixa renda. Um dos requisitos para a participação na escolinha
é a freqüência escolar. Criado em 2001, no projeto constam 150 meninos (2005).
Mais informações consultar
JOVENS CONSTRUINDO A CIDADANIA (JCC)
Criado em 1999, nos Estados Unidos, e apresentado pela primeira vez na cidade de
Bauru, com o Brasil sendo o primeiro país da América Latina a adotar esse projeto.
Essa prática é uma iniciativa do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de São
Paulo e atualmente funciona em mais de 220 escolas de todo Brasil. Em Marília, o
programa pioneiro é desenvolvido em uma escola estadual, na região Sul, pela 5ª
Companhia de Polícia de Marília, por policiais voluntários que reúnem alunos e
comunidade nos finais de semana no projeto educativo.
Mais informações consultar
JOVENS EM AÇÃO
O projeto atende adolescentes em Assis que se encontram em conflito com a lei,
desenvolvido pela filantrópica espírita “Nosso Lar”.Em 2004 foram abertas dez vagas
no projeto CIRCUS para os participantes do Jovens em Ação.
RENASCER
Instituído em 1998, o projeto Renascer está sendo desenvolvido no município com
adolescentes ligados à Fundação CASA. Trata-se de um projeto com coordenação de
um assistente social, estagiária de psicologia e administrativo, que acompanha e
desenvolve ações sócio-educativas para os adolescentes. Uma dessas ações é a
parceria com o SENAC de Marília, que disponibiliza palestras para esse público.
Mais informações consultar
PROJETO GURI
O trabalho do Projeto Guri com adolescentes se mostra como atuante na prevenção
da agressividade e da violência, com início em 1996 e parceria com a antiga Febem.
Atualmente, são atendidos cerca de 1.900 adolescentes em 47 unidades da Fundação
Casa. A associação Amigos do Projeto Guri promove a Mostra Regional com o
intercâmbio cultural e a troca de experiências entre os envolvidos, por meio do ensino
da música, principal característica do Projeto Guri. A Associação Amigos do Projeto
Guri é uma Organização Social de Cultura, sem fins lucrativos, que se apresenta com
o objetivo específico da inclusão sociocultural de crianças e adolescentes, entre 8 e 18
anos, por meio do ensino da música.
PROJETO VIOLÊNCIA E ARTE-EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA
O projeto do Núcleo de Ensino da UNESP, campus de Marília, que consistiu numa
experiência com a população infanto-juvenil, a proposta era intercambiar as
experiências entre jovens com realidades diferentes e, assim, instigar a integração
social e cidadania, para que percebam seus direitos e deveres de cidadãos e se
envolvam com a dinâmica da coletividade, com intuito de reduzir as perspectivas de
violência e abandono.
Acesse e baixe o projeto aqui

NÚCLEO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DE MARÍLIA (NUDHUC)


É uma entidade sediada na UNESP local e que congrega representantes de
aproximadamente vinte entidades civis, religiosas e universitárias. Atua na formação e
na ampliação da consciência de cidadania em diverso setores da comunidade,
especificamente na área da infância e adolescência. Realiza inúmeras reuniões com o
objetivo de favorecer o intercâmbio de idéias e gerar propostas articuladas entre
representantes do Judiciário, de vereadores, de pessoas ligadas a Fundação CASA, às
Secretarias de Estado e municipal do Bem-Estar Social e da família, aos Conselhos
Tutelares e de Direitos e a entidades defensoras da infância e adolescência em situação
de risco.
Mais informações

CASA ABRIGO
Desenvolvida em 2002 com a parceria da Prefeitura de Marília. Foi a primeira entidade
da cidade e região a abrigar mulheres vítimas da violência doméstica e seus filhos.
CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA MULHER DE MARÍLIA (CMDM)
Foi criado em 12 de setembro de 1996. Os objetivos apresentados do conselho são:
deliberar, normatizar, fiscalizar e executar políticas públicas; subsidiar a administração
nas questões relativas aos direitos da mulher e a sua constituição é paritária, sendo
representado pelo setor público e privado.
Endereço eletrônico
DELEGACIA DE DEFESA DA MULHER
A Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Marília foi instalada no ano de 1987.
Segundo a Rede Mulher de Marília, criada em 2005, a partir de 1996 com o
desenvolvimento das atividades, a DDM passou a ter uma visão multifocal da violência
doméstica e sentindo a necessidade de intervenção multidisciplinar, iniciando assim,
as primeiras parcerias para combater esse tipo de violência.

ANTI-DROGAS
O site Anti-drogas foi criado por uma produção independente, início em 2000, com a
proposta de conscientização sobre os males causados pelas drogas que afetam o
organismo e prejudicam a saúde. Em 2001, o site realizou uma parceria com a Polícia
Federal de Marília, adotando a cartilha do Brasileirinho, e com o Submarino, inserindo
no site livros relacionados a drogas e vídeos com depoimentos.
Endereço eletrônico
CONSELHO ESTADUAL DE ENTORPECENTES (COMEN)
Vinculado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, foi instituído no Estado de
São Paulo em 1986, frente à necessidade de o Estado ter uma ação conjunta e
articulada com órgãos federais, estaduais e municipais, sob orientação do Conselho
Federal de Entorpecentes (CONFEN). O conselho foi instituído em 1988 na cidade de
Marília. Os municípios da região de Marília que possuem COMEN são Assis e Ourinhos.
Endereço eletrônico
PAUTA ANTIDROGAS
A partir de 1999, a equipe Pauta Antidrogas iniciou um projeto de prevenção ao uso
de drogas. De início o projeto partiu da apresentação de palestras sobre o assunto
para um programa de entrevistas com especialistas na televisão, exibido em Marília
via TV a cabo local, denominado “Pauta Antidrogas – Onde está o seu filho agora?” e
a realização de um website com informativo virtual sobre a prevenção e recuperação
de dependentes químicos.
Endereço eletrônico
PROGRAMA EDUCACIONAL DE RESISTÊNCIA ÀS DROGAS E À VIOLÊNCIA
(PROERD)
O PROERD tem por base, o projeto D. A. R. E. ( Drug Abuse Resistance Education )
criado em 1983 nos Estados Unidos, desde 2002 é desenvolvido em todos os Estados
do Brasil. O programa chegou ao Brasil em 1992, através da PM do Rio de Janeiro, e
no Estado de São Paulo em 1993, através da Academia de Polícia Militar do Barro
Branco de onde o programa expandiu-se para os demais Estados. Os Policiais Militares
orientam as crianças sobre as informações a respeito das drogas e dos tipos de
abordagens que estão sujeitas.
Endereço eletrônico

ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA À CIDADANIA DE MARÍLIA (Apac)


Juntamente com a direção técnica do Centro de Ressocialização (CR) de Marília,
inaugurada em 2001, e Apac, participam do projeto 26 empresas conveniadas com a
associação e nos mais variados ramos, da agricultura à indústria, comércio e serviços.
A maioria dos presidiários recebe salário mínimo e em empresas que se especializaram
na contratação deste tipo de mão-de-obra. As empresas funcionam dentro e ao lado
do CR. O programa “Oficina do Futuro” visa o desenvolvimento cultural e profissional
através de cursos em parceria como SEBRAE, a Secretaria do Bem Estar de Garça, SENAI
(Serviço Nacional da Indústria) e APAC. Em alguns casos, os cursos profissionalizantes
são estendidos também para a família do reeducando.
PROJETO CIDADANIA NO CÁRCERE
Foi desenvolvido e implantado pela Secretaria da Administração Penitenciária, com o
objetivo de administrar unidades prisionais em parceria com organizações não
governamentais. Atualmente o projeto abrange vinte centros de ressocialização e duas
penitenciárias. Em Marília o projeto mantém parceria com a Associação de Proteção e
Assistência à Cidadania de Marília (APAC).
COMITÊ GESTOR DE SEGURANÇA E QUALIDADE DE VIDA
Criado em junho de 2005 o Comitê é uma política pública com o apoio da Prefeitura
Municipal que estuda cientificamente a violência e realiza ações sociais de prevenção
dialogando com a comunidade e chamando-a para a sua responsabilidade no
contexto da prevenção. O Comitê trabalha no desenvolvimento de mecanismos
interdisciplinares e interinstitucionais de prevenção à violência e melhoria da
qualidade de vida (ações conjuntas entre os órgãos públicos, a sociedade civil
organizada e a comunidade).
Endereço eletrônico
CONSELHOS DE SEGURANÇA DE BAIRRO (CONSEB’s)
Foram implantados os CONSEB’ em Marília, que são células menores com os mesmos
objetivos dos CONSEG’s. Na cidade de Marília existem quatro CONSEB’s.
CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE SEGURANÇA (CONSEG’s)
Implantado em 2001, os CONSEGs de Marília são divididos em zonas norte, leste, oeste
e centro. A proposta do CONSEG é reunir a comunidade para discutir e analisar
problemas locais. As reuniões ocorrem em espaços públicos com a localização de
acordo com a área de cada conselho. Os CONSEGs, criados em 1985, representam uma
das mais antigas e duradouras políticas públicas do Estado de São Paulo. São
constitúios por pessoas do mesmo bairro ou município que se reúnem para discutir e
analisar, planejar e acompanhar as possíveis soluções de seus problemas comunitários
de segurança, desenvolver campanhas educativas e estreitar laços de entendimento e
cooperação entre as várias lideranças locais.
Mais informações consultar
GRUPO DE PESQUISA E GESTÃO URBANA DE TRABALHO ORGANIZADO (GUTO)
A organização de encontros dessa política pública se desenvolve no ano de 2001, esse
projeto é sediado na UNESP local, Marília. Com o objetivo de realizar uma geografia
do crime em Marília, realiza estudos e ações de policiamento comunitário, vitimização,
criminalidade, comunidade e outros. O grupo é composto por 20
pesquisadores/agentes que envolve sociólogos, geógrafos, assistentes sociais e
outros; com a parceria de órgãos de segurança local (polícias civil, militar, corpo de
bombeiro), Prefeitura Municipal (EMDURB – Empresa Municipal de Desenvolvimento
Urbano e Habitacional, Secretarias Municipais – Educação, Saúde, Planejamento
Urbano, Meio-ambiente e Bem-estar Social) e Sociedade Civil organizada (associações
de bairros).
Endereço eletrônico

NÚCLEO DE APOIO ÀS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL (NAVAS)


Implantado em 1997 no Núcleo de Gestão Assistencial (NGA). A equipe do núcleo é
composta por assistentes sociais, enfermeiras, ginecologista, infectologista, pediatra,
psicólogas e outros especialistas para atender as vítimas. A coordenadora do projeto,
Valéria da Silva Santos, divulga que o NGA é um local de grande rotatividade de
pessoas, fazendo com que a vítima não fique exposta, atendendo a crianças, mulheres,
homens e adolescentes.

SENTINELA
A Secretaria do Bem-Estar implantou na cidade o projeto Sentinela no ano de 2001,
que visa atender os adolescentes vítimas de violência sexual com idade até 18 anos
incompletos e seus familiares. O atendimento é prestado por assistente social e
psicóloga.
Segurança Pública na cidade de Marília e região

Município de Marília: Caracterização e Segurança


Pública Local.

O município de Marília está localizado no centro-oeste do Estado de São Paulo, com


uma população estimada em 221.593 habitantes. No ano de 2005 a população urbana
apresentava 211.477 e a rural com 6.510 habitantes. De acordo com convenções da
ONU, Marília é uma cidade de porte médio.
Apesar de relativamente nova, a cidade de Marília já sofreu variações demográficas
muito significativas. É uma cidade típica de migrações intra-urbanas e de regiões
(emigração e imigração) que ocorre a transferência de pessoas, mas também de
necessidades, problemas, valores e expectativas. Segundo o IBGE, no período entre
1940 a 1991, o crescimento populacional foi de 133%. Esse crescimento desacelerou e
na década de 1990 a média anual foi de 2,78%.
De acordo com a fundação SEADE, entre 2000 e 2006, a taxa de crescimento caiu para
1,98% ao ano. Os indicadores de crescimento populacional apontam para a tendência
da cidade de Marília em atrair população dos municípios circunvizinhos.
Na década de 1920 a Companhia Paulista de Ferro estendeu seus trilhos até Marília
devido o produção cafeeira na região. A produção de café foi muito presente na
constituição da cidade e economia, diante da crise do café outros cultivos foram sendo
implantados, como o algodão. Com a crise da agricultura, na década de 1970, houve
a instalação de indústrias não vinculadas à produção agrícola e, paralelamente, a
absorção dos principais produtos agropecuários da região.
Em 2000, o Produto Interno Bruto (PIB) de Marília registrou o valor de 1.124,25 em
milhões de reais correntes, em 2004 constou 1.629,47 em milhões de reais correntes.
Nas atividades econômicas a maior participação são dos setores de serviços (comércio)
e indústrias (maior parcela em alimentícia, como biscoitos e balas, e de bebidas), sendo
conhecida regionalmente como referência de “capital nacional do alimento”.
Segundo a fundação SEADE, os dados relativos à saúde do município de Marília
apresentam o seguinte comportamento:
• no período de 2000 a 2005 as taxas de mortalidade infantil (por mil nascidos vivos)
diminuiu de 17,5 para 12,4, inferior a média do Estado (13,44);
• no período de 2000 a 2005 a taxa de mortalidade perinatal (por mil nascidos) reduziu
de 17,6 para 11,64 e a média do Estado foi de 14,49;
• no período de 2000 a 2002 a taxa de mortalidade das pessoas entre 15 e 39 anos
(por cem mil habitantes) variou de 1,5 a 1,6, ficando abaixo da média do Estado (2,0
em 2002);
• no período de 2000 a 2002 a taxa de mortalidade com mais de 60 anos (por mil
habitantes) oscilou de 37,4 para 36,5 e a média estadual corresponde a 38,9 (2002).

Marília e Região

Fonte: City Brazil

Com a estimativa de 293.776 habitantes a região de Marília adotada para a análise das
políticas locais possui 13 municípios de porte pequeno e médio, os maiores em
números populacionais são Marília (221.593), Garça (42.218), Pompéia (19.091), Vera
Cruz (10.020).
Segundo o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP Regional), na região
de Marília os setores predominantes da indústria em 2008 se concentram nos setores
de produtos têxteis, metalurgia, produtos alimentares, confecção de artigos do
vestuário e acessórios, máquinas e equipamentos. Outra atividade econômica é a
agricultura, seguida da pecuária, além do café (é a segunda maior produtora do
Estado), destacam-se as culturas de cana-de-açúcar, milho, cítricos, arroz, feijão,
amendoim, seringueiras, sericultura, maracujá e outras, a criação de gado bovino
também representa importante atividade da região.

Região Administrativa de Marília

A Região Administrativa (RA) de Marília possuí 51 municípios, com uma


população projetada de 945.872 mil habitantes (2005), sendo 91,1% residente em
áreas urbanas. O destaque na economia da região é a agropecuária e as indústrias
voltadas para o processamento de produtos primários, principalmente as de alimentos
e bebidas. Segundo o PIB, a análise dos municípios da RA demonstra a maior
participação de Marília e Ourinhos, que respondem por 16,7% e 10,7% do PIB regional,
respectivamente.
O Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS), 2006, tem como objetivo a
construção de indicadores que expressam o grau de desenvolvimento social e
econômico dos 645 municípios do Estado de São Paulo. As taxas de longevidade,
riqueza e escolaridade são analisadas e comparadas entre as Regiões Administrativas
do Estado de São Paulo, concomitantemente com a elaboração de ranking dos
respectivos temas.
Os indicadores desse estudo apresenta a RA de Marília com o seguinte desempenho
em 2004: 8ª colocada em longevidade, 4ª em escolaridade e 13ª em riqueza. Esse
estudo revela que o indicador de longevidade da RA de Marília superou a média do
Estado, 70 e 71 respectivamente; a escolaridade da RA atingiu uma média superior à
de São Paulo, 60 e 54 enquanto nas taxas de riqueza a RA apresentou índice inferior
ao do Estado, 39 e 52.
De acordo com o IPRS, a RA de Marília apresenta as seguintes taxas relativas a saúde:
• mortalidade infantil (por mil nascidos vivos): diminuiu de 15,1 para 14,2;
• mortalidade perinatal (por mil nascidos): reduziu de 18,3 para 16,0;
• mortalidade das pessoas entre 15 e 39 anos (por cem mil habitantes): variou de 1,5
a 1,4;
• mortalidade com mais de 60 anos (por mil habitantes): oscilou de 38,5 para 39,0.

Cique aqui para ver MAPA


Segurança e Justiça
No município de Marília constam unidades regionais das Secretarias da Segurança
Pública, da Administração Penitenciária e da Justiça e Cidadania. Algumas das
instituições que atuam no âmbito da segurança pública no município são:
• penitenciária mais anexo penitenciário;
• centro de ressocialização;
• Fundação CASA, (Centro de Atendimento Sócio-Educativo ao Adolescente), antiga
FEBEM;
• 9° Batalhão de Polícia Militar do Interior, junto à sede estão instaladas a 5ª
Companhia PM e a Companhia Força Tática, incluindo o Pelotão da Cavalaria;
• 1ª e 3ª Companhia da Polícia Militar; • Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
• Delegacia de Polícia Federal;
• Procuradoria da República.

Através do “Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros”, podemos acompanhar a


situação dos indicadores de homicídios em Marília.
A figura 1 apresenta dados sobre homicídios em Marília, nesse sentido o estudo da
Unesco considera como homicídios as agressões de terceiros, que utiliza qualquer
meio para provocar danos, lesões ou morte da vítima.
Figura 1: Evolução dos números de homicídios.

Fonte: OIE, 2007.


A figura 1 ilustra a evolução dos números de homicídios em Marília, muitas vezes esses
dados estão ligados, como mortes de jovens causadas por armas de fogo. Esse estudo
revela, no período de 2002 a 2004, que houve um certo declínio do número de mortes
e depois a estabilidade.
Marília é integrada ao Departamento de polícia judiciária do interior 4 ( Deinter 4 ),
que abrange a região de Bauru, abordando 143 municípios. A região de Bauru, com
2.632.697 habitantes, 58.801,6 quilômetros quadrados, é a que apresenta o segundo
maior índice de policiais por 100 mil habitantes de todo o Estado (319,1). De acordo
com os dados oficiais, as ocorrências de homicídio concentram-se nas Seccionais de
Bauru, Marília e Presidente Venceslau, com taxas de homicídio por 100 mil habitantes
de 11, 14, e 12,7 respectivamente. Segundo a Ouvidoria de São Paulo, nos municípios
com mais de 100 mil habitantes, nota-se que as taxas mais elevadas de homicídios
dolosos, furtos e roubos estão em Bauru, Marília e Presidente Prudente. As três cidades
apresentam taxa de furto superior à do Estado (1.247,3), sendo que, em Bauru
(2.468,8), o índice supera a do Estado em 97,9%.
Portanto, o presente estudo realiza o levantamento, acompanhamento e
documentação de dados estatísticos sobre segurança pública, boas práticas e políticas
públicas de Marília e região, no período entre 1989 a 2003. Mas, não é elaborado
apenas o trabalho de análise quantitativa, a pesquisa qualitativa é realizada e ocorre
através do estudo de imagens, discursos e representações socialmente produzidas
acerca da violência e criminalidade, paralelamente ao desenvolvimento do debate
teórico.

Clique aqui para acompanhar os projetos favoráveis à criação de guardas municipais.

Fontes:
SEADE, 2006. Acessado em 25/06/2007, disponível:
http://www.seade.gov.br/produtos/imp/index.php?page=tabela
O Futuro das Cidades, ONU. Essa conferência foi realizada em Julho de 1999 em
Xangai, China, com o objetivo de delinear o cenário das cidades num futuro próximo
e sistematizar algumas propostas de encaminhamento de seus problemas via a
participação da sociedade civil. A classificação das cidades como médias
compreendem a população entre 50 mil a 800 mil habitantes.
Região Administrativa de Marília, Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS),
2006. Acessado em 29/06/2007, disponível:
http://www.al.sp.gov.br/web/forum/iprs06/Marilia.html.
WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros. Acessado em
28/06/2007, disponível: http://www.oei.org.br/. Divulgado pela Organização dos
Estados Ibero-Americanos (OEI), 2007. Esse estudo disponibiliza dados referentes a
chamada “interiorização da violência” de cada um dos 5.560 municípios brasileiros.
Ouvidoria de São Paulo. Acessado em 29/06/2007, disponível: http://www.ouvidoria-
policia.sp.gov.br/
Politicas Locais de Segurança Pública em Municípios selecionados

Segurança pública nos municípios


A partir da Constituição Federal de 1988, também conhecida como constituição
cidadã, a questão da segurança recebe um alargamento conceitual e institucional. Esse
alargamento é percebido nos debates multidisciplinares e nas esferas que envolvem
questões sociais e direitos humanos. Assim, foram sendo criados projetos e práticas
com a parceria do poder público e sociedade civil. A segurança é responsabilidade não
apenas na esfera da administração pública estadual e federal, mas também municipal.
Os estudos realizados pelo OSP sobre políticas de segurança pública em municípios
selecionados do interior de Estado de São Paulo, baseados em uma variedade de
fontes, indicarão, na presente página, as Politicas de Segurança Pública em curso
nesses municípios, indicando também as iniciativas mais importantes.
Para uma descrição mais detalhada daquelas iniciativas consideradas boas práticas e
sua análise ver a página Boas Práticas, nesse sítio.

Bares fechados pela fiscalização

Lei Seca
Pensar em termos de políticas públicas de segurança no contexto local nos leva
imediatamente ao problema do controle dos horários de funcionamento de bares. A
chamada Lei Seca é uma estratégia adotada por vários municípios de Estado de São
Paulo para tentar melhorar o controle de um espaço tradicionalmente marcado pela
sociabilidade masculina, pelo acesso ao jogo, à bebida alcoólica e aos conflitos inter-
subjetivos.
Há uma grande polêmica em torno desse assunto. As primeiras medidas nessa direção
foram adotadas após a divulgação de pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência
(NEV-USP) ter constatado que 48,3% dos homicídios na cidade de São Paulo ocorrem
dentro dos bares ou em suas imediações. Segundo a pesquisa, os crimes violentos
(homicídios e agressões) são provocados por pessoas comuns, instigadas pelo uso do
álcool. A pesquisa observou 14 Distritos Policiais da Zona Sul da cidade e mostrou que,
no primeiro semestre de 1995, o maior número de homicídios se dá entre 22 e 24
horas. As pesquisas mostram que os gastos com violência representam cerca de R$
235 milhões por ano ao SUS. Esses valores referem-se a atropelamentos, acidentes de
trânsito, agressões físicas, violência doméstica etc.
Outro estudo que ensejou a adoção de Lei Seca foi apresentado pelo Comitê de
Segurança e Cidadania da cidade de Barueri, que, com base em dados do Ministério
da Saúde, mostrava que a bebida alcoólica estaria envolvida em 70% dos casos de
homicídios e 50% da violência doméstica.
As pesquisas sobre a implantação da Lei Seca e sobre seus efeitos nos conflitos sociais
ainda precisam ser aprofundadas e completadas. Mas todos os municípios que
adotaram a Lei Seca estão fazendo propaganda positiva dessas medidas, o que tem
feito com que vários outros municípios, através de seus representantes eleitos, fiquem
estimulados a restringir funcionamento de bares no horário noturno.
O controle do acesso à bebida alcoólica é fundamental para garantir políticas de saúde
pública que cortem esse grande problema pela raiz. Mas, a proibição da bebida deve
ocorrer na fonte e não apenas nos bares que, muitas vezes, são estabelecimentos
familiares que garantem não apenas o sustento das famílias, mas também o acesso a
determinados bens que, de outra forma, não poderiam ser comprados nas
proximidades da moradia das pessoas. É aviltante a liberalidade em relação à cerveja
no país, por exemplo. Sem falar do mal gosto e da ideologia misógina presentes nas
propagandas.
Analistas sempre mostram preocupação, pois dizem que essas medidas podem
implicar aumento das taxas de desemprego. Para deles, uma medida mais eficaz seria
aumentar a fiscalização dos bares irregulares assim como dos bares autorizados.
No começo do ano 2000, forças tarefas noturnas foram organizadas para conter a
venda ilegal de bebidas nos bares da cidade de São Paulo. Por exemplo, uma blitz
multou 12 bares que funcionavam depois da 1 hora. As multas giravam em torno de
R$ 14 mil. Donos de bares foram presos pela Guarda Civil Metropolitana por desacato.
Fiscais municipais foram vaiados por freqüentadores do bar Barraco’s do Itaim Bibi.
Essa blitz, na ocasião, foi brancaleônica porque apenas serviu para manter o sossego
nos bairros de classe média-alta, já que foram percorridos Itaim Bibi, Pinheiros e Vila
Madalena, onde o problema maior é o barulho e o incômodo aos vizinhos e não
ameaças à segurança pública. Evidente, é preciso reconhecer que faz parte da
qualidade de vida em qualquer cidade o direito ao silêncio e à paz no trânsito.
No entanto, após tanto alarde, alguns anos depois, qualquer caminhada feita nos
principais pontos de concentração de linhas de ônibus da cidade de São Paulo permite
observar a venda de bebidas alcoólicas em carrinhos nas calçadas. E os bares
continuam abertos, com sua clientela ruidosa…
A cidade de Jandira foi uma das que adotou a Lei Seca. Na cidade, os bares fecham às
23 horas. No período de adoção, foi feita uma pesquisa junto às 547 ocorrências
policiais, registradas entre 22 e 6 horas, no período de janeiro de 2001 a janeiro de
2002. Observou-se uma sutil queda no número total de ocorrências em torno de 5%.
Cidades como Hortolândia, Itapevi, Itapecerica, Laranjal Paulista, Diadema, Guarulhos,
São Caetano do Sul e São Paulo, no Estado de São Paulo e Curitiba (PR), Rio de Janeiro
(RJ), Caxias do Sul (RS), Brasília (DF) também adotaram medidas desse teor. O prefeito
de Barueri, por exemplo, afirmou que a lei, adotada no município desde 2001, é
responsável pela redução de 50% dos crimes na cidade. A lei não apenas obriga bares
a fecharem após 23 horas como também proíbe a construção desses estabelecimentos
num raio de 300 metros das escolas. Essa segunda medida é muito interessante.
Na cidade de Marília, a Lei Seca foi adotada tardiamente. Apenas em abril de 2006
passou a vigorar lei que altera o Código de Posturas do Município no que concerne o
funcionamento de estabelecimentos que vendem bebida alcoólica. Embora a lei seja
flexível em relação ao funcionamento nos fins-de-semana e no horário de verão,
vereadores reclamam das dificuldades que vêm sendo encontradas para sua
fiscalização e observação.
Importante também é que na cidade de Barueri foi desenvolvida campanha contra o
uso indevido do álcool junto à comunidade e aos jovens. A campanha contou com
apoio da comunidade, de educadores e de autoridades policiais. Essa campanha,
independentemente dos demais detalhes da Lei Seca, pode ser considerada uma boa
prática e estimulada a percorrer outras cidades do Estado de São Paulo.
Mas a Lei Seca, a despeito de sua polêmica, não pode desconsiderar outros aspectos
do problema.
O controle do crime e da violência, no entanto, deve ser aprimorado e mecanismos de
prevenção são sempre bem-vindos, afinal, o Estado ainda conta com taxas de crimes
e de violência relativamente altas.
Mas o controle não pode escorregar para medidas que impliquem discriminação de
bares periféricos ou presentes nas áreas degradadas das cidades. Também não podem
discriminar os grupos sociais que os freqüentam. Assim, se as municipalidades
decidirem pela via da adoção da Lei Seca, que ao menos estendam a proibição ou
limitação de horário de funcionamento a todos os estabelecimentos comerciais que
vendem bebidas alcoólicas. É imperativo controlar fortemente o consumo dessas
bebidas entre jovens de classe média, pois a bebida está fortemente relacionada ao
recrudescimento da violência no trânsito.
Não obstante, é importante sempre reconhecer que toda política de prevenção deve
levar em conta os três níveis de prevenção:
1. Prevenção primária. Ações que procuram interferir sobre condições físicas e sociais
do meio urbano;
2. Prevenção secundária. Ações que procuram identificar e intervir sobre grupos ou
populações consideradas de risco;
3. Prevenção terciária. Ações que procuram prevenir a reincidência criminal, por meio
de diversas ações.
Nesse sentido, está claro que a chamada Lei Seca tem um papel na prevenção
secundária. A prevenção do crime e da violência demanda atividades, ações e políticas
públicas locais mais ambiciosas, planejadas e articuladas.

O homicídio nos municípios brasileiros: um retrato


da geografia do crime e sua relação com os
indicadores sociais.
Por Giane Boselli – Mestre em Ciências Sociais e Analista de Pesquisas da Área de
Estudos Técnicos da confederação Nacional de Municípios – CNM. Este estudo foi
realizado para a CNM em dezembro de 2008.
Resumo
Esse estudo visa compreender a distribuição da violência no Brasil, se baseando na
quantidade de homicídios cometidos em cada município do país. Buscamos aqui
observar de forma detalhada as regiões, estados e municípios com incidência mais e
menos crítica de violência. O Brasil possui localidades críticas de incidência de mortes
violentas que, geralmente, estão mais presentes em municípios imersos em
determinados contextos como: proximidade a fronteiras internacionais; litorâneos de
médio e grande porte; grande população e alto PIB; regiões de conflitos agrários; e
zonas com forte sistema de istolagem. As taxas médias de homicídios utilizadas neste
estudo também foram comparadas com diversos indicadores sociais, como forma de
se tentar encontrar uma correlação entre violência e precariedade social. Tal análise
mostrou que a violência tem relação direta com a falta de escolas, hospitais públicos
e concentração de renda. Por fim, também foi feita uma breve explanação sobre o
problema na administração do aparato de segurança pública no Brasil, com exemplos
de gestões municipais bem sucedidas neste campo de atuação.

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