quando o assunto é Territorialidade, privacidade e atenção em saúde mental: qual a sua relação com seu lugar de origem? Nos seus maiores desafios, quando suas origens e valores são postos à prova, quais são as suas referências? Como reagiria sendo obrigado a deixar o lugar onde se acostumou a viver e construiu uma identidade sem perspectiva de retorno? A forma com que o ser humano em seu habitat e a forma como ele se relaciona com o meio em que vive tem sido objeto de estudo de autores das mais diversas áreas do conhecimento e não sendo diferente nos estudos e práticas em saúde mental.
A forma com que o ser humano em seu habitat e a forma como
ele se relaciona com o meio em que vive tem sido objeto de estudo de autores das mais diversas áreas do conhecimento e não sendo diferente nos estudos e práticas em saúde mental. O texto que vamos discorrer ao longo deste seminário tem por objetivo elaborar uma breve discussão sobre cuidados em saúde mental com a questão da territorialidade e privacidade ao longo da história da psiquiatria e principalmente dentro da reforma psiquiátrica, que tem como propósito promover o indivíduo estratégias de enfrentamento de seus problemas e sofrimento psíquicos dentro do contexto territorial em que foram desencadeados. Alguns autores definem psicologia ambiental como “o estudo do relacionamento entre comportamento e o ambiente físico, tanto o construído quanto o natural.” Estuda os fenômenos dentro do seu contexto, numa inter-relação em que “tanto o ambiente influencia o comportamento, como o comportamento influencia o ambiente. É nesse caráter de ciência aplicada, de constante reflexão e reformulações teóricas, que florescem os mais diversos conceitos e práticas, dos quais destacamos a privacidade e a territorialidade. Segundo Westin, a privacidade “consiste na demanda de parte das pessoas, grupos e instituições de determinarem por si mesmos quando, como e até que ponto podem dar informações sobre ele aos demais.” A privacidade é importante reguladora da interação e organização, bem como no estabelecimento da identidade pessoal e grupal.
A privacidade possui 6 dimensões: solidão, isolamento,
anonimato, reserva, intimidade com a família e intimidade com os amigos. Gifford define a territorialidade como “um padrão de conduta e atitudes apresentadas por um indivíduo ou grupo, baseado no controle percebido, intencional ou real, de determinado espaço físico, objeto ou ideia”. Territorialidade pode ser entendida como o elemento-chave para regular as interações sociais e a apropriação do espaço. A territorialidade está para além de uma expressão de poder, uma estratégia e tática fortemente dependente de relações e posições de seus agentes, evidenciando um modo de estar no mundo e revelando um estilo de vida e uma identidade cultural. A política brasileira de saúde mental é entendida como um conjunto de ações que vão desde a prevenção até o diagnóstico/tratamento.
É compreendido como uma rede e é orientada pelas diretrizes
da política integral à saúde mental que pressupõe diversos serviços para diversas necessidades, tais quais são organizadas a partir da seguinte diretriz: acolhida, vínculo, responsabilidade e contrato de cuidados. Esse tipo de modelo aperfeiçoa as potencialidades do serviços para serem mais resolutivos e responderem às demandas de quem procura.
Para entender as mudanças que ocorreram na atenção
à saúde mental, primeiro se deve entender como se instalaram seu saber durante a história. •Marco inicial: constituição da medicina moderna que critica a visão medieval de possessões demoníacas para explicar a loucura. Essa crítica permitiu-se desenvolver a disciplina da psiquiatria onde até os dias de hoje se sustenta a noção de saúde mental. •Porém esse conceito deu início aos hospitais psiquiátricos que tinham como pilar as internações em diversas terapêuticas, desde “acorrentamentos, até banhos quentes e frios passando pela lobotomia, pelos choques insulínicos e elétricos até a administração de psicofármacos a partir dos anos 1950-1960”. •os questionamentos começam pela dimensão epistemológica da psiquiatria e sobre o que é “saúde mental”
•Laing e Cooper (1950 - 1960) modificaram a visão acerca
das determinantes da loucura. Levaram em consideração as implicações do contexto familiar para o tratamento e o estudo dos processos do sofrimento psíquico. •Szasz (1979) considera a doença mental como “um mito que tem a função de dourar a pílula amarga dos conflitos sociais ao colocar problemas interpessoais como problemas individuais de disfunções neuroquímicas ou de estrutura mental” Com os questionamentos sobre a desumanização e a retirada de voz e cidadania do louco pelas internações, surgiram as iniciativas da Reforma Psiquiátrica •Franco Basaglia foi o principal representante do movimento; os serviços alternativos apresentados por ele começaram na Itália e depois se espalharam pelo mundo todo. Foi o pioneiro ao colocar em prática a extinção dos hospícios. Criou uma rede de atenção e novas estratégias para os cuidados de pessoas com sofrimento mental.(incluíam cooperativas de trabalho, ateliês de arte, centros de cultura e lazer, oficinas de geração de renda, residências assistidas, entre outros. Reforçando então: a Reforma Psiquiátrica é um processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos
•Por meio de vários movimentos sociais, em especial O Movimento dos
Trabalhadores em Saúde Mental (MSM) tem-se o ano de 1978 como marco inicial da luta pelos direitos dos pacientes psiquiátricos no Brasil, denunciando, entre outras situações, a violência nos manicômios. a mercantilização da loucura e a hegemonia de uma rede privada de assistência, fazendo críticas contundentes ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais. Reforçando então: a Reforma Psiquiátrica é um processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos
•Por meio de vários movimentos sociais, em especial O Movimento dos
Trabalhadores em Saúde Mental (MSM) tem-se o ano de 1978 como marco inicial da luta pelos direitos dos pacientes psiquiátricos no Brasil, denunciando, entre outras situações, a violência nos manicômios. a mercantilização da loucura e a hegemonia de uma rede privada de assistência, fazendo críticas contundentes ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais. Com as mudanças surge na cidade de São Paulo (1987) o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Projeto de Lei do deputado federal Paulo Delgado (MG) em 1989 propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios do país, porém é somente em 2001 que a Lei Paulo Delgado é sancionada, normatizada como Lei Federal 10.216 conquistando novo impulso no processo de reforma Psiquiátrica no Brasil As principais ferramentas da reforma psiquiátrica foram: fechamento de leitos, em hospitais psiquiátricos, o aumento da rede dos Caps e das Residências Terapêuticas. O “Programa de volta para casa”, dirigido a pacientes do regime asilar, residentes de hospitais psiquiátricos, é outro componente importante da reforma psiquiátrica. ressaltando apenas que o caps atende não somente nos diagnósticos psicopatológicos e medicações, sendo sua meta é a reintegração social do usuário. As Residências Terapêuticas são diferentes do Caps, sendo essas moradias destinadas às pessoas portadoras de transtornos mentais graves, egressas ou não de hospitais psiquiátricos, que perderam o contato com a rede de apoio familiar de origem. Em uma perspectiva de reinserção social, essas residências funcionam como locais abertos em que a “loucura” não é segregada. Concebida dentro dos parâmetros de reforma sanitária, a reforma psiquiátrica foi estabelecida a partir dos princípios do SUS. A ligação entre caps e a rede básica se faz importante para que reforma Psiquiátrica aconteça, implicando em ações baseadas em seus níveis de complexidade de intervenção, oferecendo ao usuário uma saúde íntegra em seu território. O ministério da saúde propõe que "os caps deve buscar uma integração permanente com as equipes da rede básica de saúde em seu território, pois têm um papel fundamental no acompanhamento, na capacitação e no apoio para o trabalho dessas equipes com as pessoas com transtornos mentais" Um dos princípios da reforma Psiquiátrica é a concepção de portas abertas, em que o usuário tem acesso direto aos caps, independente do encaminhamento, ou seja, por demanda espontânea, constituindo- se assim como " uma diretriz central dos serviços territoriais e um dos princípios que compõem a estratégia de produção de saúde mental comunitária, coletiva e territorial". Um dos problemas enfrentados pela reforma Psiquiátrica, é o que fazer com indivíduos que foram retirados do seu meio social e território, para está população foram criados programas como "de volta para casa" e "residências terapêuticas" que busca reinserir o usuário em seu meio familiar, promover a reconstrução de sua identidade de lugar. Ainda a uma lacuna estratégica prática de ação mais efetiva nos modelos de atenção, que são os "ex- asilados", pessoas que tem dificuldade de se adaptar perante as dificuldades quando saem da hospitalização, temos poucas oportunidades para reconstruir um cotidiano digno. Muitos usuários pedem a re- hospitalização. O autor conclui afirmando a importância do modelo de atenção integral, e da formação e da pesquisa em “Saúde Pública” na elaboração de estratégias de intervenção na área, por exemplo, nas relações de trabalho, atendimento ao público e execução de políticas públicas. Aduz sobre discrepâncias entre a elaboração e a execução de políticas públicas de saúde, incluindo-se aí tamanho e estabilidade de equipe, remuneração de funcionários, manutenção de estratégias ao longo de diferentes governos, considerando diversas variáveis, como ambiente de atuação, condições do trabalho, aspectos motivacionais e comportamentais entre profissional, serviço e usuário. Afirma a necessidade de adaptação das estratégias adotadas pelos Caps, as residências terapêuticas, o programa “de volta para casa”, entre outros, equalizando-as às realidades locais e necessidades do usuário, elogiando a liberdade de execução da política de saúde mental, e exorta por uma maior produção científica que possa enriquecer o embasamento de tais práticas. Conclui pelo dinamismo do modelo proposto pela reforma psiquiátrica, de forma que esse modelo seja capaz de reter os fatores positivos de propostas anteriores e propiciar a criação de novos fatores, tendo em vista a melhoria do sistema, e tendo por objetivo sempre o bem-estar do usuário, bem como de seus cuidadores.