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Livro: 1) AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial.

Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2007, cap. 4, 5

Cap 4 - Estratégias e dimensões do campo da saúde mental e atenção psicossocial

Explique as semelhanças entre o sistema hospitalar psiquiátrico e o sistema


carcerário em termos de vigilância, controle, disciplina e dispositivos de repressão e
punição. Forneça exemplos de práticas restritivas e punitivas aplicadas no sistema
hospitalar psiquiátrico.

As semelhanças entre o sistema hospitalar psiquiátrico e o sistema carcerário é evidente


em práticas e modos de ver o indivíduo .

Ambos os sistemas empregam um alto nível de vigilância e controle sobre os indivíduos.


Nos hospitais psiquiátricos, a supervisão é realizada para garantir a segurança dos
pacientes e dos funcionários, enquanto no sistema carcerário, a vigilância visa manter a
ordem e a segurança dentro das instalações. Em ambas as configurações, existe um
sistema rígido de regras e regulamentos que os indivíduos devem seguir. Tanto em
hospitais psiquiátricos quanto em prisões, existem dispositivos de repressão e punição para
lidar com comportamentos considerados inaceitáveis.Embora os objetivos finais sejam
diferentes (tratamento e reintegração para os pacientes psiquiátricos, e punição ou
reabilitação para os prisioneiros), ambos os sistemas visam modificar o comportamento dos
indivíduos, aplicando métodos específicos para alcançar esses objetivos.

Exemplos: privação de visitas e passeios, diminuição de alimentos, reclusão solitária,


colete de força, banhos de emborcação .

Discuta as dimensões do processo social complexo na saúde mental com base na


abordagem de Rotelli, sucessor de Basaglia.

A abordagem de Rotelli, seguindo Basaglia, destaca que a saúde mental é influenciada por
questões sociais, culturais e políticas .

Detalhe as dimensões teórico-conceituais, técnicas-assistenciais, jurídico-políticas e


socioculturais desse processo, considerando a necessidade de não reduzir o sujeito
ao diagnóstico, a importância de compreender a pessoa para além do diagnóstico e
as mudanças necessárias nos aspectos jurídicos, políticos e sociais.

Dimensões do processo social complexo:

• Teórico - conceitual: É necessário desafiar estereótipos e preconceitos em relação à


saúde mental. Isso implica educar a sociedade para compreender e aceitar as diferenças
individuais, promovendo uma cultura de respeito, empatia e apoio mútuo. Não reduzir o
sujeito ao seu diagnóstico. Necessidade de levar em consideração o que atravessa a
ciência como os aspectos ideológicos, políticos, éticos e as questões religiosas, culturais,
morais, etc.
• Técnico - assistencial: É possível observar seus projetos, anseios, laços sociais,
problemas, família etc. Tal fato possibilita uma visão de que os serviços de saúde mental
não deveriam ser sinônimo de exclusão, repressão ou disciplina, mas sim, de cuidado, de
acolhimento, de trocas sociais e de produção de subjetividade. Isso implica o
desenvolvimento de práticas que valorizem a escuta ativa, o envolvimento do paciente no
processo de tomada de decisões sobre o seu tratamento, a oferta de intervenções
baseadas em evidências e que respeitem a diversidade cultural e individualidade de cada
pessoa.

• Jurídico - política: através da desconstrução da relação de loucura e periculosidade,


irracionalidade e incapacidade civil é importante revisar códigos e leis e normas sociais.
É necessário garantir direito ao trabalho, lazer, esporte e cultura. As leis devem ser
revisadas e reformuladas para garantir que os direitos fundamentais das pessoas com
transtornos mentais sejam respeitados. Isso inclui o direito à dignidade, à autonomia, ao
consentimento informado, à não discriminação e à participação ativa no seu tratamento.

• Sociocultural: É preciso levar em consideração os preconceitos que envolvem a loucura,


levar uma reflexão para a sociedade, para que haja uma transformação. Isso implica educar
a sociedade para compreender e aceitar as diferenças individuais, promovendo uma cultura
de respeito, empatia e apoio mútuo.

Cap 5 - Caminhos e tendências de saúde mental e atenção psicossocial

* Serviços de atenção psicossocial deveriam ser de base territorial (intersetorialidade) -->


capacidade de desenvolver relações com os vários recursos existentes e disponíveis na
comunidade
• Estratégias de residencialidade e emancipação dos sujeitos: desinstitucionalização,
construção de autonomia e independência.

Explique a abordagem da crise não apenas como um fenômeno psicológico ou


biológico, mas também como resultado de fatores que envolvem relações sociais.

A crise é vista como um fenômeno social que reconhece que os problemas de saúde mental
não são apenas resultado de fatores internos, mas também são influenciados pelo ambiente
em que as pessoas vivem.

Aspectos como condições econômicas, apoio social, experiências traumáticas e acesso a


serviços de saúde mental desempenham um papel importante na ocorrência de crises.
Portanto deve se considerar os fatores sociais, culturais e ambientais que cercam a vida
das pessoas.

Argumente contra a ideia de que a crise deve ser tratada com medicações que dopam
o sujeito ou eletroconvulsoterapia.

É crucial reconhecer que as crises não são apenas questões psicológicas ou biológicas,
mas frequentemente são desencadeadas ou agravadas por fatores sociais, econômicos e
relacionais. As abordagens de tratamento mencionadas não atendem às necessidades
integrais das pessoas em crise.
Tratar crises com medicamentos que dopam o sujeito ou com eletroconvulsoterapia pode
levar a uma série de problemas. Os medicamentos frequentemente têm efeitos colaterais
adversos, incluindo sonolência, ganho de peso e dependência. Por outro lado, a
eletroconvulsoterapia pode afetar a memória e gerar desconforto significativo ao indivíduo,
além de não abordar as raízes da crise. Ignorando fatores emocionais, sociais e ambientais
atrasando ou limitando a verdadeira recuperação do indivíduo.

Destaque a importância dos serviços de atenção psicossocial na gestão de crises.

Os serviços de atenção psicossocial oferecem uma abordagem completa na gestão de


crises. Esses serviços consideram não só os sintomas, mas as variáveis causas da
crise.Envolvem o paciente nas decisões sobre seu tratamento e promovem não apenas o
alívio imediato dos sintomas, mas também a reintegração e recuperação a longo prazo.
Além do tratamento, também fornecem informações para prevenir crises futuras e promover
a saúde mental.

Detalhe a importância do estabelecimento de um vínculo entre profissionais e


usuários dos serviços, permitindo um espaço para expressão, cuidado e participação
ativa tanto do sujeito quanto de seus familiares. Explique o uso do termo "usuário"
em vez de "paciente" e seu impacto social.

O vínculo com o paciente é importante pois cria confiança, permitindo que as pessoas
expressem suas preocupações e necessidades. Isso ajuda o paciente e sua família a se
sentir ouvido, a participar ativamente do seu tratamento e a receber cuidados
personalizados. O termo usuário em vez de paciente dá um lugar social ativo ao sujeito em
sofrimento psíquico .

Descreva a importância dos serviços de atenção psicossocial baseados


territorialmente, permitindo a interseção com os recursos disponíveis na
comunidade.

Serviços de atenção psicossocial baseados na comunidade são importantes porque se


conectam com os recursos locais. Isso ajuda a criar uma rede de apoio mais ampla,
incluindo recursos da comunidade, como escolas e serviços sociais. Isso torna o tratamento
mais eficaz e abrangente, atendendo às necessidades do paciente de maneira mais
completa.

Discuta as estratégias para a desinstitucionalização, construção de autonomia e


independência, enquanto se evita a institucionalização das residências terapêuticas.

Oferecer suporte para que os residentes desenvolvam habilidades para viver de forma
independente, com treinamento em habilidades sociais e vida diária. Incentivar a
participação em atividades comunitárias, como emprego, educação e lazer, para fortalecer
laços sociais e promover a inclusão.
Proporcionar assistência individualizada, respeitando as preferências e necessidades de
cada residente.Criar um ambiente mais acolhedor e menos institucional, assemelhando-se
mais a um lar, com privacidade, liberdade de escolha e interações sociais mais naturais.

Destaca-se a importância dos centros de convivência como espaços de sociabilidade


e trocas sociais.

Centros de convivência são locais importantes para interações sociais e compartilhamento.


São espaços onde as pessoas se encontram, interagem e participam de atividades juntas,
promovendo conexões sociais e apoio mútuo e uma rede de apoio saudável.

Discuta a abordagem da Estratégia Saúde da Família na atenção primária e a


importância do princípio da desmedicalização.

A Estratégia Saúde da Família (ESF) atua na atenção primária, enfocando a prevenção,


promoção da saúde e tratamentos básicos, além de estabelecer vínculos com as famílias
para um cuidado mais abrangente. O princípio da desmedicalização enfatiza reduzir a
dependência excessiva de medicamentos e procedimentos médicos, optando por
abordagens mais naturais e saudáveis sempre que possível, considerando o contexto social
e emocional do paciente.

2) COSTA-ROSA, A. O modo psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas


ao modo asilar.: AMARANTE, P. (Org.). Ensaios-subjetividade, saúde mental e
sociedade. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2000.

1)Relacione paradigmas e os diferentes modos de atuação na saúde mental .


O paradigma é o que forma as bases de cada prática dos modelos de atuação no campo da
saúde mental, por exemplo, o paradigma das práticas asilares e as práticas psicossociais. O
texto refere-se à quatro parâmetros ou orientações fundamentais que compõem um
paradigma, que são: a definição do seu objeto e dos meios teórico e técnicos de
intervenção, as formas de organização dos dispositivos institucionais, as modalidades de
relacionamento com os usuários e a população e as implicações éticas e efeitos das suas
práticas em termos jurídicos, teóricos-técnicos e ideológicos. Nesse sentido, pode se dizer
que um modelo centrado no ambulatório e no trabalho da equipe multiprofissional e um
modelo hospitalocêntrico e médico-centrado são componentes dos paradigmas das
diferentes (e contraditórias) práticas em saúde mental citadas acima. Assim, os saberes e
práticas da atenção psicossocial são alternativas à do modelo asilar uma vez que seus
paradigmas são essencialmente contraditórios. O modelo psicossocial surge como oposição
ao modelo asilar, mostrando a possibilidade de configuração de um paradigma radicalmente
novo, tanto ao tecer críticas sobre a sua dimensão ideológica e teórico-técnica quanto por
meio do exercício de outras possibilidades práticas para além da internação ou do asilo. O
paradigma do modo de atenção psicossocial, ao contrário do modo asilar como paradigma
das práticas dominantes, se configura tendo por base as práticas da reforma psiquiátrica.
Segundo Amarante (1999), o modelo de atenção psicossocial tem produzido transformação
em quatro setores bem destacados: campo teórico-assistencial, campo técnico-assistencial,
campo jurídico-político e campo sociocultural.
2)Fale sobre as principais características do modo asilar
Ênfase nas determinações orgânicas dos problemas que pretende tratar, o que implica que
seu meio básico seja medicamentoso. Pouca ou nenhuma consideração da existência do
sujeito (como subjetividade desejante), o que implica que não se invista na sua mobilização
como participante do tratamento, ainda com a hipótese de só quem trabalha é o remédio. O
organismo é o destinatário principal das ações. O indivíduo continua sendo visto como
doente, tanto em relação à família quanto ao contexto social mais amplo, assim, a
intervenção é centrada exclusivamente no indivíduo e distante do território. Utilizam o
isolamento do sujeito em relação ao meio familiar e social. As tarefas (o tratamento) e o
sujeito são fragmentados e encadeados como qualquer mercadoria de produção, por
exemplo, primeiramente o usuário é atendido pelo psiquiatra, que o diagnostica mal e define
que parte do tratamento será feito por ele ou por outros especialistas da equipe (quando
estes existem). O trabalho é realizado sem que os profissionais se encontrem para
conversar sobre a atividade em comum, o que os une é o prontuário. Inclui a psicose, o
alcoolismo, a drogadição e as neuroses graves em cânones médicos de modelo curativo.
Sua institução típica é o hospital psiquiátrico fechado, ainda que nas últimas décadas
tenham surgido dispositivos extra-asilares, eles ainda funcionam segundo os mesmos
parâmetros e lógica do hospital psiquiátrico (ou seja, reproduzem o paradigma do modo
asilar).

3)Fale sobre as principais características do modo psicossocial


Existe a consideração dos fatores políticos e biopsicossocioculturais como determinantes, e
não apenas a biologia ou genética, sendo a ênfase em cada um particular de cada situação
ou problemática com que se está atuando. Os meios básicos são psicoterápicos,
psicoterapias, um conjunto amplo de dispositivos de reintegração sociocultural e também a
medicação, se necessário. Ao contrário do modo asilar, é decisiva a importância que se
atribui ao sujeito, mobilizando-o como participante principal do tratamento, com ênfase à
consideração da pertinência desse indivíduo a um grupo familiar e social. O sujeito, a
família e o grupo social são agentes das mudanças buscadas. Encara a loucura não como
fenômeno exclusivamente individual, mas social, buscando formas de participação da
família e do grupo ampliado (ou território) no tratamento não a partir de uma postura
assistencial ou pedagógica (como no modo asilar, quando se tem interação com a
família-território), mas dada a importância desses agentes no impacto da saúde mental do
usuário do serviço de saúde mental. A loucura e o sofrimento psíquico não têm mais de ser
removidos a qualquer custo ou curados, eles são reintegrados como partes da existência,
mas o que se visa neste modelo é um reposicionamento do sujeito em que ele não apenas
sofra o efeito dos conflitos, mas se reconheça como um agente implicado nesse contexto e
agente de possibilidade de mudanças. O sujeito não é mais apenas o que sofre. As
possibilidades de ação desse modelo se estendem desde a atenção à crise até o
reconhecimento da implicação familiar e social nos mesmos problemas, dando ênfase na
reinserção social. Tem como característica forte a equipe interprofissional, tendo
intercâmbio entre as visões teórico-técnicas e suas práticas, que não cai apenas nos
especialismos. O tratamento no modo psicossocial é capaz de gerar novas formas de
sociabilidade que escapam à produção em série dos manicômios. Os principais dispositivos
institucionais são: os Caps, os Naps, Hospital-dia, os ambulatórios de saúde mental,
equipes multiprofissionais de saúde mental inseridas em Centros de Saúde e setores de
tratamento em saúde mental. Desospitalização, desmedicalização e implicação subjetiva e
sociocultural são metas radicais no modo psicossocial, por oposição a hospitalização,
medicalização e objetificação no modo asilar.
Nesse modelo, também nota-se a horizontalização institucional, tanto no que tange à
descentralização com a transferência da responsabilidade do governo federal para os
municípios e territórios, quanto com a participação efetiva da população como os usuários e
familiares. Participação, autogestão e interdisciplinaridade são metas radicais no modo
psicossocial em oposição à estratificação, à heterogestão, verticalidade e disciplina das
especialidades que dominam no modo asilar.

Texto - 3) LEAL, E. e DELGADO, P.G. Clínica e cotidiano: o CAPS como dispositivo de


desinstitucionalização. In PINHEIRO, R., GULJOR, A.P., SILVA JR, A.G., MATTOS, R.
(orgs.) Desinstitucionalização da Saúde Mental: contribuições para estudos
avaliativos. Rio de Janeiro: CEPESC: IMS/LAPPIS: ABRASCO, 2007.

Identifique o maior desafio das políticas públicas de saúde mental, em relação à


desinstitucionalização, e explique o papel dos CAPS como um modelo de cuidado.
O maior desafio das políticas de saúde mental, no que se refere à desinstitucionalização, é
a efetivação de um cuidado comunitário e descentralizado, garantindo suporte adequado a
pessoas que deixam instituições psiquiátricas, evitando a reincidência ou reinternação.

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) desempenham um papel crucial como modelo


de cuidado. Eles oferecem assistência ambulatorial e suporte contínuo para pessoas com
transtornos mentais, baseando-se na atenção comunitária. Os CAPS promovem
tratamentos diversificados, incluindo terapias individuais e em grupo, além de atividades de
reinserção social. Seu objetivo é evitar a reinternação, garantindo atenção integral e
contínua, ao mesmo tempo em que respeitam a autonomia e a dignidade dos pacientes.

Detalhe os princípios da desinstitucionalização e como os CAPS se inserem nesse


contexto, especialmente em relação à saída de pessoas com transtornos mentais
graves dos hospitais psiquiátricos para a comunidade.
Os princípios da desinstitucionalização visam reintegrar pessoas com transtornos mentais
graves na comunidade. Os CAPS são essenciais nesse processo ao oferecerem cuidado
comunitário, apoio multidisciplinar e programas de reintegração social, evitando a
permanência prolongada em hospitais psiquiátricos.

Explique a importância de compreender a singularidade de cada indivíduo que


enfrenta transtornos mentais graves.
Cada pessoa lida de maneira única com seus desafios, compreender suas experiências,
necessidades, história e circunstâncias individuais é essencial para oferecer um tratamento
personalizado e mais eficaz, permitindo uma abordagem mais abrangente, que vai além dos
sintomas visíveis. Ao considerar as particularidades de cada pessoa, tende a aumentar a
adesão ao tratamento sendo crucial para ajudar na reintegração social, oferecendo suporte
personalizado e adaptado às necessidades individuais.
Explique o conceito de clínica ampliada, ressaltando a importância de considerar a
relação humano-social no cuidado em saúde mental.
A clínica ampliada visa promover um cuidado mais abrangente, integrado e humanizado,
reconhecendo que a saúde mental é afetada por diversos fatores além dos aspectos
estritamente médicos.A clínica ampliada considera o ambiente, as relações interpessoais e
o apoio social, incluindo o paciente no tratamento, respeitando suas escolhas, para
capacitar a pessoa, promovendo sua autonomia na tomada de decisões sobre seu
tratamento e vida.

Aborda a ênfase dada à relação entre o serviço de saúde, a comunidade e o


sofrimento psíquico do paciente. Descreva como essa relação define o cuidado e o
papel dos diferentes envolvidos: pacientes, profissionais, familiares e a comunidade.
Pacientes: São considerados ativos no tratamento, com participação ativa e voz nas
decisões sobre sua própria saúde mental.Profissionais: Oferecem suporte especializado,
respeitando as necessidades individuais, promovendo a autonomia e o bem-estar dos
pacientes.Familiares: Desempenham papel de suporte, sendo incluídos no cuidado e
compreensão das necessidades do paciente.Comunidade: Contribui para um ambiente
acolhedor, oferecendo apoio social e oportunidades de reintegração para os pacientes,
facilitando sua inclusão e apoio contínuo.

Discuta a relevância da rede e do território no contexto da clínica ampliada nos CAPS,


considerando o espaço do serviço, o lugar de vida, os recursos disponíveis e as
relações sociais do usuário.

A conexão entre a rede de apoio e o território nos CAPS, no âmbito da clínica ampliada,
busca proporcionar um cuidado integral, considerando não apenas o indivíduo, mas
também o contexto em que está inserido. Isso envolve fortalecer recursos, relações sociais
e promover uma rede de apoio sólida para além do ambiente clínico.A integração com os
recursos disponíveis na comunidade é vital para complementar os cuidados oferecidos nos
CAPS. Isso pode incluir serviços sociais, culturais e de saúde, proporcionando um apoio
mais completo aos usuários.As relações sociais do usuário desempenham um papel
significativo em seu processo de recuperação. Reforçar e fortalecer essas relações,
incluindo familiares, amigos e a comunidade, cria um ambiente de apoio que promove a
inclusão e a melhoria do bem-estar do usuário.

Os CAPS são parte do território em que estão inseridos, o que os torna essenciais para
estabelecer parcerias locais e explorar os recursos da comunidade, proporcionando um
suporte mais abrangente. Além disso, compreender o lugar de vida do usuário é
fundamental, envolvendo moradia, acesso a recursos e interações com a comunidade, para
atender às necessidades individuais.

"A clínica ampliada nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) valoriza a


importância da rede de apoio e do território na assistência em saúde mental.
A rede de apoio envolve profissionais de saúde, familiares, amigos e outros serviços de
suporte. Ela oferece suporte contínuo e complementa os cuidados fornecidos nos CAPS. A
comunicação e integração entre esses envolvidos são essenciais para um tratamento
eficaz.O território vai além da localização geográfica e abrange a vida, cultura, recursos e
relações na comunidade. Os CAPS precisam integrar-se à comunidade, aproveitando os
recursos disponíveis e estabelecendo parcerias. Além disso, considera-se o lugar de vida e
as relações sociais do usuário. Isso engloba o contexto de vida, incluindo moradia, acesso a
recursos básicos e interação com a comunidade. Valorizam-se as relações sociais do
usuário, como família, amigos e comunidade, para fortalecer o apoio social e promover a
inclusão."

Explique a importância do cotidiano como um espaço de protagonismo e existência


para indivíduos em tratamento nos CAPS.
Nesse contexto, o cotidiano é onde a vida se desenrola e ganha significado. Proporciona
uma rotina, atividades e interações sociais que contribuem para a identidade e o bem-estar
dos indivíduos em tratamento nos CAPS. O protagonismo no cotidiano permite que essas
pessoas sejam ativas em suas próprias vidas, promovendo autonomia, autoestima e
respeito à sua singularidade.O cotidiano nos CAPS não se limita às práticas terapêuticas,
mas engloba as atividades do dia a dia, como trabalho, estudo, lazer e relações sociais.
Isso reforça a importância de resgatar e fortalecer a rotina diária, possibilitando aos usuários
dos CAPS uma vida mais significativa e inclusiva.

Texto - 4) DIMENSTEIN, M.; LIBERATO, M. T. Desinstitucionalizar é ultrapassar


fronteiras sanitárias: o desafio da intersetorialidade e do trabalho em rede. Cad. Bras.
Saúde Mental, v.1, n.1, p.1-10, 2009.

Explique como a Reforma Psiquiátrica no Brasil tem avançado, articulando práticas


de cuidado e novos modos de subjetivação, rompendo com o modelo asilar e tutelar.

Em vez de se concentrar em hospitais psiquiátricos isolados e autoritários, agora há uma


ênfase em cuidados comunitários, respeito à autonomia das pessoas e valorização de
diferentes formas de subjetividade. Isso significa que as práticas de tratamento se
expandiram para incluir suporte na comunidade, respeitando a individualidade das pessoas
e promovendo um ambiente mais inclusivo e menos institucionalizado para o cuidado da
saúde mental.

Aborde as consequências do confinamento da loucura em instituições psiquiátricas e


a cultura manicomial.

Quando a loucura é confinada em instituições psiquiátricas, isso limita a compreensão dela


apenas como doença mental, levando a práticas de controle, medicalização e
hierarquização. Isso cria uma cultura manicomial, onde há um desejo de dominar e
controlar.

Discuta a mudança na centralidade dos hospitais em relação à saúde mental,


destacando a redução de internações, leitos psiquiátricos e a expansão dos Centros
de Atenção Psicossocial (CAPS) e Residências Terapêuticas (RTs).

Houve uma redução significativa nas internações, diminuição dos leitos psiquiátricos e uma
mudança no tempo de permanência dos pacientes nessas instituições. Em contrapartida,
houve uma expansão notável dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e das
Residências Terapêuticas (RTs).
Os CAPS oferecem um cuidado mais aberto e integrado, onde as pessoas recebem
atendimento, suporte e acompanhamento sem precisar ser hospitalizadas. Eles promovem
a inclusão social, proporcionando um espaço de acolhimento, tratamento e reinserção na
comunidade.

Já as Residências Terapêuticas são espaços de moradia para pessoas que precisam de


cuidados mais intensivos, mas de maneira menos restritiva do que em hospitais. Elas
possibilitam a convivência e a construção de um ambiente mais próximo ao cotidiano com
suporte profissional, visando a reinserção social e a autonomia dos moradores.

Detalhe os desafios enfrentados, como o modelo de financiamento dos CAPS e RTs, a


dificuldade na abertura de serviços como o CAPS III, a falta de suporte à crise e a
reintegração de pacientes de longa permanência.

O modelo de financiamento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Residências


Terapêuticas (RTs) muitas vezes enfrenta desafios, pois o teto disponibilizado financeiro
pode ser insuficiente para atender plenamente às necessidades. Isso resulta em restrições
nas atividades oferecidas por esses serviços

A abertura de serviços como o CAPS III, que oferece atendimento 24 horas e inclui a
possibilidade de internação, é uma dificuldade frequente. A escassez desse tipo de serviço
frequentemente resulta na utilização dos leitos psiquiátricos em hospitais gerais, o que vai
contra a proposta de descentralização do cuidado e aumenta a demanda por internações
hospitalares, contrariando os princípios da Reforma Psiquiátrica.

Aborde a falta de recursos na comunidade, a centralização do paciente no CAPS, a


vontade de alguns pacientes de permanecerem hospitalizados e a perpetuação da
lógica manicomial.

A falta de recursos na comunidade impacta o cuidado da saúde mental, centralizando os


pacientes nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) por falta de alternativas. Isso pode
resultar na sobrecarga desses centros, afetando a qualidade do atendimento. Além disso,
alguns pacientes podem preferir permanecer hospitalizados devido à falta de suporte e
estrutura na comunidade, o que gera uma dependência contínua dos serviços hospitalares.

Essa situação reforça a lógica manicomial, onde o paciente se vê preso a um sistema que
deveria oferecer alternativas de cuidado, mas que, na prática, acaba perpetuando a
dependência da internação.

3. Considerando os relatos abaixo, apresenta suas propostas para manejo e


encaminhamento dos casos. Sustente clínica e teoricamente sua escolha com base
na bibliografia indicada.

a) Você é interpelado pelos pais de um usuário numa unidade básica de saúde e


resolve fazer uma visita domiciliar, já que ele se recusa a comparecer à unidade de
saúde. José Mauro é um rapaz de 19 anos, estudante do último ano do Nível Médio de
uma escola pública de sua cidade. Reside com os pais, com quem parece ter um
relacionamento satisfatório, e mais duas irmãs, de 15 e seis anos de idade. Sem
histórico de problemas clínicos ou neurológicos significativos no momento ou no
passado, é tabagista e faz uso eventual de bebidas alcoólicas. Não há registro de
problemas relacionados ao uso de drogas. Seus pais começaram a ficar preocupados
com ele, especialmente nos últimos dois meses, quando começou a ter
comportamentos estranhos. Às vezes aparentava estar zangado e teria comentado
com um amigo que estava sendo seguido por policiais e agentes secretos; outras
vezes era visto sorrindo sozinho, sem qualquer motivo aparente. Começou a passar
cada vez mais tempo sozinho, chegava a se trancar no quarto, parecia distraído com
seus próprios pensamentos. Passou também a perder noites de sono e seu
rendimento escolar, que sempre havia sido bom, estava se deteriorando. Durante a
visita, José Mauro estava um pouco inquieto, parecia assustado, mas aceitou
conversar com o você (psicólogo) e o agente comunitário, que também participou da
visita. Perguntado sobre o que lhe estava ocorrendo, disse que ouvia vozes
comentando seus atos ou lhe insultando. Disse também que seus professores
pareciam estar conspirando com os policiais para prejudicar sua vida, já que, no
desfile de Sete de Setembro, os viu conversando na rua. Não tem conseguido ver
televisão ou escutar o rádio porque tem a impressão de que seu nome é divulgado
por esses meios de comunicação para toda a população da cidade. Seus pais
queriam levá-lo para consultar um psiquiatra, mas ele achou a ideia absurda, já que
ele não estava doido! (2,5)

Primeiramente, acreditamos ser importante conversar com o sujeito acerca de sua


preocupação com a loucura. O estigma de estar em sofrimento psíquico e de ser rotulado
como “louco” ainda hoje é forte, portanto, acolher essa angústia, entendê-la e auxiliar
José com suas questões é primordial. Um acompanhamento com psiquiatra no CAPS
pode ser importante neste caso, então, tentar demonstrar para o sujeito que o
acompanhamento psiquiátrico não é um demérito, pode ser um caminho para que ele se
interesse pela ajuda. Buscar entender as características do sujeito, sua história de
vida, seus gostos e projetos para o futuro, ou seja, buscar ter uma visão global de
José Mauro também são meios de conseguir entender as necessidades do mesmo, para
encontrar a melhor abordagem para o tratamento do caso.

Como se trata de um primeiro contato, sem mais informações acerca do período em que
esses sintomas percorreram e perduraram, além do fato de termos apenas este relato como
base, é difícil saber exatamente qual seria o psicodiagnóstico. Porém, aparentemente,
há delírio de perseguição e alucinações auditivas. Uma maior investigação para um
diagnóstico adequado é de bastante importância para entender qual o tratamento mais
condizente para José Mauro. Com o tempo, através do contato dos profissionais com o
usuário, este plano de tratamento pode ser aperfeiçoado. A conversa com os
familiares também pode ser bastante importante para o caso. Buscar acolher as
angústias dos responsáveis e auxiliá-los com relação ao manejo de uma situação tão
nova para eles pode ser essencial para uma boa resposta do sujeito em sofrimento com
relação a sua saúde mental. Ter o apoio e a compreensão familiar, na medida do possível, é
positivo. Talvez, auxiliar José a buscar ter contato com colegas mais próximos, para que
consigam fazer atividades que ele considera prazerosas, juntos, possa ser uma boa
saída para o maior isolamento social neste período de sua vida. Isso, aliado com um
tratamento adequado, pode impedir que José Mauro se isole completamente de suas
companhias e de sua realidade anterior, que é o caminho que parece percorrer, de
acordo com o relato. A Psicoterapia no CAPS, assim como grupos terapêuticos que
possam ter pessoas com experiências parecidas das de José, podem ser boas
alternativas para o sujeito, visto que esse poderia ser um local seguro em que ele
teria a oportunidade de se abrir com maior frequência, expor suas inseguranças,
experiências e ter o acolhimento que necessita. A partir da volta de um contato maior
com outras pessoas, que ocorrem nas atividades no território e também no Centro de
Atenção Psicossocial, em conjunto com a psicoterapia e um tratamento psiquiátrico,
aliados a um lar que o entende e o acolhe, é viável uma melhora significativa na
experiência desse sujeito com seu sofrimento psíquico e com suas questões de saúde
mental. De acordo com Amarante, é importante que o sujeito em sofrimento psíquico esteja
exercendo sua cidadania e tendo seus direitos garantidos, portanto, no CAPS, após um
maior aprofundamento sobre os desejos, sonhos e perspectivas de futuro de José, seja
possível um maior auxílio da equipe multiprofissional com relação a essas questões de
direito à cultura, trabalho, lazer, moradia, entre outros. Além disso, a rede também poderá
auxiliá-lo nessas questões, a cada momento que a necessidade aparecer.

b) Um menino de 14 anos é trazido por seus pais ao CAPSi. Segundo a família,


descobriram há dois anos que o menino faz uso de maconha e de álcool, com
frequência e, eventualmente, de outras drogas. Está matriculado no sexto ano do
ensino fundamental, mas falta muito à escola, e no ano anterior foi reprovado por
frequência insuficiente. Não obstante os esforços da família em convencê-lo, afirma
que não pretende parar de usar drogas pois "não é dependente" e se sente bem,
embora reconheça que há vezes em que "exagerou" e "passou mal". Aparentemente,
os pais não se entendem com relação a como conduzir essa situação. O pai tentou
coibir essa prática proibindo o filho de sair a não ser para ir para a escola e
restringindo o dinheiro que lhe fornece, ao passo que a mãe prefere tolerar o uso de
maconha em casa, para evitar que o filho se exponha a maiores riscos na rua. Ao ser
perguntado no CAPSi quanto ao que pensa sobre os motivos de estar ali com os pais,
responde que foi obrigado a vir e que não se importa com "nada disso" e que em
casa "ninguém o entende". (2,5)

Em um primeiro momento, acredito que para engajar a participação do sujeito no


tratamento, seria interessante saber quais são seus interesses e hobbies, a fim de
avaliar oficinas ou atividades no território fora do CAPSi, que possam potencializar
seu bem estar, sem o uso da droga. Isso seria uma forma de reduzir a resistência do
menino com o tratamento, possibilitando, também, a criação de outros vínculos sociais,
e possivelmente traria a percepção de que há lazer sem a droga. Juntamente a isso, é
importante avaliar se o caso deveria permanecer no CAPSi, já que a partir do que foi
exposto, pensamos que seria mais interessante para o menino ser encaminhado para um
acompanhamento psicoterapêutico em uma UBS. Na psicoterapia é possível investigar
a questão do desempenho escolar. Buscando entender os motivos das faltas, para que
haja uma estratégia que trabalhe seja a motivação, o interesse ou uma real dificuldade
de entendimento. Além disso, dentro do processo terapêutico poderia ser abordada uma
psicoeducação acerca do uso de drogas, percebendo os motivos desse uso e
tornando-o mais seguro, já que há relatos de exagero, mas não é expressa a vontade
de excluir todas as substâncias. Outro ponto extremamente importante é a questão
familiar. A família necessita estar em sintonia no que se refere ao tratamento, nesse
caso é interessante uma orientação parental, para que os pais consigam entender seu
filho, ao mesmo tempo que as próprias aflições e preocupações sejam minimamente
amparadas. A partir da ampliação de novos hábitos oriundos das atividades no
território, em conjunto com a psicoterapia e uma casa mais aberta ao diálogo é viável
uma melhora significativa do uso de drogas lícitas e ilícitas, assim como o
desempenho escolar

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