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Eixo Temático: Saúde: debate e reflexões / Emergentes psicossociais

Título do trabalho: ATUAÇÃO E INSERÇÃO DO PROFISSIONAL DE


PSICOLOGIA NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL

Moura, Neuza Lopes/Salvador-Bahia/Brasil


E-mail: neuzamoura_psico@yahoo.com.br

RESUMO

Este artigo é um convite à reflexão sobre a atuação do Psicólogo no Centro de Atenção


Psicossocial - CAPS. Objetivou discutir a atuação e inserção do profissional de psicologia no
campo da Saúde Mental. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, considerando os
paradigmas dos modos psicossocial de atenção que referenciam mudanças na atuação do
Psicólogo nesse serviço. As reflexões conduziram à superação dos desafios e atividades
voltadas para a interação social entre os usuários, clareza do papel do Psicólogo na equipe
multiprofissional, reconhecimento deste nessa equipe, e outras atividades que ele deveria
proporcionar aos usuários. Com este trabalho foi possível verificar que a atuação do Psicólogo
ainda está voltada para questões exclusivamente de ordem psíquica, uma vez que as ações do
CAPS devem ser direcionadas para a integração do sujeito com sofrimento psíquico, no seu
contexto social. Portanto, a atuação do Psicólogo nesse serviço, CAPS, deve ter como
parâmetro a compreensão do sujeito a partir do seu contexto histórico - social como família,
moradia e trabalho, tendo em vista a recuperação e a autonomia possível do sujeito com
sofrimento psíquico.

Palavras Chaves: Centro de Atendimento Psicossocial - CAPS, Políticas Públicas, Psicólogo.

ABSTRACT

This article is a call to reflect on the role of psychologist at the Centro de Atenção
Psychosocial – CAPS. The objective is to discuss the role of professional psychology and insert
this in the field in the Mental Health. For this, a bibliographic search was made, considering the
paradigms of the psychosocial care that reference changes in the performance of this
psychologist service. The reflections led to overcoming challenges and activities for social
interaction among the users. Thus, the role of the psychologist in the multidisciplinary team,
the recognition of this team, and other activities that it should provide users becomes a topic to
be discussed and worked. With this study has shown that the performance of the Psychologist
still facing problems exclusively psychic order, since the actions of the CAPS should be
directed to the integration of the subject with psychological distress in their social context. Thus,
the role of the psychologist in this service – CAPS – as a parameter must have an understanding
of the subject from its historical and social context as family, habitation and work with a view
to recovery and possible autonomy of the subject with psychological distress.

Key Words: CAPS, Public Politic, Psychologist.


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Discente do Curso de Pós-Graduação em Saúde Mental. - FTC/BA – E-mail: neuzamoura_psico@yahoo.com.br
1
Psicólogo associado do instituto de Psicanálise da Bahia, Especialista no formato de Residência em Psicologia
Clínica e Saúde Mental – E-mail: wilker_pessoa@hotmail.com.

INTRODUÇÃO
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O presente artigo traduz algumas reflexões sobre a atuação do psicólogo no centro de


atenção psicossocial - CAPS. Para compreender como se dá a prática desse profissional foi
preciso, então, entender a inserção deste no campo da saúde mental, e as mudanças na forma
de atuar do período que antecedeu a Reforma Psiquiátrica, até os dias atuais.
Antes da Reforma Psiquiátrica, o tratamento realizado com pessoas portadoras de
transtornos mentais, ocupava lugar único de destaque no campo de atuação dos psicólogos,
“restrito ao consultório particular”, ou seja, prevalecia o atendimento individual, hegemônico
da clínica tradicional. Essa forma de atuação do psicólogo distanciava-se das políticas públicas.
Um dos fatores para esse distanciamento foi à ausência de disciplinas voltadas para a temática
das Políticas Públicas, durante a formação acadêmica, fator determinante na atuação dos
Psicólogos nos serviços de saúde pública.
A inserção do psicólogo no campo da saúde pública se dá no contexto da Reforma
Psiquiátrica entre os anos de 1978 e 1980, a qual mobilizou não só os trabalhadores de Saúde
Mental, como também dos movimentos sociais, familiares e pessoas com transtorno mental.
Toda essa articulação e a realização de eventos importantes como a 8º Conferencia Nacional de
Saúde, e as I e II Conferência Nacional de Saúde Mental (CNSM), conduziram o processo de
forma a conceber um novo conceito: DESINSTITUCIONALIZAÇÃO, o qual veio servir de
base para o projeto de transformação da assistência psiquiátrica.
Dentre as várias propostas apresentadas pelo Movimento dos Trabalhadores de Saúde
Mental, a redução de leitos e substituição gradativa das instituições psiquiátricas por serviços
alternativos, contribuiu diretamente para o surgimento de novos dispositivos para o tratamento
das pessoas com transtorno mental. Aqui ressalta-se o Centro de Atenção psicossocial (CAPS),
como articulador estratégico para a consolidação da reforma psiquiátrica.
Com o surgimento dos CAPS os psicólogos foram chamados a fazer parte de equipes
multiprofissionais, compostas por psiquiatras, terapeutas ocupacionais e enfermeiros,
enfrentando desafios até então desconhecidos na prática. A partir da nova realidade proposta
pela Reforma Psiquiátrica, o espaço sócio familiar passou a ser palavras - chave do tratamento
antimanicomial, uma atuação menos formal, fora dos gabinetes enciclopédicos, mais próximo
da família, do ambiente social.

Para auxiliar a compreensão do assunto, a metodologia utilizada neste artigo foi pesquisa
de caráter bibliográfica, onde percorremos os seguintes assuntos; a atuação do psicólogo na
saúde pública, desafios encontrados e importância da Reforma Psiquiatra para atuação deste
profissional, uma breve revisão na forma de atuação do mesmo; compreender a temática do
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Centro de Atenção Psicossocial - CAPS, que surge como uma alternativa de substituição ao
modelo praticado nas instituições psiquiátricas e uma reflexão para inserção deste profissional
no campo da saúde mental.

INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NA SAÚDE PÚBLICA - BREVE ANÁLISE HISTÓRICA

A mudança de paradigma na forma de atendimento prestado às pessoas com sofrimento


psíquico, através da Reforma Psiquiátrica, foi fundamental para a ampliação do campo de
atuação dos profissionais. Essa ampliação se deu com a formação de equipes multiprofissionais
de saúde mental nos ambulatórios, incluindo psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras,
terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicopedagogos, enfermeiros.

A atuação dos psicólogos na saúde pública evidenciou enfrentamento desses


profissionais para os novos desafios e serviços que encontravam, o que confirma Dimenstein,
(2000), ao dizer que:
A hegemonia dessa concepção de subjetividade tem consequências importantes
para as práticas realizadas nas instituições públicas de saúde, entre as quais se
destacam: conflito entre as representações de saúde/doença entre usuários e
profissionais; baixa eficácia das terapêutica e alto índice de abandono dos
tratamentos; seleção e hierarquização da clientela. Por outro lado, configura-se
enquanto obstáculo à criação de uma “cultura avaliadora” entre os profissionais e
à construção de instrumentos que permitam ao psicólogo avaliar continuamente o
funcionamento dos serviços e práticas nas instituições públicas de saúde (p. 104).

Suas ações, concebidas pelo modelo hegemônico, tendiam a repetir a velha prática
tradicional exercida nos consultórios particulares, onde há uma dicotomia entre saúde e doença
mental, onde o objeto de trabalho é o indivíduo e sua doença, desconsiderando-se o significado
social de sua condição; ansiosos e perplexos quase tanto quanto, ou mais, que os usuários do
serviço e impossibilitados de novas práticas que os libertassem dos antigos estigmas herdados
pela Psicologia e Psiquiatria, com suas portas fechadas e seus gabinetes escuros. Debateram-se
os psicólogos em busca de novas formas de atendimento, encontrando no sujeito que se tratava
uma pessoa, um cidadão, um ser de direitos.
A realidade acima, segundo KUBO, e BATOMÉ, (2005), é consequência da formação
acadêmica ainda voltada para a clínica tradicional, com base no psicodiagnóstico, e
psicoterapias individuais, enquanto a formação profissional deveria ter como base disciplinas
que possibilitassem ao Psicólogo construir novas práticas alternativas no seu campo de atuação
profissional (p.79).
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Nesta perspectiva, para Bock (1999); Lima e outros, (2005) a atuação do Psicólogo na
saúde coletiva, deve ser orientada pelo “compromisso social”, vontade política, desejo de
efetivar novas práticas, projetos, ideias, iniciativas e ações que promovam a cidadania, o bem
estar, o prazer e quiçá a cura das populações que porventura usam o Sistema Único de Saúde
(SUS).
Segundo Lima (2005) desenvolver uma capacidade técnica e humana no intuito de
incorporar e avançar no propósito da promoção de práticas socialmente contextualizadas para
o Psicólogo como profissional de saúde. Atuar no serviço público de saúde requer dos
profissionais, de todas as áreas não só da Psicologia, conhecimentos do funcionamento do
(SUS). Esses conhecimentos devem nortear as práticas psicológicas, as quais “... não se
restringem no indivíduo nem são de exclusividade da área da Saúde” (Lima, 2005, p. 432).
A partir desse novo pensar foi sendo implantado nos anos 90, uma mudança na atuação
do Psicólogo, passando de uma atuação centrada no atendimento individual, para um novo olhar
que agora açambarcava a família, a vida profissional da população a partir, inclusive, da
realização de pesquisas e avaliação de programas que o envolvesse, trazendo novos
posicionamentos, produzindo e construindo informações à sociedade civil, com ênfase em
formação de trabalhadores para a Saúde Mental. Este novo pensar ampliou o fazer profissional.
Segundo Dimenstein, (2000) neste sentido é desafiador compreender esse papel do
psicólogo no campo da saúde mental na perspectiva da clínica ampliada, haja vista que a
formação recebida por esses profissional foi pautada no “modelo clínico liberal privatista, da
psicoterapia individual, de definições limitadas do que seja a atuação do psicólogo, de forma a
determinar a representação social, que a população tem sobre a Psicologia” (p.104). Questões
que contribuiu para formação de barreiras o que tem sido desafiador para construção de novas
alternativa de atuação deste profissional.
E é em função desta percepção que nos últimos anos, é possível observar mudança no
perfil e na forma de atuação do psicólogo. Observar-se no nos CAPS a presença dos mesmos
fora dos gabinetes, estando mais imerso e próximo da população. Contudo essa nova roupagem
encontrou resistência no ambiente acadêmico-científico, na própria sociedade que a princípio
desacreditou desse profissional solidário e companheiro, no lugar de autoritário e distante; dos
próprios usuários, habituados a serem tratados com exclusão, preconceito e estigmas.
O repensar do papel do profissional de psicologia foi provocado pela implantação no novo
modelo institucional da clinica ampliada, modelo que demonstrou a possibilidade da criação de
uma rede de cuidados com capacidade de assistência voltada para o cuidado psicossocial.
Tendo deste profissional ação humanizadas no campo Saúde Mental surgindo dois novos
dispositivos de atenção representados pelos Núcleos de Atenção Psicossocial – NAPS - e pelos
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Centros de Atenção Psicossocial – CAPS (Figueiredo e Rodrigo 2004, p.174). Essa proposta
surge como referenciais substitutos dos hospitais psiquiátricos, cujas primeiras experiências
foram registradas na cidade de Santos - São Paulo SP. Esse tipo de serviço, CAPS, surge como
uma alternativa de substituição ao modelo praticado nas instituições psiquiátricas. Modelo de
atenção à psíquica, o CAPS tem papel estratégico dentro da Reforma Psiquiátrica, por ser
espaços onde são desenvolvidos projetos, atividades artísticas, oficinas terapêuticas de música,
desenho, pintura, modelagem, tapeçaria, atendimento em grupo, individual, domiciliar e
atividades comunitárias. Enfim, esse equipamento é um componente estratégico na substituição
do modelo hospitalocêntrico, que pretende opor-se à internação, oferecendo um serviço diário
intensivo, comunitário e personalizado.
Como serviço aberto, comunitário, as ações desenvolvidas devem contribuir para a “...
reinserção social dos sujeitos através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários” (BRASIL, 2005, p. 27).
A diferença entre o CAPS e as instituições tradicionais psiquiátricas, asilos e hospícios,
está na prestação de serviço diferenciado, direcionado para o sujeito e não apenas para a doença
e/ou remissão dos sintomas com o uso de medicamentos. Assim, associados fármacos, o
tratamento passa a contar com: “oficinas terapêuticas, atendimento a grupo de familiares,
psicoterapia, atividades comunitárias, atividade de suporte social, oficinas culturais, visitas
domiciliares e desintoxicação ambulatorial” (Brasil, 2004, p. 17). O sujeito é visto inteiro, sob
o ponto de vista ético, moral, psíquico, físico, social, familiar, seus desejos, seus prazeres e suas
necessidades. No hospício esse mesmo usuário era apenas “o louco”, a doença, o vazio, o
desequilíbrio, o desajuste diante de uma sociedade “perfeita”.
Contudo a população passa a ser atendida por uma equipe multidisciplinar possibilitando
uma visão ampla sobre o sujeito com acesso a um serviço inovador por agregar saberes. Isso é
possível quando a “equipe consegue conversar, articular as ações conjuntamente, integrar seus
elementos, e fundamentalmente, construir novas saberes e práticas” (Bichaff, 2006, p. 175).
Partindo da perspectiva de que as ações do CAPS são direcionadas para a integração do
sujeito com sofrimento psíquico no seu contexto social, a Psicologia tem um papel inovador o
de contextualizar esse sujeito. Bock (1999) afirma que a Psicologia deve buscar compreender
esse indivíduo a partir de sua inserção social’’ (p. 33). A compreensão abordada é um desafio
para os psicólogos que entram na área de saúde. Integrar este sujeito com sofrimento psíquico
no seu contexto social é dar-lhe confiança, trabalhar sua autoestima através de dinâmicas e
sensibilizações que o façam sentir-se valorizado.
Partindo deste pressuposto a psicologia social proposta por Dr. Enrique Pichon-Rivière
compreende que concebe o homem como um ser biopsicossocial, produtor e produzido pelo
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contexto sócio-histórico-econômico em que está inserido e pontua as condições concretas de


existência como um dos condicionantes da subjetividade do indivíduo, deixa claro que não o
individuo não pode ser compreendido separado dessa realidade.
Nessa perspectiva a atuação do Psicólogo na saúde mental requer, uma compreensão do
sujeito como ser biopsicossocial, por isso sua atenção deve estar voltada para o sujeito e não
para doença, até porque “sofrimento e doença não se reduz a uma evidência orgânica natural,
objetiva, uma vez que elas estão intimamente relacionadas com as características de cada
contexto sócio-cultural” (Yépez, M.T., 2001, p. 52). Isso orienta as intervenções do psicólogo
que está incluído em uma clínica ampliada, capaz de compreender o sujeito dentro da
coletividade. Sujeito, sofrimento e doença estão ali juntos, enlaçados no preconceito, nos
estigmas, nas situações de risco, na violência, no desprezo, no descaso, na indiferença, no abuso
sexual, na reprovação escolar intermitente e em várias outras circunstâncias sui generis que
favorecem este estado psicofísico de desequilíbrio e transtornos de seres humanos no planeta e
em especial no nosso pobre país rico, onde ainda persevera abismo econômico sociais particular
entre fortunas individuais e pobreza extrema.

INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL

Um dos desafios do psicólogo em trabalhar no campo da Saúde Mental, de acordo com


Figueiredo e Rodrigues (2004), pode estar relacionado com a formação dos psicólogos, pouco
voltada para a discussão dos aspectos sociais como determinantes da condição humana. A falta
de clareza sobre essa questão produz uma prática incapaz de promover à tão proposta reinserção
do usuário. Frente ao exposto busquei a Psicologia Social como instrumento de leitura e
intervenção fundamental frente às transformações vertiginosas da realidade contemporânea e
suas novas exigências. Priorizando entre estas, uma maior qualificação deste profissional no
campo da Saúde Mental, em particular o desenvolvimento de aptidões e atitudes frente ao
trabalho coletivo.

Contudo a Psicologia social apresenta uma visão dialética do indivíduo e sua história, é
necessário está sensível para estas abordagens, por ser neste no momento, a linha diferencial
entre as práticas hegemônicas das clínicas privadas e as novas propostas de atuação, enfatizando
“as relações entre as instituições e os sujeitos, por meio de uma inscrição cotidiana do direito
do louco à cidadania” ( Nicácio, 1994, p. 89).
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Neste sentido o sujeito não pode ser pensado somente na sua individualidade, mas como
sujeito social. Seu psiquismo é configurado num determinado espaço, momento histórico e
contexto social.
Nesta perspectiva a Psicologia Social, introduzida no campo do conhecimento científico
por Enrique Pichon-Riviere, quebra paradigmas psicanalíticos, buscando olhar o sujeito e toda
a “trama de vínculos e relações sociais” que o envolve. Entre tudo que se aprende, se vivencia
se experiência, nesta troca entre ensinar e aprender sobre o que diz respeito à inter-relação
dialética entre o sujeito e sua realidade vai se “aprendendo a aprender”. É neste olhar que
segundo Ana Quiroga, (1998), a Psicologia Social vê o sujeito.
Dentro desse pensar, é significativa a pontuação de Guimaraes, (2001) em relação a
atuação do Psicólogo no CAPS, devido:
A importância decisiva do desvelamento pelo paradigma emergente, da chamada
neutralidade científica-preconizada pelo paradigma dominante – na qual o
observador separado, cindido do observado atuava sobre este sem, no entanto
responsabilizar-se socialmente, enquanto que o observado por sua vez, possuía um
lugar passivo e coisificado no processo de investigação (p. 3).

Assim os profissionais desenvolveu uma percepção de que trabalhar nesse território


significa trabalhar com os componentes, saberes e forças concretas da comunidade, que propõe
soluções, apresentam demandas e que podem construir objetivos comuns. Comunidade aqui
compreendida a partir da conceituação de Costa, L.F.; e Brandão, S.N. (2005) como:
“Dimensão espaço/temporal na qual os sujeitos são compreendidos com foco em suas
relações, sendo constituídos por meio destas, em uma constate dialética entre individual e
coletivo. É dentro desse espaço que se constrói a cidadania” (p.34).
Romper com o modelo clínico tradicional na perspectiva de se trabalhar nesses serviços,
CAPS, é abrir possibilidades para o diálogo entre Psicologia Social e Psicologia Clínica,
partindo da proposta apresentada por Costa e Brandão (2005) não como uma área, mas sim
como uma abordagem, uma forma de olhar.
No dizer de Amarante (1999), podemos conferir:

Neste sentido, o que vimos denominando como Luta Antimanicomial, ou como


Reforma Psiquiátrica, tem como princípio básico uma ruptura com essa tradição
científica [a ciência moderna ou paradigma dominante]. Em primeiro lugar, por
romper com o processo de objetivação da loucura e do louco (inscrevendo a
questão homem-natureza ou a questão do normal-patológico em termos éticos,
isto é, de relação e não de objetivação). Em segundo lugar, por romper com o
processo de patologização dos comportamentos humanos, com base em um
pressuposto teleológico ou ontológico de normalidade. Daí advém o princípio de
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colocar a doença mental entre parênteses, como forma de inverter a tradição


psiquiátrica, que é a de colocar o homem entre parênteses para se ocupar da
doença, como ressaltou Basaglia (p.48).

Neste sentido o trabalho do Psicólogo no CAPS deve pautar-se em elementos não só


psíquicos, mas sociais, históricos e econômicos que influenciam diretamente na vida dos
indivíduos, provocando sofrimento. “O sofrimento humano considerado como ético-político
produzido por uma história de desigualdades e injustiças sociais vivenciadas pelo indivíduo,
que tem origem nas relações intersubjetivas constituídas socialmente (Sawaia, 2001)” (Costa e
Brandão e outros, 2005, p.34). Essas relações, do ponto de vista apresentado por alguns autores
da Psicologia Social Comunitária e da Psicologia Sócio-Histórica, se faz necessária nesse
diálogo entre clínica e a comunidade, no que diz respeito à compreensão do homem numa visão
sócio histórico, uma vez que a Psicologia buscou reconhecimento difundindo a ideia de que o
fenômeno psicológico é interno ao indivíduo. Esse pensamento, fortemente criticada por Bock
(2002) (Costa e Brandão, e outros 2005, p.38), reforça a necessidade de compreender o
fenômeno psicológico como subjetividade, imaginado como algo que compõe na relação com
o mundo material e social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo realizou uma reflexão sobre a atuação do psicólogo no centro de atenção
psicossocial-CAPS. Sendo possível perceber o enfrentamento deste profissional com a falta de
conhecimento da nova proposta, considerando a formação acessada anteriormente, sendo
importante uma readequação no atendimento deste no serviço, requerendo um olhar dos
aspectos social do indivíduo e sua história. O que gerou conflito para o profissional, pois agora
sua atenção está voltada para o sujeito e não para a doença, trazendo o modelo da clinica
ampliada, capaz de compreender o sujeito dentro da coletividade. Sabemos que essa iniciativa,
assim como tantas outras, que aos poucos vão direcionando e se consolidando como algo
inovador dentro da concepção atual se propõe a, ser uma clínica inovadora, produtora de
autonomia. Interessante é perceber que o psicólogo está buscando construir seu espaço,
ousando, dando passos significativos dentro desse processo de consolidação da reforma
psiquiátrica.
O psicólogo do CAPS busca articular os serviços oferecidos com a rede básica de saúde
comunitária e assim proporcionar uma intervenção social capaz de mobilizar os usuários do
serviço a desenvolver mecanismos de ajuda para que não permaneçam dependentes do serviço
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ofertado. Levando em considerações os aspectos sociais e culturais do sujeito. A relação entre


psicólogos e usuários deve ir além da recepção, atenção, consideração, refúgio, abrigo, passa
pela subjetividade, pela escuta das necessidades do sujeito, passa pelo processo de
reconhecimento de responsabilização entre serviço e usuário, e abre o começo da construção
do vínculo. Componentes fundamentais para um reinventar a qualidade da assistência.
Essa qualidade na assistência só será possível se o serviço se propuser ultrapassar os
muros, se a clínica ampliada fizer parte do plano de atuação do Psicólogo e demais
profissionais.
Percebe-se que os profissionais envolvidos com a saúde mental, estão se readequando
ao novo modelo de serviço trazendo possibilidades de mudança ao universo do sujeito. Desta
forma os psicólogos contribuem para uma mudança de paradigmas que inclui o sujeito dentro
de suas relações, na comunidade e com sua singularidade. Importante ressaltar que o presente
artigo não dispensa estudos mais aprofundados para esta nova realidade, trazendo contribuições
para o processo formativo deste profissional.

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