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Resumo: O presente artigo tem o objetivo de discutir sobre o trabalho do Serviço Social
nos Centros de Psicossocial (CAPS) com a finalidade de identificar as possibilidades de
cuidado em saúde nas chamadas oficinas terapêuticas. Trata-se de um relato de
experiência em uma oficina terapêutica de escrita, vivenciado no CAPS II do Grupo
Hospitalar Conceição (GHC). Apresenta-se os pressupostos teóricos, as finalidades
interventivas, dados que permitem caracterizar a população usuária participante desse
grupo e a metodologia adotada. Ao final conclui-se que a intervenção profissional no
campo da saúde mental promove efeitos terapêuticos para a população em suas dimensões
individuais, coletivas e emancipatórias, em consonância com o projeto ético-político.
1 INTRODUÇÃO
1
Graduanda de Serviço Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre-
RS/ Brasil. E-mail: cristinavlevandovski@gmail.com
2
Assistente Social. Mestre e doutora em Serviço Social. Docente na Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), Porto Alegre- RS/ Brasil. E-mail: thaisacloss@hotmail.com
Os CAPS estão relacionados com esse processo uma vez que são serviços
substitutivos aos hospitais psiquiátricos, prestando um cuidado especializado na atenção
psicossocial e de base territorial (BRASIL, 2004). Convém pontuar que a portaria nº 336
de 19 de fevereiro de 2002 regula e caracteriza esses serviços, sendo divididos em CAPS
I, II, III, CAPS i II, CAPS AD II (BRASIL, 2002), de modo que para fins deste trabalho
somente se apresentará as características dos CAPS II. A partir dessa legislação, os CAPS
II atendem municípios com população entre 70.000 a 200.000 habitantes, funcionam em
caráter de atenção diária e ofertam atendimento para indivíduos adultos com transtornos
mentais severos e persistentes (BRASIL, 2002). Por fim, em relação ao tipo de equipe
prevista, ela é de tipo multiprofissional, composta por assistente social, enfermeiro e
técnicos de enfermagem, médico psiquiatra, psicólogo, técnico administrativo e terapeuta
ocupacional (BRASIL, 2002).
Cada usuário tem um plano terapêutico que deve ser traçado coletivamente,
contemplando as suas necessidades e limitações (BRASIL, 2004), nesse sentido, a equipe
faz uma avaliação inicial sendo formulado um projeto de acompanhamento que vai sendo
modificado conforme a demanda. Ressalta-se que todas as ações realizadas nos CAPS
devem possuir finalidade terapêutica para a população usuária, sendo previstas diferentes
modalidades de atendimentos e de atividades, que são: individuais, em grupo, a famílias,
a comunidade e realização de assembleias (BRASIL, 2004). As atividades em grupo
Avalia-se que essas dimensões podem guiar a construção dos objetivos dos
espaços de oficina conduzidos por Assistentes Sociais. Com relação ao CAPS II-GHC, o
Serviço Social conduz a Oficina de Escrita, atividade que ocorre semanalmente com
duração de aproximadamente 1h 30min e com um número máximo de usuários(as) que
participam regularmente. Acerca dos critérios para participação, há um único que se
relaciona com a necessidade de que a pessoa seja alfabetizada. Os encontros são feitos a
partir de uma determinada temática e se utiliza de recursos como músicas, poemas e textos
para que as pessoas possam falar das suas dores, esperanças e perspectivas.
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Construiu-se um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que foi entregue para cada usuário(a) que
participava da oficina de escrita, sendo permitido a posterior divulgação das informações obtidas para fins
acadêmicos.
Atividade Tema
O segundo encontro tinha como tema o conceito de saúde e a relação com a saúde
mental, desse modo, definiu-se como objetivo trabalhar o conceito de saúde e
desmistificar a noção de cura. O grupo foi dividido em duplas para que pudessem
construir um conceito de saúde, sendo definidas da seguinte forma:
Saúde é estar bem consigo mesma, é estar alegre, ser forte onde
possamos ajudar o próximo. Sem estar chorando. Saúde é ter amor,
sentir paz dentro de si. Sem saúde não se consegue nada. Seja qual for
o tipo de saúde mental ou física. Saúde é tudo (SIU 4 e 6, 2019).
E ainda, “Mental. Capacidade de fazer as coisas. Enfrentar os medos que cura. Ter
saúde para fazer suas atividades que quero, atividades do dia-a-dia que não posso fazer
sozinha” (SIU 2 e 8, 2019). A partir dessas definições percebe-se que o entendimento de
saúde mental está atrelado a estar bem consigo e, a partir disso, aponta-se uma relação
com os princípios da Reforma Psiquiátrica e com o modelo de Atenção Psicossocial. Tal
articulação é feita já que a centralidade nas escritas é sobre a promoção de saúde, assim
sendo, o foco não é a doença, mas sim os indivíduos e as diferentes dimensões que lhes
causam dor (ROSA; YASSI, LUZIO, 2003), construindo-se formas de promoção de
saúde mental.
Aí eles pedem que tu previna né, mas não tem como prevenir, porque
pra ti consultar o especialista tem que passar por um clínico. Pra ti
consultar um clínico tem que ir de madrugada tirar uma ficha, aí depois
que tem indicação do clínico leva dois/três anos pra consultar com
especialista (SIU 1, 2019).
E ainda, teve uma usuária que escreveu que a sua autonomia estava relacionada
a “vir no CAPS” (SIU 3, 2019). Ao longo do encontro, os(as) usuários(as) foram trazendo
as diferentes limitações e desafios que enfrentam no seu cotidiano, mas conforme o
tempo, o acesso a políticas sociais, o cuidado e o acompanhamento dos serviços
intersetoriais e da rede de apoio e familiar, conseguem avançar em processos mais
autônomos, ampliando as possibilidades de escolhas sobre suas próprias vidas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
4
Essa informação foi retirada da revista piauí, da reportagem intitulada Um país ainda mais desigual.
Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/um-pais-ainda-mais-desigual/. Acesso em: 22 set. 2020.
REFERÊNCIAS
5
Para maiores informações consultar: https://apublica.org/2020/05/em-duas-semanas-numero-de-negros-
mortos-por-coronavirus-e-cinco-vezes-maior-no-brasil/. Acesso em: 13 out. 2020.
COSTA, Abílio Rosa; YASSI, Silvio; LUZIO, Cristina Amélia. Atenção Psicossocial:
rumo a um novo paradigma na Saúde Mental Coletiva. In: AMARANTE, Paulo (org).
Archivos de Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Nau, 2003, p. 13-
44.
RIBEIRO, Paulo Rennes Marçal. Saúde Mental no Brasil. São Paulo: Arte e
CiênciaColeção Universidade Aberta, 1999.