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POLÍTICA PÚBLICA DE ATUAÇÃO DO PSICOLÓGO NA SAÚDE

MENTAL DO CAPS AD
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1. INTRODUÇÃO

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são um programa de política pública


que prestam serviços à comunidade e visam uma atenção integral, além de propor
atividades psicoterápicas, socioterápicas de terapia ocupacional e arte, focando em
uma equipe multi e interdisciplinar, que levam em consideração as queixas pessoais
do sujeito e o local onde o mesmo está inserido. Esses centros surgiram a partir da
Reforma Psiquiátrica no Brasil, em que pessoas eram institucionalizadas em
hospitais psiquiátricos, sem atendimento personalizado, com tratamento
estereotipando-os como “loucos”, ou seja, estavam fora dos padrões da sociedade.

Os sujeitos que eram internados em manicômios eram minorias psicológicas e


isso é definido por Mailhiot (2013, p. 30), sob a óptica de Lewin, como a atribuição
de um grupo que não possui “direitos totais ou um estatuto completo que lhe
permitam optar ou orientar-se nos sentidos mais favoráveis a seu futuro.” Dentro
desse grupos podemos citar: população em situação de rua, idosos, mulheres,
pretos, pardos e indígenas, comunidade LGBTQIA+, usuários nocivos de álcool e
outras drogas, pessoas com deficiência, pessoas acima do peso, crianças e
adolescentes. Esses são alguns exemplos que eram acometidos à luz da visão
manicomial e torturados, sem ter liberdade de expressão.

Com isso, os CAPS, que são divididos em áreas (CAPS I, CAPS II, CAPS III,
CAPSi, CAPS AD II e CAPS AD III), prestam serviços com foco no paciente, fazendo
com que o mesma tenha voz e autonomia, reconstrua o direito de uso de palavras e,
se for o caso, de objetos pessoais, intensificar as relações pessoais, reconstruir seus
direitos civis, entre outros. Dessa maneira, Cantele; Arpini; Roso (2012) afirmam que
os CAPS devem ser substituídos por todos os modelos que apontam o ser humano
como inferior, incapaz e incorrigível de suas ações, portanto promovem a inserção
social e a garantia da cidadania.

Neste caso, o trabalho explanará os cuidados que são propostos pelos


profissionais de saúde no CAPS AD, junto à colaboração da psicóloga do CAPS AD
II, de Santos, onde são atendidos usuários de álcool e drogas. O serviço objetiva a
garantia de tratamento a pessoas com transtornos comportamentais decorrentes do
uso nocivo que acarretam prejuízos psíquicos, físicos e sociais, e promove o ser
humano em toda sua complexidade, na maneira de agir e pensar no mundo.
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2. POLÍTICA PÚBLICA DE ATUAÇÃO DO PSICOLÓGO NA SAÚDE MENTAL


DO CAPSAD

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) têm como estratégia principal,


enquanto organizadores da rede comunitária de cuidados, a condução local dos
programas de políticas públicas de saúde mental, através do desenvolvimento de
projetos terapêuticos e comunitários (FERREIRA; BLEICHER, 2018). Os CAPS
colaboram seriamente com trabalhos associados às equipes de Agentes
Comunitários de Saúde, assim como equipes de Saúde da Família na atenção
domiciliar.

De acordo com as mesmas autoras, “a emergência das políticas públicas sobre


álcool e outras drogas no conjunto das diretrizes em saúde mental no Brasil, surge
no século XX, quando estes passam a ser considerado um problema social”
(FERREIRA; BLEICHER, 2018, p. 42). Isso significa que quando usuários nocivos
de substâncias psicoativas se tornam uma preocupação para algumas esferas
sociais, emergem como um fenômeno visto como temível, ameaçador e perigoso à
ordem social e sobretudo à saúde pública (BRASIL, 2005). A partir disso, foram
propostas estratégias de intervenção por intermédio do SUS (Lei 8.080/90) e da
Reforma Psiquiátrica Brasileira (Lei 10.216/01), para a criação de dispositivos legais
de cuidados aos usuários de álcool e outras drogas, os CAPS AD, entre outras
instituições de cuidado e atenção para este público (BRASIL, 2005).

A Reforma Psiquiátrica Brasileira foi consolidada justamente para prever a


desinstitucionalização do sujeito, com a diminuição progressiva de leitos em
hospitais psiquiátricos e o oferecimento de serviços próximos à população em
situação de vulnerabilidade social (FARIA; SCHNEIDER, 2009). “Trata-se de um
processo social complexo, no qual é necessária uma reflexão sobre o modelo
científico da psiquiatria, que não consegue ver saúde nas pessoas, apenas doenças”
(AMARANTE, 2006, p. 35). Por isso, a implementação do CAPS AD é de suma
importância para refletirmos sobre o atual modelo de atenção em saúde, que propõe
promoção de saúde focada no sujeito, enquanto ser humano capaz de construir sua
autonomia e libertação diante da situação imposta.
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3. REFERÊNCIAS PARA A ATUAÇÃO DO PSICOLÓGO

O Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP,


2013, p. 86) afirma que “os referenciais relativos às práticas e às técnicas
desenvolvidas no serviço devem estar submetidos às diretrizes do SUS e da
Reforma Psiquiátrica e a ética do projeto antimanicomial.” Portanto, o trabalho
realizado pelos psicólogos no CAPS, em especial o CAPS AD, é trabalhar com
acolhimento a usuários em situação de vulnerabilidade pessoal e social,
psicoterapias, discussão de casos com a equipe multi e interdisciplinar, elaboração
de planos de grupos, oficinas e de cuidado, visando à reinserção social de quem
está procurando ajuda.

Um ponto importante a ser destacado pelo CAPS é que os profissionais de saúde


mental devem ter um posicionamento crítico e se contrapor à exclusão como recurso
de tratamento (CREPOP, 2013). A partir da equipe atuante nessa área e métodos
terapêutico mais humanizados, não podemos nos retrair frente aos atendimentos à
loucura e ao sofrimento psíquico, o que possibilita aos usuários o direito à liberdade
de expressão, anuência com o tratamento, respeito aos direitos humanos e à
cidadania dos mesmos. Todo este trabalho é realizado sob orientação ética do
Código de Ética do Psicólogo, conhecimento teórico-científico e empatia. O Código
de Ética Profissional pontua: “O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a
qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação
de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão” (CFP, 2005, p.7).

O campo do psicólogo no CAPS AD estabelece uma “noção de integralidade,


fundamentada na consideração da subjetividade e do campo das relações sociais
como estruturante da atuação profissional” (CREPOP, 2013. p. 44). Este Centro é
um instrumento de cautela, articulado em rede, com foco em “pacientes com
transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas” (BRASIL,
2002). Os atendimentos psicoterápicos podem ser realizados de maneira individual e
em grupos. Fazemos um adendo à palavra ‘dependência’, pois esse termo caiu em
desuso por ter uma representação social negativa e pejorativa, estigmatizando o ser
humano e tornando-o incapaz de conduzir sua própria vida.
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De acordo com o CREPOP (2013), algumas atividades que são concretizadas no


CAPS AD são: 1) atendimentos individuais e grupais; 2) atendimentos em oficinas
terapêuticas; 3) atendimentos e visitas domiciliares; 4) atendimento à família,
5)atividades comunitárias voltadas à integração do usuário de álcool e outras drogas
na comunidade e sua reinserção familiar e social; 6) os usuários assistidos recebem
de uma a duas refeições diárias, conforme o seu turno; 7) atendimento de
desintoxicação.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os CAPS AD têm o desafio de serem importantes mecanismos de assentamento


das políticas públicas de atenção ao usuário de álcool e drogas dentro das
normativas da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Assim, a amplitude do conhecimento
em que as ações em saúde estão sendo realizadas destes serviços, tal como o perfil
do seu usuário, é de fulcral relevância para a avaliação de sua irrefutabilidade.

O papel do psicólogo no CAPS AD tem se ampliado cada vez mais, e o mesmo


fornece integralidade, fundamentada no apreço da integralidade e do campo das
relações sociais como organizadoras da atuação profissional (CREPOP, 2013). Isso
é muito corroborado pela fala da psicóloga, a qual explica que os atendimentos são
realizados visando a melhoria da qualidade de vida do sujeito, diminuição da
substância por meio da política de redução de danos e, principalmente, focando no
usuário como ser humano e não como um dependente incapaz de ter uma evolução.

É necessário reforçar o estigma do uso de substâncias psicoativas juntamente ao


estereótipo de doença mental, de acordo com o ponto de vista social, criando-se
uma situação de assujeitamento. O usuário de álcool e drogas está muitas vezes
atrelado à figura de um ator social perigoso e dependente, então a dimensão do
usuário como cidadão é perdida, por isso ressaltamos que o CAPS AD é um Centro
que oferece humanização dentro dos seus atendimento. Por fim, salientamos que o
sujeito deve ter a compreensão mínima do funcionamento da política pública de
saúde mental do CAPS AD, dos equipamentos de saúde e de todas as possíveis
etapas de atendimento.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Amarante, P. Rumo ao fim dos manicômios. Revista Mente & Cérebro, 164, 30-35,


2006. 

BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório Final da III Conferência Nacional de Saúde


Mental. Brasília, 2002b.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação


Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil.
Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde
Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, DF, 2005.

CANTELE, Juliana; ARPINI, Dorian Monica; ROSO, Adriane. A Psicologia no


modelo atual de atenção em saúde mental. Psicol. cienc. prof. , Brasília, v. 32,
n. 4, pág. 910-925, 2012. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1414-98932012000400011&lng=en&nrm=iso>. acesso em
outubro de 2020.  

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional do


Psicólogo. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2005.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências Técnicas para a Atuação


de Psicólogas/os em Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas. Conselho
Federal de Psicologia. Brasília: CFP, 2013.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências Técnicas para Atuação de


Psicólogas(os) no CAPS - Centro de Atenção Psicossocial. Conselho Federal de
Psicologia. Brasília: CFP, 2013.

FARIA, Jeovane Gomes de; SCHNEIDER, Daniela Ribeiro. O perfil dos usuários
do CAPSad-Blumenau e as políticas públicas em saúde mental. Psicol. Soc., 
Florianópolis ,  v. 21, n. 3, p. 324-333,  dez.  2009 .   Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822009000300005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  24  nov.  2020. 
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FERREIRA, Sulyanne da S.; BLEICHER, Tais. A Política Pública de Saúde Mental


em um CAPS-AD: representações sociais de usuários. Instituto Metodista de
Ensino Superior. Mudanças – Psicologia da Saúde, 26 (2), Jul.-Dez, 2018.

MAILHIOT, Gérald Bernard. Dinâmica e gênese dos grupos – atualidade das


descobertas de Kurt Lewin. Ed: Vozes, São Paulo, 2013.

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