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A prática profissional Psi na Saúde Pública: configurações históricas e

desafios contemporâneos. (Mary Jane Spink e Gustavo Corrêa Matta). In:


A psicologia m diálogo com o SUS: prática profissional e produção acadêmica.
Mary Jane Paris Spink (org.). São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.

Síntese

O Texto contribui para a formação do Psicólogo na prática perante a


sociedade, frente ao serviço público de saúde tendo como foco processo
saúde-doença.

Principais ideias

No início do texto, o autor relata que por volta da década 1980 houve a
primeira inserção dos psicólogos nas UBS. Em 2006 a ABEP (Associação
Brasileira de Ensino de Psicologia). Através de vários debates sobre a pratica
profissional do psicólogo no segmento de políticas públicas de Saúde,
consequentemente as áreas de atividades que mantém em pauta até os dias
atuais.

É polêmica a passagem histórica que leva a Psicologia de dentro dos


laboratórios ao modelo funcional do cotidiano das pessoas, inclusive à
prestação de serviços. O fato é que a Psicologia em seu processo de
consolidação no campo da ciência dita “moderna”, necessitou passar dos
laboratórios experimentais para problemas aplicados na vida cotidiana.
Contudo, a ordem paradigmática não superou de modo consistente o modelo
de ciência linear que se instalara durante o Renascimento. Ou seja, a
psicologia saída das clínicas e do modo já pré-estabelecido de atendimento
pautado nas necessidades da “elite”, foi a psicologia que chegou aos postos de
atendimentos da sociedade e da população carente.

Além disso, a falta de um lugar profissional do Psicólogo no Brasil já


conquistado lá for, infligia os interessados em psicologia no Brasil a buscarem
recursos externos. De toda forma, foi o ingresso de “verdades psicológicas” na
cultura brasileira, como se o fato de serem ditas por um palestrante
estrangeiro, legitimasse um conceito como mais verdadeiro do que se tivesse
sido pronunciado a partir de um estudo nacional. Ou seja, as práticas e
padrões utilizados fora do país, em outras realidades sociais e culturais, foram
absorvidas e reproduzidas aqui, sem sequer se adaptar os recursos e
abordagens, colocando já inicialmente em cheque a possibilidade de
funcionalidade da prática.

A inserção do Psicólogo nos serviços públicos de saúde ocorreu no final da


década de 1970, com finalidade de construir modelos alternativos ao hospital
psiquiátrico, com vistas à redução de custos e maior eficácia dos atendimentos,
por meio da formação de grupos multiprofissionais. Dois fatos contribuíram
para a presença de psicólogos no setor de saúde: a redução do mercado de
atendimento psicológico privado, em decorrência da crise econômica pela qual
o país estava sendo afetado, e a crítica à psicologia tradicional, por não
apresentar significado social, a qual motivava o surgimento de práticas
alternativas socialmente mais relevantes.

Observamos que a introdução do psicólogo no sistema de saúde foi baseada


na demanda de origem psiquiátrica, com proposta de mudança da cultura de
hospitalização do doente psiquiátrico. Portanto, podemos concluir que a
Psicologia passou a fazer parte da área de saúde, com um forte vínculo ao
modelo médico e à saúde mental. Entretanto, nas últimas décadas, tem havido
mudanças no modelo de saúde e na concepção de que a saúde deve ser
desenvolvida e não apenas conservada.

A ênfase na promoção da saúde e prevenção de doenças abre uma nova


dimensão na compreensão dos fenômenos da saúde e da doença, desta forma
as novas inserções criam tensões, devido às ferramentas da psicologia
continuaram as mesmas. Tais mudanças vêm exigindo transformações de
teorias e práticas, que não contemplem apenas a atuação no campo da saúde
mental, mas que também favoreçam o processo de saúde, em seu contexto e
em suas necessidades globais.

A psicologia da Saúde pode ser vista como um campo da Psicologia que nasce
para dar resposta a uma demanda socio sanitária, com destaque de algumas
tendências para essa área, como: integração de modelos teóricos, modificação
de crenças e atitudes com relação às enfermidades, a participação individual e
comunitária nas questões de saúde todos aspectos compreendidos pelo autor
como estratégias para soluções dos problemas de saúde.

Observando as mudanças no estilo de vida da população, em nível mundial,


juntamente com as várias inovações e descobertas, na área da saúde, as quais
não mais se limitam à recuperação, mas também se estendem às ações de
prevenção e promoção, valorizando o enfoque coletivo, entendemos que essas
mudanças refletem nas atuações de todos os profissionais envolvidos, sendo o
psicólogo um deles. Nessa perspectiva, é relevante repensar as práticas,
cenários de atuações e referências teóricos, para que sejam criadas
estratégias de formação, bem como novas áreas de atuação do psicólogo, a
fim de que este venha de fato a causar demandas de responsabilidade social
solicitadas pela população atendida no setor saúde, o que nos leva a
questionar as atuações, saberes e referências teóricos utilizados pelos
profissionais, mediante a realidade e adequação com o SUS.

As ações desenvolvidas pelo psicólogo na saúde, bem como a sua formação,


são questionáveis enquanto sabemos que os conhecimentos em Psicologia
clínica são fundamentais para atuação na saúde, mas também são
insuficientes para o desenvolvimento do trabalho na área, ressaltando que os
profissionais contratados por concursos continuam a utilizar o modelo clínico
em instituições que exigem ajustes e aprimoramento profissional contínuo.
Especificamente sobre a formação, assinalaram que os cursos de graduação
em Psicologia não desenvolvem no aluno um repertório profissional coerente
com as necessidades da área, dificultando a avaliação das necessidades
locais, bem como a elaboração de pesquisas que possibilitem o
desenvolvimento do setor.

Citações

“O que antes parecia não mais que um problema alheio foi se


fazendo desejo de menos sangue no dia, um tanto mais de alegria,
compromisso cidadão com humanos necessidades, direito de ser
inteiro corpo são, sábios sentimentos. Inteiros se dando ao projeto
de um jeito brasileiro de limpar a mão da história com gestos sujos
de empenho com quem espalha vento, um tanto desbravador
soprava provocação, construíram estandartes, pavimentaram
trajetos. Acordou a psicologia. Hoje já é um levante, por saúde todos
os dias. Há um sonho bailando no vento, que é de branco tormento,
suave desafio. Para cada um ter o sono que pensamos merecer. Só
se tivermos todos, o mesmo humano direito de acolhimento sincero,
competente e generoso, de viver e do adoecer.” (SPINK,2010, p.24).

“Em 1983/1984 foi formulado o projeto de Ações Integradas de


Saúde que adotou os princípios de universalização, descentralização
e integração dos serviços de saúde, estabelecendo convênios entre
União, estados e municípios na perspectiva dos ideais da
constituição de um sistema único e descentralizado” (SPINK, 2010,
p.39).

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