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CURSO DE PSICOLOGIA
PSICOLOGIA E SAÚDE
Grupo:
Carlos Daniel de Andrade de Oliveira - Matrícula: 1200100166
Daianá LucíliaSantos Agavino de Almeida - Matrícula: 1200200248
Gabriel Curi Leonardo - Matrícula: 1200101332
Marcos Vinicius dos Santos Maximiniano - Matrícula: 1200200762
Thatiana Lago Cansanção - Matrícula: 1170105900
Rio de Janeiro
2023
Introdução ............................................................................................................................................................... 1
Desenvolvimento .................................................................................................................................................... 2
Conclusão ............................................................................................................................................................... 5
Referências ............................................................................................................................................................. 6
Introdução
O CREPOP escolhido para discussão foi o intitulado Referências Técnicas para a atuação de
psicólogas(os) nos serviços hospitalares do SUS (CFP, 2019), lançado justamente quando vivíamos, no
Brasil e no mundo, a crise sanitária da Covid 19, e a atuação de psicólogos em hospitais gerais estava
ainda mais em evidência. Antes de abordamos esse CREPOP, especificamente, cabe fazermos um breve
panorama sobre o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) e a psicologia hospitalar.
A reivindicação pelo direito universal à saúde foi amplificada no Brasil na época em que
movimentos sociais diversos lutavam pela redemocratização e se mobilizavam pelo direito à liberdade
democrática e pelos direitos sociais. Com o fim da ditadura, o país passou por importantes reformas na
área de saúde, como a sanitária e psiquiátrica.
O Movimento Sanitário criticou o modelo anterior porque ele não dava conta das necessidades
de saúde da população. A partir desse movimento, ocorreu, em 1986, a 8ª Conferência Nacional de Saúde,
onde foram lançadas as diretrizes de construção do SUS. Com a nova constituição, a saúde passa a ser
reconhecida como um direito de todos e dever do Estado e entende-se que as ações e serviços públicos
de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único (BRASIL,
1988). Porém, apenas com a Lei Orgânica de Saúde (8080/90) e a Lei Orgânica Complementar (8142/90),
foram formulados os princípios e diretrizes fundamentais do SUS (universalidade, integralidade e
equidade) e foram reguladas, em todo território nacional, as ações e serviços de saúde.
A atuação dos psicólogos nos serviços públicos de saúde data do final da década de 70. No
entanto, o reconhecimento da psicologia como uma das categorias profissionais de nível superior da área
de saúde veio apenas no final da década de 90 (BRASIL, 1998). Para o presente trabalho, é interessante
discutir a diferença entre Psicologia Hospitalar e Psicologia da Saúde, pois, frequentemente, estes
campos do saber são retratados como distintos, sendo o Brasil um dos poucos países que pensa esses
elementos de modo dicotômico. Há, inclusive, uma regulamentação para a especialização e
reconhecimento de cada área.
A Psicologia Hospitalar, reconhecida em 2000 pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2000),
pode ser entendida como um campo voltado para a compreensão e ação sobre os aspectos psicológicos,
que gravitam o adoecimento enquanto categoria biopsicossocial, com foco no ambiente hospitalar. Por
outro lado, a Psicologia em Saúde, reconhecida e regulamentada apenas em 2016 (CFP, 2016), busca
compreender cientificamente como pensamentos, sentimentos, ações, relações sociais e políticas
públicas podem afetar a saúde e o bem-estar, abrangendo a atenção primária, secundária e terciária.
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Contudo, como aponta Daneluci (2013), alguns autores consideram que a Psicologia Hospitalar
está inserida na Psicologia em Saúde, pois esta abarca todos os níveis de atenção. Assim, não parece
incoerente optar por esta referência.
Desenvolvimento
De acordo com o conceito adotado pela Organização Mundial de Saúde em 1948, “saúde é o
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença.” Pode-se dizer
que houve um grande avanço na concepção de saúde e na forma de abordá-la, uma vez que a saúde, antes
vista apenas sob aspectos biológicos, passou a ser considerada como determinada e condicionada também
pelas condições de moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte,
lazer, acesso a bens e serviços essenciais. Assim, os psicólogos passaram a atuar também em hospitais,
pois se entendeu a importância de abordar aspectos subjetivos e psicológicos que interferem nos
processos de adoecimento e saúde.
O CREPOP aqui referenciado foi construído pela sistematização de práticas de psicólogos
hospitalares realizadas em todo o território nacional, a fim de servir como um importante instrumento de
qualificação profissional que articula a prática e as diretrizes públicas, orientando e direcionando a
atuação do psicólogo hospitalar, pois se faz necessário para o profissional conhecer os princípios e
diretrizes do SUS e delimitar e definir a sua atuação nos âmbitos secundário e terciário.
O trabalho do psicólogo hospitalar é caracteristicamente realizado em equipe multidisciplinar,
fazendo parte de sua atuação o atendimento individual do hospitalizado, o atendimento dos familiares, o
atendimento em grupo e até processos formativos com a equipe multiprofissional. Sua prática deve
sempre estar pautada na humanização, no acolhimento e no compromisso social da psicologia, que nunca
compactua com práticas discriminatórias que produzam sofrimento subjetivo.
O material Referências técnicas para a atuação de psicólogas(os) nos serviços hospitalares do
SUS está organizado em 4 eixos principais, cujos pontos considerados mais relevantes pelos autores deste
relatório serão discutidos a seguir.
O objetivo do Eixo 1: Dimensão Ético-política da Área de Psicologia Hospitalar é difundir o
conhecimento referente ao conceito ampliado de saúde e ao SUS, assim como a sua estrutura, princípios
e diretrizes. Além disso, este eixo foi importante para que se pudesse ter uma referência sobre o contexto
político e ético. Primeiramente, o texto aponta para a necessidade de se conhecer o Código de Ética da
Psicologia e as resoluções do CFP sobre a atuação e políticas de saúde para a prática profissional. O
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Código de Ética traz que o psicólogo deve buscar contribuir positivamente para a saúde e o bem-
estar, para a promoção de liberdade, dignidade, igualdade e integralidade, assim como eliminar as
negligências, discriminações, explorações, violências, crueldades e opressão, atuando de modo
socialmente responsável, crítico e contextualizado. Isto também se aplica ao contexto hospitalar.
Cabe dizer que algumas portarias trazem obrigações e recomendações para psicólogos inseridos
nas equipes hospitalares, como as portarias n° 628/2001, n° 400/2009, n° 4.279/2010 e n° 930/2012.
Ademais, vale destacar a Política Nacional de Humanização (PNH/HumanizaSUS), que é um reflexo de
uma busca de atuação mais humana e transversal. Com esta política, busca-se valorizar a dimensão
subjetiva e coletiva, fortalecer o trabalho multiprofissional, a corresponsabilização, a participação social
na gestão, a regionalização e a integralidade etc. Para os hospitais, sugere-se que implemente grupos de
Trabalho de Humanização, com a garantia de visitas abertas, da presença de acompanhantes, assim como
de uma escuta diferenciada e qualificada, do estabelecimento de equipes multiprofissionais de referência,
da implantação de conselho de Gestão Participativa, do mecanismo de desospitalização, de continuidade
de assistência etc.
A referida política recomenda também o acolhimento, a atenção à alteridade e à ambiência. O
acolhimento é entendido como um dispositivo de escuta dos usuários de modo integral, buscando a
construção entre sujeito e profissional para garantir o acesso aos serviços. Ele envolve resolutividade,
responsabilidade, abertura para a diversidade e atenção integral. A alteridade, por sua vez, traz a ideia de
se colocar na posição do usuário para poder se comunicar com ele de modo fluido, ético, responsável,
levando em conta suas representações e necessidades. Por fim, a ambiência, trata-se de um cuidado com
os aspectos ambientais do acolhimento que devem estar de acordo com as necessidades das pessoas.
Dentro deste contexto, está a Clínica Ampliada, que valoriza uma visão integral do sujeito e da demanda
em seus aspectos biopsicossociais.
Seguindo adiante, chega-se ao Eixo 2: Interface entre Psicologia e Atenção Hospitalar, onde é
recortada e justificada a atuação do psicólogo na instituição hospitalar, trazendo as principais
especificidades de atuação. O hospital é caracterizado como um ambiente no qual circulam sofrimento,
crises, adoecimentos, sentimentos de fragilidade, mal-estar, rupturas, desamparo, confusão, ansiedade,
sentimentos conflituosos e ambivalentes, sentimento de ameaça à integridade, perdas, possibilidade de
morte, angústia, incertezas, medos difusos. Por outro lado, é um local que demanda mecanismos
adaptativos dos pacientes, dos familiares e da equipe. No entanto, pode ser que esses mecanismos falhem,
requerendo atuação do psicólogo hospitalar. Por exemplo, esse profissional pode ajudar na adaptação, no
suporte emocional e psicológico, em reflexões que possibilitem novos padrões, no favorecimento da
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elaboração simbólica, no entendimento da demanda, na escuta dos aspectos subjetivos e particulares, na
facilitação do engajamento no tratamento e nas restrições, na identificação de reações emocionais
próprias do adoecimento, na facilitação em lidar com o luto, no preparo para uma morte digna.
Durante a sua prática, é importante que o psicólogo compreenda a instituição, quem são os
usuários, o que se passa com eles, que entenda a dinâmica doença/hospitalização/tratamento e que
enfatize as relações paciente/família/equipe. De modo geral, suas intervenções têm um caráter focal,
breve e objetivo.
Ao passar, agora, para o Eixo 3: atuação da psicologia nos hospitais, busca-se trazer a atuação
profissional nos hospitais em relação aos contextos, às práticas e às éticas. São apresentadas 15 atividades
rotineiras do profissional. Além disso, como aponta o princípio de integralidade e a proposta de
transversalidade, a atuação do psicólogo precisa estar integrada e coerente com a equipe multidisciplinar.
O que vai perpassar todos esses elementos é a ética da escuta ao sofrimento e o fortalecimento do sujeito,
considerando os aspectos biopsicossociais da pessoa assistida, da equipe e da família. Sendo assim, as
atividades rotineiras do psicólogo são: 1- acolhimento, 2- acompanhamento, 3- avaliação psicológica, 4-
facilitar a comunicação, 5- produção de atividades culturais, 6- processos educativos, 7- participar na
formação dos profissionais, 8- participar na formação de novos psicólogos, 9- realizar processos grupais,
10- mobilização social, 11- participar de aspectos organizacionais, 12- orientação e aconselhamento, 13-
planejamento e gestão, 14- pesquisas e 15- prática terapêutica.
Além disso, o texto aborda dois tópicos que parecem querer representar situações éticas.
O primeiro deles é sobre os cuidados paliativos, onde os princípios de atuação do psicólogo são: viver
com qualidade e sem dor, haver momentos de recolhimento, finalizações e realizações de desejos, estar
na presença de familiares, receber suporte emocional e espiritual. O segundo deles é referente às
notificações compulsórias em caso de violência, situações em que todos os hospitais devem ter uma
equipe responsável para o preenchimento da ficha de notificação compulsória e devem buscar elucidar
suspeitas.
Por fim, o Eixo 4: a gestão do trabalho em saúde aborda justamente o processo de gestão. A área
hospitalar faz parte da área da saúde e, nesse sentido, está submetida à mesma legislação que seguem os
princípios e diretrizes do SUS. Portanto, a gestão precisa buscar a participação social, práticas
integrativas, interdisciplinares e transversais que coloquem o usuário e o profissional como sujeitos
ativos no processo saúde-doença.
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Conclusão
Vimos, no Eixo 1, que é necessário que o psicólogo conheça a legislação da área de atuação, se
posicione como referência e seja capaz de compreender o sujeito em seus diferentes estados emocionais,
possibilitando garantir uma atuação legal, ética e política. O Eixo 2 contribui mostrando enxergar a
pessoa por detrás da doença ajuda a se ter um cuidado mais integral, um senso de realidade e a
compreensão dos envolvidos. Tanto o Eixo 2 quanto o Eixo 3 focam mais na prática do profissional de
psicologia, deixando de focar as políticas. No Eixo 3, há uma escassa articulação, ao menos
explicitamente, com as Políticas Públicas, porém, pode-se notar que também trouxe elementos práticos
que parecem estar respaldados e orientados por e para elas. No Eixo 4, mostra-se bastante presente a
articulação das políticas públicas de saúde com o modelo hospitalar.
No hospital, as propostas ligadas à gestão têm sido um desafio, pois, mesmo que se trate de uma
instituição de cuidado, ele tende a ser inserido dentro da lógica capitalista. Isso acaba por transformar o
hospital em uma fábrica produtiva de saúde. O psicólogo pode ser inserido neste contexto com um
posicionamento crítico da instituição para que não se encaixe dentro desta lógica e não comprometa o
cuidado. Além disso, pode contribuir assumindo um papel com um compromisso social, realizando um
atendimento integral por meio de uma escuta ativa, resolutiva, dinâmica, empática e buscando estabelecer
vínculos. Esse profissional pode buscar diluir a dicotomia indivíduo-social, contribuir para discussão e
criação de estratégias, favorecer ações de inclusão e construir espaços de diálogos entre os
saberes/fazeres.
Embora haja dificuldade, cada vez mais há desconstrução do modelo hospitalocêntrico e a
incorporação do social na rotina. Assim, surgem novos modelos flexíveis e diversificados que
contemplam a saúde coletiva, por exemplo, plantões, visitas domiciliares e psicoterapias grupais. Porém,
este modelo mais humanizado, ampliado e compartilhado não ocorre de forma efetiva. Sobre a
incorporação do psicólogo na organização da gestão, é importante sua presença, pois permite vislumbrar
questões que geralmente passariam desapercebidas por outros profissionais.
A Referência Técnica aqui abordada, por meio dos seus 4 eixos, se mostrou como excelente
ferramenta de qualificação profissional, pois articula a prática com as diretrizes públicas. No entanto, ela
não deve ser vista como algo que limite a atuação dos psicólogos em ambiente hospitalar, mas sim que,
além de diretrizes, sirva para trazer uma discussão e propor uma reflexão ética e política para que se
consiga até mesmo inovar e pensar em outras práticas.
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Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Centro
Gráfico, 1988.
BRASIL. Lei 8080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção
erecuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências. 1990.
DANELUCI, Rebeca. Psicologia e saúde como campo de interrogações. Revista Psicologia e Saúde,
v.5, nº 1, p. 18-24, jan. /jun., 2013.