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GKMS
...eu imaginava que a reabilitação seria colocar a pessoa em uma faculdade (...) hoje eu
entendo que a reabilitação são pequenas coisas e que temos que valorizar (...) como tomar um
banho, o auto-cuidado, cortar o cabelo, fazer a barba, cortar a unha. (PEREIRA, 2007, p. 3)
A partir desse relato entendo que o PTS tem que ser construído de acordo com as
potencialidades da pessoa e promovendo autonomia para com isso reduzir os danos e as
relações de risco que o paciente vivencia atualmente.
Na vivência no cenário de UBS encontram-se fragilidades em relação a continuidade do PTS
pois observo dificuldade na vinculação com o paciente, pelo fato do cenário acabar se
apontando como serviço de urgência e de certa forma se tornar um serviço de Pronto
Socorro- PS.
Trazendo assim também a Clínica Ampliada que é uma das diretrizes que a Política Nacional
de Humanização propõe para qualificar o modo de se fazer saúde. Ampliar a clínica é
também aumentar a autonomia do usuário do serviço de saúde, da família e da comunidade.
Como trago na ilustração e texto: superando as práticas manicomiais com estratégias
desinstucionalizantes.
Para Martins (2022) O Ministério da Saúde reforça que a Rede de Atenção Psicossocial é
composta por serviços e equipamentos variados. Cada componente da rede é integrado por
diferentes serviços e ações. Todos são igualmente importantes e complementares. São eles:
O que relaciona com Amarante (2003) que traz de forma organizada as estratégias em três
níveis de prevenção na saúde mental:
a) Primário: Objetiva promover a sanidade mental da população e evitar o surgimento de
casos de doença mental, por meio de intervenções nas condições identificadas como passíveis
de ocasionar a doença, podendo ser aplicadas tanto no indivíduo quanto no meio ambiente,
tem o objetivo de promover um estado de bem estar biopsicossocial;
b) Secundário: Diagnosticar precocemente as enfermidades mentais e proporcionar o
tratamento adequado, evitando, assim, o seu agravo;
c) Terciário: Prevê a reabilitação psicossocial dos que já tenham sido acometidos pela doença
mental, o seu reajustamento e a adaptação à sociedade.
MARTINS, Fran. Rede de Atenção Psicossocial do SUS oferece atendimento às pessoas que
vivem com algum tipo de transtorno mental. Ministério da Saúde , Brasília, 10 out. 2022.
Disponível em:
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/outubro/rede-de-atencao-psicossocial-
do-sus-oferece-atendimento-as-pessoas-que-vivem-com-algum-tipo-de-transtorno-mental.
Acesso em: 9 jan. 2023.
Na ideia de crise, a crise é o agente patogênico da loucura, sendo sua causa por excelência.
Segundo Moraes e Nascimento (2002), a crise é expressão do embate de forças contrárias, o
instituído e as novas possibilidades, que causam um desequilíbrio. Como em um momento
que precisamos mudar algo, mas para que isso aconteça, as coisas precisam provocar grandes
explosões de sentimentos.
Observo que a Crise em grande parte vem sempre seguida de intervenções realizadas pela
psicologia, para que seja de alguma forma acolhida e amenizada. No cenário da UBS 1 do
Areal foi possível ter contatos constantes com pacientes em crises, quando recebia pacientes
nesse estado, sempre se tentava trazer o foco do paciente para outros momentos de sua vida,
buscando memórias boas para que o corpo de alguma forma fosse relaxado ao decorrer do
acolhimento.
Lima (2021) Trás uma relação social estabelecida com a loucura, inclusive nos dias de hoje, é
uma relação mediada muito mais pelo lugar social que essa ocupa do que pela loucura em si.
Compreender a loucura enquanto fenômeno social, é compreendê-la no âmbito do
antagonismo e embate entre classes sociais. Não é possível lidar com a loucura como um
fenômeno isolado e abstrato. Entender a relação social com a loucura, na atualidade, implica
pensá-la enquanto fenômeno particularmente humano no jogo de forças do capitalismo. Não
há análise concreta da loucura se ignorarmos a contradição fundamental do modo de
produção vigente e a luta de classes.
Onde se pode apreciar a injustiça de nosso sistema econômico é no fato que, para
um mesmo tipo de sintomas, para um mesmo grau de perturbação mental, nas
classes altas tem-se um tratamento curto com reintegração social, enquanto que na
classe operária o mesmo caso de delírio leva a um destino de aniquilamento. Uma
situação parecida ocorre nos casos de delito: aquele que rouba para comer vai
preso e aquele que rouba milhões é um respeitável e poderoso cavalheiro, que
viaja seguidamente para a Europa (MOFFATT, 1981, p. 53-54).
LIMA, Dassayeve Távora. A loucura na sociedade de classes. Blog da Boitempo, São Paulo,
2021. Disponível em:
https://blogdaboitempo.com.br/2021/09/14/a-loucura-na-sociedade-de-classes/. Acesso em: 6
jan. 2023.
Contudo, a redução de danos não pode deixar de ser uma atividade que visa a valorização do
usuário de drogas enquanto cidadão de direitos e deveres, sujeito de desejo, o que não quer
dizer que este desejo coincida com os nossos ideais e expectativas.
Ainda para refletir, no cenário da UBS imagina-se que deveria acolher e matriciar os
pacientes em uso de SPA, juntamente com o CAPS AD, pelo cenário se caracterizar como
atenção primária, mas pelo contrário, observei os preconceitos sociais e estruturais que
fizeram com que as portas fossem fechadas ou esses pacientes temiam em relatar o caso. Ao
contrário da Redução de Danos, observa-se que no cenário da UBS era utilizado muito mais a
abstenção do uso, na maioria das vezes pela falta de conhecimento, preconceitos
estereotipados e discriminações.
IHRA. O que é Redução de Danos? Uma posição oficial da Associação Internacional de
Redução de Danos. Londres, Grã Bretanha, 2010.
MARLATT, G. Alan. Redução de danos no mundo: uma breve história. In: Redução de
danos: estratégias práticas para lidar com comportamentos de alto risco. MARLAT. G. Alan e
col.. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
WODAK, Alex. Redução de danos e programas de trocas de seringas. In: BASTOS, F. I..
(org.). Troca de seringas: ciência, debate e saúde pública. Coordenação Nacional de DST e
AIDS. Brasília: Ministério da Saúde, 1998.
Rotelli, Leonardis e Mauri (2001) dizem que o desmonte dos hospitais psiquiátricos deve ser
feito de dentro pra fora, deve se começar pelos esforços e conhecimentos dos servidores. O
processo de desinstitucionalização da loucura se realiza por meio das transformações
institucionais pelo uso de recursos, intervenções e problemas internos para construir pedaço
por pedaço as novas veredas.
Jardim e Dimenstein (2023) trás que apesar dos esforços dos servidores de saúde mental para
fazer avançar as propostas da reforma, a estruturação dessa rede de serviços, cuja função é
evitar o hospitalismo e favorecer a reinserção social com atitudes antimanicomiais, é
problemática exatamente por não ter logrado inverter a pirâmide de atenções primárias,
secundárias e terciárias e manter o espaço privilegiado ocupado pelo hospital, não dando
ênfase às intervenções fora desses espaços.
Rotelli, F., Leonardis, O. & Mauri, D. (2001). Desinstitucionalização. São Paulo: Hucitec.
Em toda essa rica experiência com a saúde mental, o que mais aprendi sobre a luta
antimanicomial é que ela ainda está dando pequenos passos. A sociedade não tem noção de
que existam pessoas por trás de rótulos, indivíduos que precisam apenas saber que existem.
Não é raro lermos na internet ou assistirmos na TV algum ato violento associado à loucura.
Desta forma, não é difícil generalizar a informação, considerando que a pessoa com
transtorno mental é “perigosa”. A falta de informação e debate resulta em discriminação, o
que contamina a todos. Assim, qualquer diferença precisa ser aprisionada a um rótulo e
medicada, não serve ao sistema. De fato, não é só de loucura que trata o filme, há muito mais,
todos precisamos ter a sensação de pertencimento, de ser reconhecido em nossa singularidade
e de alguma forma ser incluído socialmente.
Pensando na aula de eixo transversal, sobre o tema onde podemos levantar as potencialidades
e as dificuldades, os grupos terapêuticos é uma ferramenta de cuidado potencial no sentido
das trocas de cultura, experiências e conversas entre os participantes, o que geram mudanças
tanto na vida pessoal do indivíduo quanto no desenvolvimento do grupo para com a atenção
no cuidado e até resolução dos problemas pessoais e coletivos. As práticas integrativas devem
considerar as particularidades das pessoas que irão participar, deve ser de forma dinâmica,
articulada com o que cada profissional domina e segundo a necessidade dos usuários.
Ainda existem as dificuldades, que devido a precarização do serviço de atendimento, muitas
vezes pela falta de profissional ou instrumentos de utilização, a PIC é usada como serviço
substitutivo, preenchendo lugares dos atendimentos individuais, principalmente terapias
psicológicas, o que não deveria acontecer, porque os atendimentos individuais são
insubstituíveis e alguns indivíduos não se conectam com atividades em grupo, e acaba se
tornando uma barreira de acesso. Portanto, cada caso precisa ser avaliado individualmente,
considerando as vivências pessoais de cada um.