Departamento de Psicologia Psicopatologia Geral Professor(a): Nagi Hanna Salm Costa Aluno(a): Nathália Andrade Tosta
A história da luta antimanicomial e sua importância para o trabalho do
psicólogo em saúde mental
O Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela luta pelos direitos das
pessoas com sofrimento mental. Dentro desta luta está o combate à ideia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos tratamentos, ideia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença mental. O Movimento da Luta antimanicomial faz lembrar que como todo cidadão estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direto a receber cuidado e tratamento sem que para isto tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos. O movimento iniciou-se primeiramente na Itália, impulsionado pelas ideias do médico psiquiatra Franco Basaglia, que se tornou o precursor da reforma psiquiátrica Italiana, conhecida como Psiquiatria democrática. Para entender as motivações de Basaglia para criticar o sistema de seu país é preciso entender o contexto no qual a assistência em saúde mental na Europa estava inserida. Pessotti (1996), usa o termo “século dos manicômios” para se referir ao séc. XIX e a expansão dos asilos e hospícios pelo mundo durante esse período, entretanto, o autor aponta que a história das institucionalizações como forma de reclusão dos loucos e demais marginalizados sociais, retirando-os do convívio social, é anterior ao século dos manicômios, a exemplo dos leprosários. A chegada de Pinel, e posteriormente Esquirol, ao cenário da medicina psiquiátrica Francesa é considerada um marco importante na mudança de paradigmas em relação ao tratamento dos doentes mentais. Pinel propôs uma reforma psiquiátrica pautada no modelo do “tratamento moral”. Já no séc. XX o cenário da psiquiatria francesa é novamente alterado com o surgimento da psicoterapia institucional, em plena Segunda Guerra Mundial. Na França, 40.000 doentes mentais morreram de fome durante a ocupação. Nesse cenário, as instituições tiveram que modificar seus dispositivos inaptos aos problemas de sobrevivência, de resistência política ou de combate que lhes foram impostos. A clínica de Saint-Alban foi considerada como referência da resistência organizada, sendo um dos poucos hospitais capazes de sobreviver à guerra. A estrutura do hospital transformou-se radicalmente, tornando-se permeável, fluida, aberta ao exterior. Como um dos idealizadores do projeto, Tosquelles explica o modelo utilizado em Saint-Alban como diversos espaços oferecidos de forma que cada um deles deve ser considerado, a partir da frequentação repetitiva, como verdadeiras instituições, que tenham um papel no processo terapêutico. Através dessa ótica podemos dizer que a instituição se tornou um espaço de constituição de um grupo a partir de repetições ou de frequentações repetitivas. Estes são alguns dos nomes que fazem parte do processo da luta antimanicomial e do que podemos chamar de desinstitucionalização da loucura. No Brasil, podemos citar como grande expoente desse processo, Nise da Silveira, que propôs um modelo de tratamento humanizado, usando a arte como ferramenta de intervenção. Por falar em Brasil, cabe mencionar o Relatório de Inspeção Nacional dos hospitais psiquiátricos do Brasil. Este relatório é resultado da Inspeção Nacional, realizada em dezembro de 2018, em 40 Hospitais Psiquiátricos, localizados em dezessete estados,nas cinco regiões do país. A síntese apresentada neste Relatório pretende trazer à tona um panorama da situação atual dos hospitais psiquiátricos que prestam serviços para o Sistema Único de Saúde (SUS). A amostra de serviços visitados, corresponde a aproximadamente um terço do total dos hospitais psiquiátricos com leitos públicos, em funcionamento. O resultado da análise desse documento, consta a ilegalidade da internação de pessoas com transtornos mentais identificada nos quarenta hospitais psiquiátricos inspecionados na ação conjunta entre o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Ministério Público do Trabalho (MPT) e Conselho Federal de Psicologia (CFP), uma vez que todos eles são, a partir da observação legal, considerados instituições com características asilares. Diante disso, é possível compreender que o propósito das instituições psiquiátricas não tem sido a cura , apenas a internação, fomentando assim, a internação de pacientes muitas vezes não psiquiátricos. No ducumentário “A liga - transtornos psicológicos” é trabalho alguns transtornos e suas implicações na vida dos sujeitos acometidos, deixando bem claro os sintomas e também algumas formas de tratamento , o que difere do padrão de internamento de muitas instituições. Por fim, analisando esse panorama , no contexto da saúde mental, a luta antimanicomial desempenha um papel fundamental e apresenta uma série de implicações importantes para o trabalho do psicólogo, como a promoção da dignidade e dos direitos humanos, uma vez que a luta antimanicomial coloca em destaque a importância de respeitar a dignidade e os direitos humanos das pessoas com transtornos mentais. A desinstitucionalização, o cuidado humanizado , reconhecendo a singularidade de cada indivíduo e busca tratá-lo de forma integral, levando em consideração sua história, contexto social e necessidades específicas. Podemos elencar também a promoção do trabalho em rede, envolvendo não apenas psicólogos, mas também outros profissionais de saúde, assistentes sociais, familiares e a própria comunidade no cuidado e na inclusão das pessoas com transtornos mentais. Nesse sentido , a luta antimanicomial é de extrema importância para o trabalho do psicólogo em saúde mental, pois promove uma abordagem mais humanizada, ética e inclusiva no tratamento de pessoas com transtornos mentais. Ao adotar os princípios e as práticas desse movimento, os psicólogos podem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, que respeita a diversidade humana e valoriza a saúde mental de todos os seus cidadãos.
Referências
18/5 – Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/18-5-
dia-nacional-da-luta-antimanicomial-2/.
A LUTA antimanicomial e a reforma psiquiátrica. Disponível em: https://pebmed.com.br/a-luta-
antimanicomial-e-a-reforma-
A Instituição negada: relato de um hospital psiquiátrico / coordenado por Franco
Basaglia; tradução de Heloisa Jahn. - Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985 (Biblioteca de Filosofia e História das Ciências; v. n. 17)
A LIGA - transtornos psicológicos. 1 vídeo. Disponível em: https://youtu.be/pqPHEdZ1yNE?
si=E6dnOdaT0kCoAh5D.
HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS NO BRASIL: RELATÓRIO DE INSPEÇÃO NACIONAL.
In: BRASIL: RELATÓRIO DE INSPEÇÃO NACIONAL. [S. l.]: Conselho Federal de Psicologia, 2020. Disponível em: https://site.cfp.org.br/publicacao/hospitais- psiquiatricos-no-brasil-relatorio-de-inspecao-nacional/. Acesso em: 5 out. 2023.