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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE PSICOLOGIA

SAÚDE MENTAL EM PAUTA: A LUTA ANTIMANICOMIAL NO TERRITÓRIO


NACIONAL E A REFORMA PSIQUIÁTRICA EM CONTEXTOS ATUAIS

ELIANE DE LIMA AYRES

VITÓRIA REGINA RENTE DE OLIVEIRA

RIO DE JANEIRO

2020
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Resumo

O Movimento da Reforma Psiquiátrica rompeu a centralidade das instituições


manicomiais, trazendo consigo uma proposta de enfoque da loucura em seus conceitos,
funções e percepções. Ela é contemporânea a Reforma sanitária porém tem sua própria força.
Com ela o foco na doença e não na potencialidade mudou para: já sabemos o que ele não pode
fazer, mas o que ele pode fazer? O pensamento se voltou para uma humanização do
tratamento em Saúde Mental, com coco na reinserção do indivíduo na sociedade, porém ainda
há muitos desafios e dificuldades a serem enfrentados para o êxito do trabalho com o
indivíduo acometido por transtornos mentais.

Palavra chave: Reforma Psiquiátrica, humanização do atendimento, dificuldades no SUS

Abstract

The Psychiatric Reform Movement broke the centrality of asylum institutions,


bringing with it a proposal to focus on madness in its concepts, functions and perceptions. It is
contemporary to health reform but has its own strength. With it the focus on the disease and
not on the potential changed to: we already know what he cannot do, but what can he do? The
thought turned to a humanization of treatment in Mental Health, with coconut in the
reinsertion of the individual in society, however there are still many challenges and
difficulties to be faced for the success of the work with the individual affected by mental
disorders.

Key words: Psychiatric Reform, humanization of care, difficulties in SUS

Saúde mental em pauta: a luta antimanicomial no território nacional e a


Reforma Psiquiátrica em contextos atuais.
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Introdução

Não há como falar em Reforma Psiquiátrica e saúde mental, sem passarmos


brevemente pela história da loucura e de como seus “portadores” – neste ponto entendendo
como pessoas em sofrimento acometidas por transtornos mentais – eram tratados, pelos
movimentos que surgiram ao perceberem a desumanização presente nos manicômios e a
iniciativa de políticas públicas em saúde mental e atenção psicossocial que se deram à partir
do SUS. E como entender a Reforma Psiquiátrica como algo que vai além de uma simples
modificação de serviços à saúde, sendo esta uma luta pela ressocialização, uma abertura de
um lugar social para a loucura?
Rosana Maria Seabra (2014 apud BASÁGLIA), descreve que o primordial é colocar
as classificações que se fazem de um ser abstrato em sofrimento mental, entre parênteses, para
que se possa enxergar e cuidar do sujeito formado por sua experiência.
Em contextos atuais, onde se corre o sério risco de um retrocesso de tudo o que foi
conquistado nesses anos de luta, o intuito deste trabalho é expor todo o processo que
culminou no ponto onde estamos e mostrar, talvez, um caminho que devamos percorrer daqui
para frente.

1. O contexto em que se insere a Reforma Psiquiátrica


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A Reforma Psiquiátrica é contemporânea a Reforma Sanitária, mas apresenta


características distintas, assumindo sua própria história. Segundo texto do Ministério da Saúde
(2005), é um processo político e social bastante complexo sendo “um conjunto de
transformações práticas, saberes, valores culturais e sociais...”

Após o feito em Trieste, na década de 70, aqui no Brasil deu-se início ao Movimento
dos Trabalhadores em Saúde Mental.

É sobretudo este Movimento que através de variados campos de luta, que passa a
protagonizar e a constituir a partir deste período a denúncia da violência dos
manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de
assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao
modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005)

Foi a modelo da crítica radical aos manicômios italianos, a quem se referência muito
Franco Baságlia dentre outros teóricos, que o Brasil se inspirou para iniciar sua luta
antimanicomial. Baságlia traz em um de seus livros, relatos sobre a rotina em um hospital
psiquiátrico e as barbáries que ocorriam, a total desumanização do indivíduo e as violências
praticadas nestas instituição, onde o “doente” era totalmente despersonalizado em razão do
seu transtorno.

Num hospital psiquiátrico os doentes agitados são submetidos ao “garrote”. Quem


não conhece o ambiente do manicômio não sabe do que se trata: é um sistema muito
rudimentar, utilizado praticamente por toda parte, para fazer com que o doente
desmaie através da sufocação. (BASÁGLIA, 2001, P. 100)

Pode-se dizer que após Trieste se deu uma nova forma de pensar a loucura, onde o
indivíduo não era mais visto como um experimento em psicopatologia, carecendo de
intervenções médicas, científicas ou psicológicas. Este indivíduo institucionalizado é visto
agora como singular, tendo necessidade de pertencimento. ‘O ato terapêutico se revela, nesse
ponto, uma reedição revista e corrigida da precedente ação discriminatória de uma ciência que
para se defender criou a “norma”, cuja infração pressupõe uma sanção por ela própria
prevista.’ (BASÁGLIA, 2001, P 102).
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Baságlia defendia que era fundamentalmente importante o questionamento dos


conceitos bases da psiquiatria, tanto como medicina quanto como ideologia, e em decorrência
do processo deste questionamento quebrar os paradigmas das instituições asilares, fazendo
seu desmonte e criando uma nova maneira de tratar os indivíduos em sofrimento mental. Uma
visão Husserliana de colocar entre parênteses e enxergar o sujeito para além de suas
incapacidades, para além de sua doença.

[...] inverter a operação psiquiátrica de colocar o sujeito entre parênteses para se


ocupar de um objeto abstrato, a “doença mental”. Era preciso, isto sim, colocar a
doença entre parênteses para se ocupar dos sujeitos concretos das experiências.
(SADE, 2015, P. 12 apud BASÁGLIA, 1973)

Baságlia traz a reflexão de que os loucos antes de serem vistos por suas
incapacidades devem ser vistos por suas potencialidades e como indivíduos que tem a
necessidade de inserção na sociedade, necessidade de cultura, dança, música, arte como um
todo, trabalho, dignidade e cidadania.

[...] os loucos, antes considerados raivosos, insensatos, perigosos, incapazes,


improdutivos, irracionais, alienados eram, na verdade, sujeitos como nós, e que, como
nós, necessitavam de casa, de trabalho, de amigos, de música, de arte, da cidade, do
território. (SADE, 2015, P. 12 apud BASÁGLIA, 1973)

A “produção de uma diversa e complexa prática terapêutica pautada na


compreensão da pessoa, na transformação de suas possibilidades concretas de vida, a partir da
construção cotidiana do encontro e da intransigente afirmação da liberdade” (CADERNOS
HUMANIZA SUS, 2015, P 18 apud NICÁCIO; CAMPOS, 2007, P. 146). Vemos então a
liberdade como algo possível a partir de práticas terapêuticas.

O cuidado do indivíduo com sofrimento psíquico não pode ser pensado somente à
partir de um laudo que traz suas disfunções nas interações neurobioquímicas, e tampouco da
restrição do seu ir e vir e de suas interações sociais e privações de si mesmo. ROTERLI:
LEONARDIS; MAURI, 2001, descrevem o manicômio como como um local onde não há
interações de trocas sociais.
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2. A humanização na antiguidade

Ao falar sobre a humanização, é preciso entender que esse processo têm consciência
teórica e histórica. Nossa sociedade é influenciada dos gregos. A medicina, era considerada,
além de representantes de cura física, como também de investigadores e divisores das pessoas
ditas como normais, das “párias”. O termo doença, era um conceito que organiza as ideias
sobre as investigações sobre as atividades médicas (HEGENBERG, 1998). Como a medicina
era muito comparativa, alguns casos eram completamente difíceis de lidar. Esses casos eram
principalmente dotados de pessoas que nasciam com aspectos físicos diferentemente do que
era dotado “normal” na época.

Povos primitivos entendem a doença como algo que se deve à ação de projéteis:
lanças, flechas, pedras atiradas por inimigos ou, talvez, ossos e espinhos que alguém
engole sem querer, em virtude da ação de forças adversas, humanas ou sobre-
humanas. Em alguns casos, o projétil é um organismo (um verme, p. ex.), cujos
movimentos, na pessoa afetada, explicariam dores agudas ou o mal-estar súbito .
(HEGENBERG, 1998, pg. 18)

Tudo que era diferente desse conceito, algo inexplicável, principalmente no quesito
“alma”, era classificado como uma imperfeição dotada de uma “maldição”, esse tipo de
pensamento forçava as pessoas da época a descartarem crianças que nasciam com
deformidades físicas ou mentais. Para filósofos da época, isso era baseado numa teoria
chamada, teoria da causalidade. Essa teoria interpreta fenômenos puramente naturais onde
constitui-se uma explicação científica e explicar esses fenômenos da natureza como se
antecede (MARCONDES, . Não havia portanto um pensamento de “porque isso aconteceu?”
e sim de, “isso aconteceu devido a”. Esse pensamento percorre em toda a antiguidade, não
pelo fato das coisas serem como são e sim, o motivo pela qual as coisas são como são. Logo,
pessoas com um entendimento de doentes naturais, era muito mais classificado pela
explicação do motivo pela qual as pessoas são assim, o que sempre se tornava um assunto no
sentido espiritual e não, se essas pessoas precisavam de algum amparo social ou humano.

No império Romano, a ideia não muda muito de figura, na verdade, a problemática


começa a se estender a outros conceitos sociais. Devido a expansão do império, e das guerras
criadas pelos cesar da época, além da escravidão e morte devido ao helenismo, uma forma
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cultural que elimina a cultura de um povo ou mistura-se com a cultura do povo dominante,
muitas ideias que eram gregas, se tornaram também de roma, inclusive no quesito cultural e
científico. Durante essa era, surge Hipócrates, o pai da medicina e foi dele, os três pequenos
discursos, que futuramente seria a ética de todo e qualquer médico:

Juramento, Lei e Sobre a decência. No Juramento, são descritos três tipos de


ensinamento: (1) o preceptor (parangelliê), um conjunto de regras e preceitos
relativos à atuação ou conduta do médico no exercício da profissão; (2) o ensino
médico oral (akroésis), algumas vezes acompanhado de escritos e anotações; (3) o
ensino das questões médicas particulares (loípé máthésis), voltadas para a clínica.
(REBOLLO, 2006 pg. 50)

Esse processo fez com que diversos filósofos da época o criticassem, já que não
deveriam se importar com tramitações clinicas e sim com o que era certo ou errado
filosoficamente. Hipócrates dizia que o corpo é compreendido com um princípio originário e
organizador do corpo onde ela fornece a forma e seu comportamento, que é próprio. Cada um
possui sua própria dynamis, seu próprio conjunto, assim, quebrando a ideia de que todos
somos iguais, cada corpo seria único que se assemelha a partir da formação de dois gêneros,
masculino e feminino (REBOLLO, 2006). Foi a partir dele que o corpo se tornou algo mais
interessante que as Arkhé dos pré e pós socráticos.

2.1 O homem como centro de tudo

O homem se desenvolveu a partir da teoria de hipócrates, entretanto, as dúvidas ainda


pairavam quando o assunto era doenças físicas e mentais. Mesmo com um acesso maior de
informações, e inclusive as doenças físicas sendo cada vez mais aceitas nas sociedades
durante o período do Renascimento. Surdos, cegos, mudos, cadeirantes, todos eles ainda eram
vistos como marginalizados, entretanto, aceito na sociedade através de suas famílias. Mesmo
que muitos ainda associam a deficiência ao pecado, como era na idade média, a partir do
Renascimento, unido com o antropocentrismo, começam a surgir estudos sobre o corpo
humano e com a mente humana. Entre a mudança do sistema econômico, “gerou uma
mudança radical no comportamento das pessoas. Esse processo ocorreu de forma lenta e
complexa cercada de conflitos entre as classes que dominavam o antigo regime e o
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ascendente” (RECHINELI, PORTO, MOREIRA, 2018, pg. 296), e apesar disso, pessoas com
deficiência física e mental eram perseguidas e torturadas.

Entretanto o momento em que há um maior sentimento de desumanização, com sem


sombra de dúvidas é o período da segunda guerra, onde “O número estimado de civis mortos
em extermínio, lutas, assassinatos, guerra de guerrilha da resistência etc. atinge entre 25 e
trinta milhões” (PLATO e tal, 2000, pg. 119). O extermínio de judeus, ciganos ou qualquer
tipo de pessoa que não compatibiliza com os ideais nazistas, principalmente deficientes físicos
e mentais, todos eram divididos em campos nazitas, e todos ou a maioria eram fuzilados ou
tratados como mão de obra escravas pela guerra.

2.2 O Positivismo e a humanização

Com o fim da segunda guerra mundial, a sociedade via o ser humano como algo
completamente perdido em seu caminho social, o humanismo antropocêntrico criado no
Renascimento, já não trazia o mesmo valor para as pessoas em geral, e foi a partir de um
escritor, sociólogo chamado Auguste Comte desenvolveu um projeto teórico-metodológico,
“onde se teve início com a obra do historiador alemão Leopold von Ranke, que no século XIX
definiu que “os documentos falam por si próprios”, consistindo o trabalho do historiador em
apresentar os “fatos” indicados pelos documentos.“ (LACERDA, 2009, pg. 329). Esse
contexto é muito importante para Comte afirmar que não teria como afirmar que o homem é
mau por natureza sem um indicador de fatos documentados sobre isso. A partir disso, diversos
outros pensadores como John Stuart Mill, entre outros, começaram a datar fatos importantes
que faziam com que a visão sobre o ser humano fosse trazida para um lado politicamente
bom.

Entretanto, a bondade deveria vir além de uma filosofia empregada. além dos “males
sociais apontados pelo marxismo (proletariado, concentração financeira nas mãos de poucos,
intensa jornada de trabalho)” (SILVINO, 2007, pg. 279). Comte desenvolve a ideia de uma
física social ou sociologia científica, baseado num conhecimento de leis como fenômeno
social.

O novo método (dedutivo/indutivo) proposto por Popper, investiga a diferença crucial


que tange a construção do conhecimento e sua validade, esse pensamento transformou em
muitos os pensamentos sobre as pessoas marginalizadas(SILVINO, 2007). O critério de
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humanização começava a surgir de uma forma lenta, entretanto gradual, mesmo que houvesse
diversas barreiras sociais ainda difíceis de passar.

2.3 As instituições e seus trabalhos com deficientes

Até o século XVIII, os hospitais eram um local que, principalmente devido às duas
últimas guerras mundiais, foram criados como pontos de fuga para pessoas feridas e
desertoras. O ambiente era simplesmente inóspito e cruel. Com o fim da guerra, ele se tornou
um local para limpar as ruas de doentes, bêbados, mendigos e loucos. Mesmo com o método
social Popperiano e o positivismo, a estrutura institucional foi a forma mais fácil de eliminar
deficientes físicos, mentais e sociais, este último com mais enfoque neste momento. As
atribuições de Philippe Pinel a medicina, diferenciava o até então status de deficiência para
uma ótica não só física:

O primeiro enfrentamento é levado a cabo pela análise da alienação a partir de


descrições densas dos doentes, traços de seu caráter físico e moral, sinais
precursores, acessos, delírios, afecções morais, lesões do entendimento durante o
acesso, declínio das crises, cura, recaídas, lesões anátomo-clínicas, enfim. O Traité
fornece, principalmente nas quatro primeiras seções, argumentos que tornam a
loucura uma verdade positiva, objeto específico do alienismo, agrupado em suas
várias espécies, nas quais se sobressaem a mania sem delírio, a mania com delírio, a
melancolia e a demência. (FACCHINETTI, 2008, pg. 503)

Essa alienação, muita das vezes era dotada de um teor preconceituoso e Pinel muita
das vezes entendia que era preciso atender de um modo clínico não só de forma lógica, mas
também com um acreditar sobre a doença do paciente. Esse Alienismo se torna uma
especialidade médica no Séc. XVIII, e se tornou um discurso médico (TEIXEIRA, 2019).

Com o tempo, a sociedade foi se estruturando a partir do conhecimento, as tentativas


impor uma verdade que não fosse científica as questões de pessoas associadas a um âmbito de
desumanização foram tratadas a priori separadas da sociedade, em ambientes controlados e
com práticas para tratamento de “cura”, o próprio Sigmund Freud, em seus primeiros estudos,
já atribuía ao seu foco a cura de um desses tipos de grupo, os histéricos.
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De modo geral, não há limite para a curabilidade dos distúrbios histéricos; é


característico de uma função acometida de distúrbio, depois de estar interrompida
durante anos, ser, de repente, restaurada em sua totalidade. Por outro lado, a
evolução dos distúrbios histéricos muitas vezes exige uma espécie de incubação, ou
melhor, um período de latência, durante o qual a causa desencadeante continua
atuando no inconsciente. (FREUD, 1996, pg. 46)

Ele acreditava que há cura para tais sintomas era de fato complexa, entretanto, havia a
partir de uma evolução de sintomas um produto que vinha somatizado a partir do
Inconsciente.

2.4 A exclusão social do doente mental

O contexto hospitalocêntrico desenvolvido a partir de uma estrutura política-


ideológica e isso se dá por conta das discussões em torno da assistência sobre o transtorno
mental e as deficiências em geral. “As opiniões sistematizadas em torno da dicotomia
biológico/psicossocial nas políticas públicas de saúde e, aqui, em especial, para a saúde
mental, vêm se mostrando conflituosas e marcadamente ideológicas” (WEBER, JURUENA,
2017, pg. 641).

Num contexto histórico, as colônias, locais desenvolvidos para tratamento para


todo e qualquer tipo de doentes, isolando-os como um sistema asilar. destacando modelos
colônias agrícolas em meados do séc. XX (VENANCIO, 2011). E esse sistema desenvolvido
gerava um sentimento de exclusão social em nossa sociedade. Era mais fácil colocar alguém
com algum problema dito defeituoso nessas colônias, impondo um estereótipo de doente em
alguém que não têm nenhum problema em conviver com a sociedade.

Esse sistema também foi desenvolvido aqui no Brasil baseado na reforma


psiquiátrica:

Para que, de fato, um serviço desenvolva práticas ancoradas na reforma psiquiátrica, é


preciso que essas instituições se configurem enquanto produção de saberes, de
convivência, de invenção da saúde, respaldadas em um novo paradigma,
compreendendo o doente como sujeito, com necessidades, com capacidades, com
possibilidades, com desejos e com direitos, abandonando a relação com o doente
“perigoso e incapaz”, como “sujeito fora de si”, passando a relacionar-se com o
cidadão. (MACIEL et. al, 2009, pg. 438)
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Essa reflexão culmina no entendimento de uma falha no processo de atendimento a


pessoas que devido a uma revolução no pensamento humanista no fim da segunda guerra,
ainda trouxe um determinado conjunto de processos que ignorava a produção de saber,
convivência e subjetividade dos deficientes, somente determinando-os a um processo
assistencial, crível a uma visão mais socialmente aceita do que uma melhoria para o sujeito
em si. Em outras palavras, o doente continuava sendo selecionado como algo perigoso como
um cidadão comum ou que expressa um tipo de problematização social que a própria
sociedade não estava disposta a se envolver.

Baseados nos estudos sobre humanismo, esse pensamento conflitou em diversas


estratégias como ciência, tecnologia, produção e até a própria sociedade (TASSARA,
DAMERGIAN, 1996). A própria teoria que antes alegava a ideia do homem ser bom, em
meio ao caos gerado pela própria sociedade, ciclicamente busca retornar aquele pensamento
retrógrado e que é a base da luta humanista.

2.5 A importância do humanismo na reforma psiquiátrica

A psiquiatria sempre foi considerada um setor de equipe que se responsabilizava por


uma zona populacional específica baseadas nas necessidades da população. Essa relação com
o tempo pedia mudanças e transpareceria diversas críticas, não só políticas, mas sociais.

A reforma italiana sempre considerou central a mudança na condição legal e civil do


chamando doente mental, sem o que seria inviável a efetiva desconstrução das
práticas anteriores. Uma grande vitória foi obtida com a aprovação da lei 180, em
1978, que previa medidas até então inéditas na legislação internacional, tais como a
desativação progressiva de todos os hospitais psiquiátricos e sua substituição por
serviços regionais; a transformação dos antigos manicômios em hospitais gerais; a
eliminação da custódia, assegurando a proteção e a administração judicial de bens e
a restituição do direito constitucional de voto ao portador de enfermidade mental.
Ressalte-se que, em muitos aspectos, essa legislação inspirou o projeto de lei
brasileiro conhecido como Lei Paulo Delgado, aprovado em 1989 na Câmara
Federal após tramitar 12 anos no Senado e sancionado apenas em 2001, com
mudanças que o alteraram profundamente. (YASUI, 2011, pg. 587)

Em outros lugares na europa, Reformas foram criadas a partir de alternativas a partir


da reforma italiana que trazia a crítica ao elemento asilar uma questão desnecessária e até
desumana em diversos contextos psicossociais. O sentimento progressista que infla as ideias
que tais reformas traziam naquele tempo, gerando um novo panorama ideológico importante a
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fim da estrutura marcante que era o sistema asilar das colônias e hospitais psiquiátricos em
meados do Séc. XX.

No Brasil, no início do séc. XX, em uma pesquisa sobre as colônias, em exemplo, “a


colônia de Jacarepaguá teria sido inaugurada com “os escassos recursos deste período de
economias orçamentárias” (VENANCIO, 2011, pg. 41). O local era uma área suburbana na
época, onde “expressavam a perspectiva de uma geração pioneira de conservacionistas no
Brasil que observavam ao mesmo tempo os aspectos naturais e humanos” (VENANCIO,
2011, pg. 42). Em outras palavras, as colônias eram locais isolados, sem uma forma normal,
até mesmo para que alguém pudesse fugir de lá. na década de 40, após a queda de Getúlio,
houve importantes processos no brasil em decorrência da psiquiatria, inclusive sobre a
questão assistencialistas. Nesse meio tempo, surge uma das maiorias imagens a favor da
inclusão e humanização desse público.

2.6 Nise da Silveira e a Humanização dentro do manicômio

Durante a década de 40, o processo terapêutico existente em muitos estudos da época,


desenvolviam a eletroconvulsoterapia, o coma insulínico, a leucotomia e lobotomia, as formas
mais inovadoras para a terapia em pessoas deficientes, quaisquer que elas fossem. O chamado
ECT, “ é um procedimento que consiste na indução de crises convulsivas por meio da
passagem de uma corrente elétrica pelo cérebro para fins terapêuticos.” (ANTUNES et. al,
2009, pg. 27).

Já a Leucotomia, trazida no Brasil na década de 30 e usada pelas próximas duas


décadas seguintes de forma normativa;

“forma o centro medular das circunvoluções do córtex, sendo composta por fibras que
conduzem e recebem impulsos tanto de outras partes do córtex quanto de locais distantes e
por fibras que ligam regiões corticais do mesmo hemisfério e entre os hemisférios.”
(MASIERO, 2003, pg. 551)
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Em outras palavras, enquanto a Leucotomia, cortava os impulsos neurológicos no


córtex central, a Lobotomia, cortava os impulsos dos lobos frontais, occipitais, parietais,
temporais e insular.

Nesse púlpito psiquiátrico, uma jovem médica trouxe uma alternativa terapêutica,
dicotômica a todas essas formas, consideradas atuais em meio a realidade da psiquiatria no
país. Os trabalhos plásticos desenvolvidos através das técnicas de Nise da Silveira, uma
médica psicanalista junguiana trouxe admiração pela originalidade e pela qualidade dos
trabalhos (JUNIOR, PINHEIRO, 2010). Com esse contexto, além da ideologia artística ser
relevante, a população tomou ciência em 1949:

A primeira exposição da coleção, feita em 1949, feriu a atenção de críticos e artistas,


despertando intensa polêmica sobre se aquelas obras possuíam ou não valor artístico.
Muitos críticos e artistas brasileiros consagrados foram conhecer os ateliês do Museu
no distante subúrbio de Engenho de Dentro, e vários deles confirmam a influência que
sofreram por intermédio desse contato. Indivíduos que viviam anônimos nos
corredores das enfermarias do hospício, a partir do ateliê de pintura revelavam-se
possuidores de grande talento e eram reconhecidos como artistas. (JUNIOR,
PINHEIRO, 2010, pg. 371)

Essa e muitas outras exposições, tomaram o ideal artístico brasileiro na década de 40 e


50, onde artistas e personalidades de diversos tipos começavam a questionar através das obras
desses artistas considerados marginais, não serem aceitos pela própria sociedade. A falta de
Humanização nesse escopo era tanta que a ideia de normalidade foi nesse momento muito
questionada. Neste momento, até então, as ideologias sobre os termos sobre pessoas
deficientes eram: Anormal, Patológico ou Mórbido. “A distinção entre o normal e o
fisiológico e o anormal ou patológico seria, portanto, uma simples distinção quantitativa, se
nos prendermos aos termos excesso e falta.” (CANGUILHEM, 2009, pg. 19), essa distinção,
transformava o pensamento muito pragmático. Com o surgimento do movimento social
existente após a abordagem de Nise com esse ser humano, pragmatizado por anos, trazendo
um teor político e social a um público anormal, patológico ou mórbido, agora, eram pessoas
socialmente aceitas e entendidas em contextos maiores que estavam criando até o momento.

Em seu livro, Nise da Silveira diz:

A grande onda obscurantista que invadiu a psiquiatria atual através dos neurolépticos
fabricados em doses crescentes pelos laboratórios multinacionais foi sufocando o
exercício das diferentes atividades criadoras que caracterizam, no seu largo sentido, os
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setores ocupacionais, aprisionando o doente numa verdadeira camisa de força


química. E ainda mais, essas altas dosagens produzem sintomas característicos de uma
grave doença neurológica: a síndrome parkinsoniana. (SILVEIRA, 1987, pg. 59
e 60)

A crítica dela através da forma desumana trazida através de uma série de vivências
subjetivas dela, trazendo consigo também uma esperança de conscientização sobre a
humanização desse aprisionamento, não só físico, mas social e psicológico, traz uma força
muito importante, não só para a reforma antimanicomial, mas também para uma mudança no
paradigma sobre a deficiência como um todo.

2.7 O normal e o patológico na humanização

Na psiquiatria, os conceitos “normal” e “patológico” referem-se a ciências


respectivas. Na frança, a definição do fato psíquico mórbido ou anormal são dicotômicas ao
normal. Blondel descreve que a alienação em que os doentes se apresentam,
incompreensíveis, tanto para si, quanto para os outros, onde deve olhar a estrutura mental de
forma completamente diferente. Ele compreende o quão difícil é experienciar conceitos usuais
que não se têm experiência, mas há outros pensadores que acreditam que se deve distinguir a
consciência anormal, já que, assim como Jaspers alega distinções entre psicoses
compreensíveis e incompreensíveis, deve-se compreender pessoas normais e anormais
(CANGUILHEM, 2009). Esse pensamento divergente se trata da real ideia de o que é normal
ou patológico, ainda conflitante até mesmo sobre a filosofia psiquiátrica, em muitos conceitos,
os médicos normalmente ignoram conceitos num teor metafísico, simplificando as diferenças
somente no teor fisiológico. “As constantes fisiológicas são, portanto, normais no sentido
estatístico, que é um sentido descritivo, e no sentido terapêutico, que é um sentido
normativo.” (CANGUILHEM, 2009, pg. 47).

De fato, a doença ser uma análise metafísica pode ser um complexo


interpretativo em relação a uma interpretação lógica, atento a isso, divergem-se através de
uma análise puramente técnica, não traz o entendimento humanista onde os processos
humanos de cada um.
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[...]achamos que é muito instrutivo meditar sobre o sentido que a palavra normal
adquire em medicina, e que a equivocidade do conceito, assinalada por Lalande,
recebe, desse sentido, um esclarecimento muito grande e de alcance absolutamente
geral sobre o problema do normal. É a vida em si mesma, e não a apreciação médica,
que faz do normal biológico um conceito de valor, e não um conceito de realidade
estatística. Para o médico, a vida não é um objeto, é uma atividade polarizada, cujo
esforço espontâneo de defesa e de luta contra tudo que é valor negativo é prolongado
pela medicina, que lhe traz o esclarecimento da ciência humana, relativo, mas
indispensável.(CANGUILHEM, 2009, pg. 50)

3. Estrutura das Políticas do SUS

O Movimento da Reforma Psiquiátrica rompeu a centralidade das instituições


manicomiais, trazendo consigo uma proposta do enfoque da loucura em seus conceitos,
funções e pervcepções. “Trata-se de rupturas que fazem parte da formação e da concepção do
SUS à medida que propõe um conjunto de transformações relacionadas aos modos de cuidar
as saude humana.” (CADERNOS HUMANIZASUS, 2015, P. 26).

Mesmo com todo o trabalho de reformulação das propostas que visavam dar fim as
internações e substituí-las por serviços assistenciais no modo de cuidar da saúde, ainda
persiste uma naturalização dos diagnósticos. “ A loucura, o díspar, tende a ser incorporado na
vida comum, na versão de doença mental psiquiátrica [...] os indivíduos submeten-se ou são
submetidos a viver dependentes de instituições de cuidados.” (CADERNOS HUMANIZA
SUS, 2015, P. 26)

O desafio da Reforma é conseguir com que a sociedade conviva de forma mais


harmônica com aqueles que lhes são diferentes, e fazer com que haja um reconhecimento das
potencialidades desses indivóduos e não suas incapacidades, como Nise da Silveira bem
conseguiu ressaltar em seus trabalhos. É contemporânea a valorização da expressão artística e
cultural dos acometidos por transtornos mentais, e é preciso dar voz aos mesmos. Preservar
suas identidades.

Abrir linhas que transversalizem o campo unitário do discurso psiquiátrico por meio
da arqueologia foucaoultiana como prática para romper com as dicotomias ainda tão
demarcadas em nossas práticas. Em suma, acontecimentalizar a evidência de nossas
práticas dos saberes constituídos pelo arquivo da loucura. (CADERNOS
HUMANIZA SUS, 2015, P. 27).
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O Arquivo da Loucura é uma coletânea de documentos, preservados, sobre discursos


tidos sobre a loucura. Práticas - o que permanece e o que deve ser extinto -, técnicas e regras.
Todo um conteúdo cartográfico, por assim dizendo, das barbáries relatadas durante anos de
tratamentos relacionados à transtornos psiquiátricos. Foucault vê esses arquivos como algo a
ser discernido, “achar de novo as conexões, os encontros, os apoios, os bloqueios, os jogos de
força, as estratégias...” (CADERNOS HUMANIZA SUS, 2015, P. 28 apud FOUCAULT,
1994, P. 23)

A historicidade que nos leva e nos determina é belicosa; ela não é linguageira.
Relações de poder, não de sentido. A história não tem sentido [...] ao contrário, ela
deve poder ser analisada até dentro de seu menor detalhe: mas segundo a
inteligibilidade das lutas, das estratégios e das táticas (CADERNOS
HUMANIZA SUS, 2015, P. 28 apud FOUCAULT, 1994 P. 145).

A psiquiatria passa a não estabelecer uma relação de causalidade entre a anormalidade


e a degeneração, passa-se a desatribuir o que antes era uma exigência, o curar. A partir daí
começa a se entender a real função que é de proteção e ordem contra os acometidos de
transtornos mentais. Segundo Foucault, 2001, se inverte o papel de ciência de proteção da
sociedade para a ciência de proteção da espécie. “ A psiquiatria (a educação, o trabalho, o
lazer...) assume a função de defesada sociedade contra seus perigos.” (CADERNOS
HUMANIZA SUS, 2015, P. 32)

3.1 Cenário atual das atenções psicossociais

Após 12 anos de espera, em tramitação no Congresso Nacional, em 2001, a Lei Paulo


Delgado é sancionada no país, porém este é um substitutivo do original. No final de 2001, é
realizada em Brasília a III Conferência Nacional de Saúde Mental que se seguiu à
promulgação da lei 10.216. Nela se alinham as ideologias com a proposta da RP, fazendo com
que o Brasil enfim entre para o grupo dos países com legislação de acordo com as diretrizes
da Organização Mundial da Saúde e seu Escritório Regional para as Américas, a OPAS.

A lei trata dos direitos e proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, com
direito a igualdade de atendimento, sendo tratadas com humanidade e respeito com o intuito
de beneficiar sua saúde, tendo como visão a recuperação pela inserção na família, no trabalho
e na comunidade.

Vários programas foram criados e o dinheiro que antes era para a manutenção dos
leitos em hospitais psiquiátricos, foram voltados para a Atenção Psicossocial. Houve um
aumento no investimento destinado à saúde mental graças a consequente inversão das
prioridades de financiamento. A evolução foi tanta que temos hoje em dia diversos programas
como: o Programa de volta para Casa com o intuito de ressocialização do de pessoas
acometidas por transtornos mentais que estiveram institucionalizados por um longo período, e
que perderam sua total autonomia, com o pagamento mensal de um auxílio-reabilitação; os
diferentes tipos de CAPS – I, II e III/ Infantil I e II/ ad e controle de danos – e Unidades de
Acolhimento.

A atenção psicossocial não trabalha com conceito de cura mas sim de redução de
danos, principalmente em se tratando de CAPS ad (álcool e outras drogas). Esse contexto
surgiu à partir de iniciativas na Holanda de trocas de seringas dos usuários nos centros de
17

apoio/associações aos dependentes. O intuito era reduzir as doenças provenientes do uso de


seringas não estéreis e pelo compartilhamento das mesmas, como hepatites virais e HIV.

Quando a abstinência é tomada como regra única e superior, ela acaba por destituir
outras possibilidades de regras. Isolada como única regra, logo em um “vale tudo”.
Quando um determinado regime do saber-poder exige o vale nada como condição,
toda e qualquer alternativa a esta proposta hegemônica é taxada como “vale tudo. Mas
é exatamente neste ponto que a Redução de Danos se ergue como uma alternativa
potente a este regime de saber-poder, pois para reduzir danos não pode ”valer tudo”,
não se reduz danos com enunciações que se alinhem com a lógica do “liberou geral”
(CADERNOS HUMANIZA SUS, 2015, P. 218).

A Redução de danos não deve ser vista como um incentivo ao uso de drogas mas sim
uma possibilidade diferente da regra de abstinência que é a de preservação da vida, de si e de
terceiros, mesmo assim não se opõe a abstinência caso seja uma meta possível ou mesmo
desejável. O que se quer não é estabelecer uma relação de poder e sim um local de
acolhimento para que o indivíduo em sofrimento tenha apoio nos momentos de crise.
Foucault e Deleuze (1986, P. 71) dizem:

Ora o que os intelectuais descobriram recentemente é que as massas não precisam


deles para saber; elas sabem perfeitamente, claramente, muito melhor do que eles; e
elas o dizem muito bem. Mas existe um sistema de poder que barra, proíbe, invalida
esse discurso e esse saber.

3.2 Desafios a serem enfrentados no SUS

Um destes desafios é enfrentado na atenção básica, que é a porta de entrada do


sistema. O despreparo dos profissionais, o subfinaciamento e precarização da gestão, o que
acaba gerando um atendimento de baixa qualidade e deficiência da intersetorialização, os
aparelhos de atendimento enfrentam dificuldades na comunicação entre si.

[...]há diversas explicações para isso: insuficiência nos quadros de pessoa,


inexistência de equipes multiproffionais, desvinculação entre a atenção básica e os
demais serviços, como unidades de pronto-atendimento, ambulatórios de
especialidade e assist~encia de pronto-socorro e hospitalar, que também não se
articulam entre si e que são operados oficiosamente de forma privativa.

(SCARCELLI et al. P. 342)

É visível que a preocupação e a priorização do sistema de nível básico de saúde estão


presentes apenas em um discurso político. Falta incentivo aos profissionais deste setor e
preparo, investimento e melhora dos salários que é o que recomenda o Pacto pela Saúde,
18

subscrito por representantes atuantes nos três níveis da gestão do SUS e que foi aprovado pelo
Conselho Navional de Saude em 2006 ( Brasil, 2006).

Almeida nos fala que há uma descentralização setorial no Brasil que está interligada
ao processo que passa de “uma forma extrema de federalismo centralizado para alguma
modalidade de federalismo cooperativo, ainda não completamente definido” (
SCARELLI, et al. 2011, P 343 apud ALMEIDA, 2003, P. 210).

Esse federalismo da organização pública do Brasil , se torna um desfio a ser


transposto para que seja construído um com diretrizes de de descentralização pela via da
municipalização, tendo seu comndo em cada uma das esferasdo sistema.

3.3 Programas de Saúde da Família (PSF) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

Os Municípios devem implementar os vários programas que o Ministério as saúde


propôs. O Programa de saúde da Família, é detalhado nas portarias e manuais feitos pelo
Ministério da Saúde. Neles são dertalhados o seu funcionamentoe desenvolvimento do seu
trabalho, como: carga horária, composição de equipe, forma de contrataç~çao, proporção de
famílias a serem atendidas por equipe). O manual que completava o NOB nº 96, deixou
claras as ações básicas porém não incluiu a atenção à saúde mental e à saúde bucal. Após
gerarem muitas críticas, reivindicações sindicais dos trabalhadores de saúde, entre outros,
essass ações foram incorporadas, porém somente de modo formal, em prática, era realizado de
maneira precária e não homogênea.

O PSF se configura claramente como um programa vertical do Ministério da


Saúdeque concretiza as recomendações do Fundo Monetáio Internacional em uma
política compensatória na área da assistência à saúde. É também um mecanismo
iníquo de financiamento, já que, ao ‘premiar’ com recursos financeiros – uma das
modalidades do PAB variável – os Municípios que se curvam diante de um
programa ditado pelo gestor federal do SUS – contribui para o aprofundamento da
desigualdade. Como isso se dá? Basta refletir que para os pequenos Municípios é
muito difícil conseguir contratar médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem.
Então, esses Municípios têm que se contentar com o PACS, cuja remuneração é
mais baixa. Praticam, então, uma assistência mais simplificada e de menos custo do
que o PSF. (SCARCELLI et al, 2011, P. 349-350 apud JUNQUEIRA,
2001, P. 19-20)
19

São observados problemas similares em relação aos CAPS. Todo o movimento na luta
de substituição dos manicômios por práticas alternativas de serviço aos acometidos por
trantornos mentais, se traduziu, nos últimos anos, numa política oficial de Centros de Atenção
psicossissial. Foi uma das principais estratégias da consolidação da Reforma Psiquiátrica
Brasileira.

Porém, esta política dos CAPS, de financiamento assistencial, tem um modelo


reduzido na assist~encia à saude mental. Ela apresenta uma política vertical e suas regras são
baseadas de forma que privilegiem o financiamento de um tipo específico de serviço. A
Equipe de saúde da Família, tabém é considerada uma estratégia importante de práticas
substitutivas, com implementação em todo o território nacional, mas a especialidade local e o
acúmulo teórico-conceitual e teórico-assisistencial são negligenciados. Não há um verdadeiro
preparo das equipes para lidar com a carga e demmanda que emergem deste serviço.

Os proficionais atuantes na área vêem necessidade de um espaço para troca de


informações, atualizações proficionais e melhora na comunicação entre os aparelhos do
sistema integrante.

Os desafios do Milênio mna atenção e cuidado à saúde metal, foram pontuados pela
Organização Mundial da saúde.

Entre os fatores contributivos para o estabelecimento deste cenário, destacam-se a


baixa integração das redes de saúde e a falta de profissionais preparados para
providenciar cuidados adequados em saúde mental na Atenção Primária. Como
desdobramentos desse cenário, há uma baixa capacidade de identificação e manejo
dos casos nos níveis primários de atenção, sobrecarga dos serviços especializados, e
consequantemente, dificuldade de acesso aos serviços de saúde mental em tempo
oportuno. (TREICHEL et al, 2019, P. 2)

Há a nessecidade de serem delineados objetivos claros para a prática dos serviços


matriciais de apoio, além de investimento e na formação e capacitação dos profissionais,
facilitação do diálogo entre profissionais das equipes multidisciplinares, para que possa
elaborar estratégias efetivas na atuação destes no cuidado á saúde mental, sendo identificados
seus papéis. Tudo isso depende da plasticidade e adaptação da proposta nos diferentes
cenários em que se inserem.
20

Conclusão

Neste trabalho de conclusão de curso, pudemos trazer a conceituação da luta


antimanicomial, que foi precursora do grande avanço que tivemos na luta pela humanização
do cuidado em saúde mental.

Passamos pela história da loucura com Foucault e os avanços na conceituação da


loucura ao longo dos anos a chegar nos trabalhos desenvolvidos por Nise da Silveira. A
importância da individualização do sujeito e sua subjetividade, o olhar além de um simples
diagnóstico resgatando o “eu” do sujeito.

Entendemos que avanços foram feitos, mas ainda há muito trabalho pela frente. No
apoio matricial a atenção básica, investimentos em preparo e formação dos trabalhadores das
unidades e melhora na comunicação intra-setores.
21

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