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CURSO DE PSICOLOGIA
RIO DE JANEIRO
2020
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Resumo
Abstract
Introdução
Após o feito em Trieste, na década de 70, aqui no Brasil deu-se início ao Movimento
dos Trabalhadores em Saúde Mental.
É sobretudo este Movimento que através de variados campos de luta, que passa a
protagonizar e a constituir a partir deste período a denúncia da violência dos
manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de
assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao
modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005)
Foi a modelo da crítica radical aos manicômios italianos, a quem se referência muito
Franco Baságlia dentre outros teóricos, que o Brasil se inspirou para iniciar sua luta
antimanicomial. Baságlia traz em um de seus livros, relatos sobre a rotina em um hospital
psiquiátrico e as barbáries que ocorriam, a total desumanização do indivíduo e as violências
praticadas nestas instituição, onde o “doente” era totalmente despersonalizado em razão do
seu transtorno.
Pode-se dizer que após Trieste se deu uma nova forma de pensar a loucura, onde o
indivíduo não era mais visto como um experimento em psicopatologia, carecendo de
intervenções médicas, científicas ou psicológicas. Este indivíduo institucionalizado é visto
agora como singular, tendo necessidade de pertencimento. ‘O ato terapêutico se revela, nesse
ponto, uma reedição revista e corrigida da precedente ação discriminatória de uma ciência que
para se defender criou a “norma”, cuja infração pressupõe uma sanção por ela própria
prevista.’ (BASÁGLIA, 2001, P 102).
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Baságlia traz a reflexão de que os loucos antes de serem vistos por suas
incapacidades devem ser vistos por suas potencialidades e como indivíduos que tem a
necessidade de inserção na sociedade, necessidade de cultura, dança, música, arte como um
todo, trabalho, dignidade e cidadania.
O cuidado do indivíduo com sofrimento psíquico não pode ser pensado somente à
partir de um laudo que traz suas disfunções nas interações neurobioquímicas, e tampouco da
restrição do seu ir e vir e de suas interações sociais e privações de si mesmo. ROTERLI:
LEONARDIS; MAURI, 2001, descrevem o manicômio como como um local onde não há
interações de trocas sociais.
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2. A humanização na antiguidade
Ao falar sobre a humanização, é preciso entender que esse processo têm consciência
teórica e histórica. Nossa sociedade é influenciada dos gregos. A medicina, era considerada,
além de representantes de cura física, como também de investigadores e divisores das pessoas
ditas como normais, das “párias”. O termo doença, era um conceito que organiza as ideias
sobre as investigações sobre as atividades médicas (HEGENBERG, 1998). Como a medicina
era muito comparativa, alguns casos eram completamente difíceis de lidar. Esses casos eram
principalmente dotados de pessoas que nasciam com aspectos físicos diferentemente do que
era dotado “normal” na época.
Povos primitivos entendem a doença como algo que se deve à ação de projéteis:
lanças, flechas, pedras atiradas por inimigos ou, talvez, ossos e espinhos que alguém
engole sem querer, em virtude da ação de forças adversas, humanas ou sobre-
humanas. Em alguns casos, o projétil é um organismo (um verme, p. ex.), cujos
movimentos, na pessoa afetada, explicariam dores agudas ou o mal-estar súbito .
(HEGENBERG, 1998, pg. 18)
Tudo que era diferente desse conceito, algo inexplicável, principalmente no quesito
“alma”, era classificado como uma imperfeição dotada de uma “maldição”, esse tipo de
pensamento forçava as pessoas da época a descartarem crianças que nasciam com
deformidades físicas ou mentais. Para filósofos da época, isso era baseado numa teoria
chamada, teoria da causalidade. Essa teoria interpreta fenômenos puramente naturais onde
constitui-se uma explicação científica e explicar esses fenômenos da natureza como se
antecede (MARCONDES, . Não havia portanto um pensamento de “porque isso aconteceu?”
e sim de, “isso aconteceu devido a”. Esse pensamento percorre em toda a antiguidade, não
pelo fato das coisas serem como são e sim, o motivo pela qual as coisas são como são. Logo,
pessoas com um entendimento de doentes naturais, era muito mais classificado pela
explicação do motivo pela qual as pessoas são assim, o que sempre se tornava um assunto no
sentido espiritual e não, se essas pessoas precisavam de algum amparo social ou humano.
cultural que elimina a cultura de um povo ou mistura-se com a cultura do povo dominante,
muitas ideias que eram gregas, se tornaram também de roma, inclusive no quesito cultural e
científico. Durante essa era, surge Hipócrates, o pai da medicina e foi dele, os três pequenos
discursos, que futuramente seria a ética de todo e qualquer médico:
Esse processo fez com que diversos filósofos da época o criticassem, já que não
deveriam se importar com tramitações clinicas e sim com o que era certo ou errado
filosoficamente. Hipócrates dizia que o corpo é compreendido com um princípio originário e
organizador do corpo onde ela fornece a forma e seu comportamento, que é próprio. Cada um
possui sua própria dynamis, seu próprio conjunto, assim, quebrando a ideia de que todos
somos iguais, cada corpo seria único que se assemelha a partir da formação de dois gêneros,
masculino e feminino (REBOLLO, 2006). Foi a partir dele que o corpo se tornou algo mais
interessante que as Arkhé dos pré e pós socráticos.
ascendente” (RECHINELI, PORTO, MOREIRA, 2018, pg. 296), e apesar disso, pessoas com
deficiência física e mental eram perseguidas e torturadas.
Com o fim da segunda guerra mundial, a sociedade via o ser humano como algo
completamente perdido em seu caminho social, o humanismo antropocêntrico criado no
Renascimento, já não trazia o mesmo valor para as pessoas em geral, e foi a partir de um
escritor, sociólogo chamado Auguste Comte desenvolveu um projeto teórico-metodológico,
“onde se teve início com a obra do historiador alemão Leopold von Ranke, que no século XIX
definiu que “os documentos falam por si próprios”, consistindo o trabalho do historiador em
apresentar os “fatos” indicados pelos documentos.“ (LACERDA, 2009, pg. 329). Esse
contexto é muito importante para Comte afirmar que não teria como afirmar que o homem é
mau por natureza sem um indicador de fatos documentados sobre isso. A partir disso, diversos
outros pensadores como John Stuart Mill, entre outros, começaram a datar fatos importantes
que faziam com que a visão sobre o ser humano fosse trazida para um lado politicamente
bom.
Entretanto, a bondade deveria vir além de uma filosofia empregada. além dos “males
sociais apontados pelo marxismo (proletariado, concentração financeira nas mãos de poucos,
intensa jornada de trabalho)” (SILVINO, 2007, pg. 279). Comte desenvolve a ideia de uma
física social ou sociologia científica, baseado num conhecimento de leis como fenômeno
social.
humanização começava a surgir de uma forma lenta, entretanto gradual, mesmo que houvesse
diversas barreiras sociais ainda difíceis de passar.
Até o século XVIII, os hospitais eram um local que, principalmente devido às duas
últimas guerras mundiais, foram criados como pontos de fuga para pessoas feridas e
desertoras. O ambiente era simplesmente inóspito e cruel. Com o fim da guerra, ele se tornou
um local para limpar as ruas de doentes, bêbados, mendigos e loucos. Mesmo com o método
social Popperiano e o positivismo, a estrutura institucional foi a forma mais fácil de eliminar
deficientes físicos, mentais e sociais, este último com mais enfoque neste momento. As
atribuições de Philippe Pinel a medicina, diferenciava o até então status de deficiência para
uma ótica não só física:
Essa alienação, muita das vezes era dotada de um teor preconceituoso e Pinel muita
das vezes entendia que era preciso atender de um modo clínico não só de forma lógica, mas
também com um acreditar sobre a doença do paciente. Esse Alienismo se torna uma
especialidade médica no Séc. XVIII, e se tornou um discurso médico (TEIXEIRA, 2019).
Ele acreditava que há cura para tais sintomas era de fato complexa, entretanto, havia a
partir de uma evolução de sintomas um produto que vinha somatizado a partir do
Inconsciente.
fim da estrutura marcante que era o sistema asilar das colônias e hospitais psiquiátricos em
meados do Séc. XX.
“forma o centro medular das circunvoluções do córtex, sendo composta por fibras que
conduzem e recebem impulsos tanto de outras partes do córtex quanto de locais distantes e
por fibras que ligam regiões corticais do mesmo hemisfério e entre os hemisférios.”
(MASIERO, 2003, pg. 551)
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Nesse púlpito psiquiátrico, uma jovem médica trouxe uma alternativa terapêutica,
dicotômica a todas essas formas, consideradas atuais em meio a realidade da psiquiatria no
país. Os trabalhos plásticos desenvolvidos através das técnicas de Nise da Silveira, uma
médica psicanalista junguiana trouxe admiração pela originalidade e pela qualidade dos
trabalhos (JUNIOR, PINHEIRO, 2010). Com esse contexto, além da ideologia artística ser
relevante, a população tomou ciência em 1949:
A grande onda obscurantista que invadiu a psiquiatria atual através dos neurolépticos
fabricados em doses crescentes pelos laboratórios multinacionais foi sufocando o
exercício das diferentes atividades criadoras que caracterizam, no seu largo sentido, os
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A crítica dela através da forma desumana trazida através de uma série de vivências
subjetivas dela, trazendo consigo também uma esperança de conscientização sobre a
humanização desse aprisionamento, não só físico, mas social e psicológico, traz uma força
muito importante, não só para a reforma antimanicomial, mas também para uma mudança no
paradigma sobre a deficiência como um todo.
[...]achamos que é muito instrutivo meditar sobre o sentido que a palavra normal
adquire em medicina, e que a equivocidade do conceito, assinalada por Lalande,
recebe, desse sentido, um esclarecimento muito grande e de alcance absolutamente
geral sobre o problema do normal. É a vida em si mesma, e não a apreciação médica,
que faz do normal biológico um conceito de valor, e não um conceito de realidade
estatística. Para o médico, a vida não é um objeto, é uma atividade polarizada, cujo
esforço espontâneo de defesa e de luta contra tudo que é valor negativo é prolongado
pela medicina, que lhe traz o esclarecimento da ciência humana, relativo, mas
indispensável.(CANGUILHEM, 2009, pg. 50)
Mesmo com todo o trabalho de reformulação das propostas que visavam dar fim as
internações e substituí-las por serviços assistenciais no modo de cuidar da saúde, ainda
persiste uma naturalização dos diagnósticos. “ A loucura, o díspar, tende a ser incorporado na
vida comum, na versão de doença mental psiquiátrica [...] os indivíduos submeten-se ou são
submetidos a viver dependentes de instituições de cuidados.” (CADERNOS HUMANIZA
SUS, 2015, P. 26)
Abrir linhas que transversalizem o campo unitário do discurso psiquiátrico por meio
da arqueologia foucaoultiana como prática para romper com as dicotomias ainda tão
demarcadas em nossas práticas. Em suma, acontecimentalizar a evidência de nossas
práticas dos saberes constituídos pelo arquivo da loucura. (CADERNOS
HUMANIZA SUS, 2015, P. 27).
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A historicidade que nos leva e nos determina é belicosa; ela não é linguageira.
Relações de poder, não de sentido. A história não tem sentido [...] ao contrário, ela
deve poder ser analisada até dentro de seu menor detalhe: mas segundo a
inteligibilidade das lutas, das estratégios e das táticas (CADERNOS
HUMANIZA SUS, 2015, P. 28 apud FOUCAULT, 1994 P. 145).
A lei trata dos direitos e proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, com
direito a igualdade de atendimento, sendo tratadas com humanidade e respeito com o intuito
de beneficiar sua saúde, tendo como visão a recuperação pela inserção na família, no trabalho
e na comunidade.
Vários programas foram criados e o dinheiro que antes era para a manutenção dos
leitos em hospitais psiquiátricos, foram voltados para a Atenção Psicossocial. Houve um
aumento no investimento destinado à saúde mental graças a consequente inversão das
prioridades de financiamento. A evolução foi tanta que temos hoje em dia diversos programas
como: o Programa de volta para Casa com o intuito de ressocialização do de pessoas
acometidas por transtornos mentais que estiveram institucionalizados por um longo período, e
que perderam sua total autonomia, com o pagamento mensal de um auxílio-reabilitação; os
diferentes tipos de CAPS – I, II e III/ Infantil I e II/ ad e controle de danos – e Unidades de
Acolhimento.
A atenção psicossocial não trabalha com conceito de cura mas sim de redução de
danos, principalmente em se tratando de CAPS ad (álcool e outras drogas). Esse contexto
surgiu à partir de iniciativas na Holanda de trocas de seringas dos usuários nos centros de
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Quando a abstinência é tomada como regra única e superior, ela acaba por destituir
outras possibilidades de regras. Isolada como única regra, logo em um “vale tudo”.
Quando um determinado regime do saber-poder exige o vale nada como condição,
toda e qualquer alternativa a esta proposta hegemônica é taxada como “vale tudo. Mas
é exatamente neste ponto que a Redução de Danos se ergue como uma alternativa
potente a este regime de saber-poder, pois para reduzir danos não pode ”valer tudo”,
não se reduz danos com enunciações que se alinhem com a lógica do “liberou geral”
(CADERNOS HUMANIZA SUS, 2015, P. 218).
A Redução de danos não deve ser vista como um incentivo ao uso de drogas mas sim
uma possibilidade diferente da regra de abstinência que é a de preservação da vida, de si e de
terceiros, mesmo assim não se opõe a abstinência caso seja uma meta possível ou mesmo
desejável. O que se quer não é estabelecer uma relação de poder e sim um local de
acolhimento para que o indivíduo em sofrimento tenha apoio nos momentos de crise.
Foucault e Deleuze (1986, P. 71) dizem:
subscrito por representantes atuantes nos três níveis da gestão do SUS e que foi aprovado pelo
Conselho Navional de Saude em 2006 ( Brasil, 2006).
Almeida nos fala que há uma descentralização setorial no Brasil que está interligada
ao processo que passa de “uma forma extrema de federalismo centralizado para alguma
modalidade de federalismo cooperativo, ainda não completamente definido” (
SCARELLI, et al. 2011, P 343 apud ALMEIDA, 2003, P. 210).
São observados problemas similares em relação aos CAPS. Todo o movimento na luta
de substituição dos manicômios por práticas alternativas de serviço aos acometidos por
trantornos mentais, se traduziu, nos últimos anos, numa política oficial de Centros de Atenção
psicossissial. Foi uma das principais estratégias da consolidação da Reforma Psiquiátrica
Brasileira.
Os desafios do Milênio mna atenção e cuidado à saúde metal, foram pontuados pela
Organização Mundial da saúde.
Conclusão
Entendemos que avanços foram feitos, mas ainda há muito trabalho pela frente. No
apoio matricial a atenção básica, investimentos em preparo e formação dos trabalhadores das
unidades e melhora na comunicação intra-setores.
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REFERÊNCIAS
FREUD S.; (1897) Histeria (1988). Edição Standard Brasileira das Obras Completas
de Sigmund Freud, vol. I. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
MACIEL S. C.; BARROS D. R.; SILVA A. O.; CAMINO L.; Reforma Psiquiátrica e
Inclusão Social: um Estudo com Familiares de Doentes Mentais; PSICOLOGIA
CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2009, 29 (3), 436-447. <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/pcp/v
29n3/v29n3a02.pdf> Acesso dia 01/06/2020.
PLATO A. V.; ROSEMAN M.; BOLL F.; KAMINSKY A.; Traumas na Alemanha;
ALBERTI, V., FERNANDES, TM., and FERREIRA, MM., orgs. História oral: desafios
para o século XXI [online]. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. 204p.
<http://books.scielo.org/id/2k2mb/pdf/ferreira-9788575412879-05.pdf> Acesso dia
12/05/2020