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Maria Rappé
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[ ÍNDICE ]
Prefácio……………………………………………………………………….………… 3
Apresentação………………………………………………………… …………………4
Responsabilidade………………………………………………………...……...……...7
A Morte do Ego………………………………………………………… ……...……….8
Efeitos do Rapé: Benefícios e Limpezas…………………………………………..... 10
Rapé e Ayurveda………………………………………………………………...……. 14
Feitio………………………………………………………………...……...……...……. 15
Instrumentos de Sopro: kuripe e tepi/tipi……………………………………...…… 17
Dieta e Alimentação……………………………………………………… ……...……..19
O Sopro………………………………………………………… ……...……...…………..22
Os tipos de rapé: cinzas……………………………………………………...……...….. 24
Nissum do Rapé……………………………………………………… ... ………...…….. 27
A Floresta e a Cidade……………………………………………………………………. 29
O Rapé e a Cidade - matrix artificial…………………………. ……...……...……...…..31
Solução Natural: Cultura Artesanal………………………………………………….… 36
O Rapé e a Mediunidade………………………………………………………………... 38
O Canto………………………………………………………………………….……...… 40
Anexo 1: Tabaco e a importância de não tragá-lo…………………………………… 41
Anexo 2: Estudos dos tipos de rapé utilizados pelo povo Nuke Kuin………...…… 44
Anexo 3: Cantos do rapé………………………………………………………………... 47
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Prefácio
Essa obra é uma canalização e cocriação. Ela não tem validade bio-médica e não
deve servir para substituir ou suspender qualquer tratamento alopático da medicina
científica. Trata-se de um estudo sobre a espiritualidade, mediunidade e plantas de
poder, um estudo de xamanismo e investigação interior. É uma obra que não se finaliza
em si. Sua natureza, como a própria Natureza, está em eterna transformação e
aperfeiçoamento, portanto nenhuma palavra aqui é final. Seu propósito é ser uma porta
de iniciação que lança o estudante a uma profunda jornada de autoconhecimento e
conhecimento sobre Gaia, nossa Mãe Terra, nesses tempos de recordação ancestral e
transição a uma Nova Era.
Maria Rappé é a mentora espiritual que conduziu esse estudo. Ela é uma Mestra
Ascencionada entre as caboclas e caboclos e, ao mesmo tempo, representa o coletivo
dos povos das matas nos reinos espirituais. Junto a ela, muitos outros parentes se
fizeram presentes: Pena Branca, Guaraci, Jurema, Jussara, Jupira... Okê caboclo!
Por fim, todo canal humano de informação tem o viés da própria experiência
pessoal e é natural que confusões de ideias possam se manifestar durante o processo.
Que o fluxo do Amor e da Verdade seja nosso propósito comum! Assim é.
Apresentação
O rapé é uma medicina sagrada concebida pelos ancestrais dos povos indígenas
da Floresta Amazônica. Seu uso medicinal e 'recreativo' espalhou-se entre outras
culturas, o que não impediu que os txais mantivessem forte o estudo tradicional do rapé.
O rapé é uma medicina sagrada da tradição indígena, o que significa que seu uso
é fundamentalmente espiritual. Diferente de outros métodos medicinais – tal qual a
medicina científica ocidental – os curandeiros indígenas trabalham pela cura das causas
energéticas que originam qualquer doença ou mal acometido pelas pessoas. Portanto, o
rapé é um meio de cura holístico, isto é, trata os corpos físico, emocional e mental, em
alinhamento com o Espírito. O termo “corpo espiritual” se refere à manifestação do
alinhamento entre três primeiros corpos com a energia Cósmica que possibilita a Vida.
É cada vez mais comum realizar feitios com a energia de orixás e arcanjos, de
acordo com as energias que querem ser ancoradas.
O processo todo é regado e nutrido por esses tipos de intenções que protegem e
guiam os envolvidos. Desde quando as folhas de tabaco são abertas e colocadas ao Sol,
até o momento em que o pajé finalmente o sopra com seu tepi, existe uma intenção
coerente que fortalece o momento de cura.
Cada vegetal tem seu trabalho específico quando interage com outras formas de
vida. A ciência ocidental vislumbra um aspecto disso nas propriedades medicinais e
princípios ativos das plantas, estudando as características químicas presentes sob o
prisma da matéria; por outro lado, outras tradições medicinais ao redor do mundo
prestam atenção nas propriedades energéticas específicas de cada planta e elemento
envolvidos. Os txais referem-se a essas propriedades como forças e espíritos das
medicinas.
Entre muitas técnicas usadas na floresta para acessar e trazer essas forças, as
principais são os cantos e rezos sagrados – em algumas tradições, chamados de ícaros.
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São sons e palavras recebidos pelos pajés durante os efeitos de cada medicina, por meio
de dietas, jejuns e períodos de isolamento na mata. Através desses cantos é possível
intensificar e direcionar os efeitos de cada medicina da floresta, aliviando os pesos das
mazelas. São palavras de alegria, proteção e limpeza que acessam diferentes
sentimentos de quem os ouve e facilita o trabalho de cada elemental. Ao abrir-se sem
expectativas para a experiência, não é necessário conhecer o idioma cantado para sentir
seus efeitos positivos.
Responsabilidade
É primordial que a pessoa que irá receber uma medicina tenha consentimento da
aplicação, assim como é fundamental a presença plena de quem aplica, sem “má
vontade”.
Um conselho que é dado a todos os iniciados: não seduza ninguém a soprar rapé.
Apresente a medicina, diga o que sabe, o que sente e o que já estudou, sempre com
muito respeito, e coloque-se à disposição caso a pessoa queira um sopro; no entanto,
evite a todo custo dizer coisas como: “você precisa do rapé”, “essa medicina vai fazer
você sentir assim ou assado”. Um dos mistérios do rapé é a impossibildade de prever
qual será a reação de cada um, pois pode ser uma experiência tranquila ou intensa que
depende de muitos fatores, muitas energias que nós, humanos aprendizes, normalmente
não temos plena consciência.
A Morte do Ego
Esse conceito não é novo, nem é exclusivo do caminho xamânico. A morte do Ego
é uma passagem há muito tempo conhecida no caminho espiritual humano, em todas as
religiões, e é parte fundamental do processo de ascensão individual. Essa “morte” pode
ser experienciada de infinitas maneiras, diferentemente para cada indivíduo, podendo
ser dolorosa, rápida, vagarosa, surpreendente, libertadora... sempre a depender de qual
camada de Ego está sendo dissipada e em qual ciclo pessoal o indivíduo se encontra. Ela
também pode acontecer de maneira marcante muitas ou poucas vezes, a depender da
caminhada de cada um.
Quando nos deparamos com esse momento de morte, somos enfrentados pelos
nossos medos e traumas mais profundos. Esse encontro pode ser tão forte que a pessoa
só o suporta por um curto período de tempo antes do corpo emocional e físico reagir na
forma de limpeza.
Todas medicinas sagradas nos colocam de frente para esses medos. Sob seus
efeitos, é comum precisarmos passar por várias cerimônias enfrentando os mesmos
traumas, hábitos e padrões até começarmos a assimilar as informações, encontrando
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caminhos para trabalhar os aspectos de nós mesmos que foram revelados.
Os espíritos das medicinas não fazem isso para nos torturar, muito pelo
contrário: o objetivo é nos guiar, como tutores, pelo caminho de aprendizado do
guerreiro e da guerreira interior. Eles mostram nossos medos e nos estimulam a
encontrar soluções criativas para encará-los. Bioquimicamente, o efeito das medicinas
sagradas ajuda a reajustar nossas sinapses e a formar novos caminhos mais saudáveis de
pensamento e sentimento, não apenas no cérebro, mas em todo o corpo.
Cada medicina nos guiará por esse processo de morte a sua maneira. A
ayahuasca nos permite visitar planos mentais e etéreos com muita facilidade, num mar
de cores e mirações, com referências inacreditáveis.
O rapé também caminha ao nosso lado nesses momentos de morte, mas sua
presença é como uma voz interna. Ele é capaz de silenciar nosso diálogo interno - a
“mente automática” que julga, categoriza etc. - e facilita o acesso ao Eu Observador.
Primariamente, sentimos seu gosto e seu cheiro por todo o corpo, muitas vezes
como se fosse algo muito antigo ali dentro, uma memória ancestral. O rapé pode, sim,
levar a estados de miração, mas o seu trabalho principal é alinhar o pensamento e os
sentimentos(1): ele ajuda a enfrentarmos nossos medos, angústias e, ao mesmo tempo,
nos protegermos da raiva e julgamentos obsessivos. Quanto mais inquieta é a mente da
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- Sentimentos são considerados, nessa obra, como a união da razão (mente) e o emocional. O sentimento não é
puramente um pensamento frio e calculista, nem uma emoção reativa e incontrolada. Geralmente, um sentimento é
associado a uma memória e ou experiência que desencadeiam processos de aprendizado interno fundamentais de
auto-conhecimento. Por exemplo, um sentimento de nostalgia que remete à infância, ou algum sentimento de ansiedade
relacionado a bloqueios, situações traumatizantes etc.
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pessoa, quanto mais ansiedade ela cultiva em sua própria realidade, mais difícil será para
ela lidar com o rapé sem sentir os efeitos negativos já presentes no corpo. Ele trará tudo
para o físico, para não escondermos de nós mesmos o que nos afeta. O rapé trabalha,
literal e essencialmente, a antiga ideia “Corpo é Mente, Mente é Corpo”.
Quem está acostumado com o rapé sabe o quão desafiador é prever os efeitos
específicos de cada aplicação e quanto tempo durará. Cada pessoa tem diferentes graus
de facilidade ou dificuldade em aceitar as medicina da floresta, realizar sua limpeza e
meditar em sua força.
Um último tipo de limpeza diz respeito a uma variedade muito mais sutil de
manifestação. A limpeza de traumas emocionais e karmas negativos pode ser
manifestada das formas já citadas anteriormente, assim como pode variar de maneiras
muito específicas para cada um.
Rapé e Ayurveda
Os Huni Kuin alertam que, entretanto, beber água pura pode “lavar” os efeitos
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do rapé, não permitindo que a medicina realize sua cura. De fato, se o objetivo é sentir a
força do rapé e acessar os seus estados de transe, a água anulará esse efeito. É
necessário discernimento, portanto, de quando a água complementará o trabalho do
rapé e quando ela o interrompe.
O uso excessivo e inadequado do rapé, sem atenção a uma dieta adequada e sem
respeito a sua energia podem desequilibrar esses doshas. De forma bem simplificada, o
vaata rege o campo mental (ar), o criativo e o mediúnico (éter), trazendo uma
constituição leve ao corpo. Pessoas com muito vaata costumam ser magras, com ossos
finos.
Por fim, falar de limpeza significa falar de toxinas, lembramos que os efeitos do
rapé e seus espíritos guardiões são melhores percebidos durante a dieta do rapé,
processo de iniciação pelo qual os pajés, curandeiras e curandeiros tradicionalmente
passam para limpar o corpo de toxinas provindas da alimentação e firmar, em si, o
espírito guardião do rapé. Esse tópico será tratado posteriormente com mais detalhes.
Feitio
Do lado técnico, o rapé requer a cooperação do ser humano com a Natureza para
ser propriamente feito. Algumas condições naturais necessárias são o clima seco e
ensolarado. Na ausência dessas condições, as folhas de tabaco e as cinzas podem ficas
úmidas, dificultando tanto a técnica de pilar quanto de peneirar. O tabaco úmido não se
transforma em pó ao ser moído. As cinzas, também, precisar estar secas para que sejam
peneiradas de maneira apropriada.
Quanto mais vezes for pilado e peneirado, mais fino será o rapé e maior a sua
qualidade de feitio e trabalho.
Como explicado, o rapé deve sempre ser soprado, e nunca cheirado. Para isso,
faz-se uso do kuripe / curipi e do tepi / tipi.
(acrescentar fotos)
A dieta é uma prática comum entre todos os povos que cultivam a tradição do
uso medicinal do rapé. Todas as medicinas da floresta possuem dietas similares, e esse é
um estudo que recomendamos a todos pesquisarem na própria caminhada. Por um lado,
faltam estudos escritos no assunto, deixando-nos quase que exclusivamente à tradição
oral e criando muita especulação no campo científico, estritamente racional. Por outro, a
riqueza de experiências e ensinamentos das dietas que nos são passadas, especialmente
pelos mais velhos, mostra quanto vigor o corpo humano é capaz de revelar na ausência
de alimentos – benditos jejuns - e na busca por uma consciência mais elevada. E nada
disso se restringe à idade física, pois muitos curandeiros jovens realizam intuitivamente
jejuns de muitos dias, guiados essencialmente pelo Espírito. É uma chave de harmonia
universal: o estudo holístico das dietas e do “aparelho” humano está aberto a todos que
façam essa escolha.
A dieta do rapé trata-se de uma iniciação a partir da qual o indivíduo estará mais
adaptado à Força do Rapé, conhecendo seus efeitos em todas as dimensões corpóreas,
alinhando-se com os espíritos curandeiros que o cercam e, finalmente, tornando-se apto
para aplicar com respeito o rapé em outras pessoas. Originalmente, a dieta é feita em
contato constante com a mata, por isso existem cosiderações de adaptações da cidade.
Existe uma discussão sobre o consumo de frutas doces durante a dieta. Diversas
culturas, tais como os Huni Kuin e certos povos peruanos, são enfáticos ao dizer que o
gosto doce precisa ser eliminado da dieta, pois pode atrapalhar o discernimento do
estudante, atraindo a polaridade negativa do rapé – o nissum – e prejudicando o
desenvolvimento intencionado originalmente. Esse nissum pode manifestar a preguiça e
compulsão alimentar, desequilíbrios associados ao doce em diversas tradicões
medicinais.
Historicamente, isso faz sentido a exclusão das frutas doces se pensarmos que o
açúcar da cana foi introduzido há poucos séculos na dieta indígena e a tradição do rapé,
incluindo sua dieta, é anterior a esse período. Antes do açúcar, o único doce possível era
o sabor das frutas, e os pajés em geral consensuam na ausência desse alimento,
principalmente durante as dietas mais longas.
Existem outras tradições que não excluem frutas. Muitos dos curandeiros e
curandeiras não a recomendam levando em consideração o dia-a-dia contemporâneo,
principalmente nas cidades, que requer uma dose maior de energia para se lidar com
tantas interações e informações. Não queremos que ninguém seja incapaz de executar
suas atividades diárias e, mesmo que isso seja possível com o corte do doce, inclusive
frutas, e uma substituição planejada por outros alimentos ricos em energia ao longo dos
21 dias, é preciso que a mente e a vontade do iniciante estejam em alinhamento com
essa rotina para enfrentar esse periodo de desintoxicação. Cabe a cada um fazer
escolhas de acordo com sua autorresponsabilidade.
Outra questão é o uso de laticínios. Como a vasta maioria dos alimentos dessa
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categoria são processados, não seria aconselhável seu uso durante a dieta do rapé. No
caso de leites e laticínios produzidos artesanalmente, mais diretamente do animal, é
preciso estar atento às condições de criação e à digestibilidade da lactose para cada
indivíduo. É fato que a produção lactase (enzima que digere a lactose) no corpo humano
está presente apenas no código genético de populações europeias, e ela tende a
diminuir a medida que os indivíduos atingem a idade adulta. Por isso, a intolerãncia à
lactose é relativamente comum na população humana, e cada indivíduo manifesta essa
indigestibilidade com reações diferentes, que podem variar de desconfortos intestinais a
alergias de pele, acne etc. A presença de qualquer intolerância alimentar afetará, com
certeza, o estudo do rapé durante a dieta, pois afetará a concentração e meditação do
estudante.
Ao final desse período, cada um terá passado pelos seus próprios processos
físicos, emocionais, mentais e espirituais, acessando os próprios campos espirituais com
suas próprias experiências. A partir desse momento, a pessoa terá a firmeza necessária
para aplicar o rapé em outros com o respeito necessário e a pureza de servir.
Com o tempo, fora das dietas mais restritas, é comum a muitos sentirem a
necessidade de diminuir produtos açucarados e de origem animal. Isso é comum a todos
no caminho de autoconhecimento espiritual, com ou sem a presença das medicinas da
floresta, pois faz parte do despertar da consciência que a humanidade está
experenciando nessa transição da Terra. A desintoxicação de anos de má alimentação é
completa ao incorporarmos alimentos vivos no dia a dia: a sustituição consciente afasta o
sentimento de falta.
O rapé e a ayahuasca também são alimentos para o Espírito. Sendo de origem
vegetal, eles trabalham muito bem com os corpos que se alimentam da energia de
vegetais. As células das plantas continuam vivas e ativas, mesmo após serem cortadas e
cozinhadas, e fornecem muita energia vital quando nos alimentamos com respeito e
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gratidão. Principalmente para quem mora no meio urbano e passa a maior parte dos dias
sem contato direto com a natureza, o chamado para a reeducação alimentar costuma ser
maior.
O Sopro
De acordo com o Livro de Cura do povo Huni Kuin do Rio Jordão, “Una isi
kayawai”, conta-se que “O Sopro está relacionado com o pensamento positivo, é uma
grande energia que cura e tira o ruim, traz a proteção na vida espiritual, salva e defende
o dia a dia”.2
O estudo dos sopros é iniciado pela dieta de 21 um dias, consagrando o rapé com
o KUXPA (kuripe). Nesse processo o sopro do praticante vai se desenvolvendo, começa
com pouco rapé e um sopro curto; depois, para sentir mais a força, aumenta-se a dose e
faz-se um sopro mais longo. O interessante no momento do sopro é estar conectado
com a medicina, procurando um equilíbrio entre corpo e mente, estar em uma
freqüência positiva, firmado na dieta para poder servir de canal para passar a medicina.
Sempre que for feita uma aplicação em outra pessoa, é fundamental lembrar de
se pedir licença, tanto a ela quanto aos seus guias espirituais. Isso facilita a conexão e o
processo de ambos. Não é incomum alguém soprar o rapé em outra de maneira
equivocada e passar, também, pelos efeitos da medicina. São os mistérios do rapé...
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Una isi kayawai foi organizado e baseado nos estudos da etnia Huni-Kuin , onde estão catalogadas 109 espécies de
ervas medicinais da floresta Amazônica.
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conectando no momento do sopro. Antes de assoprar é interessante se conectar com a
pessoa e sentir a energia, olhar nos olhos para deixar fluir o sopro que ela deve receber.
Cada um tem uma energia própria e organismos diferentes: em alguns, dá-se um sopro
mais leve; em outros, um sopro médio; e outras precisam de um sopro forte, tudo
dependendo também da necessidade do momento.
Em relação ao tipo de sopros, pajés do povo Huni Kuin contam sobre três tipos
de sopros: DAMATI, USHABAE E BUXKATXÃ.
Inicia-se com o sopro Damati, que é um sopro devagar, leve, suave, tranquilo,
onde a pessoa vai sentir a força chegando devagar, indicado para quem está
consagrando pela primeira vez ou para pessoas que são sensíveis ao rapé.
O segundo sopro, Ushabae, é o caminho do sonho, um sopro comprido e forte
no final, faz a pessoa sonhar bem, ter um sono tranqüilo e acordar bem. Uma observação
interessante: outras tradições fazem o mesmo sopro “ao contrário”, decrescente - forte
no começo e leve no final – na intenção de trazer bons sonhos e acalmar a pessoa. É um
estudo indicado para se fazer à noite, logo antes de dormir.
O terceiro sopro chama Buxka Txau, um sopro curto e forte, que traz energia e
vigor, força para trabalhar e coisas fortes, nesse sopro você se conecta com KOINUMAN
TANANE que é um Yuxibu Guardião da medicina do rapé. Foi ele quem trouxe o rapé para
a humanidade, contam os pajés.
Os txais também contam que um dos espíritos guardiões do rapé é Inu Bake, a
onça pintada; o espírito guardião do nixi pae (ayahuasca) é YUBE, a Jibóia; e o espírito
guradião da sananga é Nawa Tete, o Gavião Real. Todos esses yuxibus trabalham em
harmonia na egrégora espiritual das três medicinas.
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Os rapés levam diferentes nomes de acordo com a cinza que é usada. Cada
tradição fala sobre seus usos e diferentes relações com cada árvore, além das misturas e
rezos específicos. Na sessão de anexos disponibilizamos alguns registros validados por
pajés e curandeiros sobre a especificidade de cada rapé para cada cultura.
O rapé de cumaru pode ser feito a partir das cinzas dessa árvore ou com as
raspas de sua casca. No primeiro caso, o aroma predominante será o de tabaco; no
segundo, a presença do cumaru se sobrepõe. Seu efeito é majoritariamente “clareante”,
eliminando congestões nasais, alergias e bloqueios mentais. O cheiro do cumaru é o
principal responsável por esse efeito, tornando-o um rapé muito apropriado para a cura
e para afastar “panemas” (males dos do espírito).
O rapé de murici é feito com as cinzas de sua árvore. Suas frutas também tem
propriedades medicinais, mas não são usadas nessa medicina. É um rapé que traz
ancoramento, firmeza e concentração, trabalhando principalmente nos chkras do baixo
ventre (umbigo, sacral e raiz). Frequentemente também é usado para acalmar a mente e
auxiliar o sono quando soprado à noite. Seu sopro, quando bem executado, permite que
a energia acumulada no baixo ventre seja espalhada por todo o corpo. É usado também
para aliviar desconfortos da constipação e diarréia, estabilizando o fluxo digestivo.
O rapé de yopo vem de uma planta de poder que se difere dos demais. Feito a
partir das semenetes dessa árvore sagrada (conhecida como a família do angico, paricá,
virola, yupa, tiborana etc.), em sua composição encontramos o DMT, mesma substância
presente nas folhas da chacrona (ayahuasca). Além de realizar o trabalho de limpeza e
alinhamento, seu sopro pode facilmente levar a um estado alterado de consciência, que
se assemelha ao sono e pode durar vários minutos ou algumas horas. Para navegar
tranquilamente nesse transe, o praticante precisa ser experiente no caminho xamânico e
firme em suas intenções. A pessoa pode experienciar mirações, desdobramentos astrais
e / ou aleteração dos sentidos físicos. Tudo depende da intensidade e da intenção do
trabalho espiritual ali realizado. Recomendamos cautela ao usá-lo e fortalecer, antes, o
estudo nos outros tipos, já que o rapé de yopo é de um nível de estudo mais profundo.
Nissum do Rapé
Caso sejam observados esses fenômenos, recomenda-se que o uso do rapé seja
suspenso durante algum tempo (dias, semanas) a depender do aconselhamento de um
curandeiro mais experiente e da intuição do próprio estudante. É sabido que a sananga
age no sentido de equilibrar qualquer nissum atraído pelo rapé, assim como rapé pode
ser eficaz para trabalhar os nissum e bloqueios experiementados durante a ayahuasca.
Esse entendimento traz harmonia, pois as medicinas sagradas agem em
complementariedade. Importante sempre levar em cosideração os hábitos e fatores de
saúde presentes na vida de cada um previamente, para além do contexto xamânico.
O rapé vem, nesses casos, para auxiliar no alinhamento a mente e o corpo com a
mudança de hábitos alimentares que, nada mais são, do que vícios emocionais
manifestados no consumo excessivo de doces e carboidratos refinados. Não se pode
esperar que a simples aplicação de rapé “cure” esses problemas, então é necessário que
se tomem as medidas necessárias para o aperfeiçoamento do veículo humano. Ele pode
ajudar na limpeza de toxinas, mas isso depende da permissividade da pessoa em seu
processo interno de se libertar dessas toxinas, o que muitas vezes está arraigado a nível
subconsciente: por mais que a pessoa diga que quer livrar o próprio corpo do excesso de
açúcar, existem mecanismos fisiológicos e implantes energéticos que impedem que essa
limpeza seja executada imediatamente.
A Floresta e a Cidade
Vejamos assim, em uma parábola: em sua casa à beira do rio, o caboclo ribeirinho
acorda todos os dias com o canto do galo, enquanto o Sol lentamente desponta no
horizonte. Levanta, lava o rosto e percebe pela vigésima vez que sua canoa está com
buracos e ele precisa ir à cidade mais próxima comprar o material para consertá-la. Ainda
pela manhã, aproveita que seu facão está próximo e capina pelo seu terreno, como
costuma fazer antes que o dia fique quente demais, e encontra um trecho em que o
mato está invadindo sua plantação de mandioca. Demora cerca de 2 horas nesse rabalho
de remoção até que fique satisfeito com o resultado e retorna à sua casa, onde sua
companheira cozinhou algumas bananas e café para o desjejum, depois de ter
alimentado os animais e passeado pela horta. Antes de comer, senta na soleira e sopra
um rapé com o filho pra relaxar o corpo após ter capinado por tanto tempo. Quando se
recompõe, come calmamente, comenta sobre o peixe do dia anterior (que estava uma
delícia) e que precisa ir pra cidade comprar a massa que tapa buracos de canoas. O filho
fica empolgado com a ideia e quer ir junto pra comprar uma camiseta do Neymar com o
dinheiro que ganhou de alguns turistas em troca de um passeio pelo igarapé onde
moram. Quem sabe, na volta,pode até jogar bola com os amigos se o tabaco ainda não
estiver seco o suficiente para ser pilado.
Assim que o pai termina de se trocar e arrumar o que precisa para a viagem, o
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tempo fecha repentinamente. O céu escuro acompanha um cheiro de terra molhada e a
família toda sabe, sem dizer uma palavra, que em alguns minutos iria começar a chover.
Nesse movimento, intuitivamente o pai e o filho correm para colocar o tabaco em sacolas
fechadas antes que a chuva caísse.
Não vale a pena sair de barco e depois pegar uma carona na estrada para ir à
cidade molhados, então adiam a viagem. Um pouco decepcionado, o filho pede ao pai um
sopro de rapé para ajudar a combater uma tristeza que nele começava a crescer. Sentam,
sem falar muito, consagram a medicina e, sem outras obrigações da casa, entram na
força da medicina durante um tempo. Quando se recompõe, o filho pega o violão e toca
algumas canções que aprendeu com os parentes Shawandawa. A mãe fica feliz com a
cantoria e canta junto; o pai, filho de uma pajé desse povo, dá um discreto sorriso de
orgulho e olha pela janela, percebendo que a chuva iria demorar mais do que pensava.
Naquele dia, não poderiam ir para a cidade, nem fazer o rapé, nem jogar bola. De
fato, a chuva durou muito mais do que esperavam: caiu água durante três dias, o rio
encheu significativamente e navegar por suas curvas se tornara muito mais fácil. Com
sorte, esse ano não iria encher demais para não comprometer as plantações e a pesca
seria proveitosa.
Mesmo sem fazer mais que a metade do que inicialmente tinham planejado, a
família não se entregou à insegurança e ansiedade. Mesmo que algumas tristezas e
preocupações tenham surgido, o dia foi bem aproveitado e as atividades se adaptaram
aos ciclos naturais que os cercam e os nutrem.
“Aproveitar o dia” pode ter um significado muito diferente para quem vive na
cidade. Muitas vezes, se não há a sensação de produção, diz-se que o dia foi
desperdiçado e não fizemos “nada”. Muita gente cria a necessidade de sair de casa todos
os dias, dizendo que só assim realmente está “vivendo a vida”. Em certos bairros, muitos
tem medo de sair de casa, pois seus pais, amigos e jornais dizem que a rua está cada vez
mais perigosa. Se chove desavisado e a pessoa está na rua sem guarda-chuva, precisa
esperar embaixo de um toldo ou enfrentar a estranha lama suja de fumaça das calçadas.
Outros mais “sortudos” entram em seus carros e vão a reuniões em cômodos fechados
do outro lado da cidade sem dar mais de 500 passos em um dia e há dias sem pegar sol.
O Sol, inclusive, é temido: todos os médicos e colegas recomendam que se passe
protetor solar obsessivamente, que só é trocado ocasionalmente pelo “cenoura e
bronze” na piscina ou na praia. Quem não tem piscina e vive na rua, desconfia com raiva
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da Polícia que a todo momento fuzila olhares e balas desconfiadas, enraivecidas. Só não
fuzilam outros políciais porque o Capitão não permite, assim como o trabalhador
engravatado não xinga pessoalmente seu chefe porque o Capital não permite.
É fundamental que o rapé se mantenha sempre artesanal, onde quer que seja
feito, para preservar suas qualidades espirituais e medicinais. Isso garante que o estudo
de cada curandeir_ se faça presente e consciente, em respeito à Natureza. Dentro dessa
energia, apresentar e levar o rapé de maneira igualmente respeitosa mantém a
coerência de todo o propósito dessa medicina na Terra. Um dos maiores males do tabaco
na história humana foi apresentá-lo a várias culturas do mundo após um processo
ganacioso de enfraquecimento da planta, e o isso deve ser evitado com qualquer
medicina sagrada. Felizmente, os indígenas de toda a América mantiveram vivas as
sabedorias que o tabaco, enquanto um mestre vegetal e espiritual, carrega em seu
trabalho na Terra. Essa ancestralidade ressoa na memória de milhões de seres humanos,
e muitos de nós tem uma história de relacionamento profunda com essa e outras plantas
ao longo de inúmeras existências terrestres. Um dia, todos os prazeres brotaram da
terra...
O rapé, junto com todas as alquimias vegetais, nos auxilia no nosso alinhamento
pessoal e cultural com a Terra. No caso dessa medicina,isso é feito de maneira muito
impactante física e mentalmente, o que o caracteriza como uma planta de poder, um
enteógeno, um veículo mediúnico ancestral, que nos permite entrar em contato com
nossos diversos planos da existência. Quando alinhados com a nossa verdade, nosso Eu
Superior, o tabaco intensifica a limpeza desse canal e protege contra qualquer energia
negativa. Nesse estado, lembramos que nossa própria Natureza está dentro de nós
mesmos.
Mesmo na cidade, essa Natureza interior pode ser alcançada, e o rapé não é o
único canal para isso. Qualquer elemento da natureza, quando o colocamos sabiamente
em nossas mãos, pode nos auxiliar a limpar nossos corpos vibracionais e nossas auras de
negatividade. O segredo é alinhar-se, sem medo, com o elemento que escolher e manter
o coração aberto para os seus aprendizados.
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Não há espaço para a vergonha ao aprender com uma planta: todos os Seres
Humanos fazem uso da matéria para crescer, seja pelos alimentos, pela arte, pelas
atividades físicas, pelas sensações físicas. A vida inteira é um aprendizado mútuo com
todos os elementos e forças com os quais nos envolvemos.
Na cidade, se nos propomos a utilizar o rapé, temos que estar conscientes de que
há mais trabalho energético envolvido do que na floresta. A necessidade de criarmos
uma energia harmoniosa durante e ao redor da aplicaçção se faz ainda maior do que
quando próximos à natureza. O rapé aumenta nossa sensibilidade física e pode baixar a
pressão sanguínea significativamente. Na Força dessa medicina, a mente se mostra com
muita nitidez e reatividade aos estímulo sensíveis e isso adquire muitas formas, das mais
densas às mais sutis. Mesmo os indivíduos que já acostumaram sua pressão ao rapé,
ainda são estimulados fortemente na glândula pineal, região foto-sensível do cérebro.
Por isso, momentos e ambientes livres de estresse são sempre fundamentais para a boa
saúde de um sopro.
O Rapé e a Mediunidade
O rapé, como já foi dito, pede esse respeito para preservar a limpeza e
funcionamento correto dos veículos humanos, culminando em limpezas acertadas e
forte regeneração de energia.
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O rapé pode ser um forte elo com a natureza e seu potencial curativo que já
reside dentro de cada ser humano, assim como pode ser uma “válvula de escape”,
substituta de outros vícios, quando a intenção não é trabalhada coerentemente. Todos
os alimentos naturais que nutrem a alma também são tóxicos quando usados sem
discernimento, em excesso, e as medicinas da floresta não são exceção. O estudo da
autoaplicação e da consagração em grupo são “termômetros” que devem ser aliados às
observações pessoais para entendermos como as medicinas estão trabalhando em cada
momento, em cada situação. Alinhando-se e elevando-se as intenções, não há nada que
as medicinas tragam em si que seja incontornável, incompreensível ou
fundamentalmente danoso para ninguém.
O Canto
Cantar, dançar, criar música são as formas mais poderosas de criar e expandir
energia em nossa existência humana. As medicinas da floresta participam dessa
cocriação inspirando imagens, palavras, sons e harmonias que são recebidas por nós.
Listamos nessa obra, em anexo, alguns cantos populares que nos foram
permitidos publicar que falam da força do rapé.
Anexos:
Anexo 1:
Tabaco
Sim, o tabaco é uma planta. Um vegetal que primordialmente era usado como
uma "panacéia", isto é, que cura qualquer doença. É uma planta de ligação espiritual que
atrai e limpa energias. É uma medicina profundamente mediúnica, capaz de ajudar a
pessoa a se comunicar com os espíritos ancestrais e elementais da natureza.
Entretanto, todo positivo tem um negativo. Usado em uma energia de vício, ele é
um imã de energias que o puxam para a depressão, amargura e dão espaço para os mais
diversos males se manifestarem no corpo.
Um parente disse em uma roda, certa vez: "Antes do branco vir, a gente não tinha
uma palavra para 'vício'. Ninguém que estivesse cachimbando seria chamado de viciado,
nem ia pensar isso, porque o tabaco pra nós Kariri-Xocó sempre foi sagrado. Vício é
cachaça, é outras coisas... Não tem trabalho espiritual ali."
Sim, o tabaco é uma planta. Um vegetal que primordialmente era usado como
uma "panacéia", isto é, que cura qualquer doença. É uma planta de ligação espiritual que
atrai e limpa energias.
Tragar sua fumaça é a última coisa que alguém iria querer fazer... se o cigarro
industrializado (ou mesmo o tabaquinho "orgânico" que vendem na banca) é fraco o
bastante para alguém colocá-lo no pulmão, é porque o enfraqueceram. E uma planta de
poder fraca tende a atrair seu semelhante: a fraqueza. Pegue um dia aquele fumo de
corda bem escuro, que não teve nenhum processo de lavagem químico, e tentem
respirar essa fumaça. Depois de tossir uns 5 minutos e, possivelmente, vomitar, talvez a
pessoa até queira parar de tragar... foi o que aconteceu comigo.
Um pajé que solta sua fumaça sobre a pessoa, em um trabalho de cura, não está
dizendo para ela fumar, comprar seu tabaco etc. Ele está fazendo seu trabalho, naquele
momento específico, com o propósito de você sair dali fortalecido. Por outro lado, uma
indústria que quer seu dinheiro e, ao mesmo tempo, precisa colocar "MORTE" em todas
as embalagens de uma planta castrada de todas as suas propriedades benéficas... bom, é
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bem claro o que ela quer de você.
Já pensou porque tem uns caboclos que vivem 100 anos "fumando" a vida
inteira? Ou mascam tabaco desde pequenos e tem todos os dentes branquinhos? Um
palpite é que a mente dessas pessoas nunca assimilou o tabaco como algo ruim e nunca
atraíram doenças para o corpo.
Tudo no mundo tem uma polaridade positiva e outra negativa. Não é diferente
com o tabaco e com todas as medicinas.
Anexo 2
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Estudos dos tipos de rapé utilizados pelo povo Nuke Kuin
A árvore Vashawa, em si, é grande, é um pajé, e as sementes são seus filhos, suas
crianças. Os jovens que estão começando o trabalho espiritual para se tornarem
curandeiros Nuke Kuin tomam esse rapé pensando nos espíritos bons, em um futuro
melhor com suas família, em se conectar mais com as famílias. O Vashwa traz as
informações espirituais para essa concentração, para lembrar a cultura katukina, os pajés
que já se foram, os cantos e histórias de seu povo.
É um rapé dado por Deus - por isso, Rapé de Deus. Com ele, é difícil pegar
qualquer doença. Ele ajuda o índio e o não índio, principalmente se eles tomam
ayahuasca. Se não toma e se bebe bebidas alcoólicas, por exemplo, não adianta.
O rapé Vawashawa precisa ser rezado antes de soprado para abrir caminhos,
iluminar o corpo e orientar a pessoa para trabalhar na Luz. Ele ajuda a mudar os hábitos,
eliminar os vícios autodestrutivos, e a trazer para o bom caminho. Se for tomado com
medo, sem amor, com o coração fechado, não se recebe a força.
Ele precisa da permissão dos pajés para ser tomado, de modo que a pessoa possa
conhecer seu significado espiritual e cultural e, assim, estar alinhada com a medicina. Ele
deve ser tomado pela manhã, ao acordar, e antes de dormir para receber informações e
bons sonhos.
O Yonô é uma árvore comprida com casca branca e grossa. Seu tronco é muito
liso e poucos seres o atacam. Se o atacam, morrem. O povo katukina usa apenas a casca
ou os galhos para fazer as cinzas, sem derrubá-lo. Depois de 3 meses, a casca volta a se
formar. Seu espírito e forte, assim como seu corpo, portanto dificilmente diversos
animais e espíritos chegam perto. Yonô significa “afasta espírito”.
Os pajés tomam esse rapé e afastam todos os espíritos maus que estão na
floresta ou na aldeia. É um rapé de cura, concentração e proteção. Quem o usa não se
atrela a espíritos ruins, então doenças e energias ruins não chegam perto - o Yonô desvia
as negatividades. Ele pode ser tomado a qualquer momento do dia com a intenção de
proteção.
Rowë é uma árvore muito comprida, dura e os ventos não derrubam sua força. A
medida que envelhece, a cada 3 meses, seu tronco naturalmente descasca, ficando liso e
verde.
É um rapé de cura que limpa o corpo assim como a árvore faz consigo mesma. A
pessoa fica “lisa”, então nem picada de mosquito nem doença pode atacá-la. A força
desse rapé deixa a pessoa igual à árvore, daí a sua força.
É uma árvore muito boa para construção de casas devido a sua dureza. Assim
como o Rowë, a cada 3 meses ela descasca e fica lisa. Ela solta muita semente e é muito
fácil encontrar suas mudas pela floresta. Sua casca não é queimada, mas sim ralada e
misturada com o tabaco moído, pilados e misturados na mesma proporção.
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O seu cheiro limpa o corpo das pessoas. Quando a pessoa o sente, ela pode se
limpar por dentro a partir do estômago. Por isso, é normal a pessoa vomitar com sua
força.
É uma árvore ligado à força feminina, principalmente por causa de seu cheiro.
Como as mulheres costumam ser mais cheirosas do que os homens, ele se alinha muito
bem com o feminino. Quem o sopra se abre mais para o amor. Torna-se mais fácil de
entender como cuidar do companheiro ou da companheira. Se a pessoa está solteira,
ensina como cuidar da família, principalmente da mãe, e pode ajudar, inclusive, a atrair
uma parceira.
Os pajés homens não usam esse rapé para não misturar as energias de seu
trabalho espiritual. Eles podem fazer o rapé, assim com as mulheres, mas eles não o
tomam. As mulheres, quando começam a dieta do rapé (iniciação para ancorar o espírito
da medicina sagrada e soprá-la), fazem-no com o Akô. Os homens usam Vashawa, Rowë
ou Yonô. Durante muitos anos, não haviam mulheres pajés entre os Katukina, mas isso
felizmente está mudando com algumas novas iniciações feminina recentes no trabalho
espiritual.
Anexo 3
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Canções do Rapé
Força do Rapé
Tom: G
[Introdução] Em Am B7
Em
É a força do Rapé
quero ver quem vai ficar de pé
Em
Senta para levantar
o espirito do alto olhar
Em
Quem é o eu da questão
é o eu da imensidão
Em
Quem desperta faz brilhar
Am B7 Em
o espirito do alto olhar
Em
Quem desperta faz brilhar
Am B7 Em
o espirito do alto olhar
48
( Em Am B7 )
Em
É a força do Rapé
quero ver quem vai ficar de pé
Em
Senta para levantar
o espirito do alto olhar
Em
Quem é o eu da questão
é o eu da imensidão
Em
Quem desperta faz brilhar
Am B7 Em
o espirito do alto olhar
Em
Quem desperta faz brilhar
Am B7 Em
o espirito do alto olhar
O Sopro do Rapé
Ne a ne ne a ne...
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A Sagrada Medicina
O cachimbo traz a força
O tabaco traz a cura
A fumaça leva o intento
E a Terra cura, e a Terra cura