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Falar de Saúde

Mental é falar de
que?
Dra. Ruth Cabral Direitos Humanos e Cidadania
Maio/ 2023
“O direito à saúde mental é
um direito fundamental do cidadão, previsto na Constituição Federal para
assegurar bem-estar mental, integridade psíquica e pleno
desenvolvimento intelectual e emocional”.

(MPF, 2012)
Falar de Saúde Mental é falar
de que?
Participação
Atenção Básica (organização  Política)
Diferenças de gênero, raça, etnia, região, sexualidade....
Saúde
Educação
Justiça
Trabalho
Cultura
Alimentação
Habitação
humanidade’, na expressão dos ‘direitos humanos’, deve
levar em conta o lugar sócio histórico dos grupos, nações e
indivíduos, isto é, que sempre se é humano de uma maneira
particularizada, e não numa forma universal/abstrata como
se poderia deduzir da primeira proposta de direitos.
LUTA
ANTIMANICOMIAL?
Desospitalização
Reforma
Psiquiátric
a

Movimento
dos
Trabalhadore
s da Saúde
Mental

Luta Antimanicomial
A Luta Antimanicomial (mais ampla)
que tem como carro-chefe a Reforma
Psiquiátrica (mais estrita)

é u m movimento multifacetado e está longe de ser


considerado homogê neo.

O u seja, seus atores nã o produzem


u m ú nico discurso
Os ângulos da
Reforma:
Atores (protagonistas e As dimensões:
coadjuvantes): Té cnica;
Trabalhadores em Saú de Política;
Mental; Militante;
Té cnicos e Conceitual;
administradores/gestores;
Institu cional;
Usuá rios;
Clínica;
Familiares de usuá rios;
Jurídica;
Profissionais de outras á reas
da saú de e s ua s interfaces Econô mica;
(com a cultura, as tecnologias Cultural;
sociais); Social;
Universidade;
Um pouquinho da História...
Na Inglaterra, no momento do pó s- guerra, foi
elaborada a prá tica de trabalhos clínicos com
grupos, como u m a possível saída para a grave
situaçã o de superlotaçã o e inoperâ ncia dos
hospitais psiquiá tricos.

Na França, no início dos anos 50, foi criada a


análise institucional. S u a grande direçã o era
"tratar o doente pela instituiçã o e tratar a
instituiçã o como u m doente".
No mesmo momento, nos Estados
Unidos, vi nha s e ndo d e mi li tada a
psiquiatria preventiva ou comunitária,
que buscava deslocar a ê nfase do
tratamento para a prevençã o.
Algo semelhante se passava na França
com a psiquiatria de setor.

O território d a loucura gradativamente era


posto em questão
U m acontecimento que em muita
influenciará o movimento de construção de
u m novo modelo de atuação na saúde
mental em nosso país:

Itá lia: em 1978, u m a lei proibiu, novas


internaçõ es em manicô mios, determinava seu
esvaziamento progressivo e definia a necessidade
da criaçã o de estruturas territoriais que
respondessem à demanda, abolindo a ligaçã o
imediata e necessá ria entre a doença mental e a
noçã o de periculosidade social.

Trata-se da Lei 180 (aprovada pelo Parlamento


Italiano), posteriormente englobada na Lei 833 da
Reforma Sanitá ria Nacional.
No Brasil:

Ao final dos anos 70, surge o Movimento dos Trabalhadores


em Saú de Mental

A partir desta é poca, este movimento protagoniza as


iniciativas pela transformaçã o da assistê ncia psiquiá trica
no nosso país;
Com o intuito de acabar com os manicômios, o projeto de reforma psiquiátrica
no Brasil visava substituir, aos poucos, o tratamento dado até então por serviços
comunitários. O paciente seria encorajado a um exercício maior de cidadania,
fortalecendo seus vínculos familiares e sociais, e nunca sendo isolado destes.
A partir da reforma, o Estado não poderia construir e nem mesmo contratar
serviços de hospitais psiquiátricos. Em substituição às internações, os pacientes
teriam acesso a atendimentos psicológicos, atividades alternativas de lazer, e
tratamentos menos invasivos do que aqueles que eram dados. A família, aqui,
teria papel fundamental na recuperação do paciente, sendo a principal
responsável por ele.
No período de redemocratizaçã o do Brasil
e da reorganizaçã o institucional aí
implicada, a mobilizaçã o para a
transformaçã o na saú de mental
abandonou s ua especificidade de
Movimento de Trabalhadores em Saú de
Mental para procurar tornar- se u m
Movimento Social pela Reforma
Psiquiá trica com a estraté gia de "uma
sociedade sem manicô mios".
Es ta passagem demarcou A Luta Antim anicomial, que surgiu de forma mais contundente
em 18 de maio de 1987, no Congresso de Trabalhadores de Saú d e Mental em B a u r u
(SP).

Como já foi exposto, é u m Movimento social disseminado por todos os estados do Brasil.
Tem como metas o fechamento dos manicô mios e, em paralelo, a promoçã o de u m a
cultura de tratamento, de convivê ncia e de tolerâ ncia, na ágora, para as pessoas em
sofrimento psíquico.
1978 entre nós:

• O ano de 1978 foi marcado pela chegada ao Brasil de Franco Basaglia;

• A partir de suas experiências transformadoras conduzidas anteriormente nas cidades italianas de


Gorizia e Trieste, importantes repercuisões recairam sobre nós;

• Em uma das suas visitas o psiquiatra, conheceu o Hospital Colônia de Barbacena, localizado na cidade
de Barbacena (MG);

• Basaglia comparou a instituição a um campo de concentração, reforçando denúncias de maus-tratos e


violência que já haviam sido feitas. A mídia deu extrema importância à visita de Basaglia ao Brasil, e
acabou produzindo uma forte e decisiva influência na trajetória da Reforma Psiquiátrica Brasileira;
A Lei Federal 10.216 redireciona a assistê ncia em saú de mental,
privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base
comunitá ria, dispõ e sobre a proteçã o e os direitos das pessoas
com transtornos mentais;

Todavia, nã o institui mecanismos claros para a progressiva


extinçã o dos manicô mios;
O que é a Luta antimanicomial?
E qual a Relação com os
DIREITOS HUMANOS?
◦ Partimos do pressuposto, em acordo com Gallardo (2014):
◦ direitos humanos devem ser vistos como resultado de
lutas históricas de movimentos sociais que conseguiram,
por sua força e organização, consolidar declarações,
tratados, pactos e leis que estabeleceram direitos para
populações discriminadas e que sofreram as mais diversas
formas de violência.
SUS
Através das Leis Federais 8.080/1990 e 8.142/90, foi instituída a rede de atenção à saúde
mental, junto com a criação do SUS (Sistema Único de Saúde). As leis atribuíram ao Estado a
responsabilidade de promover um tratamento em comunidade, possibilitando a livre circulação
dos pacientes e não mais a internação e o isolamento, contando com os serviços de Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS); os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); os Centros de
Convivência e Cultura, as Unidade de Acolhimento (UAs), e os leitos de atenção integral (em
Hospitais Gerais, nos CAPS III).
Os CAPS, que foram criados em 1992, são serviços públicos oferecidos
em unidades regionais, que oferecem tratamentos intensivos, semi-intensivos e
não intensivos. No tratamento intensivo, são oferecidos atendimentos diários
com objetivo de reinserir o paciente na sociedade. Havendo necessidade de
internação, é o próprio CAPS que encaminha o paciente para leitos de saúde
mental em hospitais que oferecem internação de curto prazo. Esses serviços de
internação fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que têm como
função substituir a internação em asilos, priorizando um tratamento que visa a
autonomia do paciente e o respeito à cidadania.
Fruto do movimento pelo fim das internações compulsórias, o CAPS tem como ferramentas o
atendimento individualizado, com rodas de conversa, oficinas artísticas e o tratamento
terapêutico individual e em grupo. Busca-se oferecer um tratamento ambulatorial mais
humanizado, no lugar de hospitais psiquiátricos e longas internações.
LEI PAULO DELGADO
(10.216/2001)
A Lei Paulo Delgado faz parte da Reforma iniciada na década de 70. Ela foi promulgada apenas em 2001,
com o intuito de garantir os direitos de pacientes portadores de transtornos mentais a receberem
atendimentos menos invasivos e priorizando o tratamento através da reinserção na família, no trabalho
e na comunidade.
Os pacientes passam a ter direito a informações a respeito de sua condição e sobre os tratamentos
possíveis, além de estar protegidos contra qualquer abuso e exploração.
A lei também impede que sejam feitas internações compulsórias, ou seja, feitas sem o consentimento
do paciente ou de terceiros (familiares e responsáveis). Estas devem feitas apenas após laudo médico,
em casos de extrema urgência, quando o paciente é tido como uma ameaça para si e para terceiros.
Nesses casos, o médico é obrigado a notificar o Ministério Público sobre a internação e depois sobre a
alta do paciente.
Política nacional de saúde mental
Quais são as estratégias?

Leitos em enfermarias especializadas;


Escolas de redutores de danos;
Programa complementar: “Crack - é possível vencer”.
A reforma psiquiátrica tem como objetivo dar voz ao paciente no que concerne aos seus
interesses e o tratamento que pode ser mais adequado para ele. Todo diagnóstico e terapia
devem depender de seu consentimento ou de sua família. O paciente deixaria então de ser um
objeto, para se tornar protagonista da busca pelo seu próprio bem estar. 
Segunda metade
Século XVIII
• Acorrentados • chicotadas, do século XX
máquinas giratórias
• Manicômio e sangrias • psiquiatra italiano
Franco Basaglia
• (MTSM) - Luta
Antimanicomial
• Reforma Psiquiátrica
Idade Média Século XIX
• CAPS
1988 • II Conferência Nacional de
2001
• 1° intervenção hospitalar Saúde Mental
• I Conferência Nacional de • Constituição • CAPS, NAPS e Hospitais-dia • lei 10.216
Saúde Mental • SUS • Normas para avaliação do • a III Conferência Nacional de
• NAPS serviço e classificação dos Saúde Mental
hospitais.
• Declaração de Caracas

Década de
1987
90
Criação PSF
Principais estratégias
• fiscalização e redução de leitos
psiquiátricos no Brasil - 2002 • Programa de Inclusão Social pelo
• Programa “De Volta para Casa” - 2003 Trabalho das pessoas com transtornos
• Programa Nacional de Avaliação do mentais e transtornos decorrentes do
Sistema Hospitalar/Psiquiatria uso de álcool e outras drogas – 2005
(PNASH/Psiquiatria) (2002) • PSF – integralidade – década de 90
• Programa Anual de Reestruturação da • Centros de Convivência e Cultura – 2002
Assistência Hospitalar Psiquiátrica no • outros
SUS (PRH) (2004)
• Programa de Volta para Casa (2003)
desinstitucionalização • Expansão de serviços como as
Residências Terapêuticas e o CAPS
de pessoas
diálogo
longamente
internadas

“pressupõe transformações culturais e subjetivas


na sociedade e depende sempre da pactuação das
três esferas de governo (federal, estadual e
municipal)”
Mais de 6% da população apresenta
transtornos psiquiátricos graves
decorrentes do uso de álcool e
No Brasil... outras drogas

Cerca de 3% da população geral sofre com


transtornos mentais severos e persistentes 12% da população
necessita de algum
atendimento em saúde
mental, seja ele contínuo
ou eventual
Fonte: Ministério da Saúde
Programa de Inclusão
Social pelo Trabalho
das pessoas com
transtornos mentais
e transtornos
decorrentes do uso
de álcool e outras
drogas (2005)

Projetos de geração
de renda
Centros de
Convivência e
Residências assistidas
Cultura (2002)

Programa de Volta
para Casa
Discussão

• Necessidade de rede de cuidados densa, diversificada e efetiva para transtornos mais severos e persistentes (afetam
cerca de 5 milhões de pessoas no Brasil);
• Cuidados na forma de abordagem para pacientes com transtornos mais leves;
• Acessibilidade:

Necessidade de potencialização da rede básica;

Quebra do modelo hospitalocêntrico (concentrador de recursos e de baixa cobertura);

Articulação intersetorial entre rede de cuidados e políticas setoriais.

• A qualidade do atendimento deve ser garantida em todas as regiões do país e pode ser assegurada através de um
forte programa de capacitação, supervisão e formação de multiplicadores. O distanciamento entre as instituições de
formação e pesquisa e a saúde pública, no Brasil, agrava as carências de formação e qualificação de profissionais.

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