Você está na página 1de 2

Reforma Psiquiátrica e Epistemologia

A dimensão epistemológica refere-se ao conjunto de questões que estudam o campo


teórico-conceitual que dizem respeito à produção de conhecimentos que
fundamentam e autorizam o saber/fazer medico-psiquiátrico. Incluem a revisão do
próprio conceito de ciência como produção de Verdade, ou como neutralizar os
conceitos produzidos pelo referencial epistêmico da psiquiatria sobre as doenças
mentais, isolamento terapêutico, degeneração, normalidade/ anormalidade,
terapêutica e cura, dentre outras.
Dois conceitos têm sido fundamentais para esse processo. O primeiro é o de
desinstitucionalização, que passou a designar as múltiplas formas de tratar o sujeito
em sua existência e em relação com as condições concretas da vida. As clinicas então
deixaria de ser o isolamento terapêutico ou o tratamento moral, para criar tratamento
que seria possível, produção de sociabilidade e subjetividade. Esse sujeito deixaria de
ser objeto do saber, excluído da sociedade para se tornar SUJEITO.
Embora o conceito de alienação mental não significasse ausência abstrata da Razão,
mas somente contradição na Razão, como atentava Hegel, essa contradição
impossibilitava a Razão Abstrata. A quem existisse essa impossibilidade de Razão era
considerado um alienado, incapaz de julgar, de escolher, incapaz até mesmo de ser um
cidadão livre, pois essa liberdade implicava na possibilidade de escolha.
Em uma dimensão técnica-assistencial, podemos alegar: Qual conceito pode afirmar
que a contradição na Razão, tal falta de juízo? Não seria o sequestro desse não-mais-
sujeito ou ainda-não-sujeito? A resposta seria: o manicômio, como expressão de um
modelo que que mantém a tutela do sujeito, e um vigilância como em um zoológico,
no tratamento moral, na disciplina, na imposição de ordem, na punição corretiva, no
trabalho terapêutico, na custodia e interdição. Enquanto alienados (alheio, ausente),
ele se torna incapaz de decidir pelo seu tratamento, o indivíduo não tem voz. Eles
eram mantidos em “cárcere” como objeto de estudos.
Esse espaço seria, portanto, o lugar onde o exercício de tratamento moral, da
reeducação pedagógica, da vigilância e da disciplina. Tratando assim o alienado para
que só assim então ele pudesse ser livre, pleno de seus direitos e deveres. Entrando
assim à dimensão-política do processo: rediscutir e redefiniras relações civis em
termos de cidadania, de direitos humanos e sociais.
Numa dimensão-cultural no processo de Reforma Psiquiatra podemos dizer que o
objetivo maior desse processo não é a transformação do modelo assistencial, mas a
transformação do lugar sócia da loucura, da diferença e da divergência.
A Luta Antimanicomial vem lutando contra essa cultura opressora das instituições,
trazendo estratégias que visam transforma o lugar da loucura no imaginário social.
Alguns autores são exemplos que nos auxiliam nas reflexões sobre Reforma
Psiquiátrica, daí advém o conceito fundamental neste processo tem sido de
complexibilidade. Por exemplo se adotarmos a noção de complexibilidade para lidar
como conceito de doenças, este deixa de ser naturalizado, deixa de ser biológico ou de
outra ordem simples, para ser um processo saúde/enfermidade.
A complexibilidade não deve ser conceituada como algo complicado, mas sim “ teria
como objetivo pôr em cena e problematizar a posição do sujeito que coloca as
questões na ciência”.
A Reforma Psiquiátrica de um processo importante e contemporâneo de discursão que
e sobre a ciência. Inicialmente seu único interesse era a produção de um saber
positivo, neutro e autônomo a expressão da verdade. Ao longo então a psiquiatria vem
contribuindo no aspecto conceitual (com a construção de tantos outros conceitos-
degeneração, cretinismo, idiotia), quanto ao aspecto de suas práticas (pela inversão do
manicômio, do tratamento moral, das terapias de choque), para a consolidação de um
imaginário social ao qual a diferença seja associada a anormalidade.
A psiquiatria colocou o sujeito entre parêntese para ocupa-se da doença; para
Basalglia a doença e que deveria ser colocado entre parêntese para que pudéssemos
ocupar-nos do sujeito em sua experiência. Colocar a doença em parêntese não
significar entra em negação; negação que existe algo que produz um sofrimento, uma
dor, diferente, mal-estar. Significa a recursa a explicação psiquiátrica; a psiquiatria da
conta do fenômeno tão simples com nomeação abstrata de doença.
A necessidade da epistemologia do isolamento (isolar para conhecer), possibilitou com
que eles tivessem acesso e conhecimento com diferentes modalidades de doenças e
sintomas. Esta relação com a doença- e não com o sujeito- fundou a clínica. (Ao lado
da cama). Na Reforma Psiquiátrica, se a doença e questionada, ela e colocada entre
parêntese, a clínica também deve ser desconstruída, pois a relação que deve ser
estabelecida não e com a doença e sim com o sujeito.

Você também pode gostar