O presente trabalho tem como objetivo conceituar as teorias e filosofias de base
discutidas em salas de aula da Gestalt terapia, exemplificando o humanismo, fenomenologia e existencialismo na Gestalt, as teorias de Gestalt, teoria de campo, teoria organísmica e teoria holística, entendendo como foi seu surgimento, como foi sua utilização inicialmente, quais os seus fundadores e quando passou a ser utilizada e discutida no Brasil. A visão de mundo e o conceito de pessoa através da pessoa de Gestalt será outro tema a ser discutido ao longo do trabalho.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A GESTALT E A SUA HISTÓRIA
Juliano (2004) relata a dificuldade em encontrar uma resposta sobre a origem da abordagem, uma vez que para alguns pesquisadores o fundador seria Fritz Perls e para outros historiadores a abordagem foi fundada por um grupo de pessoas, chamado de grupo dos setes, composto por um médico, um educador, dois psicanalistas, um filosofo, um escritor e um especialista de estudos orientais, Fritz Perls, sua esposa Laura, Paul Goodman, Paul Weisz, Elliot Shapiro e Sylvester Eastman. Gestalt é uma palavra alemã que traduzida seria definido como forma ou configuração, de início os seus fundadores Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka. estavam interessados na percepção e com o tempo os interesses foram se ampliando e incluíram aprendizagem, resolução de problemas e cognição. Kurt Lewin junto com seus alunos desenvolveu uma teoria de campo inovadora, que foi utilizado em diferentes tópicos, como desenvolvimento da criança, reabilitação e psicologia social. (HOTHERSALL, 2019) Perls definia que a terapia, estava além de possíveis interpretações do passado, sua ideia era de que o paciente se torna vivo para as experiencias imediatas no presente, de forma imediata e simples no agora. O foco da terapia pode partir de qualquer ponto, terapeuta e cliente pode começar a partir de qualquer material disponível naquele momento, um sonho, sintomas, expressão fácil, modo de ser e qualquer destes elementos seria o núcleo do trabalho. A solução terapêutica na Gestalt seria voltada em trabalhar o presente, buscando o improviso e experimentação deixando de focar somente em possíveis explicações, o que seria vivenciado e acontecido seriam as melhores explicações. (JULIANO,2004) No Brasil existem registros de terapeutas utilizando do referencial Gestalt Terapia em Curitiba e Rio de Janeiro na década de 1960, porém seu uso foi intensificado a partir de 1970. A Gestalt do ponto de vista terapêutico, era apresentada como um método eficaz, com resultados terapêuticos em curto prazo, sendo assim vista como uma possível alternativa de intervenção de alta viabilidade, principalmente quando comparada aos modelos de terapia individual de longo prazo.
2.2 GESTALT E SUAS FILOSOFIAS DE BASE.
Segundo Magalhães (2011) Gestalt significa uma integração de partes em oposição a soma do todo, ela seria uma teoria da psicologia que considera os fenômenos psicológicos como um todo, indivisível, autônomo e interligado entre si com suas próprias configurações e leis funcionais. Segundo Ribeiro (2006) a Gestalt-terapia seria definida como uma expressão filosófica em que é contra qualquer tipo de divisão ou dicotomia, a partir do momento em que isso passa a ser discutido, a separação de mundo-homem perderia o verdadeiro significado do encontro humano, consequentemente do humanismo, deixando de atender as verdadeiras demandas do homem moderno. A abordagem da Gestalt não diz respeito somente ao homem, mas a natureza como um todo, buscando entender a sua totalidade, resgatar o homem seria como entender a sua relação corpo-pessoa, mente- corpo e ambiente pessoa. A Gestalt-terapia, vista como uma postura humanista, não pode ser pensada fora da dimensão humana da existência, e é por isso que colocamos lado a lado psicologia, humanismo e Gestalt-terapia. Três posições teóricas que, necessariamente, precisam desembocas no ser humano- embora nem sempre se encontrem e funcionem no mesmo patamar. (RIBEIRO,2006)
A consciência, na maioria das vezes, é entendida como um fato, transformando o
homem em uma coisa entre coisas. A psicologia quando passa a investigar fatos e suas relações ela acaba perdendo o homem. A fenomenologia, junto a hermenêutica, busca resgatar o homem e assim descrever o seu modo de vida, deixando de lado as concepções biológicas, religiosas e ontológicas, deixando o homem a frente. A ampliação de mundo e de consciência, seria um dos principais pilares do trabalho clínico A Gestalt ao proporcionar a expressão do fenômeno que se mostra no que aparece contribui para um homem mais original, sem predefinições.
A visão humanista é extremamente importante em psicoterapia, uma que através
dela seria possível promover a percepção da pessoa de forma integrada, coerente, dinamicamente funcional, de forma a redescobrir o corpo e as suas potencialidades, da alma e dos seus mistérios, integrando o ambiente e do existente dentro de cada pessoa, o humanismo seria a matéria-prima da ética e da cidadania, sendo essencial para uma autêntica vida humana (RIBEIRO, 2006) A Gestalt-Terapia, por fundamentar-se numa visão específica de existência, faz um apelo à liberdade, à individualidade pessoal e coerente. O Gestaltista é, assim como o Existencialista, uma pessoa que se nega a submergir inconscientemente no mundo que o cerca, é uma figura incomodada e que incomoda e, antes de tudo é um ser responsável por si mesmo, sem ser isolado ou egoísta. Sua proposta é que cada pessoa atinja uma real percepção de si como um ser em relação, uma reflexão sobre o tipo de sociedade que vivemos e em que base ética estamos fundamentados. Assim, a Gestalt-terapia não é uma terapia de ajustamento, mas de auto-realização. (GUIMARÃES, 1998, apud MAGALHÃES, 2011).
2.3 GESTALT E SUAS TEORIAS DE BASE
Ginger (1995) afirma que a Gestalt pode ser utilizada em diferentes situações, podendo o seu objetivo ser muito amplo, podendo ser utilizado na psicoterapia individual, em terapias de casais, familiar, em grupos contínuos de terapia, além de grupos de desenvolvimento pessoal do potencial individual, instituições (escolas, hospitais psiquiátricos, entre outros) e até mesmo em empresas, atuando em distúrbios físicos e psicossomáticos, psíquicos ou ate mesmo problemas existenciais que estão cada vez mais comuns na atualidade. Segundo Ribeiro (2011) o conceito de mundo seria o meio por qual seria localizado a pessoa no mundo e a partir de qual esse homem sera visto podendo ser funcional ou disfuncional na medida em que ele se expressa, podendo ser incoerente ou coerente, em sua relação com a matriz geradora de toda a atividade humana, e da qual essa atividade recebe sentido. O conceito de pessoa nasce e decorre, cósmica e ontologicamente a partir do conceito de mundo. O mundo primeiro existe para depois a pessoa passar a existir e a partir da sua compreensão a pessoa passa a perceber dentro de um campo cósmico e somente a partir daí que ela passa a se localizar no mundo como um ser ético e de ação. O conceito de mundo permite o homem se localizar nesse mundo, podendo assim programar o seu andar de um lugar ao outro. A teoria holística funciona como se fosse a alma, responsável por conceber o mundo, este mundo em que o indivíduo é sujeito e objeto ao mesmo tempo, a teoria de campo é como se fosse a alma, sendo real, visível, palpável, tocável, fornecendo os instrumentos, totalidade, organizada, articula e indivisível. Remete-nos ao início de minha caminhada na descrição do que é experiencia de mundo, um mundo como uma organização perfeita. A teoria do campo acontece, ao passo que a psicologia da Gestalt fecha esse suporte teórico e como na teoria holística utiliza-se do conceito de totalidade, se expressa, dando início a terapia Gestalt terapia como prática clínica (RIBEIRO,2011) Segundo Ribeiro (2011) a teoria holística utiliza-se da figura-fundo, na qual ela seria o fundo, um lugar, que se expressa por si só, um conceito básico de mundo em que tudo está em evolução, em movimento. REFERÊNCIAS
FRAZAO, L; FUKUMITSU, K. Gestalt-terapia Fundamentos epistemológicos e
influências filosóficas. Summus Editorial. São Paulo.2013
GOMES, W. HOLANDA, A. GAUER, G.et alt. História da Psicologia no Brasil no
século XX. Editora pedagógica e universitária. São Paulo. 2004
HOTHERSALL, D. Historia da Psicologia. Artmed. Porto Alegre. 2019
JULIANO, J. Gestalt-Terapia: revisitando as nossas histórias. v. 1 n. 1 (2004): IGT
na Rede Nº1
RIBEIRO, J. Conceito de mundo e de pessoa em Gestalt-Terapia Revisitando o
caminho. Summus Editorial. São Paulo, 2011
RIBEIRO, J. Vade-mécum de Gestalt-terapia conceitos básicos. Summus Editorial.
São Paulo, 2016
SERGE, G, GINGER, A. Gestalt uma terapia do contato. Summus Editorial. São