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Luta Antimanicomial

No dia 18 de Maio é comemorado o dia da luta antimanicomial no Brasil, mas


foi em Maio de 1987, que se realizou um encontro de grupos favoráveis a políticas
antimanicomiais. Nesse encontro, surgiu a proposta de reformar o sistema
psiquiátrico brasileiro. Por sua relevância no meio social e da saúde, a data de 18
de maio tornou-se o dia de Luta Antimanicomial.
Mas o que é a Luta Antimanicomial? Nos anos sessenta e setenta, um
psiquiatra chamado Franco Basaglia, era responsável pela direção de um hospital
psiquiátrico em Gorizia, na Itália. Imerso nesse sistema, o psiquiatra identificou uma
série de abusos e negligências no tratamento dos enfermos. Situação que foi
estopim para que, Basaglia, promovesse, junto a um corpo de psiquiatras,
mudanças práticas e teóricas no tratamento de seus pacientes, conhecidas como
Psiquiatria Democrática, ou o movimento de “negação à psiquiatria”, que deu origem
à luta antimanicomial. Desse modo, a finalidade da luta antimanicomial proposta por
Basaglia e sua equipe de profissionais, era de remodelar a estrutura psiquiátrica tal
como era conhecida. Além de, substituir o tratamento manicomial por atendimentos
terapêuticos através de centros comunitários, centros de convivências e tratamento
ambulatorial.
Franco Basaglia, também esteve no Brasil, em 1979, para realizar um ciclo
de conferências, em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Nessas
conferências, Basaglia falava sobre o uso perverso do discurso científico dessa
disciplina que, utilizando-se da instituição manicômio, fazia a gestão das massas de
indesejáveis do ponto de vista econômico (na figura daqueles que não produzem),
social (na figura daqueles que não seguem a ordem moral) e político (na figura
daqueles que não obedecem ao regime vigente). Seu maior choque, foi ao visitar o
Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, em Minas Gerais, lugar onde o horror
era visível e, segundo relatos do psiquiatra, o hospital se apresentava “pior do que
um campo de concentração”.
As ideias e propostas de Basaglia, contagiaram os movimentos
antimanicomiais que emergiram no país naquele período, como o Movimento dos
Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), fundado em 1978 e formado por
trabalhadores da saúde, associações de familiares, sindicalistas e pessoas com
longo histórico de internações psiquiátricas.
O movimento carrega-se de propostas mais humanizadas, que colocam o
interno como um ser de direitos e deveres, que precisa estar em sociedade,
conviver com a família, ter acesso à arte, cultura, e uma vida de qualidade tal qual
qualquer outro indivíduo. O MTSM, regidos pelo lema: “Por uma sociedade sem
manicômios", fizeram parte do Manifesto de Bauru, buscando, justamente, promover
uma ruptura com a exclusão e a violência institucionalizadas, que desrespeitam os
mínimos direitos da pessoa humana, inaugurando um novo compromisso. Nesse
sentido, dá-se a importância do movimento, uma vez que o manicômio é expressão
de uma estrutura, presente nos diversos mecanismos de opressão desse tipo de
sociedade. A opressão nas fábricas, nas instituições de adolescentes, nos cárceres,
a discriminação contra negros, homossexuais, índios, mulheres. Lutar pelos direitos
de cidadania dos doentes mentais significa incorporar-se à luta de todos os
trabalhadores por seus direitos mínimos à saúde, justiça e melhores condições de
vida.
Devemos ressaltar também, para qual finalidade existem os Hospitais
Psiquiátricos. Trata-se de um serviço de reabilitação e suporte psicoemocional para
pessoas com limitações funcionais decorrentes dos transtornos mentais, bem como
dificuldades de reinserção e readaptação ao ambiente sociofamiliar. Essa proposta,
se distancia muito da realidade que vemos nos manicômios. Os internos, são
deixados pela sociedade, pelos profissionais e até mesmo pelas suas famílias. A
violência instalada nesse ambiente não promove a reabilitação, mas sim, o
agravamento da situação de saúde dos doentes mentais. Um caso que se
popularizou no Brasil, foi o de Damião Ximenes Lopes, o senhor foi espancado e
morto em uma clínica psiquiátrica.
A crítica aos manicômios está ligada, intrinsecamente, a essas práticas
extremamente violentas que degradam os usuários desse sistema. Apenas fechar
os Hospitais Psiquiátricos não vai promover a solução do problema, pelo contrário,
irá criar outro, pois, para onde vão os internos? O que se deve realmente fazer, é
abandonar essas práticas negligentes, e cada vez mais, exercer a psiquiatria
democrática, que é uma das principais propostas de Basaglia, é dessa forma que,
os hospitais psiquiátricos, serão, de fato, um serviço de reabilitação e suporte
psicoemocional.

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