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Democracia Antimanicomial: Contra o Fascismo em defesa do Cuidado em

Liberdade e dos Direitos Humanos!


O dia 18 de Maio de 2022 marcará o retorno às ruas da Luta Antimanicomial! O retorno às ruas
se torna imprescindível nesse momento de ataques à Democracia, às Políticas Públicas de
garantia de direitos, ao Sistema Único de Saúde (SUS), à Reforma Psiquiátrica e à Rede de
Atenção Psicossocial Antimanicomial (RAPS) Antimanicomial.
Reconhecendo os importantes desafios da sociedade brasileira nesse momento, a gravidade da
conjuntura e do aprofundamento das desigualdades sociais, a Frente Estadual Antimanicomial de
São Paulo (FEASP) reafirma sua luta por uma sociedade democrática, justa, Igualitária, por uma
democracia verdadeiramente antimanicomial, “Por uma sociedade sem manicômios”.
Os princípios que fundaram a Luta Antimanicomial são compromissos da FEASP e de todos da
Luta Antimanicomial, com as lutas sociais em defesa da democracia, da garantia de direitos e do
protagonismo dxs cidadãxs na construção de uma sociedade que respeite as Diferenças e
celebre a Diversidade, que seja Democrática e Igualitária.
A história de nosso país é construída sobre as bases da escravidão, pelas relações de violência e
repressão refletidas no período de ditadura militar que durou oficialmente mais de 20 anos, mas
com resquícios e estruturas que não foram, e pela configuração de um Estado a serviço de
interesses privados
Atualmente, vemos propostas manicomiais e fascistas atacarem a democracia e tentarem o
retorno ao passado de Manicômios e de outras formas de institucionalização.
Dentro dos manicômios, dos manicômios judiciários, das clinicas psiquiátricas e das comunidades
terapêuticas, xs cidadãxs ditxs “Loucxs” e/ou “Degeneradxs” sofreram e sofrem com
eletrochoques (atualmente chamada de Eletroconvulsoterapia, que ainda é praticada por algumas
instituições), lobotomias, trabalho escravo (Laborterapia), castigos e punições físicas e psíquicas,
obrigatoriedade de práticas religiosas, violação de correspondências e de outras comunicações,
restrição ou impedimento de contato com o mundo exterior, isolamento, contenção física e
química, desassistência, dentre outras inúmeras violações aos Direitos Humanos.
No contexto dos retrocessos vividos em nosso país nos últimos anos, no conjunto das políticas
públicas, incluindo a condução das ações durante a Pandemia, apontarmos que atualmente o
Governo Federal conduz uma política excludente e fascista e tenta “passar a boiada” para
financiar manicômios, comunidades terapêuticas, impedir o processo de desinstitucionalização e
desmantelar e inviabilizar a Rede de Atenção Psicossocial Antimanicomial e a política nacional da
reforma psiquiátrica no SUS fazendo com que as políticas intersetoriais retrocedem em décadas
ao passado.
O dia 18 de maio, Dia Nacional de Luta Antimanicomial, foi criado no Encontro de Bauru de 1987
e, desde então, são diversas e potentes as manifestações em muitas cidades brasileiras.
Reafirmamos, como expressam as Cartas de Bauru de 1987 e de 2017, que a Luta
Antimanicomial combate o manicômio que é a expressão de uma estrutura presente nos diversos
mecanismos de opressão na sociedade. A opressão nas fábricas, nas instituições de privação de
liberdade de adolescentes, nos cárceres, a discriminação contra negrxs (os), LGBTPQIA+,
indígenxs, mulheres, a patologização e medicalização da vida. Lutar pelos direitos de cidadania
das (os) usuárias (os) de serviços da Rede de Atenção Psicossocial territorial e comunitária
significa incorporar-se à luta de todxs xs trabalhadorxs por seus direitos à saúde, justiça e
melhores condições de vida! (Carta de Bauru, 1987, adaptada).
O SUS, a Reforma Psiquiátrica Antimanicomial, a Democracia e a Cidadania em nosso país
foram conquistadas no contexto da luta política pela redemocratização, no qual teve seu maior
marco, da experiência Democrática Brasileira, a promulgação da Constituição Federal em 1988.
Desse período até a atualidade tivemos inúmeras conquistas. Participamos com a força da luta
antimanicomial e de 4 (quatro) Conferências Nacionais, da construção e avaliação da política
pública de saúde mental, álcool e outras drogas do SUS, avançamos muito no cuidado em
liberdade e na consolidação e garantia de direitos, ampliamos e fortalecemos a participação das
pessoas usuárias de serviços da Rede de Atenção Psicossocial e seus familiares, temos a Lei
10.216/2001, que este ano completou 21 anos, a Lei 10.708/2003, diversas Leis estaduais,
articulamos diversas parcerias, e temos muitos desafios para a consolidação da reforma
psiquiátrica Antimanicomial. Entretanto, desde 2016, enfrentamos diversos retrocessos. Esses
retrocessos buscam a perpetuação e manutenção do poder político e econômico de uma
pequena parcela da população, conservadora e reacionária, que se beneficia com o
silenciamento e enfraquecimento de grande parcela da população, especialmente, dos
movimentos populares e entidades da sociedade civil, das frentes de luta, assim como da grande
maioria da população pobre, marginalizada e vulnerabilizada.
Importante destacar também que neste ano estamos trabalhando, participando e construindo as
etapas preparatórias da V Conferência Nacional de Saúde Mental, momento de fundamental
relevância para garantir o debate democrático de formulação e avaliação da política pública, e,
especialmente, da efetiva participação das pessoas usuárixs de serviços da Rede de Atenção
Psicossocial e seus familiares.
Compreendemos que a promoção de saúde, saúde mental, e a emancipação, são indissociáveis
do enfrentamento e superação das diversas formas de opressão de classe, de raça/etnia, gênero,
orientação sexual, da garantia de Direitos Sociais, dos Direitos Humanos e da Democracia.
Nós, que lutamos pela Democracia, não podemos aceitar essa afronta ao Estado Democrático de
Direito. Conclamamos todas as pessoas militantes da Luta Antimanicomial a se unirem na Luta
pela Democracia. Repudiamos o ódio fomentado pelos fascistas de plantão. Calarmo-nos diante
das ilegalidades contra a democracia significaria contribuir, com nosso silêncio, com o avanço e
perpetuação de toda a intolerância com a diversidade, a gravíssima violência contra os dadxs
como “loucxs”, usuárixs de drogas, comunidade LGBTPQIA+, mulheres, pessoas negrxs,
indígenxs e/ou periféricxs.
Denunciamos que o SUS sofre há muitos anos com ataques constantes dos mesmos setores da
sociedade. O SUS é Política Pública conquistada e patrimônio do povo brasileiro, que se encontra
ameaçada com a agenda de subfinanciamento apresentada por grupos fascistas, com graves
consequências à universalidade, integralidade e equidade. E, mesmo enfrentando este contexto,
o SUS pode demonstrar, na pandemia e nos mais graves períodos que vivemos, sua força, sua
capacidade, e seu valor para a sociedade brasileira. Igualmente, a reforma psiquiátrica
antimanicomial é Política Pública conquistada e patrimônio do povo brasileiro que também se
encontra ameaçada. Sabemos que só existe SUS na Democracia e só existe Reforma
Psiquiátrica Antimanicomial e Atenção Psicossocial Antimanicomial se todos os princípios do
SUS, do SUAS, das políticas públicas, dos Direitos Humanos e a própria Democracia estiverem
garantidos.

Portanto em Defesa de uma Democracia Antimanicomial, consideramos importante


reafirmar:
 NÃO à fome, à carestia, ao desemprego, e à perda de direitos duramente conquistados;
 NÃO ao desmonte do SUS através de seu subfinanciamento e do financiamento dos
planos de saúde;
 NÃO à EC 95;
 NÃO à privatização e a terceirização da gestão do SUS, do SUAS e da Educação;
 NÃO ao desmonte da política nacional de saúde mental, álcool e outras drogas do SUS e
da RAPS antimanicomial;
 NÃO aos Hospitais Psiquiátricos;
 NÃO à patologização e medicalização da vida;
 NÃO aos Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (Manicômio Judiciário) e a
Unidade Experimental de Saúde e todas as instituições de privação de liberdade;
 NÃO à regulamentação e ao financiamento público das Comunidades Terapêuticas;
 NÃO à internação compulsória;
 NÃO à Eletroconvulsoterapia (Eletrochoque) e a Lobotomia;
 NÃO à Redução da Maioridade Penal que criminaliza a infância e adolescência;
 NÃO ao proibicionismo e à criminalização das Drogas;
 Não ao racismo, machismo, transfobia necessário completar;
 NÃO ao encarceramento e genocídio da população negra, pobre e periférica;
 Não ao genocídio de povos indígenas;
 NÃO à medicalização e patologização da vida;
 NÃO à violência policial.

Para a superação da lógica manicomial que persistem em nossa sociedade, reivindicamos:


 Defesa intransigente da Democracia e combate ao Fascismo;
 Defesa intransigente das políticas públicas de promoção e garantia de direitos;
 Defesa intransigente do SUS e da reforma psiquiátrica e da RAPS antimanicomial;
 Por um modelo de atenção centrado na pessoa e na garantia dos Direitos Humanos com
Fortalecimento da RAPS antimanicomial;
 A continuidade de processos de desinstitucionalização, com fechamento de todos os Leitos
de Hospitais Psiquiátricos e a realocação dos recursos públicos para o financiamento da
Rede de Atenção Psicossocial –RAPS antimanicomial, incluindo, os serviços de moradias,
projetos e Redes de Economia Solidária, projetos de cultura, arte, protagonismo;
 A implantação de uma Política Pública de drogas Inclusivas e não Segregativas com o
fortalecimento da Política de Redução de Danos e a Atenção Psicossocial;
 Legalização das Drogas e a realocação dos recursos públicos da “Guerra às Drogas” para
o financiamento nas Políticas Públicas de Educação, Assistência Social e Saúde,
Habitação, Geração de Trabalho e Renda e Economia Solidária e Combate à Fome;
 Fortalecimento e ampliação de práticas de cuidado que visem à integralidade da atenção,
ampliação de redes de saúde e qualificação da formação profissional;
 Despatologização das orientações sexuais e identidades de gênero;
 Ampliar a Rede de Atenção Psicossocial e seu custeio mensal;
 O financiamento por parte do Estado de São Paulo na implantação e custeio mensal de
todos os serviços das RAPS Regionais pactuadas., retirando o financiamento do governo
do estado de São Paulo dos Leitos de Hospitais Psiquiátricos e Comunidades Terapêuticas
e transferindo-os para a RAPS;
 Legitimação por parte do Estado do Controle Social e da Participação Popular como
espaços decisórios;
 A implantação do Conselho Gestor em Todos os Serviços de Saúde;
 O Fortalecimento dos Princípios do SUS, SUAS e da Reforma Psiquiátrica, princípios da
luta antimanicomial e atenção psicossocial na formação universitária acadêmica;
 Investimento público em Educação Popular em Saúde e em Direitos Humanos;
 Investimento em Políticas Públicas de Saúde e Assistência Social para o cuidado das
vítimas e/ou Familiares da Pandemia;
 O cumprimento integral do ECA;
 A descriminalização do aborto;
 Democratização da Mídia e dos meios de comunicação;
 Taxação das Grandes Fortunas e Heranças;
 O cumprimento da legislação que aponta a utilização da Classificação Internacional de
Funcionalidade (CIF) para a garantia do acesso ao BPC-LOAS, transporte gratuito e outros
direitos;
 Articulação e organização de Bloco da luta na marcha da maconha;
 Desmilitarização das Policias Militares;
 Que os relatórios de conferências municipais de Saúde Mental sejam entregues
formalmente aos secretários municipais de Saúde e prefeitos.
Democracia Antimanicomial: Contra o Fascismo em defesa do Cuidado em Liberdade e
dos Direitos Humanos!
Nenhum passo atrás, Manicômio Nunca Mais! Por uma Democracia Antimanicomial!!!!
Frente Estadual Antimanicomial São Paulo – FEASP
18 de Maio de 2022

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