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PSIQUIÁTRICA
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REFORMA PSIQUIÁTRICA
O tratamento voltado para a internação, com o passar dos anos, começou a sofrer críticas,
principalmente quanto às condições desumanas em que os pacientes eram mentidos: superlotação,
maus tratos, alto índice de cronificação, dentre outros.
A reforma psiquiátrica brasileira sofreu forte influência do Movimento da Psiquiatria Demo-
crática Italiana, liderado pelo psiquiatra Franco Basaglia, que após constatar os abusos a que os
pacientes eram submetidos no hospital psiquiátrico do qual era diretor, revolucionou as abordagens
terapêuticas dispensadas a eles em Trieste – Itália.
Basaglia foi um crítico intenso da psiquiatria tradicional e da forma como os pacientes eram
tratados, e aplicou uma abordagem libertária, rompendo muros culturais e físicos na maneira como
a sociedade deveria lidar com pacientes psiquiátricos para reintegrá-los à sociedade. Com seu tra-
balho, ele conseguiu que a prefeitura local, com o passar dos anos, fechasse o hospital psiquiátrico
em que ele era diretor, e o sistema de saúde local começou, gradualmente, a optar pela abertura
de novos centros terapêuticos territoriais, baseados no trabalho de Basaglia.
Graças aos resultados atingidos na Itália, a abordagem de Basaglia começou a ser recomendada
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a partir de 1973, levando essa questão a um debate
mundial, o que influenciou a reforma psiquiátrica brasileira.
A Reforma Psiquiátrica Brasileira se desenvolveu na época do surgimento do movimento sani-
tário, nos anos 70, em busca de mudanças nos modelos de atenção e gestão das práticas de saúde,
além da luta por equidade na oferta de serviços, defesa da saúde coletiva, e protagonismo dos
trabalhadores e usuários dos serviços de saúde.
Entretanto, apesar de serem contemporâneos, o processo de Reforma Psiquiátrica teve uma
história própria, inscrita no contexto internacional de mudanças pelo fim da violência manicomial,
e foi marcada pela intensa crítica aos hospitais psiquiátricos e luta pelos direitos dos pacientes com
transtornos mentais.
então, como a Colônia Juliano Moreira, hospital psiquiátrico com mais de 2.000 internos no início
dos anos 80, no Rio de Janeiro.
Passaram a surgir, então, as propostas iniciais e primeiras ações para reorientação da assistência
em saúde mental. No ano seguinte, em 1979, realizou-se o I Congresso Nacional dos Trabalhadores
em Saúde Mental (MTSM), em São Paulo, que se comprometeu com a crítica, com a ação do Estado
no campo da saúde mental e com a reivindicação dos avanços políticos da abertura democrática
que se ia formando naquele período.
Em 1987, houve o II Congresso Nacional do MTSM, realizado em Bauru – São Paulo, em que o
movimento aproximou-se das associações de usuários e familiares e passou a contar com a partici-
pação efetiva desses na luta pela transformação das políticas e práticas psiquiátrica. O movimento
passou a se denominar então de Movimento Nacional de Luta Antimanicomial, adotando o lema:
“Por uma sociedade sem manicômios”.
Outro marco importante para 1987 foi realização da I Conferência Nacional de Saúde Mental,
no Rio de Janeiro, que apresentou como temas centrais: Economia, sociedade e Estado: impactos
sobre saúde e doença mental; Reforma sanitária e reorganização da assistência à Saúde Mental;
Cidadania e doença mental: direitos, deveres e legislação do doente mental. Neste momento, a luta
era focada na crítica ao modelo de assistência à saúde mental centrado no hospital psiquiátrico e
na busca para se estabelecer os direitos dos pacientes psiquiátricos.
Neste período, destacam-se: a criação do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
criado o no Brasil, ainda em 1987, em São Paulo – SP, que recebeu o nome de CAPS Prof. Luiz da
Rocha Cerqueira; o processo de intervenção da Secretaria Municipal de Saúde de Santos – SP em
um hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde Anchieta, em 1989, local que havia recebido denúncias de
maus-tratos e morte de pacientes. Esta intervenção repercutiu nacionalmente, e demostrando a pos-
sibilidade de construir uma rede de cuidados efetivamente substitutiva aos hospitais psiquiátricos.
Essas ações foram seguidas da implantação de Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) na
cidade de Santos – SP, com funcionamento 24 horas, e da criação de cooperativas e residências
para os egressos do hospital e associação de usuários e familiares.
A experiência da cidade de Santos passou a ser um marco no processo da Reforma Psiquiátrica
nacional, tendo sido a primeira comprovação, com grande repercussão, de que o movimento não
era somente uma forma de discurso, mas sim um processo possível e executável, e que seria capaz
de garantir os direitos de cidadania dos pacientes em sofrimento mental.
Ainda no ano de 1989, foi dada a entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 3.657/89
do deputado Paulo Delgado, que apresentava a regulamentação dos direitos da pessoa em sofri-
mento mental e a extinção progressiva dos manicômios no Brasil. Este ato marcou o início das lutas
do movimento da Reforma Psiquiátrica na esfera legislativa. O projeto de lei, entretanto, passou 12
anos em tramitação e, após várias modificações, culminou na aprovação da Lei nº 10.216 em 06 de
abril de 2001, que ficou conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica.
Em 1990 o Brasil participou da Conferência Regional para a Reestruturação dos Sistemas
Locais de Saúde (SILOS), realizada pela Organização Mundial da Saúde e pela Organização Paname-
ricana de Saúde, em Caracas – Venezuela, em 14 de novembro de 1990, e assinou a Declaração de
Caracas, documento desenvolvido na conferência que tinha como objetivo firmar o compromisso
dos países participantes em promover o respeito aos direitos humanos e civis das pessoas com
condições de saúde mental e reestruturar a atenção psiquiátrica com base na atenção primária à
saúde, no âmbito dos sistemas locais de saúde.
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O PRH, por sua vez, é um mecanismo de gestão do processo de redução de leitos psiquiátricos
que buscava promover a redução progressiva e pactuada de leitos a partir dos macro-hospitais
(hospitais com mais de 600 leitos) e hospitais de grande porte (com 240 a 600 leitos psiquiátricos).
O Programa pactuava os limites máximos e mínimos de redução anual de leitos para cada classe
de hospitais, definidas pelo número de leitos existentes, contratados pelo SUS.
Assim, o PRH objetivava que todos os hospitais com mais de 200 leitos deveriam reduzir no
mínimo 40 leitos a cada ano. Os hospitais entre 320 e 440 leitos poderiam chegar a reduzir 80 leitos
ao ano (mínimo: 40), e os hospitais com mais de 440 leitos poderiam chegar a reduzir, no máximo
120 leitos ao ano. Desta forma, buscava-se a redução progressiva do porte hospitalar, de maneira
que, ao longo do tempo, os hospitais apresentassem menor porte, com até 160 leitos.
Outro marco da Reforma Psiquiátrica foi instituído pela Portaria nº 154/2008 que implementou
o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), com o objetivo de propiciar “apoio matricial” às
equipes de Saúde da Família, cumprindo um importante papel de dar suporte tanto técnico quanto
institucional na atenção básica.
Foi criada em 2011 a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), por meio da Portaria nº 3.088/2011,
garantindo a assistência à saúde mental de base comunitária. Ela possibilitou uma nova dimensão
ao conjunto das ações em saúde mental no SUS, cujos objetivos principais foram definidos como a
ampliação do acesso à atenção psicossocial da população, em seus diferentes níveis de complexidade;
promoção do acesso das pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso
do crack, álcool e outras drogas e suas famílias aos pontos de atenção; e garantia da articulação
e integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado por
meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às urgências.
Todos esses processos foram marcados pelas ações dos governos federal, estadual, municipal
e dos movimentos sociais, para efetivar os preceitos defendidos pela Reforma Psiquiátrica, por meio
de dois movimentos simultâneos: a construção de uma rede de atenção à saúde mental substitutiva
ao modelo centrado na internação hospitalar, por um lado, e a fiscalização e redução progressiva
e programada dos leitos psiquiátricos existentes por outro.
Referências
BRASIL. Reforma Psiquiátrica e política de Saúde Mental no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde,
2005.
CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL. Relatório final. Brasília: Ministério da Saúde,
1994.
DECLARAÇÃO DE CARACAS. Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Organização Mun-
dial de Saúde, 1990. DELFINI, Patrícia Santos de Souza; SATO, Miki Takao; ANTONELLI, Patrícia
de Paulo; GUIMARÃES, Paulo Otávio da Silva.
ZEFERINO, M. T. Curso de Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem: Estruturação
do campo da atenção psicossocial no contexto da Reforma Psiquiátrica e do SUS. Florianópolis:
Universidade Federal de Santa Catarina, 2013.