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CURITIBA
2022
FABIANA SILVA TERRA BARBOSA
CURITIBA
2022
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1. INTRODUÇÃO
É notável que o texto da lei aprovada após doze anos caracteriza-se como um
importante passo na garantia dos direitos humanos, na medida em que trata da
inclusão de novos sujeitos de direito e novos direitos para os sujeitos que estão em
sofrimento mental. No entanto, ela não assegura aspectos fundamentais do texto
original, como a extinção progressiva dos manicômios. Indubitavelmente, a
aprovação desta, entre outras leis estaduais, significaram um avanço considerável
no modelo assistencial, ainda que para Paulo Amarante a constituição da cidadania
se refira a um processo de maior complexidade, envolvendo uma mudança de
mentalidades (AMARANTE, 2007).
Sobre este aspecto político, Pitta (2011) reflete que o anseio por uma
sociedade sem manicômios aponta justamente para a necessidade do engajamento
da sociedade no debate e direcionamento das temáticas atreladas à doença mental
e à assistência psiquiátrica.
Por conseguinte, toda esta trajetória pode ser considerada como uma ruptura
no processo da reforma psiquiátrica brasileira, visto que deixa de estar restrito as
transformações no campo técnico-assistencial para se tornar um processo mais
complexo, abrangendo os campos técnico-assistencial, político-jurídico, teórico-
conceitual e sociocultural (AMARANTE, 1998).
2. METODOLOGIA
3. RESULTADOS
https://youtu.be/rYhyPfgudZo
Nos séculos XVII e XVIII, com a criação do Hospital Geral em Paris, teve
início um grande número de internações heterogêneas, devassos, feiticeiros,
libertinos e os loucos, ou seja, a escória da sociedade. O Hospital Geral não era
uma instituição médica, mas assistencial. Portanto não se oferecia um tratamento e
os loucos não eram considerados doentes, mas como os demais, eram inadequados
ao convívio social, por isso excluídos dessa relação (BOCK, 2008).
Para esses autores a novidade trazida por essas reformas está na introdução
da Prevenção Primária, cujo foco é a transformação do espaço asilar, a fim de
resgatar os direitos dos internos. A psiquiatria preventiva, com sua estratégia de
intervir nas causas ou na origem das doenças mentais, tem o intuito não apenas na
prevenção destas, mas essencialmente na promoção da saúde mental. Esse fato
define um novo território para a psiquiatria e aponta para um novo objeto no
tratamento das doenças mentais, ou seja, a saúde mental.
Da mesma forma, no Brasil, no final dos anos 80, foram criados os Conselhos
Populares de Saúde, os quais passam a pleitear o cumprimento da função do
Estado na promoção de saúde, realizando, em 1986, a VIII Conferência Nacional de
Saúde, onde é aprovado o Sistema Único de Saúde (SUS). Tal movimento vai além
de reinvindicações pontuais e abre caminhos para a construção de políticas de
saúde mental, tais como os hospitais-dia, os centros de atenção psicossocial, os
centros de convivência e cultura, as residências terapêuticas entre outros.
Gomes (2018) destaca na entrevista com Amarante, que há não muito tempo
atrás, o tratamento recebido por alguém que fosse considerado ‘louco’ - como era
chamada uma pessoa que sofresse de algum tipo de transtorno mental - era interná-
la em um hospício. E uma vez dentro de uma instituição manicomial, a pessoa
perdia o direito à sua cidadania, sendo relegada a condições sub-humanas e
submetida a intervenções violentas, que poderiam resultar até mesmo em sua
morte.
No entanto, os autores apontam para o fato de que a existência das leis não
necessariamente é garantia do respeito e da promoção dos direitos humanos, pois
sua efetivação depende do encadeamento de forças políticas.
O trabalho de Pitta (2011), dez anos após a aprovação da Lei n° 10216, traz a
proposta de uma breve análise sobre a Reforma Psiquiátrica Brasileira e chama a
atenção a respeito dos desafios que ela precisa enfrentar para manter e renovar a
aspiração pela cidadania como um direito de todos, numa sociedade sem
manicômios.
Nesse sentido Pitta (2011) aborda o significativo avanço que a reforma
psiquiátrica brasileira obteve na primeira década dos anos 2000. Ela destaca a
regulamentação “da expansão da rede comunitária e do controle dos hospitais, onde
as Portarias 336 e 189 expandem os CAPS”, como também as “portarias, 106 e
1.220, ambas de 2000” (p.8), as quais estabelecem os serviços residenciais
terapêuticos (SRT), que oportunizam aos moradores de hospitais cronicamente
internados a sua reinserção na comunidade. Pitta leciona que tais portarias
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Apesar dos avanços e êxitos que a Reforma Psiquiátrica trouxe para a saúde
mental, segundo Frazzato (2018), ela permanece inconclusa e repleta de desafios.
Sendo assim, por ser a Reforma um processo em construção se faz necessário
rever o que se alcançou e o que ainda precisa ser superado.
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5. CONCLUSÃO
Tendo em vista tudo quanto foi dito, nota-se que o advento de experiências
institucionais bem-sucedidas no desenho e construção de uma nova abordagem de
cuidado em saúde mental corresponde ao sucesso da reforma. Nesse sentido, fala-
se em um processo de desinstitucionalização responsável, em que o sujeito é
tratado em toda complexidade de sua existência intrínseca às suas reais condições
de vida. Somente assim, o tratamento deixa de ser a exclusão asilar em lugares de
violência e afastamento social para viabilizar espaços de subjetivação e interação
social na comunidade.
REFERÊNCIAS
em: https://issuu.com/fiotec/docs/conexao_fiotec-fiocruz_12?e=2256144/57693180
Acesso em: 15 Set. 2022.