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OS DIREITOS HUMANOS

Os direitos humanos incluem direitos civis como o direito à vida,


segurança, privacidade, propriedade, expressão, escolha religiosa e
liberdades civis, o que significa que o Estado tem a obrigação de respeitar as
pessoas e salvaguardar seus direitos (CASSESE, 1991).

De acordo com Deleuze (1992), os direitos humanos levam à uma


ilusão de participação, onde as elites se preocupam com seu bem-estar e
que o humanismo dentro do capitalismo é uma realidade, confirmando assim
o primeiro artigo da Declaração de 1948: "Todos os homens nascem
liberdade, igualdade em dignidade e direitos". No entanto, os grupos pobres e
considerados "marginais" ficam à margem desses direitos à vida e à
dignidade: "deficientes", "desviantes", miseráveis, entre muitos outros. Para
essas pessoas, definitivamente, os direitos humanos foram negados, porque
esses grupos foram criados para serem considerados "subumanos" e não
seres humanos de fato.

“E como alguns os querem ainda mais apagados, riscados,


escamoteados dessa sociedade, eles são chamados de excluídos.
Mas, ao contrário, eles estão lá, apertados, encarcerados, incluídos
até a medula! Eles são absorvidos, devorados, relegados para
sempre, deportados, repudiados, banidos, submissos e decaídos,
mas tão incômodos: uns chatos! Jamais completamente, não, jamais
suficientemente expulsos! Incluídos, e em descrédito” (Forrester,
1997: 15).

Portanto, não há dúvida de que esses direitos têm um claro conteúdo


de classe. Vários excluídos nunca fizeram parte desse grupo privilegiado, os
quais sempre tiveram seus direitos respeitados e garantidos ao longo dos
séculos XIX e XX. Em outras palavras, certos tipos de direitos foram e
continuarão sendo defendidos em determinados modelos, e esses direitos
devem se enquadrar em certas áreas claramente marcadas e delineadas e
certos parâmetros que não podem ser ultrapassados.

Segundo Rabenhorst (2005, p. 205):


A teoria dos Direitos Humanos é uma invenção da
modernidade. Afinal, até o fim da Idade Média o direito foi pensado
praticamente em termos de deveres ou obrigações e não como
pretensões ou interesse subjetivos. Obviamente, isso não significa
dizer que as culturas antigas não tenham defendido uma certa
concepção de justiça ou do respeito devido aos seres humanos.
Contudo, a pressuposição contemporânea de que todos os homens
possuem o mesmo valor e que, por tal razão, são titulares de um
idêntico conjunto de direitos inalienáveis, era absolutamente estranha
aos antigos.

Pensando nisso, a psicologia trabalha com humanos nas mais


diversas condições, situações e contextos, e o mesmo se aplica aos direitos
humanos. Isso não quer dizer que seja a mesma intervenção, mas o mesmo
objeto de trabalho, a pessoa. Elegendo a dignidade humana como pedra
angular dos direitos humanos, a psicologia também pode considerar esse
objetivo, pois contribui para o desenvolvimento e melhoria do ser humano e
de suas condições de vida nos mais diversos campos. O reconhecimento de
que esses dois campos buscam direta ou indiretamente a dignidade humana
reforça os paralelos entre a psicologia e os direitos humanos. Em outras
palavras, tanto o pensamento teórico quanto a prática cotidiana em ambos os
campos permitem aproximações básicas. Nessa perspectiva, é de suma
importância trazer a reflexão de Camino (2000): “Os Direitos Humanos não
seriam uma questão externa à Psicologia, mas algo que se coloca
diariamente em nossa prática profissional e acadêmica. Nossa prática, nossa
ciência tem a ver diretamente com a construção dos Direitos Humanos”.
Nesse sentido, não há apenas um diálogo entre a psicologia e os direitos
humanos, mas cabe ressaltar que a prática profissional da psicologia está
diretamente relacionada à construção dos direitos humanos. Isso permite
avançar nessa análise e compreender que, do ponto de vista teórico-prático,
as intervenções psicológicas podem ou não promover os direitos humanos
em uma determinada sociedade. Em outras palavras, isso significa que a
conduta profissional pode ser induzida ou revertida na construção dos direitos
humanos. Considerando também que o sofrimento humano sempre foi um
dos principais objetos de pesquisa e intervenção psicológica, especula-se
que as violações dos direitos humanos aparecem frequentemente entre os
profissionais, uma vez que as violações são muitas vezes acompanhadas de
sofrimento psíquico e adoecimento mental.

Como exemplo dessa realidade, o movimento de luta antimanicomial


pode ser visto como uma manifestação da proximidade da psicologia com os
direitos humanos. Após décadas de violações de direitos em hospitais
psiquiátricos, prestadores de serviços, usuários e familiares se organizaram
para enfrentar a realidade cotidiana de violência e arbitrariedade.
Entendendo esse movimento como uma importante ferramenta de mudança,
é por meio dele que é possível desenvolver diretrizes de intervenções para
salvar a dignidade desses indivíduos e iniciar a reforma psiquiátrica.

A LUTA ANTIMANICOMIAL

No dia 18 de maio é comemorado o dia da luta antimanicomial no


Brasil, mas foi em Maio de 1987, que se realizou um encontro de grupos
favoráveis a políticas antimanicomiais. Nesse encontro, surgiu a proposta de
reformar o sistema psiquiátrico brasileiro. Por sua relevância no meio social e
da saúde, a data de 18 de maio tornou-se o dia de Luta Antimanicomial.

Mas o que é a Luta Antimanicomial? Nos anos sessenta e setenta, um


psiquiatra chamado Franco Basaglia, era responsável pela direção de um
hospital psiquiátrico em Gorizia, na Itália. Imerso nesse sistema, o psiquiatra
identificou uma série de abusos e negligências no tratamento dos enfermos.
Situação que foi estopim para que, Basaglia, promovesse, junto a um corpo
de psiquiatras, mudanças práticas e teóricas no tratamento de seus
pacientes, conhecidas como Psiquiatria Democrática, ou o movimento de
“negação à psiquiatria”, que deu origem à luta antimanicomial. Desse modo,
a finalidade da luta antimanicomial proposta por Basaglia e sua equipe de
profissionais, era de remodelar a estrutura psiquiátrica tal como era
conhecida. Além de, substituir o tratamento manicomial por atendimentos
terapêuticos através de centros comunitários, centros de convivências e
tratamento ambulatorial.

Franco Basaglia, também esteve no Brasil, em 1979, para realizar um


ciclo de conferências, em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Nessas conferências, Basaglia falava sobre o uso perverso do discurso
científico dessa disciplina que, utilizando-se da instituição manicômio, fazia a
gestão das massas de indesejáveis do ponto de vista econômico (na figura
daqueles que não produzem), social (na figura daqueles que não seguem a
ordem moral) e político (na figura daqueles que não obedecem ao regime
vigente). Seu maior choque, foi ao visitar o Centro Hospitalar Psiquiátrico de
Barbacena, em Minas Gerais, lugar onde o horror era visível e, segundo
relatos do psiquiatra, o hospital se apresentava “pior do que um campo de
concentração”.

As ideias e propostas de Basaglia, contagiaram os movimentos


antimanicomiais que emergiram no país naquele período, como o Movimento
dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), fundado em 1978 e formado
por trabalhadores da saúde, associações de familiares, sindicalistas e
pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas.

O movimento carrega-se de propostas mais humanizadas, que


colocam o interno como um ser de direitos e deveres, que precisa estar em
sociedade, conviver com a família, ter acesso à arte, cultura, e uma vida de
qualidade tal qual qualquer outro indivíduo. O MTSM, regidos pelo lema: “Por
uma sociedade sem manicômios", fizeram parte do Manifesto de Bauru,
buscando, justamente, promover uma ruptura com a exclusão e a violência
institucionalizadas, que desrespeitam os mínimos direitos da pessoa humana,
inaugurando um novo compromisso. Nesse sentido, dá-se a importância do
movimento, uma vez que o manicômio é expressão de uma estrutura,
presente nos diversos mecanismos de opressão desse tipo de sociedade. A
opressão nas fábricas, nas instituições de adolescentes, nos cárceres, a
discriminação contra negros, homossexuais, índios, mulheres. Lutar pelos
direitos de cidadania dos doentes mentais significa incorporar-se à luta de
todos os trabalhadores por seus direitos mínimos à saúde, justiça e melhores
condições de vida.

Devemos ressaltar também, para qual finalidade existem os Hospitais


Psiquiátricos. Trata-se de um serviço de reabilitação e suporte
psicoemocional para pessoas com limitações funcionais decorrentes dos
transtornos mentais, bem como dificuldades de reinserção e readaptação ao
ambiente sociofamiliar. Essa proposta, se distancia muito da realidade que
vemos nos manicômios. Os internos, são deixados pela sociedade, pelos
profissionais e até mesmo pelas suas famílias. A violência instalada nesse
ambiente não promove a reabilitação, mas sim, o agravamento da situação
de saúde dos doentes mentais. Um caso que se popularizou no Brasil, foi o
de Damião Ximenes Lopes, o senhor foi espancado e morto em uma clínica
psiquiátrica.

A crítica aos manicômios está ligada, intrinsecamente, a essas práticas


extremamente violentas que degradam os usuários desse sistema. Apenas
fechar os Hospitais Psiquiátricos não vai promover a solução do problema,
pelo contrário, irá criar outro, pois, para onde vão os internos? O que se
deve realmente fazer, é abandonar essas práticas negligentes, e cada vez
mais, exercer a psiquiatria democrática, que é uma das principais propostas
de Basaglia, é dessa forma que, os hospitais psiquiátricos, serão, de fato, um
serviço de reabilitação e suporte psicoemocional.

ASPECTOS ÉTICOS NA PRODUÇÃO DE DOCUMENTOS


PSICOLÓGICOS

A Psicologia vem cada vez mais se deparado com demandas sociais,


onde a(o) psicóloga(o) tem um papel fundamental na sua atuação,
proporcionando essa em uma transformadora e significativa atuação, assim
como em garantir maior promoção e respeito aos direitos humanos, tendo em
vista as implicações que podem ser geradas o uso dos documentos
produzidos pelos mesmos.

A(o) psicóloga(o) encontra-se inserida(o) em diferentes setores da


sociedade, conquistando cada vez mais espaços necessários que exigem
sua ação com competência e ética. Ou seja, é de extrema importância o
mantimento e realização de um bom trabalho, de acordo com
regulamentações e especificações, se baseando na ética profissional, a fim
de promover maior acesso e espaço à(ao) psicóloga(o). Considerando
também que este trabalho lida com garantias a valorização de uma saúde
mental, a fim de uma vida digna aos envolvidos.

A elaboração de parecer psicológico exige, da(o) psicóloga(o),


conhecimento e competência específica no assunto, devido à demanda e ao
peso que este documento possui, devendo ser bem fundamentada e com
informações explícitas, não sendo um documento resultante do processo de
avaliação ou intervenção do mesmo. É necessário avaliar se o documento
atende os preceitos científicos, técnicos e éticos da Psicologia,
proporcionando ao assistente utilizar- se deste documento, com base em
estudos científicos sempre fundamentando-se na ciência, na técnica e
normativas da Psicologia. (Resolução 06/2019 CFP)

Deve-se conter na estrutura do documento a identificação da pessoa


ou instituição objeto do questionamento e também do solicitante; A finalidade
e descrição da demanda, onde se justifica a análise realizada; Análise, que
irá discutir a especificidade do Parecer, sendo argumentada em
fundamentação ética com base na Psicologia, assim como suas normas
regulamentadoras; Conclusão do posicionamento do Psicólogo quanto ao
questionamento, acrescido de sua inscrição profissional, a assinatura e
demais documentos; e suas devidas referências obrigatórias. Assim como o
Título: "Parecer Psicológico". (Resolução 06/2019 CFP)

O PARECER PSICOLÓGICO

O pronunciamento de um psicólogo é fundamental para que um caso


com competências pertinentes ao campo da psicologia seja abordado, isso
deve ser feito através do parecer psicológico. O parecer psicológico é um
documento que só só deve ser feito mediante a solicitação, deve também ser
feito por um psicólogo apto na área que o caso demanda, é elaborado com
base na técnica de avaliação da questão-problema do campo psicológico que
caso emerge.

Nele deve conter uma análise feita pelo profissional, o que inclui
identificação, descrição da demanda, análise, conclusão e referências. O
objetivo do parecer psicológico é eliminar as indagações do solicitante, o
resultado pode ser indicativo ou conclusivo.

Na ausência deste documento o caso pode ficar repleto de


questionamentos sem resposta, o parecer se aplica como a resposta de uma
consulta que o solicitante necessita para o fechamento de um caso. Desta
forma acordamos que um parecer psicológico se torna imprescindível.

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