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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

TACIANE CÔVRE

RESENHA CRÍTICA
Síntese das aulas em forma de resenha crítica comparando o livro de Reconhecer para libertar.
Capítulo 9 “Por uma concepção multicultural dos direitos humanos”

Colatina - ES
2022
TACIANE CÔVRE

RESENHA CRÍTICA
Síntese das aulas em forma de resenha crítica comparando o livro de Reconhecer para libertar.
Capítulo 9 “Por uma concepção multicultural dos direitos humanos”

Avaliação da matéria Fundamentos dos


Direitos Humanos, do Curso Especialização
(Pós-Graduação Lato Sensu), em Educação em
Direitos Humanos, na modalidade a distância
– Ufes/UnAC.

Docente: Professor Doutor Sandro José da


Silva

Colatina/ES, 27 de julho de 2022.


RESENHA CRÍTICA

Boaventura de Sousa Santos, vendo a importância dos Direitos Humanos na


contemporaneidade escreveu: Com a queda da União da República Socialista Soviética (com
o fim ou a diminuição da esperança no socialismo), seriam os “Direitos Humanos” substitutos
do socialismo no horizonte emancipatório? Em outras palavras, será que, se no passado nós
focávamos as nossas esperanças do socialismo, será que hoje os Direitos Humanos podem ser
a nossa esperança? Podemos ver nos Direitos Humanos, nessa luta, nessas ideias, uma forma
de emancipar a sociedade e conseguir melhorar o mundo, substituindo o socialismo? A
resposta de Boaventura de Sousa Santo é sim, desde que tenhamos uma concepção correta do
que são os Direitos Humanos e do que nós queremos com eles. E ele faz uma proposta, que é
o multiculturalismo. Fala-se que existem três gerações de Direitos Humanos.

1ª Geração: Políticos e Civis.

Quando? Iluminismo e Revoluções. Burguesas.

O que são? Direitos Naturais e Universais (Vida, Liberdade, Igualdade apenas


jurídica, Propriedade) e Direitos Políticos (Participação Política).

Limites: Sociais, Culturais e Raciais.

A primeira geração de Direitos Humanos teria surgido no século XVII e XVIII com o
Iluminismo, e se concretizado com as Revoluções Burguesas, ou seja, a Revolução Inglesa e a
Revolução Francesa. Nesta primeira geração os filósofos defendiam o Direito à vida, o Direito
à Liberdade, o Direito à Igualdade Jurídica perante à Lei, o Direito à Propriedade Privada, e
depois os Direitos Políticos de participação política. Estas são as primeiras reivindicações
advindas do Iluminismo e do pensamento que o antecede. Evidentemente, esta noção de
Direitos Humanos muito importante para a história, tem os seus limites, por exemplo o limite
racial, pois quando eles pensam isso, em geral eles não estendem esses direitos aos negros,
aos asiáticos, aos outros grupos, que na época se chamavam raças e que hoje a ideia de raças
não é mais aplicável aos seres humanos, pois somos todos da mesma raça. Também limites
culturais, pois eles não pensavam em estender esses direitos naturais para povos de outros
continentes, para populações mais pobres. Eram direitos limitados a algumas classes sociais,
por isso alguns os chamam de direitos burgueses, de concepções burguesas de Direitos
Humanos. Limites sociais, não havia para a maior parte dos Iluministas, uma ideia de que
poderíamos pensar num básico ou numa igualdade social, não havia esta questão, tanto que
quando eles falam em igualdade, eles restringem-na a noção jurídica.

2ª Geração: Sociais

Quando? Pós-Revolução Industrial – Pensamento Socialdemocrata e Socialista;

O que são? Direito à Educação, Saneamento Básico, Saúde, Transporte, Renda


Mínima.

Após a Revolução Industrial, com o pensamento socialista, mas não só com o


pensamento socialista, também com o pensamento que hoje nós chamamos de social
democrata, que é um pensamento que não visa romper com o capitalismo, mas visa somente
construir o capitalismo mais humano e não liberal, com este pensamento surgem novas
questões, novas noções de Direitos Humanos. É a Segunda Geração de Direitos Humanos que
começa a pensar em direito à Educação, Saneamento Básico, Saúde, Transporte, Renda
Mínima, a uma renda básica. Os sociais democratas acreditam nisso, eles não defendem a
igualdade social completa, mas defendem que todos, independentemente do que fizerem, têm
um direito básico, algumas condições básicas, como a saúde e a educação. Veja que esses
direitos não estão na primeira geração, vem com a segunda geração.

3ª Geração: Minorias e Natureza

Quando: Movimentos sociais ligados à identidade (Negro, Feminista, Gay, Indígena) e


Grupo Bolivariano (Equador e Bolívia).

O que são: Direitos da Natureza (Pacha Mama), Direitos Indígenas (Estado


Plurinacional), Direitos dos Animais, Movimento Negro, Movimento Feminista.

Hoje, no século XXI, dizemos que há uma terceira geração de Direitos Humanos, que
pensa sobretudo a questão das minorias e a questão da natureza. Nós agora estamos pensando
em Direitos da Natureza, em Direito dos animais, no direito das minorias, lembrando que na
sociologia minoria não significa exatamente o menor número. A minoria sociológica pode ser
a maioria numérica. Minoria sociológica refere-se à um grupo oprimido, falando de forma
simples. Então o movimento feminista reivindica esses direitos, o movimento negro, o
movimento indígena. Por exemplo, o grupo chamado de Bolivariano, especialmente hoje o
Equador e a Bolívia, falam em Estado Plurinacional. Antigamente nós tínhamos Estado
Nação, Estados que tinham uma só Nação; agora admite-se, principalmente pensando na
questão dos indígenas nesses países, de um Estado que possua várias Nações, ou seja, várias
línguas oficiais, várias culturas oficiais. Há uma nova concepção de Direitos, que não só
humanos, a exemplo da Natureza por exemplo é de outro grupo de Direitos. Na Bolívia e no
Equador, por exemplo, há os direitos da “Pacha Mama”, que quer dizer os Direitos da
Natureza, da mãe Terra. Se há um grupo empresarial ou estatal que vai explorar uma
determinada região, podemos invocar dos Direitos da Natureza para proteger esta região da
exploração empresarial. Esta noção já existe em algumas constituições, foi estudada, foi
debatida, há controvérsias, mas existe.... Para pensar os Direitos Humanos no mundo
contemporâneo existe uma frase que eu particularmente acho fantástica, mas antes queria
colocar uma questão: têm muita gente que confunde desigualdade com Diferença!

“Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o
direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos caracteriza. Daí a necessidade de uma
igualdade que reconheça as diferenças e que não produza, alimente ou reproduza as
desigualdades. ”

(Fonte: Uma concepção Multicultural de Direitos Humanos, Boaventura de Sousa


Santos)

O sentido desta frase é diferenciar desigualdade de diferença. Boaventura de Souza


Santos diz que devemos ser todos iguais, mas sermos todos iguais não significa não
reconhecermos as diferenças. Devemos reconhecer as diferenças, mas que estas diferenças
entre um e outro não significa que um seja melhor que outro. Isso significa, a título de
exemplo, que existem brancos e negros no Brasil, devemos reconhecer esta diferença na cor
da pele, mas que esta diferença não significa que um é melhor que outro. Existem homens e
mulheres, evidentemente o corpo é diferente, devemos reconhecer essas diferenças, mas que
isso não signifique que um seja melhor que o outro. Devemos ser iguais na diferença. Acho
muito importante a nossa reflexão sobre isso, pois muita gente hoje em dia ainda confunde
desigualdade com diferença. Tem gente que diz: Ah, mas vocês querem igualdade entre
homens e mulheres, mas homens e mulheres são diferentes. Quem diz isso está errado, pois é
claro que homens e mulheres são diferentes, mas que essa diferença não significa hierarquia,
não significa que um é melhor que o outro, esta é a concepção. Essa é uma excelente
concepção que Boaventura traz, que esclarece, que soluciona muitos debates.
PROBLEMAS DAS QUESTÕES DOS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO
CONTEMPORÂNEO

Os Direitos Humanos podem/devem ser universais?

Num determinado momento a organização das Nações Unidas (ONU) fez uma carta de
declaração de Direitos Humanos e considera que alguns Direitos Humanos são universais.

Universalismo X Particularismo - Problema desde a fundação da ONU!

Os Direitos Humanos podem ser universais? Devem ser universais? É possível


pensarmos na ideia de Direitos Humanos inerentes a todo ser humano, independente da raça,
independente da cultura, independente da religião, independente da época? Isto é possível?

O primeiro problema que surge quando a gente começa a pensar sobre universalidade
de direitos, é que, a título de exemplo, se existisse um país do extremo oriente que a cultura
deles implicaria em sacrificar bebês. Podemos aceitar este costume local? Esse costume,
evidentemente, viola a noção de Direitos Humanos do ocidente. Daí, se a gente invadir este
país, colocar o exército lá, e proibi-los de fazer isto. Nós estaríamos fazendo uma prática
imperialista? Será que impor a nossa noção de Direitos Humanos a países que não conhecem
seria uma ideia imperialista ou não? Ou você não pode aceitar o assassinato de bebês
(exemplo hipotético), você não pode aceitar nenhum caso? Só que aí você vai usar a força
para acabar com isso? Não seria contraditório? Qual a atitude mais correta? Estamos diante de
um debate, de um problema. Os direitos humanos devem ser universais ou devemos
reconhecer as noções particulares de Direitos Humanos (que na verdade nem reconhecem esta
ideia)? O que fazer? Veja que isso é um problema desde a fundação da Organização das
Nações Unidas (ONU), isto não é uma questão meramente hipotética. É um problema real!
Quando surgiu o Nazismo na Alemanha, antes da fundação da ONU, pois a ONU foi fundada
após a Segunda Guerra Mundial. Quando surgiu o Nazismo, muita gente dizia: Ora! Essa
situação na Alemanha é uma situação terrível, mas não podemos fazer nada para impedi-las,
porque devemos deixar que os alemães cuidem de seus problemas. Como todo mundo sabe, o
Nazismo extrapolou a Alemanha e atingiu outros países, e neste caso eles consideraram que
todos os Direitos Humanos eram absolutamente relativos e deixaram o que estava
acontecendo na Alemanha continuar acontecendo (um absurdo, na minha opinião). E aí, como
todos nós sabemos, gerou uma cascata de coisas negativas. E aí, o que deveria ter sido feito
naquele momento? Será que o mais correto deveria ter sido intervir na Alemanha com o
exército e ter impedido Adolf Hitler (lembrando que Hitler foi eleito)? Qual seria a atitude
mais correta?

“Serão os Direitos Humanos Universais um tipo de invariante cultural, parte da


cultura global? Todas as culturas tendem a considerar seus valores máximos como os mais
abrangentes, mas apenas a cultura ocidental tende a formulá-los como universais? ”

(Boaventura de Sousa Santos)

Ou seja, todas as culturas tendem a considerar os seus valores e seus conceitos de


dignidade da pessoa humana como os melhores. Hitler considerava os seus valores os
melhores. Mas apenas a cultura ocidental tende a formulá-los como universais. Isso é uma
questão interessante. Boaventura de Sousa Santos fala, que a única cultura que quer se
universalizar é a ocidental. Neste sentido, podemos pensar na cultura hindu, na cultura
judaica, para exemplificar. Eles não tinham pretensão de estender os seus valores para todo o
globo, eles consideravam seus valores ligados aos seus povos. Só nós (e isso vem do
Iluminismo), temos a tendência de queremos estender as nossas noções de cultura para todos
os povos. O que fazer então?

Problema 2: Invisibilidade X Ultravisibilidade

Direitos Humanos a serviço do Imperialismo?

O primeiro problema ainda nem foi resolvido e já identificamos um outro problema. A


Invisibilidade X Ultravisibilidade. Se você ligar a televisão, vai ver a mídia, a todo momento,
criticando violações de Direitos Humanos. Um exemplo é o Irã. As violações de Direitos
Humanos no Irã são ultravisíveis (são muito visíveis) e são muito comentadas, muito
noticiadas. No entanto, pouco se ouve falar nas violações, a título de exemplo, das violações
de Direitos Humanos ocorridas no Timor-Leste, país do sudeste asiático. Porque a mídia, a
própria ONU, etc., às vezes vê muito, fala muito sobre as violações de alguns lugares e de
outros falam pouco? Será que essas falas não escondem interesses imperialistas? Ah, esse país
é meu amigo, deste país eu gosto, então eu faço vista grossa para as violações de lá.... Já o
outro país é meu inimigo econômico, geopolítico, aí eu falo muito.... Porque há este
desequilíbrio nas críticas às violações dos Direitos Humanos? Como podemos evitar? Então a
ideia de Boaventura de Sousa Santos é:

“Os Direitos Humanos não devem ser Universais, mas Multiculturais. O


Multiculturalismo representa o equilíbrio entre a competência global e a legitimidade local. ”

Com isso, ele não quer dizer que devamos aceitas tudo, como o exemplo de matar as
crianças, citado anteriormente, mas que não devemos achar que a nossa concepção de direitos
deva ser universal, que devemos conceber os Direitos Humanos de maneira multicultural.
Para Boaventura o multiculturalismo representa uma tentativa de equilibrar as noções globais
de Direitos Humanos com as questões locais. Como conseguimos então, fazer um equilíbrio
entre a cultura global e a cultura local sem sermos imperialistas, sem violarmos e sem
deixarmos tudo acontecer? Como conseguimos esse equilíbrio? E aí vem a proposta
multicultural.

O que é a proposta multicultural?

I - Ideias do multiculturalismo:

II - Relativismo cultural é um posicionamento político-filosófico incorreto;

III - Universalismo cultural é um posicionamento político-filosófico incorreto;

IV - Problema: ver a Cultura do OUTRO como “uma coisa só”, como algo “fechado”
(pense na diversidade da sua própria cultura);

V - Todas as Culturas possuem noções de Dignidade Humana, mas nem todas pensam
em termos de Direitos Humanos;

VI - TODAS AS CULTURAS SÃO INCOMLETAS E, POR ISSO, APRESENTAM


DEFICIÊNCIAS QUANTO A DIGNIDADE HUMANA. SE FOSSEM COMPLETAS,
SERIAM ÚNICAS. Devemos ter consciência da nossa incompletude para mantermos o
diálogo; ou melhor, é no diálogo que melhor percebemos nossa incompletude. Diálogos
interculturais isomórficos entre diferentes culturas, ou seja, conceitos diferentes que podem
transmitir aspirações semelhantes ou mutualmente inteligíveis. É a atitude mais correta, ao
invés de “excluir” ou “renegar” uma cultura inteira por determinado motivo.

Todas as culturas são relativas, entretanto o relativismo cultural é um posicionamento


político-filosófico incorreto. Quer dizer, na visão de Boaventura de Sousa Santos, tudo vale,
em todas as circunstâncias? É uma postura incorreta, senão você vai deixar o Nazismo
acontecer, vai deixar a morte de crianças acontecerem. O oposto, o universalismo total
também é incorreto. Boaventura diz, que todas as culturas, independente da época,
independente do lugar, tem que aceitar os meus valores. Isso também é um posicionamento
incorreto. Então os dois extremos estão incorretos. Dizer que tudo é relativo ou que tudo é
universal, são extremos incorretos. A terceira questão é que não podemos ver a cultura do
outro como uma coisa só. Quando falamos em Islamismo, as pessoas do ocidente tendem a
pensar o Islamismo como uma coisa só, quando que na verdade existem milhares de
islâmicos, milhares de correntes de islamismo, algumas correntes mais extremistas, outras
com noções mais dignidade humana, até mais próximas da nossa, digamos assim... Então,
explanando, todas as culturas não são uma coisa só, tem várias variantes. Pensando na nossa
culta mesmo, a título de exemplo, ela produziu o fascismo, mas ela também produziu a
democracia, e as duas culturas coexistem, mesmo não senso uma coisa só. Temos elementos
extremamente perversos e elementos extremamente benéficos, assim como todas as culturas.
Todas as culturas têm noções de dignidade humana, só a nossa produziu a noção de Direitos
Humanos? Existem outras ideias/noções de dignidade humana, então a ideia de Boaventura de
Sousa Santos é de trabalharmos a partir disso. Ele prega que todas as culturas têm uma noção
de dignidade humana, porém todas são incompletas, todas apresentam deficiências. Por
exemplo, o problema da nossa cultura é a desigualdade extrema, a pobreza extrema.... Todas
têm deficiências quanto à dignidade humana. Se fossem completas, seriam únicas. Portanto
todas as culturas são incompletas. Devemos conhecer a nossa em completude e mantermos o
diálogo, então quer dizer que precisamos buscar diálogos entre essas diferentes noções de
dignidade humana, diálogos interculturais isomórficos, entre diferentes culturas, ou seja,
conceitos diferentes que podem transmitir aspirações semelhantes ou mutualmente
inteligíveis. É a atitude mais correta, ao invés de “excluir” ou “renegar” uma cultura inteira
por determinado motivo. Não devemos nem renegar as outras culturas nem tampouco aceitar
tudo que elas nos mostra, mas sim procurar onde é possível um diálogo com ela, e a partir
desse diálogo, dialogaremos com qual parte da outra cultura? Deve ser escolhida aquela que
apresenta o círculo mais amplo de reciprocidade dentro desta cultura, ou seja, a versão que vai
mais longe no reconhecimento do outro. Se estivermos fazendo um diálogo entre a cultura
cristã e a cultura islâmica, o que dentro dessas culturas têm mais de reconhecimento do outro?
É isso que a gente escolhe. Então, dentro do Islamismo, para pegar de uma maneira bem
simples, tem grupos extremistas que defendem a sharia (lei islâmica seguida pelo Talibã), mas
tem grupos secularistas, que aceitam um Estado que não impõe a lei islâmica. Então é com
esse que a gente vai discutir. A nossa cultura, como antes mencionada, tem fascistas, mas
também tem democratas, e é com estes que a gente vai dialogar. Todas as culturas tendem a
diferenciar as pessoas. A diferença só pode ser aceita quando não inferioriza o outro. A
questão da burca, por exemplo, deve ser aceita quando ela representa uma cultura, e não
quando ela representa uma inferiorizarão. Reconhecer as incompletudes mútuas é a condição
“sine qua non” (sem a qual não) de um diálogo intercultural. Afinal, então, o
multiculturalismo é, resumidamente, a busca por este diálogo com outras culturas –
procurando dialogar com a noção de dignidade humana deles, com a nossa, e por aí vai....
Será que é possível este diálogo após séculos de imperialismo cultural, de genocídio, de
etnocídio, de epistemicidio, conseguiremos dialogar com essas outras culturas? Após tantos
rancores que já existem por conta do nosso passado histórico, tantas rivalidades? Será que é
possível acontecer isso? O filósofo Sartre, que é um filósofo de outra época, certa vez disse:

“Antes de ser concretizada, uma ideia tem uma estranha semelhança com a utopia. ”

(Sartre)

Um exemplo, para homens antigos, trabalhar oito horas por dia pode parecer uma
utopia, para alguns ainda parece, mas na visão do Sartre, quando isso acontece, isso deixa de
ser uma utopia. Boaventura de Sousa Santos fala a mesma coisa, no mesmo sentido:

“O importante é não reduzir o realismo que existe, pois, de outro modo, podemos
ficar obrigados a justificar o que existe, por mais injusto ou opressivo que seja. ”

(Boaventura de Sousa Santos)

Então, a proposta de multiculturalismo pode parecer uma utopia, mas se formos negar
isso, não sairemos do lugar. Ele coloca que a importância do que parece utopia, a importância
dos sonhos para que a mudança aconteça.
REFERÊNCIAS:

SOUSA SANTOS, Boaventura de. Por uma concepção multicultural de direitos humanos. In:
SOUSA SANTOS, Boaventura de (Org). Reconhecer para libertar: os caminhos do
cosmopolitismo cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 429-461.

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