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TACIANE CÔVRE
RESENHA CRÍTICA
Síntese das aulas em forma de resenha crítica comparando o livro de Reconhecer para libertar.
Capítulo 9 “Por uma concepção multicultural dos direitos humanos”
Colatina - ES
2022
TACIANE CÔVRE
RESENHA CRÍTICA
Síntese das aulas em forma de resenha crítica comparando o livro de Reconhecer para libertar.
Capítulo 9 “Por uma concepção multicultural dos direitos humanos”
A primeira geração de Direitos Humanos teria surgido no século XVII e XVIII com o
Iluminismo, e se concretizado com as Revoluções Burguesas, ou seja, a Revolução Inglesa e a
Revolução Francesa. Nesta primeira geração os filósofos defendiam o Direito à vida, o Direito
à Liberdade, o Direito à Igualdade Jurídica perante à Lei, o Direito à Propriedade Privada, e
depois os Direitos Políticos de participação política. Estas são as primeiras reivindicações
advindas do Iluminismo e do pensamento que o antecede. Evidentemente, esta noção de
Direitos Humanos muito importante para a história, tem os seus limites, por exemplo o limite
racial, pois quando eles pensam isso, em geral eles não estendem esses direitos aos negros,
aos asiáticos, aos outros grupos, que na época se chamavam raças e que hoje a ideia de raças
não é mais aplicável aos seres humanos, pois somos todos da mesma raça. Também limites
culturais, pois eles não pensavam em estender esses direitos naturais para povos de outros
continentes, para populações mais pobres. Eram direitos limitados a algumas classes sociais,
por isso alguns os chamam de direitos burgueses, de concepções burguesas de Direitos
Humanos. Limites sociais, não havia para a maior parte dos Iluministas, uma ideia de que
poderíamos pensar num básico ou numa igualdade social, não havia esta questão, tanto que
quando eles falam em igualdade, eles restringem-na a noção jurídica.
2ª Geração: Sociais
Hoje, no século XXI, dizemos que há uma terceira geração de Direitos Humanos, que
pensa sobretudo a questão das minorias e a questão da natureza. Nós agora estamos pensando
em Direitos da Natureza, em Direito dos animais, no direito das minorias, lembrando que na
sociologia minoria não significa exatamente o menor número. A minoria sociológica pode ser
a maioria numérica. Minoria sociológica refere-se à um grupo oprimido, falando de forma
simples. Então o movimento feminista reivindica esses direitos, o movimento negro, o
movimento indígena. Por exemplo, o grupo chamado de Bolivariano, especialmente hoje o
Equador e a Bolívia, falam em Estado Plurinacional. Antigamente nós tínhamos Estado
Nação, Estados que tinham uma só Nação; agora admite-se, principalmente pensando na
questão dos indígenas nesses países, de um Estado que possua várias Nações, ou seja, várias
línguas oficiais, várias culturas oficiais. Há uma nova concepção de Direitos, que não só
humanos, a exemplo da Natureza por exemplo é de outro grupo de Direitos. Na Bolívia e no
Equador, por exemplo, há os direitos da “Pacha Mama”, que quer dizer os Direitos da
Natureza, da mãe Terra. Se há um grupo empresarial ou estatal que vai explorar uma
determinada região, podemos invocar dos Direitos da Natureza para proteger esta região da
exploração empresarial. Esta noção já existe em algumas constituições, foi estudada, foi
debatida, há controvérsias, mas existe.... Para pensar os Direitos Humanos no mundo
contemporâneo existe uma frase que eu particularmente acho fantástica, mas antes queria
colocar uma questão: têm muita gente que confunde desigualdade com Diferença!
“Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o
direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos caracteriza. Daí a necessidade de uma
igualdade que reconheça as diferenças e que não produza, alimente ou reproduza as
desigualdades. ”
Num determinado momento a organização das Nações Unidas (ONU) fez uma carta de
declaração de Direitos Humanos e considera que alguns Direitos Humanos são universais.
O primeiro problema que surge quando a gente começa a pensar sobre universalidade
de direitos, é que, a título de exemplo, se existisse um país do extremo oriente que a cultura
deles implicaria em sacrificar bebês. Podemos aceitar este costume local? Esse costume,
evidentemente, viola a noção de Direitos Humanos do ocidente. Daí, se a gente invadir este
país, colocar o exército lá, e proibi-los de fazer isto. Nós estaríamos fazendo uma prática
imperialista? Será que impor a nossa noção de Direitos Humanos a países que não conhecem
seria uma ideia imperialista ou não? Ou você não pode aceitar o assassinato de bebês
(exemplo hipotético), você não pode aceitar nenhum caso? Só que aí você vai usar a força
para acabar com isso? Não seria contraditório? Qual a atitude mais correta? Estamos diante de
um debate, de um problema. Os direitos humanos devem ser universais ou devemos
reconhecer as noções particulares de Direitos Humanos (que na verdade nem reconhecem esta
ideia)? O que fazer? Veja que isso é um problema desde a fundação da Organização das
Nações Unidas (ONU), isto não é uma questão meramente hipotética. É um problema real!
Quando surgiu o Nazismo na Alemanha, antes da fundação da ONU, pois a ONU foi fundada
após a Segunda Guerra Mundial. Quando surgiu o Nazismo, muita gente dizia: Ora! Essa
situação na Alemanha é uma situação terrível, mas não podemos fazer nada para impedi-las,
porque devemos deixar que os alemães cuidem de seus problemas. Como todo mundo sabe, o
Nazismo extrapolou a Alemanha e atingiu outros países, e neste caso eles consideraram que
todos os Direitos Humanos eram absolutamente relativos e deixaram o que estava
acontecendo na Alemanha continuar acontecendo (um absurdo, na minha opinião). E aí, como
todos nós sabemos, gerou uma cascata de coisas negativas. E aí, o que deveria ter sido feito
naquele momento? Será que o mais correto deveria ter sido intervir na Alemanha com o
exército e ter impedido Adolf Hitler (lembrando que Hitler foi eleito)? Qual seria a atitude
mais correta?
Com isso, ele não quer dizer que devamos aceitas tudo, como o exemplo de matar as
crianças, citado anteriormente, mas que não devemos achar que a nossa concepção de direitos
deva ser universal, que devemos conceber os Direitos Humanos de maneira multicultural.
Para Boaventura o multiculturalismo representa uma tentativa de equilibrar as noções globais
de Direitos Humanos com as questões locais. Como conseguimos então, fazer um equilíbrio
entre a cultura global e a cultura local sem sermos imperialistas, sem violarmos e sem
deixarmos tudo acontecer? Como conseguimos esse equilíbrio? E aí vem a proposta
multicultural.
I - Ideias do multiculturalismo:
IV - Problema: ver a Cultura do OUTRO como “uma coisa só”, como algo “fechado”
(pense na diversidade da sua própria cultura);
V - Todas as Culturas possuem noções de Dignidade Humana, mas nem todas pensam
em termos de Direitos Humanos;
“Antes de ser concretizada, uma ideia tem uma estranha semelhança com a utopia. ”
(Sartre)
Um exemplo, para homens antigos, trabalhar oito horas por dia pode parecer uma
utopia, para alguns ainda parece, mas na visão do Sartre, quando isso acontece, isso deixa de
ser uma utopia. Boaventura de Sousa Santos fala a mesma coisa, no mesmo sentido:
“O importante é não reduzir o realismo que existe, pois, de outro modo, podemos
ficar obrigados a justificar o que existe, por mais injusto ou opressivo que seja. ”
Então, a proposta de multiculturalismo pode parecer uma utopia, mas se formos negar
isso, não sairemos do lugar. Ele coloca que a importância do que parece utopia, a importância
dos sonhos para que a mudança aconteça.
REFERÊNCIAS:
SOUSA SANTOS, Boaventura de. Por uma concepção multicultural de direitos humanos. In:
SOUSA SANTOS, Boaventura de (Org). Reconhecer para libertar: os caminhos do
cosmopolitismo cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 429-461.