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Biopoder e Biopolítica

Biopoder

Foi cunhado por Michel Foucault para descrever uma forma de poder que regula a vida dos indivíduos e das
populações por meio da gestão de aspectos biológicos, como saúde, reprodução e longevidade.

Como opera:

Individualização e Normalização: O biopoder opera em duas escalas principais: a individual e a coletiva. Na


escala individual, é exercido através de mecanismos que "normalizam" os corpos, estabelecendo padrões de
saúde, moralidade e comportamento.

Gestão Populacional: Na escala coletiva, ele se concentra na gestão das populações, intervindo em aspectos
como natalidade, mortalidade, saúde pública, etc.

Instituições e Disciplinas: O biopoder está integrado em diversas instituições e disciplinas, como medicina,
psicologia e criminologia, onde se busca uma "normatização" dos indivíduos e das populações.
Biopolítica

É uma extensão do conceito de biopoder e refere-se às estratégias e mecanismos através dos quais o poder
político é exercido na regulação e administração da vida dos cidadãos, atuando diretamente nos corpos e
influenciando a maneira como vivemos, reproduzimos e morremos.

Como opera:

Políticas Públicas: A biopolítica engloba políticas públicas que têm um efeito direto sobre a vida biológica dos
cidadãos. Estas políticas podem abordar uma variedade de questões, incluindo saúde pública, educação e bem-
estar social.

Ética e Direito: A biopolítica envolve discussões éticas significativas, pois levanta questões sobre os limites do
poder estatal sobre os corpos dos indivíduos.

Governança: O conceito também é utilizado para descrever formas emergentes de governança que vão além das
instituições estatais tradicionais, envolvendo uma série de atores não-estatais, incluindo corporações e
organizações internacionais.
Giorgio Agamben

Zoē e Bios: Agamben distingue entre "zoē", que se refere à vida natural e biológica, e "bios", que se refere à vida política e qualificada. Ele usa esses
conceitos para explorar como o poder político atua sobre a vida nua ou biológica dos indivíduos.

Antropologia Máquina: Agamben discute a "antropologia máquina", uma ferramenta que separa o homem do animal, criando uma "vida nua" que
pode ser excluída da participação política.

Estado de Exceção
Definição: O "estado de exceção" é um conceito central na obra de Agamben. Ele descreve uma condição de suspensão do direito, onde o poder
jurídico se confunde com o poder de fato, criando espaços ou tempos de violência legalizada.
Campo: Agamben introduz a noção do "campo" como um espaço onde a vida nua é exposta ao poder soberano sem proteção jurídica. Ele examina
campos de concentração e outros espaços de exclusão como manifestações físicas do estado de exceção.

Forma-de-Vida
Definição: Agamben desenvolve o conceito de "forma-de-vida" como uma vida que não pode ser separada de sua forma, uma vida onde o bios e a
zoē são indissociáveis.
Potencialidade: Agamben também explora a noção de "potencialidade", onde a capacidade de não-fazer é vista como um componente essencial da
ação e da ética.

Homo Sacer
Definição: O "Homo Sacer" é um indivíduo que pode ser morto sem que isso constitua um homicídio, uma figura que está fora do ordenamento
jurídico, expondo a ligação intrínseca entre soberania e vida nua.
Antonio Negri e Michael Hardt

Império
Negri e Hardt descrevem o "Império" como uma nova ordem política global que não está vinculada a uma nação
ou território específico. Esse conceito transcende as fronteiras nacionais e engloba um sistema complexo e
interconectado de governança global.

Sovereign Power vs. Biopower: Eles abordam a transição do poder soberano, ancorado no estado-nação, para o
biopoder, que é exercido através de redes descentralizadas globais que regulam a vida dos indivíduos.

Multidão
Definição: O conceito de "multidão" é central em sua teoria e refere-se a uma massa heterogênea de indivíduos
interconectados, que são a verdadeira fonte de produção e criação na sociedade contemporânea.

Democracia da Multidão: Negri e Hardt exploram a ideia de uma democracia da multidão, onde o poder é
devolvido às massas, e a multidão pode agir como um agente de mudança social e política.
Biopoder hoje
Discursos sobre a verdade
Um ou mais discursos de verdade sobre o caráter ‘vital’ dos seres humanos, e um
conjunto de autoridades consideradas competentes para falar aquela verdade.
Estes discursos de verdade não podem ser ‘biológicos’ no sentido contemporâneo
da disciplina; por exemplo, eles podem hibridizar os estilos biológico e
demográfico ou mesmo sociológico de pensamento, como nas relações
contemporâneas de genômica e risco, unificadas na nova linguagem de
suscetibilidade;
Biopoder hoje
Subjetivações
Modos de subjetivação, através dos quais os indivíduos são levados a atuar sobre
si próprios, sob certas formas de autoridade, em relação a discursos de verdade,
por meio de práticas do self, em nome de sua própria vida ou saúde, de sua
família ou de alguma outra coletividade, ou inclusive em nome da vida ou saúde
da população como um todo – Rabinow tem examinado a formação de novas
coletividades em termos de ‘biossocialidade’, e Rose tem examinado a formação
de tipos de sujeito em termos de ‘individualidade somática’
Biopoder hoje
Intervenção sobre coletividades
Estratégias de intervenção sobre a existência coletiva em nome da vida e da
morte, inicialmente endereçadas a populações que poderiam ou não ser
territorializadas em termos de nação, sociedade ou comunidades pré-dadas, mas
que também poderiam ser especificadas em termos de coletividades biossociais
emergentes, algumas vezes especificadas em termos de categorias de raça,
etnicidade, gênero ou religião, como nas formas recentemente surgidas de
cidadania genética ou biológica.
Três dimensões atuais do biopoder
Raça
Reprodução
Medicina genômica
Paul Rabinow e a biossocialidade
Descreve a Formação de Coletividades: A biossocialidade se refere à forma como
os indivíduos formam grupos e coletividades baseados em características
biológicas comuns, que podem ser compreendidas através da genética, por
exemplo.
Conexões Biológicas e Sociais: Indica que as relações sociais estão começando
a ser formadas não apenas com base em fatores tradicionais (como etnia, cultura,
etc.), mas também em características biológicas.
Movimentos Sociais e Identidade: Pode dar origem a movimentos sociais que se
baseiam em identidades biológicas comuns, como grupos de pacientes com uma
certa condição genética se unindo para advogar por pesquisa e tratamento.
Nikolas Rose e a individualidade somática
Enfoque no Corpo: Diz respeito à maneira como os indivíduos começam a
perceber e a conceber a si mesmos com um foco muito mais acentuado no corpo
e na individualidade biológica, destacando as características individuais que são
determinadas biologicamente.
Autocuidado e Gestão da Saúde: Incorpora práticas e estratégias de autocuidado
e gestão da saúde que são informadas por um entendimento da própria biologia
do indivíduo.
Bioinformações: Inclui o acesso a uma variedade de bioinformações, como testes
genéticos, que podem influenciar a forma como uma pessoa entende sua saúde e
bem-estar, bem como suas predisposições para certas condições ou doenças.

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