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2.0.

A cultura e os projectos de construcao dos estados democraticos

Definir o que é cultura não é uma tarefa simples. A cultura evoca interesses
multidisciplinares, sendo estudada em áreas como sociologia, antropologia, história,
comunicação, administração, economia, entre outras. Em cada uma dessas áreas, é
trabalhada a partir de distintos enfoques e usos. Tal realidade concerne ao próprio caráter
transversal da cultura, que perpassa diferentes campos da vida cotidiana. Além disso, a
palavra “cultura” também tem sido utilizada em diferentes campos semânticos em
substituição a outros termos como “mentalidade”, “espírito”, “tradição” e “ideologia”
(Cuche, 2002, p.203).

Parte desta complexa distinção semântica se deve ao próprio desenvolvimento histórico do


termo. A palavra cultura vem da raiz semântica colore, que originou o termo em latim
cultura, de significados diversos como habitar, cultivar, proteger, honrar com veneração
(Williams, 2007, p.117).

No pensamento iluminista francês, a cultura caracteriza o estado do espírito cultivado pela


instrução. “A cultura, para eles, é a soma dos saberes acumulados e transmitidos pela
humanidade, considerada como totalidade, ao longo de sua história” (Cuche, 2002, p.21).

A concepção universalista da cultura foi sintetizada por Edward Burnett Tylor (1832-1917)
que, segundo Cuche (2002, p.39), é considerado o fundador da antropologia britânica. Ele
escreveu a primeira definição etnológica da cultura, em

1817, onde marca o caráter de aprendizado cultural em oposição à idéia de transmissão


biológica:

Tomando em seu amplo sentido etnográfico [cultura] é este todo complexo que inclui
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade (apud Laraia, 2006, p.25).
Todavia, Tylor defendia o princípio do evolucionismo, que acreditava haver uma escala
evolutiva de progresso cultural que as sociedades primitivas deveriam percorrer para chegar
ao nível das sociedades civilizadas.

Contrário à concepção evolucionista, Franz Boas (1858-1942) foi um dos pesquisadores


que mais influenciaram o conceito contemporâneo de cultura na antropologia americana.
Ele é apontado como o inventor da etnografia por ter sido o primeiro antropólogo a fazer
pesquisas com observação direta das sociedades primitivas. Em seus estudos, Boas
concluiu que a diferença fundamental entre os grupos humanos era de ordem cultural e não
racial ou determinada pelo ambiente físico. Sendo assim, defendia que, ao estudar os
costumes particulares de uma determinada comunidade, o pesquisador deveria buscar
explicações no contexto cultural e na reconstrução da origem e da história daquela
comunidade. Decorre dessa constatação o reconhecimento da existência de culturas, no
plural, e não de uma cultura universal.

Em suma, A cultura é parte do que somos, nela está o que regula nossa convivência e nossa
comunicação em sociedade. Ao tratar do conceito de cultura, a sociologia se ocupa em entender
os aspectos aprendidos que o ser humano, em contato social, adquire ao longo de sua
convivência.

2.1. Conceito da democracia

O surgimento da democracia na Grécia Antiga, no século V a. C. (mais especificamente,


por volta de 590 a. C.), cuja palavra adveio da justaposição de dêmos (povo) e kratía
(poder), tendo, assim, por significado governo do povo, tinha como objetivo, com as
reformas de Sólon, a criação de um regime político que, diferente do de Drácon, não fosse
autoritário e nem baseado em leis opressoras. Elaborou-se, dessa forma, uma constituição
que passou a prever que todas as decisões referentes à vida dos atenienses deveriam ser
tomadas em assembleias (eclésias) mediante a participação direta do povo – que era
constituído, em regra, apenas pelos cidadãos atenienses homens com mais de 18 anos
(sendo excluídos, portanto, as mulheres, os escravos, as crianças e os estrangeiros)
(RIBEIRO, 2001, p. 06-07). Desde então, o conceito de democracia está vinculado à lei.
O conceito de democracia não é algo perfeito, estático, ao contrário, é algo dinâmico, em
constante aperfeiçoamento, sendo válido dizer que nunca foi plenamente alcançado , visto
sua construção e aprimoramento decorrerem dos acontecimentos históricos, como um
processo de continuidade transpessoal, irredutível a qualquer vinculação do processo
político a determinadas pessoas

Segundo Aristóteles a democracia é uma forma de governo, sendo este o entendimento


aceito por inúmeros doutrinadores como Montesquieu e Rousseau .

Bobbio (2007), também, afirma que o termo democracia sempre foi empregado no sentido
de uma das formas de governo, designando a forma de governo na qual o poder político é
exercido pelo povo. O autor ainda ressalta a importância de se analisar a democracia sob o
enfoque que o uso das teorias das formas de governo assumiram ao longo dos tempos,
dividindo este em: descritivo (sistemático), prescritivo (axiológico) e histórico.

Bobbio afirma que, entre todas as definições de democracia, prefere aquela que define a
democracia como o “poder em público”. O autor afirma que o poder tende a se esconder e
que quanto mais secreta seja uma decisão, proporcionalmente mais ilícita esta será, sendo,
portanto, a democracia a forma de governo que obriga os governantes a tomar suas decisões
às claras, justificando o porquê de determinada escolha em detrimento de outra, abrindo um
espaço para que os indivíduos tomem ciência do que ocorre nos corredores do poder.

O autor ainda diferencia a democracia ideal da democracia real, sendo a ideal aquela
impossível de ser alcançada, porquanto os fatores distintivos entre governos democráticos e
não democráticos são os princípios da liberdade e da igualdade, sendo encartados logo no
início da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “Todos os seres humanos nascem
livres em dignidade e direitos.”

Bobbio (2000, p.422) discorda do exposto pela declaração, aduzindo: “A verdade é que os
seres humanos, ao menos a sua grande maioria, não nascem livres, nem iguais. Seria muito
mais exato dizer: ‘Os homens aspiram a tornar-se livres e iguais’. A liberdade e a igualdade
são não um ponto de partida, mas sim um ponto de chegada”.
Canotilho, em sua grande obra intitulada Direito Constitucional e Teoria da Constituição,
aborda a democracia como um processo dinâmico, o qual possibilita que em uma sociedade
aberta e ativa, os cidadãos participem no processo político em condições de igualdade,
tanto política, quanto econômica e social. O autor português afirma que “o princípio
democrático não elimina a existência das estruturas de domínio mas implica uma forma de
organização desse domínio. Desta concepção resulta a visão do princípio democrático como
princípio de organização da titularidade e exercício do poder”. (CANOTILHO, p. 290)

Sustentando sua escolha pela definição instrumental da democracia, Canotilho recorre à


Fórmula de Popper, que defende que a essência da democracia repousa na estruturação de
mecanismos de seleção de governantes, bem como de mecanismos de limitação de poder,
visando à criação de institutos que coibam o surgimento de modelos tirânicos de governo.
Outro importante filósofo que se dedicou ao tema da democracia é Alexis de Tocqueville, o
qual pode ser considerado antes liberal do que democrata. O autor afirma que em ordem
primeira o Estado se deveria preocupar em assegurar todos os direitos de liberdade
(considerados os direitos de primeira geração), os quais poderiam perecer diante da defesa
da igualdade defendida pela democracia.

De acordo com Tocqueville, a democracia opõe-se à aristocracia, por se tratar da forma de


governo em que todos participam da coisa pública. Para o autor, a ameça oriunda da
democracia seria a tirania da maioria, que significa que o fim do ideal igualitário da
democracia desaguará nos leitos do despotismo, aniquilando a tão estimada liberdade.
Partindo deste princípio, Tocqueville assume a posição de não democrático, pois, em
hipótese alguma, considerava viável e aceitável suprimir a liberdade individual em
detrimento da igualdade social.

O dissenso sobre a importância, os conceitos e os limites da democracia também envolve


autores nacionais, como bem salienta Ferreira Filho (1979, p.3): “toda discussão sobre a
democracia esbarra numa dificuldade inicial. Tal dificuldade é terminológica. Por um lado,
o termo democracia tem um conteúdo compósito que estimula as ambigüidades e provoca
intermináveis debates sobre o que seja a verdadeira Democracia. Por outro, esse termo hoje
revestido de uma carga emocional, aproveitada por interesses partidários, carga essa que
não facilita o entendimento.” O autor indica que a Democracia possui três âmbitos distintos
e continua afirmando que esta pode significar uma forma de governo, a qual busca a
realização, na vida social, da liberdade e da igualdade, um sistema de valores pautado pela
liberdade e pela igualdade, bem como uma organização institucional de instrumentos e
regras que organizem constitucionalmente a democracia.

Como pode ser percebido, existem diversas abordagens possíveis, quando o tema é
democracia, sendo uma delas a divisão que reconhece a democracia sob três manifestações
distintas: teoria republicana, liberal e elitista.

 Segundo a teoria Republicana – deve haver a efetiva participação popular, tendo


como um de seus defensores Rousseau. Esta Teoria relaciona-se com a
obrigatoriedade do voto.
 De acordo com a teoria Liberal – a democracia existe, caso haja a faculdade de
participação. Deve-se assegurar a liberdade de votar e ser votado, bem como a
liberdade de expressão, podendo-se citar Kelsen e Bobbio como representantes
desta segunda modalidade.
 Por sua vez a teoria Elitista – concebe a democracia como um regime político que
permite a concorrência entre as elites. O papel do povo resume-se à escolha entre
candidatos pertencentes à elite de determinada sociedade.

2.2. Relação entre cultura e democracia

2.3. Tipos da democracia

a) DEMOCRACIA DIRETA

O surgimento da democracia está umbilicalmente ligado ao modelo de exercício direto


pelos cidadãos, que participavam pessoalmente das decisões fundamentais da sociedade. A
vontade expressada pelos cidadãos reunidos em assembléia, foi a maneira encontrada para
que o poder do Estado e suas decisões no plano político gozassem de aceitação e, ao
mesmo tempo, de justificação assentada na vontade popular. Havia plena identidade entre o
titular do poder político, e o encarregado de exercê-lo.
Atenas, na Grécia Antiga, historicamente foi o berço da democracia direta. Com efeito, a
democracia ateniense durou cerca de dois séculos, das reformas de Clístenes (502 a.C.) à
paz de 322 a.C., quando Antíparo impôs a transformação das instituições políticas.

Evidentemente, a fisiologia da sociedade ateniense naquela época também colaborou com


o desenvolvimento da democracia grega, especialmente devido ao pequeno território onde
ela era exercida – a polis, e a forte consciência do homem grego no dever e necessidade de
efetiva participação na política local.

Durante este período, as instituições balizavam-se nos princípios da isonomia, isagoria e


isotmia. O primeiro refletia a igualdade dos cidadãos na lei e perante a lei, inclusive com a
prerrogativa de dar início ao processo legiferante. O segundo assegurava o acesso ao cargo
público, ou a contemplação com títulos a qualquer cidadão grego, indistintamente. O
terceiro embasava o direito a voz aos cidadãos nas assembléias, permitindo a efetiva
participação e debate na tomada das decisões.

Convém lembrar, entretanto, que a qualidade de cidadão era hereditária, atribuída


unicamente aos filhos de atenienses com raízes genealógicas ao tempo de Sólon, bem como
aos estrangeiros que recebessem esta qualidade por decisão da assembléia. Os demais
populares, inclusive mulheres, eram tolhidos de participar naquele regime político.

Por força do diminuto número de cidadãos somado ao pequeno território, a democracia


ateniense vivenciou a democracia em seu estágio mais avançado e intenso, visto que o
rumo dos problemas e anseios da sociedade era decidido diretamente pela vontade de seus
cidadãos, expressada pessoalmente e sem qualquer intermediação, em assembléia.

Muito embora este sistema de democracia tenha despertado a fascinação de inúmeros


filósofos, que o tacharam como único modelo realmente democrático, diversos fatores
acabaram por inviabilizar a sua manutenção e propagação às demais civilizações.

Os dois maiores obstáculos ao sistema direto foram a dimensão territorial dos Estados,
posto que “não é em toda parte que podem os cidadãos reunir-se para deliberar”, e o grande
número de cidadãos que integravam a sociedade, fatos que acabaram tornando inviável o
comparecimento e efetiva participação do todos eles na vida política “De qualquer forma, o
modelo grego é reminiscência da história dos sistemas políticos, não sendo praticado
modernamente, com exceção de alguns diminutos cantões suíços.”

b) DEMOCRACIA INDIRETA OU REPRESENTATIVA

A democracia indireta, também conhecida como democracia representativa, foi o sistema


criado como alternativa para contornar os problemas apontados na democracia direta, pois a
vastidão territorial dos Estados e o seu elevado número de cidadãos acabaram por
inviabilizar o sistema de participação direta da população.

Por estas e outras razões, o sistema adotado a partir do século XVIII foi o representativo,
onde os cidadãos se fazem presentes indiretamente na elaboração das normas e na
administração da coisa pública através de delegados eleitos para esta função.

O embrião do sistema representativo provém da evolução das instituições inglesas, eis que
com o crescente poderio da burguesia a monarquia começou a perder força e ser muito
contestada, especialmente por força da necessária e constante busca daqueles limitarem os
poderes do rei.

A partir de então, seleto grupo de burgueses, juntamente com os nobres, passaram a contar
com direito a voz antes da tomada de decisões, na tentativa de imporem seus interesses
frente ao poder real, fatos estes que acabaram por culminar a Revolução Gloriosa e o Bill of
Rights.

Este novo sistema passou a ganhar cada vez mais adeptos na Europa, obtendo maior
notoriedade com a Revolução Francesa e com a declaração de independência das 13
colônias Inglesas que formaram os Estados Unidos da América.

Obviamente, a democracia indireta não é um sistema pré-definido e imutável no que tange


a eleição dos representantes, visto os peculiares contornos e particularidades nos diferentes
Estados aonde foi adotada. No entanto, a ideia central foi sempre mantida, qual seja, a
representação da vontade popular por intermédio do mandato político.

Neste passo, foi arquitetado um meio pelo qual a vontade popular continuaria sendo a pedra
fundamental que justifica o poder estatal, contudo, esta vontade passaria a ser representada
por pessoas eleitas periodicamente, que passam a gozar das prerrogativas e
responsabilidades de exercitar as funções políticas, em nome da vontade geral.

Como bem assevera o Emérito Professor José Afonso da Silva, “na democracia
representativa a participação popular é indireta, periódica e formal, por via das instituições
eleitorais que visam a disciplinar as técnicas de escolha dos representantes do povo.”

Destarte, surge com imensa importância o tema do mandato político representativo, que
pode ser conceituado como uma “situação jurídico-política com base na qual alguém,
designado por via eleitoral, desempenha uma função política na democracia
representativa.”

Ficou evidente a necessidade de reavivar o espírito participativo do titular do poder nos


rumos políticos do Estado que tanto lhe afeta, motivo pelo qual foram idealizados alguns
instrumentos de ingerência direta do povo junto ao Estado do qual participa.

c) DEMOCRACIA SEMIDIRETA OU PARTICIPATIVA

Historicamente, o modelo participativo de democracia teve sua origem no século XIX, com
expansão e prática considerável na Suíça e nos Estados Unidos.

Criado como modelo alternativo ao criticado sistema representativo, a democracia


participativa nasceu com o intuito de aproximar e refletir, cada vez mais, a vontade popular
na tomada das decisões políticas do Estado.

Os instrumentos de democracia semidireta, portanto, são a tentativa de dar mais


materialidade ao sistema indireto. É tentar reaproximar o cidadão da decisão política, sem
intermediário.”19 Desta feita, a democracia semidireta reúne elementos do sistema direto,
tal como a prerrogativa de dar início ao procedimento legiferante ou referendar o seu
produto, e do sistema indireto, na medida em que não é descartada a necessidade de
representação política da vontade popular, por meio de eleições.

A Lei fundamental apostou num conceito complexo-normativo, traduzido numa relação


dialéctica (mas também integradora) dos dois elementos – representativo e participativo.
Para ser mais técnico, a democracia participativa tem como base o sistema indireto,
fundamentado na ideia de eleições para escolha dos representantes políticos, ao qual são
agregados elementos do sistema direto, notadamente a “iniciativa popular e pelo
referendum (ou seja, dando-se ao povo o poder de diretamente propor ou aprovar medidas
legislativas e até normas constitucionais).”21 Cumpre notar que desta maneira chega-se a
ideia de participação representativa, atribuindo maior grau de responsabilidade e
comprometimento dos cidadãos com o rumo político-jurídico do Estado que integram,
exigindo, por outro lado, maior conscientização e educação política da sociedade, visto que
além de elegeram seus representantes (colaborador político), os cidadãos também podem
participar direta e pessoalmente na formação dos atos legislativos (colaborador jurídico).

Portanto, como brilhantemente ensina Paulo Bonavides: “(...)com a democracia semidireta,


a alienação política da vontade popular fez-se apenas parcialmente. A soberania está com o
povo, e com o governo, mediante o qual essa soberania se comunica ou exerce, pertencente
por igual ao elemento popular nas matérias mais importantes da vida pública. Determinadas
instituições, como o referendum, a iniciativa, o veto e o direito de revogação, fazem efetiva
a intervenção do povo, garantem-lhe um poder de decisão de última instância, supremo,
definitivo, incontrastável.”

Por fim, vale pontuar que “a doutrina refere as iniciativas dos cidadãos como uma nova
dimensão da democracia dos cidadãos (Bürgerdemokratie). Estas iniciativas não têm de
estar juridicamente conformadas (ex. através de associações dotadas de organização e
formas jurídicas).”

d) Democracia popular

Designação pela qual ficaram conhecidos os regimes comunistas instalados a partir de 1948
nas repúblicas da Europa de Leste que foram libertadas pela URSS na Segunda Guerra
Mundial, sob a batuta de Moscovo e abaluartadas na presença do Exército Vermelho. Estão
na origem da Guerra Fria e foram também experimentadas em alguns países menos
desenvolvidos.

Depois da Segunda Guerra Mundial e da vitória soviética na Europa de Leste, assistiu-se à


formação de um conjunto de repúblicas na região - repúblicas da Europa Central e de Leste
- que adotaram, logo em 1945, o regime político comunista "imposto" por Estaline, através
da presença do Exército Vermelho. A sua implementação tornou-se irreversível e teve por
base ideológica a doutrina Jdanov.

Com base nessa doutrina política, cada uma dessas repúblicas adotou o regime de
"democracia popular", que tinha como principais características:

 partido único
 coletivização da terra
 planificação económica centralizada
 prioridade às indústrias de base
 perseguição e eliminação de qualquer dissidência

Começava a definição do modelo e da área de influência soviética na Europa de Leste, ao


mesmo tempo que esta, com a URSS, se prefigurava como um bloco político-militar
antagónico ao Ocidente, sob influência dos EUA. Era o princípio da Guerra Fria. O clique
da instalação das democracias populares deu-se em 1948, na chamada Revolta (ou Golpe)
de Praga, na antiga Checoslováquia (hoje República Checa). Gottwald, líder comunista
checoslovaco, ao serviço da URSS, com a bênção de Estaline, apelou a uma greve geral no
país, recebendo o apoio de "milícias de trabalhadores", que atuariam como forças de
bloqueio a qualquer resistência ou contra-golpe das forças democráticas checoslovacas.
Com forte apoio de Moscovo, em poucos dias a democracia checoslovaca transformou-se
numa "democracia popular" na órbita soviética. Apesar da reação do Ocidente, a
instauração das "democracias populares" no Leste da Europa foi rápida, em poucos meses.
Apenas a ex-Jugoslávia, então governada por Tito, um país que resistira com êxito aos
Nazis graças à guerrilha comunista (mas com pouco apoio da URSS), não alinhara com a
posição do Kremlin, assumindo uma independência face à URSS, principalmente na
política externa. A rutura com Moscovo foi um duro revés na instauração das "democracias
populares" a Leste, irritando Estaline, que endureceu as "purgas" políticas não apenas na
URSS como nas repúblicas satélites. Depois viria a "crise de Berlim" e a divisão da
Alemanha entre a influência do Ocidente e a de Moscovo, com a cidade de Berlim a ficar
dividida entre os dois blocos. Estaline impõe o "bloqueio de Berlim", mas acabaria
derrotado em 1949.
A Perestroika, iniciada por Gorbachov em 1985, marcaria a agonia das "democracias
populares" tuteladas pela URSS, todas já em grave crise económica e com problemas
sociais e políticos profundos, minados pela onda de simpatia e estímulo à ação
desencadeados pelo o sindicato polaco Solidariedade e o seu líder Lech Walesa, a par da
influência importante do papa João Paulo II (também ele oriundo da Polónia comunista).
As "democracias populares" permaneceram, ainda que decrépitas, até 1991 na Europa de
Leste, não sobrevivendo à "queda do muro de Berlim" e dos regimes comunistas. Mas
outras experiências de democracias populares vigorariam noutros pontos do mundo, sob
"exportação" e apoio dos soviéticos, desde o Vietname ao Iémen ou a algumas repúblicas
africanas, como Angola.

e) Democracia crista

Democracia Cristã é um pensamento, ideologia e movimento político que defende uma


democracia baseada nos ensinamentos e princípios cristãos, tais como a liberdade, a
subsidariedade, a solidariedade e a justiça. Ela é democrática na medida em que desde a sua
origem, aderiu aos ideais da democracia pluralista do tipo ocidental e é cristã porque
representa a defesa e aplicação dos princípios e valores cristãos na vida política nacional e
internacional. Tal como os outros grandes movimentos políticos, as prioridades e políticas
postos em prática pelos partidos democratas-cristãos podem variar consideravelmente em
diferentes países e em diferentes tempos.

A Democracia Cristã, surge no século XIX, radicando na Doutrina social da Igreja Católica
e com influências das confissões protestantes (particularmente Luteranas e Calvinistas), no
norte da Europa. Muitos partidos democratas-cristãos são constituídos por católicos e
protestantes que coexistem harmoniosamente em vários países. Os primeiros partidos
Democratas-Cristãos são fundados por influência católica na Alemanha, na Áustria, na
Bélgica e na Suíça. Posteriormente, surgem partidos em países historicamente protestantes,
como nos Países Baixos e Suécia.

Os partidos democratas cristãos agrupam-se na Internacional Democrata Cristã (IDC),


também chamada de Internacional Democrata Centrista (IDC), a segunda maior
organização política internacional, dividida em grupos regionais. Os partidos democratas-
cristãos da Europa agrupam-se no Partido Popular Europeu, o grupo regional europeu da
IDC e o maior grupo político no Parlamento Europeu. Os partidos democratas-cristãos da
América também agrupam-se na Organização Democrata Cristã da América, também um
grupo regional da IDC.

Democracia em Africa

4.0. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BOBBIO, Noberto. Teoria Geral da Política: A Filosofia Política e as Lições dos Clássicos.
Rio de Janeiro: Campus,2000.

BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. São Paulo: Brasiliense, 2007.

CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7ª ed.


Coimbra: Almedina, s/d.

FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. A Democracia Possível. 5ª ed. São Paulo: Saraiva,
1979.

BONAVIDES, Paulo. Ciência e política. 10ª ed., São Paulo: Malheiros, 2002.

SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 3ª ed., São Paulo:
Malheiros, 2007.

RIBEIRO, Renato Janine. A democracia. São Paulo: PUBLIFOLHA, 2001.a, b, c

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