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nEscola Militar Antônio Messias Gonçalves da Silva

Prof. Ms. Rosinai Amanajás Pena


Aluno (a)________________________________________________turma_______

A construção da cidadania no Brasil


No sistema democrático de Schumpeter, os únicos participantes plenos são
os membros de elites políticas em partidos e em instituições públicas. O papel
dos cidadãos ordinários é não apenas altamente limitado, mas frequentemente
retratado como uma intrusão indesejada no funcionamento tranquilo do
processo "público" de tomada de decisões. HELD, D. Modelos de democracia.

Introdução: O QUE É CIDADANIA?


A palavra cidadão vem do latim civitas. O conceito remonta à Antiguidade e na civilização
grega o termo adquiriu os significados de liberdade, igualdade e virtudes republicanas. Em A Política,
Aristóteles define o que é ser cidadão e quem poderia usufruir desse status. Ser cidadão, explica, significava
ser titular de um poder público e participar das decisões coletivas da pólis (cidade). Já com relação à
igualdade, o status de cidadão limitava-se a um pequeno grupo de homens livres, excluindo-se assim as
mulheres, os escravos e os estrangeiros. Apesar de altamente exclusiva, a cidadania clássica, segundo
Aristóteles, legou-nos uma dimensão política que atravessa todos os aspectos de vida na polis. Cidadão “[...]
é o homem que partilha os privilégios da cidade”, ou seja, é um indivíduo que participa ativamente das
decisões e da vida política da polis. Essa era a concepção de uma cidadania ativa, embora seu exercício
estivesse vinculado à condição de ser um homem (gênero masculino) livre.
Na modernidade, a ideia de cidadania adquiriu fundamentos filosóficos, especialmente os
elaborados pela escola teórica conhecida como contratualista. Foi a partir de tais teóricos que a ideia de um
contrato firmado pelos cidadãos com o Estado e a noção de direitos dos homens adquiriram relevância
explicativa na formação do Estado-Nação. Após a Revolução Francesa, a promulgação da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão trouxe dupla perspectiva, a de que os direitos são atribuídos aos homens e
cidadãos que vivem no seio de um Estado, e é esse Estado que deve garantir a fruição daqueles direitos.
Identificamos três gerações de virtudes adquiridas pelos indivíduos na modernidade: Na
primeira, no século XVIII, a cidadania era associada à liberdade individual, ou seja, ao direito de ir e vir, de
liberdade de consciência e expressão. Na segunda, no século XIX, agregava-se o exercício de participação
política, direito ao voto e de ser eleito. Na terceira, no século XX, associava-se às anteriores os direitos que
asseguram a possibilidade de condições adequadas de vida – moradia, trabalho, saúde e educação. Segundo
Bobbio, cada geração de direito expressa por Marshall corresponde a uma concepção de liberdade: “[...] os
direitos civis reservam ao indivíduo uma esfera de liberdade em relação ao estado; os direitos políticos lhe
garantem a liberdade no Estado; e os direitos sociais significam liberdade através ou por meio do Estado”.
Tal concepção aproxima-se dos princípios liberais de cidadania, que buscam preservar as liberdades
individuais do cidadão. Essa visão ainda permanece viva para muitos teóricos contemporâneos.
Por sua vez, Hannah Arendt afirma que ser cidadão implica ser membro de uma comunidade e
possuir o direito de ter direitos, sendo o primeiro o pertencimento a uma comunidade política; já o segundo
condiz ao conceito jurídico-legal e traz a noção de ação do indivíduo segundo as leis. Ser membro da
comunidade significa poder ter uma participação ativa nos espaços públicos. A compreensão da autora está
estritamente vinculada à ideia de pertencimento a um Estado-Nação.
De acordo com Bobbio“[...] a relação política por excelência é a relação entre governantes e
governados, entre quem tem o poder de obrigar, com as decisões, os membros do grupo e os que estão
submetidos a essa decisão”. O objeto da política clássica foi sempre o bom governo ou o mau governo. As
referências às atividades típicas de um governante são as de guia, cabendo-lhe conduzir à sua meta os
indivíduos que governa. O indivíduo, nesse caso, é essencialmente um objeto de poder do governante; mais
do que seus direitos, a política trata de seus deveres, dentre os quais é ressaltado como principal o de
obedecer às leis. Segundo Bobbio, o sujeito ativo desta relação não é, seguramente o indivíduo provido de
seus direitos naturais, mas o povo em sua totalidade.
O nascimento da cidadania moderna: As transformações no pensamento filosófico entre os
séculos XVII e XVIII tiveram influência decisiva na conquista dos direitos de cidadania. Muitos intelectuais
do período buscaram conhecer o mundo por meio da razão, e não apenas da crença religiosa. Além de
favorecer um desenvolvimento inédito das ciências, essa postura diante do conhecimento permitiu que
contestassem alguns dos pilares das desigualdades entre os homens e as instituições que perpetuavam essa
situação. Esses pensadores são associados ao Iluminismo e influenciaram movimentos políticos e
revoluções. Sua defesa da liberdade de pensamento, de expressão e de informação conflitava com o
absolutismo e a Igreja. Eram a favor da tolerância também no campo religioso, de modo que cada um
pudesse seguir sua fé. Essa inédita valorização do indivíduo foi a base para a conquista dos chamados
direitos civis a partir dos direitos naturais. O filósofo inglês John Locke propôs que todo homem tem
“direitos naturais”, independentes de qualquer autoridade constituída, que não poderiam ser limitados
juridicamente: os direitos à vida, à liberdade e à propriedade, vista como fruto do trabalho de um homem.
Liberdade e igualdade no liberalismo político: No século XVII, outro filósofo inglês, John
Locke, apresentou uma reflexão bem diferente da proposta por Hobbes. Para ele, o poder soberano deveria
permanecer nas mãos dos cidadãos, que são os melhores juízes dos próprios interesses. Caberia ao
governante retribuir a delegação de poderes ao assegurar os direitos naturais: à vida, à liberdade e à
propriedade privada. Assim, o contrato social teria como função garantir os direitos naturais a todos os
cidadãos. Esse pensamento constitui um dos fundamentos do liberalismo político. As ideias defendidas por
Locke têm relação direta com o processo de ascensão da burguesia inglesa ao poder político. Por conta disso,
em suas propostas há uma valorização dos elementos que representam a visão de mundo desse grupo social,
o que aproxima a política da economia.
O liberalismo político será a base sobre a qual se assentarão as concepções mais difundidas de
Estado democrático que se tornaram dominantes a partir dos séculos XVIII e XIX com a queda do Antigo
Regime e com as independências das colônias europeias. Na análise de John Locke, o princípio da maioria é
fundamental para o funcionamento das instituições políticas democráticas, assim como as leis, que devem
valer para todos. Segundo o filósofo, a elaboração das leis precisa estar a cargo de representantes escolhidos
pelo povo, que exerceriam o papel de legisladores para assegurar o interesse da maioria: o regime político
proposto por Locke é, portanto, uma democracia representativa.
O escritor e filósofo político suíço Jean-Jacques Rousseau preocupou-se com o problema da
legitimidade da ordem política. Para ele, a desigualdade que surgiu com a propriedade privada é a causa de
todos os sentimentos ruins do ser humano. No contrato social, é preciso definir a questão da igualdade e do
comprometimento de todos com o bem comum. Se a vontade do indivíduo é particular, a do cidadão, que
vive em sociedade e tem consciência disso, deve ser voltada para a coletividade. A participação política é,
portanto, ato de deliberação pública que organiza a vontade geral, ou seja, interpreta os elementos comuns a
todas as vontades individuais. Esse seria, portanto, o núcleo do conceito de soberania.
Em seu livro Do contrato social, uma das obras que marcaram o ideário da Revolução Francesa,
Rousseau afirmou que o povo só é soberano se o poder for diretamente exercido por ele, sem representação
política, uma vez que a vontade geral não poderia ser representada, mas, sim, exercida diretamente. Para
Rousseau, a vontade geral é a única forma legítima de autoridade e de ato político Contratualismo Thomas
Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau, os três pensadores citados como os pioneiros da teoria
democrática moderna, são considerados filósofos contratualistas. O contratualismo é uma escola de
pensamento por meio da qual foram concebidas diferentes teorias sobre a natureza humana e o surgimento
da sociedade civil. Para os contratualistas, os seres humanos viviam em um estado em que apenas seus
instintos e suas qualidades intrínsecas serviam de mediadores para as ações. Entendendo o Estado civil como
uma entidade fabricada, esses pensadores buscavam compreender como e em quais circunstâncias foram
criadas as leis e as regras institucionais que regulam nossas vidas.
Foi com os pensadores iluministas que a ideia de dignidade e justiça universais se afirmou. Para
o filósofo francês Montesquieu, “uma injustiça feita ao indivíduo é uma ameaça para toda a sociedade”.
Segundo o filósofo alemão Immanuel Kant, cada um tem o dever moral de respeitar a liberdade própria e a
do outro, como pessoas dotadas do uso da razão. O Estado foi visto, em especial entre os iluministas, como
uma instituição que poderia ser usada para garantir direitos. O filósofo iluminista francês Voltaire
considerava que o Estado não deveria existir para servir ao rei, mas para permitir a “felicidade pública”.
Ele defendia as liberdades civis e de escolha da religião. Montesquieu fez um amplo estudo das
leis da época para discutir sua adequação a cada governo e defender a Constituição como maneira de impedir
o abuso de poder, devendo valer para todos. Para evitar a concentração de autoridade na mão de poucos,
propôs a divisão do poder político em três instâncias: Executivo, Legislativo e Judiciário. Postura mais
radical teve o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712- -1778), para quem o homem era
essencialmente bom, mas teve ambições individuais despertadas pelo surgimento da propriedade e da
economia mercantil, que originaram as desigualdades entre as pessoas. Para ele, a soberania sobre o Estado
deveria ser do povo, a fim de pôr fim às desigualdades
Atividade 1 - debata acerca do tema cidadania moderna, contextualizando-a. Aponte as
características principais do estado democrático moderno e do contratualismo como uma conquista do povo
como possibilidade de maior participação nas decisões politicas e de que maneira esse modelo pode
favorecer a inclusão social. Mínimo 30 linhas. No caderno.
Atividade 2 - procure informações sobre os modelos de democracia existentes, caracterizando-
os. Entre 20 e 30 linhas. No caderno.

Os limites da cidadania no Brasil: Nos anos 1990, pensava-se que o fato de termos reconquistado
o direito de eleger nossos prefeitos, governadores e presidente da República seria garantia de liberdade, de
participação, de segurança, de desenvolvimento, de emprego, de justiça social. De liberdade, ele foi. A
manifestação do pensamento é livre, a ação política e sindical é livre. De participação também. O direito do
voto nunca foi tão difundido. Mas as coisas não caminharam tão bem em outras áreas. Pelo contrário. Já 15
anos passados desde o fim da ditadura, problemas centrais de nossa sociedade, como a violência urbana, o
desemprego, o analfabetismo, a má qualidade da educação, a oferta inadequada dos serviços de saúde e
saneamento, e as grandes desigualdades sociais e econômicas ou continuam sem solução, ou se agravam, ou,
quando melhoram, é em ritmo muito lento.
Em consequência, os próprios mecanismos e agentes do sistema democrático, como as eleições, os
partidos, o Congresso, os políticos, se desgastam e perdem a confiança dos cidadãos. Não há indícios de que
a descrença dos cidadãos tenha gerado saudosismo em relação ao governo militar, do qual a nova geração
nem mesmo se recorda. Nem há indicação de perigo imediato para o sistema democrático. No entanto, a falta
de perspectiva de melhoras importantes a curto prazo, inclusive por motivos que têm a ver com a crescente
dependência do país em relação à ordem econômica internacional, é fator inquietante, não apenas pelo
sofrimento humano que representa de imediato como, a médio prazo, pela possível tentação que pode gerar
de soluções que signifiquem retrocesso em conquistas já feitas.
É importante, então, refletir sobre o problema da cidadania, sobre seu significado, sua evolução
histórica e suas perspectivas. Será exercício adequado para o momento da passagem dos 500 anos da
conquista dessas terras pelos portugueses. Início a discussão dizendo que o fenômeno da cidadania é
complexo e historicamente definido. A breve introdução acima já indica sua complexidade. O exercício de
certos direitos, como a liberdade de pensamento e o voto, não gera automaticamente o gozo de outros, como
a segurança e o emprego. O exercício do voto não garante a existência de governos atentos aos problemas
básicos da população. Dito de outra maneira: a liberdade e a participação não levam automaticamente, ou
rapidamente, à resolução de problemas sociais. Isto quer dizer que a cidadania inclui várias dimensões e que
algumas podem estar presentes sem as outras.
Uma cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal
desenvolvido no Ocidente e talvez inatingível. Mas ele tem servido de parâmetro para o julgamento da
qualidade da cidadania em cada país e em cada momento histórico. Tornou-se costume desdobrar a
cidadania em direitos civis, políticos e sociais. O cidadão pleno seria aquele que fosse titular dos três
direitos. Cidadãos incompletos seriam os que possuíssem apenas alguns dos direitos. Os que não se
beneficiassem de nenhum dos direitos seriam não-cidadãos.
Esclareço os conceitos. Direitos civis são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à
propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de
manifestar o pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de
não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis, de não ser condenado sem
processo legal regular. São direitos cuja garantia se baseia na existência de uma justiça independente,
eficiente e acessível a todos. São eles que garantem as relações civilizadas entre as pessoas e a própria
existência da sociedade civil surgida com o desenvolvimento do capitalismo.
É possível haver direitos civis sem direitos políticos. Estes se referem à participação do cidadão no
governo da sociedade. Seu exercício é limitado a parcela da população e consiste na capacidade de fazer
demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado. Em geral, quando se fala de direitos
políticos, é do direito do voto que se está falando. Se pode haver direitos civis sem direitos políticos, o
contrário não é viável. Sem os direitos civis, sobretudo a liberdade de opinião e organização, os direitos
políticos, sobretudo o voto, podem existir formalmente mas ficam esvaziados de conteúdo e servem antes
para justificar governos do que para representar cidadãos. Os direitos políticos têm como instituição
principal os partidos e um parlamento livre e representativo. São eles que conferem legitimidade à
organização política da sociedade.
Atividade 3 - produção textual: elabore um texto discutindo o conceito de cidadania e sua
aplicabilidade no Brasil contemporâneo. Mostre os limites e possibilidades de exercício da cidadania plena,
bem como as diferenças entre direitos básicos garantidos pela constituição e a efetividade dessa cidadania no
nosso país. Mínimo 30 linhas.
Atividade 4 - pesquisa: procure informações sobre direitos políticos, sistema eleitoral e direito ao
voto no Brasil de acordo com a constituição de 1824.
Atividade 5 – produção textual: elabore um texto argumentativo apresentando uma proposta de
intervenção sobre como se exercer efetivamente a cidadania no Brasil. Entre 20 e 30 linhas.

Havia cidadania na colônia brasileira?


Primeiro, temos que reconhecer as consequências do extermínio dos povos indígenas, que contavam
com cerca de 4 milhões de pessoas quando da chegada dos portugueses ao Brasil, passando a 800 mil à
época da Independência. Esses sobreviventes ou foram “empurrados” para o interior do país ou sofreram
com o processo de miscigenação forçada, em razão da natureza comercial e masculina da colonização
portuguesa, o que também foi uma constante para as mulheres negras escravizadas. A escravidão, por sua
vez, é destacada por José Murilo de Carvalho como o fator mais negativo para o desenvolvimento da
cidadania brasileira. Os escravos, que representavam 1/5 da população brasileira, estavam totalmente
excluídos dos direitos civis. A escravidão no Brasil foi estrutural, uma vez que até os próprios libertos
compravam negros escravizados. Ou seja, “a sociedade colonial era escravista de alto a baixo”
O terceiro fator destacado pelo autor foi o descaso pela educação. Na época colonial, apenas
algumas escolas existiam e eram gerenciadas pela igreja para o ensino de nobres e seus dependentes. Não
havia escola pública visando a produção de conhecimentos e desenvolvimento do espirito crítico para a
sociedade colonial. Estima-se que menos de 16% da população era alfabetizada na época da independência.
No que se refere ao ensino superior, esse só foi autorizado no Brasil após a chegada da família real (1808),
enquanto nas colônias espanholas, por exemplo, já havia pelo menos 23 universidades, tendo formado 150
mil pessoas entre 1772 e 1872.
Algo diferente ocorreu nas colônias inglesas na américa do norte, onde o modelo de colonização de
povoamento acabou proporcionando maior participação social nas decisões locais sem a influência direta da
metrópole. Dessa forma, mesmo antes da formação politica do estado norte americano, já havia centenas de
escolas para educar crianças e formar cidadãos conscientes. Ainda no século XVIII, foram fundadas as
primeiras universidades em território americano, centros de produção de conhecimentos. Por fim, a ausência
de cidadania no Brasil também se fazia presente nas classes mais abastadas, pois não se podia dizer que os
“senhores” fossem cidadãos, uma vez que assumiam parte das funções do Estado, utilizando-as para proveito
pessoal, gerando a conhecida confusão entre o público e o privado, desde a formação do Estado Brasileiro.
A situação da cidadania na Colônia pode ser resumida nas palavras atribuídas por Frei Vicente do
Salvador a um bispo de Tucumán de passagem pelo Brasil. Segundo Frei Vicente, em sua História do Brasil,
1500-1627, teria dito o bispo: "Verdadeiramente que nesta terra andam as coisas trocadas, porque toda ela
não é república, sendo-o cada casa". Não havia república no Brasil, isto é, não havia sociedade política; não
havia "repúblicos", isto é, não havia cidadãos. Os direitos civis beneficiavam a poucos, os direitos políticos a
pouquíssimos, dos direitos sociais ainda não se falava, pois a assistência social estava a cargo da Igreja e de
particulares que se manifestavam grande parte nas irmandades religiosas de assistencialismo aos famintos e
enfermos. Isso ocorria pois na ausência de politicas públicas, essas instituições funcionavam como amparo
aos desesperados.
As Práticas medicinais, o curandeirismo e ciência na conjugação de saberes empíricos - a
colonização enfrentou muitos desafios, um deles foi o tratamento de doenças num ambiente rural, sem
médicos, a única alternativa era apelar para os saberes trazidos por padres com experiência de cura. Porem,
sem remédios, não foram raras as vezes em que curandeiros indígenas foram chamados para produzir
soluções de raízes e ervas medicinais. As práticas indígenas, com base no empirismo e práticas
experimentais, faziam os índios verem na floresta uma grande farmácia. O resultado dessa interação foi a
produção de saberes híbridos entre ciência e conhecimentos tradicionais indígenas que garantiu a cura de
milhares de pessoas durante a colonização.
“De um lado, ancorados pela prática médica europeia, por outro, pela terapêutica indígena,
com seu amplo uso da flora nativa, os jesuítas foram os reais iniciadores do exercício de uma medicina
híbrida que se tornou marca do Brasil colonial. Alguns religiosos vinham de Portugal já versados nas artes
de curar, mas a maioria aprendeu na prática diária as funções que deveriam ser atribuídas a um físico,
cirurgião, barbeiro ou boticário”. GURGEL, C. Doenças e curas: o Brasil nos primeiros séculos.
Havia um sistema de vigilância constante, quando possível, pelas tropas do rei. Foram raras, em
consequência, as manifestações cívicas durante a Colônia. Excetuadas as revoltas escravas, das quais a mais
importante foi a de Palmares, esmagada por particulares a soldo do governo, quase todas as outras foram
conflitos entre setores dominantes ou reações de brasileiros contra o domínio colonial. No século XVIII
houve quatro revoltas políticas. Três delas foram lideradas por elementos da elite e constituíam protestos
contra a política metropolitana, a favor da independência de partes da colônia. Duas se passaram
sintomaticamente na região das minas, onde havia condições mais favoráveis à rebelião. A mais politizada
foi a Inconfidência Mineira (1789), que se inspirou no ideário iluminista do século XVIII e no exemplo da
independência das colônias da América do Norte. Mas seus líderes se restringiam aos setores dominantes -
militares, fazendeiros, padres, poetas e magistrados -, e ela não chegou às vias de fato.
Mais popular foi a Revolta dos Alfaiates, de 1798, na Bahia, a única envolvendo militares de baixa
patente, artesãos e escravos. já sob a influência das idéias da Revolução Francesa, sua natureza foi mais
social e racial que política. O alvo principal dos rebeldes, quase todos negros e mulatos, era a escravidão e o
domínio dos brancos. Distinguia-se das revoltas de escravos anteriores por se localizar em cidade importante
e não buscar a fuga para quilombos distantes. Foi reprimida com rigor. A última e mais séria revolta do
período colonial aconteceu em Pernambuco, em 1817. Os rebeldes de Pernambuco eram militares de alta
patente, comerciantes, senhores de engenho e, sobretudo, padres. Calcula-se em 45 o número de padres
envolvidos. Sob forte influência maçônica, os rebeldes proclamaram uma república independente que
incluía, além de Pernambuco, as capitanias da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
Controlaram o governo durante dois meses. Alguns dos líderes, inclusive padres, foram fuzilados.
Na revolta de 1817 apareceram com mais clareza alguns traços de uma nascente consciência de direitos
sociais e políticos. A república era vista como o governo dos povos livres, em oposição ao absolutismo
monárquico. Mas as idéias de igualdade não iam muito longe. A escravidão não foi tocada. Em 1817, houve,
sobretudo, manifestação do espírito de resistência dos pernambucanos. Sintomaticamente, falava-se em
"patriotas" e não em "cidadãos". E o patriotismo era pernambucano mais que brasileiro. A identidade
pernambucana fora gerada durante a prolongada luta contra os holandeses, no século XVII. Como vimos,
guerras são poderosos fatores de criação de identidade. Chegou-se ao fim do período colonial com a grande
maioria da população excluída dos direitos civis e sem a existência de um sentido de nacionalidade.
Atividade 6 - produção textual: elabore um texto dissertativo/argumentativo sobre as condições
históricas no Brasil colonial e mostre como isso levou aos limites da nossa cidadania. Mínimo 30 linhas.
Atividade 7 - pesquisa: procure informações sobre a pratica da violência simbólica dos
portugueses sobre os indígenas e africanos e a pratica de epistermicídio que eliminou muitos saberes
tradicionais. Entre 20 e 30 linhas.

Estado brasileiro imperial, eleições e controle do poder pelas elites:


A maior parte dos cidadãos do novo país não tinha tido prática do exercício do voto durante a
Colônia. Certamente, não tinha também noção do que fosse um governo representativo, do que significava o
ato de escolher alguém como seu representante político. Apenas pequena parte da população urbana teria
noção aproximada da natureza e do funcionamento das novas instituições. Até mesmo o patriotismo tinha
alcance restrito. Para muitos, ele não ia além do ódio ao português, não era o sentimento de pertencer a uma
pátria comum e soberana. Mas votar, muitos votavam. Eram convocados às eleições pelos patrões, pelas
autoridades do governo, pelos juízes de paz, pelos delegados de polícia, pelos párocos, pelos comandantes da
Guarda Nacional. A luta política era intensa e violenta.
O que estava em jogo não era o exercício de um direito de cidadão, mas o domínio político local. O
chefe político não podia perder as eleições. A derrota significava desprestígio e perda de controle de cargos
públicos, como os de delegados de polícia, de juiz municipal, de coletor de rendas, de postos na Guarda
Nacional. Tratava, então, de mobilizar o maior número possível de dependentes para vencer as eleições. As
eleições eram frequentemente tumultuadas e violentas. Às vezes eram espetáculos tragicômicos. O governo
tentava sempre reformar a legislação para evitar a violência e a fraude, mas sem muito êxito. No período
inicial, a formação das mesas eleitorais dependia da aclamação popular. Aparentemente, um procedimento
muito democrático. Mas a consequência era que a votação primária acabava por ser decidida literalmente no
grito. Quem gritava mais formava as mesas, e as mesas faziam as eleições de acordo com os interesses de
uma facção.
Segundo um observador da época, Francisco Belisário Soares de Sousa, a turbulência, o alarido, a
violência, a pancadaria decidiam o conflito. E imagine-se que tudo isto acontecia dentro das Igrejas! Por
precaução, as imagens eram retiradas para não servirem de projéteis. Surgiram vários especialistas em burlar
as eleições. O principal era o cabalista. A ele cabia garantir a inclusão do maior número possível de
partidários de seu chefe na lista de votantes. Um ponto importante para a inclusão ou exclusão era a renda.
Mas a lei não dizia como devia ser ela demonstrada. Cabia ao cabalista fornecer a prova, que em geral era o
testemunho de alguém pago para jurar que o votante tinha renda legal.
O cabalista devia ainda garantir o voto dos alistados. Na hora de votar, os alistados tinham que
provar sua identidade. Aí entrava outro personagem importante: o "fósforo". Se o alistado não podia
comparecer por qualquer razão, inclusive por ter morrido, comparecia o fósforo, isto é, uma pessoa que se
fazia passar pelo verdadeiro votante. Bem-falante, tendo ensaiado seu papel, o fósforo tentava convencer a
mesa eleitoral de que era o votante legítimo. O bom fósforo votava várias vezes em locais diferentes,
representando diversos votantes. Havia situações verdadeiramente cômicas. Podia acontecer aparecerem dois
fósforos para representar o mesmo votante. Vencia o mais hábil ou o que contasse com claque mais forte.
O máximo da ironia dava-se quando um fósforo disputava o direito de votar com o verdadeiro
votante. Grande façanha era ganhar tal disputa. Se conseguia, seu pagamento era dobrado. Outra figura
importante era o capanga eleitoral. Os capangas cuidavam da parte mais truculenta do processo. Eram
pessoas violentas a soldo dos chefes locais. Cabia-lhes proteger os partidários e, sobretudo, ameaçar e
amedrontar os adversários, se possível evitando que comparecessem à eleição. Não raro entravam em choque
com capangas adversários, provocando os "rolos" eleitorais de que está cheia a história do período.
Nos dias de eleição, bandos armados saíam pelas ruas amedrontando os incautos cidadãos. Pode-se
compreender que, nessas circunstâncias, muitos votantes não ousassem comparecer, com receio de sofrer
humilhações. Votar era perigoso. Mas não acabavam aí as malandragens eleitorais. Em caso de não haver
comparecimento de votantes, a eleição se fazia assim mesmo. A ata era redigida como se tudo tivesse
acontecido normalmente. Eram as chamadas eleições feitas "a bico de pena", isto é, apenas com a caneta.
Em geral, eram as que davam a aparência de maior regularidade, pois constava na ata que tudo se passara
sem violência e absolutamente de acordo com as leis.
Nestas circunstâncias, o voto tinha um sentido completamente diverso daquele imaginado pelos
legisladores. Não se tratava do exercício do autogoverno, do direito de participar na vida política do país.
Tratava-se de uma ação estritamente relacionada com as lutas locais. O votante não agia como parte de uma
sociedade política, de um partido político, mas como dependente de um chefe local, ao qual obedecia com
maior ou menor fidelidade. O voto era um ato de obediência forçada ou, na melhor das hipóteses, um ato de
lealdade e de gratidão. À medida que o votante se dava conta da importância do voto para os chefes
políticos, ele começava a barganhar mais, a vendê-lo mais caro. Nas cidades, onde a dependência social do
votante era menor, o preço do voto subia mais rápido. Os chefes não podiam confiar apenas na obediência e
lealdade, tinham que pagar pelo voto. O pagamento podia ser feito de várias formas, em dinheiro, roupa...
A crescente independência do votante exigia também do chefe político precauções adicionais para
não ser enganado. Por meio dos cabalistas, mantinha seus votantes reunidos e vigiados em barracões, ou
currais, onde lhes dava farta comida e bebida, até a hora de votar. O cabalista só deixava o votante após ter
este lançado seu voto. Os votantes aprendiam também a negociar o voto com mais de um chefe. Alguns
conseguiam vendê-lo a mais de um cabalista, vangloriando-se do feito. O voto neste caso não era mais
expressão de obediência e lealdade, era mercadoria a ser vendida pelo melhor preço. A eleição era a
oportunidade para ganhar um dinheiro fácil, uma roupa, um chapéu novo, um par de sapatos. No mínimo,
uma boa refeição.
Tratava-se, sobretudo, de reduzir o eleitorado à sua parte mais educada, mais rica e, portanto, mais
independente. Junto com a eliminação dos dois turnos, propunham-se o aumento da exigência de renda e a
proibição do voto do analfabeto. Havia ainda uma razão material para combater o voto ampliado. Os
proprietários rurais queixavam-se do custo crescente das eleições. A vitória era importante para manter seu
prestígio e o apoio do governo. Para ganhar, precisavam manter um grande número de dependentes para os
quais não tinham ocupação econômica, cuja única finalidade era votar na época de eleições. Além disso,
como vimos, o votante ficava cada vez mais esperto e exigia pagamentos cada vez maiores.
A Guarda Nacional, criada em 1831, era sobretudo um mecanismo de cooptar os proprietários
rurais, mas servia também para transmitir aos guardas algum sentido de disciplina e de exercício de
autoridade legal. Estavam sujeitas ao serviço da Guarda quase as mesmas pessoas que eram obrigadas a
votar. Experiência totalmente negativa era o serviço militar no Exército e na Marinha. O caráter violento do
recrutamento, o serviço prolongado, a vida dura do quartel, de que fazia parte o castigo físico, tornavam o
serviço militar - em outros países, símbolo do dever cívico - um tormento de que todos procuravam fugir. A
forma mais intensa de envolvimento, no entanto, foi a que se deu durante a guerra contra o Paraguai.
As guerras são fatores importantes na criação de identidades nacionais. A do Paraguai teve sem
dúvida este efeito. Para muitos brasileiros, a idéia de pátria não tinha materialidade, mesmo após a
independência. Vimos que existiam no máximo identidades regionais. A guerra veio alterar a situação. De
repente havia um estrangeiro inimigo que, por oposição, gerava o sentimento de identidade brasileira. São
abundantes as indicações do surgimento dessa nova identidade, mesmo que ainda em esboço. Podem-se
mencionar a apresentação de milhares de voluntários no início da guerra, a valorização do hino e da
bandeira, as canções e poesias populares. Caso marcante foi o de Jovita Feitosa, mulher que se vestiu de
homem para ir à guerra a fim de vingar as mulheres brasileiras injuriadas pelos paraguaios. Foi exaltada
como a Joana d'Arc nacional. Lutaram no Paraguai cerca de 135 mil brasileiros, muitos deles negros,
inclusive libertos.
Atividade 8 - produção textual: elabore um texto sobre as eleições durante o período pós
independência, mostrando como as elites controlavam o poder e excluíam o povo da plena cidadania.
Mínimo 30 linhas
Atividade 9 – pesquisa: procure informações sobre o surgimento do estado brasileiro que ocorreu
antes mesmo da nação, mostre como as elites aristocráticas tiveram o cuidado de organizar o estado e suas
leis para assegurar o status quo dominante e mostre as limitações da nossa identidade nacional e as
dificuldades dos brasileiros exercerem a civilidade.

O longo e difícil processo de construção da cidadania no Brasil: A origem do conceito


“cidadania” remete ao contexto histórico-cultural e político dos gregos, por volta do século IV a.C. Embora a
cidadania fosse limitada a uma parcela social minoritária, pode-se afirmar que tanto a democracia quanto a
cidadania grega não deixam de ser conquistas inéditas e avanços significativos para a humanidade. A
evolução e a real consolidação da cidadania, no entanto, dá-se na Modernidade. Junto com a cidadania
moderna nascem os direitos naturais (vida, propriedade, liberdade) do homem liberal burguês, garantidos
pelas consecutivas “Declarações de Direitos” elaboradas a partir das revoluções liberais na Inglaterra,
Estados Unidos e pela revolução francesa.
No Brasil, a construção da cidadania acompanha momentos difíceis. A conquista lusitana, o
latifúndio, a monocultura de exportação, o analfabetismo durante a colônia e a escravidão são “pesos
negativos do passado” que ainda determinam a vida social, econômica e política do Brasil. Durante a
colonização havia total inoperância de instituições assistencialistas para a população, próximo daquilo que
Milton Santos chamava de cidadania mutilada. A Independência e a República, considerando a quase
nulidade da participação de grande parte do povo nesse processo, merece destaque nesse processo de
invisibilidade do povo diante da politica. Além disso, alguns vícios foram herança dos colonizadores: o
patrimonialismo, o coronelismo, paternalismo e clientelismo, que merecem destaque como entraves do
processo de construção das conquistas sociais ao longo do tempo.
Brasil colonial - ausência de direitos e de poder público: Inicialmente é preciso ressaltar que, no
Brasil, a construção da cidadania não seguiu a lógica da trajetória inglesa. Após a Independência e a
República, a participação incipiente pois esses dois movimentos ocorreram sem a real participação da
maioria da população. Pelo contrário, a elite portuguesa, aliada à elite nacional, tomou as decisões políticas
necessárias para a manutenção dos seus próprios interesses. O individuo habitante da colônia não era
amparado pelas leis que tinham validade para a população da metrópole.
Um Estado sem nação: Acredita-se que a construção da cidadania esteja ligada essencialmente à
construção de uma nação e de um Estado. Isto é, tem a ver com a formação de uma identidade entre as
pessoas (tradição, religião, língua, costumes), com a constituição de uma nacionalidade ou, sob o aspecto
jurídico, na formação de um Estado. Assim, o sentimento de pertencer a uma nação é um indicativo
importante para tal construção. Sentir-se parte de uma nação e de um Estado é condição fundamental para a
construção da cidadania: “Isto quer dizer que a construção da cidadania tem a ver com a relação das
pessoas com o Estado e com a nação. As pessoas se tornavam cidadãs à medida que passavam a se
sentir parte de uma nação e de um Estado” (José Murilo de Carvalho).
No Brasil, como veremos, o Estado precedeu a formação da nação. A estruturação do Estado deu-
se exclusivamente pela vontade da elite portuguesa, que aceitou e negociou com a Inglaterra e com a elite
brasileira a “independência” do país: “Graças à intermediação da Inglaterra, Portugal aceitou a
independência do Brasil mediante o pagamento de uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas”. A
relação de dependência da colônia com Portugal não permitiu formar uma identidade própria, nem edificar
uma nação propriamente dita. A primeira manifestação de nossa nacionalidade ocorreu, segundo Carvalho,
apenas em 1865, na Guerra do Paraguai.
A luta contra o inimigo externo, a formação de uma liderança política (chefe inspirador), o culto ao
símbolo nacional (a bandeira) e a união dos voluntários de todo o Brasil possibilitaram o advento de um
sentimento comum: o orgulho e a criação da primeira idéia de identidade nacional: “não vejo consciência
nacional no Brasil antes da Guerra do Paraguai”. Os principais fatos políticos do Brasil ocorreram para
atender a interesses individuais, ou de pequenos grupos hegemônicos. Assim foi na Independência, como
aborda Costa: “as coisas vão simplesmente acontecendo: no jogo das circunstâncias e das vontades
individuais, no entrechoque de interesses pessoais, de paixões mesquinhas e de sonhos de liberdade, faz-se a
independência do país”. Cabe lembrar que a notícia da emancipação política do Brasil só chegou a lugares
mais distantes após três meses do fato ocorrido.
Em sua obra A construção da ordem, José Murilo de Carvalho trata, igualmente, entre outras
questões, do processo de colonização, do Brasil Imperial e da elite política. O autor apresenta, logo na
introdução, a diferença entre a evolução das colônias espanhola e portuguesa na América. Em sua
concepção, a diferença básica é que os territórios espanhóis fragmentaram-se politicamente, tornando-se
Estados independentes, ao passo que os portugueses concentraram-se. Enquanto os espanhóis passaram por
períodos anárquicos (instabilidade e rebeliões), os portugueses não recorreram a essas formas violentas.
O domínio político português sobre a colônia foi intenso, com os capitães-gerais sendo nomeados
diretamente pela Coroa e a ela prestando contas. Desse modo, o Brasil herdou, na construção de seu Estado,
a burocratização do Estado moderno, conforme fora descrito por Max Weber: “A ordem legal, a burocracia,
a jurisdição compulsória sobre um território e a monopolização do uso legítimo da força são características
essenciais do Estado moderno”. O Estado moderno utilizou quatro mecanismos: a burocratização, o
monopólio da força, a criação de legitimidade e a homogeneização da população dos súditos (Weber).
No período colonial, assim como na República Velha (1889-1930), a grande maioria da população
ficou excluída dos direitos civis e políticos, com um reduzido sentimento de nacionalidade. Isso não
significa que não houve resistência por parte de alguns grupos oposicionistas (abolicionistas, separatistas,
monarquistas, anti-republicanos, luta pela terra...). Foram muitas as formas de luta, no entanto todos os
movimentos acabaram duramente reprimidos e aniquilados pelo poder central: a Balaiada no Maranhão e a
Cabanagem no Pará (a mais violenta, que vitimou 30 mil pessoas), a Farroupilha no Rio Grande do Sul, além
de Canudos na Bahia, o Contestado em Santa Catarina e a Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro, são alguns
exemplos de revoltas localizadas.
No Brasil, os liberais da independência, identificando a causa nacional à causa liberal, associam
a liberdade à independência nacional e ao governo constitucional. Do ponto de vista da participação
política, mantêm-se atados a um liberalismo de representação limitada e restritiva, que os faz adotar um
liberalismo essencialmente conservador. Receava-se o populacho. Desde 1821, já estavam organizadas
as brigadas populares, compostas por pessoas livres: pretos, mulatos, militares de baixa patente e brancos
pobres. Essas brigadas não poucas vezes se insurgiram contra a aristocracia rural.
Hannah Arendt nos faz ver a permanência da íntima conexão entre propriedade e liberdade que
prevalece, ainda, nos séculos XVII, XVIII e mesmo no XIX. Até aí, as funções das leis, afirma, não são
prioritariamente garantir direitos, mas sim proteger a propriedade; era a propriedade, e não a lei
propriamente dita, que assegurava a liberdade. E conclui, é apenas onde surgem pessoas que são livres,
sem que possuam propriedade, que as leis se tornam necessárias para proteger diretamente os indivíduos
e sua liberdade individual. A decomposição da ordem senhorial-escravocrata que se institui ao longo do
processo de abolição gradual tem implicações profundas na visão das elites sobre a população livre,
entendida aqui como aquela parte da população que consegue preencher os requisitos mínimos para se
classificar como eleitores. Para as elites, essa "massa de votantes" não passa de uma súcia de
ignorantes e dependentes.
Dessa perspectiva, o espectro dos ex-libertos votando torna-se para elas um presságio de caos
social. Pela lei eleitoral de 1881, a Monarquia estreita as exigências sobre a qualificação da propriedade e
exige dos eleitores a obrigatoriedade de saber ler e escrever. Essas exigências, além de excluir
grande parte dos eleitores qualificados, tornam praticamente impossível a incorporação de libertos à
cidadania. Por essa nova lei, o eleitorado é reduzido de 10% para 1 % da população. Em todo o Brasil,
pouco mais de 150 mil eleitores conseguem qualificar-se pela nova lei, contra o mais de um milhão de
eleitores registrados em 1870.
Atividade de produção textual nº 10 – elabore um texto argumentativo sobre o difícil processo de
implantação da cidadania no Brasil. Discuta o conceito de cidadania no seu texto e aponte os desafios e
dificuldades enfrentados pelos brasileiros. Mínimo 30 linhas. No caderno
Atividade 11: analise o sentido da frase e relacione-a com o pleno exercício da cidadania no Brasil
logo após a formação do estado nacional. “essas pessoas subsistem da venda de seu trabalho e, assim,
não contando com uma base de propriedade, não são independentes o bastante para o exercício dos
direitos políticos, não se qualificando, portanto, para serem cidadãos”. Entre 20 e 30 linhas.

Uma República sem povo Assim como a emancipação política, a Proclamação da República
brasileira apresentou características sui generis ao ser instituída, haja vista o seu caráter golpista e elitista. O
povo, por sua vez, não só não participou como foi tomado de surpresa com a proclamação do novo regime.
A frase de Aristides Lobo é bastante elucidativa, neste sentido: “O povo assistiu àquilo bestializado,
atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma
parada militar” (Lobo). Sobre o caráter golpista da Proclamação da República, assim também se expressa
Murilo de Carvalho: “Além disso, o ato da proclamação em si foi feito de surpresa e comandado pelos
militares que tinham entrado em contato com os conspiradores civis poucos dias antes da data marcada para
o início do movimento”. A participação política da população durante os períodos imperial e republicano foi
insignificante.
De 1822 até 1881 votavam apenas 13% da população livre. Em 1881 privou-se o analfabeto de
votar. De 1881 até 1930 – fim da Primeira República –, os votantes não passavam de 5,6% da população.
Foram 50 anos de governo, imperial e republicano, sem povo. Assim, até o final da República Velha (1930),
a participação política popular foi restrita. Não havia propriamente um povo politicamente organizado, nem
mesmo um sentimento nacional consolidado. Os grandes acontecimentos na arena política eram
protagonizados pela elite, cabendo ao povo o papel de mero coadjuvante, assistindo a tudo sem entender
muito bem o que se passava.
A constituição de 1891: não trouxe ampliação da cidadania. Apenas homens maiores de 18 anos,
na aparência era justa, liberal e equilibrada, já que excluía o voto censitário, marcou o fim do autoritarismo
do imperador e garantiu algumas liberdades individuais. Mas na pratica era excludente e favoreceu aos
cafeicultores: estabeleceu a autonomia dos estados através do federalismo, sustentou o coronelismo e
mulheres, mendigos e analfabetos não votavam;
Mesmo durante a Era Vargas a situação de apatia do povo nas eleições irá continuar. Vejamos: “Há
outras razões fortes para promover a participação da população em eleições. Grande parte dela,
particularmente os mais pobres, esteve sempre alijada do processo eleitoral no Brasil, não somente nos
períodos ditatoriais, mas também nos democráticos. Na eleição de 1933, por exemplo, apenas 3,3% da
população do país votaram. Em 1945, com a volta da democracia, foram parcos 13,4%. Em 1962, só 20%
dos brasileiros foram às urnas”. O baixo índice de participação popular em eleições nos períodos
mencionados ocorria em função da Interdição das pessoas analfabetas que passou a ser uma realidade por
quase um século depois da proclamação da republica.
O federalismo é a grande inovação da Constituição de 1891; mais até que o individualismo. Isso
porque a inspiração liberal do individualismo político e econômico, ascendente nas primeiras décadas
do século XIX e no auge ao final do século, já deixara sua marca na nossa primeira Constituição, a de
1824. Nesse aspecto, a Constituição dos Estados Unidos funcionará menos como uma inovação e mais
como reforço para justificar e consolidar o individualismo que se reafirma na primeira Constituição da
República. O federalismo, implantado em substituição ao centralismo do Império, dá aos estados uma
grande soma de poder, que se distribui entre o estado e os municípios. Sobre esse princípio edifica-se
a força política dos coronéis no nível municipal e das oligarquias nos níveis estadual e federal
O federalismo, tal como proposto na Constituição de 1891, deixa aos estados, recém-criados, uma
margem de autonomia significativa. Pela Constituição, eles detêm a propriedade das minas e das
terras devolutas situadas em seus respectivos territórios e podem realizar entre si ajustes e convenções,
sem caráter político (art. 62). Podem legislar, também, sobre qualquer assunto que não lhes for negado,
expressa ou implicitamente, pelos princípios constitucionais da União (art. 63 - Cada Estado reger-
se-á pela Constituição e pelas leis que adotar, respeitados os princípios constitucionais da
União). Esse dispositivo permite aos estados, por exemplo, cobrar impostos interestaduais, decretar
impostos de exportação, contrair empréstimos no exterior, elaborar sistema eleitoral e judiciário próprios,
organizar força militar, etc.
Os vícios das instituições e da cultura política brasileira: Outro aspecto da vida política
brasileira que marcou não apenas o período colonial e republicano, mas, de certa forma, nossa história
política atual, está ligado aos “males” ou “vícios”, como o patrimonialismo, o coronelismo, o clientelismo, o
populismo e o personalismo das nossas instituições e lideranças políticas. Esses vícios dificultaram a
execução da cidadania plena pois criou entraves a inserção de grupos no exercício do poder em diversas
instancias. Por exemplo, segundo Da Matta, o populismo está vivo, não apenas no Brasil, mas em toda a
América Latina. As lideranças políticas carregam consigo, além do personalismo, uma boa dose do elemento
messiânico. Vive-se ainda esperando que algum “herói sagrado”, ou um “salvador da pátria” apareça.
“O Estado português delegou poderes da metrópole, preferiram manter a vinculação patrimonial a
rebelar-se [...]. O patrimonialismo também não sofreu contestação no momento da independência, graças à
natureza do processo de transição”. Da mesma forma, para Raymundo Faoro, o patrimonialismo é um dos
principais eixos da cultura política brasileira. Com a instituição do capitalismo, surgiu um Estado de
natureza patrimonial, cuja estrutura estamental gerou uma elite dissociada da nação: o patronato político
brasileiro, que atua levando em conta os interesses particulares do estamento burocrático ou dos “donos do
poder”. O sistema patrimonial coloca os empregados em uma rede patriarcal na qual eles representam a
extensão da casa do soberano. Para Raimundo Faoro, esta estrutura política e social tem permanecido na
política brasileira desde o Estado Novo.
O clientelismo não foi uma prática recorrente apenas do Brasil Colonial. Encontramos tal vício em
diferentes momentos do cenário político, evidenciado, inclusive nas últimas eleições gerais. Esse fenômeno é
mais amplo e atravessa toda a história política do país. É um tipo de relação que envolve a concessão de
benefícios públicos entre atores políticos. O clientelismo aumentou com o fim do coronelismo, quando a
relação passa a ser diretamente entre políticos e setores da população, sem a intermediação do coronel, que
perdeu sua capacidade de controlar os votos da população. Na vigência do coronelismo o controle do cargo
público era visto como importante instrumento de dominação e não como simples empreguismo. O emprego
público irá adquirir importância como fonte de renda nas relações clientelistas.
A questão do coronelismo, outra característica da política brasileira, foi analisada por Victor Nunes
Leal na obra Coronelismo, enxada e voto, publicada em 1948. Na concepção de Leal, o coronelismo é visto
como um sistema político, uma complexa rede de relações que vai desde o coronel até o presidente da
República, envolvendo compromissos recíprocos. Tal ocorria na estrutura de poder montada pelos paulistas
na politica dos governadores. Leal se expressa da seguinte forma: o que procurei examinar foi, sobretudo, o
sistema. O coronel entrou na análise por ser parte do sistema, mas o que mais me preocupava era o sistema, a
estrutura e as maneiras pelas quais as relações de poder se desenvolviam na República, a partir do município.
O autor tratou da relação entre o poder local e o poder nacional, na qual o coronelismo estava
inserido. Em seu entendimento, o coronelismo surge dentro de um contexto histórico específico, incrustado
na conjuntura política e econômica do Brasil no período da República Velha (1889- 1930). No âmbito
político cria-se o federalismo, instituído em substituição ao centralismo imperial. A partir do federalismo
originou-se um novo ator político com amplos poderes, o presidente de Estado. No âmbito econômico,
segundo Leal, vivia-se a decadência dos fazendeiros, que também é comentada por Carvalho: esta
decadência acarretava enfraquecimento do poder político dos coronéis em face de seus dependentes e rivais.
A manutenção desse poder passava, então, a exigir a presença do Estado, que expandia sua influência na
proporção em que diminuía a dos donos de terra.
Leal seguiu a definição de Basílio de Magalhães para explicar a origem do conceito de coronelismo
no Brasil: O tratamento de um “coronel” começou desde logo a ser dado pelos sertanejos a todo e qualquer
chefe político, a todo e qualquer potentado, até hoje recebem popularmente o tratamento de “coronéis” os
que têm em mãos o bastão de comando da política edilícia ou os chefes de partidos de maior influência na
comuna, isto é, os mandões dos corrilhos de campanário. Leal acredita que o mandonismo, o filhotismo, o
falseamento do voto e a desorganização dos serviços públicos locais sejam características próprias do
coronelismo. Junto ao coronel está ligado o voto de cabresto e a capangagem.
Os trabalhadores rurais, desprovidos de qualquer estrutura que lhes possibilitasse mudança de vida,
eram dependentes do coronel: “completamente analfabeto, ou quase, sem assistência médica, não lendo
jornais, nem revistas, nas quais se limita a ver as figuras, o trabalhador rural, a não ser em casos esporádicos,
tem o patrão na conta de benfeitor. E é dele, na verdade, que recebe os únicos favores que sua obscura
existência conhece”. A troca de favores era a essência do compromisso coronelista, que consistia em apoiar
os candidatos do oficialismo nas eleições estaduais e federais: “enquanto que, da parte da situação estadual,
vinha carta branca ao chefe local governista (de preferência o líder da facção local majoritária) em todos os
assuntos relativos ao município, inclusive na nomeação de funcionários estaduais do lugar”.
A ação dos senhores das terras enfraquecem a participação popular na cidadania politica: É grande
o poder do estado e o dos municípios. Nestes dominam de forma absoluta os coronéis, assim designados
por associação com o mais alto posto da Guarda Nacional, instituição já decadente a partir da década
de 1870. São eles grandes proprietários de terras que assumem a chefia da política municipal.
Com variantes, a doutrina do municipalismo, baseada no princípio "o município está para o estado
assim como o estado está para a União", impõe-se na maioria dos estado. Segundo Guimaraes, os
municípios são a questão central na organização de uma estrutura federativa, pois sem "municípios bem
organizados não pode haver federação". A autonomia dos municípios, porém, ficou prejudicada pela livre
interpretação do que seria "peculiar interesse dos municípios". No âmbito municipal verifica-se o
surgimento de um poder privado local, redefinido em função do federalismo; tal como instituído
ordenamento político republicano, trata-se do coronelismo.
Fenômeno novo na política brasileira, o coronelismo não se confunde com as práticas
históricas - mandonismo local e lutas de famílias - de exercício do poder privado no Brasil. Essas
são práticas tradicionais, melhor dizendo, atemporais, que atravessam a história do Brasil colônia e
monárquico. O coronelismo demarca uma mudança significativa na tradicional dominação do poder
privado. Muito embora seja também uma forma de exercício de poder privado, ele não é uma prática. O
coronelismo tem as suas especificidades, constitui um sistema político e é um fenômeno temporal. O
coronel, segundo Carone, o "fenômeno do coronelismo tem suas leis próprias e funciona na base da
coerção da força e da lei oral, bem como de favores e obrigações. Esta interdependência é
fundamental: o coronel é aquele que protege, socorre, homizia e sustenta materialmente os seus
agregados; por sua vez, exige deles a vida, a obediência e a fidelidade.
É por isso que coronelismo significa força política e força militar." Palmério retrata a ação
política de um coronel. João Santos estava com a razão: política só se ganha com muito dinheiro. A
começar com o alistamento, que é trabalhoso e caro: tem-se que ir atrás de eleitor por eleitor, convencê-los
a se alistarem e ensinar tudo, até a copiar o requerimento. Cabo de enxada engrossa as mãos - o laço de
couro cru, machado e foice também. Caneta e lápis são ferramentas muito delicadas. A lida é outra: labuta
pesada, de sol a sol, nos campos e nos currais [...]. Ler o quê? Escrever o quê? Mas agora é preciso: a
eleição vem aí e o alistamento rende a estima do patrão, a gente vira pessoa. Essa ascendência do
coronel resulta, segundo Leal "da sua qualidade de proprietário rural", pois a massa humana que vive
no mais "lamentável estado de pobreza, ignorância e abandono" retira a sua subsistência de suas
terras, sendo portanto dependente dele.
Diante dessa massa, o coronel é rico. Inaugurado com a República, o coronelismo
sobrevive sem percalços até a Revolução de 1930, quando o centralismo de Vargas impõe-se, pela
nomeação de homens de sua confiança para interventores nos estados. A esses, por sua vez, cabe a
nomeação dos responsáveis pelas prefeituras de cada município. O coronelismo sofrerá mais um
duro golpe com a ultracentralização imposta por Getúlio Vargas, o Estado Novo, em 1937. No entanto
o fenômeno irá se reatualizar e sobreviverá em alguns rincões do país. Os estudos sobre coronelismo
têm sua matriz na obra clássica de Victor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto, publicada no
final da década de 1940.
Para Leal, o coronelismo é um fenômeno que só pode ser entendido a partir da marca
histórica do antigo e exorbitante poder privado; da estrutura agrária latifundiária que fornece a base de
sustentação para as diferentes formas de manifestação do poder privado; da superposição de formas
de sistema representativo a uma estrutura econômica e social, basicamente rural, que permite o
controle de uma vasta população em posição de dependência direta do latifúndio; e de um sistema
de compromissos, uma troca de proveitos, entre um poder público fortalecido e um poder privado já em fase
de enfraquecimento. O poder do coronel se impõe, quase sempre, por meio de confronto com
poderosos rivais. Vencida a luta, ele assume a chefia da política municipal, o que, entretanto, muitas
vezes, não é inconteste.
O mais comum é a existência, quase permanente, de um clima de tensão representada por
outro potentado local à espera de uma oportunidade para desalojá-lo da liderança municipal. Ocupada a
liderança no seu município, o coronel, de quem todos dependem, tem sua base de poder local
estruturada a partir de alianças com alguns outros coronéis, geralmente líderes nos distritos
municipais, com as pessoas importantes das localidades - médicos, advogados, funcionários públicos,
comerciantes e padres, entre outros -, além de uma guarda pessoal, formada por capangas e
jagunços. Quando há necessidade, ele organiza milícias privadas temporárias, mobilizadas em situações
de confronto armado com lideranças rivais e mesmo contra governantes de seus estados. Parte do sistema,
capangas, jagunços e cangaceiros desempenham um papel importante nas lutas políticas municipais. O
coronel exerce uma ampla jurisdição sobre seus dependentes: serve como árbitro em desavenças em
sua área de influência; reúne nas mãos funções policiais, impondo-se muitas vezes pela pura ascendência
social, ou com auxílio de capangas e jagunços e manipula a polícia e a justiça.
Atividade de produção textual nº 12 – elabore um texto argumentativo sobre os vícios presentes
na politica durante a constituição do estado nacional, mostre como esses vícios dificultaram a ampliação da
cidadania no Brasil. Mínimo 30 linhas. No caderno

Imaginário republicano: no decorrer dos debates sobre o ideário republicano, surgiram vários
grupos de intelectuais defendendo uma concepção. A maioria delas estava atrelada a ideia do estado
oligárquico, ou seja, monopolizado por grupos sociais com controle sobre as instituições políticas e avessas
aos interesses de construção de uma democracia efetiva. Com isso, o positivismo e o federalismo foram as
duas matrizes mais influentes nesse momento, cuja base de pensamento acaba reduzindo a participação
popular nos assuntos do estado. A cidadania, no brasil, então, já nasce limitada pela ação dessas ideológias
burguesas. A despeito da concepção da cultura política no Brasil, Carvalho, em “A Formação das
Almas: o imaginário da República no Brasil”, considera, diante dos apontamentos históricos, três
linhas de ideias que se fizeram presentes no pensamento intelectual e que culminaram numa singela
disputa para a implantação de uma República no Brasil, foram elas: o liberalismo à americana, o
jacobinismo à Revolução Francesa e o Positivismo.
Na possibilidade de cada pensamento, pelo menos três deles, arguiamos atores, numa “batalha pela
criação do imaginário popular”, com divergências e tendências ideológicas, consideravam o indivíduo
autônomo, capaz de superar o próprio Estado, articulando-se nas questões econômicas e sociais
(Liberalismo), a democracia direta idealizada na democracia clássica (Jacobinismo), e a ideia da
reorganização da sociedade baseada num contínuo progresso (Positivismo).
O autor destaca uma questão bastante peculiar experimentada pelo país nesse contexto e
aponta para uma descoberta interessante desses grupos, descoberta que mais a frente orientaria o mais forte a
se impor no cenário político. O discurso republicano, como pensado e idealizado por uma elite, deveria
atender a um discurso acessível, que alcançasse aqueles (classe) que não pertenciam ao círculo dos
privilégiossociais,demodoclaro,umpúblicoquenãotinhaeducaçãoformal. Logo, este discurso só poderia se
realizar mediante “sinais universais”, símbolos, bandeira e mito. Esse ensaio dos grupos resume, o que
podemos dizer, a necessidade de legitimação política, “uma batalha em torno da imagem do novo regime,
cuja finalidade era atingir o imaginário popular dentro dos valores republicanos”.
Contudo, apenas uma corrente venceu a batalha, pois duas delas não cabiam, nem mesmo se
encaixavam, dentro do cenário histórico e social brasileiro, e é a partir dessa compreensão que
faremos um estudo rápido dos porquês. À princípio, a maior influência ocidental foi a dos franceses,
porém o jacobinismo não venceu, não ganhou muita força, nem mesmo tantos adeptos, a explicação está
na permanência de um Brasil autoritário e que sempre concentrou o poder nas mãos dos senhores,
eliminando, de certo modo, a participação popular. Então, foi a filosofia positiva que restou como linha
de atuação do pensamento político, e a resposta para tal apontamento é simples. Dentre suas
concepções, três aspectos primordiais se encaixavam nos “desejos” da elite política do Brasil: I)
condenação à monarquia; II) separação entre Igreja e Estado; III) a ideia de uma sociedade em
progresso. “Progresso e ditadura, o progresso pela ditadura, pela ação do Estado, e isum ideal de
despotismo ilustrado que tinha longas raízes na tradição luso-brasileira desde os tempos pombalinos do
século XVIII.”.
E o liberalismo à americana? O autor ressalta que este “não estava interessado em promover uma
república popular” e partilhava de ações e repreensões que caracterizavam o darwinismo social. É possível,
então, saber como as coisas se encaminharam nas propostas do Novo Regime e, talvez, nem mesmo pela
maior força de um ou menor força de outro, mas a própria estrutura histórica do país já predestinava o
seu rumo de pensamento político para a implantação da República.
O estudo das ideias desse autor desvendam algumas questões bem curiosas, como a de que “a
aceitação ou rejeição dos símbolos propostos poderá revelar as raízes republicanas preexistentes no
imaginário popular”, e isso só ajuda a confirmar ainda mais o que foi antes dito. Outro dado curioso foi o
fato de certa contradição imperar na adoção da República positiva, pois a filosofia renegava a participação
militar no governo, ou um governo militar. Entretanto, como no Brasil os que possuíam "formação" política
eram os militares, foi necessário um rearranjo, uma adaptação das ideias positivas, pois a elite civil era de
formação literária. Existem algumas considerações que ainda nos confundem, como o fato do “país” rejeitar
a monarquia e, ao mesmo tempo, manter características culturais bem notáveis de uma sociedade
extremamente conservadora e autoritária. É necessário considerar que o positivismo se encaixou no
pensamento político brasileiro porque propôs a “reorganização da sociedade” e entendia que só haveria um
caminho natural na história da Humanidade, “O Progresso”.
Atividade de produção textual 13 - elabore um texto sobre o imaginário de republica no Brasil,
destacando as características de cada grupo social e suas ideias. Mostre os limites impostos pelo estado a
implementação de uma republica verdadeiramente popular no Brasil. Entre 20 e 30 linhas.

A classe trabalhadora e a luta pela cidadania


A formação da classe trabalhadora no brasil: Em 1888, a escravidão foi abolida no Brasil. Esse
acontecimento foi importante para a construção do sentido de nacionalidade e para a formação da classe
trabalhadora brasileira. Afinal, como construir a ideia de comunidade nacional e valorizar o trabalho com a
existência de pessoas escravizadas? No ano seguinte, em 1889, o Brasil tornou-se uma República, o que
estabeleceu a premissa de que todos são iguais perante a lei, o princípio básico da noção de cidadania. O
trabalho passou a ser exercido por homens e mulheres livres e que viviam de um salário. No entanto, esses
trabalhadores tiveram que lutar muito para que seu valor fosse reconhecido na sociedade e para conquistar
seus direitos sociais e trabalhistas.
Da fazenda para a fábrica: Uma das mais importantes referências para conhecer a formação da
classe trabalhadora brasileira – livre e assalariada – são as fazendas de café no estado de São Paulo. Calcula-
se que entre 1884 e 1940 entraram no Brasil cerca de 1 milhão e 400 mil italianos, 1 milhão e 200 mil
portugueses, 580 mil espanhóis, 185 mil japoneses, entre outras nacionalidades. Esses imigrantes vieram
iludidos com a promessa de receber terras e com a possibilidade de enriquecer e retornar ao seu país de
origem. A produção de café para exportação exigiu a construção de ferrovias, estradas e portos. Nas cidades
surgiram bancos, casas de câmbio e de exportação. O complexo cafeeiro estimulou a urbanização do país e o
surgimento de diversas indústrias de bens de consumo não duráveis (tecidos, por exemplo), que exigiam
pouca tecnologia e capital, mas muitos operários. Muitos cafeicultores enriquecidos passaram a investir em
indústrias nas cidades. Pode-se afirmar, assim, que a indústria no Brasil teve origem com capitais
acumulados na produção e na exportação do café.
Ser trabalhador na primeira república (1889-1930) Não havia, na época, nenhuma legislação
social ou trabalhista. A Constituição de 1891 não fazia referência aos direitos sociais; até mesmo com
relação à educação primária o texto constitucional era omisso. Os trabalhadores nacionais e alfabetizados
tinham direitos políticos, como o de votar. No entanto, com as constantes fraudes eleitorais, esses direitos
não significavam nada. As garantias constitucionais dos direitos civis destinavam-se, formalmente, a todos,
mas, na realidade, valiam apenas para as pessoas abastadas.
O liberalismo vigente no país não admitia a regulamentação do Estado nas relações de trabalho e os
contratos eram realizados nas fábricas, com os patrões impondo as regras. As jornadas de trabalho eram
longas e extenuantes. Nos primeiros anos do século XX, o dia de trabalho nas fábricas do Rio de Janeiro
poderia chegar a 14 horas e, em São Paulo, a 16 horas. Além disso, mulheres e crianças eram obrigadas a
trabalhar para complementar a renda familiar. Neste contexto, também encontra-se a luta dos ex-
escravizados. Apesar de livres, tiveram muitas dificuldades para que sua condição fosse reconhecida pela
sociedade. Não havia políticas públicas estatais para apoiá-los socialmente. Além disso, pelo fato de o país
ter vivido por aproximadamente quatro séculos em regime de escravidão, criou-se uma ideia negativa de
trabalho, considerado atividade de escravizados e, portanto, algo que desqualificava os indivíduos. Lutar
contra essa mentalidade foi uma tarefa que os trabalhadores tiveram de enfrentar, para que fossem
valorizados pela sociedade, com a criação de uma identidade positiva para eles.
LEIS ADOLFO GORDO: Nome com que ficaram conhecidas a primeira Lei de Expulsão de
Estrangeiros (1907, modificada em 1913), a segunda Lei de Expulsão de Estrangeiros (1919), a Lei de
Acidentes no Trabalho (1919) e a Lei de Imprensa (1923). Adolfo Afonso da Silva Gordo, republicano
histórico paulista, constituinte de 1891, exerceu numerosos mandatos como deputado e senador federal,
representando o estado de São Paulo.
LEI DE EXPULSÃO DE ESTRANGEIROS - Apercebendo-se que o final da escravidão se
aproximava, os cafeicultores paulistas buscaram na imigração de estrangeiros a solução para o suprimento de
mão de obra para suas lavouras. Os fluxos migratórios foram incentivados, e o governo do estado de São
Paulo criou um serviço de imigração para atrair e organizar a alocação dessa mão de obra. Dirigiam-se os
imigrantes para o meio rural, embora muitos se radicassem nas cidades, constituindo a maior parte da mão
de obra das indústrias que se implantavam. Atritos por vezes ocorriam entre imigrantes e seus empregadores,
em desavenças que muitas vezes ultrapassavam os limites do trabalho e questionavam a própria sociedade.
Alguns imigrantes trouxeram seus ideais anarquistas e socialistas e por eles lutaram. Essas atividades
reivindicativas suscitaram uma resposta das classes dominantes, levando à proposição de uma lei que
permitisse a expulsão dos “indesejáveis”. Um projeto dispondo sobre a expulsão de estrangeiros de parte ou
de todo o território nacional foi apresentado em 1894 (Projeto nº 109-B), tendo sido aprovado pela Câmara
dos Deputados, mas não pelo Senado. O mesmo ocorreu com o projeto nº 317-A, apresentado em 1902. Em
1906 a questão voltou a ser discutida, e desta feita o projeto foi 2 aprovado. Sancionado pelo presidente da
República, tornou-se conhecido como Lei Adolfo Gordo:
Os direitos sociais Com direitos civis e políticos tão precários, seria difícil falar de direitos sociais.
A assistência social estava quase exclusivamente nas mãos de associações particulares. Ainda sobreviviam
muitas irmandades religiosas oriundas da época colonial que ofereciam a seus membros apoio para
tratamento de saúde, auxílio funerário, empréstimos, e mesmo pensões para viúvas e filhos. Havia também
as sociedades de auxílio mútuo, que eram versão leiga das irmandades e antecessoras dos modernos
sindicatos. Sua principal função era dar assistência social aos membros. Irmandades e associações
funcionavam em base contratual, isto é, os benefícios eram proporcionais às contribuições dos membros.
Mencionem-se, ainda, as santas casas da misericórdia, instituições privadas de caridade voltadas
para o atendimento aos pobres. O governo pouco cogitava de legislação trabalhista e de proteção ao
trabalhador. Houve mesmo retrocesso na legislação: a Constituição Republicana de 1891 retirou do Estado a
obrigação de fornecer educação primária, constante da Constituição de 1824. Predominava então um
liberalismo ortodoxo, já superado em outros países. Não cabia ao Estado promover a assistência social. A
Constituição Republicana proibia ao governo federal interferir na regulamentação do trabalho. Tal
interferência era considerada violação da liberdade do exercício profissional. Como consequência, não houve
medidas do governo federal na área trabalhista, exceto para a capital. Logo no início da República, em 1891,
foi regulado o trabalho de menores na capital federal. A lei não teve muito efeito.
Em 1927 voltou-se ao assunto com a aprovação de um Código dos Menores, também sem maiores
consequências. A medida mais importante foi na área sindical, quando os sindicatos, tanto rurais quanto
urbanos, foram reconhecidos como legítimos representantes dos operários. Surpreendentemente, o
reconhecimento dos sindicatos rurais precedeu o dos sindicatos urbanos (1903 e 1907, respectivamente). O
fato se explica pela presença de trabalhadores estrangeiros na cafeicultura. As representações diplomáticas
de seus países de origem estavam sempre atentas ao tratamento que lhes era dado pelos fazendeiros e
protestavam contra os arbítrios cometidos.
Só em 1926, quando a Constituição sofreu sua primeira reforma, é que o governo federal foi
autorizado a legislar sobre o trabalho. Mas, fora o Código dos Menores, nada foi feito até 1930. Durante a
Primeira República, a presença do governo nas relações entre patrões e empregados se dava por meio da
ingerência da polícia. Eram os chefes de polícia que interferiam em casos de conflito, e sua atuação não era
exatamente equilibrada. Ficou famosa a afirmação de um candidato à presidência da República de que a
questão social- nome genérico com que se designava o problema operário - era questão de polícia. Outra
indicação dessa mentalidade foram as leis de expulsão de operários estrangeiros acusados de anarquismo e
agitação política.
Em 1919, uma lei estabeleceu a responsabilidade dos patrões pelos acidentes de trabalho. Era um
passo ainda tímido, pois os pedidos de indenização deviam tramitar na justiça comum, sem interferência do
governo. Em 1923, foi criado um Conselho Nacional do Trabalho que, no entanto, permaneceu inativo. Em
1926, uma lei regulou o direito de férias, mas foi outra medida "para inglês ver". O que houve de mais
importante foi a criação de uma Caixa de Aposentadoria e Pensão para os ferroviários, em 1923. Foi a
primeira lei eficaz de assistência social.
Atividade 14 - produção textual: elabore um texto argumentativo discutindo os limites para se
atingir a execução de polticas efetivas de cidadania e direitos sociais no Brasil. Entre 20 e 30 linhas.
Atividade 15 - pesquisa: procure informações sobre a chegada de imigrantes no Brasil e as
principais ideologias por eles trazidos e como essas ideias contribuíram para formar os primeiros grupos de
lutas por direitos civis e trabalhistas na republica velha. Entre 20 e 30 linhas.

O negro na Primeira República Com a abolição da escravidão, os negros recém-libertos não


desapareceram totalmente do mercado de trabalho para dar lugar a trabalhadores imigrantes europeus. O
historiador Álvaro Nascimento afirma que eles trabalhavam nas fábricas com os imigrantes e operários
brasileiros brancos. Diversos estudos demonstram que os negros eram empregados em portos carregando
sacas de café, como marinheiros ou pescadores. Também abriam estradas de ferro, montavam companhias
de teatro, gravavam sambas e lundus e jogavam futebol. Como trabalhadores na luta por seus direitos,
fundaram sindicatos e realizaram greves. Muitos deles tornaram-se engenheiros, médicos, advogados e
trabalharam na imprensa.
Alguns historiadores também têm se dedicado ao estudo da participação da população negra na luta
por seus direitos durante a Primeira República. Ainda antes da instauração do regime republicano, existiam
organizações negras em diversas cidades do país. O historiador Petrônio Domingues cita várias delas no Rio
de Janeiro. Uma das mais antigas foi fundada em junho de 1889, o Club Republicano dos Homens de Cor,
cujo objetivo era realizar propaganda das ideias republicanas na luta contra a Monarquia. A existência de
clubes, grêmios, caixas, associações e confederações demonstra que os líderes negros lutavam por seus
direitos e por igualdade. Na avaliação de Petrônio Domingues:
Em comum, esses distintos agrupamentos construíram projetos por meio dos quais as pessoas se
sentiam parte de um mesmo grupo e se identificavam mutuamente, […], enfrentaram contradições em
diferentes circunstâncias históricas, sem contudo deixarem de proclamar os interesses sociopolíticos e
direitos civis dos “homens de cor” na esfera pública. […] Floresceu no Rio de Janeiro um associativismo
negro com bases raciais em vários aspectos semelhante ao paulista no decorrer da Primeira República […].
Retóricas de igualdade racial foram articuladas no bojo de ações coletivas de auxílio mútuo, de plataformas
no campo de direitos e cidadania, de negociações em prol de demandas sociais, políticas e culturais, de
intervenções nas estruturas formais de poder, em suma, no âmbito de sonhos e expectativas de inclusão
social, reconhecimento e plena participação na vida nacional. Além dos ranchos, dos jongos, das maltas, das
irmandades, das macumbas, os negros cariocas desenvolveram, se não encamparam, outras modalidades de
agenciamento e sociabilidade. DOMINGUES, Petrônio.
Primeiras leis sociais Ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os países vencedores
elaboraram o Tratado de Versalhes. Uma de suas cláusulas foi a criação da Organização Internacional do
Trabalho (OIT) e a promulgação de leis sociais. A legislação trabalhista era algo que não poderia mais ser
adiado diante das lutas dos trabalhadores. O objetivo era igualar os custos de produção industrial de todos os
países com a implementação das leis sociais. Em 1925 foi instituída no Brasil a Lei de Férias; em 1927 foi
aprovado o Código de Menores, limitando a jornada de trabalho dos menores de 14 anos a seis horas diárias.
Nenhuma dessas leis foi efetivada.
O empresariado recusou-se a adotá-las, e o governo não dispunha de instrumentos para obrigá-los a
cumpri-las, já que não havia justiça do trabalho. Pode-se dizer que a primeira lei social no país foi a que
instituiu a Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários, em 1923. Tratava-se de um sistema de
aposentadoria por tempo de serviço, idade ou invalidez. Também garantia assistência médica e pensão para
as viúvas. Vale ressaltar, contudo, que a lei era especificamente para a categoria dos ferroviários. Também
naquele ano foi instituído o Conselho Nacional do Trabalho. Em 1922, alguns militantes abandonaram o
anarquismo e fundaram o Partido Comunista do Brasil (PCB). Influenciados pela Revolução Soviética,
ocorrida na Rússia em 1917, os dirigentes comunistas planejavam realizar uma revolução similar no Brasil,
seguida do fim do capitalismo e da implantação do regime comunista.
A identidade do trabalhador Durante a Primeira República, ao longo de quatro décadas, os
trabalhadores brasileiros participaram de partidos políticos, sindicatos, associações mutualistas, organizações
anarquistas, entre outras associações. Participaram também de greves e manifestações públicas, lutas que
buscavam melhores condições de vida e de trabalho. Ingressaram em grupos culturais, publicando poemas,
contos e encenando peças teatrais. Publicaram jornais. Exigiram que o trabalho fosse considerado importante
pela sociedade e que o trabalhador fosse reconhecido e valorizado. Essas atividades permitiram superar as
rivalidades que se observavam desde o início da República, as quais antagonizavam trabalhadores nacionais
e estrangeiros, brancos e negros, católicos e protestantes. Ao final da Primeira República, havia no Brasil
uma classe trabalhadora que construiu identidade própria e valorizava o trabalho.
Cidadania no brasil: direitos do trabalho Desde os anos 1920, o sistema político da Primeira
República sofria críticas de intelectuais, artistas, militares, sindicalistas, políticos reformistas e oligarquias de
diversos estados, que se sentiam prejudicadas pelos privilégios recebidos por fazendeiros de café de São
Paulo. Após articulações políticas e militares, a vitória do movimento da chamada Revolução de 1930 pôs
fim à experiência da Primeira República e teve início uma nova fase no país. Getúlio Vargas assumiu o
poder como chefe do Governo Provisório. Sua gestão recebeu apoio de um grupo formado por políticos e
militares reformistas – chamados de “tenentes” – que defendia a implementação de mudanças profundas no
país, entre elas alterações na legislação eleitoral e na educação, a diversificação da economia (para evitar a
dependência da exportação do café) e a promulgação de legislação social aos trabalhadores.
Legislação social Os trabalhadores tornaram-se interlocutores do Governo Provisório. Muito
rapidamente, leis sociais foram promulgadas pelo governo, as quais respondiam às reivindicações dos
trabalhadores durante as décadas de 1910 e 1920. Em pouco tempo, entre 1931 e 1934, praticamente toda a
legislação social que conhecemos foi promulgada: limitação da jornada de trabalho de homens e mulheres,
restrição ao trabalho infantil, férias remuneradas, descanso semanal remunerado, salário-família e sistema de
previdência social com pensões e aposentadorias, além de seguro-maternidade, seguros contra invalidez,
doença, morte e acidentes de trabalho. Apenas o salário mínimo veio posteriormente, em 1938. Também foi
instituída a carteira de trabalho.
No dia 1o de maio de 1943, o governo sistematizou o conjunto de leis sociais na Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT). O impacto da legislação social sobre os trabalhadores foi grande. Contudo, não
bastava promulgar as leis. Era necessário que os empresários as cumprissem, e a maioria deles se recusava a
obedecer à legislação trabalhista, justificando que elas encareciam os custos da produção. Foi nesse sentido
que o Governo Provisório instituiu as Juntas de Conciliação e Julgamento, que resultaram, em 1939, na
Justiça do Trabalho, um tribunal para assegurar o cumprimento das leis sociais. Embora com limitações, foi
nesse momento que os trabalhadores brasileiros tiveram acesso a direitos e ao reconhecimento social.
A lei de sindicalização Em março de 1931, o governo decretou a Lei de Sindicalização. Ficou
estabelecido o modelo de sindicato único de base territorial. Isso significava que em cada município poderia
haver um único sindicato por categoria profissional, que se tornaria o único legal na cidade a obter o registro
no Ministério do Trabalho. Ao ser reconhecido oficialmente, esse sindicato teria o monopólio da
representação da categoria profissional. Qualquer outro sindicato que quisesse representar a mesma categoria
no município seria considerado ilegal. Tal reconhecimento trazia, contudo, perda em autonomia e liberdade.
O sindicato ficava proibido de fazer propaganda política, ideológica ou religiosa. Além disso, funcionários
do Ministério do Trabalho tinham o direito de fiscalizar as atividades da diretoria da associação. Por fim, o
governo adotou o modelo corporativista para os sindicatos. Isso significava que os trabalhadores deveriam se
organizar e lutar pelos direitos de sua categoria profissional, ou seja, era proibida a união de categorias
diferentes.
Educação e saúde o reconhecimento dos direitos dos trabalhadores incluía investimentos em
educação e saúde públicas. O governo instituiu o sistema público de Educação Básica, e foi adotado o
projeto da escola pública, gratuita e laica. Também foram desenvolvidas campanhas para a erradicação do
analfabetismo. Na área da saúde pública, o Ministério da Educação e Saúde investiu recursos na saúde da
criança e da gestante. Também criou o sistema público nacional de saúde com programas de combate a
doenças e construiu hospitais. Equipes médicas eram deslocadas para o interior do país para prestar
atendimento à população local.
Atividade 16 - produção textual: elabore um texto argumentativo sobre a sociedade brasileira na
republica velha, suas dificuldades de acesso aos serviços fundamentais. Evidencie as condições do negro
após a abolição, bem como da nascente classe operária. entre 20 e 30 linhas. No caderno

A luta pela cidadania no campo e na cidade


A revolta da vacina: foi um momento de exaltação do povo nas ruas exigindo dignidade. Queriam
respeito diante da força policial que os violava moralmente. Assim josé Murilo de Carvalho se referiu as
reações das pessoas contra a opressão do estado: Chamando o repórter de “cidadão”, em 1904, o preto
acapoeirado justificava a revolta: era para “não andarem dizendo que o povo é carneiro. De vez em quando é
bom a negrada mostrar que sabe morrer como homem!”. Para ele, a vacinação em si não era importante —
embora não admitisse de modo algum deixar os homens da higiene meter o tal ferro em suas virilhas. O mais
importante era “mostrar ao governo que ele não põe o pé no pescoço do povo”. (CARVALHO, J. M) A
referida Revolta, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro no início da República, caracterizou-se por ser uma
atitude de resistência dos populares diante das invasões de domicilio pela força policial. A vacinação
obrigatória e compulsória era realizada à revelia da vontade popular, desnudando mulheres.
Rio de Janeiro como o laboratório das cidadanias: Uma cidade com cerca de 700 mil habitantes
e graves problemas urbanos: rede insuficiente de água e esgoto, toneladas de lixo nas ruas, cortiços
superpovoados. Um ambiente propício à proliferação de várias doenças, como tuberculose, hanseníase, tifo,
sarampo, escarlatina, difteria, coqueluche, febre amarela, peste bubônica e varíola, as três últimas
responsáveis por grandes epidemias. O Rio era conhecido pelos imigrantes que aqui aportavam como
“túmulo dos estrangeiros”. Os anos tumultuados do início da República, marcados pela decretação de estado
de sítio, por prisões, assassinatos e exílios, inclusive de jornalistas, como Gentil de Castro, assassinado, e
José do Patrocínio, forçado a sair do Rio, reduzira um pouco a virulência da imprensa do período imperial.
Mas não eliminara a beligerância.
Como prefeito do Rio, Pereira Passos iniciou a reforma que ficou conhecida como o bota-abaixo:
cortiços e prédios velhos foram demolidos (ao todo, 614 habitações) e, em seu lugar, surgiram grandes
avenidas, modernos edifícios, praças e jardins. O lado negativo foi que milhares de moradores desalojados à
força, sem opção, tiveram de se mudar para a periferia da cidade e para os morros. Foi a intensificação do
processo de crescimento das favelas na cidade. Oswaldo Cruz, por sua vez, criou as Brigadas Mata-
Mosquitos, grupos de funcionários do Serviço Sanitário que, acompanhados de policiais, invadiam as casas –
e tinham até mesmo autoridade para mandar derrubá-las nos casos em que as considerassem uma ameaça à
saúde pública – para desinfecção e extermínio dos mosquitos transmissores da febre amarela.
Para acabar com os ratos, transmissores da peste bubônica, mandou espalhar raticida pela cidade e
tornou obrigatório o recolhimento do lixo pela população. E, finalmente, para erradicar a varíola, lançou a
vacinação obrigatória. Os moradores da cidade, principalmente aqueles dos bairros mais pobres, estavam
revoltados com a perda de suas casas, a truculência dos mata-mosquitos e assustados com as notícias
divulgadas pelos jornais de oposição sobre os supostos perigos da vacinação. Os alvos eram o prefeito, o
“bota-abaixo” e Oswaldo Cruz, o “general mata-mosquitos”. O projeto de regulamento da vacina obrigatória,
por sua vez, foi apelidado “código de torturas” e não código de postura.
Os higienistas da época, por sua vez, condenavam outros aspectos da vida urbana: corpos enterrados
nas igrejas, animais mortos nas ruas, lixo e valas a céu aberto. Por outro lado, centenas de casas foram
demolidas para a construção das atuais avenidas Passos e Rio Branco. Populações de bairros inteiros foram
desalojadas à força e ficaram sem ter para onde ir, já que não houve um plano de construção de moradias
populares, e se refugiaram nos morros e na periferia da cidade. Foi um dos lados negativos da modernização.
(...) À sombra da modernidade, agravavam-se as condições de vida da população trabalhadora. Nos morros,
as favelas expandiam-se. Os salários eram miseráveis e o desemprego alcançava índices absurdos. (...) A
melhoria das condições sanitárias seria realizada de forma antipopular, facilitando que as massas
trabalhadoras fossem arregimentadas pelo radicalismo jacobino. (...) Só a repressão policial e a violência
impunham o sucesso da higiene dos novos tempos. Ao menos, a cidade ficaria livre das doenças. Oswaldo
Cruz e o aparato sanitário governamental poriam fim às epidemias de febre amarela, varíola...
Um ‘furo’ causa um motim: A relevância do papel da imprensa na Revolta da Vacina pode ser
sintetizada na maneira como tudo começou: o estrondoso furo de reportagem do jornal A Noticia,
divulgando o projeto de regulamentação da Lei da Vacina Obrigatória, rascunhado por Oswaldo Cruz. O
sanitarista, um médico, não dimensionou o impacto que o texto causaria se revelado. E o escreveu de forma
direta, objetiva e disciplinadora. Depois, o distribuiu a alguns membros do governo para análise e a
informação vazou para o jornal. A rua era um grande lugar de comunicação, os meetings se formam nessa
época. Pessoas andavam com páginas de jornais nas mãos e os que sabiam ler passavam as mensagens para
os iletrados. Quando a regulamentação da vacina “vaza” na imprensa, seu formato é tido pela população
como draconiano. O decreto teve que ser revisto, foi adocicado. Oswaldo Cruz não era político, suas
correspondências mostram a dificuldade que tinha de fazer rapapés.
A estrutura social na republica velha: Na primeira República, uma grande parcela da população
brasileira vivia na mais extrema miséria, ou seja, convivia com os baixos salários, sem terras, devido à
concentração fundiária, e explorada pelos coronéis. Uma forma de reação era a organização da população
por meio de movimentos sociais, tendo alguns caráter messiânico, e outros sendo caracterizados como
banditismo social. Os movimentos messiânicos misturavam misticismo, revolta e política. Entre os fatos
importantes que marcaram os movimentos messiânicos, inclui-se o combate do governo brasileiro ao
movimento de Antônio Conselheiro e seus seguidores, os quais pregavam a abolição da propriedade privada,
recusavam-se a pagar os impostos e manifestavam sua aspiração monarquista.
Nesse sentido, não foi difícil entender o surgimento de pequenas comunidades alternativas, tentando
sobreviver no sertão brasileiro e lutando contra essa estrutura excludente e concentradora. O sistema
fundiário tem raízes coloniais e afastava o camponês do acesso a produção de alimentos. Nesse cenário de
miséria social surgiu o cangaço, um movimento promovido por bravos homens, muitos dos quais eram vistos
como heróis já que invadiam fazendas e distribuíam aos pobres o fruto da pilhagem.
A aventura trágica de Canudos: o surgimento e destruição de Canudos chama a atenção dos
historiadores, afinal, atraiu milhares de sertanejos fugindo da exploração social nos redutos dos coronéis
onde moravam. A presença de um líder messiânico como Antonio conselheiro incomodava a ordem imposta
pela republica dos coronéis, fazendo-se urgente a destruição da imagem do líder. No poema podemos
identificar traços dessa estratégia do governo. Vejamos: Eu mesmo me apresento: sou Antônio: Sou Antônio
Vicente Mendes Maciel (Provim da batalha de Deus versus demônio Com a res publica marca de Caim).
Moisés, do Êxodo ao Deuteronômio, Sou natural de Quixeramobim, O Antônio Conselheiro deste chão Que
vai ser mar e o mar vai ser sertão. ACCIOLY, M. Antônio Conselheiro. O poema, escrito em 2001, contribui
para a construção de uma determinada memória sobre o movimento de Canudos, ao retratar seu líder como
crítico do regime político recém-proclamado.
A república tinha apenas quatro anos de existência no Brasil quando o arraial de Canudos foi
fundado, e não havia nenhuma garantia de que a monarquia não pudesse ser restaurada no país. A ausência
de um projeto de inclusão social e a incapacidade do regime de consolidar suas instituições e democratizá-las
eram motivos de grande instabilidade. Na Bahia, onde os “coronéis” do sertão eram muito fortes e as lutas
políticas entre os vários setores da elite eram acirradas, a debilidade da república era ainda mais acentuada.
A situação econômica da Bahia, sem nenhum produto de peso nas exportações brasileiras, era de
dificuldades, que eram agravadas pelas secas periódicas que afligiam o sertão nordestino. No Ceará, por
exemplo, durante a grande seca ocorrida entre 1877 e 1879, meio milhão de pessoas morreram de fome, de
desnutrição ou em decorrência da falta de água.
A região de Canudos A fundação e a queda de Canudos Em seus sermões, Antônio Conselheiro
destacava o ideal do martírio, as obrigações religiosas e o desejo de salvação, preocupações dos pregadores
leigos, muito comuns no Nordeste do século XIX. A própria Igreja admitia, nos locais onde não havia
sacerdotes, a importância dos leigos no trabalho de conduzir o povo em orações, garantir instrução religiosa
e orientar a conduta dos fiéis de acordo com os preceitos católicos. Antônio Conselheiro, portanto, iniciou
suas pregações seguindo as recomendações da Igreja. O crescimento da fama do beato, porém, começou a
preocupar o clero católico e os fazendeiros da Bahia. Batizados, festas, novenas, construção e reforma de
igrejas e cemitérios eram realizados sob a direção de Conselheiro, sem cobrar nada, contando com o trabalho
de operários e com os materiais doados pelos fiéis mais abastados.
Sentindo o seu poder ameaçado, em 1882 a Igreja proibiu o beato de pronunciar seus sermões.
Antônio Conselheiro não se intimidou e continuou com sua missão religiosa. Após liderar uma rebelião
popular contra a cobrança de impostos, em 1893 Antônio Conselheiro e seu grupo se estabeleceram em
Canudos, uma fazenda abandonada situada às margens do Rio Vaza-Barris, no sertão da Bahia. Batizada de
Belo Monte, a cidadela passou a acolher diariamente fiéis vindos de locais próximos e distantes e chegou a
ter cerca de 5 mil casas e 20 mil moradores. O crescimento da cidadela alarmou os fazendeiros, que
começaram a sentir falta de mão de obra, e a Igreja Católica, que decidiu eliminar a concorrência dos
pregadores leigos.
Os sertões: o livro-monumento O engenheiro e escritor brasileiro Euclides da Cunha acompanhou,
como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, os combates entre as forças da quarta expedição e os
sertanejos de Canudos, de agosto a 3 de outubro de 1897. Euclides combinou seus escritos e experiências na
frente de batalha com sua visão de mundo e com seu inegável talento poético para produzir Os sertões.
Nessa obra-prima da literatura brasileira, o autor migra, em um movimento crescente, da hostilidade e do
preconceito inicial em relação aos sertanejos para a empatia, a compreensão e até certa admiração pelo modo
de vida daqueles brasileiros. Assim, com sua visão positivista e determinista, Euclides proclamou em sua
obra a missão que cabia à nossa república: olhar para o interior do país, e não para a Europa; integrar o
sertanejo à “civilização”, e não isolá-lo ou destruí-lo. O sertanejo, forjado na relação cotidiana com a terra e
com as dificuldades impostas pela natureza, teria, na visão do escritor, a força, a resistência e a firmeza
moral necessárias para conduzir o país à era do progresso, da harmonia e da solidariedade.
Na obra Os sertões, Euclides da Cunha manifesta sua visão a respeito dos sertanejos de Canudos.
Na lógica do pensamento determinista e positivista que conduz a narrativa, o sertanejo seria o filho da terra,
forjado na luta diária para sobreviver em um ambiente hostil, onde só os mais bem adaptados sobreviveriam.
Sendo a síntese de vários grupos étnicos e culturais que entraram em contato por meio das expedições
bandeirantes, o sertanejo representaria ainda a síntese da nacionalidade brasileira. Porém, esse mesmo
sertanejo forte, destemido e leal, que Euclides enxergava como o cerne da brasilidade, foi destruído pelo
governo republicano na guerra movida contra Canudos. Dessa forma, o livro, publicado em 1902,
representaria um monumento literário à memória dos sertanejos e da comunidade que eles fundaram no
sertão da Bahia. Por meio desse livro, Euclides da Cunha perpetuaria, no imaginário das futuras gerações, os
acontecimentos da guerra e a visão construída sobre os seguidores de Conselheiro.
A guerra do contestado – outra experiência messiânica: na divisa entre paraná e Sana Catarina, o
líder José Maria se aventurou na contestação ao regime republicano. Suas razoes não diferem muito de
Canudos, já que também foi uma luta contra a estrutura agraria concentrada. Tudo começou com a instalação
de uma estrada de ferro por uma empresa estrangeira. “A serraria construı́a ramais ferroviários que
adentravam as grandes matas, onde grandes locomotivas com guindastes e correntes gigantescas de mais de
100 metros arrastavam, para as composições de trem, as toras que jaziam abatidas por equipes de
trabalhadores que anteriormente passavam pelo local. Quando o guindaste arrastava as grandes toras em
direção à composição de trem, os ervais nativos que existiam em meio às matas eram destruı́dos por este
deslocamento”. MACHADO P. P. Lideranças do Contestado. No inı́cio do século XX, uma série de
empreendimentos capitalistas chegou à região do meio-oeste de Santa Catarina - ferrovias, serrarias e
projetos de colonização. Os impactos sociais gerados por esse processo estão na origem da chamada Guerra
do Contestado. Entre tais impactos, encontrava-se a desorganização da economia tradicional, que sustentava
os posseiros e os trabalhadores rurais da região.
A guerra contra as “cidades santas” dos caboclos Assim como em Canudos, o catolicismo
popular estava presente no conflito do Contestado. Após a morte de José Maria, seguidores do monge
fundaram um segundo povoado em Taquaruçu, a “cidade santa”, que acolheu com o tempo centenas de
descontentes. Vivendo sob laços de solidariedade e normas de conduta estabelecidas pela comunidade, os
moradores negavam a república. Contra o regime dos coronéis, da estrada de ferro e do governo, eles
proclamaram uma monarquia sem rei, regida pelas leis do céu. Ao longo de 1914, à medida que a repressão
das tropas federais e estaduais se intensificou, “cidades santas” espalharam-se pela região serrana de Santa
Catarina. A partir de março-abril de 1915, o governo fechou o cerco aos rebeldes com o envio de uma
expedição de cerca de 8 mil soldados. A campanha foi concluída em janeiro de 1916, com a queda do último
reduto rebelde e o massacre de vários sertanejos
As duas comunidades apresentavam algumas características semelhantes entre si: tinham um caráter
messiânico e estavam organizadas em torno de um líder religioso; eram constituídas de sertanejos pobres
(pequenos proprietários, posseiros, caboclos etc.); no interior das comunidades, seus moradores viviam de
acordo com leis próprias, praticando uma religiosidade popular, independente do controle e das tradições da
Igreja; os dois movimentos, vistos como uma ameaça ao poder da Igreja e ao sistema oligárquico vigente,
foram destruídos pelas tropas do governo republicano. Os dois movimentos eram vistos como manifestação
de um Brasil atrasado, que envergonhava as elites políticas e econômicas do Brasil. Alinhadas com o
pensamento etnocêntrico europeu, que via o modo de vida ocidental como exemplo de civilização e de
superioridade cultural e tecnológica, essas elites queriam apagar do Brasil todo resquício do que
consideravam inferior e selvagem. Por isso, a violência empregada para reprimir os dois movimentos.
Atividade de produção textual nº 17 – elabore um texto argumentativo sobre as condições
históricas em que surgiram os movimentos de contestação, tanto no campo como na cidade, ao modelo
republicano oligárquico. entre 20 e 30 linhas. No caderno
Atividade de produção textual nº 18 – organize as seguinte palavras de maneira a formar uma
texto com sentido logico e coerente: sertão, messianismo, camponês, salvador, miséria, concentração
fundiária. Entre 20 e 30 linhas. No caderno

A revolta dos marinheiros: chibata


Entendemos que a “Revolta da Chibata” pode ser vista como um exemplo de movimento social de
luta motivado pelo anseio por dignidade humana contra os maus tratos das chibatadas, tanto a partir do que
os autores que trabalharam esse acontecimento histórico como um movimento de luta por cidadania
mostraram quanto em função das evidências de punições exemplares imputadas aos marinheiros, através de
chibatadas, em rituais de suplício. Principalmente, em razão de levarmos em consideração que os castigos
físicos imputados aos escravizados no Brasil era um fato ainda recente na memória das pessoas, no início do
século XX. A cidadania reclamada pelos marinheiros, não corresponde necessariamente a essas esferas de
direito, mas a uma noção ainda mais essencial que se relaciona à busca de reconhecimento e de respeito
como sujeitos livres.
Politicamente, muito pouco mudou quando foi proclamada a República, cujo grande objetivo não
foi a ampliação da cidadania, mas a descentralização política. Ela manteve, no essencial, os princípios do
liberalismo já implantados no governo imperial. E não introduziu mudanças que alterassem a lei de 1881
que, ao implantar a eleição direta – e excluir o voto do analfabeto e das mulheres – reduziu a população com
direito a voto de 10% para 1% da população total. Algumas mudanças políticas, como a eliminação do Poder
Moderador, do Senado Vitalício e do Conselho de Estado, bem como a introdução do federalismo, sem a
correspondente expansão da participação política, na verdade significou a entrega do poder mais diretamente
aos poderes locais. Com a adoção do princípio federativo, inspirado no modelo estadunidense, o que ocorreu
foi a formação de sólidas oligarquias políticas estaduais, a chamada “república dos coronéis”
Essa era a grande marca da cidade do Rio de Janeiro, onde em torno de 50% de sua população
pertencia ao proletariado, à ralé, do ponto de vista das classes dominantes. Mário Maestri resume bem o
quadro: O Rio de Janeiro possuía uma grande população urbana que vivia precariamente, nos poros de uma
sociedade de classe que se formava com dificuldade – eram biscateiros, mendigos, vendedores ambulantes,
prostitutas, funileiros, capoeiristas, amoladores de tesouras, assaltantes, compradores de garrafas vazias,
empurradores de cargas, ciganos etc.
Mas não pensem que esse povo da cidade não se expressava e não criava suas próprias formas de
participação: nas festas populares, como as da Penha e da Glória; nas pequenas comunidades étnicas, como a
da Pequena África da Saúde, formada por negros vindos da Bahia, que, sob a direção da tia Ciata, deu
origem ao samba carioca; nos cortiços, pequenas repúblicas com vida própria, leis próprias e cujo inimigo
maior era o “representante oficial da República” – a polícia. Foi nesse cenário que ocorreram os
acontecimentos que vieram a ser conhecidos como a Revolta da Chibata, protagonizada por elementos dessa
mesma ralé, desdenhada pelas classes poderosas.
A Revolta da chibata foi a luta por dignidade e respeito, pois os marujos eram castigados duramente
quando acusados de desobediência. Sabemos que a elite branca de alta patente ao maltratar o marujo estava
também realizando uma atividade racista contra grupos pobres. Podemos imaginar o ritual que se realizava,
através do depoimento de Eurico Fogo, que servia como praça no Corpo de Marinheiros Nacionais em 1898:
“O bandido [o carrasco] apanhava uma corda mediana, de linho, atravessava-a de pequenas agulhas
de aço, das mais resistentes e, para inchar a corda, punha-a de molho com o fim de aparecer apenas as pontas
das agulhas. A guarnição formava e vinha o marinheiro faltoso algemado. O comandante, depois do toque de
silêncio, lia uma proclamação. Tiravam as algemas das mãos do infeliz e o suspendiam nu da cintura para
cima no pé de carneiro, ferro que se prende à balaustrada do navio. E então, Alípio, o mestre do trágico
cerimonial, começava a aplicar os golpes. O sangue escorria. O paciente gemia, suplicava, mas o facínora
prosseguia carniceiramente o seu mister degradante. Os tambores batidos com furor sufocavam os gritos.
Muitos oficiais voltavam o rosto para o lado. Todos estavam em segundo uniforme, luvas e armados de suas
espadas. A marinheirada, possuída de repulsa e de profunda indignação concentrada, murmurava: – Isso vai
acabar”.
Não sabemos se, naquela madrugada de 16 de novembro, os marinheiros repetiram o murmúrio de
indignação. O certo é que aquele acontecimento precipitou o início do motim que passou à história com o
nome de Revolta da Chibata.
Atividade de produção textual 19 – elabore um texto analisando as condições sociais no Rio de
Janeiro no inicio da republica com as condições de trabalho dos marinheiros, mostrando as causas que
levaram a eclosão da revolta da chibata. Entre 20 e 30 linhas.

A estruturação do poder na republica velha


A estrutura social e econômica do Brasil durante o coronelismo: não resta duvida que o sistema
politico durante a republica velha dependeu da ação dos coronéis no dia a dia com os eleitores, extraindo
deles sua “fidelidade partidária”. O elemento central da dependência estabelecida entre coronéis e os
camponeses foi a condição de miséria destes em relação àquele. Isso se deveu ao modelo agro exportador
dos tempos coloniais e da concentração de terras em latifúndios. Vitor Nunes Leal assim relata:
“Completamente analfabeto, ou quase, sem assistência médica, não lendo jornais, nem revistas, nas quais se
limita a ver as figuras, o trabalhador rural, a não ser em casos esporádicos, tem o patrão na conta de
benfeitor. No plano político, ele luta com o “coronel” e pelo “coronel”. Aí estão os votos de cabresto, que
resultam, em grande parte, da nossa organização econômica rural.” (LEAL, V. N. Coronelismo, enxada e
voto). O coronelismo, fenômeno político da República, tinha como uma de suas principais características o
controle do voto, o que limitava o exercício da cidadania. Nesse período, esta prática estava vinculada a uma
estrutura social: Agrária, marcada pela concentração da terra e do poder político local e regional.
A origem do poder das oligarquias da republica velha:
Assim definiu José Murilo de Carvalho a situação da recém republica brasileira: “o setor vitorioso
da elite civil republicana ateve-se estritamente ao conceito liberal de cidadania, ou mesmo ficou aquém dele,
criando todos os obstáculos à democratização. Até mesmo a criação de um partido operário em 18903
encontrou resistências entre republicanos, que a viam como ameaça à ordem. O positivismo era pela
ampliação dos direitos sociais, mas negava os meios de ação política para conquistá-los, tanto os
revolucionários quanto os representativos. O anarquismo negava legitimidade à ordem política, a qualquer
ordem política, não admitindo, portanto, a ideia de cidadania, a não ser no sentido amplo de fraternidade
universal. Restavam os socialistas democráticos, os únicos a propor a ampliação dos direitos políticos e
sociais dentro das premissas liberais”.
Os membros do partido republicano paulista tiveram muito trabalho para tomar o poder. Tudo
começou na segunda metade do século XIX, com a expansão da economia cafeeira, a fundação do PRP e a
elaboração do manifesto republicano. Naquele momento era preciso exaltar a grandeza de São Paulo, já que
o poder residia no Rio de Janeiro. Por esse motivo “As camadas dirigentes paulistas na segunda metade do
século XIX recorriam à história e à figura dos bandeirantes. Para os paulistas, desde o início da colonização,
os habitantes de Piratininga tinham sido responsáveis pela ampliação do território nacional, enriquecendo a
metrópole portuguesa com o ouro e expandindo suas possessões. Graças à integração territorial que
promoveram, os bandeirantes eram tidos ainda como fundadores da unidade nacional. Representavam a
lealdade à província de São Paulo e ao Brasil”. ABUD, K. M. Paulistas, uni-vos! No período da história
nacional analisado, ou seja, a segunda metade do século XIX, a estratégia descrita tinha como objetivo
aumentar a participação política em função da expansão cafeeira.
A articulação do poder durante a republica velha residiu numa clara estratégia de aproximação dos
senhores oligarcas regionais. Em outras palavras, o poder central republicano não estava interessado desde o
inicio de democratizar suas instituições. A estratégia, então era clara: criar uma estrutura de poder que
cooptasse para o centro do poder em São Paulo o apoio de setores regionalistas. Vejamos: O problema
central a ser resolvido pelo Novo Regime era a organização de outro pacto de poder que pudesse substituir o
arranjo imperial com grau suficiente de estabilidade. O próprio presidente Campos Sales resumiu claramente
seu objetivo: “É de lá, dos estados, que se governa a República, por cima das multidões que tumultuam
agitadas nas ruas da capital da União. A política dos estados é a política nacional”. Nessa citação, o
presidente do Brasil no período expressa uma estratégia política no sentido de atrair o apoio das oligarquias
regionais.
Devemos fazer uma ressalva a respeito da suposta estabilidade politica durante a republica das
oligarquias. Os historiadores apontam que havia atritos entre paulistas e mineiros, afinal, nem sempre se
entendiam quanto as eleições, apoio politico e distribuição de aporte financeiros aos estados aliados.
Vejamos dois textos a esse respeito: texto 1 - Até que ponto, a partir de posturas e interesses diversos, as
oligarquias paulista e mineira dominaram a cena política nacional na Primeira República? A união de ambas
foi um traço fundamental, mas que não conta toda a história do período. A união foi feita com a
preponderância de uma ou de outra das duas frações. Com o tempo, surgiram as discussões e um grande
desacerto final. FAUSTO, B. História do Brasil. Texto 2 - A imagem de um bem-sucedido acordo café com
leite entre São Paulo e Minas, um acordo de alternância de presidência entre os dois estados, não passa de
uma idealização de um processo muito mais caótico e cheio de conflitos. Profundas divergências políticas
colocavam-nos em confronto por causa de diferentes graus de envolvimento no comércio exterior. TOPIK,
S. A presença do estado na economia política do Brasil de 1889 a 1930. Os textos nos apresentam a seguinte
ressalva: a estabilidade politica era apenas fictícia devido a existência de disputas políticas do período que
contradizem a suposta estabilidade da aliança entre mineiros e paulistas.
Hegemonia: A utilização do conceito de hegemonia aqui apresentado reporta-se à teoria marxista e
a Antonio Gramsci. Ao pensarmos a divisão da sociedade em classes antagônicas, é importante destacar que
aqueles que ocupam o poder, mais do que a possibilidade de efetivação da opressão física, valem-se, ainda,
de mecanismos de dominação ideológica. Assim aconteceu na velha republica, já que grupos específicos de
políticos e intelectuais estiveram a serviço dos cafeicultores na tarefa de aparelhar o estado para a
perpetuação do poder nas mãos daquela classe. Na relação entre dominadores e dominantes existe espaço
para as concessões realizadas sempre dentro de determinados limites. Dessa forma, com a garantia de certa
ordem social, na qual a hegemonia de uma classe dominante, ou mesmo uma fração dela, é criada e recriada
numa teia de instituições, de relações sociais e de ideias. Nesse sentido, os intelectuais têm papel
organizativo na sociedade, ao confeccionarem aquilo que Gramsci intitula de textura de hegemonia.
No Brasil, a existência de um Estado, na prática, centralizador e autoritário que atendia aos
interesses de determinados grupos sociais estava baseada na participação dos municípios brasileiros – os
prefeitos e coronéis nessa esfera de poder. Além das atribuições locais, os municípios eram responsáveis
pela realização das eleições e tinham importante participação tanto na receita quanto na organização policial
e judiciária. Assim, um fenômeno político que bem caracteriza a Primeira República é o coronelismo,
marcado por uma relação de compromisso, clientela e compadrio entre os proprietários e a população
campesina. O fruto dessa relação promiscua foi a formaçao dos currais eleitorais, base das vitorias dos
partidos da situação.
Atividade de produção textual nº 20 – elabore um texto argumentativo sobre as estratégias
politicas de estruturação do poder no inicio da republica e os atores nela envolvidos. Aponte características
do sistema politico da republica velha. Mínimo 30 linhas. No caderno

As contestações à república velha


Os movimentos de oposição a republica velha: durante a década de 1920, no Brasil, foram varias
as novas forças sociais que surgiram para se opor ao modelo politico oligárquico e excludente da nossa
republica. Grupos como operários tornaram-se mais combativos principalmente após a fundação do partido
comunista e pela forte influencia do bolchevismo. Classes medias urbanas, por sua vez, almejavam maior
participação nos quadros decisórios da politica, assim como intelectuais mais exaltados da semana de arte
moderna. Do lado da burguesia era clara sua insatisfação com o modelo agro-exportador que consagrava o
café como produto rei, portanto, a incipiente burguesia industrial quereria mais investimentos no setor
secundário através de uma politica de diversificação econômica.
Nesse contexto agitado dos anos 1920, “O tenentismo veio preencher um espaço: o vazio deixado
pela falta de lideranças civis aptas a conduzirem o processo revolucionário brasileiro que começava a sacudir
as já caducas instituições políticas da República Velha. Os “tenentes” substituíram os inexistentes partidos
políticos de oposição aos governos de Epitácio Pessoa e de Artur Bernardes”. PRESTES, A. L. Uma epopeia
brasileira: a Coluna Prestes. Como percebemos, um dos objetivos do movimento político abordado no texto
era combater a corrupção eleitoral perpetrada pelas oligarquias regionais em nome da moralização das
nossas instituições republicanas mergulhadas no vicio e corrupção.
A Primeira República em xeque: o movimento operário e o tenentismo Na Primeira República
(1889-1930), a classe operária brasileira tinha poucas possibilidades de despontar na vida social e política da
sociedade capitalista republicana como força social poderosa e independente. Para Boris Fausto, era possível
perceber que o proletariado brasileiro estava ainda nos estágios embrionários de sua formação como classe
social distinta. A vida operária era um misto de superexploração na fábrica e repressão policial ou controle
social e ideológico nas ruas e na cidade. Operários, ex-camponeses, marginais, mendigos, artistas, doentes,
prostitutas e setores pauperizados da baixa classe média formavam um grande exército de desfavorecidos,
que chegavam a constituir cerca de 70% da população urbana.
A criação do Partido Comunista ligou-se intimamente à conjuntura do movimento operário dos anos
1920, tanto que resultou da união de vários grupos espalhados pelo país e nascidos há pouco tempo. A
formação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) deu-se em fevereiro de 1922 e, por meio de sua ação junto
aos sindicatos e às lutas operárias, mas principalmente por intermédio de seu jornal Movimento Operário,
acabou por tornar-se conhecido. De sua fundação até julho de 1922, quando foi decretado o estado de sítio,
que lançou o incipiente partido na ilegalidade, o Movimento Operário trataria de travar um interessante e
produtivo debate ideológico com as publicações de cunho anarquista, como o jornal A Plebe.
Seria possível afirmar que uma parcela importante da ação comunista dirigia-se à condução do
movimento sindical, tentando dar novas orientações a esta luta, principalmente no que dizia respeito à
unidade sindical. No entanto, o estado de sítio (regime jurídico excepcional imposto à população em razão
de uma situação de perigo para a ordem pública) cortaria esta discussão como, de resto, dificultaria muito a
própria estruturação da organização comunista. Na última década da Primeira República, o período de crise
aguda apresentou o poder oligárquico em choque com numerosas dissidências que tentaram se organizar por
meio de frentes oposicionistas como, por exemplo, o tenentismo. Em linhas gerais, podemos compreendê-lo
como o conjunto de movimentos político-militares que contou com a participação de tenentes e outros
integrantes da oficialidade das Forças Armadas.
Nesse conjunto, destacamos a Revolta do Forte de Copacabana (1922), a Revolta de 1924 em São
Paulo. Deste último movimento originou-se a Coluna Prestes, que percorreu o país até 1927. O tema
tenentismo ainda provoca polêmica historiográfica, mas pode ser considerado como a reação mais explícita e
organizada contra o regime político da Primeira República; apresentava caráter reformista e moralizador. Os
tenentes não tinham uma proposta clara de reformulação política e defendiam para o país o poder
centralizado por meio da prática nacionalista e do método da confrontação armada
Atividade de produção textual nº 21 – elabore um texto argumentativo sobre as contestações à
republica velha, bem como os grupos e interesses nela envolvidos. Mínimo 30 linhas. No caderno

A revolução de 1930?
O significado e as leituras acerca da Revolução de 1930: Mas, afinal, diante desse cenário de
transformações, como se deu o fim da Primeira República, que marcou a chegada de Getúlio Vargas ao
poder? Os estudiosos do período têm compreensões distintas sobre aquele processo histórico. Dessa forma,
podemos considerar que o movimento de 1930 ou “a Revolução”, como alguns historiadores consideram,
tem um sentido bastante singular: ao mesmo tempo, foram destruídas as estruturas arcaicas e esgotadas da
Primeira República, permitindo assim maior participação política de setores sociais mais amplos e
descompromissados com os esquemas oligárquicos tradicionais. Por outro lado é questionável a ideia de
revolução a esse movimento, visto por outros como apenas um golpe liderado por Vargas.
A visão de Boris Fausto: Boris Fausto aborda a ascensão de Vargas ao poder, em 1930 e inseriu-se
no debate historiográfico da esquerda da década de 1960 a respeito da caracterização da Revolução de 1930
como uma revolução burguesa. A tese predominante nos anos 60, defendia a existência de dois setores
contraditórios entre si, um setor “semifeudal” (ligado a republica velha) e um capitalista, postulava que a
Revolução de 1930 teria representado uma ruptura revolucionária, com a substituição no poder da classe
agrário-exportadora, ancorada no latifúndio “semifeudal” e aliada ao imperialismo, pela burguesia industrial,
aliada às classes médias e aos militares, já inserida no modo de produção capitalista e interessada no
desenvolvimento da indústria nacional com base no mercado interno.
Tal tese, segundo Boris Fausto, se mostra equivocada na medida em que não havia contradição
necessária entre os setores agrário-exportadores e o desenvolvimento industrial. Também é falsa a tese de
que a revolução tenha sido feita em nome dos interesses das classes médias, uma vez que a representação
dessas classes pelos militares não se deu de forma mecânica, tendo estes se motivado por fatores próprios,
como a defesa nacional e a influência de ideologias antiliberais entre os tenentes.
Boris Fausto defende em sua tese que com a derrubada da burguesia cafeeira, dada a incapacidade
das demais frações de classe de estabelecerem sua hegemonia, criou-se um Estado de compromisso, que se
caracterizou pela centralização do poder e intensificação de sua intervenção no domínio econômico, e pela
subordinação e intermediação das oligarquias tradicionais, bem como das demais classes, dentro do Estado.
Embora a análise do processo demonstre serem falsas as teses da ascensão ao poder da burguesia industrial
ou da “revolução pelo alto”, a nova forma do Estado possibilitou o desenvolvimento industrial e autônomo.
Ao tomar o poder através de um golpe, nenhum setor do grupo “revolucionário” não tinha forças
para assumir o controle politico o que configurou-se no chamado vazio de poder. Com esse vazio, segundo
Boris Fausto, Vargas foi nomeado para mediar as classes sociais no poder e o resultado disso foi a instalação
de um estado que procurou se colocar como mediador dos interesses – o estado de compromisso.
Nesta perspectiva, muito se falou do estabelecimento, no imediato pós 1930, de um “Estado de
Compromisso” (WEFFORT) entre as frações/segmentos vitoriosos no movimento de outubro. Os anos
posteriores a 1930, segundo o historiador Boris Fausto, foram caracterizados como: Um período em que
nenhum dos grupos participantes pôde oferecer ao Estado as bases de sua legitimidade: as classes médias,
porque não tinham autonomia frente aos interesses tradicionais [oligárquicos] em geral, os interesses do
café, porque diminuídos em sua força e representatividade política por efeito da "Revolução" [de 1930], da
segunda derrota em 1932 e da depressão econômica que se prolongara por quase um decênio; os demais
setores agrários, porque menos desenvolvidos e menos vinculados com as atividades de exportação que
ainda eram básicas para o equilíbrio do conjunto da economia (FAUSTO).
Um pequeno impulso na cidadania, enfim: O ano de 1930 foi um divisor de águas na história do
país. A partir dessa data, houve aceleração das mudanças sociais e políticas, a história começou a andar mais
rápido. No campo que aqui nos interessa, a mudança mais espetacular verificou-se no avanço dos direitos
sociais. Uma das primeiras medidas do governo revolucionário foi criar um Ministério do Trabalho,
Indústria e Comercio. A seguir, veio vasta legislação trabalhista e previdenciária, completada em 1943 com a
Consolidação das Leis do Trabalho. A partir desse forte impulso, a legislação social não parou de ampliar
seu alcance, apesar dos grandes problemas financeiros e gerenciais que ate hoje afligem sua implementação.
Os direitos políticos tiveram evolução mais complexa. O país entrou em fase de instabilidade, alternando-se
ditaduras e regimes democráticos.
A fase propriamente revolucionária durou ate 1934, quando a assembléia constituinte votou nova
Constituição e elegeu Vargas presidente. Em 1937, o golpe de Vargas, apoiado pelos militares, inaugurou
um período ditatorial que durou ate 1945. Nesse ano, nova intervenção militar derrubou Vargas e deu inicio
a primeira experiência que se poderia chamar com alguma propriedade de democrática em toda a história do
país. Pela primeira vez, o voto popular começou a ter peso importante por sua crescente extensão e pela
também crescente lisura do processo eleitoral. Foi o período marcado pelo que se chamou de política
populista, um fenômeno que atingiu também outros países da América Latina. A experiência terminou em
1964, quando os militares intervieram mais uma vez e implantaram nova ditadura. Os direitos civis
progrediram lentamente. Não deixaram de figurar nas três constituições do período, inclusive na ditatorial de
1937. Mas sua garantia na vida real continuou precária para a grande maioria dos cidadãos. Durante a
ditadura, muitos deles foram suspensos, sobretudo a liberdade de expressão do pensamento e de organização.
O regime ditatorial promoveu a organização sindical mas o fez dentro de um arcabouço corporativo, em
estreita vinculação com o Estado.
Rupturas e continuidades na era vargas: Ao lançarmos luz sobre as mudanças políticas e
institucionais ocorridas na década de 1930, faz-se premente o retorno, mesmo que breve, ao movimento
consagrado pela historiografia como “Revolução de 30”. As aspas nos chamam atenção; se não fora, como já
vimos, uma “Revolução” de acordo com o significado aclamado pelo liberalismo, tampouco podemos
qualificá-la como um mero levante das elites civis “dissidentes”, conjugadas com segmentos militares
insatisfeitos com a ordem oligárquica, então vigente na Primeira República.
É fato consumado, no entanto, que o ano de 1930, em especial, o movimento de “outubro de 1930”
foram momentos de ruptura na história republicana brasileira. A nova ordem política a ser instituída a partir
da “Revolução” de outubro de 1930, por motivos óbvios, deveria ser a negação do que havia sido
anteriormente. Mudanças e permanências foram se conjugando naquela nova etapa histórica. As alterações
institucionais seriam visíveis ao longo da década de 1930. A ruptura da legalidade constitucional foi
sucedida pela imediata destituição dos presidentes estaduais (os governadores na época). Na visão de alguns
grupos que conduziram o vitorioso movimento “revolucionário”, “tenentes” e seus aliados civis, tal medida
se fazia necessária, a fim de que se alcançasse o desmantelamento dos alicerces do poder oligárquico.
O sistema de interventorias criado se constituía, segundo as palavras da historiadora Maria do
Carmo Campello de Souza, “num importante instrumento de controle do poder central na política local”. Os
interventores eram, de forma geral, militares indicados e subordinados diretamente a Vargas. Com exceção
dos estados de Pernambuco e da Paraíba, todos os interventores das regiões Norte e Nordeste eram militares
submetidos de forma direta à supervisão do tenente Juarez Távora, cuja tarefa era coordenar as interventorias
do Acre à Bahia. Seu poder era de tal monta, nas regiões supracitadas, que Távora ganhara a alcunha de
“vice-rei do Norte” (PANDOLFI).
A nomeação do tenente pernambucano João Alberto, por exemplo, irritou as elites locais do estado
mais poderoso da Federação e melindrou o Partido Democrático, um dos pilares de apoio à Aliança Liberal
nas eleições presidenciais de 1930 e no golpe de outubro, em São Paulo. Mesmo com a substituição de João
Alberto pelo paulista Laudo Camargo, em junho de 1931, as dificuldades não arrefeceram em São Paulo,
estado que viria a ser o tradicional reduto da oposição a Vargas. De forma habilidosa, no entanto, o chefe do
governo provisório, ao mesmo tempo que fazia concessões às elites locais, pressionava-as com medidas cada
vez mais centralizadoras. Restringia de forma crescente a autonomia dos estados, criando, por exemplo, em
agosto de 1931, o Código dos Interventores.
O controle federal sobre as forças armadas estaduais era questão crucial para o estabelecimento e
consolidação da nova ordem política. O inimigo a ser combatido era o exacerbado federalismo político
característico da “carcomida” Primeira República; sendo assim, a nacionalização das Forças Armadas era
condição sine qua non para a diminuição do poder das oligarquias estaduais.
Do ponto de vista social houve a inserção de novos grupos no exercício do poder através de eleições
representativas ou mesmo através de concursos públicos. A diminuição da ação dos coronéis em instancias
locais rurais, favoreceu a atividade de ministérios mais transparentes como a justiça trabalhista e eleitoral. O
que permitiu uma cidadania menos mutilada. Na politica do estado ficou claro que as elites agraria teriam
menor espaço de atuação, embora ainda continuassem a participar. O estado passou a atuar como mediador
das classes, integrando-as na maquina publica. O forte intervencionismo estatal principalmente na economia
foi outra marca, diversificando produtos agrícolas para dar maior dinâmica desenvolvimentista.
Atividade de produção textual nº 22 – elabore um texto dissertativo argumentativo sobre as
características do novo momento histórico vivido após 1930, no Brasil. entre 20 e 30 linhas. No caderno
Atividade de produção textual nº 23 – elabore um texto argumentativo sobre a visão de Boris
Fausto sobre os eventos ligados ao movimento de 1930. Entre 20 e 30 linhas. No caderno

Era Vargas – principais acontecimentos


O governo provisório e constitucional de Vargas: Assim que assumiu a presidência, Getúlio
Vargas tomou medidas centralizadoras, conforme defendiam os tenentes. A partir daí Vargas iniciou o
desmantelamento da velha estrutura de poder oligárquico: Dissolveu o Congresso Nacional e nomeou
interventores civis e militares para dirigir os governos estaduais, decisão que significou uma dura derrota
para as oligarquias. Outra medida de Vargas proibiu os governos estaduais de contrair empréstimos no
exterior sem a autorização do governo central. Diante dos ataques à autonomia dos estados, os atritos com as
elites locais logo surgiram. Na área social, o governo provisório de Getúlio procurou atender a antigas
reivindicações dos tenentes e dos trabalhadores urbanos. A primeira medida nesse terreno, anunciada em
novembro de 1930, foi a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e do Ministério da
Educação e Saúde Pública. Entre 1931 e 1934, vários decretos deram origem a uma legislação de proteção
ao trabalho. O resultado disso foi o movimento paulista que acusava Vargas de ser ditador. Vejamos:
A Revolução Constitucionalista de 1932 Os setores oligárquicos estavam descontentes com o
centralismo de Vargas e com a aliança do governo com os tenentes. A poderosa oligarquia dissidente
mineira e as elites abrigadas no Partido Democrático de São Paulo, por exemplo, sentiram-se excluídas do
poder com a nomeação de interventores para governar os estados. A nomeação do interventor pernambucano
José Alberto para o governo paulista desagradou as lideranças sociais e políticas do estado. Descontentes
com os rumos do governo, o Partido Democrático e o Partido Republicano Paulista, rivais nas eleições de
1930, formaram a Frente Única Paulista, representando os interesses da grande lavoura cafeeira, da indústria
e do comércio. A crise política entre São Paulo e o governo federal desembocou em uma guerra civil. A
chamada Revolução Constitucionalista eclodiu no dia 9 de julho de 1932, durou três meses e teve grande
adesão popular. Milhares de pessoas se alistaram para combater as forças federais; outras se apresentaram
para colaborar nas equipes de serviços médicos, no transporte de soldados e material bélico e no
abastecimento das frentes de batalha. Incapazes de criar focos de resistência armada em outros estados e
cercadas pelas tropas federais, as forças rebeldes paulistas entregaram as armas em 2 de outubro de 1932.
Os paulistas foram derrotados nas armas, mas tiveram vitória moral, já que Vargas convocou a
assembleia constituinte. A Constituição de 1934, promulgada em 16 de julho, reafirmou as liberdades
democráticas e os direitos sociais que haviam inspirado a Revolução de 1930. A lei estendeu o direito ao
voto a homens e mulheres alfabetizados e maiores de 18 anos; estabeleceu a jornada de 8 horas, férias
remuneradas e indenização ao trabalhador dispensado sem justa causa; definiu a responsabilidade da União
na garantia do ensino primário gratuito e de frequência obrigatória e a liberdade de ensino em todos os
níveis; e vedou qualquer aliança ou relação de dependência do Estado brasileiro com cultos ou igrejas. Um
dia após a promulgação da Constituição, Getúlio Vargas foi eleito pelos constituintes como presidente da
república para um mandato de quatro anos.
O papel inovador da justiça eleitoral: na construção da democracia republicana no Brasil, papel
relevante teve a criação do sistema judiciário eleitoral com poder fiscalizador. A justiça eleitoral não existia
durante a republica velha e isso facilitava a ação dos fraudadores das eleições no contexto do voto de
cabresto e dos acordos da politica dos governadores. Nesse sentido, “A Justiça Eleitoral foi criada em 1932,
como parte de uma ampla reforma no processo eleitoral incentivada pela Revolução de 1930. Sua criação foi
um grande avanço institucional, garantindo que as eleições tivessem o aval de um orgão teoricamente imune
à influência dos mandatários”. TAYLOR, M. Justiça Eleitoral. Em relação ao regime democrático no país, a
instituição analisada teve o seguinte papel de combater as fraudes sistemáticas nas apurações. Afinal, na
época das eleições controladas pela estrutura hegemônica dos paulistas, poder diferencial tinha a comissão
verificadora de poderes já que degolava a oposição quando esta vencia alguma eleição.
Como sabemos o processo de desarticulação da politica do café com leite não foi tarefa fácil pelo
novo governo após a revolução de 30. O poder constituído pelos paulistas e mineiros era forte e impregnado
pelo poder dos coronéis. O trabalho de recomposição que nos espera não admite medidas
contemporizadoras. Implica o reajustamento social e econômico de todos os rumos até aqui seguidos.
Comecemos por desmontar a máquina do favoritismo parasitário, com toda sua descendência espúria.
Discurso de posse de Getúlio Vargas como chefe do governo provisório, pronunciado em 03 de novembro de
1930. FILHO, I. A. Brasil, 500 anos em documento. Em seu discurso de posse, como forma de legitimar o
regime político implantado em 1930, Getúlio Vargas estabelece uma crítica ao controle politico exercido
pelas tradicionais oligarquias estaduais que lançavam mão de instrumentos hegemônicos.
Intervencionismo econômico e nacionalismo Getúlio Vargas chegou ao poder em um cenário de
crise mundial da economia capitalista, com falência de empresas, explosão do desemprego e crescimento da
pobreza. As medidas adotadas pelo governo para fortalecer a economia brasileira diante da Grande
Depressão tiveram como base o incentivo à indústria nacional e à criação de uma infraestrutura capaz de
sustentar o desenvolvimento, centrada na produção de petróleo, aço e energia hidrelétrica. O salto
excepcional que teve a economia brasileira entre 1930 e 1945 resultou principalmente do papel ativo
assumido pelo Estado no desenvolvimento da indústria no país. Para isso, o governo criou medidas de
proteção à produção interna, fortalecimento da diplomacia brasileira, estímulo a expansão do mercado de
trabalho com a legislação trabalhista e a construção de uma aliança sólida com o empresariado brasileiro.
No ano seguinte, foi criada a Companhia Vale do Rio Doce, empresa encarregada da exploração e
do transporte de minério de ferro, utilizado na produção de aço. O fim do Estado Novo Em agosto de 1942,
após o bombardeio de seis navios mercantes brasileiros por submarinos alemães e uma grande pressão
popular para que o Brasil entrasse na guerra ao lado dos Aliados, o governo Vargas declarou guerra à
Alemanha. A entrada do Brasil na guerra contra os regimes totalitários da Alemanha e da Itália rendeu, em
um primeiro momento, grande apoio popular ao governo. Porém, também expôs as contradições da situação
brasileira: os nossos pracinhas, na Itália, lutariam em nome da liberdade e da democracia, enquanto um
regime ditatorial vigorava no Brasil. Carente de legitimidade, o governo Vargas iniciou derrocada. A partir
de 1944, as críticas ao governo começaram a aparecer em importantes jornais brasileiros, que decidiram
desafiar a repressão defendendo a realização de eleições democráticas no país. Aconselhado por seus aliados,
Getúlio decretou, em fevereiro de 1945, uma lei que fixava em noventa dias o prazo para marcar a data das
eleições para o Parlamento, o governo dos estados e a presidência da república.
O modelo substitutivo de importações: foi uma realidade durante a era vargas, processo que teria
iniciado ainda na republica velha e consistia em estimular a industrialização de setores estratégicos para
reduzir a dependência em relação a outros países. Durante a primeira guerra, no governo Venceslau Brás,
tivemos inicio esse modelo industrial. “Vargas levou adiante, pois com a crise de 29 tornou-se premente
investir na substituição de importações. A depressão que afetou a economia mundial entre 1929 e 1934 se
anunciou, ainda em 1928, por uma queda generalizada nos preços agrícolas internacionais. Mas o fator mais
marcante foi a crise financeira detonada pela quebra da Bolsa de Nova Iorque”. Perante o cenário econômico
descrito, o Estado brasileiro assume, a partir de 1930, uma política de incentivo à Industrialização interna
para substituir as importações.
Economia dependente: A primeira metade do século XX foi caracterizada pelas grandes guerras, a
Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, e a Segunda, entre 1939 e 1945. Nesses momentos de crise
internacional, os países na época denominados subdesenvolvidos conseguiram substituir importações porque
os países envolvidos nos conflitos deixaram de produzir certos bens para investir em indústrias de guerra.
Com isso, os países mais pobres, compradores desses produtos, puderam iniciar processos de
industrialização sem a concorrência dos produtos importados, que eram mais baratos. Foi o caso de alguns
países dependentes, como Brasil, Argentina e México.
No final do século XIX e início do século XX, a economia brasileira se baseava na produção
agrária. O país era líder mundial na exportação de café, mas também vendedor de açúcar, borracha, algodão,
etc., e comprador de produtos industrializados. Alguns ressaltavam a “vocação” agrária do país. Os esforços
de industrialização esbarravam na concorrência dos produtos importados, principalmente dos de bens de
produção, como ferro, aço, máquinas, ou de consumo durável, como carros, máquinas domésticas, etc. A
intervenção do Estado na economia começou decididamente no Estado Novo, durante o governo de Getúlio
Vargas, em um esforço para adquirir uma moderna siderurgia, por exemplo, sem a qual o país não poderia se
industrializar. A ideia era gerar um crescimento para dentro, e não para fora, como ocorria na agro
exportação.
O apoio financeiro para construir a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1941, veio dos
Estados Unidos, como compensação pelo país ter participado da Segunda Guerra Mundial com os aliados.
Após a guerra, entretanto, as indústrias dos países centrais voltaram a produzir artigos destinados ao
mercado consumidor do exterior e passaram a adotar políticas protecionistas para seus produtos.
Nesse momento, os estudos centravam-se nas soluções para a superação do subdesenvolvimento. A
ideia era que a industrialização seria a única forma de superar os problemas. Para mudar esse perfil, foi
pensada a teoria do desenvolvimento econômico, cujo esquema era conhecido como “modelo de dois
setores”: a absorção do setor tradicional, geralmente agrário e de baixa produtividade, por um setor
moderno, industrial e de alta produtividade. Para tanto, seria necessária a intervenção do Estado na
economia, cujo planejamento definiria a expansão desejada pelos setores econômicos e a necessidade de
auxílio por meio de subsídios. Disso resultaria o aumento da renda per capita da economia. Foi o que
ocorreu no Brasil.
A visão econômica engajada politicamente na defesa da industrialização por intermédio de forte
intervenção estatal ficou conhecida como “desenvolvimentismo”. Para esses analistas, a posição dos países
periféricos era previsível no contexto da divisão internacional do trabalho e decorria da "deterioração dos
termos de troca". Como dependiam da venda de poucos produtos agrícolas, esses países acabavam
prejudicados quando os preços dos produtos industrializados encareciam e os dos agrícolas se depreciavam,
havendo transferência de riquezas da periferia (sul) para o centro industrial (norte). A conclusão, então, foi
que seria necessário industrializar a América Latina por meio de um planejamento, a fim de conseguir um
equilíbrio e reduzir pontos de estrangulamento.
Agro exportação, diversificação econômica e industrialismo: O Brasil era, no início do século
XX, um país agroexportador em um mundo cada vez mais industrializado e competitivo. Em relação à
divisão internacional do trabalho, era considerado uma economia dependente do capital externo. Durante a
primeira metade do século XX, a primazia dos governos oligárquicos, que priorizavam a cafeicultura em
nível federal, foi rompida com a Revolução de 1930. Nos primeiros anos, o governo implementou leis
sociais que beneficiavam os trabalhadores, o Estado interveio na economia e elaborou- -se uma nova
Constituição, em 1934, descontentando profundamente as elites políticas.
Vargas estimulou a policultura e criaram-se institutos voltados a determinados produtos também
considerados importantes para a economia nacional, tais como o Conselho Nacional do Café (1931), o
Instituto do Cacau (1932) e o Instituto do Açúcar e do Álcool (1933). Todos tinham como proposito dar um
caráter mais profissional e cientifico a essas atividades, com tecnocratas prestando assessorias técnicas e o
incremento de novas politicas para o desenvolvimento econômico. O intervencionismo estatal na economia
ainda esteve presente na indústria: o governo procurou estimular o desenvolvimento industrial. Com este
intuito, elevaram-se as taxas de importação, as taxas de juros e a desvalorização cambial, adotando-se,
também, medidas de caráter nacionalista e de controle sobre preços e salários.
A cafeicultura continuava como a principal produção do Brasil, embora com muitos períodos de
crise. Estava evidente que era um erro pautar a economia em um só produto, e também que era necessário
alavancar a industrialização no país. Foi o que fez o governo getulista durante o Estado Novo: a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945) possibilitou essa industrialização no sistema que os economistas denominam
“substituição de importações”, já utilizado durante a Primeira República. Com os países industrializados em
guerra e suas economias e indústrias voltadas para o esforço bélico, os países dependentes, como o Brasil,
puderam investir em indústrias sem a concorrência dos produtos importados. Foi uma industrialização
tímida, mas incrementada pela disposição do governo em montar, no Brasil, uma indústria siderúrgica, com
capital estatal. A Companhia Siderúrgica Nacional, inaugurada em 1941, foi financiada com empréstimos
dos Estados Unidos, mas deu a base para a industrialização do país. No pós-1945, a transição de um governo
ditatorial (Estado Novo) para a adoção de um regime democrático, que perdurou até 1964, foi marcada por
políticas de atração de investimentos estrangeiros no país e pela chegada de grandes multinacionais, como as
automobilísticas.
Atividade de produção textual nº 24 – elabore um texto argumentativo sobre o novo papel do
estado no Brasil, mostrando aspectos gerais da Era Vargas no novo direcionamento nos assuntos políticos e
econômicos . entre 20 e 30 linhas. No caderno
Atividade de produção textual nº 25 – elabore um texto argumentativo sobre os principais
desafios do governo pós revolução de 1930, enfatizando as reações das antigas elites que foram derrotadas
em 1930. entre 20 e 30 linhas. No caderno

A polarização ideológica dos anos 30 no Brasil


Ação integralista brasileira: A AIB foi fundada em 1932, e sob a liderança de Plínio Salgado,
conseguiu agregar outras organizações de mesmo cunho fascista e assim alcançou grande número de
aderentes. Suas bandeiras eram o anticomunismo e o antiliberalismo. Dentre os grupos que a compuseram
podemos citar a Ação Social Brasileira de cunho fascista. Segundo Levine, Plínio Salgado copiou o modelo
de partido dos nazistas alemães, mas sua principal influência foi o modelo italiano de Benito Mussolini.
Plínio Salgado conheceu Mussolini pessoalmente quando realizou uma viagem à Europa e de lá trouxe boas
impressões a cerca do líder fascista, que contribuíram, assim, para a criação da AIB. Portanto, na sua
ideologia, organização e ação, a AIB tinha raízes nas correntes de movimentos e partidos fascistas europeus
que surgiram a final da Primeira Guerra Mundial
Os filiados a AIB eram em sua maioria membros das classes médias urbanas não representadas na
política tradicional, geralmente, funcionário públicos, profissionais liberais, padres, pequenos agricultores,
funcionários do comércio, militares, entre outros. O discurso integralista prometia os libertar das amarras das
oligarquias regionais. Segundo Levine, no fim de 1937, o número de filiados à AIB girava em torno de 100
mil e 200 mil, um número impressionante, se consideramos a concentração urbana e a pouca mobilização
política na sociedade. O Manifesto Integralista trazia em seu texto os ideais do AIB: “defesa
do nacionalismo, definido mais sobre bases culturais do que econômicas, e do corporativismo, visto como
esteio da organização do Estado e da sociedade; combate aos valores liberais e rejeição do socialismo
como modo de organização social”.
Diferenciava-se do fascismo italiano e do nazismo alemão por não apresentar a característica racial
como segregadora. Ao contrário, no discurso da AIB consideravam a miscigenação como constituinte da
nação Brasileira. O lema da organização trazia os pilares de suas crenças: “Deus, Pátria e Família”, deixava,
portanto clara sua constituição cristã, nacionalista e conservadora. Seu símbolo era a letra sigma grega (Σ)
que na matemática tem o claro significado de soma das sequencias numéricas. Usavam a expressam “Anauê”
como “grito de guerra” em suas apresentações públicas, com saudação de mãos muito parecida com a do
nazismo. “Anauê” significa “você é meu irmão” em tupi.
A AIB teve ascensão rápida nos primeiros anos de atuação. Em 1933, menos de um ano depois de
sua fundação fizeram seu primeiro desfile público em São Paulo, sempre marchando com suas camisas
verdes deu a alcunha pela qual se identificavam. Tal como o “apelido” que seus opositores lhes deram
“galinhas verdes”. Em 1934 realizaram seu I Congresso Nacional em Vitória no Espírito Santo. O número
elevado de adeptos fez da AIB o primeiro partido de massas do Brasil. Em 1936 a Aliança Nacional
Libertadora (ANL) é fundada e torna-se o principal opositor ideológico da AIB. Inúmeros conflitos se dão
entre ambos os grupos nas ruas.
Em 1937 a AIB lança Plínio Salgado à eleição presidencial marcada para 1938. As eleições não
ocorrem devido ao Golpe do Estado Novo realizado por Vargas em novembro de 1937. Plínio esteve a par
do movimento golpista e o apoiou em virtude do “medo comunista” que pairava com o “Plano Cohen”,
documento forjado por um alto dirigente integralista, capitão Olímpio Mourão Filho. No entanto, apesar do
apoio da AIB, um mês após o Golpe do Estado Novo, Vargas manda fechar todos os partidos políticos,
inclusive a Ação Integralista Brasileira, o que pega de surpresa os integralistas. Tentam um levante contra o
governo no Rio de Janeiro em 1938 que é logo controlado.
Plínio Salgado exila-se em Portugal até a redemocratização em 1945 quando retorna e funda um
novo partido, onde tenta reavivar os ideais da AIB, o Partido da Representação Popular (PRP).
Aliança Nacional Libertadora: Em decorrência do aumento das propostas políticas com
fundamento na ideologia de extrema direita, surgem em vários países grupos de ações contrárias. A
organização política surge oficialmente em março de 1935 com o objetivo de combater o fascismo em
âmbito nacional. A frente reunia antigos “tenentes” do movimento tenentista que insatisfeitos com os rumos
do Governo de Vargas também buscavam novas vias para uma política nacional. Esse grupo de militares
lançou um programa básico da organização onde os pontos principais eram: a suspensão do pagamento da
dívida externa imediatamente, a nacionalização das industrias estrangeiras, a reforma agrária com proteção
aos pequenos e médios proprietários, a garantia de amplas liberdades democráticas e a constituição de um
governo popular, sem deixar claro, no entanto as vias pelas quais chegariam à esse governo.
Nos meses seguidos ao lançamento da Aliança Nacional Libertadora supõe-se que dezenas de
milhares de pessoas fizeram suas filiações, porém esse número é impreciso, pois nunca houve uma
divulgação oficial. Ainda contando com o apoio de figuras políticas a ANL realizou diversos comícios e
manifestações em diversas cidades do Brasil. Luís Carlos Prestes voltou clandestinamente ao Brasil em abril
de 1935 quando incumbido de promover um levante comunista e estabelecer um governo nacional-
revolucionário. O então presidente de honra da ANL, mesmo diante da ampla aceitação popular que essa está
adquirindo na sociedade, prefere manter-se clandestino, deixando evidente assim as verdadeiras intenções de
seu retorno.
Os embates entre a ANL e os integralistas tornam-se cada vez mais ferozes nas ruas durante as
manifestações. Em julho de 1935 a ANL lê durante um comício de comemoração do Movimento Tenentista
de 1924, um manifesto de Prestes fazendo uma chamada popular para um levante de derrubada do governo e
exigindo “todo poder à ANL”. Vargas aproveitando a grande repercussão do manifesto e com base na Lei de
Segurança promulga uma ordem de dissolução da Organização.
Já na ilegalidade a ANL perde o contato com as massas que se empolgavam com a ação de suas
manifestações. Porém, internamente cresce seu prestígio entre os “Tenentes” e membros do Partido
Comunista, que agem dispostos a realizar um levante armado contra o governo. Em novembro de 1935 é
deflagrado em Natal (RN) um levante militar em nome da ANL que com apoio popular chega a assumir o
controle da cidade. Outros levantes são observados no Rio de Janeiro e no Recife, porém o governo federal
não tem dificuldades em reverter a situação. A ANL vê-se diante de uma onda repressiva forte do governo
varguista e é completamente desarticulada.
Atividade de produção textual nº 26– elabore um texto argumentativo sobre os principais pontos
do programa ideológico durante a polarização ideológica dos anos 30, enfatizando a natureza dos grupos
sociais envolvidos. Entre 20 e 30 linhas. No caderno
Atividade de pesquisa 27 - procure informações sobre as características da AIB e sua proximidade
ideológica com os regimes fascistas. Mostre como esse grupo entendia a ação do estado enquanto aparelho
burocrático e sua relação com a sociedade. Entre 20 e 30 linhas.

Institucionalização do novo governo


A institucionalização do governo: O governo Vargas, principalmente durante o Estado Novo
(1937-1945), pretendeu construir um Estado capaz de criar uma nova sociedade. Uma dimensão-chave desse
projeto tinha no território seu foco principal. Não por acaso, foram criadas então instituições encarregadas de
fornecer dados confiáveis para a ação do governo, como o Conselho Nacional de Geografia, o Conselho
Nacional de Cartografia, o Conselho Nacional de Estatística e o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), este de 1938. Percebemos que o estado varguista inovou com seu caráter mais técnico de
fazer politica, desta feita criou instituições especializadas na tarefa de entender as peculiaridades regionais
para tentar potencializar o desenvolvimento.
Do ponto de vista constitucional o estado substituiu em 1937 a carta de 34 por outra, agora com
caráter fascista. Como sabemos, os fascistas tinham tendência a plantar a ideia de um líder protetor. Leia o
trecho: “O autor da constituição de 1937, Francisco Campos, afirma no seu livro, O Estado Nacional, que o
eleitor seria apático; a democracia de partidos conduziria à desordem; a independência do Poder Judiciário
acabaria em injustiça e ineficiência; e que apenas o Poder Executivo, centralizado em Getúlio Vargas, seria
capaz de dar racionalidade imparcial ao Estado, pois Vargas teria providencial intuição do bem e da verdade,
além de ser um gênio polı́tico”. CAMPOS, F. O Estado nacional. Segundo as ideias de Francisco Campos,
Vargas seria o homem capaz de exercer o poder de modo inteligente e correto, podemos dizer que essa visão
segue a ideia dos fascistas de forjar no líder uma figura de salvador.
Os novos rumos da educação nacional: vejamos o que estava disposto no Manifesto dos Pioneiros
da Educação Nova em 1932: “A Educação Nova, alargando a sua finalidade para além dos limites das
classes. assume, com uma feição mais humana, a sua verdadeira função social, preparando- se para formar "a
hierarquia democrática” pela “hierarquia das capacidades”, recrutadas em todos os grupos sociais, a que se
abrem as mesmas oportunidades de educação. Ela tem, por objeto, organizar e desenvolver os meios de ação
durável com o fim de “dirigir os desenvolvimentos natural e integral do ser humano em cada uma das etapas
de seu crescimento”, de acordo com uma certa concepção do mundo”. Os autores do manifesto citado
procuravam contrapor-se ao caráter oligárquico da sociedade brasileira e do fato de pessoas ocuparem cargos
importantes da estrutura de poder sem ter passado por capacitação cientifica. Nesse sentido, o trecho propõe
uma relação necessária entre acesso à escola e valorização do mérito durante o período vargas.
O modelo sindical varguista: os trabalhadores durante a republica velha eram desassistidos pelo
poder publico, sendo tratados pela ação policial nos tempos de greves. Não tinham organização sindical
tampouco benefícios legislativos. Porem, Vargas passou a tratar o problema operário como uma questão de
politica e não questão de policia como na republica velha. Organizados em sindicatos tutelados pelo
governo, tornou-se mais fácil manobrar as massas, barganhando com elas o tempo todo em troca de uma
suposta autonomia que esses sindicatos efetivamente não possuíam (embora acreditassem nisso). Leia o
trecho seguinte: “Nos primeiros anos do governo Vargas, as organizações operárias sob controle das
correntes de esquerda tentaram se opor ao seu enquadramento pelo Estado. Mas a tentativa fracassou. Além
do governo, a própria base dessas organizações pressionou pela legalização. Vários benefícios, como as
férias e a possibilidade de postular direitos perante às Juntas de Conciliação e Julgamento, dependiam da
condição de ser membro de sindicato reconhecido pelo governo”. FAUSTO, B. História concisa do Brasil.
No contexto histórico retratado pelo texto, a relação entre governo e movimento sindical foi caracterizada
pela vinculação de direitos trabalhistas à tutela do Estado, ou seja, os direitos eram concedidos aos
trabalhadores quando estes estivessem sindicalizados.
O golpe de 1937 e a ditadura do Estado Novo As insurreições de 1935 serviram de justificava
para o fechamento do regime. Ainda durante as rebeliões, o Congresso, a pedido de Getúlio, decretou o
estado de sítio em todo o território nacional. Em dezembro de 1935, foi criada a Delegacia de Ordem
Política e Social (Dops), com a tarefa de investigar e punir os suspeitos de conspirar contra o governo. Nesse
ambiente de repressão, teve início a campanha para as eleições presidenciais de 1938. Vargas, porém, não
tinha pretensões de abandonar a presidência. O pretexto para suspender as eleições veio com a descoberta do
Plano Cohen, um documento que previa a mobilização dos trabalhadores para instaurar um regime
comunista no Brasil. O documento, forjado pelo alto comando militar, foi divulgado pelo governo em
setembro de 1937 e serviu para decretar o estado de guerra no país. Cada vez mais fortalecido, no dia 10 de
novembro, Getúlio Vargas anunciou pelo rádio o fechamento do Congresso e outorgou uma nova
Constituição para o Brasil. Começava a ditadura do Estado Novo.
A constituição Polaca: após o golpe de 1937, o estado centralizou o poder na figura de Vargas.
Definitivamente o pai dos pobres tornou-se o ditador e senhor da republica, cuja consequência foi politica
centralizada do estado novo. Trata-se de um regime de exceção, ou seja, foram eliminadas todas as garantias
constitucionas em nome de uma nova ordem. O autor da constituição de 1937, Francisco Campos, afirma no
seu livro, O Estado Nacional, que o eleitor seria apático; a democracia de partidos conduziria à desordem; a
independência do Poder Judiciário acabaria em injustiça e ineficiência; e que apenas o Poder Executivo,
centralizado em Getúlio Vargas, seria capaz de dar racionalidade imparcial ao Estado, pois Vargas teria
providencial intuição do bem e da verdade, além de ser um gênio polı́tico. CAMPOS, F. O Estado nacional.
Segundo as ideias de Francisco Campos, Vargas seria o homem capaz de exercer o poder de modo
inteligente e correto, o que simboliza a articulação entre os ideólogos do estado novo.
As insurreições de 1935 O líder tenentista Luís Carlos Prestes aderiu ao comunismo meses antes
da Revolução de 1930. Após anos no exílio, no fim de 1934, Prestes retornou clandestinamente ao Brasil,
acompanhado da esposa, a revolucionária alemã Olga Benário. Na ocasião, a situação nos quartéis era de
grande agitação. Capitães, tenentes, sargentos e soldados estavam insatisfeitos com os soldos e com a
redução dos efetivos militares. As mobilizações também atingiram o movimento sindical, com a eclosão de
várias greves. Nas ruas, aumentaram os choques entre os membros da Ação Integralista Brasileira (AIB) e os
membros da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Diante da convulsão social, o Congresso promulgou, em
abril, a Lei de Segurança Nacional, voltada principalmente para punir com rigor rebeliões entre os militares.
As medidas repressivas, porém, não impediram que rebeliões eclodissem em Natal (RN), Recife (PE) e na
capital federal.
As rebeliões nos três estados deixaram cerca de cem mortos, a maioria civis. Após vencer os
rebeldes, o governo criou, em dezembro, a Comissão de Repressão ao Comunismo. Com a ajuda da Gestapo
nazista e da inteligência britânica, a polícia política de Vargas promoveu uma violenta repressão em todo o
país. Em março de 1936, Prestes e Olga foram localizados pela polícia e levados à prisão. Mesmo grávida,
Olga Benário foi deportada para a Alemanha nazista e entregue à Gestapo. Judia, foi encaminhada para um
campo de concentração e executada em uma câmara de gás. Sua filha, Anita Leocádia Prestes, foi salva após
uma ampla campanha internacional liderada pela mãe de Prestes
Centralização, repressão e propaganda no Estado Novo: A Constituição de 1937, anunciada por
Vargas no dia 10 de novembro, foi inspirada em regimes autoritários europeus do período, como Itália,
Polônia e Portugal. A nova carta fortaleceu o poder pessoal do presidente da república e garantiu o poder de
interferência do governo central na economia, nos governos estaduais, no movimento sindical, na cultura e
nas comunicações. A lei de 1937 também proibiu a realização de greves e admitiu a pena de morte para
crimes políticos e hediondos. A centralização promovida pelo Estado Novo foi defendida pelo governo como
necessária à unificação do país, dividido pelas querelas políticas criadas pela democracia liberal. Em nome
desse projeto de unidade nacional, a carta de novembro de 1937 determinou que os estados seriam
administrados por interventores nomeados pelo governo federal. As bandeiras estaduais foram extintas e
substituídas por uma única bandeira, a brasileira. Em dezembro, um decreto do governo extinguiu os
partidos políticos. O regime, instaurado por meio de um golpe, precisava obter legitimidade entre os vários
setores da população brasileira. A construção desse consenso popular foi feita com o uso da repressão, da
propaganda e de políticas de inclusão social. Um artigo da carta constitucional de 1937 admitia a censura
prévia da imprensa, das obras teatrais, dos programas de rádio e das exibições no cinema. O governo
também criou uma polícia política, concebida para atuar como o braço armado do regime. Comandada por
Filinto Müller, estava encarregada das operações de controle social e repressão política em todo o país.
O atrelamento entre controle dos meios de comunicação e propaganda estadonovista: a marca
dos fascista foi o controle das informações para filtrar as ideias circulantes e, assim, manipular a opinião
publica. Por isso, foi fundamental para o sucesso do estado novo que o governo controlasse os meios de
comunicação. Leia o trecho: “Durante o Estado Novo, os encarregados da propaganda procuraram
aperfeiçoar-se na arte da empolgação e envolvimento das “multidões” através das mensagens políticas.
Nesse tipo de discurso, o significado das palavras importa pouco, pois, como declarou Goebbels, “não
falamos para dizer alguma coisa, mas para obter determinado efeito”. CAPELATO, M. H. Propaganda
política e controle dos meios de comunicação. O controle sobre os meios de comunicação foi uma marca do
Estado Novo, sendo fundamental à propaganda política, na medida em que visava conquistar o apoio popular
na legitimação do novo governo.
Do ponto de vista da cultura popular, durante a primeira republica, a musica erudita dominava os
programas de radio e outros ritmos eram negligenciados. Não era sequer mencionado a valorização de samba
pois era mal visto. Leia o trecho: “Mesmo com a instalação da quarta emissora no Rio de Janeiro, a Rádio
Educadora, em janeiro de 1927, a música popular ainda não desfrutava desse meio de comunicação para se
tornar mais conhecida. Renato Murce, um dos maiores radialistas de todos os tempos, registrou, no seu livro
Nos bastidores do rádio, que as emissoras veiculavam apenas “um certo tipo de cultura, com uma
programação quase só da chamada música erudita, conferências maçantes e palestras destituídas de
interesse”. E acrescentou: “Nada de música popular. Em samba, então, nem era bom falar”. CABRAL, S. A
MPB na Era do Rádio. A situação descrita no texto alterou-se durante o regime do Estado Novo, porque o
meio de comunicação foi instrumentalizado para ampliar o alcance da propaganda político-ideológica. Nesse
caso, a mudança referida faz parte das estratégias do governo para atrair mais ouvintes e promover a
manipulação ideológica típica dos fascistas.
Não resta duvida que o estado novo foi um articulador de ideias através do controle das
informações, como fica evidente a criação do programa radiofônico A hora do Brasil, quando Vargas todos
os dias pela manha fazia os anúncios das conquistas obtidas pelos trabalhadores. Leia: “A partir de 1942 e
estendendo-se até o final do Estado Novo, o Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio de Getúlio Vargas
falou aos ouvintes da Rádio Nacional semanalmente, por dez minutos, no programa “Hora do Brasil”. O
objetivo declarado do governo era esclarecer os trabalhadores acerca das inovações na legislação de proteção
ao trabalho. GOMES, A. C. A invenção do trabalhismo. Os programas “Hora do Brasil” contribuı́ram para
consolidar a imagem de Vargas como um governante protetor das massas.
Atividade de produção textual nº 28 – elabore um texto argumentativo sobre o controle do estado
sobre as informações no Brasil durante o estado novo . entre 20 e 30 linhas. No caderno
Atividade de produção textual nº 29 – elabore um texto argumentativo sobre as ideias que
circulavam no Brasil na década de 1930 e mostre como isso contribuiu para o golpe desfechado por Vargas
em 1937. Entre 20 e 30 linhas. No caderno

Trabalho e cidadania no estado novo


Trabalho, cidadania e controle social O Estado Novo, no entanto, não pode ser lembrado apenas
pelo autoritarismo. A criação das leis trabalhistas e previdenciárias e sindicais expressou a preocupação de
setores do governo com a inclusão social de milhões de brasileiros, que se tornavam cidadãos por meio da
valorização do trabalho. A relação entre trabalho, direitos sociais e cidadania representava uma mudança na
forma como os intelectuais do regime varguista viam a pobreza no Brasil. Ela deixava de ser naturalizada,
vista como um componente inevitável das relações humanas. A partir dos anos 1930, com a regulamentação
do trabalho, começava a ser executada uma política de combate à pobreza e de promoção da identidade
social e política do trabalhador. De forma semelhante às medidas tomadas pelo presidente Roosevelt para
combater os efeitos dramáticos da Grande Depressão nos Estados Unidos, Vargas colocou em prática
princípios importantes do modelo de Estado que seria teorizado pelo economista britânico John Keynes: o
Estado deve ser um regulamentador da vida econômica de um país e agente promotor do bem-estar social de
sua população, visando à ampliação da cidadania.
O maior legado trabalhista do Estado Novo foi sem dúvida a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), criada por um decreto do governo Vargas em 1943. A CLT sistematizou um conjunto de leis
relativas ao trabalho que tinham sido promulgadas desde o início dos anos 1930, como férias, jornada de 8
horas, carteira de trabalho, proibição do trabalho aos menores de 14 anos e igualdade salarial para os
trabalhadores que exercem a mesma função, além do salário mínimo, instituído em 1940. Os direitos
trabalhistas assegurados pela CLT, no entanto, cobraram o seu preço. As leis que garantiram vários direitos
aos trabalhadores urbanos vieram acompanhadas de dispositivos que regulamentavam a criação, o
funcionamento e a sustentação financeira dos sindicatos. O objetivo era colocar o Estado como árbitro dos
conflitos entre patrões e empregados e controlar o movimento sindical, impedindo, assim, as mobilizações
independentes dos trabalhadores. O governo também criou, em 1940, o imposto sindical. Incorporado pela
CLT, o imposto correspondia ao valor de um dia de trabalho recolhido compulsoriamente de todo
trabalhador uma vez no ano. O dinheiro recolhido era repassado aos sindicatos, federações e confederações,
e uma parte era retida pelo Ministério do Trabalho. Com essa medida, um novo tipo de dirigente sindical,
chamado pelego, assumia o papel de agente de conciliação entre o capital e o trabalho.
As leis trabalhistas como regulação do conflito de classes: o estado varguista teve um caráter
populista e trabalhista, sendo essas formas de atuação estatal como faces de uma mesma moeda. Através da
concessão de leis trabalhistas a partir de 1934, o estado visava atrelar os sindicatos ao modelo
governamental. Vejamos: “A regulação das relações de trabalho compõe uma estrutura complexa, em que
cada elemento se ajusta aos demais. A Justiça do Trabalho é apenas uma das peças dessa vasta engrenagem.
A presença de representantes classistas na composição dos órgãos da Justiça do Trabalho é também
resultante da montagem dessa regulação. O poder normativo também reflete essa característica. Instituída
pela Constituição de 1934, a Justiça do Trabalho só vicejou no ambiente político do Estado Novo instaurado
em 1937”. ROMITA, A. S. Justiça do Trabalho: produto do Estado Novo. A criação da referida instituição
estatal (justiça do trabalho e estrutura legislativa) na conjuntura histórica abordada teve por objetivo ordenar
os conflitos laborais.
Um dos papeis do estado populista era mediar a luta de classes. “Fugindo à luta de classes, a nossa
organização sindical tem sido um instrumento de harmonia e de cooperação entre o capital e o trabalho. Não
se limitou a um sindicalismo puramente “operário”, que conduziria certamente a luta contra o “patrão”,
como aconteceu com outros povos”. FALCÃO, W. Cartas sindicais. Nesse documento oficial, à época do
Estado Novo (1937-1945), é apresentada uma concepção de organização sindical que orienta a busca do
consenso entre trabalhadores e patrões.
Durante o governo vargas foram dezenas de leis criadas pelo estado para atender aos trabalhadores.
O objetivo era o controle dos operários em sindicatos, colocando-os como aliados do estado e aliviando os
atritos. Leia o trecho: “De março de 1931 a fevereiro de 1940, foram decretadas mais de 150 leis novas de
proteção social e de regulamentação do trabalho em todos os seus setores. Todas elas têm sido simplesmente
uma dádiva do governo. Desde aı́, o trabalhador brasileiro encontra nos quadros gerais do regime o seu
verdadeiro lugar”. DANTAS, M. A força nacionalizadora do Estado Novo. A adoção de novas polı́ticas
públicas e as mudanças jurı́dico-institucionais ocorridas no Brasil, com a ascensão de Getúlio Vargas ao
poder, evidenciam o papel histórico de certas lideranças e a importância das lutas sociais na conquista da
cidadania. Desse processo resultou a legislação trabalhista que atendeu reivindicações dos operários,
garantido-lhes vários direitos e formas de proteção.
Cidadania e ditadura Em 1932, o governo decretou a legislação eleitoral, com a criação da Justiça
Eleitoral, a obrigatoriedade do voto secreto e o direito do voto às mulheres. Nas eleições do ano seguinte,
foram eleitos parlamentares para formar uma Assembleia Nacional Constituinte. Essa eleição foi a primeira
na história política do país considerada por sua lisura. A novidade foi a bancada de deputados classistas. Dez
trabalhadores foram indicados por seus sindicatos para compor a Câmara Federal. Foi a primeira vez que
trabalhadores assumiram o cargo de deputado federal. Com a promulgação da Constituição de 1934, o país
adotou o regime de democracia liberal. Os constituintes confirmaram a validade das leis sociais e
trabalhistas. lisura aqui se refere à integridade e honestidade.
Entre 1931 e 1935, o movimento sindical atuou intensamente nas ruas, assembleias de
trabalhadores, fábricas, sessões legislativas, no Ministério do Trabalho, na luta por direitos sociais e
trabalhistas. Além disso, participou da redação da nova Constituição. Contudo, o ambiente político era de
radicalização entre as esquerdas e as direitas, como ocorria na Europa. No Brasil, as esquerdas se
organizaram na Aliança Nacional Libertadora (ANL), enquanto a maior organização de direita era a Ação
Integralista Brasileira (AIB). Em 10 de novembro de 1937, Vargas, com amplo apoio político e militar, deu
um golpe de Estado, instituindo a ditadura do Estado Novo. A nova Constituição imposta pela ditadura
proibiu o direito à greve
A propaganda política do Estado Novo desqualificava os direitos políticos e as práticas da
democracia liberal, argumentando que a verdadeira democracia era social. O discurso estatal associou a
cidadania aos direitos do trabalho. Criou-se, assim, uma cultura política que vinculava cidadania às leis
sociais. Ou seja, no Brasil, ser cidadão era ter direito a leis trabalhistas.
Politica imigrantista e ideologia estatal: durante a década de 1930, no Brasil, circularam varias
ideologias como anarquismo, sindicalismo, fascismo e comunismo. Nesse sentido, foram varias as atuações
do governo no sentido de conter a entrada de determinados grupos opositores. Tal ocorreu no combate aos
comunistas em Natal, muitos dos comunistas foram presos e expulsos do Brasil. Sobre isso: “Em 1935, o
governo brasileiro começou a negar vistos a judeus. Posteriormente, durante o Estado Novo, uma circular
secreta proibiu a concessão de vistos a “pessoas de origem semita”, inclusive turistas e negociantes, o que
causou uma queda de 75% da imigração judaica ao longo daquele ano. Entretanto, mesmo com as
imposições da lei, muitos judeus continuaram entrando ilegalmente no país durante a guerra e as ameaças de
deportação em massa nunca foram concretizadas, apesar da extradição de alguns indivíduos por sua
militância política”. GRIMBERG, K. Nova língua interior. 500 anos de história dos judeus no Brasil. Uma
razão para a adoção da política de imigração mencionada no texto foi a simpatia de Vargas ao modelo
politico alemão.
Mitos políticos foram acionados com o objetivo de justificar os atos de repressão contra as minorias
étnicas avaliadas como perigosas à configuração de uma raça pura e à ordenação social da sociedade.
Tradicionais “etiquetas” racistas se prestaram para legitimar a continuidade de alguns poucos no poder.
Importadas da Europa no final do século XIX, essas teorias sustentaram, por mais de meio século, um
caloroso debate sobre qual seria a melhor raça para compor o povo brasileiro: a amarela, branca ou a negra?
Que tipo étnico deveria ser incentivado a emigrar para o Brasil?
Uma intensa campanha de brasilidade ufanista, antiliberal, anticomunista e xenófoba – aprimorada
nos anos de 1930 e 1940 do século XX – prestou-se para encobrir valores racistas e antissemitas endossados
pela elite política brasileira. Por meio do slogan “promover o homem brasileiro e defender o
desenvolvimento econômico e a paz social do país”, o Estado republicano encontrou uma fórmula eficaz
para acobertar uma série de práticas autoritárias aprimoradas durante o governo Vargas. Expressiva da
campanha antinipônica é a capa do livro A ofensiva japonesa no Brasil, de Carlos de Souza Moraes (1942),
onde os japoneses aparecem representados com semblantes cadavéricos, expressões de terror, sorrisos falsos,
semblantes sedutores (gueixa) ou com postura de um dorminhoco, preguiçoso.
Através de imagens como essa, identificamos o discurso de um Estado que se queria forte e que não
poderia admitir fissuras, daí o combate a certos grupos estrangeiros avaliados como elementos de erosão.
Acontecimentos políticos internacionais, como a Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), a Revolução
Bolchevique (1917) e o desmoronamento do Império Otomano, colaboravam para firmar junto às
autoridades da imigração brasileira a imagem negativa de certos grupos de imigrantes, dentre os quais
aqueles vindos do Oriente. Pregava-se a homogeneidade em substituição à diversidade remando-se contra a
maré das políticas democráticas que davam ênfase à cidadania e aos direitos iguais para todos os cidadãos,
fossem estes nacionais ou estrangeiros. Estava em questão a concepção orgânica de sociedade cuja imagem
se fazia, na maioria das vezes, modelada pelo discurso do grupo dominante.
Por mais de meio século, intelectuais e políticos brasileiros defenderam a ideia de que os imigrantes
deveriam “despir-se de seus vínculos de origem para renascerem com identidades renovadas”. Esse processo
de assimilação/integração nacional acabou por favorecer a miscigenação racial que, nos anos de 1930,
prestou-se como elemento para a construção do mito da democracia racial no Brasil. No entanto, os registros
deixados por aqueles que se dedicavam a “regulamentar” a imigração no Brasil e a controlar a massa de
estrangeiros radicados em território nacional, demonstram que nem sempre os imigrantes atendiam ao
modelo de cidadão idealizado pelo Estado nacional. Desumanizava-se os “indesejáveis”, cuja imagem era
demonizada ou animalizada enquanto símbolo da desordem e/ou da inferioridade racial, como aconteceu
com a imagem do judeu. Por meio de analogias com vermes, serpentes, polvos, tubarões e hidras
monumentais, eles eram responsabilizados pela fome, pelo desemprego, pela prostituição e pelo atraso
econômico.
Atividade de produção textual nº 30 – elabore um texto argumentativo sobre o sistema de
controle exercicido pelo estado sobre os trabalhadores, mostrando como as condições de exercício da
cidadania. entre 20 e 30 linhas. No caderno
Atividade de produção textual nº 31 – elabore um texto argumentativo sobre o controle social
exercido pelo estado novo aos grupos indesejáveis nos anos 30. Entre 20 e 30 linhas. No caderno

Populismo no Brasil
Populismo, paternalismo e autoritarismo Marcadas historicamente pela desigualdade social e
pela concentração de renda, as nações latino-americanas se caracterizaram, no decorrer do século XX, pela
instabilidade institucional e pela fragilidade de suas experiências democráticas. Essa conjuntura levou a
maioria desses países a sofrer golpes de Estado, que instituíram regimes autoritários, alguns dos quais se
apoiavam em uma política de mobilização das massas. Países latino-americanos como Argentina e Brasil
entraram no século XX marcados pelo atraso econômico e pela exclusão social de amplas camadas da
população. O poder era controlado pelas oligarquias agrárias, que utilizavam diversos estratagemas,
incluindo fraudes eleitorais, para fazer valer seus interesses. A economia era baseada principalmente na
exportação de commodities como carne e grãos na Argentina, café e borracha no Brasil.
A industrialização em ambos os países era incipiente e os trabalhadores urbanos não contavam com
direitos trabalhistas garantidos por lei. Essa situação foi propícia para a emergência de movimentos políticos
nacionalistas e populistas. A crise econômica mundial iniciada com a queda da bolsa de Nova York em 1929
teve efeitos dramáticos em ambos os países, restringindo mercados para seus produtos e, consequentemente,
reduzindo a entrada de capitais. As oligarquias se enfraqueceram politicamente e foram responsabilizadas
pela crise. Isso levou, na Argentina, ao golpe de Estado liderado por Juan Domingo Perón em 1930 e, no
Brasil, à Revolução de 1930 chefiada pelo político gaúcho Getúlio Vargas.
Conceito de populismo [...] Convém destacar, como componentes que virão a ser fundamentais no
populismo, a personalização do poder, a imagem (meio real e meio mística) da soberania do Estado sobre o
conjunto da sociedade e a necessidade da participação das massas populares urbanas. Nessa nova estrutura, o
chefe de Estado assume a posição de árbitro e está aí uma das raízes de sua força pessoal. Por outro lado,
nessa condição de árbitro sua pessoa tenderá a confundir-se com o próprio Estado como instituição, pois
ambos tendem a distanciar-se da determinação dos interesses imediatos que, em última instância,
representam. Contudo, uma situação desse tipo não poderia ser durável e a manifesta instabilidade dos
primeiros anos do novo regime [de João Goulart] denunciava claramente a precariedade desse equilíbrio
entre interesses diferentes e algumas vezes contrários. WEFFORT, Francisco Corrêa. O populismo na
política brasileira.
Construção da identidade nacional na Era Vargas Getúlio Vargas criou em 1940 o programa
“Marcha para o Oeste” a fim de promover a integração do território brasileiro. Esse avanço em direção ao
interior do país foi feito por meio de incentivos à migração e à expansão das fronteiras agrícolas. Para a
região amazônica, promoveu-se a campanha dos “soldados da borracha”, que acabou levando milhares de
brasileiros, a maioria nordestinos, para trabalhar na exploração do látex. Segundo o próprio Vargas, a
população nativa que habitava a região deveria ser incorporada economicamente aos projetos nacionais.
Com o discurso de integração, o governo de Vargas pretendeu submeter o modo de viver e a cultura
dos povos indígenas do Norte ao ideal de uma identidade nacional fundamentada na modernização e no
trabalho. Assim, o Estado considerou os indígenas grupos sociais incapazes e dependentes de tutela e
implementou um novo povoamento da região à custa da destruição de povos e culturas indígenas.
Do ponto de vista musical, o governo abriu espaço para a cultura popular. Um dos gêneros mais
utilizados para conquistar as camadas populares e aumentar a audiência das rádios difusoras foi o samba.
Identificado como transgressor da ordem no início da década de 1920, esse estilo passou a ser considerado “a
música nacional”, popularizado até mesmo entre as elites. Entretanto, o samba do período padecia de forte
controle e censura: as letras deveriam exaltar o trabalho, a ordem e a figura do trabalhador. Para assegurar a
difusão dos valores do Estado e a construção e o fortalecimento da identidade nacional de acordo com a
política do governo, o que não estivesse de acordo com seus princípios era censurado.
O futebol Nos anos 1930, o futebol já era um fenômeno de massas que levava milhares de
torcedores aos estádios e paralisava outros milhares de ouvintes diante dos rádios para a narração das
partidas. De forma semelhante ao que ocorreu com o samba, a popularização e o controle do futebol foram
determinantes na política cultural do governo de Getúlio Vargas.
Nas celebrações cívicas, eram comuns demonstrações esportivas que enalteciam a força e a
disciplina dos jovens atletas, valores que Vargas defendia como os mais importantes para o fortalecimento
da nacionalidade brasileira, e nas comemorações do Primeiro de Maio, no estádio São Januário, o presidente
fazia discursos grandiosos para anunciar novas medidas e leis, como o aumento de salário mínimo ou a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que beneficiavam os trabalhadores.
Atividade de produção textual nº 32 – elabore um texto argumentativo sobre o processo de
construção da identidade pelo estado varguista, apontando suas estratégias para atingir a esse objetivo. Entre
20 e 30 linhas. No caderno.

A VEZ DOS DIREITOS Políticos (1945-1964) Após a derrubada de Vargas, foram convocadas
eleições presidenciais e legislativas para dezembro de 1945. As eleições legislativas destinavam-se a
escolher uma assembleia constituinte, a terceira desde a fundação da República. O presidente eleito, general
Eurico Gaspar Dutra, tomou posse em janeiro de 1946, ano em que a assembleia constituinte concluiu seu
trabalho e promulgou a nova constituição. O país entrou em fase que pode ser descrita como a primeira
experiência democrática de sua história, após a superação da ditadura fascista do estado novo. No período da
republica velha havia eleições para cargos majoritários como presidente da republica e presidente dos
estados (governadores) e prefeitos, mas eram eleições manipuladas e o voto controlado nos currais eleitorais,
o que dificulta enquadrar numa efetiva democracia. Em 1930 considera-se o governo Vargas ate 1934 como
uma experiência democrática que visava superar o poder das oligarquias do café com leite, porem, Vargas
não havia sido eleito pelo voto popular. Então a primeira democracia legitimada pelas leis foi a republica
democrática populista (1946-1964), na qual os presidentes foram eleitos pelo voto direto e com efetiva
participação das instituições democráticas. Essa republica durou ate o golpe de 1964.
A primeira experiência democrática: A Constituição de 1946 manteve as conquistas sociais do
período anterior e garantiu os tradicionais direitos civis e políticos. Ate 1964, houve liberdade de imprensa e
de organização política. Apesar de tentativas de golpes militares nos anos 1950, houve eleições regulares
para presidente da República, senadores, deputados federais, governadores, deputados estaduais, prefeitos e
vereadores. Vários partidos políticos nacionais foram organizados e funcionaram livremente dentro e fora do
Congresso, a exceção do Partido Comunista, que teve seu registro cassado em 1947. Uma das poucas
restrições serias ao exercício da liberdade referia-se ao direito de greve. Greves so eram legais se autorizadas
pela justiça do trabalho.
Após 1945, o ambiente internacional era novamente favorável a democracia representativa, e isto
se refletiu na Constituição de 1946, que, nesse ponto, expandiu a de 1934. O voto foi estendido a todos os
cidadãos, homens e mulheres, com mais de 18 anos de idade. Era obrigatório, secreta e direto. Permanecia,
no entanto, a proibição do voto do analfabeto. A limitação era importante porque, em 1950, 57% da
população ainda era analfabeta. Como o analfabetismo se concentrava na zona rural, os principais
prejudicados eram os trabalhadores rurais. Outra limitação atingia os soldados das forças armadas, também
excluídos do direito do voto. A Constituição confirmou também a justiça eleitoral, constituída de um
Tribunal Superior Eleitoral na capital federal, e tribunais regionais nas capitais dos estados. Cabia a justiça
eleitoral decidir sobre todos os assuntos pertinentes a organização de partidos políticos, alistamento, votação
e reconhecimento dos eleitos. Todo o processo ficava, assim, nas mãos de juízes profissionais, reduzindo,
embora não eliminando, as possibilidades de fraude.
A forma de maior participação do povo na política foi o populismo, uma política de aproximação
entre o chefe político e as massas, que desejavam maior engajamento na política, principalmente através do
voto. O populismo tem um caráter de massa dominantemente urbano, diferentemente do coronelismo, que
domina as massas rurais até 1937 e que persiste mesmo depois da revolução em regiões do país até a
Constituinte de 1946, quando os coronéis passam a ter representação política no Senado. Ele se enraíza,
sobretudo, nas cidades de maior ritmo de crescimento, onde se dão com mais força o desenvolvimento
industrial e as migrações. Estas últimas originam uma urbanização notável ao favorecer uma situação de
disponibilidade relativa das massas populares para participação, ou seja, elas aparecem como condição de
possibilidade para formas de compromisso político que abrem uma opção por parte dos indivíduos.
Apesar das limitações, a partir de 1945 a participação do povo na política cresceu
significativamente, tanto pelo lado das eleições como da ação política organizada em partidos, sindicatos,
ligas camponesas e outras associações. O aumento da participação eleitoral pode ser demonstrado pelos
números que se seguem. Em 1930, os votantes não passavam de 5,6% da população. Na eleição presidencial
de 1945, chegaram a 13,4%, ultrapassando, pela primeira vez, os dados de 1872. Em 1950, já foram 15,9%,
e em 1960, 18%. Em números absolutos, os votantes pularam de 1,8 milhão em 1930 para 12,5 milh6es em
1960. Nas eleições legislativas de 1962, as ultimas antes do golpe de 1964, votaram 14,7 milh6es.
Atividade de produção textual 33 – elabore um texto argumentativo sobre a nova realidade vivida
no Brasil após 1945 e as caracteristiscas da nova organização politica com a queda do estado novo,
alinhando-se ao modelo democrático e liberal. Mínimo 30 linhas
Atividade nº 34 - Pág. 57 questões 1,2,3,4
Atividade nº 35 - Pág. 74-75 questão 8
Atividade nº 36 - Pág. 82 questões 1,2,3,4,5
Atividade nº 37 - Pág. 87 questões 1,2,3,4
Atividade nº 38 - Pág. 93 um outro olhar questões 1,2,,3,4
Atividade nº 39 - Pág. 93 verificação da leitura questões 1,2,3,4,5,6
Atividade nº 40 - Pág. 96 questão 8

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