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Alynne Lopes Salgueiro (19103388)
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Dr° Jean Gabriel Castro da Costa
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Discente da 3ª fase do curso Bacharelado em Relações Internacionais na Universidade Federal de Santa Catarina.
E-mail: lynnelopess@gmail.com
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Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo - USP e docente da disciplina SPO 7004 – 03340
(20201) – Teoria Política I na Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: jeancastrocosta@gmail.com
ligada aos direitos civis e que atestava o pertencimento ao corpo social onde se estava inserido.
Assim, para se chegar à conclusão de que o cidadão é o possuidor de elementos
fundamentais como a liberdade, vida, propriedade e igualdade perante a lei, foram necessárias
algumas intervenções intelectuais que permitissem agregá-los ao conjunto. Pensadores como
John Locke (1632), Montesquieu (1689) e Jean-Jacques Rousseau (1712) colaboraram para um
conceito amplo da cidadania, estabelecendo o cidadão e moldando uma definição rica de
elementos que tornam essas definições postulados factíveis no atual.
A vida em seu sentido pleno e um direito vitalício, é como Rousseau (1712) comtempla
a cidadania e o “ser cidadão” em sua teoria. Singular iluminista de sua época, Rousseau
apresentou um direito cidadão pautado na política, a partir de um “Contrato Social”. Escrito em
1762, o contrato atribuiu um novo papel ao Estado e à Sociedade, a tutela dos direitos e
liberdade do homem para expressão da vontade comum. A harmonia entre a liberdade e a
autoridade, assim como entre o indivíduo e o Estado.
Admirador dos escritos antigos, o autor usa uma percepção antiga para alicerçar sua
teoria, conforme a prerrogativa do filósofo Aristóteles, “o cidadão é aquele que governa e é
governado, alternadamente”. A partir disso, ele formulou o centro da cidadania como a
participação ativa dos cidadãos no objetivo de firmar uma identidade política e a
corresponsabilidade mútua perante suas ações. Nessa ótica, a cidadania está intimamente ligada
ao direito político e, unida ao seu habitante, o cidadão, juntos formaram os elementos da virtude
moral cívica - a vontade geral. Rousseau acreditava que a vontade geral era um dos pilares do
Meio para compreender o “indivíduo” e dar legitimidade aos direitos atribuídos a ele: a
participação cívica, liberdade, justiça, política e educação.
O pré-requisito do iluminista para o “ser cidadão” estava então na formulação de leis
a troco de uma consciência coletiva, ou seja, a socialização dos seus valores enquanto cidadão
(EUFRÁSIO, 2005). Segundo Rousseau (1991, p.120) “a vontade constante de todos os
membros é a vontade geral, sendo por ela a condicionante para a liberdade deles”.
O contrato social concretiza a vontade geral como a fator legítimo para a comunidade
viver a experiência da cidadania de acordo com os pressupostos da liberdade
convencional e civil. A cidadania, por conseguinte, representa o exercício da cidade,
da moral cívica e da virtude escondida em cada homem, que sonha em ser livre e gozar
com os outros da sabedoria do bem comum, consagrando o sentimento de moralidade
(EUFRÁSIO, 2005, p.?).
Nesse ambiente, para autores como Thomas Hobbes (1588) e Rousseau (1712), o
contrato social era o mediador na passagem do estado de natureza para o estado civil,
responsável pela transformação da natureza má – hobbesiana – do homem à liberdade garantida
pelo Leviatã e estabelecida na cidadania com o contrato social. Contudo, a riqueza era
desconsiderada nesse tempo como um elemento de direito inerente ao indivíduo. A partir dos
pensamentos liberais instigados por autores como John Locke (1632), essa prerrogativa mudou.
A tradição clássica sofreu algumas mudanças com a ascensão do protestantismo e a
desvinculação maior entre o Estado e a igreja. Logo, o comportamento do cidadão se tornou
mais racional e empreendedor, o que lhe conferiu atribuir uma nova valoração ao trabalho, o de
nobreza. Agora, Locke aproveitou o terreno preparado por esses movimentos para difundir uma
acepção genérica, que preconizava o ser humano antes do surgimento da sociedade e Estado.
O estágio do homem para ele era pré-social e pré-político, a definição da mais perfeita
igualdade e liberdade de seu estado de natureza (WEFFORT, 2001). Ao contrário de Hobbes -
o ser humano mau desde o nascimento – e mais semelhante a Rousseau, que indicava a bondade
do homem desde o nascimento e sua corrupção ao se relacionar com a sociedade. Dessa forma,
o filósofo designou simultaneamente a vida, a liberdade e a propriedade como direitos naturais
do ser humano e a condição para o título de cidadão. O uso do dinheiro passou a independer da
existência de uma comunidade, a garantia de uma propriedade privada era o elemento mais
incorruptível que se poderia ter no tempo e que permitia o usufruir do labor individual e no fim,
o ganho coletivo.
A cidadania de Locke atrelou-se a uma riqueza que proporciona liberdade e vida. Para
assegurá-la, o poder político nasce do consentimento desses homens livres – proprietários – que
em estado de natureza, pactuaram na constituição de uma sociedade que lhes beneficiasse
através da preservação da propriedade, como apontou Train Filho (2009, p.32). A estrutura da
cidadania adjunta ao novo sentido moderno para o cidadão, a começar das garantias de direitos
civis se de quando Montesquieu (1689) atribuiu às leis a função de despertar costumes
virtuosos. Em um ambiente mais comercial e proletário, o cidadão passou a usar do comércio
como requisito para participar civicamente, ao contrário do que era mais comum, a participação
política como encargo.
Para ele, a sociedade já não é naturalmente o lobo do homem, surge uma inclinação
natural à sociabilidade, logo a liberdade dos cidadãos depende diretamente de um novo fator, a
obediência das leis, ou seja, a “liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem” –
Montesquieu, cap III: que é a liberdade.
Os pré-requisitos se alteram novamente, não faz mais parte do dever do civil a
interferência em todas as áreas da política, mas para Montesquieu, o que permite o título de
cidadão é o exercício do voto, um direito irrevogável. Assim, o cidadão finalmente se torna
aquele portador de direitos. Como político, Montesquieu atrelou o conceito de cidadania à
tripartição de poderes, já iniciada de forma incipiente com John Locke. A sua obra “Espírito
das Leis”, configura um novo princípio constitucional que embasou todo o período liberal
iniciado com a difusão do comércio e estabelecimentos de outros elementos de direito.
Distingue-se três tipos de poderes nos diversos Estados: o poder legislativo, o poder
executivo do Estado, e o poder de julgar. Por meio do primeiro o príncipe ou
magistrado cria, altera ou até mesmo anula as leis. Estas podem ter caráter temporário
ou permanente. Pelo poder executivo do Estado “ele faz a paz ou a guerra, envia ou
recebe embaixadas, instaura a segurança, previne invasões”. (DOURADO;
AUGUSTO; ROSA, 2011, p. 2639 Apud MONTESQUIEU, 1741)
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. 5. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. 145
p.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato Social. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 169
p. Tradução: Antônio de Pádua Damesi.
TRAIN FILHO, Sergio. A cidadania em John Locke. 2009. 113 f. Dissertação (Mestrado) -
Curso de Filosofia, Filosofia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, 2009.
Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/27952. Acesso em: 02
nov. 2020.