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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO


LINHA DE TEORIA E FILOSOFIA DO DIREITO
MESTRADO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE DISCIPLINA - 2023.1

DISCIPLINA: DIREITO E TEOLOGIA POLÍTICA


PROFESSORA: CLARISSA NABACK
ALUNA: YASMIN FERRAZ DUTRA VARGAS

SETEMBRO/2023
JEAN JACQUES ROUSSEAU
O CONTRATO SOCIAL - O PRINCÍPIO DO DIREITO PÚBLICO

Introdução
Antes de começar a resenha sobre a obra do filósofo iluminista e contratualista, O
Contrato Social – Princípios do Direito Público, é importante explanar pontos importantes,
ocasionando a criação da obra. Ao fazer a leitura, Jean- Jacques Rousseau pondera
detalhadamente sobre várias questões relacionadas aos ideais do iluminismo. Neste trabalho,
os pensamentos sobre o estado de natureza, ao direito do mais forte, ao pacto social, à
soberania, ao Estado civil, à lei, às formas de governo, às eleições e aos sufrágios.

A questão que se coloca é a seguinte, como preservar a liberdade natural do homem e


ao mesmo tempo garantir a segurança e o bem-estar da vida em sociedade? Segundo
Rousseau, isso seria possível através de um contrato social, por meio do qual prevaleceria a
soberania da sociedade, a soberania política da vontade coletiva.

A partir disso, tenta-se abranger o paradoxo da liberdade política em “O contrato


social”, que está em como fazer com que todos os homens vivam a liberdade e ao mesmo
tempo renunciem a seus direitos em favor da liberdade coletiva e aceitem o pacto social. Uma
maneira eficiente que se encontrou na pesquisa de tratar o paradoxo é partir da importante
distinção que Rousseau estabeleceu entre submeter-se à vontade de um homem, ou de um
grupo de homens, e submeter-se à vontade geral, ou seja, à vontade do corpo político como
um todo.

Este trabalho propõe-se a: mostrar como o conceito de contrato se articula com a


moral e a política no Contrato Social de Rousseau; levantar os motivos que fizeram de O
Contrato a saída que permite a atenuação das enfermidades surgidas da ruptura em relação ao
estado de natureza do homem; discutir e conhecer quais os graus e limites do Contrato Social;
e por fim tentar explicar as possíveis condições de um pacto verdadeiro, por meio do qual se
possa recompensar os homens de terem perdido a sua liberdade natural, e ganhado em troca a
liberdade civil.

O que se adverte na obra O Contrato Social é que a recuperação da liberdade cabe ao


povo, que é quem escolhe seus representantes e a melhor forma de governo se faz por meio de
uma convenção. Esse acordo é formado pelos homens como uma forma de defesa contra
aqueles que fazem o mal. É a ocorrência do pacto social. Após a sua realização, pode-se
discutir o papel do “soberano”, e como ele deveria agir para que a soberania verdadeira, que
pertence ao povo, não seja prejudicada. Além de uma forma de defesa, na verdade o principal
motivo que leva à transição do estado natural para o civil é a precisão de uma liberdade moral,
que garante o anseio de autonomia do homem.

Livro I (capítulos I a IX)


No primeiro livro, Jean-Jacques Rousseau afirma que a ordem social, além de ser a
base de todos os outros direitos, é um direito sagrado, fundado em convenções sociais, não na
natureza. Entretanto, afirma que a família é a única sociedade natural e a faz de modelo para a
sociedade civil, tomando o pai como analogia ao chefe e os filhos ao povo. Na família, as
convenções sociais garantem sua continuidade, não sua base, conforme ele orienta:

“A família é, portanto, se quisermos, o primeiro modelo das sociedades


políticas; o chefe é a imagem do pai, o povo é a imagem dos filhos e, nascidos todos
iguais e livres, somente alienam sua liberdade a favor da própria utilidade. Toda a
diferença consiste em que, dentro da família, o amor do pai pelos seus filhos o
recompensa pelos cuidados que lhes dedica e, no Estado, o prazer de comandar
substitui esse amor que o chefe não dedica ao seu povo” (Rousseau, 2015, p. 12)

Além disso, o filósofo faz duras críticas a Aristóteles, pensador da Grécia Clássica, no
que diz respeito a predestinação do ser. O grego pregava que um escravo já possuía essa
condição desde seu nascimento, sendo predestinado a sempre ser um escravo, pois assim o era
por natureza. Por outro lado, Rousseau, de maneira lógica, põe em voga esse pensamento: se
existe escravo por natureza, então há de existir escravo contra a natureza. O filósofo afirma
que não existe homem com autoridade natural, mas sim convencionada.

Nesse contexto, o autor de O Contrato Social discute o significado e a relação de


poder existente no uso da força. Esta última fez os primeiros escravos e a covardia a
perpetuou. Na sua teoria, ela é um poder físico e não tem nenhuma moralidade como sua
consequência. Ceder à força não passa de uma necessidade, uma questão de prudência, não
vontade. O mais forte se mantém enquanto consegue transformar sua força em direito e a
obediência em dever.

O soberano para Rousseau não é caracterizado por uma pessoa, mas por um corpo
coletivo, “Ora, sendo o Soberano formado somente pelos particulares que o compõem, não
tem, nem pode ter, interesse contrário ao deles;” (ROUSSEAU, 2015, p. 23). Percebe-se forte
base democrática em sua teoria.

Além disso, ele também aborda características do Estado de Natureza, um mítico


estado originário, além do bem do mal, do qual o homem gradativamente decaiu por causa da
cultura, responsável pelos males sociais da época: o caminho do “estado natural” para o
“estado civil” foi marcado como um verdadeiro regresso. Entretanto, o próprio reconheceu a
necessidade de se criar o pacto social diante das circunstâncias de convivência humana.

Nesse viés, encontra-se uma forma de associação que proteja a pessoa e os bens de
cada associado com toda a força comum. Isso se dá com o pacto social.

“O que o homem perde pelo contrato social é sua liberdade natural e um


direito ilimitado a tudo que o tenta e que pode atingir; o que ganha é liberdade civil
e a propriedade de tudo aquilo que possui (...)” (ROUSSEAU, 2015, p. 24)

O foco como o filósofo explica ao retratar o selvagem, o período inicial do estado de


natureza, que tinha qualidades superiores e vivia num ambiente paradisíaco teve como
objetivo fundamental colocá-lo numa posição de embate ao homem civilizado, o valorizando.
Ainda assim, sua formulação sobre o homem do estado de natureza, o “bom selvagem”,
contribuiu, também, a antropologia, compreender de maneira ampla às sociedades indígenas
aquela visão idealizada do ser humano.

Entretanto, ao introduzir o campo da antropologia, há a tese aristotélica de que o


homem é um animal político, ou seja, ao nascer, já está na sociedade civil, integrado e a par
de todas as circunstâncias da vida dessa comunidade.
Nesse contexto, há grande possibilidade de a sociedade descrita pelo filósofo
contratualista como estado de natureza não ter existido e ser apenas um conceito que, segundo
ele, deveria ser perseguido e alcançado. Entretanto, ao longo dos outros livros, o próprio
filósofo afirma que tal feito é inalcançável, tornando sua teoria apenas um idealismo.

Livro II – Da Soberania (capítulos I a IV)

No desenvolvimento do segundo livro, Rousseau discorre sobre o conceito de


soberania. Conforme a sua visão, a soberania possui duas características principais: a
inalienabilidade, por se tratar de um exercício da vontade de todos, da vontade geral, e a
indivisibilidade, já que a vontade só é considerada geral se, e somente se, houver a
participação de todos os cidadãos.

Primeiramente, Rousseau define soberania como o exercício da vontade geral, uma


vez que a finalidade do Estado é o bem-comum, e que, sendo assim, o soberano deve ser um
ser coletivo. Ele prossegue dizendo que a inalienabilidade da soberania no pacto social é
fundamental para que a vontade do povo seja sempre superior às particularidades do
indivíduo.

“Digo, pois, que, sendo a soberania tão somente o exercício da vontade


geral, não pode jamais se alienar e que o Soberano, que não passa de um ser
coletivo, só pode ser representado por ele mesmo; pode-se muito bem transmitir o
poder, mas não a vontade.” (ROUSSEAU, 2015, p.28)

O autor pontua que a vontade não pode ser transmitida, pois quando o povo não
participa ativamente nas decisões da sociedade, ocorre a alienação, já que o cidadão passa
uma responsabilidade unicamente ao outro que, por sua vez, age de acordo com seus
interesses privados. Outra característica analisada pelo pensador é a indivisibilidade da
soberania.

“Pela mesma razão que a soberania é inalienável, ela é também indivisível.


Pois a vontade é geral ou ela não o é;(...) nossos políticos, não podendo dividir a
soberania no seu princípio, dividem-na em seu objeto; dividem-na em força e em
vontade (...).” (ROUSSEAU, 2015, p. 29).
Na divisão de poderes o que prevalece é a vontade particular, que não considera o
soberano (povo). Assim, pode-se exemplificar a divisão de poderes por meio da clássica
divisão entre poder legislativo e poder executivo. O legislativo faz as leis e o executivo
(governo) executa essas leis. Dessa maneira, criam-se grupos que executam as decisões do
executivo, os “ministérios”. Rousseau defende que a vontade geral nunca erra, mas está
suscetível a enganações.

“Conclui-se do precedente que a vontade geral é sempre correta e tende


sempre à utilidade pública, mas não se conclui que as deliberações do povo gozem
sempre da mesma correção. Deseja-se sempre o seu próprio bem, mas não é sempre
que se percebe onde ele se acha. Jamais se corrompe o povo, mas com frequência se
o ludibria e é somente então que ele parece desejar o que é mal.” (ROUSSEAU,
2015, p. 30)

Segundo Rousseau, com a existência de divisões em grupos, as divergências são


menores, mas quando um grupo se sobrepõe aos demais, há um conflito e sendo assim, não há
vontade geral e sim um acordo particular, comprometendo o bem comum.

Conclui-se, então, que as conceituações feitas por Jean-Jacques Rousseau ainda são
bastante atuais e utilizadas nos dias modernos. As características do poder soberano
apresentadas pelo autor são extremamente pertinentes no atual cenário mundial. Suas
considerações acerca da vontade geral estão intimamente ligadas ao ideal democrático que se
tem hodiernamente. A partir de suas ponderações sobre as enganações que a vontade geral
pode sofrer, pode-se traçar um paralelo com os casos de corrupção que ocorrem por todo o
mundo, em situações em que os interesses dos cidadãos são desconsiderados a fim de
favorecer os governantes, como nos quadros de desvio de verbas públicas.

Livro IV – A Religião e o Estado (cap. VIII)


Rousseau aponta sobre como a influência das religiões, tanto os dogmas positivos e
negativos, ainda mais pelo início da civilização ser governada por teocráticos. Religiões
como, o politeísmo, o paganismo, o cristianismo, entre outras (principalmente com os seus
mais de dois líderes, duas pátrias).

Convicto de que a religião deveria ser um suporte indispensável para o verdadeiro e


legítimo contrato social, Rousseau ainda vai além e propõe uma espécie de "nova religião",
com fundamentos puramente civis e doutrinários, que são de interesse do Estado, em paralelo
com o pacto social antes citado, e seguida sobre a pena de morte quando aceita por todos os
indivíduos constituintes de uma nação.

Essa convicção soava como despotismo e que ia contra próprio Rousseau, entretanto,
ele reforçava que esta rigorosidade se dá necessária por ser de suma importância para a
manutenção da ordem e soberania do Estado e seu povo. Acredita que o contrato social é uma
"livre" associação entre indivíduos de uma mesma localidade ou cultura, no qual todos estão
sujeitos a deveres em respeito a tal "vontade geral". Ir contra este princípio seria uma afronta
contra a própria sociedade, o que justificaria o uso da força estatal, a fim de coibir a ameaça e
inibir a desordem e a "insociabilidade".

Ao especificar sobre os dogmas, o filósofo especifica uma categoria, a religião civil:

“Os dogmas da religião civil devem ser simples, modesto, enunciados com
precisão e sem explicações e comentários. A existência da divindade poderosa,
inteligente, benéfica, previdente e provedora, a vida vindoura, a felicidade dos
justos, a punição dos maus, a santidade do contrato social e das leis – eis os
dogmas positivos. Quanto aos dogmas negativos, restrinjo-os a um só: a
intolerância, que se enquadra nos cultos que excluímos.” (ROUSSEAU, 2015,
p.123)

Uma observação final muito importante feita pelo filósofo, na qual eu também
concordo, a prática da tolerância religiosa, principalmente em países e regiões que não há
mais religião nacional exclusiva (estado laico). Devemos respeitar a religião alheia e vice-
versa, sem prejudicar os deveres do cidadão.

Considerações Finais
A importância da leitura do livro O Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau, é
visível o intuito em compreender o paradoxo da liberdade política na obra, está em como
fazer com que todos os homens vivam a liberdade e ao mesmo tempo renunciam a seus
direitos em favor da liberdade coletiva e aceitem o pacto social.

Uma maneira mais eficiente de tratar o paradoxo foi partir da importante distinção que
Rousseau estabeleceu entre submeter-se a vontade de um homem, ou de um grupo de homens,
e submeter-se à vontade geral, ou seja, à vontade do corpo político como um todo.
Rousseau defende que a sociedade opera modificações sobre os homens, que podem
ser positivas ou negativas. A partir do contrato social, as ações individuais devem respeitar as
leis que levam em consideração a vontade geral. Dessa forma, há normas que regulam e
limitam aquilo que os cidadãos podem ou devem fazer.

Como os ideais, para consolidação da democracia moderna dos estados nacionais,


serviram de inspiração para marcos históricos que rompem com a dicotomia “tirania-
monarquia” e introduzem a noção de democracia como instrumento de governo mais
apropriado aos tempos hodiernos.

Referências Bibliográficas
ALMEIDA JÚNIOR, J. B.. Como ler Jean-Jacques Rousseau. São Paulo: Paulus, 2013.
ROUSSEAU, J. J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os
homens. Coleção ‘Os Pensadores’. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
______________. O Contrato Social: princípios do direito político. São Paulo: Edipro, 2015.
______________. Emílio ou Da educação. Tradução de Sérgio Milliet. 3. ed. Rio
De Janeiro: Bertrand Brasil, 1995

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