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Fichamento – JEAN JACQUES ROUSSEAU

- NATUREZA HUMANA PARA ROUSSEAU:

Jean Jacques Rousseau, importante filósofo iluminista do século dezoito,


apresenta em suas obras ideias contrapostas a de outros filósofos do
Contratualismo, por ser defensor de um governo democrático representativo.

Ele elabora a ideia de Estado de Natureza, tendo como pressuposto que o


homem é desprovido de sua razão, e que ele usufrui da natureza para sua
própria sobrevivência, e seus desejos estão ligados ao que a natureza pode
oferecer. Nesse contexto, o Estado de Natureza não faz com que o homem
ataque outro homem, ou ser uma pessoa má para satisfazer seus próprios
desejos como propunha Thomas Hobbes. Nesse sentido, para Rousseau o
homem em seu estado natural tende a ser bom e de certa forma virtuoso, pois
para ele não há necessidade de colocar a sua vida em risco para interesse
próprio, o que seria descrito no princípio de autoconservação, que se opõe à
opressão.

Ele ainda elabora a “teoria do bom selvagem”, no qual, o homem é um ser


selvagem que vive da natureza com os desejos da natureza. É interessante
pontuar que esse conceito elaborado por Rousseau influenciou o movimento
artístico Romantismo no século dezenove, a exemplo nacional observa-se essa
influência nas obras de José de Alencar, como, "O Guarani", "Iracema", entre
outros, descrevendo em suas obras como se dava as relações entre os povos
nativos e os colonizadores europeus, sobretudo, a concepção de europeizar o
nativo brasileiro, trazendo uma ideia daqueles indivíduos que se adaptavam
bem a catequização e costumes europeus impostos como um "bom selvagem”.

Em suma, ele define que o homem pré-sociedade isolado em sua natureza não
conflituosa, se corrompe a partir do momento que toma a propriedade para si.
Logo, ele se torna competitivo, opressor, egoísta e reprodutor de
desigualdades. As características selvagens do homem se suscitam quando
expostos a essa vivência em sociedade, causado pelas desigualdades que a
propriedade privada gera.
Particularmente, gostaria de expor as contrariedades de ideias existentes entre
Hobbes e Rousseau, enquanto para Thomas Hobbes o Estado de Natureza era
um estado de "guerra de todos contra todos" e que os homens tendem para o
mal, para Rousseau, como exposto anteriormente, é o contrário. Ressalta-se
também as críticas do autor quanto as ideias de John Locke que era defensor
das liberdades individuais e da propriedade privada.

Para Rousseau, a minoria detém o poder de obter a propriedade e esse poder


fica concentrado na mão de poucos, enquanto a maioria fica sem esse direito,
gerando as diversas desigualdades e conflitos sociais existentes. Contudo, ele
não diz que a sociedade surgiu de uma hora para outra, mas progressivamente
com a constituição de instituições, regulamentações e comportamentos. Com
isso, faz-se necessário eliminar as desigualdades sociais para trabalhar com a
ideia de um corpo social. É este momento que marca a saída do homem do
Estado de Natureza para a Sociedade Civil.

Logo, o homem fadado a viver em sociedade, para o estabelecimento da


harmonia deveria haver uma sociedade em que todos obedeceriam a uma
vontade geral, pela qual, cada indivíduo a reconheceria como sua própria
vontade. Portanto, isso ocorreria através de um acordo racional entre os
homens, que seria reconhecido como um Contrato Social.

- IDEIAS CENTRAIS DE JEAN JACQUES ROUSSEAU:

Quando esse acordo não é feito em liberdade (pacto de submissão), entre


partes desiguais, constrói-se um Estado autoritário. Quando este é feito em
liberdade (pacto de liberdade), por livre vontade, entre partes que estejam em
pé de igualdade, tem-se a democracia. Nessa democracia, a soberania,
portanto, não residiria no rei, como dizia Hobbes, mas nos cidadãos, os quais
escolheriam seus governantes segundo as próprias necessidades. É a
chamada soberania popular, ou seja, a vontade suprema seria a Vontade Geral
dos cidadãos. "Assim, do mesmo modo que uma vontade particular não pode
representar a vontade geral, esta, por sua vez, muda de natureza ao ter um
objeto particular e não pode, como geral, pronunciar-se nem sobre um homem
nem sobre um fato". (ROUSSEAU. 1999. p, 40).
Para Rousseau, as leis deve. ser constitutivas da liberdade humana, mas
muitas vezes o vínculo social é um vínculo de escravidão, logo, a vontade geral
é o único fundamento legítimo da autoridade política, e a soberania do povo
exprimiria através do exercício da vontade geral, em tese, o povo é ao mesmo
tempo autor e sujeito das leis. "Decorre do exposto que a vontade geral é
invariavelmente reta e tende sempre à utilidade pública; mas daí não se segue
que as deliberações do povo tenha sempre a mesma retidão". (ROUSSEAU.
1999. p, 37).

O Pacto Social atua, nesse contexto, como um pacto de associação feito em


liberdade e não de submissão, em desigualdade constroi-se um Estado
autoritário, porém quando feito em liberdade, tem-se democracia. "(...) em vez
de destruir a igualdade natural, o pacto fundamental substitui, ao contrário, por
uma grande moral e legítima aquilo que a natureza poderia trazer de
desigualdade física entre os homens, e podendo ser desiguais em força ou em
talento, todos se tornam iguais por convenção e de direito". (ROUSSEAU.
1999. p, 30).

Nesse sentido, em um regime democrático, a soberania não estaria consistida


no rei, como numa monarquia, mas nos cidadãos, no qual, escolheriam seus
governantes de acordo com suas próprias vontades.

O Estado, portanto, deve garantir a liberdade dos homens e a obediência deles


perante as leis, se todos estiverem de acordo e reconhecerem a autoridade
legítima do Estado, que têm como propósito garantir o bem comum. Logo, se
há aceitação deste Estado, obedecê-lo é como obedecer a si mesmo. Nessa
percepção, para Rousseau a sociedade exerce controle sobre as leis, e não a
vontade política de quem os governa.

- TRECHOS QUE MAIS ME CHAMARAM ATENÇÃO:

"Pelo pacto social demos existência e vida ao corpo político. Trata-se agora de
dar-lhe o movimento e a vontade pela legislação. Pois o ato primitivo, pelo qual
esse corpo se forma e se une, nada determina ainda daquilo que lhe cumpre
fazer para conservar-se". (ROUSSEAU. 1999. p, 45).
“Quando afirmo que o objeto das leis é sempre geral, entendo que a lei
considera os súditos coletivamente e as ações como abstratas, nunca um
homem como indivíduo nem uma ação particular. Assim, a lei pode
perfeitamente estatuir que haverá privilégios, mas não pode concedê-los
nomeadamente a ninguém. Pode criar diversas classes de cidadãos, e até
especificar as qualidades que darão direito a essas classes, porém não pode
nomear os que nela serão admitidos. Pode estabelecer um governo real e uma
sucessão hereditária. Pode estabelecer um governo real e uma sucessão
hereditária, mas não pode eleger um rei nem nomear uma família real; numa
palavra, toda função que se refere a um objeto individual não está no âmbito do
poder legislativo". (ROUSSEAU. 1999. p, 47).

"O legislador é, sob todos os pontos de vista, um homem extraordinário no


Estado. Se o é por seu gênio, não o é menos por seu cargo". (ROUSSEAU, J.J.
O Contrato Social. Princípios do Direito Político. pg, 50. São Paulo: Martins
Fontes, 1999).

"Para que um povo nascente experimentasse as máximas sãs da política e se


seguisse as regras fundamentais da razão de Estado, seria necessário que o
efeito se convertesse na causa, que o espírito social que deve ser a obra da
instituição presidisse à própria instituição, e que os homens fossem antes das
leis o que deveriam tornar-se por elas". (ROUSSEAU, J.J. O Contrato Social.
Princípios do Direito Político. pg, 52. São Paulo: Martins Fontes, 1999).

"Há para as nações, assim como para os homens, um tempo de maturidade


que é preciso aguardar antes de submetê-las às leis; mas a maturidade de um
povo nem sempre é fácil de reconhecer, e, se for antecipada, a obra aborta".
(ROUSSEAU, J.J. O Contrato Social. Princípios do Direito Político. pg, 55. São
Paulo: Martins Fontes, 1999).

"O que torna a constituição de um Estado verdadeiramente sólida e duradoura


é o fato de as conveniências serem de tal forma observadas que as relações
naturais e as leis estão sempre de acordo nos mesmos pontos, e estas últimas
não fazem, por assim dizer, se não assegurar, acompanhar e retificar as
outras". (ROUSSEAU, J.J. O Contrato Social. Princípios do Direito Político. pg,

64. São Paulo: Martins Fontes, 1999).


"(...) Primeiramente, a ação do corpo inteiro atuando sobre si mesmo, isto é, a
relação do todo com o todo, ou do soberano com o Estado, e essa relação é
composta da relação dos termos intermediários(...). As leis que regulam essa
relação são denominadas leis políticas; chamam-se também leis fundamentais,
não sem alguma razão, se forem sábias(...) Aliás, em qualquer situação, um
povo é sempre senhor de mudar suas leis, mesmo as melhores(...) A segunda
relação é a dos membros entre si ou com o corpo todo(...) que cada cidadão
esteja em perfeita independência da Cidade; o que se consegue sempre pelos
mesmos meios, pois só a força do Estado faz a liberdade de seus membros. É
dessa segunda relação que se originam as leis civis". (ROUSSEAU, J.J. O
Contrato Social. Princípios do Direito Político. pg, 65-66. São Paulo: Martins
Fontes, 1999).

"É no governo que se encontram as forças intermediárias, cujas relações


compõe a do todo com o todo, ou do soberano com o Estado(...). O governo
recebe do soberano as ordens que dá ao povo e, para que o Estado
permaneça em bom equilíbrio, é necessário que, tudo compensado, haja
igualdade entre o produto ou o poder dos cidadãos, que por um lado são
soberanos e, por outro, súditos". (ROUSSEAU, J.J. O Contrato Social.
Princípios do Direito Político. pg, 74. São Paulo: Martins Fontes, 1999).

"O soberano pode, em primeiro lugar, confiar o governo a todo o povo ou à


maior parte do povo, de modo que haja mais cidadãos magistrados que
simples cidadãos particulares. Essa forma de governo denomina-se
Democracia". (ROUSSEAU, J.J. O Contrato Social. Princípios do Direito
Político. pg, 80. São Paulo: Martins Fontes, 1999).

"Quem faz a lei sabe melhor que ninguém como se deve executá-la e
interpretá-la. Parece, pois, que não poderia haver melhor constituição que
aquela em que o poder executivo está unido ao legislativo. Mas é justamente
isso que torna esse governo insuficiente em certos pontos(...) Não convém que
quem redige as leis as execute, nem que o corpo do desvie sua atenção dos
desígnios gerais para concentrá-la nos objetivos particulares. Nada mais
perigoso que a influência dos interesses privados nos negócios públicos".
(ROUSSEAU, J.J. O Contrato Social. Princípios do Direito Político. pg, 82. São
Paulo: Martins Fontes, 1999).

- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

(ROUSSEAU, J.J. O Contrato Social. Princípios do Direito Político. São Paulo:


Martins Fontes, 1999).

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