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CORRENTES DE

FORMAÇÃO DO
ESTADO MODERNO
NATURALISMO E CONTRATUALISMO
QUAL A ORIGEM DO SOCIAL?
A vida em sociedade traz inúmeros benefícios para o ser
humano, contudo resulta também em diversas restrições,
de modo que, algumas vezes, pode chegar até mesmo a
limitar a própria liberdade humana (DALLARI, 2005, p. 9).

Sendo assim, qual o motivo de o homem decidir – ou não –


pela vida em sociedade e nela permanecer?

Naturalistas X Contratualistas
CORRENTE NATURALISTA
ARISTÓTELES E SÃO TOMÁS DE AQUINO

Uma das correntes de maior expressividade acerca da origem da vida social, possuindo um
grande número de adeptos, é a que afirma a formação natural da sociedade humana, defendendo
que o ser humano possui um impulso natural à vida em sociedade, ou seja, que é inerente ao ser
humano a necessidade de coexistir em proximidade e em conjunto com outros seres humanos.

Os naturalistas acreditam, portanto, que o fator responsável pela associação humana advém da
própria constituição da espécie. Esta definiria o ser humano como um animal gregário.
Os naturalistas não excluem a participação
da liberdade e da vontade na modelagem da
forma de organização social dos
agrupamentos humanos, haja vista que
ambas são responsáveis pela diversidade de
formas de organização socioculturais.

A corrente naturalista de pensamento possui


diversos pensadores de destaque, dentre os
quais Aristóteles e Santo Tomás de Aquino.

Para ambos só podemos entender a vida


social humana se a concebermos como
animada por uma necessidade intrínseca à
própria constituição natural da espécie.
ARISTÓTELES
Aristóteles concebe o ser humano como um animal, mas um que se diferencia dos demais que
agem puramente por instinto. O homem seria um animal racional, capaz de discernir e realizar
escolhas livres.

Por ser um animal político e racional, o homem precisaria viver em uma sociedade política/cidade
(pólis) para concretizar sua natureza e sua essência. Desse modo, é na cidade e por meio dela que
a humanidade se torna capaz de atingir os fins de sua existência.

Ou seja, é na cidade, e apenas nela, que os seres humanos se tornam seres humanos, podendo
alcançar plenamente suas potencialidades
O que o distingue dos demais animais seria a linguagem, que lhe possibilitaria discernir o bem do
mal, o justo do injusto, o certo do errado.

Dessa forma, “pensar a cidade como existindo por natureza equivale a vincular a natureza humana
à cidade: [o ser humano seria então] um ser intermediário, nem deus nem besta, que pode
escolher viver em conformidade com a virtude e a justiça e, então, realizar sua essência segundo o
melhor fim, a eudaimonia.”
SÃO TOMÁS DE AQUINO

Para ele, a cidade representa a suprema sociedade/comunidade humana, a mais completa e


perfeita. Sendo um animal racional, a existência do ser humano estaria diretamente ligada à vida
conjunta, que é possibilitada pela presença da linguagem.

Esta seria algo próprio dos seres humanos, haja vista que, diferentemente dos demais animais
que possuem apenas a voz, o ser humano é detentor da capacidade de se comunicar por meio
de símbolos convencionais aptos a adquirir determinados significados em dadas situações.

Uma vez que o ser humano possui essa qualidade essencial, a cidade se torna necessária e
natural, pois constitui o local em que ele poderá efetuá-la, já que a comunicação é uma ação
dependente da vida em comunidade.
Conforme Santo Tomás de Aquino, o ser humano seria um animal social que necessitaria mais
que os outros da vida em sociedade.

O ser humano somente viveria isoladamente em três hipóteses, quais sejam:

• excelentia naturae – caso de ser humano extremamente virtuoso vivendo em comunhão com a
própria divindade;

• corruptio naturae – que envolveria os casos de anomalia mental; e

• mala fortuna – que abrangeria, os casos de acidente que obrigam os seres humanos, por
circunstâncias alheias à sua vontade, a viver só
CORRENTE CONTRATUALISTA
HOBBES E ROUSSEAU

Os autores contratualistas rejeitam veementemente a existência de um impulso associativo


natural ou de qualquer instinto natural que seja responsável pela associação humana.

Para eles, as sociedades não foram formadas de modo natural/instintivo, houve, em verdade, um
momento no qual os seres humanos por um ato deliberado de vontade decidiram se associar.

A corrente de pensamento contratualista acredita, em geral, que houve um momento na história


humana em que os seres humanos, embora vivessem próximos uns dos outros, viveriam isolados,
isto é, sem que houvesse um contato duradouro de modo a se organizarem socialmente.

Esse momento anterior à formação da sociedade seria o estado de natureza.


Conforme o pensador contratualista analisado, a concepção do modo como se deu o estado de
natureza pode variar drasticamente, assim como as razões para a assinatura do contrato social e o
modo como se estabeleceria o estado civil.
THOMAS HOBBES (1588-1679)
Para ele, o estado de natureza não apenas significava o
momento anterior à formação da sociedade, mas também o
momento mais embrutecido da história da humanidade, no
qual os indivíduos possuíam uma vida breve, animalesca,
sórdida e bestial.

• Império do Caos

• Ameaça constante para a sociedade

Para Hobbes, o estado de natureza seria produto necessário de


quatro fatores, quais sejam:

A natureza vil da humanidade, a natureza desejante dos


indivíduos, a igualdade de todos entre si e a escassez de bens
aptos a satisfazerem as necessidades e os desejos de todos os
indivíduos.
Hobbes tem ainda uma concepção negativa da liberdade humana,
haja vista que, por meio dela o ser humano possuiria o direito de
tudo querer e poder, sendo possível fazer o uso de todas as suas
forças e capacidades para alcançar seus objetivos.

• Guerra de todos contra todos - O homem é o lobo do homem

Para Hobbes, chegado a esse ponto, os indivíduos vislumbram que


a única forma de escaparem do estado de natureza é por meio da
mútua associação, tendo em vista a implementação de uma
coexistência pacífica.

A formulação do pacto social se dá, portanto, no exato momento


em que a razão humana subordina o lado vil e desejante do ser
humano, e institui as regras e instituições necessárias para a
convivência pacífica - Estado civil.

• Soberano - Absolutismo
JEAN JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)
No estado de natureza os seres humanos não estabeleceriam
qualquer vínculo social com seus semelhantes a não ser aqueles
estritamente necessários à sua sobrevivência.

Os seres humanos não só não possuiriam vínculos entre si, mas


também não necessitariam destes.

Todavia, a inexistência de vínculos não significa necessariamente a


desordem, pois, para Rousseau, a única preocupação humana,
nesse estado, seria com a sua autopreservação, sendo que, por
possuir natureza essencialmente boa, o ser humano não possuiria
qualquer predisposição de atacar seu semelhante. (ROMÊO, 2013, p.
170).

Inexistiria a "guerra de todos contra todos" afirmada por Hobbes, o


ser humano, embora sozinho, viveria em paz
Para Rousseau, o ser humano possuiria duas características próprias ao estado de natureza:
liberdade e igualdade. Os indivíduos teriam direito a tudo querer e poder, mediante o uso da
razão.

O aparecimento da linguagem adquire, em Rousseau, uma significação importante no que


concerne à criação de laços e regras. Através da linguagem, em algum momento, um dos seres
humanos decidiu instituir através de convenções a ideia de propriedade, que possui estreita
ligação com a desigualdade, ao passo que retira algo do coletivo transformando em individual.

Segundo Rousseau, haveria dois tipos de igualdade/desigualdade: as físicas e as sociais.

Estas se radicam nas convenções impostas pelos seres humanos e, por não serem fruto da
natureza, não possuem legitimidade. Desse modo, a sociedade traz a infelicidade, dá origem à
corrupção humana.
Com o objetivo de recuperar a liberdade natural por meio da instituição da liberdade civil e de
ampliar a igualdade natural, o ser humano teria assinado um pacto social.

Todos os seres humanos, na condição de iguais, teriam decidido pela alienação total de seus
direitos em favor da criação de uma autoridade formada por eles mesmos. Isto é, a elaboração de
leis e regras se daria pelo povo e este mesmo povo seria sujeito passivo de tais regramentos
(NASCIMENTO, 2005)

Logo, o pacto seria responsável pela instauração do Estado, que por sua vez, deveria estruturar-se
de modo a ser um mero representante da vontade geral, que não se resume a qualquer vontade
individual.

• República - Democracia

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