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A NATUREZA SOCIAL DO HOMEM

O entendimento do sentido geral do Direito parte, primordialmente, da seguinte


questão:

 Afinal, de onde nasce a necessidade de haver uma ordem?


Ora bem, a partir deste problema será possível discorrer o sentido geral do Direito,
assim o primeiro ponto a entender é desmistificar a natureza social do homem:
O entendimento da natureza social do homem possui dois postulados, por um lado a
tese naturalista e por outro lado a tese contratualista, estas embora com abordagens
distintas, convergem no sentido de tentar explicar o ponto de origem da sociabilidade
do homem.
A tese naturalista, dentre os defensores desta tese ou corrente encontra-se,
especialmente, Aristóteles que defendeu que o homem é um ser eminentemente
social que necessita relacionar-se constantemente com os outros homens para poder
se desenvolver, ainda fez referência ao facto do homem não conseguir viver só e
afirma que somente um ser superior viveria desta maneira e este seria uma exceção.
Ainda entre os naturalistas, encontra-se São Tomás de Aquino que partindo da ideia de
Aristóteles afirma que o homem é uma ser especial e político, e este vê na vivência em
sociedade a forma de defender seus direitos e bens, diz ainda que o homem apenas
não viveria em sociedade em casos especiais.
Renelletti enfoca que o homem analisado a qualquer período histórico estará sempre
buscando a convivência em grupos, reforçando a ideia de Aristóteles.
E por fim, Cícero, este baseia-se, outrossim, na ideia defendida por Aristóteles, por
receber uma forte influência deste, porém acrescenta à teoria afirmando que
independentemente de qualquer abundância material que o homem por ventura pode
possuir, buscará sempre viver em sociedade, pois a associação entre homens vai muito
além das necessidades materiais.
Nestes termos, a tese naturalista relactiva à natureza social do homem, basicamente,
baseia-se na ordem e defende que o homem é um ser naturalmente social, assim, ao
homem dada a sua natureza não lhe é possível desenvolver as suas capacidades se
não se envolver em relações com os outros homens. Os naturalistas postulam que
onde existe homem, há sociedade – Ubi homo, Ubi societas, pois o homem mais do
que um ser social é um ser que nasce na, para e em função da sociedade.
Já a tese contratualista possui diferentes teorias, todavia as mesmas têm como
denominador comum um estado pré-social, este seria um estado onde o homem vivia
livremente; postula que o homem é um ser isolado que forma sociedade através de
um acordo de vontades de modo a poder salvaguardar os seus interesses. Ou seja, de
forma sucinta, a tese contratualista é um modelo teórico criado para tentar explicar o
surgimento da sociedade. Esta, no entanto, parte do princípio de que os seres
humanos viviam em um estado pré-social, chamado ainda de estado de natureza e

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abandonaram-no para firmar um pacto, um contrato social onde abdicam todos os
seus direitos e sujeitam-se a uma autoridade em prol do bem comum e em particular
do próprio homem na certeira segurança da salvaguarda dos seus interesses.
São diversos os autores que teorizaram a respeito, ainda assim todos partem do
mesmo princípio, de que o homem passa por um estado pré-social, o estado de
natureza, e que por meio de um contrato social passam então ao Estado da sociedade.
 Thomas Hobbies
Este autor desenvolveu uma teoria política em que o homem era inicialmente feroz,
egoísta, violento e perigoso – homo Hominis lupus – tinha a tendência para a
desordem a injustiça, o que gerava agreções mútuas, daí a sua célebre frase “o homem
é o lobo do próprio homem”.
Por conta do seu intelecto, os seres humanos dominavam a natureza, contudo
encontravam em outros homens os seus verdadeiros predadores naturais. O desejo
dos indivíduos em estado de natureza, segundo a mesma teoria, geraria disputas que
poderiam levar à morte de uma das partes do conflito. Diante dessa conjuntura, pela
necessidade de segurança, justiça, paz e, principalmente, por receio de uma morte
violenta, os indivíduos preferem abrir mão e abdicar de determinadas liberdades para
criar uma força superior, com o poder supremo e absoluto, celebraram, portanto, um
pacto ou contracto social onde passaram a estar submetidos a um governo que possa,
por meio das leis, garantir-lhes uma vida segura.
Assim, os seres humanos abandonaram o estado de natureza e dão origem ao estado
civil por meio de um contrato.
 Jonh Lock
O filósofo inglês, Lock, outrossim considerado como o pai do liberalismo político,
diferente de Hobbes, Lock postulou na sua teoria contratualista que os seres humanos
em estado de natureza não vivem em guerra, estes tendem, pelo contrário, a uma vida
pacífica por sua condição de liberdade e igualdade.
Para Lock, os indivíduos ao nascer receberiam da natureza, o direito à vida, liberdade e
os bens que tornam possível os dois primeiros, ou seja, direito à propriedade privada.
No entanto, os indivíduos em estado de natureza, por seus desejos e por sua
liberdade, acabariam por entrar em conflitos uns com os outros em virtude da defesa
da respectiva propriedade de cada indivíduo.
Neste ínterim, tornou-se, crucialmente, necessário a criação de um poder mediador ao
qual todos se submetessem, por esta razão, celebram um contrato social
abandonando assim o estado de natureza. Com efeito, o estado passa a desempenhar
o papel de árbitro nas relações e eventuais conflitos, evitando injustiças e uma
consequente vingança daquele que se sentir injustiçado. Daí, pois, a responsabilidade
do estado em garantir sempre o direito natural à propriedade.

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 Jean Jeack Rousseau
O filósofo francês Jean Jeack Rousseau possui um concepção do ser humano em
estado de natureza antagónica da de Hobbes e de Lock, afirmando que o ser humano é
naturalmente bom. Em estado de natureza, na concepção de Rosseau, o homem
viveria uma vida isolada dos demais, plenamente livre e feliz. O indivíduo seria “o bom
selvagem” – inocente e incapaz de praticar o mal como fazem os animais.
Entretanto, este estado termina quando por algum motivo particular, um indivíduo
gozando do seu estado de liberdade classifica uma propriedade como sua, ou seja, a
privatização da propriedade é, para a teoria de Rosseau, o motor gerador da
desigualdade e violências.
“O homem nasce bom, porém sociedade o corrompe”
Surge o estado de sociedade onde, através do contrato social os indivíduos
abandonam o anterior estado, passam a viver sob o controle de um estado que deve
realizar estritamente a vontade geral, este que é o estado civil.
A ORDEM SOCIAL E A ORDEM NATURAL
A ordem sempre existiu desde a criação do mundo, vislumbramos ordem no sistema
solar, isto é, na organização dos planetas, vislumbramos ordem na organização de
livros numa biblioteca etc, na verdade a ordem possui uma leque gigantesco de
acepções e uma delas é quando esta se revela num instrumento presente na
sociedade como mecanismo mediador das relações que nela se estabelecem. Ou seja,
no âmbito jurídico, a ordem é comumente entendida como lei, regra, princípios ou
preceito que advém de certa entidade revestida de autoridade, esta classificar-se em:
natural e social.
A ordem social é uma ordem de liberdade dado que apesar das suas normas
exprimirem um “dever ser” e se imporem ao homem, este pode violá-las, pode ainda
revelar-se contra elas ou pode mesmo alterá-las, sendo certo que a violação das
normas desta ordem atinge somente na sua eficácia e não na sua validade; são
exemplos desta: regulamentos, regimes, estatutos etc.
Já a ordem natural, é constituída por um conjunto de leis inerentes a própria existência
das coisas, esta rege mormente o funcionamento da natureza, sendo por isso
inviolável, inalterável, sua aplicação é invariável e constante bem como independente
da vontade do homem.
As principais características que difere a primeira da segunda são as seguintes:
 Ordem Natural: leis assentes na causalidade natural; invioláveis; não são
criadas pelo homem; todos sujeitam-se a elas;
 Ordem Social: leis assentes em dados culturais, criada pelo homem, violáveis,
etc.

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INSTITUIÇÕES SOCIAIS: noção; função; necessidade.
Instituição é um termo que deriva do latim “Institutio” que significa estabelecimento
ou fundação. Seus componentes lexicais são o prefixo IN (fixação)' STATUERE (local ou
área) e o sufixo CIÓN (acção ou efeito). Assim, temos a instituição como acção ou
efeito de Instituir, criar, estabelecer ou fundar.
O homem como ser social durante toda à sua vida faz parte de várias instituições
sociais, quer de carácter político, religioso, económico, social, etc.
Grosso modo, a instituição pode ser entendida por um conjunto de actos ou ideias já
estabelecidas, que os indivíduos ocupam ante si e que Ihes impõem com maior ou
menor rigor. O principal objectivo de qualquer instituição social prende-se com à
satisfação das necessidades sociais básicas do homem.
As instituições sociais consistem em estruturas relativamente permanente de padrões,
papéis e relações que os indivíduos realizam segundo determinadas formas
sancionadas e unificadas, com o objectivo de satisfazer as necessidades sociais básicas.
As principais características das instituições são:
 Permanência: com relactiva continuidade face as transformações sociais;
 Possuem valores próprios;
 São estruturas unificadas;
 Possuem uma ideologia particular que justifica suas acções e existência;
Principais funções das instituições são:
 Impor diretrizes de conduta;
 Regular e estruturar aspectos fundamentais da vida social;
 Auxiliar na adaptação a novos tempos e ser facilitador de mudanças;
 Satisfazer as necessidades básicas e concretas da comunidade.
As instituições podem ainda ser definidas como: conjunto de relações, pessoas e
recursos destinados a satisfazer necessidades sociais especificas (é o caso da escola);
Existem vários tipos de instituições sociais, mas as mesmas segundo a sua origem,
podem ser enquadradas em dois grupos principais, nomeadamente, Instituições de
origem supra-estrutural e instituições de origem infra-estrutural.
As instituições de origem super-estrutural são as ideológicas, as organizações jurídicas,
culturais, religiosas, etc. Ao passo que as instituições de origem infra-estrutural podem
ser as associações, os grémios, as organizações Politico-administrativas, sócio-
económicas e convivências da sociedade, etc.
Uma vez entendido o conceito, principais características e funções das instituições, é
hora de abordar o tipo específico de Instituição que diz respeito o nosso ramo, esta

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quanto a sua origem enquadra-se no grupo das instituições supra-estruturais,
referimo-nos às instituições jurídicas.
Diz-se de instituições jurídicas a um agregado de normas mais ou menos extensa que,
subordinadas a princípios comuns, disciplinam um determinado tipo de relações
sociais, sem esquecer, pois, que a realidade social é que lhe está na base. Por exemplo:
um complexo de normas estabelecidas e aceites como obrigatórias pela sociedade (é o
caso do casamento).
Importa ainda destacar que, uma perspectiva antropológica moderna sustenta que o
homem é um ser naturalmente inacabado, uma criatura em gestação incompleta que
nasce prematuramente, carece de um equipamento instintivo que o oriente e que
permite-o encontrar um rumo de acção no meio em que se integra.
Portanto, pese embora existam diversos tipos de instituições na sociedade, cada com
as suas respectivas funções, características específicas e particularidades, todas elas
convergem em guiar e oferecer nas diversas relações deste com os outros, a segurança
indispensável, a previsibilidade em que se assenta a planificação da vida e o progresso,
ou seja, num sentido figurado as instituições têm, através das suas múltiplas funções, a
principal finalidade de completar o homem, tendo em conta que este é uma
construção inacabada e as instituições jurídicas não ficam de fora deste processo,
inclusive, estas constituem uma das principais instituições sociais que auxiliam o
vivência do homem na sociedade, assegurando a paz, segurança e acima de tudo a
justiça nas relações estabelecidas por estes.

A ORDEM JURÍDICA
AS LINHAS ESTRUTURANTES DA ORGEM JURÍDICA
A ordem jurídica apresenta três linhas estruturais que configuram como que um
triângulo:
 1ª linha estruturante da origem jurídica (linha de base): esta surgiu durante a
época moderna, sobretudo no âmbito do direito romano, nesta linha estão as
relações juridicamente relevantes que estabelecemos na qualidade de sujeitos
de direito privado; relações estabelecidas uns com os outros. Trata-se de
relações entre particulares estabelecidas em termos de paridade. Nesta linha,
avultam valores como: da liberdade relactiva, a igualdade e o da autonomia,
aqui todos podem realizar os seus interesses. Esta primeira linha de relações
tem a ver, acima de tudo, com a justiça comutativa ou de troca. V.g. contratos
civis ou comerciais, quando celebramos uma compra e venda, (art.° 405° CC) se
o vendedor obtém do comprador uma vantagem (o preço), está pagá-la com
um sacrifício (a propriedade do prédio) dá, portanto, lugar a obrigações
recíprocas com objectos diferentes; reparação do dano causado ao lesado (art.°
483°, n°1 C.C).
 2ª linha estruturante da ordem jurídica (linha ascendente): autonomizou-se
há cerca de dois séculos, com o surto do Estado-de-Direito pós-revolucionário

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em que se começou a limitar e a controlar o poder, prova disso é o Direito
Constitucional e o Direito Público terem surgido com o Iluminismo, nesta linha
estabelecem-se as relações entre cada um de nós e a sociedade, ou seja, esta é
sujeito das relações que se estabelece entre os indivíduos com a sociedade,
exigindo-nos, por exemplo, (o cumprimento do serviço militar, o pagamento
de impostos, etc.) Isto obrigatoriamente, estas relações colocam-nos a todos
diante da sociedade e não uns perante os outros, se por acaso violarmos estes
interesses a sociedade pede-nos responsabilidades, nesta linha os Indivíduos
dirigem à sociedade exigências tais como os direitos fundamentais das pessoas
e o principio da legalidade criminal. O Direito cumpre aqui as funções de tutela
e de garantia a justiça relevante, nesta segunda linha a justiça é geral que se
caracteriza como aquilo que em nome de todos se pode exigir a cada um,
importa destacar que são valores fundamentais aqui: a responsabilidade e a
liberdade.
 3ª linha estruturante da ordem jurídica (linha descendente): projecta-se no
decurso do século XX, no Estado providencial, a sociedade é aqui considera
como uma entidade actuante, dinâmica, tem um programa estratégico que
quer actuar para atingir os objectivos a que se propõe, o Direito surge aqui
simultaneamente como um estatuto de actuação e de limitação no direito da
segurança social, nesta linha aparecemos frequentemente como beneficiários,
mas também podemos ter que contribuir com descontos para os fundos da
segurança social. A justiça que aqui está em causa é uma justiça distributiva,
que impõe a recolha e a redistribuição de meios.
RESUMO: CONFRONTOS ENTRE AS LINHAS ESTRUTURANTES DA ORDEM JURÍDICA:

1ª linha de base 2ª linha 3ª linha


ascendente descendente

Relações entre
Relações A sociedade é uma
particulares, estabelecidas entre entidade actuante e
estabelecidas emcada um de nós e a dinâmica, tem um
OBJECTO em termo de
sociedade; a programa
paridade; todos
sociedade aqui é o estratégico que quer
podem realizar seusprincipal sujeito das actuar para atingir
interesses relações que os objectivos que se
(igualdade). estabelece. propõe.
Comutativa ou de Justiça geral, aquilo Justiça distributiva
JUSTIÇA troca, compensação que em nome de que impõe a recolha
entre prestações
todos se pode exigir e a redistribuição de
que se trocam. a cada um. meios.
Cumpre funções de Os ramos do direito
Tutela e de garantia, predominante aqui
o ramos do direito pertence ao Direito
Está no domínio do que regulamenta público (Direito
DIREITO direito privado nas exigências da Constitucional,

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(civil, comercial, sociedade: Dit.° Fiscal, Direito da
laboral) Constitucional, segurança social, da
Fiscal, Penal, economia)
Militar.
A salvaguarda da
nossa autonomia
naqueles momentos
VALORES Liberdade relativa, a em que estejam em A liberdade e a
igualdade e a causa a liberdade e solidariedade.
autonomia. a responsabilidade
social de cada um
de nós.

Estado

Linha ascendente. BB bb bb. Linha descendente

Cidadão Linha de base. Cidadão


AS FUNÇÕES DA ORDEM JURÍDICA
A ordem jurídica possui duas funções essenciais, nomeadamente:
 Função primária ou prescritiva;
 Função secundária ou auto-organizatória
Na primeira, isto é, função primária, a ordem jurídica caracteriza-se
fundamentalmente por estabelecer princípios de acção e critérios de sansão.
Como princípio de acção – a ordem jurídica pré-escreve a nossa conduta, ou seja, visa
influenciar através de certos princípios a nossa acção, levando-nos a proceder
licitamente, define os nossos direitos subjectivos e as nossas responsabilidades, sem
esquecer que pondera a nossa conduta como lícita ou ilícita. Pode dizer-se ainda que
aqui a ordem jurídica funciona como régua e regra, régua ao medir o critério da nossa
conduta e regra ao avaliar a nossa conduta.
Dito doutro modo, esta função faz a descrição de situação que de facto ao se verificar
produzem certas consequências juridicamente estabelecidas. A título de exemplo: não
mate, pois…
Como critério de Sansão, será o meio pelo qual a ordem jurídica abre mão para tornar
eficaz as suas prescrições, sancionar significa efectivar, assim, é tornar digno de
respeito os imperativos jurídicos. Se um indivíduo viola o direito de propriedade de
outrem ou se o devedor torna impossível a devolução do respectivo objecto, o titular

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do direito pode recorrer aos tribunais afim de se fazer cumprir as lesões causadas
através de sansões específicas e referente ao respectivo caso em concreto; a sanção é
um meio de que o Direito se serve para garantir a eficácia dos seus objetivos práticos.
Em palavras mais simples, sanção é a possível consequência jurídica produzida pela
verificação das situações descritas na prescrição. Exemplo: aquele que matar…”será
punido…”
As sanções jurídicas podem ser positivas ou negativas. As positivas são sanções que
nos beneficiam, também são designadas por sanções premiais.
As negativas são aquela que impõem sempre algo desagradável a quem as sofre. São
normalmente posteriores à prática de um determinado facto, embora possam ter um
carácter cautelar. V.g. de sanções negativas: as penas de prisão, as multas, a
indeminização, o divórcio, a anulação e a declaração de nulidade de um contrato, a
extinção de uma associação ou de uma fundação e a dissolução, liquidação e extinção
de uma sociedade comercial.
É crucial tornar claro que nem todas as sanções negativas envolvem, necessariamente,
o recurso à força e, por conseguinte, à coação. Algumas das mais conhecidas sanções
coativas são por exemplo: penas privativas de liberdade ou a possibilidade do credor
de uma indeminização executar os bens do devedor se este não o indemnizar
voluntariamente.
Tendo em conta a sua finalidade as sanções podem ser:
 Compulsória
 Reconstituição
 Compensatória
 Preventiva
 Punitiva
Sanções compulsórias: visam levar o transgressor a adoptar, embora tardiamente, o
comportamento previsto pela norma, mas que ele não adoptou voluntariamente. Estas
sanções têm como objetivo persuadir ou forçar o sujeito a cumprir a obrigação
imposta pela norma jurídica. V.g. o direito de retenção ( artigos 754° a 761° C.C.)
consiste em fazer com que aquele que detém coisa alheia não a devolva ou entrega
àquele que juridicamente pode exigir enquanto este não cumprir uma obrigação para
com a entidade que retém a coisa.
Sanções reconstitutivas: assim como o próprio nome deixa claro reconstituir “implica
tornar a constituir”, estas sanções têm como propósito reconstituir a situação que se
verificaria se não tivesse havido a violação da norma. Essa reconstituição deve, em
princípio, ser uma reconstituição natural. V.g. a obrigação de o locador entregar ao
locatário a coisa locada, este pode requerer judicialmente que aquela coisa lhe seja
entregue ( artigo 1031° C.C.). A reconstituição não terá lugar se a situação na ser
reposta for impossível, nestes casos, lança-se, consequentemente, mão a sanção
compensatória.

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Sanções compensatória: esta verifica-se naquelas casos em qua a reconstituição
natural não é equitativa ou possível, ou seja, as sanções compensatórias tal como diz a
designação visam reconstituir situações que embora diferentes, sejam equivalentes
àquela. Este tipo de sanção opera através de uma indeminização que pode cobrir
desde a falta do próprio bem devido a outros danos patrimoniais. V.g. artigo 566° C.C.
Vale ressaltar que outra forma de sanção que visa atribuir uma compensação pelos
prejuízo sofridos é a compensação dos danos não patrimoniais ou morais, aqui
prevalece a ideia de compensação e não de indeminização, pois prejuízos não
patrimoniais não são avaliados em dinheiro, a compensação atribuída ao lesado visa
contrabalançar o dano por ele sofrido. V.g. artigo 496° C.C.
Sanções preventivas: têm por finalidade evitar ou prevenir violações futuras da norma
jurídica. V.g. as medidas de segurança no âmbito do direito penal, se inspiram na
segurança da sociedade contra a perigosidade do agente e que podem envolver ou
não privação da liberdade, é o caso de internamento numa instituição psiquiátrica ou a
cassação da licença de condução.
Sanções punitivas: estas impõem um sofrimento e reprovação ao infrator através de
uma pena. As sanções punitivas tem uma função repressiva.
Não se pode deixar de referir que numa única violação da norma podem cumular-se
várias sanções. V.g. um homicídio a mão armada pode ser uma violação a norma que
carregue sanções como compensação (compensatória) cassação de licença de porte de
arma (preventiva) e a prisão (punitiva).
Já a função secundária também conhecida como auto-organizatória visa tornar a
ordem jurídica num todo harmonioso, assim como próprio nome diz, aqui a ordem
jurídica visa organizar-se a si mesma tendo em conta que a mesma é um complexo
sistema constituído por diversos princípios, normas que devem se completar
coerentemente para poder vencer antinomias e contradições internas. Ou seja, a
necessidade desta auto-organização resulta em procurar evitar circunstâncias em que
podem surgir contradições entre os múltiplos elementos que integram a ordem
jurídica. Imaginemos um concreto caso jurídico decidindo apresenta uma
multiplicidade de aspectos juridicamente relevantes que convocam uma pluralidade de
fundamentos e critérios necessários a uma decisão normativamente adequada ao
problema que o íntegra.
Isso serve para perceber que quando há diversos fundamentos e critérios poderá advir
uma antinomia entre normas ou entre normas e princípios, ou mesmo entre princípios,
nestas situações a ordem jurídica oferece meios para superar tais dificuldades, tais
meios são encontrados em três momentos diferentes:
Momento Sistemático: neste momento a ordem jurídica se apresenta como um
sistema que não admite contradições internas, funciona como um todo coerente e
harmonioso que possui um encadeamento lógico. Este primeiro momento só é
possível graças aos seguintes critérios formais:

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 Princípio da hierarquia: “Lex superior derogat inferiori” – a lei superior revoga
as leis inferiores. Este princípio assegura que as leis superiores estão sempre
acima das leis inferiores, ou seja, as leis superiores possuem primazia em
relação às leis hierarquicamente inferiores.
 Princípio da concordância prática: este princípio assegura a devida aplicação da
lei nos respectivos casos concretos a sua aplicação, nestes termos, a lei deve
ser aplicada a determinadas instâncias ou contexto para que assim cada lei
cumpra com a sua função.
 Princípio da especialidade: “lex superiori generali non derogat priori soeciali” –
a lei geral posterior não derroga a lei especial anterior. Este princípio assegura
que as leis gerais que aparecem posteriormente independentemente de qual
seja o tipo não derrogam as leis especiais anteriores.
 Princípio da prioridade cronológica: “lex posterior derogat priori” – a lei
posterior revoga a lei interior”. Este princípio reflecte a relação entre as leis de
determinados períodos, por exemplo, as leis novas revogam as leis antigas,
todavia se a lei nova for geral não revoga a lei anterior de for especial.
Momento constitutivo: neste momento a ordem jurídica possui a capacidade de
adaptação e adequação. Ela é uma ordem constituída significa que está sempre em
estabilidade com relactiva permanência, é igualmente um ordem constituenda, pois
ela é dinâmica e está sempre em abertura ou é aberta para adaptação de novas
situações.
Momento orgânico-processual: neste momento, assim como diz a sua designação, a
ordem jurídica define quem tem (órgãos) e quais as respectivas competências dos
respectivos órgãos. Tais órgãos seguem procedimentos para determinadas situações
que carecem de soluções.
CARACTERÍSTICAS DA ORDEM JURÍDICA
A ordem jurídica possuí características próprias diferenciadoras das demais ordens,
estás são:
a) Cosmocultural: está característica implica que a ordem jurídica é produto
cultural, isto é, resultado da criação humana, e, portanto, sucintamente os seus
preceitos e valores não devem desvirtuar a realidade sociocultural das
sociedades, tendendo sempre, pelo contrário atender a realidade social das
comunidades.
b) Comunitária: este carácter resulta das relações intersubjectivas estabelecidas
entre os indivíduos numa comunidade. Dessa forma, as diversas relações se
estabelecem entre as pessoas numa sociedade carecem, necessariamente, de
uma ordem para manter a estabilidade e a harmonia comunitária.
c) Objectividade: está característica diz que a ordem jurídica possui uma
existência própria, isto é, ela existe independentemente da vontade da nossa
conta, é uma ordem cuja existência não depende de nós.

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 Objectividade autárquica: significa que a ordem jurídica é
heterónoma, ou seja, possui autonomia para regular as nossas
relações independente da nossa vontade.
 Objectividade dogmática: esta implica que a ordem jurídica deve
conter sempre uma espécie de fundamentação, ou seja, ela deve
ser fundamentada.
d) Autoridade: está característica brota da necessidade da existência de um ente
dotado de poder (legitimidade) para decidir as ordens jurídicas.
OS EFEITOS IMEDIATOS DA ORDEM JURÍDICA
Racionalização: a ordem jurídica poupa o homem dos seus esforços, uma vez que o
mesmo segundo uma perspectiva antropológica, carecem de uma mecanismo
instintivo que o guie.
Institucionalização: a ordem jurídica se perpetua na sociedade.
Segurança jurídica: a ordem jurídica proporciona uma estabilidade nas relações
jurídicas estabelecidas, tanto é que o direito deve, indubitavelmente, favorecer
àqueles a ele sujeito, a capacidade de regular as condutas de forma razoável previsível
e estável. A título de exemplo: a aplicação da ordem jurídica em ambientes de
negócios, garantes aos investidores e a empresa uma cenário mais razoável e estável
para maior segurança aos relacionados no negócio
Liberdade: é uma prerrogativa natural do ser humano que é tutelada pelo processo
judiciário “ordem jurídica”, está baseada no princípio de justiça define a esfera de
liberdade de cada pessoa em face das outras e em face da comunidade, atribuindo
direitos e faculdades, impondo obrigações e imputando responsabilidades.
Paz social: significa que a ordem jurídica é um elemento que tende a evitar a realização
da justiça de forma unilateral, isto é, “com as mãos próprias” sendo atribuído ao
Estado o poder de regular e de resolver conflitos.
DIREITO E COAÇÃO
A coação compreende a acção de fazer recurso ao uso da força ( física, psicológica ou
até mesmo moral) com o intuito de fazer com que outrem reaja um determinado
princípio de acção.
A doutrina possui duas posições distintas relactivamente a relação entre o Direito e a
Coação.
Por um lado, defende-se que não há direito sem o recurso ao uso da força, dando a
entender que as normas jurídicas são essencialmente completadas pela coação – visão
sociológica – Max Weber.
O jurista alemão Iehring reforça, outrossim, advogando que o Direito é essencialmente
coativo, na medida que o mesmo é revestido de força, assim, “o direito sem coação
seria como fogo que não queima”.

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Ao passo que por outro lado, para muitos juristas a norma jurídica distingue-se das
restantes normas de conduta social – religiosas, morais, de cortesia, por ser uma
norma dotada de Coercibilidade é, por sua violação poder acarretar uma sanção que
concede o Direito como ordem de coação.
Para estes, o Direito sendo uma ordem de convivência humana, tem um determinado
sentido o da justiça, é justo que radica a sua pretensão de validade. A coação, assim,
não faz parte da essência ou do conteúdo do Direito.
Não basta, porém, ao Direito, cumprir esse sentido de justiça, mas que os comandos
que prescreve sejam efectivamente observados pelos seus destinatários e aplicados
pelos órgãos socialmente instituídos para esse efeito. O Direito é socialmente
obrigatório, contrafactual, impondo-se aos destinatários das suas prescrições, mesmo
sem ou contras vontade destes. Nestes termos, entende-se que a obrigatoriedade do
Direito radica na natureza social do homem e na necessidade de garantir a vida em
sociedade.
Ou seja, aquele que violar as obrigações que a ordem jurídica lhes impõe alarga a sua
esfera de liberdade à custas da esfera de liberdade dos outros. Impõe-se nesse caso, a
reintegração da ordem jurídica violada, a qual é imposta pelo próprio princípio da
justiça. Logo, o recurso do Direito a meios de coação é, deste modo, uma exigência
postulada por esse princípio.
Portanto, a coação não é o factor essencial ao Direito, mas sim a busca pela justiça. A
busca incansável da justiça é o facto que explica a razão de ser do Direto, ou seja,
constitui a essência do próprio Direito, todavia, em certa medida, o Direito precisa de
um mecanismo de consonância para chegar até ao valor essencial que o mesmo tanto
busca “a justiça”. E esse mecanismo nada mais é que a coação.
Isto significa, sucintamente, que a coação não é essencial para o Direito, na medida
que a inteira observância dos princípios de acção prescritos pelo ordem jurídica, torna
desnecessário fazer o recurso à coação, contudo a partir do momento que estas
últimas são inobservadas há sim necessidade de se fazer o recurso às coação, pois ela é
importante para garantir a eficácia do Direito e uma vez o Direito eficácia a
consequente tendência é a promoção da justiça.
TEORIA DA FORÇA NORMATIVA DOS FACTOA
É sabido que as informações sobre a realidade factual são indispensáveis ao legislador
que se propõe regular as relações sociais. Além disso, as decisöes políticas devem
obviamente ter em conta a informação provinda de inquérito à opinião pública, dado
que, num sistema democrático como nosso, o poder politico deve realizar a vontade
da maioria do povo.
O homem recorre a um sistema de valores com base no qual decide acerca dos fins a
atingir, da sua validade, justeza e correção. Esse sistema valorativo depende de
condições sociais, não se confundindo, porém com elas. E que esse sistema valorativo
tem precisamente como função a de fornecer os princípios regulativos com base nos

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quais deve ser modelada a organização da sociedade. Por essa razão, o homem
necessita de valores e de normas com base nos quais são proferidas as decisões
(valorativas).
Assim, a teoria normativa dos factos sustenta que há factos que ditam as nomas
jurídicas. Quando aparece um novo facto social, surgirá na consciência social um novo
valor ou uma nova ordenação de valores, a que logicamente se sucederão
consequência sobre o sistema das normas jurídicas. Ou seja, há determinados factos
que quanto constantemente reiterados e legitimados por uma dada comunidade
política, tal pode, naturalmente, ser normatizado, isto é, ganha força jurídica desde
que vai de acordo com os valores ético-normativo (consciência de valores).
Os factos; consiste em saber se uma conduta que de facto se generaliza entre os
membros de uma sociedade se transforma em nova noma jurídica, isto é, inegável que
os factos têm por vezes, relevante papel na constituição e modificação de nomas
jurídicas.
Uma conduta de facto, uniformemente adopta pela maioria dos membros de uma
sociedade, impõe-se por vezes como norma válida e afasta normas anteriores. É
necessário que se generalize a convicção de que essa conduta é justa e correta. Só
nesse momento se concretizará a força normativa do facto.
Uma conduta de facto, uniformemente adopta pela maioria dos membros de uma
sociedade só impõe uma nova norma quando seja compatível com o sistema global de
valores dessa sociedade ou então quando provoque uma modificação nesse sistema.
DIREITO E ESTADO
Agora analisaremos seguidamente a questão da estadualidade do Direito, com o
objetivo de determinar a relação entre o Direito e o Estado e de apurar se todo o
Direito é estadual, assim, algumas questões se emergem diante desta temática são:
 Será que todo o Direito é Estadual?
 No plano histórico quem precede o outro?
 Qual a relação entre ambos?
Noção de Estado – é uma comunidade humana fixada num território, de que é senhor,
e que dentro das fronteiras desse território institui, por autoridade própria, órgãos que
elaboram as leis necessárias às vida colectiva e imponham a respectiva execução. Está
noção compreende três elementos:
1) Sociedade humana: é o povo o qual o Estado exerce a soberania pessoal. O
membro do Estado é o cidadão, subidito ou nacional.
2) Território: por sua vez é definido pelos limites geográficos do Estado. Sem
território não se pode falar em Estado. Por essa razão, as comunidades
organizadas politicamente, mas as quais falte um território, não constituem um
Estado.

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As relações entre o Direito e o Estado, são de tal maneira estreitas que poderia parecer
que as duas noções se identificam completamente. O direito é a instância que
fundamenta o Estado, i é, o poder, legitimando-o e limitando-o. Daí se fala em Estado-
de-Direito, o Estado tem a prerrogativa, ainda que não o monopólio, da criação de
Direito, pelo que a maior parte do Direito, nos Estados actuais é integrada por leis em
sentido lato, que são criadas por órgãos estaduais e aplicadas por tribunais, que ainda
pertencem, obviamente, às organização do Estado, ainda que, dentro dele, sejam um
poder independente e imparcial.
Não obstante a suas relações, as duas noções destinguem-se:
a. Há princípios de Direito; v.g. o princípio superior de justiça, que se impõem ao
próprio Estado, pelo que não foi este quem os criou. Esses princípios
transcendem a vontade do poder estadual;
b. Historicamente; o Direito antecede o Estado, o Direito existiu durante um largo
período da história da humanidade independentemente do Estado; outras
formas de organização política das comunidades precederam o Estado, como
por exemplo a família, o clã, a tribo e a cidade que possuíam os seus próprios
direitos.
c. A nível intencional; os positivistas acreditam que o direito é essencialmente
estadual, ou seja, o estado é fundamentado pelo Direto, entendido este como
aquele sistema de normas jurídicas criadas e aprovadas por um determinado
legislador e advogam ainda que o Direito é lei e somente tem legitimidade de
criar lei o Estado.
d. A nível extensivo; a partir da formação dos Estado modernos; nem todo Direito
é de origem estadual. As normas que integram o Direito internacional público
(direito supra-estadual), normas jurídicas, pois regula com carácter obrigatório
para os Estados, a sociedade internacional, delimitando, com base num critério
objectivo de justiça as esferas de cada um deles.
No seio do Estado há, outrossim, um direito que não é criado pelo Estado, o direito
infra-estadual, é o que sucede com o Direito consuetudinário e o direito criado
pelas corporações.
DIREITO E OUTRAS ORDENS NORMATIVAS
Na sociedade não existe tão-somente o Direito como única ordem normativa. De facto,
não é somente o conjunto de normas jurídicas que regem a sociedade. Paralelamente
ao Direito existem uma série de outras ordens normativas que de certa forma também
impõem uma série de regras limitativas do comportamento humano.
Por exemplo, o Direito começou por ter um significado e fundamento religioso, o
Direito não tinha a uns séculos ainda autonomia, pois estava integrado na teologia, as
regras de Direito eram aí consideradas como expressão da vontade divina. A laicização
do Direito apenas teve lugar a partir do renascimento.
 Direito e Moral

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Uma das ordens normativas da sociedade é a Moral. A distinção entre o Direito e a
Moal individualiza-se em três critérios:
Critério do mínimo ético: o Direito limitar-se-ia a impor um número relativamente
restrito de regras morais básicas indispensáveis à coexistência pacifica e justa das
pessoas no seio da sociedade; há normas jurídicas neutras do ponto de vista ético, o
que sucede com as normas processuais.
Critério da heteronomia e coercibilidade: o que distingue o Direito é o carácter
heterónimo das suas prescrições, que não resultam dos ditames da consciência de
cada um. Por outro lado, o cumprimento dessas prescrições é garantido pela
coercibilidade do Direito para forçar as vontades rebeldes;
Critério da exterioridade: a Moral exige adesão interior do sujeito aos valores éticos
que prescreve, enquanto o Direito se contenta com a mera observância externa dos
seus comandos; a ética arranca da atitude íntima da consciência do sujeito enquanto o
Direito se pauta pela exterioridade, penas fazendo exigências quanto à conduta
externa. A Ética exige-nos o cumprimento do dever pelo sentimento desse dever, o
Direito não é tão exigente, bastando-se com uma conduta conforme à lei.
Há factos sancionados pelo Direito, que não são reprováveis do ponto de vista moral,
as normas jurídicas devem realizar a justiça e esta não o podemos ignorar, é um valor
ético. Os grandes princípios que informam a ordem jurídica são simultaneamente,
éticos.
 DIREITO E O TRATO SOCIAL
O mundo normativo é igualmente integrado por regras de cortesia social ou civilidade;
as regras de trato social não contendem com os fundamentos da substancia da
sociedade não passando de meras convicções sociais são simples regras de convívio
destinados a tomar menos ásperos os nossos encontros sociais: a obrigação de ser
pontual na chegada. A inobservância das regras de trato social, porém conduzirá tão-
somente à reprovação social do comportamento.
 DIREITO E RELIGIÃO
A Ordem religiosa, assenta num sentido de transcendência em que seus princípios
tendem a disciplina a relação do homem com Deus.
O Direito é criado pelos homens para regular as relações entre si, enquanto a ordem
religiosa tem um sentido de transcendência, uma vez que a sua criação é imputada a
entidades sobrenaturais ou transcendentais, regulando as relações entre estas e os
crentes ou entre os próprios crentes; v.g. o preceito do decálogo que diz não matarás é
uma perspectiva religiosa, é mais um dever do homem para com Deus do que um
dever para com os outros homens. Trata-se de normas de carácter positivo, criadas
por uma autoridade religiosa-daí o seu carácter não estadual - cuja violação
desencadeia a aplicação de sanções extraterrenas ou simplesmente religiosas; v.g.a
excomunhão.

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Essas normas podem encontrar-se aglutinadas num ramo próprio de Direito, é o caso
do Direito Canónico, ramo de Direito constituído por normas obrigatório de conduta
estabelecidas pela Igreja para o governo da sociedade eclesial. Este não é nem Direito
interno (estadual), nem Direito Internacional. O que não impede que as suas normas
produzam efeitos no âmbito do Direito interno.

O DIREITO E OUTRAS CIÊNCIAS


O Direito estabelece profundas relações com diversas ciências pela tamanha
abrangência que o conhecimento da ciência jurídica possui, assim o Direito possui
relação com a História, Sociologia, filosofia inclusive com a economia.
DIREITO & HISTÓRIA
Para o entendimento da relação existente entre esses dois campos de conhecimento
científico, é importante antes de tudo ter pequenas noções acerca das mesmas
ciências que procuramos entender a sua relação. Assim sendo, o que é a História? E
concomitantemente, o que é o Direito?
A História pode ser entendida como ciência que estuda as ações humanas ao longo do
tempo, vai ser o campo do conhecimento científico vocacionado no estudo dos
processos históricos que decorrem em função do tempo.
Já o Direito, como explicita o livro de Introdução ao Direito de Santos Justos, possui
vários conceitos o qual lhe pode ser dado, todavia a resposta sobre o que realmente é
o Direito, ainda é uma questão que não possui definitivamente unanimidade.
Ainda assim, só para termos uma ideia podemos aqui conceitua-lo, sistema de normas
jurídicas disciplinadoras da conduta humana em sociedade.
E é interessante destacar que o direito não se conserva estático, mas se dinamiza e se
transforma na medida em que as condições sociais assim o exigem; não há como
desvinculá-lo da realidade histórica, pois é preciso saber como este direito foi, até
ontem, para entendê-lo, hoje, e melhorá-lo, amanhã, (AZEVEDO, 2005, p. 21).
Dentre todos os seres vivos, o homem é, por excelência, o que produz cultura, o que
manifesta raciocínio elevado, o que valoriza a memória (história). Por cultura vai se
entender “a totalidade das manifestações e formas de vida que caracterizam um
povo.” (JAEGER, 1979, p. 7); ou ainda “o conjunto de tudo aquilo que, nos planos
material e espiritual, o homem constrói sobre a base da natureza, quer para modificá-
la, quer para modificar-se a si mesmo.” (REALE, 2011, p. 25);

Pode-se, portanto, perceber que o que se tem como cultura representa um tom
temporal, isto é, marcador de um tempo, fixador de um momento histórico. A cultura
indica, além das características do indivíduo que a professa, a época, o local e até o
grupo social em que está presente quem a manifesta.

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Nesse diapasão, sendo o Direito uma produção humana, ele também é cultura e é
produto do tempo histórico no qual a sociedade que o produziu ou produz está
inserida. Pode-se se afirmar que o direito se parece com a necessidade histórica da
sociedade que o produziu; é, portanto, uma produção cultural e um reflexo das
exigências desta sociedade, (CASTRO, 2009, p. 4)..

Assim, é importante destacar não há como separar os dois elementos, isto é, o Direito
e a História, pois o Direito é a própria História da nossa humanidade. Apesar de a
História poder ser vista por várias facetas, tais como pelas artes, pela culinária, pela
filosofia, pela medicina, pelo desenvolvimento científico e tecnológico, é justamente
pela noção jurídica que os povos possuem, que se tem uma correta interpretação do
mundo pretérito e de cada cultura” (ALBERGARIA, 2012, p. 4).
A relação que há entre a História o e Direito culmina nalgo que chamamos de História
do Direito, esta, tratada como disciplina, é apresentada como a História do próprio
mundo jurídico, como um todo. Nesse sentido, o objetivo da história do direito é a
interpretação dialética do fenômeno jurídico e seu dimensionamento em função do
tempo, (DINIZ, 2012, p. 249).
Nesse ínterim, pode-se dizer que a história do direito estuda as instituições jurídicas
dos povos civilizados nas fases sucessivas de seu desenvolvimento. Baseia-se em
documentos, representados por escritos ou por monumentos chegados até nós, como
o Código de Hamurabi, de mais ou menos 2000 a.C.” (KLABIN, 2004, p. 21).
Ainda sobre a relação entre as já supracitadas áreas do saber, a história se mostra
importante para o Direito na medida em que serve como conhecimento e acúmulo de
experiências passadas, possibilitando uma ampliação das análises de situações
jurídicas e na interpretação dos textos normativos. A História, outrossim, precisa do
Direito, pois o Direito propicia à História a visão do passado que faz com que as regras
do presente e do futuro sejam mais apuradas, mais justas e, sobretudo,
representativas da cultura do que é bom, Justo, humano e apreciável a um
determinado povo. Portanto, é a noção jurídica da História que permite que se
compreenda melhor a cultura, a sociedade, a política e o sistema de um determinado
povo.
Mesmo assim, um importante aspecto deve ser reafirmado quando se procura
interseções entre duas áreas: não se faz História sem compreender o Homem. Não
existe Direito sem a importante consideração quanto aos atos do indivíduo em
sociedade. Logo, a relação entre a História e o Direito só se legitimará a partir da exata
compreensão das transformações sociais que alteraram a visão do homem sobre a
História e sobre o Direito.
DIREITO & SOCIOLOGIA
Sociologia e o Direito, duas ciências que embora se reportem a estudos totalmente
distintos possuem uma eminente relação em virtude do elemento sociedade, grosso

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modo, a sociologia estuda os factos sociais, ou seja, seu estudo está inteiramente
ligada às sociedade e o Direito igualmente.
Sociologia do Direito é um ramo da Sociologia dedicado ao estudo do Direito que
examina a influência dos fatores sociais sobre o Direito ou normas jurídicas e sua
incidência na sociedade, o que exprime uma relação interativa entre o social e o
jurídico através de elementos de interdependência, bem como faz uma avaliação
externa do sistema jurídico.

Nesta conjuntura, a Sociologia do Direito examina as causas sociais e os efeitos sociais


das normas jurídicas, isto é, qual seria o ideal dever-ser das normas jurídicas em
virtude do ser real, com intuito de responder três questões fundamentais: por que se
cria uma norma ou um inteiro sistema jurídico; quais as consequências do Direito na
vida social; e quais as causas sociais da “decadência” do Direito que se manifestam por
meio do desuso e da abolição de certas normas ou mesmo mediante a extinção de
determinado sistema jurídico? (SABADELL, 2005, p.55).

Assim, para um melhor entendimento acerca das relações entre o Direito e a


sociologia é importante ter em conta três momentos: produção, aplicação e
decadência da norma e, para tanto, a sociologia do direito utiliza conceitos da
sociologia fazendo uma leitura diferente do sistema jurídico, a partir de seu principal
objeto de análise: a atuação do Direito na sociedade.

A eficácia da norma, que se relaciona à aplicação é à decadência da norma, integra a


análise tridimensional do Direito e dá especificidade à abordagem sociológica, sendo
um dos principais planos de estudo. Isto porque a eficácia se relaciona com o grau de
cumprimento da norma na prática social, pelo que a norma é considerada socialmente
eficaz quando é respeitada por seus destinatários ou quando sua violação é
efetivamente punida pelo Estado. Ou seja, a previsão normativa é respeitada tanto de
maneira espontânea quanto por meio de intervenção estatal coercitiva.

Contudo, os fatores que determinam a eficácia de uma norma se diferenciam de


acordo com a função, as características e as finalidades de cada sistema jurídico, mas,
no geral, quanto mais forte são esses fatores, maiores são as chances de a norma
atingir seu mais elevado grau de eficácia jurídica.

Os fatores determinantes da eficácia podem ser: instrumentais, que se ligam à atuação


dos órgãos de elaboração do Direito, ou referentes à situação social, que dizem
respeito às condições de vida da sociedade em determinado momento, porém o que
mais nos interessa agora são os factores referentes às situação social.

Quanto aos fatores referentes à situação social tem-se:

 A dos cidadãos no processo de elaboração e aplicação das normas (quanto


maior for a essa participação, maior serão as chances de adesão popular às
nnormas;
 A coesão social (quanto mais forte for o consenso entre os cidadãos em
relação à norma, maior será o grau de eficácia);

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 A adequação da norma à situação política e às relações de força dominantes
(os fatores extrajurídicos influenciam a eficácia das normas jurídicas) e;
 A contemporaneidade das normas com a sociedade (as normas, para que
alcancem a eficácia jurídica, devem obedecer ao contexto histórico da
sociedade atual, nada muito antigo e nada muito futurístico) (SABADELL, 2005,
p. 71/72).
Apontados estes elementos e considerando-se que a eficácia é um elemento
norteador da aplicação do Direito no meio social, ao mesmo tempo em que a
sociedade se organiza, ainda que muitos não identifiquem essa aproximação em
premissas catalogadas pela Sociologia do Direito, é importante incluir nas análises de
eficácia todo o contexto predito pelos sociólogos, sendo relevante acrescentar mais
elementos como a divisão do trabalho, a dominação legal e a burocracia nos fatores
referentes à situação social a ensejar ou não coesão social, o que poderia ser objeto de
outras pesquisas com mais profundidade.
Logo, o a sociologia do direito aparece exactamente para servir de mecanismo
instrutivo ao direito, uma vez que este mostra as coisas como são, isto é, o ser real, já
o direito vai definir o dever ser em virtude do ser real, para assim evitar possíveis
problemas de eficácia ou legitimidade da norma jurídica.
DIREITO & ECONOMIA
A economia centraliza-se na alocação de recursos produtivos limitados para
satisfazer as necessidades ilimitadas da sociedade. É conceituada como a ciência social
que observa de que forma a sociedade decide aplicar recursos produtivos escassos na
produção de bens e serviços, para distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da
sociedade, com o objetivo de atender as necessidades humanas.
De um modo mais claro, pode-se asseverar que esta disciplina estuda como
pessoas, empresas, governos e outras organizações de nossa sociedade fazem escolhas
e como essas escolhas determinam a forma como a sociedade utiliza seus recursos.
Consoante exposto por Robert Cooter e Thomas Ulen, “a análise econômica do
direito é um assunto interdisciplinar que reúne dois grandes campos de estudo e
facilita uma maior compreensão de ambos” (COOTER; ULEN, 2010, p. 33).
A convergência dos fundamentos da Economia e dos fundamentos do Direito
oportuniza a compreensão do real sentido e da razão de ser da norma jurídica, pois a
empresa, como agente econômico e como sujeito de relações jurídicas, assume
importante papel social. A regulamentação jurídica pode influenciar empreendimentos
econômicos a fim de promover o desenvolvimento e a mudança social.
A almejada justiça social, cuja busca encontra-se constitucionalmente traçada,
insere-se na ordem econômica e na ordem social, de modo que sua realização
necessariamente detém implicações econômicas e sociais.

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É o que dispõe a Constituição da República de Angola no seu título III
“Organização económica, financeira e fiscal”, capítulo I artigo 89° n°1 ao estatuir que a
organização e a regularização das actividades económicas assentam na garantia geral
dos direitos e liberdades económicas em geral, na valorização do trabalho, na
dignidade humana e na justiça social, em conformidade com os princípios do mesmo
artigo mencionado.
Desta forma, o Direito e a Economia detêm importantes papéis a serem
cumpridos e constituem partes integrantes do processo de desenvolvimento nacional.
Assim, as normas jurídicas buscam, em última análise, regular as atividades
econômicas, no sentido de tornar os mercados eficientes (função alocativa) e buscar
melhor qualidade de vida para a população como um todo (função distributiva)”.
Assim, importantes concepções da teoria econômica podem ser relacionadas
ou molduradas em conformidade com as normas jurídicas, sendo ainda possível que
para a solução de relevantes e determinados problemas econômicos ocorram
alterações no ordenamento jurídico.
Portanto, a busca pela justiça social perpassa necessariamente pelas
perspectivas da Economia e do Direito para tratar de modo adequado diversos
problemas sociais, pois a divisão entre estas antigas disciplinas pode não ser benéfica à
sociedade.
Apesar das conhecidas diferenças entre as disciplinas, o Direito e a Economia
relacionam-se em diversos pontos, como, por exemplo, quanto aos custos do processo
litigioso, responsabilidade civil, direitos de propriedade e direitos contratuais. Além
disso, diante da globalização e da consequente concorrência no mercado
internacional, as disciplinas encontram-se em crescente interação.
Consoante exposto nos artigos 90° e 101° da Constituição da República, a
justiça social insere-se na Organização económica financeira e fiscal, de modo que o
Direito e a Economia detêm importantes papéis a serem cumpridos e se
complementam para a concretização do desenvolvimento nacional.
DIREITO & FILOSOFIA
Filosofar não é tarefa fácil. Exige do sujeito uma postura de abandono do lugar de
comodidade e supõe permanente abertura para a construção do conhecimento.
Desde seu surgimento a filosofia prezou pela busca de soluções bem fundamentadas
para as perguntas que incomodavam as pessoas; sempre tentou nutrir-se com a
convicção de que as respostas encontradas deveriam ser tratadas como prováveis e
não como absolutamente certas e acabadas.
O Direito é um produto cultural, feito pela razão do homem e como tal, precisa de
oportunidade de submeter o que produz aos critérios da racionalidade. A Filosofia do
Direito é disciplina que exerce de forma intensa a tarefa de pensar e repensar de
forma crítica, profunda e ampla o fenômeno jurídico.

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Por mais que o Direito tenha que se apresentar como um ser gerador de segurança;
por mais que certo grau de rigidez lhe seja indispensável, a Filosofia tem o poder de
oferecer a ele elementos que contribuem para seu aperfeiçoamento.
Há crucialmente algumas contribuições o qual o acadêmico ou profissional do Direito
podem esperar da Filosofia, ficando claro que inúmeras são essas contribuições: A
Filosofia do Direito investiga o Direito do ponto de vista conceitual; exerce sobre ele
uma rigorosa crítica; problematiza-o; viabiliza ao jurista abrir sua mente diante do
fenômeno jurídico; abre espaço para a percepção de verdades que se escondem por
traz dos discursos. Estabelece, enfim, com o Direito uma relação dialética capaz de
fazer com que o jurista tenha cada vez mais uma melhor percepção de seu
instrumento de trabalho.
Portanto, é saudável lembrar o pensamento de Ihering (2011, p. 35): “A vida do Direito
é a luta […] o Direito não é mero pensamento, mas sim força viva”. Assim, uma das
especiais formas de alimentar essa dimensão de luta e de força viva do Direito passa
pela possibilidade oferecida pela Filosofia do Direito.
O filósofo do Direito, tomando o significado etimológico da palavra filósofo, é amante
da sabedoria jurídica e como tal, considera o Direito como realidade viva, com a qual
precisa dialogar. Mais que isso, estabelece constantes lutas teóricas e práticas com o
Direito e a partir do Direito.
JUSNATURALISMO
O pensamento jusnaturalista fundamenta o direito positivo num direito superior: O
DIREITO NATURAL.
Este não é fácil defini-lo, pois o conceito fundamental de natureza gera, naturalmente,
grandes dificuldades que dão lugar a equívocos e consequentemente a subjectivismo a
De todo modo, entendido como justiça que se projecta na ordem social, o direito
natural sempre esteve presente no pensamento jurídico antes e depois do século XVIII
que o consagrou em sistema jurídicos construídos pela razão.
As doutrinas jusnaturalistas agrupam-se em dói grandes grupos ou concepções:
 O jusnaturalismo transcendente;
 O jusnaturalismo racionalista.
O primeiro atribui a Deus a criação do Direito Natural: Deus inseriu-o na natureza das
coisas, na natureza humana ou na Lex aeterna. O segundo, o jusnaturalismo
racionalista dispensa Deus e fundamenta o Direito Natural na razão humana.
JUSNATURALISMO TRANSCENDENTE
1. Concepção grogo-romamo
Na Grécia destacam-se dois postulados diferentes a respeito do jusnaturalismo:

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A concepção revolucionária dos sofistas: fundamenta que face aos tratamentos
desfavoráveis dispensados pela pólis decidiu-se criar o Direito Natural, tendo como
base a natureza humana, onde enfatizavam a igualdade, a liberdade dos homens.
Alegavam que Deus criou os homens livros e iguais, daí que contestavam as leis
injustas da polis que serviam os interesses dos poderosos
Concepção conservadora de Sócrates, Platão e sobretudo Aristóteles que destingue o
justo segundo a Natureza e o justo segundo a lei. Para estes há, na natureza, uma
harmonia que rege o curso da vida. O justo por natureza seria esculpido no coração ou
na consciência das pessoas (homens) a que cabe observar e descobrir as regras de
devem disciplinar a vida familiar, económica e política.
Nesta concepção o Direito Natural daria o sentido, o fim, a base ética normativa ao
direito positivo.
2. Concepção medieval
Na idade a filosofia ena teologia católica recolheram a herança jusnaturalista Greco-
romana. A ideia de um Deus pessoal e legislador supremo permitiu fundar mais
solidamente e enriquecer o Direito Natural. A razão o humana disse Santo Agostinho é
uma imagem de Deus e por isso seguir a nossa natureza é seguir Deus, daí que a lei
positiva só será auténtica Lex se derivar da naturalis.
Todavia, foi São Tomás de Aquino o grande expoente do jusnaturalismo cristão
(medieval). Ainda na linha do pensamento anterior, este sustenta que Deus criou o
Mundo e dotou-o da Lex aeterna que rege todos os seres; e inscreveu no coração do
homem uma (Lex naturalis) que mais não é do que uma parte da Lex aeterna: o sector
que disciplina a actuação dos homens, precessão a razão ao obedecer a lei natural, o
homem automaticamente obedece a lei de Deus.
Segundo São Tomás a razão descobre na natureza humana as tendências básicas de
que deduzirá as normas (mandatos e proibições) do direito natural. São Tomás
considera fundamentais as seguintes tendências:
 A conservação da vida humana, a norma que proíbe o homicídio;
 A conservação da espécie humana, procriação e às relações familiares;
 Ao conhecimento da verdade e às vivência em sociedade.
Ainda segundo São Tomás a Lex naturalis é constituída por preceitos
 Primários: são claros e tão evidentes que basta uma pequena reflexão para que
sejam reconhecidos. Constituem as leis e os princípios gerais que fundamentam
a ordem social.
 Secundários: estes derivam dos preceitos primários e admitem restrições e
excepções consoante as diversas circunstâncias em que a vida decorre. O seu
conhecimento exige uma maior reflexão.
Na doutrina tomista, a Lex naturalis apresenta características próprias que permitem
identificar. São elas:

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a) Universalidade – os preceitos primários são universais porque se aplicam a
todos os homens, já os preceitos secundários gozam duma universalidade
relactiva.
b) Imutabilidade – aqueles preceitos são imutáveis por subtração, já os
secundários são mutáveis, embora restritamente. No tocante a mutabilidade
por adição é possível sempre juntar novos preceitos às Lex naturalis, por isso
fala-se em conteúdo progressivo do direito natural.
c) Indelebilidade – compreende a impossibilidade de não se poder apagar ou
fazer desaparecer na consciência dos homens a Lex naturalis.
Com o tempo a doutrina tomista foi contestada pela escolástica na qual o direito
natural perde sua base sólida e se ainda se falava em Direito Natural tratava-se
duma mera Lex moralis e não dum verdadeiro direito. Ainda neste linha de
pensamento, houve aqueles que preferiram a doutrina franciscana. Sucede,
principalmente com Fernando Vazquez que afirmando ser o Direito Natural bom
porque Deus gravou em nós, mas sê-lo-ia, igualmente, se Deus tivesse dado
preceitos contrários, isso pós em causa a doutrina tomista; e com Gabriel Vazquez
que na sua oposiçãobao radical voluntarismo, acabou por desvincular ao Direito
Natural de Deus: a sua fonte não está na vontade nem na razão divina, mas na
natureza racional do homem.
Assim, preparou-se a autonomia da razão e abriu-se o caminho à nova corrente
que dispensa Deus.

JUSPOSITIVISMO

MACRO ESTRUTURA DO DIREITO


RAMOS DO DIREITO
A ordem jurídica é um sistema extraordinariamente vasto, constituido por vários
princípios e normas jurídicas e para ser devidamente estudado pelo jurista surge a
necessidade de demarcar esse conjunto de normas jurídicas em grupos específicos em
função das suas individualidades próprias afim de facilitar o operador do Direito e não
só, como também facilitar a compreensão da dimensão geral do respectivo sistema
jurídico. A esses grupos denominam-se ramos do Direito.
A doutrina dominante divede o Direito em dois grandes emisférios, o Direito Público e
o Direito Privado. É importante destacar que essa divisão do Direito em dois grandes
ramos é naturalmente antiga, advém mais especificamente do Direito Romano com o
jurista Ulpiano. Todavia, até hoje não se tem um critério dado como específico para

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essa divisão, assim, os principais critéios propostos para distinguir os direito público e
direito privado são:
1. CRITÉRIO DA NATUREZA DOS INTERESSES : este critério fundamenta que
integram o Direito público as normas que asseguram os interesses da
colectividde, isto é, interesses predominatemente público. Já ao Dsireito
Privado integram as normas que dizem tão-somente respeito a interesses
predominatemente privado. Contudo, considera-se este critério inadequando
na medida que as normas jurídicas (públicas e privadas) prosseguem
simultaneamente interesses públicos e privados. V.g. as normas sobre o
casamento pertencem ao direito privado e, não obstante, algumas protegem
um interesse público.
2. CRITÉRIO DA QUALIDADE DOS SUJEITOS: só estamos diante de Direito Público
quando as normas jurídicas são destinadas a pautar relações cujos
intervenientes são ou o Estado ou qualquer outro ente público, já o Direito
Privado, estamos diante deste quando os sujeitos que intervêm são sujeitos
particulares. Critica-se outrossim este critério porque o Estado e as demais
entidade pública também participam de relações jurídicas pariculares. V.g. a
compra e venda, o errendamento, etc.
3. CRITÉRIO DA POSIÇÃO DOS SUJEITOS : este critério diz que estamos diante do
Direito Público ao conjunto de normas jurídicas destinadas a regular as relações
entre o Estado e os cidadãos, em que o Estado encontra-se num posição
hierarquica superior e intervém com o seu jus imperi ou simplesmente poder
de autoridade ou dito outro modo, aqui o Estado encontra-se revestido do seu
jus imperi. V.g. cobrança de imposto, expropriação, aplicação duma multa, etc.
Já o Direito Privado cumpre disciplicar as relações jurídicas dos sujeitos entre si,
ou ainda entre os cidadãos e o Estado em que o Estado aqui encontra-se
dispido do seu juis imperi, todos os sujeitos aqui se encontram numa posição
de paridade, isto é, em pé de igualdade. V.g. quando Estado compra um imóvel
a um particular. Este critério apesar dalgumas críticas, o que é normal, é
tendencialmente o mais aplicável nas relações jurídicas se estruturando em
dois modos típicos, de coordenação (privados) e de subordinação (público).
A dificuldade de encontrar um critério insusceptível de criticas explica-se, em grande
parte, pelo facto de os limites que separam os direitos públicos e privados não serem
fixos, mas dependerem de circunstâncias históricas.
Tanto dentro do Direito Público quanto o Direito Privado encontramos um sub-divisão:
DIREITO PÚBLICO: é o conjunto de normas jurídicas destinadas a regular as relações
entre o Estado e os cidadãos, em que o Estado encontra-se num posição hierarquica
superior e intervém com o seu jus imperi ou simplesmente poder de autoridade ou
dito outro modo, aqui o Estado encontra-se revestido do seu jus imperi. Neste
encontramos os seguintes ramos:
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: é um complexo de normas jurídicas que
disciplinam as relações em que intervêm os Estados ou outras entidades colectivas.

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DIREITO CONSTITUCIONAL: ocupa-se da organização e do funcionamento do Estado e
dos entes públicos menores e estabelece os direitos e deveres fundamentais das
pessoas. Este ramo constitui a pedra angular do ordenamento jurídico, quer porque
estrutura os órgãos do poder, quer porque estabele a esfera de actuação do poder
público e dos cidadãos.
DIREITO ADMINISTRATIVO: é um sistema de normas jurídicas que regulam a
organização e o funcionamento da administraçao pública, bem como as relações por
ela estabelecida com outros sujeitos de Direito no exercício da actividade
administrativa de gestão pública.
DIREITO PENAL: outrossim denominado de direito criminal, é o conjunto de normas
jurídicas que definem os crimes e estabelecem as correspondentes penas e medidas
de seguraça. Trata-se dum ramo do direito público que protege a ordem jurídica de
ataques cuja particular gravidade ofende as condições essenciais da vida social e, por
essa razão, justifica a aplicação de sanções especificamente graves. Na sua base está o
princípio da legalidade que tem por conteúdo os seguintes preceitos:
a) Nullum crimen sine lege previa: não há crime se antes de ter cometido não
tiver sido definido por leis com suficiente precisão
b) Nulla poena sine lege previa: não podem ser aplicadas penas ou medidas de
segurança que não estejam expressamente previstas em lei anterior;
c) Nulla poena sine culpa: só é praticado o facto praticado com culpa (na forma
de dolo ou, nos casos especialmente previstos na lei);
d) Nulla poena sine iudicio: a pena só pode ser aplicada num processo
devidamente estruturado (como proceso penal) que garante a defesa do
arguido;
DIREITO PROCESSUAL: também conhecido de direito adjectivo ou instrumental é
composto por um conjunto de normas jurídicas que visam definir o modo de execução
relactivo aos procedimentos ou trâmetes processuais em casos jurisdicional, isto é, é o
complexo de norma que disciplam a actividade de quem participa na realização
jurisdicional de direitos ou interesses juridicamente tutelados. A sua necessidade e
consequente existência resulta da preocupação do Estado assegurar aos litigiantes
uma posição igual e de defender a iustitia do poder da que se encontra na autotutela.
Merecem destaque dois grandes sectores pela sua particular importância, refire-se ao
direito processual civil e o direito processual penal.
DIREITO PRIVADO: disciplica as relações jurídicas dos sujeitos entre si, ou ainda entre
os cidadãos e o Estado em que o Estado aqui encontra-se dispido do seu juis imperi,
todos os sujeitos aqui se encontram numa posição de paridade, isto é, em pé de
igualdade, não havendo, pois, subordinação dum sobre o outro. O direito privado
compreende o direito civil ou direito privado comum e os direitos privados especiais
v.g. o direito comercial, direito do autor, etc.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO: complexo de normas jurídicas que têm como
função tratar das relações da vida privada internacional, mantendo o bom

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relacionamento entre pessoas (físicas e jurídicas) de diferentes Estados, seja em
tratados comerciais, relações familiares, entre outros, sempre no âmbito particular,
este auxiliam, outrossim, a resolver os conflitos das leis no espaçco e no seu núcleo
principal. V.g. o casamente de um angolano com uma cubana em solo brasileiro, que
direito aplicar?
DIREITO CIVIL: ou simplesmente Direito privado comum, compreende o conjunto de
normas jurídicas que disciplam as relações em que se destacam os aspectos espiritual
e afectivo do homem (como a personalidade, a família, a sucessão na sua esferera
jurídica) e o património norma (como os direitos de credito e das coisas). Este ramo
constitui o tronco comum do direito privado, deste tronco brota uma perte geral e um
parte especial.
Aquela divide-se em dois títulos:
 das leis, sua interpretação e aplicação: aqui contém a teoria geral da lei, fontes,
interpretação, aplicação no tempo e no espaço;
 das relações jurídicas: relações da vida social que a ordem jurídica disciplina,
atribuindo a uma um direito subjectivo e a outra uma dever ou uma sujeição
correspondente;
A parte especial é constituida pelo:
 Direito das sucessões: normas que disciplam a sucessão mortis causa (legítima,
legitimária e testamentária);
 Direito do obrigações: normas que regulam relações em que uma pessoa
encontra-se sujeita a uma prestação a outra;
 Direito das coisas: normas que regulam o modo de aquisição, de uso, de
fruição e de disposição das coisas;
 Direito da família: normas que regulam relações jurídico-familiares;
Fora destes e com um regime próprio encontram-se:
DIREITO COMERCIAL: normas jurídicas que regulam actos de comércio quer objectiva
quer subjectivamente;
DIREITO DO TRABALHO: conjunto de normas jurídicas destinadas a regular as relações
juridico-laborais;

A NORMA JURÍDICA
A norma jurídica constitui um elemento fundamental do Direito na sua função de
ordenar a conduta humana, esta não pode ser avaliada como verdadeira ou falça, pois
é uma preposição normativa e visa acima de tudo avaliar a validade das condutas,
entendida outrossim como o elemento microscópico da ordem jurídica.
Estruturalmente a norma jurídica é composta por duas partes:
 PREVISÃO: também designada de hipótese jurídica ou facti-especies, refere-se
a situações típicas da vida, isto é, determinadas condutas, uma certa relação,

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uma situação, de facto, que há de acontecer na vida social cuja verificação
desencadeia uma consequência jurídica fixada na estatuição, ou simplesmente,
é a parte da norma jurídica que define determinadas situação que ao se
verificarem, trarão, tendencialmente, consequências jurídicas.
 ESTATUIÇÃO: ou injunção, são os efeitos jurídicos no caso de a situação vista
na previsão se verificar, isto é, efeitos que podem ser produzidos em função do
que está previsto na previsão ou ainda diz-se as consequências jurídicas
produzidas pela verificação das situações previstas na previsão.
V. g. Artigo 483° do C.C.
Previsão: aquele que com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem
ou qualquer disposição legal destinada a protegar interesses alheios;
Estatuição: fica obrigado a indeminizar o lesado pelos danos resultantes da violação;
Importante destacar que por questões de estética literária, nem sempre a previsão
vem antes da estatuição, todavia, pode a estatuição aparecer antes da previsão. V.g.
art. 280° do CC.
Estatuição: é nulo o negógio jurídico;
Previsão: cujo objecto seja física ou legalmente impossível, contrário à lei ou
indeterminável;
SILOGISMO JUDICIÁRIO
Com o filósofo grego Aristóteles muita coisa foi deixada aprendida e aproveitada até
mesmo para plicação noutros ramos científicos, na sua obra ORGANON realça-se com
grande destaque o silogismo, Aristóteles defini-o como um raciocínio dedutivo
formado por três proposições, sendo as duas primeira designadas por premissas e a
terceira por conclusão.
O silogismo pode ser visto igualmente no campo jurídico, pois é, o conhecido silogismo
judiciário que consiste na disposição da norma jurídica no formato de um raciocínio
dedutivo em que parte-se da previsão da norma como se fosse a premissa maior,
passando para o facto ou a situação em concreto que constituiria a premissa menor e
terminaria na sentença que será a conclusão. V. g.:
1. Aquele que violar (…) previsão
2. Joaquim violou (…) situação concreta
3. Logo, joaquim terá que indeminizar (…) sentença
CARACTERÍSTICAS DA NORMA JURÍDICA
Há doutrinas que apontas inúmeras características à norma jurídica, porém
entendemos aqui por características tudo aquilo que é intrisceso a propria norma, ou
seja, tudo aquilo que faz parte da norma jurídica e não elementos aparentemente afis
cuja origem é naturalmente externa à norma jurídica. Dessa forma, apontamos como
características da norma jurídica as seguintes:

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GENERALIDADE: a norma jurídica aplica-se a uma categoria abstrata de pessoas e não
a uma ou a uma pluralidade de pessoas determinadas no momento sa sua elaboração.
Mesmo que esta tenha por destinatária uma só pessoa, não deixará de ser geral em
funão de se referir a uma categoria de pessoas e não especificamente àquela que, num
determinado momento, exercer um certo officium, daí a generalidade.
ABSTRAÇÃO: a norma jurídica aplica-se não a um caso específico, mas a um número
indeterminado se situações subsumíveis à categoria prevista; por isso não são normas
jurídicas os preceitos singulares e concretos.
BILATERALIDADE: a norma jurídica implica sempre o envolvimento de duas ou mais
pessoas, isto é, nas relações estabelecidas por estas, assim, casa pessoa poderá exigir à
outra o cumprimento das suas obrigações ou melhor, neste carácter a norma jurídica
atribui a uma pessoa um direito e a outra um dever. V.g. o credor tem o direito de
exigir ao devedor a restituição do seu dinheiro e o devedor tem o dever de restituí-lo.
CLASSIFICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA
Quanto a sua relação com a vontade dos destinatários:
1. IMPERATIVAS: sua aplicação não depende da vontade das pessoas, isto é, estas
implicam uma imposição de vontade. Essa categoria divide-se:
- Preceptivas: impõem-nos uma conduta; v.g. pagar impostos.
- Proibitivas: proíbem uma conduta; v.g. a norma que proíbe o casamento
a quem tenha idade inferior a dezesseis anos ou a quem é casado.
2. PERMISSIVAS: também conhecidas como dispositivas, estas permitem-nos ou
autorizam uma conduta ou certos comportamentos. Estas podem ser:
- Facultativas: também designadas de concessivas ou atribuitivas,
permitem ou facultam certos comportamentos; v.g. a norma que
permite ao cônjuge requerer o divórcio com fundamento em qualquer
facto que mostre a ruptura difinitiva do casamento.
- Interpretativas: determinam o alcance e o sentido de certas expressões
ou declarações negociais susceptíveis de dúvidas; v.g. a norma que
interpreta as expressões “uso contínuo”, “uso diário”, “uso semanal”,
etc.
- Supletivas: suprem a falta da manifestação da vontade das partes sobre
determinados aspectos dum negócio jurídico que carece de
regulamentação; v.g. a norma que supre a falta de manifestação das
partes no acto do casamento sobre a convenção antenupcial, o
casamento considera-se celebrado sob o regime de comunhão de
adquirido.
Quanto ao âmbito de validade espacial:
3. UNIVERSAIS: estas normas implicam-se em todo território do Estado; a título
de exemplo as normas contidas na maior parte das leis e decretos-leis.
4. REGIONAIS: só se aplicam numa determinada região, a título de exemplo as
normas legisladas em regiões autónomas;

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5. LOCAIS: aplicam-se apenas numa determinada circunscrição territorial local, no
caso, apenas na região duma autarquia local;
Quanto ao âmbito pessoal de validade:
6. GERAIS: estas normas estabelecem o regime-regra para o sector de relações
que disciplinam; v.g. nas normas que consagram o princípio da consensualidade
nos negócios jurídicos.
7. ESPECIAIS: estas consagram uma disciplina nova ou diferente para círculos mais
restritos de pessoas, coisas ou relações. V.g. as normas jurídicas que regulam as
relações jurídicas dos comerciantes (Direito Comercial).
8. EXCEPCIONAIS: consagram um regime oposto ao regime-regra, num sector
restrito; v.g. são normas excepcionais as normas que exigem escritura pública
ou documento particular autenticado em determinados negócios jurídicos.
Quanto a plenitude do seu conteúdo
9. AUTÓNOMAS: estas normas expressam um sentido completo, isto é, possuem
um sentido independente de outras normas jurídicas; v.g. a norma que atribui
o risco do devedor em mora – artigo 805° CC.
10. NÃO AUTÓNOMAS: outrossim conhecidas como remissivas, estas não possuem
um sentido completo e para o obterem carecem de uma remissão à outra ou
outras normas jurídicas. Estas podem ser:
- Remissão explícita: refere-se expressamente à norma para qual
remetem. Esta remissão pode poder:
I. Modificativas: a norma não só remete a outra ou outras,
mas também modifica o seu alcance. A modificativa pode
ser:
1.1. Restritiva: a norma jurídica para que se remete é restringida;
1.2. Ampliativa: a norma remete a outra e amplia o seu alcance;
II. Não modificativa: a norma se limita a remeter para outra
que a completa, sem modificar (sem restringir ou ampliar)
o seu alcance.
2.1. Intra-sistemática: esta remissão é feita dentro do mesmo sistema jurídica, ou
seja, a norma é a norma jurídica remete a outra norma dentro do âmbito do mesmo
sistema jurídico.
2.2. Extra-sistemática: esta remissão é feita entre sistemas jurídicos distintos, isto é,
a norma jurídica remete para sistemas jurídicos diferentes. V.g. é o caso das normas do
direito internacional privado que remete para outras ordens jurídicas.
- Remissão implícita: esta remissão como o próprio nome diz, a norma
não remete expressamente para outra norma, todavia estabelece que a
situação a regular é ou se considera igual ao facto ou situação
disciplinada por outra norma para a qual, logo, implicitente remete. São
remissões implícitas as:

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I. Ficções legais: aqui o legislador determina uma situação
aparentemente “fictícia” e considera-a como se fosse igual
a uma situação prevista noutra lei. Assim, este vai assimilar
aquela situação fictícia (x) a ser regulada à uma situação já
regulada (y), neste interím, a norma a qual foi remetida vai
permitir que a outra norma que regulou o situação (y)
outrossim se aplique à situação fictícia (x).
II. Presunções legais: compreedem as ilações ou conclusões
a que se chega sobre um facto desconhecido em função da
existência do outro, isto é, o facto conhecido – 349° CC.
V.g. A tem por mãe B, assim, presume-se que o pai de A é
marido de B, e ao pai (presumido) aplicam-se as normas
que estabelecem os efeitos da filiação. A presunção legal
pode ser:
2.1. Absoluta: não admitem prova em contrário. V.g. artigo 1260° n°3 CC.
2.2. Relactiva: podem ser ilididas mediante prova em contrário. V.g. A absolção dos 20
activistas por insuficiência de provas pelo tribunal.
Quanto a sansão que aplicam, as normas jurídicas classificam-se em:
11. LEGES PLUS QUAM PERFECTAE (leis mais que perfeitas): a violação deste tipo
de normas acarretam mais de uma sansão, sendo aplicado ao mesmo sujeito,
nesta abracam sansões de índole civil e penal, dito doutro modo, reestabelece
o dano causado e pune. V.g. crime de lenucídeo – artigo 189° C. Penal.
12. LEGES PERFECTAE (leis perfeitas): estas leis acarretam sansões exclusivamente
civis, implica invalidade ou nulidade de quaisquer actos praticados em função
de irem contra a sua disposição. V.g. indemnização aplicada em situações na
qual uma das partes foi infiel na relação.
13. LEGES MINUS QUAM PERFECTAE (leis menos que perfeita): estas normas
trazem consigo apenas sansões penais. V.g. a cobrança de forma (multa). Estas
normas não estabelecem a invalidade do acto contrário, mas determinam que
não produzirá todos os seus efeitos, isto é, susceptível à aplicar uma pena ao
transgressor, porém não invalidando o acto por este levado a cabo.
14. LEGES IMPERFECTAE (leis imperfeitas): estas leis não estabelecem nenhuma
sanção, ou seja, sua violação não acarreta qualquer consequência jurídica (nem
punição, nem invalidade). É o caso, v.g. o não cumprimento das normas
constitucionais que consagram o direito à segurança social. Se esta norma não
for cumprida poderá haver uma sanção política (v.g. derrota eleitoral), mas
tampouco jurídicas.
DEFINIÇÃO LEGAL
Toda e qualquer definição é perigosa, pois definir implica, necesariamente, limitar, isto
é, estabelecer uma série de elementos e conceitos que integrarão a respectiva

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definição e que em função destes haverá, quiçá, elementos minentemente
importrantes que acabarão por ficar de fora daquela definição.
No campo jurídico, a definição é outrossim vislumbrada e é comummente designada
por definição legal. Importa esclarecer que no tocante a definições legais, existem dois
grupos de juristas com ideologias totalmente antagónicas. Entre estes, um grupo
advoga que no direito as definições são irrelevantes, ou seja, ao legislador nã cabe
fazer construções conceptuais, esta tarefa cabe à doutrina, assim, o operador do
direito não define, este deve, antes, estar versado, precisamente para legislar,
interpretar, aplicar os preceitos normativos.
Ao passo que o outro grupo de juristas entendem que as defnições legais representam
verdadeiras disposições com valor prescrito, cosntituem elementos fulcrais so Direito;
o operador do direito não pode, todavia, definir muito, dado que há, neturalmente,
momentos específiccos na qual este pode recorrer as definições legais. E aqui o
legislador recorre frequentemente a definições, através das quais fixa, de forma
sintética e de uma vez por todas o conteúdo de certo instituto. V.g.
1) Arts. 202º a 212º do CC – noções e classificação de coisas;
2) Arts. 216º - noção e classificação de beneficiárias;
3) Art. 349º - noção de presunsão;
4) Art. 804º - noção de mora do devedor;
os enunciados legais que contêm definições não são normas autónomas e completas,
pelo contrário, estas carecem de ser integrados por outras disposições legais para
formar uma norma completa, dito doutro modo, as defnições legais são preceitos
normativos que não podem ser olhados de forma isolada por constituirem hitóteses de
trabalho com um sentido normativo, se completando apenas com os dispositivos
normativos subsequentes.
Conceitos indeterminados e cláusulas gerais
CODIFICAÇÃO
Em meiados do século XVIII, em pleno iluminismo, assistiu-se o começo do declínio do
costume e ao predomínio da actividade legislativa dos órgãos estaduais. Sergem, nesse
momento, os primeiros códigos uma vez que muitos dos países na Europa sentiram a
necessidade de unificar e sistematizar leis dispersas, que se aplivacam as múltiplas
relações da vida social. A codificação tornou possível, nesses países, a nficação jurídica,
por esta via, contribui para a consolidação da unificação política.
O termo provém do latim codex que significa composto de páginas, cosido por um dos
lados. Adquiriu tamanha importância na vida jurídica romana que passou a significar
uma coletânea de leis.
Trata-se de uma lei em sentido material que pode revistir a forma de lei, decre-lei ou
outra, emboranão seja uma simples lei porque contém, numa forma científico-
sistemática e unitária, a disciplina fundamental de certa matéria ou ramo do direito.

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Sendo assim, podemos, portanto, definir um código como a organização sintética,
sistemática e científica da normas jurídicas estabelecidas por via legislativa, de certo
ramos do direito destinado a regular determinado sector da vida social.
Um código moderno identifica-se a partir da sequência de três notas, nomeadamente:
1) Regula unitariamente um ramo do direito;
2) Contém a disciplina fundamental desse ramo;
3) É sistemático e científico: obedece a um plano científico que reparte e ordena
as matérias num sistema;
As caracteristicas dos codigos modernos impedem que os confundamos com outras
obras. Umas constituem os seus antecedentes históricos; outras sistisfazem finalidades
proximas. Assim, destacam-se como figuras próximas ao código:

 Compilação
 Consolidação
 Estatuto
 Lei orgánica
 Microcódigo
Torna-se necessário destacar que a afirmação do código como tal deveu-se,igualmente
e, em parte, ao resultado de uma série de factores específicos que associadas numa
liguagem genêrica pode-se designar por movimento codificador, este que teve início
no século XVII e impôs-se decisivamente no século XIX. Destacamos, assim, algumas
das causas que justificam o seu surgimento:
Jusracionalismo: o movimento jusracionalista (para o qual o direito natural tem por
fonte a razção humana, sente a necessidade de o objectivar e a lei constitui o
expediente adequado. Depois, impunha-se reunir, de forma sitemática, as leis
dispersas, tarefa que a ciência jurídica desempenhou com a codificação do direito
privado.
O iluminismo: o homem afirma-se como um ser independente as ideais de liberdade e
de igualdade são incompatíveis com os previlegos. A lei, porque geral e abstrata é o
instrumento previligiado para instaurar a nova ordem jurídica
A política: a codificação favorece a unificação política, porque permite submeter os
diversos direitos locais a um código nacional.
A técnica jurídica: os esforços doutrinários, que se vinham fazendo alimentados pelo
desejo racionalista duma ciência sistemática do direito natural, atingiram um estado
científico elevado, tornando-se possível a codificação.
Os códigos possuem vantagens e desvantagens:

 Permite um conhecimento mais fácil e a aplicação mais segura do direito;


 Unifica o direito e, por isso, evita incongruências entre as normas jurídicas;

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 A sua estrutura revela os grandes princípios que, aglutinando e articulando as
normas jurídicas, constituem as suas traves mestras;
 Facilita a integração das lacunas através do recurso à analogia
Quanto às desvantagens, assinala-se sobretudo, a rigidez, ou seja, a codificação, diz-se
formalizada que rigidifica o direito. Um código traduz um grande esforço, é fruto
duma grande actividade e, por isso, há a tendência para as suas normas
permanecerem inalteradas, apesar da proliferação legislativa que caracteriza os
Estados contemporâneos. Em consequência, cresce rapidamente uma legislação avulsa
ou extravagante e os códigos são-se desactualizando. As suas vantagens desaparecem,
mas são elas que alimentam a necessidade de se fazerem novos códigos.
Pior que a rigidez e a atitude incosciente conservadora que ajuda a criar no jurista é o
risco de considerar um código um sistema completo, acabado, perfeito, isto é, dotado
de “plenitude lógica”. Foi este o entendimento dos positivistas legalistas e
conceitualistas, contra o qual importa afirmar que a codificação não institui um
sistema fechado, mas um projecto sempre aberto, em execução contínua.
RELAÇÃO JURÍDICA
A relação jurídica pode ser entendida sob duas perspectivas:
Lato senso ou em sentido amplo, a relação jurídica compreende toda e qualquer
relação da vida social desciplina pelo direito e que produz, naturalmente, efeitos
jurídicos
Estrito senso ou sentido restrito ou técnico, a relação jurídica corresponde a tota a
relação da vida social disciplinada pelo direito mediante o qual a ordem jurídica atribui
a uma das partes o poder ou faculdade de exigir de outrem a materialização de um
comportamento que pode ser positivo ou negativo. Dito doutro modo, implica sempre
nesse tipo de relação, além de ser disciplinado pelo direito, a concessão por parte da
ordem jurídica de um direito subjectivo a uma parte e a outra parte um dever jurídico.
TIPOS DE RELAÇÃO JURÍDICA
Existem os seguintes tipos de relação jurídica:
Relação jurídica una ou simples: neste tipo de relação jurídica o normal é
simplesmente a existência de dois sujeitos (activo e passivo) na qual um encontrar-se-á
na posição de titular do direito subjectivo e o outro será o titular do dever jurídico,
neste tipo de relaçaõ há tão-somente um único objecto.
Relação jurídica múltipla ou complexa: diferente da simples, nesta há a existência de
mais de dois sujeitos e há, igualmente mais de um objecto, o que implica vários
deveres jurídicos correspondeste a vários direitos subjectivos.
Relação jurídica abstrata: é um paradigma de relação jurídica, ou seja, um modelo
arquêtipo, em que não há contretização da referida relação, assim, esta não constitui
uma relação na vida real. O que sucede V. g. A comprou um carro a B.

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Relação jurídica concretra: nesta há, de facto, a concretização da relação, isto é, é
aquela relação cujos sujeitos são determinados, há um objecto deterinado e,
igualmente, um facto jurídico determinado. V.g. joaquim celebrou um contrato de
compra e venda de um carro com António.
É fundamental deixar claro a relação existente entre instituto e relação jurídica. O
instituto diz respeito àquele complexo de normas jurídicas menor que as instituição
destinadas a regular determinada relação jurídica. Nestes termos, a relação jurídica é o
objecto ou matéria de determinado instituto jurídico, sob o qual incide a sua
regulamentação, isto é, o instituto é o regime de certo conjunto de relações jurídicas.
CONTEÚDO DA RELAÇÃO JURÍDICA
A relação jurídica é integrada por: sujeitos, objecto, facto jurídico e garantia.
a) Os sujeitos são as pessoas entre as quais se estrabelece a relação jurídica. Estes
podem ser activo e passivo.
Sujeito activo -------------------------------------------------------------------------- Sejeito passivo
5000KZ
(objecto)
1. Sujeito activo: titular do direito subjectivo – (credor)
Direito subjectivo: diz respeito a faculdade ou poder inerente da própria pessoa que é
atribuida e reconhecido pelo direito objectivo de exigir a outrem a adopção de um
determinado comportamento. O titular deste direito pode o poder de exigir e/ou
pretender.
Tem poder de exigir quando este sentido que foi lesado, dentro do prazo estabelecido
por lei este recorre às instâncias judiciais para se fazer comprir o seu direito.
Tem poder de pretender quando depois de lesado, o prazo estabelecido por lei para
recorrer às instancias judiciais para se fazer comprir o devido passa, passando,
igualmente, o direito subjectivo não prescrito a uma obrigação natural, isto é, a partir
desse momento esse dever já não é juridicamente exigível, podendo o lesante
reintegrar ou não a lesão por ele causa; estaremos já perante uma questão de
consciência moral.
2. Sujeito Passivo: titular do dever jurídico – (devedor)
Dever jurídico: enquanto que o direito subjectivo diz respeito ao poder ou faculdade,
no dever está subjacente a exigência que a norma jurídica estabelece para um sujeito
passivo à adoção de um determinada conduta em vantagem da outra parte.
Os direitos do sujeito activo incidem sobre uma quid – coisa.
V.g. João solicitou emprestimo de um de 5000 kzs à Maria.
b) O objecto: diz respeito ao substracto ou ao conteúdo da referida relação.

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c) O facto jurídico: é a realidade produtora de efeitos jurídicos através do qual
despoletam as consequências jurídicas.
d) A garantia: consiste na possibilidade de o titular do direitos subjectivo, no caso,
o sujeito activo, requerer as providências coercitivas destinadas a reintegrar ou
reconstituir o seu direito.
ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA OU ELEMENTOS INTERNOS
Direito subjectivo: diz respeito ao lado activo da relação jurídica;
Dever jurídico: é o lado passivo da relação juridica;
Direito potestativo: este direito confere ao seu titular a faculdade unilateral de
constituir, modificar ou extinguir relações jurídicas; é um direito que não admite
contestações, sendo, pois, a prerrogativa de impor a outrem a sujeição ao seu
exercício. É, por outras palavras, um imperativo da vontade por parte de quem
detém o titular do direito subjectivo. Este direito pode ser:

 Constitutivo: dá a prerrogativa ao seu titular de constituir uma relação jurídica


independentemente ou contra a vontade da contraparte; art. 1550º, 1370º,
1409º e 1380º CC.
 Modificativo: confere ao seu titular o poder de modificar uma relação já
jurídica existente; v.g. arti. 1568º CC
 Extintivo: distinam-se a extinção de uma relação jurídica já existente
independentemente da vontade da contraparte, é o caso, por exemplo de
obter o divórcio; art. 78º código da família.

OS SUJEITOS DA RELAÇÃO JURÍDICA


PESSOA; PERSONALIDADE; CAPACIDADE JURÍDICA (DE GOZO E DE EXERCÍCIO);

 PESSOAS SINGULARES
O direito reconhece às pessoas humanas depois de nascidas com vida algo que cujo
nome é personalidade jurídidca. A personalidade jurídica, então, vai compreeender
aquele espediente do direito através do qual reconhece-se a dignidade e o respeito
integro que as pessoas merecem.
Pode ser ainda a qualidade que a lei reconhece às pessoas em função da sua dignidade
e do merecido respeito. Com efeito, é com a personalidade jurídica que se ganha a
aptidão para se ser titular de direitos e obrigações.
Importa destacar que a personalidade jurídica adquire-se no momento do nascimento
completo e com vida, logo, ela se encontra indissociavelmente ligada à vida humana;
como sucede o nº 1 do artigo 66º do CC. No entanto, embora a personalidade jurídica
se adquira apenas com o nascimento completo e com vida, a verdade é que a lei já
reconhece alguns direitos aos nacituros e aos concepturos, ao abrigo dos artis. 952º e
2033º CC; todavia, os direitos que a lei reconhece a esses dependem do seu
nascimento.

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Às pessoas singulares ou humanas o direito reconhece a personalidade jurídica, isto
após o nascimento, por outro lado, às pessoas colectivas o direito faz uma atribuição,
isto é, atribui a personalidade jurídica.
No âmbito da personalidade jurídica encontram-se os chamados direitos de
personalidade, ou seja, a personalidade jurídica implica, desde logo, a titularidade
efectiva de uma certa categoria de direitos absolutos: OS DIREITOS DE
PERSONALIDADE que implicam os direitos inerentes a prórpia pessoa; V.g. artigo 70º
contém uma proteção geral da personalidade, i é, um direito geral de personalidade: o
direito à vida – 30º CRA; o direito à integridade pessoal – 31º; o direito à identidade, à
privacidade e à intimidade – 32º, 33º, 35º, 36º, 37º, 40º, 41º, 42º, 43º, 44º, 46º, 47º,
48º, 49º, 50º, 55º todos da CRA.
Além da tutela do direito geral de personalidade acima enumerado em função do
previsto no art. 70º do CC, há, naturalmente, direitos de personalidade
especificamente previstos, como por exemplo, o art. 71º; o direito ao nome – art.72º;
o direito ao pseudónimo – art. 74º; art. 79º, 80º todos do CC.
É de salientar que, a violação de algum dos referidos aspectos da personalidade pode
constituir:
ILICITO CIVIL: quando a violação dá lugar a responsabilidade civil do infrator, ou seja, à
obrigação de indeminizar os prejuizos causados. “artigo 70º nº 2 CC”.
ILICITO CRIMINAL: quando a violação tem um especial relevo para a comunidade,
dando, consequentemente, lugar a sansões punitivas, multa penal, prisão efectiva, ou
seja, possuem uma tutela penal (é pautada pelo direito penalmente);
Os direitos de personalidade possuem características específicas:
 Constituem direitos inalienáveis: ou seja, que não pode ser aliendo ou
transmitido a outrem, ora se os direitos de personalidade são direitos inerentes
a própria pessoa, a vida é um direito inalienável, pois ninguém consegue
transmitir a sua vida à outrem, e;
 É um direito irrenuciável: na medida que não é passível de renúncia ou não se
pode abdicar, por exemplo, ninguém pode renunciar a própria vida.
Todavia, a relevência do consentimento do lesado pode ser admitida, se não for
contrária aos princípios da ordem pública, assim como sucede no art. 81º do CC,
limitiação voluntária dos direitos de personalidade. O consentimento não produz,
porém, a extinção do direito e tem um destinatário que beneficia dos seus efeitos. Este
consentimento podem ser:
Consentimento autorizante, traduz-se na concessão do poder jurídico que dá a
possibilidade de agridir, injuriar ou ofender a integridade de alguém.
Consentimento tolerante, por sua vez, é o consentimento que quando é fornecido a
alguém, tira a ilegalidade do ato ou omissão

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Consentitmento vinculante,
Vinculada a esse elemento, no caso, personalidade, estão a capacidade jurídica,
outrossim entendida como capacidade de gozo e a capacidade de exercício de direitos
que são conceitos inteiramente diferentes.
A capacidade jurídica vai ser aquele âmbito maior ou menor através do qual qualquer
pessoa se torna habilitado ou capaz de ser titular de direitos e obrigações, ou seja, de
estabeceler, efectivamente, uma relação jurídica; arti. 67º CC.
Ao passo que, diferente daquele, a capacidade de exercício de direito compreende a
aptidão que o direito atribui a um sujeito para ajir livremente por si ou mediante
representação voluntária, isto é, pessoa de sua escolha que o substituirá.
Importa referir que enquanto que a capacidade de gozo se encontra num plano
absatrato quanto a titularidade de situações jurídica, a capacidade de exercício de
direito se encontra num plano concreto, pois aqui averigua-se em que medidas certas
pessoas podem exercer os direitos ou cumprir as obrigações que lhe podem caber
enquanto sujeito.
Daí que nasce o conceito de incapacidades e as respectivas formas de suprimento.
Há individuos que, sendo pessoas para o direito, ou seja, que posssuem personalidade
jurídica e tendo ainda capacidade jurídica, isto é, aptidão para ser titular de direito e
obrigações, não podem, contudo, agir ou não podem sempre agir, pessoal e
livremente, no mundo do direito, pois encontram-se feridas de incapacidade. Estas
pessoas por carecerem de capacidade de querer ou entender os seus actos, não
podem, livremente, reger a sua pessoa e dispor livremente dos seus bens. Sendo
assim, estes possuem a chamada capacidade de gozo, todavia não têm capacidade de
exercício.
Nos termos do código civil, são incapazes:

 Os menores (art. 122º a art. 129º CC);


 Os interditos (art. 138º a art. 151º CC);
 Os inabilitados ( art. 152º a art. 156º CC);
A diferença que existe entre os menores por um lado e os interditos e inabilitados por
outro, é que os menores são incapazes pelo simples facto de se encontrarem em
condição de menoridade, isto é, é-se menor, é-se, automaticamente, incapaz. Ao passo
que, os interditos e inabilitados só ficam legalmente constituídos na situação de
incapazes desde que haja uma sentença que assim os declare (sentença de interdição
ou inabilitação), ultrapassada essa condição, o tribunal deve fazer o levantamento da
respectiva declaração.
Essas incapacidades podem ser supridas, por um lado, a incapacidade do menor e do
interdito é suprida mediante representação legal, que cabe aos pais e, na falta ou
impedimento destes, ao tutor, como sucede no art. 124º e 139º CC. Já por outro, a

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incapacidade do inabilitado é sanada por nomeação de um curador, a luz do art. 153º
CC.
 PESSOAS COLECTIVAS
As pessoas colectivas são, no fundo, espécies de criações do direito; através da qual o
direito faz de conta que está diante de uma pessoa para permitir que este faça parte
de um negócio jurídico; ou seja, implica uma colectividade de pessoas ou uma massa
de bens constituido em homenagem à existência de interesses humanos colectivos e
duradouros e a quem a ordem jurídica ou , simplesmente, o Direito atribui
personalidade jurídica, aquela aptidão ou qualidade de ser titular de direitos e
obrigações. São pessoas colectivas: o Estado, as Sociedade Comerciais, as Fundações,
as Associações, as Igrejas, etc.
Para a existência de uma pessoa colectiva é necessário que existam dois elementos
cumulativamente: o substrato e o reconhecimento.
O substrato: compreende o elemento material, é a composição da realidade
necessária à constiuição da pessoa coletiva. O substrato pode ser patrimonial (massa
de bens, por exemplo para as Fundações); ou pessoal (constituição de pessoas, por
exemplo as Sociedade Comerciais).
O reconhecimento: este é o elemento através do qual o direito reconhece a
constituição da pessoa colectiva, respectivamente, pela unidade integral dos
elementos que compõe o substrato. É com esse elemento, o reconhecimento, que a
pessoa colectiva adquire a personalidade jurídica.
A título de exemplo, as associações adquirem personalidade jurídica através da sua
constituição por de respectivo registo ao notariado, a luz do art. 10º da lei 6/12 de 18
de Janeiro, vulgo, lei das Associações.
Classificação
Pessoas colectivas publicas e pessoas colectivas privadas

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