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apostilas de cpdc 1º ano – 2021/2022

1. CIÊNCIA POLÍTICA – conceito; objecto; método.


Para entender, acentuadamente, a definição de ciência política, é importante,
primordialmente, ter em antemão pequenas noções relactivas a natureza e etimologia
do termo “política”. Assim, o termo política derivou do vocábulo grego antigo
“πολιτεία” – “politeía” que indicava todos os assuntos ou aspectos relacionados à
Pólis, cidade ou Estado na Grécia.
Pode se dizer que o termo possui, nos moldes contemporâneo, uma dualidade de
sentido:
Por um lado, temo-la enquanto actividade, na qual é entendida como a arte do bem
governar, isto é, refere-se a todos os procedimentos, medidas, propostas e tomadas
de decisões que são levadas a cabo por uma autoridade com vista a boa administração
da pólis – cidade/Estado.
Por outro lado, temos a política enquanto ciência. Segundo o Manual de C.P.D.C. de
Zeferino Capoco, a política enquanto ciência “fixa-se no plano do saber”, na qual
possui um objecto e um método de estudo que permitem entendê-la como um
sistema de conhecimentos, MARCELO CAETANO destaca, segundo o mesmo Manual,
dois conceitos de Ciência Politica:
1) Um conceito restrito, em que a Ciência Politica é a disciplina que estuda as
manifestações, formas e regularidades dos factos políticos, em si mesmo ou
através do comportamento dos indivíduos, mediante métodos de observação;
2) E um conceito amplo, que engloba na Ciência Política todos os conhecimentos,
seja qual for o método empregado para sua obtenção, relativos à
compreensão, explicação e fundamento racional dos factos políticos,
ordenados e sistematizados em função do seu objecto.
Nestes termos, sucintamente, é possível reduzir a definição de Ciência Política como
ciência que estuda os factos políticos. Ou seja, o facto político é, pois, o objecto de
estudo dessa ciência. No entanto, o que será, exactamente, um facto político?
O facto político compreende toda ocorrência que se verifica no âmbito de uma
sociedade que incide, directamente ou indirectamente, no exercício do poder político.
Ademais, não se pode esquecer que a política enquanto ciência não possui tão-
somente um objecto, há ainda um caminho – “método”.
Ainda segundo o Manual CPDC de Zeferino Capoco “devemos observar, com critérios
de sistematicidade que, tratando-se do estudo do mero facto politico, atuando no
campo da Ciência Politica, considera-se o uso de um método próprio. Pois, a Política
enquanto ciência que estuda o Estado nas vertentes de poder, governação e da luta
pelo poder, das instituições do Estado, pelos diferentes sectores políticos, fá-lo numa
perspectiva metódica descritiva e analítica, tomando a realidade dos factos como eles
acontecem através da observação”.

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Assim sendo, pelo facto desta ser um ciência de carácter descritiva e analítica,
considera-se como métodos da mesma a observação e consequente descrição, isto é, a
observação e, em certa medida, a descrição constituem o caminho pelo qual a política
enquanto ciência envereda para conseguir sistematizar os conhecimentos inerente ao
seu objecto.

2. DIREITO CONSTITUCIONAL – conceito;objecto; método; características.

Uma coisa é certa, não há sociedade sem ordem ou regra, de igual modo sem uma
organização, ou seja, do mesmo modo que a juridicidade, isto é, o Direito, é
fundamental para uma sociedade, a política, outrossim é fundamental. O primeiro, no
caso, o Direito, disciplina as relações estabelecidas entre os indivíduos na sociedade
perspectivando a harmonia social e o segundo, a política, garante a devida
administração e gestão dos recursos e da coisa pública, perspectivando a maior e
melhor organização possível do Estado por meio de tomadas de decisões. Assim, tanto
a política quanto o Direito nas suas reais essências convergem no sentido de fazer da
sociedade um lugar melhor para se viver. Porém, não é simplesmente essa relação que
ambos possuem.
A partir do século XVIII a política passou a ganhar um certo estatuto, um estatuto
jurídico. O professor Jorge Miranda considera como “estatuto jurídico do político”.
Assim, este seria um conjunto de regras e princípios fundamentais, que regem a
estrutura política do Estado, ou seja, uma parcela do direito estreitamente ligado à
organização política. Este direito rege a atividade dos poderes públicos, contendo
regras sobre a organização da comunidade política, e estabelecendo também o
sistema de governo em vigor numa sociedade. Para além disso, prevê ainda um
conjunto de regras que identificam os órgãos políticos da sociedade, as suas
competências e relações mútuas, fixando os fins coletivos que presidem à atividade de
todos os poderes e órgãos públicos.
Segundo explica o Manual de CPDC de Zeferino Capoco – esse estatuto significa dizer
que o estado possui um direito, “o direito do estado”, este ordena, de forma geral, a
realidade do poder. Ainda sobre este carácter ordenador, compete a esta parcela do
direito regular e controlar o poder do Estado, compreendido como o lado jurídico da
vida do Estado. A esta parcela ou ramo de Direito dá-se o nome de Direito
Constitucional.
O Direito Constitucional possui duas acepções, ou seja, duas interpretações.
Por um lado, podemos entendê-la como disciplina de estudo que possui,
necessariamente, um objecto e um método de estudo. Entendido aqui como ciência
jurídica virada essencialmente ao estudo, análise e interpretação das normas
constitucionais.
Na faculdade de Direito, por exemplo, o Direito Constitucional é visto como uma
disciplina de estudo.

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Por outro lado, ele é visto como um conjunto de normas, isto é, um ramo do direito
público constituído por um conjunto de normas jurídicas fundamentais à
regulamentação do Estado.
A título de exemplo: situações de índole políticas que carecem de soluções jurídicas,
estaremos diante de um conjunto de normas jurídicas, do tipo: constitucionais, logo,
aqui ele é visto como conjunto de normas.
Para o Professor Jorge Miranda “o Direito Constitucional é a parcela da ordem jurídica
que rege o próprio Estado enquanto comunidade e enquanto poder. É o conjunto de
normas (regras e princípios) que recortam o contexto jurídico correspondente à
comunidade política como um todo e aí situam os indivíduos e os grupos uns face aos
outros e frente ao Estado-Poder e que, ao mesmo tempo definem a titularidade do
poder, os modos de formação e manifestação da vontade política, os órgãos de que
esta carece e os actos em que se concretiza”.
Para Jorge Bacelar Gouveia “o Direito Constitucional consiste no conjunto de princípios
e de normas que regulam a organização, funcionamento e os limites do poder do
Estado, assim como estabelecem os direitos das pessoas à respectiva comunidade
política”.
Zeferino Capoco define, no seu Manuel de CPDC, o Direito Constitucional como
“ciência que estuda o conjunto de normas jurídicas fundamentais que definem e
delimitam a estrutura do Estado-poder, organizando-o como Instituição política e
jurídica e estabelecendo os limites no âmbito de actuação dos poderes públicos face
aos direitos fundamentais dos cidadãos”.
Assim, com base nas definições dos autores supracitados, em suma, por Direito
Constitucional entendemo-lo como a parte da ordem jurídica formada por um
conjunto de normas jurídicas tidas como fundamentais, que visam essencialmente
regular a estruturação do estado-poder, limitar o poder público e ainda garantir a
consagração dos direitos fundamentais dos cidadãos.
O objecto do Direito Constitucional é a Constituição bem como as demais normas ou
leis que são fundamentais para uma comunidade política, ou melhor, que possuam
dignidade Constitucional. Vale lembrar que uma norma ou lei só possui dignidade
constitucional quando esta regula aspectos fundamentais do Estado ou ainda direitos
fundamentais. Por exemplo: a lei da Nacionalidade angolana é fundamental para a
comunidade política, logo, possui dignidade constitucional, todavia, tal lei não é
abordada dentro do texto constitucional.
O Direito Constitucional enquanto ramo da ciência jurídica, confere sentido normativo
aos fenómenos sociais a que se propõe regular, determinando como estes devem ser,
portanto, o caminho ou método usado pela Direito Constitucional é o normativo, ou
seja, ele dispõe-se de normas regras e leis para fazer jus ao seu estudo.

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CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS DO DIREITO CONSTITUCIONAL


As normas que compõem o direito constitucional possuem traços característicos
próprios e bem específicos que os destiguem das demais normas, assim sendo, são
principais caracteristicas das normas do Direito Constitucional:
1) Auto-primazia normativa: as normas do Direito Constitucional constituem uma
Lex superior, ou seja, estão acima de todas outras normas, por esta razão não
existem outras que lhe sirvam de base para sua elaboração, logo, encontram o
seu fundamento de validade nelas próprias.
2) Normas de normas: as normas do Direito Constitucional constituem fontes de
produção jurídica das normas infraconstitucionais, assim, as demais normas são
criadas em virtude e em conformidade com as normas constitucionais.
3) Superioridade normativa: esta característica implica que todos os actos dos
poderes políticos devem estar em conformidade com a constituição, isto é,
tudo quanto é acto ou exercício de poder estadual deve ir de acordo com os
princípios e normas constitucionais sob pena destes actos constituirem uma
inconstitucionalidade.
CIÊNCIAS AFINS AO DIREITO CONSTITUCIONAL
O Direito Constitucional enquanto ciência jurídica, segundo Jorge Bacelar Gouveia, não
está isenta de proximidade com outras ciências ou outros domínios científicos, na qual,
muita das vezes, mostram-se ser ciências relactivamente afins ao Direito
Constitucional.
O mesmo destaca como ciências afins ao Direito Constitucional as seguintes:
CIÊNCIA POLÍTICA: o estudo da Ciência Política é indispensável ao estudo do Direito
Constitucional, porque este último é formado pelas normas jurídicas reguladoras de
factos políticos; ora, sem conhecer tais factos não é fácil entender as normas que os
regem. Por outro lado, nesta relação interdisciplinar dá-se uma íntima interpenetração
da Ciência Política e do Direito, a propósito que a cada problema é necessário
conhecer a respectiva matéria jurídica a que o Direito dá forma. Daí que na prática o
estudo de uma e de outra se façam quase que simultaneamente, como conhecimentos
complementares.
SOCIOLOGIA POLÍTICA: é o ramo da sociologia que reflete sobre o poder, o Estado e o
dever político, auxilia o Direito Constitucional uma vez que as suas análises estão
naturalmente vinculadas ao poder dentro de uma sociedade, possibilitando assim ao
Direito Constitucional conhecer como se desenvolve a relação entre poder e
sociedade.
FILOSOFIA POLÍTICA: é parte da filosofia que estuda as relações entre os habitantes de
uma comunidade e seus governantes, auxiliando na descoberta dos valores a serem

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salvaguardados a partir do estabelecimento de limites ao poder público positivo


relactivo aos direitos das pessoas.
TEORIA GERAL DO ESTADO: uma vez que esta é uma ciência virada ao estudo e análise
dos elementos e características do estado, naturalmente que auxilia o Direito
Constitucional na medida que define um conjunto de opções que se destinam a
regulação jurídico-positivo concreta de determinada estrutura estadual. Além destas,
existem ainda outras ciências afins ao Direito constitucional, segudo Bacerlar Gouveia,
nomeadamente: política constitucional, história das ideia e análise ecónomica do
direito constitucional, porém destamos aquelas como principais.

3. A CONSTITUIÇÃO
CONCEITO HISTÓRICO-UNIVERSAL DE CONSTITUIÇÃO
O entendimento do conceito histórico-universal de constituição parte do princípio de
que a constituição sempre existiu e sempre existirá (perspectiva temporal), e em todos
os lugares (perspectiva espaço-universal).
E é certo que para puder vislumbrar um comunidade como tal, é necessário ter em
conta alguns elementos efectivamente necessários, tais como:
1. IDENTIDADE: uma comunidade deve possuir uma identidade prórpia, ideia de
"nós e outros" (alteridade), noção de pertencimento. Aquilo que, por exemplo,
me permite afirmar que sou cidadão de Angola e não de Moçambique.
2. ORGANIZAÇÃO: aqui está subjacente aquele que detêm o poder, como este
manda e como se dá a reprodução social nessa estrutura.
3. VALORES: serão aqueles elementos preestabelecidos e naturalizados a partir
de um processo construtivo que permite, inclusive e sobretudo, desenvolver
um tipo de organização social e especialização de poder, bem como possibilita
a construção de uma identidade, diferenciando-se de outras.
Então, sem estes elementos, seriam bastante difícil enxergar uma sociedade como tal,
nestes termos, a priori, a constituição pode ser definida como “modo de ser” de uma
comunidade/sociedade ou Estado. Ou seja, como ela é, como está formada e
constituída em relação às demais comunidades; assim, esses elementos ou matérias
explicitam como as comunidades existem, se reproduzem, bem como os seu
respectivo “modo de ser”. Logo, se existem comunidades/sociedades ou Estados é
porque estes alguma vez estes foram constituídos, assim sendo, a partir daí, esta
comunidade/sociedade ou Estado possui uma Constituição.
Esta definição de constituição recebe o nome de “CONSTITUIÇÃO MATERIAL”, isto
numa perspectiva sociológica. Ou seja, a Constituição Material ou ainda Constituição
Real é um entendimento do ponto de vista sociológico.
A questão que se segue a seguir é, se há milênios sempre existiu uma Constituição
Material/Real implícita à comunidade como o seu “modo de ser”, como esta passou a

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ser algo explícito (expresso ou expressivo) e constitutivo das comunidades, ou melhor,


como passou para isto que podemos chamar juridicamente de novas comunidades?
Se a Constituição Material/Real é o modo de ser de uma comunidade, na medida em
que carrega as matérias constitutivas de um modo de ser da sociedade ou do Estado,
ela ganha contornos tipicamente jurídico-normativas a partir dos séculos XVII e XVIII. A
ideia de organização constitucional formal (formalizada) dos Estados se estabelece ou
se funda de forma solene no século XVIII, com o denominado “Movimento do Co
constitucionalismo” que guarda íntima relação com as revoluções americana e
francesa. No entanto, não se pode desconsiderar a contribuição do constitucionalismo
britânico, pois, este apesar de não estabelecer a formalização das Constituições
(constituição formal) consolidou-se no século XVII com a Revolução Gloriosa de
1688/89 e a afirmação do Parlamento após um longo processo de sedimentação que
teve início no século XVII (com a Magna Carta de 1215).
Assim, passamos, naturalmente, a ter a constituição material como efectivamente
jurídica, nos moldes modernos. Nestes termos, a constituição passou a ser, a partir da
experiência inglesa, entendida com conjunto de normas jurídicas instituidoras de uma
comunidade (tipicamente constitutivas da sociedade/Estado). Ou seja, reiterando,
porém dito de outra forma, esta como resultado de um longo processo, o século XVII
conduziu ao surgimento de uma nova visão de constituição material, uma visão
normativamente institucionalizada com matérias tipicamente constitutivas da
sociedade.
Sucintamente, o constitucionalismo moderno poder ser entendido como resultado de
movimentos levados a cabo que trouxeram consigo objectivos que, sem dúvidas, iriam
fundar (constituir) uma nova ordem. Quais foram, portanto, os grandes objectivos do
movimento do constitucionalismo?
a) Por um lado, a limitação do poder com a necessária organização e estruturação
do Estado (Estados nacionais que já eram, mas a partir daí se firmam como, não
mais Absolutos). Em consequência disso, se desenvolveram teorias
consubstanciadas na praxis, como a “teoria da separação dos poderes”, além
de uma redefinição do funcionamento organizacional do Estado;
b) Por outro, a consecução (com o devido reconhecimento) de direitos e garantias
fundamentais (num primeiro momento, com a afirmação em termos pelo
menos formais da: igualdade, liberdade e propriedade de todos).
Por conseguinte, com Canotilho, os temas centrais do constitucionalismo se
relacionam com a fundação e legitimação do poder politico e a institucionalização das
liberdades individuais.
Com efeito, no século XVIII, verificou-se um constitucionalismo moldado por teóricos e
revolucionários norte-americanos e franceses nos seus respectivos contexto, levados
às últimas consequências como pacto fundador de um novo Estado e de uma nova
sociedade. Até chegar-se então: a era das Constituições formalizadas (formais) em um

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documento escrito. A constituição passa a ser entendida como a ordenação


sistemática e racional da comunidade política plasmada em um documento escrito no
qual se fixam os limites do poder político e declaram-se direitos e liberdades
fundamentais. A constituição deixa de ser, pois, um simples “modo de ser” da
comunidade para se tornar num acto constitutivo (criador, formador, fundante) da
“nova” comunidade.
Inicia-se, com isso, a noção da constituição como algo que funda uma nova sociedade,
como um documento escrito que se projeta para o futuro a partir da sua criação
(produção) e que todos devem respeito, independentemente de sua posição social
(status) ou até mesmo de sua colocação na estrutura organizacional do Estado. Neste
ínterim, mais uma vez, as bases da Constituição transmudato, porém desta vez
reduzida à forma escrita no fim do século XVIII.
Essas Constituições passaram a:
1. ordenar em termos jurídico-políticos o Estado, agora, por meio de um
documento escrito;
2. declarar nessa carta escrita um conjunto de direitos fundamentais e o
respectivo modo de garantia;
3. organizar o poder político segundo esquemas tendentes a tornar um poder
limitado e moderado.
DEFINIÇÃO DE CONSTITUIÇÃO
Vários são os autores que apresentam uma definição válida de Constituições:
Gomes Canotilho – a sua definição é cognominada como conceito ideia de
constituição: “ordenação sistemática e racional da comunidade política plasmada em
um documento escrito no qual se fixam os limites do poder político, sua organização e
declaram-se liberdades e direitos fundamentais.”.
Raul Carlos Araújo – “a constituição é um sistema de normas jurídicas escritas ou
costumeiras que regulam a forma de Estado, a forma de governo, modo de aquisição e
exercício do poder, o estabelecimento dos seus órgãos, os limites da sua acção, os
direitos fundamentais e das suas respectivas garantias”.
Zeferino Capoco – “ a constituição é o conjunto de normas jurídicas que regulam o
poder político estadual, a sua organização e actuação face a comunidade mais vasta
dos cidadãos”.
Ora, tendo assim como alicerce as definições dos autores acima apresentadas, de um
modo genêrico é possível entender por constituição como um sistema de norma
jurídicas cuja principal função assenta na regulamentação da estrutura estadual,
implicando, naturalmente, a organização da comunidade/poder, limitação do poder
político e a consagração dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos da respectiva
comunidade. A constituição deve ser:

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 Sistemática: significa que deve possuir uma estrutura própria e;


 Racional: uma vez que nela não entra tudo, pois é uma síntese da síntese de
matérias cuja abordagem é detalhadamente feita em outros diplomas legais
“leis ordinárias”.

Tem como principais objetivos:


 Limitar o poder político a fim de evitar o abuso do poder e o excessivo exercício
do mesmo;
 Estabelecer a organização do poder (implicando aqui o princípio da separação
de poderes – legislativo, executivo e judiciário);
 Defender os valores fundamentais que regem determinada comunidade
política;
 Garantir a consagração de um catálogo de princípios que visam defender os
direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos.
CONTEÚDO E ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO
A estrutura da Constituição em geral visa a concretização das suas várias funções e
conjuga normas que associam funções de ordem e de garantia com as funções de
tarefa ou programa. Ela agrega, em regra, normas que aparecem organizadas em
grandes títulos ou capítulos.
Várias são as categorias de elementos que compõem a estrutura normativa de uma
Constituição, de uma maneira geral, estas categorais são as seguintes:
Grupo dos elementos orgânicos: este contém normas que regulam a estrutura do
Estado e do poder. Na CRA: Título IV: Organização do poder do Estado; Título V:
Administração Pública; e Título VI: Poder Local;
Grupo dos elementos limitativos: contém as normas que consubstanciam o conjunto
de principios que asseguram os direitos e garantias fundamentais. Na CRA: Título II:
Direitos e Deveres fundamentais.
Grupo dos elementos socioideológicos: traduzem-se nas normas que exprimem as
opções político-ideológicas e socioeconómicas da respectiva Constituição. Na CRA:
Título I: princípios fundamentais;
Grupo dos elementos de estabilização constitucional: aparecem consagrados nas
normas destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da
Constituição contra os meios e técnicas que visem a sua adulteração e revisão. Na CRA:
Título VII: garantias da Constituição e controlo da Constitucionalidade;
Grupo dos elementos formais de aplicabilidade: são os que estão consagrados nas
normas que estatuem regras de aplicação das Constituições, como é o caso do

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Preâmbulo, o dispositivo que contém as cláusulas de promulgação e as disposições


constitucionais transitórias e finais. Na CRA: Título VIII: disposições finais e transitórias.
No que conta ao conteúdo, em geral, compreende a estruturação do Estado, a
formação dos poderes públicos, forma de governo, modo de aquisição do poder, inter-
relação entre os órgãos e a efectiva distribuição de competências, direitos, garantias e
deveres dos cidadãos.

A Constituição da República de Angola em particular apresenta a seguinte estrutura:


Preâmbulo
Constitui a parte introdutória da Constituição em que se faz uma proclamação de
princípios que têm como objectivo mostrar as diretrizes Políticas, filosóficas e
ideológicas do Estado que acabou de ser criado. Nesta parte introdutória da lei
fundamental faz-se uma resenha da Evolução histórica do constitucionalismo angolano
e dá-se uma explicação sobre as motivações que contribuíram para a aprovação da
Constituição.
Título I - Princípios fundamentais (artigos 1º à 21º)
São o conjunto de princípios e regras que reflectem as opções políticas e ideológicas da
constituição. Estas normas definem a forma de Estado, a estrutura do Estado, os
princípios estruturantes do regime político, princípio do Estado de Direito, princípio
democrático, principio republicano, etc.
Título II - Direitos e deveres fundamentais (artigos 22º à 88º )
Explicitam os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos e as garantias da sua
defesa.
Titulo III - Organização económica, financeira e fiscal (artigos 89º à 104º)
A Constituição aqui define os princípios organizadores do sistema financeiro, do
sistema fiscal, impostos, contribuições especiais e do Orçamento Geral do Estado.
Titulo IV - Organização do poder do Estado (artigos 105º à 197º)
Este título começa por definir os princípios gerais da organização do Poder do Estado, a
forma de designação do Presidente da República e dos deputados à Assembleia
Nacional, trata, igualmente, do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do Poder
Judicial, nomeadamente dos tribunais, Ministério Público, etc.
Titulo V - Administração Pública (artigos 198º à 225º)
Este título define os objectivos e princípios fundamentais à Administração Pública, a
sua estrutura, a administração do Estado e os direitos e garantias dos administrados.

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Título VI - Poder Local (artigos 213º à 225º)


Este título estabelece os princípios gerais da organização do Poder Local,
particularmente, das autarquias locais e de outras instituições de poder territorial
como tradicional.
Titulo VII - Garantias da Constituição e controlo da Constitucionalidade (artigos 226º
à 237º)
Define os princípios gerais da fiscalização da constitucionalidade e os actos do Estado
que são objecto de fiscalização, os tipos de fiscalização, assim como os princípios
reitores da revisão constitucional e os limites existentes a essa revisão.
Titulo VIII - Disposições finais e transitórias (artigos 238º à 244º)
São normas jurídicas passageira ou temporárias, que possibilitam a passagem de uma
ordem constitucional para outra. É nesta parte que se estabelecem critérios e
princípios relativos à entrada em vigor da Constituição, ao funcionamento da
Assembleia Nacional, ao Presidente da República e outros.
SENTIDOS E CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
A Constituição apresenta naturalmente alguns sentido, isto é, maneiras ou modos de
entendê-la que são totalmente distintos um do outro e a doutrina aponta exatamente
três sentidos de Constituição, nomeadamente: material, formal e Instrumental.
 Material (ou Sociológico): neste sentido a constituição é entendida, acima
tudo, como o modo de ser de uma comunidade política, isto é, como conjunto
de fundamentos que explicitam os factores reais do poder de uma sociedade,
pois aqui se definem as bases estruturantes de um Estado, sua organização,
funcionamento, valores, etc e sem esquecer, claro, dos direitos inerentes aos
cidadãos da referida comunidade.
 Formal (ou Jurídico): entendida aqui como um documento escrito, solene e
principalmente jurídico-normativo composto por um conjuto de normas que
regem determinado Estado enquanto poder e enquanto comunidade, cujo
processo de reforma obedece criteriosamente procedimentos especiais.
 Instrumental (ou Política): este, corresponde ao documento onde se inserem
ou depositam as normas constitucionais, entendido como aquele texto único,
denominado “Constituição”, ou elaborado como tal que serve de instrumento
para o exercício dos actos do pessoal político.
A parte os sentidos de Constituição, importa destacar que são diversas as categorias a
qual uma determinada constituição pode se atrelar, isto é, a constituição pode
classificar-se da seguinte maneira:
1. Quanto a origem:

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Constituição Histórica – são aquelas cuja origem está vinculada na tradição, nos usos e
costumes, na região, geografia ou relações políticas e económicas, como é o caso, por
exemplo, da constituição Britânica.
Constituição democrática – sua origem dá-se com um longo processo democrático de
participação popular.
Constituição Outorgada – estas derivam da concessão do detentor do poder político
(Rei, Imperador, Presidente ditador, etc.) em que não há qualquer participação
popular.
Constituição Pactuada – a origem destas incide sob os pactos políticos entre diversas
forças políticas, por exemplo: a lei Constitucional de 1992.
Constituição Cesarista – estas constituições têm origem em dois mecanismos distintos
de participação popular, por um lado o plebiscito e por outro o referendo. Visam
legitimar a presença do detentor do poder.
2. Quanto a essência:
Constituição Normativa – são aquelas constituições cujas normas dominam o processo
político, ou seja, estas são juridicamente válidas e também realmente vivas e se
encontram em conformidade com a realidade Constitucional e política.
Constituição Semântica – é aquela que serve naturalmente para beneficiar os
detentores do poder político que dispõem de meios para impor a sua vontade, ou seja,
constituições manipuladas por aqueles que detêm o poder. Assim, essas constituições
representam a formalização exterior, em termos constitucionais da situação do poder
político existente de acordo os seus detentores.
Constituição Nominal – são juridicamente válidas, todavia o processo político não se
adapta às normas em virtude de carecerem da realidade existencial, ou melhor,
seguem todo o procedimento normal de elaboração de uma constituição, mas está
desfasada da realidade sociopolítica e económica do respectivo Estado. Dito de outra
forma, estas constituições não possuem a devida força de imposição que lhes é
fundamental para regular a realidade política apresentada pela respectiva comunidade
pelo facto das normas que compõem esta constituição estarem desactualizadas, se
assim se pode dizer, daí a sua designação: nominal, é simplesmente um nome, é
somente o nome de constituição, porque Constituição como tal, na sua verdadeira
essência, está longe de ser.
3. Quanto a sistematização
Constituição unitextual - é aquela constituição cuja sistematização da matéria
encontra-se num único texto. É o caso, por exemplo, da Constituição da república de
Angola de 2010.

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Constituição pluritextual: assim como termo diz “pluri” e “textual” neste tipo, as
matérias se encontram dispersas em vários textos legais, é o caso das emendas
constitucionais que se encontram fora dos texto constitucional.
4. Quanto a ideologia
Constituição Ortodoxa – obedecem uma ideologia ou princípios ideológicos únicos e
centralizados. É o caso, por exemplo da Constituição Soviética e a lei Constitucional de
1975.
Constituição Eclética – formada por vários princípios ideológicos, mas acabam por
conseguir uma conciliação. Por exemplo a lei Constitucional de 1992 e a C.R.A de 2010.

5. Quanto a extensão
Constituição sintética ou curta – tal como nome diz, este tipo de constituição é
racional, contendo apenas algumas matérias inerentes a organização, estrutura e
funcionamento do Estado e dos direitos dos cidadãos.
Constituição analítica ou longa – ao contrário da primeira, estas são extensa,
prolixeras e minuciosas, por exemplo da CRA que possui 244 artigos e a Constiuição do
Brasil.
6. Quanto ao conteúdo
Constituição material - podem ser escrita ou não (costumeiras), isto porque podem ser
ou não inseridas no texto constitucional, nestas o foco principal é a organização,
estrutura e os valores basilares duma comunidade, bem como as liberdades e direitos
fundamentais dos cidadãos.
Constituição formal – são diplomas, documentos escritos e solenes e que podem ser
alteradas mediante procedimentos Constitucionais estabelecidos pela mesma, de
salientar ainda que, a existência desta, implica, necessariamente, a existência da
Constituição material, pois este carácter formal é exatamente das matérias acima
referidas.
7. Quanto a forma
Constituição Escrita ou Instrumental – é aquela Constituição que passa
necessariamente por todo um conjunto de procedimentos para a sua elaboração e sua
disposição, é encontrada num documento escrito.
Constituição não escrita – estas não passam criteriosamente por procedimentos de
elaboração, pois a sua disposição não é vislumbrada num documento escrito
(cosntituição costumeira).

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8. Quanto a tipologia
Constituição Programa – esta estabelece um programa a concretizar pelo Estado,
seguem linhas que o partido no poder ou o detentor do poder decreta, sejam elas de
carácter social ou político.
Constituição Pragmática – possuem normas definidoras de orientação do Estado.
Definem o programa de acção para o Estado. Por exemplo o artigo 21° da CRA, o
princípio que consagra as tarefas fundamentais do estado.
Constituição Instrumental – esta é similar à cosntituiçao pragrama. Há nestas, normas-
programas para os órgãos que exercem o poder político. Estabelecem exclusivamente
ou quase exclusivamente as formas de organização do estado ou do poder político.
9. Quanto ao processo de mudança
Constituição Rígida – é aquela Constituição que apresenta, na sua matéria,
procedimentos especiais para a sua modificação e aprovação, não admitindo
independentemente das circunstâncias ser alterado da mesma maneira que as leis
ordinárias. Por exemplo as Constituição da República de Angola.
Constituição flexível - é aquela que não determina em seu texto nenhum requisito para
a sua alteração, não possuindo, assim, grau de dificuldade, daí o seu nome flexível,
assim, a sua modificação se dará dá da mesma maneira que as leis comuns. A título de
exemplo: a constituição britânica.

4. PODER CONSTITUINTE
Assim como vimos anteriormente, a constituição é a lei fundamental de uma
determinada comunidade política, sendo a ordenação através do qual organiza-se e
limita-se o poder político e assegura-se a garantia dos direitos fundamentais. Mas
afinal de onde advém essa legitimada e importância da constituição? Como e quando
se cria uma constituição? Quem tem a competência de criar uma Constituição? Quais
os procedimentos? As respostas a essa problemática serão encontradas nessa temática
“O Poder Constituinte”.
Existem diversas definições de diversos autores para o poder constituinte:
Marcelo Rebelo de Sousa – é o poder de elaborar as normas constitucionais, a
faculdade de um povo definir as grandes linhas do seu futuro coletivo através da
feitura da constituição.
Dora Resende Alves e Maria M. Magalhães definem o poder constituinte:
5. Em sentido amplo: como sendo a produção de todas as normas constitucionais,
incluindo as de origem consuetudinária, isto é, as não escritas.
6. E em sentido restrito: como sendo a elaboração de normas constitucionais
escritas que são as traves mestra de um determinado ordenamento jurídico.
Jorge Miranda – o poder constituinte é o poder ou a faculdade de elaborar uma
constituição.

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Gomes Canotilho – é aquela autoridade politica que está em condições de, numa
determinada situação concreta, criar, garantir ou eliminar uma constituição entendida
como lei fundamental da comunidade política e este poder ou autoridade, de acordo a
Sieyès, tem como titular o povo, nação.
No fundo, apesar da diversidade de conceitos e definições, o poder constituinte
compreende o poder de alterar ou criar as normas constitucionais.
Tipologia do Poder Constituinte
A teoria clássica postula uma divisão ao poder constituinte, entendendo que há:

 Poder Constituinte Originário;


 Poder Constituinte Derivado.
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO
Este primeiro é entendido como o poder legitimado a uma autoridade para feitura de
normas constitucionais que darão, consequentemente, lugar a uma nova constituição.
NATUREZA
Partindo do princípio de que natureza é o ponto de génese ou de origem de algo, de
um fenómeno etc. compreender a natureza desse poder é basicamente saber de onde
surge a necessidade de haver um poder legítimo para a criação de uma Constituição
escrita. A partir daí será mais fácil compreender o conceito relactivo a natureza do
poder constituinte.
Assim, a constituição ou ainda as normas constitucionais criadas pelo poder
constituinte cujo exercício desse poder destina-se fundamentalmente a regular e
limitar o poder político enquanto poder estadual tem a sua origem/natureza
inteiramente ligada à política, isto é, na organização da cidade ou do Estado; dito
doutro modo, a razão da existência de um poder constituinte parte, exatamente, da
necessidade de se criar normas jurídicas escritas reguladores e limitativas do poder
político, logo, é concessível alegar que a natureza do poder constituinte está ligada à
política. A presença do fenómeno constituinte é resultado de momentos
constitucionais extraordinários, tais como revolução que pode ser violenta ou pacifica
e pode manifestar-se de diferentes formas: sucessão, golpe de estado, transições
constitucionais, descolonização, manifestações públicas, etc.
A teoria clássica que tem como primeiro doutrinador do poder constituinte Emmanuel
Seyiès, destaca três características típicas ao poder constituinte originário,
nomeadamente:
 Inicial: pois antes dela, não há um outro poder que lhe sirva de fundamento;
 Independente: depende de si mesma para a feitura da Constituição, isto é,
somente a ele compete decidir se, como e quando deve dar-se a feitura da
mesma;

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 Omnipotente ou incondicionado: na medida em que não há regra alguma


através do qual o mesmo subjuga-se ou ainda sujeita-se, ou seja, é um poder
ilimitado ou absoluto.
LIMITES AO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO
A teoria do francês Sayiès acerca do Poder Constituinte caracteriza tal poder como um
poder omnipotente/incondicionado, isto é, ilimitado ou ainda um poder que não
subjuga-se a regra ou norma alguma. Todavia, a doutrina contemporânea, enuncia que
tal carácter é motivo de muitas discussões e deve ser meticulosamente analisa, pois,
segundo os mesmos doutrinadores, há sim possíveis limitações que são impostas ao
poder constituinte e que, em certa medida, não podem ser violados sob pena que
haver um problema de legimitadade na constituição ou mesmo na norma
constitucional a que se pretende criar. Ou seja, a doutrina contemporânea nega esta
omnipotência do poder constituinte.
Gomes Canotilho – de forma resumida, entende que o poder constituinte deve
obedecer ou respeitar:
a) Os dados e padrões de conduta espirituais, culturais, éticos e sociais radicados
na consciência geral de uma determinada comunidade política;
b) Os princípios fundamentais de justiça ou de direito, sentimento jurídico, por
exemplo;
c) Os princípios do Direito Internacional, por exemplo: os direitos humanos;
Marcelo Rebelo De Sousa – o poder constituinte é limitado pelos preceitos
metapositivos, isto é, aqueles princípios que não estão positivados num dado
ordenamento jurídico, princípios estes relactivos às estruturas económicas, políticas e
sociais dominantes na sociedade e pelos valores que ela prossegue.
Jorge Miranda – destaca três tipos de limites materialmente entendido:
a) Os transcendentes – provêm do direito natural, refere-se a valores éticos-
normativos superiores, de uma consciência colectiva e se impõem a vontade do
povo: direitos fundamentais;
b) Os imanentes limites – se reportam a soberania do estado;
c) Os heterogéneos – provêm da conjugação com outros ordenamentos jurídicos,
podem referir-se a normas do direito internacional;
Jorge Bacelar Gouveia – fundamenta que o poder constituinte enquanto poder
estadual, não pode ser entendido numa forma ilimitada de regulação jurídica, pois,
concomitantemente aos demais poderes, este, sujeita-se a certas barreiras que lhe
impõem limitações na sua esfera de actuação. Assim, os principais limites enunciados
pelo autor são:
a) Limites transpositivos: tem que ver com a legitimidade do Direito em geral e
com a procura da Justiça;

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b) Limites positivos externos: relacionam-se com as imposições derivadas de


ordenamentos jurídico-positivos supraestaduais – como é o caso do dreito
interncional público.
c) Limites positivos procedimentais: que se relacionam com a expressão concreta
de cada momento constituinte, que se vai desenvolvendo rumo à redação
definitiva de um texto constitucional.
Assim, ao analisarmos comparativamente os diferentes autores aqui citados veremos
que pese embora possuam abordagens diferentes, todos levam-nos a entender que o
poder constituinte respeita, indubitavelmente alguns elementos ou aspectos, tais
como: os valores éticos-morais que norteiam a vida social e os direitos fundamentais
universalmente aceites. Portanto, em síntese, podemos considerar como limites ao
poder constituinte:
 Dados naturais: compreendendo o conjunto de aspectos naturalmente
fundamentais e inerentes a existência de uma comunidade, são as peças
fundacionais de uma sociedade na medida que elas existem desde a sua
formação natural, ademais, aqui encontramos ainda aqueles valores éticos que
norteiam a vida social e os direitos fundamentais universalmente aceites como
a vida, liberdade, igualdade etc.
Por exemplo: uma sociedade política e acima de tudo democrática jamais aceitaria
uma constituição que não respeite e protege a vida da pessoa humana, pois este é um
direito universalmente aceite.
 De Legitimidade: outrossim entendido como sentimento jurídico, refere-se a
tudo aquilo que é tido como aceitável e é naturalmente comungado por uma
determinada comunidade política, por exemplo o costume.
A título de exemplo temos a prática do alambento na nossa sociedade, que é uma
norma criada e legitimada pela própria sociedade e que, eventualmente, o poder
constituinte não poderia ir contra a tal norma sob pena de haver problemas de
legimitadade.
 Procedimentais: este limite aparece em função do limite anterior, legitimidade,
pois para que a constituição seja legítima, isto é, aceite por um povo, carece,
necessariamente, de passar por um conjunto de procedimentos para ponderar
se será realmente eficaz a constituição que se pretende criar, tais
procedimentos são levados a cabo por um dado órgão colegial, a Assembleia,
em representação do legítimo titular, no caso, o povo; daí que, até a sua
disposição formal, a criação da constituição está condicionada por passar por
um conjunto de procedimentos, estes que implicam a convocação, discussão,
redação, aprovação, até a publicação e a disposição formal da referida
constituição.

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Por exemplo: é tampouco provável que numa sociedade democrática uma dda
autoridade simplesmente determina um diploma como fundamental sem que este
tenha uma aprovação unânime do povo ou dos representantes do povo, daí o limite.
Assim, conseguimos entender que embora o poder constituinte inicialmente
caracterizado como um poder absoluto, deve sim, em certa medida, obediência à
certas limitações.
TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE
A titularidade do poder constituinte é indissociável do titular da soberania, porque é o
soberano que cria o direito.

Antes da idade média nada se dizia a respeito do titular da soberania mas em muitas
monarquias teocráticas se fazia alusão a origem divina do poder.

Com a idade média as ideias da origem divina do poder por não serem cristãs
chocavam com o cristianismo que era na época a ideologia dominante. Tinha-se Deus
como a origem do poder e o pápa como seu representante na terra, dai surgiram as
teorias do direito divino:

1. Teoria do direito divino sobrenatural – que dizia que os governantes eram


directamente escolhidos por Deus e governavam pela sua graça.
2. Teoria do direito divino providencial – que rezava que Deus criou o mundo
com as leis que o governam e só excepcionalmente intervém para alterar essas
leis, bem como para designar quem pode exercer o poder.

No fim da idade média como resultado a igreja perdeu influências sobre a vida política
da Europa passando o povo a ser a fonte da legitimidade do poder, surgiram assim,
então, as teorias contratualistas cujo fundamento explicita que o poder resulta de um
contrato que se estabelece entre os que exercem o poder e os cidadãos.

1. Teoria do poder popular alienável - o povo tem o poder constituinte e por um


contrato transfere-o ao monarca através de um pacto de sujeição tornando o
monarca de forma definitiva e irrevogável a entidade que exerce o poder em
nome próprio, o poder é alienável porque é hereditário, ou seja, é transmissível
de geração à geração.
2. Teoria do poder popular inalienável - o povo permanece com o seu poder
constituinte, e concede ao monarca apenas o exercício, podendo depô-lo se
este não cumprir com o pacto, isto é, neste, o monarca não detém o poder de
forma definitiva e irrevogável, caso as acções deste não vai de acordo com as
aspirações do povo, pode o povo depô-lo se quiser.

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No século XVIII surgem as teorias do despotismo iluminado, pelo avanço da ciência, as


massas populares passaram a ser vistas como incultas, ignorantes e vivendo no
obscurantismo não podendo assim participar do governo porque a sua acção seria
nefasta para os seus interesses ficando o poder com uma elite política formada por um
grupo de indivíduos mais iluminados, que detêm os conhecimentos científicos e
culturais capazes de assegurar as necessidades da sociedade.

Com as influências dos filósofos liberais e Rosseau surgem as teorias democráticas:

1. Teoria da Soberania Nacional – a soberania pertence a nação, uma entidade


abstracta distinta do conjunto de cidadãos.
2. Teoria da soberania popular – todos os cidadãos são iguais, cada um aliena os
seus direitos a favor da sociedade e participam assim igualmente na vontade
geral. A soberania reside no povo, cabendo a cada um uma parcela da
soberania.
3. Teoria da Soberania do estado – defende que por o povo ser um elemento do
estado, o estado é o titular da soberania e consequentemente do poder
constituinte.
4. Teoria Popular Marxista – insere-se nas teorias de governo minoritário na qual
o titular do poder constituinte são os detentores dos meios de produção que
formam a classe dominante do ponto de vista económico.

Para Gomes Canotilho o problema do titular do poder constituinte, na modernidade,


só tem resposta democrática – o povo – povo político – povo concebido como grupos
de pessoas que agem segundo ideais, interesses e representações de natureza política.

PROCEDIMENTO CONSTITUINTE

Uma abordadem difil de dissociar da abordagem da titularidade do poder constiuinte é


a abordagem relactiva ao procedimento constiuinte em que se encontra subjacente os
conceitos inerentes a forma de como se faz uma determinada constituição.

Existem diferentes formas de exercício do pode constiuinte na qual muita das vezes
ligadas à conjuturas históricas, sociopolíticas e económicas da cada país. As formas
conhecidas de exercício do poder constituinte são:

Forma democrática: em que o povo pode intervir directa ou indirectamente na feitura


da constiuição.

1. Directa: quando a feitura da constituição é levado a cabo pelos cidadãos


reunidos num Assembleia

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2. Indirecta ou representativa: quando a feitura da constituição é feita pelos


legítimos representantes do povo que se reunem no parlamento.
3. Semi-directa ou referendária: a feitura da constituição é feita pelos deputados
em representação do povo e é seguidamente posta a aprovação dos
cidadadãos através do referendo.

Forma ditatorial: nesta o processo da feitura da constituição não possui qualquer


intervenção do povo. Esta forma pode revelar-se:

1. Monocrática: quando feita pelo manorca ou Rei.


2. Autocrática: quando feita por uma elite com tendências revolucionárias, ou
seja, fazem-no em seu nome e, igualmente, em nome do povo.

Forma mista: nesta forma, a feitura da constituição pode ser resultado de processos
como:

1. Plebiscimo: em que se tem em parte a forma democrática e em parte a forma


monárquica, ou seja, a constituição é elaborada por um só individuo, contudo,
posta para a aprovação do povo por referendo.
2. Pacto: resultado de um acordo entre o monarca e o parlamento.

PODER CONSTITUINTE DERIVADO


Agora, a abordagem estará virada a segunda tipologia, ou seja, ao poder constituinte
derivado, este que é um poder que deriva do primeiro como a faculdade imposta a
uma autoridade para alterar as normas jurídicas de uma constituição já existente, daí o
a sua cognominação ‘derivado’ isto é, que deriva.
Modificação da Constituição:
 REFORMA CONSTITUCIONAL: revisão constitucional e transição Constitucional;
 RUPTURA CONSTITUCIONAL: ruptura revolucionária e ruptura não
revolucionária;
REFORMA CONSTITUCIONAL
Esta compreende o processo constituído pelo conjunto de transformações e alterações
que se fazem sentir num dado ordenamento jurídico constitucional.
1. Revisão constitucional: é o poder de rever a constituição existente para corrigir
imperfeições e colmatar lacunas adoptando-a a evolução da sociedade, ou seja,

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o poder de alterar uma constituição, elencando ou não novas normas ao texto


constitucional, contudo sempre respeitando os limites pela mesma
estabelecida.
LIMITES À REVISÃO CONSTITUCIONAL
Na abordagem sobre a classificação das constituições, verificou-se que estas inserem-
se em diferentes categorias quanto a sua reforma, isto é, revisão, particularmente a
CRA quanto ao processo de reforma, insere-se na categoria das constituições rígidas
por estabelecerem critérios especiais para a sua revisão, apresenta por um lado,
conteúdos susceptíveis de alteração sem nenhum impedimento e por outro, apresenta
conteúdos que não podem ser tocados enquanto decorre o processo de revisão,
nestes termos, a Constituição da República de Angola apresenta os seguintes limites ao
poder de revisão:
a) Limites formais: estabelece os trâmites e os respectivos órgãos pelos quais
podem ser levados a cabo o processo de revisão, o mesmo encontra-se
consagrado a luz do artigo 243° C.R.A.
b) Limites materiais: este refere-se aos princípios universais da organização e
estrutura do Estado e a consagração dos direitos fundamentais dos cidadãos,
ademais, os elementos neste limite estabelecidos não podem ser alterados –
artigo 236 C.R.A.
c) Limites temporais: dizem respeito ao prazo temporal para se fazer a revisão
constitucional – artigo 235° C.R.A.
d) Limites circunstâncias: este limite destaca que o processo de revisão
constitucional não poder ser levado a cabo em circunstâncias não apropriadas
como por exemplo, o estado de emergência, estado de guerra ou ainda estado
de sítio ao abrigo do artigo 237° da C.R.A.

2. Transição Constitucional: a transição constitucional refere-se ao conjunto de


alterações feitas à Constituição cujo processo conduz a supressão de alguns
limites materiais, ou melhor, este tipo de alteração possui um alcance que tal
atinge até mesmo aquelas matérias ou aspectos mais importantes que
constituem os fundamentos e princípios estruturantes de um estado, que não
se pode tocar quando se faz uma simples revisão constitucional.
Importante ainda realçar que a transição constitucional permite alterar, somente,
aspectos de menos relevância no conjunto de elementos materialmente limitados e a
alteração deste vai incidir igual e automaticamente na alteração de alguns princípios e
regras dispostos na mesma constituição por haver uma correlação entre os mesmos.
Doutrinadores há que cognominam tal como processo da dupla revisibilidade, em que
a alteração de um aspecto materialmente limitado exigirá automaticamente a

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alteração das disposições constitucionais vinculadas àquele mesmo valor ou principio


fundamental.
Por exemplo: o artigo 236º alínea d) da C.R.A. – natureza unitária do Estado, a
alteração deste disposto por transição Constitucional, obrigará automaticamente a
alteração do disposto no artigo 8º da C.R.A. – princípio de Estado unitário por haver
um vínculo valorativo.
RUPTURA CONSTITUCIONAL
Deferente de uma simples revisão que obedece obrigatoriamente a limitações que são
estabelecidas pela constituição ou ainda a transição constitucional que altera até
aspectos materialmente limitados, que pertencem num grau de prinípios inferior aos
demais; a ruptura Constitucional é um processo mais intenso em que se operam
alterações tais que atingem os milites materiais de primeiro grau, as alterações deste
afecta os princípios e os valores mais importantes consagrados numa constituição
acarretando com isso, consequentemente, numa nova constituição. Por exemplo: a
mudança de uma monarquia para uma república, enquanto formas de Estado.
1. Ruptura revolucionária: neste, o processo é resultado de mudanças extremas
que envolvem na sua maioria medidas bruscas e violentas, ou seja, é uma
mudança abrupta no poder politico.
2. Ruptura não revolucionária: é totalmente o oposto do primeiro, isto é, aqui o
processo não se procede abruptamente e muito menos com mudanças bruscas
e violentas, é antes pacífica.
O PODER CONSTITUINTE EM ANGOLA
O entendimento do Constitucionalismo angolano carece, necessariamente, de um
enquadramento histórico, pois Angola é um estado que viveu cinco séculos sob o
poder colonial português e por isso durante este tempo foi regulada por dispositivos
normativos portugueses, viveu sob uma hetero-constituição elaborada pelos
portugueses. Em 1974, com a evolução da guerra pela libertação de Angola e pela
queda do fascismo salazarista português, começam a surgir luzes para o alcance da
independência nacional de Angola (descolonização).
A I REPÚBLICA – PÓS INDEPENDÊNCIA (LEI CONSTITUCIONAL DE 1975)
Em 1975, a 11 de Novembro as 0h foi proclamada a independência de Angola. Foi
assim exercido pela primeira vez o poder constituinte em Angola com consagração de
um estado socialista – monocrático tendo o MPLA exercido o poder constituinte e se
consagrado partido-estado tendo preterido assim os outros movimentos de libertação
que ao seu lado lutaram pela independência (FNLA e UNITA). Este exercício do poder
constituinte a princípio estava e foi superado pelas diferentes revisões feitas a
constituição tendentes a reforçar os poderes do presidente da república e do MPLA
como partido dirigente da vida política Nacional sendo bastante interessante que
definiu o princípio da reserva legislativa, acabando com a partilha indiscriminada do

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 21


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poder legislativo entre o conselho da revolução e o governo passando o poder de


revisão constitucional a constar das matérias de reserva da constituição.
Esta lei constitucional prosseguia objectivos bem definidos e posssuia, naturalmente,
características próprias: o partido dirigente, o MPLA assumia o papel dominante, a
estrutura económica reflectia a adesão ao socialismo, havia inexistência da divisão de
poderes entre diferentes órgãos, etc.
A II REPÚBLICA – (LEI CONSTITUCIONAL DE 1992 À CONSTITUIÇÃO DE 2010)
Este período corresponde a duas etapas cujo início da primeira compreende o ano de
1991 com a transição para a democracia, porém antes desta verificou-se em 1980 a
institucionalização da Assembleia do povo e as Assembleias populares locais, que
substituíram o conselho de revolução. Em 1991 começou-se um novo procedimento
constituinte correspondente a primerira etapa, desta vez mais aberto para as outras
forças políticas e não ainda ao povo, mas com conteúdo preparatório da participação
do povo. Este Processo começou com a revisão constitucional de 1991, lei nº12/91 que
alterava o cerne da constituição, dando numa descontinuidade entre o texto de 1975 e
o de 1991, descontinuidade esta agravada pela Lei Nº 23/92 de 16 de Setembro, leis
estas que visaram a criação de condições para a implantação da democracia
pluripartidária, a ampliação do reconhecimento e garantia dos direito e liberdades do
cidadão e a criação de condições para a implementação de uma de economia de
mercado, contrariando completamente o espírito da Lei constitucional de 1975 e as
suas revisões. Compreendemos que as Lei n 12/91 e depois a Lei n 23/92 de 16 de
Setembro é uma lei provisória que apesar de marcar uma transição constitucional
material pela descontinuidade entre os dois textos constitucionais e se chamar Lei de
revisão constitucional é uma lei nova de carácter provisório cuja discussão e aprovação
obedeceu a procedimentos de criação de normas constituintes provisórias (Discussão
pelas maiores forças políticas do estado e formalização de aprovação pela Assembleia
do Povo – órgão até então competente para revisão constitucional).
Assim, cumprido o seu papel, a lei constitucional de 1992 deixou de vigorar após a
aprovação e entrada em vigor da constituição de 2010, isto é, 18 anos depois.

5. O ESTADO

O Estado como tal não foi um simples resultado da criação humana como acontece
com as demais criações, este, pelo contrário, para se firmar como tal passou por
profundos processos de desenvolvimento, porém antes mesmo de se vislumbrar o
Estado, haviam no lugar destes sociedades historicamente antecedentes a sua
formação, ainda que não inelutavelmente conducentes à passagem a Estado, são entre
estes: a família patriarcal, o clã e a tribo, a gens romana, o senhorio feudal, etc.
Quanto mais uma sociedade global e heterogénea, quanto mais integra grupos ou
estratos diferentes pela cultura, pela posição social e pelo papel na divisão de
trabalho, mais o seu sistema político tende a organizar-se em funções diferenciadas,

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 22


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especializadas ligadas umas às outras por uma rede complicada de relações


hierárquicas.
Assim, torna-se necessário deixar claro que aquelas, podendo embora levar ao Estado,
em si nada têm a ver com o Estado; estas, não atingindo ainda ou, pelo contrário,
ultrapassando o nível do Estado, assentam todas no poder e na actividade do Estado,
com o qual necessariamente coexistem. Daí que há:
Sociedades infra-estaduais, que vêm a ser, entre outras, as regiðes ou províncias
autónomas.
Sociedades supra-estaduais, diferente da primeira, esta refere-se às confederações,
outros agrupamentos de Estados, a própria comunidade internacional.
O nome Estado teria surgido na Itália renascentista, em virtude a grande variedade de
organizações e formas politicas, termo referente a uma designação genérica, neutra e,
sobretudo mais abstracta: o termo Estado advém do vocábulo latino status (que
equivale a constituição ou ordem, é, igualmente, empregado, em certos contextos com
sentido de condição social, isto desde o século XV). O primeiro autor que introduz o
termo na linguagem científica é MAQUIAVEL no livro intitulado: “O Prncipe”.
Do italiano, a palavra passa para as restantes línguas europeias nos séculos XVI e
seguintes, com maior ou menor êxito e precisão.
No que respeita a formação do Estado, é de frisar que há, naturalmente, uma
variedade histórica das formas pelos quais o Estado aparece, em correlação com as
causas locais do acontecimento. Conhecem-se formas pacíficas e violentas; formação
de acordo com as leis vigentes no Estado ou na sociedade a que a nova comunidade
até então pertence e formação contra essas leis; formação por desenvolvimento
interno e por influência externa, etc.
No plano da Antropologia histórica, revelam-se como processos mais importantes: a
conquista, a migração, a aglutinação por laços de sangue ou por laços económicos, a
evolução social pura e simplesmente para organizações cada vez mais complexas.
O Estado no geral apresenta um conjunto de características que têm de ser vistas em
conjunto e não isoladamente, estas são:
Complexidade de organização e actuação: consiste em centralização do poder,
multiplicação e articulação de funções, diferenciação de órgãos e serviços,
enquadramento dos indivíduos em termos de faculdades, prestações e imposições.
O Estado é uma sociedade política com indefinida continuidade no tempo e
Institucionalização do poder significa dissociação entre a chefia, a autoridade Política,
o poder, e a pessoa que em cada momento tem o seu exercício;
Institucionalização: consiste na criação de instrumentos jurídicos de mediação e de
formação da vontade colectiva dos órgãos e figuras afins.

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 23


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Coercibilidade: é imprescindível destacar que a coercibilidade não é uma característica


geral do Direito, nem sequer, porventura, do Direito estatal; mas é, em certa medida,
uma característica da organização política estatal. Ao Estado cabe a administração da
Justiça entre as pessoas e os grupos e, por isso, tem de lhe caber também o monopólio
da força física. O Estado promove a integração, a direcção e a defesa da sociedade, e
por arrastamento, a própria sobrevivência como um fim em si. Daí a necessidade da
coercibilidade.
Autonomia: o Estado tem como um dos fins a sua sobrevivência/preservação, ficando
as suas acções assim justificadas em nome dos seus objectivos, as instituições políticas
adquirem assim autonomia e o Estado uma continuidade não só no tempo mas
também no espaço.
TIPOS HISTÓRICOS DE ESTADOS
Estado oriental
Como traços mais marcantes do Estado do Médio Oriente apontam-se:
 Teocracia, ou seja, poder politico reconduzido ao poder religioso;
 Forma monárquica (combinada com a teocracia, por conseguinte, o monarca
adorado como um Deus);
 Ordem desigualitária, hierárquica e hierática da sociedade;
 Reduzidas garantias jurídicas dos indivíduos (o que, todavia, não significa
necessariamente que eles ou que todos eles sejam degradados a meros
objectos sem quaisquer direitos);
 Larga extensão territorial e aspiração a constituir um império universal.
Lugar à parte ocupa apenas o Israel, firmado na crença monoteista, na recusa da
natureza divina dos reis e no principio da submissão da vontade destes às lei ditada
por Deus.
Estado grego
São traços essenciais da polis, do Estado, na Grécia:
 Prevalência do factor pessoal (o Estado é a comunidade dos cidadãos, embora
não sejam estes os seus únicos habitantes também há os metecos e os
escravos);
 Fundamento da comunidade dos cidadãos: a comunidade religiosa, unida no
culto de antepassados (apesar de a autoridade não ter natureza divina e não
predominar a casta sacerdotal);
 Pouca importância do factor territorial, o que está a par da pequena extensão
do território (o Estado tem carácter municipal, é a cidade-Estado, e não
conseguem estruturar-se ou perdurar em forma de associação ou união;

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 24


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 Inexistência da liberdade fora do Estado ou redução da liberdade individual à


participação no Governo da cidade, não sendo a pessoa um valor em si, livre do
poder público;
 Diversidade de formas de Governo, sucessivamente ou com oscilações de
cidade para cidade, e consoante as filosofias e as vicissitudes políticas, internas
e extemas.
Apesar de a polis ser algo de essencial, superior e insubstituível, não deixa a cultura
helénica de, no limite, prefigurar um direito de desobediência a leis injustas. Não
obstante, é na Grécia que o poder politico é, pela primeira vez, questionado e tudo
como objecto de especulação intelectual. Nela se encontram as matrizes do
pensamento político ocidental, tanto filosófico como científico. Nela surgem os
primeiros quadros classificatórios de sistemas políticos. Como bem se sabe, à visão
idealista de PLATAO (A República, As Leis) contrapõe-se a visão realista de
ARISTOTELES, com o seu estudo de dezenas de constituições (Política). E da mesma
maneira, são diferentes as classificações de formas de governo de um e de outro.
Em Platão, formas reais são: timocracia, oligarquia, tirania e as ideais: monarquia,
democracia e aristocracia; ao passo que em Aristóteles, as formas puras: monarquia,
aristocracia, politeia (democracia) e degeneradas: tirania, oligarquia, demagogia.
Estado Romano
São essenciais traços característicos deste tipo histórico de Estado:
 A gens (famílias patricias romanas) a reunião das Gens formaram as civitas;
 “Pater familias” possui o poder da vida e da morte sobre os seus;
 A consciência da separação entre o poder público (do Estado) e o poder privado
(do pater famlias) e a distinção entre Direito público e Direito privado;
 A consideração como direitos básicos do cidadão romano não apenas do direito
de eleger e do direito de acesso às magistraturas, mas também do direito de
casamento legítimo e do direito de celebração de actos jurídicos;
 A progressiva atribuição de direitos aos estrangeiros e a formação do como
conjunto de normas reguladoras das relações em que eles estabelecerem.
Este tipo histórico de Estado compreende uma unidade com uma estrutura hierárquica
diferenciada, o poder do “Pater famílias” na esfera da família romana era de rei, juiz,
sensor, define o culto, decide tudo, possui o poder da vida e da morte sobre os seus,
quando se fala de família romana pensa-se em estruturas mais alargadas, os escravos,
a família do filho do primogênito, eram estruturas extensas.
Eles tiveram noção ou consciência que faltou aos gregos, consciência entre a
diferença de esfera privada e pública. Onde a esfera privada é da ordem do pater
famílias e a pública é do poder coletivo, do poder público em que todos estão
submetidos, consciência esta que faltou aos gregos (para os gregos tudo é publico), os

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 25


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romanos em função desta estrutura e desta consciência, percebemos que alguns


jurisconsultos dentre eles Ulpiano diferenciam o direito público e privado.
Estado Medieval
São características próprias do estado medieval:
 Descentralização de poder;
 Feudalismo;
 Igreja Católica;
 Monarcas.
A idade media dura muito, só podemos pensar algumas características básicas comuns,
no entanto, percebe-se que a maioria dos autores afirmam que não existe um Estado
na idade media, ideia que se esfacela devido a algumas características. Chegaremos a
ideia que o que caracterizava o Estado da idade media é a descentralização de poder
(em todas estruturas anteriores vislumbra-se a ideia de unidade) , ideia que
desaparece na idade media, portanto, a conclusão final é a ideia da descentralização
do poder: como características podemos citar: o Feudalismo.
A Igreja católica representa a única ideia de unidade, grande detentora de poder e do
conhecimento. As estruturas feudais impossibilitam o comércio, o sistema, não dão
possibilidade de desenvolvimento de comércio, não existe moeda única, todo o
necessário se produz, enquanto isso, outras civilizações orientais estão desenvolvendo
as estruturas dos grandes comerciantes. Os Monarcas disputavam o poder com a
igreja católica. A ausência da ideia de unidade, a descentralização gera uma grande
necessidade de centralização, que se recupera no Estado Moderno.
Estado Moderno
Com características muito diferenciadas dos demais, o estado moderno apresenta,
naturalmente, as seguintes características:
1. Nacionalidade: o Estado tende a corresponder a uma nação ou comunidade
histórica de cultura; o factor de unificação política deixa, assim, de ser a
religião, a raça, a ocupação bélica ou a vizinhança para passar a ser uma
afinidade de Índole nova;
2. Secularização ou laicidade: com efeito por influxo do cristianismo e ao
contrário do que sucede com o Estado islâmico, o temporal e o espiritual se
afirmam esferas distintas e a comunidade já não tem por base a religião, o
poder político não prossegue fins religiosos e os sacerdotes deixam de ser
agentes do seu exercício.
3. Soberania: ou poder supremo e aparentemente ilimitado, dando ao Estado não
só capacidade para vencer as resistências internas à sua acção como para
firmar a sua independência em relação aos outros Estados (pois trata-se agora
de Estado que, ao invés dos anteriores, tem de coexistir com outros Estados)

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 26


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Quando comenta sobre o estado moderno, Jallinek reconhece uma realidade nova. A
primeira vez que a palavra “Estado” foi utilizada, foi no livro o Príncipe de Maquiavel,
como já foi frisado noutrora, ele via uma estrutura centrada no conceito original
daquela época, a partir daqui que se reconhece o estado moderno com o conceito de
soberania.
Segundo Benjamin Constant, a liberdade dos antigos era simplesmente a liberdade de
votação, já a liberdade dos modernos (essa que conhecemos a partir da constituição
francesa e da constituição Americana) é esfera de livre decisão onde as estruturas do
poder não interferem, poder de manifestar o pensamento independentemente do
Estado, inclusive limitando a interferência do estado, a garantia de livre determinação
onde pode-se escolher o desejado, liberdade que exige limites ao poder do estado. A
liberdade dos antigos era a liberdade de participação no poder.
Sendo assim, pode-se dizer que o poder vinha “de cima para baixo”, agora o poder
vem diretamente do povo, de acordo com os contratualistas, “de baixo para cima”. O
Estado Moderno com cunho absolutista entra em crise e quebra a partir do séc. XVIII, e
a partir daí ele ganha uma nova vestimenta, o Estado Liberal e de Direito.
Outro aspecto interessante, é o facto de, actualmente, existirem vários conceitos na
tentativa de definir o Estado, ou seja, muitos autores entendem sob os seus pontos de
vista. Para alguns, é um povo fixado num território, de que é senhor e que dentro das
fronteiras desse teritório, institui por autoridade própria os órgãos que elaborem as
leis necessárias à vida colectiva e imponham a respectiva execução.
Bacelar Gouveia – é a estrutura juridicamente personalizada, que num dado território
exerce um poder político soberano, em nome de uma comunidade de cidadãos que ao
mesmo se vincula.
Clóvis Beviláqua – compreende um agrupamento humano, estabelecido em
determinado território e submetido a um poder soberano que lhe dá unidade
orgânica.
Ora, um elemento comum em todas as definições existentes é o facto de ser patente e
notório a presença dos três elementos constitutivos defendidos por Georg Jellinek, na
sua obra Teoria Geral do Estado: a presença de um povo, de um território e de um
poder político.
O povo é o elemento humano do Estado. Compreende um conjunto de pessoas que se
encontram fixadas num determinado território e que têm um vínculo jurídico como
Estado denominado de "cidadania" ou de nacionalidade”. O conceito de povo é
distinto do conceito de população, em virtude de, neste caso, se incluírem todas as
pessoas que vivem num determinado território, sejam elas nacionais, estrangeiras ou
apátridas, isto é, diferente do povo entendido como os indivíduos natos de uma dada
região, a população abarca não só os natos, mas também todos aqueles que não sejam
nacionais daquela região, no caso, estrangeiros.

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O território é o espaço delimitado pelas fronteiras terrestres, marítimas e aéreas. É o


local onde o povo exercita os seus direitos de cidadania e o poder politico exerce o seu
poder de domínio.
O poder político assenta na sua legitimação democrática e carateriza-se pelo facto de
poder impor a sua vontade pela força, entendido outrossim como a força maior de
Estado, isto é, o poder soberano, o poder de livre administração interna, que o faz
supremo em seu âmbito interno e que o iguala aos demais Estados sem qualquer tipo
de subordinação a outra entidade ou ordem.
Nestes termos, podemos entender, basicamente, por estado como um agregado de
pessoas que formam comunidades humanas circunscritas numa determinada base
geográfica que compreende o território e submetidas, necessariamente, a um poder
político.
O Estado moderno apresenta naturalmente formas, ou seja, formas de Estado, e o que
vem a ser forma de Estado?
Em síntese a forma de Estado é o modo ou maneira pelo qual um Estado se mostra
disposto ou simplesmente se apresenta relactivamente aos demais, esta reflete,
basicamente, a estruturação interna do poder estadual e o ordenamento jurídico-
constitucional vigente naquela região.
Existem critérios específicos que servem para distinguir as formas de Estado, alguns
destes critérios são:
1. Se há um ou vários poderes políticos;
2. Se há um ou vários centros de decisões políticas;
3. Se há um ou vários ordenamentos jurídicos-constitucionais;
TIPOS DE FORMAS DE ESTADOS
Face aos critérios acima destacados, quanto a forma, os Estados podem ser:
Estado unitário:
 Centralizado;
 Descentralizado (administrativa e politicamente).
Estado composto ou complexo:
 Federação;
 União real;
 União pessoal;
 Confederação.
Estado Unitário ou Simples
O Estado unitário é aquele Estado que possui simplesmente uma único ordenamento
jurídico-constitucional, ou seja, uma única Constituição e um único poder politico ou

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 28


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centro de decisões políticas que se estende a todo o território geográfico bem como a
todos os cidadãos que fazem parte deste. O Estado unitário pode ser centralizado e
descentralizado administrativa e politicamente com ou sem desconcentração
administrativa.
Estado unitário centralizado
O Estado centralizado assim como a própria designação expressa: “centralizado”, é
aquele em que se verifica a centralização do poder político e administrativo, ou seja,
neste Estado o poder político e administrativo é exercido exclusivamente pelo poder
central, ou dito de outro modo, somente a entidade central possui capacidade e poder
de administrar uma totalidade da circunscrição territorial e de tomar qualquer decisão
de índole política.
Importa referir que, nestes, não há existência de entidades ou outras pessoas
colectivas públicas com autonomia em relação à entidade central, o que significa dizer
que, as coletividades que o compõe não possuem qualquer autonomia própria. Daí
que na prática nos Estados com este sistema na estruturação interna, todo tipo de
decisão advém inteiramente do Governo central. Exemplo: a China.
Estado unitário descentralizado
Diferente do primeiro, o Estado descentralizado ou a descentralização consiste na
abertura de espaço à possibilidade de outras entidades distintas do Estado poderem
exercerem competências próprias com autonomia em relação a entidade central, ou
seja, é um Estado em que se verifica a atribuição de transferência de poderes para
cidades territoriais locais na qual as entidades constituintes destes terão competências
para o exercício de algum tipo específico de actividade com autonomia relactivamente
a entidade central.
A descentralização pode ser administrativa ou politica:
 É administrativa quando este fenômeno se reflecte na existência de entidades
de direito público que possuem capacidade de autoadministrar um património
próprio de forma autónoma, que será gerido em busca de determinados fins.
Por exemplo as autarquias locais são pessoas colectivas de direito público com
competência de administrar a nível local (o património que lhes é por direito),
no caso, “a prossecução das necessidades básicas da região local com inteira
autonomia em relação a entidade central, porém pode, naturalmente, a
entidade central proceder o processo de fiscalização à referida autarquia.
 É política quando a descentralização resulta na criação de pessoas que exerçam
atribuições políticas próprias tal como competência legislativa e governamental
dentro do seu âmbito territorial e que não decorrem do ente central, isto é,
independentes da manifestação do ente central. Por exemplo, as regiões
autónomas: Madeira em Portugal ou Mónaco na França.

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 29


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O estado unitário que pode ser centralizado e descentralizado administrativa ou


politicamente pode ser ainda desconcentrado administrativamente. A
desconcentração é um fenómeno que acontece quando dentro de um núcleo ou
mesma pessoa jurídica a entidade central faz a repartição ou destribuição de poderes
para órgãos periféricos ou hierarquicamente inferiores de forma que as decisões da
administração central sejam mais rápidas e eficazes.
Num caso particular, Angola é um Estado unitário descentralizado
administrativamente com desconcentração administrativa, conforme o disposto no
artigo 201.° da CRA. Este artigo dispõe que a administração local do Estado é exercida
por órgãos desconcentrados da administração central e visa assegurar, a nível local, a
realização das atribuições e os interesses específicos do Estado, na respectiva
circunscrição administrativa. O Governador provincial é o representante da
administração central do Estado na respectiva província, enquanto o Administrador
municipal é o representante da administração central no respectivo município.
Estado Composto ou Complexo
Diferentemente do Estado unitário ou simples, o Estado composto ou Complexo possui
mais de um ordenamento jurídico-constitucional, ou seja, mais de uma constituição,
possui internamente uma multiplicidade de centros de decisões politicas. Há ainda,
neste tipo de Estado, uma pluralidade de poderes políticos que se estendem aos vários
territórios que o compõe.
Este tipo de Estado pode apresentar-se como Estado federal, União Real, União
Pessoal ou Confederação, embora algumas doutrinas deconsiderem a confederação e
a união real como exemplos de Estado composto.
O Estado Federal é a forma de Estado em que existe uma pluralidade de poderes
políticos e de ordenamentos jurídicos constitucionais (Estados Federados) que podem
assumir várias denominações, alguns exemplos práticos são: EUA, no Brasíl e na India;
O Estado Federal é o detentor da soberania e os Estados que o compõe, os federados,
apesar de terem os elementos típicos de um Estado (povo, território e poder político),
não têm soberania, porque a transferem para o poder federal. Estas entidades
possuem constituição, Parlamento, Governo e Tribunais, mas estão todas sujeitas ao
poder central da Federação.
Nestes estados, a politica externa e as forças armadas são de competência exclusiva do
Governo Federal.
O Estado Federal possui uma constituição, a denominada constituição federal, na qual
as constituições dos Estados federados estão subordinadas, e os habitantes que estão
ligados pelo laço da nacionalidade devem respeito assim como às constituições dos
respectivos Estados federados.

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Em suma, o Estado Federal é composto por outros Estados que não perdem a própria
identidade, no entanto, este possui os dois âmbitos jurídicos, o federal e o federado.
Vale destacar que o Direito Federal prevalece sobre os direitos dos Estados federados,
sendo que, à autoridade central, é reconhecido o poder de uniformizar as
Constituições dos Estados federados aos princípios da Constiruição Federal, aos
supremos poderes de direcção política, o poder de intervir, coactivamente, para obter
o respeito pelas decisões tomadas pelas autoridades federais ou centrais, etc.
A federeção pode ser perfeita ou imperfeita:
Federação perfeita é aquela cujo conjunto dos estados que o compõem foram
noutrora estados autónomos ou ainda regiões autónomas e por vontade própria
decidem constituir uma federação, é o caso por exemplo do E.U.A.
Federação imperfeirta é aquela em que numa primeira instância foi um estado
unitário desconcentrado e descentralizado, porém, como resultado da livre vontade
deste decide-se proceder um processo de transição constitucional no qual passam
para Federação. Por exemplo: o Brasil.
Os Estados podem classificar-se ainda quanto ao poder soberano em que podem ser:
a) Estados soberanos;
b) Estados semi-soberanos;
c) Estados não soberanos;
O Estado soberano: é aquele cujo poder político corresponde à plenitude da
soberania, isto é, não reconhece igual dentro das suas fronteiras nem superior fora
delas.
Estes Estados possuem os seguintes direitos:
1. Ius Belli: compreende a capacidade de um Estado de defender a sua
integridade territorial através das forças armadas, entendido no senso comum
como o direito de fazer guerra e de negociar a paz, porém na sua verdadeira
essência diz respeito ao direito de usar a força para defender o seu território e
proteger os seus cidadãos;
2. Ius Legationis: o direito de legação, ou seja, o direito de enviar e de receber
agentes diplomáticos para a representação do Estado;
3. Ius Tractum: o direito de celebrar tratados internacionais, está igualmente
subjacente neste o direito de reclamação internacional, quer dizer o direito de
usar internacionalmente certos meios, para defender os seus interesses e fazer
valer os seus direitos, tais como os protestos, os pedidos de inquéritos, os
pedidos de arbitragem e a jurisdição internacional. O direito de expor as suas
ideias nos grandes palcos internacionais como: SADC, ONU, UA, etc.
Existem dois tipos de Estados soberanos: unitário ou simples e composto ou complexo.
Os Estados semi-soberanos: são aqueles que não possuem todas competências para
ser considerado um Estado Soberano, isto é, sua capacidade internacional é limitada

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 31


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na medida que não desfrutam de nenhuma das prerrogativas soberanas de ordem


externa e reconhecem um poder supremo na ordem interna. Os Estados semi-
soberanos podem pertencer a diferentes naturezas:
1. Estados exíguos ou micro-Estados: não possuem capacidade para exercerem a
sua soberania por possuir uma curta dimensão territorial ou reduzido número
de população, isto é, trata-se de países tão pequenos que não têm território ou
população suficiente para serem considerados países totalmente Soberanos. É
o caso, por exemplo de Mónaco.
2. Estados neutralizados: estes abdicam do direito de defender a sua integridade
territorial, ou seja, de guerrilhar podendo fazê-lo por iniciativa própria ou
sendo obrigados por outroos Estados. Desta forma, como é lógico, este tipo de
Estado não se pode envolver em conflitos armados nem em organizações
militares ou defensivas (como é o caso da NATO) ou intervir em pactos da
mesma natureza. Ainda assim, continuam detentores da capacidade de defesa
dentro dos limites do seu próprio território. A título de exemplo a Suíça.
3. Estados confederados Confederação: pertencem a uma associação
internacional de Estados, à qual os seus membros cedem uma parte da sua
soberania. Isto dá-se através de, no mínimo, um tratado que determina as
tarefas comuns a todos os intervenientes que se regem, em certos assuntos,
por políticas comuns. As competências cedidas são governadas pelos órgãos
comuns criados com o consentimento de todos por via do respectivo tratado.
Exemplo: União Europeia, a NATO.
4. Estados vassalos: estes são dominados por um outro que actua como seu
suserano, no que diz respeito a certas competências internacionais que para
serem exercidas pelo Estado vassalo, dependem da permissão do Estado que os
subjuga. O Estado vassalo é ainda obrigado a pagar um tributo ao seu suserano,
como forma de reconhecer a sua submissão.
5. Estados protegidos: são Estados que cedem a administração das suas
competências a outro Estado, em troca da sua protecção. Exemplo: Kosovo
Estados são soberanos: são Estados que não detêm poder político supremo ou que
não seja independente de outra organização. Exemplo: Estados membros de uma
Federação, como é o caso dos Estados Unidos da América.
FUNÇÕES E FINS DO ESTADO
Existem um conjunto de funções a qual todos os estados em geral, tendencialmente,
levam a cabo, nomeadamente:
1. Função política: divide-se em função legislativa, a exercida pela Assembleia
Nacional, correspondente a prática dos actos legislativos e função governativa
relactivos aos actos de direção política que definem as grandes opções da
colectividade.

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 32


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2. Funçao administrativa: visam a administração ou execução das leis


perspectivando a satisfação das necessidades da colectividade
3. Funcção juridicional: exercida pelos tribunais, visam dirinir os conflitos na
sociedade.
Em virtude das funções em geral levadas a cabo pelo Estado, este prossegue
determinados fins, tais que têm sido tradicionalmente agrupados em três vertentes:
1. A segurança: este fim pode ser visto sob dois planos diferentes:
a) a segurança externa ou colectiva: que compreende àquele segurança
contra as entidades agressoras dentro do plano territorial, ou seja,
aquela segurança de todos os cidadãos pertencentes a um país face as
ameaças internas advindas do exterior do país.
b) a segurança interna ou individua: refere-se à segurança das pessoas,
manutenção da ordem pública, a segurança dos indivíduos e bens, isto
é, a certeza e a confiança dos cidadãos dentro das fronteiras do estado
em saber que podem contar com uma proteção interna, assim, os
cidadãos têm a certeza de que caso sejam lesados, os órgãos do estado
estarão prontos para defende-los.
2. A justiça: este é outro fim com inteira prossecução do Estado sob diferentes
perspectivas:
a) justiça comutativa: quando se impõe estabelecer relações de igualdade,
abolindo as situações de privilégio, com uniformes critérios de decisão;
b) a justiça distributiva: no sentido de dar a cada um o que lhe pertence
pelo mérito ou pela sua situação real, numa visão não necessariamente
igualitarista;
3. O bem-estar: o Estado deve assegurar a criação das condições necessárias para
que os cidadãos tenham condições de vida condignas, como: acesso à saúde e
ao ensino com qualidade e, igualmente, deve assegurar ainda a integridade
económica pela provisão de bens que o mercado não pode fornecer ou não
pode fornecer satisfatoriamente; assegurar o bem-estar social pela prestação
de serviços sociais e culturais.
6. PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES
Falar em princípios estruturantes outrossim designados por princípios fundamentais
diz respeito aos pilares basilares de uma comunidade política, estes refletem os
valores fundacionais de uma comunidade. Estes princípios são:
1. Princípio do Estado de Direito;
2. Princípio Democrático;
3. Princípio Republicano;
Os princípios estruturantes têm um conteúdo específico, uma marca distintiva, o
princípio democrático não é a mesma coisa que o princípio de Estado de direito, assim
como o princípio Republicano não se confunde nem com ou nem com outro. Todavia
estes princípios actuam imbricadamente, limitando-se, completando-se e
condicionando-se de forma recíproca.

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 33


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PRINCÍPIO DE ESTADO DE DIREITO


O senso comum diz, relativamente a este princípio, que o Estado de direito é aquele
fundamentado pelo Direito, ou seja, o Estado se julga ou subordina-se ao Direito,
todavia o entendimento deste não implica tão-somente este conceito, pois para além
desta interpretação supperficial, há ainda elementos subjacentes e que são cruciais
destacar para um entendimento mais detalhado, assim, a primeira nota é que nos
Estados com este princípio estruturante, é comum que todos os poderes público
devam obediência ao direito, isto implica, naturalmente: respeito à constituição,
respeito à Assemblia Nacional, respeito aos tratados internacionais, etc.
Este princípio é concretizado por outros princípios ou subprincipios, nestes termos,
este se enradia a certos subprincipios bem específicos, nomeadamente:
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DA ADMINISTRAÇÃO: este princípio assegura a vinculação
de todos os poderes públicos, havendo, por conseguinte, a supremacia da constituição.
Dentro do âmbito deste princípio, vislumbra-se alguns elementos concretizadores ou
princípios complementares:
1. Reserva da lei: implica que há matérias que só podem ter forma de lei
parlamentar ou ordinária por autorização da lei fundamental, no caso, a
constituição, por estas compreenderem sobretudo matérias fundamentais, daí
a inteira reserva à lei, isto é, à constituição.
2. Prevalência da lei: implica que todos os órgãos do Estado devem obediência à
lei, assim, todos os actos do estaduais, sejam eles de natureza política,
jurisdicionais, administrativos ou legislativos devem obediência à Constituição.
V.g. artigo 226° CRA.
PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA: o homem necessita de uma certa confiaça para
conduzir, planificar, e conformar autónoma e responsavelmente a sua vida. Por esta
razão, desde cedo se considerou como elementos do estado de direito o princípio da
segurança jurídica e o princípio da confiança do cidadão. Estes princípios são
tendecialmente conformadores dos actos legislativos. Trata-se de um princípio que
impõe a atribuição da maior previsibilidade e estabilidade possível às relações
humanas. A ideia de segurança jurídica traduz-se, igualmente, a alguns princípios
concretizadores, tais quais:
1. Princípio da precisão das leis: este princípio implica que todas as normas
devem ser claras, pois uma lei deve possuir um sentido inequívoco na tentativa
de alicerçar uma solução jurídica para um problema concreto, daí a
necessidade da clareza nas normas.
2. Intangibilidade do caso julgado: este assenta na estabilidade definitiva das
decisões judiciais, quer porque está excluída a possibilidade de uma
reapreciação de questões já decididas – caso julgado formal, quer porque a
relação material é decidida em termos definitivos e irretratáveis.

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 34


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PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA CONFIANÇA: este princípio implica, basicamente, a


proibição de pré-efeitos das leis, proibição das leis retroativas e a estabilidade das leis
e actos administrativos.
1. Proibição de pré-efeitos das leis: é um princípio que assegura que no âmbito
dum estado de direito consideram-se não poderem os actos legislativos e
outros actos normativos produzir quaisquer efeitos jurídicos quando não
estejam em vigor nos termos constitucional e legalmente prescritos, dito
doutro modo, este resume-se na proibição de pré-efeitos das leis, neste
interím, não se pode aplicar uma lei que se encontre em condição de vacatio
legis, por exemplo.
2. Proibição de leis retroativas: implica que as leis não podem ter eficácia em
relação ao passado, existe uma proibição de retroatividade, ou melhor, este
princípio fundamenta que perante processos judiciais não podem as leis
produzir efeitos retroativos, isto é, para situações passadas.
3. Estabilidade das leis e dos actos administrativos: assegura que as leis bem
como as decisões estaduais não devem ser arbitrariente modificadas sob pena
de reduzir consideravelmente a confiaça do cidadão.
PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO EXCESSO: assegura primitivamente a limitação do poder
executivo, ou seja, todos aqueles que são poderes públicos devem ser inteiramente
limitados. Este princípio é também concretizado por subprincípios, nomeadamente:
1. Adequação de meios: compreende que a medida adoptada para realização do
interesse público deve ser apropriada para a prossecução dos fins a ele
subjacentes. Com efeito, a existência de conformidade pressupõe a prova de
que o acto do poder público é apto para e conforme os fins justificativos da sua
adoção. Trata-se, pois, de controlar a relação de adequação medida-fim. V.g.
artigo 58° n° 2 CRA.
2. Necessidade/exigibilidade: há naturalmente circunstâncias em que o cidadão
tem direito a menor vantagem possível. Nestes termos, exigir-se-á que este
abdique, inteiramente, de determinados direitos em função de não ser
possível adoptar outro meio mais oneroso para o cidadão em virtude da
necessidade ou exigibilidade do momento. V.g. artigo 58° n° 1.
3. Proporcionalidade: este trata, pois, de uma questão de medida ou desmedida
quando se procura alcançar um fim, ou seja, apesar das desvantagens
verificáveis na utilização dos meios em função das necessidades e exigibilidades
do momento nos subprincípios acima destacados, há em contrapartida certas
vantagens que chegama ser maiores, isto é, o fim alcançado. V.g. artigo 58° n°
3.
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO JURÍDICA E DAS GARANTIAS: no âmbito de um Estado de
direito traduz-se a exigência de um procedimento justo e adequado de acesso ao
direito e de realização do direito. E uma vez que a realização do direito é determinada
pela conformação jurídica do procedimento e do processo, a constituição estatui

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 35


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alguns princípios e normas designadas por garantias gerais de procedimentos e de


processo. Tais que as principais são:
1. Garantia de processo judicial: dentre as garantias aqui, encontra-se o direito
assegurado a todos do acesso aos tribunais para defesa dos seus interesses –
artigo 29° n° 1 CRA.
2. Garantia de processo penal: além dos principios judiciais, a constituição
estabelece e consagra outrossim importantes princípios materialmente
informadores do processo penal, tais como isensão de detenção ou julgamento
senão nos termos da lei, direito a defesa e de patrocínio judiciário, etc. – artigo
67° n° 1 CRA.
3. Garantia de processo administrativo: em um estado de direito considera-se
essencialmente necessário a existência de um procedimento juridicamente
adequado para o desenvolvimento da actividade administrativa. Assim, como
garantias de um procedimento administrativo justo menciona-se o artigo 200°
CRA.
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO: este princípio assegura, assim,
um alargamento da dimensão subjectiva e alicerça, ao mesmo tempo, um verdadeiro
direito ou pretensão de defesa das posições jurídicas ilegalmente lesadas que se
refere, precisamente, a defesa dos direitos e interesses legalmente protegido. Assim,
sucintamente, este assegura que caso o Estado bem como a todos os órgãos públicos
violem ou atentem contra os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos devem ser
civilmente responsabilizados pelos seus – artigo 75° CRA.
PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO
As comunidades politicamente organizadas ao consagrarem nas suas constituições o
princípio democrático, não o decidiram por uma teoria em abstrato, antes procurou-se
uma ordenação normativa para um país e para uma realidade histórica. Da mesma
forma que o princípio do Estado de direito, também o princípio democrático é um
princípio jurídico-constitucional com duas dimensões distintas
No que toca as dimensões aqui subjacentes, é de salientar que este princípio acolhe por
um lado os mais importantes postulados da teoria democrática representativa
(dimensão representativa) — órgãos representativos, eleições periódicas, pluralismo
partidário, separação de poderes. E por outro lado, o princípio democrático implica a
estruturação de processos que ofereçam aos cidadãos efectivas possibilidades de
aprender a democracia, participar nos processos de decisão, exercer controlo crítico na
divergência de opiniões (dimensão participativa).
No primeiro, em função do poder soberando pertencente ao povo (artigos 3 e 54 CRA),
estes escolhem mediante um processo de votação os seus órgãos representativos
outrossim desingnados por órgãos de soberania (Assembleia Nacional, Presidende da
República e os Tribuniais – artigo 105 CRA).

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 36


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Já no segundo, há o que chamamos de participação popular do povo que compreende


basicamente a possibilidade que estes têm de escolher ou de serem escolhidos para
governantes mediante o sufrágio universal; participar da vida política e nos assuntos
públicos; criticar todo e qualquer ente que exerça uma actividade pública, etc. (artigos
3, 48, 52, 53, 54 da CRA.
Importa ainda realçar que tal como são um dos elementos constitutivos do Estado de
direito, os direitos fundamentais são um elemento básico para a realização do
princípio democrático. Mais concretamente: os direitos fundamentais têm uma função
democrática, dado que o exercício democrático do poder significa:
a) a contribuição de todos os cidadãos para o seu exercício (direito da igualdade e
da participação política) – arts. 52 e 54 CRA;
b) implica a participação livre e assente de todos em importantes garantias para a
liberdade desse exercício (o direito de associação, de formação de partidos, de
liberdade de expressão são exemplos práticos de direitos constitutivos do
próprio princípio democrático – artis. 40, 48 CRA);
c) a abertura do processo político no sentido da criação de direitos sociais,
económicos e culturais, constitutivos de uma democracia económica, social e
cultural – art. 2.° CRA.
Ainda como o princípio de estado de direito, o princípio democrático é naturalmente
concretidazado por alguns princípios, estes são nomeadamente:
Princípio da soberania popular: o povo é o titular da soberania ou do poder, o que
significa de forma negativa que o poder do povo distingue-se de outras formas de
domínios populares (monarca); este princípio implica essencialmente a necessidade de
uma legitimação democrática efectiva para o exercício do poder (o poder e o exercício
do poder deriva concretamente do povo) isto é, o povo é o titular e o ponto de
referência dessa mesma legitimação; ela vem do povo e a este se deve reconduzir.
Principio da representração popular: assenta nos seguintes postulados: por um lado, o
exercício jurídico, constitucionalmente autorizado, de funções de domínio e feito em
nome do povo por órgãos de soberania do Estado e por outo lado, o exercício do
poder com vista a prossecução dos fins ou interesses do povo.
Principio da participação: significa, em termos gerais, intensificar a optimização da
participação dos homens no processo de decisões, ou seja, os cidadão são
inteiramente livres de exercer qualqer menifestão que cisma uma forma de
participação popular.
Direito do sufrágio: o sufrágio é um instrumento fundamental de realização do
princípio democrático; através dele, legitima-se democraticamente a conversão da
vontade política em posição de poder e domínio, estabelece-se a organização
legitimante de distribuição dos poderes, procede-se à criação do «pessoal político» os
governantes, no caso, e marca-se o ritmo da vida política de um país. Daí a eminente
importância do direito de voto como direito estruturante do próprio princípio
democrático e a relevância do procedimento eleitoral justo para a garantia da
autenticidade do sufrágio.

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 37


MORAIS
apostilas de cpdc 1º ano – 2021/2022

A concretização material do sufrágio se desnvolve a partir dos seguintes principios:


1) Princípio da universalidade do sufrágio: o princípio da universalidade do
sufrágio impõe o alargamento do direito de voto a todos os cidadãos, porém
com excepção aos cidadãos que carecem da capacidade eleitoral, assim,
ninguém nos termos da Constituição está isento do direito ao sufrágio qualquer
que seja o seu fundamento (sexo, raça, rendimento, instrução, ideologia), artis.
3, 22, 54 CRA.
2) Principio da imediaticidade do voto: implica que o voto directo tem de resultar
«imediatamente» da manifestação da vontade do eleitor, sem intervenção de
qualquer vontade alheia. A imediaticidade garante aos cidadãos darem o seu
voto aos cidadãos candidatos a sua livre escolha.
3) Principio da liberdade do voto: significa garantir ao eleitor a possibilidade de
votar sem qualquer coacção física ou psicológica exterior de entidades públicas
ou de entidades privadas.
4) Princípio do sufragio secreto: este princípio pressupõe que o voto deve ser
secreto, formado, necessariamente, a partir da liberdade de escolha do cidadão
e entendido aqui o sufragio como uma liberdade, o cidadão tem o direito a
minifestá-la sem qualquer forma de coação por parte de entidades públicas ou
privadas como esclarece o princípio da liberdade de voto;
5) Principio da igualdade de voto: exige que todos os votos tenham uma eficácia
jurídica igual, ou seja, tenham o mesmo peso ou o mesmo valor significativo.
6) Principio da periodicidade do voto: o princípio democrático, na sua dimensão
representativa, impõe o sufrágio periódico (art. 3 CRA) e a renovação periódica
dos cargos políticos (art. 113 CRA). Impede-se, com isto, a vitaliciedade de
mandatos, embora, através de sucessivas renovações da legitimidade eleitoral,
possam existir, de facto, mandatos (ex.: de deputados ou presidentes) sem
limites temporais, sendo, até certa medida, duvidoso que a lei, sem autorização
constitucional, possa limitar o número de mandatos de forma a aniquilar a
capacidade eleitoral passiva dos cidadãos.
PRINCÍPIO REPUBLICANO
O princípio republica é essencialmente caracterizado pelos seguintes princípios
concretizadores:
Forma republicana de governo – arti. 1º CRA
1) Um dos elementos característicos do princípio republicano é a forma
republicana de governo que expressa um sentido útil na sequência da distinção
normativo-constitucional de República à Monarquia, isto é, a república nunca é
uma monarquia, a forma republicana de governo aponta, desde logo, para a
necessidade de legitimação popular, directa ou indirecta, de um representante:
o Presidente da República.
2) Em segundo lugar, implica também a existência de uma assembleia
representativa dos cidadãos com base no sufrágio popular. Daí a expressa
órgãos de soberania: Presidente da República e da Assembleia da República
como órgãos representativos da República.

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 38


MORAIS
apostilas de cpdc 1º ano – 2021/2022

3) E em terceiro lugar, a forma republicana de governo implica eleições


periódicas, e por tempo limitado ou determnado dos órgãos representativos
(proíbem-se assim presidentes vitalícios, isto é, que exerçam cargos
permanentes e assembleias hereditárias, ou seja, cujo exercício das funções se
transmite por herança.
República laica – laicidade do Estado – art. 10º CRA
A laicidade da República é também uma das noções ligadas à tradição republicana.
Este princípio da laicidade cristaliza-se principalmente em três elementos:
1) Secularização do poder político: implica o processo através do qual a religião
perde a sua influência sobre esfera da vida política do Estado.
2) Neutralidade do Estado perante as igrejas: a república não pode possuir um
vínculo directo com igreja alguma.
3) Liberdade de consciência, religião e culto: isto é, numa república os cidadãos
são livres de escolher o seu caminho ético-moral e religioso, nestes termos,
estes são livres de professar onde quiserem.

7. SISTEMAS ELEITORAIS
Sistema eleitoral é uma noção que comporta dois termos: sistema (complexo unitário
de componentes que interrelacionados entre si atingem um determinado fim) e
eleitoral (aquilo vinculado às eleições e aos eleitores).

O sistema eleitoral compreende a estrutura composta por normas e processos que,


estipulados por lei, permitem que os cidadãos intervenham nas decisões políticas
através do voto. Pode-se dizer que, mediante o sistema eleitoral, os indivíduos se
convertem em eleitores e selecionam por intermédio do voto os dirigentes que
ocupam os diversos cargos públicos. Ou simplesmente, sistem eleitoral é o conjunto de
regras necessárias para a transformação de votos em mandatos.

Existem vários sistemas eleitorais, contudo os mais usuais são:

 SISTEMA MAIORITÁRIO: é aquele no qual se considera eleito o candidato que


receber, na respectiva circunscrição (país ou estado) a maioria absoluta ou
relativa dos votos válidos. Este sistema funciona como uma espécie de
eliminatória cujo candidato eleito é vencedor em relação aos demais, assim,
aquele que, feita a contabilização dos votos, alcançar o maior número de votos
válidos, é o vencedor. Este sistema é usado em eleições presidenciais, eleições
em parlamentos e autarquais. Este pode ser:
1. DE UM VOLTRA: é de uma volta quando consumada as eleições um dos
candidatos obtiver uma maiora absoluta de votos, isto é, aqui é
necessário mais que a metade dos votos correspondentes à totalidade
dos entes susceptíveis a votar, no caso, (50% +1). Caso na primeira volta

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 39


MORAIS
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não houver nenhum candidato eleito por não conseguir uma maioria
absoluta, urge a necessidade da segunda volta.
2. DE DUAS VOLTAS: constitui uma condição no caso de na primeira volta
não houver um candidato eleito, nesta concorrem simplesmente os dois
candidatos mais votados na primeira volta e vence o candidato que
obtiver o maior número de votos seja por maioria absoluto ou relactiva.

Este sistema é normalmente utilizado em eleições presidenciais e também em eleições


legislativas. Aqui os eleitores votam directamente nos candidatos, ou seja, não se vota
no partido, mas sim no candidato. Por exemplo em Angola realizaram-se eleições com
o sistema eleitoral maioritário de duas voltas no ano de 1992, isto porque na primeira
volta nenhum condidato obteve uma maioria absoluta, assim, os candidatos mais
votados na primeira volta (MPLA e UNITA) concorreram à segunda volta que acabou
por não se realizar.

 SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO PROPORCIONAL: este é diferente na essência,


pois aqui não se elimina, este sistema garante a representação dos setores
minoritários da sociedade nos parlamento, porém sempre na proporção dos
votos que cada um obtiver. Ademais, neste sistema, concorrem as listas que
cotêm o número de candidatos a serem eleitos e alguns suplentes, a
representação proporcional permite que até os partidos mais pequenos ou com
menos chances de vencerem participem nas eleições

Exitem duas forma de fazer o apuramentos dos resultados do escritínio na


representação proporcional:
O primeiro modelo de fazer o apuramento designa-se por representação proporcional
integral, em que consumida a eleição, para o apuramento:
É necessário, em primeiro lugar, determinar o quociente eleitoral que é o resultado da
divisão do número de votos expressamente válidos apurados pelo número de lugares
ou assentos a preencher na Assembleia Nacional. Ex.:
Votos conseguidos por lista n de deputrados
A – 45 000 5
B – 35 000
C – 15 000
D – 3 000
E – 2 000

Total votos: 100 000/5 nº de lugares = 20 000.


Assim, o quociente eleitoral aqui é 20 000

Uma vez consumado o primeiro procedimento, em seguida passamos para o segundo


passo que consiste em dividir o número de votos expressamente conseguidos por cada

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 40


MORAIS
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lista pelo quociente eleitoral encontrado, a partir daí teremos o resultado final, ou
seja, o número de assentos que cada lista ou partido conseguiu obter nesse círculo
eleitoral. Ex.:

resultado da divisão nº deputs. conseguidos restos


A – 45 0000\20 000 = 2, 25 2 0,25
B – 35 000\ 20 000 = 1, 75 1 0, 75
C – 15 000\20 000 = #
D – 3 000\20 000 = #
E – 2000/20 000 = #

Se analisarmos, feita a divisão, há nas duas primeiras listas votos restantes, assim, o
que fazer com os votos obtidos pelos partidos que não foram utilizados para se
elegerem deputados.

Ora bem, face a essa situação, deve-se usar o sistema do resto mais forte, que
acontece quando os lugares ou assentos a preencher são atribuidos aos partidos com o
resto mais forte, isto é, aos partidos ou listas cujo número de votos excede o número
necessário à atribuição de um assento, contudo constitui um número inferior para
alcançar mais um assento.

E de formas a não soar uma espécie de injustiça, há, igualmente, o sistema do resto
menos forte que consiste, concomitaneamente, em preencher um assento, atribuindo
um deputado ao partido ou lista cujo número de votos não foi susceptível de
trasformação em assento, assim:

resultado da divisão Total = restos mais nº de deputs. conseguidos


A – 45 0000/20 000 = 2, 25 0,25 = 1 + 2 = 3
B – 35 000/ 20 000 = 1, 75 0,75 = 1 + 1 = 2
C – 15 000/20 000 = #
D – 3 000/20 000 = #
E – 2000/20 000= #

A outra forma ou modelo de apuramento do escritínio, denomina-se sistema de


Hondt.

Este consiste, basicamente, em dividir o número de votos obtidos por cada lista
sucessivamente por 1, 2, 3, 4 até 5. De acordo o número de lugares a ser preenchidos

Feito isto, dos resultados encontrados, escolhem-se, somente, até ao quinto maior
número dos respectivos resultados da operação de divisão efectuada. A partir daí
teremos o número de assentos preenchidos por deputados em cada lista, assim como
ilusta a tabela:

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 41


MORAIS
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Divisão 1 2 3 4 5
A – 45 0000 45000 22500 15000 11250 9000
B – 35 000 35000 17500 11666 8750 7000
C – 15 000 15000 7500 5000 3750 3000
D - 3000 # # # # #
E - 2000 # # # # #
Portanto:

A – 3 deputados

B – 2 deputados

Os sistemas eleitorais, maioritário e de representação proporcional possuem, na


prática, algumas vantagens e desvantagens.

Para o sistema maioritário, atendendo a unipessoalidade existente, a tendência é que


o escrotínio aqui seja personalizado, o que de certa forma pode constituir uma
vantagem para alguns na medida que facilita os eleitores na escolha do candidato que
acharem ser o mais apto e compentente para exercer a respectiva função. E pode,
igualmente, ser desvantagioso, pois quando há uma excessiva personalização do
escrotínio a tendência será que o processo eleitoral seja tampouco competitivo, ou
seja, isto dá pouco espaço a candidatos menos populares por mais que estes sejam
mais competentes que os mais populares.

Já o sistema de representação proporcional, uma vez que aqui o escrotínio não é,


necessariamente, personalizado é, pelo contrário, em listas na qual na maioria das
vezes não se sabe a quais individuos se vota, constitui maioritariamente uma
vantagem, pois neste sistema há mais abertura, ou seja, até as listas ou partidos
menos conhecidos têm a possibilidade de vencer, na proporção dos seus votos, claro.

Logo, face as desvantagens apresentadas por ambos os sistemas alguns países optam
em adoptar um sistema misto.

 SISTEMA MISTO (MAIORITÁRIO MAIS REPRESENTAÇÃO PROPORRCIONAL: o


sistema misto é um sistema pouco usado, e consiste em usar simultraneamente
as técnicas dos dois sistemas anteriormente abordados, no caso, maioritário e
o da reprsentação proporcional.

Nestes termos, neste sistema cada eleitor vota duas vezes, ou seja, há um círculo
eleitoral cujo sistema é o maioritáio que serve para eleger metade dos deputados e no
outro círculo eleitor cujo sistema é o proporcional serve para eleger a outra metade
dos deputados.

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 42


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Depois destas duas operaçõoes, calcula-se proporcionalmente (usando o modelo de


Hondt) o número total de lugares que cada partido obteve por aplicação da
representação proporcional.

Para o contexto angolano é de salientar que o processo eleitral não é separado, ou


seja, não existe, separadamente, eleições presidenciais e legislativas, as eleições do
presidente da republica e dos deputados à assembleia nacional são feitas
simultaneamente num único precesso eleitoral, denomido de eleições gerais. A
regulamentação desta vem expressa na lei nº 36/11, de 21 de Dezembro, vulgo, lei
orgnânica das eleições gerais.

Nestes termos, o escrotínio que é atribuido ao partido vale simultaneamente para o


cabeça de lista deste partido que é candidato à presidência da república, daí eleições
gerais.

SISTEMAS DE PARTIDOS

É bastante difícil falar do sistema eleitoral sem falar em sistemas de partidos, pois são
dois temas que andam estritamente vinculados.

Os diferentes sistemas de partidos são:

 SISTEMA MONOPARTIDÁRIO
 SISTEMA BIPARTIDÁRIO
 SISTEMA MULTIPARTIDÁRIO

Os sistemas acima destacados não implicam, necessariamente, o número de partidos


existentes num dado país, tem que ver, pelo contrário, com a relevância prática do
sistema em cada país.

Sistema monopartidário: este é um sistema em que não existe concorrência, pois,


compreende, basicamente, a existência legal de um único partido. Exemplo: Angola de
1975 até 1992.

Sistema bipartidário: outrossim entendido como concorrencial, neste há a


legitimidade de exitência de vários outros partidos, ou seja, há a liberdade da criação e

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 43


MORAIS
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institucionalização de mais de um partido político, porém assim como prefixo diz (bi)
somente dois partidos possuem tamanha expressão a chances de vencer. Ou seja, isto
acontece por estes dois partidos atraírem quase exclusivamente a atenção da mídia e
da opinião pública, passando os demais partidos despercebidos pela maior parte
da população. O bipartidarismo pode ser perfeito e imperfeito.

É perfeito quando somente há dois partidos que têm a possibilidade de vencer com
uma maioria absoluta sem excepcionalmente haver a chance de um outro partido
diferente de entre os dois vencer. Um exemplo prático é o E.U.A. em que há somente
dois partidos com um considerável expressão, no caso, o partido democrático e o
republicano.

É imperfeito: quando um de entre os dois partidos que mais expressão ou chances têm
de vencer, vence sem, necesseriamente, obter uma maioria absoluta, o que resulta
consequentemente numa necessidade deste requerer apoio a outros partidos para a
sua governação.

Sistema multipartidário: é aquele em que exite uma variedade partidos políticos


susceptíveis a concorrer nas eleições e estes têm frequentemente acesso ao poder.
Porém este pode ser hegemónico, isto é, quando há vários partidos, contudo, sabe-se,
inconscientemente, qual o partido que irá vencer. Exemplo: Angola.

Assim como já frisado anteriormente, há uma relação entre sistemas eleitorais e


sistemas de partidos. Regra geral: quando se tem um sistema eleitoral maioritário há,
tendencialmente, consequência de o sistema de partido ser o bipartidário. Ao passo
que quando se tem um sistema eleitoral do tipo representação proporcional a
tendência é que o sistema de partidos seja o miltupartidário.

8. SISTEMAS DE GOVERNOS

É importante, antes de qualquer conceito referente a este tema, deixar claro que não
se pode confundir as diferentes expressões ao se referir a esta realidade “sistema de
governo”, pois existem expressões similares como: formas de governos, formas de
estado, regime polítco, sistemas eleitorais, etc, que pouco têm a ver, na essência, com
o assunto.

Assim, de uma forma generalizada, SISTEMA DE GOVERNO compreende todo um


complexo unitário cujo desenvolvimento implica, necessáriamente, uma relação
institucional que se estabelece entre os órgãos que exercem o poder político,
nomeadamente: o órgão legislativo (parlamento) e o executivo (presidente da
república – chefe do estado).

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 44


MORAIS
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A nível da doutrina a qualificação dos sistemas de governos faz-se tendo em conta a


respostas as seguintes perguntas:

1) Qual o plano (jurídico, político ou ambos “jurídico e político”) determinante


para qualificar o sistema de governo;
2) Há ou exististirá uma relação relevante entre os regimes políticos e sistmas de
Governos;

Ora, face a estas questões, 3 doutrinadores diferentes debruçaram a respeito:

 Jorge Reis Novais diz que é a constituição é que determina o sistema de


governo;
 Para o prof. Jorge Miranda, deve-se partir por uma visão jurídica para à
politica, justificando que o enquadramento dos órgãos do poder político
depende antes de tudo das normas constitucionais;
 Para Melo Alexandrino, a fisionomia do sistema de governo deriva tanto ou
mais da forma como a constituição é efectivamente aplicada (constituição
real/normativa) em relação as regras escritas.

No plano teórico existem, pois, diferentes sistemas de governo:

 Sistema de Governo de regimes democrático


 Sistema de Governo de regimes autoritário
 Sistema de Governo de regimes totalitário

Todavia, na modernidade os sistemas de governo com maior expressão em relação aos


demais é sem dúvidas o de regime democrático.

DIRECTO

SISTEMA DE GOVERNO DE REGIME DEMOCRÁTICO SEMI-DIRECTO

REPRESENTATIVO

REPRESENTATIVO:

1) Concentração de poderes:
a) monarquia limitada;
b) sistema simples;
c) sistema convensional;
d) soviético;
2) Separação de poderes:

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 45


MORAIS
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a) Parlamentar: Assembleia, Gabinete, Clássico ou racionalizado;


b) Presidencial: perfeito, imperfeito;
c) Semi-presidencial.

Os diferentes sistemas que compõe o sistema de governo de regime democrático de


separação de poderes carregam traços característicos próprios e bem específicos.

SISTEMA PARLAMENTAL OU PARLAMENTARISMO


Características fundamentais:
 É um sistema cuja origem advém da experiência britânica;
 O governo é exercido por um gabinete que compõe o parlamento;
 O governo responde politicamente perante o parlamento (o parlamente tem,
assim, a prerrogativa de provocar a demissão do Governo);
 O chefe de estado é, efectivamente, neutro e possui um papel apagado;
 Há uma clara separação entre chefe de estado e chefe do governo;
 O chefe do governo tem poderes de monear e exonerar ministros,
simplesmente, ou deve fazê-lo por indicação do parlamento;
SISTEMA PRESIDENCIAL OU PRESIDENCIALISMO
Características fundamentais:
 Tem a sua origem nos E.U.A.
 Separação e independência entre o poder executivo (P.R.) e poder legislativo
(Parlamento);
 Neste, o Estado é representado pelo Chefe de estado que é eleito por surfrágio
universal e directo.
 Aqui, diferente do anterior, o governo não é politicamente responsável perante
o parlamente, em que não pode haver interferência dum no outro;
 Não há separação de poderes (chefe de estado e chefe de governo, sendo estes
poderes exercidos simultaneamente pelo presidente da república);
 O chefe de estado não dispõe de poderes para dissolver as leis do Parlamento;
 O parlamento pode distituir o chefe de estado ou outros funcionários do
Estado mediante o recurso ao poder é exercido pelo Impeachment (uma
espécie de poder judicial)
 O parlamento tem a prerrogrativa de recusar as nomeações do chefe de
estado;
 O presidente tem, em certa medida, poderes sob as leis parlamentares, isto é,
compentência legislativa;
SISTEMA SEMI-PRESIDENCIAL OU SEMI-PRESIDENCIALISMO
Este sistema de governo possui características de ambos os sistema anteriormente
descritos, são exemplos práticos de estados com esse sistema: a França e até mesmo a
Alemanha.

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 46


MORAIS
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Caracteríticas fundamentais:
 O presidente da república é eleito por sufrágio universal e directo e o Primeiro-
Ministro possui dupla responsabilidade, por lado, é responsável perante o
Parlamento e por outro, perante o Primeiro-Ministro;
 O presidente da república toma decisões políticas e este não carece de
responder por tais decisões ao parlamento;
 O presidente tem legitimidade similar à do parlamento;
 O governo é formado pela maioria parlamentar ou mesmo pode ser formado
discricionariamente pelo presidente da república;
SISTEMA DE GOVENO EM ANGOLA
O governo angolano apresenta traços característicos próprio, na qual chega até
mesmo de receber o nome de sistema atípico pelo facto de se vislumbrar neste
governo características marcantes e difíceis de serem vistas noutros governos.
De facto, o sistema de governo consagrado na constituição de 2010, apresenta
características muito próprias que o aproximam ao sistema presidencial quanto ao
modo de funcionamento e de relação de interdependência por coordenação, típico
desse tipo de sistema, porém no tocante a eleição do titular do poder executivo é
típico vislumbrar o sistema parlamentar, assim como o sistema que vigora na república
da África do Sul.
O sistema de governo angolano inspirou-se, em certa medida, no sistema de governo
Sul africano, especialmente quanto ao modo de eleição do P.R., um sistema em que há
a adaptação do sistema de governo parlamentar com a diferença que o presidente da
república é o chefe de estado e do governo.
Numa primeira instância, angola adoptou tal modelo, isto é, no período que
compreende de 1975 a 1991, porém face às críticas provenientes da oposição política
e aos limites materias impostos pela leis constitucional de 1992, isto nos seus
dispositivos legais, determinava que os órgãos de soberania devem ser eleitos por
sufrágio universal, directo e secreto, passou-se, portanto, por ajustes que colocavam o
candidato a ser eleito a presidente da repúblico como cabeça de lista dos partidos ou
coligações de partidos políticos. A partir daí, as eleicões passaram a designar-se de
eleições gerais.
Nesta senda, são características do sistema de governo angolano as seguintes:
 O presidente da república é eleito por sufrágio universal, directo e secreto
possuindo a mesma legitimidade democrática que o parlameto;
 Há separação e interdependência entre os poderes executivo (presidente da
república) e o legislativo (Assembleia Nacional);
 O presidente da República é o titular do poder executivo;
 O presidente da república não carece de responder politicamente pelas
decisões que tomar, assim, este não pode ser derrubado pelo parlamento e

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 47


MORAIS
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este não pode, igualmente, dissolver o parlamento. Todavia, em circunstâncias


de perturbação grave ou crive insanável na relação institucional entre o P.R. e
a Assembleia, pode o P.R. provocar a dissolução do Parlamento, mediante o
instituto da auto-demissão política – (artigo 128º CRA);

ESTRUTURA NORMATIVA DA CONSTIUIÇÃO


SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
Para entender os conceitos subjacentes à supremacia da constituição devemos partir,
primordialmente, das seguintes questões:
 De onde vem a supremacia da constituição
 O que significa a supremacia à constituição
A resposta à primeira questão está na existência da própria constituição, ou seja, a
supremacia da constiuição vem da existência constituição que é elaborada por um
poder constituinte originário (poder legítimo do povo).
Já à segunda, encontramo-la na prórpria constituição, por exemplo, o artigo 6º da CRA
consagra no seu número 1 que a constituição é a lei suprema da República de Angola,
entendendo aqui por lei suprema como aquela lei que se encontra no topo da
pirâmide normativa através da qual o Estado deve subordinar-se dando lugar à
exigência deste ao respeito as leis e, igualmente, o dever de fazer-se respeitar as leis.
Ainda no tocante a supremacia da constituição, o artigo já citado esclarece que todos
os tratados, leis e demais actos do Estado e entes públicos só são válidos se estiverem
em conformidade à constituição. Logo, como consequência da não observância destes
ou, simplesmente, se estes não estiverem conformes a constituição dará lugar a algo
que chamaremos de inconstitucionalidade, assim como dispõe o nº 2 do artigo 226º da
CRA, como sucede; são inconstitucionais as leis e os actos que violem os princípios e
normas consagrados na presente constituição.
Vinculado a este ponto, é fulcral citar o artigo 227º da CRA que enuncia legalmente os
actos passíveis de fiscalização que consubstanciem, eventualmente, violações de
princípios e normas constitucionais dando, consequentemente, lugar a
inconstitucionalidade. Estes são: actos normativos, tratados, convenções e acordos
internacionais, a revisão constitucional e o referendo.
Com isso, consegue-se, portanto, perceber o âmbito da significação da supremacia da
constituição. Em resumo, entende-se como aquele poder supremo que faz com que
uma lei se encontra no ápece de um ordenamento jurídico e através da qual todas as
outras leis, infraconstitucionais, actos do estado e o próprio estado devem obediência
ou estar conforme sob pena de constituirem a chamada inconstitucionalidade.
Inerentes à supremacia estão dois elementos:
a) Primazia ou prevalência da lei

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 48


MORAIS
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Segundo Gomes Canotilho o princípio da premazia da lei, foi, historicamente,


entendida com uma tripla dimensão:
1. A lei é um acto da vontade estadual juridicamente mais forte;
2. Prevalece ou tem preferência sobre todos outros actos do estado, em especial
sobre actos do poder executivo (regulamentos, actos administrativos);
3. Detém a posição de topo da tabela da hierarquia das normas, ou seja, desfruta
de purerioridade sobre todas as outras normas jurídicas;
Já nos moldes contemporâneo, este princípio possui ou comporta duas dimensões:
 Positiva: traduz-se na exigência da observância ou aplicação da lei;
 Negativa: implica a proiblição de desrespeito ou violação da lei;
Assim, em termos gerais, articulando as duas dimensões a premazia da lei traduz-se na
exigência da aplicação da lei pela administração, proibição de a administração actuar
ou decidir contra a lei; ou seja, nulidade ou anulibilidade dos actos da administração
ilegais. Daí que a primazia marca a indiscutível superioridade hierárquica das normas
constitucionais.
a) Reserva da lei
A este princípio encontra-se subjacente o facto de haver matérias que não devem ser
reguladas por normas juridicas provenientes de outras fontes difentes da lei (exemplo:
regulamento). Ainda por outras palavras, existe reserva de lei quando a constituição
prescreve que o regime jurídico de determinada matéria seja regulada por lei e só por
lei, havendo, portanto, exclusão de outras fontes normativas. A reserva pode ser:
Relactiva: quando a lei se limita a definir o regime jurídico geral consentindo o seu
desenvolvimento quer através de decreto-lei, quer através de actos regulamentares.
Como sucede no artigo 165º da CRA.
Absoluta: quando a constituição axige que determinadas matérias sejam disciplinadas
na sua totalidade por lei, sem espaço algo para a possibilidade destas matérias
receberem tratamos de outro órgão se não o órgão legislativo por excelência
(parlamento), como sucede, por exemplo, no artigo 164º da CRA.
Daqui nasce ainda a necessidade de deixar claro o conceito relactivo à tipologia dos
actos legislativos.
Os actos legislativos podem possuir as seguintes formas:
 Lei – quando exercido pelo Assembleia Nacional no exercício das suas
competências, e estes actos podem revestir a forma de: lei de revisão
constitucional, lei orgânica, lei de base e muitos outros, ao abrigo do nº 2 artigo
166º.
 Decreto-lei – quando exercido pelo presidente da República no exercício das
suas competências, e estes decretos podem ser: legislativos presidenciais,

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 49


MORAIS
apostilas de cpdc 1º ano – 2021/2022

decretos legislativos presidenciais provisório, decretos presidencias e


despachos presidenciais, que são publicados no diário da república, a luz do
artigo 125º nº 1. Importa destacar ainda que a forma pela qual estes actos
legislativos podem se revestir têm a sua tutela nos nº 2 e 3 do artigo 125º da
CRA.
Paridade entre a lei e o costume
Hierarquia e pluralidade das fontes do direito positivo

autorIA: MANUEL NILTON ISAAC 50


MORAIS

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