SENTIDO DA CONSTITUIÇÃO. JORGE MIRANDA, MANUAL, PÁGS. 07-23.
NATAL, 26 DE JUNHO DE 2023
Capitulo I - Noções básicas sobre Constituição 1. Dados de partidas O "Manual de Direito Constitucional" de Jorge Miranda, no seu segundo tomo, é uma obra de referência amplamente reconhecida na área do direito constitucional. O livro aborda questões fundamentais do direito constitucional, proporcionando uma visão abrangente e aprofundada dos principais temas relacionados à Constituição. No capítulo I o autor retrata sobre o sentido da Constituição em que se refere à interpretação e compreensão dos princípios, normas e valores presentes em uma constituição. A Constituição é a lei fundamental de um país, que estabelece a estrutura do governo, os direitos e deveres dos cidadãos, e define os limites e poderes do Estado. No entanto, a linguagem constitucional muitas vezes é ampla e aberta a diferentes interpretações. Dessa forma, a teoria do sentido da Constituição busca determinar o significado e o propósito subjacente às disposições constitucionais, levando em consideração o contexto histórico, social e político em que foram escritas. Ela envolve a análise dos princípios fundamentais, a identificação de valores e a compreensão da intenção dos constituintes. A interpretação do sentido da Constituição é realizada pelos tribunais constitucionais e por juristas, com base em métodos hermenêuticos, como a interpretação literal, a interpretação histórica, a interpretação sistemática e a interpretação teleológica. O objetivo é assegurar que a Constituição seja aplicada de maneira consistente com seus princípios e valores fundamentais ao longo do tempo. Além disso, é importante pontuar que a perspectiva material da Constituição, também conhecida como perspectiva substantiva ou materialista, concentra-se no conteúdo material das normas constitucionais. Nessa abordagem, a Constituição é vista como um conjunto de princípios e valores fundamentais que estabelecem os fundamentos e os fins do Estado, garantindo direitos e liberdades fundamentais. A perspectiva material enfatiza o aspecto substancial da Constituição, ou seja, seu conteúdo normativo e sua função como instrumento de proteção e promoção dos direitos e garantias fundamentais. 2. A Perspectiva material e a perspectiva formal sobre a Constituição. A perspectiva formal da Constituição, também conhecida como perspectiva jurídica ou formalista, concentra-se na estrutura e no processo de criação das normas constitucionais. Nessa abordagem, a Constituição é vista como um conjunto de regras e procedimentos formais que estabelecem a organização e o funcionamento dos poderes do Estado. A perspectiva formal enfatiza o aspecto processual da Constituição, ou seja, sua forma jurídica e sua função como norma suprema que organiza o sistema jurídico e estabelece as competências e limites dos poderes do Estado. Por tanto, Jorge Miranda argumenta que ambas as perspectivas são complementares e necessárias para uma compreensão completa da Constituição. A perspectiva material enfatiza a importância dos valores e princípios fundamentais como guias para a interpretação e aplicação da Constituição, enquanto a perspectiva formal destaca a necessidade de uma estrutura normativa clara e de procedimentos legais para garantir a estabilidade e a segurança jurídica. Assim, de acordo com Jorge Miranda, a perspectiva material e a perspectiva formal devem ser consideradas em conjunto para uma análise abrangente e adequada da Constituição, levando em conta tanto seu conteúdo normativo quanto sua estrutura jurídica. 3. A constituição em sentido institucional anterior ao constitucionalismo Quanto à expressão "constituição em sentido institucional anterior ao constitucionalismo", parece haver uma aparente contradição. O constitucionalismo é uma corrente de pensamento e um movimento político e jurídico que defende a existência de uma Constituição escrita, limitadora do poder estatal e garantidora dos direitos fundamentais. O constitucionalismo surgiu no final do século XVIII e início do século XIX, com a promulgação de importantes documentos, como a Constituição dos Estados Unidos (1787) e a Constituição Francesa (1791). Dessa forma, se nos referirmos a um sentido mais amplo da palavra "constituição", como a organização política de um Estado, é possível argumentar que existiram sistemas e estruturas institucionais anteriores ao movimento do constitucionalismo. Por exemplo, no Antigo Regime europeu, havia sistemas monárquicos absolutistas em que o poder estava concentrado nas mãos de um monarca e não havia uma Constituição escrita que limitasse seu poder. No entanto, é importante ressaltar que o constitucionalismo como entendemos hoje, como uma teoria e um movimento político e jurídico que defende a supremacia da Constituição escrita e a proteção dos direitos fundamentais, surgiu como uma reação a esses sistemas pré-constitucionais e representa uma mudança significativa no pensamento político e jurídico. Jorge Miranda, em suas obras, dedica-se ao estudo do constitucionalismo e das constituições modernas, analisando seus princípios, estruturas e efeitos. Ele tem contribuído para a compreensão e aplicação do Direito Constitucional, tanto em Portugal como em outros países lusófonos 4. A constituição em sentido material do Constitucionalismo Liberal. Além disso, outro ponto a ser discutido é a Constituição em sentido material do constitucionalismo liberal, conforme defendido por Jorge Miranda, refere-se a um conjunto de princípios e valores que estão subjacentes a uma constituição e que visam proteger os direitos e liberdades individuais dos cidadãos, limitar o poder do Estado e estabelecer um sistema de governo baseado na separação de poderes. Ele enfatiza a importância da Constituição como um instrumento de proteção dos direitos fundamentais e de limitação do poder estatal. Nesse sentido, a Constituição em sentido material, para Miranda, não se restringe apenas ao texto constitucional escrito, mas inclui os princípios fundamentais e os valores subjacentes que permeiam o ordenamento jurídico. No contexto do constitucionalismo liberal, a Constituição em sentido material é fundamentada em princípios como a separação de poderes, a supremacia da lei, a proteção dos direitos individuais e a limitação do poder estatal. Esses princípios têm como objetivo garantir a liberdade dos cidadãos em face do Estado e evitar o abuso de poder por parte das autoridades. A Constituição em sentido material também pode englobar o reconhecimento e a proteção de direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, de religião, de associação, o direito à propriedade privada e o direito ao devido processo legal. Além disso, pode estabelecer mecanismos de controle e equilíbrio entre os poderes, como a independência do Poder Judiciário e a existência de um sistema de freios e contrapesos. Por fim, segundo a perspectiva de Jorge Miranda, abrange os princípios, valores e direitos fundamentais que estão subjacentes ao texto constitucional e que visam proteger os direitos e liberdades individuais dos cidadãos, bem como limitar o poder do Estado.