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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE DIREITO

DIREITO CONSTITUCIONAL

DOCENTE: DR. ARTUR CORTEZ BONIFACIO

DISCENTE: ANDESSA BARBOSA DE OLIVEIRA

FICHAMENTO DA II UNIDADE

SENTIDO DA CONSTITUIÇÃO. JORGE MIRANDA, MANUAL, PÁGS. 07-23.

NATAL, 26 DE JUNHO DE 2023


Capitulo I - Noções básicas sobre Constituição
1. Dados de partidas
O "Manual de Direito Constitucional" de Jorge Miranda, no seu segundo
tomo, é uma obra de referência amplamente reconhecida na área do direito
constitucional. O livro aborda questões fundamentais do direito constitucional,
proporcionando uma visão abrangente e aprofundada dos principais temas
relacionados à Constituição. No capítulo I o autor retrata sobre o sentido da
Constituição em que se refere à interpretação e compreensão dos princípios,
normas e valores presentes em uma constituição. A Constituição é a lei
fundamental de um país, que estabelece a estrutura do governo, os direitos e
deveres dos cidadãos, e define os limites e poderes do Estado. No entanto, a
linguagem constitucional muitas vezes é ampla e aberta a diferentes
interpretações.
Dessa forma, a teoria do sentido da Constituição busca determinar o
significado e o propósito subjacente às disposições constitucionais, levando em
consideração o contexto histórico, social e político em que foram escritas. Ela
envolve a análise dos princípios fundamentais, a identificação de valores e a
compreensão da intenção dos constituintes. A interpretação do sentido da
Constituição é realizada pelos tribunais constitucionais e por juristas, com base
em métodos hermenêuticos, como a interpretação literal, a interpretação
histórica, a interpretação sistemática e a interpretação teleológica. O objetivo é
assegurar que a Constituição seja aplicada de maneira consistente com seus
princípios e valores fundamentais ao longo do tempo. Além disso, é importante
pontuar que a perspectiva material da Constituição, também conhecida como
perspectiva substantiva ou materialista, concentra-se no conteúdo material das
normas constitucionais. Nessa abordagem, a Constituição é vista como um
conjunto de princípios e valores fundamentais que estabelecem os fundamentos
e os fins do Estado, garantindo direitos e liberdades fundamentais. A perspectiva
material enfatiza o aspecto substancial da Constituição, ou seja, seu conteúdo
normativo e sua função como instrumento de proteção e promoção dos direitos
e garantias fundamentais.
2. A Perspectiva material e a perspectiva formal sobre a Constituição.
A perspectiva formal da Constituição, também conhecida como
perspectiva jurídica ou formalista, concentra-se na estrutura e no processo de
criação das normas constitucionais. Nessa abordagem, a Constituição é vista
como um conjunto de regras e procedimentos formais que estabelecem a
organização e o funcionamento dos poderes do Estado. A perspectiva formal
enfatiza o aspecto processual da Constituição, ou seja, sua forma jurídica e sua
função como norma suprema que organiza o sistema jurídico e estabelece as
competências e limites dos poderes do Estado. Por tanto, Jorge Miranda
argumenta que ambas as perspectivas são complementares e necessárias para
uma compreensão completa da Constituição. A perspectiva material enfatiza a
importância dos valores e princípios fundamentais como guias para a
interpretação e aplicação da Constituição, enquanto a perspectiva formal
destaca a necessidade de uma estrutura normativa clara e de procedimentos
legais para garantir a estabilidade e a segurança jurídica. Assim, de acordo com
Jorge Miranda, a perspectiva material e a perspectiva formal devem ser
consideradas em conjunto para uma análise abrangente e adequada da
Constituição, levando em conta tanto seu conteúdo normativo quanto sua
estrutura jurídica.
3. A constituição em sentido institucional anterior ao
constitucionalismo
Quanto à expressão "constituição em sentido institucional anterior ao
constitucionalismo", parece haver uma aparente contradição. O
constitucionalismo é uma corrente de pensamento e um movimento político e
jurídico que defende a existência de uma Constituição escrita, limitadora do
poder estatal e garantidora dos direitos fundamentais. O constitucionalismo
surgiu no final do século XVIII e início do século XIX, com a promulgação de
importantes documentos, como a Constituição dos Estados Unidos (1787) e a
Constituição Francesa (1791). Dessa forma, se nos referirmos a um sentido mais
amplo da palavra "constituição", como a organização política de um Estado, é
possível argumentar que existiram sistemas e estruturas institucionais anteriores
ao movimento do constitucionalismo. Por exemplo, no Antigo Regime europeu,
havia sistemas monárquicos absolutistas em que o poder estava concentrado
nas mãos de um monarca e não havia uma Constituição escrita que limitasse
seu poder.
No entanto, é importante ressaltar que o constitucionalismo como
entendemos hoje, como uma teoria e um movimento político e jurídico que
defende a supremacia da Constituição escrita e a proteção dos direitos
fundamentais, surgiu como uma reação a esses sistemas pré-constitucionais e
representa uma mudança significativa no pensamento político e jurídico. Jorge
Miranda, em suas obras, dedica-se ao estudo do constitucionalismo e das
constituições modernas, analisando seus princípios, estruturas e efeitos. Ele tem
contribuído para a compreensão e aplicação do Direito Constitucional, tanto em
Portugal como em outros países lusófonos
4. A constituição em sentido material do Constitucionalismo Liberal.
Além disso, outro ponto a ser discutido é a Constituição em sentido material do
constitucionalismo liberal, conforme defendido por Jorge Miranda, refere-se a um
conjunto de princípios e valores que estão subjacentes a uma constituição e que
visam proteger os direitos e liberdades individuais dos cidadãos, limitar o poder
do Estado e estabelecer um sistema de governo baseado na separação de
poderes. Ele enfatiza a importância da Constituição como um instrumento de
proteção dos direitos fundamentais e de limitação do poder estatal. Nesse
sentido, a Constituição em sentido material, para Miranda, não se restringe
apenas ao texto constitucional escrito, mas inclui os princípios fundamentais e
os valores subjacentes que permeiam o ordenamento jurídico.
No contexto do constitucionalismo liberal, a Constituição em sentido
material é fundamentada em princípios como a separação de poderes, a
supremacia da lei, a proteção dos direitos individuais e a limitação do poder
estatal. Esses princípios têm como objetivo garantir a liberdade dos cidadãos em
face do Estado e evitar o abuso de poder por parte das autoridades. A
Constituição em sentido material também pode englobar o reconhecimento e a
proteção de direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, de religião,
de associação, o direito à propriedade privada e o direito ao devido processo
legal. Além disso, pode estabelecer mecanismos de controle e equilíbrio entre
os poderes, como a independência do Poder Judiciário e a existência de um
sistema de freios e contrapesos. Por fim, segundo a perspectiva de Jorge
Miranda, abrange os princípios, valores e direitos fundamentais que estão
subjacentes ao texto constitucional e que visam proteger os direitos e liberdades
individuais dos cidadãos, bem como limitar o poder do Estado.

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