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Teoria Constitucional e
Título da disciplina
Direitos Fundamentais
Teoria Geral da Constituição

Conceitos e
1 classificações da
Constituição

Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os


principais conceitos sobre a Constituição, sua classificação e suas
espécies.
Conceito de direito constitucional e suas relações com
outros ramos do direito
• Direito constitucional é um conjunto de normas fundamentais que institui o Estado e regem a sociedade,
localizado no vértice da pirâmide jurídica e é um ramo do direito público.

• Constituição é o foco central do direito constitucional, envolvendo normas fundamentais que estabelecem
a instituição do Estado e a vida em sociedade.

• O direito público abrange a relação entre o Estado e a sociedade, e o direito constitucional é uma de suas
vertentes principais.

• O estatuto do direito constitucional se deu através de ideias liberais com o objetivo de limitar a intervenção
do Estado na vida privada, mas atualmente regula diversos direitos e prestações positivas do Estado.
Conceito de direito constitucional e suas relações com
outros ramos do direito
• O direito constitucional é elaborado a partir de três vertentes:

Direito constitucional Direito constitucional Direito constitucional


positivo (ou especial) comparado geral
É o estudo das normas É o estudo comparativo entre É o estudo da teoria de Direito
constitucionais positivadas em a Constituição brasileira e a de constitucional, especialmente
determinado ordenamento outros países, a fim de dos conceitos e institutos que
jurídico. compreender o contexto do fundamentam essa disciplina.
Brasil e dos seus institutos
jurídicos.

• Todas as outras áreas do direito se relacionam com o direito constitucional, uma vez que todas as leis e
atos normativos devem obedecer à Constituição para serem válidas.
Conceito de direito constitucional e suas relações com
outros ramos do direito
• Relação do direito constitucional com outras disciplinas jurídicas:

Direito Administrativo

Estuda normas constitucionais sobre a administração pública.

Direito Tributário

Aborda competências tributárias e limitações constitucionais ao poder de tributar.

Direito Civil

Observa os direitos e garantias fundamentais da Constituição no âmbito civil.


Conceito de direito constitucional e suas relações com
outros ramos do direito

Direito Processual Civil

Considere as garantias como o devido processo legal e a ampla defesa presente na Constituição.

Direito Penal

Estuda garantias fundamentais relacionadas à liberdade humana, como a garantia de certas penas.

Direito Processual Penal

Analisa garantias processuais no âmbito penal, como as regras de prisão.


Conceito de direito constitucional e suas relações com
outros ramos do direito

Direito do Trabalho

Contempla os direitos trabalhistas como direitos sociais na Constituição.

Direito Processual do Trabalho

Aplicação de garantias processuais ao processo trabalhista.

Direito Internacional

Princípios asseguram às relações internacionais e regras para atuação internacional do Brasil.


Conceito de direito constitucional e suas relações com
outros ramos do direito

Direito Previdenciário

A Seguridade Social é regulada na Constituição, influenciando o estudo da disciplina.

Direito Ambiental

Estuda o Direito ambiental constitucional a partir do art. 225 da Constituição.


Constitucionalismo e neoconstitucionalismo
• Constitucionalismo é o movimento de criação de Constituições como normas básicas para o convívio em
sociedade.

• Existem três fases principais do Constitucionalismo:

Antigo Moderno Contemporâneo

São os registros longínquos de Começou com a Revolução É marcado pela ampliação das
normas bases, principalmente Francesa e a Revolução Constituições na garantia de
não escritas, que limitavam o Americana, introduzindo as direitos, incluindo direitos
poder político do Estado em primeiras Constituições sociais, tornando o Estado
sociedades antigas. escritas com limites claros ao mais proativo na sociedade.
poder do Estado e foco na
liberdade individual.
Constitucionalismo e neoconstitucionalismo
• O neoconstitucionalismo é uma nova abordagem do papel da Constituição no sistema jurídico,
considerando-a como norma fundamental de todas as normas e com força normativa para resolver
casos concretos.

• Os marcos do Neoconstitucionalismo, ou seja, os pontos de partida do surgimento, de sua origem, são:

Marco histórico Marco filosófico Marco teórico

Desenvolvimento do Estado Pós-positivismo, centralidade Conjunto de mudanças que


Constitucional de Direito no dos direitos fundamentais e contribuiu para a nova
pós-guerra. reaproximação de Direito e interpretação constitucional
Ética. (força normativa da
Constituição).
Constitucionalismo e neoconstitucionalismo
• O neoconstitucionalismo atribui força normativa à norma constitucional e busca aproximar o Direito da
Ética.

• Constitucionalização do Direito é o processo de considerar a Constituição Federal como parâmetro


máximo do ordenamento jurídico, abrangendo todos os ramos do Direito.

• Luís Roberto Barroso destaca que a Constituição ocupa o centro do sistema jurídico, com supremacia
material e axiológica, filtrando toda a legislação infraconstitucional. Isso é chamado de
constitucionalização do Direito.
Conceito e origem da Constituição
• Constituição tem múltiplas acepções e é entendida sob dois pontos de vista. Confira!

Ponto de vista político Ponto de vista jurídico

A Constituição é considerada uma Esse ponto de vista é dividido em


decisão política fundamental sobre dois tópicos. No primeiro ponto, a
o poder político, os direitos Constituição é entendida em
fundamentais e outros aspectos sentido material como o conjunto
essenciais relacionados à vida em de normas que organizam a vida em
sociedade. sociedade e, no segundo ponto, no
seu sentido formal, como a norma
superior que fundamenta a validade
das demais leis.
Conceito e origem da Constituição
• O Brasil adota o modelo de considerar todas as normas da Constituição em sentido formal,
independentemente do seu conteúdo.

• A Constituição cria ou reconstrói o Estado, organizando e limitando o poder político, estabelecendo


direitos fundamentais e regulando as normas que integram a ordem jurídica.

• As primeiras Constituições escritas surgiram na "Era das Revoluções", baseadas nos valores do
Iluminismo e com o objetivo de limitar o poder do Estado e assegurar direitos fundamentais.

• A primeira Constituição brasileira foi promulgada em 1824, sendo sucedida por outras que ampliaram
direitos e garantias ao longo do tempo.

• Com a Emenda Constitucional nº 45/2004, tratados e convenções internacionais com o mesmo quórum
de votação das emendas constitucionais passaram a ser considerados normas constitucionais,
constituindo o chamado "bloco de constitucionalidade".
Concepções sobre a constituição
A doutrina ao longo do tempo tentou explicar o conceito e a natureza da Constituição. As concepções a
seguir merecem destaque. Confira!

Sentido sociológico Sentido sociológico

A Constituição corresponde à A Constituição é composta


somatória dos fatores reais de apenas pelas normas relativas
poder dentro da sociedade, as à decisão política fundamental
normas constitucionais são do Estado, havendo hierarquia
aquilo que se aplica de fato na entre Constituição e "Lei
vida social. Constitucional".
Concepções sobre a constituição

Sentido jurídico Sentido culturalista

A norma constitucional A Constituição é resultado de


corresponde ao "dever ser", um fato cultural e engloba
relacionada à estrutura formal elementos históricos, sociais,
do direito, distanciando-se de racionais, fatores reais e
aspectos sociológicos, espirituais presentes na
políticos e filosóficos. sociedade.
Concepções sobre a constituição
Confira os principais teóricos das concepções apresentadas. Veja!

Ferdinand Lassalle, inspirou o Sentido Carl Schmitt, inspirou o Sentido sociológico. Hans Kelsen, inspirou o Sentido jurídico.
sociológico.
Espécies de constituição
A doutrina classifica os tipos de Constituição de diversas maneiras, partindo sempre de critérios
específicos, a fim de categorizá-los. Vejamos!

• Espécies de Constituição segundo a origem: Outorgada, Promulgada, Cesarista, Pactuada.

• Espécies de Constituição segundo a alterabilidade: Rígida, Flexível, Transitoriamente flexível,


Semirrígida, Super-rígida, Fixa, Imutável.

• Espécies de Constituição segundo o conteúdo: Material, Formal.

• Espécies de Constituição segundo a extensão: Sintética, Analítica.

• Espécies de Constituição segundo a forma: Escrita, Costumeira.

• Espécies de Constituição segundo a maneira de criação: Dogmática, Histórica.


Espécies de constituição

• Espécies de Constituição segundo a sistemática: Reduzida, Variada.

• Espécies de Constituição segundo a dogmática: Ortodoxa, Eclética/Compromissória.

• Espécies de Constituição segundo a representação da realidade ou a conformidade da realidade:


Normativa, Nominalista, Semântica.

• Espécies de Constituição segundo o sistema: Principiológica, Preceitual.

• Espécies de Constituição segundo a função: Provisória, Definitiva.

• Espécies de Constituição segundo o início de sua promulgação: Heterônoma, Autônoma.


Espécies de constituição

Além dessas classificações, vale ainda destacar três nomenclaturas utilizadas pelos autores:

Constituição garantia Constituição balanço Constituição dirigente


/compromissória
Restringe o poder do Estado, Estabelece um degrau de Estabelece um projeto de
criando áreas de não inserção evolução ideológica da vida Estado, com programas e
do poder público na vida dos em sociedade. projetos, com a finalidade de
indivíduos. alcançar certos ideais
políticos. Aqui são elencadas
muitas das normas de eficácia
programática.
Supremacia da constituição

• Constituição brasileira é concebida sob o ponto de vista


formal, sendo norma jurídica constitucional toda aquela que
integre o texto constitucional, na forma definida.

• A estrutura jurídica da Constituição confere validade a todo o


sistema, subordinando legislação e atos normativos
infralegais ao seu teor.

• No ordenamento jurídico brasileiro, a rigidez da Constituição


exige um processo mais sofisticado e dificultoso para
modificar suas normas, caracterizando sua supremacia
Pirâmide representando a estrutura jurídica.
formal em relação a outras normas infraconstitucionais.
Teoria Geral da Constituição

Categorias de normas
2 constitucionais

Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as diversas


categorias de normas constitucionais.
Espécies de normas constitucionais
• Normas constitucionais não estão apenas no texto principal da Constituição, mas também em emendas
constitucionais (ECs), atos das disposições constitucionais transitórias (ADCT) e tratados/convenções
internacionais sobre direitos humanos.

• As ECs podem modificar o texto da Constituição e incluir artigos isolados que se tornam normas
constitucionais.

• Os artigos do ADCT são considerados normas constitucionais e possuem o mesmo nível hierárquico da
Constituição.

• Tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, aprovados pelo Congresso Nacional, têm
equivalência às emendas constitucionais.

• A reunião dessas normas é conhecida como "bloco de constitucionalidade", que serve como parâmetro
de constitucionalidade no ordenamento jurídico brasileiro.
Classificações das normas
As normas constitucionais podem ser classificadas a partir de diversos tipos, de acordo com o critério
adotado pelo doutrinador.

Aqui, especificamente, apresentaremos algumas classificações indicadas no livro Curso de Direito


constitucional contemporâneo, de Luís Roberto Barroso.

Classificação segundo a hierarquia

Normas constitucionais: No mais alto grau hierárquico do ordenamento jurídico.


Normas infraconstitucionais: Leis e atos normativos abaixo da Constituição e devem ser compatíveis
com ela.

Classificação segundo a imperatividade

Normas de ordem pública: Não podem ser afastadas por convenção das partes.
Normas de ordem privada: Podem ser afastadas por autonomia da vontade das partes.
Classificações das normas

Classificação segundo a natureza do comando

Normas preceptivas: Estabelecem uma obrigação ou ação positiva.


Normas proibitivas: Proíbem um comportamento ou ação.
Normas permissivas: Estabelecem faculdade ou direito a alguém.

Classificação segundo a estrutura do enunciado normativo

Normas de conduta: Regulam comportamentos, estabelecendo ações, proibições ou faculdades.


Normas de organização: Estabelecem a estrutura e organização, como a criação de órgãos e
atribuição de competências.
Eficácia e efetividade das normas

As normas constitucionais também são classificadas quanto à eficácia. Vejamos como José Afonso da Silva
(2012) as classifica. Confira!

Eficácia plena Eficácia contida Eficácia limitada

A regra constitucional possui A eficácia da norma inicia A eficácia da norma inicia


uma eficácia originária, que totalmente (plena), mas pode limitadamente, mas pode ser
independe de regulamentação ser contida, com o passar do ampliada com uma
e não pode ser restringida. tempo, pelo legislador regulamentação legal.
ordinário.
Eficácia e efetividade das normas
• Essas normas exigem a edição de um ato normativo para produzirem seus efeitos.

• A Constituição permite uma ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO) no STF, mas
somente os legítimos constitucionalmente podem propô-la.

• As normas constitucionais de eficácia limitada não produzem a totalidade dos seus efeitos enquanto
reguladas, elas possuem dois efeitos mínimos, descritos a seguir.

Efeito revogador Efeito inibidor

Com a edição da norma Não poderão ser editadas leis


constitucional de eficácia futuras retirando o Direito
limitada, ficam revogadas constitucional que foi
todas as normas anteriores e assegurado pela norma
contrárias ao seu texto. constitucional de eficácia
limitada, sob pena de
inconstitucionalidade.
Eficácia e efetividade das normas
Também é importante saber que, segundo a doutrina, a normatização da eficácia limitada se subdivide
nas normas descritas a seguir.

Normas definidoras de Normas definidoras de


princípios institutivos princípios programáticos
Criam estruturas, órgãos e Estabelecem programas
entidades, que, para existir, (ações) para o Estado,
dependem de lei (ex.: arts. 33, dependendo de lei para que
88, 91, § 2º). tenham aplicação prática. A
Constituição apenas traça
princípios que devem ser
cumpridos pelos seus órgãos
(arts. 3º, 7º, XX, XXVII, 173, §
4º, 196, 205, 216, § 3º, 217).
Teoria Geral da Constituição

Interpretação
3 constitucional e seus
princípios

Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir os critérios


de destaque da interpretação constitucional e seus princípios.
Interpretação jurídica e constitucional
• A interpretação jurídica é praticada no âmbito da hermenêutica e segue princípios e métodos
específicos.

• A compreensão das normas jurídicas não pode ser feita ao arbítrio de qualquer pessoa.

• No Direito constitucional, é necessário identificar princípios e métodos próprios de interpretação devido


à natureza das normas constitucionais.

• Inocêncio Mártires Coelho destaca a diferença entre Lei e Constituição, especialmente a estrutura
normativa-material das cartas políticas, que compreende os chamados direitos fundamentais.

• As normas constitucionais têm um texto mais aberto em comparação com as leis em geral, pois são a
base fundamental do ordenamento jurídico.

• A doutrina busca estabelecer diretrizes específicas para a interpretação das normas constitucionais,
além das diretrizes gerais do Direito.
Princípios e métodos de interpretação da Constituição

Vamos abordar os princípios e métodos usados ​na interpretação constitucional. Os princípios são diretrizes
que ajudam o interpretar a dar sentido às normas. Já os métodos podem ser entendidos como caminhos
utilizados para chegar a uma conclusão na interpretação.

A seguir veremos os princípios utilizados para interpretar a Constituição. Confira!

Princípios de interpretação constitucional

É guiada por princípios que o intérprete deve considerar ao atribuir significado à Constituição. Esses
princípios são compilados a seguir pela doutrina.
Princípios e métodos de interpretação da Constituição
Princípio da supremacia da Constituição

A Constituição possui supremacia hierárquica em relação a todas as outras normas, sendo o topo da
pirâmide normativa. O intérprete deve sempre levar em conta esse status hierárquico das normas
constitucionais ao atribuir significado às mesmas. A declaração de inconstitucionalidade de leis ou
atos normativos incompatíveis com a Constituição reforça essa supremacia. Portanto, ao interpretar
as normas constitucionais, o objetivo é garantir o sentido que assegura sua posição no topo da
autoridade normativa.

Princípio da interpretação conforme a Constituição

É um princípio que orienta a aplicação das normas infraconstitucionais de acordo com o texto
constitucional. O Supremo Tribunal Federal (STF) utiliza essa técnica compatível em seus julgados para
atribuir às leis e atos normativos o sentido com as normas da Constituição.
Princípios e métodos de interpretação da Constituição
Princípio da presunção de constitucionalidade das leis

Assume que todas as leis em vigor são consideradas constitucionais até que se prove o contrário. O
intérprete deve presumir que as leis são compatíveis com a Constituição que sejam impugnadas até
de meios apropriados, como a ADI. Embora exista essa presunção, o Poder Judiciário pode declarar a
inconstitucionalidade de leis, tornando-as nulas retroativamente (ex tunc). No entanto, é possível
modular os efeitos dessa decisão com base na Lei nº 9.868/99, permitindo efeitos prospectivos ou
retroativos em casos de inconstitucionalidade.

Princípio da unidade da Constituição

Destaca que a norma constitucional deve ser interpretada como um todo coeso e ordenado, sem
contradições. Em caso de conflito entre normas constitucionais, a técnica de ponderação deve ser
aplicada para encontrar a solução mais adequada, considerando a proporcionalidade e razoabilidade.
O intérprete deve buscar sempre a compatibilização dos preceitos do texto constitucional, não
analisando os artigos de forma educativa.
Princípios e métodos de interpretação da Constituição
Princípio da concordância prática ou harmonização

Busca harmonizar os bens constitucionais protegidos, evitando negar alguma garantia da


Constituição. Em conflitos entre direitos (exemplo: direito à vida e liberdade religiosa), o intérprete
deve buscar uma solução equilibrada e conciliatória no caso específico.

Princípio da força normativa

Orienta o interpretar a dar precedência à interpretação que torne as normas constitucionais


concretas e eficazes. Mesmo em casos com linguagem aberta, o intérprete deve resolver com base
nas normas constitucionais, atribuindo-lhes força normativa. Esse princípio está relacionado ao
conceito de neoconstitucionalismo, onde a Constituição é central no ordenamento jurídico e deve ser
conferida força normativa pelo intérprete ao analisar casos concretos. O objetivo é garantir a
atualidade e permanência da Constituição como fonte principal do direito.
Princípios e métodos de interpretação da Constituição

Princípio da máxima efetividade ou eficiência

Ligado também ao princípio da força normativa, estabelece a orientação ao intérprete de buscar


sempre extrair a maior aplicabilidade das normas constitucionais, sem modificação do seu teor. Nesse
sentido, entre as interpretações possíveis, deve o intérprete optar pela que confira máxima
efetividade na aplicação prática da norma constitucional.

Princípio do efeito integrador ou da eficácia integradora

Orienta o intérprete a escolher, entre possíveis interpretações, aquela que promova a integração
social e a unidade política, visando garantir uma coesão do sistema. Nesse sentido, deve o intérprete
considerar os contextos social e político para encontrar uma solução que seja adequada não apenas
do ponto de vista individual/subjetivo, mas também do ponto de vista mais amplo.
Princípios e métodos de interpretação da Constituição

Princípio da conformidade funcional ou da justeza

O princípio da estrita separação de poderes prevê que a interpretação deve preservar a estrutura
organizacional do Estado, respeitando as atribuições dos poderes protegidos constitucionalmente. Ele
orienta a evitar que se possa violar as competências de cada poder, de acordo com o princípio da
independência e harmonia entre os Poderes da União: Legislativo, Executivo e Judiciário.

Esse princípio está relacionado ao debate atual sobre "ativismo judicial" e levanta a questão do limite
de atuação do Poder Judiciário. O intérprete deve buscar a conformidade funcional e apenas em suas
tentativas, considerando a separação de poderes como base para a análise.
Princípios e métodos de interpretação da Constituição

Princípios da proporcionalidade e da razoabilidade

A proporcionalidade e razoabilidade são os princípios extraídos do devido processo legal (art. 5º, LIV)
e amplamente utilizados pelo STF e outros órgãos do Poder Judiciário. Eles têm origem no devido
processo legal material, que busca garantir decisões justas e adequadas.

Esses princípios são aplicados em três diretrizes:

Adequação: A medida deve ser coletivamente para alcançar o objetivo desejado.


Necessidade: A medida deve ser a menos restritiva possível.
Proporcionalidade em sentido estrito: Os benefícios da medida devem ser maiores que seus custos.

A ideia é que a proporcionalidade e razoabilidade levem a decisões mais justas em casos concretos,
especialmente quando se trata de políticas públicas, onde o administrador deve optar pelo meio
menos gravoso quando vários forem igualmente eficientes.
Métodos de interpretação constitucional
Além dos princípios, a interpretação constitucional também se vale de métodos específicos para chegar à
conclusão nos casos concretos.

• Método Jurídico ou Hermenêutico Clássico: Utiliza técnicas tradicionais de interpretação, como o


método lógico, histórico e teleológico.

• Método Tópico-Problemático: Parte dos problemas apresentados no caso concreto, busca no diálogo e
encontra a solução mais adequada.

• Método Hermenêutico-Concretizador: Parte da Constituição para o caso concreto, limitando a


liberdade do intérprete pela norma e escolhendo a opção mais adequada.
Métodos de interpretação constitucional

• Método Científico-Espiritual: Leva em conta o contexto científico e espiritual da sociedade no momento


da interpretação.

• Método Normativo-Estruturante: Considera a estrutura da norma para sua aplicação prática.

• Método de Comparação Constitucional: Comparação de ordenamentos jurídicos constitucionais de


diferentes países.

• Mutação Constitucional: Procedimento informal de mudança do sentido de disposições da Constituição,


evoluindo com a dinâmica social e mudanças de interpretação. Exemplo: interpretação do art. 226, § 3º,
da Constituição que permite a união homoafetiva.
Poder constituinte e princípios
fundamentais da constituição

Poder Constituinte
1 Originário e Poder
Constituinte Derivado

Ao final deste módulo, você será capaz de descrever as


caraterísticas do Poder Constituinte Originário e do Poder
Constituinte Derivado.
Conceito de poder constituinte
O Poder Constituinte é o poder de criar ou de mudar uma Constituição. Anterior a qualquer
regulamentação jurídica, é conhecido por ser a autoridade suprema de um ordenamento jurídico.

De acordo com a doutrina, o poder constituinte é dividido em:

Estrutura do poder constituinte.


Poder constituinte originário – conceito e características
O Poder Constituinte Originário é um poder político supremo responsável por estabelecer a Constituição de
um Estado. Inova na ordem jurídica com um diploma supremo: a Constituição.

De acordo com a doutrina, o Poder Constituinte Originário manifesta-se por meio de:

Deliberação Manifestação Elaboração

O “nascimento” da Quando há a primeira Quando definem o conteúdo


Constituição é o resultado da manifestação do poder da Constituição (Poder
deliberação formal de um constituinte em uma Constituinte Material), e logo
grupo (Poder Constituinte Constituição (Poder em seguida a concretizam
Concentrado) ou por meio de Constituinte Histórico) ou (Poder Constituinte Formal).
um processo informal, como o quando ela é fruto de uma
modo de vida da sociedade de revolução (Poder Constituinte
um país (Poder Constituinte Revolucionário).
Difuso).
Poder constituinte originário – conceito e características
A natureza jurídica do Poder Constituinte Originário enfrenta duas correntes que analisam a sua relação
precedente ou posterior à existência do Estado:

Concepção jusnaturalista Concepção juspositivista


O Poder Constituinte Originário é Defende que não há como existir a
considerado uma autonomia de possibilidade de se pensar o direito
direito, com base em uma antes de uma preexistência do
fundamentação no Direito Natural. Estado. Portanto, o Poder
Este último é caracterizado por Constituinte é tido como poder
princípios morais e éticos que político. Importante destacar que
derivam da natureza humana e esse é o pensamento que
ideais de justiça, como direito à predomina.
vida, liberdade e igualdade. O
Poder Constituinte é anterior ao
Estado e tem a função de organizá-
lo através da Constituição.
Poder constituinte originário – conceito e características
• A titularidade do Poder Constituinte é do povo. O povo tem o poder de elaborar os contornos
normativos de um Estado.

• A legitimidade do Poder Constituinte é dividida do ponto de vista:

Subjetivo Objetivo

Relaciona-se à titularidade Relaciona-se ao equilíbrio


(povo) e ao exercício do poder entre o conteúdo da
(Assembleia Nacional Constituição e os anseios dos
Constituinte). seus titulares.
Poder constituinte originário – conceito e características

Acerca do exercício do Poder Constituinte, é importante destacar as formas como ele poderá ser expresso.
Existem duas possibilidades:

Democrático indireto Autocrático


O povo escolhe representantes A Constituição é estabelecida por
para elaborar a nova Constituição. um indivíduo ou grupo sem
participação popular.
Poder constituinte originário – conceito e características

A doutrina elenca como características do Poder Constituinte Originário:

Inicial

Inaugura a ordem jurídica, sendo a base da construção da ordem.

Ilimitado

Não há limitação por ordem jurídica anterior.


Poder constituinte originário – conceito e características

Incondicionado

Não se submeta a procedimentos formais.

Autônomo

Não se submeta a procedimentos formais.

Permanente

Não se esgota na Constituição e pode ser exercido novamente em novas condições políticas.
Poder constituinte originário – conceito e características

De acordo com Jorge Miranda (2000), existem limitações materiais fora do direito positivo interno, sendo
elas:

Transcendentes Imanentes Heterônomos


Valores da sociedade se Limitações referentes à Provenientes de outros
impõem à vontade do soberania ou à forma do ordenamentos jurídicos,
Estado (princípio da Estado. como as obrigações
proibição do retrocesso). estabelecidas por meio de
tratados internacionais.
Poder constituinte originário – conceito e características
• Existem debates sobre o respeito a normas precedentes pelo Poder Constituinte Originário, como o
princípio da vedação ao retrocesso.

• Em relação ao direito adquirido, algumas correntes entendem que não há direitos adquiridos em uma
nova Constituição, mas a Constituição de 1988 assegura o direito adquirido como direito fundamental.

• O Poder Constituinte Supranacional é uma questão discutida que envolve restrições impostas por
organismos internacionais.
Poder constituinte derivado – conceito e limitações
• Poder Constituinte Originário é responsável por criar outros poderes limitados, também chamados de
poderes constituídos.

• Poder Constituinte Derivado é um poder de direito com características que limitam e condicionam sua
atuação.

• O Poder Constituinte Derivado se divide em três espécies:

Reformador Revisor Decorrente

Tem o poder de alterar Revisão da Constituição Poder originário dos Estados


formalmente a Constituição, depois de 5 anos de sua membros de produzirem suas
por meio de emendas, para promulgação, conforme o Art. próprias Constituições.
atualizar o seu sentido e as 3º do Ato das Disposições
suas disposições a novas Constitucionais Transitórias
vivências da sociedade. (ADCT). Já passou e não existe
mais na atualidade.
Poder constituinte derivado – conceito e limitações

Poder Constituinte Derivado Reformador


• Poder Constituinte Derivado Reformador (PCR) altera a Constituição por meio de emendas
constitucionais.

• A Constituição de 1988 é rígida, requisitos formulados mais robustos para a aprovação de emendas.

• O PCR possui explicitamente:

Formais Materiais Circunstanciais


Procedimento legislativo Impedem a alteração em Impedem a alteração em
formal e quesitos bem certos assuntos (cláusulas situações específicas
definidos para aprovação pétreas). (vigência de intervenção
das emendas. federal, estado de defesa
ou estado de sítio).
Poder constituinte derivado – conceito e limitações

Poder Constituinte Derivado Reformador


• Não há limites temporais na Constituição de 1988.

• Existem também restrições implícitas decorrentes da interpretação sistemática constitucional, como a


titularidade do Poder Constituinte e a preservação do mínimo existencial, mesmo que não
expressamente mencionadas como cláusula pétrea.
Poder constituinte derivado – conceito e limitações
Poder Constituinte Derivado Revisor
• Poder Constituinte Derivado Revisor (PCR) refere-se à revisão do texto constitucional.

• O PCR foi instituído pelo Art. 3º do ADCT, podendo ser exercido uma única vez, cinco anos após a
promulgação do Texto Constitucional.

• A revisão requer o voto da maioria absoluta do Congresso Nacional em sessão unicameral.

• O PCR possui delimitação:

Limitação temporal Limitação formal Limitação material e circunstancial


A revisão só pode ocorrer O procedimento de revisão Os materiais delimitados e
uma vez, após cinco anos é menos rígido que o de circunstanciais do Poder
da promulgação da reforma, aprovado pela Reformador também se
Constituição. maioria absoluta do aplicam ao PCR.
Congresso Nacional em
sessão unicameral.
Poder constituinte derivado – conceito e limitações
Poder Constituinte Derivado Decorrente
• Poder Constituinte Derivado Decorrente (PCD) é um poder de direito dos Estados-membros para criar
suas próprias Constituições.

• Os Estados têm autonomia para se organizar, mas devem obedecer à Constituição Federal de 1988.

• Existem três correntes sobre a natureza do PCD: inicial e inaugural nos Estados, decorrência do Poder
Originário, ou ligada à capacidade de auto-organização.
Poder constituinte derivado – conceito e limitações
Poder Constituinte Derivado Decorrente
• O PCD está dividido nos seguintes princípios:

Constitucionais sensíveis Constitucionais extensíveis Constitucionais garantidos


Que justificam a ADI- Normas de organização da Regras expressas no texto
Interventiva. federação que se aplicam constitucional que incidem
aos estados. sobre a autonomia estadual.

• O Distrito Federal tem Poder Constituinte Decorrente, mas os municípios não possuem, pois estão
condicionados à Constituição Estadual e à Constituição Federal.

• Territórios federais não têm Poder Constituinte Decorrente, pois são autarquias da União.
Direito constitucional intertemporal
• A nova Constituição, como resultado do Poder Constituinte Originário, possui superioridade hierárquica
e todos os outros atos jurídicos devem ser compatíveis com ela.

• O Direito Constitucional Intertemporal estuda os efeitos das normas constitucionais novas em relação ao
ordenamento jurídico precedente.

• A edição de uma nova Constituição acarreta a revogação total da Constituição anterior.

• A teoria da recepção admite que as normas infraconstitucionais anteriores que sejam compatíveis com a
nova Constituição serão recepcionadas e aplicadas.

• Normas incompatíveis com a nova Constituição não são recepcionadas e não geraram crise de
constitucionalidade.

• A mudança constitucional é um procedimento informal de mudança do sentido de provisões da


Constituição sem alteração do texto, adquirida de interpretações evolutivas e dinâmicas da norma.

• A mutação constitucional está limitada pelo texto constitucional e não pode extrapolar o seu sentido
original.
Poder constituinte e princípios
fundamentais da constituição

Princípios Fundamentais
2 da Constituição

Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os


Princípios Fundamentais da Constituição, suas aplicabilidades e
diferenças.
Princípios estruturantes
• Os princípios estruturantes são normas que indicam as diretrizes básicas da ordem constitucional
brasileira.

• Os princípios estruturantes, de acordo com o Art. 1º da CF/88, são:

Princípio republicano Princípio federativo Princípio do Estado


democrático de direito
Transfere o poder para o povo, Estabelece um governo Garante a coexistência da
representado por governantes central e regional, com a democracia com o respeito
temporários e responsáveis ​ população tendo esferas de aos direitos fundamentais e
perante a sociedade. poder em seu território. ao Estado de Direito.
Fundamentos da república federativa do Brasil

• Os fundamentos da República Federativa do Brasil são considerados valores essenciais que compõem a
estrutura do país. Eles atuam de forma direta, como quando fundamentados em um caso concreto, e de
forma indireta, como um guia de diretrizes para outras normas, sendo eles:

Soberania

Descrito no art. 1º, I, da Constituição Federal de 1988, inicialmente refere-se ao poder do governante
em relação ao povo (âmbito interno). Com o tempo, o conceito de soberania ampliou-se, dividindo-se
em supremo (ilimitado dentro do Estado) e independente (independência em relação a outros
países). Pode ser subdividido em soberania externa (independência internacional) e soberania interna
(supremacia no território). Além disso, há uma nova visão do princípio relacionado ao
constitucionalismo globalizado e ao Poder Constituinte Supranacional.
Fundamentos da república federativa do Brasil

Cidadania
Descrito no Art. 1º, II, da Constituição Federal de 1988, está relacionado à participação política dos
cidadãos no país. Abrange os direitos políticos, como a capacidade eleitoral ativa e passiva, bem como
outros direitos e deveres fundamentais. Envolvem diversas formas de participação política, como
plebiscitos e referendos.

Dignidade da pessoa humana


Descrito no Art. 1º, III, da Constituição Federal de 1988, é um valor supremo e diretriz para todas as
normas do ordenamento jurídico. Surgiu como resposta aos eventos cruéis do fascismo e nazismo na
Segunda Guerra Mundial, levantando o debate sobre a proteção de todas as pessoas,
independentemente de características pessoais. Possui uma tripla dimensão normativa: como
metanorma, orienta a interpretação e criação de outras normas; como princípio, impõe ao Poder
Público garantir os meios para uma vida digna; e como regra, impõe tanto ao Poder Público quanto
aos particulares o dever de evitar ações que atentem contra a dignidade da pessoa humana.
Fundamentos da república federativa do Brasil

Valores sociais e da livre iniciativa


Descrito no Art. 1º, IV, da Constituição Federal de 1988 reconhece os valores sociais do trabalho e a
livre iniciativa como fundamentos da República Federativa do Brasil. Esses princípios têm significados
distintos:

Os valores sociais do trabalho enfatizam a importância do trabalho humano para a promoção da


dignidade da pessoa humana, garantindo privilégios biológicos indevidos e protegendo as relações
trabalhistas contra exploração e trabalho forçado.

A livre iniciativa é baseada no ideal do liberalismo econômico e respeita a liberdade de empresa e


contrato. Contudo, deve equilibrar-se com os valores sociais do trabalho para assegurar uma
existência digna do trabalhador, considerando o local de trabalho, a remuneração e o horário laboral.

Esses princípios são fundamentais na Ordem Econômica do Brasil, garantindo o livre exercício de
atividades físicas, desde que respeitem os direitos dos trabalhadores e a proteção dos valores do
trabalho, afastando o modelo de estado absenteísta do liberalismo.
Fundamentos da república federativa do Brasil
Pluralismo político
• O pluralismo político não se restringe apenas aos direitos políticos,
mas abrange a diversidade e a liberdade na sociedade brasileira. Se
baseia no respeito à pessoa humana e sua liberdade.

• A Constituição Federal de 1988 reconhece o pluralismo em várias


áreas, como partidos políticos, religiosos, econômicos, culturais e
instituições de ensino.

• O pluralismo é fundamental na herança da pessoa humana,


garantindo a construção de identidades próprias e vedando a
exclusão e intolerância.

• Em casos concretos, o pluralismo pode ser ponderado com outros


princípios caso haja conflito de normas. O pluralismo político possui
um sentido amplo, incluindo o pluralismo econômico, político-
partidário e ideológico.
Princípio da separação dos poderes
• O princípio da separação dos poderes, descrito no Art. 2º da
Constituição Federal de 1988, estabelece um sistema de freios e
contrapesos para evitar abusos de poder.

• Montesquieu e John Locke influenciaram essa ideia, que se baseia


na divisão das funções estatais entre os poderes para evitar abusos.

• A Constituição Brasileira de 1988 consagra a separação dos poderes


e protege esse princípio como cláusula pétrea.

• O Brasil adota o modelo de três poderes: Legislativo, Executivo e


Judiciário.

• Cada poder possui funções típicas e atípicas, e há controle mútuo Montesquieu – Criador da teoria
de separação dos poderes.
entre eles para evitar excessos.
Objetivos fundamentais
• Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, conforme o Art. 3º da Constituição Federal de
1988:

Objetivo 1 Objetivo 2

Construir uma sociedade livre, Garantir o desenvolvimento


justa e solidária. nacional.

Objetivo 3 Objetivo 4

Erradicar a pobreza e a Promova o bem de todos, sem


marginalização. preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de
identificação.
Objetivos fundamentais
• O Estado pode adotar políticas afirmativas para alcançar a igualdade social e o equilíbrio social.

• Deve ter programas governamentais relacionados à indústria privada e empregos para garantir o
desenvolvimento nacional.

• O acesso da população a condições mínimas e dignas para a subsistência humana é essencial para
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.
Princípios regentes das relações internacionais

• Princípios que regem as relações internacionais do Brasil, conforme o Art. 4º da Constituição Federal
de 1988:

Independência nacional

Destaca a soberania do Brasil nas relações exteriores.

Prevalência dos direitos humanos

Defende a dignidade da pessoa humana e a promoção dos direitos humanos nas relações
internacionais.
Princípios regentes das relações internacionais

Autodeterminação dos povos

Respeita a autonomia política e cultural de outras nações.

Não intervenção

Impõe que o Brasil se abstenha de interferir nos assuntos de outros países.

Igualdade entre os estados

Busca tratamento jurídico igualitário para todas as nações.


Princípios regentes das relações internacionais

Defesa da paz

Promove a convivência do Brasil com outras nações.

Solução de conflitos

Incentiva a resolução de contendas externas sem o uso de conflitos armados.

Repúdio ao terrorismo e ao racismo

Reforça a posição militante do Brasil na defesa dos direitos humanos.


Princípios regentes das relações internacionais

Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade

Visa ao desenvolvimento mútuo e ao progresso da humanidade.

Concessão de asilo político

Implica na proteção a pessoas perseguidas por motivos políticos em outros países.


Direitos fundamentais

Direitos fundamentais:
1 conceito e classificações

Ao final deste módulo, você será capaz de compreender o


conceito de direito fundamental e as suas classificações.
Breve histórico dos direitos fundamentais

• Reconhecimento de direitos pontuais ao longo da história, como o decreto de


Ciro II permitindo o retorno dos povos exilados e a restrição de penas corporais
no Império Romano.

• Marco moderno na Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia (1776) e a


Constituição dos Estados Unidos, com emendas garantidas de direitos
fundamentais.

• Importância da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) na luta


contra o absolutismo, e a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948)
da ONU, reconhecendo direitos como dignidade humana e liberdade. Ciro II e os hebreus.
Breve histórico dos direitos fundamentais
• A partir desse processo histórico, podemos falar em três gerações de direitos fundamentais que surgiram ao
longo do tempo:

Primeira geração Segunda geração Terceira geração

Direitos individuais e Direitos que favoreceram a Direitos difusos, associados à


liberdades perante os abusos ação do Estado, buscando solidariedade e fraternidade,
do Estado. direitos sociais e coletivos. como o direito ao meio
ambiente equilibrado.

• Discussões sobre uma possível quarta geração de direitos fundamentais relacionados ao desenvolvimento
tecnológico e biológico.

• A consolidação dos direitos fundamentais é fruto de um longo processo histórico, acentuado após a
Segunda Guerra Mundial, buscando proteger os seres humanos de abusos e autoritarismos.
Conceito de direitos fundamentais
• A Constituição de um Estado democrático, como o Brasil, tem a função de proteger os direitos
fundamentais, o que é refletido em sua topografia, com o catálogo de direitos no início do texto
constitucional.

• Os direitos fundamentais são respeitados cláusulas pétreas, que não podem ser suprimidos nem por
emenda constitucional.

• Vejamos as diferenças entre os conceitos de direitos fundamentais. Confira!

Direitos humanos Direitos fundamentais

Tratados no âmbito do direito Tratados de maneira diferente por


internacional, respeitam a todos os cada Estado, de acordo com suas
seres humanos, independentemente próprias Constituições, e nem
de características específicas de cada sempre correspondem ao rol de
país. direitos humanos.
Conceito de direitos fundamentais
• José Afonso da Silva prefere a expressão "direitos fundamentais do homem", referindo-se a situações
jurídicas essenciais para a realização e sobrevivência da pessoa humana.

• Diferença entre direitos e garantias fundamentais:

Direitos fundamentais Garantias fundamentais

Enunciados que estabelecem Instrumentos previstos na


o conteúdo de um direito (ex.: Constituição para a defesa e
direito à vida, liberdade proteção dos direitos
religiosa). fundamentais (ex.: habeas
corpus para proteger o direito
à liberdade de locomoção).
Características dos direitos fundamentais
Vejamos a seguir as principais características dos direitos fundamentais apontadas pela doutrina:

Universalidade

São para todas as pessoas, independentemente de características específicas, como nacionalidade ou


etnia.

Relatividade

Não são absolutos e podem sofrer restrições, especialmente em casos de colisão com outros direitos.

Historicidade

Foram conquistados ao longo da história e sua interpretação pode ser influenciada pelas mudanças
sociais.
Características dos direitos fundamentais

Inalienabilidade

Não têm conteúdo econômico e não podem ser negociados ou transferidos.

Imprescritibilidade

Não se extinguem pelo decurso do tempo e não têm prazo para serem exercidos.

Irrenunciabilidade

Embora não possam ser exercidos, os direitos fundamentais não podem ser renunciados.
Características dos direitos fundamentais

Aplicabilidade imediata

Conforme normas definidas dos direitos fundamentais têm aplicação imediata, não necessitando de
regulamentação para surtirem efeitos.

Não exaustividade ou atipicidade

Não se limitam ao catálogo previsto na Constituição e podem ser encontrados em tratados


internacionais ou na sequência dos princípios adotados na Constituição.
Classificações
Existem inúmeras classificações que variam conforme o autor e o critério adotado. Uma delas, por exemplo,
divide os direitos fundamentais de acordo com o conteúdo:

Direitos fundamentais Direitos fundamentais Direitos fundamentais


do homem-indivíduo do homem-nacional do homem-cidadão
Englobam a liberdade, Definem a nacionalidade. Referem-se aos direitos
igualdade e propriedade, políticos, como o direito de
reconhecendo autonomia votar e ser votado.
aos particulares.
Classificações

Direitos fundamentais Direitos fundamentais Direitos fundamentais


do homem-social do homem membro de da terceira geração ou
uma coletividade do homem-solidário
Asseguram direitos nas
relações sociais e culturais, Abrangem direitos Incluem direitos mais
como o direito à saúde e coletivos, como o direito de recentes, como o direito ao
educação. petição e de greve. meio ambiente, à paz e ao
desenvolvimento.

• Com base no texto da Constituição Federal de 1988 há outras classificações, como: Engloba direitos
individuais, direitos à nacionalidade, direitos políticos, direitos sociais, direitos coletivos e direitos
solidários. Além disso, também existem os direitos projetados na Ordem Econômica e Financeira da
Constituição.
Eficácias dos direitos fundamentais
• Aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais gera
questionamentos sobre sua eficácia.

• Tradicionalmente, os direitos fundamentais aplicavam-se na relação


entre indivíduo e Estado (eficácia vertical).

• Surgiu a ideia de eficácia horizontal, aplicando direitos fundamentais


em relações privadas.

• A teoria da influência indireta defende que o legislador deve aplicar


direitos fundamentais nas relações privadas.

• A teoria da força direta defende que os juízes devem aplicar


diretamente direitos fundamentais em causas privadas.

• As cláusulas gerais de direito privado podem ser usadas para


concretizar e promover direitos fundamentais.
Direitos fundamentais

Direitos fundamentais
2 na Constituição

Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o


tratamento dado pela Constituição Federal aos direitos
fundamentais.
Direitos individuais e coletivos consagrados na Constituição

Vejamos a seguir os direitos individuais e coletivos estabelecidos pela CF de 1988.

• Direitos individuais reconhecem autonomia aos particulares e garantem


independência perante o Estado e a sociedade.

• Direito de propriedade tem limites definidos pela função social e requisitos


para propriedade rural.

• Liberdade de expressão é essencial para a democracia, permitindo


pluralidade de ideias e debate público.
Direitos individuais e coletivos consagrados na Constituição

• A liberdade religiosa inclui o direito de professar uma religião ou nenhuma,


e proteger o proselitismo religioso.

• Sacrifício de animais em ritos religiosos é amparado pela liberdade religiosa


e proteção cultural.

• Liberdade de reunião garantida o direito de se reunir pacificamente para


manifestações políticas ou sociais.
Direitos sociais
• Direitos sociais são prestações positivas do Estado para conceder melhores condições de vida aos
indivíduos.

• Na segunda geração de direitos fundamentais, o Estado deve atuar para proteger e concretizar os
direitos.

• O artigo 6º da Constituição lista os direitos sociais, como educação, saúde, trabalho, moradia, entre
outros.

• O direito à saúde é um tema polêmico, e o STF estabelece parâmetros para a interferência judicial.

• O direito à alimentação e à moradia são fundamentais para uma vida digna e têm sido vistos em
programas sociais.

• O artigo 7º da Constituição prevê direitos sociais aos trabalhadores, como irredutibilidade do salário e
décimo terceiro salário.
Garantias constitucionais e possibilidades
de sua limitação

O Direito fundamental à
1 liberdade

Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o direito


fundamental à liberdade de ir e vir e a possibilidade de sua
legítima limitação em casos de pandemia.
O Estado democrático de direito
• A democracia é um regime político previsto na Constituição Federal de 1988, caracterizado pela
participação popular e fiscalização dos atos dos gestores públicos.

• No Estado Democrático de Direito, o princípio da vinculação à lei é fundamental, assegurando a


participação democrática e a justiça social.

• A participação popular é essencial para a legalidade dos atos do Estado.

• A democracia é um regime em constante transformação, baseado na liberdade de participação dos


cidadãos e no respeito à conquista humana.

• A dignidade humana é central no ordenamento constitucional e garante o mínimo existencial para todos
os indivíduos.

• A liberdade e a igualdade são fundamentais para a dignidade humana e devem ser interpretadas como
critérios primordiais na Constituição.
Liberdade de ir e vir
• O valor da liberdade é central na dimensão da consciência e da crença
individual, incluindo a liberdade de expressão e a autodeterminação do
indivíduo.

• Os direitos de liberdade decorrem do princípio de igual respeito e


consideração, garantindo liberdades iguais para todos os cidadãos.

• O exercício da liberdade não é absoluto e deve ser responsável,


respeitando os princípios do devido processo legal.

• A privação da liberdade é excepcional e só é permitida mediante


processo judicial justo e participativo.

• Os direitos fundamentais são constitucionalizados, garantindo a pensão


moral do regime democrático.

• Os direitos fundamentais são valores superiores da ordem


constitucional e jurídica, assegurando uma sociedade mais livre e igual,
com base na preservação da vida e da salvaguarda humana.
Restrição da liberdade de ir e vir em tempos de pandemia

• A liberdade assegurada humanamente e a autodeterminação individual.

• O Estado não pode intervir arbitrariamente na liberdade de escolha,


exceto em casos de interesse coletivo ou proteção de outros direitos.

• A privação da liberdade só é possível mediante o devido processo legal


e a presunção de inocência.

• A liberdade é um aperfeiçoamento da igualdade no exercício dos


demais direitos fundamentais.

• Em tempos de pandemia, o Estado pode limitar excepcionalmente o


direito de liberdade de locomoção para proteger a saúde pública.
Garantias constitucionais e possibilidades
de sua limitação

Limitações do Direito
2 fundamental da
Liberdade de expressão

Ao final deste módulo, você será capaz de identificar possíveis


limitações ao direito fundamental à liberdade de expressão.
Direito fundamental à liberdade de expressão

• A liberdade é um direito conquistado ao longo da história e


está relacionado à autodeterminação e conquista humana.

• A Constituição Federal assegura a liberdade em diversos


pontos, incluindo a liberdade de associação e de expressão.

• A liberdade de pensamento é um dos pilares da democracia


e permite a comunicação de ideias e opiniões.

• A censura prévia é antidemocrática e limita a liberdade de


expressão.

Protesto contra a censura.


Direito fundamental à liberdade de expressão

• A liberdade de expressão deve ser exercida de forma


legítima, respeitando os direitos fundamentais de outros
indivíduos.

• O discurso de ódio não é protegido pela liberdade de


expressão e tem consequências jurídicas.

• A liberdade individual permite o pleno desenvolvimento do


potencial de cada indivíduo e influência nas decisões
coletivas.

• A liberdade de expressão é um ato democrático e contribui


para a participação da sociedade na elaboração e aplicação
das leis. Liberdade de expressão não inclui discurso
de ódio.
Liberdade de expressão e participação popular

• Exercício democrático do direito à liberdade de expressão através do


direito de participação popular e soberania popular.

• Coletividade como parte integrante na prática e fiscalização dos atos


praticados por agentes públicos.

• Princípios da publicidade e impessoalidade autorizando o direito dos


destinatários serem coautores e participarem diretamente no controle
da legalidade dos atos.

• Processo legislativo no Estado Democrático de Direito permite que


população e sociedade civil sejam autoras de propostas legislativas
através da iniciativa popular.
População indígena no planalto.
Liberdade de expressão e participação popular

• Disposições constitucionais relacionadas à iniciativa popular no processo


legislativo nacional, estadual e municipal.

• Direito dos destinatários finais dos provimentos jurisdicionais serem


coautores, especialmente em processos coletivos que afetam toda a
coletividade.

• Direito à liberdade de expressão no âmbito do Poder Executivo permite


aos cidadãos fiscalizarem a legalidade e moralidade administrativa dos
atos praticados pelos gestores públicos, como no caso de processos
licitatórios.
Liberdade de expressão e o direito à igualdade e à diferença
• O direito fundamental à liberdade de expressão no Estado
Democrático requer a análise do direito à igualdade e à
diferença na sociedade plural e diversa.

• A proteção democrática deve abranger todos os cidadãos,


sem demonstrar com base em diferenças.

• O respeito à diversidade é corolário do direito à igualdade e


não é juridicamente viável usar a norma jurídica para
discriminar com base no direito à diferença.

• O reconhecimento da diversidade é essencial para garantir a


humana liberdade de expressão.

• As ciências médicas e jurídicas têm sido utilizadas para


Multiculturalismo.
segregar pessoas que fogem aos padrões homogêneos de
impostos pela sociedade.
Liberdade de expressão e o direito à igualdade e à diferença
• A legislação elenca dois tipos de igualdade. Vejamos quais são elas!

Igualdade formal Igualdade material

A igualdade formal é a que garante Leva em consideração as


idêntico tratamento a todos diferenças, de modo a possibilitar o
perante a lei. tratamento desigual àqueles que
estão em situações desiguais.

• A dignidade humana é fundamento da República Federativa do Brasil, e a proteção integral da pessoa


humana exige o respeito à diferença e o reconhecimento do outro como igual nos direitos civis.
Liberdade de expressão e o direito à igualdade e à diferença
• O direito à diferença é uma luta pelo reconhecimento das minorias sociais e é essencial para equilibrar as
relações humanas e desconstruir as estruturas de dominação.

• Na visão de Farias (2015), a tutela do direito à diferença ocorre em três eixos:

Eixo repressivo Eixo preventivo Eixo inclusivo

Defende que o Direito Penal Atua por meio de políticas Consiste em ações afirmativas
pode proteger as identidades públicas voltadas para a do poder público ou privado
individuais e grupais e defesa dos direitos humanos para eliminar desigualdades
promover a cidadania. Um — como a educação, por históricas, como cotas raciais
exemplo disso é a Lei exemplo —, partindo do e políticas para minorias
7.716/1989, que trata dos pressuposto de que é (LGBTQI+). Respeitar a
crimes de preconceito por fundamental auxiliar as diferença é garantir liberdade
raça, cor, etnia, credo ou pessoas a reconhecerem o de expressão e autonomia
nacionalidade. que é dignidade e a exercerem sem compreender.
a cidadania.
Liberdade de expressão e discursos violentos

Compromissos assumidos pelo Estado Democrático de Direito:

• Proteção dos direitos humanos.

• Repressão do discurso de ódio contra minorias.

• Regulamentação dos limites constitucionais da liberdade de expressão.

• Efetividade do princípio da não discriminação.

• Repúdio a tornar invisível o direito à diferença.

Manifestação contra o racismo.


Liberdade de expressão e discursos violentos

• A liberdade de expressão não é um direito ilimitado, encontra limites


em outros valores e na segurança da comunidade política.

• Preconceito e ódio não podem ser considerados exercícios da liberdade


individual; pensar a liberdade de expressão na democracia implica
observância dos direitos fundamentais.

• O discurso de ódio pode afetar a identidade humana, causando danos


físicos e psicológicos, e subjugando minorias à marginalização social.

• O Brasil apresenta dados alarmantes sobre violência contra minorias,


como mulheres, negros e LGBTQI+.
Manifestação contra a homofobia.
Possibilidades de limitação ao direito de liberdade de
expressão
• Ser livre inclui poder expressar indivíduos, crenças, valores e concepções de mundo, mas essa liberdade
não é absoluta.

• O Estado tem o direito de regular o exercício da liberdade de expressão para proteger os direitos de
outros indivíduos.

• A democracia vai além da forma de Estado e de governo, implicando a participação do povo, conferindo
legitimidade à ação do Estado.

• O ordenamento jurídico brasileiro proíbe o discurso de ódio contra minorias sociais, com punições nas
esferas cívicas e criminais.

• A liberdade de expressão não é um direito absoluto, e há limites constitucionais para proteger outros
direitos fundamentais.

• Todo cidadão tem o direito de se expressar, mas é importante respeitar os limites para preservar os
direitos fundamentais de todos.
Garantias constitucionais e possibilidades
de sua limitação

Limitações às garantias
3 constitucionais

Ao final deste módulo, você será capaz de descrever as


limitações às garantias constitucionais do processo.
O processo constitucional democrático
• O direito constitucional permite a aquisição da condição de
cidadãos através da proteção dos direitos fundamentais e
princípios constitucionais.

• A hermenêutica constitucional, o controle de


constitucionalidade e aplicabilidade dos direitos fundamentais
são importantes para fiscalizar os atos estatais.

• A Constituição é o parâmetro para interpretar as normas


jurídicas e limitar os excessos do Estado e do julgador.

• A soberania popular e o processo constitucional possibilitam a


participação do povo no controle dos atos estatais.

• A constitucionalização do processo permite o debate de


Promulgação da Constituição em 1988.
questões controversas e assegura a legitimidade democrática
das decisões finais.
O processo constitucional democrático

• A efetivação dos direitos expressos na Constituição pode ser


solicitada, e as ações constitucionais são essenciais para exercer
esses direitos.

• O processo constitucional é o "lugar" de discursividade


isonômica e isomênica dos direitos fundamentais, garantindo o
exercício da cidadania.

• O Judiciário, por meio das ações constitucionais, garante a


eficácia e o exercício dos direitos fundamentais.

• O modelo de processo constitucional democrático supera o


entendimento clássico do processo como relação
hierarquicamente superior entre juiz, autor e réu.
Escola paulista de processo
• A Escola Paulista de Processo, ou Escola Instrumentalista, considera
o processo como um instrumento para o exercício da jurisdição,
permitindo ao juiz proferir decisões unilaterais e autocráticas.

• No processo constitucional democrático, as partes diretamente


atendidas têm o direito de participar da construção da decisão
judicial.

• A superação do instrumentalismo processual é necessária para


garantir a segurança jurídica através da fundamentação racional
das decisões.

• Para a Escola Instrumentalista, a jurisdição é um poder pessoal do


magistrado, com fins valorativos como sociais, políticos,
psicológicos e morais.
Escola paulista de processo
• A jurisdição autocrática legítima o protagonismo e a
discricionariedade judicial, permitindo ao juiz utilizar seus poderes
pessoais como fundamentos das decisões.

• No processo constitucional democrático, a jurisdição é vista como


um direito fundamental, e as partes podem ser coautoras do
conteúdo decisório.

• O princípio do amplo acesso à justiça garante a todos os cidadãos o


direito de levar suas pretensões ao Judiciário para obter uma
decisão fundamentada racionalmente.
Movimento sindical participando da sessão
• A desconstrução do protagonismo judicial visa privilegiar a deliberativa ordinária.
proteção dos direitos fundamentais e humanos, fundamentando as
decisões em racionalidade crítica e constitucional.
Princípios regentes do modelo de processo e jurisdição
constitucional democrático
Com base nas proposições críticas do modelo de processo e jurisdição autocráticos defendidos pela Escola
Instrumentalista, e apresentando como contraponto argumentativo estudos sistematizados no âmbito do
processo constitucional democrático e da jurisdição como direito fundamental, vamos iniciar o exame dos
princípios regentes do modelo de processo e jurisdição constitucional democrático:

Contraditório

Garante igualdade de debate aos sujeitos do processo sobre pontos controversos da demanda.

Ampla Defesa

Assegura o direito de fala, produção de provas e argumentação durante o processo.


Princípios regentes do modelo de processo e jurisdição
constitucional democrático

Devido Processo Legal

Procedimentaliza a resolução de conflitos, garantindo igualdade argumentativa às partes.

Isonomia Processual

Todos os sujeitos têm possibilidades iguais de produzir provas e alegações.

Indispensabilidade do Advogado

O advogado é essencial para garantir uma ampla defesa técnica e democratizar o acesso à justiça.
Princípios regentes do modelo de processo e jurisdição
constitucional democrático
Inafastabilidade do Controle Jurisdicional

Assegura o amplo acesso à justiça e o direito de debate das alegações.

Publicidade

Prevê a transparência dos atos processuais para fiscalização e reclamação.

Duplo Grau de Jurisdição

Direito de fiscalizar para revisar fundamentos de fato e de direito.

Dignidade Humana no Direito Processual

Reconhecer a importância de conceder a vantagem das pessoas ao longo do processo.


Remédios constitucionais
Agora, vamos examinar o objeto das ações constitucionais, vistas como espaços hábeis a assegurar o
exercício e a implementação dos direitos fundamentais previstos no plano constituinte e instituinte:

Mandado de Segurança Objetivo Requisitos

Ação constitucional prevista Assegurar proteção jurídica às É necessário que a violação do


no artigo 5°, inciso LXIX da pessoas físicas e jurídicas em direito líquido e certo seja
Constituição, que protege seus direitos fundamentais documental e pré-constituída,
"direito líquido e certo" não líquidos e certos previstos não permitindo dilatação
amparado por habeas corpus constitucionalmente. probatória.
ou habeas data, quando
violado por autoridade
pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de
atribuições do poder público.
Remédios constitucionais

Rito próprio Concessão de liminares

A ação possui um rito especial É possível a concessão de


previsto na Lei 12.016/2009. liminares sem a audiência da
parte contrária, desde que o
demandante prove o "fumus
boni iuris" e o "periculum in
mora", demonstrando o risco
iminente de dano pela
violação do direito alegado.
Possibilidades de limitação das garantias constitucionais do
processo

É possível limitar as garantias constitucionais do processo democrático em situações


atípicas, como em casos de pandemia?

Resposta

A existência de fatos externos, como pandemia, não justifica a restrição do espaço processual
de debate democrático e constitucional das questões controversas em uma demanda judicial.
Possibilidades de limitação das garantias constitucionais do
processo

• As garantias constitucionais do processo democrático são normas jurídicas


cogentes, de aplicação obrigatória, e sua interpretação e aplicabilidade não
são casuísticas. Portanto, não podem ser relativizadas por fatores sociais,
naturais, políticos, psicológicos ou morais, incluindo situações de
pandemia.

• Dessa forma, temos alguns princípios inalteráveis: Contraditório, ampla


defesa, devido processo legal, duplo grau de jurisdição, isonomia
processual, indispensabilidade do advogado, inafastabilidade do controle
jurisdicional e garantia humana são normas jurídicas cogentes, cuja
aplicação não pode ser relativizada por fatores sociais, naturais, políticos,
psicológico ou moral.
Intervenção, estado de defesa e estado
de sítio

Processo constitucional
1 de intervenção

Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as


hipóteses e o processo constitucional de intervenção.
Intervenção federal e intervenção estadual

Antes de iniciarmos o estudo sobre intervenção federal e intervenção estadual, é necessário entendermos
como os Estados são organizados. A organização e a estruturação dos Estados são divididas em três:

Forma de governo Sistema de governo Forma de Estado


Caracterizada pelo modelo Caracterizada pela forma Caracterizada pelo modo de
institucional de como o poder político é exercício do poder político
administração de uma exercido e dividido na em função do território.
sociedade. sociedade.
Intervenção federal e intervenção estadual
Quanto às formas de governo, temos a seguinte divisão:

República Presidencialismo Federação

Surgiu como governo de Une as chefias do Estado, do União de Estados autônomos


oposição à Monarquia, Governo e da administração que cedem parte de sua
baseado em ideais de pública em uma só pessoa soberania para um órgão
liberdade e igualdade, com eleita pelo voto popular, central responsável pela
representatividade dos podendo potencializar riscos centralização e unificação.
governantes e participação de regimes autoritários.
dos cidadãos no governo.
Intervenção federal e intervenção estadual
• A Federação surgiu a partir da união dos Estados norte-americanos para se protegerem contra ameaças
e secessão, cedendo parte de sua soberania a um órgão central.

• O modelo federativo brasileiro foi estabelecido em 1889 e consolidado em 1891.

• Existem diferentes tipos de federalismo

Federalismo por agregação

Embora sejam independentes e autônomos, os Estados abrem mão de parte de sua soberania para se
agregarem entre si e formarem um novo Estado, passando a ser autônomo (ex.: Estados Unidos).

Federalismo por desagregação

Quando o Estado unitário (unidade de poder sobre o território) resolve descentralizar-se em outros
Estados (ex.: Brasil).
Intervenção federal e intervenção estadual
Federalismo dual

As atribuições de cada ente federativo são rígidas, não havendo cooperação ou interpenetração entre
eles.

Federalismo cooperativo
As atribuições de cada ente federativo são exercidas de forma concorrente, aproximando-se por meio
da atuação conjunta.

Federalismo simétrico

Tanto a cultura quanto o desenvolvimento dos entes federativos são homogêneos/iguais.

Federalismo assimétrico

Pluralidade de língua e cultura em um mesmo território (ex.: Canadá).


Intervenção federal e intervenção estadual
Federalismo orgânico

Os Estados fazem parte do mesmo “organismo”, pelo qual a manutenção do todo é feita em detrimento
da parte.

Federalismo de integração
Preponderância do governo central em detrimento dos demais entes. Desse modo, as características
do modelo federativo são atenuadas.

Federalismo equilíbrio

Aqui, busca-se a harmonia entre os entes, reforçada pelas instituições.

Federalismo de segundo grau


Feita por meio dos municípios pela observância de dois graus (Constituição Federal e Constituição do
respectivo Estado).
Intervenção federal e intervenção estadual
Vejamos as características comuns do modelo federativo:

• Descentralização política realizada pela Constituição através


dos poderes políticos.

• Repartição de competências para garantir autonomia entre os


entes federativos.

• Inexistência do direito de secessão após a criação do pacto


federativo.

• Auto-organização dos Estados por meio da elaboração das


Constituições Estaduais.

• Possibilidade de intervenção da União ou do Estado em


situações de crise para assegurar o equilíbrio federativo.
Intervenção federal e intervenção estadual
Aspectos da organização e estrutura do Estado brasileiro:
• República (forma de governo).

• Presidencialismo (sistema de governo).

• Federação (forma de Estado).

Autonomia conferida aos entes federados brasileiros:

• Capacidade de auto-organização, autogoverno, autoadministração


e auto legislação.

• Importante ressaltar que autonomia não é sinónimo de soberania.


Intervenção federal e intervenção estadual
O tema “intervenção” tem relação justamente com a autonomia dos entes que compõem a Federação
brasileira. Embora o art. 18 da CF/88 estabeleça que os entes são autônomos, existem hipóteses
excepcionais e anormais em que a autonomia pode sofrer interferência com base constitucional. Essas
hipóteses devem ser interpretadas de forma restritiva e seu rol é taxativo.

A intervenção pode ser feita de duas formas:

Federal Estadual

Quando a União intervém nos Quando o estado intervém em


estados, Distrito Federal (art. seus municípios (art. 35 da
34 da CF/88) ou nos CF/88).
municípios localizados em
território federal (art. 35 da
CF/88).
Intervenção Federal
• Intervenção federal consiste no afastamento temporário da autonomia
política dos estados ou municípios em território federal, com base nas
hipóteses taxativas do artigo 34 da CF/88.

• Existem quatro finalidades para a intervenção: defesa do estado, defesa do


princípio federativo, defesa das finanças governamentais e defesa da ordem
constitucional.

• A decretação e a execução da intervenção são competências privativas do


Presidente da República, podendo ser espontâneas, solicitadas ou
requisitadas.

• A decretação pode ser objeto de controle político pelo Congresso Nacional


ou controle jurisdicional pelo Supremo Tribunal Federal.

• O controle político é dispensado em certas situações específicas, enquanto o


controle jurisdicional não analisa o mérito da intervenção, mas sua
observância com os ditames constitucionais.
Intervenção Estadual
• A intervenção estadual é a interrupção temporária da autonomia da
política dos municípios, com base nas hipóteses taxativas do artigo 35
da CF/88.

• Os materiais adquiridos para a intervenção estadual incluem situações


como não pagamento da dívida fundada por dois anos consecutivos,
falta de prestação de contas adequadas, não aplicação do mínimo
exigido em educação e saúde, e provimento do Tribunal de Justiça para
assegurar princípios da Constituição Estadual ou a execução de lei ou
decisão judicial.

• Os pedidos formais referem-se às regras processuais para a decretação


e execução da intervenção.

• A intervenção estadual também passa por controle político pelas


Assembleias Legislativas, com o decreto sendo subordinado à guarda
no prazo de 24 horas. O controle é dispensado em certas situações
específicas.
Representação interventiva
• A representação interventiva é um mecanismo de controle de constitucionalidade que visa resolver
conflitos de natureza federativa.

• O procurador-geral da República (PGR) tem competência para requerer a intervenção em um ente


federativo por meio da representação interventiva federal.

• A representação interventiva federal ocorre quando há violação de princípios sensíveis constitucionais


ou recusa à execução de lei federal.

• O Supremo Tribunal Federal processará e julgará a representação interventiva federal, decidindo se a


norma estadual viola os princípios sensíveis ou impede a execução de lei federal.

• Em nível estadual, a representação interventiva é proposta pelo procurador-geral da Justiça e julgada


pelo Tribunal de Justiça do Estado.

• A decisão da representação interventiva tem caráter político-administrativo e não é passível de recurso


extraordinário ou controle político.
Intervenção, estado de defesa e estado
de sítio

Estado de defesa e
2 estado de sítio

Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as principais


características e diferenças do estado de defesa e de sítio.
Defesa do Estado e das instituições democráticas: aspectos
introdutórios
• O Presidente da República pode decretar estado de defesa ou estado de
sítio para manter ou restabelecer a ordem constitucional em momentos
de anormalidades.

• Esses instrumentos são induzidos e têm como objetivo proteger a ordem


pública e a paz social.

• A decretação desses instrumentos deve obedecer a procedimentos como


excepcionalidade, taxatividade, temporariedade, cooperação geográfica,
sujeição a controle, publicidade e proporcionalidade.

• Os instrumentos podem restringir alguns direitos fundamentais, mas o


Poder Judiciário pode reprimir abusos e ilegalidades durante o estado de
crise por meio de mandado de segurança ou habeas corpus, desde que
dentro dos limites estabelecidos.
Estado de defesa

• O estado de defesa é uma medida temporária destinada a preservar ou


restabelecer a ordem pública ou a paz social em locais restritos e certos.

• A decretação do estado de defesa é realizada pelo Presidente da


República, após consulta ao Conselho da República e ao Conselho de
Defesa Nacional, mas suas opiniões não são vinculativas.

• O decreto do estado de defesa deve determinar sua duração, a área


abrangida e as medidas coercitivas que vigorarão durante sua vigência.

• As medidas coercitivas podem restringir alguns direitos fundamentais,


como reunião, sigilo de correspondência e comunicação, além de
permitir a prisão por crime contra o Estado.
Estado de defesa
• O estado de defesa pode ser objeto de controle político pelo Congresso
Nacional e por uma comissão da Mesa do Congresso, controle
jurisdicional por meio de mandado de segurança ou habeas corpus, e
controle jurisdicional sucessivo para responsabilizar executores por
crimes cometidos durante o estado de defesa.

• É possível que o Poder Judiciário faça controle jurisdicional imediato em


casos de abuso de direito ou desvio de intenção na decretação do
estado de defesa, embora isso seja considerado excepcional.

• O estado de defesa tem duração máxima de 30 dias, podendo ser


prorrogado por mais 30 dias uma única vez, mantendo-se as razões para
sua decretação.

• As medidas coercitivas não podem ser aplicadas de forma generalizada,


mas sim em locais restritos e certos.
Estado de sítio
• O estado de sítio é uma medida temporária mais grave que o estado de
defesa, podendo ser decretado em três hipóteses: comoção grave de
repercussão nacional, ineficácia de medida durante o estado de defesa, ou
declaração de guerra ou resposta a agressão estrangeira.

• A decretação do estado de sítio é feita pelo Presidente da República, após


ouvir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, e requer
autorização prévia do Congresso Nacional.

• Se o Congresso Nacional autorizar o estado de sítio, o Presidente poderá ou


não decretá-lo, pois possui discricionariedade política.

• Se o Congresso reprovar o estado de sítio, o Presidente não poderá decretá-


lo pelo mesmo motivo, sob pena de crime de responsabilidade.
Estado de sítio
• O decreto do estado de sítio deve conter a duração da medida, conforme as
normas necessárias à sua execução e as garantias constitucionais que serão
suspensas.

• Durante o estado de sítio, podem ser adotadas medidas coercitivas mais


duras, divididas em razão das hipóteses de decretação.

• O estado de sítio também pode ser objeto de controle político e


jurisdicional, com controle prévio, concomitante e sucessivo pelo Congresso
Nacional, e controle concomitante e sucessivo pelo Poder Judiciário.

• O estado de sítio pode ser decretado por até 30 dias, podendo ser
prorrogado por prazo igual em uma única vez, exceto no caso de declaração
de guerra ou agressão armada estrangeira, que pode durar enquanto
perdurar a situação.
Intervenção, estado de defesa e estado
de sítio

Atribuições das Forças


3 Armadas e da
Segurança Pública

Ao final deste módulo, você será capaz de listar as atribuições


das Forças Armadas e da segurança pública.
Forças Armadas
• As Forças Armadas são reconhecidas pelo Exército, Marinha e Aeronáutica
e têm como finalidade a defesa da pátria, a garantia dos poderes
constitucionais e a manutenção da lei e da ordem.

• O Presidente da República é a autoridade suprema das Forças Armadas,


sendo responsável por nomear os comandantes da Marinha, Aeronáutica
e do Exército, promover oficiais-generais e nomeá-los para cargas
privativas.

• A base das Forças Armadas é a superior e a disciplina, com aplicação de


superioridade disciplinares administrativas a militares de baixa autoridade.

• O art.. 142, § 3º da CF/88 disposições provisórios para militares, incluindo


patentes, reservas, proibições, direitos complementares e outras questões
relativas à carreira militar.
Forças Armadas
• O ingresso nas Forças Armadas é regulado por lei, que define os limites de
idade, estabilidade, remuneração, deveres, direitos e outras condições
específicas da carreira.

• As Forças Armadas podem ser empregadas na garantia da lei e da ordem


em casos admitidos, de forma secundária e eventual, após esgotados os
instrumentos previstos no art. 144 da CF/88.

• Não cabe habeas corpus em relação a punições disciplinares militares, e


existe a previsão constitucional do serviço militar obrigatório com algumas
garantidas.

• As mulheres e os eclesiásticos são dispensados ​do serviço militar


obrigatório em tempos de paz, e é possível o serviço alternativo para
aqueles que alegarem imperativo de consciência no alistamento eleitoral.
Segurança pública
• A segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
e busca preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do
patrimônio.

• É constituído por cinco órgãos: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal,


Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis e Polícias Militares e Corpos de
Bombeiros Militares.

• A polícia administrativa atua de forma preventiva e é representada pelas


polícias federais, rodoviárias federais e federais, bem como pelos corpos de
bombeiros e polícias militares estaduais.

• A polícia judiciária atua de forma repressiva e é representada pelas polícias


federais e estaduais (polícia civil).

• A Polícia Federal é organizada em carreira, com diversas atribuições, como


apurar infrações penais e reprimir o tráfico de drogas.
Segurança pública
• A Polícia Rodoviária Federal é responsável pelo patrulhamento ostensivo
das rodovias federais e também tem carreira estruturada.

• A Polícia Ferroviária Federal ainda não possui um plano de carreira


definido.

• A segurança pública estadual é atribuída às polícias civis, militares e ao


corpo de bombeiros, organizadas e mantidas pelos estados, mas
observando as normas gerais da União.

• As autoridades do Distrito Federal e municípios também são regidas por


normas federais, sendo organizadas e mantidas pela União.

• A segurança viária é competência dos estados, Distrito Federal e


municípios, que devem realizar a educação, engenharia e fiscalização do
trânsito para assegurar a mobilidade urbana eficiente.

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