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Nota: estes apontamentos não dispensam a consulta dos manuais indicados pela Regência,
nomeadamente:
O Preâmbulo:
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2 Direito Constitucional II Inês Bastos 2017/2018 Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais
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3 Direito Constitucional II Inês Bastos 2017/2018 Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais
Regras e princípios
Regras: mandatos de definição, uma vez que têm elevado grau de determinabilidade no seu
comando, descrevendo a título imediato as condutas a serem adotadas na prossecução dos
fins.
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• Abertura axiológica
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O poder constituinte é soberano e não se deixa condicionar por padrões éticos e morais.
Pode ignorar os mesmos, pode atualizá-los ou contrariá-los, ou incorporá-los nas suas
normas. Direito e Moral aparecem neste plano como realidades distintas.
A regência concorda com a linha de raciocínio de Hart: as normas que não incorporam
valores morais são analisadas de forma positivista-jurídica. As que absorvem valores morais
devem ser tidas em conta à luz da ordem moral. Esta última hipótese envolve um domínio
de incerteza. Quando o artigo 1º da CRP apela ao princípio da dignidade da pessoa humana,
convoca valores filosóficos da ordem moral, política, cultural e religiosa. O mesmo se passa
no restante domínio dos direitos fundamentais.
No entanto, uma Constituição excessivamente aberta a valores oriundos de sistemas
não jurídicos converte-se num estatuto mais incerto, porque mais depende das pré-
compreensões dos intérpretes. Uma Constituição principiológica deixa de ser decisão para
se transformar num campo de disputa filosófica e ideológica, onde tudo pode,
potencialmente, ser tido como inconstitucional.
Posto isto, sendo incontornável a constitucionalização de valores das ordens política e
moral, o texto constitucional ganhará se estes casos forem reduzidos a um número mínimo
e essencial.
• Abertura externa
Prende-se com o impacto do Direito Internacional e a jurisprudência dos tribunais
constitucionais de outros estados, bem como de tribunais internacionais.
Para começar, cláusulas de receção constitucional em matérias de direitos
fundamentais constituem vias de comunicação e de “fusão” com sistemas externos.
As próprias constituições criam por vezes formas de abertura a outras fontes, como o
nº1 do artigo 16º d CRP, que admite direitos fundamentais extravagantes, materialmente
constitucionais, mas formalmente exteriores à lei.
Para além disto, os Estados integrantes da União Europeia, a par da influência clara do
TJU, existem Constituições que admitem a prevalência de normas institucionais sobre a
própria Lei Fundamental (caso da Holanda).
A soberania constitucional deixou de ser uma realidade hermética admitindo a
existência de pontes entre a constituição e o direito supranacional.
• Abertura morfológica
Muitas normas constitucionais estão elaboradas com enunciados polissémicos, com
conceitos indeterminados e suscetíveis de diversas interpretações.
O exemplo dado pelo Professor Blanco de Morais no Curso de Direito Constitucional é
precisamente o conceito de “justa causa” no despedimento, presente no artigo 53º. Nestes
casos, o texto constitucional confere como que uma delegação implícita à Justiça
Constitucional para concretizar normativamente o conceito.
Denote-se que a interpretação consolidada pela Justiça Constitucional, a partir de
normas de textura aberta, também faz parte da Constituição, constituindo uma camada
normativa externa, de expressão variável, e sujeita a revisão constitucional.
É a abertura morfológica que permite, pela via hermenêutica (interpretação) e pela
prática política, uma integração da diversidade pluralista e da evolução política no texto
constitucional, atualizando-o sem recorrer à revisão.
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• Independência nacional
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Conceito de dignidade:
Exigência geral de respeito e de proteção, relativamente a algo que é importante.
Este princípio tem uma dimensão de liberdade (valorização da autodeterminação
individual do homem, que passa a ser sujeito e não objeto das relações jurídicas) e uma
outra dimensão, de proibição de condutas que levem a situações degradantes para a pessoa
humana.
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vedando a adoção de políticas que favoreçam uma “cultura de morte”, secundarizem o ser
humano ou prejudiquem a sua vontade ou integridade.
Por todos estes motivos, o Estado assume uma dimensão social de promoção do
bem-estar e de qualidade de vida do povo.
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O artigo 18º destaca-se como epicentro desta proteção reforçada. Deste artigo
extrai-se que:
- nº1: os direitos liberdades e garantias têm aplicação direta, e que vinculam
entidades públicas e privadas; Verifica-se a vertente negativa do direito (direta e
imediata): os direitos são defendidos negativamente, a partir da proibição de uma
conduta que os viola.
- nº2 e nº3: os mesmos só podem ser restringidos por lei, nos casos previstos na
Constituição, e devem observar o princípio da proporcionalidade, serem gerais e
abstratas, não produzindo eficácia retroativa, e não diminuindo o alcance do
conteúdo essencial do direito. Só ocorrem quando há colisão entre direitos.
Outros artigos que protegem este tipo de direitos são: artº 165, nº1, alínea b);
artº 19º; nº4 do artº 20º; artº 22º; alínea d) do 288º. Deste último retira-se que o
núcleo dos direitos, liberdades e garantias não pode ser suprimido por revisão
constitucional.
• Princípio da proporcionalidade:
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Basta que a norma colida com um destes princípios para ser considerada
inconstitucional. Estes testes fundamentam uma expressiva parte das decisões do
Tribunal Constitucional português. Muitas das regras, apesar de passarem pelos dois
primeiros, não são aprovadas por barrarem no terceiro critério, que é o mais subjetivo.
O princípio da proporcionalidade combina-se com outros princípios: o
princípio da proteção da confiança integra a proporcionalidade, como um quarto
critério a verificar.
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Vigorando para o futuro, esta lei também se aplicava a quem se encontrava a meio
dos mandatos, o que obrigaria a uma escolha. O Tribunal Constitucional entendeu
que essa retrospetividade violaria o princípio da proteção da confiança, por frustrar
as legítimas expectativas dos eleitores.
O acórdão deste caso específico, o 188/2009, submeteu a lei restritiva a 4
critérios:
- o estado gerou um comportamento que criou expectativas;
- essas expectativas são legítimas e justificadas em boas razões (para fins e
interesses legítimos e honestos);
- os cidadãos devem ter condicionado as suas vidas tendo em conta essa
expectativa;
- a medida é justificada à luz do critério da proporcionalidade: se postergar
de forma intolerável, arbitrária, opressiva ou demasiado acentuada as exigências de
confiança; não colide com interesses públicos que, em sede de ponderação, se
sobreponham à salvaguarda das situações existentes.
• Princípio da Igualdade
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O acesso aos tribunais é um direito sobre direitos, uma vez que garante o cumprimento
dos demais direitos fundamentais. É através do acesso aos tribunais que os cidadãos
garantem a tutela dos seus direitos. Auxilia a realização de Justiça, que por sua vez é um dos
fins do Estado de direito.
O princípio desdobra-se em 7 subprincípios, dos quais emergem uma pluralidade de
direitos, liberdades e garantias.
1. Direito de acesso aos tribunais (artº20/1) – todo o cidadão tem direito de exigir que
os seus litígios sejam dirimidos por órgãos independentes e imparciais que exerçam
a função jurisdicional. Este direito aplica-se também aos tribunais arbitrais. Embora
seja incontornável de que quem dispõe de maiores recursos financeiros é melhor
servido pelo sistema de justiça, o facto é que a carência de meios económicos nunca
pode ser obstáculo ao acesso à justiça.
2. Direito ao patrocínio judiciário – artº 20/2 – apoio financeiro no acesso à justiça para
os cidadãos ou estrangeiros residentes carenciados, que atestem a sua condição. (ex:
nomeação de patrono ou de defensor oficioso).
3. Direito ao advogado – artº20/2 – não é obrigatório, exceto em casos de matéria
penal, mas os cidadãos podem sempre fazer-se acompanhar por advogado.
4. Garantia do segredo de justiça – artº20/3
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• Princípio democrático
A designação dos governantes deriva do consentimento expresso pela vontade dos
governados, através das eleições livres, democráticas e pluralistas – artigo 2º da CRP e 10º.
O artigo 10º exprime os conceitos de democracia representativa (o povo decide quem são
os seis decisores no futuro), e de democracia referendária, que é de natureza semi-direta,
pois necessita da convocação por parte dos órgãos representativos.
A oligopolização partidária no exercício da atividade política visa a garantia da disciplina
parlamentar e a consequente governabilidade.
O critério maioritário é o princípio na tomada de decisões.
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Natureza e operatividade:
Das regras
Uma larga maioria das regras da Lei Fundamental pode reconduzir-se aos princípios.
Independentemente do seu maior ou menor grau de generalidade ou abstração, as
regras em sentido estrito são suficientemente determinadas para delas se poder extrair uma
solução de decisão. Sem estes critérios de decisão não existira segurança jurídica: uma
constituição puramente principiológica revelar-se-ia insuficiente. As regras eliminam um
possível quadro de arbitrariedade e visam a previsibilidade jurídica.
As regras constitucionais dispõem de eficácia direta, a não ser que remetam para a emissão
de direito infraconstitucional para se tornarem exequíveis.
Dos princípios:
Os princípios desempenham funções:
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Diversamente do que afirmam Dworkin e Alexy, nem sempre as regras são aplicadas
quando se verifique, no plano dos factos, a hipótese nelas prevista. Há regras aplicadas por
via analógica, em que as condições factuais da sua aplicação não se verificam, mas que são
aplicáveis porque os casos por elas regulados têm uma identidade de razão em relação às
situações previstas na hipótese normativa que predica a sua convocação.
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legislação ordinária que defina o seu conteúdo positivo, que em geral está
espelhado em princípios.
As programáticas simples fixam fins sem estabelecer meios para os alcançar,
enquanto que as qualificadas mencionam medidas.
Elementos do Estado:
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complexo de autoridades políticas, administrativas e jurisdicionais, que vai para além das
normas jurídicas que o regem (órgãos, titulares, funções, serviços, prestações).
Mas a ideia de Estado, como coletividade organizada pelo direito, com um
ordenamento próprio, constitui meramente uma noção positiva do conceito: não se trata
de uma conceção axiológica, como a que defende parte da doutrina. Este setor da doutrina
tem uma visão de Estado Constitucional que é sinónimo de Estado de Direito democrático.
Gomes Canotilho afirma “o Estado Constitucional não é nem deve ser apenas um Estado de
Direito (…) ele tem de estruturar-se como Estado de direito democrático, isto é, como ordem
de domínio legitimada pelo povo”. Segundo o autor, a soberania popular está no cerne da
legitimação do exercício do poder político.
Por outro lado, existem Estados, até membros de organizações internacionais como
a ONU, que não reúnem os pressupostos típicos de Estado de direito democrático, ou
porque não possuem constituição escrita, ou porque não cumprem o princípio de separação
de poderes, ou essa legitimidade não é democrática, etc. ainda assim, são estados regidos
por um ordenamento jurídico. O estudo de Direito Constitucional II foca-se, no entanto, no
estado de direito democrático, do qual faz parte a República Portuguesa.
Estado-Ordenamento e Estado-Pessoa
Conceito de função: o professor Blanco de Morais define como funções estaduais todas
as atividades jurídico-públicas desenvolvidas pelas autoridades do Estado-Ordenamento,
tendo em vista a realização dos seus fins. Jorge Miranda desenvolve dois sentidos possíveis
para o conceito de função: fim/tarefa, que satisfaça necessidades coletivas, ou atividade
com características próprias. A primeira definição traduz a tentativa de legitimação do
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esperam da Justiça Constitucional são suficientes para afastar esta ideia. A politização da
atividade jurisdicional atenta contra os princípios de freios e contrapesos, e da
independência de quem exerce o direito.
A atividade legislativa:
• Critério substancial: a função política stricto sensu é mais livre do que a atividade
legislativa. Assenta na produção de atos e exteriorização de condutas que corporizam
predominantemente o sistema de freios e contrapesos, da política externa, do uso de
poderes excecionais da defesa da República, e ainda formas de exercício de democracia
direta ou semi direta, como o referendo.
Têm maior liberdade porque, embora ambas as atividades estejam sujeitas ao primado da
Constituição, o controlo da constitucionalidade abarca as leis, mas não os atos políticos.
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Estes, salvo raras exceções em que a Lei fundamental prevê a sua inexistência, não são
sujeitos a fiscalização da sua validade, e produzem efeitos jurídicos imperativos, mesmo
que inconstitucionais.
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Função Administrativa:
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Função jurisdicional
Critério orgânico
O elemento orgânico reporta-se aos tribunais como centros institucionais formados
por juízes, dotados de independência e irresponsabilidade. A Constituição define as diversas
classes de tribunais no artigo 209º.
Critério formal
O elemento formal reconduz-se às decisões jurisdicionais, as “sentenças”, que
corporizam o resultado da função jurisdicional. Num plano misto, simultaneamente material
e formal, as sentenças são de cariz individual e concreto (exceto as declarações de
inconstitucionalidade pelo TC que têm força obrigatória geral).
• Separação de poderes
A separação de poderes prevista na nossa CRP não se identifica com o princípio dos
séculos XVIII, o qual implicava que a cada órgão de soberania fosse atribuída uma função do
Estado, de forma a evitar excessos. Este principio partiu de Locke, no quadro de monarquia
mista, procurando garantir os valores primordiais de segurança, propriedade e liberdade
individual. Montesquieu foi o seu grande estudioso, tornando este princípio num axioma do
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Teoria do núcleo essencial: a nenhum órgão soberano podem ser cometidas funções de
que resulte quer o esvaziamento das funções materiais atribuídas a outro órgão quer a
intromissão no circulo indisponível das funções que devem pertencer a outro órgão, por
razões de essencialidade material.
O núcleo tem uma dimensão material que se impõe ao próprio poder constituinte,
relacionado com as características prototípicas dos órgãos: os Parlamentos são os titulares
da função legislativa que incida sobre as matérias mais relevantes; os Executivos (Governo
e Presidente) são os órgãos superiores da Administração Pública; os tribunais
desempenham a exclusividade da função jurisdicional.
Uma realidade diferente pressuporia um Estado que não de direito, ou até
constitucional, uma vez que o texto constitucional seria concebido para acomodar e
legitimar formalmente poderes fáticos, e não para limitar materialmente o poder político.
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Conceito: decisão imputada aos órgãos de uma entidade coletiva que se mostra apta
à produção de consequências jurídicas na prossecução dos fins públicos a que o mesmo se
encontra adstrito.
É um produto da exteriorização da vontade imputável a um ente público, cujo grau
de vinculação pode ser maior ou menor, consoante a natureza da função:
Normalmente os atos jurídico-públicos são imputados aos órgãos públicos: são atos do
Estado no exercício de um poder público, sujeito a normas de Direito público. A eles se
contrapõem os atos de gestão privada e os atos dos particulares, inclusive os que são
praticados no âmbito de direitos políticos.
Existem, contudo, situações em que o ato é praticado por um ente de natureza jurídica
privada, que desempenha funções públicas ao abrigo de um poder público de autoridade
que lhe foi concedido por uma pessoa coletiva pública (ex: conceção de serviço público).
É a função publica que permite conferir ao ato produzido a natureza jurídico-pública. Os
efeitos jurídicos destes atos traduzem-se na manifestação unilateral de um poder de império
sobre os seus destinatários, assegurado pela coercibilidade que assiste ao direito e, como já
vimos, está na posse do Estado.
A Constituição da República contém uma previsão específica do princípio da
constitucionalidade, dirigida aos atos jurídico-públicos – nº3 “quaisquer entidades públicas”.
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Em razão do objeto:
• Atos de eficácia interna (esgotam a sua eficácia no próprio órgão que o emite, por
serem de gestão interna) e atos de eficácia externa (projetam os seus efeitos em
diversos órgãos, como a generalidade das leis ou DL).
• Atos declarativos (atentam numa situação jurídica já existente, como na declaração
da inconstitucionalidade) ou constitutivos (geram com a sua produção um status
jurídicos novos, modificando situações jurídicos – é o que acontece com a
generalidade das leis).
• Atos-condição (vinculam o conteúdo de outros, constituem pressupostos da sua
produção ou validade) e atos-objeto (atos que estão vinculados aos atos-condições,
como um DL complementar a outro autorizado).
• Atos normativos (implicam a aprovação de leis, ou de outros atos jurídico-públicos
de caráter geral e abstrato) ou não normativos (decisões políticas não legislativas).
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Síntese procedimental:
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As resoluções normativas
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Regimentos
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órgãos, o qual reforça o controlo inter-orgânico exercido no âmbito da função política, mas
que garante o primado da Assembleia da República quanto ao exercício da função legislativa.
Estas resoluções fogem ao princípio da tipicidade da lei (112º/5), na medida em que
apesar de não revestirem a forma de lei, determinam a cessação de vigência de outros
legislativos ou a sua suspensão.
Ainda assim, estas resoluções não podem assumir o mesmo conteúdo material típico
da lei, nem pode fixar alterações aos atos legislativos, decorrendo do nº2 do artigo 169 que
essas alterações devam ser feitas sob forma de lei.
Resoluções que aprovam tratados: as resoluções da Assembleia da República que
aprovam tratados internacionais (166º/6) têm caráter normativo e encontram-se sujeitas a
fiscalização preventiva da constitucionalidade (278º/1).
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É inconstitucional toda a norma legislativa que não define um regime jurídico e que
remeta para outro regulamento do Governo que não o decreto regulamentar (como as
portarias e os despachos normativos), a disciplina desse mesmo regime, limitando-se a
estabelecer a competência objetiva e subjetiva a emissão da norma correspondente.
A Teoria da Lei
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Quanto à forma:
• O princípio da tipicidade das formas da lei, no artigo 112º, determina a inexistência
de atos legislativos fora dos três tipos específicos previstos (Lei, Decreto-Lei e
decreto legislativo regional).
Quanto à força:
• A força geral de lei resulta do nexo causal entre a superioridade hierárquica da lei
sobre as demais normas de natureza não política. Trata-se de um potência de valor,
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Conclusão quanto à noção de ato legislativo: todo o critério político de decisão produzido
e revelado sob a forma de lei pelos órgãos titulares da função legislativa e que exprime uma
relação de supremacia sobre as demais normas internas e infraconstitucionais, desprovidas
de natureza política.
Quanto ao conteúdo da lei, a constituição não coloca barreiras ao conteúdo – o
legislador pode debruçar-se sobre aquilo que julgar oportuno, salvo se a CRP impuser a leis
que incidam sobre certos domínios exigências de generalidade e abstração, ou se a CRP
consagrar domínios de reserva total para a Administração Pública, que vedem a intromissão
vertical dos atos legislativos no núcleo da atividade regulamentar.
A Reserva de Lei
Tipicidade da lei:
A forma e a força baseiam-se no artigo 112º e no princípio de tipicidade da lei. Deste
preceito decorre que: a fonte da lei decorre da Constituição; a lei decompõe-se em três
formas específicas; a lei não pode ser objeto de interpretação, integração, modificação,
suspensão ou revogação com eficácia externa por atos não legislativos, nem que ela própria
o autorize. Posto isto, um regulamento não pode alargar o âmbito de aplicação de uma lei.
Foi também com base neste princípio que se procedeu à revogação dos assentos.
Nenhuma lei, DL ou DLR pode criar outras formas e categorias de atos legislativos –
só a CRP o pode fazer.
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execução, como uma portaria, quando a sua emissão reclamaria a forma de decreto
regulamentar.
No plano regional, os estatutos desempenham um papel importante como normas
legais distribuidoras de tarefas no seio da região. Como tal, um DLR que revogue um regime
inovador que esteja noutro DLR e remeter para uma norma regulamentar, operará uma
deslegalização ilegítima por violação do artigo 228/1, caso a matéria seja reservada aos DLR.
Fora da reserva de lei, um ato legislativo pode desgraduar algumas das suas normas
para um nível regulamentar, ou remeter para um regulamento administrativo.
O nº1 do 112º da CRP enuncia as três formas específicas de lei ordinária previstas na
ordem jurídica constitucional: a lei, o decreto-lei, e o decreto legislativo regional. Trata-se
de uma enumeração taxativa – quando a Constituição se refere a uma classe de ato
legislativo como “leis orgânicas”, “leis de base”, entre outras, elas não classificam novas
formas específicas de lei, reportando-se antes a categoriais legais que se se reconduzem às
formas prevista pelo artigo 112º.
Nem sempre a resolução de um conflito entre leis pode ser resolvida com base na
hierarquia material, de competência ou de procedimento agravado, mas sim atendendo a
juízos de ponderação, a partir de princípios constitucionais reitores do Estado de Direito
democrático e unitário. Neste sentido, poderá ser possível, em tese, que uma lei não seja
considerada inconstitucional, mesmo revogando uma lei de caráter reforçada, por vir repor
condições indispensáveis para a salvaguarda do mínimo existencial no plano de prestações
sociais. Isto cria o risco de gerar o desrespeito pela vontade do decisor democrático, na
medida em que permite distorcer ou desaplicar o direito decidido com base nas pré-
compreensões políticas e filosóficas do intérprete jurisdicional. Mostra-se também
incompatível com o princípio da segurança jurídica.
Por estes motivos, antes de examinar a validade material de uma regra à luz dos
princípios constitucionais de recorte axiológico (os princípios permitem aferir o sentido
indeterminado de certas regras, ou abrir normas fechadas), deve saber-se se a norma em
questão tem ou não condições lógicas, teleológicas, ou orgânico-formais, para ser
convocada.
Os critérios estruturantes das relações entre leis devem ter precedência aplicativa
sobre os princípios constitucionais de ordem substancial. Antes de se fiscalizar a
constitucionalidade da lei no plano material (no sentido de proporcionalidade e respeito
pela dignidade humana), há que aferir se a mesma é formalmente eficaz.
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Critérios lógicos
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Segundo o professor Blanco, a exceção pode ser considerada uma especialidade qualificada,
pois implica que o regime particular determine uma solução não apenas diversa, mas
contrária à do regime geral. o efeito de aplicação preferencial de uma lei especial, ou
excecional sobre a lei geral, será o mesmo.
A prevalência da lei especial justifica-se pela natureza de um Estado de direito. Na realidade,
a coerência do ordenamento jurídico impõe que não se deixe espaço imediato para uma
dupla valoração da mesma realidade, sendo dada prioridade à disciplina singular, já que a
mesma atende às particularidades próprias da situação de facto por ela regulada. Visa
também a justiça, tratando de forma diferente aquilo que o é. O princípio da especialidade
prevalece sobre o da cronologia, mas cede perante os critérios teleológicos.
Artigo 7º do Código Civil – a lei especial prevalece tanto sobre a lei geral anterior como
posterior, salvo a existência de uma intenção inequívoca manifestada pelo legislador, no
sentido de ser conferida uma prevalência revogatória à regra posterior de caráter geral. a
lei especial não revoga a lei antecedente, mas antes desaplica ou bloqueia, durante a sua
vigência, a eficácia de normas da primeira, que consagrem um regime diferente da segunda.
Critérios teleológicos
a. Princípio da hierarquia
Este princípio tem vindo a experimentar algumas transformações nos estados
plurilegislativos, ligadas à divisão de tarefas entre órgãos e as respetivas leis, e que levaram
à criação de diferentes espécies de hierarquia que geram efeitos jurídicos diferenciados,
entre normas subordinantes e subordinadas.
Hierarquia formal – traduz-se na aptidão de uma lei, reconhecida pelo ordenamento como
detendo um grau superior, conseguir revogar ou condicionar a validade de outras leis de
grau inferior, sem que o inverso possa suceder. Esta posição de superioridade justifica-se
pela tese da norma de reconhecimento” - a superioridade hierárquica dessa lei tem de ser
reconhecida pela Constituição. Trata-se de uma construção compatível com o princípio da
tipicidade da lei, presente no artigo 112º/5, que faz radicar na CRP a capacidade para
determinar a força dos diversos atos legislativos ordinários.
Os Estatutos político-administrativos de autonomia regional constituem a única sub-
categorial legal ordinária de hierarquia formal superior às restantes, já que a Constituição
os destaca (281º/1/alínea c e d), como parâmetro material vinculante e padrão de controlo
da legalidade de todas as restantes categorias normativas, tornando a validade da norma
estatuária apenas tributária da mesma CRP. Ou seja, o seu conteúdo não pode ser ilegal por
entrar em colisão com outras leis reforçadas – ele próprio é a única lei reforçada dotada de
hierarquia superior.
Hierarquia material – faculdade de vincular o conteúdo de outras leis, que com elas devem
coexistir numa posição subordinada (legislação-objeto). Em contraste com a hierarquia
formal, a hierarquia material costuma ser parcial, já que a supremacia da lei subordinante
se exprime, fundamentalmente, no condicionamento por certas leis-parâmetro, do
conteúdo de categorias específicas de certos atos legislativos, que às primeiras se
encontram subordinados.
Esta matéria prende-se com a força específica de lei, ou seja, com a competência atribuída
a certas leis em face de outras, na medida em que não podem ser por elas revogadas. Esta
diferenciação resulta da própria estrutura e do desenvolvimento dinâmico do sistema. Por
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b. Princípio da competência
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Este critério justifica o regime jurídico traduzido por uma maior ou menor rigidez, como
consequência da associação entre uma reserva de competência exclusiva de ato legislativo
e um trâmite de produção especializado e agravado pela Constituição.
As leis ordinárias rígidas constituem um modo de limitação da vontade do legislador em
matérias mais sensíveis.
Todas as leis com valor reforçado ditado pelo procedimento especial são um produto
exclusivo do poder parlamentar, integrando-se toda a reserva na competência da
Assembleia da República e nas assembleias legislativas regionais. A força acrescida da lei
como consequência do procedimento agravado só pode decorrer de uma consagração
constitucional correspondente.
Ao contrário do que acontece com as leis-parâmetro, as leis procedimentalmente
reforçadas podem ou não, esgotar a integridade de uma reserva, havendo subespécies que
o fazem (maioria das leis orgânicas) e outras que se limitam a disciplinar um domínio
reforçado coexistente com o de outras leis.
A rigidez gerada pelo procedimento agravado visa impedir outras leis, desprovidas do
mesmo conteúdo e produzidas pelo mesmo órgão parlamentar, de revogarem os atos
reforçados.
A infração de lei de valor reforçado envolve inconstitucionalidade, mas trata-se de uma
inconstitucionalidade indireta, tal como a contradição entre lei interna e tratado ou entre
regulamento e lei. a lei contrária à lei de valor reforçado vem a ser inconstitucional, não
porque ofende uma norma constitucional, mas porque agride uma norma interposta
constitucionalmente garantida.
E, precisamente, o critério para se reconhecer se uma lei é reforçada ou não, está em
saber se se verifica ou não tal ocorrência: se a inconstitucionalidade surge imediatamente
ou como consequência da ilegalidade prevista nos artigos 280º, 281º e 282º.
Dir-se-ia haver uma correspondência estreita entre leis orgânicas e leis de valor
reforçado, nomeadamente porque as leis orgânicas são qualificadas pela CRP como leis de
valor reforçado. A par dela poder-se-ia apontar os estatutos regionais, nos artigos 280º e
281º. No entanto, tal linha de pensamento não é correta.
As leis reforçadas reportam-se fundamentalmente a cinco espécies diferentes: as
leis de enquadramento, as leis orçamentais, de autorização legislativa, de bases e os
estatutos político-administrativos das regiões autónomas.
Crítica da regência à noção de lei reforçada (noção: leis com valor reforçado são os
atos legislativos que nos termos da Constituição, devem ser respeitados por outras leis,
constituindo o sistema de fiscalização da legalidade) – redundância e descaracterização dos
diferentes tipos de lei com valor reforçado. A definição de lei não pode, tendo esta noção
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I. Iniciativa legislativa
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II. A instrução
A fase instrutória visa recolher dados, pareceres e outros elementos cognitivos que
permitam aos decisores apreciar a oportunidade e o conteúdo da iniciativa legislativa. Pode
implicar um exame puramente interno, realizado em comissão parlamentar, e a realização
de audições externas a entidades públicas ou privadas.
Exame interno em comissão – a simples apreciação em comissão reveste a forma de
instrução interna e implica a elaboração de um parecer sobre as iniciativas pela comissão
especializada em razão da matéria (artigos 135º e 137º da RAR), podendo constituir-se uma
comissão eventual, se a importância ou a especialidade da matéria reclamarem essa opção.
Todo o autor tem direito de apresentar a proposta perante a comissão parlamentar
competente. A comissão pode proceder a estudos e a outros meios de recolha de
informação acerca da matéria em causa.
Consultas e audições externas- a Assembleia da República procede a consultas
obrigatórias e facultativas de entidades externas, podem realizar audições individuais ou
coletivas.
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como tal, apto para produzir alterações jurídicas no ordenamento, volvida a sua
promulgação e publicação.
Antes do momento de aprovação, o ato de iniciativa é objeto de debate, através de
uma discussão realizada pelos deputados sobre a sua forma e sobre o seu conteúdo, a qual
pode ser realizada em plenário ou em comissão, nos termos do artigo 168º/1 da CRP.
Há 3 fases aprovatórias:
a) Discussão e votação na generalidade – em sessão Plenária, das iniciativas, pressupõe
um debate que incida sobre os princípios e o sistema do ato de iniciativa. Volvida a
discussão, cada projeto ou proposta de lei é votado em Plenário (artigo 168º/3 da
CRP ou 148º/1 da RAR), sendo certo que a votação favorável só garantirá que o ato
de iniciativa será objeto de votação na especialidade, não indiciando a sua
aprovação final. A votação em generalidade constitui um filtro dos diplomas
submetidos ao subsequente estádio da votação, e não garante a aprovação de
qualquer norma.
A deliberação parlamentar correspondente a esta fase de votação processa-se por
maioria simples (artigo 116º/3), salvo os casos de lei orgânica.
b) Discussão e aprovação na especialidade – versa sobre cada artigo número ou alínea
de um projeto ou proposta de lei. De acordo com o artigo 154º/1 da RAR, a ordem
é: proposta de eliminação; proposta de substituição; propostas de emenda; texto
discutido, com alterações aprovadas; propostas de aditamento ao texto votado.
Havendo duas ou mais propostas de alteração da mesma natureza, serão sujeitas a
votação.
A discussão e votação em especialidade é feita no Plenário, que pode supostamente
depois direcionar, ou não, esta tarefa para a comissão competente. No entanto, a
prática parlamentar que alguns autores designam por costume contra legem
caminha no sentido de que a maioria dos diplomas sejam discutidos e votados na
especialidades nas comissões, sem prejuízo do plenário poder, a todo o tempo,
avocar a si a votação na especialidade a requerimento, de pelo menos 10 deputados
– 169/3 da CRP; artigo 151º da RAR.
Por outro lado, existe um conjunto de atos legislativos que integram a reserva de
Plenário e que são objeto de necessária votação na especialidade em sessão plenária
– artigo 168º, números 4, 5 e 6.
c) Votação final global – finda a discussão e votação na especialidade, a Assembleia da
República em sessão plenária procede à votação final global (nº1 do artigo 164º da
CRP). Quando aprovado em comissão, o texto é enviado para Plenário para votação
final. A votação final encontra-se prevista no artigo 155º do RAR. Note-se que há
casos em que é exigida uma maioria agravada.
d) Redação final – finda a votação final global, a comissão competente em razão de
matéria procede à redação final dos atos aprovados, não podendo alterar o
pensamento legislativo, mas apenas aperfeiçoar o estilo e a sistematização do texto,
sem que se possam registar votos contra – artigo 156º da RAR.
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O Chefe de Estado exerce nesta fase um controlo político sobre um ato produzido pelo órgão
parlamentar, no quadro do sistema de freios e contrapesos, formulando um juízo de
oportunidade positivo ou negativo, o qual se designa por controlo de mérito. O Presidente
tem 20 dias desde a receção do decreto para promulgar, vetar ou suscitar a fiscalização
junto do T.C. Se a decisão do TC pautar pela inconstitucionalidade, o Presidente deve vetar
o decreto por inconstitucionalidade – veto vinculado/translativo. O diploma é devolvido ao
parlamento sob o processo previsto no 279º da CRP. Se o Tribunal não considerar
inconstitucional, o Presidente conta com um prazo de 20 dias para promulgar ou vetar
politicamente o decreto.
A promulgação pode ser simples ou com reservas. Na segunda, o Chefe de Estado
acompanha o ato promulgatório com uma mensagem onde exprime preocupações,
objeções sobre o ato e sobre aspetos mais delicados relativos à sua concretização legal. No
plano político, este tipo de promulgação visa distanciar o Presidente em relação à lei.
Em caso de veto, o ato é reapreciado pelo Parlamento, que pode desistir do diploma,
confirmá-lo ou reformula-lo. O veto pode ser simples ou qualificado, se exigir uma maioria
de 2/3 para o confirmar.
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Nota: no que respeita ao exercício da função legislativa, o Governo em gestão deve abster-
se da adoção de todos os atos de conteúdo objetivamente inovatório que não forem ditados
por imperativos de estrita necessidade, a qual deve ser rigorosamente fundamentada à luz
da sua indispensabilidade e urgência. Paralelamente, deve considerar-se que as propostas
de lei pendentes e autorizações legislativas caducam por força da CRP (art. 164º e 165º/4).
O procedimento legislativo governamental:
I. Iniciativa
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II. Instrução:
III. Aprovação:
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Em 2004, dá-se uma revisão mais profunda no modelo que regulava as relações
entre o poder central e o periférico. Assim, elimina-se a lista de competências de poderes
legislativos regionais da CRP, remetendo-se apenas para os estatutos; dá-se uma definição
mais clara do conceito de âmbito regional, agora entendida como um critério geográfico e
espacial; verifica-se uma diminuição da prevalência da lei estadual, em relação à lei regional.
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tal prática seria defeituosa e propiciadora de problemas jurídicos, pelo que se trata
de uma solução que fica entregue ao bom sendo do legislador parlamentar na
concessão e recusa de autorizações legislativas.
As propostas e as leis de autorização devem ser acompanhadas do anteprojeto do
decreto legislativo regional a autorizar, no entanto, a regência entende que o
legislador regional não se encontra vinculado a editar uma normação idêntica ao
respetivo anteprojeto, desde que o novo diploma se encontre dentro dos limites da
autorização. Aplica-se, se resto, às autorizações legislativas e aos decretos
legislativos autorizados as regras gerais das autorizações legislativas.
• A competência complementar: às regiões é igualmente atribuída a faculdade de
desenvolver e concretizar o conteúdo de leis de bases e de leis de enquadramento
– neste desenvolvimento não, então, limites.
• A competência mínima ou residual: trata-se de competência mínimas previstas no
artigo 227º/1 (em algumas alíneas, como por exemplo – i), p), s), h), v)).
• A competência para transposição de diretivas comunitárias: o artigo 112/8, com a
revisão de 2004, passou a permitir aos DLR a transposição de diretivas, em matérias
fora da reserva dos órgãos de soberania (competência já reconhecida às regiões
autónomas italianas e espanholas).
Síntese sobre as relações jurídicas imediatas entre os atos legislativas do Estado e das
Regiões Autónomas:
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