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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO MATERIAL
Prof. Flavia Bahia

Aula 1

Teoria geral. Estrutura e Conceitos – Prof. Flavia Bahia

A estrutura da CRFB/88:

- Preâmbulo (ADI 2076): não é considerado fonte jurídica. Não possui normatividade.
Na ADI 2076, conclui-se que o preâmbulo não é de observância obrigatória nas
Constituições Estaduais. Além disso, por não possuir normatividade, não é parâmetro
de controle de constitucionalidade.

- Corpo fixo e ADCT: o ADCT é formado, majoritariamente, por normas com eficácia
exauríveis com o tempo. O ADCT é formado por normas que surgiram para aplainar a
transformação da CF antiga para a CF nova. O ADCT e o corpo fixo estão no mesmo
grau hierárquico formal, ambos são normas constitucionais. Não há hierarquia entre as
normas do corpo fixo e do ADCT.

- As normas constitucionais são divididas em dois grupos:

(i) normas constitucionais originárias: normas promulgadas no 05 de outubro de 1988


e gozam de presunção absoluta de constitucionalidade. Não podem ser declaradas
inconstitucionais. Isso ficou fixado na ADI

(ii) normas constitucionais derivadas: são produzidas de acordo com art. 60 da CF e


gozam de presunção relativa de constitucionalidade. Ou seja, podem ser declaradas
inconstitucionais.

Há normas constitucionais inconstitucionais? Sim, desde que essas normas sejam


derivadas.

Concepções sobre a Constituição: o STF não adota apenas um dos sentidos. O STF
adota múltiplas concepções sobre o texto constitucional. Não há apenas uma forma de
perceber a Constituição.

- Sentido sociológico: Ferdinand Lassale. Qué es uma constitución? A Constituição seria


fruto das forças econômicas, das forças sociais, das forças políticas, isto é, dos fatores
reais de poder. A Constituição deveria representar o que a sociedade vivia, ao
contrário, seria apenas uma folha de papel.

- Sentido político: Carl Schimitt. Teoria de la Constitución. Sustentou que a Constituição


correspondia a uma decisão política fundamental. O que não representasse a decisão
política fundamental, não seria Constituição. O autor faria uma divisão entre “normas
constitucionais” e “leis constitucionais”. As normas seriam vinculadas à decisão política
fundamental, as leis não representariam exatamente a decisão política fundamental,
seriam apenas formalmente constitucionais. Com base nessa divisão, extrai-se os
conceitos de normas materialmente constitucionais e formalmente constitucionais. As
materialmente constitucionais seriam aquelas relacionadas à decisão política
fundamental, são normas de estrutura do Estado, que caracterizam o país.

- Sentido jurídico-normativo (positivista): Hans Kelsen. Teoria Pura do Direito. Trouxe a


visão de que a Constituição era norma superior que daria fundamento jurídico de
validade a todo o restante do ordenamento jurídico. A Constituição é a norma pura.
Foram desenvolvidos dois sentidos para a Constituição: sentido lógico-jurídico e
sentido jurídico-positivo. No sentido lógico jurídico, seria a norma hipotética
fundamental, já no sentido jurídico-positivo, traz a Constituição como norma jurídica
positiva que só pode ser alterada por meio de ritos específicos.

Aula 2

Teoria geral da Constituição. Elementos. Classificação

Elementos da Constituição: Prof. José Afonso da Silva

- Orgânicos: representam a estrutura principal do nosso Estado. São encontrados nos


Títulos I/III/IV. Se referem a forma de governo republicana, a forma de Estado
federativo, o sistema de separação de poderes.

- Limitativos: são os direitos e garantias fundamentais. São elementos que limitam a


atuação do Estado. São encontrados no Título II, com exceção do capítulo 2.

- Socioideológicos: aproximam nossa Constituição ao idear do Estado Social. Aqui nós


temos os direitos da segunda dimensão. São encontrados no Título II, no capítulo 2
(direitos trabalhistas, saúde, educação). Temos, ainda, os Títulos VII e VIII.

- De estabilização constitucional: representados pela reunião de normas que visam


solucionar conflitos constitucionais, defender o Estado e as instituições democráticas.
Arts. 34 a 36. Art. 60. Art 102, I, a. Arts. 136 a 141.

- Formais de aplicabilidade: compostos por normas que instituem regras de aplicação


das normas constitucionais. Art. 5º, §1º, CF.

Classificação da Constituição

- Quanto à origem:

i) promulgadas/populares/votadas/democráticas: são construídas com base na


soberania popular. No Brasil, podemos citar as CFs de 1891, 1934, 1946 e 1988.
ii) outorgadas/autocráticas/impostas: são aquelas que não passam pelo crivo popular.
Não são construídas com a participação do povo. No Brasil, temos a Carta do Império
(1824), a Carta Polaca (1937), 1967, EC de 1969.

iii) pactuadas/dualistas: Carta libertatum.

iv) casaristas/bonapartistas: nascem de uma outorga, mas passam por um crivo


popular. Alguns autores citam os plerbiscitos napoleônicos. No Brasil, não tivemos
exemplos dessas duas últimas Constituições.

- Quanto à forma:

(i) escritas/instrumentais: são codificadas. Seus dispositivos são escritos em um único


documento.
(ii) não escritas/consuetudinárias: fontes diversas. É possível que se tenha leis,
costumes e jurisprudência como base constitucional. Exemplo: Constituição Inglesa.

- Quanto à extensão:

(i) sintética
(ii) extensas/analíticas: possuem um número vasto de artigos. São Constituições
prolixas, que não se resumem à estrutura básica do Estado.

- Quanto ao conteúdo:

(i) materiais: prestigiam o conteúdo das normas. Consideram constitucional toda


norma que tratar de matéria constitucional.
(ii) formais: via de regra, são Constituições escritas.Tudo que está inserido no texto da
Constituição, é constitucional.

- Quanto ao modo de elaboração:

(i) dogmáticas/sistemáticas: escritas, atuais. São Constituições criadas dentro do


contexto dogmático de sua criação. Normalmente, são escritas. Exemplo: Todas as
Constituições brasileiras.
(ii) históricas: são escritas de forma lenta, a cristalização dos valores e princípios de
uma sociedade. Normalmente, são não escritas. Exemplo: Constituição Inglesa.

- Quanto à alterabilidade:

(i) rígidas: a CF de 88 é uma Constituição rígida – art. 60 da CF. O procedimento de


alteração da Constituição se dá por meio de Emendas Constitucionais. Alguns autores,
minoritariamente, afirmam que nossa Constituição é super-rígida, por causa das
cláusulas pétreas.
(ii) flexíveis: são aquelas que podem ser alteradas facilmente pelo mesmo processo
legislativo existente para as demais normas. Não há rigor algum para sua alteração.
(iii) semirrígidas: algumas normas poderiam ser alteradas facilmente, enquanto
algumas outras apenas por meio de processo mais rígido/específico. É o caso da CF de
1824 do Brasil. As normas que representavam a decisão política fundamental atraiam
um processo mais rigoroso de alteração. Aquilo que não representasse a decisão
política fundamental poderia ser alterado facilmente.
(iv) fixa: só pode ser alterada pelo mesmo poder constituinte que a criou.

- Quanto à finalidade:

(i) dirigentes/programáticas: são analíticas, que prescrevem objetivos futuros,


prometem muitas garantias. Possuem normas que dependem da atuação futura do
Estado.
(ii) garantias/negativas/liberais: são sintéticas, que não prometem tanto. Se limitam a
estrutura do Estado.

- Quanto à ideologia:

(i) ortodoxa: admitem apenas uma ideologia. Exemplo: Constituição chinesa.


(ii) ecléticas: admitem a pluralidade. Exemplo: Constituição brasileira.

- Quanto à correspondência ou não com a realidade:

(i) normativas: Constituição do Estados Unidos. Não há uma dificuldade entre seu texto
e sua realidade.
(ii) nominativa: pretende atender sua realidade, mas ainda não conseguiu atender a
esse comando. Exemplo: Constituição de 88.
(iii) semântica: não foi feita para corresponder a realidade do povo.

- Quanto à origem de sua decretação:

(i) heteroconstituição: é a Constituição feita por um país ou organismo internacional,


para vigorar em outro país. Ex: Constituição do Chipre (acordo entre a Grécia e
Turquia) e a primeira Constituição canadense (feita na Inglaterra)

(ii) autoconstituição/homoconstituição: é a Constituição feita em um país para nele


vigorar.

Aula 3

Teoria geral – eficácia e aplicabilidade

Classificação da Constituição de 88:

- Quanto à origem: promulgada.


- Quanto à forma: escrita.
- Quanto à extensão: analítica.
- Quanto ao conteúdo: formal.
- Quanto ao modo de elaboração: dogmática.
- Quanto à alterabilidade: rígida. Art. 60 da CF. Art. 60, §4º da CF que trata das
cláusulas pétreas é o que justifica a existência da tese de que a CF é super-rígida. Vale
dizer que a OAB segue a classificação de rigidez.
- Quanto à finalidade: dirigente.
- Quanto à ideologia: eclética.
- Quanto à correspondência ou não com a realidade: nominativa.

 ASSUNTO DE ALTA RELEVÂNCIA

Não existe hierarquia entre as normas de nossa Constituição, servindo como


fundamento de validade para o ordenamento jurídico. O Prof. José Afonso da Silva
divide as normas em 3 grupos:

1) Normas autoaplicáveis – desde sua entrada em vigor, produzem efeitos. São normas
que bastam em si. Não precisam de atividade futura do legislador/poder público para
produzirem seus efeitos.

- Normas de eficácia plena: tem incidência direta, imediata e integral. Direta, pois não
dependem de lei, nem atuação administrativa para produzirem seus efeitos. Exemplo:
art. 2º da CF (princípio da separação dos poderes). Imediata, pois entram em vigor
quando são promulgadas. Não há lapso temporal entre a entrada em vigor e a
produção de efeitos jurídicos. Integral, pois não há previsão no dispositivo de restrição.

- Normas de eficácia contida: tem incidência direta, imediata e não integral. Está
sujeita à imposição de restrições. A restrição pode ser feita não só por meio de lei,
como por norma constitucional. Art. 5º, XIII, CF – é livre o exercício de qualquer
trabalho, ofício ou profissão, atendidas às qualificações profissionais que a lei
estabelecer. A liberdade profissional está prevista desde 88, não há necessidade de
esperar atividade futura para que a liberdade profissional seja exercida. É contida, pois
a liberdade profissional pode ser limitada/restringida.

2) Normas não autoaplicáveis – dependem de atuação futura do poder público para


que possam produzir seus efeitos jurídicos.

- Normas limitadas: produzem efeitos jurídicos reduzidos, tendo em vista que


dependem da atuação futura por parte do Poder Público. Dividem-se em:
programáticas ou institutivas (ou organizatórias). As primeiras traçam objetivos, metas
ou ideais que deverão ser delineados pelo Poder Público para que produzam seus
efeitos jurídicos essenciais. Enquanto as segundas criam órgãos, funções, institutos e
serviços, que dependem de lei infraconstitucional,

Aula 4

Histórico das constituições – Neoconstitucionalismo


1) Carta do Império (1824)

- Constituição: outorgada e semirrígida.


- Forma de governo: monarquia.
- Forma de Estado: unitário.
- Conteúdo: material. Decisões políticas fundamentais só poderiam ser alteradas por
meio de procedimento rígido.
- Foco nos direitos de primeira dimensão.
- Voto era censitário.
- Mulheres e analfabetos não participavam das eleições.
- Sistema de 4 poderes: Poderes Legislativo, Poder Judicial, Poder Executivo e Poder
Moderador

2) Constituição Republicana (1891)

- Constituição: rígida.
- Forma de governo: república.
- Forma de Estado: federal.
- Conteúdo: formal. Não se fazia distinção entre o conteúdo formal e o conteúdo
material.
- Foco nos direitos de primeira dimensão.
- Mulheres e analfabetos não participavam das eleições.
- Trouxe o HABEAS CORPUS.
- Proclamação da liberdade religiosa.
- Sistema tripartido de poderes.
- Possibilidade de intervenção federal nos Estados.
- Criação do STF.

3) Constituição de 1934

- Inaugurou os direitos sociais (2ª dimensão).


- Implementou a justiça do trabalho.
- Permitiu o voto feminino. Mendigos e analfabetos não votavam.
- Trouxe o MS individual e a ACP.

4) Carta Polaca (1937)

- Inspiração no modelo fascista ditatorial polonês.


- Prescreveu pena de morte para alguns crimes.
- Aniquilou direitos políticos.
- Censurou a imprensa, o teatro, o rádio.
- Interrompeu o processo de avanço civilizatório do país.
- Excluir o MS individual e a ACP.

5) Constituição de 1946
- Alistamento e o voto se tornaram obrigatório.
- Incluiu a Justiça do Trabalho no Poder Judiciário.
- Proibida a censura.
- Restaurou o MS individual e a ACP.
- Proibiu a pena de morte.

6) Constituição de 1967

- Criou a ação de suspensão de direitos individuais e políticos.


- Instituição do AI-5.

7) EC 01/69

- Emenda, porém houve muitas reformas.


- Centralizou o poder nas mãos do Presidente da República.

8) Constituição Cidadã (1988)

Neoconstitucionalismo – só foi possível com a chegada da CF 1988.

Características:

- Constitucionalização do ordenamento jurídico


- Renovação da Teoria das Fontes
-Um nova Teoria dos Princípios
- Desenvolvimento da teoria dos direitos fundamentai
- Método da Ponderação
- Atuação fortalecida do Poder Judiciário

Aula 05

Fenômenos de Direito Constitucional Intertemporal

O que acontece com o ordenamento jurídico com a chegada de uma nova


Constituição?

1. Revogação Global: o diploma normativo perde sua vigência. Pode ocorrer de forma
expressa ou tácita. A revogação pode ser total – ab-rogação ou parcial – derrogação.

Via de regra, com a chegada de uma nova Constituição, há o fenômeno da revogação


global.

2. Desconstituicionalização: fenômeno expresso. Apareceu no constitucionalismo


português.
Quando alguns dispositivos da Constituição anterior são mantidos no ordenamento,
porém, sem o status constitucional. Passam a ser apenas leis ordinárias.

Para que haja essa desconstitucionalização, é necessária a ordem expressa, não existe
de forma tácita.

3. Vacatio Constituciones: adotado pela Constituição de 1967. É o período de tempo


entre a publicação de uma CF e sua entrada em vigor. Via de regra, a Constituição
entra em vigor na data da publicação, no entanto, não foi assim que ocorreu em 67.
Durante a vacatio, toda norma criada, que contraria as normas constitucionais já
existentes, será inconstitucional, ainda que esteja de acordo com a nova Constituição.

4. Recepção e não recepção

Quando a nova Constituição chega, ela encontra no ordenamento um arcabouço de


normas infraconstitucionais criadas sob a égide de diversas Constituições.

Exemplo: Código Penal de 1940, Código Processual Penal de 1941 e Código Tributário
Nacional de 1966.

As leis materialmente compatíveis com a CF de 88, foram recebidas. Em termos


práticos, significa que essa legislação continuou a produzir seus efeitos jurídicos. O CP
e o CPP são Decretos-lei, no entanto, não deixaram de ser recepcionados por isso. A
recepção possui cunho material.

OBS.: O STF não adota a teoria da inconstitucionalidade superveniente. Uma norma


válida, não se torna inválida com a vigência de uma nova Constituição. Caso estejam
incompatíveis com a nova Constituição, essa norma será REVOGADA. No controle
concentrado, a única forma de afastar essa norma é por meio de ADPF.

OBS.: É possível haver normas pré-constitucionais, ainda que pós 88. É o caso de
ocorrer uma EC pós CF. Se uma Lei contrariar materialmente uma Emenda
Constitucional, ela poderá ser impugnada por ADPF e não ADI. Isso porque se trata de
norma em vigência ANTES da alteração constitucional, por isso, diz-se norma pré-
constitucional.

5. Repristinação

De acordo com o art. 2º, §3º, da LINDB, uma lei validamente revogada não volta a
produzir efeitos jurídicos com a revogação da lei que a revogou. No entanto, se houver
nova lei, que diga expressamente que a norma revogada está em voga normalmente,
ocorrerá a repristinação. Vale dizer que a repristinação é um fenômeno expresso,
depende de dispositivo determinando sua existência.

Aula 6

Poder Constituinte
A teoria do Poder Constituinte representa a restauração do poder político. Essa teoria
respalda seu poder na criação de uma nova Constituição, de acordo com a vontade da
nação.

O Poder Constituinte é, portanto, responsável pela criação de uma nova Constituição –


Poder Constituinte Originário.

O Poder Constituinte Derivado é o reformador (reforma do texto constitucional) e o


decorrente (o poder que legitima a auto-organização dos Estados-Membros por meio
de suas próprias constituições). Todas essas manifestações são de poder constituinte
DERIVADO (2º grau).

O Poder Reformador é previsto no art. 60 da CF.

O Poder Decorrente é previsto no art. 11 do ADCT.

O Poder Criador (poder constituinte originário) apresenta duas vertentes:

a) IUS POSITIVISTA. O poder originário é um poder de fato, que se legitima em si


mesmo. É um poder imperativo e que não está sujeito ao valores, metas jurídicas,
questões históricas e culturais.

b) IUS NATURALISTA. O poder originário é um poder de direito, defendem o direito


natural. O poder constituinte estaria sujeito ao direito natural, aos valores anteriores à
própria existência humana.

Aqui, não há uma teoria dominante.

- Titularidade x exercício

Art. 1º, parágrafo único, da CF – todo poder emana do povo.

Titular do poder político é o povo, porém o exercício está nas mãos dos representantes
eleitos ou diretamente, no caso de plebiscitos, referendos, quando ingressamos com
ações populares, projetos de leis populares.

Titular – povo.

Exercício – diretamente, pelo povo. Indiretamente, pelos representantes eleitos.

- Características do Poder Constituinte Originário e do Poder Constituinte Derivado

a) Original x Subordinado
b) Incondicionado (não há forma pré-definida para manifestação, é livre em termos
formais) x Condicionado (art.60 prevê uma série de regras para as emendas e as
constituições estaduais também são limitadas pela CF)

c) Ilimitado (no que tange ao direito positivo anterior, mas limitado quando ao direito
natural) x Limitado (está limitado no direito positivo – art. 60, §4º, CF; as constituições
estaduais devem respeitar os princípios constitucionais - art. 11 do ADCT)

- Leis orgânicas dos municípios e do DF

Esses entes são autônomos e possuem leis orgânicas. Essas leis decorrem de Poder
Constituinte? Expressamente, não foi conferido a nenhum órgão municipal/distrital
poder constituinte.

Art. 32 da CF – Lei Orgânica do Distrito Federal – retira fundamento jurídico de


validade diretamente da Constituição.

O STF já decidiu que a Lei Orgânica do DF se assemelha a Constituição Estadual, sendo,


portanto, parâmetro de controle de constitucionalidade. É manifestação de Poder
Constituinte Derivado Decorrente.

Art. 11, §único do ADCT e art. 29 – retira fundamento jurídico de validade da CF e da


Constituição do Estado – possui força de lei e não serve como parâmetro de controle
de constitucionalidade. Essa lei orgânica não é manifestação de Poder Constituinte
Derivado Decorrente.

Aula 7, 8 e 9

Poder Reformador

 ASSUNTO DE ALTA RELEVÂNCIA

Responsável pelas alterações formais que passa a Constituição.

1. Núcleo: art. 60 da CF.


2. Possibilidades de reforma: emendas revisionais (art. 3º do ADCT) ou emendas
constitucionais (art. 60, CF).

- Revisão Constitucional: realizada após 5 anos da promulgação da Constituição, pelo


voto da maioria absoluta dos membros do Congresso, em sessão unicameral (sessão
que reúne deputados e senadores, os parlamentares não estão divididos em suas
casas). Na sessão unicameral, cada voto possui o mesmo peso. Essa revisão ocorreu no
ano de 1994, foram aprovadas 6 emendas de revisão.

O STF foi instado a analisar o tema da revisão, pela ADI 981, entendeu que a revisão
constitucional não é um processo permanente de alteração da Constituição, mas sim
um procedimento pontual, que já ocorreu.
O processo revisional é muito simplificado, muito diferente das emendas
constitucionais e expirou no ano de 1994. Hoje, não é possível adotar mais nenhuma
reforma por meio da revisão.

A emenda revisional estava sujeita aos limites do art. 60, CF, conforme definido pelo
STF na ADI 981. Nenhuma emenda revisional poderia violar cláusula pétrea.

- Emendas Constitucionais – art. 60.

Limitações:
a) Temporais: na CF/88 não há limitação temporal. No entanto, a doutrina minoritária
defende que o art. 60, § 5º, da CF seria uma limitação temporal.
Art. 174 de 1824 – durante 4 anos contados da outorga da Constituição não é possível
fazer alteração na Constituição.

b) Circunstanciais: art. 60, §1º, da CF.

§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de


estado de defesa ou de estado de sítio.

A CF impede que durante a crise haja sua alteração.

Em 2018, foi promulgado o Decreto 9522/2018. Esse Decreto foi o ato final de
incorporação do tratado de Marrakesh. O 3º Tratado de Direitos Humanos com status
de Emenda Constitucional.

À época, o Rio estava sofrendo intervenção federal. A intervenção foi decretada em


fevereiro de 2018 e terminou em dezembro de 2018. É possível a promulgação de
emenda durante intervenção. Nada impede que uma emenda seja promulgada
durante a intervenção federal. A promulgação é ato do processo legislativo que apenas
certifica formalmente aquilo que já existe. O Tratado de Marrakesh foi aprovado pelo
Congresso em 2015. A fase constitutiva da aprovação da Emenda não pode ocorrer
durante a fase de intervenção federal. Todavia, a promulgação é permitida.

C) Formais: diz respeito ao processo legislativo de produção das emendas.

Este rol para proposta de emenda é taxativo e não há iniciativa popular. Além disso, a
iniciativa é concorrente, ou seja, a iniciativa pode ser feita isoladamente ou em
conjunto. A maioria relativa é a mesma coisa que maioria simples.

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (rol taxativo)

I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado


Federal;

II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação,
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

- ADI 825

O STF entendeu que as Constituições Estaduais podem estabelecer a iniciativa popular


para apresentação da PEC no plano dos Estados. O rol de legitimados para
apresentação de PEC dos Estados, há a possibilidade de previsão da iniciativa popular.

§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois


turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos
respectivos membros.

Em cada um desses turnos, a proposta deve ser aprovada por maioria qualificada. Na
Câmara dos Deputados, existem 513 deputados federais (maioria qualificada = 308).
No Senado, existem 81 senadores (maioria qualificada = 41 votos).

Se na segunda casa, a emenda for alterada apenas em sua forma, sem alteração de seu
conteúdo normativo, não há necessidade de retorno à primeira casa – ADI 3.367.

§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados


e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.

A emenda não é sancionada pelo Poder Executivo.

§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada


não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
A sessão legislativa é o período anual de trabalho dos legisladores. Não é possível
confundirmos sessão legislativa com legislatura. Cada legislatura é composta por 4
anos, é o período de mandato. Em cada legislatura, existem 4 sessões legislativas. É
possível reapresentar uma proposta de emenda, dentro da mesma legislatura, desde
que em sessões legislativas diferentes.

O art. 67 da CF trata do princípio da irrepitibilidade – estabelece que o processo de lei


só pode ser reapresentado em sessão legislativa distinta daquela em que ocorreu a
rejeição. No entanto, é possível a reapresentação na mesma sessão, se a maioria
absoluta dos membros da casa decidirem. ESSA DISPOSIÇÃO NÃO VALE PARA AS
EMENDAS CONSTITUCIONAIS.

- ADI 486

Determinou que o processo de reforma da Constituição Estadual deve seguir os


requisitos estabelecidos na CF. Princípio da simetria – art. 11 do ADCT e art. 25 da CF.

d) Materiais.
d.1) Expressas – art. 60, §4º, CF.

§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I - a forma federativa de Estado;

- autonomia dos entes (art. 18 da CF): auto-organização, auto-governo e auto-


administração.

- Impossibilidade de secessão (art. 1º, caput, CF): união indissolúvel entre os entes.

- repartição de competências

- princípio da imunidade tributária (art. 150, VI, a): o STF ao julgar a ADI 939 entendeu
que esse princípio é cláusula pétrea.

- CNJ: ADI 3367.

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;

- voto direto

- sufrágio direto: direito público subjetivo político, que permite que o cidadão participe
da formação da vontade política do Estado.

Obs.: Não empecilho jurídico para a instituição de voto facultativo no Brasil.

III - a separação dos Poderes;

- alteração de funções típicas e atípicas: separação de poderes (art. 2º da CF).

A independência dos poderes está associada às funções típicas de cada um, enquanto
a harmonia está relacionada às funções atípicas.

- extinção dos sistemas de imunidades: as imunidades são prerrogativas atribuídas às


autoridades para que exerçam suas atividades de forma livre e independente. Alguns
autores alegam que o ataque ao sistema de imunidades pode comprometer a
liberdade de atuação destas autoridades, o que compromete o princípio de separação
dos Poderes.

- CNJ (ADI 3367): A associação dos magistrados brasileiros ingressou com a ADI 3367,
questionando a atuação do CNJ sob o ponto de vista da suposta violação do princípio
da separação de poderes. O STF refutou esse argumento, entendendo que o CNJ não
violou esse princípio, pois, apesar de ser órgão do Poder Judiciário, o Conselho não
exerce atividade jurisdicional típica. Ao contrário, foi criado para reforçar as atividades
de fiscalização dos órgãos do Judiciário. Confirmando a constitucionalidade do CNJ.
IV - os direitos e garantias individuais

- Direitos de primeira geração?

Não se admitirá nenhuma proposta de emenda tendente a abolir os direitos e


garantias individuais. São os direitos chamados de primeira geração, estão ligados às
liberdades públicas, civis e políticas.
Na CF/88, esses direitos estão concentrados no art. 5º. O art. 5º é o único protegido
como cláusula pétrea? Não.

- Cláusulas pétreas:

- Art. 150, III, do STF. No julgamento da ADI 939, estabeleceu que o princípio da
anterioridade em matéria tributária é cláusula pétrea.

- art. 16 da CF. Versa sobre o principio da anterioridade eleitoral ou da anualidade


eleitoral. No julgamento da ADI 3685, o Tribunal entendeu que esse artigo também é
cláusula pétrea.

- Princípio da dignidade humana. A doutrina mais garantista sustenta que o art. 60,
§4º, IV, também protege o princípio da dignidade humana – educação, meio ambiente,
saúde, etc. Essa vertente entende que esse inciso protege os direitos e garantias
fundamentais e não apenas os direitos e garantias individuais. Não existe uma posição
do STF que define essa tese mais ampla, de que todos os direitos fundamentais são
cláusula pétrea.

d.1) limites materiais implícitos: são as chamadas cláusulas tácitas

- forma e sistema de governo: a forma de governo é a republicana e o sistema é o


presidencialista. Em 1993, o povo foi às urnas, através de plebiscito, dizendo que
gostariam de viver sob essa forma e sistema de governo. Então, a partir desse
momento, não seria possível, através de EC, alterar tais características.

- titularidade do poder constituinte: a titularidade é do povo. Aqui, temos a base do


princípio democrático. Transferir esse poder para qualquer outra autoridade, colocaria
em risco o princípio democrático.

- o próprio art. 60: sustentam que o art. 60 não poderia ser objeto de EC para facilitar o
processo de reforma, pois comprometeria a supremacia da Constituição. A doutrina
majoritária proíbe o que se chama de dupla reforma/dupla revisão/reforma em dois
tempos, que significa a modificação do texto constitucional em dois tempos. Exemplo:
PEC 1 revogaria o IV, 60, §4º, CF. A PEC 2 poderia alterar o art. 5º, XL, permitindo a
pena de morte sobre crime hediondo. A dupla reforma seria, basicamente, realizar
com duas emendas, o que não seria com uma delas.
Aula 10

Emendas avulsas e mutação constitucional

Emendas avulsas: não altera formalmente a Constituição, nem no corpo fixo, nem na
ADCT. A emenda avulsa é fruto do poder reformador. É criada de acordo com art. 60
da CF. Ela é uma norma constitucional derivada. E como norma constitucional
derivada, pode ser objeto de controle de constitucionalidade. Afinal, as emendas
podem ser objeto de controle, pois gozam de presunção relativa de
constitucionalidade, além de ser parâmetro de controle de constitucionalidade. A EC é
fruto do poder reformador, é criada

Exemplo: EC 91 – foi conhecida como emenda da janela partidária. Foi promulgada em


ano de eleições municipais. Nesse momento, já estava em vigor o entendimento do
STF pela fidelidade partidária. O parlamentar que mudasse de partido político, sem
justa causa, perdia o mandato em nome do partido, que trataria de nomear um
sucessor. Essa EC estabeleceu uma corrida para a troca de partido, sem que isso
acarretasse a perda do cargo. Essa EC não promoveu nenhuma mudança formal na CF.

Exemplo: EC 106 – estabeleceu regime extraordinário fiscal em razão da pandemia.

Mutação constitucional/transição informal/vicissitude constitucional tácita/etc..: é um


fenômeno de mudança informal da Constituição. Não promove alterações formais.
Não é fruto do poder reformador. Traz uma mudança de sentido, de contexto. Sem a
mudança do texto. A mutação se realiza por novas interpretações do poder legislativo,
do poder executivo, do povo e do judiciário. A mutação não é uma atividade exclusiva
do STF. No entanto, como o STF é o guardião da CF, é natural que os grandes temas
que gerem a mutação constitucional, cheguem até a Corte Extraordinária. A mutação
constitucional se materializa através das viradas jurisprudenciais.

Viradas jurisprudenciais: o STF manifesta um entendimento sobre determinada


matéria durante anos e há uma mudança de entendimento. A partir dai, fixa uma nova
tese que passa a ser usada pelos Tribunais. Pode ocorrer pela criação de súmulas
vinculantes, por ADIs, etc.

Limitações impostas às mutações constitucionais: art. 60, §4º, CF. A mutação


constitucional não pode violar as cláusulas pétreas desse artigo. Os princípios
fundamentais também não poderiam sofrer a mutação. Agora, limites fechados da
mutação a gente não tem.

O processo de mudança formal da CF não acompanha as mudanças da sociedade. Por


isso, o fenômero da mutação é importante.

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